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Reunião de Serviço, 11-05-2021, Coimbra

DOENÇA DE PERTHES

Doença de Perthes

Catarina Quintas

Serviço de Ortopedia Pediátrica


Hospital Pediátrico - CHUC, EPE - Coimbra - Portugal

Diretora do Serviço: Dra. Cristina Alves


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DOENÇA DE PERTHES

Introdução (1)
o Doença de Perthes ou Legg–Calvé–Perthes (LCP)
o ou Waldenström’s disease ou coxa plana

o NECROSE AVASCULAR IDIOPÁTICA DA CABEÇA FEMORAL


NAS CRIANÇAS

o Incidência 1:10000
o+++rapazes (M:F 5:1)
oBilateral em 10 a 15%
oAssimétrico, envolvimento assíncrono
oEnvolvimento simétrico sugere MED
(multiple epiphyseal dysplasia)
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Introdução (2)
o 4-8 anos +++ na apresentação
o Incidência + alta nas áreas
urbanas, classes socioeconómicas
mais baixas
o > incidências em atitudes elevados
(baixa incidência no equador)
o Raças:
o Caucasianos > Este Asiáticos e
Afroamericanos
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Introdução (3)
o Fatores de risco:
o História familiar em 1,6%-20%
o Atraso na idade óssea (89%)
o Baixo peso ao nascer
o Baixa estatura
o Apresentação não cefálica
o Tabaco
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DOENÇA DE PERTHES

Introdução (4)
o ETIOLOGIA DESCONHECIDA
o Doença constitucional? Idade óssea atrasada em 89%
dos doentes, baixa estatura...
o ADHD (Attention deficit hyperactivity disorder) associada em 1/3 casos

o Causas possíveis:
o Alterações no desenvolvimento do
padrão vascular
o Trauma
o Alterações da coagulação
o Doenças endocrinológicas e
metabólicas
o Corticosteróides
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Introdução (5)
o Causas possíveis:
1. Clássica: Associada a Sinovite transitória da anca
(1,5% a 18% tiveram antecedentes de sinovite)
- Hipótese 1: Sinovite como causa (oclusão vascular à Perthes)
- Hipótese 2: Sinovite como consequência (Perthes à fraturas
subcondrais à derrame e sinovite)

2. Atualmente: Alteração da função vascular e


coagulopatia
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Introdução (6)
2. Atualmente: Alteração da função vascular e coagulopatia
o Fisiopatologia
1. Necrose secundária à disrupção do fluxo sanguíneo para
a cabeça femoral
2. Seguida por revascularização, reabsorção e colapso
tardio
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Introdução (7)
o Mecanismos

1. Deficiência de proteína C e S, Mutação fator V Leiden e da


protrombina, níveis elevados do fator VIII
. Controverso
. Trombofilia em 50% dos doentes
. ATÉ 75% DOS DOENTES TÊM ALGUMA FORMA DE COAGULOPATIA

2. Eventos traumáticos subclínicos repetidos + sobrecarga


mecânica conduzem a colapso ósseo e reparação (Teoria dos
múltiplos enfartes)

3. Mãe fumadora, fumadores passivos


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Introdução (8)
o Prognóstico

The prognosis for LCP disease is fair. The most important prognostic factor
is the sphericity of the femoral head at skeletal maturation

1. Idade de apresentação
. <6 anos melhor Px
2. Esfericidade da cabeça femoral e
congruência
3. Classificação do pilar lateral
. Subluxação lateral da cabeça > 20%
provoca deformidade da cabeça femoral,
contacto anormal entre o acetábulo e a
cabeça
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Introdução (9)
o Pior prognóstico se:

1. Género feminino
2. Diminuição da abdução da anca
3. Rigidez com progressiva diminuição da ROM
4. Obesidade
5. Sinais de “cabeça em risco” – Catterall
6. > duração desde o inicio até à “cicatrização”
7. Formação de barras fisárias (+ provável nas crianças +
velhas)
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Introdução (10)
oHistória natural

• Boa evolução até à 5ª ou


6ª década de vida
• 50% desenvolve artrose
secundária à cabeça
femoral anesférica
• Processo auto-limitado
• Curso da doença variável,
pode demorar 2-5 anos até
à resolução

Diferente da osteonecrose adulta pela sua capacidade de remodelação e cura


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Fases da Doença de Perthes (1)


