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Química

Bioquímica

Maria da Conceição Tavares Cavalcanti Liberato


Micheline Soares Costa Oliveira

Geografia
2ª edição
Fortaleza - Ceará 9
12

História
2019

Educação
Física

Ciências Artes
Química Biológicas Plásticas Computação Física Matemática Pedagogia

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Sumário
Apresentação.....................................................................................................7
Capítulo 1 – Água...............................................................................................9
1. Propriedades da Água........................................................................................11
1.1. Dissociação da Água e seu Produto Iônico (Kw)......................................13
1.2. Ionização de Ácidos Fracos.......................................................................15
1.3. Ionização de Bases Fracas........................................................................15
2. Equação de Henderson – Hasselbalch............................................................16
3. Solução Tampão.................................................................................................17
3.1. Eficiência ou capacidade tamponante da solução...................................18
3.2. Tampões Fisiológicos..................................................................................18
3.3. Sistemas de Tamponamento de Importância Fisiológica.........................19
3.4. Distúrbios no Sistema Tamponante............................................................20
Capítulo 2 – Carboidratos..............................................................................23
1. Monossacarídeos, Dissacarídeos, Oligossacarídeos e Polissacarídeos.......29
1.1. Monossacarídeos........................................................................................29
1.2. Dissacarídeos..............................................................................................32
1.3. Polissacarídeos...........................................................................................34
Capítulo 3 – Lipídeos......................................................................................39
1. Ácidos graxos.....................................................................................................42
1.1. Ácidos graxos saturados.............................................................................43
1.2. Ácidos graxos monoinsaturados................................................................43
1.3. Ácidos graxos trans.....................................................................................43
1.4. Ácidos graxos saturados.............................................................................44
1.5. Ácidos graxos insaturados..........................................................................45
1.6. Ácidos graxos incomuns.............................................................................45
1.7. Ácidos graxos essenciais...........................................................................45
1.8. Sintomas da deficiência de Ácido Linoleico ω–6......................................47
1.9. Acilgliceróis..................................................................................................47
2. Triacilgliceróis ou Triglicerídeos (TAG)..............................................................48
2.1. Funções.......................................................................................................48
3. Ácidos graxos poliinsaturados...........................................................................49
3.1. Ácidos graxos ômenga – 3.........................................................................50
4. Lipídeo compostos.............................................................................................50
4.1. Outros Fosfolipídeos...................................................................................51
5. Glicolipídeos........................................................................................................52

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6. Esteroides e Esteróis..........................................................................................52
6.1. Esteróis.........................................................................................................53
6.2. Colesterol.....................................................................................................53
6.3. Lipoproteínas e Metabolismo......................................................................55
Capítulo 4 – Aminoácidos e Proteínas.........................................................57
1. Estrutura e Classificação...................................................................................59
1.1. Desnaturação de Proteinas........................................................................63
1.2. Funções das Proteínas...............................................................................63
1.3. Enzimas como Proteinas............................................................................64
2. Aminoácidos Essenciais (AAE) e Não Essenciais...........................................64
2.1. “Pool” Metabólico de Aminoácidos.............................................................65
3. Equação de Henderson – Hasselbalch pH = pka + log [A] / [HA]..................67
3.1. Propriedades ácido-básicas dos Aminoácidos e Proteinas.....................68
3.2. Formas ionizadas dos Aminoácidos..........................................................68
4. pH Isoelétrico......................................................................................................70
Capítulo 5 – Enzimas.......................................................................................75
1. Atuação das enzimas na cinética das reações................................................77
1.1. Teoria das Colisões.....................................................................................78
1.2. A Eficiência da Catálise Enzimática...........................................................78
1.3. Interação Enzima – Substrato....................................................................78
1.4. Exemplos de especifidade das Enzimas...................................................80
1.5. Cinética enzimática em termos matemáticos...........................................80
1.6. Estudando a Cinética Enzimática............................................................. 81
Capítulo 6 – Ácidos nucleicos.......................................................................91
1. Estrutura dos nucleotídeos................................................................................94
1.1. Nucleosídeos...............................................................................................95
2. Principais Bases, Nucleosídeos, Nucleotídeos................................................96
3. DNA e RNA.........................................................................................................97
3.1. Determinação das relações molares entre as bases
nos ácidos nucleicos..........................................................................................97
3.2. Replicação semiconservativa do DNA.......................................................98
Capítulo 6 – Ácidos nucleicos.......................................................................91
1. Estrutura dos nucleotídeos................................................................................94
1.1. Nucleosídeos...............................................................................................95
2. Principais Bases, Nucleosídeos, Nucleotídeos................................................96
3. DNA e RNA.........................................................................................................97
3.1. Determinação das relações molares entre as bases
nos ácidos nucleicos..........................................................................................97
3.2. Replicação semiconservativa do DNA.......................................................98

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3.3. RNA..............................................................................................................99
3.4. Estruturas...................................................................................................100
3.5. Desnaturação do DNA..............................................................................103
4. Fluxo de Informações Genéticas na Célula....................................................104
4.1. Diagnóstico pelo DNA...............................................................................105
4.2. Genoma Humano......................................................................................105
4.3. Endonucleases de Restrição....................................................................105
Capítulo 7 – Bioenergética...........................................................................109
1. Reações Exergônicas e Endergônicas...........................................................112
1.1. Acoplamento dos processos endergônicos
aos processos exergônicos.............................................................................112
1.2. Metabolismo...............................................................................................114
1.3. Oxidação de Nutrientes e Produção de Energia.....................................114
1.4. Óxido-Reduções Biológicas.....................................................................114
2. Fontes principais de fosfato participantes da conservação
ou captação de energia........................................................................................117
2.1. Ciclo de Krebs...........................................................................................118
2.2. Portal do conhecimento relacionado à saúde.........................................119
2.3. Função Anabólica do Ciclo de Krebs.......................................................120
Capítulo 8 – Cadeia de transporte de elétrons, oxidação
de coenzimas e síntese de ATP...................................................................123
1. Complexo I........................................................................................................128
2. Complexo II.......................................................................................................130
3. Complexo III......................................................................................................131
4. Complexo IV.....................................................................................................131
Capítulo 9 – Fosforilação oxidativa e lançamentos de elétrons............135
1. ATP – Sintese....................................................................................................138
2. Desacopladores................................................................................................139
3. Inibidores...........................................................................................................139
3.1. Fosforilação no Nível do Substrato..........................................................140
4. Cadeias de Transporte de Elétrons Bacteriano..............................................140
5. Circuitos de Transporte ou Lançamentos.......................................................141
5.1. Lançadeira glicerol-fosfato........................................................................141
5.2. Lançadeira Malato-Aspartato...................................................................141
Capítulo 10 – Metabolismo de carboidratos glicólise
e formação de Acetil-CoA.............................................................................145
1. Esquema da oxidação completa da glicose...................................................148
2. Glicólise anaeróbica: fermentações.................................................................150
3. Conversão de Piruvato a Acetil- CoA..............................................................152

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3.1. Via das pentoses fosfato (ou rota da hexose monofosfato)...................153
4. Metabolismo de carboidratos Monossacarídeos............................................154
4.1. Glicogênio, amido, sacarose e lactose....................................................155
Capítulo 11 – Gliconeogênese.....................................................................159
1. Relação entre diferentes órgãos na gliconeogênese.....................................163
1.1. Reações da Gliconeogênese...................................................................164
Capítulo 12 – Metabolismo de Lipídeos.....................................................171
1. Degradação de Triacilgliceróis: (do depósito).................................................174
2. Degradação de ácidos graxos.........................................................................175
3. Sistema utilizado para transporte de radicais acila........................................175
3.1. β-Oxidação ou ciclo de Lynen..................................................................175
4. Oxidação de ácidos graxos com nº ímpar de carbonos................................178
4.1. Oxidação de ácidos graxos insaturados..................................................178
4.2. Ácidos graxos ramificados ou hidroxilados.............................................178
5. Corpos cetônicos..............................................................................................179
6. Metabolismo do Etanol.....................................................................................180
7. Síntese de ácidos graxos.................................................................................181
Capítulo 13 – Metabolismo de aminoácidos.............................................187
1. Aminoácidos Essenciais..................................................................................190
1.1. Degradação de Aminiácidos.....................................................................191
1.2. Como é removido o grupo amino dos aminoácidos...............................191
1.3. Reações especiais para desaminação de alguns aminoácidos............194
2. Cilo da Ureia.....................................................................................................195
3. Degradação do esqueleto carbônico dos aminoácidos.................................197
3.1. Conversão de Ala, Cys, Gly, Ser, Thr, Trp em piruvato...........................198
3.2. Conversão de Asn, Asp em oxaloacetato................................................199
3.3. Conversão de Asp, Phe, Gly, Ser, Tyr em fumarato................................199
3.4. Conversão de Ile, Val, Met e Thr a succinil-CoA.....................................199
3.5. Conversão de Glu, Gln, Pro, Arg, His em em α-cetoglutarato................199
3.6. Conversão de Phe, Tyr, Trp, Lys, Ile, Thr, Leu em acetil-CoA................199
4. Oxidação de ácidos graxos com nº ímpar de carbonos................................178
4.1. Oxidação de ácidos graxos insaturados..................................................178
4.2. Ácidos graxos ramificados ou hidroxilados.............................................178
5. Corpos cetônicos..............................................................................................179
6. Metabolismo do Etanol.....................................................................................180
7. Síntese de ácidos graxos.................................................................................181

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Apresentação
A Bioquímica, intrinsecamente relacionada a vários ramos da ciência, emergiu
nos últimos anos como uma disciplina com grande aplicação em vários deles.
O objetivo deste livro é explicar conceitos da Bioquímica de uma forma fácil de
aprender e lembrar. Assim, cada capítulo do livro foi escrito de modo a cons-
truir um aprendizado sequenciado.
O livro está dividido em 13 capítulos, ao longo das quais são discuti-
dos tópicos pertinentes ao assunto. Finalizando cada capítulo, encontram-se
exercícios que pretendem fixar os conteúdos abordados. O livro encontra-se
distribuído nos seguintes capítulos:
O Capítulo 1 aborda o assunto Água. São discutidas as propriedades da
água, o poder de ionização dos ácidos fracos, a equação de Henderson – Has-
selbalch, a química da solução tampão, os sistemas de tamponamento de im-
portância fisiológica e os distúrbios que podem ocorrer no sistema tamponante.
O Capítulo 2 estuda os Carboidratos através do tópico relativo a fotos-
síntese, além da divisão dos mesmos em monossacarídeos, dissacarídeos,
oligossacarídeos e polissacarídeos cada qual com suas especificidades.
O Capítulo 3 aborda os Lipídeos abrangendo os Ácidos Graxos com
suas diferenciações estruturais e suas funções.
O Capítulo 4 trata do assunto relativo aos Aminoácidos e Proteínas
mostrando além da estrutura e classificação assuntos como desnaturação de
proteínas e as enzimas como proteínas.
O Capítulo 5 é dedicado especificamente ao assunto Enzimas, apre-
sentando a cinética de suas reações, sua especificidade bem como os inibi-
dores enzimáticos.
O Capítulo 6 abrange o estudo dos Ácidos Nucléicos, envolvendo a
estrutura dos nucleotídeos, as principais bases nucleosídeos e nucleotídeos,
o DNA, o RNA, a replicação semiconservativa do DNA, sua desnaturação o
fluxo de informações genéticas na célula e as endonucleases de restrição.
O Capítulo 7, referente à Bioenergética, é uma introdução ao estudo
do metabolismo abordando as reações exergônicas e endergônicas, o aco-
plamento dos processos endergônicos aos processos exergônicos, as fontes
principais de fosfato participantes da conservação ou captação de energia e
o Ciclo de Krebs.
O Capítulo 8 trata da Cadeia de Transporte de Elétrons e seus com-
plexos bem como da oxidação de coenzimas e síntese de ATP.

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O Capítulo 9 abrange a Fosforilação Oxidativa e as Lançadeiras de
Elétrons. Trata da ATP sintase, dos desacopladores e dos inibidores bem
como das cadeias de transporte de elétrons bacterianas.
O Capítulo 10 é dedicado ao Metabolismo dos Carboidratos, apre-
sentando glicólise e formação de Acetil-CoA. Também são abordadas as fer-
mentações e a conversão do piruvato a acetil-CoA, a via das pentoses fosfato,
o metabolismo dos Monossacarídeos.
O Capítulo 11 trata da Gliconeogênese, mostrando a relação entre
diferentes órgãos nesse processo. São apresentadas também as reações
do processo.
O Capítulo 12 faz uma abordagem sobre o Metabolismo dos Lipídeos
desde a degradação de triacilgliceróis do depósito, degradação de ácidos graxos,
sistema utilizado para transporte de radicais acila, oxidação de ácidos graxos
com número ímpar de carbonos e de ácidos graxos insaturados. Esse capítulo
também trata do metabolismo do etanol e da síntese de ácidos graxos.
O Capítulo 13 é especialmente dedicado ao Metabolismo dos Ami-
noácidos apresentando os aminoácidos essenciais, as reações de transami-
nação e de desaminação bem como a degradação do esqueleto carbônico
dos aminoácidos.
Esperamos que este livro não apenas seja de grande utilidade aos alu-
nos do Curso de Química da Universidade Aberta a Distância da Universidade
Estadual do Ceará, mas que ele além de facilitar o aprendizado da disciplina
encante-os com as maravilhas da Bioquímica.

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Capítulo 1
Água

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11
Bioquímica

Objetivos
• Identificar maneiras de representar as reações químicas.
• Conhecer as características e propriedades da água.
• Conhecer a estrutura da água – pontes de hidrogênio.
• Definir os pontos de dissociação da água.
• Descrever a equação de Henderson – Hasselbalch.
• Verificar as interações biológicas de soluções tampão.

Introdução
As células vivas contêm carboidratos, lipídeos, aminoácidos, proteínas, áci-
dos nucléicos, nucleotídeos e compostos relacionados em quantidades vari-
áveis. A massa de cada um desses compostos de estruturas químicas muito
variadas é constituída basicamente por carbono (C), hidrogênio (H), oxigênio
(O), nitrogênio (N), fósforo (P) e enxofre (S). Dois desses elementos, hidro-
gênio e oxigênio, combinam-se para formar o mais abundante componente
celular, a água (H2O), que não se inclui em nenhuma das categorias acima
mencionadas. Mais de 90% do plasma sanguíneo é H2O, o músculo contém
cerca de 80% de H2O, e ela constitui mais da metade da maioria dos outros
tecidos animais ou vegetais.
Além de ser o mais abundante componente celular, a H2O é também
indispensável à vida. Os nutrientes que a célula consome, o oxigênio usado
na oxidação deles e os produtos residuais formados são todos transportados
pela água. Assim é importante observar que esse composto químico tem um
número excepcional de propriedades que o tornam sobremaneira peculiar e
bastante apropriado para o desempenho como solvente da vida.

1. Propriedades da Água
Entre solventes, como: etanol, metanol, acetona, acetato de etila, clorofórmio,
amônia etc., a água possui:
1. O mais alto ponto de ebulição;
2. O mais alto calor específico de vaporização;
3. O mais alto ponto de fusão.

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LIBERATO, M. C. T. C.; OLIVEIRA, M. S. C.

Isto ocorre devido às grandes forças intermoleculares que atuam entre


moléculas de água adjacentes em solução.
Uma molécula de água consiste de dois átomos de hidrogênio ligados a
um átomo de oxigênio. A distância da ligação O-H é de 0,958 Ângstrons (1 Ân-
gstrom equivale a 10-10 m), e o ângulo formado pelos três átomos é de 104,50.
Os átomos de hidrogênio não estão arranjados linearmente, pois os quatro or-
bitais híbridos sp3 do oxigênio estendem-se aproximadamente na direção dos
vértices de um tetraedro. Os átomos de hidrogênio ocupam dois vértices do
tetraedro, e os pares de elétrons não-ligantes do átomo de oxigênio ocupam
os dois outros vértices (em uma molécula perfeitamente tetraédrica, como o
metano, CH4, os ângulos de ligação são de 109,5°).
A molécula de água é altamente polarizada, pois os átomos de oxigê-
nio eletronegativos tendem a atrair elétrons do átomo de hidrogênio, deixando
uma carga positiva residual cercando o próton. Devido a essa polarização, as
moléculas de água comportam-se como dipolos, uma vez que elas podem
ser orientadas em ambas as direções como íons positivos e negativos. É essa
propriedade que dá à água a capacidade de atuar como solvente. Os eleva-
dos pontos de ebulição e de fusão da água e seu alto calor de vaporização
são resultado da interação entre moléculas de água vizinhas.
Cada molécula de água em solução tende a ficar rodeada por quatro
outras moléculas com átomos de oxigênio negativamente polarizados, fican-
do atraídos aos prótons carregados positivamente. A atração entre o oxigênio
de uma molécula e o hidrogênio de outra é representado como H.....O, e é
chamada ponte de hidrogênio ou ligação de hidrogênio. Embora a energia
necessária para romper esta ligação seja bem menor que a necessária para
quebrar uma ligação O-H covalente, o efeito aditivo com a ponte de hidrogênio
explica as propriedades incomuns da água. As pontes de hidrogênio são for-
ças de natureza elétrica do tipo dipolo permanente, porém bem mais intensas.

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Figura 1 – Moléculas de água em solução

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13
Bioquímica

1.1. Dissociação da Água e seu Produto Iônico (Kw)


A água é uma molécula neutra com leve tendência a ionizar-se. Essa ioniza-
ção é expressa como:
HA  H + + H −

Na verdade não existem prótons livres em solução. O próton está sim


associado a uma molécula de água sob a forma de íon hidrônio, H3O+, porém
continuaremos representando esses íons por H+. A ionização da água é des-
crita pela expressão de equilíbrio:

[ H + ][OH - ]
Ka = onde,
[ H 2O ]

K é a constante de ionização. Já que a concentração da água não dis-


sociada é bem maior que as concentrações dos íons que a compõem, ela
pode ser considerada constante e incorporada à K para produzir uma expres-
são para a ionização da água:
Kw = [H+] [OH-]
A água é um eletrólito fraco e a sua dissociação para formar H+ e OH- é
muito reduzida.
HA  H + + H −

[ H + ][OH - ]
Ka =
[ H 2O ]

A concentração da água pura é muito grande em comparação com


qualquer concentração possível de solutos e pode ser considerada constante.
O valor numérico é 55,5 M e pode ser obtido ao se dividir o número de gramas
de água em um litro, 1000g, pelo peso molecular da água, 18 g/mol.
[ H + ][OH - ]
Ka = onde,
[55, 5]

Ka x 55,5 = [H+] [OH-] = Kw


Kw é a constante do produto iônico da água, e a concentração da água
está inclusa em seu valor. O valor numérico de Kw pode ser determinado de
forma experimental ao se medir a concentração de íons hidrogênio em água
pura. A concentração de íons hidrogênio também é igual por definição à con-
centração do íon hidroxila, porque a água é um ácido monoprótico (libera um
único próton por molécula), a 25 °C, em água pura,
[H+] = 10-7 M = [OH-]
Assim, a 25 °C, o valor numérico de Kw = [H+] [OH-] = (10-7) (10-7) = 10-14.

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LIBERATO, M. C. T. C.; OLIVEIRA, M. S. C.

Essa relação é válida para qualquer solução aquosa, seja ela neutra,
ácida ou básica.
O valor de Kw, a constante de ionização da água é 10-14 M2 a 250 C. A
água pura deve conter quantidades equimolares de H+ e OH-, de forma que:
[H+] = [OH-] = 10-7M
Soluções com [H+] = 10-7 M são ditas neutras, as com [H+] > 10-7 M são
ditas ácidas, e as com [H+] < 10-7 M são ditas básicas. Os valores de [H+] para
a maioria das soluções são muito pequenos e, portanto, não são práticos para
fins de comparação. Uma forma mais prática é conhecida como pH. Sendo:
pH = -log10 [H+]
Quanto mais alto o pH, menor será a concentração de H+; quanto me-
nor o pH maior será a concentração de H+. O pH da água pura é 7,0, enquanto
soluções ácidas têm pH < 7,0 e soluções básicas têm pH > 7,0.
Como na água pura [H+] = 1 x 10-7 M e pH = 7,0, calcular o pH das se-
guintes soluções aquosas:
a) 1,1 x 10-3 M de HCl.
b) 2,1 x 10-3 M de NaOH.
Uma quantidade semelhante, o pKa, pode ser definida por analogia com
a definição de pH:
pKa = -log10Ka
O valor de pKa é uma outra medida que indica a força do ácido: quanto
menor seu valor, mais forte será o ácido. A situação é o inverso da observada
em Ka, em que maiores valores implicam ácidos mais fortes. A definição de
ácido mais importante para a Bioquímica é a de Bronsted, que diz ser:
Ácido: qualquer substância que pode doar prótons.
Base: qualquer substância que pode aceitar prótons.

HCI → H + + CI −
CH 3 COOH → H + + CH 3 COO−
NH 4 + → NH 3 + H +

Expressão Geral: HA → H + + A −
Bases correspondentes:
CI - + H + ® HCI
CH 3 COO- + H + ® NH 4 +

HA: Ácido de Brönsted (pode fornecer um próton)


A- : Base conjugada (pode aceitar o próton para formar o ácido)

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15
Bioquímica

Eletrólitos fortes: Em solução aquosa são quase completamente dissocia-


dos em íons.
Ex: Na +CI - ® Na + + CI -

HCI ® H + + CI -
HCl em H2O = ionização
HCl + H 2 O ® H 3 O + Cl - ou

(Ác. Con j.)1 + (Base Con j.)2 ® (Ác. Con j.)2 + (Base Con j.)1

1.2. Ionização de Ácidos Fracos


Um ácido fraco é apenas parcialmente ionizado em solução aquosa.
Ex: HA + H 2 O  H 3 O+ + A - ou
(Ác. Con j.)1 + (Base Con j.)2 ® (Ác. Con j.)2 + (Base Con j.)1
Constante de Equilíbrio = Constante de Ionização = Kion
é H 3 O+ ù é A - ù
ê úû êë úû
K eq = K ion = ë
[HA ] [H 2 O ]
[H 3 O+ ] [A - ]
Sendo[H2O]=Constante(55,5moles/L),então: K a = K ion =
[HA]
[H + ] [A - ]
HA  H + + A - logo K eq =
[HA]

1.3. Ionização de Bases Fracas


BOH  B+ + OH-
[B + ] [OH - ]
K eq = K b =
[BOH]

a) Bases Fracas: Aminas Orgânicas


RNH 2 + H 2 O  RNH 3 + OH - ou
(Base Con ju gada)1 + (Ácido Con ju gado)2 ® (Ácido Con ju gado)1 +
(Base Con ju gada)2

A H2O serve como ácido doando prótons para RNH2. Seria então o
mesmo que:
A - + H 2 O  HA + OH - ou

(Base. Con j.)1 + (Ác. Con j.)2  (Ác. Con j.)1 + (Base Con j.)2

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[HA] [OH - ]
K ion =
[A - ] [H 2 O]

Kion e [H2O] combinados dão Kb

[HA] [OH - ]
Kb =
[A - ]

Serve para calcular a [OH-] de uma base fraca


K b [A - ]
Agora se: [OH - ] =
[HA]
Ka [HA]
E se: [H + ]=
[A - ]
[H + ] [OH] = K w
K a [HA] K b [A - ]
. = Kw
[A - ] [HA]
Ka . Kb = Kw = 10-14
Logo: logKa + logKb = log Kw ou
- logKa - logKb = - log Kw
Então como:
pH = log [H+]
pKa = logKa
pKb = - logKb
pKa + pKb = - log Kw = 14

2. Equação de Henderson – Hasselbalch


É a equação que relaciona o valor de Ka de qualquer ácido fraco ao pH da
solução que contém esse ácido e sua base conjugada. Essa relação é muito
usada na prática bioquímica, principalmente quando é necessário controlar o
pH para condições ideais de reação. Muitas reações deixam de se processar
quando o pH não está no valor ideal. Além de muitas reações não ocorrerem,
algumas consequências fisiológicas drásticas podem resultar a partir de varia-
ções de pH no organismo.
Aplicando a lei da ação das massas à ionização dos ácidos fracos,
tem-se:
HA  H + + A -
[H + ] [A - ]
de onde tem-se: K a =
[HA]

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Bioquímica

K a [HA]
Logo: [H + ] =
[A - ]
Aplicando-se logaritmo dos dois lados, tem-se:
[HA]
log[H+] = logKa + log Multiplicando por (-1) :
[A - ]
[HA]
- log[H+] = -logKa – log
[A - ]
[HA] [A - ]
Se: - logKa = pKa e – log = log
[A ]
-
[HA]

[A - ]
Então vem que: pH = pKa + log
[HA]

[base con ju gada]


pH = pKa + log
[ácido con ju gado]
Essa é a relação conhecida como equação de Henderson-Hassel-
balch e é útil para prever as propriedades de soluções tampão utilizadas para
controlar o pH de misturas de reações.

3. Solução Tampão
Solução tampão é aquela solução que resiste a uma variação do pH quando
se adiciona ácido ou base. Consiste de uma mistura de ácido fraco de Bröns-
ted e sua base conjugada. Ex: Misturas de ácido acético e acetato de sódio
ou hidróxido de amônio e cloreto de amônio. A importância da solução tampão
está em sua capacidade de impedir mudanças bruscas de pH. Por exemplo, o
plasma sanguíneo é a solução tampão ideal para conservar os valores do pH
do sangue em 7,2 – 7,3 ± 0,2, pois fora desse intervalo não há vida.
Outro fator de importância de uma solução tampão reside no fato de
que enzimas do processo metabólico apresentam máxima ação catalítica
dentro de limites definidos de pH.
Ex: Adicionando NaOH a uma mistura de ácido acético e acetato
de potássio:
OH - + CH 3 COOH ® CH 3 COO- + H 2 O (o OH- reage com os prótons
da dissociação do ácido fraco e formam H2O).
CH 3 COOH  CH 3 COO- + H + OH  H 2 O
-

Adicionando base, há dissociação adicional do CH3COOH para dar


mais prótons, conservando a [H+] ou o pH sem variar. Adicionando ácido a
uma solução de tampão de acetato:
H + + CH 3 COO- ® CH 3 COOH

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Os prótons adicionados (HCl, por exemplo) combinam-se com o


CH3COO- presente na mistura tampão (como acetato de potássio) para for-
mar o ácido fraco não dissociado CH3COOH. Logo o pH resultante é muito
menor do que ocorreria, se a base conjugada estivesse ausente.

3.1. Eficiência ou capacidade tamponante da solução


Os fatores de eficiência de um tampão são:
•• Concentração molar dos camponentes do tampão. A capacidade tampo-
nante é diretamente proporcional à concentração molar dos componentes.
•• Relação entre concentração da base conjugada e ácido fraco. A solução
tampão mais eficiente tem: [Ácido] = [Base]

3.2. Tampões Fisiológicos


Os tampões fisiológicos dependem de vários fatores, entre os quais da concen-
tração molar dos componentes do tampão, da relação entre [base conjugada]
e [ácido fraco]. O primeiro desses fatores já exclui componentes encontrados
nos metabolismos intermediários de baixa concentração, tais como ésteres
fosfóricos da glicose, ácidos orgânicos do ciclo de Krebs e os aminoácidos
livres. Nas plantas, alguns ácidos orgânicos, como málico, cítrico e isocítrico
podem acumular-se nos vacúolos, tendo importante papel no pH da célula.
Nos animais, existe um sistema tampão complexo e vital no sangue
circulante. São componentes desse sistema:
•• CO2 – HCO3;
•• NaH2PO4 – Na2HPO4;
•• As formas oxigenada e desoxigenada da hemoglobina;
•• As proteínas plasmáticas.
O pKa do H2CO3 é igual a 6,1. No entanto, a razão entre base conju-
gada e ácido fraco é aproximadamente 20:1 no intervalo do pH do sangue:
7,35 – 7,45. Era de se esperar que esse sistema não fosse muito eficaz como
tampão. Porém H2CO3 – HCO3- é um tampão muito importante para o sangue,
pois o ácido fraco H2CO3 entra rapidamente em equilíbrio com o CO2 dissol-
vido no plasma:
H 2 CO3  CO2 dissolvido + H 2 O
O CO2 dissolvido está em equilíbrio com o CO2 da atmosfera e, depen-
dendo da pressão parcial do CO2 da fase gasosa, escapará para o ar (como
nos pulmões, onde o CO2 é expirado) ou penetrará no sangue (como nos
tecidos periféricos, onde o CO2 é produzido pela respiração das células). O

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Bioquímica

sistema tampão funciona não pela alteração da razão 20:1, mas mantendo
essa razão e aumentando ou diminuindo a quantidade total dos componen-
tes do tampão.

Fonte: http://qmc.ufsc.br/qmcweb/QMCWeb – Revista Eletrônica de Química

Outro tampão importante do sangue: Hemoglobina oxigenada: HhbO2


(Ác. Forte: pKa = 6,2) e Hemoglobina desoxigenada: HHb (pKa = 7,7). Nos
pulmões, onde a pressão parcial de O2 é maior, HHbO2 predomina em relação
à HHb, e o sangue tende a ser mais ácido.
Nos tecidos periféricos, onde a pressão parcial de O2 é mais baixa, há
predominância de HHb (pKa = 7,7) e o pH tende a aumentar. Esses efeitos são
compensados pela diminuição da concentração de CO2 dos pulmões em re-
lação à dos tecidos periféricos, os dois efeitos em conjunto são responsáveis
pela variação mínima do pH do sangue.
HHbO2  H + + HbO2- pK a = 6,2
HHb  H + + Hb - pK a = 7,7

3.3. Sistemas de Tamponamento de Importância Fisiológica


O pH da maioria dos sistemas vivos é aproximadamente 7, e o principal tam-
pão em células é o par: H2PO4- / HPO42-. No sangue, a concentração dos íons
fosfato é insuficiente para uma ação tamponante, por isto opera um sistema
tampão diferente. No pH do sangue, a maior parte do CO2 dissolvido presente
está na forma de HCO3-. O CO2, que é transportado para os pulmões para
ser expirado, encontra-se como HCO3-. HCO3-(bicarbonato) é o composto-
-tampão mais significativo no sangue. A capacidade tamponante do sangue
depende principalmente de dois equilíbrios:
1. CO2 + H2O  H2CO3 (CO2 gasoso dissolvido no sangue e ácido carbônico)
2. H2CO3  H+ + HCO3- (ácido carbônico e o bicarbonato formado pela dis-
solução de H+)
Quando o pH do sangue diminui (devido à produção metabólica de H+),
o equilíbrio entre HCO3- e H2CO3 desloca-se na direção do ácido carbônico.

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LIBERATO, M. C. T. C.; OLIVEIRA, M. S. C.

Acidose: quando o pH Ao mesmo tempo, o H2CO3 perde H2O para se tornar CO2, que é expirado dos
fica tão baixo quanto 7,1. pulmões como CO2 gasoso. Quando o pH do sangue aumenta, relativamente
O tratamento é feito com
NAHCO3 intravenoso. A mais HCO3- é formado e a respiração é ajustada de modo que quantidades
acidose ocorre nas doenças aumentadas de O2 nos pulmões possam ser reintroduzidas no sangue para
pulmonares obstrutivas. conversão em H2CO3.
Ex: Enfisema (doença que
impede a expiração eficiente
de CO2).
3.4. Distúrbios no Sistema Tamponante
Alcalose: quando o pH
Os distúrbios ácido-base são caracterizados como metabólicos e respirató-
fica tão alto quanto 7,6. A
alcalose metabólica pode ser rios. A Acidose Metabólica resulta de um aumento de produção ou acúmulo
tratada com KCl ou NaCL de ácidos ou por perda excessiva de bicarbonato, através dos rins ou do
e a alcalose respiratória
melhora com respiração de
trato intestinal. A Alcalose Metabólica resulta da administração ou do acú-
uma atmosfera rica em CO2. mulo de bicarbonato ou seus precursores, perda excessiva de ácido ou perda
A alcalose metabólica ocorre de líquido extracelular contendo mais cloreto do que bicarbonato. A Acidose
na Hiperventilação que
acelera a perda de CO2. Respiratória é causada pela ventilação diminuída e consequente retenção
de dióxido de carbono. Isso ocorre agudamente com apnéia do sono, asma
e cronicamente com a síndrome de hipoventilação da obesidade, doença
pulmonar obstrutiva crônica e certas doenças neuromusculares. A Alcalose
Respiratória resulta de ventilação aumentada e eliminação de dióxido de
carbono. Isso pode ser mediado por ansiedade, acidente vascular cerebral,
pneumonia, altas altitudes, embolia pulmonar entre outros.
Consequências Fisiológicas do Tamponamento do Sangue
O processo de respiração exerce papel importante no tamponamento
do sangue. Uma elevação na [H+] pode ser corrigido com uma elevação na
taxa de reação, pois:
a) H+ (aq.) + HCO3-(aq.)  H2CO3(aq.)
b) uma elevação [H2CO3] aumenta os níveis de CO2 dissolvido e finalmente a
quantidade de CO2(g) nos pulmões.
H2CO3 (aq)  CO2(aq) + H2O (ℓ)
CO2(aq)  CO2(g)
c) Uma elevação na taxa de respiração REMOVE o excesso de CO2
dos pulmões, iniciando um deslocamento no equilíbrio das reações
anteriores.
d) A remoção do CO2(g) diminui a quantidade de CO2 dissolvido, fazendo o
H+ reagir com HCO3: Resultado: Há diminuição na concentração de [H+] no
sangue, retornando-o ao seu nível original. Assim o pH do sangue é manti-
do constante.

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Bioquímica

Atividades de avaliação
1. Definir ácido e base segundo Brönsted.
2. Caracterizar um sistema tampão e indicar os fatores que determinam
sua eficência.
3. Definir pKa e descrever os procedimentos experimentais para determinar o
valor do pKa do ácido acético.
4. Escrever a equação de Henderson – Hasselbalch e mostrar sua utilidade na
análise de um sistema tampão.
5. Dar exemplos de tampão biológicos.
6. O tampão bicarbonato (HCO3- / H2CO3), presente no plasma em equilíbrio
com CO2, apresenta pKa igual a 6,1. Descrever o funcionamento deste sis-
tema, mostrando o efeito da adição de H+ e de CO2 sobre o pH do plasma.
7. O produto iônico da água possibilita calcular a concentração de H+ para
uma dada concentração de OH- e vice-versa; portanto responda: Qual é a
concentração de H+ em uma solução de NaOH 0,1M?
8. Qual é a concentração de OH- em uma solução na qual a contração de H+
é 0,00013 M?
9. Calcular o pKa do ácido láctico, sabendo-se que, quando a concentração
do ácido láctico é 0,010 M e a concentração de lactato é 0,087M, o pH da
solução é 4,8.
10. Calcular o pH de uma mistura que contém ácido acético 0,1M e acetato de
sódio 0,2M. O pKa do ácido acético é 4,76.
11. Calcular a relação entre as concentrações de acetato e de ácido acético
requerida para um sistema tampão com pH 5,3.

Texto complementar
Hiperventilação
Ocorre quando há uma respiração muito rápida e profunda (removendo uma tal quan-
tidade de CO2 dos pulmões que o pH do sangue sobe, levando à fraqueza e ao des-
maio). Atletas usam o aumento do pH pela hiperventilação nas corridas de 100 metros
rasos, pois alcalinizam o sangue antes da corrida com exercícios e, quando a produção
de ácido lático começa a crescer fazendo baixar o pH do sangue, não haverá um decrés-
cimo tão grande que venha a provocar dores musculares. Qualquer ácido que entre
na corrente sanguínea, eleva a [H+], logo há abaixamento do pH, ocasionando excesso

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LIBERATO, M. C. T. C.; OLIVEIRA, M. S. C.

de CO2 nos pulmões. Ex: A ingestão de altas doses de aspirina pode causar “envenena-
mento por aspirina”. A exposição a elevadas altitudes é semelhante à hiperventilação
ao nível do mar. A taxa de respiração aumenta (por causa do ar rarefeito) então mais
CO2 é removido dos pulmões abaixando a concentração de H+ no sangue e, portanto,
elevando o pH. Hipoventilação: Muitas vezes quando se está soluçando, as pessoas
alertam para segurar a respiração. O que ocorre é uma hipoventilação que provoca
aumento na [CO2] nos pulmões, resultando no abaixamento do pH.

Filmes
UMA VERDADE INCONVENIENTE – 2006 (documentário de AL Gore)

Sites
http://qmc.ufsc.br/qmcweb/

Referências
CAMPBELL, M. K.; FARREL, S. O. Bioquímica. Vol 1. São Paulo: Cengage
Learning – 2011. Tampões e Sistemas de Tamponamento de Importância Fi-
siológica são comentados no livro, no Capítulo 2.
CONN, E. E.; STUMPF, P. K. Introdução à Bioquímica. 4ª Ed. São Paulo,
Edgard Blucher, 1980. A Ionização de Ácidos Fracos e de Bases Fracas é
comentada no Capítulo 1 desse livro.
MAHAN, K.; ESCOTT-STUMP. Alimentos, nutrição & dietoterapia. 9 ed.
São Paulo: Roca, 1998. Distúrbios Ácido-Base são comentados no Capítulo 8.
VOET, D.; VOET, J. G.; PRATT, C. W. Fundamentos de Bioquímica. Porto
Alegre: Artmed, 2000. A Química Ácido-Base é comentada no Capítulo 2.

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Capítulo 2
Carboidratos

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Bioquímica

Objetivos
•• Observar a importância dos carboidratos para a vida humana.
•• Verificar a presença dos carboidratos em alimentos e vegetais.
•• Diferenciar os tipos de carboidratos.
•• Classificar os carboidratos quanto a sua estrutura.
•• Classificar os carboidratos quanto a sua função biológica.

Introdução
Os carboidratos constituem ¾ do mundo biológico e aproximadamente 80% do
aporte calórico da humanidade. A glicose é o carboidrato mais importante. É sob
essa forma que a maior parte dos carboidratos da dieta é absorvida pela corrente
sanguínea ou é em glicose que o fígado converte os outros açúcares. Também é
a partir de glicose que todos os carboidratos do organismo são formados.
Os carboidratos classificam-se em: monossacarídeos, dissacarídeos, oli-
gossacarídeos e polissacarídeos. Quando a palavra “carboidrato” foi inventada,
referia-se originalmente aos compostos com fórmula geral Cn(H2O)n. No entan-
to, somente os açúcares simples, ou monossacarídeos, encaixam-se exata-
mente nessa fórmula. Os outros tipos de carboidratos baseiam-se em unidades
de monossacarídeos e apresentam fórmulas gerais ligeiramente diferentes.
Os dissacarídeos, como os polissacarídeos, não atravessam a parede
intestinal. Só são aproveitados como fonte de energia se previamente
hidrolisados a monossacarídeos, que passam rapidamente do trato intestinal
à corrente sanguínea. Os oligossacarídeos e os polissacarídeos não hidroli-
sados passam ao largo do intestino delgado até o intestino grosso, onde exer-
cem um efeito benéfico (fibra). Os oligossacarídeos podem ser atacados pela
microflora intestinal gerando produtos metabólicos como os ácidos acético e
láctico. Em grandes quantidades têm efeito laxante podendo causar diarreia.
Os carboidratos proporcionam também texturas desejáveis, palatabili-
dade agradável, poder edulcorante. Dos polissacarídeos do mundo biológi-
co, o homem só digere amido, glicogênio e certas dextranas. O glicogênio
é semelhante à amilopectina do amido, porém mais ramificado. Constitui a
reserva energética dos animais, armazenando-se principalmente no fígado e,
em menor quantidade, no músculo.
O amido e o glicogênio começam a ser hidrolisados na boca pela ação
da α – amilase contida na saliva. Ela produz um fragmento de seis unidades

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LIBERATO, M. C. T. C.; OLIVEIRA, M. S. C.

de glicose que são também hidrolisados produzindo maltose, maltotreose e


maltotetrose. O alimento vai para o estômago e, no duodeno, ocorre uma hi-
drólise. Lá, β – amilase ataca o amido e os fragmentos da ação da α – ami-
lase, liberando unidades de maltose. A maltose é hidrolisada à glicose pela
enzima maltase e é transportada à corrente sanguínea.
Os polissacarídeos diferentes do amido e glicogênio não são hidrolisa-
dos pelas enzimas gastrointestinais passando ao intestino grosso, mais ou
menos intactos. São eles: celulose, hemicelulose e pectina das paredes vege-
tais. Eles facilitam a passagem do bolo fecal através do sistema digestivo. A
eliminação rápida de produtos não absorvidos evita o aparecimento de condi-
ções propícias ao desenvolvimento de câncer, ajudam a diminuir o colesterol
do sangue e retardam o aparecimento de arterioscleroses. Carboidratos dige-
ríveis proporcionam aproximadamente 4 Kcal/g, energia equivalente à propor-
cionada por 1g de proteína e inferior às 9Kcal/g dos lipídeos.

Quadro 1

Dissacarídeos
Açúcar Fonte Significado Clínico
Digerido pela amilase ou hidrólise do amido. Cereais e malte
Maltose
em germinação.
Na deficiência de lactase. A má absorção
Lactose Leite. Pode ocorrer na urina durante a gravidez.
provoca diarreia e flatulência.
Na deficiência da sacarase. A má absorção
Sacarose Açúcar de cana e beterraba. Sorgo. Abacaxi. Raiz de cenoura.
provoca diarreia e flatulência.
Trealose1 Fungos e leveduras. Principal açúcar da hemolinfa de insetos.
α–D–glicopiranosil-(1→1)-α–D–glicopiranósido.

Quadro 2

Pentoses de importância fisiológica


Açúcar Fonte Importância bioquímica Significado clínico
Elementos estruturais dos ácidos nucleicos e
coenzimas, p. ex., ATP, NAD, NADP, flavoproteínas.
D-Ribose Ácidos nucleicos
As ribose-fosfatos são intermediárias da via das
pentoses-fosfato.
Formada nos processos A ribulose-fosfato é um intermediário da via das
D-Ribulose
metabólicos pentoses-fosfato.
Goma arábica. Gomas da
D-Arabinose Constituinte das glicoproteínas.
ameixa e da cereja.
Gomas de madeiras, proteo-
D-Xilose Constituinte de glicoproteínas.
glicanas, glicosaminoglicanas.
Constituinte de uma lixoflavina isolada do múscu-
D-Lixose Músculo cardíaco.
lo cardíaco humano.
Intermediário da via do ácido
L-Xilulose Encontrada na urina
urônico.

