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27º Congresso Nacional de Medicina Interna 1

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INDÍCE GERAL

Listagem dos Revisores


04

Comunicações Orais
07

Posters com Apresentação Oral


183

Imagens em Medicina
377

E-Posters
479

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 3


António Martins Baptista Cristina Rosário

Abílio Manuel Dias Gonçalves Cristina Teotonio

Adelaide Belo Debora Sousa

Aida Cordero Diogo Cruz

Alberto Mello e Silva Edite Nascimento

Alexandra Bayão Horta Edna Gonçalves

Alfredo Leite Eduardo Doutel Haghighi

Alfredo Martins Elga Freire

Ana Borges Elsa Gaspar

Ana Campar Emília Louro

Ana Catarina Rodrigues Eugénio Dias

Ana Grilo Fátima Campante

Ana Maria Lopes Fátima Guedes

Ana Paiva Nunes Fátima Leal Seabra

Ana Rita Paulos Fátima Pinto

Ana Sofia Baptista Duque Fátima Silva

Ana Teresa Boquinhas Faustino Ferreira

Anabela Barros Fernando Martos Gonçalves

Anabela Oliveira Fernando Salvador

Anabela Raimundo Ferraz e Sousa

Andreia Vilas Boas Filipa Malheiro

Aníbal Marinho Filipe Nery

António H. Carneiro Francisco Araújo

António Marinho Heidi Gruner


António Oliveira e Silva Helder Esperto

Armando Carvalho Helena Cantante

Arsénio Santos Helena Sarmento

Bebiana Gonçalves Inês Chora

Bernardo Baptista Inês Palma dos Reis

Bernardo Neves Isabel Esperança

Cândida Fonseca Isabel Lavadinho

Carlos Capela Isabel Madruga

Carlos Vasconcelos Ivone da Costa Ferreira

Carmélia Rodrigues JOANA MARQUES COCHICHO


Carolina Guedes Joana Pimenta

Cátia Barreiros João Araújo Correia

Cecília Vilaça João Correia

Conceição Pires João Espírito Santo

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LISTAGEM REVISORES
João Gonçalves Pereira Marta Amaral

João Matos Costa Melanie Ferreira

João Melo Narciso Oliveira

João Neves Natalia Marto

João Pacheco Pereira Nidia Pereira

João Porto Nuno Bernardino Vieira

João Ribeiro Olga Gonçalves

João Sá Patrícia Dias

João Sequeira Paulo Almeida

João Tavares Paulo Bettencourt

Jorge Crespo Paulo Gouveia

José Ferreira Pedro Correia Azevedo

José Mariz Pedro Guimarães Cunha

José Meireles Pedro Raimundo

José Pereira de Moura Rafaela Verissimo

José Presa Raquel Faria

Júlio R Oliveira Ricardo Fernandes

Lèlita Santos Ricardo Louro

Lia Marques Rui Barros

Luis Brito Avo Rui Carneiro

Luis Duarte Costa Rui Marques Costa

Luis Nogueira Silva Sandra Morais

Luísa Eça Guimarães Sergio Baptista

Luisa Fonseca Sofia Nóbrega

Luisa Pereira Sofia Pinheiro

Luisa Rebocho Sofia Silva

Mafalda Santos Susana Coelho

Marco Fernandes Susana Nóbrega Dias

Margarida França Suzana Calretas

Margarida Mota Teixeira Veríssimo

Margarida Proença Tiago Freitas

Maria Amélia Fonseca Pereira Tiago Tribolet de Abreu

Maria Conceição Reis Silva Escarigo Vanessa Novais de Carvalho

Maria da Luz Brazão Vasco Barreto

Maria do Céu Rocha Vítor Branco

Maria Francisca Delerue Vitor Paixão Dias

Maria Helena Brito Zelia Lopes


Maria João Lobão

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COMUNICAÇÕES ORAIS
INDÍCE DE CASOS CLÍNICOS CO0712 - Vidro despolido em tempo de pandemia - um
CO0027 - Síndrome de Wunderlich associado a apixaba- desfecho inesperado
no: um caso cliníco. CO0761 - Encefalite autoimune – Coincidência ou con-
CO0103 - Multidisciplinaridade no carcinoma do ovário sequência?
CO0104 - Autoimunidade paraneoplásica: relato de um CO0766 - Olhos que não vêem, Coração não sente
caso CO0832 - Do baço ao coração em 3 passos
CO0146 - Uma apresentação incomum de neoplasia CO0842 - Fungémia por Kodamaea ohmeri e nutrição
pancreática parentérica – qual a ligação?
CO0211 - Parésia facial, disfagia e dor: não esquecer o CO0856 - Doença psiquiátrica como manifestação de
Síndrome de Eagle doença oncológica
CO0226 - 1 milhão de plaquetas – sinal de alarme para CO0905 - Défice de Vitamina B12 e anemia microangio-
endocardite infecciosa pática: como e porquê?
CO0256 - O desafio das Lesões Ocupantes de Espaço no CO0920 - Ectasia vascular gástrica antral como mani-
doente VIH: série de casos durante a pandemia CO- festação inicial de esclerose sistémica
VID-19 CO0972 - CO-INFEÇÃO VIH 1 E VIH 2: UM DESAFIO
CO0277 - Complicação atrás de complicação: Caso raro TERAPÊUTICO
de trombose da veia esplénica CO0975 - Doença de McArdle – a propósito de um caso
CO0298 - Dor Abdominal Como Manifestação Inicial De de lesão renal aguda por rabdomiólise grave
Uma Forma Rara De Hepatite CO1028 - O papagaio escondido: um caso de disfagia no
CO0300 - Miocardiopatia amilóide associada a transtir- idoso
retina: uma apresentação rara ao exame físico CO1040 - Síndrome Hiperglicémico Hiperosmolar – uma
CO0341 - Ataxia e alcoolismo, será sempre Wernicke? apresentação atípica
CO0435 - Concern of SARS-CoV-2 reactivation - A criti- CO1065 - Imunodeficiência comum variável complicada
cal appraisal of a case report com Trombocitopenia Imune e Doença granulomatosa
CO0444 - Aspergilose pulmonar e pneumocistose - difi- pulmonar
culdade e iatrogenia terapêutica CO1071 - Derrame pericárdico secundário a carcinoma
CO0471 - ANEMIA HEMOLÍTICA AUTO-IMUNE SECUN- espinocelular cutâneo?
DÁRIA A BACTERIÉMIA POR YERSINIA ENTEROCOLITI- CO1087 - Síndrome de Cushing Ectópico com origem em
CA Tumor Carcinóide do pulmão
CO0479 - Síndrome do seio cavernoso em doente com CO1093 - VAXZEVRIA® E TROMBOCITOPENIA
meningioma intracavernoso e hemorragia intracerebral CO1097 - Leishmania visceral - uma entidade esquecida
CO0491 - Pericardial effusion & perimyocarditis with nas áreas de baixa endemia
dilated cardiomyopathy: when idiopathic isn't the answer CO1112 - Nefropatia membranosa primária - A impor-
CO0500 - Amaurose fugaz após “terapia” com Ozono tância dos diagnósticos diferenciais de edema periférico
CO0509 - Fraqueza muscular - metabolismo dos lipídios CO1124 - Leucemia granular linfocítica e Artrite reuma-
CO0587 - Partidas do coração: AVC em contexto de tóide
Síndrome de Takotsubo CO1128 - Desregulação da (auto)imunidade – a propósi-
CO0588 - UM CASO DE ANGINA VARIANTE NUM DOEN- to de um caso de Macroglobulinémia de Waldenström
TE IDOSO COM INFEÇÃO GRAVE POR SARS-COV-2 CO1139 - SÍNDROME CONSUMPTIVO A ESCLARECER
CO0596 - Crioglobulinémia mista - apresentação infre- NA INFECÇÃO POR VIH – NEM SEMPRE O HABITUAL
quente de endocardite de válvula protésica a E. faecalis CO1153 - Hepatite herpética numa doente imunocompe-
CO0618 - Poliartrite Paraneoplásica – a propósito de um tente
caso clínico CO1169 - TEMPESTADE TIROIDEIA REFRATÁRIA: O PA-
CO0621 - Carcinoma Neuroendócrino do Duodeno – Um PEL DA PLASMAFERESE
desafio diagnóstico CO1191 - E quando “padrão em vidro despolido” não é
CO0693 - Encefalite límbica e hiponatremia grave – cau- COVID-19?
sa ou coincidência? CO1194 - Endocardite bacteriana e suas complicações –
CO0702 - Plasmodium malariae: Quando o tempo difi- a propósito de um caso clínico
culta o diagnóstico CO1227 - Sequela catastrófica da artrite reumatóide
CO0703 - Um cansaço arrastado CO1273 - Trombocitopenia Imune - Uma apresentação

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rara da infeção pelo SARS CoV2 CO1771 - HIPOCALCÉMIA: O FENÓTIPO DE UM DIAG-
CO1313 - Síndrome maligna dos neurolépticos e coma NÓSTICO
mixedematoso – descrição de um caso CO1778 - Um sintoma tão frequente e uma causa tão
CO1315 - Embolia pulmonar com paragem cardio-respi- rara
ratória – um caso de sucesso. CO1842 - When a fever of unknown origin turns out to be
CO1330 - Citomegalovírus - uma apresentação atípica a chronic Q fever endocarditis
CO1339 - Plasma convalescente na infecção prolongada CO1845 - Nódulos Pulmonares no doente com Artrite
por SARS-CoV-2 em doente imunocomprometida com Reumatóide
Lúpus CO1851 - Um tumor sagrado sem diagnóstico definitivo
CO1364 - O FÍGADO TAMBÉM PODE SOFRER - UM CASO - Cordoma ou outro?
DE TOXICIDADE À VACINA CONTRA COVID-19 CO1861 - Linfoma de Hodgkin tipo depleção linfocítica
CO1396 - Doença de Rosai Dorfman: um caso clínico em doença celíaca - desafio diagnóstico na pandemia
CO1405 - Uso de ventilação não invasiva em doentes CO1909 - Síndrome de Gurvits secundário a cetoacidose
com insuficiência respiratória por COVID-19 em enfer- diabética
maria CO1927 - COVID-19: Um caso de Polineuropatia Perifé-
CO1460 - AVC isquémico - Uma Complicação Rara de rica
Encefalite por Herpes Simplex CO1932 - 15 anos da hérnia encarcerada à anemia he-
CO1530 - Vasculopatia por infecção VIH: uma comorbili- molítica
dade importante a considerar no diagnóstico diferencial CO1937 - Infecção por VVZ após vacina contra a CO-
CO1532 - Miocardiopatia infiltrativa – um ponto de parti- VID-19 (ChAdOx1-S [recombinante]) – haverá uma
da raro para o diagnóstico de Sarcoidose relação?
CO1565 - HHV-7 encephalitis as the first manifestation CO1966 - OSTEOPOROSE E FRATURA DE FRAGILIDADE -
of immunodeficiency UMA COMPLICAÇÃO RARA INCAPACITANTE DA GRAVI-
CO1574 - Síndrome cerebeloso associado ao Metroni- DEZ E AMAMENTAÇÃO
dazol CO1967 - ASPERGILOSE PULMONAR CRÓNICA ASSO-
CO1595 - MIS-A, uma apresentação rara da infeção por CIADA A FORMA LIGEIRA DE COVID-19
SARS CoV2 CO1969 - Mieloma Múltiplo IgD lambda - uma gamapatia
CO1608 - Atrésia da Veia Cava Inferior: uma malforma- monoclonal rara
ção cardiovascular rara. CO1989 - Complicações neurológicas da imunização
CO1631 - Dor torácica no puerpério: disseção de artéria para SARS-CoV-2: uma série de três casos
coronária: uma causa rara de síndrome coronário agudo CO2034 - Nem tudo o que parece é
CO1663 - Artrite de Takayasu e Colite Ulcerosa: a propó- CO2036 - Quando o café não resolve
sito de um caso clínico CO2072 - Tuberculose, o passado sempre presente!
CO1670 - Anemia Hemolítica Auto-Imune – Um desfe- CO2084 - Hipoparatirodismo Primário e Síndrome de
cho inesperadamente fatal Mounier Kuhn num doente com COVID-19
CO1675 - Endocardite trombótica não bacteriana: um CO2118 - Leptospirose complicada por reação de Jaris-
diagnóstico desafiante ch-Herxheimer
CO1690 - Quando a febre é arterítica... CO2125 - AIT: Quando a etiologia assusta
CO1712 - Hepatotoxicidade com padrão de colestase CO2157 - Imunodeficiência e Infecção a SARS-CoV-2: a
induzida por Etoricoxib propósito de um caso clínico
CO1727 - Uma causa rara de um denominador comum CO2170 - Nem tudo o que parece é: um caso de Doença
CO1748 - Será só espondilodiscite? – a propósito de um de Whipple
caso clínico CO2180 - Sindrome de horner: Uma rara apresentação
CO1750 - Síndrome de Platipneia-Ortodeoxia em relação inicial de neoplasia pulmonar
com infeção grave a SARS-CoV2 CO2182 - Febre Q: dois vizinhos, uma doença em co-
CO1753 - Hemorragia alveolar difusa por síndrome anti- mum
fosfolipídica primária: caso clínico CO2186 - Doença de Castleman multicêntrica HHV-8 em
CO1757 - Quando o Mieloma e a Sarcoidose caminham doente imunocompentente. O desafio diagnóstico.
de mãos dadas! CO2189 - Sarcoidose renal: a importância do reconheci-
CO1767 - Insuficiência corticossuprarrenal: um diagnós- mento precoce
tico de alta suspeição clínica CO2212 - Síndrome de roubo da artéria subclávia: uma

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COMUNICAÇÕES ORAIS
causa de AVC CO2650 - Síndrome de DRESS em doente polimedicado -
CO2224 - Sarcoma mieloide peritoneal com ascite mie- o desafio diagnóstico
loide: raro mas não impossível CO2673 - Vómitos que são uma dor de cabeça - Relato
CO2235 - Amiloidose a transtirretina adquirida após de um caso
transplante hepático em dominó CO2677 - Multimodality imaging in infective endocardi-
CO2243 - Linfadenite dermatopática (Doença de Pau- tis: how is its role?
trier-Woringer) associada a lúpus eritematoso sistémico CO2720 - Febre? De onde vens?
CO2251 - Infeção multifocal - suscetibilidade ou conse- CO2736 - Nem tudo são infeções urinárias - uma autóp-
quência? sia cognitiva
CO2258 - DRESS multissistémico revisto por dentro e CO2737 - Doença de Whipple Clássica e hipertensão
por fora pulmonar.
CO2259 - Síndrome de Fitz-Hugh-Curtis: uma apresen- CO2757 - Paresia do III par e cefaleia – um desafio
tação rara de doença inflamatória pélvica diagnóstico
CO2278 - "A Whole New World" - Um Caso de Síndro- CO2766 - Caso atípico de hipertensão arterial [HTA]
me Opsoclonus-Mioclonus num Doente com Infeção a renovascular com apresentação em encefalopatia
SARS-CoV-2 CO2787 - O que está por trás de uma paniculite mesen-
CO2320 - Um caso de esferocitose hereditária com apre- térica?
sentação tardia CO2797 - Amiloidose AA uma complicação rara de
CO2321 - Quando o doente convulsiva, e agora? Um doenças inflamatórias crónicas–a propósito de um caso
Caso de Encefalite a SARS-CoV-2 clínico
CO2323 - Síndrome febril indeterminado e o valor diag- CO2818 - Hipoglicemia devido ao uso de Escitalopram:
nóstico da PET Caso clínico
CO2335 - DISFUNÇÃO MULTIORGÂNICA NUM JOVEM CO2849 - Trombocitopénia refractária – uma etiologia
SARS-COV-2 POSITIVO inesperada
CO2342 - Polineuropatia e dermatite: para além do CO2855 - Uma causa muito rara de hepatopatia
alcoolismo CO2856 - Anemia (que ainda é) perniciosa
CO2354 - Síndrome hemafagocítico secundário a doen- CO2868 - Insuficiência Respiratória dependente de Oxi-
ça granulomatosa génio de Alto Fluxo - soluções para alta hospitalar
CO2394 - Síndrome de platipneia-ortodeoxia: uma causa CO2881 - Um tumor abdominal com uma causa inco-
rara de hipoxemia mum
CO2427 - Pênfigo Vegetante: um diagnóstico raro em CO2893 - Atrás de uma cortina Covid-19 – relato do
localizações incomuns primeiro caso de tularémia pulmonar autóctone em
CO2436 - Esferocitose Hereditária - um diagnóstico Portugal.
tardio CO2894 - Uma razão menos comum de icterícia
CO2477 - Síndrome de Anticorpos Antifosfolípidos – um CO2917 - ERITEMA SECUNDÁRIO A LINFOMA DA MAMA
diagnóstico a ter em mente mesmo em homens sem – APRESENTAÇÃO E DIAGNÓSTICO INCOMUNS
lúpus CO2928 - Linfoma à vista?
CO2483 - Síndroma hemofagocítica enquanto diagnósti- CO2936 - Infeção disseminada por vírus-zoster - quando
co de suspeição clínica atinge proporções graves.
CO2484 - SÍNDROME DE TAKOTSUBO CO2947 - BCGite na origem do diagnóstico de Leucemia
CO2503 - Síndrome estilo-carotídeo como causa de Linfocítica Crónica
acidente vascular cerebral por disseção carotídea CO2952 - A traição das favas
CO2544 - Pneumonia Organizativa Criptogénica - um CO2955 - METOTREXATO: UMA ARMA TERAPÊUTICA
achado raro em enfermaria de Medicina Interna (MAS HOSTIL?)
CO2605 - Mascarado por parasitas CO3000 - LINFOMA T ANGIOIMUNOBLÁSTICO EM DO-
CO2616 - Caso de miopatia inflamatória secundária à ENTE COM COLANGITE BILIAR PRIMÁRIA
vacinação COVID-19 CO3003 - SÍNDROME HEMOFAGOCÍTICO APÓS VACINA
CO2618 - Toxicidade a linezolide – a propósito de um COVID-19 EM DOENTE ONCOLÓGICO
caso clínico CO3013 - Síndrome de Platipneia-Ortodeoxia em pneu-
CO2625 - Três casos de derrame pericárdico por febre Q monia grave a SARS-CoV-2
aguda e crónica CO3027 - Hepatotoxicidade medicamentosa por diclofe-

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nac ticamente a destacar hemoglobina de 6.4g/dL, creati-
CO3032 - As calcificações intracerebrais: um desafio na nina de 3.3mg/dL e acidémia mista grave com pH de
6.9. A tomografia computorizada (TC) revelou  uma
prática clínica
rotura renal esquerda  e extensa hemorragia peri-re-
CO3035 - Uma complicação atípica de COVID nal. Assim, um diagnóstico de choque hemorrágico
CO3053 - Síndrome nefrótico como sinal de tumor da por SW foi estabelecido. O apixabano foi suspenso
próstata e a doente foi transferida para uma unidade de cui-
CO3060 - Pericardite aguda pós vacina mRNA contra a dados intensivos para reposição volémica, suporte
COVID-19: a propósito de um caso clínico vasopressor e ventilação mecânica. Dada a estabili-
CO3065 - Hipercalcemia maligna em neoplasia metastá- dade hemodinâmica após suporte transfusional, op-
tou-se por uma abordagem conservadora com repou-
tica de primário oculto
so no leito e suspensão de anticoagulação. Ao 7º dia
CO3080 - Uma listeriose inesperada
de internamento, a doente desenvolveu hemiparésia
CO3088 - Eliminação transepitelial de tecido conjuntivo ‘de novo’ no membro superior esquerdo. A TC confir-
da derme – um caso de dermatose perfurante adquirida. mou múltiplos enfartes cerebrais embólicos agudos.
CO3113 - Infeção do SNC por um agente pouco comum Dada a hemorragia major recente, e após discussão
CO3151 - Streptococcus suis uma zoonose emergente multidisciplinar com  Neurologia e  Neurorradiologia,
em seres humanos foi decidido que a doente não teria condições para
retomar a anticoagulação, optando-se por monoan-
CO3176 - Hemorragia digestiva baixa como manifesta-
tiagregação com aspirina. Finalmente, ao 47º dia
ção inicial de Mieloma Múltiplo
de internamento, após ausência de novos eventos
CO3204 - Cetoacidose diabética euglicémica - um novo hemorrágicos e após reintrodução de apixabano, a
desafio diagnóstico doente teve alta para uma unidade de reabilitação fí-
sica com melhoria total dos défices neurológicos e
COMUNICAÇÕES ORAIS - CASOS CLÍNI- função renal normal.
COS Conclusão: Reportamos o primeiro caso clínico  de
CO n.º 0027  SW associado a ACO diretos. Um alto índice de sus-
Síndrome de Wunderlich associado a apixabano: peita deve ser mantido em doentes com dor abdomi-
um caso cliníco. nal e achados compatíveis com choque hemorrági-
Sérgio Maltês(1);Cristina Carvalho Gouveia(2);Filipa co, em especial em indivíduos sob anticoagulação ou
Serrazina(3);Anne Moura(3);Francisco Coelho(3);- antiagregação plaquetária. A gestão de doentes sob
João Torres(3);Pedro Santos(3);Filipa Montei- ACO e hemorragia ativa é complexa, particularmente
ro(3);Marta Rebelo(3);Gabriela Almeida(3);Tomás quando ocorrem eventos tromboembólicos simultâ-
Lamas(3);Isabel Simões(3);Isabel Gaspar(3);Eduar- neos. Este caso demonstra as dificuldades clínicas
da Carmo(3) sentidas em decidir o timing correto para recomeço
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE / de anticoagulação em doentes com hemorragia gra-
Hospital de Santa Cruz (2) Centro Hospitalar de Lis- ve prévia.
boa Ocidental, EPE / Hospital de S. Francisco Xavier
CO n.º 0103 
(3) Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE /
Multidisciplinaridade no carcinoma do ovário
Hospital Egas Moniz
Margarida Carrolo(1);André Soveral(1);Inna Ko-
Tema:Urgência, cuidados intermédios e doente crí- zyar(1);Luísa Fraga Fontes(1)
tico (1) Hospital Cuf Descobertas

Tema:Doenças oncológicas
Introdução: O Síndrome de Wunderlich (SW) é uma
patologia rara e potencialmente fatal caracterizada
Em Portugal existem anualmente cerca de 474 no-
por rotura renal espontânea com hemorragia periné-
vos casos de cancro do ovário, correspondendo a
frica. O apixabano, um anticoagulante oral (ACO)
2,3% do total de cancros da mulher. Portugal tem
direto, foi previamente associado a rotura atraumá-
das melhores taxas de sobrevida para este tumor
tica de órgãos sólidos mas, até à data, não existem
com valores para os 5 anos superiores a 50% para
descrições de SW associado ao apixabano ou outros
os estadios I-III e cerca de 15% para o estadio IV.
ACO diretos.
Não existe teste de rastreio para o carcinoma do
Caso clínico: Uma mulher de 79 anos com antece- ovário pelo que uma suspeita clínica adequada é
dentes de fibrilhação auricular sob apixabano foi necessária.
admitida por dor abdominal súbita, obnubilação e hi-
Os autores apresentam o caso de uma doente do
potensão, sem perdas hemáticas conhecidas. Anali-
sexo feminino, 51 anos, saudável, virgem, que recor-

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COMUNICAÇÕES ORAIS
reu ao hospital por um quadro com duas semanas lino de 51 anos com antecedentes de hipertensão
de evolução de febre com calafrio, sudorese noctur- arterial, diabetes mellitus tipo 2 e uma trombose da
na,  dor na região hipogástrica e diarreia. Laborato- veia renal direita ocorrida 3 meses antes, tendo fica-
rialmente apresentava leucocitose com neutrofilia, do medicado com varfarina.
elevação da proteína C reactiva e hematúria. Na
tomografia computorizada abdominal levantou-se a Recorreu ao Serviço de Urgência por dor intensa na
suspeita de doença inflamatória pélvica, com o au- região lombar e flanco direitas associada a episódio
mento do volume ovárico atribuído a uma ooforite. isolado de hematúria macroscópica.
Fez colheita para exames culturais e iniciou antibio-
Laboratorialmente apresentava anemia ferropénica
terapia empírica com ceftriaxone. Foram pedidas
(Hg 9.8 g/dL), lesão renal aguda (creatininémia 2.04
serologias infeciosas que vieram negativas. Copro-
mg/dL) e elevação ligeira da proteína C reactiva
culturas e estudo microbiológico das fezes também
(3.8 mg/dL), sem outros achados de relevo. Fez to-
negativo.
mografia computorizada abdominal que identificou
Perante recusa da doente no estudo ecográfico uma nefromegalia direita com trombos no interior
endovaginal, foi realizada ecografia abdomino-pél- da veia renal direita. Foi internado com o diagnós-
vica que visualizou ascite e um possível processo tico de trombose venosa renal direita recorrente e
neoformativo no ovário direito. Foram pedidos mar- iniciou heparina de baixo peso molecular em dose
cadores tumorais e identificando-se uma elevação terapêutica.
importante do CA-125 e HE4. Fez estudo mamário
O estudo de autoimunidade pedido foi compatível
sem alterações. Realizou paracentese que revelou
com um Síndrome Antifosfolipídico, mostrando po-
ninhos celulares corroborando a hipótese diagnós-
sitividade mantida para o anticorpo anticardiolipina
tica de uma neoplasia. O estudo anatomopatológi-
na 2ªdeterminação, feita 12 semanas após a ante-
co resultante da biópsia dirigida da lesão ovárica
rior.
confirmou o diagnóstico de um carcinoma seroso
de alto grau do ovário de padrão invasivo. O caso Para estudo da hematúria foi pedida a citologia
foi discutido em Reunião Multidisciplinar tendo-se urinária que revelou células uroteliais atípicas. Rea-
decidido avançar para laparotomia exploradora. lizou uma ressonância magnética abdominal que
Na cirurgia foi encontrado um tumor irressecável levantou a suspeita de um processo neoplásico infil-
com múltiplos focos de carcinomatose peritoneal. trativo do rim. O caso do doente foi levado a discus-
A doente iniciou quimioterapia com carboplatina e são em Reunião Multidisciplinar tendo-se decidido
paclitaxel em regime semanal e tem estado estável, realizar uma biópsia do rim direito. O estudo anato-
com diminuição significativa dos marcadores tumo- mopatológico resultante dessa biópsia confirmou o
rais. diagnóstico de um carcinoma de células renais.
Este caso clínico é um paradigma da importância Este caso reforça o conceito de que as manifesta-
da multidisciplinaridade na gestão do doente com ções tromboembólicas em doentes oncológicos
carcinoma do ovário. podem corresponder a um síndrome antifosfolipídi-
co secundário, sendo resultado de um mecanismo
CO n.º 0104 
de autoimunidade paraneoplásica.
Autoimunidade paraneoplásica: relato de um caso
Margarida Carrolo(1);Inna Kozyar(1);Luísa Fraga CO n.º 0146 
Fontes(1);José Correia Neves(1) Uma apresentação incomum de neoplasia pancreá-
(1) Hospital Cuf Descobertas tica
José da Cunha Marques(1);Telma Moreno(1);Joa-
Tema:Doenças oncológicas
quim Monteiro(1);João Pedro Araújo(2);Manuela
Dias(1);Jorge Almeida(1)
Ao longo das últimas décadas, tem sido sugerido (1) Centro Hospitalar de S. João, EPE (2) Centro
que mecanismos de autoimunidade estão envolvi- Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospital de Santa
dos no surgimento de síndromes paraneoplásicos Maria
em doentes oncológicos. Este conceito tem sido
fortalecido com o recente aumento de casos clíni- Tema:Doenças oncológicas
cos que associam a presença de anticorpos anti-
fosfolipídicos a tumores malignos e que sugerem A neoplasia pancreática acarreta um prognóstico
que estes anticorpos podem ser um factor decisivo reservado, sobretudo quando se apresenta com me-
para o desenrolar de fenómenos tromboembólicos tastização à distância (sobrevida aos 5 anos inferior
neoplásicos. a 3%). A clínica de apresentação desta neoplasia
varia de acordo com a localização do tumor, embora
Apresenta-se o caso de um doente do sexo mascu- possa ter apresentações atípicas.
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 11
Mulher, 72 anos. Antecedentes pessoais de hiper- (1) Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca
tensão arterial (HTA) essencial, dislipidemia e obesi-
dade. Tabagismo no passado (110 UMA). Tema:Doenças cérebro-vasculares e neurológicas

Recorre ao Serviço de Urgência (SU) por diminuição O Síndrome de Eagle é uma patologia muito rara,
da força muscular proximal dos membros inferiores caracterizada pelo alongamento da apófise estiloide
com mais de 2 meses de evolução. Referência a as- ou calcificação do ligamento estilo-hióide provocan-
tenia, anorexia, hipersudorese, perda ponderal (12kg do sintomatologia relacionada com a compressão
em 6 meses), náuseas, artralgias de ritmo inflama- ou irritação dos pares cranianos próximos.
tório ao nível da  cintura escapular, pés, joelhos e
anca.
Apresenta-se o caso de um homem com 93 anos,
Ao exame objetivo: anictérica, nodularidades sub- com história médica conhecida de patologia pulmo-
cutâneas dispersas na região tóraco-abdominal, nar por exposição laboral em minas de volfrâmio e
fraqueza proximal dos membros inferiores com re- tabagismo, neoplasia prostática submetida a pros-
flexos miotáticos difíceis de despertar. tatectomia parcial em 1996 e um episódio único de
surto psicótico aos 89 anos. Recorreu ao serviço de
Analiticamente: anemia normocítica/normocrómica, urgência por dor submandibular com irradiação ao
VS 62 mm/1ªh, proteína C reativa 215.2 mg/L, LDH pavilhão auricular direito com 4 dias de evolução,
2103 U/L, CK 1820 U/L, aldolase 34.3 U/L, mioglo- desencadeada com abertura da mandíbula e deglu-
bina 329.7 ng/mL, anticorpos antinucleares 1/100 tição, e assimetria da face. Referia também disfagia
(padrão centríolo). com 3 anos de evolução, agora agravada. Apresen-
tava disartria ligeira e parésia facial periférica direi-
A tomografia computadorizada (TC) tóraco-abdo- ta sem encerramento ocular completo. Palpou-se
mino-pélvica revelou neoplasia pancreática do cor- massa de consistência pétrea submandibular direita
po e cauda com metastização hepática, pulmonar, com cerca de 5 cm de diâmetro.
ganglionar (cervical/mediastínica/hilar/
retroperitoneal),  e do tecido celular subcutâ- A tomografia cervical mostrou hipertrofia de as-
neo da parede torácica e abdominal. pecto displásico da vertente direita do osso hióide,
que se prolonga superiormente até ao plano da
Dada a suspeita de miopatia inflamatória foi solici- mastóide. Mostrou também osteófito de C5-C6 com
tado painel de miopatias inflamatórias que foi posi- compressão esofágica. Foi admitida parésia facial
tivo para anticorpos anti-signal recognition particle periférica e nevralgia glossofaríngea em contex-
(SRP). Atendendo à clínica, citólise muscular e estu- to de Síndrome de Eagle. A disfagia atribuiu-se à
do imunológico positivo foi assumido o diagnóstico compressão esofágica, com agravamento recente
de presunção de miosite necrotizante paraneoplási- causado pelo quadro neurológico de novo. Iniciou
ca. tratamento sintomático com carbamazepina 100mg
bid e corticoterapia com prednisolona 1mg/Kg/dia,
Procedeu-se à biópsia aspirativa das lesões nodula-
com melhoria da dor submandibular. Manteve para-
res que revelaram tratar-se de metástases subcutâ-
lisia facial periférica direita grave com incapacidade
neas de adenocarcinoma pancreático.
para encerrar o olho e dificuldade na mobilização
A doente foi apresentada em Reunião de Grupo dos alimentos do lado direito da boca.
Oncológico onde foi decidido tratamento paliati-
O envolvimento de vários pares cranianos deve sus-
vo atendendo ao mau prognóstico do quadro. Por
citar a suspeita diagnóstica para Síndrome de Eagle.
esse motivo, não se prosseguiu no estudo com
Apesar de raro, pode ter complicações neurológicas
ressonância magnética (RM) muscular e biópsia
mas também vasculares. Os exames de imagem
muscular.
são indispensáveis para avaliar estas complicações
Apresenta-se assim um caso em que para além dos e para estabelecer o diagnóstico.
sintomas constitucionais típicos, não se encontra-
CO n.º 0226 
vam presentes outros achados clínicos mais típicos
1 milhão de plaquetas – sinal de alarme para endo-
da neoplasia pancreática como a dor abdominal,
cardite infecciosa
icterícia e colúria, entre outros.
Maria Margarida Rosado(1);Tiago Vasconce-
CO n.º 0211  los(1);Nuno Bernardino Vieira(1);Luísa Arez(1)
Parésia facial, disfagia e dor: não esquecer o Sín- (1) Hospital do Barlavento Algarvio
drome de Eagle
Tema:Doenças infecciosas e parasitárias
Maria Inês Xavier Ferreira(1);Fernanda Paixão Duar-
te(1)
Introdução: A endocardite infeciosa (EI) é uma enti-
12
COMUNICAÇÕES ORAIS
dade com manifestações clínicas multissistémicas. Introdução:
As principais causas de trombocitose são a trom-
bocitose reativa, causada mais frequentemente por Infeções oportunistas do SNC podem ser a 1ª ma-
infecção/inflamação aguda ou trombocitose clonal, nifestação clínica de infeção por virus da imunode-
secundária a processo mieloprolifrativo crónico. ficiencia humana (VIH)/SIDA, surgindo em 7% dos
doentes. Os autores relatam 4 casos internados du-
Caso clínico:  Doente de 62 anos, recorreu ao Serviço rante a pandemia COVID-19. 
de Urgência por febre e tumefação peritrocantérica
direita com drenagem de conteúdo purulento com Caso Clínico: 
1 semana de evolução. Analiticamente com anemia
1) Mulher, 60 anos com infeção VIH inaugural (CD4
microcítica hipocrómica, trombocitose de novo e
15cel/uL, CV 4,8x106copias/mL).
elevação da Proteína C Reativa (PCR). Imagiologi-
camente identificou-se abcesso retroperitoneal com Por quadro confusional de novo, realizou TC que re-
fistulização à pele e em contiguidade com coleção vela lesão nodular subcortical, temporal captante
peri-trocantérica com extensão pelo músculo ilíaco com edema vasogénico. 
até ao psoas. 
RMN: lesão com restrição à difusão, intensificação
Foi iniciada antibioterapia (AB) empírica (Piperacili- de sinal após gadolínio, efeito de massa sugestivo
na-Tazobactam), realizada drenagem percutânea (de de linfoma. 
líquido purulento), solicitado estudo microbiológica
e colocado dreno. LCR: EBV positivo. 

Durante o internamento verificou-se normalização Orientada para biopsia cerebral.


da PCR, com manutenção de trombocitose grave
(1 000 000/uL) e isolamento de Streptococcus viri- 2) Homem, 56 anos, infeção VIH inaugural (CD4
dans sensível a Ceftriaxone na cultura do pús. AB foi 15cel/uL, CV 2,5x106copias/mL), internado por lesão
descalada, colhidas hemoculturas (HCs) e realizado ocupante de espaço (LOE) manifesta por hemipare-
Ecocardiograma transtorácico (EcoTT). HCs colhi- sia, assimetria facial, disartria e disfagia.
das sob AB negativas. O EcoTT foi inconclusivo para
TC: múltiplas áreas hipodensas subcorticais tempo-
presença de vegetação, sendo realizado Ecocardio-
ro-parietais, sem realce pós contraste. 
grama transesofágico que mostrou vegetação valvu-
lar aórtica, com confirmação de EI de válvula nativa. PL: isolamento de virus JC
Após 6 semanas de AB verificou-se resolução da RMN: lesões hiperintensas em T2 com focos ponti-
trombocitose, admitindo-se o diagnóstico de trom- lhados (milky way sign) e envolvimento de fibras U
bocitose reativa. sub-corticais sugestivo de Leucoencefalopatia mul-
tifocal progressiva (PML). 
Discussão: A trombocitose não é habitualmente re-
conhecida como indicador de infeção, contudo foi 3) Homem, 32 anos, infeção VIH em doente incum-
demonstrado que infeção oculta pode apresentar-se pridor (CD4 4cel/uL, CV 0,2x106copias/mL), interna-
com trombocitose reativa na ausência de outros si- do por alteração do estado de consciência. 
nais de infeção, como febre ou leucocitose.
TC: múltiplas lesões occipitais e frontais, com
A trombocitose grave de novo e a sua persistência captação periférica de contraste e efeito de massa. 
num doente sob AB e com isolamento de um agente
típico de EI no aparente foco primário, fizeram sus- PL não realizada risco de herniação das amígdalas
peitar de EI oculta, levando ao seu diagnóstico e te- cerebrais.
rapêutica eficaz.
Imune para a toxoplasmose.
CO n.º 0256 
O desafio das Lesões Ocupantes de Espaço no RMN: lesões hipointensas em T1, heterogénias em
doente VIH: série de casos durante a pandemia CO- T2 com áreas de restrição à difusão periférica. 
VID-19
Iniciou tratamento da toxoplasmose com boa res-
Leonor Silva(1);Renata Monteiro(1);Andreia Frei-
posta clínica e imagiológica.
tas(1);Pedro Magalhães(1);Carlos Azevedo(1);Mar-
garida Mota(1);Filipa Borges Santos(1) 4) Homem, 84 anos, infeção VIH em doente incum-
(1) Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia / Espinho pridor (CD4 74cel/uL; CV 1930copias/mL), internado
por LOE com clínica de disartia, assimetria facial e
Tema:Doenças infecciosas e parasitárias
hemiparesia. 

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 13


TC: lesão hipodensa sub-cortical frontal.  diva da hemorragia, e da injeção de cianoacrilato nas
varizes gástricas por embolização sistémica. Dada a
LCR: EBV, VDRL e TPHA positivo, vírus JC negativo.  irressecabilidade da lesão e esplenectomia tecnica-
mente impossível, foi submetido a embolização da
RMN: área de limites bem definidos, envolvimento de
artéria esplénica  com “plug” vascular, mantendo-se
fibras U subcortical, hipossinal em T1, hipersinal em
sem recorrência de hemorragia dois meses após o
T2 e milky way sign. Após gadolineo, realce paquime-
procedimento.
níngeo com áreas nodulares na dura-mater. 
Discussão
Submetido a tratamento da neurossífilis com discre-
ta melhoria dos défices, tendo iniciado reabilitação Dada a associação de massa de tecido fibro-escleró-
com diagnóstico presumido de PML. tico complicado com trombose da veia esplénica e
aneurisma da aorta torácica, foi assumido o diag-
Conclusão:
nóstico de FRP. O tratamento da FRP baseia-se em
Dada elevada morbimortalidade das LOE, o adequa- corticoterapia, podendo ser associados outros imu-
do diagnóstico e tratamento tem impacto prognós- nossupressores e tamoxifeno e, nas situações de
tico. HTP grave com hemorragia digestiva recorrente, es-
plenectomia. A embolização da artéria esplénica  é
CO n.º 0277  realizada maioritariamente em contexto “lifesaving”,
Complicação atrás de complicação: Caso raro de por trauma esplénico ou previamente a uma esple-
trombose da veia esplénica nectomia em doentes com esplenomegalia.
Catarina Ribeiro Carvalho(1);Joana Rua(1);Elisa
Macedo Brás(1);Joana Vaz Cunha(1);Nuno Silva(1);- Neste caso, por falência da terapêutica medica e
Sandra Morais(1) endoscópica, e impossibilidade técnica de esple-
(1) Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Dou- nectomia, foi realizada com sucesso embolização
ro, EPE / Hospital de Vila Real da artéria esplénica.

Tema:Doenças gastrenterológicas e doenças hepá- CO n.º 0298 


ticas Dor Abdominal Como Manifestação Inicial De Uma
Forma Rara De Hepatite
Inês Bargiela(1);Maria João Gomes(1);Ana Filipa
Introdução
Gomes(1);Isabel Bogalho Martins(1);Paulo Ra-
mos(1);Ana Sofia Ventura(1);Teresa Branco(1)
A trombose da veia esplénica é uma causa de hiper- (1) Hospital CUF Cascais
tensão portal (HTP) extra-hepática que, apesar de
mais frequentemente associada a pancreatite ou Tema:Doenças infecciosas e parasitárias
neoplasia, pode raramente desenvolver-se em con-
texto de fibrose retroperitoneal (FRP). Um sintoma Introdução
de apresentação comum é a hemorragia digestiva,
tipicamente por rotura de varizes gástricas.
A hepatite enfisematosa (HE) é uma forma rara de
Caso clínico infeção rapidamente progressiva do parênquima
hepático, que consiste na sua substituição por gás,
Apresenta-se o caso de um homem de 62 anos, com sendo mais comum em doentes diabéticos, dado
episódios recorrentes de hemorragia digestiva por que a hiperglicémia facilita a fermentação. Verifi-
rotura de varizes gástricas. Durante o estudo etioló- cam-se como etiologias possíveis de HE abcessos
gico, objetivada lesão sólida do pâncreas com obs- hepáticos, iatrogenias, infecções bacterianas. A
trução da veia esplénica a condicionar HTP. Associa- apresentação clínica caracteriza-se por dor abdo-
damente, aneurisma da aorta torácica descendente minal, febre e posteriormente alteração do estado
com trombose circunferencial. Dadas as caraterís- de consciência. A tomografia computorizada  (TC)
ticas fibro-escleróticas da lesão pancreática, sem é o exame complementar de eleição para o diag-
atipia citológica em biópsia, a manutenção das suas nóstico. O tratamento inclui antibioterapia de largo
dimensões durante 5 anos e a associação a aneu- espectro e controlo de foco. Esta é uma entidade de
risma da aorta torácica, após exclusão de etiologias mau prognóstico, dado que os casos reportados na
secundárias foi presumida FRP idiopática. Iniciou literatura evoluem frequentemente para um desfe-
terapêutica com corticosteroide, metotrexato e ta- cho fatal.
moxifeno para a FRP, e beta-bloqueador e octreótido
mensal para a HTP. Caso Clínico

Verificada falência da terapêutica médica, com reci- Homem de 73 anos, diabético tipo 2 insulino-trata-

14
COMUNICAÇÕES ORAIS
do, com queixas com 5 horas de evolução de dor auricular no passado já submetido a ablação, recorre
abdominal difusa, sem factores de alívio ou agrava- à urgência por dispneia e tosse seca com 6 horas de
mento, sem alterações do trânsito intestinal. Objec- evolução. Ao exame físico encontrava-se polipneico,
tivamente febril, abdómen difusamente doloroso, com elevação e encurtamento do tendão do bíceps
sem massas ou organomegálias, com necessidade direito – sinal de Popeye. Na gasimetria com hipoxe-
de terapêutica analgésica opióide em dose alta. mia e analiticamente com PCR 1.22 mg/dL, DDíme-
Laboratorialmente: hiperglicémia, citocolestase, hi- ros de 3068 ng/mL, NTpro-BNP 2300 e eletroforese
perbilirrubinémia, e hiperamilasémia franca. TC ab- de proteínas sem alterações. Na TC tórax destacava-
domino-pélvica: pâncreas lipomatoso, vesícula biliar -se a presença de opacidades parenquimatosas pul-
distendida com espessamento parietal, sem litíase monares em vidro despolido, derrame pleural direito
ou alterações hepáticas. Ficou internado assumin- e fina lâmina de derrame pericárdico, que motivou a
do-se pancreatite aguda alitiásia Ranson 3. Por rápi- realização de toracocentese diagnóstica. O líquido
do agravamento clínico e laboratorial foi transferido pleural foi compatível com transudado e o exame
para unidade de cuidados intensivos. Repetiu TC citoquímico não tinha alterações. Realizou ecocar-
que evidenciou evolução para HE e verificou-se bac- diograma transtorácico que mostrou hipertrofia do
teriémia por Escherichia coli. Apesar das medidas ventrículo esquerdo, função sistólica preservada e
instituídas, evoluiu para disfunção multiorgânica, imagens do miocárdio sugestivas de infiltração ami-
verificando-se o óbito cerca de 30 horas após a ad- lóide. Realizou ressonância magnética cardíaca que
missão hospitalar. confirmou a suspeita de miocardiopatia ATTR. Fez
cintigrafia que revelou captação grau 3 e confirmou
Discussão o diagnóstico. O estudo genético não revelou altera-
ções e foi feito o diagnóstico de ATTR wild-type
As infecções enfisematosas abdominais apresen-
tam sempre elevada morbi-mortalidade. Discussão: O diagnóstico de miocardiopatia por
ATTR é de extrema importância em termos prognós-
Relativamente à HE, a clínica é inicialmente subtil,
ticos pois estes doentes têm uma sobrevida média
verificando-se rápida deterioração, o que representa
curta após os primeiros sintomas, mas o transplante
um desafio diagnóstico para o médico. A HE é, as-
cardíaco pode ser equacionado se a doença não se
sim, uma identidade rara, de difícil gestão, evoluindo
encontrar disseminada por outros órgãos e sistemas.
frequentemente para o óbito nos primeiros dias
Caso contrário apenas se pode recorrer à terapêutica
após a admissão hospitalar.
médica optimizada para a insuficiência cardíaca.
CO n.º 0300 
CO n.º 0341 
Miocardiopatia amilóide associada a transtirretina:
Ataxia e alcoolismo, será sempre Wernicke?
uma apresentação rara ao exame físico
Sofia Santos Pereira(1);Hélia Mateus(1)
Inês Figueiredo(1);Margarida Carrolo(1);Francisco
(1) Centro Hospitalar Tondela-Viseu, EPE / Hospital
Guimarães(1);Cristina Duarte(1)
de São Teotónio, EPE
(1) Hospital Cuf Descobertas
Tema:Doenças raras
Tema:Doenças cardiovasculares

Ataxia é um subtipo de alteração da marcha que


Introdução: A amiloidose cardíaca é causada pela
se carateriza, entre outre outros, pela base alarga-
deposição anormal de proteína amilóide no espaço
da. São várias as situações clínicas subjacentes a
extracelular do miocárdico e mais de 95% encon-
ela, nomeadamente causas vasculares, neoplasias,
tram-se no grupo da amiloidose por transtirretina
infecciosas/inflamatórias e metabólicas. 
(ATTR) e amiloidose de cadeias leves. A ATTR surge
em 13% dos doentes com insuficiência cardíaca
(IC) com fração de ejeção preservada sem etiologia A neuroborreliose de Lyme (NBL) é um subtipo da
conhecida, sendo importante incluí-la na marcha doença de Lyme (DL), rara e subdiagnosticada. Ainda
diagnóstica de uma IC de novo. A ATTR divide-se que a presença de Borrelia burgdorferi no líquido ce-
em wild-type, com mecanismo de deposição desco- falorraquidiano (LCR) faça diagnóstico de NBL, este
nhecido, e hereditária, por mutação genética, sendo está longe de ser linear, devendo ser baseado numa
a mutação Val30Met endémica em Portugal. A pre- combinação de história clínica, risco de exposição,
sença do sinal de Popeye ao exame físico é muito exame objetivo e serologia. O prognóstico depende,
raro mas sugestivo deste diagnóstico. entre outros, do reconhecimento precoce.

Relatamos o caso de um doente do sexo masculino


Caso clínico: Homem de 68 anos, com história de de 68 anos, residente em ambiente rural, com antece-
hipertensão arterial, hipertensão pulmonar ligeira, dentes de diabetes mellitus tipo 2 e hábitos etílicos.
síndrome de apneia obstrutiva do sono e fibrilhação Referia quadro de febre, astenia, diplopia e desequilí-
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 15
brio com 2 dias de evolução.  A tomografia computo- infectivity, reinfection and reactivation of SARS-
rizada cranioncefálica  não tinha alterações agudas CoV-2. We believe who has been considered cured
e os biomarcadores inflamatórios eram  negativos. in the last three months should undertake immuno-
Foi transferido para o nosso hospital apresentado ao suppression in case of transplant, cancer or autoim-
exame objetivo diplopia, dismetria na prova dedo-na- mune treatment without additional testing. In these
riz, disartria, marcha atáxica com base de sustenta- cases, benefits outweigh the non-proved risk of viral
ção alargada e prova de Romberg com queda.  reactivation. Only exception referrers to patients
taking immunosuppressive medication before covid
Colocou-se a hipótese de Encefalopatia de Werni- episode who can have persistent infection. Albeit
cke, iniciou  suplementação com tiamina e foi pedi- there are some fears which are acceptable taking
da RMN-CE que mostrou padrão inflamatório a nível in account the lack of evidence, we base our opin-
do mesencéfalo, tálamo, braço posterior da cápsula ion in some significant studies. Concretely, we are
interna e coroa radiata refutando, assim, a hipótese taking in account works which support the notion
inicial.  Realizada punção lombar  com ausência de that early reinfection does not occur and patients
pleocitose,  proteinorráquia,  glicose normal e  títu- who test positive again for Sars-CoV-2 are not infec-
lo positivo IgM para Borrelia burgoferi, também no tious. Besides, there are recent papers that reports
sangue.  Manteve  Ceftriaxone 2g,   durante 21 dias, the absence of viral reactivation after several cases
com melhoria clínica perputando, porém, défices no of lung transplantation in covid patients. Although,
discurso e marcha.  O western blot foi confirmatória there have been sporadic and inconsistent reports
para Borrelia.  Teve alta orientado para consulta de of reactivation after immunosuppression, particular-
Medicina Interna e Neurologia. ly with lymphocyte and antibody-depleting therapy. 
O fato de a DL poder mimetizar outras doenças,  a Altogether, we want with this presentation launch
natureza inespecífica das suas manifestações  par- a debate about covid reactivation and immunosup-
ticularmente as da LNB, representa um desafio diag- pression. For this, we review and interpret the more
nóstico. Este caso ilustra-nos essa  complexidade relevant and recent literature. Nowadays, this is a
diagnóstica, descreve uma forma invulgar de apre- debating issue among scientific community and we
sentação com atingimento do SNC na fase precoce wish to bring it to this congress. 
de doença, uma evolução incomum com défices per-
manentes e  relembra-nos, ainda, para a riqueza de CO n.º 0444 
diagnósticos diferenciais que a semiologia neuroló- Aspergilose pulmonar e pneumocistose - dificulda-
gica oferece. de e iatrogenia terapêutica
Filipa Bacalhau Lima(1);Luis Tavares(1);Paula Araú-
CO n.º 0435  jo(2);Manuela Henriques(1);Humberto Costa(1)
Concern of SARS-CoV-2 reactivation - A critical (1) Hospital do Divino Espírito Santo, Ponta Delgada
appraisal of a case report (2) Unidade Local de Saúde do Norte Alentejano -
João Pedro Lázaro Mendes(1);Cristina Mendes Dos Hospital Santa Luzia de Elvas
Santos(2);Mário Rui Salvador(2);Carla Lima(1);Joa-
na Cardoso(2);Paula Manuel(1);Isabela Almeida(2) Tema:Doenças infecciosas e parasitárias
(1) Centro Hospitalar Tondela-Viseu, EPE / Hospital
de São Teotónio, EPE (2) Agrupamento de Centros A pneumocistose e a aspergilose são infeções opor-
de Saúde do Dão-Lafões tunistas, cuja apresentação em doentes negativos
para a infeção pelo Vírus da Imunodeficiência Hu-
Tema:Outro
mana (VIH) é habitualmente mais grave e abrupta,
pelo que a suspeição clínica é extremamente impor-
A 40-years-old woman was admitted to hospital with tante, para o início precoce do tratamento. A Infeção
fever and cough during the pandemic of COVID-19. por Clostridium difficile (C. difficile) é a infeção ad-
Past medical was notable for advanced chronic quirida no hospital mais frequente. Isto, aliado à ne-
kidney disease. On admission, nucleic acid testing cessidade prolongada de antibioterapia para a pneu-
of a nasopharyngeal swab was positive for SARS- mocistose, torna a sua co-infeção difícil de gerir.
CoV-2. After 11 days she was considered cure
with two negative tests in a row. Eight weeks later,
Sexo feminino, 58 anos, com leucemia de plasmó-
she was going to receive a kidney transplant from
citos, submetida no  mês anterior a autotransplante
a deceased donor, but she was tested again for
de medula óssea. Sem profilaxia para infeção por
SARS-CoV-2 and the result came out positive. After
Pneumocystis  jirovecii  (Pj)  , por apresentar  alergia
that, surgery was cancelled. In our opinion, this test
grave  ao Cotrimoxazol. Admitida no SU por disp-
should not have been performed. 
neia,  com alguns dias de evolução. Encontrava-se 
hemodinamicamente  estável, mas polipneica, com
Through this case we overview the knowledge about
16
COMUNICAÇÕES ORAIS
tiragem supra-clavicular, apresentado acidemia mis- 80% de neutrófilos e PCR 248 mg/L. Ainda no SU, TC
ta (pH 7,19, pCO2 51,6, pO2 66,5, HCO3 19,7, SatO2 abdomino-pélvica e Ecocardiograma transtorácico
84,5%), pancitopenia, ligeira elevação da LDH 271U/L foram realizados para exclusão de icterícia obstru-
e PCR 29,6mg/dL. Na radiografia do tórax com infil- tiva e de hemólise mecânica de origem protésica,
trado intersticial bilateral. Por agravamento clinico tendo ambas revelado-se negativas. Posteriormen-
iniciou ventilação mecânica invasiva. Realizado la- te foram isoladas duas hemoculturas com Yersinia
vado  broncoalveolar  com  deteção de  Pj  por PCR e enterocolítica sensível à Ciprofloxacina que o doente
exame direto e de aspergillus spp. por PCR e teste de cumpriu durante 3 semanas, com rápida melhoria clí-
galactomanana. Iniciou terapêutica com Clindamici- nica e laboratorial.
na, primaquina e voriconazol, associado a metilpred-
nisolona. Como intercorrência apresentou quadro de DISCUSSÃO
dejeções fétidas abundantes, com diagnóstico de in-
O primeiro caso de Yersinose complicada de AHAI
feção por C. difficile, pelo que foi medicada com Van-
foi descrito por Knorring et al. em 1972, não haven-
comicina oral. Contudo, manteve agravamento, com
do casos reportados desde então. A Yersinose é um
surgimento de hematoquezias. A  retosigmoidosco-
quadro infecioso causado fundamentalmente por
pia comprovou quadro grave de colite pseudomem-
duas zoonoses bacterianas, Yersinia enterocolítica e
branosa,  pelo que  iniciou  fidaxomicina  associada
Yersinia pseudotuberculosis. Clinicamente, existem
a  metronidazol.  Apesar das medidas instituídas
dois quadros predominantes de apresentação, diar-
a evolução foi desfavorável. 
reia ou dor abdominal mimetizando uma apendicite,
Este caso demonstra a complexidade terapêutica e muito raramente, a infeção pode atingir a corrente
na co-infeção por Aspergillus e Pj, agravada pela ne- sanguínea. Simultaneamente temos uma AHAI, cau-
cessidade de terapêutica alternativa ao  Cotrimoxa- sa adquirida de anemia hemolítica, com inúmeras
zol  e  complicada  pela presença de colite  pseudo- causas descritas até à data. Apesar da evidência na
membranosa.  A profilaxia para pneumocistose com literatura ser escassa, a exclusão de outras etiolo-
fármacos alternativos teria, provavelmente, sido um gias explicativas e a presença concomitante de uma
importante modificador de prognóstico infeção sistémica, permite-nos inferir esta como sen-
do a causa mais provável. Além disso, verificou-se
CO n.º 0471  uma melhoria clínica e laboratorial assim que inicia-
ANEMIA HEMOLÍTICA AUTO-IMUNE SECUNDÁRIA da a terapêutica dirigida à infeção.
A BACTERIÉMIA POR YERSINIA ENTEROCOLITICA
Rui Fernandes(1);Carolina Carvalhinha(1);Carolina CO n.º 0479 
Henriques(1);Débora sá(1);Francisco Barreto(1);Ma- Síndrome do seio cavernoso em doente com me-
ria Inês Correia(1);Rafael Freitas(1) ningioma intracavernoso e hemorragia intracere-
(1) Hospital Dr. Nélio Mendonça bral
Maria Margarida Rosado(1);Vera Lúcia Ferreira
Tema:Doenças hematológicas Luís(1);Nuno Bernardino Vieira(1);Luísa Arez(1)
(1) Hospital do Barlavento Algarvio
RESUMO
Tema:Doenças cérebro-vasculares e neurológicas

A Anemia Hemolítica Auto-Imune (AHAI) é uma


Introdução:  O seio cavernoso é um compartimento
causa pouco frequente de admissão hospitalar, de
meníngeo osteodural localizado de cada lado da
apresentação e etiopatogenia heterógena, que re-
sela turca. Consiste num plexo venoso extradural
quer pronta investigação etiológica. Descrevemos
cujo interior é percorrido, na parede medial, pela
um caso raro de bacteriémia a Yersinia enterocolitica
artéria carótida interna, o seu plexo simpático e o
complicada de AHAI.
nervo abducente (VI) e, na parede lateral, pelo nervo
CASO CLÍNICO oculomotor (III), troclear (IV) e as divisões oftálmica
(V1) e maxilar (V2) do nervo trigémeo.
Homem de 87 anos com antecedentes de implante
percutâneo da válvula aórtica (TAVI), foi admitido no A síndrome do seio cavernoso (SSC) corresponde ao
SU por icterícia indolor e diarreia desde há 2 sema- conjunto de sinais e sintomas resultantes da lesão
nas.  Ao exame objetivo, icterícia total, esplenomega- das estruturas neurovasculares contidas no seio ca-
lia e temperatura timpânica de 38.1ºC. Analiticamen- vernoso. A sua etiologia pode ser vascular, neoplási-
te, Hg 6.2 g/dL e parâmetros imuno-hematológicos ca ou inflamatória/infeciosa.
de AHAI, com Bilirrubina total 7.87 mg/dL, LDH 532
U/L, Coombs directo positivo, Haptoglobina 45mg/ Caso clínico:   Doente do sexo feminino, 92 anos,
dL, anisocitose, esquizócitos e dacriócitos no sangue com antecedentes pessoais de hipertensão arterial,
periférico. Adicionalmente, 32 x 10³ leucócitos com recorreu ao Serviço de Urgência por quadro de

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 17


cefaleia frontoparietal súbita e intensa acompanhada diomyopathy is even rarer.
de vómitos. Ao exame objetivo apresentava elevação
da tensão arterial (190/105 mmHg). Durante a Case description:  A 37-year-old obese male was
anamnese desenvolveu subitamente  paresia facial admitted with 10-day history of daily fever and pain
central esquerda e edema periorbitário direito. in the epigastrium and right hypochondrium. He also
complained of rhinorrhea and odynophagia starting
Foi realizada uma TC-CE que demonstrou um volu-
2 weeks before. Physical examination presented hy-
moso hematoma intra-parenquimatoso na região
pophonetic and tachycardic heart sounds, with no
temporo-opercular direita e gânglios da base, com
pericardial rub, and tenderness on deep palpation of
herniação subfalcial, pequena hemorragia subarac-
the painful areas.  Blood tests showed leukocytosis
noideia e um meningioma do seio cavernoso direito.
12350/µL, neutrophilia 10100/µL, ESR 116 mm, CRP
O edema periorbitário apresentou agravamento pro- 33.6 mg/dL, fibrinogenemia 1017 mg/dL and tropo-
gressivo e a doente desenvolveu oftalmoplegia inter- nin 62 ng/L. Chest X-ray revealed great cardiomegaly
na e externa do olho direito. with blunting of left costophrenic angle. Heart ultra-
sound revealed large pericardial effusion with slight
Discussão: Os meningiomas são uma das causas collapse of the right atrium, coexisting pericardial
mais comuns de lesões envolvendo o seio cavernoso. thickening and bilateral pleural effusion. Pericardio-
São tipicamente de crescimento lento e com origem centesis drained 850mL of serohematic exsudative
na parede lateral deste seio. fluid. Echocardiogram and myocardial perfusion
scintigraphy showed dilated left ventricle with glob-
No caso apresentado, um meningioma do seio ca- al hypokinesia, a 40% ejection fraction, with no evi-
vernoso não diagnosticado tornou-se sintomático dence of necrosis. Thoraco-abdominopelvic CT scan
e causou uma SSC após o desenvolvimento de he- was unremarkable, as well as pericardial fluid and
morragia intracraniana que condicionou aumento da blood tests, except for the antibodies anti-Chlamyd-
pressão intracraniana e efeito de massa. ia pneumoniae IgA and IgG, which were positive. As
the patient had spontaneous remission of his clini-
Neste caso, o edema periorbitário, primeiro sinal de
cal and analytical condition, he was discharged with
SSC, ocorreu devido ao défice de drenagem venosa
diagnosis of polyserositis and perimyocarditis with
pelo seio cavernoso. A oftalmoplegia externa ocor-
dilated cardiomyopathy and pericardial effusion. Af-
reu devido ao envolvimento do III, IV e VI pares e a
ter 4 weeks the serology Chlamydia pneumoniae IgG
midríase fixa devido à lesão das fibras parassimpáti-
and IgA continued positive, consistent with chronic
cas do III par.
infection.
Para além disto, o SSC pode manifestar-se com mio-
Discussion: Although more than half of adults have
se fixa (lesão dos nervos ciliares curtos), síndrome
been exposed to Chlamydia pneumoniae, severe
de Horner (lesão do plexo simpático pericarotídeo)
heart involvement is rare. IgG quantification may
e alterações da sensibilidade da face (lesão dos ner-
have little value for diagnosis since exposure and re-
vos V1 e V2).
infection are common. This case also highlights the
CO n.º 0491  importance of IgA quantification for the diagnosis of
Pericardial effusion & perimyocarditis with dilated chronic infection.
cardiomyopathy: when idiopathic isn’t the answer
CO n.º 0500 
Leila Duarte(1);Ana Craciun(1);Mariana Dias(1);Ana
Amaurose fugaz após “terapia” com Ozono
Melício(1);Cristiana Canelas Mendes(1);Pedro Gas-
Leila Duarte(1);Mariana Dias(1);Ana Melício(1);-
par(1);Inês Parreira(1);Sérgio Tubal Bronze(1);Vale-
Cristiana Canelas Mendes(1);Pedro Gaspar(1);Inês
ria Maione(1);Hélder Diogo Gonçalves(1);Federica
Parreira(1);Hélder Diogo Gonçalves(1);Federica Par-
Parlato(1);Filipe Bessa(1);Sandra Bahia Braz(1);Ca-
lato(1);Sérgio Tubal Bronze(1);Valeria Maione(1);Fili-
tarina Mota(1);João Madeira Lopes(1);António Pais
pe Bessa(1);Sandra Bahia Braz(1);Catarina Mota(1);-
Lacerda(1)
João Madeira Lopes(1);António Pais Lacerda(1)
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi-
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi-
tal de Santa Maria
tal de Santa Maria
Tema:Doenças cardiovasculares
Tema:Doenças cérebro-vasculares e neurológicas

Introduction: Viral agents are thought to be the


Introdução: A terapia alternativa com ozono dirigida
cause of most idiopathic perimyocarditis and peri-
à dorsolombalgia, pretende ter efeito sob os discos
cardial effusion cases. The occurrence of perimyo-
intervertebrais de forma a diminuir a compressão
carditis due to Chlamydia pneumoniae has been
radicular. Não se conhecem todos os possíveis efei-
rarely described and the development of dilated car-

18
COMUNICAÇÕES ORAIS
tos adversos desta abordagem, praticada fora de esforço, com limitação da atividade, acompanhada
ambiente hospitalar. de mialgias e parestesias de predomínio proximal e
nos membros inferiores, evoluindo para perda da ca-
Caso clínico: Mulher de 78 anos, com antecedentes pacidade de marcha. Apresentava anorexia e perda
de hipertensão arterial, vertigem paroxística benig- ponderal (14kg) nos últimos dois meses, incapaci-
na e osteoartrose recorre ao Serviço de Urgência dade de deglutir e vómitos pós-prandiais. Na admis-
uma hora após infiltração paravertebral de 5 cc de são encontrava-se consciente, colaborante, orienta-
ozono nos espaços paravertebrais L4-L5 e L5-S1 da, desidratada, taquicárdica, hipertensa, apirética,
(total de 20 cc), com dor cervical, rigidez da nuca, com hepatomegalia e dor à pressão muscular,
náuseas e vómitos. Constatado início de agitação mobilizava os membros superiores distalmente,
psicomotora e afasia seguido de amaurose bilateral, não vencendo a gravidade proximal, sem movimen-
sem reflexo direto ou consensual assim como inca- tos dos membros inferiores além de flexão débil
pacidade para nomear, com parafasias e discurso distal, reflexos osteoarticulares diminuídos. Nega-
circular. Laboratorialmente iões dentro da normali- va consumo de álcool ou substâncias de abuso.
dade, leucócitos 7070/µL, CK 74 U/L, PCR 0,23 mg/ Do estudo destaca-se hemograma e função renal
dL. TCCE e punção lombar sem alterações. EEG normais, TGO 640U/L, TGP 149U/L, GGT19U/L, FA
com atividade de base lenta; atividade lenta focal, 65U/L, DHL 1237U/L, Mioglobina 2273ng/mL, aldo-
frontal, fronto-temporal, temporal posterior, parie- lase 101U/L; serologias de HIV, HCV, HBV, CMV, EBV,
tal, bilateral e assíncrona. Atividade delta rítmica Riketsia, Borrelia, Leptospira negativas; doseamento
contínua ocasional e breve, a 1 Hz, frontal e fronto- de TSH, ACTH e cortisol sérico normais; pesquisa
-temporal bilateral (sugestiva de FRIDAS), sugerindo de amilóide negativa; estudo endoscópico normal;
disfunção encefálica de etiologia não específica em TC toracoabdominopélvico sem lesões suspeitas.
contexto de patologia neurológica aguda. RM CE A electromiografia documentou perfil miopático de
documentou lesões talâmicas posteriores bilaterais predomínio proximal. A biópsia de músculo eviden-
e simétricas, com envolvimento dos pulvinares e ciou extensas vacuolizações citoplasmáticas arre-
extensão subtalâmica e mesencefálica tegmentar dondadas de natureza lipídica. O estudo imunohis-
superior, com hipossinal T1, hipersinal T2/FLAIR, toquímico sugeriu lipidose associada a deficiência
sem restrição na difusão protónica DWI/ADC. Ob- primária de carnitina, neutral lipid storage disease ou
servou-se reversão do quadro de amaurose em 24 multiple Acyl-CoA dehydronegnase deficency. Estudo
horas, com recuperação do estado de consciência em curso.
após 96 horas.
Discussão: A avaliação da miopatia é complexa, exi-
Discussão: Um procedimento alternativo minima- gindo uma metodologia investigacional precisa co-
mente invasivo pode apresentar problemas de meçando pela distinção entre miopatia e neuropatia,
segurança. Este caso clínico reporta alterações e determinação da etiologia: tóxica, inflamatória,
neurológicas após a infiltração de ozono, tendo sido autoimune, metabólica ou genética. A biópsia mus-
excluídas outras etiologias para as alterações docu- cular e estudos mais diferenciados são necessários
mentadas em EEG e em RMCE. A utilização do ozo- nos doentes com miopatia associada a distúrbios
no como terapêutica médica deverá ter contornos genéticos do metabolismo. Neste grupo a fadiga
bem definidos e regulamentados. muscular é o denominador comum.

CO n.º 0509  CO n.º 0587 


Fraqueza muscular - metabolismo dos lipídios Partidas do coração: AVC em contexto de Síndrome
Maria Inês Matos(1);Ana Maria Meireles(2);Maria de Takotsubo
Teresa Brito(1);Isabel Camões(1);Jorge Almeida(1) Beatriz r. Sousa(1);Pedro Pires(1);Isabel Baptista(1)
(1) Centro Hospitalar de S. João, EPE (2) IPO Porto (1) Centro Hospitalar Lisboa Central - Hospital de
São José
Tema:Doenças raras
Tema:Doenças cardiovasculares
Introduçãoo: As miopatias lipídicas sãoo doenças
genéticas de acumulação de lipídios neutros no Introdução: O Síndrome de Takotsubo (STT) é uma
músculo e outros órgãos, manifestando-se por mial- miocardiopatia aguda, caracterizada por disfunção
gias, fraqueza muscular, cardiomiopatia, hepatome- sistólica transitória do ventrículo esquerdo (VE),
galia, lesão cerebral e ocular, vómitos, hipoglicemia mimetizando um síndrome coronário agudo, sem
e acidose. lesões evidentes na coronariografia, com evolução
favorável na maioria dos doentes. Contudo, estudos
recentes reportaram um aumento na incidência de
Caso: Mulher de 55 anos com inicio de sintomas 5-6
eventos tromboembólicos, apresentando-se como
meses antes, referindo progressivo cansaço com o
acidente vascular cerebral (AVC) em 25% dos doen-
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 19
tes. siva em Unidade de Cuidados Intensivos, foi trans-
ferido para Serviço de Medicina com neuromiopatia
Caso clínico: Mulher de 76 anos, antecedentes de grave do doente crítico. Enquanto aguardava vaga
hipertensão arterial com internamento prévio por em unidade de reabilitação, iniciou períodos de gran-
STT - precordialgia e dispneia de instalação aguda. de labilidade emocional e episódios de dor restroes-
Ecocardiograma (eco) transtorácico com hipocine- ternal tipo aperto independente de atividade física,
sia do ápex, ventrículo esquerdo (VE) não dilatado com resolução espontânea rápida e sem elevação
com hipertrofia parietal concêntrica; coronariografia das enzimas de necrose miocárdica ou alterações
sem lesões, com padrão de contractilidade do VE no ECG (estes realizados já sem dor). Foi assumida
sugestiva de STT. 12 horas após alta hospitalar angina instável e agendada coronariografia. Um dia
desenvolveu quadro de hemiparésia do hemicorpo antes da data deste exame teve novo episódio de
esquerdo, com admissão hospitalar 5 horas depois. angor, desta vez com sensação de morte iminente.
Tomografia axial computorizada crânio-encefáli- Realizou novo ECG, agora enquanto com dor, e este
ca (TC-CE) e angio-TC não revelaram alterações evidenciou elevação do segmento ST de V2 a V4. 
agudas ou oclusão de grandes vasos; ressonância Assumido enfarte agudo do miocárdio com SST, foi
magnética-CE demonstrou múltiplas pequenas aceite para coronariografia urgente. Imediatamente
lesões isquémicas recentes no território vascular antes do procedimento, e já sem dor, repetiu o ECG,
correspondente à artéria cerebral média direita; ele- não tendo este os SST previamente documentados.
trocardiograma com elevação do segmento ST da Efetuou ainda assim a coronariografia, que eviden-
parede anterior e inferior; Eco trans-esofágico sem ciou coronárias sem lesões funcionalmente signifi-
hipocinésia do ápex e sem evidência de trombo, não cativas e DA espástica com aumento do calibre após
iniciando hipocoagulação. Observou-se evolução injeção de dinitrato de isossorbido. Assumiu-se as-
favorável sob fisioterapia e terapêutica com ácido sim angina variante, iniciou amlodipina e suspendeu
acetilsalicílico, betabloquente e diurético. ácido acetilsalicílico. Não teve episódios posteriores
de angor.
Discussão: o mecanismo patogénico entre o STT e
os eventos tromboembólicos não se encontra bem DISCUSSÃO: O caso apresentado de angina varian-
estabelecido. Estudos apontam para um intervalo te é atípico pela idade do doente. Postula-se que a
de aproximadamente 1 semana entre o STT e o lesão endotelial induzida pelo SAR-CoV2 possa ter
AVC, sendo que o trombo cardíaco apenas é de- desencadeado a angina variante, estando bem docu-
tectado em 9 dos 19 doentes estudados, factos mentado o papel da lesão endoltelial no vasoespas-
que implicam uma monitorização apertada destes mo coronário.
pacientes. A hipocoagulação é aconselhada em
CO n.º 0596 
doentes com trombo cardíaco ou área extensa de
Crioglobulinémia mista - apresentação infrequente
hipocinesia do VE.
de endocardite de válvula protésica a E. faecalis
CO n.º 0588  Tiago Manuel Neto Gonçalves(1);Margarida l. Nas-
UM CASO DE ANGINA VARIANTE NUM DOENTE cimento(1);Margarida Proença(1);Miguel Abecas-
IDOSO COM INFEÇÃO GRAVE POR SARS-COV-2 sis(1);Natália Marto(1);Alexandra Bayão Horta(1)
João Pedro Araújo(1);Catarina Lopes Silva(1);Marta (1) Hospital da Luz Lisboa
Serejo Portugal(1);Ana Paula Vilas(1)
Tema:Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi-
culites
tal de Santa Maria

Tema:Doenças infecciosas e parasitárias Introdução: A crioglobulinémia mista (CM) é uma


síndrome inflamatória sistémica com vasculite de
Introdução: A angina variante (de Prinzmetal) é uma pequenos e médios vasos por depósito de imuno-
patologia típica da idade jovem e um dos principais complexos contendo crioglobulinas. As manifes-
diagnósticos diferenciais com eventos coronários tações englobam púrpura, acrocianose, neuropatia
ateroscleróticos. A sua associação com infeção por periférica e glomerulonefrite. Associa-se a quadros
SARS-CoV2 é pouco conhecida. inflamatórios crónicos de natureza infecciosa
(como a hepatite C e B) ou doenças do tecido
conjuntivo (como o lúpus eritematoso sistémico).
CASO CLÍNICO: Homem de 72 anos, obeso, com dia-
Descreve-se um caso de endocardite (EI) de válvula
betes mellitus tipo 2, dislipidémia mista e hiperten-
protésica (VP) que se apresentou como vasculite
são arterial, internado por COVID-19 com pneumonia
crioglobulinémica.
organizativa com afeção parenquimatosa de cerca
de 50%. Como complicação, a destacar tromboem-
bolismo pulmonar. Após período de ventilação inva- Caso Clínico: Mulher de 81 anos com estenose aórti-

20
COMUNICAÇÕES ORAIS
ca grave, submetida a implantação valvular biológica músculos, tecido ósseo e vasos.
dois anos antes, foi admitida por lesões purpúricas
nos membros inferiores (MI) com uma semana de Apresenta-se o caso de um homem, 53 anos, ex-fu-
evolução e febre desde a véspera. À observação, ob- mador.  Internado para estudo de quadro de poliar-
jetivava-se sopro sistólico aórtico e púrpura palpável tralgias de ritmo inflamatório dos cotovelos, punhos,
nos MI. Analiticamente, destacava-se elevação da mãos e joelhos com 3 meses de evolução, asso-
velocidade de sedimentação (84mm/h), linfopenia ciado a perda de peso significativa e anorexia. Sem
(4490/mm3) e lesão renal aguda (creatinina 1.5mg/ rash ou febre. Medicado com AINEs e pregabalina
dL). A relevar ainda pesquisa de crioglobulinas po- sem alívio.
sitiva (IgA+, IgM+, IgG+), fator reumatoide positi-
À admissão, a destacar anemia mista (ferropénica e
vo e hipocomplementémia (C3 76mg/dL, C4 5mg/
doença crónica, hb 5.4 g/dl, VGM 72), trombocitose
dL). A imunoeletroforese sérica apresentava banda
ligeira e elevação de PCR, VS e ferritina.
monoclonal IgM e policlonal IgG. O restante estudo
imunológico (anticorpo antinuclear, anti-citoplasma Do estudo etiológico: serologias parvovirus e auto-
neutrofílico, anti-fosfolípidos e anti-péptido citrulina- -imunidade (ANAs, anti-CPP, FR) negativas, AMAs
do cíclico) e infeccioso (vírus da imunodeficiência M2 positivos. Cadeias leves e b2 microglobulina
humana, hepatite B e C) foi negativo. A biópsia de normais. Medulograma sugestivo de quadro infla-
lesão cutânea revelou vasculite leucocitoclástica. O matório/infeccioso. Endoscopia alta com gastrite a
ecocardiograma transesofágico mostrou abcesso H.Pylori, tendo realizado erradicação. Colonoscopia
da raiz da aorta e abertura reduzida das cúspides da sem alterações e videocápsula com telangiectasias
VP. Iniciou antibioterapia (AB) empírica com ceftria- milimétricas do delgado. TC toracobdominopelvica
xone e gentamicina. Após isolamento de Enterococ- sem alterações de relevo. Artrocentese do joelho
cus faecalis em hemoculturas, a AB foi alterada para direito com líquido sinovial hipercelular polimorfo-
ceftriaxone a ampicilina e realizou-se substituição de nuclear.
VP. Cumpriu oito semanas de AB. No follow-up verifi-
cou-se resolução do quadro clínico. Iniciada corticoterapia, mantendo a artrite e anemia
refractária a transfusões e reposição de ferro. Ne-
Discussão: O caso ilustra uma apresentação de EI cessidade de instituição de DMARD.
sob a forma de crioglobulinémia mista tipo II com
afeção cutânea e renal. Classicamente associada à Ao 3º mês de seguimento, aparecimento de lesão
hepatite C, existem raros casos descritos de crioglo- retromandibular esquerda. Realizou TC Pescoço
bulinémia associada a EI. Uma vez que a abordagem que mostrou envolvimento adenopático cervical bi-
da crioglobulinémia envolve tratar a causa subja- lateral e importante lesão jugulodigástrica extrema-
cente, realça-se a pertinência de uma investigação mente infiltrativa, sem clivagem com as estruturas
diagnóstica completa da CM, que inclua exclusão de vizinhas. Repetição de TC de corpo com múltiplas
endocardite. lesões secundárias pulmonares e osteolíticas difu-
sas. Anatomia patológica de lesão retromandibular
CO n.º 0618  compatível com carcinoma epidermoide.
Poliartrite Paraneoplásica – a propósito de um
caso clínico Este caso ressalva a importância da suspeição e
Carolina Morna(1);Jéssica Chaves(1);Carolina Bar- reconhecimento de entidades reumatológicas para-
ros(1);Graça Dias(1);Antonio Chaves(1) neoplásicas, uma vez que estas podem preceder até
(1) Hospital Dr. Nélio Mendonça 2 anos o aparecimento da neoplasia e possibilitam
o diagnóstico e intervenção precoce. De forma clás-
Tema:Doenças autoimunes, reumatológicas e vas- sica, a maioria destas síndromes melhoram com o
culites tratamento da neoplasia.

As síndromes paraneoplásicas afectam cerca de CO n.º 0621 


10% dos doentes aquando do diagnóstico de neo- Carcinoma Neuroendócrino do Duodeno – Um de-
plasia e constituem um vasto conjunto de mani- safio diagnóstico
festações de orgão ou sistemas, não directamente Cláudia Queirós(1);Maria Margarida Rosado(1);-
relacionadas com a neoplasia mas resultantes pri- Joana Roseira(1);Nuno Bernardino Vieira(1);Luísa
mariamente de factores hormonais e exacerbação Arez(1)
de resposta imune. (1) Hospital Portimao

Tema:Doenças oncológicas
Actualmente são reconhecidas uma variedade de
entidades musculoesqueléticas ou vasculares imu-
Introdução:
nomediadas, acometendo articulações, fáscias,

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 21


As neoplasias neuroendócrinas (NNE) compreen- Anteriormente associada a neoplasias malignas, sa-
dem um grupo heterogéneo de doenças neoplásicas be-se hoje que a encefalite límbica é relativamente
que representam 2-3% de todos os tumores endócri- frequente estando descritos casos de hiponatremia
nos gastrointestinais, com incidência crescente. Es- grave por SIADH nesta entidade.
tão localizadas principalmente na primeira ou segun-
da porção do duodeno e são geralmente solitárias e Caso Clínico: Homem de 72 anos, autónomo, com
pequenas. São classificadas com base em três ca- antecedentes de síndrome metabólica. Trazido ao
racterísticas clínico-patológicas: grau, diferenciação SU por quadro confusional agudo, sem sinais neuro-
e estádio. lógicos focais e com TAC cerebral normal. Apresen-
tava hiponatremia (119mmol/L) e estava medicado
Caso Clínico: com indapamida. O estudo da hiponatremia era com-
patível com efeito da tiazida ou SIADH. Teve recupe-
Homem de 51 anos com antecedentes pessoais de ração espontânea dos valores de natrémia em 72h,
etilismo crónico. Recorreu ao serviço de urgência por mantendo quadro confusional e periodos de heteroa-
queixas de dor no quadrante superior direito e vómi- gressividade com instabilidade da marcha. Realizou
tos com uma semana de evolução. Analiticamente RMN para exclusão de mielinose pontina central, que
apresentava leucocitose com neutrofilia e elevação revelou hiperintensidade da amígdala e hipocampos
das transaminases, fosfatase alcalina e amilase. bilateralmente sugestivos de encefalite límbica. Es-
A Ecografia e a TC abdominal foram sugestivas de tudo do LCR sem evidência de infeção ou síntese in-
pancreatite para-duodenal, tendo iniciado tratamen- tratecal de imunoglobulinas oligoclonais. Completou
to dirigido. Verificou-se evolução desfavorável com estudo etiológico com serologias HIV e sífilis negati-
desenvolvimento de padrão de colestase. Efetuada vas. Um extenso painel de anticorpos antineuronais
tentativa de Colangiopancreatografia Retrógrada no soro e LCR foram negativos, bem como o despiste
Endoscópica sem sucesso, tendo o doente sido re- de etiologia paraneoplásica com TAC toraco-abdo-
ferenciado a Centro com Cirurgia Hepatobiliar. Efec- mino-pélvico, ecografia prostática, doseamento de
tuou duodenopancreatectomia tendo-se objetivado marcadores tumorais e PET de corpo inteiro. Reali-
lesão neoplásica avançada com histologia de carci- zou tratamento com bólus de metilprednisolona IV
noma neuroendócrino de grandes células mal dife- em alta dose durante 10 dias (repartido em 2 ciclos)
renciado. com melhoria clínica significativa, mantendo esque-
ma de corticoterapia oral em desmame, com resolu-
Discussão:
ção dos sinais neurológicos e boa evolução.
O diagnóstico de um carcinoma neuroendócrino
Conclusão: A alta prevalência da hiponatremia não
pode ser difícil uma vez que as manifestações clíni-
deve inibir a procura de outras causas para entida-
cas são muito variáveis ??e correlacionadas com a
des neurológicas sobretudo na presença de manifes-
localização do tumor. A imagem é uma ferramenta
tações neuropsiquiátricas.
extremamente útil, mas nem sempre sua interpreta-
ção é fácil, como foi o caso, o que atrasou o diagnós-               Na encefalite límbica está recomendado o início
tico. O tratamento de eleição é cirúrgico, contudo o de tratamento mesmo na ausência de marcadores
grau de diferenciação do tumor, local e tipo histológi- de autoimunidade pois a terapêutica imunosupres-
co pode dificultar o tratamento definitivo. sora iniciada precocemente influência o prognóstico
a longo prazo destes doentes.
CO n.º 0693 
Encefalite límbica e hiponatremia grave – causa ou               A resolução, neste caso, da hiponatremia
coincidência? antes do tratamento da encefalite sugere estarmos
Rita Rego(1);Pedro Nuno Lopes(1);Inês Clara(1);Pau- perante uma curiosa coincidência e não uma relação
lo Paiva(1);João Araújo Correia(1) causal entre estas entidades.
(1) Centro Hospitalar do Porto, EPE / Hospital Geral
de Santo António CO n.º 0702 
Plasmodium malariae: Quando o tempo dificulta o
Tema:Doenças cérebro-vasculares e neurológicas diagnóstico
Francisco Guimarães(1);Inês Ladeira(1);Jorge Atou-
Introdução: A hiponatremia grave é uma causa fre- guia(1)
quente de uma variedade de manifestações neuro- (1) Hospital Cuf Descobertas
lógicas o que pode dificultar o diagnóstico de outras
entidades. A encefalite límbica é caracterizada por Tema:Doenças infecciosas e parasitárias
alterações da memória, comportamento e sintomas
psiquiátricos. Casos a Plasmodium malariae apenas consistem
em 0,9% a 3,1% de todos os diagnósticos de ma-

22
COMUNICAÇÕES ORAIS
lária, com quadros de cronicidade décadas após (1) Centro Hospitalar Barreiro/Montijo, EPE / Hospi-
transmissão, por mecanismo desconhecido. Destes tal Nossa Senhora do Rosário
apenas 3.3% desenvolvem anemia com quadro sin-
tomático devendo por isso merecer especial aten- Tema:Doenças infecciosas e parasitárias
ção.
A endocardite infecciosa permanece ainda uma
Os autores trazem um caso de um doente de 19 doença pouco comum e com mortalidade relativa-
anos, natural de Angola, residente em Inglaterra há mente elevada, cerca de 25%, tendo a forma suba-
3 meses. Negou viagens recentes, alergias ou ante- guda uma evolução indolente e um diagnóstico por
cedentes pessoais, como anemia, talassémia ou dre- vezes difícil de estabelecer. Um dos agentes etioló-
panocitose. gicos mais frequentes, o Streptococcus viridans, é
relativamente avirulento, afetando tipicamente vál-
Apresentava quadro de anorexia, perda ponderal e vulas nativas lesadas.
sudorese noturna com 3 meses de evolução, sem
outros sintomas. Os autores apresentam o caso de um homem de 51
anos saudável com um quadro de cansaço generali-
Viajou para Portugal pela persistência do quadro e o
zado a esforços progressivamente menores e sudo-
seu agravamento com febre alta contínua (39.2ºC),
rese noturna com cerca de 5 meses de evolução. Re-
mialgias, tosse seca com 2 dias de evolução. Do exa-
feria dois meses após início dos sintomas, início de
me objetivo salienta-se hepatoesplenomegália.
febre sobretudo vespertina e perda ponderal de 15
Na avaliação analítica inicial detectou-se uma ane- Kg. Neste contexto, realizou exames de diagnóstico
mia normocítica normocrómica (Hb 10.8 g/dl) Lin- em ambulatório, destacando-se anemia microcítica
focitose absoluta, trombocitopénia (109x10^9), PCR normocrómica, VS 90mm e hipergamaglobulinémia
12 mg/dl. PCR a SARS-COV 2 negativa, função renal com componente monoclonal. Cerca de 2 semanas
normal. antes da vinda ao serviço de urgência (SU), referia
edema dos membros inferiores com limitação da
TC Torácica com esplenomegália. Internado para es- marcha. À observação, a destacar sopro sistólico
tudo do quadro. grau II/VI no foco mitral e hepatomegalia, bem como
lesões petequiais em ambas as pernas. A TC tóraco-
No internamento excluiu-se outras doenças infeccio- -abdominal revelou cardiomegália com derrame peri-
sas, autoimunes e/ou hematológicas. cárdico e espessamento parietal do cólon sigmóide,
com captação de contraste. O ecocardiograma trans-
TC abdominal confirma hepato-esplenomegália mo-
torácico confirmou insuficiência mitral grave com a
derada.
presença de vegetação no folheto posterior e flail e
Fez-se esfregaço sanguíneo que detecta trofozoítos, a colonoscopia não tinha alterações. As hemocultu-
esquizontes e gametócitos de Plasmodium malariae. ras isolaram Streptococcus viridans multissensível.
Iniciou tratamento com  Hidroxicloroquina (800mg Segundo critérios de Duke, foi admitida endocardite
de carga + 400mg durante 5 dias) com resolução do subaguda e iniciado tratamento empírico com cef-
quadro. Restante internamento decorreu sem inter- triaxona e posteriormente switch para penicilina. Por
corrências com nova contagem ao 3º dia a revelar abcesso do folheto posterior e sinais de manuten-
raríssimos eritrócitos parasitados por Plasmodium ção de infeção após 1 semana de antibioterapia, foi
malariae. submetido a substituição valvular, que decorreu sem
intercorrências.
Doente teve alta, foi reobservado em consulta de in-
fecciologia com nova contagem parasitária ao 12º Este caso é demonstrativo em como uma anamnese
dia após alta com esfregaço negativo, ainda alguma rigorosa permite um diagnostico e instituição tera-
anemia e trombocitopénia. pêutica precoces melhorando, assim, o prognósti-
co do doente. De realçar, que a vigilância apertada
Este caso demonstra a importância do pensamento destes doentes é fundamental, para atuação rápida
crítico aquando apresentação de quadros incomuns na falência antibiótica de forma a prevenir complica-
e reforça a teoria deste tipo de malária ter no seu ções graves e até a morte. 
ciclo um período de dormência com hipnozoítos.
CO n.º 0712 
CO n.º 0703  Vidro despolido em tempo de pandemia - um des-
Um cansaço arrastado fecho inesperado
Mónica Fidalgo Silva(1);Joana Ferreira(1);Sara Maria Helena Rocha(1);André Conde(1);Sergio Ma-
Gomes(1);Ana Carolina Andrade(1);Fernanda Mar- dureira(1);Rita Gouveia(1);Ana Neves(1);Luis No-
tins(1);Martinho Fernandes(1) gueira Silva(1);Jorge Almeida(1)

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 23


(1) Centro Hospitalar de S. João, EPE sado(1);Carla Carneiro(1);Clarinda Neves(1);Rosa
Jorge(1)
Tema:Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio- (1) Centro Hospitalar do Baixo Vouga / Hospital In-
nais fante D. Pedro, EPE

Introdução: A doença de Graves é responsável por Tema:Doenças oncológicas


60-80% dos casos de hipertiroidismo. Trata-se de
uma patologia autoimune que se associa à presen- INTRODUÇÃO O tumor estromal gastrointestinal
ça de mutações ativadoras dos recetores da hormo- (GIST) tem origem nas células intersticiais de Ca-
na estimulante da tiroide (TSH). As manifestações jal, localizadas na parede do trato gastrointestinal,
clínicas da tireotoxicose são variadas. Estão descri- responsáveis pela peristalse durante a digestão. A
tos casos de edema pulmonar transitório (flash ede- encefalite autoimune (EA) é rara, está associada a
ma) associado à “tempestade tiroideia” na doença anticorpos (AC) contra proteínas neuronais intrace-
de Graves. lulares ou contra a superfície celular neuronal/pro-
teínas sinápticas e pode cursar com início agudo/
Caso clínico: Doente do sexo feminino, 46 anos, com subagudo de alterações do comportamento, défices
antecedentes ginecológicos de 2 abortamentos es- mnésicos/cognitivos, convulsões, movimentos
pontâneos de causa não esclarecida e sem outros anormais ou coma. Está associada ou não ao can-
antecedentes pessoais relevantes. Foi admitida cro. Apresenta-se 1 caso de potencial EA em con-
na área dedicada a doentes respiratórios durante a texto de GIST disseminado.
pandemia por covid-19 por um quadro com 2 sema-
nas de evolução de tosse produtiva de expetoração CASO CLINICO Homem, 66 anos, com internamento
mucosa com um episódio de tosse hemoptoica e recente por episódio maníaco de doença bipolar e
dispneia de agravamento progressivo. Referia ainda história de convulsões nos últimos 2 meses. Admiti-
palpitações e insónia. À observação apresentava-se do por desorientação, dificuldade em nomear e défi-
polipneica, taquicardica (110 bpm) e sem alterações ces mnésicos súbitos. Objetivada amigdalite aguda,
de relevo à auscultação pulmonar. Do estudo com- anemia e citocolestase hepática. A tomografia com-
plementar realizado de destacar o angioTC do tórax putadorizada (TC) de crânio não evidenciou lesões,
com “áreas de consolidação em vidro despolido de tendo sido internado por suspeita de síndroma con-
padrão inespecifico com predomínio nos lobos pul- fusional aguda em contexto infecioso. Cumpriu 7
monares inferiores; sem sinais de tromboembolismo dias de amoxicilina/ácido clavulânico sem melhoria.
pulmonar”, pontuando 4 no score de probabilidade Serologias do VIH, hepatites B e C, Toxoplasmose,
de pneumonia por covid-19. A zaragatoa para pesqui- Citomegalovírus, Epstein Barr, Herpes simplex 1 e 2,
sa de SARS-COV-2 foi negativa e o estudo analítico sífilis e reação Wright negativas. Punção lombar nor-
sumário não revelou alterações. A doente foi inter- mal. Ressonância magnética de crânio com leucoen-
nada na enfermaria de Medicina Interna para conti- cefalopatia isquémica e eletroencefalograma com
nuação do estudo. Foi realizado TC de alta resolução encefalopatia ligeira e atividade epilética temporal
24H após o primeiro exame de imagem, que revelou direita escassa. AC antineuronais no líquor e soro
“melhoria significativa das áreas de vidro despolido, negativos, e biomarcadores da doença de Alzheimer
mantendo apenas discretas áreas de densificação”. normais no líquor. Fez TC toraco-abdomino-pélvica
O estudo complementar relevou TSH frenada com que mostrou massas abdomino-pélvicas (AP) suges-
T3 e T4L aumentadas; anticorpos anti-tiroideus (Tg tivas de carcinomatose peritoneal/tumor carcinoide,
e TPO) e anti-TSH (Trabs) positivos e ecografia tiroi- e prováveis metástases hepáticas. Perante hipótese
deia com “tiroide globosa e de dimensões aumenta- de EA, realizou tratamento com imunoglobulina intra-
das, com ecoestrutura heterogénea, hipoecogénica venosa (IGIV) 5 dias com melhoria clínica. A excisão
e pseudonodular com aumento marcado da vascu- cirúrgica das massas AP revelou GIST do jejuno, com
larização em provável relação com tiroidite em fase metastização peritoneal (pTNM: pT3NxM1 - Estadio
de tempestade tiroideia”. Foi iniciado propranolol e IV) e iniciou imatinib paliativo.
metibazol com melhoria clínica e analitica. 
DISCUSSÃO Não é comum a descrição de um GIST
Discussão: Com este caso pretende-se dar a conhe- causar EA, sendo as neoplasias do pulmão, mama e
cer uma manifestação rara que tem vindo a ser asso- linfomas os mais frequentes. Dada a apresentação
ciada à doença de Graves.  aguda/subaguda do quadro, o potencial epileptogé-
nico da EA e a boa resposta à IGIV, acredita-se na
CO n.º 0761  possibilidade diagnóstica de EA, que nem sempre
Encefalite autoimune – Coincidência ou conse- cursa com alterações inflamatórias/AC presentes no
quência? líquor.
João Diogo Faustino(1);Leonor Naia(1);Cláudia Ro-

24
COMUNICAÇÕES ORAIS
CO n.º 0766  CO n.º 0832 
Olhos que não vêem, Coração não sente Do baço ao coração em 3 passos
Diogo André(1);Fabiana Gouveia(1);João Gas- Joana Freitas Ribeiro(1);Daniela Brito(1);Ana Ma-
par(1);Rafael Freitas(1) tos(1);Fátima Pimenta(1)
(1) Hospital Dr. Nélio Mendonça (1) Centro Hospitalar do Médio Tejo, EPE / Unidade
de Torres Novas
Tema:Doenças infecciosas e parasitárias
Tema:Doenças infecciosas e parasitárias
Introdução: A Endoftalmite (EO) é a infeção bacte-
riana/fúngica do interior do olho, constituindo uma Introdução: O enfarte esplénico é uma entidade
ameaça à visão. A maioria dos casos de EO é exó- cada vez mais diagnosticada graças ao crescente
gena, resultante da inoculação de organismos exter- recurso a métodos de imagem contrastados. Mais
nos. A EO bacteriana endógena surge no contexto comumente associado a doenças hematológicas,
de bacteriemia persistente. Raramente este quadro obriga, porém, à exclusão de outras patologias.
deve-se a infeção por Streptococcus do grupo B
(SB). Caso clínico: Homem de 72 anos com anorexia, mal-
-estar generalizado e dor nos quadrantes esquerdos
CASO CLÍNICO: Doente do sexo feminino de 78 anos, do abdómen com 1 mês de evolução, reprodutível
hipertensão arterial essencial, dislipidémia, diabetes à palpação.  Analiticamente com elevação de parâ-
mellitus não-insulinotratado, hipotiroidismo pós-ti- metros inflamatórios (Leucócitos 20.12 x109/L com
roidectomia, em bom estado geral até há cerca de 3 89.8% neutrófilos, Proteína C reativa 5.65 mg/dl),
meses antes do seu internamento (Int), altura que se LDH 492 IU/L e discreto padrão de citocolestase.
apresentou com dor aguda, na região geniana direita Tomografia computorizada abdominal com espleno-
com edema e eritema. Acompanhada de drenagem megalia heterogénea com áreas de enfarte. Interna-
espontânea de conteúdo purulento para o interior do para investigação, pedido estudo complementar
da cavidade oral. Recorreu a médico dentista (MD) orientado para doenças hematológicas, no entanto,
que procedeu à extração dentária de canino direito, detetada febre às 48h de vigilância hospitalar. Le-
da arcada alveolar superior, e prescreveu antibiotera- vantada suspeita de endocardite, confirmada por
pia para ambulatório. Ao fim de 14 dias, recorreu MD, ecocardiograma transesofágico, com afecção de
por queixas de odontalgia aguda, ao nível da arcada válvula aórtica nativa por múltiplas vegetações de
alveolar do maxilar superior direito, e trismos. Fez ex- elevada dimensão e mobilidade. Instituida antibio-
tração de incisivo direito e medicada com analgesia. terapia dupla com vancomicina e gentamicina por
Um mês antes do seu Int, dor ocular direita aguda, história pessoal de alergia a penicilina, ajustada para
epífora e escotomas pretos, que progrediu para  a monoterapia com vancomicina após identificação
perda total da acuidade visual do olho ipslateral. Re- de Streptococcus gallolyticus. Faleceu ao 6º dia de
correu a oftalmologista que a orientou para interven- internamento, na sequência de paragem cardiorres-
ção cirúrgica, por quadro de vitrite. O estudo analítico piratória presenciada, apesar do pronto início de su-
e exames culturais (hemoculturas e vítreo), isolaram porte avançado de vida. 
Streptococcus oralis, grupo viridans. Objetivamente
apresentava-se com nódulos de Osler nas mãos e Discussão: A embolização séptica no contexto de
sopros de novo, a nível do foco aórtico e mitral. Eco- endocardite ocorre em até 25% dos doentes, e, em
cardiograma transtorácico diagnosticou Endocardite raros casos, constitui a sua única manifestação inicial.
Infeciosa (EI) com presença de vegetações ao nível Este caso vem alertar para a necessidade de valorizar
da válvula aórtica, com estruturas filiformes móveis, as alterações dinâmicas do estado clínico do doente
bem como ao nível da válvula mitral, no folheto an- e do ajuste da marcha diagnóstica em conformidade.
terior.  

DISCUSSÃO: EO, também conhecida como EO me- CO n.º 0842 


tastática, pode surgir da disseminação hematogé- Fungémia por Kodamaea ohmeri e nutrição paren-
nica de outros focos sépticos, como abscessos térica – qual a ligação?
hepáticos, meningite e EI. Neste caso, os autores Inês Pinheiro(1);Jéssica Krowicki(1);Cláudia Olivei-
apresentam um quadro de EI com manifestação atra- ra(1);Mónica Mata(1);Ana Érica Ferreira(1);Clarinda
vés de infeção metástica com EO endógena por SB. Neves(1);Rosa Jorge(1)
Salienta-se assim a importância da história clínica e (1) Centro Hospitalar do Baixo Vouga / Hospital In-
semiologia na abordagem de um doente com perda fante D. Pedro, EPE
aguda da acuidade visual, pois constituem desafios
Tema:Doenças infecciosas e parasitárias
diagnósticos e terapêuticos com consequências a
longo prazo na vida do doente.

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 25


Introdução: A infeção por Kodamaea ohmeri (K. oh- obesidade centrípeta, hipertensão. Quadro com 6
meri) é rara. Este fungo causa infeções graves, com meses de evolução, aumento de peso (5Kg). Trans-
elevada taxa de mortalidade. Aqui, é apresentada ferida para a medicina e estável da fase maníaca.
uma fungémia por este microrganismo, em provável Análises: Diabetes de novo (HbA1c 6.7%), Hipoca-
relação com a utilização de nutrição parentérica. liémia (2,8mmol/L), Dislipidemia (Colesterol total
280mg/dL, HDL 66mg/dL, LDL 200mg/dL, Triglice-
Caso Clínico: Mulher de 81 anos, doente renal cróni- rideos 321mg/dL), ACTH baixo (5,4pg/mL), cortisol
ca, internada em contexto de gastroenterite aguda, urinário aumentado (1150mcg/24h), Hipotiroidismo
sob ceftriaxone endovenoso (ev). Por suspeita de central de novo (TSH 0,2mcg/L, T4L 0,59ng/dL),
hematemeses, colocou-se sonda nasogástrica e fez FSH e LH baixas (<0,3 e <0,1), Prolactina normal,
endoscopia digestiva alta, que não mostrou evidên- Progesterona alta (3,3ng/mL), Estradiol baixo (31,2
cia de hemorragia ativa. Manteve a sonda 7 dias em mg/dL), Testosterona alta (154,4ng/dL). Ecografia
drenagem livre, pelo que teve necessidade de nutri- da tiroide normal. TC TAP: volumosa formação ex-
ção parentérica. Fez ainda colonoscopia que eviden- pansiva lobulada na glândula supra-renal esquerda
ciou colite isquémica, alterando-se antibioterapia de provável etiologia neoplásica. TC sela turca sem
para piperacilina/tazobactam ev. Por agravamento alterações. Diagnóstico provável: carcinoma da
clínico, fez novo rastreio séptico, identificando-se o supra-renal esquerda com hipercortisolismo e hipe-
fungo K.ohmeri em hemoculturas seriadas. Iniciou randroginismo, a condicionar hipertensão arterial,
Anfotericina B, posteriormente alterada para fluco- hiperglicemia, hipocaliemia grave. Transferida para
nazol, por nefrotoxicidade. Foi excluída endocardite o serviço de Endocrinologia. DHEAS aumentado
infeciosa por ecocardiograma transesofágico. Veio a (17,5mmol/L), Aldosterona aumentada (48,5ng/
falecer, tendo cumprido 8 dias de antifúngico ev. dL), Ratio Aldosterona/Renina baixo (10,98), Prova
de frenação Dexametasona (26mcg/dL). Realizou
Discussão: A infeção por K. ohmeri associa-se a es- suprarrenalectomia esquerda, com confirmação
tados de imunossupressão, como neoplasias, diabe- do diagnóstico. Alta com Mitotano 500mg 2id, Hi-
tes e doença renal crónica. Há, ainda, relação com a drocortisona 100mg 3id, Metformina/Vildagliptina
utilização prévia de antibioterapia de largo espetro, 1000/50mg 2id, Atorvastatina 20mg id, Eutirox 50
acessos venosos centrais e nutrição parentérica. Na mcg id, Olanzapina 5mg 3id, Lorazepam 2,5mg id,
maioria dos casos, a infeção apresenta-se com fun- Ácido Valproico 300mg 2id, Cloreto de Potássio
gémia e, numa menor percentagem, foi reportada en- 1200mg 2id, Pantoprazol 40 mg id.
docardite infeciosa concomitante. Neste caso, para
além da nutrição parentérica, havia como fatores Os carcinomas adrenocorticais são raros, incidência
concorrentes as comorbilidades da doente, os ciclos de 1-2/milhão de habitantes; são agressivos e
de antibioterapia e o status de colite isquémica. Ape- têm mau prognóstico. Este caso mostra-nos a
sar de a provável etiologia ser filiada na nutrição pa- importância do exame objetivo ao alertar para o
rentérica, poderá ter havido uma combinação sinér- diagnóstico.
gica com estes fatores que terá contribuído para a
infeção. CO n.º 0905 
Défice de Vitamina B12 e anemia microangiopática:
CO n.º 0856  como e porquê?
Doença psiquiátrica como manifestação de doença Pilar Burillo Simões(1);Sofia Mateus(1);Helena Bra-
oncológica zão(1);Catarina Salvado(1)
Inês Almeida Pintor(1);Flávio Pereira(1);Miguel Mar- (1) Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE / Hos-
tins(1);João Faia(1);João da Costa Oliveira(1);Pedro pital de Santo António dos Capuchos
Lopes(1);Beatriz Pinheiro(1);Rosa Jorge(1)
(1) Centro Hospitalar do Baixo Vouga / Hospital In- Tema:Doenças hematológicas
fante D. Pedro, EPE
Introdução: A anemia é um diagnóstico de elevada
Tema:Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio-
prevalência em Portugal cujo estudo etiológico as-
nais
senta inicialmente na distinção entre etiologias com
resposta medular mantida - sugerindo causas he-
Mulher, 57 anos. Síndrome depressivo sob Ser- molíticas ou perda por hemorragia - e sem resposta
tralina 50mg e Alprazolam 1mg. Internada na Psi- eficaz que apontam no sentido de um défice de
quiatria por Distúrbio maníaco-depressivo em fase produção. Neste último grupo, encontra-se o défice
maníaca. Hipocaliémia de difícil correção - pedida de Vitamina B12, uma forma de anemia megalo-
colaboração de Medicina Interna. À observação: blástica. Já no grupo das anemias hemolíticas, en-
faceis lua cheia, hirsutismo da face/tronco, acne, contramos as anemias microangiopáticas, em que
“bufallo hump”, atrofia muscular dos membros, o mecanismo de hemólise culmina na formação

26
COMUNICAÇÕES ORAIS
de esquizócitos e que inclui a Púrpura Trombocito- coagulação para tratamento duma trombose venosa
pénica Trombótica (PTT) e o Síndrome Hemolítico profunda há 10 dias. Hemodinamicamente estável,
Urémico (SHU). no estudo inicial apresentava hemoglobina (Hbg) 5,8
g/dL, sem outras alterações. Foi internada para es-
Caso Clínico: Doente do sexo feminino, 78 anos, re- tabilização inicial e suporte transfusional. Apresen-
correu à urgência básica da sua área de residência tava anemia normocícitica normocrómica com 10,4
por dispneia e cansaço com 2 semanas de evolução. g/dL, ferritina de 26,4 ng/mL. Realizou colonoscopia
Analiticamente, apresentava uma anemia macrocíti- com 1 pólipo séssil, totalmente fulgurado com ansa
ca com índice reticulocitário diminuído, leucopenia e endoscopia digestiva alta com estrias de hiperémia
e trombocitopenia, e esquizócitos no sangue peri- compatíveis com GAVE. Após anamnese detalhada,
férico. Assumiu-se o diagnóstico de PTT e a doente este quadro revelou-se associado a poliartralgias de
foi transferida para realização de plasmaferese que ritmo misto e fenómeno de Raynaud, levando os au-
suspendeu ao fim de 4 sessões após atividade de tores a suspeitar de ES. Estudo da auto-imunidade
ADAMTS13 se ter revelado diminuída mas acima do subsequente revelou ANAs positivos, com anticorpos
limiar diagnóstico e perante Vitamina B12 indoseá- anti-centrómero B indoseáveis e capiloroscopia com
vel. A doente iniciou reposição e o quadro clínico re- alterações sugestivas de Raynaud secundário. Eco-
verteu. Já após a alta, estudo do complemento que cardiograma sem evidência de atingimento cardíaco
ficara em curso documentou défice de fração C3 e ou hipertensão pulmonar, TAC torácica e provas de
fator H, sugestivos de Síndrome Hemolítico Urémico função respiratórias sem alterações, totalizando 10
atípico. pontos nos critérios da ACR/EULAR, confirmando o
diagnóstico. Realizou tratamento da GAVE com ar-
Discussão: O síndrome de Moshkowitz ou angiopatia gon laser e erradicação de Helicobacter pylori, com
pseudotrombótica é uma manifestação rara do défi- boa resposta. Actualmente, com Hbg 14,6g/dL, ferri-
ce de vitamina B12. Revemos a fisiopatologia que lhe tina 48,4ng/mL, sem queixas gastrointestinais. Sem
está subjacente, refletimos sobre a pertinência de necessidade de tratamento para o Raynaud, medica-
equacionar o SHU atípico como hipótese diagnósti- da com tapentadol para as artralgias.
ca concomitante e discutimos a literatura que asso-
cia defeitos do metabolismo de cianocobalamina a Conclusões: O tratamento da ES é dirigido ao atingi-
esta apresentação clínica concomitante, concluindo mento de cada órgão. Nos doentes com GAVE, não
acerca da importância da abordagem sistematizada deve ser descurado excluir ES, e caso esta patologia
para instituição atempada do tratamento adequado. se confirme, identificar os órgãos afectados e iniciar
terapêutica adequada para evitar danos irreversí-
CO n.º 0920  veis. Os autores pretendem alertar os clínicos para
Ectasia vascular gástrica antral como manifestação a associação destas duas patologias.
inicial de esclerose sistémica
Ivo Barreiro(1);Maria Inês Bertão(1);Margarida Gau- CO n.º 0972 
dêncio(1);Patrícia Almeida(1);Rosário Santos Sil- CO-INFEÇÃO VIH 1 E VIH 2: UM DESAFIO TERA-
va(1);Abílio Gonçalves(1) PÊUTICO
(1) Hospital Distrital da Figueira da Foz, EPE Diana Briosa Reis(1);Rita Fernandes(1);Ana Sara
Monteiro(1);Rita Domingos(1);Pedro Reboredo(1);-
Tema:Doenças autoimunes, reumatológicas e vas- José Manuel Ferreira(1)
culites (1) Centro Hospitalar do Algarve, EPE / Hospital de
Faro
Introdução: A esclerose sistémica (ES) é uma doen-
Tema:Doenças infecciosas e parasitárias
ça autoimune sistémica. O atingimento gastrointes-
tinal mais comum, incluído no CREST, é esofágico. A
ectasia vascular gástrica antral (GAVE) – conhecida Introdução: A co-infeção por VIH 1 e VIH 2 é uma
como estômago em melância pelo seu aspecto en- entidade rara, com pouca visibilidade e não tem fo-
doscópico patognomónico, ocorre em 5 a 22% dos mentado a discussão científica internacional nos
doentes com ES. Podendo ser a primeira manifesta- últimos anos. No entanto, esta pode ocorrer em paí-
ção da doença, o diagnóstico de GAVE deve sempre ses como o caso de Portugal em que os 2 vírus coe-
suscitar exclusão de ES. xistem e, a sua gestão terapêutica acarreta desafios
importantes conforme é exemplo o caso clínico que
se segue.
Caso clínico: Os autores apresentam o caso duma
mulher de 60 anos que recorreu ao serviço de ur-
gência por astenia extrema. Tinha antecedentes de CASO CLÍNICO: Homem de 67 anos, português, cau-
ansiedade, insuficiência venosa e gastrite crónica, casiano, com diagnóstico por Western Blot positivo
sob alprazolam e vortioxetina, estava a cumprir hipo- para VIH 1 e VIH 2 em 2008, classe CDC B3 à apre-

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 27


sentação (carga viral VIH 1 603000 c/mL e CD3+/ por vezes complicados de lesão renal aguda (LRA).
CD4+ 55 cel/µL). Inicialmente é  solicitado teste de
resistências e por dúvidas no Western Blot requere- Caso clínico: Mulher de 20 anos, com DMA diagnos-
-se também teste discriminatório de anticorpos anti ticada aos 6 anos, mas boa qualidade de vida apesar
VIH-1 e VIH-2. Assim, opta-se por iniciar terapêutica de cansaço fácil e episódios frequentes de rabdo-
anti-retroviral (TAR) com FTC/TDF+EFV. O teste dis- miólise e mialgias. História de síndrome depressiva,
criminatório  posteriormente confirma a co-infeção, sob fluoxetina 40 mg/dia. Início recente (7 dias an-
sendo solicitada carga viral VIH 2 (<40 c/mL) e o tes) de agomelatina 25 mg/dia. Recorreu à urgência
teste de resistências demonstra suscetibilidade a to- após 5 episódios de síncope com pródromos de
dos os IPs, resistência a todos os NNRTIs; dos NRTIs náuseas, tonturas e palpitações. Num dos episódios
é suscetível a AZT e D4T e intermediamente a TDF, teve movimentos clónicos dos membros inferiores,
sendo resistente aos restantes. Não foram testados sem outros movimentos, sem incontinência de es-
inibidores da integrase. Nesta medida é trocada tera- fíncteres ou confusão após o episódio. Apresenta-
pêutica para AZT/3TC+LPV/r, com melhoria virulógi- va TA=98/54 mmHg, FC=98 bpm, estava eupneica e
ca e imunológica. sem alterações neurológicas. Análises: Ureia 48mg/
dL, creatinina 1.76 mg/dL, CK>40000 UI/L, mioglo-
No entanto, entre 2010 e 2011 e apesar de adesão
bina>4144 ng/mL, AST=1216 UI/L, ALT=288 UI/L e
à TAR a carga viral VIH 1  nunca fica indetectável e
desidrogenase láctica (DHL)=5343 UI/L, restante
em 2012 volta a aumentar  (1850 c/mL), pelo que
estudo normal. Urina com hematúria, sem cilindros
se repete carga viral VIH 2 (263 c/mL), e novo teste
ou outras alterações. Eletrocardiograma em ritmo
de resistências onde surge nova resistência a LPV,
sinusal, normal. TC cranioencefálica sem altera-
sendo sensível a AZT e RAL. Deste modo, é alterada
ções. Ecografia renal sem hidronefrose. Evolução
TAR para AZT/3TC e RAL sendo este último uma fár-
em anúria e acidose metabólica apesar de fluidote-
maco que mantém a eficácia na co-infeção, e é uma
rapia agressiva. Estimulação diurética sem resposta
terapêutica segura no que respeita a interações me-
tendo a doente necessitado de hemodiálise (HD), 5
dicamentosas nomeadamente nas comorbilidades
sessões no total. Inicialmente anúrica, apresentou
que o doente desenvolveu (dislipidémia e diabetes
recuperação da diurese ao 6º dia. Elevação da creati-
mellitus). Sendo este o esquema terapêutico que o
nina até um máximo 8.93 mg/dL, mas com volumes
doente mantém até à data com sucesso.
crescentes de diurese. Descida posterior sustentada
DISCUSSÃO: Apesar de rara, a co-infeção VIH 1 e VIH da creatinina. Descida também da CK e mioglobina.
2 não é apenas uma nota de rodapé na nossa reali- Teve alta ao fim de 2 semanas de internamento, as-
dade. Este trabalho retrata um caso clínico de suces- sintomática, com creatinina de 1.78 mg/dL, CK 470
so,  com adesão terapêutica e  controlo virulógico e U/L e mioglobina 73 ng/mL.
imunológico, sem efeitos secundários identificados,
Discussão: Relatamos um episódio de LRA a neces-
mas muito desafiante para o clínico, espelhando as
sitar de HD em contexto de rabdomiólise grave numa
dificuldades acrescidas no processo de decisão tera-
doente com DMA. O trauma das quedas e movimen-
pêutica não só pelas complexas resistências farma-
tos clónicos associados às síncopes parece ter sido
cológicas inerentes mas também pelo ajuste neces-
o principal trigger. No entanto, a agomelatina inicia-
sário às comorbilidades desenvolvidas.
da recentemente, pode também ter desempenhado
CO n.º 0975  algum papel na lesão muscular. Este caso retrata
Doença de McArdle – a propósito de um caso de uma complicação rara na DMA e reforça o habitual
lesão renal aguda por rabdomiólise grave carácter reversível e benigno da LRA nestes doentes.
Hugo Veiga(1);Rita Gouveia(1);Beatriz Xavier(1);Vera
CO n.º 1028 
Seara(2);Patrícia Lourenço(1)
O papagaio escondido: um caso de disfagia no ido-
(1) Centro Hospitalar de S. João, EPE (2) Centro
so
Hospitalar Póvoa de Varzim/Vila do Conde
André s. Carvalho(1);Beatriz Teixeira Lima(1);Ma-
Tema:Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio- ria Inês Bertão(1);Sara Joana Faria(1);Isabel Bes-
nais sa(1);Abílio Gonçalves(1)
(1) Hospital Distrital da Figueira da Foz, EPE
Introdução: A Doença de McArdle (DMA), é uma Tema:Medicina geriátrica
doença genética em que há deficiência de miofos-
forílase, uma enzima essencial à glicogenólise no
Introdução:
músculo. Intolerância ao exercício,  fadiga e mial-
gias são os sintomas típicos. É comum uma eleva-
ção basal da creatina cinase (CK) e são frequentes A osteofitose vertebral é muito frequente após os 60
os episódios de rabdomiólise com mioglobinúria, anos de idade, podendo ser secundária a espondilar-

28
COMUNICAÇÕES ORAIS
trose ou, se associada a calcificação de ligamentos Tema:Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio-
vertebrais, a Doença de Forestier. Os osteófitos po- nais
dem atingir dimensões consideráveis e, quando lo-
calizados na face anterior da coluna cervical (sobre- A hemicoreira ou hemibalismo como manifestação
tudo C3-C5), comprimir faringe, esófago, laringe ou de síndrome hiperglicémico hiperosmolar (SHH)
nervos, causando disfagia com risco de aspiração, é uma entidade raramente descrita, tipicamente
dispneia e disfonia. observada em mulheres asiáticas idosas, com dia-
betes tipo 2. O mecanismo fisiopatológico mais
Caso clínico:
discutido é a estriatopatia diabética, envolvendo
Homem de 89 anos, autónomo, admitido na urgên- hiperviscosidade, levando à hipoperfusão tecidular
cia com quadro de desorientação temporo-espacial, e ao acumular de gemistocitos nos gânglios da
agitação, parésia grau 3 no membro inferior direito base, representados por hipersinal em ressonância
com sinal de Babinsky e disfagia para sólidos e lí- magnética (RMN). Os sintomas tendem a subsistir
quidos. Antecedentes de carcinoma espinhocelular após correcção da hiperglicemia.
no ombro direito ressecado há 2 anos, leucoencefa-
lopatia microvascular frontoparietal, espondilartrose Apresento o caso de um homem, de 61 anos, me-
cervico-toraco-lombar, hipertensão arterial e dislipi- lanodérmico, com antecedentes de hipertensão ar-
demia. TAC de crânio não evidenciou lesão neuroló- terial e obesidade. Recorreu ao serviço de urgência
gica aguda ou ocupante de espaço. Houve recupera- (SU) por hemiparésia e movimentos involuntários
ção completa dos défices motores e cognitivos, mas do membro superior direito (MSD). Da observação
manteve disfagia grave, com episódio de aspiração destaca-se uma hemiparésia grau 3+ no MSD, com
que motivou pneumonia lobar direita. Apresentava hipostesia e descoordenação motora na prova
odinofagia, disfonia e secreções orofaríngeas. Rea- dedo-nariz ipsilateral. Da avaliação analitica des-
lizou endoscopia digestiva alta que evidenciou um taca-se uma hiperglicémia de 1124 mg/dL, com
abaulamento com depressão e ulceração centrais cetonémia de 1,9; gasimetricamente com hipoxemia
no esófago proximal, muito sugestivo de neoplasia. (PaO2 - 60mmHg em ar ambiente), lesão renal agu-
Estudo anatomopatológico das biópsias revelou in- da (creatinina - 2,1mg/dL). Assumiu-se assim um
feção herpética. Cumpriu 14 dias de aciclovir, sem SHH em doente com diabetes tipo 2 inaugural, com
remissão das queixas. Repetiu endoscopia digestiva suspeita de acidente vascular cerebral (AVC) do
alta, mantendo a lesão suspeita, mas com biópsia hemisfério esquerdo, lesão renal aguda e insuficiên-
negativa para  neoplasia ou vírus herpes. Realizou cia respiratória parcial de etiologia a esclarecer. TC
TAC cervical que mostrou calcificação do ligamento crânio-encefálico sem alterações. Iniciou perfusão
longitudinal anterior, osteofitose anterior esquerda de insulina para correcção da hiperglicemia. HbA1c
com volumosos esporões de tração de C5 a T2 - o 13,9%. RMN com assimetria do sinal da substância
maior, em C5/C6, comprimindo a parede posterior branca subcortical précentral e segmento interno do
da hipofaringe, deformando-a e moldando o contor- gyrus précentral esquerdo. AngioTC de tórax com
no esofágico posterior, com parésia da corda vocal evidência de tromboembolismo pulmonar (artérias
esquerda. Pedida consulta de Neurocirurgia para res- lobar e distal do lobo inferior direito).
seção osteofitária anterior.
Com o controlo progressivo da glicémia verificou-se
Discussão: regressão do quadro neurológico, tendo iniciado
hipocoagulação com exoxaparina.
A osteofitose cervical é uma causa rara e subdiag-
nosticada de disfagia. O crescimento indolente dos Salientamos assim uma apresentação atípica de
osteófitos pode mantê-la assintomática até que um SHH com manifestações neurológicas, para além
evento - aspiração, infeção ou trauma - desencadeie do evento trombótico associado, destacando-se
a sintomatologia compressiva. A sua prevalência ainda o elevado risco de eventos trombóticos em
tem aumentado com o envelhecimento da popula- doentes com descompensação glicémica.
ção, sendo uma causa de disfagia a considerar em
idade geriátrica. CO n.º 1065 
Imunodeficiência comum variável complicada com
CO n.º 1040  Trombocitopenia Imune e Doença granulomatosa
Síndrome Hiperglicémico Hiperosmolar – uma pulmonar
apresentação atípica Marta Braga(1);Bárbara Fontes Oliveira(1);Margarida
Patrícia Moreira(1);Mafalda Vasconcelos(1);Maria Correia(1);Filipa Abreu Martins(1);Carla Campinho
Maia(1);Carla Costa(1);João Espírito Santo(1);Célia Ferreira(1);Cristiana Honrado Martins(1);Vânia Go-
Machado(1);José Lomelino Araújo(1) mes(1);Céu Rodrigues(1);António Oliveira e Silva(1)
(1) Hospital Beatriz Ângelo (1) Hospital de Braga

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 29


Tema:Doenças autoimunes, reumatológicas e vas- ves(1);Cláudia Rosado(1);Margarida Eulálio(1);Cla-
culites rinda Neves(1);Rosa Jorge(1)
(1) Centro Hospitalar do Baixo Vouga / Hospital In-
Introdução: A imunodeficiência comum variável fante D. Pedro, EPE
(IDCV) é uma forma comum de deficiência grave de
Tema:Doenças oncológicas
anticorpos, com perturbação da diferenciação dos
linfócitos B e alteração da produção de imunoglobu-
linas. Atinge vários sistemas e a doença autoimune INTRODUÇÃO O derrame pericárdico (DP) pode de-
ocorre em cerca de 25% dos doentes, incluindo a senvolver-se rapidamente (agudo) ou gradualmente
Púrpura Trombocitopénica Imune (PTI). (subagudo/crónico). Das suas etiologias, salienta-
-se a infeciosa, a inflamatória/autoimune e a malig-
na (principalmente metastática).
Caso clínico: Homem de 29 anos, sem antecedentes
pessoais. Seguimento prévio em consulta de pneu-
mologia por achado incidental, em tomografia axial CASO CLINICO Homem, 89 anos, com antecedentes
computorizada, de adenopatias mediastínicas gene- de HTA, insuficiência cardíaca, doença renal crónica
ralizadas associadas a lesões nodulares pulmona- estádio 3b, hipotiroidismo medicado e anemia cróni-
res, sólidas e migratórias. Tomografia por emissão ca sob ferro oral. Queixas de anorexia e emagreci-
de positrões, com captação bilateral ao nível das mento (17 Kg) em 4 meses. Objetivada lesão cutâ-
cadeias ganglionares supra e infradiafragmáticas. nea pré-esternal de 4cm, vegetante e sangrante, de
Presença de alveolite linfocítica (55%) no lavado crescimento indolente. Admitido por anemia agudi-
broncoalveolar. Biópsia de adenopatia a revelar zada com necessidade transfusional. Em TC toraco-
linfadenite reativa. Enviado à consulta de medicina -abdomino-pélvica detetado DP com espessura má-
para esclarecimento etiológico. Sem infeções de xima de 34,3 mm na vertente póstero-inferior, sem
repetição, queixas do foro autoimune ou sintomas outras alterações. No ecocardiograma transtorácico
constitucionais. Estudo analítico com panhipoglobu- (ETT), DP volumoso, septado, rico em fibrina, sem
linemia marcada (IgG 286 mg/dL, IgM 17.8 mg/dL e compromisso hemodinâmico, não abordável para
IgA <15 mg/dL), ligeira elevação da proteína C rea- pericardiocentese diagnóstica, pela sua localização.
tiva de 19 mg/dL mas velocidade de sedimentação Do restante estudo: eletroforese de proteínas séricas
normal, enzima conversora da angiotensina normal; e urinárias sem monoclonalidade; IGRA e autoimuni-
restante estudo autoimune e infecioso alargado dade negativos; serologias VIH, CMV, EBV e VHS 1 e
negativo. Descartadas hipóteses de diagnóstico de 2 negativas; endoscopia digestiva alta e colonografia
sarcoidose e linfoma, após histologia de biopsia por TC sem lesões suspeitas; PET-TC 18F-FDG de cor-
excisional de adenopatia. Assumido diagnóstico de po inteiro com lesão neoplásica cutânea e derrame
IDCV. Antes do início da terapêutica com imunoglo- pericárdico com captação difusa, sem outras altera-
bulina humana (IgEV), apresentou manifestações ções. A biópsia da lesão revelou carcinoma espino-
mucocutâneas de novo (petéquias e equimoses fá- celular cutâneo (CEC), pelo que foi realizada a sua
ceis), com contagem plaquetária inferior a 10.000/ excisão completa comprovada em exame anátomo-
uL. Necessidade de internamento, para pulsos de -patológico. ETT de controlo 2 semanas após a cirur-
metilprednisolona 125 mg/dia. Cumpriu durante 3 gia, sem evidência de DP. Anemia estável (mantendo
dias, associada a toma única de IGIV de 30g (400 seguimento em consulta externa).
mg/Kg). Manteve terapêutica com prednisolona e
DISCUSSÃO Embora a forma de apresentação mais
IgEV de 3/3 semanas para manter contagem de IgG
comum do CEC seja a localizada, numa pequena
> 800 mg/dL e plaquetas > 50.000/uL. Atualmente
percentagem de casos pode ocorrer metastização
com 10 mg/dia de prednisolona e imagem torácica
locorregional/à distância. Perante sintomas consti-
de controlo com resolução dos nódulos  pulmona-
tucionais, a etiologia maligna de um DP volumoso,
res e dos conglomerados adenopáticos.
deve ser excluída. Apesar de não haver descrição na
Discussão: O presente caso serve para demonstrar literatura de casos de DP em contexto de CEC, a re-
esta entidade rara que, apesar de na maioria das solução do DP após a excisão completa do CEC faz
vezes se manifestar com infeções de repetição, pensar numa provável associação.
pode ser abrangente a outros sistemas não tão fre-
CO n.º 1087 
quentes, como a trombocitopenia imunomediada e
Síndrome de Cushing Ectópico com origem em Tu-
a doença pulmonar granulomatosa.
mor Carcinóide do pulmão
CO n.º 1071  Rosana Maia(1);José Diogo Martins(1);André Col-
Derrame pericárdico secundário a carcinoma espi- mente(1);Maria Ferreira(1);Joana Couto(1);Ana Rita
nocelular cutâneo? Caldas(1);Laura Fajar(1);Ana Maia Silva(1);Anabela
João Diogo Faustino(1);Leonor Naia(1);Daniela Al- Brito(1);José Costa Carvalho(1);Edgar Torre(1);Au-

30
COMUNICAÇÕES ORAIS
gusta Silva(1);Diana Guerra(1) A Púrpura Trombocitopénica Imune (PTI) caracteri-
(1) Unidade Local de Saúde do Alto Minho, EPE / za-se por baixas contagens plaquetárias e propen-
Hospital de Santa Luzia são para discrasias sanguíneas, e, frequentemente,
eventos precipitantes estão implicados. O aumento
Tema:Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio- exponencial da vacinação contra a COVID-19 tem-se
nais associado ao registo crescente de eventos trombó-
ticos. Este caso expõe um agravamento de trombo-
Introdução: A Síndrome de Cushing (SC) é um citopenia após imunização.
conjunto de manifestações clínicas que resulta do Mulher de 67 anos, hipocoagulada, diagnosticada
excesso de glucocorticoides. Esta pode ser classi- com PTI em 1992. Esplenectomizada em 2013,
ficada como ACTH dependente ou independente, com plaquetas estáveis desde então. Sem história
podendo o primeiro, em casos raros, resultar da de reações adversas. 4 dias após a toma da vacina
produção ectópica de ACTH por um tumor não hipo- Vaxzevria® (AstraZeneca®), contra SARS-CoV-2,
fisário. iniciou gengivorragias espontâneas e epistáxis,
associadas a petéquias e trombocitopenia. Encami-
Caso Clínico: Mulher, 60 anos, com Hipertensão ar- nhada ao hospital ao 8º dia, com 17x10^9/?L pla-
terial, Diabetes Mellitus (DM) tipo 2, internada em quetas à admissão, sem outras alterações analíti-
Junho/2020 por Cetoacidose diabética. Durante este cas ou imagiológicas. Sem infeções nem introdução
internamento, detetada hipocalemia. Re-internamen- recente de fármacos. Suspendeu hipocoagulação e
to em Julho/2020 por Pneumonia a Pseudomonas iniciou tratamento com metilprednisolona 250mg e
aeruginosa, mantendo hipocalemia de difícil reso- imunoglobulina 1mg/kg/dia durante dois dias, se-
lução. TC toraco-abdominopélvico: nódulos pulmo- guindo-se prednisolona 1mg/kg/dia. Teve alta ao 5º
nares na base direita e ápex esquerdo e hiperplasia dia com subida plaquetar sustentada, recrudescên-
da glândula suprarrenal direita. Re-internamento em cia da sintomatologia e aconselhada a suspender a
Janeiro/2021 por abcesso parafaríngeo direito gra- 2ª dose da vacina.
ve. Por hipocalemia persistente, foi avaliada por En- Estão descritos eventos trombóticos e trombocito-
docrinologia e diagnosticada Síndrome de Cushing penia após vacinação contra COVID-19, bem como
ACTH dependente. RMN hipofisária: sem alterações. PTI. Permanece por esclarecer a sua causalidade
Iniciou metirapona, com melhoria da hipocalemia e e patogénese. Neste caso apenas a vacinação
do hipercortisolismo. A biópsia transtorácica de nó- foi identificada como potencial trigger. Recente-
dulo pulmonar de 14 mm da base direita (único que mente, um mecanismo dependente de anticorpos
persistiu temporalmente) revelou tumor carcinoide anti-FP4 foi implicado em eventos trombóticos
típico. PET/TC com Gallium-68 DOTANOC excluiu a pós-Vaxzevria®, o que originou nova denominação:
presença de outras lesões com hiperexpressão de Trombocitopenia Trombótica Imune Induzida por
receptores da somatostatina. Submetida a resseção Vacina - TTIIV. No caso reportado, os anticorpos
pulmonar atípica da base direita, com resolução ime- eram negativos, sugerindo eventuais e distintas
diata do hipercortisolismo. etiopatogéneses.
O Infarmed reitera que estes eventos têm incidência
Discussão: O SC ectópico é raro e está associado mínima, sendo os benefícios da imunização ampla-
a grande morbilidade e mortalidade.   Torna-se mente superiores. Recomenda-se procurar assis-
importante a suspeita diagnóstica perante situações tência médica em caso de discrasias sanguíneas,
clínicas atípicas, como hipocalemia, infeções com- petéquias, cefaleia persistente, toracalgia ou disp-
patíveis com imunossupressão e a DM mal contro- neia após vacinação, e cuidado adicional em doen-
lada para um diagnóstico mais precoce. Este encon- tes com trombocitopenia, distúrbios da coagulação
tra-se associado a tumores carcinoides (1%), sendo ou hipocoagulados. Estão já disponíveis recomen-
o local mais frequente o pulmão. No entanto, devido dações para o diagnóstico e tratamento de TTIIV.
às suas pequenas dimensões, estes são frequente- Este caso reforça assim a necessidade de alto índi-
mente difíceis de localizar. ce de suspeição, e precaução, por parte dos profis-
sionais de saúde no que toca à observada vacina-
CO n.º 1093  ção em larga escala.
VAXZEVRIA® E TROMBOCITOPENIA
Ana Lourenço Jardim(1);Sara Ribeiro(1);Sofia Morei- CO n.º 1097 
ra(1);Diana Leite Russo(1);Helena Reis(1);Francisca Leishmania visceral - uma entidade esquecida nas
Correia(1);Pedro Rodrigues(1);Jorge Almeida(1) áreas de baixa endemia
(1) Centro Hospitalar de S. João, EPE Mariana Fidalgo(1);Filipa Borges Santos(1);Andreia
Seixas(1);Margarida Mota(1)
Tema:Outro (1) Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia / Espinho

Tema:Doenças infecciosas e parasitárias


27º Congresso Nacional de Medicina Interna 31
Introdução: O doente VIH apresenta elevado risco Hospital de Santa Luzia (2) Centro Hospitalar de
de coinfecções, que requerem intervenção atem- Vila Nova de Gaia / Espinho
pada e eficaz. A leishmaniose visceral [LV], embora
reconhecidamente associada ao VIH nos países de Tema:Doenças renais
terceiro mundo, é menos frequente na Europa e de
diagnóstico tardio. Introdução: A Nefropatia membranosa (NM) é uma
das principais causas de síndrome nefrótico (SN)
CASO CLÍNICO: Homem caucasiano de 58 anos, no adulto não diabético. A mais comum é a NM pri-
seguido em Consulta de Doenças Infeciosas desde mária, mas pode estar associada a causas secun-
2009 por VIH. Sob TARc, com carga viral suprimida, dárias. A forma mais frequente de apresentação é
mas sem recuperação imune (CD4+ sempre <200/ o edema periférico com aumento ponderal gradual,
uL). Comorbilidades: coinfecção por VHB/VHC, cir- podendo o seu início passar despercebido.
rose hepática de etiologia alcoólica e vírica. Vive em
meio urbano, sem consumo de água de poço; tem 2 Caso Clínico: Homem, 77 anos, com Dislipidemia
cães, aparentemente saudáveis, mas sem idas regu- e Fibrilação Auricular permanente, enviado ao Ser-
lares ao veterinário; sem história de viagens. viço de Urgência por edema e aumento ponderal
com 1 ano de evolução. À admissão, em anasarca,
Apresentava há vários anos pancitopenia, inicial- TA 100/50 mmHg. Analiticamente: Creatinina 1,2
mente atribuída às comorbilidades supra-citadas, mg/dL, NT-proBNP 202,4 pg/mL, albumina 1,4 g/
mas em agravamento (nadir: hemoglobina 6.8g/dL, dL, Colesterol total 183mg/dL, LDL 113 mg/dL, Tri-
leucócitos 1320/uL e plaquetas 50.000/uL) e pouco glicerideos 90 mg/dL (sob atorvastatina 40mg), sem
responsiva às atitudes instituídas. alterações da função tiroideia. Radiografia de tórax
com derrame pleural bilateral, ecografia abdominal
Por agravamento do estado geral com caquexia mar-
com ascite e ecografia renal sem alterações. Ecocar-
cada prosseguiu estudo para exclusão de neoplasia:
diograma: insuficiências mitral e tricúspide ligeiras,
endoscopia digestiva sem alterações; TC abdomi-
boa função sistólica biventricular. Análise sumária
nopélvico com hepatomegalia homogénea, esple-
de urina: proteinúria e ligeira eritrocitúria, com razão
nomegalia (20cm maior eixo) e numerosas adeno-
proteínas/creatinina 10g/g. Admitido no internamen-
megalias mesentéricas. Pela hepatoesplenomegalia
to para optimização terapêutica e estudo de SN: pro-
desproporcional à doença hepática (sem indícios de
teinúria de 22g em urina de 24h; VIH 1-2, HCV e HBV
hipertensão portal), realizou pesquisa por PCR de
negativos, ANAs negativo, eletroforese de proteínas
DNA de Leishmania, que foi positiva para Leishma-
sem pico monoclonal, imunofixação sérica e urinária
nia donovani.
negativas. Biópsia renal compatível com NM. À data
DISCUSSÃO: A coinfeção por VIH e LV tem efeitos de alta, perda de 11 Kg e creatinina 1,47 mg/dL, orien-
sinérgicos sobre a imunidade celular, sendo inva- tado para consulta de Nefrologia. Realizou TC torax e
riavelmente fatal se não tratada. A persistência estudo endoscópico (sem alterações) para exclusão
da pancitopenia neste doente sugere atingimento de causas secundárias. Doseamento Anti-PLA2R –
concomitante da medula óssea, possivelmente 121 RU/mL. Iniciou corticoterapia e ciclofosfamida,
com anos de evolução. É fundamental pensar em com remissão imunológica completa e clínica par-
leishmaniose quando a marcha diagnóstica é ne- cial após 6 meses.
gativa para as doenças oportunistas e coinfecções
Discussão: A NM caracteriza-se por edema e pro-
mais comuns. No doente VIH, o compromisso da
teinúria marcada, e tem geralmente um bom prog-
imunidade celular origina manifestações clínicas
nóstico nos doentes com remissão espontânea ou
mais graves e/ou atípicas e com parca resposta à
induzida por fármacos. A sua apresentação torna-se
terapêutica na ausência de reconstituição imuno-
pertinente, sendo o edema periférico um motivo de
lógica concomitante. O tratamento requer doses
admissão frequente nos serviços de Medicina Inter-
cumulativas mais elevadas de anfotericina B lipos-
na, em doentes com múltiplas patologias.
sómica (1ª linha) e profilaxia secundária para redu-
ção das altas taxas de recidiva. CO n.º 1124 
Leucemia granular linfocítica e Artrite reumatóide
CO n.º 1112 
Rosana Maia(1);José Diogo Martins(1);André Col-
Nefropatia membranosa primária - A importância
mente(1);Maria Ferreira(1);Joana Couto(1);Soraia
dos diagnósticos diferenciais de edema periférico
Azevedo(1);Filipa Teixeira(1);Edgar Torre(1);Augusta
Rosana Maia(1);Catarina Pereira(1);Daniela Lo-
Silva(1);Diana Guerra(1)
pes(2);Susana Pereira(2);Sara Rodrigues(2);Ana
(1) Unidade Local de Saúde do Alto Minho, EPE /
Ventura(2);Clara Almeida(2);Edgar Torre(1);José
Hospital de Santa Luzia
Carlos Pereira(1)
(1) Unidade Local de Saúde do Alto Minho, EPE / Tema:Doenças hematológicas
32
COMUNICAÇÕES ORAIS
Introdução: A Leucemia granular linfocítica de célu- são classicamente atribuíveis à presença de anticor-
las T (LGL) é uma doença linfoproliferativa crónica pos (Ac) anti-MAG (myelin-associated glycoprotein)
rara e indolente. Um terço dos doentes encontram- e anti-insulina, respetivamente.
-se assintomáticos à altura do diagnóstico. No
entanto, perante a presença de neutropenia, alguns Os insulinomas são tumores neuroendócrinos raros
apresentam-se com infeções recorrentes. que se podem manifestar com hipoglicémia motiva-
da pela hiperprodução de insulina.
Caso Clínico: Homem, 74 anos, com trombocitope-
nia e leucopenia desde 2018 e com anemia desde Caso clínico: Homem, 73 anos, sem antecedentes
2020. Trazido ao Serviço de Urgência em 2021 por relevantes, que desenvolveu neuropatia sensorial/
tosse produtiva, febre, astenia e dificuldade na loco- motora grave dos membros inferiores, com 1 mês de
moção. Ao exame objetivo, emagrecido, SatO2 93% evolução.
(FiO2 21%) e presença de deformidades articula-
Hemograma, bioquímica sérica e estudo para exclu-
res das mãos e dos pés. Analiticamente, Hgb 10,6
são de infeção e doença autoimune sem alterações.
g/dL (MCV 80.4 fL, MCHC 34,1 g/dL), leucócitos
1,10x10^9/L (100 neutrófilos e 600 linfócitos), pla- Avaliação bioquímica, citológica e fenotípica do lí-
quetas 16x10^9/L, PCR 12,05 mg/dL. TC tórax: fibro- quor e TC crânio-encefálica sem alterações. Pesqui-
se bilateral e bronquiectasias cilíndricas e quísticas. sa para Ac anti-MAG, anti-neurónio, anti-gangliosídeo
Ecografia abdominal: esplenomegalia. Internado por e anti-receptor de acetilcolina negativa.
Bronquiectasias infectadas e insuficiência respirató-
ria tipo 1. Cumpriu 7 dias de piperacilina + tazobc- Eletromiograma compatível com polineuropatia des-
tam. Sem isolamentos microbiológicos, incluindo mielinizante sensitivo-motora adquirida.
a pesquisa de micobactérias. Realizou mielograma
e biópsia óssea que revelaram LGL células T CD8. Foi identificada GM IgMK, e invasão medular óssea
Após consulta de Hematologia, iniciou metotrexato por MW. Mutação MYD88L265P positiva. TC-CTAP
15 mg/semana. Tendo em conta este diagnóstico e com discreta hepatoesplenomegália, sem adenopa-
a presença de deformidades articulares, colocada tias. Foi estabelecido o diagnóstico de MW.
hipótese de Artrite Reumatóide (AR) – Fator reuma-
Desenvolveu hipoglicémias (20-35 mg/dL) persis-
tóide > 2000 IU/mL e anti-CCP > 1173,6 U/mL. Ra-
tentes e sintomáticas, com necessidade de glicose
diografia das mãos e dos pés com osteopenia pe-
ev. Os doseamentos de insulina, hormona do cresci-
riarticular difusa, erosoes das netacarpofalangicas,
mento, IGF1, peptídeo C, glucagon e Ac anti-insulina
interfalangicas próximais e metatarsofalangicas –
foram normais.
compatíveis com o diagnóstico. Desde a alta, melho-
ria do estado geral e sem novos internamentos ou A clínica foi atribuída à MW, tendo cumprido 6 ciclos
infeções. de R-CD (rituximab/ciclofosfamida/dexametasona)
com recuperação neurológica e normalização do
Discussão: A LGL de células T associa-se a doenças
perfil glicémico.
auto-imunes como a AR, sendo que na maioria dos
doentes o seu diagnóstico antecede o diagnóstico Após 2 anos, no decurso do estudo de nódulo pan-
de LGL. Caracteriza-se por uma sobrevida de cerca creático, foi realizada pancreatectomia corpocaudal,
de 10 anos, sendo a infeção a principal causa de sendo a histologia compatível com microtumores
morte. Torna-se pertinente a apresentação do caso neuroendócrinos não funcionantes.
clínico não só por tratar-se de uma doença rara, mas
também pela importância do diagnóstico precoce de Três anos após o diagnóstico da MW, o dt mantém-
AR no diagnóstico precoce de LGL células T. -se com padrão de glicémias apropriado.

CO n.º 1128  Conclusão: Este caso ilustra a necessidade de uma


Desregulação da (auto)imunidade – a propósito de elevada suspeição para a presença de distúrbios de
um caso de Macroglobulinémia de Waldenström etiologia imune em dts com MW, ainda que a rela-
Cátia de Almeida(1);Adriana Roque(1);Luis Cardo- ção causa-efeito não possa ser demonstrada, sendo
so(1);Ana Velez(1);Ana Isabel Espadana(1) o diagnóstico posterior de insulinoma aparentemen-
(1) Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra / te não relacionado
Hospitais da Universidade de Coimbra
CO n.º 1139 
Tema:Doenças hematológicas SÍNDROME CONSUMPTIVO A ESCLARECER NA IN-
FECÇÃO POR VIH – NEM SEMPRE O HABITUAL
Introdução: Embora raras, a neuropatia e hipoglicé- Cristiana Camacho(1);Fátima Sousa Gonçalves(2);-
mia na Macroglobulinémia de Waldenström (MW) Gonçalo Jantarada Domingos(2);Inês Moreira
Sousa(2);Sérgio Paulo(2);Carla Santos(2);Luís Cam-
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 33
pos(1) va(2);Judit Gandara(2);Sofia Ferreira(2);Vitor Lo-
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE / pes(2);Helena Pessegueiro Miranda(2)
Hospital de S. Francisco Xavier (2) Centro Hospita- (1) Centro Hospitalar de S. João, EPE (2) Centro
lar de Lisboa Norte, EPE / Hospital de Santa Maria Hospitalar do Porto, EPE / Hospital Geral de Santo
António
Tema:Doenças gastrenterológicas e doenças hepá-
ticas Tema:Doenças gastrenterológicas e doenças hepá-
ticas
Introdução: A investigação de um síndrome con-
sumptivo é dificultada pela diversidade de diagnós- A hepatite causada pelo vírus herpes simplex (VHS)
ticos possíveis. Esta aumenta em doentes com infe- é rara e pode rapidamente progredir para falência
ção por VIH (vírus da imunodeficiência humana). hepática aguda. O timing do diagnóstico e do trata-
mento são cruciais na redução da morbimortalida-
CASO CLÍNICO: Mulher de 56 anos, oriunda da Guiné- de.
-Bissau, com antecedentes de diabetes mellitus
tipo 2 e infeção por VIH-1, com início de terapêuti- Doente de 19 anos, sexo feminino, natural do Brasil
ca antirretroviral no país de origem, e estadio imu- (São Paulo).  História de herpes genital (com várias
nológico desconhecido. Internada com quadro de agudizações, tratadas com aciclovir oral durante 3-5
perda ponderal (41% do peso), vómitos persistentes dias). Recorre ao  Serviço de Urgência  por mal-es-
e diarreia.  Analiticamente apresentou-se com ane- tar geral, dor no hipocôndrio direito, anorexia, vómi-
mia, sem leucocitose e PCR de 1,24 mg/dl, com le- tos alimentares e febre com 4 dias de evolução. Con-
são renal presumida como aguda (creatinina de 2,4 comitantemente com icterícia, prurido, colúria, acolia
mg/dL, com taxa de filtração glomerular estimada de e queixas de prurido e ardor perianal. Nega consumo
25 ml/min/1.73 m²), hipofosfatemia, hipocaliemia e de álcool, drogas, fármacos de novo e outros agentes
acidemia metabólica. Realizou TC-TAP que revelou hepatotóxicos. Sem história familiar de hepatopatia.
espessamento parietal desde o esófago médio até Refere relações sexuais sem uso de método contra-
o antro gástrico, associado a fracturas pélvicas e de cetivo de barreira, com companheiro regular.  À ad-
arcos costais. Por suspeita de neoplasia, realizou missão, encontrava-se vígil, orientada, sem flapping,
endoscopia digestiva, por duas vezes, que evidenciou hemodinamicamente estável, apirética, com icterícia
úlcera duodenal e estenose pilórica, apresentando generalizada, abdómen  com dor ligeira à palpação
histologicamente aspectos de gastrite crónica, sem do hipocôndrio direito, sem ascite detetável. Região
H. pylori, e sem evidência de neoplasia. Simultanea- ano-genital com lesões herpéticas. Ecografia abdo-
mente, mantinha acidemia metabólica de anion gap minal sem sinais de hepatopatia crónica. Leucogra-
normal e hipocaliemia, apesar de ausência de perdas ma com monocitose ligeira, sem trombocitopenia,
gastrointestinais e melhoria da função renal. Pedida citólise hepática (ALT 3690 U/L, AST 1483 U/L, G-GT
urina de 24 horas que revelou proteinúria e glicosúria. 160 U/L), hiperbilirrubinemia (bilirrubina total 9.14
Revistas as imagens da TC inicial, as lesões ósseas mg/dL, à custa da direta)  e coagulopatia (INR 1.8),
apresentavam aspeto de osteomalacia. Assumido sem disfunção renal, discreta hiponatrémia 130 mE-
então provável síndrome de fanconi associado ao te- q/L e elevação da proteína C reativa 47 mg/L. Sero-
nofovir que a doente fazia, com melhoria progressiva logias víricas VHA/VHB/VHC/VIH/CMV/EBV negati-
desde a sua suspensão. Foi assim atribuído o qua- vas e IgG positivo para VHS  1.  A polymerase chain
dro de perda ponderal à estenose pilórica secundária reaction (PCR) do VHS 1 foi positiva no sangue e nas
a úlcera péptica, encontrando-se a doente atualmen- lesões perianais. Iniciou protocolo com N-acetilcis-
te proposta para tratamento cirúrgico. Do estudo do teína e aciclovir endovenoso (na presunção de he-
VIH 1, a destacar razoável situação imunitária (CD4 patite herpética). A biópsia hepática foi compatível
> 400 células/μL) com controlo da carga viral (67 có- com hepatite aguda. Alta do internamento medicada
pias/mL). com aciclovir 800mg/dia. Na reavaliação em consul-
ta externa, 2 semanas após a alta, apresentava me-
DISCUSSÃO: Este é um diagnóstico raro nos nos- lhoria da citólise hepática, da hiperbilirrubinemia e da
sos dias, a considerar em especial em doentes pro- coagulopatia.
venientes de países com má assistência médica. O
caso ilustra a complexidade da marcha diagnóstica Em conclusão, a hepatite por VHS é rara e muitas
pela sobreposição de patologias e presunção de vezes letal. Geralmente ocorre em indivíduos imu-
imunodeficiência como factores de confundimento. nodeprimidos, podendo contudo ocorrer em imuno-
competentes. Dada a elevada taxa de mortalidade  e
CO n.º 1153  apresentação inespecífica, recomenta-se o uso da
Hepatite herpética numa doente imunocompetente PCR sérica do VHS como ferramente diagnóstica rá-
José da Cunha Marques(1);Isabel Fonseca Sil- pida e específica.

34
COMUNICAÇÕES ORAIS
CO n.º 1169  Discussão
TEMPESTADE TIROIDEIA REFRATÁRIA: O PAPEL
DA PLASMAFERESE A elevada mortalidade associada à tempestade ti-
Marta Monteiro(1);Rui Pedro Cunha(2);Bruno Frei- roideia torna o diagnóstico precoce e a terapêutica
tas(2);Pedro Póvoa(2) agressiva imperativos.  Um estudo multicêntrico
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE / retrospetivo, revelou que  apesar de baixa incidên-
Hospital Egas Moniz (2) Centro Hospitalar de Lisboa cia, uma mortalidade dentro da UCI e aos 6 meses,
Ocidental, EPE / Hospital de S. Francisco Xavier de 17 e 22% respetivamente.

Tema:Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio- O choque cardiogénico é preditor independente de


nais mortalidade, sendo importante a identificação pre-
coce de insuficiência cardíaca.
Introdução A plasmaferese é reservada para casos refratários a
terapêutica médica ou como ponte para métodos in-
A tempestade tiroideia é a forma mais grave de hiper- vasivos. 99% das hormonas tiroideias estão ligadas
tiroidismo e uma emergência endocrinológica com a proteínas plasmáticas e são removidas, no entanto,
elevada mortalidade. A principal causa é a doença de é a fração livre a ativa, dai a eficácia ser controversa.
Graves, sendo a toxicidade farmacológica e a doen-
ça maligna outras etiologias. CO n.º 1191 
E quando “padrão em vidro despolido” não é CO-
Caso Clínico VID-19?
Jéssica Abreu(1);Francisca Guimarães(1);Daniela
Mulher de 79 anos, hipertensa, recorre à urgência por Mateus(1);Ana Rita Gomes(1);Gilda Nunes(1)
quedas recorrentes com 3 dias de evolução. (1) Hospital de Vila Franca de Xira
Apresentava-se agitada e confusa, hipertensa (PA Tema:Doenças infecciosas e parasitárias
175/105 mmHg), taquicárdica (FC 125 bpm), com
sopro sistólico e fervores crepitantes à auscultação.
Introdução: A pneumonia adquirida na comunida-
Do estudo analítico, destaque para hipertiroidismo de (PAC) por Citrobacter koseri é rara nos doentes
(TSH< 0,008 microUI/mL;T3L 49,8 pmol/L e T4L>100 imunocompetentes. A sua transmissão é fecal-oral.
pmol/L), Troponina 42 ng/L e NT-proBNP 1485 pg/ Caracteriza-se como uma infeção bacteriana pulmo-
mL. nar típica, nomeadamente nos seus aspectos radio-
lógicos. Os autores descrevem um caso de PAC por
A radiografia de tórax demonstrou sinais de conges- este agente, numa doente imunocompetente, com
tão pulmonar e a TC crânio hidrocefalia de pressão evolução e padrão radiológico incomum.
normal.
Caso clínico:  Doente do sexo feminino, 53 anos,
Diagnosticada tempestade tiroideia, tendo iniciado
com antecedentes de esquizofrenia. Foi admitida
terapêutica com beta-bloqueante, inibidor da síntese
por quadro de febre alta, tosse seca e insuficiên-
tiroideia e corticoide.
cia respiratória parcial. Analiticamente apresentava
Evolução para edema agudo do pulmão motivou leucocitose ligeira, sem linfopenia, PCR 7.9mg/dL,
transferência para a Unidade de Cuidados Intensivos D-Dímeros 325 ng/mL. Antigenúrias a Streptococ-
(UCI). cus pneumoniae e Legionella pneumophila negativas.
Hemoculturas negativas. Serologias VIH negativas.
Estudo auto-imune com anti-receptor TSH 34,7, com- A radiografia de tórax apresentava opacidades no-
patível com doença de Graves. dulares dispersas bilateralmente, com evidência em
tomografia computorizada, de densidades pulmona-
Alterada terapêutica anti-tiroideia para propiltiouraci- res em vidro despolido multifocais e bilaterais, ao
lo em dose máxima e soluto de lugol, mas manteve longo dos eixos broncovasculares centrais das ba-
níveis elevados de hormona tiroideia, pelo que se op- ses pulmonares, muito sugestivas de infecção vírica,
tou por realizar plasmaferese. nomeadamente  SARS-CoV2.  Realizou 2 testes PCR
SARS-CoV2 que foram negativos. 
Ao 8º dia, transferida para cuidados intermédios por
melhoria neurológica e respiratória. Realizou um to- Assumida pneumonia adquirida na comunidade por
tal de 7 sessões de plasmaferese. agente bacteriano, fez Amoxicilina+Ácido Clavu-
lânico e Azitromicina; com resposta clínica tardia,
Agravamento clínico com sépsis ponto de partida
mantendo febre durante 8 dias. Realizou bronco-
urinário, evoluindo para bradicardia extrema e para-
fibroscopia tendo-se isolado, no lavado broncoal-
gem cardiorrespiratória ao 25º dia de internamento.
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 35
veolar, Citrobacter koseri sensível ao antibiótico em lização cerebral.
curso. Foi prolongada a terapêutica até aos 12 dias
de antibioterapia, verificando-se evolução clínica e Após resultados de antibiograma, tratando-se de
radiológica favorável. MSSA, alterada antibioterapia, com suspensão da
vancomicina e início de flucloxacilina. Com boa evo-
Discussão: A infeção por Citrobacter koseri raramen- lução clínica, tendo completado terapêutica ao fim
te afecta doentes imunocompententes, na comuni- de 6 semanas.
dade; é comumente associada a infeções do trato
urinário em doentes imunocomprometidos ou em DISCUSSÃO: Os autores apresentam este caso para
contexto hospitalar. O caso apresentado salienta a alertar para a necessidade de elevado nível de sus-
importância de um diagnóstico diferencial, e marcha peição e de diagnóstico precoce de EI, bem como
diagnóstica rigorosa, apesar da situação epidemio- na identificação das suas possíveis complicações,
lógica atual. destacando-se aqui a embolização sética.

CO n.º 1194  CO n.º 1227 


Endocardite bacteriana e suas complicações – a Sequela catastrófica da artrite reumatóide
propósito de um caso clínico Joana Rodrigues Morais(1);Diana Rocha(1);Filipa
Rita Vilar da Mota(1);Patrícia Sôra Sobrosa(1);João David(1);Raquel Rodrigues Santos(1);Catarina Tri-
Pedro Pais(1);Luís Costeira Pereira(1);Marta Batoca go(1);Albina Moreira(2);Raquel Neves(1);Artur Olivei-
Sousa(1);Nuno Pardal(1);Ângela Paredes Ferrei- ra Silva(1);Rui Moço(1)
ra(1);Ana Rita Cambão(1);Diana Guerra(1) (1) Unidade Local de Saúde de Matosinhos, EPE /
(1) Unidade Local de Saúde do Alto Minho, EPE / Hospital Pedro Hispano (2) Centro Hospitalar de
Hospital de Santa Luzia Vila Nova de Gaia / Espinho

Tema:Doenças infecciosas e parasitárias Tema:Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-


culites
Introdução: A endocardite infecciosa (EI) pode ter
uma apresentação clínica muito variável, com mi- Introdução: As doenças autoimunes caraterizam-se
metização de outras patologias, pelo que exige um por uma desregulação na resposta imune, podendo
elevado grau de suspeição clínica e uma aborda- aumentar o risco de desenvolvimento de neoplasias,
gem multidisciplinar.  pela doença de base ou pelos fármacos usados
para o seu tratamento.
CASO CLÍNICO: Mulher de 71 anos, com anteceden-
tes de HTA, dislipidemia, fibrilhação auricular hipo- Caso clínico: Homem de 71 anos com artrite reuma-
coagulada, portadora de prótese mecânica mitral tóide (AR) diagnosticada há 11 anos, sob metotrexa-
desde 2012 e história de AVC isquémico cardioem- to e prednisolona, apresenta-se com febre vespertina
bólico, com consequente epilepsia vascular. Admiti- com 8 meses de evolução e elevação de parâmetros
da no Serviço de Urgência por febre, lombalgia com inflamatórios, sem focalização. Investigação etio-
semanas de evolução, desorientação e alterações da lógica prévia exaustiva a excluir infeção (inclusive
fala. Analiticamente, com anemia, VS e PCR elevadas Mycobacterium tuberculosis), flare de doença autoi-
e INR supraterapêutico. Realizada TC CE, sem altera- mune e neoplasia. É internado por astenia, hipersu-
ções de novo, e punção lombar, que excluiu infeção dorese noturna e febre persistente. Do estudo reali-
do SNC. Por suspeita de endocardite, em doente com zado a salientar: anemia (Hb 10,6g/dL), sem outras
prótese valvular, realizado ecocardiograma transto- citopenias, VS 114mm/1h, LDH 489U/L, Ferritina
rácico, sem alterações de relevo. Porém, por manter 6014ng/mL e tomografia computorizada abdominal
febre contínua (>38ºC), imagem suspeita de enfar- a evidenciar massa mesentérica com implantes peri-
te esplénico em TC TAP e isolamento de S. aureus toneais de provável natureza neoplásica. Objetivada
em duas hemoculturas, tendo em conta os critérios rápida deterioração clínica com disfunção cardiovas-
reunidos, iniciou antibioterapia com vancomicina, cular, lesão renal com hipercalémia, hiperfosfatémia,
gentamicina e rifampicina. Ecocardiograma transe- hipocalcémia e hiperuricémia, a suportar o diagnós-
sofágico confirmou existência de massas apensas à tico de síndrome de lise tumoral (SLT) espontâneo.
prótese, compatíveis com vegetações. Apesar das medidas de suporte instituídas o doente
evoluiu em choque distributivo refratário, vindo a fa-
Para esclarecimento da lombalgia, solicitada RM da lecer. Em autópsia anátomo-clínica identificou-se lin-
coluna, a qual apresentou alterações sugestivas de foma difuso de grandes células B (LDGCB) e figuras
espondilodiscite em L5-S1, compatíveis com emboli- de hemofagocitose na medula óssea, fígado e baço,
zação sética. Realizada RM cranioencefálica, que re- associando ao quadro possível síndrome hemofago-
velou provável lesão isquémica recente em território cítico (SHF).
da fronteira ACM/ACP esquerda, sugestiva de embo-
36
COMUNICAÇÕES ORAIS
Discussão: Vários estudos demonstraram o aumen- por SARS-CoV2, o que está de acordo com o que é
to da incidência de linfomas em doentes com AR. apresentado na literatura. Este caso ilustra uma das
A atividade da doença e o uso de metotrexato são complicações menos comuns da infeção pelo SAR-
fatores de risco conhecidos. A apresentação clínica S-CoV2 mas que necessita de uma rápida identifica-
foi catastrófica, decorrente do elevado índice mitó- ção e abordagem. 
tico e possivelmente do uso de imunossupressão
que pode ter alterado a expressão clínica e atrasado CO n.º 1313 
o diagnóstico. Os autores salientam a importância Síndrome maligna dos neurolépticos e coma mixe-
de despistar ativamente estas entidades raras, com dematoso – descrição de um caso
heterogeneidade clínica e elevado índice de mortali- Diana Rocha(1);Francisca Marques(1);Paula Pires
dade, dado o tratamento precoce ser modificador de Costa(2);Teresa Medeiros(1);Cecília Moreira(1);Fran-
prognóstico. cisco Carvalho(1);Filipe Teixeira Andrade(1)
(1) Unidade Local de Saúde de Matosinhos, EPE /
CO n.º 1273  Hospital Pedro Hispano (2) Hospital do Divino Espí-
Trombocitopenia Imune - Uma apresentação rara rito Santo, Ponta Delgada
da infeção pelo SARS CoV2
Bruna Filipa Esteves Nascimento(1);Carolina Nunes Tema:Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio-
Coelho(1);Maria Margarida Pereira(1);Marta Guisa- nais
do Orantos(1);Stela Calugareanu(1);Luís Siopa(1)
(1) Hospital Distrital de Santarém, EPE Introdução: A síndrome maligna dos neurolépticos
(SMN) e o coma mixedematoso (CM) são emergên-
Tema:Doenças hematológicas cias médicas raras e potencialmente fatais. Além
disso, a sua associação é pouco compreendida e
Introdução: A trombocitopenia imune (PTI) secun- escassamente reportada na literatura.
dária pode ser causada por doenças hematológicas,
autoimunes ou virais. A Trombocitopenia ligeira Caso clínico: Apresenta-se o caso de uma mulher, 58
ocorre em 5-10% dos doentes com COVID-19 mas anos, com antecedentes de psicose afetiva grave e
a trombocitopenia severa com hemorragia ativa é surtos psicóticos sob paliperidona depot 50 mg IM
menos comum. Os autores apresentam um caso de a cada 4 semanas (desde há 2 meses), fibrilhação
PTI associada a infeção COVID 19.  auricular e hipotiroidismo autoimune não suplemen-
tado. História de apatia, discurso confuso e edema
Caso clínico: Homem com 64 anos, autónomo, com generalizado, com semanas de evolução. Trazida
antecedentes pessoais de hipertensão, diabetes ao SU por agravamento nos últimos dias e admitida
mellitus tipo 2 e dislipidemia, que recorreu ao Servi- na SE por bradipneia com hipercapnia, hipotensão,
ço de Urgência por hematoma da língua e dispneia. bradicardia e hipotermia. Objetivamente, sonolenta,
Nesta altura encontrava-se em 10º dia de doença lentificada, obesa, edemaciada, incluindo na face,
pelo SARS CoV 2. Ao exame objetivo, apresentava dorso das mãos e pés e rarefação das sobrancelhas.
bolhas hemorrágicas na língua e petéquias. Analitica- Analiticamente, TSH 25,285uUI/mL, T4 e T3 livres in-
mente, apresentava ausência de plaquetas, achado doseáveis. Assumido provável CM em contexto de
confirmado por observação de esfregaço de sangue hipotiroidismo autoimune não suplementado, pelo
periférico. Já em internamento iniciou episódio de que iniciou tratamento de suporte, glucocorticoide e
hematúria sem repercussão hemodinâmica. Tendo levotiroxina com evolução favorável do quadro clíni-
em conta a apresentação clínica e os achados labo- co e do perfil tiroideu. Ao quinto dia de internamento,
ratoriais, assumiu-se o diagnóstico de PTI e iniciou inicia picos febris com progressão para tempera-
tratamento empírico com prednisolona na dose de tura persistentemente superior a 37,5ºC associada
1 mg/Kg sem recuperação hematológica e por isso, a rigidez muscular, taquicardia e agravamento da
foi iniciada imunoglobulina na dose de 0,7 mg/kg/dia apatia. Realizou toma única de haloperidol por epi-
durante 3 dias e feito o switch para dexametasona sódio de agitação psico-motora noturna, verifican-
40 mg/dia. A pesquisa de anticorpos anti-plaquetas do-se exacerbação do quadro. Do estudo realizado,
foi positiva. Apresentou subida paulatina dos níveis sem evidência de infeção mas analiticamente com
de plaquetas mas com resolução do quadro de he- CK 1041 U/L, TGO 111 U/L, TGP 143 U/L, LDH 538
matúria e petéquias. Foram excluídas outras causas U/L. Assumido quadro de SMN agravado pelo ha-
de PTI, nomeadamente víricas, autoimunes e hema- loperidol. Suspendeu neurolépticos e não retomou
tológicas, pelo que foi assumido o diagnóstico de paliperidona (próxima toma seria nessa semana).
PTI associada a Infeção pelo SARS-CoV 2.  Iniciou biperideno com resolução da rigidez muscu-
lar e posteriormente medicada com aripiprazol, sem
Discussão: No caso descrito o doente apresentou o recrudescimento da sintomatologia.
quadro compatível com PTI ao 10º dia  de infeção

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 37


Discussão: O hipotiroidismo pode predispor à SMN Discussão: Este caso mostra um doente que apesar
por aumento secundário da atividade dopaminér- da idade sobrevive a uma PCR decorrente de TEP
gica, podendo também mascarar a sua sintomato- maciço e desenvolve CTEPH. A tromboendarterec-
logia. Este caso integra duas entidades raras, cuja tomia pulmonar é a única terapia potencialmente
associação pode constituir um desafio diagnóstico curativa desta entidade. A terapia médica consiste
sobretudo pelo antagonismo das apresentações clí- em vasodilatadores pulmonares e agentes que di-
nicas. minuem a resistência vascular pulmonar. Apesar de
não ser curativa, tem efeitos modestos na sintoma-
CO n.º 1315  tologia do doente, encontrando-se indicada em algu-
Embolia pulmonar com paragem cardio-respiratória mas situações. O riociguat pode ser preferido por ser
– um caso de sucesso. um medicamento oral. Este relato de caso, mostra a
Joana Subtil(1);Ana Filipa Rebelo(1);Fernando Sal- melhoria clínica e o perfil de segurança deste fárma-
vador(1) co em casos de CTEPH não operáveis.
(1) Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Dou-
ro, EPE / Hospital de Vila Real CO n.º 1330 
Citomegalovírus - uma apresentação atípica
Tema:Doenças cardiovasculares Rita Bernardino(1);Rita Monteiro(1);Joana Dio-
go(1);Carolina Coelho(1);Rita Bizarro(1);Angela
Introdução: Ghiletchi(1);Inês Matos Ferreira(1);Inês Fiuza m.
Rua(1);Diogo Dias Ramos(1);Mónica Albuquer-
A Embolia pulmonar (TEP) é uma forma de trom- que(1);Rodrigo Leão(1);Ana Serrano(1)
boembolismo venoso comum e ocasionalmente fa- (1) Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE / Hos-
tal. A apresentação clínica é variável e inespecífica, pital de Santo António dos Capuchos
mas raramente se apresentam com choque, arritmia
Tema:Doenças infecciosas e parasitárias
ou síncope. A hipertensão pulmonar tromboembó-
lica crónica (CTEPH) é uma complicação tardia do
TEP agudo não resolvido, com incidência estimada Introdução: O citomegalovírus humano (CMV) é um
de 1-5%. organismo ubiquitário e importante agente patogé-
nico em grávidas e imunodeprimidos. Geralmente
Caso Clínico: considerado inofensivo nos imunocompetentes
existem, contudo, casos descritos de doença grave
Doente de 86 anos, sexo masculino, parcialmen- causada pelo CMV neste último grupo, com atingi-
te dependente, com antecedentes de HTA, DM 2 e mento em diferentes órgãos e por isso diferentes
HBP, deu entrada na urgência após crise epilética apresentações. A evolução clínica é variável, poden-
inaugural, tendo evoluído com quadro de vómitos e do ocorrer desde resolução espontânea até morte.
hematoquézias com subsequente paragem cardio-
-respiratória (PCR) revertida, sendo diagnosticado
Caso Clínico: Mulher, 21 anos, natural da Índia, resi-
com TEP bilateral de alto risco, PESI V, e admitido
dente em Portugal há 5 anos. Sem antecedentes pa-
nos Intensivos. Contra-indicada trombólise pela he-
tológicos conhecidos, hábitos etanólicos, tabágicos
morragia ativa e anatomicamente desfavorável para
ou toxifílicos. Recorre à urgência por quadro de dor
trombectomia mecânica, iniciou HNF em perfusão.
abdominal em cinturão associada a dejeções diar-
Manteve instabilidade hemodinâmica e insuficiência
reicas com sangue com 2 semanas de evolução.
respiratória grave tendo sido submetido a trombó-
Após controlo analítico com hiperamilasemia 233
lise ao dia 9 de internamento com melhoria ligeira
e lipase 521 realizou TC-Abdominal com aspectos
da insuficiência respiratória. Posteriormente repetiu
atribuíveis a pancreatite aguda alitiasica, Ranson
ecocardiograma, angioTC e cintigrafia ventilação-
0, pelo que foi internada. Fez-se estudo de doen-
-perfusão, verificando-se depressão da função do
ças autoimunes que revelou ANA positivo (padrão
ventrículo direito e diagnosticado com CTEPH. O
nucleolar 1:160), VS 33, com ASCA, Ac anti-dsDNA,
caso foi discutido com o grupo de Hipertensão Pul-
ENAS, FR, Ac Anti-gliadina, Ac anti-transglutamina-
monar, sendo considerado inoperável, iniciou trata-
se, Ac Anti-edomisio negativos. Para determinar
mento com riociguat. Após 15 dias repetiu ecoTT
eventual causa infecciosa realizou serologias HIV,
que mostrou melhoria na função sistólica ventricular
HBV, HCV, pediu-se exame bacteriologico e para-
direita, agora globalmente conservada e melhoria na
sitológico e pesquisa de virus nas fezes que não
classe funcional. No internamento apresentou varias
revelaram alterações. Identificou-se Ac. CMV IgG
intercorrências infeciosas, tendo alta após 47 dias,
6670, IgM 1.45 e carga viral 65.2 UI/mL. Realizou
medicado com riociguat e hipocoagulado com riva-
posteriormente retosigmoidoscopia que destacava
roxabano. Após 8 meses da alta, doente mantem te-
mucosa edemaciada, com apagamento do padrão
rapêutica e estabilidade clínica.
vascular e exsudado aderente, sem aspetos suges-

38
COMUNICAÇÕES ORAIS
tivos de doença inflamatória intestinal. Efectuadas manas seguintes houve agravamento da taquipneia
biópsias com alterações histológicas compatíveis e hipoxemia, com necessidade de OAF e VNI. A PCR
com colite de etiologia infecciosa por CMV. Admi- nasofaríngea para SARS-CoV-2 foi persistentemente
tiu-se colite por CMV e iniciou terapêutica dirigida positiva e a replicação vírica foi confirmada em cultu-
com Ganciclovir com melhoria clinica e analítica. ra celular. A imunofenotipagem do sangue periférico
demonstrou ausência de células B, mais de 90 dias
Discussão: A doença por CMV em imunocompe- após a última toma de rituximab. Não foram detec-
tentes não é tão rara quanto se pensa e a sua mor- tados anticorpos anti-SARS-CoV-2 séricos. A doente
talidade não é desprezível. Existem alguns casos iniciou um curso de 4 dias de plasma convalescente
descritos de colite a CMV em doentes imunocom- com melhoria clínica, gasimétrica e analítica signifi-
petentes, já o diagnóstico de pancreatite por CMV é cativa nos dias seguintes, tendo tido alta no dia 114.
mais difícil de estabelecer e os casos descritos na  
literatura são anedóticos. 
Discussão:  O rituximab induz uma depleção mar-
CO n.º 1339  cada humoral e na resposta de células B a diversos
Plasma convalescente na infecção prolongada por microorganismos, incluindo um risco de COVID-19
SARS-CoV-2 em doente imunocomprometida com grave. Esta doente estava profundamente  imuno-
Lúpus comprometida após a toma de rituximab e desen-
Sara Moutinho Pereira(1);Raquel Calisto(1);Anabela volveu pneumonia SARS-CoV-2 com hipoxemia que
Ferreira(1);Isabel Cruz(1);Rute Fernandes(1);Fede- durou mais de 3 meses, sendo tratada com sucesso
rico Sabio(1);Helena Cruz Gomes(2);Luísa Guerrei- após um curso de 4 dias de plasma convalescente.
ro(1)
(1) Unidade Local de Saúde de Matosinhos, EPE / CO n.º 1364 
Hospital Pedro Hispano (2) Centro Hospitalar de O FÍGADO TAMBÉM PODE SOFRER - UM CASO DE
Vila Nova de Gaia / Espinho TOXICIDADE À VACINA CONTRA COVID-19
Dra. Ana Rodrigues(1);Diogo Marques(1);Pedro Soa-
Tema:Doenças infecciosas e parasitárias res(1);Filipa Marques(1)
(1) Hospital da Luz Oeiras
Introdução: Os anticorpos monoclonais anti-CD20
são o tratamento de referência das neoplasias de Tema:Outro
células B e algumas doenças autoimunes. Porém,
no contexto actual, os doentes tratados com ritu- A vacinação desempenha um papel central na pre-
ximab estão em risco acrescido de desenvolver servação de vidas humanas no contexto da pande-
infecção grave por SARS-CoV-2. Alguns relatos mia COVID-19. A Vaccine Moderna® foi aprovada
descrevem pneumonia prolongada neste grupo de para prevenção da COVID-19 em pessoas com idade
doentes. Um número crescente de casos de doen- ≥18 anos; é uma vacina de RNA mensageiro que
tes com linfopenia profunda de células B, demons- codifica para a proteína S do vírus SARS-CoV-2. As
traram um benefício da terapia com plasma conva- reações adversas muito frequentes (≥1/10) são
lescente nestes doentes. ligeiras ou moderadas em intensidade e resolvidas
alguns dias após vacinação, sendo mais frequentes
Caso clínico:  Uma mulher de 39 anos desenvolveu após a segunda dose.
anosmia, febre, cefaleia, diarreia e por fim, tosse e
dispneia. A doente apresentava antecedentes de Apresentamos os caso de uma mulher de 36 anos,
lúpus eritematoso sistémico (LES) controlado com submetida à vacinação com esta vacina, de acor-
hidroxicloroquina, leflunamida e rituximab bianual, do com o RCM do produto.  Após a primeira dose
com a última administração 1 mês antes. Por agra- desenvolve quadro de cefaleias, prostração e aste-
vamento dos sintomas, foi admitida no hospital com nia com 48 horas de duração. Alguma horas após a
pneumonia SARS-CoV-2 que progrediu com insufi- segunda dose inicia febre (38º) e sintomas gripais.
ciência respiratória aguda. A tomografia computo- Às 48 horas surgimento de adenomegalia axilar
rizada  torácica revelou infiltrados pulmonares bila- no membro da injeção, sem outras complicações
terais em vidro despolido, sem tromboembolismo. locais. Evolui às 72 horas com quadro de prurido ge-
Iniciou dexametasona e, ao longo do internamento, neralizado, nauseas e urina escura seguindo-se
foram tratadas diversas infecções nosocomiais, mas equimoses nos membros. Negava história de COVID
a febre persistiu e houve agravamento imagiológico. 19 ou contactos de risco, sem serologia prévia à va-
Realizou broncofibroscopia e lavado broncoalveolar cina. Antecedentes pessoais: hepatite A na infância,
com linfocitose CD8+ e macrófagos espumosos su- alergia alimentar à amêndoa.
gerindo pneumonia criptogénica organizativa (COP),
tendo sido aumentada a dose de corticóide. Nas se- Avaliada ao 10º dia destacando-se à observação
escleróticas ictéricas e equimoses dispersas nos
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 39
membros. Analiticamente padrão de citocolestase bilaterais. Para exclusão de doença linfoproliferativa
- BRB t 3,5 mg/dl, conj 2.2 mg/dl, AST 117 UI/L, ALT realizou mielograma e biópsia óssea, assim como
212 UI/L, FA e GGT normais. PCR SARS COV 2 – imunofenotipagem, que revelou apenas eosinofilia
negativo. Presença IgG para hepatite A; serologias medular, sem outras alterações. Dado o quadro sis-
VIH, hepatites B e C, citamegalovirus, epstein barr e témico sem diagnóstico aparente após investigação
toxoplasmose negativas.  Ecografia abdominal sem inicial, foram realizadas biópsias cutâneas e excisão
alterações. de um gânglio inguinal para avaliação anátomo-pa-
tológica. As biópsias cutâneas apresentaram inva-
Foi recomendado repouso e dieta, mantendo-se são eosinofílica sugestiva de toxidermia, enquanto
sintomática durante cerca de uma semana, após o gânglio linfático apresentava acentuada expansão
o que se verificou melhoria progressiva do quadro, por células histiocitárias S100+, com emperipolesis,
associada a descida lenta dos parâmetros de cito- achados compatíveis com a DRD, sem aspetos de
colestase, com recuperação total às cinco semanas doença linfoproliferativa. Observou-se resolução es-
após o diagnóstico. pontânea das lesões cutâneas e do quadro inflama-
tório sistémico.
Foi realizada notificação ao INFARMED, tendo sido
a relação causal entre o medicamento suspeito e a A DRD tem geralmente uma evolução benigna, cujo
reacção adversa notificada classificada como pro- diagnóstico é fundamentalmente histológico. Não
vável e a recção adversa notificada como possível existe uma abordagem terapêutica uniforme, sendo
pois apesar de não se encontrarem descritas em esta sensível à corticoterapia e guiada de acordo
RCM, estão documentadas na base de dados da com as circunstâncias clínicas e o envolvimento or-
OMS.  gânico. Dado a presença de apenas linfadenopatia
não-complicada, sem outra sintomatologia atribuível
Face à rápida necessidade do controlo da pademia
à doença, e evidência de remissão espontânea em
COVID 19, grande parte através da vacinação e aten-
20 a 50% destes casos, foi adotada uma estratégia
dendo a que estes medicamentos estão a ser admi-
de vigilância ativa. 
nistradas pela primeira vez, os profissionais de saú-
de devem estar especialmente atentos a eventuais CO n.º 1405 
reações adversas e reportá-las sistematicamente Uso de ventilação não invasiva em doentes com
insuficiência respiratória por COVID-19 em enfer-
CO n.º 1396 
maria
Doença de Rosai Dorfman: um caso clínico
Bruno Sousa(1);Vilma Laís Grilo(1);Catarina Pestana
Tiago Ferreira(1);Vanessa Patel(1);Carolina Pei-
Santos(1);Daniela Cruz(1);Mafalda Sequeira(1);José
xe(1);Marta Lopes(1);Nuno Vieira e Brito(1);Paula
Proença(1);Fábio Barbosa(1);Filipa Monteiro(1);Inês
Alcântara(1)
Pintassilgo(1);Tiago Judas(1)
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi-
(1) Hospital Garcia de Orta, EPE
tal de Santa Maria
Tema:Urgência, cuidados intermédios e doente crí-
Tema:Doenças hematológicas
tico

A doença de Rosai Dorfman (DRD) é uma doença


Introdução: A utilização de ventilação não invasiva
histiocítica proliferativa rara caracterizada pela pro-
(VNI) nos doentes com infeção Sars-Cov2 é incerto,
dução e acumulação de histiócitos principalmente
mas os dados sugerem uma diminuição da necessi-
nos nódulos linfáticos, podendo  envolver qual-
dade de entubação orotraqueal e na mortalidade.
quer órgão e sistema.

Objetivo: Avaliar os outcomes da aplicação de VNI


Apresentamos o caso clínico de uma mulher de 43
numa população de doentes com insuficiência res-
anos, caucasiana, com diagnóstico recente de vas-
piratória por infeção a SARS COV2 internados em
culite leucocitoclástica e pitiríase rosada. Admitida a
enfermaria covid.
nível hospitalar por dermatose eritematodescamati-
va generalizada, não pruriginosa, com vários meses Material e métodos: Análise retrospetiva dos doen-
de evolução, adenopatias inguinais e febre de pre- tes admitidos em enfermaria covid, com infeção a
domínio vespertino. Da investigação complementar SARS-COV2 e insuficiência respiratória com ne-
destaca-se a elevação dos parâmetros de fase agu- cessidade de VNI, no período de Novembro 2020 a
da, eosinofilia periférica, e um estudo imunológico Janeiro 2021. Os dados foram obtidos dos registos
negativo. Não foi identificado foco infecioso. Imagio- clínicos e feita a análise demográfica e outcomes
logicamente apresentava moderada hepatomegália através da plataforma SPSS
e adenomegálias nas cadeias axilares, retropeitorais,
supraclavicular esquerda, ilíacas externas e inguinais Resultados: Do total de 587 doentes admitidos em

40
COMUNICAÇÕES ORAIS
enfermaria covid, 170 (28.9%) foram submetidos a recorre ao hospital por crise convulsiva tónico-clóni-
VNI. Destes, 87 (51.2%) tiveram sucesso (desmame ca generalizada (CTCG), episódio inaugural, sem
de ventilação) e 83 (48.9%) não responderam ao história de febre. Sem alterações ao exame neuroló-
VNI, dos quais 36 foram entubados oro-traqueal- gico após crise. TC crânio (TC-CE) e eletroencefalo-
mente e destes 15 faleceram. grama sem alterações. No dia seguinte iniciou febre
e cefaleia frontal com novo episódio CTCG. Realizou
Quando analisados os dois grupos de doentes punção lombar, com citologia do LCR a mostrar
(divididos em sucesso e insucesso ventilatórios), pleocitose e proteinorráquia, iniciando empiricamen-
foram encontradas diferenças estatisticamente te ceftriaxone, vancomicina e aciclovir. Foi isolado
significativas na idade (65 vs 72, p<0.001), género HSV1, pelo que foi suspensa antibioterapia. Repe-
(género masculino associado a insucesso, p<0.001), tido TC-CE compatível com processo de encefalite.
na presença de co morbilidades como hipertensão Ao 6º dia de internamento com deterioração do
arterial (53 vs 72, p<0,001), diabetes mellitus (23 vs estado de consciência com necessidade de entuba-
35, p=0,003) e lesão renal aguda (19 vs 37, p=0,002) ção orotraqueal e ventilação mecânica invasiva. Re-
e na presença de sobreinfeção durante o interna- petiu TC-CE que identificou isquémia aguda das ar-
mento (34 vs 62, p<0,001). térias cerebral média e posterior homolaterais, com
edema cerebral grave e hidrocefalia ativa. Realizada
Foram encontradas ainda diferenças entre as
craniectomia descompressiva emergente com biop-
medianas do nº dias de internamento (20 vs 16,
sia do tecido cerebral que identificou infiltrado linfo-
p=0.004) e do nº de dias desde inicio sintomas até
cítico associado a necrose celular, isolando HSV1.
VNI (7 vs 5, p=0.001).
Excluídas causas secundárias de AVC no doente
Quando avaliada a relação pO2/FIO2 às 0h (108 vs jovem. Cumpriu 21 dias de aciclovir, tendo apresen-
83, p>0.001), 1h (148 vs 102, p=0.001) e 24h (148 vs tado melhoria lenta e progressiva, encontrando-se
102, p<0.001) de VNI, foram também encontradas atualmente em processo de reabilitação. 
diferenças estatisticamente significativas entre as Este caso pretende demonstrar uma complicação
medianas dos dois grupos. rara da encefalite a HSV associada a elevada morbi-
mortalidade. A ausência de fatores predisponentes
Não foram encontradas diferenças relativamente à ou precipitantes torna a sua apresentação imprevisí-
terapêutica (corticoterapia e remdesivir) ou à pre- vel e realça a complexidade e desafio da abordagem
sença de linfopenia ou elevação de d-dimeros. dos doentes com encefalite herpética. 
Conclusões: O uso de VNI nos doentes com Co-
vid-19 pode ser considerada uma opção nos doen- CO n.º 1530 
tes com insuficiência respiratória em contexto de Vasculopatia por infecção VIH: uma comorbilidade
enfermaria. A presença de comorbilidades, a idade importante a considerar no diagnóstico diferencial
avançada e a presença de sobreinfeção estiveram Ana Carolina Monteiro(1);Clara Matos(1);Ana Catari-
associadas a maior insucesso na aplicação de VNI. na Lameiras(1);Marta Lopes(1);Martim Trovão Perei-
As semelhanças entre os dois grupos torna a aná- ra Bastos(1);Maria do Céu Dória(1);Teresa Branco(1)
lise de variáveis dificil, existindo necessidade de (1) Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca
mais estudos.
Tema:Doenças infecciosas e parasitárias
CO n.º 1460 
AVC isquémico - Uma Complicação Rara de Ence- Introdução: A infeção pelo vírus de imunodeficiência
falite por Herpes Simplex humana (VIH) está associada a maior risco de even-
Mariana Oliveira(1);Luis Tavares(1);Sara Ledo(1);Pa- tos cerebrovasculares isquémicos. A etiologia é
mela Ferreira(1);Humberto Costa(1) multifatorial, incluindo a vasculopatia associada ao
(1) Hospital do Divino Espírito Santo, Ponta Delgada VIH, infeções oportunistas, neoplasias, cardioembo-
lismo, entre outras.
Tema:Doenças cérebro-vasculares e neurológicas
Caso: Trata-se de uma mulher de 32 anos sem ante-
A encefalite por Herpes Simplex (HSV) é uma emer- cedentes pessoais conhecidos, admitida por quadro
gência neurológica com alta taxa de mortalidade. A neurológico de início súbito ao acordar, tendo sido
apresentação geralmente é inespecífica. O diagnós- objetivada disartria, paresia facial central esquerda,
tico definitivo é estabelecido pela correlação clínica flexão dos dedos da mão esquerda na prova dos bra-
e isolamento no líquido cefalorraquidiano (LCR) de ços estendidos, ligeira queda do membro inferior es-
HSV. O AVC isquémico é uma complicação rara, in- querdo na prova de Mingazinni e hipostesia da hemi-
dependente da idade ou sexo, não estando associa- face e hemicorpo esquerdo. Angio-TC dos vasos do
da a comorbilidades ou imunossupressão.  pescoço e do polígono de Willis que documentou es-
Descreve-se uma doente de 28 anos, saudável, que tenose suboclusiva da artéria carótida interna direita

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 41


nos seus segmentos cervical e intracraniano. Efetua- PET sem captação a nível aórtico a sugerir vasculite,
da angiografia que revelou trombo suboclusivo do sem evidência de captação a nível miocárdico; cap-
segmento cavernoso da artéria carótida interna direi- tação hepática homogénea, adenomegalias hilares,
ta, tendo sido realizada trombectomia aspirativa. Ob- abdominais e pélvicas; captação assimétrica a nível
jetivadas em TC-CE de controlo às 24h novas lesões ocular direito e músculos retos. Por estes  achados
parenquimatosas encefálicas.  Do estudo etiológico e citocolestase hepática, internamento para bióp-
do AVC no jovem, destaca-se o diagnóstico inaugu- sia hepática que revelou envolvimento hepático por
ral de infeção por VIH-1 (carga viral VIH-1 88.400 doença granulomatosa. TC tórax revelou  áreas de
copias/ml, linfócitos CD4+ 243 células). Foram ex- consolidação alveolar no LID evidenciando cavitação
cluídas infeções oportunistas, sífilis, etiologia car- central de novo,  alterações inflamatórias em prová-
dioembólica e síndromes pró-trombóticos. Admitido vel relação com  doença granulomatosa, sugerindo
quadro de acidente vascular cerebral isquémico em envolvimento pulmonar. Realizado teste de hipoten-
doente com estenose carotídea congénita e provável são ortostática no internamento, que foi positivo. As-
vasculopatia ao VIH, tendo sido iniciada terapêutica sumido diagnóstico de Sarcoidose com atingimento
anti-retroviral. miocárdico, ocular, hepático e pulmonar.

Discussão: Este caso destaca a importância de in- Discussão: A Sarcoidose como causa de IC é rara e,
cluir a infeção por VIH na investigação etiológica de por isso, muitas vezes esquecida. Os autores trazem
um AVC em doentes jovens, permitindo neste caso este caso pela apresentação rara como miocardio-
o seu diagnóstico inaugural. Deste modo, o início patia infiltrativa e por haver documentação da doen-
célere de terapêutica dirigida pode contribuir para a ça em diversas tipologias de exame de imagem.
prevenção secundária de novos eventos, minimizan- Uma valorização adequada dos exames disponíveis
do a incapacidade daí resultante. e, com base nos resultados, adequar a restante mar-
cha diagnóstica no sentido de não deixar escapar
CO n.º 1532  diagnósticos raros e com tratamento dirigido, são
Miocardiopatia infiltrativa – um ponto de partida pilares fundamentais na abordagem ao estudo etio-
raro para o diagnóstico de Sarcoidose lógico da IC.
Rita Gouveia(1);Marina Gonçalves(1);Ana Raquel d.
Neves(1);Pedro Marques(1);Ana Ribeiro(1);Jorge CO n.º 1565 
Almeida(1) HHV-7 encephalitis as the first manifestation of
(1) Centro Hospitalar de S. João, EPE immunodeficiency
Mafalda Ferro Teixeira(1);Joana Rabaçal(2);Vera
Tema:Doenças autoimunes, reumatológicas e vas- Lúcia Ferreira Luís(3);Marco Fernandes(2);Pedro
culites Pires(2);Tomás Lamas(2);Eduarda Carmo(2)
(1) Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca (2) Cen-
Introdução: A Sarcoidose é uma doença granuloma- tro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE / Hospital
tosa sistémica de causa indeterminada com atingi- Egas Moniz (3) Hospital Portimao
mento cardíaco em até 25% dos casos, por vezes
subreconhecido. O reconhecimento precoce de en- Tema:Doenças oncológicas
volvimento miocárdico é importante na prevenção
do desenvolvimento e agravamento de Insuficiência A 57-year-old male, an active smoker with known
Cardíaca (IC) e técnicas avançadas de imagem history of chronic obstructive pulmonary disease,
ganham cada vez mais importância. Os autores was admitted to the emergency department after
trazem um caso de Sarcoidose com atingimento three generalized tonic-clonic seizures. No symp-
sistémico cuja marcha diagnóstica foi iniciada para toms were noted in the preceding days. At admis-
estudo de miocardiopatia infiltrativa. sion, the patient punctuated 3 in the Glasgow Coma
Scale (GCS), was febrile (tympanic temperature of
Caso clínico: Homem, 70 anos, antecedentes de dis- 37.9ºC), had asymmetrical tetraparesis, conjugate
lipidemia e aneurisma da aorta abdominal submetido gaze to the right and had no evidence of meningism.
a EVAR (endovascular aneurysm repair). Seguido em Initial blood work revealed no relevant changes (neg-
consulta por IC com fração de ejeção midrange de ative for HIV and toxic substances). Cranial CT scan
etiologia em estudo. Cintigrafia de perfusão miocár- showed traumatic subarachnoid hemorrhage on the
dica e RMN cardíaca sem aparente etiologia isqué- left precentral sulcus and two small parenchymal
mica, com hipertrofia do ventrículo esquerdo septal hemorrhages on the right temporal lobe with no ar-
e alterações sugestivas de miocardite, levantando-se terial or venous lesions on CT angiogram. Regarding
a hipótese  Sarcoidose. Estudo autoimune negativo, the inability to maintain airway patency, the patient
ECA 60U/L, ligeira elevação de IgG4, sem proteinú- was intubated and transferred to the Intensive Care
ria. Espirometria com alteração ventilatória ligeira. Unit. A lumbar puncture was performed; the CSF
was almost normal, save for a discreetly high pro-
42
COMUNICAÇÕES ORAIS
tein level (75mg/dL). Acyclovir was started to cover de Bismuto/ 125mg MTZ/ 125mg Tetraciclina, 3 cáp-
for possible viral encephalitis. Brain MRI performed sulas, 4/id durante 10 dias); manteve desequilíbrio
3 days after admission showed a right lenticular marcado nas primeiras 2-3 semanas, com melhoria
small acute ischemic lesion and a tumefactive hy- gradual posterior. No exame neurológico apresenta-
perintensive lesion on T2 of the right hippocampus va ainda uma síndrome cerebelosa axial e cinética
and hippocampal gyrus with associated small hem- de gravidade ligeira/ moderada, sem disartria, alte-
orrhage, suggestive of herpetic encephalitis. EEG rações motoras ou sensitivas. A Ressonância Mag-
had no criteria for status epilepticus but showed fo- nética (RM) Cranioencefálica (CE) mostrou alteração
cal, scarce paroxysmal activity in the right temporal de sinal simétrica envolvendo os núcleos dentados
region. Further CSF analysis revealed a positive PCR do cerebelo, com hipossinal em T2 e FLAIR, sem
test for human herpesvirus 7 (HHV-7). There was fa- blooming em T2* e sem captação de gadolínio. Os
vorable neurologic and overall clinic progress and at exames  laboratoriais e a eletromiografia não revela-
day seven patient was transferred to the Neurology ram alterações significativas. Na observação 1 mês
ward with the diagnosis of status epilepticus caused depois, objetivou-se a persistência da melhoria da
by HHV-7 encephalitis in an apparently immunocom- ataxia, com marcha autónoma possível, sem apoio.
petent patient. After 21 days of acyclovir, a second
MRI was performed and showed persistence of the Discussão: O caso demonstra que a toxicidade cere-
right temporal lesion which raised the question of belosa pelo MTZ pode ocorrer com doses terapêuti-
whether a neoplasm of the central nervous system cas do fármaco. Apesar da fisiopatologia não estar
should also be considered. Radiologic features sug- totalmente esclarecida, a evolução é geralmente
gest that a glioblastoma is the most likely diagnosis. favorável, com melhoria clínico-radiológica após a
As such, unlike previously thought, this was a case suspensão do tratamento. Os achados na RM CE,
of HHV-7 encephalitis in an immunodeficient host. com envolvimento bilateral e simétrico dos núcleos
From the point of view of critical care, this is an ex- dentados, têm grande relevância no diagnóstico. A
ample of how empirical treatment of a rare infection presença de depósitos ferromagnéticos está pro-
in an apparently immunocompetent patient was es- vavelmente relacionada com um efeito tardio da
sential to his survival and to buy time while further toxicidade do MTZ. Este caso ilustra a necessidade
investigation was made. de considerar esta hipótese de diagnóstico precoce-
mente, uma vez que a suspensão atempada do MTZ
contribui para um melhor o prognóstico.
CO n.º 1574 
Síndrome cerebeloso associado ao Metronidazol CO n.º 1595 
Marina Coelho(1);Ana Martins Rodrigues(2);Inês Fi- MIS-A, uma apresentação rara da infeção por SARS
gueiredo(3);Dulce Bonifácio(1);João Araújo(1);Marta CoV2
Ferreira(4);Ana Arraiolos(2);Rui Duarte Armindo(2);- Dora Gomes(1);Daniela Duarte(1);Alexandra Va-
José Vale(2) z(1);Catarina Oliveira(1);Joana Capelo(1);Margarida
(1) Centro Hospitalar do Oeste / Hospital Distrital de Rato(1);Inês Almeida(1);Joana Correia(1);António
Torres Vedras (2) Hospital Beatriz Angelo (3) Centro Novais(1);Ana Lemos(1)
Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa (4) Hospital Bea- (1) Centro Hospitalar Tondela-Viseu, EPE / Hospital
triz Ângelo de São Teotónio, EPE
Tema:Doenças cérebro-vasculares e neurológicas Tema:Doenças raras

Introdução: O metronidazol (MTZ) é um fármaco A infeção pelo SARS CoV2 pode manifestar-se de
de uso frequente no tratamento de infecções por múltiplas formas, entre as quais, a Síndrome Infla-
bactérias anaeróbias e protozoários. Os seus efei- matória Multissistémica (MIS), que se caracteriza
tos neurotóxicos são raros, manifestando-se habi- por um estado hiperinflamatório em que ocorre
tualmente por polineuropatia periférica, neuropatia disfunção multiorgânica. Esta síndrome foi inicial-
óptica, disfunção cerebelosa e/ou encefalopatia. A mente descrita em crianças (MIS-C), havendo casos
sua ocorrência pode gerar dificuldades no diagnósti- relatados em adultos (MIS-A).
co diferencial com outras patologias. Descrevemos
um caso de ataxia cerebelosa por MTZ.
Mulher, 22 anos, sem antecedentes de relevo, recor-
reu ao serviço de urgência (SU) por quadro de tosse
Caso Clínico:  Mulher, 72 anos com  antecedentes seca, mialgias, ageusia, odinofagia, exantema e fe-
relevantes de gastrite crónica e infeção por Helico- bre com 3 dias de evolução. Realizou zaragatoa de
bacter Pylori (HP). Admitida por desequilíbrio na mar- SARS CoV2 que foi positiva. Teve alta com medidas
cha com cerca de 5 meses de evolução. O quadro de isolamento.
começou a manifestar-se no final do tratamento de
erradicação de HP  com PyleraÒ (140mg Subcitrato Em D5 de doença, por agravamento clínico, intolerân-
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 43
cia alimentar e diarreia, retornou ao SU, sendo admi- Caso Clínico: Doente do sexo feminino, 20 anos, au-
tida em internamento. tónoma. Sem antecedentes de relevo. Referenciada
para consulta de Cardiologia, há cerca de 4 anos,
Dado apresentar lesões em placas eritemato-violá- por quadro clínico caracterizado por cansaço fácil
ceas, a maioria com configuração em alvo, localiza- para pequenos esforços e episódios de lipotímia,
das no tronco, coxas e dorso das mãos, foi obser- sem outros sinais ou sintomas. Realizou ecografia
vada por Dermatologia que colocou a hipótese de transtorácica neste contexto, com a objetivação de
eritema multiforme de provável etiologia vírica. um vaso intra-hepático com trajeto semelhante à
veia cava inferior a entrar na aurícula direita, mas
Em D7 de doença, agravamento clínico, com disp-
sem continuidade extra-hepática. Perante este
neia, toracalgia e insuficiência respiratória tipo 1
achado realizou cateterismo cardíaco – interrupção
(relação paO2/FiO2 229). Avaliação analítica e ECG
da VCI com circulação através do sistema ázigos e
sem alterações sugestivas de isquemia miocárdica.
hemiázigos. Após 2 anos foi referenciada para con-
Fez TAC toraco-abdomino-pélvica sem infiltrados
sulta de Medicina Interna por apresentar circulação
nem consolidações pulmonares, sem sinais de
colateral exuberante nos quadrantes abdominais
tromboembolismo, revelando achados sugestivos
inferiores e região proximal dos membros inferiores,
hipoperfusão renal, esplénica e hepática. Ecocar-
e edema bilateral. Face a estudo prévio, progre-
diograma mostrou disfunção sistólica grave do
diu-se nos exames imagiológicos com angioTAC
ventrículo esquerdo por hipocontratilidade global
tórax e abdómen – circulação colateral abdominal
(FEVE 25-30%), sendo admitida na UCIC. Admitiu-se
e pélvica, em drenagem venosa através das veias
MIS-A, com envolvimento cutâneo, gastrointestinal
ázigos e hemiázigos, que confluem para a veia cava
e cardíaco.  Cumpriu terapêutica com imunoglobu-
superior, não se identificando veias ilíacas. Estudo
lina humana, metilprednisolona e diuréticos, com
funcional e molecular das trombofilias negativo.
progressiva melhoria clínica e, em 48 horas, recupe-
Diante destes achados e evolução, implementa-
ração da função ventricular esquerda (FEVE 48%). À
ram-se medidas para diminuir o risco de trombose
data de alta, melhoria sintomática franca, com remi-
venosa que é uma das complicações mais graves. A
niscentes lesões cutâneas.
situação clínica não é abordável cirurgicamente.
Contrariamente à infeção grave SARS CoV2, em que
Discussão: A Atrésia da Veia Cava Inferior é inco-
o envolvimento pulmonar impera, na MIS-A o acome-
mum, sendo na maioria das vezes diagnosticada
timento respiratório é frequentemente ligeiro, tornan-
após evento trombótico ou exame imagiológico
do-a um desafio diagnóstico. No adulto jovem com
ocasional. Quando diagnosticada previamente a
Covid-19, devemos estar alerta para esta síndrome
evento trombótico, existe uma urgência na imple-
infrequente, dado que poderá ser fatal se não identi-
mentação da prevenção primária para diminuir a
ficada e abordada atempadamente.
prevalência de complicações, principalmente se
CO n.º 1608  coexistir trombofilia.
Atrésia da Veia Cava Inferior: uma malformação
CO n.º 1631 
cardiovascular rara.
Dor torácica no puerpério: disseção de artéria coro-
Telma Alves(1);Diogo Alves(1);Ricardo Rodri-
nária: uma causa rara de síndrome coronário agudo
gues(1);Carolina Terra(1);Joana Paixão(1);Joana
ANTONIO GRILO NOVAIS(1);Ana Pinho(2);Mariana
Cascais Costa(1);Fátima Silva(1);Jorge Fortu-
Taveira(2);Gracieta Malangatana(2);Adriana Alves(2)
na(1);Armando de Carvalho(1)
(1) Centro Hospitalar Tondela-Viseu, EPE / Hospital
(1) Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra /
de São Teotónio, EPE (2) Unidade Local de Saúde de
Hospitais da Universidade de Coimbra
Matosinhos, EPE / Hospital Pedro Hispano
Tema:Doenças raras
Tema:Urgência, cuidados intermédios e doente crí-
tico
Introdução: Atrésia da Veia Cava Inferior (VCI) é
uma patologia vascular congénita rara, com preva-
A dissecção espontânea da artéria coronária
lência < 1%. O diagnóstico é realizado na maioria
(SCAD) é uma causa rara de síndrome coronário
das vezes na segunda década de vida, existindo
agudo (SCA), responsável por cerca de ¼ dos EAM
uma maior prevalência no sexo masculino. Fisiolo-
em mulheres abaixo dos 50 anos, particularmente
gicamente existe uma diminuição do fluxo venoso
diagnosticado durante a gravidez ou no puerpério. A
cardíaco, traduzindo-se em estase venosa na região
etiologia é dúbia e não há consenso quanto à orien-
abdominal e membros inferiores, o que aumenta o
tação terapêutica. 
risco de trombose venosa. Como compensação na
maioria dos casos desenvolve-se circulação colate-
ral. Caso clínico: Mulher de 44 anos, 3G3P, com história

44
COMUNICAÇÕES ORAIS
de hipertensão arterial, recorreu ao serviço de urgên- IL12B como determinantes genéticos partilhados
cia, 4 dias após o parto, por dor torácica em aper- por ambas as patologias.
to, com irradiação para o membro superior esquer-
do, associada a hipersudorese, náuseas e vómitos. Caso Clínico: Apresenta-se uma mulher de 26 anos,
ECG comsupradesnivelamento do segmento ST em com história de colite ulcerosa desde os 15 anos,
DIII e aVF - fez aspirina e ticagrelor. Ecocardiograma medicada com adalimumab e messalazina. Avaliada
com hipocinésia da parede inferior, sem disfunção por quadro com 18 meses de evolução de atingimen-
sistólica biventricular. Cateterismo demonstrou arté- to do estado geral, temperatura subfebril e poliartral-
ria DA descendente anterior com diminuição súbita gias inflamatórias episódicas. Apresentava microa-
do calibre no segmento médio/distal, sugestiva de denopatias cervicais bilaterais, sem outros achados
SCAD; ramo mediano com lesão distal de 70%. Deci- anormais ao exame objetivo. No estudo analítico,
dido tratamento conservador com AAS, ticagrelor e destaque para anemia inflamatória, ferritina, PCR e
estatina. Inibida lactação com cabergolina. VS francamente elevadas e hiperIgG, com auto-anti-
corpos negativos. Do estudo imagiológico, destaque
Manteve-se estável nas primeiras 36 horas, tendo
para TC torácico a mostrar espessamento da pare-
evoluído posteriormente com recidiva de dor torá-
de da aórtica torácica, confirmando-se em angio-TC
cica  e paragem cardiorrespiratória em fibrilhação
espessamento sugestivo de aortite torácica e abdo-
ventricular, com recuperação de sinais de circulação
minal, com uma dilatação aneurismática na emer-
(ROSC) após 1 choque. ECG  pós-ROSC  com acen-
gência da artéria subclávia esquerda, achados muito
tuação do supraST nas derivações correspondentes
sugestivos de TAK. Perante estes achados, ajusta-
à parede postero-inferior. Repetiu cateterismo que
da imunossupressão para corticoterapia sistémica
documentou persistência de disseção da DA média/
(com vista a reduzir até suspensão) e azatioprina,
distal e oclusão distal do ramo mediano no local
mantendo transitoriamente o anti-TNF. No follow-up
da lesão de 70% prévia, com vaso distal muito mal
aos 4 meses encontra-se sob corticoide 0.3 mg/kg/
visualizado com aspeto sugestivo de disseção difusa
dia, em desmame, e azatioprina 2 mg/kg/dia, assin-
distal – não suscetível de intervenção  coronária  p
tomática e com normalização dos parâmetros infla-
ercutânea, pelo que foi definido  manter  tratamento
matórios analíticos.
conservador.  Por ausência de doença coronária
aterosclerótica, optou-se por aspirina como única Discussão: A co-ocorrência de TAK e CU tem sido
terapêutica antitrombótica.  Evolução favorável des- alvo de estudo recente, com identificação de preva-
de então.  lência conjunta que atinge os 6.4% em estudos de
séries de casos de TAK, acreditando-se que a par-
Conclusão: A SCAD é rara, mas uma potencial cau-
tilha de determinantes genéticos seja fundamental
sa catastrófica de SCA. A melhor orientação tera-
para esta sobreposição. Este overlap de condições
pêutica continua controversa. O tratamento conser-
patológicas realça a importância do seguimento
vador é advogado em doentes estáveis, contudo a
destes doentes por internistas e deve baixar o nos-
terapêutica anti-trombótica continua a ser um tópico
so limiar de suspeição de vasculite nos doentes com
de debate: mono ou dupla antiagregação plaquetar
colite, e vice-versa.
plaquetária? Apesar de desfecho positivo, este caso
ilustra o desafio clínico na gestão, ainda que multi- CO n.º 1670 
disciplinar, destes casos. Anemia Hemolítica Auto-Imune – Um desfecho
inesperadamente fatal
CO n.º 1663 
Rita Piteira(1);Filipa Silva(1);Sara Lopes(1);Jéni
Artrite de Takayasu e Colite Ulcerosa: a propósito
Quintal(1);Filipa Carrega(1);Diana Pedreira(1);Ma-
de um caso clínico
nuela Fera(1);Ermelinda Pedroso(1)
Joana Aguiar(1);Andreia Vilas Boas(1);André Soa-
(1) Centro Hospitalar de Setúbal, EPE / Hospital de
res(1);António Carneiro(1)
São Bernardo
(1) Hospital da Luz - Arrábida
Tema:Doenças hematológicas
Tema:Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
culites
A Anemia Hemolítica Autoimune (AHAI) cursa com
destruição precoce dos eritrócitos promovida por
Introdução: A Artrite de Takayasu (TAK) é uma vas-
anticorpos ligados à membrana celular. Apesar da
culite de grandes vasos que afeta sobretudo mulhe-
identificação da doença ser simples, muitas vezes a
res em idade jovem. A Colite Ulcerosa (CU) é uma
etiologia não é evidente e obriga a uma investigação
doença autoimune frequente, sobretudo em homens
alargada. A AHAI pode ser idiopática ou estar as-
com idades entre 15-30 e 50-70 anos. Na etiologia
sociada a uma variada panóplia de patologias infe-
destas entidades são importantes os predisponen-
ciosas, neoplásicas, medicamentosas, autoimunes,
tes genéticos, considerando-se o HLA-B*52:01 e

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 45


e outras, que têm que ser diagnosticadas e geridas Caso clínico: Apresenta-se o caso de uma mulher de
para se poder controlar a doença. 65 anos, com diagnóstico recente de metástases ós-
seas de adenocarcinoma pouco diferenciado de pri-
Apresenta-se o caso de uma mulher de 78 anos, com mário oculto, realizado na sequência de investigação
história conhecida de Hipertensão Arterial, Diabetes de tosse crónica há 11 meses, episódio de trombose
Mellitus tipo2 e Doença de Parkinson, medicada com venosa profunda poplítea há 9 meses e tromboem-
Irbesartan, Metformina e Levodopa/Benserazida. bolismo pulmonar bilateral de baixo risco há 20 dias,
Apresentou-se no Serviço de Urgência por cansaço hipocoagulada com NOAC.
importante para pequenos esforços com 1 semana
Agravamento do quadro com dispneia rapidamente
de evolução. Ao exame objectivo apresentava ape-
progressiva até pequenos esforços com cerca de 2
nas descoloração das mucosas. A avaliação analíti-
semanas de evolução e dessaturação periférica de
ca inicial identificou uma anemia grave (Hemoglobi-
85%.   Realizou ecocardiograma transtorácico que
na 7.4g/dL) macrocítica e hipercrómica, associada
mostrou de novo dilatação das cavidades direitas,
a reticulocitose exuberante, indicativo de anemia
com movimento do septo interventricular compatível
hemolítica (Índice Reticulocitário 7.7; Desidrogenase
com sobrecarga de pressão do ventrículo direito; re-
Láctica 1666 U/L; Hiperbilirrubinémia indirecta; Hap-
gurgitação tricúspide grave com estruturas ecoden-
toglobina <8.2mg/dL), com anisopoiquilocitose e
sas nos folhetos anterior e septal sugestivas de ve-
muitos esferócitos no esfregaço de sangue periféri-
getações, PSAP estimada em 54 mmHg + PVC. Sem
co. O Teste de Coombs directo foi positivo. O estudo
manifestações clínicas de infeção e sem elevação
imagiológico não revelou hépato-esplenomegália. As
de marcadores analíticos inflamatórios, com trom-
serologias, estudo da autoimunidade e pesquisa de
bocitopenia 85000 e aumento de LDH 605Ul/L, foi
crioaglutininas foram negativos. Realizou pulsos de
decidido internamento, tendo iniciado hipocoagula-
corticoterapia, seguido de manutenção com Predni-
ção com heparina de baixo peso molecular e realiza-
solona 80mg/dia. No entanto, a doente evoluiu com
do 4 sets hemoculturas sem isolamento de agente.
agravamento clínico e descida progressiva da hemo-
globina. Foi suspensa toda a medicação da doente, Durante o internamento, evolução clínica desfavo-
à exceção da corticoterapia e iniciou-se Rituximab. A rável com agravamento da dispneia, necessidade
doente acabou por fazer uma paragem cardio-respi- de iniciar oxigenoterapia suplementar e realização
ratória e faleceu 15 dias após a admissão. Posterior- de nova angioTC torácica que mostrou novas áreas
mente, a conclusão do estudo da anemia hemolítica de enfarte pulmonar.  Estabelecido o diagnóstico de
a drogas identificou autoanticorpos eritrócitários in- endocardite marântica e, após procura exaustiva de
duzidos por Levodopa. tumor primário não identificado, proposto à doente
iniciar quimioterapia para adenocarcinoma de primá-
A doente não apresentava história de reação trans-
rio oculto. 
fusional ou de reação medicamentosa conhecidas.
A anemia hemolítica induzida por Levodopa é uma Discussão: A endocardite trombótica não bacteriana
situação rara, com muito poucos casos documenta- é uma condição clínica subdiagnosticada com um
dos, como tal a identificação destas situações é difí- diagnóstico diferencial desafiante. Embora associa-
cil. Apesar da medicação adequada e da suspensão da a um mau prognóstico quando associada a doen-
farmacológica, que habitualmente apresentam uma ça maligna, o seu diagnóstico precoce e a identifica-
resposta de até 90%, o desfecho foi fatal. ção da sua etiologia são determinantes para permitir
um tratamento eficaz.
CO n.º 1675 
Endocardite trombótica não bacteriana: um diag- CO n.º 1690 
nóstico desafiante Quando a febre é arterítica...
Joana Aguiar(1);Alfredo Martins(1);Rui Carnei- Joana Aguiar(1);Rui Barros(1);Andreia Vilas
ro(1);António Carneiro(1) Boas(1);António Carneiro(1)
(1) Hospital da Luz - Arrábida (1) Hospital da Luz - Arrábida
Tema:Doenças oncológicas Tema:Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
culites
Introdução: A endocardite trombótica não bacte-
riana, também conhecida como marântica, é uma Introdução: A arterite de células gigantes (ACG) é
condição rara que se caracteriza pela presença uma vasculite de grandes vasos que tipicamente
de vegetações asséticas nas válvulas cardíacas, envolve a árvore arterial do escalpe, pescoço e
compostas por agregados de fibrina e de plaquetas, membros superiores. Contudo, com o advento da
mais frequentemente na válvula mitral e aórtica, de tomografia por emissão de positrões (PET) no diag-
etiologia inflamatória, auto-imune ou maligna. nóstico e estadiamento das vasculites, a identifica-

46
COMUNICAÇÕES ORAIS
ção de aortite nestes doentes tem vindo a aumen- tiva com o seu consumo em larga escala global.
tar, chegando a 50% em alguns estudos de séries de
casos. Descrevemos o caso clínico de uma doente que se
apresentou com dor abdominal, diarreia, retorragias
Caso Clínico: Apresentamos o caso de uma mulher e icterícia. Medicada com etoricoxib desde há um
com 63 anos, fumadora, sem doenças crónicas co- ano. Analiticamente, tinha hiperbilirrubinemia con-
nhecidas e sem medicação habitual. Foi avaliada por jugada (total 17,9mg/dl), colestase (13 a 31x limite
síndrome febril prolongado com 3 meses, com sinto- superior do normal, LSN), trombocitopenia, anemia,
mas constitucionais que se foram tornando relevan- lesão renal aguda e hipercaliemia com necessidade
tes, com destaque para astenia, anorexia e perda pon- de hemodiálise urgente. Os estudos serológico e au-
deral até 9% da massa corporal total. Analiticamente toimune foram negativos. Ecografia sem alterações.
com anemia normocítica e normorcómica, elevação A colonoscopia revelou aspetos sugestivos de colite
da proteína C reativa e velocidade de sedimentação. isquémica. Excluídas outras causas, considerou-se a
No momento em que foi internada tinha já sido rea- hipótese de iatrogenia farmacológica. Realizou bióp-
lizado estudo complementar extenso, sempre sem sia hepática transjugular que identificou colestase
alterações diagnósticas, e tinha ainda realizado três isolada de provável etiologia tóxica/medicamentosa.
ciclos de antibioterapia, incluindo doxiciclina por se- Através do Roussel Uclaf causality assessment me-
rologias positivas para Rickettsia, sempre sem res- thod, aferiu-se causalidade provável para o etorico-
posta. Na avaliação por TC toraco-abdomino-pélvico xib.
identificou-se espessamento ligeiro da parede da
aorta e carótidas. Apesar da posterior caracterização A variabilidade do uso de AINEs, em duração, dose,
com doppler não mostrar aspetos de envolvimento indicação e combinação terapêutica conduz, com
vasculítico dos vasos supra-aórticos, a PET mostrou frequência, à automedicação que ultrapassa a pres-
captação aumentada nas artérias carótidas comuns, crição médica. Apesar da duração do seu uso não
troncos braquiocefálicos, artérias subclávias, crossa constituir fator de risco para ocorrência de hepa-
aórtica, aorta torácica ascendente e descendente e ainda totoxicidade no mecanismo idiossincrático, AINEs
toda a aorta abdominal até à bifucarção ilíaca num pa- altamente lipofílicos e com doses diárias elevadas
drão sugestivo de vasculite de grandes vasos e in- estão associados ao desenvolvimento de lesão he-
terpretado como ACG. Iniciou corticoide 1mg/kg/dia pática tóxica. No caso clínico, o fármaco alvo de sus-
com melhoria imediata do estado geral e resolução peição tinha um elevado número de prescrições e
da febre. Após 1 mês de corticoterapia, mantém-se tomas abusivas e irregulares que impossibilitaram a
assintomática. sistematização do esquema terapêutico. O fármaco
foi suspenso com o internamento e, após 100 dias,
Discussão: A ACG é um dos diagnósticos diferenciais a doente apresentava apenas colestase de 2,3 a 2,7x
importantes nas síndromes febris prolongadas, po- LSN e bilirrubina total de 1,8mg/dl.
dendo apresentar-se sem os sintomas mais típicos
de envolvimento miálgico ou dos vasos do escalpe. As descrições de lesão hepática induzida por eto-
A distinção entre a ACG com variante de grandes va- ricoxib correspondem a elevação assintomática de
sos e Arterite de Takayasu tem implicações de prog- enzimas hepáticas. Até à data, não existem casos
nóstico e terapêutica. Neste caso, a idade da doente, publicados de hepatotoxicidade induzida por etori-
a apresentação clínica e os achados encontrados na coxib.
PET parecem-nos favorecer o diagnóstico de ACG na
CO n.º 1727 
variante de grandes vasos.
Uma causa rara de um denominador comum
CO n.º 1712  Ana Isabel Brochado(1);David Prescott(1);Marta
Hepatotoxicidade com padrão de colestase induzi- Sanches(1);Vânia Rodrigues Pereira(1);Beatriz Cas-
da por Etoricoxib tro Silva(1);Margarida Pimentel Nunes(1);Inês Bran-
Isabel m Correia(1);Isabel Fonseca(1);Rui m San- co Carvalho(1);Isabel Montenegro Araújo(1);Bárbara
tos(1);Armando Carvalho(1) s. Abreu(1);Vasco Evangelista(1);António Martins
(1) Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra / Baptista(1);José Lomelino Araújo(1)
Hospitais da Universidade de Coimbra (1) Hospital Beatriz Ângelo

Tema:Doenças gastrenterológicas e doenças hepá- Tema:Doenças cérebro-vasculares e neurológicas


ticas
A dispneia é motivo frequente de ida ao Serviço de
Os anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) são Urgência (SU), podendo a sua abordagem revelar-se
fármacos frequentemente prescritos, com baixa in- um desafio diagnóstico na ausência de outros si-
cidência de hepatotoxicidade, que se torna significa- nais e sintomas. 

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 47


Mulher de 69 anos, com história de hemorragia su- Caso clínico:
baracnoideia e epilepsia medicada com valproato
de sódio (VS). Trazida ao SU por alteração do esta-   Homem de 77 anos, internado para estudo
do de consciência, sem défices focais, movimentos de emagrecimento, lombalgia incapacitante,
involuntários ou incontinência de esfíncteres. Ob- degradação do estado geral em 7 meses com perda
jectivada lentificação psicomotora e insuficiência da autonomia e aumento da proteína C reativa (PCR).
respiratória (IR) (pO2 48 mmHg, pCO2 33 mmHg), Tinha diabetes, hipertensão, litíase renal associada
sem alterações auscultatórias e sem edema perifé- a pielonefrites obstrutivas de repetição instrumenta-
rico. Analiticamente, discreta elevação de d-díme- lizadas, antecedentes de neoplasia da próstata tra-
ros, NT-próBNP e troponina I negativa, Rx tórax sem tada e apresentava um espessamento do urotélio a
alterações pleuroparenquimatosas e ECG com in- aguardar estudo dirigido. Do exame físico destaca-
versão das ondas T nas derivações pré-cordiais, já va-se sopro sistólico.
descrito. Para exclusão de evento vascular agudo,
Realizou TC da coluna e cintigrafia, que mostraram
realizou TC-crânio com extensa lesão sequelar tem-
atingimento de D6-D7, com suspeita de espondilo-
poro-insular e núcleo-basal esquerda e angioTC-tó-
discite versus lesão secundária de neoplasia oculta.
rax que descartou tromboembolismo pulmonar. 
A ressonância da coluna não foi conclusiva, necessi-
Explorando as várias causas de IR, o estudo foi com- tando de biópsia que foi sugestiva de envolvimento
plementado com ecocardiograma, cintigrafia de ósseo por carcinoma, embora a amostra fosse pou-
ventilação/perfusão e doseamento de carboxihemo- co representativa. Tinha ainda bacteriemia por En-
globina e metahemoglobina, sem alterações. Face a terococcus faecalis e endocardite da válvula mitral,
hipoxémia persistente, iniciou metilprednisonolona tendo feito antibioterapia dirigida.
com fraca resposta. 
Realizou estudo exaustivo para pesquisa de neopla-
Após alguns dias, aparecimento de tremor de re- sia não tendo havido evidência de lesões suspeitas.
pouso apendicular de predomínio esquerdo e mar- Repetiu a biópsia vertebral que foi sugestiva de pro-
cha de pequenos passos, em provável relação com cesso inflamatório sem evidência de neoplasia. Foi
iatrogenia medicamentosa anti-comicial. Realizado revista a primeira biópsia, interpretando-se o frag-
EEG com electroge´nese de base lenta e assime´tri- mento de pequena dimensão como contaminação
ca, com escassa atividade epileptiforme na regia~o pelo trajeto da agulha.
centro-parieto-temporal esquerda. Redução progres-
Teve indicação para tratamento conservador, tendo
siva e substituição por levetiracetam, com melhoria
cumprido 3 meses de antibiótico com resolução dos
do quadro e concomitante resolução da IR. 
sintomas, recuperação da autonomia e normaliza-
Retrospectivamente, admitida provável encefalo- ção da PCR.
patia metabólica induzida pelo VS, a condicionar IR
Conclusão: Este caso exemplifica a dificuldade de
aguda, hipótese reforçada pelo timing de melhoria
diagnóstico da espondilodiscite devido à natureza
após suspensão. Esta entidade rara poderá ser sub-
inespecífica de alguns sinais e sintomas e à frequen-
diagnosticada dada a sua apresentação inespecífica
te ausência de febre nomeadamente em doentes
ou interpretação como falência terapêutica, além de
mais idosos e diabéticos. A metastização para a
pouco relacionada com a dosagem e duração de tra-
coluna vertebral deve ser um dos diagnósticos dife-
tamento. 
renciais. A endocardite infeciosa também deve fazer
CO n.º 1748  parte do diagnóstico diferencial de doenças causa-
Será só espondilodiscite? – a propósito de um caso das por disseminação hematogénica.
clínico
CO n.º 1750 
Leandro Martins Valente(1);Ines Farinha(1);Vanessa
Síndrome de Platipneia-Ortodeoxia em relação com
Cabral(1);Lurdes Correia(1);Adélia Simão(1);Arman-
infeção grave a SARS-CoV2
do Carvalho(1)
Teresa Valido(1);Filipa Figueiredo(1);Ana Catarina
(1) Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra /
Bravo(1);Teresa Cruz(1)
Hospitais da Universidade de Coimbra
(1) Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca
Tema:Doenças infecciosas e parasitárias
Tema:Doenças respiratórias

Introdução:
A Síndrome Platipneia-ortodeoxia (SPO) caracte-
riza-se por dispneia e dessaturação de oxigénio
A maioria dos casos de espondilodiscite tem origem em ortostatismo, estando relacionada com shunt
na disseminação hematogénea de um foco infecio- entre sangue arterial e venoso. A principal causa é
so. o shunt intracardíaco, podendo também ocorrer por
48
COMUNICAÇÕES ORAIS
shunt intrapulmonar ou fisiológico. camente, apurou-se uso prolongado (4 meses) de
dicloroisocianurato de sódio na limpeza das instala-
Apresenta-se o caso de um homem de 90 anos que ções prisionais e contacto com ratos. Estava polip-
recorreu ao serviço de urgência por tosse seca e neico e hipoxémico. Laboratorialmente objectivou-
dispneia, confirmando-se insuficiência respiratória -se anemia (Hb 7.8 g/dL), leucocitose (14.67x109/L)
parcial (IRP) na gasimetria. O Raio X Tórax mostrou com neutrofilia (12.37x109/L), trombocitopenia
infiltrado intersticial bilateral e a PCR SARS-CoV2 (108x109/L), PCR 10.44 mg/dL e VS 123 mm/h.  A
foi positiva, pelo que foi internado por Infeção SAR- tomografia torácica demonstrou um padrão nodular
S-CoV2 Grave. A TC de Tórax mostrou pneumonia bilateral compatível com hemorragia alveolar difu-
intersticial com afetação de 60% do parênquima. Es- sa.  As antigenúrias de Streptococcus pneumoniae,
teve sob ventilação não invasiva durante 20 dias e Legionella pneumophila e Leptospira e as serologias
como intercorrência destaca-se tromboembolismo de Mycoplasma pneumoniae e Chlamydia pneumo-
pulmonar. niae foram negativas. As pesquisas de SARS-CoV-2,
influenza A e B, parainfluenza 1, 2, 3, adenovírus, ri-
O doente repetiu TC após critérios de cura, que mos- novírus, VSR e hMPV  foram negativas. A pesquisa
trou alterações do tipo fibrótico, de predomínio nas de metabolitos urinários de cocaína foi negativa. Em
bases. Sob reabilitação manteve intolerância ao le- 12 horas, o doente agravou com necessidade de
vante, com dispneia e dessaturação de oxigénio (O2) ventilação mecânica invasiva e transferência para
na posição sentado. A gasimetria em decúbito e sen- cuidados intensivos. Realizou broncofibroscopia
tado confirmou ortodeoxia. O ecocardiograma com com aspiração de sangue e coágulos da via aérea.
injeção de soro agitado não identificou shunt interau- Iniciou metilprednisolona 1g/dia mas evoluiu para
ricular e a reavaliação das imagens da TC descartou oxigenação extracorporal durante 3 dias. As culturas
malformações arteriovenosas. Assumiu-se o diag- de sangue e do lavado bronco-alveolar (LBA) foram
nóstico de SPO secundária a alterações da permea- negativas.  Destaca-se anticorpo anti-coagulante
bilidade pulmonar, associadas à infeção SARS-CoV2. lúpico [LA] positivo, anti cardiolipina [aCL] IgM 72
O doente manteve programa de reabilitação com me- MPL/mL e anti-β2-glicoproteína-I [aβ2GPI] IgM 42U/
lhoria progressiva, tendo alta para o domicílio ainda mL. Os anticorpos anti-nucleares, anti-dsDNA, anti-
sob O2 a 2L/min, com indicação para manter reabili- -histonas, anti-RNP, anti-centrómero, anti-Scl 70, an-
tação respiratória. ti-Jo1, anti-Mi2, anti-músculo liso, anti-GBM e ANCA
foram negativos. Os níveis de C3, C4 e CH50 eram
A SPO secundária a alterações fibróticas após a normais. Melhorou tendo tido alta ao fim de 20 dias
COVID-19 foi já relatada em Itália. Com o ortosta- medicado com varfarina. Repetiu estudo laboratorial
tismo, a ventilação/perfusão ocorre, pela ação da às 12 semanas, em consulta externa, tendo-se diag-
gravidade, na sua maioria nas bases, o local mais nosticado SAF primário.
afetado pela fibrose devida à infeção SARS-CoV2, o
que induz shunt fisiológico na posição ortostática. Conclusão: A HAD é potencialmente fatal. A identi-
Continua por definir por que motivo tal não foi ainda ficação etiológica é desafiante e inclui doenças au-
descrito em patologias do interstício que afetam as to-imunes, infecções e tóxicos. Séries de casos de
bases pulmonares, admitindo-se que esta entidade SAF apontam a capilarite pulmonar como mecanis-
poderá estar subdiagnosticada. mo fisiopatológico de HAD. O diagnóstico precoce é
fundamental dadas as implicações terapêuticas.
CO n.º 1753 
Hemorragia alveolar difusa por síndrome antifosfo- CO n.º 1757 
lipídica primária: caso clínico Quando o Mieloma e a Sarcoidose caminham de
João Casanova Pinto(1);Beatriz Fernandes(1);Carlos mãos dadas!
Ramalheira(1);Diogo Cruz(1) Catarina Pestana Santos(1);Bruno Gonçalves de
(1) HPP Hospital de Cascais Sousa(1);Daniela Cruz(1);Tiago Judas(1)
(1) Hospital Garcia de Orta, EPE
Tema:Doenças hematológicas
Tema:Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
Introdução: A síndrome antifosfolipídica (SAF) é culites
uma patologia auto-imune caracterizada por fenó-
menos trombóticos recorrentes mas pode apresen- Introdução: A sarcoidose define-se como doença
tar-se como hemorragia alveolar difusa (HAD). granulomatosa multissistémica, caracterizada por
granulomas não caseosos, que afecta mais commu-
Caso clínico: Homem melanodérmico de 33 anos, mente adultos jovens. Inicialmente pode apresentar-
recluso, fumador, admitido por dispneia, tosse e -se por adenopatias hilares bilaterais, lesões na pele
hemoptises com 5 dias de evolução. Epidemiologi- ou articulações ou opacidades reticulares pulmo-
nares. O diagnóstico concomitante com neoplasias
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 49
hematológicas malignas é incomum. ACTH bem como de outros exames complementa-
res para a determinação da sua etiologia. Constitui
Caso Clínico: Mulher de 83 anos, sem antecedentes uma emergência médica que pode ser fatal se não
relevantes, com perda ponderal de cerca de 10Kgs for tratada, sendo fundamental o diagnóstico rápido
em 9 meses, anorexia, astenia e dor na região es- e início imediato de tratamento.
capular de ritmo misto com irradiação aos mem-
bros superiores. Ao exame objectivo de salientar Caso clínico: Trata-se de um homem de 47 anos, que
adenomegalias axilares esquerdas, profundas, con- veio ao Serviço de Urgência por queixas de astenia
sistência elástica, fixas. Não tinha alterações nas e diarreia aquosa com 2 semanas de evolução, sem
restantes cadeias linfáticas. Analiticamente com febre ou contexto epidemiológico. Apresentava-se
pico monoclonal na região gama em electroforese emagrecido, hipotenso, analiticamente com hipona-
de proteínas séricas. Para investigação de gama- trémia e hipercalemia, e pele discretamente escure-
patia monoclonal realizou radiografia dos ossos cida. Por cistite aguda cumpriu 11 dias de antibio-
longos e crânio, mielograma, biópsia óssea confir- terapia dirigida com ceftriaxone. O restante estudo
mando-se mieloma indolente IgG/K. microbiológico/laboratorial foi negativo. Realizou
TAC abdomino-pélvica que revelou uma agenésia re-
Para investigação de adenomegalias realizou tomo- nal e suprarrenal direitas, bem como uma imagem
grafia computorizada toraco-abdomino-pélvica, que nodular compatível com adenoma (12mm), da su-
apenas identifciou as adenopatias axilares. Reali- prarrenal esquerda. Realizou também TAC craneoen-
zou posteriormente biópsia excisional do gânglio cefálica, sem indícios imagiológicos de alterações
linfático demonstrou granulomas sarcoides, não hipofisárias. Face aos achados foi admitido o diag-
necrotizantes, compatíveis com sarcoidose. Dosea- nóstico de ICP e iniciou correção hidroelectrolítica
mento de enzima conversora da angiotensina (ECA) e reposição mineralocorticóide com  hidrocortisona
64 U/L, calcémia e calciúria normais. Realizou ainda 10mg de 12 em 12h por via oral, após dose endo-
PET-scan que foi compatível com patologia inflama- venosa de 100mg, com rápida melhoria clínica e
tória activa ganglionar. Admitiram-se os diagnósti- laboratorial. Teve alta a cumprir reposição com hi-
cos concomitantes de sarcoidose gaglionar e mie- drocortisona 10mg de 12 em 12h por via oral, e foi
loma indolente, tendo-se decidido, após discussão encaminhado para as Consultas de Urologia e Medi-
multidisciplinar com Hematologia, por inicio cortico- cina Interna, sem relato de novas crises adrenais até
terapia com prednisolona com melhoria subjectiva à data.
das queixas, resolução de adenomegalias axilares, 
tendo sido possível o desmame do corticoide. Discussão: Os autores pretendem alertar para a clí-
nica subtil da ICP, cujo diagnóstico é muitas vezes
Discussão: Os autores apresentam um caso atípico atrasado, podendo conduzir a uma crise adrenal agu-
de diagnóstico concomitante de sarcoidose e mie- da com consequências fatais, se não for tratada. Re-
loma indolente, no seguimento da ingestigação de lembram a importância de um exame objectivo apu-
quadro sistémico e adenomegalias, com excelente rado aliado a um alto grau de suspeição clinica, para
resposta a corticoterapia. o rápido reconhecimento desta patologia e início cé-
lere do tratamento. Alertam também para o desafio
CO n.º 1767 
da determinação etiológica da ICP, associando-se a
Insuficiência corticossuprarrenal: um diagnóstico
reais implicações no tratamento e seguimento a lon-
de alta suspeição clínica
go prazo.
Paulo Brites Ramos(1);Inês Ferraz(1);Catarina Pe-
reira(1);Mariana Ramos(1);Miguel Achega(1);Alice CO n.º 1771 
Rodrigues(1);Fernando Aldomiro(1) HIPOCALCÉMIA: O FENÓTIPO DE UM DIAGNÓSTI-
(1) Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca CO
Teresa Guimaraes(1);Mariana Meireles(1);Helena
Tema:Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio-
Vilaça(1);Marta Dalila Neves Martins(1);Ana Filipa
nais
Rocha(1);Mari Mesquita(1)
(1) Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, EPE /
Introdução: A insuficiência corticossuprarrenal Hospital Padre Américo, Vale do Sousa
(ICP) é uma doença endócrina rara, caracterizada
pela redução da síntese de hormonas suprarrenais, Tema:Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio-
podendo ser primária ou central, com uma clínica nais
muitas vezes subtil e insidiosa. O aumento da con-
centração da hormona adrenocorticotrófica (ACTH) Introdução: Os distúrbios do metabolismo do cálcio
e diminuição dos níveis séricos de cortisol são a associam-se a patologia endocrinológica mediada
favor de ICP contudo, carece de confirmação diag- pela hormona paratiroideia (PTH). A resistência em
nóstica pela realização de teste de estimulação de
50
COMUNICAÇÕES ORAIS
órgãos alvo à ação da PTH provoca hipocalcemia e nado por quadro agudo de vómitos e diarreia aquosa
designa-se de pseudohipoparatiroidismo. A presen- com agudização de DRC. Ficou rapidamente com-
ça simultânea de um fenótipo característico e pseu- pensado e assintomático com terapêutica de supor-
dohipoparatiroidismo constitui uma entidade clínica te inicial. Na altura da alta, ocorreu recidiva do quadro
rara denominada de Osteodistrofia Hereditária de clínico que motivou uma anamnese mais detalhada,
Albright (OHA). verificando-se que o quadro tinha uma evolução flu-
tuante desde há 6 meses, sendo desvalorizado pelo
Caso clínico: Homem de 19 anos com antecedentes doente.
de hipotiroidismo congénito e atraso cognitivo ligei-
Excluíram-se causas infeciosas, endócrinas, imu-
ro. Recorre ao serviço de urgência (SU) por crise con-
nomediadas e tóxicas. Endoscopia com candidíase
vulsiva tónico-clónica generalizada, com registo de
esofágica, extensas ulcerações duodenais, angiec-
episódio similar nas 2 semanas prévias. Na obser-
tasias gastroduodenais e colonoscopia sem lesões.
vação apresentava-se apirético com exame neuroló-
CEA e CA 19.9 normais, mas elevação de NSE, cro-
gico normal, mas com fenótipo peculiar caracteriza-
mogranina A, gastrina e VIP. TC corpo com espes-
do por baixa estatura, obesidade, face arredondada
samento parietal entre D2 e D4, com pequenas for-
com nariz de base alargada, pescoço curto e bra-
mações ganglionares adjacentes. Cintigrafia dos
quidactilia. Estudo analítico a documentar hipocal-
recetores de somatostatina mostrou captação na
cemia grave com PTH aumentada e hipotiroidismo;
zona do ileon. Assim admitiu-se tumor neuroendócri-
ECG com prolongamento do QT, TC cranioencefálico
no, provavelmente VIPoma e instituiu-se terapêutica
com calcificações dos gânglios da base e radiogra-
com octreótido com resolução sintomática. Poste-
fia das mãos com encurtamento do 4º e 5º metacar-
riormente, biópsia de D3 confirmou presença de tu-
pos. Iniciado reposição endovenosa de cálcio com
mor neuroendócrino bem diferenciado. Mantem se-
normalização da calcemia, reversão das alterações
guimento em Consulta de Oncologia.
eletrocardiográficas e ausência de recorrência de
convulsões. Diagnóstico de OHA por fenótipo ca- O autores apresentam um caso de um tumor muito
racterístico na presença de pseudohiporatirodismo. raro com localização extrapancreática e expõem a
Orientado para consulta de endocrinologia medica- dificuldade diagnóstica quer pela evolução clínica
do com cálcio oral. flutuante, quer pela dificuldade de localização anató-
mica e obtenção de um diagnóstico definitivo.
Discussão: OHA trata-se de um diagnóstico inco-
mum na prática clinica diária. Este caso ilustra a im- CO n.º 1842 
portância de um exame físico minucioso que quando When a fever of unknown origin turns out to be a
integrado nos achados dos exames complementa- chronic Q fever endocarditis
res permite um diagnóstico precoce e instituição de Liliana r. Santos(1);Arti Matho(2);Michael Brown(3);-
um tratamento adequado. Vanessa Morris(3);António p Lacerda(1)
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi-
CO n.º 1778 
tal de Santa Maria (2) UCLH (3) UCLH
Um sintoma tão frequente e uma causa tão rara
Jorge Silva Ferreira(1);Maria Afonso(1);Maria Rosá- Tema:Doenças infecciosas e parasitárias
rio(1);Paula Alcântara(1)
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi-
Fever of unexplained origin (FUO) can be defined as
tal de Santa Maria
a febrile illness for over 2 weeks without diagnosis
Tema:Doenças oncológicas after a reasonable work-up including 3 blood cul-
tures and cross-sectional imaging.
O VIPoma é um tumor neuroendócrino raro (incidên-
cia 1:10.000.000), geralmente localizado no pân- A 50-year-old man was referred to the outpatient
creas. Este tumor está associado a elevado risco de Rheumatology clinic complaining of  back pain. He
malignidade e secreta o peptídeo intestinal vasoati- also had fever, night sweats and weight loss during
vo (VIP) resultando na síndrome de diarreia aquosa, the previous weeks. The patient was noted to have
hipocaliémia, acidose, hipocloridria e hipercalcemia. a mild normocytic anemia (Hb 103 g/L). Blood cul-
O único tratamento curativo é a cirurgia. tures sets were consistently negative, though his
erythrocyte sedimentation rate (ESR) was elevated
(67 mm/1st hour) and CRP of 61.4 mg/dL. D-dimers
Homem, 60 anos, arquiteto, com diagnósticos pré-
were persistently elevated (1340 ng/mL). Rheuma-
vios de adenocarcinoma do cólon intervencionado
toid factor and HLA-B27 were negative as well as
cirurgicamente em remissão desde 2016, anemia
other autoimmune markers including ANCA.  He had
ferropénica, DRC II, HTA, foramen ovale patente com
a raised serum ACE level of over 100 U/L (reference
AIT, depressão, etilismo crónico e tabagismo. Inter-
range 8-52 U/L). Serology for Coxiella showed detect-
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 51
able phase 1 IgG 1:640 and phase 2 IgG 1:320, nega- Homem, 64 anos, fumador, diagnóstico de Artrite
tive IgM and negative IgA. This pattern is consistent Reumatóide em 2007 com nodulose cutânea. Medi-
with chronic Q fever infection although a phase 1 cado com metotrexato 20 mg por semana e hidroxi-
IgG >1:800 is required to make a diagnosis as low- cloroquina com doença controlada sob esta terapêu-
er titers are associated with lower specificity. Chest, tica.
abdomen and pelvis CT scan showed retroperitoneal
and mesenteric lymph nodes. A PET scan confirmed Em Agosto de 2020 recorreu ao serviço de urgência
widespread lymphadenopathy. Histological exam- por quadro de tosse associada a hemoptises com
ination of an axillary lymph node revealed reactive um mês de evolução. Na radiografia de tórax identi-
changes including sinus histiocytosis, focal acute ficou-se hipotransparência nodular, tendo sido medi-
inflammation and microgranuloma formation with- cado com antibioterapia e referenciado à consulta.
out any evidence of malignancy. At this point the dif- Realizou TC de tórax com identificação de vários nó-
ferential diagnosis considered was between chronic dulos pulmonares. Excluíram-se causas infeciosas,
Q-fever and sarcoidosis. Tuberculin skin test was nomeadamente tuberculose pulmonar e realizou
17mm, therefore not anergic, in the context of BCG biópsia de um nódulo. A histologia apresentava alte-
vaccination in his childhood, being against sarcoid. A rações compatíveis com nódulos reumatóides, sen-
transesophageal echocardiogram confirmed a com- do assumido o diagnóstico de nódulos reumatóides
plex “moth-eaten” aortic valve. Therapy was started pulmonares. Suspendeu metotrexato e iniciou barici-
with doxycycline 100 mg twice daily and moxifloxa- tinib para controlo da doença e evicção da progres-
cin 400mg daily. são dos nódulos pulmonares.

Coxiella burnetii endocarditis lacks many of the usu- Discussão:


al clinical features/Duke diagnostic criteria. Thus,
Este caso ilustra a apresentação do envolvimento
the diagnosis is often significantly delayed or even
pulmonar por nódulos reumatóides num doente
missed, resulting in significant morbidity and mor-
com Artrite Reumatóide. A presença de nódulos
tality. It is imperative that physicians maintain a high
reumatóides no pulmão é rara, mas pode ocorrer
index of suspicion, especially among patients with
sobretudo em doentes com nodulose cutânea e sob
valvular disease. Combination therapy in Q fever has
metotrexato. Esta entidade deve ser considerada no
been shown to be effective. 
doente com Artrite Reumatóide que se apresenta
CO n.º 1845  com sintomatologia respiratória e/ou nódulos pul-
Nódulos Pulmonares no doente com Artrite Reu- monares em exames de imagem porque o diagnós-
matóide tico tem implicações terapêuticas.
Ana Oliveira(1);António Lamas(2);Álvaro Ferreira(3);-
CO n.º 1851 
Fátima Farinha(3)
Um tumor sagrado sem diagnóstico definitivo -
(1) Centro Hospitalar do Baixo Vouga / Hospital
Cordoma ou outro?
Infante D. Pedro, EPE (2) CHUP- centro hospitalar
Ana r. c. Santos(1);Francisco Albuquerque(2);Inês
e universitário do Porto (3) Centro Hospitalar Uni.
Duarte(2);Raquel Soares(2);Pedro Fiúza(2);Torcato
Porto
Moreira Marques(2);Paula Nascimento(2);Valentina
Tema:Doenças autoimunes, reumatológicas e vas- Tosatto(2);Rita Barata Moura(2);António Mário San-
culites tos(2)
(1) Unidade Funcional de Medicina Interna 4, Hospi-
tal de Santa Marta, Centro Hospitalar Universitário
Introdução:
de Lisboa Central (2) Centro Hospitalar de Lisboa
Central, EPE / Hospital de Santa Marta
A Artrite Reumatóide associa-se frequentemente
a nodulose essencialmente cutânea. No entanto, a Tema:Doenças oncológicas
formação de nódulos reumatóides pode ocorrer nou-
tros órgãos como o pulmão, o coração e o sistema Introdução: Os tumores sagrados continuam a ser
nervoso. Os nódulos pulmonares podem resultar do um desafio diagnóstico. Estes são entidades raras,
atingimento sistémico da doença ou ser consequên- com vários diagnósticos diferenciais. Os cordomas
cia da terapêutica, particularmente o metotrexato e em particular têm uma incidência de 0.08/100000
os anti-Tumor Necrosis Factor (anti-TNF). A clínica indivíduos, em que 29.2% são sagrados. Daí a im-
pode ser sugestiva de quadro infecioso ou neoplási- portância de partilhar estes casos com todos os
co, sendo o diagnóstico baseado na exclusão destas clínicos que possam tornar o seu diagnóstico mais
entidades e na biópsia da lesão. eficiente. 
Caso Clínico:
Caso clínico: Homem, de 70 anos, sem anteceden-

52
COMUNICAÇÕES ORAIS
tes relevantes, autónomo, apresentou-se com 1 mês claviculares palpáveis, hepatomegalia e exantema
de evolução de dor lombossagrada intensa, sudore- macular disperso. Suspeitava-se de doença linfopro-
se noturna, perda ponderal (8Kg) e mal-estar geral. liferativa. Analiticamente tinha elevação da PCR,
Avaliação analítica com elevação dos parâmetros in- anemia, bem como insuficiência respiratória e na
flamatórios e citocolestase. TC com hepatomegália,  radiografia do torax infiltrados intersticiais bilaterais
fratura patológica de L3 com lesão infiltrativa regio- dispersos. Ao 5º dia de internamento foi diagnostica-
nal, lesão osteolítica de S1 e S2 com massa epidural da COVID-19. Realizou TAC tóraco-abdomino-pélvica
anterior a moldar o saco tecal, sem lesão de órgão e PET-FDG18 que  identificaram adenopatias supra
sólido suspeita. Realizou investigação complemen- e infradiafragmáticas, consolidação no lobo inferior
tar com: RMN confirmando-se neoplasia difusa in- direito e conglomerado adenopático na envolvência
filtrativa da medula, com lesões líticas multifocais e dos vasos mesentéricos. No seguimento do estudo
extensão epidural; Duas biópsias percutâneas sagra- foram realizadas punção aspirativa de gânglio cer-
das com carcinoma pouco diferenciado, imunohis- vical, biópsia excisional de gânglio supraclavicular e
toquímica compatível com cordoma pouco diferen- medulograma, mas nenhum dos procedimentos foi
ciado, ainda assim sem diagnóstico definitivo. Em suficiente para diagnóstico histológico. Na biópsia
internamento realizou estudo radiológico extenso cutânea foram identificadas lesões de exantema ne-
com TC toraco-abdomino-pélvica, endoscopia diges- crolítico migratório, associado a doença celíaca diag-
tiva e colonoscopia, TC cranioencefálica, ecografia nosticada durante o internamento, embora a doente
tiroideia e citologia urinária, sem identificação de manifestasse sintomas há anos. A doente evoluiu
tumor primário. Ponderou-se estudo com mielogra- desfavoravelmente com infeções respiratórias no-
ma, biópsia óssea e PET, no entanto, foi positivo para socomiais e degradação do estado geral, sendo o
SARS-CoV2 ao 37º dia de internamento, com deterio- diagnóstico final de linfoma de Hodgkin clássico tipo
ração clínica progressiva, tendo vindo a falecer, sem depleção linfocítica realizado post-mortem.
condições para estudo complementar adicional. 
Discussão:
Discussão: Este caso ilustra a penosa marcha diag-
nóstica de tumores menos frequentes, mesmo quan- A relação entre doença celíaca e linfoma, assim
do trabalhando em equipas multidisciplinares e com como com o exantema necrolítico, é conhecida, mas
centros de referência. É essencial disseminar o co- não com este tipo. Além da associação rara, a doen-
nhecimento destes casos, para que se optimizem te representou um desafio diagnóstico com implica-
estratégias diagnósticas e se possam oferecer tera- ções no tratamento e prognóstico.
pêuticas adequadas a estes doentes.
No contexto da pandemia, a doente adiou a ida aos
CO n.º 1861  serviços de saúde e durante o internamento teve CO-
Linfoma de Hodgkin tipo depleção linfocítica em VID-19 o que atrasou ainda mais o estudo comple-
doença celíaca  - desafio diagnóstico na pandemia mentar.
Regina Costa(1);Ana Mota Magalhães(1);Nelson
CO n.º 1909 
Pedro(1);Lèlita Santos(1);Armando Carvalho(1)
Síndrome de Gurvits secundário a cetoacidose dia-
(1) Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra /
bética
Hospitais da Universidade de Coimbra
Ivone Melo Valadão(1);Lénio Couto(1);Maria Gua-
Tema:Doenças hematológicas dalupe Benites(1);Leonor Monjardino(1)
(1) Hospital de Santo Espírito da Ilha Terceira
Introdução: Tema:Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio-
nais
O linfoma de Hodgkin clássico tipo depleção linfocí-
tica é o subtipo mais raro, correspondendo a cerca O síndrome de Gurvits, também conheci-
de 1.5% dos casos. Habitualmente é diagnosticado do como esófago preto ou necrose esofágica aguda
em estádios avançados da doença e tem pior prog- (NEA), é uma síndrome grave e rara, apresentan-
nóstico. É um desafio diagnóstico, sendo confundido do uma prevalência estimada entre 0.001 a 0.2%.
com outros tipos de linfoma mais agressivos. Afeta principalmente homens (racio 4:1) na sexta
década de vida e manifesta-se com necrose circun-
Caso Clínico:
ferencial da mucosa atingindo, na maioria dos ca-
Mulher de 51 anos, com antecedentes de purpura sos, o esófago distal até à junção gastroesofágica.
trombocitopénica imune, foi internada por síndrome
constitucional, enfartamento, náuseas e exantema Apresentamos o caso clínico de um homem de 65
vesicular pruriginoso. No exame objetivo estava fe- anos, com hábitos etílicos marcados, sem outros
bril, SpO2 91% em ar ambiente, adenopatias supra- antecedentes pessoais conhecidos, que recorre  ao

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 53


Serviço de Urgência  no contexto de hematemeses. tes pessoais conhecidos além de hemiparesia es-
À admissão apresentava-se normotenso,  taquicar- querda sequelar a traumatismo com arma de fogo.
dico, apirético, com boas saturações periféricas em Internado no Serviço de Medicina Interna para estudo
ar ambiente e hiperglicémico (547 mg/dL), apresen- etiológico de síncope e por pneumonia a SARS-CoV-2
tando  critérios de cetoacidose diabética (CAD). É de gravidade média (subida discreta de parâmetros
assim feito o diagnóstico de diabetes mellitus tipo 2 inflamatórios, sem necessidade de oxigenoterapia
de novo. Analiticamente com elevação significativa ou suporte ventilatório, porém com padrão bilateral
de parâmetros inflamatórios. É realizada  endosco- exuberante de vidro despolido e broncogramas em
pia digestiva alta (EDA) que revelou necrose esofá- TC tórax). Recorrera diversas vezes ao SU no último
gica e duodenal agudas, com a biópsia histológica a mês por síncopes de repetição, astenia e diminuição
confirmar as lesões necróticas. Perante o diagnós- da força nos membros inferiores (MIs) sem outra
tico, é assumida como causa  etiológica a CAD em sintomatologia associada. Da investigação etiológi-
doente com antecedentes de etilismo crónico, após ca realizada, a destacar TC CE, ECG, Holter, EcoTT e
exclusão de outras etiologias como a ingestão de culturas sem alterações de relevo, ausência de dé-
cáusticos.  Após início de  terapêutica médica con- fices vitamínicos e diagnóstico inaugural de DM 2. 
servadora com fluidoterapia, insulinoterapia,  inibi-  
dores da bomba de protões em alta dose, sucralfato
e pausa alimentar durante 48h, o doente apresentou Após anamnese detalhada, apura-se quadro de te-
excelente evolução clínica. A EDA de reavaliação às 4 traparésia ascendente progressiva nas últimas 3 se-
semanas demostrou resolução completa do quadro manas a condicionar elevado grau de dependência
de NEA, sem evidência de estenoses esofágicas. do doente. Objetivamente: emagrecido, hemiparesia
esquerda espástica, força muscular 3/5 proximal e
A síndrome de Gurvits, é uma patologia rara mas que 4/5 distal nos membros superiores e 3/5 proximal
não deve ser esquecida nos doentes críticos que se e 2/5 distal nos MIs, hipostesia distal assimétrica
apresentam com hematemeses ou melenas. Ape- dos MIs e reflexos tendinosos mantidos mas mais
sar da  etiologia ser multifactorial, pensa-se que a exuberantes à esquerda. Sem défices neurológicos
diminuição da perfusão tecidular em conjunto com focais ou outros achados. Colocada hipótese de Po-
o comprometimento do sistema imune e o aumento lineuropatia Periférica, realizou-se EMG que revelou
do refluxo gastroesofágico  sejam as causas princi- radiculopatia L5 esquerda severa recente e ausência
pais.  Apesar da apresentação grave, a  maioria dos de alterações da condução nervosa dos MIs. Verifi-
casos acaba por resolver com o tratamento do even- cada franca melhoria clínica após reabilitação moto-
to desencadeador, apresentando uma boa resposta ra, corticoterapia e terapêutica sintomática.
à terapêutica, desde que  instituída o mais precoce-
mente possível. A salientar o facto de no caso clíni-
co exposto o doente apresentar também duodenite DISCUSSÃO: As manifestações neuromusculares
necrotizante, havendo muitos poucos casos descri- da COVID-19 são raras e o seu diagnóstico formal é
tos na literatura em que se verifica o atingimento de desafiante dada a frequente ausência de alterações
ambas as regiões. nos estudos de condução nervosa e eletromiografia.
Com este caso, o autor frisa a importância do diag-
CO n.º 1927  nóstico baseado na clínica da Polineuropatia por
COVID-19: Um caso de Polineuropatia Periférica SARS-CoV-2, entidade incapacitante que requer estu-
Jéni Quintal(1);Sara Ramos Lopes(1);Ana Rita Pitei- do, terapêutica e reabilitação motora oportunos.
ra(1);Filipa Silva(1);Filipa Carrega(1);Diana Pedrei-
ra(1);Manuela Fera(1);Ermelinda Pedroso(1) CO n.º 1932 
(1) Centro Hospitalar de Setúbal, EPE / Hospital de 15 anos da hérnia encarcerada à anemia hemolítica
São Bernardo Luís Landeiro(1);Tiago Gonçalves(1);Margarida
Proença(1);Alexandra Bayão Horta(1)
Tema:Doenças cérebro-vasculares e neurológicas (1) Hospital da Luz Lisboa

Tema:Doenças hematológicas
Introdução: O vírus SARS-CoV-2, responsável pela
doença infeciosa COVID-19, além do seu já conhe-
cido tropismo pelo sistema respiratório, apresenta Introdução: O défice de vitamina B12 (vitB12) é uma
uma predileção especial pelo tecido nervoso. Os causa comum de anemia hipoproliferativa, e pode
mecanismos pelos quais este atinge o sistema ser induzida por fármacos, por má absorção vitamí-
nervoso central e periférico têm-se mostrado hete- nica ou defeito nutricional de longa data. Nos casos
rogéneos, motivando o relato científico de múltiplas de défices mais acentuados e de longa duração,
apresentações neuromusculares da doença. pode ser responsável por manifestações graves
como citopénias graves, anemia hemolítica intrame-
CASO: Homem, 75 anos, autónomo, sem anteceden- dular e degenerescência combinada subaguda da

54
COMUNICAÇÕES ORAIS
medula espinhal. CASO CLÍNICO: Homem de 74 anos, autónomo,
com múltiplos factores de risco cardiovascular. No
Caso Clínico: Homem, 72 anos, submetido a múl- dia seguinte à toma da vacina contra a COVID-19
tiplas enterectomias nos últimos 15 anos, a 1ª por (ChAdOx1-S [recombinante]) aparecimento de le-
hérnia encarcerada e as restantes por complicações sões cutâneas vesiculares na hemiface direita (ter-
dessa, internado no Serviço de Medicina Interna por ritório de inervação dos ramos maxilar e mandibular
quadro com 2 meses de cansaço para pequenos do nervo trigémio) associada a febre superior a
esforços e ataxia da marcha. No exame neurológico 39ºC e desorientação temporo-espacial. Do estudo
tinha defeito sensibilidade propriocetiva e vibratória realizado em contexto de urgência destaca-se pun-
nos membros inferiores e hiperreflexia generalizada. ção lombar com saída de liquor límpido com 106
Analiticamente com pancitopénia – anemia hemo- células, 80% das quais linfócitos, glicose 77 mg/
lítica macrocítica hipoproliferativa (Hb 6g/dL, VGM dL, proteínas 106.6 mg/dL e lactato desidrogenase
130fL, hiperbilirrubinemia total 2.43mg/dL e conju- 31 UI/L. Instituída terapêutica endovenosa empírica
gada 0.8mg/dL, LDH 1952UI/L); leucopénia 3000 e com aciclovir 800 mg de 8/8h, ampicilina 2 gr de
trombocitopénia 125000. A investigação mostrou 4/4h e ceftriaxone 2 gr de 12/12h. Apirético des-
défice grave de vitB12. O esfregaço de sangue pe- de o segundo dia de internamento. Ressonância
riférico tinha neutrófilos hipersegmentados, o teste magnética cranioencefálica não revelou alterações.
de Coombs direto foi negativo, a haptoglobina indo- Pesquisa de antigénios capsulares e estudo
seável e a atividade de ADAMTS13 normal. O estu- bacteriológico do liquor negativos. Perante isola-
do de anemia perniciosa foi negativo. Foi colocada mento de vírus varicela-zoster no liquor, mantido
a hipótese de degenerescência combinada subagu- aciclovir durante 14 dias com boa resposta e sem
da da medula espinhal e foi interpretado o défice de intercorrências. 
vitB12 como secundário a um défice absortivo de-
DISCUSSÃO: Apesar do bom prognóstico das
corrente das múltiplas enterectomias com envolvi-
meningites por vírus varicela-zoster quando diag-
mento do íleon. Com o suporte transfusional e repo-
nosticadas e tratadas precocemente, a possibili-
sição parentérica de vitB12 houve rápida melhoria
dade de uma associação entre infecção por vírus
da pancitopenia, remissão dos sinais de hemólise e
varicela-zoster e a vacina contra a COVID-19 (ChA-
melhoria parcial dos défices neurológicos.
dOx1-S [recombinante]) pode justificar uma alte-
Discussão: O défice grave de vitB12 pode raramente ração na abordagem, nomeadamente a vacinação
gerar doença sistémica grave (supressão medular, conjunta para a sua prevenção. Com um número
hemólise, degenerescência combinada subaguda, cada vez maior de vacinados contra a COVID-19,
sintomas psiquiátricos). A sua consideração na pre- este pode tornar-se um achado mais frequente na
sença destes tipos de distúrbios é essencial, uma prática clínica, daí a pertinência do assunto. 
vez que se trata de uma causa facilmente tratável e
CO n.º 1966 
reversível.
OSTEOPOROSE E FRATURA DE FRAGILIDADE -
CO n.º 1937  UMA COMPLICAÇÃO RARA INCAPACITANTE DA
Infecção por VVZ após vacina contra a COVID-19 GRAVIDEZ E AMAMENTAÇÃO
(ChAdOx1-S [recombinante]) – haverá uma rela- Ana Coimbra(1);Ana Luisa Nunes(1);Jandira Li-
ção? ma(1);Armando Carvalho(1)
Marta Batoca Sousa(1);João Pedro Pais(1);Rita Vilar (1) Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra /
da Mota(1);Luís Pereira Costeira(1);Ângela Paredes Hospitais da Universidade de Coimbra
Ferreira(1);Nuno Pardal(1);Patrícia Sôra Sobro-
Tema:Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio-
sa(1);Ana Nascimento(1)
nais
(1) Unidade Local de Saúde do Alto Minho, EPE /
Hospital de Santa Luzia
Introdução: a osteoporose é uma complicação rara
Tema:Doenças infecciosas e parasitárias e muitas vezes esquecida da gravidez e sobretudo
da amamentação, que se apresenta tipicamente
Introdução: As infecções do sistema nervoso cen- com lombalgia – uma queixa comum na grávida e
tral – meningite, encefalite e abcessos cerebrais - puérpera. Sabe-se que a maioria das mulheres recu-
podem ser causadas por vírus, bactérias ou fungos. pera completamente e até supera a perda mineral
Estão associadas a uma elevada morbi-mortalidade óssea verificada neste período, mas não está claro
e, por isso, o rápido diagnóstico, pela análise do lí- se este diagnóstico constitui uma contra-indicação
quido cefalorraquidiano, e instituição atempada de ao aleitamento materno, quais as melhores opções
tratamento dirigido são determinantes do prognós- de tratamento e seguimento e se permanece um
tico.   risco aumentado de fraturas na vida futura.

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 55


Caso clínico: primípara de 40 anos, aos 3 me- forma indolente de aspergilose na ausência dos
ses pós-parto de gravidez espontânea e a ama- factores de risco clássicos, 4 meses depois de CO-
mentar em exclusivo, sem antecedentes pessoais VID-19 com curso ligeiro.
relevantes, é enviada à consulta de Medicina Interna
para estudo de lombalgia intensa incapacitante, Caso clínico: mulher de 86 anos institucionalizada,
queixas que remontam ao 3º trimestre de gravidez com antecedentes de diabetes mellitus, hipertensão
e com agravamento súbito recente após movimento arterial, doença renal crónica e obesidade mórbi-
de rotação do tronco ao levantar a bebé. Fez ra- da, admitida no serviço de urgência por dispneia de
diografia da coluna e posteriormente ressonância início súbito. Tinha no passado recente registo de
magnética que confirmou fratura de L4 com acha- infecção por SARS-CoV-2 com teste positivo 4 me-
tamento dos corpos vertebrais de T12, L1 e L2. Não ses antes, com sintomas ligeiros sem necessidade
se apuraram fatores de risco pessoais nem antece- de hospitalização. Ao exame objetivo com polipneia,
dentes familiares de osteoporose ou fraturas pato- hipoxemia 87% e fervores à auscultação. Dos exa-
lógicas. Fez entretanto densitometria que reporta mes complementares destacam-se gasimetria com
T-score na coluna lombar de -2,6 e no cólo do fémur insuficiência respiratória hipoxémica, radiografa to-
de -2,1. Fez extenso estudo para causas neoplási- rácica com hipotransparências reticulares à direita e
cas tendo sido também amplamente procuradas ou- análises com leucocitose e PCR 18.34 mg/dl. Foi
tras causas secundárias de doença metabólica ós- internada para estudo e continuação de cuidados.
sea como doença celíaca, hiperparatiroidismo etc., Ao longo do internamento desenvolve insuficiência
levando finalmente ao diagnóstico de exclusão de respiratória global grave com necessidade de venti-
osteoporose idiopática associada à gravidez e ama- lação não invasiva. Foi feita TC torácica para melhor
mentação. Foi ouvido o desejo da mãe de continuar esclarecimento na qual é descrita uma formação
o aleitamento materno exclusivo, adoptando-se quística com nódulo denso no interior formando
tratamento conservador com imobilização com dor- sinal do crescente. Pela hipótese de aspergiloma,
solombostato e suplementação de cálcio e vitamina foi realizada broncofibroscopia com pesquisa de
D, e vigilância de densitometria óssea durante todo fungos no aspirado brônquico que foi positiva para
o período de aleitamento, que se recomendou não aspergillus, tendo iniciado terapêutica dirigida com
exceder os 24 meses de vida do lactente. voriconazol. Contudo apresentou declínio marcado
apesar de todas as medidas de suporte instituídas,
Discussão: A osteoporose é um diagnóstico a não
vindo a falecer ao 18º dia de internamento. Foi rea-
esquecer em doentes com queixas de lombalgia
lizada autópsia anatomopatológica, inconclusiva
na gravidez ou puerpério. Na abordagem a esta enti-
quanto à causa da morte.
dade é necessário pesar os riscos de incapacidade
funcional e sequelas estruturais vertebrais com os Discussão: este caso leva-nos a supor que a fragi-
reconhecidos benefícios em saúde infantil do aleita- lidade epitelial provocada pela infecção por SARS-
mento materno exclusivo, não existindo recomenda- -CoV-2, mesmo nas suas formas leves, possa pre-
ções consensuais. Na maioria dos casos descritos dispor os doentes para infecção crónica indolente
há um preocupante atraso entre os primeiros sinto- por agentes oportunistas como o aspergillus, com
mas e o diagnóstico definitivo. consequente aumento da morbi-mortalidade atri-
buível à pandemia de SARS-CoV-2. São necessários
CO n.º 1967 
mais relatos de casos e estudos prospectivos.
ASPERGILOSE PULMONAR CRÓNICA ASSOCIADA
A FORMA LIGEIRA DE COVID-19 CO n.º 1969 
Ana Coimbra(1);Ana Luisa Nunes(1);Jandira Li- Mieloma Múltiplo IgD lambda - uma gamapatia mo-
ma(1);Armando Carvalho(1) noclonal rara
(1) Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra / Nuno Pardal(1);Ângela Paredes Ferreira(1);André
Hospitais da Universidade de Coimbra Pereira(1);Luís Costeira Pereira(1);Marta Batoca
Sousa(1);Patrícia Sôra Sobrosa(1);Rita Vilar da Mo-
Tema:Doenças infecciosas e parasitárias
ta(1);João Pedro Pais(1);Roswitha Bauerle(1);Cátia
Barreiros(1);Diana Guerra(1)
Introdução: A aspergilose pulmonar invasiva asso- (1) Unidade Local de Saúde do Alto Minho, EPE /
ciada a síndrome respiratória aguda grave causada Hospital de Santa Luzia
pelo SARS-CoV-2 é uma entidade clínica já reconhe-
cida pela comunidade médica, afetando sobretudo Tema:Doenças hematológicas
doentes em cuidados intensivos, sob ventilação me-
cânica ou corticoterapia. A infecção secundária não Introdução: O mieloma múltiplo (MM) IgD é uma
parece ser uma complicação comum da COVID-19 gamapatia rara e agressiva. Acompanha-se com
em geral, menos ainda nas formas leves. Reporta- maior incidência de lesão renal, hipercalcémia,
mos o caso de uma doente que desenvolveu uma
56
COMUNICAÇÕES ORAIS
cadeias leves na urina e resistência a quimiotera- tológicos, com quadro de instalação progressiva
pia. CASO CLÍNICO: Sexo masculino, 58 anos, com ao longo de 4 dias de parestesias e fraqueza mus-
antecedentes de hérnias discais iniciou lombalgia cular com perfil ascendente, associado a tosse e
após esforço físico. TC da coluna vertebral mostrou disfagia, culminando em insuficiência respiratória
lesões líticas em todos os corpos vertebrais, sacro com necessidade de ventilação mecânica. Tinha
e asas dos ilíacos, com afundamento de L3. Anali- realizado a primeira dose da vacina SARS-CoV-2 20
ticamente com hemoglobina 8.5g/dL, VGM 99.6fL, dias antes. Excluídas etiologias alternativas e sendo
leucócitos 3.93x10^9/L, 1% plasmócitos, plaquetas diagnosticado síndrome de Guillain-Barré, cumpriu
148x10^9/L, VS 119mm, creatinina 0.8mg/dL, cálcio  esquema de 7 dias de troca plasmática com boa
9.8mg/dL. IgA 34 mg/dL (60-400), IgG 352 mg/dL resposta, permitindo descontinuação progressiva
(700-1600), IgM 9 mg/dL(40-230), cadeias kappa do suporte ventilatório, com recuperação da capa-
67mg/dL (170-370) e lambda 237mg/dL (90-210); cidade de deglutição e reversão parcial dos défices
beta2 microglobulina 4.5mg/L e proteínas totais motores ao longo dos 2 meses seguintes.
7.7g/dL, pico gama 2.3g/dL. Imunofixação de pro-
teínas - pico lambda na zona gama e recomendação Caso 2: Mulher, 25 anos, observada por quadro de
de doseamento de IgD/IgE. No mielograma 82.4% parestesias da mão esquerda, com evolução em
de plasmócitos com atipias morfológicas, série poucas horas para o restante hemicorpo e hemifa-
mielóide e eritróide muito diminuídas. Fenotipagem: ce esquerdos. Tinha realizado a 2ª dose da vacina
52.39% plasmócitos clonais para cadeias lambda SARS-CoV-2 7 dias antes. Ao exame neurológico,
com fenótipo CD19 e CD45 negativos, CD38 débil e apresentava hemiparésia esquerda moderada e
CD56 positivo parcial; 0.08% de linfócitosB (0.77% hemi-hipostesia álgica esquerda. Cumpriu 5 dias de
dos linfócitos), 13.01% imaturos, 51.62% expressa- metilprednisolona 1000 mg id, com resolução dos
vam cadeias leves kappa e 35.37% expressavam ca- défices, não se verificando sequelas imagiológicas
deias leves lambda. Encaminhado para Onco-Hema- em RMce realizada após o tratamento.
tologia  IPO Porto com suspeita de MM IgD lambda,
Caso 3: Homem, 39 anos, sem antecedentes mé-
que se confirmou. Iniciado tratamento. DISCUSSÃO:
dicos conhecidos, com quadro de hemi-hipostesia
Por não estar disponível de forma acessível nos la-
álgica esquerda com nível D6 e monoparésia do
boratórios da maioria dos hospitais, a identificação
membro inferior direito moderada. Tinha realizado a
dos picos monoclonais IgD pode ser bastante desa-
1ª dose da vacina SARS-CoV-2 21 dias antes. Cum-
fiante. A identificação precoce deste tipo de MM é
priu 5 dias de metilprednisolona 1000 mg id, com
essencial pela sua agressividade, devendo-se man-
reversão dos défices. Após o tratamento realizou
ter sempre presente esta hipótese diagnóstica.
RM medular 1,5T que já não revelou alterações vi-
síveis, pelo que repetiu o exame em aparelho de 3T
CO n.º 1989  onde foram evidentes 2 focos milimétricos de hiper-
Complicações neurológicas da imunização para sinal em D7 e D11, a sugerir resolução praticamente
SARS-CoV-2: uma série de três casos completa da presumível lesão.
António Mateus-Pinheiro(1);Fabio Gomes(1);Ana
Chaves(1);Inês Correia(1) Conclusão
(1) Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra /
Hospitais da Universidade de Coimbra Ainda que sejam fenómenos raros, em contexto de
vacinação maciça da população é importante estar
Tema:Doenças cérebro-vasculares e neurológicas atendo às potenciais complicações neurológicas
associadas à vacinação.
Introdução:
CO n.º 2034 
Nem tudo o que parece é
As estratégias preventivas da infeção pelo vírus Ana Catarina Rodrigues Gonçalves(1);Matilde Fra-
SARS-CoV-2, em particular a vacinação, represen- ga(1);Jorge Fernandes(1);Ana Rodrigues(1);Anna
tam o mais importante eixo do combate à pandemia Taulaigo(1);Madalena Vicente(1)
actual. Têm sido reportadas reacções adversas (1) Centro Hospitalar Lisboa Central, EPE / Hospital
pós-vacinais de natureza diversa. Apresentamos um Curry Cabral
conjunto de três casos clínicos com manifestações
neurológicas de instalação após vacinação para Tema:Doenças infecciosas e parasitárias
SARS-CoV-2, sem identificação de trigger alternativo
para os achados documentados. Introdução: Infeções oportunistas são causadas por
microrganismos que, na ausência de compromisso
Casos Clínicos
da imunidade, não causariam doença. Em situações
Caso 1: Homem, 45 anos, sem antecedentes pa- de imunodeficiência, podem causar infeção graves.

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 57


CASO CLÍNICO: Masculino, 65 anos. História de ficiência humana (VIH), trazido ao Serviço de Urgên-
tromboembolismo venoso, sob acenocumarol. Em cia (SU) por crise convulsiva inaugural e febre, pro-
Janeiro/21 tem infeção por SARS-CoV-2 ligeira, sem cedendo-se a punção lombar diagnóstica. Cerca de
necessidade de internamento. Um mês após a cura 48 horas após a técnica, já em internamento, inicia
clínica, recorre ao Serviço de Urgência (SU) por tos- cefaleia holocraneana constante, postural, que agra-
se persistente, astenia, dispneia e sensação febril va com a posição supina e melhora com o decúbito
não quantificada. Sem alterações no exame objetivo dorsal, de intensidade subjetiva 8/10, associada a
mas constatada hipoxemia e presença de infiltrado incapacidade para a marcha por náuseas e tonturas
intersticial bilateral na telerradiografia de tórax. Foi aquando do movimento. Sem alterações a destacar
internado para estudo destacando-se pesquisas de ao exame neurológico e sem sinais meníngeos.
BAAR negativas, hemoculturas negativas, serologias Assumiu-se como etiologia mais provável tratar-se
VIH negativas. Em exame de imagem evidencia de uma cefaleia pós punção da dura, pelo que ini-
de sequelas pós infeção SARS-CoV-2. No lavado ciou fluidoterapia, analgesia em esquema e cafeína.
broncoalveolar a pesquisa de Pneumocystiis jiroveci Após uma semana, verificou-se uma parca melhoria
por PCR foi positiva tendo-se chegado ao diagnósti- da sintomatologia álgica, com manutenção de inca-
co de pneumocistose e iniciado cotrimoxazol e pre- pacidade para a marcha.
dnisolona. Entretanto, a citometria de fluxo revelou Perante a falência do tratamento de primeira linha,
défice de CD4+ (273.6cells/uL). Teve alta com indi- procedeu-se ao bloqueio bilateral do gânglio esfe-
cação para terminar tratamento em ambulatório. nopalatino (BGEP) com 4 ml de ropivacaína a 0,75%
Uma semana depois da alta, por dor no flanco direi- em cada narina. O alívio dos sintomas foi relatado
to, regressa ao SU objetivando-se lesão renal aguda. cerca de 45minutos após o BGEP, verificando-se re-
Foi internado com terapêutica ajustada – atovaquo- versão total da cefaleia em cerca de 6 horas, asso-
na – e verificou-se normalização da função renal, ciada a reversão das queixas de náuseas e tonturas,
admitindo-se componente pré-renal preponderante marcha normal, e sem recorrência álgica.
e efeito do cotrimoxazol. Após a alta, foi reavalia-
do (3 meses após infeção por SARS-CoV-2) tendo CONCLUSÃO: Sendo a punção lombar um procedi-
ocorrido normalização das populações linfocitárias. mento tão recorrente na prática clínica, este caso
Excluídas outras etiologias, assumiu-se uma prová- clínico salienta a importância de se conhecer o tra-
vel imunossupressão grave pós infeção SARS-CoV-2 tamento adequado de uma cefaleia pós punção da
ligeira, com infeção oportunista em doente previa- dura. Apesar do blood patch ser o gold standard do
mente não imunocomprometido. tratamento, o BGEP tem sido progressivamente re-
CONCLUSÃO: Este caso ilustra a importância da conhecido como uma opção mais segura e menos
suspeição clínica em situação pandémica, em que invasiva, pelo que merece ser considerada em caso
o diagnóstico diferencial de quadros respiratórios de falência da terapia de apoio e previamente à de-
pode e deve englobar patologias para além da in- cisão de proceder ao tampão sanguíneo peridural.
feção a SARS-CoV-2. O caso salienta também que,
CO n.º 2072 
apesar de toda a produção científica, há ainda res-
Tuberculose, o passado sempre presente!
postas a obter no que concerne a potenciais conse-
Leonor Coutinho Soares(1);Carolina Midões Cor-
quências da infeção.
reia(1);Laura Bonito Moreira(1);Umbelina Cai-
CO n.º 2036  xas(1);Helena Amorim(1)
Quando o café não resolve (1) Hospital de São José
Ana Catarina Rodrigues Gonçalves(1);Jorge Rodri-
Tema:Doenças infecciosas e parasitárias
gues(1);Matilde Fraga(1);Ana Taulaigo(1);Ana Rodri-
gues(1);Inês Figueiredo(1);Madalena Vicente(1)
(1) Centro Hospitalar Lisboa Central, EPE / Hospital O fenómeno da migração veio alterar a epidemiolo-
Curry Cabral gia de muitas doenças infeciosas em Portugal. No
caso da Tuberculose (TB), tem-se verificado uma
Tema:Outro manutenção da taxa de incidência embora à custa
da sua maior expressão na população não-nativa.
Introdução: A cefaleia pós-punção da dura é a com-
plicação mais frequente da punção da dura- máter, Relatamos o caso de uma mulher, 35 anos, nepale-
sendo que a sua incidência varia de acordo com o sa, com antecedentes patológicos de massa anexial
material (tamanho e desenho da agulha) e com o direita de natureza incerta (com 4 anos de evolução)
número de punções realizadas. e aborto espontâneo no 1º trimestre (4 anos antes);
que se apresenta com aumento do volume abdomi-
CASO CLÍNICO: Doente de 50 anos, sexo masculino, nal, perda de peso (~12kg), astenia, anorexia e sudo-
imunodeprimido por infeção pelo vírus da imunode- rese noturna com 1 ano de evolução, associados a

58
COMUNICAÇÕES ORAIS
dor na fossa ilíaca direita e metrorragias. Ao exame com alguns meses de evolução. Laboratorialmente
físico destacava-se: dor à palpação dos quadrantes apresentava hipocalcémia (5.2U), hiperfosfatémica
direitos do abdómen com ascite e 2 tumefações dor- (Fosf: 7.2U), PTH diminuída e Mg: (2.4U) e vitamina
sais, dolorosas, móveis, com flutuação. A avaliação D normais (21.3u). Admitido Hipoparatiroidismo Pri-
laboratorial documentou anemia ferropénica (Hb mário, tendo sido excluídas cirurgias à tiróide, trau-
9.1g/dL), e elevação da proteína C reativa (81,4mg/L) ma ou outras possíveis causas. A avaliação subse-
sem alteração do leucograma. Realizou tomografia quente revelou ACTH 13.5u, cortisol sérico 8 mcg/
computorizada toraco-abdomino-pélvica que identifi- dl; anticorpos anti-paratiroideus e restante estudo
cou lesões pulmonares apicais bilaterais com aspeto autoimune - negativos. Medicado com corticóide e
cavitado; ascite de moderado-grande volume e lesão remdesivir, efetuou correção da calcémia e da fosfa-
uma heterogénea anexial direita com conglomera- témia. Foi realizada para avaliar a extensão da pneu-
dos adenopáticos retroperitoneais, cujo estudo eco- monia viral, TC de tórax, havendo a destacar achado
gráfico foi compatível com endometriose. Perante de Traqueobroncomegalia – Síndrome de Mounier
suspeita de TB pulmonar, realizou lavado broncoal- Kuhn (SMK). Teve alta ao 14º dia, assintomático.
veolar com polymerase chain reaction (PCR) positiva
para Mycobacterium tuberculosis complex (MTC), Discussão: Este caso clínico destaca 3 grandes
paracentese diagnóstica com ascite com caracte- curiosidades: 1) É possível o diagnóstico de uma
rísticas de exsudado com exames culturais negati- doença rara (SMK) em contexto de pandemia a
vos; foi submetida a punção das tumefações dorsais SARS-CoV-2. A SMK caracteriza-se pelo aumento
com colheita de conteúdo caseoso com positividade do diâmetro da traqueia e dos brônquios principais.
para MTC. Desta forma, confirmou-se o diagnóstico Apesar de alguns doentes serem assintomáticos,
final de TB disseminada (partes moles e pulmonar) e outros podem apresentar bronquiectasias e até
endometriose. fibrose pulmonar. Estão reportados casos graves
de COVID-19 em doentes com SMK dada a maior
O caso apresentado demonstrou ser um desafio susceptibilidade às infeções respiratórias. 2) Alguns
diagnóstico. Retrata a inespecificidade da apresen- autores consideram que nos doentes com hipopara-
tação da TB mas também a importância de consi- tiroidismo a infecção por SARS-COV-2 pode precipi-
derar a sobreposição de outras doenças de modo a tar quadros de hipocalcemia grave, como o descrito.
justificar um determinado quadro clínico. 3) Trata-se do primeiro caso descrito de hipoparati-
roidismo primário e SMK descrito na literatura.
CO n.º 2084 
Hipoparatirodismo Primário e Síndrome de Mounier CO n.º 2118 
Kuhn num doente com COVID-19 Leptospirose complicada por reação de Jarisch-
Ana Maria Baltazar(1);Catarina Sousa Gonçal- -Herxheimer
ves(1);Alexandra Wahnon(1);Ana Furão Ro- Ana Maria lé(1);Cláudia Maria Pereira(1);José Nuno
drigues(1);Ana Mafalda Abrantes(1);Ana Car- de Magalhães(1);João Araújo Correia(1)
doso(1);Dúlio Teixeira Passos(1);Nuno Reis (1) Centro Hospitalar do Porto, EPE / Hospital Geral
Carreira(1);Laura Rodrigues de Carvalho(1);Carolina de Santo António
Ramos(1);Diogo de Sousa(1);Liliana r. Santos(1);Ma-
risa Teixeira Silva(1);António Pais de Lacerda(1) Tema:Doenças infecciosas e parasitárias
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi-
tal de Santa Maria As zoonoses são frequentemente esquecidas na
abordagem inicial de um doente séptico devido à
Tema:Doenças raras sua apresentação inespecífica ou atípica. A reação
de Jarisch-Herxheimer é um fenómeno imunológico
Introdução: Apesar da situação pandémica por SAR- que ocorre em infeções por espiroquetas como a
S-CoV2, a complexidade diagnóstica e a abordagem leptospirose. Clinicamente manifesta-se por um
clínica exaustiva de cada doente, mantêm-se como agravamento clínico transitório 12-24 horas após
pilares da Medicina Interna. o início de antibioterapia adequada, com febre
elevada, náuseas e vómitos, cefaleias, taquicardia
Caso clínico: Homem de 66 anos, melanodérmi- e hipotensão, podendo ainda haver agravamento
co, com antecedentes de doença pulmonar obs- de lesões cutâneas. É habitualmente aguda e
trutiva crónica (DPOC) GOLD-2 e artrite reumatoide autolimitada, devendo ser distinguida de reação
(AR) hospitalizado por pneumonia por SARS-CoV-2 alérgica ou progressão da sépsis e em alguns casos
e DPOC agudizada com insuficiência respiratória com maior gravidade pode haver necessidade de
parcial (FiO2 máximo 28%). Da história clínica des- suporte de órgão transitório.
tacava-se ainda astenia e parestesias generaliza-
das mais evidentes a nível dos membros inferiores Apresenta-se o caso clínico de um homem de 78

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 59


anos, residente em ambiente rural. Com doença re- tónoma, com história de enxaqueca e internamento
nal crónica estadio 3, estenose aórtica moderada e por tuberculose pulmonar aos 19 anos.
doença aneurismática da aorta torácica.
Recorre ao Serviço de Urgência por tonturas, diminui-
Admitido por síndrome confusional agudo e febre. ção da força do membro superior esquerdo, e dor-
Exame objetivo insuspeito quanto ao foco de infe- mência deste e da hemiface esquerda após manobra
ção e sem alterações mucocutâneas. Objetivamente de Valsava, com remissão em minutos. Referia cefa-
estava hemodinamicamente estável. Estudo analíti- leias pulsáteis de predomínio frontal com fotofobia,
co com leucócitos 6430/uL, plaquetas 129000u/L, cansaço fácil com uma semana de evolução e sur-
lesão renal aguda KIDIGO 1 (creatinina 2.2mg/dL), gimento de equimoses espontâneas nos membros.
bilirrubina total 1,24 mg/dL à custa da direta, TGO Sem episódios anteriores.
58U/L, TGP 45U/L, FA 145 U/L, GGT 73U/L e proteí-
na C reactiva 287mg/L. Com estudo inicial extenso À admissão: hipertensa 172/87mmHg, taquicárdica
sem evidência de foco infecioso (respiratório, intra- 105bpm; temperatura timpânica 39ºC. Equimoses
-abdominal, urinário, sistema nervoso central ou en- nos membros; petéquias nos membros superiores e
docardite) e após colheita de produtos para estudo região súpero-anterior do tórax. Exame neurológico
microbiológico foi instituída antibioterapia empírica sem alterações.
com ceftriaxone.
Foi inicialmente proposto o diagnóstico de AIT.
Cerca de 24 horas após o início de antibioterapia,
Analiticamente com anemia hemolítica, tromboci-
apresentou febre elevada, shivering e hipotensão
topénia grave, parâmetros inflamatórios negativos,
arterial refratária, com necessidade de suporte ami-
sem disfunção renal, hiperbilirrubinémia indirecta,
nérgico transitório. Quadro interpretado como falên-
esquizócitos no esfregaço de sangue periférico.
cia terapêutica, tendo sido escalada antibioterapia
Coombs directo negativo. Estudo serológico e imu-
para piperacilina/tazobactam.
nológico negativos.
Diagnóstico de leptospirose com doença de Weil
TC-CE e ecografia abdominal sem alterações.
efetuado a posteriori, com serologia positiva recon-
firmada às 4 semanas, sem presença de leptospirú- RM-CE com alterações subcorticais frontais bilate-
ria. rais mais à esquerda, de possível natureza microvas-
cular; hipoplasia do segmento A1 da ACA direita.
Este caso pretende alertar para a necessidade de
suspeição clínica elevada de zoonose no doente Foi então assumida Púrpura Trombocitopénia Trom-
séptico e sem foco de infeção claro, para instituição bótica vs síndrome hemolítico urémico atípico. Fez
antibiótica adequada e atempada. 10 sessões de plasmaferese e 19 dias de corticote-
rapia, com melhoria clínica e analítica sustentada.
A reação de Jarisch-Herxheimer pode complicar o
Pesquisa da actividade de ADAMTS13 <5%, confir-
tratamento de infeção por espiroquetas e não deve
mando a hipótese de PTT. Alta sob corticoterapia,
ser interpretado como falência terapêutica.
com seguimento em Hematologia.
CO n.º 2125 
A PTT é uma emergência médica, mortal em 90%
AIT: Quando a etiologia assusta
dos casos sem tratamento. A decisão de iniciar
Marta Sanches(1);Bárbara s. Abreu(1);Beatriz Cas-
plasmaferese é life-saving, sendo essencial o reco-
tro Silva(1);Vânia Rodrigues Pereira(1);Ana Isabel
nhecimento rápido e tratamento que envolve traba-
Brochado(1);David Prescott(1);Inês Branco Carva-
lho multidisciplinar.
lho(1);Margarida Pimentel Nunes(1);Isabel Monte-
negro Araújo(1);Paula Peixinho(1);António Martins CO n.º 2157 
Baptista(1);José Lomelino Araújo(1) Imunodeficiência e Infecção a SARS-CoV-2: a pro-
(1) Hospital Beatriz Ângelo pósito de um caso clínico
Inês Parreira(1);Sérgio Bronze(1);Pedro Gas-
Tema:Doenças hematológicas
par(1);Leila Duarte(1);Hélder Diogo Gonçalves(1);-
Valeria Maione(1);Filipa Reis(2);Federica Parla-
Doente com cefaleias e alterações neurológicas to(1);Carolina Carreiro(1);Filipe Bessa(1);Sandra
transitórias faz-nos pensar invariavelmente em AIT Braz(1);Catarina Mota(1)
ou enxaqueca com aura – no entanto existem deta- (1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi-
lhes que nos devem fazer pensar em causas poten- tal de Santa Maria (2) Centro Hospitalar de Lisboa
cialmente mais graves. Norte, EPE / Hospital Pulido Valente

Descreve-se o caso de uma mulher de 46 anos, au- Tema:Doenças raras

60
COMUNICAÇÕES ORAIS
Introdução: Introdução: A doença de Whipple é uma doença
multissistémica causada pelo Tropheryma whipplei.
O Síndrome de Good, inicialmente descrito em 1954 é Trata-se de uma doença rara com amplo espectro
uma imunodeficiência adquirida incomum caracteri- de apresentações clínicas sendo necessário uma
zada pela associação de timoma e imunodeficiência elevada suspeição para o diagnóstico.
combinada de células T e B. A ausência de células B
tem sido correlacionada de forma inconsistente com Caso Clínico: Apresentamos uma mulher de 65
infecção a SARS-CoV-2 de maior gravidade e / ou anos, caucasiana, internada por trombose venosa
virémia crónica após recuperação do quadro agudo. profunda (TVP) confirmada por eco-doppler. Da his-
tória apurava-se quadro arrastado de poliartralgias
Caso Clínico: intermitentes e migratórias, perda ponderal  de 7kg,
anorexia e pirose. Apresentava-se emagrecida e
Mulher de 71 anos, com antecedentes de dislipidé-
pálida, com adenopatias axilares. Analiticamente
mia e bócio multinodular. Sem história prévia de in-
destacava-se Hbg: 10.3g/dL. A TC toraco-abdomi-
fecções recorrentes. Admitida por cansaço e tosse
no-pélvico evidenciou múltiplas adenopatias em
produtiva com 3 dias de evolução com diagnóstico
diferentes cadeias ganglionares (axilares, mamárias
de COVID-19. Laboratorialmente a destacar hipoga-
internas, cardio-frénicas, retroperitoneais e mesen-
maglobulinémia (IgG 382mg/dL (VR 700-1600); IgA
téricas). A anatomopatologia da biópsia excisional
62 mg/dL (VR 70-400); IgM <5 mg/dL (VR 40-230).
ganglionar evidenciou Linfadenite reativa granulo-
Imunofenotipagem com ausência de células B, CD4
matosa, não necrotizante, de provável etiologia infe-
26,8% (VR 29-59%), CD8 59,4% (VR 19-48%). A TC-
ciosa e a pesquisa histoquímica revelou estruturas
-toráx documentou pneumonia viral com 75% de en-
filiformes, com aspeto de bacilos, intra-histiocitá-
volvimento pulmonar e volumosa formação nodular
rios, PAS e PAS-diastase positivos. Para confirma-
com cerca de 8,5 x 5cm de maiores eixos, evidencian-
ção do diagnósitco de Doença  de Whipple realizou
do perda dos planos de clivagem com o pericárdio.
Endoscopia Digestiva Alta: nas biópsias duodenais
Por agravamento da insuficiência respiratória esteve
identificaram-se bacilos positivos para PAS e PASD
ventilada invasivamente durante 16 dias. Foi medi-
e PCR Tropheryma whipplei positiva.
cada com corticoterapia com dexametasona com
evolução clínica favorável. Já clinicamente estável, A doente iniciou antibioticoterapia (AB) com Ceftria-
efectuou biópsia da massa mediastínica com docu- xone EV durante 15 dias, seguida de Trimetoprim-
mentação de Timoma tipo AB. A doente encontra-se -Sulfametoxazol oral durante um ano. Encontra-se
proposta para ressecção de timoma encontrando-se sob AB com melhoria progressiva do quadro.
a aguardar cirurgia.
Discussão: Perante a presença de TVP associada a
Conclusão: lindafenopatias inicialmente foi colocada a hipóte-
se de se tratar de uma doenc¸a linfoproliferativa. A
O papel das imunodeficiências primárias ou adquiri-
apresentação pouco usual e a presença de apenas
das na evolução da infecção a SARS-CoV-2 é ainda
dois dos quatro sintomas cardinais (artralgias, per-
controverso. A variabilidade de quadros reportados
da ponderal, diarreia e dor abdominal) conferiam
na literatura poderá dever-se em parte à heterogenei-
pouca suspeição para Doença de Whipple. Embora
dade clínica e imunológica destas perturbações. Ain-
raros encontram-se descritos na literatura eventos
da assim, predominam reports de casos de doença
tromboembólicos como manifestação de Doença de
severa e/ou virémia persistente após infecção aguda
Whipple. No caso apresentado apesar de não haver
em doentes com diagnóstico prévio e terapêutica de
evidência clínica de envolvimento do SNC optou-se
reposição com IgG. Os autores apresentam um caso
por um regime AB  com penetrância na barreira he-
raro de Síndrome de Good inaugural diagnosticado
mato-encefa´lica, dado este ser o local mais frequen-
durante infecção a SARS-CoV-2 com quadro clínico
te de recidiva.
grave mas evolução favorável.
CO n.º 2180 
CO n.º 2170 
Sindrome de horner: Uma rara apresentação inicial
Nem tudo o que parece é: um caso de Doença de
de neoplasia pulmonar
Whipple
Miguel Reis Costa(1);Ângela Ferreira, Ana Catarina
Beatriz Porteiro(1);Ana Rita Freitas(1);Aurora Mon-
Carvoeiro, António Ferreira, Irene Miranda, Carmélia
teiro(1);Sofia Prada(1);Filipa Nunes(1);Mário Ferrei-
Rodrigues, Diana Guerra(1)
ra(1);Marinela Major(1);João Machado(1)
(1) Unidade Local de Saúde do Alto Minho, EPE /
(1) Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca
Hospital de Santa Luzia
Tema:Doenças infecciosas e parasitárias
Tema:Doenças oncológicas

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 61


Introdução: O Síndrome de Horner (SH) resulta da A febre Q é uma zoonose de distribuição mundial
lesão das fibras simpa´ticas destinadas ao olho e que se transmite por inalação de aerossóis contami-
classicamente apresenta-se com ptose palpebral, nados com Coxiella burnetii. Tem um amplo espec-
miose e anidrose da hemiface ipsilateral. De acordo tro de manifestações clínicas, que podem ir desde
com a topografia, pode-se classificar  a lesão como uma síndrome febril autolimitada até quadros com
central (entre o hipotálamo e a medula), pre´-gan- compromisso orgânico grave.  A incidência real des-
glionar (da medula ao ga^nglio cervical superior – ta doença parece ainda estar subestimada apesar
C3 a C4) e po´s-ganglionar (do ga^nglio cervical su- de ser de declaração obrigatória em Portugal.
perior ao mu´sculo dilatador da i´ris). A tríade ocorre
quando há lesão pré-ganglionar; frequentemente Homem de 73 anos, residente em meio rural, com
associada a traumatismos cirúrgicos, disseção da antecedentes pessoais de doença cardíaca valvular,
carótida interna e neoplasia do ápex pulmonar (tu- submetido a cirurgia de substituição valvular aórtica
mor de Pancoast - TP). com prótese biológica.  Admitido em enfermaria de
medicina interna por quadro de febre, diarreia e as-
Caso clínico: Mulher, 53 anos, fumadora com tos- tenia com 3 dias de evolução. Analiticamente com
se produtiva mucosa, habitual. Com perda ponderal trombocitopenia, citocolestase hepática e hipona-
(8Kg) em 3 meses e dor pleurítica na grade costal di- tremia de 124 mEq/L, com hepatoesplenomegalia
reita desde há 1mês. Notada miose, ptose e anidrose documentada em tomografia computadorizada.
da hemiface direita. Ao exame objetivo está apiréti- Durante o internamento, foi realizada investigação
ca, hemodinamicamente estável e saturação de O2 etiológica da febre, que se manteve ao longo dos
periférica de 92%; confirmada anisocoria, com miose primeiros dias, com um pico diário de predomínio
direita e ptose palpebral ipsilateral. Nódulo supracla- vespertino. Tendo em conta tratar-se de um doente
vicular direito palpável com cerca de 2cm, aderente com prótese valvular aórtica biológica, foi realizado
aos planos profundos, duro e indolor, e dor à palpa- ecocardiograma transesofágico que não revelou al-
ção da omoplata direita. Análises com leucocitose e terações compatíveis com endocardite, apesar de
proteína C reativa aumentada; cálcio, desidrogenase não ter sido possível excluir este diagnóstico através
lactica e sódio normais. TC toraco-abdominal: es- deste método. Por noção de lentificação psicomoto-
pessamento pleura parietal direita, lesão nodular hilo ra, foi realizada punção lombar que excluiu infeção
direito, adenopatias pretraqueais e precarinais, nó- do sistema nervoso central.  Concomitantemente, foi
dulos subpleurais e lesão nodular hepática; glându- admitido um doente de 53 anos, residente na mes-
las suprarrenais sem alterações. Broncofibroscopia ma área do doente acima referido, por quadro de
mostra no lobo superior direito segmentos reduzidos hepatite granulomatosa. Foi então alargado estudo
de calibre, com edema e infiltração tumoral. Histolo- etiológico com estudo imunológico e serológico, do
gia compatível com carcinoma de células não peque- qual se destacou a pesquisa de DNA Coxiella Burnetii
nas concluindo-se por neoplasia do pulmão estadio positiva para ambos. Os anticorpos IgM e IgG anti-
T4N2M1c (metastização pleural, ganglionar e hepá- -fase II apresentaram títulos superiores a 50 e 200,
tica) e síndrome de Pancoast. Pelo difícil controlo ál- respetivamente, confirmado febre Q aguda.   Neste
gico com terapêutica medicamentosa foi orientada contexto, foi realizada PET que excluiu endocardite
para radioterapia. e iniciada terapêutica com doxiciclina e hidroxicloro-
quina, que cumpriu durante um ano, sem evidência
Conclusões: O SH da doente resulta de um TP secun- de endocardite.
dário à metastização da pleura parietal direita. Para
além da epidemiologia (tabagismo) e da dor pleurí- O diagnóstico de febre Q é desafiante sendo que os
tica, a presença da tríade semiológica sugestiva de dados epidemiológicos assumem um papel fulcral
lesão pré-ganglionar foi determinante no diagnósti- neste processo. A atenção para este diagnóstico tor-
co. A importância do diagnóstico do SH dá-se pela na-se ainda mais importante em doentes com maior
necessidade da pesquisa da sua causa que leva ao risco de desenvolvimento de doença crónica, como
seu  tratamento precoce. é o caso da endocardite em doentes com próteses
valvulares.
CO n.º 2182 
Febre Q: dois vizinhos, uma doença em comum CO n.º 2186 
Joana Tender Vieira(1);Stefano Pinto(1);Mariana Doença de Castleman multicêntrica HHV-8 em
Almeida(1);Catarina Vale(1);Hugo Veiga(1);Joana doente imunocompentente. O desafio diagnóstico.
Pimenta(1);Jorge Almeida(1) Rita Magalhães(1);Ana Carvalho(1);Pedro Almei-
(1) Centro Hospitalar de S. João, EPE da(1);Marta Madarnas(1);Marta Gomes(1);Beatriz
Torres(1)
Tema:Doenças infecciosas e parasitárias (1) Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Dou-
ro, EPE / Unidade Hospitalar de Chaves

62
COMUNICAÇÕES ORAIS
Tema:Doenças hematológicas (1) Centro Hospitalar de S. João, EPE

Tema:Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-


Os autores apresentam o caso de um doente de
culites
sexo masculino, de 82 anos de idade, internado por
sintomas constitucionais e respiratórios associados
a polisserosite, múltiplas adenopatias dispersas, A sarcoidose é uma doença granulomatosa multis-
insuficiência renal e insuficiência cardíaca sem es- sistémica de etiologia desconhecida e caracteriza-
tratificação. Antecedente recente de infeção respira- da pela presença de granulomas não caseosos nos
tória e de vacinação para Covid. A toracocentese foi órgãos envolvidos. O envolvimento renal manifes-
indicativa de transudado, a imunofenotipagem de ta-se classicamente por nefrite intersticial granu-
linfócitos sem alterações. Os rastreios viral, séptico lomatosa, sendo a hipercalciúria e a hipercalcemia
e sorológico apenas revelaram PCR (polymerase as mais frequentemente responsáveis por doença
chain reaction) a Epstein Barr (EBV) positiva. A to- renal clinicamente significativa.
mografia (TAC) revelou agravamento da serosite e
hepatoesplenomegalia. O doente iniciou quadro de Doente de 22 anos, com antecedentes de obesida-
alterações neurológicas e exacerbação dos sinto- de e infeção por SARS-CoV 2 recente, admitido por
mas constitucionais. Excisou-se um gânglio axilar lesão renal aguda rapidamente progressiva. Foi en-
cuja imunofixação foi compatível com Doença de caminhado a partir da consulta de Oftalmologia,
Castleman multicêntrica HHV-8 (herpes vírus 8). onde estava a ser seguido por quadro de uveíte an-
Evolução rapidamente progressiva a disfunção terior bilateral.   Apresentava em estudo analítico
hematológica com pancitopenia, necessidade de anemia microcítica, azotemia (ureia 58 mg/dl, crea-
suporte transfusional, apesar de ter iniciado tera- tinina 4.19 mg/dl) com proteinúria e hipercalcemia.
pêutica com metilprednisolona em altas doses e De referir ainda, velocidade de sedimentação de 80
Rituximab. Agravamento com disfunção multiorgâ- mm e doseamento de enzima conversora da angio-
nica: renal, respiratória e neurológica. Foram intro- tensina elevado. Do estudo imunológico, de ressal-
duzidos antiepiléticos, feita reposição de albumina var  anticorpos  antinucleares 1/100 mosqueado e
e suporte nutricional. Falecimento após 6 dias de anticorpo  anticitoplasmático de neutrófilo, anticor-
terapêutica combinada. pos  anti-membrana basal glomerular e anticorpos
anti-antigénios nucleares extraíveis negativos. Rea-
Discussão - A doença de Castleman (DC), ou hiper- lizada biópsia renal que revelou nefrite intersticial
plasia de linfonodos gigantes, é um distúrbio lin- crónica granulomatosa, interpretada em contexto
foproliferativo heterogéneo de etio-patogenia mal de sarcoidose renal. Iniciada terapêutica corticóide,
definida. Tem três subtipos histológicos distintos tendo apresentado melhoria progressiva da função
(vasos hialinos, células plasmáticas e tipos de cé- renal. Atualmente, com evolução favorável e em des-
lulas plasmáticas vasculares hialinas mistas), bem mame de corticoterapia.
como duas variantes: doença unicêntrica (UCD) - a
A real prevalência do envolvimento renal na sarcoi-
doença está confinada a um linfonodo único e não
dose permanece incerta e ocorre geralmente após o
cursa -com sintomas sistémicos; e doença multicên-
acometimento de outros órgãos. O reconhecimento
trica (DCM) – podendo ser subdividida em DCM idio-
precoce desta entidade, com a realização de biópsia
pática, DCM associada ao vírus do herpes humano 8
renal, é crucial para iniciar terapêutica e evitar dano
e DCM associada a POEMS, onde as linfadenopatias
renal irreversível. 
são generalizadas com sintomas sistémicos mais
agressivos. CO n.º 2212 
Síndrome de roubo da artéria subclávia: uma causa
A doença de Castleman associada ao HHV-8 ocorre
de AVC
predominantemente em pacientes com imunossu-
Sara Freixo(1);Dr. Francisco Gonçalves(1);Dra. Luisa
pressão deve ser um diagnostico a considerar em
Pinto(1);Dra. Marina Alves(1);Dr. António Oliveira e
doentes imunocompententes. Geralmente tem um
Silva(1);Inês Gonçalves(1);Margarida Araújo(1);Ana
curso agressivo por vezes pode simular um linfoma
Isabel Machado(1)
maligno de células B. O prognóstico é por norma
(1) Hospital de Braga
desfavorável.
Tema:Doenças cérebro-vasculares e neurológicas
CO n.º 2189 
Sarcoidose renal: a importância do reconhecimento
precoce O síndrome de roubo da artéria subclávia é um
Joana Tender Vieira(1);Stefano Pinto(1);Beatriz fenómeno que se carateriza pelo fluxo sanguíneo
Santos(1);Claudemira Pinto(1);Rita Noversa de Sou- retrogrado na artéria vertebral habitualmente cau-
sa(1);Joana Pimenta(1);Jorge Almeida(1) sado por estenose ou oclusão da artéria subclávia

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 63


proximal ipsilateral. Frequentemente os doentes são Caso Clinico: Homem, 68 anos, com LMA com um
assintomáticos, no entanto podem apresentar lipoti- ano de evolução, tratado e considerado em remis-
mia, sincope, défices neurológicos e tensão arterial são. Internado no Serviço de Medicina Interna por
diferencial dos membros superiores. quadro com 4 semanas de aumento do volume
abdominal, astenia e cansaço para pequenos esfor-
Os autores apresentam o caso clínico de uma doente ços. Analiticamente com leucocitose 11480, PCR
em que    consideram que este fenómeno possa ter 10.6mg/dL e LDH 2482UI/L. O esfregaço de sangue
contribuido como causa de AVC isquémico:  mulher periférico mostrou <1% de blastos. Realizou TC
de 78 anos, com antecedentes de HTA, dislipidemia, abdomino-pélvica que mostrou ascite em grande
insuficiência aórtica moderada e AVC isquémico em quantidade e depósitos peritoneais secundários. O
2015 e em 2017. Deu entrada no serviço de urgência exame citoquímico do liquido ascítico mostrou albu-
por um quadro de desorientação e discurso incoe- mina 1.4mg/dL (gradiente sero-ascítico < 1.1), pro-
rente de inicio súbito. À observação, apresentava-se teínas 4.1g/dL, LDH 12364UI/L; Leucocitos 28680,
consciente e orientada, hemodinamicamente está- sem predomínio e com grande destruição celular. O
vel, apirética e sem alterações à auscultação. No exa- exame cultural foi negativo. A anatomia patológica
me neurológico: discurso com múltiplas hesitações e a citometria de fluxo revelaram células mieloides
,parafasias e discreta diminuição da força muscular imaturas. O mielograma e a biópsia óssea mostra-
no membro inferior direito. Sem outras alterações ao ram > 20% blastos, sugestivos de progressão de
exame objetivo. Nos exames complementares, não doença. Não foi documentada infiltração de outros
apresentava alterações analíticas, ECG com ritmo tecidos. Perante a gravidade do quadro e a ausência
sinusal. No TC cranioencefálico apresentava uma de alternativas terapêuticas, o doente evoluiu com
hipodensidade focal tálamo-capsular esquerda refle- agravamento clínico rápido tendo vindo a falecer no
tindo enfarte recente. mesmo internamento.

Assumido o diagnóstico de AVC isquémico realizou Discussão: A LMA é uma doença potencialmente
eco-doppler carotídeo que evidenciou fenómenos multiorgânica. O sarcoma mieloide é uma forma
ateroscleróticos condicionando estenose de 49% na expressiva mas incomum de doença extramedular,
artéria carótida interna esquerda, estenose inferior a muito raramente descrito no peritoneu. A análise do
30% à direita e sinais sugestivos de roubo da artéria líquido ascítico nos doentes com LMA em qualquer
subclávia esquerda, com inversão parcial na artéria fase de doença deve ser exaustiva, permitindo ex-
vertebral homolateral. cluir todas as hipóteses diagnósticas colocadas de
acordo com a história clínica, incluindo a de ascite
Apesar de não ser considerada uma causa provável mieloide, através da imunohistoquimica e da cito-
de AVC, o síndrome de roubo da artéria subclávia metria de fluxo.
poderá condicionar diminuição do fluxo cerebral e,
nestas condições, poderá ser responsável por fenó- CO n.º 2235 
menos isquémicos recorrentes, sempre que após o Amiloidose a transtirretina adquirida após trans-
estudo não se apresentem outras causas evidentes. plante hepático em dominó
Maria Rita Dias(1);Catarina Eusébio(1);João Louri-
CO n.º 2224  nho(1);Matilde Ferreira de Almeida(1);Filipa Fonte
Sarcoma mieloide peritoneal com ascite mieloide: Rodrigues(1);Jorge Silva(1)
raro mas não impossível (1) Hospital Garcia de Orta, EPE
Luís Landeiro(1);Tiago Gonçalves(1);Margarida
Proença(1);Alexandra Bayão Horta(1) Tema:Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio-
(1) Hospital da Luz Lisboa nais

Tema:Doenças hematológicas Introdução: A polineuropatia amiloidótica familiar


(PAF) decorre da deposição sistémica de amiloide
Introdução: A Leucemia mielóide aguda (LMA) ca- e o transplante hepático é o tratamento eleito. É fre-
racteriza-se pela proliferação clonal de percursores quente realizar-se transplante em dominó (TD), em
mielóides sem capacidade de diferenciação, que que o fígado de um doente com PAF, com função
se acumulam na medula óssea, sangue periférico normal, é transplantado noutro doente com falência
e ocasionalmente se depositam sob forma de tu- hepática – este terá risco aumentado de amiloidose
mores extramedulares denominados de sarcomas de novo, havendo ainda poucos casos descritos.
mieloides, mais frequentemente no osso, periósteo,
partes moles, pele e gânglios linfáticos. Existem
relatos esporádicos de sarcoma mielóide peritoneal Caso clínico: Homem de 78 anos, caucasiano,
com ascite mielóide. com hipertensão arterial e hipertrofia benigna da

64
COMUNICAÇÕES ORAIS
próstata, submetido a TD em 2008 por hepatite por Mulher de 55 anos, com 40 anos de evolução de LES
tetracloretos. Sete anos após o transplante, iniciou de envolvimento articular preponderante. Laborato-
parestesias e perda de força nos membros inferio- rialmente, ANAs, Ac. anti-ds-DNA, anti-Sm, anti-RNP,
res e superiores. Fez eletromiografia, que descreveu anti-Ro e anti-La positivos em titulação elevada. Me-
uma polineuropatia sensitivo-motora, e biópsia de dicada no passado com hidroxicloroquina, predniso-
glândula salivar, com presença de amiloide, que lona em baixa dose e metotrexato 25 mg desde há
confirmou o diagnóstico de PAF adquirida. Por diar- 10 anos.
reia aquosa e perda de peso, realizou endoscopia di-
gestiva alta e baixa, sem alterações, assumindo-se Surge com história de linfadenopatia, hepatoesple-
atingimento gastrointestinal. Fez ecocardiografia nomegália, febre, perda de peso, anemia, agrava-
transtorácica, que identificou hipertensão pulmonar mento da artrite e hiperpigmentação cutânea. La-
e derrame pericárdico sem repercussão hemodinâ- boratorialmente: manutenção de títulos elevados de
mica, e cintigrafia com tecnésio 99 difosfónico-1,- anticorpos, velocidade de sedimentação 103 mm,
2-propano carboxílico, sem captação cardíaca de hipergamaglobulinémia de base alargada, β2-micro-
radiofármaco - assumiu-se, contudo, provável envol- globulina elevada, consumo de complemento e hi-
vimento cardíaco. Por agravamento da função renal perferritinémia. Biópsia de glândulas salivares sem
(FR), foi referenciado a consulta de Nefrologia. De- evidência de alterações compatíveis com síndrome
tetou-se proteinúria nefrótica, sem micro-hematúria de Sjögren. Biópsia óssea sem evidência de infil-
ou síndrome nefrótico (SN). Do estudo etiológico, a tração. TC toracoabdominopélvica complementada
destacar cadeias Kappa e Lambda livres aumenta- com estudo PET com persistência de gânglios supra
das no soro mas com rácio normal, C3, C4, IgA, IgG e infra diafragmáticos, com ténue e ligeira expressão
e IgM normais, eletroforese sérica de proteínas sem metabólica de natureza indeterminada.
picos monoclonais e PSA normal.
Realizadas biópsias ganglionares, com identificação
de folículos linfoides com centros germinativos de
Discussão: Este é um caso de amiloidose sistémi- limites mal definidos e aumento de células T intrafo-
ca adquirida após TD. O início da doença após TD liculares. Acentuada expansão da paracortical, com
tem-se revelado mais precoce que o inicialmente numerosos linfócitos T, proliferação vascular, célu-
esperado. Desconhece-se a prevalência mundial de las interfoliculares S100+, e células grandes mono
PAF com afeção renal, mas sabe-se que esta é mais e bi-nucleadas, Sternberg-Reed-like, CD20+, CD30+
comum na mutação ATTRV30M, frequente no clus- e CD45- na paracortical. Assumido como gânglios
ter português, em que 30% dos doentes apresentam reativos.
disfunção progressiva da FR e/ou SN.
Repetida excisão ganglionar inguinal esquerda, dois
CO n.º 2243  anos depois, com evidência de hiperplasia da para-
Linfadenite dermatopática (Doença de Pautrier- cortical com numerosas células interfoliculares den-
-Woringer) associada a lúpus eritematoso sistémi- dríticas e de Langerhans; observando-se melanófa-
co gos e hemossiderófagos. Sem aspetos sugestivos
Leila Duarte(1);Pedro Gaspar(1);Inês Parreira(1);Ma- de doença linfoproliferativa.
riana Dias(1);Ana Melício(1);Cristiana Canelas Men-
CO n.º 2251 
des(1);Hélder Diogo Gonçalves(1);Federica Parla-
Infeção multifocal - suscetibilidade ou consequên-
to(1);Sérgio Tubal Bronze(1);Valeria Maione(1);Filipe
cia?
Bessa(1);Sandra Bahia Braz(1);Catarina Mota(1);-
Joana Marques(1);Marta Azevedo Ferreira(1);Caro-
João Madeira Lopes(1);António Pais Lacerda(1)
lina Cabrita Abreu(1);Ana Grilo(1);Fernando Martos
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi-
Gonçalves(1);José Lomelino Araújo(1)
tal de Santa Maria
(1) Hospital Beatriz Ângelo
Tema:Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
Tema:Doenças infecciosas e parasitárias
culites

Introdução: A espondilodiscite permanece um diag-


Introdução
nóstico pouco frequente podendo apresentar como
complicações o abcesso e défice neurológico. O
A doença de Pautrier-Woringer, vulgarmente conhe- envolvimento multifocal é descrito em casos clíni-
cida por linfadenite dermatopática, surge como uma cos pontuais e associado a agentes de crescimento
entidade rara que constitui diagnóstico diferencial na lento. Apesar da associação a aumento de infeções,
presença de poliadenopatias em doentes com lúpus a terapêutica imunossupressora raramente se asso-
eritematoso sistémico (LES). cia a espondilodiscite.
Caso clínico
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 65
Caso clínico: Tema:Outro

Mulher de 54 anos com diagnóstico de Doença de


Introdução: A síndrome de hipersensibilidade com
Crohn com 6 anos de evolução sob infliximab desde
eosinofilia induzida por fármacos (DRESS) pode ser
há 4 anos com bom controlo da doença intestinal;
causado por vários fármacos, sendo o alopurinol
síndrome depressivo, acne inflamatório da face e
um deles. A incidência é de 1/10000-100000 exposi-
tabagismo.
ções a fármacos. A apresentação pode ser variável,
Descreve mal estar inespecífico, lombalgia e mial- com maior afeção cutânea, hepática ou renal, sendo
gias desde há 1 mês e no dia que recorre ao SU com a colite descrita apenas em casos pontuais.
alteração do estado de consciência, heteroagressivi-
dade e discurso incoerente. Negava outra sintoma- Caso clínico:
tologia. À observação a destacar: febril, hemodina-
micamente estável, com discurso incoerente, com Mulher de 70 anos com história de hipertensão arte-
limitação na flexão dos membros superiores além rial, hiperuricemia, neoplasia da parótida operada há
dos 90º sem outros défices neurológicos ou rigidez 20 anos e alergia à penicilina e cotrimoxazol.
da nuca.
Recorreu ao SU por exantema eritemato-violáceo,
Analiticamente com elevação de parâmetros infla- pruriginoso, descamativo, coalescente, sem bolhas
matórios (leucocitose 17.96x10(9)/L, PCR 42,64mg/ desde há 4 semanas. Iniciou alopurinol 3 semanas
dL) sem outras alterações. TC Crânio sem altera- antes do início dos sintomas. Referia dor abdominal,
ções e TC abdomino-pélvica sem identificação de diarreia aquosa sem sangue, muco ou pus.
abcessos ou outras alterações sugestivas de infe-
Do exame objetivo a destacar apirexia, exantema
ção. Punção lombar com hiperproteinorráquia, hipo-
papular do tronco, membros e face, sem adenopa-
glicorráquia (27mg/dL) com 80 células, predomínio
tias palpáveis, com abdómen mole, discretamente
de mononucleares. Hemoculturas isolaram Sta-
doloroso à palpação.
phylococus aureus meticilina sensível. Exame bac-
teriológico e micobacteriológico do LCR negativo Analiticamente com leucocitose 13.75x10(9)/L, com
bem como DNA para Mycobacterium tuberculosis. eosinofilia 0.91x10(9)/L, PCR 12.92mg/dL, lesão
renal aguda, ligeiro padrão de citocolestase (AST 35
RM crânio e da coluna com identificação de
UI/L; ALT 65 UI/L; FA 106 UI/L, GGT 58), urina II com
múltiplos focos de espondilodiscite multifocal
vestígios de proteínas, esterase leucocitária ++ e
não contígua (cervical, dorsal e lombar) com
hemoglobina +. Doseamento IgE 637UI/mL.
componente de abcesso intracanalar e fleimão pa-
ravertebral. Internada por DRESS induzido por alopurinol, iniciou
prednisolona 60mg/dia e parou alopurinol. Biópsia
Iniciou antibioterapia de largo especto que foi ajus-
cutânea revelou alterações sugestivas de toxider-
tada de acordo com teste de sensibilidade para flu-
mia, padrão DRESS.
cloxacilina e associada rifampicina. Discutido com
Neurocirurgia mas decidida estratégia conservadora Colonoscopia mostrou mucosa difusamente hi-
dada a complexidade cirúrgica. Evolução clínica gra- peremiada, com apagamento do padrão vascular,
dual sob antibioterapia. ponteado hemorrágico subepitelial, várias erosões,
e algumas pequenas úlceras superficiais < 10mm,
Discussão:
cujas biópsias revelaram colite em fase ativa com
Descreve-se um caso de espondilodiscite multifocal envolvimento preferencial de criptas e aumento de
a S aureus, uma apresentação extremamente rara. eosinófilos e sem estigmas de cronicidade.
Apesar do risco infecioso associado à terapêutica
Excluídas outras causas com serologias virais
imunossupressora com anti-TNF não foi possível
negativas (Citomegalovírus, Epstein Barr, Herpes,
identificar nenhum relato de envolvimento multifo-
Parvovírus), coproculturas e pesquisa de parasitas
cal associado a esta terapêutica na literatura.
negativas e ANA e crioglobulinas negativas.
CO n.º 2258 
Apresentou melhoria progressiva das lesões cutâ-
DRESS multissistémico revisto por dentro e por
neas e normalização da função renal, hepática e
fora
dos sintomas gastrointestinais.
Joana Marques(1);Marta Azevedo Ferreira(1);Caroli-
na Cabrita Abreu(1);Bárbara Morão(1);Ana Grilo(1);- Discussão: Apresenta-se este caso de DRESS as-
Fernando Martos Gonçalves(1);Lídia Ramos(1);José sociado a alopurinol (critérios de RegisSCAR 5
Lomelino Araújo(1) pontos-diagnóstico definitivo) com afeção multior-
(1) Hospital Beatriz Ângelo gão incluindo a apresentação com colite a qual é

66
COMUNICAÇÕES ORAIS
identificada na literatura apenas em relatos de caso. suspeição diagnóstica perante um quadro de abdó-
Apresentou resposta favorável ao corticoide. men agudo em mulheres, permitindo uma identifica-
ção precoce e intervenção adequada, da doente e do
CO n.º 2259  parceiro, no sentido de prevenir as possíveis compli-
Síndrome de Fitz-Hugh-Curtis: uma apresentação cações associadas.
rara de doença inflamatória pélvica
Catarina Borges Fernandes(1);Paulo Torres Rama- CO n.º 2278 
lho(1);Paulo Bettencourt(1) “A Whole New World” - Um Caso de Síndrome Op-
(1) Hospital CUF Porto soclonus-Mioclonus num Doente com Infeção a
SARS-CoV-2
Tema:Doenças infecciosas e parasitárias Pedro Neves Ferreira(1);Beatriz Chambino(1);Inês
Santos(2);Carla Brito(1);Marta Maio(2);Cristiana Ca-
Introdução: macho(1);Claudio Gonçalves Gouveia(1);Maria João
Correia(1);Tânia Duarte(1);Ana Lynce(1);Luís Cam-
A síndrome de Fitz-Hugh-Curtis (SFHC) é uma entida- pos(1);Eduarda Carmo(2)
de rara, frequentemente confundida com quadro de (1) Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE /
colecistite aguda, que se caracteriza por inflamação Hospital de S. Francisco Xavier (2) Centro Hospita-
peri-hepática em contexto de ascensão pela cavida- lar de Lisboa Ocidental, EPE / Hospital Egas Moniz
de abdominal de salpingite aguda por Neisseria go-
Tema:Doenças cérebro-vasculares e neurológicas
norrhoeae (Ng) e Chlamydia trachomatis (Cht). Cursa
habitualmente com dor no hipocôndrio direito, que
pode ser referida ao ombro, e ocorre em cerca de Introdução: O Síndrome Opsoclonus-Mioclonus
10% das mulheres com doença inflamatória pélvica (SOM) é uma entidade rara caracterizada por movi-
ativa. Os autores apresentam um caso raro de doen- mentos oculares multidirecionais, mioclonias, ata-
ça inflamatória pélvica complicada com SFHC. xia e alterações do comportamento, cuja etiologia
pode ser, entre outras, paraneoplásica, infeciosa ou
CASO CLÍNICO: idiopática. Considerada, inicialmente, uma patolo-
gia com especial afeção do sistema respiratório, a
Mulher de 45 anos, saudável, sexualmente ativa com COVID-19 tem se revelado uma doença multissis-
único parceiro, recorre ao SU por dor na região pél- témica, com um envolvimento peculiar do Sistema
vica com uma semana de evolução, associada a fe- Nervoso Central (SNC).
bre. Apresentava palpação abdominal dolorosa no
hipocôndrio direito e toque vaginal com dor à mobili-
zação do colo do útero. Analiticamente, verificou-se
Caso Clínico: Doente 70 anos, sexo masculino, com
elevação da PCR (12.5mg/dL) e lise hepatocelular e
antecedentes de Doença de Ménière, internado em
colestase ligeiras. A tomografia computorizada ab-
Janeiro de 2021 por Pneumonia a SARS-CoV-2 com
domino-pélvica descrevia sinais de hepatite, com
necessidade de ventilação mecânica invasiva. Em
líquido peri-hepático e perivesicular, edema peripor-
Fevereiro de 2021 iniciou quadro caracterizado por
tal e espessamento difuso das paredes da vesícula,
movimentos sacádicos axiais involuntários, so-
líquido livre na escavação pélvica, com espessamen-
bretudo rotação do pescoço, que se conseguiram
to e hipercaptação dos folhetos peritoneais pélvicos
suprimir com o aumento da sedação com propofol. 
lateralizados à direita e globosidade da trompa ute-
Realizou TAC-CE e TAC-Ouvidos que não revelaram
rina direita. Estes achados foram corroborados por
alterações agudas. Concomitantemente evoluiu
ecografia endovaginal que sugeria hidrossalpinge
com movimentos oculares erráticos e mioclonias
direita, com abundante quantidade de líquido livre no
dos membros inferiores, com franca necessidade
fundo de saco de Douglas, sugerindo provável SFHC.
de incremento da sedação para controlo sintomá-
Foi efetuada colheita de exsudado cervical para PCR
tico. Inicialmente interpretado em contexto de dis-
de Cht e Ng cujo resultado foi negativo. Resolução
cinesia tardia dos neurolépticos que, prontamente,
do quadro após toma única de cefoxitina e curso de
foram descontinuados, no entanto, sem qualquer
14 dias de doxiciclina.
melhoria do quadro. Do estudo etiológico realizado
DISCUSSÃO: destaca-se: punção lombar inocente; eletroencefa-
lograma com atividade de base lenta sem atividade
Pela raridade desta condição, a SFHC torna-se um paroxística; estudo auto-imune negativo; RMN-CE
desafio diagnóstico. Foi assumida esta entidade sem alterações agudas. Realizada prova terapêutica
nosológica, mesmo sem confirmação laboratorial/ com biperideno e, posteriormente, com tetrabena-
biologia molecular do agente etiológico, pela corre- zina sem qualquer resposta. Assumindo provável
lação clínica-imagiológica.  Com este caso clínico diagnóstico de mioclonias subcorticais iniciou
pretende-se alertar para a necessidade de elevada terapêutica com piracetam, primidona e clonaze-

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 67


pam, apenas com melhoria ligeira. Considerando de um defeito intrinseco dos eritrócitos hereditário
a descrição recente de casos de SOM associados com apresentação tardia.De facto a EH tem um
à infeção por SARS-CoV-2, iniciou terapêutica com amplo espectro de gravidade, corresponde o caso
Imunoglobulina Intravenosa com redução e poste- a uma forma leve de doença, que corresponde a
rior abolição de todos os movimentos involuntários 20-30% de todos os casos. Como sucedido, pode
ao fim de 5 dias. não ser detetada até à vida adulta, encontrando-se
a hemólise compensada face a um aumento da eri-
Discussão: Os Autores discutem a singularidade tropoiese.
deste caso, reforçando a ideia de uma afeção mul-
tissistémica pela infeção pelo SARS-CoV-2, cuja
CO n.º 2321 
etiologia, fisiopatologia e semiologia continuam
Quando o doente convulsiva, e agora? Um Caso de
ainda por compreender na sua totalidade, principal-
Encefalite a SARS-CoV-2
mente no que concerne ao atingimento do SNC.
Pedro Neves Ferreira(1);Beatriz Chambino(1);Carla
CO n.º 2320  Brito(1);Marta Maio(2);Maria João Correia(1);Tânia
Um caso de esferocitose hereditária com apresen- Duarte(1);Cristiana Camacho(1);Claudio Gonçalves
tação tardia Gouveia(1);Ana Lynce(1);Luís Campos(1);Eduarda
Ana Catarina Pinto Carvoeiro(1);Patrícia Sobro- Carmo(2)
sa(1);Ana Afonso(1);Miguel Costa(1);Joana Cou- (1) Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE /
to(1);Alexandra Esteves(1);Paula Felgueiras(1);Dia- Hospital de S. Francisco Xavier (2) Centro Hospita-
na Guerra(1);Carmélia Rodrigues(1) lar de Lisboa Ocidental, EPE / Hospital Egas Moniz
(1) Unidade Local de Saúde do Alto Minho, EPE /
Tema:Doenças cérebro-vasculares e neurológicas
Hospital de Santa Luzia

Tema:Doenças hematológicas Introdução: Considerada, inicialmente, uma patolo-


gia com especial afeção do sistema respiratório, a
Introdução: A Esferocitose Hereditária (EH) consti- COVID-19 tem se revelado uma doença multissis-
tui uma forma de anemia hemolítica por defeitos de témica, com um envolvimento peculiar do Sistema
membrana eritrocitária, sendo a causa mais comum Nervoso Central (SNC). As infeções virais do SNC
de anemia secundária a defeitos de membrana. A habitualmente apresentam-se como meningite as-
EH é uma doença rara e frequentemente subdiag- séptica ou encefalite, e geralmente acometem indi-
nosticada, com uma incidência aproximada de 200 víduos gravemente doentes.
a 300 casos por milhão na Europa, em que o grau
de anemia é extremamente variável podendo estar Caso Clinico: Doente 72 anos, sexo masculino, com
ausente, ser leve, moderada ou severa. CASO CLÍ- antecedentes de HTA, DM  tipo II, Dislipidemia, AVC
NICO: Mulher 56 anos, com antecedentes de litíase isquémico e Etilismo Crónico, internado em Janeiro
vesicular, colecistectomizada em 2000. História de de 2021 por Pneumonia a SARS-CoV-2 com neces-
anemia normocitica normocrómica ligeira assinto- sidade de ventilação mecânica invasiva (VMI). Ao
mática com vários anos de evolucão (+/- 11.8g/dL). 5º dia de VMI iniciou quadro de crise tónico-clónica
Após estudo etiológico inicial no médico assistente generalizada que reverteu após 80mg de propofol,
se ter revelado negativo, (sem alterações à endos- 10mg de diazepam e 1g de levetiracetam. Reali-
copia digestiva alta ou colonoscopia, sem ferrope- zou TAC-CE que não revelou alterações agudas.
nia, ou défices vitamínicos), orientada para consulta Inicialmente interpretado em provável contexto de
de Medicina Interna. Ao estudo analítico, salienta-se abstinência alcoólica, iniciou tiamina 300mg tid,
valor de Hb de 11,4g/dL, CHCM de 35g/dL, VCM de oxazepam 15mg tid e levetiracetam 1,5g bid. Porém,
81,7fL, com percentagem de reticulócitos de 25%, evoluiu com mais 3 episódios de crise tónico-clóni-
RDW 19. O esfregaço de sangue periférico revelou co generalizada com necessidade de incremento
acentuada anisocitose, alguns esferócitos, ligeira da sedação. Ao 8ºdia de internamento evoluiu com
hipocromia. Realça-se, valor de haptoglobina dimi- crise tónico-clónica do hemicorpo direito pelo que,
nuído (8mg/dL), bilirrubina total de 2,08, à custa da para além da terapêutica descrita, iniciou valproato
bilirrubina indireta, e esplenomegalia objetivada na de sódio (VPA) 400mg tid. Posteriormente evoluiu
ecografia abdominal. Acrescenta-se eletroforese de com fasciculações mantidas do membro superior
proteínas sem alterações, com estudo imunológico, esquerdo, pelo que aumentou a dose de VPA para
prova de Coombs e serologias negativas. Pela per- 600mg tid, e iniciou lacosamida 200mg de bid, feni-
sistência de esferocitose em hemogramas seriados, toína 100mg tid e clonazepam 2mg dia, sem grande
solicitado teste de ligação Eosina-5-maleimida, cujo melhoria. Do estudo realizado, destaca-se: punção
resultado foi compativel com EH. DISCUSSÃO: Real- lombar sem alterações, exame microbiológico
ça-se a importância da abordagem diagnóstica sis- negativo, pesquisa de SARS-CoV-2 no LCR
temática da anemia que possibilitou a identificação inconclusiva; eletroencefalograma com traçado
68
COMUNICAÇÕES ORAIS
difusamente lento, registo de atividade periódica na à data. DISCUSSÃO: As alterações sugestivas de
região frontal esquerda; analiticamente sem vasculite reveladas na PET enquadram-se numa ar-
alterações iónicas ou metabólicas significativas terite de grandes vasos, a qual inclui a Arterite Célu-
e sem aumento dos parâmetros inflamatórios. las Gigantes (ACG) ou Arterite de Takayasu. A idade,
Excluídas as principais causas de encefalite, a ausência de assimetrias tensionais ou sopros/pul-
assumiu-se encefalite a SARS-CoV-2 pelo que sos diminuídos sugerem ACG, sendo que ausência
cumpriu 12 dias de dexametasona 8mg/dia, 4 dias a de sintomas cranianos ou de evidência de envolvi-
6mg/dia e, posteriormente, esquema de desmame mento da artéria temporal é frequente nesta patolo-
com prednisolona, com franca melhoria do quadro gia. Salienta-se do caso, o valor diagnóstico da PET
neurológico. e a importância do início da terapêutica mesmo na
ausência de diagnóstico histológico.
Discussão: Os Autores discutem a singularidade
deste caso, reforçando a ideia de uma afeção mul-
CO n.º 2335 
tissistémica pela infeção pelo SARS-CoV-2, cuja fi-
DISFUNÇÃO MULTIORGÂNICA NUM JOVEM SARS-
siopatologia e semiologia continuam ainda por
-COV-2 POSITIVO
compreender na sua totalidade.
Henrique Atalaia Barbacena(1);Inês Matias Lo-
CO n.º 2323  pes(1);Maria Ana Flores(1);Raquel a. Soares(1);Lisa
Síndrome febril indeterminado e o valor diagnósti- Gonçalves(1);João Victor Freitas(1);Francisco San-
co da PET tos Cunha(1);Joao Guilherme do Patrocinio(1);Patrí-
Ana Catarina Pinto Carvoeiro(1);Patrícia Sobro- cia Howell Monteiro(1);António Pais de Lacerda(1)
sa(1);Ana Afonso(1);Joana Couto(1);Alexandra Este- (1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi-
ves(1);Paula Felgueiras(1);Diana Guerra(1);Carmélia tal de Santa Maria
Rodrigues(1)
Tema:Doenças hematológicas
(1) Unidade Local de Saúde do Alto Minho, EPE /
Hospital de Santa Luzia
Introdução: A síndrome hemofagocítica (SHF) é
Tema:Doenças autoimunes, reumatológicas e vas- uma doença rara caracterizada por hiperactivação
culites imunitária e elevação maciça de citocinas, provo-
cada por inúmeros estímulos, nomeadamente infe-
Introdução: As vasculites são entidades poten- ciosos. Descrevemos um caso de SHF num jovem
cialmente fatais que exigem reconhecimento e SARS-CoV-2 positivo. CASO CLÍNICO: Homem, 35
terapêutica precoces. As manifestações clínicas anos, antecedentes de Doença de Crohn, internado
mimetizam outras patologias sistémicas, apresen- por abcesso pericólico recidivante, submetido a
tando-se, frequentemente, sob a forma de sintomas hemicolectomia direita com anastomose ileocólica.
inespecíficos. CASO CLÍNICO: Mulher 83 anos. En- Pesquisa de SARS-CoV-2 positiva no pré-operatório
caminhada à consulta por síndrome febril e astenia em doente assintomático. Ao quinto dia pós-opera-
com meses de evolução. Ao exame objetivo, aspec- tório, início súbito de febre, elevação de parâmetros
to emagrecido, concordante com perda ponderal inflamatórios (Leucócitos 26000/uL, PCR 43 mg/
de 5kg. Do estudo realizado, anemia normocítica dL), insuficiência hepática aguda com padrão ci-
de 10.7 g/dL, VS de 98mm e PCR de 9.14 mg/dL, tocolestático (AST 541 U/L, ALT 106 U/L, GGT 757
sem défices de ferro ou vitamínicos associados. U/L, FA 348 U/L, Bilirrubina total 0.26 mg/dL, INR
Excluída etiologia infeciosa com culturas de líquidos 7), lesão renal aguda AKIN 3 (Creatinina 10 mg/dL),
biológicos, baciloscopias e serologias víricas sem microangiopatia trombótica e coagulação intravas-
isolamento de agente; etiologia neoplásica oculta cular disseminada (Hemoglobina 7.1 g/dL, Plaque-
com estudo alargado por TC e endoscópico nor- tas 16000/uL, D-dímeros 109 ug/mL; Fibrinogénio
mais. Estudo por PET revelado captação aumentada 170 mg/dL), hiperferritinémia de 65757 ng/mL e
de FDG-F18 na parede das artérias aorta torácica, hipertrigliceridémia. Iniciada antibioterapia com
subclávias, axilares, carótidas e femorais, compa- Meropenem e Linezolide. TC-toracoabdominopelvi-
tível com vasculite de grandes vasos em atividade. ca com evidência de hemoperitoneu pélvico, sem
Iniciada prednisolona 40mg/dia com melhoria clíni- deiscência anastomótica ou foco contido. Estudo
ca praticamente imediata com apirexia sustentada, etiológico: serologias virais negativas (EBV, CMV,
resposta analítica com recuperação da anemia para HSV, HIV, VHB, VHC, Coxsackie, parvovírus, rubéola);
11.6g/dL e normalização da VS e da PCR, não tendo serologias bacterianas negativas; autoimunidade
sido possível a realização de estudo histológico ou negativa; atividade ADAMTS13 normal; imunofixa-
ecográfico durante a doença ativa. Apesar da res- ção sem componente monoclonal; doseamento de
posta favorável inicial, necessidade de introdução CD25 aumentado (4139 pg/mL); isolamento em he-
de metotrexato de forma a permitir diminuição gra- moculturas de Enterococcus faecium. Admitida SHF
dual da corticoterapia, mantendo-se assintomática de etiologia infeciosa (hSCORE 185), confirmada

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 69


após mielograma com identificação de hemofagó- mg/L) vitamina E (4.60 µg/mL), zinco (48.6 µg/dL)
citos. Feito pulso de Metilprednisolona e mantida e selénio (27.0 µg/L). Iniciou reposição com multivi-
corticoterapia com Prednisolona. Melhoria clínica tamínicos e reabilitação no internamento, com boa
e laboratorial sustentada, com resolução das dis- evolução clínica e alta posterior para unidade de con-
funções orgânicas. CONCLUSÃO: O caso descrito valescença onde readquiriu autonomia.
ilustra a impressionante forma de apresentação da
SHF, difícil de reconhecer e por isso muitas vezes CONCLUSÃO:
fatal, realçando a importância do seu diagnóstico
A presença de uma polineuropatia alcoólica deve-
atempado. Foi admitida SHF secundária a sépsis
-nos alertar para a neurotoxicidade relacionada com
com provável contributo da infeção SARS-CoV-2
o álcool. No entanto, e tendo em conta a restante clí-
concomitante.
nica e o grau de desnutrição, a pesquisa de causas
reversíveis de polineuropatia, caquexia, e neste caso
CO n.º 2342  dermatite, devem ser exaustivamente pesquisadas,
Polineuropatia e dermatite: para além do alcoolis- já que a suplementação de possíveis défices pode
mo levar a uma substancial recuperação de função.
Rita Soares Costa(1);Gonçalo Sarmento(1)
(1) Centro Hospitalar de Entre Douro e Vouga, EPE / CO n.º 2354 
Hospital de S. Sebastião Síndrome hemafagocítico secundário a doença
granulomatosa
Tema:Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio- Ana de Carmo Campos(1);Sara Sarmento(1);Isabel
nais Cruz Carvalho(1);João Freitas Silva(1);Teresa Fonse-
ca(1)
Introdução: (1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi-
tal Pulido Valente
O alcoolismo está associado a múltiplas compli- Tema:Doenças raras
cações neurológicas, nomeadamente neuropatias
progressivas, predominantemente sensitivas e peri-
féricas. Vários mecanismos estão descritos, como Introdução: A síndrome de linfohistiocitose hemafa-
neurotoxicidade direta e a coexistência frequente de gocítica (LHH) é caracterizada por uma resposta
desnutrição e de défices de vitaminas e minerais; os hiper-inflamatória desencadeada pela activação
quais devem ser pesquisados, por mimetizarem os excessiva de linfócitos e de macrófagos, com pro-
efeitos da neurotoxicidade direta, mas apresentarem dução de elevados níveis de citocinas. É uma en-
melhor prognóstico quando devidamente suplemen- tidade rara e potencialmente fatal na ausência de
tados. tratamento adequado.

CASO CLÍNICO: Caso clínico: Mulher de 27 anos, caucasiana, com co-


lite isquémica quiescente estável há 10 anos. Apre-
Homem de 58 anos com hábitos alcoólicos pesados
senta queixas de astenia e cansaço progressivos,
(mínimo de 80g de álcool por dia, com consumos
náuseas, vómitos aquosos e mal-estar generalizado,
frequentes de até 600g, e com 42 anos de duração).
com 2 semanas de evolução. Referenciada ao servi-
Hospitalizado por caquexia, vómitos alimentares,
ço de urgência por neutropenia grave e febre (39º C).
diarreia e perda de autonomia progressiva com 1
No internamento evolução para pancitopenia, man-
mês de evolução. Ao exame objetivo apresentava-se
tendo-se febril sob antipiréticos e antimicrobianos
orientado e com discurso fluente, com mioclonias
de largo espectro. Apresentava lesões cutâneas re-
dispersas, difusas e frequentes, atrofia generalizada,
correntes com erupção morbiliforme disseminada de
proporcional à caquexia e hiporreflexia nos membros;
aspeto marmoreado. Laboratorialmente padrão de
sem nistagmo, e com ataxia da marcha. Apresentava
citocolestase, hiperferritinemia, hipertrigliceridemia
também queilite angular e dermatite descamativa da
e hipogamaglobulinemia. Estudo de auto-imunida-
face e tronco. Analiticamente a salientar anemia ma-
de negativo. Sem isolamentos em exames culturais
crocítica, hipomagnesémia (0.57 mmol/L) e défice
de sangue, urina e fezes. Sem achados positivos em
de ácido fólico (<2.2 ng/mL); perfil tiroideu normal,
exames sorológicos. Mielograma e biópsia osteo-
HIV e HCV negativo, não imune a HBV e serologia de
medular com acentuada hipoplasia da série branca,
Treponema pallidum negativa. Admitida então a hipó-
sem hemafagocitos, sem resposta medular a G-CSF.
tese de défices vitamínicos associados a desnutri-
Imagiologicamente esplenomegalia homogénea,
ção em contexto de alcoolismo, condicionando uma
adenopatias mediastínicas pré-vasculares e abun-
polineuropatia associada a alterações cutâneas.
dante derrame pleural esquerdo. Toracocentese com
Do estudo, a destacar défices de vitamina B6 (<9.0
citologia negativa para células neoplásicas, sem
nmol/L), vitamina D (5.0 ng/mL), vitamina A (0.05
isolamentos microbiológicos. Histologia de gânglio
70
COMUNICAÇÕES ORAIS
mediastínico com extenso processo inflamatório intracardíaco, mesmo após a administração de soro
crónico, granulomatoso, necrotizante. Histologia de salino agitado. Por forte suspeita, realizado ecocar-
lesões cutâneas com granuloma sarcóide. Estudo diograma transesofágico com evidência de foramen
de imunofenotipagem sem alterações major B ou T, ovale patente (FOP) tunelizado e shunt espontâneo
sem alterações na expressão de perforina. Cumpriu esquerdo-direito por Doppler; após administração de
antibacilares, corticoterapia e metotrexato. Admitido soro salino agitado e manobra de Valsalva, verifica-
LHH secundário a doença granulomatosa, com diag- da passagem exuberante de bolhas para a aurícula
nóstico inconclusivo para tuberculose e sarcoidose, esquerda. Submetida a encerramento percutâneo do
em doente com hipogamaglobulinemia. FOP, com resolução das queixas.

Discussão: A LHH é potencialmente fatal sendo DISCUSSÃO:


importante um elevado índice de suspeição para
o diagnóstico e o tratamento precoce. A ausência A SPO é uma condição rara, mas potencialmente re-
de hemafagocitos em biópsia óssea não exclui o versível de dispneia, que deve ser tida em conta em
diagnóstico. A LHH pode ser primária ou adquirida, casos de hipoxemia sem outra causa explicável. Das
porém os doentes com LHH adquirida podem apre- causas cardíacas, o FOP é o defeito anatómico mais
sentar uma síndrome de imunodeficiência primária comum. O grau de suspeição deverá ser elevado,
subjacente. sendo importante uma anamnese cuidada e um exa-
me objetivo rigoroso.
CO n.º 2394 
Síndrome de platipneia-ortodeoxia: uma causa rara CO n.º 2427 
de hipoxemia Pênfigo Vegetante: um diagnóstico raro em locali-
Rita Antunes Santos(1);Sara s. Santos(1);Fábia Pati- zações incomuns
nha(1);Teresa Pereira(1);Luísa Salgueiro(1) Miguel Romano(1);Francisco Teixeira da Silva(1);-
(1) Centro Hospitalar de Entre Douro e Vouga, EPE / José Diogo Martins(1);André Colmente(1);Joana sá
Hospital de S. Sebastião Couto(1);Vera Teixeira(1);Manuel Ferreira(1);Diana
Guerra(1)
Tema:Outro (1) Unidade Local de Saúde do Alto Minho, EPE /
Hospital de Santa Luzia
Introdução:
Tema:Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
culites
A síndrome de platipneia-ortodeoxia (SPO) é uma
condição rara, caracterizada por dispneia (platip-
O Pênfigo Vegetante (PVeg) é uma variante rara de
neia) e hipoxemia (ortodeoxia) quando o paciente
pênfigo vulgaris (PV), representando cerca de 1-2%
adota a posição ortostática e com melhoria na posi-
dos casos de pênfigos. É dividido em dois subtipos,
ção supina. As causas podem ser amplamente cate-
no entanto nem sempre a distinção entre estes dois
gorizadas nos seguintes grupos: shunt intracardíaco,
é possível, assim como a diferenciação com PV. 
shunt pulmonar, alteração da ventilação-perfusão ou
uma combinação destes.
Este caso descreve uma doente de 77 anos com his-
CASO CLÍNICO: tória prévia de hipertensão medicada e controlada,
que desenvolve bolhas flácidas seguidas de pústulas
Mulher de 68 anos com excesso de peso, dislipide- periféricas que levaram ao surgimento de vegetações
mia e dilatação da aorta ascendente. Recorre ao verrucosas hiperqueratóticas As lesões surgiram e
Serviço de Urgência por dispneia para esforços cada progrediram durante 4 meses, apesar de múltiplos
vez menores, inclusive em repouso, com 2 meses de ciclos de tratamento tópico e antivíricos e antifúngi-
evolução; sem ortopneia ou outros sintomas cardio- cos orais. As lesões ficavam localizadas na região
vasculares. Ao exame objetivo: taquipneica, com cia- malar, tronco, boca e região genital condicionando  
nose labial e saturação periférica de oxigénio de 80% compromisso importante da qualidade de vida por
em ar ambiente na posição sentada; sem alterações dor e  e hemorragia associados. Não apresentava
à auscultação cardiopulmonar. Gasimetria com insu- outra sintomatologia associada, nomeadamente fe-
ficiência respiratória (IR) tipo 1 grave e gradiente al- bre, arrepios, suores noturnos ou perda de peso. Foi
véolo-arterial aumentado. Angiotomografia de tórax admitida na enfermaria de Medicina Interna, onde
a excluir tromboembolismo pulmonar e sem sinais foi realizado estudo cultural da lesão (com flora po-
de pneumopatia. À reavaliação, doente em decúbito limicrobiana gram-negativa), excluídas doenças in-
dorsal, eupneica e sem IR. Portanto, clínica sugestiva fecciosas e  neoplasia ativa Apresentava anticorpos
de SPO, tendo sido proposto internamento para estu- anti-desmogleína 1 e 3 positivos e biópsia cutânea
do. Realizado ecocardiograma transtorácico a mos- sugestiva de pênfigo vegetante. A doente foi trata-
trar septo interauricular fino, sem evide^ncia de shunt da com corticoterapia oral e tratamento tópico com
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 71
permanganato de potássio, fucidine, betametasona revelou anemia macrocítica, índice de produção de
e clorhexidina; cumpriu também amoxicilina e ácido reticulócitos aumentado, esfregaço sanguíneo com
clavulânico por sobreinfecção bacteriana. Teve alta moderado dismorfismo eritrocitário e abundantes
com posterior decisão de introdução de azatioprina esferócitos, haptoglobina indoseável, reacção anti-
como poupador de corticóide.  Apresentou evolução globulina direta e indireta negativas, fragilidade os-
favorável, com resolução praticamente total das le- mótica aumentada e esplenomegalia tendo sido fei-
sões em 4 meses. to o diagnóstico de EH. 

Este caso assume especial importância pela rarida- A anemia transitória ou icterícia podem, às vezes,
de da patologia descrita, associado à importância ser os únicos sintomas de apresentação em casos
do reconhecimento das lesões mais características de esferocitose hereditária latente não diagnosti-
(nomeadamente as lesões vegetantes e verrucosas) cada. Este caso também destaca o fato da anemia
uma vez que o desconhecimento das mesmas pode hemolítica dever ser considerada em doentes com
atrasar o diagnóstico e o tratamento. Destacar ain- anemia e hiperbilirrubinemia em infecções que rara-
da a localização atípica das lesões neste caso,  uma mente causam anemia e icterícia.
vez que a localização mais comum é oral, sendo a
descrição de lesões noutras localizações bastante CO n.º 2477 
incomum Síndrome de Anticorpos Antifosfolípidos – um
diagnóstico a ter em mente mesmo em homens
CO n.º 2436  sem lúpus
Esferocitose Hereditária - um diagnóstico tardio Sofia Mateus(1);Miguel Paulo Oliveira Miranda de
Miguel Romano(1);Elsa Araújo(2);Francisco Teixeira Sousa Leite(1);Hugo Inácio(1);Salvador Morais Sar-
da Silva(1);José Diogo Martins(1);André Colmen- mento(1);Andreia Amaral(1);Beatriz Sampaio(1);Dio-
te(1);Manuel Ferreira(1);Paula Brandão(2);Diana go Ferreira da Silva(1);Rita Jesus(1);Raffaele Junior
Guerra(1) Aliberti(1);Rita Lopes Cunha(1);Alina Avelar(1);Da-
(1) Unidade Local de Saúde do Alto Minho, EPE / niela Marto(1);Catarina Salvado(1)
Hospital de Santa Luzia (2) Unidade Local de Saúde (1) Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE / Hos-
do Alto Minho / Conde de Bertiandos pital de Santo António dos Capuchos

Tema:Doenças hematológicas Tema:Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-


culites
A Esferocitose Hereditária (EH) é uma anemia he-
molítica congénita que resulta de alterações quan- Introdução:
titativas e/ou qualitativas das proteínas da mem-
brana do eritrócito. Caracteriza-se por uma anemia                 A síndrome de anticorpos antifosfolípidos
de gravidade variável, com icterícia intermitente, (SAAF) é uma trombofilia adquirida, de etiologia au-
presença de esferócitos no esfregaço de sangue pe- toimune, caraterizada por eventos trombóticos ve-
riférico, fragilidade osmótica aumentada e espleno- nosos, arteriais e/ou complicações obstétricas na
megalia. No entanto, nos casos de hemólise ligeira presença persistente de anticorpos antifosfolípidos
estas características nem sempre estão presentes (Ac. AF). É a trombofilia adquirida mais frequente,
e os doentes podem permanecer sem diagnóstico acometendo 1-5% da população geral. O diagnóstico
durante anos.  requer critérios clínicos de trombose vascular e/ou
morbilidade obstétrica e critérios laboratoriais (pelo
Este caso descreve um homem de 38 anos que re- menos um dos Ac. AF persistentemente positivos
correu ao Serviço de Urgência por lipotimia e astenia em duas ou mais ocasiões, num intervalo de 12 se-
com 1 mês de evolução. Analiticamente com anemia manas).
(Hb 9.6g/dl) e hiperbilirrubinemia (2.10 mg/dl) ten-
do sido pedida Consulta Externa de Medicina Interna Caso clínico:                                               
para estudo de anemia. 
                              Homem, 58 anos, admitido no serviço
Doente com internamento no ano anterior por pneu- de urgência (SU) por síncopes. Quadro com uma
monia, anemia (Hb 10.2g/dl) e ligeira hiperbilirrubi- semana de evolução de edema do membro inferior
nemia, mas com posterior normalização do valor de direito (MID), medicado com flucloxacilina, e cansa-
hemoglobina. Sem história familiar de anemias he- ço de agravamento progressivo.
molíticas. Uma revisão detalhada do perfil analítico
À admissão no SU, apresentava-se febril, hipotenso,
disponível do doente mostrou períodos com anemia
taquicárdico, dessaturação periférica, edema preti-
e outros com valor de hemoglobina normal. A histó-
bial e maleolar do MID. Na gasimetria arterial são de
ria clínica e o perfil analítico colocaram como hipóte-
salientar a hipocápnia e hipoxémia. Analiticamente
se mais provável uma anemia hemolítica. O estudo
72
COMUNICAÇÕES ORAIS
verificava-se aumento dos parâmetros inflamatórios, presença de pancitopenia, padrão de colestase, hi-
troponina de 191 pg/mL (<34,2) e D-dímeros 14870 pertrigliceridemia, hiperferritinemia e anticorpos
µg/L (<230). para EBV IgM Positivo.  O restante estudo,
nomeadamente de causa infeciosa compatível
Por angio-tomografia computorizada axial de tórax com o quadro, negativo. Imagiologicamente com
confirmou-se tromboembolismo pulmonar maciço e adenopatias abdominais e hepatoesplenomega-
no eco-doppler do MID trombose venosa profunda. lia. Realizado mielograma e biopsia medular com
imagens de fagocitose sem outras alterações. A
Do estudo etiológico de tromboembolismo venoso
doente iniciou corticoterapia, no entanto, por inter-
(TEV), excluiu-se neoplasia, e do estudo de trombo-
corrência hemorrágica acabou por falecer. 
filias apresentava anticorpo (Ac.) anti-β2 GP1 IgG
positivo, Ac. anti-β2 GP1 IgM negativo, Ac. Anti-car- Conclusões: O diagnóstico de síndroma hemo-
diolipina (ACA) IgG positivo, ACA IgM positivo, e an- fagocítica posa um desafio dada a ausência de
ticoagulante lúpico negativo. Por suspeita de SAAF, sintomas ou sinais patognomónicos da doença e a
teve alta medicado com varfarina. sua baixa prevalência. O caso apresentado reflete
a dificuldade no diagnóstico e a ausência de um
                              Após três meses repetiu estudo, que
único tratamento eficaz, bem como a necessidade
confirmou o diagnóstico SAAF, tendo mantido a hipo-
de vigilância apertada destes doentes, servindo
coagulação com varfarina (INR alvo: 2-3).
como oportunidade de sensibilização da população
Conclusão: médica para a possibilidade do diagnóstico. 

Este caso relembra a importância de estudo etioló- CO n.º 2484 


gico de TEV, nomeadamente as trombofilias, parti- SÍNDROME DE TAKOTSUBO
cularmente em doentes mais jovens e sem outros Sara Tereso(1);Catarina Câmara(1);Laura Pereira(2);-
factores de risco, não só pela sua relevante preva- Carlos Machado e Costa(1)
lência, como pela abordagem terapêutica e segui- (1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hos-
mento distintos. pital de Santa Maria (2) Hospital de Vila Franca de
Xira
CO n.º 2483 
Síndroma hemofagocítica enquanto diagnóstico de Tema:Doenças cardiovasculares
suspeição clínica
Fábio Barbosa(1);Vanda Spencer(1) Introdução:  A síndrome de takotsubo é uma situa-
(1) Hospital Garcia de Orta, EPE ção reversível, caracterizada por disfunção sistólica
transitória do ventrículo esquerdo, a qual mimetiza
Tema:Doenças raras uma síndrome coronária aguda. Ocorre após stress
físico ou emocional, com predomínio nas mulheres
Introdução: A síndroma hemofagocítica é pós menopausa. Apresenta-se com dor torácica ou
decorrente de uma hiperativação do sistema dispneia, alterações eletrocardiográficas sugestivas
imunitário, na maioria dos casos com patofisiolo- de enfarte agudo do miocárdio e ligeira elevação
gia conhecida, com uma importante componente das enzimas cardíacas. A coronariografia exclui
genética associada e diferentes fatores precipit doença arterial obstrutiva, constatando se imagio-
antes, o que condiciona apresentações clínicas logicamente, acinesia apical ventricular, com hiper-
muito variadas. Atualmente o diagnóstico desta contratibilidade basal compensatória.
síndroma assenta em critérios clínicos, pelo que
a suspeição do diagnóstico é essencial. O caso CASO CLÍNICO: Doente sexo feminino, 73 anos, com
apresentado aborda o diagnóstico diferencial de um antecedentes de hipertensão e dislipidemia, recorreu
sinal frequente na prática clínica - a pancitopenia- ao SU por toracalgia com irradiação para ambos os
e a dificuldade no diagnóstico de uma síndroma ombros e dorso, com início no dia anterior e com du-
com consequências devastadoras se não tratada ração de 12h; volta por recorrência da dor, que rela-
atempada e adequadamente.  ciona com a perda de emprego do filho, realização de
pequenos esforços, tendo notado perfil ligeiramente
Caso clínico: Doente do sexo feminino de 76 anos, hipotensivo. Estava hemodinamicamente estável,
sem antecedentes pessoais de relevo, admitida por sem alterações no exame objetivo. No estudo labo-
quadro de cansaço de agravamento progressivo, ratorial destacava-se troponina T de 231 ng/L. Ele-
distensão abdominal, enfartamento pós-prandial, trocardiograma em ritmo sinusal, 84 bpm, com dis-
náuseas com vómitos alimentares, urina de co- creto supra - ST em V2 a V4, P bifásica e inversão da
loração escura, icterícia e prurido generalizado. onda T de V2 a V6. Realizou ecocardiograma trans-
Do estudo laboratorial realizado destacava-se a torácico sumário: hipocinesia apical. Foi admitida na

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 73


sala de hemodinâmica onde fez coronariografia que À admissão hospitalar descrito como vígil, colabo-
excluiu lesões das coronárias, revelando a ventricu- rante, afasia motora pura e hemiparesia direita grau
lografia ventrículo esquerdo com alterações da con- 4/5 (NIHSS 6). Realizou angio-tomografia axial com-
tratilidade, nomeadamente com acinesia no ápex e putorizada (TAC) que revelou disseção da artéria
dos segmentos apicais, com fração de ejeção 48%, carótida interna (ACI) esquerda sem trombos endo-
alterações sugestivas de síndrome takotsubo. É in- luminais intracranianos e sem imagem de enfarte
ternada para compensação e reversão de síndrome estabelecido. Ao regressar à sala de emergência
de takotsubo, mantendo-se durante o internamento agravamento dos défices para NIHSS 20 pelo que
hemodinamicamente estável, tendo no ecocardio- realizou nova imagem que mostrou progressão da
grama de reavaliação demonstrado recuperação da disseção com ausência de fluxo na porção intracra-
normal cinética segmentar dos segmentos apicais niana da ACI. Realizou trombólise com 72 mg de
do ventrículo esquerdo, com função sistólica global rtPA e foi transferido para abordagem endovascular,
preservada, tendo ocorrido a recuperação total da realizada angioplastia e colocado stent desde o
cinética cardíaca, em doente clínica e analiticamente segmento petroso até à porção terminal do seg-
bem. mento extra-craniano. Ecodoppler transcraneano
após procedimento com boas velocidades na arté-
DISCUSSÃO: ria cerebral media esquerda. TAC de controlo com
enfarte watershed do território anterior esquerdo.
A Síndrome de takotsubo manifesta-se de forma be-
Evolução favorável dos défices, à data da alta ape-
nigna com bom prognóstico, sendo um diagnóstico
nas com disfasia motora minor (NIHSS 1). Do estu-
desafiador, pela semelhança do fenótipo clínico ao
do realizado foram identificadas apófises estiloides
EAM, relativamente a anormalidades eletrocardio-
calcificadas com extensão cervical, à esquerda com
gráficas e biomarcadores.
aproximadamente 30 mm.
A coronariografia com ventriculografia esquerda é o
O Síndrome de Eagle descrito mais comumente na
gold standart diagnóstico.
sua forma clássica, pode raramente levar a disse-
CO n.º 2503  ção carotídea. O doente descrito não apresentou
Síndrome estilo-carotídeo como causa de acidente outros sintomas previamente à disseção carotídea.
vascular cerebral por disseção carotídea Dado a raridade deste síndrome, não é pensado
Rita Gamboa Cunha(1);Ricardo Almendra(2);Rafael habitualmente como causa de disseção carotídea,
Jesus(2);Ana João Marques(2);André Costa(2);Sofia sendo importante uma maior consciencialização
Perdigão(1) desta patologia.
(1) Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Dou-
CO n.º 2544 
ro, EPE / Unidade Hospitalar de Chaves (2) Centro
Pneumonia Organizativa Criptogénica - um achado
Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro, EPE /
raro em enfermaria de Medicina Interna
Hospital de Vila Real
Pedro Madeira Marques(1);Pedro Miguel Baião Ro-
Tema:Doenças cérebro-vasculares e neurológicas que(1);Isabel Costa(1);José Augusto Barata(1)
(1) Hospital de Vila Franca de Xira
O Síndrome de Eagle caracteriza-se por uma elon- Tema:Doenças respiratórias
gação do processo estiloide e/ou da calcificação do
ligamento estiloide. O processo estiloide surge da
Pneumonia Organizativa (PO) é achado raro em
face inferior do osso temporal em proximidade com
enfermaria de Medicina Interna. Neste trabalho ilus-
as artérias carótidas interna e externa. O tamanho
tramos um caso que se revelou um desafio diagnós-
do processo estiloide é anormal quando superior a
tico.
3cm, reportado em 4% da população. A apresenta-
ção clássica é descrita com odinofagia, dor cervi-
cal ou facial. A variante vascular conhecida como Mulher de 50 anos, sem antecedentes ou medica-
síndrome estilo-carotídeo é menos comum e causa ção habitual relevantes, deslocou-se ao Serviço
compromisso vascular carotídeo durante a rotação de Urgência por tosse não produtiva, toracalgia e
da cabeça, levando a cefaleias, tonturas, acidentes suores nocturnos com 2 semanas de evolução.
vasculares cerebrais ou disseção carotídea. Tinha cumprido 7 dias de antibioterapia, sem me-
lhoria. Clinicamente não apresentava alterações. A
gasimetria arterial mostrava alcalose respiratória.
Os autores apresentam um homem de 45 anos com
Analiticamente, a salientar leucocitose (11000/L)
antecedentes de hipertensão arterial e dislipidemia,
com neutrofilia (9000/L), elevação da PCR (9mg/
admitido no serviço de urgência com alteração da
dL); sem anemia, com ferropenia relativa e trom-
linguagem e défice motor direito com 1h de evolu-
bocitose (482000mm3). A radiografia do tórax não
ção que surgiu enquanto fazia mudanças de casa.

74
COMUNICAÇÕES ORAIS
tinha alterações. A tomografia de tórax (TC) mos- ca e limpeza cirúrgica com melhoria.
trou extensos focos de condensação bilateralmente
e padrão em vidro despolido. A broncofibroscopia Trazido ao serviço de urgência por sensação de “pa-
excluiu neoplasia e pneumonia por Sarscov2. Não rasitas no corpo” e tenesmo com 6 meses de evo-
apresentava eosinofilia no lavado broncoalveolar. O lução associado a heteroagressividade, tendo sido
estudo complementar excluiu doenças infeciosas internado compulsivamente com o diagnóstico de
bacterianas, virais e autoimunidade. O mielograma síndrome de Ekbom (delírio de parasitose). Durante o
e biópsia de medula óssea foram inconclusivos. O internamento foi avaliado pela Medicina Interna por
ecocardiograma transtorácico não mostrou sinais história apurada de perda ponderal (13kg em 6 me-
de endocardite. Cumpriu 10 dias de antibioterapia ses) e anemia. Objectivamente, emagrecido, desco-
(AB), suspensa após procalcitonina negativa, tendo rado, adenopatias palpáveis inguinais bilaterais, com
tido alta para consulta de pneumologia. A repetição maior conglomerado à esquerda.
de TC-tórax mostrou focos de condensação em
Laboratorialmente com anemia normocítica nor-
topografia diferente dos observados previamente,
mocrómica multifactorial, aumento de parâmetros
fazendo o diagnóstico de PO. Iniciou corticoterapia,
inflamatórios, eletroforese de proteínas e imuno-
com melhoria clínica, mantendo-se até ao momento
fenotipagem de sangue periférico sem alterações.
com sintomatologia controlada
A tomografia computorizada (TC) tóraco-abdómi-
PO é um achado raro em enfermaria de Medicina no-pélvica revelou adenomegálias lombo-aórticas
Interna, especialmente se criptogénica. Caracteri- esquerdas, ilíacas externas e internas e inguinais
za-se pela proliferação de tecido de granulação no bilateralmente; colonoscopia sem alterações; copro-
espaço alveolar, criptogénica ou em contexto de culturas negativas; TC-crânio-encefálica e ressonân-
autoimunidade, infecção ou iatrogenia farmacológi- cia magnética crânio-encefálica também sem altera-
ca. É mais comum nas mulheres entre os 50 e os 60 ções.
anos. Tem um quadro clínico parco e analiticamente
Decidiu-se realização de biópsia excisional de ade-
apenas se identifica elevação dos parâmetros infla-
nopatia inguinal cuja avaliação histológica mostrou
matórios. O diagnóstico diferencial mais importante
linfadenite dermatopática, sem células neoplásicas,
é a pneumonia eosinofílica. Radiologicamente o pa-
sugestiva de alterações reactivas.
drão o mais comum são consolidações migratórias.
O diagnóstico é feito por biópsia pulmonar, exame Após a alta, foi referenciado à consulta de Medici-
pouco exequivel, sendo substituído na prática clíni- na Interna, destacando-se isolamento de Mycobac-
ca pela suspeita clínica e achados concordantes. O terium tuberculosis no gânglio excisado, tendo sido
tratamento passa por corticoterapia e tem um exce- referenciado ao CDP para inicio de tratamento.
lente prognóstico, mas com alta taxa de recorrência
após suspensão. No caso apresentado, o quadro psiquiátrico e as
queixas inespecíficas dificultaram o diagnóstico.
CO n.º 2605  Destaca-se a necessidade de uma abordagem mul-
Mascarado por parasitas tidisciplinar destes doentes, permitindo um diagnós-
Carolina Abreu(1);Verónica Falcão(1);Rita Ave- tico e início de tratamento atempados, assim como
lar(1);Marta Ferreira(1);Joana Marques(1);Ana uma intervenção na promoção da adesão terapêuti-
Isabel Reis(1);Fernando Martos Gonçalves(1);José ca.
Lomelino Araújo(1)
(1) Hospital Beatriz Ângelo CO n.º 2616 
Caso de miopatia inflamatória secundária à vacina-
Tema:Doenças infecciosas e parasitárias ção COVID-19
João Francisco Gouveia(1);Carolina Barros(1);Móni-
A tuberculose ganglionar é a apresentação extra- ca Caldeira(1);António Caldeira Ferreira(2);Rafael
pulmonar mais comum da infecção por Mycobac- Freitas(1)
terium tuberculosis, no entanto, esta manifestação (1) CH FUNCHAL - MARMELEIROS (2) Hospital Dr.
inespecífica torna o diagnóstico muito desafiante. Nélio Mendonça

Tema:Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-


Descrevemos o caso de um homem de 61 anos com
culites
doença pulmonar obstructiva crónica tabágica, hábi-
tos etanólicos consumo de canabinóides, atropela-
mento em 2001 com colocação de prótese total da Introdução:
anca à esquerda, substituída em 2018 por falência
com infecção peri-protésica sem agente etiológico As miopatias inflamatórias (MI) são um grupo de
conhecido, tendo sido realizada terapêutica antibióti- doenças que partilham uma característica comum
designada de lesão muscular imuno-mediada. Até à
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 75
data, várias vacinas e infeções virais foram propos- Introdução: O linezolide (LNZ) é um antibiótico cli-
tas como triggers ambientais para o desenvolvimen- nicamente importante, contudo, é responsável por
to de MI. interações farmacológicas e efeitos laterais graves,
como mielossupressão, neuropatias, síndrome sero-
Caso clínico: toninérgico (SS) e acidose lática (AL).

Homem de 49 anos, saudável, sem medicação Caso Clínico: Homem de 80 anos, com doença pul-
habitual e sem toma de fármacos/tóxicos recen- monar obstrutiva crónica, prótese total da anca direi-
tes. Iniciou, em Junho de 2021, quadro súbito de ta e depressão medicado com venlafaxina. Admitido
diminuição simétrica proximal da força muscular, por fratura do fémur direito, submetido a tratamen-
inicialmente, nos membros inferiores e, posterior- to cirúrgico que complicou com infeção local. Após
mente, com progressão para os membros superio- identificação de Staphylococcus epidermidis, Entero-
res associado a dor muscular intensa. Realizou a coccus faecium resistente a vancomicina (EFRV) e E.
vacina COVID-19 (Janssen) nos 10 dias prévios ao faecalis no pus ajustou-se antibioterapia para LNZ.
início das queixas. Sem história de infeção recente Ao 36ºdia de tratamento, chamada equipa médica
nem realização de exercício físico de alta intensi- por hipertensão arterial, com má perfusão periféri-
dade previamente às queixas. Sem envolvimento ca e tremores generalizados. Objetivamente estava
cutâneo. Sem outras queixas de órgãos e/ou siste- desorientado, com pele marmoreada, mioclonias, ta-
mas. Exame objectivo: edema moderado em ambas quicardia sinusal, apirético, sem sinais de dificuldade
as pernas e atrofias musculares proximais dos respiratória, sem sinais inflamatórios articulares ou
membros superiores e inferiores, com diminuição da ferida cirúrgica. Análises com ligeiro aumento da
da força muscular proximal bilateralmente (grau proteína C reativa e hiperlactacidemia (7.3 mmol/L);
IV/V) e com Manobra de Gowers positiva. Analitica- sem outras alterações de relevo, incluíndo marcado-
mente: transaminases, LDH, CK e CKMB elevadas res de lise muscular normais. Sem insuficiência res-
(ALT 1734UI/L; AST 2659UI/L; LDH 3635UI/L; CK piratória. Radiografia do tórax, TC cranioencefálica
>1300UI/L; CKMB 41.6ng/mL), sugerindo dano e eletroencefalograma sem alterações. Assumido
muscular, mas sem disfunção renal. Troponinas I e hiperlactacidemia e provável SS secundária a LNZ
D-dímeros ligeiramente elevados. Internou-se para em doente medicado concomitantemente com ven-
estudo, tendo-se pedido Eco-doppler dos membros lafaxina desde o início do internamento, sem altera-
inferiores que excluiu TVP. Ecocardiograma excluiu ção de dose ou ajustes terapêuticos recentes. Três
envolvimento cardíaco. EMG confirmou miopatia dias após suspensão de LNZ teve resolução da AL e
inflamatória. Estudo de autoimunidade foi negativo. da restante sintomatologia. Entretanto elevação dos
Verificou-se melhoria analítica e clínica, sem perda parâmetros inflamatórios, com nova intervenção ci-
residual da função muscular, após terapêutica ins- rúrgica com isolamento de EFRV no pus. Iniciou dap-
tituída com corticoterapia - prednisolona 1mg/kg/ tomicina, com melhoria clínica e analítica.
peso (70mg/dia).
Conclusão: A AL pelo LNZ apesar de conhecida é um
Discussão: diagnóstico de exclusão, podendo ser letal se não for
identificada atempadamente. Quanto à hipótese de
SS, o facto de o doente ter melhoria sintomática após
A ligação temporal entre os sintomas e a vacinação, suspensão de LNZ reforça essa suspeita apesar de
tornam o diagnóstico de miosite induzida pela vaci- ter ocorrido mais tarde do que se encontra descrito
na COVID-19 (Janssen), como uma causa provável. na literatura, em que pode surgir até 20 dias após a
A associação entre a vacinação anterior e as MI deve associação com fármacos inibidores da recaptação
ser estudada em grandes coortes a fim de perceber- da serotonina.
mos a causalidade-efeito/relação entre as mesmas.
CO n.º 2625 
CO n.º 2618  Três casos de derrame pericárdico por febre Q agu-
Toxicidade a linezolide – a propósito de um caso da e crónica
clínico Cristiane Macedo(1);Guilherme Camões(1);Patrícia
Ângela Ferreira(1);Luís Costeira Pereira(1);Marta Ba- Afonso Mendes(1);Andreia Matos(1);Adélia Si-
toca Sousa(1);Nuno Pardal(1);Patrícia Sôra Sobro- mão(1);Armando de Carvalho(1)
sa(1);Rita Vilar Mota(1);Miguel Reis Costa(1);João (1) Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra /
Pedro Pais(1);Irene Miranda(1);Diana Guerra(1) Hospitais da Universidade de Coimbra
(1) Unidade Local de Saúde do Alto Minho, EPE /
Hospital de Santa Luzia Tema:Doenças infecciosas e parasitárias

Tema:Doenças infecciosas e parasitárias


Introdução: A febre Q é uma zoonose causada

76
COMUNICAÇÕES ORAIS
pela Coxiella burnetti com manifestações clínicas citose atípica. Surge cerca de duas a oito semanas
agudas e crónicas, e menos de 5% com pericardite. após a administração do fármaco e tem um curso
Apresentamos três casos de derrame pericárdico natural prolongado.
por febre Q com manifestações clínicas e gravida-
des distintas. CASO CLÍNICO: Apresentamos o caso de homem de
  90 anos, com história de doença renal crónica está-
dio III, algaliação por hipertrofia benigna da próstata
Caso clínico:
e cardiopatia isquémica que se encontrava com alta
Caso 1: mulher de 51 anos, admitida no serviço de
clínica após internamento por descompensação de
urgência (SU) por dispneia para pequenos esforços,
insuficiência cardíaca. Fez múltiplos fármacos du-
desconforto retroesternal com um mês de evolução
rante o internamento de que se destacam, por se-
e anorexia. A  ecocardiografia evidenciou volumoso
rem “de novo” a ciprofloxacina e a espironolactona.
derrame pericárdico com compressão das cavida-
Ao 33º dia de internamento surge oligoanúria e rash
des  direitas, a pericardiocentese revelou conteúdo
maculo-papular eritematoso disperso pelo tronco,
hemático e a serologia foi positiva para Coxiella bur-
abdómen, membros e face com zonas coalescen-
netti (título 1:320); o primeiro teste confirmatório veio
tes a envolver uma área superior a 50% da superfície
negativo. Após 8 semanas,  apresentava IgG fase II
corporal, angioedema e icterícia. Das análises a des-
(título 1:800) compatível com uma primeira mani-
tacar eosinofilia, agravamento da função renal (crea-
festação de febre Q aguda. Após terapêutica com
tinina 11,8 mg/dL) e citocolestase com hiperbilirru-
doxiciclina, hidroxicloroquina, ibuprofeno e colchici-
binemia conjugada de novo (ALT 3x LSN e bilirrubina
na  apresentou melhoria nos três meses seguintes.
total 12,81 mg/dL). Serologias das hepatites B e C
Caso 2: mulher de 68 anos, com esclerose sistémi-
negativas, trombocitopenia (75 x 109/L) e INR 1. Do
ca e polimiosite, encaminhada ao SU por  dispneia
estudo complementar realizado: ANA negativo, C3 e
progressiva para pequenos esforços e anorexia. Foi
C4 normais, relação albumina/creatinina em amos-
diagnosticado derrame pericárdico em pré-tampona-
tra urinária de 1300 mg/g creatinina, serologias para
mento, submetido a pericardiocentese. As serologias
EBV, CMV, herpes vírus 6, herpes vírus simplex, Myco-
para febre Q - IgG fase I (1:800) e fase II (1:400) fo-
plasma pneumoniae e Chlamydia pneumoniae nega-
ram positivas. Por recidiva do derrame foi reinterna-
tivas. A ecografia renal excluiu obstrução. A biópsia
da e tratada com hidroxicloroquina, doxiciclina, col-
cutânea mostrou espongiose da epiderme com va-
chicina e prednisolona, com melhoria clínica franca.
cuolização basal e infiltrado da derme de predomínio
Caso 3: homem de 67 anos com acidente isquémico
eosinofílico com extravasamento de eritrócitos. Ad-
transitório e diagnóstico incidental de derrame peri-
mitido provável DRESS (RegiSCAR scoring system de
cárdico moderado, com serologias compatíveis com
5 pontos). Iniciada hemodiálise e corticoterapia em
febre Q aguda (IgG fase II título 1:400); título e derrame
alta dose, tendo, ainda assim, o doente falecido por
pericárdico em decréscimo após 21 dias de doxiciclina.
falência hepática.
 
