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trabalhar a leitura e escrita com os alunos da EJA, numa turma multisseriada (1º, 2º e 3º),
numa perspectiva libertadora considerando o letramento ponto básico para o ensino da leitura
e escrita.
O presente estudo teve como principal objetivo conhecer e compreender a prática de uma
professora de turma multisseriada do (1º, 2º e 3º), no que tange à fabricação de suas táticas
no tratamento da heterogeneidade de conhecimentos de seus alunos no ensino da leitura e da
escrita. Em busca de procurarmos entender tal fenômeno, usamos como referências as
reflexões referentes ao ensino da leitura e da escrita em turmas multisseridas do campo e que
aspectos envolvem a organização desse ensino, no que diz respeito a como a professora
planeja ações que considerem os níveis de conhecimento dos alunos que compõem sua turma,
além de contarmos também com a discussão acerca dos saberes e das práticas docentes,
envolvendo a multiplicidade de saberes que se fazem presentes nas ações cotidianas dos
professores e seus modos de fazer.
Para tanto, buscamos analisar, através da rotina e do espaço da sala de aula, como a
professora organiza seu trabalho pedagógico para o ensino da leitura e da escrita;
identificando quais critérios se utiliza na adoção ou produção de materiais e recursos didáticos
para o acompanhamento do seu grupo classe e como articula momentos de leitura e de escrita
nos diferentes assuntos, conteúdos e disciplinas abordados com a turma. As táticas de ação
fabricadas para o tratamento da heterogeneidade de conhecimentos sobre a leitura e a escrita
dos alunos apareceram na análise dos dados obtidos por meio das observações e entrevistas.
Através desses procedimentos, compreendemos os objetivos postos pela professora frente à
aprendizagem de seus alunos. Pudemos esclarecer, também por meio das entrevistas, ações
que aconteceram durantes as aulas observadas; identificamos possíveis dificuldades
enfrentadas pela professora para o tratamento da heterogeneidade, a mobilização de saberes
para a realização de sua ação diária, ampliando nosso olhar sobre suas maneiras de fazer. Foi
possível perceber na prática da professora que ela estabelecia uma rotina organizada e
sistemática. Observamos que não se tratava de uma rotina com grande diversidade de
momentos: a rotina era simples de forma que convidava as crianças a organizar o espaço e as
situações junto com ela. Era através da rotina, nos momentos de atividades específicas ou não,
que a professora preparava seu espaço e seu tempo em sala de aula para introduzir os alunos
nos conhecimentos pretendidos, planejando sistematicamente formas de aprofundar e
consolidar os conhecimentos propostos a toda a turma. Observando de forma geral a
organização pedagógica para o ensino da leitura e da escrita, identificamos que a professora
foi sensível ao considerar os níveis de conhecimento de seu grupo classe, uma vez que ela
agrupava sua turma multisseriada em dois grandes grupos: a turma do 2º Ano e o grupo do 3º,
4º e 5º Anos. Dentro do grupo do 2º Ano, a professora ainda criou outro grupo formado por
alunos que estavam iniciando seu processo de apropriação do sistema de escrita. Propondo
atividades específicas para os dois grupos. A preocupação da professora com os alunos que
estavam se apropriando do sistema de escrita, Amadeu e Arthur, foi revelada nas atividades
que envolviam questões bastante sistemáticas, como escrever de forma legível e com letra
cursiva, copiar palavras e pequenos textos em sua maioria compostas por sílabas simples e lê-
las em voz alta para a professora, ditados de textos e frases para depois também ler em voz
alta. Para o outro grupo do 2º Ano, Ellen e Janaína, que já haviam se apropriando do sistema
de escrita, que já produziam textos e liam com fluência, a professora propunha atividades de
leitura como localização de informação nos textos trabalhados, além de incluir esse grupo no
outro grupo formado pelo 3º 4º e 5º Anos. Ademais, Ellen e Janaína serviam como andaimes,
entre o grupo de apropriação do sistema alfabético e o grupo do 3º, 4º e 5º Anos, ajudavam
Arthur e Amadeu e, ao mesmo tempo que avançavam com o grupo do 3º, 4º e 5º Anos,
contribuíam com aqueles que ainda não liam com fluência e nem escreviam com
compreensão. Era um grupo que transitava entre os dois grupos. Já para o grupo do 3º, 4º e 5º
Anos, os momentos de aula eram fundamentados a partir do estudo de textos, os quais se liam
de diferentes maneiras: silenciosamente ou em voz alta e, em seguida, respondiam-se
questões sobre os textos lidos; esses textos não só eram trabalhados nas disciplinas de língua
portuguesa, mas sim em todas as outras áreas do conhecimento. Da mesma forma que o 2º
Ano, a professora pedia a leitura individual e em voz alta de todos os alunos, como também
costumava fazer leituras compartilhadas entre os estudantes e ela. Também trabalhava com
ditados de palavras, frases e textos, com o objetivo de diagnosticar os níveis de escrita,
identificando a ortografia das palavras, como também para refletir sobre a escrita das mesmas,
enaltecendo o som das sílabas nas palavras ditadas. Nos ditados de texto, ensinava o som de
algumas letras e sílabas, como também a organização estrutural do texto abordando: título,
parágrafos, letras maiúsculas, pontuações e síntese. 162 Além dos trabalhos específicos, a
professora, muitas vezes, fez atividades em comum, propondo o mesmo momento para todos.
