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Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.15, n.2, p.

109-116, 2013 109


ISSN: 1517-8595

ELABORAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DO DOCE DE LEITE DE BÚFALA


EM TABLETES, COM ADIÇÃO DE COCO

Elaine Lopes Figueiredo1, Etienne Malba Dias de Oliveira2, Jacely do Rosário Barroso3

RESUMO

O doce de leite é o produto resultante da cocção de leite com açúcar, que pode ser adicionado de
outras substâncias alimentícias permitidas. O leite de búfala e de coco são matérias-primas de
excelentes características nutricionais. Este trabalho objetivou elaborar, em tablete, o doce de
leite com leite de búfala, com adição de coco ralado e avaliar suas características físico-
químicas, microbiológicas e sensoriais. Foram determinados os níveis de lipídeos, umidade,
proteína, açúcares redutores, extrato seco desengordurado, extrato seco total, acidez, resíduo
mineral fixo, Brix e valor calórico. As análises microbiológicas foram contagem padrão de
bactérias aeróbias mesófilas, fungos filamentosos e leveduras, coliformes totais, coliformes
termotolerantes e Staphylococcus aureus. As médias das variáveis físico-químicas
demonstraram que o produto se apresentou dentro dos padrões estabelecidos pela legislação,
com exceção para o nível de resíduo mineral fixo, o qual se encontrou superior ao estabelecido.
Não houve contaminação microbiológica no produto demonstrando, assim, as boas condições
higiênico-sanitárias da fabricação e o uso adequado de temperatura. Em relação ao teste de
aceitabilidade do derivado pode-se verificar que o doce de leite apresentou índice satisfatório de
aceitabilidade (92,22 %) evidenciando sua grande aceitação pelos provadores, principalmente
pela adição do coco.

Palavras-chave: leite de búfala, tecnologia, doce, coco.

FORMULATION AND CHARACTERIZATION OF SWEET TABLETS MADE FROM


BUFFALO MILK WITH ADDED COCONUT

ABSTRACT

Sweet milk tablet is a product resulting from the cooking of milk with sugar. Other substances
may be added to it Buffalo milk and coconut present excellent nutritional values. This study
aims to prepare the sweet milk tablet with the addition of shredded coconut, and evaluate its
physic- chemical, microbiological and sensory values. We have determined the levels of lipids,
moisture, protein, sugars, dry extract, total solids, acidity, ash, brix, and caloric values.
Microbiological tests include the standard scores of mesophilic aerobic bacteria, filamentous
fungi and yeasts, total coliforms, fecal coliforms, and Staphylococcus aureus. The mean
physical and chemical variables showed that the product was presented within the standards
established by law, except for the level of ash, which was found to be superior to the established
level. No microbiological contamination was detected in the product, thus demonstrating it to be
under good hygiene and sanitary conditions and appropriate for use under the right temperature.
Regarding the testing of acceptability of the derivative, can be seen that the dulce de leche index
showed satisfactory acceptability (92.22 %), showing its wide acceptance by the tasters,
primarily with the addition of coconut.

Keywords: buffalo milk, technology, sweet, coconut

Protocolo 14-2012-15 de 30/07/2012


1
Docente do Departamento de Tecnologia de Alimentos. Mestre, Universidade do Estado do Pará, Email:
lane_figueiredo@yahoo. com.br, (91) 8109-2612.
2
Alunas de graduação. Curso de Tecnologia Agroindustrial – Ênfase em alimentos. Universidade do Estado do Pará. Email:
3
Alunas de graduação. Curso de Tecnologia Agroindustrial – Ênfase em alimentos. Universidade do Estado do Pará. Email:
110 Elaboração e caracterização do doce de leite, de búfala, em tabletes, com adição de coco Figueiredo et al.

