Você está na página 1de 52

1

DEFICIÊNCIA
AUDITIVA E SURDEZ
2

3 UNIDADE 1 - Introdução
5 UNIDADE 2 - A audição e o aparelho auditivo
8 UNIDADE 3 - Deficiência auditiva / surdez
8 3.1 Diagnóstico da deficiência auditiva

12 3.2 Classificação das perdas auditivas

14 UNIDADE 4 - Educação de pessoas surdas


20 UNIDADE 5 - Atendimento educacional especializado
21 5.1 Conceito e definição

SUMÁRIO
23 5.2 As salas de recursos

25 5.3 A sala de recurso para deficiência auditiva e o intérprete

29 5.4 Atribuições do professor no AEE

30 5.5 A importância da revisão do PPP e do currículo escolar

32 UNIDADE 6 - Libras e AEE em libras


32 6.1 A Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS

36 6.2 AEE em LIBRAS

38 UNIDADE 7 - AEE para ensino da língua portuguesa


42 REFERÊNCIAS
46 ANEXOS
3

UNIDADE 1 - Introdução

Além dos limites e possibilidades das relativo ao contexto da escola para o


pessoas com surdez, estas ainda tem aluno com surdez, no que diz respeito
que conviver com o problema do precon- ao cotidiano pedagógico, precisa ser re-
ceito! direcionado, construindo novas e infini-
tas possibilidades que levem este aluno
Segundo Damázio (2007), as pessoas
a uma aprendizagem contextualizada e
com surdez enfrentam inúmeros entra-
significativa, valorizando seu potencial
ves para participar da educação escolar,
e desenvolvendo suas habilidades cog-
decorrentes da perda da audição e da
nitivas, linguísticas e sócio-afetivas.
forma como se estruturam as propostas
educacionais das escolas. Muitos alunos Não há dúvidas que o AEE, como um ló-
com surdez podem ser prejudicados pela cus epistemológico da educação inclusi-
falta de estímulos adequados ao seu va, constitui-se numa proposta voltada
potencial cognitivo, sócio-afetivo, lin- aos alunos com surdez que visa a prepa-
guístico e político-cultural e ter perdas rar para a individualidade e a coletivida-
consideráveis no desenvolvimento da de, provocando um processo dialógico,
aprendizagem, portanto, a inclusão do de superação da imanência e a busca de
aluno com surdez deve acontecer desde mudanças sociais, culturais e filosóficas.
a educação infantil até a educação supe- Uma ruptura de fronteiras para as infini-
rior, garantindo-lhe, desde cedo, utilizar tas possibilidades humanas.
os recursos de que necessita para supe-
Pois bem, nosso ponto de partida,
rar as barreiras no processo educacional
visto tratarmos do AEE para deficiência
e usufruir seus direitos escolares, exer-
auditiva, será a audição, o aparelho au-
cendo sua cidadania, de acordo com os
ditivo, o diagnóstico e classificação da
princípios constitucionais do nosso país.
deficiência auditiva. Na sequência, fala-
Segundo Alvez; Ferreira e Damázio remos um pouco sobre as pessoas com
(2010), a construção de um caminho pe- problemas auditivos, a sua educação e a
dagógico para o Atendimento Educacio- participação da família nesse processo.
nal Especializado – AEE – para pessoas
Uma vez que o objetivo da apostila é
com surdez, numa perspectiva inclusiva,
justamente aprofundar no Atendimento
com base em princípios decorrentes dos
Educacional Especializado (AEE), este
novos paradigmas, tem encontrado di-
será definido e abordaremos o AEE para
ficuldades para se efetivar, em virtude
pessoas com surdez, AEE em LIBRAS
de problemas relacionados a decisões
e para o ensino da Língua Portuguesa,
político-filosóficas, pedagógicas, meto-
além de falarmos das salas de recursos e
dológicas e de gestão e planejamento da
do papel do intérprete/tradutor.
escola brasileira.
Ressaltamos em primeiro lugar que
Elas esclarecem que o ato educativo
4

embora a escrita acadêmica tenha como


premissa ser científica, baseada em
normas e padrões da academia, fugire-
mos um pouco às regras para nos apro-
ximarmos de vocês e para que os temas
abordados cheguem de maneira clara e
objetiva, mas não menos científicos. Em
segundo lugar, deixamos claro que este
módulo é uma compilação das ideias de
vários autores, incluindo aqueles que
consideramos clássicos, não se tratan-
do, portanto, de uma redação original
e tendo em vista o caráter didático da
obra, não serão expressas opiniões pes-
soais.

Ao final do módulo, além da lista de


referências básicas, encontram-se ou-
tras que foram ora utilizadas, ora so-
mente consultadas, mas que, de todo
modo, podem servir para sanar lacunas
que por ventura venham a surgir ao lon-
go dos estudos.
5

UNIDADE 2 - A audição e o aparelho auditivo

É por meio da audição que conseguimos quando o tímpano, ou a membrana timpâ-


identificar e reconhecer os diferentes nica, é perfurada, podemos ter perda de
sons do ambiente, além de podermos nos audição e até ser submetidos a uma cirur-
comunicar com nossos semelhantes. gia de enxerto para a sua reconstrução.

A orelha é uma obra de arte de enge- Na face interna do tímpano, está a ore-
nharia que consiste em três partes: ore- lha média, que é uma câmara cheia de ar
lha externa, orelha média e orelha interna com três pequenos ossos (os menores do
(HONORA; FRIZANCO, 2008). corpo humano), os quais estão conecta-
dos entre si. São eles: martelo,
bigorna e estribo. Os ossos re-
cebem esses nomes pela se-
melhança que têm com esses
objetos. Os ossículos unem o
tímpano à janela oval, uma aber-
tura no revestimento ósseo da
cóclea. Ainda na orelha média,
está localizada a tuba auditiva
que é a nossa ligação entre o
ouvido, o nariz e a garganta. É o
que nos dá a sensação de sen-
tir o gosto de alguns remédios
quando os pingamos no nariz.
A orelha externa é composta de duas
estruturas: a orelha, também conhecida Em razão de termos essa tuba auditiva
como ouvido, ou pavilhão auricular, que é que liga nossa garganta à orelha média,
uma estrutura externa semelhante a um pode-se acumular pus nessa região, devi-
funil, feita de cartilagem e pele que tem do às infecções de ouvido (otites), por uso
a função de captar as ondas sonoras e as indevido de mamadeiras e amamentação
desviar para dentro do conduto auditivo dada para o bebê enquanto ele está deita-
externo, que é o corredor que encaminha, do. Por este motivo, também podem ocor-
amplificando, a onda sonora ate o tímpa- rer lesões no tímpano devido ao seu rom-
no, o qual vibra como se fosse o couro de pimento para a saída desse líquido. Muitas
um tambor. crianças em idade escolar apresentam
esse problema, o que pode diminuir sua
No conduto auditivo externo, temos a
atenção auditiva e consequentemente
presença de pelos e de certas glândulas
causar deficiência auditiva.
que produzem cera para proteger a ore-
lha; portanto, a limpeza exagerada desse A cóclea é a estrutura do ouvido pela qual
local pode causar danos e até lesões sé- ouvimos. Ela é do tamanho de uma ervilha
rias na audição. Vale lembrar também que, e é nela que estão localizados os recepto-
6

res auditivos. Quando as ondas sonoras fa- (2008), toda vez que formos a um show
zem o tímpano vibrar, essas vibrações são de heavy metal e, ao chegarmos em casa,
transmitidas para os ossículos que, por sua escutarmos nosso ouvido apitar, significa
vez, produzem uma ação semelhante à de que algumas de nossas células ciliadas es-
uma alavanca, transmitindo e amplificando tão morrendo.
as vibrações para a membrana que reveste
a janela oval da cóclea.
O som tem três dimensões físicas:
frequência, amplitude e complexida-
A cóclea, que tem esse nome porque pa- de, como demonstra a tabela abaixo.
rece um caracol, é uma estrutu-
ra oca e os compartimentos des-
se espaço são preenchidos por
líquido, onde há uma membrana
fina denominada membrana ba-
silar, na qual estão inseridas as
células ciliadas (cílios), que são
nossos receptores auditivos.

O processo funciona da se-


guinte forma: o som entra pela
orelha externa, passa pelo con-
duto auditivo externo, onde é
amplificado e faz com que a membrana Embora o som seja transmitido a uma
timpânica vibre. velocidade de cerca de 330 metros por
segundo, as ondas sonoras variam no que
A membrana timpânica vibra e faz com
se refere à taxa de vibração, conhecida
que os ossículos (martelo, bigorna e estri-
como frequência. Mais precisamente, a
bo) também vibrem como numa alavanca.
frequência se refere ao número de ciclos
Os ossículos amplificam e transmitem as
de uma onda, completados em um deter-
vibrações para a janela oval posicionada
minado período. As frequências das ondas
na entrada da cóclea. Na cóclea, as células
sonoras são medidas em unidade de ciclos
ciliadas se movimentam e transformam os
por segundo, denominada hertz (Hz).
sons recebidos em impulsos elétricos que
caminham até o cérebro pelo nervo audi- Um hertz é um ciclo por segundo, 50
tivo. No cérebro, estes impulsos elétricos hertz são 50 ciclos por segundo, e assim
são codificados e “entendidos” pela pes- por diante. Os sons que percebemos como
soa. Enfim: uma estrutura bem complexa! graves têm frequências baixas (poucos
ciclos por segundo) e os que percebemos
Temos em média 15 mil células ciliadas
como agudos têm frequências elevadas
em nossa orelha interna. A boa notícia é
(muitos ciclos por segundo).
que elas são muito numerosas e a péssi-
ma notícia é que elas não nascem mais, Podemos perceber os sons apenas
não se regeneram. dentro de um intervalo limitado de frequ-
ência. Para os humanos, esse intervalo se
Como bem explicam Honora e Frizanco
7

estende de aproximadamente 20 hertz a sidade de referência padronizada. Sons


20.000 hertz. Como os humanos, muitos superiores a aproximadamente 70 deci-
animais produzem algum tipo de som para béis são percebidos como altos, enquanto
se comunicar, o que significa que devem os inferiores a 20 decibéis são considera-
possuir sistemas auditivos designados dos baixos. Os sons da fala normal estão
para interpretar os sons típicos de sua em cerca de 40 decibéis.
espécie. Os intervalos das frequências
sonoras que as diferentes espécies usam
A união dessas duas propriedades do
variam muito. Na figura abaixo, podemos som estão ilustradas no gráfico abaixo:
observar essas diferenças.

As rãs ouvem apenas uma faixa muito


estreita de frequências, enquanto as ba-
leias e os golfinhos ouvem uma faixa mais
ampla. Embora nos humanos a faixa de
audição seja bastante extensa, com um Temos também o sistema vestibular que
pico de cerca de 2.000 hertz, não somos nos informa sobre nossa localização em re-
capazes de perceber muitos dos sons que lação à gravidade, sobre a aceleração e a
outros animais podem produzir e ouvir. desaceleração de nossos movimentos e so-
Além da frequência, a amplitude pode bre as alterações na direção do movimento.
causar uma diferença no tom percebido. A Também nos permitem ignorar a influência
amplitude é o termo que se refere à magni- desestabilizadora que nossos movimentos
tude da mudança na densidade de molécu- poderiam exercer sobre nós. Por exemplo,
las de ar. O aumento na compressão de mo- quando estamos em pé em um ônibus, até
léculas de ar eleva a quantidade de energia mesmo os movimentos leves do veículo po-
em uma onda sonora, o que faz o volume do deriam fazer com que perdêssemos o equilí-
som parecer mais alto – mais amplificado. brio, mas não o fazem. Do mesmo modo, ao
fazermos movimentos, evitamos um tom-
A amplitude do som geralmente é medi- bo com facilidade, apesar de deslocarmos o
da em decibéis (dB), medida que descreve peso do corpo constantemente. Nosso siste-
a potência de um som em relação à inten- ma vestibular nos possibilita evitar o tombo.
8
UNIDADE 3 - Deficiência auditiva / surdez

Inicialmente, gostaríamos de distinguir de uma linguagem visual-espacial. Tam-


deficiência auditiva e surdez não só por bém é importante considerar as pessoas
uma questão didática, mas para facilitar o que apresentam resíduo auditivo e que,
entendimento. portanto, carecem de estímulos dessa na-
tureza (FIOCRUZ, 2009).
A deficiência auditiva acontece quando
alguma das estruturas da orelha apresen- A Deficiência auditiva é considerada
ta uma alteração, ocasionando uma dimi- como a diferença existente entre o de-
nuição da capacidade de perceber o som. sempenho do indivíduo e a habilidade nor-
Geralmente, o deficiente auditivo se co- mal para a detecção sonora de acordo com
munica pela fala e apresenta uma perda padrões estabelecidos pela American Na-
auditiva de grau leve ou moderado. tional Standards Institute (ANSI – 1989).

A surdez também é ocasionada por al- Considera-se, em geral, que a audição


guma alteração nas estruturas da orelha, normal corresponde à habilidade para de-
ocasionando uma incapacidade em perce- tecção de sons até 20 dB N.A (decibéis, ní-
ber o som. Geralmente o surdo se comuni- vel de audição) (FIOCRUZ, 2009).
ca por meio da Língua Brasileira de Sinais
(LIBRAS) e apresenta uma perda auditiva 3.1 Diagnóstico da deficiên-
de grau severo ou profundo. cia auditiva
A deficiência auditiva e a surdez apre- Perda auditiva é a redução da audição
sentam características bem diferentes, em qualquer grau que reduza a inteligibili-
porém ambas ocasionam uma limitação dade da mensagem falada para a interpre-
para o desenvolvimento do indivíduo. tação apurada ou para a aprendizagem.
Consideramos que a audição é fundamen- Qualquer tipo de perda auditiva pode
tal para a aquisição da linguagem falada e comprometer a linguagem, o aprendiza-
sua deficiência pode ocasionar muita difi- do, o desenvolvimento cognitivo e a inclu-
culdade nas relações sociais, psicológicas são social da criança. Por estes motivos, o
e na interação. diagnóstico da deficiência auditiva deve
ser o mais precoce possível (ROSLYN-JEN-
A audição desempenha um papel prin- SEN, 1996).
cipal e decisivo no desenvolvimento e na
manutenção da comunicação por meio da Na criança, a perda auditiva tem pecu-
linguagem falada, além de funcionar como liaridades quanto às causas, ao diagnós-
um mecanismo de defesa e alerta contra tico, e ao tratamento, que variam com
o perigo que funciona 24 horas por dia, a faixa etária. Isto deve ser do conheci-
pois nossos ouvidos não descansam nem mento dos pediatras, para que se possa
quando dormimos. suspeitar e diagnosticar o quadro o mais
rapidamente possível. A atenção destes
As pessoas com surdez são extrema- profissionais deve estender-se desde o
mente visuais, o que favorece o domínio nascimento, em que predomina a surdez
9

neurossensorial profunda, até os escola- bais. As respostas esperadas são reflexas,


