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SIGNIFICADO E SENTIDO

Ao contrário do que, em geral, acreditamos, sentido e significado não


são a mesma coisa. O significado é direto, literal, explícito, enquanto o
sentido implica uma série de outros conhecimentos e visões que
interferem na forma como entendemos o mundo a nossa volta, como
bem diz José Saramago (1997):

Ao contrário do que em geral se crê, sentido e significado nunca foram


a mesma coisa, o significado fica-se logo por aí, é directo, literal,
explícito, fechado em si mesmo, unívoco, por assim dizer; ao passo que
o sentido não é capaz de permanecer quieto, fervilha de sentidos
segundos, terceiros e quartos, de direcções irradiantes que se vão
dividindo e subdividindo em ramos e ramilhos, até se perderem de
vista, o sentido de cada palavra parece-se com uma estrela quando se
põe a projectar marés vivas pelo espaço fora, ventos cósmicos,
perturbações magnéticas, aflições.

Desde a Grécia antiga, já era preocupação entender a problemática do


significado. Platão, em um diálogo chamado Crátilo, através de uma
conversa entre três personagens – Sócrates, Crátilo e Hermógenes, traz
à reflexão a questão do significado das palavras. No diálogo, Sócrates é
questionado por Crátilo e Hermógenes sobre se os nomes são
“convencionais” ou “naturais”, isto é, se a linguagem é um sistema de
símbolos arbitrários ou se as palavras possuem uma relação natural
com as coisas que elas significam.
Por possuírem o mesmo interesse de estudo, isto é, significado e
sentido, a semântica aproxima-se da Semiótica.

Semântica e Semiótica têm, contudo, abordagens diferentes do


significado. A Semiótica trabalha com a dependência que existe entre
significante e significado, e a semântica preocupa-se com o significado
como elemento independente, resultado do processo de interação.

Signo linguístico: “une não uma coisa e uma palavra mas um conceito e
uma imagem acústica [...]”( Saussure, [CLG] 2006, p. 80)
Signo: “a combinação do conceito e da imagem acústica”, (idem, 2006,
p. 81)

SIGNIFICADO: é a mesma coisa que conceito ou ideia, isto é, a


representação comum de um objeto ou da realidade social em que nos
situamos, representação essa condicionada pela formação sociocultural
que nos cerca desde que nascemos.
Para Saussure, conceito é sinônimo de significado (plano das ideias),
em oposição ao significante (plano da expressão), que é sua parte
sensível. Por outro lado, a imagem acústica “não é o som material, coisa
puramente física, mas a impressão psíquica desse som”. Imagem
acústica é o significante. Com isso, temos que o signo linguístico é “uma
entidade psíquica de duas faces”, semelhante a uma moeda com cara e
coroa ou as duas faces de uma folha de papel (Saussure, [CLG], 2006,
p. 81)

2. O significado e o conceito
O termo significado é entendido como sentido ou conceito.
Há distinção entre significado, sentido e conceito
Para Saussure (CLG, 2006), “significado” é definido como sinônimo
de conceito ou ideia. No entanto, há distinção entre significado,
sentido e conceito. Conceito pode ser definido como definição,
concepção, caracterização. Com origem no latim conceptus (do verbo
concipere), é aquilo que se concebe no pensamento sobre algo ou
alguém. É a forma de pensar sobre algo, consistindo em um tipo de
apreciação através de uma opinião manifesta. Quando construímos
uma imagem sobre algo ou alguém, formamos um conceito sobre esse
ser. (2016)
Por exemplo, as palavras house, casa e maison expressam o mesmo
conceito, isto é, o conceito de “casa” pode ser expresso como house (em
inglês), maison (em francês) e casa (em português). Para perceber ou
alcançar o significado das palavras que ouvimos ou lemos,
estabelecemos uma relação entre o conceito, já dominado, e a imagem
que os sons ou letras criam em nosso cérebro.
Lyons (1987, [1981], questiona este postulado ao afirmar que: “Não há
provas de que as imagens visuais a que podemos indubitavelmente
recorrer, voluntária ou involuntariamente, associando-as a
determinadas palavras, sejam parte essencial do significado das
mesmas, ou ainda necessárias a seu uso cotidiano”. (p. 104)

Significado também é entendido como “sentido”, como pode ser visto


nas definições presentes nos dicionários. Sentido está associado à
significação. Do latim, significatio, significado quer dizer “o sentido das
palavras”.
Layons (1987, p 105-106)
Ao invés de perguntar: “o que é significado?”, deve-se perguntar: “Qual
o significado de significado?”
Significado das palavras (lexemas) x Significado das sentenças
Significado lexical x significado de sentença
O significado de uma sentença depende do significado de seus lexemas
constituintes inclusive de seus lexemas sintagmáticos, se houver; e o
significado de alguns, senão de todos, dependerá do significado da
sentença em que aparecem. Neste caso, a estrutura gramatical da
sentença também é importante para se estabelecer o seu significado-
significado gramatical
Significado de Enunciado - engloba o significado da sentença
enunciada, mas não se esgota nele (fatores contextuais).
Significado de sentença está imbricado a seus possíveis contextos de
enunciação.
Significado expressivo – relaciona-se a tudo que estiver dentro do
escopo da ‘auto-espressão’ e pode suddividir-se em diferentes tipos. (ex:
significado emotivo ou afetivo)
Significado social – está ligado ao uso da língua para estabelecer e
manter os papeis e relações sociais (comunhão fática, i.e., comunhão
por meio da fala)
3. Noção de sentido

