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Introdução
O presente artigo tem como objetivo trabalhar as consequências do machismo como
um fator cultural de grande influência no cotidiano de suas principais vítimas, sendo este um
traço naturalizado historicamente não só em nossa sociedade como em muitas outras, que
possui forte influência negativa na vida de mais de metade da população, que somos nós, as
mulheres.
Esse fator de formação cultural é encontrado e notado com facilidade em suas mais
diversas formas de opressão entre os sexos, o machismo em nossa sociedade e suas
“consequências” são tão relevantes que influenciam e afetam o cotidiano da mulher, seja
direta ou indiretamente. Passaremos então, a partir disso, a utilizarmos a história da longa
busca por direitos iguais para as mulheres em relação aos homens para demonstrar o quanto
este fator é foi e é um influenciador da forma mais negativa possível, trazendo assim, para o
nosso campo de visão a discussão a cerca de alguns pontos importantes do movimento
feminista sobre o decorrer da história do próprio movimento, e a luta frequente contra o
assédio moral e físico aos quais as mulheres estão sujeitas a sofrer diariamente.
Levando em conta ciências sociais, as mulheres foram durante grande parte da história
pertencentes a chamada “margem”3, sempre encontradas a sombra de sua família, seja o pai
ou marido, mesmo que essas se encontrassem na alta sociedade. Hoje, encontramos a
necessidade de saber onde se encontrava a mulher no decorrer da história, precisamos tira-la
do papel de coautora como sempre foi colocada pela historiografia ou até mesmo como uma
personagem de segundo plano, quando na verdade a ela pertencia o protagonismo principal da
história. A margem sempre foi e ainda é composta em suma de trabalhadores pobres e
batalhadores que lutam por seus direitos perante a sociedade, e para as mulheres, como nos
diz Sarti (1988), por mais que fossem e sejam “privilegiadas” por sua classe social em
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Artigo produzido como exigência da disciplina Cultura Brasileira, ministrada pela Prof. Mestra Marciana
Santiago, Curso de História, Campus de Três Lagoas, Universidade Federal do Mato grosso do Sul.
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Acadêmica do 5º Semestre do Curso de História, Campus de Três Lagoas, UFMS.
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Teoria de Robert Slenes (p. 9. 2009) que trabalha o seguinte: as pessoas pertencentes às margens passaram a
contar a história da sociedade a partir do seu ponto de vista, que por ser mais afastado em comparação ao
restante, possui a possibilidade de ser mais abrangente e detalhista ao dissertar sobre.
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comparação as mulheres de outras classes, a elas ainda cabe lutar pelo direito de todas serem
quem realmente são e pela igualdade.
Nosso país possui uma base cultural extremamente ampla e diversificada, isso se deve
a como fomos "descobertos" e povoados por nossos colonizadores. Por sermos um país tão
grande, o Brasil foi campo de disputas territoriais que tinham o objetivo de exploração de
terras e busca por minerais, e posteriormente com a escravidão e as grandes imigrações
internacionais que ocorreram em massa e que buscavam oportunidades melhores de vida,
fomos nos tornando assim uma população composta por culturas diferentes que passavam a se
misturar, nos definindo então como um local de cultura plural, de fatores culturais
pertencentes não só a nossos ancestrais indígenas como também a de vários outros locais do
mundo, como influências culturais japonesas, americanas, portuguesas, europeias e assim por
diante, com todas as linhas culturais do mundo de pessoas que vieram para cá. Como nos diz
Moreira (2008),
Como nos diz Roberto da Matta em O que é Brasil?, a sociedade é formada pela
divisão entre grupos sociais, os quais são compostos por diversas pessoas, e essas pessoas
podem pertencer a mais de um grupo, como por exemplo: o meio social de trabalho, o meio
social de diversão, o meio social formado pela família, e assim por diante. Dentro de seus
respectivos grupos, são formadas então as relações sociais, as rotinas, as festas, o trabalho, e
os padrões que no fim acabam por estabelecerem quem somos, nossas memórias, nosso
comportamento em sociedade e principalmente nossa cultura. Uma das definições que
podemos dar para cultura segundo Burke (2005) é
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Como já foi dito, nosso país não possui uma cultura especifica, os aspectos culturais
brasileiros foram construídos a partir da mistura e da influência de muitos outros países, que
algumas vezes possuíam imigrantes aqui, e que em outras nossa sociedade quis se “inspirar”.