considerada nutricionalmente correta. O leite de


INTRODUÇÃO
búfala possui o dobro de ácido linoleico
conjugado (CLA) que o leite de vaca. O CLA é
A produção leiteira se destaca como uma
um componente característico da gordura
das principais aptidões das búfalas e é
presente no tecido adiposo de ruminantes, o
considerada de grande importância em vários
qual é formado no rúmen, como intermediário
países (Amaral et al., 2005). A produção de
da bio-hidrogenação do ácido linoleico
leite de búfala no mundo era de 54 milhões de
isomerase. É uma substância anticancerígena e
toneladas em 1995, passando para 77 milhões
atua também sobre os efeitos secundários da
de toneladas em 2005, o que corresponde a um
obesidade, da arteriosclerose e da diabete (Elias
aumento de 42 %. Deste montante, o continente
et al., 2004; Oliveira, 2004).
asiático é responsável por 96 % da produção
O leite de búfala pode ser classificado
mundial de leite de búfala, com crescimento
como produto "nutracêutico" que, além de
anual de 4 % (IDF, 2002).
alimento, possui potencialidades terapêuticas
No Brasil não existe informação oficial
devido a alguns fatores, como: seu elevado teor
quanto ao volume produzido, mas se acredita
de cálcio, prevenindo a osteoporose; seu maior
que a produção venha acompanhando a
conteúdo de ácido linoleico conjugado – CLA -
tendência mundial (Amaral & Escrivão, 2005).
ômega 3/6, prevenindo neoplasias e doenças
Sua contribuição também é de grande
degenerativas, menor teor de colesterol,
importância em pequenas e médias
prevenindo a arterosclerose e angiopatias, maior
propriedades rurais nas quais é considerado o
teor em antioxidante tocoferol e por apresentar
principal provedor de alimentos garantindo a
maior poder calórico, proteico, vitamínico e sais
produtividade e a permanência sustentável do
minerais (Elias et al., 2004).
homem na zona rural (Amaral et al., 2005).
É vital no processo de recuperação de
Segundo o Censo Agropecuário (IBGE,
pacientes em luta contra doenças de todos os
2010) o efetivo do rebanho bubalino é de
tipos, que precisam ingerir alimentos de
1.146.798 cabeças, encontrando-se distribuídas
qualidade em pequenas doses ao longo do dia.
pelas cinco regiões do País, da seguinte forma:
É considerado excelente alimento contra a
63 % no Norte; 12 % no Nordeste; 9 % no
desnutrição humana (Dubey, 1997; Macedo et
Sudeste; 11 % no Sul e 6 % Centro-Oeste.
al., 2001).
O leite de búfala apresenta características
Entende-se por doce de leite o “produto,
que o diferenciam de qualquer outro tipo de
com ou sem adição de outras substâncias
leite. Seus valores de lipídeos, proteínas,
alimentícias, obtido por concentração e ação do
lactose, sólidos totais e resíduo mineral fixo,
calor, a pressão normal ou reduzida, do leite ou
são de grande relevância nutricional. A
leite reconstituído, com ou sem adição de
ausência do b-caroteno na composição química
sólidos de origem láctea e/ou creme e
do leite de búfala, o que não é considerado um
adicionado de sacarose (parcialmente
problema nutricional por ser precursor da
substituída ou não por monossacarídeos e/ou
vitamina A, é uma de suas características mais
outros dissacarídeos)” (Brasil, 1997). A
marcantes, conferindo-lhe coloração branca. É
Agência Nacional de Vigilância Sanitária -
mais concentrado que o leite bovino
ANVISA (2005) define doce de leite como “o
apresentando, assim, menos água e mais
produto resultante da cocção de leite com
matéria seca. Outra característica importante é
açúcar podendo ser adicionado de outras
que possui um sabor bem adocicado, apesar de
substâncias alimentícias permitidas, até
não possuir mais lactose que o leite bovino
concentração conveniente e parciais
(Macedo et al., 2001).
caramelização”.
A gordura é o constituinte do leite que
O doce de leite é um produto tipicamente
apresenta maior valor econômico sendo
latino-americano, sendo a Argentina e o Brasil
utilizada na produção de derivados. Contribui
seus maiores produtores. No Brasil, sua maior
para o sabor característico do leite e seus
produção é no Sudeste, ressaltando o Estado de
derivados e melhora a textura. Do ponto de
Minas Gerias com mais de 50 % da produção
vista nutricional, os lipídeos apresentam níveis
nacional. O produto apresenta uma importante
apreciáveis de ácidos graxos essenciais ao
aceitabilidade mercadológica, com grande
organismo. A proporção de ácido graxo
potencial de mercado fazendo com que a
saturado/ácido graxo poli-insaturado é
indústria deste produto abranja tanto o mercado

