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POR QUÊ NÃO CONSEGUIMOS TRABALHAR EM GRUPO NAS EMPRESAS,

MAS CONSEGUIMOS RESULTADOS EXCELENTES EM OUTRAS ÁREAS?


 
Já contei algumas histó rias e encontros com um amigo que é Diretor Industrial de uma grande
empresa em MIRTOWISC, cidade muito distante e extremamente fria localizada no mar da Sibéria,
que todo ano foge do Inverno e vem para o Brasil em pleno Verã o, rever os amigos e reciclar conceitos
profissionais. Esse ano ele quase entrou em ebuliçã o, literalmente, porque saiu de uma temperatura
de 50ºC negativos para 50ºC positivos no Rio de Janeiro...foi duro aguentar essa variaçã o sem delirar,
me confessou.

Em um desses encontros, tomando um chopinho bem gelado, conversamos muito sobre a formaçã o de
grupos na vida diá ria, nas festas, no esporte, nas manifestaçõ es, nas tragédias e no trabalho, mas nã o
consegui lhe responder a pergunta que fez sobre o comportamento das pessoas no ambiente de
trabalho em MIRTOWISC.

Por quê no ambiente profissional existe tanto individualismo, competição entre


pares e é difícil desenvolver trabalho em grupo para se melhorar o desempenho? 
Para justificar essa dú vida, fizemos um rá pido “brainstorming” listando alguns grupos que
apresentam excelentes resultados, excluindo os esportes coletivos, chegando à conclusã o que os
participantes dos grupos de excelência seguem regras disciplinares e rígidas e os que nã o as cumprem
ficam de fora ou sã o substituídos por outros integrantes comprometidos com o desenvolvimento do
trabalho, o que nã o acontece facilmente nas empresas em MIRTOWISC, segundo seu relato.

1... O primeiro exemplo que nos veio à cabeça foram as Escolas de Samba, que conseguem reunir
milhares de desconhecidos e apresentam um show fantá stico no Carnaval, com todos os integrantes
alinhados e se ajudando mutuamente para atingir o mesmo objetivo. Existem vá rios chefes e pessoas
dando ordens ao mesmo tempo e todos acatam as decisõ es sem reclamar porque o objetivo é
conhecido e todos estã o motivados e comprometidos.

2... Depois lembramos as torcidas organizadas cantando e dançando sem que treinem para isso, mas
que conseguem desenvolver o mesmo ritual e cantam certinho as mú sicas. Até xingam juntas quando
o time pelo qual estã o torcendo perde ou o á rbitro erra algum lance contra o seu time. Nos está dios
cheios costumam dar um show. O objetivo também é conhecido de todos 

3... Os Blocos de Carnaval nã o foram esquecidos, principalmente porque esses nem enredo tem e as
pessoas se juntam, vindas de diversos lugares para caminhar, cantar, dançar e se divertir, sem
nenhum ensaio antes. O Resultado é fantá stico! Apesar de nã o ter um objetivo mensurá vel, todos
estã o ali comprometidos com a alegria.

4... Os grupos formados pelos vizinhos e pessoas desconhecidas que se formam para ajudar aos
necessitados  apó s uma tragédia como chuva, alagamento, desmoronamento e explosã o. Solidariedade
pura! O objetivo é conhecido e compartilhado por todos e quando um líder é identificado passam a
seguir suas orientaçõ es democraticamente.

5... Lembrei que no Rio de Janeiro tem um Bloco de Carnaval muito engraçado chamado “Concentra
mais nã o sai”. Os participantes se concentram em um bar em Copacabana durante o Carnaval, bebem,
cantam e num determinado momento, apenas atravessam a rua, de uma calçada a outra, cantando,
sambando e retornam ao bar em que estavam. O objetivo também é a alegria.
6... No Camp Nou, está dio do Barcelona, em todos os jogos aos 17 minutos e 14 segundos,
em referência ao ano de 1714, quando um levante catalã o foi sufocado pela monarquia na Espanha, os
torcedores costumam gritar em uníssono pela independência da Catalunha. Aparece no telã o o tempo
de jogo e todos gritam o mesmo protesto. O objetivo é protestar e lutar pela independência e a grande
maioria está comprometida com essa causa.