Wittgenstein (2001) considera que “o sentido de uma palavra ou de um


enunciado é o seu uso.
Esta é uma visão interessante por entendermos que não se pode excluir
o uso linguístico de qualquer análise, sobretudo quando se tratam de
significados e sentidos.
Por exemplo, se alguém diz “boa noite”, há vários sentidos relacionados
a essas palavras, que podem significar cumprimento ou saudação, mas,
também, despedida ou demonstração de fim de conversa. Podemos,
então, fazer a distinção entre o significado dessas palavras, tal como
aparecem no dicionário e o sentido com que são empregadas, isto é, seu
uso.
Todas as vezes que proferimos enunciados, seu sentido ou a leitura que
fazemos das expressões enunciadas varia conforme o contexto de fala.
Por isso que a linguagem cotidiana é tão rica e tão maleável. E também
se defender a diferença entre o sentido literal e o sentido contextual.
De fato, ao ouvirmos o enunciado “O gato está deitado no sofá da
sala”, não é possível saber se o sentido literal é que o felino está deitado
no sofá que fica na sala. Pode-se estar querendo informar a alguém que
o gato, que esse alguém procurava, foi achado deitado no sofá.
Além disso, o vocábulo “gato” nem sempre se refere ao felino
doméstico, podendo referir-se a um rapaz bonito.
O sentido deste enunciado, portanto, como diz Wittgenstein, dependerá
do uso. (Apud, Lyons, 1987, p. 106-107)
Segundo o autor, o sentido é a única exigência de significatividade de
uma linguagem em geral. Ter sentido é poder significar, é ter um valor
de verdade, independente de qual ele seja. Ter sentido para uma
sentença é descrever uma situação que “significa” algo para alguém.
[função descritiva, Lyons, 1987]

Desse modo, ter sentido é poder ter um valor de verdade. O que


entender, então, por “valor de verdade”? É poder ser falso ou
verdadeiro, quando enunciamos algo acerca do mundo, de fato,
determinamos a existência dessa situação, desse fato, desse estado de
coisas, no espaço lógico que uma proposição com sentido determina.
A linguagem portanto é usada para descrever o mundo, descrever fatos
ou situações vivenciadas ou observadas. (E as exclamações,
interrogações, ordens, etc???.)
Para entendermos melhor, Wittgenstein não quer dizer que tudo o que
se produz na linguagem tem sentido; o sentido de uma proposição, para
o filósofo, é garantido pelo fato de proposições descreverem um estado
de coisas.
O sentido da proposição consista em descrever algo que pode ser
verídico. Mas poder descrever algo não é garantia de uma proposição
autêntica.

Exemplo: “Em Feira de Santana, faz muito calor”. Esta é uma


proposição porque declara um fato; e tem um valor de verdade que pode
ser verdadeiro ou não. Mas seu sentido está garantido: ela significa para
alguém. E o valor de verdade? Vai depender do contexto interpretativo.

Só para não confundirmos, vamos a alguns conceitos básicos:


Enunciados é o que proferimos, sequência de palavras que usamos
para fazer uma declaração ou uma pergunta, fazer uma ameaça, dar
uma ordem, exprimir um desejo, etc.
A proposicão é o pensamento que uma frase declarativa exprime
literalmente, e que nós podemos considerar verdadeiro ou falso. Apenas
as proposições podem ter um valor de verdade? O valor de verdade de
uma proposição é a verdade ou falsidade dessa proposição.
Exemplo: A frase “Aquele cavalo branco é negro” é uma frase
declarativa, contudo, não exprime uma proposição porque não tem
valor de verdade – ela é absurda, sem sentido.
Por outro lado, se alguém diz: “José Serra foi eleito presidente do
Brasil no ano de 2011”, está determinando, com o enunciado, a
existência dessa situação, que pode ser falsa ou verdadeira, mas tem
sentido dentro de um espaço lógico que essa proposição determina.
Todos os brasileiros sabem que José Serra é um político que se
candidatou à presidência do Brasil, por algumas vezes, e que é
perfeitamente possível que ele fosse eleito. Tem sentido. Logo, exprime
uma proposição porque tem valor de verdade. E tem valor de verdade
porque a frase ou é verdadeira ou é falsa.

Uma frase tem valor de verdade quando é verdadeira ou falsa, ainda que
não se saiba se a frase é realmente verdadeira ou falsa.
Por exemplo, a frase “Há vida noutros planetas além da Terra” exprime
uma proposição porque esta frase tem um valor de verdade – é
verdadeira ou falsa. Mas nós não sabemos se a frase é verdadeira ou
falsa.
Assim, o sentido é garantido pelo fato de o que é dito poder descrever
algo possível...

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