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Elaboração e caracterização do doce de leite, de búfala, em tabletes, com adição de coco Figueiredo et al. 111

interno como o externo (Demiate et al., 2001; incubação a 35 oC, sinais de alteração das
Sousa et al., 2002). embalagens, tais como: estufamentos,
É um produto de grandes características alterações, vazamentos, corrosões (internas),
sensoriais e nutritivas podendo contribuir com nem de qualquer tipo de modificação de
significativa percentagem de açúcares, natureza física, química ou sensorial do produto
proteínas, vitaminas e minerais para o e 3) apresentar níveis de contaminação iguais
organismo humano (Sousa et al., 2002). ou inferiores aos daqueles fixados pelos
Em relação à consistência existem dois padrões microbiológicos de Brasil (2001).
tipos de doce de leite: em pasta e em tablete. A O coco é uma das frutas que apresentam,
diferença entre eles está na concentração que o dentre as maiores importâncias econômicas no
produto atinge no ponto final. O doce em pasta Brasil, uma delas. Da árvore e de seus frutos
se diferencia do primeiro por necessitar de são obtidos mais de cem produtos e
menor quantidade de açúcar (15 a 30 %) e subprodutos destacando-se, entre esses, o coco
menor tempo de aquecimento apresentando ralado, o leite de coco e a água de coco. Além
aproximadamente 30 % de umidade. No de apresentar excelente característica sensorial,
pastoso o aquecimento estará encerrado quando possui importância nutricional, sendo rico em
gotas de doce colocadas em um copo de água proteínas, lipídeos, carboidratos, vitaminas (A,
atingem o fundo sem se dissolver. No tipo B1, B2, B5 E C) e sais minerais, principalmente
tablete o ponto de retirada da massa do fogo potássio e magnésio.
variará desde a consistência, semelhante à de Assim, este trabalho tem como objetivo
bombom de leite macio, até se quebrar com elaborar, tecnologicamente, o doce de leite com
facilidade, de acordo com a dureza pretendida. leite de búfala e com a adição de coco, além de
Este doce possui uma concentração maior de caracterizá-lo quanto aos aspectos físico-
açúcar comparado ao doce em pasta, e sofre químicas, microbiológicos e sensoriais.
agitações mais lentas proporcionando-lhe,
assim, uma consistência maior (Nascimento & MATERIAL E MÉTODOS
Moura Carvalho, 1993; Sousa et al., 2002).
Os produtos doces raramente apresentam Materiais utilizados
problemas microbianos ou sofrem deterioração
quando preparados, processados e armazenados O leite de búfala utilizado na elaboração
com os devidos cuidados. O nível reduzido de do doce de leite foi obtido de búfalas da
umidade e a atividade de água também Unidade de Pesquisa Animal “Senador Álvaro
dificultam o crescimento de micro-organismos Adolpho”, na sede da Embrapa, em Belém,
(Evangelista, 1998; Franco & Landgraf, 2008). Pará, de rebanho devidamente controlado, do
As bactérias contaminantes mais ponto de vista alimentar e sanitário.
importantes dos açúcares de cana e de beterraba Para elaboração do derivado foram
pertencem aos gêneros Bacillus e Clostridium. utilizados também açúcar refinado, bicarbonato
A deterioração ocorrerá caso os açúcares sejam de sódio, coco ralado e semidesidratado, todos
armazenados em ambientes úmidos. Os micro- obtidos em supermercados da cidade de Belém.
organismos mais envolvidos são: Torula spp e
cepas osmofílicas de Saccharomyces spp, que Elaboração do doce de leite, em tablete, com
provocam a inversão do açúcar. Nas usinas adição de coco
açucareiras o Leuconostoc mesenteroides é um
dos micro-organismos mais problemáticos, pois Inúmeras formulações para a elaboração
causa a hidrólise da sacarose e sintetiza um do doce de leite com coco foram realizadas até
polímero de glicose, a dextrana. Este polímero é se conseguir as características microbiológicas,
mucilaginoso e, dependendo da quantidade sensoriais e nutricionais desejadas.
formada, entope a tubulação dos equipamentos Os doces de leite foram elaborados no
da linha de processamento do derivado (Franco Laboratório de Alimentos, do Centro de
& Landgraf, 2008). Ciências Naturais e Tecnologia - CCNT da
Segundo a ANVISA (2005) qualquer tipo Universidade do Estado do Pará – UEPA.
de doce de leite deve seguir os padrões gerais e Como não existe uma legislação
específicos de higiene, não podendo: 1) ter a específica para o leite bubalino, obedeceu-se às
presença de sujidades físicas, químicas e técnicas recomendadas para o leite bovino na
microbiológicas; 2) apresentar, após 14 dias de elaboração de produtos e derivados (Huhn et