res, que apresentam déficits leves ou mo- como, por exemplo, reflexo cócleo-palpe-
derados, determinados por infecções da bral, procura da fonte sonora, cessação
orelha média (VIEIRA; MACEDO; GONÇAL- da atividade corporal, mudança na ex-
VES, 2007). pressão facial e visual, choro, risos, entre
outros. Os estímulos são apresentados
O diagnóstico de perda auditiva, assim
em ordem decrescente de intensidade,
como do grau e tipo, baseia-se na história
sendo que os bebês de até três meses de
atual e pregressa, focalizada na pesquisa
vida devem estar em estado de sonolên-
de fatores de risco gestacionais, perina-
cia e, após essa faixa etária, em estado de
tais e pós-natais, no histórico de doenças
alerta (FERREIRA, 2004; GARCIA, ISAAC,
infecciosas e respiratórias, na avaliação
OLIVEIRA, 2002; CARVALLO, 2003).
otorrinolaringológica, e nos testes audio-
lógicos (ROESER, 2001; CARVALLO, 2003). A partir dos seis meses de vida, a ava-
Esses testes dividem-se em subjetivos e liação audiológica pode ser feita através
objetivos, e têm a indicação feita na de- do audiômetro pediátrico, que possibilita
pendência da idade da criança, e do grau noção aproximada do grau de perda au-
de desenvolvimento neuropsicomotor ditiva. Ainda assim, este tipo de avalia-
global e cognitivo. ção tem característica mais qualitativa do
que quantitativa. As vantagens são bai-
Os testes subjetivos são menos pre-
xo custo, fácil realização e aparelhagem
cisos, pois dependem da resposta do pa-
pouco sofisticada (FERREIRA, 2004; GAR-
ciente, o que pode interferir no resultado.
CIA, ISAAC, OLIVEIRA, 2002; CARVALLO,
Os testes têm o resultado influenciado
2003).
pelo interesse, cognição e participação da
criança, o que exige habilidade, experiên- A principal desvantagem é a suscetibi-
cia e paciência do examinador (FERREIRA, lidade a interferências ambientais, como
2004; GARCIA, ISAAC, OLIVEIRA, 2002; ruídos, pistas visuais e interferência dos
CARVALLO, 2003). Por isso, esses exames pais.
devem ser realizados preferencialmente
A audiometria tonal e a vocal buscam
por profissionais com formação específica
quantificar os limiares auditivos. A audio-
para esse fim, sendo o audiologista o mais
metria tonal afere a menor intensidade
capacitado. Os testes subjetivos mais im-
sonora capaz de gerar sensação auditi-
portantes são a audiometria comporta-
va na criança para tons puros, enquanto
mental, a audiometria tonal e a vocal.
a audiometria vocal o faz para estímulos
A avaliação audiológica comportamen- de fala (FERREIRA, 2004; GARCIA, ISAAC,
tal é realizada em neonatos e lactentes OLIVEIRA, 2002; CARVALLO, 2003).
até os 2,5 anos.
Em função da complexidade de coman-
Baseia-se na observação das respos- dos, estas avaliações são indicadas para
tas comportamentais evidenciadas por crianças a partir de 6 anos de idade. O
estímulos acústicos instrumentais (ins- equipamento utilizado consiste em cabi-
trumentos musicais de percussão), tons na acústica, audiômetro, fones de ouvido,
puros (audiômetro pediátrico) e sons ver- material para reforço visual e brinquedos
10

pedagógicos (VIEIRA; MACEDO; GONÇAL- variadas, conforme o estímulo; estes são


VES, 2007). detectados pela sonda, e a seguir filtrados
e amplificados pelo equipamento acopla-
A audiometria condicionada é uma va-
do a um computador. O exame é indolor,
riante da audiometria vocal e tonal, que
não invasivo, rápido, de baixo custo, tem
pode ser realizada em crianças a partir de
elevada sensibilidade, e a aparelhagem é
dois anos de idade. O objetivo é fazer com
portátil.
que a criança faça a associação entre o es-
tímulo sonoro apresentado e um estímu- Essas características tornaram a EOAT
lo visual de reforço. A audiometria lúdica – Emissões Otoacústicas Evocadas por
é uma outra alternativa de teste possível estímulo transiente – o mais adequado
para a faixa etária de dois a 6 anos é que e utilizado para as triagens auditivas em
pode ser realizada em acordo com o de- recém-nascidos. Um resultado normal in-
senvolvimento neuropsicomotor da crian- dica integridade da fisiologia coclear para
ça. Por exemplo, a criança é solicitada a o nível de audição social normal, que é de
realizar um ato motor, como encaixar uma até 25 dBNA. Porém, um resultado altera-
peça de um brinquedo, ao ouvir o estímulo do, em que as emissões otoacústicas es-
acústico. tão ausentes, pode ser um falso-positivo.
Neste caso, há a necessidade de se ava-
Os testes audiológicos objetivos são
liar também a orelha média, visto que um
mais precisos do que os acima citados e
simples acúmulo de cerume pode alterar
compreendem a imitanciometria, a avalia-
o teste. Desta forma, no caso de ausência
ção das emissões otoacústicas e os poten-
de respostas, o exame é repetido, e é re-
ciais auditivos evocados. A imitanciome-
alizada a imitanciometria para confirma-
tria verifica a condução sonora pela orelha
ção do resultado (FERREIRA, 2004; GAR-
média através da mensuração e análise
CIA, ISAAC, OLIVEIRA, 2002; CARVALLO,
dos deslocamentos do sistema timpanos-
2003).
sicular em resposta à variação da pressão
do som. O exame emprega uma sonda que Alguns comportamentos são indicati-
é colocada no conduto auditivo externo, vos de perda auditiva, e devem suscitar a
que deve estar desimpedido de cerúmen. atenção dos pediatras e outros profissio-
A imitanciometria não define limiar auditi- nais da saúde, sendo: pedidos frequentes
vo, e indica apenas se a condução do som para que se repitam frases; virar a cabe-
está normal ou alterada na orelha média ça em direção ao orador; falar com inten-
(FERREIRA, 2004; GARCIA, ISAAC, OLIVEI- sidade elevada ou reduzida; demonstrar
RA, 2002; CARVALLO, 2003) esforço ao tentar ouvir; olhar e concen-
trar-se nos lábios da professora; ser desa-
A avaliação das emissões otoacústicas
tento quando há debates na sala de aula;
(EOAT) busca, primordialmente, avaliar se
preferir o isolamento social; ser passivo
a cóclea está com função normal, e para
ou tenso; cansar-se com facilidade; não se
isto uma sonda é colocada no conduto
esforçar para demonstrar capacidade; ter
auditivo externo. Após a produção de um
dificuldade no aprendizado.
estímulo sonoro específico – o click – a có-
clea deve produzir sons de frequências Alguns sinais e sintomas podem estar
11

associados à perda auditiva e merecem não sejam percebidas. Geralmente, crian-


atenção, como a respiração oral, tontura, ças com esta perda apresentam disfun-
otalgia e zumbido (ROESER, 2001; COSTA, ção de aprendizado auditivo, retardo leve
FERREIRA, MARI, 2001). Também devem de linguagem e da fala, e falta de atenção
ter avaliação auditiva as crianças com di- (ROSLYN-JENSEN, 1996; FERREIRA, 2004;
ficuldades escolares de linguagem oral ALMEIDA, SANTOS, 2003).
(confusões fonéticas, inversões, dissi-
No sentido de superar estes proble-
mulações e trocas na articulação), de lin-
mas das crianças com perda auditiva leve,
guagem escrita (trocas, dificuldades na
devemos facilitar a compreensão da fala
expressão escrita e na leitura), e de outra
pela proximidade do falante (local prefe-
natureza (dislexia, disfasia e alterações
rencial na sala de aula) e emprego de tec-
comportamentais); isto possibilita um
nologia auxiliar, como o uso de aparelhos
diagnóstico mais precoce de parte dos ca-
auditivos individuais ou equipamentos de
sos (SANTOS et al., 2001).
frequência modulada (ROSLYN-JENSEN,
A perda auditiva na infância, mesmo 1996; FERREIRA, 2004; ALMEIDA, SAN-
leve, origina dificuldades escolares. Crian- TOS, 2003).
ças com perdas auditivas discretas podem
A perda moderada da audição em limia-
apresentar problemas de desenvolvimen-
res audiométricos de 30 a 50 dB é verifi-
to de linguagem, dificuldades de leitura
cada em crianças com doenças crônicas
e distúrbios comportamentais (ROSLYN-
de orelha média ou com perdas neuros-
-JENSEN, 1996; ROESER, 2001; COSTA,
sensoriais. Com esses limiares, não se
FERREIRA, MARI, 2001).
consegue ouvir a maioria dos sons da fala
Estudos descrevem as consequências durante a conversação e apresenta pro-
da perda auditiva bilateral de acordo com blemas de articulação, como omissões,
o tipo e grau da perda (ROSLYN-JENSEN, substituições e distorções na fala. Essas
1996; FERREIRA, 2004; ALMEIDA, SAN- crianças podem se beneficiar com o uso
TOS, 2003). Assim, a perda discreta com de aparelho auditivo e local preferencial
limiar audiométrico de 15 a 25 dB, causada na sala de aula, além de necessitarem de
mais frequentemente por impedimento treinamento auditivo e de leitura labial
condutivo, permite que a criança ouça os (ROSLYN-JENSEN, 1996; FERREIRA, 2004;
sons das vogais, mas dificulta a adequada ALMEIDA, SANTOS, 2003).
percepção das consoantes.
Na perda auditiva severa (entre 50 e 70
Quando se considera o nível de ruído dB) ou profunda (>70 dB), a criança não
presente no ambiente e a distância exis- consegue perceber qualquer som da fala
tente entre o falante e o ouvinte, esta na conversação normal.
criança pode perder de 25 a 40% do sinal
Estas perdas auditivas graves são, ge-
de fala (ROSLYN-JENSEN, 1996; FERREI-
ralmente, causadas por lesões neuros-
RA, 2004).
sensoriais. A criança com perda auditiva
A perda de audição leve com limiar au- severa apresenta problemas graves de
diométrico de 25 a 30 dB faz com que al- fala (se não estiver em uso de amplifi-
guns sons da fala e consoantes sonoras cação sonora), além de dificuldade de
12

comunicação em grupo ou na presença Quanto ao local do aparelho auditivo


de ruído. Necessitam, além do aparelho afetado, a perda auditiva pode ser de
de amplificação sonora, de fonoterapia transmissão, percepção (neurossenso-
e treinamento de leitura labial (ROSLYN- rial) ou mista. As perdas auditivas que
-JENSEN, 1996; FERREIRA, 2004; ALMEI- decorrem de alguma afecção das ore-
DA, SANTOS, 2003). lhas externa e média são denominadas
de transmissão ou condutivas. As perdas
A criança com perda auditiva profunda
neurossensoriais decorrem de lesões
não tem suficiente audição para propiciar
nas células ciliadas do órgão coclear de
o desenvolvimento espontâneo de fala e
Corti (orelha interna) e/ou do nervo co-
linguagem. Estas podem ser desenvolvi-
clear. Quando há afecção condutiva e
das por meio do treinamento extensivo
neurossensorial concomitantes, classifi-
e com amplificação sonora, dependendo
ca-se a perda auditiva como mista.
da idade em que for iniciada a interven-
ção (ROSLYN-JENSEN, 1996; FERREIRA, Quanto à intensidade da perda audi-
2004; ALMEIDA, SANTOS, 2003). tiva, o critério de classificação do grau
depende de avaliação instrumental, e se
Quanto mais precoce for o diagnóstico
baseia nas médias dos limiares audiomé-
e o trabalho de (re)habilitação auditiva,
tricos (ROESER, 2001). O grau discreto
mais próximo do normal será o desenvol-
de perda auditiva tem como parâmetro
vimento da fala e linguagem (ROSLYN-
limiares auditivos de 15 a 25 dB, o grau
-JENSEN, 1996; FERREIRA, 2004; ALMEI-
leve de 26 a 30, o grau moderado de 31 a
DA, SANTOS, 2003).
50 dB, a perda auditiva severa entre 51 e
Os efeitos da perda auditiva unilate- 70 dB, e a perda profunda >70 dB7 (VIEI-
ral são menores do que os causados pela RA; MACEDO; GONÇALVES, 2007).
perda bilateral, porém, também podem
Reafirmando, são tipos de defici-
ocasionar problemas. Em presença de ru-
ência auditiva: a condutiva, sensó-
ído ambiental, as crianças com perda uni-
rio-neural, mista, central ou surdez
lateral encontram maiores dificuldades
central.
que as ouvintes normais para compreen-
der a fala, mesmo quando a orelha melhor Condutiva:
está posicionada em direção à fala. Além
Quando ocorre qualquer interferência
disso, a localização espacial das fontes
na transmissão do som desde o conduto
sonoras fica comprometida (ALMEIDA,
auditivo externo até a orelha interna. A
SANTOS, 2003).
grande maioria das deficiências auditivas
condutivas pode ser corrigida através de
3.2 Classificação das perdas tratamento clínico ou cirúrgico. Essa de-
auditivas ficiência pode ter várias causas, entre
As perdas auditivas podem ser clas- elas podem-se citar: corpos estranhos no
sificadas segundo o local do aparelho conduto auditivo externo; tampões de
auditivo que apresenta disfunção, o cera; otite externa e média; malformação
acometimento uni ou bilateral, e a inten- congênita do conduto auditivo; inflama-
sidade ou grau. ção da membrana timpânica; perfuração
13

do tímpano; obstrução da tuba auditiva; que são:


entre outras.
audição Normal – limiares entre 0 a
Sensório-Neural: 24 dB nível de audição;
Quando há uma impossibilidade de re- deficiência Auditiva Leve – limiares
cepção do som por lesão das células cilia- entre 25 a 40 dB nível de audição;
das da orelha interna ou do nervo audi-
tivo. Esse tipo de deficiência auditiva é deficiência Auditiva Moderna – li-
irreversível. A deficiência auditiva sensó- miares entre 41 e 70 dB nível de audição;
rio-neural pode ser de origem hereditá- deficiência Auditiva Severa – limia-
ria, como problemas da mãe no pré-natal res entre 71 e 90 dB nível de audição;
tais como a rubéola, sífilis, herpes, toxo-
plasmose, alcoolismo, toxemia, diabetes, deficiência Auditiva Profunda – li-
entre outros. Também podem ser causa- miares acima de 90 dB.
das por traumas físicos, prematuridade, Veremos em detalhes mais adiante,
baixo peso ao nascimento, trauma de mas adiantamos que entre os muitos
parto, meningite, encefalite, caxumba, instrumentos usados para comunicação
sarampo, entre outros. não oral, figura a linguagem dos sinais,
Mista: criada por um monge beneditino francês,
morador de um mosteiro onde imperava
Quando há uma alteração na condução a lei do silêncio. Adotada há mais de cem
do som até o órgão terminal sensorial anos, no Brasil é chamada de LIBRAS.
associada à lesão do órgão sensorial ou
do nervo auditivo. O audiograma mostra Segundo a Federação Nacional de Edu-
geralmente limiares de condução óssea cação e Integração de Surdos – FENEIS,
abaixo dos níveis normais, embora com um indivíduo que já tenha nascido com
comprometimento menos intenso do que deficiência auditiva pode levar um ano
nos limiares de condução aérea. para aprender a linguagem. Já alguém
que ouve bem ou que perdeu a capacida-
Central ou Surdez Central: de auditiva depois de adulto, pode levar
Este tipo de deficiência auditiva não é, um pouco mais de tempo para aprender,
necessariamente, acompanhado de di- por ter se habituado à linguagem oral
minuição da sensitividade auditiva, mas (FIOCRUZ, 2009).
manifesta-se por diferentes graus de di-
ficuldade na compreensão das informa-
ções sonoras. Decorre de alterações nos
mecanismos de processamento da infor-
mação sonora no tronco cerebral (SNC).

Em 1966, Davis e Silverman, defi-


niram os níveis de limiares utiliza-
dos para caracterizar os graus de
severidade da deficiência auditiva
14

UNIDADE 4 - Educação de pessoas surdas

Segundo pesquisa de Costa e Soares de aprendizado global e da comunicação.