DISCUSSÃO: O caso apresentado destaca a gravi-
Discussão: Os casos exemplificam uma manifesta-
dade desta entidade e o desafio na identificação do
ção rara de febre Q - o derrame pericárdico - salien-
agente causal em doentes polimedicados.
tando o amplo espectro clínico desta apresentação,
desde assintomática (caso 3) até ao tamponamento CO n.º 2673 
cardíaco (casos 1 e 2), bem como das formas aguda Vómitos que são uma dor de cabeça - Relato de um
(casos 1 e 3) e crónica (caso 2). O caso 3 sugere ain- caso
da uma relação rara, mas documentada, entre febre António Mesquita(1);Pedro Caiado Ferreira(1);Mi-
Q e acidente vascular. guel João Pinheiro(1);Marta Carvalho(1);Francisca
Martins(1);Miguel Nunes(1);Miguel Martins(1);Már-
CO n.º 2650 
cia Pereira(1);Madalena Lobão(1);Catarina Patrí-
Síndrome de DRESS em doente polimedicado - o
cio(1);Vítor Brotas(1);Eduardo Silva(1)
desafio diagnóstico
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE / Hos-
Aurora Monteiro(1);Beatriz Porteiro(1);Mariana Ba-
pital de Santo António dos Capuchos
rosa(1);Zélia Neves(1)
(1) Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca Tema:Doenças cérebro-vasculares e neurológicas
Tema:Doenças raras
Introdução:  Síndrome dos vómitos cíclicos (SVC)
é uma patologia incomum, idiopática, caracteriza-
Introdução: A síndrome de DRESS (drug reaction
da por episódios recorrentes e estereotipados de
with eosinofilia and systemic symptoms) é uma
náuseas e vómitos, com intervalos inter-críticos
reacção adversa caracterizada por rash com envol-
livres de sintomas. A sua etiopatogénese não está
vimento sistémico, linfadenopatia, eosinofilia e linfo-

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 77


totalmente esclarecida mas existe uma associação Prosthetic valve endocarditis is a frequent form of
e sobreposição fisiopatológica com outras síndro- infective endocarditis (IE) being associated to higher
mes recorrentes e desencadeadas (triggered) como comorbidities and poor prognosis. Its diagnosis and
a Enxaqueca, Epilepsia ou Perturbação de Pânico. therapeutic can be a challenge, having a multimodal-
Os autores descrevem um caso de SVC. ity image a helpful role considering a low accuracy
of the Duke criteria in prosthetic valves. Transesoph-
Caso clínico: Homem de 19 anos com quadro com 7 ageal echocardiography (TEE) is the gold standard
anos de evolução caracterizado por episódios recor- diagnostic imaging.
rentes de náuseas e vómitos, com duração de horas
Case Report
a dias, sem periodicidade clara. Não se apurava des-
crição de pródromos. Entre os episódios encontra- 77-year-old woman with medical history of paroxys-
va-se bem. Negava dor abdominal, diarreia, perda de mal atrial fibrillation and aortic and mitral valve re-
peso, consumo de canabinóides ou factores de alí- placement with a bio-prosthesis 6 years earlier, was
vio. No passado, recebera o diagnóstico de Cinetose, admitted with sudden dysarthria and right hemipar-
por alguns dos episódios se associarem a viagens esthesia. A head computed tomography scan con-
de carro, e “infecção parasitária”. No entanto, os tra- firmed an ischemic stroke. Admission complicated
tamentos prescritos não surtiram efeito e o quadro with a septic shock with urine culture identification
clínico persistiu. Nos 8 meses anteriores notou agra- of methicillin-resistant Staphylococcus aureus. TEE
vamento da intensidade e frequência dos episódios, with a dubious image, repeated 2 weeks later, show-
com várias idas ao Serviço de Urgência, tendo sido ing 2 vegetations on the mitral bio-prosthesis. Antibi-
encaminhado para a nossa consulta de Medicina otic therapy with linezolid and piperacillin/tazobact-
Interna. À observação destacava-se desenvolvimen- am was initiated. Blood cultures persisted negative,
to psicomotor adequado para a idade, ausência de although control TEE after 6 weeks showed persistent
bócio ou nódulos tiroideus, ou hiperpigmentação vegetations. For persisting IE, she was proposed to
cutânea. Hemograma, bioquímica renal e hepática Cardiothoracic surgery, nonetheless was suggested
estavam normais; não se documentou hipoglicémia a period without antibiotic. New negative blood cul-
ou acidémia. Foram excluídas Insuficiência Supra- tures and TEE with several images that seemed en-
-renal e Hipertiroidismo. Fez Endoscopia Digestiva docarditis vegetations. 18-fluorodeoxyglucose-posi-
Alta, com biópsias gástricas e duodenais, sem alte- tron emission tomography was performed, reporting
rações. Foi feito diagnósitco presumptivo de SVC e a pathologic uptake at both bio-prosthesis. Assumed
medicado com Amitriptilina 25mg. O doente referiu IE refractory to antibiotic therapy, the patient was
resolução total dos sintomas não se tendo registado, presented to the multidisciplinary cardiac team and
9 meses após o diagnóstico, novos episódios. waits for the decision in ambulatory.
Discussão: SVC é uma patologia incomum mas cada Discussion
vez mais reconhecida, tanto em crianças como adul-
tos. O aumento da excitabilidade neuronal parece ser Although TEE is the gold standard, it can lead to du-
a base fisiopatológica partilhada com a Enxaqueca bious images or false results, especially in prosthetic
ou Epilepsia e que justifica a eficácia de fármacos valves. New imaging techniques allow an early diag-
como a Amitriptilina. O conhecimento desta patolo- nosis and seem to reveal a high sensibility in the iden-
gia pode obviar o atraso diagnóstico em vários anos tification of IE in prosthetic valves, being suggested
e o tratamento adequado melhorar enormemente a for some authors that an abnormal fluorodeoxyglu-
qualidade de vida destes doentes. cose uptake should be considered as a major criteria
for IE. Regarding IE refractory to antibiotic therapy
CO n.º 2677  the recommendations suggesting valve replacement
Multimodality imaging in infective endocarditis: as a solution, however, in this case cardiac surgery
how is its role? decided for a conservative approach.
Margarida g. Figueiredo(1);Hélder Santos(1);Ma-
riana Santos(1);Ines Almeida(1);Paula Sofia Pau- CO n.º 2720 
la(1);Hugo Miranda(1);Samuel Almeida(1);Luís San- Febre? De onde vens?
tos(1);João Tavares(1);Lurdes Almeida(1) Catarina Pinto Marques(1);Mónica Spencer Perei-
(1) Centro Hospitalar Barreiro/Montijo, EPE / Hospi- ra(1);Ana Rita Rocha(1);Domingas Pereira(1);José
tal Nossa Senhora do Rosário Vaz(1)
(1) Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo, EPE /
Tema:Doenças infecciosas e parasitárias Hospital José Joaquim Fernandes

Introduction Tema:Doenças infecciosas e parasitárias

78
COMUNICAÇÕES ORAIS
Introdução: Márcia Pereira(1);Vítor Brotas(1);Eduardo Gomes da
Silva(1)
A brucelose é uma infecção causada por bactérias (1) Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE / Hos-
do género Brucella spp. A transmissão mais comum pital de Santo António dos Capuchos
é por consumo de lacticínios não pasteurizados
Tema:Medicina geriátrica
mas, entre outros, também pode ocorrer por contac-
to directo com animais. Os sintomas da doença são
inespecíficos, estando normalmente presentes febre Introdução: As infeções do trato urinário (ITU) são a
alta e sudorese de predomínio nocturno. Outros sin- infeção mais comum no idoso, mas o seu diagnósti-
tomas podem incluir artralgias, lombalgia, cefaleia, co nestes doentes é desafiante pela alta prevalência
ou dor abdominal. de sintomas urinários crónicos, bacteriúria assinto-
mática e défices cognitivos. Estes fatores levam a
Caso Clínico: sobrediagnóstico, tratamento desnecessário e erros
de diagnóstico.
Mulher de 62 anos, residente em meio rural, aparen-
temente sem consumo de produtos não pasteuriza-
Caso: Uma mulher de 72 anos, totalmente depen-
dos e sem contacto próximo com animais. Recorreu
dente, com demência avançada, diabetes mellitus
à urgência por apresentar febre alta com uma sema-
tipo 2 e prótese aórtica biológica, foi ao serviço
na de evolução, sem outras queixas. Analiticamente
de urgência por queda da própria altura sem per-
tinha aumento dos parâmetros inflamatórios (PI) e
da de consciência e 7 dias de astenia, anorexia e
discreta elevação da AST e ALT. Face à história cli-
mal-estar geral. À observação, destacava-se sopro
nica, colheu hemoculturas (HC) e serologias para
sistólico grau III/VI,  disartria e febre. Do estudo
rickettioses, brucella, entre outras. Cumpriu 14 dias
complementar, destacava-se parâmetros inflamató-
de doxiciclina com resolução da febre e melhoria
rios elevados, discreta leucocitúria (120/uL), nitritos
dos PI e teve alta para a consulta externa. As HC não
positivos e tomografia computadorizada cranioen-
isolaram agente. Manteve-se com apirexia sustenta-
cefálica (TC-CE) sem alterações agudas. Admitiu-se
da, mas com lombalgia e artralgias de predomínio
infeção urinária complicada e começou-se amoxi-
sacroilíaco e de grandes articulações “de novo”. As
cilina-clavulanato (AAC). Na urocultura, isolou-se
serologias revelaram-se positivas para Ac. IgM Bru-
E. coli sensível a AAC. As hemoculturas foram
cella abortus (Ba) (9.16 UA/mL) e negativas para Ac.
negativas. Ao 6º dia de internamento, a doente de-
IgG Ba. Por suspeita de brucelose com envolvimento
senvolveu hemiparésia direita. A TC-CE mostrou le-
axial e articular, iniciou terapêutica com ciprofloxa-
são hipodensa subaguda no hemisfério cerebeloso
cina e rifampicina. Às 6 semanas, apresentava o Ac.
direito, que não explicava satisfatoriamente a hemi-
IgM Ba ainda em crescendo. Após os 3 meses de tra-
parésia, mas sim a disartria e a queda que motivara
tamento, com resolução das queixas e negativação
ida ao SU. A ressonância magnética mostrou lesão
do Ac. IgM Ba.
talâmica esquerda a traduzir enfarte isquémico agu-
Conclusão: do. Este constituía, portanto, o segundo AVC num
curto espaço de tempo. A PCR elevada, após 7 dias
A doença osteoarticular, nomeadamente a sacroileí- de antibioterapia, juntamente com a presença de
te, é a complicação mais comum da brucelose e prótese aórtica biológica e os 2 AVCs em territórios
pode acontecer em até 70% dos doentes. Nestes diferentes, motivou a pesquisa de foco cardioem-
casos o tratamento deve ser prolongado durante bólico infeccioso. A ecocardiografia transesofágica
pelo menos 3 meses. Apesar de não haver histó- revelou abcesso valvular periprotésico aórtico de
ria clinica francamente sugestiva de brucelose, o 6x6x4 cm, com fístula para o tracto de saída do ven-
pedido das serologias foi importante, permitindo o trículo esquerdo. Pelo status funcional, a doente foi
diagnóstico e tratamento dirigido. Este caso vem considerada inoperável e evoluiu com choque misto
reforçar a importância de perante síndrome febril de - séptico e cardiogénico. Faleceu ao 15º dia de inter-
etiologia indeterminada, principalmente em doen- namento.
tes residentes em meio rural, ser imprescindível a
pesquisa de zoonoses, mesmo se inicialmente não Discussão: Este caso ilustra a importância de, pe-
existir história clínica sugestiva. rante sinais de infeção sistémica e na ausência de
sintomas ou sinais de infeção urinária, procurar
CO n.º 2736  exaustivamente outros focos infecciosos. Muito
Nem tudo são infeções urinárias - uma autópsia provavelmente, esta doente não teve verdadeira in-
cognitiva feção urinária, mas sim bacteriúria assintomática,
Pedro Caiado(1);António Mesquita(1);Miguel Pinhei- que cursa com leucocitúria até 80% das vezes e é
ro(1);Marta Carvalho(1);Miguel Nunes(1);Francisca altamente prevalente - até 54% em idosas residen-
Martins(1);Madalena Lobão(1);Miguel Martins(1);- tes em lares.

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 79


CO n.º 2737  tico
Doença de Whipple Clássica e hipertensão pulmo- Inês Ferreira Maia(1);Magda Silva(1);Rúben Reis(1);-
nar. Francelino Ferreira(1);Anneke Joosten(1)
Artur Costa(1);Clara Ferreira Jorge(1);Célia Tuna(1);- (1) Centro Hospitalar Barreiro/Montijo, EPE / Hospi-
Sara Pires Ferreira(1);Ana Patrícia Silva(1);Céu Evan- tal Nossa Senhora do Rosário
gelista(1);Margarida Ascensão(1)
(1) Centro Hospitalar Cova da Beira, EPE / Hospital Tema:Doenças raras
Distrital da Covilhã
INTRODUÇÃO
Tema:Doenças infecciosas e parasitárias
A Neuropatia Oftalmoplégica Dolorosa Recorrente
Introdução: Tropheryma whipplei é um bacilo gram- (NODR) é uma entidade rara, com prevalência de
-positivo ubíquo, mas nem todos os indivíduos que 0.7/ milhão caracterizada por cefaleia unilateral in-
entram em contacto com o microrganismo desen- tensa associada a parésia do nervo oculomotor, na
volvem a doença de Whipple (DW). maioria dos casos.

Caso Clínico: Homem, 62 anos, com antecedentes CASO CLÍNICO


de trombose venosa profunda do membro inferior
Mulher de 66 anos diabética, hipertensa e com his-
direito em 2017, hipocoagulado desde então. Recor-
tória de enxaqueca sem aura, recorreu à urgência
re ao serviço de urgência por emagrecimento de 20
por dor e edema periorbitário direito com cefaleia
kg, diarreia sem sangue nem muco, e dor abdominal
hemicraniana ipsilateral incapacitante, com foto e
com 4 meses de evolução, associado a artralgias de
sonofobia, diplopia e redução da acuidade visual de
padrão migratória e cansaço fácil. Nega febre. Ao
início súbito, com 3 dias de evolução e agravamento
exame físico apresenta-se emagrecido com abdó-
progressivo.
men plano, indolor, sem organomegálias palpáveis
e sem sinovites. Apresenta na radiografia pulmonar À observação apresentava ptose direita, pupilas
derrame pleural bilateral. O estudo analítico revela isocóricas, reflexo oculomotor direito e consensual
anemia microcítica, hipoalbuminemia e elevação da ausentes à direita, diplopia binocular, limitação da
proteína C reactiva, velocidade de sedimentação e do adução e elevação do olho direito, sem papiledema.
NT-proBNP. O estudo parasitológico e bacteriológico
das fezes foi negativo. O ecocardiograma apresen- Avaliação laboratorial com serologias virais e au-
ta insuficiências mitral e tricúspide moderadas, sem toimunidade sem alterações. Realizou Tomografia
vegetações e pressão sistólica da artéria pulmonar Computorizada (TC) de Crânio e das Órbitas, Angio-
estimada de 70 mmHg. A angiografia tomografia -TC, Veno-TC e Ressonância Magnética Cranioen-
computorizada (TC) do tórax descartou tromboem- cefálica  que foram normais e permitiram excluir a
bolismo pulmonar agudo e crónico.  Do estudo en- presença de massas, lesões vasculares agudas ou
doscópico alto e baixo identificou mucosa duodenal malformações vasculares.
difusamente congestionada e com irregularidades. A
TC abdomino-pélvica revelou adenopatias em todas Após discussão do caso com a Neurologia e Oftal-
as cadeias abdominais e moderada quantidade de lí- mologia, foram definidas como hipóteses diagnósti-
quido intra-peritoneal. Na biopsia duodenal realizada cas mais prováveis NODR versus Neuropatia Ocular
revelou células histocito-macrofágicas PAS e PAS-D Diabética Dolorosa. Iniciou corticoterapia sistémica,
positivas, sem outros microrganismos identificados. com melhoria clinica, e na reavaliação em consulta
Estabelecido o diagnóstico de DW, com exclusão de 2 semanas após alta, apresentava resolução quase
envolvimento neurológico. Iniciou antibioterapia di- total do quadro.
rigida, encontrando-se neste momento sob hidroxi-
DISCUSSÃO
cloroquina e doxiciclina e vigilância em consulta de
Medicina com franca melhoria do estado geral. O diagnóstico de NODR neste caso foi estabelecido
após marcha diagnóstica com exclusão de outras
Discussão: Relata-se um caso de DW multivisceral
causas de parésia no nervo oculomotor que cur-
com a rara associação com hipertensão pulmonar
sam com cefaleia. Esta patologia apresenta-se com
grave. Na literatura atualmente existem 13 casos
cefaleia unilateral intensa associada a parésia dos
descritos hipertensão pulmonar associados a Tro-
nervos oculomotores ipsilaterais. Tendo em conta a
pheryma whipplei, sendo desconhecido o mecanis-
apresentação clínica, a exclusão de diagnósticos al-
mo fisiopatológico.
ternativos e a resposta à corticoterapia, este parece
CO n.º 2757  ter sido o primeiro episódio desta patologia rara, que
Paresia do III par e cefaleia – um desafio diagnós- merecerá seguimento em ambulatório.

80
COMUNICAÇÕES ORAIS
Realçamos a importância da anamnese e da semio- parcial dos défices neurológicos.
logia na marcha diagnóstica e o papel central da
multidisciplinariedade, neste caso com as especiali- O presente caso enfatiza que a etiologia renovascu-
dades de Neurologia e Oftalmologia. lar, apesar de habitualmente associada a estenose
das artérias renais por aterosclerose, pode também
CO n.º 2766  ocorrer por disfunção hemodinâmica crónica decor-
Caso atípico de hipertensão arterial [HTA] renovas- rente de patologia vascular adjacente. 
cular com apresentação em encefalopatia
José Nuno de Magalhães(1);Ana Maria lé(1);Cláudia CO n.º 2787 
Maria Pereira(1);João Araújo Correia(1) O que está por trás de uma paniculite mesentérica?
(1) Centro Hospitalar do Porto, EPE / Hospital Geral Inês Ferreira Maia(1);Magda Silva(1);Rúben Reis(1);-
de Santo António Francelino Ferreira(1);Anneke Joosten(1)
(1) Centro Hospitalar Barreiro/Montijo, EPE / Hospi-
Tema:Doenças cardiovasculares tal Nossa Senhora do Rosário

Tema:Doenças infecciosas e parasitárias


A HTA representa a principal causa de doença
cardiovascular e morte prematura. Embora habi-
tualmente primária, 5-10% dos casos devem-se a INTRODUÇÃO
causas secundárias passíveis de diagnóstico e tra-
tamento. A sua apresentação em emergência hiper- A paniculite mesentérica é uma patologia inflamató-
tensiva representa um reduzido número de casos, ria rara, inespecífica e que se pode relacionar com
dos quais cerca de 15% ocorrem sob a forma de diversos fatores, incluindo infeção bacteriana. Sta-
encefalopatia. phylococcus aureus é um agente frequente de bac-
teriémia e associa-se a diversas complicações, com
Apresenta-se o caso de um homem de 55 anos, an- elevada mortalidade.
tecedentes de tabagismo e etilismo, admitido em
CASO CLÍNICO
internamento por encefalopatia hipertensiva. Clínica
de lentificação psicomotora com horas de evolução, Homem de 73 anos, hipertenso, recorreu ao Serviço
associada a pressão arterial sistólica > 200 mmHg de Urgência por febre e dor abdominal com 3 dias
à admissão, sem tradução aguda em tomografia de evolução, sem outras queixas associada. À ob-
computorizada cranioencefálica [TC-CE] e sem acha- servação apresentava-se febril com diminuição do
dos analíticos sugestivos de intercorrência infeccio- murmúrio vesicular na base direita a auscultação
sa/metabólica. Apesar de adequado controlo tensio- pulmonar. Abdómen doloroso à palpação do epigas-
nal na fase aguda, evoluiu desfavoravelmente com tro, sem defesa.
instalação de anartria, disfagia e hemiparésia es-
querda. Reavaliação por TC-CE e ressonância mag- Analiticamente com Creatinina 1.49 mg/dl e PCR
nética a documentar lesões isquémicas recentes no 207.3 mg/dl. Realizou Tomografia Computorizada
braço posterior da cápsula interna direita e opérculo (TC)  toraco-abdómino-pélvico que revelou derrame
bilateral, achados que traduzem insulto microvascu- pleural direito e paniculite mesentérica. As hemo-
lar induzido pela hipertensão intracraniana. culturas revelaram Staphylococcus aureussensível
à Meticilina (MSSA), pelo que iniciou antibioterapia
Do estudo de causas secundárias de HTA, angio-TC com Flucloxacilina. O ecocardiograma excluiu en-
abdominopélvico revelou oclusão total da aorta in- docardite. Repetiu hemoculturas 48 horas após iní-
fra-renal [Síndrome de Leriche], aparente estenose cio de antibioticoterapia que foram negativas. Por
> 75% da artéria renal esquerda e síndrome de Nu- manutenção de febre ao 5º dia de Flucloxacilina
tcracker (compressão da veia renal esquerda entre repetiu TC que identificou coleções pleurais à direi-
a aorta abdominal e a artéria mesentérica superior). ta, que foram drenadas cirurgicamente e cuja análi-
Estudo complementar por EcoDoppler renal não sa citoquímica revelou características de empiema.
identificou estenoses luminais hemodinamicamente Por se tratar de bacteriémia a MSSA com infeção
significativas das artérias renais, mas antes disfun- metastática, o doente cumpriu 4 semanas de Fluclo-
ção da perfusão renal pela limitação do fluxo aorto- xaciclina, com boa evolução clínica.
-ilíaco. Assim, a etiologia renovascular secundária da
HTA interpretou-se como primordialmente funcional DISCUSSÃO
ao invés de mecânica. O doente iniciou terapêutica
dirigida aos factores de risco vascular, com normali- Perante bacteriémia a MSSA é importante excluir e
zação do perfil tensional, e foi encaminhado a Unida- vigiar evolução para possíveis complicações, como
de de Reabilitação. Reavaliação em consulta de Me- endocardite e metastização infeciosa, de forma a
dicina três meses após a alta documentou regressão adequar a terapêutica, evitando evolução desfavorá-
vel por bacteriémia refratária.
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 81
No caso apresentado, a bacteriémia a MSSA mani- de nefrite intersticial crónica.
festou-se com paniculite mesentérica e evoluiu com
transformação do derrame pleural em empiema, mo- Foi assumido o diagnóstico definitivo de amiloidose
tivando o prolongamento do tempo de antibioterapia. AA secundária a espondilite anquilosante.  Perante a
gravidade da apresentação clínica e ao grau de croni-
Salientamos a importância de manter elevado grau cidade da biopsia renal não foi modificada a terapêu-
de suspeição em casos de infeção aparentemente tica imunossupressora e o doente integrou programa
inespecífica que poderão revelar-se situações com regular de hemodiálise.
elevada mortalidade associada.
Discussão: O envolvimento renal pela amiloidose
CO n.º 2797  AA, apesar de ser um diagnóstico raro, associa-se
Amiloidose AA uma complicação rara de doenças a um prognóstico muito desfavorável com frequen-
inflamatórias crónicas–a propósito de um caso clí- te evolução para doença renal terminal. O controlo
nico da doença inflamatória de base e a terapêutica de
Patrícia Amaral de Almeida(1);Filipe Mira(2);Pedro suporte dos orgãos lesados mantêm-se como base
Castro(2);Helena Pinto(2);Emanuel Ferreira(2);Luís terapêutica. A vigilância de função renal e proteinú-
Escada(2);Luís Rodrigues(3);Vitor Sousa(3);Rui Al- ria em doentes com patologia auto-imune sistémica
ves(2) considera-se de extrema importância, devendo a sua
(1) Hospital Distrital da Figueira da Foz, EPE (2) Cen- alteração motivar estudo precoce e eventual escala-
tro Hospitalar e Universitário de Coimbra (3) Centro da na terapêutica imunossupressora.
Hospitalar e Universitário de Coimbra / Hospitais da
Universidade de Coimbra CO n.º 2818 
Hipoglicemia devido ao uso de Escitalopram: Caso
Tema:Doenças renais clínico
Ricardo Jorge Sousa(1);Rui Moço(1);Joana Mo-
Introdução: A amiloidose AA é uma complicação rais(1)
rara das doenças inflamatórias e infecções cróni- (1) Unidade Local de Saúde de Matosinhos, EPE /
cas, ocorrendo no contexto de inflamação prolon- Hospital Pedro Hispano
gada. A sua incidência é de  1-2 casos por milhão
Tema:Outro
de pessoas. A maioria dos doentes apresenta como
primeira manifestação nefropatia com deterioração
grave da função renal e proteinúria. Em doentes adultos sem o diagnóstico formal de
diabetes mellitus (DM) e que não estão medicados
com antidiabéticos orais ou insulina, o diagnóstico
Caso Clínico: Homem de 57 anos foi encaminhado
de hipoglicemias pode ser desafiador. Nestes doen-
ao Serviço de Urgência por alterações analíticas
tes, hipoglicemias sintomáticas podem dever-se a
compatíveis com lesão renal aguda e anemia micro-
consumo de álcool, doença aguda que condicione
cítica agravada. Referia astenia, anorexia e edemas
desequilíbrios metabólicos, antecedentes cirúrgicos
periféricos com 2 meses de evolução e objetivamen-
gastrointestinais, desnutrição, reações adversas
te apresentava hipertensão arterial e edemas dos
medicamentosas ou até mesmo tumores neuroen-
membros inferiores. Tinha antecedentes de espon-
dócrinos.
dilite anquilosante, hipertensão arterial e défice de
fator VII. Medicado habitualmente com prednisolona
5mg/dia e olmesartan 20mg/dia. Apresentamos o caso clínico de um jovem de 36
anos, que se apresenta com um quadro com 2-3
Do estudo analítico inicial era de realçar creatinina meses de evolução, de episódios esporádicos de
de 15.6 mg/dL e hemoglobina de 7.2 g/dL (0.7 mg/ tonturas, desorientação, hipersudorese e tremo-
dL e 10.8 g/dL 8 meses antes, respetivamente), azo- res. Instruído para a auto-monitorização das suas
to ureico de 191mg/dL, tendo sido necessário iniciar glicemias capilares e sintomas, verificou-se que o
hemodiálise. Do restante estudo completar eviden- doente apresentava hipoglicemias pós-prandiais
ciava-se   hipobuminémia (2.8 g/dL), hiperparatiroi- que começavam 1-2h depois da refeição (predo-
dismo (450 pg/mL) e proteinúria (rácio proteínas/ minantemente matinais e/ou após almoço) e re-
creatina de 20 959 mg/g). solviam espontaneamente após 30-60 minutos, ou
com a ingestão de açúcar simples.
A ecografia renal mostrava rins de dimensões au-
mentadas (14.5cm de maior eixo) com hiperecoge- Tem como antecedentes pessoais médicos uma
nicidade do parênquima. Foi realizada biópsia renal perturbação de ansiedade e doença de Ménière,
cuja histopatologia revelou glomérulos com depósi- medicado com escitalopram 20mg ao pequeno-al-
tos mesangiais exuberantes compatíveis com subs- moço.  Não é diabético nem tem antecedentes fa-
tância amiloide A, atrofia tubular severa e fenómenos miliares de DM, neoplasias endócrinas ou doenças

82
COMUNICAÇÕES ORAIS
metabólicas da infância. Nunca foi submetido a ci- com contagem mínima de 3x109/L plaquetas, sem
rurgia abdominal. Nega consumo regular de álcool, discrasia hemorrágica. Dado o contexto assumiu-se
abuso de substâncias ilícitas ou recurso a produtos como causa mais provável efeito adverso de fárma-
de ervanária ou suplementos nutricionais. Sem alte- cos e suspendeu-se a terapêutica possível, sem me-
rações recentes dos seus hábitos dietéticos ou de lhoria. O estudo complementar incluiu, entre outros,
exercício físico, tem um índice de massa corporal avaliação de hemólise, mielograma e biópsia óssea,
de 19.8 kg/m2. auto-imunidade, serologias virais e pesquisa de an-
ticorpos em relação com fármacos, enviado para o
Realizou uma prova de tolerância à glicose oral e Instituto Português Sangue e Transplantação (IPST).
estudo analítico com doseamento de insulina, bio- Dos resultados salienta-se: factor reumatóide 160UI/
química, hormonologia tiroideia, tomografia compu- mL, pan-reatividade contra todas as glicoproteínas
torizada crânio-encefálica e toraco-abdomino-pélvi- plaquetárias (IPST) e serologias virais (Citomegalo-
ca que não demonstraram nenhuma anormalidade. vírus (CMV), Epstein-Barr Virus, Parvovírus) IgG e IgM
positivas.
O período em que surgiam estes episódios era
coincidente com a dose pico do escitalopram que Do estudo, assumiu-se TCP periférica de causa imu-
o doente tomava todos os dias por volta das 08- ne e iniciou-se corticoterapia, mas sem melhoria.
09h. Foi suspenso gradualmente o escitalopram e o Do ponto de vista clínico manteve-se sem discrasia
doente passou a reportar cada vez menos episódios hemorrágica, mas desenvolveu choque séptico por
de hipoglicemias, até que após a suspensão com- má evolução das feridas cirúrgicas, tendo vindo a fa-
pleta do fármaco não voltou a apresentar hipoglice- lecer. A determinação das cargas virais foi positiva
mias.  (obtido após óbito) apenas para CMV (1110UI/mL),
assumindo-se reactivação do mesmo como contri-
Alertamos assim para um efeito adverso raro para
buto para a refractariedade da TCP no que diz respei-
toda a classe dos inibidores seletivos de recaptação
to à corticoterapia.
da serotonina, apenas reportado após introdução
dos mesmos no mercado, não contemplado no re- Os autores apresentam este caso pela raridade da
sumo das características do medicamento. concomitância das duas causas identificadas na
génese da TCP imune – fármacos e reactivação do
CO n.º 2849 
CMV, que justificam em conjunto a refractariedade
Trombocitopénia refractária – uma etiologia ines-
na resposta aos corticóides, com clínica surpreen-
perada
dentemente ausente de ambas.
José Pereira de Sousa(1);Christopher Saunder-
s(2);Rita Garcia(1);Romeu Dutra(1);Ana Patrícia Ca- CO n.º 2855 
chado(1);Teresa Garcia(1) Uma causa muito rara de hepatopatia
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE / Hos- Luís Miguel Pereira(1);Ana Ferreirinha(1);Tatiana Oli-
pital de Santa Marta (2) Centro Hospitalar de Lisboa veira(1);António Carneiro(1);Natália Fernandes(1);-
Central, EPE / Hospital de Santo António dos Capu- Diogo Cruz(1)
chos (1) Hospital Cascais
Tema:Doenças hematológicas Tema:Doenças raras

A etiologia da Trombocitopénia (TCP) inclui diminui- A doença relacionada com a imunoglobulina (Ig)G4
ção de produção (patologia da medula óssea) ou é uma doença relativamente recente, com múltiplas
aumento da destruição (púrpura trombocitopénica apresentações diferentes.
imune, infecções, fármacos).
A fisiopatologia da doença ainda não está comple-
Reporta-se o caso de uma mulher, 75 anos, com tamente esclarecida, salientando-se cada vez mais
doença cardiovascular e arterial periférica. Submeti- a importância dos linfócitos CD4+ na mesma. Não
da a 25/1 a CABG urgente por enfarte agudo do mio- se considera o aumento de moléculas IgG4 como
cárdio, sem intercorrências, à excepção de má evo- base da fisiopatologia, mas como resposta anti-in-
lução das feridas das safenectomias. Necessidade flamatória ao estímulo de um ou vários antigénios,
de internamento na Cirurgia Vascular a 26/2, tendo ainda não totalmente claros.
sido submetida a amputação primária do membro
inferior esquerdo e angioplastia e limpeza cirúrgica Apresentamos o caso de um homem de 47 anos,
do direito. saudável, sem hábitos tabágicos ou toxicófilos.
Inicia quadro de alterações gastrointestinais que
No 34ª dia de internamento, iniciado apoio de Medi- culminam em colúria, acolia, aumento do perímetro
cina Interna por instalação súbita e de novo de TCP abdominal e icterícia. Analiticamente, verificava-se

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 83


aumento de transaminases superiores a 10 vezes o sentou-se no serviço de urgência por astenia e de-
normal e sobrecarga de ferro (saturação de trans- terioração cognitiva. Apresentava discurso desade-
ferrina de 88%). O extenso estudo realizado revelou quado, desorientação espaçotemporal e cansaço a
hemocromatose hereditária (HH) H63D em homo- pequenos esforços. Pele e mucosas desidratadas e
zigotia, e anticorpo IgM para vírus herpes simplex 2 pálidas. Não apresentava outras alterações à obser-
(VHS2). A biópsia hepática foi conclusiva para cirro- vação. Analiticamente com pancitopénia, predomí-
se hepática activa com padrão compatível com HH. nio de anemia (6,4g/dL) macrocítica e hipercrómica,
assim como sinais de hemólise, hiperbilirrubinémia,
O doente apresentava-se com critérios de doença elevação de LDH e haptoglobina indoseável. A vita-
grave, mas estável, e sem estigmas de doença he- mina B12 era indetectável e a pesquisa de anticor-
pática crónica. Foi decidido prosseguir na marcha pos anti célula parietal foi positiva.
diagnóstica.
Foi administrada cianocobalamina por via endoveno-
No estudo de autoimunidade, todos os resultados sa e foi dada alta precoce para consulta de medicina
foram negativos à excepção de pesquisa IgG4 con- interna com continuação do tratamento por via intra-
sideravelmente elevada. Pedida revisão de biópsia muscular. Em seguimento foi documentada adequa-
que revelou infiltrado linfoplasmocítico com eosinó- da reposição de cianocobalamina e total reversão da
filos e expressão de IgG4 tecidual (12 plasmócitos anemia megaloblástica. A doente foi observada em
no espaço porta). Por hipótese diagnóstica de hepa- consulta de neurologia, admitindo-se quadro demen-
topatia IgG4, iniciou prova terapêutica com cortico- cial moderado de etiologia carencial provável dada
terapia sistémica, após tratamento dirigido a VHS2. a rápida evolução, assim como parkinsonismo, sem
Verificada rápida melhoria clínica e analítica, tendo melhoria após terapêutica com levodopa.
inclusivamente normalizado saturação de transferri-
na. Excluídas alterações das vias biliares e pancreá- Destaca-se a preponderância do quadro neuropsi-
ticas por colangiopancreatografia por ressonância quiátrico na apresentação de uma anemia perniciosa
magnética. autoimune, com diagnóstico e tratamento tardios, e
consequente irreversibilidade do quadro neurológi-
Este caso clínico complexo evidencia a importância co.
da persistência diagnóstica e alerta para a necessi-
dade da investigação de patologias ainda raras, mas CO n.º 2868 
provavelmente subdiagnosticadas. Insuficiência Respiratória dependente de Oxigénio
de Alto Fluxo - soluções para alta hospitalar
CO n.º 2856  Pedro Cruz(1);Moreira Duarte(1);Cristina Olivei-
Anemia (que ainda é) perniciosa ra(2);Hugo Oliveira(2);Liliana Carneiro(2)
José Morgado Pereira(1);André Pinto(1);Sérgio Bor- (1) IPO Porto (2) Unidade Local de Saúde de Matosi-
ges(1);Ivone Barracha(1) nhos, EPE / Hospital Pedro Hispano
(1) Centro Hospitalar do Oeste / Hospital Distrital de
Torres Vedras Tema:Cuidados paliativos

Tema:Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-


Introdução:
culites

Os avanços recentes do tratamento da Fibrose Pul-


A anemia perniciosa autoimune é uma entidade que
monar Idiopática (FPI) e da oxigenoterapia prolon-
resulta da carência de vitamina B12 por falta de
garam a sobrevida dos doentes compensando graus
fator intrínseco, consequência da produção de an-
cada vez mais avançados de Insuficiência Respirató-
toanticorpos contra a célula parietal. O compromis-
ria (IR). Apresentamos o caso de um doente com FPI
so neurológico associado à anemia megaloblástica
grave cuja IR agravou no seguimento de COVID-19
pode surgir previamente à anemia e à sua tradução
tratada com corticóide, dependente de Oxigénio de
clínica, levando a eventual atraso diagnóstico com
Alto Fluxo (OAF), e suas dificuldades na alta hospi-
consequências no prognóstico neurológico, e mo-
talar.
tivando a obrigatoriedade da exclusão de etiologia
carencial nas fases precoces de investigação de Caso clínico:
quadros demenciais ou alterações cognitivas.
Doente de 86 anos com FPI e redução grave da di-
Uma mulher de 67 anos, previamente autónoma, fusão alvéolo-capilar de CO (31.8%), sob pirfenidona
acompanhada em consulta de psiquiatria por disti- 1335 mg id e oxigénio de longa duração 2 L/min/24h,
mia e deterioração cognitiva progressiva, com his- previamente internado por pneumonia COVID-19 sob
tória de quedas frequentes e suspeita de síndrome corticóide por mais de 30 dias (inicialmente dexa-
demencial a aguardar consulta de neurologia, apre- metasona 12 mg id, em redução progressiva) com

84
COMUNICAÇÕES ORAIS
desmame completo após alta. 20 dias após alta foi ção de  ecoendoscopia digestiva. Três dias após o
readmitido por nova clínica respiratória, síndrome in- estudo endoscópico, foi internado por vómitos in-
flamatório, pO2 68 mmHg sob fração de oxigénio ins- coercíveis com massa abdominal palpável, aumento
pirado (FiO2) 40%, TC com fibrose pulmonar em favo dos parâmetros inflamatórios e febre, tendo iniciado
de mel bilateral com vidro despolido superior a 75% piperacilina/tazobactam empírico. Em TAC de reava-
do pulmão esquerdo e 50 a 75% do pulmão direito, de liação, foram descritas duas massas abdominais: a
novo, excluindo TEP. Assumida reinfeção respiratória imagem conhecida com uma hiperdensidade filifor-
associada aos cuidados de saúde, iniciou antibiótico me de 1cm no interior e uma volumosa coleção adja-
e corticóide em alta dose (pulsos de metilprednisolo- cente com 11x17x7cm. Após drenagem percutânea
na seguidos de prednisolona 1mg/Kg/dia), com me- confirmou-se o diagnóstico de abcesso intra-abdo-
lhoria dos parâmetros inflamatórios porém degrada- minal com o isolamento de E. coli no pus e resolução
ção respiratória a necessitar de iniciar OAF com O2 imediata dos sintomas. Retirou o dreno abdominal
40 L/min, FiO2 80%. Nos dias seguintes conseguiu-se ao fim de 10 dias e cumpriu 21 dias de antibiotera-
reduzir o O2 para o valor estável de 25 L/min (FiO2 pia, com evolução analítica e imagiológica favorá-
62%) e iniciou-se o planeamento de alta. Nesta fase vel, mantendo a formação sólida associada a corpo
objetivou-se a complexidade de manter OAF extra- estranho. Em colaboração com a Cirurgia Geral, as-
-hospitalar dada a impossibilidade de garantir fluxos sumiu-se a presença de uma espinha envolvida por
superiores a 15 L/min em ambiente extra-hospitalar. tecido de granulação com indicação para vigilância.
Após extensa análise de várias soluções, incluindo
integração em unidades da rede de cuidados conti- Discussão: Perante um idoso com um tumor abdo-
nuados, foi possível ao 39º dia de internamento tran- minal, a etiologia neoplásica deve ser considerada,
sitar para Máscara de Venturi com FiO2 40 a 60%, por mas as causas infeciosas não devem ser descu-
provável resposta tardia a corticóide, seguida de alta radas pela necessidade imperativa de controlo de
domiciliária com apoio da Equipa de Cuidados Palia- foco. Um abcesso intra-abdominal exige uma abor-
tivos. dagem multidisciplinar, sendo o simples início de an-
tibioterapia empírica insuficiente sem drenagem. A
Discussão: importância do seu reconhecimento precoce prende-
-se ainda com a mortalidade associada de 10 a 40%.
Este caso mostra os avanços das estratégias de Esta entidade é geralmente secundária à rotura da
oxigenoterapia, permitindo o suporte de doentes frá- parede gastrointestinal, mas apenas 1% dos casos é
geis, mas simultaneamente a complexidade inerente atribuível a corpos estranhos.
à sua implementação em ambientes extra-hospitala-
res. É assim necessário a reestruturação dos cuida- CO n.º 2893 
dos extra-hospitalares de forma a permitir o suporte Atrás de uma cortina Covid-19 – relato do primeiro
destes doentes que possivelmente terão uma preva- caso de tularémia pulmonar autóctone em Portu-
lência crescente no futuro. gal.
Christine Canizes(1);Sandra Santos(1);João Pina
CO n.º 2881  Cabral(1);David Sousa(1);Rute Aleixo(1);Débora Al-
Um tumor abdominal com uma causa incomum ves(1);Jorge Fortuna(1);João Rua(1)
Ana Quítalo(1);Francisco Vara Luiz(1) (1) Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra /
(1) Hospital Garcia de Orta, EPE Hospitais da Universidade de Coimbra
Tema:Doenças infecciosas e parasitárias Tema:Doenças infecciosas e parasitárias

Introdução: O diagnóstico diferencial de um tumor Introdução:


abdominal é abrangente, implicando uma avaliação
seriada. Apesar dos exames complementares de
A Tularémia é uma zoonose causada pela bactéria
diagnóstico serem indicativos, a reflexão crítica e o
Francisella tularensis, dando lugar a vários síndro-
grau de suspeição são essenciais para a gestão cor-
mes clínicos, sendo os mais comuns a forma ulcero-
reta e atempada dos doentes.
glandular e a pneumónica. A transmissão ocorre por
contacto com animais infectados ou artrópodes vec-
Caso clínico: Um homem de 85 anos, diabético, apre- tores. Comum no Norte da Europa não é endémica
sentou-se com dor abdominal com um mês de evolu- em Portugal, sendo os casos relatados no país fruto
ção e febre ocasional, tendo sido inicialmente diag- de viagens.
nosticado com uma massa heterogénea anterior ao
fígado com 4x6cm em TAC abdominal. Realizou, em Caso Clínico:
contexto eletivo, uma endoscopia digestiva alta que
revelou compressão extrínseca do estômago versus Mulher de 63 anos, com antecedentes de sínd. mie-
massa submucosa gástrica, sugerindo-se a realiza- lodisplásico e HTA. Recorreu ao SU por tosse seca,

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 85


dispneia, anorexia e diarreia com 10 dias de evolu- a quente e a frio. A etiologia é idiopática, embora se
ção. Apresentava insuficiência respiratória (IR) hipo- saiba que existe uma desregulação dos linfócitos T.
xémica ligeira, consolidação na base dta e zaragatoa Para fazer o diagnóstico é necessária a clínica do
SARS-CoV2 positiva. Assumida pneumonia Covid-19 doente e indispensável a confirmação laboratorial,
com sobreinfecção bacteriana, iniciou Levofloxacina hematológica e serológica, com teste de Coombs.
e hidroxicloroquina (normas à data) e foi internada. O objetivo do tratamento é diminuir ou cessar a pro-
Ao 7º  dia retoma febre e Rx expõe hipotransparên- dução de anticorpos bem como a hemólise. Apesar
cia do lobo inf dto. Apesar de IR em resolução e PCR de ser uma entidade cada vez mais prevalente, o
discreta, foi alterada antibioterapia (AB) para ceftazi- prognóstico mantém-se bom, com ótima resposta
dima e vancomicina (V). Nos dias seguintes ocorreu ao tratamento.
agravamento clínico com acessos de tosse caverno-
sa dispneizante, febre alta, necessidade crescente Homem de 67 anos, com história médica de doença
de FiO2 e rash maculo-papular abdominal e nas co- pulmonar obstrutiva crónica de etiologia tabágica,
xas. História clínica exaustiva apurou viver em meio dislipidémia, hemitiroidectomia e síndrome de Le-
rural com animais não vacinados (cão, gato, galinhas riche. Medicado em ambulatório com ácido acetil
e coelhos). Foram colhidas culturas, serologias de salícilico, levotiroxina, broncodilatadores, trazodona,
atípicos incluindo Coxiella burnetti e Francisella tula- sertralina e sinvastatina. Apresentava quadro com 4
rensis e iniciou Piperacilina+Tazobactam, V e Azitro- dias de astenia, dor pré cordial, e colúria. Ao exame
micina. Foi admitida nos cuidados intensivos, onde objetivo estava ictérico e hipoxémico. Analiticamen-
esteve sob ventilação mecânica  6 dias. Filmarray e te com anemia 7,1g/dL, hiperbilirrubinémia 3,27mg/
cultura expectoração negativos. Suspensa AB ao 3º dL e bilirrubina direta 0,97mg/dL e LDH 576 U/L.
dia por melhoria. 3 dias depois, já em unidade de in- Após investigação etiológica com reticulocitose, es-
termédios, novo recrudescimento clínico com TC Tó- fregaço de sangue periférico com anisocitose e poi-
rax a expor extensas áreas de consolidação bilateral. quilocitose, haptoglobina < 0,08 g/L e exame sumá-
Retomou Azitromicina por suspeita de infecção por rio de urina com urobilinogénio. Prova de Coombs
atípicos com boa resposta. O estudo serológico do- direto com resultado muito positivo e com presença
cumentou infecção por  Francisella tularensis (con- de crioaglutininas com afinidade por células de cor-
firmado posteriormente), completando ciclo de AB dão umbilical e auto-anticorpo da subclasse IgG e
com Doxicilina (14 dias), com resolução total. IgA, com capacidade de fixação ao complemento,
de alta prevalência, de baixo título, porém com gran-
Discussão:
de amplitude térmica e com forte reatividade contra
Os autores apresentam o caso de uma zoonose in- as células do próprio, mesmo a 37ºC. Após institui-
comum e   cujo diagnóstico foi dificultado pela so- ção de terapêutica corticoide houve melhoria clinica
breposição com Covid-19. Realça-se a importância e laboratorial com cessação de hemólise.
da história clínica detalhada e apreciação atenta
Este caso destaca-se pela elevada reatividade dos
da evolução clínica que, neste caso, foi crucial para
auto anti corpos numa amplitude térmica elevada,
compreensão do quadro de pneumonia recidivante e
pouco frequente neste diagnóstico.
diagnóstico etiológico, permitindo instituição da AB
adequada. CO n.º 2917 
ERITEMA SECUNDÁRIO A LINFOMA DA MAMA –
CO n.º 2894 
APRESENTAÇÃO E DIAGNÓSTICO INCOMUNS
Uma razão menos comum de icterícia
Ana Mafalda Abrantes(1);Pedro Antunes Meire-
PEDRO FIUZA(1);Valentina Tosatto(1);Torcato Mo-
les(2);Diogo Sousa(1);Alexandra Wahnon(1);Catari-
reira Marques(1);Lourenço Cruz(1);José Sousa(1);A-
na Gonçalves(1);Liliana r Santos(1);Ana Furão Rodri-
na Raquel Soares(1);Sofia Picão Eusébio(1);André
gues(1);Ana Cardoso(1);Ana Castro Barbosa(1);Ana
Conchinha(1);Francisco Albuquerque(1);Ana Raquel
Maria Baltazar(1);Laura Rodrigues de Carvalho(1);-
Santos(1);Inês Duarte(1);Paula Nascimento(1);Rita
Carolina Ramos(1);Dúlio Teixeira Passos(1);Nuno
Barata Moura(1);António Mário Santos(1)
Reis Carreira(1);António Pais Lacerda(1);Marisa
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE / Hos-
Teixeira Silva(1)
pital de Santa Marta
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi-
Tema:Doenças autoimunes, reumatológicas e vas- tal de Santa Maria (2) IPO Lisboa
culites
Tema:Doenças oncológicas

A anemia hemolítica autoimune, caracterizada por


Introdução: O linfoma primário da mama é uma en-
apresentar auto anticorpos que se ligam aos eri-
tidade rara (menos de 1% das neoplasias da mama
trócitos com a consequente destruição prematura
e menos de 2% dos linfomas não-Hodgkin extra-no-
dos mesmos, pode-se apresentar de duas formas:

86
COMUNICAÇÕES ORAIS
dais). O subtipo histológico mais frequente é de lin- Caso clínico: Masculino, 85 anos, Rankin prévio 0.
foma difuso de grandes células B e a sua apresenta- Recorreu ao Serviço de Urgência por lesões pur-
ção clínica é semelhante às restantes neoplasias da púricas nos membros inferiores, indolores e não
mama, apresentando-se,  numa minoria dos casos, pruriginosas, com 3 dias de evolução e carácter
apenas com eritema. de progressão cefálico. História recente de enfar-
tamento pós-prandial, náuseas e perda ponderal
CASO CLÍNICO: Mulher de 76 anos, com anteceden- (10Kg no último mês). Negava outros sintomas B,
tes de hipertensão arterial, asma, polimialgia reumá- mialgias, artralgias, queixas do foro respiratório ou
tica, referindo astenia, dispneia para grandes esfor- urinário. Sem outras queixas gastrointestinais. Ao
ços e edema dos membros inferiores nos 3 meses exame objetivo com bom estado geral, apirético,
prévios. Mencionava ainda epigastralgia, diarreia e confirmando-se lesões purpúricas dispersas pelos
hematoquézias com padrão intermitente havia 1 ano. membros inferiores de forma mais exuberante, mas
Destacava-se   anemia microcítica hipocrómica (Hb também já a surgirem nos membros superiores,
11.3g/dL, VGM 70.2fL, HGM 22pg). A endoscopia de diferentes colorações, algumas em confluência,
digestiva alta revelou gastrite erosiva por H. Pilory, bem como lesão ovalada submandibular esquerda,
e a colonoscopia identificou diverticulose e polipose com 3cm de maior diâmetro, consistência elástica
do cólon. Três meses mais tarde surge eritema peria- e contornos regulares, móvel, desconfortável ao to-
reolar direito, não doloroso, sem corrimento mamilar. que. Analiticamente sem atingimento hematológico,
À palpação destacava-se nódulo no quadrante supe- renal ou hepático. Gamapatia biclonal IgA/Lambda.
ro-externo da mama direita (1cm), sem adenopatias Restante estudo serológico e autoimune negativo.
palpáveis. Ecografia e mamografia BI-RADS 5 (mama TC toracoabdominopélvica sem alterações de re-
direita), BI-RADS 2 (mama esquerda). A biópsia ma- levo. Biópsia da pele apenas sugestiva de púrpura.
mária especificou “Linfoma de células B de alto grau, Medicado com corticóide, verificou-se agravamento,
com expressão de CiclinaD1, Ki-67 90%, sem altera- além de terem surgido novas adenopatias em lo-
ções no FISH”. Ecografia axilar sem envolvimento calização cervical, axilar e inguinal, bilateralmente,
ganglionar. Laboratorialmente sem alterações da uma das quais biopsada e com resultado compatí-
B2-microglobulina, PS1, não se encontrando infiltra- vel com Linfoma Difuso de Grandes Células B. Em
ção medular no mielograma. A PET revelou doença menos de 2 meses, apesar de melhoria das lesões
linfoproliferativa activa da mamária direita, com en- cutâneas, o doente evoluiu com degradação impor-
volvimento supra e infradiafragmático. Admitido es- tante do estado geral (Rankin 5) e aumento do ta-
tadio IVA, IP4. Foi iniciada terapêutica com R-CHOP. manho das adenopatias, impossibilitando qualquer
abordagem terapêutica e, na sequência de síndrome
DISCUSSÃO: Este é um caso raro de linfoma primário de lise tumoral, acabou por falecer. 
da mama, cuja apresentação inicial com eritema pe-
riareolar e pequeno nódulo súpero-externo mimetiza Discussão: O linfoma difuso de grandes células B é
o carcinoma da mama do tipo inflamatório. Pela sua o tipo mais frequente de linfoma não Hodgkin, cuja
raridade, o linfoma primário da mama é de diagnós- apresentação pode ser tão agressiva que, tal como
tico complexo e tratamento desafiante, uma vez que neste caso, ditou a morte em pouco mais 2 meses
não há normas terapêuticas bem estabelecidas para desde o início da sintomatologia. É importante o
este tipo de neoplasia. seu diagnóstico precoce e atempado, para que pos-
sa ser equacionada uma abordagem com intuito
CO n.º 2928  curativo. 
Linfoma à vista?
Filipa Batista(1);Sara Fontaínhas(1);Margarida Gau- CO n.º 2936 
dêncio(1);Sara Faria(1);Sónia Campelo Pereira(1);A- Infeção disseminada por vírus-zoster - quando
bílio Gonçalves(1) atinge proporções graves.
(1) Hospital Distrital da Figueira da Foz, EPE Telma Alves(1);Débora Santos(1);Ricardo Rodri-
gues(1);Sandra Santos(1);Mariana Lopes(1);Fátima
Tema:Doenças hematológicas Silva(1);Jorge Fortuna(1);Armando de Carvalho(1)
(1) Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra /
Introdução: As neoplasias malignas podem surgir Hospitais da Universidade de Coimbra
associadas a vasculites, sendo um síndrome para-
Tema:Doenças infecciosas e parasitárias
neoplásico mais frequente nas neoplasias hema-
tológicas. Desta forma, e no idoso em particular,  a
vasculite cutânea pode ser a manifestação inicial de Introdução: A infeção pelo vírus varicela zoster
malignidade, pelo que o seu estudo deve visar sem- (VVZ) poderá ter duas formas de apresentação: in-
pre a exclusão desta entidade.  feção primária (varicela) e latente (zoster). Durante
a infeção primária o vírus fica latente a nível do sis-
tema nervoso (gânglios das raízes dorsais e nervos
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 87
cranianos), que mais tarde pode ser reativado – her- A BCGite é uma complicação rara da instilação
pes zoster – e que  tipicamente se manifesta em intra-vesical de BCG nos doentes com carcinoma
adultos, na forma de erupções cutâneas vesiculares urotelial. Um dos fatores de risco para esta compli-
limitadas a um dermátomo. Na forma dissemina- cação é a imunossupressão.
da existe envolvimento extra-cutâneo, sendo o atin-
gimento do sistema nervoso central (SNC) uma das O presente caso diz respeito a um homem de 84
principais complicações. anos com antecedentes de hipertensão arterial,
hipertrofia benigna da próstata e carcinoma uro-
Caso Clínico: Mulher de 65 anos, previamente autó- telial papilar de alto grau, submetido a resseção
noma nas AVDs, com antecedentes de hipertensão transuretral vesical e sob BCG intra-vesical mensal
arterial e dislipidemia. Imunocompetente. Referen- há 8 meses, que recorreu ao serviço de urgência por
ciada ao serviço de urgência por alteração do es- febre, astenia, anorexia e hematúria desde a última
tado de consciência (desorientação temporo-espa- instilação de BCG, 6 dias antes. Do estudo analítico,
cial). Ao exame objetivo identificou-se um exantema de salientar pancitopenia, padrão de citocolesta-
exuberante com vesículas agrupadas, delimitado se e hiperbilirrubinemia mista ligeira. Sem estudo
aos dermátomos T9-10 e um exantema cutâneo analítico no ano anterior que permitisse compa-
generalizado em vários estadios (mácula, vesicula ração. Realizada TC toraco-abdomino-pélvica que
e pústula), com 15 dias de evolução. Ao exame neu- não identificou alterações agudas. O esfregaço de
rológico pouco reativa à chamada e à dor, com rigi- sangue periférico não mostrava células anómalas/
dez da nuca, Glasgow 9. Face à clínica realizou-se imaturas. Dada a ausência de focalização infeciosa
TC-CE onde se objetivou malformação anatómica ou isolamentos microbiológicos e atendendo ao
(ectopia amigdalina) que impediu a realização da agravamento progressivo da neutropenia (mínimo
punção lombar (PL). Colheram-se culturas (nega- 200x109/L) e desenvolvimento de icterícia, foram
tivas) e serologias. Iniciou de seguida de aciclovir realizadas biópsias medular e hepática que reve-
(15 dias), meropenem e vancomicina, pela alto grau laram granulomas – BCGite – e extenso infiltrado
de suspeição de meningoencefalite por VVZ. Já no linfoide com infiltração portal e imunohistoquímica
internamento obtiveram-se os resultados das sero- positiva para CD20, CD5 e CD23 compatível com
logias-VVZ IgG >4000 e IgM 0.4. Pelo atingimento leucemia linfocítica crónica (LLC). Adicionalmente,
do SNC realizou EEG que demonstrou encefalopatia foi possível observar hemofagocitose na medula ós-
difusa. Para conclusão do estudo, e face à contra- sea. O doente iniciou rifampicina, isoniazida e etam-
-indicação da punção lombar, fez-se RM-CE e PET, butol, com consequente apirexia e posteriormente
sem alterações. A doente teve alta ao 15º dia com clorambucil e prednisolona, com reversão do padrão
recuperação neurológica completa.  colestático e da icterícia. O exame micobacteriológi-
co e PCR M. tuberculosis complex foram negativos
Discussão: Herpes Zoster é a reativação do vírus va- em todas as amostras. A febre foi interpretada em
ricela-zoster, caracterizado por exantema vesicular contexto inflamatório da BCGite e as alterações he-
que tipicamente afeta um ou dois dermátomos adja- páticas em contexto infiltrativo hepático da LLC. A
centes. Quando disseminado é difícil a sua distinção BCGite, principalmente com atingimento multiorgâ-
da varicela, mesmo com o doseamento serológico. O nico, é uma complicação rara, sendo mais frequente
seu diagnóstico é a partir da clínica apresentada, que nos doentes imunossuprimidos. Este caso salienta
se atempado pode minimizar as complicações mais a importância da procura de causas de imunossu-
graves como o atingimento do SNC. Este caso é uma pressão em doentes com BCGite.
apresentação incomum de herpes zoster dissemina-
do numa doente imunocompetente, complicado por CO n.º 2952 
meningoencefalite e com apresentação cutânea exu- A traição das favas
berante. Leonor Coutinho Soares(1);Inês Vieira(1);Umbelina
Caixas(1);Helena Amorim(1)
CO n.º 2947  (1) Hospital de São José
BCGite na origem do diagnóstico de Leucemia Lin-
focítica Crónica Tema:Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio-
Catarina Vale(1);Joaquim Faria Monteiro(1);Cátia nais
Oliveira(1);Beatriz Guimarães(1);Francisca Azevedo
Correia(1);Joanne Lopes(1);Elsa Fonseca(1);Pedro O défice de Glicose-6-fosfato desidrogenase eritroci-
Chorão(1);Filipa Gomes(1);Jorge Almeida(1) tária (G6PD) é uma das alterações do metabolismo
(1) Centro Hospitalar de S. João, EPE dos eritrócitos mais frequente, admitindo-se que
possa conferir algum grau de protecção contra a
Tema:Doenças raras
malária. O gene que codifica a G6PD encontra-se
no cromossoma X e exibe um grande polimorfismo.

88
COMUNICAÇÕES ORAIS
As mutações podem ocorrer de forma esporádica tal de Santa Maria
(de novo) ou ter caráter hereditário associado ao
cromossoma X.  Tema:Doenças hematológicas

Doente do sexo masculino, de 23 anos, natural do INTRODUÇÃO


Brasil e residente em Portugal desde há 2 anos.
História pessoal de icterícia neonatal sem ou- O metotrexato comummente usado no tratamento
tros antecedentes patológicos ou familiares de de artrite reumatóide, pode raramente gerar efeitos
relevo. Avaliado no serviço de urgência (SU) por adversos hematológicos. A pancitopenia, reportada
icterícia da pele e mucosas com 24h de evolução. em 3% dos casos, é complicação potencialmente
Sem outros sintomas acompanhantes. Negava fatal, sobretudo se associada a mielosupressão de
sintomas sugestivos de intercorrência infecciosa. longa duração.
Referia toma isolada de paracetamol (1g) e in-
gestão de favas cerca de 1 semana antes. Referia CASO CLÍNICO
ingestão de favas no passado embora em menor
Mulher de 67 anos, com artrite reumatoide, fibrilha-
quantidade. Avaliação analítica no SU evidenciou
ção auricular, medicada com metotrexato, predniso-
anemia hemolítica com Hb 10.8g/dL, haptoglobi-
lona, anti-inflamatórios não esteroides, ácido fólico,
na indoseável (<0.08g/L) e hiperbilirrubinémiaindi-
apixabano é admitida por dor pré-cordial e palpita-
recta (bilirrubina total (BrbT) 27.62mg/dL, e direc-
ções desde 1 semana antes, e episódios repetidos
ta0.97mg/L). Ecografia abdominal sem evidência
de epistáxis. Apresentava-se  polipneica, com mu-
de ectasia da via biliar ou esplenomegalia. Inter-
cosas desidratadas, epistáxis e lesão hemorrágica
nado para estudo complementar. Teste de Coom-
da cavidade oral, com instabilidade hemodinâmica.
bs negativo pelo que não se prosseguiu com o
Verificou-se pancitopenia severa (Hb 4,9g/dL, leucó-
estudo auto-imune. Electroforese das hemoglobinas
citos 3400x10^6/L, plaquetas 21x10^9/L), troponina
não identificou frações anómalas. Teste de
T 19mg/dL, NT-proBNP 2884mg/dL, PCR 10mg/dL.
fragilidade osmótica não sugestivo de esferocitose.
ECG sem alterações. O esfregaço de sangue periféri-
Rastreio séptico e serologias virais (VIH, vírus
co apresentava anisopoiquilocitose, células em gota,
hepatites, EBV, parvovírus) negativos, mantendo-se
neutrófilos hipersegmentados. Foi transfundida com
sem clínica sugestiva de intercorrência infeciosa.
2 unidades de concentrado eritrocitário e 1 pool de
Após resultado de atividade de G6PDH diminuída
plaquetas, cessando o  apixabano. Mielograma com
(3.3U/g Hb), admitiu-se anemia hemolítica neste
“medula óssea normocelular, 8% de blastos, displasia
contexto. Manteve hidratação vigorosa com melho-
celular (<10%) nas três linhagens hematopoiéticas.”
ria da hiperbilirrubinémia (BrbT 3.09mg/dL à data
Estudo BCR-ABL negativo, aguardando citogenética.
da alta) e teve alta referenciado à Hematologia após
Serologicamente, destacava-se anti-VCA IgG e IgM,
ensino de alimentos/medicamentos a evitar. 
e anticorpos anti-EBNA IgG. Assumida pancitopenia
O acompanhamento deste doente permitiu perceber secundária a metotrexato e/ou vírica (EBV), discrasia
que a primeira manifestação de défice de G6PDH hemorrágica por trombocitopenia e anticoagulação.
pode ocorrer em qualquer idade e que é uma doen- A evolução foi favorável reintroduzido-se metotrexa-
ça subdiagnosticada, por vezes só diagnosticada to, à data de alta. Um mês depois regressa ao hospi-
em fase aguda ou de agudização de hemólise. A tal por quadro de mucosite, com bicitopénia (Hb 7g/
história familiar nem sempre é conhecida (muta- dL, plaquetas 54x10^6/L), PCR 14.7mg/dL, admitin-
ção de novo vs portadores assintomáticos do sexo do-se novo episódio iatrogénico.
feminino) e, não havendo tratamento dirigido, o foco
DISCUSSÃO
principal é a prevenção das crises hemolíticas.
Estes quadros de pancitopenia e mucosite secun-
CO n.º 2955 
dários a  baixas doses de metotrexato surgiram em
METOTREXATO: UMA ARMA TERAPÊUTICA (MAS
administração de longa duração do fármaco e intera-
HOSTIL?)
ção com AINES. A co-existência de mucosite confi-
Ana Mafalda Abrantes(1);Sara Teixeira(1);Alexan-
gura pior prognóstico.
dra Wahnon(1);Catarina Gonçalves(1);Diogo Sou-
sa(1);Liliana r Santos(1);Ana Furão Rodrigues(1);A- CO n.º 3000 
na Cardoso(1);Ana Castro Barbosa(1);Laura LINFOMA T ANGIOIMUNOBLÁSTICO EM DOENTE
Rodrigues de Carvalho(1);Ana Maria Baltazar(1);Ca- COM COLANGITE BILIAR PRIMÁRIA
rolina Ramos(1);Dúlio Teixeira Passos(1);Nuno Reis Sofia Pimentel(1);João Patrício(1);Ana Rita Ambró-
Carreira(1);António Pais Lacerda(1);Marisa Teixeira sio(1);Henrique Pina(1);Rita Jorge(1);Marta Teodo-
Silva(1) ro(1);Fernando Martos Gonçalves(1);José Lomelino
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi- Araújo(1)

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 89


(1) Hospital Beatriz Ângelo (1) Unidade Local de Saúde do Norte Alentejano -
Hospital Santa Luzia de Elvas (2) Centro Hospitalar
Tema:Doenças hematológicas de Setúbal, EPE / Hospital de São Bernardo

A literatura documenta uma associação entre autoi- Tema:Doenças hematológicas


munidade e o desenvolvimento de doença linfopro-
liferativa. Todavia, existe pouca informação sobre Introdução: A síndrome hemofagocítica (SHF), é 
a potencial relação entre linfoma e colangite biliar uma doença rara, caracterizada por uma respos-
primária (CBP). Neste trabalho, descreve-se o caso ta inflamatória excessiva e destruição dos teci-
de uma mulher com linfoma T angioimunoblástico dos. Apresentamos um caso de SHF, num doente de
(LTAI) seis anos após o diagnóstico de CBP. 65 anos de idade; sexo masculino, com anteceden-
tes HTA; Artrite reumatóide (AR); Leucemia linfóci-
Uma mulher de 57 anos, com diagnóstico prévio de tica crónica (LLC B) IV em remissão, status pós- QT
CBP, é referenciada a consulta por nódulo axilar es- e esplenectomizado (pós-traumatismo baço); que
querdo com 2cm de maior diâmetro com evidência após ter efetuado a vacina contra a COVID-19,
ecográfica de múltiplas adenopatias axilares homo- desenvolveu um quadro inflamatório sistémico,
laterais; duas punções aspirativas haviam demons- correspondendo aos critérios de inclusão do SHF.
trado linfadenite reativa. Clinicamente, a doente Caso Clínico: Coincidente com a 1ª toma da vacina
apresentava, desde há cinco meses, poliartralgias contra COVID 19, iniciou febre (>39ºC) e mialgias.
bilaterais de ritmo misto, simétricas e aditivas envol- Por persistência da febre e coluria recorreu ao SU.
vendo os ombros, cotovelos, punhos, mãos e joelhos. Exame objetivo destaco: icterícia; febre 40ºC; sem
Não havia história de febre, perda de peso, sudorese adenomegalias periféricas; abdomen globoso; indo-
noturna, rash cutâneo, fotossensibilidade, dor ocular, lor, sem massas/organomegalias; edemas periféri-
aftas orogenitais, fenómeno de Raynoud ou queixas cos. ECDs: Teste SARS-CoV2 não detetável; analiti-
sugestivas de neuropatia. O exame objetivo demons- camente:  anemia NN e trombocitopenia;  ALT:2622;
trou adenopatia submandibular esquerda e adenopa- AST:1582; FA:422; LDH:922; Bi total: 5 / direta:3 e
tias cervicais e axilares bilaterais, indolores e móveis PCR 7.  TAC-TAP: sem alterações. Serologias  foram
nos planos superficiais e profundos; ausência de he- pedidas. Urina II normal. 2Hemoculturas e 1Urocul-
patoesplenomegália. Analiticamente, sem evidência tura. Assumiu-se hepatite aguda de etiologia a es-
de compromisso da função medular. Realizou tomo- clarecer. Febre persistente e PCR de 20. Iniciou an-
grafia computorizada cervicotoracoabdominopélvi- tibioterapia empírica Piperacilina/Tazobactam (ev).
ca, que revelou múltiplas formações ganglionares Declínio do estado geral e analítico (Pancitopenia;
laterocervicais esquerdas e uma na cauda da paró- Ferritina>40000; Triglicéridos >265mg/dL; envolvi-
tida esquerda; várias e volumosas adenomegálias mento hepático; Igs A, G e M diminuídas; pico mo-
axilares bilaterais, algumas mamárias e retroescapu- noclonal alfa-1 e hipogamaglobulinemia), resultados
lares direitas; hipertrofia ganglionar lomboaórtica e de outros exames negativos. Hipótese diagnóstica
nas cadeias ilíacas. A biópsia excisional confirmou o provável: SHF 2º em contexto inflamatório (fator
diagnóstico de LTAI. A doente foi transferida para um precipitante – vacina antiCOVID 19) e neoplásico.
centro de referência oncológico para estadiamento e Iniciou corticoterapia associado a quimioterapia.
tratamento dirigido. Mielograma: com sinais de SHF (leucofacocitose;
eritrofagocitose; trombofagocitose); Imunofeno-
Este caso ilustra o desafio diagnóstico de uma forma tipagem  sangue periférico: inconclusiva com ele-
invulgar de linfoma, manifestado inicialmente por vada inversão CD4+/CD8+ (provável associação a
um quadro inespecífico de poliatralgias com padrão infeção viral);  Imunofenotipagem aspirado medular
simétrico e aditivo, reforçando a necessidade de in- e biópsia óssea em alterações de novo. Doente com
clusão das neoplasias na abordagem diagnóstica evolução desfavorável, porém após ter efetuado o
destes casos. Além disso, documenta uma potencial tratamento descrito, foi possivel reverter por com-
associação entre doença linfoproliferativa e CBP, ra- pleto SHF. Conclusão: A vacina COVID-19, poderá ter
ramente descrita na literatura, sendo presentemente despoletado uma reação inflamatória excessiva. Os
um tópico debatido na comunidade científica. efeitos secundários da vacina podem ser multiplos
e variam de acordo com cada individuo. Temos
CO n.º 3003  ainda um grande caminho a percorrer com respeito
SÍNDROME HEMOFAGOCÍTICO APÓS VACINA CO- à nova vacina, acerca dos seus benefícios e limita-
VID-19 EM DOENTE ONCOLÓGICO ções.
Ana Martins Neves(1);Dr.ª Vanessa Pereira(2);Dr.ª
Ana Santo António(2);Dr. ª Anabela Neves(2);Dr.ª
CO n.º 3013 
Joana Santos(2);Dr.ª Ana Bela Mateus(1);Dr.ª Isabel
Síndrome de Platipneia-Ortodeoxia em pneumonia
Soles(1)
grave a SARS-CoV-2

90
COMUNICAÇÕES ORAIS
Marta Matos(1);Tomás Fonseca(1);André Dias- Hepatotoxicidade medicamentosa por diclofenac
-Frias(1);José Pedro Santos(1);Nuno Silva Durão(1) Mario Gil Fontoura(1);Teresa s. Pereira(1)
(1) Centro Hospitalar do Porto, EPE / Hospital Geral (1) Hospital Feira
de Santo António
Tema:Doenças gastrenterológicas e doenças hepá-
Tema:Doenças cardiovasculares ticas

Introdução: O Síndrome de Platipneia-ortodeoxia A hepatotoxicidade por administração de diclofe-


(SPO) caracteriza-se por dispneia e hipoxemia em nac, classificada como idiossincrática por depender
supino que melhora em decúbito. Os mecanismos da suscetibilidade individual e ser independente da
fisiopatológicos subjacentes a esta entidade per- dose, constitui uma entidade clínica rara, descrita
manecem pouco claros. Apresentamos um caso em menos de 1% dos doentes medicados com este
de SPO num paciente após evolução fibrótica de anti-inflamatório não esteróide de utilização tão co-
pneumonia intersticial por SARS-CoV-2, associada a mum e disseminada.
shunt intracardíaco.
Apresentamos o caso de um doente do sexo mas-
Caso Clínico: Homem de 80 anos, autónomo, não culino, 59 anos, antecedentes pessoais de hiper-
fumador, antecedentes de cardiopatia isquémica tensão arterial essencial, hepatite de etiologia não
com fração de ejeção preservada e hipertensão esclarecida aos 10 anos de idade e litíase renal,
controlada. Quadro clínico inicial de dispneia, de- sem antecedentes familiares de doença hepática.
sorientação, diarreia e vómitos. Analiticamente Recorre ao Serviço de Urgência por quadro de ic-
com linfopenia ligeira e discreta leucocitose, e hi- terícia, colúria e prurido generalizado com cerca
ponatremia grave (Na+ sérico de 102mmol/L). Em de 1 semana de evolução. Tinha estado medicado
ar ambiente com insuficiência respiratória tipo 1 com diclofenac há cerca de 10 dias, tratamento
(PaO2 60 mmHg; paCO2 26 mmHg, P/F 288). Duas com duração de 5 dias, por uma lesão traumática.
semanas após o diagnóstico, agravamento da insu- Apresentava-se hemodinamicamente estável, apiré-
ficiência respiratória com necessidade de suporte tico, sem outras alterações do foro gastrointestinal
ventilatório e oxigenoterapia de alto-fluxo. Angio-TC ou outras alterações ao exame objetivo na revisão
a demonstrar lesões periféricas bilaterais em vidro de sistemas. Analiticamente com ALT: 650 U/L,
despolido pan-lobular. TC de reavaliação com evo- AST: 288 U/L, FA: 325 U/L, GGT: 1036 U/L; enzimas
lução fibrótica a sugerir pneumonia organizativa. pancreáticas dentro da normalidade, sem elevação
Um mês após o diagnóstico, sob corticoterapia, de parâmetros inflamatórios ou outras alterações
houve apenas ligeira melhoria clínica, com difícil analíticas de relevo. Ecografia abdominal revelou
progressão no desmame de suporte ventilatório. As hepatomegalia ligeira com esteatose grau modera-
saturações periféricas diminuíam de 96% em decú- do, porém, sem alterações vesicula/vias biliares ou
bito para 88% em supino. Ecocardiograma transto- outras. TAC abdominal a confirmar hepatomegalia
rácico com contraste de soro salino, a revelar shunt e descrever cálculo renal não obstrutivo sem outras
direita-esquerda significativo através de Foramen alterações a destacar. No internamento, excluídas
Ovale patente e hipertensão pulmonar. Assumido etiologias infecciosa, autoimune, metabólica bem
shunt intracardíaco com inversão esquerda-direita como das vias biliares por colangio-RM. Realizada
para direita-esquerda precipitada por hipertensão biópsia hepática que mostrou escasso infiltrado in-
pulmonar por extensa pneumonia organizativa pós- flamatório sinusoidal, de tipo linfocitário, em menos
-COVID-19. Melhoria após 15 dias de cinesioterapia de 1 agregado por lóbulo, e hiperplasia de células de
e corticoterapia, com desmame de suporte ventila- Kupffer, correspondentes a lesão de hepatite cróni-
tório. À data de alta sem dispneia e com resolução ca portal moderada, padrão integrável, dentre várias
de insuficiência respiratória. causas, na etiopatogenia medicamentosa. Admitida
a hepatotoxicidade, foi medicado com ácido urso-
Conclusão: O SPO deve ser considerado no diag- desoxicolico com resolução do prurido associado
nóstico diferencial do doente com pneumonia a a hiperbilirrubinemia e fluidoterapia. Verificou-se
SARS-CoV-2 após exclusão de outras entidades evolução favorável, com descida de marcadores de
como sobreinfecção bacteriana, tromboembolismo colestase porém de forma lenta.
pulmonar ou descompensação de insuficiência car-
díaca. É fulcral determinar a etiologia deste síndro- Os autores apresentam este caso para alertar para
me, dado que o seu manejo depende da fisiopatolo- a possibilidade de hepatotoxicidade grave e poten-
gia do shunt, permitindo tratamento dirigido, alívio cialmente fatal ao diclofenac, anti-inflamatório de
de sintomas e auxiliar o processo de reabilitação. uso frequente na prática médica.

CO n.º 3027  CO n.º 3032 

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 91


As calcificações intracerebrais: um desafio na prá- fora da apresentação comum, podendo não ser ime-
tica clínica diatamente reconhecidas como tal.
André Assunção Costa(1);Ana João Marques(1);Ana
Graça Velon(1) Caso Clínico:
(1) Hospital Vila Real
Mulher de 48 anos, caucasiana.
Tema:Doenças cérebro-vasculares e neurológicas
Recorre à urgência, no dia 19 de infeção COVID, com
odinofagia e disfagia associadas a febre diária.
Introdução: As calcificações intracranianas, enquan-
to síndrome cortico-estriato-palido-dentado têm À admissão, febril, com exsudado purulento peria-
uma apresentação clínica variada, nomeadamente migdalino, petéquias no palato e adenopatias sub-
manifestações neuropsiquiátricas e cognitivas. O mandibulares.
seu diagnóstico diferencial é vasto, desde doenças
genéticas, metabólicas, infeciosas ou tóxicas. Analiticamente: leucopenia 440/uL com neutropenia
130/uL, trombocitopenia e elevação de parâmetros
inflamatórios (PCR 29.2mg/dL). TC Tórax com es-
Caso Clínico 1: Doente de 76 anos com anteceden-
pessamento parietal esofágico difuso. Observada
tes pessoais de cefaleia de tensão que foi referen-
por ORL, sendo diagnosticada candidíase orofarín-
ciada à consulta de Neurologia por alterações do
gea e esofágica.
comportamento. O exame neurológico não revelou
alterações e a avaliação neuropsiquiátrica foi com- Internada por bicitopenia com neutropenia febril e
patível com uma perturbação depressiva major. A candidíase orofaríngea/esofágica com sobreinfeção
TC crânio-encefálica (CE) demonstrou calcificações bacteriana.
intracerebrais extensas envolvendo os gânglios da
base o os núcleos dentados do cerebelo. Apurou-se Inicia Fluconazol e antibioterapia empírica com Cef-
uma história familiar de calcificações cerebrais ten- triaxone e Clindamicina, após colheita de hemocul-
do sido solicitado teste genético que demonstrou turas e urocultura (negativas). Ao 3º dia substitui
uma mutação no gene SLC20A2 confirmando o antibioterapia para Piperacilina/Tazobactam por
diagnóstico de Doença de Fahr. agravamento de estado clínico, cumprindo 9 dias
desta terapêutica. Inicia Filgrastim.
Caso Clínico 2: Doente de 73 anos referenciada à
consulta de Neurologia por achado de extensas cal- Permanece 4 dias em janela antibiótica, com novas
cificações intracerebrais na TC CE. Constataram-se hemoculturas (negativas), mantendo picos febris,
antecedentes de síndrome depressiva com ideação parâmetros inflamatórios elevados, bicitopenia e
suicida e tiroidectomia total em 1992 com exérese anemia de novo. Realiza TC Tórax com imagem de
das paratiroides. Atualmente, sob suplementação condensação pulmonar infeciosa.
com cálcio e colecalciferol. A história familiar foi ne-
gativa para calcificações intracerebrais. O diagnósti- Por ausência de melhoria de pancitopenia, realiza
co consistiu em hipoparatiroidismo pós-cirúrgico. mielograma compatível com aplasia medular. Inicia
Meropenem e Vacomicina. Ao 14º dia de Filgrastim,
Conclusão:  As calcificações intracerebrais apresen- recuperação de leucócitos, neutrófilos e plaquetas
tam um desafio na prática clínica, não só pela vasta para níveis normais. Melhoria progressiva com re-
lista de diagnósticos diferenciais, mas também pe- missão completa de quadro clínico após 10 dias de
las opções terapêuticas e prognóstico das diferen- antibioterapia e 21 dias de Fluconazol.
tes entidades.
Alta com melhoria clínica.
CO n.º 3035 
Uma complicação atípica de COVID Discussão:
Hugo Jorge Alves(1);Teresa Costa e Silva(1);Árcia
É conhecida a existência de supressão medular
Chipepo(1);Célia Machado(1);José Lomelino Araú-
após várias infeções virais. Devido ao surgimento
jo(1)
recente do SARS-CoV2, a literatura sobre
(1) Hospital Beatriz Ângelo
complicações deste é ainda escassa, baseando-
Tema:Doenças infecciosas e parasitárias se para já na divulgação de casos clínicos com
achados atípicos como este.
Introdução: CO n.º 3053 
Síndrome nefrótico como sinal de tumor da prósta-
O surgimento duma nova infeção como a SARS- ta
-CoV2 origina uma nova panóplia de complicações Artur Costa(1);Clara Ferreira Jorge(1);Célia Tuna(1);-

92
COMUNICAÇÕES ORAIS
Sara Pires Ferreira(1);Ana Patrícia Silva(1);Carolina CO n.º 3060 
lã Belino(1);Céu Evangelista(1);Margarida Ascen- Pericardite aguda pós vacina mRNA contra a CO-
são(1) VID-19: a propósito de um caso clínico
(1) Centro Hospitalar Cova da Beira, EPE / Hospital Tiago Pina Cabral(1);Luciana Frade(1);Andreia Car-
Distrital da Covilhã nevale(1);Renato Guerreiro(1)
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE /
Tema:Doenças oncológicas Hospital de S. Francisco Xavier

Introdução: A síndrome nefrótica é uma entidade Tema:Doenças cardiovasculares


que, na sua presença, remete para o comprometi-
mento do glomérulo, podendo este ser o primeiro Introdução:  Em abril de 2020, o Comité de
sinal de patologias sistémicas variadas. Avaliação do Risco em Farmacovigilância da
Agência Europeia de Medicamentos iniciou a
Caso Clínico: Homem, 80 anos, internado para es- revisão de casos de miocardite e pericardite
tudo de quadro constitucional com 3 semanas de resultantes da vacinação contra a COVID-19. A
evolução caracterizado por mal-estar generalizado, maioria dos casos identificados foram entre jovens
astenia, anorexia, náuseas e vómitos alimentares do sexo masculino (menos 30 anos idade) com
ocasionais. Analiticamente destacava-se agrava- inicio de sintomas dias após a segunda dose. Gra-
mento da anemia, da função renal com agravamento vidade moderada e resolução em poucos dias. Até
da proteinúria e desenvolvimento de hiponatremia finais de maio de 2021 foram notificados 192 casos
hipoclorémica. Como antecedentes apresentava glo- de pericardite após administração da vacina contra
merulonefrite membranosa (GM) diagnosticada há 1 COVID-19. 
ano por síndrome nefrótico com hematoproteinúria,
confirmada em biópsia renal, com anticorpos anti- CASO CLÍNICO:  Mulher de 56 anos caucasia-
-recetores da fosfolipase A2 histologicamente, mas na com anemia diagnosticada na infância de etiolo-
sustentadamente negativos no soro, consumo de gia indeterminada e sem medicação de ambulató-
C3, anticorpos antinucleares (ANA´s) e anti-ds DNA rio. Negou hábitos tabágicos, etanólicos, consumo
positivos, tendo sido assumido o diagnóstico de ne- de drogas, alergias medicamentosas e anteceden-
frite lúpica classe V. À data foi excluído neoplasia tes familiares de relevo. Admitida no serviço de
oculta e atingimento de outros órgãos-alvo. Encon- urgência após início de dor torácica retrosternal,
trava-se sob seguimento em consultas de nefrolo- opressiva, sem irradiação, agravada com a inspi-
gia e sob imunossupressão com ciclosporina, com ração profunda e com o decúbito e cansaço para
resposta parcial no controlo da proteinuria e da sua médios esforços. Acrescia anorexia, perda ponderal
hipertensão. Na avaliação do quadro constitucional imotivada e calafrios. Início dois dias após vaci-
que motivou este último internamento, excluiu-se nação 1 toma da Comirnaty. À admissão no SU
infeção, realizado novo estudo imunológico e novo febril, TA 89/64mmHg, tosse seca e sensação de
despiste de neoplasia oculta. Do estudo realizado, opressão torácica. Auscultação cardio-pulmonar e
constatado a ausência de auto-anticorpos (ANA´s, restante exame objetivo sem alterações  Electro-
ANCA´s, ENA´s, anti-dsDNA e anticorpos anti-fos- cardiografia à admissão com alterações difusas da
folipidicos negativos) e aumento dos níveis de PSA repolarização ventricular (ondas T negativas de V1-
total num intervalo temporal de 1 ano, de 1,6 ng/mL V6). Analiticamente troponina T de 19ng/mL, CK de
para 9,84 ng/mL. Realizada ecografia prostática com 30U/L, PCR de 7mg/dL e VS de 101. Por D-dimeros
biópsia, diagnosticou-se adenocarcinoma acinar de 6634mg/dL e clínica respiratória foi realizada
da próstata de score de Gleason 7. Neste contexto, angio-TC revelou derrames pericárdico e pleural
após discussão do caso com nefrologista e urologis- bilateral. Ecocardiograma TT confirma derrame peri-
ta, assumiu-se GM secundária a neoplasia prostáti- cárdico. Internada para estudo. Investigação micro-
ca, suspendeu a imunossupressão e iniciou bicatu- biológica: hemoculturas, virologia (COVID Hepatite
lamida e leuprorrelina. Após 3 meses de terapêutica, B e C EBV CMV HIV) e painel de auto-imunidade
atingiu-se controlo tensional e da proteinúria. (ANA ANCA Anti-dsDNA Complemento ENAs) nega-
tivos. Excluidas neoplasias. Exames endoscópicos
Discussão: Neste caso realça-se a evolução dos e rastreios dos cancros mama e colo do útero
resultados dos meios complementares de diagnós- sem alterações.  Persistência de febre vespertina:
ticos num período temporal de 1 ano, que fez com realizada RM cardíaca. Revelou pericardite
que a abordagem inicial com imunossupressão favo- aguda. Foi iniciado AINE e colchicina. Apirexia man-
recesse, provavelmente, o crescimento da neoplasia tida com alta ao D12 de internamento.
prostática, com a sua posterior identificação como a
causa secundária para a GM. DISCUSSÃO:  Apesar da contínua e aprofundada
determinação de causalidade com as vacinas para

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 93


a prevenção de doença COVID-19, o caso clínico Entre as neoplasias que se apresentam com metas-
apresentado demonstra esta associação e neces- tização osteolítica e hipercalcemia maligna, as mais
sidade de alertar para esta entidade nosológica no prevalentes são mieloma múltiplo e carcinoma da
diagnóstico diferencial de pericardites. próstata, ambas pouco prováveis neste doente após
a marcha diagnóstica. Por outro lado, o estudo imu-
CO n.º 3065  nohistoquímico do tumor não revela marcadores de
Hipercalcemia maligna em neoplasia metastática carcinoma urotelial, não o podendo excluir pelas ca-
de primário oculto racterísticas pouco diferenciadas do carcinoma. Em
Catarina s Cortesao(1);Maria Carolina Carvalho(1);- conclusão não podemos afirmar qual o tumor primi-
João Soares Miranda(1);Andreia Curto(1);Catarina tivo, nem pela avaliação do doente nem pela avalia-
Pereira(1);Ricardo Paquete Oliveira(1);Tereza Patrí- ção anatomopatológica.
cia(1)
(1) Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca CO n.º 3080 
Uma listeriose inesperada
Tema:Doenças oncológicas Ana Raquel d. Neves(1);Ana Clara Vasconce-
los(1);Luís Santos(1);Francisco Carvalho(1);José
Neoplasia metastática com primário desconhecido, da Cunha Marques(1);João Rocha(1);Catarina
é uma entidade cuja incidência se estima estar em Elias(1);Mariana Lopes Matos(1);Sérgio Madurei-
declínio, pela melhoria nos tempos de atuação, na ra(1);Maria Helena Rocha(1);Rita Gouveia(1);Ester
avaliação clínica e métodos complementares de Ferreira(1);Jorge Almeida(1)
diagnóstico cada vez mais avançados. Muitos des- (1) Centro Hospitalar de S. João, EPE
tes diagnósticos são feitos por técnicas anatomo-
patologicas, e cerca de ¼ das neoplasias são pouco Tema:Doenças infecciosas e parasitárias
diferenciadas e perdem características identificado-
ras.  A  Listeria monocytogenes é um patogénio impor-
tante em indivíduos imunocomprometidos e nos
Os autores descrevem um caso clínico de um doente extremos de idades. As principais manifestações
cuja apresentação da doença neoplásica foi atípica clínicas incluem sobretudo invasão do sistema
e cujo resultado anatomopatológico não determinou nervoso central e bacterémia, no entanto, a apre-
o tumor primitivo.  sentação inicial pode ser muito diferente, levando a
dúvidas diagnósticas. 
Homem de 68 anos com hábitos tabágicos e alcoó-
licos recorre por diminuição súbita da força muscu- Apresentamos uma doente de 71 anos, com antece-
lar do membro inferior esquerdo e da sensibilidade dentes de pneumonite de hipersensibilidade crónica
táctil de ambos os membros inferiores, referiu perda com hipertensão pulmonar secundária, sob terapêu-
ponderal e ao exame clínico apresentou adenomega- tica com azatioprina e corticoterapia; e fibrilhação
lias indolores em posição supraclavicular esquerda.  auricular hipocoagulada com apixabano. Internada
por agravamento de insuficiência respiratória hipo-
Foi documentada anemia Hb 8,5g/dL, elevação de
xémica associada a quadro de prostração, confu-
parâmetros inflamatórios com leucocitose 21490ce-
são, astenia, anorexia, e mialgias generalizadas com
lls/uL, proteina C reativa 11,96mg/dL, lesão renal
cerca de uma semana de evolução. No terceiro dia
aguda com creatinina 2,06mg/dL, hipercalcemia gra-
de internamento, iniciou quadro de febre, associa-
ve 16,8 mg/dL e evidência imagiológica de lesões lí-
da a dor abdominal difusa e dejecções diarreicas.
ticas e conflito de espaço da raiz de L4 à esquerda e
Iniciou antibioterapia empírica, tendo desenvolvido
L5 bilateralmente. 
quadro de sépsis com disfunção neurológica, car-
No contexto de diagnóstico e estadiamento da even- diovascular, hematológica e renal. Em hemocultu-
tual neoplasia realizou tomografia computorizada ras, foi isolada Listeria monocytogenes. Assumiu-se
que revelou uma massa com 7cm de maior diâme- assim doença invasiva por Listeria, e iniciou antibio-
tro da parede vesical. As biópsias ganglionar e da terapia com ampicilina e gentamicina, com suspen-
massa pélvica revelaram carcinoma pavimentocelu- são de terapêutica imunossupressora (também pelo
lar pouco diferenciado com áreas de queratinização possível contributo para quadro de pancitopenia),
e necrose. O perfil imunohistoquímico detetado foi mantendo apenas corticoterapia em baixas doses.
p40+AE1/3+ e CK7,CK20,CD3,CD20,p16 e EBER ne- A doente evoluiu favoravelmente ao longo do inter-
gativo.  namento, com apirexia sustentada, normalização do
trânsito gastrointestinal e melhoria gradual do esta-
Apesar das melhores práticas, a situação do doente do confusional.
evoluiu rápida e desfavoravelmente com hipercalce-
mia refratária e sépsis de ponto de partida urinário.   A doença invasiva por Listeria acarreta um alto risco

94
COMUNICAÇÕES ORAIS
de mortalidade, sobretudo em doentes imunocom- Discussão: A DPA é um grupo de doenças cutâneas
prometidos, e a sua apresentação pode ser atípica, caracterizado por eliminação transepitelial de teci-
por vezes condicionando a escolha de terapêutica do conjuntivo dérmico. A patogénese é desconheci-
imunossupressora em vez de terapêutica antimi- da. Apesar de existir uma associação com diversas
crobiana. Assim, nestes doentes, a suspeita de um doenças, a DRC e a DM são as causas mais comuns.
quadro infeccioso subjacente é imperativa de forma O tratamento reside no controlo da doença de base e
a melhor adequar a terapêutica e melhorar o prog- no tratamento sintomático.
nóstico destes doentes.
CO n.º 3113 
CO n.º 3088  Infeção do SNC por um agente pouco comum
Eliminação transepitelial de tecido conjuntivo da Telmo Coelho(1);Maria Pacheco(2);Tiago Men-
derme – um caso de dermatose perfurante adquiri- des(3);João Valente(1);Pedro Caiano Gil(1)
da. (1) Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia / Espinho
Artur Costa(1);Clara Ferreira Jorge(1);Célia Tuna(1);- (2) Unidade Local da Guarda (3) Unidade Local de
Sara Pires Ferreira(1);Neide Pereira(1);Céu Evange- Saúde do Alto Minho, EPE / Hospital de Santa Luzia
lista(1);Margarida Ascensão(1)
(1) Centro Hospitalar Cova da Beira, EPE / Hospital Tema:Doenças infecciosas e parasitárias
Distrital da Covilhã
Introdução
Tema:Outro
A infecção por Streptococcus agalactiae é mais fre-
Introdução: A pele é o maior órgão do corpo huma- quente em doentes imunocomprometidos, com insu-
no, representando aproximadamente 15% do peso ficiência hepática ou renal. O atingimento do siste-
corporal total. Assim sendo, muitas doenças sisté- ma nervoso central (SNC) é muito raro e na literatura
micas apresentam manifestações cutâneas. existem apenas alguns casos descritos, maioritaria-
mente após instrumentação neurocirúrgica.
Caso Clínico: Homem, 86 anos, com antecedentes
de diabetes mellitus tipo 2 (DM) sob insulinoterapia, Caso Clínico
retinopatia diabética, doença renal crónica (DRC) no
Apresentamos o caso clínico de uma mulher de 66
estádio G3bA2 e enfarte do miocárdio com bypass
anos, com antecedentes de hipertensão arterial, dis-
coronário. Recorreu ao serviço de urgência por can-
lipidemia, excesso de peso e hiperuricemia, e hábitos
saço fácil, edemas dos membros inferiores, agrava-
etílicos de 50g/semana, que é trazida à Urgência por
mento da dispneia paroxística noturna e ortopneia
quadro de alteração do comportamento e desorien-
com 1 semana de evolução. Apresentava ainda pru-
tação desde o dia anterior. 
rido intenso generalizado, principalmente na região
nadegueira há cerca de 6 meses. Ao exame físico Ao exame objetivo encontrava-se desorientada no
apresentava sibilos dispersos e crepitação nas ba- espaço e tempo, com discurso desconexo mas sem
ses pulmonares, edemas simétricos com dermatite meningismo; de notar ainda dor abdominal difusa à
de estase nos membros inferiores e diversas pápulas palpação.
hiperpigmentadas eritematosas, algumas craterifor-
mes, pápulas ulceradas, pápulas umbilicadas com Do estudo realizado destacamos leucocitose
crosta central e lesões de coceira, predominantes (9470/uL) com neutrofilia (86%), elevação da PCR
na região nadegueira. Nos exames complementares (17.38mgdL). TC cerebral sem alterações agudas.
de diagnóstico salienta-se NT-proBNP de 9750 pg/ Realizada punção lombar que revelou líquor com
mL e creatinina de 2,11 mg/dL e na telerradiografia proteinorráquia (662.2mg/dL) e pleocitose (14 leu-
de tórax documentou-se apagamento dos ângulos cócitos, 50% polimorfonucleares).
costofrénicos. Foi internado com o diagnóstico de
insuficiência cardíaca congestiva e agudização de Foi iniciado tratamento empírico com Ceftriaxone,
DRC e foi considerada a hipótese de prurigo nodular Ampicilina e Aciclovir, com isolamento de Strepto-
ou dermatose perfurante adquirida (DPA).  Realizou coccus agalactiae tanto nas hemoculturas como no
biopsia cutânea sobre uma lesão papuliforme ulce- exame bacteriológico de líquor, e pesquisa de ente-
rada, que revelou a presença de fibras de colagénio, rovirus e herpesvirus negativa, pelo que foi dirigida
algumas fibras elásticas e hiperplasia de tipo reativo antibioterapia para Ampicilina.
na epiderme dos bordos da lesão ulcerada, compa-
Durante o internamento a doente apresentou queixas
tível com o diagnóstico de DPA. Iniciou anti-hista-
de diarreia e hematoquézias. A endoscopia digestiva
mínico e clobetasol tópico, ajustada a terapêutica
alta não apresentava alterações. Na colonoscopia
antidiabética e foi referenciado para a consulta de
foram identificadas úlceras de bordos irregulares no
nefrologia.
cólon sigmóide, de provável etiologia infecciosa es-
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 95
tabelecidas como ponto de partida para a bactere- agravando   tendo sido observado por Otorrinolarin-
mia e infecção do SNC. gologia que confirmou uma surdez neurossensorial
como complicação da bacteriemia.
A doente concluiu antibioterapia com Ampicilina,
evoluindo favoravelmente com resolução de quadro A infecção por Streptococcus suis é adquirida
confusional e regularização do trânsito intestinal. através da exposição a porcos ou carne de porco
contaminados, podendo os mesmos ser portadores
Discussão assintomáticos. Streptococcus suis (S. suis) pode
causar infeções graves em humanos, incluindo
Destacamos este caso clínico, não só pela raridade
meningite e bacteriemia, que pode complicar com
do atingimento do SNC em infeções por Streptococ-
surdez sendo irreversível tal como aconteceu no
cus agalactiae, mas também pela investigação etio-
caso dos nosso doente. A doença acima descrita
lógica que permitiu estabelecer o ponto de partida
foi contraída pelo doente no seu local de trabalho. A
da infeção.
situação clinica descrita mostra a reemergência de
CO n.º 3151  uma zoonose já conhecida nos porcos mas extre-
Streptococcus suis uma zoonose emergente em mamente perigosa para o ser humano.
seres humanos
CO n.º 3176 
Daniela Antunes(1);Cláudia Caseiro Antunes(1);Te-
Hemorragia digestiva baixa como manifestação
resa Bruno(1);Ana Margarida Arantes(1);Carolina
inicial de Mieloma Múltiplo
Roriz(1);Diana Vieira Castro(1);Joana Gonçalves(1);-
Mariana Lessa Simões(1);Nina Jancar(1);Filipa
Cátia Santos(1);Fernando Henriques(1);Luis Mar-
Sousa Gonçalves(1);José Fragoso Duro(1);Patrício
ques Pereira(1)
Aguiar(1);Paula Moura Dos Santos(1)
(1) Hospital Santo André - Leiria
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi-
Tema:Doenças infecciosas e parasitárias tal de Santa Maria

Tema:Doenças hematológicas
Apresenta-se o caso de um doente 48 anos, tra-
balhador num matadouro, com antecedentes de
Introdução
relevo: consumo de drogas (canábis) e fumador,  dá
entrada no Serviço de urgência por cefaleias ho-
locraniana lacinante sem fatores agravantes/ ali- O envolvimento gastro-intestinal (GI) no decurso do
viantes e vómitos de conteúdo alimentar. A nível de Mieloma Múltiplo (MM) e, particularmente, a hemor-
exame objetivo doente com Brudzinkski e Kernig ragia GI, como manifestação clínica inicial da doen-
positivo. Efetuado teste de drogas na urina sendo ça é extremamente raro.
positivo para canabinóides. Efetuou Tomografia
Caso Clínico
computorizada de crânio sem alterações, seguida
de punção lombar (PL) com saída de liquido turvo Homem de 71 anos, anticoagulado por fibrilhação
3520 células sendo 90% PMN, glicose 15 mg/dL, auricular, que recorreu ao SU por hematoquézias,
Proteínas Totais 5120.7 mg. Analiticamente doente tendo tido alta com diagnóstico de hemorróida in-
com leucócitos 37500 com 95% Polimorfonucleares terna. Voltou ao SU 6 dias depois, por hematoqué-
e Proteinas C reativa 143 mg/L. Iniciou terapêuti- zias, tenesmo, proctalgia fugaz, incontinência fecal,
ca empírica com ceftriaxona, ampicilina, aciclovir, diarreia e obstipação alternantes e dor abdominal,
dexametasona, tendo sido descalada para ceftria- apresentando mucosas descoradas e, ao toque rec-
xona e ampicilina após resultados de PL. O doente tal, tumefacção dura no canal anal e dedo de luva
evoluiu desfavoravelmente com dimuinuição do com sangue; a avaliação laboratorial revelou anemia
Glasgow (Glasgow de 6)  e necessidade de entuba- e lesão renal. Foi internado por suspeita de neoplasia
ção orotraqueal para protecção de via área. No líqui- colo-rectal, tendo realizado colonoscopia que eviden-
do cefalorraquidiano identificado cocos Gram posi- ciou lesão ulcerada acima da linha pectínea, que se
tivos Streptococcus suis multissensivel bem como biopsou. A TC de corpo mostrou volumosa lesão pré-
identificação do mesmo agente nas hemoculturas -sagrada com provável epicentro no recto e extensão
de sangue periférico.  Restante estudo etiológico à região ano-rectal, de contornos mal definidos, bem
negativo. como adenopatias ilíacas e retroperitoneais. Na ava-
liação laboratorial subsequente, a electroforese das
Nos cuidados intensivos evoluiu favoravelmente proteínas evidenciou 2 bandas em gama, com imu-
mas realizou ressonância magnética do crânio que nofixação sérica a mostrar componente monoclonal
mostrou trombose séptica como complicação, no IgA K, e β2 microglobulina elevada. O estudo anato-
entanto, aparentemente autolimitada. O doente de- mopatológico da lesão biopsada sugeriu etiologia
senvolveu quadro de hipoacusia bilateral que foi neoplásica mas com imunohistoquímica inconclu-

96
COMUNICAÇÕES ORAIS
siva, tendo-se biopsado de novo a lesão por ecoen- ria e proteína C reativa negativa. Realizou EEG que
doscopia baixa, cuja citologia e fenotipagem foram não apresentou alterações. ECG com taquicardia
compatíveis com infiltração por MM. O mielograma sinusal. Biomarcadores cardíacos sem elevação.
evidenciou 23% de plasmócitos clonais. Foi realiza- Realizada gasimetria arterial com pH 7,37, pCO2
da a pesquisa de lesões osteolíticas por radiografia 27,2 mmHg, pO2 95 mmHg, HCO3 16 mmol/L e lac-
do esqueleto  e documentada fractura recente das tatos séricos de 0,8 mg/dL. Calculado GAP aniónico
vértebras D5 e D6 por TC. Confirmado o diagnóstico de 23 mEq/L.
de MM e uma vez estadiado, foi instituída terapêuti-
ca segundo o Protocolo «BorDex». Foram então descartados através dos exames com-
plementares diagnósticos diferenciais de síndrome
Discussão coronário agudo, tromboembolismo pulmonar (D-Di-
meros negativos) ou infeção.
O plasmocitoma extra-medular secundário é um tu-
mor incomum, normalmente diagnosticado já em Face à acidose metabólica sem demais causas apa-
fase avançada de doença, que raramente envolve rentes, assumida cetoacidose diabética euglicémica
o tracto GI (10% dos casos), sendo o envolvimento em contexto de iSGLT2, tendo iniciado insulina em
ano-rectal ainda mais invulgar. Os sintomas de apre- perfusão, fluidoterapia e suspensão dos antidiabé-
sentação não diferem do adenocarcinoma (ADC) ticos orais. A doente apresentou melhoria clínica
colo-rectal. Salienta-se a raridade do caso e a impor- com resolução da agitação, normalização do perfil
tância de se incluir no diagnóstico diferencial do ADC tensional, do gap aniónico e da cetonúria.
colo-rectal.
Neste caso, realça-se a importância do gap anióni-
CO n.º 3204  co, permitindo o reconhecimento de uma acidose
Cetoacidose diabética euglicémica - um novo desa- metabólica sem acidemia, que associado à presen-
fio diagnóstico ça de cetonúria e exclusão de outros diagnósticos,
Pedro Magalhães(1);Rafaela Veríssimo(1);Leonor confirmou a presença de uma CADE causada pela
Silva(1) dapaglifozina.
(1) Centro Hospitalar Gaia e Espinho
INDÍCE DE CASUÍSTICAS / INVESTIGA-
Tema:Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio- ÇÃO
nais CO0006 - App Score Alfaiate – criação de um score de
complexidade clínica centrado no doente
As cetoacidoses diabéticas (CAD) são uma compli- CO0020 - Mechanical insufflation-exsufflation device
cação grave da Diabetes Mellitus (DM). Nos últimos
use in internal medicine wards
anos, face à introdução dos inibidores SGLT2 (IS-
CO0022 - Gravidez e doença autoimunidade: a realidade
GLT2), uma entidade raramente vista emerge agora
como possível complicação, a CAD euglicémica de um centro durante 10 anos de seguimento
(CADE). Este caso visa demonstrar as dificuldades CO0095 - Pneumomediastino em doentes com CO-
no diagnóstico destes casos e a sua abordagem. VID-19: série de casos
CO0138 - PROGNÓSTICO DA PNEUMONIA POR SARS-
Mulher, 62 anos, previamente autónoma, com ante- -COV-2 NO DOENTE ONCOLÓGICO
cedentes de hipertensão arterial e DM tipo 2, medi- CO0198 - R2-CHADS2 como preditor de mortalidade
cada em ambulatório com dapaglifozina/metformi- intra-hospitalar e reinternamento
na 5/1.000 mg bid e ramipril 5mg id. Internada após CO0220 - LRA clinicamente significativa em doentes
AVC isquémico extenso (TACI) esquerdo com hemi-
submetidos a AngioTC cerebral emergente
paresia direita, afasia e disfagia sequelares. Durante
a reabilitação, reintroduzidos antidiabéticos orais de CO0227 - COVID-19: epidemias da pandemia
ambulatório e 4 dias após observado episódio ini- CO0361 - Morbilidade associada a infeção por SARS-
cial de agitação. Ao exame objetivo sem novos défi- -CoV2 numa enfermaria “modificada”
ces neurológicos, desidratada, frequência de pulso CO0374 - IMPORTÂNCIA DE UNIDADES DE CUIDADOS
120 bpm, regular e hipotensa (95/45 mmHg), sem INTERMÉDIOS DE PROXIMIDADE NA GESTÃO DO DOEN-
febre, taquipneica, sem dessaturação periférica, TE COM COVID-19
auscultação cardiopulmonar normal. Sem queixas
CO0385 - Miopericardite aguda – casuística de um
álgicas localizáveis. Sem edema periférico.
serviço
Dos métodos complementares de diagnóstico, sa- CO0443 - Ressonância magnética cardíaca na miocardi-
lienta-se um hemograma normal, normoglicemia te aguda – uma série de 89 casos
126 mg/dL, função renal normal, sem distúrbios CO0481 - Impacto da pandemia COVID-19 num serviço
iónicos, sumário de urina com glicosúria e cetonú-

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 97


de Medicina Interna CO1177 - Limitação funcional nos doentes com Doença
CO0486 - RASTREIO DE COLONIZAÇÃO POR MRSA NUM Hepática Avançada–necessidade paliativa a não desme-
DIA DE INTERNAMENTO DE MEDICINA INTERNA recer!
CO0497 - Poderá a diabetes e o mau controlo metabóli- CO1189 - COVID-19-associated coagulopathy and
co prever um mau prognóstico nos doentes com CO- thrombosis: a review
VID-19? CO1202 - Score AVD-DezIs em doentes com Insuficiên-
CO0570 - Impacto da pandemia COVID-19 na formação cia Cardíaca: preditor de outcomes clinicos?
médica portuguesa CO1212 - O impacto da coinfecção bacteriana respirató-
CO0576 - EuCAD – Optimização do Diagnóstico de Ceto- ria em doentes com COVID-19
acidose Diabética Euglicémica CO1213 - Consulta de Tromboembolismo venoso - a ex-
CO0616 - TROMBOEMBOLISMO VENOSO NOS DOENTES periência de uma consulta dedicada de Medicina Interna
INTERNADOS COM COVID-19 CO1215 - Prescrição inapropriada de inibidores da bom-
CO0620 - Impacto da atuação da Medicina Interna num ba de protões num Serviço de Medicina Interna
Serviço de Ortopedia: Sete meses de experiência CO1231 - Tromboembolismo venoso em tempos de
CO0649 - Unidades de Ambulatório na Medicina Interna pandemia
- uma oportunidade única de integração de Cuidados CO1242 - A adesão terapêutica e as crenças relacio-
CO0684 - Mortalidade nas enfermarias de Medicina nadas com os fármacos em doentes com insuficiência
Interna não dedicadas à COVID-19 cardíaca
CO0752 - ANTICOAGULAÇÃO PROFILÁTICA: SIM OU CO1285 - Trombembolismo Pulmonar e mortalidade em
NÃO? enfermaria COVID-19: Oncológicos versus não oncoló-
CO0754 - Sindrome de Guillain-Barre: Experiência num gicos
hospital distrital CO1293 - Impacto das comorbilidades numa Unidade de
CO0849 - Estudo de caso: Avaliação das necessidades Hospitalização Domiciliariária - um estudo transversal
paliativas num serviço de Medicina Interna CO1303 - INFEÇÕES A LISTERIA: UMA ANÁLISE DE 8
CO0869 - Análise comparativa de meios diagnósticos na ANOS
miocardite aguda - um estudo de coorte CO1349 - COVID ou NÃO - EIS A QUESTÃO
CO0872 - Caracterização dos utentes com Síndrome CO1354 - INFEÇÃO COVID 19 ASSINTOMÁTICA – MITO
Metabólica da consulta de Diabetes Mellitus OU REALIDADE?
CO0874 - Caracterização dos utentes do Hospital de Dia CO1356 - A COVID 19 NOS COLABORADORES UM HOS-
de Medicina Interna durante um ano. PITAL “NÃO COVID”
CO0891 - Bacteriémia a Proteus mirabilis: caracteriza- CO1380 - Ventilação Não invasiva em doentes com
ção e fatores preditores de prognóstico infecção SARS-CoV-2 – Experiência de um Serviço de
CO0916 - A associação do Rituximab e doença pulmonar Urgência
intersticial – revisão de dois casos clínicos. CO1422 - Abordagem do Síndrome Confusional Agudo
CO0917 - O impacto do internamento de Medicina Inter- na enfermaria de Medicina Interna
na no estado funcional e social do idoso CO1423 - Impacto do confinamento na gravidade e mor-
CO0927 - Internamentos por Síndromes Hiperglicémicos talidade dos doentes admitidos na urgência
– comparação entre 2020 e 2019. CO1449 - Avaliação de fatores de corticorresistência no
CO0970 - NEM TUDO É COVID: A IMPORTÂNCIA DA RE- tratamento da Púrpura Trombocitopénica Imune
FERENCIAÇÃO AOS CUIDADOS PALIATIVOS MESMO EM CO1471 - Tratamento da Hiperuricemia Assintomática
ÉPOCA DE PANDEMIA CO1472 - O fim de vida num Serviço de Medicina Interna
CO1004 - Interações farmacológicas em doentes inter- CO1515 - Análise descritiva das tromboembolias pulmo-
nados em Medicina Interna - uma realidade a mudar. nares em doentes COVID-19 em Serviços de Medicina
CO1061 - CARATERÍSTICAS DE UMA UNIDADE DE HOS- Interna
PITALIZAÇÃO DOMICILIÁRIA (UHD) DE UM HOSPITAL CO1559 - Impacto da doença hepática crónica enquanto
DE TERCEIRO NÍVEL comorbilidade num Serviço de Medicina Interna
CO1092 - Prediction of 30-day readmission among a CO1572 - Helmet-CPAP em doentes COVID-19 tratados
cohort of patients with heart failure - a prediction score. exclusivamente em enfermaria
CO1145 - Hemofagocitose na medula óssea: significado CO1577 - Descompensação metabólica nas doenças
clínico e prognóstico numa população adulta hereditárias do metabolismo - Experiência de um centro
CO1168 - STROKE MIMICS NUMA UNIDADE DE AVC CO1603 - Análise da Recuperação Funcional de Doentes

98
COMUNICAÇÕES ORAIS
Referenciados a Unidades de Reabilitação miciliária
CO1609 - PORTRAIT-AF: Portuguese Observational CO2206 - COVID 19 e dislipidemia: papel do perfil lipídi-
ReTrosp. Analysis of Inpatient Anticoagulation Therapies co nos outcomes da infeção por SARS-CoV2
in AF CO2211 - Tromboprofilaxia em Doentes Terminais - Uma
CO1651 - Pandemia COVID-19: impacto na mortalidade Necessidade?
intra-hospitalar em doentes sem infeção por SARS- CO2297 - Referenciação para a Rede Nacional de Cuida-
-CoV-2. dos Continuados Integrados: a experiência num hospital
CO1658 - Estudo de prevalência de disfagia em doentes CO2304 - Efeito dos inibidores da SGLT2 na Insuficiên-
internados num Departamento de Medicina Interna cia Cardíaca: um estudo observacional
CO1677 - Transferências Inter-Hospitalares em época CO2341 - Patologia pulmonar crónica e COVID-19: o
de Pandemia papel da comorbilidade e da terapêutica prévia
CO1691 - Fibrilhação Auricular na Disfunção Renal CO2347 - “COVID-19 e Geriatria numa enfermaria do
CO1751 - Patirómero – os nossos primeiros doentes na Serviço de Medicina Interna.”
vida real CO2404 - Doença de Behçet: caracterização de uma
CO1768 - Lesão renal aguda e o risco de hipoglicemia série de casos da consulta de Doenças Autoimunes
em doentes diabéticos internados Sistémicas
CO1801 - ANÁLISE DE PNEUMONIAS BACTERIANAS EM CO2410 - Arterite de células gigantes - Casuística de 10
ÉPOCA DE PANDEMIA VÍRICA anos de um hospital central
CO1804 - Otimização de cuidados em enfermaria CO- CO2428 - Resultados de doentes com pneumonia a
VID-19 e a transição digital SARS-CoV-2 tratados com VNI consoante a indicação
CO1844 - Coexistence of Hypothyroidism and Primary para VMI
Sjogren’s syndrome CO2442 - Pneumomediastino como Complicação In-
CO1868 - A ESPIRITUALIDADE EM CUIDADOS PALIA- comum de Pneumonia COVID-19: uma série de casos
TIVOS NA VISÃO DO ESTUDANTE DE MEDICINA DO clínicos
SÉCULO XXI CO2462 - Os primeiros 20 meses de uma Unidade de
CO1908 - A Pergunta Surpresa: identificação de neces- Hospitalização Domiciliária
sidades paliativas na enfermaria de Medicina Interna CO2479 - Sobreinfeção em doentes internados por
CO1924 - Decisão de Não Reanimação (DNR): qual a SARS-Cov2
interpretação dos profissionais de saúde CO2517 - Investigação Etiológica do Acidente Vascu-
CO1948 - Avaliação da utilização de carbapenemos lar Cerebral Isquémico numa Enfermaria de Medicina
numserviço de medicina. Interna
CO1950 - Impacto da pandemia COVID 19 nos outcomes CO2587 - Evolução do doente com decisão de limitação
do AVC isquémico agudo terapêutica: qual a utilidade dos scores de prognóstico?
CO2021 - Quo Vadis Internista CO2600 - Doença Pulmonar Prévia enquanto preditor na
CO2029 - Controlo glicémico com antidiabéticos orais mortalidade por Infeção SARS-CoV 2
em doentes hospitalizados não-críticos CO2653 - Síndrome antifosfolipídica: amostra de uma
CO2031 - Necessidades paliativas numa unidade de in- Consulta de Doenças Autoimunes
ternamento de Medicina Interna de um hospital terciário CO2699 - Uso de antibioterapia em doentes em fim de
CO2057 - Redução de eventos major por uma Clínica de vida numa enfermaria de Medicina Interna
Insuficiência Cardíaca: um ideal tornado realidade CO2733 - A Hospitalização Domiciliária na pandemia
CO2073 - Doentes cirúrgicos numa Unidade de Cuidados Covid19
Intermédios Médicos: uma mudança de paradigma. CO2759 - POCUS na abordagem da COVID-19
CO2089 - O papel da farmacogenómica nos cuidados CO2816 - Ventilação não-invasiva na COVID-19: avalia-
paliativos ção de fatores de risco para falência da VNI na CO-
CO2101 - Impacto de 14 anos de formação em Cuidados VID-19
Paliativos num Serviço Medicina Interna CO2843 - Advanced heart failure: what have we learned
CO2134 - Hiperferritinemia – análise de uma coorte de from a decade of experience?
100 doentes CO2846 - Principais causas de mortalidade em Portugal:
CO2194 - Monitorização flash – satisfação, conveniên- o interesse da população - um estudo longitudinal
cia e flexibilidade na gestão do dia a dia. CO2913 - Implementação protocolo de terapêutica inala-
CO2200 - Um ano de COVID-19 em Hospitalização Do- tória na Era pré-COVID19 – uma preparação inesperada

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 99


CO2916 - Impacto da IC na prevalência de TEV nos do- do aumento da produção, com tempos reduzidos
entes internados por COVID-19 para a consulta e uma crescente sobreposição de
tarefas, contribuíram para aumentar o burnout entre
CO2961 - Triagem telefónica pré-hospitalar: avaliação
os profissionais e diminuir a qualidade do sistema
do impacto na gestão dos serviços de saúde de saúde como um todo. A heterogeneidade subja-
CO2966 - Infeção por SARS-CoV-2 para além do pulmão cente de muitas fisiopatologias deve ser persona-
CO2981 - Impacto da dose de anticoagulação nos doen- lizada à capacidade fisiológica, comportamental e
ambiental únicas da pessoa. O conceito de Com-
tes com COVID19
plexidade Clínica (CC) deve ter em conta as patolo-
CO2999 - Impacto da pandemia COVID19 nos doentes gias ou problemas do paciente, e englobá-las neste
não-COVID: há diferenças na mortalidade? como um todo. Os tempos alocados a determinado
CO3011 - ANÁLISE DOS DOENTES ADMITIDOS NUMA paciente devem abranger determinados fatores
como a experiência profissional; o tipo de consulta
UNIDADE DE HOSPITALIZAÇÃO DOMICILIÁRIA DIRETA-
ou a realização de procedimentos próprios; a co-
MENTE DA URGÊNCIA lheita e análise da história clínica; o exame físico;
CO3019 - Health-related quality of life of COVID-19 pa- a explicação da situação clínica, das propostas de
tients three months after hospital discharge exames auxiliares de diagnóstico e da terapêutica; a
utilização dos sistemas informáticos; a necessidade
CO3049 - PATOLOGIA INFECIOSA NUMA UNIDADE DE de realizar relatórios ou outros documentos.  Torna-
HOSPITALIZAÇÃO DOMICILIÁRIA -se necessária estabelecer de forma mensurável e
CO3081 - Persistent symptoms in patients with CO- objetiva a CC que subjaz a cada pessoa.
VID-19 after hospitalization
Objetivo: O objetivo é criar um score de CC que
CO3094 - Prevalência e outcomes da hipoxemia silen- possa ser aplicado a cada utente e relacioná-lo com
ciosa na COVID19 o tempo investido pelo profissional de saúde para
CO3119 - Obesidade e COVID19, duas pandemias com fomentar mudanças de políticas em saúde.
mau outcome Material e Métodos: Foi elaborada uma pesquisa
CO3142 - Doutor, posso ter alta? – consulta de reavalia- em bases de dados relevantes (PubMed, EMBASE
ção após urgência como estratégia para alta precoce e Google Scholar) para investigar como a comple-
xidade do paciente é atualmente avaliada. Foram
CO3172 - Dados acerca da utilização de Remdesivir num
identificadas quatro escalas A APP Score Alfaiate
hospital terciário português. foi desenvolvida com base nas quatro escalas iden-
CO3173 - O CT faz diferença? tificadas que avaliam de uma forma sistemática a
CO3180 - HOSPITALIZAÇÃO DOMICILIÁRIA: UM ANO DA complexidade do doente: INTERMED, Oxford Case
Complexity Assessment Measure, Patient Centred
PRIMEIRA UNIDADE NO SISTEMA DE SAÚDE PRIVADO Assessment Method e Level of Care Utilisation Sys-
EM PORTUGAL tem.
CO3206 - Médicos em ERPI - Uma necessidade presente
Resultados: A versão atual da aplicação será
e futura lançada e poderá ser feito o download gratuito na
CO3227 - Risco tromboembólico nos doentes com CO- App Store e Google Play Store. É única aplicação
VID19 existente baseada em evidência que procura apri-
CO3241 - Síndromes Autoinflamatórios no Adulto: morar a definição de CC e unificar todos os fatores
condicionantes à gestão de cada paciente.
Caracterização de uma Coorte em Adultos num Centro
Terciário Conclusões: Espera-se que a avaliação da CC possa
CO3242 - Atividade e Remissão no Lúpus Eritematoso ajudar na programação do atendimento e gestão
do paciente, adaptando e personalizando soluções
Sistémico – Estudo Transversal num Centro Terciário de tempo e esforços alocados, e assim, aumentar a
satisfação de todos os intervenientes no processo
COMUNICAÇÕES ORAIS - CASUÍSTICAS de tratamentos e cuidados, reduzir custos, e
/ INVESTIGAÇÃO aumentar ganhos em saúde.
CO n.º 0006  CO n.º 0020 
App Score Alfaiate – criação de um score de com- Mechanical insufflation-exsufflation device use in
plexidade clínica centrado no doente internal medicine wards
José Pedro Vale(1) Joana Filipa de Azevedo Carvalho(1);Leonor Boavi-
(1) ACES Cascais da(1);Marta Amaral(1);José Delgado Alves(1)
(1) Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca
Tema: Organização, gestão e qualidade de serviços
de saúde Tema: Doenças respiratórias

Introdução: As exigências impostas pelas Cough is an important physiological reflex. Ineffi-


administrações, ao nível das condições de trabalho, cient cough can lead to retained secretions, atelec-

100
COMUNICAÇÕES ORAIS
tasis, infection, and, eventually, irreversible airway seguidas em consulta de Obstetrícia e Medicina In-
and parenchymal lung damage. Respiratory muscle terna/DAI num hospital, entre 2010 e 2019, com diag-
strength decreases in the elderly due to muscle nóstico confirmado ou provável de DAI. As doentes
fiber atrophy and sarcopenia. The mechanical in- foram agrupadas em grandes grupos de patologia
sufflation-exsufflation (MI-E) device uses a 2-stage autoimune (conectivite, artropatia autoimune (AA)
centrifugal blower that applies positive pressure fol- e vasculite sistémica) e nos grupos de diagnóstico
lowed by negative pressure, producing high expira- mais prevalentes encontrados (Lupus Eritematoso
tory flow from the lungs which improves the efficacy Sistémico (LES) com ou sem Síndrome do Anticor-
of cough. Our main goal is to characterize the pop- po Antifosfolipídeo (SAAF), Doença de Behçet (DB),
ulation admitted in an internal medicine ward that Tiroidite de Hashimoto (TH) e outras DAI de órgão).
were exposed to MI-E device. Os dados foram obtidos através do processo clínico
das doentes e foram compilados em formato de Mi-
A retrospective analysis of patients exposed to MI-E crosoft Excel. A análise estatística realizou-se com
device during hospital admission between January recurso ao programa Statistical Package for the So-
2016 to December 2018 was done. cial Sciense (SPSS), versão 26. O estudo foi aprova-
do pela Comissão de Ética do respectivo hospital.
We included 67 patients with a mean age of 71,1±13.5
years, mostly man (74.6%). About 41.8% had a Karn- Resultados: Foram analisadas 177 doentes. Na clas-
ofsky score lower than 40. The mean Charlson score sificação em grandes grupos de patologia autoimu-
was 5 (3-6.5) and the main comorbidity was heart fail- ne cerca de 7% das conectivites tiveram restrição
ure [35.8% (n=24)]. The prevalence of neuromuscular de crescimento fetal (RCF), 13,2% tiveram parto pré-
diseases and chronic obstructive pulmonary disease -termo (PPT) e 8,6% tiveram abortamento. Nas AA,
were 19,4% (n=13) and 22,4% (n=15), respectively. 7,7% apresentaram PPT e 7,1% abortamento. Nas
Respiratory infection was present in 85% (n=57) of vasculites, 4,3% tiveram RCF e PPT, e 4,2% tiveram
the patients. The use of MI-E device was associated abortamento. Relativamente aos grupos de diagnós-
with a tendency for better oxygenation after the 3rd tico mais prevalentes, 50% das grávidas com LES
and 7th days of treatment and C-reactive protein de- apresentaram pelo menos uma complicação na gra-
creased significantly on the 3rd day (p<0.001). Only videz, registando a maior ocorrência de RCF(11,1%),
one major complication (pneumomediastinum) was abortamentos (18,2%) e baixo peso ao nascimento
reported. (27,8%). Verificaram-se mais RCF e PPT nas grávidas
com LES que reduziram ou aumentaram a carga imu-
In internal medicine wards, MI-E device is mostly nossupressora. Das grávidas com DB, 6,3% tiveram
used in frail patients with respiratory infections. More PPT e 5,9% abortamento; das com TH, 23,7% tiveram
powerful and robust studies are needed in this field in PPT e 71,4% abortamento prévio. Cerca de 20% das
order to demonstrate a decrease morbidity and dura- TH com anti-tiroperoxidase positivo tiveram RCF e
tion of hospital admission. PPT, não se registando abortamento em nenhuma,
independentemente do valor do anticorpo. Cerca de
CO n.º 0022  1/3 das grávidas em cada grupo teve parto por cesa-
Gravidez e doença autoimunidade: a realidade de riana. A presença de anticorpos anti-SSA/Ro ou anti-
um centro durante 10 anos de seguimento -SSB/La nas conectivites predispõe a malformações
Ana sá(1);Pedro Rocha(2);Narciso Oliveira(1);Carlos cardíacas nos recém-nascidos (p=0,012).
Capela(1)
(1) Hospital de Braga (2) Escola de Medicina da Uni- Conclusões: Existe uma maior proporção de compli-
versidade do Minho cações nas conectivites comparativamente com AA
e vasculites. Doentes com LES e TH tiveram piores
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e desfechos obstétricos e neonatais do que doentes
vasculites com DB ou outras DAI de órgão.
CO n.º 0095 
Introdução: As doenças autoimunes (DAI) são, na Pneumomediastino em doentes com COVID-19:
sua globalidade, mais comuns em mulheres em série de casos
idade fértil. Como tal, a ocorrência de uma gravidez Ana sá(1);Ana Margarida Mosca(1);Elisa Conde-
torna-se um momento de acrescida preocupação, z(1);Vanessa Palha(1);Joana Sotto Mayor(1);Teresa
dado o risco de desfechos obstétricos e neonatais Pimentel(1);Narciso Oliveira(1);Cláudia Carva-
adversos. Segundo a literatura, a atividade da doen- lho(1);Alexandre Carvalho(1);António Oliveira e Sil-
ça, a presença de autoanticorpos e o tratamento va(1)
imunossupressor são alguns dos fatores mais asso- (1) Hospital de Braga
ciados às complicações gestacionais.
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
Objectivo: Analisar os desfechos obstétricos e neo-
natais em mulheres com DAI e avaliar os principais Introdução: O pneumomediastino espontâneo é
fatores que condicionam pior prognóstico. uma condição rara e ocorre geralmente em doentes
fumadores, com patologia pulmonar subjacente, in-
Material e Métodos: Realizou-se um estudo obser- fecções ou submetidos a ventilação mecânica. Sen-
vacional retrospetivo, que incluiu todas as mulheres do incomum em pneumonias víricas, poucos são os

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 101


casos reportados em doentes com COVID-19, com (1) IPO Coimbra (2) Centro Hospitalar e Universitário
uma prevalência estimada de 1% em estudos epide- de Coimbra, EPE / Hospital Geral
miológicos recentes. O mecanismo fisiopatológico
ainda não se encontra bem esclarecido, mas pen- Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
sa-se que a lesão intersticial heterogénea no parên-
quima pulmonar causada pelo vírus, a degradação Introdução: Apesar do efeito trópico sobre o epitélio
das membranas alveolares pelo SARS-CoV-2 e o pulmonar do SARS-CoV-2, a evolução desfavorável
aumento (ainda que ligeiro) da pressão alveolar pre- da COVID-19 relaciona-se com a intensa reação
disponham à rutura do alvéolo e consequentemente inflamatória sistémica e potencial falência multior-
ao pneumomediastino. Apesar de na maioria dos gânica. Isto justifica a associação encontrada por
casos ser autolimitado com tratamento de suporte, múltiplos estudos entre a evolução desfavorável
os doentes devem ser monitorizados pelas possí- da pneumonia por SARS-CoV-2 e outras comorbili-
veis complicações circulatórias e respiratórias. dades como a diabetes, hipertensão, doenças car-
díacas e respiratórias crónicas. Do mesmo modo,
Objectivo: Analisar a prevalência de pneumomedias- estudos mais recentes afirmam uma relação seme-
tinos em doentes com COVID-19, bem como determi- lhante entre a COVID-19 e a doença oncológica.
nar possíveis factores predisponentes.
Objetivos: Através deste estudo retrospetivo, preten-
Material e Métodos: Realizou-se um estudo obser- de-se inferir acerca da validade da doença oncoló-
vacional retrospetivo, que incluiu os doentes inter- gica como fator de mau prognóstico na pneumonia
nados com COVID-19 numa unidade de cuidados in- por SARS-CoV-2, bem como comparar os biomarca-
termédios hospitalar, no período de Setembro 2020 dores preditores de mau prognóstico da COVID-19
a Janeiro 2021. Os dados foram obtidos através do entre doentes com e sem doença oncológica.
processo clínico dos doentes e foram compilados e
analisados em Microsoft Excel. Materiais e Métodos: Foram recolhidos os dados do
processo clínico eletrónico dos doentes internados
Resultados: Na totalidade de 357 doentes interna- em enfermarias de medicina interna dedicadas ao
dos, detectaram-se 6 (1,7%) pneumomediastinos. tratamento da COVID-19, com diagnóstico de pneu-
Estes doentes apresentavam uma idade média de monia por SARS-CoV-2 adquirida na comunidade,
64,5 anos (mínimo 47; máximo 84), sendo 1 doente com alta entre 17 de março e 31 de maio de 2020,
do sexo feminino e 5 do sexo masculino. Um doen- relativos a informações demográficas, estado e tipo
te não apresentava comorbilidades; dos restantes, 4 de doença oncológica e parâmetros analíticos.  A in-
tinham HTA, 3 dislipidemia e 1 obesidade. Nenhum formação foi analisada recorrendo ao IBM SPSS ®
apresentava patologia pulmonar prévia ou hábitos Satistics.
tabágicos. Um doente apresentou como sintomato-
logia desconforto torácico, odinofagia e enfisema Resultados: Dos 96 doentes que foram incluídos no
subcutâneo, enquanto nos restantes o pneumome- estudo com idade média 74,21 (DP 14,025) e igual
diastino foi um achado na TC-tórax de reavaliação. percentagem de ambos os sexos, apenas 20 (21%)
Dos doentes com pneumomediastino, 5  estiveram apresentavam doença oncológica (ativa ou passa-
sob ventilação mecânica - dos quais 4 ventilação da), dos quais apenas 5 apresentavam doença clas-
não-invasiva (3 V60; 1 Trilogy) e 1 ventilação invasiva sificável como ativa (sob tratamento ou sem trata-
- e 1  esteve sob oxigenoterapia nasal de alto fluxo. mento/tratamento paliativo).  Não foram observadas
Todos os doentes evoluíram favoravelmente, apenas diferenças estatisticamente significativas no que
com tratamento conservador e de suporte.  respeita à percentagem de eventos adversos (mor-
te ou admissão a Unidade de Cuidados Intensivos)
Conclusões: É bem documentada a associação entre entre o grupo de doentes com e sem doença oncoló-
pneumomediastino e barotrauma relacionado com gica (X2(1,N=96)=0.144, p=.704), bem como nas cur-
ventilação mecânica. No entanto, é rara a sua ocor- vas de sobrevivência (X2(1) = .310, p=.578), mesmo
rência em doentes com oxigenoterapia nasal de alto restringindo ao primeiro grupo apenas os doentes
fluxo ou sem necessidade de oxigenoterapia. Estes com doença ativa (Teste Exato de Fisher p>.05), ape-
factos são corroborados pelos dados deste estudo, sar de a distribuição etária (t (94) = 1.109, p=.270), de
onde o pneumomediastino foi mais prevalente em sexo (X2(1,N=96)=0.253, p=.615) e de comorbilida-
doentes sob pressão ventilatória positiva. Possíveis des ser homogénea entre os grupos. Adicionalmen-
factores que podem ter contribuído para a ocorrência te, não foram encontradas entre ambos diferenças
de pneumomediastino em doentes sem ventilação estatisticamente significativas nos valores labora-
mecânica são a tosse exuberante, o intenso esforço toriais médios mais elevados de creatinina (n=96,
respiratório, atelectasias e alterações parenquimato- U=756.0, p=.971), tempo de protrombina (n=64,
sas heterogéneas provocadas pelo SARS-CoV-2. U=371.0 p=.733), lactato desidrogenase (n=87,
CO n.º 0138  U=532.5, p=.244), procalcitonina (n=58, U=298.5;
PROGNÓSTICO DA PNEUMONIA POR SARS-COV-2 p=.670) e D-dímeros (n=46, U=171.0, p=.913). Con-
NO DOENTE ONCOLÓGICO tudo, na população total, os doentes com maior taxa
Ricardo Roque(1);Inês Gomes(1);Ana Rita Rama- de eventos adversos tinham idades mais avançadas
lho(2);Luís Santos(1);Teresa Fraga(1);Pedro Ribei- (t (94)=2.964, p=.004), sofriam em maior percenta-
ro(2);Pereira de Moura(2);Armando de Carvalho(2) gem de doença cardíaca crónica (X2(1,N=96)=6.80,

102
COMUNICAÇÕES ORAIS
p=.009) e apresentavam valores médios mais eleva- renal crónica (37%), diabetes mellitus (32%) e doen-
dos de Creatinina (U=757.0, p=.005), procalcitonina ça cerebrovascular (24%). 96 (28%) doentes tinham
(U=230.0, p=.005) e D-dímeros (U=152.5, p=.032). história conhecida de FA.
Conclusão: Apesar do espectável, os nossos resulta- O score R2-CHADS2 foi significativamente mais ele-
dos não mostraram uma associação entre a presen- vado nos doentes que faleceram durante o inter-
ça de doença oncológica e a evolução desfavorável namento (p=0.001). Analisando a curva ROC para
da pneumonia por SARS-CoV-2.  Contudo, o estudo o endpoint primário, o score apresentou um poder
engloba doentes maioritariamente idosos, com bai- discriminativo razoável (IC 95% AUC: 0.628 [0.548-
xa representatividade de casos de doença oncológi- 0.708], p=0.002), e o ponto de corte mais adequado
ca ativa e de valores analíticos específicos, pelo que foi R2-CHADS2 ≥ 4. Um score superior ou igual a 4 foi
beneficiaria primariamente de uma expansão amos- preditor de mortalidade intra-hospitalar (IC 95% OR:
tral e da aplicação de uma avaliação bioquímica pro- 3.05 [1.66-5.63], p<0.001). No subgrupo de doentes
tocolada.  internados por causas respiratórias ou cardiovascu-
lares, esta associação foi ainda mais forte (IC 95%
CO n.º 0198  OR: 5.70 [2.60-12.47], p<0.001). A capacidade de pre-
R2-CHADS2 como preditor de mortalidade intra- dição de mortalidade manteve-se independentemen-
-hospitalar e reinternamento te da presença de FA. Um score superior ou igual a
Daniel a. Gomes(1);Marta Maio(2);Mariana Sousa 4 foi ainda preditor de reinternamento a 30 dias (IC
Paiva(1);Mariana Constante(2);Isabel Madruga(2);- 95% OR: 2.19 [1.02-4.70], p=0.045).
João Lopes Delgado(2)
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE / CONCLUSÃO:
Hospital de Santa Cruz (2) Centro Hospitalar de Lis-
boa Ocidental, EPE / Hospital Egas Moniz O R2-CHADS2 é preditor de mortalidade intra-hospi-
talar por todas as causas numa população de doen-
Tema: Doenças cardiovasculares tes admitidos num serviço de Medicina Interna, bem
como de reinternamento a 30 dias. Este score, fácil
Introdução: de aplicar, pode constituir uma ferramenta prognós-
tica relevante nestes doentes.

O score R2-CHADS2 (disfunção renal, insuficiência CO n.º 0220 


cardíaca congestiva, hipertensão, idade superior ou LRA clinicamente significativa em doentes subme-
igual a 75 anos, diabetes e doença cerebrovascular) tidos a AngioTC cerebral emergente
foi inicialmente desenvolvido como um preditor de Mariana Barosa(1);Francisco Faustino(1);Tiago Bar-
eventos tromboembólicos em doentes com fibrilha- roso(1);Joana Caetano(1);Ricardo Marques(1);José
ção auricular (FA). Estudos prévios demonstraram a Delgado Aves(1)
associação entre o R2-CHADS2 e outcomes em doen- (1) Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca
tes com insuficiência cardíaca e doença arterial co-
ronária. O objetivo deste estudo é determinar se o Tema: Doenças renais
score R2-CHADS2 se correlaciona com a mortalidade
intra-hospitalar ou reinternamento por qualquer cau- Introdução
sa.
MÉTODOS: A lesão renal aguda pós-contraste (LRA-PC) é uma
entidade cada vez mais controversa cuja relevância
Neste coorte retrospetivo, foram incluídos todos os clínica, e mesmo existência, tem sido questiona-
doentes admitidos num serviço de Medicina Interna da. Estudos recentes não demonstram associação
de janeiro a março de 2019. O score R2-CHADS2 foi entre a administração de contraste endovenoso e
calculado para cada doente à admissão. O endpoint LRA que não seja explicável por variações analíticas
primário foi a mortalidade intra-hospitalar e o en- aleatórias ou fatores de confundimento, mesmo em
dpoint secundário o reinternamento a 30 dias. Assu- doentes de alto risco (sépsis, doença renal crónica).
miu-se significância estatística para valor p < 0.05. Deste modo, alguns autores negam a existência da
LRA-PC. Outros autores defendem que, na ausência
RESULTADOS: de ensaios aleatorizados, existe um viés de seleção
em que os doentes com maior risco basal para LRA-
Foram incluídos 349 doentes, idade média 79 ± 12 -PC têm menor probabilidade de serem submetidos
anos e 45% do sexo masculino. As principais causas a exames contrastados e daí os resultados nega-
de internamento foram respiratórias (n = 157, 47%) tivos.  Uma excepção a este viés é a realização de
e cardiovasculares (n = 73, 22%). A taxa de mortali- angiografia cerebral por tomografia computorizada
dade intra-hospitalar por todas as causas foi 17.1% (AngioTC-CE) em doentes com suspeita de acidente
(n = 58) e 31 (11%) doentes foram reinternados num vascular cerebral (AVC) agudo.
período de 30 dias.
Objetivos
A população apresentava uma prevalência elevada
de co-morbilidades, nomeadamente hipertensão Objectivo primário: determinar a incidência de LRA-
arterial (76%), insuficiência cardíaca (40%), doença -PC clinicamente significativa em doentes submeti-

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 103


dos a AngioTC-CE emergente por suspeita de AVC. A pandemia provocada pela COVID-19 atingiu Por-
Define-se LRA-PC clinicamente significativa como tugal em março de 2020, fazendo com que, desde
tendo levado a disfunção renal persistente, necessi- os Cuidados de Saúde Primários às Unidades de
dade de técnica de substituição da função renal, pro- Cuidados Intensivos, os serviços de saúde atraves-
longamento do internamento ou morte. sem uma conjuntura de sobrecarga, ameaçando a
sua sustentabilidade e originando dificuldades de
Objetivo secundário: caracterizar a evolução da crea- resposta. Sem vacinação nem tratamento dirigido, o
tinina sérica nas 48-72h após administação de con- distanciamento social foi identificado como a arma
traste. mais adequada para reduzir os contágios e o recur-
so às unidades prestadoras de cuidados de saúde,
Materiais e Métodos às quais o acesso foi ficando progressivamente
mais dificultado. Esta situação culminou na dimi-
Estudo retrospectivo observacional. Incluídos doen-
nuição do número de consultas, sendo a patologia
tes submetidos a Angio-TC-CE emergente de 01/01
oncológica não prioritária. Por conseguinte, estes
a 31/12/2018. Foram analisadas as variáveis idade,
doentes estão mais sujeitos a complicações.
sexo, fatores de risco cardiovasculares conhecidos,
medicação crónica potencialmente causadora de le-
são renal (ex. diurético), creatinina sérica (SCr) basal, Os economistas prevêem uma recessão global pós-
taxa de filtração glomerular estimada (eTFG) basal, -COVID-19. Sabe-se que durante a Grande Recessão
SCr à admissão, SCr 48 a 72h após Angio-TC-CE e dos Estados Unidos se verificou a diminuição da inci-
ocorrência de LRA clinicamente significativa. LRA- dência de doença oncológica com aumento da mor-
-PC foi definida de acordo com os critérios KDIGO talidade por neoplasia após recuperação económica,
(Kidney Disease Outcomes Quality Initiative).  A pro- permitindo antecipar um aumento da mortalidade
babilidade de ocorrência de LRA-PC foi estimada por neoplasia para esse período.
através de um intervalo de credibilidade Bayesiano
admitindo um modelo binomial. Caracterizar e comparar a população com doença
neoplásica do internamento da Medicina 1.4 Mulhe-
Resultados res do Hospital de S. José, entre julho e dezembro de
2018 e 2020.
Incluídos 148 doentes, 42% mulheres, com idade me-
diana de 69 anos. Destes, 66% apresentava hiperten- Foi criada uma base de dados em Excel a partir dos
são arterial, 28% diabetes mellitus, 16% doença renal dados clínicos dos internamentos na Medicina 1.4
crónica conhecida (estádios II-IV), 14% insuficiência Mulheres do Hospital de S. José, relativamente aos
cardíaca, e 40% estava sob medicação potencial- períodos entre Julho e Dezembro de 2018 e 2020,
mente causadora de lesão renal. A eTGF basal me- posteriormente, realizou-se uma análise descritiva
diana foi de 83mL/min (n=88). Nenhum doente cum- exploratória.
priu critérios para LRA-PC clinicamente significativa.
Estima-se uma incidência de LRA-PC clinicamente A idade média de todas as utentes internadas na
significativa de 0-2% (intervalo de credibilidade de Medicina Interna 1.4 em 2020 é inferior em 5 anos à
95%).  Às 48-72h, metade dos doentes apresentou de 2018 (75,5 vs 84). Em 2020 foram internados 15
elevação da SCr e a outra metade uma redução (me- doentes por doença neoplásica, o que corresponde a
diana da variação de -0.03mg/dL). 11,28% dos internamentos. Em 2018 apenas 5 inter-
namentos (5%) correspondem a doença oncológica.
Conclusão A média de dias de internamento em 2020 é de 11,39
dias e em 2018 10,98 dias. Em 2020 foi pedida con-
Nesta população, a incidência de LRA-PC clinica- sultoria a medicina paliativa para 6 doentes (40%),
mente significativa foi nula. A incidência estimada dos quais 4 faleceram e 2, aquando da alta, foram
de LRA-PC clinicamente significativa é de <2%. Sa- encaminhados para Consulta externa de outra espe-
lienta-se como principais limitações a ausência de cialidade. Em 2018 não foi feito nenhum pedido de
documentação quanto a medidas nefroprotetoras consultoria à Medicina Paliativa. Em 2020 foram en-
realizadas à admissão. A força deste estudo deve- caminhados para consulta externa 6 doentes (40%),
-se ao facto de eliminar o viés de seleção apontado dos quais 2 (13,3% dos doentes totais) foram para
por alguns autores como um fator de confundimento consulta de Medicina Paliativa. Em 2018, 2 foram
importante. Assim, o risco estimado de LRA-PC não encaminhados para consulta externa de Oncologia.
deve limitar o uso de contraste na prática clínica. Um doente (6,67%) em 2020 foi encaminhado para
unidade de cuidados intensivos, onde faleceu. Em
CO n.º 0227  2020, 6 doentes (40%) desenvolveram complicações
COVID-19: epidemias da pandemia infecciosas durante o internamento, 5 (33,33%) dos
Rita Leite Cruz(1);Marta Ilharco(1);Laura Bonito Mo- quais com infeção urinária baixa e 1 (6,66%) com pie-
reira(1);Marta Mello Vieira(2);Dmytro Krupka(1);Fáti- lonefrite aguda. Em 2018 nenhum dos doentes de-
ma Lampreia(1) senvolveu infeção nosocomial. Faleceram 8 doentes
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE / Hos- (53,33%) em 2020 e 2 doentes (40%) em 2018.
pital de Santa Marta (2) Hospital de São José
Verificou-se uma significativa diferença no número
Tema: Doenças oncológicas de internamentos por doença oncológica, bastante
superior em 2020, o que corrobora a nossa hipóte-

104
COMUNICAÇÕES ORAIS
se. Além disso, apesar de estes doentes apresenta- dos doentes (n=167) era do género masculino; idade
rem idade média inferior à idade média dos doentes média de 66 anos (mínimo 33; máximo 97). Comorbi-
de 2018, apresentaram pior outcome. Após cuidada lidades prévias: HTA (n=143, 59%), Diabetes Mellitus
análise do estudo estatístico dos doentes já referi- (n=72, 30%) dislipidemia (N=109, 45%) obesidade/
dos, constata-se uma diferença importante no que excesso de peso (n=75, 31%) doença cardiovascular
concerne a mortalidade, duração de internamento e (n=33, 14%) patologia pulmonar prévia (n=33, 14%),
necessidade de apoio da Medicina Paliativa. imunossupressão (n=10, 4%). Verificou-se uma mor-
talidade de cerca de 20% (n=49)
O acesso mais dificultado aos cuidados de saúde
em 2020 é uma possível explicação para interna- Neste período 137 doentes (56%) sofreram compli-
mento de doentes em pior estado clínico, quer pelo cações tendo sido registados 199 eventos: sobrein-
pior acompanhamento das comorbilidades, quer feção bacteriana (n=65), LRA (n=1), pneumomedias-
pelo diagnóstico da patologia oncológica em fase tino (n=3), EAM (n=1), FA de novo (n=9), bradicardia
mais tardia. (n=6), isquemia intestinal (n=1), hiperglicemia/CAD
(n=3), citocolestase hepática (n=36), outras (n=13).
CO n.º 0361  Destaque para os eventos trombóticos com preva-
Morbilidade associada a infeção por SARS-CoV2 lência de 25% nesta série de casos: TEP (n=48), AVC/
numa enfermaria “modificada” AIT (n=4), TVP (n=5), isquemia arterial de membro
Ana Mosca(1);Ana sá(1);André Santa Cruz(1);Ana (n=3), identificação de trombo endoluminal aórtico
Luísa Graça(1);Ana Luísa Azevedo(1);Ana Rita Ma- (n=1). Não houve registo de complicações hemorrágicas.
tos(1);Ana Rita Marques(1);Isabel Abreu(1);Sara
Marques(1);Cláudia Carvalho(1);Alexandre Carva- CONCLUSÕES: Muitas das complicações descritas
lho(1) na literatura associam-se a doença mais grave, pior
(1) Hospital de Braga prognóstico e maior mortalidade. A melhor com-
preensão desta patologia poderá permitir antecipar
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias quais os fatores de risco determinantes para as di-
versas apresentações da infeção SARS-CoV2. É im-
Introdução: A infeção por SARS-CoV2 causa uma portante conhecer as manifestações sistémicas da
doença vírica cuja fisiopatologia não é comple- doença de forma a realizar um diagnóstico precoce e
tamente compreendida, embora primariamente medidas terapêuticas e profiláticas individualizadas.
respiratória pode afetar outros órgãos. Além disso,
as complicações extrapulmonares são causa impor- CO n.º 0374 
tante de morbimortalidade. Cates J. et al. descreve- IMPORTÂNCIA DE UNIDADES DE CUIDADOS INTER-
ram as seguintes complicações extrapulmonares: MÉDIOS DE PROXIMIDADE NA GESTÃO DO DOENTE
renais (39.6%), cardiovasculares (13.1%) – nas COM COVID-19
quais incluíram manifestações trombóticas; hema- Joana Azevedo Carvalho(1);Mafalda Ferro Teixei-
tológicas (6.2%), neurológicas (4.1%) e infeciosas ra(1);Maria Carolina Carvalho(1);Joana Paulo(1);Má-
secundárias (24.9%)  - destas 4.7% corresponderam rio Ferreira(1);Ricardo Paquete Oliveira(1);Zélia Ne-
a bacteriémia. ves(1);Ana Bastos Furtado(1);José Delgado Alves(1)
(1) Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca

Há diversas teorias correntes para explicar o envol- Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente
vimento multiorgânico da infeção por Covid-19. O crítico
estado pro-inflamatório e consequente libertação
descontrolada de citocinas com ativação da casca- A terceira vaga da pandemia COVID-19 em Portugal
ta de coagulação constitui a explicação mais plau- deixou o país em emergência sanitária. Apesar de
sível para a ocorrência de fenómenos trombóticos. apenas 14% dos doentes com COVID-19 apresenta-
Adicionalmente, o tropismo do vírus para órgãos rem doença grave, este grupo de doentes condicio-
específicos, a iatrogenia por fármacos de suporte/ nou uma grande pressão de vagas de internamento
tratamento, as alterações hemodinâmicas e da ho- dado o seu avultado número. Este trabalho tem
meostasia secundárias à ventilação invasiva e as co- como objectivo a caracterização de uma amostra
morbilidades de cada doente podem contribuir para de doentes com COVID-19 admitidos em unidades
a panóplia de complicações descritas. de cuidados intermédios (UCINTs) de nível I duran-
OBJETIVO: Descrever as complicações extrapulmo- te a terceira vaga pandémica, num dos hospitais
nares diagnosticadas aos doentes internados por in- nacionais com maior número de admissões por
feção SARS-CoV2 com doença grave, numa enferma- COVID-19. A reestruturação hospitalar apostou tan-
ria de 26 camas dedicada a oxigenoterapia de alto to no aumento do número de camas de cuidados
fluxo e VNI, entre setembro e dezembro 2020. intensivos como do número de camas de UCINTs,
coordenadas por Internistas. Foi realizado um es-
MÉTODOS: Estudo observacional retrospetivo. Reco- tudo de coorte retrospectivo que incluiu todos os
lha da informação demográfica de população, morbi- doentes admitidos em 3 das 5 UCINTs existentes no
mortalidade e tempo de internamento. hospital durante 42 dias.

RESULTADOS: Entre setembro e dezembro de 2020 A população em análise é composta por 138 doen-
foram internados nesta enfermaria 244 doentes: 68%

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 105


tes, com idade média de 66,4±12.9 anos e maiori- sas mais comuns nos países desenvolvidos.
tariamente do sexo masculino (66.2%). O índice de
Charlson mediano foi de 3 (AIQ 2,5). A maioria dos Objectivo: Analisar uma população internada com o
doentes proveio do serviço de urgência (46.9%) e diagnóstico de MPA.
das enfermarias COVID (43.4%). O número media-
no de dias de internamento em UCINTs foi de 5 (AIQ Material e métodos: Estudo retrospectivo, observa-
3,7), com uma demora mediana hospitalar de 14 (AIQ cional, de doentes internados com o diagnóstico de
10,22). Contabilizaram-se um total de 7 readmissões MPA, no Serviço de Medicina Interna de um Hospi-
em UCINT. A COVID-19 com insuficiência respirató- tal português, entre janeiro de 2009 e dezembro de
ria grave foi o principal motivo de admissão. Metade 2019. O grupo de doentes estudados é uma suba-
da população foi admitida com mais de 10 dias de nálise da população de 116 doentes admitidos por
sintomas. Quanto à gravidade à admissão, o SAPS miopericardite/miocardite neste período temporal.
II médio foi de 31.7±9,7. Dentro dos principais diag- Foram analisados dados demográficos, manifesta-
nósticos secundários destacam-se factores de risco ções clínicas, alterações laboratoriais e imagiológi-
cardiovasculares como hipertensão essencial (48%), cas, terapêutica e outcome, obtidos através dos re-
dislipidemia (32%), diabetes mellitus tipo II (29%) e gistos que constam no processo clínico. A análise
obesidade (24%). Em 97.1% dos doentes foi utiliza- estatística foi realizada a partir do Microsoft Excel.
da ventilação não invasiva (VNI), maioritariamente
na modalidade CPAP (83%). O valor médio de PaO2/ Resultados: Identificaram-se 36 doentes, sendo pre-
FiO2 prévio à VNI foi de 142.7±62.1mmHg. O início dominante o sexo masculino (80,6%), com uma mé-
da VNI ocorreu aos 8.2±4.2 dias de sintomas e a du- dia de idades de 34 anos [15-77]. A demora média
ração total do período sob VNI foi de 8.7±5.2 dias. de internamento foi de 5,1 dias [1-23]. A maioria dos
Em 13.8% dos doentes foi admitida falência de VNI doentes não tinha doenças prévias. Relativamente à
com necessidade de ventilação mecânica invasiva. causa da MPA: 55,6% foram idiopáticas, 38,9% infe-
Como principais complicações decorrentes da VNI ciosas e 2,8% de etiologia autoimune. No grupo das
destacam-se o pneumomediastino (n=4) e o pneu- causas infeciosas, 71,4% dos doentes tiveram pró-
motórax (n=2). Em 11 doentes foi utilizada oxigeno- dromo gastrointestinal e 4% respiratório. No que diz
terapia de alto fluxo. Quarenta porcento dos doentes respeito à sintomatologia de apresentação, apenas
estiveram em decúbito ventral. O valor mediano de um doente não teve dor torácica e o segundo sinto-
D-Dímeros foi de 2247 (AIQ 918,11801), mas apenas ma mais frequente foi a febre (41,7%). Na admissão,
23 doentes apresentaram fenómenos tromboembó- 91,7% dos doentes tinham elevação de troponina. O
licos confirmados em exame de imagem. Quanto ao electrocardiograma mostrou alterações em 63,9%
tratamento, 135 doentes realizaram corticoterapia, 9 dos doentes, sendo a elevação do segmento ST a al-
doentes fizeram tocilizumab e 1 doente foi tratado teração mais frequente. Na admissão no Serviço de
com baricitinib. A taxa de mortalidade hospitalar da Urgência, foi admitido enfarte agudo do miocárdio
população em estudo foi de 19.6% em 22,2% dos doentes, e este grupo realizou coro-
nariografia. Para avaliar a morfologia cardíaca, todos
A pandemia COVID-19 veio mostrar a importância os doentes realizaram ecocardiograma transtoráci-
das Unidades de Cuidados Intermédios geridas pela co (88,9% tinham fracção de ejecção normal) e 75%
Medicina Interna, com especial enfoque no supor- realizaram ressonância magnética cardíaca (RMC).
te ventilatório não invasivo. A maioria dos doentes Apenas 38,9% repetiram RMC três meses após o in-
apresentava-se em fase hiperinflamatória e com in- ternamento, apresentando esta melhoria em todos
suficiência respiratória grave. A VNI foi a modalida- os doentes. Tratamento com colchicina foi dado em
de preferencial no suporte ventilatório desta infeção, 47,2% dos doentes. Todos os doentes com fracção
com uma baixa taxa de falência. O manejo do doente de ejecção reduzida foram medicados com inibidor
com COVID-19 grave em UCINTs de proximidade foi da enzima conversora da angiotensina ou antago-
de extrema relevância para o combate desta segun- nista do receptor da angiotensina II e/ou bloqueador
da vaga e para mitigar a pressão sobre as unidades beta. Não se registou nenhuma morte. Recorrência
de cuidados intensivos. foi documentada em cinco doentes.
CO n.º 0385  Conclusões: É importante reconhecer a presença de
Miopericardite aguda – casuística de um serviço lesão miocárdica nos síndromes pericárdicos como
Margarida l. Nascimento(1);Tiago Neto Gonçal- a inflamação aguda do miocárdio num doente com
ves(1);Filipa Ramalho Rocha(1);Rui Casanova(1);Fili- pericardite. A MPA: 1) mimetiza o enfarte agudo do
pa Malheiro(1);Alexandra Bayão Horta(1) miocárdio, que deve ser excluído; 2) é caracterizada
(1) Hospital da Luz Lisboa por RMC; 3) necessita de monitorização dado o risco
de arritmia e, finalmente, 4) é contra-indicação para
Tema: Doenças cardiovasculares o uso de anti-inflamatórios não-esteróides. A MPA
geralmente tem um bom prognóstico e baixa taxa de
Introdução: A miopericardite aguda (MPA) é um sín- mortalidade.
drome inflamatório do pericárdio com envolvimento
miocárdico ligeiro concomitante documentado pela CO n.º 0443 
elevação dos marcadores de necrose do miocárdio. Ressonância magnética cardíaca na miocardite
Dados clínicos limitados sobre as causas de MPA aguda – uma série de 89 casos
sugerem que as infecções virais estão entre as cau- Filipa Ramalho Rocha(1);Margarida l. Nascimen-

106
COMUNICAÇÕES ORAIS
to(1);Rui Casanova(1);Tiago Neto Gonçalves(1);Fili- médio anterolateral (39.3%) e basal antero-lateral e
pa Malheiro(1);Natália Marto(1);Sérgio Garção Bap- inferior (36%). Cerca de 39 doentes (43.8%) tinham
tista(1);Alexandra Bayão Horta(1) envolvimento pericárdico, sob a forma de espessa-
(1) Hospital da Luz Lisboa mento, realce tardio ou derrame pericárdico – apre-
sentação mais comum (34 doentes, 38.2%).
Tema: Doenças cardiovasculares
Conclusão: A RMC é importante na confirmação
Introdução: A miocardite aguda (MA) constitui um diagnóstica e caracterização da MA. Nas causas
dos principais diagnósticos diferenciais dos doen- idiopáticas ou pós-infeciosas o padrão mais comum
tes que se apresentam com dor torácica e elevação foi a coexistência de hipersinal regional em T2, tradu-
de biomarcadores de necrose miocárdica. Segundo zindo edema miocárdico, e realce tardio miocárdico,
os critérios atualizados de Lake-Louise a ressonân- nos segmentos basais e médios da parede lateral
cia magnética cardíaca (RMC) constitui o método e inferior. O realce tardio com gadolínio segue um
gold-standard de diagnóstico não invasivo e tem padrão não-isquémico, com afeção do epicárdio e
vindo a ser crescentemente utilizada.   subepicárdio na maioria dos casos. O envolvimento
pericárdico acompanhante é frequente.

Objetivo: Analisar os padrões imagiológicos em CO n.º 0481 


RMC de doentes com MA. Impacto da pandemia COVID-19 num serviço de
Medicina Interna
Métodos: Estudo retrospectivo, observacional, de Maria Margarida Rosado(1);Cláudia Queirós(2);Nu-
doentes adultos internados com o diagnóstico de no Bernardino Vieira(1);Luísa Arez(1)
MA, no Serviço de Medicina Interna de um hospi- (1) Hospital do Barlavento Algarvio (2) Hospital Por-
tal português, entre janeiro de 2009 e dezembro de timao
2019. O grupo de doentes estudados consiste numa
coorte de 89 doentes que realizaram RMC dentro do Tema: Organização, gestão e qualidade de serviços
universo de 116 doentes admitidos por miocardite de saúde
ou miopericardite agudas. Com recurso à consulta
dos registos clínicos foram analisados dados demo- Introdução: A instauração da pandemia COVID-19
gráficos, clínicos, padrões imagiológicos da RMC e alterou a dinâmica de vários serviços hospitalares a
outros exames complementares de diagnóstico. A nível nacional, tendo havido a necessidade de cria-
análise estatística descritiva foi realizada a partir do ção de unidades de internamento dedicadas a doen-
SPSS, versão 26.0. tes com COVID-19, com a consequente mobilização
Resultados: A maioria dos doentes era do género de profissionais de saúde das enfermarias ditas
masculino (74.2%) com uma média de idade de 39 “limpas” para estas novas unidades.
anos. A RMC cumpriu critérios de diagnóstico de MA
em 81 doentes (91%), tendo nos restantes 8 doentes Objetivos: Avaliar o impacto da Pandemia COVID-19
sido assumido o diagnóstico de MA com inflamação na atividade assistencial do internamento dum Ser-
abaixo do limiar de deteção. As causas mais frequen- viço de Medicina Interna (SMI), através da avaliação
tes foram a idiopática (n=48, 54%) e pós-infeciosa do perfil demográfico do doente internado, compli-
(35 doentes, 39.3%). O ventrículo esquerdo (VE) não cações no internamento e resultado final do interna-
apresentava alterações em 58 doentes (62.2%), esta- mento.
va dilatado em 13 doentes (14.6%) e hipertrofiado em
17 doentes (19.1%). A fração de ejeção do VE (FEVE) Material e Métodos: Estudo de coorte, com colheita
era ≤ 40% em 7 doentes (8%), entre 41-49% em 11% de dados retrospetiva, onde se compararam os doen-
e ≥ 50% em 72 doentes (81%). No grupo com FEVE tes com alta dum SMI ao longo do ano de 2019 com
preservada, 9 (10%) tinham descrição de hipocinésia os doentes com alta do mesmo SMI entre 1 de Mar-
regional ou global e 15 (16.8%) tinham aumento do ço e 31 de Maio de 2020, período correspondente à
volume telediastólico do VE. Trinta doentes (33.7%) primeira vaga (PV).
apresentavam hipersinal em ponderação T1, 35
(39.3%) não apresentavam e em 23 (25.8%) exames Resultados: Não existiram diferenças no sexo ou ida-
o T1 mapping não foi incluído no protocolo. Quanto de entre as duas coortes. Durante o período corres-
à ponderação T2, 67 doentes (75.3%) apresentavam pondente à PV existiu uma percentagem semelhante
hipersinal, coincidente com a localização do realce de internamentos com origem no Serviço de Urgên-
tardio; 13 doentes apresentavam hipersinal global, cia (SU), mas um menor número de internamentos
46 doentes regional e em 8 casos não foi especifica- programados (p<0,05). Durante a PV existiu uma
do. Setenta e seis doentes (85.45%) demonstravam maior percentagem de infeções nosocomiais e em
realce tardio com gadolínio, inclusive 13 doentes que particular de pneumonia nosocomial, mas sem signi-
não apresentavam hipersinal em T2. Em 19 doentes o ficância estatística. A demora média de internamen-
padrão de realce era predominantemente epicárdico, to foi inferior durante a PV, igualmente sem signifi-
46 de predomínio subepicárdico e 9 doentes apenas cância estatística. Verificou-se ainda uma tendência
médio-mural. Os doentes apresentaram em média 5 para aumento da mortalidade durante o período da
segmentos afetados, sendo os mais frequentes o ba- PV e registou-se um menor número de transferência
sal ínfero-lateral (64%), médio ínfero-lateral (36.5%), para outros serviços (sem significância estatística).
Não existiram diferenças nas readmissões e morta-
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 107
lidade oculta. Realizaram rastreio de MRSA a 42,5% dos doentes.
A maioria contabilizava um (41,9%) ou dois motivos
Discussão e Conclusões: A demografia do doente (35,5%) para a sua realização. O motivo mais fre-
internado não se alterou entre o ano de 2019 e a PV. quente foi a exposição a antibioterapia (n=20; 33,9%)
Existiu um menor número de internamentos progra- e internamento nos 6 meses prévios (n=16; 27,1%),
mados, o que poderá ser justificado pela diminuição seguidos das transferências de outros hospitais/in-
da afluência de doentes ao Hospital. Apesar da au- ternamentos (n=10; 16,9%) e, ainda, provenientes de
sência de significância estatística, foi identificada lar (n=7; 11,9%).
uma tendência para diminuição da demora média
de internamento durante a PV, provavelmente conse- Dos 42 doentes que não foram submetidos a ras-
quente à maior recetividade de doentes e familiares à treio, 22 (52,4%) apresentavam indicação para o
alta hospitalar e retorno ao domicílio. A existência de mesmo. Os motivos mais frequentes verificaram-se
um aumento da mortalidade no internamento duran- em percentagens semelhantes aos do grupo subme-
te a PV, apesar de não ser estatisticamente significa- tido a rastreio.
tivo, pode estar associada ao aumento do número de
infeções nosocomiais e dos doentes que recorreram O rastreio foi positivo em sete doentes (22,6%), tendo
mais tarde ao SU. A não existência de diferenças nas todos iniciado o protocolo de isolamento e descolo-
readmissões e mortalidade oculta demonstra que as nização. Destes, 35% tinham realizado antibioterapia
reformulações impostas pela pandemia não afeta- e 25% sido internados, nos últimos 6 meses, segui-
ram a morbimortalidade a longo prazo. dos da proveniência de lar, em 15%. À data do estu-
do, quatro destes doentes (57,1%) tinham realizado
CO n.º 0486  controlo de colonização, com resultado negativo.
RASTREIO DE COLONIZAÇÃO POR MRSA NUM DIA
DE INTERNAMENTO DE MEDICINA INTERNA Nenhum doente com rastreio positivo e uro- ou he-
Carolina Amado(1);Valter Duarte(1);Bárbara Paraca- mocultura prévias, naquele dia, apresentava sinto-
na(1);Mariana Silva Leal(1);Margarida Cruz(1) matologia  compatível ou infeção comprovada  por
(1) Centro Hospitalar do Baixo Vouga / Hospital In- MRSA.
fante D. Pedro, EPE
CONCLUSÃO: A implementação de protocolos de ras-
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias treio e descolonização de MRSA ainda não é trans-
versal. No dia escolhido, 73% dos doentes apresenta-
vam indicação para realização de rastreio, efetuado
Introdução: As infeções associadas aos cuidados em 58,5% dos mesmos. Sendo, assim, evidente uma
de saúde são um problema atual, particularmente margem para a melhor implementação do protocolo.
a infeção por Staphylococcus aureus meticilino-re- É  importante ressalvar os fatores de risco: realiza-
sistente (MRSA). A implementação do rastreio da ção de antibioterapia e/ou internamento prévio nos
colonização por MRSA, assim como a prática das últimos 6 meses ou a proveniência de lar, presentes
medidas de descolonização, condicionam uma me- frequentemente na tipologia de doentes internados
nor incidência de infeção por MRSA e da morbi-mor- nos serviços de MI. O controlo da colonização nes-
talidade associada. tes  condicionará uma eventual redução do número
de internamentos e custos associados.
OBJETIVO: Analisar a adequação da implementação
do rastreio ativo de MRSA e subsequente processo A implementação do rastreio de MRSA é uma reali-
de descolonização, analisando as principais indica- dade no Serviço de Medicina Interna, não obstante a
ções para o mesmo. necessidade de uma melhor sistematização do mes-
mo.
MATERIAL E MÉTODOS:  Estudo observacional e
transversal em 3 sectores de um Serviço de Medici- CO n.º 0497 
na Interna num Hospital Distrital, num dia escolhido Poderá a diabetes e o mau controlo metabólico
aleatoriamente. As indicações para a realização do prever um mau prognóstico nos doentes com CO-
rastreio ativo por zaragatoa nasal foram: interna- VID-19?
mento e/ou exposição a antibioterapia nos últimos Ana Rita Barradas(1);Clara Cunha(1);Eugénia Sil-
6 meses; transferência de outras unidades hospitala- va(1);Joana Vasconcelos(1);Catarina Saraiva(1);-
res (permanência >48h); proveniência de lar/Unidade Jorge Azinheira(2);Sequeira Duarte(1);Kamal Mansi-
de Cuidados Continuados; presença de dispositivos nho(1);Isabel Madruga(1);Cândida Fonseca(2)
(ex. algália); e colonização prévia por MRSA. Se o re- (1) Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE /
sultado fosse positivo, os doentes eram submetidos Hospital Egas Moniz (2) Centro Hospitalar de Lisboa
a isolamento de contacto e protocolo de descoloni- Ocidental, EPE / Hospital de S. Francisco Xavier
zação (banho com clorohexidina 2% e aplicação de
mupirucina/octenidina intranasal). Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e
nutricionais
RESULTADOS:  Foram incluidos 73 doentes interna-
dos (taxa de ocupação de 98,6%), com idade média Introdução: A diabetes tem sido associada a um es-
de 77,5 anos, e predomínio do sexo masculino (n=42; pectro de doença mais grave e a maior mortalidade
57,5%). entre os pacientes com COVID-19. Possíveis meca-

108
COMUNICAÇÕES ORAIS
nismos incluem a redução da resposta imunológica mortalidade (OR 1,6, 95% CI: 1,2-2,3; p=0,003), de ad-
induzida pela hiperglicemia, caracterizada por um missão na UCI (OR 1,3; 95% CI: 1,1-1,7; p=0,04) e de
estado de inflamação crónico com uma produção necessidade de ventilação mecânica invasiva OR 1,4;
anómala de citoquinas pró-inflamatórias. 95% CI: 1,1-1,9; p=0.02) nos doentes com diabetes.
Conclusão: Neste estudo a idade avançada, hiperten-
Objetivo: Avaliar se a diabetes e o mau controlo me- são e obesidade, na análise univariada, e a HBA1c na
tabólico têm relação com a gravidade da doença e análise multivariada, mostraram-se importantes pre-
a mortalidade dos pacientes internados com CO- ditores de piores outcomes nos pacientes com CO-
VID-19. VID-19. Assim, o controlo glicémico pode melhorar
Material e Métodos: Estudo retrospetivo de casos e o prognóstico destes doentes. Os médicos devem
controlos. Dos doentes internados com COVID-19 en- estar cientes do curso clínico mais grave desta popu-
tre março de 2020 e fevereiro de 2021 aleatorizamos lação de diabéticos com mau controlo metabólico.
112 doentes com diabetes para o grupo dos casos e CO n.º 0570 
112 doentes sem diabetes para o grupo dos contro- Impacto da pandemia COVID-19 na formação médi-
los. Os endpoints primários foram definidos como: ca portuguesa
admissão em unidade de cuidados intensivos (UCI), Helena Rodrigues(1);João Nuno Soares(1);Ruben
necessidade de ventilação mecânica e morte intra- Spilker(2);Rogério Ferreira(1);Lèlita Santos(1);Ar-
-hospitalar. Os preditores dos endpoints primários mando de Carvalho(1)
foram determinados por regressão logística através (1) Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra /
do software SPSS. Os resultados são apresentados Hospitais da Universidade de Coimbra (2) Faculda-
com a média e o desvio padrão. O valor de significân- de de Medicina da Universidade de Coimbra
cia aceite foi valor de p< 0,05.
Tema: Outro
Resultados: Foram avaliados 224 doentes, 50,4%
do sexo feminino com uma média de idades de 72,1
±11,3 anos (intervalo 23-97 anos). Entre os pacientes Introdução: A pandemia COVID-19 teve impacto na
com diabetes, 93,8% eram tipo 2 e 6,2% eram tipo 1. formação médica à escala mundial. Em Portugal, as
O tempo médio de duração da doença foi de 11,5 ± medidas de confinamento aplicadas determinaram
8,8 anos e a hemoglobina A1c média foi de 7,7 ± 1,6 a progressiva limitação de acesso e proibição de
%. Complicações micro e macrovasculares foram re- estudantes de Medicina em alguns centros hospita-
feridas em 40,2% e 25% dos doentes diabéticos, res- lares, condicionando as aulas práticas presenciais e
petivamente. o contacto com doentes.

A maioria dos diabéticos em ambulatório encontra- Objetivo: Avaliar o impacto da pandemia COVID-19
vam-se sob terapêutica com antidiabéticos orais na formação médica em Portugal, na atividade letiva,
(89,3%) e 19,3% eram insulinotratados. As comorbi- no seu cariz teórico, prático e avaliativo, como tam-
lidades mais frequentes foram: hipertensão (65,2%), bém a avaliação subjetiva dos alunos do impacto
obesidade (28,1%), neoplasias ativas (17,9%), insufi- das condicionantes impostas pela pandemia.
ciência cardíaca (14,7%) e doença pulmonar obstru-
tiva crónica (7,1%). Cerca de um terço dos doentes Material e métodos:  Estudo observacional, realizado
(32%) estavam medicados com inibidores da renina através do preenchimento de um questionário rela-
angiotensina aldosterona.  tivo ao primeiro semestre do ano letivo 2020/2021,
divulgado com apoio dos núcleos de estudantes de
A taxa de mortalidade intra-hospitalar foi de 18,3% Medicina para todos os estudantes de Medicina a ní-
(n=41). Os doentes diabéticos foram mais ve- vel nacional. A recolha de dados foi efetuada de Fe-
zes admitidos em UCI (28% vs 22%, diabéticos vs vereiro a Abril de 2021. Os resultados obtidos foram
não diabéticos, p= 0,355), necessitaram mais de analisados utilizando o programa SPSS.
intubação oro traqueal (18,8% vs 12,5%, p= 0,105) e
morreram mais (21,4% vs 15,2%, p= 0,226), contudo Resultados: O total de respostas (N=886) foi repre-
as diferenças encontradas não foram estatistica- sentativo de todos os anos e englobou todas as es-
mente significativas. colas do curso de medicina. Relativamente às aulas
práticas, a maioria dos alunos (71,4%) teve aulas pre-
Analisando o subgrupo dos diabéticos verificou-se senciais e também remotas. Destaca-se que cerca
que os doentes com pior controlo metabólico, ou de 13,1% dos alunos tiveram aulas práticas apenas
seja, HBA1c mais elevada, necessitaram de maior de forma remota. No entanto, 31,4% referem não
número de admissões em UCI (8,3% vs 7,6%, p= ter tido contacto com doentes e a grande maioria
0,03), foram mais vezes submetidos a intubação (78,6%) gostava de ter tido mais contacto. Aproxi-
orotraqueal (8,6% vs 7,6%, p=0,02) e morreram mais madamente 42% dos alunos afirma não ter realizado
(8,9% vs 7,6%, p=0,001). Através de um análise univa- nenhuma entrevista clínica ao longo deste semestre
riada, constatou-se que a idade avançada (p=0,001) e 61,1% não realizaram nenhum exame objetivo.
e a hipertensão se correlacionam com a morte e a
obesidade está associada à necessidade de ventila- A grande maioria dos alunos (95%) sente que a pan-
ção mecânica invasiva (p=0,008). Na análise multiva- demia prejudicou a sua aprendizagem em termos
riada a HBA1c foi o único preditor independente de práticos. No que toca à segurança nas aulas práti-

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 109


cas em ambiente hospitalar, cerca de 1/3 dos alunos ca standard nos doentes com CAD.
sentiram-se em risco de contrair o vírus SARS-CoV-2
no decurso das aulas e apenas 32% dos alunos con- Objectivo
sideram que receberam o equipamento de proteção
individual necessário para a observação dos doen- O projecto teve como objectivo a optimização do
tes. Relativamente às aulas teóricas, a maioria foram diagnóstico de EuCAD num Serviço de Medicina In-
dadas em formato online, mas foi considerado pelos tensiva (SMI) de um hospital integrado no Serviço
alunos que não houve impacto negativo no aprovei- Nacional de Saúde.
tamento ou na resolução de dúvidas. Relativamente
Material e Métodos
aos exames, a maioria foram realizados presencial-
mente. Apenas 3,2% dos alunos referem ter feito to- Foram desenhados um estudo retrospectivo e um
dos os exames em formato online. A maioria (58,4%) estudo prospectivo, ambos incluíram todos os doen-
considera que a fraude neste formato de exames é tes com diabetes mellitus ou diabetes gestacional,
potencialmente maior. Quanto aos fatores que os admitidos no SMI COVID e não COVID, independente-
alunos acreditam serem responsáveis por um menor mente do motivo de admissão.
aproveitamento académico destaca-se fatores psi-
cológicos (ansiedade, tristeza, solidão [71%]) ausên- O estudo retrospectivo, entre 1 de agosto e 30 de se-
cia de contacto com a família em contexto de pan- tembro de 2020, identificou os casos de acidose me-
demia (68.6%) e ausência de contacto com doentes tabólica nos quais não foram excluídos os critérios
(63,3%). Apenas 8,2% dos alunos referem não ter tido de EuCAD.
um menor aproveitamento académico.
O estudo prospectivo observacional analítico incluiu: 
Conclusões: a primeira fase, de 1 a 15 de outubro de 2020, com
sessões formativas junto das equipas médica e de
Este trabalho, um dos primeiros com dados nacio- enfermagem, e a segunda fase, de 15 de outubro a
nais na área de formação médica, permite concluir 15 de dezembro de 2020, com avaliação da glicémia,
que a pandemia COVID-19 teve um importante im- anion gap e corpos cetónicos.
pacto na formação, sobretudo na sua componente
prática, com escasso contacto com doentes, a qual Os dados foram recolhidos e analisados em folha de
foi percepcionada pelos alunos como condicionan- cálculo Excel®. O estudo foi submetido e aprovado
do um impacto negativo na sua formação médica. pela Comissão de Ética para a Saúde e pela Comis-
Importa evidenciar as dificuldades sentidas e ocor- são de Investigação Clínica hospitalar.
ridas, de forma a encontrar soluções para alinhar
a experiência educativa, moldada pelo contexto de Resultados
pandemia, com as necessidades dos alunos e futu-
ros médicos. O estudo retrospectivo incluiu 35 doentes, com idade
média de 68,5 anos, 37,1% do sexo feminino e 62,9%
CO n.º 0576  do sexo masculino. Verificou-se que 23% dos doen-
EuCAD – Optimização do Diagnóstico de Cetoaci- tes apresentavam acidose metabólica euglicémica
dose Diabética Euglicémica sem avaliação de corpos cetónicos, e destes 62,5%
Filipa Sofia Camacho Alves da Silva(1);Alexei Bu- apresentavam anion gap aumentado, pudendo cons-
cur(2) tituir potenciais casos de EuCAD.
(1) Centro Hospitalar de Setúbal, EPE / Hospital de
São Bernardo (2) Hospital Beatriz Ângelo O estudo prospectivo incluiu 59 doentes, com idade
média de 67,2 anos, 30,5% do sexo feminino e 69,5%
Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente do sexo masculino. Salientam-se alguns dados: 8,5%
crítico dos doentes apresentaram EuCAD (80% dos quais
com COVID-19), 11,9% apresentaram CAD com hiper-
Introdução glicemia e em 1,7% dos doentes observou-se acido-
se metabólica euglicémica sem avaliação de corpos
cetónicos.
A cetoacidose diabética (CAD) constitui cerca de
14% do total de admissões hospitalares. Destas 2 a Conclusões
3% são casos de cetoacidose diabética euglicémica
(EuCAD). São causas de EuCAD:  terapêutica com Foi possível optimizar o diagnóstico de EuCAD, com
inibidores do co-transportador de sódio e glucose redução de 23% para 1,7% dos casos de acidose me-
2, pancreatite, sépsis, gravidez e doença hepática tabólica euglicémica sem avaliação de corpos cetó-
crónica. nicos.

A doença grave COVID-19 acompanha-se de aumen- Apesar de não se encontrar ainda descrita na litera-
to de marcadores inflamatórios (IL-6 e TNF-α), igual- tura, a COVID-19 poderá ser uma etiologia possível
mente elevados na CAD. Estudos recentes têm mos- considerando o seu efeito indutor de insulinorresis-
trado que no doente crítico COVID-19 existe maior tência, o que pode explicar em parte a ocorrência
necessidade de insulinoterapia. A doença COVID-19 de EuCAD, embora mais estudos sejam necessários
por si só parece ser indutora de insulinorresistência, para comprovar a veracidade deste achado.
o que explica em parte, a fraca resposta à terapêuti-
110
COMUNICAÇÕES ORAIS
CO n.º 0616  Verificou-se ainda que a gravidade de COVID-19 au-
TROMBOEMBOLISMO VENOSO NOS DOENTES IN- menta a probabilidade de TEV (OR=1.75; p=0.002) e
TERNADOS COM COVID-19 EP (OR=1.71; p=0.003). O AVD-DezIs e o aaCCI não
Rita Pinto Araújo(1);Beatriz Madureira(1);Daniela mostraram associação com TEV.
Soares(1);Mariana Cabral(1);Iara Ferreira(1);Carla
Fontes(1);Carla Martins(1) Discussão e conclusões: A prevalência de TEV nos
(1) Hospital Feira doentes internados com COVID-19 foi inferior à es-
timada em alguns estudos, mas foi superior face à
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias prevalência nos doentes internados no mesmo pe-
ríodo de tempo sem COVID-19. A gravidade de CO-
Introdução: A doença COVID-19, decretada pande- VID-19 foi fator de risco independente para a ocor-
mia em março de 2020 pela Organização Mundial rência de TEV, mas não se verificou associação com
de Saúde, tornou-se um problema de saúde pública o tipo de abordagem efetuada.
mundial. Tem preferencialmente atingimento pul- CO n.º 0620 
monar, mas pode afetar outros sistemas, especial- Impacto da atuação da Medicina Interna num Servi-
mente nos casos mais graves, associando-se a um ço de Ortopedia: Sete meses de experiência
estado pró-inflamatório. Nos doentes internados, os Cláudia Queirós(1);João Aurélio (1);Joana Mouti-
eventos tromboembólicos venosos (TEV), incluindo nho(2);Marta Duarte(1);Maria Inês Simões(1);Nuno
trombose venosa profunda (TVP) e embolia pulmo- Bernardino Vieira(1);Luísa Arez(1)
nar (EP), são uma situação clínica comum e com (1) Hospital Portimao (2) Centro Hospitalar Universi-
elevada morbimortalidade. Recentemente, alguns tário do Algarve, EPE - Hospital de Portimão
estudos mostraram que a COVID-19 aumenta o
risco de TEV, atingindo uma prevalência de 7% nos Tema: Organização, gestão e qualidade de serviços
doentes internados em enfermaria. de saúde

Objetivo: Avaliar a prevalência de TEV nos doentes Introdução: O envelhecimento da população e o au-
internados com COVID-19 e correlaciona-la com a mento do número de comorbilidades por doente, re-
gravidade da doença. quer uma abordagem multidisciplinar e apoio mais
próximo por médicos qualificados para lidar com
Material e métodos: Estudo de coorte retrospetivo doentes mais complexos. Tem sido demonstrado
constituído por doentes adultos admitidos na en- que uma cogestão pela Medicina Interna e Ortope-
fermaria de Medicina Interna com o diagnóstico de dia, destes doentes complexos quando internados
COVID-19 entre março de 2020 e março de 2021. no serviço de ortopedia associa-se a melhoria da
Definiu-se como variável independente a doença sobrevida, diminuição do tempo de internamento
COVID-19 e como covariáveis o sexo, idade, sco- e melhoria de custos hospitalares. Na nossa ins-
re de funcionalidade (AVD-DezIs), carga de doença tituição, a responsabilidade pela consultadoria ao
(Charlson Comorbidity Index ajustado à idade, aaC- serviço de ortopedia, passou a ser assumida por
CI), tempo de internamento, gravidade de COVID-19 uma equipa médica dedicada, constituída por um
(de acordo com a norma da Direção Geral da Saúde) especialista e um interno de medicina interna com
e tratamento. O outcome principal foi a ocorrência de rotatividade semanal.
TEV, TVP e EP, enquanto o secundário foi a mortali-
dade intra-hospitalar. Usou-se o teste de χ2para com-
paração de variáveis categóricas e a regressão logís- Objetivo: Avaliar o trabalho de consultadoria de Me-
tica como modelo preditivo de ocorrência de TEV, de dicina Interna realizado a um Serviço de Ortopedia e
acordo com a gravidade de COVID-19 e covariáveis. identificar estratégias de melhoria e expansão desta
Assumiu-se significância estatística com p<0.05. consultoria.

Resultados: Foram estudados 1411 doentes com Métodos: Estudo observacional de coorte, onde fo-
uma idade mediana de 74 anos (AIQ 23), sendo ram incluídos os doentes internados no Serviço de
54.4% do sexo masculino. Tinham um AVD-DeZis e Ortopedia, acompanhados pela equipa de medicina
um aaCCI medianos de 90% (AIQ 21) e 1 ponto (AIQ interna, entre 1 de junho e 31 de dezembro de 2020.
3), respetivamente. O tempo de internamento media- Foram colhidos dados demográficos, clínicos e de
no foi de 7 dias (AIQ 8). Relativamente à gravidade resultado do internamento.
de COVID-19, 13.2% teve doença ligeira, 16.1% mo-
derada, 47.2% grave e 23.5% crítica. A prevalência Resultados: Foram incluídos no estudo 111 doen-
de TEV, EP e TVP foi de 3.6%, 3.5% e 0.1%, respeti- tes, com uma média de idade de 79 anos, dos quais
vamente. Para o mesmo período de tempo, a preva- 73,9% (n=82) do sexo feminino. Foram realizadas um
lência desses eventos nos doentes internados sem total de 436 avaliações, que equivale a uma média de
COVID-19 foi de 2.9%, 2.6% e 0.4%, respetivamente. 3,9 avaliações de Medicina Interna por utente. Dos
A mortalidade intra-hospitalar foi de 18.5%, mas não motivos de consultadoria apurou-se que a causa de
se verificou correlação com TEV (p=0.835). Por outro pedido de apoio mais comum foi a febre (13,1%),
lado, a gravidade de COVID-19 correlacionou-se com seguindo-se a hipertensão (9,8%) e a taquicardia
TEV (p=0.006; IC 95% 0.049-0.152) e EP (p=0.009; (8,2%). Outras causas para pedido de apoio incluí-
IC 95% 0.046-0.147), mas não com TVP (p=0.772). ram a insuficiência respiratória, a lesão renal aguda,
a prostração e a hiponatrémia. Dos pedidos de apoio
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 111
realizados, constatou-se que a maioria (72.3 %) cor- dia 2,3 consultas/doente. As comorbilidades mais
respondiam a doentes em período pós-operatório. comuns foram a Hipertensao arterial (n=56); Dislipi-
Registou-se uma taxa de mortalidade de 7,2% entre demia (n=39) e Diabetes mellitus tipo 2 (n=25). Os
esta população. Dos restantes, a referir que 6,3% dos principais motivos de referênciação foram: dispneia
doentes tiveram alta para consulta de medicina in- de esforço (n=15); anemia de novo (n=14); sintomas
terna e 2,7% foram transferidos para a enfermaria de constitucionais/suspeita de neoplasia (n=10). Após
medicina interna. avaliação diagnóstica e/ou otimização terapêutica
foram estabelecidos vários  diagnósticos  e orienta-
Discussão: Doentes mais idosos e com mais comor- das múltiplas patologias das quais destaco Insufi-
bilidades estão mais suscetíveis a fraturas e necessi- ciência Cardiaca de novo/descompensada (n=16),
dade de internamento. De notar a elevada faixa etária doença  oncológica de novo  (n=14) além de várias
dos doentes internados na ortopedia (média de ida- doenças autoimunes e infeciosas.  A maioria dos
de de 79 anos) que necessitaram de avaliação pela doentes, após estabilização, foi orientada para con-
medicina interna e a grande diversidade de motivos sulta hospitalar (n=55). 
de observação. A complexidade dos casos implicou
múltiplas reavaliações (média de 3,9 por doente), o Conclusão: Apesar do ano atípico foi possível im-
que justifica a importância de uma equipa médica plementar um projecto inovador que permitiu ava-
dedicada que assegure o seguimento. Importa dese- liação e orientação em tempo útil de doentes com
nhar um estudo que avalie o impacto da criação des- patologias agudas ou agudização de comorbilidades
ta equipa dedicada, nomeadamente no que se refere evitando recurso ao serviço de urgência e mesmo
aos outcomes do internamento. O presente estudo internamentos. Com este exemplo pretendemos fo-
levou à criação de um protocolo de identificação pre- mentar a criação de unidades semelhantes enten-
coce de doentes complexos admitidos no Serviço de dendo o papel fundamental da articulação entre a MI
Ortopedia que justifiquem uma gestão simultânea e a MGF na gestão dos doentes.
entre a medicina interna e a ortopedia.
CO n.º 0684 
CO n.º 0649  Mortalidade nas enfermarias de Medicina Interna
Unidades de Ambulatório na Medicina Interna - não dedicadas à COVID-19
uma oportunidade única de integração de Cuidados Beatriz r. Sousa(1);Rita Pocinho(1);Pedro Olivei-
Filipe Martins(1);Catarina Maciel(1);Guilherme Assis ra(1);Ana Teresa Costa(1);Leonor Soares(1);Sara
Cardoso(1);Andre Maia(1);Fernando Salvador(1) Cabral(1);Pedro Pires(1);Isabel Baptista(1)
(1) Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Dou- (1) Centro Hospitalar Lisboa Central - Hospital de
ro, EPE / Hospital de Vila Real São José
Tema: Organização, gestão e qualidade de serviços Tema: Organização, gestão e qualidade de serviços
de saúde de saúde
Introdução: As unidades de ambulatório são uma
realidade na Medicina atual. A Medicina Interna Introdução: A COVID-19 é uma doença decorrente
(MI)  reconheceu a importância da gestão do doen- da infecção pelo coronavírus com síndrome respi-
te complexo em ambulatório e da articulação com a ratória aguda (SARS-CoV-2). É responsável por uma
Medicina Geral e Familiar (MGF) na orientação par- das crises de saúde pública mais significativas de
tilhada e contínua dos doentes. A nossa unidade de que há memória. A pandemia em curso obrigou a
ambulatório, inaugurada em 2020, teve entre outros alterações a todos os níveis, com especial impacto
objetivos constituir-se como elo de ligação com a no funcionamento dos serviços de saúde. Vários
MGF na orientação  de descompensação de doen- estudos epidemiológicos levantaram preocupações
ças crónicas ou de doenças agudas cuja gravidade acerca da possibilidade dos esforços realizados
ditava uma avaliação  hospitalar a curto prazo (em para minimizar o risco de contágio por COVID-19
menos de sete dias). A Unidade, dotada de corpo clí- poderem resultar em efeitos indirectos negativos
nico próprio (um médico e um enfermeiro) está es- no acesso aos cuidados de saúde, culminando num
truturada de forma a possibilitar a observação rápida excesso de mortalidade por causas que não a CO-
destes doentes o que inclui a execução de técnicas e VID-19.
exames complementares de diagnóstico no próprio
dia. Objectivo: Estudar as características dos doentes fa-
lecidos por todas as causas, excepto COVID-19 em
O objetivo deste trabalho é partilhar a experiência enfermarias de Medicina Interna, desde a confirma-
e os dados relativos a todos os doentes orientados ção do primeiro caso de infecção por SARS-COV-2
para a nossa unidade a partir dos Cuidados de Saúde em Portugal, comparando com o período homólogo
Primários (CSP) durante o primeiro ano de funciona- do ano anterior.
mento.
Material e Métodos: Estudo retrospectivo do tipo ob-
Resultados: Foram referenciados 79 doentes (31 do servacional analítico; Amostra de doentes falecidos
sexo masculino com idade média foi de 69,2 anos e em 2 enfermarias de Medicina Interna não dedicadas
no sexo feminino de 70,8 anos) a maioria totalmente à COVID-19 de um hospital terciário comparando o
autónomo (50 doentes com Katz 6); o tempo de es- período de 02/03/2019 - 01/03/2020 com o período
pera médio foi de 3,9 dias sendo efetuadas em mé-
112
COMUNICAÇÕES ORAIS
de 02/03/2020 - 01/03/2021. Dados colhidos através Interna e constatar se foi instituída ou não TBP ade-
da consulta de processos clínicos e analisados com quada de acordo com a relação risco-benefício de
recurso ao software IBM® SPSS® Statistics (versão cada doente. 
23). Aplicámos o teste t para variáveis contínuas e
o qui quadrado para categóricas, utilizando intervalo Material e métodos: Estudo transversal e descritivo,
de confiança de 95%, foi reconhecido significado es- realizado através da consulta de processos de todos
tatístico quando p < 0,05. os doentes internados num Serviço de Medicina In-
terna no dia 1 de Fevereiro de 2021.
Resultados: Dos 3701 doentes admitidos no período
analisado, 413 apresentavam critérios de inclusão. Resultados: De um total de 145 doentes internados,
Verificou-se um aumento estatisticamente significa- foram excluídos 39 doentes que encontravam-se a
tivo da mortalidade (8,8 vs. 11,7%; p=0,020). Anali- realizar anticoagulação terapêutica por serem por-
sando diferentes parâmetros, observámos uma sig- tadores de fibrilhação auricular (36 doentes) ou por
nificância estatística na morte esperada à admissão estarem internados com o diagnóstico de TEV (3
na enfermaria (37,4 vs. 48,1%; p=0,036) e nas consul- doentes). A amostra é composta por 106 doentes,
tas efectuadas por telefone (0,0 vs. 0,3; p<0,001). Tal 56% eram do sexo feminino e obteve-se uma média
não se verificou nas restantes variáveis analisadas de idades de 79,6 anos. Dos doentes incluídos, 63
nomeadamente idade, grau de dependência, tipo de doentes (59%) não estavam a realizar TBP e destes,
residência, desmarcação de consultas, recorrências 41 (65%) tinham risco trombótico elevado de acordo
prévias ao serviço de urgência, duração de interna- com o SPP. Em contrapartida, 43 doentes (41%) dos
mento, índice de Charlson, morte esperada no de- 106 incluídos, estavam a realizar TBP sendo que 14
correr do internamento e nas comorbilidades estu- (34%) apresentavam risco trombótico baixo não ten-
dadas. Quanto às causas de morte mais frequentes, do indicação para tal.  
observou-se significado estatístico no número de
doentes falecidos com os diagnósticos de infecção Dos 106 doentes, 10 doentes (9%) tinham elevado
respiratória (18,7 vs. 38,5%; p<0,001) e neoplasia risco hemorrágico de acordo com IBS e 6 destes
(28,6 vs. 18,2%; p=0,012). doentes, encontravam-se a fazer TBP, um deles em
dose supra-profilática e não ajustada à função renal.  
Conclusão: Neste estudo, a taxa de mortalidade por
outras causas que não a COVID-19 aumentou. Levan- Dos doentes incluídos neste estudo, ao aplicar o SPP,
tam-se hipóteses sobre se este aumento poderá ser observou-se que 66% (70 doentes) possuíam um
consequência  dos danos colaterais causados pela score > ou = a 4, predizendo elevado risco trombóti-
pandemia. co, no entanto, apenas 41% (29 doentes) estavam a
realizar TBP adequada. Destes 70 doentes, destaca-
CO n.º 0752  -se que 8 (11%) possuíam elevado risco hemorrágico
ANTICOAGULAÇÃO PROFILÁTICA: SIM OU NÃO? com IBS > ou = a 7, sendo que 4 (50%) encontravam-
Ana Carolina Freitas Henriques(1);Brenda Soares -se a realizar TBP.
Nunes(1);Carolina Carvalhinha(1);Daniel Carva-
lho(1);Francisco Barreto(1);João Gouveia(1);Rui Fer- Dos fatores de risco mais comuns para TEV de acor-
nandes(1);Rubina Miranda(1);Rafael Freitas(1) do com o SPP, 80% dos doentes estavam internados
(1) Hospital Dr. Nélio Mendonça por infeção aguda, 79% dos doentes possuíam mais
de 70 anos e 64% dos doentes tinham Insuficiência
Tema: Doenças cardiovasculares Cardíaca ou Respiratória durante o internamento.
Dos 106 doentes incluídos, os 43 doentes que se en-
contravam a realizar TBP, foram anticoagulados com
Introdução: A tromboprofilaxia primária (TBP) é HBPM, nomeadamente enoxaparina.  
uma medida de prevenção do tromboembolismo
venoso (TEV) durante o internamento hospitalar. Conclusões: Através desta análise, conclui-se que
Pode ser realizada de duas formas: mecânica ou a maioria dos doentes não foi medicada profilatica-
química, através de fármacos anticoagulantes, ge- mente de acordo com as recomendações mais re-
ralmente heparina de baixo peso molecular (HBPM). centes e observou-se significativo subuso da TBP tra-
Acredita-se que mais de metade dos doentes mé- duzindo uma percentagem considerável de doentes
dicos hospitalizados apresentem risco elevado de não submetidos a anticoagulação profilática com
TEV. Deste modo, é fundamental o uso de scores prováveis repercussões futuras.  Contudo, é neces-
de risco, cujos resultados demonstram um benefí- sário ponderar e individualizar a decisão, sobretudo
cio na prevenção de eventos trombóticos através nos doentes que possuem risco trombótico e hemor-
de TBP adequada, nomeadamente o Score de Pre- rágico elevado atendendo à relação risco-benefício.
dição de Padua (SPP). Contudo, acresce na decisão Devido à importância da TBP na prevenção do TEV
o risco hemorrágico individual do doente podendo nos doentes médicos hospitalizados, é necessário
ser estimado pelo IMPROVE Bleending Risk Assess- adequá-la e promover a sua introdução principal-
ment Score (IBS).  mente num Serviço de Medicina Interna, através da
criação de protocolos de prática clínica hospitalar.
Objetivo: Avaliar o risco trombótico e hemorrágico
através do SPP e IBS, respetivamente, de uma amos- CO n.º 0754 
tra de doentes internados num Serviço de Medicina Sindrome de Guillain-Barre: Experiência num hospi-
tal distrital

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 113


Rita Calixto(1);Filipa Lage Martins(1);Catarina Seme- ção de traqueostomia. Todos os doentes foram me-
do Graça(1);Maryna Telychko(1);Quintino Biague(1);- dicados com imunoglobulina humana endovenosa,
José Costa Guerra(1);José Vaz(1) não havendo complicações associadas ao tratamen-
(1) Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo, EPE / to, e não se realizando plasmaferese em nenhum. Os
Hospital José Joaquim Fernandes doentes com clinica mais grave e que mantinham
proteinorráquia elevado ao final de um mês de trata-
Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas mento beneficiaram de um segundo ciclo de imuno-
globulina.
Introdução e objectivo: A Síndrome de Guillain-Barré
(SGB) é uma entidade bem definida, contudo, com o Conclusões: As formas axonais estão associadas
avanço do conhecimento científico revelou-se uma a evolução clínica mais rápida e de maior gravidade
síndrome heterogénea, apresentando variantes com neurológica, que se reflecte num tempo de interna-
características clínicas distintas e fisiopatologia mento maior e associam-se a taxas de recuperação
específica. Exceptuando a variante de Miller-Fisher menores, com maior morbilidade e concomitante-
o SGB caracteriza-se por ausência dos reflexos mente maior gasto de recursos.  O tratamento foi
osteotendinosos (ROT) e paralisia muscular ascen- dirigido no sentido de modificar o curso da doença.
dente, flácida, de magnitude variável, cursando com O tratamento de suporte, nomeadamente ventilatório
insuficiência respiratória por paralisia dos músculos e da disfunção autonómica é de extrema importân-
respiratórios. Analiticamente o achado caracterís- cia  para evitar complicações potencialmente fatais
tico é a dissociação albumino-citológica. O electro- e é desafiante num hospital distrital com recursos
miograma auxilia no diagnóstico e identificação da limitados.
variante.   CO n.º 0849 
Estudo de caso: Avaliação das necessidades palia-
Os autores apresentam os casos de SGB com ne- tivas num serviço de Medicina Interna
cessidade de internamento num Serviço de Medici- Inês Almeida Pintor(1);Miguel Martins(1);João
na Interna e Serviço Especialidades Médicas de um Faia(1);João da Costa Oliveira(1);Flávio Perei-
hospital distrital. ra(1);Pedro Lopes(1);Beatriz Pinheiro(1);Rosa Jor-
ge(1)
O objectivo deste estudo foi avaliar as característi- (1) Centro Hospitalar do Baixo Vouga / Hospital In-
cas demográficas, evolução clínica da doença, tipos fante D. Pedro, EPE
de variantes e resposta à terapêutica. Foram tam-
bém analisadas as complicações, tempos de inter- Tema: Cuidados paliativos
namento e a sua relação com a variante da doença.
Material e métodos: Estudo retrospectivo dos casos Os Cuidados Paliativos (CP) são definidos como os
diagnosticados nos últimos 10 anos, com necessida- cuidados prestados ao indivíduo com doença gra-
de de internamento no Serviço de Medicina Interna e ve e incurável, privilegiando o conforto, bem-estar
Serviço Especialidades Médicas (entre 30 de Junho e qualidade de vida, limitando o sofrimento e sem
de 2011 e 30 de Junho de 2021), através da análise objetivo curativo. Segundo o perfil de doentes ha-
dos respectivos processos clínicos.  bitualmente internados na Medicina Interna (MI), é
crucial haver avaliação das necessidades paliativas,
Resultados: 15 doentes com diagnóstico de SGB. garantindo a prestação de melhores cuidados. Têm
Três dos doentes necessitaram de internamento no surgido vários indicadores de doença irreversível,
Serviço de Medicina Intensiva, dois por falência respi- nomeadamente a Supportive and Palliative Care Indi-
ratória e uma por alta risco para desenvolver falência cators Tool na versão portuguesa (SPICT-PT) desde
respiratória tendo ficado em vigilância; 12 homens 2017.
e três mulheres. A idade média foi de 58,2 anos. Foi
identificado um evento precipitante em seis doen- Objetivo: Avaliar as necessidades de CP num servi-
tes. Nove doentes apresentaram evolução rápida da ço de MI e o seu planeamento.
doença (menos de 5 dias até ao internamento). Sete
doentes apresentavam polineuropatia inflamatória Estudo transversal, retrospectivo, por análise dos
desmielinizante aguda (PIDA), dois apresentaram processos clínicos dos doentes internados num
Neuropatia axonal motora aguda (NAMA), dois apre- serviço de MI em Maio de 2021 e aplicação de
sentaram Neuropatia axonal sentivo-motora aguda SPICT-PT. Recolhidos também dados sobre idade,
(NASMA) e duas mulheres apresentaram Síndrome sexo, residência de origem, motivo de internamento,
de Miller-Fisher(SMF). Surgiram sinais de disfunção internamentos/vindas à urgência no último ano e
autonómica em 40% dos doentes. À excepção de pedidos de colaboração de CP.
dois doentes os restantes apresentaram dissocia-
ção albumino-citológica. O tempo médio de interna- Amostra com 91 doentes, sendo 67% sexo femini-
mento hospitalar foi de 23 dias, o internamento mais no e idade média de 75,78 anos. 10% dos doentes
prolongado foi de um doente com NASMA. Dos dois eram institucionalizados. Motivos de internamento
doentes que tiveram necessidade de ventilação me- mais frequentes: Insuficiência cardíaca agudizada
cânica (VM), apresentavam formas axonais, sendo o (24%), Infeção trato urinário (20%) e AVC isquémico
tempo médio de 27,5 dias e necessidade de constru- (7%). 5 doentes tinham pedido de CP e transferência
para esse serviço. 11 doentes tinham indicação de
114
COMUNICAÇÕES ORAIS
Ordem de Não Reanimar. Aplicando SPICT-PT: mé- da por ETT e por RMC (p<0,001) bem como a presen-
dia de Indicadores Gerais de Deterioração de Saúde ça de hipertrofia ou dilatação do VE em ambos os
(IGDS) 1,68 e de Indicadores Clínicos de uma ou exames (p<0,001). A presença de hipersinal global
mais Doenças Limitantes de Vida (ICDLV) 0,85. Nos em ponderação T2 correlacionou-se inversamente
IGDS 62% com internamentos prévios não planea- com a FEVE (p<0,001), ao contrário do hipersinal re-
dos, 58% dependentes de outros nos cuidados pes- gional. O valor máximo de porção N-terminal do pép-
soais. Nos ICDLV 36% com incapacidade de vestir, tido natriurético tipo B (NT-proBNP) apresentou cor-
andar ou comer sem ajuda e 19% com deterioração relação linear com a FEVE (p<0,001) e a presença de
progressiva das funções físicas e/ou cognitivas disfunção ventricular esquerda (p<0,001) em RMC.
apesar de terapia otimizada. 39 doentes encontra- O valor médio de NT-proBNP foi de 5177 pg/mL nos
vam-se em situação de doença grave e irreversível. doentes com disfunção e 923 pg/mL nos sem dis-
função. O valor máximo de troponina I não apresen-
Nos serviços de MI a referenciação para os CP é tou correlação nem com a FEVE (p=0,786) nem com
ainda muito pouco realizada apesar uma parte dos a disfunção do VE (p=0,351). A presença de disfun-
doentes internados terem indicação e beneficiarem ção do VE correlacionou-se com a prescrição de pelo
deste tipo de cuidados. Deve haver uma maior cons- menos um fármaco modificador de prognóstico de
ciencialização dos profissionais de saúde para este insuficiência cardíaca (IC) (beta-bloqueante, inibidor
tema, assim como um maior investimento em equi- do sistema renina-angiotensina-aldosterona, antago-
pas de CP. nista dos recetores de aldosterona ou angiotensina;
p<0,001). Verificou-se também uma correlação entre
CO n.º 0869  o valor da FEVE e o número de fármacos prescritos
Análise comparativa de meios diagnósticos na mio- (p<0,001, r=-0,448).
cardite aguda - um estudo de coorte
Filipa Ramalho Rocha(1);Tiago Neto Gonçal- Conclusão: Nos doentes com MA, a avaliação da
ves(1);Margarida l. Nascimento(1);Rui Casanova(1);- FEVE e morfologia do VE apresenta boa correlação
Filipa Malheiro(1);Sérgio Garção Baptista(1);Natália entre RMC e ETT. A presença de hipersinal T2 global
Marto(1);Alexandra Bayão Horta(1) em RMC e o valor máximo de NT-proBNP associa-
(1) Hospital da Luz Lisboa ram-se à disfunção do VE que, por sua vez, se asso-
ciaram à prescrição de fármacos modificadores de
Tema: Doenças cardiovasculares prognóstico de IC. A troponina I, apesar do seu papel
diagnóstico, não parece relacionar-se com outros cri-
Introdução: A miocardite aguda (MA) é um dos térios de gravidade.  
principais diagnósticos diferenciais dos doentes
que se apresentam com dor torácica e elevação de CO n.º 0872 
biomarcadores de lesão miocárdica. A ressonância Caracterização dos utentes com Síndrome Metabó-
magnética cardíaca (RMC) constitui o método gol- lica da consulta de Diabetes Mellitus
d-standard para o diagnóstico não invasivo, sendo Inês Salvado de Carvalho(1);João Barros Rodri-
considerada mais sensível que o ecocardiograma gues(1);Joana Caires(1);Maria João Baldo(1);João
transtorácico (ETT) para avaliação morfológica e Correia(1)
funcional do miocárdio.  (1) Unidade Local de Saúde da Guarda, EPE / Hospi-
tal Sousa Martins
Objetivo: Comparar os diferentes métodos de avalia- Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e
ção do envolvimento miocárdico nos doentes com nutricionais
MA e avaliar o seu impacto na decisão terapêutica.    
Métodos: Estudo retrospetivo, observacional, de Introdução: Nos últimos anos, associado ao aumen-
doentes adultos internados com o diagnóstico de to das taxas mundiais de obesidade e de estilos
MA, no Serviço de Medicina Interna de um hospi- de vida sedentários, assiste-se em todo o mundo
tal português, entre janeiro de 2009 e dezembro de a uma progressão ascendente da prevalência da
2019. A amostra corresponde a um universo de 116 Síndrome Metabólica (SM), sendo cada vez mais
doentes admitidos por MA. Com recurso à consulta um problema grave de saúde publica. A SM é uma
dos registos clínicos foram analisados dados demo- entidade patológica própria, que se associada a um
gráficos, clínicos e resultados de exames comple- aumento significativo do risco de comorbilidades
mentares de diagnóstico. A análise estatística des- cardiovasculares e Diabetes Mellitus (DM) tipo 2.
critiva foi realizada a partir do SPSS, versão 26.0
Objetivo: Caracterizar a população da consulta de
Resultados: Dos 116 doentes com o diagnóstico de DM com a SM, durante cinco meses.
MA, 114 doentes (92.2%) realizaram ETT e 89 (76.7%)
realizaram também RMC. A maioria dos doentes era Materiais e Métodos: Estudo retrospetivo, objetivo
do sexo masculino (74.2%) com uma média de idade que incluiu os utentes de duas consultas de DM de
de 39 anos. A disfunção ventricular esquerda (defi- um Hospital Distrital, no período de 1 de janeiro a 31
nida como fração de ejeção do ventrículo esquerdo de maio de 2020. Foram utilizados os critérios mo-
(FEVE) ≤ 50% e/ou descrição de hipocinésia do VE) dificados, definidos pela National Cholesterol Edu-
verificou-se em 22 doentes (24.7%) que realizaram cation Program´s Adult Treatment Panel III e Fede-
RMC. Verificou-se concordância entre a FEVE avalia-
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 115
ração Internacional de Diabetes, para identificação tem-se tornado prioridade em todos os hospitais e
dos utentes com SM. As variáveis analisadas: sexo, permitiu criação de Hospitais de Dia.
idade, valor de HbA1c (1ª consulta e variação), com-
plicações da DM, critérios de diagnóstico da SM, Objetivo: Descrição da população que frequentou o
terapêutica (tipo, adesão e reformulação) e referen- Hospital de dia do Serviço de Medicina Interna do
ciação a consulta de nutrição. Os dados foram co- Hospital Distrital durante um ano.
lhidos pela consulta do processo clínico em suporte
informático (S-Clinico®) e Modlab®, posteriormente Material e Métodos: Estudo retrospetivo, objetivo e
procedeu-se a uma análise estatística descritiva descritivo. Foram avaliados os utentes que recorre-
através do SPSS®. ram ao Hospital de Dia do Serviço de Medicina In-
terna no período decorrido de 1 a 31 de dezembro
Resultados: A amostra da consulta de DM apresen- de 2019. Os dados para o presente estudo foram
tou 154 pacientes, desta 87% dos utentes apresen- colhidos através da consulta do processo clínico em
tavam critérios de SM. Dos utentes com SM, 50% suporte informático (S-Clinico®) e posteriormente
eram do sexo feminino e a média de idades foi de executou-se uma análise estatística descritiva com
69.8 anos. Aplicando os critérios assumidos: 99.4% recurso ao SPSS®. As variáveis avaliadas foram:
apresentavam DM, 96.1% preenchiam o critério de sexo, idade, autonomia, residência, referenciação,
colesterol HDL baixo, 81.2% hipertensão, 39% obesi- comorbilidades, número de diagnósticos
dade e 29.2% hipertrigliceridemia. O valor médio de secundários, exames complementares de
HbA1c na 1ª consulta foi de 9.1% e ocorreu a sua diagnóstico, procedimentos, educação, terapêutica
redução nas consultas subsequentes em 61% dos (tipo, conformidade e reformulação), destino
casos. Cerca de 96% dos utentes com SM apresen- após alta, recorrência à urgência, internamento e
tavam complicações associadas à DM, sendo que mortalidade. 
83% já apresentavam complicações na 1ª consulta.
As complicações mais frequentes foram: 92.5% hi- Resultados: Dos 543 utentes identificados no estudo,
pertensão arterial, 34.3% nefropatia diabética, 25.4% 63.7% eram do sexo feminino, a média de idades foi
doença arterial coronária, 17.2% retinopatia diabéti- de 67 anos, 93.6% apresentavam residência em do-
ca, 14.2% esteatose hepática e 11.9% doença cere- micílio próprio ou familiar, 91.2% eram independen-
brovascular. O tipo de terapêutica para a DM instituí- tes nas atividades de vida diária. A referenciação foi
da foi em 59.7% antidiabéticos orais em conjugação realizada em 77.3% dos casos pela consulta externa
com insulina, 26.9% antidiabéticos orais e 13.4% e 16.6% após internamento. A avaliação em Hospital
insulinoterapia. Os antidiabéticos orais mais utiliza- de Dia foi em 40.5% dos casos para realização de
dos foram: 64.9% Biguanidas, 62.7% inibidores da terapêutica, em 31.9% dos casos para reavaliação e
DPP4, 39.5% inibidores SGLT2, 19.4% análogos GLP- 16.4% para realização de procedimentos. As comor-
1 e 13.4% sulfonilureias. Dos utentes com SM 97.8% bilidades mais frequentes foram: 60% hipertensão
realizavam fármacos antidislipidémicos. Houve re- arterial, 45.7% dislipidemia, 38.3% anemia, 33.7% dia-
formulação terapêutica em 98.5% dos casos e boa betes Mellitus, 30% patologia osteoarticular, 28.4%
adesão terapêutica em 63.8%. Em 100% dos casos patologia tiroidea e 27.1% insuficiência cardíaca. A
ocorreu referenciação á consulta de nutrição. média de diagnósticos secundários foi de 5. Da po-
pulação do estudo 37.4% foram submetidos a exa-
Conclusão: A população com DM apresenta já um mes complementares de diagnóstico e 21% realiza-
elevado risco para a presença da SM.  O controlo ram procedimentos, dos quais em 81% dos casos foi
adequado da DM e dos restantes fatores metabóli- realizado medulograma e fenotipagem. Em termos
cos que a constituem permitem reduzir a morbilida- de terapêutica farmacológica, os utentes realizavam
de e mortalidade associadas. O principal foco nesta em média 6.9 fármacos (a entrada), 48.6% a terapêu-
população deve ser a deteção precoce de potenciais tica referida foi semelhante ao registo médico e foi
complicações cardiovasculares, de forma a anteci- realizada reformulação terapêutica em 26.5% dos
par a intervenção. casos. Realizaram terapêutica em Hospital de dia
CO n.º 0874  67% dos pacientes, destes 65.1% realizaram carbo-
Caracterização dos utentes do Hospital de Dia de ximaltose férrica, 13.5% furosemida e 11.3% fluidote-
Medicina Interna durante um ano. rapia. Apenas 1.7% dos utentes tinha prescrito oxige-
Inês Salvado de Carvalho(1);João Barros Rodri- noterapia.  A educação do paciente foi realizada em
gues(1);Joana Caires(1);Maria João Baldo(1);João 3.3% dos casos. O destino dos utentes foi em 79.9%
Correia(1) dos casos a consulta externa e em 11.4% seguimen-
(1) Unidade Local de Saúde da Guarda, EPE / Hospi- to com médico assistente. Após avaliação em Hos-
tal Sousa Martins pital de dia, 6.3% doentes recorreram SU aos 7 dias e
14% aos 30 dias. Aos 7 dias, 4.8% dos utentes foram
Tema: Organização, gestão e qualidade de serviços internados tendo o valor aumentado para 6.8% aos
de saúde 30 dias. Dos internados, 65.4% foram internados do
SU aos 7 dias e em 75.7% aos 30 dias. Após interna-
mento houve indicação para avaliação em Hospital
Introdução: Os cuidados de saúde de ambulatório de dia em 59.5% dos casos. E dos internados houve
são cada vez mais a melhor resposta para a pres- reinternamentos em 45.9% dos utentes. A mortalida-
tação de cuidados de saúde aos doentes crónicos. de aos 7 dias foi 0.7% e de 1.7% aos 30 dias.
A evolução da prestação de cuidados ambulatórios

116
COMUNICAÇÕES ORAIS
Conclusões: O Hospital de dia é cada vez mais SOFA > 4 foi identificado em 15 casos (39,5%). Nove
como uma alternativa ao internamento tradicional e doentes faleceram no hospital (23,7%). Entre estes,
que permite melhorar a qualidade assistencial pres- encontrámos maior proporção de: proveniência de
tada aos utentes com doenças crónicas. lar (66,5% versus 24,1%, p = 0,019), etilismo (44,4%
versus 13,8%, p = 0,049) e isolamento de segunda
CO n.º 0891  bactéria no sangue periférico (44,4% versus 13,8%,
Bacteriémia a Proteus mirabilis: caracterização e p = 0,049). Como fatores independentes preditores
fatores preditores de prognóstico do desfecho em estudo encontrámos etilismo (odds
Mariana Bilreiro(1);Luís Correia(1);Bela Macha- ratio [OR] 11,8, p = 0,031) e isolamento multimicro-
do(1);Carolina Barros(1);Helena Luís(1);Mariana Go- biano (OR 16,2, p = 0,032).
mes(1);Ana Sofia Silva(1);Nuno Canhoto(1);Rafael
Freitas(1) Conclusões: A bacteriémia a Proteus mirabilis acar-
(1) Hospital Dr. Nélio Mendonça reta elevada mortalidade. O alcoolismo e o isola-
mento multimicrobiano foram associados a um pior
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias prognóstico.

Introdução: O Proteus mirabilis pertence à família CO n.º 0916 


das Enterobacteriaceae e é capaz de causar infeção A associação do Rituximab e doença pulmonar in-
no ser humano. Frequentemente está associado a tersticial – revisão de dois casos clínicos.
infeção do trato genitourinário mas em casos raros Rita Rego(1);Beatriz Ferraz(1);João Coelho(1);Sara
consegue invadir a corrente sanguínea. Xavier Pires(1);Andrea Mateus(1);João Neves(1);-
João Araújo Correia(1)
(1) Centro Hospitalar do Porto, EPE / Hospital Geral
Objetivo: Caracterizar os casos de bacteriémia a Pro- de Santo António
teus mirabilis e identificar fatores associados a um
pior prognóstico. Tema: Doenças respiratórias

Métodos: Elaborámos um estudo retrospetivo des-


critivo e analítico que incidiu sobre os casos de bac- Introdução
teriémia a Proteus mirabilis verificados em doentes
admitidos num serviço de Medicina Interna entre 1               O rituximab é um anticorpo dirigido contra o
de janeiro de 2014 e 31 de dezembro de 2019. Obti- CD-20 que é usado no tratamento de várias doenças
vemos dados sócio-demográficos e fatores de risco autoimunes e hematológicas.  A doença intersticial
para bacteriémia. Extraímos os dados semiológicos pulmonar (DIP) associada a este fármaco é um efei-
e laboratoriais. Recolhemos dados quanto ao foco to adverso considerado raro manifestando-se por
primário, antibiograma do Proteus mirabilis isolado, febre, dispneia e tosse até meses após a sua admi-
antibioterapia empírica iniciada e necessidade de nistração.
substituição. Verificámos o desfecho composto de
ocorrência de óbito intra-hospitalar ou admissão em                           Descrevemos em seguida dois casos de
unidade de cuidados intensivos. Para a análise biva- DIP associada ao Rituximab de forma a realçar esta
riada utilizámos o teste t ou X2 para variáveis con- relação rara, potencialmente grave  e que pode estar
tínuas ou categóricas, respetivamente. Para análise subdiagnosticada.
multivariada, elaborámos um modelo de regressão
logística para identificar de fatores preditores do Caso Clínico 1:
desfecho usando como confundidores a idade e o
             Mulher de 24 anos, com púrpura trombocitopénica
índice Sequencial Organ Failure Assessment (SOFA)
imune sob corticóide e rituximab, com última toma
aquando do diagnóstico da infeção. Considerámos
um mês antes da admissão, tendo sido esplenecto-
resultados com significado estatístico quando o
mizada por trombocitopenia refratária. 
valor p < 0,050. Utilizámos o programa institucional
para a consulta do processo clínico. O processamen-               Recorre ao SU por dispneia  agravada ao
to estatístico foi realizado no IBM SPSS versão 19. repouso, ortopneia e tosse seca nos últimos dias.
Ao exame objetivo, apresentava-se febril, sem ou-
Resultados: A amostra foi composta por 38 casos.
tras alterações. No estudo analítico, com leucocito-
Vinte e quatro pertenciam ao sexo masculino (63,3%).
se  (12,38 x10^3/µL) e elevação da PCR  (52,37 mg/
A média das idades foi de 77,0 anos (desvio-padrão
dL).  D-dímeros (5250ng/mL) pelo que realizou An-
13,3). Entre os fatores mais frequentes encontrá-
gio-TC que excluiu TEP, mas mostrou densificação
mos: doença cerebrovascular (17 casos; 44,7%), dia-
parenquimatosa generalizada, em vidro despolido,
betes mellitus (11 casos; 28,9%) e etilismo (8 casos;
ocupando todos os lobos pulmonares.              
21,1%). Os focos primários mais frequentes foram:
urinário (17 casos; 44,7%) e respiratório (14 casos;               Durante o internamento, evoluiu com febre
36,8%). Em seis casos (15,8%) foi isolado Proteus mi- sustentada, insuficiência respiratória  e ausência de
rabilis com resistência a três classes de antibiótico. resposta à antibioterapia instituída. Assumida DIP
Em 8 casos (21,1%) foi isolado uma segunda bacté- apesar de ausência a exposição infeciosa, ocupa-
ria no sangue periférico. Quatro casos (10,5%) foram cional ou habitacional conhecidas, tendo realizado
considerados como infeção hospitalar. Um índice lavado broncoalveolar (LBA) de predomínio linfocíti-

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 117


co com exame cultural negativo para agentes micro/ Gaudêncio(1);Rosário Santos Silva(1);Abílio Gonçal-
micobacteriológicos; serologias e pesquisa de vírus ves(1)
também negativas. (1) Hospital Distrital da Figueira da Foz, EPE
              Após excluir etiologia infeciosa iniciou trial Tema: Medicina geriátrica
de corticoterapia com melhoria clínica pelo que foi
assumida DIP associada à toma de rituximab. Introdução: O envelhecimento verificado à escala
              Repetiu tomografia computorizada (TC) com global reflecte-se nos internamentos, com doentes
resolução praticamente total do vidro despolido. mais idosos, com complexas comorbilidades. O
internamento é um evento com repercussão na ca-
Caso Clínico 2: pacidade funcional e social do idoso, que fica mais
isolado e fora da sua rotina.
                          Mulher de 34 anos com diagnóstico de
miastenia gravis sob piridostigmina e corticoterapia. Objetivos: Estudo prospectivo do impacto do inter-
Evolução refratária à terapêutica tendo iniciado trata- namento no estado funcional e social do idoso.
mento com Rituximab.
Métodos: Incluídas as admissões entre 01/10/2020
                          Após 2 ciclos com melhoria parcial de e 30/11/2020 de uma enfermaria de medicina inter-
sintomas miasténicos mas com agravamento pro- na. Excluídos os doentes com idades inferiores a 65
gressivo da dispneia e evidência de síndrome venti- anos ou transferidos para outra instituição de saúde.
latório restritivo grave com DLCO diminuída. Interna-
da para estudo tendo realizado TC tórax a mostrar Avaliado, antes e após o internamento de cada doen-
padrão em vidro despolido difuso bilateralmente as- te, o seu estado funcional com Escala de Katz (Katz),
sim como aréas de infiltrados mal definidos no lobo Escala de Lawton & Brody (LB) e Marcha de Holden
superior e inferior esquerdo e segmento anterior do (MH); o seu estado social (local de residência e cui-
lobo superior direito. dador de referência); dispositivos médicos: sonda
nasogástrica (SNG) e sonda vesical (SV); Charlson
              Realizou LBA com pesquisa de P. jirovecii Comorbidity Index (CCI) e a pergunta-surpresa à data
positiva tendo efetuado tratamento para pneumocis- de alta, baseada na apreciação subjetiva da sobrevi-
tose com melhoria clínica, assumindo-se etiologia da aos 12 meses.
infeciosa para o quadro.  TC de reavaliação com re-
solução das àreas de vidro despolido. A estatística foi efetuada através do SPSS ® versão
18.
              Em 2016 faz novo tratamento com Rituximab,
com agravamento progressivo da dispneia. TC tórax Resultados: Incluídos no estudo 124 doentes, com
a mostrar novamente infiltrados em vidro despolido idades entre os 65 e os 98 anos, sendo a média de
difusos bilateralmente.  81,8 + 8,3 anos. Predominou o sexo feminino, o es-
tado civil de casado, sendo o cuidador mais frequen-
              Perante a recorrência do padrão radiológico, te o institucional (n=41), seguido de filho (n=27). A
sintomas e após exclusão de outras etiologias, maioria dos doentes eram provenientes do domicilio
assumido quadro de DIP secundária ao Rituximab (n=83). Apenas 8 doentes alteraram o seu local de re-
pelo que foi descontinuado o tratamento e aumenta- sidência após alta. A demora média foi de 12,1 + 12,2
da corticoterapia. dias, sendo o mínimo 1 e máximo 75 dias. O princi-
pal motivo de internamento foi a infeção respiratória,
              Em observações subsequentes objetivada
seguido de insuficiência cardíaca e infeção urinária.
resolução das àreas em vidro despolido, melhoria da
dispneia e capacidade de difusão. O Katz, LB e MH médio à admissão foi de 2,7; 1,7 e
1,9, respectivamente. À data de alta foi de   2,4; 1,3 e
Conclusão
1,6. O internamento agravou o Katz, LB e MH num nú-
              A DIP associada ao rituximab é uma complica- mero reduzido de doentes, mas também se verifica-
ção rara, havendo poucos casos documentados na ram 40 doentes com valores mínimos nas 3 escalas
literatura, a maioria em doente com linfoma, sendo em simultâneo à admissão. Em média, os doentes
a sua verdadeira incidência desconhecida principal- que agravaram o Katz durante o internamento ti-
mente nas restantes patologias. nham mais 4,6 + 2,2 anos (p=0.04) e ficam mais 12.3
+ 4.7 dias internados (p=0.02). A demora foi maior
              Estes casos mostram a utilização do rituxi- nos doentes com agravamento da MH.
mab em doenças distintas mas onde se observou o
mesmo efeito adverso sendo o seu reconhecimento Dos 91 doentes com alta, 15,4% tinham SNG e 24,2%
importante para um diagnóstico e intervenção atem- tinham SV. Em 6,6% e em 14,3% dos doentes, a SNG
pados. e a SV foi colocada durante o internamento, respec-
tivamente. Tiveram alta com ambos os dispositivos
CO n.º 0917  11% dos doentes, sendo que metade destes já eram
O impacto do internamento de Medicina Interna no portadores destes dispositivos.
estado funcional e social do idoso
Ivo Barreiro(1);Maria Inês Bertão(1);Margarida O CCI médio dos doentes com resposta afirmativa à

118
COMUNICAÇÕES ORAIS
pergunta surpresa foi significativamente inferior ao cou-se um aumento de 16% do número total de in-
CCI médio dos doentes com resposta negativa. ternamentos por CD/CHH em 2020 (95 vs 82) e uma
duplicação do número total de óbitos por CD/CHH
A fisioterapia foi significativamente mais realizada (16 vs 8), com um aumento de 73% da letalidade por
em doentes nos quais se verificou um agravamento CD/CHH (16,8% vs 9,8%, p = 0,1697). Em 2020, neste
das escalas funcionais, mas não alterou significati- hospital, existiu uma diminuição de 21,5% do núme-
vamente as escalas. ro global de internamentos de doentes não infetados
por SARS-CoV2 (21647 vs 16999). Assim, verificou-
A taxa de mortalidade foi de 26,6%, sem nenhum dos -se um aumento relativo de 47,5% do número de in-
factores avaliados significativamente associado à ternamentos por CD/CHH (5,59 vs 3,79 internamen-
mortalidade. tos por CD/CHH por 1000 doentes não infetados
por SARS-CoV2, p = 0,0093) e um aumento relativo
Conclusões: O doente idoso mais frequentemente
de 155% do número de óbitos por CD/CHH (9,41 vs
internado tem 81 anos, é mulher, casada, proveniente
3,37 óbitos por CD/CHH por 10.000 doentes não in-
do domícilio. O dispositivo mais frequentemente co-
fetados por SARS-CoV2, p= 0,0251). Em 2020 verifi-
locado foi a SV. Apresenta escalas de Katz, LB e MH
cou-se uma subida média de idades em doentes não
à admissão muito baixos. O seu CCI apresenta boa
infetados por SARS-CoV2 com CD/CHH em 13 anos
correlação com a pergunta surpresa. O internamen-
(69,1 ± 17,6 vs 56,3 ± 22,4, p<0,001), com um aumen-
to, apesar de se traduzir num agravamento geral das
to da percentagem de doentes com idade superior a
escalas, não se refletiu num agravamento estatisti-
50 anos (96% vs 62%, p<0,001) e idade superior a 70
camente significativo da capacidade funcional dos
anos (60% vs 42%, p = 0,0169). Em 2019 a mortalida-
doentes. O agravamento de uma das escalas Katz,
de de doentes internados na Unidade de Cuidados
LB e MH relaciona-se fortemente com o agravamen-
Intensivos (UCI) foi de 0% (0 óbitos em 25 doentes
to das restantes. A fisioterapia, apesar de não ter
internados). Em 2020 foi de 28,6% (4 óbitos em 14
alterado significativamente o estado funcional dos
internados). Em 2020 a média de idades de doentes
doentes, foi mais efetuada naqueles que agravaram,
admitidos na UCI foi cerca de 20 anos superior (63,5
no sentido de recuperarem a sua autonomia.
± 16,6 vs 42,6 ± 20,2, p = 0,001), com um aumento
CO n.º 0927  da percentagem de doentes com idade superior a
Internamentos por Síndromes Hiperglicémicos – 50 anos (83% vs 29%, p = 0,0012) e idade superior
comparação entre 2020 e 2019. a 70 anos (58% vs 17%, p = 0,0078).  O valor médio
Henrique José da Costa Pina(1);Sofia Pimente- da HbA1c foi semelhante (11,4 ± 2,7 vs 11,9 ± 3,0,
l(1);Nuno Fernandes(1);Ana Rita Ambrósio(1);Rita p=0,249). A percentagem de doentes com HbA1c >
Jorge(1);Joana de Oliveira(1);Fernando Martos Gon- 8,0% foi semelhante (80% vs 86%, p=0,2887). O nú-
çalves(1);José Araújo(1) mero de dias de internamento foi também semelhan-
(1) Hospital Beatriz Ângelo te (11,7 ± 9,1 vs 11,6 ± 12,5, p=0,952).

Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e CONCLUSÕES


nutricionais
Na população não infetada por SARS-CoV2 encon-
traram-se diferenças estatisticamente significativas
Introdução: Em 2020 a pandemia causada pela infe- no número relativo de internamentos e letalidade por
ção por SARS-CoV2 trouxe consigo um agravamen- CD/CHH.
to da dificuldade de acesso aos cuidados de saúde
pela população, com uma deterioração no segui- Estes resultados evidenciam a perspectiva empírica
mento dos doentes, diminuição importante do nú- de que as consequências da pandemia se reflecti-
mero de consultas, avaliações médicas e cirurgias. ram também de forma considerável no controlo de
doenças crónicas como a diabetes mellitus tendo-se
verificado maior percentagem de internamentos por
OBJETIVO: Avaliar o impacto da pandemia por SAR- descompensação grave nesta fase.
S-CoV2 nos internamentos por descompensação
diabética grave com o desenvolvimento de síndro- CO n.º 0970 
mes hiperglicémicos, através da comparação entre NEM TUDO É COVID: A IMPORTÂNCIA DA REFE-
2020 e 2019. RENCIAÇÃO AOS CUIDADOS PALIATIVOS MESMO
EM ÉPOCA DE PANDEMIA
MATERIAL E MÉTODOS: Estudo retrospetivo por con- Fátima Costa(1);Carolina Seabra(1);Bárbara Sil-
sulta de processo clínico: Coorte de 177 doentes in- va(1);Luís Nogueira(1);Ricardo Fernandes(1);Inês
ternados num hospital periférico com o diagnóstico Ferreira(1);Graça Ferraz(1);Mari Mesquita(1)
de cetoacidose diabética (CD) ou coma hiperglicémi- (1) Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, EPE /
co hiperosmolar (CHH) entre 2019-2020. Usaram-se Hospital Padre Américo, Vale do Sousa
testes estatísticos paramétricos, para um nível de
significância estatística (α) de 0.05, para compara- Tema: Cuidados paliativos
ção dos dois períodos de tempo.
RESULTADOS: Introdução: A Medicina Paliativa (MP) é uma área
em crescimento em Portugal, contudo ainda insufi-
Na população não infetada por SARS-CoV2, verifi- ciente para as necessidades dos doentes. Segundo

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 119


dados de 2018, por ano a população com necessi- Interações farmacológicas em doentes internados
dade de cuidados paliativos (CP) é de cerca de 102 em Medicina Interna - uma realidade a mudar.
452 pessoas. Destas apenas 25 570 (25%) foram José Filipe Santos(1);Guilherme Camões(1);Carolina
seguidas e acompanhadas por equipas de cuidados Martins(1);Joana c. Ramos(1);Diana m. Ferreira(1);-
paliativos (comunitárias [ECSCP], intrahospitalares Jorge Leitão(1);Arsénio Santos(1);Armando Carva-
[EIHSCP] ou unidades de cuidados paliativos [UCP]). lho(1)
(1) Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra /
Objetivo: Caracterização da população em estudo e Hospitais da Universidade de Coimbra
comparação das necessidades (NP) e acesso aos Tema: Outro
cuidados paliativos de doentes internados num en-
fermaria de Medicina Interna em dois anos conse-
cutivos, tentando identificar o impacto da Pandemia Introdução: a polipatologia habitual em populações
COVID-19 na referenciação destes doentes. idosas obriga a esquemas terapêuticos progressi-
vamente mais complexos, propensos a interações
Material e Métodos: Estudo observacional, transver- medicamentosas nocivas. É importante reconhecer
sal, retrospetivo, que incluiu todos os doentes admiti- as interações medicamentosas mais frequentes e
dos num internamento de Medicina Interna (MI), nos de maior gravidade, o que facilita a otimização tera-
meses de novembro e dezembro de 2019 e 2020, pêutica, limita a iatrogenia e reduz os custos asso-
com status SARS-CoV2 negativo. Aplicada a Pallia- ciados aos cuidados de saúde.
tive Performance Scale (PPS) e a Palliative Care
Screening Tool (PCST), de modo a identificar doen- Objetivo: averiguar a prevalência de interações medi-
tes com critérios de referenciação aos CP. Foi criada camentosas, a sua gravidade e a possível existência
uma base de dados no Software Microsoft Excel® de contraindicação para algumas associações medi-
com posterior tratamento dos dados recorrendo ao camentosas em meio hospitalar.
SPSS® versão 25.
Material e métodos: foram recolhidos dados clínicos
Resultados: Foram admitidos em enfermaria não- de doentes internados em Medicina Interna a 18 de
-COVID 1020 doentes (730 em 2019 e 290 em 2020). Janeiro de 2021 (N=203). As possíveis interações
Em 2019, verificou-se uma média de idades de 71,78 das terapêuticas habituais foram avaliadas com re-
anos com uma mediana de 75 anos, predominância curso à aplicação Medscape e posteriormente impor-
(52,7%) do sexo masculino, PPS mediano de 80%. tados para SPSS para análise estatística descritiva.
As comorbilidades mais frequentes foram doença
cardíaca (DC) (31,8%), doença pulmonar obstruti- Resultados: em média, cada doente estava medi-
va crónica (DPOC) (20%), doença cerebrovascular cado com 8,30 substâncias ativas, com um desvio-
(DCV) (18,2%), neoplasia (16,3%), doenças renal (DR) -padrão de 3,72 e somente uma minoria (3,4%) não
(12,5%) e hepática (DH) (7%). Foram referenciados fazia qualquer medicação habitual. Foram detetadas
à EIHSCP 3% (n=22) sendo que destes, 66,7% eram 1288 interações no total, com uma média de 6,34 por
oncológicos (DO) e 33,3% não oncológicos (DNO). doente. Apenas 13,8% não apresentavam interações,
Segundo a PCST 26,8% deveria ter sido avaliada por verificando-se um caso único de 46 interações num
CP. Já em 2020 verificou-se uma média de idades de doente medicado com 17 princípios ativos diferen-
73,39 anos com mediana de 76 anos, mantendo-se tes.
predominância (61,4%) do sexo masculino, PPS me-
diano de 75%. As principais comorbilidades foram Encontraram-se interações potencialmente graves
DC (31,4%), DCV (23,8%), neoplasia (19,7%), DPOC em 37,2% da amostra. O sinergismo e o antagonis-
(16,6%), DR (15,9%) e DH (11,4%). Foram referencia- mo farmacodinâmico foram os mecanismos de in-
dos à EIHSCP 2,8% (n= 8) na sua totalidade tratavam- teração mais frequentes, refletindo-se sobretudo em
-se de DO. No total 33,1% destes doentes deveriam efeitos de toxicidade direta e na redução de eficácia
ter sido avaliados e seguidos por CP. de um dos fármacos. Dos doentes com interações
graves, 10,8% (n=8) apresentaram sintomas, nomea-
Conclusão: Ainda que o impacto da pandemia possa damente manifestações hemorrágicas e agravamen-
não ter sido significativo nesta amostra de doentes to da função renal. Não foram encontradas associa-
não COVID, existe ainda uma desproporção entre ções contraindicadas.
as NP e uma resposta atempada e adequada. Man-
tém-se a preponderância da referenciação em DO. Conclusões: os nossos doentes estavam polimedi-
Os doentes que deveriam ter tido apoio da EIHSCP cados e as interações existiam em mais de 85% dos
foi superior em 2020, face a 2019 (p<0,05), podendo doentes, sendo graves em quase 40%. Um em cada
ser explicado talvez pelo atraso na procura de cuida- 10 doentes tinha alterações clínicas relacionadas
dos dado o contexto epidemiológico e consequente com as interações graves. As ferramentas eletróni-
progressão/agudização das DO e DNO, o que pode cas, apesar das limitações inerentes, devem ser usa-
explicar aumento da gravidade com impacto na mor- das como auxiliar da decisão médica para reduzir ao
bilidade e mortalidade. Futuros estudos podem ser mínimo a possibilidade de interações medicamento-
feitos comparando doentes infetados e não infeta- sas.
dos pelo SARS-CoV2.
CO n.º 1061 
CO n.º 1004  CARATERÍSTICAS DE UMA UNIDADE DE HOSPITA-
120
COMUNICAÇÕES ORAIS
LIZAÇÃO DOMICILIÁRIA (UHD) DE UM HOSPITAL para a nossa unidade. Além disso, é útil na gestão
DE TERCEIRO NÍVEL e continuação de cuidados domiciliários em várias
Lorena Lozano Real(1);Catarina Rodrigues(1);Paula doenças altamente complexas e também para con-
Sofia Araújo(1);Mykhailo Iaschuck(1);Daniela Sil- seguir num estado de emergência e alarme como o
va(1);Mariana Quelhas(1);Juan Urbano Gálvez(1) acontecido por uma pandemia, aliviar o estado de
(1) Hospital de Santa Luzia sobrelotação que pode acontecer nos diversos ser-
viços hospitalares.
Tema: Outro
Conclusão: As UHDs são um recurso muito
Objetivos: Descrever a atividade numa Unidade de importante para o seguimento de muitas doenças,
Hospitalização Domiciliária (UHD) de um hospital com um valor acrescentado para o doente e a sua
de terceiro nivel durante os seus primeiros cinco família por estar a receber os cuidados hospitalares
meses assim como as caraterísticas dos doentes no próprio domicilio assim como diminuir as com-
internados, a procedência e as doenças mais plicações e os riscos acrescidos duma hospitaliza-
frequentes no estado de pandemia. ção convencional. No contexto da pandemia atual,
estas unidades foram muito importantes para aliviar
o número de camas intra-hospitalares assim como
Método: Estudo descritivo que inclui todos os doen- de imenso valor psicológico para os doentes e as
tes internados na UHD nos primeiros cinco meses de famílias.
vida da nossa unidade. Os dados foram obtidos atra-
vés de uma base de dados copilada pelos autores. CO n.º 1092 
Prediction of 30-day readmission among a cohort
Resultados: Foram internados um total de 141 doen- of patients with heart failure - a prediction score.
tes, 81 do sexo feminino e 60 do sexo masculino com Luis Melo(1);Leonor Boavida(1);Mariana Barosa(1);-
uma idade média de 66,2 anos e 7,5 dias de estância David Roque(1);Daniel Faria(1);Ana Corte-Real(1);-
média. Os doentes procederam a grande maioria do João Serôdio(1);Filipe Seguro Paula(1);Susana Oli-
concelho de Elvas (56.75 %, 80 doentes) e Campo veira(1);José Delgado Alves(1)
Maior (23.4 %, 33 doentes). Os doentes foram trans- (1) Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca
feridos a maioria do Serviço (S) de Medicina Interna
( 24.82 % 35 doentes ), Serviço de Urgências (SU) do Tema: Doenças cardiovasculares
Hospital ( 16.31 %, 23 doentes), S.Ortopedia ( 14.89
%, 21 doentes), S.Cirurgia Geral (CG) ( 14.18 %, 20 Background: Heart failure accounts for the majority
doentes), Unidade Funcional (UF) Covid 19 (14.18 of hospitalizations among patients over 65 years.
%, 20 doentes), Área reservada para doentes respi- 30-day readmissions due to heart-failure account
ratórios no SU  ( 10.64   %, 15 doentes), SU-Cirurgia for 20% of all hospital readmissions worldwide.
Geral e S. Observação do SU respectivamente ( 1.42 Identifying patients at high risk for readmission can
%, 2 doentes cada um) e desde o Centro de Saúde, help tailor interventions to prevent them. Prediction
Consultas externas de CG  e S.Radiologia respecti- scores have historically combined readmission and
vamente ( 0.71 %, 1 doente cada um).  As doenças death as a single outcome even though they might
atendidas foram a maioria do foro infecioso com a be impacted by different factors. There are no cur-
doença predominante nessa altura do ano, Pneumo- rent available models validated to address the spe-
nia a Covid 19 (24.82 %, 35 doentes), Infeção urinária cific risk of readmission. The purpose of the study
(4.96 %, 7 doentes) e Pneumonia não Covid (4.25 %, 6 was to develop a clinical prediction score for 30-day
doentes). Do foro médico foram atendidos doentes a readmission risk in patients with heart failure.
maioria com Insuficiência Cardíaca descompensada
(7.09 %, 10 doentes). Desde o Serviço de Cirurgia Ge-
ral, a doença com maior prevalência foi estatus pós Methods: This was a retrospective cohort study of
hernioplastia inguinal (4.96 %, 7 doentes) e desde o patients admitted for acute heart failure to an urban,
Serviço de Ortopedia a doença predominante foi o secondary hospital in 6 consecutive months (Jan
seguimento do doente com cirurgia para colocação 2017 – Jun 2017). Clinical and demographical data
de prótese total de joelho (3.54 %, 5 doentes) seguido were available for 230 patients (mean age 78 years,
de prótese total de anca (2.13 %, 3 doentes). 44.8% men). We performed an explorative analysis
to develop a prediction model for 30-day heart fail-
Embora não se tenham registrado óbitos no interna- ure-related readmission. Validation of the model was
mento da UHD, foram registadas um total de cinco conducted in a separate cohort of 87 randomly se-
complicações (3.54 %) com reagudização da insu- lected patients admitted due to acute heart failure
ficiência respiratória em doentes com pneumonia a from 2011 to 2016.
Covid 19 pelo que foram reinternados na UF Covid.
Além disso, houve três doentes (2.12 %) reinternados Results: Within 30 days of discharge 48 patients
ao pedido da família por recusa por motivos sociais. (20.9%) were readmitted. Demographical and clinical
data produced the best predictive model (male sex,
Discusão: As UHDs consolidam-se no seguimento age, atrial fibrillation at admission, NYHA class and
e tratamento das mais diversas doenças, uma das volume overload at admission) with good discrimi-
mais frequentes a infeciosa como assim podemos nation (C-statistic=0.77 [95% CI: 0.69-0.84]). Valida-
observar a grande maioria dos doentes transferidos tion of the multivariate model in the separate showed

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 121


very good discriminatory power (C-statistic = 0.85 ses, não sendo significativamente inferior nos dts
[95% CI: 0.77 – 0.95]). com neoplasia (31,5 vs 78,0 meses [M]; HR 1,48;
p=0,174].
Conclusions: We developed a model to predict 30-
day heart failure related readmissions in patients in A SG foi significativamente inferior nos dts com ≥5
Portugal.  Further validation of the model is needed critérios HLH-2004 vs <5 (0,9 vs 86,5 M; HR 3,56;
and can help identify patients for tailored interven- p<0,001), mesmo após subanálise para causa neo-
tions. plásica/não-neoplásica (p=0,005/p=0,001); o mesmo
se verificou quando se compararam doentes com ≥3
CO n.º 1145  critérios vs <3 (p<0,001), mantendo-se descrimina-
Hemofagocitose na medula óssea: significado clí- dor após análise para causa neoplásica (p=0,025)/
nico e prognóstico numa população adulta não-neoplásica (p=0,002).
Cátia de Almeida(1);Tânia Cardoso(1);Adriana Ro-
que(1);Sónia Moreira(1);Joana Cascais Costa(1);Nu- A significância da presença de critérios HLH-2009
no Silva(1);Pedro Ribeiro(1);Armando Carvalho(1);- ou HScore>169 em análise univariada (p=0,034 e
Fernando Rodrigues(1);Ana Isabel Espadana(1) p=0,003, respectivamente), perdeu-se após suba-
(1) Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra / nálise nos dts com etiologia neoplásica (p=0,839 e
Hospitais da Universidade de Coimbra p=0,227).
Tema: Doenças hematológicas Conclusão: Na nossa cohort, a etiologia neoplásica
foi responsável pela maioria dos casos de hemofa-
Introdução: A linfohistiocitose hemofagocítica gocitose, independente da presença de critérios de
(LHH) está associada a elevada mortalidade e é LHH.
uma entidade de difícil diagnóstico, que se baseia Contrariamente ao descrito noutras séries, não exis-
na presença de 5 de 8 critérios HLH-2004, alguns tiu diferença estatisticamente significativa na SG em
dos quais (atividade natural killer e CD25s) pouco função da etiologia, provavelmente pelo subdiagnós-
acessíveis.  A demonstração morfológica de hemo- tico.
fagocitose constitui um dos critérios, não sendo
obrigatória para o diagnóstico de LHH, nem defini- A presença de ≥5 e ≥3 critérios HLH-2004 mostrou
dora deste. O seu significado clínico ainda não está bom poder discriminativo de SG, mesmo após su-
definido, em particular na população adulta. banálise para a etiologia. Os critérios HLH-2009 e o
HScore>169 perderam significância no grupo com
Objetivos: Avaliar o significado clínico e prognóstico causa neoplásica.
da presença de hemofagocitose medular.
CO n.º 1168 
Métodos: Análise unicêntrica retrospetiva dos doen- STROKE MIMICS NUMA UNIDADE DE AVC
tes (dts) adultos com hemofagocitose no aspirado Cristiana Camacho(1);Luís Maia Morais(1);Beatriz
medular (2007-2020). A identificação dos dts foi efe- Chambino(1);Claudio Gonçalves Gouveia(1);Pedro
tuada por pesquisa na base de dados por “fagocito- Neves Ferreira(1);Antony Dionísio(1);Nuno Ferrei-
se”, “fagócito” e “histiócito”. Identificaram-se 130 dts, ra(1);Teresa Mesquita(1);Luís Campos(1)
tendo sido excluídos 35 (25 por ausência de hemofa- (1) Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE /
gocitose evidente e 10 por indisponibilidade de infor- Hospital de S. Francisco Xavier
mação). Para a definição de LHH foram aplicados os
critérios HLH-2004 e os revistos HLH-2009. Foram Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas
considerados altamente sugestivos de HLH valores
de HScore>169 Introdução: Stroke Mimics são patologias que se
apresentam com défices neurológicos agudos e
Resultados: Foram incluídos 95 dts, 63,2% do que simulam um acidente vascular cerebral (AVC).
sexo masculino, com idade mediana de 64 (20- O diagnóstico inicial de AVC continua a ser clínico,
95) anos. Quanto à etiologia, considerou-se apesar do avanço nos métodos de imagem. A
em 51,6% dts neoplásica, em 13,7% infecciosa, necessidade de atuação rápida em doentes com
em 28,4% autoimune e em 28,4% idiopática. défices neurológicos de instalação ictal pode levar
ao internamento destas patologias em unidades de
Vinte e dois dts (23,2%) apresentavam ≥5 critérios AVC (UAVC).
HLH-2004 (dos quais 54,6% com etiologia neoplá-
sica) e 43 (45,3%) ≥3 critérios. Vinte e quatro dts
(25,3%) reuniam critérios HLH-2009 e 34 dts (35,8%) Objetivo:  Estudo descritivo da frequência, caracte-
tinham Hscore>169. rísticas clínicas e  outcome  dos  mimics  internados
numa UAVC, comparativamente com os doentes
A maioria dos doentes recebeu corticoterapia previa- com diagnóstico de AVC isquémico.
mente à identificação da causa, após a qual a tera-
pêutica passou a ser dirigida. Um dt recebeu o proto-  Material e Métodos: A análise foi baseada na revi-
colo HLH-1994. são retrospetiva dos processos dos doentes admiti-
dos na UAVC durante o ano de 2019.
A sobrevivência global (SG) mediana foi de 39,4 me-

122
COMUNICAÇÕES ORAIS
 Resultados: Dos 272 doentes internados, 15 fo- cada a escala Paliative Performance Scale (PPS), o
ram classificados como stroke mimic (6%). A idade questionário Integrated Paliative care Outcome Scale
média destes doentes foi de 56 anos, inferior à dos (IPOS) e o questionário de necessidades paliativas
doentes com AVC isquémico (p=0.01). Sessenta (NECPAL).
e sete por centro dos doentes apresentava pelo
menos um fator de risco vascular; 33% com história RESULTADOS: Dos 54 doentes avaliados, 72,22%
de evento cerebrovascular prévio. O tempo entre (n=39) eram do género masculino. A idade média
o início dos sintomas e a admissão foi igual ou dos doentes foi de 60,46 anos. Onze doentes tinham
inferior a 180 minutos em 79% dos casos. O NIHSS CHC, 13 doentes encontravam-se em avaliação para
(National Institute of Health Stroke Scale) médio à TH, sendo que 5 doentes se encontravam em lista
entrada foi inferior ao dos doentes com AVC isqué- para TH.
mico confirmado (4,6 vs 11,3, p=0.001). Seis doen-
tes foram submetidos a terapêutica trombolítica, De uma forma global, a fraqueza e a diminuição da
com um tempo médio porta-agulha de 93 minutos. mobilidade foram os sintomas mais prevalentes,
Nenhum destes doentes apresentou efeitos adver- superando os outros sintomas avaliados, nomeada-
sos associados a esta terapêutica. Na alta, o mRs mente a dor. Relativamente à fraqueza, não foi en-
(modified rankin scale) médio foi de 0,7, inferior ao contrada diferença estatisticamente significativa en-
valor dos doentes com AVC isquémico (0,7 vs 2,9, tre os doentes com CHC e os doentes sem CHC. Por
p=0.001). Os diagnósticos mais frequentes foram outro lado, este sintoma parece ser mais frequente
crise epilética, lesão de nervo periférico, patologia nos doentes que não se encontram em avaliação
somatoforme e encefalopatia posterior reversível. para TH (p < 0,05). A diminuição da mobilidade foi
semelhante nos vários grupos, sem diferenças esta-
  Conclusões:  Os doentes com  stroke mimics  eram tisticamente significativas entre doentes com CHC e
mais novos, com NIHSS mais baixo e apresentaram sem CHC e entre doentes em avaliação para TH e os
melhor outcome que os doentes com AVC isquémico. que não se encontravam em avaliação para TH.
A elevada prevalência de fatores de risco vasculares
pode condicionar a decisão diagnóstica inicial. A Quando avaliadas as respostas no questionário NE-
ausência de complicações associadas à trombólise CPAL referentes aos marcadores de funcionalidade
corrobora a evidência prévia do baixo risco de nos últimos 6 meses, nomeadamente severidade da
complicações associadas a esta terapêutica neste dependência, progressão e perceção clínica do de-
tipo de doentes. clínio funcional, não foram encontradas diferenças
estatisticamente significativas entre os grupos men-
CO n.º 1177  cionados acima.
Limitação funcional nos doentes com Doença He-
pática Avançada–necessidade paliativa a não des- Comparando a média obtida na escala PPS na ava-
merecer! liação dos doentes com CHC com os doentes sem
Isabel Fonseca Silva(1);Patricia Baptista(1);Sara CHC, não foi observada diferença estatisticamente
Vieira Silva(1) significativa entre os grupos. O mesmo aconteceu
(1) Centro Hospitalar do Porto, EPE / Hospital Geral quando os doentes em avaliação para TH foram
de Santo António comparados com os doentes sem esta avaliação.  

Tema: Cuidados paliativos CONCLUSÃO: De uma forma global, a limitação fun-


cional parece ser semelhante entre os grupos avalia-
dos. Tal vem realçar que mesmo os doentes em que
Introdução: A doença hepática avançada (DHA) cor- o TH se perspetiva, as necessidades paliativas tam-
responde ao estadio final das doenças hepáticas, bém estão presentes e a avaliação multidisciplinar
sendo que uma vez atingida esta fase, as necessi- nomeadamente por uma equipa de cuidados paliati-
dades clínicas são semelhantes independentemen- vos pode ser benéfica para alguns doentes.
te da sua etiologia. O atingimento sistémico da DHA
traduz-se numa limitação funcional importante e CO n.º 1189 
cabe aos profissionais de saúde identificar estes COVID-19-associated coagulopathy and thrombo-
problemas. O transplante hepático apresenta-se sis: a review
como a cura possível, mas apenas para uma mi- Filipa Lucas(1);Soraia Proença e Silva(1);Pedro
noria destes doentes. Este trabalho pretende ava- Vieira(1);Olga Korobka(1);Maria Eufémia Calmei-
liar a limitação funcional em diferentes grupos de ro(1);Maria Eugénia André(1)
doentes com DHA nomeadamente os doentes com (1) Unidade Local de Saúde de Castelo Branco
carcinoma hepatocelular (CHC) e nos doentes em
avaliação para transplante hepático (TH), compa- Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
rando assim as necessidades paliativas de cada um
destes grupos. Introduction: The novel coronavirus, SARS-
CoV-2 (severe acute respiratory syndrome coronavi-
METODOS: Trata-se de um estudo prospetivo, obser- rus 2) is causing a global pandemic of life-threaten-
vacional e transversal, unicêntrico. Incluiu 54 doen- ing multiorgan disease, called COVID-19. Evidence
tes internados com DHA, de Janeiro a Setembro indicates that patients with COVID-19 are at signif-
2020. Para avaliação da limitação funcional foi apli- icant risk of arterial and venous thromboembolic

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 123


complications. Cardíaca: preditor de outcomes clinicos?
Rita Soares Costa(1);Filipe Machado(1);Diana
Objectives: In this following review, we discuss Dias(1);Heloísa Ribeiro(1);Yolanda Martins(1)
present knowledge, summarize clinical data and (1) Centro Hospitalar de Entre Douro e Vouga, EPE /
mechanisms for COVID-associated coagulopathy Hospital de S. Sebastião
and propose algorithms for screening, prevention Tema: Doenças cardiovasculares
and management of COVID-patients. 
Material and Methods: The inclusion criteria were Introdução:
any peer-reviewed observational or interventional
human studies or case reports describing the risk of O score AVD-DezIs é um score de funcionalidade va-
venous thromboembolism (pulmonary embolism lidado na população geriátrica, utilizado no Serviço
[PE], deep vein thrombosis [DVT]) and arterial de Medicina Interna (SMI) do nosso centro hospitalar
events in inpatients or outpatients suffering from desde 2013, e que avalia a capacidade para desem-
symptomatic COVID-19 infections, from 1 January penhar atividades da vida diária, bem como a presen-
2019 to 31 May 2021. We searched PubMed, using ça de alguns estados que condicionam maior grau
combined keywords for VTE and COVID-19 in the de dependência.
search queries. To stipulate, we used “(COVID OR
coronavirus OR SARS-Cov-2), (thrombosis OR throm- A Insuficiência Cardíaca (IC) é uma das patologias
boembolism OR arterial events OR arterial thrombo- mais prevalentes entre os doentes em enfermaria e
embolism complications”), “(coagulopathy OR hy- associa-se a uma elevada taxa de mortalidade intra-
percoagulable state)” and “(prophylaxis)”. -hospitalar/no período precoce pós-alta, contribuin-
do ainda para um incremento da demora média e da
Discussion: Critically ill patients without other risk taxa de reinternamentos.
factors for thrombosis can experience venous
thromboembolism (VTE), a composite of DVT and OBJETIVO:
PE; acute large vessel occlusion with or ischemic
stroke; myocardial infraction and systemic arteri- Validar o score AVD-DezIs nos doentes com IC inter-
al events. The molecular mechanisms underlying nados no SMI e avaliar a sua relação com a demora
the hypercoagulable state seen in patients with média, mortalidade no internamento e aos 30 dias
COVID-19 is still incompletely understood. The após alta, readmissões no Serviço de Urgência (SU)
laboratory coagulation monitoring of severely ill e reinternamentos aos 30 dias após alta.
COVID-19 patients is mandatory to identify those
patients  MATERIAL E MÉTODOS:

Prophylaxis against thromboembolism (TE) is par- Estudo prospetivo dos doentes internados no SMI
amount for all hospitalized patients, with more ag- entre 2013 e 2020, com IC registado no índice de
gressive prophylaxis and screening recommended comorbilidades de Charlson. Critérios de exclusão:
for patients with higher D-dimer levels and other ac- ausência de score de AVD-DezIs/score de Charl-
tivation coagulation factors. son preenchidos. Colheita de dados demográficos,
diagnóstico principal à admissão, score AVD-DezIs;
We hypothesize that an imbalance between co- demora de internamento, readmissão no SU aos 30
agulation and inflammation may result in a hy- dias; reinternamento e óbito aos 30 dias; com recur-
percoagulable state.  Aberrant activation of this so a consulta do processo informático. Análise es-
system can cause endothelial injury resulting in tatística com SPSS v.26 e p<0.05 considerado como
loss of thromboprotective mechanisms, excess estatisticamente significativo.
thrombin generation, dysregulation of fibrinolysis
and thrombosis. RESULTADOS:

Additional mechanisms might contribute to in- Dos 26831 doentes internados no período conside-
creased TE risk, including systemic inflammation, rado, foram incluídos 8610 doentes com anteceden-
endothelial damage – presence of the virus in tes de IC, sendo a principal causa de internamento
endothelial cells, destruction of cell membranes, a descompensação da doença de base (37,3%, n =
higher vascular permeability, platelet activation and 2986). Dos doentes incluídos, 59,6% (n = 5130) eram
leukocyte recruitment, microvascular thrombosis do sexo feminino e a mediana de idades foi de 82
and also occlusion with ACE dysfunction, or even anos (Amplitude InterQuartil (AIQ) 75-87). Verificou-
autoimmune mechanism. -se uma capacidade funcional mediana segundo o
score AVD-DezIs de 60% (AIQ 35-85%). A duração
Conclusions: This review has attempted to provide mediana de internamento foi de 7 dias (AIQ 4-10).
useful directions for health-care practitioners man- A mortalidade intra-hospitalar foi de 10% (n = 859) e
aging coagulopathy and thrombosis-related issues a mortalidade aos 30 dias de 5.5% (n = 474). A taxa
in hospitalized COVID-19 patients. de readmissões no SU aos 30 dias foi de 35,2% (n =
2731) e a de reinternamentos aos 30 dias de 18,1%
CO n.º 1202  (n = 1402).
Score AVD-DezIs em doentes com Insuficiência

124
COMUNICAÇÕES ORAIS
Menor score AVD-DezIs associou-se a maior tempo valor p<0.05 para significância estatística.
de internamento (ρ = 0,041, p < 0,001). Quanto me-
nor o score, maior a mortalidade intra-hospitalar (p < Resultados:
0.001) e aos 30 dias (p < 0.001), maior probabilidade
de readmissão no SU (p < 0.001) e de reinternamento Do total de 1406 doentes com COVID-19, 436 cum-
aos 30 dias pós-alta (p < 0.001); independentemente priam os critérios de inclusão para coinfecção bac-
da idade (< 65 anos ou > 65 anos). Adicionalmente, teriana. A idade média era de 74,6 anos (± 13,1) e
verificou-se uma boa consistência interna do score o sexo masculino foi predominante (64,4%). A de-
AVD-DezIs total nos doentes com IC (segundo coefi- mora de internamento teve uma mediana de 10 dias
ciente alpha de Cronbach: α > 0,800). (amplitude interquartil 5-19) e a mortalidade global
foi de 29,1%, correspondendo a taxas superiores
CONCLUSÕES: às  dos doentes sem coinfecção (p<0,001). A anti-
bioterapia foi iniciada precocemente (mediana 1 dia,
O doente com IC beneficia da avaliação da sua capa- amplitude interquartil 0-3); mas, mais de um quarto
cidade funcional desde a admissão, com recurso a das coinfecções foram  consideradas  nosocomiais.
ferramentas como o score AVD-DezIs, um score que Os esquemas com beta-lactâmicos constituíram a
se encontra fortemente relacionado com outcomes principal opção terapêutica (94,5%); em 16,7% dos
clínicos nestes doentes. O seu uso permite-nos uma casos foi necessária a alteração para ampliação de
abordagem mais eficiente do doente, individualizan- espectro ou adequação ao antibiograma. A coinfec-
do e antecipando as suas necessidades, otimizando ção bacteriana associou-se de forma significativa
assim a gestão da sua IC. com a gravidade da doença (p<0,001), bem como
com a necessidade de VMI (p<0,001), não se verifi-
CO n.º 1212  cando o mesmo com a VMNI. Não existe associação
O impacto da coinfecção bacteriana respiratória em com significado estatístico entre a corticoterapia e a
doentes com COVID-19 ocorrência de coinfecção bacteriana (p=0,681). 
Carla Pereira Fontes(1);Rita Soares Costa(1);Samuel
Fonseca(1) Conclusões:
(1) Centro Hospitalar de Entre Douro e Vouga, EPE /
Hospital de S. Sebastião A coinfecção bacteriana afetou principalmente ho-
mens mais idosos, associando-se a maior severida-
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias de da COVID-19 e internamentos mais prolongados.
A elevada mortalidade intra-hospitalar foi similar aos
Introdução: valores relatados na literatura, refletindo também a
gravidade clínica intrínseca e a vulnerabilidade des-
tes doentes. O uso preconizado de corticoides na
A infeção por SARS CoV-2 tem estado no centro da infeção por SARS CoV-2 não determinou de forma
investigação científica ao longo dos últimos meses. significativa maior prevalência de coinfecção bacte-
Vários estudos apontam para uma maior suscetibili- riana. A distinção entre a evolução para a fase hipe-
dade para infeção bacteriana concomitante atribuí- rinflamatória da COVID-19 e a ocorrência de coinfec-
vel à infeção vírica primária, questionando-se, tam- ção bacteriana é difícil, mas a gravidade associada a
bém, o contributo do uso difundido da corticoterapia. esta última favorece um limiar presuntivo mais baixo
na prática clínica.
Objetivo:
CO n.º 1213 
Caracterização clínica e demográfica dos doentes in- Consulta de Tromboembolismo venoso - a expe-
ternados num serviço de Medicina Interna com CO- riência de uma consulta dedicada de Medicina In-
VID-19 e coinfecção bacteriana respiratória. Análise terna
comparativa de diferentes outcomes (demora média, Carla Pereira Fontes(1);Iara Ferreira(1);José Moura
necessidade de ventilação mecânica invasiva (VMI) de Meireles(1);Samuel Fonseca(1)
ou não invasiva (VMNI) e mortalidade) e da relação (1) Centro Hospitalar de Entre Douro e Vouga, EPE /
com a corticoterapia. Hospital de S. Sebastião
Material e métodos: Tema: Doenças cardiovasculares
Estudo transversal, observacional e retrospetivo,
com base na consulta dos processos clínicos dos Introdução:
doentes admitidos de março de 2020 a fevereiro de
2021 com COVID-19 e critérios definidores de coin- O tromboembolismo venoso (TEV) engloba a trom-
fecção bacteriana respiratória (tosse produtiva; leu- bose venosa profunda (TVP) e a embolia pulmonar
cocitose/neutrofilia, procalcitonina elevada; achados (EP), constituindo a terceira síndrome cardiovascu-
radiológicos sugestivos e/ou isolamentos microbio- lar aguda mais frequente. O recurso a intervenções
lógicos). Análise estatística com recurso ao teste terapêuticas mais eficazes e a maior adesão às re-
Qui-quadrado (variáveis categóricas), teste t e teste comendações internacionais têm impacto no prog-
de Mann-Whitney, de acordo com a normalidade da nóstico no TEV.
distribuição avaliada pelos valores de assimetria e
achatamento, através do sistema SPSS® versão 23; Objetivo:

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 125


Caracterização clinico-demográfica dos doentes Prescrição inapropriada de inibidores da bomba de
acompanhados numa consulta de Medicina Interna protões num Serviço de Medicina Interna
especializada em TEV. Pedro Campelo(1);Carlos Candeias(1);Fábio Emí-
dio(1);Ana Fortuna(1);Carlos Cabrita(1);Ana Lo-
Material e métodos: pes(1)
(1) Centro Hospitalar do Algarve, EPE / Hospital de
Estudo observacional, descritivo e retrospetivo, com Faro
base na análise dos processos clínicos dos doentes
com TEV seguidos em consulta entre janeiro de 2018 Tema: Organização, gestão e qualidade de serviços
e abril de 2021. de saúde
Resultados:
Introdução: Os inibidores da bomba de protões
No período do estudo, 316 doentes frequentaram (IBP) diminuem a secreção ácida gástrica e são
a consulta de TEV. A idade média era de 66,3 anos amplamente utilizados no tratamento de distúrbios
(± 16,6), com predomínio do sexo feminino (58,5%). gastrointestinais e na profilaxia de doença ulcerosa
Um quarto dos doentes não apresentava qualquer péptica, no entanto, são frequentemente prescritos
comorbilidade e os restantes tinham pelo menos de modo inapropriado no internamento e à alta hos-
uma, sendo as mais comuns a dislipidemia e a hi- pitalar. O seu uso inapropriado pode conduzir a efei-
pertensão arterial (53,2% e 52,5%, respetivamente). tos adversos e custos desnecessários.
A maioria foi referenciada a partir do internamento
(67,4%) ou da urgência (21,8%). 93,4% dos eventos Objetivo: Avaliar fatores clínicos e demográficos as-
corresponderam a EP, 48,8% dos quais de risco baixo sociados à prescrição de IBP numa enfermaria de
de mortalidade, 16,6% de risco intermédio-alto e 7,5% Medicina Interna e avaliar a adequabilidade dessa
de risco alto; 9,8% (n=29) foram submetidos a trom- prescrição durante o internamento e à data da alta
bólise. Mais de metade apresentava envolvimento hospitalar.
segmentar (29,8%) ou lobar (28,5%), sendo a EP cen-
tral em 23,1% dos casos. Do total de TVP identifica- Material e Métodos: Estudo retrospetivo que incluiu
das (n=93), 22,6% ocorreu isoladamente. Em termos doentes admitidos numa enfermaria de Medicina
etiológicos, foram identificados fatores de risco for- Interna entre julho e dezembro de 2018. Foram ava-
te (internamento ou cirurgia prévia) em 18,7%, 6,6% liados fatores associados à prescrição de IBP no
estavam  associados a  neoplasia ativa (n=21)  ou  a internamento. No subgrupo de doentes a quem foi
infeção por SARS CoV-2 (n=21), mas nenhum rela- prescrito IBP, foram avaliados fatores associados
cionado com a vacinação dirigida a esta. Identifi- à prescrição inadequada no internamento e na alta
cou-se trombofilia em 18 doentes (5,7%) e síndrome hospitalar. Adicionalmente, foram avaliados os cus-
anti-fosfolipídica em 15 (4,7%); 13,6% encontravam- tos associados à prescrição inadequada em regime
-se sob contracetivo oral. Em mais de metade dos de internamento. As indicações para o uso de IBP fo-
casos nenhum fator causal foi identificado (53,5%). ram baseadas na literatura atual.
Os anticoagulantes orais diretos foram a principal
opção terapêutica (92,1%); em 66,1% dos doentes a Resultados: Foram incluídos 577 doentes, com uma
anticoagulação foi mantida por tempo indefinido idade média de 79±14,6 anos, 41,6% do sexo mas-
como profilaxia secundária. Com um número médio culino; 219 (38%) receberam IBP durante o interna-
de consultas de 4 (± 2), 40,8% dos doentes teve alta, mento e 133 (31%) na alta hospitalar. Os fatores as-
sendo  a maioria referenciada para os cuidados de sociados à prescrição de IBP durante o internamento
saúde primários (73,6%). Durante o período de segui- foram estar medicado com IBP em ambulatório
mento, foi documentada recorrência em 3 casos e (p<0,001), apresentar mais do que três comorbilida-
diagnosticada hipertensão pulmonar tromboembóli- des (p<0,001) ou estar polimedicado com cinco ou
ca crónica em 6 doentes (1,9%). A mortalidade global mais fármacos (p=0,002). Dos 219 doentes que re-
da população foi de 3,5%. ceberam IBP no internamento, 126 (57%) foram me-
dicados inadequadamente. Os fatores associados à
Comentários: prescrição inapropriada no internamento foram estar
medicado com acido acetilsalicílico (AAS) (p<0,001)
A consulta de TEV baseia-se num modelo integrado ou anticoagulantes (p=0,043) em ambulatório e uma
que abrange a investigação etiológica, o controlo idade superior a 65 anos (p=0,022). Dos 133 doentes
dos fatores de risco, a deteção precoce de sequelas a quem foi prescrito IBP para o ambulatório, 69 (52%)
e o tratamento das comorbilidades, a fim de assegu- foram prescrições inadequadas. O único fator asso-
rar a transição otimizada do seguimento hospitalar ciado a prescrição inapropriada de IBP à data de alta
para os cuidados de saúde primários. A manutenção foi estar medicado com AAS (p<0,001). Na análise
da anticoagulação indefinidamente nos casos sem multivariada, estar medicado com AAS foi um fator
fatores de risco identificados segue as recomenda- de risco independente para prescrição inapropriada
ções internacionais. O estado hiperinflamatório ine- de IBP no internamento (Odds Ratio (OR)=11.5; Inter-
rente à COVID-19 é responsável por um número não valo Confiança 96% (IC95%):5.4-24.5, p<0.001) e na
desprezível de EP, cujo impacto a longo prazo ainda data de alta (OR = 10.3; IC95%: 4.1-26.1, p<0.001).
não está esclarecido.   O custo estimado da prescrição inapropriada de IBP
no internamento durante o período do estudo foi de
CO n.º 1215 

126
COMUNICAÇÕES ORAIS
432€. p=0,029) e paragem cardiorrespiratória (0 em 2019,
2 em 2020; p=0,171) neste ano. Comparando com o
Conclusões: Este estudo mostra que os IBP são grupo controlo, nos doentes com TEV em 2020 hou-
fármacos frequentemente prescritos durante o inter- ve uma maior incidência de história prévia de TEV (6
namento e à alta hospitalar. Na maioria dos casos, em 2019, 17 em 2020; p=0,028), obesidade (19 em
essa prescrição revelou-se desnecessária, com 2019, 35 em 2020; p=0,028) e imobilização (21 em
repercussão nos custos hospitalares, e em grande 2019, 32 em 2019; p=0,158). Foram apenas encon-
parte motivada pela presença de fatores de risco trados 10 doentes com COVID-19 e TEV à admissão
para a doença ulcerosa péptica que isoladamente em 2020.
não traduzem indicações válidas para IBP. Assim
sendo, as indicações para prescrição apropriada de Conclusões:  Não se verificou um aumento significa-
IBP deverão ser amplamente divulgadas no sentido tivo do número de TEV em 2020, mas sim do núme-
de otimizar a utilização destes fármacos no meio ro de TEP à custa de eventos associados a TVP. Os
hospitalar e em ambulatório. eventos verificados parecem ter sido tendencialmen-
te mais graves, muito embora não se verifique um
CO n.º 1231  atraso significativo na vinda ao serviço de urgência
Tromboembolismo venoso em tempos de pande- que pudesse justificar um aumento de risco de fenó-
mia menos embólicos em 2020. Na amostra de 2020, a
Mónica Baptista Lopes(1);Maria Carolina Carva- prevalência de fatores de risco predisponentes para
lho(1);Leonor Boavida(1);Ricardo Paquete Olivei- TEV foi maior, alertando para a importância de insti-
ra(1);José Delgado Alves(1) tuir medidas profiláticas em doentes selecionados,
(1) Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca principalmente atendendo ao estado de confinamen-
to. O reduzido número de doentes com COVID-19 na
Tema: Doenças cardiovasculares amostra analisada apoia a hipótese de que os dados
obtidos refletem um maior peso das alterações de
Introdução: O tromboembolismo venoso (TEV) estilo de vida, ao invés da incidência desta infeção,
engloba a trombose venosa profunda (TVP) e o na ocorrência de TEV.
tromboembolismo pulmonar (TEP). A pandemia por
COVID-19 obrigou à tomada de medidas de confi- CO n.º 1242 
namento, com maior imobilização da maioria das A adesão terapêutica e as crenças relacionadas
pessoas, sendo este um fator de risco descrito para com os fármacos em doentes com insuficiência
a ocorrência de TEV. Desde o início da pandemia, cardíaca
existiu a perceção na equipa médica de um aumen- Ana Catarina Varandas Rodrigues(1);Dulce Ruivo
to dos casos de TEV, bem como da sua gravidade. Bonifácio(2);Jorge Fernandes(3);Rita Amorim(4);Re-
nato Guerreiro(5);Célia Henriques(5);Ines Monteiro
Araujo(6);Cândida Fonseca(5)
Objetivo: Determinar a incidência, forma de apresen- (1) Unidade Local de Saúde do Norte Alentejano -
tação e principais fatores de risco associados a TEV Hospital Santa Luzia de Elvas (2) Centro Hospitalar
em doentes admitidos no nosso hospital desde o do Oeste / Hospital Distrital de Torres Vedras (3)
início da quarentena, comparando com igual período CHL CENTRAL - CURRY CABRAL (4) Centro Hos-
do ano anterior. pitalar de Vila Nova de Gaia / Espinho (5) Centro
Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE / Hospital de S.
Material e métodos: Estudo observacional retrospeti- Francisco Xavier (6) Hospital de Braga
vo, no qual se incluíram todos os doentes admitidos
por TVP e/ou TEP entre Março e Dezembro de 2019 e Tema: Doenças cardiovasculares
de 2020. Foram excluídos os doentes com diagnós-
tico de TEV mais de 24h após admissão, TEV asso-
ciados a dispositivos intravasculares e TVP noutros Introdução: Em todas as doenças a adesão terapêu-
territórios que não membros inferiores. Os dados fo- tica é essencial revelando-se ainda mais importante
ram colhidos através da consulta do processo clínico nas doenças crónicas tais como a insuficiência car-
informático dos doentes. díaca (IC). As crenças e/ou a sua desmistificação
estarão potencialmente relacionadas com o ensino/
Resultados: Foram admitidos 102 doentes por TEV educação para a doença. A Clínica de IC, assegura
em 2019 e 111 em 2020, com características demo- estes ensinos, sistematicamente a todos os doen-
gráficas semelhantes nos dois anos. Houve um me- tes/cuidadores que nela ingressam.
nor número de TVP isoladas em 2020 (63 em 2019,
49 em 2020; p=0,013), mas houve um maior núme- Objectivos: Avaliar as crenças e a adesão terapêu-
ro de TEP neste ano, tanto isolado (23 em 2019, 30 tica dos doentes relativamente aos fármacos que
em 2020; p=0,526), como associado a TVP (16 em tomam no seu dia-a-dia, numa clínica de IC onde é
2019, 32 em 2020; p=0,020). Verificou-se um discreto feito ensino sistemático para a doença a doente/
aumento do número de dias de sintomas até ida ao cuidador.
serviço de urgência em 2020 (3 em 2019, 4 em 2020;
p=0,419), salientando-se ainda um maior número Material e métodos: Aplicámos um Questionário
de doentes com instabilidade hemodinâmica (1 em de Crenças acerca dos Fármacos (Pereira & Silva,
2019, 6 em 2020; p=0,068), necessidade de ven- 1998) e uma “Escala de Medida da Adesão aos Tra-
tilação mecânica invasiva (0 em 2019, 5 em 2020;
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 127
tamentos” durante um período de 6 semanas, aos lógicos
doentes internados na Unidade de IC bem como aos José Leão Mendes(1);João Caria(2);Alexandra Mon-
doentes que recorriam ao hospital de dia. tenegro(1);Rita Quaresma Ferreira(1);Ivánia Furta-
do(1);Sara Dias(2);Heidi Gruner(2)
Resultados: (1) Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE / Hos-
pital de Santo António dos Capuchos (2) CHL CEN-
Incluímos 40 doentes, 65,5% do género masculino, TRAL - CURRY CABRAL
com idade média 73,3 anos e uma mediana de ida-
de de 75 anos. Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
76% dos doentes refere que a sua saúde depende
dos medicamentos e 65,5% considera que a sua Introdução
vida seria impossível sem eles. 72,4% refere que no
futuro a sua vida irá depender de medicamentos Verifica-se nos doentes oncológicos um estado de
sendo que 72,4% considera que os medicamentos hipercoaguabilidade multifatorial (fatores mecâni-
não são um mistério para si. cos, bioquímicos e iatrogénicos). Estima-se que até
20% dos doentes oncológicos sofrerá trombembolis-
Relativamente à adesão terapêutica 82,7% refere mo venoso ao longo da vida, por sua vez a segunda
que nunca se esqueceu de tomar os medicamentos maior causa de mortalidade nestes doentes. Por ou-
e 79,3% refere que nunca deixou de os tomar por tro lado, o risco de complicações tromboembólicas
iniciativa própria. E 89,6% refere que nunca inter- está bem descrito nos doentes com infeção por SAR-
rompeu a terapêutica por ter deixado acabar os me- S-CoV-2 (COVID-19). Apesar de limitada, a evidência
dicamentos. disponível conjetura a existência de sinergismo en-
tre neoplasia ativa e COVID-19 para a ocorrência de
Doentes que referiam menor adesão à terapêutica
trombembolismo venoso, com potencial impacto no
manifestaram maior preocupação com a toma da
prognóstico destes doentes.
mesma (p=0,008), quer a nível dos efeitos secundá-
rios a longo prazo, quer com a possibilidade de fica- Objetivo
rem muito “dependentes” dos mesmos.
Comparar a ocorrência de trombembolismo pulmo-
Os doentes mais idosos (idade > 75 anos) demons- nar (PE) documentado em angiografia por Tomogra-
traram maior adesão terapêutica (p=0,049) que os fia Computorizada (CTA) em doentes hospitalizados
mais jovens. com COVID-19 com neoplasia ativa (Op) e sem neo-
plasia ativa (NOp). Comparar a evolução clínica de
O nível de escolaridade não influenciou os resulta-
ambos os grupos, nomeadamente a mortalidade em
dos.
internamento.    
Discussão/ conclusão:
Material e Métodos
Perante a hipótese das crenças se relacionarem
Estudo retrospetivo e observacional. Incluímos doen-
com a toma da medicação, influenciando directa-
tes internados numa enfermaria dedicada a COVID-19
mente o cumprimento terapêutico, concluímos que:
entre Março e Dezembro de 2020, com CTA realizada
- Os questionários (auto-resposta) sugeriram boa entre as 48 horas precedentes ao diagnóstico labo-
adesão terapêutica por parte dos doentes, sendo ratorial de COVID-19, em doentes sintomáticos, e o
que tanto o doente como os familiares/cuidadores último dia de internamento. Considerámos neoplasia
compreendem a necessidade da toma da medica- ativa nos doentes com neoplasia localmente avança-
ção de forma a evitar a agudização da doença; ad- da, recidivante, metastizada ou alvo de terapêutica
mitimos que a educação sistemática para a doença oncológica nos seis meses prévios ao internamento,
possa ter um papel determinante neste entendimen- ou neoplasia hematológica sem critérios de remis-
to do doente crónico/cuidador. são completa. Recolhemos os dados através da con-
sulta dos processos clínicos hospitalares de acordo
- Devemos dar mais atenção aos doentes mais no- com os princípios de minimização e pseudoanonimi-
vos com mais dificuldade em aderir à terapêutica a zação de dados. Analisámos os dados com recurso
longo prazo. a software de Excel e SPSS (p<0.05).

- Acreditamos que as crenças existentes podem e Resultados


devem ser desmistificadas tendo como base a edu-
cação para a doença do doente/família/cuidador. Analisámos um total de 73 doentes – 12 Op (4 mu-
Muitos dos receios devem-se a crenças principal- lheres e 8 homens, com idade média de 65,75 anos)
mente relacionadas com a dependência dos fárma- e 61 NOp (22 mulheres e 39 homens, com idade mé-
cos podendo ser um entrave à aquisição de novas dia de 69,98 anos). Verificámos PE documentado em
rotinas necessárias à melhoria da saúde. CTA em 41.7% dos Op vs 22.6% dos NOp (p-value =
.166); score World Health Organization (WHO) mé-
CO n.º 1285  dio Op 6.5 vs NOp 6.3 (p-value = .342); admissão em
Trombembolismo Pulmonar e mortalidade em en- Cuidados Intensivos (ICU) Op 8.33% vs NOp 42.37%
fermaria COVID-19: Oncológicos versus não onco- (p-value = .034); mortalidade Op 33.3% vs NOp 17.7%

128
COMUNICAÇÕES ORAIS
(p-value = .219). análise dos dados incluiu estatística não-paramétri-
ca para correlação e comparação entre grupos e cál-
Conclusões culo de odds ratio por regressão logística.
Embora não se verifique significância estatística Resultados
para o aumento de PE nos Op vs NOp no universo CO-
VID-19 tendo por base a população estudada, parece As doenças infeciosas foram as patologias mais re-
existir maior tendência para PE nos Op. O mesmo presentadas entre os participantes incluídos (72,1%).
se pode concluir em relação à mortalidade no inter- O ICC foi elevado em 452 (80,4%) dos doentes avalia-
namento. Poderão ter concorrido para a não signifi- dos. Nos dados analisados, obteve-se uma associa-
cância estatística da primeira comparação: o baixo ção do ICC para a idade (Spearman r = 0,65, p <0,001)
número de Op; o viés de seleção pela não inclusão de e para o nível de independência nas AVD (Spearman
doentes com elevada suspeita de PE anticoagulados r = -0,45; p <0,001). Para os doentes com CCI≥2, a
empiricamente sem realização de CTA; a inclusão de mediana do tempo de internamento  foi 1,0 dia  mais
doentes com CTA após anticoagulação em dose te- elevado na UHD (6,0 vs 5,0, p <0,001) e no tempo de
rapêutica e consequente possibilidade de alteração internamento total (8,0 vs 7,0, p <0,001). Após o con-
de achados imagiológicos. Verificou-se, por outro trolar as variáveis “idade” e o “nível de independência
lado, significância estatística na não admissão em das AVDs”, o ICC associa-se com os reinternamen-
ICU de Op vs NOp – atribuível à presunção de pior tos hospitalares (OR = 1,23, IC95% [1,10-1,38]), mas
prognóstico inerente ao Op. não com a mortalidade (OR = 1,10, IC95% [0,77-1,58])
nem quando considerada em conjunto com o agra-
CO n.º 1293  vamento clínico (OR = 0,95, IC95% [0,76-1,20]).
Impacto das comorbilidades numa Unidade de Hos-
pitalização Domiciliariária - um estudo transversal Conclusão
Mariana Silva Leal(1);Joaquim Alvarelhão(2);Flávio
Pereira(1);Carolina Amado(1);Gisela Gonçalves(1);- Apesar de não se verificar uma influência directa no
João Oliveira(1);Susana Cavadas(1) prognóstico, nomeadamente o agravamento clínico
(1) Centro Hospitalar do Baixo Vouga / Hospital In- ou a mortalidade, a presença de comorbilidades pa-
fante D. Pedro, EPE (2) Escola Superior de Saúde da rece influenciar fatores que podem contribuir para o
Universidade de Aveiro aumento dos custos do internamento em UHD, seja
pelo aumento do tempo de internamento seja  pelo
Tema: Organização, gestão e qualidade de serviços aumento do número de reinternamentos.
de saúde
CO n.º 1303 
INFEÇÕES A LISTERIA: UMA ANÁLISE DE 8 ANOS
Introdução Mafalda Vasconcelos(1);Patrícia Moreira(1);Carla
Costa(1);Rui Valente(1);Carla Noronha(1);Célia Ma-
A abordagem da multimorbilidade dos doentes inter- chado(1);José Lomelino Araújo(1)
nados é fundamental para a gestão e organização (1) Hospital Beatriz Ângelo
dos cuidados de saúde, nomeadamente em Unida-
des de Hospitalização Domiciliária (UHD). O índice Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
de comorbilidade de Charlson (ICC) é um método da
avaliação de prognóstico e gravidade da doença, ba- Introdução: A Listeria monocytogenes é um agente
seado na presença de determinadas comorbilidades etiológico a considerar em infeções invasivas e
e do seu impacto, juntamente com a idade.   meningite nos doentes imunodeprimidos e nos ex-
tremos da idade. É a terceira causa mais frequente
Objetivo de meningite bacteriana na população idosa e tem
Este estudo teve como principal objetivo analisar o uma alta taxa de mortalidade se não for prontamen-
efeito das comorbilidades no tempo de internamen- te diagnosticada.
to, reinternamento e mortalidade dos doentes admi-
tidos numa UHD. OBJETIVO: Caracterizar as infeções a Listeria mono-
cytogenes ao longo de 8 anos num hospital distrital.
Métodos
MATERIAL E MÉTODOS: Estudo retrospetivo, trans-
Realizou-se um estudo transversal incluindo 562 versal e descritivo das infeções a Listeria monocy-
doentes (idade média de 71a10m ± 17a4m, 52,1% togenes num hospital distrital entre Março de 2012
mulheres) internados entre maio de 2019 e abril de e Setembro de 2020. As diferentes variáveis demo-
2021. Além de dados sociodemográficos, recolhe- gráficas, clínicas e laboratoriais foram extraídas dos
ram-se informações sobre as comorbilidades, diag- processos clínicos e analisadas em Microsoft Excel.
nóstico principal, nível de independência nas ativida-
des de vida diária (AVD - Índice de Barthel), tempo de RESULTADOS: Verificaram-se 18 casos de listerio-
internamento, reinternamento (UHD e no Hospital) e se, dos quais 67% ocorreram em homens. A média
destino após a alta. Uma pontuação de dois ou mais de idades foi de 64 anos (mínima 45 anos, máxima
pontos avaliada por meio do ICC foi o ponto de corte 86 anos) e a duração média de internamento foi de
para considerar um alto nível de comorbilidades. A 18 dias. Na maioria dos casos (72%), os doentes

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 129


encontravam-se imunossuprimidos, 39% desses no tiveram este diagnóstico (G2).
contexto de terapêutica farmacológica (86% desses
sob corticoesteroides) e 33% apresentavam doença Material e métodos: Estudo prospetivo observacio-
neoplásica. A diabetes foi uma das patologias con- nal de todos os dts admitidos no AU respiratório,
comitantes mais frequentes, acometendo 56% dos de 20/5/2020 a 20/5/2021, que tinham indicação
doentes. Verificou-se história de abuso de álcool em clínica e aceitaram realizar a pesquisa de PCR ou
39% dos casos. Apenas em 2 casos (11% dos doen- antigénio SARS COV 2.  Diagnóstico e suspeita  de
tes) foi feita referência à identificação de possível COVID 19 segundo os critérios da DGS. Avaliamos
fonte de contaminação (consumo de lacticínios não características de ambos os grupos. 
pasteurizados). O isolamento do microorganismo
foi feito na maior parte dos casos em hemoculturas Resultados: Realizados 1227 testes em  1214 dts.
(89%) e no líquido cefalorraquidiano (28%), tendo-se 1188 PCR SARS-CoV2, 34 Antigénios. G1= 228 dts
verificado também 1 isolamento em exsudado de in- (18,8%).  Características G1 vs G2: idade 53,9±17,0
feção de prótese da anca e 1 no líquido ascítico. A vs 47,4±18,4 anos; 54.8% vs 40,6% homens. Tempo
forma de apresentação principal foi a infeção do sis- entre o início dos sintomas e a ida ao AU 4,4±4,3
tema nervoso central (39%), com 6 casos de menin- dias no G1 vs 5,83±10,6 dias no G2. Os sintomas
gite ou meningoencefalite e 1 caso de abcesso cere- mais prevalentes foram G1 vs G2: tosse 56,6% vs
bral, seguindo-se o ponto de partida gastrointestinal 46,6%, febre 54,4% vs 25,2% (P<0.001), mialgias
(28%), com 3 casos de gastrenterite aguda, 1 caso 52,2% vs 25,6% (P<0.001), odinofagia 26,8% vs
de diverticulite perfurada e 1 caso de peritonite bac- 42,3% (P<0.001), cefaleia 25,9% vs 23,8%, coriza
teriana espontânea. Em 17% dos casos, verificou-se 21,5% vs 24,6%, astenia 19,3% vs 15,2%, dispneia
bacteriemia sem foco identificado. Ocorreram ainda 12,7% vs 17,8%, ageusia 11,8% vs 3,1% (P<0.001),
2 casos de endocardite e 1 caso de infeção de pró- anosmia 11,0% vs 2,7% (P<0.001), diarreia 8,3% vs
tese da anca. Verificou-se evolução com necessida- 10,4%. No G1 59,6% (136 dts) realizaram Rx tórax;
de de medidas de suporte de orgão e admissão em destes, 11,8% sugestivos de COVID 19. No G2 51,6%
Unidade de Cuidados Intensivos em 39% dos casos, (509 de 986 dts) realizaram Rx tórax; destes, 10,4%
tendo 22% dos doentes evoluído com choque sépti- sugestivas de COVID 19. Transferências para outro
co. A maioria dos doentes (67%) foi medicada com a hospital para internamento: 5,7% no G1 vs 5,0% no
associação de ampicilina e gentamicina e 28% ape- G2. Tipo de utente (G1 vs G2): 86,0% vs 86,3% não
nas com ampicilina. A duração média de tratamento pertenciam a grupos de risco; 7,5% vs 5,9% profis-
foi de 22 dias de ampicilina e 18 dias de gentami- sionais de saúde; 1,3 vs 0,4% profissionais de segu-
cina. Em 4 casos (22%), foi necessária intervenção rança; 1,8% vs 4,2% alunos; 3,1% vs 2,4% docentes;
cirúrgica para controlo de foco ou de complicações 0,4% vs 0,3% residentes em lar. Das condições asso-
associadas. Verificou-se uma taxa de mortalidade de ciadas para evolução para doença grave (G1 vs G2):
39%. 36,8% vs 24,2% tinham mais de 60 anos (P<0.001),
10,1% vs 13,8% tinham asma/DPOC, 8,3% vs 5,9% ti-
CONCLUSÕES: Este estudo reflecte a variabilidade nham insuficiência cardíaca, 23,2% vs 18,4% tinham
na apresentação clínica e gravidade das infeções HTA; 7,5% vs 5,5% tinham diabetes, 0% vs 0,1% ti-
por Listeria monocytogenes descrita na literatura, nham cirrose hepática, 1,8% vs 1,5% tinham doença
reiterando a necessidade de um baixo limiar de sus- renal crónica (nenhum em hemodiálise em ambos
peição para infeções por este agente, para que o seu os grupos), 3,1% vs 4,0% eram obesos, 2,2% vs 2,9%
diagnóstico e tratamento ocorram o mais precoce- tinham neoplasia maligna ativa e 2,6% vs 1,7% es-
mente possível. tavam sob imunossupressão. Referiam contactos
de alto risco 20,2% no G1 vs 5,0% no G2 (P<0.001) e
CO n.º 1349  contactos de baixo risco 3,1% no G1 vs 5,4% no G2.
COVID ou NÃO - EIS A QUESTÃO
Pedro Soares(1);Diogo Marques(1);Carlos Louren- Conclusão: Nesta população, a presença de febre,
ço(1);Sofia Rodrigues(1);Filipa Marques(1) mialgias, ageusia e anosmia, a idade superior a 60
(1) Hospital da Luz Oeiras anos e os contactos de alto risco estão associadas
com o diagnóstico de COVID, ao contrário da odi-
Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente nofagia, que está mais presente noutras doenças.
crítico O Rx tórax teve uma baixa acuidade diagnóstica.
Não houve relação entre a presença de COVID 19  e
Introdução: A dificuldade de um diagnóstico atem- os grupos de risco e comorbilidades. Os hospitais
pado da infeção SARS COV 2 foi, desde cedo, um primários tiveram um papel importante na avaliação
desafio para os profissionais de saúde e uma das dos doentes COVID.
principais causas da dificuldade no controlo desta CO n.º 1354 
pandemia.  INFEÇÃO COVID 19 ASSINTOMÁTICA – MITO OU
REALIDADE?
Objetivo: Comparar, nos doentes (dts) adultos admi- Dra. Ana Rodrigues(1);Tiago Rodrigues(1);Diogo
tidos num circuito respiratório de um atendimento Marques(1);Pedro Soares(1);Ana Pedro(1);Filipa
urgente (AU) de um hospital primário não COVID, Marques(1)
as características clínicas daqueles que tiveram o (1) Hospital da Luz Oeiras
diagnóstico de COVID 19 (G1) com aqueles que não

130
COMUNICAÇÕES ORAIS
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias A COVID 19 NOS COLABORADORES UM HOSPITAL
“NÃO COVID”
Introdução: Desconhece-se a prevalência da COVID Diogo Marques(1);Adriana Lopes(1);Sofia Rodri-
19 assintomática na população geral. No entanto, gues(1);Pedro Soares(1);Filipa Marques(1)
esta definição não é fácil, já que muitas vezes pe- (1) Hospital da Luz Oeiras
quenos sintomas são desvalorizados. Dados do Tema: Organização, gestão e qualidade de serviços
Inquérito Serológico Nacional Covid-19 apontam de saúde
para uma prevalência de anticorpos específicos na
população residente em Portugal, com idades entre
1 e 80 anos, de 15,5 %, sendo 13,5% conferida por Introdução: É sabido que os profissionais de saúde
infeção. são um dos grupos de maior risco para infeção por
SARS COV 2. Existem no entanto áreas e procedi-
mentos com maior risco de contágio, estando por
Objetivo: Avaliar numa população de doentes ad- isso definidos equipamentos de proteção individual,
mitidos para cirurgia eletiva num hospital primário protocolos de atuação e circuitos específicos que
não COVID, a prevalência da COVID 19 nos rastreios devem ser adaptados à realidade de cada institui-
pré-cirurgicos, o tipo de intervenção bem como as ção.
características clínicas destes doentes e repercus-
sões em termos da intervenção .
Objetivo: Avaliar a prevalência e características da
Material e métodos: Realizamos um estudo prospe- população de colaboradores com suspeita ou com
tivo observacional de todos os doentes admitidos infeção COVID 19 num hospital primário não COVID.
para cirurgia eletiva entre maio de 2020 e 2021.
Após responderem a questionário de avaliação de  Material e métodos: Estudo prospetivo
risco pré-cirúrgico que incluía questões relaciona- observacional de todos os colaboradores com
das com sintomas e contactos de risco para COVID suspeita ou infeção COVID 19, entre março de
19, todos os doentes realizaram teste PCR SARS 2020 e fevereiro 2021. Identificamos a categoria
COV2 (laboratório do hospital ou externo). Diagnós- profissional, local de contágio, de realização do
tico de COVID 19 determinado segundo os critérios teste e contactos de risco com outros profissionais
da DGS. Foram avaliadas características dos doen- da instituição. Diagnóstico e suspeita de COVID 19
tes positivos. segundo critérios da DGS.

Resultados: Foram testados 3685 doentes, 29 com Resultados: Dos 974 colaboradores da instituição,
teste positivo. Destes, 3 tinham tido COVID nos 90 211 (21,7%) tiveram suspeita de COVID 19. Destes,
dias anteriores; 3 desmarcaram espontaneamente 29% (61), tiveram a confirmação do diagnóstico
a cirurgia por sintomas. Verdadeiros “achados” 23 – prevalência 6,3%. Dos 61 colaboradores com
doentes (prevalência 0,79%). Dos 23, 14 homens o diagnóstico de COVID 19, 27,9% homens, faixa
(60,9%), idade 46,1 ± 20,1  anos. Quanto ao tipo de etária mais prevalente 30-45 anos, 42,6% médicos,
cirurgia: vascular 5; ORL 4; oftalmologia 4; geral 4; 19,7% enfermeiros, 8,2% assistentes, 18% admi-
urologia 3; plástica 2; pediátrica 1. Oito referiam nistrativos, 6,6% assistentes operacionais (AO),
sintomas com início em média 12,9 ± 10,8 dias 4,9% técnicos de saúde (TS). Testagem através
(mediana 7) antes do teste. Dos sintomas:  tosse 3, de protocolo institucional 39,3%. Local contágio:
coriza 5, ageusia 1, cefaleia 1, mialgias 2. Contactos ambiente familiar/ social 36,1%, desconhecido
de baixo risco 1, alto risco 1. Verdadeiros assinto- 63,9%, instituição de saúde 0%. Período de doença:
máticos 15 (51,7% ) - prevalência de infeção COVID março-junho 2020, 11,5%, julho-novembro 2020,
19 em assintomáticos, 0,4%. Apenas um doente 19,7%; dezembro 2020-janeiro 2021, 52,5%; fevereiro
foi transferido para outro hospital para cirurgia em 2021, 11,5%.  Dos 150 casos suspeitos não confir-
“circuito COVID”, nos restantes casos, a cirurgia foi mados, 82,7% mulheres,  faixa etária predominante
adiada. Todos os doentes evoluíram com doença 30-40 anos, 16% médicos, 16% enfermeiros, 8,7%
ligeira. assistentes, 34% administrativos, 18,7% AO, 4%
TS e 2,7% outros.  Causa da suspeita: 74 (49,3%)
Conclusão: A prevalência de COVID 19 nesta po- contactos de risco (32 na nossa instituição –
pulação rastreada foi baixa (0,79%), no entanto, 21,3%), restantes por sintomas sugestivos. Dos 150,
destes, apenas metade eram verdadeiros assinto- realizaram pelo menos um teste PCR SARS COV 2
máticos (prevalência em assintomáticos de 0,4%). 143 colaboradores (95,3%) e 58% permaneceram
Quase todos os doentes tiveram a sua cirurgia adia- em vigilância com ausência laboral superior a 3
da, com prejuízo para o próprio e para a instituição. dias. A estes colaboradores foram realizados 207
Este estudo enfatiza ainda a importância da testa- testes PCR SARS COV 2, a maioria (94,2%) através
gem massiva, cada vez mais preconizada pelas au- de protocolo institucional, restantes noutro local. 
toridades competentes, bem como da necessidade
de intensificar a educação à  população no que res- Conclusão: A prevalência da COVID 19 nos traba-
peita à obrigatoriedade da realização de teste diag- lhadores da nossa instituição foi baixa e mais de
nóstico na presença de sintomas sugestivos. metade entre os meses de dezembro 2020 e janeiro
2021, coincidente com a terceira vaga a nível nacio-
CO n.º 1356  nal. Não foi registrado nenhum surto nem nenhum

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 131


caso de contágio dentro da instituição. Definida RESULTADOS: Numa análise por vaga foram sub-
como hospital “não COVID”, a nossa instituição metidos a VNI na 1ª vaga 30 doentes, na 2ª vaga
manteve apenas circuito respiratório dedicado no 93 doentes e na 3ª vaga 109 doentes. Foram trans-
atendimento urgente. Foram várias as adaptações feridos para a UCI 96 doentes no total, na  1ª vaga
realizadas por forma a minimizar o risco para os 9 doentes, na 2ª vaga 41 doentes e na  3ª vaga
doentes e profissionais. A triagem à entrada com 46 doentes. Face às recomendaçõe  científicas
controlo de temperatura e sintomas, a abertura da existentes na 1º vaga, sobretudo relacionadas com
linha telefónica específica para colaboradores e a a segurança dos profissionais e dúvidas na eficácica
operacionalização de equipa de médicos e enfer- da VNI apenas uma minoria de doentes fez esse tipo
meiros dedicadas, foram alguns dos métodos cria- de suporte.   Evoluiu-se, de acordo com a evidência
dos, para minorar este risco. crescente, no sentido da não necessidade imediata
de ventilação bem como da segurança e da eficácia
CO n.º 1380  da utilização da VNI.  A taxa de mortalidade total das
Ventilação Não invasiva em doentes com infecção 3 vagas em doentes sob VNI foi de 29 % durante a
SARS-CoV-2 – Experiência de um Serviço de Ur- permanência no Hospital. O tempo  global de perma-
gência nência de doentes no SU é de 7 horas. Nos  doentes
Filipa s. Ferreira(1);Maria Fraga(1);Sebastián Pa- sob VNI durantes as vagas pandémicas foi em média
rente(1);Filipa Gândara(1);Nina Salvado(1);Marga- de 59 horas. O recurso a estratégias como a VNI e
rida Carvalho(1);Catarina Silva(1);Sérgio Santos início precoce de prone position, veio colmatar par-
Pinto(1);Andreia Carlos(1);Larisa Veverita(1);Pedro te da necessidade de vagas em UCI, originando um
Luís(1);Dores Marques(1);Decla Freitas(1);Victor maior tempo de permanência em SU com elevado
Santos(1);Ana Sofia Corredoura(1) consumo de recursos.
(1) Hospital Beatriz Ângelo
CONCLUSÃO: No decurso da pandemia verificou-se
Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente uma diferença significativa na abordagem dos doen-
crítico tes com insuficiência respiratória secundária a pneu-
monia por SARS-CoV-2. Para isso contribuíram o
INTRODUÇÃO A 11 de março de 2020 a Organi- maior conhecimento sobre a forma de transmissão,
zação Mundial de Saúde decretou a existência de equipamentos de proteção individual adequados
uma pandemia por um coronavírus, o SARS-CoV-2. minimizando o risco de infeção dos profissionais,
A doença, COVID-19, caracteriza-se por pneumonia maior conhecimento do timing e características da
grave em 20% dos casos e  necessidade de ad- inflamação pulmonar causada pelo vírus e necessi-
missão em Unidade de Cuidados Intensivos (UCI) dade de gestão de recursos finitos.
em 5-10%. A ventilação não invasiva (VNI) é reco-
nhecida por diminuir a progressão para ventilação CO n.º 1422 
mecânica na insuficiência respiratória, no entanto Abordagem do Síndrome Confusional Agudo na
não é clara a sua utilidade em doentes com Acute enfermaria de Medicina Interna
Respiratory Distress Syndrome (ARDS) associada a Inês Urmal(1);Daniela Guerreiro Carneiro(1);Beatriz
infeção aguda.  Barata(1);Manuel Albuquerque(1);Pedro Mesqui-
ta(1);João Alves Teixeira(1);Carlota Lalanda(1)
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE / Hos-
OBJETIVO: Pretende-se fazer uma descrição com- pital de Santo António dos Capuchos
parativa da abordagem do doente com insuficiência
respiratória num Serviço de Urgência (SU) durante as Tema: Medicina geriátrica
três vagas da pandemia nomeadamente no que toca
à utilização de VNI, mortalidade e admissão em UCI. Introdução: Nas últimas décadas assistimos a uma
MATERIAL E MÉTODOS: Trata-se de um estudo ob- crescente relevância da psicopatologia comporta-
servacional, retroespetivo, no período de março de mental do idoso na enfermaria de Medicina Interna,
2020 a janeiro de 2021, definindo-se o período da 1ª acompanhando a tendência do aumento global da
vaga de 1 de março a 31 de julho, 2ª vaga de 1 de prevalência das patologias do espectro da demên-
agosto a 30 de novembro e 3ª vaga de 1 de dezembro cia. Estes quadros implicam, com frequência, o
a 31 de janeiro 2021. A amostra incluiu  237 doentes recurso a terapêutica farmacológica instituída de
que foram admitidos na Sala de Observação (SO), no novo ou necessidade ajuste da terapêutica prévia e
período definido, com insuficiência respiratória as- podem estar associados a uma maior taxa de com-
sociada a infeção por SARS-CoV-2 e necessidade de plicações, condicionando muitas vezes um prolon-
VNI.  Foram incluídos 150 homens e 87 mulheres. A gamento do tempo de internamento.
media de idades foi de 69 anos, sendo a média de
idade mais elevada em homens (67 vs 72 anos).  O Objectivos: Os autores levam a cabo uma reflexão
doente mais novo incluido tinha 24 anos de idade e acerca da abordagem do síndrome confusional agu-
o mais velho 95 anos de idade. Os dados foram obti- do na enfermaria, bem como da articulação e refe-
dos com base na informação disponível no processo renciação às especialidades de Psiquiatria e Neuro-
clínico e exames complementares de diagóstico e logia.
analisados com recurso a Excel.
Material e métodos: Apresentam um estudo retros-

132
COMUNICAÇÕES ORAIS
petivo abrangendo os doentes com idade igual ou subjectiva das equipas dedicadas ao serviço de
superior a 80 anos, internados entre 1 de janeiro e 31 urgência (SU) foi de que o número de doentes admi-
de dezembro de 2020 num serviço de Medicina Inter- tidos nesse período diminuiu, mas que a gravidade
na. Os dados foram recolhidos com base no proces- aumentou.
so clínico. Foram analisadas variáveis demográficas,
grau de dependência, diagnóstico prévio de patolo- Objectivo: Avaliar a gravidade das admissões no SU
gias do espectro da demência (síndrome demencial, de um hospital terciário durante o primeiro confina-
demência vascular, doença de Alzheimer, demência mento, comparando com igual período de 2019.
fronto-temporal ou outras causas de demência),
presença de delirium à admissão, necessidade de Material e métodos: Estudo observacional retrospec-
contenção farmacológica e/ou não-farmacológica, tivo de uma amostra aleatória das admissões no SU,
avaliação por Psiquiatria e/ou Neurologia em inter- de março a maio de 2019 e igual período de 2020,
namento e referenciação externa a estas especiali- com patologia médica, triados como muito urgentes
dades à data da alta. e emergentes. Foram avaliados o Sequential Organ
Failure Assessment (Quick SOFA), Acute Physiology
Resultados: Foram incluídos 217 doentes com uma and Chronic Health Evaluation II (APACHE-II), Rapid
média de idade de 88 anos, com predomínio do gé- Emergency Medicine Score (REMS)  e a mortalidade
nero feminino em 64% (n=138) e um grau de depen- aos 30 dias. Os doentes com patologia pulmonar
dência total prévia em 31% (n=67). 29% (n=62) dos aguda ou com dados insuficientes foram excluídos.
doentes apresentava, à admissão, diagnóstico prévio Análise estatística foi realizada com o SPSS® v22.0.
de patologias do espectro da demência e 19% (n=41)
apresentou um quadro de delirium à admissão. Não Resultados: Na urgência geral de ambos os polos
obstante, apenas 8% (n=17) foi internado por estado de um centro terciário, houve uma diminuição de
confusional agudo. 25% (n=55) estavam medicados 39,25% no número de admissões no polo dedicado
com terapêutica antipsicótica previamente ao inter- à patologia respiratória/COVID-19 e de 44,5% no polo
namento.  28% (n=60) necessitou de contenção far- central, no período estudado quando comparado
macológica administrada de forma pontual e destes, com 2019. No polo não respiratório/central, de um
48% (n=29) não tinha diagnóstico de demência pré- total de 6232 admissões muito urgentes/emergen-
vio. No entanto, apenas 12% (n=26) iniciou terapêuti- tes em 2019 e de 3533 em 2020, foram aleatorizados
ca em esquema. A contenção física foi prescrita em 677 episódios: 346 antes do confinamento (grupo A)
14% (n=31). Em 12% (n=25) dos casos foi solicitada e 319 durante a pandemia (grupo B).
colaboração de Psiquiatria e 7% (n=15) dos doentes
foram referenciados a consulta de Psiquiatria e/ou Não houve diferenças com significado estatístico
Neurologia. A demora média de internamento foi de no sexo, idade nem no número de admissões no SU
12 dias. por doente durante os três meses avaliados antes e
durante a pandemia. As escalas de gravidade Quick
Conclusões: Os dados apresentados alertam para a SOFA, APACHE-II e REMS, bem como a percentagem
necessidade de uma estratégia sólida na abordagem de internamentos também foram semelhantes entre
do síndrome confusional no idoso desde a admis- os grupos A e B.
são, muitas vezes com recurso à multidisciplinarida-
de. Conclui-se que os quadros confusionais são fre- A insuficiência grave de sistemas de órgãos e imu-
quentes e a abordagem farmacológica com agentes nossupressão são definidos no score de APACHE-II,
antipsicóticos é a mais comum, mesmo que à data como a presença de doença pulmonar obstrutiva
da alta não impliquem diagnóstico final de patologia crónica, dependência de oxigenoterapia ou de ven-
no espectro da demência, introdução de terapêutica tilação, a cirrose hepática comprovada em biópsia,
em ambulatório ou referenciação a consultas espe- episódios prévios de insuficiência hepática ou ence-
cializadas. falopatia, a insuficiência cardíaca em NYHA classe
IV, a diálise crónica, a quimioterapia/radioterapia e
CO n.º 1423  corticoterapia de longa duração, entre outros. Du-
Impacto do confinamento na gravidade e mortali- rante a pandemia 93 doentes (28,2%) apresentavam
dade dos doentes admitidos na urgência pelo menos um dos critérios de insuficiência grave
Cristiane Macedo(1);Carolina Martins(1);Carina de de órgão, comparando com os 42 doentes (12,1%),
Sousa(1);Leandro Valente(1);Andreia Matos(1);Pa- em igual período em 2019 [χ2(1)=27,388; p<0,001]. A
trícia Afonso Mendes(1);Rui Pina(1);Adélia Si- existência de insuficiência de órgão correlacionou-se
mão(1);Armando de Carvalho(1) com maior mortalidade aos 30 dias [χ2(1)=     20,404;
(1) Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra / p<0,001, V de Cramer 0,249].
Hospitais da Universidade de Coimbra
Conclusões:
Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente
crítico O número de doentes muito urgentes e emergentes
durante o confinamento reduziu em 43.3% em rela-
Introdução: O primeiro confinamento gerou mu- ção ao mesmo período no ano de 2019.
danças no quotidiano da sociedade. Com o receio
Apesar de escalas de gravidade semelhantes à ad-
da infecção por SARS-CoV-2, reduziu o contacto
missão, os doentes sem infeção por SARS-CoV-2
da população com os cuidados de saúde. A noção

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 133


admitidos no serviço de urgência durante a primeira ciada à necessidade de internamento e associa-se
vaga, tinham de base mais insuficiência grave de ór- a maior uso de HDMP. A gestão desta amostra de
gão e apresentavam maior mortalidade aos 30 dias doentes com PTI segue as recomendações terapêu-
do que em igual período do ano, fora da pandemia. ticas atuais e demonstra a necessidade de iniciar
prontamente esta terapêutica.
CO n.º 1449 
Avaliação de fatores de corticorresistência no tra- CO n.º 1471 
tamento da Púrpura Trombocitopénica Imune Tratamento da Hiperuricemia Assintomática
Marta Braga(1);Duarte Augusto(1);Vânia Gomes(1);- Marta f. Costa(1);Patrícia Carvalho(1);Rui San-
Carlos Capela(1);António Oliveira e Silva(1) tos(1);Armando Carvalho(1)
(1) Hospital de Braga (1) Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra /
Hospitais da Universidade de Coimbra
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e
vasculites Tema: Outro

Introdução: A Púrpura Trombocitopénica Imune Introdução: O tratamento da hiperuricemia assin-


(PTI) caracteriza-se pela destruição imune das pla- tomática (HA) não está recomendado em doentes
quetas, com consequente trombocitopenia e, even- assintomáticos como prevenção de gota, doenças
tualmente manifestações hemorrágicas decorrentes cardiometabólicas ou doença renal crónica. Esta
da mesma. A corticoterapia é o tratamento de pri- indicação existe em casos de hiperuricemia severa
meira linha e, apenas quando esta abordagem falha, (>12 mg/dl), excreção renal elevada de ácido úrico
há necessidade de utilizar as linhas terapêuticas urico (1100 mg/dia) ou  história familiar de gota ou
subsequentes. Contudo, falta esclarecer por que é nefrolitíase.
que há diferentes respostas à terapêutica com corti-
coide, incluindo a falência terapêutica, na PTI. Objetivos: Identificar a presença ou ausência de indi-
cações formais para o início do tratamento da HA e
tratamento apropriado da hiperuricemia assintomá-
Métodos: Estudo retrospetivo observacional em 50 tica.
episódios de doentes com PTI, observados entre
2011-2020. Colheita de informações clínico-labo- Material e Métodos: Estudo retrospetivo, observa-
ratoriais dos processos dos doentes selecionados. cional que incluiu 70 doentes com diagnóstico de hi-
Realizada análise descritiva, comparativa e análise peruricemia, através de pesquisa de doentes interna-
dos preditores de duração de corticoterapia, por re- dos no serviço de Medicina Interna, com diagnóstico
gressão logística. secundário de hiperuricemia durante 5 meses do ano
de 2019.

Resultados: Dos 50 episódios incluídos, houve falên- Resultados: A média de idades dos doentes foi de 80
cia terapêutica com corticosteroides em 9 (18,4%). ± 9 anos, 58.6% eram homens (41 casos). Do total,
A obesidade está associada a falência terapêutica 74.3% dos doentes (52 casos) encontravam-se me-
(p=0,046), no estudo da resposta à corticoterapia. dicados com alopurinol e 1 medicado com febuxos-
A mediana da contagem plaquetária ao diagnóstico tato. Do total de doentes medicados, 10 doentes ti-
foi 10.000/µL (amplitude  interquartil de 9500). A nham indicação formal para tal (3 doentes com gota,
contagem plaquetária está associada a maior ne- 3 doentes com nefrolitíase, 4 doentes com uricémia
cessidade de internamento nos doentes com PTI > 12 mg/dl). Não foi possível obter um valor de urice-
(p=0,003). Os doentes com necessidade de inter- mia em 5 doentes, 4 dos quais medicados com alo-
namento mostraram também maior prevalência de purinol, pelo que não se puderam retirar conclusões
doenças imunomediadas, (p=0,003), e maior neces- acerca destes. Não foram descritas reações adver-
sidade de terapêutica com metilprednisolona  em sas em nenhum doente medicado com alopurinol.
alta dose por via endovenosa (HDMP) (p=0,003). O Dos 18 doentes não medicados, 16 não teriam indi-
grupo que realizou HDMP tinha contagens plaquetá- cação para início de hipouricemiante e 3 iniciaram
rias mais baixas (p=0,003) e maior necessidade de alopurinol; 1 iniciou alopurinol por ácido úrico 12.2 g/
internamento (p=0,003). O grupo que não conseguiu dL. Do total de casos, nenhum tinha antecedentes de
suspender corticoterapia tinha uma maior prevalên- exposição a quimioterapia ou radioterapia. A excre-
cia de anticorpo antiplaquetário positivo, compa- ção renal de ácido úrico não foi avaliada.
rando com o grupo onde foi possível essa suspen-
são (p=0,037). Nos doentes com ciclos prévios de Conclusões: Em 34.3% dos casos (24 casos) a pres-
corticoterapia, verificou-se associação positiva à crição foi considerada adequada em doentes com
necessidade de hidroxicloroquina como terapêutica diagnóstico de gota, nefropatia por gota, nefrolitía-
adjuvante para o controlo da PTI (p=0,035). se por ácido úrico ou tofos. Não foi possível retirar
conclusões em 5 doentes. Assim, embora o uso
de alopurinol não seja justificado pelas evidências
Conclusão: A obesidade está associada a resistên- atuais nem seja recomendado, este é frequentemen-
cia à corticoterapia enquanto tratamento de primei- te prescrito para HA na prática clínica diária, apesar
ra linha na PTI . A contagem plaquetária está asso- do risco de reações de hipersensibilidade induzidas
por fármacos potencialmente fatais, não presentes
134
COMUNICAÇÕES ORAIS
em nenhum doente deste estudo. ber controlar os sintomas. Frequentemente e´ difi´cil
equilibrar quando privilegiar o conforto do doente,
CO n.º 1472  versus quando prosseguir com a marcha diag-
O fim de vida num Serviço de Medicina Interna no´stica, por isso, o internista deve, também, saber
Frederico Soares da Silva(1);Joana Moutinho(2);Ma- reconhecer o fim de vida. É importante ter especial
ria Inês Simões(1);Nuno Bernardino Vieira(1);Luísa atenção condição do doente a ser transferido para
Arez(1) uma enfermaria de Medicina em dias de fim-de-
(1) Centro Hospitalar Universitário do Algarve, EPE semana. Devemos dar uso à colaboração às equi-
- Hospital de Portimão (2) Centro Hospitalar Univer- pas de controlo da dor / cuidados paliativos, assim
sitário do Algarve, EPE - Hospital de Portimão como todo o internista deve formar-se na área de
paliação de sintomas.
Tema: Cuidados paliativos
CO n.º 1515 
Introdução: O aumento da prevalência das doenças Análise descritiva das tromboembolias pulmonares
crónicas associado ao aumento da esperança mé- em doentes COVID-19 em Serviços de Medicina
dia de vida em Portugal, fundamenta o incremento Interna
do número de doentes, ao cuidado do internista, Mário Ferreira(1);Joana Paulo(1);Marta Fonse-
com necessidade de cuidados paliativos. ca(1);Maria Carolina Carvalho(1);Joana Carva-
lho(1);Mafalda Teixeira(1);Ricardo Paquete Olivei-
ra(1);Ana Bastos Furtado(1);Zélia Neves(1)
Objectivo: Realizar uma caracterização demográfica (1) Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca
da amostra, analisar a o tipo de internamento, se fo-
ram instituídas medidas de conforto e dignidade em Tema: Doenças cardiovasculares
fim de vida com privilegio pelo conforto do doente,
se foram requisitados exames complementares de
diagnóstico (ECD) nos dois dias prévios ao faleci- O estado de hipercoagulabilidade associado à CO-
mento, se foi pedido apoio à equipa de cuidados VID-19 tem vindo a ser descrito em associação com
paliativos do hospital. o aumento da frequência de eventos tromboembóli-
cos (TE), sobretudo na presença de outros factores
Material e Métodos: Estudo retrospetivo observa- de risco. A tromboembolia pulmonar (TEP) é um
cional, com análise de 49 óbitos (num total de 366 dos fenómenos TE mais frequentemente descritos e
doentes) ocorridos num Serviço de Medicina Interna que pode complicar a evolução clínica da COVID-19.
durante 2 anos.
Objectivo
Resultados: A idade de média foi de 82 anos, sem
diferenças de relevo no género. Duração média do Caracterizar a prevalência de TEP em doentes inter-
internamento foi de 13 dias, e taxa de mortalidade nados com infecção por SARS-CoV-2.
de 13,4%. A maioria da amostra analisada tinha ele-
vado grau de depende^ncia (n=22; 44,9%), refletindo Material e métodos
a maior fragilidade cli´nica dos doentes falecidos.
Em 5 dos 49 doentes falecidos durante o interna- Análise retrospectiva observacional descritiva do
mento, na~o tinha sido tomada a decisa~o de na~o processo clínico de doentes com infecção por SAR-
reanimac¸a~o (DNR). Dos 5 doentes em que tal de- S-CoV-2 internados num Serviço de Medicina Inter-
cisa~o na~o tinha sido tomada em equipa, 3 casos na de 23/03/2020 a 31/10/2020 e 15/01/2021 a
tratavam-se de uma transfere^ncia para o servic¸o 22/02/2021.
de internamento a uma sexta-feira ou sábado, facto
este com certeza teve influência no acompanha- Resultados
mento do doente. Em 36 dos 44 doentes com DNR,
Dos 689 doentes internados, foram identificados 37
foi decidido privilegiar o conforto e dignidade em
casos de TEP. Nesta população, a média de idades
fim de vida. A me´dia de dias decorridos entre o mo-
foi de 69 anos, sendo 70,3% homens. A maioria era
mento em que se decidiu privilegiar as medidas de
caucasiana (72,9%). 16,2% referiam imobilização re-
conforto e dignidade em fim-de-vida e a morte foi
cente. A comorbilidade mais frequente foi hiperten-
de 7 dias, com um ma´ximo de ate´ 18 dias.  Em 11
são arterial (65%, n=24), seguindo-se a dislipidemia
(30,5%) casos foi pedida colaborac¸a~o a` equipa
(48,5%) e diabetes mellitus (33,3%). 29,7% dos doen-
de Cuidados Paliativos. O controlo dos sintomas
tes eram obesos e 15% tinham história de doença
foi conseguido em 81,2% dos doentes em que as
neoplásica. Apenas 2 doentes apresentavam episó-
medidas de conforto foram institui´das. Verificou-
dios de TE venoso prévio. O índice de Charlson médio
-se que 54,8% dos doentes tinha, pelo menos, um
era de 3.48 pontos. A média de dias desde o início
ECD pedido e realizado. Os ECD incluíam ana´lises
de sintomas até ao diagnóstico de TEP foi de 13,42
sangui´neas, radiografias, ecografias ou tomografia
dias. A suspeita de TEP foi evocada por agravamento
axial computorizada. Em 8 (16,3%) doentes tinha
da insuciência respiratória (42,4%), persistência
sido prescrita antibioterapia empírica ou dirigida
de hipoxémia (24,2%), valor elevado de d-dímeros
nos 2 dias antes do falecimento.
(DD) (>15000µg/L) (21,2%), elevação súbita de DD
Conclusões: O internista deve nos doentes em fim (15,1%), toracalgia (6,0%) e um caso de trombose ve-
de vida evitar o uso de ECD sem beneficio e deve sa- nosa profunda. A média do score de Wells foi de 3.48

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 135


pontos, traduzindo um risco preditivo moderado. Os mitidos no internamento de Medicina Interna com
sintomas mais reportados à data do diagnóstico fo- antecedentes de DHC (com e sem complicações
ram dispneia (94,6%), seguindo-se febre (59,5%) e decorrentes de hipertensão portal) aferida através
tosse seca (54,1%). Relativamente à sua localização, do questionário de Charlson ajustado à idade (aCCI)
a maioria dos TEP eram segmentares (72,9%), sub- aplicado à admissão em todos os doentes interna-
segmentares (16.2%) e com extensão central (9,0%). dos, durante o ano 2020. Foram criados 3 grupos de
Um doente não realizou estudo tomográfico, assu- análise: um grupo de doentes com DHC com compli-
mindo-se diagnóstico presuntivo. O envolvimento cações conhecidas decorrentes da hipertensão por-
pulmonar foi bilateral em 57,6% dos casos. 18 doen- tal (doença hepática moderada a severa - DHM/S),
tes tinham alterações eletrocardiográficas suges- um grupo de doentes com doença hepática ligeira
tivas, sendo a mais frequente a taquicardia sinusal conhecida sem complicações decorrentes de hiper-
(61%). Analiticamente 16 doentes tinham DD fran- tensão portal (DHL) e o grupo controlo de todos os
camente elevados (>35000µg/L). O valor médio de doentes internados ao longo de 2020 no Serviço de
ferritina era de 1922ng/mL e PCR 24.4mg/dl. Docu- Medicina Interna sem antecedentes conhecidos de
mentaram-se 12 casos de sobreinfeção respiratória doença hepática.
bacteriana. 81,1% dos doentes tiveram necessidade
de VNI e 24,3% acabaram por necessitar de EOT e A análise estatística foi realizada com o software
VMI. Nove doentes faleceram durante o internamen- IBM SPSS Statistics 27. Valor de p
to em contexto de insuficiência respiratória grave, 2
em cuidados intensivos. Resultados: Foram avaliados no total 264 doentes
com doença hepática pelo menos ligeira no período
Conclusões considerado. Destes 46.2% tinham DHL/sem com-
plicações decorrentes da hipertensão portal e 53,7%
A associação de infecção por SARS-CoV-2 com tinham DHM/S  (com complicações decorrentes de
fenómenos TE é descrita na literatura. No contexto hipertensão portal).
frequente de insuficiência respiratória associado à
COVID-19, o diagnóstico de TEP é difícil e exige alto Em ambos os grupos com doença hepática verificou-
grau de suspeição. Apesar da angio-TAC ser o gold -se um predomínio do sexo masculino, com diferen-
standard para o diagnóstico de TEP, outros elemen- ça estatisticamente significativa.  
tos clínicos, eletrocardiográficos ou laboratoriais
foram essenciais na decisão de investigação etio- A idade média dos doentes nos grupos DHL, DHM/S
lógica. A maioria dos eventos identificados foram e de controlo foi 69,13; 62,52 e 79,00, respectivamen-
segmentares ou subsegmentares e frequentemente te.
bilaterais o que em muitos casos terá justificado
O tempo de internamento mediano foi significativa-
agravamento clínico.
mente superior no grupo DHM/S face aos restantes
CO n.º 1559  (p<0.001).
Impacto da doença hepática crónica enquanto co-
O grau de dependência mediano avaliado pelo score
morbilidade num Serviço de Medicina Interna
AVD-DezIs foi menor  no grupo de doente com DHL
Sara s. Santos(1);Sofia Ferreira(1);Helena Maia(1)
ou DHM/S  face ao grupo de controlo.
(1) Centro Hospitalar de Entre Douro e Vouga, EPE /
Hospital de S. Sebastião A carga de doença avaliada pelo aCCI  foi
estatisticamente superior nos doentes com
Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças
DHM/S face aos restantes.
hepáticas
A presença de doença hepática com complicações
Introdução: A doença hepática é globalmente hete- decorrentes da hipertensão portal associou-se a um
rogénea na sua forma de evolução, complicações aumento da recorrência precoce ao SU (p < 0.0001)
e prognóstico. Já é amplamente conhecido que os e ainda de reinternamento precoce (p < 0.0001), ao
internamentos relacionados com complicações contrário do que aconteceu nos doentes com doen-
agudas da Doença Hepática Crónica (DHC) se as- ça hepática sem complicações decorrentes da hiper-
sociam a um aumento de outcomes desfavoráveis, tensão portal.
mas a associação com estes mesmos outcomes na
doença hepática enquanto comorbilidade sem com- Conclusão: A presença de complicações decorren-
plicações agudas não está tão bem estabelecida. tes da hipertensão portal em doentes com DHC co-
nhecida associou-se a vários outcomes desfavorá-
veis, nomeadamente recorrência SU, reinternamento
Objetivo: Aferir o impacto da DHC enquanto comor- precoce e aumento do tempo de internamento, ao
bilidade sem descompensação aguda no tempo de contrário do que aconteceu com a DHL/ sem compli-
internamento, readmissões precoces ao SU e rein- cações decorrentes da hipertensão portal.
ternamento aos 30 dias em doentes internados por
todas as causas ao longo de um ano num serviço de Este estudo reforça a importância do seguimento e
Medicina Interna.  vigilância da doença hepática em fases precoces da
doença, de modo a evitar a progressão da mesma e
Materiais e métodos: Estudo observacional e re- o surgimento de complicações.
trospetivo. Foram analisados todos os doentes ad-
136
COMUNICAÇÕES ORAIS
CO n.º 1572  deram o Helmet-CPAP por rácio P/F superior a 250
Helmet-CPAP em doentes COVID-19 tratados ex- mmHg, sem agravamento posterior.
clusivamente em enfermaria
Filipe Machado(1);Diana Dias(1);João Gonçal- As complicações potencialmente relacionáveis com
ves(1);Mónica Brinquinho(1);Rita Costa(1);Teresa a técnica foram documentadas em 4 doentes (3,6%).
Pereira(1);Tiago Leonor(1) Foi assumida a existência de sobreinfecção bacte-
(1) Centro Hospitalar de Entre Douro e Vouga, EPE / riana em 33% dos doentes. A estratégia de desmame
Hospital de S. Sebastião ventilatório passou, na maioria dos doentes (55%),
pela utilização de oxigénio nasal de alto fluxo. Todos
Tema: Doenças respiratórias foram medicados com dexametasona.
A mortalidade intra-hospitalar foi de 32,7% (n=36),
A Coronavirus disease 2019 (COVID-19) apresenta sendo fatores preditores da mesma o rácio P/F pré-
como complicação frequente a insuficiência respira- -suporte ventilatório (p=0,002) e a FiO2 máxima utili-
tória hipoxémica aguda (IRHA) de novo, constituindo zada (p<0.001). A duração mediana de internamento
um fator preditor de gravidade. A sua abordagem hospitalar de 11 dias (AIQ: 8).
com Helmet-CPAP assumiu particular relevância no
cenário pandémico, quando as limitações impostas O reconhecimento de doentes COVID-19 com IRHA
pelo overflow de doentes com formas graves da de novo e o inicio precoce de suporte ventilatório não
doença condicionaram a sua gestão em enfermaria. invasivo com Helmet-CPAP, nomeadamente em am-
Dados nacionais da sua utilização neste contexto bientes de não alta dependência, parece possível e
são atualmente inexistentes na literatura. garante de bons resultados particularmente em ce-
nário de sobrecarga de serviços de saúde. 
Estudo observacional retrospetivo que caracteriza a
amostra de doentes COVID-19 com IRHA suportados CO n.º 1577 
com Helmet-CPAP exclusivamente na enfermaria do Descompensação metabólica nas doenças heredi-
Serviço de Medicina Interna (SMI), entre março de tárias do metabolismo - Experiência de um centro
2020 e março de 2021. São também expostos os Arlindo Guimas(1);Rute Martins(1);Rosa Ribeiro(1);-
resultados referentes à mortalidade hospitalar e os João Araújo Correia(1)
fatores preditores da mesma. (1) Centro Hospitalar do Porto, EPE / Hospital Geral
de Santo António
O tratamento com Helmet-CPAP foi iniciado em 295
dos 1411 doentes (20,9%) admitidos no SMI prove- Tema: Doenças raras
nientes do Serviço de Urgência. Destes, 185 foram
posteriormente admitidos em UCI, tendo 16 necessi- As doenças hereditárias do metabolismo são um
tado de ventilação mecânica invasiva. conjunto de patologias raras, de natureza genética e
que podem ser divididas em 3 grandes grupos fisio-
Obteve-se uma coorte de 110 doentes tratados ex- patológicos: doenças tipo intoxicação; tipo carência
clusivamente em enfermaria, a qual apresentava energética ou acumulação de substâncias. Nos dois
uma idade mediana de 76 anos (AIQ: 14), predomi- primeiros grupos há uma variedade de doenças que
nantemente do género masculino (59,1%). O índice podem apresentar manifestações agudas com des-
de funcionalidade mediano aferido pela escala AV- compensação metabólica. Nestes episódios ocorre
D-DezIs foi de 90% (AIQ: 0,15). As comorbilidades a acumulação de metabolitos que são tóxicos ou
mais frequentes eram a Hipertensão arterial (72,7%), ocorre um défice energético que comprometem a
Dislipidemia (61,8%), Diabetes Mellitus tipo 2 (35,5%) homeostasia de um ou mais orgãos, causando dis-
e Obesidade (34,5%). A sintomatologia mais frequen- função e podendo causar dano irreversível.
te na admissão foi a dispneia (63,3%), tosse (59,1%)
e febre (54,5%).
Estes episódios críticos podem causar sequelas
Aquando do inicio do suporte com Helmet-CPAP a graves e colocar em risco a vida do doente se não
duração mediana de dias de sintomas de doença tratados de forma atempada e de forma adequada.
e de diagnóstico laboratorial era de 6 (AIQ: 5) e 4 Estes episódios podem corresponder a eventos
(AIQ:6) dias, respetivamente. A mediana da proteína inaugurais em adultos e podem ser particularmente
C reativa, velocidade de sedimentação e ferritina foi graves, pois podem não ser reconhecidos e trata-
138 mg/L (AIQ: 139,5), 67 mm/h (AIQ: 38) e 1036,6 dos.
ng/mL (AIQ: 1061,2), respetivamente, sem correla-
ção estatisticamente significativa com a ocorrência Os autores apresentam a casuística dos últimos
de óbito (p=0,154; p=0,340; p=0,624). O atingimento 10 anos, onde 17 doentes com diversas patologias
parenquimatoso pulmonar era de 45% (AIQ: 23,7). O se apresentaram com um ou vários episódios de
rácio PaO2/FiO2 (P/F), pré suporte respiratório, era de descompensação (25 no total), sendo que em 2
185 mmHg (AIQ: 10). O valor mediano da PEEP má- episódios foram apresentações inaugurais graves
xima aplicada foi de 15 mmHg (AIQ: 5) e o valor me- em doentes com encefalopatia hiperamonémica. A
diano da FiO2 suplementar máxima foi de 60% (AIQ: maior parte dos doentes foi tratado sem sequelas
20). A duração mediana de suporte respiratório foi aparentes, tendo sido apenas 1 caso fatal. Foi ne-
de 4 dias (AIQ: 2). Cerca de 46% dos doentes suspen- cessário transplantar uma doente com fígado e ca-
dáver por quadro refratário ao tratamento médico.

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 137


A abordagem de uma parte significativa destes estado de nutrição (avaliado com recurso a índice de
eventos foi abordado em contexto de unidade de massa corporal, albumina e creatina-cinase) e índi-
nível 2 ou 3, seguindo protocolos de tratamento já ces de recuperação funcional (através da utilização
implementados nessas unidades. da escala de Rankin modificada, da escala de Borg e
do índice de Barthel); grau de satisfação reportado
A raridade destas crises metabólicas coloca estes pelo doente; reinternamentos e óbitos. A análise es-
doentes em risco acrescido. Todos estes doentes tatística foi feita com recurso ao teste t-student para
devem ser portadores do cartão de doente raro, variáveis contínuas e teste de Fisher para variáveis
onde conste toda a informação crítica que ajude os categóricas.
clínicos uma abordagem e diagnóstica e terapêutica
corretas. A importância da articulação com centros Resultados: Um total de 42 doentes, com uma idade
de tratamento com experiência nestas doenças é média de 76 (± 12) anos, integraram e completaram
fundamental para um bom desfecho destas situa- um período de RNCCI de reabilitação após alta hos-
ções. O acompanhamento dos doentes em con- pitalar, na sua maioria (62%) por motivo neurológi-
sultas próprias com equipas experientes, permite co. No global e em todos os subgrupos houve, em
reduzir o número de descompensações e evitar se- média, algum grau de recuperação funcional (corres-
quelas das mesmas. pondendo a um ganho médio de função de 81%). No
subgrupo neurológico 73% dos doentes readquiriu
Os autores acham importante partilhar esta expe- capacidade de deambulação, sendo que em 27% dos
riência de modo incrementar o conhecimento nesta casos não houve qualquer recuperação. No subgru-
área ainda tão pouco reconhecida. po geriátrico 83% dos doentes recuperou funcionali-
dade e a totalidade dos doentes no subgrupo mús-
CO n.º 1603  culo-esquelético obteve uma recuperação positiva.
Análise da Recuperação Funcional de Doentes Re- As principais comorbilidades identificadas foram
ferenciados a Unidades de Reabilitação diabetes, insuficiência cardíaca, fibrilhação auricular
Leonor Boavida(1);Inês Palmares(1);Joana Caeta- e doença cerebrovascular, nenhuma delas aparente-
no(1);José Delgado Alves(1) mente condicionando a recuperação. A recuperação
(1) Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca funcional parece estar associada a uma melhoria do
estado nutricional após a alta hospitalar (p<0.001),
Tema: Organização, gestão e qualidade de serviços
assim como a internamentos hospitalares mais lon-
de saúde
gos (p=0.03). No global os doentes e familiares fica-
ram satisfeitos com a permanência nas unidades de
Introdução: O envelhecimento da população, a reabilitação, mas sobretudo quando houve recupera-
prevalência crescente da patologia cardiovascular ção funcional (p=0.04).
e a morbilidade associada ao internamento hospi-
talar, são alguns dos fatores que contribuem para Conclusões: A integração na RNCCI com objectivos
um aumento do número de doentes internados em de reabilitação teve um resultado positivo na popula-
enfermarias de medicina interna com necessidade ção avaliada, quer em termos de recuperação funcio-
de referenciação à rede nacional de cuidados conti- nal, como de satisfação reportada. Tal como é des-
nuados integrados (RNCCI) para reabilitação motora crito transversalmente na literatura, um bom estado
ou cardiorrespiratória, após a alta. Para avaliação nutricional parece estar relacionado com resultados
dos cuidados prestados torna-se fundamental in- positivos em termos de recuperação funcional.
tegrar o resultado do investimento realizado nesta
população em termos de recuperação funcional dos CO n.º 1609 
doentes, assim como compreender eventuais condi- PORTRAIT-AF: Portuguese Observational ReTrosp.
cionantes à sua concretização. Analysis of Inpatient Anticoagulation Therapies in
AF
António Mateus-Pinheiro(1);Diogo Almeida Fernan-
Objectivo: Avaliar o grau de recuperação funcional des(1);Ana Rita Ramalho(1);Christine Paiva(1);Diogo
de doentes referenciados a unidades de cuidados Leal(1);Francisca Carmo(2);Guilherme Camões(1);-
continuados de reabilitação após a alta hospitalar. José Diogo Martins(3);Margarida Araújo(4);Sónia
Como objectivos secundários analisar o impacto das Moreira(1);Lèlita Santos(1);Armando Carvalho(1)
comorbilidades e do estado nutricional na recupera- (1) Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra /
ção, assim como o grau de satisfação dos doentes Hospitais da Universidade de Coimbra (2) Centro
com o período na RNCCI. Hospitalar de Vila Nova de Gaia / Espinho (3) Unida-
de Local de Saúde do Alto Minho, EPE / Hospital de
Material e Métodos: Estudo retrospectivo que incluiu Santa Luzia (4) Hospital de Braga
a população com alta de um serviço de medicina in-
terna referenciada a unidades de convalescença ou Tema: Doenças cardiovasculares
média duração, no período entre 1 de Janeiro e 31
de Dezembro de 2019. Foram colhidos dados demo-
gráficos; motivo e tempo de internamento; motivos Introdução: 
de referenciação à RNCCI (padronizados em sub-
grupos: neurológico, cardiorrespiratório, músculo- A fibrilhação auricular (FA) é uma das patologias
-esquelético e geriátrico); comorbilidades; avaliação cardiovasculares mais prevalentes, com especial
antes e após o período de reabilitação em RNCCI de
138
COMUNICAÇÕES ORAIS
expressão em Portugal (prevalência acima dos 70 • Em todos os centros participantes, a propor-
anos > 6%). A FA é um substrato para o desenvol- ção de tratamento com HBPM (65% a 90%)
vimento de fenómenos tromboembólicos severos. foi significativamente superior à proporção
Este desfecho, não raras vezes fatal, encontra-se na de doentes sob DOAC (0% a 30%) (Prevalên-
base da necessidade dos doentes com FA cumpri- cia média doentes sob HNF 78,9± 11,27% vs 
rem terapêutica anticoagulante cronicamente. Prevalência média doentes sob DOAC 15,34
± 13,02%, P< 0.001)
Os anticoagulantes orais directos (DOACs) revolu-
cionaram a abordagem da doença tromboembólica, • Não inferioridade dos DOACs versus HNFs
com particular ênfase na FA não valvular, onde se na prevenção de eventos adversos cardio-
têm consolidado como alternativas seguras e efica- vasculares major  (MACE) durante o período
zes face aos antagonistas da vitamina K (VKAs) e de internamento (MACE em doentes sob
heparinas de baixo peso molecular (HBPM), até en- HNFs 6,32% versus doentes sob DOAC 4,55
tão classicamente usados como primeira linha. %).
Embora a transição VKA-to-DOAC tenha tido expres- • Maior percentagem de efeitos adversos se-
são no tratamento em ambulatório, importa avaliar cundários à toma de HNFs versus DOAC.
quais as práticas de terapêutica de anticoagulação
em contexto de internamento hospitalar, em Portu- Conclusões: 
gal.
O estudo PORTRAIT-AF confirma a sub-utilização
Objetivo:  dos DOACs enquanto estratégia anticoagulante de
primeira linha, em doentes internados com FA não
O estudo multicêntrico PORTRAIT-AF foi delineado valvular, sem aumento do risco hemorrágico ou
com os seguintes objectivos: outras comorbilidades que contraindiquem a utiliza-
ção desta classe farmacológica. Após este estudo
1. Caracterizar o tipo e frequência de tratamen- preliminar, procederemos ao i) aumento da cohort
tos anticoagulantes prescritos na FA, em de doentes e do número de instituições hospitalares
contexto de internamento; participantes e à ii) investigação dos factores que
influenciam a escolha da terapêutica anticoagulante
2. Relatar medidas de eficácia dos DOACs em regime de internamento.
versus HBPM prescritos no doente com FA
internado; CO n.º 1651 
Pandemia COVID-19: impacto na mortalidade in-
3. Descrever a frequência de complicações e tra-hospitalar em doentes sem infeção por SARS-
eventos colaterais que traduzam a seguran- -CoV-2.
ça dos DOACs versus HBPM; Ana Rita Ramalho(1);Adriana Dias(1);Ana da Mota
Magalhães(1);Andreia Fernandes(1);António Ma-
4. Traçar a análise dos perfis custo-benefício
teus-Pinheiro(1);Francisca Cunha(1);Guilherme
dos DOACs versus HBPM;
Camões(1);João Faria(1);Joana Guimarães(1);-
Material e Métodos:  Joana Xará(1);José Magalhães(1);José Pedro
Fernandes(1);Maria Manuel Moreira(1);Pedro Frago-
Estudo multicêntrico nacional, retrospectivo, com so(1);Pedro Moura(1);Ricardo Roque(1);João Por-
inclusão de doentes internados em serviços de me- to(1);Pereira de Moura(1);Armando de Carvalho(1)
dicina interna, com FA não valvular documentada (1) Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra /
em ECG de 12 derivações ou documentada ante- Hospitais da Universidade de Coimbra
riormente em registo clínico. Foram excluídos da
análise, doentes com FA valvular, AVC nos últimos Tema: Organização, gestão e qualidade de serviços
6 meses, aumento do risco hemorrágico, causas de saúde
reversíveis de FA, doença renal grave, sob fármacos
experimentais ou com prognóstico vital reservado à Introdução:
data do internamento.
Resultados:  Com aproximadamente 180 milhões de casos e 4
milhões de mortes atribuídas à COVID-19 a nível
Até à data, foram incluídos no estudo 618 doentes, mundial, não existem dúvidas de que o combate
com internamento no Serviço de Medicina Interna, à pandemia foi a prioridade de vários sistemas de
de diferentes instituições nacionais. Dos resultados saúde. Independentemente da emergência de uma
preliminares do estudo destacam-se: nova causa de morte, vários estudos geraram a
hipótese de que houve um excesso de mortalidade
• Elevada prevalência global da opção de comparativamente com períodos homólogos, ques-
tratamento com HBPMs versus DOACs, em tionando se este excesso resultou diretamente da
doentes com FA não valvular documentada COVID-19 ou das dificuldades que o sistema de saú-
(prevalência relativa de HNF de 71,86% (n = de enfrentou durante a pandemia.
443) vs 25% DOAC (n = 154) vs 3% sem es-
tratégia hipocoagulante (n = 21)). OBJETIVO:

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 139


Este trabalho sugere uma abordagem inovadora de um Serviço de Medicina Interna de um hospital
para a pandemia da COVID-19 ao estudar se e em terciário.
que medida o número de mortes não relacionadas
com a COVID-19 aumentaram face ao que seria CO n.º 1658 
expectável. Propomo-nos a fazê-lo estudando o Estudo de prevalência de disfagia em doentes in-
impacto que as mudanças organizacionais e as ternados num Departamento de Medicina Interna
comorbilidades poderão ter tido no prognóstico dos Joana Reis Aguiar(1);Inês Carneiro(1);Rui Carnei-
doentes sem infeção por SARS-CoV-2, e avaliando ro(1);Luís Magalhães(1);Catarina Aguiar Branco(1);-
como o diagnóstico e gravidade à admissão apre- Catarina Simões(1);Ana Gouveia(1);António Carnei-
sentou impacto na mortalidade intra-hospitalar. ro(1)
(1) Hospital da Luz - Arrábida
Com o nosso trabalho, pretendemos responder
de forma objetiva à dúvida gerada por trabalhos Tema: Organização, gestão e qualidade de serviços
prévios e criar evidência válida e sustentável sobre de saúde
como ajudar a melhor preparar o nosso sistema de
saúde para o que a pandemia da COVID-19 ainda Introdução: A disfagia é uma disfunção identificada
nos reserva. frequentemente em doentes internados, mas a sua
prevalência em hospitais portugueses não é ainda
MATERIAL E MÉTODOS: conhecida.
Foi desenvolvido um estudo retrospetivo de coorte,
observacional. Foram revistos os registos clínicos Objetivo: Estimar a prevalência da disfagia em doen-
de todos os doentes sem infeção por SARS-CoV-2 tes internados ao cuidado de um Departamento de
admitidos numa Enfermaria de Medicina Interna en- Medicina Interna.
tre os dias 2 e 31 de maio de 2020 – o nosso grupo
em estudo -, bem como os doentes admitidos numa Material e Métodos: Estudo prospetivo observa-
Enfermaria de Medicina Interna entre os dias 2 e 31 cional, não intervencional,  que decorreu durante 12
de maio de 2018 e 2019 – o nosso grupo controlo. semanas consecutivas. Foram incluídos todos os
doentes internados por Medicina Interna, em con-
Relativamente ao ano de 2020, dos 1142 doentes, texto de UCI e Enfermaria. Após consentimento do
134 foram excluídos, tendo-se procedido à análise doente, foram colhidos do processo clínico dados
de 1008 doentes. Destes, 554 (54,96%) eram do demográficos, diagnóstico clínico, referência a dis-
sexo feminino, com uma média de idade de 78,81 fagia prévia, diagnóstico prévio de pneumonia de
anos, apresentando o internamento uma duração aspiração, dieta prescrita à admissão e critérios de
média de 10,45 dias. Foi avaliado o qSOFA à admis- complexidade clínica consensualizados para o efei-
são, apresentando 558 doentes (55,58%) um qSOFA to. Para avaliação da disfagia, foi utilizada a escala
de 0, e 28 doentes (2,79%) um qSOFA de 3. Verifi- GUSS - Gugging Swallowing Screen. O risco de desnu-
cou-se uma mortalidade de 17,36%. trição foi aferido pela NSR – Nutricional Score Risk e
o grau de autonomia pela Escala de Barthel. Os dados
A nossa amostra permitiu-nos inferir que existe uma foram registados em formato digital utilizando a pla-
associação estatisticamente significativa entre a taforma GoogleForms submetidos a análise estatís-
idade, o género, o qSOFA à admissão e algumas tica com recurso a SPSS.
comorbilidades (nomeadamente a demência, a
doença cerebrovascular e a doença neoplásica) e a Resultados: De uma amostra inicial de 115 doentes,
mortalidade intra-hospitalar. O mesmo não se veri- foram excluídos um total de 36 doentes internados,
ficou com outras variáveis, como a permanência na a maioria por alta do internamento em menos de 24
enfermaria tampão e a presença patologia cardíaca horas. Destes 79 doentes, 54.4% eram do sexo mas-
ou renal prévias. culino, com uma média de idade de 74,2 anos. Os
doentes foram internados por doença cardiocircula-
RESULTADOS E CONCLUSÕES: tória (36.7%), infeciosa (13.9%), respiratória (10.1%) e
neurológica (8.7%). A pontuação média do Índice de
Os nossos resultados preliminares permitem es- Charlson é de 5,43 ± 3.05 e 36.7% apresentava limita-
timar uma mortalidade de 17,36% nos doentes ção funcional moderada a grave. Cerca de 52% dos
internados sem infeção por SARS-CoV-2, e que a doentes estavam em risco elevado de desnutrição.
gravidade do quadro clínico à admissão hospitalar A disfagia prévia era referida em 20.3% da amostra,
aparenta ser um importante determinante do prog- mas apenas 1.3% tinha história de pneumonia de as-
nóstico dos doentes internados no Serviço de Medi- piração.
cina Interna. Ao contrário do que seria inicialmente
esperado, a permanência na enfermaria tampão e A prevalência de disfagia  foi de 34%. A pontuação
outras variáveis não influenciaram o outcome des- média GUSS é 17.68 ± 4.43, com pontuações a suge-
tes doentes. rir disfagia ligeira em 12.7%, moderada em 13.9% e
7.6% de disfagia grave.
Assim, acreditamos que o nosso trabalho permite
elucidar sobre o que verdadeiramente aconteceu Durante o internamento, foram identificadas dificul-
nos doentes sem infeção por SARS-CoV-2 durante dades na alimentação em 14 doentes (17.7%), com
a 1ª vaga da pandemia, baseando-se na realidade necessidade de via alternativa (1), engasgamento (3)
140
COMUNICAÇÕES ORAIS
e 2 episódios de broncoaspiração. no período designado. Definiu-se como critério para
reinternamento o período de 30 dias após transferên-
A idade (p  0.014), a limitação funcional atribuída à cia. Foram excluídos aqueles que não cumpriam os
admissão pelo índice de Barthel (p  <0.001), as co- pressupostos/ critérios anteriores.
morbilidades segundo o Índice de Charlson (p 0.020),
a referência a disfagia prévia (p <0.001), a ocorrência Resultados:Foram analisados os processos clínicos
de complicações no internamento (p  <0.001) estão de 462 pacientes, dos quais 236 eram do sexo femi-
associadas de forma estatisticamente significativa nino e 225 do sexo masculino. A nível demográfico
com a pontuação total de GUSS. Não alcançamos verificou-se que a idade média era de 75.8 anos. A
nível estatisticamente significativo com o género, o média de duração do internamento foi de 4.4 dias,
diagnóstico de admissão e risco nutricional atribuído sendo que o mínimo foi de 0 dias e o máximo de 47
pela NSR. dias.   264 dos 462 (57.14%) doentes transferidos
tinham o diagnóstico de infecção por SARS COV2.
Conclusões: A prevalência de disfagia nesta popula- 24 doentes (5.19 %) foram transferidos para outro
ção de doentes internados ao cuidado de um Depar- hospital directamente do Serviço de Urgência e 435
tamento de Medicina Interna foi de 34%. A disfagia (94.15 %) foram transferidos já do internamento do
parece estar relacionada com o aumento da idade, Serviço de Medicina Interna para outros hospitais.
a incapacidade funcional, as comorbilidades, a refe- 64 pacientes (13.85%) foram reinternados no após a
rência a disfagia prévia e a ocorrência de complica- transferência para outro hospital, sendo que 15 deles
ções no internamento. Estes dados devem ser confir- (23.4%) vieram de um hospital do sector publico e
mados em amostra mais alargada. 49 deles (76.56%) vieram de um hospital do sector
privado. 18 doentes dos 64 reinternados (28.12%),
CO n.º 1677  foram reinternados por infecção nosocomial por
Transferências Inter-Hospitalares em época de SARS COV2 .Desses 64, 13 doentes (20.31%) fale-
Pandemia ceram. Sendo que no total do estudo houveram 53
Ana Filipa Martins Silva(1);Filipa Leal(1);Salomé mortes (11.47%). Dessas mortes, 8 delas estão di-
Marques(1);Teresa Mendes(1);Fátima Costa(1);An- retamente relacionadas com a infecção por SARS
dré Rolo(1);Carolina Seabra(1);André Paupé- COV2 (sendo que neste grupo se incluem 2 doentes
rio(1);Mari Mesquita(1) que foram infectados a nível nosocomial noutro hos-
(1) Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, EPE / pital e cujo diagnóstico primário era de Sepsis com
Hospital Padre Américo, Vale do Sousa ponto de partida em paratiroidite bilateral num deles
e de Pneumonia adquirida na Comunidade no outro).
Tema: Organização, gestão e qualidade de serviços
As restantes mortes foram atribuídas a Pneumonia
de saúde
Adquirida na Comunidade (3 doentes), Sepsis com
ponto partida respiratória (1 doente) e pneumonite
Título do estudo:Transferências Inter-Hospitalares de aspiração (1 doente).
em época de Pandemia
Discussão: As transferências inter-hospitalares fo-
ram uma das medidas necessárias durante a épo-
Introdução:A COVID-19 foi declarada pela Organiza- ca pandémica. Verificou-se que apenas 13.85% dos
ção Mundial de Saúde como pandemia internacional, doentes foram reinternados e que a maioria dos rein-
no dia 11 de março de 2020. Neste seguimento vá- ternamentos se deveu a infecção nosocomial por
rias medidas têm sido adotadas para conter a expan- COVID 19. Para além disso a maioria dos reinterna-
são da doença. Considerando a reorganização dos mentos teve origem em hospitais do sector privado.
recursos humanos e materiais afetos à prestação Considera-se como principal limitação do estudo o
de cuidados de saúde no Serviço Nacional de Saú- curto período de tempo analisado. Torna-se assim
de (SNS) para dar resposta à avaliação e tratamento obrigatório um maior e mais amplo estudo da prati-
dos doentes com COVID-19, assistimos à necessida- calidade desta medida que se revelou tão útil no pe-
de de transferências inter-Hospitalares de doentes, ríodo designado.
garantindo assim uma melhor gestão dos recursos
do SNS. CO n.º 1691 
Fibrilhação Auricular na Disfunção Renal
Objectivo: O estudo tem como principal objetivo a Ivan Antunes(1);Joana Coutinho(2);Cátia Zeferi-
caracterização da população alvo de transferências no(1);Maria João Baldo(1);Joana Caires(1);Miguel
inter-hospitalares de um determinado Centro Hospi- Lázaro Mendes(1);Vasco Neves(3);Maria Pache-
talar, ao abrigo do plano de contingência COVID19, co(1);Salomé Marques(4);Hugo Almeida(1);Luís
sendo avaliadas as variáveis sexo, idade, diagnósti- Abreu(1);Ana Nabais(1)
co de admissão, dias de internamento, necessidade (1) Unidade Local de Saúde da Guarda, EPE / Hos-
de reinternamento e taxa de mortalidade. pital Sousa Martins (2) Unidade Local de Saúde de
Material e métodos: Estudo retrospetivo obser- Castelo Branco (3) Unidade Local da Guarda (4)
vacional analítico transversal entre o período de Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, EPE / Hospi-
01/11/2020 a 31/01/2021. Os dados foram obtidos tal Padre Américo, Vale do Sousa
através da consulta do SClínico e RSE, sendo ape- Tema: Doenças renais
nas seleccionados os doentes que foram transferi-
dos para outros hospitais (sector público e privado)

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 141


Introdução: A estatística foi realizada com método de Chi-qua-
drado. 
O coração e o rim estão intimamente ligados, com Resultados: 
correlações fisiológicas e patológicas bem estabele-
cidas. A prevalência de fibrilhação auricular (FA) au- 774 internamentos corresponderam a doentes que
menta com a idade, sendo a disritmia mais frequente não tinham fibrilhação auricular conhecida e 156 que
da prática clínica. Os doentes hemodialisados, apre- tinham antecedentes ou diagnóstico de novo de FA. 
sentam maior prevalência desta patologia, quando
comparados à  população geral. A presença de arrit- Na população em ritmo sinusal a necessidade de
mia permanente aumenta o risco de mortalidade em realizar diálise foi de 20.5%, face a 28.8% no grupo
doentes com doença renal crónica terminal, assim com arritmia conhecida. 
como eventos hemorrágicos e tromboembólicos,
com comorbilidades e diminuição da qualidade de A análise com chi-quadrado deriva p = 0.022. 
vida do doente. 
De notar que foram analisados os grupos relativa-
Objetivo: mente à idade e índice de Charlson, sendo que não
existem diferenças estatisticamente significativas
O estudo pretende averiguar se a fibrilhação auri- entre os subgrupos.
cular é um fator de risco para a necessidade de he-
modiálise, em contexto de disfunção renal aguda ou Conclusões:
crónica agudizada.
 Dada a homogeneidade do grupo 1 e 2, assim
Material e Métodos:  como os dados já existentes em estudos de doentes
hemodialisados, é provável que a fibrilhação auricu-
Foi realizado um estudo retrospectivo. A população lar possa ser um fator de risco independente, atual-
foi obtida através da seleção de todos os doentes mente subvalorizado.
internados com diagnóstico principal ou secundário
de retenção azotada, insuficiência renal aguda ou Na esfera clínica, este facto pode levar a esforço te-
doença renal crônica agudizada, numa enfermaria, rapêutico redobrado para manutenção de ritmo sinu-
com data de alta de 01/01/2010 até 31/12/2018.  sal em doentes apropriados, ao invés de estratégias
de controlo de frequência mais comummente utiliza-
Foram excluídos todos os doentes que se encontra- das.
vam em programa regular de hemodiálise ou diálise
peritoneal previamente ao internamento. Foram in- CO n.º 1751 
cluídos doentes com DRC prévia e sem disfunção Patirómero – os nossos primeiros doentes na vida
renal conhecida. real
Daniela Madeira(1);Rosário Eça(2);Marina Al-
Desta forma, foram analisados 930 episódios de in- ves(3);Renato Guerreiro(3);Maria João Cor-
ternamento, com consulta do processo clínico digi- reia(3);Rita Amador(3);Susana Quintão(3);Juliana
tal e físico, de registos de enfermagem, assim como Campos(3);Catarina Bastos(3);Catarina Rodri-
processos relativos a sessões dialíticas quando apli- gues(3);Inês Araújo(3);Cândida Fonseca(3)
cável. (1) Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca (2) Hos-
pital de São José (3) Hospital São Francisco Xavier
No total foram recolhidos dados de 648 doentes,
com 282 reinternamentos, sendo que 2 pessoas ti- Tema: Doenças cardiovasculares
veram um total de 8 internamentos, a restante popu-
lação um máximo de 3. A idade média da amostra
INTRODUÇÃO
foi de 76.8 anos, com um desvio padrão de 12.9 (mí-
nimo 21, máximo de 99). 56.4% dos internamentos
foram de doentes do sexo masculino. O tratamento da Insuficiência cardíaca (IC) com fra-
ção de ejeção reduzida (HFrEF) tem sido alvo, nas úl-
Em cada internamento, o doente foi submetido a timas décadas, de novas terapêuticas modificadoras
critérios de inclusão e exclusão para entrar em 1 de prognóstico (TMP), sendo essencial titulá-las até
de 2 grupos. No grupo 1 foram colocados todos os às doses máximas estudadas ou toleradas. Contudo,
doentes que não tinham antecedentes pessoais de é consensual que estas são raramente atingidas por
fibrilhação auricular conhecida e apresentavam rit- inércia terapêutica ou por contraindicações médicas.
mo sinusal no último eletrocardiograma realizado.
No grupo 2 alocaram-se todos os doentes com an- A hipercaliémia (HiK) é uma destas contraindicações
tecedentes pessoais de fibrilhação auricular ou que que obriga muitas vezes à diminuição de dose ou pa-
apresentaram achado “de novo” em ECG realizado na ragem dos inibidores do sistema renina-angiotensi-
urgência ou durante internamento.  na-aldosterona (iSRAA) com prejuízo prognóstico.
Muito prevalente, em contexto de comorbilidades
Note-se que o mesmo doente pode pertencer ao gru- (doença renal crónica, hipertensão arterial e diabe-
po 1 num primeiro internamento e grupo 2 em inter- tes), para além da IC e da própria TMP, todas promo-
namentos posteriores no caso de ter sido detetada toras de HiK. O patirómero, novo captador do potás-
disritmia durante este período. sio, aumenta a sua excreção fecal, permite reverter
142
COMUNICAÇÕES ORAIS
a HiK, mantendo a normocaliémia a longo prazo, e pêutica com iSRAA, nos doentes com HFrEF na vida
otimizar a terapêutica médica com iSRAA. real.
OBJETIVOS CO n.º 1768 
Lesão renal aguda e o risco de hipoglicemia em
Pretendemos avaliar o efeito do patirómero, recen- doentes diabéticos internados
temente disponível na Farmácia Hospitalar, em Por- Ana Carreira(1);Pedro Castro(1);Filipe Mira(1);Diogo
tugal, na caliemia e o impacto na titulação das TMP Leal(2);Lèlita Santos(1);Pedro Ribeiro(2);Armando
nos doentes com HFrEF. Carvalho(1)
(1) Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra /
MATERIAIS E MÉTODOS Hospitais da Universidade de Coimbra (2) Centro
Hospitalar e Universitário de Coimbra, EPE / Hospi-
Estudo retrospetivo de doentes seguidos na clínica
tal Geral
de IC e que desenvolveram Hik aquando da titulação
dos iSRAA, tendo iniciado patirómero, no período en- Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e
tre Novembro 2020 e Junho 2021. Foram consulta- nutricionais
dos os processos clínicos (SClinico®), com recolha
dos dados demográficos, comorbilidades, TMP
instituída, doses de patirómero e seus ajustes, inter- Introdução: A Lesão Renal Aguda (LRA) é uma
corrências e dados laboratoriais pré e pós- terapêuti- complicação frequente nas hospitalizações de
ca com patirómero, até o 1º mês de tratamento. doentes com diabetes. A relação entre Doença Re-
nal Crónica (DRC) e risco de hipoglicemia nestes
RESULTADOS doentes está bem estabelecida, pela diminuição da
neoglucogénese renal e da clearance de insulina, no
Incluímos consecutivamente 9 doentes, 66,7% do entanto esta associação para a LRA permanece por
sexo masculino, idade média 73±10,05 anos, com esclarecer. Até ao momento, foi demonstrado risco
HFrEF. 66,7% de etiologia isquémica e 72,7% em clas- superior de hipoglicemia no internamento do doente
se II New York Heart Association. Das comorbilida- crítico com LRA e um estudo recente sugeriu ainda
des destaca-se doença renal crónica (100%), diabe- a LRA como fator de risco para hipoglicemia após
tes (77,8%) e a hipertensão arterial (66,7%). alta hospitalar.
Um doente já estava sob doses máximas de iSRAA
quando desenvolveu HiK. Todos iniciaram patiróme- Objetivo: Analisar a relação entre a LRA e o risco de
ro em dose baixa (8,4g/dia) e, às 72 horas, registou-se hipoglicemia em doentes diabéticos internados.
descida média da caliemia 0,53±0,56mmol/L, com
Materiais e métodos: Foi realizada uma análise
normocaliemia em 62,5% dos doentes. O doente em
retrospetiva observacional dos internamentos de
doses máximas de iSRAA pôde manter o tratamento
doentes diabéticos no Serviço de Medicina Interna
optimizado; 50% dos doentes puderam aumentar
em 2018-2019, divididos em dois grupos, quanto à
pelo menos a dose de um dos iSRAA. Após a titula-
presença de LRA. LRA foi definida como um aumen-
ção, verificou-se novo agravamento da HiK (média de
to da creatinina sérica (CrS) >0.3mg/dL em 48 ho-
5,5±0,59mmol/L) com necessidade de aumento da
ras ou elevação >50% da CrS basal em 1 semana.
dose de patirómero para 16,8g em 25% e para 25,2g
A creatinina basal foi definida pelo seu último valor
em 25%.
(12 meses) em ambulatório e a Taxa de Filtração
Nos restantes doentes, ao mês, 3 mantiveram as Glomerular (TFG) calculada através da equação CK-
doses de iSRAA em curso, ainda que sob HiK ligeira D-EPI. Excluíram-se os doentes com DRC de estádio
e margem para aumentar patirómero. Neste grupo, ≥4, obtendo-se 240 casos de doentes com diabetes
houve um agravamento da função renal com decrés- e LRA (Grupo 1). Da amostra de doentes sem LRA
cimo da taxa de filtração glomerular estimada (CK- selecionaram-se aleatoriamente 240 doentes para
D-EPI) de 9±2,16mL/min/1,73m3 (vs 1,75±7,32mL/ formar o Grupo 2. A hipoglicemia foi definida por
min/1.73m3 no grupo onde se titularam TMP), dificul- um valor de glicemia capilar <70mg/dL.  A análise
tando o controlo da caliemia. estatística foi feita utilizando o IBM SPSS 23.0. Fo-
ram usadas curvas de ROC e Índice de Youden para
O tratamento com Patirómero foi em geral bem to- obtenção de pontos de corte específicos e regressão
lerado. Os efeitos adversos mais comuns foram hi- logística para uniformização da população.
pomagnesemia (1,56±0,05mg/dL) com necessidade
de correção (55,6%), diarreia (44,4%) e flatulência Resultados: Da amostra selecionada (480 doentes),
(33,3%), na maioria autolimitada. Não houve necessi- 59.8% eram do sexo feminino e 36.0% insulinotrata-
dade de parar patirómero até ao mês de tratamento. dos. Na globalidade, a hipoglicemia foi mais comum
em doentes previamente insulinotratados, com TFG
CONCLUSÃO basais inferiores e idades superiores, verificando-se
nesta amostra que, por cada aumento de  1 ano de
O patirómero permitiu resolver a HiK crónica, poten- idade, o risco de hipoglicemia aumentou em 4.1%.
cialmente fatal, mantendo ou titulando até às doses Independentemente dos grupos, a presença de hipo-
máximas toleradas a TMP, até aos 30 dias. Bem tole- glicemia promoveu internamentos mais prolongados
rado, foi assim um facilitador da otimização da tera- (16.6±12.4 dias) e associou-se a um risco de morta-

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 143


lidade 3.7 vezes superior em 30 dias. Comparando Analisados processos clínicos de todos os doen-
os dois grupos, os doentes com LRA apresentavam tes internados nestes períodos. Foram incluídos no
idade superior (82.7±7.9 anos), TFG basal inferior estudo os doentes com infeção respiratória, sendo
(59.1±17.3 mL/min/1.73m2), internamentos mais excluídos todos os doentes com pesquisa positiva
prolongados (13.8±11.3 dias) e mortalidade subs- para SARS-CoV-2. Variáveis analisadas: idade, sexo,
tancialmente superior (14.0% vs 7.3%). As hipoglice- comorbilidades, mortalidade, destino à data de alta,
mias ocorreram em 98 doentes do Grupo 1 (40.8%) e classificação da infeção respiratória, uso de antibio-
em 38 doentes do Grupo 2 (15.8%), verificando-se, na terapia, isolamento de agente, CURB65, admissão
população estudada, que a LRA aumentou o risco de em UCI e necessidade de VMI. Endpoint primário:
hipoglicemia em 4.2 vezes. A primeira hipoglicemia comparação do número e características das infe-
ocorreu em média 6.7 ±6.1 dias depois do início da ções respiratórias, não COVID, em períodos homólo-
LRA e um maior período de tempo em LRA, indepen- gos. Análise efetuada com SPSS v25.
dentemente da sua gravidade, associou-se significa-
tivamente ao desenvolvimento de hipoglicemia e à RESULTADOS: No período analisado, foram admi-
mortalidade em 30 dias, tendo sido identificado um tidos 1020 doentes (730 em 2019 e 290 em 2020)
ponto de corte de duração de 5.5 dias que conferiu com diagnósticos não COVID, 363 (35,6%) com in-
maior risco. feção respiratória. Idade média 71,9 anos com pre-
domínio do sexo masculino (55,2%). Taxa de morta-
Conclusão: A LRA constituiu um fator de risco im- lidade intra-hospitalar 13%. No ano de 2020 foram
portante para hipoglicemia nos doentes diabéticos diagnosticadas 74 infeções respiratórias não COVID
internados, mais comum em doentes mais idosos e (25,5%), frente a 289 (39,6%) em 2019 (p<0.001). O
com menor TFG basal. A duração da LRA foi a carac- diagnóstico mais frequente em ambos os anos foi a
terística preponderante no aumento do risco de hipo- pneumonia adquirida na comunidade (PAC), seguida
glicemia e mortalidade. Estes dados reforçam a ne- da traqueobronquite e da pneumonia de aspiração.
cessidade de estratificação de risco individualizada A percentagem de isolamento de agente foi seme-
e de implementação de protocolos específicos, com lhante nos dois períodos (~11%). Dos agentes iso-
vista à prevenção ou mitigação do impacto destas lados, destacamos o Streptococcus pneumoniae no
complicações na hospitalização e no período após ano de 2019, (n=13, 41,90%, p=0,38), e a Legionella
alta destes doentes. pneumophila no ano de 2020 (n=3, 37,50%, p<0,001).
A mediana do CURB65 em ambos os anos foi de
CO n.º 1801  2. Em 2019 verificaram-se mais admissões em UCI
ANÁLISE DE PNEUMONIAS BACTERIANAS EM (n=12, 1,60%, p=0,237) bem como necessidade de
ÉPOCA DE PANDEMIA VÍRICA VMI (n=2, 0,30%, p=0,372).
Carolina Seabra(1);Francisco Pombo(1);Fátima
Costa(1);Bárbara Silva(1);Ana Filipa Silva(1);Teresa DISCUSSÃO: As precauções padrão da pandemia,
Mendes(1);Salomé Marques(1);Filipa Leal(1);Luís atuaram como barreira, diminuindo o risco de trans-
Nogueira(1);Vítor Fagundes(1);Mari Mesquita(1) missão, tendo-se verificado, com significado esta-
(1) Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, EPE / tístico, um menor número de infeções respiratórias,
Hospital Padre Américo, Vale do Sousa não COVID, em 2020. O aumento de positividade de
antigénio urinário da Legionella em 2020 poderá es-
Tema: Doenças respiratórias tar em relação com o surto ocorrido na região Norte
em novembro. Em 2020 verificaram-se menos trans-
Introdução: As infeções respiratórias, em particular ferências da UCI bem como necessidade de VMI, o
as pneumonias bacterianas são um dos diagnósti- que pode traduzir uma diminuição de pneumonias
cos mais frequentes nos Serviços de Medicina Inter- graves e a sobrelotação do Serviço de Medicina In-
na. É uma doença comum, associada a morbimor- tensiva em ano de pandemia.
talidade, sendo a principal causa infeciosa de morte
em adultos. A pandemia lançou vários desafios, e CONCLUSÃO: Em suma, contatámos que, em 2020
neste contexto, os autores propuseram-se a anali- foram diagnosticadas menos infeções respiratórias,
sar os doentes internados no Serviço de Medicina não COVID, sendo o diagnóstico mais comum em
Interna, por infeção respiratória, não COVID, em dois ambos os anos, a PAC. Relativamente aos doentes
períodos homólogos de 2019 e 2020 e identificar internados no Serviço de Medicina Interna, em 2020
se a situação de pandemia influenciou no número verificou-se também menor número de transferên-
e nas características das infeções respiratórias, cias/ necessidade de admissão em UCI  bem como
nomeadamente nas nosocomiais, nos isolamentos de recurso a VMI.
de agente, necessidade de admissão em unidade de CO n.º 1804 
cuidados intensivos (UCI), bem como recurso à ven- Otimização de cuidados em enfermaria COVID-19 e
tilação mecânica invasiva (VMI). a transição digital
Ana Rita Ambrósio(1);Hugo Pêgo(1);Carolina Olivei-
MATERIAL E MÉTODOS: Estudo retrospetivo e trans- ra(1);Fernando Martos Gonçalves(1);José Lomelino
versal dos doentes internados por infeção respira- Araújo(1)
tória, não COVID, no Serviço de Medicina Interna de (1) Hospital Beatriz Ângelo
um Centro Hospitalar, entre 1 de novembro e 31 de
dezembro de 2019 e no mesmo período em 2020. Tema: Organização, gestão e qualidade de serviços

144
COMUNICAÇÕES ORAIS
de saúde considered as the same nosological condition or as
polyautoimmunity; 2) if this coexistence influenc-
Introdução: O cenário COVID 19 e as suas parti- es clinical manifestations and longterm outcome. In
cularidades, colocaram desde o início um desafio this retrospective review patients with SS alone were
organizativo transversal. O processo de construção compared with patients with SS-TD.
logístico e todos os ajustes e adaptações no terreno
clínico obrigaram à adoção de práticas, por vezes, Methods: The information was collected from the
subótimas e indiretas de avaliação. A análise do medical records of patients attending a single
cenário COVID de forma transversal mantém uma centre in London (established in 1986).  Inclusion
relevância aos dias de hoje, quer pela incerteza de criteria: age> to 18 years old, patients with Sjogren’s
futuro, quer pelas dinâmicas se manterem ainda, syndrome according to ACR/EULAR 2016 criteria.
seguramente, melhoráveis. The data were analyzed using SPSS.
Results: Of the 152 patients, 91.4% were wom-
Objetivo: Melhorar o desempenho, eficiência e en- en. There were 129 patients with SS alone and
trega de cuidados num contexto específico de enfer- 23 had  SS-TD. All patients with TD were diagnosed
maria dedicada a COVID 19. Comunicar e difundir a with hypothyroidism. Patients with SS alone were
estratégia para validação e melhoria de cuidados de compared with those SS-TD. There were no sig-
forma transversal em enfermaria COVID 19.   nificant differences in age (54.47± 13.53 versus
Material e Métodos: Foi analisado todo o processo 57.39± 10.41years, SS and SS-TD respectively) and
de internamento do doente COVID 19 em nível I – en- duration of follow-up (SS:13± 7.7(range 1-47years;
fermaria dedicada e foram comparados as ações e SS-TD: 14±8.3(range 3-31years)  between the two
procedimentos relativamente ao percurso clássico groups. Anti-Ro positivity was more frequent, but
dum doente em enfermaria de Medicina em época not significantly so,  among patients with SS alone.
pré-COVID num hospital específico do SNS, com suas There were no differences in parotid swelling be-
inerentes particularidades. Para as dificuldades e di- tween the two groups. 27patients (20.9%) with
ferenças foram pensadas e identificadas soluções, SS reported arthritis (versus 13% in SS-TD group)
tendo sido implementadas as possíveis, em função (p=0.07). There were only 5 patients with pulmonary
da disponibilidade dos recursos que cada uma impli- fibrosis in the group with SS alone and 3 patients in
ca. Em função da maior ou menor execuabilidade fo- the group of SS-TD (3.8% versus 13%, p=0.0705). All-
ram graduadas em níveis de facilidade de obtenção, cause mortality was 17.4% (n=4) during follow-up on
quer com recursos próprios institucionais, quer com the SS-TD group while 18.6% (n=24) on the SS group
apoio de organizações externas. (p>0.1).