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112 Elaboração e caracterização do doce de leite, de búfala, em tabletes, com adição de coco Figueiredo et al.

al., 1986). As quantidades de matérias-primas Utilizou-se uma regra de três simples


utilizadas para a elaboração do doce se para calcular a quantidade certa de bicarbonato
encontram na Tabela 1. de sódio a fim de neutralizar 1,75 g de ácido
lático e reduzir a acidez do leite para 13 ºD.
Tabela 1 – Quantidades de matérias-primas Sabendo que o peso molecular do bicarbonato
utilizadas na elaboração do doce de leite em de sódio é 84 e do ácido lático é 90, tem-se:
tabletes, com adição de coco
Bicarbonato de sódio Ácido lático
Componentes Quantidade 84 PM __________ 90 PM
Leite 3,5 litros x __________ 1,75g
x = 1,633g de bicarbonato de sódio para
Açúcar 1,4 Kg 3,5 litros de leite.
Coco 70 g
4 - Adição de açúcar refinado tomando-
Bicarbonato de sódio 1,63 g se o devido cuidado para que este não ficasse
grudado na parede do tacho ocorrendo, assim, a
O doce de leite e de leite de búfala com caramelização e o escurecimento do doce; para
adição de coco, foi elaborado com uso de isto ser evitado o açúcar deve ser adicionado
inovações tecnológicas adaptadas de Castro aos poucos.
(1985) como descrito a seguir: É importante destacar que a adição do
açúcar deve ser feita após a fervura do leite
1 - Filtragem do leite, realizada com ou quando ele começar a mudar de sua cor
crivo de malha fina com a finalidade de branca leitosa para uma cor branca cremosa;
remover as sujidades grosseiras. isto se observa quando o leite já perdeu em
torno de 25% de sua água.
2 – Desnate mecânico. Como não existe De acordo com a legislação vigente, para
legislação específica para o leite bubalino e o doce de leite bovino em tabletes deve-se
derivados, utilizou-se a legislação para o leite utilizar em torno de 30 a 35 % de açúcar.
bovino e derivados, a qual exige um teor de Pesquisas acerca de doce de leite bubalino
gordura de 1,5 a 2 %. Como o teor de gordura indicam a utilização de 40 % de açúcar; assim,
inicial do leite bubalino era de 9,7 %, partiu-se para os 40 % de açúcar foi realizada uma regra
do princípio de que o desnate era necessário. de três para determinar a quantidade de açúcar,
Ao final, realizou-se novamente a análise do em grama, a ser adicionada ao doce, que foi de
teor lipídico e se verificou nível de 4,7 %, valor 1,40 kg.
este abaixo do valor inicial.
5 – Aquecimento, mantendo-se a mistura
3 - Adição de bicarbonato de sódio sobre aquecimento a uma temperatura média de
(NaHCO3), a fim de neutralizar a acidez. O leite 90 ºC sob agitação constante por
de búfala se encontrava, inicialmente, com uma aproximadamente 120 minutos; em seguida,
acidez de 18 oD a qual foi reduzida para 13 oD, adicionou-se se o restante do açúcar.
com adição de 3,26 g de bicarbonato de sódio.
A quantidade de bicarbonato de sódio 6 - Concentração do doce realizada em
utilizada para a elaboração do doce depende da recipiente de aço inoxidável com
acidez inicial do leite. É importante saber que aquecimento direto e agitação manual
cada 1 ºD corresponde a 0,1 g de ácido lático constante; o tempo de concentração foi de
por litro de leite a ser reduzido. aproximadamente 2 horas e 30 minutos;
Deve-se ter cuidado com a temperatura elevada
1 Do_____ 0,1 g de ácido lático para que o produto não passe do ponto.
5 Do _______ X
x = 0,5g de ácido lático 7 - Adição do coco, que ocorreu minutos
antes do doce atingir seu ponto final; foram
Então, em 3,5 litros de leite utilizado se adicionados o coco ralado e o semidesidratado
neutralizarão: 3,5 x 0,5g = 1,75g de ácido em uma proporção de 2 %, o que correspondeu
lático. a 70 g.

