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MULHERES SURDAS E A VIOLÊNCIA DE GÊNERO

Doriana Tetu Lamberg1


Glacielli Thaiz Souza de Oliveira2

Resumo: A presente pesquisa, de cunho qualitativo, pretende compreender o processo de violência


que as mulheres surdas sofrem ou já sofreram por conseqüência de não conseguirem se expressar ou
se fazer entender na sua totalidade, uma vez que a Libras-Língua Brasileira de Sinais usada pela
comunidade surda não é conhecida por boa parte dos ouvintes. Dessa forma, delimitamos como
objetivo geral compreender as diversas violências que permeiam o universo da mulher surda, tendo
como metodologia à pesquisa qualitativa e como técnica de coleta de dados a entrevista
semiestruturada, de um universo de 15 mulheres, sendo objeto de estudo 10 sujeitos significativos.
O campo de pesquisa será uma escola de Surdos, localizada em um Município da região
metropolitana de Curitiba. Acreditamos que com essa pesquisa poderemos ampliar os debates
acerca da violência de gênero e viabilizar formas de coibir tais ocorrências, já que nos últimos anos
ocorreu um aumento no número de cursos voltados a inclusão de ouvintes na comunidade surda,
exemplo disso, é a mudança nas diretrizes curriculares da graduação que adotou a libras como
disciplina obrigatória, dentre eles o curso de serviço social, pedagogia, Fonoaudiologia
Palavras-chave: Inclusão. Violência. Gênero. Mulheres Surdas.

O interesse pela temática surgiu através de um curso de Libras feito por uma das
pesquisadoras em uma Escola de Surdos da região metropolitana de Curitiba/PR. Durante as aulas
observou-se as dificuldades de comunicação entre os discentes surdos e os não surdos, o que em
muitos casos gerava constrangimentos.
Neste sentido, busca-se com essa pesquisa compreender se há violências de gênero nas
vivencias das mulheres surdas e como se materializam. Dessa forma, cabe ressaltar que ao longo da
história as pessoas surdas vêm sendo tratadas como deficientes, incapazes de realizar muitas
atividades, vistos como coitadinhos, dignos de pena com tratamento diferenciado e preconceitos.
Alguns, por ausência de conhecimento, até se referem aos surdos como surdo-mudo, termo
incorreto, pois ser surdo não o torna mudo, a fala se faz por meio da Libras- Língua Brasileira de
Sinais, por leitura labial e oralismo. Salvo em algumas situações onde há doenças no aparelho
fonador, em que o individuo perde a capacidade da fala e seja realmente muda, os surdos tem sim a
habilidade para falar. Dessa forma, salienta-se que:
[...] as comunidades de surdos de todo o mundo passaram a ser comunidades culturais [...]
"falantes" de uma língua própria. Assim, mesmo quando não vocaliza, um surdo pode
perfeitamente "falar" em sua Língua de Sinais, não cabendo a denominação SURDO-
MUDO. Por outro lado, a mudez é um tipo de patologia causado por questões ligadas às
cordas vocais, à língua, à laringe ou ainda em função de problemas psicológicos ou

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Assistente Social, UNIBRASIL, Curitiba, Brasil
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Assistente Social Coordenadora do Curso de Serviço Social UNIBRASIL, Curitiba, Brasil.

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neurológicos. A surdez não está absolutamente vinculada à mudez [...] Dizer que alguém
que fala com dificuldades é MUDO é preconceituoso, não acham? (RAMOS apud
STROBEL, 2008b, p. 34)
Não existem muitos registros referentes aos surdos em épocas passadas. Sabe-se que em
alguns contextos eram excluídos da vida social, não havia escolas adequada a eles e, em alguns
casos, eram abandonados pelas famílias deixados à própria sorte. Quando se nascia com alguma
deficiência física ou intelectual essa criança iria sofrer ou fazer sofrer seus familiares. Como afirma

Gugel (2008, p.17):


