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TRIÂNGULO MINEIRO
HOSPITAL DE CLÍNICAS
Tipo do PRT.DM.022 - Página 1/13
PROTOCOLO CLÍNICO
Documento
Título do CONDUTAS PARA O TRATAMENTO DE RECÉM- Emissão: 04/01/2021 Próxima revisão:
Documento NASCIDOS COM ENTEROCOLITE NECROSANTE Versão: 1 04/01/2023
SUMÁRIO
1. DEFINIÇÃO ......................................................................................................................................3
2. EPIDEMIOLOGIA ...............................................................................................................................3
3. OBJETIVOS E METAS .........................................................................................................................3
4. PÚBLICO ALVO ..................................................................................................................................3
5. PATOGÊNESE ....................................................................................................................................4
6. FATORES DE RISCO ...........................................................................................................................4
7. QUADRO CLÍNICO E ESTADIAMENTO ...............................................................................................5
8. DIAGNÓSTICO E EXAMES COMPLEMENTARES ................................................................................7
9. TRATAMENTO .................................................................................................................................11
10. COMPLICAÇÕES ............................................................................................................................12
11. PREVENÇÃO ..................................................................................................................................12
12. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................................................13
13. HISTÓRICO DE ELABORAÇÃO/REVISÃO ........................................................................................13
SIGLAS E CONCEITOS
AP- Antero-posterior
ATB – Antibioticoterapia
CIVD – Coagulação Intravascular Disseminada
DM – Divisão Médica
ECN – Enterocolite necrosante/NEC- Necrotizing enterocolitis
EGFs - Fatores de Crescimento Epidérmico
HC-UFTM – Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Triângulo Mineiro
IG – Idade Gestacional
NPT – Nutrição Parenteral
PRT – Protocolo
RN – Recém-Nascido
TGI – Trato Gastrointestinal
UTI – Unidade de Terapia Intensiva
1. DEFINIÇÃO
Enterocolite Necrosante
É uma doença inflamatória intestinal caracterizada por necrose isquêmica da mucosa
intestinal.
São as áreas de isquemia focal ou confluente que levam à necrose isquêmica da mucosa
intestinal, à inflamação grave, invasão de organismos formadores de gás entérico e dissecção de gás
na parede intestinal e no sistema venoso portal.
Ocorre mais frequentemente no íleo terminal e cólon, porém pode estender para todo o
Trato Gastro Instestinal (TGI).
Em média, ocorre na terceira semana de vida (entre 3 dias e 3 meses).
2. EPIDEMIOLOGIA
A verdadeira incidência da Enterocolite Necrosante (ECN/NEC) é desconhecida.
A incidência relatada de ECN em bebês prematuros com idade gestacional (IG) < 32 semanas
varia globalmente de 2 a 7% em diferentes Unidades de Terapia Intensiva (UTIs).
Nos Estados Unidos, estima-se que a incidência de NEC comprovada ou grave (estágios II e
III de Bell, conforme tabela 1) seja de aproximadamente 1 a 3 por 1000 nascidos vivos.
10% dos casos ocorrem em bebês a termo: que geralmente recebem alimentação com leite
não humano e têm uma doença preexistente que pode afetar a perfusão intestinal (sepse, doenças
cardíacas congênitas, distúrbios primários do TGI, restrição de crescimento fetal e hipóxia perinatal).
A NEC é responsável por aproximadamente 10% dos óbitos de bebês atendidos em UTIs.
A taxa global de mortalidade de bebês com NEC confirmada (estágios II e III de Bell) foi de
23,5%. A mortalidade aumenta com a diminuição da IG e para aqueles submetidos à cirurgia. Os
prematuros extremos que passam por cirurgia têm taxa de mortalidade de 50%.
O aumento da taxa de mortalidade relaciona-se à menor IG, gestação precoce e intervenção
cirúrgica, além de ventilação mecânica, tratamento com agentes vasopressores e etnia negra.
3. OBJETIVOS E METAS
Identificar os grupos mais susceptíveis a desenvolver ECN, realizando uma vigilância
adequada e prevenção da doença nestes grupos.
Diagnosticar e tratar precocemente os pacientes com ECN suspeita e confirmada,
melhorando o prognóstico destes.
Diagnóstico e condução das principais complicações da ECN.
Padronização da condução pelos profissionais da assistência que atendem a estes pacientes.
4. PÚBLICO ALVO
Recém-nascidos (RNs) com suspeita clínica de ECN internados no Hospital de Clínicas da
Universidade Federal do Triângulo Mineiro (HC-UFTM).
5. PATOGÊNESE
Para os 90% dos casos que ocorrem em bebês prematuros, acredita-se em mecanismo
multifatorial, associada à predisposição ou condição subjacente.
A patogênese da ECN em prematuros provavelmente difere do processo que ocorre em
bebês a termo.
A defesa da mucosa no intestino é mediada por barreiras física, bioquímica e imunológica.
Quando comprometida, as bactérias acessam tecidos mais profundos, resultando em inflamação.
Em RNs a termo com peso ao nascer >2500g, a ECN é geralmente associada à condição
predisponente ou subjacente, como doença cardíaca congênita, defeitos gastrointestinais
primários, asfixia perinatal, policitemia, sepse, hipotensão, distúrbios endócrinos e doenças
respiratórias.
