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CURSO SOBRE A LEI DE ABUSO DE AUTORIEDADE (LEI 13.

869/19)

Aula 4

Professor: Samer Agi

LEI DE ABUSO DE AUTORIEDADE (LEI 13.869/19)

Art. 18. Submeter o preso a interrogatório policial durante o período de repouso noturno, salvo
se capturado em flagrante delito ou se ele, devidamente assistido, consentir em prestar
declarações:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

O art. 17 da lei 13.869/19 foi vetado.

O crime do art. 18 é um crime próprio, pois exige uma especial qualidade do sujeito ativo,
esse crime não pode ser praticado por juiz de direito, promotor de justiça ou procurador da
república, como se trata de um interrogatório policial ele deve ser cometido por um delegado de
policia, fora a hipótese de crime militar.

O verbo submeter é núcleo do tipo e ele consagra um crime permanente, enquanto o


interrogatório policial ocorrer o preso está sendo submetido a ele. Portanto, trata-se de um crime
permanente, a situação de flagrância se protrai no tempo.

Caso o sujeito seja submetido ao interrogatório policial durante o repouso noturno devido
a uma investigação, não há processo ainda, o sujeito está em liberdade, nessa situação não há
crime, porque o sujeito não está preso. O sujeito passivo dessa infração penal é o preso, não
necessariamente devido ao crime atual, a prisão pode decorrer de outra infração criminal, não há
vedações nesse sentido para a aplicabilidade do art. 18.

Material elaborado por Divina M. Araújo Miranda


O interrogatório previsto no art. 18 não se aplica aquele realizado na fase judicial.

Para entender em que consiste o repouso noturno é necessário se valer de critérios


objetivos, em relação ao crime de furto o horário de repouso noturno é importante porque implica
em incidência ou não da causa de aumento de pena, conforme art. 155, § 1º, no crime de furto o
horário de repouso noturno varia de lugar, de zona urbana ou zona rural, mas na lei de abuso de
autoridade essa distinção não há razão de ser, é preciso adotar o critério objetivo que confere
segurança jurídica ao delegado de polícia para que ele saiba se está submetendo o preso ao
interrogatório durante o período noturno ou não. Portanto, o horário noturno é entre 22h e 6h,
conforme critério objetivo, dentro desse horário não é possível o interrogatório policial, nos
termos do art. 18.

Caso o delegado de polícia comece o interrogatório às 21h, no momento que dá 22h é


preciso que haja a interrupção do interrogatório para a retomada no dia seguinte, se o delegado
fizer o interrogatório das 22h às 03h haverá o crime do art. 18, porque a partir das 22h o crime é
permanente, o preso está sendo submetido ao interrogatório policial durante o período noturno,
caso fosse admissível que o interrogatório começasse antes das 22h, por exemplo, o interrogatório
tem início às 20h e fosse até as 03h, tal fato desviaria todo o escopo da norma.

A finalidade da norma é evitar que o preso seja submetido ao interrogatório no momento


de maior vulnerabilidade, momento em que o exercício da ampla defesa está comprometido.

No art. 18 há duas causas excludentes de tipicidade, na verdade há dois elementos


negativos do tipo, caso esses elementos sejam positivos não haverá crime, pois não haverá
subsunção do fato a norma. A primeira excludente é a prisão em flagrante delito, nesse caso é
permitido o interrogatório durante o repouso noturno. A segunda excludente é se o preso estiver
assistido por advogado particular, advogado público, advogado dativo ou defensor público que
consente em prestar declarações, nesse caso há alguém com conhecimento técnico que pode
entender ser uma melhor estratégia ao preso ser interrogado durante o repouso noturno.

Material elaborado por Divina M. Araújo Miranda


Lembrando que se o preso fizer uso do seu direito constitucional ao silêncio e o delegado
de policia prosseguir no interrogatório há crime.

A pena é de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. Portanto, trata-se de infração de menor
potencial ofensivo, em regra, o crime será apurado no Juizado Especial Criminal, se presentes os
requisitos será celebrada a transação penal ou concedida à suspensão condicional do processo. A
pena privativa de liberdade é de detenção, de forma que o regime inicial mais gravoso possível é o
semiaberto, salvo se a título de regressão o sujeito for para o regime fechado.