As tribos se formaram e com elas a preocupação em manter a segurança e a saúde dos
integrantes do grupo para a sobrevivência. Os estudiosos concluem que a sobrevivência de
uma pessoa com deficiência nos grupos primitivos de humanos era impossível porque o
ambiente era muito desfavorável e porque essas pessoas representavam um fardo para o
grupo. Só os mais fortes sobreviviam e era inclusive muito comum que certas tribos se
desfizessem das crianças com deficiência.
Na idade moderna começa se a desenhar um novo destino para os surdos com a abertura de
escolas e instituições, pensando uma educação a partir da sua realidade, mas, esse acesso só foi
possível para surdos de famílias abastadas cujo objetivo dessa educação era ensinar a ler e escrever
para que pudessem ser reconhecidos legalmente e ter direito às fortunas da família. Segundo Jozibel
Pereira Barros e Mariana Marques da Hora (2009), no Brasil, os primeiros registros oficiais da
história dos surdos se iniciam em 1857 durante o Império de D. Pedro II, que apoiou a abertura de
um instituto para surdos, o Imperial Instituto para surdos mudos sob o comando do professor
também surdo Hernest Huet. Conforme Strobel (2008b, p.06)
Huet iniciou o trabalho de educação de surdos com pouquíssimos alunos, pois houve
resistência das famílias brasileiras, pelo fato do professor ser surdo e estrangeiro. A escola
foi fundada com apoio do imperador brasileiro que tinha um neto surdo e um genro
parcialmente surdo - Conde D’Eu, casado com a princesa Isabel (RAMOS, s.d.). Em 1861,
Huet foi para o México e deixou a direção do INSM (Instituto Nacional de Surdos-Mudos),
que vem, desde então, passando por diversos diretores ouvintes.

A educação de surdos no Brasil foi inspirada por outros Países, que priorizavam o ensino da
oralidade, os que se comunicavam pela língua de sinais eram punidos e por isso só o faziam de
forma secreta. Segundo Ramos apud Strobel (2008b, p. 32)
Em 1911 foi adotado o oralismo puro em todas as disciplinas do INSM, mas professores,
funcionários ex-alunos resistiram e mantiveram a comunicação em sinais naquela escola.
Em 1957, a língua de sinais foi oficialmente proibida dentro da escola, sendo tomadas
medidas para impedir o contato de alunos mais velhos com novatos. Isso não foi suficiente
para destruir a Língua Brasileira de Sinais (Libras), mas gerou prejuízos irrecuperáveis.

Entretanto, mesmo a Libras sendo proibida os envolvidos no processo de ensino e


aprendizagem não deixaram de utilizá-la, pois sabiam da sua importância para a comunidade surda
e no desenvolvimento dos alunos. Para Jozibel Pereira Barros e Mariana Marques da Hora (2009) a

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Libras se institucionalizou no Brasil por meio do INSM e teve influência inicialmente da língua de
Sinais Francesa (LSF) e, posteriormente, também, pela norte-americana (ASL)
Os sinais surgem da combinação de configurações de mão, movimentos e de pontos de
articulação - locais no espaço ou no corpo onde os sinais são feitos. Assim, constituem um
sistema lingüístico de transmissão de idéias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas
surdas do Brasil. Como qualquer língua, também existem diferenças regionais, portanto
deve-se ter atenção às variações praticadas em cada unidade da Federação. (HORA;
BARROS, 2009, p.15)

Portanto, a Língua de sinais é própria em cada Estado ou País, podendo apresentar


diferenças de sentido de região para região. Em alguns casos o surdo não sabe conversar em Libras
exemplo disso são os oralizados que perderam a audição depois da aquisição da fala e
compreendem o que lhe falam por meio da leitura labial. Para esses a língua natural é o português
(para brasileiros) e os surdos bilíngues são os que falam português e Libras.

Mulheres Surdas

Para Madalena Klein e Daniele de Paula Formozo (2007), a trajetória das mulheres surdas é
marcada por discriminação e exclusão, exemplo dessa situação ocorreu no primeiro Instituto para
surdos citado anteriormente, onde, de 1856 até 1868 eram atendidos alunos e alunas surdas e, a
partir de 1868, as meninas não puderam mais estudar com pretexto que seria um facilitador para
promiscuidade, retornando somente em 1932.
Essa visão equivocada e de cunho machista, patriarcal e conservador fez com que as
meninas ficassem a margem do processo de educação, atrasando seu desenvolvimento cognitivo.
Contudo em relação ao ingresso na Universidade, temos maior presença das mulheres surdas na
Licenciatura e Pedagogia. Madalena Klein e Daniele de Paula Formozo (2007, p. 04):
Podemos argumentar que também na educação de surdos, assim como na educação em
geral esse dado se justifique pelo fato de as mulheres serem maioria no trabalho docente,
pois historicamente foi construído um discurso de que a mulher possui vocação para o
magistério, que é menos uma profissão e mais um sacerdócio. (GARCIA et alii, 2005).
Assim, a feminização do trabalho docente também acontece na comunidade surda.

