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INSTITUTO DE ENSINO SUPERIOR DO AMAPÁ

CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA

ADRIANA TAVARES DA FONSECA


ANA VITÓRIA BENTO FERREIRA
MARIA REGINA LEÃO DE OLIVEIRA

DEFICIÊNCIAS: O processo de inclusão escolar para


pessoas com surdez e deficientes auditivos

Macapá-AP
2023
ADRIANA TAVARES DA FONSECA
ANA VITÓRIA BENTO FERREIRA
MARIA REGINA LEÃO DE OLIVEIRA

DEFICIÊNCIAS: O processo de inclusão escolar


para pessoas com surdez e deficientes auditivos

Pesquisa acadêmica apresentada ao Curso


de Licenciatura em Pedagogia, do Instituto de
Ensino Superior do Amapá – IESAP, como
requisito avaliativo para obtenção de nota na
disciplina de Fundamentos da Educação
Especial na Perspectiva da Inclusão, sob
orientação da Prof.ª Lídia Lúcia de Oliveira
Alves.

Macapá-AP
2023
I. A INCLUSÃO ESCOLAR: Aspectos históricos da Surdez e Deficiência
Auditiva
Historicamente, pessoas com surdez eram consideradas ineducáveis. A luta
pela educação surda teve início no século XVI. Nela, o francês Eduart Huet, que era
surdo, fez história ao adotar na sua didática modelos de aprendizagem com uso de
língua de sinais. Em 1857, foi convidado por D. Pedro II, que tinha um neto surdo,
para vir ao Brasil e fundar a primeira escola para surdos do país, conhecida na
época como Imperial Instituto de Surdos Mudos (vale ressaltar que este termo
não deve mais ser utilizado). Atualmente, essa instituição ainda permanece em
funcionamento e chama-se Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES).
Em 1880, no Congresso de Milão, um congresso a sobre a surdez, houve a
proibição de pessoas surdas de se comunicarem através da Língua de Sinais.
Segundo eles, a leitura labial era a melhor forma de comunicação e de educação
para pessoas surdas. Com isso, pessoas surdas foram proibidas de sinalizar e
obrigadas a aprender a oralizar e se adaptar a comunidade ouvinte. Com esta
proibição é possível notar houve um atraso na disseminação da língua de sinais e
contribuiu fortemente para o acesso à informação. No Brasil, somente em 2002 que
a Libras foi oficialmente reconhecida como língua.
Em 2015, nasceu a Lei Brasileira de Inclusão (LBI) que busca a inclusão de
pessoas com deficiências nas áreas de direitos básicos como: educação, saúde,
cultura, trabalho, e etc. Através disso, passou-se a ter uma educação bilíngue para
pessoas surdas, de modo que, possam ter a Língua Brasileira de Sinais como
primeira língua e a Língua Portuguesa, como segunda. Não somente, trouxe a
profissionalização do tradutor e intéprete de Libras. Esta certificação é reforçada na
lei nº 5.626/05, em que haja a obrigatoriedade de intérpretes e tradutores na escola
caso haja alunos surdos.
Ainda que tais avanços tenham trazidos grandes transformações sociais e
culturais para pessoas com surdez, é comum encontrar escolas regulares sem
adaptações no espaço, currículo e profissionais despreparados. Em muitos casos, o
aluno acaba por desistir do ensino por não conseguir incluir-se no sistema
educacional, mesmo que sua permanência seja um direito garantido pela Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/96). E seja um dever da
escola promover e assegurar a participação e permanência de cada aluno.
Para alunos com surdez ou deficiência auditiva, seu maior obstáculo
encontra-se na acessibilidade, mais especificamente, na comunicação. Sua
interação social na escola, normalmente está ligada exclusivamente ao seu
intéprete/tradutor. Também, a falta de tecnologias assistivas, capacitação da equipe
escolar, de apoio em sala de aula, estrutura escolar e até descaso do poder público
com políticas públicas, são barreiras que contribuem para que poucos alunos com
surdez cheguem as universidades. Em muitas escolas, é comum ouvir que ainda
não estão preparados para lidar com a diversidade, algo que não pode ocorrer pois
está ferindo um direito básico de um ser humano dentro da sociedade.
Poder comunicar-se em libras com ouvintes sem um intérprete, está para
além da acessibilidade, engloba a dignificação para uma pessoa surda não somente
no âmbito escolar, mas sim, dentro de uma sociedade. Nota-se que, a luta de
pessoas não-ouvintes para inserir-se à sociedade com seus direitos respeitados é
constante e merece ser discutida, repensada e ter seus direitos assegurados. Não
somente nas escolas e no sistema educacional, mas sim, no âmbito social para que
todos possam lutar pela garantia da efetivação do direito de todos. A inclusão e
equidade entre pessoas ouvintes e surdas ainda está acontecendo, para que isso
seja efetivado, é necessário que o respeito e efetividade das ações já prescritas em
lei sejam cobrados e fiscalizados por todos.

