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Curso Internacional: 'Pensamiento y luchas situadas.

Para una cartografía del Sur'


Ocupações urbanas - Resistências e insurgências
Juliana do Couto Bemfica
jucobemfica@gmail.com Brasil, Nova Lima/MG
Volver la lucha social no sólo legítima sino también deseable, nos exige explorar al máximo las
dimensiones lúdicas, creativas, de una práctica política que no tenga una lógica sacrificial; sino que
sea capaz de cautivar y enamorar el imaginario colectivo, con la invitación a rehacer un mundo
habitable (Longo; Korol, 2008, p. 73).

Introdução
A globalização em curso é a culminância de um processo iniciado com a constituição da
América e do capitalismo colonial/moderno e eurocentrado como novo padrão de poder mundial
(Quijano, 2000, p.777).

Como um fenômeno do âmbito das relações sociais, o poder envolve a co-presença de três
elementos – dominação, exploração e conflito – na disputa pelo controle dos recursos e produtos
das áreas básicas da existência social: o trabalho, o sexo, a autoridade coletiva (ou pública) e a
subjetividade/intersubjetividade (Quijano, 2002).

Da perspectiva desse autor, o atual padrão de poder mundial resulta da articulação entre a
colonialidade do poder, que tem a ideia de raça como fundamento de classificação social básica
e, portanto, de dominação social; o capitalismo, como padrão de exploração social; e o Estado
como forma central de autoridade coletiva para o controle dos conflitos, juntamente com o
eurocentrismo para o controle da subjetividade/intersubjetividade e estabelecimento do modo de
produzir conhecimento.

Há que se considerar, portanto, que os marcos da produção do conhecimento tido como válido
resultam do e, ao mesmo tempo, são coerentes com o padrão de poder dominante. Assim, parte
da luta contra o padrão de poder dominante é a produção de conhecimento crítico sobre os
marcos que definem essa credibilidade, o eurocentrismo.

A produção de conhecimento a partir do Sul geopolítico requer então outras abordagens


metodológicas e pedagógicas que, ao contrário do eurocentrismo, reconheçam que todo
conhecimento é situado espaço-temporalmente. Essas abordagens tem como premissas, que há
diferentes conhecimentos presentes no mundo e que estes diferentes conhecimentos são formas
contextuais de interpretar e dar sentido ao que chamamos realidade (Cunha, 2017).
Elas rejeitam o universalismo abstrato do eurocentrismo e as hierarquias impostas pelo
colonialismo e pela colonialidade características do padrão de poder mundial hegemônico, o que
requer que se esteja ‘consciente do lugar de enunciação’ (Rufer, 2017).

A reflexão sobre as possibilidades de uma justiça social global tem como desafio inicial a
reflexão discutir a ‘justiça cognitiva global’ da perspectiva das epistemologias do Sul. Santos
(2007) considera que essa questão envolve um exercício de ‘ecologia de saberes’ a partir de
reivindicações alternativas dos movimentos sociais e de suas lutas de resistência frente ao
modelo de globalização hegemônico, crescentemente excludente (Santos, 2002).

O exercício de ecologia de saberes implica a produção de conhecimento com e a partir daqueles


que são excluídos das narrativas forjadas pelo eurocentrismo, tomando as epistemologias do Sul
como um projeto não só epistêmico como também político (Araújo, 2016, p.111).

Neste trabalho, escolhemos produzir conhecimento com os movimentos e as lutas por moradia e
pelo direito à cidade, a partir da sua expressão no espaço urbano sob a forma de ocupações na
região de Belo Horizonte1. Para isso utilizamos depoimentos e registros de participantes das
ocupações, integrantes dos movimentos, responsáveis pela comunicação nos meios digitais,
apoiadores, ou participantes dos projetos de extensão universitárias que se comprometeram com
a causa. Esses registros se encontram majoritariamente nos blogs e nas páginas da rede social -
facebook - das ocupações e dos movimentos que as organizam, dos apoiadores, e nos relatórios e
publicações dos projetos de extensão universitária envolvendo as ocupações de Belo Horizonte.
Em poucos casos foram registrados através de entrevista feita pelo whatsapp.

Para ampliar a perspectiva da narrativa e situá-la em relação a outros movimentos urbanos,


apoiamo-nos em análises e reflexões de autores que trataram o tema desses movimentos a partir
de experiências em outras cidades da America Latina.

Adotamos a ideia de brechas. Brechas sempre presentes seja qual for a configuração do poder na
sociedade. Essa ideia das brechas combinou com a ideia de David Harvey de uma ‘teoria
termiteira de mudança revolucionária’(Harvey, 2012). Gostei do nome e do sentido e achei que
combinava com a ideia das brechas. E assim foi o percurso que tracei - inconscientemente até
chegar ao fim deste trabalho -: os novos movimentos sociais como brechas no padrão de poder
dominante, seguido pelas ocupações como brechas do poder dominante no espaço urbano,
acompanhado das práticas insurgentes das ocupações como brechas no espaço urbano neoliberal.
Nesse ponto, aprofundei-me sobre uma realidade mais próxima, as ocupações em Belo
Horizonte/MG para daí evidenciar o que aprendi com elas de resistência e insurgências. E como
                                                                                                               
1
Cidade que sedia o governo do estado de Minas Gerais, Brasil.

  2  
o padrão de poder dominante não se deixa ruir sem reagir, trouxe também as formas de contra-
ataque com que tentam reparar as brechas. Termino o trabalho sem sentir que o tenha concluído,
mas destacando dois aspectos que pareceram cruciais para uma ‘mudança revolucionária
termiteira’.

São 23:12 (Horário de Brasília) do dia 15/12/2017 e meu neto faz agora uma cirurgia de
apêndice de urgência. Daí que sequer sei se terei tempo hábil para ler esta versão final. Quero
agradecer especialmente à Poliana Souza, moradora da ocupação Eliana Silva e coordenadora do
MLB pelo compartilhamento do seu saber sobre os processos prévios à efetivação das
ocupações, feito em meio às suas compras de supermercado e aos cuidados com sua sogra, D.
Lourdes, vítima de uma doença degenerativa e incurável, recentemente diagnosticada.

Brechas no padrão de poder dominante: os movimentos sociais


A expressão ‘novos movimentos sociais’ surgiu em meados do século XX e visava dar conta de
atores políticos que estavam envolvidos em várias lutas e tinham objetivos muito diversificados
que, em comum, partilhavam o fato de que o critério de agregação dos seus interesses não eram
o de classe. O uso dessa expressão alargou o conceito de luta social e trouxe maior complexidade
à ideia de resistência, conceito que, por sua vez, passou a referir-se aos grupos que recusavam o
estatuto de vítimas (Santos, 2017a, s/n).

Esses grupos caracterizam-se por não serem institucionalizados e empreenderem lutas -


entendidas como disputas ou conflitos – em torno de algum recurso escasso que confere poder a
quem o detém (Santos, 2017a, s/n).