Em relação ao trabalho também não se faz menção a mulher surda trabalhadora, usando
somente o termo surdo para dar conta de uma categoria que abrange mulheres e homens. Segundo
Madalena Klein e Daniele de Paula Formozo (2007, p.5)
Vêm ocorrendo mudanças lentas nesse sentido. Exemplo disso são alguns dos trabalhos
apresentados por ocasião do XII Congresso Mundial da Federação Mundial dos Surdos, em
Viena, no ano de 1995, que falavam das condições de surdos negros, surdas mulheres
africanas, surdas lésbicas, surdos gays, entre outros [...]

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Percebe-se que, no decorrer dos avanços das discussões de gênero e com as mudanças nas
relações de trabalho, as mulheres vêm conquistando uma ampliação no mercado de trabalho
oportunizando maior visibilidade e conseguinte da mulher surda em espaços antes ocupados por
homens em sua maioria. Nesse sentido, estão saindo do papel de coadjuvante e sendo protagonista
das suas histórias e conquistas pessoais e profissionais. Sendo assim, observa-se segundo Madalena
Klein e Daniele de Paula Formozo (2003, p. 07):
A questão do gênero é também atravessada por outras especificidades, como, por exemplo,
das de raça e etnia. Encontramos em uma pesquisa de MINDEL e VERNON (1972), nos
Estados Unidos, que em relação à situação de trabalho, as mulheres surdas negras sofriam
maior discriminação do que as mulheres surdas brancas, ou mesmo que os homens surdos
negros.

A questão de gênero transita em todas as esferas do tecido social, ou seja, estabelece-se


independente de questões étnico-raciais, geracionais, econômicas e de classe social.

Problematização e justificativa da pesquisa

A princípio a perspectivado trabalho seria de um universo de 15 mulheres surdas de uma


Escola da Região Metropolitana de Curitiba, estabelecendo como amostra 10 sujeitos significantes
para responderem ao questionário semiestruturado. Todavia, ao longo desse percurso surgiram
algumas dificuldades que impediram o desenvolvimento da pesquisa nesse espaço. Percebe-se que,
por se tratar de perguntas mais particulares, ocorreu resistência dessa instituição em permitir a
aplicação do questionário. Outro ponto observado é o fato das pesquisadoras não dominarem
Libras, sendo necessário um intérprete para explicar a pesquisa e relatar as perguntas do
questionário.
Neste sentido, os gestores da instituição apontaram que a aplicação do questionário atrapalharia
a rotina da instituição. No intuito de dar sequência na pesquisa, entrou-se em contato com uma
instrutora de Libras de outra instituição a qual apontou a mesma problemática ressaltando que as
entrevistadas pessoalmente não se sentiriam a vontade para responder as questões, podendo
influenciar até no que iriam escrever, e por ter experiência na comunidade surda sugeriu que fosse
realizado um formulário online.
Dessa forma, optou-se pela aplicação de um questionário com o recorte da realidade para um
universo de 53 mulheres surdas que tiveram acesso ao formulário online enviado a alguns grupos
fechados da rede social. Desse total, 15 responderam à pesquisa, dentre as respostas elencamos as
mais significativas no que diz respeito à comunicação, saúde, educação e violência. As falas foram

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transcritas na integra e optou-se por nomearmos as participantes com nome de flores como forma de
homenagem e para preservar sua identidade.
A coleta de dados se deu por meio de questionário online e para a interpretação dos dados
foi utilizado a análise de conteúdo a partir da concepção de Chizzotti (2005, p. 98), que afirma que
“o objetivo da análise de conteúdo é compreender criticamente o sentido das comunicações, seu
conteúdo manifesto ou latente, as significações explícitas ou ocultas”.