Resultados / Conclusão: Constatou-se a premissa Discussion The results of this single centre  ‹real


que os cuidados ao doente com COVID 19 implicam world’  study of unselected  patients  adds further
a adoção de práticas adaptadas e pensadas para o evidence about the coexistence of SS and TD. In
contexto complexo de gestão deste tipo de doente. brief, in this cohort  we found  few statistically sig-
A sua personalização em profundidade, como as nificantly differences between those SS patients
visitas médicas em conexão telefónica, as visitas with or without accompanying Sjogren’s syndrome.
em videochamada de familiares, entre outras, tradu- However, since approximately one SS patient in
zem-se não só numa maior eficiência do processo 6/7  does have hypothyroidism , it is important to be
com melhoria nos resultados clínicos, mas também aware of this clinical link and investigated accord-
humanos, inferindo-se daí uma maior satisfação de ingly when clinically indicated.
todos, cuidadores e cuidados.  CO n.º 1868 
CO n.º 1844  A ESPIRITUALIDADE EM CUIDADOS PALIATIVOS
Coexistence of Hypothyroidism and Primary Sjo- NA VISÃO DO ESTUDANTE DE MEDICINA DO SÉCU-
gren’s syndrome LO XXI
Liliana r. Santos(1);David Isenberg(2) Catarina Faria(1);Úrsula Dalcolmo(2);Manuela Ber-
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi- tão(2);Elga Freire(2)
tal de Santa Maria (2) UCLH (1) Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE /
Hospital de S. Francisco Xavier (2) Centro Hospita-
Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e lar Uni. Porto
nutricionais
Tema: Cuidados paliativos
Background: Sjögren’s syndrome (SS) is an auto-
immune chronic disease characterised by B-cell Introdução: A filosofia dos Cuidados Paliativos (CP)
activation and lymphocytic Infiltration of exocrine aviva dimensões, além da biológica, essenciais ao
glands. 10-24% of patients with SS may have con- cuidado da pessoa doente, sendo a dimensão espi-
comitant  thyroid involvement. The coexistence of ritual provavelmente a menos explorada ao longo da
SS and thyroid disease (TD) has been documented formação do estudante de Medicina no século XXI.
in small series worldwide. However, there is no
consensus whether 1) this coexistence should be Objetivo: Analisar o entendimento vigente entre os

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 145


estudantes de Medicina acerca da espiritualidade. Introdução: A pergunta surpresa (PS) – “Ficaria
Avaliar o impacto de uma formação prévia sobre es- surpreendido se este doente morresse durante
piritualidade nos conceitos dos estudantes de Medi- o próximo ano?” – é uma ferramenta simples,
cina sobre o tema. utilizada na identificação de necessidades
paliativas (NP).  A sua aplicação tem permitido
Material e métodos: Foi aplicado um questionário a disponibilização de Cuidados Paliativos (CP) a
realizado pelos autores deste estudo entre 2019 e um maior número de doentes e em fases mais
2021 aos estudantes do 5º ano inscritos na unidade precoces. Apesar da sua utilidade, a implicação da
curricular opcional de CP do Mestrado Integrado em PS na definição do plano de cuidados não é ainda
Medicina de uma faculdade de Medicina portuguesa. do conhecimento de alguns médicos.
O questionário aplicado era composto por três princi-
pais questões de resposta fechada: (1) Considera-se
uma pessoa religiosa? (2) Considera-se uma pessoa Objetivo: Avaliar o conhecimento da PS por parte de
espiritual? (3) Considera necessário haver formação Assistentes de Medicina Interna (MI), assim como o
sobre espiritualidade no seu percurso enquanto futu- conhecimento das implicações do instrumento na
ro médico? O mesmo questionário foi aplicado antes identificação de NP.
e depois da aula expositiva subordinada ao tema es- Material e Métodos:  Estudo transversal, incluindo
piritualidade em CP. Os dados foram submetidos a doentes internados numa enfermaria de Medicina
análise mista. Interna de um hospital distrital. Entrevista a
Resultados: A amostra era constituída por 61 estu- Assistentes de MI contendo duas questões: PS e “O
dantes de medicina e a idade média foi de 25 anos, doente beneficiaria de CP?”. Recolha de variáveis
sendo 68,9% (n=42) do sexo feminino. Em relação à demográficas e clínicas a partir da consulta de
crença religiosa, 41% (n=25) afirmaram ter uma reli- processos clínicos, com posterior anonimização dos
gião, 46% (n=28) negaram qualquer tipo de crença dados. Análise estatística dos dados com recurso ao
e, deste último grupo, uma pessoa alterou a sua res- programa JASP.
posta após a formação para “não sei”. No final da Resultados:  Foram entrevistados 8 Assistentes
aula, mais de metade (68,9%, n=42) dos alunos iden- de MI, os quais responderam às duas questões
tificaram a sua dimensão espiritual. As respostas à referentes a um total de 50 doentes pelos quais eram
questão sobre a espiritualidade alteraram-se antes responsáveis. Em relação à PS, os médicos não
e depois da formação, sendo que 16% (n=10) dos ficariam surpresos com a morte do doente em 39
estudantes mudaram de opinião: seis dos alunos casos (78,0%), apresentando a PS uma sensibilidade
passaram a afirmar-se como espirituais depois da 93,1% e uma especificidade de 57,1%. Aqueles cuja
formação e quatro dos alunos que se afirmavam não morte não era inesperada apresentavam média
ser espirituais, passaram a afirmar não saber se se- etária superior (80,2 vs. 66,7), maior incidência de
riam espirituais. Nenhum dos estudantes se afirmou doença oncológica (23,1% vs. 18,2%), maior taxa de
de novo como não espiritual após a formação. No institucionalização (20,5% vs. 0,0%), maior score do
grupo dos alunos que afirmaram possuir uma crença Índice de Charlson (6,8 vs. 4,8) e menor score no Ín-
religiosa, 20% (n=5) considerou não ter ou não saber dice de Barthel (24,3 vs. 62,5).
se possuía espiritualidade. Após a aula, 93,4% (n=57)
dos alunos consideraram necessário haver formação Questionados sobre quem beneficiaria de CP, os mé-
sobre espiritualidade no seu percurso académico. dicos assinalaram 20 dos 39 doentes com morte
expectável no prazo de um ano. Esse grupo apresen-
Conclusões: Foi evidente que a formação esclareceu tava idade média mais elevada (82,1 vs. 78,3), maior
aos estudantes conceitos confundíveis e normativa- taxa de institucionalização (30,0% vs. 10,5%), maior
mente excluídos da perspetiva biomédica, como sen- número de episódios de urgência (3,6 vs. 2,5) e de
do a espiritualidade e a religiosidade. Simultanea- internamentos (1,9 vs. 1,5) no ano transato, maior
mente trouxe-lhes manancial de reflexão, em relação score do Índice de Charlson (7,2 vs. 6,4) e menor sco-
a si mesmos, traduzido pela sua mudança de opi- re no índice de Barthel (13,6 vs. 39,3). Entre doentes
nião. A formação dos futuros médicos deverá procu- que beneficiariam e que não beneficiaram de CP, não
rar despertá-los para uma visão destituída de tabus houve diferença relevante na prevalência de doen-
e vasta da Medicina, enquanto profissão humana e ça oncológica. Após a alta, e tendo em conta os 20
humanizante, de forma a conseguirem acompanhar doentes que foram considerados para CP, 3 foram re-
plenamente o sofrimento, em qualquer momento da ferenciados à consulta de CP (1 dos quais para con-
doença, especialmente no fim de vida. tinuação de seguimento já existente).
CO n.º 1908  Conclusão:  Este trabalho mostra que os médicos
A Pergunta Surpresa: identificação de necessida- tendem somente a considerar a disponibilização de
des paliativas na enfermaria de Medicina Interna CP ao conjunto de doentes mais idosos, dependentes,
Hugo Jorge Casimiro(1);Diana Pedreira(1);Ricardo com mais comorbilidades e com maior gasto de
Pereira(1);Carolina Palma(1);Ermelinda Pedroso(1) recursos em saúde, pese embora identifiquem um
(1) Centro Hospitalar de Setúbal, EPE / Hospital de grupo mais alargado de doentes com indicação para
São Bernardo CP (segundo resposta dada à PS). Mesmo nesses
Tema: Cuidados paliativos doentes, a taxa de referenciação à consulta de CP
é muito baixa. A utilização de outros instrumentos

146
COMUNICAÇÕES ORAIS
com variáveis mais concretas e que vá ao encontro tação por sonda nasogástrica  e 75% realização de
do perfil de resposta dos médicos de MI poderá fisioterapia – respostas semelhantes entre médicos
beneficiar a identificação de doentes com NP. e enfermeiros. Quanto ao local onde pode ser
discutida a DNR, a Unidade de Cuidados Intensivos
CO n.º 1924  foi referida como único local por 18 % dos enfermei-
Decisão de Não Reanimação (DNR): qual a interpre- ros, sendo que os restantes profissionais referiram
tação dos profissionais de saúde estar indicado noutros níveis de cuidados (p <0.05).
Margarida Madeira(1);António Lorena Pes- 37% enfermeiros consideraram que dos doentes que
soa(1);Mafalda Corrêa Figueira(1);Hugo Vie- sofrem PCR no hospital 50-52% sobrevivem até à
gas(1);Eugénio Nóbrega Dias(1);Susana Mar- data da alta mas apenas 23% dos médicos (p < 0.05)
ques(1);Ermelinda Pedroso(1) tem essa resposta.
(1) Centro Hospitalar de Setúbal, EPE / Hospital de
São Bernardo Conclusões: A perceção dos médicos quando ao im-
pacto negativo  da DNR no tratamento dos doentes
Tema: Organização, gestão e qualidade de serviços foi de acordo com o descrito na literatura, o que em
de saúde alguns estudos se justifica com a sensação de omis-
são de cuidados ou a suspensão de terapêuticas já
Introdução: Com os ganhos em saúde, assistiu-se iniciadas. O facto de todos os inquiridos considera-
a um aumento da preocupação face à qualidade de rem a realização de terapêutica analgésica, mas não
vida em detrimento do seu prolongamento. Quando haver unanimidade nas restantes terapêuticas revela
foram implementadas as primeiras políticas de que apesar do conhecimento da definição de DNR,
DNR, vários estudos demonstraram que havia esta não é aplicada na prática.
pouca concordância na interpretação de DNR
entre a comunidade médica. Mais recentemente A disparidade entre classes profissionais sobre o
a literatura mostra que os profissionais de saúde local onde pode ser discutida a instituição de DNR
acreditam que a DNR afeta negativamente os apoia o facto deste conceito ainda não ser correta-
cuidados prestados aos doentes, podendo resultar mente interpretado por todos os profissionais.
na relutância à sua instituição. Assim torna-se essencial uma maior divulgação e
discussão para que a interpretação seja uniforme e
Objetivo: Caracterizar a interpretação do conceito de os cuidados aos doentes sejam personalizados e te-
DNR entre os médicos e enfermeiros dum serviço de nham em consideração a situação clínica, a vontade
Medicina Interna. do doente e as suas expectativas em relação à sua
qualidade de vida.
Materiais e Métodos: No mês de Abril de 2021, os
médicos e enfermeiros do Serviço de Medicina CO n.º 1948 
preencheram um questionário que visou: caracteri- Avaliação da utilização de carbapenemos numser-
zar a população (faixa etária, tipo de carreira e anos viço de medicina.
de experiência); avaliar a interpretação sobre o con- Ana Rodrigues(1);Daniela Antunes(1);Bruno Ca-
ceito de DNR (cuidados a que os doentes com esta breiro(1);Tiago Pais(1);Carolina Fernandes(1);Ana
indicação podem  ser submetidos, envolvimento do Catarina Domingues(1);Claudia Diogo(1);Anton Va-
doente/família na tomada de decisão); que profissio- sin(1);Maria Jesus Banza(1)
nais podem  participar na tomada de decisão; qual (1) Centro Hospitalar de Leiria / Hospital de Santo
o momento em que esta pode  ser discutida; a per- André
ceção do prognóstico dos doentes após paragem
cardiorrespiratória (PCR) intra e extra-hospitalar.  Ao Tema: Outro
preencher, anonimamente, o questionário os partici-
pantes deram consentimento para a utilização das Introdução: Os carbapenemos são um grupo
respostas. As respostas foram analisadas com o de antibióticos de largo espectro, que, por este
programa Excel da Microsoft®. motivo devem ter uma prescrição criteriosa,
preferencialmente dirigida,assente em resultados
Resultados: Foram obtidas 87 respostas - respon- de antibiogramas para que sejafeita uma utilização
deram 68% dos médicos e de 76% dos enfermeiros. racional dos mesmos. A utilização irracional deste
Todos identificaram corretamente a definição de grupo de antibióticos originaa emergência de resis-
DNR. Quanto à perceção do impacto da DNR no tra- tências que constitui um grave problema de saúde
tamento dos doentes, 48% responderam que a DNR pública.
não influencia o tratamento dos doentes, 41% e 11%
que influencia negativa e positivamente. As respos-
tas foram estatisticamente diferentes entre médicos Objectivo:Este estudo tem como objectivo fazer
e enfermeiros - 85% dos médicos consideraram que umaavaliação da prescrição médica de carbapene-
a DNR influencia negativamente os cuidados presta- mos num serviço de medicinacom vistaa optimiza-
dos aos doentes vs 19% dos enfermeiros (p <0,05). raracionalização dasua utilização.
No que diz respeito às atitudes terapêuticas a que
doentes com DNR podem ser submetidos: 100% Método e Dados recolhidos:Estudo retrospectivo da
referiram a terapêutica analgésica; 93% a alimen- utilização de carbapenemos (Meropenem), no servi-
ço de medicina de janeiro a novembro de 2020, por-

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 147


consulta do processo clínico do doente. Análise dos afectou os cuidados de saúde em todos os aspec-
resultados.Foram recolhidos dados de: número (nº) tos, incluindo os cuidados directos e indirectos as-
de prescrições, nº de doentes tratados, idade média sociados ao AVC.
do doente, tipo de infecção, tipo de antibioterapia,
existência de antibioterapia prévia, % de prescrições OBJECTIVO: Avaliar o impacto da pandemia COVID
com ajuste áfunção renal, dose média/toma, nº dias nos doentes internados por AVC isquémico agudo.
médio de tratamento (NMDT), % amostras biológi-
cas colhidas para estudo (Hemoculturas, urocultura, MATERIAL E MÉTODOS: Estudo retrospectivo atra-
exame bacteriológico da expetoração), microorga- vés da consulta do processo clínico de todos os
nismos identificados, existência de co-infecção e doentes internados entre Maio e Agosto de 2019
existência de dispositivos invasivos (sondavesical, (n=153) e 2020 (n=119) com AVC isquémico agudo
catetervenoso central,…). num hospital periférico. Contactados telefonicamen-
te os doentes com referência a incumprimento tera-
Resultados: 99 prescrições de 82 doentes, ida- pêutico para apurar o motivo.
de média 79,9 anos. Infecções do tracto urinário
(31,3%) e infeções respiratórias nosocomiais RESULTADOS: Houve mais internamentos em 2019,
(14.1%) foram as mais frequentes, 32,1% das pres- sem diferenças significativas tendo em conta sexo,
crições foram empíricas, sendo que 48,1% destas faixa etária, raça ou comorbilidades. Em 2019, 75,2%
foram consequência de falênciaantibiótica prévia. dos doentes teve consulta nos últimos 6 meses ao
Em 32.3% das prescrições foi feito ajuste áfunção contrário de apenas 63,0% em 2020; simultaneamen-
renal dos doentes com dose média de 920g/toma, te, referência a incumprimento terapêutico em 20,9%
NMDT= 8.1 dias.Em 81,8% dos casos foram colhi- dos doentes em 2020 vs apenas 12,1% em 2019,
das uroculturas, 51,5% hemoculturas e 41.4% exame com especial relevo para a hipocoagulação; destes,
bacteriológico da expetoração.Em apenas 3% dos >50% relacionou incumprimento com ausência de
casos não foi feita qualquercolheita para estudo. consulta ou fim do receituário e impossibilidade de
O principal microorganismo identificado foi Kleb- renovar pela pandemia.
siella pneumoniae Multiresistente, em 42,6% dos
casos;Em apenas um dos casos o doente estava- Houve atraso no recurso aos serviços hospitalares
co-infetado tendo cumprido antibioterapia empírica em 2020 (<4,5h sintomas em 41,2% em 2019 e 34,5%
para um dosagentes e dirigidaao outro agente.Em em 2020) o que se traduziu num número francamen-
24,2% dos casos os doentes tinham sido submeti- te menor de trombólises (12,4% em 2019 vs 6,7% em
dosaalgaliação por sondavesical e destes 50% eram 2020), sem diferenças significativas na trombecto-
algaliados de formacrónica e 12,5% tinham conco- mia. Também a operacionalização da via verde intra-
mitantemente catetervenoso central. -hospitalar foi pior em 2020, nomeadamente na de-
mora para a realização da TC (<3h sintomas: 27,8min
Conclusões:Este estudo permitiu-nos concluir que em 2019 vs 63,2min em 2020; 4,5-12h sintomas:
uma percentagem bastante significativa dos doen- 133,5min em 2019 vs 186,1min em 2020). Não houve
tes tinham sido sujeitosaatos médicos invasivos o diferença significativa na pressão arterial sistólica e
que facilita o desenvolvimento de infecçõesaagen- glicémia à admissão, bem como no estudo analítico
tes multirresistentes e obrigaao recurso aantibióti- de factores de risco cardiovasculares modificáveis.
cos de reserva no combate a esse tipo de infeções.
Nageneralidade dos casos é notório um cuidado Salienta-se menor incidência de doença de peque-
acrescido nos critérios usados paraa prescrição do nos vasos (41,8% em 2019 e 23,5% em 2020) e maior
Meropenem, bem como na duração dos ciclos de de cardioembolismo (23,5% em 2019 e 36,2% em
antibioterapia o que indica que hájá umagrande sen- 2020), o que condicionou agravamento do NIHSS à
sibilização paraa problemática do desenvolvimento admissão (média 6,2 em 2019 e 7,6 em 2020) e à
de resistências. Aindaassim existe uma percenta- data de alta (média 3,5 em 2019 e 4,2 em 2020), bem
gem significativa de prescrições empíricas, o que como da mRS à data de alta (média 1,7 em 2019 e
nos indica que háaindatrabalho afazer para raciona- 2,4 em 2020). Todos estes factores condicionaram
lizar o uso deste antibiótico. taxa de mortalidade significativamente superior em
2020 (13,4% vs 6,5%).
CO n.º 1950 
Impacto da pandemia COVID 19 nos outcomes do CONCLUSÕES: Verificou-se uma diferença relevante
AVC isquémico agudo nos outcomes (NIHSS à admissão e à alta, mRS à
Rodolfo Viríssimo Gomes(1);Joana Oliveira(1);Ana alta, mortalidade) dos doentes com AVC isquémico
Cláudia Ribeiro(1) agudo em plena pandemia COVID. Verificou-se maior
(1) Hospital Beatriz Ângelo incumprimento terapêutico, pior acompanhamento
médico em consulta e também atraso na ida ao hos-
Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas pital e, inclusive, na operacionalização da via verde
intra-hospitalar o que se traduziu num número menor
Introdução: Nas últimas décadas têm sido feitos es- de doentes submetidos a terapêutica de fase aguda;
forços para optimizar a prevenção primária e secun- todos estes factores foram directamente influencia-
dária bem como diminuir o tempo de tratamento do dos pela pandemia COVID.
AVC agudo para melhorar os outcomes associados
a esta patologia. No entanto, a pandemia COVID19 CO n.º 2021 

148
COMUNICAÇÕES ORAIS
Quo Vadis Internista esta a aumentar, tanto no público como no privado,
João André Carracha Frutuoso(1);Tania Men- o que pode indicar que o interesse dos privados em
des(1);Barbara Silva(1);José Augusto Barata(1) contratar se mantém. Este dado pode ser potenciado
(1) Hospital de Vila Franca de Xira pelo aumento da rentabilidade das camas no privado
em detrimento do público.
Tema: Organização, gestão e qualidade de serviços
de saúde Conclusão 
Uma vez que os dados do INE estão disponíveis até
Introdução  2019, ainda não foi possível avaliar como a situação
epidemiológica atual alterou o fluxo migratório dos
Durante os anos pré pandemia tem-se verificado uma médicos Internistas, mas a evidência existente indica
fuga de médicos Internistas para grupos privados que os grupos privados se sobrepõem cada vez mais
em detrimento dos hospitais públicos. Este esvazia- ao SNS. É imprescindível, a curto prazo, repensar no
mento do sistema publico deverá suscitar reflexão papel do Internista, dado ser o verdadeiro gestor do
no sistema publico e incitar a autocritica, no sentido doente, e como poderá o SNS evitar este êxodo. 
da melhoria nos hospitais públicos e provocar altera-
ção das relações laborais tanto dentro como fora do CO n.º 2029 
espectro público. Controlo glicémico com antidiabéticos orais em
doentes hospitalizados não-críticos
Objetivos  Pedro José Rodrigues Oliveira(1);Carla Maia(1);Júlio
Almeida(1)
Através da análise de dados do Instituto Nacional de (1) Centro Hospitalar Lisboa Central - Hospital de
Estatística (INE), pretende-se avaliar os movimentos São José
dos médicos internistas para os grupos privados no
período entre 2015 e 2019.  Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e
nutricionais
Métodos 
Foram analisados os dados do INE, dos últimos 5 Introdução: São vários os estudos que têm
anos, disponíveis e daí extraídas as seguintes va- mostrado a importância da hiperglicemia no
riáveis: número de camas hospitalares (dado que prognóstico do doente. Recentemente, a Sociedade
qualquer cama de um internamento é um potencial Portuguesa de Diabetologia (SPD) juntamente
doente do Internista); número de médicos Internis- com a Sociedade Portuguesa de Medicina Interna
tas; número de internamentos;  numero total de dias (SPMI) elaboraram um conjunto de recomendações
de internamento. O tratamento dos dados foi reali- para a abordagem e tratamento da hiperglicemia
zado por região do país e por tipologia de hospital, no internamento de doentes não-críticos. A
nomeadamente, público, privado e parceria público- insulina destaca-se como opção terapêutica
-privada (PPP).  adequada, mesmo nos diabéticos tipo 2, propondo-
se a descontinuação dos antidiabéticos orais
Dada a própria natureza dos dados foi realizada aná- e injetáveis não insulínicas fundamentada na
lise estatística com recurso a métodos não paramé- insuficiência de dados sobre a sua segurança e
tricos para aumentar a objetividade e quantificar a eficácia em situações de doença aguda que exija
significância estatística.  internamento. No entanto, o internamento revela-se
como uma oportunidade na educação terapêutica
Resultados  do diabético e a manutenção da terapêutica
de ambulatório, não só reduz a iatrogenia
Observou-se, com elevada significância estatística, medicamentosa como traz uma oportunidade para
que apesar de se verificar um aumento do número a melhoria do controlo glicémico à data da alta.
de médicos tanto nos hospitais públicos como priva-
dos, a percentagem de médicos Internistas no sector
público tem vindo a diminuir em detrimento do priva- Objetivo: Avaliação da utilização de antidiabéticos
do. A verificar-se a permanência desta tendência, em orais no controlo glicémico de diabéticos interna-
2041, haverá mais Internistas no sector privado que dos numa enfermaria de Medicina Interna e se esta
no sector público.  medida se associa a maior taxa de complicações
clínicas (hipoglicémia) ou iatrogénicas.
Adicionalmente, apesar de se observar declínio
progressivo dos internamentos globais no serviço Material e Métodos: Estudo transversal e retrospe-
público (sem significância estatística), observa-se tivo, em que foram elegíveis para inclusão doente
aumento evidente do número de internamentos no com história prévia de Diabetes ou com o diagnós-
setor privado, o que pode indicar um acréscimo da tico efetuado à admissão hospitalar, internados em
capacidade de absorção de médicos neste sector, enfermaria médica no período entre 1 de julho e 30
com eventual incremento de capacidade de absor- de setembro de 2020. 
ção de Internistas.  
Resultados: Os doentes tratados com antidiabéticos
Verificou-se também que o rácio Internista/cama orais tinham características próximas dos tratados
com insulina, com Charlson (5.91 vs 6.27) e função

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 149


renal (TGFe 58.57 vs 49.52) sobreponíveis, sem di- saúde inquiridos. A análise estatística foi realizada
ferença estatística. Registou-se uma melhoria geral no software SPSS® versão 26.
do controlo glicémico entre a admissão e a alta,
quer nos diabéticos medicados com antidiabéticos Resultados: Utilizando a ferramenta NECPAL, a pre-
orais quer nos que fizeram insulina: no grupo que valência das necessidades paliativas nesta unidade
fez antidiabéticos orais registaram-se glicémias ao de Medicina Interna foi de 78,9%. Destes doentes,
pequeno-almoço de 156 vs 131 mg/dl (p 0.029) e ao 23,3% estavam a ser acompanhados em regime de
almoço de 190 vs 148 mg/dl (p 0.005). Aos diabéti- consultoria pela equipa intra-hospitalar de supor-
cos tratados com insulina, registaram-se glicémias te em cuidados paliativos e 86% destes encontra-
ao pequeno-almoço de 165 vs 147 mg/dl (p 0.049) vam-se no estádio III de prognóstico do NECPAL,
e ao almoço 210 vs 168 mg/dl (p 0.0). Além disso, correspondendo a uma mediana de sobrevivência
os doentes tratados com antidiabéticos orais apre- de 3,6 meses. A média de idades dos profissionais
sentaram glicémias menores, à data da alta, que os de saúde inquiridos foi de 30,6 anos e 88,2% (n=67)
tratados com insulina: glicémia ao pequeno-almoço eram do sexo feminino. A grande parte dos médicos
131 vs 156 mg/dl (p 0.029), glicémia ao almoço 148 inquiridos estava no internato de formação específi-
vs 190 mg/dl (p 0.005), apesar de não se registar ca (82%, n=31) e 64,5% (n=49) dos profissionais de
diferença estatística na glicémia à admissão (170 saúde apresentavam 5 anos ou menos de experiên-
vs 185 mg/dl, p 0.371). Também não se verificou cia profissional. A maioria dos profissionais de saú-
nenhuma diferença estatística em termos de hipo- de (52,6%, n=40) não tinha formação básica em cui-
glicémias (taxa de 15.94%) ou iatrogenias entre am- dados paliativos. Os enfermeiros e médicos foram
bos os grupos. concordantes na maioria das suas avaliações em
relação à pergunta surpresa, diferindo apenas em
Conclusões: Os antidiabéticos orais não se revela- 16% (n=6) dos doentes. Em todos os doentes deste
ram inferiores à insulina no controlo glicémico de grupo, a doença definidora de prognóstico era não
diabéticos não-críticos internados e o seu uso não oncológica e 50% (n=3) encontravam-se no estádio II
se associou a maior taxa de complicações. A utili- de prognóstico do NECPAL.
zação destas armas terapêuticas deverá ser pon-
derada com maior frequência que o recomendado, Conclusões:  As necessidades paliativas nesta uni-
contribuindo para a educação e controlo glicémico dade de Medicina Interna são elevadas, retratando
após o internamento além de minimizar o risco de possivelmente a realidade nacional. É evidente uma
iatrogenia. disparidade entre a consciencialização do prognós-
tico do doente aos 12 meses e a identificação das
CO n.º 2031  necessidades paliativas ao longo do seu acompa-
Necessidades paliativas numa unidade de interna- nhamento intra-hospitalar.
mento de Medicina Interna de um hospital terciário
Sofia Moura de Azevedo(1);Telmo Correia(2);Júlia CO n.º 2057 
Alves(1);Nuno Miguel Pereira(1);Isabel Fonseca Sil- Redução de eventos major por uma Clínica de Insu-
va(1);Manuela Vidigal Bertão(1);Elga Freire(1) ficiência Cardíaca: um ideal tornado realidade
(1) Centro Hospitalar do Porto, EPE / Hospital Geral Rita Rego(1);Nuno Miguel Pereira(1);António Pin-
de Santo António (2) ACeS Porto Ocidental to(1);Irene Marques(1);João Araújo Correia(1)
(1) Centro Hospitalar do Porto, EPE / Hospital Geral
Tema: Cuidados paliativos de Santo António
Tema: Doenças cardiovasculares
Introdução:  O perfil clínico dos doentes internados
no serviço de Medicina Interna tem-se modificado
ao longo dos últimos anos. No meio hospitalar, os Introdução: A Insuficiência Cardíaca (IC) é a pan-
profissionais de saúde cuidam de doentes cada vez demia cardiovascular, sendo a primeira causa de
mais velhos, frágeis e complexos. hospitalização das pessoas idosas nos países de-
senvolvidos e responsável por grande parte dos epi-
Métodos:  Foi realizado um estudo institucional, clí- sódios de urgência hospitalar em Portugal. As clíni-
nico, descritivo, observacional e transversal. Este es- cas multidisciplinares de abordagem e tratamento
tudo consistiu na aplicação da ferramenta NECPAL da IC comprovadamente reduzem a mortalidade e
(versão português do Brasil) pelos investigadores hospitalizações dos doentes complexos com IC,
aos profissionais de saúde (médicos e enfermeiros) mas a sua implementação é escassa.
responsáveis pelos doentes (n=38) internados numa
unidade de Medicina Interna de um hospital terciário Métodos: Estudo observacional retrospetivo de to-
no dia 16 de junho 2021. Os investigadores aplicaram dos os doentes admitidos na clínica multidisciplinar
a ferramenta NECPAL ao médico (n=38) e ao enfer- de IC de um hospital universitário entre 1/1/2013 e
meiro (n=38) responsáveis por cada doente daquela 28/02/2019 com um ano de seguimento, que analisa
unidade. A aplicação do NECPAL referente a um de- eventos major: hospitalizações por todas causas e
terminado doente, foi feita  no mesmo dia aos dois hospitalizações e visitas urgentes por IC, entre o ano
grupos profissionais, mas em espaços diferentes, prévio e o seguinte à admissão na clínica.
para que nenhum deles fosse influenciado pelo pa-
recer do outro. Além do NECPAL, foram colhidos al- Resultados: No período referido, foram admitidos
guns dados sociodemográficos dos profissionais de 487 doentes, dos quais 110 (23%) faleceram e 235
150
COMUNICAÇÕES ORAIS
tiveram seguimento ≥365 dias, constituindo estes a da admissão de doentes de foro cirúrgico, conver-
amostra estudada. A mediana de idades foi 78 anos, tendo-se em unidades polivalentes.
58% eram mulheres. As comorbilidades eram: hiper-
tensão arterial (84%), insuficiência renal (eTFG<60 Objectivos: Caracterização demográfica e clínica
mL/min/1,73/m2) (59%), anemia (56%), diabetes dos doentes cirúrgicos admitidos numa UCIM de um
mellitus (54%), ferropenia (36%), doença pulmonar hospital terciário. 
crónica (25%) e deterioração cognitiva (10%).
Material e métodos: Análise retrospectiva dos doen-
Do ponto de vista da cardiopatia, as etiologias eram: tes cirúrgicos admitidos na UCIM no ano de 2020.
hipertensiva (43%), isquémica (36%), valvular (34%) Consideramos todos aqueles com motivo de admis-
e dilatada (17%); quanto à fração de ejeção do ventrí- são hospitalar de foro cirúrgico, motivo de admissão
culo esquerdo (FEVE): ≤ 40% (38%), 41-49% (11%) e médico mas com intercorrência cirúrgica e aqueles
≥ 50% (51%); 49% apresentavam fibrilação/flutter au- admitidos para procedimentos cirúrgicos electivos.
ricular. Na admissão, 66% apresentavam-se em clas- Foram colhidos dados demográficos e clínicos do
se II e 16% em classe III NYHA; o valor mediano do SClínico® e aplicada estatística descritiva usando o
NT-proBNP era 2242 pg/mL. Na análise comparativa Microsoft Excel ®.
do ano prévio à admissão com o primeiro ano de se-
guimento, contabilizaram-se 399 vs 187 hospitaliza- Resultados: No ano de 2020 houve 310 admissões
ções por todas as causas, com média de 1,70 ±1,05 na UCIM, das quais 79 (26%) foram do foro cirúrgico.
vs 0,80 ±1,25 (p=0,000), respetivamente; 337 vs 102 A maioria (65%) foi do sexo masculino com mediana
hospitalizações por IC, com média de 1,43±0,89 vs de idades de 76 anos. Das patologias que motivaram
0,43 ±0,98 (p=0,000), respetivamente; 70 vs 45 visitas o internamento hospitalar destacam-se: uropatia
urgentes por IC, com média de 0,30 ±0,69 vs 0,19 obstrutiva (n=10), politraumatismo (n=9), fracturas
±0,49 (p=0,014) respetivamente. (n=8) e a patologia bilio-pancreática (n=6). 9 doen-
tes foram internados para procedimentos electivos
Por FEVE, ≤ 40% e > 40 %, houve redução de hospita- e destes, 33% foram transferidos por complicações
lizações por todas as causas em ambos os grupos pós procedimento. A maioria das admissões teve ca-
(média, 1,86±1,11 para 0,91±1,53, p=0,000) vs (mé- rácter urgente (N=56, 71%), com índice SOFA mais
dia, 1,60 ± 0,99 para 0,73±1,04, p=0,000), respetiva- alto quando comparado com os doentes médicos
mente. A magnitude da redução não foi influenciada (mediana SOFA 4 vs 3). Em 39% (n=31) dos casos o
significativamente pela FEVE (p=0,073). Em relação motivo de transferência foi uma intercorrência médi-
ao total de eventos por IC (hospitalizações e visitas ca, de onde se destacam os distúrbios do ritmo (n=6),
urgentes) verificou-se também redução em ambos as infecções respiratórias (n=6) e a insuficiência car-
os grupos (média, 1,90±1,19 para 0,76±1,58, p=0,000) díaca (IC) descompensada (n=5). 35% dos doentes
vs (média, 1,63±1,28 para 0,54±0,93, p=0,000), res- foram transferidos para vigilância imediata pós-pro-
petivamente. Igualmente, a magnitude da redução cedimento ou por step-down de cuidados pós UCI. 
não foi influenciada significativamente pela FEVE
(p=0,083). A principal disfunção observada foi o choque (n=19),
com necessidade de suporte vasopressor em 13
Conclusão: A integração numa clínica multidiscipli- doentes, seguindo-se da insuficiência respiratória
nar de IC de doentes complexos e com múltiplas aguda (IRA, n=15) com necessidade de suporte ven-
comorbilidades, mostrou reduções estatisticamente tilatório com ventilação não invasiva (n=10) e oxige-
muito significativas na taxa de hospitalizações por noterapia de alto fluxo (n=10). Isto marca a diferença
todas as causas, hospitalizações e visitas urgentes para o “doente médico” no qual, a principal disfunção
por IC, no ano seguinte à admissão. Estes resulta- foi a IRA, nos quais técnicas foram mais amplamente
dos, tão idealizados e cuja magnitude é independen- usadas (37%). Foram submetidos a 76 procedimen-
te da FEVE, devem motivar a implementação de ou- tos invasivos dos quais 44 colocações de cateteres
tras clínicas semelhantes em Portugal. venosos centrais, 24 linhas arteriais e 4 drenagens
CO n.º 2073  torácicas.
Doentes cirúrgicos numa Unidade de Cuidados In- 84% dos doentes tiveram alta da UCIM, conferindo
termédios Médicos: uma mudança de paradigma. uma elevada taxa de sucesso de internamento. Dos
Leonor Coutinho Soares(1);Rita Prayce(1);Pedro Pi- restantes 12 doentes, 4 (5%) foram transferidos para
res(1) UCI e 8 (10%) faleceram. Os doentes que faleceram
(1) Hospital de São José tinham limitação de cuidados e os motivos de óbito
Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente foram o choque (n=6) e a IC terminal (n=2).
crítico
Conclusão: Em 2020, a pressão causada pela CO-
Introdução: A pandemia por SARS-CoV-2 obrigou a VID-19 fez-se sentir também nos serviços não-CO-
uma reestruturação das estruturas hospitalares. A VID. Na UCIM houve uma mudança da tipologia de
pressão de vagas nas Unidades de Cuidados Inten- doente, correspondendo o “doente cirúrgico” a 26%
sivos (UCI) obrigou à redistribuição de doentes, a da população. A sua complexidade assenta na inte-
que as Unidades de Cuidados Intermédios Médicos racção da patologia cirúrgica com as comorbilida-
(UCIM) não foram alheias, nomeadamente através des médicas, tornando-se um desafio para qualquer

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 151


internista. da IAHPC. Apresenta-se o grau de evidência e os
estudos associados, que ainda são em número limi-
CO n.º 2089  tado nesta área. Resumem-se as recomendações
O papel da farmacogenómica nos cuidados paliati- disponíveis com base científica relativas a possíveis
vos ajustes posológicos para cada fármaco, perante um
Ana de Carmo Campos(1);Isabel Galriça Ne- determinado perfil metabólico clínico e genético.
to(2);Maria Luís Cardoso(3)
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hos- Conclusões: Em doentes com necessidades paliati-
pital Pulido Valente (2) Hospital da Luz Lisboa (3) vas que se encontram em unidades especializadas
Departamento de Promoção da Saúde e Prevenção e cujo controlo sintomático depende da toma de de-
de Doenças Não transmissíveis, Instituto Nacional terminados fármacos, a realização de testes de far-
de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA) (Lisboa) macogenómica poderá contribuir para a otimização
terapêutica, redução de RAMs e o efetivo controlo
Tema: Cuidados paliativos sintomatológico, de modo a proporcionar o maior
conforto à pessoa doente em fim de vida. Conside-
Introdução: Visando uma prática de cuidados palia- ra-se pertinente a realização de estudos futuros que
tivos de qualidade a Organização Mundial da Saúde considerem microarrays de farmacogenómica, que
(OMS) reconheceu a importância de definir uma integrem os polimorfismos identificados face aos
lista da terapêutica farmacológica essencial no tra- fármacos mais frequentes usados em unidades de
tamento sintomático de adultos com necessidades cuidados paliativos.
paliativas. Em 2007 a International Association for
Hospice and Palliative Care (IAHPC) respondeu ao CO n.º 2101 
pedido da OMS e elaborou uma lista consensual en- Impacto de 14 anos de formação em Cuidados Pa-
tre diversos peritos em paliativos de todo o mundo: liativos num Serviço Medicina Interna
List of Essential Medicines for Palliative Care. Foram Nuno Miguel Pereira(1);Isabel Fonseca Silva(1);Sofia
identificados 21 sintomas como sendo os mais pre- Moura de Azevedo(1);Júlia Alves(1);Manuela Vidigal
valentes e angustiantes em doentes com doença Bertão(1);Elga Freire(1);João Araújo Correia(1)
terminal e incluídos 33 fármacos essenciais no seu (1) Centro Hospitalar do Porto, EPE / Hospital Geral
controlo, considerando fatores como acessibilidade, de Santo António
eficácia, perfil de segurança e evidência clínica.  Tema: Cuidados paliativos

Porém, é reconhecida a existência de uma signifi- Introdução: Os avanços da Medicina e subsequente


cativa variabilidade interindividual na resposta aos aumento da prevalência e complexidade das doen-
fármacos, condicionando a resposta terapêutica ças crónicas avançadas leva a que a formação bási-
desejada, ou mesmo o desenvolvimento de rea- ca em Cuidados Paliativos (CP) pelos profissionais
ções adversas medicamentosas (RAMs). Fatores de saúde se torne progressivamente mais importan-
tais como a idade, a doença de base, a presença te.
de comorbilidades, a falência de órgão e a adesão
terapêutica, podem influenciar essa variabilidade,
sendo que cada vez mais a investigação atenta às OBJETIVO: Avaliar o impacto de 14 anos de forma-
variantes genómicas relacionadas com as enzimas ção em CP na prática clínica dos profissionais de
da fase I e II de metabolização e os transportadores saúde que trabalham nas enfermarias de Medicina
membranares dos fármacos. A farmacogenómica Interna (MI) de um hospital terciário.
poderá auxiliar na otimização terapêutica, aten-
dendo ao genótipo de cada doente, garantindo um MATERIAL E MÉTODOS: Realizado estudo institucio-
melhor controlo sintomático e um menor número de nal, descritivo e transversal a todos os médicos (de
RAMs. formação específica e especialistas) e enfermeiros a
trabalhar no Serviço de MI de um hospital terciário. O
Objectivo: Identificar os genes e principais polimor- estudo consistiu na aplicação voluntária e anónima
fismos relacionados com os fármacos considera- de um questionário de preenchimento direto pelos
dos na lista da IAHPC e as recomendações atuais profissionais de saúde. A aplicação do estudo decor-
que permitam o ajuste posológico perante um deter- reu de 1 junho a 23 junho de 2021. O questionário
minado perfil farmacogenómico. era composto por duas partes: (1) recolha de dados
sociodemográficos (idade, sexo, profissão, tempo de
Material e Métodos: Revisão sistemática da literatu- atividade clínica e formação básica prévia de CP); (2)
ra, com consulta das bases de dados de farmacoge- 29 afirmações relacionadas com os CP de respos-
nómica, nomeadamente PharmGKB - the Pharmaco- ta fechada, classificando-as em “verdadeiro”, “falso,
genetics Knowledge Base, The Pharmacogenetics of “não sei”. O estudo foi autorizado pela Comissão
Membrane Transporters (PMT) database, The Trans- de Ética da instituição hospitalar. A análise estatís-
porter database e Pharmacogenetics of Absorption, tica foi realizada utilizando a versão 26 do software
Distribution, Metabolism and Excretion genes. SPSS® da IBM.
Resultados: Identificaram-se diversos polimorfis- RESULTADOS: A taxa de resposta obtida foi de 64%
mos genéticos relacionados com a metabolização (n=137). A maioria dos profissionais era do sexo
e o transporte dos fármacos considerados na lista feminino (n=113; 83%) e pertencia à categoria pro-
152
COMUNICAÇÕES ORAIS
fissional de enfermagem (n=83; 61%). Dos médicos no estilo de vida, fatores de risco metabólicos e con-
(n=54), 20 (38%) eram especialistas e os restantes sumo de álcool em todos os doentes.
63% eram internos de formação específica. Cinquen-
ta e sete dos inquiridos (42%) tinham formação em RESULTADOS: Foram avaliados 100 doentes referen-
CP sendo que, dos restantes 79 participantes, 90% ciados à consulta de Medicina Interna por hiperferri-
(n=71) afirmaram ter interesse em adquirir esta for- tinemia, com idades compreendidas entre os 21 e os
mação. A formação prévia em CP pelos profissionais 88 anos (média 56 anos), com um claro predomínio
de saúde participantes influenciou de forma estatis- do sexo masculino (87%).
ticamente significativa as respostas às questões que
envolviam: a discussão e registo de diretivas de fim Identificou-se uma mutação HFE em 78 doentes:
de vida; a gestão da claudicação familiar; o recurso à 41 heterozigotia H63D, 10 homozigotia H63D, 9 he-
via subcutânea (SC) para administração de antibióti- terozigotia composta C282Y/H63D, 8 heterozigotia
co e para hidratação; o recurso e as regras de utiliza- C282Y, 7 homozigotia C282Y, 2 heterozigotia S65C
ção de opióides major para controlo de dor modera- e 1 heterozigotia composta H63D/S65C. Apenas 19
da e dispneia. Apesar de 64% (n=87) dos inquiridos doentes apresentavam história familiar de hemo-
já ter discutido diretivas de fim de vida com os seus cromatose hereditária. Esta população apresentava
doentes, apenas 22% (n=30) admitiu realizar registo uma ferritina média à admissão de 1277ng/mL e no
eletrónico das mesmas. Cerca de 82% (n=111) con- seguimento de 450ng/mL. 27 doentes foram sub-
sidera que os seus doentes carecem de CP e 99% metidos a flebotomias, apresentando uma ferritina
reconhece a necessidade do apoio de uma Equipa média à admissão de 1350ng/mL e no seguimento
Intra-Hospitalar de Suporte em CP. Mais de metade de 184ng/mL. Destes doentes, 9 apresentavam ho-
dos inquiridos (62%) considera não haver sofrimento mozigotia H63D, 6 heterozigotia composta C282Y/
associado à morte em ambiente hospitalar. Indepen- H63D, 5 heterozigotia H63D, 5 homozigotia C282Y, 1
dentemente de existir formação prévia em CP, 67% heterozigotia C282Y e 1 heterozigotia S65C.
(n=91) dos profissionais considera fundamental a
Foi diagnosticada doença hepática crónica alcoólica
definição de prognóstico antes de serem oferecidas
em 4 doentes e metastização hepática de carcinoma
estratégias paliativas.
de pequenas células do pulmão em 1 doente.
CONCLUSÕES: A formação prévia em CP conferiu
A grande maioria dos doentes (n=95) apresentava
aos profissionais de saúde consciencialização para
pelo menos um fator de risco metabólico, sendo que
a discussão e registo de diretivas de fim de vida com
40 cumpriam critérios de Síndrome Metabólico. 72
os doentes, gestão da claudicação familiar, recurso
doentes apresentavam consumo excessivo de ál-
à via SC para administração de antibiótico e hidrata-
cool.
ção bem como para estratégias farmacológicas na
gestão de sintomas como dispneia ou dor. Em 69 doentes foi identificada mais do que uma cau-
sa para a hiperferritinemia. Em 2 pacientes não se
CO n.º 2134 
identificou a causa.
Hiperferritinemia – análise de uma coorte de 100
doentes Quando analisada a coorte dos 100 doentes, verifi-
Margarida Araújo(1);Inês Gonçalves(1);Ana Isabel cou-se que o valor médio de ferritina à admissão era
Machado(1);Sara Freixo(1);Marina Alves(1);Luísa de 1302ng/mL, com uma diminuição no seguimento
Pinto(1);Francisco Gonçalves(1);António Oliveira e para 583ng/mL. Excluindo os 27 doentes submeti-
Silva(1) dos a flebotomias, verificou-se que a ferritina média
(1) Hospital de Braga à admissão era de 1283ng/mL e no seguimento de
718ng/mL, o que foi conseguido por intervenção no
Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e
estilo de vida, fatores de risco metabólicos e consu-
nutricionais
mo de álcool.

Introdução: A hiperferritinemia é um teste sensível CONCLUSÕES: As principais causas de hiperferriti-


para a sobrecarga de ferro, mas pouco específico, já nemia foram as mutações HFE, álcool, síndrome me-
que pode ocorrer em resposta a outras condições. tabólico e doença hepática crónica. Em 69 doentes
Por ser um reagente de fase aguda, a ferritina au- foi identificada mais do que uma causa. Verificou-se
menta em contexto de infeção e inflamação. Pode uma redução significativa do valor de ferritina com a
ainda estar elevada na doença hepática. intervenção nos fatores de risco metabólicos, o que
sustenta a hipótese da ferritina enquanto biomarca-
dor metabólico.
OBJETIVO: Analisar as principais causas de hiperfer-
ritinemia na prática clínica. CO n.º 2194 
Monitorização flash – satisfação, conveniência e
MATERIAL E MÉTODOS: Análise retrospectiva de
flexibilidade na gestão do dia a dia.
100 doentes referenciados à consulta de Medicina
Débora Faria Lopes(1);Ana Rita Cardoso(1);Cristina
Interna por hiperferritinemia. Recolha de dados de-
Gonçalves(1)
mográficos e analíticos. Pesquisa de mutações HFE
(1) Centro Hospitalar do Médio Tejo
em todos os doentes. Definiu-se Síndrome Metabó-
lico pelos critérios ATP III. Foi realizada intervenção Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 153


nutricionais doentes que respondeu 5, 25,93% apresentaram
HbA1c <7%, 22,22% apresentaram HbA1c entre 7 e
Introdução: 7,9%, 40,74% apresentaram HbA1c entre 8 e 8,9% e
11,11% apresentaram HbA1c ³  9%.
A diabetes mellitus é um distúrbio metabólico Conclusões:
caracterizado pelo aumento dos níveis de glicose
no sangue, causado pela deficiente secreção A maioria dos doentes respondeu 4 e 5 às questões
de insulina pelas células pancreáticas ou pela sobre a satisfação, conveniência e flexibilidade, do
diminuição da sensibilidade celular a esta. Em 2018, uso da monitorização flash para determinação dos
a prevalência estimada da diabetes na população seus valores diários de glicose, o que permite inferir
portuguesa entre os 20 e os 79 anos foi de 13,6%, que este método é bastante apreciado pelos doentes
segundo o Observatório Nacional da Diabetes. Para com diabetes. Estes resultados vão ao encontro de
a monitorização diária dos valores de glicose, as outros estudos realizados e reforçam a importância
pessoas com diabetes contam, desde 2018, com o deste método de monitorização da glicose.
sistema de monitorização flash, que lhes permite
um acesso rápido e indolor aos valores de glicose No que concerne à temática da auto-gestão da doen-
no momento, ao perfil e às tendências de variação ça, a grande maioria dos doentes confirmou a im-
desses valores. portância da monitorização flash na sua melhoria.
Contudo, os grupos com perceção de melhoria na
Objetivos: auto-gestão da doença não apresentaram melhores
valores de HbA1c. Será importante avaliar, no futuro,
Avaliar o grau de satisfação, conveniência e flexi- o impacto de outros parâmetros, nomeadamente a
bilidade na gestão do dia a dia das pessoas com ocorrência de hipo e hiperglicemias e o controlo da
diabetes que utilizam monitorização flash dos seus variabilidade e excursões glicémicas.
valores de glicose. Avaliar também se a informação
fornecida por este sistema é considerada uma mais- CO n.º 2200 
-valia para a auto-gestão da doença e se se associa Um ano de COVID-19 em Hospitalização Domiciliá-
a um melhor controlo metabólico. ria
Catarina Vasconcelos Forra(1);Soraia Proença e
Material e Métodos: Silva(1);Fábia Cruz(1);Rita Reis Correia(1);Sandra
Martin(1);Paulina Mariano(1);Maria Eufémia Cal-
A um grupo de 85 pessoas com diabetes, seguidos meiro(1);Isabel Cardoso Antunes(1);Maria Eugénia
em consulta externa de diabetes, de ambos os se- André(1)
xos e com idades compreendidas entre os 21 e os 85 (1) Unidade Local de Saúde de Castelo Branco
anos, foi aplicado um inquérito com questões pon-
tuadas de 1 a 5, em que 1 correspondia a “nada”, 2 a Tema: Doenças respiratórias
“pouco”, 3 a “indiferente”, 4 a “bastante” e 5 a “muito”.
Para avaliar o controlo metabólico, foram considera- Introdução: A doença respiratória provocada pelo
dos os valores de HbA1c (hemoglobina A1c) mais novo coronavírus SARS-CoV-2 (COVID-19), uma
baixos, obtidos e registados no processo clínico des- emergência de Saúde Pública declarada pandemia
de o início da monitorização flash.   em março de 2020, tem um espectro amplo de ma-
Resultados: nifestações de gravidade, de doença assintomática
a Pneumonia com insuficiência respiratória grave.
Na questão “Qua~o satisfeito se sente com a mo- Apenas o avançar do tempo permitiu uma atualiza-
nitorização flash?”, nenhum doente respondeu 1, ção progressiva dos critérios de diagnóstico, trata-
1,18% responderam 2, 5,88% responderam 3, 41,17% mento e cura. A Hospitalização Domiciliária (HD) é
responderam 4 e 51,76% responderam 5. Na ques- destinada a doentes que exijam cuidados de nível
tão “Qua~o conveniente considera a monitorização hospitalar e que cumpram critérios que permitam o
flash?”, nenhum doente respondeu 1, 1,18% respon- internamento no domicílio.
deram 2, 12,94% responderam 3, 32,94% responde-
ram 4 e 52,94% responderam 5. Na questão “Qua~o Objetivos: Caracterizar a população de doentes SAR-
mais flexi´vel considera a gestão do seu dia a dia S-CoV-2 positivos internados numa Unidade de HD
com o uso da monitorização flash? “, 1,18% respon- em um ano.
deram 1, 3,53% responderam 2, 10,59% responderam
3, 30,59% responderam 4 e 54,12% responderam 5. Material e métodos: Estudo observacional retrospe-
Relativamente à questão “Como classificaria o quan- tivo de doentes internados em HD positivos a SAR-
to melhorou a auto-gestão da doença com a monito- S-CoV-2, entre março de 2020 e fevereiro de 2021.
rização flash?”, nenhum doente respondeu 1, 1,18% Os dados foram obtidos através do processo clínico
responderam 2, 16,47% responderam 3, 50,59% res- informático.
ponderam 4 e 31,76% responderam 5. Dos que res-
ponderam 4 a esta questão, 20,93% apresentaram Resultados: De uma população de 80 doentes ob-
HbA1c <7%, 32,55% apresentaram HbA1c entre 7 e servou-se uma maioria de homens (67,5% vs 32,5%),
7.9%, 23,26% apresentaram HbA1c entre 8 e 8,9% com uma média de idades de 61 anos (desvio padrão
e 23,26% apresentaram HbA1c ³   9%. Do grupo de (DP) 22), sendo mais prevalente idade igual ou supe-

154
COMUNICAÇÕES ORAIS
rior a 65 anos (47,5%), numa média de 18 dias de namento/aos 3 meses após a alta.
internamento (DP 16). A maioria teve o diagnóstico
de Pneumonia (62%), dos quais 72% eram homens, Materiais e métodos: Estudo observacional retrospe-
97% com necessidade de oxigenoterapia por insufi- tivo, cuja amostra foi selecionada entre os doentes
ciência respiratória durante a doença, tendo a grande internados por COVID 19 em enfermaria de Medicina
maioria (86%) para além de antibioterapia, cumprido Interna no período de março/2020 a fevereiro/2021.
protocolo de dexametasona antes ou durante HD. A Cumpriam critérios de inclusão os doentes em que
maioria foi transferida de Enfermaria COVID para HD figurava pelo menos um dado de perfil lipídico (HDL,
(74%), 22% com passagem por Unidade de Cuidados CT, TGL, LDLc) no internamento ou nos 6 meses an-
Intensivos, e 14% usufruiu de fisioterapia em regime teriores. Índice funcional avaliado pelo AVD DezIS.
de HD. Apesar de 30% dos doentes com Pneumonia Os dados foram colhidos através do sistema infor-
não apresentar fatores de risco, avaliaram-se outros mático e análise estatística em SPSS vs. 25, conside-
diagnósticos concomitantes: 46% hipertensão arte- rando p<0.05 estatisticamente significativo.
rial, 22% doença pulmonar, 18% diabetes mellitus e
18% doença cardíaca. Dos doentes sem diagnóstico Resultados: Dos 1484 doentes internados no perío-
de Pneumonia, 33% cumpriu internamento para vigi- do referido cumpriam critérios de inclusão 692 doen-
lância clínica e os restantes para cumprir tratamento tes, com idade mediana de 72 anos [min 26, max 97];
por outras patologias a necessitar de cuidados. Ape- 56.5% (391) eram do sexo masculino. Verificou-se
nas 2 doentes foram transferidos por agravamento um AVD-DezIs mediano 90% [min 0, max 100] e índi-
clínico de HD para o hospital (2,5%), ambos com óbi- ce de comorbilidades de Charlson ajustado à idade
to hospitalar (média de 88 anos), e um outro óbito mediano 1 [min 0, max 10], sendo as comorbidades
em HD em doente em processo de fim de vida (total mais prevalentes a hipertensão (65.2%) e a dislipi-
de 3). demia (56.1%). Nesta amostra 43,1% (n=298) dos
doentes encontravam-se previamente medicados
Conclusões: Com este estudo concluímos que a infe- com antidislipidemiantes, mais frequentemente es-
ção a SARS-CoV-2 afetou uma ampla faixa etária em tatina (99%).  A demora mediana do internamento foi
pessoas com e sem fatores de risco. O tempo médio 8 dias [min 0, max 290] e a severidade da doença
de internamento em HD foi longo, tendo sido os da- foi em 61.4% dos casos categorizada como grave,
dos afetados pela mudança de critérios de cura du- 19.4% moderada, 11.6% ligeira e 5.9% crítica, verifi-
rante o ano de 2020, que obrigaram a vigilância mais cando-se uma taxa de mortalidade intra-hospitalar
prolongada inicialmente. Dos doentes com Pneumo- global de 18.6%. Observou-se SCA em 7 doentes
nia, na maioria houve passagem por enfermaria CO- em internamento e SCA em 6 doentes aos 3 meses
VID, o que mostra a HD como importante para segui- após alta. Não houve diferença entre os valores de
mento destes doentes após estabilização hospitalar. CT, HDL, LDL e TGL nos 6 meses antes e no interna-
Dos doentes sem este diagnóstico, os motivos de mento ou entre doentes medicados e não medica-
internamento foram vários, mostrando-se a HD tam- dos. Os níveis de TGL variaram entre as classes de
bém essencial no apoio a doentes assintomáticos a severidade da doença (p=0.015), mais elevados na
SARS-CoV-2 mas com necessidade de internamento. doença grave. Observou-se uma correlação negativa
Pela baixa percentagem de transferências para hos- fraca entre valores de HDL e duração de internamen-
pital, mostra-se capaz de oferecer cuidados de saú- to e associação entre níveis inferiores de CT e LDL
de eficazes e seguros, num apoio importante dentro e mortalidade (p=0.009 e p=0.029, respetivamente).
do contexto de pandemia. Verificou-se correlação entre valores de PCR e TGL
(r=0.095, p=0,016) e doente com linfopenias apre-
CO n.º 2206  sentaram LDL inferior. Estes são resultados prelimi-
COVID 19 e dislipidemia: papel do perfil lipídico nos nares.
outcomes da infeção por SARS-CoV2
Dianadias(1);Filipe Machado(1);Micaela Ma- Conclusões: Os resultados sugerem que doentes
nuel(1);Ana Aguiar(1);Heloísa Ribeiro(1) com valores mais baixos de CT e LDL durante o
(1) Centro Hospitalar de Entre Douro e Vouga, EPE / internamento por COVID 19 apresentam maior taxa
Hospital de S. Sebastião de mortalidade intra-hospitalar. Algumas hipóteses
fisiopatológicas existem para justificar este achado,
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias como a relação entre a cascata pró-inflamatória e
a indução de oxidação e clearence das LDL, sendo
Introdução: A pandemia pelo vírus SARS-Cov2 to- necessário melhor compreensão dos dados encon-
talizou mais de 800 mil casos na população portu- trados e de como a gestão da dislipidemia poderá
guesa desde março de 2020, tendo sido relacionada afetar os outcomes da doença.
a gravidade da doença com vários fatores de risco CO n.º 2211 
cardiovascular. Apesar disso, existem ainda poucos Tromboprofilaxia em Doentes Terminais - Uma Ne-
dados sobre o papel das lipoproteínas na infeção. cessidade?
Ana Carolina Martins(1);Guilherme Camões(1);Joa-
Objetivos: Analisar a relação do perfil lipídico na ad- na c. Ramos(1);José Filipe Santos(1);Diana m. Fer-
missão de doentes com COVID 19 com os seguintes reira(1);Arsénio Santos(1);Armando Carvalho(1)
outcomes: óbito intra-hospitalar, severidade e ocor- (1) Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra /
rência de síndrome coronário agudo (SCA) no inter- Hospitais da Universidade de Coimbra

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 155


Tema: Cuidados paliativos tem como principal objetivo proporcionar conforto
ao doente (e à família) no final de vida, sem atitudes
Introdução: A identificação de doentes em fase ter- supérfluas e encarniçamento terapêutico, podendo-
minal/fim de vida é fundamental para a prestação -se considerar contraproducente a injeção diária de
dos melhores cuidados de saúde. A realização de HBPM para profilaxia de tromboembolismo venoso.
tromboprofilaxia nestes doentes é um tópico con- CO n.º 2297 
troverso. A sua fragilidade e o grau de dependência, Referenciação para a Rede Nacional de Cuidados
torna-os mais propensos a eventos tromboembóli- Continuados Integrados: a experiência num hospi-
cos, mas também a eventos hemorrágicos. tal
Raquel Rodrigues Pinheiro Dos Santos Raquel Ro-
Objetivo: Avaliar a prática clínica relativa à trom- drigues Dos Santos(1);Ana p. Ferro(2);Sandra Mo-
boprofilaxia em doentes terminais em enfermarias rais(3);Carolina Lopes(1);João Filipe Camões(1);Céu
de Medicina Interna, procurando discutir a sua rele- Rocha(1)
vância/utilidade e impacto em relação à mortalida- (1) Hospital Pedro Híspano (2) Unidade Local de
de. Saúde de Matosinhos, EPE / Hospital Pedro Hispa-
no (3) Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto
Material e Métodos: Estudo de coorte retrospetivo Douro, EPE / Hospital de Vila Real
descritivo, avaliando 203 doentes que se encontra-
vam internados num dia selecionado aleatoriamente Tema: Organização, gestão e qualidade de serviços
(18 de janeiro de 2021) nas enfermarias de um Servi- de saúde
ço de Medicina Interna. Colhidos dados através dos
processos clínicos, com seleção dos doentes con- Introdução: Em 2006, a Rede Nacional de Cuidados
siderados terminais pela equipa médica assistente. Continuados Integrados (RNCCI) foi criada em Por-
Nestes doentes avaliou-se a existência de “Decisão tugal para dar resposta integrada à necessidade
de Limitação Terapêutica” (DLT) assinada (confor- crescente de cuidados específicos em ambulatório
me protocolo em uso na instituição), a terapêutica de uma população cada vez mais envelhecida. No
instituída (principalmente heparina de baixo peso entanto, a referenciação também tem implicações
molecular (HBPM)), presença de complicações he- como o aumento do tempo de hospitalização com
morrágicas ou trombóticas e a taxa de mortalidade.  consequentes maiores custos e risco de complica-
A avaliação estatística realizou-se com o programa ções médicas associadas.
SPSS Statistics versão 20.0®.
Resultados:  Os 203 doentes tinham idades entre 42 Objetivos: Estudo do efeito da referenciação de
e 105 anos (média 80,97 ± 10,67), 50,25% eram do doentes para a RNCCI ao longo dos anos no tempo
sexo feminino e 34,48% (n=70) eram doentes grave- médio de internamento e complicações médicas as-
mente dependentes. No processo clínico, 17 doentes sociadas, num hospital.
(8,37%) estavam identificados como “doentes termi-
nais em fim de vida”, 18,23% (n=37) eram doentes Material e Métodos: Estudo observacional retros-
com “doença aguda grave irreversível” e 26 (12,81%) petivo de todos os doentes médicos referenciados
doentes “crónicos terminais” (não sendo categorias para a RNCCI entre 1 de Abril e 30 de Junho dos
mutuamente exclusivas). Contudo, apenas 6,34% anos de 2010, 2012, 2016 e 2019. Para análise esta-
(n=13)  apresentavam protocolo de DLT assinado. tística dos dados foi usado o IBM SPSS Statistics®,
versão 27 e p<0,05 foi considerado estatisticamente
Da população estudada, 41 doentes (20,20%) não significativo.
estavam medicados com HBPM. Dos doentes consi-
derados terminais, pelo menos numa das categorias Resultados: Durante o período do estudo, 205 doen-
descritas (n=56 doentes), apenas 21,43% (n=12) não tes foram referenciados para a RNCCI (15 em 2010,
apresentavam prescrição de HBPM. Dos 13 doentes 61 em 2012, 61 em 2016 e 68 em 2019, respetiva-
com DLT assinada, apenas 3 (23,08%) não tinham mente), 54,1% (n= 111) do sexo masculino. A idade
essa prescrição. Existiu uma intercorrência hemor- média à data da referenciação foi 74,4 ± 12,3 anos.
rágica num doente medicado com HBPM profilática, Os motivos de admissão hospitalar da maioria dos
não se identificando intercorrências trombóticas. A doentes internados foram infeção (37,1%, n=76) e
taxa de mortalidade foi de 62,5% (n=35) comparati- evento cerebral agudo (35,6%, n=73). O principal
vamente à população basal (27,09%, n=56). motivo de referenciação foi reabilitação funcional
(67,3%, n= 138). Verificou-se um aumento da dura-
Conclusões: Apesar das limitações inerentes ao tra- ção total do internamento ao longo dos anos de uma
balho (retrospetivo, de coorte com dia selecionado mediana de 22 dias [IQR 12-34] em 2010 e 19 dias
no Inverno e em fase de pandemia SARS-Cov2) a [IQR 14-32] em 2012 para 39 dias [IQR 23-56,5] em
tromboprofilaxia com HBPM continua a ser usada 2016 e 34,5 dias [IQR 24,75-54,75] em 2019, p<0,001.
na maioria dos doentes terminais, embora sem be- Esta evolução acompanhou o aumento do número
nefício comprovado em vários estudos. Mesmo iden- de dias desde a referenciação até à alta hospitalar
tificando os doentes em fase terminal ainda existe (2 dias [IQR 0-7] em 2010, 5 dias [IQR 1,25-13,75] em
incapacidade de remover heparinas fracionadas nes- 2012 versus  13 dias [IQR 3-26] em 2016 e 9 dias [IQR
tes doentes.  A implementação do protocolo de DLT, 0,25-36,5] em 2019), p=0,04.

156
COMUNICAÇÕES ORAIS
Durante este período de espera após reunir critérios tril-valsartan na dose máxima tolerada e dispositi-
de alta, 42,9% (n= 72) dos doentes desenvolveram vos cardíacos e 33% tinham Diabetes Mellitus tipo
complicações médicas, sendo que 25% (n= 18) des- 2. Relativamente às hospitalizações por IC, a média
tes perderam a vaga em RNCCI, p<0.001. Após a alta, do número de internamentos nos 12 meses antes do
29.4% (n=60) dos doentes desenvolveram complica- início do iSGLT2 foi 0,69 ± 1,25, verificando-se uma
ções com necessidade de internamento no período redução do número de internamentos aos 12 meses
de 3 meses, sendo a infeção a principal complica- após o início do fármaco para uma média de 0,31
ção (66.7%, n=40). ± 0,72 internamentos, p=0,012. No que concerne à
evolução da classe de NYHA 12 meses após início
Conclusão: Este estudo revela a realidade atual de do fármaco, 91% dos doentes inicialmente em classe
saturação da RNCCI em Portugal. O número cada I ou II mantiveram-se nessa classe (p 0,002) e 8,6%
vez maior de doentes referenciados e a ausência de progrediram para classe III ou IV (p 0,002) após 12
uma resposta atempada leva ao aumento de tempo meses. 57,1 % dos doentes inicialmente em classe III
de hospitalização e ao aumento do número de com- regrediram para classe I ou II (p 0,012) e 42,8% man-
plicações médicas antes e após a alta, conduzindo a tiveram-se em classe III (p 0,013). Contabilizou-se
uma sobrecarga dos cuidados hospitalares. apenas um doente em classe IV no início do estudo
que regrediu para classe III, 12 meses após o início
CO n.º 2304  do iSGLT2.
Efeito dos inibidores da SGLT2 na Insuficiência Car-
díaca: um estudo observacional Conclusão: Este estudo corrobora os resultados ob-
Raquel Rodrigues Dos Santos(1);Ana Isabel Lo- tidos em outros estudos relativamente ao papel dos
pes(2);Andreia Diegues(3);Carolina Teles(1);Catarina iSGLT2 na redução de hospitalizações por IC e levan-
Reigota(1);Filipa Batista(4);Patrícia Amaral de Al- ta a possibilidade do seu efeito na regressão dos sin-
meida(4);Fátima Franco(1);Lino Gonçalves(1) tomas da doença (medido pela classe de NYHA) em
(1) Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra / doentes diabéticos e não diabéticos. Esta classe de
Hospitais da Universidade de Coimbra (2) Unidade fármacos pode assim constituir um quarto pilar no
Local de Saúde de Matosinhos, EPE / Hospital Pe- tratamento da IC com fração de ejeção reduzida em
dro Hispano (3) Unidade Local de Saúde do Nordes- associação com a terapêutica modificadora de prog-
te (4) Hospital Distrital da Figueira da Foz, EPE nóstico já usada.
Tema: Doenças cardiovasculares CO n.º 2341 
Patologia pulmonar crónica e COVID-19: o papel da
Introdução: Inúmeros estudos recentes demonstra- comorbilidade e da terapêutica prévia
ram o efeito dos inibidores da SGLT2 (iSGLT2), uma Rita Soares Costa(1);Carla Pereira Fontes(1);José
nova classe de antidiabéticos, na redução da morta- Moura de Meireles(1)
lidade e hospitalizações por Insuficiência Cardíaca (1) Centro Hospitalar de Entre Douro e Vouga, EPE /
(IC) com fração de ejeção reduzida, assim como de Hospital de S. Sebastião
eventos cardiovasculares em doentes diabéticos e
não diabéticos. A compreensão dos benefícios dos Tema: Doenças respiratórias
iSGLT2 na IC, para além dos dependentes do contro-
lo glicémico, é necessária com o objetivo de expan- Introdução:
dir o arsenal terapêutico desta doença e de outras
cardiovasculares. Os doentes com doença pulmonar crónica (DPC)
apresentam risco de exacerbações e de insuficiên-
Objetivo: Estudar os efeitos dos iSGLT2 em doentes cia respiratória. O tratamento da exacerbação inclui
com IC com fração de ejeção reduzida, diabéticos e broncodilatadores e corticoterapia, esta última uma
não diabéticos, nas hospitalizações por IC e classe das bases do tratamento atual da COVID-19 grave.
de NYHA.
Os estudos têm mostrado resultados contraditórios
Material e métodos: Estudo retrospetivo observa- relativamente ao impacto das doenças respiratórias
cional de uma população de doentes seguidos em crónicas na infeção por SARS CoV-2.
consulta de Cardiologia de um centro terciário para
avaliar as repercussões nas hospitalizações por IC e OBJETIVO:
classe de NYHA, 12 meses após o início do iSGLT2.
Para análise estatística dos dados foi usado o SPSS Caracterização dos doentes com DPC com COVID-19
e p < 0,05 foi considerado estatisticamente signifi- internados num Serviço de Medicina Interna. Análise
cativo. comparativa de demora média e outcomes clínicos
[necessidade de ventilação mecânica invasiva (VMI)
Resultados: Foram analisados 95 doentes, 75% do ou não invasiva (VMNI) e mortalidade intra-hospi-
sexo masculino. A idade média à data do início do talar] entre doentes com e sem DPC. Avaliação do
iSGLT2 foi 60,4 ± 11,2 anos. Em 95% dos doentes, impacto da terapêutica broncodilatadora e corticote-
o diagnóstico de IC com fração de ejeção reduzida rapia sistémica prévia na demora média, outcomes
tinha sido feito há mais de 18 meses, todos tinham clínicos, gravidade da doença e coinfecção bacteria-
a terapêutica modificadora de prognóstico otimiza- na.
da com beta-bloqueador, espironolactona, sacubi-
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 157
MATERIAL E MÉTODOS: realizados sobre a população geriátrica infetada
com COVID-19 e os fatores de risco associados a
Estudo transversal observacional e retrospetivo dos mortalidade.  O presente estudo tem por objetivo
doentes com DPC [(Doença Pulmonar Obstrutiva caracterizar a população idosa com COVID-19 de
Crónica (DPOC), Asma, DPC não estratificada ou Ou- uma enfermaria de Medicina Interna e os fatores de
tra DPC] com COVID-19 admitidos entre março de prognóstico associados.
2020 e fevereiro de 2021. Análise estatística realiza-
da usando o teste Qui-quadrado e o teste t ou o teste
de Mann-Whitney, de acordo com a normalidade da Estudo restrospetivo incidindo sobre os doentes
distribuição, através do SPSS v.26; p<0.05 considera- com ≥65 anos internados por infeção a SARS-CoV2
do como estatisticamente significativo. em enfermaria de Medicina Interna no período de
março/2020 a março/2021. A funcionalidade dos
RESULTADOS: doentes foi avaliada com recurso ao índice ADV-De-
zIs - instrumento utilizado no serviço que engloba
Dos 1406 doentes internados com COVID-19, foram parâmetros com impacto na qualidade de vida dos
incluídos 217 com DPC, 54,8% dos quais do sexo doentes. Severidade da doença classificada de acor-
masculino. A média de idades foi de 73,6 (± 13,6) do com critérios da Direção Geral de Saúde. Os da-
anos, superior à média de idades dos doentes sem dos foram colhidos através do sistema informático
DPC (71,2 ± 14,9 anos) (p=0.018). A patologia mais hospitalar e análise estatística em SPSS vs. 25, con-
prevalente foi a DPOC (42%). Cerca de 71,4% dos siderando p<0.05 estatisticamente significativo.
doentes com DPC estavam medicados com bronco-
dilatadores em ambulatório, 24,4% sob corticotera- Do total de 1485 doentes internados por COVID 19,
pia inalada e 10,6% na formulação oral. A duração 884 doentes eram idosos, dos quais 32.7% (n=289)
mediana de internamento foi de 8 dias (AIQ 5-12), classificados como “muito idosos” (≥85 anos). A me-
não havendo diferença estatisticamente significativa diana de idade foi de 80 [36] anos e 50% dos doentes
entre grupos (DPC vs sem DPC) (p=0,266). A maioria eram do sexo masculino. O índice de funcionalidade
dos doentes com DPC (71%) teve doença grave, sen- mediano foi de 85% [20], verificando-se uma diferen-
do que 35,5% necessitou de ventilação não invasiva ça estatisticamente significativa (p<0,001) entre os
(VNI) e 2,8% de ventilação mecânica invasiva (VMI). “idosos” (90% [18]) e os “muito idosos” (79% [15]).
Não houve diferença estatisticamente significativa O Índice de comorbilidades de Charlson no grupo de
na necessidade de VMI (p=0,529) ou VNI (p=0,195) “idosos” foi de 1 e “muito idosos” de 2 (p<0.001).
entre os doentes com DPC e sem DPC. Durante o
internamento, 33,2% dos doentes com DPC tiveram Os sintomas mais reportados foram dispneia (n=497;
concomitantemente coinfeção bacteriana, sem di- 56,2%), tosse (n=433; 49%) e febre (n=396; 44,8%). A
ferença significativa relativamente aos doentes sem demora mediana do internamento foi 8 [9] dias e a
DPC (p=0,531). A mortalidade intra-hospitalar foi de severidade da doença nesta amostra foi em 66.7%
19,4% nos doentes com DPC, taxa estatisticamente dos casos categorizada como grave, 14.5% modera-
equiparável à dos doentes sem DPC (p=0,678). da, 13.6% ligeira e 5.2% crítica.

CONCLUSÕES: A taxa de mortalidade intra-hospitalar foi de 29.5%. O


índice de funcionalidade dos doentes falecidos (80%
Na população analisada, a presença de DPC não con- [20]) foi significativamente inferior (p<0,001) ao dos
dicionou maior necessidade de ventilação mecânica doentes que sobreviveram (88,9% [20]). Os indiví-
(invasiva ou não invasiva), aumento do tempo de duos muito idosos e idosos falecidos apresentaram
internamento ou maior mortalidade intra-hospitalar. índice de Charlson ajustado à idade mais elevados
Verificou-se também que os doentes com DPC sob (respetivamente p=0.002 e p<0.0019).   Verificou-se
corticoterapia sistémica não apresentaram menor uma mortalidade superior nos muito idosos (43.3%
gravidade de COVID-19. vs 22.7% nos “idosos”, p<0,001) e que diferiu en-
tre as diversas categorias da gravidade da doença
Não se demonstrou diferença estatisticamente sig- (p=0.002).
nificativa entre o efeito da broncodilatação e cortico-
terapia sistémica prévias e os outcomes analisados. Em relação às complicações no internamento, ve-
rificou-se maior mortalidade em ambos os grupos
CO n.º 2347  nos doentes que apresentaram lesão renal aguda
“COVID-19 e Geriatria numa enfermaria do Serviço (p<0,001 nos idosos e p=0,004 nos muito idosos)
de Medicina Interna.” e sobre-infeção bacteriana (p<0,001 nos idosos e
Micaela Manuel(1);Diana Dias(1);Filipe Macha- p=0,0049 nos muito idosos). A  insuficiência cardía-
do(1);Andreia Teixeira(1);Carla Fontes(1);Heloísa ca  descompensada associou-se a maior mortalida-
Ribeiro(1) de apenas no grupo dos idosos (p=0,028).
(1) Centro Hospitalar de Entre Douro e Vouga, EPE /
Hospital de S. Sebastião Não se verificou associação entre a demora do inter-
namento e a mortalidade (p=0,058).
Tema: Medicina geriátrica
Os resultados suportam a hipótese de que os “muito
idosos” infetados com SARS-CoV2 são os que apre-
Até à data, são raros os estudos na literatura sentam mortalidade mais elevada face aos “idosos”,

158
COMUNICAÇÕES ORAIS
podendo ser explicado pela presença de mais co- doentes (56.8%). O teste da patergia foi documen-
morbilidades, maior grau de dependência e compli- tado em 4 doentes (8,5%), sendo positivo em 3. Das
cações. terapêuticas instituídas, as mais utilizadas foram a
corticoterapia tópica e a colchicina em 43 doentes
CO n.º 2404  (91.5%), seguidas da corticoterapia sistémica, por
Doença de Behçet: caracterização de uma série de vezes apenas pontual, em 39 doentes (83.0%), aza-
casos da consulta de Doenças Autoimunes Sisté- tioprina em 16 doentes (34.0%), talidomida em 14
micas doentes (29.8%), ciclosporina em 10 doentes (21.3%)
Carina de Sousa(1);Maria Perry Vidal(1);Catarina e anti-TNF em 9 doentes (19.1%).
Canha(1);Jorge Crespo(1)
(1) Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra / Conclusões: A caracterização desta série de casos
Hospitais da Universidade de Coimbra ilustra o potencial atingimento multissistémico da
DB. A terapêutica utilizada é guiada pela gravidade
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e da apresentação clínica e pelos órgãos envolvidos. 
vasculites Estes doentes, embora possam permanecer ape-
nas com manifestações mucocutâneas, podem vir
Introdução: A doença de Behçet (DB) é uma vas- a apresentar um compromisso bem mais alargado,
culite de vasos variáveis, de etiologia predomi- situação para a qual devemos estar alerta.
nantemente auto-inflamatória, que apresenta um
atingimento mucocutâneo caracterizado por lesões CO n.º 2410 
aftosas orais e genitais, bem como diversos tipos Arterite de células gigantes - Casuística de 10 anos
de manifestações cutâneas. Para além destas, a DB de um hospital central
pode envolver outros órgãos, aparelhos e sistemas, Ana Filipa Viegas(1);Rafaela Nicolau Teixeira(1);Inês
sendo frequentes os compromissos ocular, articular Cunha(1);Joana Andrade(1);Gabriel Atanásio(1);An-
e do trato gastrointestinal, com diferentes prevalên- dré Martins(1);João Tavares(1);Vera Romão(1);Pau-
cias descritas na literatura. lo Monteiro(1);Ana Lemos(1)
(1) Centro Hospitalar Tondela-Viseu, EPE / Hospital
de São Teotónio, EPE
Objetivo: Caracterizar uma série de casos de doentes
com Behçet observados na consulta de Medicina In- Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e
terna/Doenças Autoimunes Sistémicas, relativamen- vasculites
te a dados demográficos, manifestações clínicas e à
terapêutica utilizada. Introdução: A arterite de células gigantes (ACG) é
Material e Métodos: Foram analisados, retrospetiva- uma vasculite de vasos de médio-grande calibre,
mente, 47 processos relativos a doentes com diag- com uma incidência de 0,5-27 casos/100000 pes-
nóstico de Doença de Behçet, seguidos na consulta soas, mais frequente após os 50 anos e nas mulhe-
de Medicina Interna/Doenças Autoimunes Sistémi- res. Classicamente apresenta-se com cefaleia, clau-
cas. dicação mandibular, alteração da visão e sintomas
constitucionais, podendo associar-se a polimialgia
Resultados: Numa revisão de 47 doentes atualmente reumática (PMR). O diagnóstico é confirmado por
em acompanhamento, 16 eram homens (34%) e 31 ecodoppler arterial ou biópsia, sendo a PET útil para
(66,0%) eram mulheres. A mediana da idade de apa- avaliar envolvimento de grandes vasos. O tratamen-
recimento dos sintomas foi de 27 anos e a media- to assenta na corticoterapia, podendo ser neces-
na de idade de diagnóstico foi de 30 anos. O tempo sário associar outros imunossupressores. A mor-
médio de seguimento até à data da colheita destes talidade parece ser semelhante à população geral,
dados foi de 11 anos. Relativamente às manifes- excetuando-se os casos com AVC.
tações clínicas, as lesões mucocutâneas foram as
mais observadas, estando presentes em todos os Objetivo: Caraterização da população de doentes
doentes. De entre estas, as úlceras orais foram des- com ACG seguidos em consulta num hospital cen-
critas nos 47 doentes (100%), as úlceras genitais em tral
38 doentes (81%), pseudofoliculite em 26 (55.3%) e
eritema nodoso em 5 doentes (10.6%). Trinta indiví- Material e métodos:  Estudo de coorte, retrospetivo,
duos (63,8%) referiram artralgias, sendo que em 15 unicêntrico, de doentes seguidos em consulta exter-
doentes (31,9%) foi documentada artrite. Dezasse- na por ACG entre 2011-2020
te doentes (36.1%) apresentaram atingimento ocu-
lar, incluindo uveíte posterior (5; 10,6%), panuveíte Resultados: Foram identificados 28 doentes com
(3; 6,4%) e uveíte intermédia (1; 2,1%). Dez doentes ACG, com uma idade mediana 80,5 anos [59-92],
(21.3%) apresentaram manifestações gastroin- 61% do sexo feminino, com tempo de follow-up
testinais, sendo mais comum a diarreia crónica (8; médio de 35,5 meses [3-88]. As comorbilidades
17,0%). O envolvimento do sistema nervoso central mais observadas foram hipertensão arterial (86%
esteve presente em 6 casos (12.8%) e três doentes casos), dislipidemia (54%), Diabetes Mellitus tipo
(6.4%) apresentaram complicações vasculares trom- 2 (29%) e fibrilação auricular (21%). Os sintomas
bóticas. A pesquisa do HLA-B51 foi efetuada em 37 à apresentação foram cefaleia (89%), claudicação
doentes (78.7%), tendo este sido encontrado em 21 mandibular (62%), alterações da visão (61%), aste-
nia (52%) e febre (22%). Seis doentes (21%) tiveram
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 159
associadamente PMR e 4 (13%) apresentaram AVC. vo. Foram utilizadas as seguintes técnicas de SRNI:
Analiticamente ao diagnóstico: VS média 63,6mm/h oxigenoterapia nasal de alto fluxo (ONAF), pressão
[13-133]; PCR média 10,82mg/dl [4,4-35,32] e hemo- continua positiva na via aérea (CPAP: continuous
globina média 11,6g/dl [8,4-15,1]. Foi realizado eco- positive airway pressure) e ventilação não invasiva
doppler temporal em 22 doentes, sendo diagnóstico (VNI). A severidade da insuficiência respiratória foi
em 86%; biópsia temporal em 18, com confirmação determinada pelo rácio PaO2/FiO2 antes do início do
de ACG em 55,5%; e PET em 5, com evidência de en- SRNI. A indicação para intubação endotraqueal foi
volvimento da aorta em 1 caso. Foi feita avaliação definida à admissão e os doentes foram considera-
oftalmológica em 17 casos: 9 com neuropatia ótica dos candidatos a VMI (DI: “do intubate”) ou não (DNI:
isquémica anterior, 3 com oclusão da artéria central “do not intubate”). Foram avaliados os seguintes re-
da retina, 1 com parésia do nervo oculomotor e 5 sultados: demora média, taxa de sucesso do SRNI
sem envolvimento vasculítico. O tempo médio entre (sobrevivência sem necessidade de VMI) e mortali-
o início de sintomas e o diagnóstico foi de 32,8 dias dade intra-hospitalar.
[2-150]. Quanto à terapêutica: todos foram tratados
com corticoterapia (megadoses em 39%); 32% com As variáveis continuas são expressas em média e
metotrexato e 7% com tocilizumab. Sete apresen- desvio padrão e foram comparadas com o teste T-S-
taram recidiva minor e 1 recidiva major, todos sob tudent. As variáveis categóricas são apresentadas
prednisolona igual ou inferior a 20mg/dia. Metade em número e percentagem e foram comparadas
dos doentes apresentaram perda permanente de através do teste Chi-quadrado ou exato de Fisher.
acuidade visual. Da coorte, 43% encontram-se em Um valor de p<0.05 foi considerado estatisticamente
remissão e 32% em remissão sustentada (defini- significativo.
ções da EULAR); 25% faleceram, 50% dos quais no
1º ano após o diagnóstico e apenas 1 com AVC ao Resultados: Foram avaliados 190 doentes, dos quais
diagnóstico. As causas de morte mais observadas 52.6% tinham ordem DI e 47.4% DNI. A idade média
foram infeção e AVC. foi 60.6 ± 10.2 vs. 73.6 ± 9.5 anos nos doentes DI e
DNI (p<0.001), respetivamente.  O género masculino
Conclusões: Os resultados deste estudo vêm de foi mais frequente (66.7% DI vs. 70.0% DNI, p=0.622).
acordo com os presentes na literatura. Esta análise Os doentes DI apresentavam um índice de Barthel de
veio destacar o atraso diagnóstico ainda existente 99.9 ± 1.0 e os DNI 96.1 ± 11.6 pontos (p=0.001). O ín-
na ACG, com consequente atraso terapêutico, e dice de comorbilidades de Charlson foi mais elevado
tendo como complicação grave e frequente a perda no grupo DNI (2.4± 1.7 vs. 4.4± 1.7 pontos, p<0.001).
permanente de acuidade visual. Torna-se crucial Os rácios PaO2/FiO2 médio foram 110.5±87.0 no
identificar os principais fatores de risco de ACG, grupo DI e 84.6 ±29.5 no grupo DNI (p=0.01)
sensibilizar os profissionais e otimizar estratégias
de diagnóstico e tratamento. Nos grupos DI e DNI, 85% e 60% foram tratados com
ONAF e os restantes com CPAP/VNI. A demora mé-
CO n.º 2428  dia foi 16.0 ± 14.8 dias no grupo DI e 14.2 ± 10.6 dias
Resultados de doentes com pneumonia a SARS- no DNI (p=0.345). A taxa de mortalidade intra-hospi-
-CoV-2 tratados com VNI consoante a indicação talar foi 16.0% e 58.8% no grupo DI e DNI (p<0.001),
para VMI respetivamente. A taxa de sucesso global do SRNI
Teresa Guimaraes(1);Mariana Meireles(1);Helena foi 64.0% nos DI e 41.1% nos DNI (p=0.002). No gru-
Vilaça(1);Mari Mesquita(1) po tratado com ONAF a taxa de sucesso foi 68.2%
(1) Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, EPE / vs. 51.9% (p<0.001) e no grupo submetido a CPAP/
Hospital Padre Américo, Vale do Sousa VNI foi 40.0% vs. 25.0% (p=0.005), nos doentes DI e
DNI, respetivamente.
Tema: Doenças respiratórias
Conclusões: As técnicas de SRNI apresentam taxas
de sucesso significativas, mesmo em doentes críti-
Introdução: A pressão sobre os hospitais durante cos e em não candidatos a VMI.  
a pandemia a COVID 19 levou a um crescente uso
de técnicas de suporte respiratório não invasivo CO n.º 2442 
(SRNI). Estas técnicas são com frequência o teto Pneumomediastino como Complicação Incomum
terapêutico em doentes considerados não candida- de Pneumonia COVID-19: uma série de casos clíni-
tos a ventilação mecânica invasiva (VMI). O objetivo cos
deste estudo é analisar, prospectivamente, os resul- Patrícia Araújo(1);Nuno Pardal(1);Isabel Tarrio(1);-
tados dos doentes com pneumonia a SARS-CoV-2, Sabina Belchior Azevedo(1);Duarte Silva(1);António
submetidos a técnicas de SRNI numa enfermaria Ferreira(1);Emília Guerreiro(1);Diana Guerra(1);Car-
avançada, de acordo com a indicação à admissão mélia Rodrigues(1)
para VMI. (1) Unidade Local de Saúde do Alto Minho, EPE /
Hospital de Santa Luzia
Métodos: O estudo incluiu doentes tratados com
SRNI numa enfermaria avançada entre outubro de Tema: Doenças respiratórias
2020 e fevereiro de 2021. Um caso confirmado de
infeção a SARS-CoV-2 foi assumido se apresentação Introdução
clínica compatível e teste PCR nasofaríngeo positi-

160
COMUNICAÇÕES ORAIS
O pneumomediastino (PM) corresponde à presença COVID-19, ausência de melhoria ou aparecimento de
de ar no mediastino. Trata-se de uma patologia rara e outros sintomas/sinais de novo, uma vez que a con-
quanto à sua etiologia são divididos em PMs espon- firmação deste diagnóstico condiciona alteração de
tâneos (primários/secundários) e traumáticos (iatro- atitudes terapêuticas.
génicos/não iatrogénicos). Apesar de ser uma pato-
logia incomum, após o início da pandemia COVID-19 CO n.º 2462 
começaram a ser descritos por todo o mundo casos Os primeiros 20 meses de uma Unidade de Hospi-
de PM em doentes com pneumonia por SARS-CoV-2. talização Domiciliária
Sofia Ribeiro(1);Ana Luísa Marçal(1);Inês Henri-
Objetivos ques Ferreira(1);Isabel Rodrigues Neves(1);João
Coimbra(1);Sónia Chan(1);Susana Sousa(1);Sérgio
Identificação e caracterização dos doentes com Lima(1);Tiago Almeida(1);Marina Delgado(1);Fer-
diagnóstico de COVID-19 e PM num internamento de nanda Almeida(1);João Araújo Correia(1)
Medicina. (1) Centro Hospitalar do Porto, EPE / Hospital Geral
de Santo António
Material e Métodos
Tema: Organização, gestão e qualidade de serviços
Estudo retrospetivo efetuado através da consulta de saúde
dos processos clínicos dos doentes internados no
nosso hospital com diagnóstico de COVID-19 e PM
no período compreendido entre março de 2020 e Introdução: A Unidade de Hospitalização Domici-
maio de 2021. liária (UHD) apresenta-se, cada vez mais, como o
Hospital do futuro. É possível administrar tratamen-
Resultados tos hospitalares complexos no conforto da casa do
doente, desde que reunidas condições de seguran-
Foram internados 1450 doentes com COVID-19. Em ça clínica, habitabilidade e existência de cuidadores
5 doentes (0.3%) com pneumonia por SARS-CoV-2 capazes de assegurar um acompanhamento ade-
extensa (> 50% do parênquima pulmonar envolvido) quado às necessidades individuais.
foi identificado PM. Destes, 4 eram do sexo mas-
culino. A idade média foi de 77.8 anos. Um doente
Objetivo: Descrever a amostra de doentes internados
apresentava patologia respiratória prévia (bronquite
numa UHD, nos primeiros 20 meses de atividade.
crónica). Todos necessitaram de ventilação não in-
vasiva (VNI) e 4 foram admitidos em Cuidados Inter- Material e Métodos: Estudo retrospetivo, observa-
médios. Nos 5 doentes o diagnóstico de PM foi efe- cional e descritivo dos doentes internados numa
tuado por tomografia axial computorizada do tórax, UHD nos seus primeiros 20 meses de existência, re-
solicitada em 4 dos casos por agravamento clínico/ correndo a registos clínicos eletrónicos e à base de
ausência de melhoria e num dos casos por deteção dados da Unidade.
de enfisema subcutâneo cervical. Em 3 dos doentes
o diagnóstico de PM foi efetuado durante o período Resultados/Discussão: A UHD manteve capacidade
de utilização de VNI ou logo após a sua suspensão de apenas 5 camas durante este período. Foram ava-
(2 a 4 dias depois) e em 2 doentes o diagnóstico foi liados 596 doentes, dos quais 199 foram internados
temporalmente distante à suspensão de VNI (16 a na nossa Unidade e 10 transferidos para UHDs de ou-
18 dias depois). Todos os doentes foram tratados de tros Hospitais; 23 doentes foram recusados por falta
forma conservadora (repouso e oxigenoterapia) com de vagas.
resolução do PM. A identificação desta entidade pro-
longou a duração dos internamentos (média de 45.4 Relativamente aos internados, a maioria era do gé-
dias) e 3 doentes à data de alta necessitaram de ser nero masculino (58%), com mediana de idades de 76
admitidos em Unidades de Convalescença. Um dos anos (mínimo 25; máximo 96). Metade dos interna-
doentes faleceu, apesar da reabsorção completa do mentos teve origem no Serviço de Medicina, segui-
PM. do do Serviço de Urgência (SU, 32%), sendo que o
crescimento da referenciação de Serviços Cirúrgicos
Discussão/Conclusão tem sido mais lento. A demora média foi de 10,8 dias
(mínimo 1, máximo 55). Os principais diagnósticos
Tal como verificado noutras séries: 1) foram identifi- foram de natureza infeciosa, correspondendo a
cados PM no internamento de Medicina dedicado a 79% da amostra (33.7% do foco urinário e 14%
doentes COVID-19; 2) as causas objetivadas foram o respiratório), seguindo-se a agudização de doença
barotrauma associado à utilização de VNI (3 doen- crónica (15.6%), como a insuficiência cardíaca e a
tes) e a doença subjacente extensa provocada pela doença pulmonar crónica.[ALM1]  Cerca de 10% dos
pneumonia COVID-19 (2 doentes com diagnóstico doentes regressaram ao Hospital, 75% dos quais por
de PM 16 dias após suspensão de VNI); 3) em todos agravamento clínico. A taxa de mortalidade foi de
os doentes o PM teve um comportamento benigno, 2%, com média de idades de 83,5 anos, todos óbitos
resolvido com tratamento conservador e suspensão expectáveis. A totalidade dos doentes internados, e
de VNI. que respondeu aos inquéritos de satisfação, reco-
mendaria este Serviço.
Os autores salientam a importância da suspeita de
PM perante o agravamento clínico de um doente com Conclusão: Apesar das dificuldades em aumentar

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 161


a capacidade de internamento em contexto pandé- palmente com o aumento da idade e neste caso a
mico, a UHD apresenta-se cada vez mais como uma média e das comorbilidades dos doentes. Associa-
alternativa segura ao internamento convencional da a uma elevada percentagem de doentes com so-
ou diretamente do SU, com elevada taxa de satisfa- breinfeção está também a mortalidade que reflete
ção. A infeção, particularmente urinária, assume-se a gravidada da doença e a fragilidade dos doentes
como o principal diagnóstico de admissão. Apesar infetados.
de nos meses de inverno a procura ter sido superior
à oferta, ainda se sente muita dificuldade no recru- CO n.º 2517 
tamento de doentes que cumpram os critérios de Investigação Etiológica do Acidente Vascular Ce-
admissão. Atualmente estão a ser otimizadas me- rebral Isquémico numa Enfermaria de Medicina
didas de alargamento da capacidade, bem como de Interna
divulgação/sensibilização. Tiago Barroso(1);Joana Caetano(1);José Delgado
Alves(1)
CO n.º 2479  (1) Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca
Sobreinfeção em doentes internados por SARS-
-Cov2 Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas
Andreia Brito(1);David Furtado(1);Raquel Batista(1);-
Jorge Nepomuceno(1) Introdução
(1) Centro Hospitalar do Médio Tejo
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias Nas causas mais frequentes de acidente vascular
cerebral (AVC) isquémico, incluem-se doença ate-
rosclerótica, fibrilhação auricular (FA) e shunts intra-
Introdução: A infeção por SARS Cov2 tornou-se o -cardíacos. A literatura não é clara quanto à melhor
principal foco da medicina no último ano, no en- forma de estudar estes doentes. Há dúvidas sobre
tanto as sobreinfeções bacterianas em doentes o papel do Holter de 24h no diagnóstico de FA paro-
internados mostram que este fator pode ter muita xística e nos papéis da ressonância magnética de
relação com a evolução do doente durante o inter- crânio (RM-CE) e do ecocardiograma transtorácico
namento. (ETT). Isto aplica-se em particular numa enfermaria
de Medicina Interna, onde os doentes apresentam
Métodos: Foi realizada uma análise demográfica uma média de idades elevada e múltiplos factores
dos doentes internados no serviço de medicina por de risco já conhecidos (como hipertensão arterial,
SARS-CoV2 entre os dias 1 de Janeiro 2021 e 31 de diabetes mellitus e dislipidemia), e nos quais a pro-
Janeiro 2021 e identificados os que apresentavam babilidade de encontrar outras causas será baixa.
critérios de sobreinfeção bacteriana (SB) (sintoma-
tologia urinária de novo, febre mantida, hipoxemia Objectivos
agravada, aumento de parâmetros inflamatórios e
agravamento imagiológico). 1. Determinar a taxa de detecção de FA por
Holter de 24h em doentes com ritmo sinusal
Resultados: Foram avaliados 139 doente admitidos à admissão
entre o dia 1 e 31 de Janeiro de 2021. A idade míni-
ma foi de 21 anos e a idade máxima de 101 anos, a 2. Determinar o impacto da RM-CE e do ETT na
idade média foi de 74.1 anos. Eram do sexo mascu- fase subaguda do AVC e na profilaxia secun-
lino 82 doentes (59%) e do sexo feminino 57 doen- dária
tes (41%). A demora média do internamento foi de
3. Correlacionar a presença ou ausência de FA
14.7 dias, tendo o internamento mais prolongado 44
com o tipo de AVC (lacunar vs não lacunar)
dias. Quando à sua proveniência 79 doentes vieram
do seu domicílio (56.8%), 33 de casas de acolhimen- Métodos
to ou lares (23.7%), 12 de outros centros hospita-
lares (8.6%), 7 de outros serviços de internamento Revisão retrospectiva de todos os doentes ad-
(5%) e 8 da Unidade de Cuidados intensivos (5.7%). mitidos em enfermaria de Medicina Interna de
01/01/2019 a 31/12/2019 com o diagnóstico princi-
Foram identificados 56 doente com sobreinfeção pal de AVC isquémico. Analisou-se: idade, sexo, fac-
(40.2%), com 40 doente com foco pulmonar (71%), tores de risco para AVC já conhecidos, classificação
apresentavam critérios de infeção nosocomial 9 do AVC de acordo com a Oxford Classification for
doentes (22%). O principal esquema de antibiótico Stroke (OCS), resultado dos exames complemen-
instituído foi amoxicilina-ácido clavulânico e clari- tares (ECG, Holter, RM e ETT) e alterações terapêu-
tromicina (43%). Houve necessidade de escalada ticas consequentes a estes exames. A correlação
terapêutica em 15% dos doentes sendo a primeira entre a presença de FA e o tipo de AVC foi avaliada
opção piperacilina-tazobactam. A mortalidade nos com o teste χ2 para a independência entre variáveis
doentes com sobreinfeção bacteriana foi 28.5% (n= categóricas.
16).
Resultados
Conclusões: A percentagem de doentes em que se
presumiu sobreinfeção bacteriana foi elevada sendo Analisou-se 98 doentes com diagnóstico principal
superior a 1 em cada 3. Este dado reflete-se princi-
162
COMUNICAÇÕES ORAIS
de AVC isquémico, 45 mulheres (46%), idade me- a decisão de limitação terapêutica (DLT). A previsão
diana de 74 anos. Os factores de risco cardiovas- do prognóstico com scores validados contribui para
culares mais frequentes foram hipertensão arterial a identificação de doentes com alto risco de morta-
(78%), diabetes mellitus (30%) e dislipidemia (28%). lidade, levando à iniciação mais precoce de cuida-
A maioria dos AVCs classificou-se de acordo com a dos paliativos.
OCS como lacunar (37%) e circulação anterior par-
cial (32%). Objetivo: Caracterizar uma população de doentes
Dos 45 doentes que realizaram Holter, 4% tinham FA com DLT internados na Medicina Interna, compreen-
paroxística previamente desconhecida der a sua evolução clínica e a utilidade de scores de
prognóstico.
O estudo por RM-CE foi pedido a 21 doentes, tendo
confirmado enfarte recente em 81% destes doentes Material e métodos: Estudo observacional retrospeti-
e levado ao início de antiagregação em 19%. Dos 68 vo em doentes com DLT internados numa enfermaria
ETTs realizados, destacam-se 72% sem alterações e de Medicina Interna de 1 de janeiro a 31 de dezem-
16% com dilatação da aurícula esquerda. Não foram bro de 2020. Os dados colhidos incluem dados de-
identificadas outras alterações estruturais. Nenhum mográficos, comorbilidades, internamentos prévios,
dos ETTs levou a mudanças terapêuticas. dependência, níveis de DLT e sobrevivência (segui-
mento até 31/05/2021). Foram calculados scores de
A FA foi identificada mais frequentemente em doen- prognóstico, incluindo: Charlson Comorbidity Index,
tes com enfartes não lacunares: 37% dos doentes BECLAP score, o PROFUND Index e o MEWS. Realiza-
com enfarte não lacunar vs 13% dos doentes com da estatística descritiva e comparação entre os fale-
enfarte lacunar (teste χ2 com p=0.037). cidos e melhorados à data de alta, utilizando o teste
t de Student, Mann-Whitney U ou qui-quadrado. Para
Conclusão análise de sobrevivência, usou-se a curva de Kaplan-
-Meier e o teste log-rank. Os dados foram analisados
O ecocardiograma não levou a quaisquer alterações no SPSS Statistics com p<0,05 estatisticamente sig-
terapêuticas. O Holter detectou FA paroxística em nificativo.
apenas 4% dos doentes com ritmo sinusal à admis-
são. FA é menos comum em AVCs lacunares, mas Resultados: Foram incluídos 71 doentes com DLT as-
ainda assim existe em 13% desses doentes. O es- sinada, com idade média 81,4(10,3), 64,8% do sexo
tudo por RM-CE permitiu principalmente confirmar masculino, 57,7% falecidos à data de alta e 67,6% à
a suspeita de AVC, tendo suportado a decisão de data de fim de follow-up pós-alta, 70,4% totalmente
manter antiagregação em já iniciada em 19% dos dependentes e 22,5% internados no mês anterior
doentes. (reinternamento). Em 43,7% dos casos, a DLT foi
assinada por doença aguda grave e irreversível, e
A maior limitação deste trabalho é o viés de se- 11,3% tinham nível máximo de limitação. Dos scores
lecção. Apenas foram incluídos os doentes com à admissão, destaca-se Charlson médio de 7,2(6,3)
diagnóstico principal codificado de AVC isquémico, (probabilidade de sobrevivência de 0% aos 10 anos),
o que poderá ter levado à não inclusão de doentes PROFUND médio 12,1(5,18) (probabilidade de morte
com AVC isquémico intercorrente em internamento, em 12 meses de 61,3%), BECLAP a corresponder a
mas cujo diagnóstico principal codificado foi outro. uma probabilidade média de morte em 3 meses de
51,8% e MEWS médio 3,5(2,1) (7,9% de probabilidade
Tendo em conta o perfil de doentes numa enferma- de morte aos 60 dias). A sobrevivência mediana foi
ria de Medicina Interna (idade e factores de risco de 30 dias. Comparando os doentes melhorados
cardiovasculares), o estudo adicional com Holter, com os falecidos quanto às diferentes variáveis,
ETT e RM-CE parece trazer pouco benefício, sobre- scores de prognóstico e sobrevivência, observou-
tudo na gestão terapêutica, devendo o seu pedido se associação (p=0,043) para o sexo com 67,4% de
ser ponderado no contexto individual de cada doen- falecidos no sexo masculino. Não se observaram
te. outras diferenças estatisticamente significativas.
Verificou-se ainda menor sobrevivência  nos casos
CO n.º 2587  de reinternamento (75% de falecidos), com teste de
Evolução do doente com decisão de limitação tera- log-rank a obter p=0,066.
pêutica: qual a utilidade dos scores de prognósti-
co? Conclusões: Este estudo mostra que a DLT é comple-
Carolina Teles(1);Elsa Gaspar(1);Lèlita Santos(1);Ar- xa e dependente de diversos fatores. Os scores de
mando Carvalho(1) prognóstico podem ter utilidade mas a sua interpre-
(1) Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra / tação deve ser cautelosa e à luz do contexto clínico.
Hospitais da Universidade de Coimbra O reinternamento pode ter relevância na previsão de
prognóstico. A análise retrospetiva da decisão médi-
Tema: Cuidados paliativos ca contribui para a sua compreensão, sobretudo em
temas fraturantes como a limitação terapêutica. São
Introdução: Um dos dilemas éticos mais complexos necessários mais estudos para a aquisição de ferra-
da Medicina é a suspensão ou abstenção terapêuti- mentas que ajudem na tomada de decisão.
ca. Diversas diretivas têm sido desenvolvidas para
estabelecer metas de cuidados médicos, incluindo CO n.º 2600 

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 163


Doença Pulmonar Prévia enquanto preditor na mor- outcome entre os doentes que realizaram terapêu-
talidade por Infeção SARS-CoV 2 tica com azitromicina e aqueles que não realizaram
Raquel Costa Marques(1);Cátia Faria(1);Paula Cos- terapêutica com azitromicina.
ta(1);Fabíola Figueiredo(1);Rita Rodrigues(1);Ana
Cláudia Cunha(1) Conclusões: Na população estudada, a doença
(1) Hospital Santo André - Leiria pulmonar prévia está associada a maior mortalida-
de.  Mais estudos serão necessários em relação à
Tema: Doenças respiratórias eficácia da terapêutica utilizada para otimizar a abor-
dagem destes doentes em contexto de infeção por
Introdução: Desde o início da pandemia por SARS- SARS-CoV 2.
-CoV-2, em Dezembro de 2019 até Junho de 2021, CO n.º 2653 
foram infetados cerca de 180 milhões de indivíduos, Síndrome antifosfolipídica: amostra de uma Con-
provocando a morte a cerca de 3.8 milhões de sulta de Doenças Autoimunes
pessoas mundialmente, desafiando a capacidade Ana Luisa Nunes(1);Ana Coimbra(1);Diana Ferrei-
de resposta dos sistemas de saúde. Compreender ra(1);Jandira Lima(1);Lèlita Santos(1)
melhor a doença permitirá uma melhor gestão de (1) Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra /
recursos. Nesse sentido é importante no contexto Hospitais da Universidade de Coimbra
da infeção por SARS-CoV 2 estudar co-morbilida-
des relevantes como a doença pulmonar prévia e Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e
o seu impacto na abordagem da doença, desde a vasculites
necessidade de oxigenoterapia/suporte ventilatório,
eficácia da terapêutica utilizada e como preditor de
mortalidade. Introdução

Objetivo: Determinar o papel da Doença Pulmonar A síndrome antifosfolipídica (SAF) caracteriza-se por
Prévia enquanto preditor na mortalidade por Infeção eventos trombóticos, arteriais e/ou venosos, com
SARS-CoV 2. possível morbilidade durante a gravidez, na presen-
ça de anticorpos antifosfolipídicos (aPL). Contudo,
Material e Métodos: Foi realizada uma análise retros- podem estar presentes outras manifestações clíni-
petiva dos doentes internados com o diagnóstico de cas e analíticas menos frequentes. Os critérios de
infeção por SARS-CoV 2, entre Novembro de 2020 e classificação de SAF implicam pelo menos 1 critério
Fevereiro de 2021. Foram comparadas as variáveis clínico e laboratorial. Este último consiste na posi-
de doença pulmonar prévia (comorbilidade), uso de tividade dos aPL (anticoagulante lúpico, anticorpos
oxigenoterapia/suporte ventilatório, terapêutica no anticardiolipina e anti-β2 glicoproteína I), sendo que
internamento (dexametasona e azitromicina) e mor- os doentes triplamente positivos parecem apresen-
te hospitalar no internamento. tar pior prognóstico. O tratamento mais adequado é
determinado pela clínica e complicações verificadas.
Resultados: De um total de 704 doentes internados,
com idade entre 31 e 102 anos (média de 78.03 Objetivo
anos), aproximadamente 52% eram do sexo femini-
no. A mortalidade na população total foi de 34.9% Descrição das características de uma subpopulação
(nos 667 registos de saída considerados). O teste de doentes com SAF da Consulta Externa de Doen-
de qui-quadrado mostrou que há associação entre ças Autoimunes (DAIS) de um Serviço de Medicina
o óbito e a existência de doença pulmonar prévia Interna.
(X21=4,175;p=0.041). Não existem diferenças esta-
Material e Métodos
tisticamente significativas na necessidade de supor-
te ventilatório entre os episódios com ou sem doen- Foi efetuado estudo retrospetivo dos doentes com
ça pulmonar prévia. Para os doentes que realizaram o diagnóstico de SAF inseridos na base de dados da
terapêutica com dexametasona, existem diferenças Consulta temática de DAIS do Serviço de Medicina
estatisticamente significativas no outcome entre os Interna. Foi realizada análise descritiva com recurso
doentes com doença pulmonar prévia e os doentes ao sistema de informação Microsoft Excel 2021©. A
sem doença pulmonar prévia (X21=6,436;p=0.011), população obtida foi analisada quanto à idade, sexo,
sendo que nos doentes com doença pulmonar presença de outra(s) doença(s) autoimune(s), co-
prévia, não existem diferenças estatisticamente -morbilidades, manifestações clínicas, alterações la-
significativas no outcome entre os doentes que rea- boratoriais, tipo de positividade dos aPL (única, dupla
lizaram terapêutica com dexametasona e aqueles ou triplamente positivos) e taxa de mortalidade.
que não realizaram terapêutica com dexametasona.
Para os doentes que realizaram terapêutica com Resultados
azitromicina, existem diferenças estatisticamente
significativas no outcome entre os doentes com Na análise efetuada foram incluídos 48 doentes com
doença pulmonar prévia e os doentes sem doença o diagnóstico de SAF. A média de idades foi de 42
pulmonar prévia (X21=9,807;p=0.002), sendo que anos, com predomínio do sexo feminino (n=39, 81%).
nos doentes com doença pulmonar prévia não exis- O sintoma mais frequentemente relatado foi a ar-
tem diferenças estatisticamente significativas no tralgia (n=22, 46%). Cerca de um terço das mulheres

164
COMUNICAÇÕES ORAIS
apresentou morbilidade obstétrica (n=12, 31%). Os te em Cuidados Paliativos (EIHSCP) tem impacto na
principais eventos trombóticos foram a trombose prescrição de antibioterapia nestes doentes.
venosa profunda (n=21, 44%), o tromboembolismo
pulmonar (n=11, 23%) e o acidente vascular cerebral Metodologia:
(n=13, 27%). Mais de metade dos doentes apresenta-
va associação a outras doenças autoimunes, tendo Estudo observacional, transversal, retrospetivo, com
sido o lupus eritematoso sistémico a mais frequente. amostragem consecutiva de todos os doentes fale-
A positividade para aPL foi maioritariamente única e cidos numa enfermaria de Medicina Interna no Norte
tripla, distribuída de igual forma (n=18, 37%), com se- do país em 2019, em situação de FV assumida pela
melhante número de eventos trombóticos ou morbi- equipa assistencial e com doença infeciosa moti-
lidade obstétrica entre ambos. Na nossa população, vando ou não o internamento, podendo ser à data do
a mortalidade foi 6%. óbito diagnóstico principal ou secundário. Foi criada
uma base de dados para o efeito com posterior aná-
Conclusões lise com recurso ao IBM SPSS statistics 23®.

As características da população analisada asseme- Resultados:


lham-se às descritas na literatura internacional dos
doentes com SAF. A apresentação clínica está de Foram avaliados 504 doentes, 51,9% do sexo femini-
acordo com o esperado, com a morbilidade obsté- no, com idade média de 83 (± 11,1) anos, com mRankin
trica e os eventos trombóticos como manifestações médio 4 (± 1,44); 20% estavam institucionalizados;
frequentes. Não se verificou um número significati- 49,9% tinham pelo menos um internamento prévio no
vamente maior de manifestações trombóticas ou último ano e 78,6% pelo menos uma ida ao Serviço
obstétricas nos doentes triplamente positivos, rela- de Urgência nesse período. Como comorbilidades,
tivamente aos restantes. 75,8% apresentavam hipertensão arterial, 43,5%
dislipidemia, 41,8% diabetes mellitus, 29,7% insufi-
Este estudo permitiu-nos conhecer as característi- ciência cardíaca, 15,4% doença neoplásica e 7,1%
cas globais de doentes com SAF, revelando-se funda- doença renal crónica. O tempo de internamento mé-
mental na prática clínica para um diagnóstico preco- dio foi de 11 (± 11,89) dias. Focos de infeção mais
ce e tratamento adequado, com o intuito de diminuir comuns foram o respiratório (65,9%), o urinário
a morbilidade e mortalidade associadas. (11,1%), e o cutâneo (4%), não esclarecido em 10,7%
dos casos. Foi instituída antibioterapia empírica em
CO n.º 2699  76% dos doentes e dirigida em 4,2%. A antibiotera-
Uso de antibioterapia em doentes em fim de vida pia foi suspensa em 12,3% dos doentes: 76,2% dos
numa enfermaria de Medicina Interna casos por ausência de benefício tendo em conta o
Rosélia Lima(1);Ana Sofia Silva(1);Ana Tojal(1);Gui- prognóstico, 17,5% por falência terapêutica e 6,3%
lherme Jesus(1);Henrique c. Alexandrino(1);Inês por iatrogenia. A EIHSCP foi acionada em 10,7% dos
Soares(1);Joana Pereira Dias(1);Tiago Beirão(1);Ri- casos, em média ao 12.º dia de internamento (± 15,1
cardo Fernandes(1);Márcia Oliveira(1);Joana Pimen- dias), 67,9% das vezes para controlo sintomático,
ta(1) 14,3% para organização de cuidados e 14,3% para
(1) Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia / Espinho tomadas de decisão. A EIHSCP decidiu suspender a
antibioterapia em 91% dos casos. A proporção de an-
Tema: Cuidados paliativos tibioterapia suspensa foi significativamente superior
nos doentes observados pela EIHSCP (91% vs 12%;,
Introdução: p <0,001).
Conclusão:
Os Cuidados Paliativos (CP) resultam de uma me-
dicina humanizada. São altamente especializados, Os nossos dados corroboram a literatura acerca do
dinâmicos, atuais, integradores e coexistindo com uso frequente de antibioterapia em doentes em FV. A
os restantes cuidados e que visam dar resposta ao EIHSCP intervém significativamente na redução da
sofrimento multidimensional dos doentes e suas fa- prescrição de antibioterapia nestes doentes.
mílias, quer na sua prevenção, quer no alívio decor-
rentes de doenças agudas ou crónicas evolutivas. CO n.º 2733 
São pautados por inúmeros desafios, especialmente A Hospitalização Domiciliária na pandemia Covid19
em contexto de fim de vida (FV). Destes destaca-se Isabel Maria Moniz da Rocha Borges(1);Francisco
o recurso a antibioterapia que deve ter em conta o Silva(2);Rita Nortadas(3);Vitória Cunha(3);Mufulama
indivíduo, o meio, gastos e outros danos que possam Cadete(3);Jeanette Silva(3);Elvis Guevara(3);Sofia
causar. É frequentemente prescrita com o intuito de Salvo(3);Claúdia Viegas(3);Ana Gomes(3);Pedro Bei-
aumento da sobrevida com qualidade e alívio sinto- rão(3);Conceição Escarigo(3);Pedro Correia Azeve-
mático. do(3);Alexandra Dias(3);Filipe Dias(3);Fernando Pa-
lhim(3);Inês Costa(3);Raquel Espanadeira(3);Marta
Objetivo: Soares(3);Rui Saramago(3);Bruno Jesus(3);Ana Emí-
dio(3);Ricardo Martins(3);Ursula Barradas(3);Sérgio
Descrever demograficamente uma população de Sebastião(3);Francisca Delerue(3)
doentes em FV com doença infeciosa e compreender (1) Hospital do Divino Espírito Santo, Ponta Delgada
se a intervenção da Equipa Intra-Hospitalar de Supor- (2) Unidade de Saúde Familiar Amora Saudável (3)

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 165


Hospital Garcia de Orta, EPE POCUS na abordagem da COVID-19
Joana Gomes Cochicho(1);Rafael Silva(2);Jorge Tei-
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias xeira(3);José Mariz(3)
(1) Unidade Local de Saúde do Norte Alentejano -
A infeção SARS-CoV-2 (covid19) trouxe aos hospi- Hospital de Portalegre (2) Centro Hospitalar do Tâ-
tais importantes desafios na gestão da atividade mega e Sousa, EPE / Hospital Padre Américo, Vale
clínica e administrativa. O internamento (INT) em do Sousa (3) Hospital de Braga
Unidade de Hospitalização Domiciliária (UHD) é re-
ferido pela Direção Geral de Saúde na gestão da Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente
pandemia. O estudo visa analisar as características crítico
dos doentes covid19 da UHD e identificar quais os
preditores clínicos que condicionam maior gravida- Introdução:
de clínica e duração de INT.
A Coronavirus disease 2019 (COVID-19), causada
Análise retrospectiva de doentes admitidos de 1 de pelo severe acute respiratory syndrome coronavirus
janeiro a 26 de março de 2021. Tratamento de dados 2 (SARS-CoV-2), foi reconhecida como pandemia
por IBM SPSS Statistics, 26ª edição. pela Organização Mundial de Saúde em dezembro
de 2019.
Foram admitidos  na UHD 93  de um total de 1175
doentes covid19, dos quais  82 com pneumonia. A maioria dos doentes infetados por este vírus de-
A  mediana (Md) de idade foi de 63,5 anos, sen- senvolve sintomatologia ligeira, mas cerca de 14%
do 49 homens. Sete dias foi a Md de dias de sinto- apresenta envolvimento pulmonar. A avaliação ima-
mas à admissão. A tosse, dispneia, cansaço e febre giológica pulmonar assume-se, portanto como fun-
foram referidos em mais de  50% dos doentes. Os damental no diagnóstico e gestão da COVID-19.
vómitos e anorexia prevaleceram nas mulheres (p <
0.001 e p= 0.055, respetivamente). Perante o exigente desafio da abordagem a estes
doentes, sobretudo pelo risco de contágio, o point
A Md de fatores de risco (FR) foi de 1, sendo os 3 of care ultrasound (POCUS) apresenta-se como uma
principais a obesidade (26,8%), a diabetes mellitus ferramenta com elevado potencial para uma prática
(19,5%) e a doença  pulmonar obstrutiva crónica mais segura e eficaz em contexto de triagem, avalia-
(9,8%). Não houve relação entre o género e o número ção de gravidade e monitorização do doente crítico.
(nº) de FR (p= 0,610) e entre a idade e o nº de FR (p=
0.326). Em Portugal, não são conhecidos dados sobre a utili-
zação desta ferramenta durante a pandemia.
Os homens apresentaram doença  mais grave, com
score Covid Severity Index (sCSI) ≥ 8 pontos (p= Objectivo:
0.006). A pneumonia organizativa (PO) ocorreu
em 13 doentes, a sobreinfeção bacteriana em 24 e Demonstrar a aplicabilidade de utilização de POCUS
a necessidade de ventilação não invasiva em 27, na avaliação inicial de doentes com infeção por SAR-
sem diferença entre géneros (p= 0,869, p= 0,362 e S-CoV-2.
p= 0,513, respetivamente). Houve diferença entre o
Métodos:
sCSI e nº de dias de oxigénio (O2) (p= 0,036).
Estudo observacional, desenvolvido em dois Hos-
O maior nº de dias de sintomas associou-se a PO (p=
pitais do Norte do país, no período entre março de
0.021). Cumpriram dexametasona 77 doentes, 16
2020 e fevereiro de 2021.
remdesivir (Rem), 11 prednisolona (pred) e 1 metil-
pred. A hidroxicloroquina não foi utilizada. Os doentes Foram incluídos 70 indivíduos adultos, com diagnós-
sob Rem tinham menos dias de sintomas (p= 0,031) e tico de COVID-19 confirmado por reverse transcrip-
houve associação entre PO e uso de pred (p < 0.001). tion polymerase chain reaction (RT-PCR), que foram
No geral, a  Md de dias de INT foi 14,5 dias. sujeitos a POCUS pulmonar durante a sua observa-
Ter PO (p= 0,028), o uso de pred (p= 0,022), ção no Serviço de Urgência.
a necessidade O2 (p < 0,001) e de VNI (p <
0,001), associou-se a maior duração  de INT. O POCUS pulmonar foi realizado de acordo com o
Na UHD, a Md de dias INT foi de 6 dias e a demora protocolo desenvolvido numa das instituições, que
até  admissão  na UHD de 9 dias. Em 32 doentes, o se traduz na aquisição de imagens em 12 pontos da
O2 à admissão foi 2l/min, 6 com O2 a 4 l/min e 12 parede torácica. Para cada um dos pontos foi atribuí-
sem necessidade de O2. Após  o término de O2, 17 da uma classificação, numa escala de 0 a 3 pontos,
doentes prolongaram o INT e 2 foram reinternados. relativamente às eventuais lesões encontradas, con-
O INT na UHD mostrou ser eficaz e seguro no trata- forme proposto por Soldati. O somatório da classi-
mento de doentes covid19 estáveis e reduziu a du- ficação dos 12 pontos, constitui o Lung Score (LS).
ração de INT no hospital, possibilitando a optimiza-
ção de recursos hospitalares na gestão de doentes Foram consultados os processos clínicos e conside-
críticos. radas as seguintes variáveis: idade, sexo, local de tra-
tamento (ambulatório, internamento por insuficiên-
CO n.º 2759  cia respiratória ou internamento por outra causa),
166
COMUNICAÇÕES ORAIS
nível máximo de suporte ventilatório necessário nos e os doentes com limitação terapêutica definida à
7 dias subsequentes à avaliação ecográfica (nível 0 – admissão em UCINT. A falência da VNI foi definida
sem necessidade de suporte; nível 1 – necessidade como necessidade de EOT e ventilação mecânica
de oxigenoterapia; nível 2 – necessidade de oxigénio invasiva (VMI). Dos 111 doentes incluídos no es-
de alto fluxo, ventilação não invasiva ou ventilação tudo, 26% (n=29) foram submetidos a EOT (grupo
invasiva), mortalidade a 30 dias e Lung Score. VMI). Quanto às características demográficas, des-
taca-se que o grupo VMI era mais velho (67,8±10,3
Os dados anonimizados foram analisados estatisti- no grupo VMI versus 62,4±12,2 no grupo VNI, p
camente com recurso ao programa SPSS. 0.036) e com uma maior percentagem de doentes
do sexo masculino (n=24 no grupo VMI versus n=52
Resultados: no grupo VNI, p 0.054). Clinicamente, os doentes
do grupo VMI apresentavam maior fardo de doença
Nesta amostra de igual distribuição por sexos, a ida-
[Índice de Charlson 4 (AIQ 3-4) no grupo VMI versus
de média foi de 66.3 anos.
3 (AIQ 1-4) no grupo VNI, p 0.02]  e maior gravidade
Houve uma correlação estatisticamente significativa à admissão na UCINT (SAPS II 33,3±11,7 no grupo
entre o lung score e o local de tratamento. Verificou- VMI versus 29,1±33,3 no grupo VNI, p 0.046). Os
-se também correlação entre o lung score e o nível doentes do grupo VMI apresentam ratio PaO2/FiO2
máximo de suporte ventilatório. (P/F) prévio ao início de VNI inferior aos do grupo
VNI [P/F 91,5 (AIQ 69,3-108) no grupo VMI versus
Conclusões: 110 (AIQ 95-134) no grupo VNI]. Relativamente aos
dados analíticos, verificou-se que os doentes com
Estes dados apontam para a plausibilidade da uti- necessidade de VMI apresentavam maior elevação
lização de POCUS pulmonar na abordagem inicial de parâmetros inflamatórios nomeadamente, de
de doentes com COVID 19. Sobretudo nos casos ferritina, PCR e D-dímeros. Relativamente à terapêu-
em que a história clínica e o exame físico levantem tica farmacológica, verificou-se que os doentes do
dúvidas quanto ao envolvimento pulmonar, pode ser grupo da VMI apresentavam maior dose cumulativa
importante na determinação do local e tratamento, de corticóides [208 (108-328) versus 106 (64-234)
obviando a necessidade de realização de outros mg de prednisolona, p 0.046] e maior exposição an-
meios de imagem mais dispendiosos e nocivos. tibiótica [26 (90%) versus 18 (22%), p<0.01]. Na aná-
lise multivariável, os fatores associados a falência
CO n.º 2816  de VNI foram a dose cumulativa de corticoterapia
Ventilação não-invasiva na COVID-19: avaliação de (OR 1,00 95%IC 1,00-1,01, p=0.005) e a exposição
fatores de risco para falência da VNI na COVID-19 antibiótica (OR 19,5 95%IC 2,48-153,88 p=0,005).
Mafalda Ferro Teixeira(1);Joana Filipa de Azevedo Doze dos 29 doentes submetidos a VMI faleceram
Carvalho(1);Maria Carolina Carvalho(1);Mário Ferrei- (41.4%). A taxa de falência de VNI foi de 21.3%, o
ra(1);Joana Paulo(1);Zélia Neves(1);Ricardo Olivei- que é ligeiramente inferior ao que já tem vindo a ser
ra(1);Ana Bastos Furtado(1);José Delgado Alves(1) publicado. A dose cumulativa de corticoterapia bem
(1) Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca como a exposição antibiótica foram os fatores de
risco identificados para falência da VNI.
Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente
crítico
CO n.º 2843 
Advanced heart failure: what have we learned from
O suporte ventilatório dos doentes com insuficiên- a decade of experience?
cia respiratória parcial aguda secundária à infe- Adriana Girão(1);Luís Fernandes(2);Carlos Rodri-
ção por SARS-CoV-2 foi diferente na primeira e na gues(3);João Pedro Pais(4);Telma Alves(5);Sofia
segunda vaga da pandemia COVID-19. Enquanto Martinho(1);José Pedro Fernandes(1);Fátima Fran-
na primeira vaga os doentes foram submetidos a co(1);Susana Costa(1);Carolina Lourenço(1);Rui Pi-
entubação orotraqueal (EOT) de forma precoce, na(1);Manuel Batista(1);Armando de Carvalho(1);Pe-
posteriormente, e a par do maior número de casos dro Antunes(1);David Prieto(1);Lino Gonçalves(1)
que se verificou durante a segunda vaga, passou (1) Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra /
a privilegiar-se a utilização de técnicas menos in- Hospitais da Universidade de Coimbra (2) Centro
vasivas como a oxigenoterapia de alto fluxo e a Hospitalar de Entre Douro e Vouga, EPE / Hospi-
ventilação não invasiva (VNI) no tratamento destes tal de S. Sebastião (3) Centro Hospitalar do Baixo
doentes. Até à data, não foram identificados quais Vouga / Hospital Infante D. Pedro, EPE (4) Unidade
os fatores preditores clínicos de falência da VNI Local de Saúde do Alto Minho, EPE / Hospital de
nesta população. O objetivo principal deste trabalho Santa Luzia (5) Centro Hospitalar e Universitário de
é identificar fatores de risco para falência da VNI Coimbra, EPE / Hospital Geral
na COVID-19. Para tal foi realizado um estudo de
coorte, retrospetivo, incluindo uma população de Tema: Doenças cardiovasculares
doentes admitidos em 3 unidades de cuidados inter-
médios de nível I (UCINT) dedicadas ao tratamento
Introduction: Despite significant developments in
da COVID-19, entre 15 de Janeiro e 26 de Fevereiro
heart failure therapy, prognosis remains dismal for
de 2021, num hospital de Lisboa. Foram excluídos
many patients with advanced heart failure. Emer-
da análise os doentes que não estiveram sob VNI
gency transplantation or mechanical support are

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 167


possible strategies in this setting. Silva Costa(1);Inês Batista Mesquita(1);Hélia Ma-
teus(1)
Purpose: We aimed to characterize a cohort of pa- (1) Centro Hospitalar Tondela-Viseu, EPE / Hospital
tients with advanced heart failure requiring vasoac- de São Teotónio, EPE
tive and mechanical circulatory support.
Tema: Outro
Methods: Retrospective study of 17 consecutive
patients, admitted to an advanced heart failure clin- Introdução: A Google Trends é uma ferramenta on-
ic of a tertiary hospital between 2010 and 2020, all line que mede a pesquisa média relativa (PMR) de
of which in INTERMACS 1 to 4 and requiring some todos os assuntos procurados nos motores de bus-
form of mechanical circulatory support [including ca, tendo sido cada vez mais utilizada para estudar
Impella®, Extra-Corporeal Membrane Oxygenation os comportamentos e motivações das populações
(ECMO), Intra-aortic Balloon Pump (IABP) or Left- mundiais relativamente à doença e à procura de cui-
Ventricular Assisting Device (LVAD)], as a bridge to dados médicos.
recovery, to transplantation, to decision or to candidacy.
Baseline clinical and demographic parameters were
evaluated. Em 2018, o acidente vascular cerebral (AVC) consti-
tuía a principal causa de morte em Portugal, seguida
Results: Out of the 17 patients included in this pelo Enfarte Agudo do Miocárdio (EAM), neoplasias
study, 3 were women and 14 men, with a mean e pneumonia.
age of 49±10.1, the youngest being a 23-year-old
female and the oldest a 67-year-old man. The most De modo a estudar o interesse da população por-
common heart failure etiology was nonischemic tuguesa nas principais causas de morte nacionais,
cardiomyopathy (n=7, 41.2%) followed by ischemic analisou-se a PMR das mesmas. 
disease (n=6, 35.3%).The majority of patients were MÉTODOS:   Estudo longitudinal, descritivo da PMR
either admitted or evolved to INTERMACS 1, with dos termos “AVC”, “EAM”, “Cancro” e “Pneumonia” e
a mean left ventricular ejection fraction (LVEF) of seus sinónimos nos últimos 5 anos.  
23.3%±7.3. The most common comorbidities reg-
istered were active smoking status (n= 9, 52.9%) A PMR foi medida entre 0 e 100 (interesse máximo
followed by arterial hypertension (n=7, 41.2%) and no tópico). Os dados foram submetidos a análise
atrial fibrillation (n=7, 41.2%). comparativa entre termos e entre distritos nacionais. 
All patients in this cohort required vasoactive phar- RESULTADOS:   A PMR no período estudado foi de
macological support at some point, with 76.5% 14,4 +/- 4,9 para o AVC; 7,4+/-5,3 para o EAM; 52,1+/-
(n=13) of whom were prescribed at least two ino- 13,1 para a neoplasia e de 8,3+/- 5,7 para a pneumo-
tropic or vasopressor drugs during the course of nia.
this admission. The most frequently used drugs
were norepinephrine (76.5%, n=13) and dobutamine A PMR do termo “neoplasia” foi significativamente
(76.5%, n=13), followed by levosimendan in 58.8% superior (p<0.01) a todos os outros termos, com pa-
(n=10). drão de pesquisa relativamente constante ao longo
dos anos. 
All patients progressed to mechanical circulatory
support during this admission, three of whom re- Ambos os termos EAM e AVC apresentaram um pico
quiring more than one form of mechanical support. de pesquisa, correspondendo a figuras públicas me-
Most patients were placed on venoarterial ECMO diáticas diagnosticadas com essa patologia. Não
(64.7%, n=11), 3 were placed on percutaneous se verificou aumento  significativo da PMR desses
support with Impella®, 3 on a surgically implanted termos nas semanas de comemoração/campanhas
LVAD and 3 with an IABP. Almost half of the patients anuais realizadas pelas sociedades científicas cor-
underwent an emergent cardiac transplant (47.1%, n=8), respondentes.
with a 37.5% post-transplantation mortality rate. An
additional 5 patients on mechanical support died during Na subanálise por distrito, o termo com maior varia-
this hospitalization (29.4%) and 4 patients recovered ção foi o EAM, com menor PMR em Portalegre (3) e
and were able to be weaned off circulatory support and maior em Évora (15) e Bragança (11). 
discharged (23.5%). Overall all-cause mortality for this CONCLUSÕES:  As doenças neoplásicas, ainda que
cohort was 52.9% (n=9). sejam apenas a terceira causa mais comum de mor-
talidade, continuam a ser a patologia que suscita
Conclusions: Advanced heart failure remains a dis- maior interesse.  Este dado  talvez possa ser expli-
ease with a high mortality rate. Evaluation of long- cado pela  fatalidade ou receio da dor a elas  subja-
term multi-center outcomes is needed to assess centes.  O reconhecimento precoce de sintomas de
future strategies. EAM e AVC, com reconhecido impato prognóstico,
CO n.º 2846  permanece subvalorizado.
Principais causas de mortalidade em Portugal: o A literacia em saúde é um desafio crescente e mul-
interesse da população - um estudo longitudinal tidimensional.  Numa sociedade cada vez mais in-
Sofia Santos Pereira(1);Ricardo Silva Veiga(1);Inês

168
COMUNICAÇÕES ORAIS
formatizada não devemos descurar o papel da con- de 2020; com fármacos pressurizados, 11835€ em
tra-informação e as campanhas de sensibilização, 2019 e 11353€ nos primeiros 3 trimestres de 2020.
inequivocamente importantes, carecem de tradução Gastos globais, 51196€ em 2019 e 19752€ nos pri-
nos níveis de interesse ativo na temática.  meiros 3 trimestres de 2020. Infeções respiratórias
hospitalares documentadas no 1º trimestre: n = 122
CO n.º 2913  em 2018, n = 131 em 2019, n = 61 em 2020 e n = 64
Implementação protocolo de terapêutica inalatória em 2021.
na Era pré-COVID19 – uma preparação inesperada
Filipa Martins Duarte(1);Micaela Manuel(1);Iara Fer- Discussão: Após implementação do protocolo,
reira(1);José Moura de Meireles(1) constatou-se franca adesão dos profissionais de
(1) Centro Hospitalar de Entre Douro e Vouga, EPE / saúde. Objetivo de prescrição >90%, alcançado no
Hospital de S. Sebastião 2º mês do protocolo. A existência do protocolo per-
mitiu desenvolvimento de procedimento institucio-
Tema: Organização, gestão e qualidade de serviços nal com rápida aplicação a todo o hospital no início
de saúde da pandemia.

Introdução: A via inalatória é a forma preferencial de O aumento de prescrição de IP possibilitou a redu-


administração de fármacos em patologias do foro ção de cerca de 50% dos custos associados à TI
respiratório, uma vez que permite a deposição do e dispositivos, e cerca de 50% de infeções respira-
fármaco no órgão-alvo, atuando de forma mais rá- tórias hospitalares. Verifica-se ainda utilização de
pida e eficaz, com menos efeitos adversos. Existem broncodilatadores por nebulização, sobretudo no
vários tipos de dispositivos inalatórios, devendo a Serviço de Urgência. Este último aspeto tomou par-
escolha do mesmo ter em conta as características ticular importância com o surgimento da pandemia
do doente e do dispositivo. Em internamento reco- COVID-19, na qual a utilização de nebulizadores
menda-se a utilização de inalador pressurizado (IP) aumenta significativamente o risco de dispersão da
associado a câmara expansora (CE), uma vez que infeção e contaminação dos profissionais de saúde.
não exige expiração prévia forçada ou apneia final, Conclusões: Foram melhoradas as práticas de pres-
realizando a inalação em volume corrente, com crição de fármacos por via aérea, com excelente
eficácia semelhante a sistemas de nebulização e adesão por parte dos profissionais. A utilização de
diminuindo a disseminação de agentes patogénicos IP associados a CE permitiu uma redução do tempo
por aerossol. despendido na aplicação do fármaco, menor custo
e menor risco infecioso associado.
Objetivo: Melhorar as práticas de prescrição de te-
rapêutica inalatória (TI) aos doentes internados no CO n.º 2916 
Serviço de Medicina Interna (SMI). Implementação Impacto da IC na prevalência de TEV nos doentes
de um protocolo e indicador de qualidade (IQ) de internados por COVID-19
prescrição de TI através de sistemas de IP associa- Rita Pinto Araújo(1);Carla Martins(1)
dos a CE, tendo por base a orientação 010/2013 da (1) Hospital Feira
Direção Geral da Saúde. Otimizar a formação dos
profissionais de saúde, diminuir o risco de transmis- Tema: Doenças cardiovasculares
são de doenças infeciosas respiratórias e monitori-
zar a prescrição de TI no SMI. Introdução: Várias comorbilidades foram associa-
das a um aumento da gravidade e mortalidade na
Material e métodos: Elaboração e implementação COVID-19, incluindo a insuficiência cardíaca (IC).
de protocolo de atuação e IQ em novembro de 2019, Alguns estudos têm sugerido que o coronavírus da
do qual fizeram parte a formação de profissionais síndrome respiratória aguda grave 2 (SARS-CoV-2)
de saúde. Análise do impacto nos custos com fár- infeta as células humanas através da sua ligação
macos e dispositivos. Análise do impacto na dimi- aos recetores da enzima conversora de angiotensi-
nuição de infeções respiratórias nosocomiais. na, cuja expressão está frequentemente aumentada
nos doentes com IC. Por outro lado, a IC é um fator
Resultados: Início do projeto em fevereiro de 2019. de risco independente comum para a ocorrência de
Procedimento concursal para aquisição de CE no eventos tromboembólicos venosos (TEV). Recente-
mês seguinte, optando por dispositivos reutilizáveis, mente, alguns estudos mostraram que a COVID-19
com início de utilização em abril de 2019. Audito- também aumenta o risco de TEV.
ria piloto realizada em outubro de 2019, na qual
foram avaliados 61 doentes, dos quais 37 tinham
TI prescrita. Nestes, verificou-se que em 83.8% (n Objetivo: Comparar a prevalência de TEV nos doen-
= 31) foi feita por IP. Implementação do protocolo tes internados por COVID-19 com IC de base e sem
com objetivo de prescrição >90%, alcançado no 2º esse diagnóstico, avaliando o impacto da IC na ocor-
mês. Gastos com sistemas de nebulização, 1060€ rência deste tipo de eventos.
em 2019 e 55€ nos primeiros 3 trimestres de 2020;
com CE, 1913€ em 2019 e 531€ nos primeiros 3 Material e métodos: Estudo de coorte retrospetivo
trimestres de 2020; com fármacos por nebulização, constituído por doentes adultos admitidos na en-
39361€ em 2019 e 8399 nos primeiros 3 trimestres fermaria de Medicina Interna com o diagnóstico de
COVID-19 entre março de 2020 e março de 2021. A

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 169


ocorrência de TEV foi o outcome principal, tendo- dos vários níveis de encaminhamento possíveis: 1)
-se comparado a sua proporção entre doentes com Ligar 112, 2) Atendimento Urgente (AU) Imediato, 3)
e sem IC. Definiram-se como covariáveis o sexo, a AU Breve, 4) Consulta Prioritária, 5) Videoconsulta
idade, o tempo de internamento e diversos fatores Urgente,  6) Consulta programada e 7) Auto-cuida-
de risco para TEV já estudados e apresentados em dos. Exportação de dados a partir da ferramenta de
trabalho anterior. Utilizou-se o teste de χ2 para com- triagem.
paração de variáveis categóricas e a regressão logís-
tica como modelo preditivo de ocorrência de TEV, de Resultados: Foram realizadas 25897 triagens no
acordo com as covariáveis. Assumiu-se significância período de 21 de janeiro de 2020 a 20 de janeiro de
estatística com p<0.05. 2021. Em média cada triagem demorou 9 minutos.
Os triados foram 98% adultos, 62% mulheres, 47% en-
Resultados: Foram estudados 1411 doentes com tre 30-60 anos e 30% com mais de 60 anos. O enca-
uma idade mediana de 74 anos (AIQ 23), sendo minhamento mais frequente foi o AU breve (43,3%),
54.4% do sexo masculino. O tempo de internamento seguido da Consulta Prioritária/Videoconsulta Ur-
mediano foi de 7 dias (AIQ 8). A prevalência de TEV gente (22,1%), Consulta Programada (19,7%), Auto-
nos doentes com COVID-19 foi de 3.6%. Cerca de -cuidados (10,3%), AU Imediato (3,6%) e Ligar 112
21% (n=292) dos doentes admitidos por COVID-19 (1,1%). Os triados foram encaminhados para todas
tinha também o diagnóstico de IC. A maior parte as unidades (23) do grupo de saúde, sendo as unida-
(98.6%, n=288) dos doentes com IC não sofreu TEV des de Lisboa e Vale do Tejo as que receberam mais
durante o internamento, sendo que a proporção de triados. Nos 12 meses avaliados, registaram-se 2 pi-
TEV neste grupo de doentes foi significativamente cos de afluência nas triagens telefónicas  que coin-
inferior àquela no grupo de doentes sem IC (1.4% vs cidiram com as duas vagas pandémicas COVID-19.
4.3%, p=0.018). De facto, ter IC parece ser um fator Sessenta e cinco por cento   dos triados cumpriu o
protetor quanto à ocorrência de TEV, já que a sua pre- encaminhamento proposto. Dentro do encaminha-
sença se associa a uma redução de cerca de 69% mento para o AU, em 92% dos casos foi possível ge-
na probabilidade de TEV (OR=0.31, p=0.026, IC 95% rir fluxos de chegada de doentes nas unidades com
0.11-0.87). redução dos tempos de espera. Numa sub-análise
de 2 meses, que avaliou a intenção prévia do doente
Discussão e conclusões: Quer a IC quer a COVID-19 antes da triagem telefónica, esta permitiu retirar do
são entidades que se associam a um estado pro- AU 77% dos doentes encaminhados para a consulta
-inflamatório e hipercoagulabilidade. Todavia, nesta prioritária e 26% dos doentes encaminhados para o
coorte, a presença de IC parece ser um fator protetor AU teriam tido outro encaminhamento se não tives-
para a ocorrência de TEV. Talvez isso decorra do fac- sem sido triados.
to de serem doentes, em geral, mais graves e, por-
tanto, habitualmente sujeitos a medidas profiláticas Conclusão: A triagem telefónica pré-hospitalar tem
e terapêuticas mais agressivas. um impacto significativo na gestão do fluxo de doen-
tes e melhoria dos tempos de espera dos serviços de
CO n.º 2961  urgência, permitindo oferecer alternativas mais ade-
Triagem telefónica pré-hospitalar: avaliação do im- quadas de acordo com a situação clínica.
pacto na gestão dos serviços de saúde
Betânia Ferreira(1);Mariana Brandão(1);Cláudio CO n.º 2966 
Ferreira(1);Isabel Teixeira(2);Petra Matias(1);Daniel Infeção por SARS-CoV-2 para além do pulmão
Ferreira(1) Ana Santos e Silva(1);Josiana Duarte(1);Henrique
(1) Serviço LUZ 24 - Hospital da Luz Centro Clínico Rita(1);Leonor Gama(1);David Campoamor(1);Sara
Digital (2) Hospital da Luz - Arrábida Silva(1);Pedro Laranjo(1);Filipe Dias(1);Ana Mar-
garida Santos(1);Alexey Shigaev(1);Armindo Ribei-
Tema: Organização, gestão e qualidade de serviços ro(1);Artur Gama(1);Yulia Shigaeva(1)
de saúde (1) Unidade local de Saúde do Litoral alentejano,
EPE
Introdução: A sobrelotação das urgências hospitala-
res é um problema transversal de todas as unidades Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças
de saúde. A adoção de estratégias que reduzam o hepáticas
número de doentes não graves nos serviços de ur-
gência é fundamental.   Introdução: A infeção por SARS-CoV-2 veio mudar
o paradigma da vida em sociedade no século XXI.
Objetivo: Avaliar o impacto de um serviço de triagem Apesar de a maioria dos doentes apresentarem
telefónica pré-hospitalar na gestão dos serviços de sintomas respiratórios, tem sido demonstrada
urgência de um grupo privado de prestação de cuida- a sua capacidade de afeção de outros órgãos,
dos de saúde português.   nomeadamente o fígado. A prevalência da lesão
hepática nos doentes com COVID-19 não é
Material e Métodos: Estudo retrospetivo com análi- completamente conhecida, parecendo, contudo,
se dos casos triados no primeiro ano de atividade estar associada a um pior prognóstico. Vários
de um serviço de triagem telefónica pré-hospitalar. estudos tentaram demonstrar o mecanismo
A triagem é baseada em 98 protocolos clínicos va- fisiopatológico envolvido nas alterações hepáticas,
lidados com auditoria regular das triagens. Análise parecendo resultar da agressão direta pelo SARS-

170
COMUNICAÇÕES ORAIS
CoV-2 e alterações inflamatórias sistémicas. São Bernardo
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
Objetivo:  O objetivo deste estudo é estabelecer
a relação entre a lesão hepática e a gravidade da
Pneumonia a SARS-CoV-2. Introdução: Desde o início da Pandemia COVID-19,
que os doentes com esta patologia parecem apre-
Material e Métodos: Estudo retrospetivo de todos os sentar um estado de hipercoagulabilidade, com
doentes internados no serviço de Medicina Interna maior probabilidade de desenvolvimento de micro-
de 1 Março de 2020 e 1 de Março de 2021 com o trombos e tromboembolismo venoso, conhecida
diagnóstico de Pneumonia a COVID-19. Foram excluí- como coagulopatia associada à COVID19. Desco-
dos todos os doentes com idade inferior a 18 anos nhece-se se estas alterações são consequência
e superior a 75 anos, doentes com doença hepática direta do vírus SARS-CoV2 ou o resultado de uma
crónica, provenientes de ou transferidos para outros resposta inflamatória sistémica generalizada. A es-
hospitais. Foram analisadas as co-morbilidades dos tratégia de tromboprofilaxia ideal permanece incerta
doentes, clínica inicial, a necessidade de suporte e a ainda escassa evidência científica, condiciona
ventilatório, a duração do internamento e o grau de uma abordagem oscilante, com base na sensibilida-
lesão hepática. A lesão hepática foi subdivida em 2 de clínica e na avaliação do doente.
grupos: ligeira e moderada consoantes os valores
de aspartato aminotransferase (AST) e alanina ami- Objetivo: Avaliação do impacto da terapêutica anti-
notransferase (ALT). A gravidade clínica foi definida coagulante com enoxaparina nas doses profilática,
pelo suporte ventilatório máximo necessário. Foram intermédia e terapêutica nos indicadores clínicos de
consultados os processos clínicos para colheita de uma amostra de doentes internados com COVID19
dados referentes à história clínica, antecedentes de um hospital distrital.
pessoais, exames auxiliares de diagnóstico, clínica
e desfecho clínico. Material e Métodos: Estudo observacional retrospe-
tivo, com recolha de dados do processo clínico dos
Resultados: Obtivemos uma amostra total de 183 doentes admitidos com o diagnóstico de COVID19
doentes, 117 do sexo masculino e 68 do sexo femini- de 01/02/2021 a 31/03/2021 num hospital distrital.
no, com idade média de 56 anos. Destes 40 tiveram Caracterizou-se a amostra de acordo com variáveis
internamento em UCI e registamos um total de 19 sociodemográficas, comorbilidades e apresentação
óbitos. Não verificamos casos de doença hepática clínica. Os outcomes avaliados foram o desenvolvi-
fulminante. Dos dados avaliados verificámos um mento de tromboembolismo venoso (TEV) no inter-
valor médio de AST mais elevado nos doentes que namento, a mortalidade e a duração do internamen-
não necessitaram de oxigénio suplementar  (48±1) to.
em comparação a doentes com máscara de venturi
(65±1) ou sob High-flow nasal cannula oxygenation A análise estatística foi realizada através do progra-
(75±1), sendo que a mesma tendência se verificou ma IBM SPSS Statistics versão 26.
relativamente aos valores pico. Por outro lado, os va-
lores de ALT iniciais não mostraram relação com a Resultados: Foram selecionados 377 doentes, sen-
gravidade da doença, mostrando essa tendência ao do 191 do sexo masculino (50.7%), com uma media-
longo do internamento. Nem os valores de fosfatase na de idades de 76 (AIQ 20) anos. Deste grupo, 49
alcalina ou bilirrubina mostraram relação com a gra- (13%) doentes não estavam a fazer anticoagulação,
vidade da doença. 192 (50.9%) doentes estavam a fazer anticoagulação
profilática, 54 (14.3%) doentes fizeram dose intermé-
Conclusões: Verificamos uma relação entre os va- dia e 82 (21.8%) estavam sob dose terapêutica. Apu-
lores de AST à admissão e a gravidade clínica do ra-se uma tendência para realização de dose inter-
doente. Tal como previamente demonstrado, a ALT média ou não anticoagular nos doentes com Doença
apresenta uma elevação mais tardia nestes doentes. Renal Crónica, em detrimento de dose terapêutica ou
Relativamente aos valores pico de AST e ALT estes profilática (p<0.001). Verifica-se também uma ten-
associaram-se a valores de D-dímeros e ferritina dência para realização de anticoagulação terapêuti-
mais elevados o que demonstra um impacto da fase ca nos doentes com Fibrilhação Auricular (p<0.001)
inflamatória nestas alterações. Assim sendo, o va- e para não anticoagular doentes com anemia conhe-
lor de AST à admissão parece ser o melhor preditor cida (p=0.046). Parece haver uma correlação entre a
prognóstico de gravidade na Pneumonia COVID-19. gravidade da doença e doses maiores de enoxapari-
na, ainda que sem significado estatístico (p=0.225).
CO n.º 2981 
Impacto da dose de anticoagulação nos doentes A probabilidade de desenvolver TEV no internamen-
com COVID19 to foi 4 vezes superior no grupo de doentes sob te-
Rita Piteira(1);Joana Silvério Simões(1);Ana Teixei- rapêutica profilática em comparação com a dose
ra Reis(1);Emily González(1);Rui Coelho(1);Ricardo intermédia (95% CI=0.5-30.4; p=0.195), ainda que
Pereira(1);António Pessoa(1);Vasyl Katerenchuk(1);- sem significado estatístico. Porém verificou-se que
Noemy Neves(1);António da Silva Inácio(1);Sara a duração do internamento foi menor nos doentes
Lopes(1);Jéni Quintal(1);Filipa Carrega(1);Manuela sob dose intermédia (p<0.001), o que poderá estar
Fera(1);Ermelinda Pedroso(1) relacionado com o risco de mortalidade no interna-
(1) Centro Hospitalar de Setúbal, EPE / Hospital de mento, 2 vezes superior neste grupo (95% CI = 1.1-4;
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 171
p=0.02). internados nos primeiros 43 dias e 427 (45,7%) no
período homólogo seguinte. A mediana de idades foi
Conclusões: Esta análise permite verificar que em- de 79 anos. Não se verificaram diferenças estatisti-
bora a terapêutica com enoxaparina na dose inter- camente significativas no que diz respeito à idade,
média pareça ter um melhor perfil de segurança na género, dias de internamento, diagnóstico global,
prevenção do TEV intra-internamento, a sua asso- readmissão no SU ou reinternamento a 30 dias. Ob-
ciação estatisticamente significativa a uma maior servou-se, no entanto, que a mortalidade a 30 dias foi
mortalidade coloca em dúvida a sua utilização. A maior no 1º período considerado com significância
literatura disponível apresenta resultados divergen- estatística (p:0,035). Quanto às principais patologias
tes, pelo que a realização de um estudo de maiores em ambos os períodos, de referir que as doenças do
dimensões permitirá obter orientações mais definiti- sistema respiratório (RSP) foram o diagnóstico mais
vas sobre o tema. prevalente (31,8%), seguida das doenças do siste-
ma circulatório (CIR) (20%) e genitourinário (GEN)
CO n.º 2999  (12,4%), de forma similar em ambos os períodos em
Impacto da pandemia COVID19 nos doentes não- análise.
-COVID: há diferenças na mortalidade?
Mario Gil Fontoura(1);Luísa Viana Pinto(1);Filipe j. Conclusão: Em Portugal o primeiro estado de emer-
Machado(1);Rita Maciel(1) gência foi um desafio para a Serviço Nacional de
(1) Hospital Feira Saúde e para a população portuguesa. Este estudo
demonstrou maior mortalidade a 30 dias nos 43 dias
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias que durou o estado de emergência quando compara-
do com o período homólogo seguinte, nos doentes
Introdução: A infeção por SARS-CoV-2, declarada com patologia não-COVID. Isto poderá ser explicado
pandemia (COVID-19) pela Organização Mundial pela recorrência mais tardia às instituições de saúde,
de Saúde a 11 de março de 2020 é responsável por o que se poderá ter repercutido em doença poten-
uma doença multiorgânica de predomínio respirató- cialmente mais grave nestes doentes.
rio potencialmente fatal. Em Portugal foi identifica-
do o seu primeiro caso COVID-19 a 2 de Março de CO n.º 3011 
2020 e, pouco tempo depois, decretado o primeiro ANÁLISE DOS DOENTES ADMITIDOS NUMA UNI-
Estado de Emergência. Desde então muitas implica- DADE DE HOSPITALIZAÇÃO DOMICILIÁRIA DIRE-
ções houve para a saúde da população portuguesa. TAMENTE DA URGÊNCIA
Isto trouxe consigo implicações socioeconómicas Carolina Amado(1);Mariana Silva Leal(1);Margarida
e para a saúde avassaladoras, sobrecarregando o Cruz(1);Susana Cavadas(1)
Sistema Nacional de saúde. (1) Centro Hospitalar do Baixo Vouga / Hospital In-
fante D. Pedro, EPE
Objetivo: avaliar o impacto da pandemia em doentes Tema: Organização, gestão e qualidade de serviços
não COVID-19 no internamento do serviço de Medici- de saúde
na Interna de um hospital não central.
Métodos: A colheita dos dados foi efetuada através INTRODUÇÃO
consulta do processo clínico informático do doente,
com recurso ao sistema informático e Registo de A Hospitalização Domiciliária (HD) é uma alternativa
Saúde Eletrónico®. A análise estatística foi realiza- ao internamento convencional de doentes agudos,
da através do programa SPSS®, versão 25. Foram permitindo a gestão da doença no domicílio, com
comparados retrospetivamente, num único centro, maior conforto e contribuindo para a diminuição do
os doentes não-covid internados no Serviço de Me- risco de intercorrências infeciosas associadas aos
dicina Interna, incluindo os em internamento em re- cuidados de saúde. A  maioria dos doentes admiti-
gime de domiciliária, entre os primeiros 43 dias que dos nas Unidades de HD (UHD) são provenientes do
efetivamente durou o estado de emergência com os Serviço de Urgência (SU).
43 dias após findo o mesmo. Foram excluídos todos
os doentes transferidos para outros hospitais ou que OBJETIVO
testaram positivo para o COVID-19 durante o inter-
namento. Realizou-se uma avaliação demográfica da Caracterizar os doentes admitidos numa UHD, a par-
população em estudo (sexo, idade), bem como dos tir do SU, durante o primeiro ano de funcionamento
principais diagnósticos (gerais e específicos) pelo da mesma.
International Classification of Diseases version 10
(ICD-10) e posteriormente categorização recorren- MÉTODOS
do ao Agency for Health Care Quality and Research
Estudo quantitativo, com análise retrospetiva de
(AHRQ) Clinical Classifications Software (CCS), du-
dados do registo eletrónico (Sclínico) dos doentes
ração do internamento, reinternamento nos 30 dias
admitidos na UHD entre 1 de maio de 2019 e 1 de
após alta, recorrências ao Serviço de Urgência (SU)
maio de 2020. Foi recolhida informação sociode-
30 dias após alta e a mortalidade a 30 dias.
mográfica, clínica e relativa ao processo de gestão
Resultados: Durante os 86 dias analisados estiveram clínica (duração do internamento e proveniência).
internados neste hospital 934 doentes, 507 (54,3%) Foram considerados dois grupos de acordo com

172
COMUNICAÇÕES ORAIS
a proveniência, e feita a comparação dos dados ing general well-being and daily life activities. 
obtidos: grupo A para os doentes admitidos direta-
mente a partir do SU e grupo B para os internados Objectives: To assess the health-related QoL (HR-
por outras vias (Internamento Hospitalar, Consulta QoL) of patients with COVID-19 after hospital dis-
Externa, Cuidados de Saúde Primários e Estruturas charge.
Residenciais Para Idosos).
Methods: Prospective cohort study of all COVID-19
RESULTADOS patients who were discharged from a designated
Durante o período estudado foram admitidos na hospital between December 2020 and February
UHD 231 doentes, 59,3% provenientes do SU. A 2021. HR-QoL was assessed three months after
maioria dos doentes do grupo A era do sexo femini- discharge using the 5-level EuroQoL-5D (EQ-5D-5L)
no (60,6% vs 39,4%) com idade média de 67,7 anos questionnaire and EuroQoL-Visual Analogue Scale
(76,2 anos no grupo B (p<0,05)). A duração média (EQ-VAS), after translation into Portuguese. Patients
de internamento foi de 6,8 dias, ligeiramente infe- were contacted by telephone by trained physicians.
rior quando comparada com o grupo B (7,0 dias). Deceased, unreachable, demented and bedridden
O diagnóstico principal mais frequente foi a Pielo- patients were excluded as well as those who did not
nefrite aguda (38,7%; n=53), seguida da Pneumonia give oral consent. Clinical data were collected from
adquirida na comunidade (21,2%; n=29), a Insufi- medical records. We used the appropriate statistical
ciência Cardíaca agudizada (10,2%; n=14) e a Celuli- tests as needed.
te (9,5%; n=13). Em média, cada doente apresentava Results: From a total of 530 patients, 173 patients
4,6 diagnósticos secundários, comparando com 6,2 remained for further analysis. The median age at
no grupo B (p<0,05). No grupo A, o seguimento nos COVID-19 diagnosis was 61 (interquartile range (IQR)
Cuidados de Saúde Primários foi o destino de 56,2% 74 - 52) years and 42.2% (n=73) were female. The
dos doentes, seguido da Consulta Externa (36,5%). median Clinical Frailty Score (CFS) before admission
Foram transferidos para o internamento hospitalar was 2 (IQR 3 - 2) and 65.9% of patients had returned
convencional seis doentes (4,4%) por agravamento to their previous CFS by the time of the interview. The
do estado clínico, ao contrário do grupo B em que mean EQ-5D-5L score was 0.883 ± 0.12. Depression
não se verificou essa necessidade. Ocorreram três and/or anxiety (DEP) issues were reported by 36.9%
óbitos no grupo A (2,2%) e um no grupo B. of patients, impairment in daily life activities (DLA) by
CONCLUSÃO 35.3%, mobility (MOB) limitation by 34.7%, pain/dis-
comfort (PA) by 32.4% and impairment in personal
De acordo com os dados apresentados, os doen- care (PC) by 10.4%. Gender distribution was similar in
tes admitidos diretamente do SU são mais novos all five domains of EQ-5D-5L, except for DEP (54.7%
e com menor número de diagnósticos secundários vs 34.9%, p=0.011) and MOB limitation (63.7% vs
(p<0,05), apresentando baixa taxa de complicações 36.3%, p=0.031) which were more prevalent among
com necessidade de internamento hospitalar con- women.  Patients who reported impairment of MOB
vencional. Apesar de mais complexos, na sua maio- (72.5 vs 59 years, p<0.001) and PC (78 vs 60 years,
ria, os doentes do grupo B encontram-se numa fase p<0.001) were significantly older. In contrast, mean
de maior estabilidade, visto encontrarem-se sob age did not differ whether patients had reported or
tratamento há alguns dias com consequente menor not DEP (p=0.620), impairment in DLA (p=0.155) and
probabilidade de agravamento. PA (p=0.103). Overall, the prevalence of comorbidi-
ties was similarly distributed across all five domains
O internamento em UHD tem demonstrado capaci- of the EQ-5D-5L. As an exception, cardiovascular
dade para admitir cada vez mais doentes, reduzindo disease was more prevalent among patients who
o tempo de permanência dos doentes em SU e nas reported MOB limitation (73.3% vs 55.8%, p=0.023),
enfermarias, contribuindo para uma melhor gestão cerebrovascular disease among those with PC im-
das camas hospitalares. pairment (27.1% vs 7.1%, p=0.015) and active cancer
in patients who reported impairment in PC (22.2% vs
CO n.º 3019  6.5%, p=0.043) and in DLA (14.8% vs 4.5%, p=0.018). 
Health-related quality of life of COVID-19 patients Although the total length of hospital stay and the
three months after hospital discharge prevalence of Intensive Care Unit (ICU) admission did
Mariana Dias(1);Pedro Gaspar(1);Carolina Carrei- not differ between patients who reported and did not
ro(1);Hélder Gonçalves(1);Inês Parreira(1);Federica report impairment in any of EQ-5D-5L domains, the
Parlato(1);Henrique Atalaia Barbacena(1);Leila Duar- ICU length of stay was higher in patients who report-
te(1);Valeria Maione(1);Inês Fernandes Pedro(1);- ed impairment in MOB (10 vs 6 days, p=0.031) and in
Sandra Braz(1) DLA (10 vs 6 days, p=0.022). The mean EQ-VAS was
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi- 75.7% ± 18.6 (median = 80). Persistent fatigue (57%),
tal de Santa Maria previous comorbidities (26.5%) and mobility impair-
ment (15.7%) were the most frequent reasons for the
Tema: Outro reduction in EQ-VAS.

Background: COVID-19 pandemic has a major im- Conclusions: In this study we show that almost two
pact on patients’ physical and mental health, impair- third of recovered COVID-19 patients have already
returned to their previous degree of autonomy even
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 173
though they show a slightly lower EQ-5D-5L and EQ- tes apresentavam infeção associada aos cuidados
VAS mean values compared to the pre-COVID-19 pan- de saúde, com isolamento microbiológico em 55%
demic national scores. It is noteworthy, though, that dos casos, sendo o agente mais frequente o Clos-
independently of previous diagnosis, more than one tridium difficile (n=5). A duração média de interna-
third of patients report some degree of depression/ mento foi de 7,6 dias, tendo os doentes tido alta
anxiety that must be actively followed and managed orientada, mais frequentemente, para os Cuidados
over time. de Saúde Primários (CSP) (53,9%; n=244) e Consulta
Externa hospitalar (CE) (38,9%; n=176).
CO n.º 3049 
PATOLOGIA INFECIOSA NUMA UNIDADE DE HOSPI- Destaca-se a existência, neste grupo de doen-
TALIZAÇÃO DOMICILIÁRIA tes, de 7 óbitos (1,5%), 66 readmissões hospitalares
Carolina Amado(1);Mariana Silva Leal(1);Gisela de (14,6%) e 33 reinternamentos aos 3 meses (7,3%).
Brito Gonçalves(1);Flávio g. Pereira(1);João da Cos-
ta Oliveira(1);Margarida Cruz(1);Susana Cavadas(1) CONCLUSÕES
(1) Centro Hospitalar do Baixo Vouga / Hospital In-
fante D. Pedro, EPE A patologia infeciosa foi o diagnóstico mais preva-
lente no total de doentes admitidos em UHD no pe-
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias ríodo avaliado. A maioria dos doentes teve alta para
os CSP/CE, sendo as taxas de óbitos e de readmis-
sões hospitalares relativamente baixas, evidencian-
INTRODUÇÃO do uma evolução clínica favorável, apesar de uma
idade média avançada.
As doenças infeciosas agudas estão incluídas nas
patologias elegíveis para admissão na Unidade de A UHD permite a prestação de cuidados médicos e
Hospitalização Domiciliária (UHD). A análise das de enfermagem de qualidade, em ambiente mais fa-
suas características é relevante pela frequência miliar, com possibilidade de diminuição de custos e
relativa no total de doentes da UHD e pela sua varia- das complicações associadas à hospitalização con-
bilidade clínica. vencional, nomeadamente infeções nosocomiais.

OBJETIVO CO n.º 3081 


Persistent symptoms in patients with COVID-19
Analisar as características e a evolução clínica dos after hospitalization
doentes admitidos numa UHD com patologia infe- Mariana Dias(1);Pedro Gaspar(1);Carolina Carrei-
ciosa como diagnóstico principal durante cerca de ro(1);Hélder Gonçalves(1);Inês Parreira(1);Federica
2 anos. Parlato(1);Henrique Atalaia Barbacena(1);Leila Duar-
te(1);Valeria Maione(1);Inês Fernandes Pedro(1);-
MATERIAL E MÉTODOS Sandra Braz(1)
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi-
Estudo observacional retrospetivo, através da con- tal de Santa Maria
sulta dos processos clínicos eletrónicos (Sclínico),
dos doentes internados numa UHD de 1 maio de Tema: Outro
2019 a 30 abril de 2021, com diagnóstico principal
do grupo ICD-11 “Doenças infecciosas”. Foi recolhi-
da informação sociodemográfica, clínica e relativa Background: The long-term health consequences
ao processo de gestão clínica (duração do interna- of COVID-19 remain largely unclear, but some pa-
mento e proveniência). tients describe persistent symptoms lasting weeks
to months after diagnosis. The prevalence, diversity
RESULTADOS and severity of persistent symptoms are not well un-
derstood and data of portuguese recovered patients
No período em análise, foram admitidos em UHD are lacking. 
453 doentes com diagnóstico principal do grupo
“Doenças infeciosas” (71,8% do total), dos quais Objectives: To evaluate the prevalence and charac-
53,6% (n=243) eram autónomos, segundo o Índice terize persistent symptoms attributed to COVID-19
de Barthel (100 pontos). A média de idades era after hospital discharge.
de 70,1 anos, sendo 48,3% (n=219) do sexo mas-
culino. A maioria destes doentes foi admitida a Methods: Single-centre, prospective cohort study of
partir do Serviço de Urgência (53,4%; n=242) ou do patients with SARS-CoV-2 infection who were dis-
internamento de Medicina Interna (37,5%; n=170). charged from a designated hospital between De-
A pielonefrite aguda foi a doença infeciosa mais cember 2020 and February 2021. Symptoms were
frequente (40,7%; n=184), seguida da pneumonia assessed three months after discharge. Patients
bacteriana (20,1%; n=91), da celulite (13,7%; n=62), were contacted by telephone by trained physicians.
da traqueobronquite aguda (5,3%; n=24) e da pros- The disease severity was classified using the World
tatite aguda (3,3%; n=15). Foi possível identificação Health Organization (WHO) clinical progression
do agente infecioso em 48,4% dos casos, nomea- scale. Clinical data were collected through medical
damente Escherichia coli (51,5%; n=86) e Klebsiella records. We used the appropriate statistical tests as
pneumoniae (7,7%; n=13). Apenas 4,4% dos doen- needed.

174
COMUNICAÇÕES ORAIS
Results: A total of 530 patients were selected. Af- Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
ter excluding the deceased (n=165), bedridden
(n=33),  unreachable (n=86) patients and those un- Introdução: A COVID19 é uma infeção causada pelo
able to give an autonomous interview (n=68) and vírus SARS-CoV2, com uma apresentação clínica
declining participation (n=5), 173 patients were in- bastante diversificada, desde a sua forma assinto-
cluded in the study. The median age at diagnosis of mática, apresentação de sintomas ligeiros a mode-
COVID-19 was 61 (interquartile range (IQR) 74 - 52) rados (como febre, tosse, dispneia ou anósmia) até
years, and 42.2% (n = 73) were female. One hundred a infeção grave.  Alguns destes doentes mostram
and sixty-two (93.6%) patients were symptomatic on uma dissociação entre a clínica e a gravidade da
admission, reporting 1, 2 or ≥ 3 symptoms in 6.8%, doença, podendo ter hipoxemia grave sem menção
13.6% and 79.6%, respectively. Three months after de dispneia ou sinais de dificuldade respiratória,
discharge, 55.5% (n = 96) of patients still reported o que contrasta com outras infeções pulmonares
symptoms. The most common symptom was fa- e constitui um desafio à sua abordagem. Existem
tigue (85.4%, n = 82) followed by musculoskeletal várias hipóteses que explicam esta apresentação,
pain (17.7%, n = 17), respiratory symptoms (12.5%, nomeadamente o tropismo do vírus para o sistema
n = 12), muscle weakness (9.4%, n = 9), cognitive nervoso, alterações pulmonares da ventilação per-
impairment (7.3%, n = 7), gustative/olfactive distur- fusão e desvio da curva de dissociação da oxihemo-
bances (3.1%, n = 3), palpitations (3.1%, n = 3) and globina. Contudo a sua prevalência e influência nos
other nonspecific symptoms (9.4%, n=9). There was outcomes é ainda desconhecida.
no statistical difference in age at diagnosis (62 vs
59 years, p=0.251), gender distribution (female,
47.9% vs 35.1%, p=0.089), comorbidities (all p-values Objetivo: Verificar a prevalência e os outcomes da hi-
>0.05),  and inpatient treatment (steroids, 89.6% vs poxemia silenciosa numa amostra de doentes com
80.5%, p=0.092; remdesivir, 17.7% vs 9.1%, p=0.103) infeção por SARS-CoV2.
between patients who have persistent symptoms
and those who are asymptomatic. Patients who were Materiais e métodos: Estudo observacional retros-
symptomatic on hospital admission had a higher risk petivo dos doentes internados num hospital distrital
of having persistent symptoms (OR 6.22, 95% CI 1.30 entre 1/02/2021 e 31/03/2021 com o diagnóstico
– 29.71, p=0.022) compared to those who were as- de infeção por SARS-CoV2 que apresentavam hipo-
ymptomatic. Accordingly, the number of symptoms xemia. Esta foi definida por uma relação da PaO2/
(1, 2 or ≥ 3) at admission was significantly associat- FiO2 <300mmHg, considerando-se hipoxemia silen-
ed with the risk of persistent symptoms (per-unit in- ciosa na ausência de dispneia. Como outcomes fo-
crease OR 2.08, 95% CI 1.18 – 3.70, p=0.012). More- ram avaliados a necessidade de suporte ventilatório,
over, disease severity assessed by the WHO clinical a duração da hospitalização e a mortalidade no in-
progression scale was associated with the risk of ternamento. Para a análise estatística utilizou-se o
persistent symptoms (per-unit increase OR 1.74, 95% software IBM SPSS Statistics v26.
CI 1.13 – 2.66, p=0.012), even though there was no
statistical difference in Intensive Care Unit (UCI) ad- Resultados: Numa amostra de 247 doentes,
mission rate (26% vs 15.6%, p=0.096) and ICU length 46(18,6%) apresentavam hipoxemia silenciosa. Ve-
of stay (8 vs 9 days, p=0.080) between patients who rificou-se uma tendência para idade inferior (71,1
reported and did not report persistent symptoms. ±  14,8 vs 74,6 ± 13,8 anos, p=0,178) e admissão
hospitalar mais precoce (mediana de 4,5(IQR6,0)
Conclusions:  More than half of patients still report vs 6,0(IQR7,0) dias de doença, p=0,202), comparati-
COVID-19-related symptoms, three months after hos- vamente aos doentes dispneicos. Laboratorialmen-
pital discharge. Fatigue is the most frequent com- te, observou-se um valor superior de hemoglobina
plaint which is in agreement with published data. Pa- (13,8 ± 2,2 vs 12,9 ± 1,7 g/dL, p=0,019) na ausência
tients with more symptoms on admission and with de dispneia, sem outras diferenças estatisticamente
more severe disease, according to WHO clinical pro- significativas nos restantes parâmetros avaliados,
gression scale, are at higher risk of having persistent nomeadamente no rácio PaO2/FiO2. Os doentes
symptoms, regardless of comorbidities, the need for com hipoxemia silenciosa tiveram uma maior ten-
ICU admission and prescribed treatments. dência para ser ventilados não invasivamente (43,5%
vs 33,3%, p=0,194) e invasivamente com recurso a
CO n.º 3094  ventilação mecânica (6,5% vs 5,0%, p= 0,672). A uti-
Prevalência e outcomes da hipoxemia silenciosa na lização de oxigenoterapia nasal de alto fluxo (13,0%
COVID19 vs 12,9%, p=0,984) foi semelhante nos dois grupos.
Joana Silvério Simões(1);Ana Rita Piteira(1);A- Veriricou-se também  uma hospitalização mais pro-
na Teixeira Reis(1);Emily González(1);Rui Coe- longada (9,0 (IQR12,0) vs 8,0(IQR8,0) dias, p=0,593) e
lho(1);Ricardo Pereira(1);António Pessoa(1);Vasyl uma mortalidade superior (43,5% vs 38,8%, p=0,559)
Katerenchuk(1);Noemy Neves(1);António da Silva no doentes com hipoxemia silenciosa.
Inácio(1);Inês Catalão(1);Sara Ramos Lopes(1);Hu-
go Viegas(1);Bárbara Lobão(1);José Pedro Villa de Conclusões: A hipoxemia silenciosa é um problema
Brito(1);Ermelinda Pedroso(1) a considerar na COVID19, estando associada no
(1) Centro Hospitalar de Setúbal, EPE / Hospital de presente estudo a piores outcomes. Como tal, a
São Bernardo ausência de dispneia nestes doentes não deve ser
desvalorizada, devendo os valores de oxigénio ser

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 175


sempre avaliados. Contudo, são necessários mais vs 6,8%, p=0,000) e uma maior tendência para ven-
estudos, com amostras de maiores dimensões que tilação mecânica invasiva (7,4% vs 5,0%, p= 0,672).
corroborem as tendências verificadas, bem como A hospitalização foi mais prolongada nos obesos
um melhor esclarecimento das bases fisiopatológi- (11,9±9,9 vs 10,0±8,2 dias, p=0,169). Contudo, verifi-
cas associadas a este fenómeno. cou-se uma menor mortalidade nos doentes obesos
(25% vs 34%), embora sem significado estatístico
CO n.º 3119  (p=0,152).
Obesidade e COVID19, duas pandemias com mau
outcome Conclusões: Os doentes obesos infetados por SAR-
Joana Silvério Simões(1);Ana Rita Piteira(1);Emily S-CoV2 apresentam piores outcomes relativamente
González(1);Ana Teixeira Reis(1);Rui Coelho(1);Ri- à necessidade de suporte ventilatório e duração do
cardo Pereira(1);António Pessoa(1);Vasyl Kate- internamento. Porém, são os não obesos que têm
renchuk(1);Noemy Neves(1);António da Silva Iná- uma maior mortalidade, o que pode estar associa-
cio(1);Inês Catalão(1);Sara Ramos Lopes(1);Jéni do a uma amostra mais envelhecida, com um maior
Quintal(1);Bárbara Lobão(1);José Pedro Villa de número provável de comorbilidades. Ainda assim, o
Brito(1);Ermelinda Pedroso(1) presente estudo mostra que a obesidade pode estar
(1) Centro Hospitalar de Setúbal, EPE / Hospital de associada a um pior prognóstico. Como tal, reforça-
São Bernardo -se a importância da adoção de medidas de saúde
pública, não só na prevenção da propagação da CO-
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias VID19, como também da redução da obesidade. São
necessários mais estudos com amostras de maiores
Introdução: A COVID19, doença descrita pela pri- dimensões para avaliar não só a prevalência, muitas
meira vez em Dezembro de 2019 é já considerada vezes subestimada, como também os mecanismos
uma das pandemias do século XXI. A par desta, fisiopatológicos associados a estes resultados.
a obesidade é outra das pandemias deste século,
com uma prevalência crescente.  Alguns estudos CO n.º 3142 
mostram que doentes obesos com COVID19 têm Doutor, posso ter alta? – consulta de reavaliação
maior risco de hospitalização, maior probabilidade após urgência como estratégia para alta precoce
de admissão em unidade de cuidados intensivos e Betânia Ferreira(1);Andreia Vilas Boas(2);Daniel Pe-
risco de morte mais elevado.  Isto pode ser explica- reira(2);Isabel Teixeira(2);Luís Magalhães(2);João
do quer pela maior quantidade citocinas pro-infla- Ananias(2);António Carneiro(2)
matórias produzidas pelo tecido adiposo e maior (1) Serviço LUZ 24 - Hospital da Luz Centro Clínico
dificuldade na mecânica ventilatória, quer pelas Digital (2) Hospital da Luz - Arrábida
múltiplas comorbilidades associadas à obesidade, Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente
também elas fatores de risco para a COVID19.  Con- crítico
tudo, desconhece-se a sua prevalência e influência
nos outcomes da população portuguesa.
Título: Doutor, posso ter alta? – consulta de rea-
valiação após urgência como estratégia para alta
Objetivo: Verificar a prevalência e os outcomes da precoce
obesidade numa amostra portuguesa de doentes
com infeção por SARS-CoV2.
Introdução: Estratégias que permitam reduzir inter-
Materiais e métodos: Estudo observacional retros- namentos hospitalares e diminuir o tempo de per-
petivo dos doentes internados num hospital distrital manência nos Serviços de Urgência (SU) são fun-
entre 1/02/2021 e 31/03/2021 com o diagnóstico damentais nos serviços de saúde. As consultas de
de infeção por SARS-CoV2 que apresentavam obe- reavaliação após urgência permitem re-estratificar
sidade. A amostra foi caraterizada a de acordo com a gravidade dos doentes, avaliar precocemente a
variáveis sociodemográficas e laboratoriais.  Como resposta ao tratamento médico inicial e garantir o
outcomes foram avaliados a necessidade de suporte adequado acesso dos doentes agudos a cuidados
ventilatório, a duração da hospitalização e a mortali- hospitalares diferenciados. Apesar do seu potencial
dade no internamento. A análise estatística foi reali- de efetividade na prestação de cuidados, estas con-
zada através do programa IBM SPSS statistics versão sultas são ainda pouco frequentes na realidade hos-
26. pitalar.
Resultados: Foram internados 377 doentes com o Objetivo: Caracterizar a consulta de reavaliação após
diagnóstico de COVID19, dos quais 68 (18,04%) eram urgência realizada pela equipa de Medicina Interna
obesos. Verificou-se que os obesos apresentavam do nosso hospital. Avaliar o perfil de doentes sele-
uma maior prevalência do sexo feminino (64,7% vs cionados e a taxa de internamentos subsequentes.
46,0%, p=0,005) e uma idade mais jovem (68,0±13,7
vs 74,9±15,4 anos, p=0,000). Avaliando os outcomes, Material e Métodos: Estudo retrospetivo de todos os
observou-se que estes doentes apresentaram uma doentes avaliados em consulta após urgência entre
maior necessidade de suporte ventilatório, nomea- janeiro de 2019 e junho de 2021. Foram avaliadas as
damente de ventilação não invasiva (35,3% vs 24,9%, características demográficas dos doentes, as princi-
p=0,08), oxigenoterapia nasal de alto fluxo (25,0% pais comorbilidades e categorizado o motivo de ava-
liação como agudo infecioso, agudo não infecioso,
176
COMUNICAÇÕES ORAIS
descompensação de doença crónica e outros. Foi sendo que atualmente a sua utilização é feita caso-
ainda avaliado o destino do doente no final da con- -a-caso, com guidelines internacionais a tomarem
sulta e a evolução clínica. posições díspares.
Resultados: Foram realizadas 855 consultas de rea- Objetivos: 
valiação. Os doentes eram 53% mulheres com ida-
de média 61 anos (15 a 100 anos), com uma média Avaliar o impacto da utilização de remdesivir no
de 4 dias entre a alta do SU e a consulta. A maioria tempo de internamento e taxa de mortalidade de
dos doentes encontravam-se melhores (85%) e 4% doentes com pneumonia a SARS-CoV-2.
tinham piorado. O principal motivo de reavaliação
foi agudo infecioso (63%), seguido de causa aguda Materiais e métodos: 
não infeciosa (23%), 10% por descompensação de
Foi realizado um estudo retrospetivo no qual se in-
doença crónica e em 4% dos doentes tinham causa
cluiram todos os doentes internados num hospital
não esclarecida. No momento da alta, 54% foi orien-
terciário português no período compreendido entre
tado para a consulta externa, 30% para o médico de
01 de Novembro de 2020 e 31 de Janeiro de 2021,
família, 10% necessitaram de nova reavaliação e 3%
com diagnóstico de infeção a SARS-CoV-2. Foram
foram internados. A Hipertensão foi a comorbilidade
colhidos dados acerca do tempo de internamento,
mais prevalente (43%), seguido da Insuficiência Car-
comorbilidades, necessidade de ventilação não
díaca (22%), diabetes e doença respiratória crónica
invasiva e invasiva, mortalidade e utilização de rem-
(14% cada), doença renal crónica (7%) e demência
desivir [em ciclo de 5 dias com 200mg oral no 1º dia
(6%). Doze por cento dos doentes apresentavam 3
e 100mg oral nos seguintes, com monitorização de
ou mais comorbilidades. Os 44 doentes internados
função renal e transaminases]. Os dados foram ana-
tinham uma idade média superior (70 anos) e princi-
lisados em SPSS versão 23.
pal motivo de admissão foi a causa aguda infecciosa
com falência da antibioterapia oral. Resultados:
Conclusão: A casuística apresentada destaca a im- Foram incluídos no estudo 584 doentes, dos quais
portância da criação de vias alternativas de avalia- 138 cumpriram ciclo de tratamento com remdesi-
ção de doentes urgentes com adequada capacidade vir. No grupo de doentes que receberam remdesivir
de vigilância em ambulatório. Na nossa realidade, a idade média foi de 61 anos (desvio padrão (DP)
a consulta de reavaliação permitiu mobilizar do SU 12), 73% eram do sexo masculino e relativamente a
doentes desde muito jovens a muito idosos, com co- comorbilidades 56% dos doentes tinham diagnósti-
morbilidades relevantes e até em situações em que co de Hipertensão Arterial (HTA), 26% de Diabetes
o diagnóstico inicial não era claro. A capacidade de Mellitus tipo 1 ou 2 (DM), 2% de Insuficiência Car-
selecionar cada vez melhor os doentes com menor díaca (IC), 7% Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica
risco de desenvolver complicações é um dos mais (DPOC), 2% neoplasia, 1% doença renal crónica
importantes desafios para o futuro. (DRC), 28% eram obesos e 12% fumadores. No
grupo de doentes que não receberam remdesivir a
CO n.º 3172 
idade média foi de 72 anos (DP 15), 55% eram do
Dados acerca da utilização de Remdesivir num hos-
sexo masculino e relativamente a comorbilidades
pital terciário português.
70% tinham diagnóstico de HTA, 32% de DM2; 14%
Fábio pé d Arca Barbosa(1);Catarina Pestana San-
de IC,10% de DPOC, 10% de Neoplasia, 12% de DRC,
tos(1);Mafalda Sequeira(1);Daniela Cruz(1);Filipa
24% eram obesos e 12% fumadores. O tempo mé-
Monteiro(1);Bruno Sousa(1);Vilma Grilo(1);José Cor-
dio de internamento foi de 18 dias (DP 13) para o
reia Proença(1);Vanda Spencer(1)
grupo que recebeu remdesivir, comparativamente
(1) Hospital Garcia de Orta, EPE
a 14 dias (DP 15) para o grupo não tratado com o
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias fármaco (p<0.01). Observou-se uma associação
estatisticamente significativa entre a utilização de
remdesivir e a necessidade de ventilação não-inva-
Introdução: siva, invasiva e uma menor mortalidade durante o
internamento.
A necessidade de encontrar fármacos que melho-
rem a sobrevida e diminuam o tempo de interna- Conclusão:
mento de doentes com infeção a SARS-CoV-2, é
Os resultados do presente estudo refletem aquilo
atualmente essencial, dada a escassez de trata-
que foram os critérios hospitalares para prescrição
mentos universalmente aceites como eficazes e a
de Remdesivir. A utilização deste fármaco poderá
necessidade de não sobrecarregar as unidades de
estar associada a menor taxa de mortalidade ape-
saúde em períodos de maior afluência.  O Remde-
sar de uma maior demora média de internamento
sivir é um análogo nucleótido com atividade in-vitro
contra o vírus SARS-CoV-2. Inicialmente considera- CO n.º 3173 
do eficaz na redução do tempo de internamento em O CT faz diferença?
doentes com infeção grave e na redução da mortali- Sara Rodrigues Silva(1);Isabel Taveira(1);Ana Santos
dade em doentes com necessidade de oxigenotera- e Silva(1);Pedro Laranjo(1);Filipe Dias(1);Teresa Ber-
pia, foi posteriormente questionada a sua eficácia, nardo(1);Artur Gama(1);Henrique Rita(1)

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 177


(1) Unidade local de Saúde do Litoral alentejano, HOSPITALIZAÇÃO DOMICILIÁRIA: UM ANO DA
EPE PRIMEIRA UNIDADE NO SISTEMA DE SAÚDE PRI-
VADO EM PORTUGAL
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias Pedro Correia Azevedo(1);Cátia Rei(1);Joana Malho
Rodrigues(1);Hernando Campos(1);Mário Ferrei-
Introdução: A literatura atual questiona a associa- ra(1);Isa Agudo(1);Eduardo Diaz(1);Ana Cacho-
ção entre o CT (Cycle Threshold) da avaliação por po(1);Rui Grande(1);Diana Cavaco(1);Ana Isabel
RT-PCR do vírus SARS-CoV2 e a gravidade do qua- Vicente(1);Bruno Silvestre(1);Carina Cruz(1);Cátia
dro de infeção por COVID-19, sendo que aparente- Pires(1);João Batista(1);Jorge Chumbo(1);Liliana
mente os doentes com CTs mais baixos (maior taxa Sousa(1);Marta Barbosa(1);Marta Henriques(1);Nu-
de replicação) apresentam um quadro clínico mais no Morais(1);Paula Andrez(1);Rita Monteiro(1);Sofia
grave e uma evolução mais severa, com maiores Casal(1);Vânia Marques(1);Romina Quinteiro(1);-
complicações. Objetivo: Avaliar a relação entre o CT Sandra Martins(1);Natacha Nunes(1);Natacha Frei-
do vírus da pesquisa de SARS-CoV2 à admissão no re(1);Rita Oliveira(1);Ana Margarida Freitas(1);Maria-
internamento e a gravidade do quadro de infeção, na Saraiva(1);Francisco Gorjão(1)
incluindo admissão em UCI, tempo de internamento, (1) Hospital CUF Infante Santo
fase da doença e interface de oxigenoterapia. Ma-
terial e Métodos: Estudo retrospetivo observacional Tema: Outro
de doentes consecutivos, com menos de 65 anos,
internados por infeção por SARS-CoV2 durante o Introdução: A hospitalização domiciliária tem vindo
período de um ano em enfermaria de Medicina dedi- a implementar-se no sistema de saúde português
cada a doentes com COVID-19. A análise estatística como um modelo de assistência de nível hospitalar
foi efetuada com base na mediana, moda, análise no domicílio. É uma alternativa ao internamento
gráfica e utilização de ferramentas de correlação convencional, para doentes agudos ou crónicos
estatística. Resultados: O estudo incluiu 126 doen- agudizados, sendo a admissão nesta tipologia de
tes com menos de 65 anos, dos quais 35 doentes internamento voluntária. A expansão deste modelo
foram excluídos por falta de resultado de CT ou por em Portugal tem sido exponencial nos últimos anos,
teste positivo como achado em internamento por com benefícios reconhecidos para os doentes, as
outra causa, não tendo desenvolvido sintomatologia equipas e as instituições.
associada. A amostra foi intencionalmente limitada
aos 65 anos para minimizar os viés associados a Objectivo: descrever a atividade assistencial de uma
pluripatologia e fragilidade geriátrica. Dos doentes UHD generalista no sistema de saúde privado portu-
avaliados, 66% (60 doentes) eram homens e 34% guês.
(30 doentes) eram mulheres, em que o doente mais
novo tinha 24 anos de idade e a mediana de idades Material e Métodos: análise retrospetiva dos inter-
foi de 51 anos. A média de dias de internamento namentos domiciliários durante o primeiro ano de
foi de 14 dias, sendo a moda de 8 dias. 51 doentes atividade da unidade.
(56%) apresentaram um CT inferior a 25, correspon-
dente a fase de virémia, com maior taxa de repli- Resultados: Durante o primeiro ano de atividade
cação. Dos doentes com CT inferior a 25, 10 (20%) verificaram-se 88 internamentos, 47,7% do géne-
tiveram admissão em UCI e 4 faleceram (7,8%), 3 ro feminino e 77,3 anos de idade média (mínimo
(5,8%) necessitaram de ventilação mecânica invasi- 22; máximo 100). A demora média de internamento
va (VMI) e 7 (13,7%) ventilação não invasiva (VNI). foi de 9,5 dias (mínimo 1; máximo 62) e a maioria
Relativamente às terapêuticas utilizadas, 22 doen- dos doentes provieram do serviço de atendimen-
tes (43,1%) efetuaram terapêutica com Remdesivir to permanente (42%) e de consultas domiciliárias
e 23 (45,1%) foram tratados com Dexametasona. (30,7%). Em 52,3% dos doentes verificou-se algum
Dos doentes com CT igual ou superior a 25 (40 grau de dependência. Destacou-se a pluripatolo-
doentes), 9 tiveram admissão em UCI (22,5%), sen- gia, a polifarmácia e complexidade crescente dos
do que 2 (5%) necessitaram de VMI e 6 (15%) VNI. doentes admitidos (MEWS médio 2,18; índice de
4 faleceram (10%).16 efetuaram terapêutica com Charlson médio 7,8). O diagnóstico mais frequente
Remdesivir (40%) e 21 doentes foram tratados com foi a infeção urinária a microorganismos problema
Dexametasona (52,5%). Conclusões: Apesar de CTs e/ou complicada. Em 88,6% dos doentes houve
mais elevados, verificaram-se mais óbitos nestes necessidade de terapêutica antimicrobiana domici-
doentes. Não obstante, são necessários mais estu- liária endovenosa. A comorbilidade mais frequente
dos para correlacionar o prognóstico e as sequelas foi a hipertensão arterial (76,1%). Registaram-se
da infeção de SARS-CoV2 a curto e a longo prazo. poucas intercorrências ao longo do internamento
Tratando-se de uma pandemia recente, com dados e em 4 casos (4,5%) houve necessidade de retorno
em crescendo e em constante mudança, as ilações ao hospital por agravamento clínico. Verificaram-se
a retirar são diariamente adaptadas e reajustadas 7 óbito (8%), todos em doentes com complexidade
em prol do benefício dos doentes, mantendo-se elevada (índice de Charlson médio 11,6). Na alta, a
uma aprendizagem constante para a comunidade maioria dos doentes foi referenciado para consulta
médica. de seguimento, encontrando-se bem aos 30 dias
após a alta.
CO n.º 3180 

178
COMUNICAÇÕES ORAIS
Conclusões: Este modelo de internamento tem tido em ERPI se encontravam polimedicados. Poste-
a capacidade de integrar um conjunto vasto de diag- riormente, construiu-se o modelo logístico, tendo
nósticos, com elevada satisfação para os doentes e como variável dependente a polimedicação, ajus-
a equipa. Existe um claro potencial de crescimento tado para a idade e para o sexo. Constatamos que
que já se encontra a ser explorado. Com vista ao a proveniência de ERPI (p-value = 0,006) é o valor
aumento do número de referenciações temos vindo estatisticamente mais significativo. De referir que
a realizar iniciativas de divulgação interna e uma este se compara com variáveis referentes a grupos
estreita colaboração com as equipas do atendi- patológicos como a diabetes (p-value = 0,010) ou a
mento permanente e do internamento. A aposta em patologias cardíacas (p-value=0,007). Além disso, é
modelos de telemonitorização poderá permitir a ex- relevante referir que o modelo apresenta uma boa
pansão da capacidade de internamento. adequação (Nagelkerke Square = 0,370).
CO n.º 3206  Conclusões: Com o aumento da esperança média
Médicos em ERPI - Uma necessidade presente e de vida e do número de ERPIs, torna-se evidente
futura que estas instituições apresentam necessidades
João Pedro Lázaro Mendes(1);Tânia Batista(1);Pau- de cuidados particulares. A existência de um mé-
la Manuel(1);Ana Lemos(1) dico com capacidade para abordar os problemas
(1) Centro Hospitalar Tondela-Viseu, EPE / Hospital destes utentes, que são na sua maioria doentes
de São Teotónio, EPE crónicos complexos polimedicados, revela-se uma
necessidade inadiável. Os nossos dados mostram
Tema: Medicina geriátrica que os doentes provenientes de ERPI encontram-se
mais polimedicados que igual população residente
Introdução: A pandemia de Covid-19 revelou debi- no domicílio. A melhoria deste indicador, com es-
lidades em diversos setores relacionados com a quemas adaptados à progressiva fragilidade dos
saúde que permanecerão após o fim da mesma. Um utentes, comprovadamente contribui para a melho-
dos problemas mais evidentes consiste na falta de ria de resultados clínicos e, até, económicos. Por
apoio médico especializado nas Estruturas Residen- esse motivo, há países em que o mesmo é utilizado
ciais Para Idosos (ERPI). Encontra-se estabelecido como indicador de qualidade das instituições. Na
que as pessoas institucionalizadas correm maior nossa opinião, o internista é o médico com maior
risco de tomarem cronicamente medicação inapro- competência para gerir estes esquemas terapêuti-
priada. Algumas séries estimam que perto de 50% cos complexos, não descurando que outros clínicos
dos utentes façam pelo menos 1 medicamento des- com formação em geriatria possam desempenhar
necessário. Para resolver este problema é neces- um papel relevante.  
sária uma cuidada revisão contínua da terapêutica.
Nesse sentido, vários estudos têm mostrado que o CO n.º 3227 
trabalho de clínicos especializados pode melhorar Risco tromboembólico nos doentes com COVID19
a qualidade de vida, reduzir os internamentos e a Rita Piteira(1);Joana Silvério Simões(1);Ana Teixei-
mortalidade global. Este processo, adaptado à fra- ra Reis(1);Emily González(1);Rui Coelho(1);Ricardo
gilidade e clínica do utente, pode exigir também a Pereira(1);António Pessoa(1);Vasyl Katerenchuk(1);-
introdução de novos regimes terapêuticos. Noemy Neves(1);António da Silva Inácio(1);Sara
Lopes(1);Jéni Quintal(1);Inês Catalão(1);Filipa Carre-
ga(1);Manuela Fera(1);Ermelinda Pedroso(1)
Material e Métodos:  Recolheu-se informação clíni- (1) Centro Hospitalar de Setúbal, EPE / Hospital de
ca relativa a uma amostra aleatória de 178 doentes São Bernardo
internados em enfermarias de medicina interna ao
longo de um ano, através da base de dados SClini- Tema: Doenças hematológicas
co. Para cada um dos doentes obtiveram-se dados
relativos à idade, sexo, proveniência (domicílio, Introdução: A incidência de tromboembolismo
ERPI...) comorbilidades prévias e realização de po- venoso (TEV) parece ser maior que nos doentes in-
limedicação em ambulatório, sendo esta definida ternados sem COVID19 com graus semelhantes de
pela toma de 5 ou mais compostos medicamento- gravidade de doença, mesmo sob anticoagulação
sos. Com esta informação contruiu-se uma base profilática. Tal pode ser justificado por um estado
de dados no programa Microsoft ExcelÒ. Poste- pró-trombótico induzido pela infeção por SARS-
riormente, utilizou-se o programa IBM SPSSÒ para -CoV2 parece estar relacionado com a resposta
obter estatísticas descritivas e para a construção de inflamatória do hospedeiro, exacerbada por uma
um modelo de regressão logística. Como valor de tempestade de citoquinas após uma infeção viral
referência para a rejeição da hipótese nula, utilizou- e também associada a disfunção endotelial conse-
-se um nível de significância < 0,05. quente.
Resultados: A média de idade da amostra foi de
79,64 anos. Quanto à proveniência, 119 (66,85%) ca- Objetivo: Identificação de indicadores preditivos de
sos residiam no domicílio, 56 (31,46%) em ERPI e 3 ocorrência de TEV em doentes internados por CO-
em Unidades de Cuidados Continuados (1,69%). De VID19 e impacto dos eventos trombóticos no outco-
forma agrupada, refere-se que 62,18% dos doentes me clínico.
provenientes do domicílio e 80,36% dos residentes

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 179


Material e Métodos: Estudo observacional retrospe- CO n.º 3241 
tivo, com recolha de dados do processo clínico dos Síndromes Autoinflamatórios no Adulto: Carac-
doentes internados com o diagnóstico de COVID19 terização de uma Coorte em Adultos num Centro
de 01/02/2021 a 31/03/2021 num hospital distrital. Terciário
Foi feita uma análise descritiva e estabelecida rela- António Lamas(1);Fátima Farinha(1);Raquel Faria(1)
ção com scores de gravidade e valores laboratoriais, (1) Centro Hospitalar do Porto, EPE / Hospital Geral
enquanto indicadores de desenvolvimento de TEV. de Santo António
Os outcomes avaliados foram a mortalidade e a du-
ração do internamento. Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e
vasculites
A análise estatística foi realizada através do progra-
ma IBM SPSS Statistics versão 26. Introdução: O crescente reconhecimento dos sín-
Resultados: Foram selecionados 377 doentes, sen- dromes autoinflamatórios (SAI) (ativação e resposta
do 191 do sexo masculino (50.7%), com uma me- desregulada da imunidade inata) levou à necessida-
diana de idades de 76 (AIQ 20) anos. Deste grupo, de de reorganização dos cuidados a estes doentes
39 (10.3%) apresentaram TEV, nomeadamente numa Consulta diferenciada para o Adulto.
tromboembolismo pulmonar (TEP) em 38 doentes
(10.1%) e trombose venosa profunda (TVP) em 5 Objetivos e Métodos: Caracterização demográfica,
(1.3%). Do total de eventos, 20 (5.3%) foram identi- clínica, genética e da terapêutica em curso em adul-
ficados logo na admissão e iniciada anticoagulação tos com SAI seguidos num centro terciário. Foram
terapêutica desde o início do internamento e 19 (5%) utilizadas Classificações Internacionais e os termos
desenvolveram TEV durante o internamento. SAI indefinida (uAID) para doentes com manifesta-
ções autoinflamatórias, a aguardar resultados de
No grupo de doentes a quem foi feito o diagnósti- mutações genéticas, e síndrome de febre recorrente
co de TEV durante o internamento, 13 (68.4%) foram indiferenciada (SURF) quando existem manifesta-
confirmados por exame de imagem, no entanto 6 ções autoinflamatórias e teste genético standard-of-
(31.6%) foram diagnósticos presuntivos, com base -practice negativo ou inconclusivo.
nos valores de D-Dímeros, agravamento da hipoxe-
mia e hipocápnia, em scores de probabilidade diag- Resultados: Incluídos 58 doentes, idade média 45,6
nóstica e na gravidade da doença de base (COVD19). anos (18-87 anos), predomínio feminino (60,3%,
n=35). A idade média de início da clínica foi de 30,1
Da investigação de indicadores de doença, apura-se anos (2-77 anos) e ao diagnóstico de 40,1 anos (9-
que uma elevação superior a 6 vezes valor dos D-Dí- 78 anos). O atraso diagnóstico foi em média 10,3
meros na admissão, é um preditivo da ocorrência de anos (0-50 anos). O curso da doença foi contínuo-
TEV intra-internamento (p<0.001). Doentes com TEV -recorrente em 62% dos doentes (n=36) e recorrente
durante o internamento, apresentavam valores mais em 19 doentes. As manifestações clínicas mais
elevados de Desidrogenase Láctica (p=0.066) e mais frequentes foram febre (67,2%, n=39), artralgias
baixos de fibrinogénio (p=0.05). Apresentavam tam- (67,2%, n=39), exantema (36,2%, n=21) e odinofagia
bém hipocápnia significativa (p=0.011) e hipoxemia (25,8%, n=15), e subida de parâmetros inflamatórios
mais marcada, avaliado pela PaO2/FiO2, (p=0.05) em 91,4% dos doentes (n=53). 
em comparação com os doentes internados por CO-
VID que não desenvolveram eventos trombóticos. Foi realizado teste genético em 72,4% dos doen-
tes (n=42) (Next Generation Sequencing (NGS) em
Parece haver uma tendência para que quanto maior 35). Detectadas mutações em 22 doentes, 59%
a gravidade do score de avaliação dos doentes com das quais (n=13) patológicas. 51,7% dos doentes
COVID19, maior o risco de TEV (0.888). (n=30) tem diagnóstico específico, e os restantes
com SURF (n=15) ou uAID (n=13). Dos doentes
Dos outcomes investigados, apura-se que apesar da com SURF, 40% (n=6) apresentavam mutações/
ocorrência de TEV ser um facto prolongador do inter- variantes de significado incerto. 19 doentes têm SAI
namento (p=0.008), não se verifica uma maior mor- definidas: 4 com FMF (febre mediterrânica familiar),
talidade neste grupo de doentes (P=0.511). Embora 2 com síndrome de Muckle-Wells, 1 com TRAPS,
estejam incluídos no grupo de doentes com gravida- 9 com doença de Still do adulto, 1 com PFAPA do
de elevada, nenhum dos doentes desta amostra teve adulto, 3 com SAPHO, 3 com défice de ADA2, 3 com
necessidade de internamento em UCI. angioedema hereditário tipo III com autoinflamação,
1 com VEXAS, 1 com sarcoidose juvenil/síndrome
Conclusão: Foi possível verificar que o TEV é alta-
de Blau e os restantes com desregulação imune
mente prevalente na população de doentes interna-
com manifestações autoinflamatórias. 
dos por COVID19 e que os D-dímeros são um impor-
tante preditor de doença. Existem vários motivos Estão sob terapêutica 84,5%: corticóides 36,7%
para a impossibilidade de confirmação imagiológica (n=18), colchicina 20,4% (n=10), anakinra em 18,4%
de tromboembolismo pulmonar, além da dificuldade (n=9), metotrexato 26,5% (n=13). Em remissão
logística, os que foram identificados neste grupo fo- 53,4% dos doentes (n=31), 29% (n=9) sem terapêu-
ram instabilidade hemodinâmica, a lesão renal, e a tica actual. Complicações: 3 doentes com infeção
alergia ao contraste. grave, 2 com síndrome hemofagocítico e 1 com

180
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
amiloidose sistémica AA. Houve 2 óbitos, um dos de 11,01 anos. No período em análise, faleceram 3
quais relacionado com complicações associadas à doentes. O SLEDAI médio foi 1,73 pontos (0-20), com
atividade inflamatória prolongada. 48,5% (n=245) com SLEDAI clínico de zero. O SLE-
-DAS médio foi 1,75 pontos. Estavam sob terapêu-
Discussão e Conclusões: O caráter multissistémico, tica imunomoduladora 90,3% dos doentes (n=456):
as heterogeneidades clínica e genética, associado 47,5% (n=240) sob CCT, com dose média de 5,78 mg
a fenótipos atenuados no adulto, dificultam o diag- de prednisolona/dia; 77,4% (n=391) sob hidroxiclo-
nóstico dos SAI, com atraso diagnóstico prolonga- roquina; 25,5% (n=129) sob cDMARD, 7,7% (n=39)
do. O diagnóstico e tratamento atempados poderão sob bDMARD; e 1,8% (n=9) com cDMARD e bD-
evitar complicações associadas a inflamação per- MARD combinados. 80% estavam em remissão SLE-
sistente, reforçando a necessidade de centros de -DAS (n=407), 48% em remissão DORIS Ron ou Roff
referência nacionais/internacionais na abordagem (n=224) e 38,5% em LLDAS (n=180). A concordância
destas patologias raras. das definições de atividade/remissão SLE-DAS e DO-
RIS neste coorte é 0,459 (p<0,001). 
CO n.º 3242 
Atividade e Remissão no Lúpus Eritematoso Sisté- Conclusões: Os dados refletem um coorte de longa
mico – Estudo Transversal num Centro Terciário duração, com cerca de metade dos doentes em re-
Joana Morais(1);António Lamas(2);Ivanna Osta- missão pelo critérios DORIS e 1/3  em baixa activi-
piuk(3);Fátima Farinha(2);Raquel Faria(2);Carlos dade de doença. Mais de metade dos doentes não
Vasconcelos(2) faz corticoterapia actual e mais de 2/3 fazem hidro-
(1) Unidade Local de Saúde de Matosinhos, EPE / xicloroquina. As definições de remissão têm vindo a
Hospital Pedro Hispano (2) Centro Hospitalar do evoluir e apesar de não haver ainda consenso inter-
Porto, EPE / Hospital Geral de Santo António (3) nacional, a sua avaliação em coortes como o nos-
Unidade Local de Saúde da Guarda, EPE / Hospital so, será extremamente útil para avaliar outcomes de
Sousa Martins estratégias que evitem dano e melhorem a qualidade
de vida dos doentes.
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e
vasculites

Introdução:  A avaliação de atividade e remissão


de doença no lúpus eritematoso sistémico (LES)
são desafios dada a heterogeneidade clínica entre
doentes, a variabilidade temporal no mesmo doente
e as estratégias terapêuticas que promovem ou di-
minuem a evolução para o dano.

Objetivo: Caracterizar atividade e remissão numa


coorte de doentes com LES em seguimento ativo
num centro terciário.
Material e Métodos: Estudo transversal de uma
coorte de adultos com LES, com seguimento ativo
num centro terciário entre 1 de Maio de 2020 e 1 de
Junho de 2021. Foram analisados: género, idade, ati-
vidade da doença (SLEDAI e SLE-DAS), duração de
doença, seguimento e terapêutica. Foram classifica-
dos segundo critérios da Definition Of Remission in
Systemic Lupus (DORIS) em remission on treatment
(Ron) para doentes com SLEDAI clínico (cSLEDAI) =
0 sob dose de prednisolona ≤ 5mg e/ou hidroxiclo-
roquina (HCQ) e/ou DMARD convencional/biológico
em doses de manutenção; remission off treatment
(Roff) para doentes com cSLEDAI = 0,  sem cortico-
terapia, que poderão ou não estar sob HCQ; segun-
do critérios de Low Lupus Disease Activity State para
doentes com SLEDAI ≤ 4, sob dose de prednisolona
≤ 7,5mg com ou sem DMARD convencional ou bioló-
gico; e segundo definição de remissão de SLE-DAS
para doentes com pontuação SLE-DAS ≤ 2,08. Análi-
se estatística: SPSS v27.0; p significativo <0,05. 
Resultados: Foram seguidos 505 doentes, com re-
lação homem:mulher de 1:8,5, idade média de 48,8
anos (18-95 anos) e 32,5 anos ao diagnóstico, tem-
po médio de doença de 15,72 anos e de follow-up
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 181
182
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
INDICE DE POSTERS COM APRESENTA- PA0359 - A manobra de Valsalva em doente com fora-
ÇÃO men ovale patente e acidente vascular cerebral
PA0017 - Cardiobacterium hominis: a rare cause of PA0362 - Caracterização dos utentes do Hospital de Dia
infective endocarditis de Medicina Interna durante um ano
PA0051 - Síndrome Maligno dos Neurolépticos PA0366 - QUANDO UM AVC SE TRATA COM PLASMAFE-
PA0056 - Hepatite e Lesão Renal Aguda – A Leptospiro- RESE
se como diagnóstico diferencial PA0367 - LOMBALGIA – A PONTA DO ICEBERG
PA0064 - Óbitos no Serviço de Urgência: Análise retros- PA0377 - “Vem por queda” – um caso de herpes zoster
petiva. PA0381 - BACTERIÉMIA POR KLEBSIELLA PNEUMO-
PA0068 - SARS-CoV-2 e Guillain-Barré: causa ou coinci- NIAE E AGORA?
dência? PA0419 - Mieloma múltiplo não secretor, uma variante
PA0079 - Hipocalémia grave – uma causa incomum rara no diagnóstico diferencial de lesões osteolíticas
PA0114 - Systemic autoimmune diseases mortality and PA0420 - Timing and prognostic impact of creatinine
its predictors variation on acute heart failure patients
PA0120 - Met(tira)lazona - um caso de vasculite PA0421 - Prognostic impact of acute heart failure and
PA0140 - Síndrome de Cotard: Mortuus sum! left ventricular dysfunction in acute coronary syndrome
PA0143 - Um agente invulgar como ponto de partida de PA0423 - CONFORMIDADE DA TERAPÊUTICA PALIATI-
endocardite infeciosa. VA NO FIM DE VIDA – ESTUDO NUMA ENFERMARIA DE
PA0171 - Necrose de gordura epipericárdica – uma cau- MEDICINA INTERNA
sa esquecida de dor torácica PA0425 - CETAMINA NA DEPRESSÃO – A PROPÓSITO
PA0189 - Seroconversão Hepatite B - a propósito de um DE UM CASO CLÍNICO
caso PA0437 - Vasculite cutânea induzida por propiltiouracilo
PA0194 - Anemia Hemolítica autoimune por anticorpos PA0440 - Otite media aguda, uma apresentação pouco
quentes: um diagnóstico pouco falado no doente idoso comum
PA0203 - COVID-19 EM DOENTES IMUNODEPRIMIDOS: PA0441 - Edema facial— nem sempre é reação alérgica!
DOIS CASOS CLÍNICOS PA0457 - Nem tudo o que parece é – um caso de artrite
PA0214 - Enteropatia perdedora de proteínas como gotosa
apresentação inicial de Lupus Eritematoso Sistémico PA0458 - Esclerose tuberosa - a medicina interna como
PA0228 - PNEUMOTÓRAX ESPONTÂNEO EM DOENTE centralizadora do diagnóstico
COM PNEUMONIA A COVID-19 PA0512 - Adenocarcinoma gástrico avançado diagnosti-
PA0229 - Meningoencefalite por Epstein-Barr: a propósi- cado em doente com anasarca
to de um caso clínico PA0513 - Um efeito inesperado
PA0232 - Estimulação Ovárica como causa de Eritema PA0532 - Rotura de placa aterosclerótica e AVC em
Nodoso: a propósito de um caso clínico infecção SARS-CoV-2
PA0239 - PAROTIDITE AGUDA UNILATERAL ASSOCIADA PA0536 - Metástase óssea isolada como apresentação
A VENTILAÇÃO NÃO-INVASIVA de Adenocarcinoma do reto
PA0249 - Hemorragia retroperitoneal espontânea em PA0550 - “Fotografia microbiológica” dos aspirados
doentes com infeção por SARS-COV-2 traqueais durante um semestre num hospital central
PA0251 - SÍNDROME ARTRITE-DERMATITE PA0551 - Prevenção e controlo de infeção - qual o real
PA0257 - Doença de Kikuchi-Fujimoto - um desafio a impacto na epidemiologia de um hospital central?
relembrar. PA0562 - SARS-CoV-2 – Infeção ou reinfeção, eis a
PA0259 - Do Campylobacter jejuni à Síndrome de questão!
Guilland-Barré por Ac Anti-recetor GABAA PA0573 - Sintomas psicoemocionais nos doentes com
PA0265 - Transmissão familiar da mutação ATP8B1 a Doença Hepática Avançada – atenção paliativa obriga-
propósito de colestase intrahepática da gravidez tória!
PA0274 - Hiperparatiroidismo terciário PA0577 - Fusobacterium necrophorum – um caso invul-
PA0292 - Uma causa pouco frequente de hemorragia gar
subaracnoidea PA0581 - ENCEFALITE A SARS-COV2
PA0354 - Sarcoma de Ewing de Localização Atípica PA0592 - CASO RARO DE OSTEONECROSE DA MANDI-
PA0356 - Variante da Síndrome de Guillain-Barré após BULA APÓS TRAUMA
infeção por Parvovírus B19 PA0595 - Atividade hospitalar, pandemia COVID-19 e

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 183


confinamento – double trouble? associação improvável
PA0614 - Os eventos trombóticos devem levantar a sus- PA0884 - A ecografia pulmonar na avaliação da conges-
peita diagnóstica tão em doentes com insuficiência cardíaca crónica.
PA0624 - Displasia Fibrótica Polióstica associada a Sín- PA0901 - Paniculite e Doença Relacionada com IgG4,
drome de McCune-Albright Dor Refratária
PA0632 - Peritoneal tuberculosis and granuloma disea- PA0914 - Pericardite bacteriana - um caso clínico
se: a review PA0918 - COVID19 e Aspergilose pulmonar: Um caso
PA0642 - De Alergia a Neoplasia – Síndrome da Veia clínico
Cava Superior PA0935 - The incidence of ST segment elevation myo-
PA0662 - Síndrome de Lofgren - uma apresentação cardial infarction during lockdown and prepandemic
atípica de Sarcoidose period
PA0669 - LINFANGITE CARCINOMATOSA: UMA APRE- PA0943 - Consulta de Hipertensão Arterial: complica-
SENTAÇÃO DRAMÁTICA ções vasculares com necessidade de hospitalização
PA0673 - SÍNDROME DE GUILLAIN-BARRÉ EM TEMPOS PA0947 - Quase sem mexer uma palha - o síndrome
DE PANDEMIA compartimental na doença de McArdle
PA0699 - Miocardiopatia dilatada por toxicidade de PA0949 - Lombalgia: desta vez é para internar
anagrelide PA0950 - Disgeusia induzida pela quimioterapia e as
PA0726 - Quando a biópsia é dispensável: um caso de suas consequências nocivas: um caso clínico
carcinoma hepatocelular PA0951 - Oclusão da artéria de Percheron - uma causa
PA0737 - Um Caso de Paniculite Pouco Comum rara de alteração do estado de consciência
PA0753 - Bicitopenia e Hepatoesplenomegalia - do pro- PA0978 - Síndrome inflamatória da órbita: nem tudo é
vável ao inusitado linfoma no linfoma
PA0760 - PNEUMONITE SECUNDÁRIA A INIBIDORES DE PA0995 - Cinco anos de Hospitalização Domiciliária:
CHECKPOINT IMUNOLÓGICO: ENTIDADE RARA COM Casuística de um serviço
INCIDÊNCIA CRESCENTE PA0996 - Miopatia necrotizante autoimune - Uma com-
PA0764 - CETOACIDOSE DIABÉTICA EUGLICÉMICA plicação rara no uso das estatinas
SECUNDÁRIA A INIBIDORES DO CO-TRANSPORTADOR PA1003 - MALÁRIA GRAVE: TOXICIDADE FARMACOLÓ-
SÓDIO-GLICOSE 2 GICA E ALTERNATIVAS TERAPÊUTICAS
PA0772 - Artrite séptica e eritema nodoso, duas conse- PA1018 - Estriatopatia Metabólica Diabética
quências de uma amigdalite bacteriana? PA1021 - COVID-19 e fatores de risco vascular: um estu-
PA0774 - Nutrição na demência avançada – uma (nova) do retrospetivo
velha preocupação... PA1026 - Fístula esofágica para o espaço intra-raquidia-
PA0776 - Avaliação do impacto da Síndrome Metabólica no, complicação incomum de uma neoplasia.
na consulta de Diabetologia PA1036 - The impact of transient and persistent acute
PA0792 - Esclerose Múltipla, Emergência Hipertensiva e kidney injury in-hospital mortality in COVID19 patients
Microangiopatia Trombótica: Qual a relação? PA1038 - Hipertensão Arterial Secundária a Feocromo-
PA0793 - Sarcoidose com trombose venosa cerebral – A citoma em doente com Neurofibromatose tipo 1
propósito de um caso clínico PA1041 - Arterite de Células Gigantes na Variante de
PA0798 - As múltiplas facetas do cancro do pulmão Grandes Vasos
PA0821 - SIADH secundária a antiparkinsonico, a ter em PA1052 - Doença rara ou coincidência inoportuna?
consideração PA1056 - Hepatopatia glicogénica: Um diagnóstico
PA0840 - Um caso de herpes zoster oftálmico ou uma inesperado
“série de desgraças”? PA1080 - SÍNDROME MALIGNO DOS NEUROLÉPTICOS E
PA0867 - ASPERGILOSE INVASIVA COMO COMPLICA- O SEU DESAFIO DIAGNÓSTICO
ÇÃO DE PNEUMONIA A SARS-CoV2 PA1085 - Suspeita imagiológica de COVID-19 em doen-
PA0875 - Pancreatite aguda sem elevação das enzimas tes oncológicos
pancreáticas PA1086 - O padrão de Brugada na COVID-19
PA0876 - Massas vertebrais - nem tudo é maligno. PA1088 - TROMBOSE DA VEIA PORTA – PREDISPOSI-
PA0877 - COVID-19 numa enfermaria de Medicina Inter- ÇÃO GENÉTICA E ADQUIRIDA
na - a realidade de 2 meses PA1091 - Diabetes Mellitus como fator agravante nos
PA0878 - Síndrome de Lemierre e actinomicose: uma doentes internados com COVID-19

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POSTERS COM APRESENTAÇÃO
PA1098 - Pseudoxantoma Elástico - um desafio diag- PA1296 - Doentes com HIV admitidos em Medicina
nóstico Intensiva - Estudo retrospetivo (1993 - 2019)
PA1101 - Complicação rara e potencialmente fatal da PA1298 - O que é raro é raro, mas acontece: linfoma
pielonefrite crónica extranodal de células NK/T tipo nasal
PA1117 - Síndrome de Wallenberg, uma entidade bicen- PA1309 - Metástases ósseas de neoplasia oculta: relato
tenária no homem de meia-idade de um caso
PA1121 - Meningite secundária a espondilodiscite: iatro- PA1310 - Fígado gordo agudo da gravidez – a propósito
genia da punção lombar? de dois casos clínicos
PA1123 - Flavimonas oryzihabitants – um agente causa- PA1312 - UM ANO APÓS EVENTO VASCULAR CERE-
dor de infeção a considerar BRAL AGUDO: ATINGIRAM OS DOENTES O VALOR ALVO
PA1125 - Sindroma de Platipneia ortodeoxia secundário DE COLESTEROL LDL?
a FOP PA1344 - Dispositivos invasivos - Casuística de uma
PA1127 - ESPONDILODISCITES NUM SERVIÇO DE MEDI- enfermaria
CINA DE UM HOSPITAL CENTRAL PA1357 - Dor Lombar Persistente
PA1130 - ABCESSOS HEPÁTICOS NO SERVIÇO DE MEDI- PA1366 - A Medicina Interna na 1ª vaga da pandemia
CINA DE UM HOSPITAL CENTRAL COVID-19 - Além da doença COVID-19
PA1141 - Dermatomiosite e discrasia plasmocitária. PA1371 - Uma Pseudoapendicite.
Causa ou consequência? PA1374 - Pancreatite de repetição associado a vasculite
PA1142 - QUANDO OLHAMOS, MAS NÃO VEMOS – UM ANCA MPO: a propósito de um caso clínico
CASO DE PERICARDITE PURULENTA FATAL PA1401 - Hipofosfatasia, uma causa rara de fraturas
PA1154 - Hérnia incisional com complicação inabitual ósseas
PA1165 - Alternativas aos circuitos convencionais na PA1427 - Lesões síncronas do delgado - desafio diag-
gestão do doente agudo não emergente nóstico
PA1178 - Acesso do doente crónico e os cuidados de PA1430 - Osteogénese imperfeita em adultos – a experi-
saúde na pandemia – o exemplo da insuficiência cardí- ência de um Centro Hospitalar Universitário
aca PA1468 - CUIDADOS PALIATIVOS EM DOENTES CRÓNI-
PA1180 - Poliangeíte Microscópica: Um caso de uma COS: ESTUDO RETROSPETIVO DA REFERENCIAÇÃO DA
Síndrome Pulmão-Rim MEDICINA INTERNA
PA1183 - Colite colagenosa - uma causa rara de diarreia PA1477 - Febre Tifóide – nem tudo o que parece uma
crónica Gastroenterite, o é
PA1204 - Pancreatite auto-imune - diagnóstico, implica- PA1487 - Glomerulonefrite crescêntica pauci-imune
ções e terapêutica ANCA-negativa – relato de um caso
PA1222 - Miopericardite aguda secundária à mesalazina PA1501 - Febre de difícil controlo
(5-ASA) na doença inflamatória intestinal (DII) PA1519 - Uma tríade na lesão renal aguda
PA1223 - Miosite orbitária no lúpus eritematoso sisté- PA1525 - Malária por P. falciparum passado 1 ano
mico PA1526 - Um Mal Que Veio Por Bem! - A Propósito de
PA1224 - Endocardite bacteriana complicada com en- um Caso Clínico
doftalmite e abcesso de Brodie PA1528 - Vasculite leucocitoclástica secundária a vaci-
PA1235 - A doença relacionada a IgG4 - Pancreatite nação contra o SARS-CoV2
auto-imune PA1554 - Um caso raro de cefaleia
PA1241 - Neuromielite óptica - a corrida contra o tempo PA1555 - Síndrome de Platipnea-Ortodeóxia, quando só
PA1245 - Deformidade do membro inferior pós-traumá- se está bem deitado
tico. A evolução para um sarcoma após 20 anos. PA1556 - Infeção por VIH - um diagnóstico diferencial
PA1246 - Uma Luz Ténue ao Fundo do Túnel: A Propósi- indispensável
to de um Caso de Retinite PA1566 - Recorrência de tromboembolismo pulmonar:
PA1247 - Um edema pulmonar diferente diferenças nas estratégias terapêuticas adoptadas?
PA1256 - Discinésia como sintoma inaugural de Diabe- PA1582 - MOVIMENTOS COREIFORMES AOS 81 ANOS:
tes mellitus SERÁ HUNTINGTON?
PA1275 - Vasculite associada a ANCA em doente com PA1598 - Pneumomediastino, pneumotórax e enfisema
Artrite Reumatoide: associação rara subcutâneo nos doentes COVID-19
PA1292 - Artropatia de Charcot ou Celulite? PA1619 - Síndrome de May-Thurner no Tromboembolis-

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 185


mo Pulmonar: Uma etiologia não tão incomum tro Hospitalar e Universitário
PA1622 - Potássio como predictor de outcome na insufi- PA1816 - Timoma com metastização extratorácica: Caso
ciência cardíaca com fração de ejeção preservada. clínico e breve revisão da literatura
PA1625 - Um caso de Hepatite Autoimune com múltiplas PA1828 - Comparação dos internamentos na Medicina
apresentações Interna de um hospital terciário, pré e pós-COVID-19
PA1629 - Abordagem prática de eritema nodoso, a pro- PA1840 - Just Lupus profundus?
pósito de um caso clínico PA1847 - Infeções da pele e tecidos moles: qual a práti-
PA1632 - Tumor de células pequenas redondas desmo- ca clínica? – Casuística de 2 anos
plásico: um caso clínico raro PA1853 - Systemic Lupus Erythematosus with Granulo-
PA1634 - A SÍNDROME DE GUILLAIN-BARRÉ ASSOCIA- matous Organ Involvement: A Challenging Case
DO COM INFEÇÃO POR SARS-COV-2 - A PROPÓSITO DE PA1855 - AVC NO JOVEM E A ETIOLOGIA ESCONDIDA.
UM CASO CLÍNICO PA1857 - Covid-19 adquirido na comunidade versus
PA1643 - Uma intoxicação aguda imprevisível - Ciame- adquirido no hospital – uma análise comparativa
mazina PA1858 - Miopericardite: uma sequela de COVID-19?
PA1644 - Síndrome de Fahr: a importância da integração PA1862 - Infeção de quisto renal multiloculado e os
clínica e imagiológica desafios da sua abordagem
PA1647 - Hemicoreia em contexto de mau controlo PA1863 - Hipertensão arterial secundária à toma de
glicémico infliximab
PA1649 - Paralisia hipercaliémica induzida por espirono- PA1865 - Infeção pulmonar por Mycobacterium chelo-
lactona: um caso raro nae: uma entidade rara?
PA1673 - Tricoleucócitos em local inusitado PA1869 - Eventos vasculares de acordo com a idade no
PA1685 - Desafios diagnósticos num caso de miosite doente hipertenso
com anticorpos anti-PM/Scl75 PA1878 - Hipercalcémia no Hiperparatiroidismo Primá-
PA1687 - “Systemic Capillary Leak Syndrome”: uma rio: uma causa de Demência Rapidamente Progressiva
causa rara de hipoalbuminémia PA1883 - Fraqueza generalizada em adulto jovem: a
PA1688 - Síndrome de Takotsubo por golpe de calor propósito de um caso clínico
PA1698 - Complicações neoplásicas na Colite Ulcerosa: PA1894 - Toxidermia secundária ao Remdesivir
quando nem tudo é agudização da doença PA1898 - Bacteriemia a Salmonella Entérica em doente
PA1700 - Varicela Disseminada COVID19
PA1702 - A importância da caracterização da dor PA1899 - PNEUMONIA ATÍPICA, HEPATITE COLESTÁTI-
PA1705 - Doença inflamatória intestinal no idoso: um CA E LESÃO RENAL AGUDA: UM CASO DE DUAS INFE-
desafio diagnóstico ÇÕES CONCOMITANTES
PA1710 - Diabetes mellitus numa enfermaria de Medici- PA1900 - Utilização de cateter pleuracan no hidrotórax
na Interna com contra-indicações para terapêutica diurética
PA1717 - Planeamento da alta hospitalar no Serviço de PA1902 - Dupilumab: a safe treatment option in refrac-
Medicina Interna tory prurigo nodularis
PA1719 - Da diarreia à febre Q...o Quê? PA1913 - Quando a recidiva tumoral é difícil de engolir
PA1721 - Miocardite fulminante na idade jovem – sin- PA1938 - Profissionais de saúde e acidentes com produ-
drome pos-COVID19. tos biológicos
PA1728 - Hepatite por Treponema pallidum – um achado PA1947 - Avaliação da utilização de carbapenemos num
ocasional serviço de medicina.
PA1730 - Sindrome Churg-Strauss – um caso clássico. PA1952 - Sífilis como causa de trombose femoral super-
PA1761 - Diarreia aguda por CMV em doente com leuce- ficial recorrente em doente duplamente antiagregada
mia por plasmócitos PA1963 - Hipertensão Arterial secundária e resistente:
PA1762 - Doença de Depósitos Densos– Uma Glomeru- preditora de hospitalização por complicação vascular
lopatia Rara Com Manifestações Comuns PA1972 - Abcesso primário da parede torácica
PA1776 - Efeitos Secundários nos iSGLT2 e nos aGLP1 – PA1973 - A articulação esternoclavicular pode queixar-
Um estudo retrospetivo -se…
PA1780 - Terapêutica com hidroxiureia: uma causa atípi- PA1976 - Um caso de iatrogenia…
ca de úlceras PA1985 - Manifestações gastrointestinais e hepáticas
PA1793 - Endocardite infeciosa, a realidade de um Cen- em doentes COVID-19: estudo retrospectivo

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POSTERS COM APRESENTAÇÃO
PA2019 - Será apenas gastrite? PA2277 - Quando a Anemia Hemolítica acompanha a
PA2038 - Défice de vitamina D – Uma causa rara de Esclerose Lateral Amiotrófica
acidose tubular renal proximal PA2282 - Porque é que os adultos com drepanocitose
PA2051 - Angiopatia Amilóide Cerebral – suspeição são internados?
diagnóstica em queixas neurológicas recorrente PA2287 - Endocardite infecciosa associada a pace-
PA2058 - Tuberculose Pleural – a personificação de uma maker: importância do diagnóstico atempado e controlo
marcha diagnóstica complexa de foco
PA2063 - Implante tumoral metastático de carcinoma PA2288 - VASCULITE: EFEITOS INDESEJADOS DA VACI-
hepatocelular – a importância dos Cuidados Paliativos NAÇÃO EM ERA SARS-COV2
PA2065 - Um raro caso de pineoblastoma no adulto PA2289 - Um olhar sobre o abcesso pulmonar: fatores
PA2095 - Sarcoma de Kaposi com envolvimento cutâneo de risco e preditores de resultado
e visceral como apresentação inicial de VIH PA2312 - Um raro caso de Metastização Óssea como
PA2100 - Rickettsiose como etiologia de febre de ori- apresentação de Carcinoma Gástrico
gem desconhecida PA2316 - RELAÇÃO UMBILICAL... A PROPÓSITO DE UM
PA2104 - Lesão renal aguda e infeção por SARS-COV2: CASO DE ESPONDILARTROPATIA PSORIÁTICA
análise retrospetiva. PA2322 - Tumor de Células Germinativas Extragonadal -
PA2106 - Sobreinfecção bacteriana em doentes CO- diagnóstico diferencial de massa retroperitoneal
VID-19: uma análise retrospectiva PA2328 - Valor dos D-dímeros em doentes com infeção
PA2122 - Síndrome de Budd-Chiari: O papel da venogra- por SARS-CoV2
fia PA2339 - Pneumonite de hipersensibilidade – quando é
PA2144 - Mastocitose Sistémica – um caso raro aquilo que parece
PA2146 - Quimioterapia: um efeito secundário inespera- PA2343 - “Intoxicação escombróide, a propósito de dois
do casos clínicos.”
PA2150 - Nem toda a tosse é COVID PA2346 - Pelagra: uma entidade reemergente no século
PA2152 - MIELITE TRANSVERSA LONGITUDINALMENTE XXI?
EXTENSA POR SARS-COV-2 DETECTADO EM LCR PA2348 - Impacto da pandemia COVID-19 nos indicado-
PA2177 - “Very Early” – Importância do diagnóstico res de um serviço de Medicina Interna.
atempado PA2349 - Escala de Fragilidade de Edmonton como fer-
PA2178 - COVID 19 em doentes hemodialisados - Carac- ramenta de identificação do idoso frágil
terização da população de um hospital distrital PA2370 - Tromboembolismo Pulmonar após a COVID-19
PA2179 - Glomerulonefrite crioglobulinémica num doen- PA2373 - Prevalência de sintomas gastrointestinais
te com hepatite B crónica numa população com COVID-19
PA2203 - Sarcoma de células redondas – um desafio PA2377 - Elevação das transaminases na infeção a SAR-
diagnóstico S-CoV-2: impacto na gravidade da doença e na mortali-
PA2207 - LINFOHISTIOCITOSE HEMOFAGOCÍTICA SE- dade
CUNDÁRIA A SÍNDROMA MIELODISPLÁSICA PA2382 - Hipoalbuminemia como preditor de gravidade
PA2227 - Metástase cerebral e sintomas neurológicos na COVID-19
como 1ª manifestação de Neoplasia Pulmonar - Casuís- PA2399 - Experiência de uma Equipa de Cuidados Palia-
tica tivos no doente internado com infeção por SARS-CoV2
PA2239 - SÍNDROME SEROTONINÉRGICA: A PROPÓSI- PA2406 - Pancreatite autoimune IgG4+: um desafio
TO DE UM CASO CLÍNICO diagnóstico que pode resultar em complicações perma-
PA2240 - Dermatose criptococóide: iododerma aguda nentes
após encerramento de apêndice auricular PA2412 - Tamponamento cardíaco como apresentação
PA2245 - Neurossífilis acidental - o desafio do diagnós- de uma neoplasia metastizada
tico PA2413 - Síndrome de Guillain-Barré, como apresenta-
PA2248 - Ameaça dupla - um caso de anemia perniciosa ção inicial de uma infeção por VIH.
concomitante com anemia hemolítica autoimune PA2419 - SARS-CoV2: um novo agente etiológico de
PA2261 - CALCINOSE CUTÂNEA EM DOENTE JOVEM: pancreatite aguda?
UMA ASSOCIAÇÃO INESPERADA PA2440 - A lenta resolução da listeriose
PA2273 - PANCITOPENIA POR INFEÇÃO A CITOMEGA- PA2443 - Doença de Weil - a importância de uma boa
LOVÍRUS NO ADULTO IMUNOCOMPETENTE anamnese e a necessidade de decidir atempadamente

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 187


PA2456 - Para além da Rabdomiólise PA2712 - A história familiar no carcinoma colorretal
PA2463 - Disfunção de órgão grave com p-ANCA positi- PA2713 - Correlação entre a dexametasona e presumível
vos sobreinfecção bacteriana - uma análise retrospectiva.
PA2471 - Índices de satisfação dos doentes e cuidado- PA2716 - Dano pulmonar por inalação crónica de peróxi-
res de numa Unidade de Hospitalização Domiciliária do de hidrogénio
PA2480 - A “Quarta idade” e a Prevalência da Prescrição PA2717 - Vasculite ANCA-MPO em doente com infeção
de Psicofármacos em Polifarmácia recente por SARS-CoV-2
PA2504 - Quadro consumptivo de origem cardíaca? PA2735 - Retratos da pandemia: utilização de oxigenote-
PA2505 - Síndrome Hipereosinofílico com envolvimento rapia por alto fluxo na enfermaria de Medicina Interna
multissistémico PA2740 - Tromboembolismo Pulmonar: Casuística de
PA2509 - Score de Wells versus Geneva revisto: compa- uma Unidade de Cuidados Intermédios Médicos
ração em doentes com COVID-19 PA2753 - O estado nutricional dos doentes das nossas
PA2514 - Choque séptico com etiologia obscura enfermarias
PA2522 - Dor abdominal, náuseas e vómitos – um diag- PA2760 - Profilaxia trombótica e doentes COVID
nóstico de exclusão PA2761 - METASTIZAÇÃO HEPÁTICA, PERITONEAL E
PA2526 - Encefalite por Vírus Varicela Zoster em doente PLEURAL COMO MIELOMA EXTRAMEDULAR
corticotratada PA2762 - Pseudoxantoma elasticum atípico - nem sem-
PA2532 - Abordagem da mordedura de víbora cornuda – pre à “flor da pele”
A propósito de um caso clínico PA2773 - Too much laugh will kill you – a propósito de
PA2543 - Púrpura e MM: crioglobulinemia tipo I como um caso clínico
manifestação dermatológica de discrasia plasmocitária PA2779 - Pneumomediastino e enfisema subcutâneo:
PA2551 - Doença de Castleman multicêntrica idiopática uma complicação inesperada num doente com CO-
em doente imunocomprometido VID-19
PA2560 - Sequelas pulmonares de doentes hospitaliza- PA2785 - Caracterização da mortalidade e cuidados de
dos por COVID-19 fim de vida em contexto de pandemia COVID-19
PA2581 - Agranulocitose secundária a metamizol - um PA2788 - AVC SECUNDÁRIO A VASCULITE EM DOENTE
reação rara com um final feliz COM IMUNODEFICIÊNCIA COMUM VARIÁVEL
PA2593 - Pseudotumor inflamatório do fígado – uma en- PA2789 - Da omalgia à neoplasia do pulmão
tidade rara e mimetizadora de neoformações malignas PA2812 - Infecções nosocomiais – antes e depois da
PA2603 - Nem tudo é acidente vascular cerebral! Pandemia
PA2607 - Hospitalização Domiciliária: Uma oportunidade PA2828 - Lesão renal aguda e síndrome nefrótica - uma
para os cuidados paliativos? associação rara na Macroglobulinémia de Waldenstrom
PA2612 - Síndrome de Encefalopatia Posterior Reversí- PA2852 - Linfoma de MALT e Helicobacter pylori – um
vel (PRES) caso clínico
PA2614 - AVC em jovem – uma causa metabólica PA2857 - Um caso de alteração do estado de consciên-
PA2632 - Acetazolamida: uma terapêutica promissora cia – uma causa inesperada
na diabetes insípida nefrogénica associada a lítio PA2858 - O trigo sarraceno como causa de psicose
PA2645 - Eficácia e segurança do Apremilast nas úlce- aguda
ras orais e/ou genitais refratárias na doença de Behçet PA2862 - Linfoma cerebral primário , linfoma difuso de
PA2646 - Pericardite Aguda e vacina Comirnaty: coinci- grandes células B.
dência ou causalidade? PA2863 - Pneumonia recidivante por Coxiella burnetti –
PA2648 - A 3ªvaga da pandemia COVID-19 num hospital um diagnóstico desafiante.
terciário: análise da ocorrência de eventos trombóticos PA2865 - Aortite como manifestação de mieloma múlti-
PA2652 - Manifestação ocular paraneoplásica de um plo
Linfoma B primário do Sistema Nervoso Central PA2871 - Tumor de Células Germinativas Extragonadal -
PA2681 - ARTERITE DE CÉLULAS GIGANTES - UMA diagnóstico diferencial de massa retroperitoneal
APRESENTAÇÃO COMUM, UM DESAFIO DIAGNÓSTICO PA2873 - DE UM EXAME DE ROTINA À TIROIDE AO
PA2687 - Choque hemorrágico após terapêutica fibrino- DIAGNÓSTICO DE TROMBOSE VENOSA CEREBRAL
lítica no contexto de Tromboembolismo pulmonar (TVC)
PA2705 - Porfíria Cutânea Tarda e Hemocromatose PA2878 - Hospitalização Domiciliária: um caminho para
Hereditária combater a polimedicação no idoso?

188
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
PA2880 - FEELINGS AND THOUGHTS ABOUT MULTI- PA3037 - Na pandemia COVID-19, não esquecer outras
MORBIDITY. A MULTINATIONAL SURVEY FOR EUROPE- causas de opacidades pulmonares em vidro despolido
AN INTERNISTS PA3040 - Histórias contadas pela análise sumária de
PA2890 - Um caso de meningite recorrente num doente urina
imunocompetente PA3045 - A ODISSEIA DA ESCHERICHIA COLI
PA2902 - DRESS to impress PA3048 - Tofacitinib na Dermatomiosite Refratária
PA2909 - Sarcoma de Kaposi com envolvimento disse- PA3051 - Corticoterapia inalada no tratamento da CO-
minado VID-19 moderada: um estudo comparativo
PA2914 - Anemia hemolitica tardia após tratamento com PA3061 - Embolização de placa aterosclerótica compli-
artesunato 3 casos clínicos com um único desfecho. cada de aortite infeciosa
PA2919 - Cardiopatia amiloidótica associada a macro- PA3066 - HTA maligna num doente sem diagnóstico de
globulinemia de Waldenström HTA
PA2932 - Pericardite como manifestação para o diag- PA3068 - Melanoma do esófago: uma causa rara de
nóstico de Doença de Lyme dispneia
PA2939 - QUANDO UM HELLP NÃO É O QUE PARECE PA3104 - Doença de Erdheim-Chester
PA2954 - Intoxicação por cafeína – o lado negro da su- PA3105 - Púrpura Trombocitopénica Imune - um trata-
plementação não regulamentada mento complexo e uma etiologia improvável
PA2956 - Toxicidade a amiodarona – diagnóstico dife- PA3111 - O Impacto da Monitorização Contínua da Glu-
rencial de infiltrados intersticiais em contexto pandémi- cose no controlo da Diabetes Mellitus
co PA3121 - Doenças Pulmonares Eosinofílicas – um mun-
PA2963 - Síndrome de Stauffer - uma entidade desco- do de diagnósticos diferenciais!
nhecida PA3127 - Síndrome de Wallenberg
PA2965 - Thrombocytopenia occurring after SARS- PA3135 - Encefalite Tuberculosa em Imunocompetente
-CoV-2 Moderna Vaccine PA3136 - Défice cognitivo por “Amyloid Spells” na Po-
PA2967 - Meningite pneumocócica: resistência ao Cef- lineuropatia Amiloidótica Familiar
triaxone – Estudo de prevalência PA3141 - Quando um hipopituitarismo precipita um
PA2971 - Metemoglobinemia secundária à dapsona: choque
efeito dose-dependente? – a propósito de um caso PA3153 - Doença de Lyme
clínico PA3200 - Tromboembolismo Pulmonar na era COVID-19:
PA2976 - Ortodeoxia-platipneia reversível num doente Estudo retrospetivo num hospital distrital
COVID – complicação rara da pandemia PA3205 - Lesão Renal Aguda em Doentes Internados
PA2979 - Fístula aorto-entérica com infecção a SARS-CoV-2
PA2986 - Um caso raro de AVC PA3212 - Hipertrigliceridemia secundária a heparina de
PA2994 - Trombocitopenia imune associada a COVID-19 baixo peso molecular
PA2995 - HERPES SIMPLEX 2: UM MIMETIZADOR A PA3213 - Covid-19 e desregulação do microbioma intes-
NÃO ESQUECER tinal - bacteriemia a Clostridium ramosum
PA3001 - Neurotoxicidade induzida por metronizadol: PA3216 - Uma Nova Reacção Adversa à Vacina ChadO-
Uma reação adversa rara x1-S?
PA3012 - Anemia hemolítica auto-imune induzida por PA3240 - Histiocitose de células de Langerhans - uma
amoxicilina/ácido clavulânico: relato de caso causa rara de dor óssea
PA3018 - Olmesartan como causa de enteropatia de má de
absorção PA2382 - Hipoalbuminemia como preditor de gravidade
PA3024 - Uma Cefaleia após um Jogo de Futebol na COVID-19
PA3025 - Uma Endocardite Elusiva: um peculiar caso PA2399 - Experiência de uma Equipa de Cuidados Palia-
clínico tivos no doente internado com infeção por SARS-CoV2
PA3030 - Infeção fulminante pós-esplenectomia por PA2406 - Pancreatite autoimune IgG4+: um desafio
Capnocytophaga spp diagnóstico que pode resultar em complicações perma-
PA3031 - O impacto da linfopenia na evolução e prog- nentes
nóstico de doentes com COVID 19 – análise retrospec- PA2412 - Tamponamento cardíaco como apresentação
tiva de uma neoplasia metastizada
PA3033 - Um caso de AVC em doente jovem PA2413 - Síndrome de Guillain-Barré, como apresenta-

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 189


ção inicial de uma infeção por VIH. PA2681 - ARTERITE DE CÉLULAS GIGANTES - UMA
PA2419 - SARS-CoV2: um novo agente etiológico de APRESENTAÇÃO COMUM, UM DESAFIO DIAGNÓSTICO
pancreatite aguda? PA2687 - Choque hemorrágico após terapêutica fibrino-
PA2440 - A lenta resolução da listeriose lítica no contexto de Tromboembolismo pulmonar
PA2443 - Doença de Weil - a importância de uma boa PA2705 - Porfíria Cutânea Tarda e Hemocromatose
anamnese e a necessidade de decidir atempadamente Hereditária
PA2456 - Para além da Rabdomiólise PA2712 - A história familiar no carcinoma colorretal
PA2463 - Disfunção de órgão grave com p-ANCA positi- PA2713 - Correlação entre a dexametasona e presumível
vos sobreinfecção bacteriana - uma análise retrospectiva.
PA2471 - Índices de satisfação dos doentes e cuidado- PA2716 - Dano pulmonar por inalação crónica de peróxi-
res de numa Unidade de Hospitalização Domiciliária do de hidrogénio
PA2480 - A “Quarta idade” e a Prevalência da Prescrição PA2717 - Vasculite ANCA-MPO em doente com infeção
de Psicofármacos em Polifarmácia recente por SARS-CoV-2
PA2504 - Quadro consumptivo de origem cardíaca? PA2735 - Retratos da pandemia: utilização de oxigenote-
PA2505 - Síndrome Hipereosinofílico com envolvimento rapia por alto fluxo na enfermaria de Medicina Interna
multissistémico PA2740 - Tromboembolismo Pulmonar: Casuística de
PA2509 - Score de Wells versus Geneva revisto: compa- uma Unidade de Cuidados Intermédios Médicos
ração em doentes com COVID-19 PA2753 - O estado nutricional dos doentes das nossas
PA2514 - Choque séptico com etiologia obscura enfermarias
PA2522 - Dor abdominal, náuseas e vómitos – um diag- PA2760 - Profilaxia trombótica e doentes COVID
nóstico de exclusão PA2761 - METASTIZAÇÃO HEPÁTICA, PERITONEAL E
PA2526 - Encefalite por Vírus Varicela Zoster em doente PLEURAL COMO MIELOMA EXTRAMEDULAR
corticotratada PA2762 - Pseudoxantoma elasticum atípico - nem sem-
PA2532 - Abordagem da mordedura de víbora cornuda – pre à “flor da pele”
A propósito de um caso clínico PA2773 - Too much laugh will kill you – a propósito de
PA2543 - Púrpura e MM: crioglobulinemia tipo I como um caso clínico
manifestação dermatológica de discrasia plasmocitária PA2779 - Pneumomediastino e enfisema subcutâneo:
PA2551 - Doença de Castleman multicêntrica idiopática uma complicação inesperada num doente com CO-
em doente imunocomprometido VID-19
PA2560 - Sequelas pulmonares de doentes hospitaliza- PA2785 - Caracterização da mortalidade e cuidados de
dos por COVID-19 fim de vida em contexto de pandemia COVID-19
PA2581 - Agranulocitose secundária a metamizol - um PA2788 - AVC SECUNDÁRIO A VASCULITE EM DOENTE
reação rara com um final feliz COM IMUNODEFICIÊNCIA COMUM VARIÁVEL
PA2593 - Pseudotumor inflamatório do fígado – uma en- PA2789 - Da omalgia à neoplasia do pulmão
tidade rara e mimetizadora de neoformações malignas PA2812 - Infecções nosocomiais – antes e depois da
PA2603 - Nem tudo é acidente vascular cerebral! Pandemia
PA2607 - Hospitalização Domiciliária: Uma oportunidade PA2828 - Lesão renal aguda e síndrome nefrótica - uma
para os cuidados paliativos? associação rara na Macroglobulinémia de Waldenstrom
PA2612 - Síndrome de Encefalopatia Posterior Reversí- PA2852 - Linfoma de MALT e Helicobacter pylori – um
vel (PRES) caso clínico
PA2614 - AVC em jovem – uma causa metabólica PA2857 - Um caso de alteração do estado de consciên-
PA2632 - Acetazolamida: uma terapêutica promissora cia – uma causa inesperada
na diabetes insípida nefrogénica associada a lítio PA2858 - O trigo sarraceno como causa de psicose
PA2645 - Eficácia e segurança do Apremilast nas úlce- aguda
ras orais e/ou genitais refratárias na doença de Behçet PA2862 - Linfoma cerebral primário , linfoma difuso de
PA2646 - Pericardite Aguda e vacina Comirnaty: coinci- grandes células B.
dência ou causalidade? PA2863 - Pneumonia recidivante por Coxiella burnetti –
PA2648 - A 3ªvaga da pandemia COVID-19 num hospital um diagnóstico desafiante.
terciário: análise da ocorrência de eventos trombóticos PA2865 - Aortite como manifestação de mieloma múlti-
PA2652 - Manifestação ocular paraneoplásica de um plo
Linfoma B primário do Sistema Nervoso Central PA2871 - Tumor de Células Germinativas Extragonadal -

190
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
diagnóstico diferencial de massa retroperitoneal PA3030 - Infeção fulminante pós-esplenectomia por
PA2873 - DE UM EXAME DE ROTINA À TIROIDE AO Capnocytophaga spp
DIAGNÓSTICO DE TROMBOSE VENOSA CEREBRAL PA3031 - O impacto da linfopenia na evolução e prog-
(TVC) nóstico de doentes com COVID 19 – análise retrospec-
PA2878 - Hospitalização Domiciliária: um caminho para tiva
combater a polimedicação no idoso? PA3033 - Um caso de AVC em doente jovem
PA2880 - FEELINGS AND THOUGHTS ABOUT MULTI- PA3037 - Na pandemia COVID-19, não esquecer outras
MORBIDITY. A MULTINATIONAL SURVEY FOR EUROPE- causas de opacidades pulmonares em vidro despolido
AN INTERNISTS PA3040 - Histórias contadas pela análise sumária de
PA2890 - Um caso de meningite recorrente num doente urina
imunocompetente PA3045 - A ODISSEIA DA ESCHERICHIA COLI
PA2902 - DRESS to impress PA3048 - Tofacitinib na Dermatomiosite Refratária
PA2909 - Sarcoma de Kaposi com envolvimento disse- PA3051 - Corticoterapia inalada no tratamento da CO-
minado VID-19 moderada: um estudo comparativo
PA2914 - Anemia hemolitica tardia após tratamento com PA3061 - Embolização de placa aterosclerótica compli-
artesunato 3 casos clínicos com um único desfecho. cada de aortite infeciosa
PA2919 - Cardiopatia amiloidótica associada a macro- PA3066 - HTA maligna num doente sem diagnóstico de
globulinemia de Waldenström HTA
PA2932 - Pericardite como manifestação para o diag- PA3068 - Melanoma do esófago: uma causa rara de
nóstico de Doença de Lyme dispneia
PA2939 - QUANDO UM HELLP NÃO É O QUE PARECE PA3104 - Doença de Erdheim-Chester
PA2954 - Intoxicação por cafeína – o lado negro da su- PA3105 - Púrpura Trombocitopénica Imune - um trata-
plementação não regulamentada mento complexo e uma etiologia improvável
PA2956 - Toxicidade a amiodarona – diagnóstico dife- PA3111 - O Impacto da Monitorização Contínua da Glu-
rencial de infiltrados intersticiais em contexto pandémi- cose no controlo da Diabetes Mellitus
co PA3121 - Doenças Pulmonares Eosinofílicas – um mun-
PA2963 - Síndrome de Stauffer - uma entidade desco- do de diagnósticos diferenciais!
nhecida PA3127 - Síndrome de Wallenberg
PA2965 - Thrombocytopenia occurring after SARS- PA3135 - Encefalite Tuberculosa em Imunocompetente
-CoV-2 Moderna Vaccine PA3136 - Défice cognitivo por “Amyloid Spells” na Po-
PA2967 - Meningite pneumocócica: resistência ao Cef- lineuropatia Amiloidótica Familiar
triaxone – Estudo de prevalência PA3141 - Quando um hipopituitarismo precipita um
PA2971 - Metemoglobinemia secundária à dapsona: choque
efeito dose-dependente? – a propósito de um caso PA3153 - Doença de Lyme
clínico PA3200 - Tromboembolismo Pulmonar na era COVID-19:
PA2976 - Ortodeoxia-platipneia reversível num doente Estudo retrospetivo num hospital distrital
COVID – complicação rara da pandemia PA3205 - Lesão Renal Aguda em Doentes Internados
PA2979 - Fístula aorto-entérica com infecção a SARS-CoV-2
PA2986 - Um caso raro de AVC PA3212 - Hipertrigliceridemia secundária a heparina de
PA2994 - Trombocitopenia imune associada a COVID-19 baixo peso molecular
PA2995 - HERPES SIMPLEX 2: UM MIMETIZADOR A PA3213 - Covid-19 e desregulação do microbioma intes-
NÃO ESQUECER tinal - bacteriemia a Clostridium ramosum
PA3001 - Neurotoxicidade induzida por metronizadol: PA3216 - Uma Nova Reacção Adversa à Vacina ChadO-
Uma reação adversa rara x1-S?
PA3012 - Anemia hemolítica auto-imune induzida por PA3240 - Histiocitose de células de Langerhans - uma
amoxicilina/ácido clavulânico: relato de caso causa rara de dor óssea
PA3018 - Olmesartan como causa de enteropatia de má
absorção
PA3024 - Uma Cefaleia após um Jogo de Futebol POSTERS COM APRESENTAÇÃO
PA n.º 0017 
PA3025 - Uma Endocardite Elusiva: um peculiar caso Cardiobacterium hominis: a rare cause of infective
clínico endocarditis

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 191


Cátia Oliveira(1);Isabel Campos(1);Carla Rodri- secundário dos agentes antipsicóticos, com uma in-
gues(1);Paulo Medeiros(1);Rui Flores(1);Fernando cidência de até 3% entre os seus utilizadores. É ca-
Mané(1);Rodrigo Silva(1);Carlos Braga(1);Alberto racterizado por alteração do estado de consciência,
Salgado(1) rigidez, febre e disautonomia. Analiticamente pode
(1) Hospital de Braga traduzir-se por uma elevação da creatinina cinase
(CK) sérica superior a 1000 U/L, existindo relação
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias direta entre o grau de elevação desta enzima, a gra-
vidade da doença e o prognóstico.

A 64 years old man with a previous history of aor-


tic valve replacement due to infective endocarditis Caso Clínico: Mulher de 81 anos, Clinical Frailty Sca-
(Meticillin-resistent Staphilococcos Aureus) resort- le 3, com antecedentes de psicose de início tardio
ed to the urgency service for inflammatory signs em personalidade com traços paranóides. Esteve
at the left leg. He was admitted with the diagnosis internada compulsivamente em hospital psiquiátrico
of soft tissue infection and started empiric therapy por surto psicótico e à data de alta medicada com
with flucloxacillin. Despite the improvement of the haloperidol e quetiapina. Foi admitida no serviço de
inflammatory signs, the patient had progressive urgência três dias após a alta por lentificação psi-
elevation of the inflammatory parameters. For this comotora em agravamento. À admissão apresen-
reason, patient underwent a transthoracic echocar- tava-se hipertérmica (temperatura auricular 37,8º),
diogram that showed two paraprosthetic leaks (not hipersudorética, com discurso lentificado e desorien-
previously known). In this context, a transesophagic tação, com tremor postural dos membros superiores
echocardiogram revealed a severe paraprosthetic e força muscular global diminuída. Além disso des-
leak with a dysfunctional prosthesis and a mass crita rigidez do pescoço para movimentos de flexão,
compatible with a vegetation at the aortic prosthe- extensão e rotação e bradicinesia global. Analitica-
sis. Patient had no signs of heart failure and started mente com rabdomiólise (CK 3355 U/L) e hiperlac-
vancomycin and gentamicin. After 2 weeks of cul- tacidemia (Lac 3,4). Foi assumido síndrome maligno
ture, hemocultures revealed the presence of Cardio- dos neurolépticos com pontuação de 57 em 100 na
bacterium hominis sp, a fastidious Gram-negative neuroleptic malignant syndrome scale. A medicação
bacillus member of the HACEK group of microor- antipsicótica foi suspensa, com melhoria neurológi-
ganisms. He started ceftriaxone and was oriented ca sustentada sendo possível a reintrodução lenta
to valve replacement which was performed with dos fármacos, em doses inferiores. Pela miopatia de
success. desuso associada a internamento prolongado, de 27
dias, a doente foi encaminhada para uma unidade de
convalescença para reabilitação.
Cardiobacterium hominis  is an infrequent cause of
endocarditis. It is a member of the HACEK group of Discussão: Neste caso é apresentado um exemplo de SMN
microorganisms (Haemophilus  species,  Actinobacil- numa doente com introdução recente de psicofármacos.
lus actinomycetemcomitans, C hominis, Eikenella cor- No entanto, sabe-se que apesar dos sintomas se
rodens  and  Kingella kingae). This group of bacteria desenvolverem geralmente durante as primeiras duas
are responsible for approximately 3% of communi- semanas de antipsicóticos, a associação do síndrome com
ty-acquired cases of endocarditis. Clinically, Cardio- o fármaco é idiossincrática. A SMN pode ocorrer após
bacterium hominis  endocarditis presents similar to uma única toma ou após vários anos de tratamento com
other causes of endocarditis, although it generally o mesmo agente na mesma dose. Assim, pretende-se a
follows a more prolonged course, with symptoms chamada de atenção para a clínica típica deste síndrome e
being present for weeks or months before a diagnosis a sensibilização para que este pode acontecer mesmo nos
is made. Most isolates of C hominis reported in the doentes em tratamento crónico com neurolépticos.
literature are sensitive to penicillin. Currently, third-
generation cephalosporins (such as ceftriaxone) PA n.º 0056 
are recommended as first-line therapy.   Surgery is Hepatite e Lesão Renal Aguda – A Leptospirose
in 40% of cases reported in the literature. This case como diagnóstico diferencial
illustrates the importance of a prolonged period of Catarina Elias(1);José Marques(1);Sergio Madurei-
incubation oh hemocultures in endocarditis and ra(1);Ana Raquel Neves(1);Rita Gouveia(1);Helena
remembers a rare cause of endocarditis. Rocha(1);João Rocha(1);Mariana Matos(1);Vanessa
Chaves(1);Jorge Almeida(1)
PA n.º 0051  (1) Centro Hospitalar de S. João, EPE
Síndrome Maligno dos Neurolépticos
Rute Brás Cruz(1);Diogo j. Silva(1);Cristina Rodri- Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
gues(1)
(1) Unidade Local de Saúde de Matosinhos, EPE / Introdução: A leptospirose é uma zoonose causada
Hospital Pedro Hispano por espiroquetas, sendo os humanos hospedeiros
acidentais que manifestam doença aguda com lar-
Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas go espectro de gravidade. A sua incidência é cres-
cente, mas provavelmente subestimada. As altera-
Introdução: O síndrome maligno dos neurolépticos ções climáticas, a urbanização de áreas rurais e as
(SMN) é um raro, mas potencialmente fatal efeito viagens intercontinentais sugerem que a incidência

192
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
venha a aumentar no nosso país. (SNS), com desafios constantes quer no que diz
respeito à doença aguda ou à agudização de uma
Caso Clínico: Mulher de 69 anos, sem antecedentes doença crónica em doentes com multicomorbilida-
de relevo. de. O principal objetivo deste estudo é apurar a taxa
de mortalidade no SU assim como caraterizar os
Recorreu ao serviço de urgência em novembro de doentes que aí falecem.
2020 por pico febril de 39ºC, dois episódios de vó-
mitos aquosos e mialgias sobretudo nos membros Material e Métodos: análise retrospetiva descritiva
inferiores. Apresentava escleróticas subictéricas. monocêntrica dos doentes que morreram primeiros
Analiticamente, trombocitopenia de novo (70 000 6 meses de 2018 num Serviço de Urgência (SU), com
plaquetas/uL), citocolestase hepática com hiperbi- registo no processo eletrónico.
lirrubinemia, sem coagulopatia, lesão renal aguda
(LRA) com Cr 2.47 mg/dL e proteína C reactiva Resultados: a taxa de mortalidade no SU foi 1,1%,
(PCR) de 131.9 mg/L. O exame sumário de urina o motivo pelo qual os doentes recorreram ao SU foi
não apresentava sinais de actividade ou infecção. principalmente por dificuldade respiratória 36,2%.
No ano prévio ao óbito 76,8% (n=142) dos doentes
Residia numa moradia jardinada junto de zona ar- tiveram pelo menos um episódio de urgência no hos-
borizada e referia alimentar regularmente gatos de pital, são doentes maioritariamente institucionaliza-
rua. Sem história de viagens recentes ou consumo dos, dependentes nas AVD’s, com plurimorbilidade
de produtos de ervanária e sem história familiar de associada. A principal causa de morte foi sépsis/
doença renal, hepática ou auto-imune. choque séptico 23,2% (n=43). O tempo mediano de
permanência no SU foi de 15h:24min. A definição do
Admitida para estudo. Foram pesquisadas serolo- teto terapêutico no SU assume a proporção de 1/3
gias de vírus hepatotrópicos (CMV, EBV, HSV1 e 2, nomeadamente em: 1/3 tomou-se a Decisão de Não
HIV, HCV e HBV) - negativas -, PCR de Coxiella, Bar- Reanimar (DNR), 1/3 decidiu-se iniciar medidas de
tonella, Borrelia e Leptospira e realizada ecografia conforto e 1/3 não foi definido qualquer teto terapêu-
abdominal que não revelou sinais de hepatopatia tico.
crónica. A PCR de Leptospira foi positiva no sangue
e na urina, confirmando diagnóstico de leptospirose. Discussão e Conclusão:
Foi medicada com ceftriaxone durante 7 dias com
resolução total das disfunções hematológica, hepá- A taxa de mortalidade no SU foi de 1,1% que é supe-
tica e renal e melhoria clínica. Foi realizada notifica- rior à identificada nos estudos internacionais prévios
ção no SINAVE. de 0,05%-0,47%. No entanto, reflete a taxa de morta-
lidade nacional de 1,1% e regional de 1,54% em 2018
Discussão: Apresentamos um caso de leptospirose assim como o facto de cerca de 60% dos óbitos
com sintomatologia ligeira mas com disfunções ocorrerem em instituições de saúde a nível nacional.
importantes e com presença concomitante do mi-
crorganismo no sangue e na urina, sugerindo doen- O presente estudo retrospetivo assume-se como
ça aguda com transição da fase septicémica para a sendo um dos primeiros estudos a nível nacional, a
fase imune. apresentar a taxa de mortalidade de um Serviço de
Urgência, caracterizar não só a causas de morte,
A manifestação inicial é uma síndrome clínica ines- assim como os principais sintomas que levaram os
pecífica, o que dificulta o diagnóstico precoce e o doentes a recorrer ao SU, fornece ainda dados sobre
reconhecimento sobretudo dos casos ligeiros. Nes- o tempo de permanência dos doentes no SU.
te sentido, devem ser pesquisados sinais clínicos
e laboratoriais que substanciem a suspeita, bem Ao contrário do que seria espectável, ao invés de fa-
como a história epidemiológica, que permitam um lecerem no SU os doentes com doenças mais gra-
início célere de antibioterapia, uma vez que esta pre- ves, os que realmente falecem no SU são os doentes
vine a progressão para doença severa e diminui a mais idosos, institucionalizados e com mais comor-
duração de sintomas. bilidades, com necessidade de definição de um teto
terapêutico pelos médicos do SU perante a dualida-
PA n.º 0064  de entre ortotanásia e distanásia.
Óbitos no Serviço de Urgência: Análise retros-
petiva. PA n.º 0068 
Sandra Ganchinho Lucas(1);Filipe Alfaiate(1);Miguel SARS-CoV-2 e Guillain-Barré: causa ou coincidên-
Carias(1);Diogo Dias(1);Inês Vieira Santos(1);IRE- cia?
NEIA LINO(1);Francisco Azevedo(2) Mafalda sá Pereira(1);Inês Marques(1);Rosa Al-
(1) Hospital do Espírito Santo, EPE, Évora (2) ME- ves(1);Filipa Monteiro(1);Pedro Correia Azevedo(1)
DIEV (1) Hospital Garcia de Orta, EPE
Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente crí- Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas
tico
Introdução
Introdução: O Serviço de Urgência desempenha
um papel importante no Serviço Nacional de Saúde

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 193


O síndrome de Guillain-Barré (GB) é frequentemente Tema: Doenças renais
pós-infecioso, e pode estar associado à infeção pelo
SARS-CoV-2. Raros casos de GB concomitante com Introdução:
a infeção por SARS-CoV-2 foram relatados.
Caso clínico A hipocalémia ocorre em 5,5-11% dos doentes ob-
servados no Serviço de Urgência (SU). No entanto,
Os autores apresentam um caso de um homem de a hipocalémia grave (<2,6 mmol/L) é rara e está fre-
65 anos, com história de hipertensão e dislipidemia, quentemente associada a desnutrição, iatrogenia
admitido por quadraparesia, de início súbito. As ma- diurética e vómitos prolongados.
nifestações tiveram inicio 5 dias antes, com diminui-
ção da força distal dos membros inferiores, progre- A prevalência do Síndrome de Gitelman (SG) estima-
dindo para proximal, culminando em quadraparesia e -se em 25 casos/milhão de habitantes, parte deles
paresia facial. Sem incontinência fecal ou alterações assintomáticos, embora cerca de 70% dos doentes
da sensibilidade. No dia anterior, terá apresentado refiram fadiga muscular e cãibras, e 50% noctúria e
febre, mialgias e astenia, sem outros sintomas.  poliúria.
Objectivamente encontrava-se febril, hemodinamica- Caso Clínico:
mente estável, com quadraparesia simétrica de pre-
domínio proximal, e paresia facial central. Reflexos Sexo masculino, 18 anos, com antecedentes de per-
osteo-tendionosos ausentes. Analiticamente a des- turbação do desenvolvimento intelectual e enurese
tacar PCR 6.19 mg/dL e LDH 291 UI/L. Gasimetria ar- secundária, recorreu ao SU por 3 episódios de vómi-
terial em ar ambiente com hipoxia pO2 61.8 mmHg. tos e parestesias da face.
Realizada tomografia computorizada (CT) cerebral e
cervical, sem alterações. Punção lombar identificou Ao exame objetivo, de salientar: pressão arterial
dissociação albumino-citologica. Pesquisa de exsu- 147/87mmHg; exame neurológico sem alterações.
dado nasal positiva para SARS-CoV-2. Analiticamente, apresentava hipocalémia grave (2,0
mmol/L), hipomagnesémia (0,74 mEq/L), hipofosfa-
O doente foi hospitalizado com o diagnostico de GB témia (2,3 mEq/L) e alcalose metabólica (pH 7,49);
concomitante com COVID-19. Iniciada imunoglobu- sem elevação de parâmetros inflamatórios nem dis-
lina ev, com melhoria da força muscular e paresia função renal. Electrocardiograma sem alterações.
facial.
Foi internado por hipocalémia desproporcional à
Investigação excluiu outros possíveis agentes: cultu- clínica de vómitos, verificando-se história de hipo-
ras de liquor, sangue e serologias negativas. Eletro- calémia, não estudada, desde 2012. Do estudo com-
miografia com alterações da condução  sugestivas plementar efetuado no internamento, confirmada
de GB. hipocalciúria (ratio cálcio/creatinina em urina oca-
sional: 24 mg/g) e potássio urinário compatível com
Para a pneumonia a SARS-CoV-2, o doente iniciou nefropatia perdedora de sal (32,6 mmol/L). Dosea-
oxigenoterapia e dexametasona 6mg/dia durante 10 mentos de vitamina D, paratormona, renina e aldoste-
dias. Ao 6º dia de internamento, desenvolveu insu- rona normais. Ecografia renal sem alterações.
ficiência respiratória grave, necessitando de venti-
lação não invasiva, e iniciou remdesivir. Apresentou Por quadro compatível com SG, iniciou tratamento
melhoria progressiva, possibilitando desmame ven- com espironolactona, cloreto de potássio e mag-
tilatorio e de oxigenoterapia, com alta após 2 sema- nésio, mas com resposta lenta à reposição, sendo
nas de internamento, sem necessidade de oxigénio e orientado para a consulta de Nefrologia após a alta.
com resolução dos sintomas neurológicos.
Discussão:
Discussão
A hipocalémia crónica, por norma pouco sintomáti-
A associação de GB com infeção concomitante por ca, pode agravar na presença de vómitos e diarreia,
SARS-CoV-2 parece ser rara. Este caso destaca a com consequências graves como arritmias e morte
necessidade da vigilância de sintomas neurológicos súbita.
em doentes com esta infeção, tanto durante, como
nas primeiras semanas após o quadro infecioso. O Este caso clínico pretende alertar para uma patolo-
GB tem apresentação variada e implica tratamento gia rara, associada a uma alteração analítica comum,
especifico, sendo a sua rápida identificação essen- cujo reconhecimento poderá prevenir complicações
cial para o prognóstico do doente. potencialmente fatais.

PA n.º 0079  PA n.º 0114 


Hipocalémia grave – uma causa incomum Systemic autoimmune diseases mortality and its
Leonor Silva(1);Catarina Almeida(1);José Mário predictors
Bastos(1);Tiago Guimarães Costa(1);Daniela Alfe- Joana Azevedo Carvalho(1);Leonor Boavida(1);Fre-
res(1);Ana Cristina Carneiro(1);Rute Lopes Caço- derico Batista(1);José Delgado Alves(1)
la(1);Pedro Caiano Gil(1) (1) Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca
(1) Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia / Espinho
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
194
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
culites As vasculites mais frequentes em Portugal são a
arterite temporal, as leucocitoclásticas cutâneas e
Autoimmune diseases are a group of inflammatory as secundárias a doenças autoimunes. Na maioria
systemic diseases associated with an increase mor- das situações a etiologia é iatrogénica ou infeciosa.
tality. Younger patients at childbirth age are affected Trata-se de uma doente de 77 anos com anteceden-
and, consequently, there is a significant reduction tes de insuficiência cardíaca com fração de ejeção
of quality-adjusted life years. Mortality impact has preservada, pacemaker VDDR por bloqueio AV per-
been changing due to better knowledge of the au- sistente sem doença do nódulo sinusal e fibrilhação
toimmunity mechanisms and more effective treat- auricular paroxística. Medicada com furosemida
ments. The purpose of this study is to evaluate the 40mg duas vezes por dia, omeprazol 20mg em je-
differences in the mortality of autoimmune diseases jum e rivaroxabano 15mg ao almoço.
and its predictors in a Portuguese cohort.
A doente deu entrada no serviço de urgência por
A retrospective cohort study of patients with a sys- palpitações com dois dias de evolução associadas
temic autoimmune disease was conducted, including a agravamento dos edemas dos membros infe-
a total of 493 patients. The diagnosis was based on riores. Analiticamente apresentava hiponatrémia
EULAR/ACR classification criteria. Comparative mor- hipoosmolar sem alterações na função renal e do
tality analysis was made between 12 autoimmune hemograma e com parâmetros inflamatórios nor-
diseases (systemic lupus erythematous, rheumatoid mais; no ECG apresentava fibrilhação auricular com
arthritis (RA), spondylarthritis, antiphospholipid syn- resposta ventricular rápida, sem sinais de isquemia
drome, systemic sclerosis (SS), Sjögren syndrome, aguda; no RX tórax derrame pleural bilateral simé-
mixed connective tissue disease, vasculitis, Behçet’s trico e ligeiro, sem condensações ou alterações
disease, primary biliary cirrhosis/autoimmune hepa- ósseas.
titis (PBC/AIH), autoimmune myositis and Still’s dis-
ease). Clinical variables reported to be associated Iniciou terapêutica diurética endovenosa com furo-
with mortality by log-rank test were included in a mul- semida e digoxina para controlo de frequência. Tem
tivariate Cox proportional hazard models. alta ao segundo dia de SU com metolazona 5mg id
e bisoprolol 5mg id.
The global mortality rate was 11.2% over 5.6±2.57
years mean follow-up, with a mean age of death of Ao segundo dia após alta do serviço de urgência, a
70.2±13.0 years. Patients with SLE, spondylarthritis, doente apresenta-se com sinais de vasculite cutâ-
Sjögren syndrome and antiphospholipid syndrome nea nos membros inferiores sem outras queixas,
had a tendency of lower risk of death comparing to nomeadamente respiratórias, urinárias, intestinais e
other eight autoimmune diseases. The main cause sem alterações da sensibilidade.
of death was infectious diseases [25.5% (n=14)] and
Pediu-se apoio à dermatologia que realizou biópsia
this cause of death was associated with RA (OR17.7,
cutânea e foi suspensa a metolazona. O estudo
95%CI 3.0-104.8, p0.002).   Heart failure (HR2.41,
imunológico revelou-se negativo, a biópsia cutânea
95%CI 1.09-5.35, p0.03), diabetes mellitus type II (HR
indicativa de vasculite leucocitoclástica e serologias
2.51, 95% CI 1.26-4.98, p0.009) and chronic kidney
de doenças HIV, hepatites e sífilis negativas.
disease (HR 3.86, 95% CI 1.44-10.36, p0.007) were
the only comorbidities to have a significant effect on A vasculite reverteu ao longo de uma semana sem
time to death in this population. sequelas aparentes.
The bimodal mortality curve associated with autoim- O diagnóstico e a identificação da etiologia da
mune diseases is changing. The first peak is disap- vasculite é difícil e frequentemente é necessária
pearing due to a better control of disease activity and uma abordagem multidisciplinar. Apenas com um
the second peak is growing with the longer survival diagnóstico assertivo será possível estabelecer um
and increasing number of older patients with chronic tratamento ou determinar uma evicção medica-
comorbidities. mentosa que leve à resolução do quadro clínico. É
fundamental existir um controlo dos indivíduos que
PA n.º 0120 
iniciam medicação de novo, nomeadamente, a me-
Met(tira)lazona - um caso de vasculite
tolazona.
Tiago Pais(1);Margarida Cabral(1);Hélia Martins(1);-
Catarina Domingues(1);Bruno Cabreiro(1);Daniela PA n.º 0140 
Antunes(1);Joana Filipe Leite(1) Síndrome de Cotard: Mortuus sum!
(1) Centro Hospitalar de Leiria / Hospital de Santo Sofia Perdigao(1);Ana Sofia Carvalho(2);Marta Lis-
André boa(1);Adelaide Moutinho(1);Cristiana Sousa(1);Fer-
nando Salvador(3)
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
(1) Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Dou-
culites
ro, EPE / Unidade Hospitalar de Chaves (2) Centro
Hospitalar do Tâmega e Sousa, EPE / Hospital Pa-
Os autores apresentam uma vasculite associada à dre Américo, Vale do Sousa (3) Centro Hospitalar de
toma de metolazona. Trás-os-Montes e Alto Douro, EPE / Hospital de Vila
Real

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 195


Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas mais. Este caso ilustra a infeção por um microrga-
nismo menos conhecido, com um local de infeção
A síndrome de Cotard é uma síndrome rara caracte- distinto dos habitualmente descrito.
rizada por delírio niilista sobre o próprio corpo. Tipi-
camente não é visto como uma entidade per se sur- Caso clínico: Doente de 43 anos, sexo masculino,
gindo associado a outras patologias subjacentes1. ex-toxicodependente de drogas injectáveis (negava
No entanto, a sua correta identificação torna-se vital consumos desde há 10 anos), sem animais de es-
pela fisiopatologia subjacente e terapêutica especí- timação, com uma endocardite prévia em 2017 por
fica, que pode mudar drasticamente o prognóstico Serratia marcescens. Recorreu ao serviço de urgên-
destes doentes1,2. O delírio niilista surge por vezes cia por dor abdominal, vómitos e febre. Realizou TC
descrito como um delírio humor congruente asso- abdomino-pélvico que mostrou pequeno enfarte re-
ciado a episódios depressivos com características nal e esplénico. Pelos antecedentes, colheu hemo-
psicóticas1. Apresenta-se o caso de uma mulher culturas e realizou ecocardiograma transtorácico
de 92 anos com índice de Katz de 0. Anteceden- que revelou alterações sugestivas de vegetações na
tes pessoais de hipertensão arterial, dislipidémia, válvula mitral. Nas hemoculturas é isolado um Sta-
hiperuricemia, síndrome demencial multifatorial, phylococcus intermedius multissensível. Assumiu-se
parkinsonismo, insuficiência cardíaca não estrati- o diagnóstico de endocardite infeciosa definitivo. O
ficada e uma fibrilhação auricular hipocoagulada. doente cumpriu 6 semanas de antibioterapia endove-
Recorre ao serviço de urgência segundo cuidadora, nosa com flucloxacilina, com melhoria clínica, analí-
por quadro de recusa alimentar com vários dias de tica e ecográfica, sendo encaminhado para a consul-
evolução e de alucinação visual associado a delírio ta externa para seguimento.
niilista, com referência à visualização de familiares
falecidos e crença de estar morta. Analiticamente Discussão: os autores descrevem este caso pela
apresentava uma sumária de urina com leucocitúria sua raridade na literatura, assim como para de-
25-50/campo e nitritos positivos compatível com monstrar a dificuldade em elucidar certos achados
cistite aguda, cumpriu antibioterapia com amoxicili- laboratoriais, nomeadamente o mecanismo de
na/ clavulanato, sem isolamentos microbianos, com infeção. Da mesma forma, embora seja um micror-
boa resposta. Após resolução do quadro infecioso, ganismo díspar, por norma, a resposta da antibiote-
e ainda em internamento, a doente apresentou rapia dirigida e a evolução são favoráveis.
períodos de agitação psicomotora, verbalizando
estar morta, e ter membros a apodrecer, mantendo PA n.º 0171 
a recusa alimentar neste contexto. Diagnosticada Necrose de gordura epipericárdica – uma causa
assim com síndrome de Cotard, iniciou risperidona esquecida de dor torácica
10 mg/dia com excelente resposta e reintrodução Mariana Lopes Matos(1);Luis Lemos(1);Pedro
gradual da dieta. Aquando da alta foi medicada com Lisboa(1);Ana Raquel Neves(1);Maria Helena Ro-
risperidona 10 mg de manhã, olanzapina 5 mg em cha(1);Marta Patacho(1);Jorge Almeida(1)
SOS e encaminhada para consulta de Neurologia. (1) Centro Hospitalar de S. João, EPE
O Síndrome de Cotard é uma entidade descrita há
Tema: Doenças cardiovasculares
mais de 100 anos, no entanto pouco estudada e do-
cumentada1, no extremo pode cursar com morte2, a
sua identificação correta e tratamento adequado é Introdução: A necrose da gordura epipericárdica
vital, alterando drasticamente o prognóstico destes é uma causa pouco conhecida e possivelmente
doentes. subdiagnosticada de dor torácica, principalmente
em indivíduos saudáveis. Apresenta-se como uma
dor torácica de características pleuríticas, sendo
PA n.º 0143 
diagnosticada através de tomografia computorizada
Um agente invulgar como ponto de partida de en-
(TC) do tórax com visualização de  lesão epipericár-
docardite infeciosa.
dica com densidade de gordura. Trata-se de uma
Filipa Torres Silva(1);Margarida Melo Cruz(1);Rui
doença autolimitada, tratada mediante administra-
Lopes de Carvalho(1);Cristiana Dias Pinto(1);Fernan-
ção de anti-inflamatórios não esteroides.
do Salvador(1)
(1) Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Dou-
ro, EPE / Hospital de Vila Real Caso Clínico: Doente do sexo feminino, 39 anos,
sem antecedentes pessoais relevantes. Recorreu ao
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias serviço de urgência por dor torácica retroesternal
pleurítica com semanas de evolução. Negava febre,
Introdução: O Staphylococcus intermedius é um tosse e dispneia. Do estudo efetuado na admissão,
agente ubiquitário da microbiota de cães. A sua a salientar analiticamente a presença de ligeira ele-
identificação em infeções na espécie humana é vação dos parâmetros de inflamação e radiografia
rara, sendo a verdadeira incidência desconhecida, torácica com pequena transparência sobreposta ao
uma vez que este patogéneo é frequentemente mal bordo esquerdo do coração. Ficou internada no ser-
identificado como um Staphylococcus aureus. A viço de Medicina Interna para estudo. Realizou TC
maior parte dos casos está relacionada com a mor- tórax que mostrou “área de densificação da gordura
dedura de cães, existindo, porém, casos descritos junto da vertente anterior do coração, compatível
de colonização de humanos sem contacto com ani- com necrose da gordura epicárdica”. Instituída tera-

196
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
pêutica anti inflamatória com melhoria das queixas (1) Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia / Espinho
álgicas, tendo alta do internamento orientada para
a consulta externa para reavaliação imagiológica Tema: Medicina geriátrica
após 2 meses.
Introdução:
Discussão: A necrose de gordura epipericárdica é
uma causa subdiagnosticada de dor torácica, sendo
muitas vezes confundida com outras condições, A prevalência da anemia hemolítica auto-imu-
tais como pericardite ou infeções respiratórias. No ne(AHAI) é de 1-3/100 000 doentes, ocorrendo em
entanto, trata-se de uma condição autolimitada e qualquer idade, com idade média ao diagnóstico de
com tratamento conservador. Este caso visa alertar 52 anos. A literatura é escassa em casos de AHAI em
para a sua existência e relembrar o seu tratamento. idosos, sobretudo em maiores de 80 anos.

PA n.º 0189  Caso Clínico:


Seroconversão Hepatite B - a propósito de um caso
Gabriela Venade(1);Joana Marques(1);Rita Soa- Homem, 91 anos, frailty scale 5, com antecedentes
res(1);Luis Costa Matos(1) de insuficiência cardíaca, dislipidemia e anemia fer-
(1) Centro Hospitalar Tondela-Viseu, EPE / Hospital ropénica crónica associada a erosão gástrica. Me-
de São Teotónio, EPE dicado com pantoprazol, furosemida, pravastatina e
ácido fólico.
Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá-
ticas Doente é internado por IC descompensada por ane-
mia agudizada, com clínica de dispneia, anorexia e
edemas periféricos com 1 semana de evolução, sem
A hepatite B crónica é uma causa importante de perdas hemáticas.
cirrose hepática e carcinoma hepatocelular. A sero-
conversão, cura, é o objetivo primordial. Esta pode Objetivamente: palidez mucocutânea, subictérico,
ser espontânea ou associada ao tratamento aplica- apirético, normotenso e normocárdico, com crepita-
do. Apesar de descrita é pouco frequente na prática ções bibasais, SatO2 90% e edemas maleolares bila-
clínica. terais.
Analiticamente com anemia macrocítica proliferati-
Caso Clínico: Homem de 46 anos, seguido em con-
va (Hb 6,6 g/dL; VGM 107 fL; IPR 1,8%) e hiperbilirru-
sulta externa de Medicina Interna - Hepatologia por
binemia direta (BT 1,99 mg/dL, BD 1,05mg/dL). Leu-
hepatite B crónica, portador inativo. Diagnóstico em
cograma, plaquetas, velocidade de sedimentação e
1993, método de contágio desconhecido. Seguido
restante estudo hepático normais.
em consulta desde 2005. Realizou biópsia hepática
que revelou lesões mínimas. Medicado com Lami- Do estudo da anemia, esfregaço de sangue periféri-
vudina 100mg id desde 2006. Manteve carga viral co sem alterações de relevo, cinética de ferro, vitami-
para VHB inferior a 20 IU/mL sustentada com pro- na B12 e ácido fólico normais. Teste antiglobulina di-
vas de função hepática (PFH) normais. Em 2011 foi reta positivo, com positividade para anticorpos (atc)
suspensa a Lamivudina. À reavaliação carga viral quentes (IgG+/C3d+). Desidrogenase do lactato 357
HBV 401IU/mL e transaminases normais. Não ini- U/L e Haptoglobunia <10mg/dL.  Apresentava hiper-
ciou nova terapêutica e manteve vigilância. Até 2015 gamaglobulinemia (1790 mg/dL), sem consumo de
doente perdeu seguimento da consulta e retomou complemento com atc anti-nucleares negativos. Ele-
nesse ano com manutenção das provas de função troforese proteínas normal. Hepatite B, C e VIH nega-
hepáticas normais e DNA VHB detetado mas inferior tivo. Estudo endoscópico com erosão bulbar.
a 20 IU/mL, com ecografia abdominal a revelar quis-
to biliar simples, sem outras alterações. Manteve-se Durante o internamento com melhoria clínica, neces-
assintomático, com PFH normais e sem deteção de sitando de transfusão de 2 unidades de hemácias
DNA VHB. Em 2018 repetiu serologias que revelaram em 2 ocasiões (7 dias de intervalo), com baixa ren-
antigénio HBs negativo e anticorpo HBs positivo, tabilidade.
confirmando-se a seroconversão. Reavaliado 1 ano
depois, com manutenção de seroconversão e PFH Após diagnóstico de AHAI por atc quentes, iniciou
normais. Apresenta-se assim um caso de um doente prednisolona 1mg/Kg/dia com boa resposta, sem
portador inativo do VHB que atinigiu a cura. Apesar novas transfusões, com agravamento da anemia
de pouco frequente importa lembrar esta possibilida- após desmame de corticoide. Não foi identificada
de e reavaliar as serologias quando os doente apre- nenhuma etiologia subjacente, limitando-se as técni-
sentam DNA viral sustentadamente não detetavel e cas de diagnóstico invasivas.
com PFH normais.
Conclusão:
PA n.º 0194 
Anemia Hemolítica autoimune por anticorpos quen- O início súbito da AHAI, a sua gravidade e natureza
tes: um diagnóstico pouco falado no doente idoso imprevisível, impõe um rápido diagnóstico e trata-
Leonor Silva(1);Renata Monteiro(1);Pedro Salva- mento. Em 50% dos casos, a AHAI é idiopática. O rá-
dor(1);Mariana Laranjeira(1);Rafaela Veríssimo(1) pido diagnóstico de AHAI permitiu iniciar tratamento,
com estabilização dos níveis de hemoglobina, evitan-
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 197
do transfusões regulares e garantindo a qualidade de Resendes Sousa(1);Nadine Monteiro(1);Helena Vic-
vida do idoso. torino(1);Sofia Marques Santos(1);Helena Cantan-
te(1)
PA n.º 0203  (1) Hospital dos Lusíadas Lisboa
COVID-19 EM DOENTES IMUNODEPRIMIDOS: DOIS
CASOS CLÍNICOS Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
Alexandra Esteves(1);Leonor Simões(1);Gonçalo culites
Alves Silva(1);Margarida Peixinho(1);Helena Temi-
do(1);Filomena Coelho(1);Saraiva da Cunha(1) Introdução:O Lupus Eritematoso Sistémico (LES)
(1) Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra / é uma doença autoimune, de apresentação clínica
Hospitais da Universidade de Coimbra variável, englobando desde manifestações mucocu-
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias tâneas ligeiras a doença multiorgânica grave. Quan-
do afecta o aparelho gastrointestinal, os sintomas
são habitualmente inespecíficos (náuseas, vómitos,
Introdução: O impacto do SARS-CoV-2 em doentes anorexia, dor abdominal e diarreia), atrasando o
imunodeprimidos ainda não está bem estudado. diagnóstico. 
Apresentamos dois casos de indivíduos imunodepri-
midos com suspeita de reativação ou reinfeção pelo
vírus. Caso clínico:Mulher de 66 anos com diagnóstico de
hipertensão essencial sob olmesartan, suspenso 1
mês antes do internamento por hipotensão.
Caso 1: Homem, 23 anos, com LLA (Leucemia
Linfoblástica Aguda) em quarta recidiva (realizou Recorreu ao Serviço de Urgência por diarreia aquosa
variadas terapêuticas imunossupressoras incluindo e perda ponderal (15Kgs), sem anorexia ou diminui-
alotransplante de medula óssea) recorre à urgência ção da ingesta, com 4 meses de evolução e edema
por febre e tosse. Testou positivo para SARS-CoV2 dos membros inferiores (no último mês). À admissão
dez dias antes. Durante o internamento desenvolveu em anasarca, com eritema malar e lesões maculopa-
insuficiência respiratória com necessidade de ven- pulares nas áreas foto expostas do tórax e membros.
tilação não invasiva. Após um mês de internamento
e múltiplas intercorrências teve alta, com critérios Analiticamente com anemia (hemoglobina 9.8 g/dL)
clínicos de cura. Um mês depois, é internado para normocítica, normocromica e hipoalbuminemia gra-
realização de tratamento de LLA durante o qual de- ve (1.4 mg/dL), sem alteração da enzimologia hepá-
senvolveu neutropenia febril e choque séptico com tica, função renal ou proteinuria.
necessidade de suporte de aminas (hemoculturas
com Geotrichum Capitalum). Por ausência de me- A tomografia computorizada revelou ascite, derrame
lhoria clínica, repetiu zaragatoa para SARS-Cov2 que pleural  bilateral, derrame pericárdico  ligeiro,  espes-
foi positiva em ciclos de amplificação baixos, com- samento gástrico e do íleo terminal e  os exames
patível com replicação ativa. Repetiu terapêutica endoscópicos com bióspia mostraram apenas alte-
com Remdesivir com melhoria clínica. Continuou a rações inflamatórias inespecíficas.
apresentar várias zaragatoas positivas, porém sem
Ao 10º dia de internamento verificou-se de leucope-
desenvolvimento de anticorpos específicos para
nia e de alopecia não cicatricial de novo.
SARS-CoV2.
O estudo analítico revelou a presença de anticorpos
Caso 2: Homem, 69 anos internado por diagnóstico
antinucleares com padrão fino granular (1:1280),
de Leucemia Mielóide Aguda em contexto de panci-
anticorpos anti-ribonucleoproteinas, anti-histonas e
topenia. Testou positivo para SARS-CoV2, estando
anti-B2 glicoproteína positivos, e hipocomplementé-
assintomático. Repetiu teste após dez dias com
mia.
resultado negativo. Após 1 mês do diagnóstico de-
senvolve tosse seca e insuficiência respiratória, em Admitido o diagnóstico de enteropatia perdedora de
apirexia, tendo realizado radiografia do tórax que proteínas (EPP) associada aoLES, iniciou metilpre-
mostrou infiltrados algodonosos bilaterais de novo. dnisolona 1g/dia durante 3 dias seguida de predni-
Repetiu zaragatoa tendo testado positivo (ao 12º solona 1mg/kg/dia commelhoria clínica. Mantém-
ciclo), desta vez com clínica respiratória exuberante -se assintomática em ambulatório, 4 meses após
e progressiva acabando o doente por falecer. a altaclínica, sob prednisolona 15mg/dia e azatiopri-
na 75mg/dia.
Discussão: Reforça-se a necessidade da criação de
guidelines sobre a abordagem de doentes imunode- Discussão:O presente caso tem como objetivo aler-
primidos com infeção SARS-CoV2 visto que o com- tar para a possibilidade diagnóstica de EPP em doen-
portamento do vírus, necessidades terapêuticas e tes com edema e hipoalbuminémia sem causa apa-
de isolamento poderão ser diferentes neste grupo rente.
de indivíduos.
A EPP associada ao LES é uma associação rara, po-
PA n.º 0214  dendo facilmente passar despercebida. Apresenta-
Enteropatia perdedora de proteínas como apresen- -se geralmente de forma inespecífica, com diarreia
tação inicial de Lupus Eritematoso Sistémico e sintomas derivados da hipoalbuminemia, podendo
Ana Cochicho Ramalho(1);João Carvalho(1);André
198
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
existir ou não a afecção de outros órgãos. O seu atra- PA n.º 0229 
so diagnóstico acarreta um pior prognóstico para Meningoencefalite por Epstein-Barr: a propósito de
uma situação potencialmente tratável. um caso clínico
Carolina José Matos Teixeira(1);Maria Beatriz San-
PA n.º 0228  tos(1);Pedro Cota(1);Susana Tânger Correia(1);Sofia
PNEUMOTÓRAX ESPONTÂNEO EM DOENTE COM Sequeira(1);Adriana Santos(1);Catarina Macha-
PNEUMONIA A COVID-19 do(1);Leonor Monjardino(1)
FGomes(1);Mariana Almeida(1);Carina Rama- (1) Hospital de Santo Espírito da Ilha Terceira
lho(1);Bruno Bonito(1);Bruno Nunes(1);Joaquim
Felisberto(1);Rodrigo Rufino(1);Daniela Luz Rodri- Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas
gues(1);Ruth Feio(1);Martinho Fernandes(1)
(1) Centro Hospitalar Barreiro/Montijo, EPE / Hospi- Introdução: O Epstein-Barr vírus (EBV) é um vírus de
tal Nossa Senhora do Rosário DNA humano, cuja clínica é habitualmente frustre,
Tema: Doenças respiratórias podendo dar origem à síndrome de monocucleose
infecciosa, ou manifestar-se de forma mais exu-
berante em doentes imunocomprometidos e nas
Introdução: A infeção por SARS-CoV-2, geralmente crianças. As complicações neurológicas são pouco
manifesta-se com Pneumonia. Ocorrência de Pneu- frequentes, ocorrendo apenas em 1-5% dos casos –
motórax é um evento raro entre as complicações de a complicação mais comum é a meningoencefalite
infeções pelo coronavírus (COVID-19) em pacientes e está frequentemente associada a linfomas do sis-
que não se encontram em ventilação invasiva. Caso tema nervoso central, carcinoma da nasorofaringe e
clínico: Homem, 70 anos, autónomo. Antecedentes doentes com síndrome de imunodeficiência adqui-
pessoais de Hipertensão arterial e dislipidemia. rida, sendo um achado raro em adultos imunocom-
Negava hábitos tabágicos. Recorreu ao Serviço de petentes. Não existem estudos sobre a eficácia de
Urgência por quadro de cansaço fácil aos pequenos tratamento com antivíricos e imunossupressores,
esforços físicos, dispneia progressiva e febre TT. no entanto, em estudos in vitro o aciclovir inibe a
39ºC com 4 dias de evolução. Doente com PCR a EBV DNA polimerase.
Sars-Cov2 positivo há 6 dias. Á admissão estava
vígil. Orientado TE. Febril TT 40.1ºC, taquicardico
130bpm, normotenso (TA 127/68mmHg). Polipnei- Caso clínico: Homem, 59 anos, com antecedentes
co com Sat.O2 86-88% AA. Sem alterações relevan- de tabagismo e etilismo. Recorreu ao Serviço de
tes no exame objetivo. Gasimetria arterial em ar Urgência por febre, disúria, sudorese noturna, hiper-
ambiente: pO2 55 com relação pO2/Fi02: 261. Ana- sensibilidade do couro cabeludo, tremor, exantema
liticamente salienta-se linfopenia 0.4x109/L; LDH maculopapular poupador de palmas e solas, pruri-
462UI/L; D-dímeros 26040 ng/ml e PCR 413 mg/L. ginoso generalizado e desequilíbrio da marcha. Ob-
Rx tórax revelou infiltrados pulmonares bilaterais. jetivamente destacava-se tremor de intenção, mo-
TAC tórax: Extensas áreas de densificação em vidro vimentos involuntários e desequilíbrio, sem outras
despolido de predomínio periférico, coalescentes alterações como sinais neurológicos focais ou me-
distribuídas por todos os lobos de ambos pulmões. níngeos. Analiticamente sem alterações de relevo.
Doente internado por Pneumonia a COVID-19 com Foi observado pela Neurologia e realizou tomografia
sobre-infeção bacteriana e insuficiência respiratória computorizada de crânio que não mostrou altera-
hipoxémica. Manteve-se hemodinamicamente está- ções e punção lombar que revelou líquor turvo, 275
vel com necessidade crescente de O2 por mascara cel/mm3 (98% mononucleares), glucose 45,5mg/dl
facial 08 a 10L. Ao D4 internamento por hipoxemia e proteinorráquia (237,76mg/dl), pelo que ficou inter-
mantida sob O2 por mascara de alto debito a 15 L, nado assumindo meningite viral. No líquor detetou-
inicia CPAP a 10mmHg com FiO2 70% que mante- -se EBV (carga viral 4.06 – Log (11528cópias/mL)) e
ve durante 7 dias, assistiu-se melhoria franca do no sangue, anticorpos Anti-EBV IgG positivos e IgM
quadro respiratório, pelo qual suspendeu-se CPAP. negativos. Completou 14 dias de aciclovir. Realizou
Ao D5 depois de suspensão de CPAP, quando já também, ressonância magnética encefálica que re-
estava recuperado com O2 a 3L por óculos nasais, velou captação leptomeníngea compatível com qua-
inicia o quadro súbito de dor torácica a direita e dro de meningite e um pequeno enfarte não recente
desaturação periférica de novo. Realizou Rx tórax cerebeloso esquerdo. Teve alta com melhoria clínica,
que evidenciou pneumotórax à direita, pelo que foi a ser reavaliado por neurologia.
colocado dreno torácico, removido as 72 horas após Discussão: A infeção por EBV é comum, tem tipica-
expansão pulmonar completa . Teve alta ao fim de mente um curso autolimitado e raramente associada
4 semanas de internamento, sem recidiva do pneu- com complicações. Por serem raras, o diagnóstico
motórax ou outras complicações respiratórias. Con- destas complicações implica um elevado grau de
clusão: Pneumotórax espontâneo apesar de ser suspeição. Este caso ilustra a importância do diag-
uma complicação rara (incidência 1%) em doentes nóstico diferencial etiológico abrangente para me-
com Pneumonia a COVID-19, deve ser lembrado em lhor abordagem e avaliação da evolução dos doen-
pacientes que, em fase de recuperação, apresentam tes que se apresentam com sintomas neurológicos
dor torácica súbita e dispneia de novo. Alertamos atípicos.
para importância de vigilância radiológica regular
durante o internamento dos doentes com COVID-19. PA n.º 0232 

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 199


Estimulação Ovárica como causa de Eritema Nodo- tal de Santa Maria
so: a propósito de um caso clínico
Ana Oliveira(1);Laura Sobral Baptista(1);Bárbara Pa- Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente crí-
racana(1);Valter Duarte(1);Gisela Gonçalves(1);Ta- tico
tiana Rodrigues(1)
(1) Centro Hospitalar do Baixo Vouga / Hospital In- INTRODUÇÃO
fante D. Pedro, EPE
Tema: Outro A ventilação não-invasiva (VNI) tornou-se uma tera-
pêutica de primeira linha para a insuficiência respira-
tória aguda hipoxémica, particularmente na infeção
INTRODUÇÃO por  SARS-CoV-2. O edema/inflamação das glându-
las parótidas tem sido pouco relatado na literatura
O eritema nodoso apresenta-se por nódulos eritema- como sua complicação.
tosos, dolorosos, por vezes associado a astenia, fe-
bre, artralgias e mau estar geral. Pode ser secundário CASO CLÍNICO
a infeções, fármacos, neoplasias e doenças inflama-
tórias ou idiopático. Para o tratamento eficaz é ne- Mulher de 85 anos, internada por pneumonia por SAR-
cessário identificar se o eritema nodoso está asso- S-CoV-2 com insuficiência respiratória parcial grave
ciado a outra etiologia. A história clínica completa e foi submetida a ventilação não-invasiva por pressão
o exame físico são a chave para o diagnóstico. Este positiva contínua (CPAP) com pressão máxima de
caso ilustra uma jovem sob hormonoterapia que 12 cmH2O. Ao 5º dia, verificou-se tumefacção pré-
desenvolveu um eritema nodoso após estimulação -auricular direita dolorosa com extensão retroauricu-
ovárica. lar e até ao gónion, com edema da hemiface direita,
sem purulência no canal de Sténon. Concomitante-
CASO CLÍNICO mente,  febre e aumento dos parâmetros inflamató-
rios (leucocitose neutrófila 20.800 x106/L, proteína C
Doente de 31 anos, sexo feminino, sob anticontrace- reativa 6.96 mg/dL). Iniciou antibioterapia empírica
tivo oral, enviada à consulta por nódulo doloroso, cor com flucloxacilina e metronidazol, sendo suspensa
avermelhada, localizado na região anterior do mem- a VNI. Serologia IgM positiva (título baixo) para vírus
bro inferior esquerdo com 7 semanas de evolução. Coxsackie admitida como possível reação cruzada.
Medicada com naproxeno 500mg com melhoria da Serologias negativas para restantes vírus, nomeada-
lesão. Quando é observada na consulta apresenta mente citomegalovirus, adenovírus, Epstein-Barr e
a lesão referida, cor violácea, no entanto apresenta paramyxovirus. Não foi possível realização de tomo-
lesão na região frontal, crostosa, cor avermelhada, grafia computorizada do pescoço por instabilidade
que a doente refere ter surgido há 3 semanas, sem clínica e exacerbação da hipoxemia grave.
trauma associado. Refere ter realizado estimulação
ovárica cerca de 2 semanas antes do aparecimento DISCUSSÃO
da primeira lesão. Analiticamente sem alterações de
relevo. Estudo virológico, serológico e autoimune ne- Dada a relação temporal do início da VNI com o de-
gativos. Radiografia de tórax normal. Aconselhada a senvolvimento de parotidite unilateral aguda com re-
não realizar estimulação ovárica até esclarecimento solução após a sua descontinuação, poderemos ad-
do diagnóstico e utilização de método contraceti- miti-la como fator etiológico subjacente/coadjuvante
vo não hormonal. Ao fim de 1 mês com resolução da parotidite aguda nesta doente. De facto, a VNI
das lesões anteriormente descritas e sem lesões de pode estar causalmente ligada ao desenvolvimento
novo. Reavaliada novamente após 3 meses da sus- de parotidite aguda, como já raramente descrito, pro-
pensão de métodos hormonais sem aparecimento vavelmente devido à transmissão de pressão positi-
de novas lesões cutâneas. va para a cavidade oral, causando obstrução do fluxo
salivar através do ducto parotídeo, contribuindo adi-
DISCUSSÃO  cionalmente a idade avançada, eventual desidrata-
ção, imunodepressão pela infeção por SARS-CoV-2 e
Este caso clínico ilustra um eritema nodoso secun- falta de estimulação salivar pela mastigação. Como
dário a estimulação ovárica. É uma causa de eritema o uso de VNI na insuficiência respiratória aguda é fre-
nodoso a considerar na mulher jovem sob esta tera- quente, é fundamental considerar essa complicação
pêutica, no entanto devem ser excluídas as causas possível em contextos de maior risco, no sentido de
infeciosas ou doenças inflamatórias. manter uma adequada hidratação e melhor adapta-
ção das máscaras à face, administrando adicional-
PA n.º 0239  mente a menor pressão positiva eficaz.
PAROTIDITE AGUDA UNILATERAL ASSOCIADA A
VENTILAÇÃO NÃO-INVASIVA PA n.º 0249 
Ana Cardoso(1);Nuno Carreira(1);Liliana r San- Hemorragia retroperitoneal espontânea em doentes
tos(1);Alexandra Wahnon(1);Ana Mafalda Abran- com infeção por SARS-COV-2
tes(1);Ana Furão Rodrigues(1);Ana Maria Bal- Catarina Carreira da Costa(1);Rita João Gonçal-
tazar(1);Catarina Gonçalves(1);Marisa Teixeira ves(2);João Cabo(2);Mário Pinto(3);Bruno Men-
Silva(1);António Pais Lacerda(1) des(3);Margarida Torres(2);Stepanka Betkova(2);E-
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi- ma Leal(2);André Dias(2);Inês Duarte(3);Sara
200
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
Lino(2);Maria José Manata(2);João Cardoso(3);Fer- A doença gonocócica invasiva resulta da dissemi-
nando Maltez(2) nação hematogénica da Neisseria gonorrhoeae. É
(1) Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Dou- uma apresentação rara, ocorrendo em 0,5 a 3% dos
ro, EPE / Unidade Hospitalar de Chaves (2) Centro doentes infetados e pode ter várias apresentações
Hospital de Lisboa Central, EPE/ Hospital Curry Ca- clínicas mimetizadoras de outras doenças.
bral (3) Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE /
Hospital de Santa Marta Os autores apresentam o caso de um homem de 43
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias anos que recorreu ao Serviço de Urgência por disú-
ria, febre, artralgias assimétricas de grandes articu-
lações e lesões cutâneas com 3 dias de evolução,
A hemorragia retroperitoneal está habitualmente sem escorrência uretral, após uma relação sexual
associada a trauma ou iatrogenia não farmacoló- desprotegida 2 dias antes. Numa primeira observa-
gica. Apesar de rara, a hemorragia pode ocorrer de ção foi medicado com levofloxacina na presunção
forma espontânea, sendo alguns dos fatores de de prostatite aguda e numa segunda, por persistên-
risco a hipocoagulação/antiagregação plaquetária cia de sintomas, com penicilina benzatínica por sus-
e a idade avançada. Também é conhecido que a peita de sífilis secundária.
infeção por SARS-CoV-2 está associada a distúrbios
da coagulação. Embora os fenómenos trombóticos Ao 6º dia de sintomas, por agravamento das quei-
sejam mais prevalentes, a existência de fenómenos xas, recorreu à consulta de Profilaxia Pré-Exposição
hemorrágicos está descrita, principalmente associa- (PrEP) para o Vírus da Imunodeficiência Humana
da a doentes críticos. (VIH), onde é seguido. Não tinha qualquer sinal de
artrite, mas tinha uma lesão pustulosa na eminência
Apresenta-se uma pequena série de três doentes tenar da mão esquerda e algumas lesões macu-
com idades compreendidas entre os 44 e os 83 lares eritematosas dispersas nos membros, bem
anos, que, em diferentes fases da sua infeção por como fasceíte plantar esquerda e entesite do joelho
SARS-CoV-2, desenvolveram hemorragia retroperi- direito. Foi assumida possível doença gonocócica
toneal espontânea. Por motivos diferentes, todos os invasiva dada a apresentação com a tríade clássica
doentes se encontravam hipocoagulados com eno- de artralgia/dermatite/tenossinovite, também deno-
xaparina em doses terapêuticas, estando um deles minada síndrome artrite - dermatite. Foram colhidos
também sob antiagregação plaquetária. Em dois dos produtos microbiológicos e iniciou ceftriaxone, que
três doentes, o quadro clínico apresentou-se como cumpriu durante 7 dias com resolução das queixas.
choque hemorrágico. Em todos os doentes foi rea- Do estudo efetuado, o teste de amplificação de
lizada tentativa de embolização arterial endovascu- ácidos nucleicos da N. gonorrhoeae foi positivo no
lar, no entanto num deles não foi encontrado ponto exsudado da lesão cutânea e na zaragatoa orofarín-
hemorrágico passível de embolização e outro teve gea. As hemoculturas foram negativas mas o doen-
de ser reintervencionado por recidiva da hemorragia. te já se encontrava no 3º dia de levofloxacina.
Em relação à infeção por SARS-CoV-2, um doente es- Apesar de rara, a doença gonocócica invasiva deve
tava assintomático, com diagnóstico em contexto de ser considerada na presença desta tríade clínica,
surto intra-hospitalar, tendo a hemorragia ocorrido ressalvando-se que a maioria dos doentes não apre-
ao quarto dia de diagnóstico; e dois doentes esta- senta sintomatologia compatível com uretrite recen-
vam em fase pós-doença crítica, ocorrendo a hemor- te. É necessária alta suspeição clínica e uma apu-
ragia após o 20º dia de doença (29º e 43º). Apenas o rada história clínica e exame objetivo. Nos doentes
doente mais novo e com apresentação da hemorra- sob PrEP, o índice de suspeição deve ser mais alto
gia sem choque associado sobreviveu. uma vez que a profilaxia incide unicamente sobre a
Os três casos clínicos apresentados diferem dos ca- transmissão do VIH.
sos descritos de fenómenos hemorrágicos associa- PA n.º 0257 
dos à infeção por SARS-CoV-2, por não se apresen- Doença de Kikuchi-Fujimoto - um desafio a relem-
tarem na fase hiperinflamatória. No entanto, apesar brar.
dos doentes apresentarem fatores de risco para he- Micaela Manuel(1);Andreia Teixeira(1);Carla Fon-
morragia retroperitoneal espontânea, como a hipo- tes(1);José Meireles(1)
coagulação, não se pode excluir que a infeção vírica (1) Centro Hospitalar de Entre Douro e Vouga, EPE /
possa ter contribuído para o quadro clínico. Hospital de S. Sebastião
PA n.º 0251  Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
SÍNDROME ARTRITE-DERMATITE culites
Ana p. Ferro(1);Joana Sousa Morais(2);João Paulo
Caldas(3);Cátia Caldas(3)
(1) Unidade Local de Saúde de Matosinhos, EPE / Doença de Kikuchi-Fujimoto (DKF) é uma causa
Hospital Pedro Hispano (2) Hospital de Braga (3) rara, benigna e auto-limitada de linfadenopatia (fre-
Centro Hospitalar de S. João, EPE quentemente cervical) que habitualmente afecta
mulheres jovens. O diagnóstico faz-se por biópsia
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias ganglionar, permitindo também fazer diagnóstico
diferencial de outras entidades como a doença lin-

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 201


foproliferativa e infecciosa, que apresentam carac- (ENS), eupneico sat 97%, TA 90/53 mmHg, FC 74
terísticas clínicas semelhantes, mas com evolução btm, com nova sincope no SU.
e conduta terapêutica distinta. A seguir, descreve-
mos um caso de Doença de Kikuchi sintomática Internado no serviço de medicina com múltiplas sin-
com múltiplas adenopatias.   copes sempre em ortostatismo e agravamento do
ENS com diminuição da força de predomínio distal
dos 4 membros, arreflexia osteotendinosa, anidrose
Mulher de 18 anos, autónoma, história familiar de e impotência.
Doença de Behçet. Enviada para Consulta de Medi-
cina Interna para estudo de adenopatias e hepato- Nas provas de disautonomia, apresentou na mano-
megalia em tomografia computadorizado (TAC); bra de valsava um decréscimo acentuado da tensão
clínica de dor abdominal recorrente na região do hi- arterial,  fasciculações musculares, discurso con-
pocôndrio direito, associada a anorexia e artralgia de fuso e amnésia ictal. Durante o internamento rea-
predomínio axial com rigidez matinal (duração <30 lizou, ecocardiograma, ecodoppler das carótidas,
minutos). Ao exame objetivo a salientar nódulos pal- Holter, EEG, colonoscopia total, RMN do neuroeixo,
páveis ao nível das cadeias cervicais bilaterais, axi- TC toraco-abdomino-pélvico sem alterações. EMG
lar à esquerda e inguinais bilaterais. Do estudo: sem compatível com polieuropatia sensitiva motora. Ana-
anemia, marcadores inflamatórios de fase aguda ne- liticamente serologias para os principais agentes in-
gativos; excluída causa imunológica, vírica e meta- feciosos, autoimunidade  e estudo endocrinológico
bólica; tomografia emissão de positrões (PET) com sem alterações. LCR com proteinorraquia 134 mg/dL
adenopatias cervicais, axilares e inguinais; estudo sem bandas oligoclonais, exame bacteriológico,  ví-
histológico do tecido ganglionar inguinal com hiper- rus neurotrópicos, Ac anti-antigénios onconeuronais
plasia folicular, sem áreas de necrose. Após 1 ano de e marcadores de encefalite autoimunes negativos.
seguimento em consulta, mantinha sintomatologia
associada a anorexia; repetido estudo etiológico que Após discussão com o serviço de neurologia intra-
manteve-se negativo. Por persistência de sintomas e e extra-hospitalar admitiu-se Síndrome de Guillain-
tendo excluída outras causas de adenopatias, assu- -Barré com predomínio autonómico. Pelo que iniciou
mida DKF em fase proliferativa e iniciada terapêutica terapêutica com fludrocortisona com melhoria do
com prednisolona 1mg/Kg/dia com resolução dos perfil tensional e imunoglobulina com melhoria fran-
sintomas.  ca de sinais e sintomas, realizou ainda plasmafere-
se sem benefício. O doente teve alta para a consul-
O estudo das adenopatias é um desafio diário da ta mantendo imunoglobulina mensal, ao sexto mês
Consulta de Medicina Interna, podendo inicialmente apresenta Ac. Campylobacter jejuni e Ac Anti-recetor
ser inconclusivo (mesmo com estudo histopatológi- GABAA IgG’s positivos, previamente negativos.
co) e com necessidade de manter follow-up pela pro-
babilidade de aparecer patologias como por exem- Neste caso o diagnóstico diferencial das sincopes re-
plo, do foro imunológico. A DKF mostra-se como velou uma polineuropatia de predomínio autonómico
uma entidade de exclusão e que nem sempre a bióp- como apresentação atípica da síndrome de Guillain-
sia ganglionar é conclusiva (como neste caso), ha- -Barré. A infeção C. jejuni precede 30% dos casos de
vendo necessidade de manter seguimento e muitas Síndrome de Guillain-Barré. Apesar de estar descrito
vezes, repetição do estudo etiológico para estabele- um caso de Síndrome de Guillan-barré associado a
cer o diagnóstico e pela possibilidade de recorrência Ac Anti-recetor GABAA, este é o primeiro relato que
da doença ou desenvolvimento de processos autoi- demonstra a associação com a infeção por Campylo-
munes a qual está frequentemente associado, como bacter jejuni.
lúpus eritematoso sistémico.
PA n.º 0265 
PA n.º 0259  Transmissão familiar da mutação ATP8B1 a propó-
Do Campylobacter jejuni à Síndrome de Guilland- sito de colestase intrahepática da gravidez
-Barré por Ac Anti-recetor GABAA Rute Brás Cruz(1);Cecília Moreira(1);Dina Fernandes
Sandra Ganchinho Lucas(1);Filipe Alfaiate(1);Diogo Neto(1);Filipe Teixeira Andrade(1)
Dias(1);IRENEIA LINO(1) (1) Unidade Local de Saúde de Matosinhos, EPE /
(1) Hospital do Espírito Santo, EPE, Évora Hospital Pedro Hispano
Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá-
ticas
As síncopes caracterizam-se pela perda transitória
da consciência causada por hipoperfusão cerebral. A colestase intra-hepática da gravidez (CIHG) é o
A sincope pode ser classificada segundo a sua etio- distúrbio hepático mais comum no 3º trimestre de
logia cardíaca, neuromediada e causada por hipo- gravidez. É caracterizada por prurido, citocolestase
tensão ortostática. e níveis elevados de ácidos biliares (AB) que ge-
ralmente resolvem 3 meses pós-parto, mas pode
Homem de 54 anos, saudável até ao mês prévio com apresentar-se de forma grave com maior morbi-
internamento por gastroenterite, desde então com 9 mortalidade para a mãe e para o feto. A etiologia
sincopes motivo pelo qual recorre ao SU. Na admis- da doença é ainda mal esclarecida mas estima-se
são sem alterações no exame neurológico sumário que envolva hipersensibilidade ao estrogénio ou

202
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
metabolitos de progesterona. Mutações ou polimor- submetida a cirurgia de derivação biliopancreática
fismos de proteínas de transporte hepatobiliar tam- há 12 anos e acidente de trabalho tendo ficado aca-
bém podem estar associados, com consequências mada desde os 48 anos.  Análises: cálcio sérico no li-
a médio-longo prazo, motivo pelo qual o seguimento mite superior da normalidade; PTH com valor 5 vezes
médico pós parto desta patologia é fundamental. superior ao valor normal; défice grave de vitamina D,
ácido fólico, ferro, fosfato e de magnésio. Cintigrama
Apresentamos o caso clínico de uma mulher de ósseo a revelar intensa hiperactividade em múltiplas
38 anos, grávida pela 2ª vez, com 18 semanas (S) localizações do esqueleto. Ressonância magnética
de gestação que é encaminhada para a consulta da coluna dorsolombar a revelar reabsorção óssea
externa (CE) de Medicina Interna após apresentar de localização múltipla (possível osteíte fibrosa cís-
clínica de prurido palmo-plantar de agravamento tica). Tomografia computorizada sem evidência de
noturno recente. Inicialmente sem alterações do metastização. Ecografia cervical sem evidência de
perfil hepático, mas AB=16 u/g. Foram excluídas nódulo das glândulas paratiróides. Cintigrafia das
causas víricas, metabólicas e auto-imunes. Apesar glândulas paratiróides a revelar captação anómala
de precoce, assumida clínica típica de CIHG e inicia- do fármaco a nível do polo inferior do lobo direito
do ácido ursodesoxicólico com melhoria. A restante da tiroide, compatível com a existência de adeno-
gravidez decorreu sem intercorrências. Do estudo ma da paratiróide inferior direita. Portanto, doente
genético, com mutação em heterozigotia para com síndrome de mal absorção com hipovitamino-
ATP8B1, enquadrável em colestase intra-hepática se D sequelar a cirurgia bariátrica com contributo
recorrente benigna (BRIC1). Revendo a sua história de exposição solar praticamente nula resultante de
familiar, a doente tem um filho submetido a cole- imobilização prolongada. O hiperparatiroidismo se-
cistectomia aos 13 anos por litíase. Nesse encalce cundário não está associado a valores tão elevados
foi convocado o filho para CE e do estudo genético de PTH. O carcinoma da paratiróide apresenta valo-
realizado também com mutação em heterozigotia res muito elevados de PTH e massa irregular com
para ATP8B1. dimensões superiores a 3 cm. Tendo em conta qua-
dro clínico arrastado e exames complementares de
Discussão: A BRIC1 é caracterizada por episódios diagnóstico descritos foi colocada como hipótese
colestáticos intermitentes, seguidos de normaliza- diagnóstica principal hiperparatiroidismo terciário.
ção clínica e analítica e estão descritas associações Referenciada para remoção de adenoma da glândula
entre BRIC-1 e CIHG. Surpreendentemente, a muta- paratiróide. Enquanto aguardava marcação da inter-
ção ATP8B1 em questão está também associada a venção cirúrgica a doente desenvolveu pielonefrite
mutações dos genes relacionados com a Colestase renal obstrutiva com choque séptico tendo vindo a
Intra-Hepática Familiar Progressiva (PFIC) 1 e 2, por falecer.
sua vez associadas a colestase com risco de vida
e um risco acrescido de carcinoma hepatocelular. A cirurgia bariátrica pode causar complicações nutri-
Assim, com o seguimento adequado da CIHG mais cionais importantes que derivam da má absorção de
uma história clínica completa foi possível identificar nutrientes essenciais. 
precocemente uma alteração genética e realizar um PA n.º 0292 
seguimento adequado. Uma causa pouco frequente de hemorragia suba-
PA n.º 0274  racnoidea
Hiperparatiroidismo terciário Ana Rodrigues(1);Cláudia Diogo(1);Carolina Fer-
Carolina Fernandes(1);Joana Gonçalves(1);Cláudia nandes(1);Ana Catarina Domingues(1);Daniela
Diogo(1);Bruno Cabreiro(1);Vera Vieira(1);Maria Je- Antunes(1);Tiago Pais(1);Bruno Cabreiro(1);Anton
sus Banza(1) Vasin(1);Maria Jesus Banza(1)
(1) Centro Hospitalar de Leiria / Hospital de Santo (1) Centro Hospitalar de Leiria / Hospital de Santo
André André

Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio- Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas


nais
A hemorragia subaracnoidea (HSA) é causada por
O hiperparatiroidismo terciário é uma entidade rara extravasamento de sangue entre a aracnoide e a
que cursa com o aumento do valor de cálcio sérico pia-máter. Em geral,  o traumatismo craniano é a
e aumento inapropriado da hormona paratiroideia causa mais comum.
(PTH). Surge após prolongado hiperparatiroidismo
secundário, fazendo com que as glândulas atuem As disseções do segmento intracraniano(DIC) da ar-
autonomamente após alteração hiperplásica ou téria vertebral(AV) são lesões pouco comuns, tendo
adenomatosa. Há secreção exagerada de PTH não como principal consequência acidente vascular ce-
limitada por controlo de feedback. rebral(AVC) da circulação posterior com isquemias
do tronco cerebral e hemisférios cerebelares, A as-
Descreve-se caso de doente do sexo feminino com sociação de DIC com HSA  é uma ocorrência ainda
50 anos internada para estudo de fratura patológica menos comum com frequência de 4,5% de todas
na vertebra dorsal 11. Antecedentes de litíase renal as HSA, que têm risco de ressangramento nas pri-
com pielonefrites recorrentes, obesidade mórbida meiras 24h, em torno de 24% e 30% e uma taxa de

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 203


mortalidade elevada na ordem de 45%. As DIC por si nal dolorosa com cerca de 3 meses de evolução.
só têm um prognóstico mais reservado, sobretudo
se tiverem apresentação hemorrágica. Do exame objetivo destaca-se abdómen doloroso à
palpação do hipocôndrio direito, onde se verifica he-
Os autores trazem o caso de um doente, 45 anos, patomegalia dura e com bordos regulares a cerca de
autónomo, com antecedentes pessoais de dislipi- 5cm abaixo da grelha costal, sem defesa. Foram pe-
démia, que inicia quadro súbito de cefaleia occipital didos exames complementares de diagnóstico.
com irradiação cervical, intensa, com vómitos du-
rante a madrugada. Pela manhã, por persistência da Na ecografia abdominal apresenta formação nodular
dor e vómitos recorreu ao serviço de urgência, onde sólida com 113 x 94 mm a envolver o lobo esquerdo
apresentava ao exame objetivo rigidez terminal da e parte do lobo direito hepático, a traduzir potencial
nuca com escala de Glasgow 15 e exame neuroló- neoformação hepática de novo.
gico sem sinais focais (NIHSS: 0). Realizado Tomo-
grafia Cranio-Encefálica que revelou a presença de Pedimos TAC-TAP onde se identificou uma mas-
HSA peri-mesencefálica, sem contexto de trauma. sa volumosa, heterogénea, de contornos lobulados
Foi contatado o hospital de referência e o doente foi e bem delimitada, com 13x10cm de maiores eixos
transferido para ser observado pela neurologia.  Foi na aparente dependência do segmento IV B, do seg-
realizada uma angiografia diagnóstica que mostra- mento V e de parte do segmento VI hepáticos, sem
va: “marcada irregularidade do lumen dos segmen- claro plano de clivagem com a cabeça pancreática,
tos V1 e V2 da AV esquerda (incluindo o respectivo com a vesícula biliar. Apresenta vascularização in-
ostium), compatível com dissecção, condicionando terna arterial, sofrendo realce nodular periférico na
estenose suboclusiva...”. Fez ainda ecoDoppler vertente mais externa em fase arterial.
transcraneano e dos vasos do pescoço que eviden-
Discussão:
ciava: “A AV esquerda apresenta fluxo suboclusivo e
de alta resistência em todo o seu trajecto extracra- O doente foi encaminhado para o IPO, onde se en-
niano com extensa lesão hipoecogénica; regista-se contra a ser seguido neste momento. A histologia da
fluxo invertido no final do seu segmento V4. Estes lesão, após biopsia, revelou um sarcoma de Ewing a
dados favorecem a presença de dissecção longitu- nível hepático. Encontra-se neste momento sob tra-
dinalmente extensa, desde o seu ostea a segmento tamentos de quimioterapia para posterior excisão da
V4 proximal.”  lesão.
O doente esteve internado durante 15 dias sem in- Este caso vem demonstrar que há muito mais além
tercorrências e com evolução clínica favorável, com da doença COVID e que doentes jovens e aparente-
melhoria progressiva das queixas de cefaleias. À mente saudáveis podem desenvolver patologias gra-
data de alta o doente estava assintomático e sem ves para as quais temos que estar despertos para os
défices focais.  pequenos sintomas.
O doente foi posteriormente enviado para segui- PA n.º 0356 
mento em consulta de neurologia e endocrinologia Variante da Síndrome de Guillain-Barré após infe-
para reavaliação e controlo dos fatores de risco ção por Parvovírus B19
vascular. João Francisco Figueira(1);Ana Tenreiro(1);Inês
Dunões(1);Sandra Lucas(1);Mariana Soares(1);Car-
PA n.º 0354 
men Corzo(1);Conceição Barata(1)
Sarcoma de Ewing de Localização Atípica
(1) Hospital do Espírito Santo, EPE, Évora
Ana Margarida Lopes Simões(1);Tânia Ferreira(1)
(1) Unidade Local de Saúde da Guarda, EPE / Hospi- Tema: Doenças raras
tal Sousa Martins
Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá- A Síndrome de Guillain-Barré (SGB) representa um
ticas conjunto de polirradiculoneuropatias autoimunes
agudas com múltiplas apresentações. Classicamen-
te associa-se a diminuição da força, dos reflexos
Enquadramento:
osteotendinosos (ROT) e alterações sensitivas nos
membros inferiores e superiores. As suas variantes
O sarcoma de Ewing é uma doença maligna rara que apresentam sintomas neurológicos distintos e por
mais frequentemente se apresenta como um tumor vezes sobrepõem-se. Habitualmente precedida por
ósseo primário indiferenciado; menos comumente, uma infeção, o Parvovírus B19 (B19) raramente foi
surge em tecidos moles (localização extra-óssea). descrito como fator precipitante desta entidade.
Descrição do caso:
Homem de 33 anos, sem antecedentes médicos de
Apresenta-se o caso de um jovem de 22 anos com relevo, recorreu ao Serviço de Urgência por redução
antecedentes pessoais e familiares irrelevantes. da força muscular nos membros inferiores e dificul-
Sem toma de medicação habitual. Nega hábitos ta- dade na marcha com dois dias de evolução. Uma se-
bágicos ou etílicos. Recorre à consulta de Intersubs- mana antes teria iniciado um quadro autolimitado de
tituição no centro de saúde por tumefação abdomi- diarreia e febre durante três dias. Ao exame neuro-

204
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
lógico com diminuição simétrica da força muscular esquerda”. Foi contactada Neuroradiologia que dado
e dos ROT a nível dos membros inferiores, marcha NIHSS baixo e melhoria dos défices, não estava in-
atáxica, sem alterações da sensibilidade. A tomogra- dicado procedimento endovascular. Durante o inter-
fia axial computorizada de crânio não demonstrou namento houve resolução dos défices. Do estudo a
achados significativos. Analiticamente com eleva- destacar colesterol LDL 131, holter com ritmo sinu-
ção da creatina quinase de 1070 U/L. Realizou-se sal, ecocardiograma (Eco) transtorácico normal,  an-
punção lombar e a análise do líquido cefalorraqui- gio-ressonância magnética CE a referir na vertente
diano demonstrou proteinorraquia de 93 mg/dL com superior de ambos os hemisférios cerebelosos e do
dissociação albumino-citológica. Assumindo-se vérmis áreas lesionais com restrição da difusão con-
hipótese diagnóstica de SGB e rabdomiólise iniciou sistentes com enfartes agudos em território das ar-
tratamento com imunoglobulina intravenosa e fluido- térias cerebelosas e estudo de angio com aspectos
terapia. Ao segundo dia de internamento a destacar sugestivos de oclusão na porção proximal da artéria
limitação da convergência do olho esquerdo de novo cerebelosa superior esquerda. O eco transesofágico
no possível contexto de oftalmoparesia do reto inter- mostrou septo interauricular com sobreposição en-
no esquerdo. O estudo serológico de anticorpos anti- tre septum primum e secundum com separação en-
-B19 IgG e IgM foi positivo. A ressonância magnética tre estes de 6 x 2 mm, que após a administração de
não encontrou alterações de relevo. Iniciou plano de solução salina agitada observou-se a passagem pre-
reabilitação e teve alta com seguimento em consulta. coce e abundante de bolhas para a aurícula esquer-
O estudo eletromiográfico realizado em ambulatório da com a MV. O doente foi orientado para consulta
evidenciou compromisso polirradicular axonal motor de cardiotorácica e foi submetido a encerramento do
lombo-sagrado agudo tendo-se assumido diagnosti- FOP.
co de SGB na modalidade motora axonal. Após seis
meses teve alta da consulta com recuperação dos Nos doentes em que há persistência do FOP podem
défices. ocorrer embolias através da passagem de sangue
venoso para arterial, quando a pressão na aurícula
A apresentação clínica do espectro da SGB é um direita excede a pressão na aurícula esquerda, meca-
contínuo com numerosas exceções às manifesta- nismo que ocorre durante a MV. Neste caso a clinica
ções típicas. Neste caso descrevemos uma sobrepo- de AVC teve início após segundos de uma MV provo-
sição de duas variantes – a variante paraparética e cada pelo doente.
a Síndrome de Miller Fisher – após infeção por B19,
tornando este caso singular na literatura médica. PA n.º 0362 
Caracterização dos utentes do Hospital de Dia de
PA n.º 0359  Medicina Interna durante um ano
A manobra de Valsalva em doente com foramen Inês Salvado de Carvalho(1);João Barros Rodri-
ovale patente e acidente vascular cerebral gues(1);Joana Caires(1);Maria João Baldo(1);João
Olinda Lima Miranda(1);Ana Barbosa(1);Magda Cos- Correia(1)
ta(1);Salomé Marques(1);Ana Vilaça(1);Margarida (1) Unidade Local de Saúde da Guarda, EPE / Hospi-
Rocha(1);Jorge Cotter(1) tal Sousa Martins
(1) Hospital Senhora da Oliveira, Guimarães
Tema: Organização, gestão e qualidade de serviços
Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas de saúde

O foramen ovale patente (FOP) é uma alteração Introdução: Os cuidados de saúde de ambulatório
estrutural cardíaca que consiste na presença de são cada vez mais a melhor resposta para a pres-
uma abertura no septo interauricular que persiste na tação de cuidados de saúde aos doentes crónicos.
idade adulta. Na maioria dos casos esta alteração é A evolução da prestação de cuidados ambulatórios
assintomática, contudo em alguns casos pode ser a tem-se tornado prioridade em todos os hospitais e
causa de acidente vascular cerebral (AVC) em adul- permitiu criação de Hospitais de Dia.
tos jovens.
Objetivo: Descrição da população que frequentou o
Homem, 34 anos, autónomo, recorreu ao serviço de Hospital de dia do Serviço de Medicina Interna do
urgência (SU) por quadro de náuseas, vómitos, fala Hospital Distrital durante um ano.
arrastada e desequilíbrio, segundos após soprar para
dentro de um cano (compatível com Manobra de Val- Material e Métodos: Estudo retrospetivo, objetivo e
salva (MV)). No exame objectivo glasgow 15, nistag- descritivo. Foram avaliados os utentes que recorre-
mo horizonto-rotatório para a esquerda, dismetria na ram ao Hospital de Dia do Serviço de Medicina In-
prova dedo nariz à esquerda. Dos exames realizados, terna no período decorrido de 1 a 31 de Dezembro
electrocardiograma com ritmo sinusal, tomografia de 2019. Os dados para o presente estudo foram
crânio encefálica (TC CE) com “hipodensidade cor- colhidos através da consulta do processo clínico em
tico-subcortical cerebelosa superior esquerda que suporte informático (S-Clinico®) e posteriormente
pode traduzir enfarte recente no território da artéria executou-se uma análise estatística descritiva com
cerebelosa superior”. O angio TC CE com “imagens recurso ao SPSS®. As variáveis avaliadas foram:
sugestivas de interrupção da coluna de contraste na sexo, idade, autonomia, residência, referenciação,
porção medial/distal da artéria cerebelosa superior comorbilidades, número de diagnósticos secundá-

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 205


rios, exames complementares de diagnóstico, proce- A púrpura trombocitopénica trombótica adquirida
dimentos, educação, terapêutica (tipo, conformidade (PTTa) é uma síndrome microangiopática trombó-
e reformulação), destino após alta, recorrência à ur- tica causada pela atividade reduzida da protéase
gência, internamento e mortalidade.  ADAMST13. Caracteriza-se pela presença de anemia
hemolítica microangiopática (AHMA), trombocitope-
Resultados: Dos 543 utentes identificados no estudo, nia e fenómenos oclusivos microvasculares. É uma
63.7% eram do sexo feminino, a média de idades foi emergência médica com elevada mortalidade e ris-
de 67 anos, 93.6% apresentavam residência em do- co de recorrência caso a abordagem terapêutica seja
micílio próprio ou familiar, 91.2% eram independen- protelada.
tes nas atividades de vida diária. A referenciação foi
realizada em 77.3% dos casos pela consulta externa CASO CLÍNICO
e 16.6% após internamento. A avaliação em Hospital
de Dia foi em 40.5% dos casos para realização de Mulher, 75 anos, antecedentes de fibrilhação auricu-
terapêutica, em 31.9% dos casos para reavaliação e lar hipocoagulada, pacemaker por bloqueio auriculo-
16.4% para realização de procedimentos. As comor- -ventricular 2º grau, hipertensão arterial, síndrome de
bilidades mais frequentes foram: 60% hipertensão Sjögren. Recorreu à urgência por disartria, diminui-
arterial, 45.7% dislipidemia, 38.3% anemia, 33.7% dia- ção da força do membro superior direito e desvio da
betes Mellitus, 30% patologia osteoarticular, 28.4% comissura labial para a esquerda, disfagia para líqui-
patologia tiroidea e 27.1% insuficiência cardíaca. A dos e cefaleia hemicraneana direita. Dois dias antes
média de diagnósticos secundários foi de 5. Da po- apresentara cefaleias occipitais e disartria. Ao exa-
pulação do estudo 37.4% foram submetidos a exa- me objetivo destacava-se perfil tensional hiperten-
mes complementares de diagnóstico e 21% realiza- sivo mas sem alteração do exame neurológico su-
ram procedimentos, dos quais em 81% dos casos foi mário. Ficou em vigilância clínica, com agravamento
realizado medulograma e fenotipagem. Em termos do quadro com afasia e hemiparésia direita.  Analiti-
de terapêutica farmacológica, os utentes realizavam camente apresentava anemia com hemoglobina de
em média 6.9 fármacos (à entrada), 48.6% a terapêu- 10.4 g/dL, trombocitopenia de 26000/μ l, disfunção
tica referida foi semelhante ao registo médico e foi renal com ureia 57.4 mg/dL, creatinina 1.02 mg/dL,
realizada reformulação terapêutica em 26.5% dos desidrogenase láctica 662, DDímeros elevados (7227
casos. Realizaram terapêutica em Hospital de dia ng/ml). O estudo morfológico do sangue periférico
67% dos pacientes, destes 65.1% realizaram carbo- (ESP) evidenciou trombocitopenia, esquizócitos e
ximaltose férrica, 13.5% furosemida e 11.3% fluidote- microesferócitos, teste de coombs direto negativo.
rapia. Apenas 1.7% dos utentes tinha prescrito oxige- A angiotomografia computorizada (AngioTC) cranio-
noterapia.  A educação do paciente foi realizada em -encefálica não evidenciou alterações e a torácica
3.3% dos casos. O destino dos utentes foi em 79.9% mostrou tromboembolismo pulmonar agudo bilate-
dos casos a consulta externa e em 11.4% seguimen- ral. Pelo quadro de AHMA, trombocitopenia, febre,
to com médico assistente. Após avaliação em Hos- disfunção neurológica flutuante e eventos trombó-
pital de dia, 6.3% doentes recorreram SU aos 7 dias e ticos assumiu-se PTTa. Iniciou pulsos de metilpred-
14% aos 30 dias. Aos 7 dias, 4.8% dos utentes foram nisolona 1mg/kg/dia e plasmaferese com permuta
internados tendo o valor aumentado para 6.8% aos plasmática, com recuperação da contagem plaque-
30 dias. Dos internados, 65.4% foram internados do tária. Por recidiva do quadro associou-se rituximab
SU aos 7 dias e em 75.7% aos 30 dias. Após interna- (1g endovenoso - dose de 375mg/m2) com norma-
mento houve indicação para avaliação em Hospital lização dos valores hematológicos, descida da LDH,
de dia em 59.5% dos casos. E dos internados houve ausência de sinais de hemólise no ESP e melhoria
reinternamentos em 45.9% dos utentes. A mortalida- clínica significativa.
de aos 7 dias foi 0.7% e de 1.7% aos 30 dias.
DISCUSSÃO
Conclusões: O Hospital de dia mais do que um es-
paço físico é um conceito, que se coloca como uma O presente caso salienta a importância de conside-
alternativa ao internamento tradicional e que permi- rar etiologias menos reconhecidas como a PTTa no
te melhorar a qualidade assistencial prestada aos diagnóstico diferencial do AIT/AVC minor. Além dis-
utentes com doenças crónicas. so, dada a morbimortalidade elevada e refratorieda-
de da doença, enfatiza-se a importância de um diag-
PA n.º 0366  nóstico e instituição terapêutica precoces.
QUANDO UM AVC SE TRATA COM PLASMAFERESE
Francisco Barreto(1);Sofia José Nunes Nobre- PA n.º 0367 
ga(1);Adelaide Spínola(1);Rui Fernandes(1);Carolina LOMBALGIA – A PONTA DO ICEBERG
Henriques(1);Carolina Carvalhinha(1);Maria da Luz Francisco Barreto(1);Adelaide Spínola(1);Sofia José
Brazão(1);Antonio Chaves(1) Nunes Nobrega(1);Carolina Henriques(1);Carolina
(1) Hospital Dr. Nélio Mendonça Carvalhinha(1);Rui Fernandes(1);Maria da Luz Bra-
zão(1);Antonio Chaves(1)
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas- (1) Hospital Dr. Nélio Mendonça
culites
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
culites
INTRODUÇÃO

206
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
INTRODUÇÃO Introdução

A sacroileíte piogénica é uma entidade nosológica A reativação do vírus varicella zoster (VVZ) pode ter
rara que corresponde a 1-2% de todas as artrites sép- um vasto espectro de complicações, entre as quais
ticas, cujo agente etiológico mais frequente é o Sta- encefalite e vasculopatia. O prognóstico destas com-
phylococcus aureus. Ocorre em todas as idades, com plicações varia entre a recuperação total e a morte,
incidência superior no género feminino e nos idosos. sendo mais reservado em doentes imunocomprome-
É um diagnóstico desafiante pela clínica inespecífi- tidos.
ca, com morbimortalidade elevada caso o diagnósti-
co e terapêutica sejam tardios. Caso Clínico

CASO CLÍNICO Homem, 83 anos, sem antecedentes relevantes, ad-


mitido no Serviço de Urgência por queda. Apurou-se
Homem, 62 anos, com antecedentes de hipertensão quadro com 5 dias de evolução de lesões pustulosas
arterial, dislipidemia, doença hepática crónica alcoó- no abdómen, pruriginosas e não dolorosas, associa-
lica, síndrome da apneia obstrutiva do sono grave e do a diminuição da força muscular nos membros
gonartrose secundária no joelho direito e alergia à inferiores com início 3 dias após o surgimento das
penicilina. lesões, a condicionar queda no domicílio sem trau-
matismo crânio-encefálico. Sem história de febre.
Recorreu à urgência por febre e dor lombar direita À observação, a destacar a presença de vesículas e
com 1 ano e 6 meses de evolução, em moedeira, pústulas, com sinais de sobreinfeção bacteriana, dis-
ritmo mecânico, sem irradiação e rigidez matinal, tribuídas ao longo do trajeto de D10 direito, e parapa-
com intensidade agravada nos últimos dois meses. résia com força muscular de grau 4. Analiticamente,
Negava outros sintomas. Apresentava toma impor- a salientar elevação da PCR. Admitindo-se a hipóte-
tante de anti-inflamatórios não esteróides e opióides se de herpes zoster disseminado com sobreinfeção
sem melhoria. Ao exame objetivo estava subfebril, bacteriana, foi iniciado aciclovir endovenoso e anti-
com perfil tensional hipertensivo e dor na rotação bioterapia empírica com flucloxacilina endovenosa.
externa e interna da articulação coxofemoral direita, A punção lombar revelou pleocitose mononuclear
diminuição da amplitude da rotação interna da co- com hiperproteinorráquia e glicorráquia normal, an-
xofemoral esquerda, crepitação em ambos os joe- ticorpos anti-VVZ IgG e IgM positivos, bem como
lhos sem presença de derrame articular e sem dor quantificação de DNA do VVZ no LCR, confirmando o
na palpação das interlinhas articulares, palpação da diagnóstico. O EEG demonstrou atividade sugestiva
sacroilíaca direita dolorosa e Manobra de Faber po- de epilepsia occipital bilateral, enquadrável no diag-
sitiva. Analiticamente apresentava pancitopenia, ele- nóstico de encefalite a VVZ. A RM CE mostrou foco
vação dos parâmetros de fase aguda e do pico alfa de hipersinal em T2 no hemisfério cerebeloso direito
no proteinograma. Do estudo realizado, apresentava sugestivo de lesão isquémica recente, enquadrável
serologias e HLA-B27 negativos, hemoculturas aeró- na vasculopatia a VVZ. Apesar das medidas instituí-
bias com crescimento de Streptococcus grupo Bovis, das, o doente evoluiu desfavoravelmente, tendo fale-
ressonância magnética a evidenciar artrite séptica cido no internamento.
da articulação sacroilíaca direita e um ecocardiogra-
ma trans-esofágico com eventual vegetação em fase Discussão
inicial. Colonoscopia sem alterações. Cumpriu ciclo
de gentamicina e ceftriaxone com melhoria clínica, O envelhecimento conduz a uma redução da imuni-
analítica e imagiológica significativas, com marcha dade mediada por células, conferindo um maior grau
sem dificuldade e mobilização passiva e ativa da de imunossupressão, o que potencia um maior risco
articulação coxofemoral e sacroilíaca direitas sem de disseminação do VVZ após a sua reativação. O
limitações. diagnóstico e o início precoce de tratamento agres-
sivo são fundamentais na redução da morbilidade e
DISCUSSÃO mortalidade associadas às complicações da infeção
por VVZ.
Os autores salientam a importância de considerar
a sacroileíte piogénica em quadros de lombalgia re- PA n.º 0381 
fratária à analgesia. Destaca-se ainda a importância BACTERIÉMIA POR KLEBSIELLA PNEUMONIAE E
de equacionar a presença de agentes atípicos com AGORA?
o intuito de iniciar terapêutica dirigida precoce, dimi- Fátima Costa(1);Marta Dalila Martins(1);Francisco
nuindo a morbimortalidade. Pombo(1);Bárbara Silva(1);m. Carolina Seabra(1);I-
nês Ferreira(1);Mari Mesquita(1)
PA n.º 0377  (1) Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, EPE /
“Vem por queda” – um caso de herpes zoster Hospital Padre Américo, Vale do Sousa
Catarina Negrão(1);Ana Órfão(1);Clara Matos(1);-
Daniela Madeira(1);Joana Lima Lopes(1);Patrícia Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
Vasconcelos(1)
(1) Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca Introdução: O abcesso hepático por Klebsiella pneu-
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias moniae é uma patologia pouco comum e pode estar
associado a complicações severas, sobretudo em

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 207


pacientes diabéticos. As manifestações da doença O MM não secretor é uma variante rara (2-4%), em
são frequentemente inespecíficas levando em algu- que os plasmócitos não produzem imunoglobulina,
mas situações ao atraso na terapêutica dirigida e distinguindo-se pela ausência de picos monoclonais
este atraso pode pôr em risco a vida do paciente. nas eletroforeses sérica e urinária, e quantificação
normal das cadeias leves livres.
Caso Clínico: Homem, 70 anos. Admitido no Serviço Caso clínico:
de Urgência com quadro de prostração com 3 dias
de evolução, associado a febre (T 39ºC), astenia, ce- Homem de 28 anos, admitido por dorsolombalgia
faleia frontal, dor epigástrica e náuseas. Anteceden- com 2 meses de evolução; sem história traumática
tes pessoais: Hipertensão Arterial, Diabetes Mellitus ou sintomatologia associada. Objetivamente, sem
tipo 2, Hiperplasia Benigna da Próstata, Politrauma, compromisso neurológico. RM da coluna dorso-
Pancreatite crónica, ex-fumador (25UMA’s) e hábi- -lombar mostrou lesões líticas e algumas fraturas
tos etílicos cessados. Objetivamente encontrava-se vertebrais, TC toraco-abdomino-pélvica excluiu en-
subfebril, sem rigidez da nuca, murmúrio vesicular volvimento orgânico e PET-TC confirmou «captação
diminuído na base direita e crepitações bibasais. aumentada de FDG a nível medular/ósseo em todo
Do estudo realizado, sem alterações na Tomografia o esqueleto, com áreas líticas no esterno, vértebras
Computorizada (TC) Craneo-Encefálica, na TC Tora- dorsais e lombares, arcos costais e sacro. Analitica-
coabdominopélvica de salientar dois nódulos hipo- mente com anemia inflamatória (11.7 g/dL), função
densos com 19 mm e 34 mm no lobo direito do fí- renal e proteínas séricas dentro da normalidade; hi-
gado. Analiticamente com elevação dos parâmetros percalcémia ligeira e hipercalciúria; proteinograma
inflamatórios e das enzimas de citólise e colestase. sem pico monoclonal, doseamento de imunoglobu-
Iniciada antibioterapia empírica com Ceftriaxone. Do linas e cadeias leves séricas normais. O diagnóstico
estudo realizado durante o internamento: isolamento de MM não secretor foi confirmado pelo estudo me-
de Klebsiella Pneumoniae nas hemoculturas, abces- dular (medulograma, imunofenotipagem e biópsia);
so hepático na ecografia abdominal (43 x 52 mm) e citogenética sem fatores de mau prognóstico. Tra-
espessamento do bordo da cúspide não coronaria- tamento dirigido ao controlo álgico e estabilização
na da válvula aórtica e massa ecogénica móvel na vertebral (cifoplastia de D11-L1 e L4), correção da
ecografia transtorácica. Perante os achados e a forte hipercalcémia e terapêutica de indução com esque-
suspeita de endocardite, foi adicionada à antibiotera- ma triplo (bortezomib, dexametasona e talidomida)
pia em curso gentamicina. Assim, assumiu-se foco com resposta patológica completa; submetido pos-
infecioso em abcesso hepático, com disseminação teriormente a transplante autólogo de células hema-
hematogénea e endocardite neste contexto. Reali- topoiéticas. Aos 10 meses de follow-up, mantinha
zou 3 semanas de antibioterapia dirigida com melho- doença estável.
ria clínica e analítica.
Conclusão:
Discussão: O fígado é um órgão bastante irrigiado,
pelo que a disseminação hematogénea, apesar de Trata-se de um caso raro de MM não secretor num
pouco frequente, é uma complicação dos abcessos adulto jovem, que destaca a importância do nível de
hepáticos a ter em conta. Os fatores de risco mais suspeição perante lesões osteolíticas. O diagnóstico
frequentes para abcesso hepático são diabetes célere possibilita uma abordagem terapêutica apro-
mellitus, patologia pancreática ou hepatobiliar, trans- priada, contribuindo para um melhor prognóstico. 
plante hepático e uso regular de inibidores da bomba
de protões. O diagnóstico atempado e a instituição PA n.º 0420 
de antibioterapia dirigida, mediante isolamento de Timing and prognostic impact of creatinine varia-
agente, são essenciais para o sucesso no tratamen- tion on acute heart failure patients
to. João Presume(1);Gonçalo Cunha(1);Luis Lan-
deiro(2);Sara Trevas(2);Marta Roldão(2);Inês Sil-
PA n.º 0419  va(2);Margarida Madeira(2);Sérgio Maltês(2);Bruno
Mieloma múltiplo não secretor, uma variante rara Rocha(1);Catarina Rodrigues(2);Inês Araújo(2);Cân-
no diagnóstico diferencial de lesões osteolíticas dida Fonseca(2)
Carla Pereira Fontes(1);Andreia m. Teixeira(1);Sa- (1) Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE /
muel Fonseca(1) Hospital de Santa Cruz (2) Centro Hospitalar de Lis-
(1) Centro Hospitalar de Entre Douro e Vouga, EPE / boa Ocidental, EPE / Hospital de S. Francisco Xavier
Hospital de S. Sebastião
Tema: Doenças cardiovasculares
Tema: Doenças oncológicas
Background:
Introdução:
Acute decompensated heart failure (ADHF) admis-
O mieloma múltiplo (MM) caracteriza-se pela expan- sions are frequently complicated by different pat-
são plasmocitária clonal na medula óssea, associa- terns of serum creatinine elevation. Several groups
da a lesões de órgão-alvo (hematológicas, ósseas e have studied the prognostic significance of worsen-
renais). Afeta sobretudo idosos, sendo incomum em ing renal function (WRF) following admission and
idades inferiores a 40 anos. diuretic treatment initiation. However, studies yield-

208
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
ed conflicting results. associated with poorer prognosis.
 
Purpose:
Purpose:
We aimed to evaluate the prognostic impact of WRF
based on the timing of its occurrence. We hypothesized that contemporary incidence of
AHF and/or LVSD incidence remain high and are as-
Methods: sociated with significant all-cause mortality.
 
This is a retrospective cohort of patients admitted
Methods:
for ADHF. Standard WRF was defined as an increase
in serum creatinine (SCr) ≥0.3mg/dL during hospi- We retrospectively analyzed a single-center co-
talisation. WRF timing was classified as early (oc- hort of consecutive patients admitted for ACS in
curring within 48 hours of admission) or late (>48 2016/2017. AHF was defined as the presence of Kil-
hours). Acute kidney injury (AKI) at admission was lip-Kimball (KK) class > 1 at any time during hospi-
defined as a rise in SCr ≥0.3mg/dL from outpatient talization. LVSD was defined as an ejection fraction
basal measurement to first measurement at admis- of 40% or less assessed by echocardiography. The
sion. The primary endpoint was a composite of all- primary endpoint was all-cause mortality adjusted
cause mortality or hospitalisation for cardiovascular with multivariate Cox regression analysis.
events at 1 year follow-up.  
Results: Results:
Overall, 249 patients were included (mean age 77 ± A total of 500 patients were included, with a mean
11 years, 62% with preserved left ventricle ejection age of 64±14 years, 71% male. Also, 72% had hyper-
fraction). Early WRF occurred in 49 patients (19.7%) tension, 69% dyslipidemia, 37% were active smok-
and associated with a higher risk of the primary out- ers, 30% had diabetes, 17% previous myocardial
come (HR 2.49; 95% CI 1.66-3.73; p<0.001), whereas infarction (MI) and 10% chronic kidney disease. The
late WRF did not (p=0.411). After stratification for majority presented with ST-elevation MI (STEMI)
the presence of early WRF and/or AKI at admission, (69%), 28% with non–STEMI and the remaining 3%
only patients with early WRF but no AKI at admis- with unstable angina. Overall, 103 (21%) patients
sion (HR 2.34; 95% CI 1.37-4.00; p=0.002) and pa- developed AHF and 115 (23%) had LVSD. During
tients with both AKI at admission and early WRF (HR a mean follow-up of 2.5 years, 82 (16%) patients
2.43; 95% CI 1.18-5.00; p=0.016) showed a higher died. All-cause mortality was significantly higher in
risk of the primary outcome after multivariate Cox patients with AHF and LVSD (hazard ratio 8.8, 95%
regression (adjusted for age, left ventricle ejection CI 4.8-16.0), in patients with AHF and without LVSD
fraction and admission hemoglobin and admission (hazard ratio 5.8, 95% CI 2.8-12.1) and also in pa-
NT-proBNP). tients with LVSD without AHF (hazard ratio 3.9, 95%
CI 1.9-8.1), when compared with patients without
Conclusion: either AHF and LVSD (Figure).

Early WRF associated with a higher risk of the pri-


mary outcome. Timing of WRF occurrence seems Conclusions:
to be an important factor to take into account when
considering the prognostic impact of creatinine vari- In a contemporary single-center study, acute heart
ations during hospitalisation for ADHF. failure and left ventricular dysfunction were highly
frequent in patients with acute coronary syndromes
and were independently associated with an in-
PA n.º 0421  creased risk of death.
Prognostic impact of acute heart failure and left
ventricular dysfunction in acute coronary syndrome PA n.º 0423 
João Presume(1);Francisco Albuquerque(1);Daniel CONFORMIDADE DA TERAPÊUTICA PALIATIVA NO
Gomes(1);Jorge Ferreira(1);Carlos Aguiar(1);Marisa FIM DE VIDA – ESTUDO NUMA ENFERMARIA DE
Trabulo(1);Rui Campante Teles(1);Manuel Almei- MEDICINA INTERNA
da(1);Miguel Mendes(1) Natália Nunes Teixeira(1);Maria Inês Santos(1);Filipa
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE / Pedro(1);Ana Rita Paulos(1);Luís Siopa(1)
Hospital de Santa Cruz (1) Hospital Distrital de Santarém, EPE
Tema: Doenças cardiovasculares Tema: Cuidados paliativos

Introduction: Introdução: O objetivo dos cuidados de saúde aos


doentes em fim de vida é preservar e melhorar a
Occurrence of acute heart failure (AHF) and/or left qualidade de vida do doente, nomeadamente atra-
ventricular systolic dysfunction (LVSD) is frequent vés do controlo sintomático. Os 5 sintomas mais
in patients with acute coronary syndrome (ACS) and frequentes nesta fase, são a dor, dispneia, ansie-

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 209


dade, delirium e obstipação. O tratamento destes opioides e adjuvantes. E neste campo é sobretudo
doentes assenta em 2 pilares fundamentais, o tra- utilizada na dor neuropática não controlada. Para
tamento sintomático, onde está preconizado o uso além disto, alguns estudos têm demonstrado o seu
de opióides, antipsicóticos, laxantes. E por outro uso em casos de depressão major. Por exemplo,
lado a suspensão de atos terapêuticos fúteis. Ob- um estudo randomizado, com controlo com placebo
jetivo: Avaliar o uso da terapêutica sintomática em e duplamente cego, que decorreu entre novembro
doentes em fim de vida e a simplificação de tabelas de 2004 e setembro de 2005, em doentes com
terapêuticas e identificar os fatores determinantes depressão major resistente ao tratamento, mostrou
de paliação.  Material e Métodos: Estudo retros- que a cetamina na dose de 0,5 mg/kg produziu um
petivo descritivo, que incluiu os óbitos do primeiro efeito antidepressivo em cerca de 70% dos doentes. 
semestre de 2020 num serviço de Medicina Interna Caso Clínico: Apresentamos um caso de depressão
de um Hospital Distrital.  Os dados foram recolhidos refrataria numa doente oncológica, tratada com
do processo clínico eletrónico e a análise estatística cetamina: Doente sexo feminino, 64 anos, ECOG 3,
foi realizada no EXCEL. Resultados: Num total de diagnosticada com neoplasia do pulmão plurime-
142 doentes, 51,7% do género feminino, mediana tastizado em seguimento no serviço de cuidados
da idade 82 anos e Palliative Performance Scale paliativos. Em junho é internado por dor crónica mal
mediana 50%. O óbito ocorreu em 22% dos doentes controlada e dispneia. Durante o internamento evo-
em menos de 72 horas, em 38% entre o 3º e 10º lui favoravelmente do ponto de vista sintomas que
dia e em 40% para lá do 10º dia de internamento. À motivaram o internamento, no entanto desenvolve
data do óbito 87,6% dos doentes tinham terapêutica um quadro de agravamento progressivo de humor
paliativa prescrita: opióides 68,3% (34,9 % em es- triste, choro fácil, abulia. Foi iniciada terapêutica
quema), antipsicóticos 41,2%, laxantes 47,6% e tera- antidepressiva sem sucesso e pedido apoio a Psi-
pêutica dirigida à dispneia 33,2%.  Apenas 12% dos quiatria. Evolui com agravamento da clínica, apatia,
doentes em fim de vida foram avaliados pela Equipa choro constante e ideias de morte; refratário a te-
Intra-Hospitalar de Suporte em Cuidados Paliativos rapia farmacológica e cognitiva comportamental.
(EIHSCP). A prescrição da terapêutica sintomática Após discursão em equipa multidisciplinar, optou-se
verificou-se em 98,6% (p=0,051) observados pela pela introdução de cetamina na dose de 0,5 mg/
EIHSCP e em 91% dos doentes com decisão de não kg em infusão única IV de 40 minutos. Verificou-se
reanimação (ONR) documentada (p=0,02), sendo uma melhoria franca da sintomatologia depressiva
que a taxa de prescrição nos doentes com ONR no dia seguinte que se manteve por cerca de 8 dias;
registada entre as 24 e 48 horas antes do óbito foi altura que foi repetida com nova resposta satisfa-
de 100%. A suspensão de terapêutica fútil no gru- tória. Discursão: o mecanismo exato da cetamina
po de doentes verificou-se em todos os doentes no tratamento da depressão ainda não está esclare-
(100%, p=0,04) observados pela EIHSCP e em 74% cido. Vários estudos demonstram que em doentes
dos doentes com decisão de não reanimação (ONR) com depressão refrataria, o uso de cetamina na
documentada (p=0,23). O agravamento clínico re- dose de 0,5 mg/kg em infusão única IV de 40 minu-
gistado no diário não influenciou significativamente tos, produz efeito com início de ação em 2 horas e
a prescrição de terapêutica sintomática, no entanto com a duração de cerca de 1 semana, em cerca de
motivaram simplificação do esquema terapêutico 2/3 dos doentes. Este tratamento é, portanto, uma
em mais de 2/3 dos doentes. Conclusão: Neste es- via promissora de investigação para o tratamento
tudo, a maioria dos doentes em fim de vida teve me- eficaz e rápido da depressão. Deve, no entanto, ser
didas de conforto prescritas, no entanto a percenta- considerado experimental. O caso clínico apresenta-
gem de doentes em que foi parada terapêutica fútil do vai de encontro ao descrito na literatura.
foi bastante inferior, facto que vai de encontro ao
descrito na literatura e designado como obstinação/ PA n.º 0437 
encarniçamento terapêutico. A conformidade da Vasculite cutânea induzida por propiltiouracilo
terapêutica sintomática foi significativa nos doentes Mariana Almeida(1);Francisco Gomes(1);Maria do
com ONR documentada, apesar do reduzido número Rosário Ginga(1);Carina Ramalho(1);Martinho Fer-
de doentes observados pela EIHSCP, demonstrando nandes(1)
a abrangência da abordagem paliativa pelo médico (1) Hospital do Barreiro
internista.
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
PA n.º 0425  culites
CETAMINA NA DEPRESSÃO – A PROPÓSITO DE
UM CASO CLÍNICO O propiltiouracilo (PTU) é usado no tratamento de
Natália Nunes Teixeira(1);Maria Inês Santos(1);Filipa hipertiroidismo, tendo possível associação à positi-
Pedro(1);Ana Rita Paulos(1);Luís Siopa(1) vidade de autoanticorpos, nomeadamente ANCA, e
(1) Hospital Distrital de Santarém, EPE ao desenvolvimento de vasculites, embora esta últi-
ma seja uma situação rara. O presente caso clínico
Tema: Cuidados paliativos retrata uma mulher de 61 anos, com antecedentes
de hipertiroidismo há cerca de um ano, medicada
Introdução: Em cuidados paliativos a cetamina com PTU - 50 mg 2id. Foi enviada à Consulta de
tem sido usada com eficácia para a tratamento da Medicina Interna por um quadro de 3 meses de evo-
dor refrataria a analgésicos clássicos, incluindo lução de placas eritematosas purpúricas, não pruri-

210
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
ginosas, na região dos membros inferiores e tórax, eixo em topografia intra-axial cortico-subcortical
com dor associada à palpação. Referia também temporo-parietal esquerda, sugestiva de abcesso,
artralgias dos joelhos e tornozelos. Negou febre, as- condicionando extenso edema vasogénico com
tenia ou perda de peso. Na avaliação analítica, sem marcado efeito de massa, colapso do ventrículo la-
alterações no hemograma ou da função renal, com teral esquerdo e desvio direito da linha média. Apre-
velocidade de sedimentação aumentadas (35 mm), sentava, ainda, otomastoidite coalescente esquerda
PCR ligeiramente aumentada (16 mg/L) e pANCA – com sinais de cronicidade.
anti mPO (134 RU/mL) positivo. Realizou nasolarin-
goscopia e TC tóraco-abdomino-pélvica, ambas sem Durante permanência em SU apresentou agrava-
alterações. A biópsia cutânea foi compatível com mento do estado neurológico, com GCS 11, tendo
vasculite leucocitoclásica/vasculite necrosante com sido transferido para o Serviço de NC do HSJ, onde
atingimento de vasos de pequeno e médio calibre foi realizada craniotomia e drenagem do abcesso.
na derme superficial e profunda, padrão inteiramen- No conteúdo drenado foram isolados Enterococcus
te compatível com o contexto clínico de vasculite avium e Prevotella bergensis sensíveis a ampicilina
ANCA positiva. Desta forma, e admitindo-se quadro e metronidazol, que cumpriu durante 50 dias, com
de vasculite secundária a PTU, o fármaco foi sus- evolução clínica favorável.
penso. Em consulta de reavaliação após 3 semanas,
a doente apresentava franca melhoria dos hemato- Conclusão:
mas, sem ressurgimento de novos. Mantinha fun-
A maioria das complicações de OMA ocorrem em
ção tiroideia controlada, pelo que não retomou me-
doentes nas duas primeiras décadas de vida. O
dicação dirigida à mesma.  O presente caso clínico
baixo-nível socioeconómico e os aglomerados fa-
pretende alertar para os potenciais efeitos adversos
miliares conferem tanto um maior risco de infeção,
do PTU aquando da sua prescrição, nomeadamente
como um maior risco de complicações. Este caso
o desenvolvimento de vasculite. Quanto maior a
mostra que uma OMA é uma doença infeciosa que
duração do tratamento, maior a probabilidade de
deve ser tratada atempadamente, sob risco de ocorrem
desenvolver auto-imunidade. Na maioria dos casos,
complicações graves e potencialmente fatais.
a suspensão do fármaco basta para que ocorra uma
reversão do quadro; em situações mais severas, po- PA n.º 0441 
derá ser necessária terapêutica imunossupressora. Edema facial— nem sempre é reação alérgica!
Maxim Jitari(1);Miguel Coelho(1)
PA n.º 0440  (1) Hospital Distrital de Santarém, EPE
Otite media aguda, uma apresentação pouco co-
mum Tema: Doenças oncológicas
Maxim Jitari(1);Miguel Coelho(1)
(1) Hospital Distrital de Santarém, EPE A incidência  global de neoplasia pulmonar tem au-
mentado e com o maior número de casos, surgem
Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente crí- também em maior numero as apresentações atípi-
tico cas.

A mastoidite é uma complicação supurativa rara da Relatamos o caso clinico de um homem de  57
otite média aguda, apesar de a sua incidência ter vindo anos, sem antecedentes relevantes, exceto hábitos
a diminuir significativamente nas últimas décadas tabágicos  cerca de 40 UMA durante 20 anos. O
com o uso generalizado de antibióticos. O abscesso doente recorreu duas vezes ao SU por quadro de
subperiosteal, a meningite bacteriana, o abcesso edema facial  de início súbito interpretado como
cerebral e a osteomielite são complicações frequentes de reação alérgica alimentar. Por manter este quadro
mastoidite. clinico voltou novamente ao serviço de urgência.
Apos realização de história clinica mais detalhada,
Relatamos o caso de um homem de 27 anos de foi possível apurar existência de ortopneia, fraqueza
origem indiana, trazido ao Serviço de Urgência em muscular proximal e edema da face com dois me-
Maio de 2020 com um quadro de sonolência, de ses de evolução, em agravamento ao longo de duas
evolução progressiva nas semanas anteriores. Dos semanas anteriores.
antecedentes pessoais destacava-se quadro de oti-
te média aguda em Abril de 2020, para a qual teria No exame objetivo observou-se edema da face, tur-
sido prescrita antibioterapia empírica que não foi gescência das veias jugulares e circulação colateral
cumprida pelo doente por carência económica. visível a face anterior do tórax. A radiografia  de
tórax mostrou uma opacidade no vértice  pulmo-
À observação inicial destacava-se uma anisocoria
nar  direito. A Tc tórax revelou existência de massa
(OE>OD) com ptose e limitação da abdução do olho
hilar direita de 43 mm de diâmetro, condicionando
esquerdo, sem outros défices neurológicos agudos. GCS
obliteração parcial do brônquio principal direito e
14.
conglomerado adenopático mediastínico, que en-
Realizou avaliação analítica que não revelou altera- volvia a veia cava superior. Foi internado no Serviço
ções e TC-CE que revelou uma formação expansiva de Pneumologia para estudo de provável Neoplasia
globosa de conteúdo hipodenso de 50 mm de maior pulmonar com apresentação inicial como Síndrome

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 211


de Veia Cava Superior. Após broncoscopia e biópsia, com analgesia oral verificamos melhoria clara da
a histopatologia evidenciou um carcinoma de pe- sintomatologia e da mobilidade articular na consulta
quenas células do pulmão. externa realizada um mês após a alta.
Foi realizada RT paliativa para descompressão me- A artrite gotosa da sacroilíaca foi reportada numa
diastínica e QT com cisplatinio e etoposídeo com pequena quantidade de casos, sendo a maioria dos
boa evolução clinica e resolução de Sindrome de diagnósticos baseados em exames radiológicos.
Veia Cava Superior. Deve ser um diagnóstico diferencial no estudo de le-
sões líticas nos doentes com história prévia de gota.
Conclusão. Apresenta-se aqui um caso em que se confirmou o
diagnóstico por biópsia óssea.
Este caso clinico evidência mais uma vez que uma
historia clinica e exame objetivo detalhados são a PA n.º 0458 
chave para conseguir atingir um diagnóstico corre- Esclerose tuberosa - a medicina interna como cen-
to. tralizadora do diagnóstico
Teresa Medeiros(1);Rute Brás-Cruz(1);Ana Catarina
PA n.º 0457  Silva(1);Hugo Oliveira(1)
Nem tudo o que parece é – um caso de artrite go- (1) Unidade Local de Saúde de Matosinhos, EPE /
tosa Hospital Pedro Hispano
Teresa Medeiros(1);João Quelhas Costa(1);Gonçalo
Miranda(1);m. Catarina Tavares(1);António Furta- Tema: Doenças raras
do(1)
(1) Unidade Local de Saúde de Matosinhos, EPE /
Hospital Pedro Hispano A esclerose tuberosa é uma doença genética rara
multisistémica, autossómica dominante, condi-
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas- cionando uma mutação no gene da hamartina ou
culites tuberina. A apresentação clínica cursa com envol-
vimento do sistema nervoso central, rins e pele. O
diagnóstico pode ser feito com base em achados
A artrite gotosa é a forma mais comum de artropa- clínicos, genéticos ou ambos, sendo definitivo apre-
tia de microcristais. Habitualmente é monoarticular sentar 2 critérios major ou 1 major e 2 minor. Após
e periférica. A apresentação com envolvimento o diagnóstico é necessário follow-up para avaliar
axial, nomeadamente da coluna e das articulações disfunção de órgão, crescimento ou aparecimento
sacroilíacas é incomum, sendo a região lombar de novas lesões. A mortalidade está associada a
mais afetada. défice cognitivo, epilepsia, doença renal e pulmonar.

Mulher de 67 anos com síndrome metabólico, litíase Doente de 20 anos, antecedentes de bronquiolite
renal com cálculo colariforme esquerdo, artrite goto- na infância e mau aproveitamento escolar foi en-
sa grave com necessidade de amputação de dedos caminhado à consulta de Medicina Interna por dor
dos pés e alergia ao alopurinol estando medicada no hipocôndrio direito com 3 anos de evolução. Ao
com febuxostate. Admitida por fratura da primeira exame objectivo apresentava múltiplos fibromas
vertebra lombar após queda, tendo-se optado por faciais, pontilhados no esmalte dentário do incisivo
tratamento conservador. Ao exame objetivo apresen- superior esquerdo, fibromas gengivais na arcada
tava múltiplos nódulos endurecidos periarticulares superior, máculas hipomelânicas no dorso e placa
nos dedos das mãos compatíveis com tofos goto- de Shagreen no tronco. Realizou ecografia abdo-
sos, um deles com drenagem de exsudado areno- minal que mostrava formação nodular exofítica e
so. Apresentava ainda a amputação do 2º dedo do heterogénea no terço médio do rim esquerdo de
pé esquerdo e 4º dedo do pé direito. Na tomografia caracter neoformativo e múltiplas nodularidades
computorizada da coluna vertebral foram detetadas ecogénicas bilateralmente, sugestivas de angiomio-
alterações nas duas últimas vertebras lombares, sa- lipomas. Apresentava assim 4 critérios major e 2
cro e articulações sacro-ilíacas, sugestivas de lesões minor para diagnóstico de esclerose tuberosa. No
secundárias. Apresentava ainda rim esquerdo atrófi- restante estudo de seguimento realizado apresenta-
co, com adelgaçamento cortical difuso e contornos va envolvimento pela doença ao nível do SNC (pre-
lobulados com densificação da gordura envolvente, sença de tuberes cerebelosos direitos), respiratório
sugestivo de pielonefrite xantogranulomatosa. Com- (hamartomas pulmonares) e hepático (angiomio-
pletou estudo com RM das sacro-ilíacas que mostrou lipoma hepático). Realizou nefrectomia parcial da
lesões predominantemente líticas, heterogéneas em lesão neoplásica do rim esquerdo. Assim, apesar do
ambas as articulações com perda da definição do envolvimento multisistémico, até ao momento sem
osso cortical. No estudo complementar apresenta- evidência de disfunção de órgão mantendo neste
va hiperuricemia ligeira (6.2 mg/dL), hipocalcémia momento vigilância em consulta externa, sem trata-
ligeira (8.7 mg/dL), GGT ligeiramente aumentada mento sintomático dirigido.
(45 U/L), anemia ferropénica (Hb 9.6 g/dL) e VS de
92 mm/1ªh. Realizou biópsia das sacroilíacas cujo O seguimento de um doente com esclerose tubero-
exame histopatológico mostrou depósitos de ma- sa exige uma abordagem multidisciplinar sendo que
terial amorfo com células gigantes multinucleadas, o prognóstico depende da severidade e quantidade
compatível com tofo gotoso. Teve alta medicada
212
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
de órgãos atingidos. Cerca de 75% dos casos gra- sem sintomas gastrointestinais nem perda ponderal
ves morrem antes dos 25 anos. Neste caso, com significativa.
uma apresentação tardia e uma apresentação atípi-
ca, o prognóstico vai estar relacionado com envolvi- PA n.º 0513 
mento cerebral e renal, sendo necessário um follow- Um efeito inesperado
-up anual apertado tendo neste contexto a Medicina Mariana Gomes(1);Mauro Fernandes(1);Carolina
Interna um papel importante como integradora das Barros(1);Helena Luís(1);Bela Machado(1);Mariana
complicações e necessidades desta doença rara. Bilreiro(1);Rita Rodrigues(1);Rafael Freitas(1)
(1) Hospital Dr. Nélio Mendonça
PA n.º 0512 
Adenocarcinoma gástrico avançado diagnosticado Tema: Outro
em doente com anasarca
Maria Inês Matos(1);Rafael Amorim Rocha(1);Clau- Introdução: A hemorragia alveolar difusa (HAD) é
demira Pinto(1);Joana Vieira(1);Susana Lourenço uma emergência médica associada a elevada mor-
Ferreira(1);Jorge Almeida(1) bimortalidade. Carateriza-se clinicamente pela pre-
(1) Centro Hospitalar de S. João, EPE sença de hemoptises, queda no hematócrito, infiltra-
dos pulmonares difusos e insuficiência respiratória
Tema: Doenças oncológicas hipoxémica. Na maioria dos casos surge associada
a síndromes pulmão-rim, doenças reumatológicas,
Introdução: A maioria dos doentes com cancro gás- infeções ou fármacos.
trico encontra-se sintomático ao diagnóstico, sendo
a perda ponderal e a dor abdominal os sintomas Caso-clínico: Homem de 45 anos, fumador, motoris-
mais comuns. ta de profissão, recorre ao serviço de urgência por
dispneia com agravamento progressivo com 1 dia
Caso: Homem de 71 anos, sem antecedentes de de evolução, associada a tosse hemoptóica e dor
relevo, não fumador. Dois meses antes do interna- pleurítica. Ao exame objetivo, normotenso, taquicár-
mento recorreu ao serviço de urgência (SU) por dor dico com 127 bpm, polipneico, com dificuldade em
no flanco esquerdo. Realizou radiografia torácica articular palavras e com SpO2 86% em ar ambiente.
que mostrou derrame pleural direito. O líquido pleu- À auscultação pulmonar, com murmúrio vesicular
ral era sero-hemático, compatível com exsudato, globalmente diminuído e crepitações dispersas
com ADA baixo, sem células malignas e exame bilateralmente. Gasimetricamente com alcalose res-
microbiológico negativo. Foi referenciado para con- piratória e hipoxemia (pCO2 23.2 mmHg, pO2 42.9
sulta de Pneumologia. Retornou ao SU por edema mmHg). Por suspeita de tromboembolismo pulmo-
periférico e astenia. Negava perda ponderal, febre, nar, realizada Tomografia Computorizada torácica
hipersudorese noturna, queixas gastro-intestinais, com contraste que revelou infiltração de aspecto
respiratórias e geniturinárias. Ao exame objetivo en- algodonoso difuso do parênquima pulmonar, pou-
contrava-se apirético, com edema do membro infe- pando o parênquima periférico, sugerindo infiltração
rior esquerdo até à raiz da coxa e edema do direito hemorrágica. Analiticamente, a destacar anemia
apenas maleolar, edema escrotal e peniano. Eco- microcítica hipocrómica com hemoglobina de 5.2 g/
-doppler dos membros inferiores excluiu trombose dl e hematócrito de 18.9%. Sedimento urinário sem
venosa. Realizou TC-abdominopélvico que mostrou alterações. Perante o diagnóstico de HAD foi ini-
derrame pleural bilateral, derrame pericárdico, ascite ciada corticoterapia endovenosa. Pedido estudo de
e sinais de paniculite, mas sem massas suspeitas doenças auto-imunes. Quando questionada história
ou trombose a nível dos vasos abdominopélvicos. O medicamentosa, referência a toma de ácido acetil-
ecocardiograma transtorácico não tinha alterações. salicílico (AAS) 500 mg por um período de 1 mês no
Analiticamente sem anemia, BNP 35pg/mL, sem au- contexto de lombalgia aguda.
mento dos parâmetros inflamatórios, função renal
normal, sem proteinúria, proteínas totais 57.4g/L e Discussão: A HAD devida a fármacos tem sido
albumina 34.4g/L, estudo da coagulação e protrom- amplamente citada na literatura, sobretudo quando
bóticos normais, estudo autoimune negativo, TSH associada ao uso de terapêutica fibrinolítica, anti-
normal, VIH, VHC e VHB negativos. Uma biópsia coagulação oral e mais raramente aos antiagregan-
pleural não mostrou sinais de malignidade. Fez es- tes plaquetários como o AAS. Neste caso, não foi
tudo endoscópico: alto, que revelou lesão ulcerada, identificado outro fator causal para a HAD, além do
dura, friável, em toda a vertente da pequena curva- uso prolongado de AAS em alta dose. É de alertar
tura; baixo, sem alteraçõs. O estudo anatomopatoló- como um fármaco amplamente usado e facilmente
gico da lesão era compatível com adenocarcinoma acessível sem prescrição médica como o AAS pode
gástrico. Realizou laparotomia exploradora, que provocar uma condição potencialmente fatal como
evidenciou carcinomatose peritoneal. Após apresen- a HAD.
tação do caso em reunião de grupo oncológico foi
decidido início de quimioterapia paliativa. PA n.º 0532 
Rotura de placa aterosclerótica e AVC em infecção
Discussão: Descrevemos um caso de anasarca que SARS-CoV-2
serviu como ponto de partida para o diagnóstico de Tiago Castro Pinto(1);Filipa Guimarães(1);Nuno
adenocarcinoma gástrico avançado, num doente Amorim(1);Filipe Correia(1);Marta Soares(1)

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 213


(1) Unidade Local de Saúde de Matosinhos, EPE / Introdução: O cancro colorretal (CCR) é uma das
Hospital Pedro Hispano três neoplasias mais frequentes na população mun-
dial, metastizando frequentemente para o pulmão e
Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas fígado. A mestastização óssea é rara (10-15% dos
casos), estando presente em apenas 5% dos casos
Introdução: As complicações trombóticas (CT) no momento do diagnóstico. Ainda mais raro é o
associadas à infeção SARS-CoV-2 têm sido ampla- quadro de apresentação do CCR ser uma metástase
mente descritas nos últimos meses, com múltiplos óssea isolada (<1%), estando associada a muito
mecanismos a contribuir para estes eventos. Ape- mau prognóstico.
sar do predomínio das CT venosas, as CT arteriais
estão igualmente associadas a esta patologia. Caso Clínico: Doente 65 anos, sexo feminino, sem
antecedentes de relevo, recorreu ao SU por dorsalgia
Caso: Homem, 71 anos, ex-fumador, admitido em com 6 meses de evolução, de agravamento noturno
contexto de exacerbação de DPOC, com diagnósti- e perda ponderal (7kg). Ao exame objetivo apresen-
co posterior de pneumonia por SARS-CoV-2 nosoco- tava uma adenomegalia axilar esquerda, sem outras
mial. No 12º dia de doença, constata-se quadro de alterações. No estudo inicial apresentava hemogra-
afasia, hemianópsia homónima e hemiparésia direi- ma e bioquímica dentro dos valores normais, mas a
tas de predomínio braquial, NIHSS 16, compatível TC coluna dorso-lombar revelou lesão lítica do corpo
com acidente vascular cerebral (AVC) em território vertebral de D10. Ficou internada para esclarecimen-
da circulação anterior esquerda. Angio-TAC cerebral to etiológico.
com sinais de isquemia aguda em territórios de fron-
teira frontal e parieto-occipital esquerda  de acordo Realizou TC toraco-abdomino-pélvica que mostrou
com estenose hemodinamicamente significativa por espessamento concêntrico colorretal a 13cm da
trombo hipodenso adjacente à placa arterioscleroti- margem anal, condicionando estenose e adenopa-
ca na emergência do bulbo carotídeo da artéria caró- tias na topografia adjacente. Pela suspeita de CCR,
tida interna esquerda. Realizada trombectomia sem fez colonoscopia com biópsia de estenose erosiona-
trombólise prévia dada a ausência de timing (“wake da encontrada a 12cm da margem anal, que permitiu
up stroke”), com desobstrução da artéria sem inter- o diagnóstico de adenocarcinoma do reto. O restan-
corrências. Melhoria franca dos défices, progredindo te estudo realizado não apresentou alterações. Dada
em 48 horas para NIHSS 6, persistindo afasia motora raridade da metastização óssea isolada, realizou
e disartria ligeira. Do estudo complementar do AVC, biópsia da lesão de D10 que confirmou o tratar-se de
sem alterações de relevo, apenas tabagismo passa- uma metástase da CCR. A doente realizou resseção
do (abstinente há mais de 20 anos) e diabetes inau- anterior do reto e foi orientada posteriormente para
gural (HbA1C 6.8%), sem outros factores de risco quimioterapia e radioterapia paliativas.
vascular. Assumiu-se SARS-CoV 2 como o principal Discussão: Com este caso, os autores pretendem
fator de risco protrombótico . Iniciou anticoagula- realçar a necessidade da confirmação histológica
ção e antiagregação que manteve durante o período da metastização à distância, considerada rara para
de doença. Manteve evolução favorável, com melho- o tipo de neoplasia em estudo. A importância des-
ria dos défices. te facto prende-se com a possível alteração do es-
Discussão: O AVC em doentes com COVID-19 está tadiamento e, consequentemente, do prognóstico e
principalmente associado à oclusão de grandes tratamento da neoplasia. No caso apresentado foi o
vasos, tendo sido já descritos processos de endo- difícil controlo dos sintomas da metastização óssea
telite linfocítica, que poderão agravar instabilidade que despoletou o diagnóstico.
de placa arteriosclerotica, precipitando eventos vas- PA n.º 0550 
culares agudos. Pretendemos realçar a importância “Fotografia microbiológica” dos aspirados tra-
de recordar a infecção aguda (neste caso, por SAR- queais durante um semestre num hospital central
S-CoV-2) como fator de risco protrombótico, levan- Joana Cabrera(1);Renata Monteiro(1);Margarida
tando a hipótese do benefício da anticoagulação em Mota(1);Joana Pimenta(2)
fase aguda. (1) Hospital Gaia (2) Centro Hospitalar de Vila Nova
PA n.º 0536  de Gaia / Espinho
Metástase óssea isolada como apresentação de Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
Adenocarcinoma do reto
Flávio g. Pereira(1);Inês Pintor(1);João Faia(1);José
Miguel Martins(1);Pedro Lopes(2);Susana Cava- O diagnóstico de pneumonia associada ao ventila-
das(1) dor (PAV) é um importante desafio na abordagem
(1) Centro Hospitalar do Baixo Vouga / Hospital ao doente ventilado, pela gravidade clínica e difícil
Infante D. Pedro, EPE (2) Centro Hospitalar do Tâme- diagnóstico em doentes críticos. O aspirado tra-
ga e Sousa, EPE / Hospital Padre Américo, Vale do queal (AT) usa secreções com origem na arvore
Sousa traqueobrônquica para isolamento de microorganis-
mos e orientação de antibioterapia dirigida, sendo
Tema: Doenças oncológicas que a definição de colonização / infeção muitas
vezes não é linear ou consensual.