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Bioquímica

Quadro 3
Hexoses de importância fisiológica
Açúcar Fonte Importância bioqímica Significado clínico
Sucos de frutas. Hidrólise do É o açúcar do organismo. O açúcar Presente na urina (glicosúria) no diabetes
D-Glicose amido, do açúcar de cana, da transportado pelo sangue, e o principal mellitus devido ao aumento da glicose
maltose e da lactose. usado pelos tecidos. sanguínea (hiperglicemia).
Sucos de frutas. Mel. Hidrólise do
Pode ser transformada em glicose no fígado e Intolerância hereditária a frutose conduz
D-Frutose açúcar de cana e da inulina (da
assim usada no organismo. ao acúmulo de frutose e hipoglicemia.
alcachofra de Jerusalém).
Pode ser transformada em glicose no fígado e
A falha na metabolização conduz à
D-Galactose Hidrólise da lactose. metabolizada. Sintetizada na glândula mamá-
galactosemia e à catarata.
ria para formar a lactose do leite.

Quadro 4
Carboidratos Fontes Prod. finais da digestão Observação
Polissacarídeos indigeríveis
1. Celulose Talos e folhas de vegetais. Camada externa de -
2. Hemicelulose revestimento de grãos. -
3. Pectinas Frutas -
4. Gomas e mucilagens Sementes e secreções vegetais -
5. Subst. deriva-das de algas Plantas marinhas e algas -
Polissacarídeos parcialmente digeríveis
1. Inulina Alcachofra, cebola, alho, cogumelos. Frutose
2. Galactógenos Escargot Galactose

3. Manoses Leguminosas Manose


Glicose, frutose e ga-
4.Rafinose Açúcar de beterraba, feijão, feijão branco, lentilhas
lactose
5. Estaquiose Feijão Pentoses
6.Pentosanas Frutas e gomas -
Polissacarídeos digeríveis
Grão; vegetais (especialmente leguminosas e
1. Amido e dextrinas Glicose
tubérculos)
2. Glicogênio Produtos de carne e frutos do mar. Glicose
Dissacarídeos e Oligossacarídeos
Açúcar de cana e beterraba, melaço e xarope de
1. Sacarose Glicose e Frutose
bordo
2. Lactose Leite e derivados Glicose e Galactose
Não aparece em alimentos;
3. Lactulose Produtos sintéticos Não metabolizados é sintético, não digerível e é
usado como laxativo.
4. Maltose e Maltotriose Produtos do Malte; alguns cereais matinais Glicose

5. Trealose Cogumelos, insetos, leveduras Glicose

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Prod. finais da
Carboidratos Fontes Observação
digestão
Monossacarídeos
Frutas, mel, xarope de milho Em frutas e vegetais, as concentra-
1. Glicose
Frutas, vegetais e produtos dieté- Glicose ções de glicose e frutose dependem
Sorbitol*
ticos do amadurecimento da espécie e do
2. Frutose Frutas e mel Frutose estado de preservação.

3.Galactose - Galactose
- Esses monossacarídeos não ocorrem
4.Manose na forma livre no alimento.
Abacaxi, azeitona, aspargos, batata- Manose
Manitol*
-doce, cenoura e produtos diet
Pentoses

1. Ribose - Ribose
Ribose, Xilose e Arabinose não ocorrem
Frutas, vegetais, cereais, cogumelos, na forma livre nos alimentos. São
2. Xilose
frutos do mar, gomas de mascar die- Xilose derivados de pentosanas de frutas, dos
Xilitol*
téticas e outros produtos dietéticos ácidos nucleicos de produtos da carne
e frutos do mar.
3.Arabinose - Arabinose

Derivados de Carboidratos

1. Álcool Etílico Licores fermentados


Absorvidos nessa São produtos da quebra natural ou
2. Ácido Láctico Leite e produtos lácteos
forma induzida de carboidratos.
3. Ácido Málico Frutas

Os carboidratos têm função estrutural por causa do DNA e RNA. Têm


função relacionada aos receptores de membranas, que são de natureza glico-
proteicas. Sua fórmula geral é Cn(H2O)n = CnH2nOn.

Fotossíntese
A fotossíntese é o processo pelo qual a energia luminosa é transformada em
energia química. A equação geral da fotossíntese é:
6 CO2 + 6 H2O ® C6H12O6 + 6O2 ∆G0’ = + 2.870 kJ. mol-1
Como quase todos os organismos que não fazem fotossíntese depen-
dem da energia química presente nos compostos produzidos pelos seres fo-
tossintetizadores, pode-se dizer que toda a energia consumida pelos sistemas
biológicos deriva primariamente da energia solar. A equação da fotossíntese é
exatamente o inverso da equação de oxidação total da glicose que ocorre em
todas as células aeróbias:
C6H12O6 + 6O2 ® 6 CO2 + 6 H2O ∆G0’ = - 2.870 kJ. mol-1

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Bioquímica

Porém é incorreto afirmar que a fotossíntese é um processo inverso


ao da respiração, definida como comumente como a oxidação da glicose a
CO2 e H2O.

1. Monossacarídeos, Dissacarídeos, Oligossacarídeos


e Polissacarídeos
Os monossacarídeos são incapazes de serem hidrolisados a uma forma mais
simples. Os dissacarídeos podem ser hidrolisados, dando duas moléculas de
monossacarídeos. Os carboidratos conhecidos como monossacarídeos são as
Hexoses (Açúcares com 6C) e as Pentoses (açúcares com 5C). Os oligossa-
carídeos produzem de 3 a 10 unidades de monossacarídeos, enquanto os po-
lissacarídeos produzem de 10 a 10.000 ou mais unidades de monossacarídeos.

1.1. Monossacarídeos
Os monossacarídeos podem ser poliidroxialdeídos (aldose) ou poliidroxice-
tonas (cetose). Os monossacarídeos mais simples possuem três átomos de
carbono. São as trioses. O gliceraldeído é a aldose com três carbonos (uma
aldotriose), e a diidroxiacetona é a cetose com três carbonos (uma cetotriose).
Aldoses que possuem 4, 5, 6, e 7 átomos de carbono são chamadas aldotetro-
ses, aldopentoses, aldoexoses e aldoeptoses, respectivamente e as cetoses
correspondentes são cetotetroses, cetopentoses, cetohexoses e cetohepto-
ses. Os açúcares com seis carbonos são os mais abundantes na natureza,
porém dois açúcares com cinco carbonos, a ribose e a desoxirribose, estão
presentes nas estruturas de RNA e DNA, respectivamente. Açúcares com 4
e 7 carbonos têm importantes papéis na fotossíntese e em vias metabólicas.
Algumas moléculas não podem ser superpostas em suas imagens es-
peculares. Essas imagens são isômeros ópticos (estereoisômeros) umas das
outras. Um átomo de carbono quiral (assimétrico) é o objeto da isomeria óp-
tica. O carboidrato mais simples, que contém um carbono quiral, é o gliceral-
deído, podendo existir em duas formas isoméricas que são imagens especu-
lares uma da outra. Elas são designadas D-gliceraldeído e L-gliceraldeído. Os
estereoisômeros de imagem especular são também chamados enantiômeros.
Os dois enantiômeros do gliceraldeído são os únicos estereoisômeros
possíveis nos açúcares de três carbonos, mas as possibilidades aumentam
conforme as estruturas possuam mais átomos de carbono. Para mostrar as
estruturas das moléculas resultantes, é preciso usar-se a perspectiva bidimen-
sional da estrutura molecular, denominada método de projeção de Fischer.
Nesse método, as ligações escritas “verticalmente” no papel, que é bidimen-
sional, representam as ligações direcionadas para trás do papel, se forem

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consideradas três dimensões, ao passo que as ligações escritas “horizontal-


mente” representam as ligações direcionadas para a frente do papel. A desig-
nação da configuração como L ou D depende do arranjo do carbono quiral
com número mais alto.

Estereoisômeros de imagens não-especulares e que não podem ser


sobrepostos são chamados diastereoisômeros. São chamados epímeros
os diasteroisômeros que diferem uns dos outros na configuração em somente
um C quiral. Ex: D – eritreose e D – treose; α – D – galactose e α – D – glicose
e α – D – Manose. A maioria dos açúcares importantes encontrados na natu-
reza possui a configuração D, baseada no D-gliceraldeído.

Fonte: Wikipédia.org

Açúcares especialmente os que possuem cinco ou seis carbonos exis-


tem normalmente como moléculas cíclicas ao invés das cadeias abertas. A
ciclização é resultante da interação entre os grupos funcionais em carbonos

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Bioquímica

distantes, como C-1 e C-5, para formar um hemiacetal cíclico (em aldoexo-
ses). Outra possibilidade é a formação de um hemicetal cíclico (em cetoe-
xoses) através da interação entre C-2 e C-5. Em ambos os casos, o carbono
carbonílico torna-se um novo centro quiral chamado carbono anomérico. O
açúcar cíclico pode assumir qualquer uma das duas formas diferentes α e β,
e são chamados anômeros um do outro.
Além das fórmulas de projeção de Fischer, existem também as fórmulas
de projeção de Haworth que representam mais precisamente o formato nas
moléculas cítricas com cinco ou seis membros. O anel de cinco membros é
chamado furanose, e o de seis, piranose.

D-Glucose (Está presente em frutas, mel, milho e raízes). É armazena-


da no fígado e nos músculos, como o glicogênio.

D- Frutose (Levulose ou açúcar da fruta. Está presente em mel e frutas).


Galactose: Não é encontrada na forma livre na natureza. É produzida a
partir da lactose (açúcar do leite) por hidrólise no sistema digestório.

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LIBERATO, M. C. T. C.; OLIVEIRA, M. S. C.

a) Reações dos Monossacarídeos


Reações de Oxidorredução
Essas reações dos açúcares são fundamentais na bioquímica. A oxidação
dos açúcares é responsável pelo fornecimento de energia para que os pro-
cessos vitais dos organismos sejam realizados.

Reações de Esterificação
Os grupos hidroxila dos açúcares podem reagir com ácidos e derivados para
formar ésteres. Os ésteres de fosfato são muito importantes por serem inter-
mediários na degradação de carboidratos para fornecer energia.

Formação de Glicosídeos
Ocorre a formação de glicosídeos quando um grupo hidroxila de açúcar ligado
a um carbono anomérico reage com outra hidroxila formando uma ligação gli-
cosídica. Essa ligação não é um éter, pois os glicosídeos podem ser hidrolisa-
dos aos alcoóis originais. As ligações glicosídicas entre monossacarídeos são
a base para a formação de dissacarídeos, oligossacarídeos e polissacarídeos.
Diferentes formas estereoquímicas são possíveis em ligações glicosídicas, com
importantes consequências para a função das substâncias assim formadas.

1.2. Dissacarídeos
São formados pela união de dois monossacarídeos por ligações glicosídicas.
Os mais importantes são: sacarose, lactose e maltose. A sacarose é formada
por α - D- Glicose + α – D- Frutose. É o açúcar de uso comum. Está presente
na cana de açúcar, açúcar de beterraba, melaço, xarope de bordo, xarope de
milho, açúcar de bordo, frutas, vegetais e mel. A lactose, o açúcar presente no
leite, é um dissacarídeo formado por β – D- lactose e D- glicose. A galactose é
um epímero C-4 da glicose. A maltose é um dissacarídeo obtido da hidrólise do
amido, consistindo em dois resíduos de D-glicose. A levedura, especialmente
a da cerveja, contém enzimas que hidrolisam o amido no broto da cevada
(malte), primeiro em maltose e depois em glicose, que é fermentada na pre-
paração da cerveja.
•• Sacarose: Hidrolisada por enzimas digestivas ou fervida com ácido, dando
partes iguais de glicose + frutose. Esta mistura se chama açúcar invertido
(pois a enzima envolvida é a invertase) e causa cárie dentária. Ao contrário
de hiperatividade, o consumo de carboidrato aumenta a produção de sero-
tonina que traz um efeito sedativo ao sistema nervoso.

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Bioquímica

•• Maltose: Açúcar do malte. Não é encontrado livre na natureza. É produzida


durante a digestão, por enzimas que quebram grandes moléculas de amido
em fragmentos de dissacarídeos, que podem ser quebrados em duas mo-
léculas de glicose para facilitar a absorção. Isto ocorre na natureza. Quan-
do a semente de um grão de cereal brota, suas enzimas convertem o grão
em maltose. Ex.1: Malte da cevada usado como adoçante. Ex.2: Fabrica-
ção da cerveja: o amido é hidrolisado pela diástase, uma enzima obtida de
grãos germinantes.
•• Lactose: Açúcar do leite. Não existe em vegetais. Está limitada quase que
exclusivamente às glândulas mamárias de animais lactentes. Por hidrólise dá:
galactose + glicose. Problemas com esse açúcar: 1 - Pessoas com ausência
da enzima lactase, não fazem uma hidrólise eficiente. 2 – Crianças pequenas
nascidas sem a enzima do fígado que converte galactose em glicose.

a) Polihidróxiálcoois ou Poliálcoois
Os polihidróxiálcoois ou poliálcoois inibem uma elevação rápida de açúcar
no sangue.
São usados em produtos para pes-
Sacarose ® forma alcoólica: Sorbitol soas incapazes de tolerar grandes
ingestões de açúcar, pois são absor-
Manose ® forma alcoólica: Manitol
vidos mais lentamente no trato diges-
Xilose ® forma alcoólica: Xilitol tório e, portanto, inibem uma eleva-
ção rápida do açúcar no sangue.

•• Sorbitol: É naturalmente encontrado em frutas. Tem poder adoçante igual


ao da glicose. É bem absorvido e tem o mesmo valor energético da glicose.
•• Manitol: Existe nas frutas, é precariamente digerido, produz metade das
calorias da glicose, por grama.
•• Xilitol: Absorvido apenas 1/5 tão rápido quanto a glicose. É usado em go-
mas de mascar sem açúcar porque as bactérias cariogênicas são incapa-
zes de usá-lo como substrato.

sacarose

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LIBERATO, M. C. T. C.; OLIVEIRA, M. S. C.

Mel de Abelhas
O néctar da flor que contém
sacarose é levado pela
abelha para a colmeia.
No favo, a abelha envolve
o néctar com a enzima
invertase que hidrolisa a
maioria da sacarose em lactose
glicose e frutose. Após várias
horas de evaporação, o mel Figura 2 – Moléculas de Dissacarídeos
amadurecido e concentrado
é armazenado em células
seladas. A doçura do mel b) Adoçantes Alternativos
varia com a concentração
dos açúcares e grau de São mais doces que os açúcares naturais. São digeridos ou absorvidos. Não
cristalização. Vitaminas e têm valor nutritivo.
minerais aparecem como
quantidades traços. A
absorção entre açúcar e mel 1.3. Polissacarídeos
é quase igual. As diferenças
entre mel e açúcar de mesa Os polissacarídeos de interesse são: amido, dextrina, glicogênio. São menos
estão no fato de o mel
conter, além de maior teor de solúveis e mais estáveis que os açúcares mais simples. O amido e o glicogê-
frutose, outros componentes nio são geralmente completamente digeríveis.
minoritários, como vitaminas,
compostos fenólicos, •• Amido: é encontrado apenas em vegetais, em ambas as formas: a) Amilose
flavonoides, minerais, entre - que possui cadeias retas e longas de unidade de glicose; b) Amilopectina
outros. A frutose no sangue
- que possui cadeias ramificadas de unidades de glicose. Os grânulos de
é principalmente convertida
em glicogênio no fígado, um amido de vários tamanhos e formas estão encerrados dentro das células do
processo que não precisa vegetal pelas paredes de celulose. Características do amido: 1. Os grânulos
de insulina. Porém, o alto
conteúdo de glicose faz
são insolúveis em H2O fria; 2. O cozimento causa o intumescimento dos grâ-
do mel um alimento que nulos e a mistura se torna um gel; 3. O cozimento edemacia e rompe a célu-
deve ser controlado para la para deixar o amido disponível para os processos digestivos enzimáticos.
diabéticos, não insulino-
dependentes. •• Amido Alimentar Modificado (amido resistente à ação das enzimas):
É agente espessante usado em alimentos preparados comercialmente,
como molhos de saladas, recheios de tortas, sopas enlatadas, caldos, pu-
dins enlatados e alimentos para bebês. A modificação permite a retenção
de propriedades espessantes desejáveis, perdidas no amido comum após
esfriamento e estocagem.

•• Dextrina: Produtos intermediários que ocorrem na hidrólise do amido. São


formadas durante a digestão e também como resultado de uma variedade

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Bioquímica

de processos comerciais que usam ácidos, enzimas ou calor seco. Dimi-


nuindo em tamanho, as moléculas dos sacarídeos vão aumentando em
solubilidade e doçura. Aplicações comerciais: em xarope de milho (rico em
dextrinas). Dextrose: É a glicose produzida pela hidrólise de amido de milho.
•• Glicogênio: Forma de armazenamento de carboidratos em humanos e
animais. É a primeira e a mais prontamente disponível fonte de glicose e
energia. Consiste de: cadeias ramificadas de unidades de glicose seme-
lhantes àquelas do amido de vegetal. (~ 340g de glicogênio é armazenado
no fígado e nos músculos). As pequenas quantidades de glicogênio nos
alimentos animais são convertidas em ácido láctico antes de estarem dis-
poníveis para o consumo.
•• Celulose e Hemicelulose: Constituem a estrutura celular dos vegetais.
A C celulose lembra o amido, pois contém muitas moléculas de glicose
em forma não ramificada parecida com a amilose, porém unidas de uma
forma que não são hidrolisadas pelas enzimas que hidrolisam o amido. É
encontrada apenas em vegetais: polpa de frutas e vegetais, peles, talos,
folhas, cobertura externa de grãos, nozes, sementes e leguminosas. As
hemiceluloses são polissacarídeos não celulósicos. Diferem das celuloses
na estrutura, pois têm menos unidades de glicose. Podem consistir de he-
xoses, pentoses e formar ácidos destes compostos. Os produtos de fibra
sintéticos, como a metilcelulose e a carboximetilcelulose, são usados em
laxativos, assim como na produção de alimentos de baixas calorias devido
a sua propriedade de produzir volume e sociedade.

•• Pectina: Polissacarídeo, não celulósico, constituído de unidades de um


derivado de galactose. Como absorve H2O e forma um gel, é usada para
fazer geleias e gelatinas. É encontrada em maçãs, frutas cítricas, moran-
gos e outros.
•• Gomas e Mucilagens: São semelhantes à pectina, exceto pelo fato de
que as unidades de galactose estão combinadas a outros açúcares (glico-
se) e polissacarídeos, encontrados em secreções vegetais ou sementes
e são adicionadas a alimentos processados para conferir propriedades ou
qualidades específicas.

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•• Polissacarídeos de algas: São encontrados em frutos do mar e algas.


Ex.: carragenina, adicionada como agente espessante e estabilizante em
muitos produtos alimentares processados.

Atividades de avaliação
1. Defina os seguintes termos:
a) polissacarídeo; b) furanose; c) piranose; d) aldose; e) cetose; f) ligação
glicosídica; g) oligossacarídeo; h) glicoproteína.
2. Citar exemplos de polissacarídeos estruturais e de reserva.
3. Descrever a estrutura do glicogênio e indicar a porção da molécula que
sofre alongamento ou encurtamento.
4. Quais são as principais diferenças entre as paredes celulares das plantas
e das bactérias?
5. Como a quitina se difere da celulose em estrutura e função?
6. Como o glicogênio se difere do amido em estrutura e função?
7. Que são epímeros? Exemplifique.
8. O poliálcool mais frequentemente usado em chiclete e em doces dietéticos
é o α-sorbitol. Boa parte desse álcool é obtido pela redução da D-glicose.
Compare essas duas estruturas e explique o modo pelo qual isso pode
acontecer.
9. Qual é a base metabólica para a observação de que muitos adultos não
podem ingerir grandes quantidades de leite sem ter dificuldades gástricas?
10. Qual é o benefício das fibras na alimentação?
11. Pesquise e indique resumidamente o papel das glicoproteínas como deter-
minantes antigênicos para os grupos sanguíneos.

Texto complementar
Intolerância à lactose
Mais de 75 % dos adultos do mundo inteiro sofrem com a intolerância à lactose. Isso
ocorre especialmente em certas raças. Por exemplo: até 90% dos adultos com ascen-
dência africana ou asiática são deficientes em lactase sendo, portanto, menos capa-
zes de metabolizar lactose que os indivíduos originários do norte da Europa. O meca-
nismo pelo qual a enzima é perdida com a idade não está claro, mas é determinado

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Bioquímica

geneticamente e representa uma redução na quantidade da proteína enzimática, e


não uma enzima modificada e inativa. O tratamento para esse distúrbio é a redução
do consumo de leite passando a ingerir iogurtes e queijos, além de comer vegetais
verdes como brócolis, de modo a assegurar a ingestão adequada de cálcio, usar pro-
dutos com adição de lactase ou ingerir a lactase em comprimidos antes das refeições
(Champe, Harvey, Ferrier, 2009, p. 88).

Sites
http://www.quimica2000.cjb.net/

Referências
CAMPBELL, M. K.; FARREL, S. O. Bioquímica. Vol. 3. São Paulo: Thomson
Learning, 2008. Monossacarídeos, Dissacarídeos, Oligossacarídeos são co-
mentados no Capítulo 16.
CHAMPE, P. C.; HARVEY, R. A.; FERRIER, D. R. Bioquímica Ilustrada.
4ª Ed. – Porto Alegre: Artmed, 2009. O Capítulo 7 da Unidade II expõe so-
bre Carboidratos.
LIBERATO, M. C. T. C. Estudo Químico e Bioprospecção de Produtos da
Abelha Apis mellifera L. do Estado do Ceará. Tese. (Doutorado em Biotecno-
logia) – Universidade Estadual do Ceará – Renorbio. Fortaleza. 2011. O assun-
to Mel e os monossacarídeos nele contidos são abordados exaustivamente.
MAHAN, K.; ESCOTT-STUMP. Alimentos, nutrição & dietoterapia. São
Paulo: Roca, 2005. Na Parte I, que trata dos Princípios Nutricionais, no Capí-
tulo 3, são apresentados tópicos relativos aos carboidratos.

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Capítulo 3
Lipídeos

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Bioquímica

Objetivos
•• Conhecer as macromoléculas estruturais e de revestimento, que são as
gorduras, chamadas quimicamente de lipídeos.
•• Conhecer os tipos de lipídeos e onde são encontrados no nosso organis-
mo e ainda os principais alimentos que contêm grande quantidade des-
sas moléculas.
•• Classificar os vários tipos de lipídeos.
•• Aprender as funções dos lipídios, em animais e vegetais.
•• Observar a localização celular dos diversos lipídeos.
•• Estudar a funções do colesterol e das vitaminas lipossolúveis, suas
transportadoras.
•• Aprender sobre a deficiência das proteínas e as doenças relacionadas.

Introdução
Os lipídeos são compostos que ocorrem na natureza. Pode-se também defini-los
como moléculas orgânicas naturais isoladas de células e tecidos por extração
com solventes orgânicos não polares. As características que melhor definem os
lipídeos estão relacionadas com sua solubilidade, pois são relativamente inso-
lúveis na água e são solúveis nos solventes não polares, tais como o éter, o
clorofórmio e o benzeno. Gorduras e óleos são lipídeos típicos em termos de
solubilidade, mas esse fato não define realmente sua natureza química.
Químicamente, pode-se dizer que o lipídeo é uma mistura de compos-
tos que compartilham algumas propriedades com base em semelhanças es-
truturais, principalmente uma preponderância de grupos apolares. Uma classi-
ficação que se relacione com a sua natureza química poderia ser aquela que
encaixa os lipídeos em dois grupos principais.
O primeiro grupo consiste em compostos de cadeia aberta com grupos
de cabeça polar e longas caudas apolares, e inclui os ácidos graxos, os triacil-
gliceróis, os esfingolipídeos, os fosfoacilgliceróis e os glicolipídeos. O segundo
grupo principal consiste em compostos de anéis fundidos (cadeias cíclicas),
os esteroides, sendo um importante representante desse grupo o colesterol.
Também é possível classificar os lipídeos como simples e complexos. Nes-
se caso, são chamados Lipídeos simples os ésteres que, por hidrólise total dão
origem somente a ácidos graxos e alcoóis. Podem ser: 1. Gorduras e Óleos, que

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são ésteres de ácidos graxos com o glicerol. São denominados triacilgliceróis


(TAG). 2. Ceras que são ésteres de ácidos graxos com álcoois monohidroxílicos
de pesos moleculares mais elevados e geralmente de cadeia linear.
Os Lipídeos complexos (ou lipídeos compostos) são os ésteres de áci-
dos contendo outros grupos além de álcoois e de ácidos graxos, como 1.
Fosfolipídeos (ou Fosfatídeos) que são lipídeos que contêm, além de ácidos
graxos e um álcool, um resíduo de ácido fosfórico e, frequentemente, têm
bases nitrogenadas e outros substituintes, como nos glicerofosfolipídeos, o
álcool é o glicerol e, nos esfingolipídeos, o álcool é a esfingosina. 2. Glicoli-
pídeos (Glicoesfingolipídeos), que são lipídeos que contêm um ácido graxo,
esfingosina e carboidrato.
Outros Lipídeos Complexos são lipídeos tais como Sulfolipídeos (con-
têm enxofre) e Aminolipídeos (contêm grupos amino). As lipoproteínas tam-
bém podem ser enquadradas nesta categoria, bem como os Precursores e
derivados de lipídeos que são obtidos na sua maioria por hidrólise dos lipídeos
simples e composto. Incluem: ácidos graxos, glicerol, esteroides, alcoóis, além
do glicerol e esteróis, aldeídos graxos e corpos cetônicos, hidrocarbonetos,
vitaminas lipossolúveis, hormônios e pigmentos.

1. Ácidos graxos
São ácidos carboxílicos alifáticos. São considerados compostos anfipáticos
porque o grupo carboxila é hidrofílico e a cauda de hidrocarboneto é hidrofó-
bica. Ocorrem como ésteres nas gorduras naturais e nos óleos. Neste caso,
geralmente, têm cadeia linear e número par de átomos de carbono. Podem ter
cadeia saturada ou insaturada.
As propriedades físicas e fisiológicas dos ácidos graxos dependem do
comprimento da cadeia e do grau de insaturação. Ex.: Os pontos de fusão dos
ácidos graxos, com o nº. par de átomos de carbono, aumentam com o au-
mento do comprimento da cadeia e diminuem com a insaturação. Os ácidos
graxos possuem cadeias retas de hidrocarboneto terminando em um grupo
carboxila de um lado e um grupo metila no outro.
A maioria das cadeias dos ácidos graxos tem entre 4 e 22C, com aque-
les de 16 e 18 carbonos, ou ácidos graxos de cadeia longa, sendo os de maior
prevalência. No organismo, os ácidos graxos são uma parte importante dos
Fosfolipídeos nas Membranas Celulares. Os ácidos graxos são classificados
pelo nº de C, pela posição da 1ª dupla ligação e pelo nº de duplas ligações.
A localização da 1ª dupla ligação, contada a partir da terminação metila do
Ácido Graxo, é designada pelo nº ω (ômega).
Ex.: Ácido Linoleico: ω–6 (ômega-6) 18:2. Ou seja: possui 18C, 2 duplas,
sendo a 1ª dupla no C6 contado a partir do CH3.

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Bioquímica

1.1. Ácidos graxos saturados


Contêm o nº máximo de H que a cadeia pode suportar. Estão concentrados
em certos alimentos animais (carnes bovina, frango, porco, laticínios) e ali-
mentos vegetais (palmeira, semente de palmeira e óleo de coco). O nível de
saturação determina a consistência da gordura à temperatura ambiente.
Em geral, quanto > a cadeia, mais saturada ela é e mais dura a gordura de
coco será em temperatura ambiente. Exceção: óleo de coco (altamente satura-
do e líquido à temperatura ambiente por causa da prevalência ou predominância
dos Ácidos Graxos de cadeia curta; menos que seis átomos de carbonos.

1.2. Ácidos graxos monoinsaturados


Contêm apenas uma dupla ligação. Ex.: ácido oleico (presente em azeite de
oliva, óleo de canela, óleo de amendoim, amendoins, nozes pecãs, amêndoas
e abacates). No organismo, o ácido oleico é formado pelo estearato através
da ação da enzima dessaturase. Os ácidos graxos monoinsaturados podem
desempenhar um papel no tratamento do diabetes.

1.3. Ácidos graxos trans


A maior parte dos ácidos graxos monoinsaturados nos alimentos ocorre na
forma cis, significando que os H estão do mesmo lado da dupla ligação. No
processamento dos alimentos, os ácidos graxos trans são formados quando
se adiciona H2 a óleos líquidos para torná-los semi-sólidos e mais estáveis. As

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LIBERATO, M. C. T. C.; OLIVEIRA, M. S. C.

fontes de ácidos graxos trans na dieta são margarina dura, gordura, frituras,
produtos de panificação ricos em gorduras e lanches salgados.

1.4. Ácidos graxos saturados


Quadro
ÁCIDOS GRAXOS SATURADOS
Nome Número de
comum átomos de C
Fórmico1 1 Toma parte no metabolismo de unidades “C1” (formato).
Acético 2 Principal produto final da fermentação de carboidratos por organismos do rúmen2.
Propiônico 3 Um produto final da fermentação de carboidratos por organismos do rúmen2.
Butírico 4
Em certas gorduras em pequenas quantidades (especialmente manteiga). Um produto
Valérico 5
final da fermentação de carboidratos por organismos do rúmen2.
Capróico 6
Caprílio
8
(octanóico) Em pequenas quantidades em muitas gorduras (incluindo manteiga), especialmente
Cáprico aquelas de origem vegetal.
10
(Decanoico)
Láurico 12 Espermacete, canela, cerne da palmeira, óleos de coco, manteiga.
Mirpistuco 14 Noz moscada, cerne da palmeira, óleos de coco, mirta.
Palmítico 16
Comum em todas as gorduras animais e vegetais.
Esteárico 18
Araquídico 20 Óleo de amendoim (araquis).
Beênico 22 Sementes.
Lignocérico 2
24 Cerebrosídeos, óleo de amendoim.
1
Rigorosamente, não é um derivado alquílico.
2
Também formado no cecum de herbívoros e em menor quantidade no cólon humano.

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Bioquímica

1.5. Ácidos graxos insaturados

Podem ser: Monoinsaturados, Poliinsaturados, Eicosanóides


Quadro
ÁCIDOS GRAXOS INSATURADOS DE IMPORTÂNCIA FISIOLÓGICA E NUTRICIONAL
Número de átomos de C e número
Séries Nome comum Nome sistemático Ocorrência
e posição das duplas ligações
Ácidos monoenóicos (uma dupla ligação)
16:1;9 ω7 Palmitoléico Cis-9-Hexadecenóico Em quase todas as gorduras.
18:1;9 ω9 Oleico Cis-9-Octadecenoico Principalmente o ácido graxo mais comum nas gorduras naurais.
18:1;9 ω9 Elaídico trans-9-Octadecenoico Gorduras hidrogenadas e de ruminantes.
22:1;13 ω9 Erúcico Cis-13-Docosenoico Óleos de sementes de coiza e mostarda.
24:1;15 ω9 Nervônico Cis-15-Tetracosenoico Nos cerebrospideos.
Ácidos dienoicos (2 duplas ligações)
18:2;9,12 ω6 Linoleico Todo-cis-9, 12-Octadecadienóico Milho, amendoim, algodão, soja, muitos óleos de plantas.
Ácidos trienóicos (3 duplas ligações)
todo-cis-6,9,12- Algumas plantas, p.ex., óleo de prímula da tarde; ácidos graxos
18:3;6,9,12 ω6 y-Linolênico
Octadecatrienoico menores em animais.
todo-cis-9,12,15- Frequentemente, encontrado com o ácido linoleico, porém
18:3;9,12,15 ω3 α-Linolênico
Octadecatrienoico particularmente no óleo de linhaça.
Ácidos tetraenóicos (4 duplas ligações)
todo-cis-5,8,11,14- Encontrado em gorduras animais e no óleo de amedoim;
20:4;5,8,11,14 ω6 Araquidôni-co
Eicosatetraenoico importante componente de fosfolipídeos dos animais.
Ácidos graxos insaturados de importância fisiológica e nutricional
Número de átomos de C e número
Séries Nome comum Nome sistemático Ocorrência
e posição das duplas ligações
todo-cis-5,8,11,14,17 – Importante componente de óleos de peixes, p.ex., óleo de fígado
20:5;5,8,11,14,17 ω3 Trimnodôni-co
Eicosatetraenoico de bacalhau, cavala, arenque e salmão.
todo-cis-7,10,13,16,19 –
22:5;7,10,13,16,19 ω3 Clupanodô-nico Óleo de peixe, fosfolipídeos do cérebro.
Docosapentaenoico
Ácidos hexaenoicos (6 duplas ligações)
todo-cis-5,8,11,14-
22:6;4,7,10,13,16,19 ω3 Cervônico Óleos de peixe, fosfolipídeos do cérebro.
Docosahexaenoico

1.6. Ácidos graxos incomuns


Os ácidos graxos incomuns contém nº. ímpar de átomos de carbono. Ex.:
ácido margárico, ácido malválico.

1.7. Ácidos graxos essenciais


Os ácidos graxos essenciais produzem efeitos especiais no organismo vivo.
Não podem ser produzidos pelo organismo humano. Devem ser administra-
dos pelos alimentos. Exemplo: o ácido linoleico é transformado pelo organismo
no ácido araquidônico (4 vezes mais insaturado e com 20 carbonos). O ácido

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araquidônico é o ácido graxo verdadeiramente “essencial” para o organismo


humano. O Ácido Linoleico (ω–6) e o Ácido α – Linolênico (ω–3) são os dois
ácidos graxos essenciais na dieta porque previnem sintomas de deficiência e
não podem ser sintetizados pelos seres humanos.
Esses dois Áci-
dos Graxos são os compostos de origem para os outros ácidos graxos biologi-
camente ativos. O Ácido Linoleico, através da ação das enzimas dessaturase,
pode ser convertido em Ácido α – Linolênico e Ácido Araquidônico, e ambos
podem desempenhar uma função no início do desenvolvimento cerebral. O
Ácido Araquidônico pode prevenir a dermatite encontrada na deficiência de
Ácido Graxo Essencial; portanto, tem atividade parcial de ácido graxo essen-
cial. Devido ao fato do Ácido Araquidônico ser sintetizado a partir do Ácido
Linoleico, ele se torna essencial, se a dieta for deficiente em Ácido Linoleico.
Na família do ω–3, o Ácido docosaexaenóico (DHA, C22: 6 ω–3), de-
sempenha uma função principal no funcionamento da retina e desenvolvimen-
to cerebral, e acredita-se hoje que seja essencial para bebês. Essas famílias
de Ácidos Graxos são também precursoras dos eicosanoides (prostaglandi-
nas, tromboxanos e leucotrienos), compostos como hormônios, que ajudam
no controle da pressão sanguínea, frequência cardíaca, dilatação vascular,
coagulação sanguínea, lipólise e resposta imunológica.
Cada família dá origem a uma série diferente de eicosanoides. Ex.: Áci-
do Araquidônico (família ω–6) é precursor de Prostaglandina, Tromboxano A2,
que causa agregação plaquetária, formação de coágulo e vasoconstrição.
Em contraste, os Ácidos Graxos ω–3 favorecem a produção de prostaciclinas
(que têm efeitos opostos, isto é, previnem a formação de coágulo e causam
vasodilatação). Também inibem a enzima dessaturase, que diminui a produ-
ção de ácido Araquidônico e, consequentemente, de tromboxano A2.
A ingestão na dieta dos ácidos graxos essenciais está positivamente
relacionada com suas concentrações nos ésteres de colesterol e fosfolipídeos
no sangue, por isso, essas quantidades bioquímicas são usadas para confir-
mar a ingestão na dieta.

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Bioquímica

1.8. Sintomas da deficiência de Ácido Linoleico ω–6


•• Dermatite e desenvolvimento precário em bebês alimentados com uma fór-
mula sem gordura.
•• Os animais também têm insuficiência reprodutiva e fígado gorduroso. A de-
ficiência de Ácidos Graxos Essenciais em crianças e adultos tem sido ob-
servada durante um longo período de nutrição parenteral total sem gordura.
•• Uma deficiência de Ácido Linolênico ω–3 produziu mudanças neurológicas
(entorpecimento, parestesia, fraqueza, incapacidade de andar, visão em-
baçada) que foram revertidas quando o Ác. Linolênico foi fornecido. Outros
sintomas da deficiência do ω–3 são: dificuldades de aprendizado, eletrorre-
tinograma anormal e acuidade visual prejudicada.

1.9. Acilgliceróis
São produtos da reação de esterificação de uma molécula de glicerol com
até três moléculas de ácidos graxos. Podem ser: Monoacilglicerol, Diacilgli-
cerol e Triacilglicerol.

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2. Triacilgliceróis ou Triglicerídeos (TAG)


Os triacilgliceróis ou triglicerídeos são ésteres do álcool glicerol com ácidos
graxos. Contêm uma molécula de Glicerol (um álcool triídrico) e um a três
ácidos graxos na ligação do éster. São os óleos de vegetais ou as gorduras de
origem animal. Suas propriedades físicas são determinadas pela proporção
e estrutura química dos seus ácidos graxos constituintes. Os triacilgliceróis
líquidos à temperatura ambiente são chamados em geral, óleos, e os que são
sólidos são chamados gorduras.
Os ácidos graxos menores e menos insaturados caracterizam as gor-
duras que são macias ou óleos líquidos em Tº ambiente. As gorduras sólidas
(ex.: gordura da carne), contêm grandes quantidades de ácidos graxos de ca-
deia longa, isto é, ácidos palmítico (C16:0) esteárico (C18:0). As propriedades
dos glicerídeos também são influenciadas pelo nº ω e pela posição dos ác.
graxos na molécula de glicerol. Nos alimentos, os lipídeos mais abundantes
são os triacilgliceróis. Os triacilgliceróis são hidrolisados dando como resulta-
do três ácidos graxos e o glicerol.

2.1. Funções
•• Energia: devido a sua alta densidade energética e baixa solubilidade, os
Triacilgliceróis (TAG) do tecido adiposo são a maior forma de armazena-
mento de energia no organismo.
•• Os TAG são armazenados de forma mais eficiente que o GLICOGÊNIO,
pois produzem 2 ½ vezes o ATP depois da oxidação e são armazenados
sem H2O. Geralmente, os seres humanos possuem algumas semanas de
reservas adiposas, mas apenas o valor de cerca de um dia de glicogênio.
•• O tecido adiposo auxilia a manter órgãos e nervos em posição e protege-os
contra choques e lesões traumáticas. (Efeito Amortecedor).
•• A camada subcutânea de gordura isola o organismo, preservando o calor
do organismo e mantendo a temperatura do organismo (Efeito Isolamen-
to Térmico).

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Bioquímica

•• As gorduras auxiliam no transporte e absorção de vitaminas lipossolúveis.


•• Deprimem as secreções gástricas e tornam mais lento o esvaziamen-
to gástrico.
Hidrogenação dos
•• As gorduras adicionam o paladar da dieta e produzem uma sensação de Triacilgliceróis
saciedade após a refeição. As gorduras comercializadas
para alimentação são
obtidas pela hidrogenação
3. Ácidos graxos poliinsaturados parcial de óleos vegetais. O
resultado são as gorduras
Os ácidos graxos poliinsaturados contêm duas ou mais duplas ligações. O “parcialmente hidrogenadas”
ácido graxo poliinsaturado predominante na dieta é o Ácido Linoleico. Fontes presentes em muitos
produtos alimentícios. A
de Ác. Linoleico são as sementes de vegetais e os óleos que produzem. Óleos vantagem comercial da
que não são provenientes de sementes como: óleo de coco, óleo de palmeira, hidrogenação parcial é a
maior duração da vida útil
manteiga de cacau são fontes pobres de ácido linoleico. Existem duas princi-
da gordura. Há, porém,
pais famílias de Ác. Graxos Poliinsaturados: ω – 3 e ω – 6. Essas famílias não um problema com a
são conversíveis, tendo funções bioquímicas muito diferentes. hidrogenação parcial. O
catalisador isomeriza parte
Os ácidos graxos poliinsaturados estão relacionados com a resposta à das duplas ligações não
lesão e inflamação. São classificados pelo número de suas ligações duplas: hidrogenadas e substitui
o arranjo natural em cis
linoleico (3), araquidônico (4) e eicosapentanóico (5). Dependendo do tecido por um arranjo artificial em
envolvido, os ácidos graxos entram ou na cascata da prostaglandina ou na do trans; acumulam-se, porém,
leucotrieno, levando à produção de hormônios eicosanoides. Esses hormô- provas das gorduras em trans
estarem associadas a riscos
nios podem alterar o tamanho e a permeabilidade dos vasos sanguíneos, a crescentes de moléstias
atividade das plaquetas e contribuir para a coagulação do sangue, modifican- cardiovasculares.
do os processos inflamatórios. Estudos mostram a eficácia dos ácidos poliins-
saturados na esclerose múltipla, nas doenças inflamatórias (artrite reumatoide
e dermatite atípica) e na prevenção da aterosclerose.

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3.1. Ácidos graxos ômega – 3


São de interesse nutricional o ácido α – linolênico (C18:3) e seus derivados
ácidos Eicosapentanóicos (C20:5) e o ácido Docosahexanóico (C22:6). Fon-
tes de ácido α – linolênico são os óleos de salada, margarinas e gordura feita
de óleo de canola ou de soja. Óleos de peixes e mariscos são ricos em ácidos
Eicosapentanóicos e Docosahexanóico. Os ácidos graxos ω–3 afetam o me-
tabolismo lipoproteico. Os efeitos colaterais potenciais de altas doses de áci-
dos graxos ω–3 incluem maior tempo de sangramento, infecções, diabetes,
peroxidação lipídica.

4. Lipídeos compostos
Fosfolipídeos: O 2º maior componente lipídico do organismo são os lipídeos
em que um dos ácidos graxos é substituído por uma substância contendo
fósforo, assim como o ácido fosfórico.

