Você está na página 1de 4

ESTAMOS EM REESTRUTURAÇÃO...SERÁ MESMO?

Ao longo dos tempos aconteceram reestruturações em diversas áreas e para os mais jovens, quando se
comentam certos hábitos antigos e algum produto não existente mais para vender, sempre olham
desconfiados porque não conseguem entender como era antes. A evolução foi muito rápida nos últimos 50
(cinquenta) anos.

Outro dia coloquei papel em uma máquina de escrever antiga (virou objeto de decoração) e disse ao meu
neto de 6 anos que escrevesse seu nome nas teclas que sairia no papel. Como a fita estava ressecada e
sem tinta nada saiu e ele imediatamente disse: “Vô, acho que a bateria está fraca...não saiu nada”.

Transportando essas mudanças para a indústria, muitos produtos foram completamente modificados ou
não são mais fabricados por total falta de uso: Fitas cassete de áudio e vídeo; máquinas de escrever, TVs de
bulbo, réguas de cálculo (será que algum jovem conheceu essa ferramenta de cálculo? Eu fiz engenharia
calculando com ela...) e muitos outros.

Os processos industriais também sofreram muitas melhorias tecnológicas, automatizações de


equipamentos, redução da mão de obra na montagem que foram substituídas por robôs, máquinas mais
modernas e rápidas garantindo maior confiabilidade e qualidade do produto e as indústrias se tornaram
mais produtivas e inovadoras. A reestruturação dos processos industriais foi muito grande nos últimos 30
(trinta) anos, com grandes avanços tecnológicos, mas a mão de obra no Brasil não acompanhou essa
evolução e está bem defasada.

Mesmo com essas inovações tecnológicas principalmente partir da década de 80, a engenharia industrial
em muitas empresas modernas sofreu uma involução se compararmos suas atuações, a atual com a de
pelo menos três décadas atrás.

Havia na década de 80 uma grande preocupação com o processo industrial em sua totalidade, existindo
inclusive a função do cronometrista – responsável em cronometrar as operações do processo produtivo –
sendo praticamente extinta essa função específica.

A Engenharia Industrial se preocupava com todo o processo produtivo, sendo responsável, por exemplo
em:

1... Definir os tempos e movimentos das linhas de produção ou montagem.

2... Definir o layout das áreas produtivas, analisando os postos de trabalho e sua ergonomia ideal.

3... Definir os gargalos, as capacidades produtivas e atuar imediatamente para melhorar e corrigir.

4... Definir e fixar os parâmetros de cada processo: temperatura, pressão, vazão, tensão, etc...de cada
processo produtivo.

5... Solicitar e definir, em conjunto, com as áreas de Segurança e Manutenção o cumprimento das NR´s
antes de aprovar qualquer projeto ou mudança de layout.

6... Definir com a Qualidade os parâmetros do produto: dimensões, limites de tolerância, variações,
tendências e agir imediatamente ao primeiro desvio.

BONS TEMPOS PORQUE A CORRERIA NÃO ERA TÃO GRANDE!


Atualmente o discurso das empresas é bem parecido, sempre informando que estão passando por um
processo de REESTRUTURAÇÃO para justificar qualquer dificuldade e falta de investimento em
treinamentos e novos projetos.

Entretanto não basta apenas reduzir funcionários e setores, comprar equipamentos mais modernos,
investir em tecnologia e outras ações pontuais. É fundamental que analisar e planejar estrategicamente
essa REESTRUTURAÇÃO, incluindo o Modelo de Gestão para médio e longo prazos focado no NEGÓCIO e
com uma filosofia de trabalho bem definida, difundida e aplicada por todos na empresa, iniciando na Alta
Gerência.

Em muitas empresas a Engenharia Industrial tem atuado mais como Engenharia de Produto, não
interferindo no processo de forma integrada com as outras áreas. Isso contribui com a correria diária.
UFA!!!!!!!!!!!!!!!!

Muitos fatores contribuem também para essa correria:

1... Falta treinamento contínuo da mão de obra operacional que possui uma alta rotatividade ao longo do
ano e por falta de qualificação precisam ser supervisionadas o tempo todo.

2... Não envolvimento das áreas para discutir os novos projetos, layouts e novos equipamentos comprados
sem a participação da manutenção e segurança.

3... A transferência da área de Segurança e Meio Ambiente para o Departamento de RH trouxe problemas
enormes à fábrica porque RH não tem essa formação e nem experiência, deixando lacunas exploradas pelo
Ministério do Trabalho que inspeciona e OBRIGA o cumprimento de NR´s. Às vezes até indica quem pode
ajudar...

