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Brazilian Journal of Animal and Environmental Research 236

ISSN: 2595-573X

Doença Inflamatória Intestinal Felina – Relato de Caso

Feline Inflammatory Bowel Disease - Report of Case

DOI: 10.34188/bjaerv4n1-022

Recebimento dos originais: 20/11/2020


Aceitação para publicação: 20/12/2020

Marcela Fernanda Moretti


Médica Veterinária pela Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP-CLM)
Itupeva Animal Center
Avenida Brasil, 700 – Itupeva -SP, Brasil
E-mail: mv.mafmoretti@gmail.com

Raquel Estefania Stringheta de Souza


Graduanda em Medicina Veterinária pela Universidade Estadual do Norte do Paraná
Endereço: Rodovia BR-369 - Bandeirante - PR, Brasil
E-mail: raquel_stringheta@yahoo.com.br

Bruna Moretti
Graduanda em Medicina Veterinária pela Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita
Filho", campus de Araçatuba
Endereço: Rua Clóvis Pestana, 793 - Dona Amélia, Araçatuba - SP, Brasil
E-mail: bruna.moretti03@yahoo.com.br

RESUMO
A doença inflamatória intestinal (DII) trata-se de um conjunto de distúrbios gastrointestinais
crônicos e idiopáticos em felinos de meia idade à idosos. Neste trabalho foi relatado o caso de um
felino, fêmea, castrada, onze anos de idade que apresentava dor a palpação abdominal, perda de
peso progressiva, fezes amolecidas e agressividade. Então, objetivou-se discutir aspectos
importantes sobre diagnóstico e tratamento da doença. O diagnóstico foi realizado através de
exclusão de outras doenças gastrointestinais e o tratamento adotado foi o uso da prednisolona e troca
da dieta do animal. Após o final do tratamento o animal não apresentou os sinais clínicos e foi
mantida a nova dieta e foi recomendado a realização de exames de imagens e hematológicos a cada
três meses para acompanhamento de possível recidiva.

Palavras-chave: gatos, perda de peso, gastrointestinal, crônica

ABSTRACT
Feline inflammatory bowel disease is a set of chronic and idiopathic gastrointestinal disorders in
middle-aged felines to the elderly. In this study it was reported the case of a feline, female, castrated,
eleven years of age that presented pain abdominal palpation, progressive weight loss, softened feces
and aggressiveness. The aim was then to discuss important aspects of diagnosis and treatment of the
disease. The diagnosis was made by excluding other gastrointestinal diseases and the treatment
adopted was the use of prednisolone and exchange of the animal's diet. After the end of treatment
the animal did not show clinical signs and the new diet was maintained and imaging and
haematological examinations were recommended every three months to monitor possible relapse.

Keywords: cats, weight loss, gastrointestinal, chronicle

Brazilian Journal of Animal and Environmental Research, Curitiba, v.4, n.1, p. 236-239 jan./mar. 2021
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ISSN: 2595-573X

1 INTRODUÇÃO
A DII é um conjunto de desordens idiopática e crônica que acomete o trato gastrointestinal
(TGI) de felinos de meia idade à idosos, sem predileção racial ou sexual. É uma doença
imunomediada consequente da interação entre antígenos ou microbiota intestinal e o sistema imune,
respondendo de forma intensificada contra eles, causando inflamação na mucosa intestinal. É uma
patologia de diagnóstico eliminatório, sendo necessário descartar outras causas de gastroenterite
crônica e que causem vômito, perda de peso, diarreia, dor abdominal e apatia (1).
No exame físico observa-se na palpação abdominal o espessamento das alças intestinais,
baixo escore corporal, desidratação e dor. O ultrassom permite visualizar a porção do TGI
acometida, mostrando espessamento da parede e as alterações são semelhantes às de linfoma
intestinal sendo o exame histopatológico definitivo para o diagnóstico. O tratamento baseia-se no
uso de fármacos anti-inflamatórios e imunossupressores e na dieta (2).
O presente trabalho relata um caso de DII atendido numa clínica em Jundiaí – SP com
objetivo de discutir os sinais clínicos, dificuldades diagnósticas e tratamento.

2 MATERIAL E MÉTODOS
Foi atendido um felino, fêmea, SRD, onze anos de idade, castrada, pesando 2,5 kg que
apresentava perda de peso progressiva, comportamento agressivo, fezes pastosas, desidratação,
presença de gases e dor à palpação abdominal.
No hemograma apresentou leucopenia (3.150; referência 6.000 a 16.000) por neutropenia
(1.230; valor de referência 1.200 a 10.000) e um leve aumento de FA (132; referência 92). O
ultrassom abdominal apontou o segmento do intestino delgado espessado (3,6 mm) e linfonodo
mesentérico reativo. A suspeita clínica passou a ser DII ou linfoma intestinal.
A tutora não autorizou a realização da laparotomia exploratória para colheita de fragmentos
e optou-se então pelo tratamento de DII, alterou-se a dieta do animal para ração gastrointestinal, foi
usada prednisolona (1,5mg/kg BID) como imunossupressor durante 20 dias e fluidoterapia
subcutânea (250 ml de Ringer Lactato) durante 5 dias para reestabelecer a hidratação do animal.
Durante 20 dias de medicação houve melhora dos sinais clínicos, porém durante o desmame, os
sinais voltaram e foi prescrito utilizar o fármaco por mais 10 dias na dose de 2,0 mg/kg BID e
realizar o desmame no período de 40 dias.
Após o fim do tratamento o paciente repetiu os exames, que não apresentaram alterações. A
tutora recebeu a orientação de continuar com a dieta e fazer exames de ultrassom e laboratoriais
periódicos, para acompanhar se não houver recidiva.