7... Incluímos os dois grupos folcló ricos  de Parintins, na Amazô nia: Boi Caprichoso e Boi Garantido
que também seguem um ritual e apesar de competirem, se respeitam durante a apresentaçã o do rival
ficando em silêncio total para nã o perder ponto. Esse é um comportamento diferente das torcidas nos
está dios que fazem barulho, mas existe a mesma disciplina a ser cumprida por todos no silêncio como
na gritaria e gritos de guerra durante um jogo. O objetivo é vencer, ser campeã o e todos lutam juntos.

Ao final do  “Brainstorming” me confidenciou a sua grande dificuldade em mudar o


comportamento das pessoas na empresa em que é Diretor, mesmo ficando à frente
das atividades, apoiando e participando dos projetos.
Disse perceber que o egoísmo, a vaidade, a competiçã o e o medo em perder o poder dificultam
qualquer açã o coletiva, participativa e transparente na prá tica, mesmo com vá rios gerentes e
supervisores discursando conceitos fantá stico sobre trabalho em equipe. No fundo, continuam dando
ordens e nã o deixam que os grupos se tornem autô nomos, sem a interferência das chefias em todas as
tarefas diá rias para nã o perderem o poder que tem ou pensam que tem.

Um dos pontos que encontra muitas dificuldades na empresa em MIRTOWISC é o planejamento, pois
mesmo tentando implementar projetos e programas participativos, como o TPM – Manutenção
Produtiva Total, percebe que os Gerentes, Supervisores e Coordenadores nã o possuem essa
característica de planejar e tendem a tentar implantar os projetos e programas de forma autocrá tica
apenas dando ordens, sem permitir a participaçã o dos seus subordinados, que acabam ficando
desmotivados e sem nenhuma iniciativa. Executam as tarefas sem nenhuma motivaçã o e
comprometimento e se nã o forem cobrados, deixam de fazer.

Baseado nessas dificuldades, concluímos que os Grupos de Trabalhos formados nas empresas,
diferentemente dos listados em nosso “Brainstorming” onde todos sabem o roteiro e conhecem o
objetivo, no trabalho, nã o seguem um roteiro bem definido e planejado e costumam apresentar
algumas características prejudiciais, como por exemplo:
 
  Muitos não sabem ao certo o que deve ser feito.
  Os objetivos não são claros, com frequência.
  Pessoas diferentes têm ideias diferentes sobre os  objetivos.
  Há competição dentro e fora da equipe.
  Está entregue à própria sorte.
 
Mas por quê isso acontece nos Grupos de Trabalho formado nas empresas?
Será que os Gerentes, Supervisores e Coordenadores não percebem esses pontos?
E o que será que eles fazem para mudar esses pontos negativos?
Estão realmente preparados para orientar, treinar e ajudar ou apenas dão
ordens?
 

Abordando a necessidade de treinamento, ficou claro em sua fala que em MIRTOWISC as empresas
ainda acreditam que reduzindo o treinamento operacional os custos também sã o reduzidos e assim,
os Operadores e Manutentores seguem aprendendo no campo, errando, aumentando o custo do
processo, recebendo ordens e tentando acertar as suas tarefas sem ninguém para orienta-los.

 Por sua vez, as á reas de treinamento em MIRTOWISC sã o reativas, ficam aguardando as solicitaçõ es
de treinamento das demais á reas, sem nenhum levantamento objetivo que possa indicar as reais
necessidades da mã o de obra operacional para apresentar à s outras á reas e como nã o existe verba
aprovada, ficam a maior parte do ano sem atividades específicas e acabam executando outras tarefas
em RH porque os treinamentos nã o sã o aprovados e a verba do orçamento foi cortada...