6. FATORES DE RISCO
Prematuridade - fator de risco mais importante, é inversamente proporcional à IG;
Exposição prolongada a antibióticos;
Alimentação de leite não humano - O leite humano, comparado com a fórmula, é mais
protetor contra a NEC em prematuros por conter componentes que reduzem a inflamação ao não
introduzir antígenos estranhos no TGI;
A administração de medicamentos hiperosmolares e/ou fórmulas podem causar lesões de
mucosas e podem resultar em NEC:
Medicamentos orais como teofilina, polivitamínicos ou fenobarbital podem irritar a mucosa
intestinal;
Agentes de contraste hiperosmolar. Para evitar essa complicação, usar agentes de contraste
isotônico;
Fórmulas hiperosmolares;
Infecção primária;
Instabilidade circulatória;
Anemia e transfusão de glóbulos vermelhos;
Corioamnionite;
Resistência vascular intestinal.
Quadro Clínico
Legenda: NPT – Nutrição Parenteral; ATB – Antibioticoterapia; CIVD – coagulação intravascular disseminada
8.1 Exames laboratoriais não são utilizados para fazer diagnóstico devido à falta de
especificidade, eles podem ser usados para apoiar um diagnóstico clínico e estadiamento de NEC.
o Avaliação laboratorial:
Plaquetopenia, acidose metabólica e uma crescente glicose sérica estão associadas à NEC.
Hemograma: neutrófilos <1500/microL é comumente observado e está associado a pior
prognóstico.
Trombocitopenia: correlaciona com o intestino necrosado e o agravamento da doença.
Coagulopatia, sendo a CIVD um achado frequente em bebês com NEC grave.
Na bioquímica tem-se achados inespecíficos. No entanto, a persistência da hiponatremia
(<130mEq/L), o aumento dos níveis de glicose e a acidose metabólica são sugestivos de intestino
necrosado ou sepse.
Se suspeita (estágio I de Bell) ou diagnóstico já estabelecido (estágio II ou III), obter
hemograma completo, contagem de plaquetas, eletrólitos, creatinina, ureia, avaliação do pH e
lactato.
Devem ser repetidos a cada 12 a 24 horas, dependendo da gravidade da doença.
Rarefação gasosa:
bebês com
inflamação
intestinal grave
podem ter uma
aparência
radiográfica de um
abdômen sem gás.
Conforme figura 1 e
2.
Figura 3: Radiografia simples de abdome em decúbito dorsal com distensão intestinal generalizada
Fonte: arquivo pessoal do Dr. Luis Gustavo Sabino Borges, professor da cirurgia pediátrica do HC-UFTM
Figura 4: Radiografia simples de abdome em decúbito dorsal com alça intestinal única distendida na fossa ilíaca direita.
Fonte: arquivo pessoal do Dr. Luis Gustavo Sabino Borges, professor da cirurgia pediátrica do HC-UFTM.
Pneumatose intestinal:
Achado radiológico
patognomônico da ECN.
É a presença de bolhas
de gás na parede
intestinal, vista na
maioria dos pacientes
como estágios II e III de
Bell. Representa uma
complicação da ECN.
Figura 5.
Figura 5: Radiografias de abdome em diferentes pacientes, em decúbito dorsal, com pneumatose intestinal,
caracterizada por imagens lineares, radiolucentes, visíveis na parede das alças intestinais (setas).
Fonte: arquivo pessoal do Dr. Luis Gustavo Sabino Borges, professor da cirurgia pediátrica do HC-UFTM.
Ar no sistema porta: A
pneumatose intestinal pode se
difundir para o sistema venoso
portal, gerando um sinal
transitório de gás bacteriano
entrando no sistema portal.
Associado a grandes extensões
de necrose intestinal. Sinal
importante de gravidade com
70% de mortalidade.
Figura 6.
Figura 6: Radiografia de abdome em decúbito dorsal, com raios horizontais, com pneumatose intestinal, caracterizada
por imagens radiolucentes bolhosas visíveis na parede das alças intestinais.
Fonte: arquivo pessoal do Dr. Luis Gustavo Sabino Borges, professor da cirurgia pediátrica do HC-UFTM.
Pneumoperitônio:
Ar livre na cavidade
peritoneal, devido à
perfuração de
víscera oca, sendo
uma complicação da
ECN.
Figura 7 e 8.
Figura 7: Radiografia de abdome em AP: distensão difusa de alças intestinais. Ar no sistema porta.
Fonte: arquivo pessoal do Dr. Luis Gustavo Sabino Borges, professor da cirurgia pediátrica do HC-UFTM.
Figura 8: Radiografia simples de abdome em posição ortostática evidenciando pneumoperitônio abaixo das hemicúpulas
diafragmáticas.
Fonte: arquivo pessoal do Dr. Luis Gustavo Sabino Borges, professor da cirurgia pediátrica no HC-UFTM.
9. TRATAMENTO
1. Drenagem peritoneal primária: é realizada ao lado do leito na UTI. Objetivo é fornecer alívio
de pressão com saída de ascite contaminada por ar e fezes, além de ganhar tempo adicional para
permitir que algum intestino se recupere antes da ressecção do intestino inviável.
o Procedimento cirúrgico inicial preferido em bebês com extremo baixo peso ao nascer, que
tendem a estar mais doentes ou com instabilidade hemodinâmica.
o Está associada a maior mortalidade do que a laparotomia.
10. COMPLICAÇÕES
11. PREVENÇÃO
Uso de corticoide antenatal;
Alimentação precoce com leite humano;
Uso de um protocolo de alimentação padronizado, incluindo administração de colostro;
Evitar o uso desnecessário e prolongado de antibióticos;
Evitar agentes que reduzam a acidez gástrica (por exemplo, bloqueadores de histamina 2);
Evitar anemia grave;
Evitar alvos de baixa saturação de oxigênio (85 a 89%);
Evitar agentes hiperosmolares;
Realizar o tratamento de policitemia.