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SINOPSE DO CASE: Caso Kleber1

João Lucas Melo Leite Pereira2


Lília Ferreira da Luz3

1. DESCRIÇÃO DO CASO
Kleber desde o seu nascimento passou por grandes desafios, nasceu cego e surdo, a
sua mãe dona Lúcia Maria de 63 anos atualmente, sofria de hipertensão arterial e o seu filho
teve sequelas de uma crise na hora do seu parto. No entanto a sua cegueira teve reversão, mas
a sua surdez iria lhe acompanhar a vida toda. Logo nos seus sete anos teve que se adequar a
aulas ministradas por seus professores tradicionais da época, o mesmo legou que os professores
davam aulas mais explicativas com texto no quadro, ele tentava interagir com os colegas
observando como eles faziam os exercícios e assim foi aprendendo.
Durante a sua adolescência a surdez fez com que ele deixasse as brincadeiras com
os amigos de lado e se aproximasse mais dos seus familiares, Kleber contata com a ajuda dos
seus pais e irmãos para rever os conteúdos das aulas, o mesmo relatou que quando a aula
terminava ele não ia brincar com os seus coleguinhas, ele ia correndo pedir ajuda aos pais e
seus irmãos, ficava horas e horas estudando, o seu empenho teve grandes resultados, tendo
notas acima dos demais e servindo de exemplo para os outros, e se questionava como poderia
estar melhor dos demais que ouviam e ele não.
Depois de dois vestibulares sem interprete, Kleber ingressou na faculdade de
odontologia e reviveu no seu primeiro semestre tudo o que já tinha passado nas primeiras aulas
quando era menino, relembrou que no seu primeiro dia de aula quando disse que era surdo o
seu professor fez um espanto como se perguntas: e agora?
Por fim chegou a cursar apenas dois períodos logo desistiu pelo motivo de reprovar
em várias cadeiras, os seus colegas revoltados foram a coordenação e direção da faculdade que
infelizmente não fizeram nada.

1
Case referente à disciplina de Língua de Sinais- Estrutura Básica, UNDB Centro Universitário.
2
Aluno da UNDB Centro Universitário, curso de Odontologia, 5º período.
3
Professora e orientadora da disciplina de Língua de Sinais- Estrutura Básica.
2. IDENTIFICAÇÃO E ANÁLISE DO CASO
2.1. É sabido que a presença de um interprete em língua de Sinais, no contexto
educacional, é um direito do aluno surdo garantido pela lei. Já que esse direito lhe é garantido
legalmente, como preceder quando tal direito lhe é negado e a ausência desde profissional
interfere no psicólogo do indivíduo, deixando este aluno com transtornos depressivos e
redução de seus resultados na faculdade, uma vez que Kleber era um aluno referência para os
seus colegas de classe.
A audição é um sentido de extrema importância para o diálogo, desenvolvimento
e independência, a pessoa surda ou com deficiência auditiva não possuindo esse sentindo ou
tendo ele apenas parcialmente, necessita de um professor de libras ou instrutor, tradutor e
interprete de libras em sua sala de aula, é por lei reconhecido a necessidade desse profissional
desde a sua educação básica ao ensino superior, o não cumprimento da lei leva em denúncia ao
ministério publico onde se fará a execução da mesma.
Pela falta de acessibilidade poucos conseguem seguir uma carreira, como o caso
do Kleber que acabam desistindo por enfrentar grandes barreiras sendo totalmente excluídos ou
deixados de lado até se levando a comparar com alunos ouvintes, levando a frustrações pois o
mesmo é obrigado a se adaptar a uma língua que não é a sua materna.
Quando uma instituição educacional não promove acessibilidade a uma pessoa
com surdez ou deficiência auditiva impossibilitando o seu aprendizado, não estará só ferindo a
lei 10.436 de 24 de abril de 2002 como também transgredindo com a Constituição Federal de
1988 onde no Art. 205 a educação é um direito de todos e dever do Estado e da Família.
Frequentemente a pessoa surda e tratada como deficiente, limitada até mesmo
como pessoas que precisam ir em busca de algum tratamento que no caso é a falta da audição,
pois o certo mesmo é ouvir, essa é uma visão clinica patológica nessa visão a pessoa surda é
tratada como uma pessoa que possui uma patologia, uma doença que precisa ser tratada e
curada, sendo difundida na sociedade.
No entanto quando o ser surdo é visto como um ser social, uma pessoa na qual
possui uma diferença linguística capacitado para realizar qualquer tipo de atividade estamos
numa visão socioantropológica da surdez.
A língua portuguesa e a língua de sinais são línguas de modalidade diferentes, sendo
a língua portuguesa oro-auditiva e a de sinais gestual e visual, o professor tem um papel
fundamental na inclusão do aluno surdo na sala de aula, devendo despir de preconceitos e ter
uma sensibilidade pedagógica, mesmo que essa verdadeira inclusão esteja longe de acontecer
nas escolas, é fundamental que o professor conheça a língua de sinais visto que é a sua primeira
língua proporcionando com que o seu aluno possa aprender o português como a sua segunda
língua.