Essas lutas colocaram em evidência temáticas que até então eram mantidas invisibilizadas, vez
que não eram parte da narrativa dominante, mas por cujas brechas começaram a se fazer
presentes,

…como son los derechos étnicos y de las minorías sexuales, los intentos a la vez integradores y
contraculturales de los jóvenes, las luchas contra la discriminación de género y la destrucción del
medio ambiente, entre otras prácticas discursivas, que representan ejercicios micropolíticos de
producción de la realidad social ... (Zarzuri, 2008, p. 131).
A emergência dessas temáticas revela a incapacidade de um padrão de poder dominante para
exercer, de forma absoluta e ad infinitum, a dominação, a exploração e o controle das áreas
básicas da existência civil. Significa, por outro lado, a possibilidade de, a partir de um conjunto
de lutas, se ampliarem aquelas brechas ao ponto de levar à ruptura dos elementos que sustentam
o padrão de poder dominante vigente. Para tal, Santos (2017b) destaca a necessidade de que
essas lutas travem seus combates, simultaneamente, sobre o conjuntos daqueles elementos,
destacadamente, o capitalismo, o racismo e o sexismo.

  3  
Como forma central de autoridade no atual padrão de poder, cabe ao Estado, na sua tarefa de
controle de conflitos, dar respostas a essas lutas. Ao longo do tempo suas forma de expressão se
modificam, pois dependem da conjuntura política e da relação de forças existente.

Apesar da sua representatividade política formal dizer respeito ao conjunto dos cidadãos, esse
Estado exerce sua autoridade e controle, de forma cada vez mais explícita, em favor dos grupos
dominantes.

No que se refere ao papel do Estado na produção do espaço urbano, a recente reconfiguração da


sua ação política sobre o território desencadeou formas,

en las cuales se combinan con mayor intensidad tres lógicas de producción y apropiación del suelo
urbano que interactúan de manera compleja y contradictoria: la lógica de la ganancia –ciudad como
objeto y soporte de negocios–, la lógica de la necesidad –impulsada por aquellos sectores que no
logran acceder a las condiciones de reproducción social en el marco de la regularidad urbana–, y la
lógica de lo público –donde por medio de distintas intervenciones en materia de políticas, el Estado
provee el sustento para el despliegue y desarrollo de las otras lógicas (Pedrazzani, 2016, p.377).
Para os movimentos urbanos a relevância dessa ação política do Estado sobre o território é tão
clara que, desde sua origem, eles se manifestam às portas das municipalidades, dos palácios de
governos e sob forma de marchas para os centros dos poderes (Fon Filho, 2008, p.81). Suas por
moradia e pelo direito à cidade não se colocam em oposição direta ao capital e sim em confronto
com o Estado e seus imperativos de definir e implementar políticas públicas (Fon Filho, 2008, p.
75/76).

Brechas do poder dominante no espaço urbano: as ocupações


A lógica dominante e hegemônica de produção e organização do espaço urbano é regulada
conforme as normas do ‘mercado formal’ e quaisquer outras lógicas de produção do espaço
urbano são invisibilizadas e negadas, e a sua existência é considerada como algo fora do
regulado ou estabelecido (Pedrazzani, 2016).

Para se contraporem ao ‘neoliberalismo urbano’ que tem hoje a primazia na organização desse
espaço, diversas cidades na América Latina tem realizado iniciativas práticas e teóricas sob o
rótulo do ‘direito à cidade’ com vistas a articular ações cidadãs, protestos civis, resistências
sociais, pesquisas acadêmicas e propostas políticas para lutar por uma cidade com mais justiça
social.

São processos de resistência à configuração de um Estado cada vez mais a serviço dos interesses
dos donos do capital. Muitas das suas demandas expressam a reivindicação de direitos
constitucionais e sociais e se fazem de formas que vão desde os trâmites institucionais no
relacionamento com o Estado até lutas em arenas de maior visibilidade e presença no espaço

  4  
urbano, como acampamentos, marchas e manifestações em locais de visibilidade pública que não
as instituídas.

Na busca pelo direito à cidade, destacadamente, pelo direito à moradia, aqueles cujas
necessidades não são atendidas, ou não satisfazem aos marcos normativos municipais de
regulação urbana, estabelecem estratégias de lutas baseadas em formas alternativas para o acesso
ao solo urbano, entre as quais ocupar ou tomar terras ociosas e utilizá-las para a autoconstrução
das suas moradias. Esses assentamentos originados por tomada/ocupação de terras apresentam
novas formas de produção e de organização territorial “que interpelan las lógicas dominantes de
ordenamiento del espacio urbano, reivindicando el derecho a la vivienda y el derecho a la
ciudad” (Pedrazzani, 2016).

A organização comunitária, os protestos e as reclamações são recursos na reivindicação do


acesso às políticas públicas e do provimento de infraestrutura para esses territórios:

Para quienes habitan en las villas, a diferencia del resto de los pobladores de la ciudad, el acceso a
servicios públicos y urbanos implica la constante apelación a su acción colectiva frente a los entes
estatales y privados que deben garantizarlos (Vitale, 2016, p. 238)
Como Pedrazzani (2016) coloca,

…el abanico de situaciones -toma de tierras y los asentamientos- en las que los sectores populares
acceden a la ciudad pueden ser consideradas como un proceso de producción del espacio urbano,
que al ser sostenidas en la organización popular y territorial, y a través de reivindicar el derecho a
la vivienda, ponen en cuestión el actual modelo de producción del espacio urbano dominante; y por
lo tanto mediante su accionar inician su ejercicio al derecho a la ciudad (p.384).

Brechas do espaço urbano neoliberal: ocupações como cidadania insurgente


No curso do mais recente processo de acumulação capitalista, os movimentos populares de lutas
por moradia e pelo direito à cidade deram origem a novos tipos de cidadania e, ao mesmo tempo,
de fazerem a sua reivindicação, lado a lado com as novas formas de violência e exclusão
(Holston, 2013) praticadas pelo, ou com o aval do Estado. Esses movimentos e lutas
acrescentaram novas dimensões à dinâmica urbana das cidades ao revelarem novas atitudes e
aspirações de grupos sociais até então excluídos e invisibilizados.

Esses grupos são constituídos pelas parcelas mais pobres dos trabalhadores, muitas vezes
subempregados ou desempregados. Da perspectiva da lógica dominante, eles podem e são
excluídos e invisibilizados até mesmo por serem apenas tidos como trabalhadores descartáveis.

Nesse sentido, as práticas predadoras e de despossessão que são próprias do mercado de


moradias instaurado na medida do aprofundamento da dinâmica de produção capitalista, são o
que Harvey (2012), considera como ‘formas secundárias de exploração’ de classe. Formas estas

  5  
que posteriormente, se tornaram vitais para a dinâmica geral global de acumulação do capital e
perpetuação do poder de classe.

No Brasil, os mecanismos públicos e privados para lidar com as questões decorrentes do


processo de urbanização sempre negaram - e seguem negando – o acesso à terra, aos serviços
urbanos, aos espaços públicos e ao crédito aos trabalhadores mais pobres, além de os excluírem
dos processos decisórios relacionados ao espaço urbano (Nascimento, 2016), numa
demonstração clara da sua invisibilidade. Como essa autora afirma, as políticas habitacionais
brasileiras se ancoram em e, simultaneamente, fortalecem a mercantilização da casa própria
associada à produtividade lucrativa da indústria da construção; a periferização assente em
interesses da especulação imobiliária; e a negação, aos de baixa renda, do acesso à terra, aos
serviços urbanos, aos espaços públicos e ao crédito (Nascimento, 2011).

Nesse contexto, as ocupações surgem como expressão de crítica à insuficiência dessas políticas
públicas e à participação hegemônica das grandes empreiteiras e do capital especulativo
imobiliário na definição das intervenções urbanas.