Analisando as falas das participantes

Em relação às dificuldades à comunicação por vezes não serem compreendidas na totalidade as


entrevistadas relataram algumas situações que já vivenciaram:

[...] comunicação complicada durante o parto. (Dália)

Muitas vezes em consultas médicas [...] (Hortência)

Principalmente nos momentos em que precisava falar com as pessoas. Difícil entender o
que elas diziam. (Flor do campo)

Sim, já aconteceu com problema, faltar comunicação em Libras [...] (Iris)

Portanto percebe-se que as participantes da entrevista colocam as dificuldades da comunicação


durante os atendimentos médicos, sendo destaque a fala da Dália ao relatar que foi muito
complicada a sua comunicação durante o parto. Compreende-se que nos momentos antecedentes ao
nascimento de uma criança a mãe é tomada por um misto de sentimentos e emoções, como: medo,
insegurança, alegria, dentre outros, sendo de suma importância que ocorra uma excelente
comunicação entre a equipe médica e a paciente, pois a falta do diálogo nesse momento pode
significar perdas irreparáveis, como aponta Deborah Prates (2016) em seu texto ao relatar que:
Houve um caso bastante emblemático de uma parturiente surda que deu a luz a um bebê e
não sabia que estava grávida de gêmeos. Após o nascimento da primeira criança, por
ignorância da equipe médica, que não conseguir comunicar-se com a mulher surda em
LIBRAS a segunda criança terminou morrendo. Inenarrável violência.

Infelizmente os profissionais não estão preparados para atender a comunidade surda, por
falta de conhecerem Libras os mesmos podem reproduzir violências significativas em seus
atendimentos. Os gestores devem compreender que não são os surdos que precisam entrar no
mundo dos ouvintes, mas ao contrário, os ouvintes entrar no mundo dos surdos. No relato de Dália
não ficou explícito o que houve, pois, as respostas não contam em detalhes o acontecimento, mas
sabemos da carência de interprete de Libras em todos os espaços.

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Nesta mesma linha de reflexão, ao perguntarmos as entrevistadas como se comunicam nas
consultas médicas as mulheres surdas responderam:

Falta entender comunicação. (Orquídea)

Eu oralizo um pouco ou vou junto meu namorado que é ouvinte, ele sinaliza pra mim.
(Hortência)

Eu falo com médico, quando tenho dificuldade levo minha filha ou faço ele escrever.
(Girassol)

Precisa ler os lábios devagar. (Calêndula)

Bastante difícil comunicação. (Alecrim)

Escrevendo ou minha mãe me ajuda. (Gérbera)

Nota-se que a comunicação se materializa pela forma oral, escrita ou com auxílio de uma
terceira pessoa, sendo assim se acredita que a informação passada de paciente para médico e de
médico para paciente em algumas ocasiões não seja fiel as falas de ambos, pois quando vão
acompanhados de familiares esses podem resumir o que o profissional falou. Pela leitura labial se o
profissional se pronunciar devagar o surdo consegue ler seu lábios, ao contrário entenderá em
fragmentos. Pela escrita se o vocabulário do médico não for técnico e sim simples conseguirão
ambos manter diálogo básico. Neste sentido, Gladis Perlin e Shirley Vilhalva (2016, p. 152-153)
Os espaços da saúde são de maior conflito, uma vez que são marcados por cenas de
mulheres que foram levadas a esterilização não consentida, que devem ser acompanhadas
pela família durante exames ginecológicos, que são implantadas sem consentimento, sem
esclarecimento.

Nesse contexto a mulher surda é excluída do direito a ter direito sobre seu próprio corpo e à
sua saúde. No que diz respeito aos profissionais da saúde e outras áreas saberem Libras as
entrevistadas responderam:
É importante pra comunicar com a quantidade de surdos que for atendido. (Margarida)

Acho preciso muito respeitar Libras pra ajudar a vida comunidade surdo. (Alecrim)

Claro, muito necessário criar um centro especial guiar interprete de Libras. (Iris)

Sim é importante viabilizar uma comunicação plena aos surdos, principalmente no que
corresponde a saúde. (Copo de leite)

Através das falas das entrevistadas notamos que é unânime a importância de se saber a
Libras. Iris sugere a criação de um centro especial. Nesses locais se aprende não somente a Libras,
mas um pouco da comunidade surda e a falar com os olhos, mãos e expressão facial. Segundo
Gladis Perlin e Shirley Vilhalva (2016, p. 151)

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[...] como usuárias de uma língua diferente do português, usuárias de língua visual, estamos
com dificuldades de acessibilidade em um mundo acessível aos ouvintes. A acessibilidade é
dificultada por serem poucas as informações visuais e isso carece à mulher surda. Os relatos
de experiências tristes se acumulam. A falta de tradução é imensa em seu rol. A falta de
tradução para a língua de sinais acontece em diversos espaços, como na saúde, na educação,
no trabalho, no espaço de segurança, enfim, na sua trajetória de vida. Assim sendo, os
relatos são dramáticos.