II. Sobre a deficiência: Surdez e Deficiência Auditiva

 Deficiência auditiva
O deficiente auditivo é aquele que tem algum grau de perda auditiva, mesmo
que em algum momento, tal perda se torne total. Na maioria dos casos, a pessoa já
aprendeu a se comunicar por meio da linguagem oral e escutou os sons em algum
momento. No entanto, a classificação de um deficiente auditivo, está para além do
aspecto clínico e perpassa pelo aspecto sociocultural, ou seja, é a forma como este
indivíduo irá enxergar-se dentro do âmbito social. Nestes casos, sua identidade está
ligada muito mais ao mundo ouvinte, a sua não-participação/não-identificação dentro
da comunidade surda é o que os torna deficientes auditivos. Diferentemente de
pessoas surdas, eles não fazerem uso da Língua Brasileira de Sinais – Libras, e são
mais adeptos a técnica do oralismo e outros recursos assistivos, como as legendas.

 Surdez
Segundo o ponto de vista clínico, a surdez é o nome dado à impossibilidade de
ouvir, considerada como perda total da audição, pode ter origem congênita ou ser
adquirida após o nascimento. Mas, levar em consideração somente o ponto de vista
clínico não é suficiente, uma vez que, para pessoas surdas também está relacionado
ao uso da Língua Brasileira de Sinais e a identificação com a comunidade e cultura
surda. Dentro dessa perspectiva, a surdez não é uma deficiência e sim, uma outra
forma de experimentar o mundo. Mais do que isso, a surdez é uma potencialidade,
que abre as portas para uma cultura própria muito rica e que não se identifica pelo
que ouve ou não.

 Caracterização: Temporalidade, origem e tipo

Pré-natal;
Período em que Perinatal;
ela ocorre
Pós-natal;

Hereditária (Congênita)
Origem Não-hereditária (Adquirida)

Sistema Condutivo
Local onde ela Sistema Neurossensorial
ocorre
Sistema Nervoso central
Como pode-se perceber na representação acima, pode-se classificar a
deficiência auditiva conforme o período em que ela acontece, a sua origem e o local
onde ela ocorre.
Ela pode ocorrer em três períodos: pré-natal, antes do nascimento da
criança, quando a mãe é acometida de alguma doença como rubéola, sarampo,
sífilis e toxoplasmose; perinatal, durante o nascimento da criança, como partos
prematuros, baixo peso, uso de antibióticos tóxicos ao ouvido e de diuréticos no
berçário e outros; pós-natal, quando o indivíduo perde a audição ao longo da vida
devido alguns fatores, como envelhecimento, trauma, exposição a altos ruídos ou
outros fatores. Sua origem pode ser: hereditária (congênita); quando o indivíduo
nasce com a deficiência auditiva ou não-hereditária; quando é adquirida ao longo da
vida. A deficiência auditiva pode ocorrer em três porções periféricas do sistema
auditivo: externo, médio e interno. Seus tipos são: Condutivo, neurossensorial e