Isso ocorreu com ditados, leitura de histórias, realização de jogos para identificação de
palavras, leitura e escrita de palavras compartilhadas. Seu intuito era avaliar os níveis de
aprendizagem para saber se o grupo que iniciava estava alcançando as aprendizagens dos anos
a sua frente, como também conhecer as aprendizagens de quem já havia consolidado e que a
professora gostaria de que tivesse aprendido. Nos momentos em que a professora propunha
atividades em comum, ela sabia em que precisava intervir com cada criança, pois conhecia o
nível de cada uma. Em suas propostas, exigia níveis de dificuldades diferentes através de seus
comandos, como foi o caso da correção coletiva do ditado de palavras feito no quadro por
todos os estudantes, posto que a professora solicitou dos seus alunos desde a escrita de
palavras com sílabas simples para quem estava iniciando o processo de apropriação do sistema
de escrita, até palavras em que se exigiam regras ortográficas de acentuação para aqueles que
estavam prestes a finalizar a primeira fase do ensino fundamental. Essa prática prepara seus
alunos para a escola da cidade P: “Vocês prestem atenção! ano que vem Ana você vai pra rua,
tem que aprender!”. Os recursos e materiais eram simples, em sua maioria, os que a
professora mais usou para suas aulas era o que já se tinha disponível, que eram os próprios
cadernos das crianças, a lousa e as atividades xerografadas. Além do caderno de leitura
confeccionado por ela mesma para leitura silenciosa e em voz alta de textos. Diante disso,
concluímos que a professora tem uma prática que segue com uma característica heterogênea.
A prática da professora seguia o curso das necessidades de aprendizagem de seus alunos:
aqueles que apresentassem dificuldades maiores ou que estivessem com o nível de
conhecimento muito distante do que se espera para o ano de curso, a professora intervinha de
forma mais assídua com acompanhamento individual e com diferentes tipos de atividades,
identificadas como atividades complementares aos conteúdos e assuntos gerais abordados de
forma comum à turma. Ela intervinha para que seus alunos atingissem seus objetivos, que
seriam ler com fluência e escrever textos de forma compreensiva. Constatamos que as crianças
do grupo do 3º, 4º e 5º Anos estavam em níveis de conhecimento semelhantes,
principalmente o 3º e 4º Anos, uma vez que o 5º Ano era composto por apenas uma aluna que
caminhava bem com o objetivo da professora de ler com fluência e escrever de forma
compreensível, como nos mostrou as diagnoses de início e final de ano, obtendo 100% de
aproveitamento em todas as diagnoses. A professora propunha as mesmas atividades, no
entanto, no atendimento individual, ela apresentava uma característica heterogênea, na
mediação e orientação, por meio das atividades comuns, ela intervinha nas dúvidas e instigava
o avanço das aprendizagens de novos conhecimentos. Ao pensar as atividades, ela considerava
a heterogeneidade, os níveis de conhecimento de toda a turma. A organização pedagógica
dela era baseada no respeito ao nível de conhecimento de seus alunos. “Tática” fabricada pela
professora frente ao que estrategicamente prevaleceu por muito tempo, a seriação,
“estratégia” que não é possível de romper de repente. Para ela, os alunos têm que ter o direito
de aprendizagem igual a outros alunos que estão em sala regular. Diante disso, a partir dessa
tática, dentre outras fabricadas pela professora, compreendemos que não é uma questão de
ser adequado ou não, ou de tecermos julgamentos sobre suas escolhas metodológicas, mas
entender sua dinâmica, refletindo sobre sua prática que é singular e genuína por fazer parte de
um espaço também singular vivido cotidianamente e que busca soluções objetivas para os
problemas e demandas surgidas todos os dias e que, no final, compromete-se, orienta e
ensina.
Dificuldades
Ainda não há dados oficiais, neste ano, que possam quantificar o volume
de estudantes que deixaram o programa de Educação de Jovens e
Adultos, em virtude da pandemia. Antes da propagação da Covid-19, em
balanço feito no ano de 2019, uma pesquisa realizada pelo Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep)
aponta queda de 7,7% no número de matrículas de alunos na EJA, a
nível Brasil.
Apesar dos esforços, Edinalva, que faz a EJA para melhorar a leitura e o
aprendizado, lamenta que não possa ter aulas presenciais e considera
exaustiva a forma que vêm sendo executadas as atividades escolares.
“Ela [a professora] faz um vídeo explicando a atividade e pede para que
os alunos façam e enviem a foto ou ela escreve em uma folha, manda a
foto e explica por áudio a atividade. Mas, as aulas não se comparam
nem um pouco com a presencial", detalhou.