3.ARGUMENTOS CAPAZES DE FUNDAMENTAR CADA DECISÃO


3.1 Aproximadamente dez milhões de brasileiros tem algum tipo de deficiência
auditiva, possuindo variações como as parcialmente surdas com alguma perda de audição e as
pessoas surdas (CAVALCANTI et al., 2019) é de grande importância que no nascimento seja feito
o teste da orelhinha, onde irá detectar se a criança é surda ou não (SANTANA 2019)
. A pessoa surda é aquela que participa da comunidade surda e tem as experiencias
visuais tem uma cultura e comportamento próprios e usa a língua de sinais como língua materna,
já as pessoas parcialmente surdas são aquelas que nascem ouvintes ou que podem perder
gradativamente a sua audição ou ate mesmo cresceram surdas sendo oralizadas tendo os
estímulos auditivos e se comunicam mais com as pessoas ouvintes. Existem tipos distintos de
graus de perdas auditivas (BARAZZUTTI et al., 2012)
Vivemos sobre a égide da política de uma educação inclusiva, os surdos apresentam uma
dificuldade de desenvolvimento, pois sabemos que na maioria dos casos os seus familiares são
compostos por pessoas ouvintes que não sabem a língua de sinais, essas crianças surdas acabam
ingressando numa escola comum ou inclusiva sem ter a base linguística tanto da língua portuguesa
quando da língua de sinais, onde apresentam uma dificuldade pelo atraso linguístico, já que mesma se
desenvolve de uma forma visual, se fazendo de extrema importância a inserção de escolas bilingues
para que sirva de apoio, sem ser uma adaptação mas sim que a criança aprenda de fato a sua primeira
língua Libras e depois poderá se desenvolver plenamente na escrita da língua portuguesa como uma
segunda língua (OLIVEIRA 2017)
Do mesmo modo quando olhamos para a inclusão do surdo ou parcialmente surdo ao
nível superior temos uma forma macro em exclusão ainda maior, dificuldades como a didática dos
professores pois sabemos que o sujeito surdo necessita de recursos visuais, faciais e corporais que
são fundamental para o seu entendimento, além disso o sujeito surdo pode enfrentar preconceitos,
sendo excluídos tanto do convívio com outros colegas como das atividades, sendo visto muita das
vezes como uma pessoa com algum tipo de problema (AZEVEDO et al., 2021)
Visando incluir o sujeito surdo e dar visibilidade para o mesmo na sociedade em que
vivemos foi promulgada a Lei n°. 10436, de 24 de abril de 2002 que reconhece a LIBRAS como meio
legal de comunicação e expressão dos surdos no nossos pais, uma lei que veio para corrigir séculos
de injustiças e descaso da nossa sociedade para com a comunidade surda que viveram por muito
tempo da completa obscuridade, sem ter ao menos acessos aos direitos básicos como estudar e
trabalhar e impedidos de reivindicar tais direitos pois a sua voz foi literalmente calada por séculos,
lembrando que a língua de sinais a qual é a língua materna dos surdos foi vetada, proibida, quase que
banida do nosso pais, os forçando com que utilizassem entre si na clandestinidade ( SANTOS 2016)
Portanto a Lei nº. 10436/2002 reconheceu a língua de sinais como língua de
comunicação e expressão da comunidade surda e da outras províncias para que seja acolhida e
difundida, entre as providencias mais importantes está a obrigatoriedade de as empresas públicas e
concessionárias de serviços públicos adotarem essa língua para promover acessibilidade
comunicacional aos cidadãos surdos.
A lei determina que haja treinamento das equipes em LIBRAS, contratação de interpretes
dessa língua ou uso de tecnologias assistivas para remover as barreiras da comunicação, assim
surgiram as plataformas que oferecem interpretes virtuais de LIBRAS (BENASSI 2002)
Acerca da surdez existem duas visões a visão clinico patológico e a visão
socioantropológica, podemos compreender essas duas perspectivas como uma delas abordando o
paradigma cultural e social, o ser surdo como todo outro cidadão possui direitos deveres, é um cidadão
ativo na sociedade, são capazes de se comunicar, expressar as suas opiniões, estudar de avançar e
ter realização pessoal em qualquer área da sua vida, na visão essa socioantropológica onde o surdo
não precisa se adaptar a língua da comunidade majoritária, o surdo não é definido pela falta de alguma
coisa mas sim pela diferença linguística e cultural (DA SILVEIRA CALIXTO 2018)
Já na visão clinico patológico que promove em estudar as causas , patologias do ser
surdo o tratando como uma pessoa que possui alguma patologia se voltando para a comunidade surda
como pessoas que precisam ser curadas, com limitações, tratam a falta da audição como um problema
sem se preocupar em ingressar essa população dentro da comunidade, opções oferecidas pela ciência
muitas das vezes não são aceitas pela comunidade surda, devido a descaracterização que as mesmas
proporcionam impossibilitando que o surdo se aceite e seja um ser que se identifique como surdo,
vivendo na comunidade surda a sua cultura identidade e língua (FERNANDES 2022)
Dado o exporto fica claro a importância da inclusão do surdo dentro da comunidade o
reconhecendo como cidadão, que tem plena capacidade de chegar em qualquer lugar que queira
quando sendo acolhido, respeitado e representado, como por exemplo pelo professor dentro da sala
de aula, que tem o papel de receber esse aluno dando atenção junto com o interprete de libras
transmitindo a seu aprendizado, atendendo as necessidades educativas de cada aluno, respeitando a
libras como a sua primeira língua materna, contribuindo para a aprendizagem do seu aluno e
respeitando o seu ritmo, não colocando barreiras (SALES 2016)
DESCRIÇÃO DOS CRITÉRIOS E VALORES
2.1. Foi feita uma análise da comunidade surda e suas necessidades
2.2. Foi realizada uma busca e pesquisas sobre a lei da língua de sinais
REFERÊNCIAS