Elas são dotadas de características peculiares, entre as quais a conjugação de diversos agentes,
que vão desde as próprias famílias que lutam pela terra e/ou pela moradia, passando pelos
movimentos sociais e políticos organizados até os agentes políticos ligados a instituições já
consolidadas como a Igreja Católica - em especial a Comissão Pastoral da Terra – e a
Universidade – nas suas atividades extensionistas, integradas por alunos e professores (Bastos et
al., 2017, p. 256). E constituem formas de urbanização tão mais singulares quanto mais
sustentam experimentações político-comunitárias em torno da produção do ‘comum’, colocando-
se em permanente disputa com as tendências mais pertinentes à cidade neoliberal, também
presentes, de formas diversas, nas ocupações (Bastos et al., 2017, p. 264/265).

De uma outra perspectiva, as práticas das ocupações são expressões de (des)invisibilização dos
‘excluídos’ e de sua insurgência contra essa exclusão. Nesse sentido, elas podem ser
consideradas como práticas de ‘cidadania insurgente’ (Holston, 1995, 2013), cuja resistência se
expressa tanto pela busca de melhorias negociadas para as suas posições em termos de acesso
aos direitos à moradia e à cidade, como pelo fortalecimento da oposição ao atual padrão de poder
- colonial, capitalista e eurocêntrico- , num processo em nada isento de conflito. Uma
modalidade de conflito urbano que produz atores politicos, cuja atuação se caracteriza tanto por
fases de participação e concertação quanto por fases de tensão e confrontação (Melé, 2008).

Para Holston (2013), a negação do acesso dos trabalhadores mais pobres à propriedade fundiária
é um dos pilares da constituição e reprodução do desigual regime de cidadania no Brasil. Ela não

  6  
só perpetua a extraordinária e crescente desigualdade de renda e riqueza, como também reforça a
ilegalidade - pela tomada de posse, invasões, ocupações etc. - como a norma de acesso ao solo
urbano para a maioria desses trabalhadores. Ao mesmo tempo, como ‘norma’ de acesso ao solu
urbano, as ocupações se tornam a expressão de uma cidadania insurgente (Holston, 2013) contra
essa ordem socioespacial profundamente desigual.

Na medida em que resultam de uma organização e mobilização pautadas em reivindicações


constitucionais – o cumprimento da função socioambiental da terra -, as ocupações incorporam
essa cidadania insurgente na conquista dos direitos à moradia e à cidade, (re)construindo espaços
participativos na cidade e articulando novas dinâmicas sociais e políticas que se integram ao uso
cotidiano do espaço urbano:

O que se verifica é uma nova forma de apropriação da cidade e dos espaços de participação
popular. Exemplo desta nova apropriação é a autoconstrução das moradias - que confronta a atual
formulação e gestão de políticas públicas de moradia pela ampliação dos espaços de deliberação
constituídos pelos moradores que, organizando-se em assembleias comunitárias, decidem
politicamente sobre vários aspectos de suas comunidades (Dias et al., 2015, p.219).
Assim, se a cidadania é um regime que “administra as diferenças sociais, legalizando-as de
maneiras que legitimam e reproduzem a desigualdade”, as práticas das ocupações podem ser
consideradas como uma cidadania que se insurge contra o caráter excludente do regime em vigor
(Holston, 1995, 2013).

Ocupações da região de Belo Horizonte

Uma brevíssima contextualização da situação territorial e predial de Belo Horizonte em face do


deficit habitacional dá conta da existência, já em 2009, de terrenos vazios suficientes para
assentar 330 mil famílias e de um estoque de imóveis abandonados suficiente para abrigar 66 mil
famílias. Segundo o mesmo documento - Plano de Habitação de Interesse Social da Prefeitura de
Belo Horizonte (PLHIS) -, o número oficial de sem-tetos naquele ano chegava a 78 mil.2

Pouco – ou nada – foi feito em termos de políticas habitacionais para modificar aquele quadro,
certamente agravado após quase dez anos e a ausência de políticas habitacionais na cidade, para
as faixas de renda mais baixas. Consequentemente, as ocupações de áreas ociosas foram e
seguem sendo a alternativa encontrada pelos trabalhadores mais pobres para acederem ao direito
constitucional à moradia. Algumas dessas ocupações resistem anos e outras não subsistem ao
confronto imediato com as forças policiais e econômicas que, na maioria das vezes, promoveu os
despejos de forma truculenta e ilegal.

                                                                                                               
2
Fonte:<http://averdade.org.br/2017/09/no-centro-de-bh-surge-ocupacao-carolina-maria-de-jesus/>. Acesso em
12/12/2017.

  7  
Em alguns casos, as dinâmicas de luta e a resistência dos momentos iniciais da ocupação se
arrefeceram, em outros essa disposição para a luta e a resistência permanecem, fortalecidas pelas
conquistas que sinalizam positivamente um poder na insurgencia. Em vários casos a
contraposição entre o direito à moradia e o direito de propriedade – ainda que sem cumprir
qualquer função socioambiental – se mantém latente, o que significa conviver com a constante
ameaça de despejo e de confronto com a polícia do estado na sua ação de defesa do direito
‘irrestrito’ de propriedade, mesmos em casos nos quais a propriedade sequer é confirmada.

Em trabalho anterior, apresentamos algumas das ocupações de Belo Horizonte: a região da


Izidora, com as ocupações Rosa Leão, Esperança e Vitória e as da região do Barreiro, Camilo
Torres, Eliana Silva e Dandara (Bemfica, 2017), destacadas então pelo seu histórico de
sustentação dos confrontos tanto em conflitos externos como nos internos.

Em relação a elas, é importante registrar que as ocupações Camilo Torres, Irmã Dorothy3 e
Eliana Silva,4 juntamente com a Dandara, foram reconhecidas em 2014 pela Prefeitura do
Município de Belo Horizonte (PBH) como ‘Área de Especial Interesse Social 2’ (AEIS-2)
durante a IV Conferência de Política Urbana de BH. Entretanto, essa decisão ainda se encontra
pendente de aprovação do novo Plano Diretor (Bastos et al., 2017, p. 257/258).

Neste trabalho, as ocupações que incluímos, quando alinhavadas, contam uma história das lutas
pelo direito à moradia e à cidade por parte dos movimentos e das lutas por esses direitos. Uma
história traçada por registros que marcam – e demarcam – a sua presença espacial e territorial
como espaços insurgentes contra uma exclusão daqueles tidos como ‘descartáveis’que o poder
dominante insiste em querer dar destino semelhante ao que se dá aos trastes indispensáveis - mas
inadmissíveis - que são lançados nos quartos de despejo5.