1. Fase inicial
o Sinovite
o Enfarte produz uma epífise menor e esclerosada
com alargamento do espaço articular medial
o Ligeira subluxação lateral da cabeça
o Rarefação metafisária com quistos radiolucentes
o Rx: sem alterações até 3-6 meses. Pode
mostrar ligeira lateralização da epífise
(hiperplasia da cartilagem)

o Cintigrafia: diminuição do uptake


o RMN: diminuição do sinal
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Fases da Doença de Perthes (2)


2. Fase de Fragmentação
o Sinal do crescente (linha radiolucente subcondral)
o Cabeça femoral com sinais de fragmentação
o Resulta do processo de revascularização com a reabsorção óssea
produzindo colapso com subsequentes alterações da densidade óssea
o Sintomas relacionados com a anca ++
o CLASSIFICAÇÃO DO PILAR LATERAL/HERRING BASEIA-SE NESTA FASE
o Pode durar 6 meses a 2 anos
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Fases da Doença de Perthes (3)


2. Fase de Fragmentação
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Fases da Doença de Perthes (4)


3. Fase de Re-ossificação
o Re-ossificação do núcleo de ossificação com aparecimento de osso
novo, enquanto há reabsorção do osso necrosado
o Pode durar 18 meses
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Fases da Doença de Perthes (5)


4. Fase de Remodelação (Residual)

o A cabeça femoral remodela-se


até à maturidade esquelética
o Inicia-se assim que o núcleo de
ossificação é completamente re-
ossificado
o Pode evoluir para uma cabeça
esférica ou anesférica
oPode existir sobrecrescimento do
GT
o Regressa o padrão trabecular
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Fases da Doença de Perthes (6)


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Diagnóstico (1)
Rapazes ++, entre os 4-8 anos
Envolvimento bilateral normalmente com >1 ano de diferença do início

o Sintomas:
o Início insidioso
o Pode ser indolor
o Dor com atividade física
intensa (transitórios, 1-2 dias)
o Queixas álgicas esporádicas
na anca, joelho, virilha ou coxa
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Diagnóstico (2)

oExame físico:
o Rigidez da anca
o Limitação da RI (sinal + precoce)
e abdução
o Alterações da marcha
o Sinal de Trendelenburg
o Marcha antiálgica
o Alterações do comprimentos dos
membros é um achado tardio
(contratura dos abdutores)
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Diagnóstico (3)
o ECD’s:
o Rx AP e Rã
o Essencial para Dx e Px
o Ecografia (derrame articular)
o RMN
o TC
o Cintigrafia
o Artrografia

In the vast majority of cases, only conventional radiographs are necessary to


establish the diagnosis and provide management
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Diagnóstico (4)
o ECD’s:
o Rx AP e Rã
o Essencial para Dx e Px

o Achados iniciais:
. Alargamento do espaço
medial
. Irregularidade da
ossificação da cabeça
femoral
. Sinal do crescente
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Classificações (1)
1. Classificação de Herring –Pilar Lateral

o Baseada na fase de fragmentação

o Boa relação inter-observador

o Valor prognóstico
o Altura do pilar lateral da epífise
femoral no Rx AP da bacia

o Limitação: não pode ser usada na


fase inicial de apresentação
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Classificações (2)
1. Classificação de Herring –Pilar Lateral

Grupo A pilar lateral mantém a altura total, sem Bom prognóstico


alterações da densidade
Grupo B >50% altura Mau prognóstico em doentes > 6 anos
Borderline B/C pilar lateral estreitado (2-3mm) ou pouco Recentemente acrescentado para aumentar a
ossificado com cerca de 50% de altura consistência e o prognóstico da classificação

Grupo C <50% altura Mau prognóstico em todos os doentes


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Classificações (3)
2. Classificação de Catterall
Baseada no grau de envolvimento
da cabeça

Sinais de risco:
- Gage sign
- Calcificação lateral à epífise
- Subluxação lateral da
cabeça femoral
- Fise femoral proximal
femoral horizontal
- Quisto metafisário
- Rarefação metafisária
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Classificações (4)
2. Classificação de Catterall
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Classificações (5)
3. Classificação de Salter-Thompson
Baseada no sinal do crescente radiográfico (pode ser observado nas fases
iniciais da doença, + precoce que Herring)
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Classificações (6)
3. Classificação de Salter-Thompson
Baseada no sinal do crescente radiográfico (pode ser observado nas fases
iniciais da doença, + precoce que Herring)
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Classificações (7)
4. Classificação de Stulberg

Gold standard para avaliar a deformidade residual e a congruência articular

Estudos recentes mostram uma fraca


fiabilidade inter-observador e
intra-observador
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Classificações (8)
4. Classificação de Stulberg
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Diagnóstico Diferencial (1)

Bilateral symmetrical involvement is very rare in LCP disease.