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Bioquímica

Lecitina: A lecitina (fosfatidilcolina) contém ácido fosfórico e a base colina con-


tém nitrogênio. São encontradas grandes concentrações combinadas com
proteínas nas membranas celulares, onde facilitam a passagem de gorduras
para dentro e para fora da célula, e no sangue, onde também agem no trans-
porte de lipídios (como parte de lipoproteínas). Os ácidos graxos contidos na
alimentação irão influenciar os ácidos graxos que aparecem nos fosfolipídios.
1. Atua no transporte e utilização de ácidos graxos e colesterol (em lipoprote-
ínas) através da enzima Lecitina – Colesterol Aciltransferase (LCAT).
2. A lecitina é, entre os fosfolipídeos, o mais amplamente distribuído nos ali-
mentos. Fígado, gema de ovo, feijão de soja, amendoim, espinafre e gér-
men de trigo são fontes ricas em lecitina.
3. A lecitina, porém, não é um nutriente essencial, pois o organismo produz a
quantidade que é necessária. Além disso, a lecitina da alimentação é digeri-
da antes de ser absorvida, portanto, os suplementos são de pequeno valor.
4. Devido às suas propriedades emulsificantes, a lecitina é adicionada aos
produtos alimentícios. Ex: margarina, bolachas e produtos de confeitaria.

4.1. Outros Fosfolipídeos


As cefalinas são semelhantes em estrutura às lecitinas. Os lipontóis contêm
inositol, um composto com atividade semelhante às vitaminas. Os esfingo-
lipideos contêm um complexo aminoálcool no lugar do glicerol. Todos eles
são encontrados em altas concentrações no tecido nervoso. A esfingosina é
encontrada no cérebro e outros tecidos nervosos como um componente da
bainha de mielina.

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LIBERATO, M. C. T. C.; OLIVEIRA, M. S. C.

5. Glicolipídeos
Incluem os cerebrosídeos e os gangliosídeos que contêm a esfingosina e uma
cadeia muito longa de ácidos graxos (> 22C). O componente carboidrato dos
cerebrosídeos é a galactose. Os gangliosídeos também contêm glicose e um
composto complexo contendo um aminoaçúcar. Estruturalmente, ambos os
compostos são componentes do tecido nervoso e certas membranas celula-
res, onde desempenham uma função no transporte de lipídeos.

6. Esteroides e Esteróis
Os esteroides constituem um grande grupo de compostos cíclicos que podem
ser considerados derivados de um núcleo hidrocarbonético comum: o núcleo
ciclopentanofenantreno. Os esteroides são, portanto, lipídeos de origem ve-
getal e animal, possuidores de um esqueleto de carbonos tetracíclico carac-
terístico. São encontrados praticamente em todos os tecidos do organismo e
causam uma grande variedade de efeitos fisiológicos.
Os esteroides estão estruturalmente relacionados aos terpenos e são
biossintetizados a partir do precursor lanosterol (um triterpeno). O lanosterol, por
sua vez, provém da ciclização do esqualeno, um hidrocarboneto acíclico. Os
esteroides podem ser classificados como: Esteróis; Ácidos Biliares; Hormônios
Sexuais Masculinos; Hormônios Sexuais Femininos; Hormônios da Gravidez;
Hormônios Adrenocorticais; Vitaminas D; Saponinas; Glicosídeos Cardíacos.

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Bioquímica

6.1. Esteróis
O mais conhecido é o colesterol que está presente em todas as células ani-
mais e é particularmente abundante em tecidos nervosos. No núcleo do co-
lesterol há oito centros de assimetria e, teoricamente, algo como 256 isômeros
são possíveis. O colesterol é o precursor dos ácidos biliares, esteróis fecais e
hormônios esteroides.

6.2. Colesterol
Os esteróis são caracterizados pela estrutura em anel, complexa com grupos
laterais individuais. Além do colesterol, que é encontrado apenas em tecidos
animais, os esteróis comuns incluem o ergosterol, que ocorre em leveduras, e
β-sitosterol, que é encontrado em alimentos vegetais. O colesterol é um compo-
nente essencial das membranas estruturais de todas as células dos mamíferos.
É o principal componente do cérebro e das células nervosas. É encontrado tam-
bém em altas concentrações nas glândulas supra-renais, onde os hormônios
adrenocorticais são sintetizados e, no fígado, onde é sintetizado e estocado.
O colesterol é uma chave intermediária na biossíntese de uma série de
esteroides importante como: ácidos biliares, hormônios adrenocorticais (aldos-
terona) e hormônios sexuais (estrogênios, testosterona e progesterona). Os
lipídeos sanguíneos (colesterol, triglicerídios e fosfolipídios) são transportados
na corrente sanguínea, ligados às proteínas. Estas partículas complexas, cha-
madas lipoproteínas variam em composição, tamanho e densidade.
As cinco classes de lipoproteínas são: Quilomícrons; Lipoproteínas de
Densidade muito Baixa (VLDL); Lipoproteínas de Densidade Intermediária
(IDL), Lipoproteínas de Baixa Densidade (LDL) e Lipoproteínas de Alta Densi-
dade (HDL). Elas possuem quantidades variáveis de triglicerídeo, colesterol,
fosfolipídeo e proteína. A proporção de proteína e gordura determina a densi-
dade. As partículas com mais proteínas são mais densas, portanto, HDL tem
mais proteínas do que LDL.

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Colesterol Total
É o colesterol contido em todas as funções de lipoproteína. Cerca de 60 a
70% do total é carreado com LDL, 20 a 30% do total é carreado com HDL, 10
a 15% do total é carreado com VLDL. Dentre as lipoproteínas ricas em trigli-
cerídeos estão os Quilomícrons, VLDL e quaisquer produtos remanescentes
ou intermediários formados no catabolismo.

6.3. Lipoproteínas e Metabolismo


•• Quílomícrons: Maiores partículas. Transportam a gordura e o colesterol da
alimentação, do intestino delgado para a periferia. Na corrente sanguínea,
os triglicerídeos nos quilomícrons são hidrolisados pela lipase lipoproteíca.
•• Lipoproteínas de Densidade Muito Baixa (VLDL): São sintetizadas no
fígado para transportar triglicerídeos endógenos e colesterol. 60% desta
partícula são triglicerídeos.
•• Lipoproteínas de Densidade Intermediária (IDL): São formadas com o
catabolismo do VLDL e são precursoras do LDL.
•• Lipoproteínas de Baixa Densidade (LDL): São os transportadores primá-
rios de colesterol no sangue. Consequentemente, o Colesterol Total e a
LDL – Colesterol estão altamente correlacionados.
•• Lipoproteínas de Alta Densidade (HDL): Contêm mais proteínas do que
qualquer outra lipoproteína. A teoria mais aceita para o efeito antiaterogêni-
co do HDL é que ele está envolvido no transporte do colesterol em excesso
das membranas para as lipoproteínas ricas em triglicerídeos, que são então
removidas por receptores no fígado. Este é o processo de transporte de
colesterol reverso, que ajuda o organismo a livrar-se do colesterol e previne
o acúmulo de lipídios na parede arterial. Nas análises clínicas laboratoriais,
normalmente usa-se a fórmula: LDL – C = (Colesterol Total) – (HDL - C) –
(TG/5), pois algumas vezes não é quantificado o LDL-C diretamente, princi-
palmente quando TG < 400g/dl.

Atividades de avaliação
1. Caracterizar estruturalmente os ácidos graxos mais comuns na natureza.
2. Definir triacilglicerol. Descrever as vantagens para os seres vivos do arma-
zenamento de triacilgliceróis.
3. Correlacionar a consistência das gorduras animais e óleos vegetais com a
estrutura dos ácidos graxos componentes destas substâncias.

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Bioquímica

4. Definir Glicerofosfolipídio e Esfingolipídio.


5. Caraterizar as classes principais de lipoproteínas plasmáticas, indicando
a sua função.
6. Definir “lipídio anfipático”.
7. Desenhe a estrutura de um fosfoacilglicerol que contenha glicerol, ácido
oleico, ácido esteárico e colina.
8. Como as estruturas dos esteroides se diferem das de outros lipídeos?
10. Qual a semelhança estrutural entre a Vitamina D3 e o Colesterol?
11. As margarinas são feitas de óleos vegetais normalmente líquidos. Por que
elas são sólidas?
12. Compare as estruturas e as propriedades físicas dos TAG, dos esfingolipí-
deos e dos glicerofosfolipídeos.
13. Resuma as funções dos esteroides e eicosanoides.
14. Assista ao filme “O Óleo de Lorenzo” (1992) e fale sobre a doença ade-
noleucodistrofia (ALD). O que a ocasiona? Como é composto o “óleo de
Lorenzo”, que é usado como terapia na ALD?
15. Descreva a nomenclatura dos ácidos graxos.
16. Sobre os Triacilgliceróis, defina: a) Rancificação; b) Saponificação.
17. Esquematiza um fosfolipídeos, mostrando a ligação fosfodiéster.
18. Qual a importância do colesterol? De que outros compostos ele é a molé-
cula inicial?
19. Por que as plantas não usam gordura/óleos como seus principais compos-
tos de armazenamento de energia?
20. Discuta o papel das unidades isoprenoides na biossíntese de colesterol.
21. Faça a diferença entre o colesterol bom e o mau colesterol.

Texto complementar
Vitaminas Lipossolúveis
As vitaminas lipossolúveis A, D, E, K ocorrem em alimentos de origem animal ou vege-
tal ricos em gorduras sendo absorvidas juntamente com os lipídios. Como os lipídios,
elas são transportadas pelas proteínas plasmáticas. Estão envolvidas em diversos pro-
cessos, inclusive atuando como coenzimas.
A vitamina K, por exemplo, participa como cofator de reações de carboxilação de
resíduos de glutamato de várias proteínas, entre as quais os fatores responsáveis pela
coagulação sanguínea. A vitamina A é obtida a partir de carotenoides vegetais e está
envolvida nas reações da visão e no crescimento e diferenciação de tecidos epiteliais.
O colesterol e o ergosterol são precursores da Vitamina D (Calciferol).

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LIBERATO, M. C. T. C.; OLIVEIRA, M. S. C.

Essa vitamina é conhecida como a vitamina da luz solar porque uma modesta ex-
posição à luz solar normalmente é suficiente para a maioria das pessoas produzir vi-
tamina D, utilizando a luz ultravioleta e o colesterol da pele. Dois esteróis – um dos
lipídeos de animais (7 – desidrocolesterol) e um dos vegetais (ergosterol) – podem
servir como precursores da vitamina D.
A abertura do anel de 7 – desidrocolesterol produz uma forma de provitamina de
7 – desidrocolesterol que produz Colecalciferol (Vitamina D3). A abertura do anel de
ergosterol produz ergocalciferol, ou vitamina D2. As vitaminas D2 e D3 necessitam de
metabolismo posterior para produzir as formas metabolicamente ativas de 1,25-dii-
droxivitamina D2 e D3 (Calcitriol). Dessa forma, a vitamina D desempenha um papel
importante, juntamente com o cálcio e o fósforo, na saúde dos ossos e dentes. A vita-
mina E, juntamente com as vitaminas A, C, e D, atuam como antioxidantes, bloquean-
do a ação lesiva dos radicais livres sobre as estruturas celulares.

Filmes
O Óleo de Lorenzo (1992)
O Colesterol é inimigo do Coração (Globo Vídeos)

Sites
www.arquivosdeorl.org.br
www.hepcentro.com.br/esteatose.htm

Referências
CAMPBELL, M. K. Bioquímica. 3ª ed. Porto Alegre: Artmed Editora, 2000.
Lipídeos, a natureza química dos lipídeos as vitaminas lipossolúveis e Pros-
taglandinas e Leucotrienos são apresentados e comentados de forma muito
didática no Capítulo 6 desse livro.
MAHAN, K.; ESCOTT-STUMP. Alimentos, nutrição & dietoterapia. São
Paulo: Roca, 2005. Os Lipídios foram comentados no Capítulo 3, que trata
dos macronutrientes carboidratos, proteínas e lipídios.
MARZZOCO, A.; TORRES, B. B. Bioquímica Básica. 2ª Ed. Rio de
Janeiro: Ed. Guanabara Koogan S. A., 1999. Os autores apresentam lipí-
dios na Parte 2 de seu livro no Capítulo 6, que comenta sobre estruturas
de carboidratos e lipídios.

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Capítulo 4
Aminoácidos e Proteínas

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Bioquímica

Objetivos
•• Conhecer as macromoléculas estruturais do nosso organismo, as proteínas.
•• Conhecer os tipos de moléculas que compõem as proteínas, os aminoácidos.
•• Verificar os alimentos ricos em proteínas.
•• Estudar os tipos e funções de aminoácidos, peptídeos e proteínas.
•• Reconhecer as estruturas dos diferentes aminoácidos.

Introdução
O nome “proteina” é de origem grega e significa “de primeira importância”.
Em sua composição estão presentes C, H e O. As proteínas também contêm
aproximadamente 16% de N, juntamente com S e, algumas vezes, outros
elementos, tais como fósforo (P), ferro (Fe) e cobalto (Co). Os vegetais sinteti-
zam a proteína a partir do N, que obtêm a partir de nitratos e amônia do solo e,
nas circunstâncias únicas das leguminosas, os nitratos se tornam disponíveis
simbioticamente a partir do N2 atmosférico pelas bactérias nos nódulos das
raízes. Já os animais obtêm o N que necessitam de alimentos protéicos seja
de origem vegetal ou animal. O metabolismo animal, a excreção e morte final-
mente fazem retornar o N2 ao solo numa continuação do ciclo do nitrogênio.

1. Estrutura e Classificação
A base da estrutura da proteína são os aminoácidos, dos quais 20 foram
reconhecidos como constituintes da maioria das proteinas. Eles são com-
postos que apresentam em sua molécula um grupo amino (-NH2) e um grupo
carboxila (-COOH). Apenas a Prolina, possui um grupo imino (-NH-) ao invés
do grupo amino. Em pH fisiológico, esses grupos estão na forma ionizada:
-NH3+, -COO- e –NH2+ -.
Os aminoácidos têm uma fórmula básica comum, na qual os grupos
amino e carboxila estão ligados ao carbono α, ao qual também se liga um
átomo de hidrogênio e um grupo variável chamado cadeia lateral ou grupo R.
É a estrutura da cadeia lateral R que diferencia os aminoácidos entre si.

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Os aminoácidos se combinam para formar proteinas através de uma


ligação chamada peptídica que une os carbonos carboxílicos de um ami-
noácido ao N de outro. O composto resultante tem um grupo carboxila livre
em uma das pontas e um grupo amino livre na outra, possibilitando a cadeia

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Bioquímica

a continuar se ligando a outros aminoácidos em qualquer das pontas. As pro-


teínas variam no tamanho, como, por exemplo, de polipeptídeos relativamente
pequenos, como a Adrenocorticotropina (ACTH) com 23 unidades de ami-
noácidos até moléculas muito complexas com várias centenas de milhares de
unidades de aminoácidos.
Os polipeptídeos que constituem a Estrutura Primária das proteínas
podem conter de poucas até 300 unidades de aminoácidos. Muitas cadeias
de polipeptídeos podem ser ligadas entre si, normalmente através de ligações
S – S da cistina, em uma forma helicoidal, pregueada ou espiral randômica
chamada de Estrutura Secundária. As proteinas mais complexas se carac-
terizam por uma Estrutura Terciária, na qual a cadeia polipeptídica está en-
rolada sobre si mesma em uma forma globular, com toda a estrutura sendo
presa rigidamente por forças interatômicas, tais como ligações de hidrogênio.
As extensas possibilidades de variação oferecidas por estas estruturas resul-
tam em milhões de proteinas diferentes com propriedades e funções biológi-
cas específicas.
As proteinas existem nas formas fibrosa e globular. As Proteinas Fi-
brosas caracterizam-se por várias cadeias peptídicas helicoidais torcidas jun-
tas para formar uma haste rija. São caracterizadas por baixa solubilidade e
alta força mecânica. Aparecem em elementos estruturais, tais como colágeno
do tecido conjuntivo, queratina do cabelo e unhas e miosina do tecido mus-
cular. As Proteinas Globulares são encontradas em líquidos teciduais. São
muito solúveis e facilmente desnaturadas.
As Proteínas Globulares de interesse na nutrição são: a caseína, pre-
sente no leite, a albumina presente no ovo, na carne etc. Proteínas Sim-
ples são aquelas que produzem apenas aminoácidos a partir da hidrólise.
Incluem albuminas, globulinas, prolaminas entre outras. As proteínas que são
solúveis em H2O, tais como as albuminas e globulinas, estão presentes nos
líquidos animais, enquanto que as menos solúveis, tais como a miosina e a
proteína muscular, estão presentes nos tecidos. Proteínas Conjugadas são
combinações nas quais uma substância não proteica está ligada a uma mo-
lécula de proteína simples, como um grupo prostético, assim facilitando as
funções que nem os próprios constituintes poderiam provavelmente realizar.
As proteínas conjugadas incluem as Nucleoproteínas encontradas
no Ácido Ribonucleico (RNA) e Ácido Desoxirribonucleico (DNA). As Muco-
proteinas e as Glicoproteinas são aquelas que combinam proteínas com
quantidades variáveis de Polissacarídeos Complexos, tais como Mucina pre-
sente nas secreções gástricas, Lipoproteinas presentes no plasma sanguí-
neo, Fosfoproteinas que contêm H3PO4 ligado à proteína por ligações éster,
tal como na caseína do leite; Metaloproteinas, tais como ferritina e a hemos-

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siderina nas quais metais como Fe++, Cu++ e Zn++ estão ligados às proteínas.
Proteínas Derivadas: Proteoses, Peptonas e Peptídeos formam-se nos vá-
rios estágios do metabolismo proteico.

Figura – GLOBULAR

Figura – FIBROSA

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Bioquímica

1.1. Desnaturação de Proteinas Leguminosas como


Fontes de Proteina
A estrutura tridimensional de uma proteina é significativa para a sua função. As leguminosas são únicas
As ligações que mantêm a forma tridimensional são relativamente fracas e no reino vegetal por causa
de suas sementes, ricas em
facilmente rompidas por agitação mecânica, extremos de temperatura, acidez proteínas e pobres em amido,
ou alcalinidade. diferente das sementes
de grãos de cereais, que
Quando isso ocorre, a proteina perde sua forma, característica e não são pobres em proteínas
é mais capaz de desempenhar sua função neste papel particular. Este dese- e ricas em amido. O seu
conteúdo de Aminoácidos
maranhamento irreversível da molécula de proteina, chamado desnaturação,
Essenciais é mais parecido
é um evento que normalmente é prejudicial e algumas vezes desastroso para com o das proteínas animais.
o organismo, dependendo de quantas moléculas de proteína são afetadas. Suplementadas com uma
pequena quantidade de
Enquanto um ovo está fritando, a clara do ovo gradualmente engrossa metionina dos cereais ou
e fica branca conforme a proteína é desnaturada pelo calor. Do mesmo modo, fontes animais, o seu padrão
de aminoácido é adequado
uma queimadura severa desnatura e, assim, destrói a proteina na pele e va- para suportar tanto a vida
sos sanguíneos. Na realidade é a suscetibilidade das proteinas ao excesso quanto o crescimento nos
não moderado de calor, frio, ácido e álcalis que determina a limitação ambien- humanos. Os feijões de
soja são únicos pelo fato
tal na qual os humanos podem sobreviver e funcionar. de que um produto de seu
processamento, a proteína da
soja isolada, é a proteína com
um padrão de aminoácido
capaz de suportar a vida
e o crescimento. Esta
característica extraordinária é
talvez a consequência casual
de uma habilidade rara dos
vegetais leguminosos de fixar
o N gasoso do ar para o seu
uso. Na realidade, o vegetal
por si mesmo não tem esta
capacidade e, como todos
1.2. Funções das Proteínas os outros vegetais, deve
As proteinas da dieta estão envolvidas na síntese das proteinas teciduais e retirar o N através das raízes
ou na forma de nitrato de
outras funções metabólicas especiais; nos processos anabólicos, fornecen- íons de amônio. Entretanto,
do os aminoácidos necessários para a construção e manutenção dos tecidos localizadas nos nódulos das
raízes de leguminosas estão
orgânicos; como uma fonte de energia, as proteinas são equivalentes aos car-
as bactérias Rhizobium,
boidratos no fornecimento de 4 Kcal/g. que fixam o N da atmosfera.
Numa relação simbiótica,
Entretanto, são consideravelmente mais caras, tanto em custo quanto
as bactérias fornecem o N
na quantidade de energia necessária para o metabolismo. As proteínas de- na forma de aminoácido e
sempenham um papel estrutural não apenas em todos os tecidos do corpo, amidas em troca da energia
fornecida pelo vegetal através
mas também na formação de enzimas, hormônios e de vários líquidos e se- da fotossíntese.
creções corpóreas.
Como anticorpos, as proteínas estão envolvidas na função do sistema
imunológico. Na forma de lipoproteinas, as proteinas participam do transpor-
te de triglicerídeos, colesterol, fosfolipídeos e vitaminas lipossolúveis. Muitas

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vitaminas e minerais são ligados a carreadores proteicos específicos para o


transporte. A albumina transporta ácidos graxos livres e bilirrubina, assim como
muitas drogas. As proteínas também contribuem para a homeostase através
da manutenção de relações osmóticas normais entre os líquidos corpóreos,
como é evidenciado pela formação de edema como uma consequência de
hipoproteinemia. A albumina é particularmente importante para esta função.
Devido a sua estrutura única, as proteínas são capazes de se combinar ou
com substâncias ácidas ou com substâncias básicas, mantendo assim o equi-
líbrio ácido-base do sangue e tecidos.

1.3. Enzimas como Proteinas


O fato de todas as enzimas serem proteínas e suscetíveis à desnaturação é
significante para as necessidades ambientais do organismo humano. As en-
zimas funcionam por se ligarem a moléculas de formas e tamanhos caracte-
rísticos. Sendo assim a importância da manutenção da forma original de uma
enzima em particular é imprescindível.
Como a desnaturação muda a forma das enzimas tornando-as não fun-
cionais, a maioria dos organismos vivos não pode tolerar extremos de tempe-
ratura e pH. Algumas exceções são formas diminutas de vegetais que sobre-
vivem a temperaturas próximas da fervura de verões quentes ou no ambiente
frio de bancos de neve. Devido às exigências rígidas da função enzimática
de um pH ótimo, existe uma série de mecanismos para eliminar o excesso de
materiais ácidos ou alcalinos do sangue. Exemplo fisiológico da desnaturação
de enzima é o efeito do ácido láctico que se acumula durante exercícios vi-
gorosos, alcançando, eventualmente, um nível suficiente para interferir com a
ação enzimática normal, contribuindo para a resultante fadiga.
As enzimas em alimentos não cozidos são desnaturadas pelo ácido
clorídrico (HCl) do estômago. A papaína (enzima da papaia) é rapidamente
desnaturada conforme a temperatura da carne sobe durante o cozimento. Se
não for destruída desta maneira, é mais tarde desnaturada e parcialmente
digerida quando atinge o estômago. O mesmo fato ocorre com enzimas que
são tomadas oralmente como suplemento. Neste caso, entretanto, as enzi-
mas são empacotadas em cápsulas que não dissolvem até que alcancem o
intestino delgado.

2. Aminoácidos Essenciais (AAE) e Não Essenciais


Aminoácidos Essenciais (AAE) são aqueles em que a síntese do organismo
não é suficiente para suprir as necessidades metabólicas e, sendo assim, pre-
cisam ser fornecidos como uma parte da dieta. São eles: treonina, valina, trip-

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Bioquímica

tofano, isoleucina, lisina, leucina, fenilalanina, metionina, histidina e arginina.


A ausência ou a ingestão inadequada de qualquer um desses aminoácidos
leva a um balanço de N negativo, perda de peso, crescimento prejudicado em
bebês e crianças e sintomas clínicos.
Os aminoácidos não essenciais remanescentes, como alanina, ácido
aspártico, asparagina, ácidotglutâmico, glutamina, glicina, prolina e serina são
igualmente importantes para a estrutura da proteina. Entretanto, se quantidades
adequadas de certos aminoácidos não essenciais não estiverem presentes na
hora da síntese da proteína, podem ser sintetizados a partir de AAE ou de pre-
cursores de C e N, apropriados prontamente sintetizados na célula. Os amino-
ácidos condicionalmente essenciais são aqueles que se tornam essenciais sob
certas circunstâncias clínicas, como p. ex: taurina, cisteína e, possivelmente,
tIrosina são tidos como condicionalmente essenciais nos bebês prematuros.

2.1. “Pool” Metabólico de Aminoácidos


Não há uma grande reserva de aminoácidos livres no organismo, e qualquer
quantidade acima da necessária para a síntese de proteina tecidual e dos vá-
rios compostos não proteicos que contém N é metabolizada. Entretanto, nas
próprias proteinas celulares um “pool” metabólico de AA existe num estado de
equilíbrio dinâmico que pode ser requisitado a qualquer momento para suprir
uma necessidade apropriada.
A contínua dinâmica da proteina no adulto é provavelmente necessária
para a manutenção de um “pool” de AA e a capacidade de suprir a necessi-
dade por aminoácidos pelas várias células e tecidos quando são estimulados
a fazer as proteinas necessárias. Os tecidos mais ativos para a dinâmica de
proteína são as proteínas do plasma, mucosa intestinal, pâncreas, fígado e
rins, enquanto os músculos, pele e cérebro são muito menos ativos.

Funções Especiais dos AA


Quase todos os aminoácidos têm certas funções únicas no organismo. O Trip-
tofano, o aminoácido mais complexo, é um precursor da vitamina Niacina e
do neurotransmissor Serotonina. A Metionina é o principal doador de grupos
metila para a síntese de compostos tais como Colina e Carnitina. Também é
um precursor da Cistina e de muitos outros compostos que contêm enxofre.
A Fenilalanina é um precursor da Tirosina e juntas levam à formação de
Tiroxina e Epinefrina. A Tirosina é o precursor do qual são feitos o pigmento
da pele e do cabelo. A Arginina e a Citrulina estão envolvidas especificamente
na síntese de Ureia no fígado. A Glicina, o mais simples e mais ubíquo dos
aminoácidos, se combina com muitas substâncias tóxicas, convertendo-a em

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formas inócuas que são então excretadas. Também é usada na síntese do


núcleo Porfirina da hemoglobina e é um constituinte de um dos ácidos da bile
(ácido glicocólico). A Histidina é essencial para a síntese de Histamina, que
causa vasodilatação no sistema circulatório. A Creatinina, sintetizada a partir
da Arginina, Glicina e Metionina, se combina com o fosfato para formar a fos-
focreatinina, um importante reservatório de fosfato de alta energia na célula.
A Glutamina, formada pelo ácido glutâmico, e a Asparagina, forma-
da a partir do ácido aspártico, têm importantes papéis como reservatórios de
grupos amino por todo o corpo. A Glutamina tem recebido atenção recente-
mente como uma fonte primária de combustível para o trato intestinal, espe-
cialmente no controle da síntese de glicogênio e degradação proteica, assim
como para manter a integridade contra transformação bacteriana. É o aminoá-
cido mais abundante no plasma e no músculo esquelético. O ácido glutâmico
é um precursor do neurotransmissor Ácido Gama-Amino-Butírico (GABA).

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Bioquímica

3. Equação de Henderson – Hasselbalch


pH = pka + log [A] / [HA]
Esta equação pode ser usada para calcular o pH de uma solução contendo
um ácido fraco, após a adição de um ácido ou base fortes. Também pode ser
usada para prever as formas iônicas dos aminoácidos. É útil para calcular
como o pH de soluções fisiológicas (Ex.: sangue ou líquido intracelular) res-
ponde às alterações na concentração de ácidos fracos e/ou sua forma “salina”
correspondente.

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Por ex.: No sistema tampão do bicarbonato, a equação de Henderson –


Hasselbalch prevê como as alterações de concentração influenciam o pH. Ela
poderá prever alterações no pH à medida que as concentrações de HCO-3 ou
CO2 são alteradas ou as formas iônicas das drogas. A equação também é útil
para calcular a abundância de formas iônicas de drogas ácidas e básicas. Por
ex.: a maioria das drogas são ácidos fracos ou bases fracas. As drogas ácidas
(HA) liberam um próton (H+), levando à formação de um ânion carregado (A-).
HA  H+ + A-
As bases fracas (BH+) também podem liberar um H+; entretanto, a for-
ma protonada das drogas básicas usualmente é carregada, e a perda de um
próton produz a base sem carga (B).
BH+  B + H+
Uma droga passa através das membranas mais facilmente se está sem
carga. Assim, em um ácido fraco, o HA sem carga pode permear-se através
das membranas, e o A- não. Em uma base fraca, a forma sem carga, B, penetra
através da membrana celular, e a BH+ não. Assim, a concentração efetiva da
forma permeável de cada droga em um sítio de absorção é determinada pela
concentração relativa das formas carregadas e descarregadas. A proporção
entre as duas formas é determinada pelo pH no sítio de absorção e pela força
do ácido ou base fracos, que é representado pelo pka do grupo ionizável.
A equação de Henderson-Hasselbalch é útil para determinar qual a
uantidade de droga encontrada em cada lado de uma membrana que separa
dois compartimentos que diferem em pH, como, por exemplo, o estômago
(pH 1,0 – 1,5) e o plasma sanguíneo (pH 7,4).

3.1. Propriedades ácido-básicas dos Aminoácidos e Proteinas


As proteínas adquirem propriedades iônicas em virtude das cadeias laterais
dos aminoácidos que as compõem. Muitas dessas cadeias laterais podem io-
nizar-se e agir como ácidos fracos. Dependendo do pK do grupo funcional da
cadeia lateral, essa ionização pode produzir uma carga positiva ou negativa.

3.2. Formas ionizadas dos Aminoácidos


Se um grupo funcional sofre dissociação ou é protonado, depende do pH da
solução. A equação de Henderson-Hasselbalch descreve a quantidade de
ionização (proporção de dissociação para protonado) para cada grupo fun-
cional individual, desde que cada um tenha seu valor de pKa e ionize-se inde-
pendentemente dos outros.

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Bioquímica

A curva de titulação da alanina mostra a dissociação independente de


seus dois grupos funcionais: o grupo α-amino e o grupamento α-carboxila. A
curva de titulação da esquerda para a direita ilustra a mudança do estado de
ionização da alanina, assim como também é descrito da direita para a esquer-
da na reação abaixo:

Conforme os prótons vão sendo removidos da molécula, eles são primei-


ramente removidos do grupo carboxila, já que esse tem o menor pK (pKa = 2,3).
Quando o pH aumenta em direção ao pK do grupamento amina (pKa = 9,9), esse
então perde seus prótons. Cada pKa representa o ponto médio de dois equilíbrios,
ilustrando que os aminoácidos (e proteínas) têm capacidade de tamponamento.
No pH 7,0, as cadeias laterais ionizáveis de aminoácidos em proteínas
apresentam cargas características:
•• Carregadas positivamente: lisina, arginina.
•• Carregadas negativamente: aspartato, glutamato.
•• A histidina torna-se carregada positivamente se pH for inferior a 6,0.
•• A cisteína torna-se carregada negativamente se pH for maior que 8,0.

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4. pH Isoelétrico
O total de cargas de um aminoácido ou de uma proteína equivale à soma de
todas as cargas das cadeias laterais de cada aminoácido. O valor do pH que
produz um total de carga igual a zero (neutra) na molécula é denominado pH
isoelétrico, ou pI.
•• Se o pH > que pI, o total de cargas no aminoácido (ou proteína) será negativo.
•• Se o pH < que pI, o total de cargas no aminoácido (ou proteína) será positivo.
As proteínas não se deslocam em um campo elétrico quando o pH do
sistema tampão é igual ao seu ponto isoelétrico, pois elas não possuem carga
para serem atraídas para o catodo ou para o anodo.

Atividades de avaliação
1. Escrever a fórmula básica característica de um aminoácido. Dar exemplos de:
a) aminoácido com um grupo amino e dois grupos carboxílicos.
b) aminoácido com um grupo carboxílico e dois grupos amino.
2. Definir Ponto Isoelétrico (pI) de um aminoácido.
3. Analisando o grupo R, classificar os aminoácidos em polares e apolares.
Entre os polares, citar aqueles que, em pH 7, apresentam grupo com car-
ga negativa (aminoácidos ácidos), carga positiva (aminoácidos básicos) e
carga nula (polares sem carga).
4. Esquematizar a ligação peptídica.
5. Definir Proteínas Globulares e Fibrosas. Citar exemplos.
6. Definir estrutura primária.
7. Descrever as estruturas regulares – α-hélice e folha β pregueada – que
compõem a estrutura secundária das proteinas globulares.
8. Definir estrutura terciária de proteínas globulares. Esquematizar os tipos
de ligações que a mantêm, indicando os aminoácidos que participam
dessas ligações.
9. Definir estrutura quaternária de proteinas globulares. Citar exemplos de
proteínas com estrutura quaternária.
10. Verificar a posição dos radicais polares e apolares de uma proteina em
solução aquosa.
11. Definir ponto isoelétrico de uma proteína e indicar como pode ser determinado.
12. Definir desnaturação de uma proteína e descrever a ação do pH extremo
e temperatura sobre a estrutura das proteinas.

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Bioquímica

13. Em que diferem as pontes de hidrogênio da estrutura secundária e terciá-


ria de proteínas globulares?
14. O que é renaturação de proteínas?
15. Fale sobre eletroforese.
16. Explique a origem do nome α-aminoácido.
17. Usando as seguintes formas para um α-aminoácido, relacione-as com os
seus respectivos pHs.

18. Que são grupos prostéticos? E centros alostéricos?


19. O Ácido Glutâmico possui pK1 = 2,2; pK2 = 9,7 e pKr = 4,2:
a) Represente as reações de equilíbrio entre as diversas formas do ácido
glutâmico, nos pHs correspondentes aos pK1, pK2 e pKr. Determine a
carga elétrica líquida para cada um desses pHs.
b) Calcule o ponto isoelétrico do ácido glutâmico.
c) Fazendo-se passar uma corrente elétrica numa solução de ácido glutâ-
mico em pH 1,0, para que polo deverão migrar as formas iônicas pre-
sentes em solução?
20. Com relação à titulação de 50 ml de uma solução de glicina 0,2 N na forma
totalmente protonada (H3NCH2COOH), pK1= 2,34 pK2 = 9,6 ) com NaOH
0,1N, responda:
a) Que volume de NaOH é necessário para titular o grupo alfa-COOC
da glicina ?
b) Quanto de NaOH é necessário para titular o grupo alfa-NH3 da glicina?
c) Que volume de NaOH é necessário para que a glicina fique com carga
elétrica igual a zero ? Neste ponto qual o pH da solução e qual a fórmula
iônica da glicina?
21. Comenta-se que a diferença entre a seda e a lã é a diferença entre suas
estruturas helicoidais e da folha pregueada. Você considera esse ponto de
vista válido? Justifique.

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Texto complementar
Fenilcetonúria e erros inatos do metabolismo
As mutações que levam a deficiências em enzimas são normalmente referidas como
“erros inatos do metabolismo”, uma vez que envolvem defeitos no DNA dos indivíduos
afetados. Os erros em enzimas que catalisam reações de aminoácidos têm frequente-
mente consequências desastrosas, que levam a formas graves de retardo mental. A
fenilcetonúria é um exemplo bem conhecido.
A fenilalanina, o fenilpiruvato, o fenilactato e o fenilacetato acumulam-se no
sangue e na urina. Há evidências disponíveis que sugerem que o fenilpiruvato, que
é uma fenilcetona, causa retardo mental pela sua interferência na conversão do
piruvato em acetil-CoA (um intermediário importante em muitas reações bioquímicas)
no cérebro. É também provável que o acúmulo desses produtos nas células cerebrais
resultem em um desequilíbrio osmótico, fazendo com que a água flua para dentro das
células cerebrais. Elas então aumentam de tamanho até comprimirem-se umas contra
as outras no cérebro em desenvolvimento.
Nos dois casos, o cérebro não está apto a desenvolver-se normalmente. O teste do
pezinho é como se pode fazer o diagnóstico da doença. A partir da descoberta o aminoá-
cido fenilalanina deve ser limitado à quantidade necessária para a síntese de proteína.
(Retirado de Campbell, M. K. Bioquímica, 3ª ed. Artmed Editora LTDA, 2000.p. 113.)

Leituras
CAMPBELL, M. K. Bioquímica. 3ª ed. Porto Alegre: Artmed Editora, 2000.
Aminoácidos e Peptídeos são apresentados e comentados de forma muito
didática no Capítulo 3, da Parte 2, desse livro.
CHAMPE, P. C. Bioquímica Ilustrada. 4ª Ed. Porto Alegre: Artmed, 2009. Na
Unidade I do livro são apresentados os tópicos: Aminoácidos (Capítulo I), Es-
trutura das Proteínas (Capítulo II), Proteínas Globulares (Capítulo III) e Proteí-
nas Fibrosas (Capítulo IV). O livro é ricamente ilustrado tornando o assunto de
fácil compreensão.
MAHAN, K.; ESCOTT-STUMP. Alimentos, nutrição & dietoterapia. São
Paulo: Roca, 2005. Aminoácidos e Proteínas foram comentados na Parte I
(Princípios Nutricionais) Capítulo 3, que trata dos macronutrientes carboidra-
tos, proteínas e lipídios.

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Bioquímica

Marzzoco, A.; TORRES, B. B. Bioquímica Básica. 2ª Ed. Rio de Janeiro:


Ed. Guanabara Koogan S. A., 1999. Os autores apresentam aminoácidos e
proteínas na Parte 1 de seu livro no Capítulo 2, comentando amplamente so-
bre o assunto.

Filmes
www.fotosearch.com.br/video-filme/proteínas.html
Fome (Hunger) – 2008
Garapa (José Padilha) - 2009

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Capítulo 5
Enzimas

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Bioquímica

Objetivos
•• Estudar um tipo mais específico de proteínas, as enzimas, biocatalizadores
naturais, produzidos por várias glândulas do organismo animal e vegetal.
•• Conhecer o mecanismo de uma reação enzimática.
•• Caracterizar os tipos de enzimas, seus mecanismos e aplicações, de modo
que o aluno saiba identificar uma enzima em um processo biológico.

Introdução
Quase todas as enzimas conhecidas são proteínas, (com exceção de molé-
culas de RNA que agem como enzimas, catalisando processos). A catálise é
a atividade mais importante das enzimas. Elas são catalisadores de sistemas
biológicos, dispositivos moleculares que determinam o perfil de transforma-
ções químicas e participam na transformação de diferentes formas de ener-
gia. Na ausência de catálise, a maioria das reações nos sistemas biológicos
ocorreria de forma extremamente lenta para fornecer produtos necessários ao
metabolismo de um organismo.
Características mais Importantes
1. Poder catalítico
As enzimas aceleram as reações por fatores de 1.000.000 vezes, ou
como catalisadores aumentam de várias ordens de grandeza a velocidade
das reações que catalisam.
2. Especificidade
Por serem altamente específicas, as enzimas “selecionam”, entre todas
as reações potencialmente possíveis, aquelas que efetivamente irão ocorrer.
A especificidade das enzimas chega ao ponto de distinguir estereoisômeros
de um determinado composto.

1. Atuação das enzimas na cinética das reações


As enzimas atuam na cinética das reações acelerando a velocidade da re-
ação por diminuir sua energia de ativação. A velocidade de uma reação é
proporcional à concentração de uma substância.
Ex.: Conversão irreversível de A em B:
V = K [A] onde K = constante de velocidade da reação

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É uma reação de 1ª ordem, já que a velocidade depende da concentração


do reagente A com expoente 1. A maior parte das reações químicas nos orga-
nismos envolve no mínimo três moléculas diferentes e são geralmente rever-
síveis. São de 2ª ordem:
2A  B + C ou A + B  C + D
V = K [A]2 ou V = K [A] [B]

1.1. Teoria das Colisões


A Teoria das Colisões explica o fato acima. Para reagirem, as moléculas pre-
sentes em uma solução devem colidir com orientação apropriada e a colisão
deve levá-las a adquirir certa quantidade de energia que lhes permita atingir o
estado de transição. Para levar todas as moléculas de um mol de uma subs-
tância até o estado de transição, necessita-se de uma quantidade de energia
chamada Energia de Ativação. Pode-se dizer que Energia de Ativação é a
energia que separa os reagentes dos produtos. A velocidade de uma reação
será diretamente proporcional ao nº de moléculas com energia igual ou maior
que a Energia do Estado de Transição.
A velocidade das reações pode ser aumentada:
1. Aumentando-se o nº de moléculas em solução, ou seja, sua concentração.
2. Aumentando-se a população de moléculas com energia necessária para
reagir, o que pode ser obtido pela elevação de temperatura uma vez que
um nº maior de moléculas atingirá a energia de ativação e a velocidade
aumentará.
3. Diminuindo a barreira da Energia de Ativação, pois com esta diminuição,
mesmo mantida a temperatura inicial, um nº maior de moléculas estará em
condições de reagir. Essa redução é obtida pela presença de catalisadores.
Eles são substâncias que aceleram a velocidade de uma reação, sem alterar
a proporção entre reagentes e produtos encontrada no final da reação e sem
serem efetivamente consumidos durante o processo.

1.2. A Eficiência da Catálise Enzimática


As enzimas, como todos os catalisadores, aceleram reações, mas não podem
alterar a constante de equilíbrio ou a variação de energia livre. A velocidade de
uma reação depende da energia livre de ativação, ou energia de ativação (∆G°),
fornecimento da energia necessária para iniciar a reação. A energia de ativação
para uma reação não catalisada é maior do que a de uma reação catalisada.
Em outras palavras, pode-se dizer que uma reação não catalisada ne-
cessita de mais energia para ser iniciada e, por este motivo, sua velocidade
é menor que a da reação catalisada. Dessa forma, pode-se dizer que os

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Bioquímica

catalisadores criam um “novo caminho” para a reação, com um novo estado


de Transição que requer uma Energia de Ativação menor. Em uma reação,
no caso da catálise enzimática, os reagentes são chamados substratos. As
enzimas apresentam propriedades mais interessantes para as células que os
catalisadores inorgânicos.