São elas, a ocupação Corumbiara, ocorrida em 1996, que marcou o início das ocupações em
Belo Horizonte; a ocupação Caracol, de 2006, primeira ocupação organizada pelas Brigadas
Populares; as ocupações Espaço Cultural Luis Estrela e Tina Martins, que são ocupações que
                                                                                                               
3
A ocupação Irmã Dorothy surgiu em Belo Horizonte no dia 26/03/2010. Famílias, movidas pelo exemplo da
comunidade Camilo Torres, resolveram partir para luta e fazer valer seu direito constitucional pela moradia. Em
2011 vivim no local cerca de 200 famílias.O terreno esteve em disputa judicial a partir de um mandado de despejo
reclamado pela contrutora ASA, sob alegação de haver um projeto federal do Programa Minha Casa Minha Vida
previsto para o local, mas que não beneficiava as famílias da Dorothy , já que suas rendas eram inferiores a três
salários mínimos.
4
Os terrenos das ocupações Camilo Torres, Irmã Dorothy e Eliana Silva estão situadas em um mesmo vale. Eles
foram cedidos pelo governo do estado de Minas Gerais para uso industrial tendo sido vendidos para terceiros
posteriormente, sem jamais terem cumprido a função socioeconômica vinculante da concessão.
5
Quarto de Despejo – diário de uma favelada é título de um livro cuja autora dá nome à mais recente ocupação na
cidade de Belo Horizonte, Carolina Maria de Jesus. Outras informações sobre essa mulher - pobre e negra - que é
a autora podem ser obtidas em: < https://www.cartacapital.com.br/cultura/carolina-maria-de-jesus-a-catadora-de-
letras>.

  8  
reivindicam o acesso a outros direitos humanos coletivos, como a cultura e a não discriminação
de gênero; e a mais recente ocupação pelo direito à moradia e à cidade, a Carolina Maria de
Jesus.

Organizada pela Liga Operária (LOP) e pelo Partido Comunista Revolucionário (PCR), a
ocupação Corumbiara assentou 379 famílias num terreno particular no Vale do Jatobá, na região
do Barreiro. Essas famílias haviam participado do Orçamento Participativo da Habitação (OPH)
e estavam sem perspectivas de adquirir moradia. Ali teve início uma inusitada forma de
organização popular na cidade, que emergiu através de ações como a demarcação de lotes e vias,
o cercamento do terreno, a vigilância constante e até a revista de visitantes. Nesse processo
surgiu o Movimento de Lutas nos Bairros e Favelas (MLB) 6 . Atualmente, a ocupação
Corumbiara está regularizada e foi consolidada como ‘vila’ (Bastos et al., 2017).

Primeira ocupação articulada pelas Brigadas Populares7 juntamente com grupos da vila do
Cafezal8, a ocupação Caracol ocorreu em 2006, no bairro Serra. Um grupo de famílias sem-teto
ocupou um prédio de três pavimentos durante três meses, até serem despejados. Mesmo breve,
essa ocupação teve o papel de chamar a atenção dos demais movimentos críticos à política
habitacional na capital.

Em fins de 2007, os vários movimentos comprometidos com as lutas por moradia e pelo direito à
cidade passaram a discutir a ocupação de terrenos ociosos. As primeiras ocupações que
decorreram dessas discussões em Belo Horizonte aconteceram na região do Barreiro, e a
ocupação Camilo Torres foi a primeira delas (Bastos et al., 2017).

A ocupação Carolina Maria de Jesus aconteceu em 06 de setembro de 2017, quando 200


famílias, articuladas pelo Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), ocuparam um
prédio vazio que não cumpria qualquer função social, situado na região central da cidade. Essa
ocupação não só deu vida ao prédio como também é uma denúncia da falta de oportunidades de

                                                                                                               
6
O Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas – MLB é um movimento social nacional cuja luta está centrada
na reforma urbana e no direito humano de morar dignamente. São palavras de ordem do MLB: “Enquanto morar
dignamente for um privilégio, ocupar é um dever!” (MLB, 2017, disponível em <https://www.mlbbrasil.org/>,
acesso 24/04/2017).
7
As Brigadas Populares são uma organização de caráter nacional, popular e socialista formada a partir de um
conjunto de coletivos reunidos visando a formação de um amplo campo político capaz de se consolidar como
alternativa real de emancipação do povo brasileiro, contra os interesses da ‘casa grande’ brasileira: a minoria
proprietária e dominante (Brigadas Populares, 2017, disponível em <https://brigadaspopulares.org.br/>, acesso
em 24/04/2017).
8
Também denominada de vila Santana do Cafezal, a vila do Cafezal é um bairro-favela localizado na região Centro-
Sul, no Aglomerado da Serra, zona de intensa especulação imobiliária e a região melhor servida em termos de
equipamentos urbanos, tanto públicos como privados, de Belo Horizonte.

  9  
acesso para a classe trabalhadora, ao centro da cidade. 9 A Carolina Maria de Jesus não
reivindica apenas o direito à moradia, mas o acesso à metrópole como direito. Ocupar um prédio
situado na região central da cidade, passando a ter à disposição facilidades urbanas como
serviços de água, esgotos e energia; pavimentação, calçamento e iluminação pública das ruas; e
acessibilidade aos diversos equipamentos e bens públicos produzidos coletivamente é uma
denúncia contra a apropriação privada e individualizada dos bens públicos produzidos
coletivamente que, ao mesmo tempo, são negados aos excluídos, na medida em que o acesso a
eles é estabelecido por mecanismos privados, próprios do mercado imobiliário.

O direito à moradia é o foco inicial e explícito dos movimentos de ocupação em Belo Horizonte.
Mas não é o único: esses movimentos também reivindicam – implícita ou explicitamente – o
acesso a outros direitos humanos coletivos, consubstanciados no direito à cidade. Assim, as lutas
se enriquecem e se fortalecem na articulação com as lutas por outros direitos coletivos, como são
os casos do Espaço Cultural Luis Estrela e da Casa de Referência Tina Martins.

O Espaço Cultural Luís Estrela é uma ocupação que se desdobrou das ações de junho de 2013
na cidade. Nas reuniões da Assembleia Popular Horizontal, movimentos culturais e políticos se
aricularam e organizaram a ocupação de um prédio público abandonado e semi destruído,
situado no bairro Santa Efigênia, área central da cidade. Foi uma ocupação para fins de uso
coletivo e cultural do espaço: “O local tem servido simultaneamente como suporte e como objeto
de ações colaborativas de grande vitalidade, articulando múltiplos militantes e simpatizantes de
modo criativo”(Bastos et al;, 2017, p.258).

A ocupação Tina Martins foi organizada pelo Movimento de Mulheres Olga Benário10 e
aconteceu em 08 de março de 2016, quando foi ocupado um prédio público no centro de Belo
Horizonte, utilizado anteriormente como restaurante universitário da UFMG e sem uso por mais
de 10 anos. O movimento reivindicava a transformação do prédio em casa de referência da
mulher, com proposta para atender demandas não supridas pelo poder público: acolhimento de
mulheres em situação de risco, prevenção à violência, empoderamento e emancipação feminina.

No processo de negociação para a desocupação do imóvel, o Movimento conseguiu colocar sua


pauta, no sentido de constituir um centro de referência, e obteve a liberação de um outro imóvel
público, igualmente situado na região central da cidade, que atualmente realiza o acolhimento e
                                                                                                               
9
Fonte:<http://averdade.org.br/2017/09/no-centro-de-bh-surge-ocupacao-carolina-maria-de-jesus/>. Acesso em
12/12/2017.
10
O Movimento de Mulheres Olga Benário foi criado para unir as mulheres brasileiras na luta por melhores
condições de vida, pela igualdade de direitos e pelo Socialismo. Ele surgiu durante a formação da delegação
brasileira à 1ª Conferência Mundial de Mulheres de Base, realizada em Caracas, Venezuela, em março de 2011.
Fonte: < https://www.facebook.com/pg/olga.benario.14/about/?ref=page_internal>. Acesso em 12/12/2017.