Essa exigência tirou o FOCO do NEGÓCIO da empresa que passou a investir apenas em treinamentos de NR
´s e deixou de treinar a mão de obra direta e indireta envolvida nos processos produtivos. Há quanto
tempo não são realizados treinamentos para Operadores e Manutentores?

Além de várias atividades que desviam o FOCO, ainda contribuem para isso:

1... As redes sociais que o dia todo ficam ligadas mandando mensagens e tirando a concentração dos
funcionários.

2... Muitos relatórios informatizados que são analisados apenas no final do mês, quando já se tornaram
obsoletos porque nada mais pode ser feito, apenas justificar.

3... Os e-mails também desviam muito a atenção devido a quantidade recebida e enviada por dia fugir a
qualquer controle. Muitos pensam que enviar e-mail resolve o problema, mas apenas transferem para
outro e para outro e ninguém resolve.

Não é raro encontrar relatórios operacionais que apresentam resultados, dados e indicadores não
confiáveis por alguns dos motivos abaixo:

1... As capacidades de equipamentos ou linhas não são muito avaliados criteriosamente e valores são
arbitrados abaixo da capacidade padrão, como segurança de cumprimento do programa de produção.

2... O PCP, sem esses dados confiáveis, ainda reduz mais, assumindo apenas 80 a 85% desses indicadores,
ou seja, assume uma perda do rendimento que varia de 15 a 20%.
EXISTEM RELATÓRIOS APRESENTANDO 110% DE EFICIÊNCIA POR CAUSA DESSAS PERDAS!!!!!!!!!
E TEM DIRETOR QUE ACREDITA E ATÉ PROMOVE...

E somando-se ainda as outras perdas operacionais que ocorrem por falta de treinamento da mão de obra,
paradas programadas e não programadas e perdas de qualidade, atingem um resultado de OEE médio no
Brasil abaixo de 50%.

3... Na Manutenção, programas informatizados na Manutenção ajudam enormemente a aumentar essa


correria e as perdas, pois é comum os Manutentores se tornarem escravos do sistema. UFA!!!!!!!!!!!!!!

4... A constante adaptação de setores assumindo tarefas de outros para encobrir a ineficiência nos serviços
internos, como por exemplo:

... A Manutenção atuando como COMPRAS em grande parte de seu tempo fazendo contato com empresas
externas para cotação de preços porque o Setor de Compras não se estrutura para atender a demanda
interna.

... A Produção tentando consertar equipamentos sem possuir conhecimentos técnicos, sem ter as
ferramentas adequadas e criando problemas crônicos por causa dos constantes “Gatilhos” para não parar
a produção. O Pilar de Manutenção Autônoma do TPM é pouco compreendido e aplicado
equivocadamente.

... A Qualidade sendo acionada para liberar lotes por deficiência do processo que não consegue manter os
parâmetros operacionais por serem manipulados em cada turno de trabalho por Operadores
desqualificados.

... Criação de Setores e Grupos de KAIZEN, quando esta responsabilidade deveria ser da Engenharia e não
ter outro setor atuando e criando conflito para vencer obstáculos internos.

Pelos motivos descritos acima, será que estão mesmo fazendo a REESTRUTURAÇÃO correta ou apenas
mudanças sem um Planejamento Estratégico adequado para elevar a empresa a um patamar mais alto?

Fazendo uma analogia com o futebol, hoje é dia 08/08/2014 e está fazendo exatamente um mês que a
Seleção Brasileira tomou uma goleada humilhante de 7 x 1 da Alemanha e depois da Copa, era consenso a
necessidade de mudar totalmente o modelo de gestão do futebol adotado no Brasil, mas na semana
seguinte a solução encontrada foi a mesma adotada após a Copa de 2006...assim nada vai mudar e não
terá a REESTRUTURAÇÃO necessária.

Será que as empresas não estão no mesmo caminho da CBF? Achando que estão reestruturando e não
conseguem modificar em nada o processo produtivo e a correria diária?

Não seria mais lógico falar em REESTRUTURAÇÃO atacando de forma estratégica, a médio e longo prazos
os setores de:

1... MANUTENÇÃO INDUSTRIAL.

2... MATERIAIS / COMPRAS.

3... ENGENHARIA INDUSTRIAL.

4... SEGURANÇA E MEIO AMBIENTE.


Será que a REESTRUTURAÇÃO em andamento vai trazer os resultados
esperados ou tem alguma semelhança com a da CBF?
Será mesmo?

Reflita sobre esses pontos, mesmo que discorde de alguns, mas pelo menos
procure analisar de outra forma.

08/08/2014

Marcio Cotrim
MC CONSULTORES
Coordenador Regional no RJ do COPIMAN
Comite Panamericano de Ingeniería de Mantenimiento

Você também pode gostar