1.3. Interação Enzima – Substrato


As enzimas são macromoléculas proteicas. Embora o total da molécula en-
zimática seja necessário para o papel catalítico, a ligação com o substrato
dá-se apenas em uma região pequena e bem definida da enzima. Esta região
chama-se Centro Ativo ou Sítio Ativo da Enzima.
O Centro Ativo é formado por resíduos de aminoácidos, trazidos à pro-
ximidade uns dos outros pelos dobramentos da cadeia polipeptídica que defi-
nem a estrutura terciária da proteína. O centro ativo, assim organizado, cons-
titui uma cavidade em forma definida que permite à enzima “reconhecer” seu
substrato. De fato, uma molécula, para ser aceita como substrato, deve ter
a forma espacial adequada para alojar-se no centro ativo e grupos químicos
capazes de estabelecer ligações precisas com os radicais do centro ativo.

Quadro
Classificação das Enzimas e os Tipos de Reações que CATALISAM
Classe Tipo de Reação
Óxido-Redução
1. Óxido-Redutases
AH2 + B  A + BH2
Transferência de Grupos
2. Transferases
A–X+B  A+B–X
Hidrólise
3. Hidrolases
A – B + H2O  A – H + B – OH
Adição de grupos a duplas ou remoção de grupos deixando duplas.
X Y
4. Liases

A – B  A = B + X –Y
Rearranjos Intramoleculares
A–B  A–B
5. Isomerases

Y X Y X
Condensação de duas moléculas, associada à hidrólise de uma ligação de alta
6. Ligases energia (em geral, do ATP)
A+B  A–B

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1.4. Exemplos de especifidade das Enzimas


Enzimas Proteolíticas são específicas para hidrólise de proteínas. A pepsina é
uma enzima proteolítica que hidrolisa ligações peptídicas dos quais participam
grupos carboxílicos de aminoácidos aromáticos como Triptofano, Fenilalanina
e Tirosina, enquanto a tripsina é uma enzima proteolítica que reconhece ape-
nas ligações peptídicas formadas por arginina ou lisina. Graus extremos de
especificidade são encontrados entre as enzimas L-aminoxidases, que são
capazes de reconhecer isômeros na configuração L, sendo inativas para os
aminoácidos na forma D.
pH e Temperatura Interferem na Atividade Enzimática
A maioria das enzimas apresenta um valor de pH para o qual a sua
atividade é máxima. A velocidade da reação diminui à medida que o pH
se afasta desse valor ótimo, que é característico para cada enzima. O pH
ótimo depende do nº e tipo de grupos ionizáveis que a enzima apresenta, e
da sequência em que estão organizados, ou seja, depende da sua estrutura
primária. A eficiência da catálise depende de encontrarem-se, enzima e
substrato com conformação e carga adequadas para permitir a interação.
Com relação à Temperatura:
A 0º C: a velocidade da reação enzimática é próxima de zero. Aumen-
tando-se a temperatura, há aumento de velocidade, porém isto só ocorre en-
quanto a enzima conservar sua estrutura original.
Acima de 50º - 55ºC: a maioria das proteínas globulares (enzimas tam-
bém) são desnaturadas, havendo alterações nas moléculas e havendo tam-
bém perda do poder de catálise.

1.5. Cinética enzimática em termos matemáticos


A velocidade de uma reação química é normalmente expressa em termos de
variação na concentração de um reagente ou de um produto em um determi-
nado intervalo de tempo. Em uma reação do tipo:
A® B V = K [A],
pode-se dizer que a reação catalisada ocorre em duas etapas:
1. A Enzima (E) liga-se reversivelmente ao Substrato (S), formando um com-
plexo Enzima – Substrato (ES).
2. O Produto (P) é liberado e a enzima volta à forma livre, podendo ligar-se a
outra molécula de substrato.
Outro exemplo em uma reação: A + B ® C + D
A e B devem ligar-se simultaneamente ao centro ativo, onde ocorre a
reação, com liberação dos produtos C e D.

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Bioquímica

1.6. Estudando a Cinética Enzimática


Partindo de uma reação S ® P (onde há apenas um substrato e um produto:

A formação do complexo ES ocorre numa velocidade maior que a sua


decomposição e as equações de velocidades correspondentes serão:
V1= K1[E] [S]
V3= K3[ES] Onde K1 > K2 > K3
Logo, a velocidade da reação global, ou seja, a velocidade da formação do
produto é igual a V3, já que esta é a etapa mais lenta e limitante do processo.
K1
[ES] K
E + S  ES K eq = = 1
[E][S] K2
K2
Quando o equilíbrio da 1ª etapa está estabelecido com 50% das enzi-
mas sob a forma livre, haverá 50% das enzimas na forma ES. Nestas condi-
ções a V será ½ V Máxima.
Quando V=1/2 da V MÁX. então: 50% das enzimas está livre e 50% das
enzimas na forma ES (o equilíbrio da 1ª etapa fica estabelecido)
Nesta situação: [S] = KM (constante de Michaelis- Menten)
KM indica a afinidade que uma enzima apresenta pelo seu substrato.
Comparação de KM:
KM = [ S] indica que 50% dos sítios ativos estão ocupados pelo substrato.
Ex1: A enzima Lactato Desidrogenase (LDH) do músculo cardíaco tem
um KM elevado, logo tem baixa afinidade por Piruvato.
Ex2: A LDH do músculo esquelético tem um KM baixo, logo tem alta
afinidade por Piruvato.
Isto significa que o Piruvato será preferencialmente convertido a Lacta-
to no músculo esquelético, mas no cardíaco será preferencialmente usado
no metabolismo aeróbico, ao invés de ser convertido a Lactato.

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2. Considerações sobre a equação de Michaelis-menten


kM = [S]
“A constante de Michaelis-Menten é numericamente igual à [S] que de-
termina a metade da VELOCIDADE MÁXIMA”.
O valor de KM pode identificar o grau de afinidade da ensina pelo subs-
trato. Quando [S] é muito inferior à KM, ou seja KM + [S] é praticamente igual
à KM, conclui-se que:
Com [S] pequenas, a velocidade de reação é diretamente proporcional à [S].
Quando a [S] é muito maior que KM, então:
KM + [S] = [S]
Isto indica que quando [S] é muito elevada, a velocidade da reação é
constante e máxima, independendo da [S].

2.1. Enzimas Alostéricas ou Reguladoras


As propriedades cinéticas de muitas enzimas não podem ser explicadas pelo
modelo de Michaelis-Menten. Um importante grupo é constituído das Enzimas
Alostéricas. Nas enzimas alostéricas, a ligação do substrato a um centro ativo
pode afetar as propriedades dos outros centros ativos, na mesma molécula de
enzima. As enzimas alostéricas são sempre oligoméricas, com sítios regula-
dores e catalíticos topologicamente distintos.
A característica cinética das Enzimas Alostéricas é a relação atípica en-
tre a atividade e a concentração do substrato. Até aqui foi estudado o caso de
enzima em que a ligação de uma molécula de substrato não tem efeito nas
constantes de dissociação intrínsecas dos sítios vagos. Elas têm, neste caso,
curvas de velocidade hiperbólicas. Porém, se a ligação de uma molécula de
substrato induz modificação estrutural ou eletrônica que resulta em afinidades
alteradas dos sítios vagos, a curva de velocidade não seguirá mais a cinética
de Michaelis-Menten e a enzima será chamada alostérica. As enzimas alos-
téricas normalmente apresentam uma curva de velocidade sigmoide.

2.2. Perfeição catalítica


Algumas enzimas estão próximas da perfeição catalítica.
VMÁX
K cat =
[E Total ]

Sendo: Kcat = A constante catalítica que mede para uma dada concen-
tração de enzima, a eficiência máxima obtida em condições de Vmáx, quando
todas as enzimas estão complexadas com o substrato.

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Bioquímica

Kcat é também conhecida como nº de renovação (turnover number) Uma enzima particularmente
útil para exames é a
da enzima, porque equivale ao nº máximo de moléculas de substrato que um
acetilcolinesterase (AChE),
centro ativo converte em produto por segundo. Ela indica a rapidez com que que é importante no controle
uma enzima opera, quando todos os centros ativos estão ocupados. Em ou- de certos impulsos nervosos.
Muitos pesticidas interferem
tras palavras pode-se dizer que Kcat evidencia com que eficiência o complexo com essa enzima, portanto,
enzima-substrato origina produto. agricultores deveriam ser
frequentemente testados
Associando-se o valor de Kcat ao valor de KM, é possível definir-se uma para se ter a certeza de
nova constante Kcat/KM que pode relacionar a eficiência catalítica da enzima que eles não estariam
com a sua afinidade pelo substrato. Quando a relação Kcat/KM tiver um valor sendo inapropriadamente
expostos a essas substâncias
baixo significa que a enzima tem pouca afinidade pelo substrato (logo ↑ KM) tóxicas importantes para
ou baixa eficiência em gerar produto a partir do complexo ES, ou pelas duas a agricultura. Na verdade,
razões. Quando Kcat/KM for um valor alto significa que a enzima tem alta efici- existem mais de 20 enzimas
que são tipicamente usadas
ência em transformar ES em produto (logo Kcat ↑) e portanto alta afinidade pelo em laboratórios clínicos para
substrato (↓ KM) o diagnóstico de doenças.
Existem marcadores
São exemplos de enzimas com alta eficiência: Acetilcolinesterase altamente específicos para
(transmissão do impulso nervoso), Anidrose carbônica (remoção de CO2 dos enzimas ativas no pâncreas,
tecidos) Catalase e Superóxido dismutase (remoção de radicais livres do oxi- nas hemácias, no fígado,
no coração, no cérebro,
gênio). Um exemplo de enzima com pouca eficiência: Pepsina. na próstata e em muitas
glândulas endócrinas. Uma
vez que essas enzimas são
3. Inibidores enzimáticos relativamente fáceis de se
medir, inclusive por meio
São responsáveis pela diminuição da atividade enzimática. Como a ação en- da utilização de técnicas
zimática controla o metabolismo, muitos medicamentos baseiam suas pro- automatizadas, elas fazem
parte dos exames de sangue
priedades na inibição de certas enzimas, como, por exemplo, as Sulfonami-
“de rotina” que o médico pode
das, que combatem infecções bacterianas. requisitar (Campbell & Farrel,
2011, p. 144).
O medicamento age inibindo uma enzima bacteriana que não existe no
organismo do hospedeiro. As propriedades tóxicas de alguns inibidores são
usadas no combate aos insetos. Os inibidores podem ser Irreversíveis e Re-
versíveis, segundo a estabilidade de sua ligação com a molécula de enzima.

3.1. Inibidores Irreversíveis


Reagem quimicamente com as enzimas, levando a uma inativação definitiva.
Um bom exemplo são os compostos organofosforados. Eles formam ligações
covalentes com o grupo OH de resíduos do aminoácido serina ou de iodoace-
tamida que reage com o grupo SH de resíduos do aminoácido cisteína.

Resíduo de cisteína Iodoacetamida

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A rubisco ou RuBisCO Outro exemplo de Inibidor Irreversível é a aspirina (Ácido Acetil-Salicílico).


(ribulose-bisfosfato Atua como antiinflamatório, antipirético e analgésico. Transfere irreversívelmente
carboxilase oxigenase, é a seu grupo acetil para o grupo OH de um resíduo de serina da molécula da enzi-
enzima mais abundante nas
plantas e, por conseguinte, ma Cicloxigenase, inativando-a. Esta enzima é a responsável pela catálise da
a proteína mais abundante 1ª reação da via de síntese das prostaglandinas (substâncias reguladoras de um
no planeta. Esta enzima
conjunto de processos fisiológicos). Sem a ação das prostaglandinas, processos
capta o dióxido de carbono
procedente do ar e um como a reação inflamatória, ficam atenuados. Outro Inibidor irreversível é a pe-
açúcar existente na célula nicilina. Ela se liga a enzimas da via de síntese da parede bacteriana, inibindo-as.
chamado RuDP (ribulose
1,5-difosfato ou RuBP
Desprovidas de parede, as células ficam sujeitas à lise.
- ribulose bis-fosfato). A
reacção entre estes dois
reagentes dá origem a duas 3.2. Inibidores Reversíveis
moléculas do açúcar PGA
(fosfoglicerato).
Podem ser: Competitivos e Não-Competitivos. Os Inibidores competitivos
competem com o substrato pelo centro ativo da enzima. Certas moléculas
A RuBisCO é assim porque apresentam configuração espacial semelhante à do substrato, são
responsável pelo importante
primeiro passo do ciclo de capazes de ligarem-se ao centro ativo da enzima, produzindo um complexo
Calvin e em concreto pela enzima-inibidor semelhante ao complexo Enzima-Substrato. São os Inibidores
fixação do dióxido de carbono Competitivos Ic.
na sua forma orgânica. É
importante dizer que a reação E + Ic  EIc
pode acontecer tanto com
dióxido de carbono quanto O complexo EIc jamais gera produto, logo a atividade enzimática de-
com oxigênio molecular cresce. Os inibidores competitivos são muito empregados por sua atividade
(O2). Quando o oxigênio é terapêutica, já que inibem reações que ocorrem específicamente ou principal-
absorvido, o processo faz
parte da respiração celular, mente no organismo parasita, vírus ou bactéria. Um exemplo importante é o
sem absorção de carbono. medicamento AZT, que é o inibidor da DNA polimerase (transcriptase rever-
Algumas plantas (por volta de
sa), necessária para a replicação do vírus HIV, causador da AIDS.
5% das plantas existentes na
Terra) utilizam um processo Outros exemplos de Inibidores competitivos são também usados na
intermédio e mais seletivo quimioterapia de tumores e de leucemias. Aqui, a célula tumoral comporta-
para absorção do dióxido de
carbono, evitando o contato -se como o agressor do organismo e tem metabolismo diferente do da célula
direto com o oxigênio do ar normal sob vários aspectos, inclusive uma velocidade de multiplicação muito
típico do «processo rubisco»
(às vezes chamado C3), com
maior. As drogas que afetam reações enzimáticas normais e imprescindíveis
o processo chamado C4 ou às células em geral agirão preferencialmente sobre as células tumorais; po-
o CAM (“Crassulacean acid rém também atingirão alguns tecidos normais que se dividem rapidamente,
metabolism”).
como a medula óssea (que produz as células sanguíneas), a mucosa intes-
tinal e os folículos capilares. O alvo de escolha para ação dessas drogas é
a replicação do DNA, em suas várias etapas.

3.3. Inibidores não-Competitivos (INc)


Não têm semelhança estrutural com o substrato da reação que inibem e seu
efeito deve-se à ligação a radicais que não pertencem ao centro ativo; esta
ligação altera a estrutura enzimática inviabilizando a catálise. O ponto de liga-

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Bioquímica

ção do inibidor não-competitivo (INC) é a cadeia lateral de um aminoácido, por


exemplo: o grupo OH da serina ou o SH da cisteína. Têm ação inespecífica,
podendo atuar sobre grande número de enzimas (diferente do que ocorre O C4 usa estruturas dentro
com os Ic). da célula e um sistema
bioquímico de transporte
E + INc  E - INc que envolve moléculas
com quatro átomos de
carbono (por isso C4). O
3.4. Diferença entre INC e Irreversível CAM é usado por plantas
em ambientes muito áridos,
Nos inibidores irreversíveis, uma molécula enzimática ligada ao inibidor está em que os estômatos só
definitivamente inativada. Nos inibidores reversíveis não-competitivos, abrem à noite, a fim de
economizar água, que se
(INc) uma molécula de enzima, que, em um instante, está ligada ao inibidor perderia por evaporação,
(inativa), pode tornar-se ativa, ao ficar livre do inibidor, em um momento se- se estes ficassem abertos
guinte. Exemplos de INc são os metais pesados como Hg2+, Pb2+, Ag+ que rea- durante o dia. Assim, à
noite, absorvem o dióxido de
gem com os grupos SH das proteínas. São altamente tóxicos. carbono em moléculas de
quatro carbonos que ficam
armazenadas em vacúolos
3.5. Antimetabólitos ou Análogos de Substratos para serem utilizadas durante
o dia. Os processos C3, C4
Têm fórmula estrutural semelhante aos substratos naturais e, ao contrário dos e CAM têm vantagens e
inibidores competitivos, ligam-se ao centro ativo e geram produtos. No en- desvantagens.
tanto, os produtos gerados por eles são diferentes do produto gerado pelo
O C3 é mais direto, gastando
substrato e não prosseguem na sequência metabólica normal, por não serem cerca de 18 ATPs para fixar
aceitos como substrato pela enzima seguinte, por serem instáveis ou por qual- cada molécula de dióxido
quer outro mecanismo. de carbono, mas requer
concentrações mais altas
A via metabólica sobre a qual interferem fica, portanto, interrompida. Mui- de dióxido de carbono e
tos antimetabólitos ocorrem naturalmente, sendo muitas vezes mecanismo de água. O C4 requer mais
estruturas e mais energia
defesa de vegetais contra a ingestão de suas folhas e sementes por insetos, (30 ATPs), porém trabalha
pássaros e mamíferos. Um grande nº de quimioterápicos é constituído por aná- com concentrações de
dióxido de carbono mais
logos de substratos, particularmente utilizados no tratamento do câncer.
baixas na atmosfera e
é mais apropriado para
ambientes secos. O CAM
3.6. Regulação da Atividade Enzimática é usado em ambientes
predominantemente áridos,
Ocorre basicamente por controle da disponibilidade de enzimas exercido so- mas fixa pouco dióxido de
bre as velocidades de síntese e de degradação das enzimas, que determinam carbono, levando a taxas de
sua concentração celular e por controle da atividade da enzima, efetuado por crescimento da planta mais
baixas.
mudanças estruturais da molécula enzimática e que redundam em alterações
da velocidade de catálise.
Algumas enzimas tornam-se funcionais através de outros processos de
ativação. Certas enzimas são sintetizadas na formas de precursores inativos,
chamados zimogênios. É necessário que haja hidrólise de certas ligações
peptídicas e remoção de um segmento da cadeia de aminoácidos para que
um zimogênio adquira propriedades de enzima. Dessa forma a cadeia poli-

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LIBERATO, M. C. T. C.; OLIVEIRA, M. S. C.

peptídica que resta assume uma nova estrutura espacial onde é, então, or-
ganizado um centro ativo funcional. Exemplos de enzimas sintetizadas como
zimogênios são a pepsina e a quimiotripsina.

4. Cofatores
São denominados Cofatores moléculas ou íons que se associam a um grande
número de enzimas para que elas possam exercer seu papel catalítico. Eles
podem ser íons metálicos ou moléculas orgânicas, não-proteicas, de complexi-
dade variada, que recebem o nome de coenzimas. Os íons metálicos ligam-se
aos radicais de aminoácidos de cadeia proteica ou estão presentes em grupos
prostéticos. As enzimas atuam como aceptores de átomos ou grupos funcionais
retirados do substrato em uma dada reação e como doadores destes mesmos
grupos ao participarem de uma outra reação. Por isto diz-se que são transpor-
tadoras de determinados grupos.
Durante a catálise, coenzima e substrato acham-se alojados no centro
ativo da enzima, consistindo a reação na remoção de determinado grupo quí-
mico do substrato e sua transferência para a enzima, ou vice-versa. Em alguns
casos, a coenzima encontra-se ligada covalentemente à molécula enzimática,
constituindo, portanto, um grupo prostético da proteína; em outros casos, a co-
enzima é uma molécula “livre”, reunindo-se à enzima apenas no momento da
catálise.
A estrutura química de uma coenzima é bastante variável. Algumas como
a Adenosina Trifosfato (ATP) e a Guanina Trifosfato (GTP) são completamente
sintetizadas pelas células. Outras apresentam um componente orgânico que
não pode ser sintetizado pelos animais superiores. Deve ser obtido através da
dieta, constituindo uma vitamina.
As vitaminas são necessárias na dieta em pequenas quantidades já que
são precursores de coenzimas. As vitaminas são divididas em Hidrossolú-
veis e Lipossolúveis. As Hidrossolúveis incluem as vitaminas do complexo
B: tiamina (B1), riboflavina (B2), ácido pantotênico (B3), nicotinamida (B5), piri-
doxina (B6); biotina (B7), ácido fólico (B9), cobalamina (B12) e o ácido ascórbico
(vitamina C). As vitaminas lipossolúveis são: A, D, E, K. São as vitaminas hi-
drossolúveis as que têm função de coenzimas ou fazem parte de moléculas
de coenzimas.

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Bioquímica

Atividades de avaliação
1. Considerando a reação A → B, não catalisada:
a) Definir velocidade de reação.
b) Escrever a equação de velocidade em função da concentração de A.
2. Definir enzima, substrato e sítio ativo.
3. Escrever as reações de formação do produto a partir de E e S. Escrever a
equação de velocidade de formação de P.
4. Fazer o gráfico da velocidade da reação S → P, catalizada enzimaticamente,
em função da concentração de S. Descrever os procedimentos experimen-
tais, que levariam à obtenção dos dados para a construção deste gráfico.
5. Analisando o gráfico do item 4, verificar, em cada trecho da curva, as con-
centrações de Enzima livre, substrato e complexo ES.
6. Definir constante de Michaelis-Menten (KM) e mostrar a relação entre seu
valor e a afinidade da enzima pelo seu substrato.

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7. Definir e dar exemplos de inibidor competitivo e não-competitivo.


8. Definir cofator. Dar exemplos de cofatores inorgânicos (ativadores metáli-
cos) e orgânicos (coenzimas).
9. Definir vitaminas, relacionando sua função com atividade enzimática.
10. Caracterizar enzima alostérica. Definir centro alostérico. Qual a diferen-
ça entre a curva de velocidade de uma enzima comum e a de uma en-
zima alostérica?
11. Definir regulação enzimática por modificação covalente.
12. Representar o grupo ativo de NAD+ e de FAD nas formas reduzida e oxidada.
13. Definir Zimogênio.
14. Descreva as enzimas LDH, CK e AChE. Após um ataque cardíaco qual
enzima cardíaca aparece primeiro: a LDH ou a CK ?

Texto complementar
Algumas enzimas são encontradas somente em tecidos específicos ou em um número
limitado de tecidos. A enzima lactato-desidrogenase (LDH) apresenta-se de duas for-
mas diferentes, chamadas de isoenzimas, no coração e nos músculos. As duas formas
diferenciam-se discretamente na composição de aminoácidos e podem ser separadas
com base nas cargas resultante dessa diferença. Uma vez que a LDH é um tetrâmero
de quatro subunidades, ela também pode existir em cinco diferentes formas, depen-
dendo da origem das subunidades. Um aumento de qualquer forma de LDH no sangue
indica algum tipo de dano tecidual.
Um ataque cardíaco poderá ser diagnosticado com certeza se houver um aumento
da forma cardíaca do LDH. De modo similar, existem diferentes formas da creatina-qui-
nase (CK), uma enzima que se encontra no cérebro, no coração e no músculo esque-
lético. O aparecimento da forma cerebral pode indicar um acidente vascular cerebral
ou um tumor no cérebro, ao passo que o tipo cardíaco indica o infarto. Depois de um
ataque cardíaco, a CK aparece no sangue mais rapidamente do que a LDH.
A monitoração da presença de ambas as enzimas permite melhorar a possibilidade
de diagnóstico, o que é muito útil, uma vez que um ataque cardíaco brando pode ser
difícil de ser diagnosticado. Um nível elevado da isoenzima cardíaca no sangue é uma
indicação segura de dano no tecido cardíaco (Campbell & Farrel, 2011, p. 144).

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Bioquímica

Sites
veja.abril.com.br/.../enzima-pode-ser-novo-alvo-na-luta-contra o mal de parkinsom.
www.not1.com

Referências
CAMPBELL, M. K.; FARREL, S. O. Bioquímica. Vol 1. São Paulo: Cengage
Learning - 2011. O Comportamento das Proteínas: Enzimas é o título do Ca-
pítulo 6 do volume 1 desse livro. São apresentados os tópicos relativos ao
assunto e todos comentados de forma muito didática.
CHAMPE, P. C.; HARVEY, R. A.; FERRIER, D. R. Bioquímica Ilustrada.
4ª Ed. Porto Alegre: Artmed, 2009. Na Unidade I do livro, no Capítulo 5, são
apresentados os tópicos relativos às Enzimas. O livro é ricamente ilustrado
tornando o assunto de fácil compreensão.
COOPER, Geoffrey M. (2000). “10.The Chloroplast Genome”. The Cell: A Mo-
lecular Approach (2nd ed.). Washington, D.C: ASM Press.ISBN 0-87893-106-6.
MAHAN, K.; ESCOTT-STUMP. Alimentos, nutrição & dietoterapia. São
Paulo: Roca, 2005. Enzimas foram comentados no Capítulo 1 (Digestão, Ab-
sorção, Transporte e Excreção de Nutrientes).
MARZZOCO, A.; TORRES, B. B. Bioquímica Básica. 2ª Ed. Rio de Janeiro:
Ed. Guanabara Koogan S. A., 1999. Os autores apresentam Enzimas na
Parte 1 de seu livro no capítulo 5, comentando amplamente sobre o assunto.

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Capítulo 6
Ácidos nucleicos

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Bioquímica

Objetivos
•• Conhecer as estruturas formadoras do DNA e RNA.
•• Aprender as funções de DNA e RNA.
•• Fazer a diferença entre DNA e RNA.
•• Saber o que é o genoma humano.
•• Conhecer a replicação do DNA.
•• Perceber como se dá o teste de DNA ou teste de reconhecimento de paternidade.

Introdução
Os ácidos nucleicos têm sido objeto de investigação bioquímica desde que fo-
ram, pela primeira vez, isolados no núcleo da célula, há mais de 100 anos. Eles
ocorrem em todas as células vivas, onde não só são responsáveis pelo arma-
zenamento e transmissão da informação genética, mas também pela tradução
dessa informação, expressa pela síntese precisa das proteínas, características
de cada célula. São biopolímeros de alto peso molecular como as proteínas,
só que, nos Ácidos Nucleicos, a unidade que se repete é o mononucleotídeo.
Um nucleotídeo consiste em uma base, uma ose e um ou mais grupa-
mentos fosfato. Os nucleotídeos possuem uma variedade de papéis no meta-
bolismo celular. São moedas energéticas nas transações metabólicas; os elos
químicos essenciais na resposta das células aos hormônios e outros estímu-
los extracelulares e os componentes estruturais de uma coleção de cofatores
enzimáticos e intermediários metabólicos, além é claro, de constituírem os
Ácidos Nucleicos: Ácido Desoxirribonucleico (DNA) e Ácido Ribonucleico
(RNA), que são as moléculas repositórias da informação genética.
A ose em um desorribonucleotídeo é a desoxirribose. O prefixo desoxi
indica que nesta ose falta um átomo de oxigênio que está presente na ribose,
o composto original. A base nitrogenada é um derivado de purina ou pirimidi-
na. São as bases das moléculas de DNA que levam a informação genética
enquanto seus grupamentos ose e fosfato têm um papel estrutural.
Os nucleotídeos formam uma porção de coenzimas, tais como FAD,
NAD , NADP+, Coenzima A e S–Adenosil-Metionina. As estruturas básicas do
+

DNA e RNA consistem em cadeias nas quais Ácido Fosfórico e resíduos de


açúcar alternam-se. No RNA, o açúcar é a D-ribofuranose. No DNA, o açúcar
é a 2-desoxi-D-ribofuranose. Ligada a todas as unidades de açúcar, há uma

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base nitrogenada que pode ser tanto um derivado purínico como pirimidínico.
É a sequência de bases nas longas cadeias de açúcar-fosfato que determina
as propriedades biológicas da molécula.

1. Estrutura dos nucleotídeos


Tanto o RNA como o DNA contêm as duas purinas, Adenina e Guanina.
Várias bases menos comuns foram encontradas nos RNA de transferência
(RNA transportadores, tRNA). Entre elas, estão a hipoxantina, a 1-metil-
hipoxantina, 1-metilguanina, e treonilcarbamoiladenina. Também a pirimidina
Citosina é comum ao RNA e DNA, mas, os dois tipos de ácidos nucleicos
diferem na quarta base nitrogenada, o RNA contém Uracila enquanto o DNA
contém Timina. Portanto todos os ácidos nucleicos contêm adenina, guanina
e citosina. O DNA (mas não os RNAs), também contém Timina, enquanto os
RNAs (mas não o DNA), também contêm Uracila.

A estrutura das bases que contêm oxigênio foi escrita na forma cetônica
(ou lactâmica). É necessário salientar que há um equilíbrio entre as formas
cetônicas e enólicas (ou lactímicas) o qual depende do pH do meio. É a forma
lactâmica que predomina na pH fisiológico.
Outras pirimidinas têm sido detectadas em amostras purificadas de
DNA; 5-metilcitosina ocorre em DNA isolado do germe do trigo e outras fontes
vegetais. Também têm aparecido traços dessa base no DNA do timo e em
outras fontes, nos mamíferos. A citosina é substituída pela 5-hidrometilcitosina

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Bioquímica

no DNA de certos vírus bacterianos, principalmente os bacteriófagos T que


infectam E. coli. Em tRNA, foram encontrados os derivados de pirimidina - dii-
drouracila, pseudouridina e 4-tiouracila.

1.1. Nucleosídeos
A molécula de nucleotídeo sem o grupo fosfato é chamada de nucleosídeo.
Os nucleotídeos são, portanto, ésteres de Ácido Fosfórico dos nucleosídeos.

Quadro
NOMES DOS NUCLEOSÍDEOS
BASE RIBONUCLEOSÍDEO DESOXIRRIBONUCLEOSÍDEO

ADENINA ADENOSINA 2’ – DESOXIADENOSINA


GUANINA GUANOSINA 2’ – DESOXIGUANOSINA

URACILA URIDINA 2’ – DESOXIURIDINA

CITOSINA CITIDINA 2’ – DESOXICITTIDINA

TIMINA TIMINA RIBONUCLEOSÍDEO 2’ – DESOXITIMIDINA

O resíduo de ribose de um ribonucleotídeo tem três posições (as hidro-


xilas dos carbonos 2’, 3’ e 5’), onde o fosfato pode ser esterificado, enquanto
que o 2’-desoxirribonucleosídeo tem somente as posições 3’ e 5’ disponíveis.
Todas essas possibilidades podem ser obtidas pela hidrólise parcial de Ác.
Nucleicos por vários métodos. Além disso, vários componentes celulares são
ésteres 5’-fosfato.
Um dos mais importantes nucleotídeos que ocorre naturalmente é a
Adenosina-5’-Monofosfato (AMP). Esse composto em conjunto com dois
de seus derivados, Adenosina-5’-Difosfato (ADP) e Adenosina-5’-Trifosfa-
to (ATP) exerce um papel extremamente importante na conservação e utiliza-
ção da energia liberada durante o metabolismo celular. O significado fisiológi-
co desses componentes consiste na sua capacidade de doar e aceitar grupos
fosfato em reações bioquímicas.
O impedimento estérico pela base heterocíclica determina que uma vez
formada, não existe liberdade de rotação em torno da ligação β-N-glicosídica,
que une os açúcares às purinas ou pirimidinas. Os nucleosídeos e os nucleotí-
deos, assim, existem como Confôrmeros estáveis, não-interconversíveis, syn
e anti, que só podem ser interconvertidas pela ruptura e reformação da ligação
da ligação glicosídica. Embora ambos os confôrmeros ocorram naturalmente,
os confôrmeros anti predominam e é o confôrmero anti de nucleotídeos que
participa no pareamento normal das bases na DNA dupla fita.

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2. Principais Bases, Nucleosídeos e Nucleotídeos


Quadro

BASE NUCLEOSÍDEO X=RIBOSE OU


NUCLEOTÍDEO X-Ribose fosfato
X=H DESOXIRRIBOSE
ADENINA ADENOSINA ADENOSINA MONOFOSFATO
A A AMP
GUANINA GUANOSINA GUANOSINA MONOFOSFATO
G G GMP
CITOSINA CITIDINA CITIDINA MONOFOSFATO
C C CMP
URACILA URIDINA URIDINA MONOFOSFATO
U U UMP
TIMINA TIMIDINA TIMIDINA MONOFOSFATO
T T TMP

As abreviações A, G, C, T e U referem-se às bases adenina, guanina,


citosina, timina e uracila, respectivamente, tanto no estado livre, como forman-
do os nucleosídeos ou nucleotídeos. O prefixo “d” (deoxi) indica que o açúcar
é 2’-dioxi-D-ribose, ex., dGTP. Os nucleosídeos fosforilados no carbono 3’- ou
no 5’ da ribose são denominados nucleosídeo 3’-monofosfato e nucleopídeo
5’-monofosfato respectivamente. Ex.: adenosina 3’-monofosfato ou 3’-AMP.
Contudo, como o 5’-hidroxil é um produto esterificado dos mais comuns, “5”- é
omitido quando se refere a 5’-nucleotídeos.
OBS: Um número com apóstrofo indica um átomo da ribose ou da
desoxirribose, enquanto um número sem apóstrofo indica um átomo de anel
de purina ou pirimidina.
As abreviações tais como “UMP” ou “AMP”, portanto, dizem respeito
a nucleotídeos em que o fosfato liga-se, por um grupo éster, ao carbono 5
da pentose. Fosfatos adicionais, unidos por ligações anidridos de ácidos aos
fosfatos já existentes em um mononucleotídio, formam nucleosídeos di - e
trifosfatos, tais como ADP (adenosina difosfato) e ATP (adenosina trifosfato).
Os mono, di e trifosfato de adenosina já foram descritos. Existem deriva-
dos correspondentes de guanosina, citidina e uridina, assim como de desoxia-
denosina, desoxicitidina, e desoxitimidina que exercem funções importantes
no metabolismo celular. Por exemplo, os nucleosídeos 5’-trifosfato servem
como precursores da síntese de RNA e DNA. Derivados de certos nucleosí-
deos 5’-difosfato agem como coenzimas, fornecendo resíduos de açúcares
em certas reações; outros derivados de adenosina – 5’-difosfato participam de
reações de óxido-redução. Assim, uridina 5’-disfosfato, ligada à glucose, ser-
ve como doador de glucose. Adenosina – 5’-disfosfato, ligada à nicotinamida,
forma uma coenzima de óxido-redução extremamente importante, a nicotina-
mida – adenina – dinucleotídeo, NAD+.

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Bioquímica

3. DNA e RNA
Em células procarióticas, o DNA normalmente ocorre sob forma de um anel
composto de uma fita dupla extremamente torcida, parcialmente associado
com a porção interna da membrana plasmática, mas livre de complexos pro-
teicos. Ao contrário, cerca de 98% do DNA total numa célula diferenciada tí-
pica, eucariótica, é encontrado no núcleo, como um polímero composto de
uma fita dupla extremamente torcida, ligado a proteínas básicas chamadas
Histonas; o complexo é conhecido como Cromatina. Quantidades muito
menores de DNA são sempre encontradas na matriz mitocondrial de células
eucarióticas e em cloroplastos, sob a forma de pequenos anéis formados de
fitas duplas, livres de complexos proteicos.
O segundo ácido nucleico componente da célula, o RNA, ocorre em
múltiplas formas, todas elas servindo como elos informacionais extremamente
importantes entre DNA, o veículo fundamental da informação, e as proteínas.
O menor desses polímeros é chamado RNA transportador (tRNA). O tRNA
corresponde a cerca de 60 diferentes espécies moleculares. Os tRNA exer-
cem uma série de funções sendo a mais importante delas agir como transpor-
tadores específicos de aminoácidos ativados para locais determinados nos
moldes sintetizadores de proteínas.
Os tRNA compreendem cerca de 10-15% do RNA total da célula. Um
segundo grupo de RNA inclui os RNA ribossômicos (rRNA). Esses ácidos
nucleicos estão sempre associados com um grande número de proteínas num
complexo altamente ordenado chamado Ribossoma. Eles perfazem cerca
de 75-80% do RNA total de célula. O terceiro grupo importante de RNA é for-
mado pelos RNA mensageiros (mRNA) que compreendem cerca de 5-10%
do RNA total da célula. Em células bacterianas, os mRNA são extremamente
instáveis, no sentido de serem constantemente degradados e ressintetizados.
Em células eucarióticas, a velocidade de renovação é muito menor. Esses
ácidos nucleicos, com uma composição básica muito semelhante àquela do
DNA, estão intimamente envolvidos na transcrição e tradução da informação
programada pelo DNA para a síntese das proteínas.

3.1. Determinação das relações molares entre as bases nos áci-


dos nucleicos
As características fundamentais de um ácido nucleico são a composição e
a sequência de bases purínicas e pirimidínicas. Dados de composição são
usados para calcular a equivalência entre A e U e entre C e G no RNA; e
entre A e T e entre C e G no DNA. Estudos estruturais concluíram que DNA
de diferentes fontes tinham padrões de difração de RX semelhantes. Isso

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sugeriu um padrão molecular uniforme para todas as moléculas de DNA.


Os dados também sugeriram que o DNA consistia de duas ou mais cadeias
polinucleotídicas arranjadas numa estrutura helicoidal.
Com evidências baseadas no pareamento, na equivalência e em dados
de titulação que sugeriam que as longas cadeias de nucleotídeos são man-
tidas unidas por meio de pontes de hidrogênio entre os resíduos de bases,
Watson e Crick construíram seu modelo de DNA, em 1953. Nesse modelo,
duas cadeias polinucleotídicas estão enroladas numa dupla hélice. As carac-
terísticas importantes de seu modelo de DNA são:
1. Duas cadeias polinucleotídicas helicoidais estão enroladas em torno de um
eixo comum. As cadeias correm em sentidos opostos.
2. As bases purínicas e pirimídicas estão do lado de dentro da hélice, enquan-
to as unidades fosfato e desoxirribose estão de fora. Os planos das bases
são perpendiculares ao eixo da hélice. Os planos das oses são mais ou
menos perpendiculares aos das bases.
3. O diâmetro da hélice é de 20 Å. Bases adjacentes são separadas por por
3,4 Å, ao longo do eixo da hélice, e com uma rotação de 36 graus. Assim a
estrutura helicoidal se repete a cada 10 nucleotídeos em cada cadeia, isto
é, a intervalos de 34 Å.
4. As duas cadeias são mantidas juntas por pontes de hidrogênio entre os pa-
res de bases. Aadenina está sempre pareada com a timina. A guanina está
sempre pareada com a citosina.
5. A sequência de bases ao longo de uma cadeia polinucleotídica não é, de ne-
nhum modo, restrita. A sequência exata de bases leva a informação genética.
Assim, temos uma estrutura espacial formada de duas cadeias enrola-
das em torno de um eixo comum e mantidas unidas pelas ligações específicas
de adenina com timina e citosina com guanina. As cadeias não são idênticas,
mas, por causa do pareamento de bases, uma é exatamente o complemento
da outra. O aspecto mais importante da dupla hélice de DNA é a especificida-
de do pareamento das bases. Watson e Crick deduziram que a adenina deve
se parear com a timina, e a guanina com a citosina, devido a fatores estéricos
e de pontes de hidrogênio. A dupla hélice de DNA pode ser reversivelmente
separada. Os dois filamentos da hélice de DNA são separados quando as
pontes de hidrogênio são rompidas entre suas bases pareadas.

3.2. Replicação semiconservativa do DNA


O poder do DNA de formar uma hélice dupla é de grande importância quando
se considera sua função na célula. O DNA é capaz de produzir cópias exatas
de si mesmo. É a Replicação. A molécula de DNA abre-se ao meio. As duas

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Bioquímica

cadeias de polinucleotídeos se separam. São formadas novas cadeias com-


plementares, ao longo de cada polinucleotídeo matriz. O processo de duplica-
ção do DNA é Semiconservativo, pois cada molécula recém-formada recebe
uma cadeia de polinucleotídeo da original.
Os fenômenos de replicação de DNA só ocorrem na presença da DNA-
-polimerase e a energia necessária para a replicação é obtida a partir do ATP.
Embora as informações para a síntese das proteínas encontrem-se no núcleo
da célula, elas são produzidas predominantemente no citoplasma O RNA é o
mensageiro do DNA que comanda a síntese das proteínas.
A estrutura helicoidal dupla sugere um mecanismo para a replica-
ção perfeita da informação genética. Por causa da complementaridade da
estrutura helicoidal, cada fita serve de molde para especificar a sequência
de bases na síntese de uma nova fita complementar. Em consequência,
na síntese de duas moléculas-filhas de DNA, cada uma será perfeitamente
idêntica à do DNA-mãe. Esta distribuição de átomos parentais é chamada de
semiconservativa.

Figura digitalizada a partir da página 39 do Livro “Color Atlas of Genetics”de Eberhard


Passarge publicado pela Editora Thieme em 1995.

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Representação da forquilha de replicação, onde estão mostradas as principais enzimas


e cofatores que formam o complexo de replicação (figura disponível no site www.ncbi.
nlm.nhi.gov livro The Cell: A molecular Approach, de J. Cooper, Sinauer Assoc. Co.).

3.3. RNA
No RNA, a ribose substitui a Desoxirribose e a Uracila substitui a Timina (for-
mando par com Adenina). Embora o DNA seja quase que exclusivamente
nuclear (exceção: encontrado em cloroplastos e em mitocôndrias), o RNA é
tanto nuclear como citoplasmático. Denomina-se Transcrição ao processo
mediante o qual a mensagem do DNA é transportada para o RNA.
O RNA transportador desempenha um papel-chave na síntese protei-
ca. Cada molécula de tRNA transporta um aminoácido para os ribossomos e
decifra a informação contida no RNA mensageiro em termos de aminoácidos
(correspondentes ao código), dispondo-os na sequência correta. 60 – 70% da
molécula dos tRNA apresenta uma estrutura helicoidal. Essa e outra evidência
indicam uma estrutura em folha de trevo para todos os tRNA, com o anticódon
(isto é, a trinca de nucleotídeos necessários para o ajuste do tRNA específico

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Bioquímica

ao molde de mRNA, durante a síntese de proteínas) localizado na pétala


central do trevo. Outros pesquisadores sugeriram uma estrutura terciária para
o tRNA, o que está mais próxima à realidade.
Várias espécies de RNA ocorrem em ribossomos procarióticos e euca-
rióticos e é designado RNA ribossômico. O RNA ribossômico (rRNA) tem uma
estrutura helicoidal resultante do dobramento de uma polímero de fita simples
sobre si mesmo, em áreas onde são possíveis ligações por pontes de hidrogê-
nio. Porém, o rRNA não ocorre como um polímero de fita dupla. Além do mais,
uma vez que o rRNA não tem a estrutura helicoidal do DNA, estável e extre-
mamente rígida, ele pode existir em várias conformações. Assim, na ausência
de eletrólitos ou em altas temperaturas, pode ocorrer uma conformação de
fita simples. Em forças iônicas baixas, pode aparecer em bastão compacto
com regiões helicoidais regularmente arranjadas e, em forças iônicas altas,
aparece uma espiral compacta.
Principalmente a concentração de Mg++ tem um papel importante nas
estruturas macromoleculares do RNA, possivelmente porque o Mg++ forma li-
gações de coordenação com os grupos fosfato do ácido nucleico. Em baixas
concentrações de Mg++, ocorre dissociação dos complexos de RNA, enquanto
que em altas concentrações de Mg++ a associação dos complexos é favorecida.
Por causa da heterogeneidade e instabilidade metabólica do RNA men-
sageiro, só recentemente foi possível uma caracterização cuidadosa. O RNA
mensageiro parece ser principalmente de fita única, e sua complementarie-
dade em relação à sequência de bases do DNA foi demonstrada através da
formação de moléculas híbridas artificiais de DNA-RNA de fita dupla.