214
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
Efetuou-se uma análise retrospetiva de todos os AT Na ultima década temos assistido a um importante
em que houve isolamento de microrganismos no aumento da prevalência de bactérias multirresis-
segundo semestre de 2020, num hospital central, tentes, com destaque para as produtoras de car-
através da consulta do processo eletrónico de cada bapenemases, nas quais a produção de enzimas
doente. inibidoras de classes antibióticas reduz as opções
de antibioterapia disponíveis.
Entre Julho e Dezembro de 2020, houve 163 AT com
isolamento de agente, provenientes de 85 pacien-
tes. 20.9% dos isolados eram da comunidade en- Estes microrganismos são tipicamente associados
quanto que 79.1% tinham origem hospitalar. a cuidados de saúde mas, sobretudo recentemen-
te, o risco de disseminação na comunidade tem
50.6% dos pacientes com AT infetado tinham sido aumentado, com cada vez mais casos em doentes
internados por causas extra-respiratórias enquanto sem fatores de risco predisponentes. Como princi-
que 49.4% tinham como motivo de internamento pais responsáveis são apontados o uso de antibio-
uma infeção do trato respiratório - destes, 40% terapia e falhas nas medidas de prevenção e contro-
tinham sido hospitalizados por Covid-19 com so- lo de infeção.
breinfeção bacteriana.
Para esta revisão, foram consultadas as estatísticas
Foram contabilizados os microrganismos isolados fornecidas pelo GLC-PPCIRA de um hospital central
no AT - no total isoladas 20 estirpes bacterianas português referentes às taxas de implementação
distintas, com destaque para 68 isolamentos de das precauções de transmissibilidade de microrga-
Pseudomonas Auerginosa (41.7%), 19 de Staphilo- nismos bem como os dados referentes à evolução
coccos Auereus (11.7%) e 11 de Klebsiella Pneumo- da prevalência de estirpes epidemiologicamente
niae (6.7%). O número de isolamentos das restantes relevantes, com destaque para bactérias KPC (Kleb-
estirpes foi menos expressivo. siella pneumoniae produtora de carbapenemases) e
MRSA (Staphilococcos aureus resisitente a meticili-
Fez-se um levantamento dos antibióticos realizados na).
em resposta ao isolamento no AT - os fármacos
mais frequentemente prescritos foram piperacilina- Ao longo dos últimos anos e devido à elevada pre-
-tazobactan (n=56), ceftriaxone (n=27), meropnem valência de estirpes multirresistentes em contexto
(n=25), vancomicina (n=23) e amoxicilina + ácido hospitalar e às consequências que tal acarreta mul-
clavulanico (n=13). O número de prescrições dos tiplicaram-se as ações formativas e de divulgação
restantes fármacos (22 antibióticos diferentes, no de boas praticas de controlo de infeção, bem como
total) foi menos expressivo, nunca tendo ultrapas- a realização de auditorias regulares. Verificou-se
sado uma dezena. Em média, cada paciente conta- que atitudes simples, como a lavagem das mãos an-
bilizado fez 3.39 linhas de antibioterapia, sendo que tes e após o contacto com o doente, aumentou des-
houve pacientes (n=4) que não fizeram nenhum an- de 62.7% em 2009 para 72.1% em 2019. Também a
timicrobiano e, no outro extremo, houve um pacien- partir de 2016 entrou em vigor a implementação de
te a efetuar um total de 8 linhas de antibioterapia. um fluxograma que visa a separação por serviços
hospitalares de doentes infetados/colonizados por
Por fim, contabilizou-se o destino a data de alta estirpes multirresistentes, sendo que para tal se
destes pacientes – 12.1% dos doentes mantiveram introduziu um esquema de testagem para coloniza-
seguimento no centro de saúde, 25.9% em consulta ção por KPC ou MRSA de doentes com fatores de
externa hospitalar, 35.3% faleceram, 16.5% tiveram risco à admissão, bem como testagem semanal dos
alta para um centro de reabilitação pertencente à doentes internados.
unidade hospitalar, 5,9% para outro hospital e 2.4%
para uma unidade de cuidados continuados. A implementação destas medidas traduziu-se numa
diminuição acentuada da prevalência destas estir-
O grande número de óbitos ou de pacientes que pes nos doentes internados na instituição: um de-
tiveram de permanecer em instituições com vista à créscimo na prevalência de MRSA desde 33.3% em
recuperação de autonomia/reabilitação demonstra 2016 para 18.7% em 2019 bem como um decrés-
o caracter de gravidade associado às infeções res- cimo na prevalência de KPC desde 17.2% em 2016
piratórias em doentes ventilados. para 9.3% em 2019.

PA n.º 0551  PA n.º 0562 


Prevenção e controlo de infeção - qual o real im- SARS-CoV-2 – Infeção ou reinfeção, eis a questão!
pacto na epidemiologia de um hospital central? Guilherme Camões(1);Adriana Girão(1);Diogo Al-
Joana Cabrera(1);Renata Monteiro(1);Margarida ves(1);Diana m. Ferreira(1);Rui Pina(1);Armando
Mota(1);Joana Pimenta(2) Carvalho(1)
(1) Hospital Gaia (2) Centro Hospitalar de Vila Nova (1) Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra /
de Gaia / Espinho Hospitais da Universidade de Coimbra

Tema: Organização, gestão e qualidade de serviços Tema: Doenças infecciosas e parasitárias


de saúde
Introdução: Desde o final de 2019 que o mundo se
debate com uma pandemia por vírus SARS-CoV-2,
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 215
cuja doença (Covid-19) cursa com um amplo espec- ciências de órgão, os doentes com DHA apresentam
tro de manifestações clínicas, variando de assin- necessidades paliativas com expressão a vários
tomático a síndrome respiratória aguda do adulto. níveis, nomeadamente, físico, psicológico, espiritual
A infeção resulta na produção de uma resposta e social com elevado impacto na qualidade de vida.
imune, em que ainda se desconhece a correlação Objetivo: Avaliar os sintomas psicoemocionais, no-
entre a presença de anticorpos e a magnitude da meadamente ansiedade e depressão, em doentes
imunidade. com DHA internados por descompensação da sua
doença, com e sem perspetiva de transplante he-
Caso Clínico: Homem de 58 anos recorreu ao Servi- pático. Material e métodos: Estudo observacional
ço de Urgência com mialgias, tosse seca, mal-estar e prospetivo em doentes com DHA, definida como
geral, precordialgia e cansaço para pequenos esfor- a presença de cirrose hepática, internados por des-
ços com uma semana de evolução. Negou cefaleias, compensação da sua doença, num hospital central
vómitos, diarreia, anósmia, odinofagia e dor pleuríti- e universitário. O recrutamento de doentes ocorreu
ca. Negou também contacto de alto risco com pes- entre Novembro de 2019 e Outubro de 2020 e foram
soa infetada com SARS-CoV-2 nos últimos 14 dias. avaliadas as necessidades paliativas e sintomas
Tinha como antecedentes pessoais dislipidemia, através de uma entrevista clínica e da aplicação da
doença cardíaca isquémica e infeção por SARS- Integrated Palliative Care Outcome Scale (IPOS).
-CoV-2 3 meses antes. Ao exame físico destacava- A análise estatística foi realizada através dos pro-
-se uma saturação periférica de oxigénio de 87% e gramas Excel® e SPSS®. Resultados: Foram in-
excesso ponderal. Apresentava insuficiência respira- cluídos 54 doentes, 39 do género masculino, com
tória hipoxémica grave (pO2 49,0 mmHg), infiltrados uma média de idade de 60,5 anos, 42,6% (n=23)
reticulares exuberantes, com predomínio bibasal, Child-Pugh Score classe C, 24,1% (n=13) encon-
na telerradiografia do tórax e lactato desidrogenase travam-se em avaliação para transplante hepático
536 U/L, proteína C reativa 23,65mg/dL e linfócitos e destes apenas 38,5% (n=5) em lista ativa para
0,85x109G/L. Por ter tido há 93 dias o diagnóstico transplante.  Apenas um doente não apresentava
de Covid-19, foi realizado um novo teste RT-PCR (re- qualquer tipo de sintoma avaliado pelo IPOS, os
verse transcription polymerase chain reaction) para restantes apresentavam pelo menos um sintoma.
SARS-Cov2 cujo resultado foi positivo. Fez igualmen- Os sintomas mais frequentes foram os sintomas
te teste múltiplo RT-PCR para infeções respiratórias psicoemocionais (90,7%, n=49), como a ansiedade e
que apenas detetou SARS-CoV-2. Os antigénios uri- a depressão, seguidamente a astenia (77,8%, n=42),
nários para Legionella pneumophila e Streptococcus diminuição da mobilidade (70,4%, n=38), sonolência
pneumoniae, hemoculturas e urocultura também fo- (59,2%, n=32) e dor (48,1%, n=26). Relativamente
ram negativos. Tendo em conta toda a informação aos sintomas psicoemocionais, cerca de 53,7%
obtida assumiu-se uma reinfeção por SARS-CoV-2 e (n=29) dos doentes apresentavam ansiedade e de-
o doente foi internado para continuação de cuidados. pressão, 24,1% (n=13) apenas ansiedade e 12,9%
(n=7) apenas depressão. Comparando a gravidade
Discussão: Neste caso não é possível ter a certeza da doença e a prevalência dos sintomas psicoemo-
que se trata de uma nova infeção ou reactivação uma cionais, a prevalência destes não foi superior nos
vez que não foi possível fazer genotipagem. Contu- doentes em classe C (86,9%, n=20) no Child-Pugh
do, este caso tem como objetivo questionar a eficá- Score em comparação com os doentes em classe
cia da imunidade adquirida contra o SARS-CoV-2 em A (90,0%, n=9) ou B (95,2%, n=20), (p>0,05). A preva-
imunocompetentes (que vai desde os 5 aos 8 meses lência destes sintomas foi elevada nos doentes com
dependendo dos estudos). O que é sabido é que nou- e sem perspetiva de transplante, sendo superior no
tros coronavírus a imunidade tende a diminuir com o grupo de doentes sem perspetiva de transplante
tempo e existem casos descritos com reinfeções em hepático (95,1%, n=39) em relação aos doentes em
menos de 80 dias. avaliação para transplante (76,9%, n=10), contudo
sem significância estatística (p>0,05). Conclusões:
PA n.º 0573  Os sintomas psicológicos, como a ansiedade e
Sintomas psicoemocionais nos doentes com Doen- depressão, confirmaram-se como sintomas tão
ça Hepática Avançada – atenção paliativa obriga- prevalentes como os sintomas físicos nos doentes
tória! com DHA, espelhando a importância da gestão
Patricia Baptista(1);Isabel Fonseca Silva(1);Sara desta sintomatologia nestes doentes. A prevalência
Vieira Silva(1) destes sintomas revelou-se bastante elevada inde-
(1) Centro Hospitalar do Porto, EPE / Hospital Geral pendentemente da perspetiva de transplante dos
de Santo António doentes. Os sintomas psicoemocionais parecem re-
presentar sofrimento importante nos doentes com
Tema: Cuidados paliativos DHA e expectavelmente influenciar a sua qualidade
de vida.
Introdução: A Doença Hepática Avançada (DHA)
corresponde à fase mais avançada da doença he- PA n.º 0577 
pática, em que a insuficiência hepática é habitual- Fusobacterium necrophorum – um caso invulgar
mente irreversível e o transplante hepático é o único Magda Costa(1);João Martins(1);Marta Batista(1);-
tratamento curativo, acessível apenas a um número Filipa Gonçalves(1);Juliana Silva(1);Jorge Cotter(1)
restrito de doentes. À semelhança de outras insufi- (1) Centro Hospitalar do Alto Ave, EPE / Hospital da

216
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
Senhora da Oliveira Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
INTRODUÇÃO
O fusobacterium necrophorum (FN) é um bacilo
gram-negativo anaeróbio responsável por <1% das      Além das manifestações respiratórias provocadas
bacteriemias, único entre os anaeróbios, pois está pela infeção a SARS-COV2, as manifestações
associado a formas graves de infeção, sobretudo neurológicas podem também ocorrer, variando entre
com origem na orofaringe. sintomas ligeiros, como tonturas, cefaleia e confusão,
e graves, como o Síndrome de Guillain-Barré,
encefalomielite e a encefalite aguda disseminada.
Homem de 72 anos, autónomo, recorreu ao serviço Pensa-se que o vírus provoca desmielinização,
de urgência por quadro constitucional com 3 sema- podendo afetar qualquer parte do cérebro e liquor.
nas de evolução (perda ponderal de 5% e hipersudo- Foi já documentada em autópsia a presença do vírus
rese). Referia dispneia para moderados esforços e SARS-COV2 em amostra de tecido cerebral.
tosse produtiva mucopurulenta. Trata-se de um fu-
mador ativo, com Doença Pulmonar Obstrutiva Cróni- CASO CLÍNICO
ca GOLD B; gastrectomizado por neoplasia gástrica
há 20 anos e esplenectomizado; e etilismo estimado      Homem de 52 anos com hemiparesia esquerda
em 300g/dia. sequelar após traumatismo craneo-encefálico
há 12 anos, que recorre ao serviço de urgência
Na avaliação inicial encontrava-se normotenso, por alteração da linguagem, diminuição da força
apirético, sem necessidade de oxigénio suplementar. motora nos membros inferiores com 4 horas
Auscultatoriamente com murmúrio vesicular manti- de evolução e crise convulsiva tonico-clónica
do e sibilância dispersa. Analiticamente com leuco- generalizada durante o transporte para o hospital.
citose (19 900/uL) e aumento da proteína C reactiva Ainda, apresentava tosse seca há 3 dias. Na
(240UI/L). Realizou Tomografia Computadorizada admissão estava subfebril, taquicárdico, hipertenso
torácica que documentou granulomas calcificados, e sem insuficiência respiratória, prostrado e com
enfisema bilateral e bronquiectasias de tração, par- afasia global. Foi evoluindo com recuperação do
ticularmente nos lobos superiores, pelo que ficou estado de consciência e dos défices. O estudo
internado com isolamento de gotículas por suspeita analítico não apresentou alterações de relevo; foi
de tuberculose pulmonar (TP). excluída lesão vascular cerebral aguda e oclusão/
estenose significativa de vaso por angio-tomografia
Realizou colheita de expetoração para bacteriológico computorizada cerebral e dos vasos do pescoço; a
e micológico, e colheu hemoculturas (HC). Durante radiografia de tórax mostrou infiltrados perihilares
o internamento apresentou 2 picos febris diários, bilaterais e o teste de PCR do SARS-COV2 foi
até que ao 6º dia foi identificada bacteriemia a FN, positivo. Realizou punção lombar com 9 leucócitos
pelo que iniciou Piperacilina/tazobactam. As HC e proteinorraquia; pesquiza de vírus (onde não se
controlo foram negativas. Foi excluída endocardite inclui o SARS-COV 2 por limitação dos meios de
e trombose infetada da veia jugular. Foram pesqui- diagnóstico) e bactérias negativa. Foi assumido
sados estados que predispusessem imunossupres- o diagnóstico mais provável de Encefalite vírica
são, nomeadamente do foro neoplásico e vírico. Foi a SARS-COV2. O doente realizou terapêutica de
observado por otorrinolaringologia que examinou a suporte e recuperou para o seu estado basal.
orofaringe, identificando lesões exofíticas, que se
revelaram quísticas após biópsia dirigida. Por apre- CONCLUSÃO
sentar dor abdominal e padrão de citocolestase, rea-
lizou colangio-ressonância magnética com achados         Tendo em conta o contexto atual de pandemia
compatíveis com pancreatite crónica, verificando-se em que vivemos e o facto de se tratar de um novo
melhoria clínica e analítica. Foi excluída TP com In- microorganismo sobre o qual o conhecimento é
teferon-gamma release assays  negativo e bacilosco- ainda escasso, perante um doente SARS-COV2
pias negativas. positivo deve ser considerado o atingimentos de
outros órgãos/sistemas. Este caso mostra-nos que
Este caso é relevante por se tratar de um agente devemos estar alerta para alterações neurológicas
raro, e a sua deteção e tratamento precoces foram sem outra causa estabelecida e pesquisar ativamen-
fundamentais para a evolução favorável, evitando te infeção por SARS-COV2 nestes doentes.
manifestações clinicamente mais graves, como por
exemplo Síndrome de Lemiérre, com bacteriemia PA n.º 0592 
persistente e embolização séptica. CASO RARO DE OSTEONECROSE DA MANDIBULA
APÓS TRAUMA
PA n.º 0581  Catarina Sousa Gonçalves(1);Liliana r. San-
ENCEFALITE A SARS-COV2 tos(1);Alexandra Wahnon(1);Ana Castro Barbo-
Andreia Coutinho(1);Pedro Fernandes Moura(1);Luís sa(1);Marisa Teixeira Silva(1);António Pais Lacer-
Santos(1);Joana Barros(1);Violeta Iglesias(1);Mário da(1)
Esteves(1) (1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi-
(1) Centro Hospitalar do Médio Ave, EPE / Unidade tal de Santa Maria
de Vila Nova de Famalicão
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 217
Tema: Doenças raras Tema: Organização, gestão e qualidade de serviços
de saúde
A osteonecrose da mandíbula (ONJ) ocorre quan-
do o osso é exposto e entra em isquémia por au- Introdução: A pandemia causada pelo vírus SARS-
sência de perfusão sanguínea. A maior parte dos -CoV-2 (infeção COVID-19) e o seu crescimento ex-
casos ocorrer após extração dentária. Pode surgir ponencial apresentaram um impacto profundo em
no doente oncológico (1-15%), na osteoporose em todos os aspetos do quotidiano. A necessidade de
0.001-0,01% dos casos, sendo que na população conter a pandemia exigiu a rápida implementação
geral surge em <0,001%. principalmente associado de medidas rigorosas de confinamento e reorgani-
a terapêutica antireabsortiva em altas doses (alen- zação dos serviços de saúde. O receio generalizado
dronate, risedronate, ibandronate, ácido zoledrónico de contágio em meio hospitalar foi também reporta-
e denosumab). do como fator pertinente na limitação da prestação
de cuidados, estando descrita em Portugal uma
CASO CLINICO diminuição no número de intervenções cirúrgicas
urgentes numa unidade hospitalar terciária. A va-
Mulher, 56 anos, sem antecedentes de síndrome an- riação na atividade assistencial programada e em
siosa,  medicada com venlafaxina 75mg e bisoprolol serviço de urgência na nossa Instituição é desco-
5mg, sofreu queda com traumatismo cranio-ence- nhecida.
fálico sobre a face, que levou à perda de 4 peças
dentárias. Colocou implantes, procedimento sem Objetivo: Avaliar a variação no número de admissões
intercorrências. Meses após, inicia quadro de perda diárias de doentes, com idade superior a 18 anos, em
dos mesmos por perda de massa óssea. diferentes serviços hospitalares, durante os seis me-
ses iniciais de COVID-19 em Portugal, comparativa-
Apresentava Hb 13.6, GB 6000, Plaq 247000, VS mente ao período homólogo de 2019.
14, função renal normal, provas hepáticas normais,
função tiroideia normal, vit D 24ng/mL, osteocalci- Materiais e Métodos: Estudo retrospetivo, obser-
na e CTX normais, estudo autoimune negativo (FR vacional, tendo-se determinado o número de ad-
negativo, complemento normal, ANA, perfil ANA, FR missões diárias no nosso Hospital nos serviços
e ANCA’s negativos; ACL, ACA e anti-B2GP1 nega- de Urgência (SU), Hospital de Dia Médico (HDM) e
tivos) e neoplásico negativo. Não havia história de Imagiologia (para realização de radiografia conven-
fármacos possivelmente associados. Desta forma, cional, tomografia computorizada (TC), ressonância
foram colocadas as hipóteses de necrose avascu- magnética (RM), mamografia ou osteodensitometria
lar da mandíbula versus peri-implantite associada (DEXA)). Foram considerados três períodos tem-
a atrofia alveolar decorrente de absorção óssea. porais: controlo (baseline) – de 1 de março a 31 de
Realizou RMN da face onde documentava “ assime- agosto de 2019; fase 1 – de 1 de março a 17 de maio
tria da espessura do maxilar superior, com menor de 2020; fase 2 – de 18 de maio a 31 de agosto de
expressão dimensional da maxila direita notando-se 2020. Foi realizada análise descritiva das variáveis
redução do hiposinal das corticais ósseas bucal e a partir do SPSS, versão 26.0, com determinação da
palatina deste osso comparativamente ao contra- média de admissões diárias (mAD) nos 3 períodos e
lateral.(...) aspectos são compatíveis com necrose realização de análise comparativa da mAD entre os
avascular da hemimaxila direita.” Foi medicada com períodos.
vasodilatadores numa perspectiva de melhoria da
perfusão da mandíbula, sem resultado. Realizou Resultados: Em relação aos doentes admitidos em
cirurgia reconstrutiva com sucesso. SU, verificou-se um decréscimo de 55.8% entre o
controlo e a fase 1 (mAD 193 vs 124), com recupe-
DISCUSSÃO ração de 1.2% até à fase 2 (54.6%, mAD 124 vs 125).
Quanto às admissões em HDM, houve uma ligeira
ONJ é uma patologia rara, geralmente associada redução durante a fase 1 (3%, mAD 1508 vs 1464),
a tratamento reabsortivo (bifosfonatos e denosu- intensificada na fase 2 (4.4%, mAD 1508 vs 1404). De
mab), radiação, infeção e utilização de esteróides. igual forma, encontrou-se uma diminuição no núme-
Apresentamos um caso peculiar de ONJ  associada ro de todos os exames realizados no Serviço de Ima-
a trauma, estando apenas alguns descritos a nível giologia. Comparativamente à fase controlo, na fase
mundial. É essencial a sua detecção precoce e tra- 1 realizaram-se em média 6 DEXA por dia (variação
tamento,  sendo uma importante causa de descon- de 232.1%); a ecografia teve redução de 219.4% (241
forto pela dor e afetação psicológica. vs 75); o terceiro exame com maior decréscimo foi
a mamografia (209.4%, mAD 38 vs 12). Também as
PA n.º 0595 
técnicas de radiologia de intervenção sofreram uma
Atividade hospitalar, pandemia COVID-19 e confi-
diminuição de 213% durante a fase 1. A atividade nos
namento – double trouble?
diversos exames complementares apresentou uma
Tiago Neto Gonçalves(1);Margarida l. Nascimen-
significativa recuperação da fase 1 para a 2, sem
to(1);Filipa Ramalho Rocha(1);Bernardo Vidal
igualar a média de admissões verificada no período
Pimentel(1);Natália Marto(1);Alexandra Bayão Hor-
baseline.
ta(1)
(1) Hospital da Luz Lisboa Conclusões: Constatou-se uma diminuição expressi-

218
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
va na atividade dos diferentes serviços hospitalares Carolina Morna(1);Jéssica Chaves(1);Carolina Bar-
analisados de 1 de março a 31 de agosto de 2020, ros(1);Graça Dias(1);Antonio Chaves(1)
coincidindo com a primeira vaga de casos de infeção (1) Hospital Dr. Nélio Mendonça
COVID-19 em Portugal. O impacto destas variações
em medidas preventivas (de rastreio) e diagnósticas, Tema: Doenças raras
e a repercussão na morbimortalidade encontra-se
ainda mal estabelecido. Os autores consideram que A displasia fibrótica é uma doença óssea genética,
deve ser realçada, junto da população, a importância não hereditária. Consiste num processo congético
de recurso ao SU na presença de sintomas ou doen- tumor-like não neoplásico, que ocorre por defeitos
ças graves, bem como a manutenção de seguimento na diferenciação osteoblástica e maturação, com
médico regular de patologias crónicas e rastreio on- consequente susbtituição do osso normal por um
cológico oportunista. estroma fibroso e ilhas de osso imaturo. As formas
poliósticas são menos frequentes (15%) e quando
PA n.º 0614  surgem concomitantemente a manchas tipo café-
Os eventos trombóticos devem levantar a suspeita -au-lait e/ou endocrinopatias (puberdade precoce,
diagnóstica hipertiroidismo, acromegália e perda renal de fosfa-
ANA SOFIA RAMOA OLIVEIRA(1) to associada a osteomalacia), classificam-se como
(1) Hospital de Braga síndrome de McCune-Albright (SMA).
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
Apresentamos um caso de um homem de 42 anos,
Vários estudos tem reconhecido a COVID-19 como sem seguimento habitual, com antecedentes de
um distúrbio sistémico associado a uma alta preva- doença óssea não especificada com fractura patoló-
lência de eventos trombóticos, sendo por si só um gicas e hipertiroidismo.
estado de hipercoaguabilidade, contribuindo para Observado em contexto de queda da própria altura
diagnósticos diversos e prognósticos adversos. com traumatismo crânio-encefálico. À admissão,
queixas de agravamento de lombalgia mecânica, dor
Descrevo um caso clinico em que os achados trom- articular coxofemural direita e dificuldade na deam-
bóticos foram a chave do diagnóstico da infecção bulação. Ao exame objectivo geral e reumatológico,
por SARS-CoV2, após terem sido detectados enfar- a destacar manchas café au lait na região dorsal e
tes pulmonar e esplénico concomitantemente. deformidade do esqueleto apendicular esquerdo,
sem impotência funcional, e calote óssea.
Mulher de 86 anos, recorreu ao serviço de urgência
por toracalgia de características pleuriticas e dor no Realizou TC crânio que demonstrou lesões ósseas
hipocôndrio direito. Realizou ecografia abdominal difusas da calote e base do crânio, face e C1-C2 com
sem alterações valorizáveis para além de um baço densidade heterogénea e áreas líticas e escleróticas.
acessório com 14mm adjacente ao hilo esplénico e Radiografia pélvica com envolvimento polióstico e
derrame pleural de moderado volume à direita. Pelo deformação pélvica e femoral proximal unilateral. Es-
achado laboratorial de D-dímeros aumentados, in- tudo analítico complementar com demonstração de
suficiência respiratória hipoxémica e queixas de dor elevação da fosfatase alcalina e osteocalcina, dimi-
torácica realizou Angio-TC tórax que revelou defei- nuição da 25-hidroxivitamina-D3, elevação PTH, hi-
tos de preenchimento compatíveis com tromboem- pofosfatémia com hiperfosfatúria e normocalcémia.
bolismo segmentar e subsegmentar, derrame pleu-
ral bilateralmente e atelectasias subsegmentares. As alterações radiológicas e clínicas descritas, as-
Nos planos abdominais encontravam-se duas áreas sociadas às alterações analíticas, favorecem o diag-
hipodensas esplénicas, uma mais cranial (um com nóstico de SMA
25mm) e a outra mais anterior (com 22 mm) relacio-
nadas com áreas de enfarte. Iniciou hipocoagulação Com este caso pretende-se realizar uma revisão do
e após oxigenoterapia suplementar e otimização da SMA e ressalvar os seus achados imagiológicos, os
terapêutica broncodilatadora reunia condições para quais constituem, muitas vezes, diagnóstico diferen-
alta clinica  para o lar ao 10º dia de internamento, cial com Doença de Paget no adulto. O SMA é uma
motivou rastreio de SARS-CoV2 que veio a revelar- entidade rara, que apenas excepcionalmente evolui
-se positivo. após a puberdade mas que acarreta elevados graus
de incapacidade em idade aguda pela grande inci-
A associação de eventos trombóticos e a infecção dência de fracturas patológicas e limitação funcio-
por SARS-CoV2 já é amplamente conhecida e des- nal.
crita na literatura actual. A alta frequência destes
eventos, a sua extensão e gravidade muitas vezes PA n.º 0632 
com atingimento multissistémico podem ser a Peritoneal tuberculosis and granuloma disease: a
única pista e devem levar-nos à única pista, e deve review
levar-nos à procura persistente desta infecção. Filipa Lucas(1);Soraia Proença e Silva(1);Pedro Vie-
ra(1);João Gigante(2)
PA n.º 0624  (1) Unidade Local de Saúde de Castelo Branco (2)
Displasia Fibrótica Polióstica associada a Síndrome Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca
de McCune-Albright
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 219
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias Tema: Doenças oncológicas

Background: Tuberculosis is one of the top 10 caus- Introdução:


es of death worldwide caused by Mycobacterium
tuberculosis. Specifically, abdominal tuberculosis O síndrome da veia cava superior é uma entidade
represents the 6th most frequent form of extra-pul- com uma baixa prevalência. Pode ser determinado
monary tuberculosis. Human infection with myco- por invasão tumoral , compressão extrínseca ou
bacteria is a potent trigger of granuloma formation. trombose.
Tuberculoid granulomas are also typically highly
organized structures that could be associated with Os sinais e sintomas que surgem mais frequente-
cancer. mente são: dispneia, dor torácica, edema cervico-fa-
cial, circulação venosa colateral e cianose.
Objectives: The aim of this review was to highlight
the tuberculosis epidemiology and the difference A gravidade do quadro clinico é determinado pela
between developed and undeveloped countries; to velocidade de instalação dos sintomas.
describe the efects of a timely identification of gran-
Caso clinico: doente sexo masculino, 63 anos, com
ulomatous disease that may alter the clinical course
antecedentes de hipertensão, diabetes melitus, fu-
and respective prognosis of the patients and stand
mador, hiperplasia benigna da prostata, dislipidemia
out peritoneal or/and abdominal tuberculosis as a
e obesidade, polimedicado. Inicia quadro de edema
rare entity seen in the literature.
da face e do pescoço à diteita subitamente acompa-
Methods: The inclusion criteria were any peer-re- nhado de dispneia de agravamento progressivo, as-
viewed observational or interventional human sim como expectoração purulenta. Recorre ao seu
studies or case reports describing granulomas and médico assistente que diagnostica “uma alergia ” e
abdominal tuberculosis, from 1 January 2018 to medica sintomáticamente com um corticóide e um
31 December 2019. We searched PubMed, using anti-histaminico. Por agravamento do edema e da
combined keywords for tuberculosis (TB) and peri- dispneia com ortopneia recorre ao serviço de urgên-
toneal tuberculos in the search queries. To stipulate, cia e o quadro é interpretado como uma suspeita de
we used (“tuberculosis” OR “abdominal tuberculo- infeção respiratória tendo tido alta medicado com
sis” OR “peritoneal tuberculosis”) and (“generalized um antibiótico e mantendo a restante terapêutica
lymphadenopathy” OR “peritoneal disease” OR “can- durante mais 8 dias.
cer”). We also searched World Heath Organiza-
Por manter as mesmas queixas foi internado em
tion about the tuberculosis data and also respective
Serviço de Medicina Interna com a hipótese de
guidelines.
síndrome da veia cava superior de etiologia a es-
Discussion and Conclusions: This review highlights clarecer. Nesta altura o doente referia uma perda
the importance of the patient’s epidemiology. Com- ponderal de 8kg nos últimos 6 meses com anorexia
paring to Portugal, the TB incidence in developing associada.
countries was higher. It also highlights the great
Nos exames realizados detectou-se um alargamen-
mimicker that simulates a large number of diseases
to do mediastino.
and its peritoneal variant can clinically behave like a
different abdominal pathology, and also the risk of Durante o internamento chegou-se ao diagnóstico
misdiagnosis in patients with generalized lymphade- de uma das causas mais frequentes de sindrome da
nopathy, peritoneal disease and cancer, particularly veia cava superior.
in young patients. TB and cancer share many simi-
larities in symptoms and radiology and laboratory re- Cerca de 3 meses após o diagnóstico o doente
sults. True diagnosis with and correct follow-up can mantendo o esquema de quimioterapia apresenta
decrease patient morbidity and deaths. Abdominal como intercorrência episódio de quadro séptico
tuberculosis is not a common form of extrapulmo- com ponto de partida respiratório, acompanhado de
nary tuberculosis, however, should be considered in expectoração infectada com bactéria multirresisten-
developing countries. There are also a lot of diag- te. Faz pneumotórax, empiema e afundamento pro-
nostic procedures for TB in the literature, but none gressivo do estado geral. Prognóstico reservado.
of them is completely specific or sensitive. It is very
important to be multidisciplinary with professional Conclusão:
inputs from all related fields to achieve the best out-
comes of diagnosis and treatment for the patients. Sempre que haja suspeita deste síndrome deve
ser efectuado radiografia torax, seguido de bron-
PA n.º 0642  cofibroscopia (citologia da expectoração, biopsia
De Alergia a Neoplasia – Síndrome da Veia Cava aspirativa com exame histológico). A TC Torax é
Superior obrigatória. É ainda fulcral a realização de TC abdo-
Marta Rosario(1);Luis Fernando Forte(1) mino-pélvica e cranio-encefálica assim como PET
(1) Centro Hospitalar de Leiria / Hospital de Santo no estadiamento da neoplasia. Restantes exames
André complementares de diagnóstico devem ser realiza-
dos segundo os achados nos exames anteriores.

220
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
PA n.º 0662  infiltração e inflamação dos vasos linfáticos secun-
Síndrome de Lofgren - uma apresentação atípica dários a uma neoplasia primária. Embora o envolvi-
de Sarcoidose mento pulmonar seja a apresentação mais comum
Letícia Leite(1);Olinda Miranda(1);Ana Ferreira(1);- da LC e remonte a uma fase evoluída de malignida-
David Paiva(1);Glória Alves(1);Jorge Cotter(1) de com mau prognóstico, apenas 6-8% das metásta-
(1) Centro Hospitalar do Alto Ave, EPE / Hospital da ses pulmonares são explicadas por LC. Destes, 80%
Senhora da Oliveira são adenocarcinomas sendo os tumores primários
mais comuns da mama, pulmão, estomago, cólon,
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas- entre outros. Os autores expõem um caso de um
culites doente com histórico de adenocarcinoma do colon
que se apresenta de forma sintomática com LC pul-
Introdução: O Síndrome de Lofgren (SL) é um tipo monar.
raro de sarcoidose, descrito em 1946 pelo Pneumo-
logista Sven Lofgren. Ao contrário da sarcoidose, CASO CLÍNICO: Homem, 77 anos, autónomo, com
que usualmente apresenta um curso indolente, o SL antecedentes relevantes de Síndrome de Lynch e
tem uma a apresentação aguda caracterizada pela adenocarcinoma do colon, submetido a hemicolec-
presença de eritema nodoso, linfadenopatia bilate- tomia direita inicial e posterior totalização de colec-
ral, febre e poliartrite migratória. tomia com anastomose ileorretal, sob quimioterapia
adjuvante. Recorre ao serviço de urgência (SU) por
tosse produtiva e dispneia para pequenos esforços
Caso clínico:  Mulher, 41 anos, sem antecedentes com 15 dias de evolução. Ao exame físico destacar
pessoais ou familiares de relevo. Foi enviada à taquicardia, spO2  em ar ambiente de 90%  e auscul-
consulta de doenças auto-imunes por lesões cutâneas tação cardio-pulmonar sem alterações. Gasimetri-
eritematosas e dolorosas nos membros inferiores camente com hipoxemia (pH 7.37, pCO2 28.9, pO2
com cerca de um mês de evolução, compatíveis com 54.8). Analiticamente anemia estabilizada, sem leu-
eritema nodoso. Associadamente, artralgias com cocitose ou neutrofilia, PCR 6.3 e troponina negati-
padrão inflamatório, migratórias e febre. Sem queixas va. A radiografia torácica evidenciava padrão inters-
do foro respiratório. Analiticamente apresentava ticial micronodular e reticular e linhas B de Kerley. A
anemia de doença inflamatória, trombocitose com angiotomografia computorizada de tórax despistou
393 000 plaquetas (range 150 000-350 000), PCR de TEP e condensações pneumónicas porém, destacou
95.5 mg/L (normal < 3), VS de 38 mm (range 0-12) e derrame pleural bilateral ligeiro, adenomegalias dis-
enzima conversora de angiotensiva de 46 U/L (range persas, espessamento de septos interlobulares as-
35-90). Realizou tomografia computorizada do tórax sociada a múltiplos nódulos milimétricos sugerindo
que mostrou múltiplas adenomegalias (mediastíni- diagnóstico de linfangite carcinomatosa. Em equipa
cas, hilares, pré-traqueais, pré-vasculares, subcari- decidiu-se não realizar biópsia pulmonar pelos ris-
nais,para-traqueais), as maiores com 19 mm de eixo cos inerentes à técnica e visto que não alteraria o
curto. A contagem de células do lavado bronco-al- plano de orientação. O doente iniciou ventilação me-
veolar (LBA) demonstrou uma relação CD4/CD8 au- cânica não invasiva para controlo de sintomas e foi
mentada (73.6%/18%). A análise citológica do LBA orientado para cuidados paliativos.
revelou múltiplos macrófagos, sem células neoplási-
cas, com bacteriológico e micobateriológico do LBA DISCUSSÃO: A LC é uma possível causa de insu-
negativos. Cerca de 2 anos depois, apresentou reso- ficiência respiratória grave que, apesar da sua ra-
lução espontânea das alterações cutâneas, articula- ridade, deve ser tida em conta como diagnostico
res e com redução tomográfica das adenomegalias. diferencial, sobretudo em doentes com histórico de
neoplasia. O diagnóstico é presuntivo na maioria
Discussão/conclusão: O caso clínico apresentado dos casos e o tratamento deverá ser definido caso a
é típico de SL, com prevalência aumentada no sexo caso sob orientação de equipa multidisciplinar.
feminino e com apresentação aguda caracterizada
por febre, eritema nodoso, artralgias migratórias e PA n.º 0673 
linfadenopatia, e tal como descrito na literatura, com SÍNDROME DE GUILLAIN-BARRÉ EM TEMPOS DE
resolução habitualmente em 2 anos, por vezes sem PANDEMIA
necessidade terapêutica. Sandra Raquel Sousa(1);Lília Castelo Branco(1);-
Micaela Sousa(1);Pedro Simões(1);Cátia Marisa l.
PA n.º 0669  Pereira(1);Miriam Blanco(1)
LINFANGITE CARCINOMATOSA: UMA APRESENTA- (1) Unidade Local de Saúde do Nordeste
ÇÃO DRAMÁTICA
Sandra Raquel Sousa(1);Miguel vb Machado(2);Lília Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas
Castelo Branco(1);Ana Rita Lopes(1);Cátia Marisa l.
Pereira(1);Miriam Blanco(1) Introdução: A Síndrome de Guillain-Barré (SGB) é a
(1) Unidade Local de Saúde do Nordeste (2) Centro polineuropatia (PN) inflamatória aguda/subaguda
Hospitalar de S. João, EPE mais comum que surge após um processo infecio-
Tema: Doenças oncológicas so, cirurgia ou vacinação, resultando numa resposta
imune dirigida ao sistema nervoso periférico com
desmielinização e/ou degeneração axonal. O vírus
Introdução: A linfangite carcinomatosa (LC) é uma SARS-CoV-2 pode desencadear processos imuno-

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 221


mediados que por mimetismo molecular podem por dispneia de esforço, ortopneia e dispneia paro-
despoletar distúrbios auto-imunes como a SGB. xística noturna desde há 6 meses, com agravamento
progressivo. Analiticamente com 470000 plaquetas/
CASO CLÍNICO: Homem, 61 anos, autónomo, hi- uL, TSH normal e serologias de VIH, hepatite B e he-
pertenso, recorre ao SU por paralisia flácida nos patite C negativas. Realizada RMN cardíaca, com
membros inferiores com evolução progressiva para dilatação biauricular e biventricular, hipocontractili-
membros superiores com 8 dias de evolução e para- dade global com compromisso grave da função sis-
lisia facial bilateral, disartria e disfagia para líquidos tólica do ventrículo esquerdo (fração de ejeção – FE
desde há 3 dias. Referia toma da vacina antigripal - 19%) e direito (FE 35%), sem achados sugestivos
e contacto com doente SARS-CoV-2 positivo 1 mês de edema, fibrose, infiltração anómala ou isquemia.
antes. À admissão: défices motores supracitados e Assumida MDNI por toxicidade de anagrelide, que foi
reflexos osteotendinosos ausentes nos 4 membros, suspenso e iniciado interferão para controlo de con-
TA 205/101mmHg, normocárdico, eupneico e apiré- tagens hematológicas. Otimizados diuréticos e tera-
tico. Angio-TC crânio-encefálico  descartou lesões pêutica modificadora de prognóstico, com melhoria.
isquémicas/hemorrágicas/ocupantes de espaço. Após 6 meses, realizou reavaliação ecocardiográfica
Analiticamente, neutrofilia relativa, PCR 3,28mg/dL, com recuperação da função sistólica do ventrículo
citólise hepática ligeira, sem défices vitamínicos e esquerdo (FE 42%), sem disfunção ventricular direi-
função tiroideia normal. PCR SARS-CoV-2 negativo. ta. Sem novos internamentos por descompensação
Punção lombar com proteinorráquia e glicorráquia de insuficiência cardíaca (IC).
com dissociação albumino-citológica. Colocou-se Discussão:  O anagrelide associa-se a efeitos car-
a hipótese de SGB pelo que iniciou Imunoglobulina diovasculares adversos, sobretudo taquicardia e
endovenosa (Ig IV). Rastreio sético, estudo imune, palpitações (26-36%), mas também IC e miocardio-
vírus/serologias negativo. Eletromiografia a sugerir patia (2%). Pode ocorrer miocardiopatia após meses
PN de predomínio motor e desmielinizante. RMN co- a anos de tratamento com anagrelide, com alguma
luna sem alterações significativas. TC tórax com es- evidência de reversibilidade após suspensão do fár-
cassas opacidades em vidro despolido subpleurais. maco. Não é claro se existe uma relação entre dose
Antigénio e nova PCR para SARS-CoV-2 negativos e diária e risco de miocardiopatia. Dado que os efei-
serologias IgM e IgG positivas. Dado contexto epi- tos cardiotóxicos são mais comuns em doentes com
demiológico, clínica e achados nos exames admitiu- doença cardíaca (24% vs. 7%), uma avaliação cardio-
-se o diagnóstico de SGB após infeção COVID-19. O vascular deverá ser considerada antes da introdução
doente evoluiu favoravelmente após Ig IV, sem reper- do fármaco.
cussão ventilatória ou disautonómica, mantendo pla-
no de fisioterapia com recuperação quase total dos PA n.º 0726 
défices neurológicos.  Quando a biópsia é dispensável: um caso de carci-
noma hepatocelular
DISCUSSÃO: Durante a pandemia, foram descritos Ricardo Pereira(1);Mariana Marçal(1);Pedro Vas-
casos de SGB como complicação neurológica da in- ques(1);Emily González(1);Violeta Suruceanu(1);Hu-
feção por COVID-19. Assim, alterações no exame clí- go Jorge Casimiro(1);Beatriz Navarro(1);Mário Par-
nico neurológico nestes doentes devem conduzir  a reira(1);Ermelinda Pedroso(1)
suspeição deste diagnóstico e rápida orientação. (1) Centro Hospitalar de Setúbal, EPE / Hospital de
Contudo, são necessário mais investigação para São Bernardo
corroborar a correlação fisiopatológica destas duas
patologias. Tema: Doenças oncológicas
PA n.º 0699 
Miocardiopatia dilatada por toxicidade de anagreli- O carcinoma hepatocelular (CH) é uma neoplasia
de primária que normalmente ocorre em doentes com
João Rocha(1);Rita Gouveia(1);Cecília Caramu- doença hepática crónica e cirrose. No entanto, em
jo(2);Ana Ribeiro(1) até 25% dos casos não se identifica esta relação ou
(1) Centro Hospitalar de S. João, EPE (2) IPO Coim- existência de outros fatores de risco. O estudo com-
bra plementar deve ser guiado por algoritmos, otimizan-
do recursos e prevenindo complicações de técnicas
Tema: Doenças cardiovasculares dispensáveis, como a biópsia hepática.

Introdução: A miocardiopatia dilatada não isquémi- Apresenta-se o caso de uma doente de 43 anos, sau-
ca (MDNI) é etiologicamente heterogénea e a toxici- dável e sem história de consumo etanólico, que refe-
dade por fármacos deve ser considerada. ria quadro de anorexia, náuseas, vómitos, cansaço e
perda ponderal de 18kg (26% do peso corporal) com
Caso clínico: Homem, 61 anos. Ex-fumador (2 UMA), 4 meses de evolução. Após realização de ecografia
obeso (IMC 39 kg/m2) e com neoplasia mieloproli- abdominal que evidenciava multinodularidade hepá-
ferativa crónica há mais de 10 anos - há 3 anos sob tica, foi encaminhada ao hospital para investigação
anagrelide 1mg/dia e flebotomias regulares. Sem etiológica. Objectivamente apresentava-se emagre-
doença cardiovascular, etilismo ou miocardiopatias cida, com aumento do perímetro abdominal, hepa-
familiares. Internado no Serviço de Medicina Interna tomegália palpável e semiologia de ascite. A avalia-

222
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
ção analítica revelou padrão de colestase hepática Ficou medicado com anti-inflamatório não esteróide
sem alteração das transaminases, hipercalcémia e oral e corticoide tópico, sem melhoria após um mês.
alfa-fetoproteína (αFP) >20000 ng/ml. As serologias Realizada biópsia cutânea: paniculite lobular, compa-
de hepatites virais foram negativas. Realizou tomo- tível com Eritema induratum de Bazin.
grafia computorizada toraco-abdomino-pélvica com
contraste trifásico que mostrava fígado multinodu- Encaminhado a Centro de Diagnóstico Pneumológi-
lar, destacando-se conglomerado nodular de 15cm co onde realiza IGRA negativo, iniciou antibacilares
de diâmetro, com rápida captação de contraste na com regressão das lesões sem recorrência das mes-
fase arterial e washout precoce na fase venosa. Foi mas.
feita paracentese cujo exame anatomo-patológico
foi negativo para células neoplásicas. Na ausência Com este caso os autores pretendem dar relevo à im-
de hepatite aguda, presença de achados típicos na portância da marcha diagnóstica, neste caso apenas
TC e αFP >1000 ng/ml, assumiu-se o diagnóstico de possível com biópsia cutânea, e ao diagnóstico de
CH e referenciou-se a doente para a consulta de On- uma patologia associada a primoinfecção tubercu-
cologia. losa com uma terapêutica específica e que se não
tratada poderia trazer outras complicações.
Apesar da doente não ter factores de risco para CH
nem se encontrar na faixa etária de maior incidência PA n.º 0753 
desta neoplasia, as características imagiológicas e Bicitopenia e Hepatoesplenomegalia - do provável
analíticas que a doente apresentava permitiram fa- ao inusitado
zer o diagnóstico. Com este caso, salienta-se a im- Mariana Baptista(1);Ana Mondragão(1);Margarida
portância da seleção criteriosa de exames auxiliares Correia(1);Marta Barbedo(1);Joana Pimenta(1)
perante a suspeita de neoplasia hepato-biliar, o que (1) Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia / Espinho
pode dispensar a biópsia e eventuais iatrogenias.
Tema: Doenças raras
PA n.º 0737 
Um Caso de Paniculite Pouco Comum Introdução: A bicitopenia e hepatoesplenomegalia
Maria Maia(1);Patrícia Moreira(1);Carla Noro- são frequentes na prática clínica, sendo geralmente
nha(1);Alexandra Chaveiro(1);João Espírito San- enquadradas na patologia hematoncológica.  No en-
to(1);Célia Machado(1);José Lomelino Araújo(1) tanto, é necessário um elevado índice de suspeição
(1) Hospital Beatriz Ângelo para outras patologias, integrando todas as queixas
e achados.
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
Caso clínico:  Doente do sexo feminino referencia-
A paniculite é uma inflamação da gordura subcu- da para consulta de Hematologia aos 37 anos por
tânea, que se apresenta como placas ou nódulos dores ósseas, bicitopenia e hepatoesplenomegalia
subcutâneos e é uma manifestação de várias doen- conhecidas desde a infância. Aos 40 anos, realizou
ças sistémicas com diagnóstico desafiante pelas biópsia da medula óssea com identificação de célu-
etiologias distintas e abordagens específicas, sendo las de Gaucher. Realizou doseamento de glucocere-
alguns destes muito pouco comuns. brosidase em linfócitos que se revelou indetetável
confirmando o diagnóstico de Doença de Gaucher
Apresenta-se o caso de um homem, 27 anos, sem (DG). Efectuado genótipo que identificou mutação
antecedentes pessoais relevantes, que se apresen- do gene GBA1: C.1226A>G em homozigotia. À data
tou na consulta de Medicina Interna por nódulos de diagnóstico apresentava atingimento hematoló-
dolorosos nas pernas com dois meses de evolução. gico (anemia e trombocitopenia), atingimento visce-
Sem febre, queixas articulares, alterações intestinais ral (volumosa hepatoesplenomegalia) e atingimento
ou outras queixas associadas; sem quadro infeccio- ósseo (Ressonância Magnética: alteração do pa-
so recente, sem terapêutica recente. Referia ter tido drão de sinal medular ósseo com aspeto “mosquea-
queixas semelhante seis meses antes, que tinham do” e deformidade do segmento distal  dos fémures
durado um mês, com resolução espontânea. À ob- do tipo frasco de Erlenmeyer, estabelecendo um
servação com placas eritematosas enduradas nas Bone Marrow Burolen Score (BMBs) de 6; densito-
faces anterior, lateral e posterior das pernas, mais na metria: osteoporose). Iniciou tratamento com vela-
perna direita, com sinais inflamatórios, sem erosões glucerase com melhoria dos sintomas. Após 6 anos
ou exsudados ou outras alterações. Analiticamente de tratamento, apresenta-se clinicamente assinto-
sem anemia, sem leucocitose, sem aumentos parâ- mática sem citopenias, sem hepatoesplenomegalia
metros inflamatórios (VS 5mm/h). Serologias VIH, e melhoria dos scores ósseos (BMBs: 3, densitome-
VHB, VHC e VDRL negativos. Enzima conversora an- tria: osteopenia).     
giotensina normal.  HLAB27, ANA, Ac anti-dsDNA e
ANCA negativos. TC-tórax apenas com espessamen- Discussão: A doença de Gaucher é uma doença
to cúpulas pleurais e pequenas bolhas de enfisema autossómica recessiva, causada pela mutação no
paraseptais no ápex direito, sem alterações gânglio- gene GBA1 (1q21), levando à ausência da enzima
nares ou do interstício pulmonar sugestivas de sar- lisossomal glucocerebrosidase. Apesar de se tra-
coidose. tar duma entidade rara, este caso clínico pretende
demonstrar a importância da inclusão da DG nas
árvores de decisão de forma a permitir um diag-
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 223
nóstico precoce e início atempado de terapêutica mento exige corticoides em alta dose.
fundamental para evitar danos irreversíveis. De no-
tar que, neste caso, houve um atraso de 40 anos de PA n.º 0764 
diagnóstico com atingimento ósseo provavelmente CETOACIDOSE DIABÉTICA EUGLICÉMICA SECUN-
não recuperável. DÁRIA A INIBIDORES DO CO-TRANSPORTADOR
SÓDIO-GLICOSE 2
PA n.º 0760  Manuel António Monteiro(1);Luís Reis(2);Mariana
PNEUMONITE SECUNDÁRIA A INIBIDORES DE CHE- Morais(2);Mário Rodrigues(2);Luís Dias(2)
CKPOINT IMUNOLÓGICO: ENTIDADE RARA COM (1) Unidade Funcional Medicina 1.2 - Hospital de
INCIDÊNCIA CRESCENTE São José - CHULC (2) Hospital de São José
Manuel António Monteiro(1);Luís Reis(2);Mariana
Morais(2);Luís Dias(2) Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio-
(1) Unidade Funcional Medicina 1.2 - Hospital de nais
São José - CHULC (2) Hospital de São José
Introdução: os inibidores do co-transportador só-
Tema: Doenças oncológicas dio-glicose 2 (iSGLT-2) são a classe mais recente
de antidiabéticos orais. A cetoacidose diabética
Introdução: os inibidores de checkpoint imunológi- euglicémica (CADEu) é uma complicação rara, mas
co (ICI) têm tido utilização crescente no tratamento com incidência crescente após a introdução destes
de várias neoplasias, com resultados promissores. fármacos.
Bloqueiam vias inibitórias do sistema imunológico,
permitindo uma resposta imune anti tumoral mais Caso clínico: uma mulher de 66 anos, instituciona-
agressiva. Essa resposta, baseada em células T, é lizada por psicose paranoide, com diabetes tipo 2
contudo inespecífica, podendo danificar tecidos nor- (DM2) com mais de 10 anos de evolução, foi admi-
mais do hospedeiro. Vários efeitos adversos imuno- tida por perda progressiva da autonomia no último
mediados começam a ser descritos. mês, a culminar com prostração 2 dias antes. Era
medicada com metformina e sitagliptina, e 2 meses
Caso clínico: um homem de 61 anos, com carcino- antes foi iniciado iSGLT-2 por mau controlo metabóli-
ma de células renais sob terapêutica com nivolumab, co. À admissão estava em coma, febril, hemodinami-
foi à urgência por febre, tosse produtiva e dispneia camente estável, com glicémia 247 mg/dL e cetone-
com 10 dias. Tinha leucocitose com neutrofilia ab- mia “high”. Gasimetricamente (ar ambiente) tinha pH
soluta, elevação da proteína C reativa e da procalci- 7,29; pCO2 20; pO2 97; HCO3 9,7 e anion gap 38,4; os
tonina (19,12ng/mL). A tomografia computorizada parâmetros inflamatórios, troponina, função renal e
(TC) de tórax mostrou extenso infiltrado bilateral, hepática eram normais.
com consolidação e broncograma aéreo. Por pneu-
monia grave com necessidade de ventilação mecâ- Foi assumida CADEu, corrigida ao fim de 24 horas
nica invasiva esteve 9 dias em Cuidados Intensivos; de perfusão de insulina, com superficialização do
cumpriu 7 dias de piperacilina/tazobactam (sem estado de consciência; o péptido C mostrou insuli-
isolamentos microbiológicos) e foi transferido para nopénia absoluta (0,3 ng/mL, normal 0,9-7,1). Às 72
enfermaria com oxigénio (O2) a 2,5 litros/minuto por horas iniciou dispneia e hipoxemia importante, com
cânula nasal. Duas semanas depois iniciou nova hi- franca leucocitose e neutrofilia absoluta, interpreta-
poxemia grave, com necessidade de incremento do dos como pneumonia de aspiração secundária ao
O2 até 12 litros por máscara de alto débito. Esteve estado comatoso prévio. Iniciou antibioterapia empí-
sempre apirético, não teve elevação dos parâmetros rica de largo espectro, mas teve agravamento clínico
inflamatórios, e o rastreio séptico foi novamente ne- persistente e faleceu no 6º dia.
gativo. Repetiu TC que desta vez mostrou extensas
alterações fibro-cicatriciais alternadas com vidro Discussão: na DM2 de longa evolução, a disfunção
despolido. Por suspeita de pneumonite fez 3 dias de progressiva das células beta pode levar à deficiên-
metilprednisolona 1,5 mg/kg/dia, seguidos de 3 se- cia absoluta de insulina, e consequente descontrolo
manas de prednisolona em redução progressiva da metabólico. A introdução de iSGLT-2 pode ser tenta-
dose. Houve franca melhoria sintomática, a permitir dora, uma vez que reduzem a glicémia ao promover a
suspensão do aporte de O2 e alta. excreção renal de glicose. Contudo, estes fármacos
não resolvem a insulinopénia nem a cetogénese se-
Discussão: com a utilização mais frequente dos ICI, cundária, resultando em CADEu; as glicémias relati-
a Medicina Interna será confrontada cada vez mais vamente controladas pela glicosúria podem levar ao
com as várias complicações imunomediadas. A atraso no diagnóstico desta complicação. A produ-
pneumonite é definida pela presença de clínica res- ção basal de insulina deve ser estimada através do
piratória e lesões de novo na TC, após exclusão de péptido C, antes de iniciar iSGLT-2 em doentes com
infeção ou progressão tumoral. É uma complicação DM2 de longa data.
rara (incidência 3-5%), mas potencialmente fatal se
não diagnosticada ou incorretamente tratada. Neste PA n.º 0772 
caso, foi imperativo reconhecer que não estávamos Artrite séptica e eritema nodoso, duas consequên-
perante nova infeção respiratória. Um elevado índice cias de uma amigdalite bacteriana?
de suspeição é fundamental, uma vez que o trata- Catarina Semedo Graça(1);Paulo Fernandes(1);Pau-
lo César(1);Vera Guerreiro(1);José Vaz(1)
224
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
(1) Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo, EPE / A demência é uma síndrome neurológica, crónica,
Hospital José Joaquim Fernandes progressiva e incurável, cuja prevalência tem vindo a
aumentar devido ao envelhecimento da população.
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias Existe um grande desconhecimento entre profis-
sionais de saúde e cuidadores relativamente à me-
A artrite séptica é uma forma de artrite aguda des- lhor abordagem da alimentação nos doentes com
trutiva, resultante na maioria das vezes de transmis- demência avançada e não são realizadas diretivas
são hematogénea, sendo os agentes mais comuns antecipadas de vontade, levando muitas vezes a
o S.aureus e Streptococcus sp. O eritema nodoso diferentes intervenções de acordo com os clínicos.
é a forma mais comum de paniculite, sendo consi-
derado um processo reactivo incomum, que pode Objetivos:
ser desencadeado por uma grande variedade de Analisar a abordagem à nutrição – colocação ou
estímulos, tais como infecção, fármacos ou doença não de Sonda Nasogástrica, em doentes com de-
inflamatória intestinal. mência avançada (definida para efeitos deste estu-
do como ADEPT Score superior a 16,1) internados
Mulher de 66 anos, com antecedentes pessoais de no Serviço de Medicina entre 1 de Maio e 1 de Ju-
hipertensão arterial, diabetes mellitus tipo 2 e dislipi- nho de 2021.
demia. Recorreu ao Serviço de Urgência por quadro
de gonalgia direita, com edema, calor e rubor local, Material e Métodos:
tendo sido medicada com Flucloxacilina e Naproxe-
no. Retoma uma semana depois por agravamento Análise observacional prospetiva de uma amostra
dos sinais inflamatórios e limitação funcional, as- consecutiva de todos os doentes admitidos num
sim como aparecimento de lesões cutâneas nodu- Serviço de Medicina Interna, com diagnóstico prévio
lares eritematosas e dolorosas nos membros infe- de demência e em estadío avançado, relativamente
riores. Negava outra sintomatologia. Referia quadro à colocação de Sonda Nasogástrica para nutrição.
de amigdalite com cerca de 2 semanas antes das
Resultados:
queixas, que tratou com anti-inflamatórios. À obser-
Estiveram internados 108 doentes neste período,
vação destacavam-se lesões cutâneas compatíveis
dos quais 8 cumpriam os critérios definidos (de-
com eritema nodoso nos membros inferiores, assim
mência avançada, com ADEPT score superior a 16,1
como sinais inflamatórios do joelho direito, com in-
pontos), tendo a maioria sido internada por intercor-
capacidade para a flexão > 30º. Por suspeita de artri-
rências infeciosas (5 doentes). Todos eles foram
te foi realizada artrocentese com saída de líquido ci-
avaliados por Terapia da Fala e todos apresentavam
trino límpido. Analiticamente a destacar leucocitose
disfagia, tendo sido todos eles submetidos a colo-
17580/L com neutrofilia 81.7%, PCR 26mg/dl; trom-
cação de sonda nasogástrica. Apenas 1 doente não
bocitose 486000/L. Iniciou antibioterapia com Pipe-
exteriorizou a mesma (internado por hemorragia
racilina/Tazobactam por suspeita de artrite bacteria-
digestiva alta), 4 apresentaram episódios múltiplos
na que cumpriu durante 7 dias, com melhoria não só
de agitação psicomotora e 3 deles estiveram sob
dos parâmetros inflamatórios e dos sinais inflama-
medidas de contenção física por “risco de queda” e
tórios do joelho mas também regressão do eritema
para “evitar exteriorização de SNG”. Destes 3 doen-
nodoso. Culturas do líquido articular sem isolamento
tes, apenas um não faleceu durante o internamento
de agente, e estudo imunológico negativo.
hospitalar.
A presença da clínica e da avaliação laboratorial
Conclusões:
assim como a evolução do caso são sugestivas de
artrite séptica por possível disseminação hemato- Na fase terminal de uma doença crónica, progres-
génea de infeção bacteriana da orofaringe, mesmo siva e incurável, como é a demência, atitudes inva-
na ausência de isolamento de agente, assim como sivas como a colocação de sonda nasogástrica de-
desencadeado o processo imune resultante no erite- vem ser sempre tomadas em prol e para benefício
ma nodoso. Desta forma temos duas complicações dos doentes, idealmente com envolvimento dos fa-
raras de uma infeção orofaríngea, mostrando a rele- miliares. A Sonda Nasogástrica não é inócua e pode
vância do tratamento adequado das infeções bacte- ser fonte de sofrimento para o doente, tal como os
rianas. meios de contenção física.
PA n.º 0774  A formação básica em Cuidados Paliativos, a defi-
Nutrição na demência avançada – uma (nova) velha nição de critérios para colocação de sonda naso-
preocupação... gástrica em doentes com demência avançada, e o
David Campoamor Duran(1);Isabel Taveira(1);Henri- conforto do doente devem ser uma prioridade do
que Rita(1) quotidiano do internista e da sua abordagem global
(1) Unidade local de Saúde do Litoral alentejano, ao doente e à família, idealmente explicando evo-
EPE lução esperada das doenças e tomando decisões
atempadamente. Com este trabalho, os autores pre-
Tema: Cuidados paliativos
tendem demonstrar o longo caminho que ainda há
a percorrer naquela que deve ser a nossa primeira
Introdução: prioridade – o doente e o seu bem-estar ao longo de

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 225


todos os períodos de evolução da sua doença. prescritos (2.2 vs 2.11)
PA n.º 0776  Conclusões: Os elementos centrais da SM têm
Avaliação do impacto da Síndrome Metabólica na efeito sinérgico e interligado, traduzindo uma maior
consulta de Diabetologia prevalência de complicações de DM, maior comor-
João Barros Rodrigues(1);Inês Salvado(1);Maria bilidade e maior desafio no controlo de todos os
Pacheco(1);Joana Caires(1);Filipe Martins(1);Vasco fatores, mas poderá ser visto na perspectiva de no-
Neves(1);Maria João Baldo(1);Paulo Roboredo(1);- vos alvos farmacológicos e terapêuticos. O uso de
João Correia(1) critérios de fácil aplicação devem nos levar a iden-
(1) Unidade Local de Saúde da Guarda, EPE / Hospi- tificar doentes com maior risco de complicações e
tal Sousa Martins tomar medidas ativas e preventivas de forma mais
agressiva tendo em consideração a fisiopatologia
Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio- conhecida da SM.
nais
PA n.º 0792 
Introdução: A síndrome metabólica (SM) refere-se à Esclerose Múltipla, Emergência Hipertensiva e Mi-
co-ocorrência de vários fatores de risco cardiovas- croangiopatia Trombótica: Qual a relação?
culares, tendo na base a adiposidade visceral e insu- Filipe Machado(1);Diana Dias(1);Ana Luisa Mar-
linorresistência. Estas condições não parecem ser ques(1);Joana Sequeira(1);Luis Andrade(1)
independentes mas sim apresentar efeito sinérgico (1) Centro Hospitalar de Entre Douro e Vouga, EPE /
no desenvolvimento de um estado pró inflamatório Hospital de S. Sebastião
sistémico. Entender este sinergismo é a base para Tema: Doenças cardiovasculares
melhor abordar estes doentes e potencialmente de-
senvolver novas terapeuticas dirigidas. Existe ainda
debate sobre a sua definição, levando a várias refor- A microangiopatia trombótica (MAT) é uma doença
mulações dos seus critérios ao longo do tempo.  rara e potencialmente fatal, caracterizada por ane-
mia hemolítica microangiopática (AHMA), tromboci-
topenia e tromboses microvasculares.
Objetivo: Comparação da população com e sem sín-
drome metabólica em consulta de diabetologia.
Mulher de 47 anos, com Esclerose Múltipla (EM), sob
Interferão (IFN)-β 1-a há 18 anos. Recorreu ao servi-
Métodos: Recolhemos dados clínicos de 164 doen- ço de urgência por hipovisão do olho esquerdo com
tes a frequentar a consulta de diabetologia num 8 dias de evolução. Apresentava hipertensão (HTA)
hospital distrital. Foram recolhidos dados através grau 3, petéquias bilaterais nos membros superiores
do Sclinic e MODULAB, relativos a idade, sexo, etnia e edema ligeiro das mãos e peri-orbitário. A fundos-
, peso e altura, motivo de referenciação, comorbili- copia revelou retinopatia de grau III. Estudo analítico
dades e complicações das suas doenças, medica- inicial com AHMA e trombocitopenia. Documentou-
ção prévia e alterações de medicação efectuadas, -se também lesão renal aguda e o sedimento uriná-
estudo complementar disponivel e realizado na con- rio apresentava eritroproteinúria. O rácio proteínas/
sulta, alterações a atitudes terapeuticas tomadas e creatinina em urina ocasional estimou uma proteinú-
a compliance do doente à terapêutica e seguimento ria de 4g/24h. A albumina sérica era normal bem
propostos. Foi feita análise estatística dos dados como o ecodoppler renal. Uma tomografia computa-
usando Excel. Foi feita análise de toda a população dorizada crânioencefálica excluiu lesões isquémicas
e posteriormente divisão em dois grupos, os com ou hemorrágicas. Do restante estudo, o painel imu-
SM e os sem SM, sendo para a divisão usados os nológico foi negativo. Sem consumo de complemen-
critérios da IDF de 2009. Fizemos também compa- to. As serologias víricas foram negativas. Na ausên-
ração usando os critérios da AACE de 2003, cuja cia de sintomas gastrointestinais, a toxina shiga não
definição inclui obesidade como critério obrigatório. foi testada. A atividade da ADAMTS 13 era normal. O
diagnóstico de MAT induzida por IFN foi considerado
Resultados: A prevalência de SM em doentes na o mais provável e o fármaco foi suspenso. A
consulta de diabetologia foi de 83.8% usando crité- hemólise e a trombocitopenia resolveram e a função
rios da IDF mas apenas 35.1% usando os critérios renal melhorou gradualmente. A pressão arterial
da AACE. Da análise feita pudemos notar uma dis- (PA) manteve-se controlada permitindo uma redução
crepância considerável relativamente a complica- progressiva dos anti-hipertensores.
ções da DM entre o grupo com SM e sem SM, sendo
que 96.9% dos doentes com SM apresentava com- A MAT associada ao INF parece ter sido o trigger ini-
plicações, versus 65.8% nos doentes sem critérios cial para o aumento súbito da PA por mecanismos de
para SM, mais notável na prevalência de DAC (26.4% vasoconstrição renal e lesões micro/ macrovascula-
vs 4%) , doença cerebrovascular (12.4% vs 0%),, res. A associação entre HTA severa e MAT encontra-
como neuropatia (8.5% vs 0%), nefropatia (35.7% vs -se bem descrita na HTA maligna, sendo responsável
8%). De notar que a prevalência de retinopatia não por lesões como a retinopatia hipertensiva. A MAT e
foi significativamente diferente ( 17.1% vs 16.0), a HTA severa podem ter contribuído para a LRA. Pre-
assim como a utilização de insulinoterapia ( 74.4% tendemos com este caso sublinhar que doentes com
vs 68%) e o número médio de antidiabéticos orais EM tratados com IFN-β devem ter a sua PA e função

226
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
renal monitorizadas regularmente. O surgimento de forma precoce.
cefaleia e/ou HTA deverá suscitar uma elevada sus-
peita diagnóstica. PA n.º 0798 
As múltiplas facetas do cancro do pulmão
PA n.º 0793  David Silva Gomes(1);João Cravo(1)
Sarcoidose com trombose venosa cerebral – A pro- (1) Centro Hospitalar do Baixo Vouga / Hospital In-
pósito de um caso clínico fante D. Pedro, EPE
André Nunes(1);Marina Coelho(1);Carina Rôlo Sil-
vestre(1);Teresa Vilaça(1);Inês Antunes(1);Ivone Tema: Doenças oncológicas
Barracha(1)
(1) Centro Hospitalar do Oeste / Hospital Distrital de Introdução: O cancro do pulmão é a principal causa
Torres Vedras de mortalidade oncológica. A metastização pulmo-
nar maciça configura um mau prognóstico.
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
culites
Caso clínico: Homem, 48 anos, previamente autó-
nomo e cognitivamente íntegro. Sem antecedentes
A sarcoidose é uma doença multiorgânica de etio- pessoais ou medicação habitual. Não fumador. Ir-
logia desconhecida, caracterizada pela presença mão com Lupus Eritematoso Sistémico. É internado
de granulomas não caseosos. Em mais de 90% dos por quadro de tosse irritativa e dispneia para esfor-
casos, afeta os pulmões e gânglios intratorácicos. ços com 1 mês de evolução, pápulas eritematosas
coalescentes arredondadas de bordos elevados na
Caso clínico: Mulher de 57 anos, admitida por assi- face anterior do tórax e toracalgia pleurítica com 1
metria da face com vertigem rotatória esquerda, cer- semana de evolução. Dos exames complementares
vicalgia,  acufenos e perda ponderal de 12 kg em 4 de diagnóstico (ECDs) à admissão, a salientar radio-
meses. À admissão: febril (38.7ºC), paralisia facial grafia torácica com infiltrados bilaterais grosseiros
periférica esquerda, grau III de House-Brackmann. dispersos em ambos os hemicampos pulmonares
Ressonância magnética (RM) Cranioencefálica (CE) e anemia normocítica normocrómica. Dos ECDs no
normal. Radiografia de tórax: reforço hilar direito. To- internamento, identificadas múltiplas adenopatias
mografia computorizada  tórax: várias adenopatias mediastínicas e hilares e incontáveis nódulos pulmo-
mediastínicas (paratraqueal direita, pré-vascular, nares compatíveis com metastização maciça em TC
sub-carinal, hilos direito e esquerdo) e nódulos Tórax. Todo o estudo para identificação de neoplasia
subpleurais, justa-cisurais, sugestivos de formações primária realizado foi negativo. A salientar apenas
adenopáticas. Punção lombar com discreta protei- colonização por Helicobacter pylori, estudo autoimu-
norráquia. O estudo autoimune, da coagulação e se- ne com Anti-SSA/Ro52, Anti-SSA/Ro60 e Anti-SSB/
rologias infeciosas foram negativos. Durante o inter- La positivos e biópsia da lesão cutânea a revelar
namento: alterações visuais à esquerda (diminuição suspeita de vasculite urticariforme. Neste momento
da acuidade visual, escotomas e fotofobia), manten- as principais suspeitas diagnósticas seriam doença
do cefaleia frontal, vertigem e desequilíbrio. Repetiu linfoproliferativa, doença granulomatosa (sarcoido-
RM CE que mostrou trombose venosa do seio lateral se) ou metastização pulmonar por neoplasia oculta.
esquerdo e sigmóide, assim como nevrite aguda do Teve alta médica e realizou biópsia transtorácica de
nervo facial esquerdo. Teve alta sob anticoagulação nódulo pulmonar e biópsia de gânglio paratraqueal
oral e corticoterapia, referenciada à consulta. Do res- inferior esquerdo em contexto de ambulatório. Teve
tante estudo etiológico, realizou broncoscopia, bióp- episódio de reinternamento por agravamento da
sias transbrônquicas com granulomas epitelioides dispneia devido a derrame pleural esquerdo, tendo
não necrotizantes com células multinucleadas gi- realizado pleurodese química. Foi prescrita oxige-
gantes com corpos de Schaumann. Analiticamen- noterapia de longa duração e deambulação por ma-
te: elevação da enzima de conversão da angiotensi- nutenção de insuficiência respiratória hipoxémica. O
na (118 U/L). Feito o diagnóstico de sarcoidose com resultado anatomo-patológico revelou tratar-se de
envolvimento pulmonar (estádio II), ganglionar, ocu- um adenocarcinoma do pulmão, pelo que estando
lar (uveíte) e do sistema nervoso central (SNC) com em estadio IV, iniciou-se quimioterapia. Entretanto
boa resposta à continuação da corticoterapia. foi positivo para rearranjo do gene ALK, pelo que se
trocou terapêutica para Alectinib.
Discussão: Apresentamos o caso de uma doente com
sarcoidose sistémica com uma apresentação inicial Discussão: Relembra-se que a metastização pulmo-
rara. Os sintomas neurológicos ocorrem em 3-10% nar pode ter origem em neoplasia pulmonar primária,
dos casos, sendo o mais comum o envolvimento de sendo sempre necessário excluir que haja doença
pares cranianos, especialmente do VII em 15-39% oncológica extrapulmonar. A possibilidade de tera-
dos casos. A trombose venosa cerebral associada a pêutica dirigida, como os inibidores ALK, demonstra
sarcoidose é extremamente rara e a sua associação a imprescindibilidade da biópsia.
não está muito bem estabelecida, limitando-se a es-
cassos relatos de caso na literatura. Apesar de rara, PA n.º 0821 
o envolvimento cerebrovascular deve ser considera- SIADH secundária a antiparkinsonico, a ter em con-
do aquando da abordagem destes doentes de forma sideração
a permitir a instituição de terapêutica adequada de Isaac s Pereira(1);Filipa Laje(1);Filipe Almeida(1)

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 227


(1) Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo, EPE / fibromialgia e diminuição da acuidade visual, que
Hospital José Joaquim Fernandes recorreu ao SU por edema, rubor e dor peri-orbitária
à direita, com agravamento da diminuição da acui-
Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas dade visual. À observação destacava-se a presença
de lesões herpéticas com exsudado purulento e en-
Introdução: Sindrome libertação inapropriada da volvimento da asa do nariz, edema e rubor da hemi-
hormona antidiurética (SIADH) é uma condição face direita e quemose e hiperémia conjuntival. TC a
definida pela ausência de supressão da libertação destacar “espessamento de tecidos moles na região
de ADH, que causa alteração da excreção diurese, fronto-orbitária direita, sem extensão pós-septal”.
associada a hiponatrémia e híper/eu-volémia. A Pela suspeita de celulite pré-septal e sobreinfec-
etiologia do SIADH é variada, podendo ser a mani- ção bacteriana, foi internado sob valaciclovir PO +
festação de outras patologias, bem como iatrogenia flucloxacilina EV e colírios (ofloxacina e aciclovir).
medicamentosa. Avaliado pela oftalmologia com relato de presença
de úlcera dendrítica. Doente iniciou queixas de des-
conforto ocular e dor tipo queimadura na hemiface
CASO CLÍNICO: Mulher, 76 anos, autónoma, com direita, com ajuste de analgesia basal de ambulató-
antecedentes pessoais relevantes de fibrilhação rio (opióide e amitriptilina) e início de gabapentina,
auricular permanente, diabetes mellitus tipo 2 com progressiva titulação e dificuldade no controlo
não insulino-tratada. Medicada com Metformina, sintomático. Cumpriu 7 dias de flucloxacilina +10
bisoprolol e varfine, tendo introduzido Levodopa/ dias de valaciclovir e colírio com melhoria das le-
carbidopa (LC) recentemente. Trazida ao Serviço sões e dos sinais inflamatórios da face, melhoria
de Urgência por quadro de maior prostração, fadi- da hiperémia e cicatrização da úlcera dendrítica. Ao
ga muscular progressiva, náuseas e vómitos. Sem 12º dia de internamento, presença de parésia facial
outra sintomatologia acompanhante. Ao exame periférica direita, tendo iniciado corticoterapia sis-
objectivo apresentava-se orientada, com mucosas témica e reabilitação. Perante agitação e convulsão
pouco coradas, auscultação cardiaca arritmica, com em doente com infecção por vírus neurotrópico,
exame neurológico sumário sem alterações gros- realizou-se punção lombar (citoquímico com 31 cé-
seiras. Analiticamente com Leucocitose (19710/uL), lulas, predomínio de linfócitos) e iniciou aciclovir na
Neutrofilia (17000/uL), elevação da Creatinina Kina- suspeita de meningoencefalite, que suspendeu ao
se (2368U/L), Hiponatrémia severa (110 mmol/L) 4º dia por ausência de isolamento e lesão renal agu-
com Proteina C Reactiva de 0.4 mg/dL e uma Osmo- da por provável nefrotoxicidade (creatinina 4,78mg/
lalidade de 241,7 mOsm. Foi então internada para dL - basal 1,03mg/dL), com retorno ao basal após
investigação etiológica de hiponatrémia hipervo- reforço de hidratação. 
létmica. Neste contexto fez doseamento de sódio
urinário, que se encontrava elevado (160 mmol/L), Discussão: Além das complicações como a nevral-
TSH, Cortisol, FSH e LH dentro do intervalo de refe- gia ou a parésia facial periférica, existem compli-
rência, excluindo-se causas centrais. Admitiu-se en- cações oftalmológicas, e todas podem representar
tão possivel iatrogenia a LC, pelo que se suspendeu morbilidade significativa. Este caso desperta-nos
a medicação e foi feita correcção de sódio sérico, ainda a atenção para a importância fundamental da
com resposta rápida e manutenção do sódio sérico semiologia, desde o sinal de Hutchinson à paresia
sem necessidade de fluidoterapia i.v.. facial periférica, passando pela caracterização da
dor, típica da nevralgia pós-herpética.
DISCUSSÃO: Embora incomum, está descrito na li-
teratura a SIADH secundária a drogas dopaminérgi- PA n.º 0867 
cas, sendo que o seu reconhecimento e tratamento ASPERGILOSE INVASIVA COMO COMPLICAÇÃO DE
são importantes para evitar um desfecho sombrio. PNEUMONIA A SARS-CoV2
Valter Duarte(1);Gisela Gonçalves(1);Ana Olivei-
PA n.º 0840  ra(1);Mariana Leal(1);Carolina Amado(1);Margarida
Um caso de herpes zoster oftálmico ou uma “série Cruz(1)
de desgraças”? (1) Centro Hospitalar do Baixo Vouga / Hospital In-
Margarida Paixão-Ferreira(1);Vera Cesário(1);José fante D. Pedro, EPE
Vaz(1)
(1) Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo, EPE / Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
Hospital José Joaquim Fernandes
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias A aspergilose invasiva é uma complicação comum
em doentes críticos com infeções respiratórias ví-
ricas, sem fatores de risco para infeções fúngica.
Introdução: O herpes zoster oftálmico representa No último ano, vários casos de aspergilose invasiva
10-20% dos casos. O sinal de Hutchinson é preditor têm sido descritos em doentes críticos com pneu-
de complicações oculares. As complicações cor- monia severa a SARS-CoV2.
neanas ocorrem em 65% dos casos. Os doentes
mais velhos têm maior risco de nevralgia pós-herpé-
tica. Homem, 87 anos, hipertenso, admitido na urgência
por dispneia e febre, estando medicado com azi-
tromicina por suspeita de infeção respiratória, com
Caso Clínico: Homem de 73 anos, com história de
228
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
teste SARS-CoV2 negativo. Analiticamente  com lin- alterações relevantes. Dos exames complementares
fopenia, neutrofilia, elevação da proteína C reativa de diagnóstico realizados salienta-se: aumento dos
e D-dímeros. Iniciou ceftriaxone e manteve azitro- parâmetros inflamatórios (19200/μL leucócitos, 76%
micina. Realizou angio-TC torácica com alterações de neutrófilos, proteína C reativa 20,59 mg/dL), fun-
sugestivas de infeção por SARS-CoV2. As HC, autoi- ção hepatobiliar normal, amilasémia 35 UI/L e lipasé-
munidade,  serologias e pesquisa de atípicos foram mia 108 UI/L; hemoculturas e urocultura negativas;
negativas. Realizada broncofibroscopia (BF0) com tomografia computorizada abdominal: “densificação
lavado broncoalveolar (LBA) sem isolamentos. Por adiposa e fascial peripancreática corpocaudal, em
febre mantida apesar de vários ciclos de antibiote- favor de pancreatite”; ressonância magnética abdo-
rapia realizou reavaliação por TC-torácica, a mos- minal: “alteração de sinal na gordura peripancreáti-
trar consolidação sugestiva de necrose/abcedação. ca caudal e no espaço pararrenal anterior esquerdo,
Apresentou teste positivo para SARS-CoV2. Efetua- sem evidência de litíase vesicular, compatível com
da nova BFO, positiva para Aspergillus fumigatus no pancreatite aguda alitiásica”. Durante o internamen-
LBA. Realizou 3 instilações endobrônquicas com to fez pausa alimentar, iniciou hidratação e antibio-
anfotericina B e iniciou voriconazol. Desenvolveu en- terapia empírica com Ceftriaxone, verificando-se me-
doftalmite secundária do olho direito. Teve alta sob lhoria clínica e analítica progressivas. A amilase e a
voriconazol. Readmitido após 2 semanas por febre, lipase permaneceram normais.
hemiparésia esquerda e disartria com 3 dias de evo-
lução. Apresentava rigidez cervical e desvio oculo- Discussão: 
cefálico direito. A TC-CE mostrou hidrocefalia direi-
ta, condicionada por provável lesão infiltrativa, sem Embora raros, estão descritos casos de PA sem
indicação cirúrgica. A punção lombar foi sugestiva elevação da amilase e lipase. Perante uma clínica
de meningite fúngica, sem isolamento de agente. Al- sugestiva é importante manter um elevado nível de
terado antifúngico para anfotericina B, com melhoria suspeição e efetuar exames imagiológicos que com-
clinica transitória. A RMN-CE evidenciou lesões su- provem essa hipótese. É ainda importante referir a
gestivas de etiologia fúngica, sem desvio das estru- necessidade de investigação para compreender os
turas médias. Por má evolução clinica, acabou por se mecanismos subjacentes ao desenvolvimento de PA
verificar o óbito. sem elevação destas enzimas.

É necessário um alto índice de suspeição para o PA n.º 0876 


diagnóstico e tratamento precoces da aspergilose Massas vertebrais - nem tudo é maligno.
invasiva em doentes críticos com infeção por Rui Domingues(1);Margarida Robalo(1);Sofia Espe-
SARS-CoV2, devido ao mau prognóstico quando rança(1);André Santa Cruz(1)
disseminada. (1) Hospital de Braga

PA n.º 0875  Tema: Doenças oncológicas


Pancreatite aguda sem elevação das enzimas pan-
creáticas Introdução: As lesões solitárias da coluna vertebral
Joana Tavares Pereira(1);Andreia Machado Ribei- constituem um desafio diagnóstico maior do que as
ro(1);Sofia Cruz(1);Daniela Mateus(1);António Bap- lesões múltiplas, que maioritariamente são causa-
tista Carvalho(1);Carla Tonel(1) das por mieloma múltiplo ou lesões metastáticas.
(1) Hospital de Vila Franca de Xira Assim, as primeiras poderão necessitar de exames
complementares mais dirigidos caso não apresen-
Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá- tem na RMN características benignas.  
ticas
Caso clínico: Doente de 63 anos, sexo masculino,
Introdução:  autónomo. Antecedentes pessoais irrelevantes, ex-
-fumador (5 UMA). Referia dor lombar com anos
O diagnóstico de pancreatite aguda (PA) tem por de evolução, contudo com 2 episódios com agra-
base 2 de 3 critérios: apresentação clínica típica, vamento marcado, irradiação abdominal e inguinal,
valores laboratoriais de amilase e/ou lipase 3 vezes associado a parestesias dos membros inferiores até
acima do limite superior normal e achados imagioló- ao joelho, com resolução completa após analgesia.
gicos sugestivos. São descritos, embora raros, casos Orientado para consulta de Ortopedia, realizou TC da
de PA sem elevação destas enzimas. coluna lombar: “(...) D12 observa-se lesão da lâmi-
na direita que abrange a apófise espinhosa e parte
Caso clínico:  do pedículo, com carácter expansivo,(...)”- levantada
a hipótese de plasmocitoma ósseo. Por apresentar
Sexo masculino, 63 anos, com antecedentes pes- recidiva da dor, deslocou-se ao serviço de urgência
soais de hipertensão arterial e alergia à Amoxicilina, tendo ficado internado. Do estudo realizado, eletro-
medicado habitualmente com antihipertensores. Re- forese sem alterações, PSA dentro da normalidade,
correu ao Serviço de Urgência por febre (39,2ºC) e sem lesões suspeitas em TC de corpo. Realizou
dor abdominal em cinturão, com 2 dias de evolução. RMN lombar, que descreve ser pouco provável a hi-
Apresentava o abdómen doloroso à palpação profun- pótese de plasmocitoma, sendo mais provável uma
da no flanco lateral esquerdo, sem sinais de defesa neoplasia primária do osso. Doente acabaria por ser
ou irritação peritoneal. Restante exame objetivo sem
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 229
submetido a 2 biópsias realizadas por Neurorradio- são em SMI reportou-se apenas 1 em 83 doentes. A
logia, contudo o resultado seria inconclusivo. Assim, taxa de mortalidade intra-hospitalar foi de 21%, mas
paciente submetido a biópsia excisional - histologi- reforça-se que todos os doentes apresentavam ida-
camente sugestiva de neoplasia mesenquimatosa, de superior a 70 anos e tinham comorbilidades se-
constituída por células epitelióides e células fusifor- veras, fossem elas cardiovasculares ou neoplásicas.
mes, sem sinais de malignidade, com diferenciação
neural. Doente em seguimento em consulta de Medi- Conclusão: Doentes idosos do sexo masculino têm
cina Interna, mantendo-se assintomático. maior probabilidade de complicações e de doença
grave. Verificou-se que quase 2/3 dos doentes com
Discussão:  Os tumores primários da coluna verte- sobreinfeção bacteriana cumpriram corticotera-
bral são raros, e dada a descrição histológica, pare- pia, não se podendo concluir que esta terapêutica
ce tratar-se de uma entidade ainda mais rara dentro contribui por si só para esta complicação infeciosa
dos tumores do sistema nervoso central (<1%), um uma vez que apenas os doentes mais graves cum-
tumor fibroso solitário. Estes tumores apresentam priam terapêutica com corticóide. Com o padrão de
um comportamento benigno, com baixo risco de pro- alterações imagiológicas torácicas e aumento da
gressão maligna. experiência clínica, é expectável que a doença pul-
monar intersticial  e a doença vascular pulmonar
PA n.º 0877  sejam complicações respiratórias importantes a
COVID-19 numa enfermaria de Medicina Interna - a longo prazo. Ainda dentro do âmbito deste trabalho,
realidade de 2 meses propomos-nos reavaliar estes doentes dentro de 1
Rita Serejo Portugal(1);Maria Helena f. Silva(1);An- ano para averiguar a existência de complicações a
dré Matos Gonçalves(1);Ana Rita Sanches(1);Sónia longo prazo, nomeadamente complicações vascula-
Cunha Martins(1);Margarida Sousa Carvalho(1) res ou respiratórias, que não foram avaliados nesta
(1) Centro Hospitalar do Médio Tejo, EPE / Unidade primeira fase. Quanto à admissão em SMI, o resulta-
de Torres Novas do obtido é muito inferior a outros estudos, mas im-
porta realçar que neste período de tempo analisado
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias as Unidades Hospitalares viam os SMI no limite de
capacidade, pelo que as admissões nestas unida-
Introdução: A pandemia de COVID-19 levou a um au- des foram inferiores ao expectável para o número
mento sem precedentes do número de doentes hos- de doentes com doença grave ou severa.  No que diz
pitalizados com pneumonia viral. De acordo com respeito à taxa de mortalidade verificada, constata-
os dados internacionais, os doentes mais afetados -se que é superior à taxa de mortalidade portuguesa
são idosos do sexo masculino e aqueles com mais no geral (que corresponde a 2%). A taxa de mortali-
comorbilidades. A COVID-19 está também associa- dade intra-hospitalar em Portugal ainda não é bem
da a aumento do risco de hipercoagulabilidade e conhecida, mas alguns estudos reportam valores
tromboembolismo venoso. Grande parte dos doen- mais aproximados ao obtido neste trabalho (entre
tes internados apresenta insuficiência respiratória e, 16 a 25%).
enquanto a maioria necessita apenas de cuidados
de enfermaria, uma parte significativa requer cuida- PA n.º 0878 
dos de Serviço de Medicina Intensiva (SMI). Síndrome de Lemierre e actinomicose: uma asso-
ciação improvável
Nuno Maia Neves(1);Bernardo Vidal Pimentel(1);Su-
Objectivo: Neste trabalho pretendemos caracteri- sana Carvalho Coelho(1);Pedro Sarmento(1);Anabe-
zar os doentes admitidos numa Enfermaria COVID la Raimundo(1);Alexandra Bayão Horta(1)
numa Unidade Hospitalar com diagnóstico de infe- (1) Hospital da Luz Lisboa
ção a SARS-COV-2 e explorar fatores associados a
sobreinfeção bacteriana, admissão em SMI e mor- Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
talidade, durante 2 meses. 
Material e métodos: Estudo observacional retros- Introdução: A tromboflebite séptica da veia jugular
petivo, analisando o processo clínico de doentes interna (Síndrome de Lemierre) tem origem mais
internados numa Enfermaria COVID de uma Unida- frequentemente numa infeção orofaríngea que, pela
de Hospitalar no período de Janeiro a Fevereiro de sua extensão, ocasiona inflamação e trombose da
2021. Avaliámos as admissões em SMI, mortalidade veia jugular. A bacteriémia, tipicamente a Fusobac-
intra-hospitalar e sobreinfeção bacteriana. Os dados terium necrophorum, e a embolização séptica são
foram analisados recorrendo ao Microsoft Excel®. complicações frequentes desta entidade rara.

Resultados: Foram avaliados 83 doentes. A idade Caso clínico: Homem de 44 anos, previamente sau-
média foi 75 anos, 87% tinham mais de 60 anos, 59 dável, com febre e odinofagia com uma semana de
% eram do sexo masculino. Em 34% dos doentes evolução e dor torácica pleurítica desde há três dias.
(n=28) verificou-se sobreinfeção bacteriana como À admissão apresentava orofaringe hiperemiada,
complicação respiratória e, numa análise mais sendo a região cervical direita dolorosa à palpação.
aprofundada destes doentes, objetivou-se que 89% Analiticamente com leucocitose neutrofílica (20350/
(n=25) destes doentes tinha mais de 60 anos, 68% mcL, 17317 neutrófilos/mcL) e Proteína-C-Reativa de
(n=19) eram do sexo masculino e 71% (n=20) cum- 32 mg/dL (VR <0,60 mg/dL). A tomografia computo-
priram corticoterapia. No que diz respeito à admis-
230
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
rizada (TC) do pescoço e tórax mostrou abcesso a -se uma área positiva quando estão presentes 3 ou
intersectar a parede lateral direita e posterior da oro- mais linhas B. Para se considerar a presença de con-
faringe, com trombose da veia jugular interna direita gestão pulmonar, o doente terá que apresentar 2 ou
e condensações nodulares cavitadas dispersas no mais áreas positivas bilateralmente ou a presença
parênquima pulmonar, compatíveis com embolismo de derrame pleural. Os doentes foram divididos em
séptico. Colheu hemoculturas (crescimento de Fu- dois grupos, sendo que num deles, os achados da EP
sobacterium necrophorum) e foi realizada drenagem foram divulgados ao médico assistente e no outro
cirúrgica do abcesso (crescimento de Actinomyces foram ocultados. Esses resultados foram compara-
odontolyticus), iniciando, empiricamente, ceftriaxone dos com os valores de BNP e classe funcional NYHA,
e metronidazol. Ao nono dia de internamento, agra- através do teste Mann-Whitney e chi-quadrado.
vamento clínico, com aparecimento de derrame pleu-
ral esquerdo, cuja análise citoquímica revelou empie- Resultados: Foram incluídos 98 doentes. A idade
ma, embora sem isolamento microbiológico. Apesar média foi de 71 anos (71±13 anos), estando o géne-
da drenagem pleural fechada contínua, houve   ne- ro masculino mais representado (61,2%). A principal
cessidade de descorticação pleuropulmonar cirúrgi- etiologia da IC foi a cardiomiopatia isquémica (35,1%).
ca. Cumpriu quatro semanas de antibioterapia com Na avaliação basal, o valor mediano de FEVE foi de
ceftriaxone e metronidazol, prolongada com amoxi- 39% (P25=32, P75=52) – incluindo doentes que apre-
cilina/clavulanato, pela  actinomicose. Repetiu TC de sentavam IC com FEVE recuperada. A maioria dos
tórax, com resolução das cavitações e da quase tota- doentes encontrava-se em classe funcional NYHA I
lidade do derrame pleural. Em ambulatório manteve (48,5%), seguindo-se a classe II (40,2%). O valor me-
três meses de amoxicilina/clavulanato, sem evidên- diano de BNP foi de 165pg/mL (P25=49, P75=345), já
cia de recidiva clínica ou imagiológica. o valor mediano de hematócrito foi de 41% (P25=37,
P75=43), o de creatinina sérica foi de 0,99mg/dL
Discussão: A Síndrome de Lemierre apresenta um (P25=0,84, P75=1,40) e o de sódio 140mEq/L (P25=139,
conjunto de potenciais complicações que se devem P75=141). A percentagem de doentes com EP posi-
maioritariamente à embolia séptica e que importa re- tiva para congestão foi de 14%. Foi detetada uma
conhecer: pulmonares com formação de lesões ca- associação estatisticamente significativa entre o
vitadas necróticas ou mesmo abcessos pulmonares BNP e o padrão ecográfico (p=.033), ou seja, naque-
e empiema; articulares, com artrite supurativa por les doentes com EP positiva para congestão o valor
disseminação hematogénica e doença metastática mediano de BNP foi mais elevado (Mdn=313pg/mL;
envolvendo fígado, baço, músculo, rins, osso e endo- P25=172, P25=1047) do que no grupo sem congestão
cárdio, embora mais raras. A actinomicose cérvico- detetada ecograficamente (Mdn=148pg/mL; P25=48,
-facial concomitante é rara. P25=311). No que se refere à classe funcional NYHA,
verificou-se uma associação entre presença de con-
PA n.º 0884  gestão na EP e classes mais avançadas (p=.004),
A ecografia pulmonar na avaliação da congestão com uma representação de 28,4% em NYHA I, 42,9%
em doentes com insuficiência cardíaca crónica. em NYHA II, 28,6% em NYHA III e 7,1% em NYHA IV
Marli Cruz(1);Diana Ferrão(2);Ana Isabel Ferreira(2);- nos doentes com congestão na EP, comparados com
Francisco Sampaio(3);Joana Pimenta(3) os valores de 53,7% em NYHA I, 39,0% em NYHA II e
(1) Hospital da Luz Arrábida (2) Centro Hospitalar 7,3% em NYHA III, nos doentes sem congestão na EP.
de S. João, EPE (3) Centro Hospitalar de Vila Nova
de Gaia / Espinho Conclusões: Em doentes com IC crónica estável,
em ambulatório, a congestão pulmonar avaliada
Tema: Doenças cardiovasculares ecograficamente associa-se com o valor de BNP e
a classe funcional NYHA, podendo ser um método
Introdução: A ecografia pulmonar (EP) é útil na de- adicional na avaliação destes doentes, dado ser inó-
teção de sinais de edema intersticial –presença de cuo e de rápida realização.
linhas B - e de derrame pleural, contribuindo para
uma estimativa mais adequada da congestão. Nos PA n.º 0901 
doentes com insuficiência cardíaca (IC) aguda já se Paniculite e Doença Relacionada com IgG4, Dor Re-
documentou a utilidade da EP, porém esta relação fratária
ainda está pouco estudada nos doentes estáveis, Elisa Macedo Brás(1);Rita Reis Bragança(1);Raquel
com IC crónica. Costeira(1);Nuno Ferreira da Silva(1);Fernando Sal-
vador(1)
(1) Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Dou-
Objetivo: Avaliar a relação da presença de congestão ro, EPE / Hospital de Vila Real
na EP com os valores de BNP e a classe funcional
NYHA. Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
culites
Material e Métodos: Estudo prospetivo, unicêntrico,
observacional, em doentes avaliados em consulta de
ambulatório de IC. Imediatamente antes da consulta Introdução: A doença relacionada com a IgG4 é
foi efetuada uma EP, a todos os doentes. As imagens uma entidade clínica ainda pouco compreendida,
foram avaliadas em tempo real, com quantificação que apresenta um atingimento multissistémico com
das linhas B, em 8 áreas torácicas, considerando- sintomas pouco específicos à apresentação.

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 231


Caso clínico: Homem de 48 anos, com anteceden- ricárdico com sinais de tamponamento, pelo que foi
tes de dislipidemia. Recorreu ao serviço de urgência realizada drenagem, com saída de 400 mililitros de
por dor abdominal constante, difusa, de início súbito líquido purulento. A análise do líquido evidenciou cri-
em repouso, sem irradiação, associada a náuseas, térios de exsudato, com >200000 polimorfonuclea-
sem vómitos. Ao exame objetivo com abdómen res, com cultura posteriormente positiva para Fuso-
doloroso à palpação no epigastro e zona periumbi- bacterium necrophorum. O doente apresentou rápido
lical, sem sinais de irritação peritoneal; sem antece- agravamento clínico e foi internado com o diagnós-
dentes de cirurgia ou trauma abdominal. Realizou tico de choque séptico com ponto de partida em pe-
estudo analítico que não demonstrou alterações ricardite bacteriana, com disfunção multiorgânica.
de relevo. Dada a manutenção das queixas mesmo Apesar das medidas instituídas acabou por falecer
após analgesia com opioides, realizou TC abdomi- após 48 horas.
no-pélvico que demonstrou discreta densificação
dos planos adiposos mesentéricos no mesogastro, Trata-se de um doente ex-fumador, com anteceden-
a traduzir sinais de paniculite. Iniciou terapêutica tes de carcinoma neuroendócrino do pulmão estadio
imunossupressora com prednisolona 40mg/dia. IIIb, com diagnóstico há 3 meses, que teria realizado
Completou a investigação com colheita de estudo biópsia transesofágica de adenopatia justa-esofági-
autoimune alargado e foi referenciado para consul- ca. Encontrava-se a aguardar tratamento que ainda
ta externa de Medicina Interna. Foi reavaliado em não tinha iniciado por intercorrência de infecção por
consulta um mês depois com regressão total das SARS-CoV2, com critérios de cura há uma semana
queixas álgicas e sem intercorrências. Nesta altura aquando da vinda ao serviço de urgência.
com estudo complementar já disponível a demons-
trar elevação da IgG4, sem alterações nas restantes Conclusão: Discute-se a possibilidade da pericardite
subclasses de imunoglobulinas e no estudo imune; bacteriana neste doente ter origem no procedimento
sem elevação dos parâmetros inflamatórios com VS invasivo realizado, tendo em conta a bactéria iden-
e PCR normais. Assumiu-se paniculite mesentérica tificada ser comensal das vias aéreas superiores e
por doença relacionada a IgG4. Iniciou desmame trato gastrointestinal e destaca-se a sua gravidade e
lento de Corticoide, mantendo remissão clínica. necessidade de diagnóstico precoce.
Realizou TC abdomino-pélvico de controlo meio ano
após início dos sintomas com regressão dos sinais
 
inflamatórios.
PA n.º 0918 
Discussão: O reconhecimento precoce desta entida-
COVID19 e Aspergilose pulmonar: Um caso clínico
de nosológica revela-se de extrema importância de
Leonor Gouveia Simões(1);Alexandra Este-
forma a prevenir a progressão de um estado infla-
ves(1);Helena Temido(1);Jandira Lima(1);Filomena
matório para um estado fibrótico associado a fraca
Coelho(1);Saraiva da Cunha(1)
resposta terapêutica e dano irreversível. Pretende-se
(1) Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra /
chamar a atenção para este diagnóstico diferencial
Hospitais da Universidade de Coimbra
de dor abdominal, bem como a importância da ex-
clusão de outras doenças associadas. Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
PA n.º 0914 
Pericardite bacteriana - um caso clínico Introdução: A aspergilose é uma infeção fúngica
Leonor Gouveia Simões(1);Jandira Lima(1);Rui San- oportunista associada muitas vezes a doentes
tos(1);Armando Carvalho(1) imunocomprometidos, contudo, segundo alguns
(1) Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra / estudos publicados, esta tem sido observada em
Hospitais da Universidade de Coimbra doentes críticos imunocompetentes infetados com
COVID-19. 
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
Caso Clínico: Homem, 41 anos, com antecedentes
Introdução: A pericardite bacteriana é um diagnósti- de obesidade e dislipidemia, internado por pneumo-
co raro nos dias de hoje. É rapidamente progressiva nia bilateral extensa a SARS-CoV2 e insuficiência
e apresenta uma mortalidade elevada. Descreve-se respiratória grave. Apesar da terapêutica com dexa-
um caso clínico de uma pericardite purulenta num metasona, remdesivir e antibioterapia empírica ve-
adulto. rificou-se agravamento clínico com necessidade de
ventilação mecânica invasiva. Fez tomografia com-
Caso Clínico: Homem, 66 anos, recorre ao serviço de putorizada (TC) torácica que mostrou extensas áreas
urgência com quadro de dor pré cordial com caracte- de densificação em vidro despolido associadas a
rísticas pleuríticas, presente em repouso, com agra- consolidação parenquimatosa, atingindo mais de
vamento em decúbito dorsal, com uma semana de 75% do parênquima pulmonar. No terceiro dia de in-
evolução e agravamento nas últimas 24 horas, asso- ternamento apresentava secreções mucopurulentas,
ciada  a dispneia e febre. Apresentava-se hipotenso sendo colhido aspirado traqueobrônquico que iden-
e taquicardico, com insuficiência respiratória hipoxé- tificou Aspergillus fumigatus, iniciando voriconazol.
mica e hiperlactacidemia. Realizou ecocardiograma No quinto dia de internamento, por manter acidose
transtorácico que identificou volumoso derrame pe- respiratória hipercápnica é iniciado ECOO2R (extra-
corporeal carbon dioxide removal), sendo descanula-
232
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
do após dois dias. Realizou nova TC torácica um dia STEMI. There were no statistically significant differ-
depois, que mostrou agravamento das lesões, com ences between the two groups regarding age (63.92
pequena área de necrose no lobo inferior do pulmão vs. 62.46, p=0.4995), sex (male: 79% vs. 80%, p=
direito. A repetição do aspirado traqueobrônquico 0.5682), hyperlipidemia (40% vs. 42%, p=0.8596) or
foi novamente positiva para Aspergillus fumigatus. O arterial hypertension (67% vs. 59%, p=0.3746).
doente evoluiu de forma favorável sendo transferido
para uma enfermaria ao vigésimo dia de internamen- Likewise, there were no statistically significant differ-
to e tendo alta para o domicílio posteriormente. ences regarding the Killip score (mean: 1.26 vs. 1.22,
p=0.4525), severity of coronary artery disease (mean
Conclusão: Destaca-se a possibilidade da deteriora- vessels with disease: 1.83 vs. 1.56, p=0.1662).
ção respiratória poder ter por base a infeção fúngica
e não bacteriana. Questiona-se se a infeção por SAR- Conclusions
S-CoV2 poderá, por si só, ser factor de risco para as-
pergilose pulmonar atendendo ao extenso dano no Although we expected to assist a reduced incidence
epitélio respiratório que se tem encontrado e o co- of STEMI during COVID-19 pandemic in accordance
nhecimento prévio sobre o aumento da prevalência to reports from other national centers, we had in our
de sobreinfeção com Aspergillus em doentes com center a similar incidence and similar severity and
Influenza, discutindo-se a abordagem terapêutica outcome in STEMI patients, comparing March to
nestes casos.  August 2020 to 2019 homologous months.

PA n.º 0935  PA n.º 0943 


The incidence of ST segment elevation myocardial Consulta de Hipertensão Arterial: complicações
infarction during lockdown and prepandemic period vasculares com necessidade de hospitalização
Miguel Carias(1);Francisco Cláudio(1);Rita Ro- Mariana Bilreiro(1);Luís Correia(1);Francisco Barre-
cha(1);Mafalda Carrington(1);João Pais(1);Rui Guer- to(1);Ana Sofia Silva(1);Maria da Luz Brazão(1);Ra-
reiro(1);Ângela Bento(1);Manuel Trinca(1) fael Freitas(1)
(1) Hospital do Espírito Santo, EPE, Évora (1) Hospital Dr. Nélio Mendonça

Tema: Doenças cardiovasculares Tema: Doenças cardiovasculares

Introduction Introdução: A Hipertensão Arterial (HTA) contribui


para a ocorrência de complicações vasculares (CV).
É reconhecida a interação da HTA com outro fatores
Due to the coronavirus disease 2019 (COVID-19) pan- ligados à aterosclerose.
demic and the lockdown measures implemented in
almost every European country, some patients ex-
pressed fear to go to the hospital despite develop- Objetivo: Caraterizar as admissão hospitalares moti-
ment of acute symptoms, for example, chest pain. vadas por CV em doentes com HTA.
Some centers have experienced a reduction in the
Material e Métodos: Elaborou-se um estudo retros-
incidence of ST segment elevation myocardial infarc-
petivo descritivo. A amostra foi constituída por doen-
tion (STEMI) since the beginning of the pandemic.
tes de uma consulta de Medicina Interna dedicada à
Purpose HTA. O estudo incidiu num período de 10 anos. Apu-
rámos as variáveis demográficas e fatores de risco
Authors would like to evaluate the incidence and se- vascular concomitantes. Estudámos a abordagem à
verity of STEMI in our center during COVID-19 pan- HTA, nomeadamente, os fármacos instituídos. As CV
demic (March to August 2020) and compare it to foram caraterizadas quanto à sua cronologia e terri-
2019 homologous period. tório afetado. Para análise univariada usámos média
e desvio-padrão (DP) para variáveis contínuas ou fre-
Methods quência absoluta e relativa para as categóricas. Na
análise bivariada, utilizámos a análise de variância
Retrospective observational study comparing pa- para as variáveis contínuas e teste do X2 para as ca-
tients with STEMI referred to emergent coronary tegóricas. Considerámos p < 0,050 como limiar de
angiography in our center between March to August significado estatístico.
2019 (group 1) and March to August 2020 (group 2).
Resultados: Entre 553 doentes em seguimento, 56
Killip score at admission, vital signs, typical cardio- doentes (10,1%) apresentaram hospitalização por
vascular risk factors (arterial hypertension, smoker, CV da HTA. Na maioria, pertenciam ao sexo mas-
hyperlipidemia) and severity of coronary artery dis- culino (31 doentes; 55,3%). A média de idade para
ease were collected and compared between both ocorrência da primeira CV foi de 65,0 anos (DP 13,6).
groups. As principais CV foram: acidente vascular cerebral
isquémico (17 casos; 30,4%), enfarte agudo do mio-
Results cárdio (14 casos; 25%) e hemorragia intracraniana (8
casos; 14,3%). Seis doentes (10,7%) apresentaram
In the 2019 group there were 103 patients with STEMI
mais do que uma admissão por CV. Entre os fatores
and in the 2020 group there were 100 patients with
de risco concomitantes salientamos: dislipidemia

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 233


(53 casos; 94,6%), doença renal crónica (33 casos; urgente dos compartimentos superficial e profundo,
58,9%), diabetes mellitus (29 casos; 51,8%), tabagis- prosseguindo-se o estudo em consulta externa e es-
mo (14 casos; 25,0%) e fibrilhação auricular (9 casos; tabelecendo-se a posteriori o diagnóstico de doença
16,1%). Vinte doentes (35,7%) cumpriam critérios de de McArdle, confirmado por biópsia muscular.
HTA resistente. Os casos de HTA secundária tiveram
como causa: doença do parênquima renal (5 casos; Tratando-se de uma apresentação muito incomum
8,9%), síndrome de apneia obstrutiva do sono (4 ca- de uma doença rara (descritos menos de cinco
sos; 7,1%), estenose aterosclerótica da artéria renal casos na literatura), pretende-se não só realçar a
(2 casos; 3,6%), síndrome de Cushing (1 caso; 1,8%). possível associação entre SCA e doenças do meta-
Trinta e nove doentes (69,6%) estavam medicados bolismo do glicogénio, mas também alertar para a
com 3 ou mais classes de anti-hipertensores. Salien- necessidade de um maior grau de suspeição clínica
tam-se os modificadores do eixo renina-angiotensina para este tipo de patologia em doentes jovens com
(92,9%), bloqueadores dos canais de cálcio (64,3%), SCA sem contexto de trauma e com sintomas arras-
diuréticos (64,3%) e beta-bloqueantes (62,5%). Assi- tados sugestivos deste diagnóstico.
nalamos diferenças nas distribuições das idades dos
doentes conforme os territórios vasculares afetados PA n.º 0949 
(p = 0,048), sendo aqueles acometidos por hemorra- Lombalgia: desta vez é para internar
gia intracerebral mais novos que os demais. Teresa Costa e Silva(1);Hujo Jorge Alves(1);Susana
Franco(1);Célia Machado(1);José Lomelino Araú-
Conclusões: Os doentes com HTA, em particular jo(1)
aqueles com difícil controlo, resistente ou com ou- (1) Hospital Beatriz Ângelo
tro fatores de risco associados, apresentam um ris-
co elevado de CV requerendo hospitalização. O se- Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
guimento em Medicina Interna, através de consulta
dedicada, parece ser o mais indicado face ao atingi- Introdução:
mento múltiplo de órgão e à variedade de comorbili-
dades associadas.
Espondilite designa a inflamação de uma ou mais
PA n.º 0947  vértebras. Dado se apresentar frequentemente com
Quase sem mexer uma palha - o síndrome compar- sinais e sintomas inespecíficos, o seu diagnóstico
timental na doença de McArdle carece de elevado nível de suspeição, sendo por ve-
Patrícia Fernandes(1);Ana Cláudia Cunha(1);Cátia zes uma entidade subdiagnosticada.
Faria(1);Diana Moura(1);Maria Jesus Banza(1)
(1) Hospital Santo André - Leiria Caso Clínico:

Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio- Homem de 53 anos, caucasiano.


nais Recorreu à urgência por lombalgia de início insidio-
so, febre e vómitos, sem sintomas urinários e gas-
A doença de McArdle (doença de armazenamento trointestinais.
do colagénio tipo V), apesar da sua grande hetero-
geneidade clínica no que concerne à intensidade À admissão encontrava-se hipotenso, taquicárdico,
dos sintomas, manifesta-se mais frequentemente febril, sinal de Lasègue positivo bilateral, sem défices
por fatigabilidade, mialgias, cãibras e mioglobinú- motores ou sensitivos.
ria desencadeadas pelo exercício físico. Trata-se
de uma doença autossómica recessiva que surge Analiticamente: trombocitopénia 52000/uL, eleva-
tipicamente na adolescência ou no começo da vida ção de parâmetros inflamatórios (PCR 38mg/dL) e
adulta, e está associada a um défice de miofosfo- da creatinina (2mg/dL). Urina tipo II e ecografia renal
rilase que impede a degradação de glicogénio em sem alterações. TC coluna lombar e TC abdómino-
ácido láctico, levando desta forma à acumulação pélvica sem alterações agudas.
anormal de glicogénio e redução da formação de
Internado por Sépsis de ponto de partida não identi-
adenosina trifosfato (ATP).
ficado.

A contracção muscular sustentada diminui o aporte Iniciou antibioterapia empírica com piperacilina-tazo-
de sangue arterial ao músculo, impossibilitado pelo bactam após colheita de hemoculturas e urocultura.
défice de miofosforilase de utilizar as reservas de
glicogénio para assegurar a anaerobiose, potencian- RM coluna lombar com aspetos sugestivos de es-
do assim o ciclo edema do compartimento/isque- pondilite com fleimão epidural anterior intracanalar
mia, podendo culminar em síndrome compartimen- com extensão do processo inflamatório/infecioso
tal agudo (SCA). ao espaço perivertebral ânterolateral de L5.

Os autores apresentam o caso de uma jovem de 21 Urocultura negativa e hemoculturas com isolamento
anos que desenvolveu SCA atraumático do antebra- de E. coli multisensível, admitida como agente cau-
ço direito em contexto laboral, por contracção iso- sal da espondilite. Iniciou amoxicilina-clavulanato e
métrica do membro, sendo submetida a fasciotomia gentamicina, tendo cumprido 7 dias do último.

234
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
Sem indicação cirúrgica por Ortopedia. secundário frequente, mas muitas vezes ignorado.
Estratégias de autocuidados com a boca e a alimentação
Ecocardiograma transtorácico sem vegetações. e mesmo alguns agentes farmacológicos podem ser
implementados para ajudar estes pacientes a melhorar
Boa evolução clínica e analítica. Repetiu hemocul- a sua qualidade de vida e a garantir uma melhor
turas que foram negativas e TC coluna lombar com compliance no tratamento antineoplásico reforçan-
achados sobreponíveis à RM anterior. Biópsia verte- do a importância que os cuidados paliativos têm em
bral guiada por TC sem agente isolado. todas as fases da doença.
Teve alta medicado com amoxicilina-clavulanato até PA n.º 0951 
perfazer 6 semanas. Oclusão da artéria de Percheron - uma causa rara
de alteração do estado de consciência
Discussão:
Inês Fonseca Marques(1);Filipa Monteiro(1);Érica
Pretende-se com este caso alertar para a importân- Barata(1);Letícia Santos(1);José Proença(1);Concei-
cia desta entidade nosológica em doentes com lom- ção Escarigo(1);Pedro Correia Azevedo(1)
balgia inespecífica, sendo fundamental uma investi- (1) Hospital Garcia de Orta, EPE
gação diagnóstica e instituição terapêutica céleres
Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas
para evitar complicações graves.
PA n.º 0950  Introdução: A artéria de Percheron consiste numa
Disgeusia induzida pela quimioterapia e as suas variação anatómica rara, em que a irrigação bilateral
consequências nocivas: um caso clínico paramediana talâmica e de parte do mesencéfalo
Francisco Pombo(1);Carolina Seabra(1);Marina são supridas por um tronco comum com origem
Mendes(1);Teresa Mendes(1);Bruno Bragança(1);A- num segmento de uma das artérias cerebrais pos-
na João sá(1);Inês Ferreira(1) teriores. A clínica é heterogénea mas geralmente
(1) Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, EPE / associa-se a alteração variável do estado de cons-
Hospital Padre Américo, Vale do Sousa ciência (podendo apresentar-se com coma), da ocu-
lomotricidade, linguagem e por vezes hemiparesia
Tema: Cuidados paliativos contralateral, se se extender à cápsula interna.

Introdução: A disgeusia é um dos mais frequen- Caso Clínico: Mulher de 73 anos, autónoma e sem
tes efeitos secundários da quimioterapia. No en- antecedentes pessoais relevantes. É trazida ao ser-
tanto, ainda existe pouca informação fornecida viço de urgência por quadro de alteração do estado
aos pacientes e às suas famílias e subsiste um de consciência e diminuição da força muscular do
conhecimento muito limitado em relação ao seu membro superior esquerdo. Ao exame objetivo apre-
diagnóstico e tratamento. Reportamos um caso de sentava-se sonolenta, desorientada, discurso pobre
um paciente com disgeusia severa que levou a um e lentificado, com parésia facial central esquerda
consumo alimentar anormal levando a um estado e disartria ligeira mas já sem défices motores;
ameaçador da vida. restante anamnese sem alterações. Realizou uma
primeira tomografia computadorizada (TC) cerebral
Caso Clínico: Um paciente de 72 anos do sexo mas- com angio-TC na qual não foi apurada qualquer al-
culino, com antecedentes de diabetes mellitus tipo teração. A avaliação analítica e gasimetria arterial
2, diagnosticado com adenocarcinoma pulmonar também não revelaram alterações metabólicas que
estadio II 4 meses antes, já submetido a lobectomia justificassem o quadro da doente e permanece em
e sob quimioterapia neoadjuvante (cisplatina e vino- observação no serviço de urgência. Posteriormente
relbina) recorreu ao serviço de urgência com altera- repetiu TC encefálica, desta vez observando-se área
ção do estado de consciência, tendo sido diagnos- de hipodensidade talâmica paramedial bilateral “de
ticada descompensação grave da diabetes mellitus novo”, com extensão à cápsula interna, compatível
(síndrome hiperosmolar hiperglicémico). Analitica- com enfarte isquémico agudo em território da arté-
mente o doente apresentava acidose metabólica e ria de Percheron. Iniciou terapêutica antiagregante e
respiratória (pH 7.16; pO2 72mmHg; pCO2 53mmHg; ficou internada, tendo evoluído favoravelmente. Do
HCO3- 18.9mmol/L), hiperlactacidemia (5.5mmol/L), estudo etiológico realizado destaca-se dislipidemia
hiperglicemia marcada (2255mg/dL), lesão renal mista; realizou ecocardiograma transtorácico e hol-
aguda (ureia 59mg/dL e creatinina 2.02mg/dL), hi- ter sem alterações. Teve alta ao 6º dia de interna-
pocalémia (2.4mmol/L) e osmolalidade calculada mento com reversão completa dos défices iniciais. 
de 343mOsm/kg.  Após recuperação do estado de
consciência e realizada anamnese completa con- Discussão: O enfarte isquémico talâmico bilateral
cluiu-se tratar-se de uma descompensação resulta- associa-se na maioria dos casos a oclusão da arté-
do de um consumo alimentar extremo (11 litros de ria de Percheron e pode causar alteração do estado
bebida açucarada) devido a disgeusia e polidipsia de consciência. As etiologias mais frequentes são a
graves secundária a quimioterapia. cardioembólica e a doença de pequenos vasos. Tra-
ta-se de uma entidade rara, cujo diagnóstico exige
Discussão: A disgeusia está associada a uma quantidade elevado grau de suspeição clínica.
grande de fármacos quimioterápicos. É um efeito

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 235


PA n.º 0978  Quando confirmado o diagnóstico, tem boa resposta
Síndrome inflamatória da órbita: nem tudo é linfo- a corticoterapia sistémica.
ma no linfoma
João Pedro Figueira(1);Mario Ramalho(1);Iuri Cor- A doente em causa tinha o diagnóstico de doença
reia(1) linfoproliferativa, pelo que foi fundamental a reali-
(1) Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca zação célere de exames auxiliares de diagnóstico e
de biópsia lesional para exclusão de progressão de
Tema: Outro doença oncológica e realização de terapêutica ade-
quada.
Introdução: PA n.º 0995 
Cinco anos de Hospitalização Domiciliária: Casuís-
A síndrome inflamatória da órbita (ou pseudotumor tica de um serviço
da órbita) constitui a terceira patologia mais frequen- Elvis Arias Guevara(1);Andreia Nunes(1);Sara Rama-
te da órbita depois de doença de Graves e de doença lho(1);Silvia Pereira(1);Mufulama Cadete(1);Claúdia
linfoproliferativa. Viegas(1);Ana Gomes(1);Conceição Escarigo(1);Pe-
dro Beirão(1);Vitória Cunha(1);Francisca Delerue(1)
Pode causar edema palpebral unilateral, proptose, di- (1) Hospital Garcia de Orta, EPE
plopia e diminuição da acuidade visual.
Tema: Outro
Trata-se de um diagnóstico de exclusão que exige
caracterização imagiológica por tomografia compu-
torizada (TC) e/ou Ressonância magnética e histo- Introdução: A Hospitalização Domiciliária consti-
lógica. tui-se como uma modalidade de assistência que
assegura a prestação de cuidados de saúde com
Apesar de ser uma patologia benigna, é crucial o diferenciação, complexidade e intensidade de nível
diagnóstico diferencial para exclusão de patologias hospitalar, durante um período limitado, dependen-
potencialmente malignas. do da vontade expressa dos doentes.

Caso clínico: Tem por objetivos reduzir as complicações inerentes


ao internamento convencional, criar um ambiente
Mulher de 45 anos com linfoma não Hodgkin tipo B
psicológico mais favorável durante o internamento,
(assintomático, sob vigilância e sem indicação tera-
prevenir o abandono e a institucionalização.
pêutica), recorre à consulta de medicina interna por
edema palpebral esquerdo, proptose e diminuição Objetivo: descrever e analisar a actividade médico-
da acuidade visual com dois meses de evolução, de -assistencial nos primeiros 5 anos de uma Unidade
agravamento progressivo. de Hospitalização Domiciliária.
Avaliada na urgência de oftalmologia, realizou TC de Metodologia: análise retrospetivo – descritivo dos
crânio e órbitas que revelou lesão hiperdensa intraor- dados dos doentes da UHD desde novembro de 2015
bitária esquerda sugestiva de linfoma versus pseu- até dezembro de 2020.
dotomor da órbita. A TC cervicotoracoabdominopel-
vica (CTAP) que havia realizado 2 meses antes era Resultados: de 4201 avaliações realizadas, foram
normal. A biópsia da lesão  revelou tecido fibrocon- admitidos 2217 doentes e 1896 tiveram alta neste
junctivo com reação inflamatória granulomatosa não período.  A demora média foi 9,88 dias, totalizando
necrotizante e sem tecido neoplásico. 21945 dias de Internamento.
Perante elevada suspeita de linfoma foi revista a lâ- Foram assegurados 2718 transportes incluindo ad-
mina, que confirmou o diagnóstico. Analiticamente missões, transferências e realização de exames
hemograma, leucograma, velocidade de sedimen- complementares. As  comorbilidades  mais frequen-
tação, enzima conversora da angiotensina, IgG4 e tes foram hipertensão arterial, dislipidemia, diabetes
parâmetros inflamatórios normais e IGRA negativo. e insuficiência cardíaca  (IC). Os diagnósticos prin-
cipais na alta foram: pneumonia bacteriana em 397
Assumiu-se diagnóstico de pseudotumor idiopáti- doentes, pielonefrite aguda em 361, IC em 296 e cisti-
co da órbita. Cumpriu corticoterapia sistémica com te aguda em 236. Os diagnósticos secundários mais
prednisolona oral 60mg/dia durante 4 semanas (se- frequentes foram insuficiência respiratória e lesão
guida de redução progressiva) com melhoria dos sin- renal aguda com 278 e 130 doentes respetivamente.
tomas. Repetiu TC das órbitas às 10 semanas com
remissão completa de lesão e TC CTAP, que se man- O retorno ao hospital foi de 12%; houve 283 ativações
teve sem alterações sugestivas de patologia. de prevenção; a taxa de mortalidade foi de 1,35%. A
taxa de satisfação dos utentes e familiares foi de
Discussão: 92,8% e 89,7% respetivamente.
 O pseudotumor orbitário é uma patologia rara com Discussão e conclusões: A UHD é um projeto com
sintomas incapacitantes e faz diagnóstico diferencial poucos anos em Portugal. Os doentes admitidos
com patologias potencialmente malignas. contemplam maioritariamente patologias infeciosas

236
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
e cardiovasculares. Está associada a menor risco de dirigida.
infeções nosocomiais e de complicações, e consti-
tuiu uma alternativa segura e eficaz ao internamento PA n.º 1003 
convencional, associada a taxas elevadas de satis- MALÁRIA GRAVE: TOXICIDADE FARMACOLÓGICA E
fação. ALTERNATIVAS TERAPÊUTICAS
Filipa David(1);Teresa Medeiros(1);Sara Moutinho-
PA n.º 0996  -Pereira(1);João Lázaro Mendes(2);Susana Ramos
Miopatia necrotizante autoimune - Uma complica- Oliveira(1);Sónia Duarte Rocha(1);Carolina Gue-
ção rara no uso das estatinas des(1)
Dra. Barbara Oliveira(1);Mariana da Silva Leal(1);- (1) Unidade Local de Saúde de Matosinhos, EPE /
Carolina Amado(1);Laura Baptista(1);Mariana Sou- Hospital Pedro Hispano (2) Centro Hospitalar Ton-
sa(1);Rosa Jorge(1) dela-Viseu, EPE / Hospital de São Teotónio, EPE
(1) Centro Hospitalar do Baixo Vouga / Hospital In-
fante D. Pedro, EPE Tema: Doenças infecciosas e parasitárias

Tema: Introdução: A malária é uma doença endémica,


potencialmente fatal, transmitida pela picada do
Introdução: mosquito-fêmea Anopheles infetado pelo parasita
Plasmodium. Este parasita entra na corrente san-
A Miopatia Necrotizante Autoimune (MNA) pertence guínea e amadurece nos hepatócitos, com tropismo
à classe das Miopatias Inflamatórias Idiopáticas posterior para os eritrócitos, levando à sua rotura. O
(MII) caracterizada por fraqueza muscular proximal, período de incubação varia de 8 a 40 dias.
aumento da enzimologia muscular e histologia de
necrose das miofibras com escasso infiltrado de CASO CLÍNICO: Homem de 43 anos, emigrante em
células inflamatórias. A positividade para anti-HGM- Angola, com episódio prévio de malária. Inicia qua-
-CoA redutase (HMGCR), associa-se, quase sempre, dro de mal-estar, mialgias, febre, cefaleias e diarreia
à utilização de estatinas. dez dias após regresso a Portugal. À admissão na ur-
gência doente desidratado, febril, taquicárdico, sem
Descrição do caso: outros achados de relevo. Do estudo realizado, trom-
bocitopenia 22000/uL, linfopenia 509/uL, hiperbilir-
Homem de 49 anos internado por perda gradual rubinemia total (hiperBT) 3mg/dL, normoglicémico e
de força muscular com 1 mês de evolução, com parasitemia de 8% com gota espessa sugestivo de
antecedentes de diabetes mellitus 2 e cardiopatia P.falciparum; eletrocardiograma e radiografia toráci-
isquémica, e toma habitual de estatina que suspen- ca normais. Assumida malária grave e iniciado qui-
dera 7 dias antes. No exame físico verificou-se uma nino intravenoso (IV) e doxiciclina per os, sob moni-
diminuição bilateral e simétrica da força muscular a torização. Evoluiu com vómitos, anemia hemolítica e
nível das cinturas escapular e pélvica. Laboratorial- hemoglobinúria, mantendo parasitemia elevada, pelo
mente revelou: CPK 9730U/L, mioglobina 4529.8ng/ que passou a doxiciclina a IV. Às 72h necessidade
mL, AST 432mg/dL, ALT 657mg/dL, LDH de 999U/ de novo ajuste por toxicidade ao quinino com: inter-
Lm, FA, GGT e bilirrubinas normais, virologias negati- valo QT prolongado, hipoacusia e hipoglicemias de
vas, elevação de alfa2globulina, VS e complemento difícil gestão. Proposto artesunato 2.4mg/Kg/dose,
normais e ANAs positivos de padrão granular com seguido de atovaquona/cloridrato de proguanilo
perfis de esclerose múltipla, miosite e, DSF-70 e an- 1000/400mg por dia. Desde então, melhoria clínica e
ti-ds-DNA IF negativos analítica, com reversão dos efeitos adversos do qui-
nino e parasitemia negativa. Sem evidência até ao
A eletromiografia foi compatível com uma miopatia
momento de complicações.
inflamatória.
DISCUSSÃO: A malária exige um diagnóstico e tra-
Realizou-se uma biópsia muscular que apresentou
tamento céleres, apresentando-se, no caso descrito,
alterações preliminares compatíveis com MNA. Ini-
com critérios de gravidade pela hiperBT e parasite-
ciou-se corticoterapia com prednisolona 1mg/Kg/
mia elevada. Existem várias opções terapêuticas ele-
dia e os anticorpos HMGCR vieram, entretanto, posi-
gidas segundo o curso da doença, destacando-se o
tivos. Houve uma melhoria analítica gradual apesar
quinino e a artemisinina e seus derivados, utilizados
de parca resposta clínica. Ao 15º dia de corticotera-
de forma isolada ou combinada. A gestão das op-
pia, iniciou-se metotrexato 15mg de 7/7 dias. Após
ções terapêuticas, a sua toxicidade e a limitada dis-
3 semanas, foi introduzido rituximab por falência da
ponibilidade hospitalar destes fármacos foram um
terapêutica dupla inicial.
desafio.
Conclusão:
PA n.º 1018 
Este caso destaca a necessidade de identificação Estriatopatia Metabólica Diabética
precoce de alterações clínico-laboratoriais suges- Marta Dalila Martins (1);Francisco Pombo(1);Fátima
tivas de miopatia secundária à utilização de estati- Costa(1);Marina Mendes(1);Ana Rocha(1);Teresa
nas, que implica a sua descontinuação imediata e, Guimarães(1);Rita Rei Neto(1);Inês Ferreira(1);Mari
no caso da MNA, a iniciação célere de terapêutica Mesquita(1)

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 237


(1) Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, EPE / Hospital Padre Américo, Vale do Sousa
Hospital Padre Américo, Vale do Sousa
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio-
nais Introdução: A pandemia por SARS-CoV-2 ao abran-
ger grandes segmentos da população, atinge, de
A coreia, atetose e balismo frequentemente coe- forma expressiva, indivíduos com fatores de risco
xistem no mesmo doente e a sua etiologia pode vascular (FRV), patologias muito prevalentes. Neste
ser hereditária ou adquirida (autoimunes, cerebro- estudo avaliamos a gravidade e o prognóstico asso-
vasculares, tóxicas, infeciosas, paraneoplásicas ou ciado à existência síncrona de infeção e FRV.
endócrino/metabólicas). O exercício diagnóstico
etiológico desta entidade é um desafio para qual- Objetivo: Análise comparativa e descritiva quanto à
quer internista. gravidade (interpretada como a necessidade de di-
ferentes métodos ventilatórios), tempo de interna-
Mulher, 87 anos, autónoma. Vários fatores de risco mento e prognóstico de infeção por SARS-CoV-2 e
cardiovascular, hiperuricemia, síndrome depressivo, fatores de risco vascular.
osteoporose e patologia osteoarticular degenerati-
va. Admitida para estudo de movimentos involuntá- Material e Métodos: Estudo observacional, transver-
rios do hemicorpo direito e alteração da fala com 1 sal e retrospetivo dos indivíduos com alta hospitalar
semana de evolução, desequilíbrio na marcha com de 01/10 a 30/11 de 2020. Foram analisados os pro-
alguns meses e anorexia. Negada perda ponderal, cessos clínicos e excluídos indivíduos com pesquisa
diminuição da força muscular, alterações da mímica de PCR do SARS-CoV-2 negativa.
facial, disfagia, alterações visuais, sintomas respira-
tórios, febre, sintomas gastrointestinais ou genituri- Foram avaliadas as seguintes variáveis: idade, sexo,
nários. Objetivamente no SU: períodos de agitação escala de Katz, tempo de internamento, destino à
e desatenção e movimentos coreicos-hemibalismo data de alta, método ventilatório e diagnóstico de
dos membros direitos. Analiticamente apenas hipertensão arterial, diabetes mellitus, dislipidemia,
com hiperglicemia (312 mg/dL). TC CE a mostrar obesidade e tabagismo. A análise estatística foi efe-
hiperdensidade difusa do estriado e o globo pálido tuada com SPSS v25.
esquerdos, sem efeito de massa e padrão de atrofia
Resultados: Foram avaliados 905 indivíduos no total,
cerebral e cerebelosa difusa. Do estudo realizado
dos quais 45,4% (n=411) do sexo feminino e 54,6%
durante o internamento: HbA1c de 16,2%, com peptí-
(n=494) do sexo masculino, com uma média de ida-
deo C normal, TC abdominal sem alterações. A RMN
des de 72,6 (±14,4) e Katz médio de 4,57 (±2,14). A
CE confirmou o diagnóstico de estriatopatia me-
taxa de mortalidade foi de 29% (n=262). Relativa-
tabólica diabética secundária a hiperglicemia não
mente aos FRV, 67% (n=604) apresentavam hiperten-
cetósica. Realizado estudo para exclusão de outras
são arterial, 35,4% (n=319) diabetes mellitus, 53,4%
causas: sem fármacos/tóxicos conhecidos, estudo
(n=481), 34% (n=306) obesidade e 12,7% (n=93)
imunológico normal, VS normal (18mm), proteino-
tabagismo ativo, apresentando cada indivíduo, em
grama sem picos monoclonais, função tiroideia e
média, 2,1 diagnósticos. Em relação aos métodos
PTH normal, sem défices vitamínicos. Serologia HIV
ventilatórios, 3,2% (n=28) necessitaram de ventila-
e sífilis negativas. Sem alterações do metabolismo
ção mecânica invasiva (VMI), 5,5% (n=48) de não in-
fosfo-cálcio ou do cobre. Não se prosseguiu o estu-
vasiva (VNI) e 9,7% (n=85) de oxigenoterapia de alto
do, pois o diagnóstico ficou estabelecido pelo valor
fluxo (OAF). O tempo de internamento foi, em média,
elevado da HbA1c e pela RMN CE. Controlados mo-
de 8,74 (±9) dias.
vimentos coreicos/hemibalismo com redução da
glicemia e com haloperidol.  Relativamente à gravidade da doença, o único FRV as-
sociado a maior risco de necessidade de VNI e OAF,
A estriatopatia diabética é uma causa rara de movi-
com significado estatístico, foi a obesidade (p=0,002
mentos involuntários e acomete principalmente pa-
e p=0,007, respetivamente). Comparativamente à
cientes idosos, com a tríade hemicoreia-hemibalis-
VMI nenhum dos FRV apresentou risco superior. No
mo, hiperglicemia e lesão hiperintensa nos núcleos
que toca à mortalidade, os FRV associados com pior
da base nas imagens ponderadas em T1. Apesar
prognóstico foram a diabetes mellitus (p=0,018) e o
dos achados imagiológicos serem muito sugesti-
tabagismo (p=0,003), sendo que, a diabetes é o úni-
vos, considerar esta hipótese diagnóstica e instituir
co FRV que se mantém como preditor independente
terapêutica dirigida de acordo com objectivos tera-
de mortalidade quando ajustado para a idade, sexo e
pêuticos é fundamental para o controlo sintomático.
Katz (p=0,002). Nenhum dos FRV se associou a um
PA n.º 1021  maior tempo de internamento.
COVID-19 e fatores de risco vascular: um estudo
Conclusões: Os FRV são um conjunto de patologias
retrospetivo
muito prevalente na população o que, no contexto de
Francisco Pombo(1);Teresa Mendes(1);Sofia Soa-
uma infeção viral pandémica, se cobre de importân-
res(1);Bárbara Silva(1);Filipa Leal(1);Luís Noguei-
cia superior dado os números elevados de infetados
ra(1);Inês Ferreira(1);Mari Mesquita(1)
em todas as faixas etárias. Tendo em conta o pior
(1) Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, EPE /
prognóstico associado à diabetes mellitus esta in-
238
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
formação deve ser tida em conta em estratégias de ao facto de o agente isolado nas hemoculturas ser
saúde pública e de vacinação generalizada da popu- anaeróbio. Este caso apresenta um desafio diagnós-
lação por forma a garantir a prioridade no acesso a tico e terapêutico, não só pela raridade da apresen-
estes indivíduos. tação mas também pela complexidade envolvida
nas decisões clínicas e no estabelecimento do teto
PA n.º 1026  terapêutico.
Fístula esofágica para o espaço intra-raquidiano,
complicação incomum de uma neoplasia. PA n.º 1036 
Salomão Fernandes(1);Rita Sérvio(1);Ana Rita Sil- The impact of transient and persistent acute kidney
va(1);Raquel Tavares(1);Paulo Rodrigues(1) injury in-hospital mortality in COVID19 patients
(1) Hospital Beatriz Ângelo Carolina Carreiro(1);João Bernardo(1);Joana Gon-
çalves(2);Joana Gameiro(1);João Oliveira(3);Filipe
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias Marques(1);Inês Duarte(4);Carolina Branco(1);Cláu-
dia Costa(1);José Nuno Fonseca(1);José António
O carcinoma pavimento-celular do esófago é a neo- Lopes(1);Sandra Braz(1)
plasia esofágica mais comum em todo o mundo. (1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hos-
A presença de fístulas traqueobrônquicas pode ser pital de Santa Maria (2) Centro Hospitalar de Leiria
uma complicação tardia destas neoplasias; contu- / Hospital de Santo André (3) Centro Hospitalar do
do as fístulas para o espaço intra-raquidiano são Baixo Vouga / Hospital Infante D. Pedro, EPE (4)
uma raridade. O presente caso clínico apresenta Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE / Hospital
um doente com esta complicação, explorando a de Santa Marta
apresentação clínica e as dificuldade nas decisões
terapêuticas. Tema: Doenças renais

Sexo masculino, 60 anos. Antecedentes de dislipide- Introduction: Acute kidney injury (AKI) has been
mia, hipertensão arterial, hábitos tabágicos pregres- described in Coronavirus Disease 2019 (COVID-19)
sos e carcinoma pavimento-celular do esófago com patients and is considered as marker of disease se-
metastização pulmonar, já com prótese esofágica verity and a negative prognostic factor for survival.
paliativa. The authors aim to study the incidence, risk factors
and prognosis of AKI in hospitalized patients with
Recorre ao hospital por dor dorsal com 3 dias de COVID-19.
evolução e retenção urinária. Da avaliação destaca-
-se: febre (38.3ºC), desorientação espaço-temporal, Methods: Retrospective observational study of hos-
rigidez da nuca, e dor à palpação nas apófises D12 pitalized with COVID-19 patients in Department of
e L1. Analiticamente com 33720 leucócitos /uL e Medicine of the Centro Hospitalar Universitario Lis-
PCR 34.88 mg/dL. boa Norte, Lisbon, Portugal, between March 2020
and August 2020. A multivariate analysis was per-
Realiza TC e RM  da coluna dorsal que documenta- formed to predict AKI development and in-hospital
ram perda de continuidade esofágica na região da mortality.
margem superior da prótese esofágica, com compo-
nentes gasosos no espaço paravertebral esquerdo Results: Of 544 patients with COVID-19, AKI devel-
e intra-raquidiano. RM-CE documentos múltiplos oped in 330 patients: 166 persistent AKI (pAKI); 164
empiemas cerebelosos e extra-axiais e conteúdo with transient AKI. AKI patients were older, had more
gasoso extra-axial. Líquido cefalorraquidiano com previous comorbidities and to be medicated with
542mg/dL proteínas e > 150/uL leucócitos (predo- RAAS inhibitors as well had higher serum creatine
mínio PMN). Hemoculturas positivas para Parvimo- baseline (SCr) (1.60 mg/dl vs 0.87 mg/dl), higher NL
nas micra. ratio and more acidemia at hospital admission and
required more intensive care unit admission, me-
Assumiu-se o diagnóstico de meningite e empiemas chanical ventilation and vasopressor use. Patients
bacterianos com origem em fístula entre o esófago with persistent AKI had higher SCr level (1.71 mg/dl
e o espaço intra-raquidiano. Condicionando ainda vs 1.25 mg/dl) at hospital admission. AKI. In-hospital
presença de ar a nível intra-raquidiano e extra-axial. mortality was 14.0% and it was higher in AKI patients
(18.5% vs 7.0%). CKD and serum ferritin were inde-
Cumpriu terapêutica com meropenem durante 28
pendent predictors of AKI. AKI did not predict mortal-
dias e colocou nova prótese metálica esofágica. Ao
ity, but pAKI was an independent predictor of mortal-
final de 3 semanas mantinha elevação de marca-
ity as well as age and lactate level.
dores inflamatórios. RM-CE mantendo empiemas
e maior extensão do componente gasoso. Não se Conclusion: pAKI was independently associated with
considerando candidato a terapêutica cirúrgica op- in-hospital mortality in COVID-19 patients but the im-
tou-se pela suspensão da antibioterapia, privilegian- pact of this on the long-term follow-up remains to be
do-se as medidas paliativas. determined.
O caso clínico apresentado ilustra uma complicação PA n.º 1038 
rara das neoplasias esofágicas A ausência de iden- Hipertensão Arterial Secundária a Feocromocitoma
tificação de agente no LCR deve-se provavelmente em doente com Neurofibromatose tipo 1
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 239
Marília Santos Silva(1);Margarida Calejo(1);Ana Pau- Caso Clínico:
la Marques(1);Eduardo Eiras(1)
(1) Unidade Local de Saúde de Matosinhos, EPE / Mulher de 69 anos recorreu ao serviço de urgência
Hospital Pedro Hispano com quadro de febre e astenia com 8 dias de evo-
lução acompanhados de cefaleia holocraneana, de
Tema: Doenças raras baixa intensidade, de longa duração. Analiticamente
apresentava proteína C reativa de 146.28 mg/L, pro-
Com uma prevalência descrita entre 5 e 15% dos calcitonina de 0.092 ng/mL velocidade de sedimen-
doentes com hipertensão arterial (HTA), as causas tação de 112mm e trombocitose com 469 x 10^3
de HTA secundária são de exclusão obrigatória es- plaquetas/μL, sem alterações da função tiroideia.
pecialmente quando de surgimento em idade jovem, Os estudos microbiológicos e imunológicos, assim
quando o seu tratamento poderá ter maior impacto. como imunoeletroforese das proteínas séricas e
A neurofibromatose tipo 1 (NF1) é uma doença he- urinárias, revelaram-se sistematicamente negati-
reditária de transmissão autossómica dominante vos. Foi realizada uma tomografia computorizada
que se manifesta com risco acrescido para diversas toracoabdominopélvica sem alterações relevantes e
neoplasias. ecocardiograma transtorácico também sem altera-
ções.

Apresenta-se o caso de uma mulher de 40 anos, Atendendo ao quadro de febre sem foco, realizou
com o diagnóstico de NF1 baseado em história tomografia com emissão de positrões que revelou
familiar e alterações cutâneas (neurofibromas, hipercaptação nas paredes das artérias subclávias,
manchas café au lait e efélides axilares e inguinais), nas paredes da aorta abdominal e nas paredes das
enviada à consulta após identificação de massa na artérias ilíacas comuns, com extensão proximal das
suprarrenal em exame de imagem para pesquisa de artérias ilíacas internas. Assim, foi assumido um
neurofibromas. Apresentava episódios de cefaleia diagnóstico de arterite de médios/grandes vasos,
frontal pulsátil, palpitações e tonturas e tensional mais provável, arterite de células gigantes. A doente
hipertensivo ao longo do ano pregresso. Referia iniciou corticoterapia com boa resposta, com reso-
noção de agravamento de tremor essencial já co- lução da sintomatologia e normalização dos parâ-
nhecido. Ao exame físico confirmada presença de metros inflamatórios.
HTA. Iniciou amlodipina e fenoxibenzamina, após
confirmação do diagnóstico de feocromocitoma Discussão:
por doseamento de catecolaminas e metanefrinas
urinárias. Foi submetida a adrenalectomia esquerda, A arterite de células gigantes variante de grandes
sem recidiva de sintomas e com normalização do vasos apresenta-se em doentes mais novos que a
perfil tensional na ausência de antihipertensores. O variante craniana clássica (6ª vs 7ª década) e com
exame histológico confirmou o diagnóstico de feo- menos sintomatologia oftalmológica e claudicação
cromocitoma. da mandíbula. Ademais, a biópsia da artéria tem-
poral apresenta positividade em menos de metade
Os feocromocitomas são responsáveis por cerca de dos casos. Estudos imagiológicos, nomeadamente
0,2 a 0,4% dos casos de HTA e associam-se a doen- a tomografia com emissão de positrões, tornam-se
ças hereditárias em até 25% dos casos, uma das essenciais para o diagnóstico, atendendo às com-
quais a NF1. Para além de relembrar esta importan- plicações vasculares que esta entidade acarreta,
te associação, este caso demonstra a necessidade como formação de aneurismas, estenoses, disse-
de seguimento apertado dos doentes com NF1 por ções e ruturas de grandes vasos.
equipas multidisciplinares.
PA n.º 1052 
PA n.º 1041  Doença rara ou coincidência inoportuna?
Arterite de Células Gigantes na Variante de Gran- Salvador Morais Sarmento(1);Miguel Paulo Oliveira
des Vasos Miranda de Sousa Leite(1);Hugo Inácio(1);Andreia
Miguel de Oliveira(1);Ana Cunha(1);Vito Baptista- Amaral(1);Sofia Mateus(1);Diogo Ferreira da Sil-
-Cruz(1);Juliana Lopes(1);Álvaro Ferreira(1);João va(1);Beatriz Sampaio(1);Rita Lopes Cunha(1);Ra-
Araújo Correia(1) ffaele Junior Aliberti(1);Marta Moitinho(1);Bárbara
(1) Centro Hospitalar do Porto, EPE / Hospital Geral Picado(1);Catarina Salvado(1)
de Santo António (1) Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE / Hos-
pital de Santo António dos Capuchos
Tema:
Tema:
Introdução:
Algumas doenças raras, cujos critérios diagnósticos
se baseiam em dados clínicos positivos associados
A arterite de células gigantes é a forma mais co- a critérios de exclusão, poderão apresentar um real
mum de vasculite de grandes vasos na população desafio diagnóstico e de investimento terapêutico.
com mais de 50 anos e é uma causa comum de fe- O caso apresentado pretende servir como exemplo
bre sem foco não infeciosa. No entanto, a ausência deste cenário difícil de navegar.
de sintomatologia típica torna o percurso diagnósti-
co desafiante.
240
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
Doente de sexo masculino, 28 anos, natural do Ne- há 2 dias, náuseas, vómitos e hiperglicemia (819
pal, sem antecedentes médicos relevantes (hábitos mg/dL). Referia mau funcionamento da bomba per-
etanólicos difíceis de quantificar), recorre ao serviço fusora de insulina desde há 1 mês. Ao exame físico,
de urgência por quadro com uma semana de evo- a salientar: polipneica (FR 30 cpm), SatO2 98% (FiO2
lução de epigastralgia, agravada nos últimos dois 21%); hemodinamicamente estável, taquicárdica
dias com febre, tosse seca e dispneia. Observação (FC 145 bpm), apirética; abdómen: dor à palpação
á entrada com acessos de tosse, normotensão, no hipocôndrio direito e epigastro, sem defesa. Do
taquicardia rítmica, febre, hipertrofia amigdalina e estudo inicial: acidemia metabólica grave, anion gap
desconforto á palpação abdominal. Analiticamente elevado e hiperlactacidemia (pH 7.068, pCO2 10.4,
com citocolestase evidente, assim como lesão renal pO2 130.4, HCO3- 2.9, AG 29.3, lactatos 4.16); leu-
aguda ligeira e aumento de parâmetros inflamató- cocitose, neutrofilia, proteína C reactiva normal, fun-
rios; tomografia computorizada de abdómen sem ção renal e ionograma normais; citocolestase (AST
sinais de doença aguda. Evolui nos dias seguintes 227U/L; ALT 339U/L), albumina 35g/L, bilirrubinas e
com cansaço e dispneia para pequenos esforços, coagulação normais; cetonúria; raio-x tórax normal
rash cutâneo, edema e prurido localizado essencial- e ecografia abdomino-pélvica a revelar hepatome-
mente nas mãos e pés, hiperémia conjuntival e da galia. Iniciado tratamento segundo protocolo de ce-
mucosa oral com lábios gretados, icterícia, encur- toacidose diabética (CAD). Apesar da CAD resolvida
tamento dos períodos de apirexia e diminuição do em < 24h mantinha hiperlactacidemia (8.4 mmol/L)
perfil tensional. Estudo etiológico revelou aumento e dor abdominal. Pedida AngioTC abdomino-pélvica
de parâmetros inflamatórios e de imunogloblina E, que confirmou hepatomegalia e revelou um quisto
hiperferritininémia, hipertrigliceridémia, aumento hemorrágico ovárico esquerdo. Excluída torção ová-
de péptido natriurético, disfunção sistólica com rica por ecografia transvaginal. Do restante estudo:
fracção de ejecção reduzida e derrame pericárdico HbA1c 10%, serologias HBV, HCV e VIH 1/2 negati-
(ligeiro), hepato-esplenomegália limítrofe, adeno- vas; ANAs 1/100, restante estudo autoimune nega-
megálias inespecíficas, ectasia da artéria pulmonar tivo, alfa-1-antitripsina e ceruloplasmina normais. A
e artérias coronárias normais na angiografia com- biópsia hepática revelou fígado de arquitectura tra-
putorizada. Estudo microbiológico sem isolamente becular e hepatócitos de tipo “vegetal” compatível
de agente, estudo auto-imune sem resultados su- com hepatopatia glicogénica. Após 3 dias em Medi-
gestivos. Doente recebeu antibioterapia empírica cina Intensiva, transferida para Endocrinologia onde
de largo espectro, assim como terapêutica dirigida se manteve 7 dias para ajuste terapêutico. Teve alta
para insuficiência cardíaca e corticoterapia por sus- sob insulina basal-bólus.
peita intercorrente de síndrome de Dress/toxidermia
(a metamizol magnésico), com melhoria do quadro. Após 6 meses, apresentava melhor controlo glicémi-
co (HbA1c 7.8%) e provas hepáticas normais.
Doente cumpria critérios clínicos e analíticos com-
patíveis para Doença de Kawasaki do Adulto (assim O diagnóstico da HG é difícil dada a apresentação
como Doença de Still) quando considerado todo o clínica inespecífica e exames laboratoriais/imagio-
quadro semiológico - no entanto, a intercorrência lógicos não patognomónicos. A biópsia hepática é o
suspeita de toxidermia desafiaria este diagnóstico, exame gold-standard. Pretende-se alertar para uma
competindo pelos achados clínicos. Doente teve entidade pouco reconhecida, tratável e com bom
alta para conclusão do estudo em ambulatório, clini- prognóstico se atingido um bom controlo glicémico.
camente melhorado.
PA n.º 1080 
PA n.º 1056  SÍNDROME MALIGNO DOS NEUROLÉPTICOS E O
Hepatopatia glicogénica: Um diagnóstico inespera- SEU DESAFIO DIAGNÓSTICO
do Carlos Candeias(1);Ramiro Lopes(2);Luis Vicen-
Sofia Garcês Soares(1);Ana Cristina Carneiro(2);Fili- te(2);Rui Gonçalves(3);Carlos Cabrita(1);Ana Lo-
pe Conceição(2);José Artur Paiva(2) pes(1)
(1) Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, EPE / (1) Centro Hospitalar do Algarve, EPE / Hospital de
Hospital Padre Américo, Vale do Sousa (2) Centro Faro (2) HOSPITAL FARO (3) Harrogate and District
Hospitalar de S. João, EPE NHS Foundation Trust

Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá- Tema: Doenças raras


ticas
Introdução: A febre, em contexto hospitalar, pode
A hepatopatia glicogénica (HG) é uma entidade rara, apresentar múltiplas etiologias sendo a mais co-
observada sobretudo em crianças/jovens adultos mum, a infeciosa. A Síndrome Maligna dos Neu-
com Diabetes Mellitus (DM) tipo 1 mal controla- rolépticos (SMN) é uma emergência neurológica,
da. É causada por uma acumulação reversível de rara, caracterizada por alterações do estado mental,
excesso de glicogénio no fígado podendo levar a rigidez, febre e disautonomia. Tendo em conta a pre-
hepatomegalia e à elevação das enzimas hepáticas. valência de doentes polimedicados na enfermaria,
a associação entre febre e fármacos não pode ser
esquecida.
Mulher, 18 anos, DM tipo 1 sob insulinoterapia. Quei-
xas de dor na metade superior do abdómen desde

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 241


Caso clínico: Mulher de 72 anos de idade, trazida ao missores, apresentam efeitos adversos imunorrela-
Serviço de Urgência por dispneia com 48h de evolu- cionados, que podem envolver qualquer órgão.
ção. Antecedentes pessoais conhecidos de HTA es-
sencial e patologia psiquiátrica indeterminada. Sem Homem de 72 anos com antecedentes de doença
medicação habitual. Ao exame objetivo apresentava- pulmonar obstrutiva crónica (DPOC) e tumor síncro-
-se dispneica com SatO2 88% em ar ambiente. Do no do pulmão, laringe e parótida, sob pembrolizumab
estudo complementar salienta-se aumento dos parâ- desde o último mês.
metros inflamatórios, gasometria com insuficiência
respiratória tipo 1 e um Raio-X tórax com hipotrans- Foi ao serviço de urgência durante o primeiro pico da
parência na base esquerda. Ficou internada com o pandemia por SARS-CoV-2 por dispneia, agravamen-
diagnóstico de Pneumonia Adquirida na Comunida- to de cansaço e tosse seca há uma semana. Sem
de, tendo cumprido antibioticoterapia empírica com contactos com doentes COVID-19, todavia com múl-
uma boa evolução clínica e analítica. Por agitação tiplas visitas hospitalares.
psicomotora de difícil controlo, inicia quetiapina a
que se associa posteriormente, por agravamento do Apresentava-se taquicárdico, com insuficiência res-
quadro, haloperidol. Ao 8º dia de internamento inicia piratória e crepitações bibasais à auscultação pul-
febre que não cedia aos antipiréticos, sem focalida- monar, necessitando de O2 a 2L/min.
de ao exame objetivo ou elevação dos parâmetros
inflamatórios. Ligeira subida de CK. Rastreio séptico Laboratorialmente denotava leucocitose e parâme-
negativo. TC CE sem alterações. Ao 11º apresentou tros de fase aguda elevados. Na radiografia tórax
diminuição do estado de consciência (GSA 9-10) com infiltrado intersticial pulmonar periférico bilate-
pelo que foram suspensos os neurolépticos, tendo- ral e a tomografia computorizada (TC) torácica evi-
-se assistido à resolução do quadro de febre e da denciava múltiplas áreas em vidro despolido, perifé-
alteração do estado de consciência, tendo sido as- ricas, compatíveis com infeção por SARS-CoV-2, em
sumido o diagnóstico de SMN. doente com suspeita de neoplasia do lobo superior
direito, e sinais de enfisema bilateral. Apesar de uma
Conclusão: A síndrome maligna dos neurolépticos primeira RT-PCR para SARS-CoV-2 em exsudado na-
exige uma elevada suspeição clínica sendo que, mui- sofaríngeo negativa, as alterações na TC torácica le-
tas vezes, o diagnóstico é de exclusão. O seu sur- vantaram a suspeita de COVID-19 que veio posterior-
gimento é independente do tipo de neuroléptico ou mente a ser excluída por 2ª RT-PCR negativa.
da sua dose, sendo que os fármacos mais recentes,
como a quetiapina, se associam a quadros clínicos A exposição recente ao Pembrolizumab obriga a
mais atípicos: rabdomiolise ligeira com predomínio considerar a hipótese de Pneumonite a fármacos
de agitação e alterações do estado de consciência. com sobreinfecção bacteriana, pelo que suspendeu
O tratamento passa pela suspensão dos neurolépti- pembrolizumab e iniciou antibioterapia empírica
cos e por medidas de suporte gerais. com melhoria clínica, laboratorial e imagiológica.

Bibliografia A incidência de pneumonite a pembrolizumab é rara,


mas mais frequente em doentes com DPOC (5,4%).
• Wijdicks E. NeurolepDc malignant syndrome. Com o maior uso deste fármaco torna-se cada vez
Uptodate. 2015. mais importante lembrar este diagnóstico nos doen-
tes oncológicos, já que podem mimetizar a COVID-19,
• Modi S, Dharaiya D, Schultz L, Varelas P. Neu- particularmente em tempo de pandemia.
roleptic Malignant Syndrome: Complications,
Outcomes, and Mortality. Neurocrit Care PA n.º 1086 
2016; 24:97. O padrão de Brugada na COVID-19
Ana Luís Vasconcelos(1);Eulália Antunes(1);Ines
PA n.º 1085  Monteiro Araujo(1);Catarina Silva Araújo(1);Ana
Suspeita imagiológica de COVID-19 em doentes Margarida Mosca(1);Rosário Araújo(1);António Oli-
oncológicos veira Silva(1)
Lisa Gonçalves(1);Francisco Cunha(1);Ana Cardo- (1) Hospital de Braga
so(1);João Victor Freitas(1);Raquel Soares(2);Ca-
rolina Branco(1);Catarina Rodrigues(1);Nuno Jacin- Tema: Doenças cardiovasculares
to(1);Liliana r. Santos(1);António Pais de Lacerda(1)
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi-
tal de Santa Maria (2) Centro Hospitalar de Lisboa Introdução:
Central, EPE / Hospital de Santa Marta
O Síndrome de Brugada causa mais de 20% dos
Tema: Doenças oncológicas eventos de morte súbita na ausência de cardiopatia
estrutural. Não existe tratamento farmacológico e a
Desde 2019 que uma imagem de infiltrados pul- orientação tem por base a evicção de fatores precipi-
monares em vidro despolido levanta a suspeita tantes. A febre, fármacos (particularmente anti-arrít-
de COVID-19. O pembrolizumab é um inibidor de micos classe I), drogas e distúrbios eletrolíticos são
checkpoint imunológico aprovado no tratamento de triggers que podem induzir o padrão electrocardio-
vários cancros em estadio avançado. Apesar de pro- gráfico de Brugada ou despoletar um evento arrítmi-

242
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
co. A trombose da veia porta (TVP) é um evento raro, que
ocorre quando há obstrução completa ou parcial do
Caso Clínico: fluxo sanguíneo no lúmen do vaso causada pela pre-
sença de um trombo e está relacionada tanto com
Sexo masculino, 52 anos, com antecedentes de dia- fatores de risco locais como sistémicos.
betes mellitus tipo 2 e hipertensão arterial, medicado
com metformina e losartan. Caso clínico:
Recorreu ao Serviço de Urgência por dispneia em re- Homem, 72 anos, recorreu ao Serviço de Urgência
pouso, tosse seca, dor pleurítica e febre com 5 dias por um quadro consuntivo com 2 meses de evolu-
de evolução. Dois dias antes realizou teste de de- ção, epigastralgia, anorexia e perda ponderal de 11
tecção Sars-CoV2 que foi positivo. Ao exame físico quilos. Antecedentes de artrite psoriática, medicado
estava orientado, hemodinamicamente estável, tem- com metotrexato, e diabetes mellitus tipo 2.
peratura axilar 38.3ºC, polipneico, uso dos músculos
acessórios da respiração e saturação periférica de                Analiticamente sem alterações de relevo. Realizou
oxigénio 89%. Auscultatoriamente com crepitações tomografia com contraste (TAC) abdominopélvica
nas bases. Analiticamente com aumento dos parâ- que relevou trombose da porção extra-hepática da
metros inflamatórios, sem subida dos marcadores veia porta, TEP e enfartes esplénico, tendo ficado
de necrose miocárdica. internado para estudo do quadro clínico.
No electrocardiograma (ECG), em pico febril, obser-                               Durante o internamento, manteve-se
vado padrão de Brugada tipo 1, com elevação do sem alterações analíticas. Marcadores víricos e
segmento ST ~3mm em V1 e V2, com convexidade neoplásicos negativos, assim como autoimunidade
virada para cima e onda T invertida. Negou síncope, negativa.   Fez mielograma com estudo de
palpitações, desconforto torácico ou paragem car- imunofenotipagem de sangue medular e periférico e
dio-respiratória prévia. Como antecedente familiar biópsia óssea sem alterações. O estudo trombofilico
a destacar morte do irmão aos 49 anos, de causa revelou heterozigotia para o gene da protrombina.
desconhecida. Realizou ainda uma ecografia à tiroide que evidenciou
um nódulo TIRADS 4, com citológico a mostrar
Foi transferido para Unidade de Cuidados Intensivos atipia de significado indeterminado, categoria III do
e necessitou de ventilação mecânica invasiva duran- sistema de Bethesda, com necessidade de exérese
te 70 dias. cirúrgica, que o doente recusou, tendo tido alta
referenciado para a Consulta de Cirurgia Geral e de
Posteriormente, um novo ECG, em normotermia, Medicina Interna.
mostrou inicialmente uma resolução completa das
alterações do segmento ST-T, seguida de novas al- Discussão: Este caso clínico ilustra a simbiose entre
terações sugestivas de bloqueio completo de ramo a predisposição genética e adquirida para eventos
direito e inversão das ondas T em V1, V2 e V3. trombóticos, com repercussão clínica.
Discussão: PA n.º 1091 
Diabetes Mellitus como fator agravante nos doen-
O diagnóstico de Síndrome de Brugada inclui crité- tes internados com COVID-19
rios clínicos, electrocardiográficos e história familiar. Tetiana Baiherych(1);Patrícia Simões(1);Catarina
O padrão de Brugada não é suficiente para o diag- Coelho(1);Sandra António(1);Guilherme Cunha(1);A-
nóstico, no entanto a sua identificação exige uma na Garrido Gomes(1);Viktor Baiherych(1);Maria Filo-
estratificação de risco. Este padrão é muitas vezes mena Roque(1);Luís Siopa(1)
transitório e variável com o tempo e pode não ser (1) Hospital Distrital de Santarém, EPE
identificado num ECG de rotina.
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
Há registo de vários casos de padrão de Brugada
em doentes com COVID-19. Em associação com a
febre, o estado fortemente inflamatório e a monito- Introdução
rização rigorosa parecem contribuir para este fenó-
meno.        A Diabetes Mellitus (DM) é uma doença
endócrina multissistémica, altamente prevalente
PA n.º 1088  e que está associada a infeções mais graves e a
TROMBOSE DA VEIA PORTA – PREDISPOSIÇÃO internamentos mais prolongados.
GENÉTICA E ADQUIRIDA
Márcia Machado(1);Letícia Leite(1);Clarisse Ne- A DM é considerada como um fator de risco para
ves(1);Fernando Esculcas(1);Jorge Cotter(1) aumento da gravidade da doença por SARS-CoV-2
(1) Centro Hospitalar do Alto Ave, EPE / Hospital da (COVID-19) e piores resultados, nomeadamente
Senhora da Oliveira maior mortalidade. Contudo a sua influência nos
doentes internados com COVID-19 ainda não está
Tema: Doenças oncológicas completamente estabelecida.

Introdução: Objetivos

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 243


Descrever as características dos doentes internados com corticóides teve efeito benéfico nos dois gru-
com COVID-19. pos, nomeadamente nos dois critérios anteriormen-
te referidos.
Caracterizar a evolução clínica dos doentes interna-
dos por COVID-19 com ou sem DM. Quando comparada a taxa de mortalidade dos
doentes incluídos neste estudo com a de um estudo
Estabelecer a influência da DM no quadro clínico de efetuado em Nova Iorque, podemos observar que
doentes internados por COVID-19. no nosso hospital foi identificada uma taxa de mor-
talidade mais alta (28,84% vs 14,0%) o que poderá,
Explorar a influência da terapêutica com corticóides entre outros fatores, ser explicado pela média de
na mortalidade e duração de  internamento.    idades ser mais alta (74,95 anos vs 64,0 anos).
Material e métodos Este estudo reforça a hipótese da DM constituir
um fator de risco para doença COVID-19 grave. Por
Estudo descritivo com análise retrospetiva de pro-
sua vez apoia o uso de corticóides em doente com
cessos clínicos de doentes internados por COVID-19
doença grave e DM, com melhoria na taxa de morta-
no hospital (enfermaria e Unidade de Cuidados In-
lidade.
tensivos) de março de 2020 a janeiro de 2021.
PA n.º 1098 
Estudo caso-controlo que incluiu seleção de casos
Pseudoxantoma Elástico - um desafio diagnóstico
(doentes internados por COVID-19 com DM), sele-
André Colmente(1);José Diogo Martins(1);Ma-
ção de grupo controlo (todos os doentes internados
ria Pontes Ferreira(1);Joana sá Couto(1);Rosana
no hospital por COVID-19 sem DM), comparação de
Maia(1);Miguel Romano(1);Francisco Teixeira da
doentes com DM e doentes sem DM (caso-controlo)
Silva(1);Manuel Ferreira(1);Carmélia Rodrigues(1);-
internados por COVID 19 com os seguintes critérios:
Diana Guerra(1)
género, média de idades, utilização de corticotera-
(1) Unidade Local de Saúde do Alto Minho, EPE /
pia, duração de internamento e taxa de mortalidade.
Hospital de Santa Luzia
Resultados
Tema: Doenças raras
No período do estudo foram identificados 522 doen-
tes internados por COVID-19, destes 37,93% (n=198) INTRODUÇÃO
tinham DM enquanto 62.07% (n=324) não apresen-
tavam DM.
O pseudoxantoma elástico (PE) é uma doença he-
Verificou-se que 43,29% (n=239) eram do sexo femi- reditária autossómica recessiva rara caracterizada
nino e 56,70% (n=313) do sexo masculino. pela mineralização e fragmentação das fibras elás-
ticas da pele, retina e sistema cardiovascular (CV).
Não houve diferença significativa na média de ida- Deve-se a mutações no gene ABCC6 do cromosso-
des dos doentes com DM e sem DM (75.69 anos vs ma 16. As manifestações clínicas iniciais ocorrem
74.21 anos). normalmente entre a segunda e terceira décadas de
vida, sendo as alterações cutâneas as mais caracte-
Dos doentes internados com COVID-19, 8,81% rísticas.
(n=46) estiveram internados na Unidade Cuidados
Intensivos, daqueles 41,30% (n=19) com DM e CASO CLÍNICO
58,70% (n=27) sem DM subjacente.
Mulher de 43 anos, natural do Brasil, sem anteceden-
Nos doentes com DM corticotratados a duração do tes pessoais relevantes. Queixas de visão turva, olho
internamento foi menor (14.6 dias vs 15,67 dias), o seco, sensação de corpo estranho bilateral e hipere-
mesmo se verificou nos doentes sem DM subjacen- mia conjuntival com 2 anos de evolução. Apresenta
te (11,66 dias vs 14,77 dias). como história familiar relevante uma irmã com quei-
xas semelhantes, ainda sem diagnóstico estabeleci-
A mortalidade global dos doentes foi 27,36% do. Observada por Oftalmologia com documentação
(n=151), nos doentes com DM 32,32% (n=64) e nos de estrias angióides oculares bilaterais. Ao exame
doentes sem DM 26,85% (n=87). objetivo apresenta estrias alaranjadas na face dor-
sal do pescoço. Fez tomografia de coerência óptica
Relativamente à mortalidade assistiu-se a mesma (OCT) que demonstra estrias na Membrana de Bruch
tendência que nos doentes diabéticos (28,84% nos e biópsia cutânea que se coaduna com o diagnóstico
tratados com corticóides vs 36,17% nos sem uti- de PE. Realizado estudo completo para exclusão de
lização de corticóides) e que nos não diabeticos outras causas de laxidez cutânea (nomeadamente
(25,37% vs 28.18%, respectivamente). doenças do tecido conjuntivo) que se revelou sem
qualquer alteração exceptuando diagnóstico de novo
Conclusões: de dislipidemia e ecocardiograma que excluiu envol-
vimento cardíaco. 
A mortalidade por COVID-19 e a duração do inter-
namento foi superior nos doentes com DM quando CONCLUSÃO
comparados com os casos-controlo e a terapêutica

244
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
O PE é uma entidade cujo diagnóstico tardio pode tência de ambas as entidades, num mesmo doente e
significar importante morbilidade a nível ocular, sen- em simultâneo, é rara, pelo que devemos estar aler-
do por isso importante o despiste e diagnóstico pre- tas para esta possível associação.
coces das alterações oculares características. As
manifestações cardiovasculares são também deter- PA n.º 1117 
minantes no prognóstico, nomeadamente a hiperten- Síndrome de Wallenberg, uma entidade bicentená-
são, doença coronária e cerebrovascular. É por isso ria no homem de meia-idade
essencial a abordagem multidisciplinar, sendo que a Mafalda Teixeira da Costa(1);Sara Moutinho-Perei-
doente mantém o seguimento nas Consultas de Me- ra(1);Rafaela Lopes Freitas(1);Paula Salgado(1);Isa-
dicina Interna, Oftalmologia e Dermatologia/Cirurgia bel Cruz(2);Rui Moço(2)
Plástica e orientação para consulta de aconselha- (1) ULSMatosinhos (2) Unidade Local de Saúde de
mento genético. Matosinhos, EPE / Hospital Pedro Hispano

PA n.º 1101  Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas


Complicação rara e potencialmente fatal da pielo-
nefrite crónica O Acidente Vascular Cerebral tem múltiplas formas
Nuno Maia Neves(1);Bernardo Neves(1);Susana de apresentação. A Síndrome de Wallenberg (SW) é
Carvalho Coelho(1);Anabela Raimundo(1);Alexandra rara e traduz um enfarte na parte lateral da medula
Bayão Horta(1) oblongata com perda cruzada da sensibilidade tér-
(1) Hospital da Luz Lisboa mica e dolorosa da face ipsilateral e hemicorpo con-
tralateral. Tem uma tríade característica: síndrome
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias de Horner ipsilateral, ataxia ipsilateral e hipoestesia
facial ipsilateral e do hemicorpo contralateral [1- 3].
Introdução: A pielonefrite xantogranulomatosa é Habitualmente, a síndrome é secundária à oclusão
uma complicação rara de pielonefrite crónica, sendo aterosclerótica da artéria vertebral ou artéria cere-
o risco particularmente elevado em casos de obs- belosa inferior posterior [4].
trução urinária por cálculos renais infetados. A ex-
tensão do processo infeccioso para outros órgãos é Homem de 49 anos, com excesso ponderal (IMC
rara, mas pode ocorrer a formação de fístulas, com 29.3 kg/m2) e hipertensão arterial controlada, re-
o seu envolvimento subsequente. O carcinoma pavi- corre ao serviço de urgência (SU) por parestesia
mento-celular primário do bacinete representa <1% da hemiface esquerda e desequilíbrio com inca-
das neoplasias do tracto urinário. Contudo, o seu pacidade de marcha com 2 horas de evolução. À
aparecimento pode estar associado à nefrolitíase, admissão, descrito como hipertenso (TA: 177/108
devido à inflamação crónica que pode levar a meta- mmHg), sem nada a destacar. Realizou Angio-TC
plasia o epitélio urotelial com subsequente transfor- cerebral que não mostrou alterações agudas. Du-
mação carcinomatosa. rante a permanência no SU, desenvolveu quadro de
sudorese, mal-estar geral e soluços constantes. Ob-
Caso clínico: Mulher de 57 anos, sem antecedentes jetivado anisocoria de novo, nistagmo horizonto-ro-
de relevo, que recorreu ao Serviço de Urgência por tatório, ptose palpebral esquerda, hipoestesia álgica
dor no flanco esquerdo e perda ponderal> 10% nos na face esquerda e hemicorpo direito e dismetria à
últimos dois meses. À admissão encontrava-se he- esquerda. Repetiu angio-TC cerebral, sem achados
modinamicamente estável, com macicez à percus- de novo. Assumido enfarte em território vertebro-
são e ausência de murmúrio vesicular no hemitórax -basilar, nesta altura com 8 horas de evolução e sem
esquerdo. Analiticamente, com leucocitose neutrofí- critérios para trombólise ou trombectomia. Asso-
lica, trombocitose e elevação da Proteína C Reativa. ciadamente, desenvolveu emergência hipertensiva
A tomografia computorizada torácica e abdominal com necessidade de perfusão de labetalol. No in-
revelou: alteração estrutural do rim esquerdo, com ternamento realizou RMN cerebral que documentou
múltiplos quistos, alguns dos quais com conteúdo 2 lesões isquémicas agudas, na vertente póstero-
cálcico bem como volumoso conglomerado ade- -lateral esquerda da medula inferior ao pedúnculo
nopático para-aórtico e extenso derrame pleural es- cerebeloso inferior (lesão da artéria cerebelosa
querdo. O derrame pleural e um dos quistos renais póstero-inferior) e no núcleo lenticular direito. Reali-
foram drenados, com isolamento de Escherichia coli zado estudo etiológico sem identificação de causa
multisensível em ambos. Iniciou ceftriaxona e foi embólica ou pró-trombótica subjacente. A clínica de
submetida a nefrectomia total esquerda após sete soluços melhorou após vários dias de medicação
dias de antibioterapia. O exame anátomo-patológi- sintomática. Teve alta orientado para centro de rea-
co do rim revelou pielonefrite xantogranulomatosa e bilitação motora.
carcinoma pavimento-celular primário do bacinete.
A evolução foi desfavorável, sem condições clínicas O SW pode ser um desafio diagnóstico pela sua
para quimioterapia, com óbito no quinquagésimo dia apresentação clínica diversificada, aliada a tradução
de internamento. imagiológica pouco evidente nas primeiras horas,
ambos responsáveis pelo seu subdiagnóstico. Com
Discussão: A associação entre pielonefrite xantogra- este caso pretendemos alertar para a importância
nulomatosa e carcinoma pavimento-celular do baci- do reconhecimento precoce da clínica, tornando
nete está bem estabelecida. No entanto, a co-exis- possível um diagnóstico atempado que possibilite o

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 245


uso de todas as armas terapeuticas. de infeção a considerar
Sara Teixeira(1);Carina Monteiro Teixeira(1);Liliana
PA n.º 1121  Brochado(1);Inês Albuquerque(1)
Meningite secundária a espondilodiscite: iatrogenia (1) Centro Hospitalar de S. João, EPE
da punção lombar?
David Ferreira(1);Rui Duarte(1);Marisa Roldão(1);I- Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
van Luz(1)
(1) Centro Hospitalar do Médio Tejo, EPE / Unidade Título: Flavimonas oryzihabitants – um agente cau-
de Torres Novas sador de infeção a considerar
Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas
Introdução: A Flavimonas oryzihabitans (F. oryzihabi-
Introdução: A meningite bacteriana aguda é uma tans), previamente conhecida como Pseudomonas
infeção bacteriana rapidamente progressiva das oryzihabitans, é um organismo gram-negativo infre-
meninges e do espaço subaracnoide. As sintomato- quentemente causador de doença no ser humano.
logias normalmente incluem cefaleia, febre e rigidez A maior parte das infeções descritas na literatura
na nuca. Assim que há suspeita de meningite bac- ocorreram em indivíduos imunodeprimidos, poden-
teriana, hemoculturas e punção lombar para análise do, no entanto, ocorrer em indivíduos sem imunos-
do líquido cefalorraquidiano (LCR) são feitas. As supressão. Descrevemos um caso de bacteriemia
situações que contraindicam a realização da pun- causada por F. oryzihabitans num homem de 72
ção lombar são sinais francos de hipertensão intra- anos, internado por uma infeção respiratória compli-
craniana, lesão ocupando espaço cranioencefálico, cada com abcesso e insuficiência respiratória, sem
discrasias hemorrágicas ou mesmo infeção no local fator conhecido causador de imunossupressão.
da punção. Apresentamos caso de meningite decor- Caso clínico: Homem de 72 anos, com anteceden-
rente da punção lombar numa doente com diagnós- tes relevantes de doença pulmonar obstrutiva cróni-
tico recente de espondilodiscite. ca e tabagismo ativo, recentemente internado por
pneumonia adquirida na comunidade, com alta 48h
Caso Clínico: Homem de 72 anos, previamente sau- horas antes de recorrer de novo ao serviço de ur-
dável, recorreu ao serviço de urgência por febre gência. Apresentava recorrência de picos febris e de
(39.2ºC), lombalgia bilateral com ligeira diminuição toracalgia de características pleuríticas, bem como
da força nos dois membros inferiores. Analiticamen- manutenção das queixas de dispneia e astenia. Rea-
te destaca-se elevação dos parâmetros inflamató- lizou TC-Tórax que revelou abcedação das conso-
rios. Realizou tomografia computorizada (TC) cra- lidações já documentadas no internamento prévio.
neoencefálico e lombar que revelou espessamento Analiticamente com aumento dos parâmetros infla-
da gordura paravertebral anterior a nível de L5-S1 su- matórios (leucócitos 21.11x10^9; PCR 215.7mg/dL)
gestiva de espondilodiscite (posteriormente confir- e insuficiência respiratória hipoxémica.
mado por ressonância magnética), assim como es-
tenose canalicular de L3 a S1. Iniciou antibioterapia No internamento anterior, a antibioterapia escolhida
após colheita de hemoculturas. Por manter diminui- foi piperacilina/tazobactam, uma vez que o quadro
ção da força nos membros inferiores, foi realizado já se arrastava há sete dias e o doente já tinha sido
uma punção lombar com colheita do LCR. Após 48h, medicado com amoxicilina/ácido clavulânico e cla-
observou-se agravamento do estado de consciência ritromicina, em ambulatório, sem melhoria clínica.
associado a febre persistente. O estudo microbioló- Cumpriu quatro dias desta terapêutica e teve alta
gico foi positivo para Staphylococcus aureus no LCR, hospitalar com levofloxacina. A revisão do estudo
mas negativa nas hemoculturas. A antibioterapia foi microbiológico efetuado nesse internamento reve-
adaptada conforme antibiograma. O doente evoluiu lou identificação de F. oryzihabitants multissensível
de forma desfavorável com agravamento da função numa hemocultura. Assim, optou-se por reiniciar pi-
renal e falência multiorgânica. Acabou por falecer ao peracilina/tazobactam. Apresentou melhoria clínica
8º dia de internamento. e analítica progressiva, tendo cumprido três sema-
nas de antibioterapia endovenosa e depois totaliza-
Discussão: Salientamos este caso para relembrar as do seis semanas de tratamento com ciprofloxacina.
contraindicações para a realização da punção lom- Não se identificou fator imunossupressor.
bar, enfatizando a história do doente e todas as pato-
logias relevantes. Infeção no local de punção ou dos Discussão: Este caso suporta a evidência clínica
tecidos moles é contraindicação para o procedimen- emergente de que a F. oryzihabitants deve ser reco-
to. Apesar do doente não ter hemoculturas positivas, nhecida como um organismo com capacidade de
a relação entre o local da punção e existência de causar doença no ser humano.
espondilodiscite reforça a possibilidade de a Menin-
gite ser de etiologia iatrogénica. O Staphylococcus PA n.º 1125 
aureus é responsável por mais da metade dos casos Sindroma de Platipneia ortodeoxia secundário a
de espondilodiscite. FOP
Ana Sara Monteiro(1);Diana Briosa Reis(1);João
PA n.º 1123  Costa(1);Rita Domingos(1);Sergio Gonçalves(1);Te-
Flavimonas oryzihabitants – um agente causador resa Salero(1);José Ferreira(1)
(1) HOSPITAL FARO
246
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
Tema: Doenças raras A espondilodiscite é uma situação clínica rara e
de diagnóstico difícil. Afeta mais comumente as
Introdução: A Síndroma de Platipneia ortodeoxia vértebras lombares, sendo a dor o sintoma mais
(SPO) é uma condição rara com menos de 300 reportado. É mais frequente em homens e na faixa
casos descritos na literatura. Caracteriza-se por dos 50 aos 60 anos. O Staphylococcus aureus (SA)
dispneia posicional (platipneia) e hipoxia em or- é o agente bacteriano mais isolado. O diagnóstico
tostatismo ou na posição sentada (ortodeoxia). A atempado é imperativo já que é uma condição asso-
dificuldade respiratória é aliviada em decúbito. A ciada a elevada morbimortalidade.
etiologia da SPO pode ser intracardiaca ou extracar- OBJETIVO
diaca, sendo a presença de um forâmen oval paten- Caracterizar os doentes com diagnóstico de espon-
te o shunt intra cardíaco mais frequentemente im- dilodiscite num serviço de medicina.
plicado. Caso clínico: Mulher, 86 anos parcialmente
dependente nas actividades de vida diária, com an- MÉTODOS
tecedentes pessoais de síndroma demencial, hiper- Estudo retrospetivo e observacional baseado na
tensão arterial e ectasia aórtica. Num internamento análise de processos clínicos dos doentes com
quatro anos antes, em contexto de hemorragia pós diagnóstico de saída de espondilodiscite num ser-
cirúrgica apresentou platipneia com resolução com- viço de medicina de um hospital central durante um
pleta espontaneamente. A doente deu entrada no ano.
serviço de urgência após ter sido encontrada afá-
sica e com hemiplegia direita. Foi diagnosticado RESULTADOS
AVC isquémico parietal esquerdo com trombo
em M1, tendo sido submetida a fibrinólise com Incluíram-se 6 doentes com espondilodiscite, cor-
resolução parcial dos défices. Ao terceiro dia de respondendo a 7 internamentos. A mediana de
internamento apresentou hipoxémia após realizar idades foi 80 anos (AIQ 51-86), 4 doentes do sexo
levante com melhoria em decúbito. Realizou angio- masculino. Os motivos de admissão foram: abces-
-tomografia computadorizada (angio-TC) pulmonar so paravertebral, compressão medular, síndrome
que evidenciou defeitos de preenchimento nos febril, havendo 3 doentes sem clínica suspeita de
ramos segmentares e subsegmentares para o lobo espondilodiscite. A duração média de internamento
superior e inferior direito, em relação com trom- foi 50 dias (AIQ 35-219). Os fatores de risco presen-
boembolismo pulmonar (TEP). O ECO doppler dos tes foram diabetes tipo 2 (n=2), doença renal cróni-
membros inferiores identificou a presença de trom- ca (n=2), neoplasia (n=1), infeções recentes (n=5),
bo na veia popliteia direita. A repetição da angio-TC corticoterapia (n=1) e tabagismo (n=2). A maioria
duas semanas após demonstrou repermeabilização dos doentes referia lombalgia (n=5) e os restantes
dos segmentos anteriormemente afectados. Por cervicalgia ou febre com paraparésia. O diagnóstico
manter hipoxémia e platipneia, aliviada apenas por foi conseguido maioritariamente por ressonância
decúbito lateral esquerdo, realizou ecocardiograma e o atingimento lombar foi o mais frequente. Ob-
transtorácico visualizando-se shunt esquerdo-direi- servou-se abcesso paravertebral em 4 doentes e
to proximal ao aparelho valvular mitro-tricu´spide. do psoas em 3. Dos isolamentos microbiológicos,
O ecocardiograma transesofágico evidenciou septo houve 4 hemoculturas positivas (2 SA, um deles me-
interauricular com foramen ovale patente. Dadas ticilinaresistente e outro sensível (MSSA), e 2 Strep-
as comorbilidades da paciente não se realizou tococcus – intermedius (SI) e gallolyticus). Nas
correcção cirúrgica. A doente teve alta com oxige- biópsias aspirativas isolou-se MSSA (n=1), SI (n=1)
noterapia de longa duração. Discussão: O interesse e micobactéria não tuberculosa (sem identificação
deste caso prende-se com a raridade do SPO, o qual da espécie) e Lactobacillus acidophilus (n=1). Quan-
acreditamos ser sub-diagnosticado. O diagnóstico to à antibioterapia, cumpriram em média 40 dias
precoce do presente quadro (na data da primeira (AIQ 21-51), sendo os mais frequentemente usados
apresentação) teria permitido o encerramento do Vancomicina e Meropenem. A morte foi o desfecho
FOP. Admitimos que a parésiano hemicorpo direito final em 4 doentes.
em conjunto com TEP agravaram uma condição pré-
-existente. CONCLUSÃO
Pela evolução insidiosa e potencialmente fatal das
espondilodiscites, é imprescindível uma elevada
PA n.º 1127  suspeição clínica para o diagnóstico e tratamento
ESPONDILODISCITES NUM SERVIÇO DE MEDICINA precoces. O curso prolongado de antibiótico arrisca
DE UM HOSPITAL CENTRAL estes doentes no desenvolvimento de infeções no-
Ana Luísa Esteves(1);Ana Rita Barradas(1);Sérgio socomiais, sendo imperativo a ponderação da sua
Pereira(1);Mariana Constante(1);Ana Pãosinho(1);- estabilidade clínica para referenciação a hospitaliza-
João Delgado(1);Isabel Madruga(1) ção domiciliária.
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE /
Hospital Egas Moniz PA n.º 1130 
ABCESSOS HEPÁTICOS NO SERVIÇO DE MEDICINA
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias DE UM HOSPITAL CENTRAL
Ana Luísa Esteves(1);Ana Rita Barradas(1);Sérgio
INTRODUÇÃO Pereira(1);Mariana Constante(1);Ana Pãosinho(1);-
João Delgado(1);Isabel Madruga(1)
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 247
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE / ou consequência?
Hospital Egas Moniz Mafalda S.B. Sequeira(1);Francisca Abeca-
sis(1);Henrique Santos(1)
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias (1) Hospital Garcia de Orta, EPE

INTRODUÇÃO Tema: Doenças oncológicas

O abcesso hepático representa o abcesso visceral Na dermatomiosite são manifestações cutâneas


mais comum, apesar de se manter pouco frequente. patognomónicas, os nódulos de Gottron e o rash
Impõem-se como entidade diagnóstica desafiante heliotropo nas regiões expostas.
pela sua apresentação inespecífica. É mais comum
em homens e representam fatores de risco diabetes Sexo feminino, melanodérmica, 45 anos, sem ante-
mellitus (DM), doença hepatobiliar ou pancreática, cedentes pessoais relevantes, enviada a consulta
transplante hepático, neoplasia, imunodeficiência externa por quadro com 6 meses de evolução de le-
e utilização de inibidor da bomba de protões (IBP). sões cutâneas heliotrópicas, papulares, pruriginosas
O tratamento precoce é imperativo pelas complica- localizadas aos membros superiores e região cervi-
ções e mortalidade a curto prazo. cal, edema peri-orbitário e artralgias localizadas ás
interfalângicas e metacarpo falângicas e emagre-
OBJETIVO cimento. Negava perda de força muscular, disfagia
Caracterizar os doentes com diagnóstico de abces- e dificuldade respiratória. Objectivamente salienta-
so hepático num serviço de medicina. vam-se lesões cutâneas papulares na região das
interfalângicas proximais sugestivas de nódulos de
MÉTODOS Gottron, lesões em “xaile” papulares, pruriginosas
Estudo retrospetivo observacional baseado na na região do tronco todas elas de caracter heliotró-
análise dos processos clínicos dos doentes com pico. Dos exames complementares salientava-se
diagnóstico de abcesso hepático em dois anos con- anticorpos antinucleares positivos, anti-SSA e SSB
secutivos. negativos e CK normal. Biópsia cutânea compatí-
vel com dermatomiosite e telerradiografia de tórax
RESULTADOS
sem alterações. A eletroforese de proteínas revelou
Incluíram-se 6 doentes com abcesso hepático, 4 do
pico monoclonal IgGK, que motivou a realização de
sexo masculino, com média de idades de 77 anos
mielograma e biópsia óssea. O Mielograma revela
(AIQ 73-89). À admissão, a maioria dos doentes
14,8% de células plasmocitárias dismorficas (com-
apresentava febre e elevação dos parâmetros infla-
patíveis com neoplasia a plasmócitos), alterações
matórios. A duração média dos internamentos foi
não corroboradas pela biopsia óssea (escasso
38 dias (AIQ 14-50). Os fatores de risco presentes
aumento de plasmócitos). A doente aguarda a imu-
foram a utilização de IBP (n=3), neoplasia (n=3) e
nofenotipagem no sangue periférico e avaliação
DM (n=1). O diagnóstico foi conseguido por eco-
radiológica de ossos longos para caracterização do
grafia abdominal (n=4) e os restantes por angioto-
quadro clinico e tomografia toraco-abdomino-pelvi-
mografia abdominal ou colangiopancreatografia
ca para despiste de neoplasia sólida oculta.
retrógrada. Laboratorialmente verificou-se, em
média, leucocitose de 15300/uL (AIQ 5200-22500), Os autores salientam a importância do caso dado a
ALT 78U/L (AIQ 7-651), AST 90U/L (AIQ 27-266), FA Dermatomiosite estar frequentemente associada a
247U/L (AIQ 123-534). Os microrganismos isola- neoplasia subjacente. O risco de neoplasia aumenta
dos em hemoculturas foram Escherichia coli (n=3, nos primeiros 5 anos pelo que os doentes devem
1 delas ESBL) e Klebsiella pneumoniae (n=2) e na ser mantidos em vigilância regular, sobretudo os
biópsia aspirativa Escherichia coli (n=1). A antibio- doentes jovens. Nesta fase coloca-se a duvida de
terapia empírica mais prescrita foi Meropenem e ser a Dermatomiosite a causadora da estimulação
Piperacilina/Tazobactam. A drenagem percutânea da população plasmocitária ou, pelo contrario, ser a
dirigida por tomografia foi necessária em 3 doentes. discrasia de células plasmocitarias a causadora da
A maioria dos doentes teve resolução do quadro, Dermatomiosite como manifestação paraneoplasi-
sendo que 1 doente morreu. ca.
CONCLUSÃO PA n.º 1142 
É crucial manter em mente a hipótese de abcesso QUANDO OLHAMOS, MAS NÃO VEMOS – UM
hepático em doentes com sintomas inespecíficos, CASO DE PERICARDITE PURULENTA FATAL
clínica abdominal e fatores de risco. Só a elevada Ana Luisa Nunes(1);Leonor Gouveia Simões(1);Ana
suspeição permitirá diagnóstico e tratamento Coimbra(1);Jandira Lima(1);Rui m. Santos(1);Ar-
atempados, reduzir complicações e mortalidade. mando Carvalho(1)
A antibioterapia prolongada impõe os doentes (1) Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra /
como candidatos a hospitalização domiciliária, Hospitais da Universidade de Coimbra
encurtando internamento e minorando os riscos
inerentes. Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
PA n.º 1141 
Dermatomiosite e discrasia plasmocitária. Causa A pericardite purulenta é uma doença rapidamente

248
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
progressiva e fatal em ~100% casos sem tratamen- são hospitalar, constituindo um desafio diagnóstico
to. Cursa com várias complicações, incluindo evolu- dada a multiplicidade de possíveis etiologias. As
ção para choque séptico, tamponamento cardíaco complicações cirúrgicas tardias, embora infrequen-
ou pericardite constitriva. Pode decorrer em contex- tes, constituem um dos diagnósticos diferenciais en-
to de contiguidade, como são exemplo a infecção contrados pelo internista.
pulmonar, perfuração esofágica ou fistulização.
Caso clínico:
Caso Clínico Mulher, 82 anos, antecedentes de obesidade, insu-
ficiência cardíaca, e histerectomia tendo resultado
Homem, 66 anos, recorreu ao Serviço de Urgência hérnia incisional submetida a 4 herniorrafias por re-
por precordialgia em repouso, insidiosa, pleurítica, cidiva, com colocação de prótese (última 2017).
com agravamento em decúbito dorsal, com 7 dias de
evolução, associada a dispneia. De salientar, 2 me- Admitida no Serviço de Urgência por febre e vómitos
ses antes, o diagnóstico de carcinoma neuroendócri- com 24h de evolução. À observação destacava-se a
no de pequenas células do pulmão T2bN3M0, após presença de volumosa hérnia incisional infraumbili-
biópsia guiada por ecografia endoscópica (EUS) de cal, em contiguidade com massa abdominal multi-
conglomerado adenopático justaesofágico. Foi pro- lobulada, irredutível e indolor. Analiticamente com
posto para quimio/radioterapia, protelados após in- elevação de parâmetros inflamatórios. Avaliação
feção por SARS-CoV-2. imagiológica por tomografia computorizada de-
monstrando hérnia incisional de conteúdo adiposo, e
Ao exame objetivo apresentava febre, hipotensão, volumosa coleção líquida multiloculada ao longo do
taquicardia, polipneia, dessaturação periférica em ar tecido celular subcutâneo desde a região umbilical
ambiente, hipofonese dos sons cardíacos e fervores à sínfise púbica, com partida no colo herniário, com
bibasais. Gasimetricamente, com insuficiência res- dimensões estimadas de 13 x 6 x 9 cm. Retrospetiva-
piratória tipo 1, acidose metabólica e hipercalactaci- mente já com evidência de uma coleção quística da
démia. Analiticamente, com lesão renal aguda gra- parede abdominal, de menores dimensões, em exa-
ve, elevação das aminotransferases e  parâmetros me de imagem de 2018, enquadrando-se em compli-
inflamatórios. Radiografia torácica  com aumento cação das intervenções cirúrgicas prévias.
do índice cardiotorácico e electrocardiograma com
taquicardia sinusal. Ecocardiograma transtoráci- Avaliada por Cirurgia Geral com opção por tratamen-
co  demonstrou derrame pericárdico volumoso com to conservador, pelo que realizou antibioterapia em-
colapso das cavidades direitas, pelo que foi subme- pírica com piperacilina + tazobactam admitindo-se
tido a pericardiocentese emergente. Contabilizados infeção de quistos da parede abdominal, com melho-
>200000 polimorfonucleares/uL no líquido purulento ria clínica e analítica. Não se obtiveram isolamentos
drenado. Por choque séptico com ponto de partida microbiológicos.
em pericardite purulenta foi iniciada antibioterapia
empírica de largo espectro com ceftriaxone, linezo- Encaminhada para seguimento em consulta de Cirur-
lide e metronidazol. Recusada admissão do doente gia, com estabilidade imagiológica das loculações
em cuidados intensivos ou intermédios pelos an- da parede abdominal.
tecedentes neoplásicos, tendo vindo a falecer 48h
depois. Conhecimento do isolamento de Fusobacte- Discussão:
rium necrophorum na cultura do líquido.
O desenvolvimento de hérnia incisional após um pro-
Conclusão cedimento cirúrgico abdominal é frequente, particu-
larmente em doentes obesos. A reparação de hérnia
O caso supracitado descreve um doente com peri- incisional é um procedimento comum, com poucas
cardite purulenta a condicionar tamponamento e complicações, sendo que a formação de quistos
choque séptico refractário à terapêutica. O Fuso- crónicos é muito rara.
bacterium necrophorum é uma bactéria anaeróbia
comensal do tracto gastrointestinal e vias aéreas su- PA n.º 1165 
periores, admitindo-se possível infeção do pericárdio Alternativas aos circuitos convencionais na gestão
por este agente após fístula ou perfuração no decor- do doente agudo não emergente
rer da biópsia por EUS. Raquel Barreira(1);Catarina Pereira(1);Filipa Duarte
Ribeiro(1);Carina Silva(1)
PA n.º 1154  (1) Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia / Espinho
Hérnia incisional com complicação inabitual
Vilma Grilo(1);Ana Glória Fonseca(1) Tema: Organização, gestão e qualidade de serviços
(1) Hospital Garcia de Orta, EPE de saúde

Tema: Doenças infecciosas e parasitárias


A criação de unidades de ambulatório para o diag-
nóstico precoce e o tratamento rápido de fase agu-
Introdução: da de descompensação permite diminuir o número
de urgências hospitalares e de internamentos em
O síndrome febril é um motivo frequente de admis- hospital de agudos. Quando este é necessário, o
internamento em hospitalização domiciliária (HD)
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 249
afigura-se, em casos selecionados, como uma alter- Introdução
nativa ao internamento convencional. 
A pandemia pela COVID-19 é um problema grave de
Objetivos/Métodos: Estudo observacional retrospe- saúde pública. Impôs uma reorganização das estru-
tivo descritivo, com objetivo de analisar os interna- turas da saúde. Modificou significativamente as vias
mentos registados numa Unidade de HD, de Março tradicionais de acesso dos doentes aos cuidados,
2018 a Janeiro 2021, a partir de uma Unidade de Tra- nomeadamente na descompensação aguda das
tamento Ambulatório da Medicina Interna (UTAMI).  doenças crónicas.
Resultados: Registaram-se 66 internamentos, cor- A nossa clínica de insuficiência cardíaca (IC) não foi
respondendo a 54 doentes, dos quais 32 mulheres; excepção, privilegiando o acesso aos cuidados da
média de idades de 75±13 anos. Correspondiam saúde através do hospital de dia e aumentando os
maioritariamente a reavaliações após outras con- recursos humanos na equipa multidisciplinar neste
sultas hospitalares (38%), episódios de urgência sector.
(30%) ou de internamento (11%) com necessidade
de reavaliação precoce ou a referenciações diretas Objectivo
dos cuidados de saúde primários (9%). A insuficiên-
cia cardíaca descompensada constituiu a principal Comparar dois grupos de doentes admitidos na uni-
causa de internamento (49%), seguida da infeção dade de IC aguda (UIC), em períodos homólogos pré
(42%) e dos distúrbios hidroeletrolíticos (5%). Quase e durante a pandemia: número de doentes, carac-
um terço dos doentes teve necessidade de realizar terísticas, e outcomes em termos de mortalidade e
terapêutica endovenosa em hospital de dia, prévio à reinternamentos, para avaliação do impacto da pan-
admissão em internamento domiciliário. Dos doen- demia.
tes admitidos em HD, quatro necessitaram de ad-
Material e métodos
missão hospitalar por agravamento clínico ou por
carência de procedimentos invasivos e 5 faleceram Análise retrospectiva dos doentes internados con-
no domicílio. Demora mediana de internamento 10 secutivamente na UIC entre setembro e dezembro
dias, totalizando 792 dias de internamento retirados de 2019 e período homólogo de 2020.
ao internamento convencional e uma poupança de,
pelo menos, 66 episódios de urgência. À data de alta Resultados
28% (n=17) foram referenciados novamente à UTAMI
por risco de reinternamento precoce, que se viria a Incluímos 120 doentes, 62 internados em 2019 e
registar em 3 doentes.  58 em 2020, 59,7% e 55,2% do género masculino,
respectivamente. Os grupos não diferem (p=ns) re-
Conclusões: A referenciação a unidades de ambula- lativamente à média de idades (77,3±11,1 anos vs
tório afigura-se como uma alternativa aos circuitos 77,4±9,3 anos), comorbilidades (hipertensão arterial,
convencionais na gestão do doente em fase aguda diabetes mellitus e fibrilhação auricular), etiologia
de descompensação não emergente. Estas unidades da IC (isquémica, hipertensiva e valvular), fracção
permitem uma gestão mais eficiente dos recursos, de ejecção do ventrículo esquerdo e tempo de inter-
ao evitar idas desnecessárias aos serviços de urgên- namento (9,19 vs 9,64 dias). Os doentes admitidos
cia e reduzir a necessidade de internamento hospi- em 2019 provieram mais frequentemente do Servi-
talar. Constituem também uma porta para o interna- ço de Urgência (77,4% vs 46,6%, p=0,003). Em 2020,
mento domiciliário, quando a gestão em ambulatório internámos mais doentes a partir do Hospital de
deixa de ser possível, permitindo uma vez mais pou- Dia (11,3% em 2019 vs 27,6% em 2020). Os interna-
par dias de internamento convencional, minimizar dos em 2020 foram mais frequentemente medica-
custos e intercorrências. dos com inibidores da SGLT2 à alta (12,7% vs 30%,
p=0,03) sem outras diferenças significativas na tera-
PA n.º 1178  pêutica modificadora de doença, à data de alta. Ve-
Acesso do doente crónico e os cuidados de saúde rifica-se uma relação estatisticamente significativa
na pandemia – o exemplo da insuficiência cardíaca nos reinternamentos aos 6 meses (16,3% em 2019
Maria João Correia(1);Renato Guerreiro(1);Jéssica vs 34% em 2020, p=0,043). A taxa de mortalidade in-
Chaves(2);Daniela Madeira(3);Rosário Eça(4);Mar- tra-hospitalar em 2019 foi de 9,7% vs 12,1% em 2020,
garida Monteiro(3);Catarina Costa(5);Joana Duar- e aos 6 meses após a alta hospitalar foi de 16,1% vs
te(1);Célia Henriques(1);Catarina Rodrigues(1);Inês 21,6% (p=ns), respectivamente.
Araújo(1);Cândida Fonseca(1)
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE / Conclusões
Hospital de S. Francisco Xavier (2) Hospital Dr. Nélio
Mendonça (3) Hospital Prof. Doutor Fernando Fon- Ainda que o número de internamentos por IC pré
seca (4) Hospital de São José (5) Centro Hospitalar e durante a pandemia tenha sido semelhante, veri-
de Trás-os-Montes e Alto Douro, EPE / Unidade Hos- fica-se que o Hospital de dia passou a ser uma via
pitalar de Chaves de internamento mais frequente, com uma redução
muito significativa das admissões através do serviço
Tema: Organização, gestão e qualidade de serviços de urgência.
de saúde
O aumento dos reinternamentos em 2020, testemu-

250
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
nha de uma maior gravidade da doença e sugere Dada a idade, quadro clínico rapidamente progressi-
algum receio e consequente atraso no recurso dos vo e o perfil imunológico foi iniciado tratamento de
doentes aos serviços de saúde vs progressão/agra- indução sem confirmação histológica. Desde a publi-
vamento da doença de base. cação do estudo Pexivas que a indicação para plas-
maferese é controversa, sendo necessários estudos
Não havendo nenhum agravamento significativo da adicionais que avaliem o seu benefício em doentes
mortalidade intra-hospitalar e aos 6 meses, registou- com MPA e hemorragia alveolar.
-se aumento das mortes, em número absoluto, em
2020. PA n.º 1183 
Colite colagenosa - uma causa rara de diarreia
Os resultados desta análise sugerem que a reorgani- crónica
zação da nossa clínica de IC terá mitigado, em parte, Nuno Maia Neves(1);Margarida l. Nascimento(1);-
as consequências nefastas da pandemia COVID-19 Francisco Soares Laranjeira(1);Susana Carvalho
nos cuidados prestados. Coelho(1);Anabela Raimundo(1);Alexandra Bayão
Horta(1)
PA n.º 1180  (1) Hospital da Luz Lisboa
Poliangeíte Microscópica: Um caso de uma Síndro-
me Pulmão-Rim Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá-
Guilherme Jesus(1);Tiago Costa(1);Raquel Mou- ticas
ra(1);Raquel Barreira(1);Paula Ferreira(1)
(1) Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia / Espinho
Introdução: A colite microscópica é uma doença
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas- inflamatória crónica do cólon caracterizada por diar-
culites reia aquosa e não sanguinolenta, frequentemente
crónica. A sua etiologia mais frequente diz respeito
a fármacos, sendo o tabagismo um fator de risco
Introdução bem estabelecido. Na colonoscopia a mucosa des-
tes doentes pode ser normal, sendo indispensável
A Poliangeíte Microscópica (MPA) é uma vasculite a realização de biópsias, em diferentes regiões do
necrotizante de pequenos vasos multissistémica cólon, para o diagnóstico.
que atinge com frequência o sistema respiratório e
o rim. Apresenta-se geralmente como uma glomeru- Caso clínico: Homem, 77 anos, com doença renal
lonefrite rapidamente progressiva, podendo manifes- crónica estádio 3a, recorreu ao Serviço de Urgên-
tar-se também como uma síndrome pulmão-rim.    cia por diarreia aquosa com um mês de evolução (>
10 dejeções/dia) e dor abdominal que aliviava com
Caso Clínico
as dejeções. À admissão: PA 80/40 mmHg, PAM
Mulher de 86 anos admitida no Serviço de Urgência 53 mmHg, FC 120 ppm, diaforético. Analiticamente
por quadro de astenia, perda ponderal e hemoptises. com lesão renal aguda AKIN 3 (ureia 424 mg/dL e
À observação encontrava-se hemodinamicamente creatinina 9 mg/dL), hipercaliémia, hiponatrémia e
estável, sem insuficiência respiratória, com sons res- acidémia metabólica (pH 7,13; HCO3 10 mmol/L;
piratórios diminuídos à auscultação da metade su- lactato 5,0 mmol/L). Assumindo choque hipovolémi-
perior do campo pulmonar esquerdo. Analiticamente co foi admitido na Unidade de Cuidados Intensivos,
com anemia normocítica e normocrómica de 6.6g/ onde sob fluidoterapia e suporte vasopressor se ve-
dl, creatinina 4.25 mg/dl e PCR 4.16mg/dL.  Telerra- rificou melhoria do perfil hemodinâmico. Realizou: 1)
diografia torácica com consolidação no lobo superior coproculturas e hemoculturas, negativas; 2) exame
esquerdo. Ecografia renal com aumento da ecogeni- parasitológico das fezes negativo para quistos, ovos
cidade parenquimatosa e redução da diferenciação e parasitas; 3) pesquisa de Clostridioides difficile e
parenquimo-sinusal, compatível com nefropatia. Por antigénio de Giardia lamblia negativos; 4) IgA e IgG
episódio de hemoptises com insuficiência respirató- anti-gliadina, anti-transglutaminase e anticorpos an-
ria de novo foi efetuada uma AngioTC torácica que ti-endomísio negativos; 5) função tiroideia inaltera-
revelou a presença de infiltrados pulmonares bilate- da; 6) calprotectina fecal 53 mcg/g (VR <50 mcg/g).
rais compatíveis com hemorragia alveolar. Do estudo A colonoscopia evidenciou ulceração do cólon, cujas
etiológico realizado destaca-se anticorpos anti-cito- biópsias foram compatíveis com colite focal ativa,
plasma de neutrófilo anti-mieloperoxidase fortemen- com áreas de colite colagenosa. Suspendeu o pan-
te positivos e sedimento urinário ativo, em relação toprazol e iniciou budesonida 9 mg/dia per os duran-
com provável poliangeíte microscópica. Iniciou tra- te seis semanas. Objetivou-se resolução da diarreia,
tamento de indução com pulsos de metilprednisolo- sem recidiva, após desmame da corticoterapia.
na, seguidos de prednisolona 1mg/kg/dia e pulsos
Discussão: Na abordagem diagnóstica da diarreia,
de ciclofosfamida a cada 2 semanas, com excelente
principalmente, quando a sua etiologia não é óbvia,
resposta clínica e imagiológica.
a colonoscopia tem um papel fundamental ao per-
Discussão mitir-nos obter material para estudo anátomo-pato-
lógico. As colites microscópicas devem ser tidas em
O diagnóstico de MPA requer demonstração em bióp- atenção como possível causa de diarreia, dadas as
sia de vasculite necrotizante não granulomatosa. implicações terapêuticas deste diagnóstico.

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 251


PA n.º 1204  (1) Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca
Pancreatite auto-imune - diagnóstico, implicações
e terapêutica Tema: Doenças cardiovasculares
Nuno Maia Neves(1);Bernardo Neves(1);Susana
Carvalho Coelho(1);Anabela Raimundo(1);Alexandra A miopericardite e a DII formam uma associação
Bayão Horta(1) rara habitualmente interpretada como manifestação
(1) Hospital da Luz Lisboa extra-intestinal da DII, sobretudo quando se limita à
inflamação da serosa. Pode ser também associada
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas- a efeitos adversos de fármacos usados na terapêu-
culites tica da doença, incluindo a 5-ASA, sendo a prevalên-
cia baixa.
Introdução: A pancreatite auto-imune (PAI) é uma
doença rara, que pode manifestar-se como um Os critérios de diagnóstico de miopericardite são:
distúrbio primário ou em associação com outras evidência de pericardite e elevação dos marcadores
patologias auto-imunes. Na PAI tipo 1, o pâncreas de inflamação miocárdica ou evidência imagiológi-
é envolvido como parte de uma doença sistémica ca da inflamação.
IgG4 positiva, enquanto no tipo 2 o envolvimento
sistémico é menos provável, apesar da reconhecida Apresenta-se o caso de um indivíduo, sexo masculi-
associação à doença inflamatória intestinal (DII). no, 27 anos com diagnóstico de colite ulcerosa há 1
ano, medicado com prednisolona 40 mg od, 5-ASA
Caso clínico: Homem de 22 anos, previamente as- 1500 mg tid, e 5-ASA 4 g retal od.. Recorreu ao ser-
sintomático que recorreu ao Serviço de Urgência por viço de urgência por dor torácica com irradiação
epigastralgia com irradiação ao dorso e saciedade cervical que agravava com a inspiração profunda e
precoce de agravamento progressivo no último mês. melhorava com o decúbito dorsal com início há 24
À admissão com dor à palpação do epigastro e hi- horas. Negava febre, infeções recentes, sintomas
pocôndrio direito, sem defesa. Analiticamente com respiratórios ou urinários. Trânsito intestinal no seu
colestase, sem hiperbilirrubinémia (fosfatase alcali- padrão de base: 3 dejeções pastosas/dia. Ao exame
na 140 UI/L, γ-GT 121 UI/L,), amilase  238 UI/L e li- objectivo: pele e mucosas descoradas e FC de 138
pase 2677 UI/L. A colangio-pancreatografia por res- bpm. Analiticamente: 19100 leucócitos/mm3 com
sonância magnética revelou pâncreas globoso, sem 82.9% neutrófilos, proteína c reativa 12.31 mg/dL,
lesões focais. A biópsia pancreática, realizada por hemoglobina 9.3 g/dL normocrómica e normocítica,
eco-endoscopia, evidenciou infiltrado inflamatório K+ 2.79 mEq/L e troponina T 168 ng/L. Electrocar-
linfoplasmocitário, com fibrose intersticial, mas sem diograma com taquicardia sinusal e supradesnivela-
venulite, infiltração por células IgG4+ ou neoplasia, mento de ST generalizado com concavidade supe-
confirmando pancreatite crónica. A colonoscopia rior. Ecocardiograma transtorácico compatível com
documentou: cego e ascendente proximal com mu- miopericardite. Suspendeu-se 5-ASA, mantendo a
cosa hiperemiada e múltiplas erosões, com infiltra- prednisolona na dose de 60 mg de e iniciou colchici-
do linfoplasmocitário, criptite multifocal e abcessos na 0.5 mg bid, com melhoria franca da dor torácica.
de cripta, sem granulomas ou displasia, sugerindo Ecocardiograma às 72 horas sem alterações. O
doença inflamatória intestinal. Do estudo laborato- doente não voltou a ter queixas de dor torácica do
rial a salientar: doseamento de IgG total e de IgG4 tipo pleurítico desde a suspensão do fármaco, o que
normais, VIH negativo, função tiroideia normal e an- corrobora a hipótese diagnóstica. Iniciou posterior-
ticorpos antinucleares positivos, fino granular, título mente infliximab por pancolite cortico-resistente.
1/160. Assumida PAI tipo 2, iniciou prednisolona 40
mg/dia, com normalização analítica. Iniciou desma- Existem alguns casos de miopericardite secundária
me de corticoterapia às 6 semanas e iniciou messa- à 5-ASA descritos na literatura. Assim, numa situa-
lazina, encontrando-se assintomático após 2 meses ção de dor torácica em doente sob terapêutica com
de follow up, nomeadamente sem sintomas ou sinais 5-ASA, a pericardite e/ou miopericardite devem per-
de DII. tencer à lista de diagnósticos diferenciais.

Discussão: Apesar de rara, a PAI deve ser incluída PA n.º 1223 


nas possíveis etiologias de pancreatite aguda, cróni- Miosite orbitária no lúpus eritematoso sistémico
ca e recorrente, especialmente no jovem, não só Joana Rodrigues Morais(1);Raquel Rodrigues San-
pela sua terapêutica específica, mas também pela tos(1);Paula Costa(2);Tomás Fonseca(3);Fátima
possível necessidade de abordagem do envolvimen- Farinha(3)
to de outros órgãos. (1) Unidade Local de Saúde de Matosinhos, EPE /
Hospital Pedro Hispano (2) Hospital do Divino Espí-
PA n.º 1222  rito Santo, Ponta Delgada (3) Centro Hospitalar do
Miopericardite aguda secundária à mesalazina (5- Porto, EPE / Hospital Geral de Santo António
ASA) na doença inflamatória intestinal (DII)
Andreia Curto(1);Catarina Cortesão(1);Rodrigo Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
Lopes(1);Catarina Pereira(1);João Pedro Figuei- culites
ra(1);Rui Peres(1);Alice Rodrigues(1);Fernando Aldo-
miro(1) Introdução: A miosite orbitária é uma manifestação

252
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
rara, caracterizando-se por inflamação dos múscu- à direita, súbitas. Foi observada por Oftalmologia e
los extra-oculares com eventual risco de amaurose. internada com suspeita de endoftalmite endógena
A sua presença no Lúpus Eritematoso Sistémico (que se confirmou em ressonância magnética), sur-
(LES) está muito pouco descrita na literatura. gindo também  febre no internamento.  Iniciou anti-
bioterapia com vancomicina, tendo-se isolado Strep-
Caso clínico: Mulher de 32 anos com psoriase tococcus dysgalactiae sensível em cultura do humor
cutânea e LES diagnosticado há 7 anos, a cumprir aquoso e hemoculturas. Realizou ecocardiograma
hidroxicloroquina e corticoterapia (dose equivalen- transtorácico (e transesofágico) que identificou ve-
te a 10mg de prednisolona), com SLEDAI = 4 (por getação em válvula aórtica nativa (4,3mm). O estu-
artralgias). Recorre ao serviço de urgência por dor do de imagem dirigido a omalgia revelou lesão lítica
monocular aguda com diplopia e edema palpebral com processo de osteomielite subagudo do úmero
direito. Sem alterações no exame oftalmológico ou (abcesso de Brodie). Cumpriu um total de cinco se-
sinais clínicos ou analíticos de atividade sistémica manas de antibioterapia dirigida, com várias iatro-
da doença imune ou intercorrência infeciosa. Tomo- genias a motivar switch: vancomicina (neutropénia),
grafia computorizada (TAC) da órbita a evidenciar penicilina e meropenem (toxidermia) e clindamicina
espessamento dos músculos rectos medial, lateral e (hepatite medicamentosa). Em paralelo, foram dis-
inferior direitos e dos tecidos moles na região perior- cutidas propostas cirúrgicas para controlo de foco a
bitária direita. Biópsia palpebral e do músculo recto nível multidisciplinar, proteladas por melhoria clínica
medial a evidenciar infiltrado inflamatório de predo- paulatina e intercorrência com enfarte agudo do mio-
mínio linfoplasmocitário, sem achados a sugerir vas- cárdio requerendo angioplastia com stent. Reavalia-
culite, doença relacionada IgG4 ou linfoproliferativa. ção ulterior mostrou resolução dos focos.
Assumido diagnóstico presuntivo de miosite perior- Discussão: O limiar de suspeição de endocardite
bitária por LES e iniciada corticoterapia oral em alta deve ser baixo na presença de história e clínica su-
dose. Ausência de resposta a justificar terapêutica gestivas. Além da instituição de antibioterapia preco-
off-label com Rituximab – após 1 ciclo constatada ce, a necessidade de controlo cirúrgico de foco deve
melhoria clínica e posteriormente imagiológica. ser continuamente avaliada com base na severidade
Discussão: A miosite orbitária no LES é uma entida- das lesões, evolução clínica e imagiológica e evidên-
de rara, estando apenas descritos 7 casos. Esta pode cia de complicações.
ser a forma de apresentação do LES ou manifestação PA n.º 1235 
de doença ativa, mesmo sem elevação de biomarca- A doença relacionada a IgG4 - Pancreatite auto-i-
dores inflamatórios. O risco de complicações graves mune
é baixo, todavia em 1 caso foi descrita progressão Catarina Pinto Silva(1)
para isquemia ocular e subsequente amaurose, pelo (1) Hospital Santa Maria Maior de Barcelos
que os autores salientam a importância do diagnós-
tico e tratamento precoces. Este caso é o primeiro Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
a apresentar ausência de resposta à corticoterapia. culites
PA n.º 1224 
Endocardite bacteriana complicada com endoftal- Introdução: A doença de IgG4 enquanto patologia
mite e abcesso de Brodie imuno mediada surge com diversas formas de apre-
Luís Reis de Almeida(1);Manuel António Montei- sentação, podendo assim condicionar múltiplos
ro(2);António Trigo(1);Vera Salvado(1);Luís Dias(1) orgãos. A doença relacionada a IgG4 - Pancreatite
(1) Hospital de São José (2) Unidade Funcional Me- auto-imune (PAI) - representa uma das formas de
dicina 1.2 - Hospital de São José - CHULC apresentação com vários subtipos. Mais de um
terço dos casos de PAI tipo 1 são diagnosticados
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias em doentes assintomáticos submetidos à avaliação
de massa pancreática, aumento do pâncreas ou
Introdução: A endocardite bacteriana é uma infec- estenose do ducto pancreático através de imagem
ção grave, potencialmente fatal, cuja clínica insidio- abdominal; apenas cerca de 1% se manifesta como
sa pode resultar em diagnóstico tardio. As compli- pancreatite aguda. PAI tipo 2 apresenta-se sobretu-
cações incluem a disseminação hematogénica com do como pancreatite aguda.
focalização secundária, que constitui factor de mau
prognóstico. Caso clínico: Mulher de 53 anos, antecedentes de hi-
pertensão arterial há 8 anos, orientada para consulta
Caso Clínico: Senhora de 63 anos, com história de Medicina Interna para estudo de episódios recor-
de neoplasia da mama em remissão, foi admitida rentes de pancreatite aguda alitiásica sem altera-
no serviço de urgência (SU) com quadro de omal- ções de relevo em colangioressonância. Em consul-
gia esquerda sem evidente factor desencadeante, ta, queixa de dores abdominais inespecíficas, sem
acompanhado de palpitações, náusea e desconforto alterações ao exame objetivo. Do estudo realizado
retroesternal com dez dias de evolução. Foi identi- destacam-se anticorpo anti célula parietal gástrica
ficada fibrilhação auricular de novo, tendo alta sob positivo, anticorpo anti alfa fodrina positivo; HbA1c
hipocoagulação e betabloqueador. Recorreu nova- (em colheita seriada) superior a 6.5%; IgG elevado,
mente ao SU com dor ocular e diminuição da visão com subclasse IgG4 acima duas vezes do valor da

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 253


normalidade. Restante estudo auto-imune sem al- de lesão neoproliferativa primária ou envolvimento
terações. Perante o diagnóstico de Doença de IgG4 secundário. Assumiu-se NMO secundária a vacina
iniciou-se tratamento com Prednisolona 40 mg/dia ou infeção viral. Cumpriu ciclo de metilprednisolona
e continuou-se orientação e  estudo de exclusão de e sessões de plasmaferese, com agravamento pro-
neoplasia oculta. gressivo dos défices motores, evoluindo para tetra-
parésia flácida. Por quadro disautonómico grave
Discussão: PAI sendo uma entidade incomum exi- a condicionar hipotensão arterial e bradicárdia, foi
ge um seguimento criterioso pelas complicações transferida para a unidade de intensivos, onde terá
associadas, nomeadamente porque pode condicio- falecido.
nar insuficiência pancreática exócrina e endócrina
(diabetes mellitus). Os fatores de risco para o de-  A NMO manifesta-se por surtos que atingem o nadir
senvolvimento de diabetes mellitus incluem idade de agravamento clinico em dias, podendo levar à morte
avançada e longa duração da doença, resultando em ou condicionar sequelas potencialmente devastadoras
extensa atrofia do parênquima. Paralelamente urge a a longo prazo. É essencial o diagnóstico e tratamento
importância de exclusão de neoplasia oculta. O ob- precoce para prevenção das recidivas e diminuição
jetivo de se ponderar este diagnóstico é a instituição da elevada morbilidade associada a esta doença.
de  tratamento, se indicado, com o intuito de aliviar
os sintomas imediatos da PAI e prevenir a fibrose he- PA n.º 1245 
pática irreversível e a insuficiência pancreática exó- Deformidade do membro inferior pós-traumático. A
crina e endócrina evolução para um sarcoma após 20 anos.
Marisabrochado(1);Marta Cerol(1);Petra Pego(1)
PA n.º 1241  (1) Hospital Distrital de Santarém, EPE
Neuromielite óptica - a corrida contra o tempo
Carla Nicolau(1);Andreia Amaral; Inês Santos, Bár- Tema: Doenças oncológicas
bara Picado, Catarina Salvado(1)
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE / Hos- Introdução: Sarcoma é um tipo de neoplasia rara
pital de Santo António dos Capuchos que atinge a mesoderme, podendo atingir osso,
cartilagem, gordura, músculo, vasos sanguíneos, ou
Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas tecidos moles. Cerca de 40% acometem os mem-
bros inferiores. Para o diagnóstico, além da suspei-
A neuromielite óptica (NMO) é uma doença des- ção clínica, são necessários exames de imagem e
mielinizante do sistema nervoso central que afecta biópsia.
predominantemente a medula espinhal e o nervo
óptico, de etiologia primária ou secundária. O diag- Caso Clínico: Doente do sexo masculino, 75 anos.
nóstico precoce é essencial uma vez que os surtos Antecedentes pessoais de síndrome demencial ini-
podem culminar em quadros potencialmente fatais cial, hipertensão arterial e história de acidente, há
por falência respiratória e disautonomia grave. 20 anos, com traumatismo da perna esquerda, ten-
do dai resultado deformação permanente da perna.
Mulher, 77 anos, autónoma. História médica co- Medicado habitualmente com anti-hipertensor a an-
nhecida de hipertensão arterial e trombose venosa ti-demencial.
profunda recorrente. Recorreu ao serviço de ur-
gência por quadro com quatro dias de evolução de Trazido ao serviço de urgência por apresentar perío-
diminuição progressiva de força do membro inferior dos de maior prostração associado a diminuição de
esquerdo até incapacidade para a marcha e reten- ingesta alimentar, com alguns dias de evolução. Foi
ção urinária. Nas duas semanas prévias referência internado por lesão renal aguda por desidratação
a febre, tosse, odinofagia, vómitos e hipos após a e aumento de parâmetros inflamatórios sem foco
toma da vacina da gripe. Na observação estaria fe- identificado. Dias após o internamento iniciou tume-
bril (TT 38,8ºC) e hemodinamicamente estável. No fação do membro inferior direito com envolvimento
exame neurológico com plegia do membro inferior circunferencial, poupando a região anterior da perna.
esquerdo, reflexos osteotendinosos vivos e reflexo Iniciou drenagem espontânea. Iniciada antibiotera-
cutâneo-plantar indiferente à esquerda. Sem alte- pia de largo espetro.
ração da sensibilidade. Ressonância magnética do
neuro-eixo revelou múltiplas áreas de alteração de Dos exames complementares realizados: Tomogra-
sinal a envolver a região hipotalâmica, o quiasma, fia axial computorizada Perna (TAC Perna): “ …vo-
fitas ópticas e região posterior do bulbo, assim lumosa lesão na perna esquerda com pelo menos
como atingimento multifocal e assimétrico da me- 300x124x133mm, lobulada, com calcificações peri-
dula, entre C6 e D10 e ao nível do cone medular. féricas grosseiras, mas também com componente
Fez punção lombar, com pleocitose de predomínio cálcico intralesional, com marcada heterogeneidade
mononuclear, com glicorráquia e proteinorráquia estrutural. A lesão engloba maioritariamente o peró-
normais.  Sem bandas oligloconais. Do estudo nio … quer a tíbia, quer o perónio têm marcada he-
complementar a destacar anticorpos anti aquapo- terogeneidade, com fusão das epífises proximais…”;
rina4 positivos. Marcadores tumorais, anticorpos Ressonância Magnética Nuclear (RMN) perna: “Con-
anti-neuronais negativos. Rastreio infeccioso sem clusão: Extensa massa de tecidos moles necrosada
alterações.  TC tóraco-abdomino-pélvica sem sinais e com conteúdo hemorrágico ao longo da perna,
compatível com sarcoma. Tem provável origem nos
254
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
tecidos moles e admite-se que possa invadir a parte Doenças Autoimunes, tendo iniciado metotrexato
distal do perónio.” associado a CCT em baixa dosagem, com resolução
dos surtos e sem actividade na TCO.
Tentativa de realização de biópsia para caracteriza-
ção histológica que se revelou impossível por des- Conclusão: A retinopatia autoimune permanece
truição de tecidos e osso do membro inferior. uma doença pouco estudada, de prognóstico incer-
to. Mais estudos são necessários para a definição
O doente foi amputado pela coxa, sem qualquer in- de critérios diagnósticos e esquemas terapêuticos
tercorrência, apresentando-se à data da alta em rea- que possam ajudar a preservar ou restaurar a acui-
bilitação. Foi aceite em Unidade da Rede Nacional de dade visual.
Cuidados Continuados.
PA n.º 1247 
Discussão: O presente caso clínico alerta-nos para Um edema pulmonar diferente
o facto de que um traumatismo com evolução de 20 Diogo Marques(1);Filipa Marques(1);Pedro Soa-
anos, assintomático, pode vir a despoletar uma neo- res(1);Sofia Rodrigues(1);Ana Pedro(1)
plasia que, embora rara, existe e não deve ser excluí- (1) Hospital da Luz Oeiras
da do raciocínio clínico.
Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente crí-
PA n.º 1246  tico
Uma Luz Ténue ao Fundo do Túnel: A Propósito de
um Caso de Retinite
Sofia Miranda(1);Inês Amarante(1);Daniel Cala- INTRODUÇÃO
do(1);Carolina Roias(1);Miriam Cimbron(1);Luís O edema pulmonar de pressão negativa (EPPN) é
Dias(1) uma complicação pós-operatória rara que resulta
(1) Hospital do Divino Espírito Santo, Ponta Delgada da realização de esforço respiratório contra uma via
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas- aérea total ou parcialmente ocluída, com geração
culites de pressão intra-torácica negativa e transudação de
fluido para o compartimento intersticial e alveolar.
O seu tratamento difere do edema pulmonar agudo
Introdução: A retinopatia autoimune (RAI) é uma cardiogénico, dado que não envolve administração
doença rara que se manifesta por deterioração vi- de nitrato ou diurético, mas sim aplicação de pres-
sual rapidamente progressiva indolor e bilateral, po- são positiva, geralmente sob forma de VNI, com
dendo levar à cegueira. Incluem-se neste espectro melhoria rápida. Apresentam-se três casos de EPPN
de doenças a retinopatia associada a neoplasias/ em doentes cirúrgicos do nosso hospital.
melanoma e a RAI não-paraneoplásica. Não existem
guidelines orientadoras, encontrando-se provavel- CASO CLÍNICO 1
mente sub-diagnosticada ou inadequadamente tra-
tada.  Homem de 39 anos, saudável, submetido a her-
nioplastia inguinal laparoscópica sob anestesia
geral balanceada e bloqueio neuro-muscular. No
Caso Clínico: Mulher de 52 anos. História de perda pós-operatório, iniciou quadro de dispneia, tosse
súbita de visão em 2015. Observada por Oftalmolo- com expetoração rosada e desaturação periférica.
gia, não se tendo verificado alterações na fundos- Radiografia torácica com infiltrado alveolar difuso,
copia. Tomografia de coerência óptica (TCO) com sem cardiomegália ou derrame pleural. Análises
sinais de retinite. TAC crânio e órbitas sem altera- com NT-proBNP normal. Iniciou VNI, com melhoria
ções. Estudo analítico negativo para causas infec- clínica e radiológica em 24 horas. Alta às 48 horas
ciosas virais ou bacterianas, causas inflamatórias após cirurgia.
ou etiologia autoimune secundária. Estudo de HLA-
-C e HLA-DRB1 negativo para predisposição para CASO CLÍNICO 2
retinite pigmentosa. Sem neoplasias identificadas.
Assumido possível quadro inflamatório, tendo inicia- Mulher de 57 anos, com história de HTA e dislipi-
do prednisolona 80mg/dia, com melhoria. Após des- démia. Submetida a artroscopia do ombro esquer-
mame de corticoterapia (CCT), novo surto em 2016, do sob anestesia geral, loco-regional e bloqueio
tendo-se optado pela administração intravítrea de neuro-muscular. No pós-operatório desenvolveu
ranibizumab bilateralmente entre Dezembro de 2016 quadro de dispneia e insuficiência respiratória, com
e Fevereiro de 2017. Após reinício de metilpredniso- infiltrado heterogéneo bibasal na radiografia toráci-
lona 48mg/dia, com melhoria. Manteve desde então ca. Após início de VNI, verificou-se rápida melhoria
vários surtos com diminuição progressiva da acui- clínica e resolução da insuficiência respiratória. Alta
dade visual, apesar da CCT em alta dose. Biometri- às 48 horas após cirurgia.
camente, em 2020, algum pigmento no cristalóide
anterior. Por dúvidas quanto à etiologia, o caso foi CASO CLÍNICO 3
discutido com 2 Centros Especializados de Oftal-
mologia que, atendendo à franca resposta à CCT, Mulher de 65 anos, sem antecedentes, submetida
assumiram tratar-se de uma provável retinite autoi- a artroscopia do ombro direito sob anestesia ge-
mune, com indicação para transição para terapêuti- ral, loco-regional e bloqueio neuro-muscular. No
ca imunomoduladora. Foi enviada para Consulta de pós-operatório, apresentou episódio de depressão

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 255


respiratória transitória, com necessidade de ventila- bora com persistência de discinesias orofaciais que
ção manual. Realizou oxigenoterapia e terapêutica não causavam perturbação funcional.
diurética, com melhoria progressiva ao longo das 48
horas seguintes, tendo alta apenas ao terceiro dia Este caso ilustra uma manifestação neurológica úni-
pós-operatório. ca da DM que se acredita dever-se a uma mudança
para o metabolismo anaeróbio com diminuição se-
DISCUSSÃO cundária do GABA (ácido gama-aminobutírico), con-
tribuindo assim para a disfunção dos gânglios da
Numa altura em que as unidades médico-cirúrgicas base. Enfatiza-se assim a importância do reconhe-
são uma realidade cada vez mais comum em por- cimento precoce e tratamento eficaz uma vez que o
tugal, torna-se fundamental para o internista o reco- prognóstico é favorável quando obtido bom controlo
nhecimento desta complicação pós-anestésica. De glicémico, sendo este muitas vezes suficiente para a
facto, o tratamento é específico e difere do edema reversão do quadro.
pulmonar agudo clássico, tendo grande influência
no prognóstico e tempo de internamento, como de- PA n.º 1275 
monstrado nos casos apresentados. Vasculite associada a ANCA em doente com Artrite
Reumatoide: associação rara
PA n.º 1256  Mafalda Cordeiro de Sousa(1);Paula Cerquei-
Discinésia como sintoma inaugural de Diabetes ra(1);Pedro Manata(1);João Matos Costa(1)
mellitus (1) Hospital Distrital de Santarém, EPE
Cecília de Almeida Moreira(1);João Pedro Perei-
ra(1);Francisca de Brito Marques(1);Carolina Lo- Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
pes(1);Marta Soares(1) culites
(1) ULSMatosinhos
Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio- Introdução: A vasculite associada a ANCA (VAA)
nais compreende 3 entidades clínicas: granulomatose
com poliangeíte, poliangeíte microscópica (PAM)
e granulomatose eosinofílica com poliangeíte. São
A Estriatopatia diabética é uma manifestação neu- vasculites necrotizantes sistémicas que afectam
rológica rara de um estado hiperglicémico grave os vasos de pequeno e medio calibre e partilham
e define-se por um quadro de discinésia traduzido características clínicas e histológicas; raramente
por hemibalismo e hemicoreia associado a lesões estão associadas a outras doenças imunomediadas
reversíveis hiperintensas no estriado contralateral, e o seu reconhecimento precoce permite um diag-
evidentes em tomografia computorizada (TC) ou nóstico mais oportuno e pode ter impacto na morbi-
ressonância magnética (RM). lidade e mortalidade.

Apresenta-se o caso de uma doente do sexo femi- CASO CLÍNICO: Doente do sexo masculino, 57 anos,
nino de 87 anos, com antecedentes de hipertensão com história de Artrite Reumatoide (AR) diagnostica-
arterial (HTA), pré-diabetes, dislipidemia, hipotiroidis- da em 1999 e que se manteve em remissão até 2014,
mo autoimune e síndrome depressivo, que se apre- data em que reaparecem sintomas de dor e rigidez
senta no serviço de urgência (SU) com quadro de de ritmo inflamatório. Realizou corticoterapia, meto-
hemibalismo/hemicoreia direitos com dois dias de trexato e por agravamento da doença iniciou etaner-
evolução, em agravamento. Sem outros sintomas. cept em 2016, com melhoria clínica. Em 2017, surge
Objetivamente sem outros défices neurológicos fo- quadro constitucional e posteriormente hipertensão
cais. Analiticamente a destacar glicemia ocasional arterial “de novo”, edemas, dispneia, ortopneia e he-
de 311mg/dL, HgA1c de 14,6%, com creatinina de moptises. Analiticamente com anemia normocítica
1.4 mg/dL, sem cetoacidose. Realizou ainda TC cere- normocrómica, VS 100mm/s, creatinina 7mg/dL,
bral sem evidência de hemorragia ou eventos isqué- ureia 127mg/dL. O exame sumário de urina mostrou
micos agudos mas com elevação da densidade dos proteinúria e eritrocitúria. Ecografia renal sem sinais
núcleos da base à esquerda. de obstrução das vias urinárias. O doente foi transfe-
rido para Nefrologia para realização de hemodiálise
Assim, assumido quadro de estriatopatia diabética e biópsia renal. O estudo imunológico revelou ANCA
como manifestação inaugural de diabetes mellitus, MPO positivo, ANA positivo 1/160, mantendo FR e
já com lesões de orgão alvo nomeadamente doença anti-CCP positivos. A biópsia renal mostrou glomeru-
renal diabética. Sem evidência de infeção do sistema lonefrite crescêntica, fibrose intersticial e necrose
nervoso central, outra alteração metabólica, uso de tubular aguda, achados a favor de PAM. O doente foi
drogas ou história de doença degenerativa. Iniciou in- tratado com corticoterapia e ciclofosfamida segun-
sulinoterapia durante internamento com progressivo do protocolo CYCLOPS.
controlo metabólico. Iniciou ainda haloperidol numa
dose ajustada até 8 mg/dia. Nas primeiras 48h com CONCLUSÃO: A VAA associada a AR está descri-
franca melhoria clínica apresentando resolução de ta em doentes com longa evolução e doença mal
hemibalismo e perfil euglicémico. Doente reavaliada controlada, como é o caso. O diagnóstico foi efe-
um mês após a alta mantendo razoável controlo me- tuado com atraso significativo desde as primeiras
tabólico. Abandonou espontaneamente terapêutica manifestações articulares e apresentou-se como
com haloperidol sem recidiva de hemibalismo em-
256
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
uma lesão renal aguda grave que não foi possível Este caso ilustra a necessidade de um alto grau de
recuperar totalmente. Tanto quanto sabemos este é suspeita clínica para o diagnóstico de artropatia de
o primeiro caso descrito em Portugal de PAM num Charcot em indivíduos de risco, e da necessidade de
doente com AR. estar alerta quanto à possibilidade de coexistência
de diagnósticos diferenciais, pois estes apresentam
PA n.º 1292  abordagens e terapêuticas distintas. 
Artropatia de Charcot ou Celulite?
Susana Ramos Oliveira(1);Rita Oliveira(1);Rafaela PA n.º 1296 
Lopes Freitas(1);Cristina Rodrigues(1) Doentes com HIV admitidos em Medicina Intensiva
(1) Unidade Local de Saúde de Matosinhos, EPE / - Estudo retrospetivo (1993 - 2019)
Hospital Pedro Hispano Catarina Maciel(1);Sérgio Carvalho(1);Margarida
Contente(1);Ana Rafael(1);Inês Soares(1);Francisco
Tema: Outro Esteves(1)
(1) Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Dou-
Introdução ro, EPE / Hospital de São Pedro
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
O ‘pé de Charcot’ é uma artropatia neuropática por al-
terações mecânicas, vasculares e metabólicas, mais
frequentemente identificada em indivíduos com dia- Introdução: A infeção por HIV constitui uma realida-
betes mellitus (DM) de longa duração e com mau de na sociedade contemporânea, atualmente com
controlo metabólico. perfil de maior cronicidade, fruto da melhor aborda-
gem clínica, terapêutica (antirretrovirais) e organiza-
É uma patologia rara, com incidência estimada de cional. Ao longo dos anos, a admissão de doentes
até 1% na população diabética. em serviços de Medicina Intensiva (SMI) permitiu
uma mudança cultural institucional relevante, fruto
O diagnóstico é clínico – apresentação típica com da evolução terapêutica e da maior informação so-
edema, eritema e calor unilateral sem história de bre a doença, constituindo uma entidade cada vez
trauma - e imagiológico – alterações radiográficas mais observada como patologia crónica tratável,
variadas com fratura, subluxação ou áreas de reab- mesmo em ambiente de medicina intensiva.
sorção óssea.
Objetivo: Avaliar o perfil epidemiológico dos doentes
A celulite é um dos principais diagnósticos diferen-
admitidos consecutivamente no SMI com infeção
ciais, distinguindo-se da artropatia pela dor, febre,
por HIV, no período entre 1993 e 2019.
leucocitose e elevação da proteína C-reativa (PCR)
tipicamente ausentes nesta última. Material e métodos: Estudo e análise dos processos
clínicos dos doentes com HIV admitidos em SMI,
Caso clínico
salientando as características epidemiológicas co-
Apresentamos o caso de uma mulher de 31 anos muns, salientando as comorbilidades associadas,
com excesso ponderal, hipertensão arterial e DM apresentando os motivos de admissão, complica-
tipo 1 com incumprimento terapêutico e HbA1c osci- ções e prognóstico.
lante entre 13 e 18%, que recorre ao serviço de urgên-
Resultados: Estudaram-se 42 indivíduos com idades
cia por dor, edema e eritema do pé esquerdo com 24
compreendidas entre 28 e 79 anos (média: 46 anos)
horas de evolução.
com predomínio do sexo masculino (M:38; F:4), e en-
À admissão hemodinamicamente estável, com tre estes, foram identificados 5 diagnósticos inaugu-
temperatura auricular de 38ºC. Analiticamente com rais. Verificou-se tendência decrescente no número
leucocitose de 19.700, neutrofilia de 79% e PCR de de admissões ao longo do tempo desde 1993 a 2019.
125 mg/L. Os principais motivos de admissão foram: insuficiên-
cia respiratória aguda em 73,8% (n=31); alteração do
Assumida celulite do pé esquerdo e iniciada amoxici- estado de consciência em 21,4% (n=9); hemorragia
lina/ácido clavulânico. digestiva aguda em 4,7% (n=2). A coexistência de in-
feções víricas com VHB e VHC verificou-se em 23,8%
Ao 4º dia de internamento, por persistência de febre dos indivíduos (n=10). Entre as doenças definidoras
(máximo de 38.9ºC), foi escalada antibioterapia para de SIDA, a Pneumonia por P. jirovecci (n=8), a can-
piperacilina/tazobactam. Apesar da resolução da didíase esofágica (n=6) e a toxoplasmose cerebral
dor, leucocitose e diminuição da PCR (7 mg/L), man- (n=3) foram as situações mais prevalentes. As en-
teve edema e eritema locais. tidades sindromáticas com impacto clínico foram:
o choque séptico em 33,3% (n=14), ARDS em 30,9%
Para exclusão de complicações locais, realizou TC (n=13) e a PAC em 23,8% (n=10). Em 16,6% dos doen-
do pé esquerdo a evidenciar fratura comunitiva do tes (n=7) a terapêutica antiretrovírica foi iniciada em
calcâneo. Assumida artropatia de Charcot conco- SMI, 47,6% mantiveram a terapêutica prévia (n=20) e
mitante, tendo colocado bota engessada e iniciado 23,8% apresentaram indicadores para a suspensão
seguimento por Ortopedia. (n=10). Este grupo de doentes apresentou uma mor-
talidade muito elevada (64,3% - 27 óbitos).
Discussão
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 257
Conclusão: Verifica-se diminuição temporal na ad- positiva (carga vírica de 1090 cp/mL). 
missão (SMI) de doentes com HIV, provavelmente
resultado dos programas de orientação clínica em Discussão: O LNKTN é agressivo e raro na população
ambiente de ambulatório. A expressão de descom- ocidental. Esta entidade constitui um desafio no di-
pensação de órgãos e sistemas constitui o principal ferencial com doenças infeciosas. O diagnóstico de-
motivo de admissão, sendo menos frequentes as finitivo está dependente do rigor na anamnese, exa-
causadas diretamente pelas infeções oportunistas me objetivo e avaliação por otorrinolaringologia, se
graves e os estadios avançados da infeção por VIH. pertinente, tal como foi evidente neste caso. O trata-
Nesta experiência, a mortalidade dos doentes HIV é mento inclui quimioterapia associada à radioterapia,
ainda muito elevada e impõe, tal como em outras si- e pela doença ser localizada, o doente foi proposto
tuações, a necessidade de identificação do potencial para radioterapia, que iniciou.
global de reversibilidade com qualidade de vida dos
doentes, pela equipa multidisciplinar, ponderando o PA n.º 1309 
benefício da admissão em SMI. Metástases ósseas de neoplasia oculta: relato de
um caso
PA n.º 1298  Joana Subtil(1);Ana Filipa Rebelo(1);Fernando Sal-
O que é raro é raro, mas acontece: linfoma extrano- vador(1)
dal de células NK/T tipo nasal (1) Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Dou-
Sofia Moura de Azevedo(1);Ana Torrão Pinhei- ro, EPE / Hospital de Vila Real
ro(1);Patrícia Baptista(2);Fabienne Gonçalves(1);Tâ-
nia Ferreira(1);João Araújo Correia(1) Tema: Doenças oncológicas
(1) Centro Hospitalar do Porto, EPE / Hospital Geral
de Santo António (2) Centro Hospitalar Uni. Porto Introdução:
Tema: Doenças hematológicas
Neoplasia oculta ou neoplasia de localização primá-
ria não identificada engloba um grupo heterogéneo
Introdução: O linfoma extranodal de células NK/T de situações clínicas definidas pela presença de
tipo nasal (LNKTN) é mais comum na Ásia e Amé- metástases de crescimento agressivo sem tumor
rica, sendo raro nos países ocidentais. Atinge primário definido após uma investigação completa e
preferencialmente o sexo masculino e localiza-se exaustiva.
primariamente na cavidade nasal e seios perinasais,
sendo os sintomas inespecíficos. Outros locais ex- Caso Clínico:
tra-nodais incluem a via aérea, trato gastrointestinal,
pele, pulmão ou tecidos moles. Até 35% dos doen- Homem de 64 anos, autónomo, sem antecedentes
tes têm sintomas B. O risco de necrose da mucosa pessoais de relevo. Admitido ao internamento para
nasal aumenta com a progressão da doença, poden- investigação de lesões escleróticas ósseas disper-
do ser necessárias múltiplas biópsias até ao diag- sas sugestivas de metástases ósseas encontradas
nóstico histológico definitivo. A fisiopatologia está em Rx por dor lombar, sem outros sintomas asso-
por esclarecer, estando contudo estabelecida uma ciados, sem alterações ao exame objetivo e história
relação com o vírus de Epstein-Barr (EBV).  familiar negativa para neoplasias. Realizou TC tora-
co-abdomino-pélvica que mostrou múltiplas lesões
escleróticas ósseas e derrame pleural. Efetuou to-
Caso Clínico: Apresenta-se o caso de um homem de
racocentese com líquido pleural compatível com ex-
60 anos, autónomo, com síndrome metabólica com-
sudado, exame cultural negativo e citologia negativa
pleta e cardiopatia multifatorial, e é um ex-fumador
para células malignas. Pesquisa de marcadores tu-
de 140 UMA. Foi admitido por sintomas B com um
morais normais: CEA 2.4 (N); CA 19.9 18 (N); AFP 2.0
mês de evolução. Com obstrução nasal de duração
(N); PSA 0.173 (N). Eletroforese de proteínas séricas
indeterminada, sem lesões cutâneas, adenomega-
no sangue e urina sem pico monoclonal. Ecografia
lias palpáveis, e restante exame objetivo sem alte-
tiroideia e prostática sem alterações. Internado ele-
rações relevantes. Analiticamente com leucopenia,
tivamente, à posteriori, para realização de biópsia
sem anemia ou trombocitopenia, DHL aumentada e
de lesão óssea – ambas com amostra insuficiente
citólise hepática. Proteína C reativa e procalcitonina
para diagnóstico. Realizou PET - sem focos de hiper-
negativas. Sem isolamentos microbiológicos. Eco-
captação anómala de FDG claramente sugestivos
grafia abdominal e tomografia computorizada cervi-
de poderem corresponder à localização primaria de
co-toraco-abdomino-pélvica (TC-C-TAP) sem evidên-
eventual neoplasia oculta. Após 4 semanas, doente
cia de alterações que sugiram neoplasia ou doença
agravou quadro clínico com aumento do derrame
infeciosa, sem adenomegalias ou organomegalias.
pleural. Realizou nova toracocentese e biópsia pleu-
Pedida observação por otorrinolaringologia com
ral - o perfil imunofenotípico observado levou a suge-
achado de lesão vegetante na fossa nasal esquer-
rir estudo do trato digestivo superior e bílio-pancreá-
da. TC dos seios perinasais descreve lesão polipóide
tico, para pesquisa da neoplasia primária. Realizou
com captação do produto de contraste. A primeira
endoscopia digestiva alta com biópsia às cegas do
biópsia foi inconclusiva, uma segunda  revelou um
antro que identificou adenocarcinoma invasor de cé-
linfoma extraganglionar de células NK, tipo nasal. Foi
lulas isoladas com morfologia em anel de sinete. Foi
excluída doença à distância por PET com F-18-FDG,
discutido em consulta de grupo e orientado para qui-
biópsia medular e hepática. A pesquisa de EBV foi
mioterapia paliativa, tendo vindo a falecer 6meses
258
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
após o diagnóstico. Após cesariana emergente foram transferidas para
a UCI para vigilância, com evolução favorável. A du-
Discussão: ração do internamento foi de 9 e 10 dias, respetiva-
mente.
Queremos com este exemplo, mostrar a dificulda-
de diagnóstica de um caso de neoplasia oculta, que Discussão
após toda a marcha diagnóstica realizada e acessí-
vel e múltiplas tentativas de biópsia, só se obteve um A apresentação destes casos demonstra que o
diagnóstico final do tumor primário à 4º biópsia, 2 FGAG se apresenta de forma inespecífica e que é
meses após início do estudo. fundamental um alto índice de suspeição com re-
conhecimento e tratamento precoces para evitar a
PA n.º 1310  progressão para insuficiência hepática aguda e suas
Fígado gordo agudo da gravidez – a propósito de complicações, inclusive mortalidade maternal e/ou
dois casos clínicos fetal. Nos casos apresentados, o diagnóstico e in-
Susana Ramos Oliveira(1);Danay Perez(1);Filipe An- tervenção atempados contribuíram para a evolução
drade(1);João Caiano Gil(1);Carolina Guedes(1) favorável.
(1) Unidade Local de Saúde de Matosinhos, EPE /
Hospital Pedro Hispano PA n.º 1312 
UM ANO APÓS EVENTO VASCULAR CEREBRAL
Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá- AGUDO: ATINGIRAM OS DOENTES O VALOR ALVO
ticas DE COLESTEROL LDL?
Mafalda Vasconcelos(1);Patrícia Moreira(1);Carla
Introdução Costa(1);Rui Valente(1);Célia Machado(1);José Lo-
melino Araújo(1)
(1) Hospital Beatriz Ângelo
O fígado gordo agudo da gravidez (FGAG) é uma
emergência obstétrica que ocorre por um défice na Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas
beta-oxidação fetal dos ácidos gordos, com conse-
quente acumulação e deposição no fígado materno.
Introdução: A doença vascular cerebral é uma das
É uma doença rara (1 em cada 7.000-20.000 principais causas de morbimortalidade em Portugal,
gestações) que se apresenta de forma inespecífica, sendo o controlo da dislipidemia um dos mais im-
o que torna particularmente desafiante o seu portantes fatores para a sua prevenção. O colesterol
diagnóstico diferencial com outras patologias da LDL (LDL-C) é o principal alvo do tratamento, tendo
gravidez mais comuns, como a colestase da gravidez as guidelines de 2019 da ESC/EAS vindo a estabe-
ou síndrome de HELLP. lecer valores alvo mais exigentes para os doentes
de muito alto risco cardiovascular, grupo que inclui
O diagnóstico requer a presença de 6 ou mais crité- todos os doentes com eventos vasculares cerebrais
rios de Swansea, na ausência de outra justificação prévios.
clínica.
OBJETIVO: Avaliação da percentagem de doentes
O tratamento é a indução imediata do parto, sem o
que alcançou o alvo desejável de LDL-C um ano após
qual ocorre falência hepática aguda, disfunção mul-
evento vascular cerebral agudo.
tiorgânica e mortalidade materna ou fetal.
MATERIAL E MÉTODOS: Análise retrospetiva dos in-
Caso Clínico
ternamentos por Acidente Vascular Cerebral (AVC)
Reportamos dois casos de FGAG admitidos numa isquémico ou Acidente Isquémico Transitório (AIT)
unidade de cuidados intermédios (UCI) no período nos primeiros 3 meses do ano de 2019 num hospital
de 30 dias. distrital e avaliação do perfil lipídico após 1 ano. As
diferentes variáveis foram extraídas dos processos
Caso 1 – mulher de 34 anos, grávida de 32 semanas. clínicos e analisadas em Microsoft Excel.
Clínica de dor epigástrica, vómitos e polidipsia com
3 dias de evolução. Documentada elevação das tran- RESULTADOS: Foram analisados 200 casos de in-
saminases com insuficiência hepática aguda (hiper- ternamentos por AIT ou AVC isquémico, sendo que
bilirrubinemia, coagulopatia e hipoglicemia), lesão apenas 49 (24%) tinham disponível uma avaliação do
renal aguda e hiperlactacidemia.   perfil lipídico 12 meses (± 4 meses) após a alta. Es-
tes 49 casos foram analisados, sendo constituídos
Caso 2 – mulher de 28 anos, grávida de 39 semanas por 67% de homens, com uma média de idades de 73
com quadro de vómitos e polidipsia com 4 dias de anos e previamente autónomos em 78% dos casos.
evolução. Também documentada insuficiência hepá- Os fatores de risco cardiovasculares mais preva-
tica aguda (semelhante ao caso 1) e hiperuricemia. lentes eram hipertensão arterial (69%), dislipidemia
(47%), diabetes (37%), tabagismo  (19%) e doença re-
Ambas cumpriam mais de 6 critérios de Swansea. nal crónica (16%). Verificou-se que 39% tinham tido
Excluído síndrome de HELLP, pré eclâmpsia ou coles- pelo menos um evento cardiovascular major prévio e
tase da gravidez.   que 47% estavam medicados com estatinas. O perfil
lipídico basal médio aquando do internamento era

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 259


colesterol total (CT) de 160 mg/dl (desvio padrão, DP havido um caso de necessidade de ventilação não
39), LDL-C de 92 mg/dl (DP 32), colesterol HDL (HDL- invasiva (VNI) continua com necessidade de SNG
-C) de 40 mg/dl (DP 11) e triglicéridos (TG) de 141 para alimentação e hidratação e um caso de hemor-
mg/dl (DP 57). A terapêutica hipolipemiante foi alte- ragia digestiva alta. O tempo médio de duração de
rada à data da alta em 84% dos casos, tendo em 43% colocação da SNG foi de 4,4 dias. Não há registo de
dos casos sido introduzida uma estatina em doentes doentes referenciados à terapia da fala previamente
naïve desta terapêutica. A estatina mais prescrita foi à retirada da SNG. 27% dos doentes mantiveram
a atorvastatina (41% dos casos), seguindo-se a sin- SNG à alta e em 22,7% o óbito ocorreu com SNG.
vastatina (26% dos casos). À reavaliação a 1 ano, o Não houve registo de iatrogenias.
perfil lipídico basal médio de era CT de 155 mg/dl (DP
38), LDL-C de 86 mg/dl (DP 32), HDL-C de 42 mg/dl Da população estudada, 87,5% dos doentes tiveram
(DP 14) e TG de 130 mg/dl (DP 57). Apenas 16% dos SV durante o internamento. 51% desses doentes
doentes (18% dos homens e 12% das mulheres) se eram homens. O motivo mais frequente de coloca-
encontravam dentro dos valores alvo de LDL-C (<55 ção de SV foi a monitorização de débito urinário em
mg/dL); 12% apresentavam um LDL-C entre 55 e 69 46% dos casos, seguido da retenção urinária aguda
mg/dl e 39% apresentavam um valor de LDL-C entre (RUA) em 36,5% e em 15,8% a monitorização de dé-
70 e 99 mg/dl. Verificou-se recorrência do AVC/AIT a bito urinário no doente crítico. A média de dias com
1 ano em 12% dos casos. SV colocada foi de 6,89 dias. Em 19% dos doentes
verificou-se isolamento de agente em urocultura
CONCLUSÕES: Os dados mostram que a maioria (UC) previamente à algaliação sendo mais prepon-
destes doentes de muito alto risco cardiovascular derante nas mulheres (83%). O agente mais frequen-
não alcançou o alvo de LDL-C um ano após o evento temente identificado foi a E.Coli (50%). Em 14% o
cerebrovascular agudo. É importante salientar que isolamento de agente microbiano verificou-se após
76% dos doentes do grupo inicial não foram incluí- a colocação da SV, foi mais frequente nos homens
dos nesta análise por não terem disponível um perfil (66%) e não foi possível identificar nestes casos o
lipídico de reavaliação a 1 ano. Estes resultados predomínio de um agente.
refletem a necessidade de uma intervenção mais
ativa no tratamento e monitorização da dislipidemia A colocação de dispositivos médicos (SNG e SV) é
nestes doentes, com potencial benefício na preven- comum na enfermaria de MI, tendo ocorrido em 15%
ção secundária da morbimortalidade de causa cere- dos doentes da nossa amostra. As SNG foram co-
brovascular. locadas maioritariamente por AEC e disfagia sendo
retiradas em 4,4 dias. Previamente a retirar a SNG
PA n.º 1344  nenhum doente foi avaliado pela terapia da fala o
Dispositivos invasivos - Casuística de uma enfer- que pode aumentar o risco de complicações. Ainda
maria assim, não houve registo destas, permitindo inferir
Joana Batista Paulo(1);Margarida Mourato(1);Mário que o uso de SNG é seguro.
Ferreira(1);Marta Fonseca(1);Zélia Neves(1)
(1) Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca 1/3 dos doentes a quem foi colocada SV apresen-
tou isolamentos bacterianos na urina, sendo signi-
Tema: Outro ficativo o número de isolamentos ocorridos após
algaliação.
Dispomos de vários dispositivos invasivos que nos Salientamos a importância do uso de dispositivos
auxiliam na prática diária, monitorizando, auxiliando médicos para monitorização, diagnóstico e terapêu-
no diagnóstico, adjuvando o tratamento. As sondas tica, bem como a não menos importante monitoriza-
nasogástricas (SNG) e sondas vesicais (SV) são ção do seu uso.
dos dispositivos mais usados em enfermarias de
Medicina Interna (MI). Não sendo isentos de riscos, PA n.º 1357 
é importante monitorizar o estado da arte da prática Dor Lombar Persistente
clinica dos nossos serviços para a avaliar e corrigir Mauro Fernandes(1);Carolina Aguiar(1);Ana Patricia
procedimentos instituídos. Nunes(1);Styliani Karamanou(1);Rafael Freitas(1)
(1) Hospital Dr. Nélio Mendonça
Este estudo tem como objectivo caracterizar e mo-
nitorizar a prática clinica num serviço de MI. É um Tema: Doenças oncológicas
estudo retrospectivo observacional descritivo dos
doentes internados numa enfermaria de MI de um O Mieloma Múltiplo (MM) é uma neoplasia maligna,
hospital distrital durante 5 meses. de etiologia desconhecida, caracterizada pela proli-
feração clonal de plasmócitos na medula óssea. O
Dos 454 doentes, 15% tiveram SV ou SNG. Destes, seu diagnóstico requer a presença de imunoglobu-
48% eram mulheres e 52% homens com idade mé- lina monoclonal no soro e/ou na urina, a infiltração
dia de 75,64 anos. O índice de Barthel médio foi medular por plasmócitos anormais e a existência
de 26,6.  30,5% dos doentes tiveram SNG durante de lesões de órgão-alvo. A gamapatia monoclonal
o internamento sendo o motivo mais frequente da de significado incerto (MGUS) precede virtualmente
colocação a alteração do estado de consciência todos os casos de MM, sendo benigna e assintomá-
(AEC) em 68%, seguida da disfagia em 22%, tendo tica.

260
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
Mulher, 72 anos, com antecedentes de hipertensão de média de 69.63 anos, sendo 52.2% (n=403) mu-
arterial e gamapatia monoclonal IgG/kappa, recor- lheres. Destes, 30.1% (n=233) apresentava grau de
reu à urgência pela 7ª vez por lombalgia de agra- dependência pelo menos moderado (mRANKIN ≥ 3).
vamento progressivo. Já medicada com anti-infla- Quanto às comorbilidades e fatores de risco vascula-
matório e analgésico, sem melhoria. Objetivamente res, 13.2% (n=102) apresentavam obesidade, 16.7%
apresentava dor lombar à mobilização ativa e pas- (n=129) eram fumadores ou ex-fumadores, 30.7%
siva dos membros inferiores. Analiticamente sem (n= 237) padeciam de diabetes mellitus tipo 1 ou 2,
alterações. Por manutenção das queixas, apesar da 47.7% (n=368) apresentavam dislipidemia e 63.3%
analgesia endovenosa, foi pedida tomografia com- (n= 489) tinha diagnóstico de hipertensão arterial.
putorizada (TC) que revelou lesão lítica do corpo Como patologias já conhecidas a mais prevalente foi
vertebral de L2. Foi internada na medicina interna a insuficiência cardíaca em 28.6% (n= 221), seguida
para estudo. Ressonância magnética sugestiva de da doença pulmonar em 26.4% (n=204) e por últimos
lesão expansiva no corpo e arco vertebral posterior as neoplasias – ativas ou previas, que estavam pre-
de L2, com envolvimento dos tecidos moles, con- sentes em 13.9% (n=108). Relativamente à patologia
dicionando compressão medular. Proteinograma: mais observada, o grupo nosológico mais frequen-
aumento da fração gama, cadeias kappa de 533mg/ te foram as doenças infeciosas com 29.1% (n=225),
dl e componente M de 14g/l. Realizou medulograma sendo que destes apenas 5.1% (n=40) tinham infeção
sugestivo de MGUS, com 4% de plasmócitos e bióp- por SARS-COV2. As doenças cardiovasculares ocu-
sia óssea normal. Foi ainda realizada biópsia per- pam o segundo grupo de doenças mais observadas
cutânea da lesão, dirigida por TC, que se mostrou com 20.5% (n=159). As doenças neurológicas foram
inconclusiva, sem evidência de células neoplásicas. o terceiro grupo nosológico mais diagnosticado com
Dada a ausência de diagnóstico definitivo, foi sub- 10.2% (n=79). Quanto ao destino dos doentes, 3.8%
metida a biópsia transpedicular bilateral no bloco (n=29) vieram a falecer no SU, 50.3% (n=388) tiveram
operatório, pela neurocirurgia, que revelou neoplasia alta para o domicílio, 36.8% (n=284) foram admitidos
de células plasmocitárias compatível com MM. na enfermaria de MI, 0.3% (n=2) foram internados
na Hospitalização domiciliária e os restantes 8.9%
A lombalgia é um motivo muito frequente de ida ao (n=8.9%) foram transferidos para outros centros. Du-
serviço de urgência e apenas 5% representam situa- rante este período foram readmitidos 9.5% (n=9.7%)
ções potencialmente graves. Serve este caso para aos 30 dias. 
reforçar a importância do diagnóstico diferencial,
com ênfase às causas menos comuns de um deter- Discussão/Conclusão: O ano de 2020 trouxe vários
minado sintoma, muitas vezes esquecidas desafios ao sector da saúde. A pandemia trouxe a
necessidade de reorganização dos serviços, a me-
PA n.º 1366  lhor gestão dos seus recursos humanos e enalteceu
A Medicina Interna na 1ª vaga da pandemia CO- a diversidade de patologias abordadas pela MI nos
VID-19 - Além da doença COVID-19 mais diversos âmbitos. Os dados apresentados
Cristina Isabel Moreira Marques(1);Carina Silva(1);- vão de encontro aos dados nacionais. O primeiro
Carolina Veiga(1);Ana Francisca Pereira(1);Joana deles é a redução drástica do número de episódios
Esteves(1);João Pedro Abreu(1);João Mota(1);- urgência, tal como neste trabalho se revela. O se-
Márcia Ribeiro(1);António Rodrigues Pereira(1);Ana gundo é a maior gravidade dos doentes na chegada
Ogando(1);Carlos Oliveira(1) ao SU – este é intrínseco ao número de doentes
(1) Hospital Santa Maria Maior de Barcelos com necessidade de internamento ou transferência.
Neste segundo ponto pode também contribuir com
Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente crí- o tardar da procura dos SU. Enaltecemos ainda com
tico este trabalho que apesar da dedicação das equipas
à pandemia COVID-19, a MI manteve-se presente
Introdução: Ao longo dos anos a Medicina Interna na abordagem e tratamento de muitas outras pa-
(MI) tem adquirido um papel de maior destaque nos tologias, que nesta amostra se revelam ainda mais
Serviços de Urgência (SU) do nosso país. Dadas frequentes. Os resultados apresentados reforçam
as diferenças existentes entre os diversos centros, a importância da MI no SU dos diferentes centros.
devido às diferenças nos seus recursos humanos e A presença física da especialidade tem vindo a ad-
não humanos, os autores do trabalho apresentam quirir maior importância nos últimos anos, dado a
em seguida uma descrição das patologias aborda- abrangência de patologias por ela abordada e a sua
das e destino dos doentes de um hospital periférico.  capacidade de adaptação às diversas situações.
Por essa razão realçamos a importância da presen-
ça de equipa diferenciadas na área de urgência e
Objetivo: Caracterizar os doentes observados pela emergência de modo a prestar os cuidados neces-
MI no SU durante o período da 1ª vaga da pandemia sários, uma vez que o número de doentes graves e/
por COVID-19. ou críticos observados parece aumentar
Material e Métodos: Estudo retrospetivo descritivo PA n.º 1371 
dos doentes observados no SU pela MI Uma Pseudoapendicite.
Resultados: Durante o período de 25 de março a 31 Ana Cláudia Caseiro Antunes(1);Cátia Santos(1);-
de maio de 2020, foram abordados no Serviço de Ur- Daniela Antunes(1);Raquel Viana(1);Teresa Bru-
gência pela Medicina Interna 772 doentes, com ida- no(2);Diana Castro(1);Fernando Henriques(1);Nuno

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 261


Ferreira(1);Ana Araújo(1);Odete Gomes(1);Paula plasma do neutrófilo (ANCA) são vasculites necro-
Viana(1);Luís Pereira(1) tizantes sistémicas, com escassos depósitos imu-
(1) Centro Hospitalar de Leiria / Hospital de Santo nes, que afetam vasos de pequeno calibre. Estas
André (2) IPO Lisboa atingem principalmente o rim e o pulmão, no entan-
to podem afetar qualquer órgão.
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
Sexo masculino, 45 anos, antecedentes de vasculite
Introdução: A infecção por Yersinia Pseudotubercu- ANCA mieloperoxidase (MPO) positivo com atingi-
losis é uma zoonose rara no humano que, na forma mento renal (em programa de hemodiálise), pulmo-
mais grave, em doentes com cirrose, diabetes ou nar e digestivo, sem terapêutica imunossupressora
hemocromatose, metastisa para fígado, pulmões há cerca de 2 anos. Fumador 15 UMA e já submetido
ou baço. Sintomas gastrointestinais causados por a colecistectomia por episódio prévio de pancreati-
linfadenite mesentérica ou íleite são comuns e mi- te litiásica. Recorreu ao serviço de urgência por dor
metizam quadros de apendicite aguda. abdominal, sendo constatado aumento da amílase
e lípase. Realizou TC abdominal que mostrou hipor-
Caso Clínico: Masculino de 79 anos, com antece- realce heterogéneo do parênquima pancreático sem
dentes de hipertensão arterial e diabetes, recorreu presença de litíase ou dilatação das vias biliares.
ao serviço de urgência por lombalgia direita com Durante o internamento excluiu-se início de fárma-
irradiação anterior para fossa ilíaca direita (FID) cos recentes, hipertrigliceridemia, história familiar
com um mês de evolução e febre nas 48h prévias. de pancreatite, consumo de álcool ou doença infla-
Ao exame objectivo encontrava-se vigil, desorienta- matória intestinal. Analiticamente com ANCA MPO
do no tempo e espaço, dor na FID, apirético e sinais positivo e consumo de C3, sem outras alterações. O
vitais estáveis. Analiticamente apresentava leucoci- doseamento de IgG4 foi negativo e a realização de
tose 46.3 10^3/uL com neutrofilia (81%), tromboci- exames de imagem nomeadamente de colangioRMN
topenia 132 10^3/uL, PCR 209.9mg/L e procalcito- e ecoendoscopia não mostraram alterações de rele-
nina 10.00 ng/Ml (elevadas). Foram excluídos focos vo afastando a hipótese de pancreatite auto-imune
infecciosos respiratório e urinário. Iniciou empirica- ou malignidade. Desta forma, assumida pancreatite
mente Ceftriaxone e realizou Tomografia Computo- em contexto de vasculite e iniciada corticoterapia em
rizada abdominopélvica: “Hepatomegalia com múl- alta dose, com melhoria clínica. Após 3 meses, doen-
tiplas nodularidades quísticas entre 4 - 14 mm (…) te desenvolve novo quadro de pancreatite após sus-
na FID colecção líquida de cerca de 60x40 mm” e pender, por iniciativa própria, o corticoide. O doente
Ecografia Abdominal: “(…) na FID, imagem ovalar hi- acabou por desenvolver pancreatite necro-hemorrá-
poecogénica de conteúdo líquido a sugerir abcesso gica falecendo nesse contexto.
com cerca de 7.2x4.6 cm ou apêndice espessado e
ectasiado”. Apresentou evolução clínica desfavorá- Lesões pancreáticas nas vasculites ANCA são muito
vel para choque, procedeu-se à reanimação volémi- raras, de acordo com a literatura podem surgir em
ca, escalada antibiótica para Piperacilina/Tazobac- fases iniciais secundárias à anormal distribuição no
tam e laparotomia exploradora que revelou “Vários fluxo sanguíneo pancreático originando pancreatite
nódulos hepáticos de características lipomatosas; não homogénea.
formação arredondada (15cm) na dependência do PA n.º 1401 
apêndice sugestiva de mucocelo/teratoma, sem Hipofosfatasia, uma causa rara de fraturas ósseas
sinais de carcinomatose, pús ou abcesso” que foi Rute Isabel Sousa Martins(1);Sara Rocha(1);Arlindo
removida. Nas hemoculturas isolou-se Y. pseudotu- Guimas(1);Rosa Ribeiro(1);João Araújo Correia(1)
berculosis. O doente viria a falecer no contexto de (1) Centro Hospitalar do Porto, EPE / Hospital Geral
falência hepática. de Santo António
Discussão: Este caso alerta para a existência deste Tema: Doenças raras
agente, responsável por quadros de pseudoapen-
dicite. Relembra ainda a importância da higiene ali-
mentar e cozedura da carne. INTRODUÇÃO

PA n.º 1374  Hipofosfatasia (HPP) é uma doença genética rara de-


Pancreatite de repetição associado a vasculite vido a mutações perdedoras de função do gene APLP
ANCA MPO: a propósito de um caso clínico que codifica a fosfatase alcalina tecidual não espe-
Eulália Antunes(1);Joana Lopes(1);Maurício Peixo- cífica. Consequentemente a mineralização óssea é
to(1);Carla Campinho Ferreira(1);Catarina Cerquei- diminuída levando a fraturas, artralgias e manifes-
ra(1);Marta Braga Martins(1);Vânia Gomes(1);Sofia tações extra-esqueleto como calcificação tecidular,
Caridade(1);Isabel Silva(1) complicações neurológicas e disfunção respiratória.
(1) Hospital de Braga A doença é classificada em várias formas de acordo
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas- com a clínica, idade de início e gravidade da doença.
culites A transmissão da doença é feita de forma autossó-
mica recessiva na maioria dos casos.
As vasculites associadas aos anticorpos anticito- CASO CLÍNICO

262
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
Discute-se um caso de uma mulher de 40 anos com anemia normocítica normocrómica e radiograma do
antecedentes de enxaqueca sob tratamento com to- abdómen sem níveis hidroaéreos.
xina botulinica e hipercolesterolemia sob estatina.
História de múltiplas fraturas ósseas desde os 12 No internamento manteve quadro de vómitos com
até aos 20 anos com traumatismos minor, nomea- intolerância alimentar, realizou TAC de corpo que re-
damente: fratura do punho direito, fratura de duas velou nódulo com 2,5 cm de diâmetro ileal, sugesti-
costelas, metartaso esquerdo, úmero e fratura do vo de tumor do delgado, sem sinais de invaginação
cóccix. Associadamente com quadro de lombalgia ou oclusão e zona de estreitamento na 3ª porção do
e dorsalgia de caraterísticas inflamatórias e calcifi- duodeno sugestiva de síndrome da artéria mesenté-
cação periarticular do ombro direito com prejuízo da rica superior. A endoscopia digestiva alta evidenciou
mobilidade que motivaram internamento em Fran- neoplasia estenosante infranqueável na transição
ça para estudo de possível espondiloartropatia. Do D3/D4. Procedeu-se a resseção segmentar de delga-
ponto de vista analítico sempre com níveis baixos do e enterectomia segmentar, com identificação das
de fosfatase alcalina. Densitometria com osteopenia duas lesões, com resolução do quadro de vómitos.
e radiografia da bacia com pequenas calcificações O resultado anatomo-patológico revelou adenocar-
nas partes moles adjacentes aos grandes trocânte- cinoma moderadamente diferenciado duodenal e
res femorais. Face a achados, ponderada hipótese schwannoma ileal.
de HPP tendo sido pedido estudo genético da muta-
ção de ALPL, sendo verificada heterozigotia de muta- Discussão
ção compatível com a doença e feito diagnóstico 26
Os tumores neuroendócrinos do delgado são os
anos após inicio das manifestações clínicas. Atual-
mais prevalentes, seguidos dos adenocarcinomas.
mente apenas sob tratamento de dor e suplementa-
Os schwannomas do íleon são extremamente raros e
ção de vitamina D, sem indicação para tratamento de
a apresentação clínica variável, sendo o diagnóstico
substituição enzimática. A doente tem quatro filhas
difícil. A apresentação clínica mais comum é a dor
sendo que duas são afetadas pela doença e mantêm
abdominal, podendo apresentar-se com obstrução
já seguimento médico, equacionando-se nestas tra-
ao esvaziamento gástrico, com vómitos predomi-
tamento de substituição enzimática.
nantes. O diagnóstico de tumor do intestino delgado
DISCUSSÃO: é complexo, exigindo uma elevada suspeição clínica
e um trabalho multidisciplinar para a sua detecção
É essencial estar atento à complexidade das atempada e resolução cirúrgica.
manifestações clinicas da HPP que pode causar
alterações fisicas debilitantes com impacto na PA n.º 1430 
qualidade de vida. Esta doença mimetiza outras Osteogénese imperfeita em adultos – a experiência
doenças reumatológicas e doenças ósseas primá- de um Centro Hospitalar Universitário
rias tal como osteogénese imperfeita, o que provoca Rute Sousa Martins(1);Patrícia Baptista(1);Sara
atrasos importantes no diagnóstico e consequente- Rocha(1);Arlindo Guimas(1);Rosa Ribeiro(1);João
mente no tratamento. Araújo Correia(1)
(1) Centro Hospitalar Uni. Porto
PA n.º 1427 
Lesões síncronas do delgado - desafio diagnóstico Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio-
Inês de Sousa Miranda Mendes da Silva(1);Fernan- nais
da Seganfredo(2);Marta Monteiro(1);Sara Lemos
Rocha(1);Raquel Domingos(1) Introdução:
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE /
Hospital Egas Moniz (2) IPO Lisboa
A osteogénese imperfeita (OI) é uma doença gené-
Tema: Doenças oncológicas tica com várias apresentações fenotípicas e que se
caracteriza por fragilidade óssea e diminuição da
densidade mineral óssea. Dependendo do subtipo,
Introdução as manifestações clínicas compreendem formas
graves que culminam na morte perinatal até às for-
Os tumores do intestino delgado são raros e a clínica mas mais ligeiras que se manifestam na idade adulta
é inespecífica e variável, sendo o diagnóstico difícil com osteoporose prematura ou perda mineral óssea
e muitas vezes atrasado, culminando em pior prog- acentuada no período pós-menopausa. O tratamento
nóstico. É importante a abordagem multidisciplinar implica uma abordagem multidisciplinar e tem como
para o diagnóstico atempado e tratamento adequa- objetivo a melhoria da qualidade de vida.
do destes doentes. Reportamos um caso raro de le-
sões síncronas do delgado.
OBJETIVO
Caso clínico
Os autores pretendem descrever as características
Mulher de 86 anos, histerectomizada por miomas de uma amostra de adultos com diagnóstico de OI,
uterinos, recorreu ao serviço de urgência por vómitos avaliar o tratamento realizado e a evolução clínica.
incoercíveis e emagrecimento de 20kg em um mês.
Negava dor abdominal. Analiticamente a destacar MATERIAL E MÉTODOS

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 263


Estudo observacional e retrospetivo com base nos uma alta carga sintomática e limitação funcional.
dados obtidos pela consulta de processos clínicos Estes doentes beneficiam de uma abordagem inte-
de todos os doentes com diagnóstico clínico de OI grada por uma equipa multidisciplinar de Cuidados
seguidos na consulta externa de Doenças Hereditá- Paliativos especializada.
rias do Metabolismo num Centro Hospitalar Univer-
sitário. Objetivo: Caracterização dos internamentos de
RESULTADOS doentes crónicos com diagnóstico não oncológico
com falência de órgão vital referenciados do serviço
De 19 doentes com diagnóstico clínico de OI, 57,9% de medicina interna de um centro hospitalar distrital.
eram do sexo feminino, com idades compreendidas
entre os 22 e os 61 anos e média de 37,2 anos. A Material e Métodos: Análise retrospetiva dos interna-
maioria dos doentes foram diagnosticados na infân- mentos numa unidade de medicina paliativa de doen-
cia ou no período neonatal, no entanto 36,8% dos tes crónicos com diagnóstico não oncológico entre
doentes obtiveram o diagnóstico na idade adulta setembro de 2013 a maio de 2021. Dados recolhidos
apesar de apresentarem sintomas desde a infância. através do processo clínico eletrónico dos doentes
47.4% (n=9) dos doentes pertencem ao tipo 1 e nos com diagnóstico de falência crónica de órgão vital
doentes testados foram identificadas mutações nos (insuficiência cardíaca, acidente vascular cerebral,
genes COL1A1 e COL1A2 em 57,8%. O número de fra- doença pulmonar, hepática ou renal) e demência. A
turas de cada doente, ao longo da vida, variou entre 2 classificação funcional dos doentes foi feita com re-
até mais de 50. 78,9% (n=15) dos doentes apresenta- curso à Palliative Performance Scale (PPS) e escala
vam esclera azul e 31,6% (n=6) dentinogénese imper- ECOG Performance Status. A análise estatística foi
feita. Para além do atingimento ósseo, 31,6% (n=6) realizada com recurso a IBM SPSS® versão 25.
dos doentes foram descritos com tendo défice au- Resultados: Dos 2518 internamentos 526 foram de
ditivo e nenhum doente apresentou até ao momento doentes com diagnóstico não oncológico referen-
atingimento cardíaco. 73,6% (n=14) dos doentes fo- ciados do serviço de medicina interna (serviço de
ram medicados em algum momento com bifosfona- urgência/internamento). 52,3% do género feminino e
tos, 31,6% (n=6) encontram-se atualmente sob bifos- 47,7% do género masculino. A classe etária mais fre-
fonatos e nenhum doente apresentou complicações quente foi 81-90 anos sendo responsável por 39,4%
relacionadas com essa terapêutica. Dos doentes sob dos internamentos. A duração média de internamen-
tratamento, 64.3% (n=9) apresentaram melhoria da to foi de 11,3± 2,02 [0-92] dias. O valor médio de PPS
densidade óssea e apenas dois doentes apresen- à admissão foi de 20 e à saída de 30.  O valor mé-
taram fraturas sob tratamento com bifosfonatos. A dio de ECOG foi 4. A maioria dos doentes (98,7%) foi
cirurgia para correção de fraturas foi necessária em admitido na unidade por sintomatologia não contro-
47,4% (n=9) dos doentes e 57.8% (n=11) dos doentes lada, sendo os sintomas mais frequentes: dispneia
tiveram acompanhamento fisiátrico. (22,4%), prostração (12,8%) e dor (11,4%). 1,3% dos
CONCLUSÃO: internamentos deveu-se à exaustão do cuidador prin-
cipal. Em relação aos diagnósticos principais o mais
A OI é uma doença com uma ampla variabilidade frequente foi a demência (26,2%), seguido da insu-
clínica que depende maioritariamente do seu tipo. ficiência cardíaca (9,5%) e da doença renal crónica
As fraturas e lesões ósseas acarretam grande mor- (11,8 %). Destacamos ainda 12 internamentos por
bilidade para o doente sendo imperativo a deteção miopatia após infeção sars-cov-2. O principal desti-
precoce da doença e início do tratamento. Apesar de no dos doentes saídos foi para o domicílio (43,2%),
não existir tratamento curativo, o tratamento médico sendo que a taxa de mortalidade em internamento
com bifosfonatos reduz a incidência de novas fratu- foi de 51%.
ras.
Conclusão: Existe uma consciencialização crescen-
PA n.º 1468  te da referenciação precoce de doentes com falência
CUIDADOS PALIATIVOS EM DOENTES CRÓNICOS: de órgão vital às equipas de cuidados paliativos. A
ESTUDO RETROSPETIVO DA REFERENCIAÇÃO DA Medicina Interna desempenha um papel fundamen-
MEDICINA INTERNA tal no diagnóstico e acompanhamento das necessi-
Lília Castelo Branco(1);Cátia Marisa Loureiro Perei- dades paliativas de doentes crónicos com pluripa-
ra(1);Elisabete Pinelo(1);Anabela Morais(2) tologias. A referenciação às equipas especializadas
(1) Unidade Local de Saúde do Nordeste (2) Centro continua a ser tardia, na maioria dos casos para cui-
Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro, EPE / dados de fim de vida, limitando o benefício desta in-
Hospital de Vila Real tervenção clínica, com impacto na qualidade de vida
e sobrevida do doente crónico.
Tema: Cuidados paliativos
PA n.º 1477 
Febre Tifóide – nem tudo o que parece uma Gas-
Introdução: A medicina paliativa tem assumido um troenterite, o é
importante papel no tratamento do doente cróni- Joana Diogo(1);Inês Ângelo(1);Joana Cartucho(1);-
co desde o momento do diagnóstico. As doenças Joana Filipa Lopes Ferreira(1);Bruno Bonito(1);-
crónicas terminais são patologias prevalentes e Joaquim Peixoto(1);Carla Fernandes(1);Rosário
com elevada taxa de mortalidade, que acarretam Ginga(1);Maria João Mello Vieira(1);Martinho Fer-

264
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
nandes(1) Creatinina de 6,3mg/dL. Encontrava-se assinto-
(1) Centro Hospitalar Barreiro/Montijo, EPE / Hospi- mático e não apresentava alterações ao exame
tal Nossa Senhora do Rosário físico. Negava consumo de nefrotóxicos ou infeção
recentes. Repetiu estudo analítico que confirmou
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias lesão renal com anemia microcítica e hipocrómica,
sem distúrbios iónicos ou do equilíbrio ácido-base.
Introdução: A infeção por Salmonella enterica ainda Apresentava sedimento urinário com eritrócitos dis-
constitui à data atual um importante agente cau- mórficos. Ecografia renal não apresentava sinais de
sador de febre entérica invasiva em todo o mundo. cronicidade e excluiu etiologia pós-renal. Internado
As principais estirpes causadores de doença em para estudo etiológico de LRRP - apresentava pro-
humanos incluem Salmonella typhi (St), paratyphi e teinúria (1,5g/24h), VS 126mm/1ªh, sem consumo
não- typhi, podendo a apresentação clínica ir des- de complemento, pesquisa de anti-corpos ANCA e
de situações mais ligeiras como febre, dejeções restante estudo imunológico normal. Realizou bióp-
diarreicas, dor abdominal, sensação  de mal estar sia renal que objetivou glomerulonefrite crescêntica
inespecífico, a situações mais graves como casos necrotizante, com imunofluorescência compatível
de bacteriémia que culminam em choque séptico, com vasculite pauci-imune, sem deposição de
um risco presente na atualidade, sobretudo quando imunocomplexos. Não apresentou manifestações
associado a infeções a St. pulmonares. Repetida pesquisa de ANCA que foi ne-
gativa, firmando o diagnóstico de glomerulonefrite
crescêntica pauci imune ANCA negativa. Iniciou pul-
Caso clínico: Apresentamos de seguida o caso de sos de metilprednisolona e ciclofosfamida e apesar
um doente, sexo masculino, 38 anos, melanodérmi- de manter débito urinário preservado apresentou ne-
co, sem antecedentes conhecidos,   que dá entrada cessidade de terapêutica de substituição de função
no Serviço de Urgência (SU) com febre, dor abdomi- renal por azotemia. Após 6 meses de seguimento
nal, cefaleias e mialgias, com subida dos parâmetros não apresentava recuperação de função renal.
inflamatórios e padrão de citólise hepática, quadro
inicialmente interpretado como gastroenterite. Ima- Discussão: Este caso ilustra uma forma rara de vas-
giologicamente com espessamento das paredes culite de pequenos vasos incluída no espetro das
cólicas, traduzindo extenso processo de Colite, e vasculites ANCA, destacando a importância da clas-
com adenopatias mesentéricas e hipodensidade sificação histológica para o diagnóstico desta enti-
esplénica sugestiva de êmbolo séptico. Realizadas dade. Independentemente da positividade serológi-
Hemoculturas e teste de Widal, ambos positivos para ca, as recomendações terapêuticas permanecem as
St (subtipo H), pelo que se admitiu o diagnóstico de mesmas, sendo o prognóstico semelhante.
Febre Tifóide, ajustando-se antibioterapia conforme
teste sensibilidade, com evolução clinica favorável. PA n.º 1501 
Febre de difícil controlo
Discussão:   As infeções por Salmonella têm um Joana Morais(1);Olga Pires(1);Andreia Guima-
risco de envolvimento sanguíneo, focalização rães(1);Ana Isabel Oliveira(1);Martinha Vale(1);Inês
infecciosa ou, como no caso descrito, embolização, Conde(1);Inês Burmester(1);Maria João Rega-
que não é desprezível. Neste caso são discutidos das(1);António Oliveira e Silva(1)
quais os métodos de diagnóstico, linhas tratamento (1) Hospital de Braga
e possíveis complicações da febre entérica,
atualmente defendidos pela comunidade científica, Tema:
dando especial destaque para a febre tifóide.
PA n.º 1487  Introdução: Uma das patologias auto inflamatórias
Glomerulonefrite crescêntica pauci-imune ANCA- a ter em conta em doentes com febre, artralgias
-negativa – relato de um caso e rash é a doença de Still. A doença de Still é uma
Sérgio Madureira(1);João Afonso(1);Ana Neves(1);- doença rara, sendo um diagnóstico de exclusão.
Catarina Elias(1);Maria Helena Rocha(1);Ana Oliveira Uma apresentação atípica e grave desta doença é a
Monteiro(1);Pedro Rodrigues(1);Jorge Almeida(1) síndrome hemofagócitico e/ou coagulação intravas-
(1) Centro Hospitalar de S. João, EPE cular disseminada.

Tema: Doenças renais Caso Clínico: Mulher, 58 anos, com antecedentes de


hipotiroidismo. Admitida em internamento por celuli-
Introdução: A glomerulonefrite crescêntica pauci- te da coxa direita. Clinicamente com rash maculopa-
-imune é uma das principais causas de lesão renal pular disperso, mas mais acentuado na face interna
rapidamente progressiva (LRRP). Na maioria dos ca- de coxa direita, acentuado com aumento de tempe-
sos apresenta um marcador serológico – o anticor- ratura, artralgia das pequenas articulações, com rigi-
po anti-citoplasma de neutrófilos (ANCA) - mas 10% dez matinal, astenia e picos febris diários (>39ºC) de
dos casos não apresentam anticorpos detetáveis. predomínio diurno. Ao longo do internamento reali-
zado estudo onde se salienta: bicitopenia (Hb 9g/dL
e plaquetas 90x10*3uL), citólise (10x o limite supe-
Caso Clínico: Homem de 63 anos, previamente rior da normalidade), aumento de ferritina (máximo
saudável, referenciado pelo médico assistente ao 59000 ng/mL) e triglicerídeos, prolongamento do aptt
serviço de urgência por apresentar um valor de
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 265
e défice de fibrinogénio, velocidade de sedimentação sultado das mesmas -  esofágite herpética - excluí-
aumentada, serologias e imunologia negativos e em das imunodeficiências secundárias. Por infecção
estudo imagiológico esplenomegalia e adenopatias urinária concomitante por E. Faecium, tratada com
cervicais, axilares, retroperitoneais e inguinais. Para Linezolida. Após revisão da história clínica com os
descartar doença hematológica, realizada biopsia familiares, descobertos consumos de vinagre com
óssea medular, imunofenotipagem de sangue peri- início antes das queixas, confirmados pela doente.
férico e de aspirado medular, mielograma e biopsia À data de alta a creatinina sérica de 3,1 mg/dL e um
ganglionar, não tendo sido objetivada nenhuma alte- ano depois de 1,45 mg/dL.
ração. Ao 8º dia de internamento, sem melhoria clini-
ca, pela forte suspeita, de síndrome hemofagocitico Conclusão: Este caso clínico pretende realçar o pa-
e/ou coagulação intravascular disseminada crónica pel fulcral da história clínica no diagnóstico. O con-
secundários a doença de Still, iniciada anti inflamató- sumo excessivo de vinagre pode provocar lesões
rio fixo e corticoterapia, inicialmente dexametasona no tracto digestivo, predispondo a sobre-infecção, e
20mg/dia, com troca para prednisolona 1mg/Kg uma insuficiência renal por depleção de volume, com um
semana depois. Dois dias após início de terapêutica, componente iatrogénico e infeccioso.
doente com resolução da clínica e melhoria analítica,
tendo alta com orientação para consulta de Medici- PA n.º 1525 
na Interna, e em esquema de desmame terapêutico. Malária por P. falciparum passado 1 ano
Pedro Manata(1);Bernardo Silva(1);Jessenia Chin-
Discussão: Este caso prima pela raridade, não só chilla Mata(1);Luisa Wandschneider(1)
por se tratar de uma doença de Still por si só rara, (1) Hospital Distrital de Santarém, EPE
mas também por se apresentar sob a forma de sín-
drome hemofagocitico e coagulação intravascular Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
disseminada crónica. A alta suspeição clínica para
estas patologias é fundamental, bem como o início Introdução: A Malária é uma doença causada por
precoce do tratamento dirigido de forma a melhorar um protozoário do género Plasmodium, que infecta
o prognóstico dos doentes os glóbulos vermelhos. É transmitida pela picada do
mosquito fêmea do género Anopheles. Caracteriza-
PA n.º 1519  -se por febre alta, em padrões geralmente cíclicos,
Uma tríade na lesão renal aguda de acordo com o agente etiológico. Se o tratamento
Rui Domingues(1);Margarida Robalo(1);Sofia Espe- for atrasado ou ineficaz, principalmente na infeção
rança(1);André Santa Cruz(1) pelo P. falciparum, pode evoluir para malária grave.
(1) Hospital de Braga Caso clínico: Homem de 37 anos, que recorreu à ur-
gência por quadro febril intermitente de 2 em 2 dias,
Tema: Doenças renais com calafrios e má disposição com 1 semana de
evolução. Refere ter tido malária há 1 ano quando
Introdução: A lesão renal aguda é um dos principais esteve a trabalhar na província de Huíla, em Angola.
motivos de internamento, sendo que a abordagem À observação apresentava-se apirético, não tendo
sistematizada facilita o diagnóstico etiológico e o sido detectado qualquer alteração ao exame objeti-
seu tratamento. vo. Analiticamente destacava-se elevação dos parâ-
metros inflamatórios, leucopenia e trombocitopenia.
Caso clínico: Mulher de 46 anos, autónoma, hiperten- A pesquisa de Plasmodium foi negativa. Decide-se
sa medicada com perindopril e amlodipina. Recorreu pelo internamento, tendo iniciado empiricamente
à Urgência por vómitos, astenia, perda ponderal (7 Doxiciclina. Melhoria gradual do quadro hematológi-
kg) e disfagia com 11 dias de evolução. Na semana co com normalização dos parâmetros inflamatórios,
antes, diagnosticada com candidíase oral pelo médi- tendo-se verificado ainda um pico febril. Do estudo
co de família e iniciou itraconazol e miconazol. Inter- microbiológico/imunológico verificou-se positivida-
nada por lesão renal aguda (creatinina de 9 mg/dL) de para a pesquisa do vírus Epstein-Barr, Leptospira
não obstrutiva - sedimento urinário com leucocitúria, e Borrelia burgdoferi. Ao 5º dia de Doxiciclina e já
sem eosinofilúria - com necessidade de diálise por em apirexia há mais de 3 dias tem alta. Pela eleva-
síndrome urémico. Desenvolveu rash petequial, por da suspeição de malária, foi realizada a pesquisa
apresentar anemia (com esquizócitos) e tromboci- de ADN e de anticorpos de Plasmodium, que mais
topenia, levantada a suspeita de anemia hemolítica tarde confirmaram P. falciparum. Apesar de assin-
autoimune/microangiopatia trombótica. Do estudo tomático, decidiu-se pela instituição da terapêutica
realizado, estudo imunológico negativo, consumo com Arteméter + Lumefantrina, afim de consolidar
do complemento com normalização posterior, sem e erradicar o parasita. Discussão: As infeções por
picos monoclonais, sem hemólise e ADAMTS13 nor- P. falciparum geralmente não continuam para além
mal. Realizou biópsia renal - nefrite intersticial agu- de um ano. A infeção crónica é uma possibilidade,
da, com intenso infiltrado inflamatório polimorfo (lin- dada a improbabilidade de re-infecção em países
fócitos, plasmócitos e polimorfonucleares). Manteve não endémicos. O diagnóstico é baseado na suspei-
disfagia, apesar de realizar antifúngico, fez endosco- ta clínica e na deteção do parasita no sangue, por
pia digestiva alta - ulceração esofágica péptica com microscopia óptica e antigénios. A deteção do ADN
provável sobre-infecção fúngica, colheu biópsias. do parasita por PCR não é o método de diagnóstico
Iniciou antifúngico endovenoso, suspenso após re- de rotina, mas é um método mais sensível.

266
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
PA n.º 1526  PA n.º 1528 
Um Mal Que Veio Por Bem! - A Propósito de um Vasculite leucocitoclástica secundária a vacinação
Caso Clínico contra o SARS-CoV2
Sílvia Santos(1);Eulália Antunes(1);Joana Rita Lo- Miguel Rodrigues Monteiro(1);Ana Rita Frei-
pes(1);Catarina Silva Araújo(1);Marta Braga Mar- tas(1);André m. Pereira(1);Cristina Oubiña Bar-
tins(1);Carla Ferreira(1);Catarina Cerqueira(1);Ricar- bolla(1)
do Miguel Costa(1);Vânia Gomes(1) (1) Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca
(1) Hospital de Braga
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
Tema: culites

Introdução   Introdução: A vasculite leucocitoclástica (VL) é


O cancro colo-rectal (CCR) é uma neoplasia muito uma vasculite de pequenos vasos caracterizada por
comum e a sua incidência avolumou-se conside- agregados de complexos imunes nas vénulas pós-
ravelmente nas últimas décadas. Este aumento -capilares, que pode ser idiopática ou secundária a
dever-se-á em parte à implementação de protocolos múltiplos fatores, como infeções, medicamentos,
de rastreio, mas também a hábitos e estilos de vida doenças autoimunes ou neoplasias. A associação
considerados de risco. Os doentes sintomáticos ao entre vasculite e imunização é rara e a sua fisio-
diagnóstico associam-se a doença mais avançada e patologia ainda não é totalmente conhecida. Uma
a um pior prognóstico.  explicação possível consiste no dano vascular se-
  cundário à formação e deposição de anticorpos por
Descrição do Caso   mimetismo molecular e reação cruzada entre os
Mulher de 73 anos, autónoma, com antecedentes antigénios da vacina e do próprio.
de hipertensão, dislipidemia, fibrilhação auricular
hipocoagulada com rivaroxabano. Sem história fa- Caso Clínico: Mulher de 94 anos, com história mé-
miliar de neoplasias. Teve queda da própria altura dica conhecida de síndrome demencial, fibrilhação
alegadamente sem traumatismo craneoencefálico. auricular, anemia ferropénica e doença renal crónica,
Recorreu ao Serviço de Urgência (SU) onde foi iden- internada por lesões purpúricas nos membros infe-
tificada fratura maléolo-peroneal. No dia seguinte riores com um dia de evolução. Terá recebido uma
referiu cefaleia temporoparietal esquerda súbita semana antes a segunda dose da vacina de mRNA
motivo pelo qual recorreu de novo ao SU. Os exa- BNT 162b2 contra o novo coronavírus (SARS-CoV2).
mes físico e neurológico normais. Analiticamente Sem história de introdução de novos fármacos, in-
sem alterações. Na tomografia computadorizada gestão de produtos de ervanária ou de infeção re-
do crânio identificada “lesão ocupante de espaço cente. Sem sintomas constitucionais, artralgias ou
(LOE), hipodensa subcortical parietal esquerda, com dor abdominal. À admissão apresentava manchas
halo ligeiramente hiperdenso, provável processo purpúricas coalescentes palpáveis nos membros
expansivo”. A doente ficou internada no Serviço de inferiores, que não desapareciam à digitopressão.
Medicina Interna para investigação. Realizou estudo Analiticamente, sem leucocitose, PCR 5.78 mg/dL,
analítico alargado, mamografia, ecografia mamária creatinina 1.55 mg/dL, urina II sem alterações rele-
e ecografia transvaginal sem achados de relevo. A vantes, serologias para hepatite B e C negativas, crio-
Ressonância Magnética (RM) cerebral confirmou globulinas e anticorpos anti-citoplasma de neutrófi-
LOE na interface corticossubcortical parietal es- los (ANCA) negativos. A TC toraco-abdomino-pélvica
querda (10x13x6mm), podendo tratar-se de lesão não revelou sinais de neoplasia ou de adenomegá-
secundária, embora a hipótese de hematoma suba- lias. Realizou biópsia cutânea, que revelou infiltrado
gudo não seja de excluir”. Na endoscopia digestiva inflamatório perivascular, constituído por neutrófilos
alta presença de esofagite ligeira. Na colonoscopia e eosinófilos, com leucocitoclasia e algum extrava-
identificada lesão neoplásica com cerca de 4-5cm samento eritrocitário, alterações compatíveis com
ao nível do recto superior confirmada pela histolo- VL. Verificou-se resolução espontânea das lesões
gia. Uma semana depois repetiu RM cerebral que seis dias após a admissão.
mostrou regressão da LOE, sugestiva de hematoma
em reabsorção. Conclusão: O diagnóstico de VL foi confirmado por
  biópsia cutânea, corroborado por associação tem-
Discussão   poral entre a inoculação da vacina e o aparecimento
No caso desta doente, atendendo ao género e ida- das lesões, tendo sido excluídas etiologias infeccio-
de, e à suspeita de metástase cerebral colocada sas, autoimunes e neoplásicas. O tratamento pode
inicialmente, esperar-se-ia que a neoplasia primária passar por corticoterapia sistémica até resolução
fosse mais provavelmente de origem mamária, das lesões cutâneas. Este caso pretende salientar a
pulmonar e só depois intestinal. No entanto, a LOE importância de incluir a vacinação contra a COVID-19
veio a revelar-se um hematoma cerebral, alertando no diagnóstico diferencial da púrpura cutânea.
para a importância da história clínica, e a neoplasia
do recto foi um achado. O CCR tem um prognóstico PA n.º 1554 
favorável se diagnóstico precoce, todavia pode ser Um caso raro de cefaleia
letal quando detetado tardiamente.  João Luís Cavaco(1);Tiago Marques(1);Ana Furão
Rodrigues(1);Sara Vasconcelos-Teixeira(1);Ana Oli-

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 267


veira Pedro(1);António Pais de Lacerda(1) Mulher, 77 anos, autónoma. Com antecedentes de
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi- hipertensão arterial medicada com captopril.
tal de Santa Maria
Recorreu ao serviço de urgência por quadro de ton-
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias turas e dispneia de esforço, com duas semanas de
evolução. À admissão, encontrava-se hipertensa
Introdução: A neuropatia óptica é uma forma inco- (210/140 mmHg), polipneica e com Sp O2 de 81%
mum de tuberculose extrapulmonar e tem apresen- em ar ambiente (AA). A auscultação apresentava
tação clínica variável. Apresentamos o caso de uma discretos fervores crepitantes bibasais e restante
papilite óptica recidivante por síndroma de tubercu- exame sem alterações. Na gasimetria em AA, tinha
lose óptica, realçando que esta papilite, isolada, é IRP (pH 7.50, pCO2 30,0 mmHg ; paO2 49,0 mmHg).
uma entidade rara. Não apresentava alterações de relevo nas análises
(PCR 0,5 mg/dl, NT Pro BNP 727 pg/ml, D-dímeros
514 mcg/dl), nem na radiografia torácica. Ficou inter-
Caso Clínico: Mulher de 38 anos, com antecedente nada para investigação.
relevante de tuberculose pulmonar tratada aos 26
anos, sem queixas até 2018, iniciando então febre e Em internamento, realizou Angio-Tc do tórax que
cefaleia de predomínio nucal agravada com mobili- excluiu tromboembolismo pulmonar. Teve aporte
zação ocular. Ao exame objetivo, apresentava edema crescente de oxigénio, tendo iniciado ventilação não
papilar do olho direito e defeito pupilar aferente ipsi- invasiva (VNI), sem melhoria gasimétrica. Em pausa
lateral, não apresentando lesões estruturais em TC de VNI, colocada com a cabeceira a 0º, com possi-
ou RM crânio-encefálicas. Foi internada com a hipó- bilidade de desmame de O2 até AA, com Sp >94 %.
tese clínica de papilite óptica, para avaliação. O estu- No retorno à posição sentada, dessaturava para 79%,
do etiológico documentou IGRA positivo e HLA-B27 com reversão espontânea em decúbito, achado com-
positivo, com restante investigação auto-imune ne- patível com SPO. Gasimetricamente, confirmava-se
gativa. Após inicial presunção etiológica de infeção ortodeoxia - PaO2 81.3 mmHg (deitada) e de 39.2
por parvovírus em contexto familiar, ocorreu melho- mmHg (sentada).
ria espontânea do quadro e, dado a doente não apre-
sentar clínica de tuberculose e não existir qualquer Assim, realizou ecocardiograma transesofágico
tipo de imunossupressão, não foi medicada para “tu- com contraste salino agitado, mostrando foramen
berculose latente”. Todavia, 18 meses depois verifi- ovale patente (FOP) e aneurisma do septo auricu-
cou-se recidiva da doença sendo admitida síndroma lar com SDE exuberante. O cateterismo direito não
de tuberculose ocular presumível  e cumprindo tera- evidenciou hipertensão pulmonar. Realizou encerra-
pêutica antibacilar durante 1 ano, permanecendo as- mento percutâneo do FOP, sem intercorrências.
sintomática desde então.
À alta apresentava boa tolerância ao ortostatismo,
Discussão: A etiologia de papilite óptica é vasta e de- ficando eupneica, com Sp > 94% e PaO2 de 87.2
verá incluir exclusão de infeções. A papilite tubercu- mmHg
losa é uma forma rara de apresentação extrapulmo-
nar de tuberculose realçando-se que com terapêutica Discussão:
adequada antibacilar, o seu prognóstico é favorável.
O SPO é uma causa frequentemente subdiagnosti-
PA n.º 1555  cada de IRP, porquanto tem manifestações inespe-
Síndrome de Platipnea-Ortodeóxia, quando só se cíficas e que se confundem com doença pulmonar e
está bem deitado cardíaca de outra etiologia. O mecanismo de shunt
Manuel Osório(1);Martim Trovão Pereira Bas- tem implicações terapêuticas importantes, dado que
tos(1);Ana Carolina Monteiro(1) pode ter causas reversíveis com tratamento especí-
(1) Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca fico, como o FOP.

Tema: PA n.º 1556 


Infeção por VIH - um diagnóstico diferencial indis-
pensável
Introdução: Sofia Carola(1);Sofia Bragança(1);Carolina Ma-
teus(1);Martim Trovão Bastos(1);Clara Matos(1);I-
O Síndrome de Platipneia-Ortodeóxia (SPO), defi- nês Silva(1);Teresa Branco(1)
ne-se por dispneia e hipoxemia em ortostatismo, (1) Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca
com queda de PaO2 > 4mmHg ou Sp O2>5%, que
resolvem em decúbito. Corresponde a uma manifes- Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
tação clínica do shunt direito-esquerdo (SDE), seja
intracardíaco, pulmonar ou de outra origem e é uma Introdução: A síndrome demencial caracteriza-se
causa de insuficiência respiratória parcial (IRP) que por alterações neuropsiquiátricas aliadas a um de-
frequentemente passa despercebida perante diag- clínio funcional. Dentro das várias etiologias, a infe-
nósticos mais comuns.   ção por VIH representa uma causa potencialmente
reversível, que deve ser sempre investigada e encon-
Caso clínico: tra-se tipicamente em doentes com idade inferior a

268
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
65 anos. vai depender do risco de recorrência, sendo a opção
terapêutica tomada individualmente tendo em conta
Caso clínico: Homem de 50 anos, seguido em con- as particularidades de cada doente. 
sulta de Cirurgia Geral por quadro consumptivo, a
aguardar estudos endoscópicos e TAC de corpo. Objetivo: Avaliar a recorrência de TEP e analisar
Trazido ao serviço de urgência por febre e dispneia. diferenças entre grupos de doentes tratados com
Objetivou-se insuficiência respiratória parcial e em diferentes estratégias terapêuticas, em doentes ad-
radiografia de tórax infiltrado intersticial bilateral. mitidos numa enfermaria de Medicina Interna num
Para esclarecimento realizou TAC-Tórax documenta- período de 2 anos.
do-se pneumonia bilateral. Apurou-se ainda declínio
cognitivo e funcional, com dependência para a ges- Material e Métodos: Trata-se de um estudo retros-
tão da vida diária com cerca de 1 ano de evolução.  pectivo observacional de base transversal onde fo-
ram incluídos todos os doentes com diagnóstico
Dado quadro clínico, colocada hipótese de infeção de TEP, internados no Serviço de Medicina Interna
por VIH que se confirmou em estudo serológico no período de 01 de janeiro de 2015 a 31 de dezem-
(carga viral 858.000 copRNA/mL e linfócitos T CD4+ bro de 2017 e com idades superiores a 18 anos. O
4 cels/ul). Neste contexto e, após revisão de TAC tó- estudo foi devidamente submetido à comissão de
rax, admitiu-se pneumonia a Pneumocystis jiroveci, ética e aprovado. Os dados recolhidos foram trata-
tendo iniciado tratamento com cotrimoxazol e pred- dos com recurso ao SPSS Statistics versão 24. Para
nisolona, verificando-se resolução do quadro respi- cada variável foi realizada uma análise descritiva, e
ratório, concomitantemente iniciou terapêutica an- analisadas diferenças entre grupos utilizando o teste
ti-retroviral (TARV). Para esclarecimento do quadro qui-quadrado.
neurológico, realizou TAC de crânio que evidenciou
atrofia cortical. O estudo analítico, punção lombar e Resultados: Foram incluídos no estudo 240 doentes,
EEG não apresentaram alterações. Excluindo-se ou- com idade mediana de 69.2 ± 17.4 anos, sendo 66.3%
tras causas, admitiu-se perturbação neurocognitiva (n=159) do sexo feminino. O diagnóstico de TEP foi
associada ao VIH (PNAVIH), objetivando-se melho- obtido por Tomografia computarizada com contraste
ria do estado geral com aumento ponderal, autono- endovenoso em 95.8% (n=230) dos doentes, sendo
mia e capacidade neurocognitiva após 3 meses de que 31.7% (n=76) apresentaram TVP concomitante
TARV. ao evento agudo.

Discussão: Considerando a deterioração funcional As opções terapêuticas adoptadas foram antago-


nesta idade e o quadro consumptivo impunha-se o nistas da vitamina K (AVK) em 55.4% (n=133), anti-
diagnóstico diferencial de infeção por VIH.  No que coagulantes orais diretos (DOAC) em 31.7% (n=76) e
diz respeito à PNAVIH, esta representa um diagnós- enoxaparina em 12,9% (n=31) dos doentes. Em 6.3%
tico de exclusão e cujas manifestações podem ser (n= 15) dos doentes em estudo, foram alteradas as
reversíveis com o instituição de TARV.  Com o pre- estratégias terapêuticas para  DOAC em 14 doentes
sente caso pretendemos relembrar a versatilidade e um doente trocou para AVK por agravamento da
de manifestações do VIH e a necessidade de consi- função renal. Foram reportados eventos hemorrági-
derar tal hipótese diagnóstica, levando a ganho de cos em 20% (n=48) doentes, dos quais 22.9% (n=11)
qualidade de vida com o início precoce de TARV. foram hemorragias gastrointestinais e 18.8% (n=9)
hemorragias cerebrais, sedo os restantes eventos
PA n.º 1566  hemorrágicos ligeiros. Não foram observadas dife-
Recorrência de tromboembolismo pulmonar: dife- renças estatisticamente significativas quando com-
renças nas estratégias terapêuticas adoptadas? paradas as diferenças estratégias terapêuticas nos
Olga Cristina Pereira Pires(1);Joana Sousa Mo- doentes com eventos hemorrágicos.
rais(1);Andreia Guimarães(1);Ana Isabel Olivei-
ra(1);Martinha Vale(1);Inês Conde(1);Inês Burmes- A recorrência de TEP  aos dois anos após o evento
ter(1);Maria João Regadas(1);António Oliveira e foi de 4.2% (n=10), não sendo observadas diferen-
Silva(1) ças estatisticamente significativas entre os doentes
(1) Hospital de Braga tratados com diferentes estratégias terapêuticas.
Evoluíram para tromboembolismo pulmonar crónico
Tema: Doenças cardiovasculares 10% (n=24) dos doentes e 2.1% (n=5) referiam man-
ter sintomas persistentes após o evento agudo.
Introdução: Tromboembolismo Pulmonar (TEP) é Conclusões: O estudo realizado mostra que não há
uma patologia comum, com aumento de incidência diferenças estatisticamente significativas na taxa de
em determinadas populações. A apresentação clí- recorrência de TEP aos 2 anos após o evento agudo,
nica é muito variável e não especifica o que torna o nem na frequência de eventos hemorrágicos, nos di-
diagnóstico por vezes desafiante. A avaliação des- ferentes grupos de doentes tratados com diferentes
tes doentes deve ser eficiente e rápida, de forma a estratégias anticoagulantes.   Deste modo, as dife-
instituir tratamento o mais precocemente possível, rentes estratégias terapêuticas adoptadas parecem
para reduzir a mortalidade e morbilidade associada similares e igualmente viáveis.
a esta condição clínica. A manutenção da terapêu-
tica anticoagulante a curto, médio ou longo prazo PA n.º 1582 

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 269


MOVIMENTOS COREIFORMES AOS 81 ANOS: SERÁ Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
HUNTINGTON?
Ana Sofia Ferreira(1);Sara Pereira(1);Sabina Introdução:
Belchior(1);Carlos Gonçalves(1);André Calhei-
ros(1);Joana Silva(1);Joana Fontes(1);Bárbara
Sousa(1);Raquel Costa(1);Amanda Rey(1);Paula O pneumotórax, o pneunomediastino e enfisema
Brandão(1) subcutâneo são complicações descritas na CO-
(1) Unidade Local de Saúde do Alto Minho, EPE / VID-19 nos doentes em ventilação espontânea e sub-
Hospital de Santa Luzia metidos a ventilação com pressão positiva podendo
ocorrer em 1% de todos os doentes internados.
Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas
Objectivos:
A doença de Huntington é uma doença neurodege- Analisar a prevalência de pneumotórax, enfisema
nerativa autossómica dominante causada pela ex- subcutâneo e pneunomediastino nos doentes com
pansão de um tripleto de citosina-adenina-guanina diagnóstico de COVID-19.
(CAG) no gene HTT, codificador da proteína huntin-
gtina.  Apresenta-se clinicamente com movimentos Métodos:
involuntários coreiformes, alterações do compor-
tamento e da cognição. Os sinais e os sintomas Estudo transversal  observacional e  retrospectivo
habitualmente surgem na quarta a quinta década com revisão do processo clinico dos doentes admi-
de vida, no entanto, a idade de apresentação corre- tidos no Serviço de Medicina Interna com COVID-19
laciona-se com o número de repetições do tripleto entre março 2020 e 2021.   Foram seleccionados
(repetições superiores a 40, desenvolvem sintomas doentes com  pneumotórax, enfisema subcutâneo
mais cedo, repetições entre 36-49 em idades mais e pneunomediastino  e colhidos dados sobre idade,
avançadas). género, status funcional, suas comorbilidades, gravi-
dade da doença e tipo de ventilação.
Relata-se o caso de um homem, 80 anos, hipertenso Resultados:
e sem antecedentes familiares de relevo. Internado
para estudo de síndrome constitucional e quadro de Durante o período de observação foram admitidos
movimentos involuntários com quatro anos de evo- 1428 doentes com diagnóstico de COVID-19. Durante
lução. Inicialmente movimentos de pouca amplitude este período, 0,9% (n=13) apresentaram pneumome-
do pé esquerdo, com evolução progressiva para o diastino, pneumotórax e enfisema subcutâneo. Sete
restante corpo e a consequente perda de autonomia. doentes eram homens (n=7) e a mediana de idade
Descritos períodos de desorientação e alterações do foi de 71 anos (45-91 anos). Na admissão, a maioria
comportamento agravados nos últimos meses. Ao apresentava doença grave (76,9%, n=10) e os restan-
exame físico apresentava-se emagrecido, com mo- tes doença critica. Dos 11 doentes com tomografia
vimentos involuntários coreiformes dos membros, computorizada tórax na admissão, foi possível aferir
tronco, face e discinésia oromandibular.  Demons- um envolvimento pulmonar pelo SARS-CoV2 de 25 a
trava dificuldade em articular as palavras e discur- 90%, a maioria com atingimento de 75%.
so pouco fluente. Analiticamente, lesão renal aguda
pré-renal em contexto de desidratação. A tomografia O pneumomediastino foi o mais observado, apresen-
computorizada crânio-encefálica revelou lesões vas- tando-se como complicação isolada em 38,5% (n=5)
culares isquémicas sequelares. Colocada a hipótese dos casos, associado a enfisema subcutâneo em
de Coreia de Huntigton, feito teste genético que mos- 15,4% (n=2) ou a pneumotórax em 7.7% (n=1) e as-
trou um alelo com expansão de 39 repetições CAG sociado a pneumotórax e enfisema subcutâneo em
na região analisada do gene HTT, confirmando o 15,4% (n=2). No momento do diagnóstico, todos os
diagnóstico e justificando o aparecimento tardio da doentes encontravam-se sob ventilação mecânica
sintomatologia. Atualmente o doente mantém movi- não invasiva, 11 doentes estavam em modo CPAP
mentos controlados com antidopaminérgico oral. com interface Helmet e 2 doentes em modo binível.
O caso clínico relata uma doença genética com apre- O diagnóstico foi realizado, em mediana, ao 13º dia
sentação tardia.  Apesar de não existirem terapêuti- de internamento. A demora mediana de internamen-
cas que alterem o prognóstico desta doença neuro- to foi de 29 dias (versus 7 dias nos doentes inter-
degenerativa, o seu diagnóstico precoce e controlo nados por COVID-19).  A taxa de mortalidade foi de
sintomático é crucial para diminuir a morbilidade e 30,8% (n=4) (versus 25,8% nos doentes internados
melhorar a qualidade de vida dos doentes. por COVID-19 com doença grave e critica). 
PA n.º 1598  Conclusões:
Pneumomediastino, pneumotórax e enfisema sub-
cutâneo nos doentes COVID-19 O pneumomediastno, enfisema subcutâneo e pneu-
Andreia Moreira Teixeira(1);Maria Luisa Olim(1);Mi- motórax na COVID-19 parece estar associada a
caela Manuel(1);Yolanda Martins(1);Luis Andrade(1) maior fragilidade pulmonar mas ainda não está total-
(1) Centro Hospitalar de Entre Douro e Vouga, EPE / mente esclarecida. Na  nossa amostra, observou-se
Hospital de S. Sebastião uma prevalência destas complicações semelhante

270
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
à revista na literatura. Acomete doentes com doen- Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE / Hospi-
ça mais grave e com extenso envolvimento pulmo- tal de S. Francisco Xavier
nar. Ao contrário do descrito na literatura, não se
observou nenhum caso em doentes em ventilação Tema: Doenças cardiovasculares
espontânea. A maior demora média e mortalidade
verificada nestes doentes, mostra a importância da Introdução:
necessidade de um diagnóstico célere por forma a
evitar o desfecho fatal.
No seguimento da aprovação dos novos seques-
PA n.º 1619  tradores de potássio, tem havido um interesse
Síndrome de May-Thurner no Tromboembolismo renovado no potássio sérico nos doentes com
Pulmonar: Uma etiologia não tão incomum insuficiência cardíaca com fração de ejeção redu-
Andreia Guimarães(1);Olga Pires(1);Joana Sou- zida. (ICFEr). A associação entre níveis séricos de
sa Morais(1);Ana Isabel Oliveira(1);Martinha Va- potássio e o desfecho (outcome) nesta população
le(1);Inês Conde(1);Cristina Mota(2);Inês Burmes- já foi estudada préviamente, frequentemente com
ter(1);Maria João Regadas(1);António Oliveira e resultados inconsistentes. Níveis basais baixos e
Silva(1) aumento durante o internamento foram previamente
(1) Hospital de Braga (2) Centro Hospitalar de Vila associados a uma mortalidade elevada. Existe tam-
Nova de Gaia / Espinho bém alguma evidência que níveis normais-altos de
potássio sérico estejam associados a um outcome
Tema: Doenças cardiovasculares mais favorável. É parca a evidência existente quanto
ao valor predictivo do potássio sérico nos doentes
A síndrome May-Thurner corresponde a uma varia- com insuficiência cardíaca com fração de ejeção
ção anatómica que culmina na compressão da veia preservada (ICFEp), uma população onde as hos-
ilíaca comum esquerda pela artéria ilíaca comum pitalizações e mortalidade estão frequentemente
direita, predispondo ao desenvolvimento de eventos associadas às co-morbilidades e onde o tratamento
trombóticos venosos no eixo iliofemoral. como inibidores neurohormonais é frequente. O ob-
jectivo foi caracterizar o impacto dos níveis séricos
de potássio no outcome dos doentes com ICFEp.
Descrevemos o caso de uma jovem de 23 anos
que recorreu ao Serviço de Urgência por queixas de Método.
palpitações e dispneia em repouso de inicio súbito,
com 24 horas de evolução. Realizada tomografia Estudo retrospectivo incluindo doentes admitidos
axial computadorizada (TAC) toraco-abdomino-pél- por insuficiência cardíaca descompensada numa
vica com contraste endovenoso que demonstrou unidade de insuficiência cardíaca dedicada entre
tromboembolismo pulmonar bilateral extenso. Du- 2016 e 2018. Doentes com ICFEr foram excluídos.
rante o internamento, detetada trombose venosa Os níveis de potássio à admissão e alta foram regis-
profunda na veia ilíaca comum esquerda. Relati- tados. A mortalidade por todas as causas e interna-
vamente a fatores de risco para trombose venosa, mentos foram avaliados no follow-up a longo prazo.
identificada utilização de contracetivo hormonal oral
combinado e história familiar de eventos trombóti- Resultados:
cos. Realizado despiste de trombofilias genéticas
 Foram incluidos 200 doentes; idade média 79.7
que, até ao momento, foi negativo. Após estudo
(72.5 - 84.8 anos); 47% sexo masculino; 89.4% com
etiológico negativo, foram revistas as imagens da
hipertensão arterial; 41.9% diabetes; 28.5% cardiopatia
TAC da admissão, sendo demonstrada compressão
isquémica; Creatinina à admissão média: 1.28mg/
da veia ilíaca esquerda pela artéria ilíaca direita,
dL; Taxa de filtração glomerular estimada (TFGe)
achados compatíveis com a síndrome de May-Thur-
média 45.02±0.4ml/min/1.73m2. Potássio séri-
ner. Esta condição é subdiagnosticada e deve ser
co médio: à admissão: 4.35±0.66mmol/L; à data
considerada no diagnóstico diferencial em casos de
de alta: 4.31±0.55mmol/L; Follow-up (média):
tromboembolismo venoso a envolver o segmento
18.9±12.2months. Na análise univariada, um potás-
iliofemoral esquerdo, uma vez que o seu diagnósti-
sio sérico mais elevado à admissão foi associado
co altera a abordagem terapêutica, sendo por vezes
a um aumento da prevalência de internamento por
a hipocoagulação, de forma isolada, insuficiente. 
IC no follow-up (HR 1.02 x, 95% CI 1.002-1.038,
 
p=0.031); Ajustando para potenciais confundidores,
PA n.º 1622  (diabetes, TFGe, uso de tiazídicos, antagonistas dos
Potássio como predictor de outcome na insuficiên- receptores mineralocorticóides, hemoglobina) a as-
cia cardíaca com fração de ejeção preservada. sociação manteve-se estatisticamente significativa
Diogo Faustino(1);Gonçalo Cunha(2);Pedro Custó- (HR 0.274, 95% CI 0.1-0.747, p=0.011). Um valor de
dio(2);Tiago Teló Pacheco(2);Laura Moreira(2);Sara potássio sérico entre 4.5 e 5.5mmol/L à data de alta
Trevas(2);Marta Roldão(2);Luís Campos(3);Inês foi também um predictor independente de diminui-
Araújo(2);Célia Henriques(2);Cândida Fonseca(2) ção da mortalidade a longo prazo, quando compa-
(1) Unidade Funcional Medicina 1.2 - Hospital de rado com valores > 5.5 ou <4.5mmoL/L (HR 0.50
São José - CHULC (2) Unidade de Insuficiência Car- 95%CI 0.31 – 0.82 p=0.006).
díaca - Hospital de Sâo Francisco Xavier - CHLO (3)
Conclusão:

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 271


Nesta população de doentes com ICFEp, o potássio de um caso clínico
à admissão foi um preditor independente de interna- Andreia Diegues(1);Pedro Simões(1);Tiago Ceri-
mento a longo prazo. Verificou-se uma relação em z(1);Sérgio Alves(1);Filipa Rodrigues(1);Micaela
forma de “U” entre os valores de potássio à data de Sousa(1);Rita Silva(1);Ana Rita Alves Lopes(1);Elisa
alta e mortalidade (mais eventos fora do intervalo Tomé(1)
4.5 - 5.5mmol/L), como já reportado préviamente na (1) Unidade Local de Saúde do Nordeste
literatura noutras populações (cardiovasculares e
não-cardiovasculares). Tema: Outro

PA n.º 1625  Introdução: O eritema nodoso é a forma mais


Um caso de Hepatite Autoimune com múltiplas comum de paniculite, caracterizado por nódulos
apresentações eritematosos sensíveis, localizados sobretudo nos
Cláudia Rodrigues Alves(1);Joana Jardim(1);Frede- membros inferiores. Este está associado a inúme-
rica Homem Ferreira(1);Catarina Teles Neto(1);Ana ras patologias como infeções, doenças inflamató-
Maria Gameiro(1);Luísa Wandschneider(1) rias, tuberculose ou pode ser idiopático. Embora a
(1) Hospital Distrital de Santarém, EPE etiologia seja principalmente idiopática, descartar
Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá- uma doença subjacente é fundamental antes do
ticas diagnóstico.

Introdução: A Hepatite Autoimune (HAI) é uma Caso Clínico: Mulher, 47 anos, com história de hiper-
doença hepática crónica rara. Pode aparecer em tiroidismo, mas no momento com função tiroideia
todas as idades e raças, sendo mais comum no normal e sem medicação, avaliada na consulta após
sexo feminino. A sua apresentação é muito variável episódio de urgência (SU) por nódulos eritematosos
e em 20 a 40% dos doentes podem coexistir outras nos membros inferiores bilateralmente com 3 dias
doenças autoimunes extra-hepáticas, sendo a tiroi- de evolução, sem febre, astenia, anorexia ou ou-
dite autoimune uma das mais relatadas. Raramente, tros sintomas. Na consulta, 3 dias após episódio de
pode associar-se a algumas patologias cutâneas, SU,  queixas de odinofagia não presentes previamen-
tais como o Pioderma Gangrenoso (PG).  CASO CLÍ- te. Sem evidência de viagens recentes ou fármacos.
NICO: Mulher, 58 anos, sem antecedentes pessoais, Objetivamente com nódulos eritematosos dolorosos
admitida no serviço de urgência por cansaço a pe- pré-tibiais bilaterais, entre 2-3cm, edema maleolar
quenos esforços, icterícia e colúria, artralgias nos ligeiro, sem adenopatias ou organomegálias pal-
membros inferiores e múltiplas lesões ulceradas páveis e com ruborização dos pilares amigdalinos.
na região sagrada. Analiticamente com elevação Radiografia torácica sem alterações. Estudo analíti-
dos parâmetros de colestase e, imagiologicamente, co inicial com Hb 12,6g/dL, leucograma normal, VS
hepatomegalia heterogénea, ficando internada para 23mm e PCR 2,5mg/dL. Equacionada hipótese diag-
estudo etiológico. Durante a marcha diagnóstica, nóstica de eritema nodoso.
identificou-se pico monoclonal de imunoglobulina Da investigação: Estudo imunológico, anti-estrep-
G, T4 livre diminuída, TSH e anticorpos antitiroideus tolisina O (TASO), função tiroideia, serologias para
aumentados, ASMA, ANA e anti SLA/LP positivos, HIV e VHC negativas, com contacto prévio com VHB
estudo de genotipagem HLA com identificação de e IGRA negativo. Tomografia computorizada com al-
DRB1*03*07 e fragmentos de HLA-DRB3 e DRB4. guma rarefação do interstício, sem outras alterações
Realizou biópsia hepática, que revelou lesão de e com provas de função respiratória realizadas pos-
interface sugestiva de etiologia autoimune/tóxica, teriormente normais. Ecografia abdominal sem alte-
e biópsia das lesões cutâneas, que foi compatível rações. O sedimento urinário, assim como urocultura
com o diagnóstico de PG. Foram excluídas outras sem alterações e microbiologia das fezes negativas.
causas de hepatites agudas e doenças hepáticas
crónicas, assumindo-se o diagnóstico de HAI com Melhoria em algumas semanas, necessidade de anti-
tiroidite autoimune concomitante. Iniciou terapêu- -inflamatórios nos primeiros 5 dias pelas queixas ál-
tica com prednisolona e azatioprina, com boa res- gicas. Repetiu TASO em 2 semanas que permaneceu
posta clínica e analítica, tendo alta com orientação negativo.
para consulta externa de hepatologia. CONCLUSÃO:
A grande heterogeneidade dos doentes afetados e Discussão: Este caso levanta a dúvida se existe re-
das manifestações clínicas da doença torna o diag- lação entre a infeção do trato respiratório superior
nóstico desta condição um desafio. Se não tratada, e o eritema nodoso.  Normalmente as lesões cutâ-
tem mau prognóstico, com uma taxa de sobrevivên- neas surgem aproximadamente 2-3 semanas após
cia aos 5 anos inferior a 25%. Assim, este caso aler- infeção estreptocócica. Assim, admitiu-se etiologia
ta-nos para a dificuldade diagnóstica da HAI e para idiopática, mantendo vigilância. O caso mostra a im-
a necessidade de um diagnóstico atempado que portância do estudo etiológico perante uma suspeita
nos permita uma instituição precoce da terapêutica, de eritema nodoso.
melhorando o prognóstico.
PA n.º 1632 
Tumor de células pequenas redondas desmoplási-
PA n.º 1629 
co: um caso clínico raro
Abordagem prática de eritema nodoso, a propósito
Carolina Valente(1);Mariana Bragança(1);Ana Isabel
272
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
Ferreira(1);Margarida Freitas Silva(1) estar comprovado ser uma patologia de mediação
(1) Centro Hospitalar de S. João, EPE imune, a sua causa exata ainda não foi totalmente
esclarecida. Embora os sintomas mais comuns de
Tema: Doenças oncológicas COVID-19 sejam febre, tosse e dispneia; está tam-
bém associada a uma variedade de sintomas neuro-
Introdução: O tumor de células pequenas redondas lógicos nomeadamente a SGB.
desmoplásico é um tumor raro e agressivo que afe-
ta predominantemente jovens do sexo masculino. Doente género masculino, 62 anos, previamente au-
Geralmente apresenta-se como uma massa na cavi- tónomo, sem comorbilidades relevantes apresentou-
dade abdominal e/ou pélvica acompanhada de múl- -se com quadro de tosse e febre em dezembro 2020
tiplas massas mais pequenas. As manifestações que em face do estado pandemia realizou teste con-
clínicas são frustes e consequentemente a doença firmatório de COVID-19, 2 dias após início sintomas;
apresenta-se frequentemente num estadio avança- doente esteve sempre estável do ponto de vista respi-
do ao diagnóstico, tendo mau prognóstico. ratório, sem necessidade de internamento. Cerca de
2 semanas depois iniciou quadro de diminuição da
Caso Clínico: Apresentamos o caso de um doente força membros inferiores, parestesias no pé esquer-
do género masculino de 18 anos que recorreu ao do, com sensação de irradiação superior, mais tarde
serviço de urgência por queixas de distensão abdo- também referidas no MIDrt, região nadegueira e pos-
minal e sintomas constitucionais. Ao exame físico, teriormente nos MS. Evoluindo para grave limitação
era palpável uma massa abdominal na região do hi- marcha da marcha. Por este motivo, recorreu ao SU,
pogastro. Ecograficamente identificou-se uma mas- objectivado tetraperesia. Realizou TC cervical e lom-
sa pélvica posterior à bexiga de grandes dimensões bar, tendo sido documentadas apenas alterações de-
(12x15x18cm) e várias outras massas de menores generativas que náo justificavam achados.  Perante
dimensões, de características semelhantes, envol- quadro de alterações sensitivas e défice motor de
vendo o retroperitoneu. Realizou TC abdómino-pél- início distal e progressão ascendente, completou
vica que corroborou estes achados. Como parte do estudo com punção lombar, eletromiografia e RMN
estudo etiológico, realizou biópsia da massa para do neuroeixo. O LCR tinha dissociação albuminoci-
análise anatomopatológica que revelou característi- tológica, a eletromiografia evidenciou polineuropatia
cas morfológicas e imunofenotipicas sugestivas de sensoriomotora, simétrica, com predomínio do tipo
tumor de células pequenas redondas desmoplásico. desmielinizante, e a RMN cervico-sagrada mostrou
O estudo molecular identificou a presença do rear- captação de contraste no cone e raízes da cauda
ranjo EWSR1-WT1, alteração patognomónica deste equina. Assim foi diagnosticada SGB, tendo iniciado
tumor. O estadiamento da doença fez-se através de tratamento com imunoglobulinas EV durante 5 dias.
PET que mostrou envolvimento de múltiplos gânglios Após exclusão de outros trigger’s (Serologias vírus
linfáticos torácicos, abdominais e pélvicos. O doente Influenza, Epstein-Barr, HVS, varicela zoster, VHB,
foi transferido para o IPO do Porto, centro de referên- VHC e HIV1/2 negativos; perfil CMV infeção passa-
cia no tratamento deste tipo de tumores. Iniciou qui- da) foi assumido o diagnostico de SGB por infeção
mioterapia com esquema vincristina, doxorrubicina por SARS-COV2. Durante o período de internamento
e ciclofosfamida, tendo realizado 2 ciclos até à data apresentou-se estável do ponto de vista respiratório,
com boa tolerância. com melhoria do quadro sensitivo e do défice mo-
tor. iIniciou programa de reabilitação com melhoria
Discussão: Este caso mostra a apresentação típica significativa de evolução crânio-caudal dos défices
de um tumor de células pequenas redondas desmo- motores e sensitivos.
plásico, uma entidade rara e que geralmente passa
despercebida até atingir um estadio avançado de Numerosos casos foram relatados de pacientes com
doença. As suas características morfológicas e imu- sintomas de Guillain-Barré síndrome associada a
nofenotipicas podem estar presentes noutro tipo de COVID-19, mas ainda falta muita informação sobre
tumores, sendo fundamental confirmar o diagnósti- essa associação e suas implicações.
co através de estudo molecular.
PA n.º 1643 
PA n.º 1634  Uma intoxicação aguda imprevisível - Ciamemazina
A SÍNDROME DE GUILLAIN-BARRÉ ASSOCIADO Beatriz Sampaio(1);Felisbela Gomes(1);Hugo Iná-
COM INFEÇÃO POR SARS-COV-2 - A PROPÓSITO cio(1);Salvador Morais Sarmento(1);Diogo Ferreira
DE UM CASO CLÍNICO da Silva(1);Catarina Salvado(1)
Margarida g. Coelho(1);Joana Fonte(2);Sandra Ra- (1) Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE / Hos-
quel Sousa(1);Lília Castelo Branco(1);Catia Perei- pital de Santo António dos Capuchos
ra(1);Ricardo Varela(2);Elisabete Pinelo(1)
(1) Unidade Local de Saúde do Nordeste (2) Centro Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente crí-
Hospitalar Uni. Porto tico

Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas A Ciamemazina é amplamente prescrita pelas suas


propriedades ansiolíticas e perfil de segurança.
A síndrome de Guillain-Barré (SGB) é a neuropatia Em doses excessivas, pode levar a graves altera-
inflamatória adquirida mais comum, e apesar de ções cardiovasculares (CV) e do sistema nervoso

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 273


central.  sintomas decorrentes da hipocalcémia, como pares-
tesias.
Mulher, 59 anos, com síndrome depressivo ma-
jor, história de várias tentativas de suicídio com Relata-se um caso de um homem, 67 anos, com an-
intoxicação medicamentosa voluntária (IVM) e tecedentes de hipertensão e dislipidemia. Seguido
ex-toxicodependente. Medicada com mirtazapina, em consulta de Psiquiatria por síndrome depressivo.
ciamemazina, metadona e gabapentina. Admitida Sem antecedentes familiares relevantes. Com qua-
na Urgência após IVM com ciamemazina (3g). Sco- dro de náuseas, astenia, lentificação motora e tremo-
re 10 na escala de coma de Glasgow (GCS), pupilas res com cerca de dois meses de evolução. Admitido
midriáticas e hemodinamicamente estável. Fez no serviço de urgência por alteração do estado de
lavagem gástrica com carvão ativado e iniciou flui- consciência, coincidente com estado pós-ictal. Após
doterapia. Radiografia de tórax, eletrocardiograma e recuperação do estado de consciência com referên-
análises sem alterações. Tomografia computoriza- cia a parestesias periféricas. Ao exame físico apre-
da (TC) crânio-encefálica com alterações sugestivas sentava mordedura da língua e tetania. Analitica-
de intoxicação medicamentosa. Foi internada em mente com hipocalcémia grave e hipomagnesémia.
Unidade de Cuidados Intermédios para vigilância. Realizou tomografia computorizada crânio-encefáli-
Recuperação da consciência, GCS 15, 24h após a ca que revelou calcinose bilateral estriatopalidoden-
admissão. Após reintrodução da terapêutica habi- teada. Iniciou suplemento de cálcio e magnésio en-
tual, nova depressão do estado de consciência, GCS dovenosos, introduzido antiepilético, com posterior
10, a condicionar insuficiência respiratória global controlo sintomático. No estudo realizado foi diag-
com necessidade de ventilação não-invasiva (VNI). nosticado um hipoparatiroidismo primário com tem-
Suspensa toda terapêutica, ao longo do dia com po de evolução indeterminado.
oscilação do estado de consciência entre GCS 10-
13. Realizou eletroencefalograma com evidência de Este caso demonstra a importância da incorpora-
encefalopatia moderada de determinismo tóxico; ção de achados imagiológicos na orientação clínica
punção lombar sem alterações e TC tórax com an- nos doentes em fase aguda e  crónica. A síndrome
giografia que excluiu tromboembolismo pulmonar de Fahr, embora seja uma doença neurodegenerativa
ou processo infecioso. Assistiu-se a melhoria pro- rara, deve ser um dos diagnósticos diferenciais nos
gressiva do estado de consciência possibilitando doentes com manifestações clínicas que decorrem
desmame progressivo de VNI e ajuste terapêutico. de hipocalcémia ou alterações neuropsiquiátricas.

Pretende-se chamar a atenção para o facto da cia- PA n.º 1647 


memazina apresentar uma semi-vida longa, com Hemicoreia em contexto de mau controlo glicémico
tempo de ação imprevisível pelas suas propriedades Joana Rita Lopes(1);Eulália Antunes(1);Maurício
lipofílicas que lhe conferem grande afinidade a pro- Peixoto(1);Bárbara Oliveira(1);Vânia Gomes(1);Sofia
teínas plasmáticas com acumulação no organismo Caridade(1)
e facilidade em atravessar as membranas celulares. (1) Hospital de Braga
O tratamento é sintomático, consistindo sobretudo
na manutenção de sinais vitais, monitorização res- Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas
piratória e CV.
Introdução
PA n.º 1644 
Síndrome de Fahr: a importância da integração clí-
nica e imagiológica A coreia é um síndrome hipercinético caracterizado
Ana Sofia Ferreira(1);Ana Carvoeiro(1);Sara Perei- por contrações rápidas e involuntárias do corpo, afe-
ra(1);Sabina Belchior(1);Carlos Gonçalves(1);André tando geralmente os membros distais, mas podendo
Calheiros(1);Joana Silva(1);Joana Fontes(1);Bárbara também envolver a face e o tronco. Quando envolve
Sousa(1);Raquel Costa(1);Vitor Costa(1);Amanda apenas o hemicorpo denomina-se hemicoreia. Pode
Lista Rey(1);Selmira Faraldo(1);Paula Brandão(1) ter como etiologia diversos síndromes genéticos,
(1) Unidade Local de Saúde do Alto Minho, EPE / patologia inflamatória e autoimune ou inclusive mau
Hospital de Santa Luzia controlo metabólico.

Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas Caso Clínico


Mulher de 74 anos, antecedentes de hipertensão
A síndrome de Fahr, ou calcinose bilateral estriato- arterial, dislipidemia e diabetes mellitus tipo 2 com
palidodenteada, é uma doença neurodegenerativa mau controlo metabólico. Vem ao serviço de ur-
rara que consiste em deposições vasculares de gência por quadro de dois dias de movimentos in-
cálcio nos núcleos da base e no córtex cerebral.  As voluntários do hemicorpo esquerdo, predominan-
doenças metabólicas são as principais responsá- temente no membro superior esquerdo, sem outra
veis por esta síndrome, e dentro destas a mais co- sintomatologia aguda associada. Exame físico sem
mum é o hipoparatiroidismo. Habitualmente surge alterações auscultatórias ou à palpação abdominal.
entre a quarta a quinta década de vida e a apresen- Exame neurológico sem outras alterações aparte de
tação clínica varia desde alterações neuropsiquiá- movimentos involuntários grosseiros e repetitivos já
tricas como alterações cognitivas ou convulsões a mencionados. Glicémia capilar de 541 mg/dL, com

274
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
cetonemia de 0.3 mmol/L. Análises com hipotiroidis- cedentes de diabetes, nefropatia diabética medica-
mo subclínico. Tomografia computorizada craniana do com candesartan há anos e espironolactona há
sem sinais de isquemia, hemorragia ou fraturas. No um mês. Ao exame objetivo, a destacar paraplegia
internamento excluídas outras causas possíveis de nos membros inferiores bilateralmente, sem altera-
hemicoreia, nomeadamente autoimune e infeciosas/ ções da sensibilidade. Analiticamente identificou-se
inflamatórias. Constatada hemoglobina glicosilada acidémia metabólica secundária a agudização de
de 14%. Realizada ressonância magnética craniana doença renal crónica e hipercaliémia de 8.7mmol/L.
que mostrou discreto hipersinal em T1 envolvendo Realizou-se ECG que evidenciou bloqueio de ramo
o corpo estriado direito, sem tradução nas restan- esquerdo de novo, em provável contexto de hiperca-
tes ponderações e sem restrição à difusão, imagem liémia. Iniciou correção de hipercaliemia intensiva.
compatível com hemicoreia por hiperglicemia não Após normalização do ionograma, o doente foi re-
cetósica. Verificou-se melhoria gradual de movimen- cuperando progressivamente a força muscular nos
tos hipercinéticos com controlo glicémico e haloperi- membros inferiores e estabilidade da marcha. À data
dol. Iniciada insulinoterapia para ambulatório. da alta com autonomia total na marcha.
Discussão O caso apresentado evidencia a importância desta
nosologia clínica no diagnóstico diferencial de para-
Mau controlo glicémico constituí uma etiologia rara lisia flácida aguda e realça a importância da reavalia-
de coreia, com fisiopatologia pouco esclarecida e ção analítica periódica dos doentes medicados com
poucos casos descritos na literatura. Geralmente diuréticos, especialmente espironolactona, como
manifesta-se em contexto de hemicoreia com hiper- medida preventiva.
glicemia sem cetose. A sua resolução completa ou
parcial cinge-se principalmente ao controlo glicémi- A paralisia hipercaliémica secundária é uma patolo-
co. gia com bom prognóstico e reversível, mas poten-
cialmente fatal se não identificada e tratada atempa-
PA n.º 1649  damente, pelo que é essencial o conhecimento por
Paralisia hipercaliémica induzida por espironolac- parte dos clínicos desta rara apresentação de um
tona: um caso raro distúrbio hidroeletrolítico comum.
Cláudia Diogo(1);Cátia Faria(1);Flávia Santos(1);Pa-
tricia Fernandes(1);Ana Cláudia Cunha(1);Ana Cata- PA n.º 1673 
rina Domingues(1);Carolina Fernandes(1);Ana Isabel Tricoleucócitos em local inusitado
Rodrigues(1);Cláudio Quintaneiro(1);Diana Mou- Rúben Raimundo(1);Ana Catarina Rodrigues(2);An-
ra(1);Sónia Santos(1);Filipa Alçada(1);Maria Jesus dré Mendes(1);Jerina Nogueira(1);Ana Paula Rezen-
Banza(1) de(1);Maxim Suleac(1);Elisabete Mendes(1);Adriano
(1) Centro Hospitalar de Leiria / Hospital de Santo Pacheco Mendes(1);Djenabu Cassama(1);Isabel
André Lavadinho(1);Isabel Soles(1)
(1) Unidade Local de Saúde do Norte Alentejano -
Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio- Hospital de Portalegre (2) Unidade Local de Saúde
nais do Norte Alentejano - Hospital Santa Luzia de Elvas

A paralisia flácida aguda ascendente é uma causa Tema: Doenças hematológicas


rara, mas potencialmente fatal, da hipercaliémia
grave. A mesma pode ser hereditária ou secundá- A tricoleucemia é uma neoplasia sanguínea que
ria, sendo a secundária uma paralisia intermitente representa aproximadamente 2% de todas as leuce-
resultante da elevada concentração de potássio mias e menos de 1% das neoplasias linfóides. Esta
sérico associado à insuficiência renal, trauma ma- patologia predomina nos indivíduos caucasianos
jor, doença de Addison ou iatrogenia Os sintomas do género masculino e a idade média é cerca de 52
típicos são paraplegia flácida ascendente que pode anos. A sua apresentação é habitualmente indolen-
mimetizar o síndrome de Guillain-Barré, diferindo te, especialmente nos estádios mais precoces mas
apenas na ausência de compromisso sensitivo e cursa com esplenomegalia e as suas complicações
dos pares cranianos. A remissão dos sintomas comuns são anemia, neutropenia, trombocitopenia
ocorre de modo progressivo imediatamente após o e enfarte esplénico. O diagnóstico final é feito atra-
tratamento da hipercaliémia, com recuperação total vés de um medulograma onde são identificados
após 24 horas. tricoleucócitos.

Os autores apresentam o que acreditam ser o primei- Apresenta-se o caso de um doente do sexo masculi-
ro caso relatado em Portugal de paralisia hipercalié- no, de 90 anos, totalmente independente, que recor-
mica secundária à espironolactona. reu ao SU por aumento de volume abdominal, ede-
ma dos membros inferiores, dispneia e astenia de
Doente de 73 anos, sexo masculino, previamente agravamento progressivo nos últimos 10 dias. Tinha
autónomo, recorreu ao Serviço de Urgência por difi- como antecedentes insuficiência cardíaca, hiperten-
culdade progressiva na marcha, com diminuição da são arterial e uma tricoleucemia variante de diag-
força muscular nos membros inferiores com cerca nóstico recente. Devido à idade avançada optou-se
de 1 semana de evolução, com incapacidade total assim por controlo ecocardiográfico e analítico.
para deambular, aquando da admissão. Com ante-
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 275
Ao exame objetivo apresentava membros inferio- ou infecção crónica; nódulo pulmonar solitário biop-
res edemaciados, abdómen com ascite em tensão sado sem evidência de estruturas neoplásicas. Ele-
moderada e sem outras alterações. Analiticamente tromiografia com processo miopático difuso. Painel
apresentava apenas anemia ligeira e uma lesão re- de miosites com anticorpos anti-PM/Scl75 isolada-
nal aguda. mente positivos. Biópsia muscular compatível com
miopatia inflamatória. Face ao desenvolvimento de
Foi feita uma paracentese diagnóstica e evacuadora intercorrências infeciosas graves, nomeadamente
que revelou um líquido ascítico com predomínio de abcesso pulmonar, decidido tratamento cíclico com
mononucleares e 30% de tricoleucócitos CD19+, imunoglobulina endovenosa em detrimento de tera-
CD103+, CD11c+, LAIR1+ e monoclonais kappa. O pêutica  imunossupressora, com evolução lentamen-
relatório anátomo-patológico revelou negatividade te favorável. Reaquisição de marcha autónoma vigia-
para células neoplásicas. da, tolerância parcial à via oral e aumento do peso
(IMC 15 kg/m2) após 3 meses de tratamento.
Após excluir todas as causas típicas de ascite,
nomeadamente alterações hepáticas, cardíacas e DISCUSSÃO. O diagnóstico das miopatias inflamató-
renais, admitiu-se que seria secundária à tricoleuce- rias pode ser complexo assentando em critérios clí-
mia devido a ausência de outra causa identificável nicos e laboratoriais, um dos quais a rabdomiólise.
durante a investigação etiológica. Apesar de habi- É importante, no entanto, reconhecer que quase 5%
tualmente a tricoleucemia ter um percurso indo- dos doentes se apresenta sem elevação das enzi-
lente e não cursar com ascite, existem raros casos mas musculares, o que pode evitar atrasos desne-
descritos na literatura de ascite como complicação cessários no diagnóstico e tratamento.
na evolução da doença, e cuja análise do líquido
ascítico revela tricoleucócitos, tal como no caso PA n.º 1687 
apresentado.  “Systemic Capillary Leak Syndrome”: uma causa
rara de hipoalbuminémia
PA n.º 1685  Diana Pinho Santos(1);Rui Soares Correia(1);João
Desafios diagnósticos num caso de miosite com Tavares(1);Marlene Delgado(1);Diana Pinho San-
anticorpos anti-PM/Scl75 tos(1)
Joao Queirós Coelho(1);João Neves Maia(1);Bruno (1) Centro Hospitalar Tondela-Viseu, EPE / Hospital
Fraga Dias(1);Pedro Maia Neves(1);Ana Rita Cruz(1) de São Teotónio, EPE
(1) Centro Hospitalar do Porto, EPE / Hospital Geral
de Santo António Tema: Doenças cardiovasculares
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
culites Introdução: Systemic Capillary Leak Syndrome
(SCLS) é uma condição rara causada pela hiperper-
meabilidade endotelial, resultando na passagem
INTRODUÇÃO. A dermatomiosite e a polimiosite são de proteínas e fluidos para o espaço intersticial.
duas miopatias inflamatórias, de mecanismo imune Caracteriza-se por episódios de hipoalbuminémia,
e causa incerta, cujo diagnóstico é sugerido por hemoconcentração e hipotensão. A etiologia é des-
fraqueza muscular, certos sinais cutâneos, rabdo- conhecida, mas várias hipóteses têm sido coloca-
miólise e alterações imunológicas. Numa pequena das, incluindo a lesão do endotélio capilar por para-
minoria dos casos as elevações das enzimas mus- proteínas dado que o SCLS se associa a gamopatia
culares são diminutas ou ausentes, possivelmente monoclonal (GM) em 90%.  Não há tratamento espe-
no contexto de perda muito significativa de massa cífico sendo o tratamento das crises de suporte. O
muscular. tratamento de manutenção visa reduzir a frequência
e a gravidade das crises, recorrendo a agentes que
CASO CLÍNICO. Homem, 66 anos, autónomo, histó- diminuam a permeabilidade capilar e interferiram
ria de etilismo. Internamento motivado por inanição, com as citocinas inflamatórias.
com desidratação grave e disfunção renal, compli-
cado por duas intercorrências infeciosas com cho- Caso Clínico: Homem, 72 anos, com HTA, diabe-
que séptico (colecistite aguda e pneumonia noso- tes, DRC e DPOC. Quadro com um mês de   edema
comial). À admissão no internamento de Medicina generalizado (face, tórax, abdómen, membros e es-
constatado síndrome constitucional de temporalida- croto) e dispneia. GSA: hipoxemia. Análises: anemia
de incerta, limitação funcional (Escala de Barthel 25) (Hb 10,2g/dL, hematócrito 30,2%), hipoalbuminémia
e disfagia. Objetivamente caquético (IMC 13 kg/m2), grave (1.5g /dL), função renal estável e NTproBNP
com fraqueza e atrofia musculares com atingimento 7844pg/mL. Rx tórax: derrame pleural bilateral. Eco-
generalizado incluindo bulbar; sem sinais de doença grafia abdominal: ascite moderada. Admitido sob
do primeiro ou segundo neurónio. Síndrome inflama- diuréticos e albumina para estudo etiológico.
tório analítico persistente, anemia de estados infla-
matórios, sem rabdomiolise. Estudo inicialmente di- Análises com hemograma, perfil hepático, função ti-
rigido a neoplasia oculta negativo (endoscopia alta e roideia, cortisol e autoimunidade normais, mas com
baixa, tomografia computorizada toraco-abdomino- hipoproteinémia, pico gama monoclonal e bandas
-pélvica, tomografia por emissão de positrões), não monoclonais IgG e cadeias leves Kappa. Ausência
havendo também sinais de neoplasia hematológica de proteinúria. α1-antitripsina nas fezes normal. TC

276
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
TAP: derrame pleural bilateral volumoso (cujo estu- O caso mostra uma apresentação rara do golpe de
do foi compatível com transudado) e ascite.  EcoTT: calor e uma causa infrequente de síndrome de Tako-
pequeno derrame pericárdico e FEVE normal. Bióp- tsubo. Com a elevada frequência e temperaturas
sia óssea com <10% de plasmócitos compatível com atingidas nas vagas de casos no nosso país, não
MGUS. Após exclusão de outras etiologias, assumi- podemos menosprezar o aparecimento deste sín-
do o diagnóstico de SCLS associado a GM IgG kap- drome, que pode ter um desfecho fatal
pa. Ocorreu melhoria clínica progressiva.
PA n.º 1698 
Discussão: SCLS é subdiagnosticado devido à na- Complicações neoplásicas na Colite Ulcerosa:
tureza inespecífica dos sinais e sintomas, rápida quando nem tudo é agudização da doença
progressão e elevada mortalidade. Salienta-se a im- Daniela Rodrigues(1);Rodrigo Rufino(1);Catarina Pa-
portância de pensar nesta entidade no diagnóstico rente(1);Inês p. Carvalho(1);António Cardoso(1);Ale-
diferencial de um doente com anasarca e hipoalbu- xandra Albuquerque(1);Martinho Fernandes(1)
minémia. (1) Centro Hospitalar Barreiro/Montijo, EPE / Hospi-
tal Nossa Senhora do Rosário
PA n.º 1688 
Síndrome de Takotsubo por golpe de calor Tema:
Miguel Sousa Leite(1);Sofia Mateus(1);Rita Len-
castre Monteiro(1);Heidi Gruner(1);Salvador Morais Introdução: A Colite Ulcerosa (CU) é uma doença
Sarmento(1);Hugo Inácio(1);Andreia Amaral(1);Bea- inflamatória intestinal (DII) crónica e de mediação
triz Sampaio(1);Diogo Ferreira da Silva(1);Raffaele imune. Trata-se do subtipo de DII mais prevalente
Junior Aliberti(1);Rita Lopes Cunha(1) na Europa e com uma incidência crescente. Das
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE / Hos- suas principais complicações, a mais temida
pital de Santo António dos Capuchos é o carcinoma colo-retal (CCR), exigindo por
Tema: Doenças cardiovasculares isso vigilância endoscópica regular.

Síndrome de Takotsubo por golpe de calor Caso clínico: Mulher de 47 anos, com antecedentes
pessoais de CU com 15 anos de evolução, medicada
com Messalazina. Apresentou-se com quadro de
Introdução aumento do volume abdominal, obstipação, náuseas
e vómitos com 2 semanas de evolução.  Realizou
O síndrome de Takotsubo, também como o broken tomografia computorizada tóraco-abdomino-pélvica
heart syndrome, ou cardiomiopatia de stress, é um (TC-TAP) constatando-se  adenomegálias torácicas,
síndrome clínico no qual, após um evento de stress abdominais e pélvicas, e espessamento parietal
agudo (físico ou emocional), surgem alterações a difuso da parede do reto. 
nível cardíaco, que mimetizam um enfarte, apesar
de uma coronariografia sem evidência de obstrução, Durante o internamento, desenvolveu quadro sub-
tipicamente associado a um abalonamento do àpex -oclusivo, sendo observada  por  Cirurgia Geral, que
e disfunção sistólica. constatou estenose anal ao toque rectal e excluiu
indicação cirúrgica. Foi pedida colaboração de Gas-
Caso trenterologia  que introduziu endoscópio com vi-
sualização de mucosa ulcerada e friável em cólon
Apresenta-se o caso de uma doente de 72 anos,
estreito não distensível, com indicação para início
levada ao serviço de urgência após ser encontrada
de  antibioterapia  e corticoterapia endovenosas. Na
caída na via pública. Apresentava respiração ruido-
ausência de resposta clínica, iniciou posteriormente
sa e hipetermia de 41ºC, em dia quente de Junho.
Vedolizumab e Ganciclovir. Por agravamento clíni-
Tinha antecedentes de dislipidémia, hipertensão
co repetiu TC-TAP com  derrame pleural bilateral de
arterial e osteoporose.
novo, tendo sido feita toracocentese, negativa para
Ao exame objectivo encontrava-se hipotensa, ta- células neoplásicas. Repetiu observação endoscópi-
quicardica, com hipotonia generalizada, tendo sido ca com estenose irregular do reto baixo e mucosa
feito o diagnóstico de golpe de calor e iniciadas ma- difusamente ulcerada, com biópsia a revelar lesão ul-
nobras de arrefecimento, conseguindo-se normali- cerada negativa para citomegalovirus. Feita biópsia
zação da temperatura. Fez tomografia craniana, que ganglionar com metástase de carcinoma de células
não mostrou alterações. descoesas (em anel de sinete). Realizou endoscopia
digestiva alta com biópsias que excluíram neoplasia
A avaliação analítica revelou elevação de troponina gástrica.  Foram excluídas etiologias linfoproliferati-
e mioglobina, Em electrocardiograma com supra- va e infecciosa.
desnivelamento do segmento ST em V3-V6. Por
suspeita inicial de enfarte, a doente foi transferida A doente evoluiu desfavoravelmente, tendo acabado
para unidade de cuidados intensivos, onde foi reali- por falecer. A autópsia revelou a presença de CCR de
zado cateterismo e ventriculografia, sugestivos de células em anel de sinete, com perda de expressão
síndrome de Takotsubo. a nível tumoral da proteína de reparo de divergên-
cia PMS2. 
Conclusão
Discussão:  Este caso alerta-nos para a
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 277
necessidade de um elevado índice de suspeição que foi iniciado aciclovir.
nas  agudizações  da DII, uma vez que podem
estar associadas a complicações  neoplásicas. Verificou-se agravamento clínico progressivo refrac-
Adicionalmente, caso o desfecho tivesse sido outro, tário a medidas de terapêuticas e de suporte com
era essencial  estudo genético adicional da doente desfecho fatal.
para exclusão de Síndrome de Lynch ou Lynch-like.
Conclusão
PA n.º 1700 
Varicela Disseminada No doente imunodeprimido com infecção respira-
Lourenço Cruz(1);Torcato Marques(1);Diogo Bor- tória é importante considerar agentes atípicos e
ges(2);José Sousa(1);Sofia Picão(1);Ana Raquel oportunistas no diagnóstico diferencial, que se pos-
Soares(1);Pedro Fiúza(1);André Conchinha(1);André sam traduzir doença mais grave e iniciar tratamento
Ferreira(1);Francisco Albuquerque(1);Ana Raquel dirigido rapidamente quando possível.
Santos(1);Inês Duarte(1);Filipa Canedo(1);Maria Sa-
PA n.º 1702 
lomé Serraninho(1);António Mário Santos(1)
A importância da caracterização da dor
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE / Hos-
Isabel Maria Moniz da Rocha Borges(1);Carolina
pital de Santa Marta (2) Centro Hospitalar de Lisboa
Roias(1);Patrícia Aranha(1);Luís Dias(1)
Central - Hospital Curry Cabral
(1) Hospital do Divino Espírito Santo, Ponta Delgada
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
Tema: Outro

Introdução
A meralgia parestética (MP) é uma mononeuropa-
tia caracterizada por lesão compressiva do nervo
O virus varicela-zoster (VVZ) é um herpesvirus que sensitivo cutâneo femoral lateral. São fatores de
se distingue em duas formas clinicamente distintas. risco a obesidade, instabilidade da cintura pélvica,
A infecção primária resulta num quadro de rash ve- neuropatia diabética e alcoólica, hipotiroidismo ou
sicular difuso, geralmente ligeiro na infância, mas lesão direta por compressão ou tração. A MP é fa-
mais grave no adulto ou imunodeprimido. A reacti- cilmente subdiagnosticada pois os sintomas mime-
vação de infecção latente resulta em infecção cutâ- tizam outras causas de coxalgia mais prevalentes,
nea localizada (herpes zoster). sendo imperativo o diagnóstico diferencial. Mulher,
60 anos, com obesidade grau 3 e insuficiência veno-
A doença em hospedeiros imunossuprimidos pode- sa periférica. É observada na urgência por coxalgia
-se caracterizar por conjuntos de vesículas ao longo direita intensa e incapacitante com 6 dias de evolu-
de semanas, lesões cutâneas hemorrágicas, doença ção, sem história de trauma. Previamente medicada
sistémica ou coagulação intravascular disseminda. em consulta e na urgência com terapêutica anti-in-
flamatória sem melhoria. Sem achados analíticos
Caso Clínico sugestivos de inflamação e ecodoppler venoso sem
Os autores apresentam o caso de uma mulher de 67 trombose venosa profunda. Uma melhor caracteri-
anos com mieloma múltiplo sob taliomida 100mg zação da dor permitiu aferir quadro inicial de pares-
qd que recorre ao serviço de urgência por quadro tesias na coxa direita há 3 anos. Há 6 dias com dor
com 3 dias de evolução de dorsolombalgia associa- tipo “choque e picadelas” sic, de agravamento pro-
da a anorexia e pieria. gressivo, estendendo-se pela face lateral até ao joe-
lho. Objetivada alodinia, pele de coloração normal,
Apresentava-se subfebril (TT 37,7ºC) com sibilância sem sinais inflamatórios ou tumefações e pulso pe-
e aumento do tempo expiratório. Salientava-se leu- dioso amplo e simétrico. Teste de Laségue ausente
copénia, PCR 14,2 mg/L e insuficiência respiratória e força muscular normal. A aplicação do questioná-
parcial. Radiografia tórax com condensação hemitó- rio DN4 ≥4 (Douleur Neuropathique en 4 Questions)
rax direito e TC-Tórax com fenómenos inflamatórios levantou a hipótese de dor neuropática (DN), em
broncopneumónicos. provável relação com meralgia parestética. Iniciou
amitriptilina, pregabalina, tramadol + dexcetoprofe-
Iniciada antibioterapia empírica com ceftriaxone e no (1 semana) e complexo vitamínico. Observada
azitromicina em internamento, mas verificou-se rá- em consulta da dor após um ano referindo dor ligei-
pido agravamento da insuficiência respiratória nas ra (EN 3/10), mantendo parestesias, mas recusa no
primeiras 24 horas com necessidade de ventilação ajuste analgésico por atual bem-estar. A dor é o 5º
mecânica invasiva. sinal vital, sendo um problema prevalente e comple-
xo, com importante impacto na vida do doente e na
Em broncofibroscopia, mucosa da árvore brônquica sociedade. A história clínica e a caracterização da
com lesões vesiculares e edema e secreções muco- dor na identificação da DN são fundamentais exis-
-purulentas. Na pele, presença de múltiplas lesões tindo métodos de rastreio validados e de simples
eritematosas vesiculares no tronco e membros. aplicabilidade - DN4, especificidade - 90% e sensibi-
Rastreio séptico com Ac. Anti-Varicela IgG positivo lidade - 83%.
e pesquisa PCR VVZ sérica e em líquido cefalorra-
quidiano detectadas, confirmando a infecção por
PA n.º 1705 
VVZ disseminada em doente imunossuprimida, pelo
Doença inflamatória intestinal no idoso: um desafio
278
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
diagnóstico do(1);Ana Luisa Silva(1);Rui Matono(1);Conceição
Margarida Correia(1);Luís Dias(1);Marta Braga Mar- Barata(1)
tins(1);Bárbara Oliveira(1);Sofia Mendes(1);Filipa (1) Hospital do Espírito Santo, EPE, Évora
Abreu Martins(1);Cristiana Honrado Martins(1);João
Soares(1);Céu Rodrigues(1);Castro Gomes(1) Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio-
(1) Hospital de Braga nais

Tema: Introdução A Diabetes Mellitus (DM) é uma doen-


ça que afeta mais de 1 milhão de portugueses e
Introdução: A doença inflamatória intestinal (DII) estima-se que cerca de 50% das pessoas com DM
apresenta uma incidência crescente no mundo, com não estão diagnosticadas. Anualmente ocorrem em
início geralmente nas 3ª e 4ª décadas de vida. Con- Portugal cerca de 100.000 internamentos com DM
tudo, cerca de 10% dos casos de DII manifesta-se como diagnóstico principal ou secundário, a maioria
após os 60 anos de idade, representando um desa- deles em enfermarias de Medicina Interna (MI).
fio diagnóstico.
Objetivos:Caracterizar doentes com DM num servi-
CASO CLÍNICO: Doente do sexo feminino de 87 anos, ço de Medicina Interna e comparar a evolução dos
autónoma, que recorreu à urgência por dor abdomi- doentes com diabetes prévia ou diagnosticada em
nal difusa, diarreia sanguinolenta e febre. TAC ab- internamento, com bom ou mau controlo glicémico
dominal a revelar enfarte esplénico; ECG com FA e pré-internamento, com complicações prévias ou não,
ecocardiograma com trombos na aurícula esquerda. sob terapêutica com insulina ou não e com motivo
Internada sob hipocoagulação. Durante o interna- de internamento directamente relacionado com a
mento manteve diarreia profusa e febre sustentada, diabetes ou não.
pelo que foram consideradas outras hipóteses: infe-
ciosa, isquémica, inflamatória e neoplásica. Do estu- Material e métodos: Análise retrospectiva através da
do realizado: serologias infeciosas, IGRA e hemocul- consulta de dados de processos clínicos eletrónicos
turas negativos; parasitológico e microbiológico de dos doentes com diabetes, internados a cargo de
fezes negativos; endoscopias alta e baixa sem alte- uma equipa médica, durante 1 ano, num serviço de
rações; angio-TAC abdominal com espessamento e MI.
edema do íleo, realce da mucosa, a sugerir ileocolite
infeciosa e DII, e engurgitamento vascular no bordo Resultados:
mesentérico das ansas; videocápsula com várias úl-
Em 146 doentes, 52,7% tinham DM como diagnósti-
ceras no íleo e estenose ulcerada. Assim, etiologia
co. Destes apenas 2,05% tinha DM como diagnóstico
infeciosa ou inflamatória tornaram-se as mais prová-
principal contudo em 34,93% a DM contribuiu indire-
veis, não se excluindo causa isquémica. Realizou no
tamente para o internamento e houve um incremento
internamento antibioterapia de largo espectro, com
de gravidade da causa principal que se verificou ser
refratariedade clínica, tendo tido melhoria sintomá-
maoritariamente de etiologia infecciosa.
tica apenas após prova terapêutica com corticóide.
Teve alta orientada para a consulta. Recrudescimen- Em 29,45% dos doentes com diagnóstico de DM este
to dos sintomas, com degradação do estado geral diagnóstico foi de novo. 
e anasarca em relação com enteropatia perdedora
de proteínas. Realizou enteroscopia por duplo balão 23,97% dos doentes tinha HbA1C>8% e 56,16% tinha
que revelou estenose ileal ulcerada, não transponí- DM há mais de 5 anos, com complicaçoes de orgão-
vel, que foi biopsada. Histologia a não permitir es- -alvo. Nestes doentes, assim como nos doentes com
tabelecer diagnóstico. Decidida abordagem cirúrgi- diagnostico no episodio de internamento verificou-
ca, enterectomia segmentar, tendo a histologia sido -se um pior controlo glicemico durante o internamen-
compatível com DII. Apresentou no pós-operatório to, com necessidade de intensificação progressiva
imediato melhoria clínica, mantendo-se atualmente da insulinoterapia e mais dias de internamento. Nos
assintomática e com recuperação do estado geral. doentes sob terapêutica com corticóide endoveno-
so, o controlo glicémico foi mais difícil de atingir.
DISCUSSÃO: Nesta doente tudo apontava para um
quadro de  colite isquémica, mas a evolução obri- Conclusões: Assim, através desta amostra podemos
gou à consideração de outras etiologias. Este caso concluir que efectivamente existe um elevado núme-
pretende alertar para o surgimento da DII em idades ro de pessoas com DM não diagnosticada e que o
mais avançadas, salientando a importância de con- papel do internista é fundamental no diagnóstico, as-
siderar esta patologia no diagnóstico diferencial da sim como na identificação de complicações.
diarreia crónica no idoso, ilustrando ainda o quão de-
safiante pode ser estabelecer este diagnóstico. Conclui-se também que os corticoides endovenosos
não devem ser utilizados nestes doentes sem uma
PA n.º 1710  criteriosa ponderação dos riscos e dos beneficios e
Diabetes mellitus numa enfermaria de Medicina que a insulinoterapia deve ser considerada precoce-
Interna mente e, em muitos casos, é adequada a sua manu-
Cláudia Ferreira Tátá(1);Filipa Pinto(1);Mafalda tenção em ambulatório, aproveitando o internamen-
Hipolito Reis(1);Alexandre Canarías(1);Ana Bernar- to como momento privilegiado para a optimização

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 279


terapêutica do doente com DM mau controlado. Na análise comparativa entre as duas fases obser-
vou-se uma redução do número médio de dias de in-
Esta analise é concordante com o que já foi publica- ternamento hospitalar (de 10,2 dias para 8,2 dias) e
do em outros estudos previos e realça a importância verificou-se um aumento dos pedidos de avaliação
do papel interventivo do médico internista nos doen- pelo Serviço Social (de 13,2% para 24,5%).
tes com DM em internamento assim como a impor-
tancia da formação especifica nesta area para poder Analisando os doentes com alta protelada, verifi-
prestar o melhor cuidado a estes doentes.  cou-se uma redução da percentagem de doentes a
aguardar vaga na Rede Nacional de Cuidados Conti-
PA n.º 1717  nuados Integrados (de 60% para 40%) e de doentes a
Planeamento da alta hospitalar no Serviço de Medi- aguardar cuidados domiciliários (de 20% para 10%).
cina Interna Surgiu uma nova categoria de doentes com alta pro-
Filipa Sofia Camacho Alves da Silva(1);Ana Alfaia- telada na 2ª fase, doentes a aguardar vaga em lar
te(1);Carolina Palma(1);Daniela Brigas(1);Francisca (50%).
Saraiva(1);Mafalda Figueira(1);Ermelinda Pedro-
so(1) Conclusões
(1) Centro Hospitalar de Setúbal, EPE / Hospital de
São Bernardo A implementação de medidas como o envolvimento
precoce da equipa de cuidados multidisciplinar e da
Tema: Organização, gestão e qualidade de serviços família e um planeamento de alta atempado, conse-
de saúde guiu uma redução do tempo médio de internamento,
uma articulação mais eficaz com o Serviço Social e
Introdução uma redução da percentagem de doentes com alta
protelada que se encontravam a aguardar vaga na
RNCCI ou cuidados domiciliários. Foi identificada
O planeamento da alta hospitalar constitui parte in- uma nova categoria de doentes com alta protelada,
tegrante do plano de cuidados de saúde, tendo como parcialmente explicada pela tipologia dos doentes
ponto de partida a identificação e avaliação das ne- mais dependentes e mais idosos mas alvo de análi-
cessidades do doente. Neste plano, adaptado indi- se e de novas propostas de intervenção. Os motivos
vidualmente a cada doente, devem ser tomados em de protelamento da alta identificada neste estudo fo-
consideração o empowerment do doente, bem como ram semelhantes aos referidos noutros trabalhos já
devem ser envolvidos a equipa médica, de enferma- publicados.
gem, a família, o Serviço Social e a Equipa de Gestão
de Altas, garantindo a continuidade da prestação de PA n.º 1719 
cuidados desde a admissão. Da diarreia à febre Q...o Quê?
Raquel Costa Marques(1);Fabíola Figueiredo(1);Ná-
Objectivo dia Santos(1);Flávia Santos(1);Cláudia Diogo(1);Cá-
tia Faria(1);João Santos(1);Maria Jesus Banza(1)
Analisar o plano de cuidados no que respeita ao pla- (1) Hospital Santo André - Leiria
neamento da alta e identificar os principais motivos
de protelamento da alta, reflectindo e propondo es- Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
tratégias para adaptar o planeamento da alta às ne-
cessidades do doente.
A febre Q é uma zoonose causada pela bactéria Co-
Material e Métodos xiella burnetii, transmitida por aerossóis libertados
por animais contaminados (mamíferos, aves, car-
Foi realizado um estudo observacional analítico raças). Manifestações osteoarticulares são muito
transversal prospectivo, em 2 fases, partindo da ela- raras e usualmente surgem associadas a infeção
boração de um questionário, preenchido pelo médico local persistente em doentes com Febre Q crónica.
assistente, que inclui dados demográficos, motivo de
internamento, índice de Barthel, dia de internamento Os autores apresentam o caso de um homem de 86
hospitalar, informação relativa ao envolvimento da anos, residente em meio rural. Sem antecedentes
família, Assistente Social e Equipa de Gestão de Al- relevantes, que recorreu ao serviço de urgência por
tas e motivo de protelamento da alta quando verifica- quadro com cinco semanas de evolução de diarreia
do. A 1ª fase de colheita de dados ocorreu em maio (mais de 10 dejeções por dia), dor abdominal, febre e
de 2018 e a 2ª fase em dezembro de 2019, após a perda ponderal de 10kg. Fez dois ciclos empíricos de
implementação das medidas propostas na 1ª fase. A antibioterapia, sem melhoria, com nova recorrência
amostra foi constituída pela totalidade de doentes in- ao serviço de urgência por persistência dos sinto-
ternados no Serviço de Medicina Interna, 53 doentes mas, gonalgia e tumefação do joelho esquerdo com
na 1ª fase (50,9% do sexo masculino, idade média limitação marcada à mobilização ativa. Realizou
de 75,6 anos) e 50 doentes na 2ª fase (56% do sexo estudo endoscópico que revelou alterações compa-
masculino, idade média de 78,5 anos). A análise dos tíveis com colite inespecífica, tendo alta medicado.
dados foi efectuada em folha de cálculo Excel®. Recorreu novamente ao serviço de urgência por febre
sustentada, diarreia e poliartrite com acometimento
Resultados
do punho esquerdo, articulações metacarpofalângi-
cas do 2º e 3º dedos da mão direita, ombro direito e
280
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
tornozelo esquerdo, com posterior aparecimento de esquerda e função direita no limite inferior. Ficou
vasculite leucocitoclástica nos 4 membros. internado no contexto de choque cardiogénico por
miocardite fulminante com disfunção multiorgani-
Cumpriu novo ciclo de antibioterapia, com melho- ca. Apresentou evolução favorável com recuperação
ria das queixas gastrointestinais. Por febre mantida progressiva.
após terapêutica iniciou empiricamente piperacilina
e tazobactam, com necessidade de alargar o estudo
etiológico de febre prolongada. Este caso clínico demostra que a COVID-19 é uma
doença grave com risco de vida, tanto na população
Após serologias positivas para C. Burnetti (IgG e IgM idosa com patologias concomitantes, como em jo-
fase II positivas), foi confirmado diagnóstico de fe- vens sem quaisquer problemas de saúde. A ameaça
bre Q aguda e iniciou terapêutica dirigida com do- à vida, assim como as complicações, podem ma-
xiciclina, que cumpriu por 14 dias. Realizado, neste nifestar-se com o tempo, mesmo após sofrer uma
contexto, ecocardiograma transtorácico que excluiu forma assintomática da doença. Assim sendo, ao
endocardite. Teve alta e foi encaminhado para con- fazer qualquer diagnóstico definitivo, é necessário
sulta na qual é seguido, com evidência de títulos em excluir complicações, que podem estar direta ou
decrescendo e seroconversão para IgG fase II aguda, indiretamente relacionadas à COVID-19.
sem seroconversão em fase I crónica. Apresentou
melhoria clínica progressiva. PA n.º 1728 
Hepatite por Treponema pallidum – um achado
O caso acima relatado demonstra que a febre prolon- ocasional
gada constituiu um desafio diagnóstico para os clíni- Margarida Rajão Saraiva(1);Duarte Pacheco Sil-
cos, sendo essencial que as hipóteses de diagnós- va(1);Ana Ines Gomes(1);Jorge Vaz Lourenço(1);Da-
ticos menos prováveis, mas potencialmente graves, niela Marado(1);Pedro Ribeiro(1);Armando Carva-
sejam colocadas pelos mesmos e atempadamente lho(1)
diagnosticadas. (1) Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra,
EPE / Hospital Geral
PA n.º 1721 
Miocardite fulminante na idade jovem – sindrome Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá-
pos-COVID19. ticas
Maxim Suleac(1);Ruben Raimundo(2);André Men-
des(2);Adriano Pacheco Mendes(2);Malam Djas- Introdução. Embora a sífilis, infeção causada pela
si(2);Isabel Maria Rasteiro Soles(2) espiroqueta Treponema pallidum, seja uma doença
(1) Hospital Portalegre (2) Unidade Local de Saúde conhecida, o envolvimento hepático pela mesma é
do Norte Alentejano - Hospital de Portalegre raro e o seu diagnóstico exige, por isso, um elevado
nível de suspeição.  
Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente crí-
tico
Caso-clínico. Doente do sexo masculino, de 56 anos,
internado para estudo de alterações assintomáticas
A miocardite é uma doença inflamatória do músculo das provas de função hepática, reveladas em contro-
cardíaco causada por uma variedade de condições lo analítico de rotina. O doente referia apenas quei-
infeciosas e não infeciosas. Pode ser um distúrbio xas de cefaleia e negava alterações mucocutâneas,
agudo, subagudo ou crónico e pode se manifestar linfadenopatias, febre, sudorese, dor abdominal e
com envolvimento focal ou difuso do miocárdio. anorexia. Apresentava, como antecedentes, diabetes
Apresenta-se o caso de um doente do sexo masculi- mellitus tipo 1 e hipertensão arterial. Não se objeti-
no de 25 anos, saudável, apenas com antecedentes varam alterações no exame objetivo, nomeadamen-
de infeção por SARS-CoV2, que recorreu ao servi- te estigmas de hepatopatia crónica, linfadenopatias
ço de urgência por quadro de astenia, anorexia e ou rash. Laboratorialmente, apresentava: fosfatase
picos febris de 12/12h que cediam a antipiréticos, alcalina 1006U/L (30-120); alanina aminotransfera-
associado a dor abdominal inicialmente generaliza- se 469U/L (<45); aspartato aminotransferase 268
da e depois localizada na FID. Referia ainda fezes U/L (<35), gama-glutamiltransferase 1215 U/L (<55),
líquidas, sem muco ou sangue (apenas 3 dejeções bilirrubina total 2.0 mg/dl (<1.2) e direta 1.0 mg/dL;
desde o início do quadro) e 1 episódio de vómito. hemograma, leucograma, hemostase e a proteína C
Foi avaliado por Cirurgia Geral tendo alta medicado reativa normais; serologias e autoimunidade negati-
com Ciprofloxacina e metronidazol por provavel ileí- vos. A serologia da sífilis por quimioluminescência
te. Dois dias depois, recorreu novamente ao SU por (CMIA) foi positiva (9.9 [>1]) e o ensaio de aglutina-
astenia marcada e manutenção de dor abdominal, ção passiva de partículas para Treponema pallidum
hipotensão e taquicardia com necessidade de su- (TPPA) positivo (640 [>80]). Imagiologicamente, a
porte vasopressor, hipoxemia pouco responsiva ao ecografia abdominal superior e a colangiorressonân-
aumento de oxigénio associado a hiperlactacidemia cia magnética revelaram hepatomegália e esteatose
e aumento dos parâmetros inflamatórios. Por esta ligeiras, sem dilatação das vias biliares. Foi ainda
razão decidiu-se intubação oro-traqueal e iniciou realizada punção lombar, que permitiu excluir neu-
corticoides e tratamento com ceftriaxone e metro- rossífilis e biópsia hepática percutânea, que susten-
nidazol. O ecocardiograma demonstrou hipocinésia tou o diagnóstico, ao revelar hepatite granulomatosa.
global com depressão grave da função ventricular Quando questionado sobre lesões cutâneas genitais,
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 281
o doente referiu uma lesão, há 2 anos atrás, de re- A TAC torácica destaca  “imagens micronodulares
missão espontânea, sugerindo-se, assim, um quadro peri broncovasculares, compatíveis com hemorra-
de sífilis secundária. Devido a história de alergia à gias intra alveolares num contexto de vasculite”.
penicilina, optou-se por instituir curso de doxiciclina
100mg 2id por 28 dias: o doente manteve-se sempre Iniciou  corticoterapia com dose 1mg/kg em mono-
assintomático, finalizou a antibioterapia em ambu- terapia, com melhoria significativa da púrpura e ede-
latório e apresentou normalização progressiva das ma dos membros inferiores e redução dos parâme-
enzimas hepáticas. tros inflamatórios e da eosinofilia periferica. 