(2010), para obter uma aprendizagem es- Sua proposta incide sobre a “recuperação”
colar, é preciso primeiramente relacionar- da pessoa surda, denominada de deficien-
-se com o outro, integrar-se ao convívio te auditivo; seguindo critérios clínicos.
social. Então, cabe ao professor fazer essa
Já na análise do bilinguismo, a língua é
relação de integração do aluno surdo com
considerada um meio para o desenvolvi-
os demais colegas de turma para que haja
mento do ser em seu todo, capaz de pro-
um bom relacionamento entre ambos.
piciar a comunicação das pessoas surdas
O papel da família é fundamental no com os ouvintes, bem como com seus pa-
processo de inclusão, pois é de suma im- res, além de desempenhar também o pa-
portância que ela prepare o seu filho para pel de suporte do desenvolvimento cog-
conviver fora do seio familiar e faça o nitivo.
acompanhamento no desempenho do en-
Segundo Bernardino (2000, p. 29), o bi-
sino/aprendizagem.
linguismo considera que a língua oral não
Quanto ao professor, seu papel é fun- preenche todas essas funções, sendo im-
damental numa sala de aula principalmen- prescindível o aprendizado de uma língua
te se esta incluir alunos com necessidades visual sinalizada desde tenra idade, pos-
especiais, pois precisa ter toda uma pre- sibilitando ao surdo o preenchimento das
paração psicológica e de formação para funções linguísticas que a língua oral não
lidar com esse público trabalhando a inte- preenche.
ração e a inclusão no ambiente escolar.
Assim, as línguas de sinais são tanto o
Existem duas principais filosofias objetivo quanto o facilitador do aprendi-
educacionais em relação aos surdos, zado em geral, assim como do aprendiza-
que são refletidas no comportamento do da língua oral. Essas línguas, diversas
da sociedade para com os mesmos: das línguas orais, têm estrutura própria e
são codificadoras de uma “visão de mun-
a) ORALlSMO, que defende o aprendi-
do” específica, sendo constituídas de uma
zado apenas da língua oral;
gramática própria, apresentando especi-
b) BILlNGUISMO, que defende o ficidades em todos os níveis (fonológico,
aprendizado da língua oral e da língua de sintático, semântico e pragmático), ape-
sinais, reconhecendo o surdo na sua dife- sar de parecerem utilizar princípios gerais,
rença e especificidade (FERREIRA BRITO, nas estruturas subjacentes, semelhantes
1993). aos das línguas orais.

Na prática do oralismo, o objetivo é Sabe-se que, para os surdos, a sua lín-


aproximar o surdo na forma máxima possí- gua primária, de caráter natural, é a língua
vel do modelo ouvinte, por meio da apren- de sinais, e a segunda, em nosso País, a
dizagem da língua, sendo esta analisada língua portuguesa. Porém, segundo Skliar
como instrumento de integração social e (1997, p.153), estatísticas internacionais
15

apontam que somente 4% ou 5% das tes toda vez que se põem a interagir” fa-
crianças surdas são filhas de pais também zendo com que a interpretação da língua
surdos, tendo, então, um acesso natural seja uma atividade humana, uma intera-
a esse bilinguismo pelo contato com a lín- ção social (BAGNO, 2003, p.19).
gua de sinais, sendo esse acesso efetua-
Nesta visão linguística interacionista,
do por meio das interações comunicativas
alicerçado em um resgate histórico, te-
com os seus pais surdos, mesmo estando
mos hoje, juridicamente, o conceito da
inseridos em uma comunidade majoritária
Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS, como
que é ouvinte.
a forma de comunicação e expres-
A maioria das crianças surdas, portanto
são, com o sistema linguístico de
– de 95% a 96% –, não tem a mesma pos-
natureza visual-motora, e estrutura
sibilidade que as que são filhas de surdos.
gramatical própria que constituem
Elas crescem e se desenvolvem dentro de
um sistema linguístico de transmis-
uma família formada em sua totalidade
são de ideias e fatos, oriundos de
por ouvintes, que geralmente desconhe-
comunidades de pessoas surdas do
cem ou rejeitam o uso da língua de sinais.
Brasil (Lei nº 10.436, de 24 de abril
Precisamos entender que há uma dife- de 2002).
rença entre língua e linguagem!
De acordo com Felipe (2005), os si-
Lyons (1987 apud QUADROS, 2006) de- nais surgem da combinação dos se-
fine linguagem como sendo um sistema de guintes parâmetros:
comunicação natural ou artificial, humano
a) configuração das mãos – são for-
ou não. Nesta perspectiva, é qualquer for-
mas das mãos, que podem ser da datilo-
ma utilizada com algum tipo de intenção
logia (alfabeto manual) ou outras formas
comunicativa incluindo a própria língua.
feitas pela mão predominante, ou pelas
Tratada em uma ordem meramente lin- duas mãos do emissor ou sinalizador,
guística, pode-se compreender a língua
b) ponto de articulação – local em que
como um sistema linguístico de infinitas
se faz o sinal, podendo tocar alguma parte
frases de forma altamente criativa.
do corpo ou estar em um espaço neutro;
Em uma perspectiva de ordem social, a
c) movimento – os sinais podem ter um
língua é compreendida como parte consti-
movimento ou não;
tutiva da identidade individual e social dos
seres humanos (BAGNO, 2003, p.16-17). d) orientação/direção – os sinais têm
Nesta perspectiva, somos a língua que fa- uma direção com relação aos parâmetros
lamos e não somente usuários da mesma. acima;
Para tanto, faz-se necessário percor- e) expressão facial e/ou corporal –
rer uma análise do contexto histórico pelo as expressões faciais ou corporais são de
qual se processou a língua. Isto significa grande importância para o entendimento
dizer que é necessário considerá-la como real do sinal, sendo que a entonação em
uma atividade social, como “um trabalho Língua de Sinais é feita pela expressão
empreendido conjuntamente pelos falan- facial.
16

Há ainda a observação do uso pelas primeiro dicionário em sinais.


pessoas surdas em suas interações. Qua-
Há um outro registro histórico impor-
dros (2006, p. 21) define-os como sinais
tante: o alfabeto que se encontra no li-
que utilizam um conjunto específico de
vro do “L’Abbé Deschamps” do século
configurações de mãos para representar
XVII (INES, 2005).
objetos incorporando ações. Tais classi-
ficadores são gerais e independem dos Para o desenvolvimento da língua de
sinais que identificam tais objetos. É um sinais em terras brasileiras, o educador
recurso bastante produtivo que faz par- mais importante foi L’Epée, porque foi
te das línguas de sinais. de seu instituto na França que veio para
o Brasil o Padre Huet, professor surdo,
Sacks (1998) afirma que as línguas
que, a convite de Dom Pedro II, trou-
de sinais são completas em si mesmas:
xe este “método combinado’: criado por
possuem sintaxe, gramática e semân-
L’Epée, para trabalhar com os surdos bra-
tica própria, têm, porém, um caráter di-
sileiros.
ferente do de qualquer língua falada ou
escrita. Segundo o autor, não é possível Assim, em 1857, foi fundada a primei-
transliterar uma língua falada para língua ra escola para surdos no Brasil, o Institu-
de sinais palavra por palavra ou frase por to dos Surdos-Mudos, hoje, Instituto Na-
frase, isto porque as suas estruturas são cional da Educação de Surdos (INES), na
essencialmente diferentes. cidade do Rio de Janeiro. Foi a partir des-
te instituto que surgiu da “mistura” da
Registros históricos do surgimento da
Língua de Sinais Francesa, trazida pelo
Língua de Sinais no mundo não trazem
Padre Huet, com a língua de sinais bra-
ainda, oficialmente, dados concretos.
sileira antiga, já usada pelos surdos das
Sabe-se da existência de um registro ico-
várias regiões do Brasil, a Língua Brasi-
nográfico do ano de 1579, com a repre-
leira de Sinais (FELlPE, 2005).
sentação de um alfabeto digital, em uma
gravura em madeira extraída da obra de O registro mais remoto brasileiro da
“Cosmas Rosselius” em Veneza. Língua Brasileira de Sinais é do ano de
1875, produzido pelo aluno do Instituto
Segundo historiadores, o uso do alfa-
(INES), Flausino José da Gama, intitulado
beto manual durante as aulas por pes-
“lconographia dos Signaes dos Surdos-
soas surdas se deu no século XVII, na
-Mudos”, estando seu original na Biblio-
Espanha. Os monges também faziam uso
teca Nacional e uma cópia na Biblioteca
desse tipo de comunicação nos mostei-
do INES (INES, 2005).
ros, por causa do voto do silêncio, e pas-
saram a ensinar o alfabeto dos surdos. Segundo Felipe (2005), com o passar
dos anos, outras escolas somente para
Em seguida, na França, Abade L’Epée,
crianças surdas foram surgindo.
ao fundar uma classe para pessoas sur-
das, criou uma linguagem de gestos Em 1923, foi fundado o Instituto San-
denominada “A LINGUAGEM DE SINAIS ta Terezinha, escola particular, em São
METÓDICOS”. Foi o sucessor de Abade Paulo, somente para meninas. Em 1954,
L’Epée, Abade Sicard, quem escreveu o outra iniciativa privada, com verba de
17

outros países, foi fundada a Escola Con- Nessas instituições de ensino, a presen-
córdia, em Porto Alegre. Em 1957, foi ça de intérpretes, das salas de recursos
fundada a Escola de Surdos de Vitória do ou de monitores especializados auxilia o
Espírito Santo. Atualmente, há muitas estudante surdo na rotina escolar.
escolas municipais, como, por exemplo, a
Segundo Bernardino (2000), o indiví-
Escola Rompendo o Silêncio, em Rezende
duo surdo possui certas características
no Rio de Janeiro, a Escola Municipal Ann
que fazem dele uma pessoa diferente,
Sullivan, em São Caetano do Sul e a Es-
especial, que, embora viva no mesmo
cola Hellen Keller, em Caxias do Sul, uma
ambiente que os ouvintes, não parece
escola somente para surdos que vem
pertencer ao mundo destes.
implementando uma proposta bilíngue
para a educação dos surdos, ou seja: a Isso porque a língua natural dos sur-
aquisição da LIBRAS e aprendizado, com dos, a de sinais, na maioria das vezes
metodologia apropriada, da língua por- não é aceita pelos seus familiares, pelos
tuguesa e da língua de sinais brasileira. professores, pelos psicólogos e outros
profissionais que lidam com eles e, mui-
Percebe-se a luta dos surdos para
tas vezes, nem por eles próprios. Essa
terem escolas específicas para a Comu-
língua é tida como uma vilã, que impede
nidade Surda, porque acreditam que
a aprendizagem da língua oral, cujo uso
através de um ensino que atenda eficaz-
propicia ao surdo a oportunidade de se
mente suas necessidades linguísticas
tornar “igual” aos ouvintes.
e culturais, eles poderão se integrar e
estar em condições de igualdade com os É importante ressaltar neste resgate
ouvintes, o que refletirá, por exemplo, histórico que, assim como o Cristianismo,
na conquista de cargos públicos. há mais de dois mil anos, trouxe o desen-
volvimento do entendimento a respeito
Assim, uma política educacional que
da necessidade de implementar na so-
leve em conta a realidade e tradição dos
ciedade princípios que garantam a digni-
surdos no Brasil poderá reverter o atu-
dade humana e os direitos das minorias,
al quadro de insatisfação, em relação
o trabalho assistencial, de caráter reli-
à qualidade da educação para surdos,
gioso e social, realizado de forma pio-
que prevalece nas comunidades surdas
neira e contínua, a partir da década de
(FELlPE, 2005).
70, em Campinas, e notadamente pelas
Na prática, a educação bilíngue é vi- igrejas batistas brasileiras da Convenção
venciada de maneiras diferentes pelas Batista Brasileira, trouxe a atenção dos
escolas. Há aquelas chamadas especiais, órgãos públicos e da sociedade civil em
que possuem professores especializados geral para com os surdos e seus direitos
em ensinar em LIBRAS e que são exclusi- intrínsecos de comunicação, por meio de
vas para alunos surdos. Há aquelas cha- sua língua natural, notadamente no âm-
madas regulares, ou comuns, que mes- bito de discussões de políticas públicas
clam surdos e ouvintes nas salas, ou que educacionais tidas como especiais.
montam salas exclusivas para surdos,
Para além do pioneirismo, Silva (2006,
mas dentro do mesmo ambiente escolar.
p. 49) afirma que a experiência batista
18

se destaca também por uma série de ou- BRAS, que teve sua primeira edição pro-
tras razões. Segundo o autor, movida por meio de um projeto realiza-
do pela Universidade Federal de Santa
Foi, sobretudo, essa experiência
Catarina em parceira com o MEC no ano
que fez da atividade missionária
de 2006, aprovando 1.349 profissionais
com surdos, sinônimo de interpre-
em tradução/interpretação da LIBRAS
tação e liderança de Ministério.
em todo o Brasil, sendo considerados,
Por conta disso, embora o objetivo
portanto, qualificados para exercerem a
fundamental do trabalho missio-
atividade dentro da sala de aula nos di-
nário seja “converter” surdos para
ferentes níveis de ensino.
o cristianismo, indiretamente, essa
instituição se tornou uma grande Entretanto, o reconhecimento ofi-
formadora de intérpretes em dife- cialmente da Língua Brasileira de Sinais
rentes regiões do Brasil (...) As ex- como meio de comunicação objetiva e de
periências protestantes com surdos uso corrente das comunidades surdas,
citadas são formadas por excelên- ocorreu muitos anos antes em vários Es-
cia de um modelo de intérprete que tados do Brasil.
parece ter se desdobrado para es-
Vale saber...
fera secular.
a) Em Minas Gerais, pela Lei Estadual
Com a captação desses “missionários
nº10.379, de 10/01/1991.
batistas” aptos na tradução/interpreta-
ção da Língua Brasileira de Sinais pelo b) Em Alagoas, por meio da Lei Esta-
mercado de trabalho, foi possível a luta, dual nº 6.060, de 15/0911998.
juntamente com a Comunidade Surda,
por políticas linguísticas, dentre outras,
c) No Ceará, com a Lei Estadual nº
13.100, de 12/01/2001.
da Língua Brasileira de Sinais, o que ocor-
reu com a promulgação da Lei nº 10.436, d) No Distrito Federal, pela Lei nº
de 24 de abril de 2002, reconhecendo a 2.532, de 02/03/2000.
LIBRAS como meio legal de comunicação
dos surdos, bem como obrigou o ensino e) No Espírito Santo, pela Lei nº
da mesma nos cursos de Educação Es- 5.198/1999.
pecial, Fonoaudiologia e de Magistério f) Em Goiás, pela Lei Estadual nº
como parte dos Parâmetros Curriculares 12.081, de 30/08/1993.
Nacionais.
g) No Mato Grosso, pela Lei Estadual
O Decreto nº 5.626, de 22 de dezem- nº 7.831, de 13/12/2002.
bro de 2005, regulamentou a Lei nº
10.436/2002, determinando a realiza- h) No Mato Grosso do Sul, pela Lei nº
ção do Exame Nacional de Certificação 1.693, de 12/09/1996.
de Proficiência em LIBRAS e o Exame i) Em Pernambuco, pela Lei Estadual
Nacional de Certificação de Proficiência nº 11.686, de 18/10/1999.
em Tradução e Interpretação da LIBRAS/
Língua Portuguesa, denominado PROLl- j) Em Santa Catarina, pela Lei Estadual
nº11.869, de 6/09/2001.
19

k) No Paraná, por intermédio da Lei


nº12.095, de 11/03/1998.

Com a aprovação e a regulamentação


de várias legislações, tanto em nível es-
tadual como nacional, demonstrou-se o
início da quebra de vários tabus, crenças
e mitos que circundavam o uso da Língua
de Sinais pela Comunidade Surda e pelos
ouvintes envolvidos, sejam os profissio-
nais da interpretação/tradução, os mis-
sionários, os amigos e os familiares.

O uso de uma língua visual-sinalizada,


de forma alguma, diminui uma pessoa,
inferiorizando-a diante das pessoas que
usam a língua oral-auditiva. Seu uso não
é empecilho para a aprendizagem da ou-
tra.

Assim, o uso dessa língua, entendida


como uma atividade social e “não apenas
como uma ferramenta que devemos usar
para obter resultados” (BAGNO, 2003,
p. 20), faz-nos defendê-la não apenas
como uma ferramenta para a aprendiza-
gem, mas também como o resultado para
que tal objetivo se concretize.