3.4. Estruturas
A estrutura da molécula de DNA corresponde a uma escada espiralada, onde
os pares de bases nitrogenadas representam os degraus e a ligação fosfato-
-açúcar os corrimões. Pode ser representada assim:
A G C T

A linha vertical refere-se à ose, enquanto A, G, C e T representam as


bases. No diagrama, P dentro da linha em diagonal indica uma ligação fosfo-
diéster. Esta linha diagonal une o meio de uma linha vertical com a ponta da
outra. Estas funções referem-se respectivamente a 3’-OH e a 5’-OH.

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Agora se for:

pApCpG ou pACG

Isto mostra que uma cadeia de DNA tem polaridade, pois uma ponta de
cadeia tem um grupamento 5’-OH e a outra um 3’-OH, nenhum deles ligado a
outro nucleotídeo. Quanto à Estrutura do RNA pode-se dizer que: A molécula
é formada por 1 única cadeia de polinucleotídeo, que se torna dupla ocasio-
nalmente ao dobrar-se em torno de si mesma.

Quadro
DIFERENÇAS ENTRE DNA E RNA
DNA RNA
Principalmente no Núcleo Localização Principalmente no Citoplasma
Adenina Adenina
Bases Púricas
Guanina Guanina
Timina Uracila
Bases Pirimídicas
Citosina Citosina
Desoxirribose Pentose Ribose

Ácido Fosfórico Ligação entre Nucleotídeos Ácido Fosfórico

Depósito de Informações Genéticas Função Síntese de Proteínas

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Bioquímica

Retrovírus (HIV): Recebe


3.5. Desnaturação do DNA esse nome pelo fato de sua
replicação ocorrer de trás
As pontes de hidrogênio entre os pares de base são importantes para manter a
para frente, se comparado
estrutura da dupla-hélice. Para romper as pontes de hidrogênio e as interações ao dogma central da Biologia
do empilhamento das bases na conformação nativa do DNA é necessário que Molecular (cria DNA a partir
do RNA, pois a sequência de
seja cedida energia a uma amostra de DNA, como por aquecimento ao DNA bases de RNA nesse caso é
em solução, por exemplo. A desnaturação por calor também pode ser chama- quem direciona a síntese do
da fusão. Quando o DNA sofre aquecimento, as fitas se separam. A desnatura- DNA).
ção por aquecimento é uma maneira de obter um DNA de fita simples.

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4. Fluxo de Informações Genéticas na Célula


A sequência de bases no DNA codifica a informação genética. Uma etapa ne-
cessária sempre que uma célula se divide para produzir células filhas é a du-
plicação do DNA, dando origem a uma nova molécula de DNA com a mesma
sequência de bases que a original. Esse processo, como já foi dito, chama-se
replicação. O DNA não é o molde direto para a síntese de proteínas. Estes
moldes são as moléculas de RNA. A formação de produtos dos genes requer
RNA; a produção de RNA em um molde de DNA é chamada transcrição.
A sequência de bases do DNA reflete-se na sequência de bases do RNA.
Três tipos de RNA estão envolvidos na biossíntese de proteínas; dos três, o
RNA mensageiro (mRNA) tem importância especial. Uma sequência de três ba-
ses no mRNA especifica a identidade de um aminoácido da forma direcionada
pelo código genético. O processo pelo qual a sequência de bases dirige a se-
quência de aminoácidos é chamado tradução. Em quase todos os organismos,
o fluxo de informações genéticas é DNA → RNA → Proteínas.
As exceções são os retrovírus, onde o RNA, e não o DNA, é o material
genético. Os genes especificam os tipos de proteínas que são feitos pelas
células. Expressam-se fenotipicamente através das proteínas que produzem.
Ex.: olhos escuros: células da íris com genes para produção das proteínas
responsáveis pelo pigmento escuro.
Gene → Proteína → Fenótipo

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Bioquímica

4.1. Diagnóstico pelo DNA


A genética molecular é uma ferramenta. É o estudo da expressão e herança
dos genes a nível molecular. Na clínica bioquímica isso envolve o estudo das
diferenças nas sequências de pares de base no DNA. A análise do DNA de
um paciente e dos seus genes pode fornecer informação para o diagnóstico.
Mutações em genes isolados podem causar doenças hereditárias como
fibrose cística, anemia falciforme, hipercolesterolemia familiar e distrofia mus-
cular de Duchenne, enquanto que desordens em vários genes são importantes
nas doenças mais comuns tais como doença coronariana, diabetes mellitus e
câncer. Duas proteínas diferentes quanto aos efeitos biológicos podem pos-
suir os mesmos aminoácidos. Como? As características específicas de cada
proteína dependem da sequência dos aminoácidos. Um bom exemplo a ser
estudado é a anemia falciforme. Esse problema ocorre devido à mudança de
um único aminoácido em uma molécula formada por 600 aminoácidos.
Hemoglobina normal: Val – His – Leu – Thr – Pro – Glu – Glu - etc.
Hemoglobina Anormal: Val – His –Leu – Thr – Pro – Val – Glu - etc.

4.2. Genoma Humano


A maior parte do genoma humano não tem código para proteínas funcionais,
pois elas são longas regiões entre e dentro dos genes. O genoma não é idêntico
entre uma pessoa e outra: uma média de 200 pares de bases serão diferentes.
Quando uma mudança ocorre na região de código, poderá levar à síntese de
uma proteína alterada, defeituosa em sua função.
Mudanças na região de não-código são frequentemente neutras, mas
podem ser úteis para o geneticista molecular. Recentemente, mudanças no
não-código do DNA têm sido identificadas como causa de doenças como
Síndrome X e distrofia miotônica. A Reação em Cadeia da Polimerase é um
método usado para aumentar uma quantidade pequena de DNA com base na
reação de enzimas isoladas.

4.3. Endonucleases de Restrição


O DNA pode ser fracionado em pequenos pedaços por enzimas chamadas
Endonucleases de Restrição. Essas enzimas são restritas ao corte de DNA
numa sequência de pares de bases específicas.
A presença de sítios polimórficos, onde há diferenças na sequência
dos pares de bases do DNA pode criar ou abolir um lugar de corte para uma
particular enzima endonuclease de restrição. Dessa forma, os polimorfis-
mos levam à produção de fragmentos de diferentes comprimentos depois
da ação da enzima.

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Atividades de avaliação
1. Escreva a sequência complementar (na notação padrão 5’→3’) para:
a) GATCAA; b) ACGCGT; c) TCGAAC; d) TACCAT
2. Uma amostra de DNA contendo 30% de adenina e 20% de guanina prova-
velmente conterá ____% de Timina e _____% de citosina.
3. a) Compare e contraste RNA e DNA, relativamente a:
1. Composição química 2. Estrutura secundária
3. Localização nas células vivas - 4. nº dos diferentes “tipos” ou “espécies”
5. funções biológicas
b) Desenhe a fórmula estrutural e dê o nome de:
1. um ribosídeo de purina
2. um desoxirribosídeo – 5’ – difosfato de purina
3. um ribosídeo – 3’, 5’ – difosfato de pirimidina
4. um ribosídeo – 2’, 3’ – difosfato de purina
5. um desoxirribosídeo – 3’, 5’ – monofosfato cíclico de purina.
c) Desenhe a unidade repetitiva da molécula de DNA. Indique as posições
de quebra que são: a) predominantemente nucleosídeo – 3’ – fosfato; b)
predominantemente nucleosídeo – 5’ – fosfato
4. Descreva dois tipos bem diferentes de forças (ou ligações) que estão en-
volvidas na estabilização da estrutura de dupla hélice do DNA.
5. Descreva os tipos de RNA até agora conhecidos, explicando suas funções.
6. Defina os termos replicação, transcrição e tradução
7. Por que se diz que a replicação do DNA é um processo semiconservativo?
8. Descreva o complexo chamado CROMATINA.
9. Definir, em termos de DNA e síntese de proteínas, o termo retrovírus.
10. Cite várias (mais de 2) doenças autoimunes relacionadas com o RNA.
11. Qual o papel das enzimas denominadas Endonucleases de Restrição?
12. Pesquise e fale sobre a “Reação em Cadeia da Polimerase” também co-
nhecida como PCR.
13. Pesquise e fale sobre Métodos de Clonagem.

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Bioquímica

Texto complementar
Lúpus é uma doença autoimune envolvendo o processamento de RNA. Aparece no
final da adolescência ou início da fase adulta com uma erupção cutânea na fronte e
nas bochechas (semelhante às faces de um lobo, daí o nome lúpus). Podem ocorrer
problemas renais, artrite, acúmulo de líquido ao redor do coração e inflamação dos
pulmões. 90% dos doentes são mulheres. Uma vez que o processamento do mRNA
ocorre em todos os tecidos e órgãos do corpo, essa doença afeta vários sistemas e
pode espalhar-se facilmente.

Filmes
Gattaca (Gattaca - Experiência Genética) é um filme de ficção científica
produzido nos Estados Unidos em 1997).
A Experiência (Europa filmes, 2001).
www.clonesfilmes.net
O clone (Clone) - 1997
O outro eu/ eu e meu clone (the order me) - 2000

Referências
CAMPBELL, M. K.; FARREL, S. O. Bioquímica. Vol 2. São Paulo: Thomson
Learning - 2007. Nos capítulos 9, 10, 11, 12, 13 e 14 do vol. 2 são apresentados
tópicos relativos ao assunto e todos comentados de forma muito didática.
CHAMPE, P. C.; HARVEY, R. A.; FERRIER, D. R. Bioquímica Ilustrada. 4ª
Ed. Porto Alegre: Artmed, 2009. Na Unidade VI do livro, nos Capítulos 29, 30,
31, 32 e 33 são apresentados os tópicos relativos aos Ácidos Nucleicos. O
livro é ricamente ilustrado tornando o assunto de fácil compreensão.
STRYER, L. Bioquímica. 4ª Ed. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan S.
A.1996. Os capítulos 4, 5 e 6 apresentam tópicos relativos aos Ácidos Nucleicos.
MURRAY, R. K.; GRANNER, D. K.; MAYES, P. A.; Rodwell, V. W. Harper:
Bioquímica. 8ª ed. São Paulo: Atheneu, 1998. Os capítulos 35, 36, 37, 38, 39,
40, 41 e 42 da Seção IV, abordam tópicos detalhados sobre Ácidos Nucleicos.

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Capítulo 7
Bioenergética

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Bioquímica

Objetivos
•• Conhecer como os processos biológicos ocorrem e de onde vem a energia
necessária para esses processos.
•• Relembrar o conceito de energia livre de Gibbs.
•• Conceituar reações de óxido-redução em um sistema biológico.
•• Verificar a participação de coenzimas nas reações de respiração celular.
•• Verificar a importância do Ciclo de Krebs para a obtenção de intermediários
da via glicolítica.

Introdução
Moléculas consumidas como nutrientes precisam ser decompostas para a
obtenção de energia a ser usada na criação de novas moléculas. Esse pro-
cesso ocorre em várias etapas nas quais os doadores de elétrons transferem
energia aos aceptores de elétrons. A bioenergética é, portanto o estudo da
variação de energia que acompanha as reações bioquímicas, ou seja, ela
descreve a transferência e utilização da energia em sistemas biológicos fa-
zendo uso de algumas ideias básicas da termodinâmica, particularmente do
conceito de energia livre.
Alterações na energia livre (G) fornecem uma medida da probabilidade
energética da ocorrência de uma reação química, permitindo prever se uma
reação irá ocorrer. O conceito de energia livre é essencial para compreender
a função especial que a Adenosina Trifosfato (ATP) desempenha ao transfe-
rir energia de processos catabólicos geradores de energia para reações que
requerem energia. Os sistemas biológicos são essencialmente isotérmicos e
utilizam a energia química para impulsionar os processos vitais.
A bioenergética interessa-se somente pelos estados de energia inicial e
final dos componentes iônicos, e não o mecanismo nem o tempo necessário
para que ocorra a alteração química, ou seja, o que ela prevê é a possibilidade
de um processo ocorrer.
O sentido e a extensão de uma reação química são determinados pelo
grau em que dois fatores são alterados durante a reação. Esses fatores são
a entalpia e a entropia. Entalpia (∆H) é uma medida da mudança no conteúdo
de calor dos reagentes e produtos. Entropia (∆S) é uma medida da desor-
ganização dos reagentes e produtos. Nenhuma delas é por si só suficiente

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LIBERATO, M. C. T. C.; OLIVEIRA, M. S. C.

para determinar se uma reação química poderá ocorrer espontaneamente no


sentido em que é escrita.
Porém, combinadas matematicamente a entalpia e a entropia podem
ser usadas para definir a energia livre de Gibbs, que prediz o sentido em que
a reação ocorrerá espontaneamente. A energia livre de Gibbs, ∆G, é talvez a
forma mais adequada de medir as variações de energia nos sistemas vivos,
pois mede a energia disponível para realizar um trabalho a uma pressão e
temperatura constantes, o que descreve o estado vivo.
∆G = ∆H -T∆S
(onde ∆G é a variação na energia livre; ∆H corresponde à variação na
entalpia e ∆S indica a variação na entropia. T é a temperatura absoluta em
graus Kelvin (K): K = °C +273).

1. Reações Exergônicas e Endergônicas


Ao se falar de reação espontânea significa dizer que ela ocorrerá sem adição
de energia e a variação da energia livre de Gibbs assume um valor negativo
(- ∆G). Isto é, ela é exergônica. No entanto quando o processo é não-espontâ-
neo, ou seja, precisa de adição de energia para que possa ocorrer, possui um
valor positivo para a variação de energia livre (+∆G), isto é, ela é endergônica.
Se a variação de energia livre tem apenas 1 kcal mol-1 em qualquer direção,
então a reação é considerada reversível. Adicionando reagentes ou removen-
do produtos, a reação muda para a direita; caso os reagentes sejam removi-
dos ou se os produtos forem adicionados, a reação muda para a esquerda.

1.1. Acoplamento dos processos endergônicos aos processos


exergônicos
Um mecanismo possível de acoplamento pode ser imaginado quando um in-
termediário obrigatório comum (I) faz parte de ambas as reações, isto é:
A+C→I→B+D
As reações de síntese, contração muscular, condução do impulso ner-
voso e transporte ativo – os chamados processos vitais obtêm energia por
ligação química, ou acoplamento, às reações oxidativas. A conversão do me-
tabólito A ao metabólito B ocorre com liberação de energia livre (reação exer-
gônica), que é aplicada a outra reação, na qual a energia livre é necessária
para converter o metabólito C ao metabólito D (reação endergônica).
Como uma parte da energia liberada na reação de degradação é trans-
ferida para a reação de síntese em uma forma diferente de calor, os termos
exotérmico e endotérmico não podem ser aplicados a estas reações. São usa-

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Bioquímica

dos os termos exergônico e endergônico para indicar que o processo é acom-


panhado por perda ou ganho, respectivamente, de energia livre, sem conside-
rar a forma da energia envolvida. Na prática, um processo endergônico não
existe separadamente. Ele deve ser um componente de um sistema acoplado:
exergônico – endergônico, onde a variação líquida global é exergônica.
Algumas reações exergônicas e endergônicas dos sistemas biológicos
são acopladas assim. Deve-se levar em conta que este tipo de sistema tem
um mecanismo interno para o controle biológico da velocidade, no qual os
processos oxidativos ocorrem desde que a existência de um intermediário
obrigatório comum permita que a velocidade de utilização do produto da via de
síntese (D) determine, pela lei da ação das massas, a velocidade na qual A é
oxidado. Na verdade, estas inter-relações fornecem uma base para o conceito
do Controle Respiratório, o processo que previne que um organismo perca
o controle. Uma extensão deste conceito de acoplamento é proporcionado
pelas reações de desidrogenação, que são acopladas às hidrogenações por
um transportador intermediário.
Um método alternativo de acoplamento entre um processo exergônico
e outro endergônico é a síntese de um composto de alta energia potencial na
reação exergônica e incorporação deste novo composto na reação endergô-
nica, assim efetuando uma transferência de energia livre do percurso exergô-
nico para o endergônico.
Na célula viva, o principal intermediário de alta energia ou composto
transportador é Adenosina Trifosfato ou Trifosfato de Adenosina (ATP). O ATP
é, portanto, formado por uma molécula de adenosina (adenina + ribose) à
qual estão ligados três grupos fosfato. Com a remoção de um grupo fosfato,
obtém-se ADP; se dois fosfatos forem removidos, o produto resultante é o
monofosfato de adenosina (AMP). Devido a um ∆G° grande e negativo, o ATP
é denominado um composto fosfatado de alta energia.
Muitas reações acopladas utilizam ATP para gerar um intermediário co-
mum. Essas reações podem envolver a clivagem do ATP, ou seja, a transfe-
rência de um grupo fosfato do ATP para outra molécula. Outras reações levam
à síntese de ATP pela transferência de fosfato de um intermediário rico em
energia para o difosfato de adenosina (ADP), formando ATP. Um exemplo de
reações acopladas é o caso da fosforilação da glicose ao ser acoplada para a
hidrólise de um grupo fosfato do ATP. A fosforilação da glicose e a hidrólise do
ATP são duas partes da mesma reação. Somando-se as duas, pode-se deter-
minar a variação de energia geral e garantir que no total ela seja exergônica.

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1.2. Metabolismo
As reações exergônicas são denominadas catabolismo (geralmente a que-
bra ou oxidação de moléculas combustíveis), enquanto as reações de síntese,
que constroem as substâncias, são denominadas anabolismo. O conjunto de
processos catabólicos e anabólicos constituem o metabolismo. O catabolis-
mo e o anabolismo são vias separadas, e não simplesmente o oposto uma
da outra. No catabolismo, um processo oxidativo, há liberação de energia en-
quanto no anabolismo, um processo redutivo, ocorre necessidade de energia.

1.3. Reações de Óxido-Reduções Biológicas


Reações de oxirredução são aquelas em que os elétrons são transferidos de
um doador a um aceptor. A oxidação é a perda de elétrons e a redução é o
ganho de elétrons. A substância que perde elétrons, ou seja, a que é oxidada,
é chamada de agente redutor.
A substância que ganha elétrons, ou seja, a que é reduzida é chama-
da agente oxidante. Tanto os agentes oxidantes como os redutores são ne-
cessários para a transferência de elétrons ocorrer. Os nutrientes, ao serem
oxidados, perdem prótons e elétrons (H+ + e-) e têm seus átomos de carbono
convertidos a CO2. Os prótons e elétrons são recebidos por coenzimas na
forma oxidada, que passam assim à forma reduzida.
Várias reações de oxidação biológicas são acompanhadas da trans-
ferência de um próton (H+). A meia reação de oxidação é escrita como uma
reação reversível porque a ocorrência da oxidação ou da redução depende
dos outros reagentes presentes. Um exemplo de uma meia reação de oxi-
dação é a conversão de NADH, a forma reduzida de Nicotinamida Adenina
Dinucleotídeo, para a forma oxidada, NAD+. Essa coenzima é importante em
várias reações.

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Bioquímica

Outro importante aceptor de elétrons é o FAD (Flavina Adenina Dinucle-


otídeo), que é a forma oxidada do FADH2.

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1.4. Oxidação de Nutrientes e Produção de Energia


A oxidação dos nutrientes para fornecer energia a um organismo não acon-
tece sem a redução de algum aceptor de elétrons. O principal aceptor de
elétrons na oxidação aeróbia é o oxigênio. A redução de metabólitos desem-
penha um importante papel nos processos anabólicos dos organismos vivos.
As biomoléculas importantes são sintetizadas nos organismos por vá-
rias reações em que um metabólito é reduzido enquanto a forma reduzida de
uma coenzima é oxidada.

A reoxidação das coenzimas é obtida pela transferência dos (H++ e-)


para o oxigênio molecular, que é então convertido à H2O. A energia deriva-
da desta oxidação é utilizada para sintetizar um composto rico em energia,
a adenosina trifosfato (ATP) a partir da adenosina difosfato (ADP) e fosfato
inorgânico (HPO42- a pH 7,4 – representado por Pi). É a energia química do
ATP que será diretamente usada para promover os processos biológicos que
consomem energia. Portanto, para que a energia derivada da oxidação dos
alimentos possa ser aproveitada pelas células, ela deve estar sob a forma de
ATP. O aproveitamento da energia do ATP é feito associando a retirada de seu
grupo fosfato terminal aos processos que requerem energia.
Desta forma, a energia química armazenada no ATP pode ser utilizada
em processos químicos (biossínteses), mecânicos (contração muscular), elé-
tricos (condução de estímulo nervoso), osmóticos (transporte ativo atraves de
membranas) ou luminosos (bioluminescência).
A retirada do grupo fosfato terminal do ATP não constitui uma hidrólise
simples. A reação de hidrólise tem um valor de ΔGº’ negativo, mostrando ser
termodinamicamente viável.
ATP + H2O ADP + Pi + H+ ΔGº’ = -31KJ.mol-1
A velocidade desta reação é convenientemente baixa. Se fosse diferen-
te, a ação das enzimas que catalisam a hidrólise de ATP (sob controle celu-

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Bioquímica

lar) hidrolisaria todo o ATP formado, inviabilizando a vida celular. Além disto, a
energia liberada pela hidrólise seria dissipada na forma de calor, uma forma de
energia que não pode ser aproveitada pelas células.
Exemplos para entender a utilização do ATP como “doador” de energia:
Glicose + Pi Glicose 6-Fosfato + H2O ΔGº’= + 12 KJ/mol
ΔGº’ > 0, logo a reação é inviável.
As células contornam isto, fazendo:
Glicose + ATP Glicose 6-Fosfato + ADP ΔGº’= - 17 KJ/mol
ΔGº’ < 0, logo a reação é viável.
Outro exemplo comum nas reações metabólicas são as sínteses. Va-
mos supor que a reação de condensação de A e B tenha um ΔGº’ desfavorável:
A+B→A–B ΔGº’ > 0
Este problema pode ser contornado pela utilização de ATP. Neste caso,
um caminho possível será a transferência do grupo fosfato terminal do ATP
para o composto A, e a reação será termodinamicamente viável:

A + ATP A – FOSFATO + ADP ΔGº’ < 0


O composto A fosforilado pode reagir com B, em uma reação também
termodinamicante viável, liberando o grupo fosfato.
A – FOSFATO + B A – B + FOSFATO ΔGº’ < 0
Da soma das duas reações vem:
A + B + ATP A – B + ADP + FOSFATO ΔGº’ < 0

2. Fontes principais de fosfato participantes da conservação


ou captação de energia
1. A primeira fonte é a Fosforilação Oxidativa. É a fonte de fosfato quanti-
tativamente mais importante, dos organismos aeróbicos. A energia livre,
para manter este processo funcionando, provém da oxidação na cadeia
respiratória utilizando O2 molecular dentro da mitocôndria.

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2. Na Glicólise, a formação líquida de dois fosfatos de alta energia resulta


da formação de lactato a partir de uma molécula de glicose, gerados em
duas reações catalisadas pela fosfoglicerato-quinase e piruvato-quinase,
respectivamente.
3. No Ciclo do Ácido Cítrico, um fosfato de alta energia é produzido, na pas-
sagem catalisada pela succinil-tioquinase.
O ATP permite que o acoplamento de reações termodinamicamente
desfavoráveis tornem-se favoráveis. Um exemplo é a fosforilação da glicose
a glicose – 6 – fosfato, a primeira da via glicolítica, é altamente endergônica e
não poderia ocorrer isoladamente em condições fisiológicas.
Glicose + Pi Glicose – 6 – fosfato + H2O
(ΔGº’ = + 13,8 kj/mol)
Para que essa reação aconteça ela deve estar acoplada a uma outra
que seja mais exergônica do que a fosforilação da glicose-endergônica. Tal
reação é a hidrólise do fosfato terminal do ATP.
ATP ADP + Pi (ΔGº’ = - 30,5 kj/mol)
Acoplando-se as reações 1 e 2, tem-se uma reação global, catalisada
pela hexoquinase, altamente exergônica, e em condições fisiológicas longe
do equilíbrio, assim irreversível.
Glicose + ATP HEXOQUINASE
Glicose – 6 – fosfato + ADP (ΔGº’
= - 16,7 kj/mol).

2.1. Ciclo de Krebs


No metabolismo aeróbio, os nutrientes são oxidados a dióxido de carbono e
água. Os organismos podem obter muito mais energia a partir dos nutrientes
por meio da oxidação aeróbia do que pela oxidação anaeróbia. A glicólise
produz apenas duas moléculas de ATP para cada molécula de glicose me-
tabolizada. Na oxidação aeróbia completa de cada molécula de glicose até
dióxido de carbono e água podem ser produzidas 30 a 32 moléculas de ATP.
Três processos atuam no metabolismo aeróbio: o ciclo do ácido cítrico, aqui
discutido, e o transporte de elétrons e a fosforilação oxidativa.
O ciclo do ácido cítrico é anfibólico, pois atua tanto no catabolismo como
no anabolismo. O ciclo do ácido cítrico ocorre em local da célula diferente de
onde a glicólise ocorre. Enquanto a glicólise ocorre no citosol, o ciclo do ácido
cítrico ocorre na mitocôndria e a maioria das enzimas que dele participam está
presente na matriz mitocondrial.

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Bioquímica

Fonte: camilalemos.com

2.2. Portal do conhecimento relacionado à saúde


Em condições aeróbias, a oxidação do piruvato produzido pela glicólise pros-
segue com a formação de dióxido de carbono e água como produtos finais.
O piruvato proveniente da glicose é oxidado a uma molécula de dióxido de
carbono e um grupo acetila que se liga a coenzima A. A acetil-CoA entra no
ciclo do ácido cítrico. Além da glicose, vários aminoácidos produzem piruvato
e, portanto, acetil-CoA, ao serem degradados.
Outros aminoácidos e os ácidos graxos também produzem acetil-CoA
sem a formação intermediária de piruvato. A acetil-CoA constitui, portanto, o
ponto de convergência do metabolismo degradativo de carboidratos, aminoá-
cidos e ácidos graxos. Completando o catabolismo destes compostos, a ace-
til-CoA, qualquer que seja sua proveniência será totalmente oxidada a CO2

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LIBERATO, M. C. T. C.; OLIVEIRA, M. S. C.

pelo Ciclo de Krebs, com a produção de coenzimas reduzidas. Paralelamente


a esta oxidação, o ciclo de Krebs produz um grande número de compostos
No Ciclo de Krebs, o utilizados como precursores para biossínteses.
oxaloacetato tem um papel
até certo ponto catalítico:
como não é efetivamente 2.3. Função Anabólica do Ciclo de Krebs
consumido pelas reações do
ciclo, já que é reposto pela A redução de coenzimas não é a única função do ciclo de Krebs. Os com-
última reação, teoricamente postos intermediários do ciclo de Krebs podem ser utilizados como precurso-
com apenas uma molécula
res em vias biossintéticas. Oxaloacetato e α-cetoglutarato formam aspartato
de oxaloacetato poder-se-
ia oxidar uma quantidade e glutamato, respectivamente. Succinil-CoA é precursora do grupo heme. A
qualquer de acetil-CoA. eventual retirada desses intermediários pode ser compensada por reações
Entretanto, a velocidade com
que esta oxidação ocorreria
que permitem o seu nível. Entre essas reações, chamadas reações anaple-
seria muito baixa, uma vez róticas (reações de preenchimento), a mais importante é a que leva à forma-
que, após a condensação de ção de oxaloacetato a partir do piruvato, catalisada pela piruvato carboxilase:
acetil-CoA com oxaloacetato,
iniciando o ciclo, novas
moléculas de acetil-CoA
só poderiam ser oxidadas
quando, ao final das reações
do ciclo, o oxaloacetato
fosse regenerado. O ajuste
da velocidade de consumo
de acetil-CoA pelo Ciclo
de Krebs à sua própria
concentração é feito por Piruvato Oxaloacetato
intervenção da reação
catalisada pela piruvato
carboxilase. Esta enzima
é fortemente ativada pela
própria acetil-CoA. Desta
forma, quando, por exemplo,
Atividades de avaliação
a glicólise é intensa e grande
quantidade de piruvato é 1. Definir Bioenergética
transformada em acetil-CoA, 2. Quem controla a velocidade de liberação de energia?
o acúmulo desta coenzima
ativa a piruvato carboxilase 3. Como os processos vitais (reações de síntese, contração muscular, con-
e o piruvato passa a dução do impulso nervoso, transporte ativo) obtêm energia?
originar oxaloacetato. Com
concentrações altas de 4. O que é um processo endergônico? E um processo exergônico?
oxaloacetato e acetil-CoA, a
citrato sintase, que dá início 5. Definir catabolismo e anabolismo.
ao ciclo, pode funcionar a 6. Definir metabolismo.
velocidades altas.
7. Indique um método alternativo de acoplamento entre um processo exergô-
nico e outro endergônico.
8. Quem é o principal intermediário de alta energia, ou melhor, o composto
transportador, na célula viva?
9. Qual é a função do ATP no processo de fosforilação?
10. Como age um ciclo ATP/ADP?

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Bioquímica

11. Quais são as três fontes principais de fosfato de alta energia que partici-
pam da conservação ou captação de energia?
12. De onde provém a energia livre que mantém a fosforilação oxidativa fun-
cionando?
13. Sendo a fosforilação da glicose a glicose 6-fosfato, altamente endergôni-
ca, como pode ocorrer na via glicolítica? Explique.
14. O que ocorre com os nutrientes ao serem oxidados? Explique todas as
etapas até chegar ao ATP + H2O.
15. Como a energia derivada da oxidação dos alimentos pode ser aproveitada
pelas células?
16. Desenhe o Ciclo de Krebs.
17. Fale sobre a função anabólica do Ciclo de Krebs.

Texto complementar
A energia livre de Gibbs, ∆G, é provavelmente a maneira mais conveniente para se
medir as variações de energia nos sistemas vivos, uma vez que mede a energia dispo-
nível para realizar um trabalho à temperatura e pressão constantes, o que descreve
o estado vivo. Mesmo os animais de sangue frio estão a uma temperatura e pressão
constantes em um dado tempo; quaisquer mudanças da temperatura e da pressão são
suficientemente lentas, de modo a não afetar as medidas de ∆G.
Espontaneidade e Reversibilidade: Espontaneidade significa que uma dada reação
pode ocorrer sem adição de energia como, por exemplo, a água de uma represa no
topo de uma montanha, que possui energia potencial para descer mas que não o fará
a menos que se abra a barragem. Como a água sempre corre montanha abaixo, essa
é a direção em que a variação de energia é negativa (-∆G); no entanto bombear a
água montanha acima não é um processo espontâneo (requer energia), e tem um
valor positivo para a variação de energia livre (+∆G). Se a variação de energia livre for
apenas de 1kcal/mol (± 4Kj/mol) em ambas as direções, então essa reação é conside-
rada reversível, podendo ocorrer em ambas as direções. Adicionando-se reagentes
ou retirando produtos, a reação irá para a direita; se forem retirados os reagentes ou
adicionados produtos a reação se deslocará para a esquerda. Esse aspecto é de muita
importância para grande número de vias metabólicas; muitas reações são completa-
mente reversíveis. Isso significa que as mesmas enzimas podem ser usadas tanto na
via que leva à quebra da substância, como na via que forma a substância
Fonte: (Campbell & Farrel, 2008).

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LIBERATO, M. C. T. C.; OLIVEIRA, M. S. C.

Leituras
Síndrome de Leigh – anatapat-unicamp
ADAMS R D, VICTOR M, ROPPER A H. Principles of Neurology, 6th Ed.
McGraw-Hill, New York, 1997.
CARPENTER S, KARPATI G. Pathology of Skeletal Muscle. 2nd. Ed. Oxford
University Press, 2001.
JOHNS D R, FADIC R N. Genetic Mitochondrial Disorders. in Martin JB (ed)
Molecular Neurology. Scientific American, New York, 1998.

Referências
CAMPBELL, M. K.; FARREL, S. O. Bioquímica. Vol 3. São Paulo: Thomson
Learning - 2008. Nos Capítulos 15 e 16 do vol. 3 são apresentados tópicos
relativos ao assunto e todos comentados de forma muito didática.
CHAMPE, P. C.; HARVEY, R. A.; FERRIER, D. R. Bioquímica Ilustrada.
4ª Ed. Porto Alegre: Artmed, 2009. Na Unidade II do livro, nos Capítulos 6
a 9 são apresentados os tópicos relativos ao assunto abordado. O livro é
ricamente ilustrado tornando o assunto de fácil compreensão.
MURRAY, R. K.; GRANNER, D. K.; MAYES, P. A.; Rodwell, V. W. Harper:
Bioquímica. 8ª ed. São Paulo: Atheneu, 1998. Os Capítulos 12 e 13 ,da
Seção II, abordam tópicos detalhados sobreo assunto.

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Capítulo 8
Cadeia de transporte
de elétrons, oxidação de
coenzimas e síntese de ATP

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Bioquímica

Objetivos
•• Compreender o metabolismo aeróbico.
•• Observar a síntese de ATP e a geração de energia celular.
•• Verificar a produção de água no final da cadeia transportadora de elétrons.
•• Localizar os intermediários da cadeia transportadora de elétrons, na mito-
côndria e suas funções particulares.
•• Compreender a função das coenzimas do sistema mitocondrial.

Introdução
Através do metabolismo aeróbio, um organismo pode extrair energia de modo
eficiente a partir dos nutrientes. Moléculas ricas em energia, como a glicose,
são metabolizadas por uma série de reações de oxidação, levando por fim
à produção de CO2 e água. Os processos de oxidação da glicose, de vários
aminoácidos e de ácidos graxos levam à produção de Acetil-CoA, que, no
Ciclo de Krebs, é totalmente oxidada a CO2.
Os intermediários metabólicos dessas reações cedem elétrons a coen-
zimas específicas NAD+ (Nicotinamida Adenina Dinucleotídeo) e FAD (Flavina
Adenina Dinucleotídeo) formando as coenzimas reduzidas ricas em energia,
NADH e FADH2. O ciclo de Krebs constitui o estágio final e máximo de oxida-
ção dos átomos de carbono que compõem carboidratos, proteínas e lipídeos.
A oxidação destes compostos é acompanhada da redução de grande quanti-
dade das coenzimas NAD+ e FAD. Observe o nº de moles destas coenzimas
reduzidas durante a oxidação de um mol de glicose.
Quadro
Reação Moles de NADH Moles de FADH2
Glicólise
-
Gliceraldeído 3-fosfato → 3-Fosfoglicerato 2
Piruvato → Acetil-CoA 2 -
Ciclo de Krebs
Isocitrato → α-Cetoglutarato 2 -
α-Cetoglutarato → Succinil- CoA 2 -
Malato → Oxaloacetato 2 -
Succinato → Fumarato - 2
Total 10 2

Do ponto de vista energético, verifica-se que da energia total disponível


inicialmente na molécula de glicose, uma fração muito pequena levou à pro-

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dução de ATP; a maior parte da energia inicial foi conservada nas coenzimas
reduzidas. O mesmo ocorre na oxidação de aminoácidos e lipídios. As coen-
zimas reduzidas devem ser reoxidadas por duas razões:
1. Para que voltando à forma oxidada, possam participar outra vez das vias de
degradação dos nutrientes.
2. Porque é a partir da oxidação destas coenzimas que a energia nelas é con-
servada e pode ser aproveitada pelas células, para sintetizar ATP.
As coenzimas reduzidas podem doar, cada uma, um par de elétrons a
um conjunto especializado de transportadores de elétrons chamados “cadeia
de transporte de elétrons”. A energia liberada pela oxidação de nutrientes é
usada pelos organismos na forma de energia química do ATP. Enquanto os
elétrons fluem através da cadeia transportadora de elétrons, eles perdem muito
de sua energia livre. Parte dessa energia pode ser captada e armazenada para
a produção de ATP a partir de ADP e fosfato inorgânico (Pi) e a esse processo
dá-se o nome de “fosforilação oxidativa”. O restante da energia livre que não
é captada para a síntese de ATP serve para impulsionar outras reações.
A produção de ATP por fosforilação oxidativa (processo endergônico) é
separada do transporte de elétrons para o oxigênio (um processo exergônico),
no entanto as da cadeia transportadora de elétrons estão ligadas entre si e as-
sociadas à síntese de ATP pela fosforilação de ADP. A atividade da cadeia de
transporte de elétrons leva ao bombeamento de prótons (H+) pela membrana
mitocondrial interna, criando um gradiente de pH, também conhecido como
gradiente de prótons. A solução para as células aproveitarem energia para
a síntese de ATP é exatamente transformar a energia contida nas coenzimas
reduzidas em um gradiente de prótons e utilizá-lo para promover a síntese de
ATP. A produção do gradiente de prótons é conseguida pela transferência dos
elétrons das coenzimas para o oxigênio, através de passagens intermediárias
por vários compostos que constituem uma cadeia de transporte de elétrons.
Nos organismos aeróbios, a oxidação de coenzimas é feita por transfe-
rência de seus elétrons para o oxigênio. Recebendo elétrons, o oxigênio liga-
-se a prótons do meio formando água. Este processo libera grande quantidade
de energia, em virtude da diferença de potenciais de óxido-redução entre a
coenzima e o oxigênio. A energia liberada na oxidação de um mol de NADH
permite a síntese de alguns moles de ATP. Se a transferência de elétrons das
coenzimas reduzidas fosse feita diretamente para o oxigênio, toda a energia
do processo seria liberada como calor, portanto, inutilizável pelas células para
promover os processos que requerem energia.
A cadeia de transporte de elétrons está presente na membrana mitocon-
drial interna. Os compostos que compõem a cadeia de transporte de elétrons
são organizados de acordo com seus potenciais de óxido-redução. Assim, os

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Bioquímica

elétrons partem da coenzima reduzida, que tem potencial de óxido-redução


menor que os componentes da cadeia de transporte de elétrons, e percor-
rem uma sequência de transportadores com potenciais de óxido-redução
crescentes, até atingirem o oxigênio, que tem o maior potencial de óxido-
redução. As transferências de elétrons entre estes compostos são sempre
acompanhadas de queda de energia livre. O transporte de elétrons é facilitado
pelo fato de tais compostos estarem organizados em membranas, com posi-
ções definidas, de modo a situar cada componente exatamente entre aquele
que lhe fornecerá elétrons e aquele ao qual seus elétrons serão doados.
Enquanto se processam as passagens de elétrons, forma-se um gra-
diente de prótons, já que se estabelece uma concentração de prótons diferen-
te de cada lado da membrana onde ocorre o transporte de elétrons. A síntese
de ATP é possível porque aproveita a energia potencial contida no gradiente
de prótons. Esta síntese consiste na fosforilação do ADP (ADP + Pi → ATP)
e, como utiliza energia derivada da oxidação das coenzimas, é denominada
fosforilação oxidativa. A oxidação das coenzimas reduzidas pela cadeia de
A única forma de energia
transporte de elétrons processa-se na membrana interna da mitocôndria, da
utilizável pelas células em
qual fazem parte os componentes da cadeia. Estes componentes agrupam-se tais processos é a energia
em quatro complexos: I, II, III e IV. química presente no ATP.

Fonte: www.blogconstruindooconhecimento.zip.net

Fonte: Ubiquinona

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LIBERATO, M. C. T. C.; OLIVEIRA, M. S. C.

Quadro
COMPOSIÇÃO DOS COMPLEXOS DA CADEIA DE TRANSPORTE DE ELÉTRONS
Número aproximado de
Componentes transportadores de elétrons
polipeptídios
Complexo I FMN
26
(NADH-CoQ redutase) Centros Fe-S
FAD
Complexo II
Centros Fe-S 5
(Succinato-CoQ redutase)
Citocromo b
Complexo III Citocromos b e c1
10
(Coenzima Q – citocromo c redutase) Centros Fe-S
Complexo IV Citocromos a e a3
6-13
(Citocromo c oxidase) Íons de cobre

Embora não faça parte de Complexos dois constituintes da cadeia de


transporte de elétrons têm papéis muito importantes. A coenzima Q (CoQ)
conecta os Complexos I e II ao Complexo III, e o citocromo c conecta o Com-
plexo III ao Complexo IV. Os elétrons que se encontram presentes no NADH
são transferidos desta coenzima para o Complexo I, do Complexo I para, a
coenzima Q, depois para o Complexo III, citocromo c, Complexo IV e final-
mente para o oxigênio.
Os elétrons presentes no succinato e em outros substratos têm uma
entrada especial na cadeia de transporte de elétrons: são transferidos ao Com-
plexo II e deste para a coenzima Q; então seguem a rota comum: Complexo
III, citocromo c, Complexo IV e oxigênio. Estas transferências são possíveis
porque todos os compostos presentes nos complexos, mais a coenzima Q
e o citocromo c, podem apresentar-se nos estados reduzidos e oxidado: Ao
receberem um elétron, reduzem-se; transferindo o elétron oxidam-se e podem
receber elétrons novamente. Excetuando-se a coenzima Q, todos os compo-
nentes da cadeia de transporte de elétrons são proteínas. A estas estão asso-
ciados grupos prostéticos, como FAD, FMN e centros Ferro-Enxofre (Fe-S).