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8 - Ponto do doce. Quando o doce atingiu Saúde e Agência Nacional de Vigilância


determinada consistência, retirou-se uma Sanitária, Resolução nº 12, de 2 de janeiro de
pequena amostra, que foi resfriada, e se fez o 2001 (Brasil, 2001).
formato de uma bola. Como a mesma, ao ser
cortada com o auxílio de uma faca inoxidável Análise sensorial
não grudou neste utensílio, o doce foi
considerado “no ponto”. A coloração também A análise sensorial foi realizada no
serviu de referência para o ponto do doce Laboratório de Alimentos, no Centro de
apresentando-se com a cor semelhante à do café Ciências Naturais e Tecnologia - CCNT, da
com leite brilhante. Universidade do Estado do Pará – UEPA. Um
grupo de cinquenta (50) provadores não
9 – Na Enformagem as formas metálicas treinados, de ambos os sexos, escolhidos
estavam forradas com papel filme. O doce foi aleatoriamente utilizando-se a Escala Hedônica
cortado ainda morno, em tabletes pequenos. de nove pontos, ancorados em seus extremos
nos termos “gostei muitíssimo” (9 pontos) e
10 – Embalagem, que ocorreu sob vácuo, “desgostei muitíssimo” (1 ponto) avaliou o
a fim de evitar a proliferação de micro- produto. O teste utilizado foi o de
organismos. Aceitabilidade (Dutcosky, 1996). O modelo da
planilha utilizada para o teste se encontra na
11 – Armazenamento, realizado em Figura 1:
temperatura ambiente. De acordo com Castro
(1985) o armazenamento deve ser feito em
lugar limpo e arejado, com temperatura de 20
a 30 ºC. TESTE DE ESCALA HEDÔNICA

Método de análises
NOME: _________________________________
Análises físico-químicas PRODUTO:_________________________________

AVALIE A AMOSTRA USANDO A ESCALA


As análises físico-químicas do doce de ABAIXO PARA DESCREVER O QUANTO
leite com adição de coco, foram realizadas no GOSTOU OU DESGOSTOU DO PRODUTO.
Laboratório de Química e no Laboratório de
Alimentos, do Centro de Ciências Naturais e ( ) 1- DESGOSTEI MUITÍSSIMO
Tecnologia - CCNT, da Universidade do Estado ( ) 2- DESGOSTEI MUITO
do Pará – UEPA. As análises físico-químicas ( ) 3- DESGOSTEI REGULARMENTE
foram: lipídeos, umidade, proteína, açúcares ( ) 4- DESGOSTEI LIGEIRAMENTE
redutores, extrato seco desengordurado, extrato ( ) 5- INDIFERENTE
seco total, acidez, brix, resíduo mineral fixo e ( ) 6- GOSTEI LIGEIRAMENTE
( ) 7- GOSTEI REGULARMENTE
valor calórico. Todas as análises seguiram as
( ) 8 GOSTEI MUITO
metodologias preconizadas pelo Instituto ( ) 9- GOSTEI MUITÍSSIMO
Adolpho Lutz (2005).

Análises microbiológicas Figura 1- Modelo de ficha utilizada no Teste de


Escala Hedônica
As análises microbiológicas do doce de FONTE: Dutcosk (1996).
leite foram realizadas no Laboratório de
Microbiologia, do Centro de Ciências Naturais RESULTADOS E DISCUSSÕES
e Tecnologia - CCNT, da Universidade do
Estado do Pará – UEPA. As análises foram: Análises físico-químicas do doce de leite, em
contagem padrão de bactérias aeróbias tablete, com adição de coco
mesófilas, contagem de bolores e leveduras,
coliformes totais e termotolerantes e contagem Os resultados das médias das análises
de Staphylococcus aureus. Todas as análises físico-químicas do doce de leite se encontram
foram efetuadas de acordo com os parâmetros na Tabela 1.
microbiológicos, exigidos pelo Ministério da

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114 Elaboração e caracterização do doce de leite, de búfala, em tabletes, com adição de coco Figueiredo et al.