O fim da resistência, a quebra de pre-


conceitos em relação à Língua Brasileira
de Sinais, possibilita aos surdos ter uma
vida normal, saudável, caracterizada
pelo desenvolvimento intelectual com-
pleto, porém, adequado, em que, nem de
longe, foram esquecidas suas necessi-
dades e diferenciações linguísticas (NO-
VAES, 2010).
20
UNIDADE 5 - Atendimento educacional
especializado
O atendimento educacional especia- e a convivência com as diferenças favore-
lizado é uma modalidade de ensino que cem as relações interpessoais, o respeito
perpassa todos os níveis, graus e etapas e a valorização da criança. Nesse sentido,
do percurso escolar e tem como objetivos, o atendimento educacional especializado
entre outros, identificar as necessidades deve estar presente em todas as etapas
e possibilidades do aluno com deficiência, e modalidades da educação básica, e se
elaborar planos de atendimento, visan- destina a apoiar o desenvolvimento dos
do ao acesso e à participação no proces- alunos com deficiências, transtornos glo-
so de escolarização em escolas comuns, bais do desenvolvimento e altas habilida-
atender o aluno com deficiências no tur- des/superdotação. De oferta obrigatória
no oposto àquele em que ele frequenta a dos sistemas de ensino, deve ser realiza-
sala comum, produzir e/ou indicar mate- do no turno inverso ao da classe comum,
riais e recursos didáticos que garantam na própria escola ou em centro especiali-
a acessibilidade do aluno com deficiência zado que realize esse serviço educacional.
aos conteúdos curriculares, acompanhar
O atendimento educacional especiali-
o uso desses recursos em sala de aula, ve-
zado é realizado mediante a atuação de
rificando sua funcionalidade, sua aplicabi-
profissionais com conhecimentos especí-
lidade e a necessidade de eventuais ajus-
ficos no ensino da Língua Brasileira de Si-
tes, e orientar as famílias e professores
nais, da Língua Portuguesa na modalidade
quanto aos recursos utilizados pelo aluno
escrita como segunda língua, do sistema
(SARTORETTO; SARTORETTO, 2008).
Braille, do Soroban, da orientação e mobi-
O atendimento educacional especiali- lidade, das atividades de vida autônoma,
zado disponibiliza programas de enrique- da comunicação alternativa, do desen-
cimento curricular no caso de altas habi- volvimento dos processos mentais supe-
lidades, o ensino de linguagens e códigos riores, dos programas de enriquecimento
específicos de comunicação e sinalização, curricular, da adequação e produção de
ajudas técnicas e recursos de tecnologia materiais didáticos e pedagógicos, da uti-
assistiva, dentre outros. Ao longo de todo lização de recursos ópticos e não ópticos,
processo de escolarização, esse atendi- da tecnologia assistiva e outros.
mento deve estar articulado com a pro-
Para atuar na educação especial, o pro-
posta pedagógica do ensino comum.
fessor deve ter como base da sua forma-
A inclusão escolar tem início na edu- ção, inicial e continuada, conhecimentos
cação infantil, onde se desenvolvem as gerais para o exercício da docência e co-
bases necessárias para a construção do nhecimentos específicos da área. Essa
conhecimento e seu desenvolvimento formação possibilita a sua atuação no
global. Nessa etapa, o lúdico, o acesso às atendimento educacional especializado e
formas diferenciadas de comunicação, a deve aprofundar o caráter interativo e in-
riqueza de estímulos nos aspectos físico, terdisciplinar da atuação nas salas comuns
cognitivo, emocional, psicomotor e social do ensino regular, nas salas de recursos,
21

nos centros de atendimento educacional II – garantir a transversalidade das


especializado, nos núcleos de acessibilida- ações da educação especial no ensino re-
de das instituições de educação superior, gular;
nas classes hospitalares e nos ambientes
domiciliares, para a oferta dos serviços e
III – fomentar o desenvolvimento de
recursos didáticos e pedagógicos que eli-
recursos de educação especial.
minem as barreiras no processo de ensino
O atendimento educacional especiali- e aprendizagem; e,
zado destina-se normalmente aos alunos
da escola que apresentam algum tipo de
IV – assegurar condições para a conti-
nuidade de estudos e nos demais níveis
deficiência, mas pode estender-se tam-
de ensino.
bém aos alunos de escolas próximas, nas
quais esse tipo de serviço ainda não esteja
organizado. Pode ser realizado individual- 5.1 Conceito e definição
mente ou em pequenos grupos, em horá- O Atendimento Educacional Especia-
rio diferente daquele em que frequentam lizado (AEE), segundo Mantoan (2004),
a classe comum. refere-se ao serviço de apoio para melhor
O Decreto nº 6.571, de 17 de setembro atender às especificidades dos alunos
de 2008, além da sua disposição sobre o com deficiência, complementando a edu-
apoio técnico e financeiro aos sistemas de cação escolar e devendo estar disponível
ensino dos Estados, do Distrito Federal e em todos os níveis de ensino.
dos Municípios, ele tem como finalidade A autora diz que a Constituição admite
a ampliação da oferta do Atendimento ainda que o atendimento educacional es-
Educacional Especializado aos alunos com pecializado deve ser, preferencialmente,
deficiência, transtornos globais do desen- oferecido na rede regular de ensino, no
volvimento e altas habilidades ou super- entanto, também pode ser oferecido fora
dotação, matriculados na rede pública de da rede regular, já que é um complemento
ensino regular. e não um substitutivo do ensino ministra-
De acordo com o disposto neste docu- do na escola comum para todos os alunos.
mento, considera-se Atendimento Edu- Ele deve ser oferecido em horários dis-
cacional Especializado – AEE – o conjunto tintos das aulas das escolas comuns, com
de atividades, recursos de acessibilidade outros objetivos, metas e procedimentos
e pedagógicos organizados institucional- educacionais. Suas ações são definidas
mente, prestado de forma complementar conforme o tipo de deficiência que se pro-
ou suplementar à formação do ensino re- põe a atender. O AEE, é de acordo com o
gular. MEC e a Secretaria de Educação Espe-
Neste sentido, são objetivos do aten- cial, um serviço da Educação Especial que
dimento educacional especializado: identifica, elabora e organiza recursos pe-
dagógicos e de acessibilidade, que elimi-
I – prover condições de acesso, partici- nem as barreiras para a plena participação
pação e aprendizagem no ensino regular dos alunos, considerando as suas necessi-
aos alunos referidos no artigo 1°; dades específicas.
22

Fávero (2007, p.15 - 16) afirma que: de forma a favorecer o desenvolvimento


desses alunos (BRASIL, 2007).
[...] o simples fato de referir a pes-
soas com deficiência e seu direito à Assim, o AEE complementa ou suple-
educação faz com que surja, de ime- menta a formação do aluno com vistas à
diato, a noção de que é uma diferen- sua autonomia e independência na escola
ciação mais que válida, necessária e fora dela. E sob o ponto de vista da lega-
de tão acostumados que todos es- lidade, um dos pontos de discussão é ga-
tão a identificar tais pessoas como rantir a aplicação da igualdade de acesso
titulares de um ensino especial. [...] à educação formal, assim entramos num
este verdadeiro desafio, que colo- dilema que é saber [...] em qual hipótese
ca em xeque o costume de associar “tratar igualmente o igual e desigualmen-
pessoas com deficiência a um ensi- te o desigual”, fórmula proposta ainda na
no diferente apartado, porque as Antiguidade, por Aristóteles. A utilização
soluções que podem surgir disso, da fórmula aristotélica, pura e simples-
além de garantir as pessoas com de- mente, já demonstrou que, em certos
ficiência o seu direito de igualdade, casos, pode até configurar uma conduta
talvez seja uma contribuição para discriminatória. Esta fórmula, em razão
melhoria da qualidade de ensino em de sua sabedoria, jamais foi alterada, mas
geral. vem sendo constantemente aprimorada.
A doutrina e jurisprudência existentes
Pode-se então compreender que de
oferecem como solução o imperativo de
fato o AEE está garantido na legislação,
tratamento igual para todos, admitindo-
contudo não há práticas de ensino espe-
-se os tratamentos diferenciados apenas
cíficas para inclusão, a não ser recursos
como exceção e desde que eles tenham
que podem auxiliar os processos de ensi-
um fundamento razoável para sua adoção
no e de aprendizagem. O professor, de um
(FÁVERO, 2007, p.13).
modo geral, deve considerar as possibili-
dades de desenvolvimento de cada aluno Portanto, o AEE é um recurso educa-
e explorar sua capacidade de aprender. cional que propõe estratégias de apoio e
Os alunos com deficiências e condutas complementação colocados à disposição
típicas, devido às suas particularidades, dos alunos com deficiências e condutas
podem necessitar de estratégias, ações típicas, proporcionando diferentes alter-
e recursos diferenciados para que o seu nativas de atendimento, de acordo com as
direito à educação seja assegurado. O necessidades educacionais especiais de
conjunto desses serviços também é ofe- cada aluno, podendo assim de fato garan-
recido pelo Atendimento Educacional Es- tir o direito à educação plena e de qualida-
pecializado, que devem ser organizados de (OLIVEIRA; ARAÚJO, 2010).
institucionalmente em escolas públicas,
O Atendimento Educacional Especia-
mas podendo também atender alunos de
lizado na forma de apoio representa os
escolas particulares, atendendo alunos
atendimentos que favorecem o acesso ao
da educação infantil, ensino fundamen-
currículo, podendo ser oferecidos dentro,
tal e ensino médio, para apoiar e comple-
como apoio ao professor relacionado a es-
mentar os serviços educacionais comuns
23

tratégias em sala de aula, ou fora da sala sional para atuar na sala de recursos, o
de aula no contraturno da escolarização, professor da sala de recursos deverá ter
no caso para atendimento do aluno. curso de graduação, pós-graduação e/ou
formação continuada que o habilite para
Segundo Silva e Maciel (2005), o AEE
atuar em áreas da educação especial para
na forma de complementação represen-
o atendimento às necessidades educacio-
ta um trabalho pedagógico complemen-
nais especiais dos alunos. Essa formação
tar necessário ao desenvolvimento de
é específica para cada deficiência ou con-
competências e habilidades próprias nos
dutas típicas (OLIVEIRA; ARAÚJO, 2010).
diferentes níveis de ensino, deve ser rea-
lizado no contraturno da escolarização do Portanto, o AEE se valida, de acordo
aluno e se efetiva por meio dos seguintes com Fávero (2007), por ser um tratamen-
serviços: salas de recursos; oficinas peda- to diferenciado, que tem sede constitu-
gógicas de formação e capacitação profis- cional, e que não exclui as pessoas com
sional. deficiência dos demais princípios e garan-
tias relativos à educação. Assim, o Aten-
Em linhas gerais, o objetivo do AEE, é o
dimento Educacional Especializado será
de oferecer o que não é próprio dos currí-
válido somente se de fato levar o direito
culos da base nacional comum, possuindo
à educação.
outros objetivos, metas e procedimen-
tos educacionais. Segundo Silva; Maciel
(2005, p. 5),
5.2 As salas de recursos
Lócus privilegiado do atendimento edu-
suas ações são definidas conforme
cacional especializado, a sala de recursos
o tipo de deficiência ou condutas tí-
multifuncionais torna palpáveis e concre-
picas que se propõe a atender, bem
tos, em nível de escola, os objetivos da po-
como deve contemplar as necessida-
lítica nacional de educação especial, seja
des educacionais especiais de cada
pelo conjunto de meios e recursos que
aluno, as quais devem estar funda-
nela são colocados à disposição do aluno
mentadas na avaliação pedagógica.
com deficiências, seja, sobretudo, pelo
De todo modo, o Atendimento Educa- fato de que é na escola comum que a sala
cional Especializado não deve ser con- de recursos multifuncionais deve funcio-
fundido com o reforço escolar nem como nar (SARTORETTO; SARTORETTO, 2010).
atendimento clínico, ou como substituto
As salas de recursos são espaços da
dos serviços educacionais comuns.
escola onde se realiza o atendimento
Ressalta-se que a escolarização dos educacional especializado de alunos com
alunos com deficiências e condutas típi- necessidades educacionais especiais, ma-
cas deve ser um compromisso da escola triculados na escola comum. O atendimen-
e compete à classe comum, que deve res- to em salas de recursos constitui um ser-
ponder às necessidades dos educandos viço educacional de natureza pedagógica,
com práticas que respeitem as diferenças feito por professor especializado, num
(SILVA; MACIEL, 2005). espaço dotado de materiais, equipamen-
tos e recursos pedagógicos adequados às
No que se refere à formação do profis-
24

necessidades educacionais dos alunos da garantem “[...] o direito a educação, direito


escola que apresentam dificuldades acen- humano”, fundamental para o desenvolvi-
tuadas em relação à aprendizagem, vincu- mento social do aluno com necessidades
ladas a algum tipo de deficiência ou não. educacionais especiais. Deste modo, os
alunos com necessidades educacionais
A sala de recursos multifuncionais é,
especiais têm assegurado na Constituição
portanto, um espaço da escola comum
Federal de 1988, o direito à educação (es-
provido de materiais didáticos, pedagó-
colarização) realizada em classes comuns
gicos e de tecnologia assistiva, onde tra-
e ao atendimento educacional especia-
balham profissionais com formação espe-
lizado complementar ou suplementar à
cífica para o atendimento dos alunos com
escolarização, que deve ser realizado pre-
dificuldades educacionais especiais em
ferencialmente em salas de recursos na
razão de algum tipo de deficiência (audi-
escola onde estejam matriculados, em ou-
tiva, visual, motora, cognitiva, verbal), de
tra escola, ou em centros de atendimento
transtornos globais de desenvolvimento
educacional especializado.
ou de altas habilidades/superdotação.
Esse direito também está assegurado
Chama-se sala de recursos multifuncio-
na LDBEN – Lei n° 9.394/96, no parecer
nais, precisamente, porque nela se con-
do CNE/CEB nº 17/01, na Resolução CNE/
centram materiais didáticos, equipamen-
CEB nº 2, de 11 de setembro de 2001, na
tos e profissionais aptos a atender, de
Lei nº 10.436/02 e no Decreto nº 5.626,
forma flexível, aos diversos tipos de ne-
de 22 de dezembro de 2005. As salas de
cessidades educacionais especiais (SAR-
recursos multifuncionais são espaços da
TORETTO; SARTORETTO, 2010).
escola onde se realiza o atendimento edu-
A sala de recursos é parte do Atendi- cacional especializado para alunos com
mento Educacional Especializado que pro- necessidades educacionais especiais, por
põe a complementação do atendimento meio do desenvolvimento de estratégias
educacional comum. As atividades nesta de aprendizagem, centradas em um novo
sala devem ocorrer em horário diferente fazer pedagógico que favoreça a constru-
ao turno do ensino regular, para alunos ção de conhecimentos pelos alunos, sub-
com quadros de deficiências (auditiva, sidiando-os para que desenvolvam o cur-
visual, física, mental ou múltipla) ou de rículo e participem da vida escolar (ALVES,
condutas típicas (síndromes e quadros 2006, p.13).
psicológicos complexos, neurológicos ou
A sala de recursos é um espaço que
psiquiátricos persistentes) matriculados
deve conter materiais didáticos, pedagó-
em escolas comuns, em qualquer dos ní-
gicos, equipamentos e profissionais com
veis de ensino, considerando-se que na
formação para o atendimento às necessi-
sala deve haver equipamentos e recursos
dades educacionais especiais. No que se
pedagógicos adequados às necessidades
refere ao atendimento, é necessário que
especiais. O agrupamento dos alunos de-
o profissional que nela atua considere as
verá ocorrer por necessidades especiais
diversas áreas de conhecimento, os as-
semelhantes e mesma faixa etária.
pectos relacionados ao estágio de desen-
De acordo com Fávero (2007, p.17), elas volvimento cognitivo dos alunos, o nível
25