Art. 19. Impedir ou retardar, injustificadamente, o envio de pleito de preso à autoridade


judiciária competente para a apreciação da legalidade de sua prisão ou das circunstâncias de
sua custódia:
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

O art. 19 busca dar concretude ao direito constitucional de o cidadão peticionar perante


qualquer autoridade em face de um abuso ou de uma ilegalidade cometida, também busca dar
concretude ao habeas corpus que é uma ação autônoma de impugnação que pode ser ajuizada
por qualquer pessoa e independe de capacidade postulatória.

O tipo penal traz dois núcleos, impedir ou retardar o envio de pleito de preso, nesse caso
há um tipo misto alternativo, a prática de mais de um núcleo do tipo não implica pluralidade
criminosa, se no mesmo contexto fático o sujeito em primeiro lugar busca impedir o envio de
pleito do preso, mas em razão da pressão imposta ele decide apenas retardar o envio do pleito à
autoridade judiciária competente dentro do mesmo contexto fático, apesar da prática dos dois
verbos haverá crime único.

O injustificadamente previsto nesse artigo significa que não há motivo idôneo para que o
pleito tenha demorado tanto para chegar até a autoridade judiciária competente, trata-se de um
elemento normativo típico que exige um juízo de valor do magistrado para verificar se esse
impedimento ou retardamento do envio do pleito se deu de forma justificada ou injustificada.

Material elaborado por Divina M. Araújo Miranda


O sujeito passivo desse crime é o preso, pois é ele que tem o seu direito de petição atingido
pela conduta da autoridade. O sujeito ativo dessa infração penal pode ser qualquer agente público
que tenha o preso sob sua custódia, geralmente será o diretor do estabelecimento, mas pode ser
um delegado de polícia.

Via de regra, essa infração penal será praticada de forma omissiva, de maneira que não é
admitida a tentativa, mas vale dizer que o crime omissivo pode ser praticado de forma comissiva,
basta que dolosamente a autoridade que tenha o preso sob custódia remeta o pedido para uma
autoridade judiciária incompetente como forma de retardar o envio do pleito a autoridade
judiciária competente, nesse caso o crime omissivo é praticado de forma comissiva, nessa situação
será admitida tentativa.

Caso o diretor do estabelecimento tente retardar o envio do pleito a autoridade judiciária


competente remetendo o pleito a autoridade judiciária incompetente, mas esta autoridade em
menos de trinta minutos verifica sua incompetência e remete o pedido a autoridade judiciária
competente que duas horas depois decide em razão daquele pleito, nesse caso não houve o
retardamento, apesar da intenção do sujeito ativo (diretor do estabelecimento). Portanto, na
modalidade comissiva é plenamente possível à tentativa.

Na conduta de impedir, o pleito não chega à autoridade judiciária competente. Por outro
lado, na conduta de retardar, o pleito chega à autoridade judiciária competente, mas fora do prazo
razoável, de maneira que há prejuízo ao preso.

O pleito do preso está ligado à legalidade de sua prisão ou as circunstâncias da sua


custódia. Caso o pleito do preso se refira ao seu filho que se encontra desamparado, essa situação
não se enquadra no art. 19, porque essa questão não diz respeito à apreciação da legalidade da
prisão ou das circunstâncias da sua custódia.

A pena é de detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa, já que a pena é de detenção,


então o regime mais gravoso será o semiaberto, ainda que haja reincidência, a pena mínima não é

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superior a 1 (um) ano e a máxima é superior a 2 (dois) anos, a infração é classificada de médio
potencial ofensivo, vale lembrar que se presentes os requisitos caberá a suspensão condicional do
processo.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena o magistrado que, ciente do impedimento ou da


demora, deixa de tomar as providências tendentes a saná-lo ou, não sendo competente para
decidir sobre a prisão, deixa de enviar o pedido à autoridade judiciária que o seja.

1ª parte:
“Incorre na mesma pena o magistrado que, ciente do impedimento ou da demora, deixa de tomar
as providências tendentes a saná-lo...”
2ª parte:
“... não sendo competente para decidir sobre a prisão, deixa de enviar o pedido à autoridade
judiciária que o seja.”