Figura 1 – Anatomia do ouvido humano


misto.
No sistema condutivo, ela ocorre dificultando a passagem do som para a
orelha interna nas estruturas externas e/ou média. Pode ser causado por processos
inflamatórios como otites externas e otites médias, excesso de cerúmen no conduto
auditivo externo, alterações na articulação da membrana com os ossículos,
malformações de orelha externa e outros. Logo, essas são perdas de grau leve ou
moderado com características transitórias, ou seja, passíveis de tratamento com
restituição total da função auditiva.
No neurossensorial ocorre a alteração no ouvido interno, quando os
condutores nervosos ou as células ciliadas, que se localizam na cóclea sofre alguma
deterioração, impedindo que os sinais sejam enviados ao cérebro. Ela pode
acometer um lado (unilateral) ou ambos (bilateral). Sua condição é permanente,
irreversível, pois o nosso organismo não repõe células ciliadas, mas é frequente
ocorrer tratamento com aparelhos auditivos, para pessoas com neurossensorial
grave podem recorrer a implantes cocleares.
No misto, a condição tem elementos de perda de audição condutora e perda
auditiva neurossensorial. Isso significa que há danos tanto na orelha externa como
interna. O ouvido externo não pode conduzir o som adequadamente para a orelha
interna, e a orelha interna não pode processar o som para ser enviado ao cérebro. O
componente neurossensorial (orelha interna) geralmente é permanente, mas a perda
auditiva condutora (orelha externa) pode não ser.

 O Processo de Inclusão Escolar: como deve ocorrer?


Ao discutir-se sobre inclusão e diversidade sob a perspectiva da Educação
Especial, é possível encontrar conceitos errôneos dentro das escolas. Atualmente, é
repentino encontrar situações de integração escolar disfarçada de inclusão. A
integração acontece quando o aluno da E. Especial deve adequar-se à escola, ou
seja, deve aderir ao currículo e adaptar-se a sua estrutura física. Com isso, percebe-
se que esta vertente contraria a ideia de inclusão, o processo inclusivo está pautado
no conceito da escola adaptar-se ao aluno e suas necessidades. A integração
disfarça-se de inclusão quando o aluno está em sala regular, mas é ignorado e
segregado das aulas, suas necessidades cognitivas não são supridas, a estrutura
escolar não foi pensada para recebe-lo, é tido como ‘’aluno do AEE’’ e é obrigado a
manter-se na sala do AEE – Atendimento Educacional Especializado porque não
‘’sabem lidar’’ com este estudante, os colegas de classe não sabem como interagir
com ele, o professor não busca meios para incluí-lo nas atividades durante a aula,
não acreditam que o PCD tenha capacidade cognitiva de se desenvolver
intelectualmente e outras formas equivocadas utilizadas corriqueiramente pelas
instituições de ensino. Para que o processo inclusivo aconteça é necessário que a
escola busque compreender quem é o seu aluno, através disso, saberá quais
metodologias diversificadas e inclusivas utilizar, estratégias educacionais, recursos
assistivos e principal, como ajudar este aluno a se desenvolver enquanto ser social e
capaz de transformar meios sociais.
Levando em consideração a surdez/deficiência auditiva, pode-se dizer que a
inclusão começa desde a organização da sala de aula até a socialização com a
equipe escolar e os alunos da escola. A alfabetização do aluno na Libras e a
presença do intérprete/tradutor, direito assegurado pela lei 12.319/2010, durante o
processo de aprendizagem é o primeiro passo em busca da inclusão. Por
conseguinte, deverá ser feito a utilização da Pedagogia Visual, que consiste em,
com auxílio do tradutor/intérprete, utilizar mais o visual que o oral durante as
atividades, desenvolver métodos para instigar a socialização dos alunos, organizar
as fichas de identificação das salas da escola com a sinalização em libras e em
língua portuguesa para que pessoas surdas da comunidade e aluno da escola
possam identificar a organização das salas, oferta da Libras no currículo para que
alunos ouvintes possam aprender a estabelecer comunicação com os alunos surdos,
capacitação dos profissionais da instituição escolar na libras, buscar alcançar o
pleno desenvolvimento do aluno surdo dentro da escola, não somente, a oferta de
uma oficina de libras na escola em parceria com a tradutora/intérprete também é
uma alternativa.
 Exemplos de recursos assistivos

