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Aula 4
Art. 18. Submeter o preso a interrogatório policial durante o período de repouso noturno, salvo
se capturado em flagrante delito ou se ele, devidamente assistido, consentir em prestar
declarações:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
O crime do art. 18 é um crime próprio, pois exige uma especial qualidade do sujeito ativo,
esse crime não pode ser praticado por juiz de direito, promotor de justiça ou procurador da
república, como se trata de um interrogatório policial ele deve ser cometido por um delegado de
policia, fora a hipótese de crime militar.
Caso o sujeito seja submetido ao interrogatório policial durante o repouso noturno devido
a uma investigação, não há processo ainda, o sujeito está em liberdade, nessa situação não há
crime, porque o sujeito não está preso. O sujeito passivo dessa infração penal é o preso, não
necessariamente devido ao crime atual, a prisão pode decorrer de outra infração criminal, não há
vedações nesse sentido para a aplicabilidade do art. 18.
A pena é de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. Portanto, trata-se de infração de menor
potencial ofensivo, em regra, o crime será apurado no Juizado Especial Criminal, se presentes os
requisitos será celebrada a transação penal ou concedida à suspensão condicional do processo. A
pena privativa de liberdade é de detenção, de forma que o regime inicial mais gravoso possível é o
semiaberto, salvo se a título de regressão o sujeito for para o regime fechado.
O tipo penal traz dois núcleos, impedir ou retardar o envio de pleito de preso, nesse caso
há um tipo misto alternativo, a prática de mais de um núcleo do tipo não implica pluralidade
criminosa, se no mesmo contexto fático o sujeito em primeiro lugar busca impedir o envio de
pleito do preso, mas em razão da pressão imposta ele decide apenas retardar o envio do pleito à
autoridade judiciária competente dentro do mesmo contexto fático, apesar da prática dos dois
verbos haverá crime único.
O injustificadamente previsto nesse artigo significa que não há motivo idôneo para que o
pleito tenha demorado tanto para chegar até a autoridade judiciária competente, trata-se de um
elemento normativo típico que exige um juízo de valor do magistrado para verificar se esse
impedimento ou retardamento do envio do pleito se deu de forma justificada ou injustificada.
Via de regra, essa infração penal será praticada de forma omissiva, de maneira que não é
admitida a tentativa, mas vale dizer que o crime omissivo pode ser praticado de forma comissiva,
basta que dolosamente a autoridade que tenha o preso sob custódia remeta o pedido para uma
autoridade judiciária incompetente como forma de retardar o envio do pleito a autoridade
judiciária competente, nesse caso o crime omissivo é praticado de forma comissiva, nessa situação
será admitida tentativa.
Na conduta de impedir, o pleito não chega à autoridade judiciária competente. Por outro
lado, na conduta de retardar, o pleito chega à autoridade judiciária competente, mas fora do prazo
razoável, de maneira que há prejuízo ao preso.
1ª parte:
“Incorre na mesma pena o magistrado que, ciente do impedimento ou da demora, deixa de tomar
as providências tendentes a saná-lo...”
2ª parte:
“... não sendo competente para decidir sobre a prisão, deixa de enviar o pedido à autoridade
judiciária que o seja.”
A 1ª parte cria um dever jurídico de evitar o resultado, o juiz percebe a demora e tem o
dever jurídico de fazer cessar a demora ou o impedimento, o magistrado deve tomar as
providências necessárias para que o pedido seja apreciado.
Na 2º parte o crime pode ser praticado apenas pela autoridade judiciária incompetente.
Não são todos os magistrados que podem praticar a 1ª ou 2ª parte do parágrafo único do art. 19,
pois na 1ª o sujeito ativo será o magistrado competente e na 2ª o magistrado incompetente.
O crime desse parágrafo é omissivo próprio, o que significa que não é admitida a tentativa.
Art. 20. Impedir, sem justa causa, a entrevista pessoal e reservada do preso com seu advogado:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
O núcleo do tipo é o verbo impedir, o que significa que em razão da conduta da autoridade
que tem o preso sob sua custódia a entrevista pessoal e reservada do preso com o advogado não
ocorreu.
Além disso, para a existência do crime é preciso que o impedimento se dê sem justa causa,
se houver justa causa não há crime, trata-se de um elemento normativo do tipo que exigirá juízo
de valor por parte do magistrado.
Esse crime pode ser cometido por qualquer autoridade que tenha um preso sob sua
custódia, os sujeitos passivos do crime são o preso e o seu advogado, violar prerrogativa de
advogado ligada ao preso é crime, mas nesse caso há uma norma especial, caso não haja a
incidência dessa norma será aplicado o delito do art. 43.
O crime desse artigo pode ser praticado por outras autoridades além do diretor do
estabelecimento ou o delegado de policia.
Exemplo: o agente da escolta que conduziu o preso ao fórum pode cometer essa infração penal.
Exemplo de justa causa: há três presos que foram conduzidos para o fórum, há apenas quatro
agentes responsáveis por essa condução, são necessários dois agentes para um preso e dois
agentes para o outro para a condução até a sala de audiência e etc. Não é possível permitir que os
três tenham uma entrevista pessoal e reservada cada um com seu advogado ao mesmo tempo,
A existência da infração penal depende do especial fim de agir do agente, o sujeito quis
beneficiar à terceiro ou beneficiar a si mesmo, prejudicar outrem, buscou satisfação pessoal ou
mero capricho.