de escolaridade, os recursos específicos compatível, além de também poder pro-


para sua aprendizagem e as atividades de mover apoio pedagógico ao professor da
complementação e suplementação curri- classe comum do aluno.
cular (ALVES, 2006).
Nesse serviço complementar, implica
No que se refere ao atendimento da abordar questões pedagógicas que são
sala de recursos, se resume ao número diferentes das oferecidas no ensino re-
de 15 a 20 alunos por turma, sendo que gular e que são necessárias para melhor
o atendimento pode ser coletivo (até 08 atender às especificidades dos alunos
alunos por grupo), devendo ser individu- com necessidades educacionais espe-
alizado quando o aluno demandar apoio ciais, para que os mesmos sejam ativos
intenso e diferenciado do grupo, aten- tanto na sala de aula regular quanto em
dimento organizado em módulos de 50 sociedade. Fica claro que a abordagem na
minutos até 2 horas/dia; atendimento de sala de recursos não pode ser confundida
alunos de várias escolas da região (BRA- com uma mera aula de reforço (repetição
SIL, 2007). da prática educativa da sala de aula), nem
com o atendimento clínico, tão pouco um
Podemos concluir então que não é o
espaço de socialização.
aluno que tem que se adaptar à escola,
mas é ela que, consciente da sua função, Reafirma-se o caráter pedagógico des-
coloca-se à disposição do aluno, tornan- se atendimento, cujo objetivo é suprir a
do assim a escola um espaço inclusivo. A necessidade do aluno, assegurando o di-
educação especial é concebida para pos- reito de acesso a recursos que possam
sibilitar que o aluno com necessidades potencializar suas capacidades, promover
educacionais especiais atinja os objetivos o seu desenvolvimento e aprendizagem
propostos para sua educação no ensino e, consequentemente, levar o aluno à sua
regular (BRASIL, 2004). própria emancipação, garantindo, assim,
uma plena convivência social (MINAS GE-
A sala de recursos deve ser vista como
RAIS, 2005), possibilitando a firmação da
um espaço organizado com materiais di-
proposta inclusivista, que é a de educar
dáticos, pedagógicos, equipamentos e
com qualidade, e promover o princípio da
profissionais com formação para o aten-
equidade.
dimento às necessidades educacionais
especiais. Esse espaço pode ser utilizado
para o atendimento das diversas necessi-
5.3 A sala de recurso para
dades, assim, uma mesma sala de recur- deficiência auditiva e o in-
sos, pode ser organizada com diferentes
equipamentos e materiais, tendo capaci-
térprete
dade para atender, conforme cronograma O Atendimento Educacional Especiali-
e horários diferenciados, alunos surdos, zado para alunos com surdez propõe ati-
cegos, com baixa visão, com deficiência vidades que quebrem barreiras pedagó-
mental, com deficiência física, com defi- gicas que interferem na inclusão escolar
ciência múltipla ou com condutas típicas, dos alunos com surdez.
desde que o professor tenha formação
Para Damázio (2007, p. 15), “[...] o tra-
26

balho com alunos com surdez no ensino é indicado para a execução do Aten-
regular, deve ser desenvolvido num am- dimento Educacional Especializado.
biente que utiliza a Língua de Sinais e a Nele destacam-se três momentos di-
Língua Portuguesa”, assim, para a autora, dático-pedagógicos:
o AEE deve se caracterizar como um perí-
odo adicional de horas diárias de estudo. momento do Atendimento Educacio-
nal Especializado em LIBRAS na escola
Para alunos com surdez, o espaço do comum, em que todos os conhecimentos
AEE deve oferecer um instrutor de LIBRAS dos diferentes conteúdos curriculares são
(de preferência surdo) para os alunos que explicados nessa língua por um professor,
ainda não aprenderam essa língua, e cujos sendo o mesmo preferencialmente surdo.
pais tenham optado pelo seu uso. É ne- Esse trabalho é realizado todos os dias, e
cessário que o professor de Português e destina-se aos alunos com surdez;
o professor de AEE em LIBRAS trabalhem
momento do Atendimento Educacio-
em parceria com o professor da sala de
nal Especializado para o ensino de LIBRAS
aula, para que o aprendizado do portu-
na escola comum, no qual os alunos com
guês escrito e de LIBRAS por esses alunos
surdez terão aulas de LIBRAS, favorecen-
sejam contextualizados.
do o conhecimento e a aquisição, princi-
Damázio (2007, p. 26) afirma que palmente de termos científicos. Este tra-
balhado é realizado pelo professor e/ou
[...] o planejamento do Atendimento
instrutor de LIBRAS (preferencialmente
Educacional Especializado é elabo-
surdo), de acordo com o estágio de desen-
rado e desenvolvido conjuntamente
volvimento da Língua de Sinais em que o
pelos professores que ministram au-
aluno se encontra. O atendimento deve
las em LIBRAS, professor de classe
ser planejado a partir do diagnóstico do
comum e professor de Língua Portu-
conhecimento que o aluno tem a respeito
guesa para pessoas com surdez.
da Língua de Sinais;
Ainda diz que o planejamento coletivo
momento do Atendimento Educacional
inicia-se com a definição do conteúdo cur-
Especializado para o ensino da Língua Por-
ricular, o que implica que os professores
tuguesa, no qual são trabalhadas as espe-
pesquisem sobre o assunto a ser ensina-
cificidades dessa língua para pessoas com
do. O trabalho dos professores deve estar
surdez. Este trabalho é realizado todos os
inter-relacionados, para promover a auto-
dias para os alunos com surdez, à parte das
nomia do aluno, perante os ensinamentos
aulas da turma comum, por uma professo-
apresentados.
ra de Língua Portuguesa, graduada nesta
O trabalho pedagógico com os alu- área, preferencialmente. O atendimento
nos com surdez nas escolas comuns, deve ser planejado a partir do diagnóstico
deve ser desenvolvido em um am- do conhecimento que o aluno tem a respei-
biente bilíngue, ou seja, em um espa- to da Língua Portuguesa.
ço em que se utilize a Língua de Sinais
O planejamento do Atendimento Edu-
e a Língua Portuguesa. Um período
cacional Especializado é elaborado e de-
adicional de horas diárias de estudo
senvolvido conjuntamente pelos profes-
27

sores que ministram aulas em LIBRAS, de tempo (interpretação consecutiva), da


professor de classe comum e professor LIBRAS para o Português ou deste para a
de Língua Portuguesa para pessoas com LIBRAS. A tradução envolve a modalidade
surdez. O planejamento coletivo inicia-se escrita de pelo menos uma das línguas en-
com a definição do conteúdo curricular, o volvidas no processo.
que implica que os professores pesqui-
A função de traduzir/interpretar é sin-
sem sobre o assunto a ser ensinado. Em
gular, dado que a atuação desse profissio-
seguida, os professores elaboram o plano
nal leva-o a interagir com outros sujeitos,
de ensino. Eles preparam também os ca-
a manter relações interpessoais e profis-
dernos de estudos do aluno, nos quais os
sionais, que envolvem pessoas com surdez
conteúdos são inter-relacionados.
e ouvintes, sem que esteja efetivamente
No planejamento para as aulas em LI- implicado nelas, pois sua função é unica-
BRAS, há que se fazer o estudo dos ter- mente a de mediador da comunicação.
mos científicos do conteúdo a ser estuda-
O tradutor e intérprete, ao mediar a
do, nessa língua. Cada termo é estudado,
comunicação entre usuários e não usuá-
o que amplia e aprofunda o vocabulário.
rios da LIBRAS, deve observar preceitos
Na sequência, todos os professores se- éticos no desempenho de suas funções,
lecionam e elaboram os recursos didáticos entendendo que não poderá interferir na
para o Atendimento Educacional Especia- relação estabelecida entre a pessoa com
lizado em LIBRAS e em Língua Portugue- surdez e a outra parte, a menos que seja
sa, respeitando as diferenças entre os solicitado.
alunos com surdez e os momentos didáti-
Entende-se que, sendo o tradutor e in-
co-pedagógicos em que serão utilizados.
térprete uma pessoa com capacidade, opi-
Os alunos com surdez são observados niões e construção identitária próprias,
por todos os profissionais que direta ou in- não é coerente exigir que ele adote uma
diretamente trabalham com eles. Focaliza- postura absolutamente neutra, como se
-se a observação nos seguintes aspectos: sua atividade fosse apenas uma atividade
sociabilidade, cognição, linguagem (oral, mecânica.
escrita, visoespacial), afetividade, motri-
Mas o fato de ter uma opinião própria
cidade, aptidões, interesses, habilidades
sobre um assunto não dá a esse profissio-
e talentos. Registram-se as observações
nal o direito de interferir em uma situação
iniciais em relatórios, contendo todos os
concreta em que está atuando, quando
dados colhidos ao longo do processo e de-
não for chamado a intervir.
mais avaliações relativas ao desenvolvi-
mento do desempenho de cada um. Segundo o código de ética da atuação
do profissional tradutor e intérprete – que
O tradutor e intérprete da LIBRAS e
é parte integrante do Regimento Interno
Língua Portuguesa é a pessoa que, sendo
do Departamento Nacional de Intérpretes
fluente em Língua Brasileira de Sinais e
da FENEIS/Federação Nacional de Educa-
em Língua Portuguesa, tem a capacidade
ção e Integração dos Surdos – cabe a esse
de verter em tempo real (interpretação
profissional agir com sigilo, discrição, dis-
simultânea) ou, com um pequeno espaço
28

tância e fidelidade à mensagem interpre- são absolutamente diferentes e precisam


tada, à intenção e ao espírito do locutor da ser devidamente distinguidos e respeita-
mensagem. (MEC/SEESP, 2001). dos nas escolas de nível básico e superior.

Esta postura profissional exige discipli- Não cabe ao tradutor/intérprete a tuto-


na e uma clara consciência de seu papel. ria dos alunos com surdez e também é de
Assim sendo, o intérprete deve ter uma fundamental importância que o professor
estabilidade emocional muito grande e e os alunos desenvolvam entre si intera-
todo aquele que almeja assumir essa fun- ções sociais e habilidades comunicativas,
ção precisa ter consciência dessas condi- de forma direta, evitando-se sempre que
ções e buscar formas de desenvolvê-la. o aluno com surdez, dependa totalmente
do intérprete.
Entende-se como postura ética uma
atitude solidária, pela qual esses profis- Partindo do princípio de que, compro-
sionais lutam pelo respeito às pessoas vadamente, a Língua de Sinais é fun-
com surdez, assim como por qualquer ou- damental para que o aluno com surdez
tra pessoa. Existem várias áreas de atua- adquira linguagem e avance no seu de-
ção do tradutor e intérprete de LIBRAS e senvolvimento cognitivo, não podemos
Língua Portuguesa que merecem ser ob- deixar de considerar também, que apenas
jeto de reflexão de todos os que atuam o uso dessa língua não é suficiente para
com pessoas com surdez usuárias da LI- resolver questões relativas à sua aprendi-
BRAS. zagem. A Língua de Sinais, por si só, não
promove a aprendizagem da leitura e da
A atuação do tradutor/intérprete es-
escrita da Língua Portuguesa e, conse-
colar, na ótica da inclusão, envolve ações
quentemente, dos conceitos estudados.
que vão além da interpretação de conte-
údos em sala de aula. Ele medeia a comu- Outro aspecto importante refere-se
nicação entre professores e alunos, alu- à conduta profissional adotada pelo tra-
nos e alunos, pais, funcionários e demais dutor/intérprete durante a sua atuação
pessoas da comunidade em todo o âmbito profissional, nos quesitos responsabilida-
da escola e também em seminários, pales- de, assiduidade, pontualidade, posiciona-
tras, fóruns, debates, reuniões e demais mento no espaço de interpretação, apa-
eventos de caráter educacional. rência pessoal, domínio de suas funções,
interação com os alunos, postura durante
Com relação à sala de aula, devemos
as avaliações. O tradutor/intérprete deve
sempre considerar que este espaço per-
sempre respeitar o contexto escolar, seja
tence ao professor e ao aluno e que a li-
em relação às aulas em si, seja em relação
derança no processo de aprendizagem é
aos alunos com surdez e ouvintes.
exercida pelo professor, sendo o aluno de
sua responsabilidade. O profissional tradutor/intérprete
consciente de todas as suas funções, pa-
É absolutamente necessário entender
péis e compromissos profissionais tem
que o tradutor e intérprete é apenas um
como responsabilidade agir como difusor
mediador da comunicação e não um facili-
dos conhecimentos que tem sobre LIBRAS
tador da aprendizagem e que esses papéis
e comunicação entre pessoas com surdez
29

e ouvintes. Ele deverá saber o valor e li- evitando interferir na construção da Lín-
mites de sua interferência no ambiente gua Portuguesa, como segunda língua dos
escolar, para dar esclarecimentos e orien- alunos com surdez. A sala de aula comum
tação aos que necessitam de seus conhe- é um dos locais de aprendizado da Língua
cimentos específicos. Portuguesa para os alunos com surdez.

Em resumo, o tradutor/intérprete deve Atuação do tradutor/intérprete em pa-


conhecer com profundidade, cientifici- lestras, debates, discussões, reuniões de
dade e criticidade sua profissão, a área colegiado e eventos da escola – a atuação
em que atua, as implicações da surdez, do tradutor/intérprete escolar envolve
as pessoas com surdez, a LIBRAS, os di- também a mediação da comunicação nas
versos ambientes de sua atuação, a fim diversas atividades que acontecem na es-
de que, de posse desses conhecimentos, cola ou relacionadas a ela, visando aten-
seja capaz de atuar de maneira adequada der às necessidades tanto de professores
em cada uma das situações que envolvem e alunos quanto da comunidade escolar e
a tradução, a interpretação e a ética pro- promovendo a inclusão social.
fissional.
O tradutor/intérprete é mais um pro-
Quanto à atuação do tradutor/intér- fissional que, ciente de sua responsabili-
prete e professor de LIBRAS – há uma cla- dade social, poderá mobilizar gestores e
ra diferença entre ensinar Língua de Si- professores para a importância de se pro-
nais a ouvintes ou a pessoas com surdez. mover a igualdade de acesso ao conheci-
No caso do ensino de LIBRAS para alunos mento acadêmico para todos os alunos,
ouvintes, o tradutor/ intérprete poderá indistintamente.
mediar a comunicação entre os alunos ou-
vintes e o professor com surdez no ensino 5.4 Atribuições do professor
teórico da LIBRAS. O ensino prático cabe-
rá ao professor de LIBRAS.
no AEE
É necessário que o professor que atue
Atuação do tradutor/intérprete com o
na sala de AEE, tenha passado inicialmen-
professor fluente em LIBRAS – o profes-
te por uma formação que o habilitou para
sor que é fluente em LIBRAS é a pessoa
o exercício da docência e também por ou-
mais habilitada para transmitir seus co-
tra formação específica na educação es-
nhecimentos aos alunos usuários da Lín-
pecial, inicial ou continuada, pois o mesmo
gua de Sinais. Uma vez que o professor
terá diversas atribuições no AEE.
tenha fluência nessa língua e que o do-
mínio do conhecimento a ser trabalhado São atribuições do professor no AEE:
é exclusivo desse professor, não existe a
barreira da comunicação e, assim sendo, o 1. elaborar, executar e avaliar o Plano
intérprete será desnecessário. de AEE do aluno, contemplando a identi-
ficação das habilidades e necessidades
Atuação do tradutor/intérprete em sala educacionais específicas dos alunos; a
de aula comum com o professor sem flu- definição e a organização das estraté-
ência em LIBRAS – o tradutor/intérprete gias, serviços e recursos pedagógicos e
poderá atuar na sala comum, mas sempre de acessibilidade; o tipo de atendimento
30