Conclusão. Este caso ilustra uma forma de manifes- Teve alta do Internamento de Medicina com predni-
tação incomum da sífilis secundária, em que um ver- solona 80mg per os. Em consulta externa de Medici-
dadeiro achado ocasional numa consulta de rotina na Interna, foi realizado desmame da corticoterapia,
desmascarou a “grande imitadora”. em sobreposição com terapêutica imunossupresso-
ra com azatioprina 100mg/dia.
PA n.º 1730 
Sindrome Churg-Strauss – um caso clássico. Este caso clínico, no âmbito da investigação etioló-
Vikesch Rameschandre Samji(1);Ana Gusmão gica da púrpura, pressupõe uma exploração minucio-
Palmeiro(1);Catarina Lizardo Cruz(1);Ana Rita Men- sa da história clínica prévia do doente e da sua in-
des(1);Francisco Silva(1) tegração com o estudo em curso, reforçando assim
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE / a sua importância, especialmente em doenças com
Hospital Egas Moniz envolvimento multissistémico, tais como o Síndrome
Churg-Strauss.
Tema:
PA n.º 1761 
Diarreia aguda por CMV em doente com leucemia
O Síndrome de Churg-Strauss  é uma vasculite rara por plasmócitos
que atinge vasos de pequeno e médio calibre. A Laura Batista(1);Gisela Gonçalves(1);Ana Sofia
etiologia é desconhecida, no entanto a activação Azevedo(1);Tiago Valente(1);Carla Matias(1);Gorete
dos eosinófilos é um dado fundamental na fisiopa- Jesus(1)
tologia da doença.  (1) Centro Hospitalar do Baixo Vouga / Hospital In-
fante D. Pedro, EPE
Este caso clínico ilustra a necessidade de equacio-
nar esta doença rara, perante lesões cutâneas atípi- Tema: Doenças hematológicas
cas e a importância da abordagem multidisciplinar
dado o envolvimento multissistémico.  Introdução: A infecção por Citomegalovírus (CMV)
em adultos imunocompetentes raramente cursa
Trata-se de um doente, sexo masculino, de 62 anos, com doença sintomática; no entanto, em doentes
com história médica de Hipertensão arterial, Dislipi- imunodeprimidos pode ter atingimento gastrointes-
démia, Asma brônquica de apresentação tardia (aos tinal, com manifestações exuberantes.
40 anos), pólipos nasais com pansinusite e glauco-
ma.
CASO CLÍNICO: Mulher de 56 anos, com anteceden-
Recorreu ao SU por quadro de febre vespertina, mial- tes de leucemia de plasmócitos, sob profilaxia de
gias, fraqueza muscular proximal nos membros infe- infecções oportunistas com cotrimoxazol e aciclo-
riores com edema e presença de lesões purpúricas vir, que recorre ao Serviço de Urgência por quadro
palpáveis nesta região com 5 dias de evolução. de 10-15 dejecções diarreicas diárias com cerca de
um mês de evolução, com início uma semana após
Do exame objectivo à admissão no serviço de Urgên- ter concluído o primeiro ciclo VRd. Analiticamente,
cia destaca-se: febril (38,4ºC). Membros inferiores sem elevação significativa de parâmetros inflama-
com força muscular grau IV nos segmentos proxi- tórios. Realizou pesquisa de rotavírus, adenovírus,
mais e presença de lesões purpúricas palpáveis bi- Salmonella, Shigella, Yersinia, Campylobacter, C.
lateralmente, associado a dor, edema godet +++, eri- difficile e cultura de fezes, que regressaram nega-
tema e calor. tivos. Serologias víricas negativas, nomeadamente
HIV, HBV, HCV, HAV, HEV, destacando-se imunidade
Analiticamente a destacar: Leucócitos: 22900/L, (eo- para CMV. Realizou colonoscopia, onde se verificou
sinófilos 42%), plaquetas: 270000/L CK: 2366 pg/mL, presença de úlceras serpiginosas no íleo terminal e
PCR: 17,8 mg/dL. recto, com minúsculas erosões dispersas ao longo
de todo o cólon, com colheita de fragmentos para
Internado no Serviço de Medicina para investigação
biópsia. Esta evidenciava múltiplas inclusões víri-
etiológica de púrpura não trombocitopénica.
cas com imunomarcação para CMV, estabelecendo
No internamento, foi realizado biópsia da lesão pur- então o diagnóstico de íleocolite por CMV. A doente
púrica, cuja anatomia patológica revelou: “aspectos iniciou tratamento com valganciclovir, com redução
de Vasculite Leucocitoclásica bolhosa e rica em eo- de número de dejecções diárias e progressiva me-
sinófilos.”.  lhoria clínica e analítica.
DISCUSSÃO: Em doentes com neoplasias activas
282
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
sujeitos a esquemas de quimioterapia, é comum um exercício sistemático de diagnóstico diferencial,
atribuir quadros gastrointestinais à doença de base, sob pena de não serem identificadas doenças raras,
síndromes paraneoplásicos ou até como conse- com manifestações semelhantes a patologias mais
quência de quimioterapia, quando na restante inves- comuns.
tigação laboratorial e clínica não foi identificada ou-
tra etiologia. No entanto, é importante ter em mente PA n.º 1776 
as infecções oportunistas, ainda que os doentes Efeitos Secundários nos iSGLT2 e nos aGLP1 – Um
se encontrem a realizar profilaxia para estas, des- estudo retrospetivo
tacando-se a importância da realização de biópsia Bárbara Silva(1);Tânia f. Mendes(1);Nuno André
do órgão afectado quando o restante estudo não foi Sousa(1);José Augusto Barata(1)
conclusivo. Relembra-se que a profilaxia com aciclo- (1) Hospital de Vila Franca de Xira
vir se destina a proteger contra infecção oportunista
por HSV, VZV e EBV, mas que tem pouca actividade Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio-
contra infecção por CMV, que em doentes imuno- nais
deprimidos pode ter atingimento gastrointestinal e
sistémico exuberante apesar de serologia sugestiva
de imunidade, como no caso que se apresenta. Introdução: A Diabetes Mellitus tipo 2 (DM2) é uma
doença crónica que atinge cerca de 6% da popula-
PA n.º 1762  ção mundial e está associada a um risco de com-
Doença de Depósitos Densos– Uma Glomerulopatia plicações macro e microvasculares. Os inibidores
Rara Com Manifestações Comuns do co-transportador sódio-glicose 2 (iSGLT2) e os
Patricia Domingues(1);Teresa Furtado(1);Ana Pieda- agonistas dos recetores do glucagon-like peptide-1
de(1);Catarina Abrantes(1);Carlos Barreto(1);Lúcia (aGLP1) apresentam-se como uma alternativa tera-
Parreira(1) pêutica recente, contribuindo para um melhor con-
(1) Centro Hospitalar de Setúbal, EPE / Hospital de trolo da doença e redução das complicações asso-
São Bernardo ciadas. No entanto, a utilização destes fármacos
pode estar associada a certos efeitos secundários. 
Tema: Doenças raras
Objetivo: Analisar os efeitos secundários reportados
Os autores descrevem o caso de uma mulher de 28 com o uso de iSGLT2 e de aGLP1 e a existência de
anos, sem antecedentes de relevo, que recorreu ao abandono da terapêutica como consequência des-
SU por dispneia, expetoração esverdeada, toracalgia ses mesmos efeitos secundários.
e febre, tendo alta medicada com ibuprofeno e bron-
codilatadores. Três dias mais tarde é readmitida no Material e Métodos: Estudo retrospetivo com base
SU, por persistência dos sintomas. Analiticamente nos doentes seguidos em consulta hospitalar de dia-
destacavam-se Hb 11,8 g/dl Lc 1700 e PCR 17,5 betes pela nossa equipa, num total de 124 doentes.
g/dl. Assumiu-se Pneumonia e foi medicada com Desses, foram selecionados apenas aqueles que uti-
Amoxicilina/Ácido Clavulânico e Azitromicina. Ape- lizaram iSGLT2 ou aGLP1 - 93 doentes. Apresentam
sar da melhoria dos sintomas respiratórios, inicia idade média de 63.9 anos, sendo 58% do sexo mas-
dejeções líquidas associadas a dor abdominal tipo culino e 3% são de raça negra. Dos 93 doentes, 88
cólica, náuseas e vómitos. Apresentava diminuição utilizaram iSGLT2 (95%), 41 aGLP1 (44%) e 31 (39%)
da PCR e análise sumária de urina (ASU) com mui- ambos. A análise efetuada - efeitos secundários re-
tos eritrócitos (GV), piócitos (PC), leucócitos (GB), portados e abandono da terapêutica - foi realizada
proteinúria (+++) e nitritos negativo. Admitiu-se em separado para cada classe de fármaco. Para a
infeção do trato urinário e foi prescrita levofloxa- análises dos dados recolhidos realizou-se uma análi-
cina. Melhorou da diarreia, porém, por lombalgia se estatística descritiva.
esquerda, voltou ao SU. Realizou ecografia renal que
não mostrou alterações exceto discreta distensão Resultados: Do total da amostra 33% dos doentes
piélica esquerda, sem cálculo objetivável. Foi medi- reportaram efeitos secundários. Relativamente à
cada com cefuroxime, com hipótese diagnóstica de classe iSGLT2 - 30% dos doentes reportaram efei-
pielonefrite. Por manter queixas de lombalgia e ter tos secundários, dos quais 81% abandonaram a te-
surgido edema generalizado, recorreu ao SU. Apre- rapêutica. O efeito secundário mais frequente foi de
sentava edema dos membros inferiores e da face infecção do trato urinário (ITU) em 27% dos doentes,
e Murphy renal à esquerda. Na análises tinha Hb seguido de balanite e prurido genital com 15%. Re-
9,5 g/dl Lc 11300 Ur 36 Cr 0,53, hipoalbuminémia lativamente à classe aGLP1 - 27% dos doentes re-
(1,3), hipercolesterolémia (319), rácio proteinúria/ portaram efeitos secundários, dos quais 91% aban-
creatinúria de 25g/g e ASU com muitos GB, alguns donaram a terapêutica. O efeito secundário mais
PC e muitos GV. Foi internada e cumpriu terapêutica frequente foi de diarreia em 45% dos doentes, segui-
diurética com perda de 7Kg. O estudo da auto imu- do de distensão abdominal com 18%.
nidade não revelou alterações, exceto hipocomple-
mentémia C3. Foi realizada biópsia renal que levou Conclusão: Segundo estudos recentes os iSGLT2 e
ao diagnóstico de doença de depósitos densos a os aGLP1 têm mostrado um bom perfil de segurança
C3, a qual teve boa resposta ao tratamento com mi- e tolerabilidade, facto não demonstrado neste estu-
cofenolato de mofetil e corticoides. do uma vez que uma elevada percentagem reporta-
O presente caso clínico salienta a importância de ram efeitos secundários, e desses uma esmagadora

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 283


maioria abandonaram a terapêutica. Esta realidade Discussão: Este caso ilustra a importância de na in-
pode ser justificada não só pelo tamanho da nossa vestigação etiológica de úlceras incluir a iatrogenia
amostra (apenas 93 doentes), mas também pelos medicamentosa. Estas podem surgir após anos de
mitos e receios das populações. Em relação aos iS- terapêutica, o que pode levar ao atraso do diagnósti-
GLT2 o efeito secundário mais frequente segundo co e, consequentemente, do tratamento adequado.
a literatura é a infeção genital fúngica, seguido da
ITU. No entanto, a ITU foi o efeito secundário mais PA n.º 1793 
reportado neste estudo. Os efeitos secundários dos Endocardite infeciosa, a realidade de um Centro
aGLP1 mais documentados na literatura são gas- Hospitalar e Universitário
trointestinais e dentro destes a diarreia é o mais fre- Rafaela Fernandes(1);Joana Ferreira(1);Dilva Sil-
quente. Neste estudo a diarreia foi também o mais va(1);Pedro Ribeiro(1);Lino Gonçalves(1);Armando
reportado. Carvalho(1)
Os efeitos secundários mais frequentes devem ser ti- (1) Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra /
dos em conta na escolha da terapêutica e os doentes Hospitais da Universidade de Coimbra
devem ser informados sobre os mesmos de forma a Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
reduzir o abandono da terapêutica.
PA n.º 1780  Introdução:
Terapêutica com hidroxiureia: uma causa atípica de
úlceras Segundo a Sociedade Europeia de Cardiologia
Carolina Ochôa Matos(1);Constança Castro Fernan- (ESC), a endocardite infeciosa (EI) é pouco frequen-
des(1);Filipa Marques Palma(1);Catarina Grilo(1);I- te mas associa-se a grande mortalidade e compli-
sabel Pinheiro(1) cações. Em Portugal há ainda uma lacuna na ca-
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi- racterização da nossa população no que concerne
tal de Santa Maria esta doença, o que nos deverá fazer refletir quanto à
Tema: Doenças hematológicas realidade da nossa prática clínica.
OBJETIVO:
Introdução: A terapêutica crónica com hidroxiureia
(HU) pode ter efeitos adversos graves, tais como, A questão de investigação consiste em “Quais as
úlceras orais e dos membros inferiores, habitual- características clínicas dos doentes com EI admiti-
mente muito dolorosas. Pode ser difícil o diagnósti- dos num Centro Hospitalar e Universitário?”, sendo
co diferencial entre úlceras de perna causadas pela o objetivo primário a determinação da sobrevida a 1,
doença mieloproliferativa, doença vascular associa- 6 e 12 meses.
da e iatrogenia pela HU (incidência cerca de 10%).
Favorece a hipótese de iatrogenia o tratamento MATERIAIS E MÉTODOS:
prolongado de pelo menos 1g/dia e resolução após
descontinuação do fármaco. Contudo, as úlceras Trata-se de um estudo observacional descritivo re-
podem surgir independentemente da dose e dura- trospetivo em que a população incluiu doentes com
ção de administração.  o diagnóstico definitivo ou provável de EI, segundo
Caso clínico: Homem, 84 anos, com leucemia mie- os critérios de Duke, admitidos nos Serviços de
lomonocítica crónica, medicado desde há 3 anos Medicina Interna e de Cardiologia no Centro Hospi-
com HU, dose 1-1.5 g/dia. Recorre ao SU por quadro talar entre janeiro de 2016 e dezembro de 2020. A
com 3 semanas de evolução de úlcera maleolar recolha de dados foi realizada através da consulta
esquerda, associada a febre (38.6ºC), dor local e dos processos clínicos informatizados entre maio
edema assimétrico do membro inferior homolateral. e junho de 2021. A análise dos dados foi realizada
À admissão, apresentava úlcera maleolar esquerda, tendo em conta a análise de estatística descritiva a
com sinais inflamatórios e exsudado purulento, as- uma dimensão e, quando aplicável, foi implementa-
sim como úlceras na região labial e na mucosa oral, do o teste de Kolmogorov-Smirnov.  
a condicionar importante dificuldade na ingestão RESULTADOS:
alimentar por dor. Analiticamente apresentava leu-
cocitose e proteína C reativa 22.8mg/dL. Foi inter- O número total de casos foi de 45, sendo a maioria
nado com o diagnóstico de úlcera de perna infetada, do género masculino (73,3%), com uma mediana de
sendo medicado com amoxicilina+ácido clavulâni- idades de 77 anos (diferença interquartílica = 17)
co, posteriormente escalado para piperacilina+tazo- e uma média de tempo de internamento de 45,71
bactam. As lesões labiais e orais foram medicadas dias (desvio padrão (DP) = 2,944). Registaram-se 21
com ácido fusídico, sucralfato, nistatina e lidocaína óbitos na nossa população (46,7%) dos quais 42,8%
tópicos. Por suspeita de sobreinfeção fúngica em foram atribuídos à EI. A sobrevida a 1, 6 e 12 meses
doente sob antibioterapia prolongada, adicionou-se foi de 91,1%, 64,4% e 46,7%, respetivamente.
fluconazol, sem melhoria. Admitindo-se iatrogenia
com HU, foi suspenso este fármaco, observando-se O tipo de EI mais frequente foi a EI aguda (53,3%)
melhoria progressiva das lesões, significativa logo seguida da EI subaguda (28,9%), correspondendo
na semana seguinte. Após resolução do quadro in- os restantes casos a EI de eletrocatéter (17,7%).
fecioso, iniciou terapêutica com 5-Azacitidina. A localização mais frequente foi a válvula aórtica
284
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
(55,6%), de forma isolada ou em combinação, sendo dispneia e cansaço para pequenos esforços. À aus-
que 26,7% do total dos casos ocorreram em válvula cultação pulmonar apresentava uma diminuição do
aórtica nativa e 17,8% em válvula aórtica com próte- murmúrio vesicular nos 2/3 inferiores do
se biológica. hemitórax esquerdo, com macicez à percussão e
diminuição da transmissão das vibrações vocais.
O microrganismo mais frequentemente isolado foi A radiografia de tórax confirmou a existência de
o estafilococo aureus meticilina- resistente (MRSA) volumoso derrame pleural. Uma toracocentese diag-
(15,6%), seguido do estafilococo aureus meticilina- nóstica demonstrou um exsudado. Foi
-sensível (13,3%), não tendo sido isolado qualquer realizada tomografia computorizada na qual se ob-
microrganismo em 20% dos casos. De notar que servou uma lesão torácica neoformativa ântero-su-
71,42% das endocardites por MRSA ocorreram em perior esquerda com invasão local e lesões
válvulas cardíacas nativas. A média de tempo sob secundárias torácicas e abdominais. No contexto
antibioterapia foi de 37,75 dias (DP = 2,508), sendo de alterações do estado de consciência realizou res-
que a combinação de vancomicina com gentamici- sonância magnética cerebral onde se
na (13,3%) foi a mais frequente. O tratamento cirúr- evidenciou metastização cerebral. A biópsia e análi-
gico foi necessário em 24,4% dos doentes. se histológica identificou um timoma.
Discussão:
Houve complicações locais em 22,2% dos doen- Uma abordagem única não se encontra adequada
tes, sendo as mais frequentes o pseudoaneurisma na abordagem do doente com uma massa mediastí-
(30%) e a combinação de pseudoaneurisma com nica pela diversidade e heterogeneidade de
abcesso (20%). A insuficiência valvular ocorreu em etiologias possíveis. O médico deve ser capaz de
62,2% da nossa população, correspondendo 28,57% através da integração de dados epidemiológicos e
a insuficiência aórtica grave. Verificaram-se compli- clínicos determinar quais as entidades mais
cações sistémicas em 27,7% dos doentes, tendo o prováveis num determinado doente e assim orientar
choque sético sido a mais comum (16,66%). A insu- a realização de análises laboratoriais específicas,
ficiência cardíaca aguda ocorreu em 6,7% dos doen- de exames imagiológicos e a realização ou
tes e a insuficiência cardíaca congestiva agudizada não de biópsia. Deve-se assim seguir um processo
em 31,1%. lógico e estruturado de forma a chegar a um diag-
nóstico de forma eficaz evitando estudos
CONCLUSÕES:
desnecessários.
A EI é uma doença rara mas, ao contrário do que
é indicado pela ESC, no nosso Centro Hospitalar a PA n.º 1828 
maioria dos doentes recuperou e apresentou uma Comparação dos internamentos na Medicina Inter-
boa sobrevida ao final de 12 meses. Também a na de um hospital terciário, pré e pós-COVID-19
ocorrência de complicações não é a regra nestes Gonçalo Alcobia Santos(1);Filipa Marques Rodri-
doentes. Algo que merece reflexão é o facto de o gues(1);Ana Raquel Covas(1);Eduardo c. Mace-
microrganismo mais frequente ser o MRSA, pelo do(1);José Miguel Rocha(1);Isabel Apolinário(1);Íli-
que seria pertinente compreender até que ponto dio Brandão(1)
esse microrganismo coloniza a população portu- (1) Hospital de Braga
guesa e se torna infecioso para a mesma.
Tema: Organização, gestão e qualidade de serviços
PA n.º 1816  de saúde
Timoma com metastização extratorácica: Caso clí-
nico e breve revisão da literatura
A pandemia COVID-19, na sua 1ª vaga, levou a uma
André Antunes(1);Manuela Lélis(1)
mudança sem precedentes na organização dos ser-
(1) Hospital Dr. Nélio Mendonça
viços de saúde em Portugal, a nível hospitalar com
Tema: Doenças oncológicas os serviços de urgência (SU) e os serviços de in-
ternamento de Medicina Interna (SMI) a serem dos
mais afetados. O aumento dos casos de COVID-19,
Introdução: uma doença à data praticamente desconhecida,
O timoma é um tumor raro que se apresenta de for- com exemplos dramáticos como o da Itália a serem
ma assintomática em até 30% dos casos, e que se divulgados diariamente, levaram a uma alteração
faz acompanhar frequentemente de radical no padrão de admissões nos SUs e também
síndromes paraneoplásios. É um tumor normalmen- no de internamentos nos SMIs nos meses seguin-
te indolente, cujo prognóstico depende do seu tama- tes, frequentemente com prejuízo dos doentes não
nho e integridade capsular. A metastização COVID. Os autores descrevem a casuística do SU e
extratorácica é rara (<2%). O tratamento é a excisão do SMI de um hospital terciário pré e pós pandemia
cirúrgica, acompanhada de radioterapia nos tumo- COVID-19.
res invasivos e quimioterapia nos estadios
avançados. O uso de imunoterapia é promissor.
Caso Clínico:                No hospital em análise, desde o início
Um homem de 79 anos recorreu ao serviço de ur- da pandemia, além da criação de enfermarias
gência por quadro com 15 dias de evolução de tos- COVID-19, foi mantida a disponibilidade de 90
se, dor torácica anterior de tipo pleurítico, camas de enfermaria para doentes não COVID.
No período de março a maio de 2020 foram
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 285
admitidos no SU um total de 2857 doentes com a ultrasound scan of the nodule that suggested
patologias do foro médico não associadas increased reflectivity of subcutaneous tissues sug-
à COVID-19 (1356 homens e 1501 mulheres), gestive of fatty indurations. Targeted biopsy of the
menos 62,1% de admissões em relação a igual largest nodule suggested widespread fat necrosis
período do ano anterior (7544 admissões, 3332 and infiltrate of chronic inflammatory cells indicative
homens e 4212 mulheres). Em paralelo, no mesmo of lobular panniculitis with no associated vasculi-
período, no SMI foram internados 481 doentes tis. Based on the clinical pictures, blood tests and
(249 homens e 232 mulheres), menos 34,2% histology, LP was admitted and Hydroxychloroquine
de internamentos em relação a igual período 200 mg twice daily was started. Our patient did not
de 2019 (731 doentes internados, 348 homens, have criteria for SLE diagnosis and did not show
382 mulheres). Além da repercussão a nível de other signs of organ involvement. An early diagnosis
admissões de doentes, foi também necessária a based on histopathology and aggressive treatment
reorganização das equipas dos SMIs, só possível with antimalarial therapy (the first-line recommenda-
através de uma capacidade de adaptação ímpar tion for LP) is essential to prevent significant phys-
aliada às competências técnicas que caracterizam ical morbidity and the potential harbinger of more
os internistas. A alocação de especialistas e serious systemic disease.
internos às enfermarias COVID, pela necessidade
de manutenção dos circuitos de doentes/ PA n.º 1847 
profissionais, trouxe constrangimentos vários, Infeções da pele e tecidos moles: qual a prática
nomeadamente nas enfermarias base e na consulta clínica? – Casuística de 2 anos
externa, com efeitos que ainda hoje se sentem. Margarida Araújo(1);Ana Mosca(1);Joana Al-
               Mais de um ano após a 1ª vaga, são ainda ves(1);Alexandre Carvalho(1)
visíveis as marcas que a pandemia COVID-19 deixou (1) Hospital de Braga
nos serviços de saúde em Portugal. No hospital em Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
análise, no período de março a maio de 2020, houve
uma redução drástica da afluência de doentes
ao SU, com uma diminuição importante dos Introdução: As infeções da pele e tecidos moles têm
internamentos no SMI. Por outro lado, houve vindo a aumentar, acompanhando o envelhecimento
também a necessidade de adaptação dos populacional, aumento de doentes críticos e emer-
especialistas e internos de Medicina Interna, não gência de microrganismos resistentes. É necessário
só para dar resposta aos doentes COVID-19, mas um reconhecimento precoce e rápida instituição do
também para manter a atividade assistencial às tratamento.
outras patologias.
Objetivo: Analisar a prática clínica hospitalar nas in-
PA n.º 1840  feções da pele e tecidos moles, nomeadamente ti-
Just Lupus profundus? pos de infeção, antibioterapia empírica e microrga-
Liliana r. Santos(1);Arti Martho(2);Vanessa Mor- nismos isolados.
ris(1);Manuel Rodriguez-Justo(3);António Pais La-
cerda(1) Material e Métodos: Análise retrospetiva dos diag-
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi- nósticos de infeção da pele e tecidos moles em
tal de Santa Maria (2) UCHL - University College of doentes internados entre 2017 e 2018 num hospi-
London Hospital (3) University College of London tal universitário. Exclusão de doentes pediátricos e
diagnósticos de pé diabético, úlceras de pressão ou
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas- vasculares e feridas neoplásicas. Recolha de infor-
culites mação demográfica da população, tipo de infeção,
antibioterapia, tempo até controlo de foco e isola-
Lupus Profundus is the least common clinic variant mentos microbiológicos. Análise em Excel e SPSS.
of cutaneous lupus erythematosus (CLE) represent-
ing less than 3% of CLE. Ulcerated LP is a rare cause Resultados: Em 2 anos, foram diagnosticadas 267
of ulcerated/indurated, painful subcutaneous le- infeções da pele e tecidos moles em 258 doentes:
sions. Although the exact etiology remains unclear, abcessos (n=64), celulites (n=137), erisipelas (n=46),
its onset is considered to be induced by different fasceítes necrotizantes (n=5), gangrenas de Fournier
factors, mainly by physical traumas. In a small per- (n=3), outras infeções necrotizantes (n=3), feridas
centage of cases (3-30%) it is reported with SLE. A cirúrgicas superficiais (n=9). Foram utilizados dife-
sixty year old black African man was referred to rentes regimes antibióticos, em monoterapia (65%)
Rheumatology with a three month history of pain- e em associação terapêutica (35%). Os antibióticos
ful ulcers affecting his fingers and toes along with mais utilizados por tipo de infeção foram: penici-
multiple subcutaneous nodules for six months. His linas no abcesso (68,8%), celulite (64,2%), erisipe-
blood tests were positive for a cytoplasmic pattern la (71,7%), fasceíte necrotizante (60%) e gangrena
of low titre (1:80) Anti-Nuclear Antibody (ANA). (66,7%) – com recurso preferencial a flucloxacilina
He revealed no involvement of Systemic Lupus e amoxicilina-clavulanato nas infeções superficiais,
Erythematosus (SLE).  Viral and infection screens e piperacilina-tazobactam nas infeções profundas;
were negative and a chest plain radiograph did not clindamicina em associação na gangrena de Four-
have any significant abnormality.  He underwent nier (n=2, total=3); vancomicina na ferida cirúrgica

286
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
(n=4, total=9), inicialmente em associação, desca- lymphadenopathies, ascites, pericardial and bilateral
lado para monoterapia após isolamento de MRSA pleural effusions, lung nodular abnormalities and a
(n=2). O tempo médio de antibioterapia oscilou entre normal-sized liver and spleen with several hypodense
9-19 dias, com maior duração nas infeções profun- nodular areas. There were no signs of malignancy.
das e maior percentagem de alteração terapêutica Liver biopsy showed multiple non-caseating granu-
nas gangrenas (66,7%). O tempo médio para contro- lomas. Lymph node and lung biopsies showed reac-
lo de foco foi de 1.7 dias. Identificou-se agente na tive lymphoid hyperplasia, with no granuloma. After
maioria das infeções profundas (100% das fasceítes excluding other infectious causes and having been
necrotizantes e gangrenas de Fournier, 66,7% nas treated with multiple antibiotic regimens, a provision-
restantes gangrenas) e cirúrgicas (77,8%), pela ne- al diagnosis of disseminated tuberculosis was kept
cessidade de intervenção cirúrgica e colheita de pro- and antituberculosis treatment was started. Despite
dutos nesse contexto. Identificou-se agente numa that, fever remained, and her condition evolved with
minoria das celulites (21,2%) e erisipelas (17,4%). Os an hemophagocytic lymphohistiocytosis syndrome
agentes mais frequentes foram Gram positivos. for which she was treated with high dose steroids
and ciclosporin with a favourable response. Addition-
Conclusão: Predominaram as infeções superficiais, al investigation showed ANA 1/640, ds-DNA 28 U/L,
destacando-se as celulites. Nestas infeções, a taxa anti-RNP 1060 U/L and C3 53 mg/dL. Angiotensin
de isolamentos microbiológicos foi reduzida, refor- converting enzyme levels were normal and liver au-
çando a importância da adequação da antibioterapia toimmune profile was negative. A revised diagnosis
empírica. Conforme expectável, os agentes mais fre- of SLE was made. She was put on oral prednisolone
quentemente isolados foram Gram positivos, cons- and hydroxychloroquine with clinical improvement
tituintes da flora comensal da pele. Nas infeções and remission of imagological findings.
profundas necrotizantes, verificou-se uma maior per-
centagem de alteração antibiótica, reflexo de infe- Discussion: Although rare, this case highlights the
ções polimicrobianas. Na ferida cirúrgica, sobressai importance of considering non-infectious causes,
o uso de vancomicina, por se tratar de uma infeção like SLE, in patients with granulomatous organ in-
hospitalar com maior risco de MRSA. volvement.
PA n.º 1853  PA n.º 1855 
Systemic Lupus Erythematosus with Granuloma- AVC NO JOVEM E A ETIOLOGIA ESCONDIDA.
tous Organ Involvement: A Challenging Case João Araújo(1);Dulce Bonifácio(1);Inês Mar-
Pedro Gaspar(1);Leila Duarte(1);Inês Parreira(1);- tins(1);Marina Coelho(1);Juliana Castelo(2);Tânia
Sérgio Bronze(1);Hélder Diogo Gonçalves(1);Valeria Lampreia(2);Vanessa Silva(2);José Vale(2)
Maione(1);Filipa Reis(2);Federica Parlato(1);Carolina (1) Centro Hospitalar do Oeste / Hospital Distrital de
Carreiro(1);Filipe Bessa(1);Sandra Braz(1);Catarina Torres Vedras (2) Hospital Beatriz Ângelo
Mota(1)
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi- Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas
tal de Santa Maria (2) Centro Hospitalar de Lisboa
Norte, EPE / Hospital Pulido Valente O foramen oval patente (FOP) é uma comunicação
no septo interauricular, cujo encerramento ocorre
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas- habitualmente após o nascimento. A prevalência
culites do FOP na idade adulta é de 20-30%, podendo ter
relação com fenómenos embólicos, entre os quais
Introduction: The presence of organ granulomas is acidentes vasculares cerebrais (AVC).
rarely described in systemic lupus erythematosus
(SLE) and warrants a detailed differential diagnosis. Doente do sexo feminino de 49 anos, com antece-
dentes pessoais de hipotiroidismo, medicada com
Case description: A 41-year-old black-woman was levotiroxina, status pós cirurgia ortopédica. Internada
evacuated from Angola for dialytic induction after six por hemiparesia e hemihipostesia  esquerdas com 1
months of rapidly progressive renal insufficiency of hora de evolução (NIHSS 3), sem alterações na TC
unknown cause. She had hypertension and was on CE e angio TC, tendo sido submetida a trombólise
amlodipine. She had no symptoms other than fever- em contexto de ativação da Via Verde de AVC, com
ish sensation and loss of weight starting 2 months resolução completa dos défices (NIHSS 0) cerca de
before coming for Portugal. On admission, observa- 30 minutos pós rt PA. Realizou estudo analítico para
tion was unremarkable except for mucosal pallor and AVC no jovem sem alterações. RM CE sem evidência
the presence of ascites. Kidney biopsy was not per- de lesões agudas, eco doppler dos vasos do pesco-
formed due to the end-stage kidney stage. During hos- ço, ecocardiograma transtorácico e holter 24horas
pitalization, she started sustained fever. Laboratory também sem alterações. Teve alta com o diagnós-
investigation showed Hb 7 g/dL, MCV 82 fL, lympho- tico de AVC isquémico agudo minor do hemisfério
penia, ESR 90mm/1sth, CRP 5 mg/dL, cholestasis with direito (LACI), antiagregada e a aguardar ecocardio-
normal bilirubin and albumin 2.7 mg/dL. Urine pro- grama transesofágico (ETE).
tein-to-creatinine ratio was 1970 mg/g. Serial blood
cultures excluded bacterial and fungi infection. IGRA Regressa ao Serviço de Urgência (SU) após três
test was positive. Body CT-scan showed widespread semanas por quadro de instalação súbita de hemi-

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 287


paresia e hemihipostesia esquerdas com 2 horas de no grupo AC e AH, respetivamente) nem quanto ao
evolução (NIHSS 1).  TC CE sem alterações de novo. estado funcional avaliado pela escala de KATZ (4.6
Manteve défices caracterizados por hemihipostesia vs 4.3 pontos, AC vs AH respetivamente). A análise
esquerda, nas primeiras 48 horas de internamento, dos dados revelou diferença estatisticamente signifi-
após as quais com completa resolução. Realizou cativa na apresentação clínica dos doentes, no coor-
ETE que revelou, FOP tunelizado, observando-se te AC 9,8% tinham doença moderada na altura do
por doppler codificado a cor, passagem de fluxo da diagnóstico (estadio IIa) comparativamente a 37,1%
aurícula esquerda (AE) para a aurícula direita (AD). no coorte AH (p<0.001). O estadio IIb no diagnóstico
Passagem de contraste da AD para a AE em quanti- teve uma frequência inversa com 82,1% no grupo AC
dade moderada. Exuberante rede de Chiari na AD. O versus 39% no AH, também com diferença estatis-
eco doppler venoso dos membros inferiores excluiu ticamente significativa (p<0.001). Os sintomas gas-
trombose venosa profunda e a cintigrafia de ventila- trointestinais foram mais reportados no AC (28.5%)
ção-perfusão pulmonar excluiu tromboembolismo ao contrário dos sintomas respiratórios que foram
pulmonar. Repetiu RMN CE que demonstrou enfarte mais frequentes no AH (87.7%), ambos com uma
crónico cerebeloso esquerdo, sem lesões agudas. A diferença estatisticamente significativa (p<0.001). A
doente foi referenciada para encerramento do FOP. presença de sintomas respiratórios no coorte AH re-
velou-se um fator de mau prognóstico (p<0.001). Não
O estudo do AVC em idade jovem deve ser exausti- foram encontradas diferenças com significado esta-
vo. A identificação de FOP nestas idades é impor- tístico quanto aos valores de procalcitonina, proteí-
tante pelas implicações na orientação terapêutica. na C reativa, NT-proBNP e d-dímeros. A mortalidade
Neste caso, e dada a ausência de outras etiologias foi superior no coorte AH (33,3%) em relação ao AC
possíveis para o AVC, assumiu-se como causa mais (28,3%), não sendo estatisticamente significativa
provável a existência do FOP. (p=0,283). Quando ajustado para a idade, sexo, his-
tória de diabetes, hipertensão, doença renal crónica
PA n.º 1857  e pontuação no KATZ, a infeção por COVID-19 – AH
Covid-19 adquirido na comunidade versus adquiri- revelou-se um fator independente para mortalidade
do no hospital – uma análise comparativa (p=0.05).
Filipa Leal(1);Teresa Martins Mendes(1);Francis-
co Pombo(1);Sofia Garcês Soares(1);Bárbara Sil- Conclusões: O facto de 11.6% dos doentes incluídos
va(1);Ana Silva Rocha(1);Carolina Seabra(1);Ana terem critérios de AH não é de todo desprezível. A
Filipa Silva(1);Luís Nogueira(1);Mari Mesquita(1) prevalência de sintomas respiratórios parece ser
(1) Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, EPE / mais comum no casos AH e sua presença revelou-se
Hospital Padre Américo, Vale do Sousa um fator de mau prognóstico.  Apesar da diferença
de mortalidade entre os dois grupos não ser signifi-
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias cativa, a AH parece ser um fator para maior gravida-
de de doença, apesar de o diagnóstico ser feito mais
Introdução: Em dezembro de 2019 foram descri- precocemente.
tos os primeiros casos de infeção por SARS-CoV-2
(COVID-19). Existem dados reportados de COVID PA n.º 1858 
adquirido na comunidade e adquirido no hospital, Miopericardite: uma sequela de COVID-19?
no entanto dados comparativos entre os dois são Regina Costa(1);Tiago Costa(1);Nelson Pe-
escassos na literatura. dro(1);Lèlita Santos(1);Armando Carvalho(1)
(1) Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra /
Hospitais da Universidade de Coimbra
Métodos: Estudo observacional, retrospetivo, unicên-
trico, de maiores de 18 anos com infeção por SAR- Tema: Doenças cardiovasculares
S-CoV2, internados num hospital regional. Incluída
população com alta hospitalar entre os meses de ou-
tubro e novembro de 2020. O diagnóstico de infeção Introdução:
SARS-CoV2 foi feito por teste de reverse transcription
polymerase chain reaction (RT-PCR) de zaragatoa da Desde os primeiros casos de COVID-19 a literatura
oro/nasofaringe ou em secreções brônquicas.  De- tem documentado as mais variadas sequelas. Até
finiu-se COVID-19 adquirido na comunidade (AC) mesmo depois de meses  após a alta médica existe a
doentes com teste RT-PCR de SARS-CoV2 positivo possibilidade de surgirem patologias associadas ao
à admissão ou até ao 4º dia de internamento e CO- SARS-CoV-2 não necessariamente relacionadas com
VID-19 adquirido no hospital (AH) os com teste posi- a gravidade da doença ou afetas apenas ao sistema
tivo a partir do 5º dia de internamento inclusive. Aná- respiratório.
lise de dados com o SPSS 25®, sendo considerados
valores estatisticamente significativos se p<0.05. Caso Clínico:

Resultados: Estudo com 905 doentes entre os quais Mulher de 36 anos, um mês após COVID-19 com pre-
88,4% (n=800) cumpriam critérios de AC e 11.6% domínio de sintomas gastrointestinais e sem aco-
(n=105) de AH.  Não foram encontradas diferenças metimento respiratório, foi internada por dor torácica
significativas quanto ao sexo (54% sexo masculino pleurítica, astenia, ortopneia e dispneia para esforços
no grupo AC, 59% no AH), idade (72.4 e 73.1 anos com agravamento progressivo com três meses de
evolução. Ao exame objetivo apresentava-se hemo-
288
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
dinamicamente estável e apirética, eupneica em ar à terapêutica com cefalosporina (sem cultura de uri-
ambiente, com S3 audível na auscultação cardíaca e na prévia), tendo iniciado piperacilina/tazobactam.
fervores basais na auscultação pulmonar; era notá- Contudo, por febre persistente e PCR elevada, equa-
vel refluxo hepatojugular. Do estudo complementar cionada a possibilidade de infeção oculta do quisto.
realizado tinha análises sem alterações a relevar; au- Realizada abordagem percutânea com drenagem
toimunidade, serologias víricas e bacterianas, bem imediata de 1500 mL de conteúdo purulento. Isola-
como exames culturais negativos, nomeadamente mento de K. pneumoniae e E. coli multissensíveis no
SARS-CoV2; na gasimetria com ligeira insuficiên- líquido quístico, tendo-se estreitado espectro para
cia respiratória hipoxémica, embora com provas de cefuroxima, de acordo com antibiograma, e mantido
função respiratória e TAC torácica normais. A RMN drenagem do quisto por dreno pigtail. Evolução fa-
cardíaca notava miopericardite com pequeno derra- vorável, tendo completado 1 mês de antibioterapia;
me pericárdico e hipocinesia do apex apesar de boa orientada para consulta de Urologia.
função sistólica global. A doente iniciou tratamento
com ibuprofeno e colchicina com melhoria clínica e Conclusão:
analítica progressiva, tendo posteriormente alta.
A infeção do quisto renal é uma complicação rara. A
Discussão: apresentação clínica e os achados imagiológicos
não são específicos, o que torna o diagnóstico de-
Apesar de haver predileção pelos pulmões e as com- safiante.
plicações respiratórias estarem associadas a maior
mortalidade, são cada vez mais os relatos de casos A antibioterapia é o tratamento de primeira linha; no
com envolvimento cardíaco em doentes com CO- entanto, intervenção radiológica ou cirúrgica pode
VID-19 que também predispõe a  pior prognóstico. ser necessária para controlo de foco.
Contudo, o efeito do SARS-CoV2 no miocárdio não
está bem estabelecido e serão necessários mais da- PA n.º 1863 
dos para tirar conclusões. Hipertensão arterial secundária à toma de inflixi-
mab
PA n.º 1862  Joana Vieira Naia(1);Ana Andrade Oliveira(1);Paulo
Infeção de quisto renal multiloculado e os desafios Ferreira Gouveia(1)
da sua abordagem (1) Hospital de Braga
Carla Pereira Fontes(1);Samuel Fonseca(1)
(1) Centro Hospitalar de Entre Douro e Vouga, EPE / Tema: Doenças cardiovasculares
Hospital de S. Sebastião
Introdução:
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
A hipertensão arterial (HTA) é uma causa importante
Introdução: de morbimortalidade e que, por isso, deve ser diag-
nosticada e tratada sempre que possível. A forma
Os quistos renais são relativamente comuns, aumen- mais comum é a HTA essencial (responsável por
tando a sua prevalência com a idade.  Geralmente cerca de 90% dos casos), mas deve ter-se em aten-
são benignos e assintomáticos, sendo o diagnóstico ção fatores que possam indicar uma causa secun-
incidental em exames de imagem. Em alguns casos, dária, potencialmente reversível, para esta doença,
porém, podem atingir grandes dimensões, cursando nomeadamente perante HTA severa ou resistente,
com sintomas e/ou complicações. idade jovem, doença renal ou tiroideia, distúrbios
hidroeletrolíticos, tratamento com certos fármacos,
Caso clínico entre outros.
Mulher de 80 anos, com síndrome metabólica, car- Caso clínico:
diopatia e doença cerebrovascular isquémicas. Sob
cefuroxima (5º dia) por infeção do trato urinário; ad- Apresentamos o caso de um homem de 56 anos com
mitida por quadro de prostração e dor abdominal Doença de Crohn, medicado com infliximab desde
com irradiação lombar. Ao exame físico, apresentava há 2 anos e sem outros antecedentes patológicos
febre, estabilidade hemodinâmica; massa abdominal relevantes, que foi referenciado à consulta de HTA
palpável no flanco esquerdo, dolorosa à palpação; por apresentar um perfil tensional persistentemente
sinal de Murphy renal ipsilateral presente. Analitica- elevado há 2 anos, com agravamento nos últimos
mente com elevação marcada dos parâmetros in- meses. Negava cefaleias, dor torácica, dispneia, ede-
flamatórios (PCR-329.9 mg/L), função renal normal; mas periféricos, palpitações, síncope, infeções uriná-
urina tipo II com 70/µL leucócitos. Tomografia com- rias ou litíase renal. Ao exame objetivo, hipertenso,
putorizada abdomino-pélvica com contraste mos- sem outras alterações de relevo. Estudos analítico e
trou rim esquerdo globoso condicionado por lesão urinário dentro da normalidade, bem como eletrocar-
quística multiloculada (14 x 11 mm no plano axial; diograma, ecocardiograma e ecografia renal.
21 mm no longitudinal), com conteúdo homogéneo e
espessamento parietal regular, e densificação hete- Posto isto, após exclusão de causas mais frequen-
rogénea da gordura perirrenal esquerda, sem hidro- tes e graves de HTA secundária e devido à relação
nefrose. Assumida pielonefrite aguda, com falência temporal estabelecida entre o início da terapêutica

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 289


imunossupressora e o diagnóstico de HTA, assumiu- “parênquima pulmonar com extenso padrão de enfi-
-se que a hipertensão seria secundária à toma de sema centrilobular difuso”. As culturas de micobac-
infliximab. Dada a impossibilidade de descontinua- térias na expetoração permitiram a identificação de
ção deste fármaco por parte da gastroenterologia, bacilos álcool-ácido resistentes atípicos com isola-
iniciou-se tratamento anti-hipertensor, com normali- mento de Mycobacterium chelonae. 
zação do perfil tensional.
O doente foi orientado para o Centro de Diagnóstico
Discussão: Pneumológico e iniciou terapêutica com ciprofloxa-
cina e claritromicina, com melhoria progressiva do
Existem vários fármacos que podem causar HTA, estado geral e aumento ponderal.
como contracetivos orais, anti-inflamatórios não es-
teroides, corticosteroides, antidepressivos, agentes Discussão:
de quimioterapia, entre outros, pelo que se deve ter
em atenção a medicação (com e sem prescrição mé- O diagnóstico de infeção provocada por este grupo
dica) e outros suplementos realizados pelo doente. de micobactérias é importante devido à necessidade
No que respeita ao infliximab, apenas cerca de 7% de diferenciar da infeção provocada por M. tubercu-
dos doentes desenvolve HTA, sendo necessário um losis, uma vez que esta última é uma doença de de-
elevado nível de suspeição que permita o reconheci- claração obrigatória, que exige vigilância epidemio-
mento célere desta complicação. lógica. O diagnóstico requer a presença de sintomas
sistémicos ou pulmonares, alterações radiográficas,
Apresentamos este caso, uma vez que se trata de confirmação microbiológica e exclusão de outras
uma causa medicamentosa rara de HTA, com o ob- causas. O tratamento depende das suscetibilidades
jetivo de alertar para este diagnóstico em doentes a identificadas e deve manter-se durante pelo menos
realizar esta terapêutica, salientando a importância 12 meses após negativação da cultura da expetora-
da história clínica detalhada na identificação das ção.
causas farmacológicas de HTA.
Apresentamos este caso, uma vez que se trata de
PA n.º 1865  uma apresentação incomum de infeção por esta
Infeção pulmonar por Mycobacterium chelonae: micobactéria, devendo este agente ser reconhecido
uma entidade rara? como um provável causador de infeções pulmona-
Joana Vieira Naia(1);Ana Andrade Oliveira(1);Paulo res, frequentemente resistente a antibióticos e sem
Ferreira Gouveia(1) um regime ótimo de tratamento estabelecido.
(1) Hospital de Braga
PA n.º 1869 
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias Eventos vasculares de acordo com a idade no
doente hipertenso
Introdução: Mariana Bilreiro(1);Luís Correia(1);Bela Macha-
do(1);Carolina Barros(1);Ana Sofia Silva(1);Maria da
Luz Brazão(1);Rafael Freitas(1)
O Mycobacterium chelonae pertence à família das (1) Hospital Dr. Nélio Mendonça
micobactérias não tuberculosas de rápido cresci-
mento, sendo encontrada frequentemente no meio Tema: Outro
ambiente. Causa ocasionalmente infeções oportu-
nistas em indivíduos com doença crónica pulmonar Introdução: A evolução da Hipertensão Arterial
e imunodeprimidos, podendo provocar doença dis- (HTA) pode cursar com eventos vasculares (EV)
seminada, infeções de feridas cirúrgicas e queratite. cuja gravidade pode requerer admissão hospitalar.
Nos últimos anos tem vindo a ser reconhecido como Estes EV implicam frequentemente morbilidade
um patogénio capaz de causar doença pulmonar. assinalável com impacto no desfecho clínico do
Caso clínico: doente, nomeadamente daqueles com idade inferior
a 65 anos.
Apresenta-se um homem de 63 anos com doença
pulmonar obstrutiva crónica, etilismo crónico e fu- Objetivo: Estudar os EV com necessidade de admis-
mador. são hospitalar ocorridos nos doentes seguidos numa
consulta de HTA, de acordo com a idade (limiar de 65
Enviado pelo médico assistente por perda ponde- anos).
ral involuntária, hipersudorese noturna, dispneia para
médios esforços e tosse produtiva. Negava febre, to- Material e Métodos: Retrospetivamente, analisámos
racalgia, hemoptises, sintomas gastrointestinais ou as admissões hospitalares de uma amostra de adul-
outros. Ao exame físico encontrava-se emagrecido, tos em seguimento numa consulta de Medicina In-
sem outras alterações. terna especializada em HTA ocorridas entre 2011 e
2020. Incluímos os casos de admissões por EV. Re-
O estudo analítico realizado era normal e as serolo- gistámos a idade em que ocorreu o primeiro EV. Divi-
gias víricas negativas. A tomografia axial computori- dimos a amostra em dois grupos, usando o limiar de
zada de tórax revelou “dois pequenos gânglios, com 65 anos. Comparámos os grupos em termos de sexo,
cerca de 5 e 7mm, na loca retrocava pré-traqueal” e outros fatores de risco vascular e gravidade da HTA.

290
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
As variáveis qualitativas foram descritas usando fre- abertura ocular espontânea, produzindo sons imper-
quências absoluta e relativa e as suas distribuições ceptíveis, sendo capaz de localizar a dor mas sem
foram comparadas com o teste do X2. As quantitati- cumprir ordens - Glasgow Coma Scale (GCS) de
vas foram descritas com média (M) e desvio-padrão 11/15 – sem outras alterações ao exame neuroló-
(DP) e comparadas com o teste t. Os resultados cujo gico e perfil tensional hipertensivo (155/68mmHg).
p fosse inferior a 0,05 foram considerados significa- Analiticamente com hipercalcémia de 12.6mg/dL,
tivos. Recorremos ao software da instituição para Ca ionizado 1.74mmol/L; fosforo 2.6mg/dL. A in-
consulta do processo e ao IBM SPSS versão 19 para vestigação etiológica da hipercalcémia revelou uma
o processamento dos dados e análise estatística. hormona paratiroideia de 307pg/mL, pelo que foi
assumida a hipótese diagnóstica de demência rapi-
Resultados: O grupo cujo primeiro EV ocorreu antes damente progressiva causada por hipercalcémia no
dos 65 anos era composto por 30 doentes (14 ho- contexto de hiperparatiroidismo primário e foi inicia-
mens [46,7%]; idade de ocorrência do EV: M = 52,6; da terapêutica com ácido zolendrónico e fluidotera-
DP = 8,0 anos). O grupo cujo primeiro EV ocorreu em pia, verificando-se melhoria clínica, tendo o doente
idade ≥ 65 anos tinha 26 doentes (17 homens [65,4%]; alta consciente, orientado e colaborante com GSC
idade de ocorrência do EV: M = 75,6; DP = 6,1 anos). 15/15. Durante o internamento foram ainda excluí-
Verificámos diferenças na distribuição do território das outras causas de demências rapidamente pro-
do EV (p = 0,025). As hemorragias intracerebrais veri- gressivas.
ficaram-se exclusivamente antes dos 65 anos (30,8%
versus 0,0%). O edema agudo do pulmão devido a cri- Conclusão: O caso apresentado salienta a importân-
se hipertensiva foi proporcionalmente mais frequen- cia de considerar o hiperparatiroidismo primário no
te em idade mais avançada (7,7% versus 23,3%). O doente idoso que se apresenta com sintomas neu-
enfarte agudo do miocárdio e o acidente vascular ce- ropsiquiátricos que se enquadrem num quadro de
rebral isquémico tiveram distribuição equivalente. O demência rapidamente progressiva, uma vez que se
tabagismo era mais frequente entre os EV ocorridos trata de uma causa potencialmente reversível.
antes dos 65 anos (62,5% versus 13,3%; p = 0,030).
PA n.º 1883 
Conclusões: Estes achados demonstram diferenças Fraqueza generalizada em adulto jovem: a propósi-
de EV de acordo com a idade e sublinham a impor- to de um caso clínico
tância de fatores de risco modificáveis como o taba- Joana Faria Silva(1);Bárbara Sousa(1);Joana Fon-
gismo no doente hipertenso com menos de 65 anos. tes(1);Tiago Mendes(1);Raquel Costa(1);André Ca-
lheiros(1);Rosana Maia(2);Edgar Torre(2);António
PA n.º 1878  Moura Alves(1);Paula Brandão(1)
Hipercalcémia no Hiperparatiroidismo Primário: (1) Hospital Conde de Bertiandos, ULSAM (2) Hospi-
uma causa de Demência Rapidamente Progressiva tal de Santa Luzia
João Carvalho(1);Ana Cochicho Ramalho(1);André
Resendes Sousa(1);Susana Amador(1);Helena Vito- Tema: Doenças renais
rino(1);Nadine Monteiro(1);Helena Cantante(1)
(1) Hospital dos Lusíadas Lisboa Distúrbios hidroeletrolíticos (HE), como sejam os
Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas distúrbios do potássio, podem traduzir-se em alte-
rações da força muscular. A fraqueza generalizada,
a hiporreflexia e a paralisia muscular podem ser
Introdução: No doente com demência rapidamente sintomas de apresentação de hipocaliémia severa.
progressiva que pode desenvolver-se no período A investigação da causa subjacente na origem do
que vai até dois anos, embora mais frequentemente distúrbio HE torna-se fundamental, uma vez que im-
ocorra em semanas/meses, devem ser excluídas plica orientação e tratamento específicos.
um conjunto de causas potencialmente reversíveis
tais como hipercalcémia que se pode apresentar
com disfunção do sistema nervoso central de agra- Jovem de 33 anos, género feminino, raça melano-
vamento progressivo, podendo ocorrer em contexto dérmica, natural do Brasil, com antecedentes patoló-
de hiperparatiroidismo primário. gicos de Síndrome Sjogren, sem medicação crónica
atual. Recorre ao serviço de Urgência por fraqueza
generalizada com um dia de evolução. À avaliação
Caso Clínico: Homem, caucasiano, 81 anos, previa- inicial apresentava tetraparésia flácida de predo-
mente autónomo, que inicia quadro de insónia e al- mínio distal com hiporreflexia. Analiticamente com
teração comportamental com agitação psicomotora hipocaliémia grave (potássio sérico de 1.7 mmol/L),
noturna e heteroagressividade, que condicionam acidemia metabólica hiperclorémica (pH arterial de
perda progressiva de autonomia. Após avaliação 7.27), hipobicarbonatémia (HCO3- 11.5 mmol/L) e
médica em ambulatório e estudo complementar função renal com TFG > 60 mL/min/1.73m2. Ad-
foi colocada hipótese diagnóstica de síndrome mitida em unidade de cuidados intermédios para
parkinsónico e iniciada levidopa e carbidopa que tratamento com reposição endovenosa de potássio.
cumpriu sem melhoria. Por progressão do quadro Na investigação adicional com documentação de
com deterioração cognitiva, desorientação tem- pH urinário de 7.0 e nefrocalcinose medular bila-
poro-espacial e alterações da marcha recorre ao teral em ecografia renal, tendo sido estabelecido o
serviço de urgência. À avaliação inicial apresentava diagnóstico de acidose tubular renal tipo 1. Após

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 291


resolução dos sintomas, teve alta hospitalar medi- -histamínicos e corticoides sistémicos. Objetivou-se
cada com reposição oral de potássio e bicarbonato, progressiva regressão das lesões, com resolução
orientada para consulta de Medicina Interna, sem completa ao 21.º dia de doença.
recidiva sintomática até ao momento.
A clara relação temporal entre o início do tratamen-
Este caso descreve a apresentação clínica mais to com remdesivir e o desenvolvimento do exante-
grave e menos frequente de hipocaliémia. A hipo- ma urticariforme, bem como a melhoria do exante-
caliémia surge como principal manifestação de ma após a suspensão do mesmo levam a crer que
acidose tubular renal, um distúrbio renal primário o doente apresentou uma toxidermia secundária ao
raro e habitualmente assintomático, em muitos ca- Remdesivir. Tendo em conta a utilização de terapêu-
sos secundário a outra condição clínica subjacente. ticas emergentes no combate à COVID-19 torna-se
A severidade da apresentação clínica permitiu o pertinente a avaliação paralela da eficácia e do perfil
pronto diagnóstico e consequente tratamento, no de segurança dos medicamentos utilizados.
entanto o mais típico e frequente nestes casos é
precisamente uma apresentação mais silenciosa, e PA n.º 1898 
não tanto expressiva, o que pode dificultar e atrasar Bacteriemia a Salmonella Entérica em doente CO-
o diagnóstico definitivo, sendo necessário um olhar VID19
atento perante situações de hipocaliémia persisten- Alexandra Wahnon(1);Catarina Gonçalves(1);Diogo
te e por vezes refratária ao tratamento. de Sousa(1);Liliana Ribeiro(1);Ana Maria Balta-
zar(1);Ana Mafalda Abrantes(1);Ana Furão Rodri-
PA n.º 1894  gues(1);Ana Cardoso(1);Carolina Ramos(1);Laura
Toxidermia secundária ao Remdesivir Carvalho(1);Nuno Reis Carreira(1);Dúlio Pas-
Alexandra Wahnon(1);Diogo de Sousa(1);Cata- sos(1);Marisa Silva(1);António Pais Lacerda(1)
rina Gonçalves(1);Liliana Ribeiro(1);Ana Castro (1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi-
Barbosa(1);Ana Mafalda Abrantes(1);Ana Furão tal de Santa Maria
Rodrigues(1);Carolina Ramos(1);Ana Cardo-
so(1);Laura Carvalho(1);Nuno Reis Carreira(1);Dúlio Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
Passos(1);Marisa Silva(1);António Pais Lacerda(1)
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi- Introdução: A Salmonella, bactéria Gram-negativa, é
tal de Santa Maria um dos agentes patogénicos alimentares mais co-
muns, constituindo um problema de saúde pública. 
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas- São conhecidos 2 grandes grupos: Tifoides que são
culites patógenos humanos específicos - Typhi e Paratyphi
e não tifoides que são serotipos disseminados para
O remdesivir é um fármaco antiviral utilizado no os humanos a partir de fontes animais. As mani-
tratamento da COVID-19. Para além de hipotensão, festações clínicas variam desde a gastrenterite
bradicardia, delírio, hepatotoxicidade, erupções autolimitada, a doenças sistémicas com bacterié-
cutâneas foram também descritas como possíveis mia e meningite, sendo particularmente suscetíveis
efeitos secundários. A incidência de lesões cutâ- crianças, idosos e doentes imunocomprometidos. 
neas em doentes sob terapêutica com remdesivir
pode chegar até 8%, o que, dependendo da gravida- Caso clínico: Homem de 79 anos, com prótese aór-
de e extensão das lesões, poderá levar à interrupção tica biológica em contexto de estenose aórtica, dia-
do tratamento. betes mellitus 2 e dislipidémia. Admitido no serviço
de urgência por tosse, dispneia e dejeções diarreicas
Doente do sexo masculino, de 91 anos, sem antece- com 3 dias de evolução. Ao exame objetivo encon-
dentes pessoais relevantes. Admitido no serviço de trava-se febril (TT 39.1ºC), sem outras alterações.
urgência por febre e mialgias com três dias de evo- Laboratorialmente apresentava elevação dos parâ-
lução. Ao exame objetivo apresentava-se hipoxémi- metros inflamatórios e das transaminases. O RT-P-
co em ar ambiente e à auscultação pulmonar com CR em exsudado nasofaríngeo para SARS-CoV-2 foi
crepitações bibasais. Analiticamente com discreta positivo. A tomografia computorizada (TC)  torácica
elevação dos parâmetros inflamatórios. Foi efetuado mostrava infiltrados bilaterais e  enfisema centrilo-
exsudado nasofaríngeo para pesquisa para SARS- bular ligeiro. Durante o internamento desenvolveu
-CoV-2 com resultado positivo. A tomografia toráci- quadro de dor abdominal difusa mais intensa na fos-
ca  evidenciou extenso enfisema pulmonar e áreas sa ilíaca direita, com distensão abdominal, manten-
de densificação em vidro despolido em ambos os do as dejecções diarreicas sem sangue. A Angio-TC
campos pulmonares. Admitido pneumonia por SAR- abdomino-pélvica evidenciou apenas presença de
S-CoV-2 com insuficiência respiratória parcial ligeira. estenose moderada da artéria do tronco celíaco. Em
Ao 6º dia de doença COVID-19, foi iniciada terapêu- hemoculturas foi isolada Salmonella do grupo D, ten-
tica com remdesivir. Após a segunda toma, iniciou do iniciado ciprofloxacina, verificando-se resolução
quadro de exantema urticariforme exuberante, pruri- completa do quadro abdominal acompanhada de
ginoso, poupando apenas a face, sem acometimen- descida concomitante dos parâmetros inflamatórios. 
to da via aérea e com estabilidade hemodinâmica Discussão: A salmonelose representa uma entidade
mantida. Suspendeu-se de imediato a toma de rem- frequente, porém, muitas vezes subdiagnosticada.
desivir, iniciando terapêutica sintomática com anti- Trata-se do primeiro caso conhecido de bacteriémia

292
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
a Salmonella do grupo D em  coinfecção com SAR- ticas exuberantes, explicada pela coexistência de
S-CoV-2, alertando para a importância da investiga- duas patologias infecciosas, a pneumonia a Myco-
ção adicional em doentes com COVID-19 e predomí- plasma pneumoniae e a hepatite E. De ressalvar que
nio de sintomas gastrintestinais. Este caso destaca não está descrita a ocorrência de hepatite colestáti-
a importância da suspeição clínica no diagnóstico ca nas infeções por Mycoplasma, pelo que esta foi
precoce; a necessidade de antibioterapia adequada, admitida em contexto de infeção a VHE.
conhecido um perfil de resistências da bactéria, e por
fim a raridade da coinfecção com SARS-CoV-2.  PA n.º 1900 
Utilização de cateter pleuracan no hidrotórax com
PA n.º 1899  contra-indicações para terapêutica diurética
PNEUMONIA ATÍPICA, HEPATITE COLESTÁTICA E Maria Isabel Tarrio Ferreira(1);Marta Andrade Morei-
LESÃO RENAL AGUDA: UM CASO DE DUAS INFE- ra(1);Patrícia Tinoco Araújo(1);Richard Azevedo(1);-
ÇÕES CONCOMITANTES Duarte Lages Silva(1);António Ferreira(1);Emília
Mafalda Vasconcelos(1);Patrícia Moreira(1);Árcia Guerreiro(1);Carmélia Rodrigues(1);Diana Guerra(1)
Chipepo(1);Rui Valente(1);Célia Machado(1);José (1) Unidade Local de Saúde do Alto Minho, EPE /
Lomelino Araújo(1) Hospital de Santa Luzia
(1) Hospital Beatriz Ângelo
Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá-
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias ticas

A hepatite E é uma causa comum mas pouco diag- O hidrotórax hepático resulta da acumulação de
nosticada de hepatite viral aguda. O Mycoplasma transudado na cavidade pleural, em doentes com
pneumoniae é um agente frequente de pneumonia cirrose descompensada, na ausência de outra cau-
atípica. sa. Os diuréticos são o tratamento de primeira linha,
sendo a toracocentese indicada se refratariedade
Homem de 58 anos, etilismo e tabagismo ativos, ou para alívio sintomático. Apesar de frequentemen-
sem exposição medicamentosa ou ambiental conhe- te serem necessárias várias drenagens, a inserção
cida. Recorreu ao Serviço de Urgência por sensação de cateter permanente é desencorajada pelo risco
febril com mialgias e astenia, náuseas, coloração de pneumotórax, infeção, hemorragia e disfunção
amarelada da pele e toracalgia esquerda com 3 dias circulatória por hipoalbuminemia.
de evolução. Apresentava-se consciente, hemodi-
namicamente estável, eupneico, com roncos à aus- Descrevem-se dois casos de doentes com cirrose
cultação pulmonar. Analiticamente com leucocitose hepática alcoólica e hidrotórax, em que se inseriu um
e neutrofilia, proteína C reativa aumentada (13 mg/ cateter pleuracan, guiado por ecografia:
dL), trombocitopenia (58000/mm3), aumento dos
parâmetros de retenção azotada (creatinina sérica - mulher, 55 anos, com cirrose hepática CHILD-Pugh
(pCreat) 7 mg/dL, ureia 301 mg/dL, sem valores pré- C e MELD 17, com ascite de grande volume e hidrotó-
vios), hiperbilirrubinemia conjugada (bilirrubina total rax a condicionar insuficiência respiratória (IR) tipo 2,
(BT) 19 mg/dL, bilirrubina conjugada 13 mg/dL) e sob diurético. Analiticamente, com lesão renal aguda
citocolestase (aspartato aminotransferase 50 UI/L, (LRA) – creatinina 2.6 mg/dL - e realizou toracocen-
alanina aminotransferase 52 UI/L, fosfatase alcalina tese evacuadora, que não revelou sinais de sobrein-
170 UI/L, gama-glutamil transferase 37 UI/L). Urina feção. Dada a LRA optou-se pela suspensão de diu-
II com bilirrubinúria, hematúria e leucocitúria. Tomo- rético e colocação de pleuracan, com drenagem em
grafia computorizada toraco-abdomino-pélvica com dias alternados, com melhoria clínica progressiva e
nódulos pulmonares centrilobulares com zonas de resolução de hidrotórax, sem evidência de recidiva
cavitação central, sugestivos de pneumonia atípica. em reavaliação em consulta.
Realizou uma sessão de hemodiálise, com descida
da pCreat para 2 mg/dL, e cumpriu 7 dias de anti- - homem, 50 anos, com cirrose hepática CHILD-Pu-
bioterapia empírica com ceftriaxone e azitromicina, gh C e MELD 17, internado por hemorragia varicosa,
com descida da BT para 6 mg/dL. Hemoculturas ne- ascite e hidrotórax de grande volume com IR tipo 1,
gativas. Broncofibroscopia com sinais inflamatórios complicada por Pneumonia COVID-19 grave. Efetua-
e secreções mucopurulentas, sem isolamentos mi- da paracentese e toracocenteses e inicialmente com
crobiológicos no lavado bronco-alveolar. Anticorpos boa resposta a terapêutica diurética. Como compli-
IgM anti-vírus da Hepatite E (VHE) e IgM anti-Myco- cação de diuréticos em alta dose, apresentou hipo-
plasma pneumoniae positivos. Serologia e antigenú- natremia de 124 mEq/L, sintomática, com necessi-
ria de Leptospira negativas, serologias das hepatites dade de correção com fluidoterapia, pelo que refez
A, B e C, vírus Epstein–Barr, citomegalovírus, parvo- o derrame pleural. Nesta fase optou-se pela coloca-
vírus B19 e Salmonella negativas. Doseamento de ção de pleuracan, apresentando o doente apresentou
RNA de VHE no sangue e fezes em curso. Admitiu-se boa evolução clínica, analítica e imagiológica. Após
pneumonia atípica a Mycoplasma pneumoniae e he- a alta de internamento, foi necessário fazer toraco-
patite colestática por VHE, com provável agudização centeses bimensais em regime de ambulatório até
de doença renal crónica prévia. ser possível reintroduzir terapêutica diurética.

Destaca-se uma constelação de alterações analí- A drenagem por pleuracan consistiu numa alternati-
va segura à toracocentese repetida, em doentes com
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 293
hidrotórax e contra-indicação para diuréticos. Nos disease control without significant adverse effects.
casos supracitados foram drenados até 2L a cada Although there is a suggestion between the link with
2/3 dias, com diferencial de células e microbiologia autoimmunity and PN, also observed in our patients,
do líquido e reposição de albumina, não tendo sido there is a need for further investigation.
observadas complicações do procedimento.
PA n.º 1913 
PA n.º 1902  Quando a recidiva tumoral é difícil de engolir
Dupilumab: a safe treatment option in refractory Catarina Negrão(1);Maria Picciochi(1);Margarida
prurigo nodularis Monteiro(1);Rita Sismeiro(1);João Figueira(1);Maria-
Ivone Melo Valadão(1);Inês Cunha(2);Maria Gua- na Cardoso(1);Marta Jonet(1);Mafalda Soares(1);-
dalupe Benites(1);Eva Gomes(2);António Marinho(2) Fernando Aldomiro(1)
(1) Hospital de Santo Espírito da Ilha Terceira (2) (1) Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca
Hospital Santo Antonio
Tema: Doenças oncológicas
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
culites Introdução: A acalásia é uma entidade rara, com
incidência estimada de 1.6 para 100 mil pessoas,
Prurigo nodularis (PN) is a chronic skin disease caracterizada por disfagia para sólidos e líquidos.
characterized by multiple pruriginous firm nodules Pode ser um distúrbio primário ou secundário a
and papules predominantly located on the extensor múltiplas patologias, nomeadamente a doenças
surface of limbs. The exact cause is unknown, but neoplásicas, seja por infiltração ou como manifesta-
some studies have suggested that a Th2 immune ção paraneoplásica. Quando associada a neoplasia,
phenotype (interleukin IL-4 and IL-13) together with é ainda mais rara (1,5% do total de acalásias descri-
hyperstimulation of itch neural pathways and dys- tas). 
regulation of itch-scratch cycle play an important
role in the pathogenesis. The available treatments Caso clínico: Mulher de 70 anos, com neoplasia da
for PN have limited efficacy or severe side effects, mama há 16 anos, submetida a tumorectomia, ra-
so there is a need for novel therapeutic strategies. dioterapia e hormonoterapia, em remissão comple-
We described 2 clinical cases of patients with PN ta, é admitida numa enfermaria de Medicina Interna
that started treatment with Dupilumab, after failed para investigação de quadro consumptivo caracteri-
conventional recommended therapy, with an import- zado por perda ponderal significativa, náuseas, pi-
ant clinical improvement. rose e disfagia orofaríngea. Realizou: TC-corpo sem
alterações relevantes, mamografia com alterações
benignas (BiRADs-2), endoscopia com gastrite H.
Clinical case 1: 51-year-old woman presented with pylori e colonoscopia normal. Iniciou procinéticos e
generalized intense cutaneous pruritus and multiple teve alta melhorada. Após a alta realizou cintigrafia
nodular brownish cutaneous lesions since 30 years óssea sem alterações e manometria esofágica que
old, suggestive of PN. The analytical study revealed mostrou alterações graves da motilidade esofágica
positive antinuclear antibodies (ANA) in the titer sugestivas de acalásia, pelo que foi submetida a
1/640. The skin biopsy revealed chronic lymphocytic dilatação com franca melhoria inicial. Reavaliada
dermatitis. Multiple therapeutic options were tried aos 6 meses mantinha emagrecimento e queixas
over the years but were unsuccessful, so the off-la- sugestivas de recidiva da acalásia, repetiu TC corpo
bel use of Dupilumab was proposed. After 9 months’ que revelou espessamento nodular da pleura visce-
treatment the patient reported no pruritus and there ral, derrame pleural esquerdo, nódulos pulmonares
weren’t PN active lesions. múltiplos dispersos, sugestivos de secundarismo e
Clinical case 2: 50-year-old woman was observed volumosa adenopatia mediastínica. A ecoendosco-
for arthralgia and generalized cutaneous pruritus pia brônquica com biópsias revelou carcinoma de
associated with brownish nodular lesions since 35 provável origem mamária. Por disfonia e disfagia
years old, suggestive of PN. The analytical study orofaríngea realizou e nasofibroscopia que mostrou
revealed positivity for HLAB27 and skin biopsy re- parésia bilateral das cordas vocais, admitida em
vealed chronic lymphocytic dermatitis. Over the provável contexto paraneoplásico. Foi referenciada
years, she tried several treatments without signif- à consulta de Oncologia para início de tratamento.
icant improvement. Moreover, she suffered from
severe side effects with systemic corticosteroids Conclusão: As manifestações paraneoplásicas po-
(bone fractures); cyclosporine (hypertrichosis and dem surgir antes da própria recidiva tumoral, sendo
fatigue) and thalidomide (symptomatic bradycar- essencial manter crítica para possibilitar o diagnós-
dia). After 9 months of treatment with Dupilumab a tico o mais precoce possível. Perante uma acalásia
significant improvement in pruritus and cutaneous pretensamente primária com pouca resposta à te-
lesions was noticed without therapeutic side ef- rapêutica dirigida e quadro consumptivo associado,
fects.  em doente com história de neoplasia, deve manter-
-se alto grau de suspeição diagnóstica. 
In PN most of the available treatment options have
low efficacy. The off label use of Dupilumab in our PA n.º 1938 
patients was beneficial showing promising results in Profissionais de saúde e acidentes com produtos

294
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
biológicos mente vacinado, e 6.17% (n=14) não estava imune
Pedro S. Nunes(1);Henrique Carvalho(2);Rita Viei- e não tinha recebido qualquer dose de vacina para
ra(1);Rafael Nascimento(1);Brenda Soares Nu- VHB. Foi feita PPE em 3.08% dos casos (n=7), dos
nes(1);Débora Sá(2);Carolina Carvalhinha(1);Rui quais 5 casos para HIV, 1 caso para sífilis, e 2 casos
Silva(2) para VHB. Todos os casos tiveram evolução clínica
(1) CH FUNCHAL - MARMELEIROS (2) Hospital Dr. sem intercorrências com 0.00% de seroconversão.
Nélio Mendonça
Conclusões: salienta-se o facto de quase metade
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias dos PS não estarem a utilizar o EPI adequado, evi-
denciando uma pobre noção do risco associado, ten-
Introdução: os profissionais de saúde (PS), consi- do sido os PS com menos anos de serviço aqueles
derando a natureza das suas atividades, são um que foram mais afetados. Não parece existir uma
grupo exposto com frequência a agentes pato- relação entre uma maior duração do turno e maior
génicos transmissíveis pelo sangue, assim como número de acidentes, o que poderá ser explicado por
outros fluidos e secreções biológicas. Os agentes uma gestão dos serviços adequada neste Hospital,
patogénicos mais habitualmente implicados em aci- carecendo, no entanto, de posteriores estudos. O
dentes com produtos biológicos em PS são o vírus controlo da imunidade ao VHB em PS é fundamental
da hepatite B (VHB), o vírus da hepatite C (VHC) e o para evitar potenciais infeções como as verificadas,
vírus da imunodeficiência humana (VIH 1 e 2). Uma e necessidade de PPE. Os dados obtidos colocam
exposição por via percutânea ou por contacto de em destaque a importância da formação e treino em
mucosa/pele não intacta do PS, constitui uma pos- relação às técnicas realizadas, dando principal enfo-
sível fonte de risco de transmissão da doença. Este que à prevenção primária.
tipo de acidentes são muitas vezes origem de um PA n.º 1947 
período de elevada angústia e ansiedade por vários Avaliação da utilização de carbapenemos num ser-
meses, até se ter a certeza que não houve transmis- viço de medicina.
são de doença. Ana Rodrigues(1);Daniela Antunes(1);Bruno Cabrei-
ro(1);Tiago Pais(1);Carolina Fernandes(1);Claudia
Objetivo: caracterizar e identificar os fatores de risco Diogo(1);Ana Catarina Domingues(1);Anton Va-
e as circunstâncias dos acidentes de modo a poder sin(1);Maria Jesus Banza(1)
preveni-los nos seus diferentes domínios. (1) Centro Hospitalar de Leiria / Hospital de Santo
André
Material e métodos: estudo retrospetivo observacio-
nal descritivo com dados obtidos através da consul- Tema: Outro
ta dos processos clínicos e participações de aciden-
tes de trabalho dos PS envolvidos em acidentes com Introdução: Os carbapenemos são um grupo de
produtos biológicos, entre os anos de 2016 e 2020. antibióticos de largo espectro, que, por este motivo
As variáveis estudadas foram o número total de aci- devem ter uma prescrição criteriosa, preferencial-
dentes, idade, sexo, categoria profissional, anos de mente dirigida, assente em resultados de antibiogra-
serviço, duração do turno de trabalho, tipo de aciden- mas para que seja feita uma utilização racional dos
te, agente causador, utilização de EPI, imunidade ao mesmos. A utilização irracional deste grupo de an-
VHB, necessidade de profilaxia pós-exposição (PPE) tibióticos origina a emergência de resistências que
e evolução clínica. A recolha de dados e o seu tra- constitui um grave problema de saúde pública.
tamento estatístico foi efetuado com recurso ao Mi-
crosoft Excel.
Objectivo: Este estudo tem como objectivo fazer
Resultados: no período delineado para o estudo fo- uma avaliação da prescrição médica de carbapene-
ram verificados 227 acidentes com produtos bioló- mos num serviço de medicina com vista a optimizar
gicos, nos quais 14.10% eram PS do sexo masculi- a racionalização da sua utilização.
no (n=32) e 85.90% do sexo feminino (n=195), com
a maioria das idades compreendidas entre 21 e 30 Método e Dados recolhidos: Estudo retrospectivo da
anos (30.81%; n=65). A categoria profissional mais utilização de carbapenemos (Meropenem), no servi-
afetada foi a de enfermeiro com 63.88% (n=145). O ço de medicina de janeiro a novembro de 2020, por
grupo mais frequentemente envolvido tinha entre consulta do processo clínico do doente. Análise dos
0-10 anos de serviço (70.93%; n=161), sendo seguido resultados. Foram recolhidos dados de: número (nº)
por ordem crescente de tempo de serviço. No que diz de prescrições, nº de doentes tratados, idade média
respeito à duração do turno verificou-se que a maioria do doente, tipo de infecção, tipo de antibioterapia,
dos acidentes ocorreu entre as 0-4 horas com 63.39% existência de antibioterapia prévia, % de prescri-
(n=142) e entre as 5-8 horas com 33.93% (n=76). A ções com ajuste á função renal, dose média/toma,
maioria dos acidentes envolveu picada (85.46%; n= nº dias médio de tratamento (NMDT), % amostras
194) e o objeto mais frequentemente envolvido foi a biológicas colhidas para estudo (Hemoculturas,
agulha (81.50%; n=185). Nos 227 acidentes, 50.66% urocultura, exame bacteriológico da expetoração),
utilizava EPI adequado. No que toca à imunidade microorganismos identificados, existência de co-in-
ao VHB, 81.5% estavam imunes (n=185), sendo que fecção e existência de dispositivos invasivos (sonda
12.33% (n=28) não estava imune, tendo sido previa- vesical, cateter venoso central,…).

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 295


Resultados: 99 prescrições de 82 doentes, ida- condicionar isquemia crónica do membro inferior es-
de média 79,9 anos. Infecções do tracto urinário querdo (MIE) grau III, tinha sido submetida 3 meses
(31,3%) e infeções respiratórias nosocomiais antes a colocação de stent na artéria femoral super-
(14.1%) foram as mais frequentes, 32,1% das pres- ficial (AFS), duplamente antiagregada desde então.
crições foram empíricas, sendo que 48,1% destas Recorre ao Serviço de Urgência (SU) por novo quadro
foram consequência de falência antibiótica prévia. de isquemia aguda do MIE, consequente a oclusão
Em 32.3% das prescrições foi feito ajuste á função do stent da AFS, confirmada por ecodoppler do MIE.
renal dos doentes com dose média de 920g/toma, Foi revascularizada, com realização de bypass femo-
NMDT= 8.1 dias. Em 81,8% dos casos foram colhi- ropopliteo supra genicular, e tanto a cirurgia como o
das uroculturas, 51,5% hemoculturas e 41.4% exame pós-operatório decorreram sem intercorrências. Para
bacteriológico da expetoração. Em apenas 3% dos esclarecimento da recorrência da trombose femoral
casos não foi feita qualquer colheita para estudo. O superficial, foi realizado estudo de SAAF, trombofi-
principal microorganismo identificado foi Klebsiella lias, autoimunidade e serologias virais, todos nega-
pneumoniae Multiresistente, em 42,6% dos casos; tivos.  Deste estudo, a serologia para pesquisa de T.
Em apenas um dos casos o doente estava co-infeta- pallidum foi positiva, com VDRL reativo e TPHA com
do tendo cumprido antibioterapia empírica para um títulos de 1/1280. Perante serologia reativa em doen-
dos agentes e dirigida ao outro agente. Em 24,2% te assintomática com infecção de duração incerta,
dos casos os doentes tinham sido submetidos a foi assumido o diagnóstico de sífilis latente tardia.
algaliação por sonda vesical e destes 50% eram al- Por se tratar de uma doente seronegativa para VIH
galiados de forma crónica e 12,5% tinham concomi- sem qualquer sintoma neurológico, não tinha indica-
tantemente cateter venoso central. ção formal para realização de punção lombar.
Conclusões: Este estudo permitiu-nos concluir que Ainda em internamento fez a 1ª toma de penicilina
uma percentagem bastante significativa dos doen- benzatínica 2.400.000 UI, com mais 2 tomas sema-
tes tinham sido sujeitos a atos médicos invasivos o nais em ambulatório.
que facilita o desenvolvimento de infecções a agen-
tes multirresistentes e obriga ao recurso a antibióti- Em consulta de reavaliação após terminar terapêuti-
cos de reserva no combate a esse tipo de infeções. ca, concluiu-se que este foi eficaz, com VDRL fraca-
Na generalidade dos casos é notório um cuidado mente reativo.
acrescido nos critérios usados para a prescrição
do Meropenem, bem como na duração dos ciclos Discussão:
de antibioterapia o que indica que há já uma grande
A sífilis tardia (ou terciária) tem manifestações mul-
sensibilização para a problemática do desenvol-
tissistémicas amplamente descritas, sendo a mais
vimento de resistências. Ainda assim existe uma
frequentemente referida a do sistema nervoso cen-
percentagem significativa de prescrições empíricas,
tral - neurossífilis. Este caso clínico pretende apre-
o que nos indica que há ainda trabalho a fazer para
sentar mais uma possível manifestação vascular
racionalizar o uso deste antibiótico.
desta doença, não previamente descrita.
PA n.º 1952 
PA n.º 1963 
Sífilis como causa de trombose femoral superficial
Hipertensão Arterial secundária e resistente: predi-
recorrente em doente duplamente antiagregada
tora de hospitalização por complicação vascular
Sofia Romão(1);José Vicente Rocha(1);Mariana Sil-
Mariana Bilreiro(1);Luís Correia(1);Helena
va de Sousa(1);Tiago Sepúlveda Santos(1)
Luís(1);Mariana Gomes(1);Ana Sofia Silva(1);Maria
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi-
da Luz Brazão(1);Rafael Freitas(1)
tal de Santa Maria
(1) Hospital Dr. Nélio Mendonça
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
Tema: Doenças cardiovasculares

Introdução:
Introdução: A hospitalização por evento vascular
(HEV) pode ser uma complicação do curso da hiper-
A sífilis é uma infecção sexualmente transmitida cau- tensão arterial (HTA). A dificuldade no controlo da
sada por Treponema pallidum. É normalmente carac- HTA pode acarretar exposição mais prolongada e/
terizada por 3 fases clínicas sintomáticas, separa- ou intensa aos seus fenómenos lesivos a nível dos
das por períodos de infecção assintomática/latente territórios vasculares terminais, sendo caraterístico
(esta última pode ainda ser classificada como preco- da HTA resistente e de algumas formas de HTA se-
ce ou tardia, dependendo da sua duração ser inferior cundária.
ou superior a 1 ano, respectivamente). É conhecida
como “a grande imitadora” por ter múltiplas manifes-
Objetivo: Estudar a associação entre a HTA secun-
tações capazes de mimetizar outras comorbilidades,
dária ou resistente e a ocorrência de HEV até aos 65
uma vez que pode afetar diversos sistemas.
anos.
Caso clínico:
Material e Métodos: Estudámos os doentes seguidos
Apresenta-se o caso de uma doente de 48 anos com numa consulta especializada em HTA. Selecionámos
antecedentes de doença arterial periférica que, por aqueles com HEV ocorrida entre 1 de janeiro de 2011

296
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
e 31 de dezembro de 2020. Através da consulta do Homem de 73 anos com antecedentes de Diabetes
processo clínico eletrónico, extraímos retrospetiva- Mellitus tipo 2 e HTA, referenciado à consulta de
mente dados relativo à demografia, comorbilidades Medicina por, 2meses, de tumoração torácica, a ní-
com impacto no risco vascular, caraterísticas da HTA vel da porção anteroinferior da grelha costal direita,
e da HEV. Utilizámos média e desvio-padrão (DP) dolorosa e com supuração de exsudado seroso nos
para descrever as variáveis quantitativas e frequên- últimos dias. Sem trauma. Tinha feito amoxicilina+
cias absoluta e relativa para as qualitativas. As dis- ácido clavulânico com estabilidade das dimensões
tribuições das variáveis entre os doentes com HTA da lesão.
secundária ou resistente e os doentes com HTA sem
estas caraterísticas foram comparadas através do Na consulta, realizou ecografia de partes moles que
teste t (para as variáveis quantitativas) e X2 (para as mostrou formação alongada de limites mal defini-
qualitativas). Desenvolvemos um modelo de regres- dos, hipoécoide e com focos punctiformes ecogéni-
são logística para estudar a associação dos fatores cos, vascularização central, que se estende desde a
concorrentes com a ocorrência de HEV antes dos 65 pele até à cartilagem costal, causando erosão desta.
anos. Os resultados cujo valor de p fosse inferior a Prosseguiu-se com TC-TAP que confirmou a forma-
0,050 foram assumidos como estatisticamente sig- ção expansiva com densidade de tecidos moles com
nificativos. Os dados foram analisados através do 89x46x70mm, limites mal definidos, desde a pele até
IBM SPSS versão 19. à cartilagem do 7º arco costal direito com espessa-
mento dos músculos costais adjacentes. Avançou-
Resultados: Quarenta e três doentes cumpriam os -se para biópsia da lesão cuja histologia mostrou
critérios mencionados. Predominou o sexo masculi- tecido conjuntivo fibroso com infiltrado inflamatório
no com 26 casos (60,5%). Salientamos 41 casos de polimorfo, sem células neoplásicas, e a cultura iden-
dislipidemia (93,0%), 24 casos de doença renal cróni- tificou Pseudomonas aeruginosa e Staphilococcus
ca (55,8%), 21 casos de diabetes mellitus (48,8%) e epidermitis e foi negativo para micobactérias. Pe-
12 de tabagismo (27,9%). A primeira HEV ocorreu em rante o diagnóstico de abcesso primário da parede
média aos 62,7 anos (DP 12,9). Em 24 casos (55,8%), torácica, instituiu-se antibioterapia dirigida com reso-
esta ocorreu antes dos 65 anos. Os territórios vascu- lução progressiva da dor, exsudado e da tumoração.
lares afetados foram: cerebral em 26 casos (60,4%), Reavaliação por TC torácica mostrou apenas ligeira
coronário em 14 casos (32,6%) e outro em 3 casos densificação dos tecidos moles a nível do 7ª arco
(7,0%). Identificámos 14 casos de HTA resistente ou costal anterior. Vigilância em consulta sem eviden-
secundária (32,6%). Uma primeira HEV antes dos 65 cia de recidiva.
anos foi mais frequente neste grupo do que no dos
doentes sem HTA resistente ou secundária (78,6% Discussão
versus 44,8%; p = 0,037). HTA resistente ou secun-
dária revelou-se um fator independente para a ocor- Salienta-se o caso pela raridade dos abcessos pri-
rência de HEV antes dos 65 anos (odds ratio 14,1; p mários da parede torácica, que após consulta da
= 0,010). literatura, são extremamente raros e surgem habi-
tualmente no contexto de disseminação hematogé-
Conclusões: Entre os doentes seguidos numa con- nea de micobactérias.
sulta de HTA, os casos de HTA resistente ou se-
cundária estiveram associados a HEV antes dos 65 PA n.º 1973 
anos. A articulação esternoclavicular pode queixar-se…
Rui Soares Correia(1);David Pereira(1);Marlene Del-
PA n.º 1972  gado(1);Ana Lemos(1)
Abcesso primário da parede torácica (1) Centro Hospitalar Tondela-Viseu, EPE / Hospital
Rui Soares Correia(1);José Pedro Fonseca(1);Marle- de São Teotónio, EPE
ne Delgado(1);Ana Lemos(1)
(1) Centro Hospitalar Tondela-Viseu, EPE / Hospital Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
de São Teotónio, EPE
Introdução
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
A artrite sética esternoclavicular esquerda (ASECE)
Introdução é rara. Geralmente decorre de bacteriémia mas, a
inoculação direta de microrganismos e a dissemina-
Os abcessos da parede torácica primários, decor- ção por contiguidade são outras causas possíveis.
rentes da disseminação hematogénica de microor- O S. aureus é o principal agente responsável pela
ganismos são raros, sendo mais frequentes os se- artrite sética. O tratamento é antibioterapia dirigida
cundários, decorrentes de uma infeção contigua sendo por vezes necessária a drenagem cirúrgica.
pulmonar/pleural ou associados a neoplasias toráci-
cas ou ao trauma. A clínica varia desde uma simples Caso Clínico:
infeção de tecidos moles até osteomielite condral. O
Homem de 47 anos, saudável. Veio ao SU por
tratamento é antibioterapia nos doentes imunocom-
dor supraclavicular esquerda irradiando até ao
petentes.
manúbrio esternal, associada a febre e impotência
Caso clínico funcional do ombro esquerdo com 2 dias. Sem trau-

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 297


matismo. Ao exame físico: febre e edema cervico- retropulsão e marcha apenas possível com apoio
lateral esquerdo até ao manúbrio, doloroso à palpa- bilateral de pequenos passos e com decomposição
ção e à mobilização do ombro esquerdo. Os exames das voltas. A avaliação analítica mostrou valores
no SU mostraram elevação dos marcadores de infla- séricos de fenitoína supraterapêuticos (36 ug/mL) e
mação e edema do esternocleidomastoideu esquer- a TC-CE hemorragia subaracnóideia frontal e parie-
do e adenopatias jugulo-carotídeas e supraclavicu- tal direita, já conhecida e em reabsorção. Admitido
lares na ecografia cervical. Em internamento iniciou em internamento, substituiu-se a fenitoína por le-
amoxicilina e ácido clavulânico mantendo edema vetiracetam.  E realizou estudo com análises (me-
e surgindo eritema e calor na região supracitada. tabolismo fósforo-cálcio, amónia, função tiroideia,
Prosseguiu o estudo com: Análises – marcadores ácido fólico e vitamina B12, cinética do ferro e cobre
de inflamação em crescendo, ADA,  eletroforese das normais bem como serologias várias negativas),
proteínas séricas, imunoglobulinas e cadeias leves AngioTC cerebral (sem outras alterações além das
séricas normais, serologias nomeadamente Brucela descritas na TC CE), RM cerebral (leucoencefalopa-
e HIV negativos; Hemoculturas - amicrobianas; Eco- tia isquémica, pequena lesão frontobasal esquerda
cardiograma - sem vegetações; TC-cervico-torácica sequela de contusão) e EEG (ligeira lentificação do
– espessamento difusos e infiltração edematosa ritmo de base a indicar disfunção cerebral difusa
dos grupos musculares do terço inferior do pescoço mas sem atividade epileptogénica). Após redução
e do  grande peitoral medial e esternocleidomastoi- dos níveis séricos de fenitoína, houve resolução pro-
deu esquerdos, envolvendo a articulação esterno- gressiva e total dos sinais neurológicos.
clavicular esquerda, com extensão pré-traqueal e
retrosternal,  sugerindo ASECE. Avaliado por Ortope- Conclusão
dia que solicitou RM do ombro esquerdo, que confir-
mou a suspeita de ASECE. Ajustou-se antibioterapia A iatrogenia é uma importante causa de morbimor-
para vancomicina e ceftazidima, com resolução pro- talidade. Neste caso, a identificação da iatrogenia
gressiva da febre e dos sinais inflamatórios locais como a causa do quadro clínico permitiu eliminar
bem como recuperação da funcionalidade do ombro os efeitos laterais incapacitantes provocados pela
esquerdo. sobredosagem de fenitoína.

Discussão: PA n.º 1985 


Manifestações gastrointestinais e hepáticas em
A artrite sética esternoclavicular é rara e este caso doentes COVID-19: estudo retrospectivo
destaca-se ainda pela ausência de identificação da Luís Miguel Relvas(1);Catarina Jorge(1);Rita Afon-
sua etiologia. so(1);Pedro Campelo(1);Tânia Gago(1)
(1) Centro Hospitalar do Algarve, EPE / Hospital de
PA n.º 1976  Faro
Um caso de iatrogenia…
Rui Soares Correia(1);Telma Santos(1);João Tava- Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá-
res(1);Marlene Delgado(1);Ana Lemos(1) ticas
(1) Centro Hospitalar Tondela-Viseu, EPE / Hospital
de São Teotónio, EPE Introdução: A Febre e os sintomas respiratórios re-
presentam as manifestações mais sérias e comuns
Tema: Outro da infecção por SARS-COV-2. Contudo, é também
frequente a afetação do trato gastrointestinal, evi-
Introdução: denciando-se sintomas gastrointestinais (GI) e en-
volvimento hepático entre os doentes COVID-19.
A fenitoína é um anticonvulsivante que inibe os
canais de cálcio presentes no tecido nervoso. Tem OBJECTIVO: O principal objectivo deste estudo foi
elevada ligação à albumina e o seu metabolismo é avaliar a prevalência de sintomas GI e elevação de
dependente do citocromo p450. A toxicidade a este enzimas hepáticas em doentes com  infeção por
fármaco, apesar de raramente fatal, dá sintomas SARS-CoV-2. O objectivo secundário foi determinar a
neurológicos que variam desde a ataxia da marcha associação dos sintomas GI com a mortalidade e os
até ao coma. principais outcomes clínicos.  
Caso clínico: MATERIAL E MÉTODOS: Realizámos Estudo obser-
vacional e retrospectivo, tendo sido incluídos todos
Homem de 84 anos com antecedentes de osteoar- os doentes COVID-19 (n=118) hospitalizados entre
trose. Seguimento por Neurocirurgia por hemorra- Dezembro 2020 e Fevereiro 2021 numa enfermaria
gias subaracnoideias espontâneas, tendo iniciado COVID de um Centro Hospitalar. Foram analisados
cerca de mês e meio antes, terapêutica com fenitoí- os processos médicos e recolhida informação so-
na, por crises focais do membro superior esquerdo. bre dados demográficos, apresentação de sintomas,
Quadro progressivo com um mês, de desequilíbrio comorbilidades, dados laboratoriais e principais ou-
na marcha, confusão e cefaleia frontal. O exame tcomes (necessidade de admissão em unidade de
neurológico mostrou dismetria na prova joelho-cal- cuidados intensivos (UCI), ventilação mecânica e
canhar bilateral, tremor de intenção rítmico bilateral, mortalidade). Procedeu-se à análise da prevalência
estância de pé impossível sem ajuda por desvio em de sintomas GI à admissão em doentes hospitali-
298
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
zados com COVID-19. Posteriormente, analisámos a raros episódios de vómitos alimentares. Realiza
a associação entre sintomas GI e outras manifes- endoscopia digestiva alta, que evidencia gastrite
tações clínicas, resultados laboratoriais e curso da crónica, metaplasia intestinal focal, e presença
doença. de Helicobacter pylori (Hp). Por sua vez, a biópsia
gástrica deteta granulomas epitelioides não necro-
RESULTADOS: Dos 118 doentes incluídos neste santes, não caseosos, por vezes confluentes. Após
estudo, 52% reportaram pelo menos 1 sintoma GI erradicação de Hp, refere apenas melhoria ligeira da
à admissão, mais comummente, perda de apetite sintomatologia, tendo sido referenciada para con-
(28%), diarreia (25.4%) e náuseas ou vómitos (11%). sulta de Medicina Interna. Em avaliação em conjun-
Os sintomas GI foram a queixa predominante em to de Medicina interna e de Pneumologia, conclui-se
14% dos doentes. Embora não se tenha encontra- que doente apresenta sarcoidose com envolvimento
do significância estatística nas várias comparações torácico e gástrico, com indicação para manter pro-
realizadas, doentes com sintomas GI reportaram tetor gástrico.
maiores taxas de astenia/fadiga (53.4% vs 46.6%),
mialgia (51.4% vs 48.6%), anosmia (58.3% vs 41.7%) Discussão
e ageusia (52.4% vs 47.6%). Em 40.7% dos doentes
observou-se uma elevação das transaminases no Pela sintomatologia da sarcoidose gástrica mime-
momento da admissão, não se encontrando diferen- tizar outras doenças, o seu diagnóstico por vezes é
ças significativas entre doentes com sintomas GI e um desafio. No caso relatado, a doente apresenta
doentes sem sintomas GI. Dos doentes com sinto- clínica, exame endoscópico e biópsia compatíveis
mas GI, 23.1% doentes necessitaram de ingresso em com diagnóstico de sarcoidose com envolvimen-
UCI e 11.5% de ventilação mecânica. Durante o in- to gástrico. O tratamento preferencial consiste na
ternamento morreram 27 doentes, dos quais 28.8% corticoterapia, bem como o uso de inibidores das
tinham sintomas GI à admissão. Não se verificaram bombas de protões e metoclopramida. Estes doen-
diferenças entre doentes com ou sem sintomas GI tes devem manter monitorização da evolução da
relativamente a admissão em UCI, necessidade de doença, com indicação de repetir a endoscopia re-
ventilação mecânica e mortalidade. gularmente.

CONCLUSÕES: Os sintomas GI são comuns em doen- PA n.º 2038 


tes COVID-19, sendo os nossos dados semelhantes Défice de vitamina D – Uma causa rara de acidose
aos estudos publicados até à data. Os doentes com tubular renal proximal
sintomas GI reportam mais fadiga, mialgia, anosmia Ana Luísa Campos(1);David Paiva(1);Maria Luís San-
e ageusia. A nossa análise mostrou que a presença tos(1);Filipa Gonçalves(2);Ana Luísa Leite(1);Sandra
de sintomas GI não parece afectar a mortalidade ou Barbosa(1);Jorge Cotter(1)
admissão em UCI. (1) Hospital Senhora da Oliveira, Guimarães (2) Cen-
tro Hospitalar do Alto Ave, EPE / Hospital de Guima-
PA n.º 2019  rães
Será apenas gastrite?
Micaela Sousa(1);Rita Diz(1);Pedro Simões(1);San- Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio-
dra Raquel Sousa(1);Filipa Alves Rodrigues(1);An- nais
dreia Diegues(1);Helena Maurício(1);Miriam Blan-
co(1) A associação do défice de vitamina D com a acido-
(1) Unidade Local de Saúde do Nordeste se tubular renal tipo 2 (ATR2) é rara. Pensar nesta
etiologia pode evitar graves distúrbios ácido-base
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas- (AB) e electrolíticos, associados a elevada morbi-
culites mortalidade, sobretudo na população idosa com
elevada prevalência de défice de vitamina D.
Introdução:
Mulher de 82 anos, internada por sépsis com pon-
A sarcoidose é uma doença granulomatosa sistémi- to de partida em pneumonia. À admissão com múl-
ca e apesar de qualquer órgão poder ser envolvido, tiplas disfunções: renal (creatinina 2.39 mg/dL);
o atingimento gastrointestinal é raro. Quando ocor- neurológica (prostração); metabólica (acidemia
re, a forma mais comum é gástrica e apresenta uma metabólica - pH 7.287, lactato 10.5 mmol/L, HCO3
evolução e clínica pouco diferenciada. A doença 7.1 mmol/L). As disfunções foram interpretadas no
caracteriza-se tipicamente por um quadro subclíni- contexto séptico. Iniciou antibioterapia, com melho-
co, e manifestações clínicas como dor epigástrica, ria clínica, redução paulatina dos parâmetros infla-
náusea, vómito ou hematemeses, são raras. matórios, e retorno do lactato e creatinina para o
normal. Mantinha, no entanto, acidemia metabólica
Caso Clinico: persistente sem explicação aparente, chegando a
atingir um valor mínimo de HCO3 de 6 mmol/L, pH
Doente sexo feminino de 69 anos, com anteceden- de 7.231. Apresentava também múltiplos distúrbios
tes de sarcoidose com envolvimento torácico em electrolíticos (hipocaliemia 2.55 mmol/L, hipofosfa-
remissão desde 2010, recorre ao médico assistente temia 1.2 mg/dL, hipomagnesemia 1.28 mg/dL, e hi-
de Medicina Geral e Familiar por queixas de enfar- pocalcemia corrigida 7.26 mg/dL), tendo-se mantido
tamento e desconforto pós-prandial, associados

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 299


sob suplementação iónica e de bicarbonato. Apesar motivou novo internamento. O doente estava medi-
da reposição de HCO3, mantinha  níveis séricos de cado com clopidogrel 75mg e ácido acetilsalicílico
12-14 mmol/L. Foi realizado estudo alargado, docu- 150mg uma vez ao dia cada desde o primeiro inter-
mentando-se défice severo de vitamina D (5.86 ng/ namento em 2019. Procedeu-se à realização de uma
mL para intervalo do normal 30-100 ng/mL)) com hi- RM crânio-encefálica que mostrou achados compa-
perparatiroidismo secundário (PTH 341.8 pg/mL). A tíveis com AAC, tendo-se considerado esta como a
imunoelectroforese das proteínas séricas não reve- principal causa para todos os eventos prévios.
lou monoclonalidade e a pesquisa de cadeias leves
na urina foi negativa. Após início de vitamina D foi CONCLUSÃO: Apesar de ser uma causa relativa-
progressivamente reduzida a suplementação ióni- mente comum de AVC hemorrágicos em idosos, em
ca e de HCO3. Na alta apresentava pH 7.488, HCO3 indivíduos mais jovens e com queixas neurológicas
23.5 mmol/L, K+ 4.49 mmol/L, cálcio ionizado 1.05 recorrentes este tende a ser um diagnóstico descon-
mmol/L e vitamina D 12.08 ng/mL. siderado. Este caso serve para relembrar a impor-
tância da suspeição diagnóstica e da realização de
Por um mecanismo não completamente esclarecido, estudo etiológico dirigido, de modo a poder prevenir
os níveis elevados de PTH decorrentes do défice se- novos eventos evitando a introdução de anticoagu-
vero de vitamina D limitam a reabsorção de HCO3 lantes ou agentes antiplaquetares.
no túbulo contornado proximal. Este caso espelha
a importância de, perante acidemia metabólica per- PA n.º 2058 
sistente, com múltiplos défices iónicos, e sem causa Tuberculose Pleural – a personificação de uma
aparente, pensarmos em tubulopatia atribuível a dé- marcha diagnóstica complexa
fice de vitamina D que, apesar de rara, deve ser sem- Nuno Miguel Pereira(1);Sónia Chan(1);Joana Cardo-
pre equacionada, sobretudo nos idosos, nos quais so(1);Sofia Marques Silva(2);Carina Silva(1)
este défice vitamínico é relativamente prevalente. (1) Centro Hospitalar do Porto, EPE / Hospital Geral
de Santo António (2) Unidade Local de Saúde de
PA n.º 2051  Matosinhos, EPE / Hospital Pedro Hispano
Angiopatia Amilóide Cerebral – suspeição diagnós-
tica em queixas neurológicas recorrente Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
Filipa Trigo(1);Márcia Melo(1)
(1) Centro Hospitalar do Médio Tejo, EPE / Unidade Os autores apresentam o caso de um homem de
de Torres Novas 87 anos, autónomo, ex-fumador 60 UMAs. Ante-
cedentes de DPOC GOLD 1, SAOS moderado (sem
Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas ventiloterapia por recusa do doente) e com história
de nódulo pulmonar e pancreático extensivamente
Introdução: Os Acidentes Vasculares Cerebrais estudados previamente ao internamento, tendo
(AVC) hemorrágicos correspondem a 20% de todos sido formalmente excluída neoplasia. Cardiopatia
os AVC. Destes, a principal etiologia em idosos é de etiologia desconhecida com fração de ejeção
a Angiopatia Amiloide Cerebral (AAC). Esta é uma moderamente reduzida, com história de colocação
doença que se caracteriza pela deposição de pep- de pacemaker por BAV 2º grau Mobitz I e bloqueio
tídeo beta-amiloide em vasos de pequeno a médio trifascicular.
calibre ao nível do cérebro e leptomeninges. Ima-
giologicamente, caracteriza-se pela presença de Recorreu ao Serviço de Urgência (SU) do CHUP por
pequenas hemorragias ou hemossiderose na Res- quadro compatível com PAC sem outras disfunções
sonância Magnética (RM). Neste caso clínico rela- além da respiratória. Derrame pleural exsudativo com
tamos a importância de considerar este diagnóstico pH a fresco de 7.36 e predomínio de PMN, assumi-
diferencial em indivíduos com queixas neurológicas do como parapneumónico. Internado sob ATB com
recorrentes. amoxicilina/clavulanato e azitromicina, apresen-
tando evolução desfavorável. Abordado novamente
CASO CLÍNICO: Um doente de 64 anos dirigiu-se ao derrame que se mantinha exsudado, pH a fresco de
serviço de urgência (SU) em dezembro de 2020 por 7.3 e DHL ~500 U/L, nessa altura com predomínio de
desorientação, disartria e diminuição da força à di- células mononucleadas e ADA 127 U/L. Deteção por
reita, sintomas que reverteram espontaneamente PCR de Mycobacterium tuberculosis (MT) no  líqui-
em menos de 24h e que não apresentaram tradução do pleural (LP) foi negativa. Os sucessivos exames
imagiológica em Tomografia Computorizada (TC) bacteriológicos quer das secreções quer do líqui-
crânio-encefálica. Na investigação diagnóstica, ob- do pleural apresentaram-se estéreis. Baciloscopias
jetivou-se que o doente tinha recorrido ao SU com com Zhiel-Nieelsen (ZN), auramina e deteção PCR
sintomatologia semelhante por 5 vezes: em 2019 foi MT negativas. TC-TAP, EDA e EDB a excluir neoplasia.
internado por um hematoma intraparenquimatoso Broncofibroscopia objetivava compressão extrínse-
agudo occipito-temporal com hemorragia subarac- ca do brônquio lobar inferior direito - biópsia e lavado
noideia temporo-parietal, com alta após recuperação a excluir neoplasia e com deteção de MT por PCR ne-
dos défices; em Abril de 2020 teve um novo interna- gativa. Biópsia pleural com infiltrado de linfócitos e
mento com diagnóstico de lacunas estriato-capsula- granulomas epitelióides necrosantes constituídos
res e talâmicas bilaterais, tendo tido alta com recupe- por células epitelióides, linfócitos e células gigantes
ração do quadro clínico; nenhum dos outros eventos multinucleadas tipo Langhans,  pesquisa de bacilos

300
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
álcool-ácido resistentes pela coloração de ZN po- seminação tumoral através do trajeto da agulha de
sitiva  e deteção MT  por PCR  positiva. Confirmação radiofrequência, uma complicação pouco frequente.
diagnóstica após isolamento de MT na cultura MGIT
do LP. Serologia VIH e estudo de imunodeficiências As complicações mais frequentemente associadas
primárias negativo. Iniciou esquema clássico de an- aos implantes cutâneos são a dor e as alterações
tibacilares com recuperação paulatina do estado ge- relacionadas com a ferida maligna, destacando-se
ral. Teve alta orientado para o CDP para manutenção a hemorragia, neste caso em concreto. Destaca-se
do tratamento. o papel da radioterapia hemostática no controlo da
hemorragia, uma vez que permitiu otimizar as condi-
A tuberculose continua uma doença relevante no ções para que o doente permanecesse no domicílio.
paradigma dos cuidados de saúde hospitalares em
Portugal. O diagnóstico de tuberculose pleural é PA n.º 2065 
difícil, sendo necessária a demonstração de MT por Um raro caso de pineoblastoma no adulto
PCR ou por achados histológicos compatíveis com Federica Parlato(1);Manuel António(1);Helder Gon-
a infeção. Este diagnóstico requer um alto grau de çalves(1);Virgílio Silva(1);Pedro Gaspar(1);Carolina
suspeição clínica. Carreiro(1);Inês Parreira(1);Leila Duarte(1);Mariana
Dias(1);Sandra Braz(1)
PA n.º 2063  (1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi-
Implante tumoral metastático de carcinoma hepa- tal de Santa Maria
tocelular – a importância dos Cuidados Paliativos
Vânia Sá-Araújo(1);Maria Paula Silva(1) Tema:
(1) IPO Porto
Os tumores da glândula pineal constituem 1% dos
Tema: Cuidados paliativos tumores primários do sistema nervoso central, afe-
tando primariamente crianças. São tumores indife-
Introdução: renciados com elevada tendência para infiltração
local e metastização do neuro-eixo. Idade adulta e
Os implantes metastáticos subcutâneos são pouco doença disseminada são fatores de risco indepen-
frequentes quando se consideram os tumores pri- dentes de mau prognóstico. Os dados na literatura
mários do fígado. Apresenta-se o caso clínico de um sobre a abordagem e o prognóstico no adulto são
doente com progressão da doença sob a forma de limitados.
implante subcutâneo que condicionou a presença de
complicações com impacto na qualidade de vida. Homem, 70 anos, com lombociatalgia, com 2 sema-
nas de evolução, e alteração da linguagem e apraxia
Caso clínico: de início súbito. No internamento verificou-se recu-
peração total do defeito de linguagem e instalação
Doente de 71 anos, sexo masculino com diagnóstico de quadro de agitação psicomotora, desorientação,
de hepatocarcinoma unifocal no contexto de cirrose defeitos mnésicos, alucinações visuais, desequilíbrio
hepática de etiologia mista (vírica e alcoólica), sub- na marcha e defeito de campo visual bi-temporal. A
metido a quimioembolização hepática e ablação por tomografia computorizada (TC) crânio-encefálica
radiofrequência. Recidiva hepática um ano depois, não mostrou alterações. A ressonância magnética
com necessidade de nova intervenção por Radiolo- (RM) do neuro-eixo com gadolínio mostrou lesão
gia de Intervenção. Em exame de follow-up, detetado nodular sólida na pineal e hipersinal em FLAIR do lí-
nódulo na dependência da parede abdominal, inter- quor cefalorraquidiano (LCR) nas cisternas da base,
pretado como progressão da doença. Considerado sulcos cerebelosos e espaço subaracnoideu cervico-
não ter condições para tratamento sistémico, pelo -dorso-lombar sugerindo carcinomatose meníngea
que foi referenciado para Cuidados Paliativos. vs meningoencefalite infeciosa. Os achados da TC
toraco-abdomino-pélvica não sugeriam neoplasia ex-
Manteve tumefação dolorosa na parede abdominal,
tra-craniana. O LCR apresentava 1000 células mono-
de cor violácea, de consistência dura, com cresci-
nucleadas/uL, glicose (26 mg/dL) diminuída e proteí-
mento progressivo e ulceração, com necessidade de
nas (576 mg/dL), rácio albumina LCR/sérica (98.91)
cuidados de penso diários. Os últimos meses de vida
e enolase neuronal específica (370 ng/dL) elevados;
do doente foram condicionados por vários episódios
a pesquisa de microorganismos foi negativa. O diag-
de hemorragia maciça pela ferida maligna que obri-
nóstico final foi obtido pela identificação no LCR de
gou à recorrência a serviços de saúde. Neste contex-
células neoplásicas com aspetos morfológicos e
to, o doente foi submetido a radioterapia com intuito
imunocitoquímicos sugestivos de pineoblastoma. O
hemostático dirigida às áreas friáveis, com estabili-
caso foi discutido em reunião multidisciplinar e, face
dade do quadro.
à extensão da metastização e ao performance status
Discussão: (PS) (ECOG PS 4) do doente, decidiu-se não instituir
terapêutica anti-neoplásica.
Os implantes metastáticos subcutâneos de carcino-
ma hepatocelular são pouco frequentes, podendo A metastizac¸a~o leptomeni´ngea e´ uma complica-
ocorrer por diferentes mecanismos. Neste caso clí- ção rara, que ocorre em 5% dos doentes com can-
nico coloca-se como hipótese mais provável a dis- cro metastático, mas devastadora. A ausência de

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 301


diagnóstico ante-mortem e´ frequente e a incidência de ser uma neoplasia cada vez mais rara na nossa
em necrópsia é de 20%. A acuidade diagnóstica da prática clínica, é importante conhecer uma vez que
RM com gadolínio é muito superior à da RM sem o  diagnóstico precoce desta neoplasia é essencial
contraste. A presença de células neoplásicas no para o sucesso da terapêutica nestes doentes.
LCR confirma o diagnóstico, contudo esta ocorre em
apenas 15-60% dos doentes pelo que um resultado PA n.º 2100 
negativo não exclui o diagnóstico. Rickettsiose como etiologia de febre de origem
desconhecida
PA n.º 2095  Bernardo Silvério(1);Tatiana Salazar(1);Pedro Rodri-
Sarcoma de Kaposi com envolvimento cutâneo e gues(1);Isabel Freitas(1);Inês Albuquerque(1);Núria
visceral como apresentação inicial de VIH Fonseca(1);Isabel Vinhas(1);Mário Esteves(1)
Renata Monteiro (1);Maria Leonor Silva(1);Rita Cos- (1) Centro Hospitalar do Médio Ave, EPE / Unidade
ta(1);Joana Cabrera(1);Filipa Borges Santos(1);Car- de Vila Nova de Famalicão
los Azevedo(1);Margarida Mota(1)
(1) Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia / Espinho Tema: Doenças infecciosas e parasitárias

Tema: Doenças infecciosas e parasitárias Febre de origem desconhecida (FOD) define-se por
temperatura igual ou superior a 38.3°C em duas me-
Introdução: Trinta anos após o surgimento da tera- dições, duração igual ou superior a 3 semanas ou
pêutica anti-retrovírica (TARV) e graças à sua cres- vários episódios de febre em 3 semanas, diagnósti-
cente eficácia na supressão da replicação vírica e co incerto apesar de história clínica e investigação
ampla disponibilização à população, o sarcoma de adequados (em doente não imunocomprometido).
Kaposi associado ao VIH é cada vez mais um diag-
nóstico raro nos países desenvolvidos. Nos países em desenvolvimento a principal causa
são as doenças infeciosas, enquanto nos países
Caso Clínico: Homem de 23 anos, etnia caucasiana desenvolvidos a principal causa são as doenças
e antecedentes de diabetes mellitus tipo 1 é refe- inflamatórias não infeciosas. A investigação baseia-
renciado à consulta por lesões cutâneas púrpuricas -se numa trilogia clássica de possíveis etiologias:
dispersas com pelo menos 1 ano de evolução, perda infeção, autoimunidade/doença inflamatória não
ponderal involuntária de 15% do peso corporal há 2 infeciosa, neoplasia.
meses e diarreia há 2 semanas. Havia contexto de
relação sexual heterosexual desprotegida prévia Os autores apresentam um caso de um doente do
mas sem história de abuso de drogas endovenosas sexo masculino de 63 anos, autónomo. Como ante-
ou transfusões sanguíneas. Do exame físico, a real- cedentes pessoais infeção a SARS-CoV2 em janeiro
çar incontáveis lesões cutâneas numulares púrpu- 2021. Recorreu ao Serviço de Urgência por febre e
ricas dispersas pelo tronco e membros, taquicardia mialgias com de 5 dias de evolução. Ao exame ob-
140-150 batimentos por minuto, sem adenomegalias jetivo apresentava-se febril e com um rash cutâneo
ou organomegalias palpáveis e sem lesões orofa- no membro superior e região abdominal esquerdos.
ríngeas. Do estudo analítico realizado, apresentava Negava queixas focalizadoras ou comportamentos
anemia (Hb 9.4 g/dL), linfocitopenia, serologia VIH suspeitos de doenças infeto-contagiosas específi-
positiva com carga vírica 1 820 000 copias/mm3, 23 cas como as zoonoses. Realizou estudo analítico
células CD4+ e DNA  CMV positiva. Realizadas bióp- que evidenciava apenas aumento de parâmetros
sia das lesões cutâneas confirmou o diagnóstico de inflamatórios, nomeadamente PCR superior a 30
Sarcoma de Kaposi. TC tórax de estadiamento evi- mg/dL e procalcitonina de 1,27 ng/mL. Fez uma TC
denciou também envolvimento pulmonar pelo Sarco- toraco-abdomino-pélvica sem alterações de relevo.
ma de Kaposi. O exame do fundo ocular reveloureti- Efetuou exame bacteriológico de urina e hemocultu-
nite por CMV e a colonoscopia com sinais de colite ras. Colheu rastreio de um conjunto de agentes víri-
infecciosa por CMV. Iniciou TARV  e quimioterapia cos e bacterianos. Iniciou empiricamente Ceftriaxo-
com Paclitaxel com alguma regressão das lesões ne mas manteve febre. O doente foi internado para
cutâneas mas ainda se encontra sob tratamento. continuidade de cuidados. Após o estudo efetuado
apenas se verificou positividade na reação de Weil-
Discussão: As infeções / Neoplasias oportunistas -Felix. Diagnosticou-se uma rickettsiose e alterou-se
associadas à infeção VIH estão relacionadas com a antibioterapia para Doxiciclina.
imunossupressão decorrente da queda dos linfóci-
tos CD4+, sendo o Sarcoma Kaposi 300 vezes mais O presente caso clinico serve para realçar a impor-
frequente em doentes VIH em estadio SIDA do que tância do estudo completo mesmo quando o doente
outros imunodeprimidos. O envolvimento visceral não revela informação que nos façam suspeitar de
acontece em 15% dos doentes, geralmente com con- infeção por determinados agentes. É importante
tagens de CD4+ <150 células e demonstra-se com relembrar que a rickettsiose é uma entidade presen-
um comportamento agressivo e com prognóstico te na atividade clinica e, sendo de tratamento fácil,
extremamente reservado. A terapêutica combinada deve ser pesquisada nos quadros de FOD.
com TARV e quimioterapia poderá contribuir para a
regressão das lesões e o prolongamento da sobrevi- PA n.º 2104 
da nestes doentes, mas raramente é curativa. Apesar Lesão renal aguda e infeção por SARS-COV2: análi-
se retrospetiva.
302
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
Mafalda S.B. Sequeira(1);Daniela Cruz(1);Catarina Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
Pestana Santos(1);Bruno Sousa(1);Fábio pé d Arca
Barbosa(1);Filipa Monteiro(1);Vilma Grilo(1);José Introdução: A pandemia pela doença do novo coro-
Correia Proença(1) navírus 2019 (COVID-19) tem, desde Março de 2020,
(1) Hospital Garcia de Orta, EPE condicionado um elevado número de internamentos
Tema: Doenças renais hospitalares associando-se a elevada mortalida-
de. A sobreinfecção bacteriana é identificada com
frequência em infecções respiratórias virais sendo
Introdução: A infeção grave por SARS-CoV-2 envolve uma importante causa de morbilidade e mortali-
numerosas vias pró-inflamatórias mediadas sobre- dade. A prevalência e o papel da sobreinfecção
tudo por IL-6 e TNF-alfa que levam à inflamação bacteriana no curso de doença e no prognóstico
sistémica, hipercoagulabilidade e disfunção de múl- dos doentes infectados pelo SARS-CoV-2 não é to-
tiplos órgãos. A endotelite sistémica e o tropismo talmente conhecida.
viral direto às células tubulares proximais renais
e podócitos são mecanismos fisiopatológicos im-
portantes que levam à lesão renal em doentes com Objectivos: Avaliar o impacto da sobreinfecção
infeção mais grave. A lesão renal aguda (LRA) em bacteriana na gravidade de doença e mortalidade
doentes internados com COVID-19 está associada a num grupo de doentes internados no período de
maior mortalidade e a um pior prognóstico. Novembro de 2020 a Janeiro de 2021 num hospital
terciário.
Objetivos: Avaliar o valor preditivo da lesão renal Materiais e Métodos: Foi realizada uma análise
aguda na mortalidade dos doentes com SARS-COV2 retrospetiva do total de doentes internados num
internados no período de de Novembro de 2020 a hospital terciário no período compreendido entre
Janeiro de 2021 num hospital terciário. Novembro de 2020 e Janeiro de 2021, com infeção
por SARS COV-2. Os dados foram obtidos através de
Materiais e Métodos: Foi realizada uma análise registos clínicos e analisados em SPSS versão 23.
retrospetiva do total de doentes internados num
hospital terciário com infeção por SARS COV-2 no Resultados: Foi incluída no estudo uma população
período compreendido entre Novembro de 2020 e de 586 doentes, dos quais 59,4% eram do sexo mas-
Janeiro de 2021. Os dados foram obtidos através de culino e 40,6% eram do sexo feminino com idade
registos clínicos e analisados em SPSS versão 23 média de 69,4 anos. A multi-morbilidade e gravidade
de doença foi avaliada pelo Índice de Charlson que
Resultados: Foi incluída no estudo uma população teve uma média de 3,88 pontos, com um desvio
de 586 doentes, dos quais 59,4% eram do sexo mas- padrão de 2,55. Os doentes estiveram internados
culino e 40,6% do sexo feminino com uma idade cerca de 11 dias (mínimo de 0 e máximo de 93
média de 69,4 anos. A multimorbilidade e gravidade dias).  Foi presumida sobreinfecção bacteriana em
de doença foi medida pelo Índice de Charlson que 232 doentes (39,6%), sendo que destes 224 (38,2%)
teve uma média de 3,88, com um desvio padrão de realizaram antibioterapia. O diagnóstico de sobrein-
2,55. Os doentes estiveram internados cerca de 11 fecção bacteriana foi realizado mais frequentemen-
dias (mínimo de 0 e máximo de 93 dias).  Um total te ao 5º dia de internamento. No que diz respeito ao
de 184 (31,4%)  doentes tiveram LRA. Em relação ao impacto nos outcomes, provou-se não haver corre-
impacto nos outcomes provou-se que não há cor- lação entre a sobreinfecção bacteriana e evolução
relação entre lesão renal aguda e necessidade de para entubação oro-traqueal (EOT) (p=0,539) nem
suporte ventilatório (Alto fluxo nasal, CPAP e BIPAP) entre a sobreinfecção bacteriana e a mortalidade
(p=0,822) nem com a evolução para entubação oro (p=0,172). No entanto verificou-se correlação esta-
traqueal (p= 0,728). Em relação à ocorrência de tisticamente significativa (p=0,05) entre a sobrein-
lesão renal aguda e mortalidade em doentes com fecção bacteriana e necessidade de suporte ventila-
infeção por SARS-COV2 provou-se existir correla- tório (Alto fluxo nasal (HFNC), CPAP e BIPAP).
ção estatisticamente significativa entre as mesmas
(p=0,039). Conclusão: Apesar de uma considerável percenta-
gem de doentes com infecção por SARS-COV2 ter
Conclusão: A lesão renal aguda representa uma infecção bacteriana concomitante não se verificou
complicação relativamente frequente nos doentes correlação entre esta última e a mortalidade ou
com infeção por SARS-Cov2 internados estando necessidade de EOT, tendo-se verifcado correlação
correlacionada com maior mortalidade. estatisticamente significativa com a necessidade de
suporte ventilatório (HFNC, CPAP e BIPAP).
PA n.º 2106 
Sobreinfecção bacteriana em doentes COVID-19: PA n.º 2122 
uma análise retrospectiva Síndrome de Budd-Chiari: O papel da venografia
Mafalda Sequeira(1);Daniela Cruz(1);Catarina Pes- Pedro Manuel Barbosa Lages Martins(1);Marta
tana Santos(1);Filipa Pinto Monteiro(1);Vilma Laís Noronha Carvalho(1);Márcia Pereira(1);João Olivei-
Grilo(1);Bruno Sousa(1);Fábio pé d Arca Barbosa(1);- ra(1);Rita Ribeiro(1)
José Correia Proença(1) (1) Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE / Hos-
(1) Hospital Garcia de Orta, EPE pital de Santo António dos Capuchos

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 303


Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá- plaquetas 58 000 µL). Neste contexto, o doente ficou
ticas internado para estudo. A tomografia computorizada
toracoabdominopélvica realizada revelou a existên-
A Síndrome de Budd-Chiari (SBC) é uma causa inco- cia de  “várias adenopatias torácicas e abdominais
mum de dor abdominal, caracterizada por obstrução (…) hepatomegalia de 19cm e esplenomegalia de
da drenagem venosa do fígado, ocorrendo quase 18cm (…) múltiplas lesões blásticas de todo o esque-
exclusivamente no contexto de um estado pró-trom- leto axial, pélvis e arcos costais”.
bótico. A apresentação clínica é muito heterogénea, A biópsia óssea confirmou o diagnóstico de masto-
variando com o tempo de evolução e grau de obs- citose sistémica, posteriormente classificada como
trução, desde assintomática a insuficiência hepática mastocitose sistémica agressiva tendo em conta
aguda. os critérios de gravidade. Iniciou terapêutica com
interferão alfa e, posteriormente, por refratariedade,
Expõe-se o caso de uma mulher de 45 anos, com cladribina. No decurso do seguimento, assistiu-se a
antecedentes de Lúpus Eritematoso Sistémico e progressão da doença para leucemia mielóide agu-
Síndrome de Anticorpos Anti-Fosfolípidos, que se da, confirmada por mielograma.
apresentou com um quadro de dor abdominal, hepa-
tomegália e alteração discreta das provas hepáticas. Discussão: Este caso descreve uma doença rara, na
O eco-doppler e angio-TC abdominal revelaram acha- qual o diagnóstico implica um elevado grau de sus-
dos indiretos consistentes com SBC, mas foram inca- peição, e cuja confirmação impõe a realização de
pazes de demonstrar obstrução das veias hepáticas. biópsia óssea. Pela complexidade da doença, o tra-
A doente ficou anticoagulada com enoxaparina, com tamento deve ser individualizado a cada doente e à
evolução pouco satisfatória. Pela elevada suspeição sintomatologia associada.
clínica, realizou-se venografia que permitiu estabele-
cer o diagnóstico definitivo. A doente foi submetida PA n.º 2146 
a angioplastia com balão da estenose com excelente Quimioterapia: um efeito secundário inesperado
resposta clínica. Filipa Lage Martins(1);Mariana Nápoles(1);Rita Cali-
xto(1);Carlos Costa Marques(1);José Vaz(1)
Este caso pretende demonstrar a importância da ve- (1) Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo, EPE /
nografia na confirmação do diagnóstico de SBC nos Hospital José Joaquim Fernandes
casos em que os métodos menos invasivos não são
conclusivos, bem como o grande potencial terapêuti- Tema: Doenças oncológicas
co da angioplastia em casos selecionados.
Introdução:
PA n.º 2144 
Mastocitose Sistémica – um caso raro
Sofia Cosme Ferreira(1);Luís Marote(1);Dina San- Os efeitos adversos (EA) da toxicidade da quimiote-
tos(1);Mara Fernandes(1) rapia (QT) são amplamente conhecidos. O sistema
(1) Hospital Dr. Nélio Mendonça digestivo é um dos sistemas de órgãos mais afeta-
dos, com manifestações de ligeiras a muito graves,
Tema: Doenças raras potencialmente fatais.
Caso clínico:
Introdução: Mastocitose caracteriza um grupo de
doenças que resulta da proliferação anómala de Homem de 73 anos, seguido em consulta de On-
mastócitos e da sua acumulação nos tecidos, e cologia por carcinoma pavimento-celular bem
pode atingir qualquer órgão ou sistema. Envolve diferenciado do pulmão T4N3M1, submetido a QT
maioritariamente a pele, mas as manifestações ex- (carboplatina e gemcitabina), recorreu ao Serviço
tracutâneas são frequentes, constituindo a mastoci- de Urgência (SU) 5 dias após a 1ª sessão por he-
tose sistémica. matemeses com dois dias de evolução e cansaço
extremo.
O espetro da doença é muito variável e a  ativação
À observação apresentava palidez cutânea, desorientação,
mastocitária é inespecífica e multifatorial. Por ser
agitação psicomotora, hipotensão e bradicardia. Foi
uma doença rara, o diagnóstico pode ser difícil e im-
colocada sonda nasogástrica com saída de conteúdo
plica sempre um alto índice de suspeição.
hemático semi-digerido em abundante quantidade e
Caso Clínico: Doente do sexo masculino de 61 anos verificaram-se dejeções características de melenas.
com antecedentes pessoais de hipertensão arterial e
Analiticamente: anemia normocítica normocrómia
pneumonite de hipersensibilidade. Recorreu ao servi-
(Hb 4,6g/dL) com descida de 9g de hemoglobina no
ço de urgência por quadro de perda ponderal (10 qui-
intervalo de uma semana e lesão renal aguda com
logramas em 2 meses), associado a febre, sudore-
creatinina 2,98mg/dL (previamente normal).
se, fraqueza generalizada e epigastralgia. Ao exame
objetivo encontrava-se pálido e emagrecido. Identifi- Realizou endoscopia digestiva alta (EDA) que re-
cava-se hepatoesplenomegália à avaliação abdomi- velou esofagite grave com presença de lacerações
nal, e a avaliação analítica demonstrou pancitopenia circunferenciais com coágulos adjacentes no esófa-
(leucócitos 3 400 µL, hemoglobina (Hb) 6,7 mg/dL,
304
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
go distal até à junção esófago-gástrica. até 4cm, massa com 10cm no LSD e conglomera-
dos adenopáticos mediastínicos até 9cm de aspeto
Sem outra relação causa-efeito, assumiu-se esofagi- necrótico.
te grave como complicação da QT.
Neste contexto o doente foi internado para estudo
Foi internado na Sala de Observações do SU para etiológico da massa acima descrita.
estabilização. Fez 3 unidades de concentrado eritro-
citário, fluidoterapia e terapêutica com pantoprazol Realizou PET que revelou adenopatias híper-me-
em perfusão, mantendo-se sob alimentação paren- tabólicas supra-diafragmáticas, lesões no lobo
térica. superior do pulmão direito e infiltração esplénica e
infiltração medular.
Após estabilização, foi internado na enfermaria de
Medicina. Uma semana após o diagnóstico o doen- Realizou bióspia guiada por TC que revelou Linfoma
te realizou nova EDA que revelou esofagite grau D Hodgkin (LH), de tipo esclerose nodular.
em cicatrização.
O doente foi então diagnosticado com LH tipo es-
Iniciou alimentação entérica, que tolerou, sem evi- clerose nodular, estadio IV-B e iniciou o esquema de
dência de hemorragia ativa e a tolerar alimentação quimioterapia ABVD.
per os.
Após o 2º ciclo de quimioterapia realizou novos exa-
Conclusão: mes de imagem que revelaram melhoria imagiológi-
ca significativa.
Este caso mostra-nos o quão graves podem ser os
EA da QT e que a sua identificação e tratamento Conclusão:
precoces, apesar de não alterarem o percurso da
patologia de base, podem prevenir o seu desfecho O LH tem bom prognóstico se detetado numa fase
antecipado e oferecer ao doente uma melhor quali- precoce e receber o tratamento adequado atem-
dade de vida. padamente. É então importante reconhecer a sua
apresentação clínica e realizar o diagnóstico de for-
PA n.º 2150  ma célere.
Nem toda a tosse é COVID
Filipa Lage Martins(1);Rita Calixto(1);Mariana Nápo- PA n.º 2152 
les(1);Carlos Costa Marques(1);José Vaz(1) MIELITE TRANSVERSA LONGITUDINALMENTE EX-
(1) Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo, EPE / TENSA POR SARS-COV-2 DETECTADO EM LCR
Hospital José Joaquim Fernandes Sandra d. Santos(1);David Lopes Sousa(1);Fabio
Gomes(1);Claudia Lima(1);Cristina Valente(1);João
Tema: Doenças hematológicas Vaz(1);Lurdes Correia(1);Inês Correia(1)
(1) Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra /
Introdução: Hospitais da Universidade de Coimbra
Tema:
A tosse é um dos sintomas que na atualidade mo-
tivam uma observação médica, muitas vezes bana- Introdução: As complicações neurológicas associa-
lizada quando não associada a outras queixas. O das a infeção por SARS-CoV-2 (COVID-19), embora
seu diagnóstico diferencial por ser atrasado dada a frequentemente ligeiras, tais como anosmia e dis-
pandemia COVID-19, observando-se por vezes o de- geusia, podem incluir quadros graves com atingi-
senvolvimento de patologias graves que chegam ao mento medular.
Serviço de Urgência (SU) em estadios avançados.
Caso clínico: Caso clínico: Homem de 84 anos, com antecedentes
de perfuração de úlcera péptica, carcinoma gástrico
Homem de 33 anos, trabalhador numa mina de e carcinoma pulmonar, ambos ressecados, e hiper-
cobre há de 10 anos, recorre ao SU por tosse pro- plasia benigna da próstrata (HBP). Medicado com
dutiva com cerca de 1 mês de evolução de agrava- inibidor da bomba de protões, estatina e antagonista
mento progressivo (sintoma mais evidente), com dos receptores adrenérgicos alfa1.
dor retrosternal, sudorese noturna, prurido e perda
ponderal intencional de cerca de 12kg desde há 6 Nove dias após diagnóstico de infeção por SARS-
meses. À observação apresentava palidez cutânea, -CoV-2, recorreu ao Serviço de Urgência (SU) por re-
adenopatias cervicais e supraclaviculares móveis, a tenção urinária, interpretada como complicação de
maior localizada à direita com cerca de 2-3cm. Ana- HBP, sendo algaliado e regressou ao domicílio. Dois
liticamente sem alterações de relevo. Realizou ra- dias depois voltou ao SU por ter perdido a capacidade
diografia de tórax que revelou massa localizada no de marcha, apresentando-se febril, com insuficiência
lobo superior do pulmão direito (LSD) em posição respiratória tipo 1 e pneumonia por Sars-CoV-2, des-
justa-mediastínica. Pediu-se tomografia computori- tacando-se ao exame neurológico paraparésia gra-
zada (TC) de tórax que revelou múltiplas adenopa- ve; hiperreflexia nos membros inferiores com sinal
tias cervicais esquerdas, supraclaviculares bilaterais de Babinski bilateralmente e nível sensitivo em T4-

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 305


T5. Do estudo realizado destaca-se LCR com pleo- padrão Mosqueado (immunoblot negativo para ES).
citose linfocítica (27), proteinorráquia (90 mg/dL) e Capilaroscopia com megacapilares, compatível com
deteção de SARS-CoV-2 no LCR por PCR. A resso- estádio precoce de SSc. Eletromiografia dos mem-
nância magnética (RM) medular demonstrou lesão bros superiores, sem alterações. Em TC-Alta reso-
longitudinalmente extensa, centromedular entre C1 lução sem sinais explícitos de patologia intersticial
e D7, com captação difusa de contraste. Iniciou-se associados a esclerodermia. Ecocardiograma trans-
tratamento com ceftriaxone (8 dias), azitromicina (5 torácico dentro da normalidade, provas de função
dias), remdesivir (5 dias) e metilprednisolona 1g ev respiratória e DLCO sem alterações. Em Endoscopia
id, com melhoria parcial nos primeiros 3 dias, pelo Digestiva Alta a destacar gastropatia eritematosa –
que se prolongou até aos 7 dias. Pela exuberância compatível com atingimento GI da SSc – e Manome-
das alterações da RM realizou ainda 7 sessões de tria a revelar-se normal.
troca plasmática (em dias alternados), com melhoria
clínica e imagiológica. Teve alta do internamento ain- Discussão: O diagnóstico de Very Early SSc é essen-
da incapaz de fazer marcha e de ter continência de cial no sentido de modificar o curso natural da doen-
esfíncteres. Aos 2 meses após o internamento, com ça e prevenir dano a longo prazo. Para isso, é neces-
programa de reabilitação intensivo, o doente era ca- sário um acompanhamento rigoroso do doente, com
paz de fazer marcha com apoio bilateral e de ter con- o propósito de monitorizar o envolvimento multior-
tinência parcial de esfíncteres. gânico e em tempo real definir uma estratégia tera-
pêutica. Desta forma, deve-se  priorizar a avaliação
Conclusões:  Os autores apresentam um caso mui- por sintomatologia/exame objetivo (espessamento
to grave de mielite longitudinalmente extensa, com cutâneo/alterações da pele) e meios complemen-
identificação do vírus SARS-CoV-2 no LCR, situação tares de diagnóstico por sistema orgânico. Assim,
rara, descrita até à data em apenas um outro traba- a gestão responsável das diferentes fases da SSc
lho na literatura mundial. Mostra a relevância de re- permite uma ampla implementação de medidas tera-
conhecer potenciais manifestações neurológicas e pêuticas ajustadas e apropriadas no tempo correto.
complicações da COVID-19, algumas das quais po-
dem ser rapidamente progressivas e requerem inter- PA n.º 2178 
venção multidisciplinar urgente. COVID 19 em doentes hemodialisados - Caracteri-
zação da população de um hospital distrital
PA n.º 2177  Ana Isabel Oliveira(1);Sara Cardoso Soares(1);Te-
“Very Early” – Importância do diagnóstico atempa- resa Stock da Cunha(1);Ana Azevedo(1);Inês Ai-
do res(1);Ana Alvarez Pidal(1);José Augusto Barata(1)
Catarina Pinto Silva(1);Carina Silva(1);Carolina Vei- (1) Hospital de Vila Franca de Xira
ga(1);Rita Sevivas(1);Luis Augusto Cardoso(1);Flávia
Fundora Ramos(1);João Pedro Abreu(1);Carlos s. Tema: Outro
Oliveira(1)
(1) Hospital Santa Maria Maior de Barcelos Introdução: Em Dezembro de 2019, uma nova for-
ma de coronavírus foi identificada (SARS-CoV-2).
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas- Rapidamente a infeção COVID-19 se propagou, e foi
culites declarada pandemia em Março de 2020. A doença
parece ter uma expressão mais grave em doentes
Introdução: O diagnóstico precoce da Esclerose mais idosos e com múltiplas comorbilidades, ca-
Sistémica (SSc) pode passar despercebido,  sobre- racterísticas comuns nos doentes em hemodiálise
tudo pela heterogeneidade de apresentação. Dada a (HD).
importância de diagnóstico célere, surge o conceito
de “Very early SSc” –caracterizada por fenómeno de Os dados disponíveis sobre estes doentes são es-
Raynaud (FR), puffy fingers, autoanticorpos especí- cassos. Assim, considerámos relevante descrever as
ficos de doença e alterações microvasculares em características da infeção a COVID-19 nestes doen-
capilaroscopia. Segundo a bibliografia, grande parte tes do nosso hospital.
destes doentes apresentam ad início atingimento
orgânico, daí a importância do reconhecimento pre- Objetivo: Caracterizar os doentes sob programa de
coce desta entidade. HD infetados por SARS-CoV-2 que realizaram trata-
mento num hospital distrital.
Caso clínico: Mulher de 48 anos, trabalhadora têx-
til, sem antecedentes de relevo. Encaminhada para Materiais e Métodos: Estudo observacional retros-
consulta por edema das mãos incapacitante na ati- petivo dos doentes com DRC em estádio 5D infeta-
vidade laboral. Em consulta, queixas de artralgias bi- dos por SARS-CoV-2 que realizaram HD num hospital
laterais com predomínio de pequenas articulações, distrital durante o curso da sua infeção, entre Março
de ritmo inflamatório e FR bifásico. Ao exame obje- de 2020 e Fevereiro de 2021. Fizeram parte da amos-
tivo, espessamento cutâneo dos dedos distalmente tra doentes internados e doentes em ambulatório
às articulações metacarpofalângicas, com puffy fin- que realizaram HD no hospital. Foram excluídos os
gers, com pitting ungueal. Exame articular sem arti- doentes com lesão renal aguda dependentes de HD.
culações tumefactas ou dolorosas. Do estudo reali- A análise estatística foi realizada utilizando o Micro-
zado destacam-se ANA positivos com título 1/640, soft Excel 2016 (Microsoft ™).

306
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
Resultados: Foi estudado um total de 74 doentes. A noproliferativa afeta 20 a 30% dos doentes com
maioria (60,8%) do sexo masculino, com idade me- esta patologia. A associação entre a hepatite C e a
diana de 70,6 anos. O tempo mediano em HD foi de crioglobulinemia mista é frequente, o mesmo não
11 meses, o índice de Charlson médio ajustado à ida- se verificando com o vírus da hepatite B (VHB). 
de foi de 7,5 ± 3. O valor médio de Índice de massa Doente de 61 anos, sem antecedentes pessoais
corporal dos doentes foi de 25,4 kg/m2 ± 4,9 relevantes, admitido por quadro de febre, lesões
cutâneas purpúricas, astenia e diarreia com lesão
Dos 74 doentes, 51 (68,9%) apresentaram sinto- renal aguda. Os estudos bacteriológicos realizados
matologia: febre em 36.5% (N=27), tosse em 33.8% foram negativos, tendo cumprido antibioterapia
(N=25), dispneia em 29,7% (N=22), mialgias em com ceftriaxone, com melhoria das queixas e api-
17.6% (N=13) e diarreia em 13,5% (N=10). rexia sustentada. Inicialmente, assumida lesão renal
aguda pre-renal, com melhoria da função renal a
Cerca de 44,5% dos doentes (N=33) desenvolveu acompanhar melhoria das queixas gastro-intesti-
pneumonia e 39.2% (N=29) evoluiu para insuficiên- nais. Apesar de normalização da função renal com
cia respiratória. Mais de metade dos doentes (58,1%; fluidoterapia, o doente apresentava exame sumário
N=43) necessitou de internamento, com duração da urina com proteinúria persistente. A razão mi-
mediana de 11 (5 – 18) dias. Entre os internados, croalbuminúria/creatinina em urina ocasional era de
a necessidade mediana de aporte suplementar de 3,2 mg/g e a proteinúria na urina de 24 horas de 2,2
oxigénio foi de 6 (0 – 15) L/min, 3 doentes (11.1%) g/24h. Do estudo imunológico, consumo de C3c e
necessitaram de oxigenoterapia de alto fluxo, e 5 C4 no limite inferior do normal, doseamento de imu-
(18.5%) de ventilação não-invasiva por pressão posi- noglobulinas nos valores de referência, anticorpos
tiva contínua da via aérea (CPAP). Apenas 3 doentes antinucleares 1/100 nucleolar, anticorpos anti-D-
[P3] (11,1%), foram admitidos na Unidade de cuida- NA de cadeia dupla, anticorpos anticitoplasma de
dos intensivos por precisarem de ventilação mecâ- neutrófilo e anticorpos anti-membrana basal glo-
nica invasiva. merular negativos. Realizada biópsia renal sugestiva
de glomerulonefrite membranoproliferativa. A pes-
Analiticamente, 29,7% (N=22) dos doentes apresen-
quisa de crioglobulinas foi positiva e no estudo viro-
taram leucopénia. Mais de metade dos doentes apre-
lógico foi constatada hepatite B crónica. A situação
sentaram trombocitopenia (51,35% N=38), 89,3% ti-
clínica foi então interpretada como glomerulonefrite
nham D-dímeros acima do cut-off definido e 49,3%
em contexto de crioglobulinemia mista associada a
apresentaram LDH acima do limite superior do nor-
hepatite B. O doente iniciou terapêutica com ente-
mal.
cavir e corticóide. Atualmente, com manutenção da
Quanto à terapêutica, cerca de 28% (N=22) recebeu função renal dentro dos valores de referência, sem
dexametasona e 23% (N=17) fizeram antibioterapia proteinúria e sem recorrência da sintomatologia. 
por sobreinfeção bacteriana; nenhum dos doentes A glomerulonefrite crioglobulinémica é uma com-
foi medicado com remdesivir. Verificaram-se 13 óbi- plicação rara de infeção por VHB. Este caso clínico
tos. destaca a pertinência deste diagnóstico em doentes
com hepatite B crónica não tratada.   
Conclusão: Apesar da pequena amostra de popu-
lação em HD, este trabalho permitiu recolher dados PA n.º 2203 
relevantes sobre as características destes doentes Sarcoma de células redondas – um desafio diag-
com infeção COVID 19. Parecem ter um curso me- nóstico
nos grave da doença do que a mesma faixa etária Andreia(1);Ana Sofia Silva(1);Fani Ribeiro(1);Joana
da população geral. De salientar ainda que os ou- Nunes Vasconcelos(1);Rubina Silva(1);Rita Moça(1)
tcomes poderiam ser melhores se a presença de (1) Centro Hospitalar Póvoa de Varzim/Vila do Con-
DRC5d não contraindicasse à partida a admissão de
numa UCI (em momentos de maior sobrecarga).
Tema: Doenças oncológicas
PA n.º 2179 
Glomerulonefrite crioglobulinémica num doente
com hepatite B crónica Sarcomas são tumores malignos do tecido con-
Joana Tender Vieira(1);Stefano Pinto(1);Bruno Bes- juntivo que podem surgir do tecido mesenquimal
teiro(1);Catarina Vale(1);Hugo Veiga(1);Joana Pi- em qualquer local do organismo. As neoplasias de
menta(1);Jorge Almeida(1) células redondas fazem parte deste grupo, são alta-
(1) Centro Hospitalar de S. João, EPE mente agressivas e mais encontradas em doentes
jovens. Mulher, 22 anos, com hipertensão arterial
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas- essencial e obesidade mórbida. Recorreu ao ser-
culites viço de urgência (SU) por quadro de dor torácica
persistente na no hemitórax direito, com 3 dias de
evolução, que agravava com a inspiração profun-
A crioglobulinemia mista é uma doença multissis- da e com o decúbito dorsal, associado a dispneia
témica rara caracterizada pela presença de com- para pequenos esforços e febre. No exame objetivo
plexos imunes crioprecipitáveis, que se manifesta destacava-se taquicardia e diminuição dos sons
classicamente por uma tríade clínica de púrpura, respiratórios nas bases pulmonares. Analiticamente
artralgias e astenia. A glomerulonefrite membra- anemia, elevação dos parâmetros inflamatórios e

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 307


dos D-Dímeros. TC-Tórax monstrou derrame pleu- ca e analítica progressiva, com redução drástica da
ral laminar bilateral, sendo internada para estudo. hiperferritinemia e resolução das disfunções de ór-
Angio-TC toraco-abdomino-pélvico mostrou adeno- gão. Após estabilidade clínica prosseguiu-se estudo
patias mediastínicas e abdominais, derrame pleural etiológico, tendo realizado biópsia óssea que revelou
e pericárdico de pequeno volume, ascite de médio mielodisplasia com excesso de blastos e hemofago-
volume e espessamento do peritoneu e do endomé- citose. Discutido caso com a Hematologia optando-
trio inespecíficos.Colocada a hipótese diagnóstica -se apenas por terapêutica de suporte atendendo a
de neoplasia linfoproliferativa vs neoplasia gineco- performance status. Apesar da marcada melhoria ini-
lógica. Evolução em sépsis com ponto de partida cial, observou-se novo agravamento clínico em con-
não identificado e síndrome de lise tumoral espon- texto de choque séptico com ponto de partida em
tânea, acompanhada de insuficiência respiratória colecistite aguda litiásica, tendo o doente acabado
grave, sendo transferida para unidade de cuidados por falecer.
intensivos. Realizada laparoscopia exploradora
que mostrou carcinomatose peritoneal e drenagem A abordagem ao estado hiperinflamatório é crucial
de líquido ascítico (LA) serohema´tico. Citometria para o controlo da HLH, tendo a IgIV um papel rele-
de LA e aspirado medular sem alterações. Quadro vante. Destaca-se com este caso a necessidade de
sustentado de febre, taquicardia sinusal, taquipneia abordagem precoce na HLH, por vezes empírica na
e hipercaliémia. Pela instabilidade da doente, sem presença de disfunção multiorgânica, com o intuito
condições para qualquer tipo de intervenção tera- de reduzir a elevada mortalidade.
pêutica dirigida à neoplasia, acabando por falecer.
À posteriori a anatomia patológica do LA monstrou PA n.º 2227 
uma neoplasia mesenquimatosa maligna de células Metástase cerebral e sintomas neurológicos como
redondas. O sarcoma de células redondas é uma 1ª manifestação de Neoplasia Pulmonar - Casuís-
neoplasia rara com um diagnóstico complexo e de tica
mau prognóstico, que está dependente do grau his- Pedro Simões(1);Filipa Rodrigues(1);Andreia
tológico, do tamanho do tumor e do estado clínico Diegues(1);Micaela Sousa(1);Sandra Raquel Sou-
do doente. sa(1);Elisa Tomé(1);Miriam Blanco(1)
(1) Unidade Local de Saúde do Nordeste
PA n.º 2207  Tema: Doenças oncológicas
LINFOHISTIOCITOSE HEMOFAGOCÍTICA SECUN-
DÁRIA A SÍNDROMA MIELODISPLÁSICA
Introdução: A neoplasia do pulmão é o cancro mais
Mariana Belo Nobre(1);Miguel Cabral Carrilho(1);-
comummente associado à apresentação com me-
Teresa Gouveia(1);Ricardo Taborda(1);Ryan Costa
tástase cerebral. Em 20% dos doentes com neopla-
Silva(1);Inês Goulart(1);Joana Rosa Martins(1)
sia de origem pulmonar as lesões cerebrais surgem
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi-
antes ou aquando do diagnóstico primário. O carci-
tal de Santa Maria
noma de pequenas células (CPC) tem maior proba-
Tema: Doenças hematológicas bilidade de metastização dada a maior dificuldade
no diagnóstico inicial. Em cada caso, o prognostico
está dependente do tipo histológico do tumor pri-
A linfohistiocitose hemofagocítica (HLH) resulta mário, tratamento, capacidade funcional, idade e
de um estado hiperinflamatório que se acompa- número de metástases cerebrais.
nha com frequência de disfunção multiorgânica,
tendo por isso elevada mortalidade. Associa-se
com frequência a neoplasias hematológicas, mas a Objetivo: Determinar quais as características dos
associação a síndromas mielodisplásicas (SMD) é doentes que apresentaram doença neoplásica cere-
incomum. bral e sintomas neurológicos associados, como pri-
meira manifestação de doença neoplásica pulmonar
primária.
Doente de 87 anos, com antecedentes de anemia
refratária com excesso de blastos tipo 1 (AREB-1), Material e Métodos: Análise retrospetiva dos proces-
admitido por febre, prostração, dispneia, icterícia, sos de doentes com o diagnóstico de novo de neo-
hipoxemia e discrasia hemorrágica. Da avaliação plasia cerebral, no período entre Janeiro de 2017 e
analítica destacava-se pancitopenia, citocolestase Abril de 2021.
marcada, prolongamento do INR, retenção azotada,
hiperferritinemia, hipertrigliceridemia e elevação dos Resultados: Das 75 lesões cerebrais codificadas, 11
parâmetros inflamatórios. Atendendo ao quadro de (15%) traduziram-se na apresentação inicial de neo-
disfunção multiorgânica (neurológica, hematológica, plasia pulmonar primária. 82% dos doentes (9) eram
hepática, renal e respiratória) em doente com SMD, do sexo masculino, com idade média de 66±10 anos,
que cumpria critérios para diagnóstico presuntivo de com máximo de 84 e mínimo de 48 anos.  9 doen-
HLH, e não se podendo excluir quadro séptico conco- tes com mRankin de 0, os restantes 2 e 3. Em ter-
mitante, optou-se por iniciar antibioterapia empírica mos de comorbilidades  destaque para o tabagismo
de largo espectro e imunomodulação com gamaglo- (82%), HTA (72%), DPOC (18%) e Dislipidemia (18%).
bulina, até resolução do quadro infeccioso que per- 1 doente (9%) apresentava história familiar direta de
mitisse associar corticoterapia em alta dose como neoplasia do pulmão. 2 doentes tinham história de
preconizado para a HLH. Observou-se melhoria clíni- neoplasia (próstata e leucemia). Relativamente aos
308
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
sintomas iniciais, destaque para tonturas (73%), de- drome depressiva major é admitida no Serviço de
sequilíbrio (55%), cefaleia (36%), défice neurológico Urgência por depressão do estado de consciência.
focal (36%), convulsão (36%) e disartria/afasia (9%). Estaria medicada com topiramato, alprazolam,
fluoxetina e ciamemazina. Da avaliação inicial des-
A localização mais comum foi a frontal esquerda taca-se sonolência, abertura ocular à chamada mas
(36%), seguida da occipital esquerda e frontal direita sem atenção captável, pupilas em midríase e pouco
com 3 doentes (27%) em cada, cerebelosa direita em reativas à luz, mioclonias faciais ocasionais e rigi-
2 doentes (18%).  A neoplasia primária encontrava-se dez dos membros superiores e reflexos osteoten-
no pulmão direito em 7 casos (64%). Nos restantes, dinosos vivos, sem assimetrias e ainda taquicardia
3 estavam localizadas à esquerda e, num caso, não sinusal. Analiticamente com creatina quinase au-
foi possível identificar a sua localização. 4 doentes mentada, ligeira leucocitose e aumento da proteína
(36%) apresentavam outras metástases, nomeada- C reativa. No eletrocardiograma destaca-se prolon-
mente ósseas (2 doentes), ganglionares abdominais gamento do intervalo QT corrigido e o eletroencefa-
(2) e pulmão contralateral (1). 6 doentes tiveram in- lograma revelou eletrogénese de base contaminada
dicação para abordagem cirúrgica, tendo sido sub- por excesso de ritmos de atividade rápida, sem
metidos a exérese da lesão cerebral e Radioterapia atividade epileptiforme. Admitiu-se o diagnóstico de
(RT). Os restantes realizaram Quimioterapia e RT. O síndrome serotoninérgica e a doente foi admitida na
adenocarcinoma do pulmão foi o mais comum (45%) Unidade de Cuidados Intensivos para terapêutica de
seguindo-se do carcinoma epidermoide (27%) e car- suporte. Iniciou fluidoterapia para a rabdomiólise e
cinoma neuroendócrino (18%). 6 doentes faleceram midazolam para controlo do quadro de mioclonias,
(55%), com um tempo médio de 10,6 meses. Nestes, com boa evolução clínica e resolução completa do
em 50% o diagnostico foi adenocarcinoma do pul- quadro após 3 dias.
mão, carcinoma de pequenas células e epidermoide
em 16%. Um não realizou biópsia. Discussão:
Conclusões: A percentagem desta forma de apre- O espectro de manifestações clínicas da síndrome
sentação na amostra é similar à descrita na litera- serotoninérgica é vasto, inespecífico e altamente
tura. Apesar de a probabilidade de metastização ser variável, levando muitas vezes a um subdiagnóstico
superior no CPC, nesta amostra o carcinoma de não desta entidade, seja por atribuição dos sintomas e
pequenas células (adenocarcinoma e epidermoide) sinais a outras causas, desvalorização dos casos
predomina (72%) podendo ser explicado pela maior mais ligeiros ou ausência de suspeita clínica. As-
prevalência deste subtipo histológico (70% da litera- sim, o grau de suspeição deverá ser elevado, para
tura) e pelo viés da amostragem . Registou-se uma que sejam suspensos todos os fármacos poten-
elevada taxa de mortalidade com 66% (4) de doen- cialmente causadores e iniciada terapêutica com a
tes do sexo masculino, correspondendo aos doentes maior brevidade possível. As principais manifesta-
com maior número de lesões cerebrais, com doença ções a ter em atenção incluem alteração do estado
mais disseminada, idade mais avançada e mais co- de consciência (desde ansiedade a coma), altera-
morbilidades. ções autonómicas (diaforese, taquicardia, hiperter-
mina, hipertensão) e hiperatividade neuromuscular
PA n.º 2239  (tremor, mioclonias, rigidez, hiperreflexia).
SÍNDROME SEROTONINÉRGICA: A PROPÓSITO DE
UM CASO CLÍNICO PA n.º 2240 
Rita Tinoco Magalhães(1);Rita Valadas(1);Maria Dermatose criptococóide: iododerma aguda após
Margarida Andrade(1);Marta Ramos(1);Patrícia Ci- encerramento de apêndice auricular
priano(1);Diogo Cruz(1) João Lourinho(1);Maria Rita Dias(1);Daniela Cru-
(1) Hospital Cascais z(1);Liliana Alves(1);Pedro Beirão(1);Francisca De-
lerue(1)
Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente crí- (1) Hospital Garcia de Orta, EPE
tico
Tema: Doenças raras
Introdução:
Introdução
A síndrome serotoninérgica é uma entidade clínica
decorrente do excesso de atividade serotoninérgica A iododerma é uma dermatose neutrofílica rara
no sistema nervoso central e acarreta risco de vida. que pode ocorrer após exposição a contraste ioda-
Ocorre no contexto do uso indevido de fármacos do. Apresenta-se comumente sob uma erupção ac-
com ação nos recetores de serotonina. Os autores neiforme e mais raramente com pústulas e bolhas
apresentam um caso clínico que evidencia a ines- hemorrágicas. Os locais mais afetados são a face,
pecificidade do quadro apresentado e a importância tronco e extremidades. O diagnóstico é de exclusão,
de manter um elevado índice de suspeição de forma e o tratamento pode ser apenas de suporte ou incluir
a reconhecer esta condição atempadamente. corticoterapia, ciclosporina ou hemodiálise.
Caso clínico: Caso clínico
Uma mulher de 22 anos com antecedentes de sín- Mulher de 70 anos, sem alergias conhecidas, com

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 309


antecedentes de doença renal terminal sob hemo- niana: está mantida a permeabilidade das artérias
diálise e fibrilhação auricular. Dois dias após encerra- intracranianas de grande e médio calibre, com pa-
mento do apêndice auricular esquerdo (AAE) e início drão de atrofia cerebral difusa central. Foi internado
de dupla antiagregação, inicia quadro de múltiplas na Unidade de AVC. À avaliação, sem estigmas de
úlceras cutâneas, vesículas e bolhas de conteúdo hepatopatia cronica e ecografia abdominal normal.
hemático, dolorosas, na face (incluindo mucosas Analiticamente com serologias reativas para a pre-
oral e nasal), tronco e membros (incluindo palmas sença de anticorpos de Treponema pallidum, tando
das mãos). Apresentava ainda hiperemia conjuntival.  VDRL, como TPHA e negativos para HIV, HCV, HBV.
Foi realizada punção lombar, cujo liquor apresentou
Laboratorialmente salientava-se neutrofilia isolada pleocitose linfocítica, proteinorraquia e VDRL positi-
(8,26 g/L) e proteína C reativa de 11,01 mg/dL, pla- vo. Para melhor esclarecimento das lesões do Siste-
quetas e provas de coagulação normais, serologias ma Nervoso Central realizou ressonância magnética
e hemoculturas negativas. (RM)-CE: Sem evidencia de lesões vasculares. Atro-
fia cortico-subcortical cerebral difusa e atrofia me-
Colocou-se a hipótese de reação alérgica ao ácido socefálica, sugestivo de fase tardia de Neurossífilis. 
acetilsalicílico ou clopidogrel, aos materiais do dis- Perante o diagnóstico de neurossífilis, foi iniciada te-
positivo de encerramento do AAE ou ao contraste rapêutica com penicilina G, objetivando-se melhoria
iodado utilizado. Considerou-se ainda infeção herpé- clínica significativa. 
tica disseminada, tendo cumprido sete dias de aci-
clovir, e síndrome de Sweet bolhoso, tendo iniciado Os autores destacam este caso como exemplo da
prednisolona neste contexto. multiplicidade de manifestações neurológicas da
sífilis, surgindo como apresentação inicial a doença
Precedendo a corticoterapia, realizou biópsia cutâ- parenquimatosa e posteriormente Meningovascular.
nea que revelou marcado infiltrado inflamatório mis- Pretende-se realçar a importância de equacionar esta
to, necrose, vasculite leucocitoclásica e estruturas patologia no estudo de doenças neurocognitivas res-
com halo – achados sugestivos de iododerma. Veri- salvando a inclusão de achados imagiológicos atípi-
ficou-se melhoria clínica célere em resposta à corti- cos e a variabilidade clínica para o seu diagnóstico.
coterapia com cicatrização das lesões cutâneas.
PA n.º 2248 
Discussão Ameaça dupla - um caso de anemia perniciosa con-
comitante com anemia hemolítica autoimune
A iododerma é uma entidade rara, com poucos ca-
Beatriz Barata(1);Daniela Guerreiro Carneiro(1);Inês
sos descritos na literatura. Dada a elevada utilização
Urmal(1);Manuel de Albuquerque(1);Jorge Salsinha
de contraste iodado, concluímos ser importante o
Frade(1);Carlota Lalanda(1);Pedro Mesquita(1);João
seu conhecimento para ser considerada na discus-
Teixeira(1);Elisabete Brum de Sousa(1);Rita Claro
são diagnóstica e abordada o mais precocemente
Santos(1);Cláudia Neves(1);Elisabete Margarido(1)
possível.
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE / Hos-
PA n.º 2245  pital de Santo António dos Capuchos
Neurossífilis acidental - o desafio do diagnóstico
Tema: Doenças hematológicas
Maria Pacheco(1);João Barros Rodrigues(1);Ivan
Marcelo Martins Antunes(1);Luís Veiga(1);Ana Tere-
sa Moreira(1);Adriano Cardoso(1) A anemia perniciosa é uma anemia megaloblástica
(1) Unidade Local de Saúde da Guarda, EPE / Hospi- causada pelo défice de vitamina B12, pela presença
tal Sousa Martins de autoanticorpos que impedem a sua absorção e
provocam gastrite atrófica autoimune. Na anemia
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias hemolítica autoimune existe a destruição de eritró-
citos por autoanticorpos, que podem atuar a quente
A sífilis é uma infeção sistémica de transmissão (temperatura corporal) ou a frio (geralmente nas
sexual provocada pelo Treponema pallidum.  A neu- extremidades corporais). A ocorrência destas duas
rossífilis exige elevado grau de suspeita, devido à entidades em simultâneo é rara.
grande variabilidade e inespecificidade de manifes-
tações clínicas, sendo mimetizadora de outras pato- Apresentamos o caso de uma mulher de 51 anos,
logias neurológicas. que se apresenta no serviço de urgência com aste-
nia e anorexia com duas semanas de evolução. A
Apresentamos um doente do sexo masculino, de 54 avaliação laboratorial revelou pancitopenia de novo,
anos, parcialmente autónomo, com antecedentes de hiperbilirrubinémia indirecta, lactado desidrogena-
alcoolismo, e processo demencial atribuído a doen- se significativamente aumentada e haptoglobina
ça hepática alcoólica, embora sem estudo dirigido. muito diminuída. O esfregaço de sangue periférico
Admitido no serviço de urgência por um quadro de mostrou abundantes aglutinados eritrocitários com
vómitos, hemiparesia direita, prostração, disartria e melhoria após aquecimento, macroovalócitos, cé-
crises convulsivas sendo triado como via verde de lulas em gota, e neutrófilos hipersegmentados. O
AVC. Ao exame neurológico apresentava uma afa- sedimento urinário não revelou alterações.
sia global, hemiparesia àdireita e dismetria na prova
É internada com hipótese diagnóstica de anemia
dedo-nariz. Na tomografia computorizada (TC) cra-

310
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
hemolítica autoimune e inicia terapêutica com cinose cutânea e as provas de função respiratória
prednisolona 1mg/kg/dia. A investigação demonstraram padrão restritivo. No decorrer do es-
complementar mostrou teste de Coombs positivo tudo, a doente veio ainda a desenvolver fenómeno
forte para IgG e C3d e presença de anticorpo anti-I de Raynaud trifásico e dismotilidade esofágica, que,
(crioaglutinina) em título 1:64; concomitantemente associadas à calcinose, levantaram a suspeita de
défice de vitamina B12 <125pg/ml e presença de sobreposição com esclerose sistémica.
autoanticorpos anti-células parietais e anti-factor
intrínseco positivos, confirmando o diagnóstico Discussão:
simultâneo de anemia perniciosa.
As síndromes de sobreposição são condições clí-
Na presença de anemia megaloblástica com hemó- nicas relativamente frequentes dentro do espectro
lise e Coombs positivo, uma abordagem cuidadosa da patologia autoimune e cujo diagnóstico assenta
e sistemática é necessária. Sabemos que, ocasio- essencialmente em critérios clínicos e laboratoriais.
nalmente, a anemia perniciosa pode ser causa de A associação de colangite biliar primária com escle-
hemólise, e em casos raros pode ser acompanhada rose sistémica é uma entidade conhecida mas rara,
de um teste de Coombs directo positivo. Está tam- cuja identificação ganha particular relevância pelas
bém associada a maior incidência de outras doen- potenciais implicações prognósticas. Apesar da po-
ças autoimunes. Neste caso, a presença de crioa- sitividade para anti-Mi2, a doente não apresentava
glutininas sugere a coexistência rara de Anemia clínica ou critérios diagnósticos de dermatomiosite.
hemolítica autoimune e Anemia Perniciosa. No entanto, esta terceira associação também se
encontra descrita, pelo que se mantém a vigilância.
PA n.º 2261 
CALCINOSE CUTÂNEA EM DOENTE JOVEM: UMA PA n.º 2273 
ASSOCIAÇÃO INESPERADA PANCITOPENIA POR INFEÇÃO A CITOMEGALOVÍ-
Rita Tinoco Magalhães(1);Maria Margarida Andra- RUS NO ADULTO IMUNOCOMPETENTE
de(1);Rita Valadas(1);Marta Ramos(1);Patrícia Ci- Sara Pereira(1);Marta Matos Pereira(1);Ana So-
priano(1);Diogo Cruz(1) fia Ferreira(1);Sabina Azevedo(1);Selmira Faral-
(1) Hospital Cascais do(1);Paula Brandão(1)
(1) Hospital Conde de Bertiandos, ULSAM
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
culites Tema: Doenças infecciosas e parasitárias

Introdução: INTRODUÇÃO

As síndromes de sobreposição autoimunes são A infeção por citomegalovírus (CMV) em doentes


condições clínicas nas quais os doentes apresen- imunocompetentes raramente se associa a compli-
tam manifestações de pelo menos duas doenças do cações. Em casos excecionais, pode cursar com su-
tecido conjuntivo. Os autores apresentam um caso pressão medular e consequente pancitopenia grave.
clínico cuja marcha diagnóstica se inicia com uma
lesão nodular cutânea e culmina a revelar uma pos- CASO CLÍNICO
sível síndrome de sobreposição de colangite biliar
Mulher de 75 anos, institucionalizada em lar, medica-
primária com esclerose sistémica com atingimento
da com trazodona por insónia.
pulmonar.
Recorreu ao serviço de urgência por dispneia, tosse
Caso clínico:
seca e febre com vários dias de evolução. Ao exa-
Uma mulher de 54 anos enviada à consulta de Me- me físico apresentava diminuição global do murmú-
dicina Interna por lesão nodular recidivante do 2º rio vesicular e crepitações na base direita. Realizou
dedo da mão esquerda, com 6 anos de evolução, estudo analítico, com pancitopenia (Hb 6,6g/dL, 500
sem sintomas associados ou sinais inflamatórios. leucócitos/mm3, 13000 plaquetas/mm3) e eleva-
A lesão foi biopsada e foi atribuído o diagnóstico ção da proteína C reativa. Foi realizada transfusão
de tofo gotoso. No entanto, não havia antecedentes de concentrado eritrocitário e iniciada antibioterapia
de gota e a doente apresentava clínica de cansaço empírica por pneumonia associada aos cuidados de
inespecífico e prurido generalizado e anteceden- saúde.
tes familiares relevantes de doenças autoimunes.
Realizou estudo complementar da Pancitopenia,
Optou-se por estender a investigação, da qual se
sendo objetivada anemia normocítica normocrómi-
destaca padrão de colestase hepática e anticorpos
ca com ferropenia grave, e serologias IgM e IgG para
antimitocondriais, anti-Mi2 e anti-Ro52 positivos. No
CMV positivas. O restante estudo etiológico foi ne-
estudo imagiológico, observaram-se extensas áreas
gativo, sendo assumida pancitopenia por infeção a
de vidro despolido, sinais de fibrose intersticial e
CMV.
bronquiectasias em ambas as bases pulmonares;
fígado sem alterações. Face à suspeita de colangite Discutido caso com Hematologia, que foi da opinião
biliar primária, foi realizada biópsia hepática, que de não iniciar terapêutica com ganciclovir pelo risco
confirmou o diagnóstico. A revisão das lâminas da acrescido de supressão medular, e protelar realiza-
biópsia da lesão do dedo foi compatível com cal-
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 311
ção de mielograma consoante evolução clínica. rável (Hb 10.9g/dl). Discussão: Trata-se de um caso
de AHAI por anticorpos quentes (IgG) de provável
Durante o internamento manteve anemia com ne- etiologia idiopática em um paciente com ELA, cujo
cessidade de suporte transfusional e suplementa- trigger provável foi a infeção. Iniciou tratamento
ção com ferro endovenoso, mas teve normalização com prednisona, primeira linha na AHAI quente, efe-
gradual da contagem de leucócitos e plaquetas até à tiva em 70-85% casos, com resposta favorável.
data de alta para o lar.
DISCUSSÃO PA n.º 2282 
Porque é que os adultos com drepanocitose são
A infeção por CMV é frequentemente assintomática, internados?
mas em casos raros pode cursar com supressão Sofia Prada(1);Ana Rita Freitas(1);Beatriz Portei-
medular e pancitopenia grave. A decisão de iniciar ro(1);Elizeu Ekundi(1);Marinela Major(1)
terapêutica com ganciclovir deve ter em conta que (1) Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca
este pode inibir ainda mais a resposta medular.
Além da etiologia vírica, devemos considerar tam- Tema: Doenças hematológicas
bém a toxicidade medular de determinadas classes
farmacológicas de uso comum como possível cau- Introdução: A doença de células falciformes (DCF)
sa de pancitopenia. ou drepanocitose é a doença monogénica mais co-
mum do mundo, sendo uma hemoglobinopatia es-
PA n.º 2277  trutural que leva à presença de hemoglobina S (HbS)
Quando a Anemia Hemolítica acompanha a Escle- em circulação. São doentes com anemia crónica
rose Lateral Amiotrófica que podem sofrer de complicac¸o~es agudas que
Ana Morais Alves(1);Ana Rafael(1);Cristiana Sou- motivam internamento hospitalar: crises vaso-oclu-
sa(1);Manuel Cunha(1);Fernando Salvador(2) sivas (CVO), si´ndrome tora´cico agudo (STA), crises
(1) Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Dou- apla´sicas, infecc¸o~es, acidente vascular cerebral,
ro, EPE / Unidade Hospitalar de Chaves (2) Centro entre outras. A principal arma terapêutica é a hidro-
Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro, EPE / xiureia, que atua de forma a estimular a produção
Hospital de Vila Real de hemoglobina fetal (HbF). Alguns estudos apon-
tam para um aumento das admissões hospitalares
Tema: Doenças hematológicas
nestes doentes, mas os dados epidemiolo´gicos
sobre esta hemoglobinopatia na população adulta
Introdução: A Anemia Hemolítica Autoimune (AHAI) em Portugal são poucos e desatualizados.
é incomum e causada por autoanticorpos contra
os glóbulos vermelhos. AHAI é idiopática (50%) ou
Objetivo: Análise descritiva da população de adultos
secundária a síndromes linfroproliferativos (20%),
com DCF seguidos em consulta de Medicina Interna
doenças autoimunes (20%), infeções, neoplasias
num hospital distrital. Caracterizar os internamentos
e fármacos. Classifica-se segundo os anticorpos
dos doentes com DCF ao longo de 5 anos (2016-
detetados: quente (IgG), fria (IgM) ou mista. O diag-
2020).
nóstico feito pela presença de anemia hemolítica
e autoanticorpos no teste de antiglobulina direta Material e Métodos: Análise retrospectiva dos inter-
(DAT). Caso clínico: homem, 69 anos, dependente namentos da população com o diagnóstico de DCF
com antecedentes de Esclerose Lateral Amiotrófica seguida em consulta de Medicina Interna, entre o
(ELA) - tetraparésia, alimentado por PEG, sob oxige- período de janeiro de 2016 até dezembro de 2020.
noterapia e ventilação não invasiva noturna; Anemia Foram analisados os registos clínicos informáticos
normocítica normocrónica (sem investigação), sem e utilizados métodos de análise descritiva para ca-
transfusões prévias. Recorre à urgência por pros- racterizar a população com base nas características
tação, febre e disúria. Analises com aumento parâ- demográficas e clínicas.
metros inflamatórios; urina: leucócitos. Admitido
por cistite aguda, isolada Proteus mirabilis, dirigida Resultados: De um total de 36 doentes estudados,
antibioterapia. No internamento com agravamento 23 eram do sexo feminino (63,9%) e 13 do sexo mas-
da anemia, pedido estudo. Destava-se Anemia (Hb) culino (36,1%), sendo a média de idades de 32 anos.
7.8 g/dl, hematócrito 25.1%, MCV 97fL, MCH 30.1pg, Durante o período de seguimento, o número total de
RDW 13.7%, plaquetas 705000/uL, reticulócitos internamentos foi de 92 (17 em 2016, 18 em 2017,
8.33% (0.215), esfregaço sangue periférico: aniso- 20 em 2018, 25 em 2019 e 12 em 2020), sendo que
cromia eritrocitária; LDH 179 U/L; Bilirrubina direta/ 25 doentes (69,4%) tiveram pelo menos um interna-
indireta 1.1/0.6 mg/dl; haptoglobina 2 mg/dl; ele- mento por uma complicação associada à doença.
troforese proteínas policlonal com imunoglobulinas Nesses casos, o principal motivo de internamento
sem alterações; rastreio ANAS negativo. DAT: IgG foi CVO, representando 72,5% dos internamentos. O
(3+), IgA(-), IgM(-), C3c(-), C3d(-), ctl(-); subclasse número de internamentos por CVO aumentou ao lon-
IgG – IgG1 positivo, IgG3 negativo; diluição Anti-IgG go dos anos, exceto em 2020. Dos 25 doentes com
positivo 1:100; eluado positivo. Teste antiglobulina internamentos, 64% estava medicado cronicamente
indireto positivo. Assumida AHAI por anticorpos com hidroxiureia, dos quais 31,3% admitia incumpri-
quentes IgG, iniciou tratamento com prednisona mento terapêutico. Por outro lado, dos doentes sem
1mg/kg, reavaliação em 15 dias com resposta favo- história de internamentos, apenas 36,4% estava me-

312
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
dicado com hidroxiureia. Não se verificou diferença mo glicolítico dos catéteres do PM/tecidos adjacen-
significativa no doseamento de HbS entre os dois tes no trajeto supraclavicular e cardíaco. Assumida
grupos. Os doentes que foram hospitalizados foram EI valvular tricúspide em doente com PM. Apesar de
também os que tiveram em média um maior núme- cumprir 30 dias de ATB não houve controlo do foco
ro de consultas por ano (47,8 vs. 13,6 consultas por sendo submetido a remoção de PM, com isolamen-
ano). O número de consultas não sofreu uma varia- to de MSSA nos elétrodos. Re-implantado PM, sem
ção significativa ao longo dos anos intercorrências. ETE à posteriori com vegetação na
face auricular da válvula tricúspide, cumpriu 4 sema-
Conclusões: Trata-se de uma população jovem por- nas de  flucloxacilina 12g/dia com evolução favorá-
tadora de uma doença potencialmente grave e com vel.
elevada morbimortalidade associada. É uma doença
para a qual as armas terapêuticas disponíveis ainda Conclusão
são limitadas, o que somado à grande percentagem
de incumprimento terapêutico dificulta o controlo Apresenta-se o caso pela importância da suspeita
da doença. Por ser uma doença com manifestações do diagnóstico de EI em doentes com febre e bac-
multissistémicas é necessário um acompanhamen- teremia. O atraso no diagnóstico e no tratamento
to próximo. A percentagem de internamentos por está associado a complicações como regurgitação
CVO neste grupo de doentes é semelhante aquela valvular, insuficiência cardíaca, eventos embólicos,
descrita noutros estudos. Verificou-se um aumento sépsis e morte. É essencial o controlo do foco in-
no número de internamentos (maioritariamente por fecioso, com especial enfoque nos doentes porta-
CVO) ao longo dos primeiros 4 anos de seguimento, dores de dispositivos cardíacos (local de biofilme).
sendo que durante a pandemia COVID-19 este núme- Realça-se ainda o papel do PET na confirmação do
ro diminuiu, o que pode estar relacionado com uma diagnóstico.
eventual maior preocupação com a doença e adesão
à consulta/terapêutica.  PA n.º 2288 
VASCULITE: EFEITOS INDESEJADOS DA VACINA-
PA n.º 2287  ÇÃO EM ERA SARS-COV2
Endocardite infecciosa associada a pacemaker: Rita Almeida(1);Ana Lemos(1);Paula Manuel(1);Inês
importância do diagnóstico atempado e controlo de Damásio(1);Rafaela Evangelista(1);Elisa Veigas(1)
foco (1) Centro Hospitalar Tondela-Viseu, EPE / Hospital
Patrícia Sôra Sobrosa(1);Miguel Costa(1);Joana de São Teotónio, EPE
Couto(1);Raquel Afonso(1);Luciana Sousa(1);Raquel
Lopez(1);Diana Guerra(1) Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
(1) Unidade Local de Saúde do Alto Minho, EPE / culites
Hospital de Santa Luzia
Introdução: A vasculite cutânea de pequenos vasos
Tema: Doenças cardiovasculares é uma forma localizada de vasculite, que se carac-
teriza por inflamação de pequenos vasos da pele,
Introdução sem que haja atingimento sistémico. Em grande
parte dos casos é idiopática, embora a investigação
da causa subjacente seja essencial. Apresenta-se
A endocardite infeciosa (EI) é uma infeção das válvu- como púrpura palpável das extremidades inferiores
las cardíacas ou do endocárdio mural com elevada e a biópsia cutânea deve fazer parte da marcha
morbi-mortalidade, devendo o seu diagnóstico ser diagnóstica inicial.
célere.
Caso Clínico Caso Clínico: Mulher, 80 anos, encaminhada ao Ser-
viço de Urgência (SU) por exantema com início 3 dias
Homem de 60 anos, portador de pacemaker (PM) por após a 2ª dose da vacina contra a Covid-19. Ante-
bloqueio auriculoventricular completo há 20 anos. In- cedentes de neoplasia do ovário, psoríase gutata,
ternado por síndrome febril. À admissão, hipotenso, dermatite atópica, diabetes mellitus e hipertensão
taquicárdico, febril, pálido e com edema bimaleolar. arterial. Observada por Dermatologia no SU que des-
Analiticamente com elevação dos parâmetros infla- creve lesões de púrpura palpável dos membros infe-
matórios, colheu hemoculturas (HC) e iniciou antibio- riores sobrepostas a lesões de psoríase, sugestivas
terapia (ATB) empírica com ceftriaxone. Verificou-se de Vasculite Leucocitoclástica, que tendo em conta
isolamento de staphilococcus aureus multissensí- o contexto epidemiológico parecem enquadrar-se na
vel (MSSA) em HC. Por suspeita de possível EI por história vacinal recente. A doente foi internada ao
MSSA foi alterada ATB para flucloxacilina. Realizou cargo da Medicina Interna com apoio da Dermatolo-
ecocardiograma transesofágico (ETE) que não mos- gia, tendo sido feito estudo complementar exaustivo.
trou vegetações ou outras alterações. Por manter Iniciou antibioterapia para infeção do trato urinário
picos febris e apresentar evolução desfavorável co- (ITU) e corticoterapia oral para as lesões. Do estudo
lheu novas HC e foi pedido Tc torácico que revelou realizado, destaca-se anemia sideropénica e aumen-
embolia séptica pulmonar dispersa e trombose da to da IgA sérica. Biópsia cutânea com alterações su-
veia cava superior. Neste contexto foi modificada gestivas de vasculite de pequenos vasos. Foi excluí-
ATB para gentamicina, vancomicina e rifampicina e do evento paraneoplásico. Foi observada remissão
realizou PET que mostrou focos de hipermetabolis-
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 313
das lesões e teve alta orientada para consulta exter- a uma maior taxa de mortalidade (p<0,05).
na de Medicina Interna e de Dermatologia. 
Conclusões: AP é uma importante causa de morbi-
Discussão: A emergência global em contexto de mortalidade e a sua correta abordagem é essencial.
pandemia SARS-CoV2 impôs um esforço de conver- Em caso de resposta insatisfatória aos antibióticos,
gência sem precedentes da comunidade científica outras opções devem ser consideradas (drenagem/
com vista ao desenvolvimento de vacinas. A sobre- intervenção cirúrgica). O nosso objetivo é conscien-
posição à data do diagnóstico de ITU limita a cau- cializar sobre os principais preditores de um desfe-
salidade exclusiva da vacinação, embora pela janela cho desfavorável.
temporal a coloque como mais provável. Não foi rea-
lizada imunofluorescência, o que limita o diagnósti- PA n.º 2312 
co diferencial de Púrpura de Henoch-Schönlein, que Um raro caso de Metastização Óssea como apre-
embora rara no adulto, se poderia considerar. Este sentação de Carcinoma Gástrico
caso clínico alerta-nos para a necessidade de adap- Marta Pereira(1);Sara Pereira(1);Tiago Mendes(1);-
tarmos a anamnese à nova realidade, de forma a ob- Selmira Faraldo(1)
ter um diagnóstico correto. (1) Hospital Conde de Bertiandos, ULSAM

PA n.º 2289  Tema: Doenças oncológicas


Um olhar sobre o abcesso pulmonar: fatores de ris-
co e preditores de resultado Introdução:
Patrícia Sôra Sobrosa(1);Joana Couto(1);Raquel
Afonso(1);Luciana Sousa(1);Raquel Lopez(1);Diana
Guerra(1) O cancro do estômago é uma das neoplasias mais
(1) Unidade Local de Saúde do Alto Minho, EPE / comuns, com metastização óssea pouco frequente
Hospital de Santa Luzia e raramente como apresentação inicial sem sinto-
mas gastrintestinais. Esta associação condiciona
Tema: Doenças respiratórias um prognóstico sombrio.
CASO CLÍNICO:
Os abcessos pulmonares (AP) tratam-se de cavida-
des com paredes espessadas com material purulen- Homem de 72 anos, fumador (62 unidade-maço/
to nas vias aéreas inferiores, causadas por microor- ano) e com insuficiência venosa dos membros infe-
ganismos anaeróbios ou agentes polimicrobianos. riores (MI).
Encaminhado para o SU por dispneia, ortopneia e
Objetivo: Caracterização dos doentes internados por
edema dos MI com 2 meses de evolução. Associa-
AP, identificação de agentes microbiológicos, dura-
damente com toracalgia pleurítica esquerda, sem
ção de antibioterapia (ATB). Definição de fatores de
febre. Ao exame físico apresentava-se emagrecido,
risco (FR) para complicações e preditores de morta-
com diminuição dos sons respiratórios na base es-
lidade.
querda e edema dos MI até ao joelho. Analiticamen-
Material e métodos: Estudo retrospetivo que incluiu te com pancitopenia, elevação da proteína C reativa,
os doentes internados de 2013 a 2019 com idade su- BNP e desidrogenase láctica, bem como das enzi-
perior a 18 anos e diagnóstico de AP. mas de colestase hepática. O TC torácico revelou
derrame pleural bilateral de maior volume à esquer-
Resultados: Total de 73 doentes, 80% sexo mascu- da, com padrão permeativo dos segmentos ósseos,
lino, com uma média de 62 anos [20-93]. Principais sugestivo de lesão óssea. Realizou então toracocen-
FR foram o tabagismo (45%), alcoolismo (41%) e hi- tese diagnóstica com líquido pleural com caracte-
giene oral deficitária (29%). À admissão apresenta- rísticas de exsudado, pelo que iniciou antibioterapia
vam tosse (80%), expetoração (71%), astenia (51%), com Ceftriaxone e Azitromicina e foi internado para
febre (48%) e hemoptises (18%). A duração média continuação do estudo.
dos sintomas foi 19 dias [1-60]. Em 77% dos AP a
etiologia foi primária. 54.8% apresentava localização Durante o internamento realizou TC abdominopélvi-
no pulmão direito, sendo 11% bilaterais. A maioria co que revelou espessamento do antro e cólon, com
dos estudos bacteriológicos apresentou crescimen- metástases ósseas líticas em D9-L2. Neste sentido,
to polimicrobiano. Dos agentes isolados 29% eram foi pedida cintigrafia óssea que confirmou metasti-
multi-drug resistant (MDR) e 7% extensively resistant zação óssea difusa. Foi assumida neoplasia primá-
(XDR). A duração média do tratamento endovenoso ria oculta, tendo realizado endoscopia alta com ero-
foi 29 dias [7-56], 53% alteraram para oral. 25% apre- sões da mucosa gástrica e endoscopia baixa que
sentaram má resposta aos antibióticos, 17% foram não revelou alterações. A PET-scan foi igualmente
submetidos a drenagem com dreno torácico e 3% por sugestiva de metastização óssea difusa sem foco
cirurgia. A taxa de mortalidade foi de 15%. Os predi- aparente, pelo que fez biópsia óssea, com histolo-
tores de complicações e ausência de resposta aos gia compatível com metastização por carcinoma
antibióticos (p<0,05) foram presença de hemoptises, de células em anel de sinete, também presentes na
mais de 20 dias de sintomas, derrame pleural e isola- biópsia do estômago realizada na EDA.
mento de organismos MDR. A imunossupressão e o
O doente teve alta orientado para consulta de Onco-
isolamento de organismos MDR foram relacionados
314
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
logia, onde foi proposta terapêutica de controlo de álgicas e da mobilidade.
sintomas pela progressiva degradação do estado
geral, tendo vindo a falecer 2 meses após o diag- Destaca-se um caso de EP num doente com lesões
nóstico. cutâneas prévias, mas em que o diagnóstico de pso-
DISCUSSÃO: ríase ainda não tinha sido estabelecido, o que está
descrito em cerca de 15% dos casos. Realça-se a
A metastização óssea de carcinoma gástrico em importância de uma anamnese e exame objectivo
anel de sinete sem sintomas gastrintestinais pré- cuidados, que foram fulcrais na marcha diagnóstica
vios é extremamente rara e agressiva. Este caso deste doente.
destaca a importância de uma marcha diagnóstica
alargada na avaliação dos doentes com lesões ós- PA n.º 2322 
seas suspeitas. Tumor de Células Germinativas Extragonadal -
diagnóstico diferencial de massa retroperitoneal
PA n.º 2316  Ana Catarina Pinto Carvoeiro(1);Patrícia Sobro-
RELAÇÃO UMBILICAL... A PROPÓSITO DE UM sa(1);Ana Afonso(1);Joana Couto(1);Alexandra Este-
CASO DE ESPONDILARTROPATIA PSORIÁTICA ves(1);Paula Felgueiras(1);Diana Guerra(1);Carmélia
Mafalda Vasconcelos(1);Madalena Machete(1);Síl- Rodrigues(1)
via Balhana(1);Carla Noronha(1);Célia Machado(1);- (1) Unidade Local de Saúde do Alto Minho, EPE /
José Lomelino Araújo(1) Hospital de Santa Luzia
(1) Hospital Beatriz Ângelo
Tema: Doenças oncológicas
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
culites Introdução: Os tumores de células germinativas
(TCG) em mais de 90% dos casos têm origem no
Homem, 63 anos, cardiopatia hipertensiva com testículo, constituindo os TCG extra-gonadais uma
insuficiência cardíaca (IC). Internado por queixas entidade rara. CASO CLÍNICO: Homem 42 anos,
agravadas nos últimos 2 meses de cervicalgia sem antecedentes pessoais de relevo. Admitido
incapacitante, rigidez matinal prolongada com im- no SU por queixas de dorso-lombalgia persistente,
portante limitação da rotação cervical, edema dos sem irradiação, refratarias a terapêutica analgésica,
membros superiores com difícil encerramento das associadas a perda ponderal  de 8kg com 1 mês de
mãos e gonalgia bilateral de características infla- evolução. Ao exame objetivo sem alterações. Do
matórias. Sem resposta a anti-inflamatórios não estudo analítico inicial, com LDH de 448U/L e PCR
esteroides (AINE’s). Trazia de ambulatório RMN da de 3.99mg/dL. A TC abdominopélvica mostrou “con-
coluna cervical que mostrou alterações multifocais glomerado adenopático retroperitoneal para-aórtico
de C5-D1 com extensão aos tecidos moles adjacen- esquerdo”. Realizou, em internamento, biópsia de
tes, impondo diagnóstico diferencial entre etiologia massa retroperitoneal, cujo resultado histológico foi
neoplásica, infecciosa ou espondiloartropatia infla- compatível com “neoplasia maligna (escassamente
matória. A anamnese e exame objetivo mais acu- representada), com características de carcinoma,
rados permitiram detetar lesões cutâneas peri-um- coexistindo fragmentos de tecido tumoral necróti-
bilicais sugestivas de psoríase. Na realidade, tinha co”. O estudo por PET de corpo inteiro excluiu outras
lesões psoriáticas adicionais no couro cabeludo, lesões ou metastização à distância. Pela incerteza
sulco internadegueiro e joelho direito que desvalo- do diagnostico histológico, considerado diagnóstico
rizava. Apurou-se ainda que tinha queixas cervicais diferencial de TCG extragonadal, suportado pelo
há mais de 2 anos. Sem diarreia crónica ou patolo- doseamento de β-HCG sérica de 101205mU/ml.
gia ocular inflamatória. Manobras das sacroilíacas Orientado para IPO do Porto, com confirmação de
negativas, teste de Schober positivo e anemia de TCG, mais concretamente coriocarcinoma estadio
carácter inflamatório (Hb 11,4 g/dL, VS 74 mm/1ªh). IIIC S3, após realização de nova biópsia, com início
Afastada etiologia neoplásica por TC toraco-abdo- de quimioterapia com esquema de BEP, verificando-
mino-pélvica sem alterações e normalidade de PSA. -se resposta favorável. DISCUSSÃO: Os TCG extra-
Serologias para VIH, hepatites B e C, Brucella, VDRL gonadais e, mais concretamente, o coriocarcinoma,
negativos. HLA B27 negativo. Perante os achados correspondem a entidades de elevada raridade, sen-
clínicos, suspeitou-se de espondilartropatia psoriáti- do o retroperitoneu o 2º local mais vezes envolvido
ca (EP) pelo que se estendeu RMN a toda a coluna, (13–45%). A reduzida frequência dificulta o diagnós-
destacando-se edema ósseo predominantemente tico histológico no pré-operatório, sendo no início,
no segmento dorsal, principalmente nas articula- muitas das vezes globalmente identificados, como
ções costo-vertebrais e costo-transversárias bila- metastização de carcinoma. Exige, pois, um elevado
teralmente e em cantos (“shiny corner sign”), sem grau de suspeição e a sua consideração como diag-
envolvimento de discos ou coleções paravertebrais, nóstico diferencial é de suma importância. Assim,
favorecendo a hipótese de natureza inflamatória. o doseamento de β-HCG, um marcador clássico de
RMN da bacia com sinais de sacroileíte ativa bi- coriocarcinoma, é crucial. Pela sua escassez, muito
lateral. Por apresentar refratariedade aos AINE’s do que se aplica em termos terapêuticos é, ainda,
(ASDAS 3.9, BASDAI 8.2, BASFI 7) e história prévia com base no que se conhece dos TCG gonadais,
de IC, mediante IGRA negativo, iniciou Secucinumab pelo que o relato de caso assume exacerbada rele-
(anti-IL17) com melhoria significativa das queixas vância

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 315


PA n.º 2328  eram obesos (46.2%) e 8 deles tinham como ante-
Valor dos D-dímeros em doentes com infeção por cedentes pessoais neoplasia (15.4%). Quanto à gra-
SARS-CoV2 vidade da infeção por SARS-CoV2, 5 tinham doença
Daniela Filipa Gomes Soares(1);Rita Maciel(1);Gon- ligeira (9.6%), 5 doença moderada (9.6%), 20 doença
çalo Sarmento(1);Beatriz Vitó Madureira(1);Mariana grave (38.5%) e 22 doença crítica (42.3%).  26 dos
Cabral(1);Rita Pinto Araújo(1) doentes necessitaram de admissão no SMIP (50%).
(1) Centro Hospitalar de Entre Douro e Vouga, EPE /
Hospital de S. Sebastião Da amostra de 1411 doentes, 371 tinham valor de
d-dímeros à admissão. Foram encontradas diferen-
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias ças estatisticamente significativa entre o valor de
D-dímeros e a ocorrência de TEP (p<.001). Por outro
Introdução: A infeção pelo novo vírus SARS-CoV2 lado, não foram encontradas diferenças estatistica-
(Severe Acute Respiratory Syndrome Coronavirus2) mente significativas entre o valor de D-dímeros e o
caracteriza-se por uma resposta inflamatória exube- PESI, nem entre o valor de D-dímeros e a gravidade
rante. A libertação de citocinas e a disfunção endo- da doença COVID.
telial causadas, resulta num excesso de produção Conclusão: Conforme esperado o valor de dímeros
de trombina e diminuição de fibrinólise. Para além relacionou-se com a ocorrência TEP. No entanto, e
disso, estados de hipoxia resultam num aumento ao contrário do que sugerem alguns estudos, não se
da viscosidade sanguínea. Todos estes fatores verificou uma relação entre o valor de D-dímeros e
contribuem para um estado de hipercoaguabilidade a gravidade da doença COVID, nem entre o valor de
no doente com COVID (coronavirus disease). Em D-dímeros e o PESI.
casos graves de infeção, o aleitamento prolongado
também aumenta o risco de tromboembolismo ve- PA n.º 2339 
noso (TEV). Verifica-se nestes doentes um aumento Pneumonite de hipersensibilidade – quando é aqui-
frequente de D-dímeros, podendo mesmo traduzir- lo que parece
-se, segundo a literatura, num fator de prognóstico, Inês Marques Ferreira(1);Rita Carrilho Pichel(1);Célia
sendo este último tanto pior quando maior o valor Maia Cruz(1)
de D-dímeros. Tendo estes fatores em conta, a pro- (1) Centro Hospitalar do Porto, EPE / Hospital Geral
filaxia do TEV torna-se essencial nos casos de infe- de Santo António
ção grave por SARS-CoV2. Assim, segundo a norma
da Direção Geral de Saúde (DGS), a tromboprofilaxia Tema: Doenças respiratórias
com heparina de baixo peso molecular (HBPM) é re-
comendada nos doentes internados com COVID-19,
Introdução: A pneumonite de hipersensibilidade é
exceto se contraindicado.
uma doença imunomediada que se manifesta como
Objetivos: Analisar os doentes internados num doença pulmonar intersticial, em indivíduos susce-
Centro Hospitalar com infeção documentada por tíveis, após exposição a um fator precipitante, que
SARS-CoV2 que tiveram como intercorrência trom- pode não ser identificado em até 60% dos doentes.
boembolismo pulmonar (TEP); Verificar a existência Por esse motivo requer um alto grau de suspeição
de diferença estatisticamente significativa entre: para o diagnóstico correto e atempado.
o valor de D-dímero e a ocorrência de TEP; entre o
valor de D-dímeros a gravidade do TEP, usando o Caso clínico: Expomos o caso de uma mulher de 78
Pulmonary Embolism Severity Index (PESI); entre o anos que se apresentou com clínica de tosse seca
valor de D-dímeros e a gravidade da doença COVID. com um ano de evolução, agravada nos últimos três
meses, associada a pieira, dispneia para esforços
Material e Métodos: Trata-se de estudo observacio- e astenia, já medicada com β2-agonista de longa
nal retrospetivo, cuja amostra são os doentes inter- duração (LABA) e corticóide inalado, sem melhoria.
nados num serviço de Medicina Interna por infeção Tinha provas de função respiratória de ambulatório
por SARS-CoV2 de Março de 2020 a Março de 2021. com defeito ligeiro da difusão alvéolo-capilar do
Avaliaram-se as seguintes variáveis: Sexo; Idade; dióxido de carbono e hiperreatividade brônquica.
Obesidade; Antecedentes pessoais de neoplasia; Esmiuçando a história da doente apurámos uma
Gravidade da infeção por COVID; Valor de dímeros; exposição mantida a pombos, periquitos e baratas.
Diagnóstico de TEP; Admissão no Serviço de Medi-
cina Intensiva Polivalente (SMIP); PESI. A análise de À auscultação pulmonar apresentava crepitações
dados foi realizada com o programa SPSS versão secas. Do estudo efetuado salienta-se
27 (IBM Corporation, 2020). Para a descrição das marcadores inflamatórios elevados e tomografia
variáveis foram utilizadas frequências absolutas (n) computadorizada do tórax de alta resolução com
e relativas (%). Para avaliar a diferença de mediana padrão reticular subpleural bilateral e espessamento
entre os grupos, usaram-se os testes não paramétri- de septos, com componente fibrótico, associado a
cos Mann–Whitney e Kruskal–Wallis. um padrão de perfusão em mosaico, com elevação
do doseamento de precipitinas séricas a pombos
Resultados: Obteve-se uma população de 1411 e periquitos (IgG anti-pombo 297 mg/L e IgG anti-
doentes, das quais 52 doentes tiveram episódio periquito 281 mg/L). Estudo imunocitológico do
de TEP (3.7%), 21 homens, 31 mulheres, com uma lavado bronco-alveolar com alveolite mista de
média de idade de 72 anos. Destes 52 doentes, 24 predomínio linfocítico.
316
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
Durante o internamento, verificou-se melhoria clíni- reação ao excesso de histamina produzido na car-
ca, ainda antes da introdução de corticóide oral, em ne do peixe. A semelhança dos sintomas entre dois
provável relação com a suspensão da exposição. indivíduos que ingeriram o mesmo alimento em si-
O período do internamento permitiu a remoção dos multâneo e níveis elevados de histamina plasmática,
periquitos, limpeza e desinfestação do domicílio. permitiu fazer o diagnóstico clínico e diferencial de
Iniciou prednisolona 40 mg. No seguimento aos 3 alergia alimentar.  
meses, manteve evolução favorável.
Pretende-se com o presente caso clinico alertar os
Discussão: O presente caso clínico descreve o diag- profissionais de saúde para a existência desta enti-
nóstico de uma pneumonia de hipersensibilidade dade nosológica cuja identificação apresenta impor-
com clínica e achados imagiológicos típicos, para tantes implicações de saúde publica.   
o qual a caracterização cuidada do ambiente e ex-
posição foi fulcral. Os estigmas de cronicidade e PA n.º 2346 
fibrose, bem como inflamação ativa, sustentaram Pelagra: uma entidade reemergente no século XXI?
a introdução de corticóide sistémico associada à Ana Patrícia Nunes(1);Andreia Pestana(1);Luís Ma-
cessação da exposição aos agentes identificados. rote Correia(1);Antonio Chaves(1)
Toda a abordagem contribuiu para a rápida melhoria (1) Hospital Dr. Nélio Mendonça
clínica com impacto na qualidade imediata de vida e
no prognóstico a longo prazo. Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio-
nais
PA n.º 2343 
“Intoxicação escombróide, a propósito de dois ca- A pelagra é uma doença sistémica causada pelo
sos clínicos.” défice de niacina (vitamina B3) e/ou dos seus pre-
Micaela Manuel(1);Filipe Machado(1);José Pedro cursores. O diagnóstico é feito com base na anam-
Silva(1);Rita Maciel(1) nese e manifestações clínicas, sendo a tríade sinto-
(1) Centro Hospitalar de Entre Douro e Vouga, EPE / matológica típica a presença dos três “D”: dermatite,
Hospital de S. Sebastião diarreia e demência. Trazemos um caso clínico de
pelagra, uma patologia rara na Europa, num doente
Tema: Outro vegano restritivo cuja alimentação consistia exclusi-
vamente em frutas e vegetais. 
A intoxicação escombróide resulta da inadequada
refrigeração de peixes de carne escura das famílias Homem, 54 anos, admitido no Serviço de Urgência
Scombridae e Scomberesocidae (como o atum), que (SU) após ter sido encontrado caído na via pública
condiciona o aumento do sobrecrescimento bacte- com síndrome confusional agudo. Referia como sin-
riano, aumentando a conversão da histadina em his- tomas precedentes fadiga extrema e insónia com
tamina pela enzima bacteriana histamina descarbo- cerca de 2 semanas de evolução. Como anteceden-
xilase. Os sinais e sintomas (mais comuns: flushing tes pessoais referia veganismo restritivo há cerca
na face e pescoço, eritema e rash urticariforme e de 20 anos. Negava medicação habitual. Negava
diarreia), são secundários ao excesso de histami- hábitos tabágicos, etanólicos ou toxifílicos. 
na produzido que ocorre 1 hora após consumo do
alimento contaminado. O diagnóstico é sobretudo Ao exame objetivo (EO) encontrava-se prostrado,
clínico, podendo ser complementada pelo dosea- com flutuações no estado de consciência e amné-
mento de histamina plasmática. A doença é autoli- sia anterógrada desde a admissão. Apresentava hi-
mitada mas em caso de persistência de sintomas, perpigmentação cutânea nas regiões periorbitária e
a terapêutica anti-histamínica H1 é o tratamento de cervical anterior, com restante EO normal. Do estu-
primeira linha. do analítico realizado destaca-se anemia macrocíti-
ca, com hemoglobina de 11.1g/dL e volume corpus-
Trata-se de um casal (homem 44 anos e mulher de cular médio de 103.3fL.  
38 anos), ambos sem antecedentes de relevo, que
recorreram ao serviço de urgência por palpitações, Como meios complementares de diagnóstico reali-
náuseas, sensação de calor, rash cutâneo no tronco, zou TC Cranioencefálica e Eletroencefalograma que
pruriginoso e edema da face imediatamente após in- não revelaram alterações. Foi feita punção lombar
gestão de ceviche de atum. À avaliação de ambos a com saída de líquido cefaloraquidiano límpido. 
salientar eritema generalizado no tronco, conjuntival
O doente foi internado para estudo complementar.
e taquicardia persistente; sem dispneia e sibilos, hi-
Foram realizadas serologias para infeções crónicas
potensão ou insuficiência respiratória. Estudo ana-
com resultado negativo. Foram pedidas análises
lítico sem alterações. Foi realizado doseamento de
completas que revelaram défice grave de vitami-
histamina que revelou níveis acima do limite superior
na B12, com valores indoseáveis. Dado o quadro
da normalidade em ambos. Por suspeita de intoxica-
clínico, e apesar da ausência de queixas gastroin-
ção escombróide, foi administrado anti-histamínico
testinais, colocou-se o diagnóstico presuntivo de
H1 verificando-se resolução completa do quadro clí-
Pelagra. O doseamento de niacina confirmou o diag-
nico em 1 hora.
nóstico, obtendo-se um valor de vitamina B3 de 7g/
O resultado da intoxicação escombróide advém da dL (valores de referência entre 10 e 100g/dL). 

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 317


Foi realizada terapêutica com suplementação de sentido do aumento do tempo de internamento (9,9
vitaminas do complexo B, com reversão total do dias ± 7,3 versus 11,0 ± 7,8; p < 0,001) e do aumen-
quadro neurológico.  to da mortalidade hospitalar por qualquer causa
(10,5% versus 13,0%; p = 0,015). Estas observações
Apesar de ser uma doença rara e praticamente er- também foram constatadas quando foram aplica-
radicada em países desenvolvidos, o surgimento de dos os modelos de regressão. 
novas dietas restritivas pode tornar esta entidade
mais frequente na Europa. Ressalvamos a importân- Conclusões: Verificámos diferenças nos principais
cia da anamnese e do exame objetivo na suspeita desfechos avaliados no internamento de Medicina
de défices vitamínicos, que podem ser potencial- Interna. Devem ser pesquisados os pontos críticos
mente letais, e que são facilmente tratados com no sentido de melhorar a prestação de cuidados em
suplementação adequada.  caso de ressurgimento de novas situações pandé-
micas. Sugerimos a realização de mais estudos re-
PA n.º 2348  trospetivos com o objetivo de identificar os fatores
Impacto da pandemia COVID-19 nos indicadores de causais destas diferenças.
um serviço de Medicina Interna.
Ana Patrícia Nunes(1);Andreia Pestana(1);Luís Ma- PA n.º 2349 
rote Correia(1);Antonio Chaves(1) Escala de Fragilidade de Edmonton como ferramen-
(1) Hospital Dr. Nélio Mendonça ta de identificação do idoso frágil
Ana Órfão(1);Daniela Madeira(1);Clara Matos(1);Pa-
Tema: Organização, gestão e qualidade de serviços trícia Vasconcelos(1);Sara Vilas-Boas(1)
de saúde (1) Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca

Introdução: A pandemia COVID-19 pôs enorme pres- Tema: Medicina geriátrica


são nos serviços de saúde e obrigou à realocação
rápida de recursos materiais e humanos no sentido Introdução:
de tentar travar a sua progressão. A restruturação
de serviços, aliada à redução do atendimento pre- A fragilidade é uma síndrome geriátrica caracteriza-
sencial pelo risco de contágio, dificultou o acesso da por diminuição da reserva fisiológica e da resis-
da população aos serviços de saúde, atrasando a tência a condições adversas, com aumento da vul-
realização de exames complementares de diag- nerabilidade, sendo uma das principais causas de
nóstico, cirurgias e consultas. O impacto na saúde morbilidade e morte prematura.
global da população secundário a estas mudanças
é algo que dificilmente conseguiremos avaliar em Objetivo:
pleno, mas cujas repercussões seguramente serão
sentidas nos anos vindouros.  O objetivo principal consistiu em identificar os doen-
tes com idade ≥65 anos em risco de fragilidade que
Objetivo: Estudar o impacto da pandemia COVID-19 se encontravam internados num serviço de Medici-
nos indicadores do internamento de Medicina Inter- na, através da aplicação do questionário The Edmon-
na.  ton Frail Scale (EFS). Os objetivos específicos foram
analisar possíveis fatores de risco que contribuam
Materiais e métodos: Estudámos as admissões para a fragilidade do doente idoso e avaliar o impac-
num serviço de Medicina Interna ocorridas no perío- to da fragilidade na duração do internamento.
do entre julho e dezembro de 2020. Excluímos doen-
tes admitidos por COVID-19. Utilizámos como con- Material e Métodos:
trolo as admissões ocorridas no período homólogo
Trata-se de um estudo coorte prospetivo observacio-
de 2019. Extraímos variáveis demográficas e diag-
nal em que foram incluídos doentes internados num
nósticos. Estudámos como desfechos a ocorrência
serviço de Medicina, de 1 de janeiro a 29 de feverei-
de óbito intra-hospitalar por qualquer causa e a
ro de 2020, com idade ≥65 anos, transferidos para o
duração de permanência hospitalar. A ocorrência
serviço nas primeiras 48h após admissão hospitalar
de óbito intra-hospitalar entre os dois períodos foi
e aos quais foi aplicado o questionário EFS nesse pe-
comparada através do Qui quadrado para a aná-
ríodo. Posteriormente, foram analisadas as respeti-
lise bivariada e regressão logística para a análise
vas características sociodemográficas e clínicas.
multivariada. No caso da permanência hospitalar,
utilizou-se o teste t e um modelo de regressão li- Resultados:
near. Assumimos resultados com p < 0,05 como
estatisticamente significativos.  Para se proceder à análise comparativa dos dados,
os doentes foram agrupados em 3 categorias: não
Resultados: Identificámos 1.852 admissões no frágil (equivalente à categoria não frágil da EFS), bai-
período em estudo (736 homens [39,7%]; ida- xo índice de fragilidade (incluindo os doentes apa-
de média: 76,7 desvio-padrão: 13,9 anos). No rentemente vulneráveis e ligeiramente frágeis) e alto
período controlo ocorreram 1.903 admissões índice de fragilidade (correspondendo aos doentes
(728 homens [38,3%], idade média: 75,9 desvio-pa- moderada e gravemente frágeis). Dos 26 doentes in-
drão: 14,3 anos). Comparando os indicadores, no cluídos, 34,6% foram classificados como não frágeis,
período de pandemia, verificou-se uma variação no
318
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
42,3% com baixo índice de fragilidade e 23,1% com tes de hipertensão arterial, obesidade e internamen-
alto índice de fragilidade. to recente por doença COVID19 grave, tratado com
remdesivir, dexametasona e heparina de baixo peso
No grupo não frágil, a idade média foi de 73,0±7,4 molecular 40mg bid com alta 15 dias antes. 
anos. Todos os doentes eram autónomos e viviam
no domicílio. O índice de massa corporal (IMC) mé- Apresenta-se com dor pleurítica no hemitórax direito
dio foi de 29,0±4,8 Kg/m2. A maioria (55,6%) tinha ris- com 1 dia de evolução, sem melhoria com analge-
co de queda moderado e 44,4% risco de queda baixo. sia. Negava febre ou outros sintomas do foro respi-
O índice de comorbilidades de Charlson (ICC) médio ratório, cardiovascular e neurológico. Sem estigmas
foi de 4,4±2,7 e 33,3% estavam polimedicados. A de trombose venosa profunda. Objectivamente des-
duração média do internamento foi de 8,9 ±6,4 dias, tacavam-se uma frequência cardíaca de 113 bpm e
sem ocorrência de óbitos. crepitações finas na base pulmonar direita à auscul-
tação.
No grupo com baixo índice de fragilidade, a idade
média foi de 81,4±6,9 anos. Todos os doentes eram Analiticamente com hipoxemia e hipocapnia na 
autónomos e viviam no domicílio. O IMC médio foi de gasimetria arterial, proteína C reactiva 208 mg/L,
27,6±3,7 Kg/m2. A maioria tinha risco de queda baixo D-dímeros 4324 ng/mL, LDH 275 U/L e eletrocardio-
(63,6%) e 36,4% risco de queda moderado. O ICC mé- grama com padrão S1Q3T3, sugestivo de TEP, confir-
dio foi de 5,9±1,9 e 90,9% estavam polimedicados. A mado por tomografia computorizada. Esta descrevia
duração média do internamento foi de 11,5±6,9 dias TEP  maciço, ocupando  quase  todo  o  ramo  pulmo-
e a taxa de mortalidade de 9,1%. nar direito e  praticamente  todos  os  ramos  seg-
mentares,  embora sem obstrução completa, bem
No grupo com alto índice de fragilidade, a idade mé- como TEP à esquerda, com defeitos de repleção em
dia foi de 78,3±7,3 anos. Os doentes estavam distri- quase todos os ramos segmentares.  Ecocardiogra-
buídos de igual forma quanto ao grau de dependência ma com fluxo sistólico na artéria pulmonar sugestivo
e 16,7% estavam institucionalizados. O IMC médio de hipertensão pulmonar com “notch mesositólico” e
foi de 25,8±3,4 Kg/m2. 50% dos doentes tinha risco boa função global biventricular, BNP 17 pg/mL. Tro-
de queda baixo, 16,7% risco moderado e 33,3% risco ponina alta sensibilidade negativa,  sem alterações
alto. O ICC médio foi de 7,7±3,4 e todos estavam poli- do estudo da coagulação, pontuando 84 pontos para
medicados. A duração média do internamento foi de o score PESI (classe II). Após 24 horas, teve alta hipo-
6,7±2,4 dias e a taxa de mortalidade de 33,3%. coagulado, com melhoria clínica e analítica, ficando
orientado para consulta externa de Medicina. Sem
Conclusões: intercorrências registadas até ao presente
Neste estudo, verificou-se que os doentes mais frá- Conclusão: Pretendemos alertar para o risco acres-
geis têm um maior grau de dependência, menor IMC, cido para TEP, mesmo após os critérios de cura para
maior ICC, estão mais polimedicados e têm uma infecção SARS COV-2, enfatizando assim o estado
maior taxa de mortalidade. Contrariamente ao espe- de hipercoagulabilidade associado à doença, que se
rado, um maior índice de fragilidade não esteve as- soma aos factores de risco clássicos já apresenta-
sociado a idade mais avançada nem a internamento dos pelo doente.
mais prolongado.
PA n.º 2373 
O facto de a evidência sugerir que a fragilidade é mo- Prevalência de sintomas gastrointestinais numa
dificável torna ainda mais importante a sensibiliza- população com COVID-19
ção para a sua etiologia e história natural, bem como Sofia Garcês Soares(1);Filipa Leal(1);Teresa Mar-
identificação, registo e sinalização precoces, com o tins Mendes(1);Francisco Pombo(1);Bárbara Sil-
respetivo reconhecimento como diagnóstico clínico, va(1);Luís Nogueira(1);Ana João sá(1);Mari Mesqui-
o que é fundamental para a implementação de estra- ta(1)
tégias de prevenção. (1) Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, EPE /
Hospital Padre Américo, Vale do Sousa
PA n.º 2370 
Tromboembolismo Pulmonar após a COVID-19 Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
Tiago Castro Pinto(1);Ricardo Jorge Sousa(1);Mar-
garida Oliveira(1)
(1) Unidade Local de Saúde de Matosinhos, EPE / Introdução
Hospital Pedro Hispano
A COVID-19 (Coronavirus disease-2019) é, como
Tema: Doenças cardiovasculares se sabe, causada pelo vírus SARS-CoV-2 (severe
acute respiratory syndrome coronavírus 2), tendo-se
Introdução: Um dos aspectos proeminentes da CO- apresentado inicialmente como um aglomerado
VID 19 em alguns doentes é o estado hiperinflama- de casos compatíveis com pneumonia. No entan-
tório, com aumento do risco trombótico, culminan- to, embora as manifestações respiratórias sejam
do por vezes em tromboembolismo pulmonar (TEP)  responsáveis pela maioria da morbilidade e da
mortalidade nestes pacientes, os sintomas extrapul-
monares são comuns, nomeadamente os sintomas
Caso: Homem 54 anos, agricultor, com anteceden-
gastrointestinais. De entre os sintomas gastrointes-
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 319
tinais salientam-se a anorexia, náuseas, vómitos, Neste estudo, a presença de sintomas gastrointesti-
diarreia e a dor abdominal. nais associou-se a uma menor taxa de mortalidade.
Objectivo PA n.º 2377 
Elevação das transaminases na infeção a SARS-
O objectivo deste estudo é analisar a prevalência -CoV-2: impacto na gravidade da doença e na mor-
de sintomas gastrointestinais, nomeadamente ano- talidade
rexia, náuseas, vómitos, diarreia e dor abdominal Paula Gonçalves Costa(1);Patricia Fernandes(1);-
numa população de doentes com COVID-19 admiti- Claudia Diogo(1);Daniela Antunes(1);Sandra Catari-
dos no internamento de um centro hospitalar. na Cunha(1);Luís Henrique Luz(1);Pedro Tavares(1);-
Dolores Gomes(1);Maria Jesus Banza(1)
Material e métodos (1) Centro Hospitalar de Leiria / Hospital de Santo
André
Estudo de coorte retrospectivo com doentes que
apresentavam diagnóstico de COVID-19 como mo- Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
tivo de internamento inicial ou como intercorrência
infeciosa durante o internamento e com data de
saída do internamento nos meses de Outubro e de Introdução: O primeiro caso de infeção a SARS-
Novembro de 2020. Foram analisadas as variáveis: -CoV-2 foi registado em Dezembro de 2019, na ci-
idade, sexo, estado funcional pela escala de Katz, dade de Wuhan – China, sendo que foi declarada a
doentes falecidos e não falecidos, presença de sin- situação de pandemia pela Organização Mundial de
tomas gastrointestinais e em específico a anorexia, Saúde em Março de 2020. No decurso da doença
náuseas, vómitos, diarreia e dor abdominal. Os pode verificar-se elevação da alanina aminotransfe-
dados foram analisados no software SPSS, tendo rase (ALT) e aspartato aminotransferase (AST) em
sido definido como com significado estatístico se p até 14-53% dos casos, sendo que indivíduos com
<0.05. doença grave parecem ter maior disfunção hepáti-
ca.
Resultados
OBJETIVO: O estudo epidemiológico teve como
Nesta coorte foram incluídos 905 doentes, maiorita-
objetivo caracterizar os doentes com internamento
riamente homens (n=494, 54.6%), com idade média
hospitalar por infeção a SARS-CoV-2, no que diz res-
de 72,6 anos (±14,4) e número médio de dias de
peito à elevação da ALT e AST e a sua relação com a
evolução de sintomas (relativos a qualquer aparelho
gravidade da doença e a mortalidade.
ou sistema) de 5,5 (± 3,9).
MATERIAL E MÉTODOS: Procedeu-se à análise re-
Da coorte de doentes analisada, a taxa de mortali-
trospetiva dos doentes internados com infeção a
dade intra-hospitalar foi de 28,9%. Os doentes fale-
SARS-CoV-2 no Serviço de Medicina, entre Novem-
cidos tinham em média 79,9 anos; 52,1% eram do
bro de 2020 e Fevereiro de 2021.
sexo masculino e a média de pontos na escala de
Katz foi de 3,53 pontos. RESULTADOS: No período estudado, estiveram inter-
nados 704 doentes com infeção a SARS-CoV-2, com
A prevalência de sintomas gastrointestinais em ge-
uma idade média de 78 anos e discreta predominân-
ral na amostra de doentes estudada foi de 25,7%. A
cia do sexo feminino (51,6%). 332 doentes tinham
prevalência de anorexia foi de 17,9%, a de diarreia
doença ligeira a moderada (47,2%) e os restantes
foi de 10,2%, a de náuseas foi de 9,4%, a de vómitos
apresentavam doença grave ou crítica (52,8%). A
foi de 7,5% e a de dor abdominal foi de 3.9%.
taxa de mortalidade verificada na população total foi
Os sintomas gastrointestinais foram menos fre- de 33%.
quentes nos doentes que faleceram (18,9 vs 28,5%;
46,6% dos doentes apresentavam elevação da AST e
p <0.05).
18.3% elevação da ALT. Verificou-se existir uma dife-
A prevalência de anorexia foi de 17% nos doentes rença estatisticamente significativa entre as media-
falecidos vs 18.20% nos não falecidos, a prevalência nas da AST relativamente à mortalidade (p=0,002)
da diarreia foi de 6.20% nos doentes falecidos vs e à presença de doença grave ou crítica (p=0,008).
11.80% nos não falecidos (p <0.05), a prevalência de Da mesma forma, os doentes com elevação da
náuseas foi de 5.40% nos doentes falecidos vs 11% AST apresentavam um maior risco de mortalidade
nos não falecidos (p< 0.05), a prevalência de vómi- (OR=1,456, p=0,032) e de doença grave ou crítica
tos foi de 6.60% nos doentes falecidos vs 7,90% nos (OR=1,540, p=0,008). Relativamente à ALT, não se ve-
não falecidos e a prevalência de dor abdominal foi rificaram diferenças estatisticamente significativas
de 2.30% nos doentes falecidos vs 4.60% nos não nestas variáveis.
falecidos.
CONCLUSÃO: É essencial a identificação de variá-
Conclusões veis que permitam a estratificação de doentes admi-
tidos com infeção a SARS-CoV-2 de forma a realizar
Os sintomas gastrointestinais foram muito preva- uma adequada alocação de recursos. Este trabalho
lentes na população de doentes com COVID-19 ana- parece mostrar que a AST é uma variável que poderá
lisada, sendo a anorexia o mais comum. potencialmente ser utilizada na avaliação global des-
320
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
tes doentes e como marcador prognóstico. Os doentes falecidos apresentaram piores rácios
PaO2/FiO2 à admissão, piores rácios PaO2/FiO2 duran-
PA n.º 2382  te o internamento e níveis mais elevados de PCR,
Hipoalbuminemia como preditor de gravidade na NT-pro BNP e D-dímeros, tendo-se revelado como
COVID-19 marcadores de mau prognóstico estatisticamente
Sofia Garcês Soares(1);Filipa Leal(1);Teresa Mar- significativos.
tins Mendes(1);Francisco Pombo(1);Bárbara Sil-
va(1);Luís Nogueira(1);Ana João sá(1);Mari Mesqui- Observou-se uma correlação positiva entre níveis de
ta(1) albumina e rácios PaO2/FiO2 à admissão e durante
(1) Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, EPE / o internamento (p <0.001).
Hospital Padre Américo, Vale do Sousa
Por outro lado, verificou-se haver uma correlação
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias negativa entre níveis de albumina e níveis de PCR (p
<0.001), de NT-pro BNP (p <0.001) e de D-dímeros (p
Introdução <0.004). Não houve correlação entre níveis de albu-
mina e níveis de procalcitonina.

A albumina sérica tem funções fisiológicas muito Conclusões


importantes incluindo a manutenção da pressão
oncótica plasmática, ligação/transporte de substân- Têm sido estudados vários possíveis biomarca-
cias e actividade antioxidante. O seu valor diminui dores de progressão da COVID-19. A tendência
em muitas doenças agudas/crónicas em relação descendente dos níveis de albumina e a tendência
com a magnitude da resposta inflamatória, sendo ascendente dos níveis de PCR, procalcitonina, D-dí-
chamada de “reagente de fase aguda negativo”. meros e NT-proBNP em específico, foram frequente-
mente observados durante a progressão da doença
Objectivo e em não sobreviventes.

O objectivo é analisar a relação entre o valor de al- Neste estudo, verificou-se haver correlação entre
bumina e o rácio PaO2/FiO2 à admissão hospitalar, valores mais elevados de albumina e rácios PaO2/
pior rácio PaO2/FiO2 observado durante o interna- FiO2 melhores à admissão e durante o internamento
mento, níveis de proteína C-reactiva (PCR), NT-proB- e verificou-se haver correlação entre níveis mais
NP, D-dímeros e procalcitonina e mortalidade. baixos de albumina e níveis mais elevados de PCR,
D-dímeros e NT-pro-BNP, estando estes associados
Métodos a maior mortalidade.
Estudo de coorte retrospectivo de doentes que apre- Adicionalmente, a hipoalbuminemia grave associou-
sentavam Covid19 como motivo de internamento -se a uma taxa de mortalidade consideravelmente
inicial ou como intercorrência infeciosa durante o mais elevada.
internamento e com data de saída do internamento
nos meses de Outubro e de Novembro de 2020. Em adição à literatura existente, este estudo favore-
Foram analisadas as variáveis idade, sexo, estado ce a associação da hipoalbuminemia à aquisição/
funcional pela escala de Katz, doentes falecidos e severidade de doenças infeciosas incluindo a CO-
não falecidos, o 1º valor de albumina colhido, rácio VID-19.
PaO2/FiO2 à admissão, pior rácio PaO2/FiO2 obser-
vado e os níveis mais elevados de PCR, NT-proBNP, PA n.º 2399 
D-dímeros e procalcitonina observados. Os dados Experiência de uma Equipa de Cuidados Paliativos
foram analisados no software SPSS e foi definido no doente internado com infeção por SARS-CoV2
como com significado estatístico se p <0.05. Teresa Martins Mendes(1);Rita Guedes(2);Hugo
Oliveira(2);Filipa Ribeiro(2);Graça Lopes(2);Céu Ro-
Resultados cha(2)
(1) Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, EPE /
Foram incluídos 905 doentes, maioritariamente Hospital Padre Américo, Vale do Sousa (2) Unidade
homens (n=494, 54.6%) e com idade média de 72,6 Local de Saúde de Matosinhos, EPE / Hospital Pe-
anos (± 14,4). Da coorte analisada, a taxa de mor- dro Hispano
talidade intra-hospitalar foi de 28.9%. Os doentes
falecidos tinham em média 79,9 anos; 52,1% eram Tema: Cuidados paliativos
do sexo masculino e tinham, em média, 3,53 pontos
na Escala de Katz. Introdução: A pandemia COVID-19 emergiu em Por-
O 1º valor de albumina foi, em média, de 2,9 g/dL tugal em Março de 2020, representando uma enor-
nos doentes falecidos e de 3,3 g/L nos doentes não me crise nos cuidados de saúde. Tendo em conta
falecidos, sendo esta diferença estatisticamente a sua elevada incidência, um número significativo
significativa (p <0.001). Verificou-se que nos doen- de idosos e doentes frágeis adquiriram a doença,
tes com hipoalbuminemia grave (albumina <2g/dL), com gravidade considerável. A maioria deles não
a taxa de mortalidade foi 2,6 vezes superior (69,2% foram elegíveis para escalada de cuidados, pelo que
vs 25,9% nos restantes). a necessidade de cuidados paliativos aumentou de
forma expressiva nestes doentes.
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 321
Objectivo: Com este trabalho pretende-se caracte- ao doente e família.
rizar a experiência de um ano de uma Equipa Intra-
-hospitalar de Cuidados Paliativos (EIHCP), em doen- PA n.º 2406 
tes com infecção por SARS-CoV2 internados. Pancreatite autoimune IgG4+: um desafio diagnós-
tico que pode resultar em complicações permanen-
Material e Métodos: Estudo observacional e retros- tes
petivo. Dados recolhidos através da consulta do Nuno Carvalho(1);Cristina Cunha(1);Pedro Guima-
processo clinico electrónico dos doentes internados rães Cunha(1);Jorge Cotter(1)
com o diagnóstico (principal ou secundário) de infe- (1) Hospital Senhora da Oliveira, Guimarães
ção por SARS-CoV2 avaliados pela EIHCP entre 16
de Março de 2020 e 16 de Março de 2021. Foram Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
colhidos dados demográficos, comorbilidades, mo- culites
tivo de referenciação à EIHCP, ajustes terapêuticos
efetuados e destino à data da alta. A doença relacionada com a imunoglobulina (Ig) G4
é uma condição imuno-mediada fibroinflamatória
Resultados: Durante um ano de pandemia, foram que pode acometer múltiplos orgãos. O espectro da
avaliados formalmente pela EIHCP, 59 doentes com doença é heterogéneo, no entanto a apresentação
infeção por SARS-CoV2, 18 dos quais já eram segui- como pancreatite autoimune (PAI) tipo 1 é uma das
dos pela equipa previamente. A distribuição de gé- mais reconhecidas. Frequentemente o diagnóstico é
nero foi homogénea (28 doentes do sexo masculino desafiante, com aparência imagiológica indistinguí-
e 31 do sexo feminino), com idade média de 77,1 vel da neoplasia pancreática, mas com orientação
anos, tendo o doente mais novo 43 anos e 103 anos terapêutica divergente. A corticoterapia é a solução
o mais velho. Dos doentes avaliados pela EIHCP, 47% terapêutica na grande maioria dos doentes. 
tinham patologia oncológica ativa associada. O prin-
cipal motivo de referenciação foi a dispneia (55,9%
dos doentes), seguido de necessidade de sedação O caso que relatamos é o de um homem, de 23 anos,
(23,7%). Em média, a equipa demorou 1,38 dias en- sem antecedentes pessoais conhecidos, que seria
tre o pedido de colaboração e a avaliação do doente, assintomático até Janeiro de 2017, altura em que é
sendo a mediana de 0 dias. O apoio psicológico foi internado ao cuidado da Cirurgia Geral por quadro
solicitado em 27% dos doentes avaliados. Quanto de icterícia obstrutiva. Do estudo realizado, salien-
ao destino à data da alta, 78,0% destes doentes fale- ta-se analiticamente a presença de cito-colestase
ceram nesse internamento. Em média, entre o diag- hepática, e imagiologicamente a identificação, em
nóstico de infecção por SARS-CoV2 e o óbito decor- colangioRMN, de uma lesão de 26 mm na vertente
reram 12,4 dias. O tempo de internamento desde o posterior da cabeça do pâncreas suspeita de neo-
diagnóstico até à alta foi, em média, 19.3 dias. formação, condicionando dilatação das vias biliares
intra e extra-hepáticas. Associadamente apresenta-
Conclusões: Os doentes avaliados pela EIHCP ti- va múltiplas lesões nodulares pancreáticas. Não foi
nham idade avançada e, pelo menos uma comorbi- possível realizar biópsia dirigida à lesão, tendo sido
lidade major, sendo a patologia oncológica a mais realizada duodenopancreatectomia radical no final
expressiva. A dispneia refractária e a necessidade de Janeiro desse ano. O exame anatomopatológico
de sedação foram os principais motivos de pedido da peça cirúrgica revelou presença de lesões exten-
de observação pela EIHCP.   sas de pancreatite crónica, com áreas de fibrose e
atrofia glandular, com infiltrado linfo-plasmocitário
Apesar da limitação de recursos humanos, a respos- predominante, sem alterações sugestivas de neopla-
ta da EIHCP às solicitações foi célere, permitindo sia, levantando a hipótese de etiologia autoimune. 
uma avaliação precoce de situações com necessida-
de de medidas paliativas complexas. No pós-operatório, o doente desenvolveu diabetes
mellitus iatrogénica, com difícil controlo e fraca ade-
Pela sobrecarga assistencial condicionada pela são terapêutica, tendo sido encaminhado para a con-
pandemia, os dados apresentados subestimam o sulta de Diabetologia. Já nesta consulta, realizou  o
apoio dado pela EIHCP, estando apenas contempla- estudo autoimune, com doseamento de Igs  e sub-
das neste estudo as avaliações formais efetuadas. classes de IgG, revelando um valor de IgG4 superior
Para fazer face ao acréscimo das necessidades, a 2 vezes o limite superior do normal. É então assu-
logo no início da pandemia, a EIHCP criou protolo- mida uma PAI tipo 1 IgG4+, face aos achados labora-
cos de atuação no controlo sintomático (aborda- toriais e anatomopatológicos. O doente mantém-se
gem da dispneia, delirium e sedação) para capa- em seguimento na consulta, ainda com controlo gli-
citação das equipas assistenciais fora do horário cémico e metabólico difícil.
laboral da EIHCP.
O caso aqui ilustrado demonstra a obrigatoriedade
Contudo, para casos mais complexos, a EIHCP foi de se considerar o diagnóstico de PAI IgG4 no diag-
diretamente envolvida, quer em acompanhamento nóstico diferencial da icterícia obstrutiva e de lesões
destes doentes, quer em regime de consultoria, pancreáticas, dada a sua distinta orientação terapêu-
muitas vezes de forma informal, e cujo registo não tica, e possíveis consequências irreversíveis resul-
é possível obter. O papel da EIHCP foi sobretudo tantes da falha da sua identificação.
otimizar o controlo sintomático, prestar suporte na
tomada de decisões e promover apoio psicológico PA n.º 2412 
322
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
Tamponamento cardíaco como apresentação de sio(1)
uma neoplasia metastizada (1) Centro Hospitalar de Leiria / Hospital de Santo
Laura Pratas Guerra(1);Pedro Maia Neves(1);Sofia André
Almeida(1);Ana Teresa Mendes Ferreira(1);Daniela
m. Soares(1);Vital da Silva Domingues(1);Teresa Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas
Mendonça(1)
(1) Centro Hospitalar Uni. Porto A polineuropatia, pode desenvolver-se precocemen-
te numa infeção por VIH, durante a fase de serocon-
Tema: versão, muito antes da sua evolução para síndrome
de imunodeficiência adquirida.
Introdução: Um derrame pericárdico de grande
volume constitui uma rara apresentação duma neo- Os autores apresentam um caso de um homem de 62
plasia. Os derrames pericárdicos malignos são um anos, com antecedentes de hipertensão que recorre
marcador de mau prognóstico, estando associados ao SU, por um quadro clínico, com uma semana de
a uma curta sobrevida. No sexo feminino estão evolução, caracterizado inicialmente por dificuldade
mais frequentemente associados a neoplasias do de flexão dos pés. Com progressão simétrica de di-
pulmão ou mama. minuição da força muscular para todo o membro in-
ferior e aparecimento de parestesias nas mãos. Sem
Caso Clínico: Mulher de 47 anos, com hipotiroidismo, referência a dor, febre ou outras queixas. Reflexos ro-
fibroadenomas mamários, exfumadora  (7.5UMA) e tuliano e aquiliano despertáveis, mas diminuídos. To-
história materna de cancro da mama. Com queixas mografia crânio-encefálica e cervical sem alterações
de dispneia  para médios esforços, enfartamento agudas. Punção lombar com discreta dissociação
pós-prandial e lombalgia. Analiticamente de  des- albumino-citológica (proteínas 70mg/dl; 2 leucócitos
tacar citocolestase. Ecograficamente documenta- mononucleares). Inicia imunoglobulina 0.4mg/kg/
da metastização hepática difusa.  No internamento dia, durante 5 dias, por suspeita de neuropatia infla-
apresentou evolução desfavorável com hipotensão matória. Estudo laboratorial posterior com aumento
arterial,  taquicardia, polipneia, ingurgitamento jugu- ligeiro das transaminases , Ig G aumentada e eletro-
lar, confusão, sinais de má perfusão periférica, acide- forese com aumento fração gama. Teste de rastreio
mia metabólica grave (pH 6.986) e hiperlactacidemia e confirmatório positivo para VIH-1. Fenotipagem
(16mmol/L). Realizado ecocardiograma transtoráci- linfocitária, CD4+ 75/mm3; CD4/CD8 0.05. Detetada
co que mostrou derrame pericárdico de grande vo- infeção previa por CMV, EBV, HSV 1 e 2. Imunidade
lume com colapso das cavidades direitas. Feita peri- para VZV e toxoplasma. Screening da sífilis negativo.
cardiocentese emergente com drenagem de 900mL Pesquisa de infeção por Mycobacterium tuberculosis
de líquido hemático, com melhoria clínica. A citolo- negativa.  Ressonância crânio-encefálica e cervical
gia de líquido pericárdico foi positiva para carcino- sem alterações valorizáveis. Eletromiografia: “Re-
ma.  Realizou TC toraco-abdomino-pélvica, a docu- gista-se um aumento da latência bilateralmente nos
mentar lesão espiculada pulmonar e  metastização nervos tibiais com ausência das ondas F, mas sem
ganglionar e óssea difusas. A biópsia hepática evi- outras alterações características”. Evolução clínica
denciou carcinoma pouco  diferenciado de provável favorável com melhoria franca das parestesias, mas
origem pulmonar, urotelial ou mama, com biomar- apenas parcial da força muscular. 
cadores  pulmonares negativos e citologia urinária
e biópsia mamária sem sinais de malignidade.  A A síndrome de Guillain-Barré é uma rara entidade
doente apresentou agravamento clínico progressi- neurológica aguda, frequentemente precedida por
vo, com invasão pericárdica a condicionar quadro uma infeção bacteriana ou vírica. Pode, no entanto,
constritivo-efusivo, sem condições para tratamento ser a forma de apresentação de uma infeção por VIH.
sistémico  paliativo ou qualquer outra intervenção.
Assim, foram privilegiadas medidas de controlo sin- PA n.º 2419 
tomático  a e a doente acabou  por falecer cerca de SARS-CoV2: um novo agente etiológico de pan-
dois meses depois. creatite aguda?
Sérgio Azevedo(1);Ivan Luz(1);Fátima Pimenta(1);I-
Discussão: Apresentamos o caso de uma doente jo- sabel Martins(1)
vem, com uma apresentação pouco comum de uma (1) Hospital Distrital de Abrantes
neoplasia, em choque obstrutivo por tamponamento
cardíaco. Embora tenha existido rápida identificação Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
e reversão do quadro agudo, a extensão da neopla-
sia e sua evolução não permitiram modificar o curso Introdução: A infeção por SARS-CoV2 pode originar
expectável da doença. doença afetando múltiplos órgãos. A sua apresen-
tação clínica varia desde sintomas ligeiros do trato
PA n.º 2413  respiratório superior até síndrome respiratório agu-
Síndrome de Guillain-Barré, como apresentação do grave. O pâncreas também expressa o recetor da
inicial de uma infeção por VIH. enzima conversora de angiotensina 2 (ECA2), um
Bruno Cabreiro(1);Daniela Antunes(1);Ana Rodri- recetor importante para a internalização do vírus
gues(1);Carolina Fernandes(1);Tiago Pais(1);Claudia SARS-CoV2.
Diogo(1);Catarina Domingues(1);Alexandre Dioni-

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 323


Caso clínico: Homem de 70 anos, admitido com o tificada e desorientada em tempo e espaço, febril,
diagnóstico de pneumonia por SARS-CoV2 e insufi- sem défices neurológicos focais e sem sinais menín-
ciência respiratória tipo 1, após quadro de dispneia geos. Gasometria com insuficiência respiratória (IR)
e febre com 7 dias de evolução. Tinha antecedentes hipoxémica. Tomografia computorizada (TC) a rela-
pessoais de hipertensão arterial, dislipidemia mista tar hemorragia subaracnoideia (HSA). Exame sumá-
e hiperuricemia. Negava hábitos prévios de álcool ou rio de urina com leucocitúria. Assumido diagnóstico
tabaco. de HSA e infeção urinária, tendo iniciado cefuroxima
empiricamente. Ao 5º dia constata-se alteração de
Ao 4º dia de internamento inicia dor abdominal in- consciência pelo que é realizada punção lombar.
tensa, tipo pontada, localizada ao epigastro com ir- Citoquímica do líquido cefalorraquidiano com pleo-
radiação em banda para a região lombar, associada citose (58% mononucleares), hiperproteínorráquia e
a náuseas e anorexia. O exame físico evidenciava hipoglicorráquia; identificação de ácidos nucleicos
hipoxémia (SatO2 95% sob O2 por óculos nasais a de Lm, alterada antibioterapia para gentamicina e
3L/min). Pele sudorética, anictérica. Abdómen dolo- ampicilina. Rápida evolução para estado comatoso
roso com defesa à palpação superficial e profunda com sinais de disfunção do tronco cerebral, com ne-
na região epigástrica e sinal de irritação peritoneal cessidade de ventilação mecânica invasiva; após 1
positivo. Sinal de Cullen e Grey-Turner ausentes. semana, electroencefalograma descreveu disfunção
cortical difusa, considerando-se muito mau prognós-
Realizado estudo analítico dirigido revelando eleva- tico. Já em enfermaria, apesar do mau prognóstico,
ção de amilase e lipase superior a 3 vezes o limite assiste-se a lenta melhoria dos défices neurológicos
superior da normalidade, com ligeira elevação das às 4 semanas. Ressonância magnética, após 6 se-
transaminases. A tomografia axial computorizada manas de antibioterapia, mantinha áreas de hipersi-
abdominal evidenciou sinais compatíveis com pan- nal em T2 e FLAIR na região talâmica anterior, pro-
creatite aguda intersticial edematosa alitiásica. Ini- tuberância e pedúnculo cerebral; material purulento
ciada pausa alimentar, fluidoterapia e analgesia com decantado nos cornos occipitais.
melhoria modesta do quadro. O surgimento de pneu-
monia nosocomial bacteriana ao 12º dia de interna- A romboencefalite é uma forma rara de neurolis-
mento complicou o presente caso, que evoluiu assim teriose, localizada no tronco cerebral e cerebelo,
desfavoravelmente. associada a morbimortalidade elevadas. O quadro
clínico pouco típico pode dificultar o diagnóstico.
Discussão e Conclusão: Têm sido descritos A história de queda e os achados da TC confundi-
casos de pancreatite aguda alitiásica em doentes ram o diagnóstico na fase inicial. O tratamento da
com infeção por SARS-CoV2 aguda. Dado que o infeção é lento, pelo que não deverão ser tiradas
pâncreas expressa ECA2, o vírus SARS-CoV2 pode conclusões de prognóstico em fases precoces de
provocar lesão direta de órgão. Outro mecanismo tratamento.
plausível é a resposta inflamatória imune-mediada
que pode provocar dano em múltiplos órgãos, PA n.º 2443 
nomeadamente pâncreas. No presente caso, a Doença de Weil - a importância de uma boa anam-
evidência de pancreatite surgiu ao 11º dia de infe- nese e a necessidade de decidir atempadamente
ção por SARS-CoV2 o que dá força à hipótese de Pedro Caiado(1);António Epifânio Mesquita(1);Fran-
lesão pancreática mediada pela resposta inflamató- cisca Martins(1);Miguel Pinheiro(1);Marta Noronha
ria sistémica. Carvalho(1);Miguel Duarte Nunes(1);Miguel Mar-
tins(1);Madalena Lobão(1);Márcia Pereira(1);Vítor
PA n.º 2440  Brotas(1)
A lenta resolução da listeriose (1) Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE / Hos-
Iara Nunes Ferreira(1);José Moura de Meireles(1);A- pital de Santo António dos Capuchos
na Luísa Sousa(1)
(1) Centro Hospitalar de Entre Douro e Vouga, EPE / Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
Hospital de S. Sebastião
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias Introdução: A leptospirose é uma zoonose de dis-
tribuição mundial e maior incidência nos trópicos
e subtrópicos, cuja forma grave com febre icte-
A infeção por Listeria monocytogenes (Lm) tem par- rohemorrágica e lesão renal aguda (LRA) se chama
ticular relevância em idosos e imunossuprimidos. Doença de Weil (DW).
O espectro clínico é vasto desde a típica gastroen-
terite indolente aos quadros graves de sépsis com
atingimento neurológico, e os sintomas variáveis, Caso: Um homem de 59 anos, agricultor, saudável,
cursando com febre e alterações inespecíficas do foi ao serviço de urgência por 5 dias de febre, aste-
estado mental, até um quadro comatoso grave. nia, mialgias e cefaleia. À observação, tinha febre e
hepatoesplenomegália (HE). Nas análises, tinha ele-
vação de parâmetros inflamatórios (proteína C rea-
Mulher de 71 anos, parcialmente dependente, co- tiva 214,3 mg/L) e citocolestase. A ecografia abdo-
lostomizada e sob imunossupressão por Doença de minal mostrou HE (fígado 16cm, baço 13.7cm) sem
Crohn, recorre à urgência por quadro de cefaleia in- alterações das vias biliares. Internou-se para estudo
tensa e limitação da marcha após queda com trau- do quadro. Ao 2º dia de internamento, desenvol-
matismo crânio encefálico.  Ao exame objetivo len-
324
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
veu icterícia cor de açafrão e sufusão conjuntival caraterizado por dor intensa a nível do membro su-
hemorrágica, assim como lesão renal aguda (LRA), perior direito e recorreu ao Serviço de Urgência (SU)
hipocaliémia, hiperbilirrubinémia (bilirrubina total nesse contexto. Da avaliação inicial destacava-se
5,98mg/L) e agravamento da citocolestase (AST creatinina cinase de 54703 U/L. Admitido quadro de
305 U/L, ALT 450 U/L, GGT 401 U/L) e trombocitopé- rabdomiólise no contexto do esforço físico, tendo ini-
nia (nadir 18.000 plaquetas/uL). A revisão da anam- ciado fluidoterapia, mas sem melhoria. Por manuten-
nese revelou exposição significativa a urina de rato ção da assimetria, dor do membro superior direito e
em água estagnada. Dada a alta suspeita de DW, D-dímeros de 551,0 ug/L na reavaliação analítica,
admitimos este diagnóstico presuntivo e começá- realizou ecografia com doppler do membro superior
mos tratamento com doxiciclina 100mg de 12/12h. direito que revelou fraco preenchimento sistema ve-
Observámos melhoria do quadro nos primeiros 3 noso superficial,  veia umeral pouco compressível;
dias de tratamento e o doente teve alta. Mais tarde, fluxo irregular na axilar e subclávia. e Angio-TC que
o teste serológico para Leptospira com técnica mi- confirmou o diagnóstico de Síndrome de Paget-S-
croaglutinação (MAT) foi negativo. Não obstante, o chroetter. 
doente completou ciclo de 7 dias de doxiciclina. As
hemoculturas foram negativas. Após diagnóstico desta entidade foi iniciado trata-
mento com enoxaparina, posteriormente alterada
Discussão: As espiroquetas Leptospira infectam para rivaroxabano que cumpriu durante 6 meses.
mamíferos, que podem ter doença ou ser portado- Repetiu Ecografia com doppler venoso membro su-
res. Os roedores são o reservatório mais importante perior que demonstrou  normal permeabilidade do
para a transmissão da doença. Expelem Leptospira vaso, sem trombo residual ou refluxo.
na urina e contaminam a água. A infeção de huma-
nos costuma dever-se a exposição das mucosas a   Os autores  querem enfatizar uma entidade
urina animal ou água contaminada. O nosso caso rara que, quando não tratada ou diagnosticada
corresponde à apresentação clinicolaboratorial tí- atempadamente poderá levar a trombose recorrente
pica de DW, que pode ser fatal. O teste serológico ou mesmo a perda de função do membro afetado.
negativo não exclui DW, já que, em conjunto com he-
moculturas, a serologia por MAT (técnica de referên- PA n.º 2463 
cia) tem uma sensibilidade baixa (apenas 55.5%). Disfunção de órgão grave com p-ANCA positivos
Juntamente com a morosidade do resultado, estas Raquel Costeira(1);Elisa Macedo Brás(1);Joana
particularidades dos testes serológicos obrigam Rua(1);Ricardo Pereira(1);Andreia Costa(1);Filipe
a um alto índice de suspeita epidemiológica e cli- Martins(1);Cristiana Pinto(1);Nuno Silva(1);Joana
nicolaboratorial para diagnosticar DW e realçam a Cunha(1);Elisa Serradeiro(1);Fernando Salvador(1)
importância vital de tratar empiricamente perante (1) Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Dou-
moderada a alta suspeita, mesmo sem diagnóstico ro, EPE / Hospital de Vila Real
laboratorial definitivo.
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
PA n.º 2456  culites
Para além da Rabdomiólise
Pedro Mesquita(1);Daniela Carneiro(1);Inês Ur- Introdução: As vasculites são patologias heterogé-
mal(1);João Teixeira(1);Elisabete Sousa(1);Beatriz neas que condicionam lesão inflamatória vascular,
Barata(1);Manuel Albuquerque(1);Carlota Lalan- predispondo a hemorragia e lesão renal.
da(1);Jorge Frade(1);Luís Vale(1)
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE / Hos-
pital de Santo António dos Capuchos Caso clínico: Homem, 86 anos, autónomo. Antece-
dentes de hipertensão arterial, doença renal crónica
Tema: Doenças raras (orientado para consulta pré-diálise), DPOC GOLD A
e adenocarcinoma gástrico. Medicado com perindo-
pril e indapamida. Observado por hemóptises com
O Síndrome de Paget-Schroetter (SPS), também hematúria macroscópica, crepitações bilateralmente
conhecido como trombose de esforço do membro na auscultação pulmonar. Analiticamente, hemoglo-
superior, define-se como uma trombose venosa bina 8.85g/dl, plaquetas 124000/uL, ureia 138mg/dl,
do território subclávio e/ou axilar. Ocorre predomi- creatinina 5.1mg/dl e PCR 16mg/dl. Urina com leuco-
nantemente no adulto jovem, do género masculino, citúria, eritrocitúria e proteinúria. Radiografia torácica
após esforço físico intenso e repetido envolvendo com infiltrado pulmonar bilateral inferior. Do estudo
os membros superiores. Apresenta-se, tipicamente, realizado, p-ANCA positivos anti-MPO 96, anti-PR3 e
de forma assintomática, podendo manifestar-se por anti-MBG negativos. Durante internamento, hemo-
dor intensa, assimétrica, edema e alteração da colo- globina mínima de 7.59g/dl com necessidade trans-
ração do membro afetado.  fusional e creatinina máxima de 6.9mg/dl, iniciando
hemodiálise. TC torácica com evidência de infiltrado
Os autores apresentam o caso de um indivíduo jo- em vidro despolido consolidante extenso sugerindo
vem, 34 anos, sem antecedentes patológicos de re- hemorragia alveolar difusa. Lavado broncoalveolar
levo. Após prática de exercício físico (exercícios ca- com macrófagos de pigmento hemossidérico - sco-
listénicos) sem trauma associado e uma viagem de re de Golden 71, aumento dos neutrófilos e vários
avião de longa duração, desenvolveu quadro súbito eritrócitos. Por diagnóstico de vasculite sistémica

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 325


ANCA MPO - doença generalizada com atingimento Os cuidadores são maioritariamente mulheres (72%),
renal grave, iniciada terapêutica com plasmaferese, com uma média de idades de 59 anos (46% entre os
metilprednisolona e ciclofosfamida, complementado 41-60 anos), 34% reformados e 58% têm mais do que
com sulfametoxazol + trimetroprim. Após melhoria o 9º ano de escolaridade (30% ensino superior, mes-
clínica, alta orientado para o Hospital de Dia, onde trado/doutoramento).
completou dez bólus de ciclofosfamida, com redu-
ção progressiva da corticoterapia. Terapêutica de Relativamente à generalidade dos cuidados pres-
manutenção com azatioprina. Atualmente seguido tados no momento da admissão, 90% dos doentes
em consulta, com boa evolução clínica e analítica, classificam como “excelente” a equipa de enferma-
função renal no basal, sem proteinúria/hematúria ou gem e 87% a equipa médica; 90% dos doentes ava-
novos episódios de hemorragia alveolar. lia o desempenho de toda equipa durante o interna-
mento com “excelente”. Os cuidadores referem que a
Conclusão: As vasculites podem ameaçar a vida, qualidade da informação fornecida na admissão foi
devendo ser suspeitadas se sintomas constitucio- excelente em apenas 76% (23% “Bom”). No entanto,
nais/sistémicos com disfunção de órgão. As vascu- a informação relativa aos cuidados prestados diaria-
lites ANCA afetam predominantemente pequenos mente foi “excelente” em 86% dos casos, o que vai ao
vasos, devendo as hemóptises levantar a hipótese encontro da dificuldade que a equipa sente em trans-
de hemorragia alveolar. mitir toda informação (clínica e ensinos) na primeira
vista ao domicílio. Quanto à acessibilidade, 83% dos
PA n.º 2471  cuidadores e 81% doentes classificam como “exce-
Índices de satisfação dos doentes e cuidadores lente” a facilidade de comunicar com a equipa.
de numa Unidade de Hospitalização Domiciliária
Sofia Fontes Ribeiro(1);Susana Ferreira(1);Marina Globalmente, 89% dos doentes e 91% dos cuidado-
Delgado(1);Fernanda Almeida(1);João Araújo Cor- res classificam como “excelente” o serviço prestado.
reia(1) A totalidade dos doentes e a família/cuidador reco-
(1) Centro Hospitalar do Porto, EPE / Hospital Geral mendaria o serviço a familiares e amigos em caso de
de Santo António internamento hospitalar.
Tema: Organização, gestão e qualidade de serviços Conclusão:  Estes dados revelam um elevado índice
de saúde de satisfação dos doentes e cuidadores pela pres-
tação de cuidados nesta UHD. O grau de satisfação
Introdução: A hospitalização domiciliária impõe- global traduz-se numa recomendação de 100% para
se, cada vez mais, como uma alternativa ao esta forma de internamento. A informação transmi-
internamento convencional, promovendo uma maior tida no processo de integração na UHD tem de ser
humanização de cuidados, ao envolver a família e melhorada, passando, por exemplo,  por reiniciar as
cuidadores, assim como, o doente, na prestação conferências familiares presenciais, logo que possí-
de cuidados. Este modelo vai-se afirmando vel.
silenciosamente na promoção da literacia para a PA n.º 2480 
saúde de toda a comunidade envolvente. A “Quarta idade” e a Prevalência da Prescrição de
Psicofármacos em Polifarmácia
Objetivo: Avaliar o grau de satisfação dos doentes Nádia Santos(1);Luis Luz(1);Sandra Cunha(1);Joana
e cuidadores relativamente aos cuidados de saúde Gonçalves(1);Catarina Domingues(1);Vânia Rodri-
prestados pela equipa da unidade de hospitalização gues(1);m. Jesus Banza(1)
domiciliária (UHD). (1) Centro Hospitalar de Leiria / Hospital de Santo
André
Material e Métodos: Foram entregues questionários
iguais, ao doente e à família/cuidador, com 9 grupos Tema: Medicina geriátrica
de questões, de resposta anónima e voluntária no
final do internamento. Foi utilizada uma escala com Introdução: O envelhecimento populacional é uma
4 pontos (“excelente”, “bom”, “suficiente” e “mau”) e realidade atual em rápida progressão. Os idosos,
os dados foram trabalhados numa folha de cálculo adultos com mais de 65 anos, apresentam maior
de excel. prevalência de doença crónica, com porção impor-
Resultados/Discussão: Obteve-se um total de 299 tante de patologia da esfera da saúde mental. É,
inquéritos, correspondendo a respostas de 78% portanto, comum estes indivíduos apresentarem
(n=146) dos doentes e 82% (n=153) dos cuidadores, uma polifarmácia, prescrição de cinco ou mais clas-
dos primeiros 19 meses de existência desta unidade. ses de fármacos por doente. Muitos transtornos
psiquiátricos da idade adulta têm manifestação
Relativamente aos doentes, 58% são masculinos, inaugural na terceira idade, como Depressão, além
com uma média de idades de 69 anos (39% entre daqueles associados ao envelhecimento, como
os 61-80anos), 58% são casados ou vivem em união Demência, quadros confusionais e perturbação
de facto, 58% são pensionistas e 16%  trabalhadores do sono. Assim, a prescrição de antidepressivos,
ativos. Apesar de 54% terem escolaridade até ao 4º benzodiazepinas e antipsicóticos, na população ge-
ano, 22% realizaram o ensino superior ou mestrado/ riátrica, constitui uma prática habitual. A inequívoca
doutoramento. longevidade humana, tende a originar um novo con-

326
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
ceito, ainda não validado pela Organização Mundial Saraiva de Melo(1);Diogo Cruz(1)
de Saúde, como a” Quarta Idade”, ou seja, indivíduos (1) HPP Hospital de Cascais (2) Centro Hospitalar
com mais de 80 anos. Universitário do Algarve, EPE - Hospital de Portimão
Tema: Doenças cardiovasculares
Objectivos: Descrição e análise de uma população
de doentes em internamento hospitalar, com mais
de 80 anos de idade, relativamente à polifarmácia e O quadro consumptivo geralmente é indicador de
prevalência de psicofármacos incluídos. doença grave. Em estudos que avaliaram a etiologia
de perda ponderal involuntária, a malignidade foi
Métodos: Estudo retrospetivo, observacional e des- identificada em 15 a 37% dos doentes, seguindo-se
critivo, de doentes internados em enfermarias de as causas gastrointestinais não malignas em 10 a
especialidades médicas, com mais de 80 anos de 20%; causas psiquiátricas em 10 a 23% e causas
idade, num dia selecionado ao acaso, do mês de desconhecidas em até 25% dos casos.
fevereiro de 2020. Foram analisados dados como o
sexo, idade, prevalência de polifarmácia e psicofár- Apresenta-se o caso de um homem, 59 anos, com
macos incluídos, bem como antecedentes de pato- história de Hepatite C tratada, tabagismo e etano-
logia psiquiátrica e reconciliação terapêutica à data lismo ativos e utilizador de drogas endovenosas no
da alta. passado. Admitido por dispneia, ortopneia, astenia
Resultados: Da amostra analisada (n=95), 54 (56.8%) e perda ponderal não quantificada, apresentando-se
eram do sexo feminino, com idade média de 86.2 apirético e hemodinamicamente estável, mas com
anos e idade máxima de 99 anos. No total, apenas 13 mau estado geral, caquético, descorado, polipneico,
(13.7%) dos doentes não apresentavam polifarmá- com hepatomegalia palpável 3 cm abaixo do grelha
cia, sendo que 42 (44.2%) tinham mais de 10 fárma- costal e edema periférico ligeiro. Analiticamente, a
cos prescritos. Dentro destes, 59 (62.1%) eram psi- destacar  anemia normocítica e normocrómica, ele-
cofármacos, dos quais 65 (68.5%) dos doentes não vação dos parâmetros inflamatórios e do NT-proBNP.
tinham patologia psiquiátrica correspondente diag- Fez ecocardiograma que revelou massa pediculada
nosticada. As benzodiazepinas são o fármaco mais ocupando quase a totalidade da aurícula esquerda
prevalente (n=20), em monoterapia ou em associa- (AE), friável, com prolapso para o ventrículo esquer-
ção com antipsicóticos e/ou antidepressivos (n=16). do (VE); trombos no lúmen do VE e sinal de McCon-
A associação entre antipsicóticos e antidepressivos nell sugerindo TEP.
foi também observada (n=10). A prescrição de an- Dada a hipótese de lesão secundária versus sarco-
tipsicóticos e antidepressivos em monoterapia eram ma (versus mixoma), realizada investigação etioló-
a minoria dos casos. À data da alta, a reconciliação gica. Fez tomografia computorizada de tórax, abdó-
terapêutica de 88 (92.2%) dos doentes tinham orien- men e pélvis sem lesões suspeitas de malignidade,
tação para manter os psicofármacos prévios, contra destacando-se adenopatias mediastínicas, axilares
1 (2,1%) que foi descontinuado e 5 (5.3%) que viram e abdominais milimétricas, derrame pleural bilateral
um ajuste da sua medicação habitual. e hepatoesplenomegalia. A alfa-fetoproteína, imu-
Conclusão: Os idosos são indivíduos cuja reserva nofenotipagem, imunofixação sérica, beta-2-micro-
funcional está diminuída, e cujos processos de ab- globulina e mielograma não revelaram alterações.
sorção, distribuição, metabolização e eliminação A biópsia ganglionar não foi efetuada, atendendo a
dos fármacos são diversificados. Com o aumento adenopatias milimétricas, não passíveis de biópsia
populacional de idosos com mais de 80 anos, é pre- por palpação, ecografia ou laparoscopia. Estudo en-
mente estudar as necessidade, riscos e benefícios, doscópico não realizado dado que foi considerado
que estes indivíduos apresentam.   Neste trabalho não apto pela Anestesia. Fez ressonância magnética
verifica-se a prevalência elevada de uma polifarmá- cardíaca sugestiva de mixoma AE. Submetido a ci-
cia, com uma prevalente prescrição de um ou mais rurgia cardíaca na qual se extraiu volumoso mixoma,
psicofármacos, nem sempre com patologia psiquiá- diagnóstico que foi confirmado histologicamente.
trica diagnosticada. Além disto, verifica-se a raridade Apesar de não se encontrar descrita a percentagem
com que estes fármacos são ajustados ou suspen- de síndrome consumptiva de origem cardíaca, sabe-
sos, mesmo nos indivíduos sem antecedentes psi- -se que doentes com insuficiência cardíaca podem
quiátricos registados. Sendo esta faixa etária mais evoluir nesse sentido. De facto, é fundamental excluir
vulnerável aos efeitos adversos da utilização de psi- causas malignas, atendendo à sua prevalência e im-
cofármacos, como o aumento de risco de quedas, pacto prognóstico. No entanto, este caso demonstra
delirium e aumento de hospitalizações psiquiátricas, a importância de excluir o que é comum, sem esque-
percebe-se que existe um longo caminho a percorrer cer o que é menos expectável!
na área da investigação, aliada, no entanto, ao indis-
pensável espirítico crítico do clínico, na prescrição e PA n.º 2505 
ajuste terapêutico de psicofármacos na população Síndrome Hipereosinofílico com envolvimento mul-
mais idosa. tissistémico
Diogo Dias Ramos(1);César Burgi Vieira(1);Rita
PA n.º 2504  Monteiro(1);Joana Diogo(1);Carolina Coelho(1);Rita
Quadro consumptivo de origem cardíaca? Bizarro(1);Angela Ghiletchi(1);Rita Bernardino(1);I-
Inês Nabais(1);Francisco Pulido Adragão(2);Nuno

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 327


nês Matos Ferreira(1);Inês Fiuza m. Rua(1);Ana Ser- Hospital de S. Sebastião
rano(1)
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE / Hos- Tema: Doenças respiratórias
pital de Santo António dos Capuchos
Introdução: A coronavirus disease 2019 (COVID-19)
Tema: Doenças raras tem sido associada em diversos estudos a um
estado de hipercoagulabilidade, que predispõe à
Introdução: Síndrome hipereosinofílico compreende ocorrência de tromboembolismo pulmonar (TEP).
um conjunto de sinais e sintomas caracterizados Este é caracterizado por um quadro inespecífico
por eosinofilia grave e lesão ou disfunção orgânica. de sintomas, comum nos doentes com infeção por
COVID-19. Os scores preditores de Wells e Geneva
CASO CLÍNICO: Sexo masculino, 28 anos, natural da foram criados de forma a reduzir a necessidade de
índia, sem antecedentes relevantes. Saudável até há realização da angiografia tomográfica computoriza-
seis meses quando inicia quadro de epigastralgia, da (angio-TAC) torácica para exclusão de TEP, exa-
anorexia, intolerância alimentar, dispneia e tosse me este que implica riscos para o doente inerentes
não produtiva. Recorre à urgência por agravamento à exposição a radiação e utilização de contraste
do quadro com perda ponderal 10kg, náuseas, vó- intravenoso. Estudos prévios comprovaram uma ca-
mitos e epigastralgia com irradiação dorsal. Sem pacidade preditiva semelhante entre os dois scores,
achados relevantes no exame objetivo. Analitica- no entanto ainda são escassos estudos com aplica-
mente destacava-se, eosinofilia com 21.000, sem ção destes mesmos scores em doentes COVID.
alterações morfológicas ou blastos na morfologia e
ainda citólise com colestase anictérica e elevação Objetivos: Avaliar e comparar a capacidade prediti-
da PCR. Anticorpos anti-VHC positivos. Internado va de risco de TEP entre o score de Wells original e
por síndrome hipereosinofílico, em doente sem Geneva revisto, em doentes com COVID-19.
historia de atopia, doença linfoproliferativa ou in-
feção parasitaria conhecida e Ac Hep C Positivo. Material e Métodos: Estudo de caso-controlo cons-
Descartadas causas secundárias, a revelar apenas tituído por adultos admitidos na enfermaria de Me-
Serologia Fascíola hepática POSITIVA.  Dado quei- dicina Interna entre Março de 2020 e 2021, com o
xas respiratórias e digestivas, realizou TC TAP, EDA, diagnóstico de COVID-19 e suspeita de TEP. Foram
EDB, Broncofibroscopia e LBA a destacar infiltração identificados 48 casos com TEP confirmada através
gástrica por eosinófilos e a presença abundante de de angio-TAC torácica, comparados com 48 contro-
eosinófilos no LBA com isolamento de H influenzae. los com exclusão de TEP no exame de imagem. Fo-
Cumpriu terapêutica com Amoxiclav segundo TSA ram calculados os scores de Wells original e Geneva
ao H influenzae e triclabendazol dirigido a fascíola revisto baseado na informação clínica disponível
hepática. TC tórax de controlo documentou reso- em processo eletrónico e posteriormente organiza-
lução completa das lesões. Estudo ETT e comple- dos em três e dois níveis de risco de TEP. A capa-
mentado com RMN cardíaca que confirmou cardio- cidade preditiva dos scores foi avaliada através da
megalia com FEj 31% demonstrando ainda fibrose construção das curvas características de operação
endomiocárdica, sugestiva de infiltração eosinofi- do recetor (ROC), do cálculo da área abaixo da cur-
lica. Realizada BOM e mielograma, demonstrando va (AUC), sensibilidade (SE) e especificidade (SP),
medula hipercelular, com predomínio de eosinófilos, para cada score. O modelo de regressão logística
sem alterações das restantes linhagens ou suges- foi implementado para avaliar a associação entre
tão de doença linfoproliferativa. Por suspeita de os níveis de risco obtidos para cada score com a
doença hematológica, complementado estudo com ocorrência de TEP, com adoção do odds ratio como
cariótipo de sangue medular, pesquisa de translo- medida de associação.
cação BCR/ABL, mutação JAK2 e translocação FI-
P1L1/PDGFRA negativos. Dada hipereosinofilia com Resultados: Foram avaliados um total de 96 doen-
atingimento de orgão iniciou corticoterapia com tes, com mediana de idade de 72.5 anos e 41.7% do
melhoria sintomática. Observado por Cardiologia sexo feminino, sendo que o diagnóstico de TEP foi
que considerou relação risco-benefício de biópsia confirmado em 50% destes doentes. A mediana do
miocárdica desfavorável. Iniciou terapêutica com score de Wells foi de 4.5 em doentes com TEP ver-
bisoprolol, enalapril e espirolactona, ficando o doen- sus 3.0 em doentes sem TEP. A mediana do score
te orientado à consulta. de Geneva revisto foi de 4.0 em ambos os grupos de
doentes. Dos scores calculados, 10.4% dos doen-
DISCUSSÃO: O diagnóstico de SHE é raro e exige tes com TEP foram considerados de baixo risco no
uma pesquisa exaustiva de possíveis etiologias score de Wells e 43.8% no score de Geneva revisto.
para a eosinofilia.  As AUC obtidas para os scores de Wells e Geneva,
(p=.123 e p=.227 respetivamente) não são estatis-
PA n.º 2509  ticamente significativas, sugerindo uma pobre ca-
Score de Wells versus Geneva revisto: comparação pacidade preditora de TEP. Os melhores resultados
em doentes com COVID-19 obtidos de SE/SP foram de 0.67 e 0.43 para Wells,
Beatriz Vitó Madureira(1);Daniela Soares(1);Mariana em comparação a 0.55 e 0.62 para Geneva, confir-
Cabral(1);Rita Pinto Araújo(1);Gonçalo Sarmento(1) mando que estes scores não foram bons preditores
(1) Centro Hospitalar de Entre Douro e Vouga, EPE / de TEP no grupo de doentes estudado. No entanto,

328
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
os resultados da regressão logística mostraram tora, em dia 44 de flucloxacilina dirigida, após 151
uma associação significativa do score de Wells em dias de internamento.
binível (OR=2.56, p=.025, 95%CI=[1.12, 5.83]), suge-
rindo que doentes com um score superior a 4 vão CONCLUSÃO: este caso clínico demonstra a dificul-
ter 2.56 maior probabilidade de apresentar TEP. dade no diagnóstico de focos infecciosos da coluna
vertebral, muitas vezes atrasando o seu tratamento,
Conclusões: Embora parte dos resultados sugira que fazendo com que estes doentes evoluam para for-
ambos os scores não foram bons preditores de TEP mas graves da doença. 
nos doentes em estudo, o score de Wells em binível
apresentou uma relação estatisticamente significa- PA n.º 2522 
tiva com o diagnóstico de TEP, permitindo concluir a Dor abdominal, náuseas e vómitos – um diagnósti-
sua maior capacidade preditiva nos doentes COVID, co de exclusão
em comparação com o score de Geneva revisto.  Marta Ramos(1);Maria Margarida Andrade(1);Rita
Tinoco Magalhães(1);Sara Freire(1);Sónia Baldo(1);-
PA n.º 2514  Joana Coelho(1);Carolina Alegria(1)
Choque séptico com etiologia obscura (1) HPP Hospital de Cascais
Catarina Cabral(1);Mariana Constante(1);Guilherme
Sacramento(1);Andrea Castanheira(1);Isabel Madru- Tema: Outro
ga(1)
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE / O canábis é a substância psicoativa mais consumi-
Hospital Egas Moniz da de forma ilegal em todo o mundo. A síndrome da
hiperémese dos canabinoides (SHC) é uma entidade
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias bem definida, mas relativamente rara. Apresenta-se
clinicamente com náuseas e vómitos intensos, de
Introdução: É desafiante o doente em choque sép- forma cíclica, e dor abdominal, epigástrica ou peri-
tico com disfunção multiorgânica, mas sem foco -umbilical que melhora com a exposição a banhos/
identificado. Apresenta-se um caso de osteomielite duches de água quente. Como sintomas associados
multifocal extensa identificada apenas após a rea- pode existir rubor facial ou diaforese. Está associa-
lização de ressonância magnética da coluna verte- da a consumo crónico de canabinoides em doses
bral. elevadas e de forma prolongada, mas a sua fisiopa-
CASO CLÍNICO: Doente do sexo masculino, 63 anos, tologia permanece desconhecida. Apresenta 3 fa-
trabalhador da construção civil. Antecedentes pes- ses: prodrómica, hiperemética e recuperação. Numa
soais de cardiopatia isquémica, obesidade, hiper- abordagem inicial, história clínica dos doentes com
tensão arterial, cervicalgia. Recorre ao Serviço de náuseas, vómitos e dor abdominal deve ser dirigida
Urgência (SU) por queixas de febre (39ºC) e dor de a` exclusão de doenças potencialmente fatais. O
características mecânicas na região dorsal direita, consumo crónico de canabinoides e a melhoria dos
tendo alta com terapêutica sintomática. Recorre sintomas após a cessação dos consumos e com o
novamente ao SU por dispneia e febre. Analitica- banho quente são critérios major de diagnóstico.
mente com marcada leucocitose e PCR de 38,7mg/ Analiticamente o doseamento de canabinoides na
dl. Gasimetricamente com pO2 de 61,3mmHg com urina deverá ser sempre pedido. Como tratamento
O2 suplementar a 7L/minuto. Realizou tomografia na fase hiperemética deverá ser reforçada a hidrata-
computadorizada (TC) de corpo que revelou der- ção. Os antieméticos tradicionais apresentam pou-
rame pleural bilateral, sem infiltrados pleuroparen- ca eficácia no controlo sintomático.
quimatosos do pulmão. O doente foi internado por
choque séptico com ponto de partida respiratório Homem de 47 anos apresentava antecedentes pes-
vs espondilodiscite vs endocardite com disfunção soais de síndrome depressivo, vários internamentos
multiorgânica, e isolamento de MSSA em hemo- por dor abdominal, náuseas e vómitos, sem causa
culturas. Já na Unidade de Cuidados Intermédios esclarecida e esofagite e úlcera gástrica. Recorreu
encontrava-se sob antibioterapia dirigida, ainda sem ao serviço de urgência por dor abdominal, náuseas
foco identificado. Realizou extenso estudo etiológi- e vómitos. Analiticamente apresentava uma lesão
co, a destacar ecocardiograma transesofágico, sem renal aguda pré renal e acidémia metabólica. Sem
evidência de vegetações valvulares e TC da coluna outras alterações dos exames complementares
vertebral que não detectou qualquer sinal de espon- realizados. Posteriormente referiu melhoria sinto-
dilodiscite. No entanto, pela forte suspeita de foco mática com duches de água quente. Aquando per-
na coluna vertebral, realizou ressonância magnética guntado sobre o consumo de canabinoides, referiu
que revelou osteomielite de C5 e C6, disco colap- consumo em doses elevadas desde há 10 anos e
sado, edema/fleimão peri-vertebral extenso; C5 e semanalmente. Foi pedida o doseamento de canabi-
C6 com abcesso epidural anterior; pequeno foco de noides na urina que se revelou positivo. 
espondilodiscite D9-D10; extenso empiema epidural
de D6 ao sacro; envolvimento difuso do corpo de A SHC é relativamente rara, subvalorizada e de bai-
L2, L3 e L5; pequenos abcessos nos psoas ilíacos. xa suspeição clínica. Associa-se a um atraso signifi-
O caso foi discutido com a Neurocirurgia, tendo o cativo de diagnóstico com múltiplos internamentos
doente indicação para terapêutica médica. O doente e vindas ao serviço de urgência com investigações
foi transferido para instituição de reabilitação mo- frequentemente repetitivas e sem alterações signifi-

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 329


cativas. O recurso a banhos quentes é uma caracte- Afonso(1);Anabela Oliveira(1)
rística central deste quadro clinico. Este diagnóstico (1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi-
deve ser considerado em contexto de vómitos recor- tal de Santa Maria
rentes difíceis de tratar em doentes com história de
consumo de canabinoides.   Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente crí-
tico
PA n.º 2526 
Encefalite por Vírus Varicela Zoster em doente cor- Introdução: A mordedura de víbora é uma emergên-
ticotratada cia médica.  O veneno é uma mistura de toxinas que
Rui Pedro Ribeiro(1);Carolina Guimarães(1);Ana causam hemólise, miotoxicidade, neurotoxicidade
Luísa Pinhal(1);Filipa Neto(1);Luis Silva(1);Jorge Al- pré e pós-sináptica, cardiotoxicidade, edema e efei-
meida(1) tos pró-ou anticoagulantes. A epinefrina, anti-his-
(1) Centro Hospitalar de S. João, EPE tamínicos ou corticosteroides só estão recomen-
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias dados na reação anafilática e a antibioterapia na
sobreinfeção. O Soro Antiofídico (SAO) utilizado em
Portugal é o Viperfav®, um antiveneno de terceira
Introdução: A Encefalite por Vírus Varicela Zoster geração que tem acção máxima nas primeiras 10
(VVZ) é uma complicação relativamente rara da rea- horas.
tivação deste vírus e é mais comum em indivíduos
com compromisso imunitário. A realização de PCR
para deteção de DNA viral é fundamental para um Caso clínico: Mulher de 66 anos, autónoma, admiti-
diagnostico precoce e um melhor prognóstico. da no Serviço de Urgência da área de residência por
mordedura de víbora com uma hora de evolução.
Apresentava uma lesão necrótica na zona do maléo-
Caso Clínico: Uma doente do sexo feminino, 86 anos, lo externo com sinais inflamatórios locais, impo-
com um Síndrome Demencial incipiente desde há um tência funcional e náuseas. Admitindo equidnismo
ano, apresenta-se no Serviço de Urgência por agra- moderado, foi contatado o Centro de Informação
vamento da agitação psicomotora e atividade deli- Anti-Venenos, delimitada a zona de mordedura e ini-
rante com três semanas de evolução. Cerca de um ciado tratamento de suporte com analgesia e anti-
mês antes, apresentou lesões vesiculares na região bioterapia preemptiva com amoxicilina/clavulanato.
torácica dorsal esquerda compatíveis com Zona, em Tendo indicação para SAO, foi transferida para um
doente com corticoterapia de longa duração, tendo hospital terciário realizando 4ml de Viperfav® (cinco
sido tratada apenas sintomaticamente. Numa fase horas pós-mordedura). Por agravamento, com sufu-
inicial assumidas possibilidades de Psicose associa- são hemorrágica local e extensão do edema ao 1/3
da aos corticóides, pelo que iniciou o seu desmame, médio da perna, realizou a segunda dose de SAO e
Síndrome Confusional Agudo em contexto de múl- suspendeu antibioterapia. Permaneceu internada 48
tiplos internamentos recentes ou progressão ace- horas, mantendo vigilância em ambulatório, apresen-
lerada de Síndrome Demencial. Por persistência da tando-se clinicamente estável, sem agravamento da
sintomatologia, e picos febris isolados, foi realizada área lesional, discrasia hemorrágica, sinais neurotó-
punção lombar que mostrou pleocitose, proteinorra- xicose ou evidência de sobreinfeção. 
quia e positividade para DNA de VVZ em PCR. Analiti-
camente com marcadores inflamatórios ligeiramen- Discussão: Sendo o equidnismo uma patologia
te aumentados. Foi iniciado aciclovir 750mg de 8 em rara em Portugal, a sua potencial gravidade confere
8 horas durante um período de 14 dias. Para exclu- importância ímpar na elaboração de protocolos de
são de fenómenos de vasculite associados, realizou atuação célere e eficaz. A evolução da terapêutica
Ressonância Magnética Cerebral que excluiu a sua antiofídica e a existência de um fármaco seguro e
presença. A doente apresentou resolução da sinto- independente da identificação da espécie de víbora
matologia psicótica e da agitação, mas manteve im- é fundamental. Contudo, a abordagem deverá ser
portante prejuízo da memória episódica. individualizada, como no caso apresentado. É fun-
damental a estratificação do risco, terapêutica de
Conclusão: O presente caso ressalta a importância suporte, de complicações locais e sistémicas e vigi-
de uma elevada suspeição clínica, sobretudo quando lância evolutiva.
a clínica é inespecífica e enquadrável em diagnósti-
cos mais prováveis, e de estabelecer um diagnóstico PA n.º 2543 
célere para iniciar o tratamento adequado e evitar Púrpura e MM: crioglobulinemia tipo I como mani-
desfechos potencialmente graves. festação dermatológica de discrasia plasmocitária
Diogo de Sousa(1);Alexandra Wahnon(1);Catarina
PA n.º 2532  Sousa Gonçalves(1);Ana Castro Barbosa(1);Ana
Abordagem da mordedura de víbora cornuda – A Mafalda Abrantes(1);Carolina Carreiro(1);Maria José
propósito de um caso clínico Pires(1);Carolina António Santos(1);Nuno Reis Car-
Maria José Pires(1);Diogo Mendes Pedro(1);Caro- reira(1);Marisa Silva(1);António Pais Lacerda(1)
lina António Santos(1);Ana l f Abrantes(1);Carolina (1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi-
Ramos(1);Alexandra Wahnone(1);Catarina Sousa tal de Santa Maria
Gonçalves(1);Diogo de Sousa(1);Liliana r Santos(1);-
Frederico Trigueiros(1);Sandra Pereira(1);Cláudia Tema: Doenças hematológicas

330
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
Introdução: A crioglobulinemia (CG) é uma síndro- HHV-8 negativas). A correta classificação é impor-
me inflamatória secundária à precipitação de imu- tante na determinação do tratamento e prognóstico
nocomplexos com crioglobulinas em pequenos ou destes doentes.
médios vasos, resultando em manifestações multis-
sistémicas como púrpura, fadiga, artralgias, úlceras, Homem de 46 anos, autónomo, com antecedentes
neuropatia e glomerulonefrite. Estão reconhecidos de Hepatite C crónica e infeção pelo VIH1 em esta-
3 tipos de CG. A CG tipo 1 caracteriza-se pela sua dio C3 CDC. Apresentou-se com um quadro cons-
monoclonalidade, 10-15% dos casos de CG, e está titucional arrastado de mau-estar, dor abdominal,
fortemente associado a doenças linfoproliferativas, perda ponderal, astenia, anorexia e febre. O exame
nomeadamente a discrasia plasmocitária. objetivo revelou adenopatias supra-clavicular direita,
axilares e inguinais bilaterais, assim como manchas
Caso clínico: Doente de 73 anos, com antecedentes hiperpigmentadas dispersas. Analiticamente com
de diabetes mellitus tipo 2, doença renal crónica ter- hemoglobina 9,20 g/dL, plaquetas 64000, velocida-
minal sob hemodiálise secundária a nefropatia dia- de de sedimentação 126 mm/1ªhora, ferritina 1374
bética, doença arterial periférica grave com necessi- ng/mL, albumina 1.6 g/dL, elevação provas hepá-
dade recente de amputação de membros e mieloma ticas e hipergamaglobulinemia policlonal. Eviden-
múltiplo IgG Kappa (IgGK) recentemente diagnosti- ciava ainda linfadenopatias generalizadas em TAC
cado. Encaminhado ao serviço de urgência por disp- abdomino-pélvico. Dada a suspeita de doença lin-
neia, hipotensão e vómitos. Laboratorialmente real- foproliferativa, realizou biópsia excisional ganglionar
ça-se anemia, trombocitopenia, elevação da proteína que documentou aspetos morfológicos e imunofe-
C reativa e leucocitúria. Diagnosticada bacteremia a notípicos favoráveis ao diagnóstico de DC variante
Enterococcus faecium com ponto de partida urinário, plasmocítica multicêntrica. A pesquisa de HHV-8 foi
cumprindo terapêutica com vancomicina. Ao 8º dia negativa, realizou biópsia óssea com plasmocitose e
de internamento, apesar da melhoria clínica e labo- aspetos sugestivos de mielodisplasia e biópsia cutâ-
ratorial, e excluída endocardite por ecocardiograma nea que revelou a presença de infiltrados plasmo-
transesofágico, desenvolveu púrpura acral progres- cíticos. Acabou por apresentar um desfecho desfa-
siva, com deiscência de suturas recentes e trans- vorável determinado pelo agravamento progressivo
formação necro-hemorrágica cicatricial. Laborato- do seu estado com sobreposição clínica de cirrose
rialmente assinalava-se consumo do complemento hepática descompensada e falecimento em cerca de
e crioglobulinas positivas com prevalência IgGK. 2 meses.
Diagnosticada crioglobulinemia tipo 1 associada a
mieloma múltiplo, em crise despoletada por infeção. A DC em doentes infetados pelo VIH está associada
Iniciada corticoterapia com progressiva regressão a um mau prognóstico e relaciona-se concomitante-
das lesões. mente à infeção HHV-8, sendo questionável se estes
resultados estarão associados unicamente à infeção
Conclusão: Embora pouco comum, a expressão HHV-8 ou à imunossupressão associada ao VIH. A
dermatológica de mieloma múltiplo sob a forma de variante HHV-8 negativa apresenta um prognóstico
vasculite permitiu suspeição diagnóstica suficiente mais variável, sendo a apresentação plasmocítica
para o estudo de crioglobulinemias e o diagnóstico um dos determinantes de pior prognóstico. O caso
de crioglobulinemia tipo 1 em doente com mieloma clínico relatado reporta-se a um caso atípico de DC
múltiplo. Serve este caso para uma meticulosa ava- idiopática variante plasmocítica em doente imuno-
liação de casos semelhantes cuja presunção diag- comprometido que, na presença de importantes co-
nóstica de doença linfoproliferativa possa estar pre- morbilidades, acabou por apresentar evolução rapi-
sente. damente progressiva.
PA n.º 2551  PA n.º 2560 
Doença de Castleman multicêntrica idiopática em Sequelas pulmonares de doentes hospitalizados
doente imunocomprometido por COVID-19
Ana Raquel Afonso(1);Daniela Santos Bento(1);Ca- Diana Rocha(1);Joana Cardoso(1);Sónia Chan(1);An-
tarina Sousa Alves(1);Lourenço Resende(1);Renata dré Silva(1);Ana Novo(1);Ana Rita Cruz(1);Rui Sar-
Violante Silva(1);Filipe Martins(1);Fernando Salva- mento e Castro(1);João Araújo Correia(1)
dor(1) (1) Centro Hospitalar Uni. Porto
(1) Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Dou-
ro, EPE / Hospital de Vila Real Tema: Doenças infecciosas e parasitárias

Tema: Doenças raras Introdução: O conhecimento acerca da COVID-19


é ainda parco. Após a cura têm sido descrita persis-
A doença de Castleman (DC) multicêntrica com- tência de sintomas multisistémicos.
preende um conjunto de distúrbios linfoproliferati-
vos associados à presença de sintomas inflama- Objetivo: Caracterização  das sequelas pulmona-
tórios sistémicos que podem relacionar-se com a res pós-internamento por COVID-19. 
infeção pelo vírus herpes 8 (HHV-8) (sobretudo em
doentes infetados pelo VIH ou imunocomprome- Material-Métodos: Estudo observacional, prospetivo,
tidos) ou ser considerados idiopáticos (variantes unicentro dos doentes internados numa enfermaria,

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 331


de 01/03/20 a 30/06/20, por COVID-19. De 79 inter- anos internado por gonartrite séptica após coloca-
nados, 36 faleceram, 8 foram excluídos pela total ção de espaçador e remoção de prótese articular
dependência (mRS) e 6 abandonaram o seguimen- previamente infectada, a receber tratamento com
to. Mantiveram-se no estudo  29 doentes que serão ceftriaxona e vancomicina, com recurso diário a
acompanhados durante 24 meses. Na fase 1 reali- paracetamol e metamizol para analgesia. Ao 25º
zou-se a primeira consulta e TC torácica ao 6º mês; dia de internamento, análises de rotina revelaram
na fase 2 serão reavaliados e aqueles com altera- neutropénia importante com 340 neutrófilos/uL. De
ções imagiológicas realizarão ao 12º mês ecocar- entre os fármacos administrados ao doente desde
diograma, provas funcionais respiratórias (PFR) e TC o início do internamento, o metamizol era aquele
torácica; na fase 3 terão nova consulta e, em caso de com maior risco de agranulocitose, pelo que o sus-
alterações nos exames complementares no 12º mês, pendemos. Após 16 dias, observámos recuperação
repetir-se-ão as PFR e a TC torácica ao 24º mês e dis- da contagem absoluta de neutrófilos para valores
cutidas as alterações ecocardiográficas sugestivas superiores a 1000 neutrófilos/uL. Não observamos
de hipertensão pulmonar com um perito. novas infeções no período de agranulocitose.
Resultados: De momento o estudo está  na fase 2. Discussão: O metamizol pertence ao grupo de fár-
Apresentamos uma descrição sumária da amostra e macos com mais alto risco relativo de agranulocito-
resultados preliminares. A média de idades foi de 69 se. O mecanismo pelo qual a causa é a destruição
anos com distribuição equitativa de género; 23 doen- imune de neutrófilos circulantes via anticorpos
tes eram autónomos. O tempo médio de internamen- induzidos por ou dependentes de fármacos via
to foi de 14 dias. A maioria (66%, N=20) apresenta- haptenos. O início da reação é geralmente tardio e
va  fatores de risco cardiovascular (35% HTA, 26% pode inclusive acontecer 1 mês após a última ad-
dislipidemia, 22% diabetes mellitus, 17% com IMC ministração do fármaco. O risco de complicações
≥ 25 kg/m2; 28% eram fumadores - dos quais 62% mortais com neutropénia entre 100-500 neutrófilos/
tinham doença pulmonar), 17% cardiopatia e  13% uL é de 3%. Não havendo infeções graves associa-
doença renal crónica. A doença foi moderada a grave das, o tratamento desta entidade consiste apenas
em 83% (N=24). As principais complicações foram a na suspensão do fármaco culpado. Contudo, muitos
sobreinfeção bacteriana pulmonar (13%, N=4), derra- doentes estão a receber simultaneamente múltiplos
me pleural em 10% (N=3) e TEP em 3% (N=1). Segun- fármacos com associação definitiva à agranuloci-
dos critérios da DGS na altura vigentes, 82% (N=24) tose na altura do diagnóstico. No nosso caso, estes
receberam hidroxicloroquina. Os principais sintomas eram a ceftriaxona, vancomicina e o metamizol. Isto
ao 6º mês  foram a astenia (45%, N=13), dispneia dificulta a correcta identificação do agente culpa-
(34%, N=10) e tosse (26%, N=8). Todos os doentes do. No nosso caso, a suspensão dos antibióticos
realizaram imagem torácica no internamento e 93% representava um risco demasiado elevado, pelo que
(N=27) tinham alterações; 6º mês, 55% (N=16) man- optámos por suspender primeiro o metamizol, com
têm alterações de vidro despolido e crazy-paving, ha- sucesso.
vendo alterações fibróticas (N=4).
PA n.º 2593 
Conclusões: Na fase 1 metade dos doentes man- Pseudotumor inflamatório do fígado – uma entida-
têm sintomatologia e alterações radiológicas. A de rara e mimetizadora de neoformações malignas
sobrecarga do SNS e o receio em recorrer aos servi- Elisabete Brum de Sousa(1);Beatriz Barata(1);João
ços de saúde dificultou o cumprimento dos prazos Alves Teixeira(1);Pedro Mesquita(1);Carlota Lalan-
estipulados. Estudos prospetivos são fundamentais da(1);Catarina Cruz Costa(1);Madalena Lisboa(1)
para ampliar o conhecimento da doença. (1) Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE / Hos-
pital de Santo António dos Capuchos
PA n.º 2581 
Agranulocitose secundária a metamizol - um rea- Tema: Outro
ção rara com um final feliz
Pedro Caiado(1);António Mesquita(1);Miguel Pi- O pseudotumor inflamatório (PTI) do fígado é uma
nheiro(1);Miguel Martins(1);Miguel Nunes(1);Fran- neoplasia rara, benigna, de apresentação inespecífica,
cisca Martins(1);Madalena Lobão(1);Márcia Pe- que facilmente mimetiza uma neoformação maligna de
reira(1);Marta Carvalho(1);Vítor Brotas(1);Eduardo tecidos moles.   
Gomes da Silva(1)
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE / Hos-
pital de Santo António dos Capuchos Os autores apresentam o caso de uma mulher de 52
anos de idade, saudável, com queixas de dor epigás-
Tema: Doenças raras trica, enfartamento pós prandial e perda ponderal
com 2 meses de evolução, associadas a febre ves-
Introdução: a agranulocitose secundária ao meta- pertina nos últimos 10 dias. Ao exame objetivo apre-
mizol é uma reação idiossincrática (RI), com o risco sentava uma massa palpável no epigastro, dolorosa,
independente da dose. Este tipo de reações tem imóvel e de consistência dura. Laboratorialmente,
incidência entre 1/10,000 e 1/100,000. anemia normocítica normocrómica e proteína C rea-
tiva elevada. A endoscopia digestiva alta evidencia-
va mucosa gástrica espessada de aspeto inflamado
Caso: Reportamos o caso de um homem de 68 sugestiva de atipia, mas cuja histologia demonstrava

332
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
apenas tecido inflamatório reativo. A TC abdominal taquicárdico, tensão arterial controlada, exame
revelava uma volumosa lesa~o so´lida na pequena neurológico sem défices à exceção da diminuição
curvatura ga´strica com envolvimento por contigui- da força muscular dos membros inferiores mais
dade do lobo hepático esquerdo. A doente foi sub- marcada à esquerda. Tomografia computarizada
metida a duas biópsias hepáticas percutâneas eco- crânio-encefálica sem alterações isquémicas agudas
guiadas que revelavam tecido inflamatório crónico mas sequelas vasculares dispersas; ecocardiograma
com componente necrótico e análise microbiológica transtorácico sem dilatação das câmaras cardíacas
estéril. Apesar de 2 semanas de antibioterapia empí- direitas; Holter das 24 horas sem alterações
rica de largo espectro não houve qualquer melhoria compatíveis com causa de síncope; eco-doppler dos
clínica e a doente foi submetida a ressecção do lobo vasos do pescoço e transcraniano: padrão de roubo
hepático esquerdo por progressão da neoplasia, com subclávio completo (grau III) da AV esquerda. Para
invasão hepática e de órgãos contíguos. confirmação do diagnóstico fez eco-doppler com
provocação que confirmou o padrão, adicionalmente
A análise anatomopatológica da peça cirúrgica con- realizado teste de hiperemia que não foi possível
firmava o diagnóstico de PTI do fígado e a doente excluir hipoperfusão cerebral. Foi encaminhado para
teve alta com bom estado geral. a cirurgia vascular.
O diagnóstico de PTI do fígado permanece um de- Este caso é de maior interesse pela sua forma de
safio. A sua etiologia é desconhecida, mas pode apresentação rara, importante no diagnóstico dife-
estar associada a trauma, infeção ou a doenças rencial de acidente vascular cerebral.
autoimunes. No presente caso, os autores sugerem
que um evento traumático à mucosa gástrica (corpo PA n.º 2607 
estranho) possa ter funcionado como um trigger Hospitalização Domiciliária: Uma oportunidade
ao desenvolvimento de uma resposta inflamatória para os cuidados paliativos?
com consequente evolução para PTI do fígado.  O Rita Lencastre Monteiro(1);Marta Ramos(2);Martin
conhecimento desta patologia, não obstante a sua Santiago(3);Josu i. Irurzun(3);Andima Ozamiz(3)
raridade, torna-se fundamental no exercício de uma (1) Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE / Hos-
correta abordagem diagnóstica e terapêutica de pital de Santo António dos Capuchos (2) Hospital
neoformações de tecidos moles suspeitas. Universitario de Canaria, Tenerife (3) Hospital de
Cruces, Hospitalización a Domicílio, Bilbao
PA n.º 2603 
Nem tudo é acidente vascular cerebral! Tema: Cuidados paliativos
Carolina Cadório(1);Daniela Mateus(1);Mariana Mar-
ques(1);Alexandra Pousinha(1);Leuta Araújo(1);João Introdução: 
Barreira(1);José Barata(1)
(1) Hospital de Vila Franca de Xira
A Hospitalizaçao Domiciliária tem tido uma papel
Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas crescente nos últimos anos em Portugal, contando
em Maio de 2021 já com 34 unidades no Sistema
A síndrome do roubo da subclávia consiste num re- Nacional de Sáude. Estão comprovados alguns
fluxo sanguíneo na artéria vertebral (AV) associado benefícios deste modelo para os doentes ilegiveis,
a estenose ou oclusão da artéria subclávia ipsilate- como uma menor taxa de infeção assim como me-
ral que se localiza proximal à origem da AV. Normal- nor tempo de internamento, contudo em doentes
mente é assintomático e de diagnóstico incidental. oncológicos ou com patologia crónica com necessi-
No entanto pode desenvolver sintomas isquémicos dade paliativa, é de grande interesse a possibilidade
do membro superior atingido, assimetria na pressão de ter cuidados mais centrados no doente e no seu
arterial entre os membros superiores ou em caso de agregado. 
oclusão total, sintomas associados a isquemia da
circulação cerebral posterior provocada pelo esfor- Objetivo: 
ço físico do membro afetado.
-Caracterização clínica e demográfica da população
Os autores apresentam o caso de um homem de 68 internada
anos, história de cardiopatia isquémica e sintomato-
logia de doença arterial periférica assim como pos- - Classificação à admissão (T1) de todos os doen-
sível doença pulmonar obstrutiva crónica presuntiva tes conforme as principais patologias que moti-
associado a elevada carga tabágica; Status pós-in- varam o internamento nos seguintes grupos: Agu-
feção por SARS-COV-2 recente. Recorre ao Servi- do (A), Cirúrgico (Cx), Crónico (C), Crónico Paliativa
ço de Urgência por quadro de síncope que ocorreu (CP), Oncológico (O) e Oncológico Paliativa (OP). 
imediatamente após o levante da cadeira que se fez
- Reclassificação à data de alta (T2) de todos os
com auxílio predominante dos membros superiores
doentes, ultilizando a escala de cuidados integrados
devido a impotência funcional do membro inferior
paliativos NECPAL, nos mesmos grupos. 
esquerdo e claudicação intermitente. Já teria tido
quadro de tonturas após este mesmo movimento. - Avaliar o número de doentes com necessidades
paliativas não previamente diagnosticadas
À admissão hospitalar encontrava-se ligeiramente
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 333
Introdução:
Material e Métodos: 
Estudo prospectivo, monocentrico, realizado numa A Síndrome de Encefalopatia Posterior Reversível
unidade de Hospitalização Domiciliária Internacio- (PRES) é uma síndrome clínica e imagiológica, apre-
nal, ao longo de um mês.  sentando-se com cefaleia, confusão ou alteração da
consciência, alterações visuais e crises convulsivas,
Foram incluídos 100 doentes de forma aleatorizada. estando frequentemente associada a HTA. A patogé-
A idade média foi de 71 anos (mínimo 32, máximo nese parece atribuir-se à falência da autorregulação
88), com maior prevalência do sexo masculino cerebral. 
(58%) e com um índice de comorbilidades de Charl-
son médio de 7. O tempo médio de internamento foi O diagnóstico requer o reconhecimento da síndrome
de 8 dias (intervalo 2-29). neurológica e neuroimagem, preferencialmente RMN
cerebral, que tipicamente evidencia edema cerebral
Foram classificação dos doentes em T1 nos grupos bilateral nos hemisférios posteriores.
A, Cx, O, OP, C e CP.  Em T2 foi aplicada a escala
NECPAL  e foram reclassificados todos os doentes Caso Clínico:
nos mesmos grupos, de modo a comparar dentro Homem, 68 anos, com antecedentes de HTA, carci-
de cada grupo a percentagem de doentes em T1 e noma epidermóide e adenocarcinoma do pulmão,
T2.  tratado com carboplatina e paclitaxel 4 meses antes.
Por cefaleia intensa, fotopsias e desorientação, re-
Resultados:  correu ao SU, onde teve crise convulsiva tónico-
A maior percentagem de doentes foi classificado -clónica generalizada. Estava desorientado, com TA
em Cx (33%) e A (28%), não se observando qualquer 224/110mmHg, sem défices motores.
diferença em T1 e em T2.  Analiticamente, citólise hepática e leucocitose; an-
As diferenças mais significativas foram observadas gio-TC cerebral sem alterações. A RMN cerebral re-
no grupo de doentes crónicos em que C (T1- 22%; velou “leso~es edematosas corticossubcorticais
T2 - 9%) e o CP (T1 - 1%; T2 - 14%). Também se occipitais bilaterais e parietal subcortical direita, su-
observaram diferenças no grupo dos doentes onco- gestivas de PRES”.
lógicos em que  O ( T1 - 3%; T2 - 0%) e OP (T1 -13%; O doente foi admitido por PRES e crise hipertensi-
T2-16%). va. Foi instituída terapêutica anti-hipertensora, com
Assim, os doentes inicialmente classificados como recuperação tensional e neurolo´gica. No estudo de
C ou O foram reclassificados em 57% e 19% dos HTA secundária, que foi negativo, foi detectada pro-
casos, respectivamente, como portadores de ne- gressão da doença neopla´sica, com metastizac¸a~o
cessidades paliativas através da escala NECPAL, hepa´tica e o´ssea.
actualmente validade em Português.   Discussão:
 
Várias condições, pelo efeito vascular, podem cau-
Conclusões:  sar PRES. Neste caso, a crise hipertensiva era a mais
O estudo realizado procura activamente monitorizar, atractiva. Contudo, é também conhecida a associa-
atráves da aplicação de escalas validadas, as ne- ção da quimioterapia com a PRES, existindo vários
cessidades paliativas em doentes internados, dando estudos que reportam a associação com análogos
especial atenção aos doentes portadores de patolo- de platina, sobretudo cisplatina, e apenas alguns re-
gias crónicas ou oncológicas, pela prevalência que ferindo a carboplatina e o paclitaxel. Neste caso, ten-
têm na realidade de um internista. Sendo muitas ve- do o tratamento com carboplatina e paclitaxel sido
zes as necessidades paliativas subdiagnosticadas, concluído 4 meses antes, é menos provável a asso-
a hospitalização domiciliária torna-se uma grande ciação de PRES à quimioterapia.
oportunidade para um conhecimento mais profundo Neste caso, a apresentação, clínica e imagiológica,
e integrado do doente assim como uma via para a permitiu o diagnóstico precoce de PRES, essencial,
promoção de melhores cuidados.  dada a reversibilidade do quadro com tratamento
PA n.º 2612  adequado. A redução da pressão arterial deve ser
Síndrome de Encefalopatia Posterior Reversível cautelosa, pelo risco de isquemia de órgão.
(PRES) Embora geralmente benigna, podem ocorrer compli-
Elisa Condez(1);Ana sá(1);Rodrigo Silva(1);Tere- cações (isquemia/hemorragia cerebral), com disfun-
sa Pimentel(1);Narciso Oliveira(1);Joana Sotto ção neurológica permanente e morte.
Mayor(1)
(1) Hospital de Braga PA n.º 2614 
AVC em jovem – uma causa metabólica
Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas Rute Sousa Martins(1);Arlindo Guimas(1);Sara Ro-
cha(1);Rosa Ribeiro(1);João Araújo Correia(1)

334
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
(1) Centro Hospitalar Uni. Porto nardo Dias Pereira(1);Luís Dias(1)
(1) Hospital do Divino Espírito Santo, Ponta Delgada
Tema: Doenças raras
Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio-
INTRODUÇÃO nais

A diabetes insípida (DI) caracteriza-se por polidipsia


A doença de Fabry (DF) é uma doença de armaze- (> 3 litros/dia) e excreção de volumes urinários ele-
namento lissosomal com hereditariedade ligada ao vados de urina hiposmolar (<250 mmoL/kg). A cau-
X causada por mutações no gene que codifica a sa nefrogénica (DIN) é infrequente e caracteriza-se
enzima alfa-galactosidase A levando à acumulação pela resistência do túbulo contornado distal e ducto
progressiva de globotriaosilceramida e globotriao- coletor à ação da vasopressina. Cerca de 50% dos
silesfingosina. Esta acumulação é mais exuberante doentes sob uso crónico de lítio desenvolvem DIN,
nas células endoteliais, podócitos, cardiomiócitos, de forma independente da litémia.  O tratamento da
músculo liso arterial e sistema nervoso. A DF é cli- DIN associada ao lítio é um desafio na prática clíni-
nicamente heterogénea, o fenótipo clássico é tipica- ca, uma vez que os fármacos disponíveis provocam
mente observado em homens e surge na infância/ com frequência distúrbios eletrolíticos, exigindo uma
adolescência. A DF de início tardio manifesta-se em monitorização atenta. Recentemente, a segurança e
adultos como insuficiência renal, cardiomiopatia hi- eficácia da acetazolamida (ATZ) no tratamento da
pertrófica, perturbações do ritmo cardíaco e aciden- DIN associada ao lítio foi demonstrada em estudos
te vascular cerebral (AVC).  pré-clínicos e em raros relatos de caso.
CASO CLÍNICO Homem de 56 anos, com antecedentes de paraple-
Mulher de 44 anos com história de dislipidemia e en- gia traumática, esquizofrenia e doença bipolar sob
xaqueca, medicada com anticontraceptivo oral. Ad- terapêutica com lítio. Admitido em internamento por
mitida por AVC lacunar sensitivo-motor em território celulite extensa do membro inferior. Na avaliação clí-
da artéria cerebral média esquerda. Do estudo etio- nica evidenciou-se polidipsia (> 3 L/dia de água) e
lógico: exclusão de outros fatores de risco cardio- poliúria com diurese máxima de 10.100 L/dia. A ava-
vasculares (hipertensão arterial, diabetes mellitus) liação analítica revelou valores séricos de glucose,
ecocardiograma, ecodoppler dos vasos do pescoço, lítio, creatinina e ionograma normais, com osmolari-
estudo imunológico e angioTC cerebral normais. dade sérica de 293 mOsmol/kg e osmolaridade uri-
Doseamento da atividade da enzima alfa-galactosi- nária de 132 mOsmol/kg. O doente foi submetido a
dase A normal, mas face à ausência de justificação prova de restrição hídrica que corroborou a hipótese
para o quadro clínico e perante história familiar (mãe diagnóstica de DIN. Iniciou-se prova terapêutica com
e irmãos) de doença cardíaca e renal sem etiologia ATZ 500 mg de 12/12h, tendo-se objetivado redução
definida, foi pedido estudo genético que revelou pre- da diurese média de 5266 L/dia para 2391 L/dia,
sença em heterozigotia de uma mutação descrita sem alterações analíticas de creatinina, ionograma,
como causal da DF. A doente é seguida na consulta osmolaridade sérica e urinária.
de doenças hereditárias do metabolismo, não tendo O presente caso  permite corroborar o efeito promis-
até ao momento outros atingimentos da doença ou sor da ATZ no tratamento da DIN associada ao lítio,
feito tratamento dirigido. Está atualmente proposta sem impacto adverso no ionograma ou no equilíbrio
para tratamento oral com migalastate, por apresen- ácido-base. Embora promissora, a ATZ é ainda con-
tar um genótipo potencialmente responsivo. siderada uma terapêutica de 2ª linha no tratamento
DISCUSSÃO da DIN associada a lítio.

Com o caso apresentado pretende-se alertar para PA n.º 2645 


uma causa rara de uma doença comum. Os adultos Eficácia e segurança do Apremilast nas úlceras
com DF são frequentemente identificados em estu- orais e/ou genitais refratárias na doença de Behçet
dos de rastreio de indivíduos com AVC, doença renal Marta Mendes Valentim(1);Blanca Martínez-Ci-
crónica ou cardiomiopatia hipertrófica. A DF de início fre(2);Gerard Espinosa(3)
tardio tem uma progressão variável e as manifesta- (1) Centro Hospitalar de S. João, EPE (2) Hospital
ções da doença podem ser limitadas a um único ór- Getafe, Madrid, Espanha (3) Hospital Clinic, Barcelo-
gão. Isto é ainda mais evidente nas doentes do sexo na, Espanha
feminino, nas quais, devido ao fenómeno de lioniza- Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
ção, o espectro da doença varia entre assintomático, culites
fenótipos ligeiros de início tardio até fenótipos clás-
sicos graves (conforme observado nos doentes do
sexo masculino). Introdução: As úlceras orais e genitais são manifes-
tações mucocutâneas por excelência da doença de
PA n.º 2632  Behçet (DB) e, em conjunto com as manifestações
Acetazolamida: uma terapêutica promissora na dia- articulares, são responsáveis pelo agravamento da
betes insípida nefrogénica associada a lítio qualidade de vida nestes doentes. O tratamento
Isabel Maria Moniz da Rocha Borges(1);Carolina destas manifestações tem sido motivo de atualiza-
Roias(1);Carolina Chaves(1);Patrícia Aranha(1);Ber- ção das guidelines EULAR de 2018. Uma vez que

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 335


as actuais opções terapêuticas não conduzem à estudo etiológico da pericardite aguda que se reve-
remissão completa, estudos recentes sugerem que lou negativo; excluído ainda mieloma múltiplo. Ini-
o apremilast, um inibidor da fosfodiesterase IV, é um ciou colquicina e AINEs, com melhoria significativa.
fármaco a ser considerado. Orientado para a consulta, com resolução do derra-
me no primeiro mês. Prosseguiu o estudo tendo-se
Materiais e Métodos: Estudo descritivo de uma sé- confirmado posteriormente também o diagnóstico
rie de 19 doentes com DB, multitratados, com ativi- de amiloidose senil por cintigrafia miocárdica com
dade persistente e com úlceras orais e/ou genitais, 99mTc-DPD.
em que o apremilast foi iniciado ao abrigo do uso Conclusão: A patofisiologia do derrame pericárdico
compassivo para o tratamento de úlceras orais e/ou pode integrar várias entidades nosológicas; por sua
genitais, entre julho de 2017 e abril de 2021. vez, a pericardite aguda associa-se essencialmente
Resultados:  Em termos de eficácia, 89,5% dos doentes a etiologias  infeciosa, inflamatórias ou neoplásicas.
apresentaram melhoria dos sintomas e em 10,5% não foi Neste caso, face à exclusão de causas alternativas,
obtida resposta. Nos doentes com resposta completa, esta sendo que a amiloidose pode cursar com derrame
foi obtida em média em 5 semanas e naqueles com resposta pericárdico mas não se associa, usualmente, à peri-
parcial em 8 semanas. Durante o acompanhamento, 15,8% cardite, e que a doença neoplásica de base está con-
interromperam o tratamento. Em termos de segurança, trolada, e face à relação temporal evidenciada, ques-
foram descritos efeitos colaterais em 63,2% dos casos, tiona-se a possível causalidade entre a pericardite e
sendo as manifestações gastrointestinais os mais a inoculação com a vacina Comirnaty. Esta suspeita
frequentes. é corroborada pela investigação em curso pela EMA
sobre a sua possível associação com 136 casos de
Conclusões:  O apremilast pode ser uma boa alterna- pericardite descritos na Europa.
tiva para úlceras orogenitais em casos refratários a
múltiplas opções terapêuticas. Existem estudos so- PA n.º 2648 
bre a sua aplicação nas úlceras orais, porém a litera- A 3ªvaga da pandemia COVID-19 num hospital
tura é limitada sobre a sua aplicabilidade nas úlceras terciário: análise da ocorrência de eventos trombó-
genitais . O nosso estudo mostra que o apremilast é ticos
uma boa opção a ser considerada para o controlo de Cátia Faria(1);Raquel Marques(1);Ana Albuquer-
úlceras orais e genitais na DB.  que(1);Daniela Antunes(1);Bruno Cabreiro(1);Pa-
trícia Fernandes(1);Patrícia Pereira(1);Pedro Tava-
PA n.º 2646  res(1);Maria Jesus Banza(1)
Pericardite Aguda e vacina Comirnaty: coincidência (1) Centro Hospitalar de Leiria / Hospital de Santo
ou causalidade? André
Eva Fernandes(1);Ana Oliveira e Costa(1);Ana Rita
Silva(1);Anusca Paixão(1);Vanessa Pires(1);Fernan- Tema:
do Salvador(1)
(1) Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Dou- Introdução: A infeção pelo vírus SARS-CoV2 asso-
ro, EPE / Hospital de Vila Real lou o mundo em 2020. Tendo em conta tratar-se
de uma patologia recente, poucas são as certezas
Tema: Doenças cardiovasculares absolutas sobre a mesma e suas sequelas. A par-
tir de alguns estudos publicados e considerando
Introdução: A pericardite aguda é a síndrome infla- a fisiopatologia da inflamação, sabe-se que, nesta
matória que mais comumente acomete o pericárdio, doença, também se verifica uma extensa resposta
correspondendo a 5% dos diagnósticos de dor torá- inflamatória promovendo um estado de hipercoagu-
cica não isquémica no SU. labilidade, que, aliado à imobilização ao leito cara-
terística de um doente internado, aumenta a predis-
posição a tromboses venosas ou arteriais. Dados
Caso Clínico: Homem, 80 anos, antecedentes de de autópsias mostraram estes achados, suportando
hipertensão arterial, fibrilhação auricular, neoplasia a relação entre infeção por SARS-CoV2 e eventos
prostática e adenocarcinoma do cólon, sem evidên- trombóticos.
cia imagiológica de recidiva em janeiro 2021. Três
episódios de vinda ao SU num período de duas se-
manas por queixas de dor torácica pleurítica, febre Objetivo: Pretende-se avaliar a relação entre doen-
e tosse produtiva, com início um dia após toma da tes com COVID-19 e eventos trombóticos.
vacina Comirnaty (Pfizer). ECG com ténue elevação
do segmento ST de V2-V3, porém com doseamento Material e Métodos: Analisaram-se retrospetiva-
seriado de marcadores de necrose miocárdica nega- mente os doentes internados durante terceira vaga
tivos, tendo alta. No 3ª episódio, por febre, dor torá- da pandemia (de novembro de 2020 a fevereiro de
cica persistente e elevação dos D-dímeros, realizou 2021) a cargo da Medicina Interna num hospital
angioTC torácico que evidenciou derrame pericárdi- terciário. A colheita de dados baseou-se na informa-
co e pericárdio hipercaptante, sugestivo de pericar- ção clínica nos processos dos doentes e analisa-
dite aguda. O ecocardiograma confirmou o diagnós- ram-se os dados com recurso ao Microsoft Excel e
tico e levantou ainda a suspeita de miocardiopatia SPSS. Obtiveram-se 808 doentes caucasianos com
infiltrativa (amiloidose). No internamento realizou idade média de 78 anos, dos quais 413 eram do

336
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
sexo feminino (51,1%). Destes doentes, 256 vieram sia de adenopatia inguinal que descartou doença
a óbito, obtendo-se uma taxa de mortalidade de linfoproliferativa. Sendo a abordagem neurocirúrgica
31,68%.  de elevado risco, decidido realizar prova terapêutica
com corticóide em alta dose, sem evidência de me-
Resultados: Dos doentes analisados registaram-se lhoria clínica significativa. Por deterioração clínica
6 eventos trombóticos venosos e 7 eventos trom- progressiva, feita biópsia  esterotáxica cerebral que
bóticos arteriais. Estes 13 eventos trombóticos permitiu  diagnóstico de LBDGC. Iniciou quimiotera-
ocorreram em 12 doentes (1,48% dos doentes), tra- pia com esquema  de indução com MATRIX (Meto-
tando-se de uma infima parte dos doentes analisa- trexato + Citarabina + Tiotepa + Rituximab), com dis-
dos nesta amostra. Destes doentes, apenas um era creta melhoria clínica.
fumador e nenhum se encontrava com neoplasia
ativa. Destes, 9 doentes encontravam-se internados Discussão: Trata-se de um caso pouco comum de
em nível de cuidados 1 e em 3 doentes foi necessá- LBDGC primário do SNC com envolvimento multifo-
rio escalar nível de cuidados para 3, integrando uni- cal parenquimatoso e dos núcleos da base bilateral-
dade de cuidados intensivos do mesmo hospital. mente, cuja manifestação paraneoplásica ocular foi
fundamental à alta suspeição clínica e à sua procura
Conclusão: Devido ao baixo número de eventos insistente e difícil.
trombóticos registado não se conseguiu obter uma
correlação com significado estatístico entre a infe- PA n.º 2681 
ção pelo vírus SARS-CoV2 e a ocorrência de eventos ARTERITE DE CÉLULAS GIGANTES - UMA APRE-
trombóticos, que diferi-se de outras infeções víricas. SENTAÇÃO COMUM, UM DESAFIO DIAGNÓSTICO
Ana Toste(1);Humberto Macedo(1);Ana Neves(1);-
PA n.º 2652  Carolina Guimarães(1);Fernando Nogueira(1);José
Manifestação ocular paraneoplásica de um Linfo- Costa(1);Jorge Almeida(1)
ma B primário do Sistema Nervoso Central (1) Centro Hospitalar de S. João, EPE
Laura Pratas Guerra(1);Daniela m. Soares(1);Ana
Rita Cruz(1);Álvaro Ferreira(1);João Araújo Cor- Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
reia(1) culites
(1) Centro Hospitalar Uni. Porto
Tema: Introdução: A maioria das febres de etiologia inde-
terminada (FOI) encaixam numa de 3 categorias
etiológicas: infeção, neoplasia e doença reumática
Introdução: A Proliferação Melanocítica Difusa sistémica. No entanto, pela sua heterogeneidade e
Uveal Bilateral (PMDUB) é uma síndrome paraneo- multitude de técnicas diagnósticas, a FOI continua a
plásica rara que leva à perda de visão. O Linfoma colocar importantes desafios clínicos, em que uma
B difuso de Grandes Células (LBDGC) do Sistema anamnese cuidada e avaliação frequente do doente
Nervoso Central (SNC) constitui uma variante pou- são importantes aliados.  
co comum do linfoma não Hodgkin extra-nodal,
podendo apresentar-se através défices neurológi-
cos focais, sintomas neuropsiquiátricos, sinais de Caso Clínico: Sexo masculino, 70 anos. Anteceden-
hipertensão intra-craniana, entre outros. tes de DM tipo 2, dislipidemia, doença coronária
revascularizada, hiperplasia benigna da próstata e
suspeita de neoplasia prostática. Recorre ao serviço
Caso Clínico: Mulher, 53 anos, com quadro com seis de urgência por quadro de mal-estar generalizado
meses de evolução de perda ponderal, diminuição com 1 mês de evolução e 3 dias de febre, sem clí-
da  acuidade visual, miodesópsias, incontinência nica focalizadora. Analiticamente com elevação
urinária e alterações neurológicas progressivas. Ob- dos parâmetros inflamatórios, PSA em crescendo
servada por Oftalmologia, tendo sido feito o diag- e sedimento urinário com leucocitúria e nitritúria.
nóstico de PMDUB, estudo de humor vítreo inocente. Assumida prostatite e iniciou antibioterapia. Após
Realizou  RMN cerebral a mostrar ventriculomega- ligeira melhoria analítica e espaçamento da febre,
lia supra e infratentorial, com sinais de hidrocefalia evoluiu com nova elevação dos parâmetros inflama-
crónica compensada. Foi referenciada a Medicina tórios e pirexia sustentada, apesar de alargamento
Interna para estudo de neoplasia subjacente: estudo do espetro antibiótico. Causas infeciosas, incluindo
analítico, mamografia e estudos endoscópicos sem zoonoses, e neoplásicas de febre foram exaustiva-
alterações; TC toraco-abdomino-pélvica com adeno- mente estudadas e excluídas. Da revisão da anam-
patias lombo-aórticas, pélvicas e inguinais; PET sem nese, o doente referia queixas de hipovisão súbita
evidência de doença. Por agravamento de alterações e permanente no olho direito que temporalmente
neurológicas, com ataxia, repetiu RMN cerebral com coincidiam com o início do quadro clínico. Observa-
“hipersinal T2 heterogéneo dos núcleos cinzentos da ção oftalmológica revelou alterações tróficas com-
base, mais extenso à esquerda onde se associa a li- patíveis com neuropatia ótica isquémica anterior
geira deformação do III ventrículo (...) infiltração atra- (NOIA) arterítica. Ecodoppler temporal demonstrou
vés dos espaços periventriculares. (...) à esquerda espessamento vasculítico. Biópsia temporal com
atinge a coroa radiada”. Assim, tendo em conta sus- histologia compatível com inflamação/arterite. VS
peita de linfoma do SNC, feita  punção lombar  com 100mm. Assumiu-se febre com etiologia em Arterite
análise do  líquor sem células malignas. Feita  bióp- de Células Gigantes (ACG), tendo o doente iniciado

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 337


1mg/kg/dia de prednisolona, com boa resposta hemoderivados e choque cardiogénico. Teve uma
clínica e analítica, com diminuição sustentada dos evolução favorável na UCI, tendo sido transferido
parâmetros inflamatórios e apirexia.   para a enfermaria de medicina interna para conti-
nuação de cuidados. 
Conclusão: Em cerca de 10% dos doentes com
ACG, os sintomas constitucionais, dos quais a A hemorragia é uma complicação da terapêutica
febre, e a evidência laboratorial de inflamação do- fibrinolítica, sendo a hemorragia cerebral a maior
minam a apresentação clínica, que, pela sua exu- preocupação e a complicação grave mais frequen-
berância, podem muitas vezes levar ao diagnóstico te. A hemorragia hepática e o choque hemorrágico
incorreto de infeções. Em doentes mais velhos com como consequência da fibrinólise não é frequente,
FOI que não respondem a estratégia inicial de anti- havendo poucos casos descritos na literatura, tor-
bioterapia ou cuja clínica, estudo e evolução não po- nando relevante a apresentação deste caso. 
dem ser explicados por etiologias infeciosas ou ma-
lignas, o diagnóstico de ACG deve ser considerado.  PA n.º 2705 
Porfíria Cutânea Tarda e Hemocromatose Hereditá-
PA n.º 2687  ria
Choque hemorrágico após terapêutica fibrinolítica Carla Campinho Ferreira(1);Marta Braga(1);Carlos
no contexto de Tromboembolismo pulmonar Capela(1);Vânia Gomes(1)
Marta Ramos(1);Sara Gomes(2);Carolina Palma(3);- (1) Hospital de Braga
Sónia Baldo(1);Joana Coelho(1);Carolina Alegria(1)
(1) HPP Hospital de Cascais (2) Hospital do Barreiro Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio-
(3) Centro Hospitalar de Setubal nais

Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente crí- A porfiria cutânea tarda (PCT) é causada pela inibi-
tico ção da atividade da enzima uroporfirinogénio des-
carboxilase (UROD). Pode ser hereditária (mutação
O tromboembolismo pulmonar (TEP) é uma forma no gene da UROD) ou esporádica, estando asso-
de tromboembolismo venoso que é comum e por ciada ao excesso de ferro, álcool, tabaco, hepatite
vezes fatal. A sua apresentação clínica tem gravida- C, infeção por Vírus de Imunodeficiência Humana,
de variável e é inespecifica. O sintoma mais comum entre outros.
é a dispneia. Raramente se apresenta com choque
ou sincope. A avaliação de doentes com TEP deve Homem de 59 anos, com antecedentes de hiperten-
ser rápida e a terapêutica administrada rapidamente são arterial, lipomas cutâneos, hábitos tabágicos e
para reduzir a mortalidade e morbilidade associada.  etílicos marcados. Encaminhado à consulta por le-
sões cutâneas, inicialmente vesículas e bolhas nas
Homem, 77 anos, autónomo nas atividades de vida mãos e antebraços bilateralmente, que evoluíram
diária, com antecedentes de diabetes mellitus tipo 2 para erosões e crostas, com 1 ano de evolução. Im-
e hipertensão arterial. Admitido no serviço de urgên- possibilitado de trabalhar (pedreiro) pelas lesões.
cia por mal-estar inespecífico. Na admissão hospi- Analiticamente, destacava-se elevação da ferritina
talar verifica-se paragem cardiorrespiratória. O ritmo (800 ng/ml), do índice de saturação de transferrina
inicial foi atividade elétrica sem pulso (AESP) tendo (54%) e das porfirinas urinárias (uroporfirinas e he-
sido realizadas manobras de suporte avançado de patacarboxilporfirinas); e porfobilinogénio urinário e
vida (SAV) durante 36 minutos com recuperação coproporfirinas normais. Confirmou-se o diagnóstico
da circulação espontânea (RCE). Aos 23 minutos de PCT. Dadas as alterações na cinética do ferro fe-
de SAV, por suspeita de TEP foi administrado 40 z-se a pesquisa de mutações no gene HFE, que re-
miligramas de tenecteplase. Após RCE realizou to- velou homozigotia H63D, confirmando o diagnóstico
mografia computorizada (TC) de cranioencefálica adicional de hemocromatose hereditária. Necessi-
que não revelou alterações e e TC toraco-abdo- tou de realizar flebotomias para normalização dos
mino-pelvica que mostrou “múltiplos defeitos de níveis de ferro. Dois anos após a última flebotomia e
repleção nos ramos lobares das artérias pulmona- de abstinência alcoólica, o doente encontra-se sem
res, bilaterais, em relação com tromboembolismo lesões cutâneas e retomou a atividade profissional.
pulmonar agudo essencialmente periférico. (...)
aumento do tronco da artéria pulmonar. (...) áreas O excesso de ferro hepático é uma das causas co-
de consolidação do parênquima, especialmente no nhecidas para a diminuição da atividade da UROD.
lobo superior direito e outras áreas em vidro despo- No entanto, como único contribuinte parece ser in-
lido, que no contexto de tromboembolismo atribuo à suficiente, dado que a maioria dos doentes com he-
presença de enfartes. (...) presença de uma coleção mocromatose não desenvolve PCT. Neste caso, po-
líquida peri-hepática à direita, de aspeto lenticular, de-se considerar o contributo da hemocromatose (a
sugerindo um hematoma.” Neste contexto, foi trans- homozigotia H63D, especificamente, está associada
ferido para a Unidade de Cuidados Intensivos (UCI), a um odds ratio de 3.1 para a PCT espontânea), mas
evoluindo para choque misto refratário por choque também do consumo de álcool e tabaco como fa-
hemorrágico com ponto de partida no hematoma tores de suscetibilidade para PCT. Apesar da forma
hepático com ponto ativo de hemorragia da artéria esporádica corresponder a 80% dos casos, não se
hepática com necessidade de transfusão maciça de pode excluir que o doente tenha a forma familiar da

338
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
doença (não foram pesquisadas mutações no gene Tema: Doenças respiratórias
da UROD).
PA n.º 2712  Introdução: Em Dezembro de 2019, surgiram cerca
A história familiar no carcinoma colorretal de 27 casos com uma nova pneumonia até então
Tomás Ribeiro da Silva(1);Filipa Vassalo(1);Bárbara desconhecida com origem no mercado de Wuhan,
Queirós(1);Inês Carolino(1);Luiz Menezes Falcão(1) China, causada por um vírus (SARS-COV-2) que ra-
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi- pidamente se espalhou a nível mundial, chegando
tal de Santa Maria a Portugal em Março de 2020. À semelhança de
outros coronavírus, este é transmitido por gotículas
Tema: Doenças oncológicas respiratórias e contacto pessoa a pessoa. Desde o
seu surgimento, existiram cerca de 3 vagas intensas
de casos em Portugal que fez com que todo o país
Introdução: O Síndrome de Lynch é a causa mais se ajustasse a nível de cuidados de saúde e se ini-
comum de carcinoma colorretal hereditário, repre- ciasse a corrida à terapêutica que permitisse lutar
sentando cerca de 3% de neoplasias colorretais contra este novo inimigo.
diagnosticadas. Difere das neoplasias colorretais
esporádicas pelo predomínio à direita.
Objectivos: Verificar se há correlação entre a uti-
lização de dexametasona e a sobreinfecção nos
Caso Clínico: Homem, 45 anos, antecedentes de doentes internados com infecção confirmada por
hérnia inguinoescrotal bilateral e perturbação do SARS-COV-2.
desenvolvimento intelectual. História familiar de
neoplasia colorretal em múltiplos familiares: avó Materiais e Métodos: Foi obtida uma análise retros-
materna, mãe, 8 tios e 2 irmãs, estas últimas com pectiva de 586 doentes internados num hospital
diagnóstico de Síndrome de Lynch com mutação terciário no período compreendido entre Novembro
MLH1. Internado por quadro com 2 semanas de de 2020 e Janeiro de 2021, com infeção por SARS
evolução de dor na região inguinal bilateralmente COV-2. Os dados foram obtidos através de registos
com irradiação para o abdómen. Concomitantemen- clínicos e analisados em SPSS versão 23.
te, com astenia, anorexia, sudorese noturna, hemo-
toquézias e perda ponderal de 30 kg em 5 meses. Resultados: Dos 586 doentes selecionados, a maio-
Realizada TC abdominopélvica, que demonstrou ria eram do sexo masculino (n=348,59,4%), com mé-
espessamento irregular do ângulo esplénico do dia de idades correspondente a 69,4 com um desvio
cólon e carcinomatose peritoneal com múltiplos padrão de 15,1 anos, tendo o mais novo 21 anos
implantes, bem como hérnias inguinais bilaterais e o doente mais idoso 98 anos. O tempo médio
contendo predominantemente carcinomatose, sem de internamento foi de 11 dias, sendo que o mais
identificação de ansas intestinais. Colonoscopia prolongado correspondeu a 93 dias. Para avaliação
com evidência de lesão vegetante, ulcerada, de das comorbilidades, foi usada a escala de Charlson
limites mal definidos e estenosante aos 70 cm da que teve uma média de 3,88 pontos com um des-
margem anal, junto ao angulo esplénico. Realizada vio padrão de 2,55. Tendo em conta a utilização de
paracentese evacuadora e diagnóstica, com saída corticoterapia, 473 doentes fizeram dexametasona
de líquido ascítico com caraterísticas de exsudado, (80,7%), numa média de 6,73 dias. Do total de doen-
sem identificação de células neoplásicas. Biópsia tes, 232 doentes tiveram sobreinfecção bacteriana
peritoneal com identificação de células em anel de (39,6%).
sinete, compatíveis com neoplasia do tubo digestivo
proximal ou, com menor probabilidade, colorretal. Foi realizada uma análise retrospectiva entre os
Quadro clínico complicado de oclusão intestinal. doentes que realizaram dexametasona e os que
Neste contexto, realizada laparotomia exploradora, apresentaram sobreinfeccção bacteriana, verifi-
a evidenciar carcinomatose difusa, impossibilitando cando-se correlação estatisticamente significativa
a realização de ostomia. Decidida quimioterapia pa- (p<0,01).
liativa e instituição de cuidados nesta área.
Conclusões:  A corticoterapia demonstrou ser
Conclusão: Os autores realçam este caso por se um factor relevante nestes doentes, sendo que
tratar de um indivíduo jovem com diagnóstico de aqueles que realizaram dexametasona tiveram mais
neoplasia colorretal de rápida progressão e com his- sobreinfecção, presumidamente bacteriana.
tória familiar importante, altamente representativo
de Síndrome de Lynch. PA n.º 2716 
Dano pulmonar por inalação crónica de peróxido de
PA n.º 2713  hidrogénio
Correlação entre a dexametasona e presumível so- Rita Pichel(1);Sofia Almeida(1);Paulo Concei-
breinfecção bacteriana - uma análise retrospectiva. ção(1);Magda Garça(2);Rita Dias(1);Ana Reinas(1)
Catarina Pestana Santos(1);Bruno Gonçalves de (1) Centro Hospitalar Uni. Porto (2) Hospital Santo
Sousa(1);Mafalda Sequeira(1);Filipa Monteiro(1);Fá- Espírito da Ilha Terceira
bio pé D’arca Barbosa(1);José Correia Proença(1);-
Daniela Cruz(1);Vilma Grilo(1);Tiago Judas(1) Tema: Doenças respiratórias
(1) Hospital Garcia de Orta, EPE

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 339


As soluções de peróxido de hidrogénio (água oxi- racteriza por inflamação e necrose dos vasos san-
genada) são facilmente acessíveis e ainda usadas guíneos, mais frequentemente de pequeno calibre.
para múltiplos fins. Apesar de raramente reportada, A associação entre a vasculite ANCA e a infeção por
a inalação de peróxido de hidrogénio, parece ainda SARS-CoV-2 ainda está a ser alvo de estudo, com
ocorrer com base em crenças populares ou alter- poucos casos descritos na literatura.
nativas de cura para doenças como o cancro. Em
pelo menos dois relatos de caso, foi descrita a re- Homem de 58 anos, com internamento recente por
lação causal entra a exposição crónica a aerossóis pneumonia a SARS-CoV-2, com alta há 8 dias. Recor-
de peróxido de hidrogénio e o desenvolvimento de reu ao serviço de urgência por tosse hemoptoica, as-
doença pulmonar intersticial. tenia, febre e odinofagia. Analiticamente, com lesão
renal aguda (creatinina 5.5mg/dl), acidemia com aci-
Apresentamos o caso de um homem de 86 anos, re- dose metabólica, anemia normocítica normocrómica
formado de metalúrgico e serralheiro, não fumador, agravada e aumento dos parâmetros inflamatórios.
com DPOC GOLD 3 B (FEV1 35%, com DLCO corrigi- A tomografia computorizada de tórax revelou so-
da para a ventilação alveolar normal) com clínica de breinfeção bacteriana e por isso iniciou levofloxaci-
bronquite crónica e pieira recorrente, enfisema cen- na. Evoluiu desfavoravelmente, com necessidade de
trilobular e bronquiectasias associadas a alterações hemodiálise, suporte transfusional, intubação endo-
fibrocicatriciais de predomínio nos lobos inferiores, traqueal (com aspiração de conteúdo hemático pelo
até aqui filiadas na exposição ocupacional do passa- tubo) e posteriormente oxigenação por membrana
do a fumo de biomassa e pó de metais. Foi internado extracorporal. No estudo realizado, de relevo, ANCA
por exacerbação aguda infeciosa da DPOC associa- mieloperoxidase positivos (263U/ml), eritrocitúria,
da a insuficiência respiratória do tipo 2. Foi eviden- proteinúria e anticorpos anti-membrana basal glo-
ciada progressão da doença, com agravamento da merular negativos. Realizada plasmaférese; iniciada
hipoventilação e necessidade persistente de oxigé- indução com pulsos de metilprednisolona (depois
nio suplementar 1l/min e VNI noturna. A TC tórax prednisolona) e ciclofosfamida (protocolo Cyclops),
mostrou acentuação do interstício com padrão re- com evolução favorável. Posteriormente, o resultado
ticulomicronodular, elementos fibróticos grosseiros do estudo do lavado bronco-alveolar (LBA) revelou
dispersos e espessamento brônquico. A angio-TC que a pesquisa de hemossiderina no citoplasma dos
exclui fenómenos de tromboembolismo pulmonar. macrófagos por coloração de Pearls foi negativa.
Após reforço da relação empática e revisão terapêu-
tica para otimização da adesão em ambulatório, o Inicialmente, a suspeita diagnóstica foi o síndrome
doente referiu recorrer regularmente desde há vários pulmão-rim, dada a clínica de lesão renal e hemor-
anos a nebulizações com solução de peróxido de ragia alveolar. No entanto, não foi documentada
hidrogénio com intuito de alívio sintomático, sendo hemorragia alveolar em imagem nem na análise do
mais frequentes nos períodos de exacerbação clíni- LBA. Assim, surgiu a hipótese de se tratar de uma
ca. Teve alta com ajuste terapêutico, sob LAMA+LA- glomerulonefrite associada a ANCA, com complica-
BA em associação por câmara expansora, OLD 1l/ ções pulmonares secundárias à infeção por SARS-
min e VNI noturna, bem como, suspensão das nebu- -CoV-2 simultâneas. Não foi efetuada biópsia renal
lizações com peróxido de hidrogénio. Após a alta fal- a comprovar o diagnóstico, dado que o doente já se
tou a duas consultas subsequentes de seguimento. encontrava sob imunossupressão há várias sema-
nas, a evoluir favoravelmente.
Relatamos no presente caso a exposição voluntá-
ria raramente reportada a aerossóis de peróxido de PA n.º 2735 
hidrogénico, com aparente contributo para a pro- Retratos da pandemia: utilização de oxigenoterapia
gressão da DPOC e componente intersticial. Preten- por alto fluxo na enfermaria de Medicina Interna
demos, assim, chamar a atenção para importância Jorge Rodrigues Fernandes(1);Matilde Nunes
diagnóstica da relação médico doente e do inquérito Vicente Fraga(2);Luís Reis de Almeida(3);João
de exposições ou tratamentos alternativos, poten- Rodrigues(1);Ana Catarina Rodrigues(2);Heidi Gru-
cialmente modificáveis em fases mais precoces de ner(1);António Panarra(1)
doença. (1) Centro Hospitalar Lisboa Central, EPE / Hospital
Curry Cabral (2) Centro Hospitalar de Lisboa Central
PA n.º 2717  - Hospital Curry Cabral (3) Hospital de São José
Vasculite ANCA-MPO em doente com infeção re-
cente por SARS-CoV-2 Tema: Doenças respiratórias
Carla Campinho Ferreira(1);Catarina Cerquei-
ra(1);Eulália Antunes(1);Marta Braga(1);Joana Rita Introdução: A pandemia causada pelo vírus da sín-
Lopes(1);Sofia Caridade(1);Vânia Gomes(1) drome respiratória aguda grave por coronavírus tipo
(1) Hospital de Braga 2 (SARS-CoV-2) obrigou a uma gestão de recursos
complexa. A utilização de oxigenoterapia por alto
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas- fluxo (OAF), geralmente utilizada em unidades de
culites cuidados intermédios/intensivos (UCI), tornou-se
alternativa para os doentes na enfermaria de Medi-
A vasculite associada a anticorpos anti-citoplasma cina Interna (MI) com insuficiência respiratória (IR)
de neutrófilo (ANCA) é uma doença rara que se ca- grave.

340
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
Objetivo: avaliar o impacto da utilização de OAF no Hospitais da Universidade de Coimbra
contexto de enfermaria de MI.
Tema:
Material e Métodos: estudo descritivo observacio-
nal, retrospectivo, com base na consulta de pro- Introdução: Os doentes com tromboembolismo pul-
cessos clínicos. Incluídos doentes que realizaram monar (TEP) são, regra geral, admitidos em Cuida-
OAF no 1º trimestre de 2021 em enfermaria de MI. dos Intermédios quando se apresentam com risco
Avaliados parâmetros clínicos antes e após OAF: de mortalidade intermédio ou alto. Os autores apre-
a dispneia foi avaliada de acordo com a escala de sentam uma casuística dos doentes internados em
dispneia da Medical Research Council (MRC); rácio unidade de cuidados intermédios com o diagnóstico
entre pressão parcial de oxigénio e fração parcial de TEP, focando os factores de risco, tratamento e
de oxigénio (P/F); índice ROX <3,85 para identificar mortalidade.
falência de OAF. Dados registados em plataforma
eletrónica, de acesso exclusivo pelos autores.
Material e Métodos: estudo retrospetivo realizado
Resultados: incluídos 21 doentes com IR grave através da consulta de cartas de alta dos doentes in-
sob OAF. A média de idades foi de 67 anos (desvio ternados na Unidade de Cuidados Intermédios entre
padrão (dp) 13,8), com predominância de homens Outubro de 2019 e Maio de 2021. A análises estatís-
(67%). A duração média do internamento foi de 22 tica foi realizada com o programa SPSS 26.
dias (dp 13,7). Da amostra: 9,5% tinha doença pul-
monar obstrutiva crónica; 4,8% insuficiência cardía- Resultados:  A população estudada é constituída
ca; 23,8% eram obesos (índice de massa corporal por 63 doentes, 35 (55,6%) do sexo feminino e 28
médio 31,8kg/m2); e 9,5% estavam sob corticote- (44,4%) do sexo masculino, com uma média de ida-
rapia previamente ao internamento. Todos tinham des de 66,44± 14,47 anos. A maioria dos doentes era
IR tipo I e estavam sob aporte de oxigénio prévio polimedicado (55,6%) e apresentava como comorbi-
à OAF (23,8% sob ventilação não invasiva). Todos lidades mais frequentes hipertensão arterial(57,4%),
receberam corticoterapia e 19% cumpriram Rem- dislipidemia (40,3%), diabetes mellitus  (21%), pato-
desivir. O agravamento de sintomas respiratórios logia tiroideia (11,3%), insuficiência cardíaca (13,1%),
ocorreu em média ao 8º dia de sintomas (dp 4). O fibrilhação auricular (6,5%)e enfarte agudo do mio-
início de OAF ocorreu em média ao 6º dia de inter- cárdio prévio (1,6%).
namento (dp 4) e em 47,6% foi admitido como tecto
terapêutico (TTx). Previamente à aplicação de OAF: À admissão, 33,3% dos doentes apresentava um
grau de dispneia médio de 2 (moda=3); frequên- Pulmonary Emboly Severity Index (PESI) classe V. Em
cia respiratória média (FRM) 27 ciclos por minuto 31 doentes (49,2%), a doença cursou com insuficiên-
(cpm); índice P/F médio de 76,1. Após aplicação de cia cardíaca (IC) direita. Não foi encontrada correla-
OAF: 81% apresentou grau de dispneia médio de 1 ção entre a classe de PESI e a presença de IC direita
(moda=1); a FRM foi de 22cpm e o índice P/F 104,2. (p=0.07).
A duração média de OAF foi de 10 dias (dp 3). Dos
doentes sem limitação terapêutica (52,4%), assumi- A idade foi o factor de risco mais prevalente, com
da falência de OAF em 27,3% (ROX médio de 3,68 ao 82,5% (n=52) dos doentes com idade igual ou su-
fim de 12h), tendo estes necessitado de ventilação perior a 50 anos, seguida da imobilização (30,2%),
mecânica invasiva, sem registo de óbitos. A taxa de obesidade (30,2%), trombose venosa profunda [TVP
mortalidade foi de 33%, dos quais 90% tinham OAF (23,8%)], neoplasia (14,3%), uso de anticoncepcio-
como TTx. Deste subgrupo, 90% apresentaram me- nais (6,3%) e cirurgia major recente (1,6%).
lhoria do score de dispneia e a taxa de mortalidade Todos os doentes foram submetidos a anticoagu-
foi de 60%. lação, 51 doentes (80,95%) com heparina de baixo
Discussão: Embora a utilização de OAF não tenha peso molecular (HBPM), 7 doentes (11,1%) com
tido impacto relevante na ventilação dos doentes heparina não fraccionada e 5 doentes (7,9%) com
com SARS-CoV-2 grave, o efeito benéfico no confor- DOAC. Quatro doentes foram submetidos a fibrinó-
to respiratório é explícito (com FR e score de disp- lise e um doente foi submetido a trombectomia per-
neia mais baixos). De notar que a utilização de OAF cutânea.
não atrasou a progressão para VMI, funcionando Como complicações mais relevantes apenas um
como “ponte até tubo” no caso de indisponibilidade doente teve hemorragia, na forma de epistaxis, sob
imediata de cama em UCI. Ainda, poderá ter tido anticoagulação com HBPM e outro teve apresenta-
impacto positivo na redução da mortalidade do ção com choque cardiogénico.
grupo em que o OAF foi estabelecido como tecto
terapêutico. Relativamente aos scores de probabilidade de mor-
talidade, a mediana do SAPS II à admissão era 24, do
PA n.º 2740  Apache II era 8 e do SOFA era 2. À data da alta, estes
Tromboembolismo Pulmonar: Casuística de uma scores eram mais baixos (SAPS II = 22; Apache II =7
Unidade de Cuidados Intermédios Médicos e SOFA = 2).
Sandra d. Santos(1);Helena Rodrigues(1);Carla Serô-
dio(1);Elsa Gaspar(1);Rui Pina(1) O internamento teve uma duração média de 3,61±2,4
(1) Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra / dias, 47 doentes (78,3%) foram encaminhados para

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 341


internamento em enfermaria de Medicina Interna, processos clínicos, recolhidos dados demográficos,
8,3% foram transferidos para outro hospital, 6,7% do internamento, comorbilidades e terapêutica.
para outro serviço e 6,7% tiveram alta para o domi-
cílio, encaminhados para consulta de Medicina Inter- Resultados
na.
Incluímos 41 doentes, 65,9% do sexo masculino,
A taxa de letalidade durante o internamento na uni- com idade média de 66±18 anos. Após a aplica-
dade de cuidados intermédios foi de 0% e apenas ção da escala NRS-2002, foram identificados 31,7%
um doente morreu nos 30 dias seguintes à admis- dos doentes sem RD, 43,9% com risco aumentado e
são, secundário a quadro de insuficiência cardíaca 24,4% com risco alto. 
descompensada.
No primeiro grupo, a idade média era de 55±20 anos,
Conclusões: No estudo apresentado, verificou-se que 92,3% eram autónomos e a escolaridade mais fre-
idade superior a 50 anos, imobilização, obesidade e quente era o 3º ciclo (30,8%). O índice de massa cor-
TVP foram os factores de risco mais prevalentes. À poral (IMC) médio era de 27±5,8 kg/m2. As comorbili-
admissão, uma percentagem significativa de doen- dades mais comuns eram hipertensão arterial (HTA)
tes apresentava um PESI muito elevado, mas a gran- (46,2%) e dislipidemia (30,8%). O índice de comor-
de maioria dos doentes apresentava apenas critérios bilidades de Charlson (ICC) médio foi de 1,6±1,9 e
para anticoagulação com HBPM, tendo sido realiza- 30,8% estavam polimedicados. Em média, a duração
da fibrinólise/trombectomia num pequeno número do internamento foi de 7±4,6 dias e os diagnósticos
de doentes. A maior parte dos doentes apresentava, mais frequentes foram pneumonia, gastroenterite
à data da alta da unidade, scores de probabilidade de e acidente vascular cerebral (AVC), em 15,4% dos
mortalidade mais baixos, traduzindo a sua melhoria doentes. Não se registaram óbitos. 
clínica, tendo tido como destino preferencial o inter-
namento em enfermaria de Medicina Interna. Nos doentes com RD aumentado, a média de idades
foi 76±10 anos, a maioria era autónoma (94,4%) e o
PA n.º 2753  2º ciclo de escolaridade foi o mais comum (33,3%).
O estado nutricional dos doentes das nossas enfer- A média do IMC foi igual (27±3,8 kg/m2). Todos os
marias doentes tinham HTA, 55,6% diabetes e 44,4% dislipi-
Daniela Madeira(1);Ana Órfão(1);Clara Matos(1);Pa- demia, com um ICC médio de 4,9±2,2 e 66,7% esta-
trícia Vasconcelos(1);Sara Vilas-Boas(1) vam polimedicados. O internamento teve uma dura-
(1) Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca ção média de 10±6,1 dias e os diagnósticos de saída
foram pneumonia (22,2%) e neoplasia (16,7%). A LRA
Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio- foi a intercorrência mais frequente (33,3%) e verifi-
nais cou-se 1 óbito.
Os doentes com RD alto tinham idade média de
Introdução 64±20 anos, apenas 50% eram autónomos e 40%
eram analfabetos. O IMC médio era de 26±6,4 kg/
A desnutrição associada à doença (DAD) correspon- m2. A HTA foi identificada em 60% dos doentes, e a
de a um estado de insuficiente ingestão, utilização dislipidemia e diabetes em 50%. A média do ICC foi
ou absorção de energia e nutrientes, no contexto superior (5,8±4,5) e 70% tinham polimedicação. O
de doença aguda, e tem uma elevada prevalência tempo médio de internamento foi de 9±6 dias e foi
hospitalar (20-60%). Apesar do impacto negativo, motivado por pneumonia (40%) e AVC (20%). Foram
é poucas vezes reconhecida como diagnóstico. Os identificadas infeções, LRA e alterações iónicas em
principais fatores de risco são as doenças per si, 30% dos doentes e uma taxa de mortalidade de 20%.
fluidoterapia, jejum, falta de controlo das refeições
e monitorização do peso. A DAD leva a aumento do Conclusão
tempo de internamento, maior dificuldade na reabili-
tação, redução da qualidade de vida e elevados cus- A maioria dos doentes apresentava RD e tinha idade
tos hospitalares.  mais avançada, escolaridade inferior, mais comorbili-
dades e polimedicação. O internamento foi mais pro-
Objetivos longado e associou-se a maior mortalidade e mais
intercorrências, comparativamente com os doentes
Pretendemos avaliar o risco de desnutrição (RD) dos sem RD. 
doentes internados e analisar os fatores relaciona-
dos com a DAD. Estes dados alertam-nos para a importância da ava-
liação do risco nutricional de todos os doentes inter-
Materiais e Métodos nados, de forma a disponibilizar um suporte nutricio-
nal adequado, implementar medidas preventivas o
Trata-se de um estudo coorte prospectivo que incluiu mais precocemente possível e, consequentemente,
os doentes internados num serviço de Medicina, de minimizar as complicações associadas.
1 de janeiro a 29 de fevereiro de 2020, cuja primeira
avaliação e aplicação da ferramenta Nutritional Risk PA n.º 2760 
Screening 2002 (NRS-2002) foram feitas nas primei- Profilaxia trombótica e doentes COVID
ras 48 horas de internamento. Foram consultados os Beatriz Riquito(1);Mariana Nunes(1);Elisabete Cer-

342
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
queira(1);Pedro Almeida(1);Marta Gomes(1);Victor Introdução: O mieloma múltiplo caracteriza-se por
Paz(1) uma proliferação neoplásica de plasmócitos produ-
(1) Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Dou- tores de uma imunoglobulina monoclonal associada
ro, EPE / Unidade Hospitalar de Chaves a lesão de órgão. O microambiente existente na
medula óssea funciona como substrato para essa
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias proliferação, sendo que em casos raros os doentes
podem desenvolver plasmocitomas extramedulares.
Introdução: Desde que foi descrito o primeiro caso
da síndrome respiratória aguda grave pelo corona- Caso clínico: Mulher de 71 anos com mieloma múl-
vírus 2 (SARS-COV-2), que há uma curiosidade a tiplo IgA kappa, submetida a autotransplante de me-
nível mundial de estudar as consequências desta dula aos 55 e aos 60 anos, mas que teve progressão
infeção. Além da sintomatologia respiratória, está a com infiltração medular maciça (>90%) por plasmó-
ser investigado o aumento do risco trombótico com citos encontrando-se sob quimioterapia quando foi
a infeção. admitida. Apresentava um quadro de cansaço, perda
ponderal e aumento do volume abdominal por volu-
Caso clínico: Mulher de 58 anos, autónoma, com an- mosa ascite. Apuraram-se sinais de implantes peri-
tecedentes hipertensão arterial, dislipidemia e litíase toneais, nódulos hepáticos de novo e derrame pleural
renal. Uma semana após ter testado positivo para a bilateral em TC, assim como um nódulo suspeito na
infeção por SARS-COV-2, iniciou, de forma súbita, dor mama direita em mamografia. Foi realizada paracen-
torácica na região inferior da grade costal direita, de tese diagnóstica e evacuadora, biópsia de implante
características pleuríticas. Negava trauma recente peritoneal e do nódulo da mama. Os resultados ana-
na região, febre, dispneia ou palpitações. Do exame tomopatológicos mostraram neoplasia plasmocitá-
objetivo é de ressaltar uma pressão arterial algo ele- ria compatível com infiltração por células de mieloma
vada (TA 174/95mmHg) e um murmúrio vesicular di- pela presença de células plasmocitárias (CD138+)
minuído na base esquerda à auscultação pulmonar. com restrição para a expressão citoplasmática das
Analiticamente revelou: PCR 14.4 mg/dL, fibrinogé- cadeias leves kappa, sendo o nódulo da mama su-
nio 766 mg/dL e D-dímeros 4.7 ng/mL. Após ser in- gestivo de plasmocitoma. A avaliação complemen-
ternada numa enfermaria COVID, realizou angio-TC tar excluiu outra neoplasia concomitante, bem como
pulmonar, que mostrou trombos agudos em ambas infecção por HIV1/2, HHV, EBV ou CMV. Verificou-
as artérias interlobares e lobares inferiores, bem -se progressiva deterioração do estado geral, agra-
como lobar média, em relação com tromboembolis- vamento do derrame pleural a condicionar colapso
mo pulmonar (TEP) agudo. Após discussão com a pulmonar, que motivou toracocentese evacuadora a
Imunohemoterapia, a doente foi hipocoagulada com qual também revelou infiltração por mieloma, sendo
heparina de baixo peso molecular, tendo tido alta que a doente veio a falecer durante o internamento
uns dias mais tarde, orientada para a consulta da es- por progressão de doença.
pecialidade para eventual substituição por NOAC e
prosseguimento do estudo. Discussão: A presença de infiltração no fígado,
peritoneu, pleura e mama, sugere um processo de
Discussão: Apesar da sintomatologia respiratória ser disseminação hematogénica podendo traduzir leu-
a característica principal da infeção por SARS-COV-2, cemia a plasmócitos. O envolvimento extramedular
têm sido publicados cada vez mais estudos a corre- no mieloma múltiplo associa-se a formas mais
lacionar esta infeção com uma disfunção da coagu- agressivas de discrasia plasmocitária, predisposi-
lação, que predispõe os doentes a eventos trombó- ção a recaída e tem inerente pior prognóstico.
ticos. Em específico, o tromboembolismo pulmonar
tem sido descrito com uma incidência que ronda os PA n.º 2762 
20%. A patofisiologia ainda está a ser estudada. É Pseudoxantoma elasticum atípico - nem sempre à
importante reconhecer as pistas diagnósticas, da- “flor da pele”
das as consequências graves que o TEP pode im- José Pedro Cidade(1);Inês Santos(1);Leonor Guia
plicar, incluindo a morte. Alguns estudos começam Lopes(1);Mariana Emília(1);João Furtado(1);Francis-
inclusive a recomendar a profilaxia trombótica para co Silva(1);Isabel Madruga(1)
os doentes infetados de modo a poder prevenir estes (1) Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE /
casos. Hospital Egas Moniz

PA n.º 2761  Tema: Doenças raras


METASTIZAÇÃO HEPÁTICA, PERITONEAL E PLEU-
RAL COMO MIELOMA EXTRAMEDULAR Introdução: Pseudoxantoma elasticum (PE) é um
Ryan Costa Silva(1);Miguel Azaredo Raposo(1);Ca- distúrbio congénito do tecido conjuntivo, com apre-
rolina Peixoto(1);Inês Silva(1);Joana Rodrigues Dos sentação clássica cutânea, embora com variações
Santos(1);Tânia Vassalo(1);Lígia Peixoto(1) fenotípicas conforme o subtipo e padrão de herança
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi- genética. Apresenta-se um desafiante caso clínico
tal de Santa Maria pela exuberância de sintomas não-dermatológicos,
realçando o papel ímpar da integração clínica da
Tema: Doenças hematológicas Medicina Interna.

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 343


Caso Clínico: Mulher, 79 anos, com hipertensão ar- esforço ou sustentação da inspiração profunda. Não
terial admitida em consulta por crise hipertensiva e apresentava alterações da avaliação cardiopulmonar
astenia. Apurados episódios ocasionais de epistaxis ou ao exame neurológico. A avaliação analítica, es-
e de hematúria concomitantes, autolimitados e sem tudo Holter 24 horas, ecocardiograma, Döppler dos
factores desencadeantes; episódios de hematéme- vasos do pescoço, teste de TILT, radiograma de tórax,
ses autolimitadas, sem lesões culprit macroscópicas electroencefalograma e tomografia computorizada
endoscopicamente, e episódio de descolamento reti- crânio-encefálica não revelaram alterações. A abor-
niano. Apresentava-se hipertensa (PA 185/91mmHg), dagem terapêutica passou pela introdução faseada
sopro sistólico mitral III/VI e edema goddet + simé- de beta-bloqueante (e consequente inibição do refle-
trico nos membros inferiores. O exaustivo exame xo de Bezold-Jarisch).
clínico revelou ausência de esplenomegália, dor
óssea, telangiectasias ou hematomas ou hemartro- Discussão: A laughing syndrome é uma entidade rara,
ses. Analíticamente com anemia ferropénica, sem com necessidade de um diagnóstico clínico rigoro-
alterações das plaquetas, provas de coagulação ou so dado que conduz frequentemente a uma marcha
outras. Após revisão clínica objectivadas pequenas diagnóstica exaustiva para exclusão de causas ma-
pápulas reticuladas eritróides (< 5 mm de diâmetro) lignas, particularmente num doente com factores de
na região cervical e axilar que colocaram hipótese risco cardiovascular estabelecidos. É ainda demons-
de Pseudoxantoma elasticum, confirmada ao exame trativo do potencial modificador de uma intervenção
histológico. Implementou-se um agressivo controlo dirigida numa patologia, que apesar de benigna, de-
de factores de risco cardiovascular e restrição de fár- tém uma repercussão evidente na qualidade de vida
macos com potencial hemorrágico, com estabiliza- do doente.
ção clínica e sem recidiva de hemorragias. 
PA n.º 2779 
Discussão: Apresentando-se frequentemente com Pneumomediastino e enfisema subcutâneo: uma
lesões cutâneas, este caso destaca-se pela raridade complicação inesperada num doente com CO-
de apresentação fenotípica de PE, constituindo um VID-19
verdadeiro desafio diagnóstico ao Clínico, perante Mariana Silva de Sousa(1);Joana Rodrigues Dos
uma doença rara e de fisiopatologia imprecisa. Não Santos(1);Ana de Matos Valadas(1);Pedro Câmara
obstante, a progressão lenta configura um prognós- Pestana(1);Patrícia Martins(1);Lígia Peixoto(1)
tico reservado, pela severa afeção cardíaca e hemor- (1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi-
rágica debilitantes. Assim, a valorização de minucio- tal de Santa Maria
sos achados clínicos, muitas vezes individualizados,
são paradigmáticos da importância da Medicina In- Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
terna no diagnóstico de doenças raras como o PE.
O pneumomediastino é uma condição clínica rara,
PA n.º 2773  definida como a presença de ar livre no mediastino.
Too much laugh will kill you – a propósito de um Sendo mais comum no sexo masculino, frequente-
caso clínico mente ocorre como resultado de trauma por arma
Inês Santos(1);José Pedro Cidade(1);Leonor Guia de fogo ou perfuração esofágica. O pneumomedias-
Lopes(1);Mariana Emília(1);João Furtado(1);Francis- tino e o enfisema subcutâneo têm vindo a ser iden-
co Silva(1);Isabel Madruga(1) tificados como uma complicação rara associada à
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE / COVID-19, no entanto, a incidência é ainda desco-
Hospital Egas Moniz nhecida.
Tema: Doenças cardiovasculares
Apresentamos o caso de um homem de 57 anos
com uma pneumonia grave a COVID-19 com agrava-
Introdução: A síncope induzida pelo riso é uma mento progressivo e com necessidade de ventilação
causa rara de síncope, associada ao aumento de não invasiva (VNI). Apresentou evolução favorável,
pressão intratorácica, consequente diminuição do com possibilidade de desmame de oxigenoterapia.
retorno venoso e estimulação autonómica paras- Vários dias após interrupção de VNI, apresentava, de
simpática. É um diagnóstico benigno impondo, con- novo, queixas de sensação de aumento do volume
tudo, uma marcha diagnóstica ainda pouco definida da região cervical, tendo-se objectivado crepitação
na literatura. da região cervical e torácica. Realizou tomografia
computorizada que evidenciou pneumomediastino
Caso clínico: Homem de 51 anos com obesidade e moderado a grave, associado a enfisema subcutâ-
hipertensão arterial controlada, admitido por sínco- neo extenso do pescoço, com extensão cefálica até
pes recorrentes, presenciadas e sempre associadas ao plano da nasofarínge e parede anterior e lateral
a situações de riso exuberante. Precedidas de mal- esquerdas do tórax, sem fatores de risco identificá-
-estar e sensação de lipotímia, com duração de 3 veis para esta complicação, tais como tabagismo e
segundos e recuperação espontânea e rápida, sem patologia pulmonar prévia identificada. Assim como
memória para o sucedido, sem confusão mental, in- no caso apresentado, a maioria tem resolução es-
continência de esfíncteres, mordedura da língua ou pontânea com uma abordagem conservadora, que
actividade tónico-clónica. Negava episódios prévios consiste em monitorização, repouso no leito, analge-
semelhantes associados a manobras de Valsalva, sia e oxigenoterapia. O doente recuperou e teve alta

344
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
estabilizado. No que diz respeito à terapêutica ventilatória instituí-
da: 12.7% foram submetidos a VNI, 15.8% submeti-
Este caso, ocorrendo no epicentro do surto de pneu- dos a OAF e 9.2% foram admitidos no serviço de Me-
monia COVID-19, ilustra a gravidade potencial desta dicina Intensiva, tendo 7.3 % sido submetidos a VMI.
doença. O mecanismo na base desta complicação
permanece desconhecido, embora existam várias Em 85% foi registada uma situação de “mau prog-
explicações plausíveis em discussão. A sua presen- nóstico”, tendo sido assumido DNR em 84.5 %. Em
ça em doentes com COVID-19 deve ser considerada 82.5% estavam explícitos outros limites de interven-
no diagnóstico diferencial aquando do agravamento ção definidos pela equipa assistente. Relativamente
clínico dos mesmos. aos cuidados prestados em fim de vida, 4.8% dos
doentes têm avaliação por parte da equipa de cuida-
PA n.º 2785  dos paliativos e 57.1% têm registo de “cuidados de
Caracterização da mortalidade e cuidados de fim conforto” como ação paliativa. No que diz respeito
de vida em contexto de pandemia COVID-19 à visita de familiar, está explicita a sua presença em
Bárbara Silva(1);Filipa Leal(1);Francisco Pombo(1);- 15.1 %.
Teresa Martins Mendes(1);Sofia Garcês Soares(1);-
Fátima Costa(1);Carolina Seabra(1);Luís Noguei- Dos doentes que sobreviveram, em 50.6% havia re-
ra(1);Anabela Silva(1);Mari Mesquita(1) gisto de limite de intervenção definidos.
(1) Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, EPE /
Hospital Padre Américo, Vale do Sousa Conclusão: Quando o prognóstico foi identificado,
houve a preocupação de definição de limites de inter-
Tema: Cuidados paliativos venção, mas em apenas cerca de metade envolveu
a aplicação de ações paliativas. Mantém-se ainda
Introdução: O último ano revelou a fragilidade dos a associação de ações paliativas  apenas em doen-
cuidados de saúde e desafiou a ciência em paralelo tes em últimas horas ou dias de vida. Ressalva-se
com a saúde mental de quem a pratica. Apesar do a importância de caracterização pormenorizada do
desconhecimento, muitos foram os esforços feitos doente e da situação clínica para melhor adaptação
para minimizar o impacto do novo coronavírus. dos cuidados e definição dos limites de intervenção
adequados.

Objetivos: Análise descritiva e caracterização da PA n.º 2788 


mortalidade e cuidados de fim de vida dos doentes AVC SECUNDÁRIO A VASCULITE EM DOENTE COM
com pesquisa de SARS-CoV-2 positiva, internados IMUNODEFICIÊNCIA COMUM VARIÁVEL
durante um período de pandemia. Ryan Costa Silva(1);Mariana Belo Nobre(1);Miguel
Cabral Carrilho(1);Carolina Peixoto(1);Inês Silva(1);-
Material e Métodos: Estudo observacional, transver- Joana Rodrigues Dos Santos(1);Tiago Santos(1);-
sal e retrospetivo dos doentes com alta hospitalar de Joana Rosa Martins(1)
01/10 a 30/11 de 2020. (1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi-
tal de Santa Maria
Foram avaliadas as seguintes variáveis: idade, sexo,
estado funcional avaliado pela escala de Katz, desti- Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas
no à data de alta, necessidade de Ventilação Não In-
vasiva (VNI) e Ventilação Mecânica Invasiva (VMI) e
Oxigenoterapia de Alto Fluxo (OAF), comorbilidades, Introdução:  A imunodeficiência comum variável
causa de morte, avaliação por EIHSCP (Equipa Intra (IDCV) resulta de uma alteração na diferenciação de
Hospitalar de Cuidados Paliativos), registo de “mau células B que conduz a uma inadequada resposta
prognóstico”, registo de “cuidados de conforto” e “De- de anticorpos. Cerca de 20% dos doentes são diag-
cisão de Não Reanimar - DNR”. Análise estatística foi nosticados antes dos 20 anos, mas o diagnóstico
efetuada com SPSS versão 25. tardio é comum atendendo ao amplo espectro clíni-
co da doença.
Resultados: Foram identificados 905 doentes com
pesquisa de SARS-CoV-2 positiva, com uma taxa Caso clínico: Mulher de 78 anos referenciada à con-
de mortalidade intra-hospitalar de 28.9% (n=261). sulta de doenças autoimunes por trombocitopénia
Dos doentes falecidos apenas 1 tem idade < a 50 imune refractária a corticoterapia, rituximab e esple-
anos, tendo 61.7% > 80 anos. Destes, 35 contraíram nectomia. Apurou-se história prévia de linfoma não
COVID19 em contexto hospitalar, tendo a maioria Hodgkin, em remissão há mais de 10 anos, anemia
(n=226) contaminação extra-hospitalar, sendo a cau- hemolítica imune e infecções de repetição. Do estu-
sa de morte foi atribuída a condição médica não Co- do complementar destacava-se hipogamaglobuline-
vid em 10.3%.   mia não selectiva de longa data. Apresentava ainda
fraca resposta a imunizações determinada por bai-
Relativamente ao grau de dependência à admissão, xos títulos de IgG para S. pneumoniae e tétano. Foi
21% tinham grau 0 na escala de Katz, enquanto 44% colocada hipótese de IDCV e iniciada terapêutica de
foram considerados independentes previamente reposição com imunoglobulina intravenosa (IgIV).
(Katz 6). Quanto às comorbilidades, 69.7% apresen- Paralelamente iniciou eltrombopag com resolução
tavam 3 ou mais patologias, sendo que 30.6% tinham da trombocitopénia. Já sob IgIV mensal apresentou
diagnóstico de Síndrome Demencial. quadro de afasia de expressão e febre que surgiu
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 345
4 dias após administração de IgIV. Em TC-CE iden- adenocarcinoma do pulmão. Otimizada terapêutica
tificou-se hipodensidade cortico-subcortical frontal analgésica, tendo tido alta com controlo sintomáti-
esquerda sugestiva de lesão isquémica aguda as- co satisfatório sob múltiplas classes de analgésicos,
sumindo-se AVC isquémico com afasia de Broca. nomeadamente anti-inflamatórios não esteróides,
Por infecção do tracto urinário concomitante foi ins- opióide major e neuromodulador. Proposta de tra-
tituída antibioterapia com ceftriaxone. A avaliação tamento com quimioterapia paliativa e radioterapia
subsequente por RM-CE mostrou área de realce e antálgica.
espessamento leptomeníngeo e cortical em topogra-
fia fronto-opercular esquerda, sugerindo processo Conclusão: Pela sua localização periférica, os tumo-
infeccioso leptomeníngeo com área de isquémia/ce- res de Pancoast são menos frequentemente associa-
rebrite. Foi realizada punção lombar, sob 10 dias de dos aos sintomas respiratórios que acompanham a
ceftriaxone, que não mostrou alterações de relevo, neoplasia pulmonar. A valorização de determinadas
colocando-se a hipótese de AVC secundário a vascu- características semiológicas associadas à dor mus-
lite em contexto de meningite asséptica associada a culoesquelética (difícil controlo, agravamento notur-
IgIV vs meningite decapitada em doente com risco no ou em repouso, carácter neuropático, presença
acrescido de infecção bacteriana. de sintomas constitucionais) é fulcral na orientação
diagnóstica e terapêutica célere destas situações clí-
Discussão: Este caso demonstra a complexidade nicas.
diagnóstica e manifestações atípicas desta doença,
colocando desafios na abordagem terapêutica e PA n.º 2812 
prossecução de cuidados. Infecções nosocomiais – antes e depois da Pande-
mia
PA n.º 2789  Catarina Morgado(1);Miguel Rodrigues Montei-
Da omalgia à neoplasia do pulmão ro(1);Rita Dutschmann(1)
Renata Duarte Barbosa(1);Ana Marisa Cunha(1);Dé- (1) Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca
bora Costa Marques(1);Marta Vaz de Matos(1);João
Neves Maia(1);Tomás Fonseca(1) Tema: Organização, gestão e qualidade de serviços
(1) Centro Hospitalar do Porto, EPE / Hospital Geral de saúde
de Santo António
Introdução: Infecções nosocomiais são definidas
Tema: Doenças oncológicas como infecções com o início 48 horas após admis-
são hospitalar ou até 30 dias após a alta hospitalar.
Introdução: Os tumores de Pancoast (ou tumores Na última década, foram realizados vários esfor-
do sulco superior) consistem numa grande varieda- ços no sentido de reduzir e prevenir este tipo de
de de tumores que invadem o sulco superior pleu- infecções, nomeadamente a criação de estratégias
ro-pulmonar, adjacente aos vasos subclaviculares. gerais como lavagem das mãos ou dirigidas a deter-
Manifestam-se pela síndrome de Pancoast que se minados agentes, como os isolamentos de contacto
carateriza por dor no ombro/braço, síndrome de e gotículas. Desde o início da pandemia pelo vírus
Horner e atrofia dos músculos intrínsecos da mão. SARS-CoV2, que se preconizou o uso de equipa-
mento de protecção individual para a observação de
Caso Clínico: Homem de 59 anos, autónomo. Fuma- doentes com COVID-19 ou em contenção por risco
dor (>50 UMA). Clínica de dor focalizada ao ombro de exposição ao SARS-CoV2, incluindo uso de fato
direito com 1 ano de evolução, instalação insidiosa, completo ou de luvas, bata, máscara, touca e óculos
mas de agravamento progressivo, de predomínio no- ou viseira. Tal poderia fazer prever uma redução da
turno, associada a parestesias do membro superior taxa de infecções nosocomiais nos serviços hospi-
direito. Seguimento em hospital privado com diag- talares.
nóstico de patologia da coifa dos rotadores, tendo
sido submetido a reparação artroscópica. Persis- Objectivo: Avaliar o impacto da pandemia COVID-19
tência sintomática com dor de elevada intensidade na mortalidade e número de diagnósticos de infec-
e necessidade de doses crescentes de analgésicos. ções nosocomiais em 2020, face ao ano prévio, em
Recorre ao serviço de urgência do nosso centro nes- doentes internados num serviço de Medicina Inter-
te contexto, onde refere ainda anidrose da hemiface na de um hospital distrital.
direita, associada a ptose e miose ipsilaterais, com-
patíveis com síndrome de Horner à direita; sem quei- Métodos: Análise retrospectiva, observacional e
xas respiratórias. Acompanha-se de ressonância transversal, através da consulta de processos clí-
magnética do ombro onde se documenta a presença nicos informatizados de 102 doentes internados
de massa paravertebral direita. Admitido no interna- entre Março e Junho de 2019 e de 2020. A análise
mento de Medicina Interna para estudo. Tomogra- estatística foi realizada com base em Excel 2016
fia computorizada a mostrar massa (3.2x2.9cm) no e foi usado o teste de igualdade de proporções na
segmento posterior do lobo superior direito e mas- comparação de variáveis.
sa paravertebral direita (D1-3), com invasão e des-
truição dos corpos vertebrais de D1-3, sugestiva de Resultados: Do total de internamentos, foram selec-
representar neoplasia primária pulmonar. Sem evi- cionados 102 doentes com infecção nosocomial:
dência de outras lesões à distância. Biópsia a revelar em 2019, 67 dos 791 internamentos (8,47%) e em
2020, 35 dos 960 internamentos (3,64%). A amostra
346
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
de 67 doentes em 2019, era composta maioritaria- Manifesta-se por infiltração tecidular por células
mente por mulheres (64,2%) com média de idades malignas, deposição e propriedades específicas da
de 79,2 anos. A amostra de 35 doentes em 2020, IgM. O envolvimento renal é raro e a incidência de
também era composta maioritariamente por mulhe- síndrome nefrótica baixa, sendo a amiloidose de ca-
res (79,1%) com média de idades de 76,7 anos. Em deia leve de imunoglobulina (AL) a principal causa.
ambos os anos a maior parte dos doentes seleccio-
nados para o estudo tinham algum grau de imuno- Homem de 41 anos com antecedente de MW diag-
depressão – (56,7% em 2019 e 60,0% em 2020). nosticado há 16 anos, atualmente sem tratamento. 
Verificou-se uma diferença estatisticamente signi- Recorreu ao serviço de urgência por edema periorbi-
ficativa no número de infecções nosocomiais entre tário e edema dos membros inferiores desde há três
os dois períodos de 2019 e de 2020 (p<0,0001). semanas.

Dos doentes que desenvolveram infecção nosoco- À observação pressão arterial de 146/96mmHg,
mial, 58 em 67 doentes (86,6%) em 2019 e 21 em edema de membros inferiores 4+ até às coxas,
35 doentes (60%) em 2020, colocaram algum dispo- múltiplos linfonodos cervicais, axilares e inguinais
sitivo (catéter vesical, sonda nasogástrica, catéter palpáveis ??e hepatoesplenomegalia.
venoso central), p= 0,002. A taxa de doentes que Analiticamente:anemia(Hb 9,3g/dL) microcitica, hi-
passaram por Unidade de Cuidados Intermédios pocrómica; hipoalbuminémia (1,67g/dl);  creatinina
(UCINT) e/ou Unidade de Cuidados Intensivos (UCI) sérica 1,54mg/dl; ureia 66mg/dl; relação proteinúria/
foi de 36 em 67 doentes (53,7%), em 2019 e de 8 em creatinúria 3,53g/g[P5]  ; perfil lipídico normal. IgM
35 doentes (22,9%), em 2020, (p= 0,003). sérica 1176mg/dl. Realizou ecografia renal que ex-
Em ambos os anos, o principal foco de infecção cluiu patologia obstrutiva.Observado por oftalmolo-
nosocomial foi o urinário, logo seguido do foco res- gia e neurologia, excluiram complicações por hiper-
piratório. Foram detetadas mais infecções sem iso- viscosidade.Realizou biópsia de gordura abdominal,
lamento de agente em 2020 (54%) comparado com que foi negativa para amiloide.
2019 (33,8%) – p= 0,04. O foco respiratório foi o que Realizou biópsia renal,destacando-se,região cortical
teve menor número de isolamentos, em ambos os contendo 6 glomérulos, sem alterações na micros-
anos (75% em 2019 vs. 77% em 2020). copia óptica. Observa-se infiltrado inflamatório in-
Verificou-se o óbito em 18 doentes em 2019 (26,9%) tersticial de pequenos linfócitos alguns plasmócitos
e 10 doentes em 2020 (28,6%) – p= 0,84. maioritariamente constituídos por células B CD20+;
CD10- e CD5-. A imunofluorescência foi negativa e a
Conclusão: Na população analisada, houve menor microscopia eletrónica mostrou a presença de esba-
taxa de infecções nosocomiais em 2020, que se timento difuso dos pedicelos. Achados compatíveis
pode explicar pelo uso obrigatório e mais rigoroso com o diagnóstico de doença de lesão mínima e in-
de equipamentos de protecção individual na enfer- filtração do parênquima renal por linfoma linfoplas-
maria, pela menor taxa de colocação de dispositi- mocítico.
vos e passagem menos frequente dos doentes por
UCINT e UCI, que são factores de risco de infecção Iniciou terapêutica com bortezomibe,dexametasona
nosocomial conhecidos. Apesar da redução do nú- e rituximab e após 6 meses de follow-up apresentava
mero de infecções nosocomiais em 2020, não se recuperação progressiva da função renal e remissão
verificou redução da taxa de mortalidade. da proteinúria.

Definição de Infecção nosocomial neste artigo: A associação de síndrome nefrótica por doença de


lesão mínima e lesão renal aguda é uma apresenta-
Liu, J.-Y., & Dickter, J. K. (2020). Nosocomial Infec- ção rara na MW. Realça-se a  importância da moni-
tions. Gastrointestinal Endoscopy Clinics of North torização da função renal, e da análise sumária da
America, 30(4), 637–652. urina, para documentar o mais precocemente possí-
vel o envolvimento de um órgão vital que obrigada a
PA n.º 2828  instituição de terapêutica dirigida.
Lesão renal aguda e síndrome nefrótica - uma as-
sociação rara na Macroglobulinémia de Waldens- PA n.º 2852 
trom Linfoma de MALT e Helicobacter pylori – um caso
Ana Isabel Godinho Oliveira(1);Andreia Paulo(1);Ana clínico
Azevedo(1);Teresa Stock da Cunha(1);Ana Alvarez Sofia Ferreira Azevedo(1);Tiago Valente(2);Laura
Pidal(1);Mário Góis(1);José Augusto Barata(1) Baptista(1);Gisela Brito-Gonçalves(1);Gorete Je-
(1) Hospital de Vila Franca de Xira sus(1);Gisela Ferreira(1);Rosa Jorge(1)
(1) Centro Hospitalar do Baixo Vouga / Hospital In-
Tema: Doenças renais fante D. Pedro, EPE (2) Centro Hospitalar do Baixo
Vouga / Hospital Infante D. Pedro
A Macroglobulinémia de Waldenstrom(WM) é uma Tema: Doenças hematológicas
doença rara de células B caracterizada por infiltra-
ção da medula óssea por um linfoma linfoplasmo-
citário e uma paraproteína sérica IgM monoclonal. Introdução: O linfoma de MALT de baixo grau é uma

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 347


neoplasia de células B extranodais que, na maioria minando na morte do doente se não devidamente
das vezes, está associado à infeção por Helicobac- tratado.
ter pylori (Hp). A terapêutica de erradicação é a pri-
meira abordagem de tratamento, induzindo remis- Homem de 51 anos, toxicodependente com con-
são sustentada da doença na maioria dos casos. sumos ativos com estados de confusão prévios
Em algumas situações, mesmo após erradicação, em contexto de abstinência e infeção por HIV-1, do
existe persistência de população de células B, cujo qual abandonou seguimento e terapêutica TARV
papel na recidiva do linfoma não está totalmente em 2017. É encontrado caído na via pública com
esclarecido. traumatismo do membro inferior. À admissão he-
modinamicamente estável, sonolento com alguns
Apresenta-se de seguida o caso clínico de um doen- períodos de agressividade.  Documentadas drogas
te com Linfoma de MALT gástrico, associado a infe- de abuso na urina (cocaína, heroína e metadona),
ção por Hp. etanol negativo com estudo analítico básico inocen-
te, excetuando uma hiponatremia de 121 mmol/L e
Caso Clínico: Doente de 47 anos, sexo masculino, TAC inicial a a excluir processo vascular agudo e a
com antecedentes de fibrilhação auricular, hiperten- apresentar lesão hipodensa no esplénio do corpo
são arterial, dislipidemia, déficit de alfa-1 antitripsina caloso, em contiguidade com núcleo caudado, de
e portador de pacemaker, enviado à Consulta de Me- etiologia desconhecida, sem edema perilesional ou
dicina Interna para estudo de opacidade pulmonar ocupação de espaço significativa
presente em radiografia de tórax. Apresentava quei-
xas de perda ponderal de 4Kg nos dois meses ante- Evolução com agravamento do estado de consciên-
riores, infeções respiratórias superiores recorrentes cia e febre com necessidade posterior de proteção
e episódios de disfagia. Realizou Tomografia Com- da via aérea. Reavaliação imagiológica com TAC CE
putadorizada (TC) pulmonar e endoscopia digestiva a apresentar múltiplas hipodensidades compatíveis
alta com biópsias, que revelou infeção por Hp e Lin- com lesões isquémicas no contexto de meningo-
foma de MALT gástrico, com positividade para CD20 vasculite e sinais de hidrocefalia aguda. Face a
e ki67 20%. Efetuou TC Toracoabdominopélvica de achados, completada marcha diagnóstica com pun-
estadiamento e medulograma, não havendo evidên- ção lombar com pressão de abertura > 40 cmH2O
cia de disseminação da doença. Fez erradicação de e bioquímico com pleiocitose predominantemente
Hp com regressão completa do linfoma, mantendo linfocitária com proteinorráquia muito elevada e
vigilância endoscópica de 6 em 6 meses. Nas endos- elevado consumo de glicose. Biologia molecular no
copias de seguimento, mesmo não havendo evidên- LCR positiva para mycobacterium tuberculosis, com
cia de recidiva da doença, destaca-se a presença de cultural positivo identificado posteriormente. As-
infiltrados de população de células B e alterações sumido quadro de meningoencefalite tuberculosa
inflamatórias. O doente mantém seguimento semes- tendo iniciado antibioterapia com ceftriaxona e
tral, em consultas de Medicina Interna e Hematolo- ampicilina, dexametasona e HRZE. Apesar de estra-
gia, com remissão sustentada do linfoma. tégia adotada evolução desfavorável tendo vindo a
falecer.
Conclusão: Na grande maioria dos casos de linfoma
de MALT de baixo grau associada a infeção por Hp, a O diagnóstico de tuberculose meníngea carece de
erradicação da infeção resulta em remissão estável um alto grau de suspeição já que se pode confundir
da doença, que parece manter-se mesmo perante a inicialmente com outras etiologias de alteração do
presença de monoclonalidade de células B na muco- estado de consciência mais comuns. Associa-se
sa gástrica. Contudo, mais estudos são necessários frequentemente a tuberculose extra-SNC, nomeada-
para melhor esclarecer o papel deste achado na evo- mente pulmonar, pelo que medidas de proteção de
lução da doença. aerossóis são essenciais.
PA n.º 2857  PA n.º 2858 
Um caso de alteração do estado de consciência – O trigo sarraceno como causa de psicose aguda
uma causa inesperada Daniela Mateus(1);Sofia Guerreiro Cruz(1);Mariana
Daniela Barroso(1);Fabienne Gonçalves(2);João Marques(1);Jéssica Abreu(1);Joana Tavares Perei-
Araújo Correia(2) ra(1);Laura Xavier Pereira(1);Cátia Albino(1);Leuta
(1) Centro Hospitalar Uni. Porto (2) Hospital Santo Araújo(1)
Antonio (1) Hospital de Vila Franca de Xira
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas

A meningite tuberculosa nos adultos pode ocorrer Introdução: O trigo de sarraceno é uma semente da
em contexto de reativação causada por deficiência planta Fagopyrum esculentum, rico em vitaminas
imunológica e é uma das complicações mais graves e minerais; Por ser glúten free, tem sido cada vez
da tuberculose. Clinicamente de início frequente- mais usado, principalmente por doentes com ente-
mente insidioso, torna difícil o seu diagnóstico ten- ropatia sensível ao glúten. Um grande número de
do comumente vários diagnósticos confundidores. plantas produz metabólitos secundários que podem
O curso de doença é dividido em três estadios cul- ser tóxicos. 