As condutas do parágrafo único só podem ser cometidas pelo magistrado, apesar da


primeira parte do título não falar trata-se de um magistrado estritamente competente para
apreciar o pleito, porque na segunda parte deste parágrafo o tipo trata justamente do magistrado
incompetente para a apreciação do pleito. É feita uma interpretação restritiva a primeira parte do
parágrafo único.

A 1ª parte cria um dever jurídico de evitar o resultado, o juiz percebe a demora e tem o
dever jurídico de fazer cessar a demora ou o impedimento, o magistrado deve tomar as
providências necessárias para que o pedido seja apreciado.

Na 2º parte o crime pode ser praticado apenas pela autoridade judiciária incompetente.
Não são todos os magistrados que podem praticar a 1ª ou 2ª parte do parágrafo único do art. 19,
pois na 1ª o sujeito ativo será o magistrado competente e na 2ª o magistrado incompetente.

O crime desse parágrafo é omissivo próprio, o que significa que não é admitida a tentativa.

Material elaborado por Divina M. Araújo Miranda


As condutas descritas no parágrafo único recebem igual sanção a conduta descrita no
caput, sendo uma infração penal de médio potencial ofensivo.

Art. 20. Impedir, sem justa causa, a entrevista pessoal e reservada do preso com seu advogado:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

O núcleo do tipo é o verbo impedir, o que significa que em razão da conduta da autoridade
que tem o preso sob sua custódia a entrevista pessoal e reservada do preso com o advogado não
ocorreu.

Além disso, para a existência do crime é preciso que o impedimento se dê sem justa causa,
se houver justa causa não há crime, trata-se de um elemento normativo do tipo que exigirá juízo
de valor por parte do magistrado.

Esse crime pode ser cometido por qualquer autoridade que tenha um preso sob sua
custódia, os sujeitos passivos do crime são o preso e o seu advogado, violar prerrogativa de
advogado ligada ao preso é crime, mas nesse caso há uma norma especial, caso não haja a
incidência dessa norma será aplicado o delito do art. 43.

O crime desse artigo pode ser praticado por outras autoridades além do diretor do
estabelecimento ou o delegado de policia.

Exemplo: o agente da escolta que conduziu o preso ao fórum pode cometer essa infração penal.

O impedimento deve ocorrer sem justa causa.

Exemplo de justa causa: há três presos que foram conduzidos para o fórum, há apenas quatro
agentes responsáveis por essa condução, são necessários dois agentes para um preso e dois
agentes para o outro para a condução até a sala de audiência e etc. Não é possível permitir que os
três tenham uma entrevista pessoal e reservada cada um com seu advogado ao mesmo tempo,

Material elaborado por Divina M. Araújo Miranda


então o agente da escolta prisional diz para o advogado que ele não pode comunicar com seu
cliente nesse momento, será feita a entrevista pessoal dos presos um de cada vez, porque há um
procedimento de segurança e não há efetivo suficiente. Neste caso, o impedimento foi com justa
causa, de forma que não há crime. Em verdade, não há sequer um impedimento, o que ocorreu foi
uma organização da ordem de entrevista pessoal e reservada do causídico com seu cliente.

A existência da infração penal depende do especial fim de agir do agente, o sujeito quis
beneficiar à terceiro ou beneficiar a si mesmo, prejudicar outrem, buscou satisfação pessoal ou
mero capricho.

A entrevista deve ser pessoal, o que significa que preso e advogado devem estar frente a
frente, a entrevista deve ser reservada, isto é, devem estar presentes apenas o advogado e o
preso. Caso não haja sala para que o advogado e seu o cliente preso possam conversar de maneira
reservada, eles poderão conversar ao fim do corredor com o agente da escolta presente, por
exemplo, se por motivos de estrutura e segurança for necessária à presença de agentes prisionais
durante a conversa entre o advogado e seu cliente, estes agentes prisionais nada podem falar
sobre o que foi conversado, eles devem guardar absoluto sigilo.

A pena é de detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa, trata-se de uma infração
penal de menor potencial ofensivo, a competência é em regra do juizado especial criminal e se
presentes os requisitos caberá transação penal ou suspensão condicional do processo.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem impede o preso, o réu solto ou o investigado de
entrevistar-se pessoal e reservadamente com seu advogado ou defensor, por prazo razoável,
antes de audiência judicial, e de sentar-se ao seu lado e com ele comunicar-se durante a
audiência, salvo no curso de interrogatório ou no caso de audiência realizada por
videoconferência.