Para os ouvintes, as informações são acessíveis não precisam de grande ou nenhum esforço
para pedirem algum auxílio, explicar uma dor, um sentimento. Para os surdos tudo é mais
complexo, pois essa transmissão depende não somente dele, mas também de quem o ouve e enxerga
seus sinais através das mãos, percebe sua expressão e linguagem, e o que os seus olhos querem
dizer.
Sobre as dificuldades no ambiente escolar tanto em nível do ensino fundamental e médio quanto
do ensino superior algumas participantes apontaram que:
[...] é dificuldade escola. (Violeta)

Somente na faculdade em rodas de conversa na turma e palestras. Não conseguia obter


plenamente as informações e participar. (Copo de leite)

Muitas pessoas já preconceito comigo! Principalmente no colégio ensino médio estudei na


escola regular, quase dois anos sem intérprete, infelizmente já falaram para mim “pena
que eu sou surda” ou “Não acredito que você é surda”. (Hortência)

Sim, recebi discriminação quando estudava no segundo grau com trabalho de grupos.
(Girassol)

Sim bullyng a causa escola. (Gardênia)

O período escolar é tempo de descobertas na vida das pessoas em geral, pois é o início da
transição de criança a adolescente, de adolescente a jovem, e algumas situações acima marcaram de
forma negativa a vida dessas mulheres. Hortência, Girassol e Gardênia sofreram preconceito e
bullyng em um ambiente em que deveria ser de inclusão, já Copo de leite e Violeta relatam
dificuldades. Copo de leite cita palestras e rodas de conversa em que não conseguia apreender o
conteúdo na totalidade, provavelmente nesse contexto não tinha interprete de Libras e ela ficava de
fora do processo de aprendizagem. Sendo assim, Gladis Perlin e Shirley Vilhalva (2016, p. 152)
destacam:
[...] A mulher surda esteve e está correndo o risco de ser cada vez mais afetada pela não
alfabetização e consequentemente estão engrossando os cursos de EJA que atendem
pessoas que se escolarizam mais tarde. Permanece a triste incidência do quadro da mulher
surda que não recebeu educação. Poucas, mas com presença significativa. Essas mulheres
são tidas como incapazes de decidir sobre si mesmas.

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Quanto à pergunta se já foram forçadas a terem relações por não entenderem à sua
linguagem, três mulheres responderam que sim. Podemos perceber que a violência não tem classe
social, raça, ou seja, está em todas as esferas da sociedade.
Sim já. (Orquídea)

Sim. (Jasmim)

Sim. (Flor de maio)

Para Deborah Prates (2016) “A covardia nos casos de estupro se repete. Os homens ficam
seguros, por exemplo, de que a surda não terá como se expressar”. Percebe-se que estas mulheres se
encontram em mais vulnerabilidade em relação a sua defesa em casos de violência sexual, pois não
conseguem por vezes nem solicitar socorro.

Considerações Finais

Durante a confecção desse artigo, desde a aplicação da pesquisa até a tabulação dos dados,
pode-se observar que a mulher surda sofre violência duplamente, por ser mulher e por ser surda, por
não conseguir se comunicar na totalidade com os ouvintes, e pelos ouvintes não compreenderem
Libras. As respostas sobre a educação sinalizam diversas violências por elas sofridas, como por
exemplo, a exclusão de trabalhos escolares, preconceito e discriminação.
No tocante a saúde o relato de Dália que teve comunicação complicada durante o parto, e
outros depoimentos em que se nota a falta de intérpretes e o não conhecimento da Libras por parte
dos profissionais, acaba por afetar às mulheres surdas em momentos que por si só já são complexos,
no caso de relatos em relação à violência sexual observa-se a importância da sensibilização do
tecido social, dos órgãos gestores, dos serviços sociais para que esse público venha a ter um
atendimento humanizado e que seja realizada a implantação de Libras no ensino superior para que
todos os profissionais possam ter o básico para, ao se deparar com um usuário surdo, tenham como
estabelecer um atendimento digno a essa parcela da sociedade.
Dessa forma, esse artigo não tem como pressuposto ser o fim dessa discussão, mas sim
possibilitar o início de um debate que venha sensibilizar outras/os pesquisadoras/es que possam
realizar estudos mais profundos e complexos acerca da temática aqui proposta.