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3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
O caso descrito é comum na rotina clínica de felinos de meia idade à idosos que apresentam
alteração nas fezes e perda de peso por conta da inflamação crônica resultando em má absorção
intestinal, desconforto abdominal e limitando a ingestão de alimentos (2). A inflamação gera dor
levando a agressividade, como no animal relatado (3).
Em relação a DII a neutropenia se justifica pela presença de inflamação crônica do intestino
e distúrbio linfoproliferativo. Nos exames laboratoriais não há nada que seja único, o animal pode
ter um leve aumento das enzimas hepáticas, como pudemos ver neste relato (4).
O linfoma alimentar e DII foram os diagnósticos diferenciais possíveis neste caso, solicitou-
se a ultrassonografia abdominal que é útil para diagnostico de diversas doenças do TGI (5). Em
pacientes acometidos por DII é possível observar espessamento da parede – espessura normal é até
2,6mm para jejuno e 3,2mm para íleo – e os linfonodos mesentéricos aumentados. No animal
relatado os linfonodos mesentéricos estavam aumentados e intestino delgado com 3,6mm de
espessura.
A DII e o linfoma intestinal possuem sinais clínicos e alterações hematológicas semelhantes,
a biópsia intestinal é o exame chave para o diagnóstico definitivo (5).
A tutora do animal não autorizou a realização da biópsia, foi então escolhido tratar o animal
como DII e o reavaliar com exames laboratoriais e de imagem para avaliar a resposta ao tratamento,
que se baseou na troca da dieta associada a terapia medicamentosa. O corticoide de predileção é a
prednisolona, sugere-se que o tratamento seja inicialmente realizado com uma dose mais alta,
mantida até que a inflamação seja controlada e ser reduzida em um intervalo de 2 a 3 semanas até o
completo desmame (2).
A DII pode ser alimentar, é necessário que trocar a ração no início do tratamento por uma
dieta balanceada; a dieta selecionada para o animal foi uma ração terapêutica para o tratamento de
doenças de TGI em felinos que auxilia a absorção dos nutrientes, diminui a inflamação intestinal,
resgata a mucosa intestinal e suas funções (6).
O uso do medicamento e da dieta resultaram em desaparecimento dos sinais clínicos,
aumentando no ganho de peso do animal, normalizando os aspectos das fezes e fazendo com que o
animal fique mais tranquilo por conta da diminuição da inflamação e dor. Isso ocorreu com o animal
relatado (2,6).

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4 CONCLUSÃO
Não existe cura para DII, porem é possível manter o paciente com qualidade de vida,
controlando os sinais clínicos com terapia medicamentosa e com manejo alimentar adequado.
Medidas estas, tomadas no relato acima que se mostraram eficazes.

REFERÊNCIAS

1. Washabau RJ; Day MJ; Willard MD; Hall EJ; Jergens AE; Mansell J et al. Endoscopic, Biopsy,
and Histopathologic Guidelines for the Evaluation of Gastrointestinal Inflammation in Companion
Animals. Journal of Veterinary Internal Medicine;2010; 24:10-26.

2. Willard MD. Feline Inflammatory Bowel Disease: A Review. [Journal of Feline Medicine and
Surgery periódico online] 1999; 1(3). Disponível em: URL:
https://journals.sagepub.com/doi/10.1016/S1098-612X%2899%2990204-8 [2020.mai.3].

3. Seksel K. Problemas Comportamentais. In: Little SE. O Gato. Rio de Janeiro, RJ: Roca; 2015.
p.320-365.

4. Couto CG. Leucopenia e Leucocitose. In: Nelson RW; Couto CG. Medicina Interna de Pequenos
Animais.5th ed. Rio de Janeiro, RJ: Elsevier; 2015. p.1230-1237.

5. Willard MD. Desordens do Trato Intestinal. In: Nelson RW; Couto CG. Medicina Interna de
Pequenos Animais.5th ed. Rio de Janeiro, RJ: Elsevier; 2015. p.472-474.

6. Carvalho YM. Gastroenteropatia em Cães e Gatos. In: Jericó MM; Neto JPA; Kogika MM.
Tratado de Medicina Interna de Cães e Gatos. Rio de Janeiro, RJ: Roca; 2015. p.897-910

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