Além desses fatores é válido destacar que, mesmo construído através da mistura cultural, cada
local e classe social possui uma cultura diferente, a formação cultural de cada grupo não
funciona de maneira homogênea, não se aplica da mesma maneira em todos os cantos, cada
qual possui suas preferencias, como na musica, e seus gostos particulares, como nas diferentes
vertentes e gêneros de arte. A partir disso, cabe ainda acrescentar que a cultura não funciona
de maneira estática, a cultura funciona de maneira dinâmica, sempre recebendo e
compartilhando influencias com outras, como nos diz Laraia (2007)
Muitas vezes ao tentar maquiar o machismo que lidamos todos os dias, e até mesmo
por ser algo tão naturalizado em nossa sociedade este pode ser visto como algo positivo ao ser
tratado como traços de educados nobreza ou o famoso cavalheirismo, mas ao ser visto como
algo bom, o cavalheirismo passa a ideia de que nós mulheres precisamos dele por sermos
seres adeptos fragilidade, morbidez e fraqueza, algo que sabemos que não é real, pois um dos
fatos mais importantes da luta feminina durante toda a história é o de direito pela igualdade
entre os sexos, e a não classificação de fraqueza e força de acordo com o sexo biológico e
gênero.
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segundo sexo, sendo assim, seres criados para se submeterem aos afazeres menos importantes
da sociedade e uma “fonte de prazer para o sexo oposto”, como diz Beauvoir (1967, p. 308)
“é muito difícil às mulheres assumirem concomitantemente sua condição de indivíduo
autônomo e seu destino feminino” para que então favorecessem e vivessem em função
daqueles que "seriam" de certa forma considerados especiais e até mesmo “melhores”, ou
seja, os homens. Como Soihet e Pedro nos dizem
Todo esse contexto que pode ser encontrado presente no desenvolvimento da história e
da cultura de nossa sociedade justifica o surgimento de movimentos que lutam com o objetivo
de atingir a igualdade de direitos entre os gêneros, e explicam assim, grandes partes dos
problemas que surgiram em nossa sociedade como "consequência" da inclusão da mulher no
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mercado de trabalho, vendo ela como o sujeito da própria vida e não dá vida de alguém, como
era anteriormente. Um desses problemas, se não o principal, é o assédio sofrido todos os dias
por mulheres, nas ruas, em seus empregos, e abusos até mesmo dentro de suas próprias casas.
O assédio contra mulher pode ser considerado uma situação derivada e consequência
de todo o sistema social, patriarcal e cultural machista no qual a sociedade teve como base ao
se desenvolver; onde como já foi citado, o homem era visto como um ser melhor e assim
possuía o direito de mandar e opinar sobre tudo o que dizia respeito às mulheres presentes em
sua vida, configurando assim o machismo imposto culturalmente na educação e formação dos
cidadãos que pode ser encontrado até hoje, de maneira extremamente enraizada. De forma que
até mesmo as próprias mulheres acabam o reproduzindo, sem perceber, e são as únicas
prejudicadas.
Com essa reprodução do machismo recorrente todos os dias em nossa sociedade pelas
próprias mulheres, em discursos onde às vezes isto é visto claramente, e em outros sofre o
chamado efeito de “maquiagem” - se encontra lá, mas é preciso atenção para nota-lo - é de
necessidade primordial que se traga discussões, conversas e reflexões a luz, para que assim a
tese de que “convém distinguir, de uma parte, a dominação dos homens sobre as mulheres e,
de outra, a ideologia que lhe dá legitimidade” dita por Saffioti, no texto que discute a
Violência de Gênero no Brasil Atual (1994), seja discutida e questionada principalmente por
nós, mulheres, que qualquer tipo de violência sofrida não deve receber como justificativa o
machismo, pois não há justificativa para qualquer tipo violência e diferenciação com base nos
sexos.