A entrevista deve ser pessoal, o que significa que preso e advogado devem estar frente a
frente, a entrevista deve ser reservada, isto é, devem estar presentes apenas o advogado e o
preso. Caso não haja sala para que o advogado e seu o cliente preso possam conversar de maneira
reservada, eles poderão conversar ao fim do corredor com o agente da escolta presente, por
exemplo, se por motivos de estrutura e segurança for necessária à presença de agentes prisionais
durante a conversa entre o advogado e seu cliente, estes agentes prisionais nada podem falar
sobre o que foi conversado, eles devem guardar absoluto sigilo.
A pena é de detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa, trata-se de uma infração
penal de menor potencial ofensivo, a competência é em regra do juizado especial criminal e se
presentes os requisitos caberá transação penal ou suspensão condicional do processo.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem impede o preso, o réu solto ou o investigado de
entrevistar-se pessoal e reservadamente com seu advogado ou defensor, por prazo razoável,
antes de audiência judicial, e de sentar-se ao seu lado e com ele comunicar-se durante a
audiência, salvo no curso de interrogatório ou no caso de audiência realizada por
videoconferência.
Portanto, somente o juiz pode impedir que o réu, esteja ele solto, preso ou sob investigação
tenha uma entrevista pessoal e reservada com o seu advogado, já que o tipo fala em audiência
judicial, quando o tipo fala de um investigado entrevistar-se pessoal e reservadamente com seu
defensor, antes da audiência judicial é consagrado o direito a entrevista prévia nos casos de
audiência de custódia, porque nesse caso ele não é réu e sim um investigado que foi preso em
flagrante delito, na audiência de custódia o investigado deve ter garantido o direito de entrevistar-
se pessoal e reservadamente com o seu advogado.
A norma diz que a entrevista deve ser por prazo razoável, ocorre que a lei não diz o que é
prazo razoável, entende-se que esse prazo deve ser fixado segundo um critério objetivo, porque se
há a permissão de o preso conversar antes da audiência judicial com seu advogado pelo prazo de
um minuto, entende-se que não houve sequer entrevista, de maneira que há a frustração da
norma, essa permissão é uma proibição de fato, por isso a lei exige um prazo razoável. O prazo
razoável é de quinze minutos, conforme critério objetivo.
Incorre na mesma pena quem impede o preso, o réu solto ou o investigado de sentar-se ao
lado de seu advogado e com ele comunicar-se durante a audiência. No fim do parágrafo único do
art. 20 há elementos negativos do tipo penal, porque ele diz “salvo no curso de interrogatório ou
no caso de audiência realizada por videoconferência”
Não há crime quando o preso não pode se sentar ao lado do seu defensor em razão da
audiência ser realizada por videoconferência, porque nesse caso há um impedimento de natureza
física, o advogado está no fórum e o réu ou investigado no presidio, a segunda situação é durante o
Art. 21. Manter presos de ambos os sexos na mesma cela ou espaço de confinamento:
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
O art. 21, caput não abrange as pessoas submetidas a medidas de segurança, não se fala
em medida de segurança detentiva, nem em menor de idade.
O dispositivo fala em ambos os sexos na mesma cela, quando a lei fala em ambos os sexos
ela se refere ao sexo masculino e ao sexo feminino, tal classificação não se dá segundo a
identidade biológica do indivíduo, mas segundo a sua identidade social, o transgênero deve ser
colocado em cela de acordo com a sua identidade social, ou seja, se ele se apresenta como mulher
é uma mulher e consequentemente deve ser colocada em um presidio feminino.
O STF diz que não é necessária a submissão a qualquer cirurgia e nem mesmo a alteração
de assentamento do registro civil. Além disso, pode ser promovida a alteração do assentamento do
registro civil pela via administrativa. Caso haja a dissonância entre o sexo conferido ao nascer,
conforme a identidade biológica e o sexo que a pessoa entendeu possuir, de acordo com a sua
identidade social e personalidade, o individuo pode altera-la, mas ainda que não haja alteração se
o individuo assim se vê ele deve ser colocado na cela de acordo com sua identidade social,
prestigia-se nessa jurisprudência o direito fundamental ao desenvolvimento da personalidade.
A pena é de detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, essa infração penal é de médio
potencial ofensivo, é admitida a suspensão condicional do processo, o regime inicial mais gravoso
será o semiaberto.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem mantém, na mesma cela, criança ou adolescente
na companhia de maior de idade ou em ambiente inadequado, observado o disposto na Lei nº
8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente).
Manter na cela criança em ambiente inadequado é crime, sempre existirá esse crime, pois a
criança não pode ser colocada em uma cela, a criança não está submetida a medidas
socioeducativas e sim a medidas de proteção. Portanto, essa parte do parágrafo único está
equivocada pelo tipo penal ser redundante. A cela sempre é um ambiente inadequado para a
criança.
Caso um adolescente esteja na mesma cela que um maior de idade haverá crime, a
manutenção de um adolescente em uma cela com ambiente inadequado também incorre em
crime.
A conduta do parágrafo único é apenada com sanção igual a do caput, o que significa que
trata-se de uma infração de médio potencial ofensivo e se estiverem presentes os requisitos será
possível a suspensão condicional do processo. A pena privativa de liberdade é de detenção, de
forma que o regime inicial mais gravoso possível é o semiaberto, a título de regressão de regime é
possível que o sujeito seja submetido ao regime fechado.
§ 2º Não haverá crime se o ingresso for para prestar socorro, ou quando houver fundados
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem pratica a conduta com o intuito de:
I - eximir-se de responsabilidade civil ou administrativa por excesso praticado no curso de
diligência;
II - omitir dados ou informações ou divulgar dados ou informações incompletos para desviar o
curso da investigação, da diligência ou do processo.