1- Valorização da cultura, identidade e literatura surda


2- Cartões de comunicação

3-

Atividades adaptadas
4- Recursos tecnológicos
Pode-se notar que, os recursos utilizados, sejam eles tecnológicos ou não,
fazem uso constante do visual, a exploração de imagens, vídeos, animações,
ilustrações e desenhos que chamem a atenção do aluno surdo, esses métodos são
utilizados na Pedagogia visual. No exemplo 1, valorização da cultura e identidade
surda, é uma proposta para incluir o aluno surdo e a cultura/identidade surda durante
as aulas de literatura, sendo um recurso que ofertará a representatividade que muitas
vezes não é vista por alunos surdos e proporcionar conhecimento de novas histórias e
outras versões para alunos surdos e ouvintes. O Exemplo 2, traz propostas para
comunicação dentro de sala de aula e no ambiente escolar, com cartões de
identificação e cartões de comunicação para alunos surdos e ouvintes. Exemplo 3,
neste, a sugestão é de relação entre o visual, escrito e a libras. Com isso, o aluno
poderá conhecer as imagens, relacionar com a escrita e o sinal que ela representa na
libras, não somente, é um excelente recurso para ajudar a formar frases, textos,
descrever imagens, resolver contas de matemática e dicionários descritivos. No
exemplo 4, as sugestões são para tecnologias, sendo o Aplicativo Hand Talk e um
notebook com comunicação alternativa que poderá ser utilizado para comunicar ou
formar frases.

 Como deve ocorrer o processo avaliativo?


A avaliação de aprendizagem é uma questão político-pedagógico e deve
sempre contemplar e valorizar tanto as concepções do aluno quanto o trabalho do
professor por meio de reflexões críticas e contínuas da prática pedagógica da escola
e sua função social. Por isso, ao avaliar há necessidade de ser claro e objetivo no
decorrer do processo avaliativo, respeitando a organização linguística da Libras e
como ele se expressa na escrita, não deve ser apenas a verificação da aprendizagem
de conteúdo ou atividades através dos instrumentos avaliativos e notas, embora
façam parte desse processo, não deve ser tido como única forma de avaliar. As ações
mais utilizadas pelos professores para avaliar o aluno surdo estão pautadas entre
valorizar os acertos do aluno respeitando seu ritmo de aprendizagem e estabelecer
com clareza para o aluno o que será avaliado. Acredita-se que, estas são as medidas
fundamentais a serem tomadas em relação ao processo de ensino e aprendizagem
tanto do aluno sem surdez quanto do aluno com surdez, pois toda vez que se
estabelece para o aluno com clareza o que, como e porque ele será avaliado, além de
valorizar seus acertos e ofertar correção dos seus erros, respeitando seu ritmo de
aprendizagem, obtêm-se sucesso no processo de ensino e aprendizagem e avaliativo.

 Recomendações para a equipe escolar


A Educação Especial assume uma perspectiva inclusiva, ou seja, pressupõe
que todos os estudantes devem conviver e compartilhar o mesmo ambiente de ensino
e aprendizagem, livres de discriminação injustas de qualquer natureza, participando e
aprendendo junto dos demais. Desse modo, faz-se necessário que a escola busca
adaptar-se ao educando com deficiência, neste caso, o aluno surdo.
Algumas recomendações:
 Organização da sala de aula em formato de círculo ou semi-círculo
 Propor palestras sobre acessibilidade para pessoas surdas aberta a
comunidade e equipe escolar
 Oficina de Libras básico para os funcionários da escola
 Adequações do currículo escolar para que atenda as necessidades e valorize
a identidade/cultura surda
 Identificação das salas com uso da Libras
 Capacitação dos profissionais da educação em Libras
 Adaptações de atividades utilizando o sentido visual, escrita e a libras
 Uso de recursos e tecnologias assistivas dentro e fora das salas de aula.
 Propor o ensino de Libras para alunos ouvintes
A comunicação é a maior barreira que a comunidade surda encontra em
âmbito social. Sendo assim, é necessário que a instituição escolar busque sempre
caminhos para que proporcione a equidade entre os alunos, um espaço inclusivo e
compreensivo significa respeito e valorização do sujeito deficiente, além de atender
os direitos constitucionais que lhe são devidos.
 Considerações finais
Diante dos expostos, conclui-se que a inclusão para pessoas com
deficiência, sobretudo as pessoas com deficiência auditiva, não começa na
preparação de atividades adaptadas e sim, na aceitação e valorização dos
indivíduos. Ao aderir a aceitação, todas as outras coisas que envolvem a inclusão
são acrescentadas sem parecer uma obrigação e passa a ser preocupação.
Através dessa inclusão verdadeira, os indivíduos são capazes de buscar pelos
cumprimento dos direitos e a acessibilidade de todos, não somente a sua. Para o
grupo, este trabalho foi de suma importância pois além de contribuir para a
formação acadêmica, trouxe um olhar crítico e necessário sobre a equidade,
inclusão e aceitação.

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