A primeira conduta do parágrafo único é o impedimento do preso, réu solto ou o do


investigado de entrevistar-se pessoal e reservadamente com seu advogado ou defensor, por prazo

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razoável, antes de audiência judicial, apenas o juiz pode praticar a infração penal, porque a
previsão do parágrafo único é de uma audiência judicial.

Portanto, somente o juiz pode impedir que o réu, esteja ele solto, preso ou sob investigação
tenha uma entrevista pessoal e reservada com o seu advogado, já que o tipo fala em audiência
judicial, quando o tipo fala de um investigado entrevistar-se pessoal e reservadamente com seu
defensor, antes da audiência judicial é consagrado o direito a entrevista prévia nos casos de
audiência de custódia, porque nesse caso ele não é réu e sim um investigado que foi preso em
flagrante delito, na audiência de custódia o investigado deve ter garantido o direito de entrevistar-
se pessoal e reservadamente com o seu advogado.

A norma diz que a entrevista deve ser por prazo razoável, ocorre que a lei não diz o que é
prazo razoável, entende-se que esse prazo deve ser fixado segundo um critério objetivo, porque se
há a permissão de o preso conversar antes da audiência judicial com seu advogado pelo prazo de
um minuto, entende-se que não houve sequer entrevista, de maneira que há a frustração da
norma, essa permissão é uma proibição de fato, por isso a lei exige um prazo razoável. O prazo
razoável é de quinze minutos, conforme critério objetivo.

O prazo de 15 minutos da entrevista deve ser concedido antes da audiência, depois da


instrução e antes do interrogatório será oportunizado nova entrevista do advogado com seu cliente
pelo mesmo prazo.

Incorre na mesma pena quem impede o preso, o réu solto ou o investigado de sentar-se ao
lado de seu advogado e com ele comunicar-se durante a audiência. No fim do parágrafo único do
art. 20 há elementos negativos do tipo penal, porque ele diz “salvo no curso de interrogatório ou
no caso de audiência realizada por videoconferência”

Não há crime quando o preso não pode se sentar ao lado do seu defensor em razão da
audiência ser realizada por videoconferência, porque nesse caso há um impedimento de natureza
física, o advogado está no fórum e o réu ou investigado no presidio, a segunda situação é durante o

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interrogatório, porque durante a audiência no momento da oitiva de uma testemunha o preso
pode falar para o advogado fazer determinada pergunta, não pode haver a vedação da conversa
entre o defensor e o réu, mas durante o interrogatório pode haver vedação, porque no
interrogatório o juiz fala primeiramente, depois o MP pergunta e por último a defesa tem a
palavra, porém a conversa durante o interrogatório não é permitida.

Art. 21. Manter presos de ambos os sexos na mesma cela ou espaço de confinamento:
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

O núcleo do tipo do art. 21 é o verbo manter, significa que trata-se de um crime


permanente, enquanto presos de sexos diferentes estiverem na mesma cela a situação é de
flagrante delito que se protrai no tempo.

O art. 21, caput não abrange as pessoas submetidas a medidas de segurança, não se fala
em medida de segurança detentiva, nem em menor de idade.

O dispositivo fala em ambos os sexos na mesma cela, quando a lei fala em ambos os sexos
ela se refere ao sexo masculino e ao sexo feminino, tal classificação não se dá segundo a
identidade biológica do indivíduo, mas segundo a sua identidade social, o transgênero deve ser
colocado em cela de acordo com a sua identidade social, ou seja, se ele se apresenta como mulher
é uma mulher e consequentemente deve ser colocada em um presidio feminino.

O STF diz que não é necessária a submissão a qualquer cirurgia e nem mesmo a alteração
de assentamento do registro civil. Além disso, pode ser promovida a alteração do assentamento do
registro civil pela via administrativa. Caso haja a dissonância entre o sexo conferido ao nascer,
conforme a identidade biológica e o sexo que a pessoa entendeu possuir, de acordo com a sua
identidade social e personalidade, o individuo pode altera-la, mas ainda que não haja alteração se
o individuo assim se vê ele deve ser colocado na cela de acordo com sua identidade social,
prestigia-se nessa jurisprudência o direito fundamental ao desenvolvimento da personalidade.