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A busca por seus direitos e o sentimento de inconformidade ao se pensar que “seriam
posse de seus maridos” não parou por aí, em 27 de agosto de 1962 em nosso país nascia um
novo código civil sobre a vida das mulheres, este terminava com o “direito” dos maridos
sobre as suas esposas. O projeto foi produzido por duas advogadas, e ficou em transição sobre
toda a burocracia parlamentar, podemos dizer que com influencias não só religiosas como
também conservadoras, durante dez longos anos, e isso mudou somente porque a pressão
social exercida pelo movimento das mulheres era elevada.
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Segundo a história a data teria surgido a partir de um incêndio em uma fábrica têxtil de Nova York em 1911,
quando cerca de 130 operárias morreram carbonizadas.
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Hoje o movimento feminista, luta não somente pelos direitos da mulher em nossa
sociedade, mas também contra a violência sofrida por todas nós, seja dentro ou fora de casa.
Atualmente, a luta para a mulher ser dona do próprio corpo e decidir o que fazer com ele
sozinha perante a justiça é uma das que possui mais voz e recebe mais atenção, pois isso não
deixa de ser uma forma de violência exercida pelo estado, como nesse ultimo ano, onde após
a conquista votada pelo STF5 que deu direito ao aborto nos primeiros três meses de gestação
sem se configurar como crime, um senador e pastor, como podemos ver novamente a
influência religiosa em um estado em que se prega um “governo laico”, apresentou então o
Projeto de Lei do Senado (PLS) 461/2016, e esse altera o Código Penal para que se passe a
considerar o aborto a interrupção da vida intrauterina em qualquer estágio da gestação. O
projeto foi votado, por uma banca onde todos foram a favor, menos a única mulher que a
compunha. Após a aprovação do projeto, a inconformidade e choque foi grande, onde as
manifestações dos grupos feministas e das mulheres de maneira geral não aceitavam que,
novamente como em toda a história, homens decidiram sobre como as mulheres devem lidar e
se comportar com seus corpos.
Durante muito tempo na historia a mulher foi vista como um segundo sexo,
dependente do homem, ou até mesmo naquele velho ditado “a mulher é o sexo frágil”, isso se
deve a toda concepção de gênero que foi construída durante os anos, com o surgimento das
lutas das mulheres e a busca por direito igualitários uma das principais pautas e buscas desses
movimentos é pelo fim da violência exercida contra elas.
Falaremos então mais especificamente sobre o assédio, e grande parte as vezes nos
referimos ao assédio moral que esta ligado ao assédio sexual, pois, em qualquer que seja o
caso, o assédio possui o mesmo objetivo. Ele é composto pelos mais variados
comportamentos, como formas mais graves de abuso e violência sexual, a violência física e a
violência mental, como por exemplo o ato de forçar alguém a fazer o que não quer sob os
mais variados tipos de chantagem, pode possuir uma duração longa, como no caso da
repetição exaustiva de comentários machistas de teor sexual e repetição de piadinhas com o
mesmo teor, pode variar também na forma de convites incansáveis para sair, conversas
sempre levadas a assuntos com pontos sexuais por companheiros de um mesmo ambiente,
como também pode ser aquele tipo chamado de “mão boba” onde acontece uma apertada, um
tapa ou passada de mão em um corpo que não queria e nem estava esperando tal ato. Na
entrevista realizada, esse “leve tapa” e toques indesejados aparecem, onde há uma hierarquia
entre professor e aluna, dentro de um ambiente não propicio a isso, e ainda é valido ressaltar a
tentativa de contestar tais atitudes, o que não levou a nada.
A insegurança de cada dia da mulher, ao por seus pés na rua para realizar seus afazeres
é causado pela imprevisibilidade daquilo que pode acontecer a ela, a vida em sociedade não é
algo previsível e nós estamos sujeitas as atitudes dos outros nas ruas, pois, em muitos dos
casos não temos como nos defender e a sensação que nos resta é a de impotência.
A mulher atualmente se encontra exposta aos mais diversos tipos de assédio sexual
quando sai às ruas, nos mais diversos ambientes, na mídia brasileira nos últimos meses tem se
falado grandemente sobre os casos de assédio ocorridos dentro de ônibus e metros
pertencentes ao transporte público. Casos que ganham a mídia rapidamente, que chocam e que
mesmo que os agressores sejam presos não resulta em nada, somente na sensação da mulher
de total insegurança ao se fazer até mesmo as coisas mais simples, como voltar para casa.
