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RESUMO
Tema: a criança com Síndrome de Down apresenta um atraso na aquisição e desenvolvimento dos
aspectos fonoarticulatórios, atraso este, que tem sido atribuído a características físicas e ambientais
que influenciam negativamente no processo de desenvolvimento. Caracterizar os aspectos fonoarti-
culatórios dos sujeitos com Síndrome de Down pode proporcionar uma melhor compreensão das alte-
rações abordadas na reabilitação em suas diversas modalidades e contribuir na evolução terapêutica.
Por esta razão decidiu-se focar com maior profundidade em um dos aspectos mais importantes da
comunicação, a fonoarticulação. Objetivo: caracterizar as alterações fonoarticulatórias encontradas
em indivíduos portadores da Síndrome de Down, por meio de uma revisão bibliográfica, enfocando a
importância da intervenção precoce frente a tais circunstâncias. Conclusão: a falta de estimulação
e o encaminhamento tardio irão interferir no desenvolvimento fonoarticulatório, assim, por meio da
intervenção precoce, será possível a obtenção de melhores resultados, fazendo com que grandes
problemas tornem-se alterações mínimas.
A maioria dos portadores da SD apresenta face O choro de uma criança com Síndrome de Down
curta, sendo poucos os casos de mesio e dolicofa- é monótono, grave e áspero. A voz de uma criança
ciais 5,9. Os achados cefalométricos demonstram a maior com esta síndrome pode ser tensa, rouca ou
existência de um déficit significativo de crescimento gutural 14. Indivíduos portadores desta síndrome,
da maxila, estando de acordo com a alta incidência além de apresentarem soprosidade e rouquidão,
de classe III, mordidas cruzadas uni e bilaterais e têm também uma forte prevalência de hipernasa-
mordida aberta 5,9,10. lidade. As alterações de ressonância encontra-
O tamanho médio da mandíbula na SD não é, das nestes pacientes devem-se, principalmente,
significativamente, maior do que nas pessoas nor- à forma alterada das cavidades de ressonância,
mais. O que ocorre é um posicionamento anterior da agravada pela imprecisão do movimento de órgãos
face. O crescimento e o desenvolvimento anormais fonoarticulatórios 15.
da mandíbula podem também ser causados pela Nos achados da literatura, foram encontrados
hipotonia dos músculos temporal e masseter, hiper- espessamento de mucosa das pregas vocais. A
funcionalidade das articulações temporomandibula- mucosa faríngea apresentou sinais de atrofia e ten-
res, respiração oral, língua alojada na parte ante- dência ao ressecamento, hipertrofia das amígdalas
rior da cavidade oral, modo adaptado de deglutir, e palato profundo. A movimentação do palato mole
além do insuficiente crescimento ântero-posterior e e das pregas vocais é normal. A qualidade vocal
vertical. A classe III também pode ser resultado da tensa ou estridente foi atribuída à hipertonicidade
função e postura da língua. Alguns casos de classe das pregas vestibulares durante a fonação 15.
III são verdadeiros casos de prognatismo 9. Muitos A qualidade vocal dos indivíduos com SD apre-
fatores estão associados à mordida aberta ante- sentam frequência fundamental mais baixa (devido
rior, como crescimento deficiente da maxila acom- a provável falta de controle em tensionar as pregas
panhado do pressionamento da língua e doenças vocais, alterando a frequência de vibração), acom-
periodontais 11. panhada por instabilidade. Jitter e shimmer são cor-
Por outro lado, em um estudo brasileiro realizado relacionados com os desvios encontrados, incluindo
com 102 crianças com SD, de ambos os sexos, e rugosidade, soprosidade, astenia e aspereza 16.
com faixa etária entre 3 a 16 anos, a maioria dos É importante ressaltar que uma voz instável pode
pacientes apresentou desenvolvimento dentário comprometer a inteligibilidade da mensagem, além
dentro do padrão de normalidade 12. disso, tal parâmetro auditivo apresenta uma cono-
Quanto à hipotonia, quando acentuada, pode tação psicodinâmica negativa, tornando o falante
ocasionar uma menor movimentação dos órgãos subestimado em suas reais capacidades 14,17.
fonoarticulatórios (OFAs), refletindo em impreci- Outro fator orgânico que influencia na comuni-
sões articulatórias, substituições ou distorções de cação são os déficits sensoriais, como a deficiência
sons. Além da hipotonia e hipomobilidade, a falha auditiva. Uma causa relevante de comprometimento
na propriocepção de lábios pode levar à omissão ou auditivo nesta população é representada pela otite
distorção dos sons bilabiais. A protrusão da língua, média e anomalias otológicas em associação com
encontrada na SD, pode causar ceceio: a hipotonia a síndrome, como as malformações dos ossículos
de dorso de língua tem como consequência altera- da orelha média e as aspirais cocleares encurta-
ções ou omissão dos fonemas linguopalatais e os das. Diferenças nas estruturas neurais do tronco
problemas de mobilidade de ponta de língua podem cerebral também podem afetar a transmissão do
ocasionar a má articulação ou omissão do /r/ brando estímulo auditivo ao longo do trajeto do VIII par do
e de outros sons linguodentais e linguoalveolares 13. nervo craniano. Tal deficiência prejudica, significa-
Outra alteração encontrada nestes indivíduos tivamente, a automonitoração do portador da sín-
é a mordida aberta e, quanto a isso, a articulação drome em níveis fonoarticulatórios e prosódicos. É
dos fonemas linguodentais, nesses casos, são arti- por meio do feedback auditivo que a criança regula
culados como interdentais. O ceceio anterior nesse a qualidade da articulação, compreende o som,
contexto fica facilitado, contribuindo para a distor- pode corrigir-se na fala, na escrita e na leitura 5.