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Referências

BARROS, Jozibel Pereira; Hora, Mariana Marques da. Pessoas Surdas: Direitos, Políticas Sociais e
Serviço Social. UFPE, Pernambuco, 2009.

CHIZZOTTI, Antônio. Pesquisa em ciências humanas e sociais. 5º edição. São Paulo: Cortez,
2005.

KLEIN, Madalena; FORMOZO,Daniele de Paula Formozo. GÊNERO E SURDEZ. Universidade


Federal de Pernambuco, 2003.

KLEIN, Madalena; FORMOZO, Daniele de Paula. Gênero e Surdez. UFPel, Pelotas, 2007.

PERLIN,Gladis Perlin; VILHALVA Shirley Vilhalva. Mulher Surda: elementos ao empoderamento


na política afirmativa, 2016.
<http://www.porsinal.pt/index.php?ps=artigos&idt=artc&cat=27&idart=453> . Acessado em
16/05/2017.

PRATES, Deborah. Precisamos falar sobre violência contra mulheres com deficiência. 2015.
<http://justificando.cartacapital.com.br/2016/11/21/precisamos-falar-sobre-violencia-contra-
mulheres-com-deficiência> acessado em 10/05/2017.

STROBEL, Karin, As imagens do outro sobre a cultura surda. Florianópolis: Editora da UFSC,
2008.

Anexo 1

Questionário
1. Qual a sua idade?
2. Qual cor você se declara?
3. Você é alfabetizada em Libras ou Oralizada?
4. Qual sua escolaridade?
5. Qual sua profissão?
6. Exerce atividade/trabalho remunerado?
7. Qual sua função?
8. Faixa salarial?
9. Estado civil?
10. Se casada, cônjuge ouvinte ou surdo?
11. Tem filhos?

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12. Nasceu surda? Se não, com que idade ficou surda?
13. A partir da sua vivência como mulher e surda, em quais situações você se sentiu impossibilitada
de ser compreendida e sofreu por isso?
14. Ao ir ao médico, como relata o que esta sentindo?
15. Em alguma consulta médica foi feito diagnóstico errado devido ao profissional não
compreender Libras?
16. Você acha necessário que os profissionais da saúde e outras áreas saibam Libras?
17. Você teve dificuldades na área escolar, acadêmica por ser surda e não ser entendida pelos
professores?
18. Existem dificuldades de comunicação na sua atividade profissional?
19. No seu ambiente familiar, como são as relações no que diz respeito à comunicação?
20. Em relação à vida afetiva, você já sofreu algum tipo de preconceito ou discriminação por ser
mulher e surda? Se sim, qual tipo?
21.Alguma vez você já foi forçada a ter algum tipo de relação por não entenderem sua linguagem?

DEAF WOMEN AND GENDER VIOLENCE

Abstract: The present research, qualitative, to support the process of violence that suffered or
suffered or suffered as a result of not being able to express or make themselves understood in its
entirety, since a Libra-Brazilian Sign Language used by the Deaf community Is not known by most
listeners. Thus, we define as general objective as several violations that permeate the universe of the
deaf woman, having as methodology of qualitative research and as data collection technique the
semistructured interview, of a universe of 15 women, being object of study 10 significant subjects.
The research field will be a Deaf school, located in a Municipality of the metropolitan region of
Curitiba. We believe that with this research we will be able to broaden the debates about gender
violence and provide ways to prevent such occurrences, since in recent years there has been an
increase in the number of courses aimed at including listeners in the deaf community, for example,
it is a change in the Curricular guidelines of the graduation that adopted a library like obligatory
discipline, among them the course of social service, pedagogy, Speech therapy.
Keywords: Inclusion. Violence. Gender. Deaf Women.

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