conforme as necessidades educacionais social; atividades de enriquecimento cur-


específicas dos alunos; e, o cronograma ricular para as altas habilidades/super-
do atendimento e a carga horária, indivi- dotação; e, atividades para o desenvol-
dual ou em pequenos grupos; vimento das funções mentais superiores
(SANTOS, 2011).
2. implementar, acompanhar e avaliar
a funcionalidade e a aplicabilidade dos re- Assim, o professor que atua no AEE,
cursos pedagógicos e de acessibilidade no desempenhará atividades complementa-
AEE, na sala de aula comum e demais am- res e/ou suplementares na tentativa de
bientes da escola; eliminação das possíveis barreiras exis-
tentes, com o intuito único de gerar uma
3. produzir materiais didáticos e pe-
participação mais efetiva dos alunos, con-
dagógicos acessíveis, considerando as
siderando efetivamente as suas necessi-
necessidades educacionais específicas
dades específicas (LIMA; SANTOS, 2011).
dos alunos e os desafios que este vivencia
no ensino comum, a partir dos objetivos e
atividades propostas no currículo;
5.5 A importância da revisão
4. estabelecer articulação com os pro-
do PPP e do currículo escolar
fessores da sala de aula comum, visando a Ao promover a inclusão, é preciso re-
disponibilização dos serviços e recursos e ver o projeto político pedagógico (PPP)
o desenvolvimento de atividades para a e o currículo da escola. O PPP deve con-
participação e aprendizagem dos alunos templar o atendimento à diversidade e o
nas atividades escolares; aparato que a equipe terá para atender e
ensinar a todos. Já o currículo deve prever
5. orientar os professores e as famí-
a flexibilização das atividades (com mais
lias sobre os recursos pedagógicos e de
recursos visuais, sonoros e táteis) para
acessibilidade utilizados pelo aluno de
contemplar as diversas necessidades dos
forma a ampliar suas habilidades, promo-
alunos.
vendo sua autonomia e participação;
Na implantação da Sala de Recur-
6. desenvolver atividades do AEE, de
sos Multifuncionais para a oferta de
acordo com as necessidades educacionais
AEE, compete à escola:
específicas dos alunos, tais como o ensino
da Língua Brasileira de Sinais-Libras; ensi- a) contemplar, no Projeto Político Pe-
no da Língua Portuguesa como segunda dagógico - PPP da escola, a oferta do
língua para alunos com deficiência auditi- atendimento educacional especializa-
va ou surdez; ensino da Informática aces- do, com professor para o AEE, recursos e
sível; ensino do sistema Braille; ensino do equipamentos específicos e condições de
uso do soroban; acessibilidade;
7. Ensino das técnicas para a orienta- b) construir o PPP considerando a flexi-
ção e mobilidade; ensino da Comunicação bilidade da organização do AEE, realizado
Aumentativa e Alternativa – CAA; ensino individualmente ou em pequenos grupos,
do uso dos recursos de Tecnologia Assis- conforme o Plano de AEE de cada aluno;
tiva – TA; atividades de vida autônoma e
31

c) matricular, no AEE realizado em sala


de recursos multifuncionais, os alunos
público-alvo da educação especial ma-
triculados em classes comuns da própria
escola e os alunos de outra(s) escola(s)
de ensino regular, conforme demanda da
rede de ensino;

d) registrar, no Censo Escolar MEC/


INEP, a matrícula de alunos público-alvo
da educação especial nas classes comuns;
e as matrículas no AEE realizado na sala de
recursos multifuncionais da escola;

e) efetivar a articulação pedagógica


entre os professores que atuam na sala
de recursos multifuncionais e os profes-
sores das salas de aula comuns, a fim de
promover as condições de participação e
aprendizagem dos alunos;

f) estabelecer redes de apoio e cola-


boração com as demais escolas da rede,
as instituições de educação superior, os
centros de AEE e outros, para promover a
formação dos professores, o acesso a ser-
viços e recursos de acessibilidade, a inclu-
são profissional dos alunos, a produção de
materiais didáticos acessíveis e o desen-
volvimento de estratégias pedagógicas;

g) promover a participação dos alunos


nas ações intersetoriais articuladas junto
aos demais serviços públicos de saúde,
assistência social, trabalho, direitos hu-
manos, entre outros (NOTA TÉCNICA – SE-
ESP/GAB/Nº 11/2010).
32

UNIDADE 6 - Libras e aee em libras

6.1 A Língua Brasileira de ainda mais como língua.

Sinais – LIBRAS Os sinais são formados a partir


da combinação da forma e do mo-
As línguas de sinais (LS) são as línguas
vimento das mãos e do ponto no
naturais das comunidades surdas.
corpo ou no espaço onde esses si-
Ao contrário do que muitos imaginam, nais são feitos. Nas línguas de sinais
as línguas de sinais não são simplesmen- podem ser encontrados os seguintes
te mímicas e gestos soltos, utilizados pe- parâmetros que formarão os sinais:
los surdos para facilitar a comunicação.
configuração de mãos (CM) – são
São línguas com estruturas gramaticais
formas das mãos que podem ser da dati-
próprias.
lologia (alfabeto manual) ou outras for-
Atribui-se às línguas de sinais o status mas feitas pela mão predominante (mão
de língua porque elas também são com- direita para os destros ou esquerda para
postas pelos níveis linguísticos: fonoló- os canhotos), ou pelas duas mãos. Os si-
gico, morfológico, sintático e semântico. nais DESCULPAR, EVITAR e IDADE, por
O que é denominado de palavra ou item exemplo, possuem a mesma configura-
lexical nas línguas oral-auditivas são de- ção de mão (com a letra Y). A diferença é
nominados sinais nas línguas de sinais. que cada uma é produzida em um ponto
O que diferencia as línguas de sinais das diferente no corpo;
demais línguas é a sua modalidade visu- ponto de articulação (PA) – é o
al-espacial. lugar onde incide a mão predominante
Assim, uma pessoa que entra em con- configurada, ou seja, local onde é feito
tato com uma língua de sinais irá apren- o sinal, podendo tocar alguma parte do
der uma outra língua, como o Francês, In- corpo ou estar em um espaço neutro;
glês, etc. Os seus usuários podem discutir movimento (M) – os sinais podem
filosofia ou política e até mesmo produzir ter um movimento ou não. É a desloca-
poemas e peças teatrais. ção da mão no espaço durante a execu-
Um pouco da história da LIBRAS... ção do sinal. Por exemplo, os sinais PEN-
SAR e EM-PÉ não tem movimento; já os
A LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais) sinais EVITAR e TRABALHAR possuem
tem sua origem na Língua de Sinais Fran- movimento;
cesa.
As línguas de sinais não são uni-
versais. Cada país possui a sua própria expressão facial/corporal – as ex-
língua de sinais, que sofre as influências pressões faciais/corporais são de funda-
da cultura nacional.
Como qualquer outra mental importância para o entendimento
língua, ela também possui expressões real do sinal, sendo que a entonação em
que diferem de região para região (os re- língua de sinais é feita pela expressão fa-
gionalismos ou dialetos), o que a legitima cial;
33

Fonte: HONORA e FRICANZO (2010)


34

Fonte: HONORA e FRICANZO (2010)

Fonte: HONORA e FRICANZO (2010)


35

orientação/direção – os sinais têm no infinitivo. Todas as concordâncias e


uma direção com relação aos parâmetros conjugações são feitas no espaço. Ex.: EU
acima. Assim, os verbos IR e VIR se opõem QUERER CURSO.
em relação à direcionalidade.
As frases: obedecerão à estrutu-
Convenções da LIBRAS ra da LIBRAS, e não à do Português. Ex.:
VOCÊ GOSTAR CURSO? (Você gosta do
A grafia: os sinais em LIBRAS, para
curso?)
simplificação, serão representados na
Língua Portuguesa em letra maiúscula. Os pronomes pessoais: serão re-
Ex.: CASA, INSTRUTOR. presentados pelo sistema de apontação.
Apontar em LIBRAS é culturalmente e
A datilologia (alfabeto manu-
gramaticalmente aceito.
al): é usada para expressar nomes de
pessoas, lugares e outras palavras que Para conversar em LIBRAS não basta
não possuem sinal, estará representada apenas conhecer os sinais de forma sol-
pelas palavras separadas por hífen. Ex.: ta, é necessário conhecer a sua estrutu-
M-A-R-I-A, H-I-P-Ó-T-E-S-E. ra gramatical, combinando-os em frases
(www.libras.org.br)
Os verbos serão apresentados

ALFABETO EM LIBRAS
36

6.2 AEE em LIBRAS o domínio semântico e/ou por emprésti-


mos lexicais;
Este atendimento constitui outro
momento didático-pedagógico para os os termos científicos em sinais são
alunos com surdez incluídos na escola registrados para serem utilizados nas au-
comum. O atendimento inicia com o diag- las em LIBRAS.
nóstico do aluno e ocorre diariamente, A organização didática desse espaço
em horário contrário ao das aulas, na de ensino implica o uso de muitas ima-
sala de aula comum. Este trabalho é re- gens visuais e de todo tipo de referências
alizado pelo professor e/ou instrutor que possam colaborar para o aprendiza-
de LIBRAS (preferencialmente surdo), do da Língua de Sinais. Os materiais e os
de acordo com o estágio de desenvolvi- recursos para esse fim precisam estar
mento da Língua de Sinais em que o alu- presentes na sala de Atendimento Edu-
no se encontra. O atendimento deve ser cacional Especializado e respeitar as ne-
planejado a partir do diagnóstico do co- cessidades didático-pedagógicas para o
nhecimento que o aluno tem a respeito ensino de língua.
da Língua de Sinais (ALVEZ; FERREIRA;
DAMÁZIO, 2010). Elabora-se um caderno de registro de
Língua de Sinais e os alunos recorrem
O professor e/ou instrutor de LI- sempre a esse caderno, como se fosse
BRAS organiza o trabalho do Aten- um dicionário particular. Esse caderno
dimento Educacional Especializado, expressa sua compreensão sobre os ter-
respeitando as especificidades des- mos representados em LIBRAS.
sa língua, principalmente o estudo
dos termos científicos a serem intro- Os professores do Atendimento Edu-
duzidos pelo conteúdo curricular. cacional Especializado de LIBRAS fazem
Eles procuram os sinais em LIBRAS, permanentemente avaliações para veri-
investigando em livros e dicionários ficação da aprendizagem dos alunos em
especializados, internet ou mesmo relação à evolução conceitual de LIBRAS
entrevistando pessoas adultas com (DAMÁZIO, 2007).
surdez, considerando o seguinte: Em resumo, questões importantes
caso não existam sinais para de- sobre o Atendimento Educacional
signar determinados termos científicos, Especializado em LIBRAS e para o
os professores de LIBRAS analisam os ensino de LIBRAS:
termos científicos do contexto em estu- o Atendimento Educacional Espe-
do, procurando entendê-los, a partir das cializado com o uso de LIBRAS, ensina
explicações dos demais professores de e enriquece os conteúdos curriculares
áreas específicas (Biologia, História, Ge- promovendo a aprendizagem dos alunos
ografia e dentre outros); com surdez na turma comum;
avaliam a criação dos termos cien- o ambiente educacional bilíngue é
tíficos em LIBRAS, a partir da estrutura importante e indispensável, já que res-
linguística da mesma, por analogia entre peita a estrutura da LIBRAS e da Língua
conceitos já existentes, de acordo com
37

Portuguesa;

este atendimento exige uma orga-


nização metodológica, didática e espe-
cializada;

o professor que ministra aulas em


LIBRAS deve ser qualificado para realizar
o atendimento das exigências básicas do
ensino por meio da LIBRAS e também,
para não praticar o bimodalismo, ou seja,
misturar a LIBRAS e a Língua Portuguesa
que são duas línguas de estruturas dife-
rentes;

o professor com surdez, para o en-


sino de LIBRAS, oferece aos alunos com
surdez melhores possibilidades do que o
professor ouvinte porque o contato com
crianças e jovens com surdez com adul-
tos com surdez favorece a aquisição des-
sa língua;

a avaliação processual do aprendi-


zado por meio da LIBRAS é importante
para que se verifique, pontualmente, a
contribuição do Atendimento Educacio-
nal Especializado para o aluno com sur-
dez na escola comum;

a qualidade dos recursos visuais é


primordial para facilitar a compreensão
do conteúdo curricular em LIBRAS;

a organização do ambiente de
aprendizagem e as explicações do pro-
fessor em LIBRAS propiciam uma com-
preensão das ideias complexas, contidas
nos conhecimentos curriculares;

o Atendimento Educacional Espe-


cializado em LIBRAS oferece ao aluno
com surdez segurança e motivação para
aprender, sendo, portanto, de extrema
importância para a inclusão do aluno na
classe comum.
38
UNIDADE 7 - AEE para ensino da língua
portuguesa
O Atendimento Educacional Especiali- O Atendimento Educacional Especiali-
zado para o ensino da Língua Portuguesa zado para ensino da Língua Portuguesa é
acontece na sala de recursos multifun- preparado em conjunto com os professo-
cionais e em horário diferente ao da sala res de LIBRAS e o da sala comum. A equi-
comum. O ensino é desenvolvido por um pe analisa o desenvolvimento dos alunos
professor, preferencialmente, formado com surdez, em relação ao aprendizado e
em Língua Portuguesa e que conheça os domínio da Língua Portuguesa.
pressupostos linguísticos teóricos que
Neste atendimento, a professora de
norteiam o trabalho, e que, sobretudo
Língua Portuguesa focaliza o estudo des-
acredite nesta proposta estando dispos-
sa língua nos níveis morfológico, sintático
to a realizar as mudanças para o ensino do
e semântico-pragmático, ou seja, como
português aos alunos com surdez.
são atribuídos os significados às palavras
O que se pretende no Atendimento e como se dá à organização delas nas fra-
Educacional Especializado é desenvolver ses e textos de diferentes contextos, le-
a competência gramatical ou linguística, vando os alunos a perceber a estrutura
bem como textual, nas pessoas com sur- da língua através de atividades diversifi-
dez, para que sejam capazes de gerar se- cadas, procurando construir um conhe-
quências linguísticas bem formadas. cimento já adquirido naturalmente pelos
alunos ouvintes.
Nesta perspectiva, a sala de recur-
sos para o Atendimento Educacional Dessa forma, no Atendimento Educa-
Especializado em Língua Portuguesa cional Especializado, o professor trabalha
deverá ser organizada didaticamente, os sentidos das palavras de forma contex-
respeitando os seguintes princípios: tualizada, respeitando e explorando a es-
trutura gramatical da Língua Portuguesa.
riqueza de materiais e recursos visu-
Esse processo inicia-se na educação in-
ais (imagéticos) para possibilitar a abstra-
fantil, intensificando-se na alfabetização
ção dos significados de elementos mórfi-
e prossegue até o ensino superior.
cos da Língua Portuguesa;
O professor de Língua Portuguesa em
amplo acervo textual em Língua
parceria com os professores da sala co-
Portuguesa, capaz de oferecer ao aluno
mum e da LIBRAS, realiza estudos dos ter-
a pluralidade dos discursos, para que os
mos específicos do conteúdo curricular,
mesmos possam ter oportunidade de in-
utilizando toda fonte de pesquisa biblio-
teração com os mais variados tipos de si-
gráfica possível, em especial, dicionário
tuação de enunciação;
ilustrado e livros técnicos. Geralmente or-
dinamismo e criatividade na elabora- ganiza os termos específicos em um glos-
ção de exercícios, os quais devem ser tra- sário ilustrado.
balhados em contextos de usos diferen-
Após o trabalho com o glossário para a
tes (DAMÁZIO, 2007).
ampliação e aquisição do vocabulário do
39