ção desses fonemas. Na classe III, observa que a É importante sanar ou minimizar aspectos físi-
articulação é imprecisa, os fonemas linguodentais cos que possam prejudicar a articulação e produção
/n, l, t, d/ são produzidos com a ponta da língua vocal por meio de exercícios para fortalecimento da
atrás dos dentes inferiores e a parte medial fazendo musculatura, adaptação de próteses dentárias ou
contato com a papila retro-incisal. Os fonemas fri- auditivas 2.
cativos /f, v/ são pronunciados com o lábio superior A linguagem representa um dos aspectos mais
e incisivos inferiores, indicando que as alterações importantes a ser desenvolvido por qualquer criança,
de ponto de articulação acompanham as alterações para que possa se relacionar com as demais pes-
anatômicas 13. soas e se integrar no meio social. Indivíduos mais
a língua anteriorizada, pode-se trabalhar tônus e com o meio, visando a aquisição de uma fala clara
postura dos lábios, propiciando o vedamento labial e bem-articulada, dentro de certos limites, a qual
e adequação de suas funções; correções da hipoto- incentiva a interação e a comunicação social, con-
nia de bochechas, responsável para a manutenção tribuindo para o desenvolvimento da articulação dos
de uma pressão intra-oral diminuída e uma menor sons e da habilidade verbal, bem como orientando
energia na produção dos fonemas oclusivos e fri- a família para as maneiras adequadas de estimula-
cativos; mobilidade do palato mole que se encon- ção 21,23,24.
tra incompetente na SD; exercícios que facilitem a O trabalho dos profissionais é bem mais abran-
postura e tensão da língua, evitando a protrusão, gente do que simplesmente orientar os pais sobre
devido à hipotensão 21. como devem segurar ou brincar com o bebê. A esti-
Da mesma maneira que todos os outros movi- mulação engloba uma série de práticas específicas
mentos da criança com SD são incoordenados e usadas para desenvolver a capacidade da criança
demoram a evoluir satisfatoriamente, a hipofuncio- de acordo com seu grau de comprometimento e da
nalidade da língua dificulta sua posição intra-oral, fase de desenvolvimento em que se encontra 21.
necessária para emissão precisa dos linguoden- Os benefícios potenciais obtidos para a área,
tais (/l/, /n/, /d/, /r/, /t/). Os bilabiais são mais fáceis com esta pesquisa de revisão de literatura, incluem
de serem reproduzidos e observados (geralmente a possibilidade de aquisição de informações que
os primeiros que surgem ao longo do desenvolvi- poderão resultar em maior conhecimento sobre as
mento). Esta é a razão da importância do auxílio alterações encontradas nos pacientes com Sín-
do fonoaudiólogo, pois as orientações necessárias drome de Down, valorizando assim o indivíduo no
serão dadas através deste profissional, para que os seu processo de reabilitação. Assim, conhecendo
adultos não façam exigências, solicitando à criança tais distúrbios podem minimizar o real impacto da
sons muito complexos, que ainda não poderão ser alteração da comunicação em sua qualidade de
emitidos 13,21. vida.
Na SD, desde o nascimento, são encontrados
distúrbios relacionados com a comunicação, princi- n CONCLUSÃO
palmente no que se refere à expressão. A criança
encontra dificuldade para sugar, deglutir 22, masti- A falta de estimulação e o encaminhamento
gar, controlar os movimentos dos lábios e da lín- tardio irão interferir no desenvolvimento fonoarti-
gua e isto ocasiona atraso na articulação dos movi- culatório, assim, por meio da intervenção precoce,
mentos que compõem a fala expressiva. O trabalho será possível a obtenção de melhores resultados,
terapêutico visa nos primeiros anos de vida, melho- fazendo com que grandes problemas tornem-se
rar as funções de sucção, mastigação, deglutição, alterações mínimas 19.
respiração e fonação, que atuam como pré-requisi- Caracterizar os aspectos fonoarticulatórios dos
tos para a aquisição da fala. Esse trabalho de base sujeitos com Síndrome de Down pode proporcionar
torna-se importante devido à hipotonia 21. uma melhor compreensão das alterações inerente
Além de atuar na construção da linguagem (não- a essa população, podendo estas ser abordadas
verbal e verbal) a Fonoaudiologia segue as etapas na reabilitação em suas diversas modalidades, ser-
de desenvolvimento da criança e de sua interação vindo como parâmetro na evolução terapêutica.
ABSTRACT
Background: children with Down’s Syndrome show a retard in language acquisition and develop
inarticulateness distress. This delay has been attributed to the physical and environmental
characteristics that have a negative impact on the development process. Characterizing articulation
aspects of subjects with Down Syndrome may provide a better understanding of the changes addressed
in rehabilitation in their different ways and contribute to the development therapy. For this reason, we
decided to focus in greater depth in one of the most important communication aspects, the articulation.
Purpose: characterize the inarticulateness distress found in subjects with Down Syndrome by means
of a literature review, focusing on the importance of early intervention before such circumstances.
Conclusion: lack of stimulation or late treatment will affect the development phonoarticulatory, thus,
through early intervention it will be possible to obtain better results, causing major problems to become
minimal disturbances.