348
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
Os autores apresentam um caso de psicose aguda ligeiramente aumentada 29,4 mg/dl., sem alterações
induzida pela ingestão de trigo sarraceno. iónicas. Tomografia computorizada crânio-encefáli-
ca sem alterações agudas. Com repetição, 24 horas
Caso Clínico: Doente do sexo feminino, 49 anos, com depois, sendo sobreponível.  Punção lombar (PL): as-
história pessoal de hipotiroidismo medicada com peto hemorrágico do líquido cefaloraquidiano (LCR)
levotiroxina 100mcg. Recorreu ao Serviço de Urgên- atribuído a punção traumática, hipoglicorraquia mar-
cia por quadro de agitação psicomotora, confusão cada 11mg/dl, proteinorraquia 134 mg/dl, com ce-
mental e pupilas midriáticas com quatro horas de lularidade elevada 960 /mm3, com predomínio de
evolução. Da história clínica apurou-se ingestão de polomorfonucleares - 83%. Assumida meningite bac-
trigo sarraceno três horas antes do início dos sinto- teriana iniciou antibioterapia com ceftriaxona, ampi-
mas, sem outros consumos associados  ou outras cilina, vancomicina e dexametasona. Não foi identifi-
queixas. Ao exame objetivo apresentava-se deso- cado nenhum agente, as serologias foram negativas
rientada, agitada, com atividade alucinatória, pupilas assim como a pesquisa de antigénios, no LCR. Sem
midriáticas, normotensa, taquicardica, eupneica em evolução favorável do quadro clínico. De modo a
ar ambiente, glicémia capilar normal, apirética, com esclarecer aspeto hemorrágico, é realizada nova
glasgow coma scale 15, sem outras alterações. Da PL, que é sobreponível à anterior bioquimica e cito-
investigação realizada: análises e tomografia axial logicamente.  Foi realizada imunofenotipagem dos
computadorizada de crânio sem alterações; Pesqui- eritrócitos do LCR, que revelou a “presença de 95%
sa de tóxicos na urina negativa.   linfócitos B, grandes e clonais para as cadeias Kappa
sugestivo de Linfoma Difuso de Grandes Células B”.
Assumiu-se psicose aguda induzida por toxinas pre- Ressonância magnética de crânio sem grandes alte-
sentes no trigo sarraceno. Contactado CIAV (Centro rações, não identificando lesões expansivas, apesar
de Informação Antivenenos) com indicação para do estudo ser muito prejudicado por artefactos de
administração de benzodiazepinas, tendo sido admi- movimento, condicionados pela dificuldade de cola-
nistrados bólus de diazepam endovenoso perfazen- boração do doente (agitação). Doente acabou por fa-
do um total de 9mg.  lecer, no internamento, por sépsis com ponto partida
respiratório.
Verificou-se evolução clínica favorável com ausên-
cia de atividade alucinatória e agitação psicomotora A incidência desta patologia  tem vindo a aumentar
com a terapêutica instituída.  na população imunocompetente, nomeadamente na
população idosa. Devido a ausência de apresenta-
Discussão: O trigo sarraceno produz metabólitos -
ção clínica típica e ter múltiplas apresentações neu-
alcalóides  do tropano, por vezes tóxicos para o ser
rorradiológicas, é difícil, incluí-la como hipótese de
humano. A administração de benzodiazepinas mos-
diagnóstico.
trou-se eficaz no tratamento da psicose aguda se-
cundária à ingestão desta semente.  PA n.º 2863 
Pneumonia recidivante por Coxiella burnetti – um
PA n.º 2862 
diagnóstico desafiante.
Linfoma cerebral primário , linfoma difuso de gran-
Christine Canizes(1);Telma Alves(1);Joana Noguei-
des células B.
ra(1);Ricardo Rodrigues(1);João Rua(1);Jorge Fortu-
Bruno Cabreiro(1);Daniela Antunes(1);Carolina Fer-
na(1)
nandes(1);Ana Rodrigues(1);Joana Gonçalves(1);-
(1) Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra /
Claudia Diogo(1);Catarina Domingues(1);Tiago
Hospitais da Universidade de Coimbra
Pais(1);Ana Ponciano(1);Maria de Jesus Banza(1)
(1) Centro Hospitalar de Leiria / Hospital de Santo Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
André
Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas Introdução:

O linfoma difuso de grandes células B primário do A febre Q é uma zoonose, transmitida maioritaria-
sistema nervoso central é um tumor raro, responsá- mente por aerossóis contaminados por Coxiella bur-
vel por menos de 1% de todos os linfomas.   netti. O seu diagnóstico é desafiante, na medida em
que muitos doentes são assintomáticos ou apresen-
tam sintomas inespecíficos.
Os autores apresentam um caso, de um homem com
83 anos, com antecedentes de hipertensão arterial, A pneumonia, uma forma de Febre Q aguda habitual-
que é trazido ao serviço de urgência (SU) por altera- mente ligeira, pode evoluir para ARDS se não for ini-
ção do estado de consciência de novo. Nos três dias cialmente considerada. 
que antecederam a vinda ao SU, terá começado com
quadro de cefaleia frontal, com náusea, diminuição Caso Clínico:
da acuidade visual e diminuição da força no mem-
bro inferior direito com dificuldade de manter a bipe- Homem de 54 anos, residente em meio rural, com an-
destação. Posteriormente desenvolveu  alucinações tecedentes de carcinoma espinho-celular do esófa-
visuais e um discurso incoerente. Sem febre e sem go, submetido a quimio e radioterapia neoadjuvante
sinais meníngeos. Estudo analítico sem alterações com internamento recente onde realizou esofagec-
relevantes, apenas uma ligeira neutrofilia com PCR tomia. Recorre ao serviço de urgência por quadro de

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 349


dispneia, febre e anorexia com 3 dias de evolução. -abdómino-pélvica com aspetos compatíveis com
Realizou radiografia que mostrou opacidade no lobo aortite da aorta abdominal infra-renal, artérias ilía-
superior direito, tendo sido pedida TC Tórax que ex- cas primitivas, externas, femorais comuns e arté-
cluiu lesão pulmonar secundária, confirmando pneu- rias femorais superficiais e profundas. Da avaliação
monia. Foi internado, sob Piperacilina + Tazobactam complementar posteriormente realizada salientam-
e Azitromicina, que cumpriu 12 e 5 dias respetiva- -se perfil de autoimunidade e serologias infeciosas
mente, tendo alta clinicamente melhorado. Regressa, negativas; eletroforese das proteínas com banda
um mês depois, com clínica de febre de uma semana em gama e componente monoclonal IgG K na imu-
de evolução e queixas de tosse seca ocasional, com nofixação sérica e urinaria com pesquisa de crio-
imagem de consolidação no lobo superior direito, globulinas positiva. Mielograma com apresentou
colocando-se a hipótese de recidiva no mesmo lo- 7% de plasmócitos e biópsia ósteomedular com
cal da pneumonia anterior. Foi novamente internado, achados compatíveis com MGUS. Ecocardiograma
agora sob Ceftazidima e Azitromicina, levantando-se transesofágico com rutura de corda da válvula mi-
as hipóteses de pneumonia organizativa vs adquiri- tral e regurgitação mitral moderada; ecografia das
da na comunidade por organismo multirresistente artérias temporais sem alterações e ecografia bila-
vs atípica. Do estudo realizado, excluiu-se infecção teral dos tornozelos com sinovite/derrame sinovial
por pneumococo, micobactérias e atípicos (Borre- das tibiotársicas. Exame oftalmológico normal. Na
lia, Brucella, Mycoplasma, Legionella e Francisella) TC de coluna vertebral observaram-se lesões líti-
à excepção da Coxiella burnetti, em diluição durante cas dispersas, sobretudo no segmento cervical e
o internamento. Dada a clínica de febre recorrente e alterações degenerativas da coluna lombar. Biópsia
elevada suspeita de Febre Q aguda, realizou EcoTT da gordura abdominal negativa para pesquisa de
que excluiu endocardite infeciosa. Manteve-se anti- substância amilóide. Assumiu-se o diagnóstico de
bioterapia 10 dias – tempo de tratamento de Febre Q mieloma múltiplo sintomático, apesar da infiltração
– com excelente resposta clínica. Posteriormente, já plasmocitária medular <10% (escassez da amostra
em consulta, verificou-se anticorpos Coxiella burnetti biológica e infiltração patchy do mieloma múltiplo),
positivos (Título: 1280), com anticorpos IgM e IgG de dados os vários marcadores aumentados, que assi-
fase II positivos, confirmando o diagnóstico Febre Q nalaram atividade importante do clone plasmocita-
como causa de pneumonia recidivante.  rio, tendo iniciado quimioterapia com CyBorD, com
posterior melhoria clínica.  
Discussão:
Discussão:
Os autores apresentam o caso de uma pneumonia
recidivante causada por Coxiella burnetti, num doen- Os autores salientam a importância de exclusão de
te imunodeprimido, realçando a importância da sua doença hematológica como possível etiologia das
inclusão no diagnóstico diferencial dos quadros atí- vasculites de grandes vasos. Tratamento dirigido é
picos, que, neste caso foi crucial para instituição da importante para prevenção das complicações das
terapêutica mais adequada. vasculites.
PA n.º 2865  PA n.º 2871 
Aortite como manifestação de mieloma múltiplo Tumor de Células Germinativas Extragonadal -
Nina Jancar(1);Mariana Simões(1);Filipa Gonçal- diagnóstico diferencial de massa retroperitoneal
ves(1);José Duro(1);Patrício Aguiar(1);Leonor Carva- Ana Catarina Pinto Carvoeiro(1);Patrícia Sobro-
lho(1) sa(1);Ana Afonso(1);Joana Couto(1);Alexandra Este-
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi- ves(1);Paula Felgueiras(1);Diana Guerra(1);Carmélia
tal de Santa Maria Rodrigues(1)
(1) Unidade Local de Saúde do Alto Minho, EPE /
Tema: Doenças hematológicas Hospital de Santa Luzia

Introdução: Tema: Doenças oncológicas

Aortite refere-se à inflamação da parede da aorta e Introdução: Os tumores de células germinativas


ocorre habitualmente contexto de doenças reumato- (TCG) em mais de 90% dos casos têm origem no
lógicas e infeciosas.   testículo, constituindo os TCG extra- gonadais uma
entidade rara. CASO CLÍNICO: Homem 42 anos,
Descrição: sem antecedentes pessoais de relevo. Admitido
no SU por queixas de dorso- lombalgia persistente,
Doente do sexo masculino, 78 anos, com antece- sem irradiação, refratarias a terapêutica analgésica,
dentes hiperplasia benigna da próstata, observado associadas a perda ponderal de 8kg com 1 mês
em consulta de Medicina por quadro consumptivo, de evolução. Ao exame objetivo sem alterações. Do
febre, diaforese noturna, dor cervical e lombar, da estudo analítico inicial, com LDH de 448U/L e PCR
articulação tibio-társica e gonalgia bilaterais com de 3.99mg/dL. A TC abdominopélvica mostrou “con-
5 meses de evolução. Da avaliação complementar glomerado adenopático retroperitoneal para-aórtico
realizada previamente à consulta destaca-se ane- esquerdo”. Realizou, em internamento, biópsia de
mia de doença crónica, aumento da velocidade de massa retroperitoneal, cujo resultado histológico foi
sedimentação e subida de PCR; angioTC tóraco- compatível com “neoplasia maligna (escassamente

350
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
representada), com características de carcinoma, zindo TVC. Do estudo realizado, heterozigotia para o
coexistindo fragmentos de tecido tumoral necróti- Fator V Leiden e MTHFR A 1298C, homocisteína nor-
co”. O estudo por PET de corpo inteiro excluiu outras mal, proteína C aumentada, anticoagulante lúpico e
lesões ou metastização à distância. Pela incerte- estudo autoimune negativo. Iniciou heparina de bai-
za do diagnostico histológico, considerado diagnós- xo peso molecular em internamento com switch para
tico diferencial de TCG extragonadal, suportado pelo dabigatrano em ambulatório. Orientada para consul-
doseamento de β-HCG sérica de 101205mU/ml. ta de doenças cerebrovasculares e hipocoagulados.
Orientado para IPO do Porto, com confirmação de
TCG, mais concretamente coriocarcinoma estadio Discussão: A TVC é tipicamente multifatorial, sendo
IIIC S3, após realização de nova biópsia, com início possível vários fatores potenciarem-se mutuamente.
de quimioterapia com esquema de BEP, verificando- No caso descrito identificam-se 3 fatores de risco:
-se resposta favorável. DISCUSSÃO: Os TCG extra- fator V de Leiden, COC e sinusite paranasal. A muta-
gonadais e, mais concretamente, o coriocarcinoma, ção MTHFR só constitui fator de risco se associada
correspondem a entidades de elevada raridade, a níveis elevados de homocisteína. Pelos achados na
sendo o retroperitoneu o 2o local mais vezes envol- ecografia, surgiu a preocupação de excluir a Síndro-
vido (13– 45%). A reduzida frequência dificulta o me de Lemierre no SU. A variabilidade de apresenta-
diagnóstico histológico no pré-operatório, sendo no ção clínica da TVC impõe desafios no diagnóstico,
início, muitas das vezes globalmente identificados, por vezes, tardio. Tem bom prognóstico se diagnosti-
como metastização de carcinoma. Exige, pois, um cada e tratada atempadamente.
elevado grau de suspeição e a sua consideração
como diagnóstico diferencial é de suma importân- PA n.º 2878 
cia. Assim, o doseamento de β-HCG, um marcador Hospitalização Domiciliária: um caminho para com-
clássico de coriocarcinoma, é crucial. Pela sua es- bater a polimedicação no idoso?
cassez, muito do que se aplica em termos terapêuti- Rita Lencastre Monteiro(1);Marta Ramos(2);Martin
cos é, ainda, com base no que se conhece dos TCG Santiago(3);Josu i. Irurzun(3);Andima Ozamiz(3)
gonadais, pelo que o relato de caso assume exacer- (1) Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE / Hos-
bada relevância pital de Santo António dos Capuchos (2) Hospital
Universitario de Canaria, Tenerife (3) Hospital de
Cruces, Hospitalización a Domicílio, Bilbao
PA n.º 2873 
DE UM EXAME DE ROTINA À TIROIDE AO DIAG- Tema: Medicina geriátrica
NÓSTICO DE TROMBOSE VENOSA CEREBRAL
(TVC)
Introdução: 
Inês Damásio(1);António Grilo Novais(1);Sónia Reis
Santos(1);Joana Gomes da Cunha(1);Rafaela Evan-
gelista(1);Ana Mafalda Miranda(1);Ana Lemos(1) A polimedicação no idoso é cada vez mais reconhe-
(1) Centro Hospitalar Tondela-Viseu, EPE / Hospital cida como um problema de saúde pública, resultan-
de São Teotónio, EPE te tanto do envelhecimento populacional como das
patologias complexas inerentes a esta população. A
Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas polimedicação é não só potenciadora de alterações
hidroelectroliticas importantes, aumento do risco
Introdução: A TVC é uma doença cerebrovascular de queda e da possível necessidade internamento
subdiagnosticada que exige elevado grau de suspei- como requer  por parte dos clínicos, uma gestão re-
ção. Mais prevalente em mulheres pela sua asso- gular dos farmácos, das suas possiveis interações
ciação a estados protrombóticos. A apresentação medicamentosas e dos potenciais efeitos adversos. 
clínica é variável e pode classificar-se em aguda,
subaguda ou crónica com base na data do diagnós-
Objetivo: 
tico e início dos sintomas.
-Caracterização clínica e demográfica da população
Caso clínico: Mulher, 52 anos, enviada ao Serviço de internada
Urgência (SU) após realização de ecografia tiroideia
onde se constataram alterações compatíveis com - Avaliação do número de fármacos à admissão 
trombose da veia jugular esquerda. História de ce-
faleia occipital com 2 semanas de evolução, cervi- - Avaliação do ajuste realizado à data de alta assim
calgia mecânica, tonturas e astenia. Antecedentes como o número de fármacos 
de fibromialgia, radiculopatia cervical, nódulo pa-
ratiroideu esquerdo e amigdalectomia na infância.
Material e Métodos: 
Medicada com contracetivo oral combinado (COC) e
analgésicos. Sem história de abortos, eventos trom- Estudo retrospectivo, monocentrico, realizado numa
boembólicos ou infeção da cavidade oral recente. unidade de Hospitalização Domiciliária Interna-
Sem défices neurológicos e fundoscopia normal. A cional, ao longo de um mês. Foram incluídos 100
tomografia computadorizada (TC) crânio-encefálica doentes de forma aleatorizada. A idade média foi de
apenas mostrou sinusite paranasal. Venografia por 74 anos com maior prevalência do sexo masculino
TC sem preenchimento da vertente distal do seio (62%) e com um índice de comorbilidades de Charl-
transverso, sigmoide e veia jugular à esquerda tradu-
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 351
son médio de 9. O tempo médio de internamento foi METHODS: The 22-item online survey was devel-
de 8 dias (intervalo 2-29). Foram avaliadas à data de oped by all EFIM MM-WG members during February
admissão assim como à data de alta o número de 2021, and subsequently launched and disseminated
fármacos prescritos para cada doente.  through EFIM and all federated national societies
during March 2021. The time period for responses
was open from 15 March to 30 April 2021. A de-
Resultados:  scriptive analysis (number and percentages, as well
as measures of central distribution and dispersion
À admissão na unidade de hospitalização [mean and standard deviation if normal distribution,
domiciliária, constatou-se que 74% dos doentes or median and Quartile1-Quartile3]) was performed
eram polimedicados (mais de 5 fármacos) com uma by means of SPSS v25.
média de 10 fármacos/dia, moda de 7 fármacos/dia
e em 10% dos casos com indicação para fazer mais RESULTS: A total of 790 internists (53% women, 45
de 15 fármacos/dia.  [35-56] years old) answered the survey. Most of them
worked in tertiary teaching hospitals (423, 53%) or
À data de alta constatou-se em 48% dos casos que secondary centers (198, 25%), and lived mainly in
foi feito ajuste da medicação habitual, sendo que Spain (334, 42%), France (122, 15.4%), Portugal (120,
em apenas 16% dos casos se observou redução do 15.2%), or Italy (60, 7.6%). Their usual area of work
número de fármacos prescritos. Em 84% dos casos were hospital wards and/or outpatient clinics (523,
foi feita uma folha terapeutica para explicar a toma 67%), and they dedicated mainly to general internal
da medicação ao doente ou ao cuidador.  medicine (707, 89.5%), geriatrics (233, 29.5%), and
cardiovascular medicine (200, 25.3%). Respondents
estimated the main age of their patients in the range
Conclusões: 
of 75-85 years, and also that patients with severe
A população geriática é vastamente polimedicada chronic conditions represented more than 50% of
com um grande impacto clinico, social e econó- their attention. They were familiarized mainly with
mico. É de extrema importância tomar partido de the terms ‘comorbidity’(34%) and ‘polypathologi-
todos os contactos que possam auxiliar na revisão cal patient’(26%). The issues they found difficult to
terapêutica com vista à escolha de regimes mais fix regarding MM were polypharmacy (65%), transi-
seguros, simples e ajustados às necessidades sin- tional care (62%), continuity of care (51%) and evi-
gulares de cada doente. Visto que a hospitalização dence-based medicine (45%). In the clinical decision
domiciliária tem tido um papel crescente em Portu- process, internists found most relevant function-
gal com possibilidade de melhorar a qualidade dos al-mental basal status (64%) and prognostic strati-
internamentos da população geriática elegível para fication (22%); however only 52%, 34%, and 30% of
os mesmos, pode ser uma ferramenta única para a hem used structured tools in death-risk stratification,
abordar a questão da polimedicação tanto pelo co- comprehensive geriatric assessment, and mood dis-
nhecimento profundo da realidade de cada doente orders evaluation, respectively. When asked about
assim como pela articulação com os cuidados de MM in medical education 65% of them did not receive
sáude primários.  any MM training in their undergraduate medical edu-
cation; in the same way 38% and 24% felt, that MM
PA n.º 2880  is currently not addressed in undergraduate medical
FEELINGS AND THOUGHTS ABOUT MULTIMORBID- education, nor in internal medicine training programs,
ITY. A MULTINATIONAL SURVEY FOR EUROPEAN respectively. Regarding investigation, 68% of respon-
INTERNISTS dents felt, that none or only a few colleagues in their
Lèlita Santos(1);Regina Costa(1);Battegay e(1);Bern- environment are interested in MM, whereas 87% of
abeu-Wittel m(1);Bryant c(1);Elis a(1);Ertl g(1);Grine them as individual practitioner showed interest in in-
s(1);Holecki m(1);Kurrle a(1);Lidove o(1);Para vestigating in this area.   
o.(1);Saglam b(1);Tottolomondo a(1);Vaclavik
j(1);Van Munster(1);Voicehovska j(1) CONCLUSIONS: European internists, who answered
(1) on behalf of the Multimorbidity Working Group, the survey were familiarized mostly with the term
European Federation of Internal Medicine (EFIM ‘comorbidities’, and ‘polypathological patients’, rath-
MM-WG) er than with ‘multimorbidity’. Noteworthy differences
were detected in comprehensive geriatric-, pharma-
Tema: Organização, gestão e qualidade de serviços cological-, and death-risk assessment. We noted also
de saúde a generalized feeling of MM being poorly addressed
in undergraduate medical Education as well as in In-
ternal Medicine training programs; and a majority in-
BACKGROUND: Patients with multimorbidity (MM) terest in MM research.
are emerging as a prevalent, vulnerable and high-
risk population. Nevertheless, there are scarce data PA n.º 2890 
about perspectives of European internists regarding Um caso de meningite recorrente num doente imu-
MM. nocompetente
Maria Miguel(1);Helena Pires(1);Tomás Nu-
OBJECTIVES: To assess feelings and thoughts of Eu- nes(1);André Gomes(1);Liliana Alves(1);Rita Ma-
ropean internists by means of a homemade survey. gano(1);Mariana Lopes(1);Filipa Ferreira(1);Vítor

352
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
Proença(1);Nuno Marques(1) nês Matos Ferreira(1);Inês Fiuza m. Rua(1);Rodrigo
(1) Hospital Garcia de Orta, EPE Leão(1);Ana Serrano(1)
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE / Hos-
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias pital de Santo António dos Capuchos

Introdução Tema: Doenças raras

Vários fatores predispõem à recorrência de meningi- Introdução: DRESS – Drug reaction with eosinophi-
te num doente imunocompetente. Os defeitos ana- lia and systemic symptoms refere-se a uma reação
tómicos, sejam eles congénitos ou adquiridos, têm rara de hipersensibilidade a medicamentos grave e
um papel importante na recorrência da meningite potencialmente fatal. Habitualmente caracterizada
bacteriana. por exantema maculopapular com início 3 semanas
após início de fármaco suspeito, febre > 38ºC, alte-
Caso Clínico rações da função hepática ou envolvimento multi-or-
gânico, alterações hematológicas, linfadenopatias e
Apresentamos o caso de uma mulher de 55 anos, reativação do vírus herpes 6.
nascida no Brasil e residente em Portugal há mais
de dez anos. Da história clínica anterior destacamos CASO CLÍNICO: Mulher de 81 anos, com antece-
uma queda em 2015 que originou vários hemato- dentes pessoais de DRC estadio IV, Obesidade, HTA
mas subdurais bilaterais com necessidade de dre- e Dislipidemia. Internada por TEP bilateral e DRC
nagem cirúrgica, sem complicações imediatas. Em agudizada. Ao 5ºdia de internamento apresentou
Setembro de 2020 a doente deu entrada no Serviço lesões urticariformes assumidas como reação a
de Urgência com um quadro de cefaleia e febre. contraste ev. Durante a permanência em interna-
Foi realizada punção lombar que revelou meningite mento, instituída anticoagulação com enoxaparina.
linfocítica aguda tendo sido iniciada terapêutica Alta ao 6ºdia medicada com edoxabano. 24H após
empírica com ceftriaxona e aciclovir, com melhoria a alta recorre ao SU por lipotimia, febre e alterações
clínica. Nenhum agente etiológico foi identificado cutâneas exacerbadas face a dia prévio. Ao EO des-
(RT PCR para vírus neurotrópicos e exames culturais tacava-se hipotensão, quadro febril e um eritema
negativos) e a doente teve alta. Em Dezembro do morbiliforme disseminado, simétrico com lesões
mesmo ano regressa com febre, cefaleia, rigidez no tronco e membros, caracterizada por maculas e
da nuca, alteração do estado de consciência e um pápulas, sem atingimento palmo-plantar, das mu-
episódio de crise convulsiva tónico-clónica gene- cosas ou descolamento cutâneo. Analiticamente
ralizada à admissão. Foi realizada punção lombar com leucocitose >30.000, Neutrofilia 86% e eosi-
que revelou líquido cefalorraquidiano com inúmeras nofilia 2.050, Ureia 120 e Creatinina 4.75. Discutido
células (com predomínio de polimorfonucleares). caso com Dermatologia e Imunoalergologia, sendo
Iniciou empiricamente ceftriaxona, ampicilina e colocada a hipótese diagnóstica de Toxidermia a
vancomicina tendo posteriormente, após a identi- Contraste/Enoxaparina. Realizada biópsia cutânea
ficação do agente (LCR e hemoculturas positivas com alterações inespecíficas. Suspensos fármacos
para S. viridans suscetível à penicilina), descalado não essenciais e instituída inicialmente corticote-
antibioterapia para penicilina. Realizou ressonância rapia sistémica (Metilprednisolona 100mg/dia) e
magnética crânio-encefálica que, além de mostrar antistamínicos (clemastina 2mg q12h e hidroxizina
sinais de meningite purulenta e ventriculite, descre- 25+25+50mg). Nas primeiras 24H com agravamen-
veu uma solução de continuidade óssea da grande to do ponto de vista cardiovascular, com necessi-
asa esfenoidal com fístula de líquor. O defeito foi dade introdução de suporte vasopressor em dose
corrigido cirurgicamente, a doente foi imunizada crescente e ressuscitação volémica, assumindo-se
contra meningococos, pneumococos e Haemo- choque séptico com disfunção multiorgânica (dis-
philus influenza B, e teve alta hospitalar clinicamen- função renal, disfunção cardiovascular). Posterior-
te melhorada, sem défices neurológicos. mente, com melhoria progressiva sob terapêutica,
com switch ao 7ºdia para prednisolona oral.
Discussão
DISCUSSÃO: Atualmente não existem critérios ab-
Apresentamos este caso clínico para enfatizar a
solutos definidos para o diagnóstico da síndrome
importância da identificação e abordagem de defei-
DRESS. Dada a atipia e diversidade clínica do qua-
tos anatómicos em doentes imunocompetentes que
dro a comunidade médica deve estar sensibilizada
se apresentam com meningites de repetição. Para
de modo a reconhecer precocemente esta síndrome
alem disso, é importante a identificação etiológica
potencialmente fatal, assim como a suspensão do
do agente causador no sentido de dirigir o trata-
fármaco causal.
mento e prevenir outras complicações infecciosas,
nomeadamente através da vacinação. PA n.º 2909 
Sarcoma de Kaposi com envolvimento disseminado
PA n.º 2902 
Mónica Mesquita(1);Catarina Azevedo(1);Ana Rita
DRESS to impress
Bragança(1);Renata Silva(1);Fernando Guima-
Diogo Dias Ramos(1);Adriana Correia(1);Joana
rães(1);Paulo Carrola(1);Fernando Salvador(1)
Diogo(1);Rita Monteiro(1);Carolina Coelho(1);Rita
(1) Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Dou-
Bizarro(1);Angela Ghiletchi(1);Rita Bernardino(1);I-

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 353


ro, EPE / Hospital de Vila Real O artesunato injetável,  reduz consideravelmente
a mortalidade em doentes com malária grave por
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias Plasmodium falciparum. Cada vez mais tem havido
relatos de casos de anemia hemolítica de início
Introdução tardio, às vezes exigindo transfusão. Estudos pros-
pectivos na Europa mostraram que hemólise tardia
é observada em 25 a 30% dos viajantes tratados
O sarcoma de Kaposi é um tumor vascular asso- para malária com artesunato intravenoso e pode ser
ciado ao herpesvírus 8, mais comum em doentes grave em até 10% dos doentes. A hemólise de inicio
com infeção por vírus da imunodeficiência humana tardio que ocorre após o tratamento com artesuna-
(VIH). O envolvimento visceral ocorre em 25% dos to injetável foi observada em viajantes não imunes
casos, contudo a terapêutica antiretrovírica tem com Malária grave por Plasmodium falciparum e
resultado numa redução da incidência, sendo inco- especialmente em doentes com hiperparasitemia
mum o atingimento disseminado. e, é secundária a eliminação tardia dos eritrócitos
infetados, poupados por corrosão durante o trata-
Caso clínico mento. Relatamos 3 casos de anemia hemolítica
Homem de 48 anos, sem antecedentes pessoais tardia pós-tratamento de Malária grave em doentes
de relevo, admitido por lesões papulares violáceas expatriados,  ocorridos na Clínica Sagrada Esperan-
dispersas em todo o corpo, incluindo face, região ça, Luanda-Angola. Todos os casos foram tratados
genital e planta dos pés, condicionando dor inca- com sucesso, alguns necessitaram de transfusão,
pacitante. Adicionalmente, perda ponderal, astenia, mas com evoluções favoráveis após seguimento
anorexia e febre. Do estudo etiológico, a realçar em Consulta Externa.
anemia, linfopenia, elevação dos parâmetros infla-
matórios e serologia positiva para VIH. Realizou PA n.º 2919 
broncofibroscopia com positividade para DNA de Cardiopatia amiloidótica associada a macroglobuli-
pneumocistis jirovecii, pelo que iniciou terapêutica nemia de Waldenström
específica e terapêutica antiretrovírica, mantendo, Nina Jancar(1);Simões m(1);Gonçalves f(1);Duro
contudo, febre sustentada. Foram visualizadas le- j(1);Aguiar p(1);Carvalho l(1)
sões violáceas dispersas na mucosa brônquica e, (1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi-
em endoscopia digestiva alta, documentada úlcera tal de Santa Maria
gástrica com bordos violáceos, cuja histologia foi
compatível com Sarcoma de Kaposi (imunohistoquí- Tema: Doenças hematológicas
mica positiva para herpesvírus 8). Realizou estudo
alargado com exclusão de outras infeções oportu- Introdução:
nistas, bem como estudo medular para exclusão
de linfomas associados ao VIH. Em tomografia por
emissão de prositrões documentado envolvimento Cerca de 3% de doentes com macroglobulinemia de
ganglionar difuso de provável etiologia neoplásica. Waldenström apresentam como complicação ami-
Assim, assumida febre em contexto de Sarcoma de loidose sistémica, normalmente com envolvimento
Kaposi disseminado com envolvimento cutâneo, en- multiorgânico.
dobrônquico, gastrointestinal e ganglionar, pelo que
foi proposto para quimioterapia com doxorrubicina. Descrição:

Discussão Apresentamos doente de sexo masculino, 87 anos,


com antecedentes médicos de hipertensão arterial,
Este caso documenta uma apresentação grave e diabetes mellitus tipo 2, doença cerebrovascular, hi-
tardia de sarcoma de Kaposi em doente com VIH, perplasia benigna da próstata e insuficiência cardía-
que confere prognóstico desfavorável. A marcha ca classe III (NYHA) não caracterizada, com necessi-
diagnóstica foi essencial para exclusão de outras dade de vários internamentos por descompensação,
causas de febre previamente ao início da quimiote- doença renal crónica estádio 3b (KDIGO) de etiolo-
rapia. O diagnóstico precoce e terapêutica antiretro- gia não esclarecida e neoplasia de células B madu-
vírica têm permitido considerar raras estas apresen- ras em investigação. Foi internado por insuficiência
tações graves e disseminadas. cardíaca descompensada de etiologia a esclarecer,
tendo realizado ecocardiograma transtorácico, que
PA n.º 2914  mostrou  aspeto sugestivo de miocardiopatia amiloi-
Anemia hemolitica tardia após tratamento com ar- dotica com fração de ejeção comprometida (33%);
tesunato 3 casos clínicos com um único desfecho. biopsia óssea compatível com linfoma linfoplasmo-
Erica Barata(1);Ernesto Ulica(2);Maria do Rosário cítico e imunofixação sérica com componente mo-
Laurindo de Almeida(2);Naima Andrade(2) noclonal IgM lambda, que confirmou o diagnóstico
(1) Hospital Garcia de Orta, EPE (2) Clinica Sagrada de macroglobulinemia de Waldenström. Realizou TC
Esperança de corpo para estadiamento, que mostrou espessa-
mento da língua e densificação difusa da gordura
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias subcutânea, tal como cardiomegalia, hepatomegalia,
espessamento do cólon sigmóide, suspeito de atipia
e lesão atípica da parede brônquica. Para melhor ca-

354
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
racterização da miocardiopatia amiloidótica realizou me e derrame pericárdico de pequeno volume, com
cintigrafia DPD, que mostrou hiperfixação do radio- realce dos folhetos pericárdicos. Ecocardiograma
fármaco na área cardíaca (score 2); realizou ainda confirmou derrame pericárdico circunferencial de
biópsia da gordura abdominal e biópsia da mucosa pequeno volume, sem compromisso hemodinâmi-
retal que confirmaram o diagnóstico de amiloidose co. Eletrocardiograficamente não apresentava alte-
primária com envolvimento cardíaco, intestinal e rações agudas.
pulmonar. O doente apresentou ao longo de interna-
mento deterioração progressiva do estado geral e Inicialmente internada com diagnóstico de pneumo-
progressão rápida da insuficiência cardíaca apesar nia da base esquerda e medicada com ceftriaxone
da otimização da terapêutica modificadora do prog- e claritromicina. Pela hipótese de se tratar de uma
nóstico e terapêutica diurética. Foi iniciada ainda te- pericardite aguda, apesar de não apresentar atrito
rapêutica dirigida com melfalano e dexametasona, pericárdico nem alterações eletrocardiográficas
com evolução clínica desfavorável, culminando em compatíveis, foi medicada com colchicina e aspi-
falecimento do doente após o primeiro ciclo de qui- rina. Do estudo etiológico obteve-se serologia de
mioterapia.   borreliose positiva - anti-borrelia C6 positivo e con-
firmatorio por WB positivo. Assim sendo, assumiu-
Conclusão: -se pericardite por Borrelia, tendo sido prolongada a
terapêutica com ceftriaxone, de forma a completar
Os autores salientam a importância de diagnóstico 21 dias. Teve alta melhorada, com orientação para
precoce de amiloidose e início de terapêutica dirigi- consulta externa de Medicina Interna.
da antes de desenvolvimento de lesão de órgão alvo
irreversível com o objetivo de melhorar a sobrevida CONCLUSÃO:
dos doentes.
Com este caso, pretende-se relembrar uma possível,
PA n.º 2932  ainda que menos frequente, etiologia de pericardite.
Pericardite como manifestação para o diagnóstico Apesar de distúrbios da condução serem a manifes-
de Doença de Lyme tação cardíaca mais frequente desta infeção, esta
Inês Conde(1);Martinha Vale(1);Andreia Guima- também pode cursar com pericardite, miocardite ou
rães(1);Olga Pires(1);Joana Morais(1);Olinda Sousa disfunção ventricular.
Caetano(1);Maria João Regadas(1);António Oliveira
e Silva(1) PA n.º 2939 
(1) Hospital de Braga QUANDO UM HELLP NÃO É O QUE PARECE
Paula Costa(1);Cecília Moreira(2);Sara Moutinho-Pe-
Tema: reira(2);Juliana Chen xu(3);Margarida Oliveira(2);Ra-
quel Calisto(2);Luísa Guerreiro(2)
Introdução: (1) Hospital do Divino Espírito Santo, Ponta Delgada
(2) Hospital Pedro Híspano (3) Centro Hospitalar
Póvoa de Varzim/Vila do Conde
A doença de Lyme pode ter múltiplas apresentações
clínicas, localizadas ou disseminadas, com período Tema:
de incubação variável. O diagnóstico é tipicamen-
te feito nas fases mais precoces, com base numa Introdução: A Púrpura Trombocitopénica Trombótica
história de exposição e clínica típicas, com eritema (PTT) é uma microangiopatia trombótica rara, causada
migrans. Nalguns casos, as fases iniciais são assin- pela deficiência de ADAMTS13. É caracterizada por
tomáticas, tendo como apresentação doença dis- anemia hemolítica microangiopática, trombocitopenia
seminada, sendo o diagnóstico feito por serologia, grave e um grau variável de lesão isquémica de órgão.
com posterior confirmação do resultado por Wes- A distinção entre PTT e o síndrome de HELLP pode ser
tern Blot (WB). difícil, tendo em conta a sobreposição de características
CASO CLÍNICO: clínicas.

Mulher de 42 anos, com antecedentes de poliartral- Caso Clínico: Doente de 34 anos, grávida de 32S,
gias migratórias inflamatórias (predominantemente sem antecedentes pessoais de relevo. Recorre ao SU
nas ancas, joelhos e tornozelos), em estudo há vá- por dor abdominal no hipocôndrio direito com irra-
rios anos, sob terapêutica sintomática. Recorreu à diação lombar. Analiticamente apresentava AST/ALT
urgência por dor retro-esternal de início súbito, em 117/148mg/dL, LDH 393U/L e plaquetas 114000/uL.
aperto, exacerbada pelo movimento, sem outros Ecografia abdominal sem alterações. Internada por
fatores de alívio ou agravamento. Sem resposta à suspeita de fígado gordo da gravidez. Ao 3º dia de in-
analgesia. ternamento, reinicia epigastralgias e perfil tensional
no limite superior do normal, com trombocitopenia,
Apresentava elevação dos parâmetros inflamató- citólise e LDH em agravamento. Assumido possível
rios e uma opacidade no parênquima pulmonar à S. HELLP, foi realizada cesariana urgente e admitida
esquerda na radiografia torácica. Fez tomografia na unidade de cuidados intermédios. Ao 6º dia de
computadorizada que excluiu tromboembolismo internamento, por trombocitopenia em agravamen-
pulmonar e revelou consolidação no lobo inferior to, iniciou prednisolona 1mg/Kg. Dois dias depois,
esquerdo, derrame pleural bilateral de pequeno volu- documentada hematúria com função renal agravada
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 355
(ureia 84, Cr 1mg/dL), agravamento da trombocito- estimulante ligeiro com apenas 50 a 200mg, o equi-
penia (10000/uL), descida de 3g de Hb, consumo valente a cerca de um expresso. A sua absorção é
de haptoglobina com LDH em subida e presença de rápida e tem tempo de meia-vida entre 3 e 7 horas.
esquizócitos de novo. Perante o quadro de PTT, foi A ingestão aguda de > 5 g pode ser letal. A gestão
transferida para a unidade de cuidados intensivos destes casos deve ser individualizada, com rápida
para realização de plasmaferese, num total de 6 ses- gestão e abordagem de todas as manifestações clí-
sões. Apresentava atividade de ADAMTS13<1%, sem nicas. A monitorização cardíaca é fulcral, sendo a
evidência de mutações relacionadas à mesma. Por principal causa de morte a presença de disritmias.   
recidiva da PTT, decidida terapêutica com Rituximab,
com recuperação favorável da contagem plaquetária Com o rápido aumento de popularidade de suple-
e normalização do doseamento da ADAMTS13. mentos desportivos para aumento de performance
física e cognitiva, é essencial o conhecimento das
Discussão: O diagnóstico de PTT pode ser desafiante. manifestações, consequências e gestão das suas in-
Trata-se de uma emergência médica e a gravidez é toxicações, para que sejam precocemente reconhe-
um reconhecido fator de risco para a sua ocorrência. cidas e abordadas.
Os autores salientam a importância deste caso pois o
diagnóstico atempado e o tratamento dirigido precoce PA n.º 2956 
são fundamentais para melhorar o prognóstico nestes Toxicidade a amiodarona – diagnóstico diferencial
doentes. de infiltrados intersticiais em contexto pandémico
Rui Ribeiro(1);Ana Rita Medeiros(1);Sónia André(1)
PA n.º 2954  (1) Centro Hospitalar Uni. Porto
Intoxicação por cafeína – o lado negro da suple-
mentação não regulamentada Tema: Doenças respiratórias
João Pina Cabral(1);Ricardo Rodrigues(1);Adriana
Girão(1);Rui Pedro Pina(1) Introdução:
(1) Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra,
EPE / Hospital Pediátrico de Coimbra
A amiodarona é um fármaco anti-arrítmico de classe
Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente crí- III de uso frequente na gestão de arritmias ventricu-
tico lares e supraventriculares.  Estão descritos múltiplos
efeitos adversos dependentes do seu uso, nomea-
damente a nível tiroideu, hepático, oftalmológico e
Introdução:  pulmonar. A toxicidade pulmonar pode assumir fe-
A cafeína é parte integral do café, uma comum bebi- nótipos variados como derrames pleurais, nódulos
da do dia-a-dia. Em consumo normal, a intoxicação pulmonares e pneumonites intersticiais, associadas
severa é pouco comum, estando raramente reporta- a morbimortalidade considerável.
da na literatura. No entanto, com o aumento da po- Durante a pandemia COVID19, a presença de infil-
pularidade de suplementos alimentares não regula- trados intersticiais foi frequentemente associada à
mentados, a toma de doses elevadas torna-se uma pneumonia por SARS-CoV-2, mas é importante con-
possibilidade muito real, com consequências graves. siderar outras possíveis etiologias que a justifiquem.
  Caso clínico:
Caso clínico: 
Apresentamos o caso de um doente de 81 anos,
Descrevemos um caso de um doente, masculino, com história recente de episódio sintomático de Fi-
de 25 anos e sem antecedentes conhecidos, que brilhação Auricular, tendo iniciado terapêutica com
recorre ao serviço de urgência com queixas de mal- amiodarona em dose de 600mg por dia.   Foi admi-
-estar inespecífico após toma acidental de cerca de tido electivamente no serviço de Cirurgia Geral em
6000 mg de cafeína em pó. Durante a permanência Fevereiro de 2021 para realização de quimioemboli-
hospitalar, o doente desenvolveu sonolência, taqui- zação de metástases hepáticas de adenocarcinoma
cardia sinusal com má resposta à terapêutica beta- do cólon, que decorreu sem intercorrências.
bloqueante, hipocaliémia com necessidade de repo-
sição endovenosa, rabdomiólise, hiperlactacidémia Durante o internamento, foram objectivadas satu-
tipo B e acidémia metabólica. Foi então internado rações periféricas de oxigénio inferiores a 92% a ar
em Unidade de Cuidados Intermédios, onde cumpriu ambiente e dispneia para médios esforços, pelo que
terapêutica de suporte, com apertada monitorização realizou tomografia computadorizada de tórax que
clínica e analítica. Teve boa evolução clínica, tendo revelou densificação em vidro despolido a envolver
alta após resolução completa de sintomas, 2 dias de forma transversal e difusa os lobos superiores e
após a admissão. de forma focal e menos exuberante os lobos inferio-
res. Foram colhidas múltiplas zaragatoas nasofarín-
Discussão:  geas para pesquisa de SARS-CoV-2, que foram nega-
A cafeína é um produto comum, encontrado em vá- tivas. Realizou ainda broncofibroscopia com colheita
rios alimentos e bebidas. Com o consumo normal, de lavado broncoalveolar a demonstrar a presença
as intoxicações são raras, conseguindo-se um efeito de alveolite com predomínio de macrófagos e pre-
sença de alguns com o citoplasma muito vacuoliza-

356
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
do (“foamy” cells), a favor de pulmão de amiodarona. Durante o internamento, e após o estudo exaustivo
Foi suspensa a amiodarona e instituída corticotera- de possíveis diagnósticos diferenciais, não se de-
pia, mas o doente evoluiu com insuficiência respira- terminou nenhum diagnóstico claro que justificas-
tória grave com necessidade de ventilação mecânica se a disfunção hepática da doente. A presença de
e acabou por falecer após múltiplas intercorrências um carcinoma de células renais enquadra esta hi-
infecciosas nosocomiais. perbilirrubinémia num diagnóstico de síndrome de
Stauffer que justificaria o quadro clinico da doente.
Discussão: Tratando-se de um diagnóstico clínico de exclusão
o seu reconhecimento é fundamental para a sua
A pneumonite a amiodarona faz diagnóstico diferen- correcta abordagem.
cial com a COVID19 e pode ter apresentações graves.
A idade do doente e a dose elevada de amiodarona PA n.º 2965 
são factores de risco identificados para a toxicidade Thrombocytopenia occurring after SARS-CoV-2
pulmonar. Moderna Vaccine
Nina Den Boer(1);Carlos Baptista(1);Eduarda Al-
PA n.º 2963  ves(1);Tiago Branco(1);Iryna Lazenko(1);Mário Láza-
Síndrome de Stauffer - uma entidade desconhecida ro(1)
Luís Veiga(1);Ruben r. Salgueiro(1);Miguel Láza- (1) Centro Hospitalar do Algarve, EPE / Hospital de
ro Mendes(1);Sílvia Nunes(2);Rodrigo Maia Al- Faro
ves(1);Iurie Pantazi(1);Adriano Cardoso(1);João
Correia(1) Tema: Doenças hematológicas
(1) Unidade Local de Saúde da Guarda, EPE / Hospi-
tal Sousa Martins (2) Hospital Senhora da Oliveira,
Guimarães Introduction:

Tema: Doenças oncológicas Immune thrombocytopenic purpura (ITP) is an au-


toimmune condition in which pathogenic antibodies
A síndrome de Stauffer é uma entidade paraneoplá- bind platelets, accelerating their clearance from the
sica de baixa incidência, associada com o carcino- circulation. ITP is a diagnosis of exclusion, being pri-
ma de células renais. Descrita pela primeira vez em mary and idiopathic in most adult patients, although
1961 por Herbert Stauffer, caracteriza-se por uma it can be associated with connective tissue disease,
disfunção hepatonefrogénica não metastásica, lymphoproliferative disease, medications and infec-
que cursa com hepatoesplenomegalia, elevação da tions. There are few studies that show ITP as a side
fosfatasa alcalina, das transaminases e do tempo effect of Moderna SARS-CoV-2 vaccination. 
de protrombina. A sua importância reside na difícil
associação sindrómica entre o carcinoma de célu- Case Report:
las renais e as manifestações hepáticas, que po- A 65-year-old female with hyperlipidemia and hypo-
dem eventualmente levar ao compromisso da vida thyroidism, presented with general fatigue, myalgia
do doente. and cutaneous purpura located on the legs 18 days
after receiving the first dose of the Moderna SARS-
Mulher, 95 anos de idade, que apresenta quadro de CoV-2 vaccine, referring to the onset two days after
prostração e desorientação, é internada por hiper- vaccination. Eight days prior to vaccination the
bilirrubinémia conjugada sem causa atribuível. À platelet count was 157x10^9/L. She has no personal
admissão apresentava fosfatase alcalina 652 U/L, or family history of hematological disorders and de-
TGO 363 U/L, TGP 412 U/L e GGT de 851 U/L, bilirru- nyes previous transfusions or allergies. No vaccines
bina total 10.10mg/dL (directa 7.69mg/dL).  Ainda or new medication were received in the previous
no SU foi realizada Ecografia e TAC abdominal que months. Lab results showed the platelets count was
excluíram causa obstrutiva da via biliar. Durante o 5x10^9/L, she received one pool of platelet transfu-
internamento fez-se estudo exaustivo de doenças sion, then the platelets count went up to 11x10^9/L.
hepáticas (autoimune, metabólica, infeciosa, vascu- The day after platelet count was again 5x10^9/L
lar) que foi negativo e foi pedida CPRE que não refe- with peripheral blood smear of confirmed severe
re afectação das vias biliares e/ou outras estructu- thrombocytopenia and the purpura was located on
ras. Em todos os estudos de imagem foi detectada the legs and abdomen, without active bleeding and
formação sólida exofítica na vertente lateral do rim hemodynamically stable. She received predniso-
direito, com componente lipomatoso, medindo cer- lone 1mg/mg/day. After 7 days platelet count was
ca de 45mm de maior eixo axial, compatível com 45x10^9/L with resolution of all symptoms. Autoim-
angiomiolipoma, mas não se excluindo hipótese munity, thyroid hormones, coagulation, protein elec-
eventual de carcinoma de células renais. A idade trophoresis and serological tests were normal. 
avançada, a limitação funcional e a estabilização clí-
nica conseguida limitaram a confirmação da suspei- Discussion and Conclusion:
ta clínica mediante nefrectomia. Iniciou tratamento
com ácido ursodesoxicólico tendo demonstrado até Because of the timeline, clinical history and clinical
ao momento da alta clínica uma tendência para a observation, there was a probable cause-effect re-
resolução do quadro de hiperbilirrubinemia. lation of the vaccination and onset of symptoms.
We reported the finding to the INFARMED (Instituto

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 357


Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde) cica, a prevalência de resistência do Streptococcus
that, after investigation, considered the current likely pneumoniae, ao Ceftriaxone, foi muitíssimo reduzida,
related to the Moderna vaccine and confirmed this ao contrários de outros estudos nacionais, que cor-
was the first case in Portugal.  roboram uma prevalência consideravelmente mais
elevada (13.9% em 2019, em Portugal).
PA n.º 2967 
Meningite pneumocócica: resistência ao Ceftriaxo- A baixíssima prevalência de resistência do Strep-
ne – Estudo de prevalência tococcus pneumoniae ao Ceftriaxone nesta serie,
Ana Maria Gonçalves(1);Marta Fonseca(1);Filipa apesar do seu número limitado de doentes, levanta
Nunes(1);Fernando Kellen(1) dúvidas das vantagens de associar Vancomicina ao
(1) Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca esquema de terapêutica inicial.
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias Sendo a meningite pneumocócica uma entidade na
qual a resistência antimicrobiana pode ter conse-
Introdução: quências ominosas, os autores destacam a impor-
tância de estudos de prevalência da resistência anti-
microbiana nas opções terapêuticas.
A meningite aguda bacteriana nos adultos, constitui
uma das doenças infecciosas com maior mortalida- PA n.º 2971 
de associada, sendo o Streptococcus pneumoniae Metemoglobinemia secundária à dapsona: efeito
um dos agentes mais frequentes. A prevalência da dose-dependente? – a propósito de um caso clínico
resistência do Streptococcus pneumoniae aos B-lac- Rui Flores Ribeiro(1);António Pedro Gonçal-
tâmicos, nas infecções do SNC é variável, no entanto, ves(1);Alexandra Azevedo(1);Rita Dias(1)
actualmente, tem vindo, progressivamente a aumen- (1) Centro Hospitalar Uni. Porto
tar em vários países. Atendendo ao risco de resistên-
cia aos B-lactâmicos e às complicações mórbidas do Tema: Doenças hematológicas
tratamento inicial inadequado, é amplamente reco-
mendado a associação de Vancomicina, ao Ceftria- Introdução:
xone ou Cefotaxime, na terapêutica empírica inicial.
OBJECTIVO: A dapsona é um fármaco com múltiplos usos na prá-
tica clínica, nomeadamente como terapêutica de se-
Analisar a prevalência da resistência dos isolados de gunda linha em vasculites de pequenos vasos com
Streptococcus pneumoniae no líquido cefalorraqui- atingimento cutâneo. No entanto, aquando da pres-
diano (LCR), ao Ceftriaxone. crição deste fármaco, é importante ter em conta os
seus possíveis efeitos adversos (por exemplo, ane-
MÉTODOS: mia hemolítica, nefrite, agranulocitose e metemo-
globinemia) que podem cursar com apresentações
Estudo retrospectivo, de 60 doentes adultos clínicas graves.
(>18anos), com o diagnóstico de meningite aguda,
admitidos desde 2004 até final de 2020, com iso- Caso clínico:
lamento de Streptococcus pneumoniae, no LCR. As
definições microbiológicas dos testes de sensibilida- Apresentamos o caso de uma doente de 37 anos,
de do Streptococcus pneumoniae aos B-lactâmicos, com antecedentes de vasculite de atingimento cutâ-
foram fornecidas pelo Serviço de Microbiologia, na neo e anemia ferripriva, que foi observada no Serviço
totalidade dos doentes. de Urgência em Maio de 2021 por queixas de disp-
neia e cianose labial com cerca de 1 dia de evolução.
RESULTADOS:   Pela patologia acima referida, encontrava-se medica-
da com prednisolona 5 mg por dia e dapsona 150 mg
A idade média dos doentes foi de 57 anos, com dis- por dia (com titulação de dose há três dias atrás).
creto predomínio do sexo masculino (n=32, 53%). Na
totalidade dos casos o quadro de meningite corres- Ao exame objectivo, apresentava-se com cianose
pondeu a infecção da comunidade. Em cerca de 20% labial e saturação periférica de oxigénio 88% em ar
identificou-se otomastoidite como potencial foco ambiente, sem sinais de dificuldade respiratória ou
inicial. Verificaram-se 31 óbitos (52%). Dos isolados achados de relevo à auscultação cardíaca e pulmo-
de Streptococcus pneumoniae no LCR, 98.4% eram nar. A gasimetria arterial revelou metemoglobinemia
sensíveis ao Ceftriaxone (n=59) e apenas 1.6% resis- com uma fracção de metemoglobina de 9,4%. Foi
tente (n=1). Na totalidade dos casos, a antibioterapia instituído tratamento com azul de metileno com boa
empírica foi iniciada com Ceftriaxone e Vancomici- resposta e a doente teve alta do serviço de urgência
na, a qual foi posteriormente descalada apenas para menos de 24 horas após a admissão.
Ceftriaxone após resultado cultural e corresponden-
te TSA. Discussão:
CONCLUSÕES: O caso apresentado reforça a necessidade de estar
alerta para os efeitos adversos potencialmente gra-
Nesta serie de 60 casos de meningite pneumocó- ves da dapsona. Embora fracções de metemoglobi-

358
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
na inferiores a 10% não cursem habitualmente com pulmonar para chegar ao diagnóstico. O reconheci-
sintomas, condições clínicas concomitantes como a mento precoce é fulcral não só para a correcta moni-
anemia podem baixar o limiar sintomático. A relação torização destes doentes como para gestão da sua
temporal deste episódio com a titulação recente da reabilitação, que muitas vezes é lenta e custosa. 
dose de dapsona  favorece a hipótese de uma rela-
ção dose-dependente desta toxicidade, já levantada PA n.º 2979 
em outros estudos clínicos e laboratoriais. Fístula aorto-entérica
Rafaela Pereira(1);Fábio Emídio(1);Rui Almei-
PA n.º 2976  da(1);Andriy Krystopchuk(1);Javier Moreno(1)
Ortodeoxia-platipneia reversível num doente COVID (1) Centro Hospitalar do Algarve, EPE / Hospital de
– complicação rara da pandemia Faro
João Pina Cabral(1);David Sousa(1);Raquel Gonçal-
ves(1) Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente crí-
(1) Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, tico
EPE / Hospital Pediátrico de Coimbra
Introdução:
Tema: Doenças respiratórias

As fístulas aórto-entéricas (FAE) definem-se como


Introdução:  uma comunicação anormal entre o lúmen da aorta e
A síndrome de ortodeoxia-platipneia caracteriza-se o lúmen do trato gastrointestinal e são uma entida-
pela dessaturação na posição ortostática e dispneia de rara, mas altamente letal, que deve ser lembrada
associada à passagem de supino para uma posição no diagnóstico diferencial de hemorragia digestiva.
direita. Descrevemos um caso de um doente em que Caso clínico:
a dispneia intensa e dessaturação, em contexto de
destruição extensa do parênquima pulmonar e trom- Homem, 51 anos, com antecedentes pessoais de in-
boembolia, limitou e prolongou a sua reabilitação, fecção HIV em estadio SIDA com fraca adesão tera-
tendo também levado a realização de exames fúteis pêutica, infecção VHC com clearance espontânea e
para alcançar o diagnóstico.  com hábitos toxicofílicos com consumos actuais de
heroína. Recorre ao serviço de urgência por quadro
  súbito de hematemeses e rectorragias em grande
Caso clínico:  quantidade. Ao exame físico apresentava-se hemo-
Doente masculino, de 62 anos, internado em Unida- dinamicamente estável, sem estigmas de doença
de de Cuidados Intermédios COVID, com necessida- hepática, com palpação abdominal inocente. Estudo
de de ventilação não invasiva a partir do 10º dia de analítico sem alterações relevantes. Para esclareci-
evolução. Durante o internamento, o doente apresen- mento do quadro realizou endoscopia digestiva alta
tou má evolução clínica, o que levou à realização de que evidenciou abundante resíduo hemático sem
tomografia computorizada, que demonstrou destrui- lesão sangrante identificável após lavagem. Ficou
ção extensa do parênquima pulmonar e tromboem- internado para vigilância e no primeiro dia de inter-
bolia pulmonar bilateral. Após melhoria do quadro namento verificou-se paragem cardiorrespiratória
infeccioso agudo, o doente apresentava total intole- (PCR) com recuperação após realização de suporte
rância à posição vertical, mesmo quando apoiado e avançado de vida. Realizou TC abdómino-pélvico
sem esforço muscular associado. Um dos episódios que identificou aneurisma sacular aórtico com pro-
foi de difícil reversão, tendo sido necessário reiniciar vável FAE. Contactada cirurgia vascular do hospital
ventilação não invasiva, ainda que momentanea- de referência, no entanto, o doente sofreu nova PCR
mente. Após exclusão de patologia cardíaca com acabando por falecer.
ecocardiograma com soro agitado, e após repetição Discussão:
de provas de imagem torácica, optou-se por reforçar
a fisioterapia no leito sem elevação da cabeceira. O Para esclarecimento das causas de hemorragia
doente então apresentou lenta mas progressiva me- gastrontestinal, a EDA é frequentemente o exame
lhoria do quadro, tendo tido alta a tolerar deambula- de investigação inicial. No entanto, os achados en-
ção em ar ambiente, passados 40 dias da admissão doscópicos de FAE são muito variáveis pelo que a
hospitalar. sensibilidade é variável. Desta forma, o diagnóstico
precoce de FAE implica um elevado grau de sus-
Discussão:  peição clínica. No caso apresentado, o doente teve
A etiologia da síndrome de ortodeoxia-platipneia é, inicialmente uma uma hemorragia de baixo débito e
normalmente, atribuída a shunt intracardíaco. No en- auto-limitada (hemorragia sentinela) separada por
tanto, na patologia pulmonar extensa, parenquima- horas do choque hemorragico por FAE.
tosa ou vascular envolvendo os segmentos basais, Dado o doente nunca ter sido submetido a procedi-
pode tornar-se aparente pelo efeito da gravidade mentos cirúrgicos prévios que envolvessem a aorta
sobre circulação pulmonar, criando assim um shunt abdominal, trata-se provavelmente de uma FAE pri-
intrapulmonar. Deve se ter em conta a fisiologia e os mária. Esta tem incidência inferior a 0.1% e a maio-
efeitos que a gravidade tem sobre a hemodinâmica ria tem origem na erosão mecânica causada por um

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 359


aneurisma da aorta abdominal em contacto com a PA n.º 2994 
parede visceral ou pode origem infecciosa. Trombocitopenia imune associada a COVID-19
Catarina Melita(1);Elizeu Ekundi(1)
Apesar do nosso doente não ter sido submetido (1) Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca
a tratamento cirurgico, mesmo nestes doentes a
mortalidade desta entidade continua a ser elevada, Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
chegando aos 60% versus os 100% dos doentes não culites
tratados.
PA n.º 2986  Introdução: A trombocitopenia imune pode estar
Um caso raro de AVC associada a infeções, geralmente virais. Ao longo
Daniela Antunes(1);Bruno Cabreiro(1);Tiago Pais(1);- da evolução da presente pandemia, têm sido re-
Carolina Fernandes(1);Ana Rodrigues(1);Joana portados casos de associação com a infecção por
Gonçalves(1);Ana Ponciano(1);Adriana Silva(1);Ma- SARS-CoV-2.
ria Jesus Banza(1);Catarina Domingues(1);Cláudia
Diogo(1) Caso clínico:  Mulher de 52 anos, melanodérmica,
(1) Hospital Santo André - Leiria saudável, que recorreu ao serviço de urgência por
gengivorragias e hematúria macroscópica com dois
Tema: dias de evolução. Descrevia ainda quadro de mial-
gias, anorexia e ageusia com início dez dias antes.
A trombofilia é uma alteração na hemostasia que
leva à tendência, hereditária ou adquirida, a fenôme- À admissão apresentava gengivorragia activa e
nos trombóticos venosos ou arteriais. O genótipo petéquias orais, epistaxis ligeira e equimose no
homozigoto para GENE MTHFR A1298C também local de punção venosa, sem  alterações a destacar
é considerado patogénico, pois aumenta conside- no restante exame objetivo. Analiticamente com
ravelmente os riscos para eventos trombóticos e trombocitopenia de novo com 5,000 plaquetas/µL
abortos de repetição. Apresenta-se um caso de (intervalo de referência 150,000- 400,000/µL), sem
uma doente do género feminino de 27 anos de ida- anemia, elevação dos tempos de coagulação, ou al-
de, sem antecedentes de relevo, que recorreu ao terações no esfregaço de sangue periférico. Tinha
serviço de urgência por convulsão tónica clónica. hemograma de quinze dias antes com valores nor-
Realizou tomografia axial de crânio em fase venosa mais de plaquetas.
em que se salienta um defeito de preenchimento do A pesquisa molecular de SARS-CoV-2 foi positiva
seio transverso e sigmóide a esquerda, bem como confirmando o diagnóstico de COVID-19, sem insu-
do terço proximal da veia jugular esquerda. Estes ficiência respiratória. Foram excluídas outras causas
aspectos sugeram trombose venosa cerebral.  Dis- virais e síndrome de anticorpos anti-fosfolipídicos. A
cutido com neurocirurgia/neurologia sem indicação pesquisa de anticorpos anti-plaquetários foi positiva.
cirurgica tendo iniciado enoxparina e leviteracetam
1000 mg bid. Exame neurológico após reversão da Recebeu suporte transfusional plaquetar e foi medi-
crise convulsiva sem alterações. Durante o interna- cada durante 3 dias com 1g metilprednisolona, con-
mento realizou Resssonância magnética do crânio tinuando posteriormente sob prednisolona 1mg/kg/
que mostra oclusão da veia jugular, seio sigmóide dia, com boa resposta analítica (plaquetas 117,000/
e vertente lateral do seio transverso esquerdos. O µL no 25º dia de doença).
trombo endovenoso tem hipersinal espontâneo em
T1 e em T2 , indiciando a sua instalação recente. Discussão:  O presente caso clínico vem contribuir
Consequentemente à oclusão do seio transverso e para o corpo de evidência científica disponível e ilus-
sigmóide existe engorgitamento venoso a montan- tra a associação de trombocitopenia imune com a
te, que inclui a veia de Labé.  Associa-se também COVID-19.
edema vasogénico parenquimatoso cortico-sub-
cortical na transição têmporo-occipital.  Realizado PA n.º 2995 
estudo etiológico: o estudo imunológico foi negati- HERPES SIMPLEX 2: UM MIMETIZADOR A NÃO ES-
vo nomeadamente ANAs, ANCAs e despiste de Sin- QUECER
drome anti-fosfolipideo; estudo protrombotico onde Joana Rua(1);Daniela Viana(1);Guilherme As-
foi incluído proteina S,C, antitrombina III e Factor V sis(1);Ricardo Pereira(1);Mariana Azevedo(1);Sónia
Leiden e estudo genético foi todo negativo expecto Carvalho(1);Fernando Salvador(1)
uma  Homozigotia do gene MTHFR (da metileno- (1) Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Dou-
tetrahidrofolato reductase)  A1298C e Factor VIII ro, EPE / Hospital de Vila Real
aumentado, o doseamento de homocisteina com
um valor de 5,9 para um limite de 13,56 µmoL/L.  A Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
doente teve alta com Enoxaparina 50mg 2id e Le-
vetiracetam 500 bid.  O diagnóstico da mutação da Introdução: O vírus herpes simplex 2 (HSV-2) pode
MTHFR ( mutação A1298C da metilenotetrahidro- causar úlceras genitais de grandes dimensões em
folato reductase (MTHFR)) assume particular rele- doentes, sobretudo se imunodeprimidos. A terapêu-
vância, uma vez que a intervenção farmacológica tica antirretroviral tem um papel fundamental nas
nestes casos permite baixar o risco conferido pelo primeiras 72 horas, sendo que após este período a
património genético.
360
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
indicação varia de acordo com o grau de imunossu- na ressonância magnética (RM) cerebral.   
pressão do doente. Caso clínico: Sexo feminino, 77
anos, autónoma. Antecedentes de hipertensão arte- Caso clínico: Mulher de 72 anos, internada por ab-
rial, dislipidemia, diabetes mellitus insulinotratada cesso hepático, sob piperacilina-tazobactam e me-
com complicações micro e macrovasculares, insu- tronidazol. Apresentava-se desnutrida, com perda
ficiência cardíaca de etiologia isquémica e valvular ponderal e escassa ingestão alimentar. Em dia 39 de
e leucemia linfocítica crónica (LLC), sob tratamento antibioterapia, desenvolve quadro progressivo (em
de suporte, serologia do Vírus de Imunodeficiência 3-4 dias) de confusão, prostração, disartria, ataxia,
Humana (1 e 2) negativas. Admitida no Serviço de dismetria, tremor cefálico e dos membros superio-
Urgência por lesões ulceradas de grandes dimen- res, diplopia e nistagmo. Tomografia computorizada
sões, abrangendo toda a região genital e anal, com crâneo-encefálica (TC-CE) sem evidência de evento
pequenas lesões dispersas pelo abdómen, com agudo. Dado baixo aporte alimentar e perda mus-
meses de evolução, à data incapacitantes (imagens cular significativa, considerado poder tratar-se de
disponíveis), compatíveis com possível pioderma encefalopatia de Wernicke (iniciou tiamina), mas
gangrenoso. Realizada biópsia cutânea e zaragatoa os níveis de vitamina B1 revelaram-se normais. Pe-
das lesões, tendo iniciado terapêutica imunossu- rante suspeita de reação adversa ao metronidazol,
pressora com corticoterapia e azatioprina. Agrava- suspendeu-se este fármaco, seguindo-se melhoria
mento paulatino das lesões com biópsia cutânea a progressiva e significativa dos défices neurológicos.
revelar posteriormente lesão ulcerada associada a RM cerebral a demonstrar  hipersinal T2 e T2FLAIR
infecção vírica (vírus herpes, varicela/zoster), com envolvendo o esplénio do corpo caloso.
zaragatoa (PCR) e serologias compatíveis com in-
fecção por Herpes Simplex 2. Iniciou aciclovir IV, de Discussão: No momento da instalação dos défices
acordo com o estado da arte, com posterior switch neurológicos, a doente encontrava-se sob curso
para via oral, tendo cumprido no total seis semanas prolongado com doses elevadas de metronidazol
de terapêutica antirretroviral. Melhoria clínica pau- (39 dias; dose cumulativa 78 gramas), sugeridos
latina com regressão das lesões descritas, embora na literatura como potenciais fatores de risco para
com múltiplas intercorrências por sobreinfecção o desenvolvimento de neurotoxicidade. Também a
das lesões com necessidade de antibioterapia diri- melhoria clínica após a suspensão do fármaco, as-
gida. Discussão: Serve o presente caso para enfati- sim como o timing de ínicio dos sintomas, que tem
zar a possível, ainda que rara, extensão das lesões variado entre uma mediana de 28 a 54 dias na litera-
causadas pelo HSV-2, podendo mimetizar outras tura, suportavam fortemente esta hipótese, que foi
patologias cutâneas, nomeadamente pioderma posteriormente corroborada pelas alterações carac-
gangrenoso. A extensão severa destas lesões está, terísticas na RM.  
normalmente, associada a imunossupressão por
concomitante infecção pelo VIH. No caso doente Apesar de ser uma reação adversa rara, no doente
apresentada, a imunossupressão relaciona-se com sob metronidazol que apresente alterações neuroló-
as comorbilidades apresentadas, nomeadamente gicas, deve ser considerada a possibilidade de neu-
diabetes mellitus e LLC. A terapêutica antirretroviral rotoxicidade e o fármaco suspenso.   
está indicada nas primeiras 72 horas em doentes
imunocomprometidos mas pode ter um papel im- PA n.º 3012 
portante na resolução de quadros extensos, sobre- Anemia hemolítica auto-imune induzida por amoxi-
tudo, se em doentes com imunossupressão impor- cilina/ácido clavulânico: relato de caso
tante. João Gouveia Fonseca(1);Sara Camões(1);Mafalda
Castro(1);Yuliana Eremina(1);Alexandre Vasconce-
los(1)
PA n.º 3001 
(1) Unidade Local de Saúde de Matosinhos, EPE /
Neurotoxicidade induzida por metronizadol: Uma
Hospital Pedro Hispano
reação adversa rara
Inês Ludovico Caetano(1);Ana Cristina Tema: Doenças hematológicas
Cunha(1);Bárbara Gregório(1);Luísa Serpa Pinto(1);-
Sónia Chan(1);Álvaro Ferreira(1)
(1) Centro Hospitalar Uni. Porto A anemia hemolítica auto-imune (AHAI) é um espec-
tro incomum de patologias mediadas por anticor-
Tema: Outro pos, atingindo indivíduos de todas as faixas etárias,
e pode ser induzida por infeções e fármacos, sendo
que cerca de metade dos casos permanece com
Introdução: O metronidazol é um antibiótico am-
etiologia idiopática.
plamente utilizado no tratamento de infeções por
anaeróbios e alguns protozoários. Os seus efeitos
adversos mais comuns são gastrointestiais e, geral- Apresenta-se o caso de um homem de 84 anos,
mente, ligeiros. No entanto, pode também levar ao imunocompetente, internado por herpes zoster of-
desenvolvimento de quadros graves, embora raros, tálmico com sobreinfeção bacteriana, sob Aciclovir
de toxicidade neurológica, incluindo convulsões, (ACV) 850mg 3id e Amoxicilina + Ácido Clavulânico
encefalopatia, neuropatia periférica e síndromes (AMC) 1,2g 2id. Ao 9º dia de internamento, apre-
cerebelares. É habitualmente um diagnóstico de ex- sentou-se pálido, sem sinais de perdas hemáticas.
clusão, contudo cursa com achados característicos Realizou estudo analítico que revelou anemia aguda,

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 361


normocítica normocrómica de 3,6g/dL. O estudo pH à admissão de 7,0 e doseamento de bicarbonato
pré-transfusional mostrou um Coombs directo posi- sérico de 1,4mmol/L. Da extensa investigação rea-
tivo (1+), mono-especificidade IgG positiva, com reti- lizada, foram excluídas causa infeciosa, oncológica,
culocitose (14.53%, RET-He 40.8pg, IRF 53.9%), LDH inflamatória e de mal absorção.  Após cerca de 18
aumentada, com esfregaço de sangue periférico a meses suspende olmesartan por suspeita clínica de
evidenciar policromatofilia e anisocitose marcadas, enteropatia associada, tendo-se verificado resolu-
raros estomatócitos. Assumida AHAI, foi transfundi- ção do quadro, sem novas recorrências até à data.
do com 2 unidades de concentrado eritrocitário com Assumida assim enteropatia associada ao olmesar-
boa rentabilidade (hemoglobina (Hb) 6.1g/dL pós- tan apesar da ausência de confirmação histológica,
-transfusão) e sem intercorrências. Suspendeu AMC dado o extenso estudo prévio e a resolução clínica
e ACV e iniciou metilprednisolona 125mg (1,8mg/ após suspensão do fármaco.  
kg). Realizaram-se estudos analíticos e imagiológi-
cos que excluíram presença de doenças linfoproli- A enteropatia associada ao olmesartan é rara e ha-
ferativas ou neoplasias ocultas. Após revisão por bitualmente leva a um estudo diagnóstico exaustivo.
Hematologia Clínica, assumiu-se indução por AMC A descontinuação do fármaco leva a uma melhoria
como causa mais provável da AHAI, dada a relação clínica franca e à regressão das alterações histopa-
temporal e evidência das penicilinas serem a classe tológicas associadas. Este caso mostra a importân-
de antibióticos mais associados a estes quadros. A cia da suspeição clínica por forma a evitar diagnósti-
Hb atingiu 10g/dL, sob metilprednisolona, posterior- cos tardios, complicações graves, bem como uso de
mente alterada para prednisolona 1mg/kg/dia. meios complementares de diagnóstico excessivos.

Com este caso clínico, pretende-se alertar para a PA n.º 3024 


possibilidade de anemia hemolítica induzida por Uma Cefaleia após um Jogo de Futebol
AMC, um antibiótico frequentemente utilizado na Salomé Marques(1);Teresa Martins Mendes(1);Fáti-
prática clínica, sendo que a suspensão deste fárma- ma Costa(1);Filipa Leal(1);Ana Filipa Silva(1);André
co é eficaz na maioria dos casos. Rolo Martins(1);m. Carolina Seabra(1);Vítor Fagun-
des(1);Luís Nogueira(1);Mari Mesquita(1)
PA n.º 3018  (1) Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, EPE /
Olmesartan como causa de enteropatia de má ab- Hospital Padre Américo, Vale do Sousa
sorção
Filipa Abelha Pereira(1);Manuela Bertão(1);Sofia Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas
Moura de Azevedo(1)
(1) Hospital Santo Antonio Introdução
Tema:
A disseção vertebral é causa rara de AVC na popula-
ção geral, no entanto, é causa comum em doentes
A enteropatia associada ao olmesartan foi descri- jovens. A Síndrome de Wallenberg é uma lesão retro-
ta pela primeira vez em 2012 por Rubio-Tapia et al -olivar que pode surgir no contexto de lesão isqué-
com subsequente inclusão pela “US Food and Drug mica da porção intracraniana da artéria vertebral. A
Administration” de enteropatia grave “sprue-like” apresentação pode cursar com: ataxia, náuseas e
como reação adversa ao fármaco. O diagnóstico vómitos, vertigens, nistagmo, síndrome de Horner,
baseia-se na suspeita clínica e na demonstração disartria, disfonia, disgeusia e disfagia do lado ipsila-
histológica de atrofia das vilosidades intestinais em teral; disestesia contralateral com parca ou nenhuma
doente com serologias de doença celíaca negati- hemiparesia.
vas. Clinicamente apresenta-se como um quadro de
diarreia grave crónica com atingimento debilitante Caso Clínico
do estado geral, associada a perda de peso signifi-
cativa involuntária.  As biópsias duodenais mostram Masculino, 43 anos, mRankin 0, com história de ma-
aumento das células T CD8+ e sobre expressão lária tratada, sem medicação habitual. Recorreu ao
pelas células epiteliais de interleucina-15, biomar- serviço de urgência por cervicalgia e cefaleia hemi-
cadores semelhantes aos encontrados em doentes craniana esquerdas com irradiação para a região
com doença celíaca após exposição ao glúten. Está periorbitária ipsilateral, com 4 dias de evolução,
descrita regressão da atrofia das vilosidades duo- iniciadas após jogo de futebol. A cefaleia persistia
denais e diminuição dos níveis dos biomarcadores com analgesia fixa, e no dia de recorrência ao SU,
inflamatórios após suspensão do olmesartan. desenvolveu desvio da comissura labial, vertigem,
hipostesia direita e disfagia. Ao exame objetivo evi-
Mulher de 73 anos, hipertensa sob terapêutica dupla denciava paresia facial central esquerda, síndrome
com amlodipina e olmesartan. Em 2016 inicia clíni- de Horner, hemi-hipostesia direita, disfagia e disfonia
ca de diarreia crónica intermitente associada a dor (Síndrome de Wallemberg). A angiotomografia com-
abdominal difusa ocasional, diminuição do apetite putadorizada crânio-encefálica demonstrou oclusão
e perda de ponderal involuntária de 8 kg. Em 2017, dos segmentos V3-V4 da artéria cerebral esquerda.
teve dois internamentos em enfermaria por acidose O ecodoppler dos vasos do pescoço confirmou es-
metabólica e um internamento em unidade de cui- tenose severa na mesma localização. Pela dúvida
dados intensivos por acidose metabólica grave com quanto ao tempo de instalação e localização distal
da oclusão não foi realizada trombectomia mecâni-
362
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
ca, tendo-se optado pela hipocoagulação. e necessidade de colocação de pacemaker. Cumpriu
6 semanas de antibioterapia com descida dos parâ-
Durante o internamento houve resolução da disfonia, metros de infeção, regressão da febre e melhoria da
mas persistiu disfagia importante com necessidade clínica de insuficiência cardíaca. Repetiu PET com
de gastrostomia percutânea endoscópica. Aos 3 me- resolução de hipercaptação previamente descrita,
ses de seguimento já a tolerar de alimentos sólidos tendo tido alta com avaliação em consulta externa.
por via oral, mRankin 1.
Conclusão: A EI associa-se a elevada mortalidade e
Conclusão morbilidade pelo que o diagnostico e inicio de anti-
bioterapia precoces assumem especial importância.
A etiologia de disseção vertebral para a síndrome de O caso clínico destaca-se por demonstrar como a
Wallenberg mantém-se como a hipótese mais pro- evidência de vegetações no ETE nem sempre é cla-
vável dadas as alterações verificadas nos exames ra sendo essencial a elevada suspeição clínica para
imagiológicos, a alta probabilidade de trauma de- persistir na busca do diagnóstico com recurso a
sencadeante e a ausência de achados que indiciem exames complementares menos usuais
vasculopatias, distúrbios de hipercoagulabilidade ou
malformações. Com este caso pretende-se demons- PA n.º 3030 
trar a importância do reconhecimento dos sinais e Infeção fulminante pós-esplenectomia por Capno-
sintomas, bem como o facto de que poderá apresen- cytophaga spp
tar uma evolução mais prolongada antes de outros Cátia Gorgulho(1);Lara Adelino(1);Carolina Cardo-
sinais neurológicos agudos. so(1);Fátima Pimenta(1);Joana Ribeiro(1)
(1) Hospital Distrital de Abrantes
PA n.º 3025 
Uma Endocardite Elusiva: um peculiar caso clínico Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
Martim Trovão Pereira Bastos(1);Marta Arriaga Ro-
cha(1);Carolina Monteiro(1);Catarina Lameiras(1);-
Joana Maurício(1) Introdução: A esplenectomia está indicada na esfe-
(1) Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca rocitose hereditária, doença em que os eritrócitos
são destruídos no baço por defeitos estruturais.
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias Doentes esplenectomizados apresentam aumento
do risco de infeção fulminante pós-esplenectomia,
quadro que se caracteriza por febre, mialgias, cefa-
Introdução: A endocardite infeciosa (EI) caracteriza- leia e vómitos, com evolução para choque séptico.
-se pela infeção das estruturas valvulares cardíacas Os agentes etiológicos mais comuns são as bacté-
ou do endocárdio mural. Tem uma incidência de 3 rias encapsuladas e Gram-negativas.  As bactérias
a 9 casos por cada 100 000 pessoas. Apesar dos Capnocytophaga colonizam a mucosa oral, podendo
avanços científicos quer nos métodos diagnóstico, causar infeções oportunistas em doentes esplenec-
quer nos métodos terapêuticos, permanece um tomizados. A espécie Capnocytophaga canimorsus
desafio da medicina cuja mortalidade não diminuiu está presente na mucosa oral canina e felina, po-
significativamente nos últimos anos. dendo causar infeções oportunistas após mordedu-
ra de cão ou gato. 
Caso Clínico: Homem de 76 anos com prótese mi-
tral e aórtica mecânicas. Recorreu ao serviço de ur- CASO CLÍNICO: Homem, 38 anos, recorre ao Servi-
gência por febre persistente, cansaço e edema dos ço de Urgência por febre, vómitos e mialgias com 14
membros inferiores. À admissão encontrava-se nor- horas de evolução. Antecedentes pessoais de esfe-
motenso e normocardico, eupneico com SpO2 96% rocitose hereditária, esplenectomizado aos 9 anos.
em ar ambiente. Febril com temperatura 38,5ºC. Sem Tinha um gato como animal de estimação. Ao exa-
alterações do trânsito intestinal ou sistema genito- me objetivo: febril, hipotenso, taquicárdico, crepita-
-urinário. Dos exames complementares de diagnós- ções na base esquerda. Analiticamente: leucocitose,
tico destacava-se anemia com hemoglobina 11,8 g/ creatinina 1.5mg/dL e hiperlactacidemia 4.5mmol/L
dL, leucocitose (14x10^9 cel/L), PCR 16,46 mg/dL e na gasimetria arterial. Radiografia de tórax: consoli-
procalcitonina 1,22mg/dL. Por quadro infecioso, sem dação na base esquerda. Dado o quadro de sépsis,
foco, em doente com próteses valvulares, iniciou an- iniciada antibioterapia empírica com Amoxicilina/
tibioterapia empírica com ceftriaxone, ampicilina e Ácido clavulânico e fluidoterapia na primeira hora.
gentamicina, assumindo eventual EI. Após isolamen- Apesar das medidas instituídas, sem alterações no
to de Enterococcus faecalis em hemoculturas sus- perfil tensional e agravamento da hiperlactacidemia.
pendeu ceftriaxone e gentamicina, mantendo am- Rápida evolução para choque séptico com falência
picilina. Para estudo realizou três ecocardiogramas multiorgânica e ausência de resposta às medidas de
transesofágicos (ETE) sem vegetações, mas onde se suporte, levando a paragem cardio-respiratória em
objetivou alterações evolutivas, como aumento dos menos de 8 horas.  Hemoculturas posteriormente
gradientes de ambas as próteses e imagem suspeita positivas para Capnocytophaga spp., sem teste de
de fistulização. Para esclarecimento realizou PET que susceptibilidade aos antibióticos disponível e sem
documentou hipercaptação na aurícula direita e peri- informação sobre qual a espécie de Capnocytophaga
-valvular (mitral e aórtica), suportando o diagnóstico identificada.
de EI.  Paralelamente com episódio de bradicárdica
secundária a bloqueio aurículo-ventricular completo
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 363
DISCUSSÃO: A infeção fulminante pós-esplenecto- Conclusões: Os resultados obtidos corroboram o
mia é uma emergência médica rara já que a falência papel da linfopenia como um fator preditor de doen-
cardiovascular e morte ocorrem em 12-24 horas após ça grave por SARS-CoV-2. Contudo, neste estudo, ao
o início de sintomas, com uma taxa de mortalidade contrário dos resultados frequentemente descritos
de 50-70% em 48 horas.  A bacteriemia por Capnocy- na literatura, a linfopenia não se associou a um au-
tophaga spp. É extremamente rara e potencialmente mento da mortalidade.
fatal, com mortalidade de 25-60%. Pretende-se aler-
tar para esta condição rara associada a alta morta- PA n.º 3033 
lidade, com o objetivo de aumentar a sobrevivência Um caso de AVC em doente jovem
dos doentes, através da identificação e intervenção Mariana Nunes(1);Elisabete Cerqueira(1);Beatriz
imediatas Riquito(1);Ana Maria Ferreira Carvalho(1);Sandra
Tavares(1)
PA n.º 3031  (1) Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Dou-
O impacto da linfopenia na evolução e prognóstico ro, EPE / Unidade Hospitalar de Chaves
de doentes com COVID 19 – análise retrospectiva
Daniela Cruz(1);Mafalda S.B. Sequeira(1);Vilma Laís Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas
Grilo(1);Catarina Pestana Santos(1);Bruno Sou-
sa(1);Filipa Pinto Monteiro(1);José Correia Proen- Introdução: A dissecção arterial é uma causa
ça(1);Fábio pé d Arca Barbosa(1) comum de acidente vascular cerebral (AVC) em
(1) Hospital Garcia de Orta, EPE jovens. A dissecção ocorre quando a integridade
estrutural da parede arterial fica comprometida, per-
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias mitindo que o sangue se acumule entre as camadas
da artéria. As causa mais comuns de dissecção
Introdução: Os linfócitos apresentam um papel deci- arterial são: trauma ou eventos espontâneos. Embo-
sivo na regulação do sistema imunitário e resposta ra grandes traumas da cabeça e pescoço possam
inflamatória. A infeção por SARS-CoV-2 leva a uma causar dissecção, a maioria ocorre espontaneamen-
importante resposta do sistema imunitário do hos- te ou por lesões minor. Outra causa frequente são
pedeiro, com aumento de células inflamatórias. O as doenças do tecido conjuntivo, sendo a displasia
decorrer da doença leva a exaustão das células T e fibromuscular responsável por 15 a 40 % de todos
natural Killer, cuja diminuição resulta em linfopenia os casos de dissecção. Caso: Mulher, 37 anos, autó-
que, por sua vez, leva a hiperativação compensató- noma. Sem antecedentes patológicos ou familiares
ria do sistema imunitário, com produção excessiva relevantes.  Admitida por disartria marcada, paré-
de citocinas inflamatórias. Desta forma, a linfopenia sia facial central direita e hemiparésia direita grau
tem sido apontada como um dos preditores mais 2/5 em contexto de “wake up stroke” compatível
precoces de doença grave, associando-se a Sín- com o território da artéria cerebral média esquerda
drome de Dificuldade Respiratória Aguda (ARDS) e (NHISS 11). Foi documentada em estudo angio-
falência multiorgânica. gráfico disseção carotídea esquerda e trombo no
segmento M1 ipsilateral. Uma vez que se tratava de
Objetivos: Avaliar o valor preditivo da linfopenia na um wake-up stroke, não foi candidata a trombólise.
necessidade de ventilação não invasiva, ventilação Foi realizada trombectomia, tendo sido conseguida
invasiva e mortalidade nos doentes com infeção por recanalização (TICI 3). Foi iniciada hipocoagulação
SARS-CoV-2 com enoxaparina e posteriormente feita ponte para
varfarina. Realizou ecodoppler carotideo: sinais de
Materiais e métodos: Foi obtida uma análise retros- oclusão da arteria carotida interna esquerda pela
petiva do total de doentes internados com infeção conhecida disseção, com preenchimento do lúmen
por SARS-CoV-2, num hospital terciário, no período com provável trombo e eco doppler transcraneao:
compreendido entre Novembro de 2020 e Janeiro assimetria discreta das velocidades de M1 esquer-
de 2021. Os dados foram obtidos através de regis- da (50/30 cm/s) quando comparado com o seg-
tos clínicos e analisados em SPSS versão 23. mento contra-lateral (70/50 cm/s), com fluxo a ser
garantido por colateralização pela comunicante an-
Resultados: Foram incluídos no estudo 586 doen- terior (A1 direita acelerada com A1 esquerda inver-
tes. A maioria eram homens com uma média de ida- tida) e arteria oftalmica esquerda (que se encontra
des de 69,4 anos. A duração média do internamento invertida). Do restante estudo realizado identificado
foi 11 dias. Dos doentes internados 28.9% foram ainda LDL fora do alvo (145 mg/dl). Rastreio de
ventilados não invasivamente e 8.2% ventilados in- ANAS; anticorpos anti-cardiolipinas; Wright negati-
vasivamente. A taxa mortalidade foi de 26.7%. Dos vos. Melhoria progressiva e significativa dos défices
doentes admitidos 53.6% apresentavam linfopenia. à data da alta com NIHSS 1. Teve alta com hipocoa-
Os doentes com linfopénia apresentaram infeção gulação com varfarina e vigilância em consulta de
mais grave com maior necessidade de ventilação imunohemoterapia e Neurologia. Discussão: Trata-
não invasiva (teste qui-quadrado p=0.01) e maior -se de um caso de AVC isquémico em idade jovem
necessidade de ventilação invasiva (teste qui-qua- provocado por dissecção carotídea, cuja etiologia
drado p=0.029). Contudo, a linfopenia não parece principal é traumática mas neste caso não foram
estar diretamente correlacionada com maior taxa de descritos eventos traumáticos recentes. Este caso
mortalidade (teste qui-quadrado p=0.242) alerta para a importância do estudo etiologico do
AVC em doente jovem.
364
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
PA n.º 3037  dré Mendes(1);Jerina Nogueira(1);Adriano Men-
Na pandemia COVID-19, não esquecer outras cau- des(1);Ana Rita Parente(1);Márcio Viegas(1);Isabel
sas de opacidades pulmonares em vidro despolido Lavadinho(1);Isabel Soles(1)
Sabina Azevedo(1);Nuno Pardal(1);Patrícia Araú- (1) Unidade Local de Saúde do Norte Alentejano -
jo(1);Liliana Costa(1);Duarte Silva(1);António Ferrei- Hospital de Portalegre (2) Unidade Local de Saúde
ra(1);Emília Guerreiro(1);Carmélia Rodrigues(1) do Norte Alentejano - Hospital Santa Luzia de Elvas
(1) Unidade Local de Saúde do Alto Minho, EPE /
Hospital de Santa Luzia Tema: Outro

Tema: Doenças respiratórias A análise sumária de urina (ASU), nomeadamente


análise bioquímica e do sedimento, permite obter
Introdução: As opacidades em vidro despolido tra- dados acerca do estado de saúde do doente. A ASU
duzem o aumento da densidade do parênquima é pedida frequentemente para inferir uma possível
pulmonar. São achados inespecíficos e frequentes infeção urinária através da presença de leucócitos
nas tomografias torácicas (TC), traduzindo desde e/ou nitritos e assim antecipar a toma de antibió-
pneumonias virais a alterações não infeciosas. ticos até resultado de urocultura. No entanto, há
outros parâmetros que devem ser valorizados neste
CASO CLÍNICO: Apresentam-se 4 casos de doen- exame. Apresentam-se 3 casos clínicos cuja sua
tes internados em enfermaria Covid, por suspeita interpretação orientou o diagnóstico.
clínica e radiológica de pneumonia COVID-19, com
sucessivos testes SARS-CoV-2 negativos. Caso 1: Doente de 30 anos com dor generalizada
após exercício intenso e urina escurecida. A ASU re-
Caso 1: Mulher (M), 83 anos com fibrilhação auricu- velou eritrocitúria significativa no exame bioquímico
lar. Queixas de dispneia e tosse, no serviço de urgên- mas com sedimento urinário com poucos eritrócitos
cia (SU) com hipoxemia e TC com opacidades em por campo, não se tratando de hematúria mas sim
vidro despolido dispersas bilaterais e derrame pleu- de mioglobinúria no contexto de rabdomiólise gra-
ral. Melhoria clínica, assumida insuficiência cardíaca ve. A presença de “hematúria” na análise bioquímica
(IC) e provável pneumonia intersticial (PI) por amio- com sedimento não coincidente deve fazer-nos pen-
darona. sar noutros diagnósticos, pois o que é detectado na
análise bioquímica é a presença do grupo heme.
Caso 2: M, 76 anos. Queixas de dispneia e dor toráci-
ca, no SU com hipoxemia severa e anemia, eletrocar- Caso 2: Doente de 54 anos com antecedente de litía-
diograma com inversão de T V1-V4 e aumento tropo- se coraliforme, cuja análise da urina permitiu ante-
nina e TC com opacidades em vidro despolido >90% cipar uma infeção urinária por Proteus mirabilis por
do parênquima. Diagnosticada IC aguda e enfarte do apresentar um pH de 7,5. Este pH típico de um meio
miocárdio tipo 2. com bactérias produtoras de urease e a presença de
litíase coraliforme, muito associada a colonização
Caso 3: Homem, 80 anos com exposição a pó de por Proteus, possibilitou a suspeição de infeção por
pedra. Queixas de dispneia, tosse e mialgias, no SU esta bactéria.
com hipoxemia, marcadores inflamatórios elevados
e TC com opacidades em vidro despolido bilaterais e Caso 3: Diagnosticou-se favismo a um doente de 74
dispersas. Melhoria clinica, mantendo vidro despoli- anos que apresentava bilirrubinúria na ASU, compo-
do. Assumida provável PI.   nente cuja presença é sempre patológica. A presen-
ça de bilirrubinúria, levou a uma marcha diagnóstica
Caso 4: M, 38 anos com doença de behcet. Queixas que culminou no diagnóstico de deficiência de glico-
de torácica e dispneia, no SU hipertensa, hipoxemia se-6-fosfato desidrogenase, que pode provocar uma
e TC com infiltrado em vidro despolido disperso bila- síndrome hemolítico agudo.
teral. Após diurético e oxigenoterapia de alto fluxo,
melhoria clínica e radiológica. Diagnosticada IC agu- Estes 3 casos vêm reforçar a importância de inter-
da e HTA. pretar todos os parâmetros da ASU já que é um exa-
me não invasivo e muito barato que nos pode dar in-
DISCUSSÃO: As opacidades em vidro despolido são formações muito relevantes na marcha diagnóstica
um dos critérios de alta suspeição de pneumonia ou tratamento.
COVID-19, não sendo patognomónicas. Quando o
tempo de evolução e a distribuição não permitem a PA n.º 3045 
diferenciação, uma avaliação detalhada e correla- A ODISSEIA DA ESCHERICHIA COLI
ção clínico-laboratorial pode ser a resposta.  Assim, Sofia Pimentel(1);João Patrício(1);Ana Rita Ambró-
no contexto pandemia e em casos graves e avan- sio(1);Henrique Pina(1);Rita Jorge(1);Marta Teodo-
çados, é de suma importância recordar as demais ro(1);Fernando Martos Gonçalves(1);José Lomelino
patologias que se apresentam com achados radio- Araújo(1)
lógicos semelhantes. (1) Hospital Beatriz Ângelo
PA n.º 3040  Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
Histórias contadas pela análise sumária de urina
Rúben Raimundo(1);Ana Catarina Rodrigues(2);An-

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 365


A Escherichia coli (E. coli) é um dos agentes patogé- CASO CLÍNICO: Mulher de 20 anos, latino-america-
nicos mais frequentes na bacteriémia, uma entidade na, sem antecedentes patológicos até há um ano, al-
que pode estar na origem de focos secundários de tura em que é diagnosticada com DM. O diagnóstico
infeção, cursando com elevada morbilidade e mor- foi baseado na clínica (pápulas de Gottron, erupção
talidade. O presente trabalho ilustra o potencial de em heliotrópio, fraqueza muscular de início proximal
disseminação infeciosa associado à bacteriémia, que começa nos membros inferiores (MIs) e disfagia
neste caso com ponto de partida urinário. leve) e nos exames complementares de diagnóstico
(analiticamente com creatinina cinase de 5728 U/L e
Um homem de 67 anos é internado por urossépsis e anti-TIF1γ positivo, ressonância magnética dos MIs
bacteriémia a E. coli multissensível. Além disso, des- compatível com miopatia inflamatória, eletromio-
de há 2 semanas que apresentava queixas álgicas grafia com padrão miopático ativo com distribuição
e edema da perna esquerda, com compromisso da proximal e simétrica de predominio nos MIs, tránsito
marcha; objetivamente, com empastamento e dor à esófago-gástrico-duodenal com alteração da motili-
palpação nos dois terços superiores da face poste- dade esofágica e biópsia muscular característica de
rointerna da perna esquerda. O ecodoppler excluiu miopatia inflamatória e fenótipo de DM), tendo ini-
trombose venosa profunda. Apesar de antibioterapia ciado TT com micofenolato de mofetil (MMF), hidro-
dirigida, mantinha picos febris, ao que realiza ecogra- xicloroquina e corticoterapia. Por agravamento sin-
fia de partes moles, que evidenciou, na fossa poplí- tomático progressivo houve necessidade de ajustes
tea esquerda, quisto de Baker roturado, a partir do terapêuticos sucessivos (incluindo a suspensão de
qual se desenvolvia volumosa coleção líquida que se MMF, início e suspensão de imunoglobulinas intrave-
disseminava medialmente na região gemelar. Rea- nosas (IgIV), rituximab e tacrolimus) que se revela-
lizada tomografia computorizada (TC), que revelou ram ineficazes. Por DM refratária foi internada para
sinais de sobreinfeção da coleção, compatível com otimização terapêutica, tendo feito IgIV (25g diário
piomiosite. É submetido a drenagem deste conteú- durante 5 dias) e iniciado tofacitinib (TOF) 5mg de
do, com melhoria clínica. A sua cultura não revelou 12/12h, com boa resposta clínica.
isolamento bacteriano, por provável amputação por DISCUSSÃO: O TOF é um inibidor das JAK (Janus
antibioterapia em curso. Posteriormente, o doente Cinase) 1 e 3 e atenua a transdução de sinal ativada
veio a desenvolver lombalgia de novo; a marcha diag- pela interleucina (IL) -2,-4,-6, -7, -9,15,-21, Interferão
nóstica revelou-se compatível com espondilodiscite. tipo I e II.  Tendo em conta que a via de sinalização
O exame cultural após biópsia óssea confirmou a fo- do interferão é sobrexpressada na DM, o TOF pode-
calização secundária da E. coli multissensível. ria ser uma opção a equacionar no seu TT, sendo
Este trabalho descreve um caso raro de piomiosite necessário a realização de mais ensaios clínicos
e espondilodiscite decorrentes de sobreinfeção se- para a sua indicação oficial.
cundária por via hematogénica, com ponto de parti- PA n.º 3051 
da em sépsis urinária. Ilustra, deste modo, a neces- Corticoterapia inalada no tratamento da COVID-19
sidade do acompanhamento evolutivo de doentes moderada: um estudo comparativo
com bacteriémia pelo potencial desenvolvimento de Ana Catarina Rodrigues Gonçalves(1);Gonçalo Cris-
focos secundários de infeção. tóvão(1);Marcel Guerreiro(1);Susana Béjinha(1);Ma-
PA n.º 3048  tilde Fraga(1);Jorge Fernandes(1);David Go-
Tofacitinib na Dermatomiosite Refratária mes(1);Ana Taulaigo(1);Inês Figueiredo(1);Mariana
Dra. Daniela Neto(1);Danay Pérez Mijenes(2);João Popovic(1);Eunice Patarata(1);Claudia Mihon(1);Ana
Rodriguez Barros(3);Olga Araújo(4);Ricard Cerve- Rodrigues(1);Ana Lladó(1);Ana Sebastião(1);Ma-
ra(4) dalena Vicente(1);Heidi Gruner(1);António Panar-
(1) Hospital Senhora da Oliveira, Guimarães (2) Uni- ra(1)
dade Local de Saúde de Matosinhos, EPE / Hospital (1) Centro Hospitalar Lisboa Central, EPE / Hospital
Pedro Hispano (3) Hospital do Espírito Santo, EPE, Curry Cabral
Évora (4) Hospital Clinic, Barcelona Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
culites Introdução: A prescrição hospitalar de corticóides
inalados no tratamento de infeções a SARS-CoV-2
Introdução: A Dermatomiosite (DM) é uma miopatia é atualmente preconizada e generalizada em Portu-
inflamatória idiopática  (MII) caracterizada por infla- gal, constando inclusive nas normas de orientação
mação muscular, envolvimento cutâneo (pápulas de clínica da Direção-Geral da Saúde (DGS). Estudos
Gottron, erupção em heliotrópio, sinal em “xaile” e o recentes internacionais têm vindo a demonstrar
sinal em ‘V’) e manifestações sistémicas. Está as- vantagem na utilização da budesonida face à beclo-
sociada mais frequentemente a malignidade que os metasona em doentes com infeção a SARS-CoV-2
outros subtipos de IIM, predominantemente quando ligeira, sem necessidade de internamento. Os re-
apresenta autoanticorpos anti-TIF1γ (anti-fator inter- sultados têm sido promissores e demonstram uma
mediário da transcrição 1γ). O tratamento (TT) as- maior rapidez na recuperação dos doentes sob bu-
senta na corticoterapia geralmente em combinação desonida 800mg bid, bem como uma maior sensa-
com outros agentes imunossupressores. ção de bem estar após duas semanas e um menor
número de admissões hospitalares neste grupo. No
366
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
entanto, não existem estudos acerca da sua utili- Introdução
zação em doentes hospitalizados com infeções a
SARS-CoV-2 moderadas, graves ou até críticas. O diagnóstico diferencial de síndrome febril é um
desafio, por vezes, dependente de exames de ima-
OBJETIVOS: Comparar a utilização da budesonida gem. Aortite infeciosa é uma entidade rara. A íntima
com a da beclometasona em relação à demora mé- aórtica é altamente resistente à infeção mas o
dia de internamento em doentes com infecção a CO- comprometimento da sua integridade reduz a sua
VID-19 moderada que, segundo a norma da DGS, é proteção. As placas ateroscleróticas aórticas são
considerada na presença de pneumonia, saturação uma causa importante de embolização sistémica,
periférica de O2 ≥ 90% em ar ambiente, e ausência de espontânea ou induzida por intervenções mecânicas.
instabilidade hemodinâmica.
Caso
MÉTODOS: Foram analisados os processos clíni-
cos eletrónicos de 1281 doentes internados com Homem, 80 anos, hipertenso, diabético, hemodialisa-
COVID-19 entre janeiro e março de 2021 em enfer- do, submetido a reparação cirúrgica recente do aces-
marias de Medicina Interna de um hospital terciário. so vascular. Recorreu ao SU por febre, prostração, li-
Foram selecionados os doentes com doença mode- potimia recorrente e perda de peso, desde há 7 dias.
rada, cuja prescrição hospitalar de corticóides ina- Apresentava-se obnubilado e febril. Avaliação inicial:
lados contemplou apenas a budesonida 800mg bid leucocitose, PCR 25.3mg/dL, PCT 2.51ng/mL, D-dí-
(Bd). Para comparação, foram selecionados doentes meros 25.81ug/mL. AngioTC tórax: derrame pleural
com doença moderada que realizaram apenas beclo- esquerdo; sem descrição de estruturas vasculares.
metasona 500mg bid (Bm). Excluíram-se os doentes Ecocardiograma transtorácico: derrame pericárdico,
com infeção assintomática, grave ou crítica, e mode- função preservada. Foi internado e iniciou antibiote-
rada que tenham cumprido os dois corticóides inala- rapia empírica com vancomicina e gentamicina. Es-
dos ou nenhum, ou cuja informação não era suficien- tudo complementar: VS 120mm; IgA e IgG positivas
temente clara. Foi utilizado o teste t-student através para Chlamydia pneumoniae. Restante estudo sero-
da plataforma de software SPSS. lógico e autoimune negativo. Hemoculturas seriadas
e IGRA negativo. Excluídas causas neoplásicas. TC
RESULTADOS: Foram incluídos no estudo 85 doentes, abdominopélvica: trombo hipodenso instável com
sendo que sob Bd n=34(40%) e sob Bm n=51(60%). A vegetações no lúmen da aorta abdominal. Ecocardio-
média de idades dos doentes sob Bd foi de 70,5 anos, grama transesofágico excluiu endocardite infeciosa
e sob Bm foi de 74 anos, sendo que o género mas- e revelou placas complexas extensas, procidentes,
culino correspondeu a ~53% no grupo Bd vs ~58% instáveis, não calcificadas, com trombos móveis
no grupo Bm.  Em relação a comorbilidades a con- na aorta torácica descendente com elevado poten-
dicionarem imunossupressão foram identificados cial embólico. Assumido quadro de aortite infeciosa
a diabetes, doença autoimune ou neoplasia e VIH, após embolização de placa aterosclerótica, realizou
sendo que no grupo da Bd n=10 (29.4%) e no da Bm azitromicina (7 dias), gentamicina+vancomicina (6
n=18  (35.3%). No que concerne à demora média de semanas) e enoxaparina 1mg/kg/dia, com evolução
internamento, nos doentes sob Bd foi de 10,61 dias e global favorável, sem necessidade de cirurgia.
no grupo da Bm foi de 14,37 dias (p-value 0,021). Ve-
rificaram-se no grupo da Bd 4 óbitos (~11.7%)  vs 9 Discussão
(~17.6%) óbitos no grupo de Bm (p-value 0,511), sen-
do que estes óbitos se deveram a causas não dire- Aortite infeciosa é uma doença potencialmente fatal,
tamente relacionadas com a infeção a SARS-CoV-2. dada iminência de complicações locais e sistémicas.
Não houve doentes transferidos para a UCI uma vez O diagnóstico imediato e início de tratamento eficaz
que se tratava de doença moderada. ditam o prognóstico. As manifestações clínicas são
vagas, sendo frequentemente esquecida durante
CONCLUSÃO: Nesta pequena amostra de doentes a investigação inicial de pacientes com sintomas
internados com COVID-19 moderada, a utilização da constitucionais, sendo crucial a suspeição clínica e
budesonida, face à beclometasona, parece conferir uma correta avaliação imagiológica para a identifica-
benefício adicional na sua recuperação, traduzindo- ção da mesma. Destaca-se ainda a importância do
-se numa menor demora média de internamento. No controlo precoce da doença aterosclerótica, dada a
que concerne à mortalidade, não há uma relação es- sua elevada morbimortalidade global.
tatisticamente significativa entre os dois grupos.
PA n.º 3066 
PA n.º 3061  HTA maligna num doente sem diagnóstico de HTA
Embolização de placa aterosclerótica complicada Jorge Ferreira(1);Yolanda Pereira(1);Bianca Cris-
de aortite infeciosa tea(1);Bernardo Silva(1);Paula Alcântara(1)
Filipa Sousa Gonçalves(1);Mariana Simões(1);Nina (1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi-
Jancar(1);José Fragoso Duro(1);Patrício Aguiar(1) tal de Santa Maria
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi-
tal de Santa Maria Tema: Doenças cardiovasculares

Tema: Doenças infecciosas e parasitárias A HTA maligna tem uma incidência baixa
(2:100.000). Se não for reconhecida atempadamen-

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 367


te e se acompanhada de lesão renal aguda associa- fagia progressiva. Exame físico, estudo analítico e
-se a mau prognóstico. ecografia abdominal sem alterações. Radiografia do
tórax com aumento do mediastino, tendo realizado
Mulher de 49 anos, desempregada, com diagnósti- TC tórax para esclarecimento, constatada “lesão
cos prévios de tabagismo e doença arterial periféri- exofítica no terço médio do esófago com captação
ca sob terapêutica médica, internada por lesão renal homogénea de contraste, com aproximadamente
aguda, KDIGO 3. Doente referia cefaleia holocra- 3.7x3x5.3cm. Sem evidência de extensão extralu-
neana, sem aura, melhorada com toma de ibuprofe- minal”. Endoscopia digestiva alta: tumor polipoide
no com 15 dias de evolução associada a perda de de aspeto vascular que ocupa 2/3 da circunferência
peso não quantificada, com aparecimento posterior luminal. Histologia compatível com neoplasia ma-
de visão turva. Objetivamente, salientava-se doen- ligna com características de melanoma da mucosa.
te desnutrida, 192/110mmhg, com petéquias nos De salientar, ausência de lesões cutâneas suspeitas
membros inferiores e superiores e urina hemática. e PET com captação apenas na lesão referida, pelo
Laboratorialmente, Hb 7.8g/dL, normocítica, normo- que foi assumido diagnóstico de melanoma primá-
crómica, esquisócitos, plaq. 88x10^9/L, Vs 20mm/h, rio do esófago. Último mês, com perda ponderal de
DD 4.01mcg/mL, creat. 6.43mg/dl, LDH 610 U/l, hap- cerca de 5Kg, e disfagia total, tendo colocado próte-
toglobina < 10 mg/dL, BHCG < 0,2 mUI/mL. TC CE se esofágica e foi proposta para imunoterapia.
sem lesões vasculares agudas, TC TAP sem altera- Conclusão
ções relevantes. Iniciada terapêutica antihiperten-
sora endovenosa e induzida hemodiálise. Avaliação O melanoma do esófago é uma neoplasia muito
oftalmológica com retinopatia hipertensiva e atrofia rara com um prognóstico muito reservado devido ao
das camadas internas da retina bilateralmente. Do seu comportamento biológico extremamente agres-
estudo etiológico adicional, atividade ADAM TS13 sivo. O seu diagnóstico é difícil, uma vez que a apre-
não aumentada, ANCAs, ANAs, antidsDNA, anticor- sentação clínica é inespecífica, e maioria dos casos
pos antifosfolipicos, anticorpo antimembrana basal são assintomáticos até estadios avançados. Neste
e crioglobulinas negativas, proteinúria 24H 700mg, sentido, apresenta-se o caso pela sua raridade e
sem pico monoclonal em imunofixação sérica e uri- para enfatizar a importância de um estudo rápido da
nária. disfagia progressiva.
Durante internamento doente evoluiu favoravelmen- PA n.º 3104 
te, permitindo controlo tensional per os, contudo sem Doença de Erdheim-Chester
recuperação da função renal, permanecendo em pro- Tatiana Soares Correia(1);Catarina Abreu(1);Maria-
grama de hemodiálise. na Martinho(1);Maria Margarida Cunha(1);Melanie
Ferreira(1);Francisca Delerue(1)
Os autores salientam que HTA maligna pode apa- (1) Hospital Garcia de Orta, EPE
recer em doentes sem diagnóstico prévio (60% dos
casos de HTA maligna) e que figura como uma cau- Tema: Doenças hematológicas
sa de microangiopatia trombótica potencialmente
tratável.
A doença de Erdheim Chester (DEC) é uma neoplasia
PA n.º 3068  rara de origem mielóide tipo histiocitose de células
Melanoma do esófago: uma causa rara de dispneia não Langerhans com menos de 1000 casos
Patrícia Sôra Sobrosa(1);Joana Couto(1);João Pe- descritos na literatura. Manifesta-se principalmente
dro Pais(1);André Pereira(1);Marta Moreira(1);Lucia- por lesões ósseas (mais comuns nos membros
na Sousa(1);Diana Guerra(1) inferiores) e tem envolvimento multissistémico. O
(1) Unidade Local de Saúde do Alto Minho, EPE / envolvimento circunferencial da aorta por infiltração
Hospital de Santa Luzia é uma manifestação muito comum desta patologia.
Apresenta-se um caso de um doente com DEC
Tema: Doenças oncológicas diagnosticado na sequência do estudo de um
estado pro-trombótico de etiologia desconhecida e
Introdução destaca-se principalmente pelo diagnóstico de uma
patologia pouco frequente. 

Os melanomas malignos derivam da transformação


maligna de melanócitos, sendo que a maioria surge Trata-se de um doente do sexo masculino de 58 anos
na pele. Raramente aparecem nos tecidos extra-cu- com história de acidente vascular isquémico basilar,
tâneos, tais como a mucosa. Estes constituem 1% múltiplos acidentes vasculares transitórios, trombo-
de todos os melanomas diagnosticados. O melano- se venosa profunda, colite isquémica e síndrome co-
ma maligno da mucosa é altamente agressivo. ronário agudo por doença coronária de três vasos.
Foi internado inicialmente ao cuidado da cardiologia
Caso Clínico por novo síndrome coronário agudo já sob terapêuti-
ca antitrombótica tripla e no decorrer da abordagem
Mulher de 85 anos admitida por queixas, com 3 do doente foram encontradas múltiplas lesões vas-
meses de evolução, dor hipocôndrio direito com culares coronárias. Para esclarecimento da etiologia
irradiação epigástrica pós-prandial, associada a dis- do estado pro-trombótico multi-territorial arterial e

368
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
venoso,  foi transferido para o serviço de medicina posta após 18 dias de tratamento. Após melhoria do
interna. Por suspeita de neoplasia oculta subjacente quadro hematológico realizou biópsia da massa pa-
realizou tomografia computorizada que revelou mas- rarrenal que confirmou liposarcoma desdiferenciado,
sa retroperitoneal proliferativa e, na caracterização estando a aguardar cirurgia.
por ressonância magnética foi identificado espessa-
mento difuso com envolvimento da aorta abdominal Os autores apresentam o caso por se tratar de uma
de forma simétrica. Realizou-se biópsia da lesão que PTI com abordagem terapêutica complexa, com ne-
demonstrou achados inespecíficos, não confirmando cessidade de recorrer a várias linhas de tratamento,
o diagnóstico de DEC. Pela necessidade de terapêu- associada ao diagnóstico de liposarcoma, não se
tica  anti-trombótica que impossibilitou a repetição podendo assim excluir tratar-se de uma síndrome
segura da biópsia mais célere, apenas um ano após paraneoplásica.
esta abordagem e na 4ª biópsia realizada foi confir-
mada DEC. O doente não apresentava dor óssea e PA n.º 3111 
apenas foram documentadas lesões ósseas ao nível O Impacto da Monitorização Contínua da Glucose
do joelho direito cerca de sete meses depois.  no controlo da Diabetes Mellitus
Carolina Cardoso(1);Débora Faria Lopes(1);Cátia
O presente caso ilustra que o seu diagnóstico de DEC Gorgulho(1);Pedro Dias Dos Santos(1);David m.
é muitas vezes moroso e complexo, implicando uma Furtado(1);Joana Freitas Ribeiro(1);Tiago Pereira
abordagem multissistémica do doente. Alves(1);Maria Fátima Pimenta(1)
(1) Hospital Distrital de Abrantes
PA n.º 3105 
Púrpura Trombocitopénica Imune - um tratamento Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio-
complexo e uma etiologia improvável nais
Juliana Magalhães(1);Marina Coelho(1);André Nu-
nes(1);José Morgado Pereira(1);Teresa Vilaça(1);I- Introdução: A diabetes mellitus é uma doença cróni-
nês Antunes(1);Ivone Barracha(1) ca caracterizada por uma elevação crónica dos
(1) Centro Hospitalar do Oeste / Hospital Distrital de níveis de glicémia, condicionando uma morbilidade
Torres Vedras importante fruto das complicações macro e micro-
vasculares associadas. Daqui se denota a importân-
Tema: Doenças hematológicas cia do controlo metabólico destes doentes. O sis-
tema de monitorização contínua da glicose (MCG)
A Púrpura Trombocitopénica Imune (PTI) é uma pa- veio simplificar e optimizar a monitorização versus
tologia caracterizada pela produção de auto anticor- a avaliação convencional podendo representar uma
pos contra a membrana plaquetária, que pode ser mais valia no controlo metabólico e na qualidade
primária ou secundária a neoplasias, na maioria lin- de vida em doentes com diabetes. A partir de 2018
foproliferativas, doenças auto-imunes e infecciosas. o sistema MCG foi implementado na Unidade de
Diabetes e Obesidade (UDO) em doentes diabéticos
Apresenta-se o caso de uma mulher de 72 anos, com seleccionados.
história de diabetes, dislipidemia, HTA e obesidade,
que recorre ao SU por lesões petéquiais dispersas Objectivo: Avaliar o impacto do sistema de MCG no
com 3 semanas de evolução, sem discrasias hemor- controlo metabólico de doentes diabéticos ao final
rágicas; analiticamente apresentava trombocitope- de um ano da sua implementação.
nia grave. Internada com o diagnóstico presuntivo
de PTI, iniciou metilprednisolona com resposta clí- Método: Estudo monocêntrico, observacional e re-
nica e laboratorial. Do estudo realizado de salientar: trospectivo que incluiu doentes com diabetes porta-
anemia normocitica normocrómica, função tiroideia dores de MCG acompanhados na UDO. Dados reco-
normal, serologias virais negativas, imunoglobulinas lhidos através da consulta de processos clínicos e
séricas e eletroforese de proteínas normais, Ac Anti- processados com recurso ao Microsoft Excel® 2016.
plaquetários positivos, teste antiglobulina direto: IgG
positivo. Realizada TC de corpo que revelou massa Resultados: Foram incluídos 83 doentes (86.75 %
pararrenal direita. Teve alta sob corticoterapia, refe- diabéticos tipo 1, 8.43 % diabéticos tipo 2), idade mé-
renciada a consulta de Hematologia e de Urologia. dia 46.42 (± 13.91) anos e 51.81% sexo masculino.
Durante o período em estudo, após a implementação
Aquando desmame de corticoterapia, foi reinterna- da MCG verificou-se uma redução da HbA1c de 9.56
da por PTI com critérios de gravidade, cumpriu 1g (±3.05) % para 8 (±2.08) %, sendo esta melhoria mais
de metilprednisolona durante 3 dias, posteriormente evidente em doentes com pior controlo prévio. Em
prednisolona (PDN) 1mg/kg e Imunoglobulina (IGIV) 13.25% dos doentes foi igualmente notória uma di-
durante 5 dias. Durante o internamento, realizou me- minuição da frequência de eventos de hipoglicémia.
dulograma com biópsia óssea que não revelaram Relativamente ao perfil cardiovascular destes doen-
alterações. Por falência a IGIV e PDN iniciou Rituxi- tes objectivou-se uma redução de 40% da pressão
mab. Após 4 tomas de Rituximab, por ausência de arterial média avaliada em consulta e melhoria de
resposta terapêutica, mantendo contagem aproxi- 4,17% do perfil lipídico.
mada de 1000 plaquetas, associou-se uma 3ª linha
terapêutica com Eltrombopag 75mg/dia, com res- Discussão: Da análise efectuada na população em
estudo verificou-se que ao final de um ano a introdu-

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 369


ção do sistema de MCG se associou a uma melhor Santos(1);Tiago Pereira Alves(1);Maria de Fátima
controlo glicémico, redução de hipoglicémias, bem Pimenta(1)
como uma melhoria do controlo metabólico global. (1) Hospital Distrital de Abrantes
Num próximo estudo seria importante avaliar a sus-
tentabilidade no tempo desta melhoria. Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas

PA n.º 3121  A síndrome de Wallenberg (SW), ou síndrome me-


Doenças Pulmonares Eosinofílicas – um mundo de dular lateral, consiste numa síndrome vascular do
diagnósticos diferenciais! tronco cerebral, resultante da oclusão da artéria ver-
Patricia Baptista(1);Sofia Moura de Azevedo(1);Marli tebral, artéria cerebelosa póstero-inferior ou artérias
Ferreira(1);Tânia Araújo Ferreira(1);João Araújo Cor- penetrantes medulares. Tipicamente associada a
reia(1) factores de risco cardiovascular como Hipertensão
(1) Centro Hospitalar do Porto, EPE / Hospital Geral arterial (HTA), Diabetes Mellitus (DM) ou dislipide-
de Santo António mia, é caracterizada por semiologia neurológica
Tema: Doenças respiratórias rica. A sua apresentação completa com síndrome
de Horner, disfagia, disartria, disfonia, nistagmus,
ataxia e alteração da sensibilidade termo-álgica na
Introdução: As doenças pulmonares eosinofílicas hemiface ipsilateral e no hemicorpo contralateral à
são um grupo heterogéneo de doenças que parti- lesão é rara.
lham duas características principais: a eosinofilia
periférica e o atingimento das vias aéreas e parên-
quima pulmonar; representam um desafio pelos Mulher, 62 anos, história de HTA, DM tipo 2 e disli-
inúmeros diagnósticos diferenciais que impõem. pidemia não controladas admitida na Urgência por
Caso clínico: Os autores apresentam o caso de uma cefaleia occipital e HTA. À admissão objectivada
mulher de 69 anos, em seguimento na consulta de disartria, disfonia, miose e ptose palpebral à direita,
Medicina Interna com história de cardiopatia com nistagmus vertical, gag reflex ausente à direita, des-
fração de ejeção preservada, fibrilhação auricular, vio da úvula para a esquerda, diminuição da sensi-
défice moderado do fator VII e crises sazonais as- bilidade termoálgica na hemiface direita e hemicor-
matiformes desde a infância, rinite alérgica e ecze- po esquerdo e força muscular mantida e simétrica.
ma atópico com eosinofilia ligeira flutuante. Evoluiu Ataxia na prova dedo-nariz e calcanhar-joelho à es-
com eosinofilia periférica com contagens que atingi- querda e marcha de base alargada com desequilíbrio
ram os 12000 eosinófilos/uL, sem outra sintomato- para a direita. Realizou Tomografia computorizada
logia para além do agravamento da dispneia e piei- crâneoencefálica que revelou hipodensidade focal
ra. Do estudo imunológico, IgE aumentada, ANCAs talamocapsular direita e no estudo contrastado ima-
e anticorpos para o Aspergillus fumigatus negativos. gem sugestiva de trombo na porção distal do seg-
Mielograma sem alterações da morfologia das célu- mento intracraniano da artéria vertebral direita.
las. TC tórax de alta resolução com extensas e difu- Admitiu-se acidente vascular isquémico da circu-
sas áreas de opacificação em vidro despolido nos lação posterior compatível com SW. Realizou Res-
lobos inferiores, nos lobos superiores de predomínio sonância Magnética que revelou lesão vascular is-
central, espessamento dos septos interlobulares quémica da vertente postero-lateral direita do bulbo
e espessamento difuso das paredes brônquicas. associada a artéria vertebral direita intracraniana
Broncofibroscopia com achados de bronquite e filiforme terminando na artéria cerebral posterio-in-
congestão difusa da mucosa e lavado broncoalveo- ferior.
lar com alveolite eosinofílica (30% de eosinófilos),
estudos micro, micobacteriológico e micológico Durante o internamento necessitou inicialmente de
negativos. Excluída a presença de pólipos nasais. sonda nasogástrica por disfagia grave para sólido e
Apresentou boa resposta à corticoterapia sistémica. líquidos, ao longo do internamento verificou-se me-
Discussão: Excluída a etiologia infeciosa, fármacos, lhoria ligeira dos défices.
aspergilose broncopulmonar alérgica e pneumonia
eosinofílica aguda. Permanece a dúvida diagnóstica Relativamente ao contexto metabólico destaca-se
entre granulomatose eosinofílica com poliangeíte, HbA1c:11% e Colesterol Total: 190 mg/dL, Coleste-
dada a história de asma e as alterações na TC; a au- rol Low Density Lipoprotein: 109 mg/dL, Triglicéridos:
sência de pólipos nasais ou de achados sugestivos 224 mg/dL, tendo sido ajustada a medicação para
de vasculite e os ANCAs negativos tornam menos ambulatório.
provável esta hipótese diagnóstica podendo favore-
cer o diagnóstico de pneumonia eosinofílica cróni- A SW completa é rara, esta a doente apresenta os
ca; discutindo-se a pertinência e risco/beneficio da elementos completos da síndrome. Realça-se a im-
biópsia pulmonar nesta doente para perseguir o portância do caso para recordar a SW e o papel ful-
diagnóstico definitivo.  cral do exame neurológico completo para a sua iden-
tificação, frequentemente subdiagnosticada.
PA n.º 3127  PA n.º 3135 
Síndrome de Wallenberg Encefalite Tuberculosa em Imunocompetente
Carolina Cardoso(1);Cátia Gorgulho(1);Joana Frei- Hugo Jorge Alves(1);Teresa Costa e Silva(1);Árcia
tas Ribeiro(1);David m. Furtado(1);Pedro Dias Dos Chipepo(1);Célia Machado(1);José Lomelino Araú-
370
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
jo(1) cificar os seus sintomas.
(1) Hospital Beatriz Ângelo
PA n.º 3136 
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias Défice cognitivo por “Amyloid Spells” na Polineuro-
patia Amiloidótica Familiar
Introdução: Sofia de Almeida(1);Paulo Conceição(1);Rita Pi-
chel(1);Vital Domingues(1);Ana Reinas(1);Fátima
Farinha(1);Teresa Mendonça(1)
Apesar de ser uma infeção com maior prevalência (1) Centro Hospitalar Uni. Porto
em imunocomprometidos, a tuberculose continua a
ser capaz de afetar qualquer doente, sem exceção Tema: Doenças raras
dos imunocompetentes, não devendo nunca ser es-
quecida como hipótese diagnóstica. Introdução: A Polineuropatia Amiloidótica Familiar
Caso Clínico: (PAF) é uma forma de amiloidose sistémica carac-
terizada por deposição de fibrilas amilóides em vá-
Homem de 77 anos, caucasiano. rios tecidos, com atingimento sistémico. Apesar do
conhecimento do envolvimento do sistema nervoso
Recorre à urgência, por febre, cansaço fácil, desequi- periférico e autonómico, os sintomas neurológicos
líbrio na marcha por falta de força nos membros infe- relacionados com o sistema nervoso central não
riores e discurso lentificado e incompreensível com são totalmente conhecidos. 
1 mês de evolução.
Caso Clínico: Mulher de 50 anos, que recorreu ao
À admissão, rigidez da nuca com componente de não
serviço de urgência por convulsões generalizadas.
cooperação do doente. Sinais meníngeos negativos.
À observação encontrava-se apirética com hiposte-
Analiticamente: Elevação de parâmetros inflama- sia e hemiparésia esquerda, amnésia anterógrada e
tórios, PCR 11.49mg/dL, com aumento para 35.5 discurso confabulatório. Antecedentes de PAF com
mg/dL. Serologias virais, Análise Sumária de Urina, envolvimento multissistémico, nomeadamente car-
Hemoculturas e Urocultura, TC Crânio-Encefálica diomiopatia e neuropatia periférica. Sem história
e Tórax sem alterações. RM Crânio-Encefálica não prévia de convulsões, consumo de drogas ou trauma
realizada por ser portador de desfibrilhador cardíaco recente.
implantado. Punção Lombar protelada por hipocoa-
O diagnóstico diferencial incluía acidente vascular
gulação com Varfarina com INR supra-terapêutico.
cerebral (AVC), acidente isquémico transitório (AIT),
Assumida diagnóstico de Meningoencefalite, medi- estado pós-ictal e distúrbios tóxico-metabólicos.
cado empiricamente com Vancomicina, Ceftriaxone
Do estudo, analiticamente sem distúrbios gasimé-
e Ampicilina.
tricos ou eletrolíticos, glicemia normal, e estudo to-
Melhoria parcial de parâmetros inflamatórios (PCR xicológico negativo. TAC craniana a excluír lesões
22.7 mg/dL) sem melhoria clínica e persistência de isquémicas ou hemorrágicas. AngioTAC craniana a
febre ao 4º dia de antibioterapia pelo que, após nor- revelar apenas hipoplasia da artéria vertebral direita.
malização de INR, realiza Punção Lombar com estu- EEG sem sinais de atividade paroxística focal ou ge-
do citoquímico, viral e citológico normal. PCR DNA neralizada, apenas com atividade teta de localização
de Mycobacterium tuberculosis positivo em doente variável de predomínio temporal. RMN cerebral não
sem antecedentes de infeção. realizada dado a doente ser portadora de pacemaker.

Suspende antibioterapia e inicia Rifampicina, Isonia- Durante o internamento com resolução dos défices
zida, Pirazinamida e Etambutol com Dexametasona. sensitivos e motores mas persistência dos défices
Remissão progressiva e completa do quadro clínico cognitivos, presentes à data de alta.
e alterações analíticas.
Conclusão: Apresentamos um caso atípico de apre-
Por padrão citocolestático analítico com transami- sentação de défices neurológicos em doente com
nases com valores sete vezes ao liite superior do PAF. Os défices neurológicos na PAF geralmente
normal , suspende Pirazinamida, mantendo os res- apresentam-se na forma de neuropatia periférica e
tantes antibacilares. autonómica. Raramente, podem manifestar-se como
consequência de AVC isquémico ou doença do siste-
Alta por melhoria clínica indicação para antibacilares ma nervoso central. O caso apresentado aponta para
durante 7 meses após alta. uma manifestação rara de atingimento neurológico
da PAF, os “Amyloid Spells”.
Discussão:
PA n.º 3141 
Apesar de maior prevalência em doentes imuno- Quando um hipopituitarismo precipita um choque
comprometidos, a tuberculose continua a existir em Catarina Almeida(1);Joana Andrade(1);Daniela Duar-
indivíduos imunocompetentes, não devendo nunca te(1);Alexandra Vaz(1);Ana Lemos(1)
ser esquecida em quadros infeciosos arrastados, (1) Centro Hospitalar Tondela-Viseu, EPE / Hospital
em especial em doentes com incapacidade de espe- de São Teotónio, EPE

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 371


Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio- carrapato mais frequente nos EUA e Europa e é
nais provocada, na sua maioria, pela bactéria espiroque-
ta Borrelia burgdorferi. Pode-se desenvolver em 3
Introdução: O hipopituitarismo caracteriza-se por fases: a primeira (até um mês desde a picada) é ca-
uma insuficiência completa ou parcial da secreção racterizada pelo aparecimento do eritema migrans
hormonal pela hipófise. As causas mais frequen- com ou sem sintomas flu-like. A segunda pode ter
tes são os tumores hipotálamo-hipofisários ou as múltiplas lesões de eritema e/ou manifestações
consequências do seu tratamento. Outras causas cardíacas ou neurológicas. A terceira (meses-anos
incluem, isquemia/hemorragia da hipófise, infeções, após infecção) está associada a artrite intermitente
doenças granulomatosas, traumatismo, entre ou- ou persistente que envolve 1 ou várias articulações.
tros. Apesar desta divisão, pode haver sobreposição de
sintomas nas fases e considera-se que a artrite
pode ser a apresentação inicial da doença.
CASO CLÍNICO: Homem, 46 anos, admitido nos cui-
dados intensivos por choque de etiologia não es-
clarecida, inicialmente interpretado como choque Apresentamos aqui um caso clínico de um homem
séptico, mas sem foco infecioso evidente no estudo de 54 anos, independente e empresário no ramo da
imagiológico ou microbiológico. Doente com ante- cortiça, residente no Algarve, que recorre ao serviço
cedentes de traumatismo cranioencefalico aos 20 de urgência (SU) por um quadro de poliartralgias mi-
anos, sem outros antecedentes de relevo. Ao exame gratórias, de grandes e pequenas articulações, mas
objetivo de salientar atrofia muscular e testicular e com maior importância no joelho e cotovelo esquer-
rarefação pilosa. Pela ausência de melhoria inicial e dos, com cerca de 1 semana e meia de evolução. Tem
de foco infecioso evidente, colocada a hipótese de um cão desde há dois meses, assim como contacto
choque distributivo em contexto multifatorial (infe- esporádico com ovelhas e galinhas, negando conhe-
ção associada a distúrbio endócrino). Realizou do- cimento de alguma picada por carrapato. Inicialmen-
seamento de T4 livre que se encontrava diminuída. te apresentava uma adenopatia inguinal esquerda e
Iniciada terapêutica de substituição com hidrocorti- um eritema generalizado tendo sido medicado com
sona em dose de stress e levotiroxina, com posterior amoxicilina clavunato mas, por não apresentar me-
melhoria progressiva. lhorias e passados 5 dias iniciar febre intermitente
e de predomínio vespertino, e um exantema macular
Segundo o doente apresentava ausência de líbido e não pruriginoso, com algumas lesões papuladas, vol-
incapacidade de ejaculação desde os 37 anos. Re- tou ao SU tendo ficado internado por agravamento
fere ainda quadro de astenia, adinamia, dificuldade dos parâmetros inflamatórios. Do estudo analítico
de concentração e memória e tonturas associadas detectou-se  IgM para Borrelia burgdorferi e iniciou
a perfil tensional hipotensivo com vários anos de terapêutica dirigida. Teve alta 1 semana depois já as-
evolução. Nunca recorreu ao seu médico assisten- sintomático com indicação de terminar a terapêutica
te por fobia. Neste contexto, realizou RMN CE onde no domicílio. 
não era visualizado o lobo direito da adeno-hipófise
e a glândula hipofisária  remanescente apresentava Pretende-se destacar a importância da clinica carac-
dimensões reduzidas. Encaminhado para a consulta terística desta doença, que apesar de não ser uma
de Endocrinologia onde o estudo complementar evi- zona endémica, é vital tê-la em conta como diagnos-
denciou a presença de hipotiroidismo central, défice tico diferencial a excluir como causa de febre sem
de prolactina e gonodotrofina e diminuição da ACTH foco, artralgias e/ou eritema.
e cortisol. PA n.º 3200 
DISCUSSÃO: O hipopituitarismo constitui uma pato- Tromboembolismo Pulmonar na era COVID-19: Es-
logia rara cujas manifestações clínicas são frequen- tudo retrospetivo num hospital distrital
temente inespecíficas e com instalação insidiosa. Rita Valadas(1);Rita Tinoco Magalhães(1);Jana Zeli-
Com este caso pretende-se chamar a atenção para nová(1);Diogo Cruz(1)
uma causa pouco frequente de choque, provavel- (1) HPP Hospital de Cascais
mente precipitado no contexto de uma intercorrên- Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
cia infeciosa que são muitas vezes responsáveis por
acentuar disfunções endócrinas previamente exis-
tentes. Introdução: A COVID-19 é uma doença emergente,
altamente transmissível, e com um largo espetro
PA n.º 3153  de manifestações clínicas. Apesar da apresentação
Doença de Lyme mais frequente ser a pneumonite intersticial, a doen-
Ana Margarida Morgado(1);Joana Lopo(1);João Nu- ça pode afetar múltiplos órgãos e sistemas, seja por
nes(1);Karolina Aguiar(1);José Ignácio Moreno(1);A- efeito direto do vírus, seja pela resposta inflamatória
na Lopes(1) sistémica que desencadeia. Múltiplos estudos con-
(1) CHUA Faro firmam que a COVID-19 se faz acompanhar de um
estado pró-trombótico, estando bem documentada
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias a relação entre esta doença e o tromboembolismo
pulmonar (TEP).
A doença de Lyme é a infecção transmitida por

372
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
Objetivos: Os autores visam avaliar a incidência de drome de insuficiência respiratória aguda.
eventos de TEP em doentes internados com CO-
VID-19, bem como a potencial morbimortalidade as- A lesão renal aguda (LRA) define-se por uma diminui-
sociada. ção rápida da função renal,  ocorre frequentemente
em doentes internados, e leva a uma incapacidade
Material e Métodos: Estudo retrospetivo de episó- de manter a homeostase de fluidos, electrólitos, e
dios de TEP ocorridos entre janeiro de 2018 e março equilíbrio ácido-base.
de 2021, associados ou não à COVID-19, em doentes
internados no Hospital de Cascais. A informação foi Além do quadro respiratório por que a COVID-19 é
recolhida com base no registo clínico hospitalar e conhecida, alguns estudos de diversos países têm
permitiu avaliar a incidência de TEP e respetiva dis- vindo a reportar o envolvimento de outros órgãos e
tribuição por idade e  sexo, a taxa de mortalidade e sistemas, entre os quais os rins (mesmo em indiví-
o número de dias de internamento destes doentes. duos sem doença renal prévia). A evidência de risco
é suficiente que indivíduos com função renal basal
Resultados: O estudo compreendeu um total de 1.767 diminuída foram considerados vulneráveis e prioritá-
doentes internados por TEP e/ou por COVID-19, com rios no acesso a vacina, segundo o Plano de Vacina-
uma média de idades de 68 anos, dos quais 55% ção COVID-19 em Portugal.
eram homens. Dos 1.419 doentes internados com
COVID-19, 5% (66 doentes) tiveram um episódio de Objectivo:
TEP. Destes 5% de doentes com TEP e COVID-19,
61% eram do sexo masculino e 87% tinham mais de Propõs-se estudar a incidência de LRA nos doentes
60 anos. A incidência de TEP evoluiu de um cresci- internados com SARS-CoV-2 positivo de Março de
mento médio por trimestre de 2% (1º trimestre 2018 2020 a Janeiro de 2021, e averiguar a relação desta
– 4º trimestre 2019) para um crescimento de 28% no entidade clínica com a gravidade do quadro.
período entre 1º trimestre 2020 –1º trimestre 2021.
Material e métodos:
A taxa de mortalidade em doentes com COVID-19 foi
de 23%, enquanto que em doentes com COVID-19 e Estudo restrospectivo de coorte em que se analisou
TEP foi de 27%. Adicionalmente, verificou-se que a informação obtida a partir dos processos clínicos
mediana de dias de internamento dos doentes com dos 509 doentes internados no Hospital Distrital de
COVID-19 passa de 11 dias para 36 dias quando as- Santarém com SARS-CoV-2 positivo entre Março de
sociado a TEP. 2020 e Janeiro de 2021.
Conclusão: Este estudo aponta para uma possível Foram recolhidos dados demográficos, historial de
associação entre a COVID-19 e a ocorrência de TEP, comorbilidades, informação clínica e laboratorial, e
tendo-se verificado que o aumento da incidência de outcomes, e feito tratamento estatístico.
TEP coincidente com a emergência e aumento da
incidência de COVID-19. Os doentes do sexo mascu- Resultados:
lino e os mais idosos parecem ser os grupos mais
afetados. Os resultados mostram também, haver A idade mediana desta população foi 78 anos (inter-
um importante impacto prognóstico, com aumento valo interquartis [IQR] 66–87; extremos [min. – max.]
na duração do internamento dos doentes com CO- 19–103 anos), sendo 278 (54,62%) do género mas-
VID-19 quando complicado de TEP, embora a diferen- culino e 231 (45,38%) do género feminino.
ça na mortalidade destes doentes tenha sido pouco
significativa, quando comparada com a mortalidade 157 (30,84%) doentes apresentaram lesão renal agu-
de doentes com COVID-19 em que esta complicação da, sendo que destes, 58 (36,94%) tinham doença re-
não se verificou. Estes resultados são largamente nal crónica previamente. 
apoiados por outros estudos realizados na área. As-
sim, torna-se imperativo manter um elevado índice No grupo dos doentes que tiveram LRA, 71 (de 157
de suspeição e reconhecer atempadamente esta [45,22%]) morreram. No grupo dos doentes que não
complicação, de forma a iniciar hipocoagulação te- tiveram LRA, 77 (de 352 [21,88%]) morreram.
rapêutica o mais precocemente possível.
No grupo dos doentes que tiveram LRA, 20 (de 157
PA n.º 3205  [12,74%]) necessitaram de internamento em UCI. No
Lesão Renal Aguda em Doentes Internados com grupo dos doentes que não tiveram LRA, 27 (de 352
infecção a SARS-CoV-2 [7,67%]) necessitaram de internamento em UCI.
Simões(1);Tetiana Baiherych(1);Catarina Coelho(1)
(1) Hospital de Santarém No grupo dos doentes que tiveram LRA, 18 (de 157
[11.46%]) necessitaram de VMI. No grupo dos doen-
Tema: Doenças renais tes que não tiveram LRA, 19 (de 352 [5,40%]) neces-
sitaram de VMI.
Introdução: No grupo dos doentes que tiveram LRA, 58 (de 157
[36,94%]) tinham DRC; 134 (de 157 [85,35%]) tinham
O coronavírus SARS-Cov-2, responsável pela pande- HTA; 42 (de 157 [26,75%]) tinham IC.
mia da COVID-19, é assim denominado por estar na
origem, nas formas mais graves da infecção, de sín- No grupo dos doentes que não tiveram LRA, 15 (de

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 373


352 [4,26%]) tinham  DRC; 235 (de 352 [66,76%]) ti- terada anticoagulação para rivaroxabano 20mg/dia
nham HTA; 38 (de 352 [10,80%]) tinham IC. e iniciou terapêutica com atorvastatina 40 mg/dia e
fenofibrato 267 mg/dia. Reavaliação do perfil lípido
Conclusões: após 1 mês com triglicerídeos 187mg/dL, colesterol
total 118mg/dL, HDL 44mg/dL. Estudo complemen-
Existiu uma elevada incidência de LRA nos doentes tar revelou: HA1c 5.2%, função renal, hepática e
internados no Hospital Distrital de Santarém com tiroideia normal, estudo autoimune negativo, trom-
SARS-CoV-2 positivo, o que vai de encontro às ten- bofilias excluídas. TC toracoabdominopelvica e co-
dências verificadas em vários estudos internacionais lonoscopia e endoscopia sem alterações.
sobre este tema. Os dados demonstram ainda que a
ocorrência de LRA nestes doentes está associada a Discussão
maior gravidade do quadro, dada pela necessidade
de internamento em Unidade de Cuidados Intensi- As escolhas terapêuticas devem ser individualizadas,
vos, pela necessidade de Ventilação Mecânica Inva- de acordo com o perfil de risco e comorbilidades de
siva, e pela mortalidade intra-hospitalar. cada doente. O diagnóstico diferencial de qualquer
alteração clínica ou analítica deve ter em conta po-
Pré-comorbilidades como DRC, HTA e IC foram tenciais fatores externos. A iatrogenia médica é uma
identificados como factores de risco para desenvol- causa de doença frequente, por vezes grave, condi-
vimento de LRA nos doentes internados com SARS- cionando muitas vezes necessidade de monitoriza-
-CoV-2 positivo. ção activa de efeitos adversos, sendo crucial a sua
identificação e sinalização. Sugere-se monitorização
Uma avaliação mais exacta da função renal  teria do perfil lipídico em doentes sob HBPM, sobretudo a
sido utilizar a taxa de filtração glomerular (TFG), cal- longo prazo. Estudos longitudinais são necessários
culada por fórmulas como a de de Cockcroft-Gault para confirmar e quantificar importância desde efei-
(CG). Porém, esta fórmula requer dados biométricos to adverso.
dos doentes que não figuravam de forma consisten-
te nos registos em que se baseou este estudo. PA n.º 3213 
Covid-19 e desregulação do microbioma intestinal -
PA n.º 3212  bacteriemia a Clostridium ramosum
Hipertrigliceridemia secundária a heparina de baixo José Fragoso Duro(1);Ricardo Taborda(1);Mariana
peso molecular Lessa Simões(1);Filipa Sousa Gonçalves(1);Nina
Filipa Gonçalves(1);Nina Jancar(1);Mariana Lessa Jancar(1);Patrício Aguiar(1)
Simões(1);José Fragoso Duro(1);Patrício Aguiar(1) (1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi-
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi- tal de Santa Maria
tal de Santa Maria
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
Tema: Doenças cardiovasculares
Introdução: A infecção a SARS-COV-2 determina
Introdução frequentemente insuficiência respiratória (IR) agu-
da grave. Estudos têm sugerido que alterações da
Iatrogenia médica é uma importante causa de mor- microbiota fecal relacionam-se com a gravidade da
bimortalidade. A hipertrigliceridemia é comum na Covid-19. Apresenta-se o caso de uma doente com
prática clínica, sendo muitas vezes secundária a Covid-19 com IR grave e concomitante sépsis com
outras causas. Heparina de baixo peso molecular bacteriémia a Clostridium ramosum, bactéria co-
(HBPM) é uma terapêutica amplamente utilizada, mensal do tracto digestivo humano.
havendo apenas um caso descrito na literatura ac-
tual de hiperlipidemia secundária à sua utilização. Caso clínico: Mulher de 80 anos, com artrite reu-
matóide medicada com prednisolona e metotrexa-
Caso Clínico
to; internada por pneumonia a SARS-COV-2, com
Mulher de 42 anos, com antecedentes de miocar- agravamento progressivo de IR. Intercorrência de
diopatia arritmogénica (heterozigotia do gene DSP) sépsis com foco intra-abdominal, com bacteriemia
e síndrome depressivo, com valores de triglicerí- a Clostridium ramosum; iniciada piperacilina-tazo-
deos no passado entre 114-240mg/dL. Recorreu bactam; evolução clínica desfavorável, complicada
ao SU por edema e dor do membro inferior esquer- de pneumomediastino por barotrauma de ventilação
do. Realizou ecodoppler dos membros inferiores, não-invasiva, e suspeita de encefalite a SARS-COV2,
com diagnóstico de trombose venosa profunda na acabando a doente por vir a falecer.
veia gemelar esquerda, tendo sido medicada com
Discussão: Desde o início da pandemia que se tem
enoxaparina 60mg 12/12h.
investigado a existência de factores de risco para
Cerca de 1 semana depois realizou avaliação ana- gravidade da infecção a SARS-COV-2. Atendendo à
lítica de rotina que revelou triglicerídeos 1148mg/ possibilidade de manifestações intestinais associa-
dL, colesterol total 265mg/dL, glicemia 94mg/dL, das à Covid-19, alguns estudos pesquisaram alte-
função renal e hepática sem alterações. Referia rações no microbioma fecal nestes doentes, tendo
mal-estar geral, sem outra sintomatologia. Fora al- demonstrado a proliferação de patogénios oportu-
nistas neste contexto; a preponderância fecal de
374
POSTERS COM APRESENTAÇÃO
Clostridium ramosum, entre outros, correlacionou-se Gilbert, foram excluídos dos ensaios clínicos e ape-
com a gravidade da Covid-19. nas foi reportado um caso de alteração analítica do
painel hepático entre os 12021 participantes.
A bacteriemia a Clostridium ramosum é uma situa-
ção clínica infrequente, geralmente associada a Conclusão: O caso clínico apresentado levanta a
infecções otológicas em crianças ou infecções de hipótese de hepatite aguda como reacção adversa
provável foco gastrointestinal em doentes imunode- à vacina contra a COVID-19 (ChadOx1-S), pelo que
primidos; neste último caso, associa-se a gravidade merece reflexão e investigação.
clínica.
PA n.º 3240 
O caso que apresentamos reporta-se a uma doente Histiocitose de células de Langerhans - uma causa
imunodeprimida em contexto medicamentoso, in- rara de dor óssea
ternada por Covid-19 com IR grave, e com intercor- Mariana Lopes Matos(1);João Rocha(1);Susana Fer-
rência de sepsis de foco intra-abdominal, com deter- reira(1);Raquel Gonçalves(1);Inês Ramos(1);Jorge
minação de bacteriemia a Clostridium ramosum; o Almeida(1)
caso evoluiu com desfecho fatal. Reportamos com (1) Centro Hospitalar de S. João, EPE
a expectativa de acumular casuística para futura
elucidação do papel da desregulação do microbio- Tema: Doenças hematológicas
ma intestinal na gravidade da Covid-19.
Introdução: A histiocitose de células de Langerhans
PA n.º 3216  é uma doença rara dos histiócitos, frequentemente
Uma Nova Reacção Adversa à Vacina ChadOx1-S? caracterizada por lesões ósseas únicas ou múlti-
FILIPA FERREIRA RODRIGUES(1);Diogo Costa(1);Ma- plas, em que há infiltração com histiócitos demons-
riana Garcia(1);Sérgio Lima(1) trados em biópsia. Além do atingimento ósseo, esta
(1) Centro Hospitalar do Porto, EPE / Hospital Geral doença pode ter atingimento de outros órgãos. O
de Santo António tratamento depende assim da extensão da doença.
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
Caso Clínico: Doente do sexo masculino, 41 anos,
Introdução: A hepatite aguda tóxica pode ter várias sem antecedentes pessoais de relevo e sem medi-
apresentações (lesão hepatocelular, colestática ou cação habitual. Internado no Serviço de Medicina
mista) e mecanismos de hepatoxicidade (previsíveis Interna com quadro de dor localizada à grade costal
ou idiossincráticos). Sendo a causa mais frequente posterior à esquerda com várias semanas de evo-
de insuficiência hepática aguda, a sua detecção lução, de predomínio nocturno, com melhoria com
precoce e suspensão do fármaco agressor são fun- toma de anti-inflamatórios. Ao exame objetivo não
damentais. apresentava nenhuma alteração. Realizou TC tora-
co-abdomino-pélvica que mostrou a presença de
uma lesão lítica na 9.ª costela esquerda com cerca
Caso Clínico: Mulher de 78 anos, autónoma para de 17 mm no plano axial, com contornos irregula-
as AVDs, com hipertensão arterial, gastrite crónica res e interrupção da cortical posterior, sem outras
e patologia osteoarticular degenerativa, recorre ao alterações de relevo. Por este motivo, fez biópsia
Serviço de Urgência por dor abdominal e sensação desta lesão, que mostrou proliferação de células
de distermia, sem febre. Sem achados de relevo “histiocitárias” de núcleos ovais a reniformes, acom-
ao exame físico. Objectivada hepatite de predo- panhadas de numerosos linfócitos e eosinófilos e
mínio hepatocelular (AST 3121U/L, ALT 1788U/L, no estudo imunocitoquímico observou-se expres-
FA 349U/L, GGT 945U/L), com elevação de DHL são de CD1a e de proteína S100 nas células acima
(2557U/L), sem insuficiência hepática. Tinha reali- referidas. Estas alterações são compatíveis com o
zado a primeira administração da vacina contra a diagnóstico final de histiocitose de células de Lan-
COVID-19 (ChadOx1-S) 5 dias antes. Do estudo etio- gerhans. Após controlo álgico o doente teve alta,
lógico, excluídas causas víricas, auto-imunes e into- orientado para a Consulta Externa de Hemato-Onco-
xicação por paracetamol.  Sem evidência de causa logia, para prosseguir o restante estudo e tratamen-
isquémica ou trombose da veia porta imagiologica- to. 
mente. Assumida hepatite aguda de etiologia tóxica
(vacina). Atendendo ao episódio auto-limitado, com Discussão: Este caso pretende assim alertar para a
resolução espontânea, não foi realizada biopsia he- importância do estudo de dores ósseas persisten-
pática. O caso foi reportado ao INFARMED. tes de difícil controlo, assim como relembrar uma
causa pouco frequente, mas importante, no diag-
Discussão: Perante uma elevação marcada das nóstico diferencial de lesões líticas ósseas.
aminotransferases, devem colocar-se as hipóteses
de hepatites isquémica, vírica e tóxica. Neste último
caso, a relação temporal é essencial para estabe-
lecer o diagnóstico. Apesar da hepatite não ser um
efeito lateral (re)conhecido da vacina contra a CO-
VID-19, apresenta-se como hipótese mais provável
neste caso.  De referir que os doentes com doença
hepática crónica, com excepção da síndrome de
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 375
INDICE DE IMAGENS EM MEDICINA

376
IMAGENS EM MEDICINA
INDÍCE DE IMAGENS EM MEDICINA P0316 - ESPOROTRICOSE CUTÂNEO-LINFÁTICA
P0317 - Angiopatia amiloide
P0010 - Piometra como causa de síndrome febril inde-
P0322 - Neurocisticercose: um caso clínico, uma revisão
terminado
imagiológica
P0012 - QUANDO O CORPO REJEITA A PRÓPRIA IDEN-
P0328 - Duplo azar
TIDADE - UM CASO DE REAÇÃO ALÉRGICA À PULSEIRA
P0331 - SIDA imagiológica
DE IDENTIFICAÇÃO
P0335 - ESPONDILODISCITE: Um mal nunca vem só
P0016 - An often misdiagnosed complication of mecha-
P0349 - Bócio mergulhante a condicionar compressão
nical ventilation
vascular
P0028 - Embolização sética na endocardite de válvula
P0352 - Quando uma fístula arteriovenosa se torna um
aórtica: um exemplo catastrófico
problema…
P0034 - Eritrodermia secundária a fármaco
P0363 - Síndrome de Urina Roxa
P0041 - Pneumomediastino associado a ventilação não
P0373 - Problema pandémico: nem tudo é o que parece.
invasiva
P0379 - Dor abdominal na COVID-19 – um caso de cisti-
P0052 - Uma história cíclica – A hipersensibilidade à
te enfisematosa
progesterona
P0403 - Doença de Bowen em doente com infeção-VIH
P0062 - Malformação de Chiari tipo I como causa de
P0407 - Anterior acute myocardial infarction in a type 1
AVC isquémico
Brugada pattern background
P0076 - Síndrome de Chilaiditi
P0417 - Miliária cristalina no diagnóstico diferencial de
P0083 - Ecografia durante o tratamento de Edema Agu-
erupção vesicular
do do Pulmão
P0426 - A PISTA PELA PALMA DAS MÃOS
P0086 - Hematoma Esplénico Espontâneo - a propósito
P0428 - Um tumor silencioso camuflado pelo medo da
de um caso clínico
COVID-19
P0091 - Aspiração de corpo estranho no idoso - um
P0430 - Volumoso trombo ventricular - Acidente Vascu-
diagnóstico diferencial a recordar
lar Cerebral com uma etiologia de grandes dimensões
P0097 - Doença renal poliquística e suas complicações
P0431 - Quando o frio até chega ao coração
P0128 - Síndrome de Fahr: disartria com uma etiologia
P0442 - Quando o ar escapa - complicação de ventilação
incomum
não invasiva em doente COVID
P0137 - SITUS INVERSUS TOTALIS: RARO E FREQUEN-
P0446 - O outro lado da pandemia – úlceras (de)pressão
TEMENTE DESCONHECIDO
P0453 - Fascite necrotizante da coxa e osteomielite
P0142 - Cistocercose, um diagnóstico passado, mas
enfisematosa a S. aureus – um diagnóstico escondido
com relevância presente.
P0455 - "Sinal do Monte Fuji"
P0167 - Glioblastoma Multifocal
P0470 - Mais olhos que... Esófago
P0200 - Bronquiectasias pós-infeciosas: achado inci-
P0488 - Progressão lenta mas incapacitante
dental em doente com infeção pelo novo coronavírus
P0489 - Coágulo obstrutivo na árvore brônquica.
P0202 - Hipertensão Pulmonar secundária a Neurofibro-
P0490 - Do rim ao pulmão – embolização sética
matose tipo I
P0514 - Lesão oral como manifestação do vírus do papi-
P0209 - Urgent Bronchoscopic Management of Malig-
loma humano (HPV)
nant Airway Obstruction: a successful case
P0515 - A saúde oral como reflexo de doença sistémica
P0219 - Um bocadinho de sangue nos seus triglicéridos
P0537 - ERITEMA MIGRATÓRIO MÚLTIPLO ATÍPICO – A
P0222 - Edema peri-orbitário: um caso de pansinusite
PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO DE DOENÇA DE LYME
complicada
P0538 - ROTURA ANEURISMÁTICA DA ARTÉRIA CARÓ-
P0225 - Onda P mitrale
TIDA INTERNA – A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO
P0241 - DOENÇA ESTREPTOCÓCICA DISSEMINADA
P0542 - Necrose avascular da cabeça do fémur em con-
P0244 - COVID-19 EM DOENTE COM SARCOIDOSE EM
texto de artrite séptica
FASE TERMINAL
P0555 - Pupila oval ou “midbrain corectopia” - possível
P0272 - Penfigóide bolhoso
caso de Síndrome de Weber
P0293 - Pneumomediastino espontâneo exuberante em
P0557 - Quadricuspidia aórtica: uma cardiopatia congé-
doente com pneumonia a SARS CoV2
nita rara
P0294 - Giant gastric dilatation
P0580 - Eritrodermia e Síndrome de Sézary
P0297 - Extenso abcesso abdominal secundário a queda
P0582 - Arterite de células gigantes
P0303 - Cálculos Coraliformes Bilaterais
P0597 - Sinal de Frank - um preditor de doença coroná-
P0304 - Tuberculose disseminada
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 377
ria P0850 - Macroadenoma Hipofisário - A propósito de um
P0608 - EXTENSIVE BULLOUS PEMPHIGOID SKIN LE- caso clínico
SIONS COMPLICATED BY BACTERIAL INFECTION P0861 - Síndrome de Chilaiditi’s
P0647 - Cavum Vergae P0868 - Electroforese de proteinas bizarra
P0651 - Quisto hepático: uma complicação renal inusi- P0885 - Melanoma maligno plurimetastizado - imagens
tada impactantes
P0653 - Terapêutica da Tuberculose – O Passado e o P0896 - Teratoma testicular
Presente P0906 - Penfigoide Bolhoso, um Exemplo de Sucesso
P0676 - Quando uma imagem vale mais do que mil Terapêutico
palavras P0909 - Prototecose, uma Infeção Rara por uma Alga
P0682 - Pinturas pulmonares abstratas a MSSA P0915 - Obstrução Intestinal por Vólvulo do Sigmóide
P0697 - Uma cavitação pulmonar atípica P0919 - Derrame pleural secundário a sarcoma – ima-
P0704 - Livedo reticular, um sinal de alerta em tempos gens de uma anatomia distorcida
de pandemia P0937 - Jejum e apneia não é uma boa ideia
P0714 - INCONTÁVEIS QUISTOS HEPÁTICOS: PERDIDOS P0939 - Cimentose pulmonar: consequência de um pro-
E ACHADOS cedimento sem intercorrências
P0718 - Dissecção aórtica – a importância dos achados P0956 - Penfigoide bolhoso exuberante
clínicos P0964 - PNEUMONIA COMPLICADA COM PNEUMATO-
P0720 - Fístula entero-pleural – uma causa rara de CELOS
empiema P0971 - ABCESSO PULMONAR EXUBERANTE
P0722 - Circulação venosa colateral exuberante no con- P0973 - MASSA CERVICAL EXUBERANTE
texto de trombose da veia cava superior P0974 - Ondas de Osborn: frio de rachar, ECG a relem-
P0728 - Abcesso Pulmonar – evolução insidiosa brar
P0738 - Trombose Venosa Cerebral Extensa Em Doente P0982 - I’ve got you under my skin
Jovem Paucissintomática P0987 - Olhar as extremidades
P0741 - Aneurisma da aorta – de silencioso a fatal P0988 - Edema de Quincke no Serviço de Urgência
P0750 - Síndrome de Sezáry: Quando suspeitar? P0992 - Agrafos - um caso de exclusão social
P0757 - Osteogenese Imperfeita - um caso tipo P1005 - Quisto neuroepitelial - a propósito de estudo
P0763 - Consequências de Invasividade em UCI - necro- etiológico de défices motores
se digital P1007 - Doença de Crohn à flor da pele – Uma apresen-
P0765 - Calcificação Simétrica dos Núcleos da Base no tação extraintestinal de uma DII
Jovem P1011 - Por detrás de uma infeção da orofarínge
P0782 - COVID não é só pneumonia P1014 - UMA CAUSA DE INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA
P0784 - Um caso de dispneia GLOBAL INESPERADA
P0785 - Úlcera Terminal de Kennedy P1029 - Um coração desalojado, um pulmão resiliente
P0787 - Uma imagem que garante um diagnóstico - a P1033 - Pneumomediastino espontâneo e COVID-19
propósito de um aspergiloma P1045 - Colelitíase: uma complicação da anemia falci-
P0788 - Toxoplasmose Cerebral: achados neurorradioló- forme
gicos de uma infeção oportunista P1057 - UMA CAUSA RARA DE OBSTRUÇÃO DA VIA
P0790 - Síndrome de Rendu-Osler-Weber AÉREA EM INTERNAMENTO
P0799 - Como resolver um tumor do úraco P1095 - DISSECAR UM ACIDENTE VASCULAR CERE-
P0804 - Que derrame é este? - Um caso de síndrome BRAL (AVC)
pós-pericardiotomia P1108 - Hidden areas
P0805 - Tenho o nariz entupido, mas isto cheira mal… P1115 - Cinesioterapia dura em pulmão mole, tanto
P0806 - Pneumomediastino e Enfisema Subcutâneo: insufla até que fura
Complicação de uma crise de asma grave P1118 - Phlegmasia Cerulea Dolens - uma complicação
P0811 - O tamanho não é tudo! rara de trombose venosa profunda
P0833 - Uma patologia nunca vem só P1132 - Enfisema subcutâneo – o papel da semiologia
P0839 - Osteoclastoma em cintigrafia óssea no diagnóstico de entidades fatais
P0843 - Lesões Cutâneas que Levantam Suspeita de P1166 - Complicações ocultas da COVID-19
Mastocitose P1174 - Gota grave no século XXI

378
IMAGENS EM MEDICINA
P1176 - Sinal de Chilaiditi – um diagnóstico ao acaso plicada em DM tipo I
P1184 - CALCIFILAXIA: UMA CONDIÇÃO RARA MAS P1544 - Envolvimento pulmonar por Mycobacterium
POTENCIALMENTE FATAL DA DOENÇA RENAL CRÓNICA tuberculosis e SARS-COV-2
P1198 - Leiomiossarcoma da veia cava inferior – a pro- P1545 - Pancreatite paraduodenal
pósito de um caso clínico P1561 - MASSA ABDOMINAL EM IDOSO - DESAFIO
P1218 - Neurofibromatose tipo-1 DIAGNÓSTICO E TERAPÊUTICO
P1263 - SYSTEMIC SCLEROSIS WITH AMYOPATIC DER- P1567 - Melanoma Acral Plantar
MATOMYOSITIS: AN OVERLAP SYNDROME P1569 - Pectus excavatum, uma apresentação tardia
P1264 - Tumefação torácica suspeita P1571 - Um caso de Síndrome de Olgivie
P1265 - Alopurinol - o lado imprevisto de um fármaco P1573 - Cistite enfisematosa um diagnóstico elusivo
comum P1581 - Hérnia do hiato tipo IV
P1281 - QUANDO O OLHO DO INTERNISTA É PERSPICAZ P1591 - Esófago negro em doente com AVC isquémico:
– UM MELANOMA DESCONHECIDO um achado bizarro?
P1282 - Achado radiológico renal em doente com fleg- P1605 - Hematopoiese extra-medular com localização
mania cerúlea dolens intratorácica - a propósito de um caso clínico
P1305 - Volumosa hérnia do hiato P1612 - "Pseudo-Tumor Paratraqueal Direito"
P1317 - ONDAS DE OSBORN P1617 - Rabdomiossarcoma abdominal
P1319 - Dos pés à cabeça! P1620 - Corpo estranho em doente com suspeita de
P1323 - Dermatomiosite paraneoplásica neoplasia
P1326 - Micose Fungóide em doente com infecção por P1633 - Sépsis de ponto de partida...
VIH P1657 - STEAKHOUSE SYNDROME
P1336 - Nódulos cutâneos: uma forma de apresentação P1668 - Uma causa incomum de tumefacção abdominal
de Linfoma Não-Hodgkin de células B P1678 - Pulmão encarcerado - uma imagem peculiar
P1338 - Uma Imagem de Outros Tempos... P1680 - Eritema ab igne: nem tudo é hipoperfusão
P1340 - Uma bela razão para dor abdominal... P1682 - Trombose arterial e venosa extensas simultâ-
P1360 - VExUS Protocol in Heart Failure neas
P1369 - Repercussões gastrointestinais da hipocaliémia P1692 - Padrão miliar: diagnóstico diferencial
P1379 - A invasão. P1693 - Diagnóstico de caras
P1384 - Cisticercose subcutânea - um diagnóstico inco- P1697 - Uma estranha gravidez
mum. P1699 - O poder regenerativo do baço
P1408 - Espinha Bífida Oculta: até quando? P1704 - ACHADOS IMAGIOLÓGICOS QUE SURPREEN-
P1416 - Aorta: Curva e contra-Curva DEM – REVISÃO DE DOENÇA RARA
P1420 - A imagem também engana P1709 - Vasculite necrotizante: uma complicação atípi-
P1421 - Embolia arterial e Murphy renal: a propósito de ca da infeção por SARS-COV2
um caso clínico P1729 - Cistite enfisematosa por Klebsiella pneumoniae
P1426 - Tuberculoma ou carcinoma? P1731 - Quando o Herpes Zoster Complica
P1437 - Massa mediastínica exuberante P1738 - Ferida maligna complexa em Cuidados Paliati-
P1445 - CRISE CONVULSIVA INAUGURAL EM DOENTE vos – um caso de melanoma maligno
COM SINAL DE ALVO CONCÊNTRICO P1740 - Púrpura secundária a infeção por SARS-CoV2
P1454 - O olhar que é para ver. P1746 - A sinistra largada de balão
P1466 - Stress emocional como desencadeante de dis- P1747 - OLHOS POSTOS NO HERPES
seção da aorta P1756 - Macroadenoma da hipófise com apoplexia pitui-
P1473 - COVID na ponta dos dedos tária: causa de prostração?
P1488 - Achado Imagiológico P1760 - Tuberculose: ainda surpreende!
P1497 - Insuficiência cardíaca - nem sempre o que P1763 - Vasculite cutânea por Chlamydophila pneumo-
parece é niae
P1506 - Doença renal poliquistica autossómica domi- P1781 - Bexiga escrotal
nante - quando a dimensão não é função P1783 - Symmetrical Drug-Related Intertriginous and
P1537 - Duplo mau prognóstico em doente com mielo- Flexural Exanthema (SDRIFE) – toxicodermia a quinolona
ma múltiplo P1791 - Hipertensão renovascular – um caso atípico
P1539 - Quando o ar é um problema – pielonefrite com- com hipoplasia da artéria renal

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 379


P1792 - Adenocarcinoma do pulmão na era da COVID-19 P2068 - Trombos cardíacos, o peso da hemodinâmica
P1796 - No rasto do COVID P2082 - Um estranho caso de aneurismas cerebrais
P1797 - Pneumonia de aspiração num jovem por acalá- P2088 - Quisto dentígero
sia tipo 1: caso clínico P2096 - Fractura da odontoide na gota tofácea - uma
P1831 - Uma causa incomum de cefaleia lesão prevenível
P1836 - Artropatia de Jaccoud – quando o que parece P2105 - Choque hipovolémico por hemotórax espon-
não é tâneo por rotura de malformação arteriovenosa (MAV)
P1846 - An Expressive Discoid Lupus Erythematosus pulmonar
Presentation P2108 - Um caso raro de hemicoreia-hemibalismo dia-
P1848 - Jaccoud’s Arthropaty bético!
P1850 - Lesões de janeway – na senda do diagnóstico P2112 - Amiloidose Bolhosa Oral - O detalhe que não
P1852 - Hérnia do Hiato estrangulada escapou ao Internista
P1854 - Ciatalgia "familiar" P2113 - Nódulos cutâneos como apresentação de doen-
P1866 - Estenose de três artérias renais - um caso de ça hemato-oncológica
hipertensão arterial secundária P2116 - Rinossinusite fúngica - desafio diagnóstico
P1875 - Carcinoma de Células de Merckel no Doente P2128 - “PELA BOCA MORRE O PEIXE” – UM CASO DE
Imunodeprimido FEBRE SEM FOCO
P1881 - Pioderma Gangrenoso, em contexto de um caso P2130 - PÉ DE CHARCOT
clínico. P2138 - A evolução explosiva de uma pneumonia em
P1888 - SÍNDROME DE MAY–THURNER: VARIAÇÃO doente imunodeprimido
ANATÓMICA A FAVORECER OCORRÊNCIA DE TROMBO- P2143 - Uma causa atípica de broncoespasmo refratário
SE VENOSA PROFUNDA P2149 - Fístula Arterio-Venosa Úmero-Cefálica com
P1901 - Um cérebro, duas doenças Aneurisma após Punção Arterial
P1912 - MASSA TORÁCICA EXOFÍTICA DE RÁPIDO P2167 - Ventriculite Cerebral
CRESCIMENTO P2175 - Toxicidade pulmonar associada a anticorpo
P1931 - O estranho caso da “Peritonite Secundária monoclonal anti-PD1
Espontânea” P2181 - Hidronefrose por Linfoma B Difuso de Grandes
P1935 - Uma causa rara de dispneia: Síndrome de Chi- Células
laiditi P2197 - Plasmocitoma orbitário: uma forma de apresen-
P1982 - Artrite Mutilante tação rara de mieloma múltiplo
P2000 - Investigar ou não, eis a questão... P2208 - Hipocoagulação e hematoma de grandes di-
P2002 - Nem tudo o que parece é - Lesão hepática mensões do músculo psoasilíaco
P2007 - Veia cava superior esquerda isolada - uma va- P2209 - Um achado invulgar
riante duplamente rara! P2213 - APRESENTAÇAO ATÍPICA DE ADENOCARCINO-
P2010 - Tuberculose Pulmonar – um passado cada vez MA GÁSTRICO METASTIZADO
mais presente P2217 - DERRAME PERICÁRDICO E HIPERTENSÃO AR-
P2013 - Lipossarcoma mixoide: uma neoplasia maligna TERIAL COMO PRIMEIRA MANIFESTAÇÃO DE ARTERITE
rara DE TAKAYASU
P2015 - Por trás de uma hematúria... P2230 - LESÕES PARENQUIMATOSAS MÚLTIPLAS –
P2052 - Uma odinofagia com um percurso diferente do Infecção, neoplasia sólida ou hematológica?
habitual P2232 - Microlitíase alveolar - uma doença intersticial
P2054 - OLHOS DE GUAXINIM: UM ACHADO TÍPICO DE rara
AMILOIDOSE SISTÉMICA COM ENVOLVIMENTO CUTÂ- P2241 - Síndrome da veia cava superior por conglome-
NEO rado mediastínico extenso
P2056 - Pneumomediastino como complicação de Co- P2246 - Uma apresentação tumoral "de cortar a respira-
vid-19 ção"
P2060 - Espessamento cutâneo: A propósito de um caso P2260 - Vasculite leucocitoclástica em imagem
clínico. P2270 - O tumor do internista: quando a clínica sugere e
P2061 - Quando o abdomen não é inocente a imagem é categórica
P2062 - Adenocarcinoma da Próstata Metastizado – a P2279 - Manifestação cutânea de um Linfoma não Hod-
exuberância da destruição óssea gkin

380
IMAGENS EM MEDICINA
P2317 - Púrpura Trombocitopénica Imune P2611 - Lobo Ázigos: uma sombra que engana
P2319 - Aeroportia como apresentação de colangite P2617 - Síndrome de Wellens – uma questão de Tempo
P2327 - Estridor de etiologia osteoarticular - a propósito P2620 - Escrófula versus neoplasia: diagnósticos dife-
de um caso clínico renciais de uma massa cervical
P2345 - Abcesso subfrénico e infeção respiratória P2621 - Enfisema bolhoso gigante ou pneumotórax?
P2356 - LINFOMA DIFUSO DE GRANDES CÉLULAS B: DO P2622 - Quando o olho nos ajuda no diagnóstico
OLHO AO CÉREBRO P2630 - Onde anda a minha dentadura?
P2363 - Língua Geográfica – uma patologia benigna P2642 - Administração de adrenalina acidental
com aparência alarmante P2643 - Debaixo da máscara esconde-se o diagnóstico
P2378 - SINAL DE TROUSSEAU - A SUBTILEZA DO EXA- P2644 - Um caso de bisalbuminémia adquirida
ME OBJECTIVO P2664 - Síndrome de Ogilvie
P2392 - POCUS, transversalidade num SU de medicina P2667 - Gastrite enfisematosa: uma imagem incomum
interna P2670 - OCLUSÃO AÓRTICA AGUDA
P2407 - Arterite De Células Gigantes - A Imagem Por P2692 - ACRODERMATITE ENTEROPÁTICA
Detrás De Uma Dor Abdominal P2701 - Exantema Eritematoso em doente Covid
P2432 - Síndrome de Lemierre: uma condição rara e P2707 - Pneumonia pós obstrutiva e piopneumotórax
esquecida como apresentação de carcinoma epidermoide do pul-
P2448 - Doença de Fahr: um diagnóstico a considerar mão
P2460 - HIPEROSTOSE ESQUELÉTICA IDEOPÁTICA P2715 - Toxoplasmose Cerebral escondida em plena
DIFUSA – UMA IMAGEM RARA vista.
P2476 - Um caso de cisticercose muscular P2734 - Síndrome de Bazex - um fenómeno raro
P2498 - Fibrose Pulmonar pós SARS-CoV-2: eficácia P2741 - Metastização Cutânea de Carcinoma da Mama
terapêutica com glucocorticoides P2747 - Pancreatite aguda alitiásica complicada
P2500 - Mixoma auricular incidentaloma no estudo da P2749 - Múltiplas apresentações, uma doença oculta
etiologia de acidente vascular cerebral P2750 - Adenomatose múltipla – uma causa rara
P2511 - OLHOS DE GUAXINIM SEM FRATURA EVIDENTE P2751 - Má higiene dentária - quando um problema não
P2519 - LESÃO UMERAL EXUBERANTE COMO FORMA vem só
DE APRESENTAÇÃO DE MIELOMA MÚLTIPLO P2763 - Tuberculose pleuro-pulmonar cavitada
P2521 - Uma causa pouco frequente de hidropneumotó- P2767 - Quando há estranhos em casa
rax espontâneo secundário P2769 - Íleus Biliar – uma causa rara de dor abdominal.
P2525 - Síncope: um caso raro P2782 - Massa retroperitoneal volumosa - um caso de
P2535 - Compressão da via aérea por neoplasia do Linfoma Folicular
esófago P2786 - Dor graganta irradiada: a propósito de um caso
P2546 - A CONSEQUÊNCIA IMPREVISÍVEL DE UMA REA- de disseção da aorta
ÇÃO ALÉRGICA! P2790 - Da ficção para a realidade – um caso de “Greys-
P2555 - A propósito de uma convulsão – será meningio- cale”?
ma? P2795 - Alcaptonúria - da imagem ao diagnóstico
P2563 - Massa Abdominal 16cm: Carcinoma de Células P2814 - Lesão da face: o horror espelhado em diferentes
Renais de Células Claras faces
P2572 - Policitémia secundária a Hemangioblastoma P2817 - Lesões osteolíticas – um caso de Mieloma
Cerebeloso Múltiplo
P2574 - Afinal a Diabetes (também) dói P2844 - “Flushing” facial: um sinal disautonómico na
P2575 - Atenção à dermatose neutrofílica doença de Parkinson
P2592 - “Winking Owl Sign” – um sinal de alarme no P2848 - PSEUDOTUMOR DO PULMÃO
doente com lombalgia P2854 - Mais estômago que barriga
P2596 - A TOUCH OF SALT AND PEPPER P2860 - Um volumoso aneurisma da artéria aorta
P2597 - Os incontáveis efeitos da pandemia: TEP como P2869 - Álcool e Desnutrição - Portugal séc XI – uma
1ª manifestação de um lipossarcoma retroperitoneal realidade
P2601 - Sinal de Palla num doente com Embolia Pulmo- P2879 - "Paracentese evacuadora" pela bexiga: Será
nar Aguda possível ?
P2606 - “aVR” – A derivação esquecida P2892 - Bronquiectasias infectadas - sobreinfecção

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 381


pós-COVID-19 Total
P2898 - Uma hérnia de caras P3137 - Pneumatose Gástrica- como enquadrar?
P2911 - Ventilação mecânica é essencial mas não é P3152 - O que uma cirurgia de revascularização coroná-
isenta de riscos ria pode originar?
P2920 - Um Gigante silencioso P3159 - A Importância da Gestão da Obstipação
P2922 - Eritrodermia psoriática P3162 - Pneumonia a COVID 19 com tromboembolismo
P2924 - Pneumatose cistóide intestinal – uma entidade pulmonar e trombo no ventrículo direito
com um percurso imprevisível P3167 - Uma Via Verde Pouco Coronária
P2926 - Folia P3171 - Osteomielite crónica multifocal de membro
P2929 - Mais do que uma lombalgia... inferior
P2930 - Enfarte esplénico induzido por malária P3177 - Enfisema subcutâneo maciço
P2933 - Pele escaldada estafilocócica num adulto P3179 - O diagnóstico por trás da máscara
P2934 - TC – Cerebral – Um achado do passado P3182 - Trombose arterial severa associada à COVID-19
P2943 - O Senhor Hidrocefalia P3187 - Um caso de trombose mesentérica superior
P2953 - Linfangioma do mediastino posterior P3189 - ENFISEMA BOLHOSO E SUAS COMPLICAÇÕES
P2960 - Acufenos que significam algo mais P3192 - O braço fantasma
P2964 - Foliculite eosinofílica em doente VIH+ com P3215 - Fenómeno de Raynaud e úlceras digitais no
CD4+>250 células/mm3 serviço de urgência
P2969 - Celulite cervical de origem odontológica P3221 - Pseudoaneurisma Ventricular: uma manifesta-
P2970 - Entubação orotraqueal em ventilação espontâ- ção rara de doença autoimune
nea, num doente com cavidade hidrosiringomiélica P3223 - SÍNDROME DE RAMSAY-HUNT: UMA CAUSA
P2974 - Metástases cutâneas de angiossarcoma da VIRAL DE PARESIA FACIAL
mama P3225 - Adalimumab vs. COVID-19
P2978 - Miocardiopatia alcoólica num jovem P3228 - Embolia gasosa venosa – uma complicação
P2989 - Síndrome de compressão medular – um diag- inesperada
nóstico a não esquecer P3239 - Neoplasia do canal anal, um diagnóstico tardio
P2992 - Síndrome aórtico agudo: para além da disseção P3243 - Tosse no Jovem Imigrante
P2996 - A insuficiência terapêutica da gota!
P3244 - Ascite falaciosa
P3006 - Empiema Pleural – um caso de dispneia arras-
tada IMAGENS EM MEDICINA
P3010 - Pâncreas Anular
P3022 - Pseudotumor do Pulmão P n.º 0010 
Piometra como causa de síndrome febril indetermi-
P3050 - A clínica nem sempre indica o caminho nado
P3058 - Um caso de linfangioleiomiomatose inesperado Joana Correia Lopes(1);Mário Amaro(1)
P3070 - Uma imagem vale mais que mil palavras (1) Hospital Garcia de Orta, EPE
P3071 - Pitiríase Rósea Exuberante
P3087 - Homem - bomba relógio Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
P3089 - Hérnia pulmonar idiopática
P3097 - “Não sei, não me lembro…” Doente do sexo feminino, 87 anos, internada por
síndrome febril indeterminado com meses de evo-
P3102 - TROMBOSE AORTOILÍACA AGUDA NA COVID19
lução. Realizou TC abdomino-pélvico que mostrou
P3106 - Uma causa de elevação de hemicúpula diafrag- distensão da cavidade endometrial com níveis
mática hidroaéreos, sugestivo de piometra. Comparando
P3107 - Título: Artropatia de Jaccoud – um caso de com estudo prévio, a causa terá sido um mioma ute-
rino calcificado e pediculado que migrou obstruindo
artropatia mutilante rapidamente progressiva o endocolo (imagem hiperdensa na região do colo
P3114 - Empiema Bacteriano Espontâneo uterino). A colecção foi drenada e a doente medica-
P3117 - Abcesso cerebral intraparenquimatoso em do- da com metronidazol e doxiciclina com resolução
ente VIH negativo do quadro clínico.
P3122 - Efeito Hematócrito: a hemorragia na anticoagu-
lação P n.º 0012 
QUANDO O CORPO REJEITA A PRÓPRIA IDEN-
P3125 - Um buraco no peito
TIDADE - UM CASO DE REAÇÃO ALÉRGICA À
P3133 - Tosse e Disfagia, 13 anos após Tiroidectomia PULSEIRA DE IDENTIFICAÇÃO

382
IMAGENS EM MEDICINA
Carolina Amado(1);Mariana Silva Leal(1);Valter aórtica: um exemplo catastrófico
Duarte(1);Margarida Cruz(1) Sérgio Maltês(1);Anne Moura(2);Francisco Coe-
(1) Centro Hospitalar do Baixo Vouga / Hospital lho(2);João Torres(2);Pedro Santos(2);Filipa
Infante D. Pedro, EPE Monteiro(2);Marta Rebelo(2);Gabriela Almei-
da(2);Tomás Lamas(2);Isabel Nascimento(2);I-
Tema: Outro sabel Gaspar(2);Eduarda Carmo(2)
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE /
Homem de 88 anos, com múltiplas co-morbili- Hospital de Santa Cruz (2) Centro Hospitalar de
dades cardiovasculares e sem alergias conhe- Lisboa Ocidental, EPE / Hospital Egas Moniz
cidas, admitido em internamento por insuficiên-
cia cardíaca agudizada em contexto infeccioso. Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente
Como intercorrência, apresentou eritema pru- crítico
riginoso no punho, de dimensões, contornos e
localização compatíveis com pulseira de iden- Um homem de 77 anos foi admitido por pneumo-
tificação. Foi assumida dermatite de contacto, nia adquirida na comunidade e neutropenia febril.
com evicção do agente desecadeante e início O internamento foi complicado de choque sético e
de corticoterapia tópica, verificando-se melho- transferência para uma unidade de cuidados intensi-
ria progressiva. vos por necessidade de ventilação mecânica invasi-
va e suporte vasopressor. Perante febre persistente
Os autores pretendem alertar para as várias for- e evidência de bacteriémia a Streptoccocus gallo-
mas de iatrogenia possíveis desde a admissão lyticus, foi considerado um possível diagnóstico
numa Unidade Hospitalar e para necessidade de endocardite infeciosa. O doente realizou um
de melhorar os cuidados prestados, nomeada- ecocardiograma transesofágico que identificou
duas grandes vegetações na válvula aórtica
mente no que se refere aos métodos de identifi-
(figura 1). A tomografia computorizada revelou
cação em vigor. múltiplos enfartes cerebrais embólicos (figura 2),
P n.º 0016  bem como embolia renal e esplénica (figura 3).
An often misdiagnosed complication of me- Dado o desenvolvimento de falência multi-orgânica,
o doente foi recusado para substituição cirúrgica
chanical ventilation de válvula aórtica. O doente progrediu para choque
Cátia Oliveira(1);Isabel Campos(1);Carla Pi- refratário, culminando no seu óbito.
res(1);Paulo Medeiros(1);Rui Flores(1);Fernando
Mané(1);Rodrigo Silva(1);António Gaspar(1);-
Carlos Braga(1);Sérgia Rocha(1) P n.º 0034 
(1) Hospital de Braga Eritrodermia secundária a fármaco
Vera Seara(1);Sónia da Costa Fernandes(1);-
Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente Catarina Patronillo(1);Lilian Maia(1);Alexandre
crítico Mendonça(1)
(1) Centro Hospitalar Póvoa de Varzim/Vila do
A 65 years old male was admitted for hemate- Conde
mesis with hypovolemic shock at the intensive Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente
care unit under invasive mechanical ventilation crítico
(IMV). Endoscopic study revealed multiple duo-
denal ulcers which were endoscopically treated.
Mulher de 71 anos, admitida no Serviço de Urgên-
Patient developed pneumonia with need of hi-
cia com quadro com duas semanas de evolução.
gh-pressure IMV. Fifteen days later, he was extu- Apresentava-se hipotermica, bradicardica, hipoten-
bated. However, after five days he experienced sa, com eritema maculopapular pruriginoso genera-
sustained hypotension associated with non-au- lizado e lesões descamativas distribuídas por toda
dible cardiac sound and rackling feel sugges- a superfície corporal. Como antecedentes pessoais,
ting subcutaneous emphysema, was identified. referência a cirurgia ortopédica recente, com pres-
Echocardiogram was performed but the heart crição de etodolac no pós-operatório. O diagnóstico
was not visible in any perspective. The thoracic de eritrodermia induzida por fármacos baseou-se
CT showed an extensive pneumomediastinum no histórico de exposição, com Naranjo Score de 6
with emphysema in the different cervical and e biópsia da pele. Foi internada e após 4 semanas
thoracic wall compartments, probably obstruc- de tratamento e suspensão do fármaco, verificou-se
resolução total do quadro. 
ting heart filling.The patient died 12 hours later.
This is probably a case of pneumomediastinum
caused by high-pressure IMV. A eritrodermia é uma entidade rara e pode ser uma
emergência dermatológica.  O reconhecimento pre-
P n.º 0028  coce das manifestações e suspensão do fármaco
Embolização sética na endocardite de válvula responsável é crucial para uma evoluçao favo-
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 383
rável. matite de interface. O teste intradérmico com
progesterona foi positivo aos 10 minutos após
P n.º 0041  exposição a progesterona em concentrações de
Pneumomediastino associado a ventilação não 1mg/mL.
invasiva P n.º 0062 
Teresa da Costa Correia Guimaraes(1);Mar- Malformação de Chiari tipo I como causa de
ta Dalila Neves Martins(1);Ana Filipa Ro- AVC isquémico
cha(1);Helena Vilaça(1);Mariana Meire- Sandra Ganchinho Lucas(1);Filipe Alfaiate(1);I-
les(1);Mari Mesquita(1) nês Vieira Santos(1);IRENEIA LINO(1)
(1) Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, EPE / (1) Hospital do Espírito Santo, EPE, Évora
Hospital Padre Américo, Vale do Sousa
Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológi-
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias cas
Homem de 69 anos admitido por pneumonia a SAR-
Mulher de 48 anos, que recorre ao SU após esforço,
S-COV-2. O TC de tórax à admissão não apresentava
com quadro de perda de força, dor cervical, tonturas
complicações além das manifestações pulmonares
incapacitantes, náuseas e vómitos. Antecedentes
típicas. Pela gravidade da insuficiência respiratória
pessoais de enxaqueca. No exame neurológico à
iniciou ventilação não invasiva. Ao 11º dia de in-
admissão destacam-se: nistagmo bilateral horizon-
ternamento referiu agravamento da dispneia e foi
tal, hemiparesia esquerda de predomínio braquial,
notado enfisema subcutâneo cervical.  A radiografia
teste de Romberg com queda para a esquerda. Na
e TC de tórax confirmaram um pneumomediastino
TC de crânio apresenta amígdalas cerebelosas que
(imagens A e B). Foi gerido com tratamento conser-
ultrapassam o plano do buraco magno, configuran-
vador com redução dos parâmetros ventilatórios.
do possível malformação de Chiari tipo I. No inter-
namento realiza RMN do neuro-eixo que confirma
O pneumomediastino é uma complicação rara mas malformação de Chiari tipo I associada síndrome
que deve ser considerada dado o risco de lesão as- vertiginosa por AVC isquémico na vertente postero-
sociada à ventilação assistida, bem como pela dis- lateral esquerda do bulbo raquidiano. Após exclusão
torção do parênquima pulmonar por infeção SARS- de outras etiologias admite-se AVC isquémico de
-COV2 grave. causa mecânica.

P n.º 0052 
Uma história cíclica – A hipersensibilidade à P n.º 0076 
progesterona Síndrome de Chilaiditi
Rute Brás Cruz(1);Filipa David(1);Rute Morais Tiago Miguel Brandão de Melo Beirao(1);Mario
Ferreira(1);Cristina Rosário(1) Guilherme Aguiar Jesus(1); Leonor Silva(1);Pau-
(1) Unidade Local de Saúde de Matosinhos, EPE la Marques Ferreira(1);Patrícia Rocha(2);Nuno
/ Hospital Pedro Hispano Leal(1);Paula Ferreira(1)
(1) Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia / Es-
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e pinho (2) Centro Hospitalar do Médio Ave, EPE /
vasculites Hospital Conde São Bento
Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças
A reação de hipersensibilidade à progesterona hepáticas
é rara, com menos de 200 casos reportados.
Ocorre maioritariamente em mulheres na ter-
ceira década de vida e pode apresentar-se de Mulher, 73 anos, recorre ao serviço de
forma heterogénea (cutânea e/ou sistémica), urgência por dor abdominal em cólica,
com relação temporal com os níveis séricos intolerância alimentar, diarreia, vómitos e
de progesterona. O diagnóstico é baseado na astenia progressiva com uma semana de
anamnese e exame físico, apoiado por testes evolução. Analiticamente com elevação
cutâneos.  da Proteina-C-Reativa (8,80 mg/dL), múlti-
plos desequilíbrios hidroeletrolíticos (Po-
Descrevemos o caso de uma mulher de 28 tássio 3,2 mmol/L; Ca 0,68 mmol/L) e ele-
anos, com eritema pruriginoso desde a região vação da amílase pancreática (507 U/L) e
infra-mamária até à região supra-umbilical e na
região dorsal. Manifestava-se na fase lútea do lípase (2368 U/L). Realizou TAC abdomi-
ciclo menstrual, com resolução espontânea em nal que observou interposição das ansas
3 a 5 dias, sem cicatriz secundária. Histologica- intestinais entre fígado e diafragma – Sín-
mente pode manifestar-se de formas diversas, drome de Chilaiditi – com pancreatite agu-
neste caso a biópsia cutânea evidenciou der- da edematosa difusa alitiásica. A doente
384
IMAGENS EM MEDICINA
foi internada para tratamento do quadro. Descre-se o caso de uma mulher, 60 anos,  com dor ab-
dominal no flanco esquerdo, com irradiação lombar, em
Trata-se de um síndrome raro, sendo um cólica, com duas horas de evolução. Sem noção de febre.
achado incidental na maioria dos casos. Sem qualquer história de trauma precendente. Hemodi-
É de importante relevância clínica, sendo namicamente estável, defesa à palpação do flanco es-
querdo. Realizada Tomografia Axial que evidenciou lesão
um diagnóstico diferencial de pneumope- esplênica de aspeto quístico, 9,7 cm de diâmetro, com
ritoneu, patologia potencialmente grave.  volumoso coágulo no seu interior (Figura 1 e 2). Rea-
Só uma minoria dos casos necessita de lizada esplenectomia parcial, cuja histologia mostrou
imagens de quisto de inclusão seroso, com pericistite
tratamento cirúrgico. crónica.

P n.º 0091 
P n.º 0083 
Ecografia durante o tratamento de Edema Agu- Aspiração de corpo estranho no idoso - um
do do Pulmão diagnóstico diferencial a recordar
Tiagombmendes(1);Nuno Pardal(1);Sabina Aze- Ana Rita Dos Santos Gomes(1);Jéssica
vedo(1);Raquel Costa(1);Miguel Romano(1) Abreu(1);Francisca Guimarães(1);Gilda Nu-
(1) Unidade Local de Saúde do Alto Minho, EPE nes(1);José Barata(1)
/ Hospital de Santa Luzia (1) Hospital de Vila Franca de Xira

Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente Tema: Medicina geriátrica


crítico
A aspiração define-se como a inalação de con-
Doente de 82 anos, internado em enfermaria teúdo orofaríngeo/gástrico pelas vias aéreas
COVID, em dia 6 de internamento, tendo ini- inferiores. São fatores de risco: etilismo, doen-
ciado fluidoterapia por lesão renal. No dia se- ça cerebrovascular e alterações da deglutição.
guinte iniciou franca dificuldade respiratória.
Em avaliação ecográfica apresentava linhas B Doente do sexo masculino, 82 anos, autónomo,
exuberantes e em cascata dispersas (Imagem fumador, internado por dispneia, tosse, expetora-
1 e 2). Iniciou CPAP, furosemida, hidrocortiso- ção de 8 dias de evolução. Apirético e hipoxémi-
na e morfina. Em re-avaliação ecográfica após co. Analiticamente: elevação dos parâmetros de
15 minutos constata-se melhoria imagiológica fase aguda, hemoculturas negativas. Radiogra-
franca (Imagem 2). fia de tórax: imagem nodular parahilar esquer-
da.  Tomografia computorizada: densificação
Esta sintomatologia ocorre frequentemente parahilar esquerda. Admitiu-se pneumonia ad-
em doentes com agudização da sua pneumo- quirida na comunidade vs neoplasia pulmonar.
nia COVID. A  clínica não é linear e avaliação Iniciou Amoxicilina-Clavulânico. A broncofibros-
com recurso a ecografia é uma ferramenta copia confirmou corpo estranho (CE) - fruto seco
poderosa na distinção entre as possíveis etio- - na origem do brônquio lobo superior esquerdo.
logias. No caso do Edema Agudo do Pulmão, Salientamos a importância do diagnóstico dife-
muito rapidamente, vemos a resolução das rencial, apesar da ausência de fatores de risco/
linhas B. Numa agudização da pneumonia CO- exames de imagem sugestivos.
VID, apesar de ter uma padrão semelhante, as
alterações ecográficas não desaparecem neste P n.º 0097 
período curto de tempo. Doença renal poliquística e suas complicações
Ana sá(1);Narciso Oliveira(1);Sofia de Melo Ho-
P n.º 0086  mem(1);Carlos Soares(1)
Hematoma Esplénico Espontâneo - a propósito (1) Hospital de Braga
de um caso clínico
Sara Montezinho(1);Manuela Alves(1) Tema: Doenças renais
(1) Centro Hospitalar de Entre Douro e Vouga,
EPE / Hospital de S. Sebastião A Doença Renal Poliquística Autossómica Do-
Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente minante (DRPAD) é uma doença hereditária
crítico caracterizada pela formação e crescimento de
quistos renais bilaterais, levando a perda da
função renal. Deve-se a mutações nos genes
Descrita pela primeira vez por Edward Atkinson, em 1874,
a rotura espontânea do baço constitui uma entidade rara, PKD1/PKD2, podendo afectar também outros
de diagnóstico difícil na ausência de exames de imagem, órgãos. Os quistos renais podem associar-se a
e elevada mortalidade, principalmente devido ao atraso complicações, como hemorragia renal, hematú-
no diagnóstico e na terapêutica. É incomum e subdiag- ria macroscópica e infecção. O tratamento das
nosticada na ausência de trauma. 

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 385


infecções é difícil, devido à baixa penetração Situs inversus totalis é uma síndrome rara, com
dos antibióticos nos quistos. Na ausência de uma incidência de 1/8000-25000 nascimentos,
resposta à antibioterapia, deverá ser realizada que resulta da rotação anómala do tubo
drenagem dos quistos infectados ou, se doença cardíaco primitivo durante a embriogénese.
renal terminal estabelecida, nefrectomia. Estudos recentes sugerem que defeitos
genéticos nos genes HAND, ZIC3, Shh, Pitxz
Nas imagens apresentadas são visíveis os inú- e ACVR2B podem justificar as variações na
meros e exuberantes quistos renais e hepáticos assimetria. Na maioria dos casos, o doente
de uma doente com DRPAD em hemodiálise. Es- desconhece ter tal condição sendo que o
teve internada 1 mês por rotura de quisto renal diagnóstico é feito de forma acidental. No situs
com sobreinfecção bacteriana, com boa respos- inversus total com dextrocardia, a esperança
ta a antibioterapia. média de vida é semelhante à da população
em geral, ao contrário do que se verifica na
P n.º 0128  dextroversão (dextrocardia com situs solitus).
Síndrome de Fahr: disartria com uma etiologia Os autores apresentam um caso de um homem
incomum de 90 anos de idade, admitido por sinais infla-
Daniela Casanova(1);Ana Luís Ferreira(1);Ana matórios na coxa direita, sugestivos de proces-
Correia de sá(1);Márcia Machado(1);Maria João so infeccioso dos tecidos moles. Da avaliação
Tavares(1);Jorge Cotter(1) radiológica de rotina salientamos o diagnóstico
(1) Hospital Senhora da Oliveira, Guimarães inaugural de situs inversus totalis.

Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológi- P n.º 0142 


cas Cistocercose, um diagnóstico passado, mas
com relevância presente.
Homem de 53 anos, admitido no serviço Filipa Torres Silva(1);Margarida Melo Cruz(1);-
de urgência com disartria moderada e di- Cláudia Sofia Pinto(1);Ana Fernandes(1)
minuição de força muscular do membro (1) Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto
superior direito. Referia antecedentes de Douro, EPE / Hospital de Vila Real
distúrbios na fala crónicos. Realizou TC Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
crânio que mostrou a presença de múlti-
plas calcificações nas coroas radiadas, Caso: Homem de 90 anos internado por pneumotó-
gânglios da base, tálamo, protuberância e rax secundário espontâneo drenado. A radiografia
hemisférios cerebelosos. O doente foi re- do tórax mostrava múltiplos nódulos pericentrimétri-
ferenciado a consulta e realizou estudo do cos, bem definidos, em localização do parênquima
e no tecido subcutâneo. Com análise de radiografias
metabolismo fosfo-cálcio, apresentando anteriores até 2008 no sistema hospitalar, já se ob-
hipocalcemia, elevação da paratormona servou a sua presença. Após consulta do histórico
(PTH) com níveis de fósforo e vitamina D3 clínico digital, encontra-se referência a cistocercose,
normais. nos registos do médico assistente.

Relevância: Este caso ilustra um achado radiológico


Esta é uma apresentação imagiológica tí- invulgar nos dias de hoje, pelas medidas de saúde
pica do Síndrome de Fahr, cujo diagnóstico pública instituídas. Porém, deve permanecer presen-
diferencial com acidente vascular cerebral te, tendo em conta a população portuguesa, que em-
é comum dada clínica mimetizadora, no bora mais urbana,  possui ainda um forte elemento
entanto sempre com alguma cronicidade rural. É crucial um registo detalhado da história clí-
nica e antecedentes para evitar exames desneces-
associada. sários.
P n.º 0137  P n.º 0167 
SITUS INVERSUS TOTALIS: RARO E FREQUEN- Glioblastoma Multifocal
TEMENTE DESCONHECIDO Fábio Manuel Caleça Emidio(1);Pedro Campe-
Maria Margarida Andrade(1);Marta Ra- lo(1);Teresa Abegão(1);Ana Ribeiro Sousa(1)
mos(1);Rita Tinoco Magalhães(2);Ana Gorgu- (1) Centro Hospitalar do Algarve, EPE / Hospital
lho(1);Inês Nabais(1);Ana Paula Antunes(1);Sa- de Faro
ra Freire(1);Diogo Cruz(1)
(1) HPP Hospital de Cascais (2) Hospital Cas- Tema: Doenças oncológicas
cais
Mulher, 77 anos, previamente dependente por
Tema: Doenças raras
386
IMAGENS EM MEDICINA
síndrome demencial, recorre ao Serviço de Tema: Doenças cardiovasculares
Urgência por quadro confusional com uma se-
mana de evolucão e múltiplas quedas por dimi- Mulher de 80 anos, com antecedentes pessoais
nuicão da força muscular no hemicorpo direito de hipertensão pulmonar (HP) secundária a
nas últimas 24horas. À admissão, tomografia neurofibromatose (NF) tipo 1, recorreu ao Ser-
evidenciou volumosa massa no hemisfério ce- viço de Urgência por agravamento da sua disp-
rebral esquerdo, posteriormente caracterizada neia. À observação, encontrava-se polipneica
por ressonância magnética. em repouso e em ar ambiente, com saturação
periférica de O2 de 78%. À auscultação cardía-
As seguintes imagens mostram uma volumosa ca com tons hipofonéticos, e pulmonar com
lesão tumefacta, infiltrativa, de aparente natu- murmúrio vesicular diminuído em ambas as
reza neoplasica. Envolve grande parte do lobo bases pulmonares. Realizou ecocardiograma
temporal esquerdo, com predominio temporo- transtorácico que evidenciou ventrículo direi-
-mesial (incluindo o hipocampo) e que se esten- to dilatado, derrame pleural e HP grave. Efetuou
de parcialmente ao lobo occipital, contornada tomografia computorizada (TC) do tórax que
por uma extensa área de edema vasogénico - mostrou ectasia do tronco da artéria pulmonar,
características imagiológicas a favor de exten- cardiomegália, derrame pericárdico e pleural di-
so Glioblastoma multifocal. reito e esquerdo (Figuras 1 e 2). A HP associa-
da à NF-1 é uma complicação rara, mas grave,
P n.º 0200  da NF-1 e classifica-se como HP pré-capilar do
Bronquiectasias pós-infeciosas: achado inci- grupo 5, definido como “HP com mecanismos
dental em doente com infeção pelo novo coro- pouco claros e/ou multifatoriais”.
navírus
Marta Leite(1);Diogo Ferreira(1);Guilherme Je- P n.º 0209 
sus(1);Tiago Beirão(1);Paula Ferreira(1);Manue- Urgent Bronchoscopic Management of Malig-
la Sequeira(1) nant Airway Obstruction: a successful case
(1) Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia / Es- Ana Catarina Trigo(1);Filipa Guimarães(1);Filipa
pinho David(1);Eduardo Eiras(1)
(1) Unidade Local de Saúde de Matosinhos, EPE
Tema: Doenças respiratórias
/ Hospital Pedro Hispano
Doente de 65 anos do sexo feminino internada Tema: Doenças oncológicas
no serviço de medicina interna no contexto
de infeção por SARS-COV-2 com provável so- Approximately 33% of patients with lung cancer
breinfeção bacteriana. A TAC realizada durante will develop airway obstruction. Intervention-
o internamento identifica múltiplas bronquiec- al management of malignant central airway
tasias císticas de paredes espessadas locali- obstruction (mCAO) may achieve prolonged
zadas à base pulmonar esquerda e opacidades survival. We present a 55-year-old man with
dispersas bilateralmente em “vidro despolido” small cell lung cancer (stage IV) who presented
(cujo aspeto e distribuição é compatível com with an obstructive pneumonia and mild type 1
infeção por COVID-19). Este volumoso con- respiratory failure (RF). On the 5th day of hospi-
glomerado bronquiectásico enquadra-se num talization he evolved with a sudden worsening
síndrome de Swyer-James-Macleod, condição of RF. A CT scan excluded pulmonary throm-
pulmonar secundária a uma bronquiolite oblite- boembolism and showed a mCAO at the level
rante, geralmente de etiologia vírica  e durante a of the right lobar bronchi causing significant
primeira infância, com “air-trapping” distalmen- atelectasis of the right lung. An urgent bron-
te, distensão da via aérea, diminuição da vas- chofibroscopy was performed, allowing the re-
cularização pulmonar e enfisema peri-acinar. moval of 4 endobronchial lesions and resulting
Clinicamente é caracterizado por maior suscep- in restoration of pulmonary ventilation. He was
tibilidade a infeções respiratórias.  discharged 2 days later without RF. Five months
later he is still alive (ECOG of 1) and continues
P n.º 0202  his treatment with palliative chemotherapy and
Hipertensão Pulmonar secundária a Neurofi- radiotherapy.
bromatose tipo I
Helena Luís(1);Mariana Gomes(1);Carolina Bar- P n.º 0219 
ros(1);Bela Machado(1);Mariana Bilreiro(1);José Um bocadinho de sangue nos seus triglicéridos
Luís Andrade(1);Rafael Freitas(1) Luís Veiga(1);Joana Arana Ribeiro(1);Rodri-
(1) Hospital Dr. Nélio Mendonça go Rebolo(1);Silvia Nunes(2);Maria Pache-

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 387


co(1);Iurie Pantazi(1);Adriano Cardoso(1);João Maria Margarida Rosado(1);João Neves(1);A-
Correia(1) na Rita Fernandes(1);Nuno Bernardino Viei-
(1) Unidade Local de Saúde da Guarda, EPE / ra(2);Maria José Grade(2);Luísa Arez(1)
Hospital Sousa Martins (2) Centro Hospitalar (1) Hospital do Barlavento Algarvio (2) Hospital
do Alto Ave, EPE / Hospital da Senhora da Oli- Portimao
veira
Tema: Doenças cardiovasculares
Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nu-
tricionais Doente do sexo masculino, 65 anos de idade, reali-
zou um Electrocardiograma (ECG) que demonstrou
Mulher, 40 anos, recorre ao serviço de urgência por uma onda P bífida com uma duração de 128 milis-
dor abdominal, intensidade 8, súbita, associada a segundos (ms) (Fig. 1). A duração de mais de 120
náuseas e vómitos alimentares persistentes, tendo ms e a forma clássica em bossa desta onda P são
feito referência a hipertrigliceridemia familiar e pan- sugestivas de dilatação auricular esquerda (DAE). A
creatites no passado. Ao exame objetivo apirética, onda P representa a despolarização auricular, como
hipotensa (80/55mmHg) com dor à palpação dos tal, na presença de DAE existe um desfasamento
quadrantes superiores, irradiada em cinturão com entre a despolarização de ambas as aurículas, origi-
defesa. Tomografia computorizada demonstrou nando uma onda P mitrale.
pâncreas aumentado ao nível do corpo e cauda com
densidade heterogénea, focos hipodensos mal defi- O Ecocardiograma evidenciou uma aurícula esquer-
nidos relacionados com discretas áreas de necrose da com um volume de 92 mililitros. O interesse desta
(inferior a 10%), densificação da gordura e exsudado alteração electrocardiográfica prende-se com a sua
inflamatório; associadamente apresentava Triglicé- elevada especificidade, de 99%, para DAE, apesar da
ridos de 4274mg/dL, com modified MarshalScore 3 sua raridade, com uma prevalência estimada de 3%.
e Ranson 4, transferida para a UCI, tendo realizado
plasmaférese. A imagem foi realizada com alguns P n.º 0241 
segundos de repouso após colheita com desposi- DOENÇA ESTREPTOCÓCICA DISSEMINADA
ção quase imediata de lípidos Ana Cardoso(1);Ana Mafalda Abrantes(1);Nuno
Jacinto(1);António Pais Lacerda(1)
P n.º 0222  (1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE /
Edema peri-orbitário: um caso de pansinusite Hospital de Santa Maria
complicada
Carolina Teixeira(1);Maria Beatriz Santos(1);Pe- Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
dro Cota(1);Susana Correia(1);Sofia Sequei-
ra(1);Adriana Santos(1);Catarina Macha- Homem de 44 anos com hábitos toxifílicos, admitido por
do(1);Leonor Monjardino(1) febre e lesões abcedadas do 1º dedo da mão direita, com
surgimento posterior de novas lesões na região occipital
(1) Hospital de Santo Espírito da Ilha Terceira esquerda e retro-auricular direita, que foram drenadas
e desbridadas. Foi isolado Streptococcus pyogenes no
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias pus, tendo iniciado antibioterapia dirigida com penicilina
e clindamicina com melhoria subsequente. O estudo de
Homem, 21 anos, saudável. Recorreu ao Servi- causas de imunodepressão foi negativo. Os utilizadores
de drogas injetáveis apresentam alto risco de infeções de
ço de Urgência (SU) por queixas persistentes de pele e tecidos moles, predominantemente causadas por
edema e rubor periórbitário direito, após tera- organismos gram-positivos como o S. pyogenes. Embora
pêutica com vários antibióticos. Realizou tomo- a antibioterapia tenha um papel fundamental no trata-
grafia computorizada dos seios perinasais que mento dessas infeções, a drenagem e o desbridamento
revelou: “Obliteração total dos seios maxilares, do tecido desvitalizado são essenciais.
células etmoidais e seio frontal assinalando-
-se na vertente direita e parede anterior deste, P n.º 0244 
diminuição da espessura óssea com área de COVID-19 EM DOENTE COM SARCOIDOSE EM
solução de continuidade/osteólise (seta azul)”. FASE TERMINAL
Foi internado e realizou terapêutica antibiótica Ana Cardoso(1);Tiago Branco(1);Raquel Soa-
endovenosa e corticoide, com melhoria. Trata- res(1);João Victor Freitas(1);Lisa Gonçalves(1);-
-se de um caso de pansinusite complicada com Francisco Cunha(1);Nuno Jacinto(1);Liliana r.
destruição óssea e celulite da órbita. O doente Santos(1);António Pais Lacerda(1)
foi diagnosticado posteriormente com desvio (1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE /
do septo nasal, um dos factores de risco para Hospital de Santa Maria
esta condição.
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
P n.º 0225 
Mulher de 62 anos, com diagnóstico de sarcoidose esta-
Onda P mitrale dio IV em fase fibrótica, sob terapêutica imunossupresso-
388
IMAGENS EM MEDICINA
ra com prednisolona, azatioprina e infliximab. Internada putorizada (TC) observou-se volumosas bolhas
por pneumonia a SARS-CoV-2 com insuficiência respira- gasosas a nível do pescoço e na transição
tória global grave. Tomografia computorizada de tórax
com predomínio das áreas de espessamento septal intra- cervico-torácica, áreas de vidro despolido as-
-lobular e densificação em vidro despolido, com distribui- sociadas a densificação de septos interlobula-
ção predominantemente peribroncovascular, envolvendo res, visualizando o esófago cervical e parcial-
os vários lobos bilateralmente. Apesar da doente se mente torácico exclui-se aspetos de perfuração
encontrar proposta para transplante pulmonar, a fibrose desta víscera. A infeção SARS CoV2 grave tem
pulmonar extensa impossibilitou a ventilação mecânica um potencial de envolvimento extrapulmonar e
invasiva. Houve evolução desfavorável com hipoxemia
grave, tendo falecido sob ventilação não-invasiva. multissistêmico, entretanto é raro a ocorrência
de pneumomodiastino espontâneo exuberante,
como observado neste caso. O exame de ima-
P n.º 0272 
gem TC desempenha um papel crucial no diag-
Penfigóide bolhoso nóstico doença, na caracterização da severida-
Carolina Fernandes(1);Ana Isabel Salgueiro(1);-
de, bem como as complicações relacionadas.
Catarina Domingues(1);Joana Gonçalves(1);Ve-
ra Vieira(1);Maria Jesus Banza(1)
(1) Centro Hospitalar de Leiria / Hospital de P n.º 0294 
Santo André Giant gastric dilatation
Catarina Jorge(1);Luís Miguel Relvas(1);Tânia
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e Gago(1);Bruno Peixe(1);Paulo Caldeira(1)
vasculites (1) Centro Hospitalar do Algarve, EPE / Hospital
de Faro
Penfigóide bolhoso (PF) é uma doença infla-
matória crónica que causa lesões bolhosas Tema: Doenças oncológicas
pruriginosas generalizadas. Manifesta-se mais
comummente em idades superiores a 65 anos.  Homem 55 anos com carcinoma pancreático
Pode ser precipitada por fármacos tais como irressecável e episódio de icterícia obstrutiva
furosemida, anti-inflamatórios não esteroides, com implantação de endoprótese. Recorreu ao
captopril e alguns antibióticos. Descritos ca- SU por vómitos, dor e distensão abdominal des-
sos de PF após vacinação, particularmente em de há 3 dias. À admissão, apirético, hemodina-
crianças. micamente estável e abdómen muito distendi-
do, doloroso, sem sinais de irritação peritoneal.
Descreve-se mulher de 86 anos. Trazida ao ser- TC abdominal mostrou estômago maciçamente
viço de urgência por aparecimento de múltiplas dilatado com extensão à região pélvica, inva-
bolhas flácidas de conteúdo claro, algumas são tumoral do tronco celíaco e estenose do
hemorrágicas, com um mês de evolução. Foi duodeno horizontal. Para restabelecer uma via
medicada em ambulatório com esquema curto de alimentação e, numa ótica paliativa, consi-
de prednisolona oral e ácido fusídico local sem derando o PS 0 e a opinião do doente, optou-se
melhoria clínica satisfatória. Administração da por derivação cirúrgica, dado que a localização
vacina de mRNA contra a COVID-19 antes do da estenose inviabiliza o tratamento endoscó-
inicio do quadro clínico. Internada por penfigói- pico. A imagem revela uma forma exuberante
de bolhoso, cumpriu esquema de corticoterapia de apresentação da obstrução gástrica distal
com melhoria significativa das lesões cutâneas. maligna, que se tornou desafiante e exigiu uma
abordagem multidisciplinar, visando uma me-
P n.º 0293  lhor qualidade de vida.
Pneumomediastino espontâneo exuberante em
doente com pneumonia a SARS CoV2 P n.º 0297 
Carlos M Nancassa(1);Carolina Nunes Coe- Extenso abcesso abdominal secundário a que-
lho(1);João Cruz Cardosos(1);Adelaide Figueire- da
do(1) Tânia f. Mendes(1);Bárbara Silva(1)
(1) Hospital Distrital de Santarém, EPE (1) Hospital de Vila Franca de Xira
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias Tema: Doenças renais

Introdução: Masculino, 79 anos, sem an- Mulher de 75 anos, foi ao serviço de urgência por
tecedentes pessoais, com 1 fator de risco quadro de dor abdominal com 2 semanas de evolu-
ção, após queda no domicílio. Imagiologicamente
(idade > 65 anos) associada a evolução identificou-se volumosa coleção líquida multilocu-
para COVID-19 grave. Internado por pneu- lada na parede abdominal lateral direita e retrope-
monia a SARS CoV2. Fez tomografia com- ritoneu (18x13x10cm), com extensão ao músculo
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 389
psoas-ilíaco e raiz da coxa direita (27x6,5cm), com sudado de abcesso testicular, exame direto mostra
origem em abcesso renal. Foram colocados drenos bacilos acido álcool resistentes, cultura identifica
percutâneos e iniciou antibioterapia dirigida, man- Mycobacterium tuberculosis. Admitida tuberculo-
tendo agravamento progressivo, com necessidade se disseminada, com envolvimento ganglionar e
de realizar nefrectomia total direita. genital. Doente evoluiu para choque séptico com
falência multiorgânica e falece ao 7º dia de interna-
Aqui apresentamos as imagens que demonstram mento.
este extenso abcesso com envolvimento de várias
estruturas. P n.º 0316 
ESPOROTRICOSE CUTÂNEO-LINFÁTICA
P n.º 0303  Rita Passos Coelho(1);Mafalda sá Pereira(1);E-
Cálculos Coraliformes Bilaterais veline Pipolo Milan(2)
Mariana Bessa Quelhas(1);Daniela Nascimen- (1) Hospital Garcia de Orta, EPE (2) Hospital Gi-
to Matias da Silva(1);Jorge Luís Barbancho selda Trigueiros
Bravo(1);Renzo Mozzer(1);Lorena Lozano
Real(1);Mykhailo Iashchuk(1);Paula Sofia Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
Santos Araújo(1);Ana Catarina Varandas Ro-
drigues(1);Maria Del Mar Barba Dominguez(1);- Mulher de 30 anos, saudável, natural e residente no
Juan Manuel Urbano Galvez(1) Nordeste Brasileiro. Apresenta-se na consulta de
(1) Unidade Local de Saúde do Norte Alentejano Doenças Infecciosas por lesão papular ulcerada do
- Hospital Santa Luzia de Elvas punho, com 1 mês de evolução e com progressão
para linfangite do braço homolateral, com formação
Tema: Doenças renais de adenopatias eritematosas dolorosoas em “colar
de pérolas”. História de arranhadela local por gato
Mulher de 38 anos. Antecedentes de Hipertensão doméstico doente, no entretanto falecido. Assumido
Arterial não controlada. Sem medicação habitual ou o diagnóstico de esporotricose cutâneo-linfática
alergias conhecidas. Recorreu ao Serviço de Urgên- e iniciado itraconazol empírico em dose alta de
cia por dor abdominal, tipo cólica, no flanco direito, 400mg/dia, com regressão parcial das lesões ao
sem irradiação, associada a náuseas e vómitos; fim de 3 meses de terapêutica, e com indicação
negava febre. Ao exame objetivo apresentou dor à para manter por mais 1 mês após resolução total.
palpação do flanco direito com sinal de Murphy Re-
nal duvidoso à direita. Analiticamente com anemia, P n.º 0317 
leucocitose com neutrofilia e lesão renal aguda. Angiopatia amiloide
Radiografia de abdómen com cálculos coraliformes Sandra Ganchinho Lucas(1);Filipe Alfaiate(1);I-
exuberantes, bilaterais, com perda de diferenciação
e atrofia parenquimatosa, mais à direita;  confirma-
nês Vieira Santos(1);IRENEIA LINO(1)
dos na TC abdominal: à direita com dilatação pielo- (1) Hospital do Espírito Santo, EPE, Évora
calicial e densificação peri-renal, sugerindo pielone-
frite xantogranulomatosa. A visualização de litíase
Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológi-
renal destas dimensões na radiografia de abdómen cas
é uma entidade rara, justificando assim a relevância
desta imagem. Homem de 74 anos de idade independente nas
AVD’s, recorreu ao SU por hemiparesia esquerda.
Antecedentes de hipertensão arterial. Na admissão
P n.º 0304 
consciente, mas com afasia de compreensão e ex-
Tuberculose disseminada pressão. Pupilas mióticas e hemianópsia homónima
Mafalda sá Pereira(1);Rita Passos Coelho(1);Ali- direita na campimetria. Com alteração da sensibili-
ne Ragnini(2) dade à esquerda. TC de crânio com AVC hemorrá-
(1) Hospital Garcia de Orta, EPE (2) Hospital Gi- gico agudo corticossubcortical parietal esquerdo e
selda Trigueiro hemorragia subaracnoideia frontoparietal direita. No
internamento realiza RMN de crânio com presença
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias de múltiplas áreas micro hemorrágicas dispersas
pelos hemisféricos cerebrais suspeito de angiopatia
Homem de 37 anos, HIV positivo, com má adesão, amiloide. Ao longo de 1 ano o doente apresentou 4
apresenta-se com quadro de dor abdominal com episódios de AVC hemorrágicos sintomáticos, pelo
2 meses de evolução, e febre há uma semana. Na que se admite como provável o diagnóstico de an-
observação identificam-se adenopatias supra-cla- giopatia amiloide, o diagnóstico definitivo apenas
viculares e axilares palpáveis, lesões ulceradas no poderá ser efetuado post-mortem ou por biópsia.
pescoço e axila esquerda e hepatomegalia. Exame
genital identifica abcesso testicular com exsudado P n.º 0322 
purulento. Radiografia de tórax mostra infiltrado bi- Neurocisticercose: um caso clínico, uma revi-
lateral sugestivo de tuberculose miliar. Colhido ex- são imagiológica
390
IMAGENS EM MEDICINA
Mafalda Ferreira(1);Mariana Lopes(1);Pedro Homem, 34 anos, natural do Brasil. Antecedentes de
Melo Freitas(1);Isabel Ramos(1) infeção por Vírus de Imunodeficiência Humana diag-
(1) Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra nosticada na Suíça há mais de 10 anos. Sem segui-
/ Hospitais da Universidade de Coimbra mento médico e sem tratamento há pelo menos 2
anos. Recorreu ao serviço de urgência por pareste-
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias sias e diminuição força muscular do membro supe-
rior direito. Realizou TC crânio-encefálica revelando:
lesão focal ovalada com centro hipodenso e hipo-
Homem, 20 anos, natural de Angola, a residir em captante e captação periférica linear de contraste.
Portugal há 18 meses, sem antecedentes patoló- Levantaram-se hipóteses diagnósticas de: lesão
gicos de relevo. Activada equipa de emergência neoplásica, toxoplasmose cerebral e abcesso. Pelos
pré-hospitalar por convulsão inaugural seguida de antecedentes, melhoria com início da terapêutica
episódio psicótico. antiretroviral, clindamicina e pirimetamina e face ao
estado de imunodepressão grave, CD4+ 66 células/
No serviço de urgência, sem alterações ao exame µL conclui-se toxoplasmose cerebral, doença defini-
físico e neurológico; realizou TC-CE que evidenciou dora de SIDA (Síndrome de imunodeficiência adqui-
lesões quísticas sugestivas de etiologia parasitária. rida). Diagnóstico posteriormente corroborado por
Durante o internamento realizou RMN que confirmou ressonância magnética.
diagnóstico de neurocisticercose com múltiplas le-
sões parenquimatosas dispersas, em todos os esta- P n.º 0335 
dios evolutivos.
ESPONDILODISCITE: Um mal nunca vem só
Iniciou tratamento com dexamentasona, albenda- Sofia Santos Pereira(1);Mariana Argel(1);Hélia
zol e praziquantel. Permaneceu estável, sem novos Mateus(1)
episódios de convulsão e com melhoria imagiológi- (1) Centro Hospitalar Tondela-Viseu, EPE / Hos-
ca após 14 dias de terapêutica, tendo tido alta com pital de São Teotónio, EPE
orientação para seguimento em consulta externa.
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
P n.º 0328 
Duplo azar Homem, 64 anos, DHC alcoólica.  
Diogo Duarte Dias(1);Ana Teresa Vieira(1);Diogo
Canudo(1);Andreia Bernardino(1);Conceição Apresentação clínica: Febre e dor lombar com
Barata(1) 10 dias de evolução. Estudo analítico: neutrofi-
(1) Hospital do Espírito Santo, EPE, Évora lia relativa de 82,4%; PCT 4,84 ng/dL; PCR 11,41
mg/dL. Ressonância magnética lombar: Espon-
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias dilodiscite L4-L5 + Empiema endocalanar de
D12 à sacro, com moldagem do saco dural. He-
Homem, 30 anos, saudável. Encontrava-se no 5º dia moculturas (2) à Streptococcus Gallolyticus.
de infeção por SARS-CoV-2 e recorreu à urgência
por febre persistente, mialgias e aparecimento de A espondilodiscite é um processo inflamatório,
lesões cutâneas tipo vesículas pruriginosas. Doente de instalação insidiosa e clínica inespecífica,
referia que as duas filhas apresentavam varicela e cujo diagnóstico pode ser muito desafiante. As
negava infeção por vírus varicela-zóster (VVZ) em hemoculturas são positivas em apenas 50%
idade pediátrica. À observação verificaram-se le-
dos casos. A ressonância magnética nuclear é
sões vesiculares múltiplas infra-centimétricas, com
atingimento de todo o corpo inclusive couro cabe- o método de deteção precoce mais sensível. O
ludo, em diferentes fases de evolução, algumas em tratamento, em regra, é conservador e depende
fase de cicatrização. As manifestações cutâneas do agente. O Strepcoccus gallolyticus é infre-
descritas em contexto de COVID-19 são variadas e quente, e em dois terços dos doentes, a sua
podem incluir erupções vesiculares. Porém, dado os presença está associada a doenças hepatobi-
antecedentes, contexto epidemiológico e evolução liares ou do cólon.
das lesões concluiu-se uma dupla infeção viral por
SARS-CoV-2 e por VVZ. P n.º 0349 
Bócio mergulhante a condicionar compressão
P n.º 0331  vascular
SIDA imagiológica Ana Órfão(1);João Dinis Martins(2);André Jin-
Diogo Duarte Dias(1);Filipe Alfaiate(1);Miguel -Ye(3);Mariana Passos(1);Clara Matos(1);Sara
Carias(1);Sandra Lucas(1);Andreia Bernardi- Vilas-Boas(1);Sérgio Ferreira(1)
no(1);Conceição Barata(1) (1) Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca (2)
(1) Hospital do Espírito Santo, EPE, Évora Centro Hospitalar do Algarve, EPE / Hospital de
Faro (3) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias / Hospital de Santa Maria

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 391


Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nu- Introdução: O Síndrome de Urina Roxa é raro
tricionais e é associado a  infeção do trato urinário em
doente algaliado cronicamente. É frequente em
Mulher, 85 anos, com antecedentes de bócio eutiroi- mulheres idosas com comorbilidades signifi-
deu, internada por insuficiência cardíaca descom- cativas e obstipação. Esta alteração ocorre em
pensada. À observação apresentava uma massa urina alcalina com bactérias Gram- (Providencia
cervical volumosa, simétrica, móvel com a degluti- spp., Escherichia coli, Proteus mirabilis ou Kle-
ção, sem nódulos palpáveis, associada a edema e bsiella pneumoniae) produtoras de enzima sul-
exuberante circulação venosa torácica superior. A fatase que convertem o sulfato de indoxilo em
ecografia tiroideia e TC tórax revelaram uma tiróide indigo (azul) e indirrubina (vermelho). O trata-
de dimensões muito aumentadas, heterogénea, mento passa pela realgaliação e antibioterapia.
multinodular, com extensão para a região cervical
O caso é de uma mulher de 84 anos, acamada
anterior/superior e mediastino superior, e compres-
são de estruturas vasculares adjacentes (veias jugu- e totalmente dependente, com obstipação e al-
lares internas e artéria carótida interna esquerda). A galição cónica. Doente foi realgaliada, realizou
função tiroideia era compatível com hipertiroidismo urocultura (que foi inconclusiva) e iniciou anti-
subclínico. A doente foi encaminhada para consulta bioterpia empírica com melhoria clínica.
de Cirurgia Cardiotorácica. Este caso demonstra
uma causa rara de síndrome da veia cava superior P n.º 0373 
que, embora benigna, implica um rápido reconheci- Problema pandémico: nem tudo é o que pare-
mento e intervenção.
ce.
Luciana Silva(1);Mariana Santos(1);Joana Ri-
P n.º 0352  gor(1);Joana Cochicho(1)
Quando uma fístula arteriovenosa se torna um (1) Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia / Es-
problema… pinho
Ana Órfão(1);Catarina Rodrigues(1);Afonso San-
tos(1);Diva Trigo(1) Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
(1) Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca
Homem, 78 anos, recorre à Urgência por astenia,
Tema: Outro odinofagia, diarreia e dor abdominal. Antecedentes
de linfoma de células T/NK extranodal do tipo nasal
Homem, 48 anos, com antecedentes de doença sob prednisolona, gencitabina e etoposídeo.
renal crónica por glomerulonefrite membra-
noproliferativa, em estadio V, sob hemodiálise. Apresentava polipneia, SpO2(21%) 82% e Tª37,9.
Portador de fístula arteriovenosa (FAV) no MSE Auscultação pulmonar com crepitações dispersas.
que evoluiu com alto débito e desenvolvimento Análises com linfopenia(920/uL) e PCR de 13,26 mg/
de pseudoaneurismas de punção exuberantes dl. Gasometria com insuficiência respiratória tipo 1.
com risco de rutura. Internado eletivamente
Dado a clínica e contexto epidemiológico realizou
para laqueação cirúrgica, tendo evoluído com pesquisa de SARS-CoV-2 que foi negativa.
choque séptico de ponto de partida respiratório.
Por choque cardiogénico associado à FAV de Por se manterem as suspeitas, fez um AngioTC to-
alto débito, submetido a laqueação emergente rácico com achados sugestivos de pneumonia por
e secção proximal/distal da FAV (1), com evi- COVID-19(CO-RADS 5).
dência de trombose no pós-operatório. Iniciou
hipocoagulação terapêutica, observando-se, Colheu nova pesquisa de SARS-CoV-2, gripe e VSR,
hemoculturas e antigenúria de St. Pneumoniae e
posteriormente, o surgimento de pseudoaneu-
Legionella que foram negativas. Atendendo ao esta-
risma da artéria umeral (2), com nova laquea- do de imunosupressao foi pedido DNA de citomega-
ção pelo risco de rutura. Realizou angio-TC do lovirus no sangue cujo resultado foi positivo, iniciou
MSE com permeabilidade dos eixos arteriais e assim Valganciclovir.
venosos e teve alta orientado para seguimento
em ambulatório. P n.º 0379 
Dor abdominal na COVID-19 – um caso de cis-
P n.º 0363  tite enfisematosa
Síndrome de Urina Roxa Catarina Negrão(1);Marta Machado(1);Rita Sis-
Paula Perestrelo(1);Maria Inês Gonçal- meiro(1);Sara Duarte(1);Margarida Brito Montei-
ves(1);Bruno Ferreira(1);Renato Gonçalves(1);- ro(1);Marta Jonet(1);Fernando Aldomiro(1)
Gonçalo Miranda(1);Rosa Ballesteros(1) (1) Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca
(1) Centro Hospitalar Cova da Beira, EPE / Hos-
pital Distrital da Covilhã Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
392
IMAGENS EM MEDICINA
Mulher, 85 anos, com diabetes mellitus tipo 2, Tema: Doenças cardiovasculares
trazida à urgência por prostração com 5 dias de
evolução. À admissão: prostrada, desorientada, The Brugada Syndrome is an inherited channelopa-
polipneica, hipoxémica e dor abdominal genera- thy with an increased risk of sudden cardiac death.
lizada com defesa.
Analiticamente, elevação de parâmetros in- A 56-year-old male, presented to the emergency de-
partment with oppressive chest pain. The initial ECG
flamatórios e PCR SARS-CoV-2 positiva. Para (electrocardiogram) revealed incomplete right bundle
esclarecimento da dor abdominal fez TAC abdo- branch blockage and ST-segment elevation in leads
mino-pélvica que mostrou cisitite enfisematosa. V1-V4 (Figure 1). A diagnosis of anterior ST-elevation
Foi algaliada com drenagem de conteúdo não myocardial infarction (STEMI) was established. The
puro e isolou-se Escherichia coli resistente à patient underwent emergent coronary angiography
amoxicilina/clavulanato e à ampicilina. Cumpriu which revealed occlusion of left anterior descending
14 dias de antibioterapia dirigida, lavagem vesi- artery, followed by angioplasty and stent implanta-
cal diária e controlo metabólico. tion. Electrocardiographic evolution showed a coved
ST-segment elevation and inverted T waves in V1-V2,
Apesar de dor abdominal ser sintoma de CO- compatible with Brugada type 1 pattern (Figure 2).
VID-19, deve excluir-se outros diagnósticos
concomitantes, que impliquem estratégia tera- This finding could represent a phenocopy in the con-
text of STEMI, but three years before, a Brugada pat-
pêutica dirigida. tern, had already been described (Figure 3).
P n.º 0403 
P n.º 0417 
Doença de Bowen em doente com infeção-VIH Miliária cristalina no diagnóstico diferencial de
Diana Rocha(1);João Borralho(2);Ana Brocha- erupção vesicular
do(3);João Vaz Alves(2);Fernando Borges(2);A- Carla Pereira Fontes(1);Rita Antunes Santos(1);-
na Gusmão Palmeiro(2);Kamal Mansinho(2) Samuel Fonseca(1)
(1) Unidade Local de Saúde de Matosinhos, EPE (1) Centro Hospitalar de Entre Douro e Vouga,
/ Hospital Pedro Hispano (2) Centro Hospitalar EPE / Hospital de S. Sebastião
de Lisboa Ocidental, EPE / Hospital Egas Moniz
(3) Hospital Beatriz Ângelo Tema: Outro
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
Mulher, 64 anos; internada por infeção do tra-
to urinário com boa resposta à antibioterapia.
Homem, 47 anos, caucasiano, antecedentes de
hepatite B crónica, hepatite C tratada e infeção Recidiva da febre com surgimento de lesões
por VIH-1, estádio C3 (CDC Atlanta) e história de vesiculares milimétricas, sem eritema ou outras
tuberculose miliar. Sob TARVc com TAF/FTC+DTG, sinais inflamatórios, dispersas pelo pescoço,
mas com cumprimento terapêutico errático. Nesta tronco e membros, compatíveis com miliária
altura, com linfócitos TCD4+ 84/μL e carga viral <20 cristalina.
cópias/mL. Apresenta-se com uma placa verrucosa
exuberante no primeiro dedo da mão direita, com A miliária é uma manifestação cutânea se-
destruição do prato ungueal e áreas de erosão, com cundária à obstrução e/ou inflamação das
um ano de evolução. A biópsia revelou Doença de glândulas sudoríparas. O diagnóstico é clínico,
Bowen. distinguindo-se 3 subtipos (cristalina, rubra e
profunda), conforme a profundidade atingida.
A Doença de Bowen é uma forma de carcinoma espi- Um ambiente quente/húmido é o principal pre-
nocelular in situ, frequentemente associada ao vírus cipitante, ocorrendo sobretudo em recém-nasci-
do papiloma humano. Neste caso, não detetado em dos devido ao sistema glandular subdesenvol-
exame imunohistoquímico. vido. Quando atinge adultos, está geralmente
relacionada com febre e certos fármacos (clo-
Nas lesões verrucosas cutâneas em doente VIH, aler-
ta-se para o diagnóstico diferencial com sarcoma de
nidina, beta-bloqueadores, opióides). Esta con-
Kaposi e tuberculose cutânea ou outras lesões asso- dição é geralmente ligeira e autolimitada, resol-
ciadas a virus herpes simplex e vírus varicela zoster. vendo com a correção da causa subjacente.

P n.º 0407  P n.º 0426 


Anterior acute myocardial infarction in a type 1 A PISTA PELA PALMA DAS MÃOS
Brugada pattern background Carolina Vasconcelos Barros(1);Carolina Mor-
João Francisco Figueira(1);Bruno Cordeiro Pi- na(1);Mariana Gomes(1);Rui Fernandes(1);Hele-
çarra(1);Miguel Carias(1);Manuel Trinca(1) na Luís(1);Bela Machado(1);Mariana Bilrei-
(1) Hospital do Espírito Santo, EPE, Évora ro(1);Rafael Freitas(1)
(1) Hospital Dr. Nélio Mendonça
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 393
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológi-
cas
Homem de 59 anos saudável recorreu ao ser-
viço de urgência por uma erupção cutânea ma- A evolução científica e tecnológica conduz a
cular eritematosa difusa envolvendo o tronco uma crescente acessibilidade e maior utilização
e as extremidades, incluindo as palmas das da ecoscopia à cabeceira do doente na prática
mãos com cerca de dois meses de evolução, clínica quotidiana, sendo imagens característi-
sem outra sintomatologia associada. Quando cas e visualmente inesquecíveis fundamentais
questionado referiu relações sexuais desprote- para a aprendizagem.
gidas com outro homem previamente ao apa-
recimento das lesões. Negava a presença de O conjunto de imagens ecográficas apresenta-
úlceras genitais. Dada a distribuição das lesões das pertencem a um doente do sexo masculino
e comportamentos sexuais de risco foram pe- com 70 anos de idade, com antecedentes de
didos testes serológicos não-treponémicos e Insuficiencia Cardiaca com fração de ejeção
treponéminos que confirmaram o diagnóstico reduzida (ICrEF) de etiologia isquémica, que
de Sifílis, (secundária) tendo sido tratado com recorreu ao serviço de urgência no contexto de
sucesso com doxiciclina (alergia medicamento- amaurose bilateral de novo, de instalação súbi-
sa à penicilina). ta. Foi diagnosticado com um Acidente Vascu-
lar Cerebral, com origem embólica num volumo-
P n.º 0428  so trombo no ventrículo esquerdo.
Um tumor silencioso camuflado pelo medo da
COVID-19 P n.º 0431 
Carolina Vasconcelos Barros(1);Helena Luís(1);- Quando o frio até chega ao coração
Diogo André(1);João Paulo Correia(1);Alexandra Inês Fonseca Marques(1);Filipa Monteiro(1);Le-
Malheiro(1);Mariana Martins(1);Miguel San- tícia Santos(1);Érica Barata(1);Conceição Esca-
tos(1);Pedro Balza(1);Ana Paula Reis(1) rigo(1)
(1) Hospital Dr. Nélio Mendonça (1) Hospital Garcia de Orta, EPE

Tema: Doenças oncológicas Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente


crítico
Mulher de 56 anos amitida em insuficiência res-
piratória tipo 1, queixa de dispneia com um mês Um homem de 76 anos foi admitido no serviço
de evolução e história de contacto de alto risco de urgência por um quadro de urosépsis, com
com a filha com diagnóstico COVID-19. Sem temperatura timpânica de 33ºC. O ECG mostrou
alterações analíticas de relevo e radiografia bradicardia sinusal e uma deflexão positiva
de tórax com elevação da hemícupula direita. entre o final do complexo QRS e o início do seg-
Realizada tomografia computorizada que rele- mento ST (ponto J), consistente com ondas J
va massa heterógena no hipocôndrio direito de de Osborn, mais proeminente nas derivações
provável origem renal direita, com invasão tu- precordiais de V3 a V6. Procedeu-se a aqueci-
moral da veia cava inferior até à aurícula direita, mento externo, com resolução das alterações
e ainda, metastização pulmonar e hepática. A eletrocardiográficas. 
maioria dos doentes com neoplasias renais são
assintomáticos até presença de doença avan- A hipotermia causa diminuição da condutivi-
çada. O aparecimento de sintomas relaciona-se dade e automatismo cardíacos, causando bra-
com a presença de invasão das estruturas adja- dicardia, alargamento do QRS, prolongamento
centes ou metastização à distância. O medo da do QTc, onda J, arritmias supraventriculares e
COVID-19 impediu a doente de procurar ajuda bloqueios auriculoventriculares. A amplitude da
médica assim que desenvolveu os primeiros onda J parece ser proporcional à gravidade da
sintomas, atrasando o diagnóstico e o início da hipotermia e sabe-se que resolve progressiva-
terapêutica. mente com a sua correção. Pode ainda surgir
noutras situações como a hipercalcémia, he-
P n.º 0430  morragia subaracnoideia ou síndrome de Tako-
Volumoso trombo ventricular - Acidente Vas- tsubo.
cular Cerebral com uma etiologia de grandes
dimensões P n.º 0442 
Simão Carvalho(1) Quando o ar escapa - complicação de ventila-
(1) Centro Hospitalar do Baixo Vouga / Hospital ção não invasiva em doente COVID
Infante D. Pedro, EPE Pedro Daniel Boto Carlos(1);Clara Jorge(1);Célia
Tuna(1);Joana Coelho(1);Diana Sousa(1);Marle-

394
IMAGENS EM MEDICINA
ne Louro(1) necessárias estratégias individualizadas para
(1) Centro Hospitalar Cova da Beira, EPE / Hos- melhor acompanhamento da população geriátri-
pital Distrital da Covilhã ca.
Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente P n.º 0453 
crítico Fascite necrotizante da coxa e osteomielite
enfisematosa a S. aureus – um diagnóstico es-
Mulher de 48 anos, admitida por quadro de condido
SARS-CoV2 com insuficiência respiratória tipo Filipa Lima(1);Luis Tavares(1);Paula Araú-
1 e necessidades crescentes de oxigenoterapia, jo(2);Manuela Henriques(1);Humberto Costa(1)
tendo iniciado ciclo de 10 dias de dexameta- (1) Hospital do Divino Espírito Santo, Ponta Del-
sona e remdesivir. Ao 6º dia de internamento, gada (2) Unidade Local de Saúde do Norte Alen-
necessidade de iniciar ventilação não invasiva tejano - Hospital Santa Luzia de Elvas
intercalada com oxigenoterapia de alto fluxo, Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
com TC-Tórax a evidenciar apenas padrão de
vidro despolido de distribuição difusa, discreto
derrame pleural bilateral. Avaliação após 5 dias, Sexo feminino, 66 anos, com antecedentes de
radiografia tórax a evidenciar pneumomediasti- etilismo, Hepatite C e história de fratura do colo
no significativo, com TC-Tórax a confirmar coe- do fémur direito.  Admitida no Serviço de Urgên-
xistência de pneumotórax bilateral de pequenas cia por quadro de prostração, dispneia e febre.
dimensões. Foi diagnosticada bacteriemia e empiema pul-
monar a S. aureus meticilino-sensível (MSSA),
tendo sido admitida em Unidade de Cuidados
Salienta-se assim o potencial da terapêutica Intensivos. Por apresentar dor à mobilização do
ventilatória não invasiva originar complicações membro inferior direito foi pedida radiografia da
e intercorrências graves mais frequentemente coxa que revelou a presença de bolhas gasosas
descritas com uso de técnicas invasivas, real- (Fig. 1). A TC da coxa confirmou a presença de
çando a necessidade de uma vigilância aperta- fascite necrotizante extensa com osteomielite
da durante a sua utilização. enfisematosa do púbis (Fig. 2 e 3). Foi subme-
P n.º 0446  tida a fasciotomia e desbridamento cirúrgico
O outro lado da pandemia – úlceras (de)pres- de tecido necrosado, mantendo antibioterapia
são durante 6 semanas, com melhoria.  A fascite
Filipa Lima(1);Luis Tavares(1);Paula Araújo(2);- necrotizante é rara e a clinica pode por vezes
Sara Estrela(1);Humberto Costa(1) ser fruste. Este caso mostra a importância da
(1) Hospital do Divino Espírito Santo, Ponta Del- procura de focos metastáticos na bacteriemia
gada (2) Unidade Local de Saúde do Norte Alen- por MSSA.
tejano - Hospital Santa Luzia de Elvas P n.º 0455 
Tema: Medicina geriátrica “Sinal do Monte Fuji”
Sara Helena da Costa Fontainhas(1);Bárbara
Alexandra Magalhães Baptista(1)
Doente de 72 anos, diabética tipo 2 insulino-tra- (1) Hospital Distrital da Figueira da Foz, EPE
tada, autónoma e residindo sozinha.
Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológi-
Trazida ao SU por prostração. À observação es- cas
tava hipotérmica, taquicárdica, hipotensa e com
hiperglicemia. Apresentava múltiplas úlceras de Homem de 76 anos, com antecedentes de trau-
pressão de localização atípica (figuras 1-3) e matismo crânio-encefálico há um mês, recorreu
com áreas necrosadas. Na anamnese, compro- ao Serviço de Urgência por prostração com 24h
vou-se ter sido encontrada caída, no domicílio, de evolução. Clinicamente apresentava deso-
em decúbito ventral, com alteração da consciên- rientação com Escala de coma de Glasgow de
cia, após 4 dias sem qualquer contacto. 11 (E3M5V3). Realizou tomografia crânio-ence-
fálica (TC-CE) que revelou hematoma subdural
O distanciamento social e a dificuldade de aces- fronto-temporal-parietal e occipital direito e
so a cuidados de saúde, relacionado com a Pan- edema perilesional. Foi submetido a drenagem
demia por SARS-COV-2, trouxe consequências do hematoma. No 21º dia pós-drenagem por
graves para a saúde física e mental da popula- agravamento clínico repetiu TC-CE que revelou
ção idosa. buracos de trépano na alta convexidade pa-
De forma a reduzir este impacto negativo, são rietal direita (Fig.1) e extensos focos gasosos
extra-axiais bifrontais com moldagem do parên-
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 395
quima encefálico subjacente - “Sinal do Monte tal de Torres Vedras
Fuji”(Fig.2). Foi submetido a desbridamento e
encerramento da ferida Tema: Doenças cardiovasculares

P n.º 0470  Mulher, 79 anos de idade, com antecedentes


Mais olhos que... Esófago pessoais de fibrilação auricular permanente,
Ana Rita Rocha(1);Catarina Pinto Mar- tuberculose pélvica e insuficiência venosa.
ques(1);Margarida Lopes(1);José Vaz(1) Hipocoagulada com varfarina. Admitida no ser-
(1) Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo, viço de urgência em edema agudo do pulmão
EPE / Hospital José Joaquim Fernandes hipertensivo, com expetoração hemoptoica.
Tema: Outro Após estabilização realizou broncofibroscopia
que revelou, volumoso coágulo no brônquio
principal direito que se estendia até ao brônquio
Doente de 54 anos, do sexo feminino, sem an- lobar inferior. Feita remoção do coágulo com
tecedentes pessoais conhecidos, admitida na resolução do quadro clínico. Diagnóstico: Coá-
Sala de Emergência por “obstrução acidental da gulo obstrutivo na árvore brônquica.
via aérea” que surgiu aquando da ingestão de
um alperce. Não apresentava alterações ao exa- P n.º 0490 
me objetivo com exceção de sialorreia evidente. Do rim ao pulmão – embolização sética
A saturação periférica era de 100% em ar am- Rita Dos Santos Marques(1);Tiago Mascare-
biente. A Imagiologia foi chave para verificar o nhas(1);Ana Costa(1);André Pinto(1);António
impacto clínico (objeto impactante com diâme- Silva(1);Ivone Barracha(1)
tro máximo de 21 mm), com oclusão esofágica (1) Centro Hospitalar do Oeste / Hospital Distri-
superior completa. Tentou retirar-se o caroço de tal de Torres Vedras
alperce por via endoscópica sem sucesso. Op-
tou-se por redirecionar o bolo alimentar para a Tema: Doenças renais
cavidade gástrica, com posterior digestão ade-
quada e sem complicações médico-cirúrgicas. Homem de 60 anos de idade, com diabetes
mellitus tipo 2. Recorreu ao serviço de urgência
Nas imagens pode confirmar-se a presença de por dor abdominal difusa, febre intermitente,
corpo estranho a nível esofágico, em cortes sa- anorexia, náuseas e diarreia. Realizou Tomogra-
gital, coronal e reconstrução 3D.    fia computorizada torácica, abdominal e pélvi-
ca: vários nódulos pulmonares sólidos, grossei-
P n.º 0488  ramente centimétricos, com cavitação central;
Progressão lenta mas incapacitante três coleções liquidas de parede captante e irre-
Rita Dos Santos Marques(1);Tiago Mascare- gular do rim direito, a maior destas com 36x 17
nhas(1);André Pinto(1);Ana Costa(1);Ivone Bar- mm a exercer compressão do músculo psoas,
racha(1) possivelmente em relação com complicações
(1) Centro Hospitalar do Oeste / Hospital Distri- abcedadas renais/peri-renais. Diagnóstico:
tal de Torres Vedras trombose venosa renal sética com êmbolos
séticos (lesões cavitadas) no parênquima pul-
Tema: Doenças oncológicas monar.

Homem, 84 anos de idade com obstipação gra- P n.º 0514 

ve e dor intensa na região sagrada não contro- Lesão oral como manifestação do vírus do pa-
lada e incapacitante, com acamamento, apenas piloma humano (HPV)
tolerando decúbito lateral esquerdo. Tomografia Mariana Gomes(1);Carolina Barros(1);Helena
computorizada do abdómen e pélvis: massa Luís(1);Rita Rodrigues(1);Rafael Freitas(1)
sagrada mediana com 15 cm, lobulada, condi- (1) Hospital Dr. Nélio Mendonça
cionando destruição óssea, com envolvimento Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
do canal sagrado, condicionando ligeiro efeito
de massa sobre o reto, sem aparente invasão.
Diagnóstico: Cordoma sagrado. Homem de 34 anos, sem antecedentes relevan-
tes, recorreu ao serviço de urgência por lesão
P n.º 0489  oral indolor com 1 mês de evolução. À observa-
Coágulo obstrutivo na árvore brônquica. ção, lesão no palato mole, com cerca de 0.5 cm,
Rita Dos Santos Marques(1);André Pinto(1);Car- exofítica e aspeto couve-flor. A biópsia revelou
la Cardoso(1);Ana Costa(1);Ivone Barracha(1) tratar-se de papiloma oral. As lesões orais por
(1) Centro Hospitalar do Oeste / Hospital Distri- HPV são raras e têm sido associadas ao risco

396
IMAGENS EM MEDICINA
aumentado de desenvolvimento de cancro oral. sempre que a história e manifestações clínicas
O diagnóstico é clínico e histopatológico, sendo sejam sugestivas. Quando o Eritema Migratório
importante que seja feito o mais precocemente não é típico ou está ausente, o diagnóstico mi-
possível, de forma a garantir um tratamento crobiológico é fundamental.
adequado e menos invasivo. Relações sexuais
protegidas, vacinação contra o HPV e vigilância P n.º 0538 
médica são medidas preventivas que tem mos- ROTURA ANEURISMÁTICA DA ARTÉRIA CARÓ-
trado serem efetivas. TIDA INTERNA – A PROPÓSITO DE UM CASO
CLÍNICO
P n.º 0515  João Lavadinho Carapinha(1);Maria Dias Pi-
A saúde oral como reflexo de doença sistémica teira(1);João Figueira(1);Leila Barrocas(1);Ana
Mariana Gomes(1);Carolina Barros(1);Helena Pedrosa(1);Sara Correia(1);Maria Sanchez Cor-
Luís(1);Rita Rodrigues(1);Rafael Freitas(1) raliza(1);Conceição Barata(1)
(1) Hospital Dr. Nélio Mendonça (1) Hospital do Espírito Santo, EPE, Évora
Tema: Doenças oncológicas Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológi-
cas
Homem de 56 anos, com queixas de odinofagia há
2 semanas, associado a astenia, anorexia e perda Mulher de 85 anos, autónoma, antecedentes de
ponderal de 4 Kgs. Negou febre. Medicado previa- hipertensão arterial, nódulo tiroideu, síndrome
mente com Amoxicilina 500 mg 12/12h durante vertiginoso e anemia, com quadro de dispneia,
10 dias, sem melhoria. À observação, apresentava agitação psicomotora e afasia. À admissão,
lesão gengival esbranquiçada friável, com diâmetro
de cerca de 1 cm. Analiticamente com hemoglobina agitada, hipertensa, hipoxémica e afásica, sem
de 5.9 g/dl, leucócitos 1500/uL e PCR 37 mg/dl. Es- sinais focalizadores, pupilas isocóricas e isor-
fregaço de sangue periférico mostrou 31% blastos, reativas. A angiotomografia de crânio revelou
compatível com Leucemia Mielóide aguda (LMA). extensa hemorragia subaracnoideia sulcal e
Imunofenotipagem e medulograma confirmaram cisternal à direita, Fisher IV, por rotura aneuris-
este diagnóstico. As lesões orais podem ser a apre- mática do segmento comunicante da carótida
sentação inicial da LMA e resultam da infiltração interna direita com aneurisma em espelho à es-
por células leucémicas ou devida à trombocitope- querda. Após colocação de stent e embolização
nia/neutropenia subjacentes. O seu reconhecimento de saco aneurismático, apresentou evolução
é importante para um diagnóstico e tratamento pre- favorável, com reabsorção total das coleções
coces. hemorrágicas, o que enfatiza o impacto de uma
abordagem célere no prognóstico da doença.
P n.º 0537 
ERITEMA MIGRATÓRIO MÚLTIPLO ATÍPICO – A P n.º 0542 
PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO DE DOEN- Necrose avascular da cabeça do fémur em
ÇA DE LYME contexto de artrite séptica
João Lavadinho Carapinha(1);Maria Dias Pitei- Leila Duarte(1);Mariana Dias(1);Cristiana Cane-
ra(1);João Figueira(1);Leila Barrocas(1);Sara las Mendes(1);Ana Melício(1);Pedro Gaspar(1);I-
Correia(1);Mariana Soares(1);Maria Sanchez nês Parreira(1);Federica Parlato(1);Hélder Diogo
Corraliza(1);Conceição Barata(1) Gonçalves(1);Sérgio Tubal Bronze(1);Valeria
(1) Hospital do Espírito Santo, EPE, Évora Maione(1);Filipe Bessa(1);Catarina Mota(1);San-
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias dra Bahia Braz(1);João Madeira Lopes(1);Antó-
nio Pais Lacerda(1)
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE /
Sexo feminino, 60 anos, com antecedentes de Hospital de Santa Maria
hipotiroidismo, há 8 dias com mialgias, febre,
cansaço, cefaleia e anorexia, coincidindo com Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
o aparecimento de lesão cutânea no hallux
esquerdo. Nos últimos 2 dias, apresenta exan- Homem de 42 anos, toxicodependente sob
tema macular extenso que poupa apenas a metadona, com hepatite C, cirrose e alcoolis-
face. Epidemiologicamente salienta-se o facto mo ativo recorre à Urgência por incapacidade
de trabalhar em casa de campo com 6 cães. As para a marcha por dor intensa na coxofemoral
serologias revelaram IgM positiva para Borrelia esquerda e múltiplas escoriações com sinais in-
Burgdorferi com teste confirmatório Wester- flamatórios nas mãos e tórax. Laboratorialmen-
n-blot positivo, o estudo autoimune foi nega- te com elevação de parâmetros inflamatórios.
tivo, suportando o diagnóstico de Doença de Realizou radiografia e TC da bacia com derrame
Lyme.  A Doença de Lyme deve ser considerada

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 397


da articulação coxofemoral esquerda, expansão Tema: Doenças cardiovasculares
e adelgaçamento da cortical do acetábulo com
protusão acetabular com alteração da esferici- Sexo masculino, 58 anos, hipertenso e dislipidémi-
dade da cabeça femoral, irregularidade cortical co, avaliado em consulta de Cardiologia após sínco-
e alteração trabecular; coleção multiloculada pe com pródromo de mal-estar e tonturas enquanto
no músculo ilíaco esquerdo. Assumida necrose jardinava. Negava toracalgia, palpitações, dispneia
avascular da cabeça do fémur em contexto de ou outros episódios de síncope. Ecocardiograma
artrite séptica com bacteriémia por Staphylo- com achado de válvula aórtica quadricúspide com
coccus aureus sensível à meticilina. Excluída insuficiência de grau moderado, câmaras cardíacas
endocardite. Medicado com flucloxacilina 2 g de dimensões e espessura normais, função sistóli-
ca biventricular preservada. Holter sem alterações.
4/4h e proposto para cirurgia ortopédica.
Manteve vigilância clínica e ecocardiográfica para
definição de timing cirúrgico e recebeu recomenda-
P n.º 0555  ções de profilaxia de endocardite. 
Pupila oval ou “midbrain corectopia” - possível
caso de Síndrome de Weber A quadricuspidia aórtica é uma cardiopatia congé-
João Francisco Figueira(1);Ana Tenreiro(1);Inês nita rara (prevalência=0,01%) que se manifesta com
Dunões(1);Ana Vieira(1);Mariana Soares(1);Car- insuficiência valvular na 5ª/6ª décadas de vida. A
men Corzo(1);Conceição Barata(1) cirurgia deve ser uma decisão individualizada mas
(1) Hospital do Espírito Santo, EPE, Évora está recomendada quando a disfunção valvular se
torna grave ou sintomática.
Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológi-
cas P n.º 0580 
Eritrodermia e Síndrome de Sézary
Diana Isabel Rocha(1);Miguel Nogueira(1);Gló-
   Mulher de 82 anos, internada por acidente
ria Cunha Velho(1);Ana Novo(1);João Correia(1)
vascular cerebral sem tradução imagiológica
(1) Centro Hospitalar Uni. Porto
na tomografia axial computorizada. Apresenta-
va paresia facial central esquerda e paresia do Tema: Doenças oncológicas
hemicorpo esquerdo com hipoestesia. À direita
com pupila oval (Figura 1) de novo e movimen-
tos oculares mantidos. A eritrodermia é a apresentação súbita de eri-
tema e descamação de mais de 80-90% da su-
   A pupila oval ou corectopia, pode ser congé- perfície cutânea, podendo associar-se a várias
nita ou adquirida. Frequentemente relaciona-se patologias. Uma vez que os linfomas cutâneos
com patologia oftalmológica, como trauma, de células T podem mimetizar outras causas
glaucoma ou coloboma. Associa-se também a de eritrodermia, o seu diagnóstico é exigente.
diabetes e a doenças neurológicas. As últimas, Expomos o caso de dois doentes, de 74 e 77
normalmente afetando o mesencéfalo e os nú- anos, que se apresentaram em eritrodermia e
cleos oculomotores resultando num relaxamen- prurido intenso, interpretado inicialmente como
to segmentário da iris. reação adversa a medicamento e alergénio,
respetivamente. A ausência de resposta após
   Estamos perante um caso clinicamente com- retirada destes e o cumprimento de corticoide
patível com Síndrome de Weber, caracterizado sistémico levou à investigação adicional, con-
por paresia do nervo oculomotor e hemiplegia firmando-se, em ambos, a Síndrome de Sézary.
ou hemiparesia contralateral. Foi pedida resso- Este diagnóstico é desafiante pela capacidade
nância magnética em ambulatório que não foi de mimetização de outras entidades, urgindo
realizada. pelo mau prognóstico associado.
P n.º 0557 
Quadricuspidia aórtica: uma cardiopatia con- P n.º 0582 
génita rara Arterite de células gigantes
Ana Silva Rocha(1);Marta Ponte(2);Patrícia Cristina Varela Pinto(1);Bruno Martins(1);Filipa
Rocha(3);António Eliseu(4);Fábio Sousa Nu- Malheiro(1);Cristina Loewenthal(1)
nes(2);Rafael Silva Teixeira(2) (1) Hospital da Luz Lisboa
(1) Centro Hospitalar Tamega e Sousa (2) Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e
Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia / Espi- vasculites
nho (3) Centro Hospitalar do Médio Ave, EPE /
Unidade de Vila Nova de Famalicão (4) Centro
Hospitalar de Setúbal, EPE / Hospital de São Mulher, 66 anos, caucasiana, sem antecedentes de
relevo. Há 2 meses inicia perda ponderal, anorexia,
Bernardo febre, tosse seca e cefaleia. Ecografias de tiróide e

398
IMAGENS EM MEDICINA
abdómen e TC tórax sem alterações. Análises com A 93 years-old bedridden patient with a set of
leucocitose, neutrofilia, VS e PCR aumentadas. PET- comorbities is admitted for hospitalization into
-CT com hipercaptação de 18F-FDG na totalidade da the internal medicine department due to an
aorta torácica e abdominal, carótidas, subclávias, overinfection of undertreated extensive bullous
trajecto proximal das umerais, ilíacas, femorais e pemphigoid (BP). There were tense, fluid-filled
tibiais, traduzindo doença inflamatória dos grandes
vasos. Biópsia da artéria temporal direita confirmou
bullae and erosions on the chest, dorsal, lum-
arterite de células gigantes. Iniciou prednisolona bar and sacred region, perineum, upper and
com melhoria clínica. lower limbs. BP diagnosis was confirmed by 
circulating BP180 antibodies detected by en-
zyme-linked immunosorbent assay (ELISA).  In
As vasculites são um grupo heterogéneo de doenças
que podem envolver vasos de diferentes calibres. O these images, it is possible to observe the fa-
diagnóstico e tratamento precoce melhora o outco- vorable evolution of the lesions over 1 week (A)
me do doente. O início insidioso e por vezes inespecí- and 2 weeks (B) after optimizing therapy with
fico pode tornar o diagnóstico desafiante, tendo sido prednisolone 1mg/kg per day and the applica-
feito neste caso clínico por PET-CT. tion of topical therapy.

P n.º 0597 
P n.º 0647 
Sinal de Frank - um preditor de doença coroná- Cavum Vergae
ria Vera Lúcia Ferreira Luís(1);Isa Cordeiro(1);Tiago
Inês Fonseca Marques(1);Filipa Monteiro(1);Le- Alexandre(1);Svitlana Hrihoryan(1);Maria José
tícia Santos(1);José Proença(1);Érica Bara- Grade(1);Luísa Arez(1)
ta(1);Conceição Escarigo(1) (1) Hospital Portimao
(1) Hospital Garcia de Orta, EPE
Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológi-
Tema: Doenças cardiovasculares cas

Apresenta-se o caso de uma mulher de 78 anos Cavum vergae trata-se de uma cavidade localiza-
com antecedentes de doença coronária de três da imediatamente posterior ao  septum pelluci-
vasos. Foi admitida no Serviço de Urgência por dum. É uma alteração congénita rara da estrutura
enfarte agudo do miocárdio sem supra-desnive- cerebral, com significado clínico não esclarecido, no
lamento de ST. Ao exame objectivo apurou-se entanto alguns estudos relacionam a sua presença
a presença de Sinal de Frank bilateral - uma com alterações neurológicas como epilepsia,
prega lobular diagonal, desde o tragus ao bordo esquizofrenia, psicose, demência. Descreve-
posterior do lóbulo da orelha. Especula-se que a se o caso de um homem alemão de 63 anos,
sua origem se deva à perda de fibras elásticas autónomo, que foi encontrado nu na via pública,
por diminuição do fluxo sanguíneo no lóbulo da com  história de alterações do comportamento
nas últimas 3 semanas,  destruição da própria
orelha. Apesar da baixa sensibilidade (51-65%), residência e heteroagressividade, que motivou
estudos prévios relatam uma especificidade de o internamento. Do estudo realizado foram
72%-94% para doença coronária. A identificação excluídas todas as causas orgânicas de demência
precoce deste sinal pode permitir reconhecer o rápidamente progressiva, sendo o Cavum vergae,
doente com doença arterial coronária - que con- a única alteração que possa justificar o quadro,
tinua a ser uma das principais causas de morte evidenciada em TC de Crânio1,2. Apresentou melho-
nos países desenvolvidos - e instituir ou intensi- ria clínica, mantendo-se estabilizado medicado com
ficar medidas preventivas. oxazepam e quetiapina.  

P n.º 0608  P n.º 0651 


EXTENSIVE BULLOUS PEMPHIGOID SKIN LE- Quisto hepático: uma complicação renal inusi-
SIONS COMPLICATED BY BACTERIAL INFEC- tada
TION Rita Pinto Araújo(1);Diana Dias(1);José Pedro
Margarida Lucas Rocha(1);Ana Teodósio Vinhal(1);Domingos Rodrigues(1);Rita Ma-
Chícharo(1);Henrique Borges(1);Ana Lara ciel(1);Luis Andrade(1)
Magalhães(1);Inês Gonçalves(1);Joaquim Mi- (1) Hospital Feira
lheiro(1);Ana c. Ribeiro Sousa(1);Teresa Sale-
ro(1);Francisco Ildefonso Mendonça(1) Tema: Doenças renais
(1) Centro Hospitalar do Algarve, EPE / Hospital
de Faro Mulher de 73 anos foi admitida no serviço de urgên-
cia por dor abdominal e enfartamento precoce com
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e limitação da ingestão.
vasculites

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 399


A tomografia abdominal mostrou um quisto hepático Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
unilocular volumoso (25x21x23cm), já previamente
conhecido, embora de menor volume, a causar com-
Homem de 74 anos, autónomo, com antecedentes
pressão gástrica. Analiticamente com lesão renal
de etilismo e tabagismo. Recorreu ao Serviço de
aguda que resolveu após fluidoterapia, sugerindo
Urgência por astenia e tosse com expectoração mu-
etiologia pré-renal em contexto de depleção hídrica.
copurulenta. Analiticamente com anemia de doença
A doente foi submetida eletivamente a drenagem
inflamatória e elevação dos parâmetros inflamató-
e excisão do quisto, que foi compatível com quisto
rios. Fez radiografia do tórax (imagem 1) seguida de
simples de origem biliar. Posteriormente com melho-
tomografia computorizada do tórax com presença
ria clínica.
de cavitações pulmonares extensas (imagens 2
Este caso reflete uma interessante repercussão renal e 3). Micobacteriológico da expectoração com
indiretamente causada por uma anomalia estrutural identificação de bacilos ácido-álcool resistentes,
quística hepática volumosa. com identificação do Mycobacterium tuberculosis
com a coloração de Zihel Neelsen. Iniciou antibio-
P n.º 0653  terapia para tuberculose pulmonar com etambutol,
Terapêutica da Tuberculose – O Passado e o pirazinamida, rifampicina e isoniazida que cumpriu
Presente durante 2 meses seguida de isoniazida e rifampici-
na durante 4 meses, com resposta favorável a tera-
Marta Rosario(1);Luis Fernando Forte(1) pêutica antibacilar. 
(1) Centro Hospitalar de Leiria / Hospital de
Santo André
P n.º 0682 
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias Pinturas pulmonares abstratas a MSSA
Isaac s Pereira(1)
Previamento ao aparecimento dos antibacilares a (1) Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo,
terapêutica para a tuberculose pulmonar consistia EPE / Hospital José Joaquim Fernandes
no repouso e na colapsoterapia.
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
Em 1821 surge o uso do pneumotorax como trata-
mento da tuberculose.   Apresenta-se imagem de Tomografia Compu-
torizada (TC) de tórax de doente de 51 anos,
Em 1845 foi usado o primeiro procedimento cirurgi- previamente autónomo e sem fatores de risco,
co – drenagem cavitária. Em 1885 surge o corte da internado por Pneumonia em doente com bac-
2ª e 3ª costelas na tentativa de colapsar a caverna teriemia a Staphylococcus aureus sensível à
tuberculosa.  meticilina (MSSA).
Embora a toracoplastia fosse o procedimento de
colapso mais eficaz era tambem o mais invasivo e De referir que o doente foi internado a partir do
mutilante. nosso Serviço de Urgência (SU), onde se apre-
sentou apenas com dispneia ligeira e gasimétri-
Em 1891, realizou-se com sucesso a resseção do
apex do pulmão direito.
camente com pH de 7.521; pCO2 de 27; pO2 de
72.6 e sO2 de 96 %; HCO3 de 25 e Lactatos de
Com o surgimento da antibioterapia, em 1934, tor- 1.4.
nou-se excepção os procedimentos de toracoplasti-
ca (corte de costela e lobectomia).  A TC feita no SU descreveu “alterações da per-
meabilidade pulmonar traduzidas por múltiplos
(imagem_1.jpeg) focos de condensação nodular dispersos em
ambos os campos pulmonares, um deles no
Discussão /Conclusões: lobo superior do pulmão esquerdo com cavita-
Os autores pretendem mostar o tratamento na epo- ção, alterações a favor de disseminação hema-
ca. Actualmente o corte de costela é uma imagem togénica de processo infeciosa, êmbolos sépti-
radiológica raramente encontrada. cos”.

P n.º 0676  Apresenta-se a imagem face à disparidade entre


Quando uma imagem vale mais do que mil pa- a clínica e os achados de imagem.
lavras
Letícia Leite(1);Márcia Machado(1);Margarida P n.º 0697 
Castro(1);Isabel Bessa(1);Ana Luís Ferreira(1);- Uma cavitação pulmonar atípica
Clarisse Neves(1);Fernando Esculcas(1);Jorge Cristina Carvalho Gouveia(1);Margarida Mo-
Cotter(1) rais(2);Tiago Marques(2);Luís Campos(1)
(1) Centro Hospitalar do Alto Ave, EPE / Hospi- (1) Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE /
tal da Senhora da Oliveira Hospital de S. Francisco Xavier (2) Centro Hos-

400
IMAGENS EM MEDICINA
pitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospital de Santa Maria Margarida Andrade(1);Marta Ra-
Maria mos(1);Rita Tinoco Magalhães(2);Ana Gorgu-
lho(1);Sara Freire(1);Diogo Cruz(1)
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias (1) HPP Hospital de Cascais (2) Hospital Cas-
cais
Mulher de 60 anos. Quadro de prostração e
febre com três semanas de evolução. Analitica- Tema: Doenças raras
mente, hipoxemia e elevação da proteína C rea-
tiva. A punção lombar revelou hipoglicorráquia A Doença Renal Poliquística Autossómica Dominante
e hiperproteinorráquia e a tomografia computo- (DRPAD) tem incidência de 1:1000 e caracteriza-se pela
existência de múltiplos quistos renais. Os quistos he-
rizada (TC) de tórax uma massa no lobo supe- páticos, frequentemente incidentais, estão presentes
rior direito com extensão ao mediastino, brôn- em 50-70% dos doentes acima de 60 anos. Por serem
quios, veia cava superior e artéria pulmonar. sensíveis a hormonas sexuais femininas são maiores e
Colocada a hipótese de neoplasia pulmonar mais numerosos nas mulheres. Apresenta-se o caso de
com carcinomatose meníngea. Identificou-se uma doente de 55 anos admitida por acidente vascular
cerebral hemorrágico hipertensivo. Do estudo de causas
Mycobacterium tuberculosis no líquor e, após de hipertensão secundária destaca-se taxa de filtração
tratamento, houve melhoria clínica, tendo a TC glomerular de 94ml/min/1.73m2, ausência de patologia
de tórax revelado cavitação pulmonar em reso- da artéria renal ou da glândula suprarrenal. A presença
lução. Este caso ilustra uma imagem atípica de de incontáveis quistos renais, mas principalmente hepáti-
cavitação pulmonar, realçando a tuberculose cos, motivou o estudo genético que confirmou o diagnós-
tico de DRPAD. A doente iniciou inibidor da enzima con-
meníngea no diagnóstico diferencial de altera- versora da angiotensina e teve alta clínica sem défices
ções neurológicas e febre.    neurológicos.

P n.º 0704  P n.º 0718 


Livedo reticular, um sinal de alerta em tempos Dissecção aórtica – a importância dos achados
de pandemia clínicos
Pedro Fernandes Moura(1);Pedro Macedo Ne- Ricardo Pereira(1);Carolina Palma(1);Joana Car-
ves(1);Inês Albuquerque(1);Rita Xavier(1);Cecí- reira(1);Hugo Jorge Casimiro(1);Beatriz Navar-
lia Soares(1);Pedro Ferreira(1);Nuria Condé(1);- ro(1);Ermelinda Pedroso(1)
Mário Esteves(1) (1) Centro Hospitalar de Setúbal, EPE / Hospital
(1) Centro Hospitalar do Médio Ave, EPE / Uni- de São Bernardo
dade de Vila Nova de Famalicão
Tema: Doenças cardiovasculares
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
Doente do sexo feminino, 63 anos, com história de
Homem de 67 anos, com antecedentes de hiperten- hipertensão arterial, que recorreu ao Serviço de Ur-
são arterial, dislipidemia e AVC isquémico. Recorre gência por quadro súbito de dor retro-esternal com
ao serviço de urgência por odinofagia e epigastral- irradiação dorsal, dormência e diminuição da força
gia, com surgimento de exantema nas últimas 24 nos membros inferiores. À observação apresentava
horas. No exame objetivo apresentava exantema palidez em ambos os membros inferiores, ausência
macular violáceo livedo reticularis like na região de pulsos palpáveis, parestesias e paraparésia. Por
abdominal, dorso e, de forma mais ligeira, nos suspeita de dissecção aórtica (DA), realizou Angio-
membros inferiores. Apresentava rubor orofaríngeo. TC toraco-abdominal que confirmou o diagnóstico
Laboratorialmente com PCR: 6.91 mg/dL, sem al- (DA tipo B). Após contacto, a doente foi transferida
terações do hemograma. Foi realizado teste PCR a a fim de ser intervencionada cirurgicamente noutra
SARS COV 2 que se revelou positivo. instituição.

Manifestações cutâneas são uma apresentação in- Com este caso realça-se a importância do reconhe-
comum de COVID 19, estando presentes em cerca cimento clínico da DA, dado que um rápido diagnós-
de 0.2 a 20.4% dos casos de doença. Lesões livedo tico e posterior intervenção são determinantes para
reticularis like foram relatadas em apenas 5.3% de o desfecho destas situações.
entre 171 casos de COVID 19 com manifestações
cutâneas por Freeman et al. P n.º 0720 
Fístula entero-pleural – uma causa rara de em-
Serve este caso para alertar para esta manifestação piema
rara de COVID 19. Ricardo Pereira(1);Carolina Palma(1);Joana Car-
P n.º 0714  reira(1);Hugo Jorge Casimiro(1);Beatriz Navar-
INCONTÁVEIS QUISTOS HEPÁTICOS: PERDI- ro(1);Ermelinda Pedroso(1)
DOS E ACHADOS (1) Centro Hospitalar de Setúbal, EPE / Hospital
de São Bernardo
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 401
Tema: Doenças respiratórias Analiticamente com leucocitose 21000 com
neutrofilia 16800 uL e PCR 183. A tomogra-
Doente do sexo masculino, 93 anos, que recorreu ao fia tórax revelou volumosa lesão cavitada no
Serviço de Urgência por quadro de febre, tosse pro- lobo superior esquerdo, com cerca de 15 cm
dutiva e prostração. À observação apresentava-se de diâmetro, em contato com a pleura e com
polipneico, hipoxémico e hipotenso. Analiticamente o mediastino, de paredes espessadas e com
destacava-se aumento de parâmetros inflamatórios. níveis hidroaéreos no seu interior. Foi nternado
Dada a radiografia de tórax mostrar extensa hipo- por abcesso pulmonar e medicado com pipe-
transparência à direita, foi solicitada TC-torácica racilina/tazobactam. Por manutenção de febre
que revelou volumoso derrame pleural direito e loca e aumento dos parâmetros inflamatórios foi
subdiafragmática com nível hidroaéreo, apresen-
associado linezolide. Posteriormente, por novo
tando pedículo de continuação com ansa intestinal.
Após colocação de dreno torácico, confirmou-se a agravamento clínico foi alterado para merope-
hipótese diagnóstica de empiema secundário a fís- nem. Foi isolado Citrobacter Koseri na expetora-
tula entero-pleural. ção e bacteriológico do lavado bronco alveolar.
O doente foi proposto para hospitalização do-
Com esta imagem pretende-se demonstrar uma pos-
miciliária, onde cumpriu 6 semanas de antibio-
sível consequência de fístula entero-pleural, sendo terapia com melhoria clínica.
esta uma causa rara de empiema.
P n.º 0738 

P n.º 0722  Trombose Venosa Cerebral Extensa Em Doente


Circulação venosa colateral exuberante no Jovem Paucissintomática
contexto de trombose da veia cava superior Maria João Gomes(1);Inês Bargiela(1);Isabel
Ricardo Pereira(1);Mariana Marçal(1);Carolina Bogalho Martins(1);Paulo Ramos(1)
Palma(1);Hugo Jorge Casimiro(1);Beatriz Na- (1) Hospital CUF Cascais
varro(1);Ermelinda Pedroso(1)
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e
(1) Centro Hospitalar de Setúbal, EPE / Hospital
vasculites
de São Bernardo
Tema: Doenças cardiovasculares Mulher, 21 anos, com cefaleia periorbitária
esquerda moderada que evolui com extensão
Mulher, 45 anos, com história de neoplasia do cólon hemicraniana, com 3 dias de evolução. Tomo-
sob quimioterapia através de catéter venoso central grafia computorizada cranio-encefálica (CE):
(CVC). Recorreu ao Serviço de Urgência por quadro hipodensidade cortico-subcortical temporal
de disfagia e odinofagia associado a edema da externa esquerda extensa, com focos hemor-
face, pescoço e membro superior direito. Perante rágicos, sem opacificação dos seios lateral e
suspeita de trombose da veia cava superior (TVCS), sigmóide esquerdos nem da veia jugular ho-
realizou angio-tomografia computorizada, que con- molateral. Ressonância magnética CE: extensa
firmou o diagnóstico (asterisco) e revelou ainda área de trombose venosa cerebral (TVC) com
extensa circulação colateral ao longo do hemitórax
direito (setas). Foi avaliada pelos colegas de Cirur-
enfarte venoso. Avaliação analítica compatível
gia Vascular, iniciando anticoagulação com poste- com Síndrome do Anticorpo Antifosfolípido
rior melhoria clínica. (SAAF) provável, com os 3 anticorpos fortemen-
te positivos. Iniciou hipocoagulação e teve alta
sintomaticamente melhorada.
A incidência da TVCS aumentou nos últimos anos
com o maior número de doentes portadores CVC.
A circulação colateral exuberante pode ser uma das A TVC é uma entidade rara e a relação com
manifestações deste quadro. SAAF está bem estabelecida na literatura. A re-
levância do caso prende-se com a dissociação
P n.º 0728  clínico-imagiológica, com envolvimento vascu-
Abcesso Pulmonar – evolução insidiosa lar e parenquimatoso exuberante.
Olinda Miranda(1);Nuno Carvalho(1);André Pe-
reira(1);Margarida de Castro(1);Margarida Ro- P n.º 0741 
cha(1);Jorge Cotter(1) Aneurisma da aorta – de silencioso a fatal
(1) Hospital Senhora da Oliveira, Guimarães Ângela Almeida(1);Laura Castro(1);Jorge Cot-
ter(1)
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias (1) Hospital Senhora da Oliveira, Guimarães

Homem, 54 anos, recorreu ao SU por toracalgia Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente
pleurítica, tosse seca com 5 dias de evolução, crítico
anorexia e perda ponderal > 10% em 6 meses.

402
IMAGENS EM MEDICINA
A abordagem de uma paragem cardio-respira- pinho
tória quer-se rápida e diligente, exigindo uma
atitude precisa em termos práticos e de diag- Tema: Doenças raras
nóstico.
A osteogenese imperfeita é uma doença here-
Feminino, 83 anos, autónoma, hipertensa e dis- ditária do tecido conjuntivo, com incidência de
lipidémica. Episódio de urgência por queda não 1:10-20000 ao nascimento. Carateriza-se por
presenciada no domicílio, com alteração do es- fraturas com trauma mínimo, deformidades ós-
tado de consciência. Na triagem, entra em para- seas e baixa estatura.  
gem cardio-respiratória, sendo colocada na Sala
de Emergência, onde reverte após 4 minutos de Mulher 19 anos, com diagnóstico de osteoge-
suporte avançado de vida. Do estudo efetuado nese imperfeita (mutação patogénica COL1A2).
inicialmente, a destacar acidose metabólica Fraturas dos membros detetadas in-utero às 20
com lactacidemia franca. Realiza TC toraco-ab- semanas de gestação. Fenótipo atual: osteopo-
domino-pélvico que documenta volumoso aneu- rose, fraturas múltiplas (fraturas dos fémures,
risma da aorta, desde a sua porção abdominal rótula, tíbia, hálux, costelas, rádio, punho), esco-
até às artérias ilíacas bilateralmente, em rutura. liose, dentinogenese imperfeita e baixa estatu-
A situação progride rapidamente, culminando ra. 
com o óbito aproximadamente uma hora após P n.º 0763 
entrada no serviço de urgência. Consequências de Invasividade em UCI - ne-
P n.º 0750  crose digital
Síndrome de Sezáry: Quando suspeitar? João Barros Rodrigues(1);Catarina Maciel(2);I-
Ana Isabel Andrade Oliveira(1);Paula Perestre- nês Salvado(1);José Diogo Rebolo(1);Maria
lo(2);André Mendes(3);Francisca Vasconce- João Baldo(1);Paulo Roboredo(1);João Cor-
los(4);Marisol Guerra(4);Bruno Loureiro(4);Ma- reia(1);Francisco Esteves(2)
nuel Cunha(4) (1) Unidade Local de Saúde da Guarda, EPE /
(1) Hospital de Braga (2) Centro Hospitalar Hospital Sousa Martins (2) Centro Hospitalar de
Cova da Beira, EPE / Hospital Distrital da Co- Trás-os-Montes e Alto Douro, EPE / Hospital de
vilhã (3) Unidade Local de Saúde do Norte Vila Real
Alentejano - Hospital de Portalegre (4) Centro Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente
Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro, EPE crítico
/ Hospital de Vila Real
Tema: Doenças hematológicas Homem de 42 anos com etilismo ativo, ad-
mitido em UCI nível III com o diagnóstico de
A síndrome de Sézary é um tipo de linfoma T cutâ- pancreatite necrotizante. Dada a severidade
neo leucemizado, e o seu diagnóstico é desafiante. e prognóstico desfavorável da patologia em
Apresentamos um homem de 79 anos, diagnos- questão, é decidida uma abordagem agressiva
ticado com Síndrome de Sezáry estadio IV A1-2, e de suporte vital total. De forma a assegurar
sob Alemtuzumab e CHOP, em que o diagnóstico foi esse suporte são necessários certos disposi-
feito através imunofenotipagem de sangue periféri- tivos e fármacos com efeitos secundários que
co e biópsia cutânea de uma lesão na perna direita, não devem ser menosprezados, estando aqui
com características epidermolíticas e francamente em destaque o uso de cateter arterial e suporte
exsudativa (figura 1). Salienta-se ainda que ao diag- aminérgico com noradrenalina. Apresentamos
nóstico o doente exibia outras lesões cutâneas com imagens das consequências indesejadas desta
características de eritrodermia descamativa em
mais de 80% da superfície corporal (figura 2). Apre-
abordagem invasiva, levando a má perfusão e,
sentamos aqui fotografias da lesão epidermolítica por fim, necrose da área de irrigação da artéria
da perna direita que permitiu o diagnóstico e das radial, local de inserção do cateter arterial deste
lesões do escalpe. Estas imagens pretendem alertar doente.
para o tipo de manifestações cutâneas que a Sín-
drome de Sezáry pode apresentar, já que se podem P n.º 0765 
confundir com dermatoses cutâneas benignas. Calcificação Simétrica dos Núcleos da Base no
Jovem
Helena Luís(1);Bela Machado(1);Carolina Bar-
P n.º 0757 
ros(1);Mariana Gomes(1);Mariana Bilreiro(1);Jo-
Osteogenese Imperfeita - um caso tipo
sé Luís Andrade(1);Rafael Freitas(1)
Mariana Baptista(1);Raquel Moura(1);Marta
(1) Hospital Dr. Nélio Mendonça
Barbedo(1)
(1) Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia / Es- Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nu-

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 403


tricionais tal da Senhora da Oliveira
Tema: Doenças respiratórias
Sexo feminino, 22 anos, com antecedentes de
doença renal crónica estadio 5 e HTA, recorreu
ao Serviço de Urgência por diminuição da acui- Doente do sexo masculino, 59 anos, caucasia-
dade visual e dor ocular direita com 3 dias de no, com os seguintes antecedentes pessoais:
evolução. TC-CE com exuberantes calcificações obesidade, hipertensão essencial, diabetes
simétricas dos núcleos caudados, lenticulares mellitus tipo 2 não insulinotratada e cardiopatia
e com menor expressão dos núcleos dentados isquémica.
do cerebelo, sugestivo de doença metabólica/
doença de Fahr. As calcificações intracranianas Trazido pelo INEM ao serviço de urgência por
são relativamente comuns e podem ser fisioló- clínica com 3 dias de evolução de dispneia
gicas ou estar associadas a doenças do siste- inicialmente para pequenos esforços com pro-
ma nervoso central como infeções, anomalias gressão para dispneia em repouso, tosse seca,
congénitas, distúrbios metabólicos ou proces- confusão mental e astenia. Ao exame objetivo
sos neoplásicos. Os núcleos da base podem no serviço de urgência: Glasgow 12, sem outras
apresentar calcificações, sendo que na maioria alterações.
dos casos, a calcificação é pequena, bilateral Dos meios complementares de diagnóstico:
e frequentemente restrita aos globos pálidos, PCR SARS CoV2 Positivo; insuficiência respira-
mas pode envolver o putâmen, núcleo caudado, tória tipo 1. Realizou Angio-TC Tórax, tendo sido
tálamo, núcleos dentados do cerebelo e subs- diagnosticado tromboembolismo segmentar e
tância branca. a presença de trombo no ventrículo esquerdo,
apical, com 22 mm.
P n.º 0782 
COVID não é só pneumonia A imagem ilustra a presença do trombo no
Ana Isabel Correia de sá(1);Ana Costa(1);Danie- ventrículo esquerdo em doente com tromboem-
la Casanova(1);Ana Luís Ferreira(1);Helena Fer- bolismo pulmonar segmentar e pneumonia a
nandes(1);Isabel Trindade(1);Jorge Cotter(1) SARS CoV2.
(1) Hospital Senhora de Oliveira - Guimarães
P n.º 0785 
Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente Úlcera Terminal de Kennedy
crítico Joao Queirós Coelho(1);Paulo Medeiros Con-
ceição(1);Pedro Maia Neves(1);Ana Luísa Mar-
As imagens correspondem a cortes de tomo- çal(1);Rita Ribeiro Dias(1);Teresa Mendonça(1)
grafia computorizada torácica de 2 doentes do (1) Centro Hospitalar do Porto, EPE / Hospital
género masculino de 66 e 84 anos, autónomos. Geral de Santo António
O doente mais jovem não tinha antecedentes
Tema: Cuidados paliativos
pessoais de relevo conhecidos, enquanto o
outro doente apresentava doença pulmonar
obstrutiva crónica com documentação de bron- Imagem de 2 doentes admitidos em situação
quiectasias em estudos prévios. Ambos foram de deterioração orgânica grave, a culminarem
admitidos por pneumonia COVID, com atingi- no desenvolvimento de lesões de pressão lom-
mento pulmonar superior a 75%, documentado bossagradas, de bordos irregulares, com mor-
ao longo do internamento. Por insuficiência fologia semelhante a uma borboleta, com insta-
respiratória com necessidade de ventilação não lação e deterioração rapidamente progressiva
invasiva foram admitidos na Unidade de Cui- apesar das medidas de higiene postural e cui-
dados Intermédios COVID onde apresentaram dados locais, e cujo desenvolvimento precedeu
como complicações enfisema subcutâneo e o óbito em 3 semanas. Este tipo de úlcera, co-
pneumomediastino. Gostaria de destacar a exu- nhecido como Úlcera Terminal de Kennedy, tem
berância das 2 imagens, apesar de 2 doentes um aparecimento súbito e evolução muito rápi-
com características distintas. da, podendo ser considerada um sinal prognós-
tico para as últimas horas ou dias do doente.
P n.º 0784 
Um caso de dispneia P n.º 0787 
Marta Batista(1);Ana Correia sá(1);Elisabete Uma imagem que garante um diagnóstico - a
Ribeiro(1);André Pereira(1);Sara Silva(1);Isabel propósito de um aspergiloma
Trindade(1);Carlos Fernandes(1);Jorge Cot- Ana Isabel Correia de sá(1);Letícia Leite(1);Ana
ter(1) Luís Ferreira(1);Daniela Casanova(1);Márcia
(1) Centro Hospitalar do Alto Ave, EPE / Hospi- Machado(1);Sofia Xavier Pires(1);Helena Fer-

404
IMAGENS EM MEDICINA
nandes(1);Jorge Cotter(1) P n.º 0790 
(1) Hospital Senhora de Oliveira - Guimarães Síndrome de Rendu-Osler-Weber
Paula Perestrelo(1);Francisca Vasconce-
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias los(2);André Mendes(3);Ana Isabel Oli-
veira(4);Maria Inês Gonçalves(1);Bruno
Homem de 49 anos, com doença pulmonar obs- Ferreira(1);Renato Gonçalves(1);Gonçalo Miran-
trutiva crónica, tabagismo ativo e etilismo cróni- da(1);Rosa Ballesteros(1);Marisol Guerra(2);Ma-
co, com clínica de hemoptises e perda ponderal nuel Cunha(2)
de 21% em 2 meses. Realiza tomografia compu- (1) Centro Hospitalar Cova da Beira, EPE / Hos-
torizada torácica que revela “extensa cavitação pital Distrital da Covilhã (2) Centro Hospitalar
de paredes espessas e irregulares medindo de Trás-os-Montes e Alto Douro, EPE / Hospital
aproximadamente 60 x 60 mm e contendo ma- de Vila Real (3) Unidade Local de Saúde do Nor-
terial irregular no seu interior”.  Em lavado bron- te Alentejano - Hospital de Portalegre (4) Hospi-
coalveolar a pesquisa para Asperillus sp foi ne- tal de Braga
gativa, mas deteção em serologia de anticorpos
IgG de Aspergillus fumigatus (com doseamento Tema: Doenças hematológicas
de 137 mgA/L). O diagnóstico de aspergilose
pulmonar invasiva subaguda foi efetuado Introdução: O Sindrome de Rendu-Osler-Weber
e iniciada terapêutica com voriconazol, com (SROW) uma doença hereditária autossómica
melhoria do estado geral e aumento ponderal dominante associada a malformação vascular.
durante os primeiros 3 meses. A destacar as O diagnóstico é clinico. Caracteriza-se por le-
imagens que são típicas deste agente etiológi- sões telangiectásicas na pele e nas mucosas e
co. a malformações vasculares. Apresentamos o
caso de um homem de 63 com SROW com te-
P n.º 0788  langiectasias nos lábios e mucosa oral. Endos-
Toxoplasmose Cerebral: achados neurorradio- copia digestiva alta: angiectasias sangrantes no
lógicos de uma infeção oportunista estômago e duodeno. Por necessidades trans-
Ana Isabel Brochado(1);João Borralho(2);Diana fusionais frequentes pós epistaxis volumosas
Rocha(3);Tiago Lorga(2);João Alves(2);Isabel e perdas GI, apesar de controverso, iniciou tera-
Antunes(2);Fernando Borges(2);Kamal Mansi- pia hormonal com estrogénio e progesterona.
nho(2) Após inicio de terapêutica o doente sem novo
(1) Hospital Beatriz Ângelo (2) Centro Hospi- episódio hemorrágico abundante e estabilidade
talar de Lisboa Ocidental, EPE / Hospital Egas clínica.
Moniz (3) Unidade Local de Saúde de Matosi- P n.º 0799 
nhos, EPE / Hospital Pedro Hispano Como resolver um tumor do úraco
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias Eulália Antunes(1);Joana Lopes(1);Maurício Pei-
xoto(1);Isabel Silva(1);António Oliveira e Silva(1)
(1) Hospital de Braga
Homem, 31 anos, recorre ao Serviço de Urgên-
cia por crise convulsiva tónico-clónica. Sem Tema: Doenças oncológicas
défices focais à admissão. Realizou tomografia
computorizada de crânio com aparente lesão O úraco é um tubo fibroso desde o umbigo até
isquémica subaguda temporo-insular direita. a cúpula vesical que habitualmente se extingue
Em ressonância magnética, descrição de lesão durante a gestação, contudo em alguns casos
corticosubcortical temporal direita única, de mantem-se patente. Mulher de 47 anos, com
limites bem definidos e realce anelar após con- antecedentes de 2 cesarianas, encaminhada
traste, com edema vasogénico associado; su- para consulta de Medicina Interna por astenia.
gestivo de provável toxoplasmose cerebral. Do Realizou tomografia computadorizada tora-
estudo complementar: diagnóstico inaugural de coabdominopélvica que evidenciou formação
infeção por VIH-1; anticorpos IgG anti-Toxoplas- arredondada com calcificação periférica na li-
ma gondii positivo e IgM negativo. nha média adjacente à cúpula vesical, sugestiva
A presente imagem visa realçar a descrição de tumor do úraco. A doente foi orientada para
imagiológica de toxoplasmose cerebral, com a Urologia onde realizou ressonância magnéti-
particularidade de se tratar de lesão única, de- ca que sugeriu tratar-se de GIST mesentério,
notando a importância do diagnóstico diferen- carcinoide ileal ou, menos provável, tumor do
cial com outras etiologias infeciosas e lesões úraco. A doente foi submetida a excisão cirúrgi-
malignas do sistema nervoso central. ca da massa, cujo resultado histológico revelou
tratar-se de apêndice ileocecal aderente a uma

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 405


compressa cirúrgica.    Complicação de uma crise de asma grave
Inês de Albuquerque(1);Bernardo Silvério(1);Nú-
P n.º 0804  ria Fonseca(1);Isabel Freitas(1);Sara Pereira(1);-
Que derrame é este? - Um caso de síndrome Sofia Teixeira(1);Mário Esteves(1)
pós-pericardiotomia (1) Centro Hospitalar do Médio Ave, EPE / Uni-
Joana Freitas Ribeiro(1);Ana Matos(1);Fátima dade de Vila Nova de Famalicão
Pimenta(1) Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente
(1) Centro Hospitalar do Médio Tejo, EPE / Uni- crítico
dade de Torres Novas
Tema: Doenças cardiovasculares Caso Clínico: Jovem de 21 anos, anteceden-
tes de asma grave mal controlada, recorreu à
Mulher, 67 anos, colocação de prótese valvular urgência por dispneia súbita, tosse, rinorreia
aórtica no mês anterior por estenose aórtica e mal-estar geral. Na admissão a destacar,
grave. Recorreu por febre, cansaço fácil e tora- polipneia com tiragem intercostal e utilização
calgia direita de tipo pleurítico há 3 dias. Subfe- da musculatura acessória, posição em tripé,
bril e com murmúrio vesicular abolido nos 2/3 dificuldade em articular palavras, taquicardia
inferiores do hemitórax direito. Insuficiência e hipoxemia.  Após terapêutica dirigida, com
respiratória tipo 1. Restantes análises com ele- melhoria clínica e aumento de FiO2/PaO2>300.
vação de parâmetros inflamatórios (VS 110mm Radiografia do tórax com Pneumomediastino
1ªhora; proteína C reativa 11.44 mg/dL). Radio- (PNM), confirmada por TC tórax (TC-T), a acres-
grafia torácica confirma derrame pleural direito centar Enfisema subcutâneo (ES) e dos tecidos
livre. Feita toracocentese diagnóstica, líquido moles cervicais (figura 1 e 2). Internamento
serohemático compatível com exsudado, cultu- com otimização de terapêutica broncodilatado-
ra e pesquisa de células neoplásicas negativas. ra, corticoide e desmame progressivo de oxige-
Assumiu-se síndrome pós-pericardiotomia, me- noterapia. TC-T (figura 3) de reavaliação com
dicado com ibuprofeno e colquicina com evolu- resolução completa do PNM e ES.
ção favorável. Vem chamar a atenção para uma Conclusão: Serve este caso para alertar para
causa infrequente de derrame pleural, e  para a uma consequência rara de uma crise de asma,
importância da história clinica para o enquadra- mas com risco de recorrência de 5 a 10%.
mento no diagnóstico diferencial.
P n.º 0811 
P n.º 0805 
O tamanho não é tudo!
Tenho o nariz entupido, mas isto cheira mal… Rita Calixto(1);Sandra Yaneth Suescun(1);Mary-
Joana Freitas Ribeiro(1);Ana Matos(1);Débora na Telychko(1);Quintino Biague(1);José Vaz(1)
Lopes(1);Ana Rita Cardoso(1);Fátima Pimen- (1) Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo,
ta(1) EPE / Hospital José Joaquim Fernandes
(1) Centro Hospitalar do Médio Tejo, EPE / Uni-
dade de Torres Novas Tema: Doenças oncológicas
Tema: Outro
O meningioma é o tumor primário intracraniano
Mulher, 87 anos, demência em estadio avançado.
de caracter benigno, cujo diagnóstico é frequen-
Admitida em urgência por prostração. À observação temente incidental.
apirética, normotensa, sem alterações ao exame Mulher, 71 anos, sem antecedentes relevantes.
neurológico. Rinorreia com cheiro fétido, inspeção Trazida ao Serviço de Urgência por crise con-
das fossas nasais anteriores sem alterações. Radio- vulsiva inaugural. Ao exame objetivo apresen-
grafia da face com massa de consistência pétrea na tava agitação psicomotora, verborreia, disartria
fossa nasal esquerda. Estudo analítico sem altera- ligeira, e hemiparesia esquerda. Análises sem
ções, nomeadamente sem elevação de parâmetros alterações.
inflamatórios. Realizou tomografia computorizada Realizada TC CE com evidência de lesão ocu-
crânio-encefálica que revelou corpo estranho com pante de espaço captante frontal mediana,
densidade cálcica na fossa nasal esquerda. Após com 6x5,7x5cm em diâmetro com edema as-
revisão do histórico da doente assumida correspon-
dência com tamponamento nasal colocado 20 anos
sociado, com deformação dos lobos frontais e
antes. A doente foi encaminhada para Otorrinolarin- do sistema ventricular supratentorial. Realizou
gologia para extração do corpo. RM-CE que confirmou meningioma do rego
olfativo com efeito de massa. A doente foi en-
caminhada para um hospital terciário onde foi
P n.º 0806  submetida a embolização e posterior cranioto-
Pneumomediastino e Enfisema Subcutâneo: mia bifrontal com exérese macroscópica total
406
IMAGENS EM MEDICINA
da lesão. P n.º 0843 
Lesões Cutâneas que Levantam Suspeita de
P n.º 0833  Mastocitose
Uma patologia nunca vem só Paula Perestrelo(1);Francisca Vasconce-
Inês Araújo(1);Marina Salwegter(1);Margarida los(2);Ana Isabel Oliveira(3);André Men-
Robalo(1);Rui Domingues(1);Sofia Esperan- des(4);Maria Inês Gonçalves(1);Bruno
ça(1);António Oliveira e Silva(1) Ferreira(1);Renato Gonçalves(1);Rosa Balleste-
(1) Hospital de Braga ros(1);Marisol Guerra(2);Manuel Cunha(2)
(1) Centro Hospitalar Cova da Beira, EPE / Hos-
Tema: Doenças oncológicas pital Distrital da Covilhã (2) Centro Hospitalar
de Trás-os-Montes e Alto Douro, EPE / Hospital
Homem de 56 anos, realizou endoscopia digestiva de Vila Real (3) Hospital de Braga (4) Unidade
alta em ambulatório que revelou carcinoma esofá- Local de Saúde do Norte Alentejano - Hospital
gico espinocelular a condicionar subestenose do de Portalegre
lúmen. Admitido por pneumonia adquirida na comu-
nidade com insuficiência respiratória hipoxémica. Tema: Doenças hematológicas
Durante internamento por persistência de expetora-
ção abundante, hemoptises e tosse emetizante, em
doente com neoplasia conhecida, foi levantada a Introdução: Caso de homem de 54anos, enca-
suspeita de fistula traqueo-esofágica. Esta suspeita minhado à consulta de hematologia por prurido
foi confirmada pela TAC tóracica e posteriormente após o banho. Exame objetivo:lesões maculo-
pela broncofibroscopia. A PET revelou adenopatias papulares nos membros e tronco. Estudo analí-
mediastino-hilares sugestivas de etiologia metastá- tico: triptase26,1ug/L. Biopsia cutânea:urticária
tica. Na ausência de indicação cirurgica, foi coloca- pigmentosa. Mielograma:0.4% de mastócitos
da prótese esofágica, sendo decidida em consulta com morfológica atípica fusiforme e imunofe-
de grupo realização de quimioterapia paliativa. notipagem anormal (expressão de CD25+) e
mutação KITvD816V, que fez o diagnostico de
P n.º 0839  Mastocitose sistémica (MS). Na MS há acumu-
Osteoclastoma em cintigrafia óssea lação de mastócitos na pele, medula óssea e
Bruno Martins(1);Cristina Varela Pinto(1);Cristi- vísceras. A MS é rara e é facilmente subdiag-
na Loewenthal(1) nosticada sendo necessária elevada suspeição
(1) Hospital da Luz Lisboa clínica, pode facilmente ser confundida com
reação alérgica ou anafilática. O tratamento
Tema: Doenças oncológicas passa pela prevenção das reações e alterações
hematológicas, e em casos graves citorredu-
O Osteoclastoma é um tumor ósseo primário, ção.
composto por células gigantes semelhantes a
osteoclastos, células anaplásicas, colagénio e P n.º 0850 
osteóide. Macroadenoma Hipofisário - A propósito de
um caso clínico
Apesar de maioritariamente benignos, rara- Rita Bernardino(1);Rita Monteiro(1);Joana Dio-
mente podem malignizar, com potencial envol- go(1);Carolina Coelho(1);Rita Bizarro(1);Angela
vimento de tecidos moles e pulmonar. Mesmo Ghiletchi(1);Inês Matos Ferreira(1);Inês Fiuza m.
nos casos indolentes, a recorrência local é ele- Rua(1);Diogo Dias Ramos(1);Rodrigo Leão(1);A-
vada. na Serrano(1)
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE /
Na cintigrafia óssea (CO), as lesões apresen- Hospital de Santo António dos Capuchos
tam bordos bem definidos (com aumento da
captação do radiofármaco) e centro fotopénico, Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológi-
formando um padrão típico chamado de “Sinal cas
de Donut” que é sugestivo, mas não patogno-
mónico. O diagnóstico diferencial inclui quisto Homem de 86 anos com história de hiperten-
ósseo, condrossarcoma e osteossarcoma te- são arterial, dislipidemia e doença osteoarti-
langiectásico. cular degenerativa. Levado à urgência por alte-
ração do comportamento com amnésia para
Apresenta-se um caso de uma mulher com dor eventos recentes. Sem alterações de relevo à
no joelho esquerdo, cuja CO documentou lesão observação, realizou TC-CE que revelou altera-
sugestiva de osteoclastoma no côndilo medial ções compatíveis com macroadenoma hipofi-
do fémur esquerdo, que foi por isso biopsado, sário pelo que foi internado para estudo. Ana-
tendo-se confirmado o diagnóstico. liticamente documentou-se prolactina 50.91,
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 407
ACTH 85, IGF1 28.3, TSH, T4 e T3 livre, Cortisol, IgA kappa. Por óbito não foi possível prosseguir es-
LH, FSH, Testosterona normais. Realizou RM-CE tudo ou caracterização familiar. 
que apoiava hipótese de macroadenoma hipofi-
sário com desenvolvimento selar e supra-selar P n.º 0885 
e provável invasão dos seios cavernosos, no- Melanoma maligno plurimetastizado - imagens
meadamente à direita. Assumido macroadeno- impactantes
ma hipofisário provavelmente não secretor com Nuno Maia Neves(1);Susana Carvalho Coe-
hiperprolactinémia contextualizada no desvio lho(1);Anabela Raimundo(1);Alexandra Bayão
franco da haste hipofisária. Seguido no presen- Horta(1)
te em ambulatório para controlo e exclusão de (1) Hospital da Luz Lisboa
efeito de Hook.
Tema: Doenças oncológicas
P n.º 0861 
Síndrome de Chilaiditi’s Mulher de 82 anos, com história de melanoma
Jerina Nogueira(1);Adriano Pacheco Men- cutâneo da região lombar excisado há 5 anos, com
des(1);Rúben Raimundo(1);André Mendes(1);A- aumento do volume abdominal e mal-estar geral
na Paula Rezende(1);Maxim Suleac(1);Ana com 6 meses de evolução. Na admissão notada
Neves(1);Augusto Mendonça(1);Isabel Lavadi- hepatomegália; analiticamente com anemia e cito-
nho(1) colestase. A tomografia computorizada de tórax e
(1) Hospital Portalegre abdómen revelou: imagens nodulares no parênqui-
ma pulmonar, refletindo lesões secundárias (seta
Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças em A); áreas de espessamento pleural nodular,
hepáticas sugerindo metastização pleural (asterisco em A);
hepatomegália com incontáveis nódulos, o maior
com 14x10 cm (seta em B) e múltiplas imagens
O sinal de Chilaiditi’s caracteriza-se pela interposi- nodulares envolvendo o tecido celular subcutâneo
ção das ansas intestinais sobre a região hepatodia- dorso-lombar. A biópsia de um desses nódulos con-
fragmática, de etiologia desconhecida, assintomá- firmou tratar-se de metástase de melanoma. Dado
tica e incidência  <0,5%. O diagnóstico é radiológico o estádio avançado da doença, optou-se por uma
e quando presentes sintomas (dor abdominal, estratégia paliativa.
vómitos, obstipação,etc) passa a denominar-se Sín-
drome de Chilaiditi’s. As imagens apresentadas re-
ferem-se a uma mulher de 73 anos com queixas do P n.º 0896 
foro gastrointestinal e respiratório com  Síndrome Teratoma testicular
Chilaiditi’s tratado de modo conservador. Um evento Filipa Simões(1);Rafaela Pereira(2)
traumático prévio foi suspeitado como fator causal. (1) HOSPITAL FARO (2) Centro Hospitalar do
Doente faleceu após infeções respiratórias de repe- Algarve, EPE / Hospital de Faro
tição. Estas imagens além de demonstrarem uma
síndrome rara, elucidam para as comorbilidades que Tema: Doenças oncológicas
pode provocar quando a extensão é significativa.
Homem de 87 anos, com antecedentes de de-
P n.º 0868  mência, é trazido ao Serviço de Urgência por
Electroforese de proteinas bizarra recusa alimentar e medicamentosa.
Joana Rabaçal(1);Teresa Romão(1)
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE /
Hospital Egas Moniz Ao exame físico, descobrimos uma volumosa
massa escrotal de consistência pétrea, sem
Tema: Outro sinais inflamatórios, cuja ecografia coloca a
hipótese de se tratar de um teratoma testicular. 
Bisalbuminemia é uma anomalia proteica rara, ca- A orquidectomia foi dispensada, pois apesar
racterizada pela ocorrência de um pico bífido na de exuberante, esta massa não provocava qual-
banda da albumina na eletroforese de proteínas quer desconforto ou sintomatologia urogenital
séricas. Não existe um significado clínico conheci- ao doente e o risco anestésico não era despre-
do para esta alteração, que pode ser hereditária ou zível. Os teratomas testiculares raramente me-
adquirida como por exemplo exposição a beta-lac- tastizam, pelo que se optou por manter apenas
tâmicos, casos de mieloma múltiplo, entre outros. vigilância.
O caso refere-se a um homem de 66 anos internado
por sépsis em contexto de úlceras cutâneas infec- P n.º 0906 
tadas. Do estudo analítico salienta-se rabdomiólise Penfigoide Bolhoso, um Exemplo de Sucesso
(CK 14005U/L), elevação da LDH (1378U/L), electro- Terapêutico
forese evidenciou bisalbuminemia e a imunofixação Elisa Macedo Brás(1);Raquel Costeira(1);Filipa
pico monoclonal IgG kappa mais pico monoclonal Seixas(1);Rita Reis Bragança(1);Nuno Ferreira

408
IMAGENS EM MEDICINA
da Silva(1);Fernando Salvador(1) Tema: Outro
(1) Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto
Douro, EPE / Hospital de Vila Real Masculino, Demência de Alzheimer avançada.
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e Internado por pneumonite aspirativa.
vasculites
Dejeção única abundante, sem registo de trânsito
Homem, 84 anos, com antecedentes de síndrome intestinal nos dias seguintes. Abdómen progres-
demencial, apresentou lesões bolhosas tensas sivamente mais distendido,  ruídos  metalizados
dispersas, algumas exsudativas e necróticas, em e timpanismo. Tomografia abdominal  (TC-AP):
várias fases de evolução; mais exuberantes na zona distensão do cólon proximal à transição sigmói-
cervical, membros, axilas e zonas interdigitais, com de recto; sigmóide distendido termina de forma
sinal Nikolsky positivo. Realizou-se biópsia cutânea abrupta, transição recto sigmóide que se encon-
e iniciou tratamento com prednisolona 0.5mg/kg. O tra colapsada; aparente pneumatose no cólon
estudo imune mostrou positividade para os anticor- ascendente. Colonoscopia evidencia vólvulo do
pos Anti-BP180, Anti-BP230, anti-desmogleína 1 e 3 sigmoide, com redução endoscópica, comprova-
e anti-colagénio VII; a imunofluorescência demons- da em nova TC-AP. 
trou deposição linear de C3; confirmou-se assim o
diagnóstico de penfigoide bolhoso. Vólvulo: torção do trato gastrointestinal, frequen-
te a nível do sigmóide/cego. Causa incomum de
O doente evoluiu favoravelmente e iniciou desmame obstrução intestinal no adulto, mais frequente
de corticoide três semanas após o início de trata- em indivíduos debilitados, com patologia  neu-
mento; após seis semanas as lesões tinham regredi- ropsiquiátrica.  Complicações: perforação intes-
do quase totalmente. tinal e peritonite. Tratamento endoscópico e/ou
P n.º 0909 
cirurgia
Prototecose, uma Infeção Rara por uma Alga P n.º 0919 
Elisa Macedo Brás(1);Joana Subtil(1);Guilherme Derrame pleural secundário a sarcoma – ima-
Assis Cardoso(1);Nuno Ferreira da Silva(1);Elisa gens de uma anatomia distorcida
Serradeiro(1);Fernando Salvador(1) Ivo Barreiro(1);Maria Inês Bertão(1);Margarida
(1) Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Gaudêncio(1);Patrícia Almeida(1);Rosário San-
Douro, EPE / Hospital de Vila Real tos Silva(1);Lígia Fernandes(1);Abílio Gonçal-
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias ves(1)
(1) Hospital Distrital da Figueira da Foz, EPE
Mulher, 78 anos, seguida em consulta por Artri- Tema: Doenças oncológicas
te Reumatóide, medicada com prednisolona e
metotrexato. Em consulta de rotina apresentou Homem, 71 anos, recorreu ao serviço de urgência
bursite olecraniana direita, dolorosa, sem sinais por dispneia. Com saturação periférica de 97%,
de sinovite e sem sintomatologia sistémica, auscultação pulmonar com murmúrio diminuído à
com três semanas de evolução. Efetuou-se ar- esquerda. Radiografia do tórax com opacidade do
trocentese diagnóstica e terapêutica com saída hemitórax esquerdo, com desvio do mediastino e
de 25ml de líquido sero-hemático. No exame da traqueia. Tomografia do toráx revelou derrame
microbiológico do líquido sinovial cresceu pleural esquerdo a condicionar colapso do pulmão
Prototheca wickerhamii, uma alga ubiquitária. esquerdo, desvio do mediastino e desvio inferior da
Admitiu-se o diagnóstico de bursite olecraniana hemicúpula diafragmática. O estudo etiológico do
derrame revelou um exsudato, com biópsias pleu-
por Prototheca wickerhamii em doente imu- rais revelando invasão por um sarcoma, com lesão
nodeprimida. Apesar de se tratar de uma alga primária na coxa direita. O doente faleceu após ini-
iniciou tratamento com Itraconazol 200mg/dia. ciar tratamento paliativo.
Completou 28 dias de tratamento, com evolu-
ção clínica favorável e análise posterior do líqui-
O caso destaca-se pelo volume do derrame, condi-
do sinovial estéril. cionando várias alterações anatómicas importantes,
sem insuficiência respiratória associada. Derrames
P n.º 0915  volumosos assintomáticos traduzem patologias de
Obstrução Intestinal por Vólvulo do Sigmóide evolução lenta, pelo que devem suscitar exclusão
Raquel Covas(1);Gonçalo Santos(1);Filipa Ro- de neoplasia.
drigues(1);Eduardo Macedo(1);José Miguel
P n.º 0937 
Rocha(1)
Jejum e apneia não é uma boa ideia
(1) Hospital de Braga
Carolina Pereira Mateus(1);Catarina Lamei-

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 409


ras(1);Ana Corte-Real(1);Sofia Bragança(1);Cla- P n.º 0956 
ra Matos(1);João Valente(1);Patrícia Vasconce- Penfigoide bolhoso exuberante
los(1) Catarina Pinto Marques(1);Mónica Spencer Pe-
(1) Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca reira(1);Ana Rita Rocha(1);Domingas Pereira(1);-
José Vaz(1)
Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente (1) Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo,
crítico EPE / Hospital José Joaquim Fernandes

Sexo masculino, 24 anos, sem antece- Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e


vasculites
dentes relevantes. Trazido à urgência por
afogamento em piscina com aspiração
Homem de 36 anos, sexo masculino, trabalhador
de água para a via aérea, secundário a rural. Sem antecedentes pessoais relevantes ou me-
hipoglicemia por baixa ingesta alimentar dicação habitual. Recorreu à urgência por apresen-
prévia a atividade física intensa. À admis- tar múltiplas lesões bolhosas generalizadas, com
são com sinais de dificuldade respiratória conteúdo seroso no seu interior, principalmente no
tórax, dorso e cabeça. Não poupavam a mucosa. As
(polipneia com tiragem), com Máscara de lesões tinham uma semana de evolução. Na região
Alto Débito, embora sem necessidade de do tórax tinham exsudado amarelado, sugestivo
ventilação mecânica. Clinicamente melho- de sobreinfeção. A biopsia das lesões confirmou
rado, teve alta ao 3º dia internamento sem a suspeita de penfigoide bolhoso e, isolou-se Sta-
necessidade de aporte suplementar de phylococcus aureus no pus das lesões. Iniciou tera-
pêutica com corticoides, azatioprina, flucloxacilina e
oxigénio. Radiografia Tórax à admissão: banhos de permanganato. Teve uma grande melho-
infiltrado alveolar extenso bilateral, tradu- ria como se pode observar nas fotografias à chega-
zindo Pneumonite química/edema pulmo- da ao serviço de urgência, durante o internamento e
nar no contexto de afogamento em água à data de alta. Trouxemos este caso pela exuberân-
cia das lesões e para alertar para a importância do
de piscina. Radiografia Tórax reavaliação diagnóstico e tratamento precoce.
ao 3º dia: resolução do infiltrado pulmo-
nar. P n.º 0964 
PNEUMONIA COMPLICADA COM PNEUMATO-
P n.º 0939  CELOS
Cimentose pulmonar: consequência de um pro- Márcia Machado(1);Letícia Leite(1);Cristina Sil-
cedimento sem intercorrências va(1);Mariana Formigo(1);Clarisse Neves(1);Fer-
Tiagombmendes(1);Maria Pacheco(2);Telmo nando Esculcas(1);Jorge Cotter(1)
Coelho(3);Margarida Melo Correia(3) (1) Centro Hospitalar do Alto Ave, EPE / Hospi-
(1) Unidade Local de Saúde do Alto Minho, EPE tal da Senhora da Oliveira
/ Hospital de Santa Luzia (2) Unidade Local de
Saúde da Guarda, EPE / Hospital Sousa Martins Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
(3) Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia / Es-
pinho Homem, 38 anos, sem antecedentes conhecidos,
recorreu ao Serviço de Urgência por odinofagia e
Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente febre com 5 dias de evolução.
crítico
Apresentava-se com pressão arterial 89/51 mmHg;
Homem de 77 anos, antecedentes de Mieloma frequência cardíaca 180 bpm; temperatura auricu-
Múltiplo com necessidade de suporte dialítico. lar 40,1ºC; frequência respiratória 30 cpm; SatO2
ar ambiente 97%; exsudado purulento amigdalino
à direita. Sem outras alterações. Assumida sépsis
Por lesões líticas com risco de colapso foi inter- com ponto de partida em amigdalite, com disfunção
vencionado por Neurocirurgia tendo realizado multiorgânica (cardiocirculatória, renal e metabóli-
fixação percutânea dos corpos vertebrais de x a ca) e iniciada antibioterapia com amoxicilina e acido
y com aplicação de cimento ósseo. Sem registo clavulânico. Ao 5º dia, documentada bacteriémia
de intercorrências. Após 1 mês foi internado em por streptococcus sanguis; ecocardiograma transto-
contexto de choque sético. Em avaliação abdo- rácico e RMN cardíaca sem evidência de endocardi-
minal por TC, nos cortes que abrangem parên- te ou miocardite. Por manutenção de febre, realizou
quima pulmonar foi observado preenchimento TAC torácico que evidenciou uma pneumonia com
de artérias pulmonares subsegmentares (setas pneumatocelos, tendo iniciado meropenem e linezo-
lide, com evolução favorável.
azuis). No contexto em questão assumiu tratar-
-se de embolia pulmonar por cimento. P n.º 0971 
410
IMAGENS EM MEDICINA
ABCESSO PULMONAR EXUBERANTE vação do ponto J consequente ao aumento da
Márcia Machado(1);Tiago Seco(1);Silvia Nu- corrente de saída de potássio durante a repo-
nes(1);Glória Alves(1);Jorge Cotter(1) larização ventricular. Surge em 80% dos doen-
(1) Centro Hospitalar do Alto Ave, EPE / Hospi- tes hipotérmicos mas não é patognomónica
tal da Senhora da Oliveira desta condição, podendo ocorrer também na
isquémia miocárdica, hipercalcémia, alterações
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias precoces de repolarização e Síndrome de Bru-
gada. 
Mulher 75 anos, autónoma, admitida por dispneia, febre
e tosse com 1 semana de evolução. Antecedentes pes-
Apresentamos o electrocardiograma de um ho-
soais de hipertensão arterial, dislipidemia, insuficiência
cardíaca, fibrilação auricular, portadora de pacemaker, mem de 70 anos com história de etilismo cróni-
DPOC e enfisema pulmonar. co trazido ao serviço de urgência por alteração
do estado de consciência com tempo de evolu-
Fez tomografia computorizada (TAC) torácica que docu- ção desconhecido (desorientado temporo-es-
mentou uma coleção com nível hidroaéreo com aproxi- pacialmente, amnésico para o sucedido, tremor
madamente 94 mm x 88 mm, tendo ficado internada por generalizado, extremidades frias e leitura tér-
abcesso pulmonar associado a insuficiência respiratória
tipo 1.
mica imensurável – abaixo de 32ºC), que mos-
tra ondas de Osborn em II, III, aVF, V3-V6, ar-
Iniciou empiricamente ceftriaxone e metronidazol, ini- tefactos de shivering e prolongamento do QT
cialmente com evolução favorável e sem isolamento de - achados que reverteram após normalização
agente, mas com agravamento clínico ao 40º dia de tera- da temperatura. 
pêutica, com evolução desfavorável, culminando no seu
falecimento, apesar das medidas tomadas.
P n.º 0982 
P n.º 0973  I’ve got you under my skin
MASSA CERVICAL EXUBERANTE Teresa Costa e Silva(1);Hugo Jorge Alves(1);Su-
Márcia Machado(1);Isabel Bessa(1);Ana Sousa sana Franco(1);Célia Machado(1);José Lomeli-
Leite(1);Magda Fernandes(1);Jorge Cotter(1) no Araújo(1)
(1) Centro Hospitalar do Alto Ave, EPE / Hospi- (1) Hospital Beatriz Ângelo
tal da Senhora da Oliveira Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias crítico

Mulher, 78 anos, totalmente dependente, trazida ao Mulher de 69 anos, internada por pneumonia bila-
Serviço de Urgência por prostração. Antecedentes teral extensa por SARS CoV-2 e insuficiência res-
de síndrome demencial grave e de linfoma difuso de piratória global com acidémia e necessidade de
grandes células B em tratamento paliativo. Objetiva- ventilação não invasiva. Agravamento clínico pro-
mente apresentava massa cervical com meses de gressivo, com incremento do débito de oxigenotera-
evolução com crescimento progressivo, com sinais pia e aumento gradual dos parâmetros ventilatórios,
inflamatórios associados, indolor à palpação. Ana- complicado de barotrauma extenso com enfisema
liticamente apresentava aumento dos parâmetros subcutâneo e pneumomediastino iatrogénicos. Evo-
inflamatórios. TAC do pescoço descreveu volumosa lução para óbito.
massa heterogénea com 15 x 5 cm de diâmetros
axiais, com áreas de necrose e locas abcedadas. A imagem traduz a dificuldade na gestão de doen-
Assumida infeção de tecidos moles e iniciada anti- tes críticos com pneumonia por SARS CoV-2 e as
bioterapia com vancomicina, tendo tido, no entanto, consequências nefastas associadas quer à doença
uma evolução desfavorável, culminando no seu fale- quer à própria terapêutica.
cimento.
P n.º 0987 
P n.º 0974  Olhar as extremidades
Ondas de Osborn: frio de rachar, ECG a relem- Teresa Costa e Silva(1);Hugo Jorge Alves(1);Su-
brar sana Franco(1);Célia Machado(1);José Lomeli-
Patrícia Fernandes(1);Ana Cláudia Cunha(1);- no Araújo(1)
Cátia Faria(1);Cláudia Diogo(1);Diana Mou- (1) Hospital Beatriz Ângelo
ra(1);Maria Jesus Banza(1)
(1) Hospital Santo André - Leiria Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e
vasculites
Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente
crítico Homem de 73 anos com carcinoma pavimentocelu-
lar do pulmão. Diagnosticado com síndrome RS3PE
As ondas de Osborn caracterizam-se pela ele- (Remitting Seronegativie Symmetrical Synovitis with
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 411
Pitting Edema) e polineuropatia sensitivomotora A consulta do processo clínico revela que os agra-
axonal e desmielinizante, ambas em contexto pa- fos tinham sido colocados 8 meses antes.
raneoplásico, com manifestações esclerodérmicas
e dor neuropática. Sem edema característico da A imagem ilustra a situação precária de alguns
síndrome, dado se encontrar sob prednisolona em doentes, reforçando a necessidade de acompanha-
baixa dose. mento e de um tratamento global, seja no hospital,
seja na comunidade.
Pretende-se sensibilizar os clínicos para a importân- P n.º 1005 
cia da síndrome RS3PE que, apesar de rara, é parti- Quisto neuroepitelial - a propósito de estudo
cularmente incidente na faixa etária geriátrica e no
sexo masculino e que deve ser seguido de uma in-
etiológico de défices motores
vestigação adequada tendo em vista a exclusão de Rita Calixto(1);Filipa Lage Martins(1);Maryna
doença oncológica. Telychko(1);Quintino Biague(1);José Vaz(1)
(1) Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo,
P n.º 0988  EPE / Hospital José Joaquim Fernandes
Edema de Quincke no Serviço de Urgência
Filipa Gonçalves(1);Ana Correia sá(1);Anabela Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológi-
Carvalho(1);Margarida Roca(1);Sara Freitas(1);- cas
Jorge Cotter(1)
(1) Centro Hospitalar do Alto Ave, EPE / Hospi- O quisto neuroepitelial é um tumor na maioria
tal de Guimarães dos casos benigno e de crescimento lento.
Apresentam-se as imagens da RM-CE de uma
Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente mulher, 39 anos, que recorreu ao Serviço de
crítico Urgência por queixas de cefaleia holocraniana,
alterações de força no hemicorpo esquerdo
O angioedema da úvula é uma complicação rara de e da marcha, com espasticidade distónica da
edema da via aérea superior que se pode apresentar mão esquerda e pronação na prova de braços
após exposição a alguns tóxicos. estendidos, discreta queda do membro inferior
esquerdo na prova de Mingazini e ROT’S vivos à
Apresenta-se o caso clínico de um homem, 27 anos, esquerda no exame objetivo.  A lesão apresen-
que recorreu ao SU por sensação de corpo estranho tada na RM-CE tem um caracter multiquistico
na orofaringe  associada a dificuldade no discurso infiltrativo do parênquima cerebral e apresenta
com início súbito. No SU objetivado edema da úvula um elevado risco de sequelas em caso de in-
associado a dispneia. Identificado consumo a cocaí- tervenção cirúrgica. A biópsia confirmou quisto
na intranasal nas 6 horas prévias ao episódio, tendo neuroepitelial. A pormenorização e correcta
sido esta a primeira exposição. Como antecedentes
pessoais mantinha tabagismo ativo (6 UMAs), sem
documentação dos défices tem um especial
medicação habitual, sem história prévia de alergias relevo para evitar repetição de exames desne-
medicamentosas.  Realizada terapêutica com corti- cessários e permitir uma referenciação precoce
coterapia e anti-histamínico com resolução comple- à Neurologia e/ou Neurocirurgia.
ta dos sintomas. Manteve-se em vigilância durante
12 horas, sem evidência de recidiva. P n.º 1007 
Doença de Crohn à flor da pele – Uma apresen-
P n.º 0992 
tação extraintestinal de uma DII
Agrafos - um caso de exclusão social
Dra. Barbara Oliveira(1);Mariana da Silva
Miguel Sousa Leite(1);Salvador Morais Sarmen-
Leal(1);Susana p Silva(1);Mariana Sousa(1);Ro-
to(1);Hugo Inácio(1);Andreia Amaral(1);Sofia
sa Jorge(1)
Mateus(1);Beatriz Sampaio(1);Diogo Ferreira da
(1) Centro Hospitalar do Baixo Vouga / Hospital
Silva(1);Faffaele Junior Aliberti(1);Rita Lopes
Infante D. Pedro, EPE
Cunha(1);Rita Jesus(1);Alina Avelar(1)
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE / Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e
Hospital de Santo António dos Capuchos vasculites
Tema: Organização, gestão e qualidade de ser-
viços de saúde Introdução:

Doente de 53 anos, alcoólica, internada após queda Mulher de 43 anos, com quadro de artrite do tor-
no domicílio, para correcção de distúrbios hidroelec- nozelo e pé esquerdos, lesões pápulo-postulosas
trolíticos e hidratação por rabdomiólise. No exame das pernas e aftose oral, com 3 dias de evolução.
objectivo detectados 11 agrafos sobre lesão cicatri- Dos antecedentes, destacava-se o diagnóstico de
zada. amigdalite bacteriana, duas semanas antes, e de D.
Crohn , com ileíte de atividade moderada, em 2015.

412
IMAGENS EM MEDICINA
Apresentava PCR de7mg/dL e VS de 54mm. Verifi- P n.º 1029 
cou-se agravamento das lesões cutâneas, apesar Um coração desalojado, um pulmão resiliente
de estar sob antibioterapia, por presunção de so- André s. Carvalho(1);Margarida Gaudêncio(1);-
breinfeção. Realizou-se biópsia de uma das lesões, Sara Joana Faria(1);Isabel Bessa(1);Abílio Gon-
por suspeita de pioderma gangrenoso, que mostrou çalves(1)
uma vasculite leucocitoclásica pustulosa de vasos
superficiais e profundos. Institui-se corticoterapia
(1) Hospital Distrital da Figueira da Foz, EPE
em baixa dose, com resolução progressiva do qua- Tema: Doenças respiratórias
dro.

P n.º 1011  Homem de 78 anos, autónomo, admitido no Servi-


Por detrás de uma infeção da orofarínge ço de Urgência por ortopneia e tosse com 5 dias
Madalena Santos(1);Mariana Belo Nobre(1);- de evolução. Antecedentes de gonartrose e lesão
Joana Rosa Martins(1) diafragmática sequelar a acidente de viação há 70
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / anos. Ao exame objetivo, dispneico, com edemas
maleolares. Auscultação: murmúrio vesicular abo-
Hospital de Santa Maria lido no hemitórax esquerdo; fervores basais e sons
Tema: Doenças raras cardíacos à direita. Na gasimetria insuficiência res-
piratória tipo 2. ProBNP 2978 pg/mL. Radiografia
de tórax: desvio direito do mediastino, hemicúpula
Homem, 88 anos, com antecedentes de HTA, diafragmática esquerda elevada, apagamento dos
DM tipo 2 e obesidade. Admitido na urgência seios costo-frénicos e congestão vascular. TC de
por lesões na orofaringe, odinofagia e exante- tórax confirmou os achados radiográficos.
ma pruriginoso disseminado. À inspeção apre-
sentava pápulas e placas eritematosas, lesões O trauma mecânico é a principal causa de paresia
purpúricas no tronco e membros e bolhas com diafragmática unilateral. Na ausência de doença pul-
conteúdo serohemático nas mãos e antebra- monar subjacente, pode passar despercebida sem
ços. Analiticamente com neutrofilia e estudo sintomas durante anos, devido à capacidade adapta-
autoimune negativo. As biópsias cutâneas fo- tiva e compensatória do pulmão contralateral.
ram compatíveis com síndrome de Sweet, mas
P n.º 1033 
não permitiram excluir toxidermia bolhosa. A
restante investigação etiológica foi inconclusi- Pneumomediastino espontâneo e COVID-19
va, pelo que se assumiu síndrome de Sweet bo- João Pimenta Fernandes(1);Daniel Olivei-
lhoso, secundário a infeção na orofarínge. Fez ra(1);Ema Eça Pos(1);Maria Ruão(1);Luis Ferrei-
corticoterapia com resolução da dermatose. ra(1);Margarida França(1)
(1) Centro Hospitalar do Porto, EPE / Hospital
Geral de Santo António
P n.º 1014 
UMA CAUSA DE INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓ- Tema: Doenças respiratórias
RIA GLOBAL INESPERADA
Filipa David(1);João Lázaro Mendes(2);Sara Apresenta-se o caso de um homem de 70
Moutinho-Pereira(1);Sara Pimenta Dias(1);Sér-
gio Campainha(3);Cristina Oliveira(1) anos diagnosticado com doença grave
(1) Unidade Local de Saúde de Matosinhos, EPE por SARS-CoV2, admitido em Serviço de
/ Hospital Pedro Hispano (2) Centro Hospitalar Cuidados Intensivos, sob ONAF (oxigénio
Tondela-Viseu, EPE / Hospital de São Teotónio, nasal de alto fluxo), sem história recente
EPE (3) Hospital Vila Nova Gaia de trauma torácico, intervenção cirúrgi-
ca, necessidade de ventilação mecânica
Tema: Doenças oncológicas
invasiva ou colocação de acesso venoso
Homem de 67 anos, sem doença respiratória conhecida,
central. Objetivado em TAC torácica a pre-
admitido por broncospasmo e insuficiência respiratória sença de pneumomediastino. Ao exame
global (IR2). Tomografia computorizada do tórax eviden- objetivo, identificou-se enfisema subcutâ-
cia lesão mediastínica, de 49x55mm, paraesofágica com
compressão da traqueia (lúmen de 1mm) e broncosco-
neo sem sinal de Hamman. Na ausência
pia rígida confirma obstrução traqueal, com colocação de fator predisponente, classifica-se o
de prótese para assegurar a patência da via aérea (VA). achado como Pneumomediastino espon-
A histologia sugere carcinoma epidermoide invasor de
primário desconhecido. Os autores alertam para outras
tâneo (PME) e a patofisiologia é baseado
causas de IR2 que necessitam de investigação etiológica no fenómeno de Macklin. Até à data é in-
urgente, sob prejuízo vital, como patologia neuromuscu- certa a ligação entre o uso de ONAF e de-
lar, distúrbios metabólicos, intoxicações, compromisso
do drive respiratório ou, como ilustrado, obstrução da VA senvolvimento de pneumomediastino. Tra-
por corpo estranho/neoplasia. ta-se de uma condição rara e a descrição

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 413


de casos de PME espontâneo associado a do espaço faríngeo mucoso. Assumido diagnóstico
COVID-19 é limitada.  de Parotidite Nosocomial, tendo iniciado empiri-
camente Piperacilina/Tazobactam + Vancomicina.
Isolamento de MSSA em hemoculturas, com desca-
P n.º 1045  lação de antibioterapia para flucloxacilina dirigida e
Colelitíase: uma complicação da anemia falci- resolução clínica.
forme
Andre Goncalves Mendes(1);Ana Olivei- P n.º 1095 
ra(2);Paula Perestrelo(3);Francisca Vascon- DISSECAR UM ACIDENTE VASCULAR CERE-
celos(4);Jerina Nogueira(1);Rúben Raimun- BRAL (AVC)
do(1);Marisol Guerra(4) Ana Lourenço Jardim(1);Sara Ribeiro(1);So-
(1) Hospital Portalegre (2) Hospital de Braga (3) fia Moreira(2);Diana Leite Russo(1);Helena
Centro Hospitalar Cova da Beira, EPE / Hospi- Reis(1);Ana Francisca Correia(1);Gonçalo Al-
tal Distrital da Covilhã (4) Centro Hospitalar de ves(1);Pedro Rodrigues(1);Jorge Almeida(1)
Trás-os-Montes e Alto Douro, EPE / Hospital de (1) Centro Hospitalar de S. João, EPE (2) Centro
Vila Real Hospitalar de Vila Nova de Gaia / Espinho
Tema: Doenças hematológicas Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológi-
cas
A doença falciforme associa-se a anemia hemolítica
intravascular com obstrução dos capilares pela rigi- Mulher de 39 anos com história de melanoma da
dez das hemácias em foice, causando crises dolo- coróide. Descreve episódio de amaurose fugaz se-
rosas por isquemia dos vários órgãos e aumento da guido de cefaleia hemicraniana direita, e posterior
vulnerabilidade a infeções.  lentificação psicomotora e sonolência excessiva.
Objetivamente, NIHSS 0 mas com alterações neu-
Apresentam-se as imagens de um doente do rocognitivas. Identificado AVC isquémico na de-
sexo masculino, de 19 anos com anemia falci- pendência de disseção da artéria carótida interna
forme, recentemente diagnosticada, com cerca direita.
de 95% de hemoglobina S, que recorreu ao ser-
viço de urgência por febre e dor nos membros A imagem da Angio-Tomografia Computorizada Crâ-
inferiores. Ficou internado com a hipótese de nio-Encefálica ilustra a dita disseção, e tem como
crise vaso-oclusiva. Dos estudos realizados no finalidade demarcar a importância de não descurar
internamento destaca-se a tomografia do ab- a suspeita de AVC em idades jovens. Por ser menos
frequente, não surge comumente como diagnóstico
dómen que revela litíase vesicular exuberante, diferencial, principalmente se clinicamente frustre.
consequência da hemólise característica nesta Contudo, é um evento possível e potencialmente
doença. tratável, devendo ser excluído precocemente. Uma
abordagem etiológica, orientada a eventuais causas
Estas imagens são relevantes devido a raridade menos frequentes é igualmente pertinente.
com que se encontram.
P n.º 1108 
P n.º 1057  Hidden areas
UMA CAUSA RARA DE OBSTRUÇÃO DA VIA Rosário Eça(1);Tiago Pack(2);Mariana Salvado
AÉREA EM INTERNAMENTO de Morais(1);Ana Raquel Soares(2)
Carolina Morna(1);Jéssica Chaves(1);Graça (1) Hospital de São José (2) Centro Hospitalar
Dias(1);Antonio Chaves(1) de Lisboa Central, EPE / Hospital de Santa Mar-
(1) Hospital Dr. Nélio Mendonça ta
Tema: Doenças respiratórias Tema: Doenças respiratórias

Doente de 79 anos, sexo feminino, internada por


hemorragia digestiva alta em contexto de toma de A 22 year-old man presenting with fever
AINEs. Intercorrência de dispneia súbita e estridor and cough. Our first analysis focused on
ao 6º dia de internamento. Objectivamente, edema the left lung parenchymal opacities and
cervical esquerdo com extensão para a face e ângu- loculated pleural effusion, and no notice
lo da mandíbula, não sendo este palpável. Inspeção
orofaringea e videolaringoscopia para entubação
was made of the 2 small cavities present
orotraqueal com visualização de aparente compres- on the left apex.These were soon recog-
são faríngea extrínseca. Realizado TC cervical que nized on a later detailed interpretation and
mostrou exuberante aumento da glândula parótida helped narrowing the differential diagno-
esquerda com colapso difuso da orofaringe e hipo- sis.(Image 1,2)
faringe com espessamento circunferencial difuso

414
IMAGENS EM MEDICINA
This case illustrates the importance of Hospital de Santa Maria
careful observation of certain chest x-ray
Tema: Outro
“tricky” hidden areas, regions of super-
imposed structures and missed findings, Homem, 72 anos, com a antecedentes relevan-
namely the apices, sternoclavicular joints, tes de diverticulose cólica, internado no serviço
hila, retrocardiac and subdiaphragmatic ar- de Medicina por diverticulite aguda, tendo inicia-
eas. In this case, an error of satisfaction of do antibioterapia com piperacilina/tazobactam.
search – i.e., to call off a search once a ma- Ao 5º dia de internamento, apresenta trombose
jor finding is found - may have also come venosa profunda (TVP) do membro inferior di-
reito complicada de phlegmasia cerulea dolens,
into play. com agravamento progressivo, culminando com
Missing findings on a chest x-ray is frequent, a amputação do membro. Simultaneamente
hence the importance of a systematic analysis surgiram alterações laboratoriais sugestivas de
of the chest x-ray, especially on a busy emer- coagulação intravascular disseminada e presen-
gency room. ça de blastos no esfregaço sangue periférico. O
mielograma revelou leucemia mieloide aguda
P n.º 1115  com maturação monocítica. Este caso ilustra
Cinesioterapia dura em pulmão mole, tanto in- uma complicação rara de TVP, assim como a
sufla até que fura sua a importância da sua valorização na suspei-
BEATRIZ CASTRO SOARES MORAIS SILVA(1);- ção de malignidade.
Vânia Rodrigues Pereira(1);Ana Isabel Brocha-
do(1);David Prescott(1);Margarida Pimentel
Nunes(1);Inês Branco Carvalho(1);Isabel Monte- P n.º 1132 
negro Araújo(1);Marta Sanchez(1);Andreia Fon- Enfisema subcutâneo – o papel da semiologia
seca Barbosa(1);Sofia Campos Silva(1);Beatriz no diagnóstico de entidades fatais
Donato(1);José Luís Ferraro(1);Rita Sérvio(1);Ni- Antony Dionísio(1);Sérgio Brito(1);Cristiana Ca-
na Fernandes(1);António Martins Baptista(1);- macho(1);Tânia Duarte(1);Marta Anastácio(1);-
José Lomelino Araújo(1) Sara Machado(1);Luís Campos(1)
(1) Hospital Beatriz Ângelo (1) Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE /
Tema: Doenças respiratórias Hospital de S. Francisco Xavier
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
O pneumomediastino decorrente da ventilação
mecânica é uma entidade cada vez mais reconhe- Mulher de 66 anos, com antecedente de tetraparésia em
cida. Os autores apresentam o caso: um homem, consequência de isquemia aguda da medula espinhal
84 anos, cognitivamente íntegro mas frágil com em 2020. Recorre à urgência por prostração com 5 dias
múltiplas comorbilidades médicas, internado por de evolução. Internada com diagnósticos de infeção de
pneumonia bilateral. Suspeita de infeção a COVID úlcera trocantérica esquerda e cistite. À observação na
com dois RT-PCR negativos e TC-tórax com conden- enfermaria apresentava edema e rubor da coxa esquerda
sações parenquimatosas inflamatórias. Iniciou anti- com enfisema subcutâneo até ao joelho, tendo realizado
bioterapia e cinesioterapia com recurso a insuflador radiografia (1) e TC da coxa (2) demonstrando fasceíte
manual para mobilização de secreções. Repetiu 3º necrotizante. Submetida a fasciotomia urgente e iniciou
RT-PCR negativo. Após sessões de cinesioterapia, antibioterapia de largo espetro, falecendo poucos dias
depois.
apresentou agravamento da hipoxemia. Repetiu ra-
diografia com pneumomediastino e 4º RT-PCR que
foi positivo. Faleceu por complicações decorrentes Com a divulgação deste caso pretende-se realçar a impor-
do pneumomediastino. Os autores pretendem aler- tância da semiologia e observação minuciosa, permitindo
tar para complicações do uso de pressão positiva e identificação de patologia potencialmente fatal não identi-
insufladores manuais em idosos com patologia pul- ficada no serviço de urgência.
monar, particularmente infeção a SARS-CoV2.
P n.º 1166 
Complicações ocultas da COVID-19
P n.º 1118  Maria João Correia(1);Pedro Ferreira(1);Marta
Phlegmasia Cerulea Dolens - uma complicação Maio(2);Beatriz Chambino(1);Eduarda Carmo(2)
rara de trombose venosa profunda (1) Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE /
Ana Castro Barbosa(1);Laura Rodrigues Carva- Hospital de S. Francisco Xavier (2) Centro Hos-
lho(1);Catarina Sousa Gonçalves(1);Alexandra pitalar de Lisboa Ocidental, EPE / Hospital Egas
Wahnon(1);Carolina António Santos(1);Ana Moniz
Mafalda Abrantes(1);Marina Fonseca(1);Antó-
nio Pais de Lacerda(1) Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / crítico
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 415
Homem, 70 anos, sem comorbilidades, re- O doente nunca cumpriu com a terapêuti-
correu ao Serviço de Urgência no 8º dia de ca.
infeção SARS-COV-2 por febre e dispneia
mantidas. A avaliação revelou apenas hi- P n.º 1176 
Sinal de Chilaiditi – um diagnóstico ao acaso
poxemia (PaO2 60.2mmHg em ar ambien-
Marta Pereira(1);Sara Silva Pereira(1);Tiago
te). Iniciou ventilação não invasiva (VNI) Mendes(1);Selmira Faraldo(2)
e foi internado. Ao longo do internamento (1) Hospital Conde de Bertiandos, ULSAM (2)
manteve insuficiência respiratória, com Unidade Local de Saúde do Alto Minho, EPE /
escalada de parâmetros de VNI e FiO2. Foi Hospital de Santa Luzia
admitido numa unidade de cuidados inten-
sivos ao 15º dia de doença. A radiografia Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças
hepáticas
de tórax mostrava hipotransparência hete-
rogénea bilateral. A TC torácica realizada
Homem de 66 anos, antecedentes de HTA, DM tipo
para esclarecimento revelou pneumotórax 2 e Esquizofrenia, admitido no serviço de urgência
direito, pneumomediastino e alterações por lombalgia esquerda e febre, sem dor abdomi-
em vidro despolido típicas da doença. nal. Analiticamente com elevação dos parâmetros
Este exame revelou-se essencial, mostran- inflamatórios, lesão renal aguda e urina tipo II com
leucoeritrocitúria. A ecografia renal revelou hidrone-
do uma complicação da qual não se sus- frose esquerda, confirmada no TC abdominopélvico,
peitava e que contribuía para a ausência que mostrou ainda uma interposição do ângulo
de melhoria clínica. hepático do cólon entre o fígado e a cúpula diafrag-
mática direita, compatível com Sinal de Chilaiditi.
Assumida Pielonefrite aguda, tendo iniciado antbio-
P n.º 1174  terapia e fluidoterapia com evolução favorável.
Gota grave no século XXI
Miguel Lázaro Mendes(1);Ivan Marcelo Mar-
O Sinal de Chilaiditi é uma entidade radiológica rara,
tins Antunes(1);Jessica Fidalgo(1);Ivanna mas cuja presença não deve passar despercebida
Ostapiuk(1);Inês Salvado de Carvalho(1);Luís dado poder confundir-se com pneumoperitoneu. A
Veiga(1);Maria Pacheco(1);Ana Teresa Morei- sua correta identificação permite evitar que o doen-
ra(1);Paula Catarina Neves(1);João s. Correia(1) te não seja submetido a procedimentos invasivos
(1) Unidade Local de Saúde da Guarda, EPE / desnecessários.
Hospital Sousa Martins
P n.º 1184 
Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nu- CALCIFILAXIA: UMA CONDIÇÃO RARA MAS
tricionais POTENCIALMENTE FATAL DA DOENÇA RENAL
CRÓNICA
A gota é uma doença que se manifesta Vanessa Leite(1);Vanessa Fraga(1);Andreia Nu-
por surtos recorrentes de artrite inflama- nes(1);Pedro Beirão(1)
(1) Hospital Garcia de Orta, EPE
tória, artropatia crónica, acumulação de
cristais de urato em tofos, nefrolitíase de Tema: Doenças renais
ácido úrico e nefropatia crónica.
Reportamos o caso de uma mulher de 83 anos,
Nas imagens vemos mãos e pé de homem com antecedentes de doença renal crónica sob
de 67 anos com antecedentes de hipe- hemodiálise, admitida por quadro infeccioso.
ruricemia e episódios frequentes de gota Observadas úlceras necróticas na mama direi-
ta e perna esquerda com isolamento de vários
nos últimos 20 anos. Sofre ainda doença microorganismos. Analiticamente com hiperpa-
renal crónica estadio IV, diabetes melitos, ratiroidismo, hipercalcémia e hiperfosfatémia.
hipertensão arterial e anemia. Foi vitima Evoluiu para choque sético refractário, vindo a
de acidente vascular cerebral há cerca de falecer. A calcificaxia ou arteriolopatia urémica
10 anos atrás. calcificada é uma condição pouco frequente,
associada a elevada mortalidade. Caracteriza-
Neste caso, observam-se sinais evidentes -se por necrose cutânea isquémica, de exten-
de artrite gotosa muito exuberante, infe- são variável, secundária à calcificação de vasos
ção e inflamação quer nas mãos quer nos sanguíneos de pequeno calibre. Ocorre geral-
pés, com provável atingimento ósseo e a mente em doentes com insuficiência renal em
condicionar quadro séptico. estadio terminal que, habitualmente, se encon-

416
IMAGENS EM MEDICINA
tram em programa de hemodiálise. por todo o corpo e várias efélides na re-
gião axilar. Adicionalmente, apresentava
P n.º 1198  história familiar de pai com lesões seme-
Leiomiossarcoma da veia cava inferior – a pro- lhantes, estabelecendo-se o diagnóstico
pósito de um caso clínico de NF-1.
Rita Vilar da Mota(1);Luís Costeira Perei-
ra(1);Marta Batoca Sousa(1);Ângela Paredes
Ferreira(1);Nuno Pardal(1);Patrícia Sôra Sobro- P n.º 1263 
sa(1);João Pedro Pais(1);Ana Rita Cambão(1);- SYSTEMIC SCLEROSIS WITH AMYOPATIC
Diana Guerra(1) DERMATOMYOSITIS: AN OVERLAP SYNDRO-
(1) Unidade Local de Saúde do Alto Minho, EPE ME
/ Hospital de Santa Luzia Ana Teodósio Chícharo(1);Margarida Lucas
Rocha(1);Henrique Borges(1);Ana Lara Maga-
Tema: Doenças oncológicas lhães(1);Inês Gonçalves(1);Joaquim Milhei-
ro(1);Vítor Teixeira(1);Ana Ribeiro Sousa(1);Te-
resa Salero(1);Ana Lopes(1)
Mulher de 70 anos com HTA, adenocarcinoma
(1) Centro Hospitalar do Algarve, EPE / Hospital
da mama diagnosticado em 2018, submetida
de Faro
a cirurgia conservadora, quimio e hormono-
terapia, e oóforo-histerectomia, por miomas Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e
uterinos. Admitida no Serviço de Urgência por vasculites
dor abdominal persistente, localizada na fossa
ilíaca direita, com cerca de uma semana de
A 76-year-old female with history of Raynaud’s phe-
evolução, em agravamento progressivo. Reali- nomenon was admitted in the internal medicine de-
zada TC abdominopelvica, na qual se destaca partment for acute decompensated heart failure due
imagem sugestiva de trombo tumoral captante to severe anemia.
na veia cava inferior, com extensão até ao nível
da origem das artérias renais, e conglomerado
A physical examination revealed a generalized thick-
adenopático, com cerca de 6x5cm. Realizada ened and stretched skin (A) (modified Rodnan skin
biópsia da lesão, cujo estudo anatomopatológi- score of 42). She had microstomia and salt-and-pep-
co foi compatível com diagnóstico de leiomios- per skin lesions (B). There were also gottron papules
sarcoma. Destaca-se neste caso a raridade des- over the interphalangeal joints of the hands (C) and
ta entidade, bem como a extensão do tumor. digital ulcers at the fingertips.
Blood tests showed positivity for ANA and anti-Scl-70
P n.º 1218  antibodies. CK levels were normal and she had no
Neurofibromatose tipo-1 muscular complaints. CT scan revealed ground glass
André Silva(1);Iurie Pantazi(2);Andreia Pó- opacities in both lungs.
voa(1);Pedro Vieira(1);Carlos Pestana(3);Jessi-
ca Fidalgo(1) She was diagnosed with an overlap syndrome of dif-
(1) Unidade Local de Saúde da Guarda, EPE / fuse cutaneous systemic sclerosis and amyopathic
Hospital Sousa Martins (2) Unidade Local da dermatomyositis.
Guarda (3) Centro Saúde de Angra do Heroís-
P n.º 1264 
mo, Unidade de Saúde da Ilha Terceira
Tumefação torácica suspeita
Tema: Doenças raras Ricardo Manuel Neves Mendes Mortágua Ve-
lho(1);David Lopes Sousa(1);Ana Sofia Teixei-
ra(1);Armando Carvalho(2)
A Neurofibromatose tipo 1 (NF-1) é uma (1) Centro Hospitalar e Universitário de Coim-
doença genética, autossómica dominante, bra, EPE / Hospital Geral (2) Centro Hospitalar e
com uma incidência de 1 em cada 3000 a Universitário de Coimbra / Hospitais da Univer-
3500 que envolve primariamente a pele e sidade de Coimbra
o sistema nervoso. Apresenta-se o caso
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
de um doente de 56 anos, com antece-
dentes de hipertensão arterial e oligofre-
nia, internado no Serviço de Medicina no Homem, 42 anos, fumador, com hepatite
contexto de uma sépsis com ponto de C crónica. Dor pleurítica direita há 5 dias,
partida em pneumonia adquirida na co- tosse com expetoração purulenta e de-
munidade. Ao exame físico, observam-se formidade torácica anterior direita. Duas
múltiplos neurofibromas disseminados admissões prévias na Urgência, tendo alta,

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 417


admitindo tratar-se de dor muscular. À para estudo de aglomerado adenopático na fossa
observação, tumefação torácica anterior, ilíaca direita. Ao exame objetivo observaram-se
lesões vesiculosas a nível abdominal e região in-
dolorosa; apirético. A tomografia compu- guinal bilateralmente em diferentes estádios de
torizada torácica evidenciou volumoso cicatrização, lesão avermelhada, ovalada, saliente
abcesso pulmonar com fistulização atra- a nível dorsal com natureza sólida no seu interior e
vés do espaço intercostal, coletando-se outra semelhante a nível occipital esquerdo. Reali-
zaram-se biopsias das lesões e a nível histológico
posteriormente ao músculo peitoral major e imunohistoquimico a lesão dorsal enquadra-se
direito, invadindo-o. Após discussão multi- numa metástase de melanoma maligno, a do couro
disciplinar, iniciou antibioterapia empírica cabeludo é compatível com quisto epidérmico roto
e realizou drenagem cirúrgica. O estudo e as lesões abdominais são compatíveis com folicu-
bacteriológico identificou Staphylococcus lite supurativa. O doente não evidenciava nenhuma
lesão compatível com melanoma, pelo que foi ob-
aureus sensível à meticilina. Alta, melho- servado por Oftalmologia sem alterações e resso-
rado, ao 23º dia de internamento e 19º dia nância magnética craneoencefática normal.
de Cefazolina.
P n.º 1282 
P n.º 1265  Achado radiológico renal em doente com fleg-
Alopurinol - o lado imprevisto de um fármaco mania cerúlea dolens
comum Bruno098(1);Catarina Pestana Santos(1);Danie-
Cristina Correia(1);Juliana Gonçalves(1);Leonor la Cruz(1);Inês Pintassilgo(1);Rita Homem(1);-
Escaleira(1);Manuela Dias(1);Jorge Almeida(1) Tiago Judas(1)
(1) Centro Hospitalar de S. João, EPE (1) Hospital Garcia de Orta, EPE

Tema: Outro Tema: Doenças infecciosas e parasitárias

Doente de 75 anos,com quadro de febre e Apresentamos o caso de uma mulher, 87


exantema macular com lesões em alvo mal anos, com antecedentes de diabetes melli-
definidas, atingindo face, tronco e membros, tus tipo 2, hipertensão arterial, admitida
secreção conjuntival e disfagia com máculas no serviço de urgência por febre, prostra-
na cavidade oral, constando-se em 24h agrava-
mento com aparecimento de vesículas, áreas
ção e edema do membro inferior esquer-
de descamação (sinal de Nikolsky +) e bolhas do com sinais de compromisso circulató-
hemorrágicas na cavidade oral. Tinha iniciado rio (flegmasia cerulea dolens).
há 23 dias alopurinol 300 mg por evidência de Fez estudo com angioTC torax-abdómi-
hiperuricemia, assintomática.  Analiticamente, no-pélvica, mostrando tromboembolismo
citólise hepática, lesão renal aguda e leucocito- pulmonar segmentar à direita, trombose
se com ligeira eosinofilia. A biópsia de pele con- venosa profunda esquerda com compro-
firmou o diagnóstico de necrólise epidérmica misso arterial e lesão única no polo supe-
tóxica NET. Atendendo à gravidade clínica, a
doente foi transferida para a unidade de quei-
rior do rim esquerdo com vários focos su-
mados.  Sendo o aloupurinol um dos fármacos gestivos de abcedação, e várias imagens
mais prescritos, muitas vezes sem indicação quisticas no rim direito. Fez ressonância
específica, importa lembrar as suas possíveis magnética para melhor caracterização,
reacções adversas, incluindo as mais raras e confirmando imagem sugestiva de carci-
muitas vezes fatais. noma celulas claras renais com lesão ab-
cedada adjacente no rim esquerdo.
P n.º 1281  Fez terapêutica anticoagulante com me-
QUANDO O OLHO DO INTERNISTA É PERSPI- lhoria dos sinais de perfusão do membro
CAZ – UM MELANOMA DESCONHECIDO inferior e ciclo de 23 dias de merop-
Eduarda Alves(1);Nina Den Boer(1);Tiago Bran- nem, com melhoria do abcesso.
co(1);Iryna Lazenko(1);Mário Lázaro(1)
(1) Centro Hospitalar do Algarve, EPE / Hospital
de Faro P n.º 1305 
Volumosa hérnia do hiato
Tema: Doenças oncológicas José Miguel Cardoso Martins(1);Simão Carva-
lho(1);João Ricardo Campos Faia(1);Inês Almei-
Homem de 58 anos, com doença renal crónica es- da Pintor(1);Ana Rita Barbosa(1)
tado V por nefropatia diabética classe IV, internado (1) Centro Hospitalar do Baixo Vouga / Hospital
418
IMAGENS EM MEDICINA
Infante D. Pedro, EPE (1) Hospital do Espírito Santo, EPE, Évora
Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças Tema: Doenças oncológicas
hepáticas
Homem, 56 anos, com LLC em recidiva. Apresen-
Doente do sexo feminino, 87 anos, frágil, com ta-se no SU com quadro neurológico de 10 dias de
vómitos, dor abdominal e obstipação, apresenta evolução caracterizado por alteração de sensibili-
em estudo radiográfico com gastrografina hér- dade e da força do membro superior direito e mio-
nia hiatal volumosa com distensão gástrica clonias da hemiface direita. Na avaliação por TC-CE
com suspeita de infiltração por linfoma no SNC. Ti-
exuberante, sem oclusão. TC mostra herniação nha adenopatia inguinal esquerda e úlcera no halux
gástrica e cólica (hérnia tipo IV). Apesar de te- esquerdo com 1 ano de evolução. Imagiologicamen-
rapêutica com procinéticos, a doente manteve te com múltiplas adenopatias mesentéricas e ingui-
estase gástrica e vómitos com consequente nais, assim como modularidade secundária hepáti-
pneumonite de aspiração e hipoxemia grave, ca e pulmonar. A RM-CE revelou lesões de natureza
acabando por falecer.   secundária, não compatíveis com linfoma. Realizou
biopsias cutânea e ganglionar que revelaram mela-
noma maligno nodular, firmando o diagnóstico de
As hérmias do hiato são achados frequentes Melanoma Acral com metastização múltipla.
em exames radiológicos e endoscópicos, toda-
via costumam ser assintomáticas ou responsá-
veis por sintomas ligeiros. Hérnias tipo IV são P n.º 1323 
raras e têm indicação cirúrgica se sintomáticas. Dermatomiosite paraneoplásica
Neste caso, pela fragilidade e instabilidade res- Sara Moutinho Pereira(1);Marianlie Navarro(2);-
piratória, a doente não apresentava condições Carlos Capela(2);Celeste Brito(2)
para cirurgia. (1) Unidade Local de Saúde de Matosinhos, EPE
/ Hospital Pedro Hispano (2) Hospital de Braga
P n.º 1317 
ONDAS DE OSBORN Tema: Doenças oncológicas
Carina Ramalho(1);Mariana Almeida(1);Fran-
ciso Gomes(1);Magda Silva(1);Sílvia Rodri- Homem de 66 anos, fumador, com queixas
gues(1);Martinho Fernandes(1) de disfonia e emagrecimento, apresenta-
(1) Centro Hospitalar Barreiro/Montijo, EPE / va infiltração da corda vocal esquerda por
Hospital Nossa Senhora do Rosário placas leucoplásicas, com biópsia negativa
para displasia. Após 18 meses, desenvolveu
Tema: Doenças cardiovasculares lesões cutâneas eritematosas com áreas
hipopigmentadas, hiperqueratósicas nas
Homem de 85 anos, com antecedentes de car- zonas fotoexpostas. Referia perda de força na
diopatia isquémica, diabetes mellitus tipo 2, cintura escapular, atrofia muscular, artralgias
dislipidémia, hipertensão arterial e tabagismo. e fenómeno de Raynaud. Apresentava ANAs
Dá entrada no serviço de urgência por alteração 1:1280 padrão mosqueado, anti-SSA e SSB
do estado de consciência com uma hora de positivos e elevação da aldolase e VS. A
evolução. Ao exame objetivo apresentava-se es- biópsia cutânea revelou dermatite de interface
tuporoso e identificou-se hipotermia moderada sugestiva de dermatomiosite. Posteriormente
de 30ºC (temperatura timpânica), bradicardia foi confirmado carcinoma epidermóide invasor
de 35bpm e hipotensão 88/45mmHg. Realiza- da corda vocal, com subsequente laringectomia
do ECG onde se verificou bradicardia sinusal, total e esvaziamento ganglionar cervical.
aumento do segmento QT e (onda J ou onda Este caso ilustra a importância de identificar
de Osborn). Estas ondas ocorrem em situações atempadamente dermatoses paraneoplásicas,
de hipotermia, síndrome de brugada, hipercal- antecipando o diagnóstico de neoplasias.
cémia ou repolarização percoce. Nas situações
de hipotermia são mais frequentes com tempe- P n.º 1326 
ratura corporal inferior a 32ºC e mais evidentes Micose Fungóide em doente com infecção por
quanto menor a temperatura e nas derivações VIH
inferiores (aVF, II e III) e anterolaterais (V3-V6). Sara Moutinho Pereira(1);Catarina Portela(2);-
O significado prognóstico destas ondas é con- Celeste Brito(2)
troverso. (1) Unidade Local de Saúde de Matosinhos, EPE
/ Hospital Pedro Hispano (2) Hospital de Braga
P n.º 1319 
Dos pés à cabeça! Tema: Doenças oncológicas
Rita Ribeirinho(1);Margarida Jacinto(1)
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 419
Mulher de 64 anos, com síndrome de imunode- reu à urgência por dispneia, tosse produtiva, fe-
ficiência humana adquirida (SIDA), por infecção bre de predomínio nocturno, sudorese nocturna,
por VIH detectada aos 49 anos, sob TARV. Apre- cansaço, anorexia e perda de peso não quantifi-
sentava também parapsoríase de pequenas cada, com um mês de evolução e agravamento
placas, com diagnóstico histológico aos 58 na última semana. Apresentava-se consciente
anos, para a qual realizou fototerapia com UVB e colaborante, emagrecido, febril (39.9ºC TT),
e múltiplos carcinomas basocelulares. Aos 63 polipneico com O2 a 6L/min, pálido, taquicardi-
anos, desenvolveu múltiplas manchas eritema- co e à auscultação pulmonar com o murmúrio
tosas pouco infiltradas dispersas sobretudo vesicular globalmente rude, com fervores no
pelo tronco e membros, cuja biópsia revelou terço médio de ambos os hemitoraxs. Gasime-
linfoma cutâneo de células T – micose fungói- tricamente com hipoxemia , hipocápnia  e hiper-
de. Iniciou PUVA com boa resposta. Os doentes lactacidémia. Na radiografia tórax apresentava
com infecção por VIH têm um risco aumentado hipotransparência heterogénea do terço médio
de desenvolver linfomas não-Hodgkin (LNH), dos dois campos pulmonares. Analiticamente
particularmente LNH definidores de SIDA como com leucocitose 11.300u/l e PCR 168mg/L,
o linfoma difuso de grandes células B, linfoma LDH 541U/L e Na+ 123mEq/L, serologia HIV
de Burkitt e linfoma primário do sistema ner- negativa. Foi isolado em cultura Mycobacterium
voso central. No entanto, o linfoma cutâneo de tuberculosis confirmando assim a suspeita
células T do tipo micose fungóide é incomum diagnóstica de TP.
em associação à infecção por VIH.
P n.º 1340 
P n.º 1336  Uma bela razão para dor abdominal...
Nódulos cutâneos: uma forma de apresentação Mauro Fernandes(1);Carolina Aguiar(1);Ana
de Linfoma Não-Hodgkin de células B Patricia Nunes(1);Styliani Karamanou(1);Rafael
Marta Anastácio(1);Cristina Carvalho Gou- Freitas(1)
veia(1);Sara Trevas(1);Pedro Batarda Se- (1) Hospital Dr. Nélio Mendonça
na(1);Margarida Lagarto(1);Susana Ramos Je-
sus(1);Cândida Fonseca(1);Luís Campos(1) Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE / hepáticas
Hospital de S. Francisco Xavier
Mulher, 74 anos, antecedentes de hipertensão
Tema: Doenças hematológicas arterial, obesidade e hérnia umbilical desde
2012. Recorreu à urgência por início súbito dor
Introdução: Mulher de 85 anos, com nódulos cutâ- abdominal intensa e vómitos. Objetivamente a
neos violáceos dispersos a nível clavicular, axilar, salientar aumento do perímetro abdominal com
inguinal, parede torácica e abdominal e tumefação volumosa hérnia, dolorosa à palpação superfi-
parotídea esquerda. Apresentava ainda edema da cial e profunda, com reação peritoneal. Realizou
mama direita, pele com aspecto casca de laranja tomografia computorizada abdomino-pélvica
com nódulos palpáveis e lesão com sinais inflama-
tórios, ulceração e exsudado purulento. A tomo- que confirmou hérnia abdominal com 286 mm
grafia computorizada de tórax, abdómen e pelve de maior eixo longitudinal e colo de 61mm, pas-
mostrou múltiplas lesões nodulares dispersas com sando parte do corpo e antro gástrico, a maioria
áreas necróticas sugestivas de metastização cutâ- das ansas jejunais e ileais e o cólon transverso,
nea, subcutânea, muscular e ganglionar. Admitida a com sinais de importante hidro-pneumoperito-
hipótese de cancro da mama metastizado realizou neu traduzindo rotura de víscera oca, provavel-
biópsia mamária, que revelou Linfoma Não-Hodgkin mente de origem gástrica. Submetida a inter-
Difuso de Grandes Células B, não germinativo (ki-67 venção cirúrgica com excisão parcial atípica da
superior a 90%). O caso realça a apresentação pou- pequena curvatura
co habitual e agressiva de Linfoma Não-Hodgkin de
células B.
P n.º 1360 
VExUS Protocol in Heart Failure
P n.º 1338  Tiagombmendes(1);Miguel Romano(1);Marta
Uma Imagem de Outros Tempos... Pereira(1);Sabina Azevedo(1);Raquel Costa(1)
Mauro Fernandes(1);Carolina Aguiar(1);Styliani (1) Unidade Local de Saúde do Alto Minho, EPE
Karamanou(1);Rafael Freitas(1) / Hospital de Santa Luzia
(1) Hospital Dr. Nélio Mendonça
Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias crítico

Apresenta-se um doente de 44 anos, que recor-


420
IMAGENS EM MEDICINA
Hereby we present the case of a 87 years old Masculino, 69 anos, recorre ao serviço de ur-
woman who presented to the Emeregency gência por cervicalgia com uma semana de
Room with a Cardiogenic Acute Pulmonary evolução e desorientação temporo-espacial,
Edema. An initial POCUS exam was made that diminuição de força dos membros inferiores
included a Venous Excess Ultrassound (VExUS) e febre nas 48 horas prévias. Do estudo etio-
Protocol. Int the first evaluation she presented lógico salienta-se ressonância magnética cra-
with IVC >2cm, hepatic vein Pulse Wave Dop- neoencefalica e da coluna cervico-dorsal com “
pler (PWD) with S wave inversion, portal vein extenso processo inflamatório com componen-
PWD with more than 50% variability and renal tes paravertebral cervical posterior e endocana-
veins PWD with alterning between biphasic lar extra-axial desde a base do crânio a D8 com
and monophasic flow. According to the diagno- compressão medular e intramedular cervical
sis she started IV furosemide and NIV. A new e dorsal alta e, microabcessos intramedulares
VExUS was repeated in about 15 minutes after cervicais e dorsais.” e bacteriémia a Staphylo-
diuresis of about 2100mL. In the new VExUS coccus aureus sensível à meticilina (MSSA).
evaluation we see an IVC with 1.8cm, hepatic Apesar de possível integrante da flora comen-
vein PWD still with inverted S wave but in portal sal e agente da comunidade, a exuberância dos
vein PWD we have a pulsatility index less than achados salienta a virulência de MSSA. A au-
30% and renal vein PWD alternating between sência de identificação dos focos metastáticos
continuous and biphasic flow. condiciona o sucesso terapêutico e pode levar
a graves complicações.
P n.º 1369 
Repercussões gastrointestinais da hipocalié- P n.º 1384 
mia Cisticercose subcutânea - um diagnóstico in-
António Pessoa(1);Eugénio Dias(1);Hugo Vie- comum.
gas(1);Margarida Madeira(1);Daniela Brigas(1);- Carolina Veiga(1);Cristina Marques(1);Marinha
Francisca Santos(1) Silva(1);Carina Silva(1);Ilda Coelho(1);Carlos
(1) Centro Hospitalar de Setúbal, EPE / Hospital Oliveira(1)
de São Bernardo (1) Hospital Santa Maria Maior de Barcelos
Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nu- Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
tricionais
A cisticercose é uma parasitose causada por
Mulher, 79 anos de idade, história pessoal de larvas da Taenia solium, sendo actualmente
doença renal crónica estádio V, que recorreu ao pouco comum nos países desenvolvidos. O sis-
serviço de urgência por dor abdominal e vómi- tema nervoso central (SNC) é o local mais
tos incoercíveis sem resposta a antieméticos. envolvido, seguido pelo olho, músculo estriado
À observação destacava-se abdómen globoso, e tecido subcutâneo. Apresenta-se o caso
timpanizado em todos os quadrantes, sem de- de um homem de 67 anos, com mialgias com
fesa. Analiticamente apresentava hipocaliémia meses de evolução. Do estudo realizado,
grave, com potássio de XX mmol/L. Realizou destaca-se a tomografia computorizada do
radiografia abdominal (figura 1) e tomografia membro inferior onde se observam múltiplas
computorizada abdomino-pélvico (figura 2.1 e imagens ovóides na espessura do tecido celular
2.2) compatível com pseudo-obstrução. A doen- subcutâneo, calcificadas e de aspecto
te melhorou após correção da hipocaliémia, fa- riziforme compatíveis com cisticercose subcu-
zendo-se o diagnóstico de síndrome de Olgivie. tânea (Fig 1 e 2). Facto compatível com o
consumo de carne suína frequente. Não se veri-
P n.º 1379  ficou o envolvimento do SNC, ocular e
A invasão. muscular. A coprocultura e o exame parasitoló-
Ana Cláudia Caseiro Antunes(1);Cátia San- gico das fezes foram negativos. O tratamento
tos(1);Daniela Antunes(1);Joana Gonçal- desta entidade realiza-se se existirem sintomas
ves(1);Emanuel Araújo(1);Fernando Henri- incapacitantes, implicando muitas vezes a
ques(1);Nuno Ferreira(1);Ana Araújo(1);Odete excisão das lesões.
Gomes(1);Paula Viana(1);Luís Pereira(1)
(1) Centro Hospitalar de Leiria / Hospital de P n.º 1408 
Santo André Espinha Bífida Oculta: até quando?
Dra. Teresa Abegão(1);Carlos Cabrita(1);Fábio
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias Manuel Caleça Emidio(1)
(1) Centro Hospitalar do Algarve, EPE / Hospital
de Faro
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 421
Tema: Doenças raras Apesar do desenvolvimento tecnológico, a ra-
diografia de tórax simples mantém-se o exame
A Espinha Bífida Oculta é uma malformação con- de imagem mais amplamente utilizando a nível
génita que consiste num defeito no encerramento mundial. É de fácil acesso, rápido, de baixo
do arco vertebral posterior, sendo a forma mais leve custo a sua análise cuidada é uma imprescin-
de espinha bífida. É geralmente assintomática e dível ferramenta diagnóstica. Homem, 82 anos,
diagnosticada como ‘achado imagiológico’, quando com antecedentes de Carcinoma da orofaringe,
são requisitados exames imagiológicos por outro intervencionado, sem condições para outros
motivo. tratamentos adicionais. Na admissão febril com
insuficiência respiratória grave. Radiografia do
Relatamos o caso de um homem de 44 anos, cauca- tórax com infiltrados nodulares predominan-
siano, sem antecedentes pessoais relevantes e sem temente no hemitórax direito, levantando a hi-
medicação habitual. pótese de lesões secundárias. Analiticamente,
aumento de parâmetros inflamatórios pelo que
Recorreu ao serviço de urgência por dor lombossa-
grada localizada à esquerda e com irradiação para se internou, a cumprir antibioterapia. Realizou
o membro inferior esquerdo, sem outra sintomatolo- TC-Tórax mostrando infiltrados pulmonares mi-
gia ou défice neurológicos. cronodulares de prova´vel natureza infeciosa.
Favorável evolução clínica, à alta com melhoria
Ao exame objetivo, o doente apresentou apenas o das alterações pulmonares.
teste de Fabere positivo à esquerda. A radiografia
da coluna lombossagrada evidenciou uma solução
de continuidade a nível de L5, compatível com uma P n.º 1421 
espinha bífida oculta, não diagnosticada previamen- Embolia arterial e Murphy renal: a propósito de
te. um caso clínico
Bruno Fraga Dias(1);Maria Ruão(1);João
P n.º 1416  Queirós Coelho(1);Pedro Maia Neves(1);Guio-
Aorta: Curva e contra-Curva mar Pinheiro(1);Álvaro Ferreira(1)
Filipe Alfaiate(1);Sandra Ganchinho Lucas(1);- (1) Centro Hospitalar do Porto, EPE / Hospital
Diogo Dias(1);IRENEIA LINO(1) Geral de Santo António
(1) Hospital do Espírito Santo, EPE, Évora
Tema: Doenças renais
Tema: Doenças cardiovasculares
Mulher de 46 anos sem antecedentes trombóti-
Homem, 77 anos, autónomo, com história de hiper- cos pessoais ou familiares. Nuligesta.
tensão arterial controlada. Dirige-se à urgência após
capotamento em curva apertada, em baixa veloci-
dade. À observação Glasgow de 15, hemodinami- Admitida no serviço de urgência por quadro de
camente estável, sem hemorragias ativas visíveis. dor no flanco esquerdo, constante e intensa, as-
Referiu dor torácica à direita, pelo foi realizada ra- sociada a vómitos alimentares. Murphy renal po-
diografia torácica (imagem 1), onde se observou si- sitivo à esquerda com análise química de urina,
nal de silhueta com imagem cardíaca, sem trauma sedimento urinário e ecografia renal sem alte-
visível. Após medicação analgésica, doente melho- rações. Fez TC abdominal que documentou en-
rou. Em consulta, foi pedida tomografia computo- farte renal esquerdo de etiologia provavelmente
rizada toraco-abdomino-pélvica onde se observou embólica.
tortuosidade da aorta torácica descendente (ima-
gem 2). Este achado é compatível com a idade do Iniciou hipocogulação oral e realizou extenso es-
doente, sendo que foi dada indicação para controlo tudo etiológico, nomeadamente na suspeita de
da tensão arterial. É de valorizar a boa interpretação neoplasia subjacente, distúrbio pró-trombótico,
de exames de imagem na urgência, que mesmo em
contexto de pesquisa dirigida, outros achados pode-
arritmia ou alteração morfológica cardíaca, sem
rão ser importantes num futuro próximo. que se tenha determinado a exata etiologia do
evento.
P n.º 1420  P n.º 1426 
A imagem também engana Tuberculoma ou carcinoma?
Dora Gomes(1);Maria do Céu Coelho(1);Catari- Bruno Fraga Dias(1);Luis Ferreira(1);Sara Caldas
na Oliveira(1);André Santos(1);Ana Lemos(1) Afonso(1);Teresa Sequeira(1);Paulo Paiva(1)
(1) Centro Hospitalar Tondela-Viseu, EPE / Hos- (1) Centro Hospitalar do Porto, EPE / Hospital
pital de São Teotónio, EPE Geral de Santo António
Tema: Doenças respiratórias Tema: Doenças oncológicas

422
IMAGENS EM MEDICINA
Homem de 59 anos com antecedentes de ta- poso(1);Inês Silva(1);Ryan Costa Silva(1)
bagismo e tuberculose pulmonar e cerebral em (1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE /
2018 tendo cumprido tratamento com anti-baci- Hospital de Santa Maria (2) Centro Hospitalar
lar durante 12 meses. Tondela-Viseu, EPE / Hospital de São Teotónio,
EPE
Admitido por braquialgia esquerda, sem trauma Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
associado, quadro de hipersudorese noturna e
perda ponderal de 15% em 6 meses. Analitica-
mente com elevação da fosfatase alcalina e hi- Apresentam-se as imagens recolhidas por RMN
percalcemia moderada. crânio-encefálica de um doente de 35 anos tra-
zido ao SU por crise convulsiva tónico-clónica
Estudo radiográfico a documentar lesão cavita- generalizada inaugural.
da no hemitórax esquerdo e lesão lítica umeral
esquerda. Levantada a suspeita de neoplasia Na primeira figura é evidente em ponderação
pulmonar com metastização óssea ipsilateral, T2/FLAIR uma lesão fronto-orbitária esquerda
não se podendo excluir inicialmente infeção mi- com sinal de alvo concêntrico e na segunda
cobacteriana. uma lesão cortico-subcortical parietal posterior
Biópsia posterior das lesões a confirmar o diag- paramediana esquerda com sinal de alvo con-
nóstico de carcinoma epidermoide do pulmão. cêntrico.