AZEVEDO, Luciene Ferreira; ALENCAR, Rosy Mikaely Gomes. A importância do ensino da Língua
Brasileira De Sinais-(LIBRAS) para educação infantil e formação dos professores das séries
iniciais. Brazilian Journal of Development, v. 7, n. 1, p. 5648-5671, 2021.

BARAZZUTTI, Viviane et al. A desconstrução da oposição entre surdos e ouvintes a partir da (des)
territorialização do intérprete de língua de sinais. 2012.

BENASSI, Claudio Alves. Da Lei n. 10.436 de 24 de abril de 2002. Revista Diálogos, p. 22-25, 2014.

CAVALCANTI, Mirella Correia et al. Tutela dos direitos fundamentais das pessoas surdas nos estados
da federação brasileira: uma análise da política legislativa no âmbito subnacional. 2019.

DA SILVEIRA CALIXTO, Hector Renan. O ensino de Libras na formação de professores: formas de


perceber o surdo e a língua de sinais. Revista Interinstitucional Artes de Educar, v. 4, n. 1, p. 101-
116, 2018.

FERNANDES, Viviane Dulius de Lima. Revisitando as pesquisas sobre esportes surdos na área da
educação física. 2022.

OLIVEIRA, L. de; CÓRDULA, EB de L. A comunicação entre crianças surdas filhas de pais


ouvintes. Revista Educação Pública,[S. l., sv], 2017.

SALES, Jussara Jane Araújo; SALES, Rosa Janisara Araújo; NAKAZAKI, Takechi Gomes. O papel do
intérprete de libras no processo de construção da aprendizagem da pessoa com surdez. Revista
Internacional de apoyo a la inclusión, logopedia, sociedad y multiculturalidad, v. 2, n. 4, p. 53-69,
2016.

SANTANA, Ana Paula. Surdez e linguagem: aspectos e implicações neurolinguísticas. Plexus


Editora, 2019.

SANTOS, Carla Cristina Gaia dos. A tradução de contos populares clássicos com escopos
definidos: um passeio pelas versões impressas de Cinderela Surda (2003), Rapunzel Surda
(2003) e Patinho Surdo (2005). 2016. Dissertação de Mestrado. Universidade Estadual de Maringá.

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