 Chegamos a conclusã o que as empresas ficam dando voltas o ano todo, sem definir um planejamento
estratégico menos imediatista que possa dar frutos mais à frente e teimam em realizar açõ es pontuais
e inconsistentes que mostram resultados rá pidos, mas que nã o conseguem manter uma uniformidade
operacional.

“No Brasil, todos apresentam soluções simples, rápidas e erradas para os


problemas”. (Pedro Malan)
Tem também uma tese defendida por alguns pesquisadores e consultores que diz o seguinte:
 
  "5% das pessoas pensam;
  15% das pessoas pensam que pensam e
  80% das pessoas preferem morrer do que pensar!"
 
Ora, se realmente essas proporçõ es estã o corretas, as empresas precisam de Líderes nas funçõ es de
Gerentes, Supervisores e Coordenadores, reavaliando suas características e treinado-os para darem
menos ordens e terem a capacidade e a obrigaçã o de reduzir os 80% que preferem morrer a pensar,
pois sã o muitas as pessoas que detestam pensar, pensar diferente, ir em busca de conhecimentos,
transformando-os e incentivando o trabalho em GRUPOS AUTÔNOMOS.

“Cuidado ao dar ordens, pois tem gente que cumpre”.


Nesse ponto, as á reas de treinamento, onde a maioria dos funcioná rios é formada em psicologia, sem
experiência em processos, bem que poderia analisar o perfil dos Gerentes, Supervisores e
Coordenadores para identificar os que realmente possuem liderança e podem contribuir no
desenvolvimento de um trabalho participativo e menos autoritá rio. Mas, segundo seu relato, em
MIRTOWISC essa prá tica nã o é muito utilizada.

 E aproveitando a conversa e desabafo, provoquei um pouquinho, lhe perguntando como era a


qualificaçã o profissional, a rotatividade nas empresas em MIRTOWISC e se existiam auditorias de ISO
causando muita correria nos períodos pró ximos das visitas dos Auditores. Confesso ter ficado
impressionado com sua resposta, imaginando como podem trabalhar dessa forma e ainda
apresentarem lucro e achei melhor nem reproduzir o que escutei...

 Concluindo nosso encontre, apresentei-lhe o resumo de  um texto de Tom Coelho sobre Iniciativa,
Hesitação e Acabativa, para refletir:

 “Pessoas dotadas de uma atitude empreendedora, estejam à frente de seus negócios como
proprietários, acionistas ou colaboradores, têm por princípio uma grande capacidade de
iniciativa. Seja um problema ou uma oportunidade, tomam conhecimento dos fatos, sentem a
necessidade de uma ação e assumem um comportamento pró-ativo para solucionar o litígio ou
aproveitar a condição favorável.

 Estas pessoas conseguem combater o grande vilão da hesitação, este inimigo sorrateiro que nos
faz adiar projetos, cancelar investimentos, protelar decisões. Ao combatermos a hesitação,
corremos mais riscos, podemos experimentar mais insucessos, mas jamais ficaremos fadados à
síndrome do “quase”, do benefício indelével da dúvida do que poderia ter sido “se” a atitude
tomada fosse outra. Porém, não basta apenas vencer a hesitação e tomar a iniciativa.

 O verdadeiro empreendedor sabe que sem acabativa – um neologismo cada vez mais aceito para
identificar a capacidade de levar a termo uma ideia ou projeto, próprio ou de outrem – não há
sucesso. Sem acabativa, não passamos de filósofos, teorizando, conjecturando (SIC)”.

Será que as empresas precisam de profissionais com MAIS Iniciativa, MENOS


Hesitação  e MAIS Acabativa para poder desenvolver melhor o trabalho em Grupo?
 
Ainda bem que aqui no Brasil não temos esses problemas de MIRTOWISC!!!!!
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Marcio Cotrim
24/04/2014

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