P n.º 1437  Serologia de VIH positiva; carga viral 631000


Massa mediastínica exuberante cópias/ml; Contagem de T-CD4: 21/mm3; se-
Maria Helena f. Silva(1);Rita Serejo Portu- rologia da toxoplasmose IgG>650UI/mL, IgM
gal(1);André Matos Gonçalves(1);Ana Rita negativo. Assumido o diagnóstico de infeção
Sanches(1);Sónia Cunha Martins(1);Margarida por VIH CDC-C3 e toxoplasmose cerebral. Pre-
Sousa Carvalho(1) tendemos realçar a importância deste diagnós-
(1) Centro Hospitalar do Médio Tejo, EPE / Uni- tico diferencial perante uma crise convulsiva no
dade de Torres Novas SU e alertar para estes achados imagiológicos
típicos.
Tema: Doenças oncológicas
P n.º 1454 
O olhar que é para ver.
Homem de 66 anos, com antecedente relevante de Ana Cláudia Caseiro Antunes(1);Cátia San-
tiroidectomia por adenoma folicular da tiroide, foi tos(1);Olga Jesus(1);Adélia Miragaia(1)
referenciado à consulta de Medicina Interna por
massa torácica anterior de rápido crescimento.
(1) Centro Hospitalar de Leiria / Hospital de
Santo André
À observação apresentava massa infraclavicular esquerda, Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológi-
dura e imóvel, com franca vascularização adjacente e de cas
aproximadamente 15x15cm.
Do estudo efetuado destaca-se TC do tórax: “massa Feminino, 68 anos, hipertensa e diabética, re-
do mediastino anterior com 11,1 x 10,5cm, hipoden- corre ao serviço de urgência (SU) por quadro de
sa, infiltrativa, não invadindo órgãos, mas moldando- insuficiência cardíaca descompensada no con-
-os, com extensão extra-parede torácica para a re- texto de fibrilhação auricular de novo. Durante
gião pré-esternal e mamária esquerda, inespecífica, a estadia no SU inicia cefaleia periocular, hipos-
provavelmente linfomatosa.” tesia da hemiface e ptose palpebral esquerdas.
A histologia mostrou linfoma não-Hodgkin B Folicu- Realizou Ressonância craneoencefalica que re-
lar, estadio IVB. velou “Lesão expansiva hipercaptante no ápex
orbital e canal óptico esquerdos, com extensão
Realizou quimioterapia com boa resposta. ao seio cavernoso e à fossa pterigo-palatina.”
Feito diagnóstico de exclusão de Sindrome de
A imagem aqui descrita demonstra a exuberância Tolosa-Hunt. Cumpriu dez dias de dexametaso-
com que um linfoma se pode apresentar, tendo ain- na com resolução do quadro e diminuição da le-
da assim boa resposta e regressão com terapêutica.
são. Tratando-se dum diagnóstico de exclusão
P n.º 1445  salienta-se a sua existência e resposta clínica e
CRISE CONVULSIVA INAUGURAL EM DOENTE imagiológica significativas com corticoterapia.
COM SINAL DE ALVO CONCÊNTRICO
Joana Rodrigues Dos Santos(1);Filipa Gonçal- P n.º 1466 
ves(1);Catarina Oliveira(2);Miguel Azaredo Ra- Stress emocional como desencadeante de dis-

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 423


seção da aorta Luís Augusto Cardoso(1);Elsa Gonçalves(1);Car-
Ana Tenreiro(1);João Figueira(1);João Carapi- los Oliveira(1)
nha(1);Diogo Canudo(1);Susana Carvalho(1);- (1) Hospital Santa Maria Maior de Barcelos
Conceição Barata(1)
(1) Hospital do Espírito Santo, EPE, Évora Tema: Outro

Tema: Doenças cardiovasculares Doente com rins em topografia atípica, à es-


querda, localizado no terço médio da cavidade
Homem de 83 anos com antecedentes pessoais de hipertensão abdominal, com rotação incompleta e a direita
arterial apresentava quadro de dor abdominal lancinante locali-
zada na fossa ilíaca esquerda com irradiação à região inguinal localizado na escavação pélvica ao nível da li-
e lombar bilateral, que teve início após discussão familiar e nha média.
melhorou parcialmente com repouso. Dois dias depois, apre-
sentou recorrência da dor após nova discussão, mas desta
vez associada a parestesias em ambos membros inferiores P n.º 1497 
e dispneia, motivo pelo qual recorreu ao Serviço de Urgên- Insuficiência cardíaca - nem sempre o que pa-
cia. Realizou tomografia axial computorizada toraco-abdomino-
-pélvica com contraste endovenoso que identificou dissecção rece é
da aorta torácica com dilatação aneurismática fusiforme do Rui Domingues(1);Margarida Robalo(1);Marina
segmento descendente e com diâmetro máximo de 6 cm. Não Gomes(1);Paulo Medeiros(1);Sofia Esperan-
apresentava sinais de rotura e extendia-se até às artérias ilía-
cas com circulação em ambos lumens. ça(1);André Santa Cruz(1)
(1) Hospital de Braga
P n.º 1473  Tema: Doenças cardiovasculares
COVID na ponta dos dedos
Carolina Vasconcelos Baltazar(1);Ivo Pina(1);-
Doente de 80 anos, sexo feminino, autónoma. Ante-
Salomão Fernandes(1);Gonçalo Cabral(1);Ana cedentes de hipertensão arterial, dislipidemia, obe-
Rita Silva(1);Raquel Tavares(1);Paulo Rodri- sidade e hiperuricemia. Internada por insuficiência
gues(1) cardíaca descompensada devido a infecção respira-
(1) Hospital Beatriz Ângelo tória. Desde início, com necessidade de ventilação
não invasiva (VNI) com EPAP elevado, sem possi-
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias bilidade de redução por apresentar baixas satura-
ções periféricas nas pausas da VNI e sem melhoria
Homem, 51 anos, melanodérmico. Antece- apesar da antibioterapia. Por estes motivos, realizou
ecocardiograma transtorácico que revelou um volu-
dentes: co-infeção VIH-1/VHB não tratada moso mixoma auricular, o que justifica a melhoria
e etilismo crónico. Admitido por alteração clínica com a redução da pré carga causada pela
do estado de consciência, caquexia e VNI. A doente foi transferida para o serviço de Cirur-
desidratação grave. No decorrer do inter- gia Cardíaca, contudo acabaria por falecer no inter-
namento.
namento, com CD4 5.55 log19 cópias/
mL e carga viral VIH-1 358497 cópias/mL, 
P n.º 1506 
iniciou TARV com BIC/TAF/FTC. No con-
Doença renal poliquistica autossómica domi-
texto da Pandemia COVID, realizou RT-PCR nante - quando a dimensão não é função
SARS-CoV-2 ao 7º dia de internamento Fausto Silva Pinto (1);Catarina Faria(1);Marco
que foi positiva. Sem outras manifesta- Fernandes(1);Hugo Moreira(1);Luís Campos(1)
ções clínicas de infeção COVID. Ao 10º dia (1) Hospital São Francisco Xavier
após teste e 14º dia após início de TARV,
apresentou necrose de todos os dedos de Tema: Doenças renais
ambos os pés, ainda não delimitada, sem
Sexo masculino, 54 anos, com antecedente pes-
sinais de infeção. Pulsos mantidos nos soal de uma doença renal poliquística autossómica
quatro membros. Avaliação conjunta de dominante (DRPQAD), submetido a um transplante
Infecciologia e de Cirurgia Vascular, assu- renal 10 anos antes, com rejeição do enxerto 1 ano
miu-se complicação vascular de infeção antes, que estava sob hemodiálise.
COVID, sem indicação de revascularização
cirúrgica, iniciou anticoagulação. Imagens Recorreu ao Serviço de Urgência (SU) por febre
com a admissão e evolução no mês se- (39.0ºC) com dor abdominal sobretudo na fossa
ilíaca esquerda (onde se encontrava o enxerto
guinte. renal). Apresentava um aumento dos parâmetros
inflamatórios com uma densificação da gordura
P n.º 1488  peri-enxerto renal. Iniciou antibioterapia com Pi-
Achado Imagiológico peracilina/Tazobactam. Por ter tido uma evolução

424
IMAGENS EM MEDICINA
desfavorável, foi submetido a uma nefrectomia do P n.º 1544 
enxerto renal ao 3º dia de antibioterapia, com me- Envolvimento pulmonar por Mycobacterium
lhoria clínica e analítica franca. tuberculosis e SARS-COV-2
Hélder Diogo Gonçalves(1);Inês Parrei-
P n.º 1537 
ra(1);Magda Terenas(1)
Duplo mau prognóstico em doente com mielo- (1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE /
ma múltiplo Hospital de Santa Maria
Sofia Carola(1);Sofia Bragança(1);Carolina
Mateus(1);Martim Trovão Bastos(1);Clara Ma- Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
tos(1);Inês Silva(1);Teresa Branco(1)
(1) Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca
Homem de 27 anos que recorre ao Serviço de
Tema: Doenças hematológicas Urgência por tosse, toracalgia e mialgias com
alguns dias de evolução. Referia ainda febre,
anorexia e perda ponderal (20 kg) nos últimos
Homem de 81 anos internado por diagnóstico meses. Apresentava-se muito emagrecido, fe-
inaugural de Mieloma Múltiplo IgA kappa com bril e eupneico em ar ambiente. A PaO2 era de
extenso envolvimento ósseo e de partes moles 67.6 mmHg. Laboratorialmente, a destacar he-
que desenvolve quadro de insuficiência respira- moglobina 10.8 g/dL, VS 120 mm, natremia 124
tória parcial de agravamento progressivo, sem mmol/L, LDH 473 U/L e anticorpos anti-VIH ne-
evidência de foco infeccioso ou insuficiência gativos. A tomografia computorizada do tórax
cardíaca. Em radiografia de tórax a salientar le- mostrava extensa micronodulação difusa bila-
são pseudotumoral na metade inferior do cam- teral com cavitações, áreas de densificação em
po pulmonar direito, pelo que realizou TAC de vidro despolido periféricas multilobares e ade-
tórax, tendo sido colocada a hipótese de plas- nomegálias mediastínicas e hilares. A pesquisa
mocitoma pulmonar e de partes moles, assina- do SARS-CoV-2 no exsudado nasofaríngeo foi
lados nas imagens seleccionadas. As imagens positiva e no exame cultural da expectoração
apresentadas evidenciam duas entidades raras foi isolado M. tuberculosis complex.
em associação a mieloma múltiplo e conferem
pior prognóstico. A caracterização histológica
por biópsia transtorácica não foi possível pelo P n.º 1545 
rápido agravamento clínico com desfecho des- Pancreatite paraduodenal
favorável. João Luís Cavaco(1);Hélder Diogo Gonçal-
ves(1);Cristiana Costa(1);Ana Furão Rodri-
gues(1);Sara Vasconcelos-Teixeira(1);Paula
P n.º 1539  Rocha(1);Ana Oliveira Pedro(1);António Pais de
Quando o ar é um problema – pielonefrite com- Lacerda(1)
plicada em DM tipo I (1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE /
Sofia Bragança(1);Sofia Carola(1);Carolina Hospital de Santa Maria
Mateus(1);Martim Trovão Bastos(1);Clara Ma-
tos(1);Inês Silva(1);Teresa Branco(1) Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças
(1) Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca hepáticas
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
Mulher de 62 anos, internada por CO-
Mulher de 29 anos, com diabetes mellitus tipo 1, VID-19 crítica. Antecedentes de infeção
internada por cetoacidose diabética em contexto de por VIH-2 sob abacavir, dolutegravir e
incumprimento terapêutico, pielonefrite aguda a kle- lamivudina. Inicia dor abdominal, com
bsiella pneumoniae e lesão renal aguda. Iniciou te-
rapêutica médica corretiva da cetoacidose e ceftria- elevação de parâmetros inflamatórios,
xone dirigido. Ao terceiro dia de antibioticoterapia hiperbilirubinémia, com amilasémia nor-
permanecia com febre e lombalgia. Por suspeita de mal. A TC, completada por CPRM, assi-
complicações realizou TAC abdomino-pélvica (AP)
que revelou achados compatíveis com pielonefrite
nalou lesão hemorrágica da goteira duo-
aguda enfisematosa à direita.  Para controlo de foco denopancreática, sem estenose de via
infecioso, foi submetida a nefrectomia direita de biliar ou Wirsung, sem invasão da artéria
urgência. Apresentamos estas imagens por se tratar gastroduodenal; marcadores tumorais
de uma entidade cada vez mais rara em países de-
senvolvidos, surgindo maioritariamente em doentes negativos. Foi admitida pancreatite pa-
com mau controlo metabólico, em que a TAC AP raduodenal hemorrágica, que melhorou
levou à identificação e tratamento precoces. gradualmente sob terapêutica médica. A
pancreatite paraduodenal, rara entidade

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 425


inflamatória da zona “groove”,  merece ticado em estadios avançados. Também
diagnóstico diferencial imagiológico pode surgir nas regiões palmares e leitos
com adenocarcinoma pancreático e duo- ungueais.
denal, bem como ampuloma.
O caso ocorreu em mulher caucasiana de
80 anos, que foi tratada mediante excisão
P n.º 1561  de lesão da região plantar esquerda, sem
MASSA ABDOMINAL EM IDOSO - DESAFIO
DIAGNÓSTICO E TERAPÊUTICO
recidiva ou metastização conhecida até à
Ana Margarida Pedro Antunes Gaudêncio(1);An- data.
dré Carvalho(1);Patrícia Almeida(1);Luísa Lou-
reiro(1);Teresa Alfaiate(1);Isabel Bessa(1);Abílio
P n.º 1569 
Pectus excavatum, uma apresentação tardia
Gonçalves(1)
Filipa Abreu Martins(1);Margarida Correia(1);-
(1) Hospital Distrital da Figueira da Foz, EPE
Cristiana Honrado Martins(1);Luís Dias(1);Marta
Tema: Doenças oncológicas Braga Martins(1);Bárbara Fontes Oliveira(1);Céu
Rodrigues(1)
(1) Hospital de Braga
Doente, género feminino, 91 anos, parcialmente
dependente, internada por insuficiência cardía- Tema: Outro
ca descompensada e insuficiência respiratória
tipo 2. Diagnosticado derrame pleural bilateral,
Pectus excavatum é a malformação torácica
exsudato, ADA e pesquisa de células neoplási-
anterior mais frequente. Pode ser uma condi-
cas negativos. Por queixas de dor abdominal
ção relativamente benigna, ou ter uma apresen-
generalizada, realizou ecografia abdominal
tação severa, com compromisso pulmonar res-
(massa heterogénea nos quadrantes esquer-
tritivo e compressão cardíaca, especialmente
dos) e tomografia computorizada (massa hete-
das cavidades direitas. Apresenta-se o caso de
rogénea no mesentério e adenopatias lombo-
um homem de 25 anos, avaliado em contexto
-aórticas e mesentéricas). Realizadas biópsias
de politrauma. Trata-se de um caso de pectus
que confirmaram o diagnóstico de linfoma
excavatum severo, com um índice de Haller de
folicular transformado em linfoma B de grandes
4.5, ilustrado na imagem, com compressão das
células, com bulky abdominal, estádio IV. Iniciou
cavidades cardíacas direitas. Apesar de raro, é
corticoterapia sistémica com boa tolerância.
uma possível etiologia de disfunção ventricular
Com esta imagem, os autores propõem-se apre-
direita. É um diagnóstico de exclusão de insufi-
sentar um exemplo de linfoma não Hodgkin em
ciência cardíaca, mas a considerar, pois a cor-
doente idoso, sobretudo, realçando o desafio
reção cirúrgica, apesar de complexa na idade
terapêutico no idoso com múltiplas comorbili-
adulta, pode melhorar ou até mesmo prevenir
dades.
os sintomas da compressão cardiopulmonar.
P n.º 1567 
P n.º 1571 
Melanoma Acral Plantar
Um caso de Síndrome de Olgivie
Isabel Pinheiro(1);Carolina Ochôa Matos(1);-
José Pereira de Sousa(1);André Conchi-
Constança Castro Fernandes(1);Catarina Gri-
nha(1);Raquel Soares(1);Sofia Picão(1);Pe-
lo(1);Filipa Marques Palma(1)
dro Fiúza(1);Lourenço Cruz(1);Torcato Mar-
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE /
ques(1);Ana Patrícia Cachado(1);Teresa
Hospital de Santa Maria
Garcia(1)
Tema: Doenças oncológicas (1) Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE /
Hospital de Santa Marta
O melanoma lentiginoso acral é um tipo Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças
raro de melanoma, que ocorre em 1% dos hepáticas
caucasianos acima dos 40 anos.
Doente de 71 anos, sexo feminino, dependente.
Não está relacionado com a exposição Recorreu ao serviço de urgência por quadro de
solar. 2 dias de evolução de dor e distensão abdo-
minal, obstipação e hiperglicemia. À observa-
Exige exame físico que inclua áreas de ção destacava-se abdómen muito volumoso,
difícil visualização, tais como as regiões timpanizado e doloroso à palpação. Realizada
radiografia de abdómen e TC-AP que identificou
plantares, sendo habitualmente diagnos-
426
IMAGENS EM MEDICINA
marcada dilatação cólica sem evidencia de obs- pâncreas é rara.
trução. A síndrome de Olgivie caracteriza-se por
dilatação cólica aguda na ausência de factor P n.º 1591 
obstrutivo mecânico. Trata-se de uma condição Esófago negro em doente com AVC isquémico:
rara e de etiologia não totalmente esclarecida, um achado bizarro?
mas provavelmente relacionada com alterações Rodrigo Duarte(1);Ricardo Carnevale(1);Va-
a nível do sistema nervoso autónomo. Apresen- nessa Branco(1);Teresa Miranda(1);João Mar-
tamos estas imagens dado o grau de dilatação tins(1);Rebeca Santos(1);Sofia Duque(1);Ricar-
das ansas, bem como pela sua evolução aguda. do Sousa(1);Margarida Fonseca(1)
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE /
P n.º 1573  Hospital Egas Moniz
Cistite enfisematosa um diagnóstico elusivo
Pedro Alves(1);Rute Martins(1);Mafalda Macha- Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças
do(1);Melanie Claudino(1) hepáticas
(1) CHUA Faro
Homem de 82 anos, melanodérmico, com an-
Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente tecedentes de doença vascular cerebral sem
crítico défices, hipertensão arterial essencial e al-
coolismo no passado. Recorreu ao Serviço de
Mulher de 24 anos recorreu ao serviço de urgência Urgência por cefaleia, parestesias no membro
com dor abdominal difusa e vómitos de conteúdo inferior esquerdo e disartria de instalação ic-
alimentar. Antecedentes de diabetes mellitus tipo tal. Assumido o  diagnóstico de AVC isquémi-
1. A ecografia levantou a hipótese diagnóstica de co após estudo complementar. Desenvolveu, 14
apendicite, que não foi confirmada após apendicec- horas após a admissão, confusão mental e he-
tomia laparoscópica. No dia seguinte, houve agra- matemeses. Endoscopicamente com necro-
vamento clínico com distensão abdominal, vómitos
e urina hemática com pneumatúria. Analiticamente
se esofágica (NE) superficial e circunferen-
apresentou agravamento da função renal (Creat. cial dos 2/3 inferiores, com distensão gástrica
2,4 mg/dL) e da PCR 375 mg/L. Na radiografia ab- com estase abundante, também visualizada em
dominal foi possível identificar a presença de ar na TC abdominal. A NE, habitualmente visualizada
parede vesical, confirmando o diagnóstico de cistite como esófago negro, é uma doença rara de
enfisematosa, que teve uma evolução inicial desfa- etiologia mal definida. É associada a patologia
vorável com disfunção multiorgânica. Esta entidade sistémica grave, embora esteja também relacio-
é rara e tem como principal fator de risco a diabetes nada com estase gástrica e vasculopatia. Neste
mellitus. A radiografia abdominal permite o diagnós- caso apenas se verificaram as duas últimas
tico desta entidade, mesmo quando a apresentação condições.
é incomum.
P n.º 1605 
P n.º 1581  Hematopoiese extra-medular com localização
Hérnia do hiato tipo IV intratorácica - a propósito de um caso clínico
João Luís Cavaco(1);Ana Furão Rodrigues(1);- Joana Mourão Vieitez Frade(1);Dora Sargen-
Sara Vasconcelos-Teixeira(1);Ana Oliveira Pe- to(1);Dulce Antunes(1)
dro(1);António Pais de Lacerda(1) (1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE /
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospital Pulido Valente
Hospital de Santa Maria
Tema: Doenças hematológicas
Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças
hepáticas A hematopoise extramedular pós-fetal corresponde a um mecanismo com-
pensatório que permite aumentar a produção de células hematopoiéticas em
resposta a anemias graves ou outros distúrbios hematológicos. A expansão
Mulher de 81 anos, com hérnia do hiato com anos de e diferenciação de células hematopoiéticas ocorre em localizações fora da
evolução, já com posicionamento intra-torácico do estô- medula óssea, mais frequentemente fígado, baço e gânglios linfáticos ou,
mais raramente, através de massas ao nível do mediastino, sistema nervoso
mago, apresenta choque séptico com ponto de partida central e periférico, entre outros. Relata-se um doente sexo masculino, 59
abdominal. Exame de TC documenta posicionamento anos, drepanocítico, que apresenta uma mediastínica posterior de 75mm de
intra-torácico de parte do pâncreas, parte do cólon trans- diâmetro e alterações difusas da radiodensidade óssea, predominantemente
pélvis e corpos vertebrais, tendo estas alterações sido admitidas em con-
verso e totalidade do estômago, com rotação do mesmo texto de hematopoiese extra-medular associada a doença hematológica de
e volvo gástrico. É submetida a intervenção cirúrgica com base, através de aspetos imagiológicos fortemente sugestivos.
redução de hérnia, rafia diafragmática, fundoplicatura de
Nissen, hemicolectomia direita alargada e ileostomia ter-
minal. Hérnia de hiato de tipo IV corresponde ao defeito 1612 
P n.º
grave da membrana freno-esofágica, permitindo a passa- “Pseudo-Tumor Paratraqueal Direito”
gem de outros órgãos intra-abdominais. Apesar do cólon Cristiana Honrado Martins(1);Filipa Abreu Mar-
ser envolvido com frequência, a herniação transhiatal do tins(1);Margarida Correia(1);Guilherme Castro
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 427
Gomes(1);Céu Rodrigues(1);Sara Costa(1);Bár- Avô(1)
bara Fontes Oliveira(1);Marta Braga Martins(1) (1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE /
(1) Hospital de Braga Hospital de Santa Maria
Tema: Doenças cardiovasculares Tema: Outro

Homem, 62 anos, com cirrose hepática e tabagis- Doente de 72 anos observado por tosse irritativa
mo ativo, internado por pneumonia bilateral. A ra- persistente que se estabeleceu ter vários meses
diografia do tórax mostrava aspectos compatíveis de evolução. Laboratorialmente ligeira elevação
com congestão e uma hipotransparência fusiforme parâmetros inflamatórios, difícil de valorizar por
paratraqueal direita, de características suspeitas. fracturas recentes. TC torácica com preenchimento
A tomografia computorizada revelou tratar-se de do brônquio interlobar direito, eventualmente por se-
lobo acessório da veia ázigos (variante anatómica) creções, não sendo possível excluir outra natureza
com derrame pleural loculado “em ampulheta” na (...) e consolidação segmentos basais lobo inferior
respectiva cisura. A imagem sofreu variação na sua direito (...). Internado por pneumonia e suspeita de
expressão com terapêutica diurética possível, filian- neoplasia do pulmão. Realizada videobroncoscopia
do-se no clássico conceito de pseudo-tumor. Este - árvore brônquica direita com oclusão total brôn-
tipo de imagens são algo frequentes nas grandes quio intermédio por corpo estranho - e broncoscopia
cisuras e levantam problemas de diagnóstico para rígida com extração de dente do brônquio intermé-
os menos avisados. Na pesquisa efectuada não dio ficando este permeável com visualização de
encontramos relatos de casos de pseudo-tumor na reacção granulomatosa na parede lateral.
cisura da ázigos, daí a relevância das imagens apre-
sentadas.
P n.º 1633 
Sépsis de ponto de partida...
P n.º 1617  Margarida Santos(1);Ana Cláudia Deus(1);Sara
Rabdomiossarcoma abdominal Silva(1);Isabel Taveira(1);Alexey Shigaev(1);Hen-
Ana Costa Ferreira(1);Roberto Pereira da rique Rita(1)
Costa(1);Leda D’almeida(1);Ana Beatriz Gar- (1) Hospital Litoral Alentejano
cia(1);Manuel Ferreira Gomes(1)
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Tema: Outro
Hospital de Santa Maria
Homem de 59 anos, com antecedentes prévios de
Tema: Doenças oncológicas hipertensão arterial, diabetes mellitus tipo 2 e AVC
isquémico em 2011 e 2018 com disartria sequelar,
Jovem de 18 anos, sexo masculino, com qua- já cronicamente algaliado. Recorre ao SU por disúria
dro consumptivo e distensão abdominal, com e dor supra-púbica, pelo que é admitida prostatite e
3 meses de evolução. À admissão apresenta- iniciada antibioterapia endovenosa, com melhoria
va taquicardia, caquexia extrema, exuberante clínica e laboratorial, tendo tido alta clínica ao 4º dia
de internamento. Passadas umas horas regressa
distensão abdominal com circulação venosa ao serviço de urgência por novo quadro febril (40
colateral e edema dos membros inferiores até ºC) e alteração do estado de consciência. Ao exame
à raiz da coxa sinal de Godet +++. Da avaliação objectivo mantinha desconforto abdominal difuso e
laboratorial destacava-se anemia microcítica e analiticamente com novo aumento dos parâmetros
hipocrómica, lesão renal aguda, hiperuricemia, inflamatórios. Pedida Tomografia Computorizada
acidemia metabólica e elevação dos parâme- (TC) abdómino-pélvica que mostrou abcesso hepá-
tros inflamatórios. Foi internado para estudo tico de cerca de 45 mm com corpo estranho no seu
etiológico, tendo falecido nas primeiras 72h de interior. Submetido a cirurgia laparoscópica de ur-
internamento. gência, realizada drenagem de abcesso e remoção
de espinha de peixe com 32 mm.
Os autores apresentam imagens da TC toraco-
-abdomino-pélvica realizada, onde se observa P n.º 1657 
volumosa lesão sólida infiltrativa intra-abdo- STEAKHOUSE SYNDROME
minal, ocupando grande parte do abdómen e Marta Batista(1);Maria João Moreira(1);Ana
pélvis, de densidade heterogénea, predominan- Correia sá(1);Elisabete Ribeiro(1);Inês Amaral
temente hipodensa. O resultado histológico foi Neves(1);Jorge Cotter(1)
de rabdomiossarcoma embrionário. (1) Centro Hospitalar do Alto Ave, EPE / Hospi-
tal da Senhora da Oliveira
P n.º 1620 
Corpo estranho em doente com suspeita de Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças
neoplasia hepáticas
Gonçalo Ruas(1);Miguel Carrilho(1);Luís Brito

428
IMAGENS EM MEDICINA
Doente do sexo masculino, 58 anos, autónomo Tema: Doenças respiratórias
para as atividades da vida diária. Como antece-
dentes pessoais apresentava etilismo crónico, O encarceramento pulmonar  é uma complicação
hipertensão arterial, dislipidémia, doença cere- conhecida das neoplasias que afectam o pulmão.
brovascular, hemiparesia e hemiataxia direita Apresentamos o caso de um homem de 74 anos
sequelar a acidente vascular cerebral isquémi- com antecedentes de neoplasia gástrica, internado
co em 2019. por dispneia no contexto de derrame pleural. Reali-
zada drenagem e colocação de dreno, sem ser con-
seguida a expansão completa do pulmão. O raio-x
Admitido por síndrome de abstinência etílica. Ao realizado mostra hidropneumotórax. Perante um
exame objetivo encontrava-se sudorético, agi- encarceramento pulmonar optou-se pela não inter-
tado, desorientado no tempo e espaço e com venção.
tremor grosseiro. Sem alterações nos exames
complementares realizados.
P n.º 1680 
Durante o internamento desenvolve quadro de Eritema ab igne: nem tudo é hipoperfusão
recusa alimentar devido sensação de corpo es- João Casanova Pinto(1);Beatriz Fernandes(1);-
tranho e disfagia para sólidos. Realizou  endos- Carlos Ramalheira(1);Diogo Cruz(1)
copia digestiva alta onde foi diagnosticado Anel (1) HPP Hospital de Cascais
de Schatzki.
Tema: Outro
A imagem ilustra o Anel de Schatzki que provo-
cava os sintomas que o doente apresentava. Mulher de 72 anos, admitida por síndrome cardio-re-
nal. À observação, identificou-se um eritema reticu-
P n.º 1668  lar, com aspecto marmoreado, que não desaparecia
Uma causa incomum de tumefacção abdomi- à digitopressão, na face medial do terço superior
nal de ambas as pernas. A doente referiu ter estas alte-
Raquel Dias Moura(1);Francisca Silva Car- rações há muitos anos e que as mesmas surgiram
mo(2);Mariana Estrela Santos(1);Jorge Bernar- depois de ter aproximado o aquecedor a óleo às
do Reis(1);Sara Barbosa Pinto(1);Marta Bas- suas pernas, durante o Inverno. O aspecto macros-
cópico e a história clínica corroboram o diagnóstico
tos(1);Beatriz Frutuoso(1) de eritema ab igne. Corresponde a uma lesão benig-
(1) Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia / Es- na que ocorre por disfunção do plexo vascular pro-
pinho (2) Hospital Vila Nova Gaia fundo após exposição directa e prolongada da pele
a fontes de calor, a temperaturas insuficientes para
Tema: Doenças cardiovasculares causar queimadura. Raramente, pode evoluir para
carcinoma espinocelular. A prevenção faz-se pela
Homem hipertenso de 81 anos, com tumefacção educação do doente.
não dolorosa “de novo” no flanco esquerdo. Reali-
zada ecografia que descreveu volumoso aneuris- P n.º 1682 
ma da artéria ilíaca comum esquerda, tendo sido
referenciado ao serviço de urgência (SU). No SU,
Trombose arterial e venosa extensas simultâ-
confirmado por tomografia aneurisma com 14,4 cm neas
e períodos de bloqueio aurículo-ventricular (BAV) Joana Rita Lopes(1);Marta Braga(1);Carla Cam-
completo. Internado em unidade monitorizada para pinho Ferreira(1);Catarina Cerqueira(1);Vânia
controlo tensional pelo risco de rotura, tendo im- Gomes(1);Sofia Caridade(1)
plantado pacemaker e realizado correcção cirúrgica (1) Hospital de Braga
sem intercorrências.
Tema: Doenças cardiovasculares
Com esta imagem os autores pretendem mostrar
um aneurisma de dimensões raramente vistas, cuja Os fenómenos trombóticos arteriais e venosos quando
abordagem inicial foi complicada pela presença de simultâneos constituem uma entidade muito rara, ge-
BAV, salientando a discrepância entre a clínica e a ralmente reportada na literatura em contexto de trom-
bofilias ou malignidade. Apresentamos o caso de uma
gravidade do quadro. doente de 93 anos, previamente autónoma, mas com
degradação de estado geral desde há 3 semanas. Tinha
P n.º 1678  realizado a 2ª toma da vacina anti-SARS-COV2 há 1 mês.
Pulmão encarcerado - uma imagem peculiar Por noção de dificuldade respiratória trazida ao serviço
Miguel Sousa Leite(1);Rita Jesus(1);Alina de urgência onde se constatou em estudo de imagem
Avelar(1);Catarina Salvado(1);Felisbela Go- pneumonia do lobo inferior esquerdo e língula com trom-
mes(1);Beatriz Sampaio(1) boembolismo pulmonar bilateral, trombose da aorta
torácica descendente e abdominal superior com áreas
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE / de estenose a estender-se até emergência das artérias
Hospital de Santo António dos Capuchos ilíacas comuns com ligeira estenose direita e oclusão
esquerda.

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 429


P n.º 1692  especificada, recorre à urgência por quadro de
Padrão miliar: diagnóstico diferencial prostração e farfalheira, sendo diagnosticado com
Diana Isabel Rocha(1);Ana Novo(1);João Cor- pneumonia. No exame ojectivo detectada massa
reia(1) abdominal volumosa. A tomografia mostra massa
(1) Centro Hospitalar Uni. Porto retroperitoneal, com desvio de estruturas. O estu-
do histológico revelou sarcoma de baixo grau com
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias áreas mixoides. 
As imagens são ilustrativas da magnitude que po-
Homem de 38 anos, diagnóstico de VIH há 10 anos que aban- dem atingir as neoplasias. Hoje em dia menos fre-
donou seguimento. Recorreu ao Serviço de Urgência por disp-
neia progressiva para médios esforços com 3 semanas de evo-
quentes, pela intervenção mais precoce, a fragilida-
lução, tosse mucosa e astenia. Apresentava padrão miliar na de do doente causada pela doença psiquiátrica leva
radiografia torácica. Estudo analítico com leucopenia total em a que se possa observar o percurso que segue uma
estadio SIDA (CD4 35/mm3 e carga viral 1350000 cópias/ml) e neoplasia se deixada crescer sem intervenção.
DHL 372 U/L. Realizou broncofibroscopia, apresentando no la-
vado brônquico a presença de Pneumocystis jirovecii e PCR de
Mycobacterium tuberculosis e exame direto negativos. Iniciou
P n.º 1699 
cotrimoxazol e TARV. A pneumocistose apresenta-se tipicamen- O poder regenerativo do baço
te com infiltrados intersticiais difusos bilateralmente sendo rara Isabel Maria Moniz da Rocha Borges(1);Sofia
a apresentação miliar. O estadio SIDA tornava qualquer hipóte-
se diagnóstica possível.
Amante(1);Carolina Roias(1);Ana Luísa Pin-
to(1);Patrícia Aranha(1);Luís Dias(1)
(1) Hospital do Divino Espírito Santo, Ponta Del-
P n.º 1693  gada
Diagnóstico de caras
Margarida Pimentel Nunes(1);Inês Branco Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças
Carvalho(1);Marta Sanches(1);Beatriz Silva(1);- hepáticas
Vânia Pereira(1);Ana Brochado(1);David Pres-
cott(1);Isabel Montenegro Araújo(1);Bárbara s. Homem, 67 anos. Esplenectomizado por rup-
Abreu(1);Raquel Almeida(1);António Martins tura do baço. É admitido para estudo de ascite
Baptista(1);José Lomelino Araújo(1) de novo. Na tomografia computorizada de
(1) Hospital Beatriz Ângelo abdómen com contraste endovenoso, são visí-
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e veis nos 3 planos múltiplos nódulos intra-peri-
vasculites toneais, sugestivos de parênquima esplénico,
a nível do ligamento falciforme (verde), em
topografia pré-pancreática (vermelho), no me-
Mulher de 77 anos, com diagnóstico prévio de linfo- socólon transverso (amarelo) e dois na loca
ma não Hodgkin em remissão e diagnóstico recente
de neoplasia do cólon operada 1 mês antes, enca- esplénica (azul), o maior com 4 cm. Trata-se de
minhada à consulta de Medicina Interna por xeros- esplenose, uma condição maioritariamente be-
tomia e SSA positivo forte, ecografia salivar com nigna e de diagnóstico incidental, com incidên-
ecoestrutura heterogénea bilateralmente de nature- cia de 26-59% dos doentes esplenectomizados.
za inflamatória crónica. Na consulta, apresenta-se São locais preferenciais de sementeira, a sero-
com Raynaud activo e esclerodactilia (imagem A), sa do intestino, omento maior e peritoneu parie-
microstomia (imagem B) e a radiografia das mãos tal. Esplenose e baço acessório são entidades
mostra calcinose dos tecidos moles (imagem C). A distintas na sua génese e histologia. 
doente refere ainda disfagia torácica. A imunologia
pedida nessa consulta revelou adicionalmente ANA
1/1280 anticentrómero, consumo de complemento, P n.º 1704 
ficando com diagnóstico de esclerodermia e Síndro- ACHADOS IMAGIOLÓGICOS QUE SURPREEN-
me de CREST presumptivo, com síndrome de Sjö- DEM – REVISÃO DE DOENÇA RARA
gren secundário. Margarida Rajão Saraiva(1);Duarte Pacheco
Silva(1);Jorge Vaz Lourenço(1);Daniela Mara-
P n.º 1697  do(1);Pedro Ribeiro(1);Armando Carvalho(2)
Uma estranha gravidez (1) Centro Hospitalar e Universitário de Coim-
Miguel Sousa Leite(1);Alina Avelar(1);Rita Je- bra, EPE / Hospital Geral (2) Centro Hospitalar e
sus(1);Beatriz Sampaio(1);Maria José Goes(1);- Universitário de Coimbra / Hospitais da Univer-
Catarina Salvado(1) sidade de Coimbra
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE / Tema: Doenças raras
Hospital de Santo António dos Capuchos
Tema: Doenças oncológicas Radiografias de doente com Osteocondromato-
se Múltipla Hereditária - doença autossómica do-
minante rara (mutações nas variantes patogénicas
Doente de 77 anos, com doença psiquiátrica não EXT1/EXT2) - que cursa com o crescimento de
430
IMAGENS EM MEDICINA
osteocondromas múltiplos (imagem 1) tipicamente inflamatórios. A TC toracoabdominopélvica mostrou
perto das placas de crescimento dos ossos longos, bolhas de ar na parede e lúmen da bexiga. Foi feito
mas também nas escápulas, costelas, pélvis e vér- o diagnóstico de cistite enfisematos provocada por
tebras. São também achados comuns joelho val- Klebsiella pneumoniae multirresistente. Cumpriu 14
gum e coxa valga (imagem 2). Até à data não existe dias de terapêutica dirigida com Meropenem, com
tratamento médico, realiza-se tratamento cirúrgico resolução clínica, analítica e imagiológica.
caso as exostoses sejam sintomáticas, sugiram
malignidade ou condicionem compromisso neuroló-
P n.º 1731 
gico ou vascular.
Quando o Herpes Zoster Complica
Filipa Sofia Camacho Alves da Silva(1);Ana Rita
Embora tipicamente diagnosticada em idade pediá- Piteira(1);Sara Lopes(1);Filipa Carrega(1);Diana
trica, convém relembrar as suas características. Pedreira(1);Manuela Fera(1);Ermelinda Pedro-
P n.º 1709  so(1)
Vasculite necrotizante: uma complicação atípi- (1) Centro Hospitalar de Setúbal, EPE / Hospital
ca da infeção por SARS-COV2 de São Bernardo
Clara Matos(1);Ana Carolina Monteiro(1);Sofia Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
Carola(1);Catarina Negrão(1);Inês Nunes da Sil-
va(1);Ana Órfão(1);Teresa Branco(1)
(1) Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca Homem de 75 anos, sem antecedentes pessoais de
relevo. Recorre ao Serviço de Urgência por dor no
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e olho esquerdo (OE), edema periorbitário, diminuição
vasculites da acuidade visual no OE, febre e lesões cutâneas
vesiculares com distribuição no ramo oftálmico do
nervo trigémio, com 5 dias de evolução (Fig.1). Diag-
Mulher de 50 anos, saudável, internada por pneumo- nosticado herpes zoster oculo-cutâneo, com impeti-
nia a SARS-COV2 com necessidade de ventilação ginização secundária, foi medicado com terapêutica
mecânica invasiva. Objetivada posterior necrose antibiótica e antiviral sistémica e tópica, associado
dos dedos das mãos e pés, acompanhada de eleva- a corticoide tópico. (Fig. 2 e 3).
ção dos parâmetros inflamatórios (PCR 9mg/dl, VS
114 mm/h, IL-6 68 pg/ml). Foram excluídas etiologia
cardioembólica, doença ateromatosa dos membros, O caso clínico apresenta possíveis complicações de
patologia auto-imune e síndromes protrombóticos, herpes zoster, que apesar de serem mais frequentes
tendo-se admitido hipótese de vasculite necrotizan- em doentes imunossuprimidos, também podem
te associada à fase hiperinflamatória da infeção a ocorrer em doentes imunocompetentes, como o
SARS-COV2. Foi submetida a amputação dos dedos caso do doente apresentado.
necrosados e iniciada corticoterapia sistémica,
P n.º 1738 
estatina, terapêutica antiagregante plaquetar e hipo-
coagulante, com remissão analítica dos parâmetros Ferida maligna complexa em Cuidados Paliati-
inflamatórios e sem evolução das áreas de necrose. vos – um caso de melanoma maligno
As imagens apresentadas demonstram manifesta- Vânia Sá-Araújo(1);Maria Paula Silva(1)
ções cutâneas atípicas e graves associadas à infe- (1) IPO Porto
ção por SARS-CoV2.
Tema: Cuidados paliativos
P n.º 1729 
Cistite enfisematosa por Klebsiella pneumo- Doente de 69 anos de idade com melanoma
niae maligno do pé esquerdo com metastização pul-
Bárbara Fontes Oliveira(1);Marta Braga Mar- monar bilateral, subcutânea do membro inferior
tins(1);Cristiana Honrado Martins(1);Filipa esquerdo, ganglionar e óssea. Referenciada a
Abreu Martins(1);Margarida Correia(1);Vânia Cuidados Paliativos por progressão da doença
Gomes(1);Maria Céu Rodrigues(1);Guilherme após cirurgia e quimioterapia. Submetida a ra-
Castro Gomes(1);António Oliveira e Silva(1) dioterapia paliativa à lesão do membro inferior
(1) Hospital de Braga esquerdo. Apresenta lesão extensa a nível do
membro inferior com exsudação e áreas friá-
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias veis, com necessidade de cuidados de penso
diários realizados por equipa especializada.
Mulher de 89 anos de idade, com antecedentes
pessoais de hipertensão arterial, dislipidemia, insu- Apresenta-se uma imagem pouco comum da ex-
ficiência cardíaca com fração de ejeção preservada tensão que a doença pode alcançar quando está
de etiologia valvular e fibrilação auricular. Recorre em progressão.
ao Serviço de Urgência por dor e distensão abdomi-
nal e prostração. Apresentava sedimento urinário P n.º 1740 
ativo (leucoeritrocitúria) e elevação de parâmetros
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 431
Púrpura secundária a infeção por SARS-CoV2 nova lesão cerebral, acabando o doente por falecer
Marta Azevedo Ferreira(1);Carolina Abreu(1);- 1 ano após diagnóstico.
Joana Marques(1);João Nuno Patrício(1);Ana
Este padrão associa-se a lesões metastáticas pul-
Grilo(1);Fernando Martos Gonçalves(1);José
monares múltiplas, arrendondas e bem delimitadas,
Lomelino Araújo(1) conferindo mau prognóstico.
(1) Hospital Beatriz Ângelo
Classicamente, é mais frequente em carcinoma
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e renal e coriocarcinoma, podendo também ser ob-
vasculites servado em carcinomas da próstata, endometrial,
adrenal e sarcoma sinovial.
Mulher de 85 anos admitida na urgência por epi-
sódio inaugural com 1 dia de evolução de lesões P n.º 1747 
purpúricas, inicialmente afetas às mãos e face, com OLHOS POSTOS NO HERPES
posterior extensão aos membros superiores e infe- Joana Gonçalves(1);Dra. Etel Florova(1);Teresi-
riores, poupando as palmas e plantas. nha Ponte(1);Martinho Fernandes(1)
RT-PCR SARS-CoV 2 positivo há 9 dias, em doente (1) Centro Hospitalar Barreiro/Montijo, EPE /
assintomática. Hospital Nossa Senhora do Rosário
Excluída púrpura associada a fármacos. Analiti-
camente com ligeira linfopenia, sem anemia ou Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
trombocitopenia. Coagulação, estudo de sangue
periférico e eletroforese das proteínas sem altera- Doente do género feminino, 27 anos, saudável, pro-
ções. TAC tóraco-abdomino-pélvica excluiu atipias; fissional de saúde. Iniciou quadro de hiperemia ocu-
hemoculturas, serologias virais e estudo imunoló- lar à direita, associada a ardor e sensação de corpo
gico negativos. Tratada com corticóide sistémico, estranho, 4 dias apos exercer funções no serviço
com boa evolução. de urgência. Foi feita lavagem ocular e analgesia
Apesar do tropismo respiratório, o vírus SARS-CoV-2 sem melhoria. Por edema e fotofobia, recorreu ao
pode ter manifestações sistémicas importantes, Serviço de Urgência de Oftalmologia, tendo sido
incluindo alterações cutâneas. Assumiu-se, assim, colocada hipótese diagnóstica de Queratite epitelial
púrpura secundária à infeção viral, como diagnósti- infeciosa por Herpes Simples, que se verificou por
co de exclusão. fundoscopia. A doente evoluiu favoravelmente após
terapêutica com ganciclovir e fluorometolona.
P n.º 1746 
A sinistra largada de balão De realçar a importância em manusear corretamente
Lourenço Cruz(1);Torcato Marques(1);Diogo objetos, bem como a devida higiene frequente das
Borges(2);José Sousa(1);Sofia Picão(1);A- mãos, pelos profissionais de saúde, de modo a mini-
na Raquel Soares(1);Pedro Fiúza(1);André mizar riscos de doenças transmissíveis.
Conchinha(1);André Ferreira(1);Francisco
P n.º 1756 
Albuquerque(1);Ana Raquel Santos(1);Inês
Macroadenoma da hipófise com apoplexia pi-
Duarte(1);Filipa Canedo(1);Maria Salomé Ser-
tuitária: causa de prostração?
raninho(1);António Mário Santos(1)
Teresa Valido(1);Filipa Figueiredo(1);Ana Catari-
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE /
na Bravo(1);Inês Correia(1);Teresa Cruz(1)
Hospital de Santa Marta (2) Centro Hospitalar
(1) Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca
de Lisboa Central - Hospital Curry Cabral
Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nu-
Tema: Doenças oncológicas
tricionais
Os autores apresentam o caso de um homem de 34
anos com infecção VIH bem controlada, com perda Homem, 88 anos, internado por prostração, sem
ponderal, ginecomastia, anorexia e fadiga com 3 outros sintomas, nomeadamente neurológicos, no
meses de evolução. qual a TC cranioencefálica revelou lesão ocupando
espaço na região selar. A ressonância magnética
identificou um macroadenoma pituitário com apo-
Radiografia tórax com padrão em largada de balão. plexia e hemorragia intratumoral. Foi decidido abor-
Em TC-Tórax, nódulos dispersos bilaterais com 3 dar a lesão conservadoramente, atendendo à idade
a 40 mm e massa mediastínica com dimensões e estado de dependência do doente, tendo ficado
113x60x88 mm de estrutura semelhante. encaminhado para a consulta de endocrinologia.
A apoplexia pituitária ocorre em 10% dos macroa-
Diagnostado tumor germinativo primário com com- denoma pituitários, manifestando-se habitualmen-
ponente de coriocarcinoma primário do mediastino te por diminuição da acuidade visual, alterações
com metastização pulmonar. campimétricas, ptose, diplopia ou cefaleia. Apre-
sentam-se estas imagens atendendo à sua baixa
Apesar de quimioterapia, aumento das lesões e frequência na prática clínica em Medicina Interna e

432
IMAGENS EM MEDICINA
interesse imagiológico. mento de vasculite – sustentam o diagnósti-
co de vasculite infecciosa por Chlamydophi-
P n.º 1760  la pneumoniae: uma manifestação rara.
Tuberculose: ainda surpreende!
Teresa Valido(1);Filipa Figueiredo(1);Inês Cor- P n.º 1781 
reia(1);Teresa Cruz(1) Bexiga escrotal
(1) Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca Ana Rita Ambrósio(1);Henrique Pina(1);Rita
Jorge(1);Sofia Pimentel(1);André Balata Bran-
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias co(1);Hugo Pêgo(1);Francesco Nave(1);Fernan-
do Martos Gonçalves(1);José Lomelino Araú-
Mulher, 25 anos, melanodérmica, aparentemente jo(1)
saudável, internada para estudo de adenomegalias (1) Hospital Beatriz Ângelo
cervicais indolores com uma semana de evolução,
sem outros sintomas. O Raio X Tórax demonstrou Tema: Outro
infiltrados micronodulares no ápex esquerdo. A TC
de pescoço e tórax mostrou adenomegalias sub- Homem de 84 anos, autónomo, com história de
mandibulares e cervicais com necrose central e hipertensão arterial, doença hepática crónica
várias lesões cavitadas no lobo superior do pulmão alcoólica com diagnóstico há mais de 15 anos
esquerdo, com padrão em árvore de botão. A pes-
quisa de bacilos ácido-álcool resistentes nas se- sem acompanhamento e hepatite C crónica. 
creções brônquicas foi negativa e o diagnóstico de Antecedentes cirúrgicos de colecistectomia e
tuberculose fez-se por PCR. Apresentamos um caso hernioplastia diafragmática. Adicionalmente a
de tuberculose em que a clínica se dissocia dos destacar hérnia inguinoescrotal esquerda com
achados imagiológicos, denotando a versatilidade vários anos de evolução, à data a condicionar
desta doença e multiplicidade de apresentações episódios de retenção urinária com necessida-
clínicas e afetação sistémica. de de algaliação. Recorre por quadro de disten-
são abdominal, disúria e dor a nível pélvico e
P n.º 1763  escrotal. Realizou TC abdominal e pélvica que
Vasculite cutânea por Chlamydophila pneumo- revelou dilatação pielocalicial bilateral com im-
niae portante herniação da bexiga através de hérnia
Duarte Pacheco Silva(1);Margarida Rajão Sa- inguinoescrotal esquerda, condicionando pro-
raiva(1);Jorge Vaz Lourenço(1);Daniela Mara- cesso de urossépsis. Após correção cirúrgica,
do(1);Armando Carvalho(2);Pedro Ribeiro(1) foi possível desalgaliar e manteve-se sem inter-
(1) Centro Hospitalar e Universitário de Coim- corrências do foro.
bra, EPE / Hospital Geral (2) Centro Hospitalar e
Universitário de Coimbra / Hospitais da Univer- P n.º 1783 
sidade de Coimbra Symmetrical Drug-Related Intertriginous and
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e Flexural Exanthema (SDRIFE) – toxicodermia a
vasculites quinolona
Ana Clara Dinis(1);Sofia Silva Narciso(1);Te-
resa Oliveira(1);Tiago Lima Pereira(1);Lídia
Doente do sexo masculino, 79 anos, in- Caley(1);André Real(1);Lucília Pessoa(1);Nuno
ternado por infeção respiratória (febre e Catorze(1)
tosse seca com semanas de evolução). (1) Hospital Distrital de Abrantes
A radiografia torácica mostrava infiltrado
intersticial; apresentava leucocitose com Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente
crítico
neutrofilia, proteína C reativa 23.5 mg/dL e
serologias Chlamydophila pneumoniae IgG e
IgM positivas. Mulher, 84 anos, hipertensa. Recorre ao Serviço
de Urgência (SU) por disúria e poliúria. Foi
assumido o diagnóstico de infeção urinária e
Desenvolveu vasculite cutânea dos mem- medicada com Ciprofloxacina.
bros inferiors e purpura palpável, tendo a No dia seguinte, recorre ao SU por edema e
biópsia cutânea realizada revelado tratar-se exantema generalizados, principalmente da
de uma vasculite leucocitoclástica. face.
Realizou anti histamínico e corticoide com reso-
A melhoria cliníca e analítica com a antibiote- lução do quadro, tendo-se alterado
rapia instituída (Ceftriaxone e Azitromicina) antibioterapia para Cotrimoxazol. Dez dias de-
- normalização da temperatura e desapareci- pois, retorna ao SU por extensas lesões de
dermatite esfoliativa ulcerada nas regiões ingui-
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 433
nais, axilares e intertrigo mamário, lesões mitida como suspeita de doença associada ao
dolorosas, em agravamento desde há 3 dias. coronavírus 2019 (COVID-19) por agravamento
Face ao exposto, assume-se toxicodermia me- da dispneia habitual nas 3 semanas prévias,
dicamentosa, provável SDRIFE, com atingimen- tosse e hipoxemia “de novo”. Nos últimos 6
to meses mais cansada, pelo que foi admitida
de cerca de 10-15% da superfície corporal, é ad- crise de EM e medicada com metilprednisolo-
mitida na Unidade de Cuidados Intermédios na, sem melhoria. Tomografia Computorizada
para vigilância e terapeutica adequada, com de tórax (Fig. 1 e 2) com múltiplas áreas de
melhoria progressiva. Realiza biópsia cutânea condensação e opacidades bilaterais em vidro
que despolido inespecíficas, com probabilidade in-
confirma o diagnóstico. determinada para COVID-19 (CO-RADS 3). Após
3 testes negativos para o novo coronavírus e
P n.º 1791  excluídas outras causas infecciosas e autoi-
Hipertensão renovascular – um caso atípico munes, fez biópsia transtorácica que revelou o
com hipoplasia da artéria renal diagnóstico de adenocarcinoma pulmonar.
Luís Reis de Almeida(1);Manuel António Montei-
ro(2);Rita Pocinho(1);Vera Salvado(1);Ana Maria P n.º 1796 
Cordeiro(1) No rasto do COVID
(1) Hospital de São José (2) Unidade Funcional Vânia Rodrigues Pereira(1);Beatriz Castro
Medicina 1.2 - Hospital de São José - CHULC Silva(1);Marta Sanches(1);Ana Isabel Brocha-
do(1);David Prescott(1);Inês Branco Carva-
Tema: Doenças cardiovasculares lho(1);Margarida Pimentel Nunes(1);Isabel Mon-
tenegro Araújo(1);Bárbara s. Abreu(1);Raquel
Senhora de 30 anos, com diagnóstico recente Almeida(1);António Martins Baptista(1);José
de dislipidemia e hipertensão, apresentou este- Lomelino Araújo(1)
nose de artéria renal direita em ecografia. Para (1) Hospital Beatriz Ângelo
melhor caracterização realizou tomografia com-
putorizada (TC) e angio-ressonância (RM), sob Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
suspeita de etiologia aterosclerótica versus dis-
plasia fibromuscular. Identificou-se estenose di- Mulher de 88 anos com antecedentes de hiperten-
fusa e regular da arterial renal após a sua emer- são arterial, fibrilhação auricular hipocoagulada e
gência, não aterosclerótica (imagem 1 e 2 em sindrome demencial. Avaliada no Serviço de Urgên-
TC), com rim direito dismórfico, atrofia paren- cia por discrasia hemorrágica. Ao exame objectivo
quimatosa multifocal e presença de gânglios destacava-se petéquias generalizadas. Analitica-
mente com lesão renal aguda e aumento dos para-
perirrenais de características pós-reactivas metros inflamatórios, sem alterações da coagula-
(imagem 1 e imagem 3 em RM). O rim esquerdo ção e hemoglobina estável.
apresentava aspectos de vicariação morfofun-
cional. Os achados não são favoráveis a displa-
Internada por púrpura não trombocitopénica com le-
sia fibromuscular (ausência de indentação do
são renal aguda e cistite. Realizou teste SARS-CoV-2
vaso), mas antes hipoplasia arterial resultante com resultado POSITIVO. Estudo complementar a re-
ou com contribuição de pielonefrites em idade velar Coombs positivo.
precoce, um achado pouco frequente.
Assumida anemia hemolítica auto-imune com púr-
P n.º 1792  pura cutânea generalizada em provável contexto de
infeção viral COVID-19 com queda da hemoglobina
Adenocarcinoma do pulmão na era da CO- de 13g/dL para 6g/dL, tendo iniciado corticoterapia.
VID-19
Beatriz Sampaio(1);Diogo Ferreira da Sil- P n.º 1797 
va(1);Sofia Mateus(1);Salvador Morais Sar- Pneumonia de aspiração num jovem por acalá-
mento(1);Andreia Amaral(1);Miguel Sousa sia tipo 1: caso clínico
Leite(1);Hugo Inácio(1);Felisbela Gomes(1);Ca- João Casanova Pinto(1);Rita Valadas(1);Carlos
tarina Salvado(1) Ramalheira(1);Diogo Cruz(1)
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE / (1) HPP Hospital de Cascais
Hospital de Santo António dos Capuchos
Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças
Tema: Doenças oncológicas hepáticas

Mulher de 71 anos, com esclerose múltipla Homem de 33 anos, internado por pneumonia
(EM) e doença pulmonar obstrutiva crónica. Ad- adquirida na comunidade com história de re-

434
IMAGENS EM MEDICINA
gurgitação alimentar por disfagia para sólidos e Artrite Reumatóide (AR) e Lúpus Eritematoso Sis-
líquidos com 1 mês de evolução. Na tomografia témico (LES), foi internada para estadiamento da
torácica objectivou-se distensão esofágica to- doença. Negava episódios prévios de inflamação
tal. A manometria esofágica revelou acalásia articular. Ao exame objectivo apresentava deforma-
tipo 1. A histologia das biópsias esofágicas re- ção exuberante das mãos, sugestiva de AR, com
desvio cubital e dedos em pescoço de cisne e bo-
velou ligeira infiltração por polimorfonucleares. toeira. No entanto, não havia dor associada, nem im-
Os anticorpos anti-nucleares, anti-centrómero, potência funcional, e as deformidades eram quase
anti-Scl70 foram negativos. Excluiu-se infecção totalmente corrigíveis com manipulação. O estudo
por Trypanosoma cruzi e por herpes simplex imunológico foi negativo para Factor Reumatóide e
vírus. O doente negou viagens. O valor da enzi- Anticorpos Anti-Péptido Citrulinado Cíclico. A Radio-
ma conversora de angiotensina era normal. Foi grafia das mãos não demonstrou achados compatí-
tratado com antibioterapia empírica com reso- veis com AR (Figura 1 e 2). A Artropatia de Jaccoud
lução da pneumonite. Aguarda cirurgia. Prosse- é uma manifestação de envolvimento articular de
gue seguimento em Medicina para investigação LES caracterizada por deformidade grave das mãos
etiológica. devido a subluxações não-erosivas.

P n.º 1831  P n.º 1846 


Uma causa incomum de cefaleia An Expressive Discoid Lupus Erythematosus
João Lagarteira(1);Pedro Simões(1);Rita Pe- Presentation
ra(1);Sara sá(1);Rita Diz(1);Tiago Ceriz(1);An- Pedro Gaspar(1);Rita Mendes(1);Inês Parrei-
dres Carrascal(1);Miriam Blanco(1) ra(1);Leila Duarte(1);Valeria Maione(1);Sérgio
(1) Unidade Local de Saúde do Nordeste Bronze(1);Filipe Bessa(1);António Pais de La-
cerda(1);Catarina Mota(1)
Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológi- (1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE /
cas Hospital de Santa Maria
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e
Homem, 19 anos. Sem antecedentes pessoais e
familiares. Clínica de cefaleia frontal bilateral e
vasculites
cervicalgia com 3 dias de evolução coincidente
com consumo de cannabis. Realizou angiografia e A 62-year-old man presented with a 1-year history
tomografia cerebrais que revelaram Malformação of disseminated pruritic and painful hypopigmented
Arterio-Venosa (MAV) parieto-occipital com aferên- skin lesions. The lesions had first appeared over
cia principal da artéria cerebral anterior, coroideias his forearms as erythematous patches and plaques
postero-laterais e postero-mediais, e parieto-occipi- with a centrifugal growth pattern. Over the last 6
tal. Concluiu caracterização com ressonância mag- months, he referred progressive tiredness along
nética: o nidus malformativo prolonga-se ao longo with tibiotarsus and metacarpophalangeal arthritis
do lobo parietal direito, sobretudo na sua vertente starting 2 weeks before our observation. Consider-
mesial, apresentando cerca de 6 cm de diâmetro ing the clinical suspicion of systemic lupus erythe-
máximo. Diagnosticado MAV gigante que não foi in- matosus, we started oral steroids and hydroxychlo-
tervencionada dado o risco cirúrgico extremo. Com roquine with clinical improvement. Later laboratory
indicação de controlo exaustivo da tensão arterial. tests showed lymphopenia, thrombocytopenia, ESR
120mm/1sth, ANA 1/160, anti-Ro 9293, anti-Sm 208,
anti-RNP 70 and low complement which confirmed
P n.º 1836 
Artropatia de Jaccoud – quando o que parece the diagnosis. Discoid lupus erythematosus is the
most common type of chronic cutaneous lupus and
não é its recognition is crucial for the correct diagnosis
António Mesquita(1);Pedro Caiado Ferreira(1);- and early treatment.
Miguel João Pinheiro(1);Marta Carvalho(1);-
Francisca Martins(1);Miguel Nunes(1);Miguel
Martins(1);Márcia Pereira(1);Madalena Lo- P n.º 1848 
bão(1);Maria Amaral(1);Joana Ferrão(1);Sara Jaccoud’s Arthropaty
Marote(1);Lara Câmara(1);João Oliveira(1);Rita Pedro Gaspar(1);Inês Parreira(1);Leila Duar-
Ribeiro(1);Catarina Patrício(1);Augusto Ribeiri- te(1);Filipe Bessa(1);Sérgio Bronze(1);Valeria
nho(1);Vítor Brotas(1);Eduardo Silva(1) Maione(1);António Pais de Lacerda(1);Catarina
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE / Mota(1)
Hospital de Santo António dos Capuchos (1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE /
Hospital de Santa Maria
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e
vasculites Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e
vasculites
Introdução: Mulher de 52 anos com diagnóstico de

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 435


A 56-year-old hairdresser woman is followed at the dro clínico foi submetida a ventilação mecânica
autoimmune disease clinic with a 14-year history of invasiva. Da marcha diagnóstica salienta-se
systemic lupus erythematosus and antiphospholipid Rx-tórax (imagem 1) com volumosa hérnia do
syndrome characterized by polyarthritis, photosen- hiato e TC-toraco-abdominal (imagem 2) com
sitivity, Raynaud phenomenon and previous stroke. herniação do fundo e corpo gástrico em topo-
Laboratory results showed positive ANA and ds-
DNA. Rheumatoid factor and anti-CCP antibodies
grafia intra-torácica, com rotação, compressão
were negative. Despite treatment and good disease e obstrução, condicionando atelectasia do pa-
control, Jaccoud’s arthropaty (JA) hand deformities rênquima pulmonar. Por hérnia do hiato estran-
evolved (Fig. 1). JA deformities result from soft-tis- gulada com isquemia do fundo e corpo gástrico
sue abnormalities rather than joints erosions and foi submetida de urgência a gastrectomia total
destruction. Despite being reducible (Fig. 2), it may em Y de Roux, tendo evoluído favoravelmente.
become very troublesome, particularly when the pa-  
tient job requires hand work, such in this case. Mus-
cle strengthening and use of orthotic devices are the P n.º 1854 
mainstay management strategies, although surgical Ciatalgia “familiar”
correction might be considered. Beatriz Sampaio(1);Inês Urmal(1);Carolina Coe-
lho(1);Joana Diogo(1);Felisbela Gomes(1);Caro-
P n.º 1850  lina Ferreira Pinheiro(2)
Lesões de janeway – na senda do diagnóstico (1) Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE /
Margarida Araújo(1);Inês Gonçalves(1);A- Hospital de Santo António dos Capuchos (2)
na Isabel Machado(1);Sara Freixo(1);Marina Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE / Hos-
Alves(1);Luísa Pinto(1);Francisco Gonçal- pital de São José
ves(1);António Oliveira e Silva(1)
(1) Hospital de Braga Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológi-
cas
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
Mulher de 49 anos, enviada à consulta de Medi-
Mulher, 42 anos, com arrepios de frio há 1 semana. cina por quisto hidático do músculo psoas à es-
Objetivamente taquicárdica, febril, com sopro sis- querda. Desde há um ano com redução da força
tólico e lesões nodulares eritematosas não doloro- muscular no membro inferior esquerdo e com
sas nas palmas das mãos e dos pés sugestivas de episódios de ciatalgia recorrentes. Sem con-
lesões de janeway. O ecocardiograma confirmou a texto epidemiológico e serologia negativa para
suspeita de endocardite infeciosa mitroaórtica. Iso- echinococcus granulosos. Realizou ressonân-
lou-se Streptococcus pyogenes nas hemoculturas
cia magnética (RM) da coluna que revelou múl-
e cumpriu 6 semanas de penicilina G com melhoria
clínica. As lesões de janeway são lesões nodulares tiplas lesões expansivas com envolvimento
ou maculares, eritematosas ou hemorrágicas, não das raízes nervosas, compatíveis com tumores
dolorosas, das palmas das mãos e plantas dos benignos das bainhas nervosas - schwannomas
pés. São identificadas geralmente na endocardite (Fig. 1, 2 e 3) e RM do neuro-eixo sem lesões. Ir-
infeciosa, embora sejam cada vez mais raras pelo mão com cirurgia prévia a “hérnia” da coluna
diagnóstico e tratamento precoce. Resultam da em- lombar, cujo exame histológico revelou schwan-
bolização sética com formação de microabcessos e noma. Enviada para as consultas de genética e
trombose dos pequenos vasos. de neurocirurgia, onde aguarda cirurgia. 

P n.º 1852  P n.º 1866 


Hérnia do Hiato estrangulada Estenose de três artérias renais - um caso de
Joana Vieira Jardim(1);Cláudia Rodrigues Al- hipertensão arterial secundária
ves(1);Mariana Moniz Ramos(1);Manuela Gre- Joana Vieira Naia(1);Ana Andrade Olivei-
go(1);Luís Siopa(1) ra(1);Paulo Ferreira Gouveia(1)
(1) Hospital Distrital de Santarém, EPE (1) Hospital de Braga
Tema: Outro Tema: Doenças cardiovasculares

Introdução: A doença renovascular é uma causa tratável de hi-


pertensão arterial (HTA), causada por estenose ou
Mulher de 79 anos, com antecedentes de hérnia oclusão das artérias renais.
do hiato e asma. Admitida por asma agudizada
com insuficiência respiratória global e necessi- Um homem de 35 anos, em estudo por HTA de difí-
dade de ventilação mecânica não invasiva. Du- cil controlo e dislipidemia, apresentou duplicação do
rante o internamento, por agravamento do qua- valor de creatinina sérica (previamente normal) após

436
IMAGENS EM MEDICINA
início de IECA. Realizou doppler renal que sugeriu a superior a 4-5cm, com aspeto ulcerado e necrose
presença de estenose das artérias renais e angio-TC cutânea. Biópsia da lesão com histologia compa-
abdominal que revelou “rim esquerdo de menores di- tível com o diagnóstico de Pioderma Gangrenoso.
mensões e estenose da artéria renal esquerda e da Exame microbiológico negativo. Medicado com pre-
origem do tronco celíaco”. A arteriografia permitiu a dnisolona, com melhoria significativa das lesões após
identificação de uma variante anatómica com duas duas semanas de tratamento. 
artérias renais esquerdas e estenose das mesmas,
tal como da artéria renal direita e foi realizada angio-
P n.º 1888 
plastia das artérias direita e esquerda inferior.
SÍNDROME DE MAY–THURNER: VARIAÇÃO
Apresentam-se estas imagens por forma a eviden- ANATÓMICA A FAVORECER OCORRÊNCIA DE
ciar a estenose bilateral das artérias renais e a va- TROMBOSE VENOSA PROFUNDA
riante anatómica identificada neste doente. Mafalda Vasconcelos(1);Rita Enriquez(1);Patrí-
cia Moreira(1);Rui Valente(1);Célia Machado(1);-
P n.º 1875  José Lomelino Araújo(1)
Carcinoma de Células de Merckel no Doente (1) Hospital Beatriz Ângelo
Imunodeprimido
Catarina Rodrigues(1);Rita Jesus(1);Ana Or- Tema: Outro
fão(1);Diva Trigo(1);Patricia Pacheco(1)
(1) Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca Mulher, 39 anos, com história de neoplasia vulvar
submetida a resseção local 5 anos antes e tabagis-
Tema: Doenças oncológicas mo ativo (6 Unidades Maço Ano), medicada com
pílula contracetiva combinada até 2 meses antes.
Descreve-se o caso de um homem de 69 anos, Recorreu ao Serviço de Urgência por dor e edema da
com quadro de perda ponderal, anorexia e as- coxa esquerda com 3 dias de evolução. Ecografia
tenia. Diagnosticada infeção por VIH1, tendo com doppler dos membros inferiores com oclusão
venosa ílio-femoro-popliteia completa. Angiotomo-
iniciado terapêutica antirretroviral na ausência grafia abdominal (imagem) mostrou marcado estrei-
de contraindicação. Dois meses depois, identifi- tamento do trajecto da veia ilíaca primitiva esquerda
cada lesão nodular subcutânea da região glútea (asterisco), comprimida entre a artéria ilíaca primiti-
esquerda, com evolução rápida para ulceração va direita (seta) e a coluna vertebral. Anticorpos an-
e necrose de aspeto irregular. Internado para ti-fosfolípidicos negativos. Esta imagem ilustra uma
excisão cirúrgica, com necessidade de readmis- causa pouco diagnosticada de trombose venosa
são por edema assimétrico do membro inferior profunda, a síndrome de May-Thurner, que consiste
direito e conglomerado adenopático inguinal numa alteração anatómica em que a artéria ilíaca
homolateral. Obteve-se o diagnóstico histológi- primitiva direita comprime extrinsecamente a veia
co de Carcinoma de Células de Merkel, associa- ilíaca primitiva esquerda.
do a disseminação metastática extensa. Evolu-
ção clínica desfavorável, com falecimento em P n.º 1901 
poucas semanas.  O reconhecimento atempado Um cérebro, duas doenças
deste diagnóstico é essencial, caracterizando- Daniela Duarte(1);Catarina Almeida(1);Alexan-
-se por um curso agressivo, com elevada morta- dra Vaz(1);Andreia Lopes(1);Ana Lemos(1)
lidade a curto prazo na ausência de tratamento. (1) Centro Hospitalar Tondela-Viseu, EPE / Hos-
pital de São Teotónio, EPE
P n.º 1881 
Tema: Doenças oncológicas
Pioderma Gangrenoso, em contexto de um
caso clínico.
Ana Sousa Lopes(1);Filipe Machado(1);Teresa Mulher, 80 anos, trazida ao Serviço de Urgência
Ribeiro(1);Heloísa Ribeiro(1) por episódio inaugural de crise convulsiva tóni-
(1) Centro Hospitalar de Entre Douro e Vouga, co clónica generalizada.
EPE / Hospital de S. Sebastião
A TAC crânio revelou lesões ocupando espaço
Tema: Outro bi-hemisféricas e múltiplas calcificações focais
dispersas.
O Pioderma gangrenoso é uma doença inflamatória
da pele frequentemente diagnosticada como infe- Foi internada e iniciou dexametasona e leve-
ção. Homem de 92 anos com lesões no dorso de tiracetam. A RM crânio mostrou múltiplas le-
ambas as mãos, pruriginosas e dolorosas, com 15 sões expansivas com realce marginal em anel,
dias de evolução, sem história de trauma ou quei- sugestivas de quistos parasitários inativos, que
madura. Medicado com ciprofloxacina e anti-infla- poderiam relacionar-se com infeção por Taenia
matório tópico, sem melhoria. Objetivamente lesões solium, com quistos ativos, e outras que, dado
no dorso de ambas as mãos violáceas, diâmetro

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 437


o componente hemorrágico e irregularidade de e E. durans no exame bacteriológico. Apesar
captação, poderiam corresponder a lesões se- de não ter sido objetivada perfuração intestinal,
cundárias associadas a processo de parasitose quer na TC quer no intra-operatório, a identifica-
cerebral antiga. Dado a idade da doente optou- ção de múltiplas estirpes bacterianas no líquido
-se inicialmente por tratamento com antipara- ascítico é sugestiva de peritonite bacteriana
sitários, tendo repetido RMN que não mostrou secundária, provavelmente decorrente de mi-
alterações em relação ao exame prévio. Reali- croperfurações intestinais.
zou biópsia cerebral que revelou metástases de
melanoma. P n.º 1935 
P n.º 1912  Uma causa rara de dispneia: Síndrome de Chi-
MASSA TORÁCICA EXOFÍTICA DE RÁPIDO laiditi
CRESCIMENTO Jessica Fidalgo(1);Ivanna Ostapiuk(1);Miguel
Henrique Atalaia Barbacena(1);Miguel Esperan- Lázaro Mendes(1);Ivan Antunes(1);Inês Salvado
ça Martins(1);Francisco Santos Cunha(1);João Carvalho(1);Bárbara Saraiva(1);André Silva(1);-
Victor Freitas(1);Raquel a. Soares(1);Mariana Carina Santos(1);Ana Teresa Moreira(1);João s.
Dias(1);Inês Matias Lopes(1);Maria Ana Flo- Correia(1)
res(1);Patrícia Howell Monteiro(1);António Pais (1) Unidade Local de Saúde da Guarda, EPE /
de Lacerda(1) Hospital Sousa Martins
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças
Hospital de Santa Maria hepáticas
Tema: Doenças oncológicas
Mulher 84 anos, trazida ao Serviço de Urgência
A metastização óssea é comum, especialmente (SU), por quadro de dispneia e vómitos. Objeti-
na coluna vertebral, contudo, a metastização vamente, verificou-se baixa saturação periféri-
óssea para o esterno além de rara, está pouco ca; abdómen distendido, doloroso à palpação,
documentada na literatura. Mulher, 87 anos, as- sem sinais de irritação peritoneal. Colocada
tenia, emagrecimento e massa torácica exofíti- sonda nasogástrica, sem drenagem. Realizadas
ca de rápido crescimento. Estudo imagiológico radiografia tóraco-abdominal e TC, que mostra-
a evidenciar ponto de partida ósseo esternal ram interposição de ansas distendidas do cólon
com componente osteolítico, sugestivo de me- direito entre o fígado e o diafragma, sugerindo
tastização secundária. TC abdominal com mas- Síndrome de Chilaiditi. Pretende-se alertar para
sa posterior ao estômago, com relação com este diagnóstico que, embora raro, pode justifi-
o pâncreas, sugestivo de GIST extra-intestinal car insuficiência respiratória com necessidade
versus neoplasia do pâncreas. Anatomia pato- de oxigenoterapia de longa duração. O trata-
lógica da lesão torácica com identificação de mento é, na maioria dos casos, sintomático, as-
células neoplásicas de carcinoma de alto grau sentando sobretudo na descompressão intesti-
de origem indeterminada (reactividade para nal e fluidoterapia agressiva.
CK18/8, CK20 e p53)
P n.º 1982 
P n.º 1931  Artrite Mutilante
O estranho caso da “Peritonite Secundária Es- Gabriela Coelho de Almeida(1);Margarida Rajão
pontânea” Saraiva(1);João Rocha Gonçalves(1);Pedro Ri-
Luís Landeiro(1);Margarida Proença(1);Alexan- beiro(1);Armando Carvalho(2)
dra Bayão Horta(1) (1) Centro Hospitalar e Universitário de Coim-
(1) Hospital da Luz Lisboa bra, EPE / Hospital Geral (2) Centro Hospitalar e
Universitário de Coimbra / Hospitais da Univer-
Tema: Doenças oncológicas sidade de Coimbra
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e
Mulher, 58 anos, com carcinoma do ovário com vasculites
metastização peritoneal e ascite recorrente,
internada por quadro com 48 horas de dor e
distensão abdominal, obstipação e febre. A A Artrite Mutilante é a forma mais severa de
radiografia simples do abdómen em pé e a TC apresentação da Artrite Psoriática e afeta 2 a
mostraram hidropneumoperitoneu (figuras 1 e 21% dos doentes numa proporção homens:mulheres
2 respetivamente). A PCR era 35mg/dL. Foi rea- de 1:1. Caracteriza-se pelo encurtamento digital
lizada drenagem cirúrgica, objetivando líquido associado à osteólise grave das articulações
purulento em que se isolaram E. coli, E. faecalis periféricas (sobretudo mãos e pés) que ocorre após

438
IMAGENS EM MEDICINA
muitos anos de evolução da doença. (42120/l) com neutrofilia e PCR 7.5mg/dl. Esfrega-
ço sangue periférico sugestivo de quadro inflama-
tório. TC abdominal sugestiva de abcesso hepático
A imagem ilustra as mãos desfiguradas, “the e zonas de necrose, pelo que iniciou antibioterapia
opera-glass hand” (la main en lorgnette).  de largo espectro. Por falência terapêutica realizou
biópsia hepática, revelando carcinoma pouco dife-
O diagnóstico é clínico e imagiológico. renciado.
Identificar preditores clínicos e biomarcadores
associados, estabelecer critérios radiológicos e Quando a resposta clínica não é a esperada para o
desenvolver novos alvos terapêuticos poderão diagnóstico colocado, é fundamental a procura de
permitir um diagnóstico e intervenção mais pre- complicações versus questionar o diagnóstico pre-
coces, preservando a qualidade de vida destes viamente assumido.
doentes.  P n.º 2007 
P n.º 2000  Veia cava superior esquerda isolada - uma va-
Investigar ou não, eis a questão... riante duplamente rara!
Adriana Filipa Marques Rodrigues(1);Marta Mariana Martinho(1);Rita Clé(1);Melanie Fer-
Mendes(1);Gonçalo Santos(1);Eduardo Mace- reira(1);Fernando Godinho Pereira(1);Bárbara
do(1);José Miguel Rocha(1);Luís Silva(1);Raquel Ferreira(1);Ana Catarina Gomes(1);Hélder Perei-
Covas(1);Isabel Apolinário(1);Ílidio Brandão(1) ra(1);Maria Francisca Delerue(1)
(1) Hospital de Braga (1) Hospital Garcia de Orta, EPE

Tema: Outro Tema: Outro

Mulher de 94 anos, encaminhada ao SU por ca- Um homem de 68 anos foi admitido por enfarte
quexia extrema, com volumosa massa torácica agudo do miocárdio com extensão ao ventrícu-
direita há vários anos, de consistência pétrea lo direito e evolução em choque cardiogénico,
e aderente aos planos profundos, com TAC de complicado de doença renal crónica agudiza-
tórax a demonstrar volumosa massa neofor- da. Após colocação de cateter venoso central
mativa com 20,2 x 13,5cm de maiores eixos e (CVC) por necessidade de indução de técni-
18,8cm longitudinalmente, zonas de necrose ca dialítica, o RX tórax evidenciou um trajeto
tumoral e adenopatias mediastínicas. Realizada anómalo do CVC (imagem 1). A TC-tórax, dete-
biópsia cuja histologia não permitiu classificar tou ausência de veia cava superior (VCS) direi-
a lesão por necrose dos tecidos. Doente fale- ta (dta), com persistência da VCS à esquerda
ceu em internamento. (PVCSE) que resultava da confluência da veia
subclávia dta e tronco venoso braquio-cefálico
esquerdo. A doente não apresentava cardiopa-
Este caso retrata a perplexidade dos autores tia congénita (CC) e teve alta após angioplastia
perante uma massa tão volumosa que desper- da artéria coronária dta.
tou interesse em chegar a um diagnóstico, mas
serve também para alertar que independente-
mente do resultado, pouco haveria a oferecer Esta é uma variante anatómica muito rara, que
excepto medidas de conforto, servindo de refle- ocorre em menos de 0.3% em indivíduos sem
xão sobre a real necessidade dos procedimen- CC, especialmente considerando que a agene-
tos invasivos realizados diariamente. sia de VCS dta, presente em menos de 10% dos
casos de PVCSE, ocorre sobretudo associada a
CC grave.
P n.º 2002 
Nem tudo o que parece é - Lesão hepática P n.º 2010 
Catarina Semedo Graça(1);Paulo Fernan- Tuberculose Pulmonar – um passado cada vez
des(1);Paulo César(1);Vera Guerreiro(1);José mais presente
Vaz(1) Catarina Semedo Graça(1);Paulo Fernan-
(1) Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo, des(1);Paulo César(1);Vera Guerreiro(1);José
EPE / Hospital José Joaquim Fernandes Vaz(1)
(1) Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo,
Tema: Doenças oncológicas EPE / Hospital José Joaquim Fernandes

Mulher de 80 anos, com quadro de 6 meses de Tema: Doenças infecciosas e parasitárias


evolução de cansaço com agravamento progressi-
vo, dor no hipocôndrio direito e história de sudore- Portugal é um país de baixa incidência para a
se noturna. Nas análises destacava-se leucocitose Tuberculose Pulmonar (TP), no entanto os ca-
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 439
sos de migrantes de países de alta incidência Doente sexo masculino, 69 anos, com antece-
com doença bacilífera são uma realidade cres- dentes de insuficiência cardíaca e doença renal
cente. crónica. Doente recorre ao SU por dispneia para
pequenos esforços, ortopneia, edemas dos
Homem de 27 anos, natural da Guiné, residente membros inferiores e palpitações com cerca
em Portugal há 2 anos. Queixas de tosse com 2 semanas de evolução, tendo sido internado
expectoração mucosa e perda ponderal nos últi- com o diagnóstico de insuficiência cardíaca
mos 6 meses. Radiografia de torax com suspei- descompensada por fibrilhação auricular diag-
ta de cavitação lobo superior direito. Análises nosticada de novo. Iniciou hipocoagulação, ten-
sem leucocitose nem neutrofilia, PCR 5.6mg/ do hematúria exuberante, feito sinfonagem com
dl. Lavado bronco alveolar BAAR >4+/cam- saída de coágulos, realizado palpação abdomi-
po.  Iniciou HRZE em internamento. Cumpriu nal, com massa exuberante dolorosa no flanco
terapêutica durante 9 meses, com boa evolução esquerdo, no TC- abdominal confirmada volu-
imagiológica. mosa lesão de natureza sólida com áreas de
necrotização com 20X17.3 cm no rim esquerdo.
Doente submetido a nefrectomia e seguimento
Deste modo, vemos ressurgir nos dias de hoje em Urologia e Oncologia.
quadros de TB graves, com diagnóstico muito
sugestivo da doença por radiografia torácica
como no passado. P n.º 2052 
Uma odinofagia com um percurso diferente do
habitual
P n.º 2013  João Pedro Lázaro Mendes(1);Filipa David(2);-
Lipossarcoma mixoide: uma neoplasia maligna Teresa Medeiros(2);João Caiano Gil(2);Luísa
rara Guerreiro(2)
Patrícia Amaral de Almeida(1);Bárbara Batis- (1) Centro Hospitalar Tondela-Viseu, EPE / Hos-
ta(1);Ana f. Costa(1);Margarida Gaudêncio(1);I- pital de São Teotónio, EPE (2) Unidade Local
vo Barreiro(1);Isabel Bessa(1);Odete Miran- de Saúde de Matosinhos, EPE / Hospital Pedro
da(1);Teresa Alfaiate(1);Abílio Gonçalves(1) Hispano
(1) Hospital Distrital da Figueira da Foz, EPE
Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente
Tema: Doenças oncológicas crítico

Homem de 81 anos com diabetes mellitus e A odinofagia é um sintoma comum e inespe-


hipertensão arterial, foi admitido no Serviço cífico que se associa a faringites e neoplasias,
de Urgência por alteração do estado de cons- entre outras patologias.
ciência e internado por suspeita de encefalite,
não confirmada. No internamento, referia des-
conforto persistente na fossa ilíaca direita e Reportamos um caso de um homem de 74
apresentava anemia normocítica e β2 microc- anos, autónomo. Recorreu ao SU a 21.04 por
globulina aumentada. Após ecografia, foi reali- odinofagia com 3 dias de evolução. Sem outros
zada tomografia abdominopélvica que revelou dados de relevo na anamnese. Objetivou-se
3 massas hipodensas, discretamente captantes endurecimento à palpação cervical. Realizou-
e com calcificações. A maior, medindo 7x6cm, -se TAC que mostrou imagem hiperdensa com
localizava-se no quadrante inferior direito (Ima- 6mm, múltiplas bolhas gasosas e densificação
gens 1 e 2) e comprimia anteriormente a veia dos tecidos moles adjacentes. Decidida inter-
cava inferior (Imagem 3). Foi realizada biópsia venção cirúrgica: retirada espinha de peixe.
cujo resultado foi compatível com lipossarco-
ma mixoide, tendo sido proposta exérese cirúr- A 24.04 constatou-se enfisema subcutâneo
gica que o doente recusou. exuberante na face, região cervical e hemitorax.
Realizou-se TAC cervical, optando-se depois
P n.º 2015  por tratamento conservador com melhoria do
Por trás de uma hematúria... quadro.
Micaela Sousa(1);Rita Diz(1);Pedro Si-
mões(1);Sandra Raquel Sousa(1);Filipa Alves Com este caso pretendemos relembrar que a
Rodrigues(1);Andreia Diegues(1);Ana Rita Sil- odinofagia pode ser a manifestação tardia da
va(1);Helena Maurício(1);Miriam Blanco(1) presença de um corpo estranho. Por fim, apre-
(1) Unidade Local de Saúde do Nordeste sentamos uma imagem elucidativa de um enfi-
sema subcutâneo.
Tema: Doenças oncológicas

440
IMAGENS EM MEDICINA
P n.º 2054  alta concentração com melhoria progressiva e
OLHOS DE GUAXINIM: UM ACHADO TÍPICO DE antibioterapia empírica com piperacilina/tazo-
AMILOIDOSE SISTÉMICA COM ENVOLVIMEN- bactam. Repetiu TC torácico seis dias depois
TO CUTÂNEO com evidência de reabsorção total do pneumo-
Ana Cristina Cunha(1);Inês Ludovico Caeta- tórax e parcial do pneumomediastino.
no(1);Bárbara Gregório(1);Luísa Serpa Pinto(1);-
Sónia Chan(1);Álvaro Ferreira(1) P n.º 2060 
(1) Centro Hospitalar Uni. Porto Espessamento cutâneo: A propósito de um
Tema: Doenças raras caso clínico.
DANA PEREZ(1);João Caiano Gil(1);Olga Araú-
jo(2);Ricard Cervera(2)
Mulher de 85 anos, com hipertensão e cardio- (1) Unidade Local de Saúde de Matosinhos, EPE
patia hipertensiva. / Hospital Pedro Hispano (2) Hospital Clínic I
Provincial da Universidade de Barcelona
Internada para investigação de quadro constitu-
cional, anasarca, adenomegalias mediastínicas, Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e
equimoses periorbitárias (Imagens 1-3) e nos vasculites
membros inferiores sem trauma associado, en-
durecimento da pele generalizado e tumefação A fasceíte eosinofílica (FE) é uma entidade
parotídea bilateral. Biópsias (gordura abdominal inflamatória rara, por vezes indistinguível da
e pele) com depósitos de amiloide. esclerodermia localizada. A corticoterapia sis-
témicaconstitui a primeira linha de tratamen-
A amiloidose pode ter envolvimento cutâneo to, não existindo, no entanto, terapêuticas
caraterístico: elevada friabilidade, equimoses comprovadas na FE refratária. Apresenta-se
fáceis, púrpura periocular, nódulos ou placas uma mulher de 52 anos, com eritema e ede-
subcutâneas e alopecia. ma cutâneo a nível do tronco e extremidades,
evoluindo com endurecimento progressivo da
fáscia subcutânea; a biopsia de pele confirmou
Os olhos de guaxinim são um achado típico o diagnóstico. Efetuou múltiplos esquemas me-
que, quando aliados a outras informações clíni- dicamentosos - incluindo terapia anti-IL5 - sem
cas, podem aumentar o nível de suspeição da sucesso, pelo que aguarda transplante autólogo
doença. de progenitores hematopoiéticos. As imagens
demonstram a gravidade e extensão das lesões
Foi obtido consentimento informado para ob- de FE, incluindo o atingimento de locais geral-
tenção das imagens que se seguem. mente poupados, como os pés.

P n.º 2056  P n.º 2061 


Pneumomediastino como complicação de Co- Quando o abdomen não é inocente
vid-19 Maria Pacheco(1);Ana Teresa Moreira(1);Ivan
Elisa Macedo Brás(1);Ana Oliveira Costa(1);Ma- Marcelo Martins Antunes(1);Vasco Neves(2);A-
riana Esteves(1);Margarida Melo Cruz(1);Nuno driano Cardoso(1)
Ferreira da Silva(1);Fernando Salvador(1) (1) Unidade Local de Saúde da Guarda, EPE /
(1) Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Hospital Sousa Martins (2) Unidade Local da
Douro, EPE / Hospital de Vila Real Guarda
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias Tema: Doenças oncológicas

Homem de 65 anos, internado por Covid-19, Doente de 18 anos, de antecedentes pessoais


doença grave. Realizado TC-tórax à admissão a destacar obesidade, admitido no serviço de
com infiltrados pulmonares bilaterais com en- Urgência por um quadro de dor abdominal e
volvimento de 20-30% no pulmão direito e 80% dispepsia associada. Ao exame objetivo dete-
no esquerdo. Realizou terapêutica dirigida com tada massa palpável de grandes dimensões
dexametasona. No 13º dia de internamento no hipocôndrio e flanco esquerdos. Avaliação
por dor pleurítica intensa, repetiu TC-tórax com laboratorial a destacar: LDH 992U/L e Gama GT
a identificação de pequeno pneumotórax es- 262U/L. Solicitada Tomografia Computorizada
querdo e volumoso pneumomediastino, além que revelou tumor retroperitoneal de grande vo-
de consolidação franca na base esquerda, a lume com nódulos hepáticos e lesão osteolítica
traduzir sobreinfeção bacteriana. Optou-se por no osso ilíaco direito e na cabeça femoral es-
tratamento conservador com oxigenoterapia de
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 441
querda. Fez biópsia que refere um Paraganglio- documentando-se múltiplos trombos intra-ven-
ma. Iniciou lanreotido mensal, mas falece um triculares e na aurícula esquerda, embolização
mês após o diagnostico. pulmonar, renal e esplénica, e estenose aórtica
grave, mantendo hipocinesia global. Excluídos
outros fatores de hipercoaguabilidade. 
P n.º 2062 
Adenocarcinoma da Próstata Metastizado – a
exuberância da destruição óssea Iniciada anticoagulação, com resolução dos
Vânia Sá-Araújo(1);Maria Paula Silva(1) trombos ao fim de 1 semana, ficando a aguar-
(1) IPO Porto dar substituição da válvula aórtica e colocação
de cardiodesfibrilhador implantável.
Tema: Cuidados paliativos
P n.º 2082 
Doente de 80 anos, com diagnóstico de adeno- Um estranho caso de aneurismas cerebrais
carcinoma da próstata com metastização ós- Sofia Rodrigues de Carvalho(1);Carolina Ven-
sea com progressão da doença, tendo sido re- tura(1);Miguel Monteiro(1);Diana Pereira An-
ferenciado a Cuidados Paliativos um ano após jos(1);Mari Mesquita(1)
o diagnóstico. (1) Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, EPE /
Hospital Padre Américo, Vale do Sousa
Apresenta envolvimento metastático ósseo, Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológi-
com destaque para uma lesão volumosa no cas
úmero esquerdo com destruição óssea que re-
sultou numa fratura patológica.
Mulher de 89 anos levada ao serviço de urgên-
cia (SU) por quadro de cefaleia frontal e oftal-
Dor à mobilização do membro superior esquer- moparésia em agravamento há vários meses.
do, com necessidade de terapêutica analgésica. Antecedentes relevantes: achado incidental de
Submetido a radioterapia antálgica ao úmero aneurisma da carótida interna com mais de 15
esquerdo, com necessidade de re-irradiação anos de evolução - encaminhada para Neuro-
três meses depois. cirurgia, tendo-lhe sido proposto tratamento
cirúrgico, que recusou, perdendo seguimento na
Destaca-se a exuberância da metastização e consulta. No SU, objetivada oftalmoparésia do
a progressão da doença nesta localização e a olho direito, sem outras alterações relevantes.
possibilidade de controlo sintomático a permitir TC craneoencefálico mostrou dois aneurismas
a funcionalidade nas atividades de vida diária. gigantes, em espelho, dos segmentos supra-
clinoideus das artérias carótidas internas, com
P n.º 2068  calcificação mural associada; sem alterações
Trombos cardíacos, o peso da hemodinâmica agudas. A imagem apresentada (Figura 1) reve-
Raffaele Junior Aliberti(1);Rita Lopes Cunha(1);- la a inexorável evolução temporal dos aneuris-
Diogo Ferreira de Silva(1);Carla Nicolau(1);Cata- mas, com crescimento e calcificação, condicio-
rina Salvado(2) nando compressão de estruturas envolventes,
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE / sob risco de rotura.
Hospital de Santo António dos Capuchos (2)
Hospital dos Capuchos P n.º 2088 
Quisto dentígero
Tema: Doenças cardiovasculares Sara Ferreira(1);João Corrêa(1);Renato Gonçal-
ves(1);Célia Tuna(1);Juliana Carneiro(1);Dália
Mulher, 41 anos, antecedentes de coartação da Estêvão(1);Ana Rita Elvas(1);Leopoldina Vicen-
aorta, válvula aórtica bicúspide, tabagismo, ex- te(1)
-toxicodependente (heroína). (1) Centro Hospitalar Cova da Beira, EPE / Hos-
pital Distrital da Covilhã
Primeiro internamento por insuficiência cardía-
Tema: Outro
ca (IC) inaugural. Estudo ecocardiográfico e an-
giográfico com dilatação das quatro cavidades,
disfunção biventricular com fração de ejeção de Doente do sexo masculino, com 66 anos de
27% e hipocinésia global sem trombos ou mas- idade. Recorreu ao serviço de urgência por ede-
sas intracardiacas. ma e eritema da região periorbitária bilateral e
febre, tendo sido estabelecido o diagnóstico de
erisipela da face. Realizou tomografia computa-
Segundo internamento por IC, um mês depois,
442
IMAGENS EM MEDICINA
dorizada dos seios perinasais que revelou alte- Após 3 dias, regressa por alteração do esta-
rações compatíveis com o processo inflamató- do de consciência. Encontrava-se em coma,
rio subjacente, sem extensão pós-septal. Além normotensa (131/66mmHg), bradicárdica (45
disso, evidenciou, ainda, um quisto dentígero bpm) e hipotérmica (30ºC). O estudo comple-
na mandibula direita (imagem 1). Caso deba- mentar revelou: anemia (11 g/dL) e trombocito-
tido com Cirurgia Maxilo-Facial, com posterior penia grave (30x109). Em reavaliação posterior,
referenciação. Salienta-se a importância deste evidenciou-se queda de 4,3 g de hemoglobina e
achado, tendo em conta o elevado risco de fra- hipotensão (75/50mmHg). Para estudo da etio-
tura da mandíbula associado (imagem 2) e a logia do choque hipovolémico, foi pedida tomo-
necessidade de intervenção a curto prazo. grafia computorizada toraco-abdomino-pélvica,
que mostrou rotura de MAV pulmonar.
P n.º 2096 
Fractura da odontoide na gota tofácea - uma Conclui-se que o exame de imagem emergente
lesão prevenível num doente com clínica de choque é de extre-
Rui Coelho(1);Sara Xavier Pires(1);Rute Sousa ma importância para o diagnóstico etiológico e
Martins(1);Filipa Abelha Pereira(1);João Araújo consequente tratamento.
Correia(1)
(1) Centro Hospitalar Uni. Porto P n.º 2108 
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e Um caso raro de hemicoreia-hemibalismo dia-
vasculites bético!
Filipa Leitão(1);Joana Carvalho(1);Pedro Leite
Vieira(1);Rui Isidoro(1);Diana Brites(1);Dra. Olga
Sexo masculino, 62 anos, risco vascular filiado Korobka(1);João Freixo(1);Maria Eugénia An-
em hipertensão arterial, dislipidemia, hiperuri- dré(1)
cemia com mais de 10 anos de evolução e (1) Unidade Local de Saúde de Castelo Branco
atualmente com artrite gotosa. Seguimento
no passado em Consulta Externa de Ortopedia Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológi-
em Hospital privado por Gota tofácea, com cas
múltiplas intervenções cirúrgicas neste contex-
to. Internamento em 2020 por fratura de osso Mulher, 71 anos, autónoma. Antecedentes dia-
odontoide, na dependência de artrite gotosa, betes mellitus tipo 2 insulinotratada. Recorreu
com tetraparesia sequelar com necessidade de ao Serviço de Urgência após acidente de viação
correcção cirúrgica. A articulação da odontoide por movimento involuntário súbito, amplo e
é um local raro de atingimento da artropatia intenso dos membros esquerdos, traumatismo
gotosa, sendo mais comum em casos com torácico e craniano com perda de conhecimen-
apresentação tofácea. Este caso demonstra a to. À observação obnubilada, hematoma fron-
importância do reconhecimento e tratamento tal, tensão arterial 194/108mmHg e glicémia
precoce da patologia de modo a evitar danos 600mg/dL. Gasimetria sem acidose metabóli-
com consequências severas para o doente. ca. TC-CE «exuberante imagem de hiperdensi-
dade espontânea, afectando o núcleo lenticular
P n.º 2105  e núcleo caudado direitos, confinada à subs-
Choque hipovolémico por hemotórax espontâ- tância cinzenta, sem realce após contraste.
neo por rotura de malformação arteriovenosa Compatível com processo secundário a hiper-
(MAV) pulmonar glicemia grave». Fez fluidos e insulina com re-
Mafalda Ferreira(1);Soraia Proença e Sil- cuperação do estado de consciência e glicemia
va(1);Filipa Lucas(1);Olga Korobka(1);Diana 200mg/dL. Alta assintomática após 24 horas.
Brites(1);Manuel Carvalho(1);Maria Eugénia
André(1) P n.º 2112 
(1) Unidade Local de Saúde de Castelo Branco Amiloidose Bolhosa Oral - O detalhe que não
escapou ao Internista
Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente Rita Pombal(1);Francisca Carmo(1);David
crítico João(1);Catarina Meireles(1);Sara Pinto(1)
(1) Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia / Es-
Mulher, 88 anos, admitida no serviço de urgên- pinho
cia por episódio de “vómito” hemático escuro.
Fez endoscopia digestiva alta que não revelou Tema: Doenças hematológicas
alterações.
Homem de 79 anos recorreu ao hospital por

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 443


dispneia e edema dos membros inferiores, com (1) Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto
15 dias de evolução. Apresentava insuficiência Douro, EPE / Hospital de Vila Real (2) Unidade
cardíaca de novo e proteinúria nefrótica com Local de Saúde da Guarda, EPE / Hospital Sou-
lesão renal aguda. Observaram-se lesões bo- sa Martins
lhosas na cavidade oral. O estudo realizado evi-
denciou ecocardiograma com padrão restritivo; Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
gamapatia monoclonal de cadeias leves kappa
no soro e urina; elevação da razão kappa/lamb- Descrição de caso: Masculino 71 anos. Basal
da livres no soro. O estudo histológico de bióp- de HTA, diabetes mellitus tipo 2, COVID-19
sia de lesão da língua, de gordura abdominal e (12/20). Sob corticoterapia (arterite de células
de medula óssea confirmou o diagnóstico de gigantes – suspeita desde 04/21). Admitido por
Amiloidose AL. cefaleia persistente (05/21), evolução com ab-
cesso dentário, quemose conjuntival, proptose
Na literatura existem apenas 3 casos descritos e diminuição da acuidade visual à direita. RMN:
de amiloidose bolhosa da mucosa oral. Estas “sinusite nos seios esfenoidais e etmoidais,
imagens exibem uma manifestação rara, neste extensão ao ápex da órbita direita”. Videoen-
caso expressa à apresentação inicial da doen- doscopia dos seios nasais: “infeção do seio
ça. esfenoidal direito com erosão óssea associada”
– efetuou biópsia. Por suspeita de mucormico-
se, inicia Anfotericina B. A biópsia revela Asper-
P n.º 2113 
gillus sp – descala com voriconazol.
Nódulos cutâneos como apresentação de
doença hemato-oncológica
Guadalupe Ferreira Gomes(1);Ana de Carmo Conclusão: A rinossinusite fúngica crónica tem
Campos(2);Filipa Mousinho(1);Celina Afonso(1) uma apresentação indolente, normalmente sem
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE / sintomas sistémicos. Embora o diagnóstico
Hospital de S. Francisco Xavier (2) Centro Hos- seja histológico, a RMN pode ser altamente su-
pitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospital Pulido gestiva de infeção fúngica.
Valente
P n.º 2128 
Tema: Doenças hematológicas “PELA BOCA MORRE O PEIXE” – UM CASO DE
FEBRE SEM FOCO
Mariana Estrela Santos(1);Mariana Bap-
Mulher de 85 anos com quadro de astenia tista(1);Raquel Dias Moura(1);João Miran-
e exuberantes nódulos cutâneos de cor violá- da(1);Marta Barbedo(1)
cea com localização axilar, supra-clavicular, (1) Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia / Es-
infra-mamária e abdominal, de crescimento pinho
progressivo desde há 8 meses. Nódulos com
diâmetro máximo de 6 cm, alguns ulcerados e Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
exsudativos. Apresentava tumefacção dura da
parótida direita, nódulos mamários duros bila- Febre sem focalização inicial esclarecida é um qua-
teralmente e pele em casca de laranja. Exame dro frequentemente presente na prática clínica ten-
de imagem com múltiplos nódulos cutâneos e do a história clínica e investigação cuidada especial
subcutâneos e raras adenopatias medistínicas destaque.
e ilíacas. Biópsia de nódulo mamário revelou
linfoma difuso de grandes células B, não-centro Caso Clínico:
germinativo com alto índice proliferativo (Ki-
67> 90%), estadio IV, IPI 3 (risco intermédio-al- Mulher de 81 anos. Internada por febre sem foco
to). Caso de relevo pela apresentação inaugural inicial esclarecido. À admissão: febril, 38ºC, sem ou-
atípica de linfoma extraganglionar com envol- tra clínica. Analiticamente neutrofilia relativa e PCR
vimento da parótida, mama, tecido cutâneo 21mg/dl; Ecografia abdominal e Angio TC torácico
e subcutâneo. sem alterações. Realizou TC AP (Fig.1 e 2) a revelar
espinha de peixe de 22 mm a transfixar a 3ª porção
do duodeno com sinais inflamatórios circundantes,
P n.º 2116  trombo e bolhas de gás a progredir para a veia me-
Rinossinusite fúngica - desafio diagnóstico sentérica superior. Após discussão multidisciplinar
Daniela Viana(1);Joana Rua(1);João Rodri- realizou enteroscopia, mas sem identificação de
gues(2);Catarina Maciel(1);Diana Roriz(1);Bar- corpos estranhos luminais. Cumpriu ciclo com cef-
bara Costa(1);Margarida Contente(1);Catarina triaxona com resolução clínica e analítica.
Carvalho(1);Ana Cristino(1);Francisco Este-
ves(1) P n.º 2130 

444
IMAGENS EM MEDICINA
PÉ DE CHARCOT (1) Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia / Es-
Mariana Estrela Santos(1);Raquel Dias Mou- pinho
ra(1);Inês Rueff Rato(1);Janine Resende(1);Mar-
ta Barbedo(1) Tema: Doenças respiratórias
(1) Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia / Es-
pinho Mulher de 78 anos, antecedentes de asma com
várias agudizações (geralmente por quadros de in-
Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nu- feção respiratória). Internada por traqueobronquite
tricionais aguda com insuficiência respiratória e broncoespas-
mo exuberante e refratário, sem história de disfa-
A neuroartropatia de Charcot (NC) é uma síndrome gia.  Apesar de otimização terapêutica e realização
rara e silenciosa, caracterizada por destruição e de antibioterapia manteve broncorreia e broncoes-
deformidade osteoarticular do pé e tornozelo, tor- pasmo persistente. Efetuou tomografia computori-
nando-o propenso a úlceras de difícil cicatrização. zada do tórax que mostrou conteúdo endoluminal
Obesidade e Diabetes mal controlada são fatores de no brônquio principal esquerdo (BPE) a sugerir
risco modificáveis. impactação mucoide. Realizou broncofibroscopia
que mostrou obstrução quase total do BPE por cor-
po estranho – uma ervilha – tendo sido removida.
Caso Clínico: Apresentam-se estas imagens pela importância da
investigação etiológica de broncorreia e brocoes-
Mulher de 61 anos. Antecedentes de hipertensão, pasmo refratários.
obesidade e Diabetes mal controlada com neuropatia
diabética e NC à esquerda. Proposta para tratamen-
to com oxigenoterapia hiperbárica, tendo recusado. P n.º 2149 
Internada por úlcera infetada do calcâneo esquerdo. Fístula Arterio-Venosa Úmero-Cefálica com
Cumpriu ciclo de antibioterapia e cuidados de penso Aneurisma após Punção Arterial
diários, com melhoria. Foi feita gestão dos fatores de Inês Parreira(1);Virgílio Dias Silva(1);Pedro
risco modificáveis, visando minimizar a progressão Gaspar(1);Pedro Antunes Meireles(2);Leila
e o impacto desta condição na qualidade de vida da Duarte(1);Hélder Diogo Gonçalves(1);Sérgio
doente. Bronze(1);Valeria Maione(1);Filipa Reis(3);Filipe
P n.º 2138 
Bessa(1);Sandra Braz(1);Catarina Mota(1)
A evolução explosiva de uma pneumonia em (1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE /
doente imunodeprimido Hospital de Santa Maria (2) IPO Lisboa (3) Cen-
João Luís Miranda(1);Albina Moreira(1);Tiago tro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospital
Guimarães Costa(1);Raquel Moura(1) Pulido Valente
(1) Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia / Es- Tema: Outro
pinho
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias A punção arterial é um procedimento invasivo
com potenciais complicações, as mais comuns
Mulher de 68 anos, antecedentes de Doença de são a hemorragia ou formação de hematoma
Crohn medicada com messalazina e hipotiroidis- no local da punção.
mo medicado com levotiroxina. Avaliada por febre,
astenia e desconforto abdominal. Analiticamente Homem de 89 anos, internado por Pneumonia a
apenas com discreta elevação de parâmetros infla- SARS-CoV-2 com insuficiência respiratória tipo
matórios. No TC Tórax identificado pequeno foco de I. Não anticoagulado. Efectuada punção arte-
pneumonia no lobo superior direito. Colheu hemo-
rial umeral, com hemorragia incontrolável após
culturas e antigénios urinários, teve alta medicada
com amoxicilina/ácido clavulanico e azitromicina. compressão manual prolongada do local. Reali-
Por agravamento clinico, regressa 24 horas depois, zada angio-TC do membro superior com fístula
tendo repetido imagem que mostrou grande pro- arterio-venosa umero-cefálica com aneurisma,
gressão do foco pneumónico. Hemoculturas iniciais sem trombose. Observado por cirurgia vascular
com isolamento de Pseudomonas aeruginosa. Este com indicação para tratamento conservador.
caso salienta a importância de considerar Pseudo-
monas como agente etiológico de pneumonia em O risco de complicações de punção arterial é di-
doentes imunodeprimidos. minuído utilizando a agulha com menor calibre,
variando a localização das punções e aplican-
P n.º 2143  do pressão continuamente durante 10 minutos.
Uma causa atípica de broncoespasmo refratá- Ainda assim, as possíveis complicações não
rio são negligenciáveis devendo assegurar-se a mo-
João Miranda(1);Albina Moreira(1);Raquel Mou- nitorização adequada após a técnica.
ra(1);Jorge Reis(1)
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 445
P n.º 2167  exclusão, é importante o seu rápido reconheci-
Ventriculite Cerebral mento dada a gravidade.
Isabel Mendes Bessa(1);Ana Luís Ferreira(1);-
Márcia Machado(1);Magda Fernandes(1);Jorge P n.º 2181 
Cotter(1) Hidronefrose por Linfoma B Difuso de Grandes
(1) Centro Hospitalar do Alto Ave, EPE / Hospi- Células
tal de Guimarães Susana Pipa(1);Mariana Moreira Azevedo(1);Ri-
cardo Manuel Pereira(1);Raquel Costeira(1);Só-
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias nia Carvalho(1);Fernando Salvador(1)
(1) Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto
Doente de 66 anos, autónoma e cognitivamente Douro, EPE / Hospital de Vila Real
íntegra, com antecedentes de diabetes mellitus, in-
ternada num serviço de Medicina Interna por Sépsis Tema: Doenças hematológicas
com ponto de partida em pielonefrite aguda, com
disfunção renal, neurológica, hematológica e respi- Homem, 78 anos. Recorreu ao Serviço de Urgência
ratória. por astenia e retenção urinária. Ao exame objetivo
com empastamento à palpação abdominal. Analiti-
Após cumprir ciclo de antibioterapia e com documen- camente, desidrogenase láctica e proteína C reativa
tação imagiológica da resolução da pielonefrite, a elevadas. TC abdominopélvica com massa sólida
doente apresentou melhoria de todas as disfunções homogénea de 10x7 cm no plano axial, com realce
da admissão, exceto da disfunção neurológica. Por após contraste, no cavado pélvico à direita com ex-
isto e pela manutenção de febre foi realizada uma tensão inguinal, à bexiga, ileopsoas e cego, a causar
punção lombar e solicitada uma ressonância magné- hidronefrose à direita, sugestiva de linfoma. Interna-
tica (RMN) crâneoencefálica. do para estudo. Biópsia com alterações compatíveis
com linfoma B difuso de grandes células. Foi orien-
Na punção lombar, foi detetada proteinorráquia tado para consulta de Hematologia. Estas imagens
marcada. Na RMN foram documentadas alterações revelam hidronefrose exuberante por compressão
sugestivas de ventriculite com hidrocefalia.  por massa neoplásica e realçam a possibilidade de
manifestação de neoplasia com sintomas compres-
Foi instituida antibioterapia dirigida e verificou-se re- sivos.
solução completa da disfunção neurológica.

P n.º 2175  P n.º 2197 


Toxicidade pulmonar associada a anticorpo Plasmocitoma orbitário: uma forma de apre-
monoclonal anti-PD1 sentação rara de mieloma múltiplo
Ivone Melo Valadão(1);Vanessa Barcelos(1);Ma- Joana Tender Vieira(1);Stefano Pinto(1);Hugo
ria Guadalupe Benites(1);Leonor Monjardino(1) Veiga(1);Catarina Vale(1);Joana Pimenta(1);Jor-
(1) Hospital de Santo Espírito da Ilha Terceira ge Almeida(1)
(1) Centro Hospitalar de S. João, EPE
Tema: Doenças oncológicas
Tema: Doenças hematológicas
Caso clínico: Homem, 75 anos, com o diagnós-
Homem de 65 anos com quadro de proptose à
tico de adenocarcinoma do pulmão com metas- direita, dor lombar e perda ponderal. Realizada TC
tização pleural, com expressão de PD-L1 >50% cerebral que revelou uma lesão expansiva de grande
e sem mutações tumorais positivas EGFR ou volume na órbita direita, com destruição óssea (A) e
ALK. É proposta terapêutica paliativa de primei- múltiplas lesões líticas cranianas (B). Analiticamen-
ra linha com anticorpo monoclonal humanizado te com anemia, hipercalcemia, hipoalbuminemia,
PD-1, o pembrolizumab. Um mês após o primei- aumento das proteínas totais e da microglobulina
ro ciclo, é admitido no Serviço de Urgência por beta-2. A eletroforese de proteínas séricas mostrou
dispneia com insuficiência respiratória global um pico monoclonal na fração Gama (C) e a imuno-
de novo. TC tórax revelou pneumonite do lobo fixação uma gamopatia monoclonal IgG de cadeias
superior e língula esquerda bem como conco- leves Kappa. A biópsia medular óssea revelou 47,8%
mitante progressão da doença neoplásica (ima- de plasmócitos, confirmando o diagnóstico de mie-
loma múltiplo (MM). O doente acabou por falecer
gem 1 e 2).  em contexto de pneumonia nosocomial, já em uni-
dade de cuidados intensivos.
A ocorrência de pneumonite imuno-mediada
como efeito adverso da terapêutica com anti- Os plasmocitomas extramedulares ocorrem numa
-PD1 está descrita em apenas 4,6% dos doen- minoria de doentes com MM, sendo o plasmocitoma
tes, sendo mais frequente nos casos previa- orbitário uma forma rara de apresentação associada
mente expostos a radioterapia torácica. Apesar a mau prognóstico
de pouco frequente e de ser um diagnóstico de
446
IMAGENS EM MEDICINA
P n.º 2208  gicos, respiratórios ou cardíacos.
Hipocoagulação e hematoma de grandes di-
mensões do músculo psoasilíaco P n.º 2213 
Ana Isabel Machado(1);Margarida Araú- APRESENTAÇAO ATÍPICA DE ADENOCARCI-
jo(1);Inês Gonçalves(1);Sara Freixo(1);Marina NOMA GÁSTRICO METASTIZADO
Alves(1);Francisco Gonçalves(1);Luísa Pin- Mariana Belo Nobre(1);Maria Afonso Albuquer-
to(1);António Oliveira e Silva(1) que(1);Carolina Ochôa Matos(1);Inês Goular-
(1) Hospital de Braga t(1);Cecília Melo Alvim(1);Joana Rosa Mar-
tins(1)
Tema: Doenças hematológicas (1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE /
Hospital de Santa Maria
Homem, 69 anos, antecedentes de penfigóide
bolhoso, hipertensão arterial e doença cere- Tema: Doenças oncológicas
brovascular, previamente hipocoagulado com
Varfarina por estenose carotídea esquerda de Mulher, 61 anos, com antecedentes de adeno-
50-69%. Internado pela Medicina Interna por carcinoma (ADC) gástrico submetido a gas-
sépsis com ponto de partida cutâneo. No inter- trectomia total há 20 anos, aparentemente sem
namento, dor e diminuição da força do membro recidiva desde essa data, desenvolveu lesões
inferior direito e agravamento da anemia com cutâneas mamilonadas na parede abdominal,
necessidade de transfusão de sangue. Tomo- região vulvar e membros inferiores. A anatomia
grafia computorizada abdominal mostrou co- patológica mostrou metastização cutânea de
leção/massa com 7,5 x 7 x 20 cm, com áreas ADC gástrico. Note-se, com este caso, que a
mais hiperdensas, em relação com hematoma possibilidade de recidiva tardia não deve deixar
no músculo íliopsoas. Suspensa hipocoagula- de ser equacionada, evitando assim atrasos no
ção. Manteve vigilância clínica e analítica. diagnóstico e terapêutica. Salienta-se, ainda,
que a metastização cutânea no ADC gástrico
P n.º 2209  é rara, sobretudo na ausência de metastização
Um achado invulgar prévia em órgãos internos, sendo mais comum
Joao Santos Fonseca(1);Joao Guilherme do na presença de neoplasias do pulmão, cólon,
Patrocinio(1);Paula Rocha(1);António Pais de mama ou melanomas, e constituindo frequente-
Lacerda(1) mente um sinal de mau prognóstico.
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE /
Hospital de Santa Maria P n.º 2217 
DERRAME PERICÁRDICO E HIPERTENSÃO AR-
Tema: Outro TERIAL COMO PRIMEIRA MANIFESTAÇÃO DE
ARTERITE DE TAKAYASU
Homem de 62 anos, sem antecedentes Leonor Naia(1);Adriana Pacheco(1);Diana Car-
médicos relevantes, internado para estudo valho(1);Lisa Ferraz(1);Carolina Mazela(1);Ana-
bela Gonzaga(1)
de malformação arteriovenosa cerebral.
(1) Centro Hospitalar do Baixo Vouga / Hospital
Infante D. Pedro, EPE
A radiografia de tórax apresentava imagem
compatível com extensa elevação diafrag- Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e
mática esquerda. vasculites

Para melhor caracterização anatómica, rea-


Mulher de 26 anos com HTA de novo e derrame
lizou TC que documentou volumosa hérnia pericárdico. Sem antecedentes ou medicação
diafragmática esquerda, contendo o estô- crónica. À observação, TA 190/115mmHg (di-
mago, o ângulo esplénico do cólon, o baçoferença bilateral TAS>10mmHg) e FC 106bpm.
Analiticamente, Leuc 11,7x109/L, VS 78mm, TnI
e um pequeno baço acessório, a cauda do
68pg/mL, PCR 10mg/dL e ANA(+) padrão cen-
pâncreas e algumas ansas de delgado; adi-trossoma (AC-24). À ecoscopia, derrame peri-
cionalmente observava-se desvio direito do
cárdico de 12mm. Na angio-TC parede espes-
mediastino à custa da hérnia diafragmáti-sada dos troncos supra-aórticos, estenose da
ca anteriormente descrita, a qual também artéria renal esquerda e aorta infra-renal e oclu-
condicionava atelectasia compressiva do são da artéria mesentérica superior, sugestivo
parênquima pulmonar da base esquerda. de Arterite deTakayasu (AT). O Doppler mostrou
redução de 50% da área intraluminal dos eixos
O doente negava sintomas gastroenterolo- carotídeos. Salienta-se a importância do estudo
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 447
etiológico da HTA no doente jovem. A AT é uma Os achados da TC torácica são tão caracterís-
vasculite de grandes vasos, cuja abordagem ticos, que geralmente não é necessária mais
precoce reduz o risco de complicações. investigação, como exames histológicos, para o
diagnóstico de microlitíase alveolar.
P n.º 2230 
LESÕES PARENQUIMATOSAS MÚLTIPLAS – In- P n.º 2241 
fecção, neoplasia sólida ou hematológica? Síndrome da veia cava superior por conglome-
Mariana Belo Nobre(1);Miguel Cabral Carri- rado mediastínico extenso
lho(1);Ricardo Taborda(1);Ryan Costa Silva(1);I- Anabela de Carvalho(1);Isabel Bessa(1);Cristina
nês Goulart(1);Joana Rosa Martins(1) Silva(1);Catarina Dias(1);Gabriela Pereira(1);Car-
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / los Fernandes(1);Jorge Cotter(1)
Hospital de Santa Maria (1) Hospital Senhora da Oliveira, Guimarães
Tema: Doenças oncológicas Tema: Doenças oncológicas

Mulher, 71 anos, recorreu à urgência por hemi- Homem, 72 anos, antecedentes de hi-


paresia esquerda. A RM revelou lesões nodula- pertensão arterial, ex-fumador e hábitos
res e em toalha, bilaterais, hipointensas em T1 etílicos 60g/dia, recorre ao Serviço de
e hiperintensas em T2, heterogénas, algumas
necrótico-quísticas. Sem evidência de etiologia
Urgência por tomografia computoriza-
infeciosa ou metastização de tumor extra-axial da do tórax que documentava: “lesão no
oculto. Em reunião multidisciplinar com a Neu- mediastino, provável conglomerado ade-
rocirurgia e Imagiologia, ponderou-se biópsia nopático   12.5x8.5cm, com envolvimento
estereotáxica atendendo aos achados imagio- pré-vascular, paratraqueal, subcarinal e
lógicos atípicos das lesões, colocando-se como hilar, envolvia vasos pulmonares e aorta,
principal hipótese doença linfoproliferativa. traqueia e brônquios, principalmente o
No entanto, a doente apresentou agravamento direito, condicionando diminuição do seu
clínico com hemorragia secundária a rotura de
lesão quística, tendo sido realizado exame aná-
lúmen e marcada compressão da veia
tomo-patológico post mortem que revelou glio- cava superior, podendo condicionar sín-
blastoma multicêntrico, apesar de imagiologia drome da veia cava superior”. O doente
pouco sugestiva. relatava anorexia com 1 mês de evolução
e perda ponderal de 4Kg. Apresentava tur-
P n.º 2232  gescência vascular cervical e vasculariza-
Microlitíase alveolar - uma doença intersticial ção colateral. Analiticamente com leucoci-
rara tose 12900/uL e monocitose 1800/uL. Foi
Fábia Cruz(1);Diogo Batista(2);Cátia Pereira(2);- contactado o Serviço de Cardiotorácica,
Vera Durão(2);Rita Macedo(2);Paula Pinto(2);- que dado a estabilidade, agendou biópsia
Cristina Bárbara(2) da lesão, que aguardamos resultado.
(1) Hospital Amato Lusitano (2) Centro Hospi-
talar de Lisboa Norte, EPE / Hospital de Santa
Maria P n.º 2246 
Uma apresentação tumoral “de cortar a respi-
Tema: Doenças respiratórias ração”
Fábia Cruz(1);Rita Branquinho Pinheiro(2);Rita
A microlitíase alveolar é uma doença genética Macedo(2);João Dias Cardoso(2);Francisco
rara e carateriza-se pela acumulação de depó- Freitas(2);Paula Monteiro(2);Paula Pinto(2);Cris-
sitos de fosfato de cálcio nos espaços alveola- tina Bárbara(2)
res. Na doença em estadio avançado, o trans- (1) Hospital Amato Lusitano (2) Centro Hospi-
plante do pulmão deve ser considerado. talar de Lisboa Norte, EPE / Hospital de Santa
Mulher, 62 anos, recorreu ao Serviço de Urgên- Maria
cia por dispneia, cansaço, edemas dos mem-
bros inferiores, dispneia paroxística noturna Tema: Doenças oncológicas
e ortopneia. Emagrecida, com crepitações na
auscultação pulmonar e hipocratismo digital. O carcinoma anaplásico da tiróide é raro, cons-
TC torácica: múltiplas imagens de alta densida- tituindo cerca de 2% dos tumores da tiróide e o
de em todo o parênquima pulmonar, sugestivas mais letal.
da presença de microlitíase alveolar. Mulher, 64 anos, recorreu à urgência por disfa-
gia para sólidos, “aperto na garganta”, rouqui-
448
IMAGENS EM MEDICINA
dão e expetoração hemoptóica. Identificou-se da veia cava inferior, confirmada em RM. Histolo-
massa na base do pescoço, aderente aos gicamente, tratava-se de um carcinoma de células
planos e indolor. Ecografia tiroideia: volumosa renais papilar tipo 2, um tumor particularmente raro,
lesão sólida hipoecogénea no lobo direito com sobretudo em jovens, agressivo e de pior prognósti-
extensão ao istmo, de contornos irregulares, co. Estas imagens chamam a atenção para a poten-
cial apresentação clínica subtil e da importância do
classificada EU TIRADS 5. TC torácica: metás- exame objetivo na decisão de exames complemen-
tases bilaterais. Broncoscopia rígida: remoção tares e diagnóstica.
de massa intratraqueal com alívio sintomático
imediato. Anatomia patológica: carcinoma
anaplásico da tiróide. P n.º 2279 
O carcinoma anaplásico tem crescimento rápi- Manifestação cutânea de um Linfoma não Ho-
do, sendo fundamental o diagnóstico precoce dgkin
para melhorar o seu prognóstico reservado. Francisco Adragão(1);Luís Esteves Soa-
res(1);Mauro Ivan Calhindro(1);Helena Ri-
ta(1);Luísa Arez(1)
P n.º 2260  (1) Centro Hospitalar Universitário do Algarve,
Vasculite leucocitoclástica em imagem EPE - Hospital de Portimão
Maria Pacheco(1);João Barros Rodrigues(1);I-
van Marcelo Martins Antunes(1);Ana Teresa Tema: Doenças oncológicas
Moreira(1);Adriano Cardoso(1)
(1) Unidade Local de Saúde da Guarda, EPE /
Hospital Sousa Martins Homem de 78 anos com antecedentes
de doença renal crónica no contexto de
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e nefropatia diabética, estadio IV, internado
vasculites por síndrome cardiorenal tipo 4, a condi-
cionar desenvolvimento de insuficiência
Doente de 42 anos, sexo feminino, sem anteceden- cardíaca aguda. À admissão, apresentava
tes de relevo, foi referenciada à consulta por apre- um rash cutâneo generalizado em prová-
sentar lesões petequiais purpúricas dispersas pelos
membros inferiores e ainda algumas lesões ulcerati- vel contexto de iatrogenia por alopurinol e
vas em ambas as pernas, com parestesias associa- um nódulo isolado de 3x2 cm localizado
das. Analiticamente tinha aumento dos Anticorpos no quadrante superior externo da mama
anti-nucleares, sem consumo de complemento. Foi esquerda. A histologia da biópsia cutânea
realizada biopsia cutânea, cuja histologia revelou
fenómenos de vasculite leucocitoclástica. Iniciou foi compatível com linfoma não Hodgkin
corticoterapia, com evolução favorável das lesões. B, uma apresentação rara da doença.
Por mau cumprimento terapêutico, houve agrava- Apesar do diagnóstico estabelecido e das
mento das lesões, agora com aspecto maculo-papu- medidas instituídas, o doente evoluiu des-
lar e agravamento das ulceras. Iniciou corticoterapia
em alta dose e Azatioprina, com estabilidade das
favoravelmente ao longo do internamento,
lesões e sem outra sintomatologia associada. acabando por falecer, sem nunca apresen-
tar condições para início de quimioterapia.
P n.º 2270 
O tumor do internista: quando a clínica sugere P n.º 2317 
e a imagem é categórica Púrpura Trombocitopénica Imune
Carolina Teles(1);Tiago Dias da Costa(1);Ana Dra. Sofia Sequeira(1);Ivone Valadão(1);Caro-
Borges(1);Lèlita Santos(1);Armando Carva- lina Teixeira(1);Susana Correia(1);Rita Vitori-
lho(1) no(1);Magda Sousa(1);Leonor Monjardino(1)
(1) Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (1) Hospital de Santo Espírito da Ilha Terceira
/ Hospitais da Universidade de Coimbra
Tema: Doenças hematológicas
Tema: Doenças oncológicas
Doente do sexo feminino 41 anos, com an-
Homem, 27 anos, dirigiu-se ao serviço de Urgência tecedentes de linfoma Hodgkin predomínio
por cansaço fácil e dor intermitente em pontada no linfocitário nodular estadio IIIA em 2010 e
hipocôndrio esquerdo (HCE) com 1 mês de evolu- com recaída em 2019 em remissão, recorre ao
ção, sem outros sintomas. Apresentava empasta- serviço de urgência por quadro de equimoses,
mento pulsátil no HCE. Eco-doppler abdominal reve- epistaxis, gengivorragia, petéquias no palato e
lou massa sólida no HCE com vascularização. TAC
mostrou massa heterogénea com áreas de necrose
lesões violáceas na hemilíngua direita. Ana-
partindo do rim esquerdo com 20 cm e com invasão liticamente contagem plaquetar 1x10^3/uL,
sem outras alterações. História de quadro de
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 449
vómitos, diarreia e odinofagia 3 semanas antes da mandíbula. Videolaringoscopia com  cordas
tendo cumprido ciclo de azitromicina com re- vocais e orofaringe sem alterações. TC cervi-
solução completa da sintomatologia. Durante o cal com extensa osteofitose cervical anterior,
internamento realizou transfusão de 4 pool de já objetivada em TC realizado três anos antes.
plaquetas, ciclo de corticoterapia, com melhoriaA presença de osteofitose cervical anterior é
dos sinais de discrasia hemorrágica tendo alta extremamente comum na população idosa. Em-
com contagem plaquetar de 60x10^3/uL orien- bora seja maioritariamente assintomática pode
tada para consulta de Hematologia. cursar com disfagia como descrito. De forma
extremamente rara pode ser causa de compres-
Os autores apresentam o caso pelo carácter atí- são extrínseca da traqueia e condicionar disp-
pico lesões orais. neia e estridor.

P n.º 2319  P n.º 2345 


Aeroportia como apresentação de colangite Abcesso subfrénico e infeção respiratória
Pedro Alves(1);Rute Martins(1);Melanie Claudi- Pedro sá Almeida(1);Ana Maria Carvalho(1);Rita
no(1) Magalhães(1);Marta Gomes(1);Marta Madar-
(1) CHUA Faro nas(1);Beatriz Torres(1)
(1) Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto
Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças Douro, EPE / Unidade Hospitalar de Chaves
hepáticas
Tema: Doenças respiratórias
Mulher de 83 anos encaminhada para o serviço de
urgência com dores abdominais intensas e vómitos Homem, 83 anos, autónomo. Internado em
com 1 dia de evolução. Antecedentes de diabetes
mellitus tipo II e hipertensão arterial. O estudo
01/2021 por insuficiência cardíaca descompen-
analítico revelou colestase hepática (AST 157 e sada por pneumonia direita. A radiografia torá-
ALT 120 UI/L; FA 409 UI/L) e PCR de 33 mg/L. A TC cica (Imagem 1) mostrou elevação da hemicú-
destacou dilatação das vias biliares, coledocolitíase pula diafragmática direita. Realizou ecografia
(seta vermelha) e aeroportia (setas brancas). Admi- abdominal e tomografia (TC) torácica sem
tiu-se o diagnóstico de colangite complicada com contraste, que detetaram pequena quantidade
aeroportia. É fundamental reconhecer as diferentes de líquido livre infradiafragmático. Cumpriu an-
etiologias de aeroportia, que incluem complicações tibioterapia com amoxicilina-clavulanato, azitro-
de processos inflamatórios, a fim de evitar trata- micina e piperacilina-tazobactam. Em 03/2021
mentos invasivos desnecessários. A coledocolitíase foi internado por choque séptico secundário a
é o principal factor de risco para colangite. Após abcesso intra-abdominal (8.7x12.8x3cm), dete-
antibioterapia e a colangiopancreatografia retrógra-
da endoscópica (CPRE) que permitiu a remoção do
tado em TC abdominal (Imagem 2), tendo sido
cálculo, a evolução foi favorável. submetido a drenagem percutânea e tratado
com piperacilina-tazobactam e metronidazol.
Em 06/2021 foi reavaliado, verificando-se me-
P n.º 2327  lhoria do abcesso subfrénico direito (4.6x7.6x-
Estridor de etiologia osteoarticular - a propósi- 3cm) (Imagem 3).
to de um caso clínico
Ana Catarina Pinto Carvoeiro(1);Pedro Pinto(1);-
José Diogo(1);Alexandra Esteves(1);Fernando P n.º 2356 
Correia(1);Paula Felgueiras(1);João Andra- LINFOMA DIFUSO DE GRANDES CÉLULAS B:
de(1);José Caldeiro(1) DO OLHO AO CÉREBRO
(1) Unidade Local de Saúde do Alto Minho, EPE Luciana Frade(1)
/ Hospital de Santa Luzia (1) Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE /
Hospital de S. Francisco Xavier
Tema: Doenças respiratórias
Tema: Doenças oncológicas
Homem de 85 anos,com DPOC estadio GOLD C.
História de disfagia progressiva e episódios de M, 63 anos, referenciado ao SU por diminuição
aspiração de alimentos com três anos de evo- da acuidade visual e cefaleia temporo-occipital.
lução, associados a episódios de estridor du- Internado p/ estudo,  RMN craneoencefálica:
rante intercorrências respiratórias. Admitido em volumosa massa temporal esquerda, efeito
coma no SU após novo episódio de estridor de- de massa e edema vasogénico. Submetido a
pois de uma refeição. Ao exame objetivo, cons- craniotomia temporal esquerda para biópsia e
tatado estridor de características posicionais, exérese de lesão ocupando espaço. Apurando-
com resolução do mesmo com a subluxação -se Linfoma difuso de grandes células B, subti-

450
IMAGENS EM MEDICINA
po B centro germinativo. Realizou Tomografia e desorientação com 3 dias de evolução, sem
de Coerência Óptica e biópsia vítrea: infiltrados outros sintomas acompanhantes. Aquando da
subrretinianos suspeitos de doença linfoproli- avaliação da pressão arterial com braçadeira
ferativa e patologia com: Linfoma não-Hodgkin umeral, objectivado sinal de Trousseau. Gasi-
B, realizada exérese da lesão do olho esquerdo. metria com acidose metabólica e hipocalcemia
Nova RMN CE s/ infiltração do sistema nervoso grave (cálcio ionizado 0,4mmol/L). Analitica-
central e TC TAP sem alterações Iniciou Ritu- mente, a destacar défice de vitamina D (4,8ng/
ximab  e Metotrexato e intravítreo. Remissão mL). Fez ainda TC-CE, sem alterações. Iniciou
1 ano e 1 mês. Admitido no SU por alteração perfusão de gluconato de cálcio e reposição de
do estado de consciência, realizada RMN CE: vitamina D com normalização da calcemia.
disseminação de linfoma primário do sistema
nervoso central de novo. A hipocalcemia apresenta um largo espectro
de manifestações. A tetania é característica da
P n.º 2363  hipocalcemia aguda, podendo a irritabilidade
Língua Geográfica – uma patologia benigna neuromuscular ser marcada, com evidência de
com aparência alarmante espasmo carpal e, em casos mais graves, cri-
Sérgio m. Pereira(1);Fábio Emídio(2);Ana Lopes ses convulsivas.
Santos(1);Isabel Galriça Neto(3)
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE P n.º 2392 
/ Hospital Egas Moniz (2) Centro Hospitalar do POCUS, transversalidade num SU de medicina
Algarve, EPE / Hospital de Faro (3) Hospital da interna
Luz Lisboa André Santos(1);Rita Soares(2);Adriano Pache-
co Mendes(3);Inês Egidio de Sousa(4);Margari-
Tema: Medicina geriátrica da Monteiro(5);Tiago Valente(6);Tiago Fiuza(7);-
José Mariz(8)
Mulher 86 anos, com antecedentes de esqui- (1) Hospital de São Teotónio, E.P.E. - Viseu (2)
zofrenia e síndrome demencial é internada por Centro Hospitalar Tondela-Viseu, EPE / Hospital
uma pielonefrite aguda não complicada. Na ad- de São Teotónio, EPE (3) Unidade Local de Saú-
missão são objetivadas várias lesões maculoe- de do Norte Alentejano - Hospital de Portalegre
ritematosas no dorso da língua, lesões essas (4) Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE
assintomáticas.  Ao longo do internamento com / Hospital de S. Francisco Xavier (5) Hospital
remissão e recrudescimento das lesões noutras Prof. Doutor Fernando Fonseca (6) Hospital
localizações. A glossite migratória benigna ou Aveiro (7) Hospital Litoral Alentejano (8) Hospi-
língua geográfica, caracteriza-se por um quadro tal de Braga
inflamatório de etiologia desconhecida, no qual Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente
os contextos infeciosos, iatrogénicos ou fatores crítico
stressantes podem potenciar o seu apareci-
mento. O eritema local com perda de papilas fi-
liformes circundado por bordos esbranquiçados Homem de 82 anos, institucionalizado, algalia-
e o caracter migratório das lesões caracteriza a do crónico, enviado ao Serviço de Urgência (SU)
sua apresentação, sendo que o seu diagnostico por impossibilidade de substituição de algália
é clínico. Não está recomendada nenhuma tera- por disfunção do cuff. À nossa observação,
pêutica dirigida dado o seu caracter benigno e a algalia cortada 2 cm distalmente ao meato uri-
ausência de sintomas na maioria dos casos. nário, não exteriorizável. Realizada ecografia à
cabeceira do doente, verificou-se bexiga vazia,
com balão de algália repleto e normoposicio-
P n.º 2378 
nado. Decidiu-se realizar punção suprapúbica
SINAL DE TROUSSEAU - A SUBTILEZA DO ecoguiada, com perfuração do balão de algália
EXAME OBJECTIVO e sua exteriorização, sem intercorrências. Tra-
Vanessa Leite(1);Andreia Nunes(1);Pedro Bei- ta-se de uma situação frequente em doentes
rão(1) cronicamente algaliados com sonda foley com
(1) Hospital Garcia de Orta, EPE balão instilado com soro fisiológico em vez de
Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nu- água bidestilada. O domínio da ultrassonografia
tricionais pelo médico do SU permitiu a realização segura
da técnica descrita, agilizando o fluxo do doen-
te no SU que noutra situação, teria que aguar-
Homem, 86 anos, com antecedentes de hi- dar observação por urologia no dia seguinte.  
pertensão arterial, diabetes mellitus tipo 2 e
dislipidemia. Trazido à urgência por prostação
P n.º 2407 

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 451


Arterite De Células Gigantes - A Imagem Por Doença de Fahr: um diagnóstico a considerar
Detrás De Uma Dor Abdominal João da Costa Oliveira(1);Inês Pintor(1);José
Jorge Alves Correia(1);Margarida Nascimen- Miguel Martins(1);João Faia(1);Flávio Perei-
to(1);Bernardo Baptista(1);Bebiana Gonçal- ra(1);Joana Neves(1);Susana Cavadas(1);Bea-
ves(1);Bruno Martins(1);Cristina Pinto(1);Cristi- triz Pinheiro(1)
na Lowental(1);Alexandra Bayão Horta(1) (1) Centro Hospitalar do Baixo Vouga / Hospital
(1) Hospital da Luz Lisboa Infante D. Pedro, EPE
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológi-
vasculites cas

A arterite de células gigantes (ACG) é uma vas- Homem de 45 anos, enviado ao serviço de urgência
culite de grandes vasos que acomete maiorita- por síncope não presenciada, sem pródromos. Apre-
riamente artérias com origem no arco aórtico sentava ECG sem alterações; hemograma e bioquí-
e ramos extracranianos das artérias carótidas. mica sérica com cálcio, fósforo e PTH normais. A
Mulher de 69 anos, internada por epigastralgia, TC CE revelou exuberantes calcificações dispersas
nos centros semiovais, coroas radiadas, gânglios
anorexia, perda ponderal e febre vespertina com da base, tálamos e núcleos dentados do cerebelo.
2 meses de evolução, com parâmetros inflama- A Doença de Fahr é um distúrbio neurológico dege-
tórios aumentados e anemia com padrão infla- nerativo raro, incurável, caraterizado por depósitos
matório. Após extensa investigação etiológica anormais de cálcio nos gânglios da base e córtex
sem alterações relevantes, foi realizada PET-CT cerebral, com perda da sua massa celular. A síndro-
18F-FDG que documentou hipercaptação pato- me afeta adultos jovens, pode ser esporádica ou
lógica do radiofármaco em toda a extensão da hereditária; tem etiologia variável, frequentemente
aorta, tronco braquio-cefálico, artérias subclá- relacionada com distúrbios endócrinos e manifesta-
vias, umerais, carótidas internas, ilíacas e femo- -se com sintomas neuropsiquiátricos.
rais, confirmando o diagnóstico de ACG. Iniciou
corticoterapia com consequente remissão clíni- P n.º 2460 
ca e laboratorial. HIPEROSTOSE ESQUELÉTICA IDEOPÁTICA DI-
FUSA – UMA IMAGEM RARA
P n.º 2432  Marcelo Neto(1);Joana Alves Duarte(1);Sara
Síndrome de Lemierre: uma condição rara e Leitão(1);Rui m. Santos(1);Armando Carvalho(1)
esquecida (1) Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra
Ana Pais Monteiro(1);Márcia Cravo(1);Tânia / Hospitais da Universidade de Coimbra
Araújo Ferreira(1);João Pinheiro de Amorim(1);-
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e
Catarina Mendonça(1);João Correia(1)
vasculites
(1) Centro Hospitalar do Porto, EPE / Hospital
Geral de Santo António
Homem, 79 anos, admitido por dor e limitação da
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias mobilidade da coluna com anos de evolução. Radio-
grafias da coluna com alterações degenerativas, cal-
cificação de tecidos moles, sobretudo do ligamento
Homem de 27 anos com quadro de amigdalite vertebral anterior a nível cervical, entesófito na
aguda com uma semana de evolução, apre- inserção do ligamento da nuca em C6 e projeções
senta dor e edema da face e pescoço à direita, ósseas longitudinais entre L2-L4. Considerada hipe-
tosse e dispneia. Objetivamente apresentava rostose esquelética idiopática difusa, caraterizada
trismus e sinais inflamatórios locais. Evoluiu por calcificação de enteses e ligamentos. Qualquer
rapidamente com sépsis grave com disfunção região do esqueleto pode estar envolvida, mas as
multiorgânica. Tomografia revela extensa trom- alterações são mais comuns na coluna, com exos-
bose da veia retromandibular e jugular externa toses projetadas verticalmente, formando “pontes”
direitas, múltiplos nódulos pulmonares periféri- entre corpos vertebrais – obrigatório para o diag-
cos, dispersos bilateralmente traduzindo êmbo- nóstico. A reabilitação física pode ter papel na pre-
servação da mobilidade e alívio da dor.
los sépticos, a favor de Síndrome de Lemiérre.
Esta síndrome rara é caracterizada por trom-
bose da veia jugular interna, frequentemente P n.º 2476 
associada a embolia séptica pulmonar. Nesta Um caso de cisticercose muscular
imagem, apresenta-se uma variante com trom- Daniela Filipa Gomes Soares(1);Joana Sequei-
bose em localização atípica. ra(1)
(1) Centro Hospitalar de Entre Douro e Vouga,
EPE / Hospital de S. Sebastião
P n.º 2448 

452
IMAGENS EM MEDICINA
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias acidente vascular cerebral isquémico. Doen-
te de género masculino com 77 anos que se
Género masculino, 85 anos, internado numa apresentou no serviço de urgência com hemi-
enfermaria de medicina interna por infeção paresia esquerda de predomínio braquial, com
SARS-CoV2, realizou radiografia dos membros evidência de lesões isquémicas bilaterais na
inferiores por queixas de mialgias inespecíficas. tomografia computorizada craniencefálica. Pos-
Nas imagens foi possível visualizar imagens teriormente foi identificado no ecocardiograma
radiopacas compatíveis com larvas de Taenia transtorácico e confirmado no ecocardiograma
solium. O doente teria tido diagnóstico de cisti- transesofágico, uma massa se´ssil, com dimen-
cercose muscular em 2020, já tendo realizado sa~o ma´xima 21x14mm. Na ressonância mag-
anti-parasitário (Praziquantel 50 mg/kg/dia por nética cardíaca (Imagem 1 a 3), a massa tinha
3 semanas). A cisticercose é a infeção causada características sugestivas de mixoma auricular
pelas larvas de Taenia solium após a ingestão esquerdo com componente de trombo predomi-
de carne de porco contaminado, mal cozinhada. nante, confirmada na histologia.

P n.º 2498  P n.º 2511 


Fibrose Pulmonar pós SARS-CoV-2: eficácia OLHOS DE GUAXINIM SEM FRATURA EVIDEN-
terapêutica com glucocorticoides TE
Pedro Fernandes(1);ANTONIO GRILO NOVAIS(1) Sara Tereso(1);Catarina Câmara(1);Laura Perei-
(1) Centro Hospitalar Tondela-Viseu, EPE / Hos- ra(2);Carlos Machado e Costa(1)
pital de São Teotónio, EPE (1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE /
Hospital de Santa Maria (2) Hospital de Vila
Tema: Doenças respiratórias Franca de Xira
Tema: Outro
A fibrose pulmonar é uma complicação em
doentes com pneumonia SARS-CoV-2, com
morbimortalidade significativa. Constituem fa- Mulher de 96 anos, recorreu ao SU por trombo-
tores de risco a idade avançada, a gravidade da se venosa profunda poplítea-femoral-ilíaca a
doença, a necessidade de ventilação invasiva, cumprir no domicílio enoxaparina, apresentado
hábitos tabágicos e etílicos. O tratamento é ain- uma queda do sofá para o chão.  Na admissão
da tema de debate, considerando-se o uso de apresentava olhos de guaxinim, hematomas
antifibróticos, glucocorticoides e/ou antivíricos. visíveis em redor dos olhos, não dolorosos,
sem hemotímpano ou equimose pós auricular.
Efetuou-se tomografia computorizada crânio
Apresentamos o caso de uma mulher dia- encefálica, excluindo lesões cerebrais ou fratu-
bética de 72 anos, internada por pneumonia ras calote ou base do crânio, telerradiografia da
SARS-CoV2 com necessidade de ventilação face e dos ossos próprios do nariz excluiu fratu-
não invasiva durante 6 dias. Faz novo RxTórax ra, que são as causas mais frequentes. Excluiu
com extenso infiltrado bilateral e Angio-TC que se durante o internamento amiloidose, mieloma
confirmou extensa fibrose bilateral e excluiu múltiplo, linfoma, sarcoma de kaposi ou causa
tromboembolia pulmonar. Cumpriu pulsos de alérgica.  Interpretando se o seu surgimento no
metilprednisolona com evolução muito favorá- contexto da enoxaparina que sofreu ajuste para
vel, tendo como complicação apenas hipergli- apixabano. Os olhos de guaxinim tendem a não
cemias secundárias ao corticóide. precisar de tratamento e a desaparecer como
se verificou ao longo do internamento.
P n.º 2500 
Mixoma auricular incidentaloma no estudo da P n.º 2519 
etiologia de acidente vascular cerebral LESÃO UMERAL EXUBERANTE COMO FORMA
Gonçalo Pires Cristóvão(1);Marcel Guerrei- DE APRESENTAÇÃO DE MIELOMA MÚLTIPLO
ro(1);Melissa Fernandes(1);Mariana Popovi- Catarina Lopes Silva(1);João Pedro Araú-
ci(1);Sara Castro(1);Eunice Patarata(1);Claudia jo(1);Marta Serejo Portugal(1);Ana Paula Vi-
Mihon(1);Heidi Gruner(1);António Panarra(1) las(1)
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Central - Hospi- (1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE /
tal Curry Cabral Hospital de Santa Maria
Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológi- Tema: Doenças hematológicas
cas
Homem, 77 anos, com hipertensão arterial, que
O Mixoma auricular é uma causa muito rara de
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 453
recorreu ao Serviço de Urgência por dor intensa nica de síncopes de repetição sem estímulo de-
no braço direito com 3 dias de evolução, tendo sencadeante identificado. O estudo inicial foi in-
ainda lombalgia de caráter inflamatório desde conclusivo, excluindo-se hipotensão ortostática,
3 semanas antes. No Rx do braço direito, lesão causa cardíaca ou tromboembolismo pulmonar.
lítica ocupando a quase totalidade do diâmetro Realizou angio-TAC cervical que objetivou a
umeral (fig.1). Na TC-tóraco-abdominal, múl- presença de uma massa hipervascularizada em
tiplas lesões líticas (úmero direito, omoplata relação com a bifurcação carotídea esquerda
esquerda, vários arcos costais, coluna vertebral com cerca de 3.5x2cm de maiores diâmetros.
e bacia), algumas com componente de tecidos Este achado foi compatível com o diagnóstico
moles (Fig.2). Laboratorialmente, Hb 12.5gr/ de paraganglioma do corpo carotídeo esquerdo
dL, ureia 86mg/dL, creatinina 1.3mg/dL, cálcio Shamblin grupo II, associado a sintomatologia
10.6mg/dL e eletroforese de proteínas com pi- no contexto de hipersensibilidade do seio ca-
cos β2 e gama. Diagnostada gamapatia mono- rotídeo. A doente efetuou ressecção cirúrgica
clonal IgAλ, com o mielograma apenas com 4% com sucesso e sem recorrência de episódios
de plasmócitos. Assumido mieloma múltiplo, de síncope desde então.
iniciou CyBorD (ciclofosfamida, bortezomib e
dexametasona) e radioterapia sobre as lesões
do úmero direito e coluna, com franca melhoria P n.º 2535 
da dor. Compressão da via aérea por neoplasia do esó-
fago
Carina Ramalho(1);Mariana Almeida(1);Fran-
P n.º 2521  cisco Gomes(1);Bruno Bonito(1);Joana Cartu-
Uma causa pouco frequente de hidropneumo- xo(1);Sílvia Rodrigues(1);Martinho Fernandes(1)
tórax espontâneo secundário (1) Centro Hospitalar Barreiro/Montijo, EPE /
Inês Nabais(1);Francisco Pulido Adragão(2);Nu- Hospital Nossa Senhora do Rosário
no Saraiva de Melo(1);Diogo Cruz(1)
(1) HPP Hospital de Cascais (2) Centro Hospi- Tema: Doenças oncológicas
talar Universitário do Algarve, EPE - Hospital de
Portimão Resumo: Homem de 72 anos, com antece-
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias dentes de hábitos tabágicos que suspendeu
há 15 anos. Recorreu ao SU por queixas de
disfagia para sólidos e progressivamente para
Homem de 55 anos, com história de infecção a VIH-1,
com início de terapêutica antiretroviral em 2010, mas
liquidos até ausência total de via oral. Realizou
com múltiplas interrupções da terapêutica, internado por TC-tórax que mostrou uma lesão cervical com
pneumonia a Pneumocistis jirovecii (PPJ). No 14º dia de 47x70x56mm, com extensão antero-lateral es-
internamento, apresentou hipotensão, agravamento da querda e efeito de massa sobre a traqueia cer-
toracalgia pleurítica, dispneia e dessaturação periférica. vical, desviada para a direita e sobre a tiroide
O radiograma de tórax revelou derrame pleural à esquer-
da e hidropneumotórax à direita de novo, confirmado por
desviando o seu lobo esquerdo anteriormente.
tomografia computorizada. Colocado dreno torácico,  A massa contactava ainda a artéria carótida pri-
sem intercorrências, que manteve durante 3 dias. mitiva esquerda num arco de aproximadamente
270 graus e obliteração total do lúmen esofági-
O pneumotórax espontâneo secundário resulta de uma co do segmento cervical. Foi feito estudo com
complicação de doença pulmonar subjacente, nomeada- biópsia que mostrou carcioma pavimentoce-
mente, DPOC e tuberculose, entre outras. O pneumotórax lular invasivo e foi feito estadiamento que não
complicando a PPJ é pouco frequente, ocorrendo em 5 a revelou lesões secundárias. Foi colocada PEG
10% dos casos, sendo ainda mais rara a presença de der-
rame pleural e/ou hidropneumotórax.
para alimentação e o doente foi encaminhado
para consulta de Oncologia onde foi admitido
P n.º 2525  como doente paliativo.
Síncope: um caso raro
Ana Raquel Afonso(1);Daniela Santos Bento(1);- P n.º 2546 
Catarina Sousa Alves(1);José Luís Sousa(1);Re- A CONSEQUÊNCIA IMPREVISÍVEL DE UMA
nata Violante Silva(1);Fernando Salvador(1) REAÇÃO ALÉRGICA!
(1) Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Bárbara Palos Saraiva(1);Ivanna Ostapiuk(1);-
Douro, EPE / Hospital de Vila Real Jessica Fidalgo(1);Franscisco Lopes Morga-
do(1);Orlando Mendes(1);Celestina Blanco Tor-
Tema: Doenças raras res(1);João s. Correia(1)
(1) Unidade Local de Saúde da Guarda, EPE /
A imagem pertence a uma mulher de 69 anos, Hospital Sousa Martins
com antecedentes de hipertensão arterial e clí-
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e
454
IMAGENS EM MEDICINA
vasculites geniu Gisca(1);Joana Lopes(1)
(1) Hospital Garcia de Orta, EPE
Tofos gotosos exuberantes no cotovelo de um Tema: Doenças oncológicas
homem caucasiano de 40 anos de idade, com
hábitos alcoólicos moderados, com queixas de
monoartrite recorrente desde há aproximada- Doente de 77 anos, com adenocarcinoma do
mente 10 anos. Foi medicado inicialmente com cólon sigmoideu há 16 anos, apresentou-se em
alopurinol pelo seu médico assistente mas foi consulta com agravamento do estado geral em
suspenso após erupção cutânea marcada. O cerca de 5 meses, anemia, caquexia, perda pon-
doente foi medicado apenas com colchicine deral, anorexia e obstipação. O exame objetivo
nas crises. Há cerca de 3 anos surgiram tofos revelou massa pétrea com extensão da fossa
nos cotovelos, mãos, nariz, joelho e pé com ilíaca direita ao flanco direito, indolor. Internada
múltiplas deformações. Os tofos dos cotovelos, para estudo de quadro consumptivo, realizou
muito exuberantes, observáveis nas imagens, tomografia computorizada toraco-abdomino-
com o seu aspecto em céu estrelado, moti- -pélvica (1), denotando volumosa lesão expan-
varam o encaminhamento para a consulta de siva envolvendo os dois terços inferiores do rim
Medicina Interna. Estes tofos limitam a sua vida direito, trombose tumoral com extensão à veia
diária pois causam diminuição da amplitude de cava inferior, sem evidência de adenopatias ou
movimento articular e têm grande implicação metástases. Submetida a nefrectomia radical e
estética, pelo que foram propostos para excisão trombectomia, sem intercorrências de relevo (2
cirúrgica. e 3). A histologia revelou carcinoma de células
renais de células claras, grau 4, pT3a, de 16cm.
Mantém seguimento, com melhoria franca do
P n.º 2555  estado geral, sem evidência de progressão da
A propósito de uma convulsão – será menin- doença.
gioma?
Cátia Faria(1);Flávia Santos(1);Diana Mou-
ra(1);Maria Jesus Banza(1) P n.º 2572 
(1) Centro Hospitalar de Leiria / Hospital de Policitémia secundária a Hemangioblastoma
Santo André Cerebeloso
António Mesquita(1);Pedro Caiado Ferreira(1);-
Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológi- Miguel João Pinheiro(1);Marta Carvalho(1);-
cas Francisca Martins(1);Miguel Nunes(1);Miguel
Martins(1);Márcia Pereira(1);Madalena Lo-
Apresenta-se o caso de um homem de 51 anos, bão(1);Maria Amaral(1);Joana Ferrão(1);Sara
trabalhador na construção civil com antece- Marote(1);Catarina Patrício(1);Vítor Brotas(1);E-
dentes de hipertensão arterial e úlcera gástrica, duardo Silva(1)
medicado cronicamente com enalapril e sem (1) Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE /
alergias medicamentosas conhecidas. Admiti- Hospital de Santo António dos Capuchos
do no serviço de urgência por crise convulsiva Tema: Doenças oncológicas
tónico-clónica generalizada, presenciada no
local de trabalho, sem perda de continência de
esfíncteres. Na admissão encontrava-se cons- Introdução: Homem de 59 anos internado para estu-
ciente, colaborante e orientado, sem défices ao do de lesão intra-axial hemisférica cerebelosa direi-
ta (Figura 1-3). Nos 3 meses anteriores, apresentou
exame neurológico sumário. Realizou TC-CE valores de hemoglobina (Hb) persistentemente
sem contraste que mostrou uma volumosa le- superiores a 17g/dl e hematócrito (Htc) superior a
são expansiva calcificada frontoparietal media- 50%. Realizou exérese da lesão com diagnóstico
na e paramediana alta com cerca de 57x71mm anatomopatológico de Hemangioblastoma. Desde
com edema vasogénico associado. Destaca-se então, verificou-se resolução da Policitémia com
esta imagem pela exuberante massa calcifica- valores de Hb inferiores a 15g/dl e Htc inferiores
da sem sintomatologia prévia a este episódio. a 45%. A policitémia paraneoplásica é uma causa
Salienta-se a importância do estudo subse- secundária bem documentada. Um dos tumores
quente que revelou tratar-se de um meningioma mais frequentemente associados é o Hemangio-
em ressonância magnética. blastoma, um tumor do sistema nervoso central de
crescimento lento. O caso apresentado é ilustrativo
da importância de considerar doença oncológica no
P n.º 2563  diagnóstico diferencial dos doentes que se apresen-
Massa Abdominal 16cm: Carcinoma de Células tam com policitémia.
Renais de Células Claras
Mariana Santiago(1);Alexandre Macedo(1);Eu- P n.º 2574 

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 455


Afinal a Diabetes (também) dói pital de Santo António dos Capuchos
Ana Rita Rocha(1);Catarins Pinto Mar-
ques(1);Margarida Lopes(1);José Vaz(1) Tema: Doenças oncológicas
(1) Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo,
EPE / Hospital José Joaquim Fernandes Introdução: Mulher de 79 anos recorreu ao Serviço
de Urgência (SU) por lombalgia com 2 meses de
Tema: Doenças raras evolução. Referia tumefacção da mama direita e
perda de peso.  Ao exame objectivo, apresentava
nódulo duro da mama direita, inversão mamilar e
Homem de 59 anos, diabético tipo 2 com nefropa-
adenopatia axilar direita, sem outras alterações. A
tia diabética, admitido por prurido generalizado de
radiografia da coluna lombar demonstrou ausência
agravamento progressivo na semana pregressa.
do pedículo direito do corpo vertebral da 4ª vértebra
Apresentava inúmeras lesões eritematodescama-
lombar (L4), compatível com “Winking Owl Sign”
tivas dolorosas e pruriginosas, com atingimento
(WOS) (Figura 1). Tomografia computadorizada da
do couro cabeludo, zona genital, região palmar e
coluna revelou múltiplas metástases ósseas, con-
plantar. Analiticamente destacava-se Cr 3,66mg/dL,
firmando a lesão de L4 (Figura 2). O WOS descreve
hipercaliémia (5,9mmol/L), VS 72 mm/h e HbA1c
o aspecto da coluna vertebral quando um pedículo
9,8%. Todo o estudo, incluindo histológico, permitiu
está ausente, frequentemente devido a metastiza-
concluir tratar-se de Psoríase Gutata, uma forma
ção óssea.  Considerando a prevalência das queixas
rara de psoríase (<30% dos doentes com psoría-
de lombalgia no SU, é fundamental o reconhecimen-
se desenvolvem este tipo) despoletada pelo mau
to deste sinal radiológico.
controlo metabólico. Sob corticoterapia e betadine
dérmico, para além do controlo metabólico, assistiu-
-se a uma evolução favorável, sem recorrências ou P n.º 2596 
cronicidade das lesões cutâneas. A TOUCH OF SALT AND PEPPER
Marcel Guerreiro(1);Gonçalo Cristóvão(1);Melis-
sa Fernandes(1);Mariana Popovici(1);Sara Cas-
P n.º 2575 
tro(1);Eunice Patarata(1);Claudia Mihon(1);Heidi
Atenção à dermatose neutrofílica
Gruner(1);António Panarra(1)
Carolina Car Palma(1);Mário Parreira(2);Inês Costa
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Central - Hospital
Santos(2);Ricardo Pereira(1);Emily González(1);Bea-
Curry Cabral
triz Navarro(1);Ermelinda Pedroso(1)
(1) Centro Hospitalar de Setúbal, EPE / Hospital de Tema: Doenças hematológicas
São Bernardo (2) Hospital São Bernardo
Tema: Outro Doente do sexo feminino, 86 anos, frágil com vários
factores de risco cardiovascular, polimedicada inter-
nada por quadro de 2 dias de evolução de cansaço,
A dermatose neutrofílica caracteriza-se por lesões
dispneia e febre. Analiticamente Hb 8.9 g/dl VS 74
eritematosas edemaciadas frequentemente no
mm/h, com pico monoclonal e na imunofixação
dorso da mão ou dedos; sintomas como febre, ar-
cadeias leves livres kappa. A radiografia da calote
tralgias ou mialgias podem estar presentes. Está
craniana e do esqueleto documentaram lesões líti-
associada a patologia infecciosa, autoimune (doen-
cas secundárias caracterizadas por imagens areo-
ça inflamatória intestinal) ou neoplásica, nomeada-
lares translúcidas múltiplas e dispersas. Admitiu-se
mente do foro hematológico. Mulher 56 anos sem
mieloma múltiplo Kappa presumptivo, optando-se
antecedentes pessoais relevantes, vem à consulta
por não encarniçamento terapêutico, tendo iniciado
por pancitopenia. Desde há dois meses eritema e
prednisolona.
edema do 5º dedo da mão direita. Esfregaço de san-
gue periférico sem alterações sem blastos. Serolo-
gias virais e autoimunidade negativa. O mielograma P n.º 2597 
revelou 44% de blastos, compatível com leucemia Os incontáveis efeitos da pandemia: TEP como 1ª
mieloide aguda. O reconhecimento da dermatose manifestação de um lipossarcoma retroperitoneal
neutrofílica permitiu um bom diagnóstico diferencial Eugeniu Gisca(1);Mariana i. Santiago(1);Joana c.
e acelerou a marcha diagnóstica. Lopes(1);Mário c. Amaro(1)
(1) HOSP GARCIA DE ORTA
P n.º 2592  Tema: Doenças raras
“Winking Owl Sign” – um sinal de alarme no doente
com lombalgia
António Mesquita(1);Ekaterina Kucheruk(1);Pedro Introdução: Mulher de 68 anos, antecedentes de hi-
Caiado Ferreira(1);Miguel João Pinheiro(1);Marta pertensão arterial. Internada por tromboembolismo
Carvalho(1);Francisca Martins(1);Miguel Nunes(1);- pulmonar bilateral de alto risco (apresentação inicial
Miguel Martins(1);Márcia Pereira(1);Madalena com palpitações). Exame físico revelou massa ab-
Lobão(1);Joana Ferrão(1);Maria Amaral(1);Sara Ma- dominal palpável em todos os quadrantes centrais
rote(1);Catarina Patrício(1);Vítor Brotas(1);Eduardo e esquerdos, indolor, de consistência dura. Investi-
Silva(1) gação etiológica revelou, em RM-Abdómino-Pélvica,
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE / Hos- volumosa massa compatível com lipossarcoma

456
IMAGENS EM MEDICINA
retroperitoneal (40 cm x 22 cm x 28 cm), acentua- sugere doença coronária grave e obriga a estratégia
damente vascularizado, condicionando efeito de invasiva emergente. Foi realizada coronariografia
massa e desvio das estruturas abdominais e acha- emergente que revelou estenose 99% do Tronco
dos sugestivos de metastização hepática. Após Comum (lesão crítica) tendo sido submetido, no
anamnese cuidada, a doente menciona aumento do próprio dia, a revascularização cirúrgica. Este caso
volume abdominal com 5 meses de evolução, não demonstra a importância vital do reconhecimento
tendo recorrido aos cuidados de saúde por receio de padrões electrocardiográficos equivalentes a
de infecção SARS COV2.  SCA com supra-desnivelamento do segmento ST ou
“STEMI equivalents”.
P n.º 2601 
Sinal de Palla num doente com Embolia Pulmonar P n.º 2611 
Aguda Lobo Ázigos: uma sombra que engana
António Mesquita(1);Ekaterina Kucheruk(1);Pedro Carolina Cadório(1);Alexandra Pousinha(1);Diana
Caiado Ferreira(1);Miguel João Pinheiro(1);Marta Falcão(1);João Barreira(1);José Barata(1)
Carvalho(1);Francisca Martins(1);Miguel Nunes(1);- (1) Hospital de Vila Franca de Xira
Miguel Martins(1);Márcia Pereira(1);Madalena Lo-
bão(1);Catarina Patrício(1);Vítor Brotas(1);Eduardo Tema: Outro
Silva(1)
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE / Hos- O Lobo ázigos é uma variante anatómica rara do
pital de Santo António dos Capuchos lobo pulmonar superior direito, não totalmente sepa-
rado. Esta entidade pode levar a falsos diagnósticos
Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente crí- como abcesso, massa pulmonar ou bolha enfisema-
tico tosa, sendo importante integrar como diagnóstico
diferencial. As imagens apresentadas pelos autores
Introdução: Um homem de 63 anos recorreu ao ser- tratam-se de um achado incidental, corresponde a
viço de urgência por dor torácica pleurítica à direita, uma mulher de 85 anos internada por dor epigástri-
com 2 dias de evolução. Das análises destacavam- ca e quadro consumptivo com 6 meses de evolução,
-se Ddímeros de 1597 ug/ml. A radiografia torácica sem sintomas respiratórios.
revelou ingurgitamento do ramo lobar inferior da
artéria pulmonar direita, sugestivo do sinal de Palla O reconhecimento desta variante pode ser impor-
(Figura 1). A Angio-Tomografia Computadorizada tante uma vez que estão descritos casos que asso-
(Angio-Tc) do Tórax confirmou Tromboembolismo ciam o lobo ázigos a pneumotóraces espontâneos,
Pulmonar (TEP), com trombo ramo arterial lobar hemoptises recorrentes assim como incidência au-
inferior à direita (Figura 2 e 3). Descrito por António mentada de aneurisma da veia ázigos.
Palla em 1983, o sinal homónimo descreve o alar-
gamento do ramo descendente da artéria pulmonar
direita. Embora pouco comum, é um dos sinais ra- P n.º 2617 
diográficos de TEP que deveremos procurar e valo- Síndrome de Wellens – uma questão de Tempo
rizar quando confrontados com a decisão de pedir, António Mesquita(1);Pedro Caiado Ferreira(1);Mi-
ou não, a Angio-Tc. guel João Pinheiro(1);Marta Carvalho(1);Francisca
Martins(1);Miguel Nunes(1);Miguel Martins(1);Már-
cia Pereira(1);Madalena Lobão(1);Catarina Patrí-
P n.º 2606  cio(1);Eduardo Silva(1)
“aVR” – A derivação esquecida (1) Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE / Hos-
António Mesquita(1);Pedro Caiado Ferreira(1);Mi- pital de Santo António dos Capuchos
guel João Pinheiro(1);Marta Carvalho(1);Francisca
Martins(1);Miguel Nunes(1);Miguel Martins(1);Már- Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente crí-
cia Pereira(1);Madalena Lobão(1);Catarina Patrí- tico
cio(1);Augusto Ribeirinho(1);Vítor Brotas(1);Eduardo
Silva(1)
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE / Hos- Introdução: Homem de 53 anos recorreu ao serviço
pital de Santo António dos Capuchos de urgência (SU) por dor precordial opressiva com
8 horas de duração. Analiticamente com elevação
Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente crí- ligeira da troponina. Electrocardiograma revelou in-
tico versão profunda das ondas T em V2-V3 compatível
com padrão de Wellens (Figura 1). A Coronariografia
confirmou estenose grave da artéria Descendente
Introdução: Homem de 65 anos internado por Sín- Anterior esquerda (DAE), submetida a revasculari-
drome Coronário Agudo (SCA) sem supra-desni- zação com stent revestido. A Síndrome de Wellens
velamento do segmento ST, para coronariografia (SW) é um padrão de ondas T bifásicas ou negati-
electiva. A revisão do electrocardiograma feito no vas, profundas, em V2 e V3, altamento específico
serviço de urgência revelou supra-desnivelamento para estenose crítica da DAE. Os doentes com SW
do segmento ST em aVR e infra-desnivelamento do têm elevado risco de enfarte extenso da parede
segmento ST nas derivações precordiais (Figura anterior, existindo indicação para coronariografia
1). Este padrão electrocardiográfico, bem descrito, urgente.

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 457


P n.º 2620  Tema: Doenças raras
Escrófula versus neoplasia: diagnósticos diferen-
ciais de uma massa cervical Mulher 34 anos, sem antecedentes relevantes à
Rita Antunes Santos(1);Ana Sousa Lopes(1);Samuel exceção de múltiplas fraturas ósseas (nariz, meta-
Fonseca(1) tarso direito e punho direito) com traumatismos mi-
(1) Centro Hospitalar de Entre Douro e Vouga, EPE / nor desde os 12 anos. Associadamente com baixa
Hospital de S. Sebastião estatura. Ao acompanhar a mãe a uma consulta de
Tema: Doenças oncológicas otorrinolaringologia por esta apresentar défice au-
ditivo, foi observado que tanto a doente, com a mãe
apresentavam as escleróticas de cor azul (imagem),
CASO CLÍNICO: pelo que foram encaminhadas para a consulta de
doenças hereditárias do metabolismo. A cor azul
Doente com história de tuberculose pulmonar, há- das escleras da mãe e da filha associada a história
bitos tabágicos e alcoólicos abusivos. Tumefação pregressa de fraturas ósseas com início em idade
cervical lateral direita de crescimento rápido, com jovem levou de imediato à suspeita de osteogénese
3 meses de evolução, associado a perda ponderal. imperfeita que se veio a confirmar com teste ge-
Tomografia Computorizada do pescoço a descre- nético em ambas. Apesar de ser considerada uma
ver conglomerado adenopático (eixo máximo >100 doença rara, o seu diagnóstico precoce tem implica-
mm); sem lesões suspeitas na tomografia toraco-ab- ções não só terapêuticas, mas também na melhoria
domino-pélvica. Sem evidência de neoformações na da qualidade de vida.
nasofaringe ou laringe na nasofibroscopia. Punção
aspirativa de uma das adenopatias, com pesquisa P n.º 2630 
de bacilos álcool-ácido resistentes e ácido desoxirri- Onde anda a minha dentadura?
bonucleico do Mycobacterium Tuberculosis negativa. Sofia Mateus(1);Miguel Paulo Oliveira Miranda de
Biópsia com análise histológica a mostrar carcino- Sousa Leite(1);Beatriz Barata(1);Jorge Salsinha Fra-
ma pouco diferenciado de grandes células, de primá- de(1);Heidi Gruner(2)
rio a esclarecer. (1) Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE / Hos-
pital de Santo António dos Capuchos (2) Centro
P n.º 2621  Hospitalar Lisboa Central - Hospital de São José
Enfisema bolhoso gigante ou pneumotórax?
Lídia Caley(1);Joana Dias Alfaiate(1);Ana Clara Di- Tema: Outro
nis(1);Teresa Oliveira(1)
(1) Hospital Distrital de Abrantes
Homem, 63 anos. Alcoólico. Recorre ao Serviço de
Tema: Doenças respiratórias Urgência por queixas de disfonia, disfagia e sialor-
reia importante. Alegadamente teria perdido de pró-
tese dentária.
Relata-se caso de homem de 54 anos, antecedentes
de doença pulmonar obstrutiva crónica, enfisema
bolhoso bilateral, tabagismo ativo. Recorreu ao À observação hemodinamicamente estável,
serviço de urgência por toracalgia pleurítica direita, apirético. Sem dispneia, estridor ou alterações
após passeio a 2000 m de altitude.   auscultatórias mas com sialorreia evidente.
Na radiografia cervical com eventual imagem de
Ao exame objetivo destaca-se: murmúrio vesicular corpo estranho radiopaco no esófago proximal.
reduzido no terço inferior do hemitórax direito. Dos A tomografia axial computorizada cervical confir-
exames complementares: gasometria arterial com mou imagem compatível com prótese deglutida,
hipoxemia (pO2 65mmHg); radiografia do tórax enfi- que se apresentava obliquada no plano longitudinal,
semas bolhosos bilateral; tomografia computorizada sensivelmente desde a ponta da epiglote até aos
coexistência de pneumotórax de reduzida dimensão seios piriformes. No plano transversal, estendia-se
no pulmão direito. ao plano dos cornos superiores da cartilagem tiroi-
deia.
O enfisema bolhoso gigante refere-se ao enfisema
que abrange mais de um terço do volume pulmonar. Realizou broncofibroscopia e por dificuldades na
A diferenciação com o pneumotórax passa pela iden- remoção, foi ao bloco operatório para remoção de
tificação imagiológica do sinal da parede dupla, que corpo estranho.
distingue o pneumotórax da bolha gigante adjacen-
te. A TC é o exame imagiológico que melhor permite P n.º 2642 
esta diferenciação. Administração de adrenalina acidental
Miguel Sousa Leite(1);Marta Duarte-Silva(1);Sofia
P n.º 2622  Mateus(1);Rita Monteiro(1);Heidi Gruner(1)
Quando o olho nos ajuda no diagnóstico (1) Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE / Hos-
Rute Sousa Martins(1);Arlindo Guimas(1);Sara Ro- pital de Santo António dos Capuchos
cha(1);Ana Carolina Abreu(1);Rosa Ribeiro(1);João
Araújo Correira(1) Tema: Outro
(1) Centro Hospitalar Uni. Porto
458
IMAGENS EM MEDICINA
Doente de 34 anos leucodérmico com quadro re- Síndrome de Ogilvie
cente de urticária e edema. Portador de de epipen Ricardo Carnevale(1);Ricardo Sousa(1);Margarida
(caneta de administração de adrenalina). Recorre Fonseca(1);Rebeca Santos(1)
ao Serviço de Urgência por dor no 1ºdedo mão di- (1) Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE /
reita, em relação com isquémia digital devida a Hospital Egas Moniz
vasoconstrição severa, consequente a má adminsi-
tração. Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá-
ticas
P n.º 2643 
Debaixo da máscara esconde-se o diagnóstico Mulher de 91 anos, dependente nas atividades de
Artur Manuel Costa(1);Joana Dias Antunes(2);Antó- vida diária, com demência e obstipação crónica. Ad-
nio Marinho(3);Fátima Farinha(3) mitida por prostração, dor e distensão abdominais
(1) Centro Hospitalar Cova da Beira, EPE / Hospital e agravamento da obstipação. Realizaram-se radio-
Distrital da Covilhã (2) Hospital Distrital da Figueira grafias e TC abdominais que revelaram dilatação do
da Foz, EPE (3) Centro Hospitalar do Porto, EPE / cólon (com 16 cm de largura). Na figura 1 apresen-
Hospital Geral de Santo António ta-se uma radiografia ântero-posterior em decúbito
dorsal, na figura 2 uma radiografia lateral e na figura
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas- 3 um corte sagital de TC ao nível da articulação
culites íleo-sagrada. Foram excluídas causas infecciosas,
desequilíbrios electrolíticos ou trauma. Foi assim
Mulher, 26 anos, com antecedentes de perda auditi- admitido como hipótese diagnóstica mais provável
va, tonturas, obstrução nasal e 3 sinusectomias nos a Síndrome de Ogilvie (ou Pseudo-Obstrução Cólica
últimos 5 anos. 2 semanas antes, foi submetida a Aguda). Esta entidade corresponde à dilatação do
implante troclear direito e desde então com agra- cólon (>10cm) sem obstrução subjacente. Está for-
vamento da tosse, obstrução nasal com rinorreia temente associado a comorbilidades como idade,
persistente, disfonia e hemoptises. Na intubação imobilização e status funcional diminuído e é um
endotraqueal constatado, por laringoscopia, esteno- diagnóstico de exclusão.
se supraglótica (imagem 1). Ao exame físico apre-
sentava esclerite bilateral, nariz em sela e lesões de P n.º 2667 
purpura dispersas, incluindo na língua e nos mem- Gastrite enfisematosa: uma imagem incomum
bros, e lesões necróticas no dorso do pé esquerdo. Rita Enriquez(1);Mafalda Vasconcelos(1);Rui Osório
Apresentava igualmente sibilos e crepitações em Valente(1);Célia Machado(1);José Lomelino Araú-
ambos os campos pulmonares. Perante os antece- jo(1)
dentes e achados semiológicos, estabeleceu-se o (1) Hospital Beatriz Ângelo
diagnóstico de granulomatose com poliangiite.
Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá-
ticas
P n.º 2644 
Um caso de bisalbuminémia adquirida
Carolina Roias(1);Daniel Calado(1);Sofia Miran- Apresenta-se o caso de um homem de 59 anos, há-
da(1);Mariana Oliveira(1);Rita Banha(1);Isabel Bor- bitos tabágicos e alcoólicos marcados, que recorreu
ges(1);Paula Costa(1);Filipa Lima(1);Helena Antu- ao serviço de urgência por quadro de dejeções diar-
nes(1);Mariano Pacheco(1);Luís Dias(1) reicas e vómitos alimentares com um dia de evo-
(1) Hospital do Divino Espírito Santo, Ponta Delgada lução. A TC abdominal identificou gás parietal ao
longo da grande curvatura do estômago traduzindo
Tema: Outro processo de gastrite enfisematosa (imagens 1 e 2).
Iniciou antibioterapia com piperacilina-tazobactam
A bisalbuminémia é uma condição rara, definida e realizou endoscopia digestiva alta, com identifica-
pela presença de duas fracções distintas de albumi- ção de gastropatia congestiva, tendo-se isolado P.
na sérica na electroforese de proteínas (EFP). Esta aeruginosa nas biópsias gástricas. A gastrite enfi-
pode ser hereditária ou adquirida, sendo que esta sematosa é uma forma rara de gastrite, associada
última pode traduzir-se em patologia, tal como no a microorganismos produtores de gás, tendo como
síndrome nefrótico (SN). Trata-se de um homem factores predisponentes o abuso de álcool, diabe-
de 58 anos que durante o estudo etiológico de SN, tes, isquémia ou trauma. É potencialmente fatal
foi pedida EFP que revelou dois picos diferentes de quando não diagnosticada precocemente, sendo o
albumina, tal como se pode verificar na figura. Este diagnóstico efectuado normalmente por tomografia
padrão pode ser benigno. Contudo, o reconhecimen- computorizada.
to desta condição poderá ser um indício diagnóstico
de patologias como mieloma múltiplo, diabetes P n.º 2670 
mellitus, entre outras. Futuramente, a sua determi- OCLUSÃO AÓRTICA AGUDA
nação poderá ter interesse científico com possíveis Mariana Belo Nobre(1);Miguel Cabral Carrilho(1);Ma-
implicações terapêuticas. ria Afonso Albuquerque(1);Carolina Ochôa Ma-
tos(1);Tiago Petrucci(1);Joana Rosa Martins(1)
P n.º 2664  (1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi-

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 459


tal de Santa Maria à região do tórax, com surgimento após o início
do quadro clínico. A doente testou positiva para à
Tema: Doenças cardiovasculares Sars-CoV-2. Foi excluída toxidermia e a doente apre-
sentou melhoria da clínica observando-se regressão
Mulher, 89 anos, com antecedentes de fibrilhação completa do exantema a alta. As lesões cutâneas
auricular e portadora de prótese valvular mecânica provocadas pelo vírus Sars-CoV-2 são descritas
mitral, admitida por dor, hipostesia e parésia dos com uma frequência entre 0,2% - 20,4%, dependen-
membros inferiores de início súbito. Concomitan- do das séries. É das lesões cutâneas mais comuns
temente com pele fria e aparecimento de mottling sendo autolimitada.
com evidência de nível transumbilical corresponden-
te ao território superficial da artéria femoral, sendo P n.º 2707 
documentada ainda ausência de pulsos nos mem- Pneumonia pós obstrutiva e piopneumotórax como
bros inferiores. Evolução do quadro com rabdomióli- apresentação de carcinoma epidermoide do pul-
se e hiperlactacidemia. A Angio-TC revelou oclusão mão
aórtica aguda com extensão aos eixos ilíacos, uma Rita Pichel(1);Sofia Moura de Azevedo(1);Egídio
patologia rara e com elevada mortalidade, tendo-se Freitas(1);Ana Campar(1);António Marinho(1);Tere-
assumido isquémia irreversível dos membros infe- sa Mendonça(1)
riores e privilegiando-se medidas de conforto. (1) Centro Hospitalar Uni. Porto

P n.º 2692  Tema: Doenças oncológicas


ACRODERMATITE ENTEROPÁTICA
Mariana Belo Nobre(1);Miguel Cabral Carrilho(1);Ma- Doente fumador de 7 UMA com história de alergia
dalena Santos(1);Teresa Gouveia(1);Inês Goulart(1);- a penicilina foi admitido por febre com 2 semanas
Tiago Petrucci(1);Joana Rosa Martins(1) de evolução associada a anorexia e perda ponderal
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi- significativa. O estudo inicial mostrou hipotranspa-
tal de Santa Maria rência do lobo inferior direito e derrame pleural livre
de médio volume, abordado com saída de pus e iso-
Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá- lamento de Streptococos dysgalactiae multissensí-
ticas vel. Foi internado para tratamento e investigação. A
TC tórax foi sugestiva de pneumonia pós obstrutiva
Homem, 85 anos, com antecedentes de adenocar- e de fístula broncopleural com piopneumotórax (pai-
cinoma do cólon, admitido por quadro de diarreia nel esquerdo). Realizou drenagem do empiema e
crónica agudizada, a condicionar mal absorção ciclo de 40 dias de ceftriaxone, com resposta favo-
grave, nomeadamente com hipoproteinemia, hipoal- rável (painel direito). A marcha diagnóstica revelou
buminemia, hipocaliemia, hipofosfatemia, hipomag- um carcinoma epidermoide do pulmão localmente
nesemia e défice de vitamina K. Apresentava ainda avançado, estadio IIIB. O caso foi apresentado em
lesões eritemato-descamativas psorasiformes das consulta de grupo de tumores torácicos com con-
extremidades, sobretudo nas palmas das mãos, traindicação cirúrgica, tendo iniciado terapêutica
sugestivas de acrodermatite enteropática adquirida antineoplásica sistémica.
em contexto de mal absorção grave, com diagnós-
tico presuntivo de doença inflamatória intestinal, P n.º 2715 
tendo-se confirmado a presença de défice de zinco Toxoplasmose Cerebral escondida em plena vista.
sérico. Após suplementação com sulfato de zinco, Ricardo Costa(1);Catarina Silva Araújo(1);Joana
observou-se melhoria progressiva das lesões, com Naia(1);Sandra Correia(1);Sílvia Raquel Santos(1);-
resolução total à data de alta. Joana Sotto Mayor(1);Paulo Gouveia(1);Cristina
Cruz da Ângela(1);Cindy Tribuna(1)
P n.º 2701  (1) Hospital de Braga
Exantema Eritematoso em doente Covid
Artur Costa(1);Clara Ferreira Jorge(1);Sara Pires Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
Ferreira(1);Célia Tuna(1);Ana Patrícia Silva(1);Céu
Evangelista(1);Margarida Ascensão(1) Homem de 45 anos, toxicodependente e co-infetado
(1) Centro Hospitalar Cova da Beira, EPE / Hospital VIH/VHC desde 1999, nunca aderindo a tratamen-
Distrital da Covilhã to. Encontrado a dormir na rua, assintomático, fica
internado no CHMA como caso social. Ao 5º dia
Tema: Outro de internamento tem crise convulsiva tónico-clóni-
ca. Do estudo realizado destaca-se CD4 82, TC CE
Mulher, 81 anos, com antecedentes de adenocarci- sem alterações relevantes e punção lombar com
noma gástrico sob quimioterapia paliativa, doença 49 células de predomínio mononuclear, 111 proteí-
de Parkinson, hipertensão arterial e osteoporose. nas e glicose de 49 para um valor sérico de 132 .
Recorreu ao serviço de urgência por quadro de Agravamento progressivo após convulsão, até ficar
recusa alimentar, tosse produtiva, febre, dispneia em coma. Transferido para o HB onde realizou EEG,
e maior prostração com cerca de 3 dias de evolu- com encefalopatia moderada a grave, e RM CE,
ção. Apresentava exantema eritematoso limitado diagnosticando-se toxoplasmose cerebral devido a

460
IMAGENS EM MEDICINA
lesões cerebrais típicas. Mantém ECG de 3 apesar ticas
de terapêutica instituída, acabando por falecer no
dia 29 de internamento. Sexo masculino, 60 anos, com antecedentes de
diabetes mellitus tipo 2 insulinotratado, hipertensão
P n.º 2734  arterial, doença renal crónica estadio I e obesidade
Síndrome de Bazex - um fenómeno raro (IMC 32.1 kg/m2). Internado por pancreatite aguda
Diogo Costa Oliveira(1);José Alberto Fernan- alitiásica (Score BISAP 5 às 48h) complicada de
des(1);Mónica Dinis Mesquita(1);Joana Almeida coleção peripancreática infetada. Quadro inicial
Calvão(1);Natália Lopes(1);Miguel Angel Valente(1);- desfavorável, com disfunção multiorgânica: lesão
Fernando Salvador(1) renal aguda oligúrica KDIGO 3 e insuficiência respi-
(1) Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Dou- ratória tipo II, com paulatina melhoria. Submetido a
ro, EPE / Hospital de Vila Real 3 gastrocistostomias com drenagem, sem melhoria
clínica após tratamento endoscópico, tratamento
Tema: Doenças oncológicas antibiótico e antifúngico dirigido. Submetido a ne-
crosectomia e desbridamento de abcesso peripan-
Sexo masculino de 63 anos, com hipertensão ar- creático.
terial e fumador de 30 UMAs. Recorreu ao serviço
de urgência por lesões cutâneas nas mãos e pés P n.º 2749 
desde há 4 meses. Objetivamente, múltiplas adeno- Múltiplas apresentações, uma doença oculta
patias cervicais palpáveis bilateralmente nos níveis Inês Santos(1);José Pedro Cidade(1);Leonor Guia
I, II e III; disfonia com 1 mês de evolução e placas Lopes(1);Mariana Emília(1);João Furtado(1);Francis-
psoriasiformes violáceas dos dedos no dorso da co Silva(1);Isabel Madruga(1)
mão e pés com ceratodermia palmoplantar e distro- (1) Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE /
fia ungueal. Nasofaringolaringoscopia com lesão Hospital Egas Moniz
neoformativa vegeto-infiltrativa com confirmação
histológica de carcinoma epidermoide invasor da Tema: Doenças oncológicas
orofaringe – base da língua. As lesões cutâneas são
compatíveis com Síndrome de Bazex, um fenômeno
Ilustra-se o caso de uma mulher, 66 anos, com ga-
paraneoplásico raro fortemente associado a carci-
mapatia biclonal, lombociatalgia direita e quisto
noma espinocelular do trato aerodigestivo superior.
tiroideu, admitida por dor, calor e edema na face
interna da coxa direita com limitação funcional.
P n.º 2741  A avaliação clínica revelou massas dolorosas e
Metastização Cutânea de Carcinoma da Mama ruborizadas torácicas com 20 dias de evolução.
Patrícia Araújo(1);Nuno Pardal(1);Isabel Tarrio(1);- Apesar da ausência de lesões cutâneas e mucosas,
Duarte Silva(1);António Ferreira(1);Emília Guerrei- o exame histopatológico de uma lesão revelou ca-
ro(1);Diana Guerra(1);Carmélia Rodrigues(1) racterísticas morfológicas e imunohistoquímicas
(1) Unidade Local de Saúde do Alto Minho, EPE / compatíveis com metástase cutânea de Melano-
Hospital de Santa Luzia ma. Destaca-se a raridade da apresentação clínica
e elevado índice de suspeição necessário perante a
Tema: Doenças oncológicas indetectabilidade de lesão primária (após extensa
avaliação por Dermatologia, ORL e Oftalmologia)
Mulher, 84 anos. Anemia, anorexia e perda ponde- face à exuberância da secundaridação (cutânea,
ral com meses de evolução. Do estudo realizado ganglionar e muscular).
ecografia mamária bilateral descrevia nódulo com
5 mm na mama direita e adenomegalias axilares P n.º 2750 
esquerdas. TC toraco-abdomino-pélvico com padrão Adenomatose múltipla – uma causa rara
heterogéneo de todo o esqueleto abrangido, devido Rute Sousa Martins(1);Arlindo Guimas(1);Sara Ro-
a provável metastização óssea difusa. No exame cha(1);Rosa Ribeiro(1);João Araújo Correia(1)
físico presentes pápulas violáceas, duras, indolores, (1) Centro Hospitalar Uni. Porto
não pruriginosas, com tamanhos variando entre
0,5-2 cm (figuras A e B), dispersas sobretudo pelo Tema: Doenças raras
abdómen, tórax, dorso e axilas, cuja biópsia revelou
metástases cutâneas de carcinoma lobular invasor
Mulher 26 anos com diagnóstico de Glicogenose
da mama.
tipo 1 feito com 1 ano de vida, após diagnóstico na
irmã. A Glicogenose tipo 1 é uma doença hereditária
P n.º 2747  do metabolismo, rara, de transmissão autossómica
Pancreatite aguda alitiásica complicada recessiva causada por deficiência da glicose-6-fos-
Tomás Ribeiro da Silva(1);Filipa Vassalo(1);Bárbara fatase. É caracterizada por baixa tolerância ao
Queirós(1);Inês Carolino(1);Luiz Menezes Falcão(1) jejum, atraso do crescimento e hepatomegalia re-
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi- sultantes da acumulação de glicogénio e de gordura
tal de Santa Maria no fígado. Os doentes apresentam ainda, atraso do
crescimento, osteopenia/osteoporose, nefromegalia
Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá- e epistaxis frequentes devido a disfunção plaquetá-
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 461
ria. As complicações tardias são hepáticas (adeno- Confirmado o diagnóstico de tuberculose pleuro-
mas - imagem) e renais (proteinúria e por insuficiên- -pulmonar extensa com cavitações múltiplas e em-
cia renal). Os adenomas podem levar a hemorragia piema tuberculoso. Iniciou terapêutica tuberculostá-
intrahepática ou evoluírem com transformação ma- tica e teve alta com seguimento no CDP da área de
ligna. Pelo crescimento dos adenomas a doente foi referência.
submetida a transplante hepático.
P n.º 2767 
Quando há estranhos em casa
P n.º 2751  Tatiana Oliveira(1);Luís Miguel Pereira(1);Mariana
Má higiene dentária - quando um problema não Abreu Vieira(1);Diogo Cruz(1)
vem só (1) Hospital de Cascais Dr. José de Almeida
Ana Teresa Mendes Ferreira(1);Pedro Maia Ne-
ves(2);Vital da Silva Domingues(1);Sofia de Almei- Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
da(1);Laura Pratas Guerra(1);Luísa Serpa Pinto(1);-
Teresa Mendonça(1)
(1) Centro Hospitalar Uni. Porto (2) Centro Hospita- Homem de 53 anos com infeção VIH-1 (estadio C3) 
lar do Porto, EPE / Hospital Geral de Santo António e tuberculose pulmonar tratada em 2013. Admitido
por dispneia, tosse com expectoração raiada de
Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá- sangue, perda ponderal com 2 meses de evolução.
ticas Radiologicamente com imagem nodular no lobo
superior direito e tomograficamente com cavitação
preenchida por micetoma. A cultura das secreções
Apresentamos as imagens de um abcesso hepático brônquicas e IgG específica para Aspergilus fumiga-
num homem, 44 anos, com antecedentes de infeção tus foram positivas.
VIH1, estadio B2, sob TARV, suprimido, e doença
hepática a VHC tratada.  Recorreu ao SU por dor ab-
dominal difusa de agravamento progressivo (3 se- O aspergiloma é um aglomerado de fungos cons-
manas) em quadro séptico. A TC abdominopelvica tituído por hifas de Aspergilus, fibrina, muco
revelou exuberante hepatomegalia (20.5cm eixo lon- e debris celular, que surge no interior de uma
gitudinal), bem como volumosa lesão hipodensa e cavidade pulmonar pré-existente, que neste caso,
hipocaptante no lobo hepático esquerdo, multilocu- está relacionada com sequela de tuberculose. 
lada (13.2x8.2x18cm). Os estudos microbiológicos Neste caso, tratado com voriconazol e dadas as
do abcesso e das hemoculturas identificaram St. dimensões do micetoma cirurgia de ressecção
constellatus, um organismo da flora comensal da pulmonar.
cavidade oral, tratos urinário e gastrointestinal. Da
investigação realizada, foram identificadas múlti- P n.º 2769 
plas cáries não tratadas, interpretadas como foco Íleus Biliar – uma causa rara de dor abdominal.
infecioso da disseminação hematogénea bacteria- Inês Soares(1);Tiago Fernandes(1)
na.  (1) Centro Hospitalar Gaia e Espinho
Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá-
P n.º 2763  ticas
Tuberculose pleuro-pulmonar cavitada
Catarina Melita(1);António Gerardo(1)
Doente do sexo feminino, 66 anos, com anteceden-
(1) Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca
tes de Doença de Caroli. Antecedentes cirúrgicos re-
Tema: Doenças respiratórias levantes de colecistectomia e hepatectomia esquer-
da do lobo caudado com anastomose biliodigestiva.
Seguida em consulta externa de Hepatologia.
Homem de 60 anos, fumador, avaliado por queixas Apresentou-se com queixas de dor no hipocôndrio
de dispneia e tosse produtiva crónica. Nega febre direito tipo moedeira com 15 dias de evolução. Fez
ou quadro consumptivo. Analiticamente com eleva- tomografia computadorizada abdominal que mostra
ção dos parâmetros inflamatórios, e excluída infe- “junto do bordo inferior do fígado observa-se uma
ção VIH. imagem nodular espontaneamente densa, com 3,5
cm, compatível com cálculo, impactado no lúmen
Na radiogradia convencional do tórax apresenta ima- de uma ansa jejunal” a condicionar quadro de íleus
gem cavitada no lobo superior direito, nódulo espi- biliar. A doente foi orientada para Cirurgia Geral e
culado para-esternal direito, hipotransparência no foi realizada enterotomia para remoção de cálculo
andar inferior do hemitórax esquerdo, e hipotranspa- biliar. Verificou-se resolução completa das queixas
rência parenquimatosa difusa bilateral. após intervenção.

A tomografia computorizada documenta adenopa- P n.º 2782 


tias mediastínicas e hilares bilaterais, espessamento Massa retroperitoneal volumosa - um caso de Lin-
pleural, derrame pleural moderado esquerdo, e múl- foma Folicular
tiplas lesões cavitadas apicais de paredes espessa- Ana Tenreiro(1);Ana Filipa Pinto(1);João Figueira(1);-
das. Diogo Canudo(1);Susana Carvalho(1);Conceição
Barata(1)
462
IMAGENS EM MEDICINA
(1) Hospital do Espírito Santo, EPE, Évora Doente do sexo masculino, 73 anos, com antece-
dentes de consumo etílico severo, recorreu ao servi-
Tema: Doenças hematológicas ço de urgência por alteração do estado de consciên-
cia. Recentemente com perda total de autonomia e
Mulher de 47 anos, sem antecedentes pessoais de dejeções diarreicas abundantes. À admissão cons-
relevo, recorre ao Serviço de Urgência por quadro ciente, mas desorientado no tempo e espaço e com
de cerca de 1 mês de evolução de dor abdominal discurso incoerente. Objetivada ascite e flapping ao
difusa, aumento do volume abdominal, sensação exame físico e lesões cutâneas tróficas dos mem-
de enfartamento, mal-estar geral e astenia. Analiti- bros inferiores com tempo de evolução desconhe-
camente com trombocitopenia de 5000 plaquetas/ cido. Internado no Serviço de Medicina Interna por
microlitro, realizou tomografia axial computorizada Doença Hepática Crónica descompensada de etio-
(TAC) abdominal com contraste endovenoso que logia indeterminada. Após reavaliação médica con-
revelou volumosa massa retroperitoneal envolvendo clui-se que as lesões mencionadas correspondem a
múltiplos vasos com extensão crânio-caudal de 20 dermatite de estase exuberante com hiperqueratose
cm, diâmetro transversal de 17 cm e ântero-poste- em contexto provável de linfedema crónico / edema
rior 13 cm. Assumiu-se como hipótese mais prová- por doença sistémica.
vel tratar-se de um conglomerado adenopático pos-
sivelmente secundário a doença linfoproliferativa. P n.º 2795 
Após transfusão de plaquetas, realizou-se biópsia Alcaptonúria - da imagem ao diagnóstico
da massa guiada por TAC. O resultado anatomo- Joana Gomes Cochicho(1)
-patológico foi diagnóstico de linfoma não Hodgkin (1) Unidade Local de Saúde do Norte Alentejano -
folicular. Hospital de Portalegre

P n.º 2786  Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio-


Dor graganta irradiada: a propósito de um caso de nais
disseção da aorta
Filipa Lage Martins(1);Catarina Marques(1);Isaac Doente do sexo masculino, 71 anos, leucodérmico.
Pereira(1);Mariana Nápoles(1);Rita Calixto(1);Carlos
Costa Marques(1);José Vaz(1) Com antecedentes de artroplastia do ombro, joelho e
(1) Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo, EPE / anca, cirurgias durante as quais, foi observada ocro-
Hospital José Joaquim Fernandes nose nas superfícies articulares lesadas.
Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente crí- O doente refere coloração escura da urina, desde lac-
tico tente.

Homem de 56 anos, recorreu ao Serviço de Urgência Como antecedentes familiares, a destacar irmão
por dor de garganta tipo aperto, com irradiac¸a~o ao com patologia articular de características semelhan-
precordio, coluna lombar e membro inferior esquer- tes.
do acompanhado de dispneia, sudorese, mal-estar e
desconforto. Eletrocardiograma sem alterações. Ao exame objetivo, apresenta manchas cinzentas
nas escleras (figura 1) e nos pavilhões auriculares
(figura 2).
No exame objetivo de relevo apresentava abdómen
distendido, tenso e doloroso nos quadrantes supe- O doseamento de ácido homogentísico (AH) na urina
riores sem sinais de irritação peritoneal, com pele confirmou o diagnóstico de alcaptonúria.
marmoreada e membros inferiores frios, sem ede-
ma e pulso femoral esquerdo diminuído. A alcaptonúria é uma doença autossómica recessi-
va, decorrente do deficit da enzima dioxigenase do
Realizou tomografia computorizada com contraste AH (interveniente no metabolismo da tirosina) e re-
que revelou extensa dissecc¸a~o da aorta torácica sulta na deposição de AH no tecido conjuntivo e na
ate´ ilíacas. sua excreção urinária.
O reconhecimento atempado destas situações é Apresentamos estas imagens com o intuito de pro-
importante dada a elevada mortalidade associada, mover a suspeição desta doença rara.
principalmente em hospitais periféricos e com pou-
cos recursos. P n.º 2814 
Lesão da face: o horror espelhado em diferentes
P n.º 2790  faces
Da ficção para a realidade – um caso de “Greysca- Joana Gomes da Cunha(1);Ricardo Silva Veiga(1);I-
le”? nes b. Mesquita(1);Andreia Correia(1);Ana Lemos(1)
Inês Soares(1);Rosélia Lima(1);Tiago Beirão(1);Tia- (1) Centro Hospitalar Tondela-Viseu, EPE / Hospital
go Fernandes(1) de São Teotónio, EPE
(1) Centro Hospitalar Gaia e Espinho
Tema: Doenças oncológicas
Tema: Outro

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 463


Mulher, 86 anos, com diagnóstico, em 2017, de neo- tava episódios de agravamento da bradicinésia as-
plasia maligna da face, para a qual recusou acom- sociados a flushing facial pronunciado desde há 1
panhamento. mês, ocasião em que foi incrementada a dose total
de levodopa.
Lesão com consequências clínicas (anemia grave, Os sintomas disautonómicos, nomeadamente o
amaurose à direita) e fundamentalmente um trans- flushing facial, é uma flutuação não motora caracte-
torno dismórfico corporal, presente em 2% da popu- risticamente associada à terapêutica dopaminérgi-
lação geral. A recusa do tratamento poderá ser uma ca, cuja identificação é fundamental de modo a pro-
manifestação de auto isolamento ou esclarecimen- ceder-se ao ajuste desta terapêutica e à exclusão de
to e prognóstico sobre o desenvolvimento da lesão.   fatores precipitantes.
A visualização da lesão desperta sentimentos con- P n.º 2848 
traditórios; se por um lado questionamos como PSEUDOTUMOR DO PULMÃO
se torna possível o avançar da dismorfia corporal, André Calheiros(1);Carlos Rego Gonçalves(1);Sofia
por outro lado há que nos questionar como não Ferreira(1);Joana Faria Silva(1);António Moura Al-
existiu um acompanhamento para evitar o pavor de ves(1);Paula Brandão(1)
espelhos.  (1) ULSAM -Hospital Conde Bertiandos
P n.º 2817  Tema: Outro
Lesões osteolíticas – um caso de Mieloma Múltiplo
Elisabete Ribeiro(1);Marta Batista(1);Juliana Sil-
va(1);Jorge Cotter(1) Pseudotumor pulmonar é um achado radiológico
(1) Hospital Senhora de Oliveira - Guimarães sugestivo de massa tumoral que, após estudo, reve-
la não o ser. É produzido por derrame pleural em fis-
Tema: Doenças oncológicas sura interlobar secundário a insuficiência cardíaca

Mulher, 83 anos, parcialmente dependente nas acti- É apresentada imagem radiológica com evidência
vidades de vida diárias em contexto de uma fratura de opacidade lenticular bem definida no campo
compressiva de D12 e L5 recorre ao Serviço de pulmonar direito, de homem de 79 anos, com
Urgência por dispneia de agravamento progressivo. antecedentes de insuficiência cardíaca, que recorreu
Associadamente, com dorsolombalgia, com 1 ano ao SU por dispneia com 3 dias de evolução.
de evolução, que agravava em repouso, sem facto-
res de alívio ou outra sintomatologia associada. Levantada a hipótese de pseudotumor pulmonar, ini-
ciando terapêutica diurética. Reavaliado aos 6 dias,
evidenciava  franca melhoria sintomática e o raio-X
A radiografia torácica evidenciava lesões osteolíti- tórax com completa resolução da opacidade.
cas dispersas nos membros. Do estudo realizado,
a destacar: anemia normocítica/normocrómica, hi- O diagnóstico de pseudotumor pulmonar deve
percalcemia ligeira e pico monoclonal IgG cadeias ser considerado no doente com insuficiência cardía-
leves lambda.   O aspirado medular tinha 21% de ca congestiva e massa pulmonar. Relembrar a exis-
plasmócitos, de morfologia atípica, confirmando o tência desta entidade previne procedimentos diag-
diagnóstico de mieloma múltiplo. Este caso retrata nósticos desnecessários.
a importância da semiologia na orientação diagnós-
tica e terapêutica. P n.º 2854 
Mais estômago que barriga
P n.º 2844  João Miguel Meneses Palmeira Ferreira(1);Ana Ra-
“Flushing” facial: um sinal disautonómico na doen- môa(1);Manuela Vasconcelos(1);Rosário Araújo(1)
ça de Parkinson (1) Hospital de Braga
André Jorge Assunção Costa(1);Ana João Mar-
ques(1);Ana Graça Velon(1) Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá-
(1) Hospital Vila Real ticas
Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas
Sexo feminino, 87 anos, com antecedentes de hiper-
tensão arterial, dislipidemia e colostomia terminal
O flushing facial é um sinal clínico frequente na prá- por fístula retovaginal. Recorreu ao Serviço de Ur-
tica clínica, com uma lista extensa de diagnósticos gência por episódio de vómito, seguido de dispneia
diferenciais e cuja abordagem exige uma história de agravamento progressivo, que condicionou pneu-
clínica detalhada e exaustiva. monia de aspiração com insuficiência respiratória
hipoxémica. Por dor abdominal realizou tomografia
Senhora de 75 anos com antecedentes de doença abdomino-pélvica que revelou exuberante ectasia
de Parkinson (DP) e demência associada à DP ob- gástrica com prolongamento do estômago até à
servada no serviço de urgência por síndrome con- pelve. 
fusional agudo no contexto de hiponatrémia (108
mEq/L) e hipocaliémia graves (2,6 mEq/L). Apresen- A dilatação gástrica aguda é uma condição rara

464
IMAGENS EM MEDICINA
mas que pode ser fatal se não for precocemente P n.º 2879 
detectada e tratada, podendo culminar em insufi- “Paracentese evacuadora” pela bexiga: Será possí-
ciência respiratória, hipoperfusão de órgãos com vel ?
insuficiência renal ou isquemia intestinal. O reco- Joana Rua(1);Guilherme Assis(1);Daniela Via-
nhecimento atempado e imediata descompressão na(1);Maria João Silva(1);Tiago Paulino(1);Sónia
com sonda nasogástrica é a primeira linha de trata- Carvalho(1);Joana Cunha(1);Fernando Salvador(1)
mento, ao mesmo tempo que se investiga a condi- (1) Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Dou-
ção etiológica subjacente. ro, EPE / Hospital de Vila Real
P n.º 2860  Tema: Outro
Um volumoso aneurisma da artéria aorta
Diana Brites(1);Rui Isidoro(1);Joana Carvalho(1);- Sexo masculino, 78 anos. Antecedentes de cir-
Filipa Leitão(1);Soraia Proença e Silva(1);Mafalda rose hepática por doença hepática a álcool e
Ferreira(1);Manuel Carvalho(1);Sara Sintra(1);Maria uropatia obstrutiva, cronicamente algaliado. In-
Eugénia André(1) ternado no Serviço de Medicina Interna por acu-
(1) Unidade Local de Saúde de Castelo Branco te on chronic liver failure grau 1 em contexto de
Tema: Doenças cardiovasculares sepsis por peritonite bacteriana espontânea. No
4º dia de internamento, drenagem de 6L de líquido
ascítico (A) pela sonda vesical por localização
Mulher de 85 anos, com antecedentes de insuficiên- intraperitoneal da mesma, detectada em imagem
cia cardíaca e cirurgia torácica não especificada. de TC (B) e confirmada por avaliação dinâmica
Recorreu ao Serviço de Urgência, por queixas de complementar pela administração de contraste
dispneia e cansaço para pequenos esforços, com 2 ecográfico (C). Evolução com choque disfunção
semanas de evolução. Realizou radiografia de tórax cardiovascular por hipovolémia, resolvido após
que mostrou arames de esternotomia mediana e ressuscitação. Remoção da sonda vesical
hipotransparência quase total do hemitórax esquer- com encerramento espontâneo posterior. O
do. A tomografia computorizada de tórax revelou caso apresentado salienta uma complicação
volumoso aneurisma da crossa e aorta descenden- rara da algaliação crónica com consequências
te, com 77mm e outro na transição toraco-abdomi- possivelmente ameaçadoras de vida e a
nal com 45mm, com volumosa cardiomegalia. Este importância da imagem no diagnóstico da mesma. 
caso ilustra uma patologia grave, com elevada mor-
bilidade clínica e de difícil tratamento médico, numa
doente com idade avançada e baixa reserva fisioló- P n.º 2892 
gica, não candidata a reintervenção cirúrgica. Bronquiectasias infectadas - sobreinfecção pós-
-COVID-19
Raquel Dias Moura(1);Guilherme Jesus(1);Tiago
P n.º 2869  Miguel Brandão de Melo Beirao(1);Mariana Estrela
Álcool e Desnutrição - Portugal séc XI – uma Santos(1);João Luís Miranda(1);Francisca Silva Car-
realidade mo(2);Jorge Reis(1);Paula Ferreira(1)
Bárbara Silva(1);Gonçalo Pires(1);Francisco Pom- (1) Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia / Espinho
bo(1);Carolina Seabra(1);Fátima Costa(1);Ana Areia (2) Hospital Vila Nova Gaia
Reis(1);Diana Cruz(1);Magda Silva(1);Mari Mesqui-
ta(1) Tema: Doenças respiratórias
(1) Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, EPE /
Hospital Padre Américo, Vale do Sousa Introdução:
Tema: Outro
Mulher de 65 anos. Antecedentes de enfisema
Homem, 42 anos, com Cirrose Hepática de etiologia pumonar, bronquiectasias  e infeção leve por SAR-
alcoólica Child-Pugh C, recorre ao SU por síncope S-COV2 com critérios de cura quatro dias antes.
recuperada e hemorragia gengival abundante desde Apresenta-se com quadro de tosse produtiva, febre
há 2 semanas. Admitido na SE por choque hipovo- e dispneia. Apesar de ciclo de antibioterapia com
lémico com necessidade de suporte transfusional. levofloxacina, persistencia da sintomatologia e
Ao exame objetivo com múltiplas lesões maculares agravamento de parâmetros inflamatórios, pelo que
com sangramento ativo, de predomínio braços, se escalou antibioterapia. Realizou tomografia axial
computarizada a revelar bronquiectasias císticas
tronco e dorso. EDA sem evidência de hemorragia
com paredes espessadas, compatível com infecção
esofago-gastro-duodenal, com abundante quan- (figuras 1, 2 e 3).
tidade de sangue na cavidade oral. Analiticamente
com défice vitamina C (0.5mg/L) e INR 2.7. Assu- Este caso evidencia  o risco real de sobreinfecção
mida hemorragia gengival no contexto de défice de da COVID-19, princialmente em doentes com pa-
vitamina C agravada pela alteração da coagulação tologia respiratória de base, mesmo após doença
inerente a falência hepática. Lesões cutâneas su- ligeira.
gestivas de Lúpus Cutâneo Subagudo. Evolução
desfavorável com falência hepática. P n.º 2898 
Uma hérnia de caras
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 465
Diogo Dias Ramos(1);Adriana Correia(1);Joana Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas
Diogo(1);Rita Monteiro(1);Carolina Coelho(1);Rita
Bizarro(1);Angela Ghiletchi(1);Rita Bernardino(1);I- Introdução: 
nês Matos Ferreira(1);Inês Fiuza m. Rua(1);Rodrigo O Hematoma Subdural (HSD) resulta de uma hemor-
Leão(1);Ana Serrano(1) ragia entre a dura-máter e aracnóideia, geralmente
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE / Hos- associado a traumatismo crânio-encefálico. Após
pital de Santo António dos Capuchos a lesão meníngea e a hemorragia subsequente, o
Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá- colagénio e a ação dos fibroblastos têm um papel
ticas determinante na sua cronicidade, estimando-se que
este dure cerca 2 semanas.
Mulher de 88 anos com história de IC por Cardiopa-
tia Hipertensiva e Valvular, Estenose Aórtica com Caso clínico:
prótese biológica desde 2015, hipertensão arterial, MR, 68 anos com antecedentes de patologia psi-
dislipidemia, asma, colecistectomia em 2008, múlti- quiátrica, trazido ao Serviço de Urgência por quadro
plas sub-oclusões intestinais em 2014, 2016 e 2017, de afasia e desequilíbrio na marcha, com 4 dias de
hernioplastia de hérnia incisional e status pós-infe- evolução. Doente negava trauma, cefaleias, náuseas
ção SARS-COV2 em Janeiro de 2021. Recorreu ao ou vómitos. À observação destacava-se afasia de
SU por queixas dor cervical com limitação da mobili- nomeação. Realizou TAC-CE onde se identificou vo-
dade e irradiação à região pré-cordial. À observação lumoso HSD crónico esquerdo com marcado efeito
a destacar apenas sinais de congestão periférica de massa e sinais de herniação subfalcial. Foi sub-
com MIs bem perfundidos e edema Godet++ até ao metido a intervenção cirúrgica com drenagem do
joelho. Analiticamente a destacar: Ur 108, Cr 1.54, HSD sob marcada tensão. Teve alta ao 3º dia pós-
K 6.4. Foi assumida Insuficiência Cardíaca descom- -operatório, com resolução completa dos défices.
pensada no contexto de Lesão renal aguda e hiper- P n.º 2922 
caliémia. No decurso do estudo realizou Rx Tórax Eritrodermia psoriática
que revelou volumosa hérnia do hiato, conforme Ana de Carmo Campos(1);Sara Sarmento(1);João
documentado em imagem. Freitas Silva(1);Isabel Cruz Carvalho(1);Marco Narci-
so(1);Teresa Fonseca(1)
P n.º 2911  (1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi-
Ventilação mecânica é essencial mas não é isenta tal Pulido Valente
de riscos
Daniela Antunes(1);Diana Vieira Castro(1);Cláudia Tema: Doenças raras
Caseiro Antunes(1);Raquel Viana(1);Joana Gonçal-
ves(1);Carolina Roriz(1);Mariana Carvalho(1);Cátia Introdução: Mulher 27 anos, sem história prévia de
Santos(1);Fernando Henriques(1);Luis Marques Pe- psoríase. Diagnóstico de síndrome de linfohistioci-
reira(1);Bruno Cabreiro(1) tose hemafagocítico secundário a doença granulo-
(1) Hospital Santo André - Leiria matosa pulmonar e extrapulmonar, com hipogama-
globulinemia, sob corticoterapia e metotrexato. Três
Tema: Doenças respiratórias semanas após o início e titulação de metotrexato
(máximo atingido 10 mg/semana), assiste-se ao
Apresenta-se o caso de doente 69 anos, sem ante- aparecimento generalizado de lesões eritematosas
cedentes médicos admitida por Pneumonia a SARs maculares, dispersas não confluentes, de contornos
COV 2 com insuficiência respiratória tipo 1 grave irregulares, descamativas na periferia, prurigino-
com falencia a ventilaçao não invasiva. Após 24h de sas, com agravamento significativo ao fim de uma
ventilação mecânica desenvolve extenso pneumo- semana. Biópsia cutânea com acantose regular e
mediastino e pneumotorax com marcado enfisema hiperplasia psoriasiforme da epiderme, infiltrado
subcutâneo com consequente necessidade de colo- linfocitário perivascular na derme superficial, sem
cação de dreno. Nos doentes com pneumopatia gra- eosinófilos, sem granulomas, com diagnóstico de
ve, sob ventilação mecânica, complicações como eritrodermia psoriática. Substituição de metotrexato
as acima descritas  podem ocorrer. Dado o contexto por ciclosporina com melhoria progressiva e remis-
epidemiológico que atravessamos é importante são das lesões.
estarmos atentos a sinais de agravamento clinico
sendo situaçao clinica tratável mas potencialmente P n.º 2924 
fatal. Pneumatose cistóide intestinal – uma entidade
com um percurso imprevisível
P n.º 2920  Rute Martins(1);Pedro Alves(1);Ana Rita Ventosa(1);-
Um Gigante silencioso Carolina Carneiro(2);Henrique Patrício(1)
Carolina Carvalhinha(1);João Miguel Freitas(1);Ca- (1) CHUA Faro (2) Hospital de Braga
rolina Henriques(1);Francisco Barreto(1);Rui Fernan-
des(1);Rafael Nascimento(1);Rafael Freitas(1) Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá-
(1) Hospital Dr. Nélio Mendonça ticas

466
IMAGENS EM MEDICINA
Mulher de 66 anos, realiza tomografia computoriza- o membro inferior esquerdo associado a paraste-
da (TC) no contexto de estadiamento de carcinoma sias, com um ano de evolução. Realizou em ambula-
do pulmão, onde se visualizam numerosas coleções tório, Rx da coluna lombar com “discreto aguçamen-
gasosas intramurais no cólon (submucosa e subse- to dos ângulos ântero-superiores do corpo de L4” e
rosa), tendo sido diagnosticada com pneumatose ecografia de partes moles da região lombar esquer-
cistóide intestinal (PCI).  Geralmente assintomática, da “ imagem nodular hipoecogénica, extensa e só-
como no caso apresentado, a PCI pode cursar com lida”. Decidiu-se internamento. RMN da coluna lom-
queixas gastrointestinais (dor abdominal, alterações bar e pélvica revelava “lesão expansiva de partes
do trânsito, anorexia) ou complicar com oclusão/ moles e perióssea adjacente à asa íliaca esquerda
perfuração intestinal, ou peritonite. O tratamento é e com invasão por contiguidade”. Histologia revelou
geralmente conservador, contudo o reconhecimento SE. O presente caso clinico demonstra-nos que o
precoce permite a sua monitorização assim como diagnóstico é essencial, porém desafiador. 
intervenção adequada em caso de complicação.
Sendo frequentemente visualizada na radiografia P n.º 2930 
abdominal, a TC é o método de eleição para o diag- Enfarte esplénico induzido por malária
nóstico da PCI, fazendo diagnóstico diferencial com João Casanova Pinto(1);Beatriz Fernandes(1);Carlos
pneumoperitoneu e pneumatose intestinal, cujo per- Ramalheira(1);Diogo Cruz(1)
curso clínico é mais adverso. (1) HPP Hospital de Cascais

P n.º 2926  Tema: Doenças infecciosas e parasitárias


Folia
João Nuno Patrício(1);André Alçada Fernandes(1);- Homem, 56 anos, residente sazonal em Angola, in-
Sofia Pimentel(1);Marta Teodoro(1);Fernando Mar- ternado por malária causada por Plasmodium falci-
tos Gonçalves(1) parum, a condicionar disfunção renal, hematológica
(1) Hospital Beatriz Ângelo e hepática. Tinha dor abdominal no hipocôndrio es-
querdo. A tomografia demonstrou esplenomegalia e
Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá- zonas de hipodensidade bem delimitadas no baço,
ticas compatíveis com áreas de enfarte. Foi medicado
com quinino e doxiciclina, tendo tido alta ao fim de
Mulher de 68 anos, natural da Guiné, com história de 12 dias por evolução favorável. 
obstipação crónica sob laxoterapia crónica, recorre O enfarte esplénico é uma complicação rara e sub-
ao Serviço de Urgência por quadro com 4 dias de diagnosticada de malária, que ocorre sobretudo na
evolução de distensão e dor abdominal intensa e fase aguda da doença. Decorre de um estado de
difusa, náuseas e vómitos, após ingestão de fole hipercoagulabilidade e por oclusão vascular pelos
(fruto guineense). Referência a incontinência fecal e eritrócitos infectados. Habitualmente tem um curso
diarreia. Objetivamente toque retal doloroso, saída benigno, mas pode complicar com rotura esplénica.
de fezes líquidas, fissura anal e impactação eviden- A clínica de dor no hipocôndrio esquerdo e a esple-
te. Admitido quadro de suboclusão intestinal com nomegalia em doentes com suspeita de malária de-
diarreia secundária ao uso crónico de laxantes. Ima- vem motivar exame de imagem para exclusão de
giologicamente com distensão cólica, espessamen- enfarte esplénico.
to parietal da ampola rectal, com densificação da
gordura mesentérica e múltiplas imagens nodulares, P n.º 2933 
radiodensas, com dimensões justa milimétricas. Te- Pele escaldada estafilocócica num adulto
rapêutica laxante ineficaz na resolução do quadro, Mariana Constante(1);José Pedro Cidade(1);Inês
com necessidade de excisão de fecalomas sob se- Santos(1);Rita Reis(1);João Furtado(1);Isabel Ma-
dação no bloco operatório. Tem alta ao terceiro dia, druga(1)
clinicamente bem. (1) Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE /
Hospital Egas Moniz
P n.º 2929 
Mais do que uma lombalgia... Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente crí-
Erica Barata(1);Inês Marques(1);Filipa Monteiro(1);- tico
Catarina Araújo(1);Elena Pirtac(1);Francisca De-
lerue(1) Um homem de 64 anos (hipertenso, portador de
(1) Hospital Garcia de Orta, EPE infeção a Hepatite B e C e fumador, sem medicação
habitual) iniciou quadro de febre, otorreia, exsudado
Tema: Doenças oncológicas ocular e eritema inguinal (com exsudado e prurido)
e por esse motivo recorreu ao SU, tendo sido diag-
O sarcoma de Ewing (SE) é uma neoplasia ós- nosticada otite média aguda, conjuntivite e infeção
sea agressiva, que acomete principalmente indiví- fúngica cutânea.
duos abaixo dos 30 anos e com maior predomínio
em doentes do sexo masculino. Surge em qualquer Duas semanas depois dá novamente entrada no SU
osso. Homem de 34 anos, diabético e obesidade com agravamento expressivo das lesões cutâneas
grau III. Lombalgia à esquerda com irradiação para (lesões eritemato-descamativas, pruriginosas e do-

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 467


lorosas, em todo o corpo). Apresentava-se hemodi- Linfangioma do mediastino posterior
namicamente estável e com avaliação analítica sem Pedro Cruz(1);Rita Rodrigues(2);Moreira Duarte(1);-
alterações relevantes. Realizou posteriormente bióp- João Pedro Pereira(3);Liliana Carneiro(3);Catarina
sia cutânea que foi inconclusiva e teve uma evolução Silva(3)
favorável. (1) IPO Porto (2) Centro Hospitalar de Trás-os-Mon-
tes e Alto Douro, EPE / Hospital de Vila Real (3) Uni-
Assumiu-se como hipótese diagnóstica mais prová- dade Local de Saúde de Matosinhos, EPE / Hospital
vel síndrome de pele escaldada estafilocócica (pós Pedro Hispano
otite estafilocócica), entidade rara em adultos espe-
cialmente com a exuberância apresentada. Tema: Doenças raras
P n.º 2934 
TC – Cerebral – Um achado do passado Apresentamos um caso de linfangioma em localiza-
Jorge Bernardo Reis(1);Tiago Costa(1);Mariana ção atípica, entidade rara, mas de máxima importân-
Estrela Santos(1);João Luís Miranda(1);Fábio Mur- cia no diagnóstico diferencial de massas mediastí-
teira(1) nicas posteriores pela sua benignidade.
(1) Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia / Espinho
Doente masculino de 35 anos, com dor pleurítica bi-
Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente crí- lateral e epigástrica com vários anos de evolução.
tico
TC com massa isodensa pré-vertebral de D6 a
Mulher de 54 anos recorreu ao serviço de urgência L1, móvel. A ressonância magnética confirmou
por síncope sem pródromos, com traumatismo crâ- lesão hiperintensa em T2, serpiginosa, com vá-
nio encefálico. Realizou tomografia computorizada rios septos hipointensos, moldando-se às estru-
cerebral que demonstrou múltiplos focos hiper- turas vasculares (10,5 x 6 x 3 cm) e uma outra
densos dispersos pelo espaço subaracnoideu infra perirrenal esquerda com as mesmas caracterís-
e supratentorial compatíveis com administração in- ticas morfológicas em T2, moldando-se ao hilo
tratecal prévia de contraste iodado. Após revisão renal.
da anamnese constatou-se que a doente, natural de
angola, tinha realizado na infância uma mielografia Colocou-se a hipótese imagiológica de linfan-
por suspeita de patologia da medula espinhal. À gioma capilar do mediastino e linfangiectasia
época era comum o uso de contrastes iodados in-
jetados no canal medular, resultando em artefactos
perirrenal. Ecoendoscopia com lesão multiquís-
nos exames de imagem. Este caso reforça a ne- tica com múltiplos septos, alguns com Doppler
cessidade de os exames de diagnóstico integrarem positivo. A biópsia ecoendoscópica transesofá-
a anamnese, mesmo em situações de resultados gica confirmou linfangioma.
inconclusivos.
P n.º 2960 
Acufenos que significam algo mais
P n.º 2943 
Salomé Marques(1);Fátima Costa(1);André Rolo
O Senhor Hidrocefalia
João Melo e Silva(1);Carolina Cadório(1);Alexandra Martins(1);m. Carolina Seabra(1);Vítor Fagun-
Pousinha(1);João Seabra Barreira(1);José Barata(1) des(1);Luís Nogueira(1);Mari Mesquita(1)
(1) Hospital de Vila Franca de Xira (1) Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, EPE /
Hospital Padre Américo, Vale do Sousa
Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas
Tema: Doenças oncológicas
Introdução: Homem de 62 anos. Seguido em Neuro-
logia por declínio cognitivo e hipoacúsia, sequelares Masculino, 56 anos, história com cinco dias de evo-
a meningite na infância. Recorre ao Serviço de Ur- lução de acufenos bilaterais constantes, irritativos
gência por cefaleias e desequilíbrio com 3 semanas (mais à direita), e cefaleia frontal ligeira. Ao exame
de evolução. Sem alterações à observação. Realizou objetivo sem défices neurológicos nem outras al-
uma TC-CE que mostrou marcada ventriculomegalia terações. Tomografia do crânio documentou hipo-
supratentorial. Internou-se para estudo de possível densidade temporo-insular cortical e subcortical.
Hidrocefalia descompensada. Realizou RM-CE que Ressonância magnética caracterizou a lesão como
revelou “Hidrocefalia com dilatação importante dos hiperintensa nas sequências com TR longo, de ca-
ventrículos laterais, sem alteração do sinal da subs- rácter expansivo e sugestiva de lesão glial de baixo
tância branca circundando os ventrículos. Aqueduto grau pelo que foi orientado para consulta de Neuro-
de Sylvius permeável com fenómenos de turbulên- cirurgia.
cia, sugestivo de fluxo hiperdinâmico. Aspectos que
traduzem hidrocefalia comunicante, sem seguros Este caso identifica uma etiologia de acufenos, quei-
sinais de actividade”. A exuberância da imagem pa- xa comum,  cujo diagnóstico diferencial  é variado  e
receu-nos interessante de observar. geralmente benigno. O início agudo e incomodativo,
levando o doente a recorrer ao Serviço de Urgência,
P n.º 2953  foram fulcrais para a suspeita diagnóstica.
468
IMAGENS EM MEDICINA
P n.º 2964  membro superior esquerdo e ao mediastino
Foliculite eosinofílica em doente VIH+ com superior”. Admitido Celulite cervical esquerda
CD4+>250 células/mm3 com extensão ao mediastino superior. O pre-
Catarina Vale(1);Joaquim Faria Monteiro(1);Cá- sente caso clínico tende a mostrar a importân-
tia Oliveira(1);Beatriz Guimarães(1);Paula f. Ma- cia do diagnóstico rápido.
tias(1);Francisco Moreira(1);Filipa Gomes(1);-
Jorge Almeida(1) P n.º 2970 
(1) Centro Hospitalar de S. João, EPE Entubação orotraqueal em ventilação espon-
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias tânea, num doente com cavidade hidrosiringo-
miélica
Mariana Morais(1)
A foliculite eosinofílica é uma compli- (1) Hospital de São José
cação da infeção pelo vírus da imuno-
deficiência humana (VIH) 1 tipicamente Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológi-
cas
identificada em fases tardias da doença,
com contagens de CD4+ baixas (<250
céls/mm3). Dada a maior disponibilidade Homem de 38 anos com hematoma subdural
da fossa posterior, pós-traumatismo crânio-en-
da terapêutica anti-retrovírica, com núme- cefálico (TCE), submetido a craniotomia des-
ro crescente de doentes com contagens compressiva complicada por hidrocefalia, com
CD4+ altas durante mais tempo, esta com- alta após colocação de derivação peritoneal.
plicação é cada vez menos objetivada.
A imagem a apresentar trata-se de uma Após 20 dias, com novo TCE a provocar hemor-
biópsia cutânea de um doente de 53 anos, ragia subaracnoideia fronto-basal esquerda. Du-
VIH positivo, CD4+ 500 céls/mm3, que de- rante o internamento com alteração do estado
senvolveu exantema maculo-papular pruri- de consciência e necessidade de entubação
ginoso associado a eosinofilia. Este caso orotraqueal (EOT) para proteção de via aérea.
demostra a importância de manter presen- Imagiologicamente com hidrocefalia activa te-
traventricular, secundária a cavidade hidrosirin-
te esta complicação quando se observa gomiélica (imagem).  Manteve-se em ventilação
um doente VIH positivo com alterações espontânea, tolerando EOT sem sedoanalgesia.
cutâneas, ainda que a contagem de CD4+ Assume-se assim compressão do tronco por cavi-
seja alta. dade siringomiélica,  secundária à obstrução da pas-
sagem do líquor por sinéquias. Submetido a tre-
P n.º 2969  panação e lise de sinéquias, com resolução da
Celulite cervical de origem odontológica hidrocefalia e recuperação do estado de cons-
Erica Barata(1);Inês Marques(1);Filipa Montei- ciência.
ro(1);Catarina Araújo(1);Elena Pirtac(1);Francis- P n.º 2974 
ca Delerue(1) Metástases cutâneas de angiossarcoma da
(1) Hospital Garcia de Orta, EPE mama
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias Pedro Vazão Vasques(1);Mário Parreira(1);Ri-
cardo Pereira(1);Emily González(1);Mariana
Marçal(1);Rute Pereira(1);Ana Canastra(1)
As extracções dentárias são procedimen- (1) Hospital São Bernardo
tos que na grande maioria dos casos não pro-
duzem mais que um incómodo passageiro de Tema: Doenças oncológicas
rápida cicatrização. No entanto, não é rara a
ocorrência de complicações. Mulher de 46 anos Os autores apresentam o caso de uma doente
de idade, sem antecedentes de realce. Apresen- de 66 anos de idade que surgiu com nódulos
ta quadro de edema e dor cervical à palpação cutâneos eritemato-violáceos dispersos pelo
da região cervical e supraclavicular esquerda de corpo, conforme atestam as imagens. Trata-se
inicio súbito. Referia ter extraído várias peças de uma doente com o diagnóstico de esclerose
dentárias 3 semanas antes, sem antibioterapia sistémica com envolvimento cutâneo, gastroin-
posterior. Ecografia partes moles do pescoço testinal e vascular pulmonar, que nos últimos 3
que sugeriam celulite. TC do pescoço “ Densi- meses apresentou agravamento do seu estado
ficação difusa, sem aspecto organizado com geral, com astenia e perda ponderal significati-
algum líquido nos planos intermusculares, em va, a par do aparecimento das lesões que apre-
relação com edema. Líquido estende-se do sentamos. A investigação levou à identificação
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 469
de um angiossarcoma da mama com extensa capacidade de marcha. Este caso clínico relembra
metastização cutânea, uma condição bastante a importância do reconhecimento e abordagem
rara. A extensão da doença e o quadro de sar- urgente dos quadros de compressão medular, salva-
copénia já presente determinaram a opção por guardando-se o potencial de reversão dos mesmos.
um tratamento sintomático.
P n.º 2992 
P n.º 2978  Síndrome aórtico agudo: para além da disse-
Miocardiopatia alcoólica num jovem ção
Rúben Raimundo(1);Ana Catarina Rodri- Patrícia Rocha(1);Emanuel Carvallho(2);Marta
gues(2);André Mendes(1);Jerina Nogueira(1);E- Oliveira Ferreira(2);Ana Pessoa(2);Sara Perei-
lisabete Mendes(1);Ana Paula Rezende(1);Nídia ra(2);Nuno Cardoso(2)
Calado(1);Augusto Mendonça(1);Isabel Lavadi- (1) Centro Hospitalar do Médio Ave, EPE / Hos-
nho(1);Isabel Soles(1) pital Conde São Bento (2) Centro Hospitalar do
(1) Unidade Local de Saúde do Norte Alenteja- Médio Ave, EPE / Unidade de Vila Nova de Fa-
no - Hospital de Portalegre (2) Unidade Local malicão
de Saúde do Norte Alentejano - Hospital Santa
Luzia de Elvas Tema: Doenças cardiovasculares
Tema: Doenças cardiovasculares Homem de 64 anos que recorreu à urgência por epi-
gastralgia súbita e intensa, com irradiação torácica
A miocardiopatia alcoólica consiste na dilata- e interescapular, associada a hipertensão grave.
ção simétrica dos ventrículos com défice grave Realizou tomografia computorizada (figura 1 – A
de contração sistólica devido a consumo exces- e B) que mostrava imagem hipodensa, excêntrica,
sivo e prolongado no tempo de álcool. Apresen- junto ao arco aórtico e aorta descendente, sem flap.
ta-se o caso de um jovem de 31 anos que era Após discussão multidisciplinar, a hipótese de sín-
drome aórtico agudo (SAA) pareceu estar excluída.
consumidor de álcool desde os 8 anos de idade
Por manter dor e hipertensão de difícil controlo,
com uma média de consumos de 100-120 g de repetiu imagem 24 horas depois (figura 1 – C e D)
álcool por dia. O ecocardiograma revelou uma que mostrava aumento da espessura e  densidade
fração de ejeção de 23% com acinesia genera- da lesão, compatível com hematoma intramural.
lizada e má função sistólica global. Apesar do Foi orientado por cirurgia vascular com stenting do
tratamento médico instituído o doente acabou tronco celíaco para exclusão de rotura.
por falecer por insuficiência cardíaca terminal
por recusar abstinência alcoólica e pelo incum- O hematoma intramural aórtico corresponde a um
primento da terapêutica. A imagem da silhueta subtipo de SAA cuja imprevisibilidade e morbimorta-
cardíaca, já presente desde os 18 anos de ida- lidade sustentam a importância da sua suspeição.
de, impressiona tendo em conta o aumento do
índice cardiotoracico. P n.º 2996 
A insuficiência terapêutica da gota!
P n.º 2989  Ricardo Veiga(1);Dora Gomes(1);Joana Andra-
Síndrome de compressão medular – um diag- de(1);Inês b. Mesquita(1)
nóstico a não esquecer (1) Centro Hospitalar Tondela-Viseu, EPE / Hos-
Maria Manuela Estevinho(1);Jorge Reis(1);Sofia pital de São Teotónio, EPE
Pereira(1);Manuela Sequeira(1)
(1) Centro Hospitalar Gaia e Espinho Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e
vasculites
Tema: Doenças oncológicas
Homem de 85 anos com  exuberantes todos go-
Doente de 71 anos, autónoma, antecedentes de car- tosos nos membros superiores e inferiores,
cinoma ductal invasor da mama T4bN2M1 (metasti- com incapacidade funcional marcada. Os tofos
zação hepática e pulmonar), sob hormonoterapia e são um sinal de gota não controlada, isto é,
palbociclib. Recorreu ao serviço de urgência por pa-
résia dos membros inferiores, com 6h de evolução,
com sintomas crónicos e com flares anuais,
a condicionar incapacidade total para marcha. Apre- mesmo com medicação adequada.  Visível fla-
sentava também parestesias desde a raiz de ambas re na 1ª MTF à direita que poderá ser conse-
as coxas. A tomografia computadorizada revelou quência de não controlo de hiperuricemia ou
compressão medular e radicular a nível de T3-T5, por trigger com terapêutica anti hipertensora
T12 e L2 e fratura patológica de L2, L3 e L4. Foi sub- (diurético: clorotalidona). Para controlo da dor
metida laminectomia de T3-T5, descompressão dor- medicado, no passado, com AINE (surgindo
sal do canal medular, metastasectomia intracanalar DRC intrínseca). Atualmente apenas com para-
em T4 e radioterapia dirigida, com recuperação da cetamol! Desta forma, a insuficiência terapêuti-
470
IMAGENS EM MEDICINA
ca não é só na gota mas principalmente com o P n.º 3022 
doente.  Pseudotumor do Pulmão
Ana Rita Freire(1);Patrícia Alves(1);Ana Pimentel(1);-
Fernando Matos(1);Maria de Jesus Banza(1)
P n.º 3006  (1) Centro Hospitalar de Leiria / Hospital de Santo
Empiema Pleural – um caso de dispneia arras- André
tada
Paula Costa(1);Filipa Lima(1);Laurindo Tema: Doenças cardiovasculares
Frias(1);Raquel Senra(1);Luís Dias(1)
(1) Hospital do Divino Espírito Santo, Ponta Del- Pseudotumor do pulmão é uma alteração imagioló-
gada gica compatível com uma massa tumoral causada
por um derrame encarcerado entre cisuras pleurais.
Tema: Doenças respiratórias
Apresentam-se duas imagens:
Homem, 39 anos, ex-toxicodependente e portador
de hepatite C crónica. Recorre ao serviço de ur- A primeira refere-se a uma mulher de 84 anos com
gência por dispneia, tosse produtiva e dor torácica antecedentes de insuficiência cardíaca (IC) que re-
pleurítica. Objetivamente com murmúrio vesicular correu à urgência (SU) por dispneia. A radiografia
diminuído nos 2/3 inferiores do hemitórax direito, torácica (RxT) apresentava uma opacidade cilíndrica
analiticamente com elevação dos parâmetros infla- na cisura oblíqua do pulmão direito. Foi medicada
matórios. Radiografia do tórax com opacidade em com furosemida.
toalha à direita. TC–torácica revelou volumosa co-
leção no hemitorax direito, com sinal da pleura divi- A segunda corresponde a um homem de 86 anos,
dida e nível hidroaéreo, sugerindo empiema pleural. também com antecedentes de IC, que recorreu ao
Já sob antibioterapia, foi efetuada toracocentese SU por dispneia e cansaço fácil. Na RxT apresentava
diagnóstica e evacuadora. A bacteriologia do líquido uma opacidade oval no terço médio/inferior do hemi-
pleural revelou-se negativa. Por recidiva, foi subme- tórax direito. Realizou terapêutica com furosemida e
tido a descorticação pulmonar e pleurectomia, com espironolactona.
evolução clínica e analítica favorável.
Mediante boa resposta à instituição de diuréticos é
possível diagnosticar um pseudotumor do pulmão,
P n.º 3010  hipótese a considerar para evitar procedimentos
Pâncreas Anular desnecessários.
Ana Rita Freire(1);Patrícia Alves(1);Ana Pimentel(1);-
Fernando Matos(1);Maria de Jesus Banza(1) P n.º 3050 
(1) Centro Hospitalar de Leiria / Hospital de Santo A clínica nem sempre indica o caminho
André Daniela Antunes(1);Cláudia Caseiro Antunes(1);-
Joana Gonçalves(1);Teresa Bruno(1);Ana Margarida
Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá- Arantes(1);Diana Vieira Castro(1);Carolina Roriz(1);-
ticas Cátia Santos(1);Fernando Henriques(1);Luis Mar-
ques Pereira(1)
O pâncreas anular é uma anomalia congénita rara (1) Hospital Santo André - Leiria
em que um anel de tecido pancreático circunda a
segunda porção do duodeno. A maioria dos doen- Tema: Doenças cardiovasculares
tes tem manifestações na primeira infância, mas o
diagnóstico pode ser feito em idade adulta. Descreve-se o caso de doente 69 anos, com quadro
com inicio 2 semanas antes de anorexia, dor lombar
Apresenta-se um homem de 39 anos com diagnós- a esquerda, disúria, perda de esfíncteres, náuseas e
tico de diabetes mellitus que recorreu ao serviço de vómitos. Dá entrada na reanimação com hipotensão
urgência com vómitos incoercíveis e dor epigástrica, refratária a fluidoterapia e taquicardia. Realizada
sendo internado no serviço de medicina interna por Tomografia axial que mostra tromboembolia pulmo-
alcalose metabólica e disfunção renal. nar extensa, aneurisma da aorta abdominal, trombo-
sado e trombo na ilíaca externa esquerda e femoral.
A colangiopancreatografia por ressonância magné- Realizada fibrinólise com melhoria da situação clini-
tica mostrou estenose na segunda porção do duo- ca.
deno, a sugerir a possibilidade de pâncreas anular
estenótico e obstrutivo, assim como sinais de pan- O Tromboembolismo Pulmonar (TEP) é uma enti-
creatite crónica no corpo e cauda do pâncreas. dade frequente e continua a representar um desafio
diagnóstico na prática clínica diária.  Nos casos
Este foi um achado importante para a orientação do mais graves, a oclusão do leito arterial pulmonar por
doente, que permitiu o encaminhamento para con- um trombo pode provocar falência ventricular direita
sulta de cirurgia e posterior resolução cirúrgica do
quadro clínico. aguda e fatal, embora potencialmente reversível.

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 471


P n.º 3058  conhecidos. Quadro de lesões papuloescamo-
Um caso de linfangioleiomiomatose inespera- sas, inicialmente lesão única axilar, rapidamen-
do te generalizadas, para afetar quase totalidade
Luís Miguel Pereira(1);Tatiana Oliveira(1);Natá- de tronco e membros, poupando região cervical
lia Fernandes(1);Diogo Cruz(1) e face. Associadas a prurido intenso, causador
(1) Hospital Cascais limitação funcional importante, sobretudo por
perturbação de sono.
Tema: Outro
Apresentação com 15 dias de sintomatologia,
Mulher de 45 anos, ex-fumadora, sem outros anteceden-
tes de relevo, com internamento por pielonefrite com
após tratamento tópico ineficaz. Dado evolução
disseminação hematológica. Cumpriu antibioterapia com arrastada e sintomas refratários a terapéutica
melhoria clínica e analítica. Os sintomas recrudesceram tópica, optou-se por biópsia de pele, que mos-
ao fim de 2 meses, repetindo o quadro clínico, tendo-se trou histologia compatível com Pítiríase Rósea.
isolado o mesmo agente em hemoculturas. Por suspeita Fez ciclo curto de corticoterapia oral e anti
de colecção abecedada que explicasse a bacteriemia,
realizou tomografia computadorizada toraco-abdomino-
histamínicos, com resolução completa de sinto-
-pélvica, que excluiu colecções que explicassem o quadro mas e regressão de alterações cutâneas.
da doente. A TC apresentou uma alteração não expectá-
vel: as imagens dos campos pulmonares apresentavam P n.º 3087 
padrão com múltiplos quistos aéreos, envolvendo todos Homem - bomba relógio
os lobos pulmonares, em relação com linfoangioleiomio- Dra. Daniela Neto(1);Anabela Carvalho(1);Jorge
matose pulmonar não conhecida. Cotter(1)
(1) Hospital Senhora da Oliveira, Guimarães
P n.º 3070 
Uma imagem vale mais que mil palavras Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente
Dra. Daniela Neto(1);Danay Pérez Mijenes(2);- crítico
João Rodrigues Barros(3);Olga Araújo(4);Ricard
Cervera(4) Homem, 61 anos, antecedentes de tabagismo que
(1) Hospital Senhora da Oliveira, Guimarães (2) recorreu ao Serviço de Urgência por cervicalgia
Unidade Local de Saúde de Matosinhos, EPE / direita, de inicio súbito, com irradiação para o hemi-
Hospital Pedro Hispano (3) Hospital do Espírito tórax e região lombar homolaterais. Na Tomografia
Santo, EPE, Évora (4) Hospital Clinic, Barcelona Computorizada (TC) de Tórax com angioTC com
evidência de disseção da aorta torácica com inicio
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e na raiz e prolongando-se ao longo da aorta abdo-
vasculites minal até às artérias ilíacas comuns bilateralmente,
envolvendo também a artéria renal esquerda e tron-
co celíaco.
Mulher de 20 anos, latino-americana com o diag-
nóstico de Dermatomiosite (DM). Clinicamente ao
diagnóstico, com pápulas de Gottron (imagem 1), P n.º 3089 
erupção em heliotrópio (imagem 2), sinal do “xaile” Hérnia pulmonar idiopática
(imagem 3) e fraqueza muscular e disfagia. Nos Rúben Raimundo(1);Ana Catarina Rodri-
exames complementares de diagnóstico, analitica- gues(2);André Mendes(1);Jerina Nogueira(1);A-
mente com creatinina cinase de 5728 U/L e anti-TI- na Paula Rezende(1);Elisabete Mendes(1);D-
F1γ positivo, ressonância magnética dos membros jenabu Cassama(1);Nídia Calado(1);Isabel
inferiores (MIs) compatível com miopatia inflamató- Lavadinho(1);Isabel Soles(1)
ria, eletromiografia com padrão miopático ativo com (1) Unidade Local de Saúde do Norte Alenteja-
distribuição proximal e simétrica de predominio nos no - Hospital de Portalegre (2) Unidade Local
MIs, tránsito esófago-gástrico-duodenal com alte-
ração da motilidade esofágica e biópsia muscular de Saúde do Norte Alentejano - Hospital Santa
característica de miopatia inflamatória e fenótipo de Luzia de Elvas
DM.
Tema: Doenças raras
P n.º 3071 
Hérnia pulmonar é definida como uma hernia-
Pitiríase Rósea Exuberante
ção do pulmão para fora da cavidade torácica.
Rui Carvalho(1);Rita Silva(1);Nuno Silva(1)
São infrequentes e normalmente surgem após
(1) Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto
trauma ou toracotomia. Os sintomas típicos
Douro, EPE / Hospital de Vila Real
são a dor torácica, dispneia e uma protuberân-
Tema: Outro cia torácica facilmente palpável. Apresenta-se
o caso de uma doente de 72 anos que ficou
internada por uma tromboembolia pulmonar
Doente 57 anos, sem antecedentes de relevo (TEP) após ter sido submetida a uma interven-
472
IMAGENS EM MEDICINA
ção cirúrgica para colocação de prótese do À luz da evidência da disfunção endotelial provocada
fémur. Após fazer a TC torácica de diagnóstico pela COVID19, este caso demonstra o seu potencial
da TEP, objetivou-se uma herniação pulmonar protrombótico, não se podendo denegrir, contudo, o
sem qualquer sintomatologia e sem história de papel do tabagismo.
trauma ou cirurgia torácica. Hérnias pulmona- P n.º 3106 
res assintomáticas devem ser vigiadas e não Uma causa de elevação de hemicúpula diafragmá-
necessitam de intervenção cirúrgica, a não ser tica
quando há risco de estrangulação. João Luís Cavaco(1);Ana Furão Rodrigues(1);Sara
Vasconcelos-Teixeira(1);Ana Oliveira Pedro(1);Antó-
P n.º 3097  nio Pais de Lacerda(1)
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi-
“Não sei, não me lembro…”
tal de Santa Maria
Diana Isabel Rocha(1);Sérgio Alves Sousa(1);-
João Araújo Correia(1) Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá-
(1) Centro Hospitalar Uni. Porto ticas
Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológi-
Mulher de 61 anos, sem antecedentes, recorre ao
cas
serviço de urgência por dor torácica após trauma
durante prática desportiva. Radiografia de tórax
Mulher de 46 anos. Contexto clínico de distrofia excluiu fraturas de grelha costal e documentou
miotonica de Steinert com diparésia facial e te- elevação de hemicúpula diafragmática direita, sem
traparésia grau 4 de predomínio distal, síndrome exames prévios para comparação. Realizou exame
depressivo major e obesidade. Recorreu ao serviço de TC que mostrou volumoso quisto hepático a
de urgência por queda. Não teve perda de consciên- justificar elevação da hemicúpula. Não apresentava
cia nem trauma craneo-encefálico. Apresentava insuficiência respiratória e, por isso, sem necessida-
discurso lentificado, confuso e parco. Para além de de drenagem urgente. Quando existe compromis-
da tetraparesia já conhecida, esta era ligeiramente so hemidiafragmático, a hemicúpula contralateral
mais evidente no membro superior direito. Realizou é geralmente suficiente para assegurar ventilação
TC cerebral que mostrou lesão expansiva frontal adequada. Em doentes mais idosos ou naqueles
esquerda com extenso edema vasogénico e desvio que apresentam comorbilidades do foro respirató-
das estruturas. Realizou lobectomia esquerda sen- rio, poderá existir insuficiência respiratória concomi-
do a biopsia compatível com glioblastoma multifor- tante.
me grau IV. Apesar da doença psiquiátrica grave e
da sua doença neurológica dificultar a interpretação
P n.º 3107 
do exame neurológico, este caso salienta a impor-
Título: Artropatia de Jaccoud – um caso de artro-
tância de excluir primeiramente a etiologia orgânica
patia mutilante rapidamente progressiva
para alterações de comportamento.
Emily González(1);Ricardo Pereira(1);Carolina Pal-
ma(1);João Tavares(1);Pedro Vasques(1);Ana Ca-
P n.º 3102  nastra(1);Rute Pereira(1);Mário Parreira(1);Pedro
TROMBOSE AORTOILÍACA AGUDA NA COVID19 Carreira(1);Ermelinda Pedroso(1)
Sofia Pimentel(1);João Patrício(1);Ana Rita Ambró- (1) Centro Hospitalar de Setúbal, EPE / Hospital de
sio(1);Henrique Pina(1);Rita Jorge(1);Marta Teodo- São Bernardo
ro(1);Fernando Martos Gonçalves(1);José Lomelino
Araújo(1) Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
(1) Hospital Beatriz Ângelo culites

Tema: Outro
O Lúpus Eritematoso Sistémico é uma doença
auto-imune com acometimento de vários órgãos
Homem de 55 anos, fumador, apresenta-se com dor e sistemas. O seu envolvimento articular caracteri-
súbita, diminuição da temperatura e palidez no pé za-se por uma artrite deformante não erosiva com
esquerdo. Realizara pesquisa de SARS-CoV2 há 14 semelhanças à encontrada na Artrite Reumatóide.
dias por contacto com filha infetada, que se revela Os principais achados são o desvio ulnar dos me-
positiva. Pulsos femorais e poplíteos palpáveis, tacarpos, subluxações das metacarpo-falângicas
menos amplos à esquerda; sem edema ou dor à e deformidades em “pescoço de cisne”, bem como
palpação da face posterior das pernas. D-dímeros deformação em “Z” do polegar. As imagens são
acima de 32.50mg/L. Ecodoppler revelou provável relativas a uma mulher de 70 anos diagnosticada
trombose arterial da perna à esquerda e do pé à di- com Lúpus há 14 anos que no espaço de um ano
reita. AngioTC toracoabdominopélvica e dos mem- desenvolve artrite deformante das articulações me-
bros inferiores mostrou trombose parcial da aorta tacarpo-falângicas e interfalângicas proximais, com
abdominal infrarrenal, com lúmen aórtico permeável polegar em forma de “Z” e sem grande actividade
mínimo de 5mm. inflamatória das mesmas. Objetivada a ausência de
erosões articulares nas radiografias das mãos das
articulações anatomicamente deformadas.

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 473


P n.º 3114  gulação
Empiema Bacteriano Espontâneo Catarina Abreu(1);Tatiana Soares Correia(1);Ma-
Daniela Bento(1);Ana Raquel Afonso(1);Catarina riana Martinho(1);Melanie Ferreira(1);Francisca
Sousa Alves(1);Renata Violante Silva(1);Fernando Delerue(1)
Salvador(1) (1) Hospital Garcia de Orta, EPE
(1) Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Dou-
ro, EPE / Hospital de Vila Real Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente
Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá- crítico
ticas
O efeito hematócrito é um nível fluído-fluído que se
Homem, 56 anos, com cirrose hepatica alcoolica, caracteriza pela deposição de elementos celulares
Child-Pugh B9, MELD-Na 20, ascite grau 2, hidroto- do sangue com sobrenadante líquido identificado
rax hepático direito e hernia umbilical, apresentou- por tomografia computorizada. Apresenta-se o caso
-se por dispneia com agravamento progressivo ao de um doente do sexo masculino, 47 anos, cronica-
longo de 3 dias. Do estudo efetuado verificou-se au- mente anticoagulado com varfarina sem vigilância
mento do derrame pleural à direita em radiografia de INR há 2 anos. Recorre ao serviço de urgência
e TC torax, sem evidência de infeção pulmonar. por aumento do volume e dor abdominal com uma
Realizou toracocentese diagnóstica e terapêuti- semana de evolução. Objetivamente com abdómen
ca com contagem de polimorfonucleares superior em tábua e analiticamente com INR de 6,94. A pre-
a 250 /mm3 e isolamento de Klebsiella pneumo- sença de hematoma intra-abdominal com efeito he-
nia no liquido pleural (LP), cumprindo assim os 3 matócrito documentado na imagem é patognomóni-
critérios para diagnóstico de empiema bacteriano co de hemorragia por anticoagulação. Este caso
espontâneo. Com hemoculturas positivas para o alerta-nos para a importância dos exames imagio-
mesmo agente e liquido ascitico esteril, iniciou an- lógicos na confirmação da causa e do diagnóstico
tibioterapia dirigida por teste de sensibilidade com e do potencial iatrogénico do mau controlo do INR
piperacilina-tazobactam, com boa resposta clinica e na anticoagulação com antagonistas da vitamina K.  
analitica, apresentado culturas de controlo do LP e
hemoculturas ao 7º dia negativas.  P n.º 3125 
Um buraco no peito
P n.º 3117  Margarida Madeira(1);António Lorena Pes-
Abcesso cerebral intraparenquimatoso em doente soa(1);Daniela Félix Brigas(1);Francisca San-
VIH negativo tos(1);Hugo Viegas(1);Eugénio Dias(1);Ermelin-
André Rolo Martins(1);Liliana Torres(1);Salomé da Pedroso(1)
Marques(1);Carolina Seabra(1);Filipa Silva(1);André (1) Centro Hospitalar de Setúbal, EPE / Hospital
Paupério(1);Mari Mesquita(1) de São Bernardo
(1) Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, EPE /
Hospital Padre Américo, Vale do Sousa Tema: Doenças respiratórias
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
Mulher, 47 anos, com neoplasia pulmonar estadio
IV. Recorreu ao serviço de urgência por dor toráci-
Homem, 68 anos, sem antecedentes de síndrome ca posterior. À observação: eupneica, SpO2 de 90%,
metabólico. Admitido por hemiparesia e hemihipos- auscultação pulmonar com murmúrio vesicular
tesia esquerdas com 4 dias de evolução. Na avalia- diminuído no hemitórax esquerdo. A radiografia
ção, com hemiparesia esquerda grau 4 com evolu- de tórax revelou: imagem oval a envolver o hilo es-
ção para grau 0 em 6 horas. Tomografia craniana querdo. Foi pedida tomografia computorizada (TC)
com “lesão expansiva intra-axial no centro semioval torácica: “muito volumosa lesão cavitada do pulmão
direito na região do sulco pré central com cerca de esquerdo, atingindo cerca de 17x11x9 cm, predomi-
18 mm de maior diâmetro em relação com lesão nantemente arejada embora com nível hidro-aéreo e
com centro quístico/necrótico associada a extenso de parede muito espessa de forma irregular”.
edema vasogénico”. Analiticamente, com VIH nega-
tivo, sem outras alterações relevantes. Ressonância
magnética identificou abcesso cerebral. No internamento a doente cumpriu antibioterapia
e iniciou quimioterapia. A reavaliação aos 6 meses
mostrou remissão, quase total, da lesão.
Medicado com ceftriaxona e metronidazol. Enca-
minhado para Neurocirurgia, onde fez drenagem do
abcesso, sem intercorrências. Isolados Eikenela cor- Apesar da gravidade do quadro, a localização do ab-
rodens, Streptococcus intermedius e Prevotella inter- cesso e as co-morbilidades da doente, optou-se por
media. Alta com antibioterapia para cuidados conti- um tratamento conservador com sucesso: o contro-
nuados com défices neurológicos mantidos. lo sintomático da doente e o regresso ao domicílio.

P n.º 3122 
Efeito Hematócrito: a hemorragia na anticoa- P n.º 3133 
Tosse e Disfagia, 13 anos após Tiroidectomia
474
IMAGENS EM MEDICINA
Total (1) IPO Lisboa (2) Hospital de Santo Espírito da Ilha
João Corrêa(1);Sara Ferreira(1);Renato Gonçal- Terceira (3) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE
ves(1);Ricardo Gomes(1);Juliana Cardoso(1);- / Hospital Pulido Valente
Dália Estevão(1);Leopoldina Vicente(1)
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
(1) Centro Hospitalar Cova da Beira, EPE / Hos-
pital Distrital da Covilhã
Homem, 81 anos, com múltiplos antecedentes
Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nu- pessoais, a destacar doença cardíaca isquémica
tricionais com  necessidade de ser submetido a cirurgia de
revascularização coronária, complicada por medias-
tinite. Seis meses depois, internado por quadro com
Mulher de 86 anos, com antecedentes de tiroidec- agravamento progressivo de lombalgia, prostração
tomia total em 2007 por bócio uninodular tóxico, e incapacidade para marcha. Os meios complemen-
iniciou quadro subagudo de tosse irritativa. No tares de diagnóstico revelaram Espondilodiscite
estudo radiográfico do tórax, foi identificada uma com atingimento da 11º e da 12º vértebras dorsais.
opacidade na região mediastínica (A). Realizou to- A mediastinite é uma complicação rara da cirurgia
mografia computarizada torácica, que demonstrou cardiotorácica e quando associada a osteomielite,
a presença de massa de tecidos moles, com 64mm geralmente causa osteomielite esternal. No entanto,
de diâmetro, revelando algumas calcificações, neste caso relata-se uma situação rara de espondi-
na região mediastínica anterior (B e C). Realizou lodiscite por via hematogénica após mediastinite,
biópsia transtorácica que identificou a presença de alertando-se para a necessidade de elevado grau de
tecido tiróideu, com morfologia dentro dos parâme- suspeição quando o doente desenvolve lombalgia
tros normais (folículos tiroideus contendo escassa após um quadro de mediastinite.
substância colóide, com núcleos regulares e com
edema no estroma interveniente), com positividade
para TTF1 e negatividade para tiroglobulina. Durante P n.º 3159 
o follow-up, utente iniciou clínica de disfagia e foi A Importância da Gestão da Obstipação
referenciada para remoção cirúrgica da massa, que FILIPA FERREIRA RODRIGUES(1);Inês Ferreira(1);An-
aguarda. tónio Lamas(1);Sérgio Lima(1)
(1) Centro Hospitalar do Porto, EPE / Hospital Geral
de Santo António
P n.º 3137 
Pneumatose Gástrica- como enquadrar? Tema: Medicina geriátrica
André Pina Monteiro(1);Pedro Cota(2);Rita Ga-
no(3);José Francisco Júnior(3) Mulher de 76 anos, totalmente dependente para as
(1) IPO Lisboa (2) Hospital de Santo Espírito AVDs por síndrome demencial vascular, com síndro-
da Ilha Terceira (3) Centro Hospitalar de Lisboa me metabólica completa e cardiopatia isquémica,
Norte, EPE / Hospital Pulido Valente recorreu ao Serviço de Urgência por dor abdominal.
Analiticamente, lesão renal aguda (LRA) KDIGO 1.
Tema: Outro TC abdominopélvico a revelar moderada hidrone-
frose bilateral, com dilatação dos ureteres (figura
Homem, 75 anos, internado por quadro consump- 1) e fecaloma rectal (14,6x10,3cm) na origem da
tivo, cuja tomografia computorizada revelou pre- obstrução (figura 2). Assumida LRA pós-renal por
sença de conteúdo gasoso na vertente superior fecaloma volumoso. Iniciou terapêutica laxante e
do estômago, sugestivo de pneumatose gástrica hidratação, com resolução do quadro.
(imagem 1).  A revisão das imagens em conjunto
com a Imagiologia permitiu o diagnóstico de enfise- A obstipação é comum em idosos, graças à baixa
ma gástrico (apresentação sem espessamento da actividade física, patologias médicas e fármacos
parede). Este caso realça o importante diagnóstico obstipantes. Afecta fortemente a sua qualidade de
diferencial entre a gastrite enfisematosa - entida- vida e pode ter complicações clínicas graves, ape-
de clínica rara e associada a elevada mortalidade, sar de ser facilmente prevenida.
caracterizada por presença intramural de conteúdo
gasoso na parede ga´strica devido a` invasão por P n.º 3162 
microrganismos produtores de gás – e o enfisema Pneumonia a COVID 19 com tromboembolismo pul-
gástrico – origem não infeciosa, com resolução es- monar e trombo no ventrículo direito
pontânea e excelente prognóstico -, dado a enorme Vascogaspar(1);Marta Orantos(1);Bernardo Sil-
diferença na abordagem e evolução clínica destas va(1);Claudia Alves(1);Mariana Saraiva(1);João Car-
duas síndromes. doso(1);Luisa Wandchneider(1);Luís Siopa(1)
(1) Hospital Distrital de Santarém, EPE
P n.º 3152  Tema: Doenças cardiovasculares
O que uma cirurgia de revascularização coronária
pode originar?
Homem autónomo de 75 anos, com anteceden-
André Pina Monteiro(1);Pedro Cota(2);Rita Gano(3);-
tes de Transplante renal direito há 36 anos, me-
José Francisco Júnior(3)
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 475
dicado com prednisolona  e azatioprina, recorre cionada. Submetido a artrodese da anca esquerda,
ao SU por astenia com 10 dias de evolução e complicada de artrite séptica. As radiografias do
hipotensão. Rx Torax com hipotransparencia di- membro inferior e anca revelaram elevação do pe-
fusa bilateralmente. A pesquisa de SARS CoV2 é riósteo e destruição óssea, sugestivas de osteomie-
positiva. Analiticamente apresentavaleucocitose lite crónica multifocal, tendo sido internado. Subme-
11600x10^8 com neutrofilia 77%, PCR 15.69mg/ tido a 4 intervenções cirúrgicas de desbridamento,
dL. Gasimetricamente com 4L/min com pH: 7.50, com isolamento de Pseudomonas aeruginosa em
pO2: 68mmHg, pCO2: 25mmHg, sO2: 91%, biópsia óssea, cumprindo antibioterapia dirigida.
lactato 1.1mmol/L. Tc Torax com áreas de em Como intercorrência teve vários isolamentos de
vidro despolido em ambos os lobos superiores e múltiplos microorganismos em hemoculturas, reali-
inferiores. Durante o internamento agravamento zando vários ciclos de antibioterapia. Teve alta com
clínico, com hipoxemia e hipocapnia, documentado- indicação para treino de marcha. Este caso preten-
se em AngioTC  Torax TEP maciço e trombo no de apresentar imagens cuja exuberância da patolo-
ventrivulo direito (confirmado por ecocardiograa). gia descrita servem como ilustração de um caso de
Evolução para choque obstrutivo, tendo sido osteomielite crónica.
transferido para a UCI e submetido a pela
realização de trombólise. De referir ainda enfarte P n.º 3177 
pulmonar. Enfisema subcutâneo maciço
Dra. Daniela Neto(1);Isabel Trindade(1);Sandra Bar-
P n.º 3167  bosa(1);Jorge Cotter(1)
Uma Via Verde Pouco Coronária (1) Hospital Senhora da Oliveira, Guimarães
Martinha Vale(1);Dolores Vasquez(1);Olinda Sousa
Caetano(1);António Oliveira e Silva(1) Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente crí-
(1) Hospital de Braga tico

Tema: Doenças infecciosas e parasitárias Mulher, 73 anos, com antecedentes de hipertensão


arterial, diabetes mellitus tipo 2 e obesidade. Inter-
Mulher de 51 anos, autónoma, natural do Brasil, re- nada por insuficiência cardíaca com insuficiência
sidente em Portugal há 1 ano, com antecedentes de respiratória tipo 2. Durante o internamento, por der-
litíase biliar múltipla e episódios de taquicardia su- rame pleural, realizada toracocentese diagnóstica
praventricular. Triada no Serviço de Urgência como com objetivação de um empiema e colocado dreno
via verde coronária, por clínica de toracalgia direita torácico. Como intercorrência com desenvolvimento
intensa, com irradiação para o pescoço e braço de um enfisema subcutâneo grau V (imagem 1), na
direito. Sem critérios eletrocardiográficos ou analíti- tomografia computorizada de tóraco-abdomino-pél-
cos para síndrome coronária aguda. vica “exuberante enfisema subcutâneo cervicotóra-
coabdominal bilateral com extensão inferior até a
Com parâmetros inflamatórios e d-dímeros aumen- fossa ilíaca à esquerda e à direita atingindo a região
tados, realizou tomografia computadorizada con- inguinal e exuberante enfisema mediastínico”. Co-
trastada a revelar abcesso hepático subfrénico de locados 2 drenos subcutâneos na região torácica
5cm com componente contíguo suprafrénico de anterior sobre o 3.ºespaço intercostal (imagem 2),
2cm. Realizada drenagem ecoguiada do abcesso com resolução completa do enfisema (imagem 3).
com isolamento de Klebsiella pneumoniae.
P n.º 3179 
O abcesso hepático piogénico mantém uma taxa de O diagnóstico por trás da máscara
mortalidade importante.   O diagnóstico e a institui- André Rosas Pereira(1);Gustavo Gonçalves Cos-
ção de tratamento empírico precoces são cruciais na ta(1);Ana Sofia Carvalho(1)
abordagem desta patologia. (1) USF Tondela (ACES Dão Lafões)
P n.º 3171  Tema: Doenças oncológicas
Osteomielite crónica multifocal de membro inferior
Rosário Cardoso(1);Marco Fernandes(1);Cristina
Carvalho Gouveia(1);Inês Egídio de Sousa(1);An- Doente do sexo masculino, 78 anos, com antece-
dreia Salgadinho Machado(1);Vanessa Branco(1);A- dentes de adenocarcinoma do cólon submetido a
na Isabel Duarte(1);Joana Borges de Azevedo(1);- colectomia total, carcinoma da próstata submetido
Francisco Homem de Gouveia(1);Daniela Inácio a braquiterapia e tabagismo ativo (76 unidades
Ribeiro(1);Madalena Cabrita(1);Alice Sousa(1);Ana maço/ano), que recorreu ao seu médico assistente
Lynce(1);Luís Campos(1) por odinofagia e lesão da cavidade oral com quatro
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE / meses de evolução por indicação do médico den-
Hospital de S. Francisco Xavier tista. Sem referência aos mesmos em consultas
prévias e, devido a constrangimentos pandémicos,
Tema: Outro não retirou a máscara de proteção. Visualizada
lesão ulcerada no bordo esquerdo da língua e exten-
são até à base, cerca de 4 cm, consistência dura e
Homem de 70 anos. Antecedentes de fractura trau- friável. Realizou biópsia que identificou carcinoma
mática do membro inferior esquerdo, não interven-
476
IMAGENS EM MEDICINA
espinhocelular. Iniciou regime intensivo de quimio e Tema: Doenças respiratórias
radioterapia com boa resposta local com posterior
evidência de metastização pulmonar. Homem, de 71 anos de idade, autónomo e antece-
dentes patológicos: HTA; DPOC; Enfisema pulmo-
P n.º 3182  nar; Ex-fumador (40UMA); Arritmia cardíaca NE.
Trombose arterial severa associada à COVID-19 Cumpridor da sua medicação habitual. Do foro
Marina Mendes(1);Francisco Pombo(1);Ana So- respiratório, só faz broncodilatadores. Recorre ao
fia Carvalho(1);Diana Anjos(1);Maria Margarida SU por dor torácica aguda e sensação de falta de ar.
Luís(1);Mari Mesquita(1) Apresentava enfisema cutâneo palpável; com boas
(1) Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, EPE / saturações periféricas em ar ambiente (SatO2: 94%)
Hospital Padre Américo, Vale do Sousa e uma GSA aa com pCO2 40; pO2: 67; SatO2:97,6%.
Analiticamente, sem alterações. ECG normal  e TAC
Tema: Doenças cardiovasculares Tórax  que objetivou enfisema bolhoso; com cica-
trizes do parênquima pulmonar, associado a um
As formas graves da COVID-19 parecem estar Pneumotórax espontâneo à direita, em contexto da
associadas a um estado de hipercoaguabilidade sua doença pulmonar de base. Foi submetido a res-
caracterizado por angiopatia trombótica micro e seção pulmonar atípica do LID e pleurodese (VATS).
macrovascular. Eventos trombóticos venosos nes- Apesar da sua idade, comorbilidades e alterações
ta doença têm sido descritos. No que concerne a imagiológicas, o doente sobreviveu, mantendo a sua
trombose arterial, os dados são ainda escassos. terapêutica habitual e oxigenoterapia por ON a 2L/
Apresentamos o caso de um homem de 77 anos de min.
idade, com infeção por SARS-CoV2 em fase IIb que
apresentou trombose extensa da aorta abdominal P n.º 3192 
abaixo da eminência das artérias renais, condicio- O braço fantasma
nando isquemia irreversível dos membros inferiores, Margarida Madeira(1);António Lorena Pessoa(1);-
com desfecho fatal.  Francisca Santos(1);Daniela Félix Brigas(1);Eugénio
Dias(1);Ermelinda Pedroso(1)
P n.º 3187  (1) Centro Hospitalar de Setúbal, EPE / Hospital
Um caso de trombose mesentérica superior de São Bernardo
Joana Castro Vieira(1);Rafael Oliveira(1);Priscila Me-
lo(1);Mariana Simão Magalhães(1);Ana Filipa Ro- Tema: Doenças oncológicas
drigues(1);Ana Cristina Teotónio(1);Ana Margarida
Faria(1);Rosa Amorim(1) Mulher de 80 anos, com neoplasia da mama
(1) Centro Hospitalar do Oeste - Unidade de Caldas
da Rainha ativa com metastização renal e óssea múltipla,
sofreu traumatismo direto minor por impacto da
Tema: Doenças cardiovasculares porta do carro sobre o membro superior direito.

Homem de 70 anos  com antecedentes de doença É diagnosticada fratura patológica supracondiliana do


pulmonar obstrutiva crónica, tabagismo ativo, hiper- úmero direito, sendo que foi optado por tratamento
tensão arterial, diabetes mellitus tipo 2, dislipidemia, conservador dadas as co-morbilidades subjacentes –
doença arterial periférica, status acidente vascular imobilização do braço.
cerebral lacunar hà 8 anos é internado no Serviço de
Medicina Interna por Sepsis com disfunção multior- Por deformidade em varo após a primeira sema-
gânica, realiza Ecocardiograma Transtorácico que na, realiza nova redução fechada e imobilização
descreve imagem ecodensa hipermóvel, apensa na nessa data.
face auricular do folheto anterior, com procidência
para o ventrículo esquerdo, compatível com um 7 meses após a fratura apresenta absorção
trombo, confirmado posteriormente em Ecocardio- completa da porção distal do úmero.
grama Transesofágico. Em controlo ecográfico tras-
torácico ausência de imagem ecodensa existente P n.º 3215 
em ecocardiogramas anteriores . Por dor abdominal Fenómeno de Raynaud e úlceras digitais no
e vómitos realiza Tomografia Computorizada Toraco
Abdomino Pélvica com evidência de trombose me-
serviço de urgência
sentérica superior. Catarina Pinto Marques(1);Mónica Spencer
Pereira(1);Domingas Pereira(1);Yuri Korotkevy-
ch(1);José Vaz(1)
P n.º 3189  (1) Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo,
ENFISEMA BOLHOSO E SUAS COMPLICAÇÕES
Ana Martins Neves(1);Dr. Sócrates Naranjo(1);Dr.ª
EPE / Hospital José Joaquim Fernandes
Ana Bela Mateus(1);Dr.ª Isabel Soles(1) Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente
(1) Unidade Local de Saúde do Norte Alentejano -
Hospital Santa Luzia de Elvas crítico

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 477


Doente de 45 anos de idade, que recorreu ao serviço Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológi-
de urgência por apresentar várias lesões nos dedos cas
digitais e alteração da coloração dos dedos. À ob-
servação destacam-se imediatamente o fenómeno
de Raynaud (FR) acompanhado por úlceras digitais Mulher de 69 anos, à observação com parésia
na polpa dos dedos, Pitting scar, puffy fingers de facial periférica direita severa, hipoacusia ipsila-
alguns dedos e 3 telangiectasias na face. É muito teral, disartria moderada e hiperemia do palato
importante reconhecer estas alterações e ponderar com a presença de vesículas. Assumiu-se um
o diagnóstico de esclerose sistémica. Deve iniciar Síndrome de Ramsay-Hunt, uma doença neuro-
precocemente bloqueadores dos canais de cálcio lógica rara pelo vírus Varciela-Zóster, caracteri-
e iloprost endovenoso na tentativa de reduzir o va- zada pela tríade: otalgia, paralisia facial perifé-
soespasmo arterial. É importante reconhecer estas rica ipsilateral e erupção vesicular auricular ou
alterações, orientar o doente para realização de es- na orofaringe. Comparativamente a outras pa-
tudo autoimune e explicar cuidadosamente os cui-
dados a ter para evitar FR, como utilização de luvas
ralisias faciais de etiologia viral estes doentes
e hidratação frequente das mãos. apresentam maior severidade e menor proba-
bilidade de recuperação, apesar da terapêutica
com corticoide e antiviral. Este caso destaca a
P n.º 3221  importância das paresias faciais de causa viral,
Pseudoaneurisma Ventricular: uma manifesta- e do exame objetivo completo integrado com a
ção rara de doença autoimune informação clínica, na busca pelo diagnóstico
Sara Moutinho Pereira(1);Rute Fernandes(1);Ce- do doente.
cília Moreira(1);João Lázaro Mendes(2);Marga-
rida Oliveira(1);Nuno Moreno(1);Luísa Guerrei-
ro(1) P n.º 3225 
(1) Unidade Local de Saúde de Matosinhos, EPE Adalimumab vs. COVID-19
/ Hospital Pedro Hispano (2) Centro Hospitalar Nuno Amorim(1);João Gouveia Fonseca(2);San-
Tondela-Viseu, EPE / Hospital de São Teotónio, dra Oliveira Mendes(2);Alexandre Vasconce-
EPE los(2)
(1) Hospital Distrital da Horta (2) ULSMatosi-
Tema: Doenças cardiovasculares nhos
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e
Mulher de 66 anos com múltiplos factores de risco vasculites
vascular, doença mista do tecido conjuntivo e enfar-
te agudo do miocárdio (EAM) com pericardite pós-
-EAM. Nesse evento, foram identificados anticorpos A Artrite Psoriática (AP) é uma artropatia infla-
antifosfolipídicos (AF) positivos e iniciada hipocoa- matória que surge em doentes com Psoríase
gulação e antiagregação simples. Após 4 meses, (cerca de 20-30%). Pode revelar-se de várias
iniciou dispneia para esforços e o ecocardiograma formas, desde o envolvimento mono até poliar-
de reavaliação mostrou solução de continuidade da ticular, no contexto de formas erosivas, progres-
parede ventricular para uma cavidade loculada su- sivas e incapacitantes.
gestiva de pseudoaneurisma do ventrículo esquerdo
(VE). Foi submetida a cirurgia de remoção do falso
aneurisma e encerramento do colo. Existe apenas É descrito o caso de um doente com diagnós-
um caso descrito de pseudoaneurisma do VE as- tico de Psoríase em 2007 e de AP em 2014,
sociado a lúpus eritematoso sistémico (LES), sem sob Adalimumab desde 2015 com estabilida-
evidência de síndrome AF. Um segundo caso des- de clínica. Em Março de 2020, no contexto de
creve ruptura miocárdica após derrame pericárdico pandemia COVID-19, é suspensa a terapêutica
de grande volume, numa doente com miocardite imunossupressora, com agravamento clínico a
secundária a LES, sem evidência de isquemia.       
condicionar limitação funcional importante para
as atividades de vida diária. Observada falência
P n.º 3223  terapêutica à reintrodução de Adalimumab em
SÍNDROME DE RAMSAY-HUNT: UMA CAUSA VIRAL Outubro de 2020, com poliartralgias (mãos, pés,
DE PARESIA FACIAL ombros) e psoríase em placas exuberante nos
Carolina Coelho(1);João Lourenço(1);Inês m. Fiu-
membros inferiores. Foi iniciado Secukinumab
za Rua(1);Joana Diogo(1);Rita Monteiro(1);Rita
em Fevereiro 2021 (Imagem 1), com excelente
Bizarro(1);Angela Ghiletchi(1);Inês Matos resposta clínica (Imagem 2).
Ferreira(1);Rita Bernardino(1);Diogo Dias Ra-
mos(1);Helena Pacheco(1);Lurdes Venâncio(1);-
Conceição Loureiro(1) P n.º 3228 
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE / Embolia gasosa venosa – uma complicação
Hospital de Santo António dos Capuchos inesperada
Marina Mendes(1);Francisco Pombo(1);Sofia

478
IMAGENS EM MEDICINA
Garcês Soares(1);Maria Margarida Luís(1);Mari sugestivos de TB pulmonar. Correspondem a
Mesquita(1) dois doentes do sexo masculino com 23 e 25
(1) Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, EPE / anos, de nacionalidade indiana, a residir recen-
Hospital Padre Américo, Vale do Sousa temente em Portugal, observados no serviço de
urgência por quadro de febre, tosse seca, sudo-
Tema: Doenças cardiovasculares rese noturna e emagrecimento com um mês de
evolução. As imagens 1 e 2 correspondem, res-
A embolia gasosa venosa é uma situação rara e pectivamente, a radiografia de tórax com área
iatrogénica, secundária a intervenções intravas- sugestiva de cavitação no lobo superior esquer-
culares que potencialmente expõem a circula- do e TC torácica que a confirma. A imagem 3
ção venosa a conteúdo gasoso. Apresentamos corresponde a radiografia com padrão miliar
o caso de uma doente de 86 anos, internada sugestivo de tuberculose miliar.
por insuficiência cardíaca descompensada no
contexto de infeção respiratória. Apresentou A Índia é um dos países mais afectados pela
episódios de sincope com o ortostatismo du- TB. Dada a globalização das migrações, com
rante o internamento. Verificou-se, em tomogra- aumento da imigração proveniente de países
fia contrastada de tórax, conteúdo gasoso no tronco com elevada prevalência, é importante reco-
arterial pulmonar e ventrículo direito. Os únicos nhecer os sinais clínicos e radiológicos clássicos
procedimentos de risco identificados foram as pun- desta patologia.
ções venosas a que foi submetida para flebotomias
e administrações farmacológicas. Apresentou reab-
sorção do conteúdo gasoso sob oxigenoterapia em P n.º 3244 
alta concentração. Ascite falaciosa
Ana Lucia Mendes da Costa(1);Olinda Miran-
P n.º 3239  da(1);Isabel Bessa(1);Margarida Rocha(1);Jorge
Neoplasia do canal anal, um diagnóstico tardio Cotter(1)
Luís Miguel Relvas(1);Tânia Gago(1) (1) Centro Hospitalar do Alto Ave, EPE / Hospi-
(1) Centro Hospitalar do Algarve, EPE / Hospital tal da Senhora da Oliveira
de Faro
Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente
Tema: Doenças oncológicas crítico

O cancro do canal anal é uma entidade rara, responsável Mulher, 51 anos, autónoma. Dor abdominal, as-
por cerca de 1-2% das neoplasias do sistema digestivo. sociada a noção de aumento do perímetro
Reportamos o caso de um homem de 55 anos com hábi- abdominal, nauseas, astenia e diminuição de
tos tabágicos e etílicos marcados que apresentava lesão
perianal com um ano de evolução, condicionando à data
diurese. Antecedentes de Carcinoma invasor do
de observação obstipação alternado com incontinência colo do utero (em 20015, fez QT e RT). Avalia-
fecal. Objectivamente, identificada lesão ulcerada nas re- ção no SU: lentificação psicomotora, abdomen
giões perineal e sacrococcígea, com extensa destruição globoso, com desconforto à palpação e sinal
de tecidos. Realizada ressonância magnética que revelou da onda. Analiticamente, creatinina de 8,2 mg/
lesão superficial, centrada no orifício anal, insinuando-se
no esfíncter e região interesfincteriana, não envolvendo
dL, acidemia metabólica e hipercalémia. To-
a musculatura. As biópsias confirmaram Carcinoma de mografia abdominopelvica (TC AP): ascite de
Células Escamosas. Uma apresentação tardia poderá moderado volume, bexiga vazia e sem sinais de
surgir pela dificuldade dos doentes expressarem as suas obstrução urinária. Algaliada - saída de 1700mL
queixas neste tipo de patologia, sendo necessário o clíni- de urina de imediato. Quatro horas após al-
co estar alerta para factores de risco e sintomas. 
galiação, diurese 5100cc, sem repercussão
hemodinâmica, abdomen mole, indolor, sem
P n.º 3243  sinal da onda. Repetiu TC AP que mostrou redu-
Tosse no Jovem Imigrante ção da ascite. Repetiu TC com administração
Ana Cristina Mestre(1);Cátia Correia(1);Ana Al- de contraste por via intravesical: extravasamen-
ves Oliveira(1) to de contraste para a cavidade abdominal, con-
(1) Hospital Distrital de Santarém, EPE firmando a suspeita de bexiga rota.
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias

A tuberculose (TB) representa uma das dez


principais causas de morte no mundo.  

Descrevem-se 3 imagens com sinais clássicos

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 479


480
E-POSTERS
INDÍCE DE E-POSTERS | CASOS CLÍNI- LRA
COS P0122 - Pneumonia organizativa criptogénica - um de-
safio diagnóstico ao internista
P0004 - QUANDO O IMPROVÁVEL ACONTECE
P0130 - Perturbações do movimento e comportamento
P0013 - Exantema maculopapular como manifestação
em idosos - Catatonia como diagnóstico diferencial
principal de Febre Q
P0139 - TÉCNICAS DE SUBSTITUIÇÃO DA FUNÇÃO
P0019 - Wide QRS arrhythmia: differential diagnosis.
RENAL NO TRATAMENTO DA ACIDOSE LÁCTICA ASSO-
P0023 - Febre, tosse e perda ponderal na gravidez: sin-
CIADA À METFORMINA
tomas de LES inaugural na gestação
P0144 - Infeção invasiva por Staphylococcus aureus
P0024 - Púrpura de Henoch-Schönlein: doença rara no
P0149 - ANEMIA MULTIFACTORIAL: CRIOAGLUTININAS
adulto
E DÉFICE VITAMINA B12
P0037 - Hiponatrémia e quimioterapia: Quem, como e
P0153 - ANEMIA PERNICIOSA COM APRESENTAÇÃO
quando?
GRAVE SEM MACROCITOSE
P0044 - Síndrome de Fitz-Hugh Curtis: uma causa rara
P0161 - Dor lombar: afinal não era uma pielonefrite
de dor abdominal
aguda...
P0046 - SÌNDROME DE OVERLAP HEPATITE AUTOIMU-
P0163 - Necrose miocárdica e tamponamento cardíaco
NE/COLANGITE BILIAR PRIMARIA- RELATO DO CASO
num doente com Covid-19: miopericardite por SARS-
P0047 - QUANDO UM SINTOMA INESPECÌFICO ENCO-
-CoV-2?
BRE UMA DOENÇA RARA
P0165 - Síndrome de Lise Tumoral na Unidade de Cuida-
P0049 - Doença de Addison – quando suspeitar?
dos Intensivos Coronários
P0054 - Oxímoros expectáveis – eventos trombóticos
P0166 - Síndrome de Evans e Anemia Hemolítica Au-
apesar da hipocoagulabilidade do doente cirrótico
toimune Idiopática
P0055 - Púrpura Trombocitopénica Trombótica – como
P0168 - Multiplicidade etiológica no Acidente Vascular
prevenir a recidiva?
Cerebral
P0058 - SÍNDROME DE WUNDERLICH: UMA CAUSA
P0172 - Cranial neuropathy as first sign of systemic
RARA E GRAVE DE LOMBALGIA
vasculitis - clinical case
P0061 - Doença de Pott cervical associada a rituximab e
P0182 - Zoonose invasiva – causa rara de peritonite em
prednisolona
doente cirrótica com neoplasia pancreática avançada
P0066 - Singultos: da apresentação ao tratamento da
P0188 - Citomegalovírus e Clostridioides difficile num
COVID-19
doente imunocompetente - uma associação improvável
P0067 - Para além de uma síncope: Síndrome Parkinso-
P0192 - O desafio das Lesões Ocupantes de Espaço no
niano Atípico
doente VIH: série de casos durante a pandemia CO-
P0069 - Trombose pulmonar e cerebral: uma complica-
VID-19
ção fatal da COVID-19
P0196 - Autoimunidade e nefropatia por IgA: uma possí-
P0078 - Linfangite Carcinomatosa e Doença do Interstí-
vel associação?
cio Pulmonar - A Importância do Diagnóstico Diferencial
P0199 - Tricoleucemia: Um caso de pneumonia adquiri-
P0084 - Heparin-Induced Thrombocytopenia: a rare pre-
da na comunidade com concomitante pancitopénia.
sentation with skin necrosis
P0201 - A curious case of Acute Kidney Injury
P0087 - Enfisema Subcutâneo Maciço em Doente com
P0204 - TOXICIDADE CARDIOVASCULAR POR QUIMIO-
Covid 19 submetido a Helmet CPAP
TERÁPICOS - Não é o suspeito do costume
P0089 - A propósito de um caso de hematopoiese extra-
P0207 - Derrame Pleural Maligno: Da Clínica Ao Diag-
medular
nóstico
P0099 - Diagnóstico inaugural de SIDA com duas das
P0208 - Úlcera de Marjolin: Um caso de evolução indo-
doenças definidoras
lente
P0100 - Síndrome de locked-in - uma consequência rara
P0212 - Púrpura Trombocitopénica Trombótica do Diag-
de acidente vascular cerebral isquémico
nóstico ao Tratamento
P0105 - Euglycemic diabetic ketoacidosis triggered by
P0217 - Meningite como apresentação rara de Endocar-
pulmonary infection
dite aórtica
P0112 - Electrolytic disturbances after bowel prepara-
P0221 - Caso raro de artrite séptica esternoclavicular a
tion (CitraFleet®): a case of cardiac arrest
Enterococcus Faecalis em indivíduo imunocompetente.
P0119 - Neuropatia associada ao Dissulfiram
P0224 - Uma história de favismo dos tempos modernos
P0121 - SARCOIDOSE COM APRESENTAÇÃO INICIAL DE

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 481


P0231 - Linfohistiocitose Hemofagocítica secundária a SALA DE EMERGÊNCIA
Pielonefrite P0321 - DIABETES MELLITUS PÓS-TRANSPLANTE HE-
P0234 - HTA resistente: a angioplastia renal como arma PÁTICO: UM CASO CLÍNICO
terapêutica P0323 - Feocromocitoma Causa de Hipertensão Arterial
P0235 - Linfoma Difuso de Grandes Células B com apre- Secundária
sentação Retroperitoneal e Cutânea P0332 - Uma Complicação Inesperada
P0238 - Calcifilaxia - A propósito de um caso clínico P0337 - Quando a COVID-19 não explica tudo…
P0240 - PNEUMONIA A STENOTROPHOMONAS MAL- P0338 - Síndrome pós-pericardiotomia – a propósito de
TOPHILA NO DOENTE IMUNOCOMPETENTE um caso clínico
P0243 - HEPATITE GRANULOMATOSA: UM DIAGNÓSTI- P0339 - Enfarte renal bilateral – a propósito de um caso
CO INCIDENTAL clínico
P0247 - Uma causa farmacológica de dispneia P0346 - Endocardite tri-valvular a condicionar quadro de
P0253 - Drug reaction with eosinophilia and systemic cetoacidose diabética
symptoms (DRESS) induced by allopurinol P0351 - Mielofibrose primária como causa de derrame
P0254 - Massa Cervical: marcha diagnóstica pericárdico – um diagnóstico a considerar
P0255 - Agranulocitose Induzida Pelo Ceftriaxone P0355 - “Ouvidos Moucos”
P0258 - Macroadenoma Hipofisário Insidioso de Apre- P0357 - A importância do seguimento do Nódulo Pulmo-
sentação Atípica nar em Consulta Externa– a propósito de um caso clínico
P0260 - O perigo dos colonizadores: endocardite e es- P0358 - Tuberculose disseminada – a propósito de um
pondilodiscite por Staphylococcus capitis caso clínico
P0263 - Brucelose: a importância do contexto epidemio- P0364 - O Guerreiro Capestrano
lógico P0368 - HEPATITE COLESTÁTICA - UMA MANIFESTA-
P0266 - Hipercalcemia neoplásica como diagnóstico ÇÃO RARA DA MONONUCLEOSE INFECCIOSA
diferencial na alteração do estado de consciência P0378 - Investigar para além do óbvio
P0271 - Endocardite infeciosa P0380 - Um caso de osteíte fibrosa quística
P0276 - Corticosteróides no tratamento da febre de P0383 - Anafilaxia ao sulfato de protamina – exemplo de
origem neoplásica um caso clínico
P0278 - Insuficiência cardíaca descompensada, para P0386 - Proteinose alveolar pulmonar e infeção a CMV
além das causas óbvias - Amiloidose AL em doente imunocomprometido
P0289 - Quando ser portador de um pacemaker constitui P0387 - Fígado e rim: o que pensar?
um problema P0388 - Quando as intoxicações complicam
P0291 - Uma causa pouco frequente de hemorragia P0389 - Esferocitose Hereditária - um caso de litíase
subaracnoidea biliar recorrente
P0295 - Um caso desafiante de Tempestade Tiroidea P0392 - Miopatia lipídica como causa de rabdomiólise
P0301 - Miocardiopatia amilóide associada a transtirre- P0394 - Tudo apontava para o Paludismo … só que não
tina: uma apresentação rara ao exame físico era!
P0305 - Dispneia de causa desconhecida: papel funda- P0395 - Ainda se morre de coma mixedematoso
mental da semiologia P0398 - Um caso raro de Linfadenopatia Dermatopática
P0307 - Enterite Colagenosa: uma entidade rara com P0399 - Hepatite autoimune - evolução de uma doença
uma miríade de diagnósticos diferenciais flutuante
P0308 - Helicobacter pylori INFECTION ASSOCIATED P0408 - O sangue pode pregar partidas
WITH IMMUNE THROMBOCYTOPENIA: LESS IS MORE P0409 - Caso raro de hipercalcemia
P0309 - Pneumonia Organizativa Induzida pela Radiote- P0410 - Caso raro de dispneia
rapia, Relato de um Caso P0412 - Da oncologia a Neurologia
P0310 - Insuficiência respiratória súbita associada a P0413 - Uma causa rara de anemia
anemia hemolítica, relato de um caso P0414 - Linfangioleiomiomatose pulmonar - a propósito
P0311 - Uma causa rara e grave de alterações neurológi- de um caso clínico
cas, relato de um caso P0422 - METASTIZAÇÃO DIFUSA DE CARCINOMA DA
P0312 - Toxicidade Pulmonar Aguda à amiodarona: MAMA: UMA APRESENTAÇÃO RARA E CATASTRÓFICA
relato de caso DE RECIDIVA TUMORAL
P0320 - ABORDAGEM AO DOENTE EM CHOQUE NA P0433 - Cancro da mama, uma doença de homens

482
E-POSTERS
P0436 - Para lá da dispneia cia diagnóstica definiu o sucesso
P0438 - Um caso raro de carcinoma neuroendócrino P0523 - Quando o riso pode levar ao diagnóstico
P0447 - Um falso défice de vitamina B12 P0524 - Um derrame pleural peculiar
P0449 - Maria tifóide – um infeção parasitária galopante P0525 - Hemorragia alveolar iatrogénica acidental
P0450 - Um azar nunca vem só – um caso incomum de P0526 - Febre escaro-nodular prolongada
miocardiopatia dilatada familiar P0531 - AIDS diagnose after convulsive crisis secondary
P0456 - Nem toda a massa retroperitoneal é maligna to cerebral toxoplasmosis
P0459 - Hiperplasia Nodular Focal, quando a lesão não P0533 - Uma história em 2 tomos: Nocardiose e tuber-
vem só! culose pulmonar
P0461 - Uma causa rara de metastização na suprarrenal P0535 - Trombose da artéria mesentérica superior, a
– leiomiosarcoma uterino propósito de um caso clínico
P0464 - Degenerescência combinada subaguda: a pro- P0545 - Troika: MSSA
pósito de um caso de deficiência de vitamina B12 P0552 - Doença de Graves por infeção Sars-Cov2
P0465 - Anemia Aplásica: a propósito de um caso clínico P0556 - Ascite refratária, quando a frequência importa!
P0466 - Um caso clássico de hiperaldosteronismo pri- P0558 - A importância da ecografia à cabeceira do do-
mário: hipertensão resistente e hipocalemia ente numa sala de emergência
P0473 - SÍNDROME DE RAMSAY-HUNT TIPO II P0559 - Cetoacidose diabética euglicémica por iSGLT2 -
P0476 - Polineuropatia axonal por défice vitamínico... e uma entidade potencialmente fatal
por excesso e álcool P0560 - SIADH provavelmente por radioterapia por
P0477 - POLISEROSITE, UMA FORMA DE APRESENTA- hemangiopericitoma nasal - manifestação passado 43
ÇÃO INCOMUM DA SÍNDROME DE SJOGREN PRIMÁRIA anos
P0480 - Pancitopenia e hemólise como forma de apre- P0561 - Um estranho e raro caso de cansaço!
sentação de anemia perniciosa P0563 - Psitacose: a importância da anamnese no diag-
P0483 - Hemofilia A adquirida associada a Penfigóide nóstico
Bolhoso P0568 - Encefalite viral em doente imunossuprimido
P0493 - DUAS APRESENTAÇÕES ATÍPICAS DE CARCI- com dupilumab.
NOMA DA PROSTATA COMBINADAS NUM ÚNICO CASO P0578 - Esplenomegalia – envolvimento pelo SARS-
CLÍNICO -COV-2 ou coincidência
P0495 - MSSA metastático P0584 - Tromboembolismo venoso associado a trombo-
P0496 - Factor VIII elevado, forâmen oval patente e filia familiar.
SARS-COV2: uma combinação obstrutiva P0586 - Dissociação escapulotorácica e lesão isolada da
P0502 - Uma queda para o EBV veia subclávia
P0503 - Crise metabólica numa doente com défice de P0589 - INSUFICIÊNCIA CARDÍACA AGUDA EM DOENTE
desidrogenase de acil-CoA cadeias médias PREVIAMENTE SAUDÁVEL
P0504 - Quando a infeção respiratória era outra - a pro- P0590 - Diabetes Insípida Nefrogénica associada a Into-
pósito de dois casos clínicos xicação por Lítio – um caso clínico
P0505 - Streptococcus pyogenes, um agente de pneu- P0591 - Lombalgia e Cervicalgia – uma apresentação de
monia adquirida na comunidade Mieloma Múltiplo Não Secretor
P0506 - Pneumonia necrotizante em tempo de pande- P0593 - Causa incomum de dor lombar
mia COVID-19 P0600 - Uma massa retroperitoneal rara
P0507 - Isolamento no idoso causado pela pandemia P0604 - HEPATITE AUTOIMUNE TIPO 1 INAUGURAL AOS
COVID-19 - a propósito de um caso clínico 85 ANOS
P0516 - Causas concorrentes de hiponatremia num P0605 - Uma causa rara de anemia
doente com Síndrome de Guillain-Barré P0607 - Encefalomielite Aguda Disseminada: Apresenta-
P0518 - Discrasia hemorrágica como manifestação ção Rara E Exuberante De Lúpus Eritematoso Sistémico
paraneoplásica P0609 - A abordagem dos nódulos pulmonares
P0519 - Síndrome Mielodisplásica com Excesso de Blas- P0611 - As sequelas não reportadas da COVID-19
tos: a propósito de um caso clínico P0622 - Febre Q: Da suspeita à confirmação diagnóstica
P0521 - Complexo de Von-Meyenburg: a propósito de P0627 - Pneumonia bilateral: A “Influenza” da Pandemia
uma elevação da gama-GT P0636 - Síndrome maligna dos neurolépticos como
P0522 - Uma massa pulmonar: caso em que a persistên- diagnóstico diferencial

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 483


P0637 - Síndrome Poliglandular a propósito de um caso ção de causalidade?
clínico P0740 - Dor abdominal – um sinal de alarme no Síndro-
P0638 - Hiponatremia grave de causa central me Antifosfolipídico
P0640 - “Síndrome febril indeterminada - um diagnósti- P0742 - Quando as infeções são muitas... até o internis-
co inesperado… ou nem tanto assim…” ta desconfia!
P0641 - Suspeita de Neoplasia do Esófago - um caso de P0749 - Tuberculose extrapulmonar - a propósito de um
tratamento com sucesso no Serviço de Urgência caso clínico
P0643 - Condrite nasal e auricular em doente com Lúpus P0751 - Linfadenopatias cervicais: uma manifestação
P0650 - Auto-Anticorpos positivos – interpretação e rara de sífilis.
integração clínica P0768 - Síndrome Maligna dos Neurolépticos - Uma
P0655 - Pneumonia grave por SARS-CoV-2: uma nova Síndrome Hipertérmica Fármaco-Induzida
causa de Síndrome de Platipneia-Ortodeoxia P0779 - Massa Pancreática: Um Jogo de Probabilidades
P0656 - NEOPLASIA DA PRÓSTATA E ASCITE MALIGNA P0786 - Uma apresentação rara de Doença de Graves
- A SINGULARIDADE DE UMA APRESENTAÇÃO CLÍNICA P0794 - Intoxicação por colquicina: um caso de disfun-
P0658 - Diabetes Insípida central: um desafio desde o ção cardíaca
diagnóstico até à alta P0795 - Disartria escondida por sequelas de tumor
P0659 - Um diagnóstico de Esclerose Lateral Amiotrófi- cerebral
ca em Doente com Imunodeficiência Comum Variável P0800 - Serviço de Urgência em tempos de Covid-19
P0661 - Síndrome de Guillain-Barré: Será COVID-19 ou P0809 - Polimialgia reumática: A patologia oculta
será GRIPE? P0810 - A vacina que gripou a plaqueta
P0666 - Paralisia Periódica Hipocaliémica como diag- P0813 - TB or not TB
nóstico diferencial de AVC no Serviço de Urgência P0820 - DIAGNÓSTICO DE PNEUMONIA EOSINOFILICA
P0667 - Perfuração esofágica e mediastinite aguda EM EPÓCA DE PANDEMIA A SARS-CoV-2
P0671 - Febre intermitente: a propósito de um caso P0822 - Diabetes Mellitus: Incumprimento quase fatal
clínico P0824 - Rickettsia spp. escondida no sofá
P0678 - A importância do estudo dos incidentalomas da P0828 - O DESAFIO DIAGNÓSTICO DAS VASCULITES DE
supra-renal: um caso clínico de feocromocitoma GRANDES VASOS - A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO
P0680 - Toxicidade neurológica e renal ao Tacrolimus - a P0837 - Carcinoma de Células de Merkel de primário
propósito de um caso clínico desconhecido
P0683 - COVID-19: uma Doença Personalizada P0846 - Doença Anti-MBG: Uma causa rara de lesão
P0686 - Febre Q – uma causa incomum de pneumonia. renal aguda
P0687 - Cefaleia: uma Etiologia Rara P0851 - Miocardiopatia de Takotsubo e as suas compli-
P0695 - Um caso atípico com linfócitos atípicos cações
P0698 - Pneumonite de hipersensibilidade subaguda P0853 - Endocardite Infecciosa: Um desafio do diagnós-
P0700 - Derrame pleural para estudo, escalando etapas tico ao tratamento
até ao diagnóstico P0857 - Intoxicação Antimuscarínica em contexto de
P0707 - O que parece nem sempre é Urgência
P0709 - Psoríase paradoxal – uma complicação rara de P0860 - Trombose da Veia Mesentérica Superior – um
uma terapêutica fundamental culpado incomum de dor abdominal: Caso Clínico
P0719 - Artrite reumatoide inaugural no idoso – Caso P0863 - A importância da prescrição no risco de deli-
clínico rium
P0724 - Hipocalcémia sintomática por défice de vitami- P0879 - Awake proning: a future standard of care in
na D acute respiratory diseases?
P0725 - Metastização cutânea de tumor testicular: ma- P0886 - Necrólise epidérmica tóxica a alopurinol - o lado
nifestação rara de neoplasia comum imprevisto de um fármaco comum
P0727 - Uveíte – a resposta não é sempre autoimune P0887 - Trombo da aorta ascendente com embolização
P0731 - Síndrome de Evans Secundário periférica - um caso invulgar
P0734 - Doença da Arranhadura do Gato em doente P0890 - Sarcoma de Kaposi após corticoterapia em do-
imunocompetente ente HIV-negativo com pneumonia eosinofílica crónica
P0735 - Duas complicações atípicas da COVID-19 P0895 - Tiroidite de Hashimoto e Colangite Biliar Prima-
P0739 - COVID-19 e Síndrome Aórtica Aguda: uma rela- ria: pior prognóstico?

484
E-POSTERS
P0904 - TEARS IN HAZE – TIME CAN BREAK YOUR em que a suspeição clínica é essencial
HEART P1032 - MONOCLONAL GAMMOPATHY OF RENAL SIG-
P0908 - SIADH e pseudo-acalásia como manifestações NIFICANCE: CASE REPORT
inaugurais de neoplasia pulmonar P1034 - Gamapatia monoclonal de significado renal
P0911 - Psoríase eritrodérmica - um caso clínico como causa de falência renal em idade jovem
P0912 - Parasitose endémica: uma realidade esquecida. P1035 - Presentation and outcomes of Chronic Kidney
P0913 - Pneumomediastino Espontâneo em Doente com Disease patients with COVID-19
COVID-19 P1037 - Ochrobactrum e pleura: uma associação rara
P0922 - Uma fratura, múltiplas causas P1043 - Adenopatias inguinais, entre o inespecífico e o
P0925 - Meningite por VZV como complicação de zona atípico
do trigémio P1046 - Síndrome Hemofagocitica e COVID-19: impor-
P0926 - Insuficiência Cardíaca Aguda – Uma apresenta- tância da deteção precoce
ção atípica de um carcinoma da suprarrenal P1053 - Tratamento de infeções graves por bactérias
P0929 - Mononeuropatia Peroneal Diabética produtoras de ESBL com Fosfomicina por via endoveno-
P0932 - Tricoleucemia - a propósito de um caso clínico sa
P0942 - Fibrinólise extra hospitalar – Movimento de P1058 - Síndrome de Stevens-Johnson – o cessar da
ousadia terapêutica como a chave da cura
P0945 - Síndrome inflamatório multissistémico associa- P1062 - Aspergilose Broncopulmonar Alérgica – uma
do à COVID-19 num jovem adulto causa rara de exacerbação de asma
P0948 - Proteinúria nefrótica de origem infrequente P1064 - Um caso de elevação extrema das transamina-
P0959 - Tuberculose laríngea: um caso clínico ses: nem sempre é hepatite!
P0963 - Infeção por SARS-CoV-2 num doente com Dis- P1066 - ANEURISMA DA ARTÉRIA PULMONAR IDIOPÁ-
trofia Miotónica tipo 1 TICO: UM ACHADO INESPERADO
P0966 - Sarcoidose mamária: uma apresentação rara P1067 - Helicobacter pylori: uma causa de anemia.
P0968 - Disfagia como manifestação de derrame peri- P1068 - Glaucoma Agudo de Ângulo Fechado - um fator
cárdico precipitante de Enfarte Agudo do Miocárdio
P0977 - Síndrome Nefrótico - o desafio clínico desde o P1076 - Disseção espontânea da porção petrosa da arté-
diagnóstico ao tratamento ria carótida interna: causa rara de enfarte cerebral
P0989 - Síndrome de Sjögren – um quadro inaugural P1084 - INFEÇÃO POR SARS-CoV-2 COMO TRIGGER DE
atípico LUPUS ERITEMATOSO SISTÉMICO COM APRESENTA-
P0990 - MIOCARDIOPATIA ARRITMOGÉNICA DO VEN- ÇÃO CUTÂNEA GRAVE
TRICULO DIREITO P1094 - Envolvimento multiorgânico por Citomegaloví-
P0994 - Acidose láctica tipo B: um fenómeno paraneo- rus
plásico P1096 - Púrpura e parotidite aguda – um caso atípico de
P0998 - DA INFLAMAÇÃO À TROMBOSE: UM CASO DE infeção por SARS-CoV-2
AORTITE P1099 - Dores ósseas migratórias - qual a causa?
P1000 - Trombofilia em viagem intercontinental P1100 - SIADH crónico do idoso
P1001 - Uma causa rara de colecistite alitiásica P1104 - Nefrite lúpica seronegativa: um desafio diag-
P1002 - Carcinoma Hepatocelular num doente com he- nóstico
terozigotia simples para a mutação H63D P1105 - O desfecho trágico após a “cura” da infecção
P1008 - Uma causa infrequente de paralisia periódica pela COVID-19
P1012 - Quando a prática vai ao encontro da teoria P1107 - Doença de Caroli - a propósito de um caso
P1015 - Dor torácica, e agora? clínico
P1016 - Hepatotoxicidade associada à amoxicilina/ácido P1110 - O preço da imunossupressão - Um caso de do-
clavulânico ença linfoproliferativa relacionada com o metotrexato
P1019 - Schwannoma vestibular – um tumor silencioso P1114 - Streptococcus gallolyticus subespécie pasteu-
P1020 - Pneumonia por Nocardia Cyriacigeorgica rianus e neoplasia colorretal: Caso Clínico
P1025 - Disfonia: apresentação atípica de aneurisma P1116 - TVP do membro superior primária – uma ques-
P1027 - Angina vasospástica em doente com doença tão de esforço
arterial conhecida: um diagnóstico desafiador P1120 - DESCOBERTA INUSITADA DE UM OBSTÁCULO
P1031 - Coma mixedematoso: Uma emergência médica ENDOBRÔNQUICO

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 485


P1122 - O QUE DIZEM OS TEUS OLHOS? – a propósito P1228 - Cerebrite com empiema subdural – um caso
de um caso de linfoma do Vítreo com evolução desfavorável
P1133 - NEUTROPÉNIA FEBRIL: HEMATOLOGIA OU P1232 - Coração de leão
PSIQUIATRIA? P1234 - Policitemia Vera - a propósito de um caso clíni-
P1134 - Relação entre ferritina e oxigenoterapia em co
doente com COVID-19 grave P1236 - Deficiência de Carnitina palmitoil transferase II -
P1135 - PERICÁRDICO: UMA CAUSA RARA DE FEBRE Causa rara de rabdomiólise no jovem adulto
P1138 - Choque sético por Capnocytophaga Canimorsus P1238 - “Very Early SSc” – Importância do diagnóstico
numa doente esplenectomizada atempado
P1146 - Colangiopatia do VIH - uma causa menos fre- P1240 - Raridade ao Quadro: Quando um Enfarte Esplé-
quente de icterícia nico Tem Uma Causa Rara
P1150 - Esófago negro – uma complicação possivel- P1250 - Hiperlactacidémia de 21, assintomática, durante
mente fatal da cetoacidose diabética 21 dias. Em busca da etiologia.
P1152 - Síndrome pulmão-rim: Vasculite associada a P1258 - Trombocitopenia induzida por etodolac
ANCA P1274 - Sarcoidose óssea
P1156 - Muito mais que aerocolia e obstipação... P1276 - Prostatite aguda a Raoultella planticola, um
P1160 - Para além da COVID-19 – consequências indi- agente infeccioso emergente?
rectas da infecção por SARS-CoV-2 P1278 - Diarreia crónica: Qual é o seu anti-hipertensor?
P1162 - Hipercoagulabilidade paraneoplásica – a propó- P1280 - Encefalopatia hipoglicémica - A propósito de
sito de um caso clínico um caso clínico
P1163 - Tuberculose pulmonar complicada de polisse- P1283 - Hepatite autoimune e infeção pelo vírus Eps-
rosite tein-Barr
P1164 - HIPERCALCÉMIA: UMA PISTA SEMPRE RELE- P1287 - Seguindo as Pistas como Sherlock Holmes: A
VANTE importância da Visão Holística do Internista
P1167 - PERICARDITE SUBAGUDA: MANIFESTAÇÕES P1288 - Síndrome de lise tumoral em carcinoma hepato-
INESPECÍFICAS E ATRASO NO DIAGNÓSTICO celular multifocal sob sorafenib e infeção SARS-CoV-2
P1171 - MORTE SÚBITA POR CHOQUE OBSTRUTIVO: P1294 - QUANDO A CLÍNICA É DESVALORIZADA: CHO-
UMA COMPLICAÇÃO DA INFEÇÃO A SARS-COV2 QUE SÉPTICO COM PONTO DE PARTIDA EM ARTRITE
P1173 - BLOQUEIO DE RAMO DIREITO INDUZIDO POR SÉPTICA
AMIODARONA: UMA IATROGENIA NA MEDICINA PRÉ- P1295 - Osteomielite após mordedura de gato
-HOSPITALAR P1297 - Da Doença Pulmonar Intersticial à doença au-
P1175 - Não há duas sem três – Quando a trombocitose toimune
e os nódulos pulmonares levam ao diagnóstico de DII P1299 - FATORES DE RISCO E ESPECTRO DA DOENÇA
P1182 - SÍNDROME DE CHURG-STRAUSS: CASO CLÍNI- PNEUMOCÓCICA INVASIVA
CO P1300 - Mais que uma Insuficiência Cardíaca– a propó-
P1185 - Síndrome Pulmão-Rim sito de um caso
P1186 - Legionella nos tempos de COVID-19 P1311 - FEBRE E DISPNEIA: UM CASO DE TEP SUBAGU-
P1190 - Metamizol - uma causa a considerar de neutro- DA
penia P1316 - Artéria de Percheron - A propósito de um caso
P1197 - Síndrome de Ortner – uma causa menos fre- clinico
quente de disfonia P1325 - Sensibilidade ao Glúten Não Doença Celíaca
P1208 - Rotura esplénica espontânea no diagnóstico como quadro constitucional
diferencial de dorso-lombalgia P1327 - Hepatite por CMV em adulto jovem imunocom-
P1209 - Anemia hemolítica autoimune: um caso de apre- petente: um novo paradigma
sentação inicial de linfoma de células T periférica P1329 - Síndrome de May-Thurner sintomática
P1214 - Doença por aglutininas a frio e anemia pernicio- P1331 - NÃO ERA AVC
sa: uma associação pouco comum P1332 - Reativação do Zoster e atingimento ao sistema
P1225 - Astrocitoma Anaplásico – apresentação atípica nervoso central, reação adversa á vacina Sars-CoV-2?
de um tumor raro P1333 - PERITONITE BACTERIANA SECUNDÁRIA A LA-
P1226 - Aspergilose pulmonar invasiva após pneumonia QUEAÇÃO ELETIVA DE VARIZES ESOFÁGICAS
COVID-19 P1334 - Penfigóide bolhoso associado a demência

486
E-POSTERS
P1335 - Quando nem tudo o que parece é - a propósito P1439 - De Budd-Chiari a Hughes – quando uma síndro-
de um caso clínico me não vem só
P1345 - Síndrome de lise tumoral secundário à cortico- P1441 - Lupus eritematoso sistémico (LES) num homem
terapia idoso: a propósito de um caso clínico particular
P1347 - Pioderma gangrenoso idiopático recidivante P1451 - (In)suficiências da Medicina
P1350 - Síndrome Parsonage-Turner: a propósito de um P1452 - Marchiafava-Bignami - Diagnóstico pouco
caso clínico comum
P1362 - Uma pneumonia com surpresa dupla P1455 - Quando a etiologia da anemia não é óbvia
P1365 - Uma síndrome rara com uma apresentação P1458 - Midnight calcium in urgency
atípica P1459 - Infeção autóctone por virus da hepatite E
P1370 - Défice Neurológico Ictal – Quando nem tudo o P1461 - Lipossarcoma “Mascarado” de Insufiência Car-
que parece é díaca
P1373 - Lúpus induzido por Adalimumab P1470 - Apresentação catastrófica de COVID19
P1376 - Nem todas as ataxias são cerebelosas P1476 - Infeção crónica VIH com positividade dos anti-
P1378 - Meningoencefalite a Borrelia Burgdorferi corpos antifosfolípidos e evento trombótico
P1382 - SÍFILIS TERCIÁRIA – UMA ENTIDADE A LEM- P1478 - Não te oiço, podes falar mais alto? A propósito
BRAR de uma manifestação rara da doença de Lyme.
P1385 - Um trombo nem sempre vem só P1483 - Um caso de Angioedema do tubo digestivo
P1387 - Lipoma por trás das parestesias P1485 - Uma causa rara de Amnésia Global Transitória
P1388 - Derrame pericárdio: um desafio diagnóstico. P1486 - Pneumonia Organizativa Pós-Covid
P1390 - Défice de glicose-6-fofasto desidrogenase as- P1492 - Polisserosite a Mycoplasma Pneumoniae
sociado a uma maior gravidade à COVID-19? P1493 - Causa rara de cefaleia!
P1391 - NITROFURANTOÍNA: um efeito lateral incomum. P1495 - Pseudohiperparatiroidismo: um caso infrequen-
P1394 - Artrite por pirofosfato de cálcio no hiperparati- te
roidismo primário P1498 - Amiloidose cardíaca: um diagnóstico raro e
P1395 - Síndroma hemofagocítico - um suspeito inusi- desafiante mas com impacto no prognóstico vital
tado P1499 - Dermatomiosite – red flag para doença maligna
P1397 - Paralisia facial periférica: quando uma entidade P1500 - “Vasculite IgA: uma tétrade clínica”
benigna se torna algo mais. P1507 - Leucemia mieloide crónica: um diagnóstico raro
P1404 - Ehlers-Danlos Syndrome presenting with pre- em idade jovem
mature rupture of membranes P1510 - SUPER Renais - Hiperaldosteronismo primário
P1406 - Cardiomiopatia de Takotsubo secundária a Epi- por hiperplasia bilateral das Supra-Renais
lepsia inaugural P1511 - Sindrome de Wallenberg: a propósito de um
P1410 - Síndrome da veia cava superior como apresen- caso clínico
tação de carcinoma pulmonar de pequenas células P1512 - Oftalmoparésia: uma pista para o diagnóstico
P1415 - Adenomegalias e febre - apresentação comum de Miastenia Gravis
de uma doença rara P1518 - Tuberculoma coroideu: uma manifestação rara
P1419 - Hepatite tóxica ou autoimune? Quando o diag- que merece um olhar atento
nóstico diferencial é difícil. P1520 - Infecção por VIH: diagnóstico, multimorbilidade
P1425 - Plasmocitoma da coluna vertebral - um diag- e abordagem multidisciplinar
nóstico a não esquecer P1521 - Falência hepática por ciproterona - um caso
P1431 - Serratia marcescens - uma causa rara de endo- clínico com discussão
cardite infecciosa P1523 - Infeção disseminada por Mycobacterium gena-
P1433 - Enfarte agudo do miocárdio como apresentação vence em doente com SIDA
de Trombocitose Essencial! P1524 - Poliartrite Inflamatória – uma apresentação
P1434 - Síndrome de Takotsubo ou Síndrome Coronário invulgar de um diagnóstico comum
Agudo - Dor típica em tempos atípicos? P1529 - Meningo-encefalite criptocócica em doente
P1435 - Carcinoma do Pulmão de Não Pequenas Células imunocompetente
– uma apresentação clínica invulgar P1531 - Hemorragia e Embolia, duas faces da mesma
P1438 - Linfoma difuso de grandes células B - Uma moeda
apresentação incomum P1533 - Acrocianose, uma manifestação de disfunção

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 487


autonómica na Doença Hepática Crónica festing after pregnancy
P1536 - Síndrome hemolítico urémico - a propósito de P1624 - Hepatite Autoimune: A propósito de um caso
um caso clínico clínico
P1538 - Apresentação atípica de tumor carcinóide do P1628 - Da intoxicação por monóxido de carbono ao
pulmão Enfarte Agudo do Miocárdio
P1540 - Artéria lusória e Comunicação Inter-Auricular - P1630 - Ectasia Vascular do Antro Gástrico - intercor-
Diagnóstico incidental rência potencialmente fatal.
P1543 - Neutropenia febril: esperar o inesperado? P1641 - Cetoacidose diabética euglicémica a contribuir
P1546 - QUANDO AS TONTURAS SÃO ALGO MAIS? para acidémia grave
P1548 - Uma causa rara de derrame pleural P1645 - Piomiosite por Actinomyces turicensis
P1549 - Ptose palpebral bilateral no Acidente Vascular P1650 - Uma etiologia rara de dor abdominal epigástrica
Cerebral P1660 - Síndrome Sarcoidose-Linfoma
P1550 - Derrame pleural recidivante P1664 - Miopericardite por SARS-COV2
P1553 - Acute Viral Hepatitis to Epstein-Barr Virus P1665 - Paraganglioma e feocromocitoma: diagnósticos
P1560 - Investigação de Hipercalcémia e Febre Persis- raros e desafiantes, com impacto no prognóstico vital
tente em Internamento – Uma revisão e caso clínico P1669 - Colite ulcerosa e insuficiência pancreática gra-
P1562 - Uma causa rara de demência ve: uma associação pouco frequente
P1563 - SARCOIDOSE E PÚRPURA TROMBOCITOPÉNI- P1683 - Um vírus ubíquo e um estranho caso de encefa-
CA IMUNE: UMA ASSOCIAÇÃO RARA lite
P1564 - CO-INFEÇÃO COVID19 E TUBERCULOSE P1684 - Síndrome de platipneia-ortodesoxia: uma causa
P1568 - Uma causa rara de policitémia pouco frequente de dispneia
P1570 - Trombose venosa mesentérica - um diagnóstico P1694 - Poluição Intestinal – um caso raro de diarreia
inaugural de infeção por VIH P1695 - Quando o Lúpus Eritematoso Sistémico não
P1580 - “Colite ulcerosa-CEP: Respeitar as relações” vem só… Linfoma…ou Lúpus …ou Lúpus e Linfoma!
P1583 - Quando o doente nos coloca uma questão difícil P1703 - Diabetes inaugural no idoso com apresentação
P1585 - Uma isquemia que ia passando despercebida! - em cetoacidose diabetica
Um alerta para a importância da multidisciplinaridade P1706 - Tromboembolismo venoso, uma associação de
P1587 - NEOPLASIA DA MAMA: UMA APRESENTAÇÃO fatores protrombóticos
RARA P1708 - Miocardite: manifestação única de infeção
P1589 - “Emergência oncológica como forma de apre- SARS-CoV-2
sentação neoplásica” P1711 - Apresentação tardia de pneumonia organizativa
P1592 - Trombose arterial e venosa - um caso clínico secundária a COVID-19 com carácter recorrente
P1593 - Anemia hemolítica secundária a IECA P1714 - Cheiro-oral-pedal syndrome in a patient with
P1596 - O extremo da deficiência de vitamina B12 - um hereditary antithrombin III deficiency: a case report
caso clínico P1716 - Síndrome de Ogilvie após Acidente Vascular
P1601 - Hipertensão intracraniana por tetraciclina: Uma Cerebral – uma complicação rara a ter em conta
complicação rara P1724 - Miopatia inflamatória paraneoplásica
P1602 - Infeção por Parvovírus B19 e Polimialgia Reu- P1725 - Uma etiologia inesperada de trombocitopenia
mática P1732 - Pneumonite de hipersensibilidade: um diagnós-
P1604 - Right atrial mass and intermediate-high risk tico diferencial.
pulmonary embolism. Is reperfusion a better strategy? P1734 - Um incidentaloma da glândula supra-renal: caso
P1611 - Choque sético por parotidite aguda bacteriana raro de linfoma B extra-nodal
supurativa P1736 - Um incidentaloma da glândula supra-renal: caso
P1613 - Cefaleia persistente como manifestação inco- raro de linfoma B extra-nodal
mum de síndrome dos anticorpos antifosfolípidos P1739 - Policitemia secundária a esteróides: a propósito
P1614 - O que esconde um síndrome coronário agudo... de uma caso clínico
P1615 - Linfoma de Hodgkin amigdalino: uma entidade P1741 - Síndrome Serotoninérgico
rara P1742 - Síndrome de Heyde: um diagnóstico a relembrar
P1618 - Colangite Biliar Primária em homem, a Propósi- P1743 - Infeção persistente por SARS-CoV-2 em do-
to de um Caso Clínico entes imunocomprometidos: a propósito de dois casos
P1621 - Inaugural episode of Multiple Sclerosis mani- clínicos

488
E-POSTERS
P1744 - ntoxicação grave por cogumelos silvestres: P1896 - Diarreia Crónica com envolvimento multissité-
relato de 3 casos mico, um desafio diagnóstico
P1745 - Esteatose focal ou metástase? P1903 - Encefalite Límbica
P1749 - Um caso de cansaço hemorrágico. P1905 - Aortite infeciosa: uma hipótese de diagnóstico
P1754 - Quando a amnésia é um sinal urgente! P1906 - BIPERIDENO PARA SÍNDROME EXTRAPIRAMI-
P1755 - Síndrome Guillain-Barré pós-infeção a SARS- DAL AGUDA APÓS ADMINISTRAÇÃO DE PROPOFOL
-CoV-2 P1911 - DISFUNÇÃO HEPÁTICA, RENAL E HEMATOLÓ-
P1759 - Álcool: um tóxico multissistémico GICA NUMA IDOSA RURAL: UM CASO DE SÍNDROME DE
P1770 - Polisserosite – uma apresentação atípica de WEIL
Síndrome de Sjögren P1917 - Tumor cálcico amorfo: um diagnóstico diferen-
P1774 - Pancitopenia e Parvovírus B19: a propósito de cial de endocardite
um caso clínico P1920 - Parasitas intestinais – causa rara de anemia?
P1775 - Quando o tratamento é a causa P1923 - Síndrome RS3PE como manifestação de Poli-
P1779 - Colecistite Aguda Alitiásica associada a Malária mialgia Reumática
grave P1926 - Um caso difícil de cetoacidose
P1782 - Quando a face incha P1929 - Encefalopatia em tempos de COVID-19
P1785 - Recidiva de carcinoma vesical com metastiza- P1936 - Polifarmácia no idoso – importância de avalia-
ção de rápida progressão ção no doente com hiponatremia
P1789 - Neutropenia Febril Persistente – Infecção Fún- P1942 - Vírus Varicela Zoster, um caso de Encefalite
gica P1960 - Mieloma Múltiplo Produtor de Cadeias Leves -
P1790 - Demência Pulmonar Um Caso Clínico
P1794 - Linfangioma jejunal: uma causa rara de anemia P1962 - Insuficiência cardíaca e regurgitação mitral –
ferropénica uma pescadinha de rabo na boca.
P1798 - ACROCIANOSE UNILATERAL P1964 - Cancro da mama masculina - metastização de
P1799 - Anasarca: uma odisseia até ao rim um CPC do pulmão
P1806 - A IMPORTÂNCIA DA RM NO DIAGNÓSTICO DA P1970 - Leuconostoc mesenteroides spp cremoris: uma
ENCEFALOPATIA HEPÁTICA causa rara de meningite bacteriana
P1807 - Aplasia eritróide pura – uma complicação rara P1971 - Insuficiência cardíaca e enfarte do miocárdio
da leucemia linfocítica crónica em tempos de COVID-19
P1810 - PANCREATITE POR CITOMEGALOVÍRUS NO P1974 - Pneumonia organizativa pós- Gripe A
DOENTE IMUNOCOMPETENTE: UM DIAGNÓSTICO RARO P1975 - Esclerose Sistémica Cutânea Limitada: Caso
P1812 - Hiperatividade Simpática Paroxística: a propósi- Clínico
to de um caso clínico P1984 - Uma evolução clínica desafiante de um interna-
P1826 - De suspeita de acidente vascular cerebral até ao mento eletivo
diagnóstico de uma vasculite ANCA P1998 - Linfoma T Imunoangioblástico: um linfoma raro
P1833 - Biópsia hepática no diagnóstico de colangite P1999 - It’s not Crohn
supurativa P2003 - Aparentemente encefalopatia hepática - Um
P1835 - Diabetes insípida paraneoplásica caso de hipotiroidismo central
P1870 - Pós-covid - o próximo desafio? P2005 - Chronic management of pulmonary embolism in
P1871 - Massa Abdominal: Um Caso de Tumor Metácro- Thromboangiitis obliterans
no P2006 - De uma picada de inseto a uma neoplasia rara
P1874 - Síndrome inflamatória multissistémica pós-CO- P2012 - Esclerose lateral amiotrófica com insuficiência
VID: um novo problema respiratória inaugural – forma rara de apresentação
P1877 - Síndrome de Behçet vs Doença de Crohn: Um P2017 - Dor abdominal e eosinofilia. Um caso de Gastro-
Desafiante diagnóstico diferencial. enterite Eosinofílica.
P1886 - COMA MIXEDEMATOSO: UMA EMERGÊNCIA P2018 - Um caso de CREST “completo”
MÉDICA P2022 - Mestastização cerebral de Adenocarcinoma da
P1887 - Diagnóstico concomitante de APBA e COVID 19 próstata – Um evento raro
P1891 - Síndrome da Veia Cava Superior como forma de P2023 - Doença de McArdle
apresentação de neoplasia da tiróide P2025 - Doença invasiva por CMV em doente dialisado.
P1892 - Um caso de cardiotoxicidade ao Sorafenib P2026 - Quando uma fratura não é o que se espera

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 489


P2033 - De cólica… a enfarte renal rar
P2040 - Enxaqueca hemiplégica – Um raro mimetizador P2132 - Loucura do hipotiroidismo
de AIT P2140 - Tuberculose disseminada: um diagnóstico difícil
P2045 - Pneumonia por Legionella pneumophila – para de alcançar
um agente atípico, uma apresentação atípica P2141 - DRESS - quando os sintomas mais típicos são
P2047 - Lombalgia por Espondilodiscite Tuberculosa difíceis de avaliar/identificar
com Abcesso Paravertebral P2142 - Miopatia associada às estatinas: mito ou reali-
P2050 - Tumor castanho – uma manifestação inicial dade?
pouco comum de hiperparatiroidismo primário P2154 - Abcesso hepático - um agente incomum.
P2059 - Coincidência improvável no diagnóstico da P2159 - Pneumotoráx Catamenial em Associação com
Esclerose Sistêmica. Endometriose Torácica
P2064 - Haverá lugar a procedimentos invasivos em P2161 - Anemia Hemolítica, a propósito de um caso
Cuidados Paliativos? – O relato de dois casos clínicos clínico
P2066 - Púrpura Trombocitopénica Trombótica - Um P2163 - Quando a cefaleia persiste - a importância de
Caso Clínico adequar o exame à suspeita
P2067 - Angiossarcoma Epitelióide do couro cabeludo: o P2171 - Preparação da Alta: “Check”-Mate à Insuficiên-
desafio desde o diagnóstico à fase terminal cia Cardíaca
P2069 - Cisto pilonoidal com diferenciação maligna - P2173 - “Policitemia Vera - a propósito de um caso
relato de casos em seguimento por Cuidados Paliativos clínico”
P2071 - Colangite esclerosante primária: o desafio P2184 - Neutropenia na artrite séptica: um culpado
diagnóstico inesperado
P2074 - Uma patologia pediátrica em idade adulta: um P2185 - Leucemia mielomonocítica crónica: uma causa
diagnóstico diferencial de dor abdominal de monocitose persistente
P2075 - Mieloma Múltiplo IgA com apresentação invul- P2190 - LESÃO DE DIEULAFOY JEJUNAL COMO CAUSA
gar DE HEMORRAGIA DIGESTIVA EM DOENTE COM CIRRO-
P2079 - Síndrome de Metal Fume Fever: a propósito de SE HEPÁTICA
um caso clínico P2191 - SÍNDROMA DE ANTICORPOS ANTIFOSFOLÍPI-
P2080 - Um dueto pouco comum: Metástase Cerebral de DOS... E NÃO SÓ
Neoplasia da Mama e Adenocarcinoma do Cólon simul- P2210 - Encefalite paraneoplásica: a propósito de um
tâneos caso clínico
P2083 - COVID- 19 ou nem por isso? – A importância da P2215 - Pneumonia necrotizante ou tuberculose pulmo-
semiologia, a propósito de um caso de Dermatomiosite nar? O desafio das cavitações
P2090 - Esclerose múltipla num jovem adulto - da sus- P2216 - Hipoglicemia num adulto sem Diabetes Mellitus:
peita de AVC ao diagnóstico de doença desmielinizante O que pensar?
P2093 - Um caso menos típico de mielinólise pôntica P2219 - Doença de weil - complexidade de uma hemor-
P2094 - Dor óssea como sintoma principal ragia alveolar
P2102 - Hidropneumotórax secundário espontâneo e P2229 - Lei de Velpeau – um efeito adverso raro mas
assintomático não um caso único
P2107 - Um caso improvável: dois vírus e uma encefali- P2233 - Uma combinação infrequente de critérios de
te... diagnóstico de Pancreatite Aguda
P2109 - Mais que um simples derrame pleural... Uma P2234 - Doença de Still um diagnóstico de exclusão
forma de apresentação atípica de melanoma! P2236 - Quando o problema não é a doença de Alzhei-
P2114 - Doença de Madelung mer - Meningoencefalite por agente atípico
P2115 - O que esconde uma Insuficiência Cardíaca des- P2237 - Mixedema – para lá do coma
compensada? P2242 - ESPONDILODISCITE A ESCHERICHIA COLI: UM
P2117 - Lesões ósseas líticas – pensar além da patolo- RELATO DE CASO
gia oncológica P2247 - Sick bone: a traição da paratiroide
P2124 - FÍGADO DE GINÁSIO: UM MAU PRESSÁGIO? P2252 - SÍNDROME PÓS-LESÃO CARDÍACA: A PROPÓ-
P2126 - UMA CAUSA RARA DE PERICARDITE SITO DE UM CASO CLÍNICO
P2129 - Endocardites atípicas de válvula nativa após P2254 - Apresentação atípica de Linfoma B difuso de
procedimento urológico – uma possibilidade a conside- grandes células

490
E-POSTERS
P2255 - Um agente raro de pneumonia da comunidade: de um caso clínico
Achromobacter denitrificans P2365 - Uma dor torácica “autoimune”
P2262 - Será sépsis?! P2374 - Hemodinâmica além do SCA: a propósito de um
P2263 - Síndrome do choque tóxico por Streptococcus AVC no adulto Jovem
pyogenes P2376 - O DESAFIO DIAGNÓSTICO DO COMA METABÓ-
P2265 - Hipotensão ortostática - Uma apresentação LICO - A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO
atípica de feocromocitoma P2380 - Hipertrigliceridémia, uma causa rara de Pancre-
P2266 - Tempestade Tiroideia, uma necessidade de atite aguda
antecipar a Trovoada P2386 - Ictiose adquirida - a primeira manifestação de
P2268 - Arterite de Células Gigantes: a propósito de um Leucemia Mielomonocítica Crónica
caso clínico P2387 - Cordoma: uma patologia rara, um sintoma
P2269 - Um caso de intoxicação por lítio com toxicidade comum
multissistémica P2390 - Infeção por Clostridioides difficile após erradi-
P2271 - Neuro-Beçet – flare grave sob imunossupressão cação de Helicobacter pylori
- caso clínico P2391 - Hemorragia pulmonar com disfunção multiorgâ-
P2276 - Uma causa estranha de disfagia - disfagia lusó- nica: a propósito de um caso de Síndrome de Weil
ria P2397 - Febre no doente em diálise peritoneal e o im-
P2281 - Atraso de tratamentos em tempos de COVID-19 pacto na modalidade de TSFR
em tumor neuroendócrino P2400 - Polineuropatia Desmielinizante Inflamatória
P2294 - Carcinoma tímico: uma causa rara de dispneia Crónica - Desmascarando Uma Patologia Desafiante
P2295 - Da suspeita de COVID-19 ao Síndrome Anti-Sin- P2401 - Um caso de amaurose súbita no adulto jovem
tetase: um desafio diagnóstico em período de pandemia. P2405 - A Anatomia Da Pancreatite Recorrente - Um
P2296 - Trombocitopenia: o papel da biópsia óssea Caso Clínico
P2299 - Tempestade tiroideia como apresentação de P2409 - Eritema nodoso como apresentação de tubercu-
doença de graves lose extra-pulmonar
P2300 - Comunicação interventricular: além da causa P2414 - Tromboembolismo pulmonar maciço: rara for-
congénita ma de apresentação de um colangiocarcinoma intra-he-
P2306 - Esplenosis – relato de um caso pático
P2310 - Trombose da veia porta - quando dois fatores se P2424 - Abcesso cerebral por Proteus mirabilis: caso
conjugam clínico
P2314 - Uma causa actual de Pneumotórax P2426 - Plegia como Manifestação Rara de Hiponatré-
P2324 - Na pista da crioglobulinemia... mia Severa
P2329 - Uma ascite que escondia um pseudomixoma P2431 - Síndrome do quebra-nozes: uma causa rara de
peritoneal (PMP) hematúria
P2330 - Covid19 e Pneumotórax P2434 - SIADH: Síndrome Paraneoplásico em Carcino-
P2334 - POLINEUROPATIA PERIFÉRICA E COVID-19 ma Pulmonar de Pequenas Células – um desafio tera-
P2336 - Um caso raro de suboclusão intestinal pêutico
P2337 - Oftalmopatia de graves – o olho do internista P2435 - Artrite Séptica Poliarticular e Artrite Reumatói-
P2338 - Leiomiossarcoma no pulmão de – Uma Aliança Demolidora
P2340 - Pneumocistose pós-COVID-19: uma complica- P2438 - COVID19 - morbilidade indireta num enfarte
ção rara agudo do miocárdio
P2344 - Beribéri Seco e Húmido - Neuropatia e Insufici- P2441 - Síndrome de Guillain-Barré pós-vacinação: a
ência Cardíaca por Deficiência de Vitaminas B1 e B6 propósito de um caso clínico
P2352 - BRASH, um perigoso ciclo vicioso P2444 - Tumor neuroendócrino (TNE) gástrico – um
P2353 - Estimulação frénica – Uma das complicações achado endoscópico raro
locais de dispositivos cardíacos P2450 - Complicações secundários Covid em pacientes
P2357 - Efeito de Wolff-Chaikoff secundário a quimio- novos
embolização P2453 - Síndrome Nefrótica: causa de Acidente Isqué-
P2360 - Anemia Perniciosa – quando doenças auto-imu- mico Transitório?
nes se associam P2457 - Manifestação atípica de uma neoplasia rara
P2362 - Hepatite aguda em doente jovem – a propósito hematológica

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 491


P2459 - Osteomielite do púbis - Um diagnóstico a não de uma cólica renal
esquecer P2573 - Pancitopenia - um desafio
P2464 - Thyroid-associated ophthalmopathy P2577 - Opacidades pulmonares migratórias - um desa-
P2465 - Derrame pleural como apresentação inicial de fio diagnóstico
Linfoma de Hodgkin P2578 - COVID-19 e Pneumonia a Pneumocystis jirove-
P2466 - HEPATITE E – UMA REALIDADE A NÃO ESQUE- cii: co-infecção ou infecção pós-COVID?
CER P2580 - Tuberculose: na sombra da COVID-19
P2472 - “A GRANDE IMITADORA” – UMA REALIDADE A P2584 - Telangiectasia Hemorrágica Hereditária, Sars-
NÃO ESQUECER CoV-2 e Iatrogenia
P2473 - SÍNDROME DE BRUGADA INDUZIDO POR FEBRE P2589 - Fenómeno de Raynaud refratário e isquemia
P2475 - Carcinoma papilar tiroideu: uma manifestação digital pós COVID-19
aguda rara P2590 - Carcinoma tímico - um outro “T terrível”
P2478 - SARCOMA DE KAPOSI CLÁSSICO P2595 - Vasculite de vasos colaterais: um diagnóstico a
P2481 - Síndroma hemofagocítica enquanto diagnóstico considerar
de suspeição clínica P2602 - Causa rara de doença intersticial pulmonar
P2487 - Isquemia aguda de membro inferior em doente P2604 - Apresentação incomum de Linfadenite Tubercu-
jovem losa
P2490 - Colangite esclerosante secundária associada P2608 - Espondilodiscite cervical: uma localização rara
aos cuidados intensivos – Uma entidade a não esquecer P2615 - Mieloma Múltiplo e infecção VIH
P2491 - Em tempo de pandemia, nem toda a dispneia é P2623 - Anemia Hemolítica Autoimune e Gamapatia
COVID-19 Monoclonal: coincidência ou etiologia?
P2493 - Síncope “multisistémica” P2626 - Toxicidade à Amiodarona - um diagnóstico dife-
P2495 - Panuveíte como forma de apresentação de rencial nas lesões pulmonares
neurossífilis P2628 - Hemartrose iatrogénica não-traumática do om-
P2496 - Mixoma auricular: causa rara de acidente vas- bro – um caso a recordar
cular cerebral isquémico P2629 - Uma apresentação atípica de um Mieloma Múl-
P2512 - Um CVC, múltiplas imagens tiplo a IgG
P2515 - Miopericardite aguda pós COVID-19: relato de P2631 - Rivaroxabano: O lado B
um caso clínico P2635 - Hepatite Autoimune Seronegativa - Caso Clínico
P2516 - Síndrome hepatopulmonar P2637 - Síndrome de Dressler num Serviço de Medicina
P2524 - SDRIFE a amoxicilina/ácido clavulânico em P2640 - Candidemia com envolvimento ocular no doente
tempos de COVID-19 queimado: relato de caso
P2531 - Tumor neuroendócrino com síndrome carcinói- P2641 - Mais um doente rotulado psiquiátrico sem o
de exuberante - a propósito de um caso clínico ser...
P2540 - Cansaço numa adulta jovem P2647 - BAV completo secundário a endocardite
P2541 - Tuberculose multiorgânica: uma entidade ainda P2651 - Síndrome de DRESS: um caso grave de hiper-
“disseminada” na nossa população sensibilidade ao alopurinol
P2545 - Polimialgia Reumática ou Artrite Reumatóide de P2655 - Um caso raro de ascite em mulher jovem
início tardio? – a propósito de um caso clínico P2659 - Síndrome hemofagocítica secundário a choque
P2552 - Manifestação tardia de angioedema induzido séptico
por inibidores de conversão da angiotensina P2660 - Causa rara de meningite em jovem imunocom-
P2553 - Celulites de repetição: quando pensar além do petente
óbvio P2661 - UMA MEDULA, MÚLTIPLAS COMPLICAÇÕES
P2556 - Gastroparésia Diabética - importância de um P2663 - Anemia hipoproliferativa num doente oncológi-
diagnóstico de exclusão co: estado inflamatório, ou será que não?
P2557 - Etiologia rara de lesão gástrica P2668 - A different kind of syncope
P2561 - Streptococcus pneumoniae – De pneumonia a P2669 - O cão ajudou no diagnóstico de intoxicação por
aneurisma micótico da aorta monóxido de carbono (CO)!
P2565 - Uma causa rara de Choque Hemorrágico – Caso P2671 - Um caso de hepatite alcoólica grave submetida
clínico a transplante hepático
P2568 - Tumor do estroma gastrointestinal - a propósito P2672 - Será que o emagrecimento é no contexto da

492
E-POSTERS
insulinoterapia? P2821 - Hepatopatia Glicogénica: A propósito de um
P2679 - Um caso de ascite em doente imunodeprimido caso clínico
P2683 - Síndroma de Encefalopatia Posterior Reversível P2823 - A propósito de uma crise convulsiva inaugural
(PRES) P2829 - Quando a varfarina ajuda ao diagnóstico
P2685 - Patologia tiroideia em doente com anemia per- P2830 - Uma gravidez complicada por tromboses veno-
niciosa sas
P2686 - Linfadenite localizada - um desafio diagnóstico: P2831 - Metal fume fever: an underdiagnosis
caso clínico P2833 - Quando não é possível controlar os movimentos
P2690 - Uma causa de descompensação de IC a não P2840 - Um raro caso de pericardite por Listeria mono-
esquecer num doente com FAV cytogenes
P2693 - Efeito de Warburg - a propósito de um caso P2841 - Hipertensão Pulmonar em idade jovem – A pro-
P2694 - A traição pelo Melanoma “curado” pósito de um caso clínico
P2703 - Tuberculose miliar: um desafio diagnóstico P2842 - Disfagia – um sinal precoce de Tumor do cavum
P2708 - Hemofilia A adquirida- um caso não tão óbvio P2847 - Exacerbação de Doença de Behçet numa jovem
P2709 - UM CASO RARO DE HIPOFIBRINOGENÉMIA com Síndrome de Ehlers-Danlos tipo I
ADQUIRIDA P2850 - Síndrome Klippel-Feil aos 52 anos?
P2722 - “Celecoxib: DRESS code failure“ P2859 - A importância do diagnóstico diferencial das
P2726 - Pneumonia Organizativa: vários agentes causa- infecções respiratórias em tempos de COVID19
dores? P2861 - Síndrome da Veia Cava Superior condicinonada
P2727 - Colangiopatia pós COVID-19: uma nova entida- por Aneurisma da Aorta Ascendente: apresentação rara
de P2864 - Descompensação hepática e pandemia COVID
P2728 - Síndrome de Fitz-Hugh-Curtis – um caso atípico 19 – a propósito de um caso clínico
P2731 - Distrofia muscular e insuficiência cardíaca – P2866 - Adenoma Hipofisário a Propósito de um Caso
uma associação pouco comum Clínico
P2744 - Point-of-care-ultrassound (POCUS) no Serviço P2867 - Endocardite a Candida parapsilosis com reper-
de Urgência – da orientação às técnicas invasivas cussão neurológica
P2745 - Longo caminho até ao diagnóstico da leucemia P2870 - Choque séptico com ponto de partida em colan-
P2746 - Um caso raro de púrpura de Henoch Shonlein no gite a Raoultella planticola
adulto. P2872 - O tromboembolismo pulmonar como a ponta do
P2758 - Síndrome da veia cava superior com abordagem iceberg
endovascular - a propósito de um caso clínico P2877 - A história de uma dor lombar
P2764 - MASSA BULKY: LINFOMA PRIMÁRIO DE ME- P2882 - Uma Angina pouco habitual
DIASTINO INVASIVO P2884 - Insuficiência Cardíaca com Fração de Ejeção
P2765 - Lesões Cutâneas e Ósseas como Forma de Preservada e Amiloidose Cardíaca
Apresentação de Carcinoma Lobular Invasor da Mama P2887 - Massa cervical: a propósito de um caso clínico
P2768 - Síndrome hemofagocítica (SHF) – o desafio do P2888 - SERÁ SÓ SÍNDROME ANTIFOSFOLIPÍDICO?- A
diagnóstico PREPÓSITO DE UM CASO CLINICO
P2770 - Anti-GBM: o suspeito mais óbvio nem sempre é P2891 - Apresentação típica de um linfoma raro em
o culpado doente com VIH
P2780 - Síndrome de Wallenberg - Caso Clínico P2899 - Síndrome de quebra-nozes um diagnóstico de
P2794 - PARALISIA DE BELL ASSOCIADA A INFECÇÃO suspeição
POR SARS-COV-2 P2905 - Febre sem foco
P2796 - Hipertensão arterial e uma etiologia menos P2908 - Anemia perniciosa a propósito de um caso
comum. P2910 - Em 6 meses, 3 casos de anemia com Hb
P2808 - Hiperaldosteronismo Primário - um olhar além P2912 - Tuberculose Ganglionar - a propósito de um
do Fígado caso clínico
P2809 - Quando a amigdalite vai mais além P2925 - Uma complicação rara de pancreatite aguda
P2813 - Ptose problemática P2931 - Um sintoma frequente, um tumor incomum,
P2815 - SARS-COV-2 no Mesmo Agregado Familiar localização rara: Caso clínico de plasmocitoma extrame-
P2820 - Afinal era Dengue… um caso atípico de Pancito- dular
penia P2938 - Supradesnivelamento de ST: apressa-te, mas

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 493


reserva tempo para a história P3090 - Herpes Zoster Ophtalmicus with necro-hemor-
P2944 - Caso esporádico de pneumonia por Legionella rhagic lesions in a patient with Rheumatoid Arthritis
P2945 - Angioedema Induzido por Antagonistas dos P3091 - VASCULITE ANCA E GAMAPATIA MONOCLO-
Receptores de Angiotensina NAL DE SIGNIFICADO INDETERMINADO: CO-APRESEN-
P2946 - Padrão Lown-Ganong-Levine a propósito de um TAÇÃO IMPROVÁVEL
caso P3092 - Meningite tuberculosa - A propósito de um caso
P2948 - Uma causa de insuficiência cardíaca a não clínico
esquecer P3093 - Pancreatite aguda medicamentosa à Mesalazi-
P2949 - Marchiafava-Bignami - Uma manifestação de na
doença hepática crónica P3099 - Tiroidite de De Quervain: um caso clínico
P2958 - Quando a gasimetria ajudou a diagnosticar P3101 - Hiponatrémia: Quando A Iatrogenia Não Explica
mieloma múltiplo Tudo
P2962 - Derrame pleural: um desafio no diagnóstico P3103 - Kayexalate and Ischemic-Colitis: a dangerous
P2973 - “UM INQUILINO IMPROVÁVEL” – CASO DE EN- complication
DOCARDITE DE VÁLVULA PULMONAR NATIVA P3112 - Com o coração na mão: Um caso raro de endo-
P2984 - Abcessos dentários complicados com celulite cardite infecciosa
cervical profunda P3126 - COAGULAÇÃO INTRAVASCULAR DISSEMINADA
P2987 - Síndrome de Lise Tumoral numa urgência respi- – ETIOLOGIAS MÚLTIPLAS DE UMA PATOLOGIA COM-
ratória PLEXA
P2991 - Enteropatia por Olmesartan: uma etiologia rara P3129 - SIADH em contexto de infeção por Herpes-Zos-
de diarreia crónica ter localizado
P3007 - MONONUCLEOSE POR CITOMEGALOVÍRUS NO P3131 - Um caso de diarreia paraneoplásica no carcino-
DOENTE ADULTO, IMUNOCOMPETENTE ma de pequenas células do pulmão
P3009 - Linfoma de apresentação mascarada P3134 - Efeito Secundário tardio de Quimioterapia?
P3014 - Sépsis com ponto de partida em hematoma P3138 - Zoonose na cidade
retroperitoneal pós-cateterismo P3140 - Pneumonite de Hipersensibilidade ao Apixaba-
P3015 - CAUSA INCOMUM DE PARAPARÉSIA no
P3020 - Tuberculose pulmonar e pleural – um caso de P3145 - Tumor do estroma intestinal: Uma causa oculta
diagnóstico inaugural de VIH de anemia grave
P3023 - Carcinoma hepatocelular secundário a Cirurgia P3156 - Síndrome de Vasoconstrição Cerebral Reversí-
de Fontan vel
P3026 - Copo Meio Vazio ou Meio Cheio? - O Dia-a-Dia P3161 - Desafio diagnóstico em doente com febre e dor
da Gestão das Doenças Autoimunes abdominal no serviço de urgência
P3029 - Características do líquido ascítico: uma orienta- P3163 - Doença Pulmonar Intersticial associada a Der-
ção ou um confundidor? matomiosite Amiopática com antiMDA5
P3036 - Utilidade do POCUS na gestão do doente agudo P3164 - Fístula Artério-Venosa Dural
P3042 - RECIDIVA DE LINFOMA DO MANTO NO SISTE- P3168 - Neurosyphilis in HIV negative patient
MA NERVOSO CENTRAL - a propósito de um caso clínico P3170 - Taquicardia ventricular monomórfica em con-
P3047 - FEBRE DE ORIGEM INDETERMINADA: UM DIAG- texto de suplementação crónica com fitoprodutos
NÓSTICO DESAFIANTE P3174 - Neurofibromatose, a importância de um diag-
P3057 - Do Raynaud à Anemia Hemolítica nóstico atempado!
P3063 - Flutter auricular como mote para o diagnóstico P3175 - Doença de Castleman- A propósito de um caso
de Linfoma de Hodgkin clinico
P3064 - Tempestade Tiroideia como apresentação ini- P3178 - Erupção variceliforme de Kaposi - um caso
cial de Doença de Graves clínico
P3072 - Coagulação intravascular disseminada como P3184 - Meningite na sequência de infecção respirató-
manifestação inicial de neoplasia metastática oculta ria/abdominal?
P3076 - Hiperaldosteronismo Primário – à melhor de 3! P3188 - Carcinoma do colo do útero e carcinomatose
P3083 - Linfoma Folicular, um diagnóstico elusivo peritoneal. Um caso de alta dos Cuidados Paliativos.
P3085 - An Apple a day doesn’t keep the doctor away ou P3198 - Um caso de Estridor em cuidados paliativos. Um
necrose esofágica em Unidade de Cuidados Intermédios sinal de alarme sem causa à vista

494
E-POSTERS
P3201 - Crise addisoniana - um caso clínico 900x109/L detetada numa análise de rotina. Durante
P3202 - Inibidores do checkpoint imulogógico: efeitos a avaliação diagnóstica, além da trombocitose, foi
detetada linfocitose de 6.5x109/L. A apresentação
adversos - relato de um caso clínico
clínica era sugestiva do diagnóstico de tromboci-
P3208 - Point-of-care ultrasound: uma ferramenta válida tose essencial, e a mutação JAK2V617F e a trans-
para o médico no serviço de urgência locação BCR/ABL foram negativas. Os achados
P3209 - Clínica simples de um TEV da citometria de fluxo foram consistentes com um
fenótipo típico de LLC, com contagem absoluta de
P3210 - Tempestade Tiroideia
células B clonas >5x109/L (99.8% linfócitos patológi-
P3217 - Carcinoma epidermoide celular mimetizando cos de um total de 14x109/L leucócitos).
um paraganglioma cervical, um raro síndrome paraneo-
Não existem evidências que apoiem a presença de
plásico
uma célula-tronco comum e única capaz de originar
P3220 - Supradesnivelamento do segmento ST – Onde clones leucémicos e mielóides simultaneamente,
está o enfarte? e não se sabe se existe agum mecanismo comum
P3229 - NEFRITE INTERSTICIAL ALÉRGICA POR CIPRO- passível de originar estas duas patologias de linha-
gens distintas. No entanto, está descrito um maior
FLOXACINA – INCOMUM MAS A EVOCAR!
risco de desenvolvimento de NLP em pacientes com
P3236 - Síndrome de Sweet pós infecção estreptocócica NMP, que pode dever-se à instabilidade genómica
P3238 - Bicitopenia por aplasia medular num caso de caracteristica das NMP. Contudo, são necessários
Lúpus Eritematoso Sistémico mais estudos que permitam perceber se existe real-
mente uma associação entre estas duas entidades. 
P3248 - FEBRE, ICTERÍCIA, LESÃO RENAL E TROMBO-
CITOPENIA A IMPORTÂNCIA DA EPIDEMIOLÓGIA NO P n.º 0013 
DIAGNÓSTICO Exantema maculopapular como manifestação prin-
cipal de Febre Q
P3250 - Coma mixedematoso: uma emergência endocri-
Rute Cruz(1);Ana Catarina Trigo(1);Eduarda Ruiz-Pe-
nológica a ter em conta na(1);Sara Camões(1)
(1) Unidade Local de Saúde de Matosinhos, EPE /
E-POSTERS | CASOS CLÍNICOS Hospital Pedro Hispano

P n.º 0004  Tema: Doenças infecciosas e parasitárias


QUANDO O IMPROVÁVEL ACONTECE
Cristiana Fernandes(1);Catarina Rodrigues(2);Cristi- Introdução: A infeção aguda por Coxiella burnetii
na Gonçalves(3);Jorge Coutinho(3) apresenta-se geralmente de forma inespecífica, com
(1) Hospital Santa Maria Maior de Barcelos (2) Cen- síndrome constitucional com febre elevada, astenia
tro Hospitalar Tondela-Viseu, EPE / Hospital de São e mialgias. A presença de exantema maculopapu-
Teotónio, EPE (3) Centro Hospitalar do Porto, EPE / lar purpúrico é descrita em até 10% dos casos. A
Hospital Geral de Santo António infeção aguda é na maioria das vezes benigna e au-
to-limitada, mas pode também evoluir com falência
Tema: Doenças hematológicas multiorgânica ou progredir para formas crónicas,
como endocardite ou infeção osteoarticular.
A coexistência de uma neoplasia mieloproliferativa
(NMP) com uma neoplasia linfoproliferativa (NLP) é Caso Clínico: Mulher de 57 anos, residente em
um achado raro. As NMP são doenças das células- meio rural com contacto próximo com vacas, com
-tronco hematopoiéticas, crónicas, caracterizadas ingestão de lacticínios não pasteurizados e carnes
pela produção excessiva de uma ou mais linhagens de produção caseira. Recorreu aos serviços de
de células sanguíneas, apresentando normal matu- saúde por astenia, anorexia, dor abdominal, artral-
ração e hematopoiese, com aumento do número de gias migratórias e exantema maculopapular não
células maduras no sangue periférico. A leucemia pruriginoso exuberante, tendo sido medicada com
linfocitica crónica (LLC) é um distúrbio de linfócitos dimetindeno tópico e ibuprofeno, sem melhoria.
B morfologicamente maduros mas imunologica- Posteriormente prescrito amoxicilina/clavulanato
mente incompetentes, e representa uma das NLP por início de febre. Recorre ao serviço de urgência
mais frequentes e o tipo mais comum de leucemia por agravamento das lesões cutâneas, com trans-
em idosos. A manifestação simultânea de duas formação purpúrica. Aí constatada elevação dos
neoplasias crónicas mielóide e linfóide é um acon- parâmetros inflamatórios, derrame pleural de pe-
tecimento raro, sendo que a trombocitose essencial queno volume e discreta esplenomegalia. Assumida
(TE) e a LLC raramente são encontradas num mes- possível zoonose, colheu rastreio microbiológico e
mo doente. iniciou ceftriaxone e doxiciclina empíricos; internada
para estudo. No internamento boa evolução com
resolução da febre e restantes queixas, incluindo
Os autores relatam o caso de uma senhora de 83
melhoria das lesões cutâneas. Ecocardiograma sem
anos, com diagnóstico de trombocitose essencial
alterações, hemoculturas negativas, Coxiella burnetii
e LLC. A doente foi referenciada para a consulta de
anticorpo IgG Fase II (diagnóstico) positivo, restante
Hematologia Clínica por apresentar trombocitose de

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 495


estudo de zoonoses irrelevante. Teve alta medicada Ana sá(1);Elisa Condez(1);Vanessa Palha(1);Joana
com doxiciclina 100mg bid para completar 14 dias. Sotto Mayor(1);Teresa Pimentel(1);Narciso Olivei-
Reavaliada em consulta externa, totalmente assinto- ra(1);Carlos Capela(1)
mática, serologia de reavaliação sem evolução para (1) Hospital de Braga
cronicidade.
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
Discussão: Os autores apresentam um caso de febre Q culites
onde as manifestações cutâneas dominaram o quadro
clínico. Alertam para o diagnóstico de uma zoonose, cuja Introdução: O lúpus eritematoso sistêmico (LES)
notificação é obrigatória, que é comum e provavelmente é uma conectivite autoimune que afecta principal-
subdiagnosticada em Portugal. A  ausência de tratamento mente mulheres em idade fértil. O desenvolvimento
pode levar a formas crónicas da doença especialmente de novo de LES durante a gravidez, ainda que raro,
em doentes imunodeprimidos. aumenta o risco de complicações maternas e fetais.
P n.º 0019  Apresentamos o caso de uma mulher grávida que
Wide QRS arrhythmia: differential diagnosis. recorre ao SU por queixas de tosse, febre e perda
Cátia Oliveira(1);Paulo Medeiros(1);Carla Rodri- ponderal.
gues(1);Rui Flores(1);Fernando Mané(1);Rodrigo
Silva(1);Carlos Braga(1);Pedro Azevedo(1);Carina Caso Clínico: Mulher, 29 anos, autónoma. Antece-
Arantes(1);Sérgia Rocha(1);Sónia Magalhães(1) dentes de hipotiroidismo, medicada com levotiroxi-
(1) Hospital de Braga na. IIGIP0A, cesariana, sem complicações. Grávida
de 18sem+5d, recorre ao SU por febre, tosse seca e
Tema: Doenças cardiovasculares perda ponderal de 6kg nas últimas 2 semanas. Sem
expectoração, contactos de risco infeccioso co-
A 45 years old male with history of unspecified in- nhecidos, perdas hemáticas, artralgias, alterações
termittent arrhythmia went to the emergency room cutâneas ou aftas. Análises de 1º trimestre sem
with palpitations and dizziness. He was conscient alterações. Ao exame físico apresentava-se pálida e
but hypotensive and tachycardic. The ECG shows subfebril, sem lesões cutâneas. Por pancitopenia e,
wide-complex tachycardia with irregular RR inter- após garantir boa vitalidade fetal, foi internada para
vals, delta waves and no P waves, findings sug- estudo. Na história familiar, um irmão com LES. Es-
gestive of Wolff-Parkinson-White syndrome with tudo analítico adicional revelou anemia hemolítica/
pre-excited atrial fibrillation (AF) with the shortest Coombs directo positivo, leucopenia, trombocito-
pre-excited RR interval of 200 ms. Patient was penia, anti-ds-DNA+, ANA+, consumo do comple-
submitted to a synchronized biphasic electrical car- mento. Restante imunologia negativa. Sem défices
dioversion. Post-cardioversion electrocardiogram vitamínicos. Função renal e hepática normais. Sero-
reveled the pre-excitation pattern. AF conducted by logias e hemoculturas negativas. Esfregaço sanguí-
an accessory pathway (AP) with a short anterograde neo com anisocitose, sem esquizócitos. Ecografia
refractory period and fast ventricular response may abdomino-pélvica sem hepatoesplenomegalia. Sedi-
trigger life-threatening arrhythmias. Pre-excited AF mento urinário sem eritrocitúria ou proteinúria (ratio
should be suspected in the presence of a wide and P/C 0,4g/g). POCUS sumário torácico com irregula-
irregular QRS complexes, especially in the presence ridades difusas na pleura, compatíveis com pleurite.
of an unusually high frequency, an initial slurred up- Diagnosticou-se LES inaugural na gravidez e iniciou-
stroke or downstroke of the QRS (epicardial activa- -se hidroxicloroquina e prednisolona, com melhoria
tion), QRS complexes varying morphology  (varying clínica e analítica progressivas. Após a alta, com
degrees of fusion due to activation over both the recuperação total da pancitopenia e desmame pro-
AP and the atrioventricular node) and positive pre- gressivo da corticoterapia. O parto decorreu sem
cordial concordance. Acute treatment relies on the intercorrências.
termination of the anterograde conduction over the
AP. Unstable patients should be promptly shocked, Discussão: O LES é uma doença multissistémica. O
while stable patients can be initially handled with padrão mais comum de manifestação é a presença
ibutilide, procainamide, flecainide and propafe- de sintomas constitucionais, acompanhados de
none. Atrioventricular modulating agents should be envolvimento cutâneo-articular e/ou hematológico.
avoided as they may increase the risk of ventricular A manifestação inaugural de LES durante a gravidez
fibrillation. Electrophysiologic study confirmed the acarreta elevada morbimortalidade materno-fetal.
presence of left posterolateral AP with anterograde No caso apresentado, os sintomas constitucionais
and retrograde conduction able to sustain an atrio- e hematológicos apenas surgiram na segunda gra-
ventricular reentry tachycardia with degeneration videz. O rápido diagnóstico, a terapêutica imunomo-
in AF. Catheter ablation of the AP was successfully duladora instituída e vigilância apertada permitiram
performed. Pre-discharge ECG showed a sinus uma gravidez sem intercorrências.
rhythm without signs of pre-excitation. P n.º 0024 
Púrpura de Henoch-Schönlein: doença rara no adul-
P n.º 0023  to
Febre, tosse e perda ponderal na gravidez: sinto- Ana sá(1);Elisa Condez(1);Vanessa Palha(1);Rodrigo
mas de LES inaugural na gestação Silva(1);Joana Sotto Mayor(1);Teresa Pimentel(1);-

496
E-POSTERS
Narciso Oliveira(1) Hospital José Joaquim Fernandes
(1) Hospital de Braga
Tema: Doenças oncológicas
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
culites A hiponatrémia é uma potencial complicação nos
doentes oncológicos, podendo estar relacionada
Introdução: A Púrpura de Henoch-Schönlein (PHS) com a terapêutica oncológica. Vincristina, vinblasti-
é uma vasculite de pequenos vasos com deposição na, cisplatina e ciclofosfamida são os agentes mais
de imunocomplexos IgA, que envolve a pele e ou- frequentemente associados a hiponatrémia, embora
tros órgãos. É rara nos adultos e associa-se a pior o mecanismo pelo qual ocorre ainda está por escla-
prognóstico. Caracteriza-se por púrpura palpável, recer e depende da quimioterapia em questão.
artralgias/artrite, envolvimento abdominal e renal. O
diagnóstico baseia-se na clínica e achados histopa- Os autores apresentam um caso de um doente
tológicos, por ausência de alterações laboratoriais do sexo masculino de 68 anos que recorreu ao
específicas. serviço de urgência por um quadro de mal-estar
generalizado e astenia. Tratava-se de um doente
Caso Clínico: Homem, 59 anos, autónomo. Recorre com antecedentes de HTA, DM2 e Linfoma de Hod-
ao SU por dor abdominal e diarreia com 2 semanas gkin (subtipo esclerose nodular), estadio IV-B, com
de evolução, associadas a lesões purpúricas nos remissão completa documentada imagiologica-
membros e perda ponderal de 4kg. Sem náuseas, mente. Cumpriu um total de 6 ciclos de tratamento
vómitos, perdas hemáticas, adenopatias, febre, ar- dirigido (ABVD, adriamicina, bleomicina, vinblastina,
tralgias ou mialgias. Análises com leucocitose, neu- dacarbazina), com término 7 dias prévio ao início
trofilia e elevação da PCR. TC-AP com espessamen- das queixas. Não evidenciava alterações de relevo
to parietal de ansas do jejuno e íleo, densificação ao exame objetivo para além de alguma desorien-
de gordura envolvente e edema do meso. Iniciou tação, sinais vitais sem alterações, no entanto
ciprofloxacina por suspeita de colite infecciosa e analiticamente foi objetivada uma hiponatrémia de
foi internado no serviço de Medicina Interna. HC, 113mmol/L. Foi iniciada correção com cloreto de
microbiológico e parasitológico de fezes negativos. sódio hipertónico, conseguindo-se um aumento de
Estudo imunológico e electroforese proteínas sem natrémia para 129mmol/L, valores sobreponíveis
alterações, função renal normal, serologias víricas aos que apresentou durante a terapêutica oncodiri-
negativas. Estudo endoscópico sem alterações. gida. Clinicamente houve uma melhoria significativa
Sedimento urinário com eritrocitúria e proteinúria do quadro de prostração e desorientação iniciais,
(1,44g/24h). Arteriografia abdominal sem lesões ar- sem nunca se objetivar agravamento do ponto de
teriais ou microaneurismas. Biópsia cutânea revelou vista neurológico enquanto permaneceu em vigi-
“vasculite neutrofílica com necrose fibrinóide focal lância, admitindo-se tratar-se de uma hiponatrémia
da parede vascular; imunofluorescência directa secundária a vinblastina.
(IFD) sem deposição de IgA na parede e lúmen vas-
cular”. Diagnosticou-se PHS no adulto e iniciou-se Ao apresentar este caso os autores pretendem cha-
corticoterapia, com melhoria das queixas abdomi- mar a atenção ao facto da hiponatrémia se tratar de
nais e regressão das lesões purpúricas. uma comorbilidade séria que requer uma atenção
particular no doente oncológico, pois o seu trata-
Discussão: A PHS é uma doença multissistémica e mento varia consoante a terapêutica instituída e as
heterogénea. O exame histopatológico da biópsia consequências podem ser graves, com efeitos sé-
cutânea confirma a presença de vasculite leucocito- rios para a saúde do doente. O doente oncológico é
clástica e a IFD pode mostrar os característicos de- um doente particularmente frágil pelas terapêuticas
pósitos de IgA, não sendo a sua deposição patogno- a que está sujeito e pelas potenciais complicações
mónica. Para maior rentabilidade, as biópsias para das mesmas, podendo, em última análise, necessi-
IFD devem realizar-se no bordo de lesões recentes tar de intervenção no serviço de urgência.
(idealmente <24h), uma vez que as IgA podem não
ser detetadas em lesões antigas. Exames endoscó- P n.º 0044 
picos são indicados em doentes com envolvimento Síndrome de Fitz-Hugh Curtis: uma causa rara de
gastrointestinal, pois a malignidade deve ser excluí- dor abdominal
da. A decisão terapêutica é complexa pela ausência Liliana Pereira Dias(1);Jorge Reis(1);Sofia Perei-
de correlação entre o quadro inicial e a evolução da ra(1);Manuela Sequeira(1);Joana Pimenta(1)
doença. O seguimento deve ser regular, pelo risco (1) Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia / Espinho
de complicações a longo prazo.
Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá-
P n.º 0037  ticas
Hiponatrémia e quimioterapia: Quem, como e quan-
do? Introdução: A dor abdominal é um sintoma comum
Rita Martins Calixto(1);Filipa Lage Martins(1);Ana e com um amplo diagnóstico diferencial. A síndro-
Luísa Oliveira(1);Maryna Telychko(1);Quintino Bia- me de Fitz-Hugh-Curtis (FHC) é uma complicação
gue(1);Pedro Costa(1);José Vaz(1) da doença inflamatória pélvica (DIP), quadro raro
(1) Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo, EPE / caracterizado por dor intensa no hipocôndrio direito

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 497


secundária a inflamação dos tecidos peri-hepáticos, Serologias virais foram negativas. Autoimunidade
sem envolvimento do seu parênquima. revelou hipergamaglobulinemia com aumento
de IgG e IgM. Anticorpos-antinucleares (ANA),
Caso clínico: Mulher de 38 anos, sem anteceden- anticorpos anti-mitocóndriais (AMA), anticorpos
tes de relevo. Admitida no serviço de urgência por anti-microssomal da figado e rim tipo1 (anti-LKM)
quadro com dois dias de evolução, de vómitos e dor e anti-antigénio hepático soluvel/figado-pancreas
abdominal no quadrante superior direito que agra- (anti-SLA/LP) foram negativos. Ecografia abdominal
vava com inspiração. O exame físico demonstrou sem alterações. Realizada biópsia hepática com
sensibilidade aumentada a palpação do hipocôndrio alterações compatíveis com HAI não se podendo
direito, sem sinais de irritação peritoneal. No estu- excluir síndrome de sobreposição. Estabeleceu
do analítico: leucocitose (23 000/uL) e proteína C diagnóstico de Síndrome de Overlap HAI/CBP.
reativa (40 mg/dL). Ecografia sem patologia renal Iniciou o tratamento com ácido ursodesoxicólico
ou uma obstrução das vias hépato-biliares. Na to- com boa resposta clínica e analítica. Conclusão: O
mografia computorizada abdominal: hepatomegalia, caso apresentado demostra a complexidade dos
edema peri-portal associado a gânglios reativos ao doentes com Síndrome de Overlap, sendo uma en-
longo dos trajetos retroperitoneais, discreto espes- tidade rara, sem critérios definidos, dificulta o seu
samento e densificação de gordura na fosa ilíaca diagnóstico e consequentemente o seu tratamento.
direita, com pequena quantidade de líquido livre na
escavação pélvica. Ileocolonoscopia exclui doença P n.º 0047 
inflamatória intestinal. Devido a elevada suspeita de QUANDO UM SINTOMA INESPECÌFICO ENCOBRE
perihepatite no contexto de DIP, colheu-se exsudado UMA DOENÇA RARA
endocervical e iniciou-se terapêutica com ceftriaxo- FGomes(1);Mariana Almeida(1);Ruth Feio(1);Carina
ne, doxiciclina e metronidazol (15 dias), com melho- Ramalho(1);Bruno Nunes(1);Bruno Bonito(1);Joa-
ria progressiva clínica, analítica e imagiológica. A in- quim Felisberto(1);Rodrigo Rufino(1);Daniela Luz
feção por Neisseria gonorrhoeae confirmou-se  pela Rodrigues(1);Martinho Fernandes(1)
técnica de biologia molecular - PCR, validando o (1) Centro Hospitalar Barreiro/Montijo, EPE / Hospi-
diagnóstico. tal Nossa Senhora do Rosário
Discussão: A síndrome de FHC é mais frequente em Tema: Doenças cardiovasculares
mulheres em idade reprodutiva. Caracteriza-se clini-
camente por dor abdominal, acompanhada ou não Introdução: A amiloidose cardíaca (AC) é uma doen-
de clínica de infeção genital, pelo que pode mimeti- ça rara causada pela deposição de proteína amiloi-
zar diferentes quadros hépato-biliares e intestinais. de no coração. Afetação cardíaca é principal causa
Na fase aguda o prognóstico é excelente com anti- de morbi-mortalidade. Caso clínico: Homem, 78
bioterapia precoce. As complicações mais frequen- anos, autónomo. Antecedentes pessoais de hiper-
tes são as aderências peritoneais ou ginecológicas tensão arterial, dislipidemia, medicado com Telmi-
e distúrbios ginecológicos, como a esterilidade, pelo sartan+ Hidroclorotiazida e Sinvastatina. Recorreu
que o diagnóstico precoce é essencial. ao Serviço de Urgencia, por  cansaço fácil para os 
P n.º 0046  pequenos e médios esforços físicos, dispneia de es-
SÌNDROME DE OVERLAP HEPATITE AUTOIMUNE/ forço, ortopneia e edemas dos membros inferiores
COLANGITE BILIAR PRIMARIA- RELATO DO CASO com  2 semanas de evolução. Objetivamente com
FGomes(1);Mariana Almeida(1);Ruth Feio(1);Carina ingurgitamento jugular a 45º, fervores crepitantes
Ramalho(1);Bruno Nunes(1);Bruno Bonito(1);Daniela bi-basais na auscultação pulmonar e edemas dos
Luz Rodrigues(1);Rodrigo Rufino(1);Joaquim Felis- membros inferiores até ao nível dos joelhos. Labora-
berto(1);Martinho Fernandes(1) torialmente destaca-se elevação de peptídeo natriu-
(1) Centro Hospitalar Barreiro/Montijo, EPE / Hospi- rético (BNP) 342 pg/mL. Electrocardiograma ritmo
tal Nossa Senhora do Rosário sinusal, FC 70bpm. Rx de tórax: Cardiomegalia com
sinais de congestão pulmonar. Ecocardiograma
Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá- transtorácico sugestiva de cardiopatia infiltrativa.
ticas Electroforese de proteínas e imunofixação no soro
e deteção das cadeias leves normais. Colocou-se
hipotese diagnóstico de amilidoise cardíaca com
Introdução: Síndrome de Overlap Hepatite insuficiência cardiaca (IC) de novo. Iniciou a tera-
Autoimune/Colangite Biliar Primaria (HAI/CBP), pêutica diurética. Pediu-se Ressonância magnética
é uma entidade rara, sem critérios diagnósticos cardíaca que confirmou Hipertrofia VE com função
claramente definidos, baseia-se na combinação sistólica global conservada, dilatação do VD com
de caraterísticas bioquímicas, serológicas e função sistólica global reduzida. Dilatação bi-auricu-
achados histológicos. Apresentamos o caso de lar. Realce difuso da parede do VE compatível com
uma Mulher 22 anos, natural de Brasil, a residir em AC. Biópsia da gordura abdominal normal. Doente
Portugal há menos de 5 meses, sem antecedentes evolui favoravelmente, tendo alta para consulta de
pessoais, sem hábitos etanólicos ou toxicofílicos. cardiologia. Conclusão: AC apesar de rara, deve ser
Internada por quadro de hepatite colestásica excluida perantes os achados de restrição ventricu-
sintomática. No estudo analítico apresentava lar, aumento da espessura ventricular ou IC de novo
elevação dos marcadores de colestase hepática. com fej. preservada.O comprometimento cardíaco

498
E-POSTERS
é o fator de mau prognóstico, resultando em morte P n.º 0054 
nos primeiros 6 meses após inicio de clínica de IC Oxímoros expectáveis – eventos trombóticos ape-
se não for tratada. sar da hipocoagulabilidade do doente cirrótico
Luís Veiga(1);a. Alberto Ribas(1);Sónia Coelho(1);-
P n.º 0049  Silvia Nunes(2);Maria Pacheco(1);Iurie Pantazi(1);A-
Doença de Addison – quando suspeitar? driano Cardoso(1);João Correia(1)
Rita Calixto(1);Filipa Lage Martins(1);Maryna Tely- (1) Unidade Local de Saúde da Guarda, EPE / Hospi-
chko(1);Quintino Biague(1);José Vaz(1) tal Sousa Martins (2) Centro Hospitalar do Alto Ave,
(1) Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo, EPE / EPE / Hospital da Senhora da Oliveira
Hospital José Joaquim Fernandes Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá-
Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio- ticas
nais
O hepático crónico é classicamente considerado
A insuficiência da glândula supra-renal é um distúr- como modelo para a coagulopatia, e os pacientes
bio raro, associado frequentemente a doença primá- são considerados de alto risco para complicações
ria da supra-renal. O desenvolvimento agudo desta hemorrágicas. A disfunção endotelial hepática pro-
insuficiência glandular resulta num hipocortisolismo move a secreção de Factor de Necrose Tumoral alfa
e défice de mineralcorticoides, apresentando-se que aumenta a produção de factores de coagulação
com sinais e sintomas inespecíficos, o que contribui independentes da função hepática (factor de von
para o atraso do seu diagnóstico e tratamento. Willebrand[vWF], VIII, inibidor activador plasminogé-
no-1); a diminuição da produção de ADAMTS13 que
aumenta vWF de alto peso molecular; e a inflama-
Os autores apresentam o caso clínico de um ho- ção e endotoxemia crónica levam a hiperreactivida-
mem de 52 anos com polineuropatia desmielini- de plaquetar que favorecem a hipercoagulabilidade.
zante sensitivo motora de predomínio sensitivo em
estudo (primária vs secundária), que recorreu ao
serviço de urgência por queda da própria altura com Homem, 53 anos, seguido habitualmente em con-
traumatismo crânio encefálico, dor abdominal difu- sulta de Doenças Hepáticas, é internado através do
sa, vómitos alimentares e anorexia com 5 dias de Serviço de Urgência, por descompensação da sua
evolução. Referia também astenia, adinamia e perda hepatopatia crónica de etiologia alcoólica ao apre-
ponderal de 11 Kg em 7 meses. Ao exame objectivo sentar encefalopatia e hiperbilirrubinémia.
estava emagrecido, pálido, desidratado, hipotenso Durante a avaliação apresenta icterícia exuberante
(81/56 mmHg) e bradicárdico (55 bpm). A TC crâ- (Bilirrubina total 31.14mg/dL com directa 25.13mg/
nio-encefálica, radiografia de tórax e eletrocardio- dL), Child Pugh C [13], MELD 39, ascite sob mode-
grama não apresentavam alterações. Nas análises rada tensão com sinais de encefalopatia hepática
apresentava anemia normocitica normocrómica grau 1 associada a um estado de hipocoagulabi-
(9.8g/dL), lesão renal aguda AKIN II (Ur:73mg/ lidade (caracterizado por TP 36.3 seg, INR 3.35,
dL; Cr:1.91mg/dL), hiponatremia (121mmol/L) aPTT 41.8 seg, trombocitopenia [91x103]). No
hipercaliemia (5.43mmol/L) e hipoclorémia entanto, o estudo imagiológico e posterior clínica
(93.5mmol/L). O doente foi internado sob fluidote- que terminou por resultar na morte do paciente
rapia endovenosa. Após atingir euvolémia manteve confirmou trombose da veia mesentérica superior
hipotensão e episódios de hipoglicémia sintomática para ansas ileais e jejunais e cólon transverso, com
(58mg/dL). Após exclusão de outras patologias foi espessamento parietal de ansas jejunais (espessura
doseado cortisol sérico que estava baixo (1,20ug/ aproximada de 10 mm, com redução do realce) nos
dL), ACTH aumentada (649,30pg/mL), aldosterona quadrantes esquerdos, com edema do mesentério,
diminuida (1,20ng/dL), renina plasmática aumenta- derrame interansas e formações ganglionares me-
da (8mg/dL) e anticorpo anti-supra-renal positivos. sentéricas proeminentes, compatíveis com isque-
Foi iniciada hidrocortisona endovenosa até recupe- mia mesentérica de origem venosa.
rar via oral. O doente teve alta assintomático, nor-
motenso, com natrémia corrigida sob fludrocortiso- O conceito histórico de que os pacientes com doen-
na e prednisolona. Na consulta de revisão o doente ça hepática com cirrose são autoanticoagulados
mantem-se assintomático, apresentou resolução da por diminuição da síntese dos factores da coagula-
anemia e melhoria da polineuropatia desmielinizan- ção e α2Antiplasmina já não é válido. Dada a reser-
te sensitivo-motora. va hemostática reduzida no doente cirrótico, a hi-
percoagulabilidade é tão (se não mais) frequente do
A insuficiência supra-renal aguda é uma emergência que a hemorragia. Os doentes cirróticos hospitaliza-
endócrina rara, cujo prognóstico depende do reco- dos têm um risco aumentado de eventos trombóti-
nhecimento e intervenção terapêutica em tempo cos pelo que deve ser considerada tromboprofilaxia
útil. O tratamento consiste na correção da desidra- (mecânica e/ou farmacológica).
tação, medidas gerais de suporte, identificação e
tratamento de causas precipitantes e na obtenção
de níveis de glicocorticóides e mineralcorticóides P n.º 0055 
equivalentes aos de um indivíduo saudável em simi- Púrpura Trombocitopénica Trombótica – como pre-
lar circunstância. venir a recidiva?

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 499


Catarina Elias(1);João Rocha(1);Mariana Ma- tração profiláctica de RTX quando actividade <20%.
tos(1);Helena Rocha(1);Sergio Madureira(1);Ana Ra-
quel Neves(1);Rita Gouveia(1);Vanessa Chaves(1);- P n.º 0058 
Jorge Almeida(1) SÍNDROME DE WUNDERLICH: UMA CAUSA RARA E
(1) Centro Hospitalar de S. João, EPE GRAVE DE LOMBALGIA
Marta Amaro(1);Alexandra Dias(1);Cátia Teixeira(1);-
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas- Nataliya Nedzeslka(1);João Dias(1);Aurora Duar-
culites te(1);Fátima Pimenta(1)
(1) Centro Hospitalar do Médio Tejo, EPE / Unidade
Introdução: A Púrpura Trombocitopénica Trombó- de Torres Novas
tica (PTT) adquirida resulta do défice de actividade Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente crí-
da ADAMTS13 e subsequente microangiopatia tico
trombótica. Até 40% dos casos podem sofrer recidi-
va. O tratamento da PTT tem evoluído na prevenção
de recidiva com o uso ad initium de rituximab (RTX) A síndrome de Wunderlich é uma entidade rara que
além do tratamento standard. se caracteriza por ruptura espontânea da cápsula
renal com hematoma retroperitoneal. A apresenta-
ção é heterogénea e pode manifestar-se pela tríade
Caso Clínico: Mulher de 34 anos com história de de Lenk: dor lombar intensa, massa retroperitoneal
PTT adquirida em 2014 que se apresentou com aci- palpável e sinais clínicos de hemorragia aguda. As
dente isquémico transitório (AIT), com boa resposta suas principais causas incluem neoplasias renais
a PFX, corticoterapia e RTX. Alta da consulta de Me- malignas e benignas, poliarterite nodosa e esclero-
dicina Interna em 2017.   se tuberosa. A tomografia computadorizada (TC)
Episódio de urgência em novembro de 2020 por é o exame de imagem de escolha e o tratamento
queixas compatíveis com AIT e petéquias nas per- inclui embolização da artéria renal ou nefrectomia,
nas. A tomografia computorizada cerebral não mos- dependendo da gravidade da hemorragia. Caso
trou lesões hemorrágicas ou isquémicas agudas. Clínico: Doente de 85 anos, sexo feminino, parcial-
Analiticamente, anemia de 9.9 g/dL com sinais de mente dependente, com antecedentes pessoais de
hemólise e presença de esquizócitos, e tromboci- hipotiroidismo, diabetes mellitus tipo 2, hiperten-
topenia grave de 15 000 plaquetas/uL. Destacar são arterial, fibrilhação auricular e quistos renais
gravidez sem complicações com parto eutócico em bilateralmente. Internada num Serviço de Medicina
fevereiro de 2020 - alta com 90 000 plaquetas/uL, Interna por hiponatrémia grave iatrogénica a diuré-
sem reavaliação posterior. ticos, cistite nosocomial e lesão renal aguda. Sob
enoxaparina em dose terapêutica. Durante o interna-
Atendendo a antecedente e score PLASMIC de 7, mento, verificou-se boa evolução clínica e analítica.
iniciou PFX, pulsos de metilprednisolona e RTX Ao 6º dia, iniciou queixas de náuseas e lombalgia
com boa resposta. Cumpriu 14 dias de PFX, RTX esquerda que não cedia à analgesia; prostração,
semanal durante 4 semanas e corticoterapia com palidez, extremidades frias, tensão arterial 77/40
início de desmame ainda no internamento. Dosea- mmHg, sem perdas hemáticas visíveis. Sem história
mento pré-tratamento de ADAMTS13 indetectável de trauma. Foi solicitado estudo analítico que reve-
com inibidor positivo, confirmando recidiva de PTT lou hemoglobina 6,1g/L e lactato 2,5 mmol/L. A TC
adquirida. Repetido doseamento 48 horas após Abdominal revelou hematoma peri-renal à esquerda
suspensão de PFX - actividade ADAMTS13 de 38% com colecção retroperitoneal de 20 cm. Admitido
e inibidor inferior ao limite inferior do normal. Reali- choque hemorrágico, com necessidade de suporte
zado estudo de AIT (serologias víricas, ecodoppler transfusional de 5 unidades de concentrado eritro-
cervical e transcraniano, ECG) que não demonstrou citário, 2 plasma e 1g de ácido tranexâmico. Após
alterações de relevo – assumida etiologia do even- discussão multidisciplinar, a doente foi transferida
to em relação com fenómenos de microangiopatia para o Serviço de Medicina Intensiva para otimiza-
trombótica. ção e planeamento da estratégia terapêutica. Por
manutenção de instabilidade clínica, foi submetida
Alta após 24 dias, orientada para consulta. a nefrectomia esquerda de urgência. Seguiu-se um
internamento no serviço de urologia, com boa evo-
Discussão: O uso de RTX ad initium tem evidência lução clínica e analítica, tendo tido alta para o domi-
na redução de recidiva de PTT, mas o efeito protec- cílio. Conclusão: Este caso destaca-se pela raridade
tor tem duração limitada, de cerca de 3 anos segun- e evidencia a necessidade de abrir o leque de hipó-
do evidência recente, consistente com o seu efeito teses diagnósticas quando abordamos um doente
noutras doenças hematológicas imunes. A gravidez com lombalgia. Alerta-nos ainda para a possibilida-
é um trigger de PTT por mecanismos como a desci- de de surgimento de urgências cirúrgicas no doente
da fisiológica dos níveis de ADAMTS13 nesse perío- internado num serviço de medicina interna.
do, especialmente no pós-parto.
Este caso levanta questões quanto à relevância do P n.º 0061 
seguimento destes doentes com doseamento perió- Doença de Pott cervical associada a rituximab e
dico de actividade de ADAMTS13 (incluindo no pe- prednisolona
ríodo pré-concepcional e após gravidez), e adminis- Sandra Ganchinho Lucas(1);Filipe Alfaiate(1);Ana

500
E-POSTERS
Tenreiro(1);Inês Vieira Santos(1);IRENEIA LINO(1);- Singultos, vulgos soluços, apesar de geralmente be-
Francisco Azevedo(2) nignos e auto-limitados, podem ser persistentes (se
(1) Hospital do Espírito Santo, EPE, Évora (2) ME- duração >48 horas) e motivar a procura de auxílio
DIEV médico. Nesse caso a sua etiologia é vasta e pode
advir de situações mais graves como enfarte agudo
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias do miocárdio, pneumonia com acometimento dos
lobos inferiores e efeito secundário de vários fár-
A doença de Pott cervical distingue-se das restantes macos, como a dexametasona. A propósito destas
localizações vertebrais pela extrema raridade. O seu diferentes etiologias, os autores apresentam dois
prognóstico é condicionado pelas lesões que levam casos clínicos em que este sintoma surgiu em fases
à instabilidade vertebral e à compressão medular. diferentes da COVID-19. 

Mulher de 59 anos, auxiliar em lar de idosos. Ante- Caso clínico 1: Homem de 81 anos, com fatores de
cedentes de doença renal crónica em estádio 5 por risco vascular (FRV), dirige-se ao serviço de urgên-
glumerulonefrite crescêntica pauci-imune, com ciclo cia por soluços com 2 dias de evolução, sem outras
de rituximab e prednisolona há cerca de dezoito queixas associadas. Ao exame objetivo apenas com
meses. discretas crepitações basais à auscultação pulmo-
nar. Analiticamente com aumento dos parâmetros
Recorre ao Serviço Urgência por parestesias nas inflamatórios e tomografia computorizada do tórax
mãos de longa data, cervicalgia e omalgia há 1 mês, com densificações bilaterais em vidro despolido
nega outros sintomas. A TC da coluna cervical de- (atingimento de 25% do parênquima pulmonar),
monstrou lesão ocupando de espaço a nível de C5/ compatível com COVID-19. A zaragatoa PCR-SAR-
C6 com fusão parcial dos corpos vertebrais, angu- S-CoV-2 foi positiva. Assumidos singultos pelo pul-
lação inversa da coluna vertebral e compressão da monar pela COVID-19 e dada alta com indicação de
medula adjacente. isolamento e tratamento sintomático.