Português, são feitos estudos pontuais gramaticalmente corretas, insere-se no


dos diferentes significados e formas de trabalho regras gramaticais propriamente
uso que as palavras podem assumir em ditas, que os alunos ouvintes, facilmente
diferentes contextos (estudo de palavras compreendem, por terem como canal co-
sinônimas e homônimas) e sua aplicação a municativo a língua oral. No caso dos alu-
partir da própria palavra, de frases pron- nos com surdez, faz-se necessário criar o
tas em que essas são empregadas pala- canal que os leva a essas compreensões.
vras, textos ou imagens que se reportem Esta situação é observada na análise
às situações em questão. morfológica – flexão de gênero, número
e grau de substantivos e adjetivos, bem
Para esclarecerem dúvidas e polêmicas
como nas flexões verbais de modo, tempo
sobre o estudo dos contextos e dos con-
e pessoa, ao estabelecerem nas frases e
teúdos curriculares, o professor de Língua
textos, a concordância verbal e nominal.
Portuguesa e os professores de turma co-
mum organizam um caderno de estudo, Por isto a necessidade de iniciar este
no qual exemplificam conceito por concei- trabalho nos primeiros anos de escolari-
to, procurando oferecer esclarecimentos zação, pois uma vez que iniciados tardia-
pontuais para o aprendizado dos alunos mente neste processo, mais obstáculos
(DAMÁZIO, 2007). encontrarão na conquista da habilidade
comunicativa escrita.
O Atendimento Educacional Especia-
lizado deve ser organizado para atender No Atendimento Educacional Especia-
também alunos que optaram pela apren- lizado para o ensino da Língua Portugue-
dizagem da Língua Portuguesa na mo- sa, o canal de comunicação específico é a
dalidade oral. Nesse caso, o professor de Língua Portuguesa, ou seja, leitura e es-
português oferece aos alunos as pistas crita de palavras, frases e textos, o uso
fonéticas para a fala e a leitura labial. de imagens e até mesmo o teatro, para a
representação de conceitos muito abs-
O aluno com surdez precisa aprender a
tratos. Vários recursos visuais são usados
incorporar no seu texto as regras grama-
para aquisição da Língua Portuguesa (DA-
ticais da escrita na Língua Portuguesa.
MÁZIO, 2007).
A Língua Portuguesa estrutura-se a
Desta forma, os alunos precisam ficar
partir da combinação de vocábulos que
atentos a todos as pistas oferecidas para
conectados corretamente dão sentido:
compreenderem a mensagem. O aten-
palavras combinadas formam frases; fra-
dimento nessa língua contribui enorme-
ses conectadas formam orações; orações
mente para o avanço conceitual do aluno
transpostas por meio de conectivos for-
na classe comum.
mam períodos e assim por diante, até che-
gar ao texto. Assim, inicia-se o trabalho Em resumo, podemos afirmar que:
com os alunos, paralelamente à ampliação
o Atendimento Educacional Especia-
do vocabulário, a elaboração de tópicos
lizado para aprendizagem da Língua Por-
frasais.
tuguesa exige que o profissional conheça
Com o objetivo de alcançar estruturas muito bem a organização e a estrutura
40

dessa Língua, bem como, metodologias leitor e o autor mediados pelo texto, num
de ensino de segunda língua; movimento que estimula seus mecanis-
mos perceptivos, do todo para as partes
o uso de recursos visuais é funda-
e vice-versa, resultando nos percursos
mental para a compreensão da Língua
de contextualização, descontextualiza-
Portuguesa, seguidos de uma exploração
ção e recontextualização. No percurso de
contextual do conteúdo em estudo;
contextualização, o aluno parte do todo
o atendimento diário em Língua Por- textual para formar o sentido inicial da
tuguesa, garante a aprendizagem dessa produção de significados o percurso de
língua pelos alunos; descontextualização, há o reconhecimen-
to das partes do texto, das suas estrutu-
para a aquisição da Língua Portugue-
ras em palavras e frases, sílabas e grafe-
sa, é preciso que o professor estimule,
mas. No percurso da recontextualização,
permanentemente, o aluno, provocando-
o aluno realiza o processo de montagem
-o a enfrentar desafios;
de outros sentidos e a produção de novas
o atendimento em Língua Portugue- palavras ou textos;
sa é de extrema importância para o de-
aluno com surdez e ato de escre-
senvolvimento e a aprendizagem do aluno
ver – o texto é uma tessitura de palavras,
com surdez na sala comum;
ideias e concepções articuladas de forma
a avaliação do desenvolvimento da coerente e coesa. Ensinar aos alunos com
Língua Portuguesa deve ocorrer continu- surdez, assim como aos demais alunos, a
amente para assegurar que se conheçam produzir textos em Português objetiva
os avanços do aluno com surdez e para torná-los competentes em seus discur-
que se possa redefinir o planejamento, se sos, oferecendo-lhes oportunidades de
for necessário (DAMÁZIO, 2007) interagir nas práticas da língua oficial e de
transformar-se em sujeitos de saber e po-
Alvez, Ferreira e Damásio (2010) der com criatividade e arte. Para que essa
ressaltam que para o ensino da Lín- aprendizagem ocorra, a educação escolar
gua Portuguesa escrita no AEE é im- deve apresentar aos alunos com surdez a
portante considerar: diversidade textual circulante em nossas
alunos com surdez e o ato de ler práticas sociais. Essa apropriação dos gê-
– além da atribuição de significados à neros e discursos é essencial para que os
imagem gráfica, Martins (1982) define a alunos façam uso da língua portuguesa.
leitura como a relação que o leitor estabe- As mesmas autoras listam exemplos de
lece com a própria experiência, por meio atividades pedagógicas envolvendo lin-
do texto. Envolve aspectos sensoriais, guagens e vivências no AEE que valem a
emocionais e racionais. Ler não é dizer o já pena ser elencadas.
dito, mas falar do outro sentido, é impos-
sível uma leitura do consenso, as diferen- Para fases iniciais de aprendizado
tes interpretações revelam a riqueza pre- da Língua Portuguesa:
sentes no texto. A leitura se dá por meio
expressão corporal;
de um processo de interlocução entre o
41

expressão artístico-cultural; Para desenvolver o léxico – estudos


ortográficos e do sentido das pala-
dramatização;
vras em diferentes contextos:
contextualização de situações vividas;
propor atividades de escrita contex-
aula-passeio; tualizada, ou seja, a partir de um dado as-
sunto (aprender a escrever com sentido e
sessão de filmes.
não apenas desenhar palavras);
Para a leitura:
contextualizar o uso do léxico (das pa-
leitura de ícones, sinais, índices, sím- lavras) da Língua Portuguesa escrita em
bolos e signos linguísticos; várias situações diferentes (manga de ca-
misa, manga fruta e outras).
leitura visual de imagens;
Para a produção de textos escritos em
leitura de texto escrito: texto - frases
Português:
- palavras - sílabas - letras;
cultivar no aluno com surdez o pro-
interpretação/compreensão por meio
cesso de criar signos, para interagir com
do desenho;
outras pessoas por meio da produção de
interpretação/compreensão por meio textos escritos – bilhetes, cartas, etc.
da escrita: aplicação das condições de pro-
dução dos gêneros textuais e discursivos.

Para a escrita:
do desenho à palavra - da palavra ao
desenho;

da frase ao desenho - do desenho à


frase;

do texto ao desenho - do desenho ao texto;

escrita de diferentes gêneros textuais.

Para descoberta da escrita – linguagens


lúdicas:

brincadeiras;

jogos interativos;

testes-problema;

jogos eletrônicos;

informática;

livros.
42

REFERÊNCIAS

REFERÊNCIAS BÁSICAS BAGNO, Marcos. A norma oculta: língua


e poder na sociedade brasileira. São Pau-
ALVEZ, Carla Barbosa; FERREIRA, Josi- lo: Parábola, 2003.
mário de Paula; DAMÁZIO, Mirlene Mace-
do. A Educação Especial na Perspectiva BERNARDINO, Elidéa Lúcia. Absurdo ou
da Inclusão Escolar: abordagem bilíngue lógico? Os surdos e sua produção linguís-
na escolarização de pessoas com surdez. tica. Belo Horizonte: Profetizando vida,
Brasília: Ministério da Educação, Secre- 2000.
taria de Educação Especial; [Fortaleza]: BOTELHO, Paula. Linguagem e letra-
Universidade Federal do Ceará, 2010. v. 4. mento na educação dos surdos. 3 ed. Belo
(Coleção A Educação Especial na Perspec- Horizonte: Autêntica Editora, 2010.
tiva da Inclusão Escolar).
BRASIL. Decreto n. 5.626, de 22 de de-
DAMÁZIO, Mirlene Ferreira Macedo. zembro de 2005. Regulamenta a Lei n°
Atendimento Educacional Especializado: 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe so-
pessoa com surdez. Brasília: SEESP/SEED/ bre a Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS.
MEC, 2007. Brasília, 2005.
HONORA, Márcia; FRIZANCO, Mary Lo- BRASIL. Decreto n° 6.571, de 17 de se-
pes Esteves. Esclarecendo as deficiên- tembro de 2008. Dispõe sobre o atendi-
cias: aspectos teóricos e práticos para mento educacional especializado. Brasí-
contribuir com uma sociedade inclusiva. lia, 2008.
São Paulo: Ciranda Cultural Editora e Dis-
tribuidora Ltda., 2008. BRASIL. Lei n. 10.436, de 24 de abril de
2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de
HONORA, Márcia; FRIZANCO, Mary Lo- Sinais - LIBRAS. Brasília, 2002.
pes Esteves. Livro ilustrado da Língua
Brasileira de Sinais: desvendando a comu- BRASIL. Lei n. 7.853, de 24 de outubro
nicação usada pelas pessoas com surdez. de 1989. Dispõe sobre o Apoio às Pessoas
São Paulo: Ciranda Cultural, 2009, 2010, Portadoras de Deficiência, sua Integração
2011. Social, sobre a Coordenadoria Nacional
para Integração da Pessoa Portadora de
REFERÊNCIAS Deficiência - Corde. Brasília, 1989. Dispo-
nível em: <http://vAw.faders.rs.gov.br/le-
COMPLEMENTARES gislacao>
ALMEIDA, K; SANTOS, T. M. M. Seleção BRASIL. Lei n. 9.394 de 20 de dezembro
e adaptação de próteses auditivas em de 1996. Lei de Diretrizes e Bases da Edu-
crianças. In: ALMEIDA K, IORIO MCM. Pró- cação Nacional. Brasília. 1996.
teses auditivas: fundamentos teóricos
e aplicações clínicas. São Paulo: Lovise; BRASIL. Ministério da Educação. Secre-
2003. p.357-80. taria de Educação Especial. Série Atuali-
43

dades Pedagógicas - Educação Especial: PUBLICA%20EM%20TERESINA.pdf


deficiência auditiva. Brasília, 1997.
DALLAN, Maria Salomé Soares. AEE
BUENO, J. G. S. Surdez, linguagem e pessoas com surdez – AEE em LIBRAS.
cultura. Cadernos do CEDES (UNICAMP), 2011.
Campinas, v. 19, n. 46, set. 1998. Disponí-
DAMÁZIO, M. F. M. Concepções Subja-
vel em: <http://www.scielo.br/scielo
centes: Educação das Pessoas com Sur-
BUENO. José Geraldo. Educação Inclusi- dez, 2005.
va e Escolarização dos Surdos. Integração.
DAMÁZIO, Mirlene Ferreira Macedo.
Brasília, v. 13, n. 23, p. 37-42, 2001.
Educação Escolar de Pessoa com Surdez:
BUTUGAN. O. et al. Diagnóstico Preco- uma proposta inclusiva. Campinas: Uni-
ce da Deficiência Auditiva no Primeiro Ano versidade Estadual de Campinas, 2005.
de Vida de Crianças com Alto Risco atra- 117 p. Tese de Doutorado.
vés de Audiometria de Tronco Cerebral.
DORZIAT, A. Educação de surdos no en-
Revista Pediatria, São Paulo, v. 22, n. 2, p.
sino regular: inclusão ou segregação? Re-
115-122, 2000.
vista do centro de Educação, v.24, p. 1-7,
CARDONA, M. Claustre. A avaliação psi- 2004.
copedagógica dos alunos escolarizados
FELIPE, Tanya. A LIBRAS em contexto:
com perda auditiva na modalidade oral. In:
curso básico, livro do estudante. Rio de Ja-
SÁNCHEZ-CANO, Manuel; BONALS, Joan.
neiro: LIBRAS Editora Gráfica, 2005.
Avaliação psicopedagógica. Trad. Fátima
Murad. Porto Alegre: Artmed, 2008. FERREIRA BRITO, Lucinda. Integração
social e educação de surdos. Rio de Janei-
CARVALLO, R.M.M. Fonoaudiologia, in-
ro: Babel, 1993.
formação para a formação: procedimen-
tos em audiologia. Rio de Janeiro: Guana- FERREIRA, L.P. Tratado de fonoaudiolo-
bara Koogan; 2003. gia. São Paulo: Roca; 2004.
COSTA, E.A.; FERREIRA, R.P.I; MARI, A.R. FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. Definição
Da necessidade de se identificar a defi- para deficiências (2009). Disponível em:
ciência auditiva na criança o mais cedo o http://www.fiocruz.br/biosseguranca/
possível. J Pediatr (Rio J) 1991;67:137-41. Bis/infantil/deficiencia-auditiva.htm
COSTA, Francisca Clelma da; SOARES, GARCIA, C.F.D; ISAAC, M.L; OLIVEIRA,
Antônio Francisco. A inclusão dos alu- J.A.A. Emissão otoacústica evocada tran-
nos com deficiência auditiva em escola sitória: instrumento para detecção pre-
da rede pública em Teresina (2010). Dis- coce de alterações auditivas em recém-
ponível em: http://www.uespi.br/prop/ -nascidos a termo e pré-termo. Rev Bras
XSIMPOSIO/ TR ABALHOS/INICIAC AO/ Otorrinolaringol 2002; 68:344-52.
Ciencias%20da%20Educacao/A%20
INSTITUTO NACIONAL DE EDUCAÇÃO
INCLUSAO%20DOS%20ALUNOS%20
DE SURDOS (INES). LIBRAS. 3 ed. Rio de Ja-
COM%20DEFICIENCIA%20AUDITIVA%20
neiro, 2005.
EM%20ESCOLA%20DA%20REDE%20
44

LACERDA, Cristina B. F. A Inclusão Escolar OLIVEIRA, P.; CASTRO, F.; RIBEIRO, A. Sur-
de Alunos Surdos: o que dizem alunos, pro- dez Infantil. Revista Brasileira de Otorrino-
fessores e intérpretes sobre esta experiên- laringologia, São Paulo, v. 68, n. 3, maio de
cia. Cadernos do CEDES (UNICAMP). Campi- 2002. Disponível em: <http://vAvw.scielo.
nas, v. 26, n. 69, p. 163-184, 2006. br/scielo>

LACERDA, Cristina B. F. Intérprete de LI- PAGANO, Adriana; ALVEZ, Fábio; MAGA-


BRAS em Atuação na Educação Infantil e no LHÃES, Célia. Traduzir com Autonomia: es-
Ensino Fundamental. Porto Alegre: Media- tratégias para o tradutor em formação. São
ção/FAPESP, 2009. Paulo: Editora Contexto, 2000.

LACERDA, Cristina B. F.; A Escola Inclusi- PARVING, A. As Deficiências Auditivas na


va para Surdos: a situação singular do intér- Infância - epidemiologia e etiologia. Anais
prete de Língua de Sinais. In: 27° Reunião Nestlé, São Paulo, v. 50, p. 13-17, 1995.
Anual da ANPED. Anais, 2004. Disponível
PERLIN, Gladis. Identidades Surdas. In:
em: <http://vAW.anped.orq.br/reunioes/27/
SKLIAR, Carlos (Org.). A Surdez: um olhar so-
qt15/t151.pdf>
bre as diferenças. Porto Alegre: Editora Me-
LACERDA, Cristina B. F.; LODI, A. C. B. A diação, 1998.
Difícil Tarefa de Promover uma Inclusão Es-
POKER, Rosimar Bortolini. Troca simbóli-
colar Bilíngue para Alunos Surdos. In: 30°
ca e desenvolvimento cognitivo em crianças
Reunião Anual da ANPED. Anais, 2007. Dis-
surdas: uma proposta de intervenção edu-
ponível em: <http://wvAv.anped.orq.br/reu-
cacional. UNESP, 2001. 363p. Tese de Dou-
nioes/30ra/trabalhos/trabalho/qt15-2962-
torado.
-int.pdf>
QUADROS, Ronice Miller de. Ideias para
LACERDA, Cristina B.F. de. Um pouco da
ensinar português para alunos surdos. Bra-
história das diferentes abordagens na edu-
sília: MEC, SEESP, 2006.
cação dos surdos. Cad. CEDES, Campinas, v.
19, n. 46, set. 1998 . Disponível em <http:// QUADROS, Ronice Müller de. O Tradutor
www.scielo.br/scielo.php?script=sci_art- e Intérprete de Língua Brasileira de Sinais
text&pid=S0101-32621998000300007 e Língua Portuguesa. Brasília: MEC/SEESP,
&lng=pt&nrm=iso>. 2001.
MARTINS, M. H. O que é leitura? São Pau- QUADROS, Ronice Muller de; KARNOPP,
lo: Brasiliense, 1982. Lodenir Becker. Língua de sinais brasileira:
estudos linguísticos. Porto Alegre: Artmed,
MONDELLI, M. F. C. G. , BEVILACQU, M. C.;
2004.
Estudo da deficiência auditiva das crianças
do HRAC-USP, Bauru-SP: subsídios para uma ROBINSON, Douglas. Construindo o Tra-
política de intervenção. Sinopse de Pedia- dutor. Bauru, São Paulo: EDUSC, 2002.
tria; V.8, N.3 Ed. Moreira Jr; Outubro de 2002.
ROESER, R.J. Manual de consulta rápi-
NOVAES, Edmarcius Carvalho. Surdos: da em audiologia. Rio de Janeiro: Revinter;
educação, direito e cidadania. Rio de Janei- 2001.
ro: Wak, 2010.
45

ROSLYN-JENSEN, A. M. A. Importância e possibilidades para o atendimento edu-


do diagnóstico precoce na deficiência au- cacional especializado. Porto Alegre: UFR-
ditiva. In: Ferreira LP. Tratado de fonoau- GS, 2011. Dissertação de Mestrado.
diologia. São Paulo: Roca; 1996.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA.
SACKS, Oliver. Vendo vozes. Uma jorna- Minicurso introdutório de LIBRAS. Mate-
da pelo mundo dos surdos. Trad. Alfredo mática e surdez: questão de linguagem
Barcellos Pinheiro de Lemos. Rio de Janei- e novas técnicas de ensino. Viçosa: UFV,
ro: Imago, 1998. Departamento de Matemática, 2010.