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Diagnóstico Diferencial (1)


1. Sinovite transitória da anca
. Aparecimento de sintomas + agudo
. Rx: sem alterações do núcleo de ossificação
. Cintigrafia no Dx diferencial

2. Artrite sética
. Anca em flexão, RE e abdução
. No Perthes não há leucocitose nem aumento da PCR. VS
pode estar aumentada

Bilateral symmetrical involvement is very rare in LCP disease.


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Tratamento (1)
oO objetivo da gestão da LCP é preservar a esfericidade da
cabeça femoral para reduzir o risco de rigidez e artrose,
preservando ao mesmo tempo o bem-estar emocional da
criança.

o Controverso!
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Tratamento (2)
• Objetivos:
• Aliviar a dor (AINES,
descarga)
• Restaurar a função
• Manter o mínimo de 20º de
abdução
• “Conter a anca”
• Imobilização, osteotomias,
repouso no leito (com ou sem
tração)

O tratamento é tipicamente conservador em crianças com menos de 8 anos e cirúrgico (osteotomia


femoral e/ou pélvica)em crianças com mais de 8 anos.
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Tratamento (3)
• Tratamento conservador:
• Observação, descarga do membro, fisioterapia
• Crianças <8 anos
• Classificação Herring A

• Resultados:
• Bons resultados correlacionados com esferidade da cabeça,
Classificação do pilar lateral A e Catterall I
• 60% não necessitam de cirurgia

Imobilizações gessadas para contenção da anca não


foram consideradas eficazes num estudo prospetivo
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Tratamento (4)
• Tratamento conservador:

Imobilizações gessadas para contenção da anca não


foram consideradas eficazes num estudo prospetivo
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Tratamento (5)

• Tratamento cirúrgico:
• Crianças >6-8 anos
• Classificação Herring B, B/C
• Todos os Herring C

• Osteotomia de varização fémur proximal


• Osteotomias pélvicas

• Resultados:
• Mau prognóstico se Pilar lateral C independentemente do tratamento
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Tratamento (6)

Idade: variável + importante


3 grupos:
1. 0-5 anos
2. 5-8 anos
3. 8 ou + anos (pior Px)
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Tratamento (7)
Idade: variável + importante
3 grupos:
1. 0-5 anos
. Prognóstico excelente
. Tratamento não é necessário
. Avaliar se há aparecimento de barras fisárias

2. 5-8 anos
3. 8 ou + anos (pior Px)
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Tratamento (8)
Idade: variável + importante
3 grupos:
1. 0-5 anos
2. 5-8 anos
. Herring A ou B: sem contenção, estimular exercícios de
abdução
. Herring B: considerar tx de contenção. Controverso.

1. 8 ou + anos (pior Px)


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Tratamento (9)
Idade: variável + importante
3 grupos:
1. 0-5 anos
2. 5-8 anos
3. 8 ou + anos (pior Px)
. Considerar Tx cirúrgico se Herring B ou C e estadio de
Catterall 1 ou 2
. Considerar imobilizações gessadas ou ortóteses
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Tratamento (10)
Idade: variável + importante
3. 8 ou + anos (pior Px)
. Estadio de Catterall 1
. Acetabuloplastia (shelf procedure)
. Estadio de Catterall 2
. Osteotomia femoral + pélvica muitas vezes necessária
. Estadio de Catterall 3
. Deformidade permanente!
. Osteotomias de abdução se limitação da ROM
. Aceitar a deformidade
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Tratamento (11)
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Tratamento (12)
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Tratamento (13)
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Complicações (1)
• Deformidade da cabeça femoral
• Coxa magna ou coxa plana
• Subluxação lateral anca (mau Px)
• Encerramento precoce da fise
femoral
• Sobrecrescimento trocantérico
• Coxa breva
• Diferença comprimento membros
• Displasia acetabular
• Lesão do labrum
• Osteocondrite dissecante
• Osteoartrose
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Complicações (2)
• Osteoartrose
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Bibliografia
• Staheli, Lynn T. Practice of Pediatric Orthopaedics. 2001
• Peter M. Waters, David L. Skaggs, John M. (Jack) Flynn,
Charles Court-Brown. Rockwood and Wilkins’ Fractures in
Children. Ninth edition. 2020
• Seabra, Jorge F. Ortopedia infantil – O Fundamental. 2016.
• Curso COT 2018-2020.

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