  10  
as demais atividades pretendidas pelas ocupantes, constituindo assim a Casa de Referência Tina
Martins.

Práticas das ocupações em Belo Horizonte: resistências e insurgencias


Várias são as etapas de um processo de ocupação. Em linhas bem gerais, podem ser agrupadas
em uma fase antecedente, o momento da ocupação e sua organização, e a partir de então, a fase
de maior ou menor termo relacionada com a sustentação da luta e com as práticas insurgentes
que se estabelecem a partir de necessidades, negociações, conquistas, e também das resoluções
dos conflitos internos e externos.

A fase que antecede a ocupação propriamente dita envolve a identificação de famílias para as
quais essa é a questão central, o que acontece, no caso do MLB, ao longo dos trabalhos junto às
periferias, na organização das lutas pelo acesso aos direitos à cidade, não limitados ao direito à
moradia. O trabalho de organização envolve reuniões semanais para conhecimento dessas
famílias, explicar como se dá a luta, identificar as possibilidades de inclusão e efetivação do
direito à moradia pela via das políticas públicas e, inclusive, fazer a discussão sobre os conflitos
e a organização presentes na vida nas ocupações.

Essas reuniões preparatórias podem durar muito tempo até que estejam esgotadas todas as
possibilidades formais de acesso à moradia por programas públicos de moradia popular para
então ter a ocupação como a opção de acesso à moradia.

A identificação das áreas passíveis de ocupação é feita com a ajuda de uma vasta rede de
apoiadores. Entre as características para a escolha das áreas estão as suas dimensões, a condição
– praticamente evidente - de estarem desocupadas, sua estocagem para fins de especulação
imobiliária e a origem incerta da propriedade, muitas vezes obtida por grilagem ou através da
desvirtuação da sua destinação original.

Em Belo Horizonte não existe qualquer política para moradia popular para a faixa de
rendimentos das famílias que participam dos núcleos que lutam pelos direitos à cidade, daí
porque as lutas por moradia resultam em ocupações. Estas são a última fase de um processo de
que busca de resolver a questão junto ao poder público e são as de maior visibilidade. A decisão
de ocupar e de seguir ocupando depende sobretudo do Estado – município e estado –, da sua
disposição para resolver a questão da moradia para os de baixa renda. Esgotadas as
possibilidade, então a ocupação entra em fase de resistência e de prontidão, dada a permanente
ameaça configurada pelas ações de despejo e pela violência das forças policiais (Poliana

  11  
Souza11).

Uma das características dos processos de ocupação é o seu início por meio de ações
concentradas. Em menos de uma semana, “um grupo de famílias se estabelece em terrenos vagos
(públicos ou privados), para daí prosseguir à autoconstrução de residências e da infraestrutura
básica” (Bastos et al., 2017, 252).

Ocupar glebas, lotes ou edificações que não estejam cumprindo a função socioambiental de
propriedade urbana é parte da estratégia. Esse condicionante constitucional é o que permite
denunciar à sociedade - e ao Estado – o predomínio – de fato - do direito de propriedade sobre o
direito de moradia.

Inicialmente as habitações são construídas com lonas, painéis de madeirite e outros materiais
residuais da construção civil. Nesse momento, ela precisa configurar-se o mais rapidamente
possível. Tão logo possível, é necessário construir as casas com material mais perene – tijolo e
cimento – para caracterizar-se como uma ‘área consolidada’ de ocupação.

Como um processo político, as ocupações atuam e se constituem sob dois focos. Um deles
orientado a fazer frente às formas de pressão externa das instituições; o outro busca promover a
coesão interna entre os moradores, no sentido de constituírem uma coletividade.

A prática política relacionada ao primeiro foco

refere-se ao exercício das lideranças que aglutinam o grupo e ao apoio de variados atores urbanos
no enfrentamento à repressão e às tentativas de despejo e reintegração de posse por parte de
instituições de governo, proprietários da terra e aparatos de Estado(Bastos et al., 2017, p. 259).
No que se refere ao segundo,

o esforço político dirige-se ao erguimento dos espaços comuns (creche, cozinha, biblioteca) que
reforçam relações de vizinhança, na medida em que exigem esforços cotidianos de cooperação e
solidariedade, bem como emprego do tempo livre de cada um, de suas horas de descanso do
trabalho, em prol de um objeto de demanda comum (Idem, idem).
As assembleias internas e a construção de equipamentos coletivos fazem parte dos processos
sociopolíticos cotidianos com potencial para fortalecer os laços de solidariedade entre os que
compartilham a luta pela moradia:

A autoconstrução de equipamentos coletivos e/ou espaços comuns nas ocupações, tais como centros
comunitários, praças, igrejas, creches, hortas coletivas, etc. produz efeitos mais interessantes no
tocante à produção de subjetividades insurgentes nas pessoas envolvidas, uma vez que mobiliza uma
força coletiva para a persecução de um objetivo comum, sem ter em vista interesses particulares
(Mayer12, 2016, p. 135).

                                                                                                               
11
Poliana Sousa é moradora da ocupação Eliana Silva e coordenadora do MLB
12
Joviano Mayer é integrante das Brigadas Populares.

  12  
O cotidiano das ocupações se constitui, ao mesmo tempo, como luta e como espaço físico e
social com possibilidades bastante flexíveis de ação e criação:

A urgência, diversidade e extensão dos problemas vividos e sua invisibilidade para a cidade legal,
onde mercado e Estado são meios hegemônicos de atendimento, colocam em pauta a colaboração
social e o comprometimento político como formas possíveis de resolução (Bastos et al., 2017, p.
260/261).
Ocupar um território envolve ações que demarcam um espaço urbano próprio, materializado de
maneira autônoma e, até certo ponto, à margem do ordenamento legal – a exemplo da construção
autônoma de casas e de equipamentos e espaços coletivos - e micro atos de insurreição - como
os ‘gatos’13, a ‘criação’ endereços com CEP14, entre outros ‘delitos’ - para fazer valer direito à
cidade e o acesso aos bens e serviços públicos. São ações e subversões engendradas nas brechas
do poder instituído a partir de práticas de uma cidadania insurgente:

nesse contexto se destaca a luta das ocupações pelo reconhecimento, pela urbanização, ou seja, pelo
direito de ter água, luz e esgoto como serviços prestados pelo Estado, assim como tem direito o
restante da população. Pelo direito de ter um CEP, de receber cartas na sua residência, de ter
calçamento nas ruas, de ter transporte público, ser cadastrado nos postos de saúde e acesso às
escolas sem discriminação, enfim, são muitas lutas e direitos elementares que são hoje negados a
milhares de famílias que moram nas ocupações (Péricles, 2016, p.122)
Essas práticas constituem um processo de educação para a necessidade de lutar de modo
organizado e para desenvolver o espírito de trabalho coletivo. Mas são, sobretudo, atos de
rebeldia, de confronto com a ordem estabelecida, de questionamento da primazia da propriedade
privada capitalista:

...as ocupações são uma forma de disputa econômica que, por seu enfrentamento com a
“sacrossanta” propriedade privada, se tornam em vários momentos, lutas eminentemente políticas,
tornando-se uma espécie de instrumento dos trabalhadores pelo direito à cidade (Péricles15, 2016,
p.122).
A vida nas ocupações tem sempre um ‘estado de prontidão’ - latente ou evidente -, seja para os
enfrentamentos externos, como a iminência de despejo e os constantes enfrentamentos para fazer
valer o direito à moradia e à cidade, seja para os enfrentamentos internos que fazem parte da
dinâmica urbana segregadora característica das cidades fragmentadas da urbanização neoliberal.
Tampouco estão excluídas situações como a presença de agentes do tráfico de entorpecentes, que

                                                                                                               
13
São chamadas de “gatos” as ligações feitas sem o conhecimento das concessionárias para se ter acesso à
energia/luz, ou à água. Esse recurso é utilizado no caso das ocupações até mesmo pela recusa das concessionárias
em proverem serviços nas áreas ocupadas. Nesse sentido, conseguir que as concessionárias façam ligações nas
moradias das áreas de ocupação é uma vitória política já que revela o reconhecimento da área como parte da
“cidade legal”.
14
Ter um CEP - Código de Endereçamento Postal – é condição para se ter acesso aos serviços públicos de educação
e saúde – matrícula das crianças nas escolas rede municipal, atendimento nos postos de saúde – e também
condição para conseguir emprego com ‘carteira de trabalho assinada’.
15
Leonardo Péricles é integrante do Movimento de Luta dos Bairros, Vilas e Favelas – MLB e morador da
Ocupação Eliana Silva.

  13  
se aproveitam da “ausência de policiamento em certas ocupações, criando relações de poder
autoritárias sobre o cotidiano e os sentidos do lugar e enfraquecendo a mobilização política e
mesmo o próprio ato de ocupar” (Bastos et al., 2017, p. 264).

Sequer estão ausentes outros desassossegos da vida urbana,

como situações de violência doméstica, principalmente contra as mulheres, tráfico de drogas ilícitas,
conflitos por lotes e poder, etc. As ocupações não são uma bolha separada da cidade e são afetadas
pelas contradições que há na sociedade (Mayer, 2016).
Para restringir de alguma maneira o fortalecimento desses elementos desagregadores, as
ocupações organizadas pelos movimentos populares incluem o estabelecimento de normas, por
decisão em assembleia geral, principalmente quando ainda enfrentam conflitos institucionais e
conflitos com o entorno.

No caso das ocupações organizadas pelo MLB, a assembleia geral é soberana e é o foro
deliberativo já desde o estabelecimento das regras iniciais:

No nosso caso, também, as regras [em torno das quais a ocupação vai se organizar] são pré
estabelecidas: a gente tem o regimento que a gente monta e debate com as famílias, adequa ele à
realidade de cada ocupação e aquilo que for definido em regimento é o que vão ser as regras que
vão ser cumpridas. E, no nosso caso, tem estas questões de [não ter] templo, bar... Durante cinco
anos a gente faz um processo em que é proibida a venda e a compra de lotes...Enfim, todo um
processo para a gente tentar garantir maior organização, combater a especulação imobiliária e
garantir condições de não ter bar - porque geralmente bar é uma fonte de conflito nessas
comunidades -, não ter tráfico... Essas coisas que vão ajudando a comunidade a se organizar. Claro
que isso tudo é uma coisa no papel e outra coisa é garantir na prática (Leonardo Péricles, 2017)16.
Isso não significa que as lideranças não estejam cientes de que, por si só, as regras acordadas
sejam seguidas. Assim, tanto nas lutas pelo reconhecimento externo como na construção da
coesão interna às ocupações, a questão se coloca em termos da relação de forças sociopolíticas:

Para garantir na prática é preciso ter uma coisa que a gente chama de correlação de forças. Ou
seja, ter a comunidade organizada o suficiente para ela poder conseguir, através da força dessa
organização, através da força coletiva, garantir que essas coisas sejam viabilizadas. E também que a
democracia interna das assembleias seja respeitada. Quando eu falo de força é nesse sentido de que
o que foi tirado democraticamente e a maioria aprova, se não cumprir vai ser pressionado a
cumprir. Não tem muito jeito de fugir dessa decisão coletiva. E a assembleia é soberana” (Leonardo
Péricles, 2017)17.
Por sua vez, as situações de enfrentamento relativas a esse sem número de questões resultam na
formulação de argumentos, por parte do Estado – para justificar o uso de forças policiais – e por
parte da mídia dominante – para construir uma imagem negativa das ocupações. Como
consequencia, as ocupações “costumam ser apresentadas ou até percebidas no senso comum
como fontes de insegurança ou de ataque à dita ordem pública” (Bastos et al., 2017, p. 264).
                                                                                                               
16
Conversa-entrevista por whatsapp, em 24/04/2017.
17
Conversa-entrevista por whatsapp, em 24/04/2017.

  14  
É possível fechar as brechas?: a criminalização dos movimentos e lutas
populares
A transição do chamado ‘Estado do bem estar’ para o ‘Estado neoliberal’ produziu mudanças
expressivas nas formas de controle sobre a população e nas formas de ‘ordenamento’ cultural e
de repressão às possíveis ameaças à hegemonia do pensamento único (Longo; Korol, 2008).
Entre os recursos estratégicos utilizados, um deles é o de fazer com que os vários mecanismos
relacionados com a penetração e implementação de políticas em favor do capital sejam
percebidos isoladamente e não como partes integrantes de um mesmo processo, no qual se
fundem os interesses internacionais e a perseguição e criminalização das lutas sociais na sua
cotinianeidade (Palau; Convalán, 2008).

A criminalização dos movimentos populares integra esse repertório mundial de ações e práticas
de controle social com os quais a governabilidade é organizada com vistas à continuidade do
processo de reprodução ampliada do capital. Por criminalização das lutas populares entende-se o
proceso repressivo no qual se conjugam a força bruta e a aplicação da lei, legitimadas pela
imprensa.

Entretando, na sociedade moderna a força e a violência não são exercidas de modo explícito e
direto, pelo menos, não de forma contínua Quijano (2002). O seu exercício é encoberto por
“estruturas institucionalizadas de autoridade coletiva ou pública” e legitimado por “ideologias
constitutivas das relações intersubjetivas entre os vários setores de interesse e de identidade da
população”(p. 9).

No processo de construção da subjetividade própria ao ideário neoliberal, os meios de


comunicação atuam promovendo a destruição dos laços de solidariedade ao identificarem os
mais vulneráveis da população como ameaça para aqueles que tem suas necessidades básicas
satisfeitas.

A produção da desqualificação do protesto social pela mídia se dá a partir da omissão ou da


invisibilização dos protagonistas e de suas ações e demandas. Quando estes decidem coletiva e
organizadamente promover ações que compreendem a ocupação do espaço público, a mídia,
solapadamente, adota um discurso que convoca à judicialização do protesto, justificando,
inclusive, a repressão.

Fue intensamente utilizada en los grandes medios de comunicación la idea que la protesta social
vulnera los derechos de determinados sectores de la sociedad. La jerarquización de derechos
realizada por el capitalismo, coloca en la cima de la pirámide el derecho a la propiedad privada, y a
los que se asocian a la misma, como la ‘libertad de empresa’, la libertad para la reproducción y
circulación del capital. …el corte de rutas fue presentado como un conflicto entre el derecho a
peticionar y el derecho a circular” (Longo; Korol, 2008, p.58).

