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LEDUC MARQUES – 2020

 POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA



REGÊNCIA
LEDUC MARQUES – 2020

1. INTRODUÇÃO: DIPLOMACIA PARLAMENTAR1


- Busca da afirmação da autonomia: o Brasil, sistemática e pacientemente, deixava expirar, um a um, todos os tratados dos tempos da independência e
se recusava a assinar novos com parceiros mais fortes.

1
CACD-2008 (C): Por força de lei de 1831 que definiu a competência dos regentes, tratados de qualquer natureza haveriam de passar pela prévia aprovação da Assembléia (Câmara e
Senado) antes de serem ratificados.
CACD-2008 (C): O debate parlamentar acerca da renovação dos tratados de comércio dividiu o pensamento nacional entre liberais e protecionistas, sendo estes últimos defensores da
industrialização do país.
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- Data dessa época o estabelecimento do regime de ativa participação do Parlamento na formulação, execução e acompanhamento da política
externa. A reivindicação provinha dos anos iniciais da independência e se intensificara devido à impotência parlamentar diante de tratados reprovados
pela maioria da representação política, como o da proibição do tráfico.

- A Constituição do Império reservava ao imperador a prerrogativa de assinar e executar acordos internacionais, ignorando olimpicamente a
desaprovação veemente do Parlamento e dos setores políticos majoritários, embora ao custo da perda de legitimidade da diplomacia. Contra essa
concentração de poderes em mãos do soberano e de seu círculo imediato de auxiliares, a resistência parlamentar lograra, pouco antes da abdicação,
aprovar lei pela qual se passava a exigir da Repartição de Negócios Estrangeiros prestação de contas em relatório anual, base da discussão do seu
orçamento (1830).

- Seis meses depois, nova lei (1831) estabeleceu a prévia aprovação pela Assembleia como condição para que a Regência ratificasse os acordos
internacionais. Embora a atribuição tenha sido mais tarde transferida ao Conselho de Estado, a mudança concorreu para instituir importante grau
adicional de exame e controle das decisões que comprometiam o país internacionalmente.

- Os temas da política exterior já constituíam objeto de deliberação no debate da Fala do Trono, na abertura da sessão legislativa, logo aparecendo
exemplos da importância que assumiram os comentários do Parlamento.

- A participação do Poder Legislativo iria expressar-se não só nos debates, às vezes memoráveis, sobre tais questões, como no hábito de confiar cada vez
mais a parlamentares e políticos de expressão a chefia de missões extraordinárias incumbidas das negociações de maior importância. Desempenharam,
assim, missões diplomáticas políticos que frequentemente se tornariam presidentes do Conselho ou ministros de Negócios Estrangeiros.

- Ao lado da Secretaria de Estrangeiros e do Parlamento, o Conselho de Estado completaria a trindade de instituições públicas que imprimiram à
formulação e à execução da política externa do período monárquico grau crescente de continuidade e coerência, não obstante a mudança frequente
de gabinetes e ministros.

2. RELAÇÕES BILATERAIS2
2.2. BRASIL – REINO UNIDO3

2
1834: Brasil tem dez representações diplomáticas na Europa e quatro na América.
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CACD-2013 (E): O período regencial iniciou-se na abdicação de Pedro I ao trono, em decorrência de pressões diplomáticas britânicas e da oposição das elites escravocratas
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- Enquanto, no século XVIII, a Inglaterra expandiu suas vantagens às custas de Portugal até que esse país se tornou praticamente um
PACIÊNCIA: vassalo econômico e político, o Brasil do século XIX resistiu aos esforços similares de maneira tão vigorosa que, por volta de
TRATADOS
1845, os favores especiais outorgados à Inglaterra haviam sido revogados, o tratado comercial e o relativo ao tráfico de escravos
DESIGUAIS tinham sido declarados nulos e a Corte do Rio se encontrava em franca revolta contra a pressão exercida pelo Foreign Office de
Londres.
- Nada ilustra melhor os perigos de uma relação assimétrica de poder do que a questão do tráfico de escravos, uma das expressões da
transferência ao Brasil dos vínculos políticos e econômicos que subordinavam Portugal à Inglaterra.