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Foi por volta da década de 1970 que o movimento feminista de mulheres americanas,
e logo após o movimento formado por mulheres europeias, passou a discutir e se preocupar
com a violência sofrida por mulheres dentro de seus locais de trabalho e o denominar, a partir
de então como assédio. Cada uma das sociedades reconhece esse tipo de violência e
dominação de uma maneira, em alguns países é reconhecido como qualquer abuso que ocorra
dentro de uma hierarquia e possua valores sexuais, em outros já se possui uma definição mais
curta e menos abrangente na lei. Como Carme Alemany nos define no livro Dicionário
Critico do Feminismo,
Todas nós mulheres temos consciência da violência que sofremos em nosso dia a dia,
mas para que possamos fazer algo perante a lei era necessário que ela reconhecesse tais atos
como crime. A partir do ponto em que as estudiosas europeias conseguiram definir o assédio a
luta partiu para outro âmbito, o jurídico, onde seria necessário que as comissões parlamentares
de cada país reconhecessem tais atos como criminosos e de uma dominação masculina em
cima das mulheres.
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autoridade que lhe confere suas funções, tenha por objetivo ou efeito
atingir a auto-estima e a autodeterminação do servidor, com danos ao
ambiente de trabalho, ao serviço prestado ao público e ao próprio
usuário, bem como à evolução, à carreira e à estabilidade funcionais
do servidor. (Brasil, 2006)
Vale ressaltar que não são apenas as mulheres que estão sujeitas ao assédio, os homens
também, porém o maior número de casos que se tem registrados é de mulheres. Normalmente
o assédio tem conexão com o gênero de quem o sofre e a posição que ocupa na sociedade, e
como historicamente a mulher sempre foi vista como mais frágil e “submissa” pela sociedade
machista e conservadora em que nos encontramos é “esperado”, mas não deixa de ser
surpreendente que mesmo depois de toda a das mulheres elas ainda sejam as principais
vitimas desses abusos.
Considerações Finais
Este artigo foi desenvolvido tendo como base as problemáticas sobre a cultura
machista presente em nossa sociedade e a violência contra a mulher em seu cotidiano, em
suas mais diversas formas, buscando a partir de então quais seriam as motivações não só
culturais como também questões da organização sociedade (que não deixam de ser culturais),
que levaram a mulher a ser colocada em um local tão problemático e desigual em relação aos
homens. Foi possível notar, portanto que culturalmente durante toda a história, não só do
nosso país, as mulheres estiveram subjugadas a dominação masculina da sociedade, e
especificamente em nosso país isso se deu pelas influências culturais recebidas de todos os
cantos, pois nossa formação multicultural nos fez de uma mistura.
A partir desta pesquisa pude conhecer mais a respeito da luta feminista ao decorrer dos
anos, que se iniciaram desde a busca pelo direito de voto e foi cada vez mais abrindo espaço
para outras lutas, como a violência física, verbal ou psicológica; o machismo, o assédio, entre
outros problemas que concernem o cotidiano das mulheres. Demorou-se certo tempo até que
houvesse a conscientização desta classe a respeito de suas condições, e principalmente de que
elas não eram a propriedade privada de seus pais ou esposos. Quando esta foi alcançada
iniciou-se uma ferrenha batalha para que houvesse melhoria em suas vidas, e principalmente,
que fossem tratadas como seres humanos e não objetos de prazer e submissão.
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podemos citar a jornada dupla da mulher, onde ela precisa cuidar de casa e ainda trabalhar,
isto estando sempre impecáveis e sendo “perfeitas” a todo momento. Mas é importante que a
luta continue, que a mulher busque o seu espaço num meio ainda culturalmente conservador,
de forma a valorizar as diversas feministas que deram suas vidas por este movimento. O lugar
que ocupamos hoje é símbolo de orgulho e luta das gerações passadas, pois essas são as
responsáveis pelo que temos hoje.
Referências Bibliográficas
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