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No art. 21 ainda que o sujeito não esteja em uma cela pode haver o crime, basta pensar no
exemplo de um advogado preso provisoriamente, o advogado deve ser recolhido em uma sala de
estado maior e não em uma cela, nessa sala de estado maior o advogado não pode ser colocado
junto com uma advogada, porque nesse caso haverá a manutenção de presos de ambos os sexos
no mesmo espaço de confinamento.

A pena é de detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, essa infração penal é de médio
potencial ofensivo, é admitida a suspensão condicional do processo, o regime inicial mais gravoso
será o semiaberto.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem mantém, na mesma cela, criança ou adolescente
na companhia de maior de idade ou em ambiente inadequado, observado o disposto na Lei nº
8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente).

O crime do parágrafo único é permanente, a situação de flagrância se protrai no tempo.

A manutenção de um adolescente em uma cela diz respeito a uma privação de liberdade


que se dá quando o adolescente está com a medida socioeducativa de internação ou caso haja a
decretação de sua semiliberdade, somente essas duas medidas socioeducativas podem privar o
adolescente de sua liberdade, ainda que parcialmente.

Manter na cela criança em ambiente inadequado é crime, sempre existirá esse crime, pois a
criança não pode ser colocada em uma cela, a criança não está submetida a medidas
socioeducativas e sim a medidas de proteção. Portanto, essa parte do parágrafo único está
equivocada pelo tipo penal ser redundante. A cela sempre é um ambiente inadequado para a
criança.

Caso um adolescente esteja na mesma cela que um maior de idade haverá crime, a
manutenção de um adolescente em uma cela com ambiente inadequado também incorre em
crime.

Material elaborado por Divina M. Araújo Miranda


A Unidade de Atendimento, ambiente em que ocorre a internação, deve funcionar
conforme prescreve o art. 94 do Estatuto da Criança e do Adolescente. Portanto, a norma
incriminadora nos remete a outro diploma legislativo, o que significa que a parte final do parágrafo
único prevê uma norma penal em branco em sentido amplo, imprópria, homogênea que é a norma
cujo complemento se da por outra lei. O ambiente será considerado adequado ou inadequado
para o menor de acordo com o art. 94 do ECA. Exemplo: existência de objetos de higiene pessoal
nas unidades de atendimento, essa unidade é salubre, existem condições mínimas de
habitabilidade e etc.

A conduta do parágrafo único é apenada com sanção igual a do caput, o que significa que
trata-se de uma infração de médio potencial ofensivo e se estiverem presentes os requisitos será
possível a suspensão condicional do processo. A pena privativa de liberdade é de detenção, de
forma que o regime inicial mais gravoso possível é o semiaberto, a título de regressão de regime é
possível que o sujeito seja submetido ao regime fechado.

O estudo a partir do art. 22 se dará na aula V.

Art. 22. Invadir ou adentrar, clandestina ou astuciosamente, ou à revelia da vontade do


ocupante, imóvel alheio ou suas dependências, ou nele permanecer nas mesmas condições, sem
determinação judicial ou fora das condições estabelecidas em lei:
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

§ 1º Incorre na mesma pena, na forma prevista no caput deste artigo, quem:


I - coage alguém, mediante violência ou grave ameaça, a franquear-lhe o acesso a imóvel ou
suas dependências;
II - (VETADO);
III - cumpre mandado de busca e apreensão domiciliar após as 21h (vinte e uma horas) ou antes
das 5h (cinco horas).

§ 2º Não haverá crime se o ingresso for para prestar socorro, ou quando houver fundados

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indícios que indiquem a necessidade do ingresso em razão de situação de flagrante delito ou de
desastre.

Art. 23. Inovar artificiosamente, no curso de diligência, de investigação ou de processo, o estado


de lugar, de coisa ou de pessoa, com o fim de eximir-se de responsabilidade ou de
responsabilizar criminalmente alguém ou agravar-lhe a responsabilidade:
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem pratica a conduta com o intuito de:
I - eximir-se de responsabilidade civil ou administrativa por excesso praticado no curso de
diligência;
II - omitir dados ou informações ou divulgar dados ou informações incompletos para desviar o
curso da investigação, da diligência ou do processo.

Material elaborado por Divina M. Araújo Miranda

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