18 marcas de doce de leite de búfala produzido


Tabela 1 – Resultados das médias das análises na Ilha do Marajó, Pará, os autores verificaram
físico-químicas do doce de leite, em tablete, que 83,34 % das amostras apresentaram teor de
com coco. gordura médio, de 9,0 %, acima do valor
observado no presente trabalho. É necessário
Determinações Valores Padrão destacar que o leite utilizado para a elaboração
(Brasil, do derivado era integral e neste trabalho se
1997) realizou o desnate da matéria-prima.
Umidade (%) 8,86 Máximo 30 Milagres et al. (2010) encontraram, ao
avaliar doce de leite elaborado sem adição de
% sacarose, médias dos resultados das análises
Proteína (%) 6,89 Mínimo 5 % físico-químicas dentro dos padrões exigidos.
Braga et al. (2001) também observaram, ao
Lipídeos (%) 5,7 Mínimo 2 % avaliar as características de cinco marcas de
Açúcares 6,22 Máximo de doce de leite industrializado, comercializados
em Belém-Pará resultados semelhantes.
redutores (%) 55 %
E.S.D. (%) 85,44 - Análises microbiológicas do doce de leite em
tablete, com adição de coco
E.S.T. (%) 91,14 -
R.M.F. (%) 4,5 Máximo 2 % A Tabela 2 apresenta as médias dos
resultados das análises microbiológicas
Brix (oD) 74 - realizadas no doce de leite com coco.
Acidez (%) 3,28 Máximo 5 %
Tabela 2 – Média dos resultados das análises
Valor calórico 103,74 - microbiológicas do doce de leite, em tablete
(Kcal) com coco.
onde: E.S.D. – Extrato seco desengordurado Análises Valores Padrão
E.S.T. – Extrato seco total Microbiológicas (BRASIL,
R.M.F. – Resíduo mineral fixo 2001)
Bactéria Aeróbia 35 102
De acordo com os padrões estabelecidos
pelo Ministério da Agricultura através da Mesófila
Portaria nº 354, de 04/09/1997, o doce de leite
(UFC/g)
elaborado com leite de búfala e adição de coco,
se mantém de acordo com suas características Bolores e Ausente 103
físico-químicas. A única exceção foi em relação
Leveduras
ao nível de resíduo mineral fixo, o qual
apresentou 4,5 % enquanto a legislação (UFC/g)
determina máximo de 2 %. Este resultado era
Coliformes totais < 0,3 5 x 10
esperado, haja vista que o leite de búfala
apresenta, em sua composição centesimal, (NMP/g)
maior teor de extrato seco total, quando
Coliformes < 0,3 Ausente
comparado com o leite bovino. É importante
ressaltar que a comparação foi realizada com termotolerantes
este tipo de leite pois não existe uma legislação
(NMP/g)
específica para leite bubalino.
O teor médio de proteína (6,89 %) foi Staphylococcus Ausente 102
superior ao mínimo exigido pela legislação
aureus (UFC/g)
(mínimo 5 %) comprovando a elevada
quantidade de proteínas em leite de búfala e
seus derivados. Com base no resultado microbiológico,
Em pesquisa realizada por Sousa et al. pode-se verificar que o doce de leite elaborado
(2002) sobre as determinações centesimais de está dentro dos parâmetros microbiológicos