- As outras – os privilégios comerciais, a jurisdição extraterritorial, as intromissões na política platina – permitiam algum espaço
de acomodação até que soasse a hora de superá-las por expiração de tratados ou mudança de circunstâncias.

- No caso do tráfico, não, porque seu fim feria o nervo exposto do que parecia ser a condição de sobrevivência da economia: a
RESISTÊNCIA: renovação do fornecimento da mão de obra.
TRÁFICO
DE ESCRAVOS - Tanto é verdade que, em nenhuma outra instância, os dirigentes brasileiros demonstraram, por ação ou omissão, tamanha
determinação de frustrar os objetivos consignados em tratado.

- A recíproca também é verdadeira: se a Inglaterra acabou por aceitar o fim dos privilégios comerciais e de jurisdição, jamais
transigiu na questão do tráfico, até obter sua completa eliminação.

- 1831: Lei Feijó: declarava ilegal o tráfico e dispunha que todos os africanos introduzidos após a data seriam declarados livres. Nas
duas décadas que se seguiram não sucedeu nem uma coisa nem a outra.

MALVINAS - 1833: Inglaterra se apossa das Ilhas Malvinas; Brasil reconhece direito argentino sobre as ilhas.

2.2. BRASIL-FRANÇA
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- Na França, o regime de Luís Felipe, chegado ao poder em 1830, adotou uma postura expansionista na Amazônia e fortificou o lago Amapá (1835),
ignorando os protestos que se seguiram da chancelaria do Império em Paris.

- Aproveitou-se do quadro instável que se vivia com a Cabanagem, usando como desculpa a proteção de seus nacionais contra a guerra paraense.

- De modo oportunista tentava fazer valer a posição de força contra a letra do Tratado de Utrecht e da Convenção de Viena, que havia devolvido a
Guiana Francesa depois de oito anos de ocupação portuguesa no período joanino.

- O governo da regência habilmente vai recorrer a Londres, buscando cavar alguma autonomia na rivalidade imperialista entre as potências, visto que não
interessava aos ingleses o imperialismo de Paris na zona amazônica próximo às possessões britânicas da Guiana Inglesa.

- Funcionou, e a solicitação inglesa, junto à demonstração de força da corveta Race na região, forçou o recuo do governo francês, que desocupou
o território, declarado a partir de então zona neutra.

2.3. BRASIL-REPÚBLICA RIO GRANDENSE (PITATINI) (1836 – 1845)


- A República Rio-Grandense foi um Estado-nação não-reconhecido formado no extremo sul do Império do Brasil, em território equivalente ao atual
estado do Rio Grande do Sul. Entre as principais cidades da então Província de São Pedro do Rio Grande do Sul que não aderiram aos revoltosos, está
Porto Alegre.

- Foi proclamada em 11 de setembro de 1836, pelo general Antônio de Sousa Neto, como consequência direta da vitória obtida por forças oligárquicas
gaúchas na Batalha do Seival (1836), durante a Revolução Farroupilha (1835-1845). Bento Gonçalves, então preso por forças imperiais na província da
Bahia, foi aclamado presidente. A Constituição da República Rio-grandense foi aprovada em 1843, em Alegrete.

- No entanto, o objetivo principal nunca foi proclamar um estado-nação próprio separado do Estado brasileiro, mas sim mostrar ao Império do Brasil
que as oligarquias gaúchas não estavam nem um pouco satisfeitas com os altos impostos - os mesmos produtos estrangeiros fossem mais baratos que
os nacionais.

- Desde os primórdios, a sublevação farroupilha estivera estreitamente ligada aos acontecimentos uruguaios e contara com apoio material e estímulos
políticos de caudilhos orientais igualmente envolvidos em lutas civis em seu próprio país. É inegável a aproximação de amizade das autoridades
uruguaias com os principais líderes riograndenses na guerra de independência do Rio Grande do Sul. Os " farroupilhas" eram, de fato, liberais exaltados e
não toleravam uma regência centralista da corte do Rio de Janeiro, alheia às aspirações e interesses regionais.

- Em 1839, forças lideradas pelo revolucionário italiano Giuseppe Garibaldi e pelo gaúcho Davi Canabarro proclamaram a República Juliana na
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província de Santa Catarina, tomando a cidade de Laguna. A nova república formou uma confederação com a Rio-Grandense mas não durou muito, pois
não conseguiu tomar a capital provincial de Nossa Senhora do Desterro (Florianópolis).