  15  
A (des)invisibilização expressa pelas lutas e suas estratégias (como acampamentos, marchas,
manifestações de rua, entre outros) são apresentadas pela mídia como algo que interfere no ‘bem
estar’ das franjas sociais que se beneficiam do status quo:

De esta manera, si las calles o las rutas son ocupadas por sectores marginados, esto es presentado
como una amenaza; mientras que el mismo hecho con otros protagonistas, es saludado efusivamente
desde los medios de comunicación del poder. (…) el supuesto ‘conflicto de derechos’ que se presenta
cuando los grupos excluidos se movilizan por sus demandas, se diluyó rápidamente en favor del
derecho a la propiedad privada y a las ganancias del capital, a la ‘seguridad ciudadana’, y en la
exigencia de resguardarla endureciendo aun más las respuestas represivas, ya no frente a quienes
protestan en general, sino frente a los reclamos de quienes protestan desde las zonas de exclusión
(Longo; Korol, 2008, p.49).
Há que se atentar também para as formas de ‘repressão simbólica’ presentes no discurso
governamental e nos meios de comunicação, que apresentam

imágenes de ciertos tipos de actores sociales y de acciones reivindicativas, como simples


disrupciones de grupos minoritarios, anómicos, incivilizados y proclives a la violencia; a una
violencia sin sentido, negando el espacio a la protesta callejera, herramienta de lucha y de
visibilización de los sectores más postergados (Zarzuri, 2008, p.132).
Os despejos nas ocupações urbanas na região de Belo Horizonte são exemplos inequívocos da
ação repressiva do Estado às práticas insurgentes: os últimos ocorridos foram marcados pela
ação truculenta da Polícia Militar. Algumas aconteceram sem ordem judicial e sob a ordem do
governo estadual, como a remoção forçada e destruição das casas nas ocupações Maria Vitória e
Maria Guerreira18, no dia 21 de junho de 2016 e o despejo da ocupação Maria Bonita19 no dia 30
de julho de 2016. O despejo da ocupação Temer Jamais20, no dia 18 de setembro do mesmo ano,
viveu ainda momentos de horror com a investida violenta da PM, que deixou vários feridos.

                                                                                                               
18
As ocupações Maria Guerreira e Maria Vitória ocorreram sucessivamente em 2015 num terreno público
abandonado no bairro Copacabana, região de Venda Nova, em Belo Horizonte. Sua composição era
majoritariamente de famílias despejadas em função das obras de um projeto da prefeitura da cidade, chamado Vila
Viva. O despejo da primeira deu-se pouco mais de um mes após a sua instalação, em maio de 2015. A segunda,
que ocorreu no final desse mesmo mes de maio, foi despejada cerca de um ano depois, em 20/06/2016. Abrigaram
ao todo cerca de 250 famílias. Segundo a prefeitura de Belo Horizonte, a área está destinada ao Parque
Madrid/Várzea da Palma, até o momento inexistente. Fontes: < https://brigadaspopulares.org.br/surge-mais-uma-
ocupacao-em-bh-maria-vitoria/> Acesso em 13/12/2017; < http://g1.globo.com/minas-gerais/noticia/2015/05/pm-
cumpre-determinacao-de-despejo-na-ocupacao-maria-guerreira-em-bh.html> Acesso em 13/12/2017.
19
A ocupação Maria Bonita derivou das ocupações Maria Guerreira e Maria Vitória despejadas de terrenos da
Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) no bairro Copacabana, região de Venda Nova, em junho de 2016. Cerca de
150 dessas famílias passaram a ocupar um terreno vago e abandonado na divisa entre os municípios de Contagem
e Ribeirão das Neves, situados na zona metropolitana de Belo Horizonte. Seu despejo, realizado sem ordem
judicial, ocorreu poucos dias depois, em 31/07/2016. Fonte:< http://hojeemdia.com.br/horizontes/cerca-de-150-
fam%C3%ADlias-ocupam-terreno-na-grande-bh-e-pm-interv%C3%A9m-1.401795/ocupa%C3%A7%C3%A3o-
maria-bonita-na-divisa-de-contagem-e-ribeir%C3%A3o-das-neves-1.401805> Acesso em 13/12/2017.
20
A ocupação Temer Jamais foi consolidada a partir da decisão das cerca de 300 famílias que ocupavam
pacificamente um terreno na região do Barreiro de se juntarem ao Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e
Favelas (MLB) e consolidaram a Ocupação Temer Jamais em meados de setembro de 2016. Elas reivindicavam o
mesmo terreno que quatro anos antes abrigou as famílias da ocupação Eliana Silva 1, na região do Barreiro, em
Belo Horizonte, que depois de um despejo forçado, violento e repressor permaneceu desocupado, abandonado e
sem cumprir sua função social. Com essa nova ocupação do terreno, as famílias da ocupação Temer Jamais

  16  
A violência do Estado e a evidência da sua atuação em favor de interesses do capital imobiliário
na região de Belo Horitonte atingiram seu ápice em 01 de maio de 2017, quando a ocupação
rururbana Manuel Aleixo, ocorrida no Mário Campos, area metropolitana de Belo Horizonte na
madrugada simbólica do dia 01 de maio de 2017, foi ilegal e violentamente removida pela
polícia estadual (PM) a tiros de borracha e bombas de gás lacrimogêneo, na manhã daquele
mesmo dia, sem qualquer mandado, para atender à demanda do pretenso proprietário do imóvel.
Durante essa ação, uma adolescente de 14 anos foi ferida a queima-roupa no rosto por um dos
policiais do batalhão que realizou a remoção.21

Reflexões finais

Chego ao fim deste trabalho, não porque esteja concluído, mas porque tempo e espaço ainda são
categorias determinantes da produção, mesmo nas propostas calcadas nas epistemologias do Sul.

Para finalizá-lo, escolhi dois pontos que parecem cruciais para um percurso da justiça cognitiva
global para uma justiça social global: a ampliação da visibilidade das ocupações e a construção e
fortalecimento de subjetividades outras. Ambos me parecem condição sine qua non para passar
das brechas às rachaduras e destas à ruína do atual padrão de poder dominante.

Em relação ao primeiro aspecto, a reflexão que apresento se apóia majoritariamente no que


desenvolvi anteriormente como parte de um trabalho sobre as vozes do sul (Bemfica, 2017). Em
relação ao segundo, a reflexão se apoia em outros autores que tomaram as práticas de construção
do e no espaço urbano como práticas sociopolíticas inconformistas.

Ação local com repercussão ampliada: Ocupações e meios de comunicação alternativos22

Ao ocuparem as brechas e fissuras do padrão de poder engendrado pelo capitalismo


colonial/moderno e adquirirem visibilidade, as ocupações explicitam os elementos constitutivos
do poder dominante que expolia e exclui ‘não-europeus’, ‘não brancos’ e inferioriza as mulheres.

