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Em um desses encontros, tomando um chopinho bem gelado, conversamos muito sobre a formaçã o de
grupos na vida diá ria, nas festas, no esporte, nas manifestaçõ es, nas tragédias e no trabalho, mas nã o
consegui lhe responder a pergunta que fez sobre o comportamento das pessoas no ambiente de
trabalho em MIRTOWISC.
1... O primeiro exemplo que nos veio à cabeça foram as Escolas de Samba, que conseguem reunir
milhares de desconhecidos e apresentam um show fantá stico no Carnaval, com todos os integrantes
alinhados e se ajudando mutuamente para atingir o mesmo objetivo. Existem vá rios chefes e pessoas
dando ordens ao mesmo tempo e todos acatam as decisõ es sem reclamar porque o objetivo é
conhecido e todos estã o motivados e comprometidos.
2... Depois lembramos as torcidas organizadas cantando e dançando sem que treinem para isso, mas
que conseguem desenvolver o mesmo ritual e cantam certinho as mú sicas. Até xingam juntas quando
o time pelo qual estã o torcendo perde ou o á rbitro erra algum lance contra o seu time. Nos está dios
cheios costumam dar um show. O objetivo também é conhecido de todos
3... Os Blocos de Carnaval nã o foram esquecidos, principalmente porque esses nem enredo tem e as
pessoas se juntam, vindas de diversos lugares para caminhar, cantar, dançar e se divertir, sem
nenhum ensaio antes. O Resultado é fantá stico! Apesar de nã o ter um objetivo mensurá vel, todos
estã o ali comprometidos com a alegria.
4... Os grupos formados pelos vizinhos e pessoas desconhecidas que se formam para ajudar aos
necessitados apó s uma tragédia como chuva, alagamento, desmoronamento e explosã o. Solidariedade
pura! O objetivo é conhecido e compartilhado por todos e quando um líder é identificado passam a
seguir suas orientaçõ es democraticamente.
5... Lembrei que no Rio de Janeiro tem um Bloco de Carnaval muito engraçado chamado “Concentra
mais nã o sai”. Os participantes se concentram em um bar em Copacabana durante o Carnaval, bebem,
cantam e num determinado momento, apenas atravessam a rua, de uma calçada a outra, cantando,
sambando e retornam ao bar em que estavam. O objetivo também é a alegria.
6... No Camp Nou, está dio do Barcelona, em todos os jogos aos 17 minutos e 14 segundos,
em referência ao ano de 1714, quando um levante catalã o foi sufocado pela monarquia na Espanha, os
torcedores costumam gritar em uníssono pela independência da Catalunha. Aparece no telã o o tempo
de jogo e todos gritam o mesmo protesto. O objetivo é protestar e lutar pela independência e a grande
maioria está comprometida com essa causa.
7... Incluímos os dois grupos folcló ricos de Parintins, na Amazô nia: Boi Caprichoso e Boi Garantido
que também seguem um ritual e apesar de competirem, se respeitam durante a apresentaçã o do rival
ficando em silêncio total para nã o perder ponto. Esse é um comportamento diferente das torcidas nos
está dios que fazem barulho, mas existe a mesma disciplina a ser cumprida por todos no silêncio como
na gritaria e gritos de guerra durante um jogo. O objetivo é vencer, ser campeã o e todos lutam juntos.
Um dos pontos que encontra muitas dificuldades na empresa em MIRTOWISC é o planejamento, pois
mesmo tentando implementar projetos e programas participativos, como o TPM – Manutenção
Produtiva Total, percebe que os Gerentes, Supervisores e Coordenadores nã o possuem essa
característica de planejar e tendem a tentar implantar os projetos e programas de forma autocrá tica
apenas dando ordens, sem permitir a participaçã o dos seus subordinados, que acabam ficando
desmotivados e sem nenhuma iniciativa. Executam as tarefas sem nenhuma motivaçã o e
comprometimento e se nã o forem cobrados, deixam de fazer.
Baseado nessas dificuldades, concluímos que os Grupos de Trabalhos formados nas empresas,
diferentemente dos listados em nosso “Brainstorming” onde todos sabem o roteiro e conhecem o
objetivo, no trabalho, nã o seguem um roteiro bem definido e planejado e costumam apresentar
algumas características prejudiciais, como por exemplo:
Muitos não sabem ao certo o que deve ser feito.
Os objetivos não são claros, com frequência.
Pessoas diferentes têm ideias diferentes sobre os objetivos.
Há competição dentro e fora da equipe.
Está entregue à própria sorte.
Mas por quê isso acontece nos Grupos de Trabalho formado nas empresas?
Será que os Gerentes, Supervisores e Coordenadores não percebem esses pontos?
E o que será que eles fazem para mudar esses pontos negativos?
Estão realmente preparados para orientar, treinar e ajudar ou apenas dão
ordens?
Abordando a necessidade de treinamento, ficou claro em sua fala que em MIRTOWISC as empresas
ainda acreditam que reduzindo o treinamento operacional os custos também sã o reduzidos e assim,
os Operadores e Manutentores seguem aprendendo no campo, errando, aumentando o custo do
processo, recebendo ordens e tentando acertar as suas tarefas sem ninguém para orienta-los.
Por sua vez, as á reas de treinamento em MIRTOWISC sã o reativas, ficam aguardando as solicitaçõ es
de treinamento das demais á reas, sem nenhum levantamento objetivo que possa indicar as reais
necessidades da mã o de obra operacional para apresentar à s outras á reas e como nã o existe verba
aprovada, ficam a maior parte do ano sem atividades específicas e acabam executando outras tarefas
em RH porque os treinamentos nã o sã o aprovados e a verba do orçamento foi cortada...
Chegamos a conclusã o que as empresas ficam dando voltas o ano todo, sem definir um planejamento
estratégico menos imediatista que possa dar frutos mais à frente e teimam em realizar açõ es pontuais
e inconsistentes que mostram resultados rá pidos, mas que nã o conseguem manter uma uniformidade
operacional.
Concluindo nosso encontre, apresentei-lhe o resumo de um texto de Tom Coelho sobre Iniciativa,
Hesitação e Acabativa, para refletir:
“Pessoas dotadas de uma atitude empreendedora, estejam à frente de seus negócios como
proprietários, acionistas ou colaboradores, têm por princípio uma grande capacidade de
iniciativa. Seja um problema ou uma oportunidade, tomam conhecimento dos fatos, sentem a
necessidade de uma ação e assumem um comportamento pró-ativo para solucionar o litígio ou
aproveitar a condição favorável.
Estas pessoas conseguem combater o grande vilão da hesitação, este inimigo sorrateiro que nos
faz adiar projetos, cancelar investimentos, protelar decisões. Ao combatermos a hesitação,
corremos mais riscos, podemos experimentar mais insucessos, mas jamais ficaremos fadados à
síndrome do “quase”, do benefício indelével da dúvida do que poderia ter sido “se” a atitude
tomada fosse outra. Porém, não basta apenas vencer a hesitação e tomar a iniciativa.
O verdadeiro empreendedor sabe que sem acabativa – um neologismo cada vez mais aceito para
identificar a capacidade de levar a termo uma ideia ou projeto, próprio ou de outrem – não há
sucesso. Sem acabativa, não passamos de filósofos, teorizando, conjecturando (SIC)”.
Marcio Cotrim
24/04/2014