- Tratado de Poncho Verde (01/03/1845): dissolução da República Rio-Grandense. O fim da Farroupilha (1845), o Rio Grande do Sul sequestrara a
política externa brasileira para o Prata. De fato, não era conveniente enfrentar um novo levante no Rio Grande do Sul, província sui generis onde os
chefes políticos e latifundiários eram também chefes militares, e onde se concentravam a quase totalidade de nossa cavalaria e grande parte de nosso
Exército.

- Mais de 10% da população do Uruguai era de brasileiros, sobretudo gaúchos proprietários de terras. O fim da guerra civil e a vitória de Oribe em 1851
complicou bastante a vida dos brasileiros, inclusive aqueles gaúchos que tinham negócios e terras na República Oriental e que passaram a ser vítimas das
califórnias4.

- Essa possibilidade defrontava-se, no entanto, com obstáculo que dizia respeito à política interna brasileira: os interesses de considerável parcela dos
dirigentes rio-grandenses. O Rio Grande atuou como correia de transmissão dos conflitos platinos ao Brasil. A razão desse papel fatídico deve-se não
somente à sua localização geográfica fronteiriça, mas à simbiose que se criara entre os interesses econômicos e comerciais da província sulina e da
campanha uruguaia em torno da exportação de gado. A simbiose perversa traria de volta versão reprisada do conflito de 1850, com roteiro quase idêntico
até nos detalhes das acusações, revides e tipos de violência.

2. RELAÇÕES MULTILATERAIS: O PRATA5


- Brasil se distancia das questões platinas durante o período regencial, mais precisamente entre 1828 (fim da Guerra Cisplatina) e 1848.

- Nas relações de relativa igualdade com os vizinhos meridionais, não foi por pacifismo que os estadistas do Império relutaram longo tempo em utilizar
seu escasso poder econômico e militar 6. Ainda se mantinha viva a lembrança da desastrada Guerra da Cisplatina e havia escasso entusiasmo em repetir a
aventura. Por isso tentou-se primeiro a negociação e a persuasão diplomática junto a Rosas e seus aliados uruguaios, com o intuito de assegurar a livre
navegação dos rios platinos e a segurança da fronteira rio-grandense.

4
Roubo de gado brasileiro estimulado ou não reprimido pelas autoridades uruguaias – quase duzentas fazendas foram invadidas e foram roubados mais de 800 mil cabeças de gado e 16 mil
cavalos – o que motivou invasões privadas ao Uruguai lideradas por estancieiros e chefes militares como Francisco Pedro Buarque de Abreu, futuro barão de Jacuí que decidiu fazer justiça
com as próprias mãos entre 1849 e 1850: “As Califórnias de Chico Pedro” como ficaram conhecidas em referencia a corrida do Ouro que acontecia na costa oeste norte americana na
mesma época.
5
CACD-2013 (E): O regresso conservador alterou a política externa, ao priorizar a contenção de Rosas, líder da Confederação Argentina. OBS.: No período regencial como um todo,
pode-se dizer que houve imobilismo da PEx do Império brasileiro no Prata, contrastando com a projeção de Rosas (ARG). A PEB do II Reinado irá romper com essa lógica, aí sim
alterando a PEB, priorizando a contenção de Rosas a partir de 1843 (no contexto da Farroupilha) e, mais intensamente, a partir de 1849.
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Vez ou outra lançou-se mão de meios ofensivos ainda que não visando a conquista territorial, mas a defesa de interesses de navegação, comércio e segurança de nacionais que habitavam
terras orientais.
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- Passou-se à política de intervenção e luta armada apenas depois do repetido fracasso das tentativas diplomáticas e da paciente preparação de uma
superior força naval, amparada em rede de alianças com os inimigos internos argentinos e orientais de Rosas e Oribe.
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“Valor e lealdade são qualidades nobres.


Um povo que mostra em profusão na sua história exemplo de tais virtudes
bem pode merecer confiança nos momentos difíceis das suas crises internas ou internacionais.”

(Barão do Rio Branco)

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