1. Complexo I
O Complexo I (NADH-CoQ redutase) oxida o NADH, transferindo seus elé-
trons para a coenzima Q. É formado por 26 cadeias polipeptídicas. A estas
cadeias estão associados: uma molécula de flavina mononucleotídio (FMN)
e 6 ou 7 centros Fe-S. A FMN é um derivado da riboflavina com estrutura
semelhante à do FAD e como este, capaz de receber 2 prótons e 2 elétrons
passando à forma reduzida FMNH2. O doador de elétrons para a redução de
FMN (1ª transferência de elétrons para a cadeia de transporte de elétrons) é o
NADH produzido pelo metabolismo.
NADH + H+ + FMN NAD+ + FMNH2
(Complexo I) (Complexo I)

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O resultado é a oxidação do NADH e a entrada dos elétrons na mem-


brana interna da mitocôndria, de onde só saem para serem doados ao oxigê-
nio, no final da cadeia. Os centros Fe-S não recebem prótons; são transporta- O FMN, como o FAD,
dores de elétrons: Fe3+ para Fe2+. Os elétrons do FMNH2 são transferidos para é sintetizado a partir da
vitamina riboflavina. Ela
o primeiro centro Fe-S; depois, através de passagens por outros centros Fe-S, contém a estrutura em
deixam o Complexo I, sendo entregues à coenzima Q. anel flavina receptora de
elétron, mas não a porção
Na transferência de elétrons do FMNH2 para os centros Fe-S, os pró- monofosfato de adenosina
tons são excluídos, sendo transferidos da membrana interna da mitocôndria (AMP) do FAD. A deficiência
para o espaço intermembranas, sendo esta a primeira etapa da formação do grave de riboflavina diminui
a habilidade da mitocôndria
gradiente de prótons (da matriz mitocondrial são retirados prótons que vem de produzir ATP a partir da
de NADH + H+; no espaço intermembranas são introduzidos prótons) Ocorre fosforilação oxidativa devido
então uma diferença de concentração de prótons apreciável entre o interior e à carência de FMN nos
carreadores de elétrons.
o exterior da mitocôndria.

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2. Complexo II
O Complexo II (Succinato-CoQ Redutase) oxida o succinato, transferindo
seus elétrons também para a coenzima Q. Ele é a segunda porta de entrada
de elétrons na cadeia de transporte de elétrons, em direção ao oxigênio. A en-
zima Succinato – Desidrogenase tem FAD como grupo prostético e catalisa a
oxidação de succinato à fumarato: os e- e os prótons do succinato são transfe-
ridos para o FAD, que se reduz a FADH2. Os prótons presentes no FADH2 são
devolvidos à matriz mitocondrial. O complexo II não contribui para a formação
do gradiente de prótons. No complexo II, os elétrons provenientes do succi-
nato são transferidos ao FAD, grupo prostético da succinato desidrogenase; a
seguir são captados por centros Fe-S e pelo citocromo b560, passando, então
para a coenzima Q.
A coenzima Q é o ponto de convergência de elétrons provenientes de
NADH (Complexo I), succinato (Complexo II), glicerol 3-fosfato e acil-CoA.
Coenzima Q ou Ubiquinona (CoQ) é uma quinona com uma longa cadeia late-
ral composta de unidades isoprênicas. A forma mais encontrada nos mamífe-
ros apresenta 10 unidades. As características hidrofóbicas da CoQ permitem
sua mobilidade na fase lipídica da membrana, ao contrário dos outros compo-
nentes da cadeia de transporte de elétrons, que têm posições relativamente
fixas na membrana mitocondrial, com exceção do citocromo c.
Citocromos de vários tipos participam da cadeia de transporte de elé-
trons. São proteínas transportadoras de elétrons que contêm heme como gru-
po prostético. O íon de ferro é o responsável pela capacidade de transferência
de elétrons desta proteína: O íon pode alterar entre Fe2+ e Fe3+. Os citocromos
são classificados em a, b e c, segundo o espectro de absorção que apresen-
tam. Os três tipos estão representados na cadeia de transporte de elétrons.
Cada citocromo é constituído por uma cadeia polipeptídica com uma
sequência de aminoácidos que lhe é própria. Nos citocromos dos tipos b e c,
o grupo heme é idêntico ao da hemoglobina quanto aos radicais substituintes.
No tipo a, aparece um grupo heme modificado, com um grupo isoprênico e
um grupo formila em lugar de grupos vinila e metila, respectivamente. Os ci-
tocromos diferem também quanto à forma com que o grupo heme está ligado
à cadeia proteica. Nos tipos a e b, a ligação à proteína é não-covalente e, no
tipo c, é covalente (tioéter), formada com resíduos de cisteína.

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3. Complexo III
O Complexo III transfere elétrons da coenzima Q para o citocromo c. O Com-
plexo III (Coenzima Q – citocromo c redutase) é constituído por 2 citocromos
b (b562 e b566, os índices indicam o pico máximo de absorção e caracteriza
cada subtipo de citocromo), por um centro Fe-S e pelo citocromo c1. As trans-
ferências de elétrons da coenzima Q para os componentes do complexo III,
e deste para o citocromo c, são acompanhadas de movimento de prótons: os
citocromos e o centro Fe-S recebem apenas elétrons, e os prótons da CoQ
reduzida (CoQH2) são liberados no espaço intermembranas.
O Complexo III promove a oxidação da coenzima Q e a redução do
citocromo c, contribuindo para a criação do gradiente de prótons. O citocromo
c é uma proteína pequena localizada na face externa da membrana interna da
mitocôndria. Seu tamanho e mobilidade fazem com que cumpra sua função
na cadeia de transporte de elétrons: conectar o Complexo III, do qual recebe
elétrons, ao Complexo IV ao qual doa elétrons.

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4. Complexo IV
O Complexo IV (citocromo c oxidase) transfere elétrons para o oxigênio. Ele
contém 2 citocromos do tipo a (a e a3) e dois íons de cobre, cada qual associa-
do a um dois citocromos. Os íons de cobre alternando entre Cu2+ e Cu1+ fazem
parte do transporte de elétrons. O Complexo IV é responsável pela doação de
4 elétrons para a molécula de O2 que, ligando-se a prótons do meio, converte-
-se em 2 moléculas de H2O. A retirada de prótons da matriz mitocondrial con-
tribui para o estabelecimento do gradiente de prótons.
Além disto, o Complexo IV contribui para a produção do gradiente lan-
çando prótons da matriz para o espaço intermembranas. A utilização de O2
pelo complexo IV é de cerca de 95% do O2 consumido pelo homem; a pro-
dução de H2O neste processo chega a cerca de 300 ml diários (água meta-
bólica). Essa água é fundamental para a sobrevivência do indivíduo, como no
caso dos animais que hibernam ou de camelos, que passam longos períodos
sem ingerir água.
O caminho exato percorrido pelos elétrons no Complexo IV não é ain-
da conhecido. Acredita-se que os elétrons do citocromo c são recebidos pelo
complexo formado entre o citocromo a e um íon de cobre (CuA). Depois são
transferidos para o citocromo a3 ligado ao outro íon de cobre (CuB), e, finalmen-
te, para o O2, que se combina com prótons da matriz, reduzindo-se a água.

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Bioquímica

Atividades de avaliação
1. Citar os compostos que fazem parte da cadeia de transporte de elétrons e
caracterizá-los quimicamente.
2. Esquematizar a sequência dos compostos da cadeia de transporte de elé-
trons, indicando os transportadores de elétrons e os transportadores de pró-
tons e elétrons.
3. Indicar a localização celular da cadeia de transporte de elétrons.
4. Indicar o número de ATP sintetizados para cada NADH e FADH2 oxidados.
5. Citar exemplos de processos biológicos que utilizam ATP.

Texto complementar
Esporte e metabolismo
Atletas treinados, especialmente os de elite, são mais conscientes do resultado do
metabolismo aeróbio e anaeróbio do que as pessoas que não são atletas. As caracte-
rísticas genéticas e o treinamento são importantes no sucesso do atleta, porém uma
compreensão aguda da fisiologia e do metabolismo é igualmente importante. Para
planejar a nutrição adequada para o desempenho, um atleta sério deve compreender
a natureza do metabolismo e como ele se relaciona ao esporte escolhido. A muscula-
tura, ao trabalhar, tem quatro diferentes fontes de energia disponíveis após um perí-
odo de repouso:
1. A creatina fosfato, que reage diretamente com o ADP na fosforilação em nível de
substrato para produzir ATP.
2. A glicose derivada dos depósitos musculares de glicogênio, consumida inicialmente
pelo metabolismo anaeróbio.
3. A glicose do fígado, derivada tanto de depósitos de glicogênio quanto da gliconeo-
gênese a partir do ácido láctico produzido no músculo (ciclo de Cori), novamente
consumida inicialmente pelo metabolismo anaeróbio.
4. Metabolismo aeróbio nas mitocôndrias musculares.
Inicialmente as quatro fontes de energia estão disponíveis para o músculo. Quando a
creatina fosfato esgota-se, restam as outras fontes. Quando o glicogênio muscular ter-
mina, o estímulo anaeróbio fornecido por ele diminui proporcionalmente, e, quando o
glicogênio hepático acaba, resta apenas o metabolismo aeróbio a dióxido de carbono e
água. Atletas bem condicionados e treinados apresentam um maior número de mito-
côndrias em suas células musculares. Um grande atleta americano, Greg LeMond, foi
vítima de um tiro de chumbo grosso nas costas durante uma caçada. Ele se recuperou,
mas apesar de ganhar mais prêmios em competições, nunca se sentiu realmente bem
novamente. Começou a ganhar peso e a não responder ao treinamento. Depois de al-
guns exames descobriu que tinha uma rara condição chamada miopatia mitocondrial.

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Quando ele treinava intensamente, suas mitocôndrias começavam a desaparecer. Ele


era essencialmente um atleta aeróbio sem a capacidade de processar combustível ae-
robiamente. Daí se pode avaliar a importância da cadeia transportadora de elétrons e
das mitocôndrias para o atleta (Campbell & Farrel, 2008).

Sites
www.biotopics.co.uk/a2/electrontransportchain.html
vcell.ndsu.edu/animations/etc/movie.htm

Referências
CAMPBELL, M. K.; FARREL, S. O. Bioquímica. Vol 3. São Paulo: Thomson
Learning - 2008. No Capítulo 20 do vol. 3, o assunto Cadeia de Transporte de
Elétrons é abordado de forma muito didática.
CHAMPE, P. C.; HARVEY, R. A.; FERRIER, D. R. Bioquímica Ilustrada. 4ª
Ed. Porto Alegre: Artmed, 2009. Na Unidade II do livro, no Capítulo 6, são
apresentados tópicos relativos ao assunto abordado. O livro é ricamente ilus-
trado tornando o assunto de fácil compreensão.
MARZZOCO, A.; TORRES, B. B. Bioquímica Básica. 2ª ed. 1999. Rio de
Janeiro: Editora Guanabara Koogan S. A. O Capítulo 11 da Parte 3 desse
livro explana de forma bastante compreensiva o assunto Cadeia de Trans-
porte de Elétrons.
SMITH, C.; MARKS, A. D.; LIEBERMAN, M. Bioquímica Médica Básica de
Marks – Uma abordagem clínica. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2007. O Capí-
tulo 21 do livro aborda o assunto com muito detalhamento e de forma didática.

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Capítulo 9
Fosforilação oxidativa e
lançadeiras de elétrons

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Objetivos
•• Conhecer as lançadeiras de elétrons e o gradiente de prótons gerados nes-
ses processos.
•• Diferenciar e definir desacopladores e inibidores da fosforilação oxidativa.
•• Descrever a teoria de Mitchell, para o acoplamento de elétrons durante a
fosforilação oxidativa.

Intordução
A transferência de elétrons ao longo da cadeia de transporte de elétrons é
energeticamente favorecida, já que o NADH é um forte doador de elétrons,
e o oxigênio molecular é um grande aceptor de elétrons. O fluxo de elétrons
do NADH para o oxigênio, porém, não resulta diretamente na síntese de ATP.
Os componentes da cadeia de transporte de elétrons apresentam-se organi-
zados em ordem crescente de potenciais de óxido-redução, desde as coenzi-
mas reduzidas até ao Oxigênio.
As transferências de elétrons se processam com liberação de energia,
aproveitada para sintetizar ATP. Uma parte da energia liberada pelas reações
de oxidação na cadeia transportadora de elétrons é usada para acionar a
fosforilação do ADP. As reações de oxidação que liberam energia originam
o bombeamento de prótons e, consequentemente, o gradiente de pH pela
membrana mitocondrial interna. Além do gradiente de pH, há uma diferença
de voltagem pela membrana, gerada pelas diferenças de concentração de
íons nos lados interno e externo. A energia do potencial eletroquímico (queda
de voltagem) pela membrana é convertida em energia química armazenada
pelo ATP pelo processo de acoplamento. Como ocorre a conexão entre o
Transporte de Elétrons e a Fosforilação é uma pergunta que exige resposta.
É necessário um fator de acoplamento para ligar a oxidação e a
fosforilação. Esse acoplamento é explicado pela teoria quimiosmótica co-
nhecida também como hipótese de Mitchell. O transporte de elétrons está
acoplado à fosforilação do ADP pelo bombeamento de prótons através da
membrana mitocondrial interna. Esses prótons são bombeados da matriz para
o espaço intermembranas.
Esse processo cria, através da membrana mitocondrial interna, um gra-
diente elétrico (com mais cargas positivas no lado externo da membrana do que
no lado interno) e um gradiente de pH (o meio externo da membrana está em pH

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mais baixo do que o meio interno). A energia gerada por esse gradiente de pró-
tons é suficiente para impulsionar a síntese de ATP. Assim, o gradiente de prótons
funciona como o intermediário comum que acopla a oxidação à fosforilação.
O salicilato, quel é um Um complexo proteico oligomérico, conhecido como ATP sintase, se-
produto da degradação da
aspirina nos humanos, é parado dos complexos de transporte de elétrons, exerce a função de sintetizar
solúvel em lipídeos e tem um ATP. A ATP sintase compreende dois componentes, cada um, constituído por
próton dissociável. Em altas
várias cadeias polipeptídicas.
concentrações, como no
envenenamento por salicilato,
ele é capaz de desacoplar
parcialmente a mitocôndria. 1. ATP – Sintase
O declínio da concentração
de ATP na célula e Fica nas microesferas que estão na face interna da membrana interna da mi-
consequente aumento de tocôndria. As microesferas são ligadas à membrana por pequenas hastes. A
AMP no citosol estimulam a ATP-Sintase compreende dois componentes:
glicólise. A superestimulação
da rota glicolítica resulta em 1. Porção esférica chamada: Fator de acoplamento 1 (F1) (corresponde às
níveis aumentados de ácido microesferas que contêm os sítios de síntese de ATP).
lático no sangue e acidose
metabólica. 2. A porção 2 fica embebida na membrana interna constituindo um canal atra-
vés do qual os prótons retornam à matriz mitocondrial. É chamada Fo por-
que contém o sítio de ligação para oligomicina (um antibiótico que inibe a
síntese de ATP, pois se liga ao Fo da ATP sintase, que se torna impermeável
à proteína).
Em conformidade com o que propõe a teoria quimiosmótica após os pró-
tons serem transferidos para o lado citosólico da membrana mitocondrial interna,
eles retornam à matriz mitocondrial. A membrana interna da mitocôndria é imper-
meável a prótons em toda a sua extensão exceto na ATP sintase. É por esse
canal que os prótons atravessam a membrana, de volta à matriz mitocondrial.
As velocidades do transporte de elétrons e da síntese de ATP são regu-
ladas pela concentração de ADP. Porém as necessidades celulares de ATP
variam de acordo com o estado fisiológico. Por exemplo: uma fibra muscular
pode ter suas necessidades aumentadas de 100 vezes em segundos, quando
passa do repouso para o exercício intenso.
Para promover o ajuste da produção de ATP ao seu gasto, o transporte
de elétrons e a síntese de ATP são acoplados, em outras palavras, só há oxida-
ção de coenzimas se houver síntese de ATP, e vice-versa. Essa regulação da
velocidade de oxidação das coenzimas (equivalente à velocidade de consumo
de oxigênio) exercida pela concentração de ADP (tem concentração limitante)
chama-se controle respiratório. O resultado do controle respiratório é um per-
feito ajuste entre a velocidade de produção de coenzimas reduzidas e a veloci-
dade de sua oxidação pela cadeia de transporte de elétrons, com produção de
ATP. É esse ajuste que vai regular a produção de energia pela célula.

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Bioquímica

2. Desacopladores
Desacopladores são compostos que inibem a fosforilação do ADP sem afetar
o transporte de elétrons. Um modo de ação razoável para os desacopladores
pode ser proposto com base na existência de um gradiente de prótons.
Um exemplo de desacoplador é o 2,4-dinitrofenol que é um ácido; sua
base conjugada, o ânion dinitrofenolato, é o verdadeiro desacoplador, uma
vez que pode reagir com prótons no espaço intermembranas, reduzindo,
dessa forma, a diferença na concentração de prótons entre os dois lados da
membrana mitocondrial interna. Antibióticos como valinomicina e gramicidina
A são desacopladores. Eles são ionóforos, e criam um canal pelo qual íons
como H+, K+ e Na+ podem atravessar a membrana. O gradiente de prótons
então é anulado, levando ao desacoplamento da oxidação e da fosforilação.
Quando os processos de oxidação mitocondrial estão operando nor-
malmente, o transporte de elétrons do NADH ou do FADH2 para o oxigênio
resulta na produção de ATP. Quando um desacoplador está presente, o oxi-
gênio ainda é reduzido a H2O, porém não se produz ATP. Se o desacoplador
for removido, a síntese de ATP ligada ao transporte de elétrons é reiniciada.
Portanto, desacopladores são substâncias capazes de dissociar o
transporte de elétrons da fosforilação oxidativa. Quando os dois processos
são desacoplados, o transporte de elétrons pode prosseguir, porém a síntese
de ATP para. A energia produzida pelo transporte de elétrons é liberada em
forma de calor, ao invés de sintetizar ATP. Um exemplo é a aspirina e outros
salicilatos que desacoplam a fosforilação oxidativa. Superdosagem dessas
substâncias dão como resultado um aumento da temperatura corporal.

3. Inibidores
Existem drogas capazes de agir de modo específico sobre cada um dos com-
plexos da cadeia de transporte de elétrons, impedindo o prosseguimento da
transferência de elétrons. São os inibidores. O resultado disso é a paralisação
do transporte de elétrons e das vias metabólicas que dependem da cadeia
para a reoxidação de coenzimas.
Assim, um transportador reduzido, incapaz de passar adiante seus elé-
trons, é também incapaz de receber elétrons do transportador antecedente.
Dessa forma os componentes da cadeia localizados antes do ponto de atua-
ção da droga estarão reduzidos, e a cadeia torna-se inoperante. Sem o trans-
porte de elétrons não se forma o gradiente de prótons e, consequentemente,
não há síntese de ATP. Os inibidores são divididos em:
1. Inibidores característicos da cadeia respiratória.
2. Inibidores da fosforilação oxidativa.

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Inibidores que paralisam a respiração pelo bloqueio da cadeia respira-


tória atuam em três locais:
1. Impedindo a oxidação de substratos que se comunicam diretamente com
a cadeia respiratória, via uma desidrogenase dependente de NAD, por blo-
quear a transferência de elétrons da Flavoproteína NADH redutase para a
CoQ. Ex: Barbituratos, e Rotenona.
2. Inibindo a cadeia respiratória entre os citocromos b, CoQ e o citocromo c1.
Ex.: Antimicina A (antibiótico).
3. Inibindo a transferência de elétrons do citocromo aa3 para o oxigênio (podem
paralisar totalmente a respiração). São inibidores muito potentes, como, por
exemplo: Azida (N3-), Monóxido de carbono (CO) e cianeto (CN-).

Quadro
INIBIDORES DA CADEIA DE TRANSPORTE DE ELÉTRONS E O COMPLEXO EM QUE ATUAM
Inibidores Complexo
Barbituratos (hipnóticos) I
Rotenona (inseticida)
Malonato (análogo do succinato, inibidor competitivo da
II
succinato desidrogenase)
Antimicina A III
Cianeto, monóxido de carbono, ácido sulfúrico, azida sódica IV

3.1. Fosforilação no Nível do Substrato


É a síntese de ATP obtida diretamente em reações que fazem parte da glicó-
lise e do ciclo de Krebs e que utilizam como substratos compostos ricos em
energia: 1,3 – Bisfosfoglicerato; Fosfoenolpiruvato; Succinil – CoA. A fosforila-
ção no nível do substrato não é afetada por desacopladores. A produção de
ATP pela fosforilação no nível do substrato responde por uma pequena fração
do total produzido em condições aeróbias e, por ser independente do trans-
porte de elétrons, não é afetada por desacoplado.

4. Cadeias de Transporte de Elétrons Bacteriano


Nas bactérias, encontram-se cadeias de transporte de elétrons bem mais di-
versificadas. Nelas, além das coenzimas reduzidas, podem ser fornecedores
de elétrons: NH4+, NO2-, H2S, H2, S e Fe. O aceptor final também pode variar, e
além do O2, podem ter esta função: NO3-, NO2-, SO42-, CO32 e substâncias or-
gânicas, como o fumarato. Quando o aceptor final é diferente do O2, a cadeia
é dita anaeróbia e caracteriza a respiração anaeróbia.

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Bioquímica

5. Circuitos de Transporte ou Lançadeiras


A membrana interna da mitocôndria é impermeável a NAD+ e NADH e, portanto,
a oxidação do NADH citosólico não pode ser feita diretamente pela cadeia de
transporte de elétrons. Porém, as coenzimas reduzidas no citosol podem ser in-
diretamente oxidadas pela cadeia de transporte de elétrons; graças a sistemas
designados circuitos ou lançadeiras. Nelas, os elétrons do NADH são transfe-
ridos para um composto citosólico, que, reduzido, pode atravessar a membrana
interna da mitocôndria.
Alternativamente, os elétrons são transferidos para um composto que,
pode transferir elétrons para um componente da membrana interna. Por qual-
quer dos dois processos, o composto que transporta os elétrons é reoxidado;
ao doá-lo, retorna ao citossol e pode participar de um novo ciclo. Há dois tipos
de lançadeiras: Glicerol – Fosfato e Malato – Aspartato

5.1. Lançadeira glicerol-fosfato


É um sistema transportador que foi muito estudado no músculo do vôo de
insetos. Nesse mecanismo é usada uma enzima dependente de FAD presente
na face externa da membrana mitocondrial interna que oxida o glicerol fosfato.
O glicerol fosfato é produzido pela redução de diidroxiacetona fosfato; no
curso da reação o NADH é oxidado a NAD+.
Nessa reação, o agente oxidante (que também é reduzido) é o FAD, e
o produto é o FADH2, que passa então os elétrons pela cadeia transportadora
de elétrons, levando à produção de 1,5 mol de ATP para cada mol de NADH
citosólico. Esse mecanismo também foi observado no músculo e no cérebro
de mamíferos.

5.2. Lançadeira Malato-Aspartato


Nas células hepáticas, cardíacas e renais de mamíferos o NADH citossólico
reduz oxaloacetato, em uma reação catalisada pela malato desidrogenase ci-
tossólica. O malato formado entra na mitocôndria, onde é oxidado pela malato
desidrogenase mitocondrial, que também utiliza, NAD+ como coenzima. Este
processo produz NADH mitocondrial a partir de NADH citossólico, apesar da
impermeabilidade da membrana interna da mitocôndria ao NADH.
O oxaloacetato formado na mitocôndria não atravesssa a membrana
interna, mas pode receber um grupo amino do glutamato formando aspartato,
que sai da mitocôndria e no citossol, refenera o oxaloacetato. A passagem de
malato e aspartato através da membrana interna da mitocôndria é efetuada
por proteínas presentes nesta membrana. Resumindo pode-se dizer que esta
lançadeira é usada para transportar equivalentes redutores do NADH citos-

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LIBERATO, M. C. T. C.; OLIVEIRA, M. S. C.

sólico para a matriz mitocondrial no rim, fígado e coração dos mamíferos. O


malato pode transpor a membrana mitocondrial, mas o oxaloacetato não.

Atividades de avaliação
1. Citar três inibidores da cadeia de transporte de elétrons, indicando os trans-
portadores sobe os quais atuam.
2. Verificar se é possível a oxidação de malato e de succinato em presença
de rotenona.
3. Descrever a hipótese do acoplamento quimiosmótico para a fosforila-
ção oxidativa.
4. Indicar o número de ATP sintetizados para cada NADH e FADH2 oxidados.
5. Definir desacoplador e citar um exemplo.
6. Definir inibidor de fosforilação oxidativa e citar um exemplo.
7. Definir controle respiratório.
8. Definir fosforilação ao nível do substrato e citar as reações onde ocorre esta
fosforilação.
9. A membrana interna da mitocôndria é impermeável a ATP e NADH. Mos-
trar como:
a) O NADH produzido na via glicolítica pode ser oxidado na cadeia respira-
tória (lançadeiras do malato e do glicerol-fosfato).
b) O ATP produzido na mitocôndria pode ser utilizado no citosol.

Texto complementar
Tecido adiposo marrom: um caso de ineficiência útil
Quando o transporte de elétrons gera um gradiente de prótons, parte da energia pro-
duzida assume a forma de calor. Há duas situações nas quais a dissipação da energia
como calor é útil para o organismo: a termogênese sem tremores induzida pelo frio
(produção de calor) e a termogênese induzida pela dieta. A termogênese sem tre-
mores, induzida pelo frio, permite que os animais sobrevivam em baixas temperatu-
ras após terem se adaptado a essas condições, e a termogênese induzida pela dieta
evita o desenvolvimento da obesidade apesar da alimentação excessiva prolongada.
(A energia é dissipada como calor na medida em que as moléculas de alimento são
metabolizadas em vez de serem armazenadas como gordura.) Esses dois processos
podem ser bioquimicamente iguais, ocorrendo, principalmente, se não exclusivamen-

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143
Bioquímica

te, no tecido adiposo marrom (TAM), que é rico em mitocôndrias (O tecido adiposo
marrom obtém sua cor por causa do grande número de mitocôndrias presentes nele,
em vez das gorduras brancas usuais.) A chave para esse uso “ineficiente” de energia
no tecido adiposo marrom parece ser uma proteína mitocondrial chamada termoge-
nina, também conhecida como “proteína desacopladora”. Quando tal proteína ligada
à membrana é ativada na termogênese, ela funciona como um canal de prótons pela
membrana mitocondrial interna. Como todos os outros desacopladores, ela “abre um
buraco” na membrana mitocondrial e diminui o efeito do gradiente de prótons. Os
prótons fluem de volta para a matriz por meio da termogenina, desviando-se do com-
plexo ATP sintase. Poucas pesquisas sobre a bioquímica ou a fisiologia do tecido adipo-
so marrom foram realizadas em humanos. Recentemente os pesquisadores dedicaram
grandes esforços para identificar o gene que codifica a proteína desacopladora envol-
vida na obesidade. Alguns pesquisadores também propuseram uma ligação entre a
síndrome de morte súbita do lactente e o metabolismo do tecido adiposo marrom.
Acreditam que uma ausência de TAM, ou mesmo uma mudança para tecido adiposo
normal muito precocemente, poderia levar ao resfriamento da temperatura corporal
de um modo capaz de afetar o sistema nervoso central.

Referências
CAMPBELL, M. K.; FARREL, S. O. Bioquímica. Vol 3. São Paulo: Thomson
Learning - 2008. No Capítulo 20, do vol. 3, o assunto Fosforilação Oxidativa e
Inibidores e Desacopladores da Cadeia de Transporte de Elétrons são abor-
dados de forma muito didática.
CHAMPE, P. C.; HARVEY, R. A.; FERRIER, D. R. Bioquímica Ilustrada. 4ª
Ed. Porto Alegre: Artmed, 2009. Na Unidade II do livro, no Capítulo 6, são
apresentados tópicos relativos ao assunto abordado. O livro é ricamente ilus-
trado tornando o assunto de fácil compreensão.
MARZZOCO, A.; TORRES, B. B. Bioquímica Básica. 2ª ed. 1999. Rio de
Janeiro: Editora Guanabara Koogan S. A. O Capítulo 11 da Parte 3 desse livro
explana de forma bastante compreensiva o assunto Cadeia de Transporte de
Elétrons e Fosforilação Oxidativa.
SMITH, C.; MARKS, A. D.; LIEBERMAN, M. Bioquímica Médica Básica de
Marks – Uma abordagem clínica. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2007. O Ca-
pítulo 21 do livro aborda o assunto com muito detalhamento.

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Capítulo 10
Metabolismo de carboidratos
glicólise e formação
de Acetil-CoA

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147
Bioquímica

Objetivos
•• Entender o metabolismo dos carboidratos
•• Fixar as etapas reacionais da glicose ao piruvato
•• Compreender o processo de oxidação do piruvato até Acetil-CoA
•• Analisar a produção de energia em cada etapa reacional
•• Entender o metabolismo das fermentações

Introdução
O uso da glicose como fonte energética pode ser considerada universal, pois
dos microorganismos ao homem quase todas as células são potencialmente
capazes de atender suas demandas energéticas apenas a partir deste açú-
car. A glicose é o principal açúcar da dieta e o carboidrato que circula no san-
gue para garantir que todas as células tenham um fornecimento de substrato
energético contínuo.
A glicose é armazenada nas células como glicogênio, o qual pode for-
necer uma fonte interna de substrato energético para a glicólise em situações
de emergência. Assim sendo pode-se dizer que a glicose é prontamente dis-
ponível a partir da dieta, de reservas internas de glicogênio e do sangue. Ela é
imprescindível para algumas células e tecidos, como hemácias e tecido ner-
voso, por constituir o único substrato que estes tecidos são capazes de oxidar
para obter energia. O cérebro utiliza glicose quase exclusivamente como um
substrato energético.
O primeiro estágio do metabolismo da glicose é chamado glicólise. A
glicólise é um processo anaeróbio que, sozinho, produz apenas duas molécu-
las de ATP. A oxidação aeróbia completa da glicose em dióxido de carbono e
água (envolvendo a glicólise, o ciclo do ácido cítrico e a fosforilação oxidativa)
produz energia equivalente a 32 moléculas de ATP.
Durante atividades físicas vigorosas, o corpo metaboliza aerobiamente
os carboidratos, as gorduras e as proteínas para gerar combustível; entretan-
to, mais carboidratos são utilizados conforme a intensidade da atividade física
aumenta. Além de servir como uma fonte anaeróbica e aeróbica de ATP, a
glicólise é uma rota anabólica que fornece precursores para a biossíntese.
Por exemplo, no fígado e no tecido adiposo, essa rota produz piruvato como
um precursor para a biossíntese de ácidos graxos. A glicólise também forne-

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LIBERATO, M. C. T. C.; OLIVEIRA, M. S. C.

ce precursores para a síntese de compostos, como aminoácidos e ribose-5-


-fosfato, o precursor de nucleotídeos.
Em corridas de 400 metros, em que ocorrem explosões repentinas de
gasto de energia, o corpo utiliza os carboidratos mais rapidamente do que
pode processá-los de modo aeróbio. A glicose será metabolizada por meio da
glicólise, com o piruvato sendo o produto final. O piruvato será convertido em
ácido láctico, que, consequentemente, será exportado dos músculos para o
fígado. Assim, os dois ATP da glicólise anaeróbia serão uma fonte de energia
adicional nessas condições. Sob condições aeróbias, o principal objetivo da
glicólise é alimentar o piruvato no ciclo do ácido cítrico, em que as etapas
metabólicas posteriores gerarão um aumento considerável na síntese de ATP.
Portanto, todas as células oxidam glicose a piruvato para obter ATP; o
piruvato pode ser oxidado a CO2, aumentando muito a produção de ATP. Nas
células anaeróbias, a degradação da glicose para no piruvato.

Nas células aeróbias, o piruvato é subsequentemente oxidado, com


grande ganho de ATP.

1. Esquema da oxidação completa da glicose


Na glicólise, no citosol, a glicose é convertida em frutose-1,6-bisfosfato, que
gera duas moléculas de piruvato. Quando o piruvato é formado, ele pode ter
vários destinos. No metabolismo aeróbio, o piruvato perde dióxido de car-
bono, e os dois átomos de carbono restantes ficam ligados à coenzima A
como um grupo acetila para formar a acetil-CoA, que, então, entra no ciclo
do ácido cítrico.
No metabolismo anaeróbio existem dois destinos para o piruvato. Em
organismos capazes de fermentação alcoólica, o piruvato perde dióxido de

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Bioquímica

carbono, dessa vez produzindo acetaldeído, que será então reduzido a etanol.
O destino mais comum para o piruvato no metabolismo anaeróbio é a sua re-
dução a lactato, chamada glicólise anaeróbia para distinguir da conversão de
glicose a piruvato que é conhecida simplesmente como glicólise. O metabolis-
mo anaeróbio é a única fonte de energia nas hemácias dos mamíferos, assim
como em diversas espécies de bactérias, como o Lactobacillus no soro do
leite e o Clostridium botulinum em alimentos enlatados estragados. Em todas
essas reações a conversão de glicose ao produto é uma reação de oxidação,
exigindo reações de redução em que NAD+ é convertido em NADH.
Glicólise: Oxidação de Glicose a Piruvato
Na glicólise ocorre, portanto, duas fosforilações por ATP e duas fosfori-
lações por fosfato inorgânico. Os quatro grupos fosfato são transferidos para
ADP, formando quatro ATP.
A glicólise pode ser dividida em quatro etapas. Estas quatro etapas são
compostas por dez reações sequenciais que compõem a glicólise.
Etapa I: Ocorre uma dupla fosforilação da hexose, à custa de 2 ATP, origi-
nando uma hexose com 2 grupos fosfato. Na primeira reação da glicólise,
os organismos efetuam a fosforilação da glicose através de uma reação que
utiliza ATP como doador de grupo fosfato. A reação é essencialmente irrever-
sível e catalisada por quinases. Quinases são enzimas que transferem um
grupo fosfato de um composto de alta energia (em geral ATP) para um com-
posto aceptor. Na maioria dos organismos e tecidos, a enzima hexoquinase
é quem atua catalisando a fosforilação da glicose. No fígado, quem atua é
a glicoquinase. Em seguida, ocorre a isomerização da glicose 6-fosfato a
frutose 6-fosfato, por ação da isomerase, a fosfoglicoisomerase, e nova fos-
forilação, utilizando ATP catalisada pela fosfofrutoquinase. Forma-se então
uma hexose com 2 grupos fosfato: a 1,6-bisfosfato.
Etapa II: Ocorre a clivagem da frutose 1,6 – bisfosfato, produzindo duas trio-
ses fosforiladas: diidroxiacetona fosfato e gliceraldeído 3-fosfato. Essa reação
é catalisada por aldolase. As duas trioses fosforiladas são isômeras e devem
ser interconvertidas por ação de uma isomerase específica a triose fosfato
isomerase. A conversão de diidroxiacetona fosfato em gliceraldeído 3-fosfato
possibilita que todos os carbonos da glicose sejam oxidados a piruvato, ape-
sar de apenas o gliceraldeído 3-fosfato ser substrato da próxima enzima e
poder, portanto, prosseguir pela via glicolítica.
Etapa III: Nesta etapa ocorre oxidação e nova fosforilação, desta vez por fos-
fato inorgânico (Pi), das trioses fosfato, formando duas moléculas de um inter-
mediário com 2 grupos fosfato. As duas moléculas de gliceraldeído 3-fosfato
obtidas por fosforilação à custa de 2 ATP são novamente fosforiladas, agora
por fosfato inorgânico, formando duas moléculas de 1,3-bisfosfoglicerato; as-

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LIBERATO, M. C. T. C.; OLIVEIRA, M. S. C.

sim, o substrato, um aldeído, é oxidado a um ácido. Esta etapa é cumprida


por uma reação de óxido-redução complexa, catalisada pela gliceraldeído
3-fosfato desidrogenase.
Etapa IV: Compreende dois eventos de formação de ATP. Ocorre transfe-
rência dos grupos fosfato deste intermediário para ADP, formando 4 ATP e
2 moléculas de piruvato. A glicólise tem, portanto, um rendimento de 2 ATP:
para cada molécula de glicose são produzidos 4 ATP (2 por triose), dos quais
devem ser descontados os 2 ATP consumidos na Etapa I.

Fonte: http://www.fortunecity.com

2. Glicólise anaeróbia: fermentações


O NADH produzido na glicólise pode ser oxidado anaerobiamente: o piruvato
é convertido a lactado ou etanol
Equação geral da glicólise (eq. 1) é:

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151
Bioquímica

A redução de NAD+ está associada à oxidação da glicose e à produção


de ATP. Como o NAD+ existe nas células em concentrações limitantes, muito
inferiores às dos substratos, a manutenção do funcionamento da glicólise de- Acidose Lática
pende da reoxidação do NADH. Os organismos regeneram o NAD+ através de A deficiência da enzima
piruvato desidrogenase
dois processos diferentes, segundo a disponibilidade de oxigênio. Quando em evita a oxidação do piruvato,
situação de aerobiose, utilizam o oxigênio para oxidar o NADH enquanto no levando a seu acúmulo no
citoplasma. Isto aumenta
caso de haver anaerobiose, o próprio piruvato produzido pela glicólise serve
a conversão de piruvato
como aceptor dos elétrons do NADH, sendo reduzido a lactato (equação 2): em lactato e produz um
aumento do lactato e piruvato
sanguíneos. Os prótons
que acompanham esses
ânions são neutralizados pelo
bicarbonato sérico, criando
uma acidose metabólica
com uma elevada diferença
Piruvato Lactato de ânions. A acidose lática
é uma das várias acidoses
metabólicas causadas pelo
Algumas espécies de bactérias, as hemácias, fibras musculares de acúmulo de ácidos orgânicos
contração rápida (fibras brancas) e fibras musculares em geral, quando sub- no sangue.
metidas a esforço intenso, utilizam esse processo. Nestas condições, o oxigê-
nio trazido pela circulação torna-se insuficiente para promover a oxidação da
grande quantidade de NADH resultante do trabalho muscular e a fibra mus-
cular fica submetida a uma anaerobiose relativa. A oxidação do NADH pelo
piruvato gera, então, o lactato caracteristicamente produzido por músculos
em anaerobiose, permitindo que, pela regeneração do NAD+, a glicólise possa
prosseguir, formando ATP.

Glicose Lactato
A equação acima é a soma da equação de conversão de glicose a
piruvato (equação 1) com a de conversão de piruvato a lactato (equação 2) e
chama-se equação geral da conversão de glicose a lactato.
Em leveduras e algumas bactérias, a regeneração do NAD+ é feita por
outro processo: o piruvato é descarboxilado, originando acetaldeído, que, ser-
vindo como aceptor de elétrons do NADH, reduz-se a etanol:

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LIBERATO, M. C. T. C.; OLIVEIRA, M. S. C.

As fermentações diferem nas reações que regeneram o NAD+, depen-


dendo das enzimas utilizadas no processo e no produto final da reação ou
seja, o piruvato pode ser convertido a lactato, etanol, butirato, propionato, etc.
Então, pode-se afirmar que existe fermentação lática, fermentação alcoólica,
fermentação propiônica etc.

3. Conversão de Piruvato a Acetil-CoA


Em aerobiose, a conversão do piruvato em acetil-CoA é o primeiro passo
para sua oxidação total. Nas células eucarióticas, o piruvato do citosol entra
na mitocôndria, através de uma translocase específica, e é transformado em
acetil-CoA, conectando, portanto, a glicólise e o Ciclo de Krebs.
Assim sendo, o piruvato deixa de ser o aceptor dos elétrons do NADH
produzido pela glicólise e esta coenzima não será regenerada no citosol; será
oxidada pelo oxigênio, aceptor final de elétrons no metabolismo aeróbio. O
piruvato é convertido a acetil-CoA, através de uma descarboxilação oxidativa,
de acordo com a equação:

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153
Bioquímica

CICLO DE KREBS

Fonte: http://www.tudomaisumpouco.com/aula6respiração

3.1. Via das pentoses fosfato (ou rota da hexose monofosfato)


A rota da hexose monofosfato consiste em duas reações oxidativas irrever-
síveis, seguidas de uma série de conversões reversíveis açúcar-fosfato. Ne-
nhum ATP é consumido ou produzido diretamente no ciclo o carbono 1 da
glicose 6-fosfato é liberado como CO2, e dois NADH são produzidos para
cada glicose 6-fosfato, que entra na parte oxidativa da rota.
Esta via ocorre no citosol da célula, e fornece uma importante porção do
NADH da célula, que funciona como um redutor bioquímico. É particularmen-
te importante no fígado e glândulas mamárias, que são ativos na biossíntese
de ácidos graxos, e no córtex adrenal, o qual é ativo na síntese de esteroides
dependente de NADH. Esta via também produz ribose-fosfato, necessária
para a biossíntese de nucleotídeos e dá condições para o uso de açúcares de
cinco carbonos.

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LIBERATO, M. C. T. C.; OLIVEIRA, M. S. C.

VIA DAS PENTOSES FOSFATO

Fonte: http://www.bioq.unb.br/htm/textos_explic/via_pentoses.htm

4. Metabolismo de carboidratos Monossacarídeos


Os carboidratos são entregues às células principalmente na forma de glicose,
juntamente com quantidades menores de outros monossacarídeos. A frutose
e a galactose são convertidas em glicose no fígado. A maior parte da glicose
é oxidada pelo ciclo do ácido cítrico para atingir as necessidades de energia
imediatas de todos os tecidos.
Um pouco de glicose é convertida em: ribose, frutose (para espermato-
zoides), desoxirribose, glicosamina e galactosamina, e esqueletos de carbono
para a produção de aminoácidos não essenciais. Carboidrato em excesso
é convertido em glicogênio ou ácidos graxos, que são depois armazenados
como triglicerídeos no tecido adiposo.
•• Galactose: É convertida no fígado em UDFG (uridina difosfato glicose) que
pode ser incorporada no glicogênio ou convertida em glicose-1-PO4 e me-
tabolizada pelas vias da glicose.
•• Frutose: Sua entrada na célula não é insulino-dependente. Pode ser con-
vertida em glicose; aumenta a glicose ou triglicerídeos no sangue em indiví-
duos suscetíveis com diabetes não insulino-dependentes.

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155
Bioquímica

A frutose e a galactose não são dependentes da insulina para entrar na célula.