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Elaboração e caracterização do doce de leite, de búfala, em tabletes, com adição de coco Figueiredo et al. 115

estabelecidos pela legislação vigente (Brasil, clara e menor dureza desses produtos, o que não
2001). A inocuidade do produto pode garantir agradou os provadores.
que a tecnologia de elaboração do doce de leite
foi realizada adequadamente, sobretudo no que CONCLUSÃO
diz respeito à aplicação de altas temperaturas.
Em trabalhos realizados por Sousa et al. Os resultados físico-químicos do doce de
(2002) verificou-se, avaliando a qualidade leite de búfala com adição de coco indicaram
microbiológica do doce de leite produzido na que o derivado se apresentou dentro dos
Ilha do Marajó-Pará, a presença de bactérias padrões estabelecidos pela legislação, com
aeróbias mesófilas e de bolores e leveduras, em exceção para o nível de resíduo mineral fixo, o
27,8 % e 22,8 % das amostras, respectivamente, qual se encontrou superior ao estabelecido;
estando as mesmas fora dos padrões apesar disto, referida situação não interfere
estabelecidos. substancialmente na qualidade do produto.
Milagres et al. (2010) observaram O doce de leite atestou ser um produto
contagem de Staphylococcus coagulase seguro para o consumo apresentando ausência
positiva, com média de < 10 UFC/g, para as da maioria dos micro-organismos avaliados,
amostras de doce de leite. Por outro lado, Braga com exceção apenas para bactérias aeróbias
et al. (2001) constataram, analisando amostras mesófilas, mas em pequena quantidade, o que
de doce de leite comercializado em Belém, comprova que a tecnologia para a elaboração
produtos com qualidade higiênico-sanitária deste derivado foi aplicada corretamente.
satisfatória, estando ausente de contaminação Em relação ao teste de aceitabilidade do
microbiológica. derivado, obtido a partir da análise sensorial,
pode-se verificar que o doce de leite apresentou
Análise sensorial do doce de leite em tablete, índice satisfatório de aceitabilidade (92,22 %),
com adição de coco evidenciando sua grande aceitação pelos
provadores, sobremaneira pela adição do coco.
A média do resultado da análise sensorial
realizada através do Teste de Aceitabilidade do REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
doce de leite com coco, com 50 provadores não
treinados, se encontra na Tabela 3. Agência Nacional de Vigilância Sanitária -
ANVISA. Resolução RDC n°12 de 01 de
Tabela 3 – Média do resultado da análise fevereiro de 2005. Disponível: http:
sensorial do doce de leite, com coco. www.anvisa.gov. Acesso em: 05/07/2009.
Produto Média Índice de Amaral, F.R.; Carvalho, L.B.; Silva, N.
Aceitabilidade Qualidade do leite de búfalas: composição.
Doce de leite 8,33 92,22 % Revista Brasileira de Reprodução Animal,
com coco v.29, p.106-110, 2005.
Amaral, F.R.; Escrivão, S.C. Aspectos
O doce de leite com coco apresentou relacionados ao leite de búfala. Revista
excelente aceitabilidade dos provadores, sendo Brasileira Reprodução Animal. 2005;
esta a nível de 92,22 %. De acordo com os 29(2):111-117.
provadores, a adição do coco ralado foi o Braga, A.C.C.; Bichara, C.M.G.; Costa, T.S.;
grande diferencial deste derivado melhorando Pena, R.S. Avaliação físico-química e
consideravelmente sua palatabilidade. microbiológica do doce de leite
Os resultados do teste de aceitação para comercializado na cidade de Belém-Pará. In:
este derivado foram semelhantes aos 4º Simpósio Latino Americano de Ciência
encontrados por Milagres et al. (2010) para de Alimentos. Unicamp – SP, 2001.
amostras de doce de leite observando-se Brasil, Agência Nacional de Vigilância
também boa aceitação para o produto. Sanitária – ANVISA. Resolução – RDC nº
Granda et al. (2005) não obtiveram, 12 de 2 de janeiro de 2001. Ministério da
avaliar sensorialmente amostras de doce de Saúde, 2001.
leite sem açúcar, boa aceitação para os atributos Brasil. Ministério da Agricultura, Pecuária e do
impressão global e textura do doce. A aceitação Abastecimento. Portaria nº 354, de 4 de
mais baixa pode ser explicada pela cor mais Setembro de 1997. Regulamento Técnico
para fixação de identidade e qualidade de

Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.15, n.2, p.109-116, 2013
116 Elaboração e caracterização do doce de leite, de búfala, em tabletes, com adição de coco Figueiredo et al.

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