SANTOS, M.F.C, et al. Avaliação do pro- VIEIRA, Andreza Batista Cheloni; MA-
cessamento auditivo central em crianças CEDO, Luciana Resende de; GONÇALVES,
com e sem antecedentes de otite média. Denise Utsch. O diagnóstico da perda au-
Rev Bras Otorrinolaringol 2001;67: 448- ditiva na infância. Pediatria (Sao Paulo)
54. 2007;29(1):43-49. Disponível em: http://
www.pediatriasaopaulo.usp.br/upload/
SECRETARIA DA EDUCAÇÃO DO ESTADO
pdf/1201.pdf
DE SÃO PAULO. Coordenadoria de Estudos
a Normas Pedagógicas, O Que Você Sabe
Sobre Deficiência Auditiva; Guia de Orien-
tação aos Pais, São Paulo, SE/ CENP, 1985.

SILVA, C. C. A. Da missão à profissão:


produzindo novas experiências da surdez.
In: Encontro dos profissionais tradutores
/ intérpretes de LIBRAS de MS, 2, 2006.
Campo Grande 2006. Anais Encontro dos
Profissionais Tradutores / Intérpretes de
LIBRAS de MS. Campo Grande: APILMS,
2006.

SILVA, Daniele Nunes Henrique. Surdez


e inclusão social: o que as brincadeiras in-
fantis têm a nos dizer sobre esse debate?.
Cad. CEDES [online]. 2006, vol.26, n.69,
pp. 121-139. Disponível em: http://www.
scielo.br/pdf/ccedes/v26n69/a02v2669.
pdf

SKLIAR, Carlos (ed.) Educação e exclu-


são. Abordagens socioantropológicas em
educação especial. Porto Alegre: Editora
mediação, 1997.

SOARES, Carlos Henrique Ramos. Inclu-


são, surdez e ensino médio: perspectivas
46

ANEXOS

De acordo com o texto Abordagem 1-DADOS DE IDENTIFICAÇÃO


Bilíngue na Escolarização de Pessoa
Nome do aluno: XXXXXXXXXX
com Surdez (ALVEZ; FERREIRA; DA- Idade: XXXXXXXX
MÁZIO, 2010), o AEE para alunos com Ano/ciclo: XXXXXXXXXX
surdez deve ser visto como uma cons-
trução e reconstrução de experiências
e vivências conceituais, partindo do 2- Plano de aee no momento - de libras
potencial e das capacidades desses 2.1 Objetivos do plano:
alunos. Envolvendo três momentos:
- trabalhar em contexto desenvolvendo
AEE em LIBRAS – a base dos conteú- e adotando mecanismos alternativos para
dos curriculares da sala de aula, o que con- os conhecimentos expressos em LIBRAS;
tribui para uma real significante participa-
ção destes alunos das aulas, conseguindo - auxiliar/ampliar aquisição da Língua
os mesmos uma interação tanto com pro- de Sinais e palavras, bem como o repertó-
fessor quanto com os colegas; rio de sinais;

AEE de LIBRAS – refere-se ao ensi- - estimular a habilidade de expressar-


no de uma língua de sinais, reconhecida -se para desenvolver a capacidade de
no Brasil, que infelizmente ainda é des- expor seus pensamentos de forma clara
conhecida de muitos, pois consideram-na e organizada, expressando as sensações
apenas como mímicas ou gestos; táteis ou visuais;

AEE de Língua Portuguesa – uma - facilitar conhecimentos e a aquisição


proposta didático-pedagógica na qual se de vocabulário amplo, mediando a aquisi-
ensina o português escrito. ção e a aprendizagem da leitura e escrita
da Língua Portuguesa.
Portanto, na organização do AEE, de-
ve-se considerar os tópicos acima citados, 2.2 Organização do Atendimento
sempre partindo do pressuposto que o de LIBRAS
ensino de LIBRAS e a Língua Portuguesa Período do Atendimento: Trimestral
pode ser inserida em diferentes contex-
tos, tornando-se indispensável a presen- Frequência: 4 vezes por semana
ça de um professor bilíngue, haja vista ser
Tempo de atendimento: 8 horas
o bilinguismo mais que apenas duas lín-
guas. Composição do atendimento: ( ) indivi-
dual ( x ) coletivo
Para enriquecimento, temos abaixo
três planos de aula focando os momentos 2.3 Atividades a serem desenvolvi-
falados acima (http://profmemiliawelczko. das no atendimento ao aluno
blogspot.com.br/ 2011).
- Reconhecendo os cômodos de uma
47

casa: primeiramente fazer o levanta- a utilização de vários papéis coloridos,


mento de todas as palavras que compõe sucatas, areia, etc.) Na sequência, a pro-
a atividade e em seguida a leitura em fessora ensinará e aperfeiçoará, atra-
LIBRAS para a compreensão do signifi- vés do diálogo em LIBRAS, o conteúdo
cado, após apresentar a imagem interna abordado.
e externa de uma casa, explorando-a. E,
em seguida, realizando a montagem da
No quadro branco o aluno formu-
maquete de uma casa. lará frases escritas sobre os tipos de
moradia
- Localização da escola no bairro: a
professora direciona os alunos nas pro- - Através de anotações da rotina sema-
ximidades da escola apontando para nal, a qual contará com o envolvimento da
o reconhecimento de ruas, pontos de família para a elaboração das anotações
referências, parques, etc., discutindo em uma agenda que o mesmo levará para
os pontos principais em LIBRAS, crian- sua casa.
do novos sinais e aprofundamento dos - Caixa das novidades: dentro de uma
conhecimentos nessa língua com inte- caixa, a professora colocará vários obje-
ração também entre os colegas. Ao re- tos que compõe de uma novidade refe-
tornar do passeio, a professora então rente a atividade realizada na semana ou
realiza os conceitos de LIBRAS através mesmo um desenho correspondente, e a
das observações realizadas por meio de criança ao retirar o objeto/desenho, ela,
recursos visuais, como fotos de diferen- em língua de sinais, fará a relação à ati-
tes pontos, ruas, parques, etc. O aluno vidade estudada. Enquanto o professor
fará também desenhos da descoberta realiza a escrita das palavras para que o
realizada, com exposição dos mesmos, aluno, em seguida, irá realizar a sequência
no mural (o professor colocará de forma das frases.
visível por escrito o nome de cada dese-
nho executado pelo aluno), havendo en- - Construir o dicionário que será com-
tão o diálogo da professora do AEE e o posto da ilustração do sinal e da figura,
aluno em LIBRAS. O professor utiliza das também da escrita da palavra, sendo re-
imagens do mural e das fotos levando o alizado a medida que cada sinal novo for
aluno fazer tentativa de produção tex- apresentado. O aluno escreverá a palavra
tual. Destacando com lápis de cor as pa- e na sequência a gravura, podendo tam-
lavras que frisam os pontos destacados bém recortar de revistas.
no passeio. 2.4 Seleção de materiais a serem
- Tipos de moradia: a professora apre- produzidos para o aluno
senta diferentes imagens de moradia
Gravuras.
(com escrita nas mesmas) e realiza a de-
finição de LIBRAS a partir dos assuntos Caixa com os objetos.
abordados. O aluno realizará com a pro-
Recortes de gravuras de casas.
fessora a construção de uma maquete
diferenciando os tipos de moradia (com Fotos das principais ruas do bairro.
48

2.5 Adequações dos materiais - reconhecer a importância dos núme-


ros na vida cotidiana.
Produzir materiais bilíngues (LIBRAS-
-Português-LIBRAS) 3.2 Organização do Atendimento
em LIBRAS
2.6 Seleção de materiais e equipa-
mentos que necessitam ser adquiridos Período do Atendimento: Trimestral

Jogos interativos. Frequência: 3 vezes semanais

Objetos de vários formatos. Tempo de atendimento: 6 oras

Areia. Composição do atendimento: (x ) indivi-


dual ( ) coletivo
DVD.
3.3 Atividades a serem desenvolvi-
Papel cartaz de várias cores. das no atendimento ao aluno
Dicionário. - Jogo da memória, confeccionado jun-
2.7 Tipos de parcerias necessárias tamente com o aluno de várias formas:
para o aprimoramento do atendi- sinal/palavra, sinal/gravura, etc. jogo do
mento e da produção de materiais mico, forca, stop, bingo confeccionado de
forma semelhante ao jogo da memória.
Professor e/ou instrutor de LIBRAS
(preferencialmente surdo), elaborando os - Jogo da memória – família (mãe, avô,
materiais com o professor do AEE e sala avó, pai, irmão).
comum, de acordo com o estágio de de- - Através de atividades pesquisando
senvolvimento da Língua de Sinais no qual onde usamos os números, relacionando
o aluno se encontra. com as atividades que envolvem a reali-
Fonoaudiólogo para os acompanha- zada sobre a casa, sobre a localização da
mentos necessários ao educando. escola no bairro. Para que o aluno perceba
onde encontramos os números, como por
2.8 Profissionais da escola que re- exemplo: nas casas, idade, nas roupas,
ceberão orientação do professor de nos sapatos, peso, altura, etc.
AEE sobre serviços e recursos ofereci-
dos ao estudante - Jogo do percurso: joga-se o dado em
LIBRAS e, de acordo com o número des-
Professor da sala comum e do AEE. tacado, pinta-se o número que está na
3 - Plano de aee no momento - em libras cartela, muda-se a cor a cada número,
vencendo aquele que pintar todos os nú-
3.1 Objetivos do plano: meros antes.
- colaborar para o aprendizado dos con- 3.4 Seleção de materiais a serem
teúdos curriculares em estudo da série produzidos para o aluno
que está frequentando;
Cartões para jogo da memória.
- conhecer o funcionamento discursivo
da LIBRAS; Cartões para jogo do mico.
49

Cartelas com números. Coordenação Pedagógica, Professor da


sala comum e direção.
Dado com os números em LIBRAS.
4 - Plano de AEE no momento – da
Jogo da memória de várias formas: si-
língua portuguesa
nal/palavra, sinal/gravura.
4.1 Objetivos do plano:
Recortes – fotos das principais ruas
do bairro, de gravuras de casas. - propor atividades de escrita con-
textualizada, na sequência treinar, ler,
Jogo de dominó.
estudar, aprender, utilizando imagens
Gravuras de placas numéricas. visuais e de todo tipo de referências que
possam colaborar para o aprendizado
Jogo da memória da família.
dos conteúdos curriculares em estudo;
3.5 Adequações dos materiais - despertar o interesse pela leitura e
Adequação dos recursos visuais como: escrita através da aquisição, observação
painéis de gravuras, fotos respectivas aos e exploração das práticas abordadas,
temas estudados, notícias. valorizando assim suas potencialidades
cognitivas linguísticas e acadêmicas;
3.6 Seleção de materiais e equipa-
mentos que necessitam ser adquiridos - facilitar a compreensão da Língua
Portuguesa com a utilização dos recur-
Papel cartão de várias cores. sos visuais, seguidos da exploração con-
Cola colorida. textual do conteúdo em estudo;

Cartolina. - realizar a leitura reconhecendo as


palavras como um todo e dentro de um
Caneta hidrográfica. contexto, internalizando-as, mediante a
Revistas para recorte. sua forma escrita, fazendo a correspon-
dência de significação com o texto e/ou
Livros de literatura infantil. as circunstâncias e o levantamento do
vocábulo da realidade e do interesse do
Cartelas com frases.
aluno;
3.7 Tipos de parcerias necessárias
- oportunizar e demonstrar ao aluno
para o aprimoramento do atendi-
uma aproximação com o lugar em que
mento e da produção de materiais:
estuda, desenvolvendo assim, sua so-
Através da parceria entre o professor cialização, linguagem, leitura e escrita.
especializado, o professor da sala comum Bem como a busca/estimulação de no-
e o professor de Língua Portuguesa. vos desafios;

3.8 Profissionais da escola que re- - facilitar a compreensão dos tempos


ceberão orientação do professor de verbais de acordo com o português para
AEE sobre serviços e recursos ofereci- surdos (agora, já, depois/futuro).
dos ao aluno
50

4.2 Organização do Atendimento: Realizar o professor parceria com o


professor de Língua Portuguesa, pro-
Período do Atendimento: Trimestral
fessor de LIBRAS e da sala de aula co-
Frequência: Diariamente mum.

Tempo de atendimento: 8 horas 4.6 Profissionais da escola que


receberão orientação do professor
Composição do atendimento: (x ) indi-
de AEE sobre serviços e recursos
vidual ( ) coletivo
oferecidos ao aluno
Outros:
Coordenação Pedagógica, Professor
4.3 Atividades a serem desenvol- da sala comum e direção.
vidas no atendimento ao aluno 5 - Avaliação dos resultados:
- Elaborando textos de acordo com o
1 . Indicação de formas de regis-
estágio linguístico do aluno, subdividi-
tro:
dos em cartelas com frases que compõe
o texto elaborado pelo mesmo, com o o plano deverá ser avaliado durante
auxílio do professor, em seguida, colo- toda a sua execução;
cá-las em envelopes para que o aluno
o registro de avaliação do plano de-
venha a organizá-las.
verá ser feito em um caderno ou ficha de
- Através de atividades com histórias acompanhamento, onde serão descritos
em quadrinhos, explorando a sequên- pelo professor do AEE o uso do serviço
cia das gravuras, bem como a riqueza e do recurso em sala de aula, durante o
dos detalhes e suas cores também com AEE e no ambiente familiar;
rótulos, calendários, cartões, convites,
no registro, deverão constar as mu-
anúncios, slogans, cartazes, folhetos.
danças observadas em relação ao aluno
4.4 Seleção de materiais a serem no contexto escolar: o que contribuiu
produzidos para aluno para as mudanças constatadas; reper-
cussões das ações do plano de AEE no
Cartazes. desempenho escolar do aluno. A avalia-
Calendários. ção ocorrerá continuamente asseguran-
do conhecer os avanços do aluno
Cartões.
2. Resultados obtidos diante dos
Cartelas de frases.
objetivos do Plano de AEE:
Agenda.
se o plano de ação for executado
4.5 Tipos de parcerias neces- com comprometimento, responsabilida-
sárias para o aprimoramento do de, o aluno se sentirá estimulado para o
atendimento e da produção de ma- desenvolvimento da comunicação com
teriais sua família e colegas;

encorajamento e confiança no am-


51

biente escolar e familiar como também


progresso na aprendizagem;

contribuições no processo de aqui-


sição da LIBRAS;

acesso às oportunidades de usu-


fruir das informações e situações da
vida, ampliando o vocabulário tanto na
LIBRAS quanto na Língua Portuguesa;

contribuições no desenvolvimento
cognitivo e social;

contribuições nos modos de análise


diferenciados e ampliação nos proces-
sos comunicativos.

6- Reestruturação do plano:
O plano de AEE será reestruturado
caso os objetivos não tenham sido atin-
gidos, realizando novas pesquisas, in-
formações e implementação de novos
recursos e atividade.
52

Você também pode gostar