4.1. Glicogênio, amido, sacarose e lactose


•• Glicogênio: É sintetizado principalmente pelo fígado e músculos quan-
do a oferta de glicose supera as necessidades energéticas imediatas
destes órgãos.
•• Glicogênio Hepático: Produz glicose (por degradação), que é exportada
para manter a glicemia (concentração de glicose sanguínea) nos períodos
entre as refeições e no jejum noturno.
•• Glicogênio Muscular: Provê energia apenas para a fibra muscular em con-
tração intensa, quando a demanda energética ultrapassa o aporte de O2.
A degradação do glicogênio produz 1-fosfato. A glicose 1-fosfato é con-
vertida pela fosfoglixomutase. A glicose 6-fosfato que pode ser degradada pela
glicólise, formando lactato, no músculo. No fígado, a glicose 6-fosfato é prefe-
rencialmente hidrolisada por ação da glicose6-fosfatase, produzindo glicose,
que é liberada na circulação. A síntese de glicogênio utiliza como precursor
uma forma ativada de glicose e gasta 2 ATP por glicose incorporada.

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LIBERATO, M. C. T. C.; OLIVEIRA, M. S. C.

Quadro
DOENÇAS HEREDITÁRIAS DO METABOLISMO DO GLICOGÊNIO
Tipo Enzima deficiente Consequências
Acúmulo de glicogênio hepático e aumento do
I von Gierke Glicose 6-fosfatase
fígado; inabilidade de corrigir a glicemia no jejum.
Acúmulo generalizado de glicogênio, insuficiência
II Pompe Α-1,4 Glicosidase1
cardiorrespiratória e morte precoce.
Glicogênio com ramificações curtas, resultantes
III Cori Enzima desramificadora
da ação do glicogênio fosforilase.
Glicogênio com cadeias muito longas não
IV Andersen Enzima ramificadora
ramificadas; morte precoce.
V McArdle Glicogênio fosforilase muscular Incapacidade de realizar exercícios intensos.
VI Hers Glicogênio fosforilase hepática Semelhantes às do tipo I, mas menos intensas.
VII - Fosfofrutoquinase muscular Semelhantes à do tipo V.
VIII Tarui Fosforilase quinase hepática Semelhantes às do tipo I, mas menos intensas.
IX - Glicogênio sintase hepática Diminuição do glicogênio hepático.
1
Enzima lisossômicas que hidrolisa os segmentos lineares do glicogênio; em indivídu-
os normais, constitui uma via secundária do metabolismo do glicogênio.

Atividades de avaliação
1. Quantas moléculas de piruvato se formam a partir de uma molécula
de glicose?
2. Que hexose dá origem a trioses?
3. Indicar as reações de óxido-redução.
4. Indicar os compostos ricos em energia.
5. Identificar as reações catalisadas pelos seguintes tipos de enzimas:
a) Quinase.
b) Isomerase.
c) Aldolase.
d) Desidrogenase.
6. Considerando o nº de moléculas de ATP consumidas e formadas, estabele-
cer o saldo final de ATP na degradação de uma molécula de glicose pela
via glicolítica.
7. Citar os compostos que devem ser fornecidos à via glicolítica para:
a)iniciá-la (haver formação de lactato).
b)mantê-la em funcionamento.
8. Indicar a função da via glicolítica.

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157
Bioquímica

9. Esquematizar as reações de fermentação alcoólica que possibilitam a ob-


tenção de NAD+ na forma oxidada.
10. Citar as vitaminas necessárias para as seguintes conversões:
a) Glicose → Lactato
b) Lactato → Glicose
11. Escrever a reação de formação de acetil-CoA a partir de piruvato e indicar:
a) – As 5 coenzimas necessárias; b) – As vitaminas envolvidas; c) – A lo-
calização celular.

Texto complementar
As cáries dentárias estão entre as doenças mais frequentes nos Estados Unidos e, pos-
sivelmente, no mundo, embora tratamentos modernos, como aplicações de flúor e
uso do fio dental, tenham reduzido a sua incidência entre os jovens.
Os fatores que contribuem para a cárie dentária são uma combinação de uma dieta
com alto teor de açúcar refinado, o desenvolvimento da placa dentária e o metabo-
lismo anaeróbico. A dieta com alto teor de açúcar permite o pronto crescimento de
bactérias na boca, e a sacarose talvez seja o açúcar mais facilmente usado por elas.
Por outro lado, as bactérias podem fazer a sua “cola” de polissacarídeos a partir desse
açúcar não-redutor. As bactérias desenvolvem-se ampliando suas colônias pegajosas,
formando placas na superfície dos dentes.
As bactérias que crescem debaixo da superfície da placa fazem metabolismo ana-
eróbico, já que o oxigênio não se difunde pela superfície encerada da placa dental.
Os dois produtos predominantes, o lactato e o piruvato, são ácidos orgânicos rela-
tivamente fortes, e são esses produtos ácidos que, de fato, causam a destruição da
superfície esmaltada.
As bactérias, é claro, crescem melhor nos buracos das cáries, e, se o esmalte for in-
teiramente degradado, as bactérias crescerão ainda mais rapidamente na camada macia
da dentina, embaixo do esmalte. A adição de flúor à água resulta em uma superfície de
esmalte muito mais dura, e o fluoreto pode inibir o metabolismo das bactérias. O uso do
fio dental diariamente rompe a placa e evita o estabelecimento de condições anaeróbicas
Fonte: (Campbell, 2000).

Sites
www.ebah.com.br/content/AFAAAAAkUAD/glicolise
pathmicro.med.sc.edu/portuguese/chapter_3_bp.htm
gratisvideoaulas.blogspot.com/.../biologia-glicolise-respirac

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158
LIBERATO, M. C. T. C.; OLIVEIRA, M. S. C.

Referências
CAMPBELL, M. K.; FARREL, S. O. Bioquímica. Vol 3. São Paulo: Thomson
Learning - 2008. No Capítulo 17, do vol. 3, o assunto Glicólise é abordado de
forma muito didática.
CAMPBELL, M. K. Bioquímica. 3ª Ed. Porto Alegre: Artmed Editora, 2000.
A contextualização sobre cáries, explica de modo didático sua produção
por anaerobiose.
CHAMPE, P. C.; HARVEY, R. A.; FERRIER, D. R. Bioquímica Ilustrada. 4ª
Ed. Porto Alegre: Artmed, 2009. Na Unidade II do livro, no Capítulo 8, são
apresentados tópicos relativos ao assunto abordado. O livro é ricamente ilus-
trado tornando o assunto de fácil compreensão.
MARZZOCO, A.; TORRES, B. B. Bioquímica Básica. 2ª ed. 1999. Rio de
Janeiro: Editora Guanabara Koogan S. A. Os Capítulos 9, 12, 13 da Parte 3
desse livro explanam de forma bastante compreensiva os tópicos explorados
nesse capítulo.
Smith, C.; Marks, A. D.; Lieberman, M. Bioquímica Médica Básica de Marks
– Uma abordagem clínica. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2007. O Capítulo 22
do livro aborda o assunto com muito detalhamento e de forma didática.

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Capítulo 11
Gliconeogênese

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161
Bioquímica

Objetivos O principal fator envolvido


na regulação dos níveis de
•• Verificar o catabolismo da glicose. glicose sanguínea é a própria
concentração de glicose
•• Diferenciar a quebra e síntese de glicose no organismo. sanguínea e de hormônios,
•• Compreender o papel da glicose no fígado, como reserva de energia. particularmente insulina e
glucagon. À medida que os
•• Relacionar glicose com doenças como, diabetes e glaucoma. níveis de glicose sanguínea
se elevam após uma refeição,
•• Conceituar o consumo de glicose de forma anaeróbica.
a concentração aumentada
de glicose estimula as células
β do pâncreas para estimular
Introdução insulina. Certos aminoácidos,
particularmente arginina e
A glicose ocupa um papel central no metabolismo, tanto como combustível leucina, também estimulam
quanto como um precursor de carboidratos estruturais essenciais e de outras a liberação de insulina pelo
biomoléculas. O cérebro (consome 120 g de glicose por dia) e as células ver- pâncreas.
Os níveis sanguíneos de
melhas do sangue (consomem 30 g de glicose, diariamente) são quase com- glucagon, que é secretado
pletamente dependentes da glicose como fonte de energia. É preciso que o pelas células α do pâncreas,
suprimento de glicose seja ininterrupto, por isso o organismo dispõe de me- podem aumentar ou diminuir,
dependendo do conteúdo
canismos destinados a manter a oferta de glicose circulante, possibilitando a da refeição. Os níveis de
captação contínua mesmo muito depois das refeições. glucagon diminuem em
resposta a uma refeição rica
À proporção que diminui a glicose circulante, derivada da ingestão de ali- em carboidratos, mas podem
mentos, a degradação do glicogênio hepático incumbe-se da manutenção da aumentar em resposta a uma
refeição rica em proteínas.
concentração adequada de glicose sanguínea. O nível de glicose no sangue
Após uma refeição típica
é mantido nos limites normais pela liberação de glicose a partir do glicogênio mista contendo carboidrato,
do fígado (glicogenólise), por exemplo, durante o sono, ou jejum prolongado. proteína e gordura, os níveis
de glucagon permanecem
Porém, a capacidade de armazenamento de glicogênio no fígado é su- relativamente constantes
ficiente para suprir o cérebro com glicose por apenas aproximadamente dez a enquanto os níveis de
insulina aumentam (Smith,
dezoito horas na ausência de ingestão de carboidratos, após o que outra via Allan & Lieberman, 2007).
metabólica de produção de glicose, a gliconeogênese, é acionada. Essa via
requer tanto enzimas mitocondriais como citosólicas.
Durante o jejum de uma noite, cerca de 90% da gliconeogênese ocorre
no fígado com os rins fornecendo 10% das moléculas de glicose recém-sinte-
tizadas. No entanto, em um jejum prolongado, os rins tornam-se importantes
produtores de glicose, cerca de 40%, da produção total.

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Quadro
FONTE DE ENERGIA PARA DIFERENTES TECIDOS
Composto
Tecido Glicose Ácidos graxos Corpos cetônicos
Cérebro +
Hemácias e leucócitos +
Medula renal +
Retina +
Mucosa intestinal +
Fígado + +
Adiposo + +
Músculos esqueléticos e cardíaco + + +
Córtex renal + + +
Fonte: Marzzoco & Torres, 1999.

A energia livre da glicose é sequestrada na forma de ATP por meio da


glicólise, do ciclo do ácido cítrico e da fosforilação oxidativa. A gliconeogêne-
se é uma rota importante do metabolismo dos carboidratos e se processa no
fígado e, minoritariamente, nos rins. Ela é a rota metabólica que através de
precursores que não são carboidratos, tais como lactato, piruvato, glicerol e
aminoácidos, converte-os a glicose.

Figura – Resumo simplificado das reações da glicólise e da gliconeogênese

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Bioquímica

Quando em jejum, a maior parte da glicose do organismo deve ser su-


prida por meio da gliconeogênese (significa síntese de glicose nova), que é
a biossíntese da glicose a partir de precursores que não são carboidratos. A
gliconeogênese ocorre no fígado e, em menor extensão, nos rins como já foi
dito. Os precursores não-carboidratos que podem ser convertidos à glicose
incluem os produtos da glicólise, lactato e piruvato, intermediários do ciclo
do ácido cítrico e os esqueletos de carbono da maioria dos aminoácidos. A Hipoglicemia Neonatal
Idiopática
degradação de proteínas é um processo normal. A utilização de aminoácidos Recém-nascidos têm
para a gliconeogênese é uma via metabólica habitual cotidiana, contribuindo uma necessidade crítica
da gliconeogênese. O
para a manutenção da glicemia durante o jejum noturno.
suprimento de glicose pela
Antes de tudo, porém, todas essas substâncias devem ser convertidas placenta é interrompido e não
há glicose imediatamente
a oxalacetato, o material de partida para a gliconeogênese. O oxalacetato é
disponível na dieta. Uma
um intermediário na produção de fosfoenol piruvato na gliconeogêse como vez que o cérebro precisa
será visto mais adiante. Os únicos aminoácidos que não podem ser conver- ter uma fonte prolongada
de glicose proveniente do
tidos a oxalacetato em animais são leucina e lisina, pois sua hidrólise gera sangue, os genes para as
apenas acetil-CoA. enzimas gliconeogênicas são
ativados simultaneamente ao
Da mesma forma, ácidos graxos não podem servir como precursores nascimento. Ocasionalmente,
de glicose em animais porque a maioria dos ácidos graxos é degradada com- esta ativação não ocorre
pletamente a acetil-CoA. No entanto, ao contrário dos animais, as plantas pos- e o recém-nascido deve
ser alimentado com uma
suem uma rota para a conversão de acetil-CoA a oxalacetato que é o ciclo do solução de glicose ou terá
glioxalato, de modo que os ácidos graxos podem ser a única fonte de carbono hipoglicemia (Fonte: Pelley,
das células vegetais. O glicerol, um produto da hidrólise de triacilgliceróis, é 2007).
convertido à glicose por meio da síntese do intermediário glicolítico diidroxia-
cetona – fosfato.

1. Relação entre diferentes órgãos na gliconeogênese


A produção de glicose ocorre a partir de substratos produzidos pelo músculo
como lactato no esforço intenso e alanina no jejum. O lactato origina-se dos
músculos submetidos à contração intensa e de outras células que degradam
glicose anaerobiamente – medula adrenal, e, principalmente, hemácias. A
maior parte da glicose sintetizada destina-se ao cérebro.
Os aminoácidos são provenientes de degradação de proteínas endó-
genas, principalmente as musculares, durante o jejum. Ainda no músculo, os
aminoácidos são convertidos à alanina, a forma de transporte do aminoácido
ao fígado. O glicerol é derivado da hidrólise de triacilgliceróis (TAG) do tecido
adiposo, durante o jejum. O fígado é o principal órgão responsável pela gli-
coneogênese e, apenas em casos de jejum muito prolongado, o córtex renal
chega a dar contribuição importante.

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LIBERATO, M. C. T. C.; OLIVEIRA, M. S. C.

1.1. Reações da Gliconeogênese


De onze reações necessárias para converter piruvato em glicose livre, sete
são reversíveis, catalisadas por enzimas glicolíticas. A gliconeogênese utiliza
as reações reversíveis da glicólise e substitui por outras as reações irreversí-
veis. Contudo, três das enzimas glicolíticas, glicoquinase, fosfofrutoquinase
(PFK) e piruvato-quinase, catalisam reações com grandes variações de ener-
gia livre negativa na direção da glicólise. Essas reações devem ser substituídas
na gliconeogênese por reações que tornem a síntese de glicose termodinami-
camente favorável. Assim, essas reações são contornadas pela ação das en-
zimas glicose-6-fosfatase, frutose-1,6-bisfosfatase e piruvato-carboxilase/
PEP-carboxiquinase.

Figura – Rotas que convertem lactato, piruvato e intermediários do ciclo do ácido


cítrico a oxalacetato.
Fonte: educadorfisico.esp.br

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Bioquímica

Os esqueletos de carbono de todos os aminoácidos, exceto leucina e


lisina, podem ser em parte convertidos a oxalacetato e, então, à glicose atra-
vés das reações da figura acima.

Figura – Conversão de piruvato a oxalacetato e, então, a fosfoenolpiruvato

A transformação da alanina e do lactato, em glicose, se inicia por sua


conversão ao piruvato. A alanina origina piruvato por ação da alanina amino-
transferase; o lactato é convertido a piruvato por ação da lactato desidroge-
nase. A transformação do piruvato em glicose pela gliconeogênese processa-
-se no sentido oposto ao da glicólise, utilizando quase todas as suas enzimas,
com exceção daquelas que catalisam reações irreversíveis. Essas reações
são contornadas através de outras reações, catalisadas naturalmente, por ou-
tras enzimas. As três etapas em que a gliconeogênese difere da glicólise são:

a) Conversão de piruvato a fosfoenolpiruvato


O piruvato é convertido a oxalacetato antes da conversão a fosfoenolpiruva-
to. A conversão de piruvato a fosfoenolpiruvato compreende o transporte de
piruvato para a mitocôndria, sua carboxilação a oxaloacetato, o transporte de
oxaloacetato para o citossol e a transformação deste composto em fosfoe-
nolpiruvato. As enzimas envolvidas são (1) a piruvato-carboxilase e (2) a
fosfoenolpiruvato-carboxiquinase.
Para ser utilizado como substrato da piruvato carboxilase, uma en-
zima mitocondrial, o piruvato produzido no citosol entra na mitocôndria por
ação da piruvato translocase. Essa enzima contém biotina (vitamina B7),
como grupo prostético. Para promover a carboxilação do piruvato e produzir
oxalacetato, a biotina combina-se com CO2 à custa de ATP. O oxalacetato

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passa para o citossol através da lançadeira do malato-aspartato e, por ação


da fosfoenolpiruvato carboxiquinase, é convertido a fosfoenolpiruvato,
através de descarboxilação e fosforilação à custa de GTP. O fosfoenolpiruva-
to então é transformado em frutose 1,6-bisfosfato pelas enzimas que também
compõem a glicólise, que como catalisam reações reversíveis, podem operar
a via no sentido inverso.
Piruvato + CO2 + H2O + ATP Oxalacetato + ADP + Pi + 2 H+
Oxalacetato + GTP Fosfoenolpiruvato + CO2 + GDP

a) Conversão de frutose 1,6-bisfosfato a frutose 6-fosfato


Essa reação substitui a reação irreversível catalisada pela enzima fosfofruto-
quinase. É uma reação de hidrólise do grupo fosfato do carbono 1, catalisada
pela frutose 1,6-bisfosfatase.
Frutose 1,6-bisfosfato + H2O Frutose 6-fosfato + Pi
A fosfoglicoisomerase pode levar à isomerização da frutose 6-fosfato
a glicose 6-fosfato.

c) Conversão de glicose 6-fosfato à glicose


A irreversibilidade da reação catalisada pela glicoquinase, pode ser contor-
nada substituindo-se esta reação por uma reação de hidrólise do grupo fosfato
ligado ao carbono 6, catalisada pela glicose 6-fosfatase. É, portanto, uma
reação semelhante à anterior.
Glicose 6-fosfato + H2O Glicose + Pi
O produto da reação, a glicose, ao contrário da glicose fosforilada,
pode atravessar livremente a membrana plasmática. A glicose 6-fosfatase
ocorre exclusivamente no fígado e rins, e é graças a ela, que estes órgãos,
especialmente o fígado, podem exportar glicose para corrigir a glicemia. O
glicerol para ser usado como composto gliconeogênico é fosforilado a glicerol
3-fosfato, que é oxidado a diidroxiacetona fosfato. Esse é um composto da via
glicolítica e pode, portanto prosseguir em direção à glicose pelas reações da
glicólise e as substitutivas (frutose 1,6-bisfosfatase e glicose 6-fosfatase).
Ao final do processo, pode-se afirmar que para cada molécula de glico-
se formada a partir de duas moléculas de piruvato são necessários 6 ATP, uti-
lizados nas reações catalisadas por piruvato carboxilase, fosfenolpiruvato
carboxiquinase e fosfoglicerato quinase.
Partindo do piruvato, a equação geral da gliconeogênese é:
2 Piruvato + 6ATP + 6H2O + 2NADH Glicose + 6ADP + 6Pi +2NAD+ +2H+

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Bioquímica

Caso o composto inicial seja o lactato, a equação será:


2 Lactato + 6ATP +6H2O Glicose + 6ADP +6Pi + 4H+
Partindo do glicerol, a síntese de uma molécula de glicose consome
somente 2 ATP na reação catalisada pela glicerol quinase.

Fonte: Copyright © 1997 Willey-Liss, Inc.

Atividades de avaliação
1. Defina Gliconeogênese, indicando quando ocorre e qual o seu balan-
ço energético.
2. Quais são as três etapas que diferenciam a gliconeogênese da glicólise?
Dê as reações que ocorrem.
3. Quais as enzimas usadas em cada etapa que diferencia a gliconeogênese
da glicólise?

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Texto complementar
Alterações nos níveis de glicose sanguínea após uma refeição
Após uma refeição rica em carboidratos, a glicose sanguínea se eleva de um nível de
jejum de aproximadamente 80 a 100 mg/dL para um nível de cerca de 120 a 140 mg/
dL dentro de um período de 30 minutos a 1 hora. A concentração de glicose no sangue,
então começa a diminuir, retornando à faixa do jejum aproximadamente duas horas
após a refeição.
Os níveis de glicose sanguínea aumentam quando a glicose da dieta é digerida e
absorvida. Os valores não sobem mais do que aproximadamente 140 mg/dL em uma
pessoa saudável normal, pois os tecidos captam a glicose do sangue, armazenando-a
para uso subsequente e oxidando-a para produzir energia. Após a refeição ser digeri-
da e absorvida, os níveis de glicose sanguínea declinam, pois as células continuam a
metabolizar a glicose. Se os níveis de glicose sanguínea continuam a subir após uma
refeição, a alta concentração de glicose causará a liberação de água dos tecidos como
resultado do efeito osmótico da glicose.
Os tecidos irão se tornar desidratados, e sua função será afetada. Um coma hipe-
rosmolar pode ocorrer por desidratação do cérebro. Inversamente, se os níveis de gli-
cose sanguínea continuam a diminuir após uma refeição, os tecidos que dependem de
glicose sofrem de uma perda de energia. Se os níveis de glicose sanguínea diminuem
abruptamente, o cérebro não será capaz de produzir uma quantidade adequada de
ATP. Isso resultará em tontura, seguida de sonolência e, finalmente, coma.
As células sanguíneas vermelhas não serão capazes de produzir ATP o suficiente
para manter a integridade de suas membranas. A hemólise dessas células diminuirá o
transporte de oxigênio para os tecidos do corpo. Eventualmente, todos esses tecidos
que dependem de oxigênio para a produção de energia falharão em realizar suas fun-
ções normais. Se o problema for grave o suficiente, poderá ocorrer a morte.
Consequências devastadoras de excesso ou insuficiência de glicose normalmente
são evitadas, pois o corpo é capaz de regular seus níveis de glicose sanguínea. À medi-
da que a concentração de glicose sanguínea se aproxima da faixa normal de 80 a 100
mg/dL aproximadamente duas horas após uma refeição, o processo de glicogenólise
é ativado no fígado. O glicogênio hepático é a fonte primária de glicose sanguínea
durante as primeiras horas de jejum. Subsequentemente, a gliconeogênese começa a
ter um papel como fonte adicional de glicose sanguínea. O carbono para a gliconeogê-
nese, um processo que ocorre no fígado, é fornecido por outros tecidos.
O músculo em exercício e as células sanguíneas vermelhas fornecem lactato por
meio da glicólise; o músculo também fornece aminoácidos pela degradação de pro-
teínas, e o glicerol é liberado do tecido adiposo à medida que as reservas de triacil-
gliceróis são mobilizadas. Mesmo durante um jejum prolongado, os níveis de glicose
sanguínea não diminuem muito. Após 5 a 6 semanas de jejum, os níveis de glicose
sanguínea diminuem para apenas 65 mg/dL.
Fonte: Smith, Marks & Lieberman, 2007

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Bioquímica

Sites
http://www.ufpe.br/dbioq/portalbq04/metabolismo_de_carboidros.htm
www.ebah.com.br/content/ABAAAApsYAF/bioquimica

Referências
CAMPBELL, M. K.; FARREL, S. O. Bioquímica. Vol 3. São Paulo: Thomson
Learning - 2008. No Capítulo 18, do vol. 3, o assunto Gliconeogênese é am-
plamente discutido.
CHAMPE, P. C.; HARVEY, R. A.; FERRIER, D. R. Bioquímica Ilustrada.
4ª Ed. Porto Alegre: Artmed, 2009. Na Unidade II, do livro no Capítulo 10,
são apresentados os tópicos relacionados à Gliconeogênese com muitas
ilustrações, tornando o assunto de fácil compreensão.
MARZZOCO, A.; TORRES, B. B. Bioquímica Básica. 2ª ed. 1999. Rio de
Janeiro: Editora Guanabara Koogan S. A. O Capítulo 14 da Parte 3 desse livro
explana de forma bastante compreensiva o assunto Gliconeogênese.
PELLEY, J. W. Bioquímica. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.
SMITH, C.; MARKS, A. D.; LIEBERMAN, M. Bioquímica Médica Básica de
Marks – Uma abordagem clínica. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2007. O Ca-
pítulo 31 do livro aborda o assunto detalhadamente e de forma didática.

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Capítulo 12
Metabolismo de Lipídeos

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173
Bioquímica

Objetivos
•• Compreender o metabolismo de lipídeos em nosso organismo.
•• Verificar onde e como as gorduras ficam acumuladas em nosso corpo.
•• Aprender o custo energético da queima de gorduras no corpo humano.
•• Observar os destinos de metabólitos secundários aos lipídios principais e
seu destino dentro do metabolismo.
•• Avaliar o quanto o acúmulo de gorduras em nosso corpo é prejudicial à saúde.
•• Conhecer como gorduras são fabricadas em nosso organismo e fazer a
relação gasto x consumo das mesmas.

Introdução
A maioria dos lipídeos encontrados no corpo insere-se nas categorias de áci-
dos graxos e triacilgliceróis; glicerofosfolipídeos e esfingolipídeos; eicosanói-
des; colesterol, sais biliares, e hormônios esteroides, e vitaminas lipossolú-
veis. Esses lipídeos têm diferentes estruturas químicas e funções, entretanto
apresentam uma propriedade comum: sua relativa insolubilidade em água. Os
lipídeos da dieta, absorvidos no intestino, e os que são sintetizados endoge-
namente são distribuídos nos tecidos pelas lipoproteínas plasmáticas, para
utilização ou armazenamento.
Os triacilgliceróis (também chamados gorduras ou triglicerídeos) são os
lipídios mais abundantes da dieta (cerca de 90%). Eles constituem a principal
forma de armazenamento de energia metabólica nos seres humanos. Repre-
sentam a maior reserva energética do organismo, em média, 20% do peso
corpóreo, o que equivale a uma massa 100 vezes maior do que a do glicogê-
nio hepático. Os triacilgliceróis são armazenados nas células adiposas, sob
forma anidra. Os ácidos graxos, armazenados como triacilgliceróis servem
como sua principal fonte de energia. Os glicerofosfolipídeos e os esfingolipíde-
os, os quais contêm ácidos graxos esterificados, são encontrados nas mem-
branas e nas lipoproteínas plasmáticas na interface entre os componentes
lipídicos dessas estruturas e a água circundante.
Os ácidos graxos poliinsaturados que contêm 20 carbonos formam os
eicosanoides, que regulam muitos processos celulares. O colesterol, além de
proporcionar estabilidade à bicamada de fosfolipídeos das membranas, age
como precursor dos sais biliares, compostos semelhantes aos detergentes
que agem no processo de digestão e absorção de lipídeos, e dos hormônios

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esteroides, que, entre outras ações, regulam o metabolismo, o crescimento


e a reprodução. As vitaminas lipossolúveis são lipídeos que estão envolvidos
em uma variedade de funções, como visão, crescimento e diferenciação (vi-
tamina A), coagulação sanguínea (vitamina K), prevenção do dano oxidativo
celular (vitamina E) e metabolismo do cálcio (vitamina D).

1. Degradação de Triacilgliceróis: (do depósito)

Os TAG da dieta são transportados pelos quilomícrons (Figura 1), hi-


drolisados pela lipase lipoproteica e dão como produtos finais da hidrólise
glicerol e ácidos graxos. O glicerol não pode ser reaproveitado pelos adipóci-
tos, que não têm glicerol quinase e são liberados na circulação. No fígado e
outros tecidos, por ação da glicerol quinase, é convertido a 1,6 Glicerol 3-Fos-
fato e transformado em diidroxiacetona fosfato, um intermediário da glicólise
ou da gliconeogênese.

Figura 1 – Quilomícrons
Fonte: http://bioquimicadocolesterol.blogspot.com

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Bioquímica

Os ácidos graxos são degradados através de uma via que se proces-


sa no interior das mitocôndrias. Os ácidos graxos liberados dos adipócitos
são transportados pelo sangue ligados à albumina e utilizados pelos tecidos,
incluindo fígado e músculos, como fonte de energia; o tecido nervoso e as
hemácias são exceções, porque obtêm energia exclusivamente a partir da
oxidação da glicose.

2. Degradação de ácidos graxos


Para sua oxidação, os ácidos graxos são ativados e transportados para a ma-
triz mitocondrial. Para serem oxidados, os ácidos graxos são convertidos à
uma forma ativada: Acil-CoA. Esta etapa é catalisada por acil-CoA sintetases,
associadas à membrana externa da mitocôndria:

A membrana interna da mitocôndria é impermeável a acetil-CoA, e so-


mente os radicais acila são introduzidos na mitocôndria, ligados à Carnitina.
Ela é sintetizada a partir de aminoácidos e é amplamente distribuída nos teci-
dos animais e vegetais, sendo muito abundante nos músculos.

3. Sistema utilizado para transporte de radicais acila


O sistema usado para transportar os radicais acila consta das etapas 1 a 4.
1. Na face externa da membrana interna, a carnitina-acil transferase I transfe-
re o radical acila da coenzima A para a carnitina.
2. A acil-carnitina resultante é transportada através da membrana interna por
uma translocase específica.
3. Na face interna, a carnitina-acil transferase II doa o grupo acila da acil-car-
nitina para uma coenzima A da matriz mitocondrial, liberando a carnitina.
4. A carnitina retorna ao citossol pela mesma translocase.
É desta forma, portanto, que o radical acila dos ácidos graxos atinge o
interior da mitocôndria, onde ocorre a sua oxidação.

3.1. β-Oxidação ou ciclo de Lynen


No processo conhecido como β-oxidação ou Ciclo de Lynen, a acil-CoA
presente na matriz mitocondrial é oxidada a acetil-CoA, produzindo NADH
e FADH2. Esta via metabólica é composta de uma série cíclica de quatro re-

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ações, ao final das quais a acil-CoA é encurtada de dois carbonos, que são
liberados sob a forma de acetil-CoA. São as seguintes as reações:
1. Oxidação da acil-CoA a uma enoil-CoA (acil-CoA β-insaturada) de con-
figuração trans, à custa da conversão de FAD a FADH2 (única reação
irreversível da via);
2. Hidratação da dupla ligação, formando uma 3-hidroxiacil-CoA (isômero L);
3. Oxidação do grupo hidroxila a carbonila, resultando uma β-cetoacil-CoA
e NADH;
4. Cisão da β-cetoacil-CoA por reação com uma molécula de CoA, com forma-
ção de acetil-CoA e uma acil-CoA com dois carbonos a menos; esta acil-CoA
refaz o ciclo várias vezes, até ser totalmente convertida a acetil-CoA.
A oxidação completa de um ácido graxo necessita não apenas do Ciclo
de Lynen, mas também do Ciclo de Krebs. No Ciclo de Lynen, ocorre a con-
versão do ácido graxo a acetil-CoA, e, no Ciclo de Krebs, ocorre a oxidação
do radical acetil a CO2. Em cada volta do Ciclo de Lynen, serão produzidos 1
FADH2, 1 NADH, 1 acetil-CoA e 1 acil-CoA com 2 átomos de carbono a menos
que o ácido graxo original. Sempre que o número de átomos de carbono do
ácido graxo for par, a última volta do ciclo de oxidação inicia-se com uma acil-
-CoA de 4 carbonos, a butiril-CoA, e, nesse caso, são produzidas 2 acetil-CoA
(além de FADH2 e NADH). Para a oxidação completa de uma molécula de
ácido palmítico, que tem 16 átomos de carbono, são necessárias 7 voltas no
ciclo (já que na última volta são produzidas 2 moléculas de acetil-CoA), com
a produção de 8 acetil-CoA.

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Bioquímica

Figura – No Ciclo de Lynen, a acil-CoA formada no final de cada volta tem dois carbo-
nos a menos e reinicia o ciclo.

A oxidação de ácidos graxos não é restrita à mitocôndria. A degra-


dação de ácidos graxos ocorre em outras organelas citoplasmáticas: glio-
xissomos e peroxissomos. Nos vegetais, a β-oxidação é feita apenas nos
glioxissomos. A acetil-CoA produzida pode ser convertida em glicose, gra-
ças à presença, nestas organelas, das enzimas do ciclo do glioxilato. Estas
enzimas são ausentes de células animais, que, por isto, são incapazes de
utilizar acetil-CoA como um composto gliconeogênico. Nos animais, a via de
oxidação peroxissômica promove o encurtamento de ácidos graxos muito
longos (com mais de 20 carbonos). Os ácidos graxos de cadeia longa pe-
netram nos peroxissomos sem auxílio da carnitina e são convertidos nas
respectivas acil-CoA. A oxidação das acil-CoA longas é catalisada por uma
acil-CoA oxidase, que reduz oxigênio à água oxigenada, que é então de-
composta em H2O e O2 por ação da catalase.

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LIBERATO, M. C. T. C.; OLIVEIRA, M. S. C.

4. Oxidação de ácidos graxos com nº ímpar de carbonos


Ácidos graxos com o número ímpar de átomos de carbonos constituem uma
pequena fração dos ácidos graxos da dieta e são também oxidados pela
β-oxidação. Neste caso, a última volta do ciclo de Lynen inicia-se com uma
acil-CoA de cinco carbonos e produz uma molécula de acetil-CoA e uma
propionil-CoA, em vez de duas de acetil-CoA. A propionil-CoA é convertida a
succinil-CoA, um intermediário do ciclo de Krebs, para sua oxidação.

4.1. Oxidação de ácidos graxos insaturados


Os ácidos graxos insaturados são muito comuns em tecidos animais e vege-
tais, apresentando suas duplas ligações quase sempre a configuração cis.
Depois de remover algumas unidades de dois carbonos (Acetil-CoA)
pelo ciclo de Lynen, o ácido graxo insaturado pode dar origem a dois tipos de
enoil-CoA, conforme a posição original da dupla ligação em sua molécula: se
a dupla ligação for de nº ímpar (ex.: Δ9 do ácido oléico), forma-se uma cis-Δ3-
enoil-CoA; se for de nº par (como a Δ12 do ácido linoleico), será formada uma
cis-Δ4-enoil-CoA. Para a oxidação dessas acil-CoA insaturadas, são necessá-
rias, além de enzimas da β-oxidação, outras enzimas que as convertam em
trans-Δ2-enoil-CoA. O intermediário insaturado da β-oxidação.

4.2. Ácidos graxos ramificados ou hidroxilados


Ácidos graxos que possuem ramificações ou hidroxilações são comuns em
lipídeos das bactérias, porém pouco frequentes em animais superiores. Nos ani-
mais superiores, os ácidos graxos ramificados ocorrem apenas como compo-
nentes da cera produzida pelas glândulas sebáceas, e os hidroxilados (com uma
OH no carbono α), como componentes de esfingolipídeos do tecido nervoso.
Os ácidos graxos ramificados são importantes constituintes da alimen-
tação (gramíneas) de animais ruminantes e, em consequência, aparecem
em componentes da dieta dos seres humanos através das gorduras de ori-
gem animal, do leite e de seus derivados, como, por exemplo, o ácido fítâ-
nico. Esses ácidos possuem um grupo metil no carbono β, não reconhecido
pela acil-CoA desidrogenase, que catalisa a primeira reação da β-oxidação.
Essa situação é contornada pela α-oxidação que ocorre nos peroxissomos,
iniciando-se com a hidroxilação de carbono α. Segue-se uma oxidação e uma
descarboxilação, resultando em um composto que tem o radical metil agora
no carbono α e apresenta o carbono β não substituído, podendo ser ativado e
oxidado pelo ciclo de Lynen.

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Bioquímica

5. Corpos cetônicos
Acetona, Acetoacetato, β-Hidroxibutirato
Na ausência de carboidrato suficiente, quantidades maiores de gordura são
usadas para produzir energia, sendo maiores do que o organismo pode pro-
cessar e restando numa oxidação incompleta, pois os mamíferos não dispõem
de via capaz de transformar ácidos graxos, principalmente os da reserva li-
pídica, em glicose. O acúmulo de intermediários acídicos leva à acidose, ao
desequilíbrio sódico e à desidratação.
Por um processo conhecido como cetogênese, que ocorre principal-
mente nas mitocôndrias do fígado, a acetil-CoA é convertida em acetoacetato
ou em β-hidroxibutirato. O acetoacetato sofre descarboxilação espontânea,
originando acetona. Esses compostos são referidos como corpos cetônicos,
e sua síntese é chamada cetogênese. Os corpos cetônicos são combustíveis
metabólicos importantes para vários tecidos periféricos, em particular para o
coração e para o músculo esquelético.

O cérebro, em circunstâncias normais, utiliza apenas a glicose como


fonte de energia (ácidos graxos são incapazes de cruzar a barreira hemato-en-
cefálica), mas, durante um jejum prolongado, os corpos cetônicos tornam-se
a principal fonte de combustível metabólico do cérebro. Corpos cetônicos são
equivalentes hidrossolúveis dos ácidos graxos. Os corpos cetônicos são libe-
rados na corrente sanguínea, e o acetoacetato e o β-hidroxibutirato são apro-
veitados como fonte de energia pelos tecidos extra-hepáticos, principalmente
coração e músculos esqueléticos. A acetona, por sua vez, é volatilizada pelos
pulmões. Os corpos cetônicos são veículos para a transferência de carbonos
oxidáveis (originados da Acetil-CoA) do fígado para outros órgãos.
Quando não há oferta de glicose, o organismo lança mão da gliconeogê-
nese que consome oxaloacetato obtido de aminoácidos, principalmente. A oxi-

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dação da acetil-CoA pelo ciclo de Krebs fica, então, impedida: a acetil-CoA acu-
mulada condensa-se, formando os corpos cetônicos. É o que ocorre quando há
redução drástica da ingestão de carboidratos (jejum ou dieta) ou distúrbios de
seu metabolismo (diabetes). Quando a produção ultrapassa o aproveitamento
pelos tecidos extra-hepáticos, estabelece-se uma condição denominada Ceto-
se, caracterizada por uma concentração elevada de corpos cetônicos no plas-
ma (cetonemia) e na urina (cetonúria). Um sintoma, característico de indivíduos
com Cetose é o odor de acetona de seu hálito. Como os outros dois corpos
cetônicos são ácidos, a cetonemia resulta em acidose, isto é, uma diminuição
do pH sanguíneo. Em casos de Cetose acentuada, o cérebro obtém uma boa
parte de energia de que necessita por oxidação dos corpos cetônicos.

6. Metabolismo do Etanol
Os seres humanos ao ingerirem etanol apresentam absorção rápida. Ocorre
a oxidação do etanol a acetaldeído no fígado, por uma álcool desidrogenase
citossólica, em uma reação idêntica à última etapa da fermentação alcoólica
por leveduras, neste caso em sentido diverso.

O equilíbrio dessa reação vai favorecer a formação de etanol, porém


sua oxidação vai prosseguir por causa da conversão de acetaldeído em ace-
tato, catalisada pela acetaldeído desidrogenase mitocondrial.

O acetato (como os ácidos graxos) origina acetil-CoA por ação de


uma acil-CoA sintetase. Neste ponto, o metabolismo do etanol confunde-se
com o metabolismo de carboidratos, lipídios e proteínas, que também origi-
nam acetil-CoA. Quando ocorre um consumo de quantidades discretas de
etanol, significa que haverá um consumo adicional de calorias, que devem
ser somadas àquelas derivadas da ingestão de nutrientes no cômputo das
calorias totais da dieta.
Porém, quando há ingestão constante de etanol, nem sequer o seu con-
teúdo calórico é aproveitado pelo organismo. Uma via minoritária, catalisada
por um sistema enzimático localizado na membrana do retículo endoplasmá-

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tico, oxida etanol, utilizando O2, mas sem o concurso da cadeia de transporte
de elétrons e, portanto, sem a produção de ATP. No alcoolismo crônico, em
que há ingestão de grandes quantidades de etanol, ocorrem inúmeras conse-
quências danosas para o organismo.
A oxidação do etanol nas células hepáticas produz altos níveis de NADH
no citossol, onde normalmente a concentração NAD+ é muito maior do que a
de NADH. A alta concentração de NADH vai deslocar a reação catalisada pela
lactato desidrogenase no sentido da formação de lactato, cuja concentração
poderá aumentar em até 5 vezes, levando portanto a uma acidose.
A constante conversão da piruvato a lactato impossibilita a gliconeogê-
nese, já que todos os amonoácidos glicogênicos devem ser primeiramente
convertidos a piruvato; ou seja, em vez de originarem glicose, são transfor-
mados em lactato. Muitas vezes, a ingestão de álcool não é acompanhada da
ingestão de nutrientes, então, diminuída a reserva de glicogênio, pode ocorrer
hipoglicemia e, finalmente, o coma.
Uma produção alta acetil-CoA, associada à baixa disponibilidade de gli-
cose, vai ocasionar Cetose. É importante lembrar que concentrações altas
de acetaldeído são tóxicas, já que se trata de uma substância extremamente
reativa e que se liga covalentemente a proteínas, modificando a sua estrutura
e sendo responsável pela ressaca.

7. Síntese de ácidos graxos


Grande parte dos ácidos graxos usada pelo organismo é suprida pela dieta.
Carboidratos, proteínas e outras moléculas obtidas da dieta em excesso, po-
dem ser convertidas em ácidos graxos, que são armazenados como triacilgli-
ceróis. Em humanos adultos, a síntese de ácidos graxos ocorre principalmen-
te no fígado e nas glândulas mamária sem lactação e, em menor extensão,
no tecido adiposo.
O processo incorpora carbonos da acetil-CoA na cadeia de ácido graxo
em crescimento, usando adenosina trifosfato (ATP) e Nicotinamida Adenina Di-
nucleotídeo fosfato reduzido (NADPH). Na via que leva à produção de ácidos
graxos, o substrato imediato é a acetil-CoA e o produto final é o ácido palmítico.
A síntese ocorre no citossol, para onde deve ser transportada a acetil-CoA for-
mada na mitocôndria, a partir de piruvato.
Como a membrana interna da mitocôndria é impermeável a acetil-CoA,
os seus carbonos são transportados sob a forma de citrato. Os carboidratos
e proteínas (precursores dos ácidos graxos) são degradados a acetil-CoA e
oxaloacetato, que sofrem condensação, formando citrato, por ação da primei-
ra enzima do ciclo de Krebs, a citrato sintase. Nas condições consideradas,

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o citrato não pode ser oxidado pelo ciclo de Krebs em virtude da inibição da
isocitrato desidrogenase e é transportado para o citossol pela tricarboxila-
to translocase, onde é desmembrado em oxaloacetato e acetil-CoA, à custa
de ATP, numa reação catalisada pelo citrato liase.