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                   
reivindicavam que o terreno cumprisse sua função social. O despejo ocorreu poucos dias depois, em 18/09/2016.
Fontes: <http://consciencia.net/nota-do-mlb-em-apoio-a-ocupacao-temer-jamais-no-barreiro-em-belo-horizonte-
mg/> Acesso em 13/12/2017; <http://hojeemdia.com.br/horizontes/cidades/pm-faz-despejo-de-300-
fam%C3%ADlias-em-%C3%A1rea-de-preserva%C3%A7%C3%A3o-no-barreiro-
1.414829/reintegra%C3%A7%C3%A3o-de-posse-ocupa%C3%A7%C3%A3o-temer-jamais-1.414838> Acesso
em 13/12/2017.
21
Disponível em <https://www.facebook.com/ocupacaomanoelaleixo/>, acesso em 02/05/2017;
<http://bhaz.com.br/2017/05/01/adolescente- atingida-bala-borracha-no-rosto/>, acesso 03/05/2017; <
http://m.folha.uol.com.br/cotidiano/2017/05/1881582-estou-com-vergonha-do-meu-rosto-diz-sem-teto-de-14-
anos-ferida-por-pm.shtml?mobile#>, acesso em 07/05/2017.
22
Este tópico é uma síntese de: Ocupações, internet e mídias digitais e independentes, em (Bemfica, 2017).

  17  
Para isso, as ocupações tiram proveito da internet e dos recursos das mídias digitais como formas
de se fazerem ouvidas e de ampliarem e manterem a visibilidade. Contam também com os
meios de comunicação social independentes.

O uso dos recursos da internet, das redes sociais e do jornalismo digital independente torna
possível a disseminação e circulação de informações omitidas ou distorcidas pelas mídias de
massa e dá visibilidade mundial aos inúmeros protestos locais contra a ideologia neoliberal e às
ações e movimentos populares que evidenciam o caráter excludente desse padrão de poder e a
violenta repressão exercida pelo Estado e pela mídia hegemônica sobre os que contra ele se
insurgem.

A presença dos movimentos sociais na internet também modificou a forma de militância, ao


tornar possível a organização de manifestações e articulações em âmbitos muito além do seu
espaço físico de atuação.

O blog/página no facebook de uma ocupação é, muitas vezes, criado concomitantemente com o


seu surgimento. Estes são recursos de comunicação que possibilitam a disseminação e o
compartilhamento de informações relacionadas às atividades das ocupações e às ameaças e os
atos de violência praticados contra a própria ocupação ou contra alguma outra. Servem como
plataforma de posicionamento ou denúncia e para dar visibilidade a eventos que colocam a
ocupação no cenário internacional. Além disso, tem um papel importante como limitadores das
ações de violência – física ou simbólica – praticadas, ou apenas ameaçadas - por agentes do
Estado ou do capital, na medida em que estas podem ser – e são – instantaneamente registradas e
divulgadas.

Assim, essa maior visibilidade pela presença na internet – em especial nas redes sociais e pela
divulgação pelas mídias independentes23 - é estratégica para impedir uma violência maior das
forças policiais quando tentam impedir suas marchas e manifestações. E é sobretudo importante
em face das constantes ameaças de despejo e dos despejos iminentes ou efetivados.

Se as práticas nas ocupações acontecem em espaços/tempos físicos circunscritos, elas são


amplificadas no espaço/tempo digital na medida em que são disseminadas e replicadas por
inúmeras mídias independentes, dispositivos digitais e redes sociais. Essa amplificação
possibilita alianças e redes de solidariedade aos processos de resistência contra os avanços do
capitalismo colonial/moderno na sua versão globalizada. Exemplo de solidariedade com a luta
por moradia, são os recursos recentemente arrecadados na Itália em favor da Ocupação Carolina
Maria de Jesus. Essa ação ocorreu em Bologna/Itália, durante a “Mostra de curtas-metragens
                                                                                                               
23
Entre outras, Jornalistas Livres e Mídia Ninja.

  18  
brasileiros: cinema contemporâneo e política no Brasil”, realizada em parceria com o Centro
Social XM24, uma ocupação autogestionada em Bologna. 24

Essa visibilidade é também vital para que o direito à moradia e à cidade sejam inscritos na
agenda pública a partir das demandas das ocupações, que são demandas que expõem o caráter
intrinsecamente excludente do capitalismo/colonial como padrão de exploração social, e a
tendenciosidade do Estado como forma central de autoridade coletiva para o controle dos
conflitos, ao operar em favor dos interesses do capital, em detrimento dos direitos fundamentais
dos pobres:

Outras subjetividades possíveis: a experiência de ocupar

A lógica hegemônica de produção e organização do espaço urbano está instituída por normas do
mercado formal, o que leva à invisibilização e à negação de quaisquer outras lógicas de produção
(Pedrazzani, 2016).

No entanto, em que pese essa ‘invisibilidade’ constituída a partir da negação da existência dessas
outras lógicas, elas existem e se movem por entre as brechas e frestas que a lógica hegemônica
não consegue fechar. Nesse sentido é que se pode estabelecer um horizonte menos desalentador,
e considerar que a ‘autoridade coletiva do Estado’ pode ‘decair’ na medida em que os
movimentos e as lutas populares, na sua diversidade, atuem segundo táticas que destruam a
pouco e pouco os apoios institucionais, simbólicos e materiais do capital, num procedimento que
Harvey(2012) chama de ‘teoria termiteira’ de mudança revolucionária.

Essa possibilidade está posta na medida em que as práticas nas ocupações possibilitam a
constituição de outras subjetividades, ao privilegiarem o coletivo e o comum, e ao adotarem
formas horizontais – e não hierárquicas - de controle da autoridade coletiva e da
subjetividade/intersubjetividade. As práticas de autoconstrução, a construção coletiva do espaço,
o compartilhamento do estado de prontidão permanente criam sociabilidades que nutrem
subjetividades menos fragmentadas e individualizadas, muitas vezes esquecidas nas memórias
ancestrais. Essas subjetividades se potencializam

pelas dificuldades do dia a dia (...) [e] acaba que a solidariedade em vários momentos vence,
tornando a prática coletiva, de certa forma, permanente” (Péricles, 2016, p.121)
No seu todo, a mobilização e organização dos moradores, os processos de discussão, ação e
resolução de conflitos compõem o ocupar, resistir e manter as ocupações. E estas são vivências e
experiências calcadas em subjetividades outras e, na medida em que demandam decisões
                                                                                                               
24
Fonte: post do MLB-Minas publicado em 01/12/2017. Disponível em <https://www.facebook.com/mlbminas/>
Acesso em 14/12/2017.

  19  
coletivas, acenam para a possibilidade de vitalizar as sociabilidades comunais latentes, ou já
presentes entre os ‘invisibilizados’.

Referências
Araújo, S. (2016). “O primado do direito e as exclusões abissais: reconstruir velhos conceitos, desafiar o cânone”.
Sociologias, Porto Alegre, ano 18, no 43, set/dez 2016. pp. 88-115.
Bastos, C.D.; Magalhães, F.N.C; Miranda, G.M.; Silva, H.; Tonucci Filho, J.B.M.; Cruz, M.M.; Velloso, R.C.L.
(2017). Entre o espaço abstrato e o espaço diferencial: ocupações urbanas em Belo Horizonte. Revista Brasileira
de Estudos Urbanos e Regionais (online), Recife, V.19, N.2, Mai-Ago. 2017. pp.251-266.
Bedê, M. C. (2005). Trajetória da formulação e implantação da Política Habitacional de Belo Horizonte na gestão
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<http://www.bibliotecadigital.ufmg.br/ dspace/handle/1843/MPBB-6YGLGE>. Acesso em: 4 abr. 2017
Bemfica, J.C. (2017). Vozes do Sul na Serra de Lancadona e nas Minas Gerais. Manuscrito apresentado ao Curso
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