O oxaloacetato é reduzido a malato pela malato desidrogenase do ci-


tossol. O malato é substrato da enzima málica. Nesta reação, são produzidos
piruvato, que retorna à mitocôndria, e NADPH.

O resultado final destas reações é o transporte dos carbonos da acetil-CoA


(sob a forma de citrato), com gasto de ATP, da mitocôndria para o citossol, e,
ainda, a produção de NADPH. Acetil-CoA e NADPH, ambos no citossol, podem,
então, ser utilizados para formar ácidos graxos. A síntese de ácidos graxos con-
siste na união sequencial de unidades de dois carbonos: a primeira unidade é pro-
veniente de acetil-CoA, e as outras, de malonil-CoA, formada por carboxilação de
acetil-CoA. A enzima acetil-CoA carboxilase que catalisa essa reação tem como
grupo prostético a biotina.

A síntese de ácidos graxos é catalisada por um sistema enzimático de-


nominado sintase de ácidos graxos. Também faz parte destas sintases uma
pequena proteína não-enzimática, designada proteína carregadora de acila,

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Bioquímica

ou ACP, à qual está sempre ligada a cadeia do ácido graxo em crescimento.


O ACP tem como grupo prostético um derivado do ácido pantotênico, a fos-
fopanteteína, também componente da coenzima A. A sequência das reações
de síntese (condensação, redução, desidratação e redução) é inversa à
sequência das reações de um ácido graxo pelo ciclo de Lynen (oxidação,
hidratação, oxidação, quebra da cadeia carbônica). Os processos diferem
quanto às enzimas e coenzimas utilizadas, o compartimento celular onde se
processam e o suporte da cadeia carbônica (CoA ou ACP).
As enzimas constituintes da sintase são: acetil-CoA-ACP-transacilase
(1), malonil-CoA-ACP-transacilase (2), β-cetoacil-ACP sintase (3), β-cetoacil-
ACP redutase (4), β-hidroxiacil-ACP desidratase (5) e enoil-ACP redutase (6).
A sintase de ácidos graxos pode ser representada por uma esfera, na qual se
destacam o ACP, com sua sulfidrila terminal, e a β-cetoacil-ACP sintase (enzi-
ma 3), com o grupo SH de um de seus resíduos de cisteína. Também aparece
o primeiro ciclo de síntese, que leva à formação de butiril-ACP.
Para que haja o alongamento da cadeia carbônica, o butiril-ACP sinteti-
zado no final da primeira volta sofre a mesma sequência de reações (enzimas 2
a 6), que o acetil-ACP; o radical butiril, é transferido para o grupo SH da enzima
3, como ocorreu com o radical acetil no início da primeira volta, prosseguindo
as reações como no primeiro ciclo de síntese. Nos seres humanos, a maioria
dos ácidos graxos é produzida pelo fígado a partir de carboidratos da dieta e
exportados para os outros tecidos através das lipoproteínas plasmáticas.

Atividades de avaliação
1. Esquematizar:
a) a reação catalisada pela lipase do tecido adiposo;
b) as reações de conversão de glicerol a compostos intermediários da
via glicolítica;
c) o primeiro passo necessário para a degradação de um ácido graxo (ativação).
2. Citar a localização celular da oxidação dos ácidos graxos e mostrar o
papel da carnitina.
3. Citar os compostos formados no fim de cada volta do ciclo de Lynen.
4. Indicar o nº de moléculas de ATP necessárias para degradar uma molécu-
la de ácido graxo.
5. Listar as vitaminas que participam do Ciclo de Lynen.
6. Descrever a regulação do Ciclo de Lynen.

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7. Indicar os tecidos que não oxidam ácidos graxos.


8. Fale sobre o metabolismo do etanol indicando os principais passos.
9. Por que a ingestão de etanol em grandes quantidades resulta em problemas?
10. Fale sobre o metabolismo da síntese de ácidos graxos.
11. Que são corpos cetônicos? Dê suas estruturas.
12. Como se formam os corpos cetônicos e em quais tecidos do organismo?
13. Defina: cetonúria; cetonemia; acidose; cetose, indicando quando e por que
ocorre cada um desses processos.
14. Indique como se processa a síntese de ácidos graxos.

Textos complementares
Corpos cetônicos como combustíveis: a dieta Atkins
A mais conhecida das dietas pobres em carboidratos é a Dieta Atkins. Essa dieta é rica
em gordura e proteína e muito pobre em carboidratos (menos do que 20g /dia duran-
te a fase inicial), sendo motivo de controvérsias entre nutricionistas e médicos, devido
a seu alto teor de gordura.
O interessante é que indivíduos que fazem essa dieta perdem uma quantidade
considerável de peso. Estudos clínicos demonstraram que indivíduos obesos perdem
mais peso em uma dieta rica em gordura e pobre em carboidratos do que em uma
dieta isocalórica com níveis mais altos de carboidratos. É surpreendente também que
ocorra uma notável queda nos níveis de triacilgliceróis no sangue desses indivíduos.
Até agora, não existem estudos de longo prazo do efeito do perfil lipídico ou da
saúde geral dessas pessoas obesas que permanecem nessa dieta. Entretanto, é prová-
vel que a dieta Atkins resulte em dramática perda de peso, devido à saciedade causada
pelo alto conteúdo de gordura e proteína da dieta, resultando em uma redução de
ingesta alimentar. O centro da dieta Atkins é a mobilização de ácidos graxos do tecido
adiposo e sua conversão pelo fígado em corpos cetônicos (β-hidroxibutirato, acetoa-
cetato e acetona).
A presença de corpos cetônicos na urina é o método prescrito para determinar o
estado metabólico durante a dieta, uma vez que mesmo quantidades pequenas de
carboidratos na dieta reprimem a síntese de corpos cetônicos, principalmente por ini-
birem lipólise no tecido adiposo. À medida que a concentração de corpos cetônicos
sobe no sangue, uma fração é excretada na urina e uma parte pela respiração. Seria
isso responsável pela maior perda de peso observada em indivíduos na dieta Atkins?
Para comparação, após 7 dias de jejum, a taxa de excreção urinária diária de aceto-
acetato e β-hidroxibutirato no homem é de aproximadamente 110 mmol/dia; a taxa
de excreção é ainda menor no início do jejum (60 mmol/dia após dois dias de jejum).
Esta excreção poderia contribuir para o balanço calórico negativo e perda de peso
característicos da dieta de Atkins, embora a perda de energia não exceda 100 kcal/dia.
Em geral, a Cetose ocorre quando a oxidação de glicose é suprimida e o catabolis-
mo de gordura é acelerado. Existem dois tipos de Cetose: a Cetose normal do jejum e
a hipercetonemia patológica da cetoacidose diabética. Nenhum outro combustível do

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Bioquímica

sangue humano pode mudar tão drasticamente como os corpos cetônicos, e ainda ser
compatível com a vida. Após jejum de uma noite, a concentração de corpos cetônicos
é aproximadamente 0,05 mM, mas esta concentração pode subir para 2 mM após 2
dias de jejum e para 7 mM após 40 dias, uma mudança de 140 vezes na concentração.
Resultados de pesquisas têm demonstrado que durante um jejum prolongado aceto-
acetato e β-hidroxibutirato substituem a glicose como o combustível predominante
para o cérebro. Isso reduz a necessidade de síntese de glicose a partir de aminoácidos
derivados de proteína muscular e do fígado.
O tecido muscular consome avidamente corpos cetônicos logo no início do jejum,
mas muda para oxidação de ácidos graxos à medida que o jejum progride, economi-
zando assim corpos cetônicos para o metabolismo do cérebro. Portanto, corpos cetô-
nicos são o combustível normal para uma variedade de tecidos e parte de um padrão
complexo de metabolismo de combustíveis que ocorre durante o jejum no homem
(Devlin, 2007).

Deficiência de vitamina B12


A existência da vitamina B12 foi descoberta em 1926, quando, Geoge Minot e William
Murphy descobriram que a anemia perniciosa, uma doença frequentemente fatal nos
idosos, caracterizada pela redução do número dos glóbulos vermelhos, por baixos ní-
veis de hemoglobina e pela deterioração neurológica progressiva, podia ser tratada
por meio do consumo diário de grandes quantidades de fígado cru.
Entretanto, o fator anti-anemia perniciosa – a vitamina B12 – não foi isolado até
1948. A vitamina B12 não é sintetizada por plantas nem por animais, somente por
algumas espécies de bactérias. Os herbívoros obtêm vitamina B12 das bactérias que
habitam o trato digestivo (na verdade, alguns animais, como o coelho, devem periodi-
camente comer um pouco de suas fezes para obterem quantidades suficientes dessa
substância essencial).
Os seres humanos, no entanto, obtêm quase toda vitamina B12 diretamente da die-
ta, em especial da carne. No intestino, a glicoproteína fator intrínseco, secretada pelo
estômago, se liga especificamente à vitamina B12, e o complexo proteína-vitamina é
absorvido via um receptor na mucosa intestinal. O complexo dissocia-se, e a vitamina
B12 liberada é transportada à corrente sanguínea.
Pelo menos três proteínas plasmáticas diferentes, as transcobalaminas, ligam-se
à vitamina e facilitam sua captação pelos tecidos. A anemia perniciosa em geral não
é uma doença de deficiência da dieta, mas normalmente resulta de uma secreção
insuficiente do fator intrínseco. A necessidade humana normal de cobalamina é muito
pequena, ~ 3µg ao dia, e o fígado armazena um suprimento dessa vitamina suficiente
para 3 a 5 anos. Isso justifica o início tardio da anemia perniciosa e o fato da deficiência
dietética de vitamina B12, mesmo entre vegetarianos estritos, ser extremamente rara
(Voet, Voet & Pratt, 2000).

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LIBERATO, M. C. T. C.; OLIVEIRA, M. S. C.

Sites
underpop.free.fr/b/biologia/metabolismo-de-lipIdios.doc
colesterolgorduraomega.blogspot.com

Referências
CAMPBELL, M. K.; FARREL, S. O. Bioquímica. Vol 3. São Paulo: Thomson
Learning - 2008. No Capítulo 21, do vol. 3, o assunto Metabolismo dos Lipí-
deos é amplamente discutido.
CHAMPE, P. C.; HARVEY, R. A.; FERRIER, D. R. Bioquímica Ilustrada. 4ª
Ed. Porto Alegre: Artmed, 2009. Na Unidade III do livro, nos Capítulos 15, 16,
17 e 18 são apresentados tópicos relacionados ao Metabolismo dos Lipídeos
com muitas ilustrações, tornando o assunto de fácil compreensão.
DEVLIN, T. M. Manual de Bioquímica com Correlações Clínicas. São Pau-
lo: Editora Blucher, 2007. Os Capítulos 17 e 18 da Parte IV desse livro abor-
dam tópicos relacionados ao Metabolismo dos Lipídeos.
MARZZOCO, A.; TORRES, B. B. Bioquímica Básica. 2ª ed. 1999. Rio de Ja-
neiro: Editora Guanabara Koogan S. A. O Capítulo 16 da Parte 3 desse livro
explana de forma bastante compreensiva o assunto Metabolismo dos Lipídeos.
PELLEY, J. W. Bioquímica. Nos Capítulos 10 e 11 são estudados tópicos
relativos ao Metabolismo dos Lipídeos de uma forma sucinta e objetiva. Rio
de Janeiro: Elsevier, 2007.
SMITH, C.; MARKS, A. D.; LIEBERMAN, M. Bioquímica Médica Básica de
Marks – Uma abordagem clínica. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2007. Os Ca-
pítulos 32, 33, 34, 35 e 36 abordam tópicos relacionados ao Metabolismo dos
Lipídeos de modo detalhado e didático.
VOET, D.; VOET, J. G.; PRATT, C. W. Fundamentos de Bioquímica. Porto
Alegre: Artmed, 2000. O Capítulo 19 da Parte IV traz uma discussão bastante
abrangente sobre o Metabolismo dos Lipídeos.

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Capítulo 13
Metabolismo de aminoácidos

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Bioquímica

Objetivos
•• Compreender o papel dos aminoácidos em nosso corpo e como eles são
importantes para a manutenção do nosso organismo.
•• Verificar o papel do nitrogênio proveniente das proteínas.
•• Entender melhor o ciclo da ureia e associá-la com a excreção do nitrogênio
não absorvido pelo nosso organismo.
•• Conhecer as doenças decorrentes da deficiência do metabolismo
dos aminoácidos.

Introdução
Um adulto saudável ingerindo uma dieta variada está, geralmente, em “balan-
ço de nitrogênio”, ou seja, em um estado em que a quantidade de nitrogênio
ingerida a cada dia é equilibrada pela quantidade excretada, resultando em
alteração líquida nula no nitrogênio total do corpo. Na condição de um organis-
mo bem alimentado, o nitrogênio excretado vem principalmente do excesso
de proteínas ingerido ou da reciclagem (turnover) normal.
O turnover de proteínas é definido como a substituição de proteína do
corpo por síntese e degradação. Em certas condições, o corpo está em ba-
lanço negativo ou positivo de nitrogênio. No balanço negativo de nitrogênio,
mais nitrogênio é excretado do que ingerido. Isso ocorre no jejum e em certas
doenças. Em um ser humano com idade adulta e dieta adequada, há uma
renovação de aproximadamente 400g de proteína por dia.

RENOVAÇÃO = TURNOVER

Uma consequência importante do turnover proteico é restar sempre cer-


ta quantidade de aminoácidos não utilizados porque o conjunto de aminoá-
cidos originado das proteínas que estão sendo degradadas nunca é igual ao
conjunto de aminoácidos necessários para compor as proteínas que estão
sendo sintetizadas. Tendo em vista que não há meios de armazenar os ami-
noácidos excedentes, eles são oxidados e seu nitrogênio, excretado.
Um adulto saudável, com dieta adequada, elimina uma quantidade de
nitrogênio correspondente a 100g de proteína aproximadamente. Como 400g
de proteínas devem ser renovados neste período, faltam os 100g eliminados,
que devem ser repostos pela alimentação. Os aminoácidos presentes nas

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células animais originam-se, então, das proteínas da dieta (exógenas) e das


proteínas endógenas e constituem um “pool”: ¼ derivado das proteínas da
dieta e ¾ das proteínas endógenas. O “pool” de aminoácidos é usado para
síntese de proteínas endógenas e de outras moléculas que contenham nitro-
gênio. Os aminoácidos são precursores de todos os compostos nitrogenados
não-proteicos, que incluem as bases nitrogenadas constituintes dos nucleotí-
dios (dos ácidos nucleicos, coenzimas) e as aminas e seus derivados, como
adrenalina, histamina etc.

1. Aminoácidos Essenciais
A biossíntese de proteínas exige a presença de todos os aminoácidos cons-
tituintes. Se um dos vinte aminoácidos estiver ausente ou em pequena quan-
tidade, a biossíntese proteica é inibida. Alguns organismos, como a Esche-
richia coli, podem sintetizar todos os aminoácidos de que precisam. Outras
espécies, incluindo os seres humanos, devem obter alguns aminoácidos dos
alimentos. São os chamados aminoácidos essenciais para a nutrição huma-
na (ver Tabela 1).
O organismo pode sintetizar alguns desses aminoácidos, mas não em
quantidades suficientes para suas necessidades, especialmente no caso de
crianças em fase de crescimento. As crianças têm necessidade principal-
mente de arginina e histidina. Como os aminoácidos não são armazenados
(exceto nas proteínas), as fontes alimentares de aminoácidos essenciais são
necessárias em intervalos regulares. A falta de proteínas, especialmente uma
deficiência prolongada de fontes que contenham aminoácidos essenciais,
leva à doença kwashiorkor. O problema dessa doença, muito grave em
crianças em fase de crescimento, não é simplesmente a desnutrição, mas a
degradação das proteínas do próprio organismo.
Como já foi dito, os seres vivos não são capazes de armazenar ami-
noácidos nem proteínas e, consequentemente, satisfeitas as necessidades
de síntese, os aminoácidos excedentes são degradados. Em um adulto sau-
dável, com dieta adequada, a oxidação de aminoácidos responde por 10 –
15% de suas necessidades energéticas. Como a estrutura dos aminoácidos
revela, eles são simplesmente carboidratos ligados a um nitrogênio. Logo, os
aminoácidos excedentes são degradados, restando as respectivas cadeias
carbônicas e o grupo amino, que é convertido em ureia.

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Bioquímica

Quadro

TABELA 1 – NECESSIDADES DE AMINOÁCIDOS NO SER HUMANO


Essenciais Não-Essenciais
Arginina Alanina
Histidina Asparagina
Isoleucina Aspartato
Leucina Cisteína
Lisina Glutamato
Metionina Glutamina
Fenilalanina Glicina
Treonina Prolina
Triptofano Serina
Valina Tirosina
Fonte: Campbell & Farrel, 2008

1.1. Degradação de Aminoácidos


Quando os aminoácidos não são necessários à síntese de outras moléculas
contendo nitrogênio, eles são convertidos a carboidratos. A degradação dos
aminoácidos, portanto, compreende a remoção e a excreção do grupo amino
e a oxidação da cadeia carbônica remanescente (α-cetoácido). Quando o
nitrogênio é removido do aminoácido, o carboidrato residual é convertido em
piruvato ou em um intermediário do ciclo do ácido cítrico para a produção de
energia ou gliconeogênese.
Como a amônia é tóxica, uma via é designada para converter o nitro-
gênio do aminoácido em um composto não tóxico neutro, a ureia, que é eli-
minada na urina. Em resumo, pode-se dizer então que os aminoácidos, ao
se degradarem, têm o grupo amino convertido em uréia, e as vinte cadeias
carbônicas resultantes são convertidas em compostos comuns ao metabolis-
mo de carboidratos e lipídios, ou seja, piruvato, acetil-CoA e intermediários do
ciclo de Krebs.

1.2. Como é removido o grupo amino dos aminoácidos


O nitrogênio dos aminoácidos se transfere para o ciclo da ureia em três etapas:
transaminação, formação da amônia e formação da ureia. O grupo amino da
maioria dos aminoácidos é coletado inicialmente como glutamato. O grupo
amino de: alanina, arginina, aspartato, asparagina, cisteína, fenilalanina, gluta-
mina, isoleucina, leucina, tirosina, triptofano e valina é retirado por um proces-
so comum, que consiste na transferência deste grupo para o α-cetoglutarato,
formando glutamato; a cadeia carbônica do aminoácido é convertida ao
α-cetoácido correspondente. É importante lembrar que o glutamato é o prin-

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cipal doador de grupos amino nas reações enquanto o α-cetoglutarato é o


principal aceptor.
Aminoácido + α-Cetoglutarato  α-Cetoácido + Glutamato
Estas reações são catalisadas pelas aminotransferases, também
chamadas transaminases (presentes no citossol e na mitocondria e que
têm como coenzima piridoxal-fosfato) e transferem o grupo α-amino do ami-
noácido para o α-cetoglutarato produzindo glutamato. Existem doze tipos de
transaminases que catalisam a eliminação do nitrogênio através da formação
do glutamato. Duas transaminases clinicamente importantes servem como
marcadoras de lesão hepática quando aparecem em altas concentrações no
sangue: a aspartato aminotransferase (AST) que catalisa a transaminação
reversível do nitrogênio entre aspartato e glutamato; a alanina aminotrans-
ferase (ALT), que catalisa a transaminação reversível do nitrogênio entre ala-
nina e piruvato. O piridoxal-fosfato, a forma ativa da vitamina B6, (piridoxina),
torna-se necessária como coenzima das aminotransferases.
Na reação geral de transaminação, inicialmente, o grupo amino de um
aminoácido é transferido ao piridoxal fosfato, que é convertido à piridoxamina
fosfato; a seguir é doado ao α-cetoglutarato, produzindo glutamato. O gluta-
mato é um produto comum às reações de transaminação, constituindo um
reservatório temporário de grupos amino, provenientes de diferentes ami-
noácidos. O aumento da produção de glutamato, (precursor do GABA, um
neurotransmissor), gerando um excesso, provoca destruição de neurônios.

Figura – Esquema da Reação de Transaminação

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Bioquímica

O ácido pirúvico pode ser aminado para formar alanina que é transporta-
da para o fígado onde é desaminada e o esqueleto carbônico é reconvertido à
glicose. O ciclo da alanina move N do músculo para o fígado sem produzir NH3.
Em uma segunda etapa, os grupos amino originam aspartato e/ou amônia. O
glutamato formado é consumido em duas reações importantes, uma nova tran-
saminação e uma desaminação. Na remoção do grupo amino do próprio gluta-
mato por transaminação pela ação da aspartato aminotransferase, o grupo
amino do glutamato é transferido para o oxaloacetato, formando aspartato.

A desaminação oxidativa do glutamato em α-cetoglutarato na matriz


mitocondrial produz amônia livre. Em outras palavras, o grupo amino do gluta-
mato pode ser liberado como amônia (íon NH4+, em pH fisiológico); A reação é
catalisada pela glutamato desidrogenase (GDH), encontrada principalmen-
te no fígado, e produzindo NADH ou NADPH.

Figura – Desaminação Oxidativa

A reação é reversível sendo, portanto possível incorporar amônia livre


em α-cetoglutarato para formar glutamato quando necessário. Os esqueletos
de carbono são convertidos em alguns dos mesmos intermediários forma-
dos durante o catabolismo da glicose e ácidos graxos. Podem ser levados
para os tecidos periféricos, onde entram no ciclo do ácido cítrico para produzir
adenosina trifosfato (ATP). Estes fragmentos também podem ser usados nos
processos de síntese para fabricar glicose ou gorduras.
Aproximadamente 58% da proteína consumida podem ser convertidos
em glicose desta maneira. A maioria dos aminoácidos, particularmente a ala-
nina, é potencialmente glicogênica. O piruvato a partir da oxidação da glicose
no músculo é aminado para formar a alanina que, por sua vez, é transportada
para o fígado onde é desaminada e o esqueleto de C é reconvertido à glicose.

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O ciclo da alanina é uma importante fonte de glicose durante períodos


de baixo suprimento exógeno. É também um método de mover N do músculo
para o fígado sem a formação de amônia. O grupo amino é liberado na desa-
minação principalmente como amônia, a qual é usada em processos sintéti-
cos ou carregada para o fígado para conversão em ureia, a forma na qual a
maioria dela é excretada. Como a amônia é altamente tóxica, é transportada
em combinação com o ácido glutâmico como glutamina.
A amônia é liberada da matriz mitocondrial e serve como um precursor
do ciclo da ureia. A ação combinada das aminotransferases e da glutama-
to desidrogenase resulta na convergência do grupo amino da maioria dos
aminoácidos para dois compostos únicos: NH4+ e aspartato. O aspartato é o
segundo depositário do grupo amino dos aminácidos.

Reação catalisada pela glutamato desidrogenase. A glutamato desidrogenase é es-


pecífica para glutamato.

1.3. Reações especiais para desaminação de alguns aminoácidos


Glicina, Histidina, Lisina, Metionina, Prolina, Serina e Treonina, não participam
de reações de transaminação. Os grupos amino desses aminoácidos são
removidos por reações particulares a cada um deles. Um aspecto comum
e importante do metabolismo destes aminoácidos é a forma de remoção do
grupo amino que ou é liberado como NH4+ por reações de desaminação, ou
forma glutamato através de transaminação de um intermediário aminado com
α-cetoglutarato.
Desta forma, os átomos de N destes aminoácidos convergem para os
mesmos produtos originados pelo grupo amino dos outros aminoácidos: NH4+
e glutamato, que pode originar aspartato. Pode-se concluir, portanto que du-
rante a degradação dos 20 aminoácidos, o grupo amino é convertido final-
mente em NH4+ e aspartato, os precursores da ureia. A ureia é sintetizada a
partir de NH4+, aspartato e HCO3-. Os dois átomos de N presentes na ureia são
provenientes de NH4+ e aspartato, e o átomo de carbono, do bicarbonato. A
síntese da ureia é feita no fígado, através do ciclo da ureia.

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Bioquímica

2. Ciclo da Ureia
A síntese da ureia ocorre através do Ciclo da Ornitina. O CO2 e NH3 (com
energia da ATP) se combinam com a ornitina através de uma série de passos
para formar a arginina que é então hidrolisada para produzir ureia e ornitina.
Sendo assim, uma molécula de ornitina é usada repetidamente na formação
da arginina e ureia.

Ciclo da Ornitina

O glutamato formado vai dar origem a aspartato e/ou amônia.

AAT= Aspartato Amino Transferase

O ciclo da ureia inicia-se na matriz mitocondrial terminando com a for-


mação da ureia no citoplasma. No início da síntese, na matriz mitocondrial,
ocorre a formação de carbamoil-fosfato a partir de íons bicarbonato e amônio,
com gasto de duas moléculas de ATP. Os íons amônia se ligam com o dióxido
de carbono e ATP para produzir carbamoil-fosfato, numa reação catalisada
pela carbamoil-fosfato-sintetase.

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Em seguida, o carbamoil-fosfato condensa-se com ornitina, numa reação


catalisada pela ornitina transcarbamoilase, formando citrulina. Tanto a orniti-
na como a citrulina têm carreadores específicos de membrana na mitocôndria.
No citoplasma, a citrulina e o ácido aspártico se condensam para formar argi-
ninossuccinato numa reação catalisada pela argininosuccinato-sintetase. O
composto argininossuccinato é clivado em reação catalisada pela argininos-
succinase e se decompõe em arginina e fumarato. A arginina é hidrolisada, em
reação catalisada pela arginase regenerando ornitina e produzindo ureia, que
é transportada para o rim e eliminada pela urina.
A ureia é o principal produto de excreção do metabolismo nitrogenado
de vertebrados terrestres; aves e reptéis excretam ácido úrico, e, peixes, amô-
nia. A quantidade de ureia excretada por um ser humano adulto é cerca de
30g por dia, mas este valor varia proporcionalmente à quantidade de proteína
ingerida. A ureia representa 90% dos compostos nitrogenados excretados; o
restante aparece sob a forma de NH4+, creatinina e ácido úrico. Apesar de
NH4+ constituir um pequeno percentual do N urinário, sua excreção possibilita
a eliminação de H+, contribuindo para a manutenção do equilíbrio ácido-base:
o conteúdo de NH4+ da urina aumenta na acidose e diminui na alcalose. Por
desaminação ocorre:

A ação combinada das aminotransferases + glutamato desidrogenase


originam: +NH4 + aspartato, ou seja:

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Bioquímica

Quadro
Compostos nitrogenados excretados pelo homem
Composto Quantidade excretada (g/dia)
Ureia 30
NH4 +
0,7
Creatinina 1,4
Ácido úrico 0,8

A amônia é tóxica para os tecidos animais, especialmente para o cére-


bro. A conversão da maior parte do NH4+ em ureia é fundamental para man-
ter baixas as concentrações deste íon nos tecidos. Quando há uma restrição
na formação de ureia por disfunção hepática grave – hepatite ou cirrose, por
exemplo – a concentração de NH4+ se eleva, afetando principalmente o cére-
bro e podendo ocasionar o coma.
Como a amônia é tóxica e a sua conversão em ureia ocorre no fígado, o
NH produzido nos outros tecidos, para ser transportado ao fígado, é incorpo-
4
+

rado em compostos não-tóxicos e que atravessam membranas com facilidade:


glutamina, na maioria dos tecidos extra-hepáticos, e alanina, no músculo. A glu-
tamina e a alanina são, portanto, os transportadores de amônia para o fígado.

Doenças Hereditárias
3. Degradação do esqueleto carbônico dos aminoácidos do Metabolismo
de Aminoácidos
Quando é removido o grupo amino do aminoácido, resta sua cadeia carbôni- Na fenilcetonúria, a
ca, na forma de α-cetoácido. Estes esqueletos de carbono entram no meta- fenilalanina não pode ser
convertida em tirosina
bolismo intermediário em várias etapas, dependendo se serão convertidos em e origina fenilpiruvato.
piruvato, acetil-CoA, acetoacetil-CoA ou em intermediários do ciclo do ácido Há ausência de
fenilalanina hidroxilase.
cítrico. Eles irão fornecer substratos para gliconeogênese ou para a produção
A conversão de tirosina
de corpos cetônicos. a 3,4-diidroxifenilalanina
(DOPA) é catalisada por
Os aminoácidos cetogênicos são convertidos em acetil-CoA ou acetoa-
tirosinase, uma oxigenase
cetil-CoA, enquanto os aminoácidos glicogênicos serão convertidos em piru- que contém cobre. As
vato ou em intermediários do ciclo do ácido cítrico. Portanto conclui-se que as reações que levam à síntese
de melanina a partir de DOPA
vinte cadeias carbônicas diferentes não possuem uma via comum de degra- são pouco conhecidas. A
dação. Seu metabolismo difere, neste aspecto, do metabolismo dos ácidos tirosina hidroxilase é a enzima
graxos, todos degradados pelo ciclo de Lynen e dos açúcares, metabolizados ausente no tipo clássico de
albinismo. O albinismo está
pela glicólise. relacionado à incapacidade
Embora existam vias próprias para a oxidação da cadeia carbônica de de sintetizar melanina.
cada aminoácido, estas diferentes vias de degradação convergem para a pro-
dução de apenas alguns compostos: piruvato, acetil-CoA, ou intermediários
do ciclo Krebs (oxaloacetato, α-cetoglutarato, succinil-CoA e fumarato). A par-
tir deste ponto, o metabolismo da cadeia carbônica dos aminoácidos confun-
de-se com o das cadeias carbônicas de carboidratos ou de ácidos graxos.

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O destino final dos α-cetoácidos dependerá do tecido e do estado fisio-


lógico considerados, podendo ser: oxidação pelo ciclo de Krebs, fornecendo
energia; utilização pela gliconeogênese, para a produção de glicose; e con-
versão a triacilgliceróis e armazenamento.
A maioria dos aminoácidos produz piruvato ou intermediários do ciclo de
Krebs, precursores da gliconeogênese e são por isso chamados glicogêni-
cos. A leucina origina corpos cetônicos, sendo o único aminoácido exclusiva-
mente cetogênico. Alguns outros aminoácidos como Isoleucina, Fenilalanina,
Tirosina, Treonina e Triptofano, são tanto glicogênicos quanto cetogênicos,
isto é, são glicocetogênicos.
Os destinos das cadeias carbônicas dos aminoácidos de acordo com o
composto formado são:
1. Aminoácidos convertidos a piruvato: Ala,Cys,Gly,Ser,Thr,Trp.
2. Aminoácidos convertidos a oxaloacetato: Asn, Asp.
3. Aminoácidos convertidos a fumarato: Asp, Phe, Tyr.
4. Aminoácidos convertidos a succinil-CoA: Ile,Val, Met e Thr.
5. Aminoácidos convertidos a α-cetoglutarato: Glu, Gln, Pro, Arg, His.
6. Aminoácidos convertidos a acetil-CoA: Phe,Tyr,Trp,Lys,Ile,Thr,Leu.
Quadro

TABELA – AMINOÁCIDOS GLICOGÊNICOS E CETOGÊNICOS


Glicogênico Cetogênico Glicogênico e Cetogênico
Aspartato Leucina Isoleucina
Asparagina Lisina Fenilalanina
Alanina Triptofano
Glicina Tirosina
Serina
Treonina
Cisteína
Glutamato
Glutamina
Arginina
Prolina
Histidina
Valina
Metionina
Fonte: Campbell & Farrel, 2008

3.1. Conversão de Ala,Cys,Gly,Ser,Thr,Trp em piruvato


A alanina é convertida diretamente em piruvato através da transaminação,
enquanto cisteína e serina necessitam que suas cadeias laterais sejam inicial-

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Bioquímica

mente removidas. A glicina é interconvertida em serina, fornecendo uma rota


degradativa a piruvato. A treonina é inicialmente convertida em aminoacetona
e, depois desaminada em piruvato.

3.2. Conversão de Asn, Asp em oxaloacetato


A asparaginase remove o nitrogênio amídico da cadeia lateral da asparagina
para produzir aspartato, que é convertido em oxalacetato através da transa-
minação pela AST.

3.3. Conversão de Asp, Phe, Tyr em fumarato


Aspartato é um dos substratos do ciclo da ureia, em que é convertido a fu-
marato. A fenilalanina é convertida a tirosina por uma oxidação irreversível,
catalisada por fenilalanina hidroxilase. Dos nove carbonos da tirosina, quatro
são convertidos a fumarato, quatro a acetoacetato e um a CO2.

3.4. Conversão de Ile, Val, Met e Thr a succinil-CoA


São inicialmente convertidos a propionil-CoA, que também é produzida na
oxidação de ácidos graxos com número ímpar de carbonos. As acil-CoA de-
rivadas da isoleucina e valina são oxidadas por reações semelhantes às da
β-oxidação, que convertem valina a propionil-CoA e isoleucina a propionil-CoA
e acetil-CoA. A metionina forma α-cetobutirato, que é oxidado a propionil-CoA.
A treonina por desaminação catalisada pela treonina desidratase, produz tam-
bém α-cetobutirato como a metionina.

3.5. Conversão de Glu, Gln, Pro, Arg, His em α-cetoglutarato


O glutamato converte-se em α-cetoglutarato por transaminação ou por desa-
minação oxidativa catalisada pela glutamato desidrogenase. A glutamina tem
seu grupo amino liberado por ação da glutaminase formando glutamato. A
prolina tem todos os seus átomos de carbono aparecendo como glutamato.
A arginina ao ser hidrolisada pela arginase (ciclo da ureia, um de seus car-
bonos aparece na ureia e os outros passam a constituir ornitina, que origina
glutamato. Cinco carbonos da histidina produzem glutamato e um carbono é
transferido ao tetraidrofolato.

3.6. Conversão de Phe, Tyr, Trp, Lys, Ile, Thr, Leu em acetil-CoA
A formação de acetil-CoA pode ser direta ou indireta (através de acetoacetato
ou acetoacetil-CoA). A fenilalanina, tirosina, triptofano, isoleucina e treonina
produzem também compostos precursores de glicose: os aminoácidos glico-

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cetogênicos. Assim, quatro dos carbonos de fenilalanina e tirosina são conver-


tidos a fumarato, três do triptofano à alanina e três da isoleucina a propionil-
-CoA; a treonina, por uma via alternativa, converte-se a succinil-CoA. A via de
degradação da leucina tem passos iniciais comuns à dos outros aminoácidos
ramificados, valina e isoleucina, mas os produtos finais são exclusivamente
acetoacetato e acetil-CoA. A lisina forma acetoacetil-CoA como o triptofano.
O triptofano produz acetoacetil-CoA por uma via que inclui três reações com
oxigênio. Um dos intermediários da via de degradação do triptofano é precur-
sor de ácido nicotínico.

Atividades de avaliação
1. Em relação aos aminoácidos presentes nas células dos mamíferos, indicar:
a) suas procedências;
b) seus destinos metabólicos;
c) se existe uma reserva de aminoácidos ou proteínas.
2. Esquematizar as reações catalisadas pelas seguintes enzimas:
- Aspartato Aminotransferase; - Alanina Transferase
3. Esquematizar a reação catalisada pela glutamato desidrogenase.
4. Citar o principal produto de excreção de nitrogênio no homem.
5. Esquematizar a reação de formação de carbamoil-fosfato catalisada por
carbamoil-fosfato sintetase.
6. No ciclo da ureia:
a) Indicar a procedência dos átomos de nitrogênio da molécula de ureia.
b) Calcular o balanço de ATP.
c) Citar o aminoácido proteico sintetizado.
7. Citar o órgão responsável pela produção de ureia.
8. A amônia é tóxica para os animais. Mostrar como a amônia produzida nos
tecidos extra-hepáticos é transportada para o fígado.
9. Verificar o destino dos esqueletos de carbono dos aminoácidos, seu cata-
bolismo e indicar aqueles que podem originar glicose.
10. Citar as doenças genéticas provenientes de alterações do metabolismo da
tirosina e da fenilalanina.
11. Definir aminoácidos essencias e citá-los.
12. Qual é o primeiro depositário de grupos amino no metabolismo dos amino-
ácidos? E o segundo?

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Bioquímica

Texto complementar
Kwashiorkor e marasmo
Nos países desenvolvidos, a desnutrição calórico-proteica é observada mais frequen-
temente em pacientes hospitalizados com doenças crônicas, ou em indivíduos que
sofrem grandes traumas, infecções graves ou grandes cirurgias. Nos países em desen-
volvimento, são observados casos onde ocorre ingestão inadequada de proteínas e/
ou de energia. Os indivíduos afetados mostram uma variedade de sintomas, incluindo
sistema imunitário deprimido, com redução na capacidade de resistir a infecções.
Duas formas extremas de desnutrição são o kwashiorkor e o marasmo. Enquanto o
marasmo ocorre quando a privação de calorias é relativamente maior do que a redução
em proteínas, no kwashiorkor observa-se que a privação de proteína é relativamente
maior do que a redução em calorias totais. Ao contrário do marasmo, a grande privação
de proteínas está associada à grave perda de proteína visceral. Crianças com kwashio-
rkor sofrem de perda muscular e diminuição da concentração de proteínas plasmáticas,
particularmente albumina. O resultado é um aumento no fluido intersticial, provocando
distensão abdominal e edema, o que faz com que a criança pareça gordinha.
A perda muscular é causada pela falta de aminoácidos essenciais na dieta; as pro-
teínas existentes devem ser degradadas para produzir tais aminoácidos para a síntese
de novas proteínas. A esses problemas pode ser acrescida uma menor habilidade para
produzir enzimas digestivas e células novas do epitélio intestinal devido a um decrés-
cimo na disponibilidade de aminoácidos para a síntese de novas proteínas. As vítimas
do marasmo não apresentam o edema ou as mudanças nas proteínas plasmáticas ob-
servadas no kwashiorkor
Fonte: Champe, Harvey e Ferrier, 2009; Smith, Marks e Lieberman, 2007.

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LIBERATO, M. C. T. C.; OLIVEIRA, M. S. C.

Referências
CAMPBELL, M. K.; FARREL, S. O. Bioquímica. Vol 3. São Paulo: Thomson
Learning - 2008. No Capítulo 23 do vol. 3, o assunto Metabolismo do Nitrogê-
nio é discutido em todos os aspectos de importância próprios do assunto.
CHAMPE, P. C.; HARVEY, R. A.; FERRIER, D. R. Bioquímica Ilustrada. 4ª
Ed. Porto Alegre: Artmed, 2009. Na Unidade IV do livro nos Capítulos 19, 20 e
21 são apresentados tópicos relacionados ao Metabolismo do Nitrogênio com
muitas ilustrações tornando o assunto de fácil compreensão.
DEVLIN, T. M. Manual de Bioquímica com Correlações Clínicas. São Pau-
lo: Editora Blucher, 2007. O Capítulo 19 da Parte IV desse livro aborda tópicos
relacionados ao Metabolismo de Aminoácidos.
MARZZOCO, A.; TORRES, B. B. Bioquímica Básica. 2ª ed. 1999. Rio de Ja-
neiro: Editora Guanabara Koogan S. A. O Capítulo 17 da Parte 3 desse livro ex-
plana de forma bastante compreensiva o assunto Metabolismo de Aminoácidos.
PELLEY, J. W. Bioquímica. No Capítulo 12, são estudados tópicos relativos
ao Metabolismo de Aminoácido e Heme de uma forma sucinta e objetiva. Rio
de Janeiro: Elsevier, 2007.
SMITH, C.; MARKS, A. D.; LIEBERMAN, M. Bioquímica Médica Básica de
Marks – Uma abordagem clínica. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2007. Os Ca-
pítulos 37, 38 e 39 abordam tópicos relacionados ao Metabolismo do Nitrogê-
nio de modo detalhado e didático.
VOET, D.; VOET, J. G.; PRATT, C. W. Fundamentos de Bioquímica. Porto
Alegre: Artmed, 2000. O Capítulo 20 da Parte IV traz uma discussão bastante
abrangente sobre o Metabolismo dos Aminoácidos.

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Bioquímica

Sobre as autoras
Maria da Conceição Tavares Cavalcanti Liberato: professora Adjunto M
da Universidade Estadual do Ceará - (UECE), lecionando as disciplinas de
Bioquímica e Bioquímica Aplicada e orientando alunos na Graduação do Curso
de Licenciatura em Química. Fez o Curso de Doutorado em Biotecnologia, na
área de Recursos Naturais, pela Rede Nordeste de Biotecnologia (RENORBIO)
na Universidade Estadual do Ceará. Fez o Mestrado em Tecnologia de
Alimentos na Universidade Federal do Ceará - (UFC), e Especialização em
Química Orgânica na Universidade Federal do Rio de Janeiro - (UFRJ).
Desenvolve pesquisas na área de Apicultura e Meliponicultura trabalhando
com méis, pólen e própolis, buscando estudar a Química e a Bioquímica
desses produtos bem como suas propriedades biológicas. É coordenadora do
Grupo de Estudos sobre a Química e a Bioquímica das Drogas de Abuso.

Micheline Soares Costa Oliveira: Professora adjunta da Universidade Estadual


do Ceará - UECE. Pós-Doc em Ciência, Tecnologia pelo CEFET-RJ (2016-2017).
Possui graduação em Licenciatura Plena em Química pela Universidade Estadual
do Ceará (1997), graduação em Licenciatura Curta em Ciências pela Universidade
Estadual do Ceará (1994), mestrado em Bioquímica pela Universidade Federal do
Ceará (2001) e doutorado em Doutorado em Biotecnologia pela Rede Nordeste
de Biotecnologia (2010). Ministra as disciplinas de Bioquímica, Biotecnologia,
Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS) e História da Química no Curso de
Química - CCT. Tem experiência na área de Química, com ênfase em Bioquímica
e Química de Produtos Naturais, atuando principalmente nos seguintes temas:
plantas frutíferas como caju, manga, cajá, cajarana, siriguela e jambo, ensino-
-aprendizagem, ciência e tecnologia, composição de ácidos graxos e plantas
medicinais Coordenadora do Curso de Especialização em Ensino de Química.
Coordena o Projeto de Extensão Universitária CTS: Construindo aprendizagens
significativas e os desafios do século XXI.

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