A doente é internada por lesão cervical confirmada Caso clínico 2: Homem de 66 anos, com FRV, é
em RMN. Realizou os seguintes exames comple- internado por pneumonia COVID-19 com 50% de
mentares de diagnóstico: TC toraco-abdomino-pél- atingimento pulmonar e insuficiência respiratória
vico, endoscopia digestiva alta, laringoscopia sem tipo 1. Iniciou tratamento com dexametasona 6mg e
alterações; hemoculturas seriadas de incubação posteriormente inicia clínica de soluços persistentes
prolongada, serologia para HIV, Hepatite B e C, RPR com resolução apenas após suspensão do
e Brucella negativas, eletroforese das proteínas e corticóide. Após exclusão de outras causas os
estudo de autoimunidade sem alterações. Admi- soluços foram filiados não só na pneumonia como
tiu-se como hipótese diagnóstica espondilodiscite na toxicidade terapêutica.
com empiema pré-vertebral e endocanalar, associa-
do a teste IGRA positivo. Submetida a neurocirurgia Discussão: O mecanismo que despoleta os sin-
com estabilização vertebral e drenagem de abcesso gultos é variável e inclui situações em que existe
periarticular, com material purulento positivo para irritação no nervo frénico (como nas pneumonias e
M. tuberculosis sem resistência à Rifampicina. Ini- neoplasias) e outras em que há estimulação do arco
ciou terapêutica com isoniazida, rifampicina etam- reflexo dos soluços por alteração na transmissão
butol e pirazidamida, e piridoxina e teve alta para a neuronal central e que pode estar relacionada com
consulta. fármacos, nomeadamente a dexametasona. Com
estes dois casos pretende-se destacar algumas das
Este é o primeiro relato de doença de Pott cervical menos frequentes situações em que os singultos
associada à terapêutica com rituximab e prednisolo- tem causa patológica subjacente, reforçando a ne-
na. A doença de Pott deverá fazer parte do diagnós- cessidade de uma boa colheita de história clínica e
tico diferencial nos doentes com clínica insidiosa exame físico. Como problema de saúde pública, é
de cervicalgia e défices neurológicos. A associação essencial não só incluir a COVID-19 como diagnós-
de rituximab e prednisolona não é ausente de ris- tico diferencial, para que seja reconhecida precoce-
co para tuberculose extrapulmonar apesar de não mente para limitação de contágios, como conhecer
haver descrição prévia na literatura. Recomenda-se os efeitos secundários dos fármacos de forma a
o rastreio de tuberculose latente antes do início da minimiza-los.
terapêutica.
P n.º 0067 
P n.º 0066  Para além de uma síncope: Síndrome Parkinsonia-
Singultos: da apresentação ao tratamento da CO- no Atípico
VID-19 Sara Aleixo Duarte(1);Catarina Jorge(1);Sérgio Antu-
Rute Brás Cruz(1);Joana Morais(1);Rafaela Lo- nes Silva(1);Tatjiana Mihailovic(1);Mário Lázaro(1)
pes(1);Marta Soares(1) (1) Centro Hospitalar do Algarve, EPE / Hospital de
(1) Unidade Local de Saúde de Matosinhos, EPE / Faro
Hospital Pedro Hispano
Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 501


Parkinsonismo atípico engloba doenças neurodege- A infeção pelo SARS-CoV-2 está associada a maior
nerativas e pode ser confundido com paralisias do risco de tromboembolismo venoso e arterial. Anti-
olhar, disfunção autonómica, ataxia cerebelar, suge- coagulação profilática em altas doses é recomenda-
rindo prova terapêutica com levodopa/carbidopa. da em doentes críticos, mas não há informação nos
casos leves.
Doente do gênero masculino, 67 anos, mRankin Caso clínico
2. Como antecedentes pessoais, cardiopatia is-
quémica e hipertensiva, hipertensão arterial, an- Mulher de 58 anos, obesa, admitida no serviço de
gina estável, trombose venosa profunda em 2014 urgência por depressão do estado de consciência e
sob anticoagulante oral, neoplasia vesical inter- dispneia. Vista bem pela última vez 8 horas antes.
vencionado em 2013, Síndrome vertiginoso com Diagnosticada com infeção por SARS-CoV-2 10 dias
tomas regulares de beta-histina. Medicado também antes, com mialgia e astenia ligeiras.
com diltiazem e sulpirida. Encaminhado ao serviço
de urgência após síncope com traumatismo crâ- Objetivamente em coma (escala de Glasgow 6/15),
nio-encefálico. À admissão encontrava-se sonolen- hipotensa PA 65/35 mmHg, FC 134 rpm, insuficiên-
to, despertável, confuso. Segundo a esposa, vários cia respiratória global grave (pH 7.10 pCO2 77 pO2
episódios de tonturas nas semanas anteriores, 27).
associadas a perda de visão intermitentes e tempo-
rárias. Negadas outras queixas. Apresentou um episódio de taquicardia ventricular
com pulso, sendo submetida a cardioversão elétrica
(150J) eficaz. Foi entubada e iniciado suporte ami-
Objetivamente, destacava-se tremor dos membros
nergico.
superiores. Analiticamente, alterações iónicas com
necessidade de correcção e admissão na enfer- Tomografia computadorizada (TC) cerebral mostrou
maria de Medicina Interna. Realizou TAC-CE com oclusão de M1 da artéria cerebral média direita,
padrão de leucoaraiosis, ateromatose carotídea e com isquemia de todo o hemisfério, já com efeito
hematoma epicraniano frontal esquerdo. Iniciado de massa. Angio TC pulmonar documentou discre-
o estudo da síncope, ECG sem alterações, Doppler tas opacidades em vidro despolido bilateralmente;
dos vasos do pescoço com ateromatose carotídea extenso tromboembolismo em ambas as artérias
bilatreral sem repercussão hemodinâmica, Eco-Do- pulmonares, carótida comum e subclávia esquerda;
ppler transcrâniano sem alterações. RM cerebral e sinais de sobrecarga do ventrículo direito.
com foco inespecifico de hipersinal subcortical
frontal direito e periventricular, de natureza vascular Por se encontrar fora de janela terapêutica, e com
microangiopática e atrofia cerebral cortical. Dadas enfarte cerebral multilobar, não foi possível realizar
as queixas de alteração visual, avaliado por Oftal- trombólise. Pela gravidade do enfarte cebebral, com
mologia com catarata provecta direita e fundos- lesões isquémicas estabelecidas, com mau prog-
copia com atrofia macular própria da idade. Após nóstico, foi decidido que não era candidata para
correção iónica, manteve tonturas com marcha de trombectomia pulmonar.
base larga e tremor fino. Avaliado pela Neurolo-
gia, iniciando prova terapêutica com levodopa com Desenvolveu falência respiratória fulminante, com
melhoria evidente. Iniciou técnicas de neurodesen- choque obstrutivo, apesar do suporte ventilatório
volvimento e teve alta medicado com Levodopa/ e hemodinâmico, e morreu 2 horas após chegar ao
Carbidopa, com o diagnóstico de síndrome parkin- hospital.
soniano atípico em doente com agravamento por
complicações recentes e medicação de ambulató- Discussão
rio com efeito adverso de sintomas extrapiramidais.
Reportamos um caso de trombose cerebral e pul-
monar extensa, no decorrer de infeção por SARS-
Este caso clínico mostra a necessidade de uma co- -CoV-2, na ausência de outros fatores de risco. O
lheita de história e um exame objectivo exaustivo, SARS-CoV-2 parece aumentar o risco trombótico
não nos restringindo aos antecendentes pessoais através do aumento da resposta inflamatória, que é
como presunção da provável causa de síncope, com superior nos doentes críticos, mas pode estar pre-
necessidade de investigação dos vários sistemas. sente nos casos leves. Anticoagulação profilatica
em altas doses tem sido recomendada em doentes
P n.º 0069  hospitalizados. Porém não existem recomendações
Trombose pulmonar e cerebral: uma complicação nos casos leves.
fatal da COVID-19
Mafalda sá Pereira(1);Filipa Monteiro(1);Rita Passos Este caso teve uma evolução fulminante, inutili-
Coelho(1);Pedro Correia Azevedo(1) zando as opções terapêuticas. Defendemos que é
(1) Hospital Garcia de Orta, EPE urgente identificar as melhores abordagens profilá-
ticas nestes doentes. Reconhecimento e rápido tra-
Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente crí- tamento é essencial, mas uma profilaxia profilaxia
tico adequada poderá salvar vidas.
P n.º 0078 
Introdução
502
E-POSTERS
Linfangite Carcinomatosa e Doença do Interstício Ana Catarina Trigo(1);Filipa David(1);José Ribei-
Pulmonar - A Importância do Diagnóstico Diferen- ro(1);Mário Bibi(1);Joana Cancela(1)
cial (1) Unidade Local de Saúde de Matosinhos, EPE /
Leonor Boavida(1);Carolina da Silva Alves(1);Joana Hospital Pedro Hispano
Caetano(1);José Delgado Alves(1)
(1) Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca Tema: Doenças hematológicas

Tema: Doenças oncológicas Introduction: Heparin-induced thrombocytopenia


(HIT) is heparin’s most clinically relevant nonhem-
Introdução: A linfangite carcinomatosa pulmonar é orrhagic complication. It is characterized by the
uma doença metastática que se caracteriza por in- presence of IgG anti-PF4/heparin antibodies. Circu-
filtração difusa e obstrução do sistema linfático do lating PF4/heparin-IgG immune complex can bind
pulmão por células tumorais. O seu diagnóstico é platelets causing their activation and aggregation,
habitualmente tardio devido à apresentação indo- with consequent thrombotic phenomena and throm-
lente e inespecífica e o seu padrão imagiológico bocytopenia. Thrombocytopenia is not associated
pode assemelhar-se ao de uma doença intersticial with bleeding risk. Thrombosis is the most severe
pulmonar o que, por vezes, torna difícil a sua dife- complication of HIT, contributing to its morbidity and
renciação. mortality, and can be both venous or arterial. Skin
necrosis at the site of heparin injections is a rare but
Caso clínico: Apresentamos o caso de uma mulher well-described manifestation of HIT.
de 55 anos com história de asma brônquica, obesi-
dade e carcinoma da mama submetida a cirurgia, Clinical case: A 79-year-old woman was admitted
quimioterapia e radioterapia com remissão comple- to our hospital after a cardiac arrest. She had never
ta mantida durante 8 anos de seguimento. Admitida been hospitalized and no previously exposure to
no hospital por dispneia de agravamento progressi- heparin was known. Prophylactic enoxaparin was
vo com 4 meses de evolução. Na gasimetria apre- started. An exacerbation of chronic pulmonary dis-
sentava insuficiência respiratória global. O estudo ease occurred requiring antibiotic treatment. At day
etiológico com tomografia computorizada torácica 11 a painful and erythematous lesion with a central
revelou focos de densificação em vidro despolido necrotic area was noticed at an enoxaparin injection
bilateralmente associados a espessamento difuso site. At that day, her platelet counts was 404 x10 3 /
da parede dos brônquios. As provas de função res- uL. In retrospect, she had an initial drop in platelet
piratória eram compatíveis com síndrome ventilató- count of more than 50% at day 3. Skin necrosis as a
rio misto, com diminuição moderada da capacidade presentation of HIT was suspected and enoxaparin
de difusão do monóxido de carbono. No início do was replaced by rivaroxaban 15mg twice a day (ther-
quadro realizou broncofibroscopia cuja citologia apeutic dose). Anti PF4/heparin antibodies were
do lavado broncoalveolar foi negativa para células detected by immunoassay. No other thrombotic
neoplásicas. Não havia história de tabagismo, expo- manifestations of HIT were noticed. Her skin lesion
sição ocupacional ou a aves, ou fármacos potencial- progressively improved until completely recovered.
mente causadores de doença intersticial. O estudo She was discharged with the indication to complete
de autoimunidade revelou anticorpos antinucleares 3 months of rivaroxaban 15mg twice a day.
positivos (1/320) com anti-PM-Scl 75 positivos. A
doente não apresentava qualquer sintomatologia Discussion:  The probability of HIT can be acessed
sistémica sugestiva de doença autoimune. Pelo by the “4T’s” scoring system, which was high in this
quadro atípico optou-se pela repetição da bronco- case. Diagnosis of HIT was made by integrating
fibroscopia, desta vez com biópsias, cujo exame clinical features and laboratory detection of IgG anti-
anatomopatológico veio revelar infiltração por car- PF4/heparin antibodies. The day the skin necrosis
cinoma sólido de origem mamária, confirmando was noticed, platelet count was normal. We believe
linfangite carcinomatosa como apresentação inicial the initial drop on platelet count was followed by
da recidiva do carcinoma da mama. progressive elevation because of the concomitant
exacerbation of chronic pulmonary disease. HIT is a
Discussão: A linfangite carcinomatosa, apesar de potential life-threatening condition, requiring prompt
rara, deve ser considerada no diagnóstico diferen- discontinuation of heparin and treatment with
cial de doença do interstício pulmonar, em particular other anticoagulants. Some guidelines recommend
em doentes com história de neoplasia. Neste caso, therapeutic anticoagulation for 3 months in patients
a repetição de broncofibroscopia com a realização presenting with thrombosis.
de biópsias foi fulcral ao diagnóstico e ao célere e
correto encaminhamento. A positividade de anticor- P n.º 0087 
pos nem sempre significa doença autoimune de- Enfisema Subcutâneo Maciço em Doente com Co-
vendo ser interpretada em conjunto com a restante vid 19 submetido a Helmet CPAP
clínica. Sara Montezinho(1);Marta Brandão Calçada(1);João
Carvalho(1)
P n.º 0084  (1) Centro Hospitalar de Entre Douro e Vouga, EPE /
Heparin-Induced Thrombocytopenia: a rare presen- Hospital de S. Sebastião
tation with skin necrosis

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 503


Tema: Doenças infecciosas e parasitárias micamente estável. Auscultação pulmonar com
sons respiratórios diminuídos na metade inferior
Descrita pela primeira vez em Wuhan, Província de de ambos os hemitóraces, sem ruídos adventícios.
Hubei na China, em dezembro de 2019, a síndrome Abdómen distendido, mas depressível, com onda
respiratória aguda provocada pelo corona vírus 2 ascítica positiva e edema dos membros inferiores
(SARS-CoV-2) evoluiu para uma pandemia, oficial- até aos joelhos. Analiticamente com trombocitope-
mente declarada como emergência global de Saúde nia, discreta hiperbilirrubinemia e hipomagnesiémia,
Pública pela OMS em janeiro de 2020. À medida sem outras alterações. Rx do tórax revelou derrame
que a experiência com estes doentes se adensa, o pleural bilateral, mais extenso à direita e a ecografia
conhecimento sobre a doença aumenta e complica- abdominal acrescentou uma pequena lamina de
ções como pneumotórax, pneumomediastino e for- líquido pericárdico e pequena/moderada quantidade
mação de bolhas têm vindo a ser documentadas em de líquido ascítico intra-abdominal, peri-hepático,
casos graves de COVID -19, especialmente doen- no espaço de Morrison, peri-esplénico e interansas.
tes submetidos a ventilação mecânica por longos Admitido para estudo de derrame pleural. Do estu-
períodos. Por vezes os sinais e sintomas dessas do complementar a salientar a elevação do CA125,
complicações são encobertos pelos achados clíni- sem outros marcadores tumorais alterados. Analiti-
cos da COVID-19. O diagnóstico é sempre feito pela camente sem outras alterações de relevo. Realizou
anamnese, exame objetivo e imagem. O tratamento TC TAP que revelou “em topografia paravertebral
mantém-se como um dos dilemas que assolam a direita, sensivelmente ao nível de D9-D10, uma vo-
doença até agora. lumosa formação com cerca de 4,2x5,2x5,4cm”.
Realizou RMN que sugeriu um possível foco de he-
Descrevemos o caso de uma doente, 79 anos, múl- matopoiese e PET-TC na qual a lesão não apresen-
tiplos factores de risco vascular, internada por CO- tou captação de FDG. Foi submetido a biópsia da
VID-19, doença grave, com insuficiência respiratória lesão guiada por TC, cuja histologia revelou tecido
hipoxémica, tendo sido iniciada ventilação mecâ- adiposo maduro contendo escassos elementos
nica não invasiva com Helmet CPAP. Ao 5º dia de celulares hematopoiéticos. Neste caso apresenta-
tratamento apresentou enfisema subcutâneo ma- -se assim uma massa paravertebral como foco de
çico, sendo suspenso tratamento, privilegiando-se hematopoiese extramedular. Apesar de ser uma das
medias médicas não invasivas como oxigenoterapia localizações típicas de hematopoiese extramedular,
e corticoterapia sistémica. A doente evoluiu com é uma situação pouco observada na prática clínica
reabsorção do enfisema e melhoria paulatina dos e apesar de habitualmente associada a condições
sinais de insuficiência respiratória. hematológicas, no caso do nosso doente não exis-
tia essa associação, tornando o achado ainda mais
Ao tratar os doentes com COVID-19 devemos estar interessante.
alerta para possíveis complicações pulmonares
secundárias que podem contribuir para o insucesso P n.º 0099 
na abordagem destes doentes. Diagnóstico inaugural de SIDA com duas das doen-
ças definidoras
P n.º 0089  Mariana Nápoles(1);Rita Calixto(1);Rosa Mendes(1)
A propósito de um caso de hematopoiese extrame- (1) Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo, EPE /
dular Hospital José Joaquim Fernandes
Gabriela Venade(1);Paulo Batista(2);Denise Cru-
z(2);Inês Fontoura(2);Luis Costa Matos(1) Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
(1) Centro Hospitalar Tondela-Viseu, EPE / Hospital
de São Teotónio, EPE (2) Hospital CUF Viseu A síndrome da imunodeficiência adquirida (SIDA) é
uma doença causada pelo vírus da imunodeficiên-
Tema: Doenças hematológicas cia humana (VIH), que compromete o sistema imu-
nitário e predispõe a infeções oportunistas. Dada a
A hematopoiese extramedular apresenta-se através existência de tratamento e de informação largamen-
de massas em várias localizações. Entre as locali- te difundida, a esperança média de vida tem vindo a
zações típicas encontram-se as regiões para-verte- aumentar e o número de novos casos a diminuir em
brais. Está associada habitualmente a várias condi- Portugal. 
ções hematológicas. 
Homem, 47 anos, asmático, hábitos tabágicos e
Caso Clínico: homem de 63 anos, com anteceden- etanólicos ativos, é trazido ao serviço de urgência
tes de doença hepática alcoólica que recorre ao por perda ponderal de 30% em 4 meses, anorexia
SU encaminhado por derrame pleural bilateral, de- e hemiparesia esquerda desde há 2 meses, com
tetado em ecografia abdominal de rotina. História compromisso da autonomia. À admissão, discurso
de emagrecimento de cerca de 3Kg no último mês, confuso e hemiparesia esquerda grau 3. TAC-CE:
astenia e cansaço para pequenos esforços. Refe- “Pequenas hipodensidades nos gânglios da base à
rência ainda a tosse produtiva com expetoração direita, confluentes, com discreto efeito de massa
mucopurulenta. Sem outras queixas. Ao exame sobre o ventrículo lateral, devendo corresponder
objetivo: emagrecido, com edema palpebral, sinais a lesões isquémicas subagudas”. Radiografia
de má perfusão periférica. Eupneico e hemodina- torácica com ligeira hiperdensidade no pulmão

504
E-POSTERS
esquerdo. TAC-tórax: “enfisema centrilobular e ternamento, apresenta discreta afasia, hemiparesia
parasseptal, ligeiras bronquiectasias cilíndricas e direita flácida de predomínio braquial, reflexo cuta-
bronquiolectasias; densificações parenquimatosas neoplantar em extensão homolateral, sonolência e
em vidro despolido bilateralmente, em relação com ausência de resposta motora voluntária no membro
intercorrência infeciosa bilateral”. Fica internado e inferior direito. Repetiu TAC-CE que demonstrou
inicia empiricamente amoxicilina-ácido clavulânico “hipodensidades cerebelosas bilaterais e no pedún-
e claritromicina. Pesquisa de BAAR na expetora- culo cerebeloso médio esquerdo que aumentaram”.
ção negativa. HIV1 positivo, CD4+ 21, carga viral Posteriormente, apresenta agravamento dos défices
81397cópias/ml. Broncofibroscopia sem alterações neurológicos: prostrado, não reativo, disfagia grave,
com pesquisa Pneumocystis positiva. Altera-se anti- tetraparesia, afasia motora, mas manutenção de
bioterapia para sulfametoxazol/trimetoprim. RM-CE: movimentos cefálicos e oculares. Faz RM-CE onde
“Pequenas lesões confluentes inflamatórias/infec- são visíveis “aspectos sugestivo de trombose da ar-
ciosas compatíveis com toxoplasmose na coroa téria basilar e da artéria vertebral direita intracrania-
radiária hemisférica direita”. Inicia terapêutica com na com consequentes enfartes vasculares isquémi-
pirimetamina, clindamicina (rash à sulfadiazina) e cos agudos cerebelosos bilaterais e envolvendo os
ácido folinico. Por candidíase oral cumpre flucona- pedúnculos cerebrais”. Manteve estado neurológico,
zol. Posteriormente inicia terapêutica anti-retroviral tendo vindo a falecer ao 12º dia de internamento.
e é referenciado a consulta de Infeciologia. Apesar Discussão: A síndrome de locked-in deve ser tida
de jovem, foi referenciado a Rede Nacional de Cui- em conta nos AVC cerebelosos. O diagnóstico ba-
dados Continuados Integrados, para manutenção seia-se no exame objectivo e pode ser sustentado
de reabilitação motora já iniciada durante o interna- por exames de imagem. No caso apresentado, tra-
mento. tou-se de uma consequência de uma trombose das
artérias basilar e vertebral direita. O prognóstico é
O que parecia inicialmente tratar-se de um AVC is- variável dependendo da causa, idade, tempo de evo-
quémico em fase subaguda era afinal uma toxoplas- lução e intercorrências.
mose cerebral. O doente, com nível socioeconómico
baixo, desconhecia ser portador de VIH, teve com- P n.º 0105 
portamentos de risco e não valorizou sintomatolo- Euglycemic diabetic ketoacidosis triggered by pul-
gia. Neste caso já apresentava critérios de SIDA, o monary infection
que se verifica em menos de 20% dos casos à data Ana Catarina Trigo(1);Ana Pinho(1);Gustavo Caro-
do diagnóstico, em Portugal. na(1);Sofia Monteiro(1)
(1) Unidade Local de Saúde de Matosinhos, EPE /
P n.º 0100  Hospital Pedro Hispano
Síndrome de locked-in - uma consequência rara de
acidente vascular cerebral isquémico Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio-
Mariana Nápoles(1);Filipa Lage(1);Rita Calixto(1);Ro- nais
sa Mendes(1)
(1) Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo, EPE / Introduction: Diabetic ketoacidosis (DKA) is a poten-
Hospital José Joaquim Fernandes tially life-threatening acute complication of diabetes.
Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas A variant with normal or minimally elevated serum
glucose was described and called euglycemic di-
abetic ketoacidosis (EDKA). This condition was
Introdução: A síndrome de locked-in é uma conse- recently associated with use of sodium-glucose
quência rara do acidente vascular cerebral (AVC) cotransporter 2 inhibitors (SGLT2i). Because of near-
isquémico na região de distribuição do sistema ly normal serum glucose levels, its diagnosis could
arterial vertebro-basilar, que se caracteriza pela be delayed leading to potential poor outcomes.
presença de uma função cognitiva intacta, abertura
ocular espontânea, manutenção do ciclo circadia-
no e dos movimentos oculares, perceção de estímu- Clinical case: A 59-year-old man presented with
los externos, afasia motora, disfagia e tetraparesia, a 3-day history of shortness of breath, dry cough
com consequências negativas na qualidade de vida and polydipsia. He denied fever, vomiting, diarrhea,
do doente. urinary symptoms, long fasting periods and con-
Caso clínico: Homem de 76 anos, autónomo, com sumption of alcohol or other drugs. His medical
antecedentes pessoais patológicos de hiperten- history was positive for type 2 diabetes mellitus,
são arterial, diabetes mellitus tipo 2 e dislipidémia, which treatment included empagliflozin, metformin
recorre ao serviço de urgência por quadro de alte- and sitagliptin. Kussmal´s respiratory pattern was
ração da coordenação, desequilíbrio e diminuição noticed. Arterial blood gas analysis revealed a meta-
global da força muscular com 3 dias de evolução. bolic acidosis with a greatly increased anion gap (37
À admissão, consciente, hipertenso, dismetria mmol/L) and normal lactate levels. Blood analysis
esquerda na prova dedo-nariz e intolerância ao or- found an elevated serum ketone (4.8 mmol/L), an el-
tostatismo. Realiza TAC-CE que demonstra “área evated serum creatinine, normal serum electrolytes,
hipodensa cerebelosa esquerda e hipótese de en- an elevated C-reactive protein and leukocytosis. A
farte isquémico não antigo, enfarte lacunar antigo EDKA was assumed and immediate intravenous (IV)
caudado direito e foco sequelar cerebeloso direito”, bolus of normal saline was administered, followed
ficando internado nesse contexto. No 3º dia de in- by continuous IV infusion of insulin and 5% dextrose

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 505


sterile water. The patient evolved with need for Other reversible causes of cardiac arrest were ex-
mechanical ventilation and admission in our ICU. cluded. Patient evolved well and was discharged 6
A SARS-CoV-2 bilateral pneumonia with concomi- days later, without neurological or cardiac sequels.
tant bacterial over-infection was diagnosticated.
Discussion: Hypokalemia and hypocalcemia are
Discussion: SGLT2i block proximal tubular reabsorp- known causes of prolongation of the QT interval.
tion of glucose, leading to glucosuria and lowering Their combination greatly increses the risk of its oc-
plasma glucose levels. Low plasma glucose levels curence, which can result in ventricular arrythmias
stimulates glucagon secretion and suppresses in- and ventricular fibrillation. Acute hyponatremia can
sulin production, leading to an increase in the gluca- induce lethargy and obtundation. We believe those
gon:insulin ratio, resulting in increased lipolysis and electrolytic disturbances were the cause for this
delivery of free fatty acids to the liver, where they are patient’s confusion and cardiac dysrythmia, leading
catabolized into ketone bodies. This way, a ketoac- to cardiac arrest. To the best of our knowledge this
idosis with normal or nearly normal serum glucose is the first case of cardiac arrest induced by CitraF-
can occur. SGLT2i-induced EDKA is usually precipi- leet®. We aim to alert to this severe complication.
tated by a stressful event.  In our patient’s case, we Baseline ECG and serum electrolytes could be con-
believe the trigger was the SARS-CoV-2 infection sidered before its use, particularly in patients at in-
with subsequent bacterial infection. Clinical presen- creased risk for arrhythmias.
tation and treatment of EDKA is similar to that of
hyperglycemic DKA. The authors aim to raise aware- P n.º 0119 
ness for this potential life threatening condition. Neuropatia associada ao Dissulfiram
Carolina Barros(1);Teresa Carolina Aguiar(1)
P n.º 0112  (1) Hospital Dr. Nélio Mendonça
Electrolytic disturbances after bowel preparation
(CitraFleet®): a case of cardiac arrest Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas
Ana Catarina Trigo(1);Joana Morais(2);Ana Pi-
nho(1);Filipa Guimarães(1);Rui Araújo(1);Ana Hipóli- Introdução: O Dissulfiram (DS) tem sido utilizado
to Reis(1) no tratamento do alcoolismo há mais de 50 anos.
(1) Unidade Local de Saúde de Matosinhos, EPE / Um dos seus efeitos adversos é a neurotoxicidade,
Hospital Pedro Hispano (2) Hospital de Braga incluindo a polineuropatia periférica (PNP), sendo
esta, dependente da dose e da duração da exposi-
Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente crí- ção ao fármaco. A sua frequência é desconhecida,
tico estimando-se que ocorra em 1:15 000 indivíduos.
Por vezes torna-se difícil diferenciar a neuropatia
Introduction: Bowel cleansing is essential to under- associada ao DS da induzida pelo próprio abuso
go safe and efficient colonoscopy. CitraFleet® is crónico do álcool.
a solution used with this purpose and consists of Caso Clínico: Homem de 46 anos com anteceden-
sodium picosulfate and magnesium citrate. As other tes de Etilismo crónico com 6 anos de evolução,
bowel preparations, it can induce electrolytic distur- atualmente em abstinência desde setembro de
bances, which includes: hypermagnesemia (2-26%), 2019. Medicado com Oxazepam 15mg e Dissulfi-
hypokalemia (5-8%), hypochloremia (1-5%), hypona- ram 500mg (desde Novembro de 2018). Recorreu
tremia (≤4%) and hypocalcemia (≤2%). Nausea, vom- à consulta por quadro de desequilíbrio na marcha
iting and abdominal pain are described gastrointes- com cerca de 5 meses de evolução. À observação
tinal adverse reactions (1-3%). As far as we know, no apresentava ataxia da marcha e das provas de coor-
previous severe arrythmias were reported. denação, hiporeflexia dos membros inferiores (MI),
hipoestesia e hipopalestesia em “meia-luva”, clínica
Clinical case: A 58-year-old woman presented with compatível com PNP sensitivo-motora e degeneres-
confusion, nausea and profuse watery vomiting, cência cerebelosa. Dos exames complementares
about 7 hours after starting CitraFleet® bowel diagnóstico realizados, destacam-se, a Tomografia
preparation for elective colonoscopy. She denied axial computorizada crânio-encefálica compatível
abdominal pain, diarrhea, fever, drugs use, and respi- com atrofia cerebral e cerebelosa ligeira; Eletromio-
ratory, cardiovascular and urinary symptoms. Epide- grama (EMG) evidenciando PNP sensitivo-motora,
miologic background and past medical history were dos MI, axonal, subaguda, de gravidade severa.
unremarkable. While wainting for evaluation, she Analiticamente, ausência de défices vitamínicos,
collapsed. Cardiac arrest was promptly recognized nomeadamente, vitamina B1, B6, B9 e B12; normo-
and advanced life support was immediately provid- glicémico com HbA1C de 4.5%; anticorpos antinu-
ed. The initial cardiac arrest rhythm was ventricular cleares e citoplasmáticos ausentes; e electroforese
fibrillation. Early defribrilation was delivered, with das proteínas com ausência de picos monoclonais.
ROSC at 24 min. Electrocardiogram (ECG) showed Foi suspenso o DS, tendo-se verificado melhoria
atrial fibrillation and prolonged QTc, without repolar- clínica progressiva. Repetiu-se o EMG ao final de 5
ization or conduction disturbances. Blood analysis meses com discreta melhoria em relação ao prévio,
found hyponatremia (112 mmol/L), hypokalemia assumindo-se assim como causa da PNP o uso pro-
(2.7 mmol/L) and hypocalcemia (1.02 mmol/L). The longado do DS.
other electrolytes and renal function were normal.
506
E-POSTERS
Discussão: É um desafio clínico determinar o DS Analiticamente o doente apresentava hipercalce-
como agente responsável pela neuropatia em indi- mia (13), elevação da creatinina (9.8) e ureia (140),
víduos com história de etilismo crónico, isto porque sem outras alterações relevantes. Na TC do tórax
o abuso do álcool per se, apresenta-se como um apresentava padrão reticular de distribuição difusa
factor confundidor. Deste modo, a neuropatia do e estrutura de aproximadamente 10.8mm no lobo
DS é provavelmente subdiagnosticada e atribuída inferior direito, no mediastino observaram-se multi-
erroneamente ao álcool. Os clínicos deverão estar plas adenopatias na janela aorto-pulmonar, na loca
atentos ao aparecimento de queixas neuropáticas de Barety, paratraqueais, subcarinais e hilares. Pos-
em relação ao timing de administração do fármaco teriormente pedida quantificação sérica de enzima
e da sua suspensão. Os sintomas do doente melho- conversora de angiotensina que se revelou muito
raram, ainda, que progressivamente após a suspen- elevada.
são do DS assim como o EMG, sugerindo o fármaco
como causa provável. O doente foi encaminhado para o serviço de nefro-
logia de outro hospital para resolução da lesão renal
P n.º 0121  aguda que decorreu sem intercorrências. Estudo
SARCOIDOSE COM APRESENTAÇÃO INICIAL DE efetuado confirmou suspeita de sarcoidose de afe-
LRA tação renal. 
Ivan Marcelo Martins Antunes(1);Hugo Almei-
da(1);Maria Pacheco(1);Joana Caires(1);Cátia Zefe- Através da terapêutica dirigida à doença de base o
rino(1);Maria João Baldo(1) doente recuperou sem necessidade de terapêutica
(1) Unidade Local de Saúde da Guarda, EPE / Hospi- de susbtiuição de função renal.
tal Sousa Martins
Discussão:
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
culites O caso centra-se numa apresentação atípica de
sarcoidose, um diagnóstico que carece de elevada
suspeita clínica para o tratamento precoce.
ítulo: SARCOIDOSE COM APRESENTAÇÃO INICIAL
DE LRA P n.º 0122 
Pneumonia organizativa criptogénica - um desafio
Introdução: A sarcoidose é uma doença granuloma- diagnóstico ao internista
tosa auto-imune, que pode afetar qualquer órgão, et- Bruno Besteiro(1);Carina Teixeira(1);Sofia Perei-
nia ou idade, sendo mais frequente em homens, do ra(1);Maria Inês Matos(1);Mariana Almeida(1);Jorge
norte da europa, entre os 20 e os 40 anos de idade. Almeida(1)
(1) Centro Hospitalar de S. João, EPE
Cursa normalmente de forma insidiosa, com afeta-
ção mais frequente do pulmão e gânglios torácicos. Tema: Doenças respiratórias

O seu diagnóstico é feito por exclusão, não tendo INTRODUÇÃO


qualquer sinal ou exame patognomónico. Fatores
que podem elevar a suspeição da doença incluem
hipercalcemia, eritema nodoso, níveis elevados de A pneumonia organizativa criptogénica (POC) é uma
vitamina D e velocidade de sedimentação, assim doença pulmonar intersticial (DPI) idiopática que
como de enzima conversora de angiotensina. O se manifesta mais frequentemente entre a 5ª a 6ª
gold-standard para o diagnóstico permanece uma década de vida.  Esta entidade revela-se um desafio
razão CD4/CD8 superior a 3.5/4. clínico e representa um diagnóstico de exclusão,
com implicações terapêuticas e prognósticas.
O tratamento baseia-se na imunosupressão e con-
trolo de sintomas e alterações em orgãos-alvo. CASO CLÍNICO

Caso clínico:  Doente do sexo feminino, 49 anos com diagnósti-


co de carcinoma da mama esquerda submetida a
Doente de 55 anos, sexo masculino recorreu ao ser- quimioterapia e radioterapia adjuvante com término
viço de urgência por astenia. Não apresentava ante- nos 18 meses prévios. Sem medicação habitual.
cedentes pessoais ou medicação relevantes. Recorreu ao serviço de urgência (SU) por astenia,
fadiga e dispneia para mínimos esforços com 1
No serviço de urgência, o doente não referia outras mês de evolução. Durante este período com várias
queixas, negando febre, toracalgia, náuseas, vómi- vindas ao SU e medicada com três ciclos de anti-
tos, cefaleias, perda de peso recente, alterações bioterapia sem qualquer melhoria clinica. Ao exame
gastrointestinais e genitourinárias. Encontrava-se objetivo de salientar polipneia e hipóxia (pO2 em ar
hemodinamicamente estável, apirético e com boas ambiente de 55 mmHg). Tomografia computorizada
saturações em ar ambiente. (TC) do tórax com múltiplas opacidades com envol-
vimento panlobular e predomínio nos lobos inferio-
Ao exame objetivo não foram encontrados achados res, a sugerir um padrão de pneumonia organizativa
patológicos.  (PO). Analiticamente com velocidade de sedimen-
tação de 59 mm/1h. Sem disfunção tiroideia, sem

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 507


elevação da enzima de conversão da angiotensina tismo, alteração do estado de consciência) podem
ou da imunoglobulina G4. Estudo autoimunidade mimetizar fenómenos catatónicos.
alargado e imunofenotipagem sem alterações.
Negatividade dos marcadores víricos (hepatite B, A catatonia representa uma síndrome neuropsiquiá-
hepatite C e vírus da imunodeficiência humana). trica complexa que ocorre mais frequentemente
Pesquisa de SARS-CoV-2 negativa. Broncofibros- em doentes com doença mental, particularmente
copia com lavado broncoalveolar negativo para em perturbações do humor. O diagnóstico revela-se
bacteriológico, micobacteriológico e micológico; desafiante pela inexistência de alterações laborato-
imunofenotipagem com linfocitose (> 50%), alguma riais e imagiológicas específicas, baseando-se na
eosinofilia e neutrofilia com racio CD4/CD8 reduzido detecção de sinais/sintomas catatónicos no exame
(predomínio CD8+). Citologia negativa para células de estado mental.
malignas. Posteriormente realizou biópsia pulmonar
guiada por TC cujo resultado anatomopatológico Assim, um elevado índice clínico de suspeição tor-
revelou infiltrado inflamatório intersticial constituído na-se fundamental visto que se diagnosticada atem-
por linfócitos, plasmócitos e histiócitos compatível padamente constitui uma condição tratável, mas
com PO. Assumida POC tendo iniciado prednisolona que se associa a elevados índices de morbimortali-
(PDN) 1mg/Kg e orientada para consulta externa. dade se não for devidamente identificada.

DISCUSSÃO P n.º 0139 


TÉCNICAS DE SUBSTITUIÇÃO DA FUNÇÃO RENAL
Apesar dos achados clínicos e radiológicos serem NO TRATAMENTO DA ACIDOSE LÁCTICA ASSO-
típicos, a confirmação histopatológica e exclusão CIADA À METFORMINA
de todas as causas inerentes ao diagnóstico dife- Ana Piedade(1);Francisca Santos(1);Daniela Bri-
rencial de POC são essenciais para o seu correto gas(1);Hugo Viegas(1);Eugénio Dias(1);Ermelinda
diagnóstico. A instituição de PDN leva a resolução Pedroso(1)
clínica e imagiológica em 66% dos casos. (1) Centro Hospitalar de Setúbal, EPE / Hospital de
São Bernardo
P n.º 0130 
Perturbações do movimento e comportamento em Tema: Doenças renais
idosos - Catatonia como diagnóstico diferencial
Bernardo Silva(1);Pedro Felgueiras(2) Introdução: A metformina é usada no tratamento
(1) Hospital Distrital de Santarém, EPE (2) Centro da Diabetes Mellitus tipo 2 (DM2). A acidose láctica
Hospitalar de Vila Nova de Gaia / Espinho associada à metformina (MALA) ocorre quando há
doença intercorrente que funciona como precipi-
Tema: Medicina geriátrica tante de lesão renal aguda (LRA) e sobredosagem
acidental. As técnicas de substituição da função
Objectivo - Através de um caso clínico, relembrar a renal (TSFR) podem eficazmente remover o fár-
importância de avaliar a hipótese de uma síndrome maco e melhorar o prognóstico. Casos clínicos:
catatónica em idosos com alterações agudas do Mulher, 90 anos, DM2 sob metformina 1000mg e
padrão psicomotor. DRC. Recorreu ao SU por dor abdominal, vómitos.
EO: Hemodinamicamente instável, prostrada,desi-
Métodos - Revisão não sistemática do tema em dratada. Análises: Cr 7.48mg/dL, ureia 157mg/dL,
questão, utilizando a base de dados MEDLINE. K+ 7.2mmol/L; GSA: acidose metabólica com gap
aniónico e lactatos aumentados. Admitida MALA.
Resultados - Mulher, 75 anos, com vários fatores de Intubação orotraqueal, ressuscitação volémica, su-
risco cardiovasculares, antecedentes de um AVC e porte aminérgico e hemodiafiltração veno-venosa
diagnóstico de perturbação depressiva recorrente. contínua 2 dias com estabilização clínica, correção
Durante o internamento na enfermaria COVID por do desequilíbrio ácido-base e melhoria da função re-
Pneumonia a SARS-CoV-2 desenvolveu um quadro nal. Recuperação de diurese espontânea. Hemodiá-
clínico agudo caracterizado por estupor, mutismo e lise intermitente 4 dias. À alta:  Cr 0.87mg/dL; ureia
flexibilidade cérea. Após realização de TC cranioen- 83mg/dL; Homem, 70 anos, DM2 sob metformina+-
cefálica sem evidência de lesões agudas e exclusão sitagliptina 850+50mg e DRC. Recorreu ao SU por
de processo infeccioso subjacente, foi admitido o náuseas, vómitos, anúria. EO: Hemodinamicamente
diagnóstico de catatonia. instável,abdómen doloroso à palpação. Análises: Cr
11mg/dL; Ureia 297mg/dL, K+ 8.3mmol/L; GSA: aci-
Conclusões - Desde a sua descrição por Karl Kahl- dose metabólica com gap aniónico e lactatos au-
baum a catatonia tem sido alvo de interesse da Psi- mentados. Admitida MALA. Intubação orotraqueal,
quiatria, e da Medicina em geral, apontando-se uma suporte aminérgico e hemodiafiltração veno-venosa
maior probabilidade de misdiagnosis na faixa etária contínua 3 dias com correção do desequilíbrio áci-
dos idosos. do-base e melhoria da função renal. Recuperação
de diurese espontânea. Hemodiálise intermitente 2
Devido à morbilidade e mortalidade subjacentes, o dias. À alta: Cr 1.34mg/dL. Discussão: A MALA tem
diagnóstico diferencial deve incluir entre outras a mau prognóstico. A abordagem terapêutica inclui
etiologia neurológica aguda, atendendo que algu- correção da acidose, aceleração do metabolismo
mas características (início agudo, imobilização, mu- do lactato, eliminação da metformina e tratamento

508
E-POSTERS
da doença intercorrente. As TSFR (hemodiálise in- semanas de antibioterapia parentérica com fluclo-
termitente e técnicas contínuas) quando iniciadas xacilina, com negativação das hemoculturas tendo
precocemente parecem ter efeito protetor e suces- à alta indicação para perfazer 8 semanas de antibio-
so na MALA. Estudos prospetivos são necessários terapia com amoxicilina.
para estabelecer normas de orientação sólidas no
tratamento da MALA, especialmente sobre o efeito Trata-se de um caso de infeção invasiva por MSSA.
benéfico da diálise. A mortalidade atual da bacteriémia por Staphylococ-
cus aureus permanece elevada (20-40%).
P n.º 0144  P n.º 0149 
Infeção invasiva por Staphylococcus aureus ANEMIA MULTIFACTORIAL: CRIOAGLUTININAS E
José da Cunha Marques(1);Telma Moreno(1);Joa- DÉFICE VITAMINA B12
quim Monteiro(1);João Pedro Araújo(2);Manuela Rodrigo Rufino(1);Daniela Luz Rodrigues(1);Sofia
Dias(1);Jorge Almeida(1) Paula(1);Joana Ferreira(1);Inês Carvalho(1);Joaquim
(1) Centro Hospitalar de S. João, EPE (2) Centro Felisberto(1);Francisco Gomes(1);Sara Santos(1);-
Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospital de Santa Catarina Parente(1);Alexandra Albuquerque(1);Mar-
Maria tinho Fernandes(1)
(1) Centro Hospitalar Barreiro/Montijo, EPE / Hospi-
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias tal Nossa Senhora do Rosário

Os doentes com bacteriémia por Staphylococcus Tema: Doenças hematológicas


aureus podem desenvolver um conjunto de compli-
cações que podem ser difíceis de reconhecer inicial- A Anemia Hemolítica caracteriza-se por diminuição
mente e que podem aumentar a mortalidade. da sobrevida dos eritrócitos circulantes por destrui-
ção prematura. Pode ser devido a causas herdadas
68 anos, sexo feminino. Antecedentes pessoais de ou adquiridas sendo a auto-imune uma destas. O
gastrectomia total por neoplasia gástrica em 2014 défice de Vitamina B12 (VitB12) também cursa com
e patologia osteoarticular degenerativa da colu- anemia por ser necessário para a maturação eritro-
na. História de extração dentária nas 4 semanas citária. Pretendemos demonstrar um caso de Ane-
prévias. mia Hemolítica de difícil manejo.

Recorre ao Serviço de Urgência (SU) por cervical- Homem, 47 anos, com antecedentes de anemia ma-
gias com irradiação para os membros superiores, crocítica hipercrómica crónica medicado com ácido
lombalgia e gonalgia direita com 7 dias de evolução. fólico e osteoartrose do joelho recorreu ao serviço
No SU objetivada febre, edema bilateral dos mem- de urgência por quadro de lipotimia, sudorese e as-
bros inferiores, insuficiência respiratória hipoxémica tenia para pequenos esforços com 2 semanas de
e elevação de biomarcadores inflamatórios. A to- evolução associado a colúria, icterícia e obstipação
mografia computadorizada (TC) do tórax mostrou há 3 dias. Referia ter iniciado há 6 meses pareste-
focos consolidativos pulmonares. sias dos membros inferiores, queixas sugestivas de
Nas primeiras 24 horas no serviço de Medicina glossite, odinofagia e perda ponderal progressiva. À
Interna a manter febre e com desenvolvimento admissão estava ictérico, anemia 7.6 g/dL, esfrega-
de sinais inflamatórios no joelho direito. Ecografia ço de sangue periférico (ESP) com anisocitose eri-
do joelho com derrame articular de grande volume. trocitária ligeira, macrocitose e alguns neutrófilos hi-
Artrocentese com líquido articular (LA) purulento persegmentados, hiperbilirrubinémia indireta e LDH
compatível com artrite séptica, tendo realizado elevada. Durante o internamento destacou-se ESP
limpeza cirúrgica. Instituída antibioterapia empírica com crioaglutininas (após incubação), Beta-2-mi-
com vancomicina. Hemoculturas (HC) e LA com croglobulina 2.7, Haptoglobina baixa, défice VitB12,
isolamento de Staphylococcus aureus multisen- serologias negativas, Coombs directo positivo e
sível (MSSA) com switch de antibioterapia para imunofenotipagem com interferência por presença
flucloxacilina. O ecocardiograma transtorácico de crioaglutininas. Por isso iniciou suplementação
(ETT) e transesofágico (ETE) sem vegetações. Por VitB12 e corticoterapia. A ecografia abdominal reve-
manutenção da febre e HC positivas foi solicitado lou ligeira hepatomegalia direita e discreta espleno-
TC cérvico-toraco-abdomino-pélvico que mostrou megalia homogénea. O medulograma demonstrou
abcesso retrofaríngeo esquerdo em íntimo contacto hipercelularidade com hiperplasia eritroíde com
com os corpos vertebrais e artéria vertebral e várias desvio esquerdo maturação, sugestivo de anemia
consolidações pulmonares com cavitação (êmbolos megaloblástica. A Endoscopia Digestiva Alta não
sépticos?). Por queixas de cervicalgias e lombal- tinha alterações, tendo sido realizadas biopsias de
gias realizou ressonância magnética (RM) cervical duodeno, antro e corpo gástrico. O ASCA, anticorpo
e lombo-sagrada que confirmou espondilodiscite (Ac) antifactor intrínseco, anticélulas parietais, an-
em C4-C5, abcesso epidural esquerdo C3-C7, es- ti-pâncreas exócrino e anti-células de Globet estão
pondilodiscite em L2-L3 e L5-S1 e abcessos glúteos em curso. O doente teve alta com melhoria da ane-
direitos. Submetida a drenagem cirúrgica urgente mia (Hb 10.2) e resolução da hemólise, medicado
do abcesso retrofaríngeo e epidural, microdiscecto- com VitB12 e corticoterapia, orientado para consul-
mia e artrodese inter-somática C6-C7. Completou 6 ta de Medicina Interna.

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 509


P n.º 0153  Pretendemos mostrar com este caso uma apresen-
ANEMIA PERNICIOSA COM APRESENTAÇÃO GRA- tação avançada de uma patologia potencialmente
VE SEM MACROCITOSE fatal, pouco frequente atualmente dado a deteção e
Rui Carvalho(1);Rita Silva(1);Joana Cunha(1);Renata tratamento precoces.
Silva(1);Fernando Salvador(1)
(1) Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Dou- P n.º 0161 
ro, EPE / Hospital de Vila Real Dor lombar: afinal não era uma pielonefrite aguda...
Mariana Nápoles(1);Filipa Lage(1);Rosa Mendes(1)
Tema: Doenças hematológicas (1) Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo, EPE /
Hospital José Joaquim Fernandes
Introdução: Tema: Doenças respiratórias

A anemia perniciosa é caracterizada por autoanti- Introdução: A dor lombar é a uma das causas mais
corpos que interferem com absorção de vitamina frequentes de admissão hospitalar, estando fre-
B12, levando a sintomatologia variada de agrava- quentemente associada a patologia musculo-osteo-
mento progressivo e eventual morte na ausência de -articular. No entanto, também constitui um sintoma
tratamento. de variadíssimas doenças (pielonefrite, cólica renal,
Caso Clínico: etc), sendo que algumas necessitam de cuidados
médicos urgentes. Com um diagnóstico diferencial
Doente do sexo masculino, 40 anos, natural de An- extenso, torna-se, por vezes, um desafio diagnósti-
gola, sem antecedentes de relevo. História de ema- co, tal como no caso apresentado.
grecimento, astenia e anorexia com 10 meses de Caso clínico: Mulher, 65 anos, antecedentes pes-
evolução. Veio para Portugal à procura de tratamen- soais patológicos de tuberculose pulmonar, recorre
to médico, que não conseguiu a curto prazo dado o ao serviço de urgência (SU) por quadro de dor lom-
contexto da pandemia COVID-19. bar direita de início súbito, muito intensa, com alívio
parcial com analgesia, com 1 dia de evolução asso-
Apresentou-se ao serviço de urgência por pareste- ciada a náuseas, vómitos, diarreia, febre, poliaquiú-
sias periféricas, agravamento da astenia e fraqueza ria e ansiedade. À admissão, apresenta-se subfebril,
muscular. À admissão encontrava-se lentificado com Murphy renal presente à direita, dor à palpação
com evidente palidez das mucosas. O hemograma abdominal no quadrante inferior direito e referida à
mostrou bicitopenia (hemoglobina 4.7 g/dL e leucó- região dorsal. Analiticamente apresenta leucocitose
citos 2360/uL com neutropenia 980/uL), plaquetas 16.93x10^9, neutrofilia 15.3x10^9 e PCR 12.7mg/dL.
normais, normocitose (VGM 89 fL), RDW 41% e re- Exame sumário de urina tipo II: nitritos e leucócitos
ticulócitos normais. Iniciou suporte transfusional e negativos. Ecografia renovesical e abdominal: sem
foi admitido para estudo etiológico. alterações. Radiografia de tórax: sem aparentes al-
terações pleuroparenquimatosas agudas. Durante
O estudo efetuado revelou défice de vitamina B12 a permanência no SU, doente com manutenção da
(100 pg/mL) sem ferropenia associada (ferritina lombalgia, com necessidade frequente de analge-
661 ng/mL, 30% saturação transferrina), anisopoi- sia. Em reavaliação analítica, apresenta PCR em
quilocitose marcada e polimorfonucleares hiper- crescendo de 31.4mg/dL. Dada manutenção da dor
segmentados. Fez mielograma, com hiperplasia e aumento da PCR opta-se por realizar TAC tora-
eritróide e morfologia compatível com anemia me- coabdominopelvica que evidenciou ´Discreto der-
galoblástica. Do estudo auto-imune destacam-se rame pleural à direita, coexiste condensação com
anticorpos anti-célula parietal e anti-fator intrínseco broncograma aéreo no lobo inferior direito em rela-
positivos. ção com processo inflamatório infeccioso agudo´.
Gasimetricamente com hipoxemia ligeira. Por pneu-
Estudo endoscópico revelou gastrite atrófica do cor- monia adquirida na comunidade, em doente alérgica
po, H. pylori negativa. O estudo de hemoglobinas re- a penicilina, iniciou cefuroxima e claritromicina, e
velou apenas ligeiro aumento de hemoglobina fetal fica internada. Apresenta boa evolução clínica e
(3%), sem variantes de hemoglobina. Foi documen- analítica, tendo tido alta ao final de 4 dias.
tada polineuropatia periférica em eletromiografia. Discussão: O caso apresentado demonstra a difi-
culdade que por vezes existe no diagnóstico dife-
Após tratamento com cianocobalamina, teve pro- rencial. O que inicialmente parecia tratar-se de uma
gressiva melhoria clínica, hematológica e neurológi- pielonefrite aguda ou mesmo de uma cólica renal,
ca. Encontra-se atualmente assintomático sob trata- acabou por se demonstrar uma pneumonia adquiri-
mento mensal e seguimento em consulta externa. da na comunidade. A clínica não era respiratória e
a radiografia de tórax não demonstrava opacidades
Conclusão:
sugestivas de processo infeccioso. Só a TAC é que
Apesar da ausência de macrocitose, não foram en- permitiu desvendar o caso e orientá-lo adequada-
contradas outras causas e houve recuperação total mente.
com suplementação intramuscular de cianocobala-
mina, o que suporta o diagnóstico. P n.º 0163 
Necrose miocárdica e tamponamento cardíaco num

510
E-POSTERS
doente com Covid-19: miopericardite por SARS- cardiovasculares, que, embora raras, acarretam uma
-CoV-2? maior morbilidade e mortalidade.
Bárbara Batista(1);Iolanda Oliveira(1);Mariana Soa-
res(1);Tiago Tribolet de Abreu(1);Juliana Ávila(1);- P n.º 0165 
Joana Sant’anna(1);Ana Isabel Chora Sousa(1) Síndrome de Lise Tumoral na Unidade de Cuidados
(1) Hospital do Espírito Santo, EPE, Évora Intensivos Coronários
Fábio Manuel Caleça Emidio(1);Maria Del Pilar Cru-
Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente crí- geiras Perez(1);Javier Moreno(1)
tico (1) Centro Hospitalar do Algarve, EPE / Hospital de
Faro
Intro: A infecção a SARS-Cov-2 é uma situação Tema: Doenças oncológicas
emergente e em rápida evolução, sendo predomi-
nantemente respiratória. Contudo têm-se reconhe-
cido mais manifestações extra-pulmonares. Neste Introducão: O Sindrome de Lise Tumoral (SLT)
caso é apresentada uma manifestação cardiovascu- constitui uma emergência oncológica caracterizada
lar rara e grave. pela destruicão maciça de células malignas e
libertação do seu conteúdo no espaço extracelular.
Ocorre espontaneamente ou pós-quimioterapia.
CC: Homem 65 anos, recorreu ao Serviço de Urgên-
cia por quadro de tosse e cansaço progressivo com
11 dias de evolução, tendo uma pesquisa recente Segundo a classificação de Cairo&Bishop pode ser
positiva de SARS-Cov-2. Fumador activo e não reali- definido analiticamente por hiperuricemia, hipercale-
zava medicação habitual. mia, hiperfosfatemia e hipocalcemia (duas ou mais)
e clinicamente pelo agravamento da funcão renal,
À admissão apresentava-se polipneico e convulsões, arritmias ou morte.
hipoxémico, tendo sido iniciada oxigenoterapia de
alto fluxo por cânula nasal a 60L/min a 100% (pO2 Caso Clínico: Homem, 63 anos, com antecedentes
80, pCO2 24, pH 7,52, HCO3- 23, lact 2,1, PaO2/FiO2 de carcinoma colorretal diagnosticado em 2016,
80). A radiografia torácica tinha hipotransparência hemicolectomia subsequente e metastizacão mul-
heterogénea nos 2/3 inferiores do campo pulmonar tiorgânica associada.
direito. Analiticamente bicitopénia (leuc 3200, linf
200, plaq 69000/uL), hiponatrémia (124 mmol/l), Inicialmente admitido na Unidade de Cuidados In-
elevação da troponina I (0,206 ng/mL), NT-proBNP tensivos Coronários por quadro de precordialgia
(6680 pg/mL) e procalcitonina (1,51 ng/mL). com menos de 24 horas de evolução, sem irradia-
Realizou culturas que se revelaram negativas e ção, acompanhada de hipersudorese, astenia e
iniciou antibioterapia empírica juntamente com anorexia em agravamento desde a última sessão de
remdesivir e dexametasona.  quimioterapia (5 dias antes). Eletrocardiogramas
seriados revelavam discreta elevacão do segmento
No contexto de pneumonia a SARS-Cov-2 com hipo- ST nas derivações infero-laterais, e ecocardiograma
xémia grave foi admitido na Unidade de Cuidados transtorácico sem alterações. Instituída dupla an-
Intensivos, onde se observou um agravamento do tiagregação e protelado cateterismo por melhoria
esforço respiratório com necessidade de ventilação sintomática.
mecânica invasiva. O ecocardiograma inicial apre-
sentava derrame pericárdico pequeno, má função Analiticamente, troponinas < 100pg/ml, creatinina
global e hipocinésia da parede lateral do ventrículo em agravamento (1.0 para 5.0 mg/dl, em 5 dias),
esquerdo, e o electrocardiograma tinha bloqueio hiperuricemia (12mg/dl), hipocalcemia (corrigida
completo de ramo esquerdo de novo.   8.7mg/dl) e hiperfosfatemia (7.6mg/dl).

Por necessidade de aumento do suporte vasopres- Admitindo-se SLT, ingressa na Unidade de Cuidados
sor, associado a hiperlactacidémia e troponina em Intermédios, onde se institui hidratação endovenosa
crescendo, repetiu-se o ecocardiograma que mos- (soro fisiológico) vigorosa, furosemida e alopurinol.
trou tamponamento cardíaco e disfunção biventri-
Discussão: Segundo Cairo&Bishop, foram preenchi-
cular. Procedeu-se a pericardiocentese, com  líquido
dos, no presente caso, critérios analíticos (Hiper-
pericárdico estéril e com 324000 leucócitos (91%
caliémia, Hiperfosfatémia, Hiperuricémia e Hipo-
neutrófilos).
calcémia) e clínicos (precordialgia provavelmente
Evoluiu em choque misto, cardiogénico e séptico, secundária a Pericardite Urémica e Lesão renal
refractário, com acidémia grave mista, apesar de aguda), 5 dias pós-quimioterapia. A constelação de
decúbito ventral, suporte vasopressor e inotrópico, alterações metabólicas desde síndrome traduz-se
terapêutica de substituição renal, ressuscitação num espectro de manifestações clínicas que podem
metabólica e escalação para antibioterapia de largo passar despercebidas e/ou erradamente diagnosti-
espectro, tendo falecido. cadas.

Disc: apesar da infecção por SARS-CoV-2 ter ma- Embora classicamente associado à maior massa
nifestações predominantemente respiratórias, é e capacidade proliferativa tumoral, o potencial de
necessária atenção também para as complicações lise celular deve ser considerado em linha com mo-

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 511


dalidades de quimioterapia cada vez mais efetivas. P n.º 0168 
Nesta sequência, a incidência do SLT é cada vez Multiplicidade etiológica no Acidente Vascular Ce-
mais relatada em neoplasias às quais classicamen- rebral
te não estava associado. José da Cunha Marques(1);Ana Isabel Ferreira(1);-
Catarina Jorge(2);Pedro Miguel Castro(1);Jorge Al-
P n.º 0166  meida(1);Luísa Fonseca(1)
Síndrome de Evans e Anemia Hemolítica Autoimu- (1) Centro Hospitalar de S. João, EPE (2) Centro
ne Idiopática Hospitalar do Algarve, EPE / Hospital de Faro
Fábio Manuel Caleça Emidio(1);Pedro Campe-
lo(1);Rafaela Pereira(1);Ana Ribeiro Sousa(1) Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas
(1) Centro Hospitalar do Algarve, EPE / Hospital de
Faro No Acidente Vascular Cerebral (AVC) pode verificar-
Tema: Doenças hematológicas -se uma coexistência de mecanismos etiopatogéni-
cos, tornando o diagnóstico etiológico desafiante.

Introdução: As anemias hemolíticas autoimunes


(AHAI) ocorrem na presença de anticorpos que Homem de 64 anos, antecedentes pessoais de con-
reagem com antigénios de superfície das hemácias sumo alcoólico excessivo, ex-fumador, excesso pon-
à temperatura corporal, 50% das quais de etiologia deral, dislipidemia e insuficiência cardíaca de etiolo-
desconhecida. O tratamento passa pela estabili- gia isquémica com fração de ejeção (FE) reduzida.
zação hemodinâmica inicial (transfusão), imunos- Em Junho de 2020 foi diagnosticado AVC da artéria
supressão (corticoterapia oral/endovenosa) ou cerebral média esquerda (ACME) de provável etiolo-
imunoglobulina. O Síndrome de Evans (SE) é uma gia cardioembólica (trombo intraventricular apical).
doença autoimune rara de etiologia desconhecida, e Em Dezembro de 2020 admitido por AVC isquémi-
decorre da combinação de AHAI com trombocitope- co da ACME, submetido a trombectomia (TICI 0).
nia, com ou sem neutropenia. Durante o internamento agravamento de défices
(afasia e hemiparesia direita) com ortostatismo, me-
Caso 1: Homem, 89 anos, referenciado por astenia lhoria com o decúbito dorsal. AngioTC cerebral com
e anorexia progressivas, e febre. Ictérico ao exame múltiplas estenoses intracranianas e redução de
objetivo. Constatada anemia macrocítica grave; hi- fluxo no segmento C1 da artéria carótida interna
perbilirrubinémia indirecta e Teste de Antiglobulina esquerda (ACIE), sugestiva de disseção carotídea. O
Directo (TAD) positivo por IgG. Transfundido com 2 doppler cervical e transcraniano confirma estenoses
unidades de Concentrado Eritrócitario e iniciada cor- de cerca de 50% no segmento M1 distal da ACME
ticoterapia, à qual foi refratário, tendo necessitado e da ACIE no segmento petroso. O ecocardiograma
de imunoglobulina. Por trombocitopenia progressiva transtorácico com recuperação da FE e redução das
(SE) e febre, presumido distúrbio linfoproliferativo. dimensões do trombo intracardíaco.
Exame de imagem revelou adenopatia ilíaca esquer-
da, com resultado histológico de Linfoma Difuso de Às 72h de internamento recorrência de sintomas
Células B. com desorientação, disartria, afasia mista,
hemiparesia e hemihipostesia direitas. Realizou TC
Caso 2: Homem, 79 anos, referenciado por astenia cerebral com angio que mostrou hipodensidade
lentamente progressiva e poliartralgias. Ictérico ao lentículo-capsular anterior esquerda e acentuação
exame objetivo. Analiticamente, anemia normocítica da redução do calibre do segmento C1 distal/C2
grave, TAD positivo por IgG, reticulocitose, lactato da ACI esquerda. Ecodoppler com redução das
desidrogenase e bilirrubina indirecta aumentadas velocidades de fluxo na ACIE cervical e aceleração
e Haptoglobina indoseável. Por evolução insidiosa, de fluxo em C1 distal. Realizada ressonância
evitada transfusão e iniciada prednisolona oral com magnética cerebral com angio que confirmou
melhoria clinica e analítica. Estudo etiológico incon- oclusão/estenose subobliterativa na extremidade
clusivo. distal do segmento C1 e porção proximal do
segmento C2, bem como alongamentos arteriais
Discussão: A transfusão nas AHAI acarreta risco difusos e irregularidades de calibre nomeadamente
de aloimunização condicionando menor resposta nas artérias cerebrais médias e posteriores
clínica e pior outcome. Contudo prevalece a esta- (fenómenos de ateromatose?). Discutida com
bilização hemodinâmica inicial, como no primeiro Neurorradiologia de Intervenção a possibilidade
caso, cuja resposta insatisfatória à corticoterapia de colocação de stent carotídeo, que não
oral, necessidade de escalada terapêutica e surgi- foi realizada por impossibilidade técnica.
mento de trombocitopenia progressiva (SE), culmi- Mantida hipocoagulação e iniciado ácido
nou na identificação etiológica. No segundo caso acetilsalicílico (AAS).
a resposta ótima a prednisolona oral traduziu-se
em melhoria clínica e analítica rápida, embora com A coexistência de diversas etiologias do AVC:
estudo etiológico inconclusivo (AHAI idiopática). A cardioembolismo, disseção carotídea e ateroma-
definição etiológica das AHAI é, por isso, fundamen- tose carotídea e intracraniana, coloca desafios na
tal, dado o seu impacto no prognóstico, tratamento escolha da terapêutica. Neste caso foi assumido o
e seguimento. risco hemorrágico e realizada terapêutica com hipo-

512
E-POSTERS
coagulação e AAS. neoplasia, diabetes mellitus e terapêutica imunossu-
pressora são preditores de evolução desfavorável. A
P n.º 0172  suspeita clínica e o início precoce de antibioterapia
Cranial neuropathy as first sign of systemic vascu- empírica são cruciais perante sintomas vagos e
litis - clinical case uma miríade de diagnósticos diferenciais. 
Dina Neto(1);Rafaela Lopes Freitas(2);Patrícia Rodri-
gues(3);Isabel Cruz(2);Rui Môço(2)
(1) ULSMatosinhos (2) Unidade Local de Saúde de Caso: Mulher 47 anos, sob nab-paclitaxel por reci-
Matosinhos, EPE / Hospital Pedro Hispano (3) IPO diva de tumor pancreático operado. Perante ascite
Porto volumosa, estigmas de dça hepática crónica, hiper-
tensão portal e estabilidade dos achados no leito
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas- cirúrgico por TC, fazem-se paracenteses de confor-
culites to. Não se identificam células malignas, o gradiente
albumina soro-ascite é >1,1g/dl. Tem hipofibrino-
genemia, INR 2.4, hipoalbuminemia e elevação da
Introduction: billirubina, GGT e fosfatase alcalina (Child Pugh C).
Cinco dias após paracentese (3 pós QT) surge febre
Vasculitides are a heterogeneous group of diseases, (38,5C), sem mais sintomas. Apresenta palidez, hi-
characterized by inflammation and necrosis of the potensão, taquicardia, ascite refeita, esplenomega-
blood vessels wall. Anti-neutrophil cytoplasmic an- lia dolorosa e cicatriz da garra do seu gato no ante-
tibody (ANCA)-associated vasculitis is a small ves- braço. É cultivada e excluída complicação cirúrgica.
sels vasculitis and include microscopic polyangiitis, Inicia amoxicilina-clavulanato empiricamente por
granulomatosis with polyangiitis and eosinophilic agravamento de anemia (-2,7g/dl), trombocitopenia
granulomatosis with polyangiitis.Vasculitides can be (63 000/ul), neutrofilia, PCR 8.4mg/dl, procalcitonina
life threatening. Immunosuppression is the corners- 40.4ng/ml e 417 neutrófilos/ul de líquido ascítico,
tone of therapy. onde se isola Pasteurella multocida. Cumpre 10
dias de antibiótico oral e começa profilaxia.
• Clinical case:
Discussão: A P multocida é um comensal da ca-
We present a 55-year-old man who in September vidade oral de 70-90% dos gatos. A abrasão no
of 2020 started fever, night sweats, myalgia and antebraço foi a provável porta de entrada, embora
asthenia. At the same time he presented palpable a zoonose possa surgir sem mordedura, arranha-
purpura in both legs and inflammatory, migratory dela ou contato com animais. A susceptibilidade a
and symmetrical arthralgias. He was admitted in infeções espontâneas e a agentes inabituais como
an Internal Medicine ward and 20 days after the be- a Pasteurella spp, decorrerá da disfunção imunoló-
ginning of symptoms he developed headache, left gica relacionada com a cirrose, acrescendo, aqui, a
peripheral facial paralysis, mild bilateral sensorineu- vulnerabilidade pela neoplasia, a malnutrição 2ª à
ral hearing loss and horizontal nystagmus. Blood insuficiência pancreática exócrina e o efeito supres-
analysis revealed positive c-ANCA PR3 (5.7 U/mL) sor citostático. Apesar da Pasteurella ser sensível
and raised serum inflammatory markers. The diag- à penicilina e cefalosporinas, há que prevenir as
nosis of systemic ANCA PR3 + vasculitis with crani- formas invasivas graves. Os doentes crónicos de-
al neuropathies involving the VII and VIII pairs was vem higienizar as mãos após contato com animais,
established and he started rituximab and high dose evitar que toquem feridas expostas e não descurar
steroids with complete regression of the systemic o tratamento das lesões cutâneas.
symptoms and gradual amelioration of the cranial
neuropathies. P n.º 0188 
Citomegalovírus e Clostridioides difficile num
• Discussion: doente imunocompetente - uma associação impro-
vável
Although uncommon, cranial neuropathy can be the Ana Cochicho Ramalho(1);André Resendes Sou-
inaugural and defining manifestation of ANCA + vas- sa(1);João Carvalho(1);Nadine Monteiro(1);Sofia
culitis, as we show in this clinical case. Marques Santos(1);Helena Cantante(1)
(1) Hospital dos Lusíadas Lisboa
P n.º 0182 
Zoonose invasiva – causa rara de peritonite em Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
doente cirrótica com neoplasia pancreática avan-
çada
Filipa Tavares(1) Introdução: A infeção por Clostridioides diffici-
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi- le é importante causa de morbimortalidade, mais
tal de Santa Maria frequente em idades avançadas, hospitalização e
uso prévio de antibióticos. A infeção ativa por Ci-
Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá- tomegalovirus (CMV) em indivíduos saudáveis é
ticas geralmente assintomática ou surge como síndrome
mononucleósica. Em doentes imunocomprometi-
dos está associada a pior prognóstico, acometendo
A peritonite bacteriana espontânea é uma forma frequentemente o olho, o pulmão e o trato gastroin-
rara e grave de Pasteurelose. Disfunção hepática,
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 513
testinal. Caso Clínico:
1) Mulher, 60 anos com infeção VIH inaugural (CD4
Caso Clínico: Mulher de 77 anos, com síndrome 15cel/uL, CV 4,8x106copias/mL).
demencial, dependente, a residir numa unidade de
reabilitação. Admitida no Serviço de Urgência por Por quadro confusional de novo, realizou TC que
febre (38ºC), anorexia e diarreia com 48h de evo- revela lesão nodular subcortical, temporal captante
lução. Foi medicada nos 10 dias anteriores com com edema vasogénico.
cefuroxima por cistite. À observação encontrava-
-se emagrecida, desidratada, desorientada, agitada RMN: lesão com restrição à difusão, intensificação
e febril(38.1ºC). Analiticamente com anemia (he- de sinal após gadolínio, efeito de massa sugestivo
moglobina 9.6 g/dL) normocítica, normocromica, de linfoma.
sem leucocitose, proteína c reativa de 12.41 mg/
dL e hipoalbuminémia (1.8 g/dL). A pesquisa de to- LCR: EBV positivo.
xina de C. difficile foi positiva, tendo sido internada
sob vancomicina oral, sem resolução completa da Orientada para biopsia cerebral.
diarreia. Ao 10º dia de internamento, surge dor à
palpação da fossa ilíaca direita e saída de fezes 2) Homem, 56 anos, infeção VIH inaugural (CD4
pelo introito vaginal. Realizou ressonância magné- 15cel/uL, CV 2,5x106copias/mL), internado por le-
tica que mostrou extensas alterações inflamatórias são ocupante de espaço (LOE) manifesta por hemi-
do reto, com coleção gasosa no septo retovagi- paresia, assimetria facial, disartria e disfagia.
nal e fistulização ao introito vaginal. Submetida a re-
TC: múltiplas áreas hipodensas subcorticais
tosigmoidoscopia cujas biópsias da região ulcerada
temporo-parietais, sem realce pós contraste.
revelaram pesquisa de CMV (imunohistoquímica)
positiva. Foi submetida a colostomia de deriva- PL positiva para vírus JC, sem outras alterações.
ção e medicada com valganciclovir durante 15 dias,
com marcada melhoria clínica e alta hospitalar. RMN: lesões hiperintensas em T2 com focos ponti-
lhados (milky way sign) e envolvimento de fibras U
Discussão: A colite a CMV cursa habitualmente sub-corticais sugestivo de Leucoencefalopatia mul-
com dor abdominal, febre e diarreia por vezes tifocal progressiva (PML).
sanguinolenta. Habitualmente surge com a imu-
nossupressão, mas têm sido reportados casos em 3) Homem, 32 anos, infeção VIH em doente incum-
doentes imunocompetentes, habitualmente idosos. pridor (CD4 4cel/uL, CV 0,2x106copias/mL), interna-
A associação entre a infeção por C. difficile e CMV do por alteração do estado de consciência.
é uma entidade ainda mais rara, acreditando-se que TC: múltiplas lesões occipitais e frontais, com
a disrupção da mucosa pelo primeiro predispõe à captação periférica de contraste e efeito de massa.
infeção pelo segundo. Devido à  raridade em doen-
tes imunocompetentes, a infeção por CMV pode PL não realizada risco de herniação das amígdalas
facilmente passar despercebida, mas deverá ser cerebrais.
considerada em idosos com diarreia refractária à
terapêutica dirigida, já que o atraso do diagnósti- Imune para a toxoplasmose.
co acarreta um aumento da necessidade de cirurgia
e mortalidade. RMN: lesões hipointensas em T1, heterogénias em
T2 com áreas de restrição à difusão periférica.
P n.º 0192  Iniciou tratamento da toxoplasmose com boa res-
O desafio das Lesões Ocupantes de Espaço no posta clínica e imagiológica.
doente VIH: série de casos durante a pandemia CO-
VID-19 4) Homem, 84 anos, infeção VIH em doente incum-
Leonor Silva(1);Renata Monteiro(1);Andreia Frei- pridor (CD4 74cel/uL; CV 1930copias/mL), interna-
tas(1);Pedro Magalhães(1);Carlos Azevedo(2);Mar- do por LOE com clínica de disartia, assimetria facial
garida Mota(2);Filipa Borges Santos(2) e hemiparesia.
(1) Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia / Espinho
(2) Hospital Gaia TC: lesão hipodensa sub-cortical frontal.

Tema: Doenças infecciosas e parasitárias LCR: EBV, VDRL e TPHA positivo, vírus JC negativo.
RMN: área de limites bem definidos, envolvimento
Introdução: de fibras U subcortical, hipossinal em T1, hipersinal
em T2 e milky way sign. Após gadolineo, realce pa-
Infeções oportunistas do SNC podem ser a 1ª ma- quimeníngeo com áreas nodulares na dura-mater.
nifestação clínica de infeção por virus da imunode-
ficiencia humana (VIH)/SIDA, surgindo em 7% dos Submetido a tratamento da neurossífilis com discre-
doentes. Os autores relatam 4 casos internados ta melhoria dos défices, tendo iniciado reabilitação
durante a pandemia COVID-19. com diagnóstico presumido de PML.

514
E-POSTERS
Conclusão: importância de manter todas as hipóteses diagnós-
ticas em aberto.
Dada elevada morbimortalidade das LOE, o adequa-
do diagnóstico e tratamento tem impacto prognós- P n.º 0199 
tico. Tricoleucemia: Um caso de pneumonia adquirida
na comunidade com concomitante pancitopénia.
P n.º 0196  Sara Santos(1);Sara Gomes(1);Maria Inês Carva-
Autoimunidade e nefropatia por IgA: uma possível lho(1);Célia Carmo(1);Martinho Fernandes(1)
associação? (1) Centro Hospitalar Barreiro/Montijo, EPE / Hospi-
Sofia Perdigao(1);Ana Sofia Alves(1);Rita Gamboa tal Nossa Senhora do Rosário
Cunha(1);José t. Francisco(1);Sandra Tavares(1);-
Cristiana Sousa(1);Fernando Salvador(2) Tema: Doenças hematológicas
(1) Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Dou-
ro, EPE / Unidade Hospitalar de Chaves (2) Centro Os autores apresentam o caso de um doente de 47
Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro, EPE / anos, saudável, que na sequência da necessidade
Hospital de Vila Real de hospitalização por uma Pneumonia adquirida na
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas- comunidade apresenta concomitantemente uma
culites pancitopénia. Um elevado indíce de suspeição clíni-
ca levou ao diagnóstico de uma doença infrequente
afetando 1:100,000 pessoas/ano, a Tricoleuce-
 O rúpus é uma síndrome rara, que cursa com ma- mia (neoplasia linfoproliferativa crónica de células
nifestações de lúpus eritematoso sistémico (LES) B).
e artrite reumatoide (AR), tendo sido discutido se
corresponde a um verdadeiro overlap destas duas
doenças, ou se representa um subgrupo de doen- Homem 47 anos, com antecedentes de contratura
tes com LES e poliartrite erosiva1. Sabemos que os de Dupuytren na mão direita, sem medicação habi-
depósitos mesangiais de IgA não patológicos po- tual e sem alergias conhecidas.
dem ocorrer em distúrbios autoimunes2, no entanto Recorre ao Serviço de Urgência por quadro de aste-
existem alguns casos raros descritos de associação nia, mialgias, tosse e febre com 4 dias de evolução,
entre LES e nefropatia por IgA4. Esta, em menos de associada ao diagnóstico de Pneumonia adquirida
10% manifesta-se como proteinúria nefrótica ou na comunidade, já em 2o dia de antibioterapia com
como glomerulonefrite rapidamente progressiva 2,3,5. amoxicilia+ácido clavulânico. 

Caso clínico: Mulher de 81 anos, índice de Katz de Analiticamente a destacar: Hemoglobina 11.3g/dL,
6 e cognitivamente íntegra. Antecedentes pessoais leucócitos 1.6x10e9/L, neutrófilos 61.2%, plaque-
de leucemia linfócitica crónica B, hipertensão arte- tas 86x10e9/L, INR 1,58, D-dimero 1260ng/mL, Pro-
rial, hiperuricémia, hipotiroidismo e alopécia total. teina C Reativa 427mg/L. Análise sumária de urina
Recorreu ao serviço de urgência por artralgias si- com alguns eritrocitos e poucas proteinas.
métricas e aditivas (com início nos joelhos, depois
ombros, punhos e interfalângicas (IF) proximais). Telerradiografia de tórax com discreta hipotranspa-
As artralgias apresentavam características infla- rência da base direita, sem outras alterações.
matórias, com uma rigidez matinal de cerca de 30
Angio-Tc Toráx que exclui a presença de evento
minutos. No exame objetivo destacar alopecia total,
trombótico, mas confirmou foco de pneumonia no
edema do punho esquerdo, derrame de ambos os
lobo inferior direito e baço globoso com dimensões
joelhos e deformidade lateral de algumas IF (2º IF
no limite superior da normalidade.
metatársica,2º,3º 3 4º IF proximal (IFP) e 3º IF distal
da mão direita; e ainda da 2º e 3º IFP da mão es- Ficou internado com os diagnósticos de Pneumonia
querda). Imagiologicamente objetivado um derrame adquirida na comunidade, sem isolamento de agen-
pleural bilateral. Em internamento realizou estudo te a cumprir ciclo de antibioterapia dupla e de pan-
autoimune apresentando anticorpos antinucleares citopenia. Com evolução favorável mas mantendo
positivos com título de 1:160 padrão homogéneo, pancitopenia. Investigação etiológica exclui doen-
anti-SSA positivos e fator reumatoide aumentado. ças infecciosas e auto-imunes. O medulograma
Restante estudo autoimune foi negativo. Levantada apresenta aspectos morfológicos e citoquímicos
a hipótese de uma síndrome de rúpus. Em interna- sugestivos de Leucemia “Hairy Cell” (Tricoleuce-
mento constatado ainda uma proteinúria nefrótica mia).
de 11g por dia e hipoalbuminémia de 2.9 g/dl. Em
virtude do agravamento clínico, a doente foi trans- Há várias etiologias possíveis para uma pancito-
ferida para o serviço de nefrologia onde realizou penia, uma delas pode ser em contexto infeccioso
uma biópsia renal que revelou aspetos compatíveis como de pneumonia, no entanto, os autores alertam
com nefropatia por IgA. Com a melhoria clínica a para se manter um certo nível de suspeição, como
doente teve alta para consulta de doenças autoimu- no caso apresentado, pois uma infeção da comuni-
nes e nefrologia para prosseguir estudo. Com este dade num doente imunocompetente com apresen-
caso pretendemos ressaltar a associação por vezes tação mais severa, deve alertar para a investigação
improvável entre diferentes síndromes clínicos e a de alguma causa de imunocomprometimento.

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 515


Neste caso trata-se de tricoleucemia, que tem baixa P n.º 0204 
incidência, representando 2% das leucemias, por ve- TOXICIDADE CARDIOVASCULAR POR QUIMIOTE-
zes inicialmente assintomática, afetando tipicamen- RÁPICOS - Não é o suspeito do costume
te homens com cerca de 50 anos (como o doente Diogo André(1);Fabiana Gouveia(1);Helena Luís(1);-
apresentado) e com potencial de cura, tendo sido o Teresa André(1);João Gaspar(1);Antonio Chaves(1)
doente referenciado para tratamento.  (1) Hospital Dr. Nélio Mendonça
P n.º 0201  Tema: Doenças oncológicas
A curious case of Acute Kidney Injury
Ana Catarina Trigo(1);Dina Fernandes Neto(1);Ana Introdução: Cardiotoxicidade (CT) por quimioterapia
Isabel Lopes(1);José Ribeiro(1);António Furtado(1) (QT) é frequentemente associada a antraciclinas.
(1) Unidade Local de Saúde de Matosinhos, EPE / Porém, há outros quimioterápicos que afligem o sis-
Hospital Pedro Hispano tema cardiovascular. CASO CLÍNICO 1: Doente de
Tema: Doenças renais 47 anos, sexo masculino, autónomo, com adenocar-
cinoma do esófago com metastização pulmonar e
ganglionar, sob QT à base de fluoropirimidinas (FU).
Introduction: Acute kidney injury (AKI) is a common Recorreu o serviço de urgência (SU) por quadro,
clinical syndrome, defined as an abrupt decrease com 40 minutos de evolução, de hemiparesia direita
in kidney function. Its classification includes three e disartria. Realizou trombólise após confirmação
main categories: pre-renal, intrinsic and post-re- por tomografia computorizada de crânio (TAC) a
nal causes. It rarely has a sole and distinct patho- presença “enfarte isquémico nucleocapsular, sub-
physiology. cortical frontal e frontoparietal esquerdos”. CASO
CLÍNICO 2: Doente de 66 anos, sexo feminino, in-
Clinical case: A 22-year-old man with medical dependente, com carcinoma epidermoide do colo
history of migraine, hypothyroidism and obesity, uterino com invasão da bexiga sob cisplatina (CP) e
presented with acute onset of bilateral low back radioterapia (RT). No SU, após sessão de RT, doen-
pain, suprapubic pain, vomiting and macroscopic te referia precordialgia, em repouso, associada a
hematuria (a few drops), followed by oligoanuria. lipotimia. Não apresentava alterações no exame
Besides daily levothyroxine and metformine, he took físico, mas no eletrocardiograma registava inversão
amoxicilin and ibuprofen for the the previous 6 days das ondas T de novo. Analiticamente uma troponi-
(for acute otitis) and rizatriptan the day before (for na T de 0,014ng/mL e NTproBNP de 1121pg/mL.
migraine). He had no fever. Physical examination re- Ecocardiograma e coronariografia não evidenciou
vealed pain on the same areas he complained about alterações. DISCUSSÃO: Para além das antracicli-
and elevated blood pressure. No signs of hypoperfu- nas, há que equacionar as fluoropirimidinas e sais
sion/dehydration were observed. Initial blood serum de platina como agentes terapêuticos capazes de
analysis showed: creatinine of 1.1 mg/dL, urea of potenciar e/ou exacerbar patologia cardiovascular.
51 mg/dL; normal electrolytes, acid-basic balance As FU, para além da sua CT, podem induzir eventos
and lactates. No urine output was observed when vasculares cerebrais mesmo em indivíduos sem
urinary catheterization was performed. Imagiologic fatores de risco, pois associam-se a um estado de
studies excluded urinary tract obstruction, urolithia- hipercoagulabilidade.  A CP pode acompanhar-se
sis, signs of pyelonephritis, venous and arterial renal de disritmias, alterações da repolarização e cardio-
thrombosis and renal infarctions. Fuid therapy was miopatia isquémica. A hipomagnesemia, secundária
started. Diuresis was observed on day 3. That day, à nefropatia induzida pela CP, é admitida como um
serum creatinine was a value of 11.1 mg/dL. Urinal- fator responsável pelo vasoespasmo coronário. Os
ysis found: presence of leukocytes, eosinophils and autores visam alertar os potenciais efeitos adversos
erythrocytes; no nitrites, no proteinuria and no casts. cardiovasculares de quimioterápicos não derivados
Antistreptolysin O test was negative. No evidence of de antraciclinas, para que deste modo rapidamente
immunologic disease was found. On day 4, kidney se possa reconhecer, abordar e prevenir lesões irre-
function started to improve and polyuria was ob- versíveis induzidas por iatrogenia.
served. He fully recovered his kidney function.
P n.º 0207 
Discussion: Ibuprofen and amoxicilin are known Derrame Pleural Maligno: Da Clínica Ao Diagnósti-
causes of acute intersticial nephritis, that is usually co
accompained by white cell casts in urine sediment Helena Luís(1);Carolina Barros(1);Mariana Go-
and take longer to resolve. Rizatriptan is a vasocon- mes(1);Mariana Bilreiro(1);Bela Machado(1);Car-
strictive drug used in migraine, mostly excreted in lota Mendonça(1);Sara Jesus(1);José Luís Andra-
urine, that have been associated with renal infarc- de(1);Rafael Freitas(1)
tion. The authors present a curious case of rapidly (1) Hospital Dr. Nélio Mendonça
progressive oligoanuric AKI, with an high value of
serum creatinine, and equally fast recovery. They Tema: Doenças oncológicas
believe it had a multifactorial etiology and aim to
alert to a possible correlation between rizatriptan Introdução: O derrame pleural maligno representa
and AKI, not mediated by renal infarction. uma das causas mais comuns de derrame pleural
exsudativo com uma incidência crescente com o
516
E-POSTERS
aumento da prevalência de neoplasias. O derrame 2013. Internado electivamente em Novembro de
pleural maligno é uma complicação frequente de 2020 para desbridamento e biópsia da úlcera que
processos neoplásicos e normalmente indica a pre- revelou “extensa infiltração dos tecidos subcutâ-
sença de doença disseminada ou avançada. Caso neos por carcinoma pavimento celular queratinizan-
clínico: Doente do sexo masculino, de 53 anos, te pouco diferenciado”. Por progressão da doença
com antecedentes pessoais de Hipertensão arterial optou-se pela amputação transfemoral do membro
(HTA) e tabagismo (UMA=78), enviado ao Serviço inferior esquerdo. 
de Urgência (SU) por dispneia para esforços pro-
gressivamente menores associado a dor na face Na tomografia (TC) do membro inferior esquerdo
posterior do hemitórax esquerdo e sudorese notur- após a cirurgia identificaram-se “múltiplas adeno-
na. À observação, encontrava-se apirético e hemodi- megálias com diversas áreas tecidulares captantes
namicamente estável. À auscultação cardíaca com e áreas de hipodensidade sugerindo fenómenos de
tons rítmicos e regulares, e à auscultação pulmonar necrose, algumas das quais constituindo-se aglo-
com sons respiratórios presentes bilateralmente, merado com diâmetro superior a 8 cm, achados
mas muito diminuídos no 1/3 inferior do HT esquer- TDM em relação com recidiva ganglionar inguinal
do. Realizou telerradiografia de tórax que eviden- (...) observando-se ainda na vertente posterior e
ciou hipotransparência no 1/3 inferior de ambos inferior do coto algumas imagens arredondadas
os hemitórax sugestivo de derrame pleural. Analiti- heterogéneas e com captação intensa do contraste
camente com leucocitose (14.600/µL) e com neu- endovenoso que poderão corresponder a recidiva lo-
trofilia (10.200/µL); função renal e ionograma sem cal da lesão neoformativa conhecida.” A TC torácica
alterações; PCR 29.98 mg/L. Ficou internado no revelou “múltiplas formações nodulares dispersas
Serviço de Medicina para esclarecimento etiológico. por ambos os campos pulmonares, algumas com
Realizada toracocentese diagnóstica cujo exame cavitação central (...) compatíveis com metastiza-
citoquímico foi compatível com exsudado. Efetuada ção pulmonar.” 
tomografia computorizada (TC) torácica, abdominal
e pélvica que demonstrou volumosa lesão pan- O doente foi encaminhado para consulta de Oncolo-
creática envolvendo o corpo e cauda, com envolvi- gia Médica, tendo sido considerado inelegível para
mento da artéria esplénica e bifurcação do tronco iniciar Cisplatina por Performance Status (PS) Eas-
celíaco e imagens sugestivas de secundarização tern Cooperative Oncology Group (ECOG) 2, tendo
suprarrenal e hepática. Efetuada biópsia da lesão falecido por pneumonia SARS-CoV-2 grave.
pancreática dirigida por TC tendo a anatomia pato-
Discussão: A úlcera de Marjolin corresponde a
lógica revelado um adenocarcinoma pouco diferen-
0.05% de todos os carcinomas de células escamo-
ciado. Conclusão: Apesar do progresso nas opções
sas (CCE) das extremidades inferiores, sendo 3 ve-
terapêuticas, o prognóstico permanece grave e a so-
zes mais comum nos homens, com uma idade mé-
brevida média é de 4 a 9 meses após o diagnóstico
dia de diagnóstico no início da 5ª década de vida.
de derrame pleural maligno. Os autores pretendem
O CCE com origem em feridas ou úlceras crónicas
salientar a importância da investigação etiológica
é, por norma, agressivo e associado a mau prog-
dos sinais e sintomas e das alterações laboratoriais
nóstico. O risco de recidiva local após tratamento
e imagiológicas apresentadas pois podem indicar
é de 20-30%. Dada a raridade desta patologia do
patologias cujo prognóstico é reservado de forma
foro neoplásico, pretendem os autores partilhar este
a priorizar a qualidade de vida do doente através do
caso com os colegas.
controlo dos sintomas.
P n.º 0212 
P n.º 0208  Púrpura Trombocitopénica Trombótica do Diagnós-
Úlcera de Marjolin: Um caso de evolução indo- tico ao Tratamento
lente Pedro Rodrigues(1);Pedro Fernandes Moura(1);Pa-
Bruno Bonito(1);Joana Cartucho(1) trícia Rocha(1);João Cardoso(1);Jorge Salomão(1);-
(1) Centro Hospitalar Barreiro/Montijo, EPE / Hospi- Mário Esteves(1)
tal Nossa Senhora do Rosário (1) Centro Hospitalar do Médio Ave, EPE / Unidade
de Vila Nova de Famalicão
Tema: Doenças oncológicas
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
culites
Introdução: A úlcera de Marjolin refere-se a uma
neoplasia cutânea rara que se manifesta no teci-
do cicatricial ou em feridas crónicas. É comum, à Introdução: As microangiopatias trombóticas são
apresentação, uma área ulcerada que não sara. A patologias caracterizadas pela presença da tríada
transformação maligna é habitualmente indolente. Trombocitopenia+Anemia Hemolítica Microangiopá-
O facto de se tratar de uma neoplasia rara de evo- tica (Eritrócitos fragmentados; Esquizócitos; Evidên-
lução prolongada, confere elevada pertinência ao cia laboratorial de hemólise )+Trombose Microvas-
caso clínico. cular. As duas manifestações fenotípicas clássicas
das microangiopatias trombóticas são a Púrpura
Trombocitopénica Trombótica (PTT) e o Síndrome
Caso clínico: Homem de 73 anos seguido em con-
Hemolítico-Urémico (SHU), sendo ambas graves e
sulta de cirurgia por úlceras crónicas dos membros
com um prognóstico muito reservado.
inferiores diagnosticado com úlcera de Marjolin em
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 517
Caso Clínico: Mulher de 45 anos, antecedentes de tes de válvula aórtica bicúspide. Admitida no Servi-
LES, doença hemorroidária e histerectomia por mio- ço de Urgência por febre com calafrios, mialgias, ce-
ma. Admitida por astenia, tonturas, desequilíbrio, faleias frontais, fotofobia e meningismo com cerca
rectorragias e equimoses dispersas com 2 semanas de uma semana de evolução. Durante esse período
de evolução associado a monoparesia do MSE e refere o aparecimento de nódulos arroxeados, dolo-
disartria com reversão espontânea. Documentada rosos, nas extremidades digitais. Ao exame objetivo
anemia hemolítica microangiopática grave (hiper- apresentava-se febril, taquicardica, sem sopros car-
bilirrubinemia indirecta, LDH  aumentadas, teste de díacos audíveis, com hepatomegalia de bordo regu-
coombs negativo, presença de esquizócitos e ova- lar 3 cm abaixo do rebordo costal, nódulos de Osler
lócitos, reticulocitose e sem consumo de comple- e manchas de Janeway. Neurologicamente apresen-
mento ou fatores da coagulação), trombocitopenia tava disartria, hemiparesia esquerda de predomínio
grave e crises convulsivas. Por apresentar a tríade braquial grau 3 e rigidez da nuca. Laboratorialmente
da pêntade da PTT coloca-se essa hipótese de diag- com elevação dos parâmetros inflamatórios e trom-
nóstico e inicia plasmaferese, mas dificultada por bocitopenia, sem alterações da coagulação. Assu-
crise convulsiva tônico-clônica generalizada durante mido evento isquémico embólico e meningite como
as sessões. TC CE, angio-TC e RM CE sem altera- complicação de endocardite. A TC-CE mostrou
ções e EEG sem atividade epileptiforme. Intubada isquemia parietal paramediana esquerda (AVC) e PL
e internada na UCI durante 24 dias por PTT com com 800 células, predomínio polimorfonucleares.
ADAMSTS13 Ac + (Anticorpos 84U/ml e Atividade O Ecocardiograma transtorácico e transesofágico
3%). Ao longo do internamento com necessidade documentou vegetação de 27 mm na V. aórtica com
de 12U GR; 2Pool Plaquetas, realizou 20 sessões de regurgitação associada, e abcesso com fistulização
plasmaferese diária, 20 dias de prednisolona 70mg/ entre a V. aórtica e a aurícula direita. Nas hemocul-
dia (pulsos de Metilprednisolona 1 g/dia 3 + 3 dias turas seriadas foi isolado Staphylococcus aureus
separados entre eles 7 dias) e posteriormente com meticilino-sensível, não detectado, porém, em cultu-
desmame progressivo, Rituximab 700 mg semanal ra do LCR. A TC abdominal confirmou embolização
(4 sessões). Após alta da UCI internada durante 18 hepática e esplénica múltipla. Admitiu-se assim,
dias no Serviço de Medicina Interna e depois orien- endocardite aguda da válvula aórtica complicada de
tada para a CE de Doenças Auto-Imunes e para o embolizações múltiplas, e sinais clínicos e laborato-
Hospital de Dia para realizar tratamento com rituxi- riais de meningite asséptica, que surge em menos
mab inicialmente 15-15 dias (6 sessões) e depois de 2% dos casos.
2-2 meses + Prednisolona 35 mg/dia.
Meningite com AVC são complicações raras e infre-
Discussão: A importância deste caso prende-se na quentes como manifestações iniciais de EI. Real-
dificuldade na gestão na realização da plasmafere- çamos a importância do diagnóstico precoce de EI,
se e das alterações neurológicas, além de necessi- evocando que pode revelar-se através de expres-
tar de praticamente todas as armas terapêuticas, sões de embolização sistémica ou de meningite.
quer da plasmaferese quer de agentes imunossu-
pressores pela presença de anticorpos anti-ADAMS- P n.º 0221 
TS13 e a redução da atividade do ADAMSTS13. Caso raro de artrite séptica esternoclavicular a
Enterococcus Faecalis em indivíduo imunocompe-
P n.º 0217  tente.
Meningite como apresentação rara de Endocardite Daniel Carvalho(1);Luis Santos(1);Antonio Cha-
aórtica ves(1);Pedro Figueira(2);Carolina Freitas Henri-
Carolina Ramos(1);Pedro Silvério António(1);Ana ques(1);Débora sá(1);João Gouveia(1)
Maria Baltazar(1);Alexandra Whanon(1);Catarina (1) Hospital Dr. Nélio Mendonça (2) Centro de Saúde
Gonçalves(1);Ana Mafalda Abrantes(1);Diogo Sou- da Quinta Grande
sa(1);Laura Carvalho(1);Liliana Ribeiro(1);Dúlio Pas-
sos(1);Nuno Carreira(1);Marisa Teixeira Silva(1);An- Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
tónio Pais Lacerda(1)
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi- Introdução:
tal de Santa Maria
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias A artrite séptica (AS) tem como principal meca-
nismo de infeção a disseminação hematogénea,
afectando com maior frequência as grandes articu-
Meningite como apresentação rara de Endocardite lações. A artrite esternoclavicular (ASEC) compreen-
aórtica de 0.5-2% dos casos e está associada ao consumo
de drogas intravenosas, imunossupressão, trauma
Apesar dos avanços no diagnóstico e tratamento, ou infeção do catéter venoso central. O Staphylo-
a Endocardite Infeciosa (EI) continua associada a coccus Aureus (SA) é responsável por cerca de 50%
uma elevada taxa de mortalidade e a múltiplas com- dos casos. O Enterococcus Faecalis (EF) é uma
plicações, nomeadamente a embolização sistémica, bactéria gram-positiva, associada a uma variedade
que pode ocorrer em mais de 49% dos casos. de infeções, sendo a sua associação a este evento
clínico uma raridade.
Doente do sexo feminino, 27 anos, com anteceden-

518
E-POSTERS
Caso Clinico: sentava nenhuma outra alteração de relevo. Analiti-
camente destacava-se a presença de uma anemia
Homem de 57 anos, caucasiano, com antecedentes normocítica normocrómica com hemoglobina de
de estenose aórtica grave e estenose uretral porta- 7.1g/dL, 14 800 leucócitos, PCR 3.64, hiperbilirru-
dor de cistostomia, sem hábitos toxifílicos. Saudá- binémia total de 9.00 mg/dL à custa da bilirrubina
vel até Setembro de 2020, quando iniciou quadro conjugada com 8.62 mg/dL, aumento da LDH para
de calafrios e sudorese de predomínio vespertino, 1581 mg/dL, discreta lesão renal aguda com creati-
associado a dor, rubor e tumefação ao nível da ar- nina de 1.4 mg/dL e urina II com hemoglobina e bi-
ticulação esternoclavicular (AEC) esquerda com 2 lirrubina detetáveis. Após anamnese pormenorizada
meses de evolução e progressiva dificuldade funcio- o doente referiu ter ingerido pela primeira vez nos
nal, anorexia e perda de peso de 7kg. Analiticamen- dois dias anteriores ao início dos sintomas uma re-
te: anemia normocítica/ normocrómica, linfopénia feição de favas, de sushi com molho de soja e vinho
e aumento dos parâmetros inflamatórios; Exame tinto. Perante a história clínica e achados clínicos e
objetivo: febre e sopro holossistólico panfocal. In- analíticos foi considerado o diagnóstico de anemia
ternou-se para estudo, pediu-se hemoculturas (HC) hemolítica aguda por deficiência de glicose-6-fosfa-
e urocultura (UC). TAC tórax: irregularidades ósseas to desidrogenase, confirmado pelo doseamento da
na AEC esquerda, com erosões e componentes líti- mesma que revelou um défice desta
cos subcondrais. O ecocardiograma transtorácico enzima. Iniciou tratamento com hidratação vigorosa
excluiu endocardite. Excluiu-se HIV, Brucella e Tu- e ácido fólico com reversão completa do quadro.
berculose. Identificou-se um EF com o mesmo perfil Discussão: Além do tratamento da fase aguda da
de sensibilidade na UC e HC. Levantou-se a hipótese anemia hemolítica é necessário um investimento
de AS/ Osteomielite, realizou-se biópsia aspirativa multidisciplinar no que diz respeito à prevenção
guiada por TAC, não sendo possível isolar o agen- de novos eventos futuros. A colaboração da Medi-
te no local. Assumiu-se ASEC complicada com cina Interna, Hematologia e Nutrição é essencial
osteomielite, iniciou-se antibioterapia endovenosa para definir algumas restrições medicamentosas e
dirigida com Gentamicina e Ampicilina durante 30 alimentares, tentando sempre manter uma alimen-
dias, seguida de Amoxicilina oral por 14 dias. Pediu- tação equilibrada e um estilo de vida o mais satisfa-
-se à Urologia reavaliação da cistostomia. Não ne- tório possível sobretudo por se tratarem de doentes
cessitou de desbridamento cirúrgico, dado resposta jovens.
clínica e analítica favorável.
Discussão: P n.º 0231 
Linfohistiocitose Hemofagocítica secundária a Pie-
A ASEC é um diagnóstico raro particularmente no lonefrite
imunocompetente e apesar do doente não apresen- Ana Oliveira(1);Laura Sobral Baptista(1);Bárbara Pa-
tar fatores de risco, era portador de uma cistosto- racana(1);Valter Duarte(1);Gisela Gonçalves(1);Ta-
mia. A sua apresentação insidiosa faz com que o tiana Rodrigues(1)
diagnóstico seja muitas vezes tardio, protelando o (1) Centro Hospitalar do Baixo Vouga / Hospital In-
inicio da terapêutica. O SA é o agente responsável fante D. Pedro, EPE
mais comum, no entanto não temos conhecimen-
to de casos de ASEC atribuída ao EF. Tema: Doenças hematológicas

P n.º 0224  Introdução:


Uma história de favismo dos tempos modernos
Inês Figueiredo(1);Margarida Carrolo(1);Francisco
Guimarães(1);Nataliya Polishchuk(1) A linfohistiocitose hemofagocítica (LHH) resulta da
(1) Hospital Cuf Descobertas ativação excessiva do sistema imunitário. No adulto
é secundária a infeções, doenças malignas ou au-
Tema: Doenças hematológicas toimunes. O diagnóstico exige um elevado nível de
suspeição e a terapêutica consiste no tratamento
da doença de base e, na grande maioria dos casos,
Introdução: A deficiência de glicose-6-fosfato de-
imunossupressão. Este caso clínico ilustra a LHH
sidrogenase (G6PD), também conhecida como
secundária a uma infeção que resolveu apenas com
favismo, é uma patologia resultante de um defeito
o tratamento da doença infeciosa.
no gene da G6PD eritrocitária presente no cromos-
soma X, que é a causa de quadros de anemia he- Caso clínico:
molítica de gravidade variável. Afeta 500 milhões
de pessoas em todo o mundo sendo a deficiência Doente do sexo feminino, 44 anos, internada por
enzimática mais comum, mas também aquela mais pielonefrite aguda complicada com abcesso renal à
facilmente gerida pelo doente através de  mudanças esquerda sob piperacilina/tazobactam. Ao 16º dia
simples de estilo de vida. de antibioterapia apresentou rash cutâneo na região
Caso Clínico: Homem de 19 anos, sem anteceden- torácica e membros superiores associado a astenia
tes pessoais de relevo, recorre ao serviço de urgên- e febre. Analiticamente a destacar: pancitopenia,
cia por quadro de febre, urina cor de vinho do porto citólise hepática, aumento de LDH, hiperferritinémia,
e pele e mucosas ictéricas com 24horas de evo- hipofibrinogenémia e triglicerideos aumentados.
lução. Ao exame físico além de icterícia não apre- Ecografia abdominal sem alterações significativas.

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 519


Alterou-se antibioterapia para meropenem com proteinas/creatinina (urina ocasional)=1. Mediante
resolução do rash e apirexia após 24h. Cumpria 5 o descontrolo tensional e os achados de angioTC
critérios diagnósticos de LHH, tendo sido discutido a doente foi internada para otimização de controlo
com Hematologia. Dada a boa evolução clínica, ado- tensional e estudo etiológico adicional.
tou-se uma atitude expectante com controlo analí-
tico seriado. Manteve apirexia sustentada e analiti- No internamento decidida a realização de angio-
camente melhoria progressiva, sendo que ao 9º dia grafia de artéria renais, confirmatória de estenose
de meropenem, apresentava pancitopenia resolvida, crítica bilateral, tendo-se decidido por stenting renal
AST e ALT normalizadas e LDH decrescente. bilateral. À data de alta a função renal encontrava
se estabilizada em sCr 1.76 mg/dL e perfil tensional
Discussão: razoavelmente controlado sob duas classes de fár-
macos (BB e ARA II) 3 meses após a intervenção.
A LHH tem tido maior reconhecimento na última
década. A terapêutica consiste no tratamento da O presente caso permite-nos refletir sobre o interes-
doença de base e, na maioria dos casos, imunossu- se da angioplastia de artéria renal como uma opção
pressão associada de acordo com o protocolo HLH- no tratamento de HTA resistente em doente com
94. Este caso mostra o sucesso no tratamento da aterosclerose condicionante de estenose significati-
LHH apenas com o tratamento da doença infeciosa, va das artérias renais.
sem necessidade de imunossupressão.
P n.º 0235 
P n.º 0234  Linfoma Difuso de Grandes Células B com apresen-
HTA resistente: a angioplastia renal como arma tação Retroperitoneal e Cutânea
terapêutica Joana Pacheco(1);Luís Guilherme Santos(1);João
Dianadias(1);Susana Pereira(2) Costelha(1);Adélia Simão(1);Armando de Carva-
(1) Centro Hospitalar de Entre Douro e Vouga, EPE lho(1)
/ Hospital de S. Sebastião (2) Centro Hospitalar de (1) Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra /
Vila Nova de Gaia / Espinho Hospitais da Universidade de Coimbra
Tema: Doenças renais Tema: Doenças hematológicas

A estenose de artéria renal pode apresentar-se Introdução: O Linfoma Difuso de Grandes Células
como hipertensão (HTA) renovascular e doença B (LDGCB) é um subtipo de Linfoma não-Hodgkin
renal crónica isquémica. O tratamento invasivo da que se apresenta como uma massa de rápido cres-
doença aterosclerótica renal é controverso na li- cimento. Raramente tem apresentação primária
teratura de análise do tratamento conservador vs. retroperitoneal, e o envolvimento cutâneo simultâ-
angioplastia. Apresenta-se o caso de uma doente neo é ainda mais raro, sendo um preditor de mau
com aterosclerose das artérias renais submetida a prognóstico pela elevada disseminação. Os autores
angioplastia com posterior melhoria da função renal descrevem este caso pela sua apresentação atípica
e controlo tensional pós intervenção. e evolução agressiva.

Reporta-se o caso de uma mulher de 78 Caso clínico: Homem de 84 anos que recorreu ao
anos  com hipertensão arterial mal controlada (diag- Serviço de Urgência por um quadro de anorexia,
nosticada 15 anos antes), doença renal crónica se- dispneia de agravamento progressivo, e lesões
cundária a nefropatia isquémica (conhecida desde cutâneas nos membros inferiores. À admissão,
2019 e com creatinina basal de 1.8 mg/dL) e dislipi- apresentava dificuldade respiratória, diminuição do
demia medicada. murmúrio vesicular no hemitórax direito, edemas e
lesões cutâneas nodulares nos membros inferiores.
Nesta paciente verificava-se agravamento da fun- Analiticamente apresentava anemia normocítica
ção renal mediante reintrodução de antagonista de normocrómica, elevação da lactato-desidrogenase e
receptor da angiotensina (ARA II) (sCr máxima 2.7 da Proteína C-Reativa. A radiografia do tórax eviden-
mg/dL), e recuperação da mesma após a suspen- ciou um volumoso derrame pleural direito. Internado
são do fármaco (creatinina 1.9 mg/dL). A angio-to- para estudo complementar realizou uma tomogra-
mografia computorizada (angioTC) mais recente da fia axial computorizada (TAC) que   detetou uma
doente revelava rins pequenos e assimétricos (direi- massa retroperitoneal com extensão peri-cardíaca
to 9 cm vs. esquerdo 7 cm) e evidência de placas de e confirmou o volumoso derrame direito. Realizada
ateroma na emergência de ambas artérias renais. toracocentese evacuadora e diagnóstica, comple-
Discutidas as imagem em reunião multidisciplinar mentada com biópsia cutânea. A imunofenotipa-
com cirurgia vascular verificava-se estenose hemo- gem do líquido pleural revelou células B clonais com
dinamicamente significativa bilateralmente, sobre- expressão de CD38, CD81 e CD10. Através da hibri-
tudo à esquerda. A HTA encontrava-se medicada dização fluorescente in situ (FISH) foi identificado o
com 4 classes farmacológicas (beta bloqueante rearranjo 18q21 (BCL2) confirmando o diagnóstico
(BB),  agonista alfa-2 adrenérgico, ARA II e diuréti- de LDGCB. O resultado histopatológico da biópsia
co) sem controlo tensional (tensão arterial sistóli- cutânea foi igualmente compatível com o diagnósti-
ca 200 mmHg), tratando-se portanto de uma HTA co anterior.
resistente. O último exame de urina revelava razão
520
E-POSTERS
Discussão: As manifestações cutâneas dos linfo- te.
mas são raras, compondo apenas 6% dos casos.
Habitualmente, os doentes com envolvimento cutâ- P n.º 0240 
neo nos membros inferiores apresentam taxas de PNEUMONIA A STENOTROPHOMONAS MAL-
disseminação superiores quando comparadas com TOPHILA NO DOENTE IMUNOCOMPETENTE
outras localizações (33 vs 18%). O diagnóstico di- Ana Cardoso(1);João Victor Freitas(1);Raquel Soa-
ferencial de massas retroperitoneais por meios de res(1);Tiago Branco(1);Lisa Gonçalves(1);Francisco
imagem torna-se difícil, uma vez que há sobreposi- Cunha(1);Nuno Jacinto(1);Liliana r. Santos(1);Antó-
ção significativa entre entidades, sendo o diagnósti- nio Pais Lacerda(1)
co histológico obrigatório. (1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi-
P n.º 0238  tal de Santa Maria
Calcifilaxia - A propósito de um caso clínico Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
Carlos M Nancassa(1);Miguel Ângelo Rodrigues Oli-
veira(1);Adelaide Figueiredo(1)
(1) Hospital Distrital de Santarém, EPE INTRODUÇÃO

Tema: Doenças raras A Stenotrophomonas maltophilia é um bacilo


gram-negativo multirresistente, sendo um agente
Introdução: Calcifilaxia ou arteriolopatia urémica oportunista geralmente associado a infeções noso-
calcificada (CUA) é uma doença rara, habitualmente comiais, particularmente em doentes imunocompro-
observada nos doentes dialisados com hiperparati- metidos. Trata-se de uma bactéria ambiental encon-
reoidismo secundário à doença renal crônica (DRC). trada em habitats aquosos, incluindo rizosferas de
Pode se desenvolver em doentes com função renal plantas, animais, alimentos e fontes de água.
normal ou estágios precoces de DRC. Caracteriza-
-se por lesões cutâneas dolorosas, frequentemente CASO CLÍNICO
complicadas por úlceras necrosadas com sobrein-
fecção. O diagnóstico requer alto grau de suspeita Homem de 24 anos, admitido por febre, mialgias
clínica e a biópsia da pele é o exame de referên- e tosse não produtiva com uma semana de evolu-
cia para o diagnóstico definitivo. O tratamento ção. Trabalhador numa empresa avícola, sem outro
continua a ser desafiador, exigindo uma abordagem contexto epidemiológico. Laboratorialmente, com
multidisciplinar. Descrição do caso: Mulher, 71 anos, leucocitose neutrófila 10.300 x106/L e elevação da
caucasiana, recorreu ao serviço de urgência por do- proteína C reativa (30.6 mg/dL). Realizou tomogra-
res pré-tibiais intensas, tipo queimadura com dois fia computorizada de tórax que revelou opacidades
dias de evolução. À observação apresentava placas pulmonares em vidro despolido bilaterais e peri-
eritematosas, difusas, mal circunscritas, simétricas, féricas, bem como consolidações arredondadas
circunferenciais, nos 2/3 inferiores das pernas. De bilaterais basais, motivo pelo qual foi admitido em
antecedentes pessoais descreve-se DRC estádio enfermaria de suspeitos para infeção SARS-CoV-2.
G5 com acidose tubular renal tipo 4 secundária à Após exsudados nasofaríngeos seriados negativos,
nefropatia diabética, hipertensão arterial refratária, assumida pneumonia bacteriana tendo sido iniciada
hiperuricemia. Medicada com sevelamer, cinacalcet, antibioterapia empírica com amoxicilina+ácido cla-
darbepoetina, ferro, febuxostate, linagliptina. Na vulânico e azitromicina, com posterior isolamento
avaliação laboratorial, destacou-se anemia normoci- em hemoculturas de S. maltophilia. O estudo de
tica normocromica, paratormonio (PTH), creatinina, causas de imunodepressão, autoimunes e fibrose
fosforo e acido urico elevados; albumina e potassio quistica foi negativo, admitindo-se como causa a
baixos. O exame histopatológico das lesões cutâ- exposição laboratorial. Cumpriu antibioterapia diri-
neas revelou proliferação vascular de pequenos gida eficaz com cotrimoxazol, com melhoria clínico-
vasos, com arranjo multinodular, identificando-se -laboratorial.
múltiplos depósitos de cálcio com calcificações na
parede de vasos e no tecido adiposo em relação DISCUSSÃO
com lipogranulomas, achados compatíveis com Os casos relatados de S. maltophilia adquirida na
paniculite por calcifilaxia. Com base na avaliação comunidade envolveram doentes com comorbilida-
clínica, apoiada em critérios laboratoriais e histopa- des que conferiam algum grau de imunossupres-
tológicos, foi feito o diagnóstico de calcifilaxia. O são. Os autores relatam um caso de um doente sem
controle da dor foi feito com opióides e, heparinóide nenhum fator de risco predisponente, o que de-
tópica para cuidados das lesões cutâneas. Discus- monstra que a infeção por este agente pode ocorrer
são: A calcifilaxia é um distúrbio raro, de etiologia num doente imunocompetente e deverá ser consi-
multifatorial, com fisiopatologia pouco compreen- derada em doentes com diagnóstico de pneumonia,
dida, com elevada taxa de mortalidade e incidência sem reposta a antibioterapia de primeira linha.
crescente. O nosso trabalho visa enfatizar aos co-
legas a ocorrência de calcifilaxia em doentes não P n.º 0243 
dialisados, a importância de controle dos fatores de HEPATITE GRANULOMATOSA: UM DIAGNÓSTICO
risco de CUA, de necessidade imperativa de diag- INCIDENTAL
nóstico e tratamento precoce da doença, evitando a Ana Cardoso(1);Alexandra Wahnon(1);Ana Mafalda
necrose da pele e sépsis, a causa principal da mor-
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 521
Abrantes(1);Ana Furão Rodrigues(1);Ana Maria Bal- Tema: Outro
tazar(1);Catarina Gonçalves(1);Nuno Carreira(1);Li-
liana r. Santos(1);Marisa Teixeira Silva(1);António Introdução: A dispneia é definida como uma sen-
Pais Lacerda(1) sação subjectiva de falta de ar, e deve ser avaliada
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi- cuidadosamente. Em alguns casos está descrita
tal de Santa Maria como efeito adverso de alguns fármacos, nomeada-
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias mente dos inibidores do P2Y12 como o ticagrelor.
O reconhecimento e diagnóstico desta situação, é
de elevada importância pois tem implicações indivi-
INTRODUÇÃO duais e medicamentosas. Em alguns casos, implica
a suspensão do fármaco causador.
A febre Q e´ uma infeção zoonótica causada pela
Coxiella burnetii, caracterizada por um amplo espec- Caso Clínico: Apresenta-se um doente de 60 anos,
tro de manifestac¸o~es cli´nicas. O envolvimento fumador (60 unidades maço-ano), com dislipidémia,
hepático é comum na infeção aguda, por outro lado, diabetes mellitus tipo 2, doença cardíaca isquémica;
casos de hepatite crónica por febre Q são raramente submetido a cateterismo coronário há 6 semanas,
descritos na literatura. medicado com aspirina 100 mg q.d, ticagrelor 90
mg b.i.d., carvedilol 6,25 mg b.i.d., metformina/sita-
CASO CLÍNICO gliptina 1000 mg/50 mg b.id., valsartan/amlodipina
160/5 mg q.d., ezetimibe 10 mg q.d., pravastatina/
Homem de 34 anos, admitido por lesão renal aguda
fenofibrato 40/160 mg q.d. e glimepirida 3 mg q.d.,
em contexto litíase obstrutiva. Efectuou tomografia
que recorreu ao serviço de urgência por episódios
computorizada que revelou nódulos esplénicos,
diários de dispneia com 6 semanas de evolução,
franca heterogeneidade micronodular hepática
com segundos de duração, de início súbito e resolu-
e múltiplas adenopatias em vários territórios lin-
ção espontânea. Na sala de observação iniciou dor
fáticos. Do contexto epidemiológico, a destacar
retroesternal intensa, tipo facada sic sem irradiação,
contacto frequente com produtos lacticínios não-
associado a dispneia. À observação encontrava-se
-pasteurizados e viagens intercontinentais. Labo-
agitado, com fácies ruborizada; frequência respira-
ratorialmente, hemoglobina 12 g/dL, gamaglutamil
tória de 25 ciclos/minuto; pressão arterial 135/75
transferase (GGT) 742 U/L, fosfatase alcalina 384
mm Hg; frequência cardíaca 71 batimentos/minuto;
U/L, velocidade de sedimentação 120ms, eletro-
tons cardíacos arrítmicos; sem ruídos adventícios
forese de proteínas com pico em gama mas sem
e sem edema periférico. Analiticamente sem alte-
componente monoclonal em imunofixação sérica. O
rações e doseamento de enzimas cardíacas negati-
estudo auto-imune foi negativo e a enzima conver-
vas. Eletrocardiograma em ritmo sinusal com extra-
sora da angiotensina 49 U/L. Do estudo infecioso,
sístoles. Efectuou-se estudo analítico e radiológico
a destacar serologia positiva para Coxiella burnettii,
não se discernindo etiologia. Substituiu-se então
IGRA negativo, cicatriz imunológica para vírus da he-
ticagrelor por clopidogrel. O doente foi reavaliado na
patite B, infeção crónica por toxoplasmose, infeção
semana seguinte e permanecia assintomático.
passada por vírus epstein-barr, serologias negativas
para Salmonela, Brucelose, Citomegalovirus, Lyme, Discussão: Este caso, alerta-nos para a importância
Leishmaniose e Rubéola. Realizou endoscopia e da avaliação dos doentes e da monitorização de
colonoscopia, sem alterações relevantes. A biópsia prováveis efeitos adversos aquando do início de
hepática revelou hepatite granulomatosa necroti- nova medicação. Só o alerta clínico permite o diag-
zante com lipogranulomas sugestivos de infeção nóstico e intervenção precoce.
por febre Q. Cumpriu antibioterapia com doxiciclina
durante um mês. P n.º 0253 
Drug reaction with eosinophilia and systemic symp-
DISCUSSÃO toms (DRESS) induced by allopurinol
Ana Catarina Trigo(1);Joana Morais(1);Sara Ra-
Classicamente, as infeções hepáticas por C. burnetii
mos(2);Filipa David(1);José Ribeiro(1);Vasco Barre-
são caracterizadas por granulomas que consistem
to(1)
num anel de fibrina circundado por um vacúolo lipí-
(1) Unidade Local de Saúde de Matosinhos, EPE /
dico central. Estes achados histológicos são inespe-
Hospital Pedro Hispano (2) Hospital Pedro Híspano
cíficos e podem ser vistos noutras doenças infecio-
sas ou hemato-oncológicas.  O conhecimento das Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
manifestações clínicas da febre Q, especialmente culites
em regiões não endémicas, é fundamental para ga-
rantir terapêutica apropriada.
Introduction: Drug reaction with eosinophilia and
P n.º 0247  systemic symptoms (DRESS) is an adverse drug
Uma causa farmacológica de dispneia reaction, characterized by an extensive skin rash
Jéssica Chaves(1);Luís Marote Correia(1);Carolina in association with visceral organ involvement,
Morna(1);Augusto Barros(1);Antonio Chaves(1) lymphadenopathy, eosinophilia, and atypical lym-
(1) Hospital Dr. Nélio Mendonça phocytosis. DRESS is estimated to occur in 0.9-2 per
100.000 patients per year and accounts for 10-20

522
E-POSTERS
% of all cutaneous adverse drug reactions in hospi- computadorizada (TC) do pescoço. Inicialmente
talized patients. Common drugs implicated include equacionada a hipótese diagnóstica de processo
some anticonvulsants, allopurinol, and some antibi- inflamatório com infeção bacteriana sobreposta e
otics. It is considered a T cell-mediated hypersensi- medicado com prednisolona 1mg/Kg e antibiote-
tivity reaction. The latency between drug exposure rapia. Sem melhoria e TC de controlo com massa
and disease onset typically varies between 2 and 8 de aspeto sólido. Restante estudo a destacar in-
weeks. feção prévia por Epstein-BARR (EBV), sem outras
alterações, sem isolamentos microbiológicos.
Case description: We present a 72-year-old woman Realizou ressonância magnética compatível com
who presented with a generalized maculopapular neoformação, evidenciando-se um carcinoma não
eruption 6 weeks after starting allopurinol for hy- queratinizante pouco diferenciado com intensa infil-
peruricemia. No other abnormalities were noticed tração de linfócitos na biópsia rinofaríngea. Assim,
at physical examination. Complementary studies diagnóstico de carcinoma nasofaríngeo (CNF)  indi-
revealed mild elevation of hepatic enzymes, an AKIN ferenciado, iniciando quimioradioterapia. Resposta
1 kidney injury, mild eosinophilia, and mild anaemia insatisfatória, acabando por falecer. Discussão: Nos
and thrombocytopenia. A DRESS induced by allopu- adultos, a massa cervical deve ser abordada com a
rinol was suspected. Allopurinol was promptly dis- presunção de malignidade, de forma a permitir um
continued and both topical and systemic glucocorti- diagnóstico precoce. Neste caso, apesar de assumi-
coids were started. Significant clinical improvement do primariamente processo inflamatório, uma rea-
was noticed after 4 days of treatment. She was dis- valiação precoce permitiu o diagnóstico. Em relação
charged after 9 days. ao CNF, entidade rara, depreende-se que a biópsia
é importante para o diagnóstico e decisão terapêu-
Discussion: Skin manifestations are often the first tica. Este caso comprova, também, a associação
clue to the diagnosis and typically start as a maculo- entre  a infeção por EBV e tabagismo e o desenvol-
papular eruption. Visceral organ involvement varies. vimento deste tumor. A  ressalvar que a associação
Liver is the most commonly affected organ. Others com EBV é maior no carcinoma não queratinizante e
include kidney, heart, lungs, gastrointestinal tract, indiferenciado e confere pior prognóstico. 
and central and peripheral nervous system. Man-
agement is generally based on the severity of skin P n.º 0255 
and visceral involvement. Withdrawal of the caus- Agranulocitose Induzida Pelo Ceftriaxone
ative medication is the mainstay of treatment for all Tiago Castro Pinto(1);João Pedro Pereira(1);Inês
patients. Topical and systemic glucocorticoids are Chora(1)
preconized in mild to severe disease. Flares may (1) Unidade Local de Saúde de Matosinhos, EPE /
be observed despite cessation of causative drug, Hospital Pedro Hispano
and patients can develop autoimmune disease (like
autoimmune thyroiditis, vitiligo, alopecia areata, au- Tema: Outro
toimmune hemolytic anemia, lupus erythematosus,
and type 1 diabetes). For these two reasons they A Ceftriaxone (CFTx), um dos antibióticos usados
should undergo long-term monitoring. mais frequentemente na prática clínica, tem a agra-
P n.º 0254  nulocitose como efeito adverso raro mas potencial-
Massa Cervical: marcha diagnóstica mente grave, havendo poucos casos descritos na
Andreia Diegues(1);Pedro Simões(1);Filipa Rodri- literatura.
gues(1);Sérgio Alves(1);Tiago Ceriz(1);Lília Castelo
Branco(1);Micaela Sousa(1);Ana Rita Alves Lo- Caso clínico: Mulher de 85 anos, em tratamento
pes(1);Elisa Tomé(1) para endocardite por Streptococcus bovis com
(1) Unidade Local de Saúde do Nordeste CFTx, desenvolveu agranulocitose ao 25º dia de te-
rapêutica, com um nadir da contagem absoluta de
Tema: Doenças oncológicas neutrófilos (ANC) de 0/uL. Outras causas potenciais
foram excluídas. Foi administrado fator estimula-
Introdução: O diagnóstico de uma massa cervical é dor de colónias de granulócitos (GM-CSF) durante
extenso, devem ser consideradas sobretudo duas 3 dias e alterada a antibioterapia para amoxicilina/
categorias: inflamatória e neoplásica. A anamnese clavulanato. Ao 3º dia pós-suspensão houve norma-
completa e exame físico são cruciais na marcha lização da ANC, tendo a doente cumprido 42 dias de
diagnóstica, assim como os exames imagiológi- antibioterapia.
cos. Caso Clínico: Homem, 50 anos, ex-fumador,
admitido no serviço de urgência por massa cervical Discussão: Uso prolongado de ceftriaxone pode
esquerda com 2 dias de evolução. No exame físi- aumentar o risco de agranulocitose, devendo haver
co, a realçar temperatura subfebril, massa cervical monitorização regular do diferencial de leucócitos
esquerda fixa e indolor. Estudo complementar com em esquemas de antibioterapia prolongados. O
aumento dos parâmetros inflamatórios; massa com tratamento desta forma de agranulocitose induzida
centro hipodenso na amígdala esquerda, adenopa- por fármacos inclui a descontinuação do agente
tia jugular carotídea bilateral com centro necrótico agressor e a utilização de GM-CSF.
e edema da região pré-vertebral na Tomografia P n.º 0258 

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 523


Macroadenoma Hipofisário Insidioso de Apresenta- mando de Carvalho(1)
ção Atípica (1) Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra /
Tiago Castro Pinto(1);Francisca Marques(1);José Hospitais da Universidade de Coimbra
Rui Coelho Ribeiro(1);Inês Chora(1)
(1) Unidade Local de Saúde de Matosinhos, EPE / Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
Hospital Pedro Hispano
Introdução: A espondilodiscite como complicação
Tema: Doenças oncológicas de uma endocardite infecciosa é uma entidade
pouco comum. Associa-se a embolização sistémi-
Introdução: Os macroadenomas da hipófise (MAH) ca e a maior morbilidade de ambas condições. O
podem provocar sintomas ténues e insidiosos, não Staphylococcus capitis (S. capitis), é um raro agente
unicamente visuais. causador.

Caso: Homem, 42 anos, sem antecedentes de rele- Caso Clínico: Homem de 58 anos com antecedentes
vo. História de episódio compatível com amaurose de relevo de uma polineuropatia crónica e bicuspí-
fugaz (AF), com persistência de escotoma temporal dea aórtica, recorreu ao hospital por um quadro de
direito de evolução progressiva durante 3 meses astenia, anorexia e picos febris, com 2 semanas de
(M) e diminuição da acuidade visual (AV) bilate- evolução. Ao exame objectivo à admissão, deteta-
ralmente. Reportava perda de força e parestesias do um sopro sistólico já conhecido, com restante
no hemicorpo direito, perda da motricidade fina no exame normal. A nível de meios complementares
membro superior direito e episódios esporádicos de de diagnósticos destaque para análises com ligeira
dor com irradiação ao longo dos membros direitos. anemia normocítica – normocrómica e discreta ele-
Episódios transitórios de sudorese e palpitações, vação da Proteína C-Reativa. Internado para estudo
com intolerância ao calor. Sem febre ou outras quei- complementar e colhidas hemoculturas, positivas
xas.  para S. capitis. Descartadas causas de febre de
origem viral (COVID19) ou mesmo neoplásica. Por
Admitido 2 M após a AF por perda de consciência manutenção de picos subfebris, repetiram-se hemo-
não presenciada. Encontrado caído, com desvio culturas, que confirmaram bacteriemia a S. capitis.
conjugado do olhar, sem mordedura de língua ou Entretanto, o doente iniciou quadro de dor lombar
incontinência de esfíncteres, com paresia dos mem- intensa, refratária à analgesia. Feito estudo cardíaco
bros direitos; foi ativada a via verde de acidente e lombar que confirmou diagnóstico de endocardite
vascular cerebral e realizada tomografia computo- infecciosa complicada com espondilodiscite, por S.
rizada, com lesão expansiva com cerca de 3x3 cm, capitis. Iniciado tratamento antibiótico dirigido com
centrada ao espaço selar, com alargamento deste, flucloxacilina (1200 mg, 4 vezes ao dia) com poste-
maior expressão à direita, com erosão inferior do rior boa resposta clínica e analítica.
pavimento selar e extensão ao seio esfenoidal, com
efeito de massa sobre o quiasma óptico e hipo- Discussão: Os Staphylococcus coagulase-negativos,
tálamo, segmentos supracavernosos das carótidas como o S. capitis, são bactérias comensais habi-
internas e complexo da comunicante anterior, cor- tualmente inócuas no individuo imunocompetente.
respondendo a MAH, posteriormente confirmado Têm potencial reconhecido nas infeções protésicas
por ressonância magnética. Do estudo realizado ou de dispositivos médicos, mas tanto na espon-
destacava-se apenas hipocortisolismo. dilodiscite como na endocardite de válvula nativa,
são agentes raramente descritos na literatura. Este
Resolução dos défices direitos após pulsos de cor- caso clínico evidencia a capacidade que os agentes
ticoterapia. Iniciou hidrocortisona e foi submetido comensais têm de causar infeções graves, enalte-
a cirurgia transesfenoidal, com histologia a revelar cendo a importância de não desvalorizar hemocul-
adenoma gonadotrófico da hipófise pela marcação turas positivas para estes agentes, considerando-as
histológica. 3 M após cirurgia, reporta melhoria da como colonizações ou contaminações.
AV. Iniciou desmopressina por polidipsia noturna.
P n.º 0263 
Conclusão: Não está documentada a prevalência de Brucelose: a importância do contexto epidemioló-
outros sintomas além dos visuais e cefaleias como gico
parte do efeito de massa do MAH, pretendendo-se Rute Brás Cruz(1);Teresa p. Medeiros(1);Sara Ra-
contrastar a apresentação clínica com os diagnós- mos(1);Hugo Oliveira(1)
ticos diferenciais em ambulatório e em contexto de (1) Unidade Local de Saúde de Matosinhos, EPE /
urgência. Hospital Pedro Hispano
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
 
P n.º 0260  A brucelose é uma zoonose transmitida pelo con-
O perigo dos colonizadores: endocardite e espondi- tacto com animais infetados ou pela ingestão de
lodiscite por Staphylococcus capitis leite cru (e derivados) proveniente dos mesmos. É
Luís Guilherme Santos(1);Cristiane Macedo(1);An- mais frequente em homens na faixa etária dos 55-
dreia Matos(1);João Costelha(1);Adélia Simão(1);Ar- 64 anos de idade e são reportados cerca de 500 000

524
E-POSTERS
casos em todo o mundo. Julga-se, no entanto, que a lar (CHC), secundária à produção do péptido relacio-
verdadeira incidência seja muito superior à sugerida nado com a paratormona (PrPTH) que condiciona,
pelo subdiagnóstico e subdeclaração como apre- por sua vez, pior prognóstico.
sentado no caso seguinte.
Caso Clínico: Homem de 61 anos com CHC multi-
Caso Clínico: Mulher de 81 anos com internamento nodular e metastização ganglionar diagnosticado
recente por suspeita de artrite séptica do tornozelo por tomografia computorizada e ressonância mag-
esquerdo não confirmada e presunção de endocar- nética, estadio C. Inicialmente medicado com so-
dite, pelo qual cumpriu antibioterapia (atb) empírica rafenib, que suspendeu por progressão de doença.
com amoxicilina-ácido clavulânico durante 4 sema- Regressa ao serviço de urgência por confusão com
nas. Dirige-se ao serviço de urgência 4 meses após 2 semanas de evolução a condicionar incapacida-
a alta por anorexia, fraqueza muscular e dor genera- de para os auto-cuidados e maiores períodos de
lizada com 1 semana de evolução. À admissão fe- alectuamento. Analiticamente com cálcio ionizado
bril, com sinais inflamatórios do tornozelo esquerdo, de 1,74 mmol/L (1,1-1,35). Iniciou-se tratamento
anemia normocítica/normocrómica e aumento dos com cloreto de sódio e ácido zoledrónico com re-
parâmetros inflamatórios. Iniciou ceftriaxone em- solução da confusão, permitindo a recuperação da
piricamente, ao início com discreta melhoria, mas autonomia prévia. Estudo etiológico com parator-
por apresentar reação de Wright positiva de 1/320 mona baixa, PrPTH aumentado e cintigrafia óssea
alterado para doxiciclina e rifampicina. Do restante sem evidência de metástases ósseas. Assumida
estudo etiológico ELISA Brucella IgG e IgM negativo hipercalcemia secundária a produção de PrPTH em
e PCR Brucella spp no sangue negativo pelo que se doente com CHC em estadio avançado.
suspendeu atb com a estabilidade clínica. A doen-
te re-iniciou clínica de febre, recrudescimento dos A confusão é um sintoma limitante que caracteriza
parâmetros inflamatórios e poliartralgias de carac- estadios muito avançados de doenças oncológicas.
terísticas inflamatórias. Dado o contexto de história Contudo, não se podem descartar as causas con-
de consumo de lacticíneos não pasteurizados, feita correntes de alteração do estado de consciência
pesquisa de IgA para Brucella spp que se revelou nomeadamente como as complicações infecciosas
positiva, a favorecer o diagnóstico de Brucelose de ou iónicas como neste caso: a hipercalcemia. É fun-
focalização osteoarticular. Melhoria após re-início damental conhecer a história natural da doença de
de terapêutica que cumpriu num total de 6 semanas base e a sua fisiopatologia bem como as síndromes
com resolução do síndrome inflamatório e da clíni- paraneoplásicas específicos a si associados para
ca. permitir um diagnóstico e instituição de tratamento
precocemente.
Discussão: O diagnóstico definitivo de Brucelose P n.º 0271 
obtém-se pelo isolamento da Brucella ou pela iden- Endocardite infeciosa
tificação de anticorpos, que variam conforme a fase Carolina Fernandes(1);Tiago Pais(1);Ana Isabel Sal-
da doença. Semanas após a infeção, os títulos de gueiro(1);Catarina Domingues(1);Vera Vieira(1);Ma-
IgM podem não ser identificados, sendo mais sen- ria Jesus Banza(1)
sível a determinação de IgG e IgA como foi o caso (1) Centro Hospitalar de Leiria / Hospital de Santo
da doente em questão. Apesar do programa para a André
erradicação da doença em Portugal, é relativamente
elevado o número de casos anuais pelo que é im- Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
perioso a colheita de um contexto epidemiológico
fiável e o conhecimento da clínica e dos testes diag-
A endocardite infeciosa (EI) resulta da infeção
nósticos a realizar em caso de fortes suspeitas com
microbiana da superfície endocárdica do coração
um resultado negativo inicial.
afetando frequentemente as válvulas cardíacas. A
evolução da EI é altamente variável de acordo com
P n.º 0266  o micro-organismo causador, com a presença ou
Hipercalcemia neoplásica como diagnóstico dife- ausência de doença cardíaca pré-existente e com o
rencial na alteração do estado de consciência modo de apresentação.
Rute Brás Cruz(1);Teresa p. Medeiros(1);Hugo Oli-
veira(1)
Apresentamos o caso de um homem com 64 anos,
(1) Unidade Local de Saúde de Matosinhos, EPE /
natural de Marrocos e a residir em Portugal há
Hospital Pedro Hispano
20 anos. Antecedentes de hiperplasia benigna da
Tema: Doenças oncológicas próstata, imunocompetente. Sem contexto epide-
miológico. Recorreu ao Serviço de Urgência (SU) por
lombalgia com 3 semanas de evolução associada
As alterações do estado de consciência como a a cansaço fácil e sensação de febre. Sem perda
confusão no hepatocarcinoma são mais frequente- ponderal. Sem sopros audíveis. Feitas colheitas
mente enquadradas como reflexo de progressão da microbiológicas e iniciada antibioterapia empírica
doença ou falência hepática. No entanto, em 4-8% com ceftriaxone. Tomografia computorizada da
dos casos estas também podem ser causadas por coluna lombar sem alterações espondilodiscartrósi-
hipercalcemia associada ao carcinoma hepatocelu- cas. Internado para esclarecimento de etiologia da

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 525


febre. As hemoculturas solicitadas foram positivas onde se detetou uma massa hepática cuja investi-
a Streptococcus gallolyticus multissensível. Mante- gação (imagiológica e histológica) revelou tratar-se
ve-se ceftriaxone. Ecocardiograma revelou massa de um carcinoma hepatocelular (BCLC C) em fígado
móvel aderente à cúspide não coronária da válvula cirrótico. Ao 5º dia de internamento desenvolveu fe-
aórtica, condicionando regurgitação moderada. bre de predomínio vespertino, com rastreio séptico
Estabelecido diagnóstico de endocardite infeciosa seriado negativo e sem melhoria após 2 semanas
por Streptococcus gallolyticus. Tendo em conta que de antibioterapia, pelo que foi colocada a hipótese
este agente está frequentemente associado a pa- de febre neoplásica. Dado o diagnóstico de hemor-
tologias do trato gastrointestinal, particularmente ragia digestiva recente a contraindicar tratamento
adenoma ou carcinoma do cólon, foi feito estudo com naproxeno, foi iniciada corticoterapia com 150
endoscópico com excisão de pólipo semi-pedicula- mg diários de hidrocortisona, com resolução da fe-
do com 12mm.  Anatomia patológica: adenoma tu- bre em cerca de 24 horas.
bular colo-retal convencional com displasia de baixo
grau. Ao sexto dia de internamento teve episódio Teve alta com metilprednisolona 16 mg/dia, man-
de amaurose fugaz do olho direito que se presumiu tendo apirexia sustentada nas consultas de segui-
tratar-se de fenómeno de embolização. Realizada mento. Suspensa corticoterapia cerca de 1 mês
tomografia computorizada do crânio sem lesões is- após, com manutenção de apirexia.
quémicas. O doente cumpriu 38 dias de ceftriaxone,
as hemoculturas foram repetidas e foram negativas. Discussão
Cerca de um mês após término da antibioterapia re-
O naproxeno na dose de 250 mg bid é o tratamen-
correu novamente ao SU por dor abdominal e febre.
to de primeira linha na febre neoplásica, podendo
Foi diagnosticada pielonefrite aguda complicada
ser usado como prova terapêutica por não possuir
com abcesso renal. Urocultura e hemoculturas ne-
efeito antipirético na febre de outras etiologias. Con-
gativas. Cumpriu 14 dias de piperacilina + tazobac-
tudo apresenta elevado risco de efeitos adversos
tam com melhoria clínica, analítica e imagiológica.
gastrointestinais.
Sem outras complicações.
Os corticosteroides são reconhecidamente eficazes
A endocardite infeciosa trata-se de uma doença
no tratamento da febre de várias etiologias. Apesar
mortal. Apesar dos aperfeiçoamentos no tratamen-
de apresentarem uma taxa de resposta inferior ao
to, a EI permanece associada a mortalidade elevada
naproxeno na febre neoplásica e ser escassa a in-
e a complicações graves.
formação quanto à posologia mais indicada, têm
P n.º 0276  a vantagem de apresentar menos efeitos adversos
Corticosteróides no tratamento da febre de origem gastrointestinais.
neoplásica
Neste caso, a corticoterapia mostrou-se eficaz, com
Catarina Ribeiro Carvalho(1);Bárbara Beirão(1);Cata-
resolução completa da febre e apirexia sustentada
rina Medeiros(2);Andreia Brito(3);Inês Pinho(1);San-
subsequente. Estes dados sugerem que os dois fár-
dra Morais(1)
macos serão viáveis no tratamento da febre de ori-
(1) Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Dou-
gem neoplásica em doentes com tumores sólidos.
ro, EPE / Hospital de Vila Real (2) Centro Hospitalar
do Médio Tejo, EPE / Unidade de Torres Novas (3) P n.º 0278 
Centro Hospitalar do Médio Tejo Insuficiência cardíaca descompensada, para além
das causas óbvias - Amiloidose AL
Tema: Doenças oncológicas
Catarina Ribeiro Carvalho(1);Filipa Seixas(1);Bruno
Mesquita(1);Sandra Morais(1)
Introdução (1) Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Dou-
ro, EPE / Hospital de Vila Real
A febre de origem neoplásica é a segunda causa
Tema: Doenças cardiovasculares
mais frequente de febre nos doentes oncológicos. O
tratamento com naproxeno apresenta uma elevada
taxa de resposta completa, contudo os seus efeitos Introdução
adversos gastrointestinais podem limitar a sua uti-
lização. Embora com eficácia inferior, os corticoste- A amiloidose AL é uma doença rara, carateriza-
roides apresentam menor risco de efeitos adversos da pela deposição de fragmentos de cadeias leves
gastrointestinais, surgindo como uma alternativa de imunoglobulinas monoclonais em diversos te-
terapêutica em doentes com risco elevado de com- cidos. Pode ocorrer isolada ou associada a outras
plicações a este nível. discrasias de células plasmáticas como o mieloma
múltiplo. A infiltração cardíaca ocorre frequente-
Caso Clínico
mente (em 50 a 70%), sendo o principal determinan-
Apresenta-se o caso de um doente de 59 anos com te do prognóstico.
hábitos alcoólicos relevantes, que se apresentou no
Caso clínico
serviço de urgência com hemorragia digestiva alta
por úlcera duodenal. Durante o estudo complemen- Apresenta-se o caso de uma mulher de 59 anos
tar, em internamento, realizou ecografia abdominal
526
E-POSTERS
com antecedentes de hipotiroidismo e síndrome do auricular e portador de pacemaker, com internamen-
túnel cárpico. Apresentava diversas idas ao serviço to por descompensação de insuficiência cardíaca
de urgência por clínica de insuficiência cardíaca, por infeção urinária complicada com bacteriémia
tendo sido internada para compensação e estudo a Echericia coli. Por febre mantida, sem outros si-
etiológico. Do estudo inicial destacava-se eletrocar- nais ou sintomas ao exame objetivo, foi realizado
diograma com alterações inespecíficas da repolari- ecocardiograma transtorácico que identificou a
zação ventricular e baixa voltagem nas derivações presença de imagem móvel apensa ao eletrocateter
dos membros, colestase sem citólise hepática, auricular na zona que cruza o eletrocateter ventri-
proBNP elevado (5667 pg/mL), proteinúria na faixa cular e que pode representar possível vegetação.
nefrótica, hipoalbuminemia e ecografia abdominal Fez ecocardiograma transesofágico que confirmou
com hepatomegalia. O ecocardiograma mostra- a existência de imagens que podem corresponder
va disfunção diastólica e hipertrofia ventricular es- a vegetações aórtica e de eletrocatéter mas sem
querda e a ressonância magnética cardíaca era su- condicionarem a função valvular. Iniciou esquema
gestiva de miocardiopatia infiltrativa com depressão de antibioterapia segundo o teste de sensibilidade a
ligeira da função sistólica biventricular. Observou-se antimicrobianos das hemoculturas, completando 6
excreção urinária de cadeias leves lambda monoclo- semanas de tratamento no total. 
nais e, apesar das biópsias de medula óssea e glân-
dulas salivares serem negativas para pesquisa de Atendendo a que o doente era portador de pace-
subtância amilóide, esta foi identificada na biópsia maker foi transferido para o serviço de cardiologia
hepática. Feito o diagnóstico de amiloidose AL com uma vez que se ponderou a possibilidade de remo-
envolvimento multissistémico, foi orientada para ção do dispositivo. A reavaliação por Tomografia
consulta de Hematologia para continuar tratamento. por emissão de positrões com fluorodesoxiglucose
Discussão (PET-FDG) após conclusão da antibioterapia de-
monstrou resolução completa das vegetações. 
O diagnóstico de amiloidose AL requer a presença
de manifestações sistémicas da doença, contudo a A incidência de endocardite associada a dispositi-
apresentação é variável de acordo com os órgãos vos cardíacos tem tido maior expressão ultimamen-
afetados. No presente caso, a doente apresentava te o que pode estar relacionado com o aumento de
envolvimento cardíaco, renal, gastrointestinal e colocação deste tipo de dispositivos dado o aumen-
história de síndrome do túnel cárpico. É também to da esperança média de vida da população em ge-
necessária evidência de proliferação de células ral. A abordagem terapêutica nesta situação passa
plasmáticas monoclonais e deposição de fibrilas muitas vezes por tratamento médico e a remoção
de amilóide nos tecidos. Os locais mais frequentes do dispositivo, não sendo o tratamento médico iso-
para biópsia são a gordura abdominal e a medula lado recomendado devido à alta taxa de recorrência. 
óssea, contudo pode ser necessária biópsia de A remoção destes dispositivos ainda não é consen-
outros órgãos afetados para o diagnóstico. Nes- sual, não havendo ainda consenso geral sobre a me-
te caso o resultado definitivo foi obtido na histologia lhor medida a adotar. 
hepática.
P n.º 0291 
Pretendemos com este caso clínico destacar uma Uma causa pouco frequente de hemorragia suba-
entidade que, embora rara, pode ser a causa de in- racnoidea
suficiência cardíaca descompensada. Ana Rodrigues(1);Cláudia Diogo(1);Carolina Fer-
P n.º 0289  nandes(1);Ana Catarina Domingues(1);Daniela
Quando ser portador de um pacemaker constitui Antunes(1);Tiago Pais(1);Bruno Cabreiro(1);Anton
um problema Vasin(1);Maria Jesus Banza(1)
Ana Rodrigues(1);Bruno Cabreiro(1);Tiago Pais(1);- (1) Centro Hospitalar de Leiria / Hospital de Santo
Carolina Fernandes(1);Cláudia Diogo(1);Ana Cata- André
rina Domingues(1);Daniela Antunes(1);Anton Va- Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas
sin(1);Maria Jesus Banza(1)
(1) Centro Hospitalar de Leiria / Hospital de Santo
André A hemorragia subaracnoidea (HSA) é causada por
extravasamento de sangue entre a aracnoide e a
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias pia-máter. Em geral,  o traumatismo craniano é a
causa mais comum.
A endocardite infeciosa é uma infeção com elevada
mortalidade, provocada pela proliferação bacteriana As disseções do segmento intracraniano(DIC) da ar-
na superfície do endocárdio, atingindo por vezes téria vertebral(AV) são lesões pouco comuns, tendo
as válvulas cardíacas. Os dispositivos intracardía- como principal consequência acidente vascular ce-
cos constituem um fator de risco dado facilitarem rebral(AVC) da circulação posterior com isquemias
a adesão das bactérias. Os autores apresentam o do tronco cerebral e hemisférios cerebelares, A as-
caso de uma homem de 84 anos, autónomo, com sociação de DIC com HSA  é uma ocorrência ainda
antecedentes de: diabetes mellitus tipo 2, hiper- menos comum com frequência de 4,5% de todas
tensão arterial, insuficiência cardíaca, fibrilhação as HSA, que têm risco de ressangramento nas pri-

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 527


meiras 24h, em torno de 24% e 30% e uma taxa de À observação destacava-se emagrecimento
mortalidade elevada na ordem de 45%. As DIC por si (IMC 19Kg/m2), taquicardia (frequência cardíaca
só têm um prognóstico mais reservado, sobretudo [FC] >140bpm), em ritmo sinusal à admissão, glicé-
se tiverem apresentação hemorrágica. mia >500mg/dL com cetonemia 6mmol/L e febre
que não cedia a antipiréticos. Iniciou tratamento da
Os autores trazem o caso de um doente, 45 anos, cetoacidose diabética com resolução do quadro,
autónomo, com antecedentes pessoais de dislipi- mas manteve glicémias de difícil controlo. A taqui-
démia, que inicia quadro súbito de cefaleia occipital cardia não melhorou após controlo da dor nem com
com irradiação cervical, intensa, com vómitos du- terapêutica beta-bloqueante. Em ECG de controlo
rante a madrugada. Pela manhã, por persistência da verificou-se ritmo de Flutter auricular, que não con-
dor e vómitos recorreu ao serviço de urgência, onde verteu a ritmo sinusal após tentativa de cardiover-
apresentava ao exame objetivo rigidez terminal da são elétrica.
nuca com escala de Glasgow 15 e exame neurológi-
co sem sinais focais. Realizado Tomografia Cranio- Tendo em conta o quadro de arritmia em doente jo-
-Encefálica que revelou a presença de HSA peri-me- vem, febre e glicémias de difícil controlo, foi pedida
sencefálica, sem contexto de trauma. Foi contatado função tiroidea que revelou hipertiroidismo. Assu-
o hospital de referência e o doente foi transferido miu-se que o doente estava em tempestade tiroidea
para ser observado pela neurologia.  Foi realizada (55 pontos no score Burch-Wartofsky) e iniciou tra-
uma angiografia diagnóstica que mostrava: “mar- tamento ao 4º dia de internamento segundo as gui-
cada irregularidade do lumen dos segmentos V1 e delines da American Thyroid Association (Metima-
V2 da AV esquerda (incluindo o respectivo ostium), zol, Propranolol, solução de Lugol, Hidrocortisona).
compatível com dissecção, condicionando estenose Apresentou rápida melhoria clínica, com controlo
suboclusiva...” Fez ainda ecoDoppler transcranea- da FC, apirexia mantida e melhoria do controlo gli-
no e dos vasos do pescoço que evidenciava: “A cémico. Após 5 dias de tratamento repetiu ECG que
AV esquerda apresenta fluxo suboclusivo e de alta mostrou ritmo sinusal e doseamento de hormonas
resistência em todo o seu trajecto extracraniano tiroideas que se revelaram dentro dos valores de
com extensa lesão hipoecogénica; regista-se fluxo referência.
invertido no final do seu segmento V4. Estes dados
favorecem a presença de dissecção longitudinal- O doseamento de anticorpos confirmou Doença de
mente extensa, desde o seu ostea a segmento V4 Graves, e a ecografia tiroidea mostrou alterações
proximal.”  compatíveis com o diagnóstico.

O doente esteve internado durante 15 dias sem in- Após controlo metabólico o doente foi submetido a
tercorrências e com evolução clínica favorável, com cirurgia Ortopédica, sem intercorrências, e teve alta
melhoria progressiva das queixas de cefaleias. À ao 18º dia de internamento encaminhado para con-
data de alta o doente estava assintomático e sem sulta externa de Endocrinologia.
défices focais. 
Este caso demonstra o quanto a Tempestade Tiroi-
O doente foi posteriormente enviado para segui- dea pode ser uma manifestação grave, no qual uma
mento em consulta de neurologia e endocrinologia rápida instituição terapêutica determinou um bom
para reavaliação e controlo dos fatores de risco prognóstico.
vascular.
P n.º 0301 
P n.º 0295  Miocardiopatia amilóide associada a transtirretina:
Um caso desafiante de Tempestade Tiroidea uma apresentação rara ao exame físico
Tânia f. Mendes(1);Bárbara Silva(1) Inês Figueiredo(1);Margarida Carrolo(1);Francisco
(1) Hospital de Vila Franca de Xira Guimarães(1);Cristina Duarte(1)
(1) Hospital Cuf Descobertas
Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio-
nais Tema: Doenças cardiovasculares

A Tempestade Tiroidea é uma manifestação grave Introdução: A amiloidose cardíaca é causada pela
e rara de tirotoxicose, com uma mortalidade de 10- deposição anormal de proteína amilóide no espaço
20%. Pode ocorrer na tirotoxicose de qualquer cau- extracelular do miocárdico e mais de 95% encon-
sa, sendo a mais frequente a Doença de Graves, que tram-se no grupo da amiloidose por transtirretina
é cerca de 8 vezes mais comum no sexo feminino. (ATTR) e amiloidose de cadeias leves. A ATTR surge
em 13% dos doentes com insuficiência cardíaca
(IC) com fração de ejeção preservada sem etiologia
Aqui expomos o caso de um homem sem diagnós- conhecida, sendo importante incluí-la na marcha
tico prévio de hipertiroidismo que se apresenta com diagnóstica de uma IC de novo. A ATTR divide-se
tempestade tiroidea, o que tornou o diagnóstico em wild-type, com mecanismo de deposição desco-
desafiante. nhecido, e hereditária, por mutação genética, sendo
Homem, 27 anos, antecedentes de Diabetes melli- a mutação Val30Met endémica em Portugal. A pre-
tus tipo 1, internado por fratura transtrocantérica sença do sinal de Popeye ao exame físico é muito
após queda. raro mas sugestivo deste diagnóstico.

528
E-POSTERS
Caso clínico: Homem de 68 anos, com história de com necessidade de ventilação não invasiva. Re-
hipertensão arterial, hipertensão pulmonar ligeira, corre ao serviço de urgência por quadro de dispneia
síndrome de apneia obstrutiva do sono e fibrilhação agravada e ortopneia, expetoração amarelada, sem
auricular no passado já submetido a ablação, recor- edema periférico. Do estudo, insuficiência respira-
re à urgência por dispneia e tosse seca com 6 horas tória tipo 1, elevação dos parâmetros inflamatórios,
de evolução. Ao exame físico encontrava-se polip- BNP de 29.1 pg/mL, sem alterações no raio-X tó-
neico, com elevação e encurtamento do tendão do rax. Assim, assumida DPOC agudizada por infeção
bíceps direito – sinal de Popeye. Na gasimetria com respiratória, cumprindo ciclo de amoxicilina/clavu-
hipoxemia e analiticamente com PCR 1.22 mg/dL, lanato com excelente resposta clínica e analítica.
DDímeros de 3068 ng/mL, NTpro-BNP 2300 e ele- Em D5 de internamento, episódio de dificuldade
troforese de proteínas sem alterações. Na TC tórax respiratória e dessaturação aguda, acompanhada
destacava-se a presença de opacidades parenqui- de estridor expiratório, que se repetiu em D6 e D8 de
matosas pulmonares em vidro despolido, derrame internamento. Observada por Otorrinolaringologia,
pleural direito e fina lâmina de derrame pericárdico, sem alterações visíveis da via aérea superior. Pe-
que motivou a realização de toracocentese diagnós- dida TC cervical, onde foi possível visualizar sinais
tica. O líquido pleural foi compatível com transuda- inequívocos de traqueomalácia, estando na origem
do e o exame citoquímico não tinha alterações. Rea- nos episódios transitórios de dificuldade respirató-
lizou ecocardiograma transtorácico que mostrou ria. A broncofibroscopia confirmou o diagnóstico de
hipertrofia do ventrículo esquerdo, função sistólica traqueobroncopatia osteocondroplástica na porção
preservada e imagens do miocárdio sugestivas de terminal da traqueia. À alta, orientada para consulta
infiltração amilóide. Realizou ressonância magné- de Pneumologia para programação de colocação de
tica cardíaca que confirmou a suspeita de miocar- prótese endotraqueal.
diopatia ATTR. Fez cintigrafia que revelou captação
grau 3 e confirmou o diagnóstico. O estudo genético Discussão
não revelou alterações e foi feito o diagnóstico de
ATTR wild-type A traqueobroncopatia osteocondroplástica é uma
patologia rara de etiopatogenia desconhecida.
Discussão: O diagnóstico de miocardiopatia por Contudo, a sua evolução é normalmente benigna e
ATTR é de extrema importância em termos prognós- silenciosa, pelo que a sua incidência poderá estar
ticos pois estes doentes têm uma sobrevida média subestimada. Este caso ilustra a importância da va-
curta após os primeiros sintomas, mas o trans- lorização da semiologia na abordagem da dispneia.
plante cardíaco pode ser equacionado se a doença
não se encontrar disseminada por outros órgãos e P n.º 0307 
sistemas. Caso contrário apenas se pode recorrer à Enterite Colagenosa: uma entidade rara com uma
terapêutica médica optimizada para a insuficiência miríade de diagnósticos diferenciais
cardíaca. Luís Neto Fernandes(1);Bárbara Machado(1);An-
tónio José Cruz(1);Gonçalo Sarmento(1);Rita Cos-
P n.º 0305  ta(1);Teresa Pereira(1);Horácio Scigliano(1);Rute
Dispneia de causa desconhecida: papel fundamen- Cerqueira(1)
tal da semiologia (1) Centro Hospitalar de Entre Douro e Vouga, EPE /
Luís Neto Fernandes(1);Sara s. Santos(1);António Hospital de S. Sebastião
José Cruz(1)
(1) Centro Hospitalar de Entre Douro e Vouga, EPE / Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá-
Hospital de S. Sebastião ticas

Tema: Doenças respiratórias Introdução

Introdução A enterite colagenosa é uma entidade rara em que


existe deposição de colagénio na membrana basal
A dispneia, definida como sensação subjetiva de fal- do intestino delgado. Clinicamente, manifesta-se
ta de ar, é dos sintomas mais comuns encontrados como diarreia aquosa e malabsorção, sendo a doen-
na prática clínica. ça celíaca um importante e mais frequente diagnós-
tico diferencial, juntamente com outras enteropatias
Caso Clínico perdedoras de proteínas. Apenas cerca de 60 casos
estão descritos no mundo.
Trata-se de uma doente do sexo feminino, 84 anos,
autónoma, com antecedentes de hipertensão arte- Caso Clínico
rial e doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC)
GOLD 1A, sem exposições ocupacionais de relevo, Trata-se de uma doente do sexo feminino, 76 anos,
medicada habitualmente com lisinopril 20 mg qd, autónoma, com antecedentes de hipertensão arte-
brometo de ipratrópio 20 µg/dose em SOS; budeso- rial e síndrome depressiva, medicada habitualmente
nida + formoterol 160 µg/dose + 4.5 µg/dose bid. com furosemida 20 mg qd, olmesartan 20 mg qd
Internamento 9 meses antes, por quadro de pneu- e mirtazapina 30 mg qd. Seguida em Consulta Ex-
monia da comunidade, complicada com o que se terna de Medicina Interna por diarreia crónica com
assumiu serem flash pulmonary œdema recorrentes, mais de 2 anos de evolução e malnutrição e com

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 529


história de internamento prévio por hipoalbumine- due to the bleeding risk) and a Hp stool antigen test
mia grave, nessa altura com IMC=16,9kg/m2, em was done with a positive result.
anasarca. Estudos endoscópicos digestivos alto e
baixo sem alterações que explicassem o quadro. The patient started eradication treatment showing
Recorre ao serviço de urgência por vómitos alimen- improvement of dyspepsia and a gradual increase in
tares associados a diarreia líquida com 2 semanas platelet count.
de evolução, sem febre. À admissão, prostrada, com
acidemia metabólica grave (pH 7.18 e HCO3- 6.3 Three months after treatment completion the pa-
mEqs/L), hipocaliemia (2,5 mEq/L), lesão renal agu- tient showed full recovery with platelet counts of
da (creatinina 7.5 mg/dL), perfil hepático normal. 289 x109/L and negative Hp stool antigen control
Internada em Cuidados Intensivos durante 3 dias, test.
com necessidade transitória de suporte inotrópico.
Given the presence of dyspepsia, the authors per-
Na enfermaria, manteve-se sob nutrição parentérica
formed a basic study oriented to the likelihood of Hp
durante 18 dias, reintroduzindo lentamente a via
infection in a thrombocytopenic patients suspicious
oral. Repetidos estudos endoscópicos, com biópsia
of Hp-related ITP. The diagnosis was made by Hp
do íleo terminal a demonstrar severo espessamento
antigen detection in stool. As observed in similar
fibro-hialinizante da membrana basal subepitelial,
case reports and observational studies, there was
culminando no diagnóstico de enterite colagenosa.
an increase in the platelet count after the Hp eradi-
Iniciou tratamento com budesonida 9 mg de acção
cation therapy and no recurrence after 3 months of
intestinal tópica, com resolução da diarreia e re-
follow-up.
cuperação ponderal, tendo tido alta para Consulta
Externa de Gastroenterologia, onde mantém segui- Hp infection is an underrated cause of immune
mento e boa evolução. thrombocytopenia. It should be considered in pa-
tients with gastric symptoms and unexplained
Conclusão
thrombocytopenia since the treatment potentially
A apresentação deste caso clínico decorre da sua increases platelet counts saving time and money in
raridade, com o correto diagnóstico e tratamento a other futile complementary exams.
revestirem-se de enorme impacto prognóstico.
P n.º 0309 
P n.º 0308  Pneumonia Organizativa Induzida pela Radiotera-
Helicobacter pylori INFECTION ASSOCIATED WITH pia, Relato de um Caso
IMMUNE THROMBOCYTOPENIA: LESS IS MORE Ana Maria Meireles(1);Pedro Cruz(1);Cláudia Morei-
Carolina Amado(1);Mariana Silva Leal(1);Valter ra(1);Marina Santos(1);Rosário Rodrigues(1)
Duarte(1);Margarida Cruz(1);Gisela Ferreira(1) (1) IPO Porto
(1) Centro Hospitalar do Baixo Vouga / Hospital In-
Tema: Doenças respiratórias
fante D. Pedro, EPE
Tema: Doenças hematológicas Introdução: A radioterapia é um tratamento basilar
no cancro da mama e que pode causar várias com-
Immune thrombocytopenia (ITP) results from im- plicações. Uma das mais comuns é a pneumonite
mune-mediated destruction of platelets and/or rádica, que se divide em pneumonite pós-radiotera-
megakaryocytes, leading to a low platelet count. pia, que é dose dependente, caracterizada por fibro-
Despite multiple aetiologies, interestingly, there is a se no local irradiado e as formas imunomediadas,
strong evidence for an association between infec- cuja entidade mais comum é a pneumonia organiza-
tion with Helicobacter pylori (Hp) and ITP. tiva induzida pela radioterapia (POIR).

Case of a 57-year-old man with no previously known Caso: Mulher de 69 Anos, recorre ao Serviço de
medical history, no use of medication, alcohol con- Urgência por tosse com expetoração mucosa com
sumption and an irrelevant epidemiologic and fa- 3 semanas de evolução e cansaço, sem outras
miliar history who was evaluated due to complains queixas. A radiografia torácica mostrava infiltrados
of dyspepsia. During the workout he presented mild bilaterais extensos. Trata-se de uma doente com
and asymptomatic thrombocytopenia (42 x109/L) carcinoma da mama direita localmente invasivo,
with no obvious petechi, bruises or organo/adeno- que fez quimioterapia neo-adjuvante e mastectomia
megalias. parcial, seguida de radioterapia, que tinha terminado
há 2 meses, atualmente sob hormonoterapia (le-
The patient was hospitalized and the etiologic study trozol), sem sinais de progressão de doença. A TC
was continued. Repeated blood analysis revealed torácica mostrou várias áreas de densificação em
persistent thrombocytopenia (as low as 37 x109/L) vidro despolido bilateralmente. O estudo analítico
and a normal peripheral blood smear. Serologies for não apresentava alterações, para além de PCR de
HIV, HVC, HBV, Epstein Barr virus, Cytomegalovirus 76.2 mg/L. Iniciou tratamento com antibioterapia
and Herpes simplex viruses were negative. Vitamin empírica: ceftriaxone e azitromicina e todo o estudo
B12, folic acid and protein electrophoresis were nor- de agente etiológico foi negativo. A doente manteve
mal. An upper gastrointestinal endoscopy showed tosse e cansaço e os infiltrados a nível da radiogra-
no relevant findings (biopsies were not performed fia. Repetiu TC torácica após 1 mês que mostrou
530
E-POSTERS
resolução de algumas opacidades mas aumento e O doente foi internado para estudo. Fez suporte
aparecimento “de novo” de opacidades de aspeto transfusional, iniciou pulsos de metilprednisolona
idêntico no segmento posterior do lobo superior di- 1g/dia e imunoglobulina 90g. Realizou toracotomia
reito e em ambos os lobos inferiores, tendo sido co- exploradora, toillete pleural e biópsia da massa me-
locada a hipótese de pneumonia organizativa. Face diastínica e de múltiplos nódulos pleurais. Após a
à manutenção dos sintomas, iniciou corticoterapia cirurgia, o doente apresentou agravamento clínico
com prednisolona 0,5 mg/kg/dia, com resolução clí- com IR tipo 2 e rácios inferiores a 100, tendo sido
nica e imagiológica em cerca de 1 semana. Realizou sedado, entubado e ventilado mecanicamente. A
provas de função respiratória sem alterações. Pos- histologia da massa mediastínica foi compatível
teriormente procedeu-se ao desmame ao longo de com timoma tipo B3. Caso discutido com Oncologia
1 ano, tendo-se mantido assintomática e sem novos Médica e Cirurgia Torácica e face à ausência de tra-
infiltrados na radiografia torácica. tamento curativo a oferecer, optou-se por privilegiar
medidas de conforto.
Discussão: A POIR é uma entidade rara, mas que
pode ser potencialmente grave. A hipótese de POIR Discussão: Trazemos um caso catastrófico de uma
deve ser colocada em doentes submetidos a radio- apresentação de um timoma com manifestações lo-
terapia no último ano, que apresentam infiltrados cais, nomeadamente IR e com um quadro paraneo-
fora da zona irradiada e cuja causa para o quadro plásico, caracterizado por citopenias autoimunes.
não tenha sido encontrada. Assim, é importante
considerar esta entidade de modo a diagnosticá-la P n.º 0311 
mais precocemente, diminuindo a iatrogenia e per- Uma causa rara e grave de alterações neurológicas,
mitindo ter uma abordagem mais direcionada. relato de um caso
Ana Maria Meireles(1);Cláudia Moreira(1);Luísa Vi-
P n.º 0310  terbo(1);Fernando Coelho(1);Filomena Faria(1)
Insuficiência respiratória súbita associada a ane- (1) IPO Porto
mia hemolítica, relato de um caso
Ana Maria Meireles(1);Cláudia Moreira(1);Fernando Tema: Doenças hematológicas
Coelho(1);Filomena Faria(1)
(1) IPO Porto Introdução: A disartria e a lentificação são sinais
comuns na nossa prática clínica e que muitas vezes
Tema: Doenças oncológicas estão associadas a eventos vasculares ou atribuí-
dos a quadros demenciais incipientes. Trazemos
Introdução: Os timomas são neoplasias raras, que um caso de uma apresentação pouco comum de
surgem no mediastino anterior, e estão muitas ve- uma patologia grave. As leucemias agudas são neo-
zes associados a síndromes paraneoplásicos como plasias com mau prognóstico, sendo o seu diagnós-
quadros autoimunes. Trazemos um caso de um tico precoce essencial.
timoma com uma apresentação súbita com insufi-
ciência respiratória (IR) grave e síndrome de Evans. Caso: Homem de 72 anos, autónomo nos autocui-
dados, com antecedentes de carcinoma da próstata
Caso: Homem de 41 anos, sem antecedentes pato- tratado com braquiterapia, hipertensão arterial,
lógicos, recorre ao Serviço de Urgência por astenia doença renal crónica estadio IIIb e, diagnóstico há
e anorexia com 1 semana de evolução associadas cerca de 3 meses de anemia hemolítica auto-imune
a ortopneia e dispneia paroxística noturna. Referia (AHAI), medicado habitualmente com prednisolona
também epistaxis e gengivorragias recorrentes. e losartan/ hidroclorotiazida. Apresentava múltiplas
Objetivamente, estava hemodinamicamente estável vindas ao Serviço de Urgência (SU) no último mês
e apirético. Pálido e desidratado, com petéquias dis- por infecções respiratórias. Recorreu novamente
persas. Polipneico em repouso, com saturação de ao SU por alterações da linguagem e dor torácica
98%. Auscultação pulmonar com sons diminuídos. difusa. Objetivamente estava hemodinamicamente
Analiticamente, apresentava hemoglobina 6,3 g/dL, estável e apirético. Sonolento, com discurso lentifi-
normocítica, leucócitos 18 600 /uL e plaquetas 18 cado e por vezes confuso, mas orientado no tempo,
000 /uL, hiperbilirrubinémia à custa da indireta, hap- espaço e pessoa. Sem outros défices neurológicos
toglobina e reticulócitos baixos e prova de Coombs para além da disartria; exame objetivo sem outras
+. O esfregaço de sangue periférico mostrou alguns alterações. Por suspeita de AVC foi avaliado por
esferócitos, sem esquizócitos, células imaturas ou Neurologia e realizou angio-TC cerebral sem evidên-
linfócitos com atipia. Serologias víricas negativas. cia de oclusão de grandes vasos. Analiticamente
A radiografia torácica mostrava derrame pleural de apresentava, anemia e trombocitopenia e hiperleu-
grande volume à esquerda. Realizou toracocentese cocitose: 403 240/uL, 74% dos quais blastos. Apre-
com saída de 2L de conteúdo hemático. Líquido sentava também agravamento da função renal. A
pleural com 885 709 eritrócitos e 7323 leucócitos morfologia de sangue periférico mostrava blastos
(51% mononucleares). Realizou TC torácico que de linhagem mielóide, não sugestiva de leucemia
mostrou “massa tumoral mediastínica anterior vo- promielocítica. Quadro compatível com o diagnós-
lumosa, colocando-se como hipóteses diagnósticas tico de leucemia mieloide aguda (LMA) hiperleuco-
timoma ou teratoma, sem plano de clivagem. Volu- citária associada a leucostase cerebral. Iniciou pro-
moso derrame pleural esquerdo”. filaxia de síndrome de lise tumoral com rasburicase

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 531


e hidratação vigorosa e foi internado para estudo e Discussão: A toxicidade pulmonar aguda à amioda-
tratamento. Realizou 2 sessões de leucaférese, com rona resulta do efeito cumulativo de iodo e radicais
posterior resolução dos sintomas neurológicos. livres, sendo mais frequente em homens de idade
Para caracterização da LMA realizou estudo medu- superior a 60 anos. Pela sua gravidade e alta taxa
lar que mostrou a translocação t(11q23) envolvendo de mortalidade é necessário o seu reconhecimento
o gene KMT2A associada a mau prognóstico. Aten- e tratamento precoce. Com uma tradução clinica
dendo ao estado geral e comorbilidades foi propos- e imagiológica muito semelhante à da infeção por
to para tratamento de suporte. SARS-CoV-2 é fácil o clínico esquecer-se de outras
hipóteses diagnósticas. Torna-se assim importante
Discussão: As leucemias agudas são patologias relembrar as restantes causas de falência respirató-
graves e raras, que se podem apresentar de várias ria não infeciosas.
formas. É essencial, na prática clínica, saber reco-
nhecer e referenciar adequadamente um doente P n.º 0320 
com quadro sugestivo desta patologia. ABORDAGEM AO DOENTE EM CHOQUE NA SALA
DE EMERGÊNCIA
P n.º 0312  Daniela Guerreiro Carneiro(1);Rita Varudo(2);Pedro
Toxicidade Pulmonar Aguda à amiodarona: relato Diogo(3);Marta Braga(3);Mariana Paiva(3);Margari-
de caso da Rios(3)
Rui Seixas(1);David Campoamor(1);Josiana Duar- (1) Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE / Hos-
te(1);Sofia Sobral(1);Henrique Rita(1) pital de Santo António dos Capuchos (2) Hospital
(1) Unidade local de Saúde do Litoral alentejano, Garcia de Orta, EPE (3) Centro Hospitalar de S. João,
EPE EPE
Tema: Doenças respiratórias Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente crí-
tico
Introdução: A toxicidade pulmonar aguda é um qua-
dro clinico pouco frequente com uma incidência O choque circulatório é uma emergência médica e
mundial estimada em 5%, com uma taxa de mortali- a sua abordagem no serviço de urgência (SU) deve
dade de até 50%. É o efeito iatrogénico mais severo ser precoce e sistematizada, atendendo sempre à
da amiodarona cujo reconhecimento e tratamento importância do diagnóstico etiológico para orienta-
precoce é crucial para um bom prognostico. Numa ção terapêutica.
altura em que a preocupação mais frequente é a in-
feção COVID, é crucial não esquecer quadros respi-
ratórios igualmente graves de causa não infeciosa.
Apresenta-se o caso de uma mulher de 69 anos ad-
mitida no serviço de urgência (SU) de um hospital
Caso clínico: Mulher de 87 anos,  com anteceden- central por síncope, referindo história de astenia e
tes conhecidos de hipertensão arterial e síndroma dispneia de esforço com 3 semanas de evolução.
depressivo, medicada com furosemida 40mg e Como antecedentes, a destacar hipertensão arterial,
sertralina 50mg é admitida no serviço de urgência obesidade e estenose aórtica com substituição da
por dispneia de agravamento progressivo nas últi- válvula por bioprótese 6 meses antes. À admissão
mas 2 semanas. Ao exame objetivo com taquipneia na sala de emergência encontrava-se prostrada,
(FR 24 cpm) e saturação periférica de oxigénio de apirética, polipneica, hipotensa
84% em ar ambiente. Sem outras alterações. Analiti- com sinais de má perfusão periférica, com ingur-
camente com PCR 8,5mg/dL. A radiografia de tórax gitamento jugular. Membros inferiores com lesões
evidenciava hipotransparencia no lobo pulmonar petequiais dispersas. Na gasimetria apresentava
superior esquerdo. Internada com o diagnóstico acidose metabólica com hiperlactacidemia. Foram
de Pneumonia Adquirida na Comunidade e iniciada colhidas culturas e iniciada antibioterapia empírica.
antibioterapia com amoxicilina e acido clavulânico Manteve hiperlactacidemia após fluidoterapia endo-
e azitromicina com melhoria clinica e analítica. Ao venosa. Analiticamente com aumento dos parâme-
sexto dia desenvolve quadro de fibrilhação auricu- tros inflamatórios e transaminases, lesão renal agu-
lar com resposta ventricular rápida resolvida apos da e troponina I de alta sensibilidade de 3600ng/L.
tratamento com amiodarona ev. Após 24h desenvol- Eletrocardiograma sem sinais de isquémia aguda.
ve insuficiência respiratória aguda com necessidade O ecocardiograma transtorácico inicial, limitado
crescente de aporte de O2 e agravamento imagioló- por má janela ecográfica, mostrou disfunção do
gico em TC tórax  com infiltrados bilaterais de pre- ventrículo direito por acinésia da parede livre, sem
domínio no pulmão esquerdo. Repetida pesquisa de aparente evidência de disfunção de prótese. A an-
SARS-CoV-2 que foi negativa. Analiticamente sem gio-TC torácica excluiu tromboembolismo pulmonar
alterações. Colhido rastreio sético que não isolou ou outra patologia respiratória aguda. Mantendo-se
agente patogénico. Assumida toxicidade pulmonar a suspeita clínica de choque séptico com foco pos-
aguda à amiodarona pelo que se iniciou corticote- sível em endocardite, foi realizada reavaliação eco-
rapia com prednisolona 1mg/kg e ventilação não cardiográfica que corroborou a hipótese diagnóstica
invasiva. Nas semanas seguintes assistiu-se a me- mostrando fluxo turbulento periprotésico, com ab-
lhoria clinica tendo tido alta apenas com oxigénio cesso na raiz da aorta. Iniciado suporte inotrópico
de domicilio. com dobutamina com melhoria clínica. Admitida no

532
E-POSTERS
Serviço de Medicina Intensiva com a hipótese de lidade associada. Os autores alertam para a utiliza-
choque séptico e cardiogénico secundários a endo- ção da imunossupressão como fator de risco rele-
cardite. Posteriormente foi realizado ecocardiogra- vante e a necessidade do seu rápido ajuste após a
ma transesofágico que revelou a presença de fase inicial pós-transplante e explicam os principais
volumosas vegetações e abcesso na raiz da aorta mecanismos de elevação da glicémia associados
condicionando disfunção protésica. As hemocultu- aos fármacos envolvidos.
ras foram positivas para Enterococcus faecalis.
P n.º 0323 
Feocromocitoma Causa de Hipertensão  Arterial
Os autores alertam para a importância da investiga- Secundária 
ção diagnóstica e abordagem iniciais no doente em André Silva(1);Luísa Lopes(1);Andreia Póvoa(1);Pe-
choque, bem como para a importância de elevada dro Vieira(1);Jessica Fidalgo(1);Carlos Pestana(2)
suspeição clínica no diagnóstico de endocardite (1) Unidade Local de Saúde da Guarda, EPE / Hos-
neste contexto. pital Sousa Martins (2) Centro Saúde de Angra do
Heroísmo, Unidade de Saúde da Ilha Terceira
P n.º 0321 
DIABETES MELLITUS PÓS-TRANSPLANTE HEPÁTI- Tema: Doenças cardiovasculares
CO: UM CASO CLÍNICO
Daniela Guerreiro Carneiro(1);Inês Urmal(1);Beatriz Introdução: O feocromocitoma é uma neoplasia rara
Barata(1);Manuel de Albuquerque(1);Miguel Valen- produtora de catecolaminas, com localização mais
te(1) frequente na medula supra-renal, com uma incidên-
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE / Hos- cia de 0.2% dos doentes com hipertensão arterial.  
pital de Santo António dos Capuchos
Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio- CASO CLÍNICO: Homem de 83 anos, autónomo, com
nais antecedentes de diabetes mellitus tipo 2 controla-
da com metformina e insulina, hipertensão arterial
A diabetes mellitus pós-transplante (DMPT) é o medicada com enalapril e lercanidipina, refratária ao
surgimento de diabetes inaugural no período pós- tratamento anti-hipertensor e fibrilhação auricular
-transplante precoce. Está associada ao fator de crónica, hipocoagulado. Recorreu ao Serviço de Ur-
risco modificável da imunossupressão, sendo o gência por dispneia e tosse não produtiva, tendo
tacrólimus e os glucocorticóides aqueles que estão sido internado no serviço de Medicina Interna por
mais associados ao risco de DMPT, com diferentes Pneumonia e Lesão Renal Aguda. Cumpriu anti-
mecanismos de atuação mas ambos com efeito bioterapia com amoxicilina e ácido clavulânico (10
diabetogénico dose- dependente. dias) e azitromicina (7 dias), com normalização
dos parâmetros inflamatórios e melhoria da função
renal. No contexto da hipertensão arterial de difícil
controlo, pediu-se ecografia renal, a qual revelou
Apresenta-se o caso de um homem de 44 anos sub- uma massa sólida, de 7.5 cm x 8.7 cm, junto ao polo
metido a transplante hepático quatro meses antes superior do rim esquerdo, confirmada por tomo-
por cirrose associada a doença hepática crónica grafia computorizada abdomino-pélvica sem con-
etanólica. Desde o transplante sob tacrólimos e pre- traste. A ressonância magnética abdomino-pélvica
dnisolona, recorre ao serviço de urgência por qua- mostrou uma massa com 8.8x7.5x10 cm, sendo
dro de diminuição da acuidade visual bilateral de inconclusiva quanto à sua natureza. Analiticamente:
agravamento progressivo nas ultimas três semanas. ACTH (hormona adrenocorticotrópica) aumentada
Objectivamente sem alteração do estado de cons- (82.60), metanefrinas séricas totais aumentadas
ciência, estável hemodinamicamente, sem clínica (134)  normetanefrina  sérica muito aumentada
sugestiva de foco infeccioso. Analiticamente sem (4678), metanefrinas urinárias totais aumentadas
outras alterações excepto glicémia de 738 mg/dL (20063), à custa da normetanefrina (19440) e da
e hemoglobina glicada de 10%. A fundoscopia não 3-metoxitiramina (600). A endocrinologista reco-
apresentou alterações, admitindo-se alterações vi- mendou a realização de cintigrafia com metaio-
suais como consequência directa da hiperglicémia. dobenzilguanidina, que revelou uma massa com
Internado, foi aspeto típico de feocromocitoma, tendo o doente
ajustada a dose de tacrólimus e reduzida a dose de sido transferido para o respetivo serviço, para frena-
prednisolona. Conseguido controlo glicémico sob ção e otimização da terapêutica médica, e posterior
insulina isofânica, com recuperação progressiva da exérese cirúrgica.  
acuidade visual. Sem sinais de intercorrência com
o órgão transplantado, com doppler abdominal sem CONCLUSÃO: Apesar de ser uma causa pouco fre-
alterações. Foi efectuado o ensino da administração quente de hipertensão secundária, a sua exclusão é
de insulina e foi referenciado a consulta de Diabetes importante, não só pelo seu potencial de cura, mas
e Oftalmologia, com melhoria clínica significativa. também pelos efeitos deletérios inerentes ao não
diagnóstico desta lesão tumoral. 
O reconhecimento da DMPT é fundamental no se-
guimento do doente transplantado, pois acarreta P n.º 0332 
aumento do risco cardiovascular e da morbimorta- Uma Complicação Inesperada

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 533


Inês Fonseca Marques(1);Filipa Monteiro(1);Letícia A embolia gasosa venosa é um tipo de embolia rara
Santos(1);Érica Barata(1);Sofia Salvo(1);Ana Go- que ocorre devido à entrada de ar na circulação
mes(1);Gabriela Santos(1) venosa até ao ventrículo direito e circulação arte-
(1) Hospital Garcia de Orta, EPE rial pulmonar. As principais causas são cirúrgicas,
trauma, intervenções vasculares e barotrauma. Não
Tema: Doenças respiratórias existe tratamento específico.

Introdução: A colocação de dreno torácico pode Caso clínico:


ter várias complicações, sendo algumas das mais Os autores reportam caso clínico de embolia gaso-
comuns a recorrência do pneumotórax, infecção do sa em doente com pneumonia por SARS CoV2, já
local de punção, deslocação do dreno, trauma vas- em evolução favorável.
cular ou a formação de fístulas.
Tratava-se de doente do sexo feminino, 59 anos,
Caso clínico: Descreve-se o caso de uma mulher sem antecedentes pessoais relevantes, com alta
de 52 anos, com história de tabagismo, com in- hospitalar 10 dias antes do evento atual,  por pneu-
ternamento recente na Medicina pelo diagnóstico monia por SARS CoV2. Na altura com evolução
de neoplasia do pulmão com metastização cerebral; clínica favorável, sem dificuldade respiratória e sem
durante o internamento foi submetida a broncofi- hipoxémia.
broscopia para biópsia da referida lesão pulmonar.
É reavaliada em consulta uma semana após a alta, Regressou ao Serviço de Urgência por novo agra-
referindo queixas de dispneia e toracalgia posterior vamento do quadro, com dispneia, cansaço fácil e
de agravamento progressivo, com insuficiência tosse.  À admissão apresentava-se polipneica, com
respiratória parcial na gasimetria. Foi internada no- cansaço para pequenos esforços, hemodinamica-
vamente e constatado hidropneumotórax direito na mente estável, saturação O2 96% com FiO2 21%,
radiografia, tendo sido colocado dreno torácico e sem outras alterações de relevo no exame objecti-
saída de líquido com critérios de empiema. No dia vo. Gasimetria normal. D-Dímeros 1070 ng/mL. A
seguinte, enquanto se mobilizava no leito, a doente radiografia do tórax sem alterações. Por suspeita
exteriorizou o dreno inadvertidamente; repetiu radio- de tromboembolismo pulmonar, realizou tomogra-
grafia torácica, já sem pneumotórax mas ainda com fia computarizada de tórax, onde se identificaram
derrame pleural de menores dimensões. Algumas bolhas gasosas na veia braquiocefálica direita, ven-
horas depois, inicia novamente queixas de dor torá- trículo direito e no tronco da artéria pulmonar prin-
cica e constatam-se sinais inflamatórios da região cipal; assim como densificações pulmonares bilate-
dorsal direita, que agravam rapidamente ao longo rais, sugerindo fase tardia da pneumonia vírica. 
do dia. Fez tomografia computadorizada torácica
Admitindo-se embolia pulmonar gasosa, de provável
que mostrou delimitação por bolhas gasosas do tra-
etiologia iatrogénica (punção venosa), manteve- se
jecto criado pelo dreno torácico e uma extensa co-
sob vigilância clínica, sem referência a novas inter-
leção dissecando os planos musculares dorso-lom-
corrências, verificando-se rápida resolução do qua-
bares, desde a omoplata até à porção mais inferior
dro clínico. 
do músculo grande dorsal. Foi necessária drenagem
e desbridamento cirúrgico extenso em bloco opera- Discussão:
tório, com perdas hemáticas importantes que condi-
cionaram instabilidade hemodinâmica e necessida- A embolia gasosa venosa é uma condição rara; ten-
de de admissão em cuidados intensivos. do em conta a sua manifestação clínica inespecífi-
ca, para o seu diagnóstico é necessário um elevado
Discussão: Apesar da preparação e experiência nível de suspeição, sendo na maioria dos casos um
dos executantes, algumas complicações de pro- achado radiológico (também ele pouco comum).
cedimentos médicos podem ser desafiantes e ter Pretende-se, neste contexto de pandemia atual,
implicações muito relevantes em termos de morbi- chamar a atenção para a importância de um amplo
-mortalidade dos doentes. A vigilância clínica após diagnóstico diferencial, assim como uma rigorosa
qualquer procedimento, mesmo na ausência de marcha diagnóstica.
complicações imediatas, é crucial para o diagnósti-
co e tratamento precoce das potenciais complica- P n.º 0338 
ções tardias, que podem ser igualmente graves. Síndrome pós-pericardiotomia – a propósito de um
caso clínico
P n.º 0337  Maria Beatriz Santos(1);Carla Andrade(1);Jorge Al-
Quando a COVID-19 não explica tudo… meida(1)
Francisca Guimarães(1);Ana Rita Gomes(1);Jéssica (1) Centro Hospitalar de S. João, EPE
Abreu(1);Rita Martins(1);Gilda Nunes(1)
(1) Hospital de Vila Franca de Xira Tema: Doenças cardiovasculares
Tema: Doenças cardiovasculares
Introdução
Introdução:
A síndrome pós-pericardiotomia (SPP) é uma

534
E-POSTERS
complicação médica pós cirurgia cardíaca, carac- inespecíficos e incluem dor lombar, dorsal, acompa-
terizado por febre, dor pleurítica, derrame pleural e nhado de náuseas ou vómitos, hematúria ou febre.
pericárdico, que pode ser complicado de tampona- A causa mais comum é a doença cardioembólica,
mento cardíaco e pericardite constritiva. A incidên- sendo que em quase metade dos casos não há uma
cia é variável, mas a maioria dos estudos reporta etiologia definida.
uma incidência entre 15 e 30%.
Caso clínico
Caso clínico
Trata-se de um homem de 56 anos, com antece-
Homem, 71 anos, com antecedentes de aneuris- dentes de poliglobulia secundária a fatores de risco
ma da aorta ascendente e bicuspidia aórtica com vasculares, síndrome apneia obstrutiva do sono,
estenose aórtica, que foi submetido a substituição hipertensão arterial, dislipidemia, excesso de peso,
da válvula aórtica e da aorta ascendente supraco- abuso crónico do álcool e elevada carga tabágica.
ronária. Três semanas após a cirurgia cardíaca, re- Recorreu ao Serviço de Urgência por dor lombar in-
correu ao Serviço de Urgência por dor retroesternal, tensa à esquerda, sem hematúria e sem febre. Ana-
ortopneia, tosse seca e temperatura subfebril. Ao liticamente com boa função renal, sem alterações
exame objetivo apresentava cicatriz de esternoto- no estudo da coagulação sumário, bem como no
mia sem sinais inflamatórios. Analiticamente sem exame sumário da urina. A tomografia computori-
leucocitose, com elevação de PCR (115mg/L) e de zada (TC) abdominal revelou área hipocaptante no
BNP (564pg/mL); sem elevação de marcadores de terço médio do rim direito e no terço médio do rim
necrose do miocárdio ou alterações eletrocardiográ- esquerdo, traduzindo área de enfarte renal e ainda,
ficas. A tomografia computorizada torácica revelou diminuto foco litiásico, sem hidronefrose bilateral.
pequeno derrame pericárdico e derrame pleural Assumiu-se não ter critérios para intervenção pela
bilateral e o ecocardiograma transtorácico excluiu Cirurgia Vascular, pelo que ficou internado para
massas intracavitárias/vegetações. estudo. No internamento foi excluída etiologia infe-
ciosa, autoimune, forâmen ovale patente, presença
Atendendo aos achados, admitiu-se SPP e iniciou de arritmias e etiologia iatrogénica, nomeadamente
terapêutica com ácido acetilsalicílico (1000mg tid) exames com contraste ou cirurgias recentes. Admi-
e colquicina (0.5mg bid), que manteve durante 4 tiu-se então diagnóstico provável de enfarte renal
semanas, com redução progressiva da dose. Apre- bilateral, pelo estado de hipercoagulabilidade no
sentou resolução clínica e melhoria analítica, o que contexto de poliglobulia, pelo que iniciou hipocoagu-
possibilitou alta após 1 semana, orientado para a lação oral, que manteve até à consulta de reavalia-
consulta externa. ção.
Discussão Discussão
A SPP está associada a idades mais jovens e é mais O diagnóstico do enfarte renal bilateral pode ser
frequente na substituição da válvula aórtica, válvula dificultado, porque mimetiza uma cólica renal, infe-
mitral e cirurgia aórtica. Admite-se que se trata de ção urinária ou inflamação muscular. No presente
um processo mediado pelo sistema imunitário, pro- caso, a apresentação clínica e a presença de um
vocado por lesão pericárdica ou por predisposição foco litiásico sugeriam cólica renal, tendo o enfarte
individual. renal sido um achado acidental. Esta patologia está
reportada na disseção de aneurisma da aorta, dis-
A SPP está associada a um aumento de 72% de plasia fibromuscular das artérias renais, êmbolos
risco de mortalidade no primeiro ano, pelo que a sépticos associados a endocardite infeciosa, Lúpus,
sua identificação precoce e aplicação de medidas vasculite ou anemia das células falciformes, tendo
preventivas poderá conduzir à redução da sua inci- todos estes sido excluídos. O atraso no diagnósti-
dência. A exclusão célere de endocardite permitiu o co pode levar à disfunção renal permanente ou um
início rápido de terapêutica anti-inflamatória e bom aumento do risco de embolia para outros órgãos.
prognóstico do caso. Dependendo da gravidade, pode levar à hipertensão
renovascular e doença renal crónica.
P n.º 0339 
Enfarte renal bilateral – a propósito de um caso P n.º 0346 
clínico Endocardite tri-valvular a condicionar quadro de
Maria Beatriz Santos(1);Tânia Lemos(1);Carla An- cetoacidose diabética
drade(1);Jorge Almeida(1) Marina Alice Peixoto Gomes Salwegter(1);Margarida
(1) Centro Hospitalar de S. João, EPE Robalo(1);Inês Araújo(1);Rui Domingues(1);Sofia
Esperança(1);António Oliveira e Silva(1)
Tema: Doenças renais
(1) Hospital de Braga

Introdução Tema: Doenças infecciosas e parasitárias

O enfarte renal bilateral é um fenómeno raro, provo- O atingimento multi-valvular na endocardite infe-
cado pela oclusão da artéria renal que leva à lesão ciosa(EI) é um acontecimento extremamente raro.
permanente no parênquima renal. Os sintomas são Neste relato apresentamos um caso de uma doente

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 535


com EI com padrão de atingimento valvular e mi- de diabetes. Encaminhado ao SU após realização
croorganismo causador raros, com vários fatores de TC abdominal com derrame pleural direito, vo-
de risco para a doença, e que desenvolveu múltiplas lumoso derrame pericárdico e esplenomegalia
complicações cardíacas locais graves. heterogénea (22cm). Tinha TC abdominal de 2017
com pequeno derrame pericárdico, esplenomegália
Mulher, 58 anos, com antecedentes de diabetes homogénea (18cm) e fígado sem doença, nessa
mellitus(DM) tipo 1, mal controlada, com lesão altura sem estudo adicional e com Hb 12g/dL. À
de órgão alvo, amputação de hálux esquerdo por observação apresentava abdómen globoso por es-
osteomielite e prótese aórtica biológica. Recorre plenomegália palpável até ~10cm abaixo da grelha
ao serviço de urgência por quadro de dor na anca costal esquerda. Analiticamente a destacar anemia
direita desde há uma semana e naúseas, vómitos, hipocrómica grave (Hb 7.3g/dL) e morfologia de
febre, astenia, edema do pé direito associado a úl- sangue periférico com 1% de mielócitos e dacrióci-
cera no hálux direito e valores elevados de glicemia tos. Fez TC toraco-abdómino-pélvica com discreto
capilar há dois dias. Foi internada por quadro de derrame pleural bilateral, esplenomegália heteroden-
cetoacidose diabética, assumindo-se como fator de sa com 17,5cm, imagens nodulares intraparenqui-
descompensação, úlcera infetada e possível osteo- matosas e fígado de densidade homogénea. A TC
mielite associada. Ao 4º dia, por agravamento clíni- crânio-encefálica mostrou ligeira heterogeneidade
co, realizou angio-TC que identificou vegetações na densitométrica da calote. Ecocardiograficamente
válvula aórtica. Nas hemoculturas identificou-se um com derrame pericárdico circunferencial moderado,
Streptococcus agalactiei. O ecocardiograma tran- sem compromisso hemodinâmico. Fez 1 semana de
sesofágico confirmou a existência de endocardite ácido acetilsalicílico em dose anti-inflamatória, sem
da prótese valvular, da válvula mitral e tricúspide, melhoria. Fez mielograma, sem alterações, e biópsia
comunicação interventricular(CIV) e múltiplas com- da medula óssea com aspetos sugestivos de MFP.
plicações locais: abcesso da aorta com pseudoa- Teve alta encaminhado para consulta de Hematolo-
neurisma a condicionar insuficiência aórtica severa, gia, aguardando estudo genético para confirmação
insuficiência mitral e tricúspide severa e fistulização do diagnóstico de MFP.
entre ventrículos. A doente foi recusada para cirur- A MFP tem o prognóstico menos favorável das
gia valvular pelo elevado risco de mortalidade intra- neoplasias mieloproliferativas, estando associada
-operatória. a uma sobrevida estimada de 6 anos, dependen-
Neste caso identificam-se vários fatores de risco te de fatores clínicos e citogenéticos. O risco de
para EI: DM mal controlada que se associa a maior morte prematura deve-se à progressão da doença,
incidência de bacteriemia e maior predisposição transformação leucémica, complicações trombo-
para sépsis e endocardite; prótese valvular biológica -hemorrágicas e infeções. Neste caso, destaca-se a
e defeito septal ventricular, que justifica o envolvi- anemia, que poderá condicionar a necessidade de
mento da válvula tricúspide; e vem ilustrar a dificul- suporte transfusional, e o derrame pericárdico, foco
dade diagnóstica da EI quando existe outro foco de hematopoiese extramedular associado a compli-
infecioso evidente a explicar o quadro febril e a ne- cações graves.
cessidade de uma abordagem terapêutica individua- P n.º 0355 
lizada e multidisciplinar perante casos complexos. “Ouvidos Moucos”
P n.º 0351  Ana Margarida Lopes Simões(1);Tânia Ferreira(1)
Mielofibrose primária como causa de derrame peri- (1) Unidade Local de Saúde da Guarda, EPE / Hospi-
cárdico – um diagnóstico a considerar tal Sousa Martins
Ana Órfão(1);Carolina Mateus(1);Daniela Madei- Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas
ra(1);Patrícia Vasconcelos(1);Sara Vilas-Boas(1)
(1) Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca
Enquadramento
Tema: Doenças oncológicas
A Síndrome do Alargamento do Aqueduto vestibular
A mielofibrose primária (MFP) é a menos frequente é um distúrbio congénito raro resultante de uma
das doenças mieloproliferativas crónicas, tendo anomalia genética.
como característica diferenciadora a esplenomegá-
lia, frequentemente maciça. Normalmente apresen- Descrição de Caso
ta-se acima dos 50 anos e a queixa mais comum é
o cansaço. 15-30% dos doentes são assintomáticos Apresenta-se o caso de uma mulher de 35 anos, que
e o diagnóstico é feito durante a investigação de durante a pandemia, recorreu à nossa teleconsulta
espleno/hepatomegália ou alterações analíticas no onde referia que “via tudo à roda”, acompanhada
hemograma. de náuseas e vómitos e que mal se conseguia le-
vantar da cama. Como eram já conhecidos os seus
antecedentes pessoais de Síndrome Vertiginoso, e
Homem, 70 anos, com quadro com 2 meses de as queixas eram semelhantes às crises anteriores,
evolução de deterioração progressiva do estado medicámos sintomaticamente com beta-histina.
geral, com anorexia, perda ponderal, polidipsia e Passados 15 dias, contactou-nos novamente: man-
poliúria, coincidente com o diagnóstico inaugural tinha as mesmas queixas, mas agora referia ter
536
E-POSTERS
acufenos principalmente à direita e que não tinha O estudo imunocitoquímico efectuado favorecia a
sentido melhoria nenhuma com a medicação. Deci- existência de diferenciação no sentido mesotelial
dimos enviá-la ao serviço de urgência para despiste das células fusiformes proliferadas, não sendo con-
de patologia aguda urgente. Realizou TC-CE que foi tudo possível distinguir entre estar-se perante conti-
normal e o exame neurológico também não apre- nuação da fibrose a afectar a porção de parênquima
sentava alterações. Referenciámos a doente para a pulmonar ou perante eventual lesão proliferativa
consulta de ORL que a observou: otoscopia e timpa- de células mesoteliais. Realizou PET que mostrou
nograma normais, no entanto o audiograma relevou nódulo no lobo médio do pulmão direito com avidez
surdez neurossensorial profunda à esquerda e de intensa para FDG, pelo que é suspeito para neopla-
grau medio à direita que já eram conhecidas. No sia maligna do pulmão. A doente foi encaminhada
entanto, e perante a persistência quadro clínico, foi para consulta externa de Pneumologia- Oncológica
solicitada a realização de RMN-CE que revelou uma e posteriormente para Cirurgia Cárdio- torácica. Foi
imagem sugestiva de Síndrome do Alargamento do feita resseção em cunha da lesão nodular que reve-
Aqueduto vestibular. lou tumor miofibroblástico inflamatório (TMI), com
margens livres.
Discussão
O TMI do pulmão apresentam-se geralmente como
A utente referia que “sempre ouviu mal” desde a sua nódulos solitários. A etiologia é desconhecida,
infância, mas que notou que a surdez tinha vindo a podendo estar na sua origem uma reação inflama-
progredir, apesar de a causa nunca se ter investiga- tória a uma infecção ou malignidade de baixo grau
do. De notar que a sua filha nasceu com a membra- subjacente. A evolução do TMI é variável, podendo
na timpânica perfurada, pelo que se coloca agora a regredir, manter-se estável ou tornar-se localmente
hipótese de ambas se enquadrarem numa síndrome invasivo.
resultante de malformações durante a embriogéne-
se. P n.º 0358 
Tuberculose disseminada – a propósito de um caso
P n.º 0357  clínico
A importância do seguimento do Nódulo Pulmonar Olinda Lima Miranda(1);Ana Barbosa(1);Filipa Gon-
em Consulta Externa– a propósito de um caso clí- çalves(1);Ana Vilaça(1);Margarida Rocha(1);Jorge
nico Cotter(1)
Olinda Lima Miranda(1);Magda Costa(1);Emília Lo- (1) Hospital Senhora da Oliveira, Guimarães
pes(1);Jorge Cotter(1)
(1) Hospital Senhora da Oliveira, Guimarães Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
Tema: Doenças oncológicas
A tuberculose é uma infeção causada pelo Myco-
bacterium tuberculosis (MT) e pode manifestar-se
Os nódulos pulmonares (<30mm) acidentais são de- como tuberculose pulmonar, pleural, peritoneal, en-
tetados acidentalmente, num estudo ocasional não tre outras. Os sinais e sintomas mais comuns são
dirigido. É importante a abordagem destes nódulos febre, sudorese nocturna, astenia e perda ponderal.
dada a possibilidade de malignidade, sendo o risco O diagnóstico é feito pelo isolamento do agente
maior em doente com antecedente de tabagismo. através de diferentes técnicas (cultural, PCR).

Mulher, 54 anos, com antecedentes de tabagismo Homem, 49 anos, com antecedente pessoal de
(~30UMA’s). Esteve internada em 2017 por pneumo- doença hepática crónica de etiologia etílica, recor-
nia adquirida na comunidade e nódulo pulmonar. A reu ao serviço de urgência (SU) por quadro com 2
tomografia (TC) tórax mostrou na dependência do semanas de evolução de toracalgia de característi-
lobo médio, perifericamente, uma área de morfolo- cas pleuríticas na face posterior do hemitórax direi-
gia nodular com 16 x 11mm de diâmetro. Foi reali- to, tosse seca, sudorese noturna, astenia, anorexia
zada biópsia pulmonar que demonstrou processo e perda de 3Kgs. Na admissão do SU a destacar ao
inflamatório com fibrose e sem células neoplásicas. exame objetivo MV diminuído nos 2/3 inferiores do
Teve alta orientada para consulta externa de Me- campo pulmonar direito. Na radiografia tórax der-
dicina Interna. Após 6 meses, repetiu TC tórax que rame pleural de médio volume a direita. Realizada
mantinha uma imagem nodular subpleural com 16 toracocentese com liquido compatível com exsu-
mm do lobo direito, estável. Foi pedida nova consul- dado com predomínio de mononucleares e ADA
ta e TC tórax de reavaliação. Contudo a doente teve 71. Durante o internamento, realizou baciloscopias
faltas subsequentes. Em Janeiro 2020, na avaliação seriadas cujo resultado foi negativo, biópsia pleural
em consulta externa mantinha-se assintomática. Foi compatível com processo inflamatório crónico que
pedido novo TC Tórax que realizou em Maio e mos- focalmente esboçava a formação de pequenos gra-
trou aumento dimensional do nódulo subpleural pre- nulomas epitelióides, sugestivos de pleurite crónica
viamente referido alocado ao lobo médio, atualmen- granulomatosa; foi isolado na expetoração pela
te medindo 30 x 22 mm. Realizou biópsia pulmonar técnica de PCR bacilos álcool resistentes (BAAR);
que revelou fibrose e envolvimento por processo citológico liquido pleural e IGRA negativos.  A to-
inflamatório crónico reactivo inespecífico e zona mografia abdominal demonstrou  “líquido ascítico
de proliferação de células fusiformes sem atipia. de grande volume, acompanhado de densificação

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 537


extensa do grande epíploon de etiologia indeter- o doente recusou).
minada”. Realizada paracentese diagnóstica, com
critérios de ascite por hipertensão portal, sem peri- Discussão: DML é uma doença rara de diagnóstico
tonite bacteriana espontânea e liquído ascítico sem clínico. Embora benigna, o envolvimento de pescoço
isolamentos. Foi realizada biópsia do epíploon, com e mediastino por lipomas pode condicionar com-
micobacteriológico sem isolamento e histológico pressão de estruturas vitais. É sempre importante
que revelou “tecido fibro-adiposo recobertos numa avaliar estes doentes holisticamente e excluir outras
das suas faces por mesotélio, os quais apresentam causas patológicas. Os lipomas não respondem à
envolvimento por processo inflamatório crónico gra- intervenção dietética e a abstinência alcoólica ape-
nulomatoso cujos granulomas epitelióides contêm nas previne a progressão da doença.. Os tratamen-
células gigantes multinucleadas-lesões de peritoni- tos padrão é a excisão cirúrgica, contudo, a recidiva
te crónica granulomatosa”. Iniciou terapêutica qua- é comum.
drupla antibacilar.
P n.º 0368 
A tuberculose está associada a elevada taxa de HEPATITE COLESTÁTICA - UMA MANIFESTAÇÃO
mortalidade. A prevalência de infeção por bactérias RARA DA MONONUCLEOSE INFECCIOSA
multirresistentes está a aumentar, sendo por isso Francisco Barreto(1);Sofia José Nunes Nobrega(1);-
um dos problemas de saúde pública atuais. É im- Carolina Carvalhinha(1);Rui Fernandes(1);Carolina
portante o diagnóstico precoce e o tratamento ade- Henriques(1);Maria da Luz Brazão(1);Rafael Frei-
quado, sendo a taxa de cura elevada. tas(1)
(1) Hospital Dr. Nélio Mendonça
P n.º 0364 
O Guerreiro Capestrano Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
Paula Perestrelo(1);Maria Inês Gonçalves(1);Bruno
Ferreira(1);Gonçalo Miranda(1);Renato Gonçal- INTRODUÇÃO
ves(1);Rosa Ballesteros(1)
(1) Centro Hospitalar Cova da Beira, EPE / Hospital
Distrital da Covilhã O vírus Epstein-Barr (VEB) ou vírus herpes humano
4 (HHV4) afeta cerca de 90% da população mundial
Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio- e apresenta-se normalmente como mononucleose
nais infeciosa (MNI) autolimitada. Embora o aumento
subclínico e transitório das aminotransferases hepá-
ticas seja relativamente comum, quadros de hepati-
Introdução: A Doença de Madelung (DML) ou lipo- te colestática com icterícia são raros.
matose simétrica múltipla. É uma doença rara na
qual há acumulação de tecido adiposo subcutâneo,
simetricamente, semelhante à estátua do guerreiro CASO CLÍNICO
Capestrano. Embora de etiologia desconhecida, é
frequentemente associada a hábitos etílicos e a al- Adulto jovem, 26 anos, género masculino, sem ante-
terações metabólicas. É apresentado o caso clínico cedentes pessoais relevantes, admitido no serviço
de homem com alargamento de perímetro cervical e de urgência por quadro de odinofagia, febre (com 6
consumo de álcool excessivo. horas de intervalo de apirexia) e adenomegalias cer-
vicais dolorosas com uma semana de evolução. Por
suspeita de amigdalite bacteriana, estava medicado
Caso clínico: Homem de 62 anos encaminhado à com amoxicilina/ácido clavulânico 875/125mg e
consulta de Medicina por suspeita de hemocroma- ibuprofeno 400 mg de 8/8h, sem melhoria e com
tose, com antecedentes de elitismo crónicos. Ao surgimento de exantema. Ao exame objetivo apre-
exame objetivo apresentava aumento do diâmetro sentava escleróticas subictéricas, exsudado puru-
cervical, com massas elásticas, indolores, não ade- lento periamigdalino, hipertrofia amigdalina, ade-
rentes a planos, com localização simétrica ao nível nopatias cervicais dolorosas à palpação, exantema
cervical, occipital, supraclavicular e interescapular. na base do pescoço e tórax, auscultação pulmonar
O doente referia crescimento das massas ao longo com murmúrio vesicular diminuído na base direita
de 10 anos. Apresentava disfagia para sólidos com e hepatoesplenomegalia dolorosa à palpação abdo-
algumas semanas de evolução. Analiticamente: minal.
anemia macrocítica; aumento de saturação de
transferrina e ferritina; défice de ácido fólico; au- Analiticamente apresentava hemoglobina de 12.2
mento de transaminases e da ??-GT. Ecografia cervi- g/dL, leucócitos 6600/μL, com 25% linfócitos ativa-
cal:glândula tiroideia normal e massas lipomatosas. dos, trombocitopenia de 102.000, hipoalbuminemia
Endoscopia digestiva alta: esófago de Barrett. RMN de 31.3 g/L, TP 14.5 segundos, AST 818.7 U/L, ALT
abdominal: esteatose hepática e concentração he- 966.9 U/L, Bilirrubina total 8.65 mg/dL, direta 3.86
pática de ferro de 96µmol/g. Doente foi medicado mg/dL, indireta 2.99 mg/dL, LDH 904 U/L, FA 755.0
com inibidor da bomba de protões com resolução U/L, GGT 648.3 U/L, PCR 35 mg/dL. A pesquisa de
de disfagia. Apresentava hemocromatose secundá- anticorpos heterófilos foi positiva. Realizou tomo-
ria a consumo excessivo de álcool. A presença de grafia computorizada abdominal com acentuada
múltiplos lipomas simétricos permitiu o diagnóstico hepatomegalia homogénea e edema periportal e
de DML. Foi proposto para consulta de cirurgia (que vesícula biliar moderadamente distendida, sem li-

538
E-POSTERS
tíase endoluminal, com exuberante espessamento positiva, permitindo o diagnóstico de tuberculose
parietal edematoso. pleural.
Ficou internado para vigilância, optimização da tera- Discussão
pêutica de suporte e repouso. O diagnóstico confir-
mou-se pela presença de marcadores serológicos. Perante sinais ou sintomas atípicos de infecção por
Apresentou melhoria clínica e analítica significativa, SARS-CoV-2, a pesquisa de outros diagnósticos não
tendo alta com medidas preventivas e evicção labo- deve ser esquecida. O derrame pleural é um acha-
ral. do pouco frequente na infeção a SARS-CoV-2, pelo
que a sua evidência deve motivar o esclarecimento
DISCUSSÃO da sua etiologia. As altas doses de corticoterapia
utilizadas na gestão desta doença, assim como a
Com o presente caso, os autores alertam para a infeção viral propriamente dita, justificam um esta-
apresentação da MNI com um quadro de colestase, do de imunodepressão que facilita a reativação de
raro na infecção por EBV. Relevam assim a impor- tuberculose latente.
tância de considerar a infeção por EBV nos quadros
de hepatite colestática, minimizando abordagens P n.º 0380 
diagnósticas e terapêuticas dispensáveis. Um caso de osteíte fibrosa quística
Marina Costa(1);Joana Medeiros(1);Ana Ramôa(1);-
P n.º 0378  Sofia Ribeiro(1);Rosário Araújo(1);Manuela Vascon-
Investigar para além do óbvio celos(1);António Oliveira e Silva(1)
C.Negrao(1);Marta Machado(1);Rita Sismeiro(1);Ru- (1) Hospital de Braga
di Fernandes(1);Rita Freitas(1);Margarida Brito Mon-
teiro(1);Marta Jonet(1) Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio-
(1) Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca nais
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
Introdução:
Abstract
A osteíte fibrosa quística (OFQ) é uma doença
caracterizada por alto turnover ósseo por hiperpa-
Para além da actual pandemia, causada pela CO- ratiroidismo (HPT). A sua prevalência secundária
VID-19, não se deve esquecer doenças antigas com a doença renal crónica (DRC) tem vindo a diminuir
implicação terapêutica e significativa morbi-mor- devido ao diagnóstico precoce do HPT nesta popu-
talidade. A milenar tuberculose, causada por My- lação.
cobacterium tuberculosis, pode apresentar-se com
sintomas comuns à primeira, tais como tosse, tora- CASO CLÍNICO:
calgia pleurítica e febre, sendo que ambas podem
ter expressão multisistémica. Mulher, 41 anos, angolana, com hipertensão arterial,
obesidade e DRC estadio 5 em programa de hemo-
A tuberculose pleural é a segunda causa de tubercu- diálise (HD), recorre ao serviço de urgência por pa-
lose extrapulmonar e a principal de derrame pleural raparésia progressiva e incontinência de esfíncteres
em áreas de tuberculose endémica. Na população com 6 meses de evolução. Objetivamente de salien-
adulta ocorre mais frequentemente por reativação tar paraplegia espástica, com anestesia dos mem-
da doença latente. bros inferiores e reflexos osteotendinosos vivos. A
tomografia computorizada toracoabdominopélvica
Caso clínico revelou lesões expansivas ósseas em múltiplas
costelas e corpos vertebrais sugestivas de lesões
Homem, 59 anos, saudável, sem hábitos toxifílicos, secundárias. Apresentava anemia de 7.8 g/dL e fos-
recorreu à urgência ao 14º dia de infeção a  SAR- fatase alcalina de 348 U/L. Foi internada no Serviço
S-CoV-2 por cefaleia, tosse seca, dispneia e febre de Medicina Interna para estudo de lesões ósseas
persistentes. Teria cumprido 5 dias de azitromicina. secundárias.
Negava perda de peso, sudorese noturna, anorexia
e astenia. Destacava-se discreta anemia e alcalose Da investigação realizada salienta-se HPT, com cál-
respiratória hipoxémica. Imagiologicamente com cio e fósforo normais, e beta2-microglobulina eleva-
ligeiro derrame pleural e envolvimento de 50% do da; os estudos endoscópicos e a ecografia mamária
parênquima pulmonar por COVID-19. Cumpriu corti- não revelaram lesões suspeitas; a ressonância
coterapia e ventilação não invasiva, tendo tido alta magnética mostrou lesões expansivas a envolver os
melhorado. Reavaliado em consulta por persistên- corpos vertebrais de D10-11, com compressão me-
cia de tosse seca associada a astenia, constatado dular e das raízes a esses níveis, compatíveis com
agravamento do derrame pleural direito. Negava tumores castanhos, mantendo a hipótese alternati-
outros sintomas associados, nomeadamente cons- va de metastização óssea. Após anamnese porme-
titucionais. Realizou toracocentese com drenagem norizada, a doente referiu não cumprir regularmente
de líquido turvo hipercelular, com predomínio de as sessões de HD. A histologia de fragmento ósseo
linfócitos e adenosina deaminase elevada e biópsia concluiu tratar-se de tumor de células gigantes
pleural com PCR de Mycobacterium tuberculosis compatível com tumor castanho do HPT. Foi dete-

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 539


tado adenoma das paratiróides em ecografia, com necessidade de politransfusão. Internamento pro-
histologia de hiperplasia das paratiróides, pelo que longado na UCI, tendo sido transferido para a Enfer-
foi realizada paratiroidectomia inferior esquerda. maria ao 28º dia pós-operatório. O doseamento de
triptase foi de 28,40ug/L (VR<11ug/L).
A doente iniciou plano de reabilitação física e pro-
grama regular de HD. Desde então apresentou evo- Discussão:
lução favorável com recuperação da marcha com
andarilho e controlo de esfíncteres, não tendo surgi- As reacções à protamina potencialmente fatais são
do novos défices ou lesões ósseas secundárias. raras e associam-se a anafilaxia com sensibilização
prévia. Relatamos um caso clínico de um doente
DISCUSSÃO: com doença coronária submetido a CABG que de-
senvolveu choque anafiláctico no intra-operatório,
Apesar da baixa prevalência da OFQ, é importante identificando-se os possíveis factores de risco: diag-
considerá-la nos doentes com DRC que apresentem nóstico de diabetes e a terapêutica com insulina
manifestações ósseas de novo. Este caso permitiu Humalog® que contém insulina lispro protamina.
ter contacto direto com uma patologia infrequente e
entender a importância da anamnese e do ambiente P n.º 0386 
psicossocial na formulação das hipóteses de diag- Proteinose alveolar pulmonar e infeção a CMV em
nóstico. doente imunocomprometido
Andreia Amaral(1);Daniela Marto(1);Rui Malhei-
P n.º 0383  ro(1);Bárbara Picado(1);Catarina Salvado(1)
Anafilaxia ao sulfato de protamina – exemplo de (1) Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE / Hos-
um caso clínico pital de Santo António dos Capuchos
Margarida l. Nascimento(1);André Rosa Alexan-
dre(1);André Casado(1);Ricardo Arruda Pereira(1);Fi- Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente crí-
lipa Malheiro(1);Alexandra Bayão Horta(1) tico
(1) Hospital da Luz Lisboa
Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente crí- Introdução: A infeção por citomegalovirus (CMV)
tico não é incomum em pacientes imunodeprimidos e
pode causar doença de órgão-alvo com risco de
vida. A relação entre proteinose alveolar pulmonar
Introdução: (PAP) e infeção CMV é rara.

O sulfato de protamina é administrado por via endo- Descrição do Caso Clínico: Mulher, 26 anos, admi-
venosa para reverter a anticoagulação induzida pela tida por febre recorrente. Diagnósticos prévios de
heparina durante a cirurgias com circulação extra- Leucemia Mielóide Aguda em remissão e infeção
corporal (CEC). As reações alérgicas à protamina SARS-CoV-2. No exame objetivo: febril, polipneica
ocorrem esporadicamente (incidência 0,28%-2,6%), em repouso, sem alterações auscultatórias, satura-
sendo mais frequentes em doentes com diabetes, ção periférica de O2 de 89% com 15L/min, hipoten-
especialmente se sob insulina protamina-zinco, com sa, taquicárdica. Admitida em unidade de cuidados
alergia a peixe e submetidos a vasectomia. Os efei- intermédios por insuficiência respiratória tipo I com
tos adversos variam desde urticária e rash cutâneo necessidade de oxigenoterapia de alto fluxo. Assu-
a anafilaxia, choque anafiláctico e morte. miu-se diagnóstico de pneumonia intersticial em
doente imunodeprimida e iniciou meropenem, trime-
Caso clínico: tropim/sulfametoxazol e voriconazol. O estudo labo-
ratorial revelou anemia normocítica e normocrómi-
Homem de 68 anos, diabético com vários outros
ca, sem leucocitose, Proteina C-Reativa 151,6mg/L,
factores de risco cardiovasculares, que por uma pro-
anticorpos Herpes simplex IgG negativo, anticorpos
va de esforço positiva para isquémia com coronario-
IgG e PCR CMV negativo, pesquisa de SARS-CoV-2
grafia revelando doença de três vasos, é internado
negativa. Exames culturais e antigenúrias negativas,
para cirurgia de revascularização coronária (CABG).
gasometria arterial com hipoxémia (pO2 57mmHg).
O procedimento consistiu na realização de duplo
Realizou tomografia computorizada torácica que
bypass sob CEC. Saída de CEC sem intercorrências,
demonstrou pneumonia intersticial com pequenas
mas imediatamente após a administração de sul-
áreas de fibrose e quísticas subpleurais sugerindo
fato de protamina verificou-se choque associado a
um padrão de faveolamento, mielograma sem reci-
flushing facial, edema peri-orbitário e eritema con-
diva de doença, ecocardiograma sem endocardite,
juntival. O quadro de choque manteve-se refractário
broncofibroscopia com isolamento de Enterococcus
a efedrina, adrenalina e noradrenalina, verificando-
Cloacae sensível a piperacilina/tazobactam. A rea-
-se hipocinésia do apéx com necessidade de reen-
valiação por TC-tórax demonstrou marcado padrão
trada em CEC e novo bypass. Pelo risco de choque
pulmonar crazy-paving, múltiplos focos consolidati-
anafiláctico, não foi administrada novamente prota-
vos pulmonares. Por falência respiratória progrediu-
mina, e o doente foi transferido para a Unidade de
-se para ventilação mecânica invasiva e foi transfe-
Cuidados Intensivos (UCI) sob ventilação mecânica
rida para unidade de cuidados intensivos. A biópsia
invasiva e vasopressor. Nas primeiras horas pós-
pulmonar revelou células com inclusões nucleares
-operatórias evolui em choque hemorrágico com

540
E-POSTERS
eosinofílicas (corpos de Cowdry) sugestivas de in- ses, mantém-se sob terapêutica, com progressão da
feção por CMV e preenchimento do espaço alveolar doença, e necessidade de terapêutica de substitui-
com material proteináceo PAS positivo compatível ção da função renal.
com PAP. Iniciou ganciclovir, imunoglobulina e bron-
cofibroscopia com lavagens segmentares. Apesar Discussão:
das medidas terapêuticas verificou-se agravamento
clínico, acabando por falecer. O prognóstico da amiloidose AL varia considera-
velmente, sendo a sobrevida média tão curta como
Discussão e Conclusões: Este caso clínico destaca 4-6 meses. A presença de envolvimento hepático e
a importância de considerar a hipótese diagnóstica cardíaco são factores de mau prognóstico, mas a
de infeção CMV em doentes imunocomprometidos, ausência de mieloma concomitante neste caso é
bem como a raridade da sua associação com PAP. um factor de bom prognóstico.

P n.º 0387  P n.º 0388 


Fígado e rim: o que pensar? Quando as intoxicações complicam
Margarida l. Nascimento(1);André Rosa Alexan- Leonor Naia(1);Tiago Valente(2);Marcelo Avei-
dre(1);Nuno Maia Das Neves(1);Filipa Malhei- ro(1);Tiago Rabadão(1);Rita Simões(1);Fani Ribei-
ro(1);Paulo Bernardo(1);João Cassis(1);Alexandra ro(1);Margarida Eulálio(1)
Bayão Horta(1) (1) Centro Hospitalar do Baixo Vouga / Hospital In-
(1) Hospital da Luz Lisboa fante D. Pedro, EPE (2) Centro Hospitalar do Baixo
Vouga / Hospital Infante D. Pedro
Tema: Doenças hematológicas
Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente crí-
tico
Introdução:
Introdução: As intoxicações medicamentosas vo-
A amiloidose é um grupo de doenças complexas luntárias (IMV) podem estar associadas a efeitos
causadas pela deposição extracelular de proteínas adversos (EA) imprevisíveis, graves e potencialmen-
fibrilares insolúveis, podendo resultar em grave dis- te fatais.
função de órgão. Os sinais e sintomas são normal-
mente inespecíficos.
CASO CLÍNICO: Mulher de 37 anos, admitida por
Caso clínico: IMV com 30 comprimidos de Alanerv, 20 de napro-
xeno 500mg e 10 de cloridrato de ciclobenzaprina
Homem de 60 anos com hipertensão, dislipidémia, 150mg uma hora e meia antes. Sem antecedentes
litíase renal e hiperplasia da próstata, com mal-es- e sem medicação crónica. À admissão, apirética,
tar geral, astenia e perda ponderal com 3 meses de normotensa e taquicárdica (135bpm). Analiticamen-
evolução. Analiticamente com lesão renal aguda te, Hb 14g/dL; Plaquetas 261x109/L; INR 1,1; GGT
(creatinina 2,06mg/dL, ureia 68mg/dL) e citocoles- 493U/L; AST 50U/L; CK 148U/L; Etanol 216,2mg/dL.
tase (AST 48UI/L, ALT 137UI/L, FA 356UI/L e GGT Na gasometria arterial lactatos 3,8mmol/L e acide-
249UI/L) sem hiperbilirrubinémia. Do estudo com- mia metabólica. Foi iniciada fluidoterapia endove-
plementar destacava-se velocidade de sedimenta- nosa e administrado carvão ativado. Desenvolveu
ção e proteinograma sérico normais, e vírus hepa- agitação psicomotora, tremor e diaforese 3 horas
totrópicos e VIH negativos. Foi internado no Serviço após a admissão, evoluindo com hipertermia e perfil
de Medicina Interna por agravamento do quadro tensional hipertensivo. Nas análises de controlo às
associado a dor no hipocôndrio direito. Da investi- 12 horas: bicitopenia de novo (Hb 11,8g/dL; Pla-
gação diagnóstica: 1) TC tóraco-abdómino-pélvica quetas 60x109/L); INR 1,2; CPK 803U/L; AST 58U/L;
sem neoformações suspeitas; 2) ecocardiograma Bilirrubina total 1,82mg/dL (Indireta 1.14mg/dL); FA
com dilatação auricular e hipertrofia ventricular 42U/L; GGT 387U/L. Teste de coombs direto positi-
esquerdas; 3) ferritina, saturação de transferrina, vo e esfregaço de sangue periférico sem esquizóci-
ceruloplasmina sérica e cobre urinário normais. tos. Após 48 horas, teve alta contra parecer médico
Do estudo de autoimunidade, destacava-se ANA – assintomática e com melhoria analítica (exceto
positivo com título 1/320. Por suspeita de hepatite trombocitopenia - 61x109/L).
autoimune, realizou biópsia hepática que revelou
infiltrado inflamatório periportal com expansão dos DISCUSSÃO: Os autores alertam para a necessi-
espaços-porta por deposição de substância eosinó- dade de uma abordagem sistematizada nas IMV,
fila amorfa positiva para Vermelho do Congo e com de forma a antever possíveis EA. Nem sempre se
birrefringência verde à luz polarizada, tendo o es- consegue determinar a substância responsável por
tudo de imunofluorescência marcado para cadeias um EA específico, sobretudo perante a ingestão de
lambda. A medula óssea tinha <10% de população vários fármacos. Neste caso, foi assumida anemia
plasmocitária neoplásica associada a deposição de hemolítica imuno-mediada e trombocitopenia se-
amilóide. A imunofixação sérica e urinária não de- cundárias ao naproxeno, com efeito sinérgico da
tectou fracções monoclonais. Admitida amiloidose proteína E ao potenciar a ação do AINE. A síndrome
AL com envolvimento hepático, renal e cardíaco, e serotoninérgica (SS) é uma possível complicação da
iniciou terapêutica com daratumumab, bortezomib, ciclobenzaprina quando associada a fármacos com
ciclofosfamida e dexametasona. Passados 8 me- efeitos serotoninérgicos. Contudo, pela presença
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 541
de sintomas autonómicos, neuromusculares e neu- (1) Centro Hospitalar Póvoa de Varzim/Vila do Con-
ropsiquiátricos não explicados por outra causa, foi de
assumida provável SS associada à ciclobenzaprina
na ausência de outros fármacos serotoninérgicos. Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio-
nais
P n.º 0389 
Esferocitose Hereditária - um caso de litíase biliar Introdução: A rabdomiólise é caracterizada pela
recorrente destruição do tecido muscular esquelético com
Leonor Naia(1);Tiago Rabadão(1);João Fausti- libertação de enzimas intracelulares para a circula-
no(1);Inês Pinheiro(1);Sofia Dias Silva(1);Gisela Fer- ção sanguínea, incluindo aldolase, creatinina cinase
reira(1);Eduardo Oliveira(1);Margarida Eulálio(1) (CK) e mioglobina. A clínica da rabdomiólise pode
(1) Centro Hospitalar do Baixo Vouga / Hospital In- ir de assintomática a doença potencialmente fatal.
fante D. Pedro, EPE Existem várias causas para a rabdomiólise, sendo
Tema: Doenças hematológicas uma das menos comuns a miopatia lipídica.

Introdução: A esferocitose hereditária (EH) é a ane- Caso clínico: O caso apresentado fala de um ho-
mia hemolítica mais comum, secundária a defeitos mem de 80 anos, medicado com sinvastatina por
das proteínas da membrana do eritrócito. Apresenta dislipidemia, que é admitido por fraqueza dos mem-
um espectro variado de manifestações clínicas, bros inferiores e mialgias com um mês de evolução
sendo frequente a formação de cálculos biliares pig- com valores de CK de 2885 e mioglobina de 2927
mentares. associados, em perfil ascendente. Realizados exa-
mes imagiológicos que não mostraram alterações
de relevo. Na investigação subsequente de destacar
CASO CLÍNICO: Mulher de 59 anos, com episódios um aumento da aldolase, de 29.9 U/L. Foi diagnos-
recorrentes e autolimitados de dor a nível do hipo- ticada, no mesmo episódio, Infeção do Trato Uri-
côndrio direito com irradiação lombar. Antecedentes nário (ITU), em doente sem sintomatologia do foro
de EH; síndrome de Gilbert (SG); litíase biliar desde urinário. Solicitada biópsia muscular, que revelou
os 22 anos, já submetida a 3 CPRE e abcesso hepá- alterações sugestivas de miopatia lipídica. O doente
tico por colangite 8 anos antes; colecistectomia e teve alta ao fim de cerca de um mês de tratamento
esplenectomia aos 36 anos. Medicada habitualmen- com fluidoterapia com melhoria clínica. Passados
te com ácido fólico 5mg e alprazolam 0,5mg. Exame cerca de seis meses, foi de novo internado por mial-
objetivo sem alterações. Analiticamente, Hb 15,1g/ gias generalizadas, com dor gemelar que agravava à
dL; VGM 99fL; Plaq 383x109/L; GGT 107U/L, Bi T deambulação e com limitação funcional importante.
1,42mg/dL (Bi I 1,10mg/dL) com restante enzimo- Objetivada rabdomiólise com agravamento transitó-
logia hepática normal; Albumina 4,8g/dL; Colesterol rio assumida por manutenção de estatina em doen-
total 239mg/dL (c-LDL 176mg/dL) e Triglicerídeos te com maior suscetibilidade pela miopatia de base.
187mg/dL; estudo autoimune e imunológico nor- À data de alta doente com melhoria clínica após
mais. Ecografia abdominal evidenciando lama biliar fluidoterapia e indicação para suspender estatina,
e dilatação das vias biliares intra-hepáticas e da via iniciar fibrato e evitar períodos de jejum prolongado.
biliar principal (VBP), com transição abrupta no ter-
ço distal. A colangio-RM confirmou lama impactada Discussão: Este caso relata uma situação clínica de
na vertente distal da VBP e acentuada dilatação da recorrência de episódios de rabdomiólise, em doen-
VBP a montante, com repercussão na árvore biliar te sem outra causa aparente para os mesmos, que
intra-hepática. Dado o diagnóstico de litíase recor- não a ITU documentada no primeiro internamento
rente sintomática com componente colestático, e a manutenção de terapêutica com estatina no
iniciou ácido ursodesoxicólico (AUDC) 10mg/kg/dia. segundo, associados à miopatia lipídica de base.
Desde então, assintomática e com normalização da A miopatia lipídica é rara, especialmente com diag-
enzimologia hepática. Ponderada nova CPRE, mas nóstico após os 65 anos de idade, sendo uma pato-
em reavaliação imagiológica recente, com vias bilia- logia de difícil controlo.
res intra-hepáticas não ectasiadas e VBP com 9mm,
permeável até à porção terminal. P n.º 0394 
Tudo apontava para o Paludismo … só que não era!
DISCUSSÃO: apresenta-se um caso de litíase biliar CLARA JORGE(1);Célia Tuna(1);Pedro Carlos(1);-
recorrente numa doente com EH e SG, submetida Francisco Belém(1);Artur Costa(1);António
a esplenectomia e colecistectomia. A manutenção Maio(1);Marlene Louro(1);Céu Evangelista(1);Marga-
de sintomas após cirurgia é incomum, mas está rida Ascensão(1);Leopoldina Vicente(1)
descrita e deve-se à presença de lama biliar ou de (1) Centro Hospitalar Cova da Beira, EPE / Hospital
microcálculos intra-hepáticos ou de coledocolitíase. Distrital da Covilhã
Apesar de controversa, neste caso, a utilização do
AUCD mostrou-se eficaz. Tema: Doenças infecciosas e parasitárias

P n.º 0392  Introdução: A Leismaniose visceral (LV) é uma


Miopatia lipídica como causa de rabdomiólise doença parasitária causada por protozoários do
Joana Vasconcelos(1);Luísa Eça Guimarães(1) género Leishmania, sendo transmitida por picada de

542
E-POSTERS
flebótomos. Pelos antecedentes pessoais e epide- rupção da homeostasia provocado por um factor
miologia deste doente, este caso foi desafiante no precipitante.
processo diagnóstico. 
Caso Clínico: Relata-se o caso de um homem de
Caso clínico: Homem de 50 anos, emigrado em 90 anos que recorreu ao Serviço de Urgência (SU)
Angola recorreu ao Serviço de Urgência (SU) por febre, por quadro de anasarca e dispneia. Como ante-
artralgias do tipo inflamatório com edema articular, dor cedentes pessoais destacava-se: doença renal
no hipocôndrio esquerdo (QSE) e perda ponderal.  O crónica, insuficiência cardíaca classe III da NYHA e
quadro tinha 15 dias de evolução, associando cefaleia, hipotiroidismo. Ao exame físico no SU apresentava
cervicalgia, sudorese noturna e descrição de picada de bradicardia (40 bpm), dessaturação periférica (83%
insecto. Já tinha sido previamente hospitalizado em em ar ambiente) e temperatura auricular de 35.8ºC.
Angola e do estudo salientava-se: trombocitopenia ci- Encontrava-se pouco reactivo a estímulos  (Escala
tocolestase, elevação dos parâmetros inflamató- de Coma de Glasgow de 8). À auscultação car-
rios, pesquisa de Malária, Dengue, Chikungunya, diopulmonar destacava-se hipofonese cardíaca e
Febre tifóide, Toxoplasmose e serologias víricas murmúrio vesicular diminuído à esquerda. Anali-
negativas, e realização de ecografia abdominal re- ticamente salientava-se: anemia normocítica nor-
velava uma hepatoesplenomegalia. De regresso a mocrómica 11.7 g/dl, agravamento da função renal
Portugal, sem diagnóstico estabelecido, recorreu (ureia/creatinina 145/ 3.02 mg/dL), hipercaliémia 6
ao SU por agravamento das queixas. Apresentava mmol/L, Pro-BNP 48 000 pg/ml, TSH 153 UI/L e T4L
como antecedentes pessoais: paludismo (2011 0.16 UI/L. Em termos gasimétricos evidenciava-se
e 2012) e colecistectomia. Referia cumprimento uma acidémia respiratória. Na radiografia toráci-
de profilaxias. Ao exame objetivo identificava-se fe- ca objectivou-se um derrame pleural à esquerda.
bre com icterícia cutânea, sem outras alterações Foi efectuada toracocentese evacuadora e diag-
cutâneas; sem sopros cardíacos audíveis; dor à nóstica revelando-se um transudato. No electrocar-
palpação do QSE; edemas dos membros inferiores. diograma apresentava um bloqueio auriculoventri-
Analiticamente apresentava leucocitose com neu- cular 1º grau. Foi assim assumido o diagnóstico
trofilia e anemia normocítica /normocrómica, de coma mixedematoso, iniciando-se terapêutica
evoluindo para pancitopenia; esfregaço de sangue com hidrocortisona endovenosa (100 mg de 8/8h) e
negativo para pesquisa Plasmodium; hiponatré- levotiroxina endovenosa (dose de carga 200 mcg),
mia; elevação 2 vezes superior o valor normal de seguido 25 mcg oral. Apresentou agravamento clíni-
transaminases e enzimas de colestase, e bilirrubina co e analítico, acabando por falecer.
total (mista) 2,67 mg/dl. Apesar do resultado do
esfregaço de sangue, optou-se por iniciar tera- Discussão: O coma mixedematoso apesar de ser
pêutica para a Malária com doxiciclina e artesunato, raro continua a ser fatal. O sucesso do tratamento
sem resposta. Da investigação mais alargada destacou- depende essencialmente do reconhecimento atem-
se hipergamaglobulinemia e serologia positiva para LV pado e da rápida instituição da terapêutica adequa-
levando ao tratamento dirigido com anfotericina B com da.
melhoria notória.  
P n.º 0398 
Conclusão: A evolução insidiosa e a confirmação Um caso raro de Linfadenopatia Dermatopática
laboratorial associada a métodos diagnósticos mo- Vera Lúcia Ferreira Luís(1);Joana Bonança Men-
rosos, podem levar a um atraso da terapêutica ade- des(1);Marta Lagido Rebelo(1);Estela Ferrão(1);Ma-
quada e aumento da mortalidade. A investigação ria José Grade(1);Luísa Arez(1)
bem delineada em contexto pluridisciplinar levou ao (1) Hospital Portimao
sucesso diagnóstico. 
Tema: Outro
P n.º 0395 
Ainda se morre de coma mixedematoso Introdução: A Linfadenopatia Dermatopática (LD) é
Célia Tuna(1);Clara Jorge(1);Sara Ferreira(1);Renato uma entidade patológica pouco comum, histologi-
Gonçalves(1);Pedro Carlos(1);Joana Coelho(1);Fran- camente caracterizada como hiperplasia paracorti-
cisco Belém(1);João Corrêa(1);Artur Costa(1);Ju- cal ganglionar reativa. Apresenta-se como linfade-
liana Carneiro(1);Ana Patrícia Silva(1);Diana Sou- nopatia generalizada e sintomas B, habitualmente
sa(1);Rita Silva(1);Leopoldina Vicente(1) secundário a lesões cutâneas crónicas. É uma con-
(1) Centro Hospitalar Cova da Beira, EPE / Hospital dição benigna, no entanto pode ser fator de risco
Distrital da Covilhã para Linfoma. 
Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio-
nais Caso clínico: Descreve-se um caso de um homem
indiano de 27 anos, construtor civil, sem anteceden-
tes patológicos conhecidos ou medicação habitual.
Introdução: O coma mixedematoso é uma emergên- Recorreu ao serviço de urgência por dor abdominal
cia endócrina rara, representando muitas vezes um de intensidade em 6/10, no quadrante inferior direito
desafio diagnóstico. É mais frequente no inverno (QID), com uma semana de evolução. Negou febre,
e em mulheres idosas. Ocorre habitualmente por perda ponderal ou outros sintomas sistémicos. No
falência dos mecanismos compensatórios e dis- contexto epidemiológico, tem o facto de ter residido

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 543


na India até há uns meses atrás, em condições de novos fármacos. Estudo exaustivo negativo para
insalubridade. Ao exame físico apresentava febre de causas víricas e estudo imunológico, incluindo pes-
38.1ºC, lesões violáceas pruriginosas e descama- quisa de auto Ac associados a HAI (em 2 momen-
tivas1, na região pré auricular desde há 3 anos. Na tos distintos), nomeadamente antinucleares, anti-
palpação abdominal apresentava volumosa massa -citoplasma de neutrófilo (ANCA), antimitocondriais
no QID, móvel, de consistência dura, bordos regu- (AMA), anti-microssomal fígado/rim (anti-LKM), an-
lares, dolorosa à palpação, tendo ficado internado ti-actina F3 e anti-citosol (anti-LC1) negativos. Reali-
para estudo. Analiticamente de relevo:  Hb 12.1g/ zou biópsia hepática cuja histologia revelou infiltra-
dL, VS 120mm/h, B-2-Microglobulina 6.90mg/L e do linfoplasmocítário, hepatite de interface, áreas
LDH 758mg/dL e PCR de 70mg/dL, sem outras de necrose confluente e rosetas hepatocitárias.
alterações. Na ecografia e TC Toracoabdominopél- Estabeleceu-se assim o diagnóstico de HAI. Ape-
vica verificou-se a presença de volumosas forma- sar de evolução favorável até assintomática e com
ções nodular ao nível do mediastino, retroperitoneal, decréscimo das transaminases, decidido iniciar
celio-mesentérico e lombo-aórtico, com necrose prednisolona 60mg/dia e posteriormente azatiopri-
central2, aspetos compatíveis linfoma. Pediu-se co- na 100mg/dia com corticoterapia em desmame até
laboração de cirurgia para biopsia excisional gan- suspensão. Manteve-se assintomática e com nor-
glionar, no entanto procedeu-se a biópsia incisional, malização do perfil hepático. Dois anos após início
que não permitiu confirmar a suspeita de linfoma de terapêutica repetiu biópsia que mostrou persis-
pelos artefactos de esmagamento. Realizada pos- tência de infiltrado linfoplasmocitário com fibrose
teriormente a biópsia excisional de dois gânglios portal, pelo que reiníciou corticoterapia. Evoluiu sem
inguinais que permitiu o diagnóstico de Linfadenite sintomas ou alterações analíticas.
Dermatopática.  Com este caso, os autores realçam a forma pouco
comum de apresentação de HAI, sem evidência de
Discussão: Ressalva-se a importância da anamnese anticorpos circulantes. Além disso, salienta-se que
e exame físico com integração de todos os dados a persistência histológica da atividade da doen-
para o diagnóstico diferencial, nomeadamente em ça apesar da normalização das transaminases é
doentes com adenopatias em estudo, a pesquisa uma possibilidade e requer intervenção terapêutica.
ativa de lesões cutâneas que podem indicar pato-
logia apontar para patologia como a tuberculose,
micoses, psoríase, sarcoidose entre outras. É de P n.º 0408 
salientar a ainda a importância da biópsia e a sua O sangue pode pregar partidas
correta realização para um diagnóstico histológico Maria Manuel Ferreira de Castro Torres da Cos-
mais célere e evitar a repetição de exames invasivos ta(1);Ana Luisa Barbosa(1);Joana Rodrigues(1)
(1) Centro Hospitalar de Entre Douro e Vouga, EPE /
P n.º 0399  Hospital de S. Sebastião
Hepatite autoimune - evolução de uma doença flu-
tuante Tema: Doenças hematológicas
Diana Rocha(1);Margarida Oliveira(1);Artur Sil-
va(1);Nídia Pereira(1) A lesão pulmonar aguda secundária a transfusão
(1) Unidade Local de Saúde de Matosinhos, EPE / é rara e, se não tratada de forma célere, pode ser
Hospital Pedro Hispano fatal. Definida pelo aparecimento de síndrome de
distress respiratório agudo até 6 horas após inicio
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas- de transfusão, sem relação temporal com outro fac-
culites tor de risco. Caracteriza-se por hipoxemia, febre e
hipotensão e infiltrado pulmonar bilateral em estudo
A hepatite autoimune (HAI) é uma doença hepática imagiológico. É de extrema importância o diagnós-
crónica, caracterizada pela presença de anticorpos tico diferencial. O tratamento cursa com suspensão
circulantes, elevação IgG, hepatite de interface na imediata da transfusão e instituição de medidas de
histologia e resposta favorável à imunossupressão. suporte ventilatório. O prognóstico varia.
É mais prevalente em mulheres e a sua apresenta-
ção clínica varia desde assintomática até falência Apresenta-se caso de mulher de 57 anos, com an-
hepática fulminante. Em até 20% dos casos não se tecedentes hipertensão arterial, dislipidemia, dia-
verifica elevação dos anticorpos (Ac) frequentemen- betes e obesidade medicada com anti-hipertensor,
te associados, aumentando o desafio diagnóstico. estatina, antiidiabético oral e insulina, e diagnóstico
Apresenta-se o caso de uma mulher de 36 anos, recente de cancro do colo do útero sob radioterapia
antecedentes de tiroidite de Hashimoto, recorreu e quimioterapia. Recorre ao Hospital de Dia para
ao serviço de urgência por febre, náuseas, astenia, realização de transfusão sanguínea, sendo que 15
associados a dor epigástrica agravada após as re- minutos após início da mesma referiu mal-estar
feições e urina de coloração castanha escura. Ao generalizado, objectivando-se febre, hipotensão
exame objetivo, icterícia das escleróticas e hepa- arterial, dessaturação periférica de 88% em ar am-
tomegalia cerca de 2 cm abaixo do rebordo costal. biente. Assumiu-se provável hipervolemia, suspen-
Analiticamente com elevação das transaminases, deu-se transfusão em curso e administrou-se furo-
mais de 20 vezes o normal, hiperbilirrubinemia di- semida, sem melhoria. Foi encaminhada para a sala
recta, albumina 3,2g/dL, INR 1,5 e discreto aumento de emergência, gasimetria que mostrou hipoxemia
de IgG. Sem consumo de produtos suspeitos ou procedendo-se a suporte ventilatório não invasivo
544
E-POSTERS
com oxigenioterapia suplementar. Realizou radio- com razão Calcio/Creatinina < 0.01. Realizou ainda
grafia do tórax com evidência de infiltrado bilateral múltiplos exames que excluíram outras causas me-
de novo, estudo analítico com discreto aumento dos diadas e não mediadas pela paratiróide. Sem toma
marcadores de fase aguda, sem alterações sugesti- de medicação causadora de hipercalcemia. Durante
vas de hemólise e BNP negativo. seguimento na consulta externa manteve-se assin-
tomático, com hipercalcemia estável. Assumiu-se o
Internada  por reacção adversa a transfusão sanguí- diagnóstico de hipercalcemia hipocalciúria familiar,
nea, tendo-se mantido apirética, hemodinamicamen- tendo o doente alta com indicação para vigiar sinto-
te estável, com melhoria clinica progressiva a pos- mas junto do seu médico assistente.
sibilitar desmame ventilatório. Do restante estudo
sem alterações analíticas de relevo, rastreio séptico Este caso serve para descrever uma causa rara de
sem isolamento de agente, angio-TC do tórax com hipercalcemia, benigna, mas com diagnósticos dife-
condensação em vidro despolido compatível com renciais potencialmente graves, pelo que devem ser
edema pulmonar, sem evidencia de TEP, cardiome- excluídos. Pretende-se alertar para a importância de
galia ou derrame pleural. pedir exames complementares de diagnóstico de
forma consciente, já que por vezes alterações são
Assim, assumido como hipótese de diagnóstico identificadas que obrigam o doente a ser exposto a
mais provável lesão pulmonar aguda secundária a múltiplos exames, causando ansiedade e exposição
transfusão. desnecessária.
Com este caso os autores pretendem apesentar P n.º 0410 
uma reacção adversa a transfusão rara e potencial- Caso raro de dispneia
mente fatal. Serve ainda para alertar que todos os Maria Costa(1)
actos médicos têm a suas consequências sendo de (1) Centro Hospitalar de Entre Douro e Vouga, EPE /
crucial importância ponderar os riscos e benefícios Hospital de S. Sebastião
que acarretam.
Tema: Doenças cardiovasculares
P n.º 0409 
Caso raro de hipercalcemia
Maria Costa(1);Ana Luisa Barbosa(1);Joana Rodri- O Síndrome Platipneia-ortodeoxia é uma entidade
gues(1) rara, provavelmente subdiagnosticada. Caracteriza-
(1) Centro Hospitalar de Entre Douro e Vouga, EPE / da por dispneia (platipneia) e dessaturação arterial
Hospital de S. Sebastião (ortodeoxia) em ortostatismo/posição sentada,
que melhora com o decúbito. Para o seu desenvol-
Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio- vimento é necessário um componente funcional
nais associado a um shunt interauricular ou intrapulmo-
nar. Quando o shunt é cardiaco, a alteração mais
comum é o foramen ovale patente, condição con-
A hipercalcemia hipocalciúria familiar é uma doença génita geralmente assintomática e subestimada.
genética, rara, transmitida de forma autossómica O seu diagnóstico assenta na suspeita clinica com
dominante, sendo que na maioria das vezes envol- confirmação de shunt direito-esquerdo. O tratamen-
ve mutação inactivadora do receptor sensível ao to passa pelo encerramento do shunt, procedimento
cálcio. Frequentemente assintomática, pode cursar com grande taxa de sucesso no alívio sintomático. 
com alterações cardíacas, do estado de consciên-
cia, obstipação, fraqueza muscular, alterações re-
nais, como nefrolitíase ou poliuria, condicionando Apresenta-se caso de mulher de 68 anos com an-
doença renal aguda ou cronica. É caracterizada por tecedentes de Hipertensão arterial e dislipidemia,
hipercalcemia, hipermagnesemia, hipocalciúria e medicada com bloqueador de canal de cálcio e
valores normais de PTH. O diagnóstico diferencial estatina. Recorre ao SU por quadro de dispneia em
com hiperparatiroidismo primário é de extrema im- ortostatismo com melhoria aquando de decúbito,
portância, sendo que para tal é importante o cálculo com cerca de 1 mês de evolução. Ao exame objecti-
da razão Calcio/Creatinina em urina de 24horas. O vo observada dessaturação periférica para 75% em
prognóstico é favorável, normalmente com evolução ar ambiente que melhorava para 98% em decúbito.
benigna sem necessidade de tratamento específico.     Do estudo realizado: gasimetria a revelar hipoxemia
na posição sentada que resolvia com o decúbito, TC
de tórax sem alterações de relevo, ecocardiografia
Relata-se caso de homem de 77 anos. Com diabe- transtorácica sem evidencia de shunt intracardíaco,
tes mellitus, hipertensão arterial, dislipidemia e car- ecocardiografia transesofágica com foramen ovale
diopatia isquémica, medicado com antidiabéticos patente com shunt espontâneo esquerdo-direito por
orais, anti-hipertensores e anti-agregante plaque- Doppler, contudo, após administração de soro salino
tário. Encaminhado pelo médico de família para a agitado e monobra de Valsalva, verificada passa-
consulta externa por hipercalcemia assintomática gem precoce e exuberante de bolhas para a aurícula
objectivada em análises de rotina. Do estudo reali- esquerda.
zado de salientar: PTH e PTH related protein normal,
discreta hipercalcemia (aumento do cálcio sérico Assumido Síndrome Platipneia-ortodeoxia secun-
corrigido para albumina e cálcio ionizado), hiper- dário a Foramen ovale patente, tendo-se procedido
magnesemia e hipocalciúria em urina de 24 horas,
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 545
ao seu encerramento. A doente teve alta sob dupla intensiva, sob prednisolona em desmame e azatio-
anti-agragação plaquetária e profilaxia de endocar- prina. Manteve seguimento em consulta de Neuro-
dite, e encaminhada para a consulta externa de car- logia, com reavaliação aos dois meses pós-interna-
diologia onde foi avaliada 1 mês após alta referindo mento com boa evolução.
resolução da sintomatologia e com ecocardiograma
de controlo sem alterações. Com este caso pretende-se apresentar uma doença
rara, necessitando o clinico de alto grau de suspei-
Com este caso pretende-se relatar uma síndrome ção para o seu diagnóstico atempado. Pretende
rara, subestimada, contudo com importância cres- ainda alertar para a importância das discussões
cente, devendo os clínicos estar alertados para a multidisciplinares, nas quais participam várias espe-
sua existência. O seu diagnóstico é simples e a re- cialidades, de forma a melhor tratar o doente.  
solução representa uma franca melhoria na qualida-
de de vida dos doentes. P n.º 0413 
Uma causa rara de anemia
P n.º 0412  Maria Costa(1);Joana Rodrigues(1);Ana Luisa Bar-
Da oncologia a Neurologia bosa(1)
Maria Costa(1);Ana Luisa Barbosa(1);Joana Rodri- (1) Centro Hospitalar de Entre Douro e Vouga, EPE /
gues(1) Hospital de S. Sebastião
(1) Centro Hospitalar de Entre Douro e Vouga, EPE /
Hospital de S. Sebastião Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
culites
Tema: Doenças oncológicas
Anemia hemolítica autoimune é uma doença rara,
A Miastenia Gravis é uma doença rara, mediada por mais frequente em adultos. Ocorre quando autoan-
auto-anticorpos dirigidos contra a junção neuromus- ticorpos reagem contra os antigénios da superfície
cular, originando fraqueza ocular, límbica, bulbar e das hemácias causando a sua lise. Pode ser classi-
dos músculos respiratórios flutuante. Confirmada ficada com base na reactividade dos autoanticorpos
pela detecção de auto-anticorpos específicos (con- a diferentes temperaturas, e na etiologia, como pri-
tudo, não obrigatórios) e estudos eletromiográficos. mária ou secundária. Clinicamente é heterogénea,
Pode estar associado a outras doenças auto-imu- variando de ligeira a fatal. O seu diagnóstico passa
nes ou a alterações no timo, estando esta última por evidência laboratorial de hemólise acompanha-
associação bem documentada. O tratamento passa da de identificação de autoanticorpos. O tratamento
por imunomodelação de acção rápida e imunossu- compreende terapia de suporte, imunosupressora,
pressão crónica, acompanhado do tratamento de assim como abordagem da eventual causa. Geral-
eventual causa subjacente. O prognóstico é variado, mente apresenta boa resposta inicial, contudo tem
sendo mais reservado em caso de associação com elevada taxa de recorrência, estando o prognóstico
timoma. dependente da etiologia.

Apresenta-se caso de homem de 59 anos, previa- Apresenta-se caso de uma mulher de 71 anos. Com
mente autónomo e cognitivamente íntegro, sem múltiplos factores de risco cardiovascular sob tera-
antecedentes de relevo ou medicação crónica habi- pêutia dirigida, fibrilhação auricular hipocoagulada,
tual. Quadro com cerca de 15 dias de evolução de e doença pulmonar crónica sob broncodilatador.
dispneia associada a fraqueza muscular, rouquidão Recorre ao Serviço de Urgência por cansaço para
e disfagia para líquidos. Exame físico à admissão esforços progressivamente menores, dispneia e pal-
com baixas saturações periféricas em oximetria de pitações. Ao exame físico com icterícia escleral e
pulso, com gasimetria arterial a confirmar insufi- colúria apos algaliação. Analiticamente objectivada
ciência respiratória global. Do estudo realizado TC anemia grave, acompanhada de hiperbilirrubinemia
de tórax com imagem compatível com timoma (tipo mista, aumento do LDH, reticulocitose, diminuição
B1, estadio I), Videoscopia de Deglutição com hipo- da haptoglobina, teste de coombs positivo (IgG e
tonia faríngea e paresia em adução da corda vocal CD3), esfregaço de sangue periférico com esferoci-
esquerda, serologia positiva para Anticorpos anti-A- tose e crioglutininas positivas. Fez imunofenotipa-
chR e eletromiografia corroborando a hipótese de gem de sangue periférico com expansão de LGL-T
disfunção da junção neuromuscular pós sináptica. CD8 com fenótipo inconclusivo, e realizou ecografia
Assim, confirmado diagnóstico de Miastenia Gravis abdominal com esplenomegalia.
secundário a Timoma.
Atendendo a ausência de história de fármacos indu-
Foi submetido a timectomia, e iniciou de piridostig- tores de hemólise ou transfusão prévia, assumiu-se
mina, imunoglobulina e corticóide sistémico. Inicial- diagnóstico de anemia hemolítica auto-imune de
mente com má evolução clinica com agravamento etiologia mista, filiada em doença linfoproliferativa.
da insuficiência respiratória com necessidade de A doente ficou internada, sob suporte transfusional
ventilação mecânica invasiva e desmame ventilató- on demmand, associada a corticoterapia, com boa
rio lento a condicionar necessidade de traqueosto- resposta clinica e analítica. A doente teve alta orien-
mia e miopatia do doente crítico. Após resolução do tada para a consulta externa de hematologia para
quadro agudo, orientado para centro de reabilitação vigilância e prossecução de estudo etiológico.

546
E-POSTERS
Com este caso os autores pretendem apresentar MAMA: UMA APRESENTAÇÃO RARA E CATASTRÓ-
uma doença rara, potencialmente fatal. Contudo a FICA DE RECIDIVA TUMORAL
associação entre anemia hemolítica auto-imune e Ana Rita Ramalho(1);Adriana Dias(1);Andreia Fer-
doença linfoproliferativa é frequente, devendo o cli- nandes(2);João Faria(1);José Magalhães(1);José
nico estar atento de forma a rapidamente diagnosti- Pedro Fernandes(1);Mafalda Ferreira(1);Mafalda
car e tratar.    Simões(1);Marco Pires(3);Pedro Fragoso(1);Pedro
Fernandes Moura(4);Ricardo Roque(1);João Por-
P n.º 0414  to(1);José Pereira de Moura(1);Armando de Carva-
Linfangioleiomiomatose pulmonar - a propósito de lho(1)
um caso clínico (1) Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra /
Vera Seara(1);Luciana Faria(1);Juliana Chen Hospitais da Universidade de Coimbra (2) IPO Coim-
xu(1);Rosa Ferreira(1) bra (3) Centro Hospitalar Uni. Porto (4) Centro Hos-
(1) Centro Hospitalar Póvoa de Varzim/Vila do Con- pitalar do Médio Ave, EPE / Unidade de Vila Nova de
de Famalicão
Tema: Doenças respiratórias Tema: Doenças oncológicas

Introdução: A linfangioleiomiomatose (LAM) é INTRODUÇÃO


uma doença multissistémica rara que afeta princi-
palmente mulheres jovens. LAM pulmonar é uma
doença pulmonar quística, geralmente generalizada A metástase é a principal causa de morte dos doen-
e progressiva. Pode ter apresentação clínica com tes com carcinoma da mama, e a sua manifestação
pneumotórax espontâneo, que ocorre em cerca de clínica ocorre de forma assíncrona da do tumor
um terço dos doentes. Esta doença é um desafio primário. Com este caso pretendemos, simultanea-
quer no seu diagnóstico, mas também no seu trata- mente, sensibilizar para a importância de considerar
mento e apresenta mau prognóstico globalmente. a recidiva doentes tidos como curado e, porque
prevenir é melhor que remediar, para a pertinência
que novas intervenções terão na identificação de
Caso Clínico: Mulher de 41 anos, não fumadora, doentes em risco de metastização, o que acarreta
antecedentes pessoais de asma alérgica e pneu- importância prognóstica.
motórax espontâneo à direita há 5 anos. Recorre
ao serviço de urgência por dor torácica do tipo CASO CLÍNICO
pleurítica e dispneia progressiva, sendo internada
por novo pneumotórax espontâneo à esquerda. Na Mulher de 63A apresentava perda progressiva da
tomografia computorizada (TC) é visível pneumotó- força dos membros inferiores com 3 meses de
rax, enfisema pulmonar e múltiplas lesões quísticas evolução e com paraparésia nas últimas 3 sema-
de parede fina distribuídas por ambos os pulmões. nas. Foi internada na Psiquiatria com o diagnóstico
Refratário ao tratamento instituído, com coloca- de Síndrome Conversiva e foi posteriormente ava-
ção de dreno torácico e aspiração, foi submetida a liada por Medicina Interna por não resolução do
pleurodese por cirurgia toracoscópica guiada por quadro, apresentando ao exame objetivo sinais de
vídeo (VATS), com resseção do aglomerado bolhoso mastectomia direita, uma tumefação pré-esternal,
pulmonar.  A histologia e estudo imunocitoquímico e força muscular dos membros inferiores grau 0.
do tecido pulmonar permitiu o diagnostico de lin- Realizou TAC que revelou várias lesões líticas e fra-
fangioleiomiomatose. Orientada para reabilitação tura patológica de T8, tendo ficado internada com o
respiratória e consulta de pneumologia. As provas diagnóstico de metastização óssea difusa de primá-
funcionais respiratórias encontravam-se dentro dos rio oculto.
limites da normalidade, porém pelo agravamento
clínico e imagiológico, iniciou terapêutica inalatória A doente havia sido submetida em 2003 a mastec-
com broncodilatadores e sirolimus. tomia radical modificada por carcinoma da mama
direita do tipo ductal invasor, pT2pN1cM0. Realizou
Conclusão: O LAM deve estar no diagnóstico dife- QT (que interrompeu por intolerância) e RT adjuvan-
rencial de qualquer doente do sexo feminino com tes, mantendo vigilância periódica, com uma última
sintomas sugestivos, nomeadamente fadiga, disp- avaliação em 08/2019 sem sinais de recidiva loco-
neia, dor torácica ou ocorrência de pneumotórax es- -regional.
pontâneos recorrentes. O diagnóstico pode ser feito
com TC pulmonar de alta resolução, mas na maioria Pela suspeita clínica de recidiva, realizou:
dos casos, é também obtida uma biópsia pulmo-
- Ecografia/Mamografia: formação tumoral com cer-
nar. O plano terapêutico inclui oxigénio suplementar,
ca de 55x26mm com microcalcificações na região
broncodilatadores, reabilitação pulmonar e o uso de
da mastectomia;
sirolumus, que retarda a progressão do compromis-
so respiratório. Contudo, o transplante de pulmão - Doseamento de CA 15.3: 165U/L;
continua a ser o único tratamento definitivo.
- TAC-TAP: múltiplas lesões líticas associadas a
P n.º 0422  massa de tecidos moles;
METASTIZAÇÃO DIFUSA DE CARCINOMA DA

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 547


- PET: metastização ganglionar, pleural bilateral, decidido tratamento paliativo.
hepática e óssea disseminada de natureza lítica,
com volumosas massas músculo-esqueléticas des- Conclusão: Os autores apresentam o caso pela
trutivas no esterno, na coluna, no sacro e no fémur raridade da associação de 2 patologias de baixa
esquerdo. prevalência - o cancro da mama em homens e a sar-
coidose, bem como a importância e complexidade
- Biópsia da massa esternal: metástase de carcino- da investigação diagnóstica, e a necessidade de se
ma da mama com ER/PR+ em >90% e HER2 -. estar alerta para a dinâmica dos sinais e sintomas
ao longo do tempo.
Pelo grau avançado de doença e prognóstico reser-
vado iniciou terapêutica paliativa. P n.º 0436 
Para lá da dispneia
DISCUSSÃO Cristina Isabel Moreira Marques(1);Marinha Sil-
va(1);Carina Costa e Silva(1);Maria Teresa Boncora-
Infelizmente existe ainda um importante risco de glio(1);Márcia Ribeiro(1);Ana Ogando(1)
recidiva do carcinoma da mama, e a sua apresenta- (1) Hospital Santa Maria Maior de Barcelos
ção como metastização à distância não é incomum.
Por isso é imprescindível que estejamos sensibiliza- Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas
dos para este quadro, para permitir um diagnóstico
precoce e potencialmente modificador de prognós-
tico. Introdução: Dispneia é o termo utilizado para
descrever a experiência subjetiva de desconforto
P n.º 0433  respiratório. As causas são múltiplas, podendo ter
Cancro da mama, uma doença de homens origem em patologia pulmonar, cardiovascular, he-
Cristina Marques(1);Ana Francisca Pereira(1);Márcia matológica, neurológica e psíquica.
Ribeiro(1);Ana Ogando(1);Carlos Oliveira(1)
(1) Hospital Santa Maria Maior de Barcelos CASO CLÍNICO: Homem de 65 anos, autónomo nas
atividades de vida diária, com antecedentes de hi-
Tema: Doenças oncológicas pertensão arterial sob IECA, nódulo da tiróide sem
alteração da função e passado de tabagismo de 12
Introdução: O cancro da mama é responsável por UMAS. Referenciado de Pneumologia para a Consul-
menos de 1% do total das neoplasias que afetam ta de Medicina Interna por quadro de dispneia sem
homens, apresentando-se em idades e estádios relação com esforço, com evolução para ortopneia,
mais avançados do que nas mulheres, sendo unila- com cerca de 7 meses de evolução, associado a
terais. Geralmente respondem a hormonoterapia e perda ponderal de 6kg. Do estudo efetuado, TC pul-
os fatores de risco incluem tratamento hormonal, monar com “pequena atelectasia subsegmentar no
história familiar de cancro da mama, obesidade, cir- lobo inferior esquerdo, e também diminuta à direita”;
rose, consumo de álcool e exposição a radiação. espirometria com padrão restritivo; ecocardiograma
com função biventricular preservada, insuficiência
mitral ligeira e PSAP normal; sem eventos disrít-
Caso Clínico: Homem de 57 anos, antecedentes
micos documentados em Holter. Ao exame físico,
de hipertensão arterial, obesidade e carcinoma de
fasciculações dos membros superiores em repouso
mama 4 anos antes, submetido a cirurgia e quimio-
com atrofia muscular das mãos, associando disar-
terapia, com critérios de remissão, mantendo-se sob
tro-disfonia moderada, com reflexo mentoniano
terapêutica com tamoxifeno. Enviado à Consulta de
ausente, fraqueza da preensão palmar e abdução
Medicina Interna em 2018 por adenopatias medias-
dos braços, fraqueza dos flexores do pescoço com
tinicas, hilares e supraclavicular direita, com PET a
reflexos osteotendinosos presentes, simétricos
revelar “focos de avidez em todas as adenopatias
mas de baixo limiar. Pedida eletromiografia: “sinais
relacionadas com patologia inflamatória”. Biopsia
de desenervação ativa e de reinervação em três
com aspectos morfológicos de linfadenite crónica
de quatro segmentos corporais”, compatível com
granulomatosa não necrotizante. Analiticamente
doença do neurónio motor. Referenciado para Neu-
cálcio urinário elevado, enzima conversora da an-
rologia, sendo confirmado diagnóstico de esclerose
giotensina normal, velocidade de sedimentação
lateral amiotrófica (ELA).
20mm, quantiferão negativo. TC de reavaliação com
adenopatias previamente descritas e tecido pulmo- CONCLUSÃO: As fasciculações e atrofia são uma
nar com padrão em mosaico nos lobos inferiores. consequência direta da degeneração dos neurónios
Iniciada prednisolona 20mg/dia para tratamento de motores, originando denervação muscular. O espec-
sarcoidose pulmonar estadio 3. À reavaliação, quei- tro clínico das doenças do neurónio motor é amplo,
xas álgicas generalizadas e fratura não traumáticas sendo a ELA a forma mais frequente. As manifesta-
de 2 arcos costais uma semana antes. TAC toraco- ções clínicas variam mediante o segmento do cor-
-abdomino-pélvico revelou 2 nódulos pulmonares po afectado. Os autores pretendem alertar para o
de natureza imprecisa, lesões osteolíticas na grade reconhecimento de causas infrequentes de dispneia
costal, coluna vertebral e espinha ilíaca direita. Bióp- e para a diversidade de sintomas cardinais manifes-
sia da lesão da espinha ilíaca compatível com ade- tado em doenças neurodegenerativas.
nocarcinoma de mama. Por recidiva de neoplasia da
mama com metastização óssea, pulmonar e pleural P n.º 0438 
548
E-POSTERS
Um caso raro de carcinoma neuroendócrino penia de importância crescente com a adoção de
Mariana Almeida(1);Carina Ramalho(1);Francisco dietas isentas de produtos de origem animal. Con-
Gomes(1);Maria do Rosário Ginga(1);Martinho Fer- tudo, outras causas de pancitopenia não devem ser
nandes(1) descuradas no estudo destes doentes. Este caso
(1) Hospital do Barreiro descreve uma pancitopenia por aparente défice de
vitamina B12 que revelou uma leucemia mielóide
Tema: Doenças oncológicas aguda (LMA).

Homem, 83 anos, com antecedentes de prostatecto- Caso clínico:


mia e carcinoma basocelular da face, encaminhado Doente de 70 anos, autónomo, com astenia com um
a Consulta de Medicina Interna por adenopatia na mês de evolução. O estudo analítico mostrou pan-
região inguinal direita com cerca de 4 meses de citopenia com macrocitose e elevação dos parâme-
evolução. Ao exame objectivo, palpou-se adenopa- tros de hemólise. O esfregaço de sangue periférico
tia 11x6 cm, fixa aos planos profundos e indolor. O era normal. O doente foi internado com o diagnós-
doente negou sintomas B, do trato gastrointestinal tico de pancitopenia de etiologia não esclarecida.
ou respiratório ou alterações cutâneas. Analitica- No internamento, o estudo etiológico mostrou vita-
mente, hemograma, coagulação, função renal, perfil mina B12 indoseável, com anticorpos anti-células
hepático e electroforese das proteínas sem altera- parietais positivos. O doente tinha ainda adotado
ções; VS – 44 mm e PCR - 10,5 mg/L aumentadas; no último ano uma dieta vegan, sem consumo de
LDH aumentada 1228 UI/L; NSE aumentado 170,8 produtos de origem animal. O caso foi interpretado
ng/mL; cromogranina A dentro dos valores de refe- como pancitopenia por défice de vitamina B12 e foi
rência; serologias virais negativas. Realizou bronco- iniciada suplementação. Uma semana depois, as
fibroscopia, endoscopia digestiva alta e colonosco- contagens celulares melhoraram e a LDH e a bilir-
pia, sem alterações. A TC toracoabdominopelvica rubina normalizaram. O doente teve alta orientado
(TAP) descreveu “extenso aglomerado adenopático para consulta externa, um mês depois, onde surge
da região inguinal direita (RID), com áreas de necro- novamente asténico, pálido e novo agravamento
se, com cerca de 11x8 cm de diâmetro, sem outras das contagens celulares e aumento dos parâmetros
adenopatias. Realizada RM, que descreveu “volumo- de hemólise, apesar de vitamina B12 normal/alta.
sa lesão proliferativa de etiologia neoplásica, loca- Apresenta, de novo, lesões purpúricas nos membros
lizada na FID, diâmetro de 5,8x5cm, na proximidade inferiores. Foram excluídas causas infeciosas e au-
dos territórios femural comum e superficial, sem toimunes. A biópsia medular mostrou leucemia mie-
critérios de invasão ou infiltração vascular. Está as- lóide aguda com diferenciação monocitária, com
sociada a adenopatias, no território da ilíaca externa ocupação extensa por blastos. A biópsia cutânea
direita, com cerca de 2,2 cm.” Procedeu-se a biópsia mostrou infiltração por leucemia. Iniciou ciclo de
de gânglio inguinal, cujo resultado descreve “infiltra- 5-azacitidina, com má resposta, tendo vindo a fale-
ção por neoplasia maligna pouco diferenciada de cer um mês depois.
padrão sólido, índice mitótico >5/HPF, com áreas de
necrose, com positividade para CK20, sinaptofisina, Discussão:
cromogranina e EMA, sendo compatível com carci-
noma indiferenciado neuroendócrino (CNE) inguinal A LMA é uma doença que tem habitualmente apre-
direito com metástases ganglionares inguinais. O sentação fulminante, com blastos no sangue perifé-
doente cumpriu ciclo de radioterapia e quimiotera- rico e elevada mortalidade. Este é um caso de apre-
pia com posterior resseção tumoral. A apresentação sentação atípica, que demonstra a importância do
mais comum de CNE é de origem gastrointestinal diagnóstico etiológico preciso mesmo dos quadros
ou pulmonar, pelo que a apresentação num gânglio clínicos banais.
linfático é uma situação extremamente rara, com
muitas causas possíveis: uma delas revela que seja P n.º 0449 
resultado de uma metastização de um tumor oculto Maria tifóide – um infeção parasitária galopante
ou de um carcinoma já regresso. Diana Ferrão(1);Telma Moreno(1);Clara Silva(1);Pe-
dro Ribeirinho Soares(1);Luís Silva(1);Jorge Almei-
da(1)
P n.º 0447 
(1) Centro Hospitalar de S. João, EPE
Um falso défice de vitamina B12
Diana Ferrão(1);Francisco Gonçalves(1);Clara Sil- Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
va(1);Pedro Ribeirinho Soares(1);Joana Pimenta(2);-
Jorge Almeida(1)
(1) Centro Hospitalar de S. João, EPE (2) Centro Introdução:
Hospitalar de Vila Nova de Gaia / Espinho
As infeções parasitárias são causas infrequentes de
Tema: Doenças hematológicas doença em doentes imunocompetentes. Raramente,
podem provocar quadros graves e rapidamente pro-
Introdução: gressivos, com disfunção multiorgânica e morte em
poucas horas.
O défice de vitamina B12 é uma causa de pancito- Caso clínico:

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 549


Doente do sexo feminino, 62 anos, cozinheira num Doente do sexo feminino, 66 anos, com anteceden-
restaurante, sem antecedentes patológicos. Recor- tes de miocardiopatia dilatada familiar, fibrilhação
reu ao médico de família por quadro com um mês auricular (FA) e acidente vascular cerebral (AVC)
de evolução de epigastralgias, vómitos e perda pon- no ano transato, medicada com apixabano e clo-
deral de 11kg. Realizou endoscopia digestiva alta pidogrel (numa tentativa de minimizar a formação
que revelou candidíase esofágica e duodenite ulce- trombótica intracardíaca, após ocorrência de AVC
rativa e endoscopia digestiva baixa com múltiplas sob hipocoagulação). Foi admitida no Serviço de
erosões. Foram feitas biópsias cujo resultado ficou Urgência por novo AVC da artéria cerebral média
em curso e a doente foi enviada ao Serviço de Ur- esquerda, com NIHSS 18. Foi submetida a trombec-
gência (SU) para estudo complementar. À admissão tomia mecânica, com NIHSS 11 pós-procedimento.
ao SU apresentava-se emagrecida, hemodinami- Foi internada para otimização terapêutica. O AVC foi
camente estável, sem outras alterações no exame interpretado como cardioembólico em doente com
objetivo. Analiticamente, tinha leucocitose de pre- dilatação exuberante das câmaras cardíacas e FA
domínio neutrofílico, proteína C reativa de 42,5mg/L documentada. Após ter tido dois eventos vascula-
e hiponatrémia. O teste HIV foi negativo. Fez TC res sob antiagregação e hipocoagulação, foi feito
toracoabdominopélvica que mostrou espessamento estudo de sensibilidade ao clopidogrel que mostrou
difuso das paredes gástrica, duodenal e jejunal e resistência intrínseca ao fármaco. Foi iniciado tica-
padrão em mosaico das bases pulmonares. Iniciou grelor em substituição do clopidogrel. Foi alterado
fluconazol na presunção de candidíase esofágica o hipocoagulante para dabigatrano e feitos dosea-
e foi admitida para continuação de cuidados. No mentos em vale para confirmação de dose terapêu-
primeiro dia de internamento iniciou quadro de in- tica. A doente teve alta orientada para uma clínica
suficiência respiratória hipoxémica e hipotensão de reabilitação motora, recuperando capacidade de
de novo. Evoluiu desfavoravelmente com choque marcha e discurso, perdidas aquando da admissão
séptico com disfunção cardiovascular e respiratória, hospitalar. Após um follow-up de três anos, mante-
sendo transferida para uma Unidade de Cuidados ve-se sem novos eventos tromboembólicos.
Intensivos (UCI), tendo sido intubada, iniciado su-
porte vasopressor e posteriormente adaptada a cir- Discussão:
culação extracorporal (ECMO) venoarterial. Foram
conhecidos os resultados das biópsias feitas no ex- A utilização de anticoagulantes diretos tem-se
terior que revelaram duodenite parasitária por Stron- mostrado segura e eficaz na prevenção de eventos
gyloides stercoralis. Apesar do início de albendazol tromboembólicos em doentes com dilatação de câ-
e ivermectina, manteve evolução desfavorável, com maras cardíacas e FA. Contudo, em casos raros, ela
choque refratário, tendo sido decidido interromper pode não ser suficiente e existe alguma evidência
medidas de suporte. A doente veio a falecer quatro para associar um antiagregante. A ocorrência des-
dias após a admissão hospitalar. tes eventos em doentes sob bloqueio de ambas as
etapas da hemóstase deve fazer levantar a suspeita
Discussão: de resistência aos fármacos e/ou uso de doses ina-
dequadas.
A infeção por Strongyloides steroralis é rara em
países desenvolvidos e está associada à conta- P n.º 0456 
minação fecal de solo ou água. É habitualmente Nem toda a massa retroperitoneal é maligna
indolente em adultos imunocompetentes, em casos Teresa Medeiros(1);Rute Brás-Cruz(1);Joana Dos
raros podendo provocar doença disseminada com Santos(1);M.Catarina Tavares(1);Rita Guedes(1)
disfunção multiorgânica. (1) Unidade Local de Saúde de Matosinhos, EPE /
Hospital Pedro Hispano
P n.º 0450 
Um azar nunca vem só – um caso incomum de Tema: Doenças oncológicas
miocardiopatia dilatada familiar
Diana Ferrão(1);Telma Moreno(1);Clara Silva(1);Pe- O linfagioma cístico (LA) é uma neoplasia benigna
dro Ribeirinho Soares(1);Luís Silva(1);Jorge Almei- de origem linfática, rara, e resulta da proliferação
da(1) focal de tecido linfático bem diferenciado. Mais
(1) Centro Hospitalar de S. João, EPE frequente em crianças (sobretudo a nível cervical e
axilar), sendo uma patologia muito rara nos adultos,
Tema: Doenças cardiovasculares predominando a localização mesentérica/retroperi-
toneal. O tratamento de primeira linha é a ressecção
Introdução: cirúrgica completa, todavia, dada a dificuldade téc-
nica devido ao envolvimento de estruturas envolven-
A miocardiopatia dilatada favorece a formação de tes, a escleroterapia é uma técnica em crescimento.
trombos intracardíacos com potencial de emboli- Mulher de 46 anos com litíase renal foi encaminha-
zação. Muitos destes doentes são hipocoagulados da à consulta de Urologia por dor recorrente nos
para prevenir eventos tromboembólicos. Mas e flancos. A Tomografia computorizada toracoab-
quando a hipocoagulação e antiagregação não são dominopélvica (TC-TAP) mostrou conglomerado
suficientes? adenopáticoexuberante no retroperitoneu médio de
aspecto predominantemente quístico (10 x 9,5cm).
Caso clínico: Apresentava astenia com 1 ano de evolução, disp-

550
E-POSTERS
neia de esforço e palpitações, sem sintomas cons- nal que apresentava dois nódulos no segmento V
titucionais associados. Fez duas biópsias da lesão e IV com captação de contraste, com 16 e 35 mm
guiadas por TC, não conclusivas. Foi internada para respectivamente, sugestivas de HNF. Assumida
biópsia excisional do conglomerado onde se encon- hepatite vírica a CMV com resolução espontânea e
trou lesão cística e angiomatosa lateroaórtica sem melhoria sintomática sem tratamento dirigido. Sus-
componente sólido aparente. Esta biópsia revelou pendeu ACO e foi orientada para consulta externa
lesão multicística com paredes finas revestidas por de Medicina Interna para estudo. Realizou resso-
endotélio (CD31+), com raros e pequenos agrega- nância magnética abdominal que confirmou o diag-
dos nóstico das duas lesões de HNF, uma delas com
linfóides, compatível com LA. Por apresentar dor e aumento de tamanho e diagnosticando uma terceira
evidência imagiológica de compressão da veia cava lesão no lobo direito. Assim relatado um caso de
inferior, vasos renais e do sistema excretor do rim HNF com lesões múltiplas, uma delas com progres-
esquerdo com ligeira/moderada hidronefrose, deci- são, todavia sem agravamento da citocolestase e
dida cirurgia citorredutora. Submetida a laparotomia com estabilidade clínica mantendo actualmente
com exérese cirúrgica da quase totalidade da lesão. vigilância em consulta.
Angio-TC-TAP após procedimento mostrou trom-
bose da artéria renal esquerda com hipoperfusão A HNF é uma lesão benigna habitualmente estável e
renal, pelo que iniciou hipocoagulação. Actualmente sem complicações sendo que lesões deste género
com resolução total dos sintomas e função renal com aumento de tamanho ou de número durante o
preservada. acompanhamento clínico são extremamente raras.
A distinção entre estas lesões de outras situações
patológicas como nódulos cirróticos, adenomas
O LA tem uma taxa de recorrência de 15%, se a hepáticos ou hepatocarcinoma é difícil, sendo por
exérese for incompleta, e as suas complicações es- vezes necessária a combinação de vários exames
tão relacionadas com o tamanho e local da massa de imagem, todavia RMN é o exame com maior sen-
linfática, estando recomendando um follow-up até sibilidade e especificidade.
2 anos. Neste caso apresenta-se um caso raro em
adultos, chamando a atenção para o papel desta P n.º 0461 
entidade no diagnóstico diferencial de massas linfá- Uma causa rara de metastização na suprarrenal –
ticas retroperitoneais. leiomiosarcoma uterino
Luís Guilherme Santos(1);Rui Caceiro(1);Joana
P n.º 0459  Madeira(1);Maria Beatriz Pimentão(1);João Coste-
Hiperplasia Nodular Focal, quando a lesão não vem lha(1);Adélia Simão(1);Armando de Carvalho(1)
só! (1) Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra /
Teresa Medeiros(1);Rute Brás-Cruz(1);Ana Catarina Hospitais da Universidade de Coimbra
Silva(1);Hugo Oliveira(1)
(1) Unidade Local de Saúde de Matosinhos, EPE / Tema: Doenças oncológicas
Hospital Pedro Hispano
Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá- Introdução: Os leiomiosarcomas uterinos (LMSu)
ticas são tumores agressivos derivados do músculo liso
do útero. Quase sempre metastizam e têm mau
prognóstico. São o tipo mais comum de sarcoma
A hiperplasia nodular focal (HNF) é a segunda lesão uterino, mas apenas 1-2% de todas as neoplasias do
benigna do fígado mais comum depois do heman- útero. São tumores raros, com heterogeneidade clí-
gioma. A sua patogenia permanece incerta mas nica, radiológica e histológica, constituindo desafios
parece estar relacionada com anormalidades vascu- diagnósticos e terapêuticos.
lares. Normalmente afeta mulheres em idade repro-
dutiva. É constituída habitualmente por uma lesão
solitária, mas em 20 a 30% dos casos os pacientes Caso Clínico: Mulher, 72 anos. Antecedente de pa-
podem ter de 2-5 lesões hepáticas. O tratamento de- raplegia iatrogénica (punção lombar). Admitida no
finitivo é exérese cirúrgica, estando reservada para serviço de urgência por quadro de dispneia progres-
casos sintomáticos. siva e anorexia. À admissão apresentava hipoxemia
e imagem radiológica torácica suspeita (hipotrans-
parência não confluente bilateral). Perante a clínica,
Mulher, 26 anos, sem antecedentes de relevo, medi- elevação de D-dímeros e necessidade de esclare-
cada apenas com anticoncepcional oral (ACO), foi cimento da imagem pulmonar, fez angiotomogra-
admitida por quadro de astenia e mialgias com 3 fia do tórax que revelou metastização pulmonar
semanas de evolução. Não apresentava alterações maciça e excluiu tromboembolismo. Internada para
no exame objectivo. No estudo realizado apresenta- estudo, fez tomografia toraco-abdomino-pélvica que
va citocolestase hepática (TGO 240 mg/dL, TGP 370 mostrou metastização hepática difusa, uma gran-
mg/dL, Bilirrubina total 2.4 g/dL, GGT 142 UI/L), sem de massa infrahepática na suprarrenal direita com
coagulopatia, aumento de paramentos inflamatórios compressão do rim e da veia cava inferior e uma
(Linfocitose com presença de linfócitos atípicos, formação heterogénea no útero. Realizada biópsia
PCR 50.07 mg/dL) e serologias positivas para CMV à massa suprarrenal com resultado histológico de
(IgG e IgM) com carga viral positiva (2800U/L), sen- leiomiosarcoma. Tumor primário uterino confirmado
do o restante estudo negativo. Realizou TC abdomi-
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 551
com biópsia dirigida. Após discussão multidiscipli- com melhoria lenta e progressiva do quadro.
nar e atendendo ao grau avançado da doença, não
sendo candidata a terapêutica curativa, a doente foi Discussão: A deficiência de vitamina B12 pode cur-
orientada para seguimento pela equipa intra-hospi- sar com polineuropatia simétrica, de padrão axonal,
talar de cuidados paliativos. geralmente de predomínio sensitivo, à semelhança
do verificado neste caso. A degenescência combi-
Discussão: Os leiomiosarcomas uterinos, sendo ra- nada subaguda dos cordões medulares ocorre em
diologicamente indistinguíveis dos miomas e tendo estadios graves de deficiência vitamínica e pode
uma apresentação clínica muito heterogénea, são progredir para paraplegia. O tratamento consiste na
tumores de difícil diagnóstico. Este trabalho incide reposição vitamínica. A resposta depende da gravi-
sobre um caso de  LMSu com padrão de metastiza- dade do atingimento nervoso e do tempo decorrido
ção muito raro (suprarrenal) e clinicamente atípico entre os sintomas e o início do tratamento. A recu-
(ausência de sintomas ginecológicos). Constitui peração máxima é geralmente atingida entre os 3 a
um desafio diagnóstico que realça a importância da 6 meses de tratamento.
cooperação multidisciplinar na deteção célere das
neoplasias raras. P n.º 0465 
Anemia Aplásica: a propósito de um caso clínico
P n.º 0464  Ana Catarina Trigo(1);Filipa Guimarães(1);Rita No-
Degenerescência combinada subaguda: a propósito versa(1);Diana Rocha(1);Artur Silva(1);André Azeve-
de um caso de deficiência de vitamina B12 do(1);Manuela Mendes(1)
Ana Catarina Trigo(1);Ana Pinho(1);Joana Mo- (1) Unidade Local de Saúde de Matosinhos, EPE /
rais(1);Filipa David(1);José Ribeiro(1);Nuno Amo- Hospital Pedro Hispano
rim(1);Vanessa Carvalho(1);Cristina Rodrigues(1)
(1) Unidade Local de Saúde de Matosinhos, EPE / Tema: Doenças hematológicas
Hospital Pedro Hispano
Introdução: A Anemia Aplásica (AA) é uma forma
Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio- adquirida de falência da medula óssea (MO), rara
nais (incidência ~ 2:1.000.000 casos/ano). Acredita-se
existir um fundo autoimune mediado por linfocitos T
Introdução: A vitamina B12 é uma vitamina hidros- autorreactivos na origem da destruição das células
solúvel, obtida através da ingestão de alimentos de hematopoiéticas, resultando em pancitopenia. Exis-
origem animal, e que atua como cofator de enzimas tem vários agentes causais conhecidos (fármacos,
envolvidas na síntese de DNA, RNA e metionina, fun- tóxicos, radiação ionizante, doenças autoimunes
damentais para a replicação celular, síntese de mie- e infeções víricas), no entanto cerca de 50-80% são
lina e normal funcionamento neuronal. A deficiência classificadas como idiopáticas. A apresentação cor-
prolongada de vitamina B12 pode ser assintomática relaciona-se com as citopenias, sendo comum a
ou apresentar-se de forma variada com anemia me- presença de sintomas anémicos e hemorragia mu-
galoblástica, sintomas gastrointestinais e/ou mani- cocutânea. O diagnóstico requer avaliação medular,
festações neuropsiquiátricas. Ela pode ocorrer na habitualmente caracterizada por hipocelularidade,
presença de aporte insuficiente ou na presença de com diminuição das células imaturas e ausência de
distúrbios da absorção. displasia. O tratamento inclui a correção de poten-
ciais causas, imunossupressão e suporte transfu-
Caso Clínico: Mulher de 32 anos, autónoma, com sional.
oligofrenia e de estrato socio-económico desfavo-
recido. Recorreu ao SU por astenia, dificuldade na Caso Clínico: Homem, 53 anos, parcialmente de-
marcha, parestesias nas mãos e pés, e disestesias pendente, com perturbação psiquiátrica estável e
nos pés. Referida diminuição da ingesta. Negados medicada há anos com carmabazepina, risperidona,
estigmas clínicos de síndrome de má absorção e triexifenidil e diazepam. Sem exposição prévia a ou-
perdas hemáticas. Ao exame físico destacava-se tros fármacos, tóxicos ou radiação ionizante. Recor-
palidez da pele e mucosas; hiperalgesia, diminuição reu ao SU por prostração e dispneia. Hemograma
da sensibilidade postural e tetraparésia flácida de a mostrar anemia, trombocitopenia e neutropenia
predomínio nos membros inferiores (MI). Estudo graves (Hb 3 g/dL, 1000 plaquetas/uL, 200 neutrófi-
complementar a revelar anemia (Hb 7.7 g/dL) nor- los/uL). Serologias víricas sem evidência de infeção
mocítica e normocrómica, deficiência de proteínas, recente. Excluídos défices nutricionais e doenças
vitamina B12, vitamina D, folato e ferro, com níveis imunológicas. Realizado estudo medular que mos-
séricos normais de cobre, vitamina A e E. Estudo trou hipocelularidade tri-linhagem, com ausência de
imune negativo para anemia perniciosa. Endoscopia displasia, blastos, agregados linfóides ou fibrose.
digestiva alta a mostrar gastrite crónica antral com Sem evidência de alterações citogénicas ou clones
presença de H. pylori. Eletromiograma com achados de Hemoglobinúria Paroxística Noturna. Estudo de
compatíveis com polineuropatia predominantemen- instabilidades cromossómicas normal. Assumido o
te sensitiva e axonal. RMN medular a revelar hiper- diagnóstico de AA muito severa. Tendo em conta o
sinal em T2 nos cordões posteriores, num padrão status funcional e a idade, foi decidido tratamento
sugestivo de degenerescência combinada subagu- imunossupressor de baixa intensidade com ciclos-
da. Iniciou suplementação dos défices nutricionais, porina, eltrombopag e suporte transfusional on-de-

552
E-POSTERS
mand. tes com HTA resistente e doentes com hipocalemia
após iniciarem uma dose baixa de diurético; e que o
Discussão: Os autores apresentam um caso de AA, ratio aldosterona/ARP é um método de rastreio fácil
alertando para uma entidade rara, que deve ser con- e rápido deste distúrbio.
siderada no diagnóstico diferencial de causas de
pancitopenia. Revendo a literatura, parece haver P n.º 0473 
uma associação entre a toma de carbamazepina e SÍNDROME DE RAMSAY-HUNT TIPO II
a ocorrência de AA, que surge semanas a poucos Rui Fernandes(1);Carolina Carvalhinha(1);Carolina
meses após o início do fármaco. Não há casos des- Henriques(1);Débora sá(1);Francisco Barreto(1);Ma-
critos de AA após anos de tratamento. Ainda assim, ria Inês Correia(1);Rafael Freitas(1)
neste doente procedeu-se ao desmame e suspen- (1) Hospital Dr. Nélio Mendonça
são do fármaco.
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
P n.º 0466 
Um caso clássico de hiperaldosteronismo primário: INTRODUÇÃO
hipertensão resistente e hipocalemia
Marina Alice Peixoto Gomes Salwegter(1);Inês Araú-
jo(1);Margarida Robalo(1);Rui Domingues(1);Sofia A Paralisia Facial Periférica (PFP) é classificada
Esperança(1);António Oliveira e Silva(1) comumente como idiopática, Paralisia de Bell (PB).
(1) Hospital de Braga Menos frequentemente, a PFP pode ser desenca-
deada pela reativação do Vírus Varicella-Zoster
Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio- (VVZ), também conhecida como Síndrome de Ram-
nais say-Hunt tipo II (SRH).
CASO CLÍNICO
O hiperaldosteronismo primário(HAP) é uma causa
subdiagnosticada de hipertensão arterial(HTA). A Homem de 37 anos vem ao SU por otalgia direita,
sua apresentação clássica inclui HTA resistente e tonturas, náuseas, zumbidos e dormência da he-
hipocalemia. A causa mais frequente é um adeno- miface ipsilateral, com 10 dias de evolução e de
ma funcionante da suprarrenal e o diagnóstico pode agravamento progressivo. Desde então, contava já
ser confirmado por um ratio aldosterona/atividade com 3 vindas ao SU, onde foi medicado com Amoxi-
da renina plasmática(ARP) elevado e um ratio su- cilina/Ácido Clavulânico, seguido de Ciprofloxacina,
perior a 75 é um indicador sensível para adenomas por suspeita de otite média aguda. O diagnóstico
produtores de aldosterona, tal como este caso vem clínico de SRH foi feito pela objetivação da PFP as-
demonstrar. sociada a lesões vesiculares em crosta no introito
auricular e na face superior do canal auditivo exter-
Homem, 50 anos, com antecedentes de HTA com no. O doente teve alta com indicação para iniciar
mau controlo desde há um ano, com introdução há Valganciclovir 1g TID e corticoterapia.
5 meses de uma 3º classe farmacológica(diurético
tiazídico). Recorre ao SU, encaminhado pela médica DISCUSSÃO
assistente, por alterações analíticas compatíveis
A origem da SRH deve-se à reativação do VVZ no
com hipocalemia grave e rabdomiólise, solicitadas
gânglio-geniculato e acomete mais frequentemente
por quadro com duas semanas de evolução de fra-
os doentes imunocomprometidos. Na sua forma
queza muscular e mialgias constantes na região
clássica, apresenta-se com lesões herpéticas do
quadricipital que pioravam com o esforço. Para
pavilhão auricular e/ou dos dois terços anteriores
além disso, o doente trazia relatório recente de TC
da língua. Não raramente, pode ter envolvimento
renal que revelava incidentaloma da suprarrenal es-
polineuronal com atingimento do VIII, IX, X, e XI par
querda. No SU repetiu-se TC que identificou “peque-
cranianos.   Contrariamente à Paralisia de Bell, os
no nódulo na glândula suprarrenal esquerda, com
doentes com SRH manifestam uma variedade de
13 mm, com baixos valores de densidade” a traduzir
sinais e sintomas, nomeadamente, otalgia, vertigem,
provável adenoma. Ficou internado para tratamento
náuseas, zumbido, surdez neurosensorial e dis-
da hipocalemia, vindo também a apresentar polidip-
geusia.  Estima-se que a SRH seja responsável por
sia e poliúria. O estudo hormonal solicitado revelou
8-28% das PFP. O diagnóstico é clínico e o tratamen-
aldosterona plásmática aumentada, renina plas-
to assenta na corticoterapia e agentes antiviriais.
mática diminuida e ARP diminuida, condicionando
Alguns dados da literatura indicam que a cortico-
um ratio de aldosterona/ARP elevado(189), confir-
terapia reduz a persistência da PFP em 50% assim
mando assim a hipótese de HAP com origem num
como da dor pós-herpética. Os agentes virais, Fam-
adenoma da suprarrenal. Na alta, o doente estava
ciclovir, Valaciclovir e Aciclovir, demonstraram tam-
assintomático, sem hipocalemia e com pressões
bém reduzir a duração do quadro clínico. Estudos
arteriais controladas com a adição de espironolac-
retrospetivos mostraram uma completa resolução
tona. O doente foi encaminhado para consulta de
da PFP em 70% dos casos tratados nos primeiros 3
endocrinologia para posterior orientação.
dias. Por outro lado, quando o tratamento é come-
Este caso clássico de HAP relembra-nos que deve- çado tardiamente, à semelhança do caso aqui des-
mos sempre considerar este diagnóstico em doen- crito, apenas 30% atinge recuperação total.

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 553


P n.º 0476  P n.º 0477 
Polineuropatia axonal por défice vitamínico... e por POLISEROSITE, UMA FORMA DE APRESENTAÇÃO
excesso e álcool INCOMUM DA SÍNDROME DE SJOGREN PRIMÁRIA
CLARA JORGE(1);Juliana Barata(1);Pedro Carlos(1);- Rui Fernandes(1);Carolina Carvalhinha(1);Carolina
Célia Tuna(1);Joana Isabel de Matos Coelho(1);Dia- Henriques(1);Débora sá(1);Francisco Barreto(1);Ma-
na Moreira de Sousa(1);Sónia Coelho(2);Marlene ria Inês Correia(1);Rafael Freitas(1)
Louro(1);Ana Rita Elvas(1);Leopoldina Vicente(1) (1) Hospital Dr. Nélio Mendonça
(1) Centro Hospitalar Cova da Beira, EPE / Hospital
Distrital da Covilhã (2) Unidade Local de Saúde da Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
Guarda, EPE / Hospital Sousa Martins culites

Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas Introdução

Introdução: Muitos défices vitamínicos foram de- A Síndrome de Sjögren primária (SjS) é uma doença
saparecendo nos países desenvolvidos devido a inflamatória crónica autoimune que envolve prefe-
uma alimentação mais equilibrada e variada. De rencialmente as glândulas exócrinas. Contudo, da-
ressalvar no entanto, que hoje em dia ainda podem dos recentes da literatura têm vindo associar o SjS a
surgir casos de desnutrição grave, agravados pelo um envolvimento cada vez mais extraglandular.
consumo crónico de álcool, e revelando-se através
de défices neurológicos.  Caso clínico

Caso clínico: Homem com 48 anos de idade, trazido Mulher de 65 anos de idade com internamento re-
por familiar à Urgência por lipotimias, alterações cente por Pneumonia Adquirida na Comunidade, é
do equilíbrio e da marcha, e disestesias nos mem- admitida por cansaço fácil e dispneia para peque-
bros inferiores (MIs) com 5 meses de evolução, nos esforços, tosse produtiva e febre. Adicional-
associando-se ainda desnutrição (2 pães/dia) por mente, apresentava queixas prolongadas de secura
falta de recursos económicos. Recentemente, teria ocular, astenia, adinamia, artralgias simétricas das
voltado a alimentar-se, apresentando vómitos ali- articulações das mãos, e um diagnóstico de fibro-
mentares. Negava antecedentes pessoais e medi- mialgia aos 50 anos de idade.  Analiticamente, Hg
cação habitual. Referia consumo etílico excessivo 10.6 g/dl, Leuc 13.6 x 10³ com desvio esquerdo
e tabagismo activo. Ao exame objectivo de realçar: e PCR 134.5 mg/L. Radiologicamente, moderado
hipotensão ortostática; desnutrição; a nível cutâneo derrame pleural bilateral. Ficou internada por Pneu-
destacava-se um eritema pigmentado na face e zo- monia Nosocomial complicada de derrame pleural,
nas fotoexpostas; a nível neurológico objectivavam- e iniciou empiricamente Ceftriaxone e Clindamicina,
-se erros de compreensão e execução de tarefas, seguido de Ceftazidima e Vancomicina, dirigida a
anomalia nos movimentos oculares de perseguição, Pseudomonas aeruginosa e Staphylococcus aureus
hiperreflexia miótatica generalizada, hipoestesia dis- meticilina-resistente (MRSA) isolados no exame
tal em meia variável, tendência repulsiva ao levante bacteriológico da expetoração. A suspeita de derra-
e marcha com base alargada. Analiticamente verifi- me pleural de etiologia não infeciosa foi levantada
cou-se: anemia macrocítica (Hb 11.4 g/dl); défice de após resposta clínica e radiológica não satisfatória
B9 e B6, B1 e B3 supra-terapêuticos (sob suplemen- à antibioterapia instituída. Os resultados da autoi-
tação aquando doseamento); hipoalbuminémia; co- munidade, ANA positivo: 1/640 com padrão nuclear
bre sérico normal; serologias virais negativas; homogéneo e nuclear mosqueado fino, Anticorpo
punção lombar sem alterações (descartada menin- anti-SSA e anti-SSB positivo, e anti-dsDNA negativo,
gite crónica); anticorpos anti-neuronais negativos; apoiaram a hipótese de SjS primário.  Posto isto,
função tiroideia normal; ecocardiograma sem alte- iniciou corticoterapia com melhoria substancial dos
rações; tomografia computorizada crânio-encefálica sintomas constitucionais e do derrame pleural, que
demonstrava atrofia encefálica e alargamentos dos à data da alta era residual.
espaços de circulação do líquor. O electroneuromio-
Discussão
grama dos MIs revelava uma polineuropatia axonal
sensitiva. Após avaliação pluridisciplinar com a A SjS pode ocorrer de forma isolada, SjS primária,
Neurologia, foi assumido o diagnóstico de polineu- ou associada a outras doenças do tecido conjun-
ropatia axonal sensitiva por défice multivitamínico tivo, SjS secundária. As manifestações dividem-se
do complexo B (B6 e B9, incluíndo B1 e B3 por pre- por sua vez em exócrinas e não-exócrinas. Na lite-
sunção) por carência alimentar, associado a encefa- ratura, o envolvimento pulmonar ocorre em 10-20%
lopatia de Wernicke. dos doentes, contudo, a afeção das serosas são
manifestações raras no SjS primário, havendo um
Discussão: A desnutrição permanece ainda vincu-
número limitado de casos clínicos reportados. Em
lada aos países subdesenvolvidos, e sobretudo nos
suma, é importante reconhecermos o SJS como
idosos. O consumo excessivo de álcool é uma das
uma causa de inflamação sistémica e de envolvi-
principais causas de deficiência nutricional alteran-
mento multiorgânico.
do a absorção e armazenamento vitamínico, resul-
tando em desnutrição. P n.º 0480 
Pancitopenia e hemólise como forma de apresenta-

554
E-POSTERS
ção de anemia perniciosa ções hematológicas e neurológicas graves.
Maria Margarida Rosado(1);Cláudia Queirós(2);Nu-
no Bernardino Vieira(1);Luísa Arez(1) P n.º 0483 
(1) Hospital do Barlavento Algarvio (2) Hospital Por- Hemofilia A adquirida associada a Penfigóide Bo-
timao lhoso
Mariana Bragança(1);Carolina Valente(1);Ana Isabel
Tema: Doenças hematológicas Ferreira(1);Margarida Freitas Silva(1)
(1) Centro Hospitalar de S. João, EPE
Introdução: A anemia perniciosa é uma doença au- Tema: Doenças hematológicas
toimune que afeta a mucosa gástrica, com destrui-
ção das células parietais gástricas e consequente
diminuição do Factor Intrínseco (FI), causando défi- Introdução: A hemofilia A adquirida (HAA) é uma
ce da absorção de Vitamina B12. doença autoimune rara e resulta do desenvolvimen-
to de autoanticorpos circulantes contra o fator VIII
(FVIII). A AHA associa-se a penfigóide bolhoso (PB)
A doença afeta ambos os sexos de igual forma e em 2% dos doentes. Relatamos um caso de HAA
a idade mediana de diagnóstico é aos 60 anos. O que surgiu 8 meses após diagnóstico de PB.
diagnóstico baseia-se na presença de anticorpo
(Ac) anti-FI, sendo a presença de Ac anti-célula pa-
rietal gástrica possível, mas menos específica. Caso Clínico: Homem de 74 anos internado por
anemia aguda (Hemoglobina (Hg) 5,3g/dL) hipocró-
Caso clínico:  Doente do sexo masculino, 29 mica e microcítica com necessidade transfusional e
anos, sem antecedentes pessoais de relevo, hematoma da coxa direita, sem trauma associado.
sem restrições dietéticas, recorreu ao Serviço de Objetivamente, apresentava palidez mucocutânea,
Urgência por um quadro com 1 mês de evolução de equimoses na face anterior dos antebraços, região
cansaço para esforços progressivamente menores subcostal direita e maxilar esquerda, e hematoma
e anorexia não seletiva. Ao exame objetivo, a na face posterior da coxa. O estudo da coagulação
destacar, taquicardia e mucosas descoradas. evidenciou doseamento FVIII< 0,01 U/ml [0,70-
1,50 U/mL] e inibidor FVIII (iFVIII)=5 UB [negativo],
Analiticamente apresentava anemia grave (Hemo- confirmando o diagnóstico de HAA, pelo que se
globina 4,6 g/dL), macrocitose (VGM 104.7 fL), leu- iniciou administração de prednisolona 1m/kg/dia.
copenia (leucócitos 3 100/uL), trombocitopenia (pla- Excluídas outras causas de anemia, por recobro
quetas 78 000/uL), aumento da LDH (11394 U/L) e transfusional pobre, realizou concentrado comple-
hiperbilirrubinemia indireta (Bilirrubina total 1.4 mg/ xo protrombínico activado durante 14 dias, com
dL e directa 0.4 mg/dL). O esfregaço de sangue pe- valores crescentes de Hemoglobina e FVIII (0,23 U/
riférico demonstrou anisocitose marcada, poiquilo- ml). Destaca-se diagnóstico de PB 8 meses antes
citose, dacriócitos, esquizócitos e eliptócitos. no contexto de admissão hospitalar na presença de
lesões bolhosas nos membros inferiores. Após 22
O restante estudo demonstrou diminuição do índice dias de internamento, com melhoria analítica (Hg
reticulocitário (1.32), diminuição da haptoglobina 9,2g/dL; FVIII 0,28 U/ml) e clínica, o doente teve alta
(1 mg/dL), défice de Vitamina B12 (65 pg/mL) com referenciado para as consultas de medicina interna
Ácido fólico normal (5.5 ng/mL), Teste de Coombs e imuno-hemoterapia. Dois meses após diagnóstico,
directo negativo, Ac anti-FI positivo e Ac anti-célula doente assintomático e analiticamente estável, com
parietal gástrica com reação duvidosa FVIII 1,87U/ml e iFVIII=0 UB, tendo sido suspensa a
corticoterapia. Nos 2 meses seguinte, teve 4 even-
Foi iniciada terapêutica com Vitamina B12, com
tos hemorrágicos - analiticamente com FVIII 0,32U/
normalização do défice desta vitamina, subida pro-
ml e iFVIII=0 UB – sem necessidade de reposição
gressiva da hemoglobina, leucócitos e plaquetas e
de FVIII para controlo de hemorragia e sem anemia
resolução da sintomatologia.
sintomática.
Discussão: O caso apresentado demonstra uma
Discussão: A HAA exige reconhecimento e trata-
das formas de apresentação do défice de vitamina
mento céleres para minimizar a morbimortalidade
B12 secundário a anemia perniciosa. A eritropoie-
associada. A associação com PB deve ser reco-
se ineficaz justifica a presença de hemólise, neste
nhecida pelos profissionais de saúde porque estes
caso intramedular, e a síntese inadequada de DNA a
doentes exigem um seguimento rigoroso, com redu-
pancitopenia.
ção cautelosa da corticoterapia, pelo maior risco de
Apesar de o diagnóstico diferencial de pancitopenia recorrência do iFVIII.
ser extenso, o défice de vitamina B12 deve ser sus-
P n.º 0493 
peitado, principalmente na presença de macrocito-
DUAS APRESENTAÇÕES ATÍPICAS DE CARCINOMA
se, como no caso apresentado.
DA PROSTATA COMBINADAS NUM ÚNICO CASO
O diagnóstico atempado e tratamento apropriado, CLÍNICO
com Vitamina B12 intramuscular vitalícia, da ane- Ricardo Roque(1);Ana Rita Ramalho(2);Mafalda
mia perniciosa são de extrema importância, dado o Ferreira(2);José Pedro Fernandes(2);Andreia Fernan-
défice de vitamina B12 poder resultar em complica- des(1);José Magalhães(2);Pedro Fragoso(2);João

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 555


Faria(2);Adriana Dias(2);Pedro Fernandes Mou- Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
ra(3);António Aragão(2);Pereira de Moura(2);Arman-
do Carvalho(2) A bacteriémia por Staphylococcus aureus Metici-
(1) IPO Coimbra (2) Centro Hospitalar e Universitário lina-Sensível (MSSA), nomeadamente em doen-
de Coimbra / Hospitais da Universidade de Coimbra tes com endocardite ou osteomielite vertebral,
(3) Centro Hospitalar do Médio Ave, EPE / Unidade pode complicar-se de “infeções metastáticas”. O
de Vila Nova de Famalicão atraso no início de antibioterapia adequada, febre
Tema: Doenças oncológicas persistente nas primeiras 72 horas de tratamento e
valores aumentados de proteína C reativa parecem
ser fatores preditivos desta complicação. Nestes
Introdução: casos, a duração mínima de antibioterapia devem
ser 6 semanas versus 2 semanas na bacteriémia
Os sintomas do trato urinário inferior são a mani- simples. 
festação mais comum do carcinoma da próstata.
Contudo, a maioria é diagnosticada pela elevação Apresentamos o caso: homem, 46 anos, internado
do PSA ou alterações ao toque retal em contexto de por doença hepática crónica em estádio Child-Pugh
rastreio oncológico. C inaugural. Durante o internamento desenvolveu
cervicalgias intensas, com incapacidade para rota-
Caso Clínico: ção do pescoço e ausência de sinais neurológicos,
cuja radiografia à coluna cervical não evidenciou
Um homem de 66 anos, previamente autónomo,
alterações; realizou ressonância magnética (RM)
com hiperplasia benigna da próstata e insuficiência
da coluna que revelou “osteomielite ativa C0 a C2
cardíaca diagnosticada há 6 meses, foi internado
com extenso fleimão prevertebral; suspeita de múlti-
por edemas posicionais dos membros inferiores,
plos focos abcedados e moldagem medular em C1-
associados a dor óssea, condicionando o seu alec-
C2”. O doente apresentava ainda edema e incapaci-
tuamento. Apresentava BNP e ecocardiograma
dade funcional da mão esquerda, cuja RM mostrou
normais, elevação de parâmetros inflamatórios (VS
“osteomielite do carpo e da base do 2º, 3º e 4º me-
e ferritina), da fosfatase alcalina e da creatinina (3
tacarpos”. Foram colhidas hemoculturas que foram
mg/dL). O toque retal era normal e o PSA de 25 ng/
positivas para MSSA e, após discussão com neuro-
mL. A ecografia transretal mostrava dimensões
cirurgia, iniciou antibioterapia com flucloxacilina e
prostáticas aumentadas, estrutura heterogénea e
rifampicina durante 6 semanas com indicação para
cápsula preservada. Foi pedido cintigrama ósseo
posterior reavaliação imagiológica, estabilização da
e PET 18 F-FDG, que revelaram edema de origem
coluna com ortótese e posterior controlo de foco
linfática e hipercaptação prostática e óssea difusas,
cirúrgico. A referir ainda ausência de aumento dos
podendo corresponder a Doença de Paget. Como a
parâmetros inflamatórios e ecocardiograma transto-
biópsia prostática demonstrou um carcinoma indi-
rácico sem alterações valvulares, não tendo por isso
ferenciado (Gleason 9), realizou PET PSMA-68 que
realizado transesofágico. Assumiu-se MSSA metas-
mostrou invasão linfática pélvica, hepática e ósseas
tático com afeção de coluna vertebral e ossos da
difusa, sem massas individualizáveis.
mão esquerda. A RM às 6 semanas revelou “menor
Discussão: componente lesional ósseo; algum grau de des-
truição do topo do processo odontóide, aparente
O diagnóstico erróneo de insuficiência cardíaca, por resolução da moldagem da face ventral da medu-
explicar os edemas, levou à iatrogenia renal pela la. Redução marcada do componente infeccioso de
terapêutica diurética intensiva. Mas a fosfatase al- tecidos moles”, tendo sido contactada novamente a
calina elevada, a hipercaptação esquelética difusas neurocirurgia com indicação para intervenção cirúr-
e a dor óssea apoiavam o diagnóstico de Doença gica para estabilização da coluna e controlo local de
de Paget. Contudo, a metastização ganglionar, he- foco.
pática e óssea do carcinoma prostático eram os
responsáveis pelo edema linfático e pela infiltra- A identificação de complicações metastáticas deste
ção blástica difusa óssea, que são apresentações tipo de infeção é crucial uma vez que o atraso no
incomuns desta neoplasia. Apesar de sugestivas diagnóstico e tratamento insuficiente se associam a
de doença avançada, a sua sobreposição com pior prognóstico com maior incapacidade funcional
outras patologias e os achados inespecíficos e maior taxa de recidiva.
em exames de imagem tornam-nas verdadeiros
P n.º 0496 
desafios diagnósticos. Adicionalmente, a elevação
Factor VIII elevado, forâmen oval patente e SARS-
desproporcionalmente baixa incomum do PSA face
-COV2: uma combinação obstrutiva
à extensão da doença deve levar-nos a repensar a
Mafalda Duarte(1);Vasco Tiago(1)
sua verdadeira utilidade como marcador de rastreio.
(1) Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca
P n.º 0495 
Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas
MSSA metastático
Mafalda Duarte(1);Vasco Tiago(1);Raquel Sousa(1);-
Miguel Achega(1);Fernando Aldomiro(1) O fator VIII é um fator de coagulação com um pa-
(1) Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca pel essencial na cascata de coagulação: forma um

556
E-POSTERS
complexo com o fator de Von Willebrand, protegen- CASO CLÍNICO: Doente do sexo masculino de 81
do-o da proteólise e aumentando a sua concen- anos, previamente autónomo para as atividades
tração no local da hemostase. Níveis aumentados da vida diária, que recorreu ao SU (Serviço de Ur-
de fator VIII parecem estar associados de forma gência) do nosso Hospital após queda da própria
consistente com trombose venosa, e de forma mais altura resultante em traumatismo facial. Inicialmen-
inconsistente, ainda em estudo, com trombose ar- te observado pelos Colegas de Cirurgia, teve alta
terial. 11% da população adulta tem níveis elevados passadas 24 h de vigilância, visto não apresentar
de fator VIII. alterações a nível da TC CE (Tomografia Computa-
dorizada Crânio-encefálica). No entanto, ainda no
Apresentamos o caso de uma jovem, 46 anos, leu- dia da alta, regressa novamente ao SU com quadro
codérmica, natural do Brasil, com história familiar de desorientação temporoespacial, alterações do
relevante de morte súbita por Acidente Vascular equilíbrio e febre. Sem outras alterações objetivas
Cerebral (AVC) da irmã aos 32 anos, do pai aos 60 ou do exame neurológico. Analiticamente sem leu-
anos e do tio-avô aos 65 anos. cocitose ou neutrófila, mas com elevação da Proteí-
na C Reativa (PCR de 12.3 mg/dL). A TC CE voltaria
A jovem esteve internada por AVC isquémico da ar- a não apresentar alterações de relevo, e o exame do
téria cerebral média direita (ACM), tendo realizado LCR  (líquido cefalorraquidiano) era inocente. Foi en-
trombectomia do segmento 1 da ACM, com uma tão internado ao Cuidado da Medicina Interna para
evolução de NIHSS 9 para 2. O estudo etiológico estudo etiológico. Na fase inicial do internamento
revelou a presença de septo interauricular fino com apresentou-se persistentemente febril e com as al-
passagem de pequenas bolhas apenas em fase tar- terações neurológicas acima referidas, pelo que fez
dia, aumento relevante do fator VIII, e positividade Hemocuturas (com isolamento de Streptococcus
de ANA com títulos 1/640, SDF 70+ com padrão sp. Multissensivel, tendo iniciado terapêutica com
mosqueado (mais sugestivo de patologia não au- Amoxicilina e Ácido Clavulânico); TC de corpo que
to-imune). A referir a positividade para a infeção levantou suspeita de pneumonia e repetiu exames
SARS-COV-2 neste período, apesar de ausência de ao LCR, agora com pesquisa de antigénios/DNA vi-
sintomas. Optou-se por iniciar anti agregação com ral com isolamento de EBV, para o qual fez terapêu-
aspirina e repetição do estudo após a fase aguda. tica de suporte, com melhoria clínica progressiva).
Cerca de 1 mês depois, a doente esteve novamente Revendo o processo clínico, objetivou-se que na pri-
internada por novo AVC da ACM direita, cujo estudo meira vinda ao nosso SU o doente já se encontrava
revelou oclusão por provável disseção arterial do febril.
segmento inicial da ACM. O novo estudo etiológi-
co revelou a presença de shunt direito-esquerdo DISCUSSÃO: Apresenta-se este caso não só pela im-
de grandes dimensões por pesquisa de sinais mi- portância do diagnóstico, mas também para frisar
croembólicos em ecodoppler transcraniano; a pre- o valor fundamental da correta obtenção de uma
sença de foramen ovale persistente (FOP) VS comu- história clínica para um diagnóstico mais precoce e
nicação interauricular (CIA) de pequenas dimensões consequente melhoria prognostica.
em ecocardiograma e a manutenção de níveis au- P n.º 0503 
mentados de fator VIII e títulos positivos de ANA. A Crise metabólica numa doente com défice de desi-
doente foi proposta para encerramento do FOP/CIA drogenase de acil-CoA cadeias médias
e manutenção da anti agregação simples, com pos- Maria Inês Matos(1);Inês Machado(1);Ana Maria
terior vigilância da evolução clínica e analítica. Meireles(2);Maria Teresa Brito(1);Mariana Almei-
Este caso clínico alerta-nos para a importância da da(1);Isabel Camões(1);Jorge Almeida(1)
realização de uma boa história clínica e um estudo (1) Centro Hospitalar de S. João, EPE (2) IPO Porto
etiológico completo, não nos deixando esquecer Tema: Doenças raras
que vários fatores podem contribuir de forma muito
relevante para o acontecimento de um evento isqué-
mico. Introdução: O défice de desidrogenase de acil-CoA
cadeias médias (MCADD) é o distúrbio mais comum
P n.º 0502  da beta-oxidação intramitocondrial de ácidos gor-
Uma queda para o EBV dos. O jejum, a infeção, a gravidez, a dieta hipocaló-
Isaac s Pereira(1) rica ou a perda ponderal podem causar crise meta-
(1) Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo, EPE / bólica que se traduz com hipoglicemia hipocetónica,
Hospital José Joaquim Fernandes insuficiência hepática, acidose e miopatia.
Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas
Caso: Mulher de 24 anos, de etnia cigana, com diag-
nóstico no pós parto de défice de desidrogenasse
Introdução: A encefalite é a inflamação do cérebro de acil-CoA cadeias médias (MCAD), um ano antes
que ocorre devido a múltiplas patologias. Entre as do internamento, recorreu ao Médico de Família três
mais comuns encontra-se a infeção pelo EBV (Vírus semanas antes do internamento por lesões infra-
Epstein-Barr), que normalmente se apresenta de mamárias compatíveis com intertrigo, tendo sido
maneira inespecífica, sendo o principal sintoma a medicada com fluconazol. As lesões evoluíram des-
febre. favoravelmente com sobreinfeção bacteriana sendo

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 557


medicada com amoxicilina-clavulanato. Recorreu complex multissensível. A doente iniciou tratamento
ao serviço de urgência (SU) por astenia, anorexia, com isoniazida, rifampicina, etambutol e pirazinami-
mialgias, agravamento progressivo do estado geral, da com boa evolução clínica e analítica.
vómitos aquosos (mais de cinco por dia), diarreia
amarelada, sem sangue e sem muco (mais de seis Caso cli´nico 2: Mulher de 84 anos, com demência,
por dia) e febre. Ao exame objetivo encontrava-se com duas idas ao SU nos dois meses anteriores, por
apirética, PA 134/74mmHg, FC 69bpm, FR 28cpm, prostração e recusa alimentar atribuídas a infeção
desidratada; sem outras alterações de relevo. Ana- do trato urinário e PAC. Enviada novamente ao SU
liticamente com glicose 106mg/dL, hiperlactacide- por recusa alimentar, anorexia e perda ponderal não
mia (2.15mmol/L), aumento dos parâmetros infla- quantificada, associadas a dispneia e tosse produ-
matórios (leucócitos 15x10^9/L e PCR 288mg/L), tiva com secreções purulentas, com duas semanas
citocolestase com hiperbilirrubinemia, lesão renal de evolução. Apresentava insuficiência respiratória
aguda (Cr 1.88mg/dL e Ur 92mg/ dL), Na+ 127mE- tipo 1 e aumento dos parâmetros inflamatórios.
q/L e K+ 3.3mEq/L. Realizou ecografia abdomino-re- Realizou TC-torácico que mostrou área de conso-
nopélvica que não mostrou alterações. Iniciou bólus lidação no lobo superior esquerdo e micronódulos
de glicose e fluidoterapia com NaCL 0.9, seguida centrilobulares dispersos. Colheu PCR M. Tuberculo-
de perfusão de glicose em SF, com melhoria pro- sis complex e micobacteriológico cultural que foram
gressiva do quadro e normalização da função renal ambos positivos. A doente acabou por falecer antes
e distúrbios iónicos, bem como dos parâmetros do início de terapêutica antibacilar.
hepáticos. Foi introduzida dieta específica para este
distúrbio e manteve antibioterapia com amoxicilina- Discussão: Apresentamos dois casos que culmina-
-clavulanato com resolução da infeção e evolução ram no diagnóstico de tuberculose pulmonar, uma
clínica e analítica favorável. entidade clínica que deve ser tida em conta no diag-
nóstico diferencial da PAC, principalmente no idoso,
Discussão: Apresentamos uma doença rara que atendendo à elevada incidência da tuberculose la-
pode ser fatal se não identificada e tratada preco- tente neste grupo etário em Portugal.
cemente. O início de glicose endovenosa e fluidote-
rapia são essenciais para uma evolução favorável, P n.º 0505 
bem como a identificação e resolução do evento Streptococcus pyogenes, um agente de pneumonia
precipitante. adquirida na comunidade
Maria Inês Matos(1);Ana Maria Meireles(2);Bruno
P n.º 0504  Besteiro(1);Mariana Almeida(1);Isabel Camões(1);-
Quando a infeção respiratória era outra - a propósi- Jorge Almeida(1)
to de dois casos clínicos (1) Centro Hospitalar de S. João, EPE (2) IPO Porto
Maria Inês Matos(1);Inês Machado(1);Claudemira
Pinto(1);Joana Viera(1);Isabel Camões(1);Jorge Al- Tema: Doenças respiratórias
meida(1)
(1) Centro Hospitalar de S. João, EPE Introdução: O Streptococcus pyogenes é um agente
incomum de pneumonia adquirida na comunidade
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias (PAC), associando-se a pneumonia necrotizante
com empiema precoce. A bacteriemia ocorre em
Introdução: A tuberculose é uma das principais 80% dos casos.
causas de morte a nível mundial. A incidência
em Portugal é de 20.8/100000 habitantes e de Caso: Mulher de 71 anos, com asma e hipertensão
26.2/100000 habitantes no idoso, sendo duas vezes arterial, medicada com candensartan, hidrocloro-
superior à dos restantes países europeus. tiazida, fluroato de fluticasona, vilanterol e monte-
lucaste. Alérgica à penicilina. Recorreu ao serviço
Caso clínico 1: Mulher de 88 anos, com demência, de urgência (SU) por clínica com uma semana de
enviada ao serviço de urgência (SU) por dispneia, evolução de febre, dispneia, tosse produtiva com
tosse seca e febre com 3 dias de evolução. Realizou expectoração amarelada e dor torácica direita com
TC-torácica que mostrava consolidações nodulares características pleuríticas. Negava hipersudorese
bilaterais, tendo alta medicada com amoxicilina-cla- noturna, hemoptises, perda ponderal e outras quei-
vulanato por pneumonia adquirida na comunidade xas. Ao exame objetivo no SU encontrava-se polip-
(PAC). Retornou ao SU após 10 dias por persistência neica, PA 116/75mmHg, FC 101bpm, febril e com
da febre. Apresentava insuficiência respiratória tipo broncospasmo. Analiticamente com insuficiência
1 e aumento de parâmetros inflamatórios, sendo respiratória tipo 1, hipocapnia, aumento dos parâ-
internada por PAC e medicada com piperacilina-ta- metros inflamatórios e lesão renal aguda AKIN 2. A
zobactam. Durante o internamento apresentou evo- radiografia torácica mostrava hipotransparência na
lução desfavorável tendo repetido TC-torácico que base direita. Foi feito o diagnóstico de sépsis com
mostrou agravamento das consolidações parenqui- ponto de partida em PAC associada a lesão renal
matosas e áreas de cavitação infracentimétricas. aguda. Colheu PCR para Influenza A que foi positivo
Foi colocada a hipótese de tuberculose pulmonar, e isolou-se Streptococcus pyogenes em duas cultu-
tendo sido confirmada com exame micobacterio- ras de sangue. Iniciou terapêutica com oseltamivir
lógico cultural com isolamento de M. Tuberculosis e cefriaxone. Evoluiu favoravelmente até ao 12º dia

558
E-POSTERS
de internamento, altura em que apresentou aumento e precipitadas negativas. Cumpriu seis semanas de
dos parâmetros inflamatórios e retorno da toracal- antibioterapia, com evolução clínica e imagiológica
gia direita de características pleuríticas. Fez TC-torá- favorável. O TC-torácico à data de alta mostrava re-
cico que mostrou abcesso pulmonar com 55x45mm dução da condensação e das cavitações (superior
na base direita associado a derrame parapneumóni- 6.8x3.8cm e inferior 3.0x1.4cm). Repetiu TC-torá-
co, loculado e septado, de moderado volume. O cico aos 3 meses que mostrava resolução da con-
líquido pleural era compatível com exsudado, com solidação e apenas uma área de cavitação no lobo
pH 7.21, LDH 1017U/L, leucócitos 222u/L. Colocou superior esquerdo aumentada face ao exame prévio
dreno torácico e iniciou clindamicina em associação (8.1x5.2cm), persistindo aumento de IgG Aspergillus
com cefriaxone, que manteve durante 21 dias, com fumigatus (64.7mgA/L), tendo iniciado terapêutica
melhoria clínica, analítica e imagiológica. Repetiu para aspergilose pulmonar crónica.
TC-torácico em ambulatório que mostrou resolução
completa das alterações parenquimatosas pulmo- Discussão: O receio de recorrer aos cuidados de
nares e do derrame pleural. saúde provavelmente determinou a evolução para
pneumonia necrotizante, neste caso. A presença de
Discussão: O Streptococcus pyogenes é um agente extensas cavitações numa doente com história pré-
pouco frequente de pneumonia adquirida na via de tuberculose exige ponderar a possibilidade de
comunidade, mas que se associa a alta mortalidade recidiva de tuberculose ou de infeção fúngica.
e complicações graves, como síndrome de
choque tóxico, bacteriemia, abcessos pulmonares P n.º 0507 
e empiema. O tratamento exige associação Isolamento no idoso causado pela pandemia CO-
entre beta-lactâmicos e clindamicina, por tempo VID-19 - a propósito de um caso clínico
prolongado. Maria Inês Matos(1);Ana Maria Meireles(2);Inês Ma-
chado(1);Claudemira Pinto(1);Isabel Camões(1);Jor-
P n.º 0506  ge Almeida(1)
Pneumonia necrotizante em tempo de pandemia (1) Centro Hospitalar de S. João, EPE (2) IPO Porto
COVID-19
Maria Inês Matos(1);Ana Maria Meireles(2);Inês Ma- Tema: Medicina geriátrica
chado(1);Bruno Besteiro(1);Isabel Camões(1);Jorge
Almeida(1) Introdução: Vários estudos demonstram correlação
(1) Centro Hospitalar de S. João, EPE (2) IPO Porto positiva entre a saúde mental e nível de atividade
social. A pandemia COVID-19 aumentou o isolamen-
Tema: Doenças respiratórias to de muitos indivíduos, afetando desproporcional-
mente idosos. Apresenta-se em seguida um caso
Introdução: A pneumonia necrotizante pode resultar que mostra o impacto real e extremo que a pande-
de microaspirações de flora tipicamente polimicro- mia pode ter no idoso.
biana, por agentes piogénicos com evolução rapida-
mente progressiva ou por agentes não bacterianos Caso: Mulher de 90 anos, autónoma nas atividades
como fungos, micobactérias ou parasitas. É uma de vida diária, que residia sozinha, sem patologia ou
complicação incomum de pneumonias adquiridas antecedentes psiquiátricos conhecidos. Foi trazida
na comunidade (PAC) com uma alta morbi-mortali- ao serviço de urgência (SU) após intoxicação me-
dade. dicamentosa voluntária (IMV) com benzodiazepina
e álcool, com ideação suicida. À chegada ao SU
Caso: Mulher de 68 anos, com sequelas de tuber- encontrava-se em gasping, com escala de coma de
culose pulmonar e mau estado de peças dentárias. Glasgow de três. Realizou flumazenil sem recupera-
Apresentava tosse seca, astenia, anorexia e perda ção do estado de consciência, sendo entubada e ad-
ponderal não quantificada com três semanas de mitida em unidade de cuidados intensivos. Evoluiu
evolução, mas evitou o recurso aos cuidados de favoravelmente acabando por ser transferida para
saúde por receio da pandemia COVID-19. Nos três a enfermaria de Medicina Interna para continuação
dias anteriores ao internamento evoluiu com pros- de cuidados. Quando questionada sobre os motivos
tração, dispneia e desorientação. Negava febre, da IMV referiu sentir-se abandonada pela família e
hemoptises e hipersudorese noturna. Ao exame isolada do mundo, impossibilitada de sair pelo re-
objetivo encontrava-se obnubilada, polipneica, PA ceio do vírus SARS-COV2. Foi instituída medicação
83/39mmHg, FC 112bpm. Analiticamente com antidepressiva com inibidores da recaptação da se-
hiperlactacidemia, insuficiência respiratória tipo rotonina e psicoterapia.
1 grave e aumento de parâmetros inflamatórios.
Realizou TC-torácica que mostrou extensa consoli- Discussão: A sensação de isolamento ou de perda
dação a envolver quase completamente o pulmão de relações sociais tem implicaçõs na saúde física
esquerdo com duas cavitações (superior 11.4x5. e mental dos indivíduos, associando-se a um maior
2cm e inferior 4.5x3.3cm), sugerindo pneumonia risco de desenvolvimento de sintomas depressivos.
necrotizante. Iniciou empiricamente antibioterapia A taxa de suicídio no idoso é duas vezes superior
com amoxicilina-clavulanato. Os estudos bacterioló- à do adulto não idoso. A pandemia COVID-19 veio
gico e micobacteriológico foram negativos, com IgG alterar as redes de segurança e de socialização de
Aspergillus fumigatus aumentado (37.2mgA/L), IgE todos, afetando principalmente pessoas que vivem

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 559


sozinhas e que não mantém atividade laboral. Neste Luís(1);Bela Machado(1);Mariana Bilreiro(1);Rita Ro-
grupo inserem-se, maioritariamente, idosos. Assim, drigues(1);Rafael Freitas(1)
é essencial criar estratégias que permitam garantir (1) Hospital Dr. Nélio Mendonça
a segurança e acompanhamento do idoso, rastreio
de sinais de depressão e instituição precoce de me- Tema: Doenças oncológicas
didas terapêuticas.
Introdução: A deficiência adquirida do fator XIII
P n.º 0516  (FXIII) é uma coagulopatia rara, que pode ocorrer de
Causas concorrentes de hiponatremia num doente forma imunomediada ou não-imune, por hipercon-
com Síndrome de Guillain-Barré sumo e/ou síntese reduzida do FXIII.  Relativamente
Mariana Gomes(1);Luís Santos(1);Carolina Bar- à etiologia, esta pode ser idiopática ou associada a
ros(1);Helena Luís(1);Rita Rodrigues(1);Rafael Frei- outras comorbilidades como neoplasias ou doenças
tas(1) auto-imunes.
(1) Hospital Dr. Nélio Mendonça
Tema: Outro Caso clínico: Homem de 74 anos, com antece-
dentes de etilismo crónico, recorre ao serviço de
Introdução: A Síndrome de secreção inapropriada urgência por aparecimento espontâneo de hemato-
de hormona anti-diurética (SIADH) é uma complica- mas nos braços e pernas com 10 dias de evolução,
ção conhecida na Síndrome de Guillain-Barré (SGB), associado a cansaço progressivo. Ao exame objeti-
sendo observada em até 5% dos doentes, mas ou- vo, mucosas descoradas e anictéricas, com várias
tros mecanismos de homeostasia do sódio podem equimoses ao nível dos braços e hematomas na
ocorrer em doentes com SGB. região gemelar de ambas as pernas, condicionando
limitação na marcha. Do estudo analítico a destacar,
Caso clínico: Mulher de 67 anos, com antecedentes anemia normocítica normocrómica com hemoglo-
de hipertensão arterial e dislipidemia, recorreu ao bina de 6.6 g/dl, plaquetas 171000/uL, INR=1.34, TP
serviço de urgência por quadro de anorexia e fra- aumentado 19.9 s, aPTT normal 32 s, fibrinogénio
queza muscular com 4 dias de evolução, precedido baixo 95 mg/dl; CK=500 U/L, CK-MB=487 U/L. Inter-
em 2 semanas por gastroenterite aguda. Ao exame nado para estudo complementar. Realizado estudo
objetivo, de destacar tetraparesia hipotónica arreflé- da hemostase, tendo-se identificado para além de
xica, com sensibilidade preservada. Analiticamente hipofibrinogenemia, défice do FXIII. Realizada To-
com ligeira hipocaliemia K+3.4 mEq/l e hiponatre- mografia Computorizada toraco-abdomino-pélvica
mia 127 mEq/l, sem outras alterações. Realizada que mostrou a presença de conglomerados ade-
Tomografia Computorizada Crânio-encefálica que nopáticos lomboaórticos, cadeias ilíacas, espaços
não mostrou alterações, tendo a doente ficado inter- isquiorectais, inguinais e uma próstata globosa,
nada com o diagnóstico provisório de SGB. heterogénea e de contornos bosselados. O estudo
de doenças auto-imunes revelou-se negativo e mar-
Durante o internamento, confirmada SIADH (osmo- cadores tumorais a destacar-se PSA de 744000 ng/
laridade plasmática diminuída 268 osm/Kg, osmo- ml. Realizada biópsia prostática transrectal ecodiri-
laridade urinária elevada 461 osm/kg, sódio urinário gida com diagnóstico posterior de adenocarcinoma
elevado 171 mEq/l e níveis de ácido úrico baixos de acinar da próstata.
1.3 mg/dl), tratada com restrição hídrica e aumen-
to do aporte salino. Perante o diagnóstico de SGB, Discussão: A deficiência adquirida do FXIII pode
iniciada imunoglobulina endovenosa (Ig EV), tendo- apresentar-se com hemorragia severa e potencial-
-se observado agravamento da hiponatremia para mente fatal. O seu reconhecimento é importante
valores de Na+ 121 mEq/L, apesar de reposição e deve ser considerado perante um doente com
crescente de sódio oral e endovenoso. Finalizado o hemorragia, parâmetros de coagulação normais e
tratamento com Ig IV, observou-se melhoria clínica e sem evidência de disfunção plaquetária, sendo o
analítica progressivas. A eletromiografia documen- diagnóstico apenas confirmado após quantificação
tou achados compatíveis com Neuropatia motora do FXIII. Normalmente ocorre associada a outras
axonal aguda, corroborando o diagnóstico de SGB. comorbilidades, sendo fulcral a procura da etiologia
para posterior orientação terapêutica.
Discussão: Neste caso documentou-se um agrava-
mento da natremia apesar da terapêutica adequada P n.º 0519 
para o SIADH, relacionado com a infusão de Ig EV. Síndrome Mielodisplásica com Excesso de Blastos:
Assim, este caso serve o propósito de salientar a a propósito de um caso clínico
multiplicidade de mecanismos de desrregulação do Ana Catarina Trigo(1);Filipa David(1);Cecília Morei-
metabolismo do sódio num doente com SGB, sejam ra(1);Sara Pereira(1);Rafaela Lopes Freitas(1);Maria-
intrínsecos à doença sejam associados à terapêuti- na Taveira(1);Artur Silva(1);André Azevedo(1)
ca, com co-existência de SIADH e pseudo-hiponatre- (1) Unidade Local de Saúde de Matosinhos, EPE /
mia. Hospital Pedro Hispano
P n.º 0518  Tema: Doenças hematológicas
Discrasia hemorrágica como manifestação para-
neoplásica
Introdução: As síndromes mielodisplásicas (SMD)
Mariana Gomes(1);Carolina Barros(1);Helena
560
E-POSTERS
são um grupo diversificado de doenças hematológi- O complexo de Von-Meyenburg é composto por
cas malignas clonais, que cursam com hematopoie- hamartomas dos ductos biliares que são malforma-
se anormal e 1 ou mais citopenias a nível periférico. ções benignas do sistema hepatobiliar, dando um
Têm uma incidência estimada de 3-5 casos/100000 aspeto de múltiplos pequenos nódulos a nível hepá-
habitantes/ano, com pico de incidência por volta tico. Estas lesões por vezes são confundidas, pela
dos 70-75 anos, sendo mais frequentes em homens. sua semelhança, com lesões neoplásicas primárias
São potenciadas por algumas condições genéticas ou secundárias, sendo fulcral a realização de estudo
(Fanconi, neurofibromatose), radiação ionizante, complementar para diagnóstico diferencial.
químicos (benzeno) ou citotóxicos (inibidores da
topoisomerase e alquilantes). Na sua classificação Caso Clínico
é considerado o nº de linhagens displásicas, de
citopenias, de blastos medulares e periféricos e Mulher de 55 anos com antecedentes de depressão
a presença de certas alterações citogenéticas. O e SAOS. Sem hábitos etílicos. Recorreu ao serviço
prognóstico e a orientação terapêutica dependem de urgência por eritema generalizado, náuseas e dor
do status funcional do doente e da estratificação de abdominal, com 15 dias de evolução, que associava
risco (utiliza-se habitualmente o score R-IPSS).  à toma de produtos de herbanária. No estudo analí-
dico foram identificadas alterações no perfil hepáti-
co (gama-GT 103 U/L, AST 60 e ALT 79 UI/L). Nesse
Caso Clínico: Homem, 70 anos. Antecedentes de contexto, foi pedida ecografia abdominal que, no
DM tipo 2, HTA, dislipidemia, cardiopatia hiperten- contexto de urgência, descreve “hepatomegalia com
siva e isquémica e doença hepática crónica etílica. esteatose hepática difusa e quistos hepatobiliares”.
Referenciado à consulta de Hematologia para estu- Considerado diagnóstico de hepatite tóxica, sem si-
do de anemia e trombocitopenia, até então filiadas nais de gravidade, pelo que teve alta orientada  para
na doença hepática. Evoluiu com pancitopenia gra- a consulta de Medicina Interna.
ve (Hb 5.9 g/dL, 41000 plaquetas/uL, 1320 leucóci-
tos/uL) com neutropenia febril. Sem adenomegalias Na consulta, a doente manteve alterações gama-
ou organomegalias. Realizado estudo de medula -GT. Estudo etiológico realizado sem alterações de
óssea (MO) que mostrou hipercelularidade tri-linha- relevo. Repetida ecografia abdominal que descreve
gem, com aspetos de displasia em 2 linhagens e “múltiplos focos ecóicos de natureza indeterminada
9% de blastos, sem fibrose. Estudo complementar a e alguns quistos biliares”. Neste contexto, realizou 
revelar cariótipo normal e exame FISH sem deteção colangioressonância onde é descrito “hepatome-
de alterações citogenéticas. Assumida SMD com galia...  sinal difusamente heterogéneo, à custa de
Excesso de Blastos tipo 1 (provavelmente subesti- inúmeros focos de hipersinal em T2 a ocupar a tota-
mado por diluição com sangue periférico).  lidade do parênquima… na dependência de quistos
hepatobiliares… focos hiperintensos são sugestivos
Discussão: A SMD com Excesso de Blastos ca- de múltiplos hamartomas biliares (complexos de
racteriza-se pela presença de blastos medulares Von Meyenburg)”. Doente mantém vigilância analíti-
(<20%) ou periféricos (<20%), com uma MO tipica- ca e imagiológica em regime de consulta externa.
mente normo ou hipercelular, presença de displasia
em pelo menos 1 linhagem e citopenias. Apresen- Conclusão
ta-se com astenia, fadiga, infeções, e/ou diáteses
hemorrágicas. Cerca de 25-33% dos casos progri- O complexo de Von-Meyenburg é uma entidade rara
dem para Leucemia Mielóide Aguda. Este doente habitualmente assintomática.  Apesar de benigno,
apresentava um R-IPSS de 5.5 pontos (alto risco) está descrita associação com hepato e colangiocar-
e status funcional precário, não reunindo condições cinoma, pelo que deve ser realizada vigilância clíni-
para quimioterapia intensiva. Foi decidido trata- ca, analítica e imagiológica regular.
mento paliativo com hipometilante (azacitidina),
suplementação com eritropoietina, terapêutica de P n.º 0522 
suporte transfusional on-demand e referenciação Uma massa pulmonar: caso em que a persistência
para Medicina Paliativa. diagnóstica definiu o sucesso
Patrícia Rafaela Rodrigues(1);Cecília Moreira(2);Di-
P n.º 0521  na Fernandes Neto(2);Filipa David(2);Sara Pimenta
Complexo de Von-Meyenburg: a propósito de uma Dias(2);Inês Chora(2);Fátima Leal-Seabra(2)
elevação da gama-GT (1) IPO Porto (2) Unidade Local de Saúde de Matosi-
José Diogo Martins(1);André Colmente(1);Maria nhos, EPE / Hospital Pedro Hispano
Ferreira(1);Rosana Maia(1);Joana sá Couto(1);Fran-
cisco Teixeira Silva(1);Manuel Ferreira(1);Carlos Ri- Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
beiro(1);Diana Guerra(1);Carmélia Rodrigues(1)
(1) Unidade Local de Saúde do Alto Minho, EPE / Os nódulos pulmonares são achados comuns em
Hospital de Santa Luzia tomografia computorizada (TC) do torax. Estima-se
que 40 a 50% sejam malignos, mas uma abordagem
Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá- diagnóstica é necessária para exclusão de outros
ticas diagnósticos diferenciais.

Introdução Homem de 60 anos, fumador, recorre à urgência por

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 561


quadro de um mês de tosse seca, astenia, anorexia, nhecido, sem outras sintomas acompanhantes.
suores noturnos e febre alta nos últimos três dias. À observação, consciente, não colaborante mas
Auscultação pulmonar com sons respiratórios dimi- bem-disposta, com riso incontrolável e inapropriado
nuídos na base direita. Analiticamente com proteína à abordagem, associada a inquietação motora. Ao
C-reativa (PCR) 395.5mg/L. TC do torax revelou exame neurológico com ligeira diminuição da força
massa cavitada de 10cm de diâmetro no lobo supe- muscular do membro inferior direito, grau 4/5, com
rior esquerdo a invadir o lobo inferior e fenómenos reflexo cutâneo-plantar em extensão à direita, sem
de pneumonia pós-obstrutiva. Ficou internado, reali- outros défices neurológicos. Realizada Tomografia
zou broncofibroscopia (BFC) e biópsia transtorácica Computorizada crâneo-encefálica que revelou AVC
que foram não rentáveis. TC abdominal evidenciou isquémico subagudo traduzido por hipodensidade
lesões nodulares no fígado e baço e espessamento cortico- subcortical a nível do giro frontal superior
da parede cólica do cólon ascendente. Colonosco- esquerdo a ocupar cerca de 1/3 do território de
pia com lesão exofítica oclusiva no ângulo hepático, distribuição da artéria cerebral anterior ipsilateral.
anatomia patológica compatível com adenocarci- Ficou internada e iniciada anti-agregação plaquetá-
noma. Biópsia do nódulo hepático confirma primá- ria com ácido acetilsalicílico.
rio do cólon. Pela pneumonia, cumpriu 14 dias de
ceftriaxone e clindamicina e 5 dias de piperacilina/ Discussão: O riso patológico ou alterações com-
tazobactam por persistência de febre. Após rastreio portamentais de novo podem ser a apresentação
séptico negativo e serologias víricas negativas as- inicial e atípica de um AVC. Na literatura têm sido
sumida febre em contexto neoplásico. Repetiu BFC descritos casos de riso patológico associados a
com histologia e cultural de lavado bronco-alveolar AVC de localização variável, sendo que nuns ocorre
(LBA) em curso e teve alta orientado para Onco- associado a situações catastróficas, como disse-
logia. Retorna à urgência uma semana após por ção da artéria carótida, hemorragias cerebelosas e
persistência de febre. À admissão com isolamento tumores cerebrais. Embora raro, o riso patológico
de Nocardia farcinica no LBA prévio. Iniciou cotrimo- pode ser um sinal precoce de défice neurológico
xazole e ceftriaxone (de acordo com antibiograma) agudo e deve ser considerado no diagnóstico dife-
e completou 6 meses de tratamento antibiótico. TC rencial, permitindo assim uma correta abordagem e
torácico de reavaliação aos 7 meses já sem qual- tratamento dirigido.
quer massa.
P n.º 0524 
A infeção por Nocardia pode apresentar-se como Um derrame pleural peculiar
nódulos pulmonares que imitam malignidade. Agen- MARIANA RIBAS LARANJEIRA(1)
te sobretudo oportunista, torna-se facilmente invasi- (1) Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia / Espinho
va com imunossupressão. Neste caso, se a infeção
não fosse identificada, o inicio de quimioterapia po- Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente crí-
deria resultar numa Nocardiose disseminada, pondo tico
em risco a vida do doente.
Introdução: 
P n.º 0523 
Quando o riso pode levar ao diagnóstico
Mariana Gomes(1);Luís Correia(1);Carolina Bar- A presença de derrame pleural não é obrigatoria-
ros(1);Helena Luís(1);Bela Machado(1);Mariana Bil- mente sinónima de doença cardíaca ou pulmonar.
reiro(1);Rita Rodrigues(1);Rafael Freitas(1) Este caso pretende exemplificar uma causa menos
(1) Hospital Dr. Nélio Mendonça frequente de derrame pleural, tendo ponto de parti-
da abdominal.
Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas
Caso Clínico: 
Introdução: O riso patológico é definido como um Homem de 61 anos. Autónomo, cognitivamente
riso incontrolável e inapropriado, não relacionado íntegro. Com antecedentes de DM2, Dislipidemia e
com o humor ou emoções. Pode ocorrer na paralisia HTA, medicado nesse sentido. Sem história de abu-
pseudobulbar, em distúrbios psiquiátricos e como so de álcool. 
um sinal de epilepsia (crise gelástica). Uma forma
extremamente rara é o chamado “fou rire prodromi- Recorreu ao serviço de urgência 3 vezes por toracal-
que”, descrito pelo neurologista Charles Féré, que gia referida ao hemitórax esquerdo, com 3 meses
se carateriza por um episódio de riso patológico de evolução, associadamente a perda ponderal.
precedendo um acidente vascular cerebral (AVC). Sem noção de dor abdominal, febre, náuseas ou
Apesar dos grandes avanços nas neurociências, o vómitos. Na segunda vinda (9/05/2020), objecti-
mecanismo fisiopatológico desta entidade continua vado radiograficamente extenso derrame pleural à
a ser mal compreendido. esquerda e realizada toracocentese diagnóstica e
evacuadora ( ~1,5 L), com saída de líquido “hemá-
tico velho”, compatível com exsudado (DHL 1314.0
Caso clínico: Mulher de 85 anos, com anteceden-
U/L, superior a 2/3 do LSN da DHL sérica). Teve alta
tes de demência de Alzheimer, hipertensão arterial
orientado para consulta de Pneumologia.
e dislipidemia, enviada ao serviço de urgência por
hemiparesia direita de novo, com início desco- A pedido do médico assistente, realizou TC torácica

562
E-POSTERS
que além do derrame, acrescenta em cortes abdo- Angio-TC: consolidações nos lobos inferiores, nó-
minais “lesão evolutiva multicística que abrange (...) dulos centrolobulares em vidro despolido dispersos
corpo e cauda pancreática.” com destruição central - sugestivo de hemorragia
alveolar.  Foi administrado vitamina K (10mg+5mg)
Recorre uma terceira vez ao SU (16/05/2020) por com rápida reversão do INR (1.75). Da medicação
manutenção das queixas, optando-se novamente habitual (MH) sem VKA, sendo apenas anti-agrega-
por toracocentese e TC abdominal para esclareci- da. Sem toma inadvertida de venenos para ratos ou
mento do supracitado. Da toracocentese: drenagem trocas de medicação com a filha, que incluía warfa-
de 1L de liquido pleural acastanhado, enviado para rina. Foi pedido a medicação do domicílio da doente
doseamento de amilase, bilirrubinas e TG  - eleva- e encontrou-se blisters de acenocumarol vazios. A
dos (BT 6.92 mg/dl, Amilase 2072 U/L). doente e a filha tomavam, erradamente, este fárma-
co como se tratasse de um anti-inflamatório (por ve-
Na TC abdominal descrita “adjacente à face supe- zes, 2 comprimidos/dia). Ficou sob vigilância numa
rior da transição corpo/cauda pancreáticas, aparen- unidade curta duração e posteriormente transferida
temente independente deste orgão, colecção com para enfermaria. Realizou 2 transfusões de sangue,
48 x 36 x 46 mm (...) com área aparentemente “só- fez ácido aminocapróico e foi realizado estudo imu-
lida” no seu interior e dois trajectos “de drenagem” nológico (negativo). Discutido caso com Pneumo-
que poderão justificar o derrame pleural esquerdo.”  logia que dado etiologia evidente e reversão rápida
do quadro, dispensou a broncofibroscopia. Manteve
Pedida colaboração de cirurgia geral através da con-
hemoptises apenas nas primeiras 24h. Melhorou
sulta de grupo de patologia hepatobiliopancreatica.
progressivamente da insuficiência respiratória sem
Efectuada RM-abdominal a 27/05/2020 com evidên- necessidade de oxigenoterapia na enfermaria. Dada
cia de fístula pleuro-pancreática com ponto de parti- boa evolução clínica, a doente teve alta ao fim de 6
da em lesão cística, sem características suspeitas. dias. 
Wirsung regular e sem comunicação com a mesma.
DISCUSSÃO: Um alto índice de suspeição é funda-
Proposto internamento para drenagem torácica, oc- mental para um diagnóstico célere e adequado no
treótido + colocação de prótese pancreática. Bom caso da HA. Este caso lembra-nos da importância
resultado pós-colocação de prótese, assintomático da colheita de história clínica de forma sistemática
aos 3 meses.  e persistente.
Discussão: A importância de uma abordagem multi-
disciplinar para optimização e celeridade nos cuida- P n.º 0526 
dos ao doente e propostas terapêuticas oferecidas. Febre escaro-nodular prolongada
Henrique c. Alexandrino(1);Pedro Salvador(1);Pedro
P n.º 0525  Oliveira(1);Ana Cristina Carneiro(1)
Hemorragia alveolar iatrogénica acidental (1) Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia / Espinho
Jorge Henrique Carmona Alexandrino(1);Pedro Sal-
vador(1);Ana Cristina Carneiro(1) Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
(1) Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia / Espinho
INTRODUÇÃO A febre escaro-nodular (FEN) é uma
Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente crí- zoonose provocada pela bactéria Rickettsia conorii,
tico sendo o principal vetor o ioxídeo conhecido por car-
raça do cão. A doença transmite-se ao organismo
Introdução: A hemorragia alveolar (HA) é uma pa- humano pela picada da carraça infectada.
tologia rara mas com risco de vida pelo que o seu
diagnóstico e tratamento atempado é fundamental. CASO CLÍNICO: Mulher 59 anos, residente zona ru-
Há múltiplas causas, muitas delas autoimunes, mas ral, coabitante com animais de companhia (cadela
neste caso apresentamos uma HA por abuso de an- desparasitada). Tem como antecedentes, hiperten-
tagonistas vitamina K (VKA) de forma inadvertida. são arterial, diabetes mellitus tipo 2 e dislipidemia.
Recorreu ao serviço urgência (SU) por quadro de
CASO CLÍNICO: Mulher 73 anos com antecedentes febre, astenia, exantema difuso maculopapular pru-
de diabetes mellitus 2 com lesão de órgão alvo e riginoso e artralgias com 5 dias de evolução. Doente
doença arterial periférica com claudicação inter- relata remoção de carraça da mão direita 2 dias
mitente seguida consulta cirurgia vascular. Vem antes do início do quadro. Ao exame físico, febril
ao serviço de urgência por dor em repouso nos (37,9ºC), taquicárdica (104 bpm), com exantema
membros inferiores (com 3 dias evolução) e tosse maculo-papular, não-coalescente, pruriginoso, que
com expectoração hemoptóica com 1 dia evolução. não poupava palmas e plantas. Com lesão de inocu-
Doente negou outras perdas hemáticas. Ao exame lação, ulcerosa, coberta por escara negra e rodeada
objetivo, hemodinamicamente estável, eupneica, por halo eritematoso (“tache-noir”) na prega inter-
auscultação rude e discretos edemas maleolares. digital entre o 1º e 2º dedos da mão direita. Anali-
Estudo analítico: anemia de novo (Hb 8.1), sem ticamente, com trombocitopenia (93x10^9/L), hi-
trombocitopenia mas INR>17. Gasometria com li- ponatremia (Na=128), citólise hepática (TGP=79) e
geira hipoxemia; Raio-x tórax: infiltrados bilaterais. PCR elevada (23 mg/dL). Foi proposto internamento

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 563


dada disfunção de órgão. Pelo quadro muito típico, clinical improvement. Brain MRI was repeated 15
iniciou, empiricamente, doxiciclina e colheu serolo- days after the start of the treatment which revealed
gias de Rickettsia, Coxiella burnetti, Borrelia e Lep- a significant increase on the number of lesions, in-
tospira. Clinicamente, com melhoria muito paulatina cluding de novo lesions on the superior parietal and
da astenia e artralgias, tendo ficado apirética ao D4 medial frontal circumvolution and new cerebellum,
internamento. Com evolução favorável mas lenta mesencephalon and thalamus lesions. The vasogen-
das disfunções de órgão (hepática e hematológica). ic edema was larger, with effacement of the cortical
Do estudo etiológico: Coxiella negativo, Borrelia sulci. Unfortunately the patient ended up dying.
IgM negativo e IgG negativo e pesquisa leptospira
negativo. Serologia (ELISA) de Rickettsia negativa Discussion: HIV screening tests should be consid-
(expectável dada a precocidade da colheita). Por ered when a ring-enhancing brain lesion prompts on
resolução lenta e atraso à vinda ao SU optou-se por CT or MRI scans. Cerebral toxoplasmosis and prima-
dar alta com doxiciclina oral durante mais 7 dias e ry CNS lymphoma are the most common causes of
vigilância clínica em consulta de ambulatório. Com ring-enhancing brain lesions in a patient with AIDS.
melhoria sustentada do quadro desde a alta. An early brain biopsy should be considered for a de-
finitive diagnosis of the ring-enhancing brain lesion,
especially in HIV-AIDS patients who are refractory to
DISCUSSÃO: A FEN é uma doença geralmente be- initial empiric treatment for central nervous system
nigna quando a antibioterapia (ATB) é iniciada pre- toxoplasmosis.
cocemente. O diagnóstico é essencialmente clínico,
integrando dados epidemiológicos e clínicos não P n.º 0533 
sendo necessário confirmação laboratorial. Quanto Uma história em 2 tomos: Nocardiose e tuberculo-
maior for o atraso do início da ATB, maior a probabi- se pulmonar
lidade de disfunção de órgão, com resolução mais Isaac s Pereira(1)
lenta e com possível evolução para a forma maligna (1) Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo, EPE /
com taxa de mortalidade significativa. Hospital José Joaquim Fernandes

P n.º 0531  Tema: Doenças infecciosas e parasitárias


AIDS diagnose after convulsive crisis secondary to
cerebral toxoplasmosis Introdução:  A nocardiose pulmonar é uma infeção
Pedro Antunes Meireles(1);Leila Duarte(2);Ana oportunista pouco frequente, mas grave, tipificada
Craciun(2);Ana Melício(2);Mariana Dias(2);Cris- pela consolidação necrosa ou cavitatória, geralmen-
tiana Canelas Mendes(2);Pedro Gaspar(2);Inês te num paciente imunocomprometido, sendo causa-
Parreira(2);Federica Parlato(2);Hélder Diogo Gonçal- da por Nocardia spp. Em casos raros também pode
ves(2);Filipe Bessa(2);Catarina Mota(2);João Madei- ocorrer em doentes sem alterações da imunidade.
ra Lopes(2);António Pais Lacerda(2) Apresenta-se de seguida um desses casos.
(1) IPO Lisboa (2) Centro Hospitalar de Lisboa Nor-
te, EPE / Hospital de Santa Maria
CASO CLÍNICO:  Doente do sexo masculino de 83
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias anos, previamente autónomo para as atividades da
vida diária, sem doenças crónica ou medicação ha-
bitual, encaminhado para a nossa Consulta de Me-
Introduction: Cerebral toxoplasmosis is the most dicina Interna por quadro com cerca de 3 meses de
frequent opportunistic infection of the central ner- evolução de diarreia aquosa (vários episódios/dia)
vous system (CNS) in patients infected with the hu- com urgência, sem muco, sangue ou pus, por vezes
man immunodeficiency virus (HIV). com alimentos mal digeridos. Referia ainda náuseas
e vómitos alimentares, associado a disfagia para
Clinical case: A 60-year-old woman was admitted sólidos, bem como emagrecimento de cerca de 16
after a syncope and tonic-clonic seizures. Physical kg em 4 meses, astenia, anorexia, sialorreia e tosse
examination revealed central left facial paralysis, irritativa. Como antecedente, o doente mencionava
left hemiparesis and global aphasia. Laboratory história de tuberculose pulmonar na infância (não
results showed pancytopenia. Brain CT presented sabendo referir se fez ou não tratamento) e acom-
an extensive cortico-subcortical frontal right hy- panhava-se de Tomografia Computorizada (TC)
podensity and a ring-enhancing subcortical lesion pulmonar que descrevia pequena cavitação no lobo
(18x16x17mm), suggesting secondary neoplasm. superior direito, que comparada com TC prévia (de
Extensive investigation found no cause for a pri- há 5 anos) que documentava esta lesão, mas não
mary tumor. Brain MRI revealed multiple intra-axial com características de cavitação. Foi então interna-
rounded lesions (mainly at frontoparietal right lobe, do para estudo etiológico. No decurso da caminha-
left parietal and occipital lobes), expansive lesions da diagnóstica realizou pesquisa de BAAR (bacilos
with T2 hyperintensity with contrast enhancement ácido-resistentes) na expetoração, com a presença
and vasogenic edema. Viral screen was positive for BAAR sugestivos de Nocardia, com posterior confir-
HIV-1 and revealed a low T-CD4+ lymphocyte count mação por PCR (Reação em Cadeia da Polimerase).
(33.3 cells/mm3). Lumbar puncture was positive for Iniciou então terapêutica com Cotrimoxazol, com
Toxoplasma gondii RNA. The patient started on pyri- melhoria progressiva.
methamine/clindamycin plus co-trimoxazol, without

564
E-POSTERS
DISCUSSÂO: Apresenta-se este caso clínico para Hospital José Joaquim Fernandes
chamar atenção para a importância do diagnóstico
da infeção por Nocadia, que pode ser potencialmen- Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
te muito grave.
Introdução:  A Staphylococcus aureus é uma bac-
P n.º 0535  téria esférica, do grupo dos cocos gram-positivos,
Trombose da artéria mesentérica superior, a propó- frequentemente encontrada na pele e nas fossas
sito de um caso clínico nasais de pessoas saudáveis, no entanto pode
Flávio g. Pereira(1);Daniela Meireles(1);João Olivei- provocar doenças que podem varias de infeções
ra(1);Inês Pintor(1);Lúcia Borges(1);Susana Cava- relativamente simples a infeções complicadas e
das(1) multifocais, sobretudo quando entra na circulação
(1) Centro Hospitalar do Baixo Vouga / Hospital In- sanguínea. A bacteriemia é a presença de bactérias
fante D. Pedro, EPE no sangue. De seguida apresenta-se um caso clini-
Tema: Doenças hematológicas co de um doente com bacteriemia a Staphylococ-
cus aureus.
O estudo etiológico após um evento trombótico em
idade jovem é de suma importância. Dentro deste, CASO CLÍNICO: Doente de 51 anos, previamente
destaca-se o estudo genético, dado que múltiplas autónomo para as atividades da vida diária que se
mutações em homozigotia, assim como outras em apresentou no Serviço de Urgência (SU) por quadro
heterozigotia, estão associadas a um franco aumen- de toracalgia e dispneia. Tinha tido alta 8 dias antes
to do risco de evento trombóticos, nomeadamente do Internamento do Serviço de Medicina Interna
mutações do fator V Leiden e protrombina (PT). por quadro de abcesso cerebral, tendo cumprido 6
semanas e terapêutica com Ceftriaxone e Metroni-
dazol. Da estadia no SU, a destacar apirexia, mas
Homem de 60 anos, enviado à consulta por história com taquipneia a ar ambiente com SpO2 de 91 % e
de trombose de artéria mesentérica superior de auscultação pulmonar com fervores crepitantes dis-
etiologia não esclarecida, sob hipocoagulação com persos no hemitórax esquerdo e no 1/3 inferior do
varfarina. Como intercorrência apresentou hemor- hemitórax direito, sem outras alterações objetivas.
ragia digestiva baixa de etiologia não esclarecida Analiticamente com elevação dos parâmetros infla-
(endoscopia e colonoscopia sem alterações) após matórios. A Tomografia Computorizada (TC) torá-
9 meses de varfarina, tendo tido alta com mudança cica revelou “Derrame pleural à esquerda. Existem
para enoxaparina. Sem história familiar de fenóme- alterações da permeabilidade pulmonar traduzidas
nos trombóticos ou hemorrágicos. Negava qualquer por múltiplos focos de condensação nodular disper-
sintomatologia acompanhante. Exame objetivo sem sos em ambos os campos pulmonares, um deles no
alterações. Analiticamente com défice de ácido fó- lobo superior do pulmão esquerdo com cavitação,
lico (2.72ng/mL) e aumento da Homocisteína (23,9 alterações a favor de disseminação hematogénea
mcmol/L). Proteína C funcional e S livre normais. de processo infeciosa, êmbolos sépticos.” Foi as-
Estudo auto-imune sem alterações. O estudo ge- sumido quadro de pneumonia nosocomial bilateral,
nético revelou heterozigotia da variante R506Q do iniciou empiricamente Piperacilina + Tazobactam e
gene FV (genótipo R/Q), heterozigotia da variante Linezolide, sendo o doente internado ao cuidado da
20210G>A do gene PT (genótipo G/A), em homozi- Medicina Interna. As hemoculturas viriam a isola-
gotia da variante c.677C>T do gene MTHFR (genó- ram MSSA (Staphylococcus aureus sensível à meti-
tipo T/T) e homozigotia da variante 4G na posição cilina), altura em que se interrompeu a Piperacilina
-675 do gene PAI-1 (plasminogen activator inhibitor; + Tazobactam, mas manteve-se o Linezolide, com
genótipo 4G/4G). Iniciou reposição de ácido fólico e melhoria clínica e analítica. Realizou ainda a ecocar-
reiniciou varfarina. Sem novas intercorrências desde diografia transesofágica (ETE), que relatou “a nível
então. da cúspide CE visualiza-se imagem de pequenas
dimensões móvel e heterogénea, que no contexto
A variante R506Q do gene Fator V Leiden represen- clínico do examinado poderá corresponder a vege-
ta um fator trombofílico major e em heterozigotia tação. “
aumenta o risco de tromboembolismo. A variante
20210G>A do gene PT constituí outro fator de risco DISCUSSÂO: Apresenta-se este caso clínico para
major para patologia trombótica, mesmo em hetero- importância da realização da ETE em doente com
zigotia. Por outro lado, a importância da variante 4G isolamento de MSSA a nível das hemoculturas, bem
na posição -675 do gene PAI-1 é controversa, poden- como do efeito que esta bactéria pode ter a nível
do aumentar o risco de eventos coronários. Os auto- multiorgânico.
res realçam o papel do estudo genético, não só para
o doente, mas também a para a descendência que P n.º 0552 
poderá beneficiar de aconselhamento genético. Doença de Graves por infeção Sars-Cov2
Bruno Sousa(1);Catarina Santos(1);Daniela Cru-
P n.º 0545  z(1);Inês Pintassilgo(1);Ana Gonçalves Ferreira(1);-
Troika: MSSA Tiago Judas(1)
Isaac s Pereira(1) (1) Hospital Garcia de Orta, EPE
(1) Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo, EPE /

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 565


Tema: Doenças infecciosas e parasitárias de Wilson, o défice de alfa 1-antitripsina e a
hepatopatia congestiva.
A doença de Graves é das principais causas de hi-
pertiroidismo. É uma doença tiroideia auto-imune Homem, 71 anos, antecedentes pessoais de Insu-
que pode ser despoletada por vários triggers como ficiência cardíaca direita secundária a hipertensão
infeções virais e bacterianas, stress ou fármacos. pulmonar sem etiologia esclarecida à data do inter-
Apresentamos o caso de um jovem de 28 anos, au- namento, SAOS sob CPAP, doença renal crónica(3b),
tonomo, sem antecedentes de relevo, que cerca de cirrose hepática de etiologia não esclarecida à data
duas semanas após infeção a Sars-Cov2 sintomáti- do internamento, fibrilhação auricular (FA) crónica
ca ligeira, inicia quadro de cansaço progressivo para e pacemaker há 10 anos por bradiFA. Internado
pequenos esforços e sensação de palpitações flu- eletivamente após vários episódios de ascite sob
tuante. tensão com necessidade de paracenteses evacua-
É observado em contexto hospitalar cerca de 1 mês doras. Realizaram-se 2 paracenteses, com liquido
pós-infeção por agravamento do sinais de cansa- ascítico estéril e predomínio de células mononu-
ço, com taquicardia sinusal (FC máxima 170bpm) cleadas. A ecografia e tomografia computorizada
com necessidade de terapêutica beta-bloqueante, e abdominal evidenciaram fígado com contornos
sensação de dispneia.  macronodulares compatível com doença hepática
crónica (DHC). Foi possível excluir as restantes
Da investigação etiológica inicial destaca-se hiperti- causas de DHC, tendo-se assumido cirrose cardíaca
roidismo com componente auto-imune (T4 livre 7.11 como a etiologia mais provável desta DHC. Optou-
ng/dl, T3 total 486 ng/dl, TSH<0.01mU/L, e anticor- -se por prosseguir no estudo da doença vascular
pos positivos - AcTg 352 Ui/ml, AcTPO 478, TRABS pulmonar tendo o doente realizado Ecocardiograma
8.). De referir avaliação da função tiroideia prévia transesofágico que evidenciou insuficiência mitral e
(1 ano antes) sem alterações. Foi feita ecografia tricúspide graves por oposição ao Eco transtorácico
tiroideia que mostrou glândula tiroideia  aumentada que tinha evidenciado insuficiência ligeira, realizou
com contornos  são  bosselados e  ecoestrutu- ainda cateterismo cardíaco direito que demonstrou
ra  do  parênquima  difusamente  heterogénea com hipertensão pulmonar pós-capilar grupo 2. Durante
imagem de tecido tiroideu nodular abaixo da fúrcula o internamento, optou-se por reprogramar o pace-
esternal. Para confirmação de um eventual nódulo maker com ajuste da frequência cardíaca (FC) de 50
foi feita cintigrafia tiroideia, que excluiu formação para 70 bpm. Após este ajuste de frequência não se
nodular.  registaram novos episódios de ascite, tendo o doen-
Foi referenciado para consulta de endocrinologia, te tido alta para consulta de Medicina Interna e Car-
admintindo-se diagnóstico de doença de graves diologia onde foi proposto para plastia das válvulas
despoletado por infeção Sars-Cov2, tendo iniciado mitral e tricúspide.
terapêutica com tiamazol 20mg, com passagem Os autores salientam por um lado a importância de
a hipertiroidismo subclinico ao primeiro mês de um limiar baixo para investigação das causas de
follow-up, com melhoria sintomática. Ao 2º mês insuficiência cardíaca e , por outro lado, o facto do
de follow-up constatou-se hipotiroidismo, com nor- ajuste da frequência de pacing ter frenado os episó-
malização do valor de TSH. Está actualmente em dios de ascite refratária. Neste sentido é importante
desmame de medicação (sob tiamazol 7.5mg) com referir que ventrículo direito é muito dependente de
melhoria sintomática e eutiroideu. pré- carga e, portanto da FC, para manutenção dos
Os autores pretendem mostrar o impacto da infe- débitos ao contrario do ventrículo esquerdo que tem
ção a SARS-COV2 nas doenças tiroideias, enquanto inotropismo próprio.
eventual trigger viral em doentes com possível pre-
disposição genética. Apesar de vários casos docu- P n.º 0558 
mentados da doença secundária a Sars-Cov2, mais A importância da ecografia à cabeceira do doente
estudos definitivos são necessários para consolidar numa sala de emergência
a associação clinica. Joana Fontes(1);Tiago Mendes(1);Raquel Cos-
ta(1);Marta Matos Pereira(1);Joana Silva(1);Bárbara
P n.º 0556  Sousa(1);Paula Brandão(1)
Ascite refratária, quando a frequência importa! (1) Unidade Local de Saúde do Alto Minho, EPE /
Mafalda Sequeira(1);Rafaela Marreiros(1);Catarina Hospital de Santa Luzia
Cardoso(1);Francisca Abecasis(1);Henrique San-
tos(1) Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente crí-
(1) Hospital Garcia de Orta, EPE tico
Tema: Doenças cardiovasculares
A ecografia à cabeceira do doente (EcoCD) tem
emergido como uma ferramenta importante na
 A cirrose hepática tem etiologias com as quais avaliação inicial do doente crítico. É cada vez mais
lidamos mais frequentemente como a doença considerada como uma extensão ao exame físico,
hepática alcoólica ou a hepatite crónica (mais acrescentando informações que permitem identifi-
frequentemente por vírus B e C) e outras com as car mais rapidamente condições clínicas ameaça-
quais lidamos menos frequentemente como a doras de vida.
hepatite auto-imune, a hemocromatose, a doença
566
E-POSTERS
Mulher de 83 anos, autónoma, com antecedentes de Na última década os inibidores da SGLT2 (iSGLT2)
HTA, dislipidemia, AVC isquémico há 5 meses sem surgiram como fármacos antidiabéticos orais pro-
sequelas e osteoartrite. missores, com benefício no controlo glicémico e
cardio-renal. Apesar da rara incidência, a FDA emitiu
Foi admitida na sala de emergência (SE) como Via um alerta de segurança a reforçar a necessidade
Verde AVC após uma alteração súbita do estado de de atenção para o risco de cetoacidose diabética
consciência, com perda de conhecimento e de con- (CAD) euglicémica com o uso destes fármacos.
tinência de esfíncteres. Ao exame neurológico en-
contrava-se prostrada, com discurso confuso, sem
assimetrias motoras. Estava polipneica, hipoxémica, Os autores apresentam o caso clínico de um ho-
taquicárdica, hipotensa e com sinais de má perfu- mem, 73 anos, parcialmente dependente, com HTA,
são periférica. Auscultação pulmonar com murmú- DM tipo 2, dislipidemia, tabagismo e DRC estadio 3
rio vesicular simétrico, sem ruídos adventícios. Na por nefropatia diabética. Da medicação destaca-se
auscultação cardíaca com taquicardia, sem sopros metformina 1000 mg id e empaglifozina 10 mg id.
audíveis. Encontrava-se apirética e normoglicémica. Admitido no SU por ortopneia, redução da diurese
Realizou-se EcoCD que evidenciou dilatação e hi- e astenia com 3 dias de evolução. À admissão, sa-
pocinesia do ventrículo direito (VD) e um ventrículo lienta-se: polipneia, diaforese, turgescência venosa
esquerdo (VE) com D-shape, a levantar uma forte jugular e apirexia; TA: 220/110 mmHg, taquicar-
suspeição de tromboembolismo pulmonar (TEP). dia; AP: broncoespasmo difuso; abdómen mole,
Do restante estudo realizado: gasimetricamente depressível e indolor; sem edema periférico; em
com insuficiência respiratória hipoxémica e lactatos oligoanúria. Dos exames complementares de diag-
de 3.1mmol/L; ECG com taquicardia sinusal com nóstico: glicose 180 mg/dl, creatinina 8.2 mg/dl, pH
BCRD de novo; angio-TC das artérias pulmonares 7.16, HCO3- 12 mmol/L, lactatos 12 mmol/L, Anion
confirmou a presença de TEP bilateral maciço e Gap (AG) 32 e radiografia de tórax com sinais de
cardiomegalia discreta, com predominância do VD. congestão.
Analiticamente a destacar elevação dos valores sé- Por lesão renal aguda em DRC oligoanúrica e aci-
ricos dos marcadores de necrose miocárdica e do demia metabólica associada a metformina iniciou
BNP. hemodiálise. Apesar da melhoria da acidemia e
Assim, a doente apresentava um TEP de muito alto descida dos lactatos, persistiu a acidose com AG
risco - Pulmonary Embolism Severity Index (PESI) aumentado. A medição da cetonemia (3.6 mmol/L)
classe V, tendo sido submetida a fibrinólise com confirmou a suspeita de CAD euglicémica. Houve
rápida melhoria do perfil hemodinâmico. evolução com quadro de abdómen agudo e o an-
gio-TAC abdominal mostrou trombo na aorta ab-
A EcoCD é cada vez mais utilizada na avaliação dos dominal, artérias renais e mesentérica superior. O
doentes críticos que se apresentem com dispneia, desfecho foi desfavorável com choque, disfunção
dor torácica, síncope ou choque, onde o TEP deve multiorgânica e morte.
ser incluído no diagnóstico diferencial. Este repre-
senta uma das principais causas de emergência A CAD euglicémica é uma emergência médica com
cardiovascular, sendo a terceira causa de morte por elevada mortalidade. Associa-se a factores precipi-
doença vascular. tantes, neste caso a LRA por catástrofe vascular e
a isquemia mesentérica. Em situações de doença
Neste caso clínico, a objetivação de um VD dilatado aguda e previamente a cirurgias major, está reco-
e hipocinético na EcoCD colocou o TEP como hipó- mendada a interrupção temporária dos iSGLT2. Este
tese diagnóstica mais provável e permitiu direcionar caso clínico ilustra a CAD euglicémica associada a
o estudo complementar, diagnosticar e tratar mais iSGLT2 como diagnóstico diferencial em situações
precocemente, proporcionando uma rápida estabili- de acidemia metabólica com AG aumentado e nor-
zação hemodinâmica da doente. moglicemia.

P n.º 0559  P n.º 0560 


Cetoacidose diabética euglicémica por iSGLT2 - SIADH provavelmente por radioterapia por heman-
uma entidade potencialmente fatal giopericitoma nasal - manifestação passado 43
Joana Fontes(1);Miguel Falcão(2);Vitória Paes de anos
Faria(3);Nuno Leal(3);Paula Ferreira(3);Patrícia Ro- Juliana Gonçalves(1);Cristina Correia(1);Isa Barbo-
cha(3);Manuel Barbosa(3);Susana Pereira(3);João sa(1);Manuela Dias(1);Jorge Oliveira(1)
Carlos Fernandes(3) (1) Centro Hospitalar de S. João, EPE
(1) Unidade Local de Saúde do Alto Minho, EPE /
Hospital de Santa Luzia (2) Centro Hospitalar do Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio-
Oeste - Unidade de Caldas da Rainha (3) Centro nais
Hospitalar de Vila Nova de Gaia / Espinho
O SIADH é a causa mais frequente de hiponatremia
Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio- euvolémica.1 Caracteriza-se pela supressão inade-
nais quada da ADH que leva à reabsorção de água livre
no ducto coletor. Existe inúmeras causas de SIADH
e é um diagnóstico de exclusão, tendo de excluir
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 567
hipotiroidismo, hipocortisolismo, uso de diurético. O bócio coloide (istmo direito). Internada por um
tratamento consiste em primeira linha, em restrição quadro de cansaço com 3 meses de evolução em
hidríca. Pode ser usado aumento do consumo diário agravamento, dor torácica justa clavicular tipo fa-
de sal, diuréticos de ansa, comprimidos de sal ou de cada e tosse seca persistente. Salienta-se como
ureia. positivo anemia normocítica e normocrómica, teler-
radiografia de tórax com infiltrados heterogéneos
Sexo feminino, 69 anos, caucasiana. De história pre- bilaterais e hipoxémia com necessidade de aporte
gressa, hemangiopericitoma da fossa nasal direita de oxigénio, SARS COV2 negativo. Realizou tomo-
em 1977, submetida a extirpação e radioterapia. grafia torácica (TC), que evidenciou padrão nodular
Sem medicação habitual. e micronodular difuso sugestivo de secundarização
Recorreu ao SU por lentificação psicomotora, vómi- maligna pulmonar. Para investigação da lesão ma-
tos alimentares e desconforto abdominal com uma ligna primária realizou broncofibroscopia, biópsias
semana de evolução. Sem alterações objetivamen- trans-brônquicas, TC toraco-abdomino-pélvica que
te. Analiticamente, hiponatremia hiposmolar (sódio evidenciou fígado com múltiplas imagens de secun-
111 mEq/L, osmolaridade sérica 247 mOsmol/ darização, tendo igualmente realizado biópsia aspi-
Kg), osmolaridade urinária aumentada (675 mOs- rativa. Ambas as biópsias foram consistentes com
mol/Kg) e sódio urinário aumentado (49 mEq/L), o diagnóstico de Hemangioendotelioma epitelioide
TSH 0,94 µUI/mL, T4 livre 0,62 ng/dL – diminuída. (HE). Por aumento do volume cervical com queixas
Assumiu-se hiponatremia hiposmolar euvólémica de dificuldade na deglutição, realizou ainda citologia
sintomática. Iniciou correção com soro hipertónico. aspirativa tiroideia que confirmou neoplasia malig-
Do estudo realizado no internamento: ácido úrico na epitelióide de alto grau, com estudo genético a
2,4 mg/dL, cortisol matinal 10 ng/L, ACTH 6,7 µg/ confirmar e rearranjo do gene WWTR1, presente em
dL, FSH diminuído 3,34 mUI/mL, LH diminuído 0,86 90% dos HE. Teve alta referenciada a consulta de
mUI/mL, IFG-1 24 ng/dL – limite inferior da norma- Oncologia e Endocrinologia tendo sido re-internada
lidade. TC-CE: Sela turca “vazia” por aracnoidocelo dias depois por agravamento da dispneia e disfa-
intrasselar, sem evidência de recidiva da lesão. Rea- gia. Realizou TC cervical, que confirmou marcado
lizou Prova de Synachten - normal (cortisol 0’ 8,1 µg/ aumento do volume do lobo direito da tiróide e
dL; 60’ 30,9 µg/dL), excluindo insuficiência adrenal abaulamento da parede póstero-lateral da hipofarin-
secundária. Assim, a hipótese mais provável é SIA- ge. Por agravamento sintomático e compromisso
DH. Foram doseados os anticorpos e antigénios de iminente da via aérea acabou por ser submetida a
HIV 1 e 2 – não reativos e foi realizado TC-TAP que traqueostomia cirúrgica. Assistiu-se a um agrava-
exclui lesões suspeitas de malignidade. Assumiu-se mento progressivo do quadro clínico, tendo faleci-
SIADH no contexto da radioterapia prévia. Foi insti- do ao 8º dia de internamento.
tuído dieta com  9 gramas de sal, restrição hídrica Os autores destacam este caso por se tratar de uma
(800 mL), furosemida 40 mg .À data de alta, assin- apresentação comum com dispneia e cansaço que
tomática e sódio de 131 mEq/L. Passado um mês, motivou uma investigação detalhada e exaustiva
com as medidas instituídas (furosemida, restrição até se obter um diagnóstico raro. Nunca esquecen-
hídrica e dieta com 9 gramas de sal), permanece do que as etiologias mais frequentes devem ser
assintomática e com 137 mEq/L de sódio. excluídas primeiramente, devemos saber reconhe-
Com este caso clínico, realçamos a importância de cer quando o diagnóstico é mais complexo, sempre
excluir outras causas de hiponatremia euvolémica. com base na história clínica detalhada e na marcha
Excluindo outras possíveis etiologias de SIADH, ape- diagnóstica sequencial.
nas restou a radioterapia que foi submetida há 43 P n.º 0563 
anos. Sabendo que esta apresentação tão tardia é Psitacose: a importância da anamnese no diagnós-
rara, é a hipótese diagnóstica mais sólida. tico
P n.º 0561  Beatriz Fernandes(1);João Casanova Pinto(1);Carlos
Um estranho e raro caso de cansaço! Ramalheira(1);Catarina Lopes(2);Diogo Cruz(1)
Mafalda Sequeira(1);Catarina Cardoso(1);Rafaela (1) HPP Hospital de Cascais (2) Hospital Veterinário
Marreiros(1);Francisca Abecasis(1);Henrique San- do Restelo
tos(1) Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
(1) Hospital Garcia de Orta, EPE
Tema: Doenças oncológicas Estima-se que anualmente 1% das pneumonias ad-
quiridas na comunidade (PAC) sejam causadas por
O hemangioendotelioma epitelioide é um tumor Chlamydia psittaci. A identificação da exposição a
vascular raro com origem em células endoteliais, pássaros é essencial para o diagnóstico.
que pode envolver qualquer órgão. É uma entidade
rara para a qual não se conhece inteiramente o tra- Homem, 37 anos, eletricista, com antecedentes de
tamento, bem como o prognóstico que vai desde nefrolitíase, encaminhado à consulta de Medicina
agressivo a indolente. Interna para reavaliação após diagnóstico de PAC
no serviço de urgência. À admissão referia febre
Mulher, 73 anos, hipertensão arterial, dislipidémia, com calafrios, sudorese profusa, mialgias, astenia,

568
E-POSTERS
anorexia e diarreia com 5 dias de evolução, bem ção e discurso confuso com períodos de lucidez;
como tosse com expetoração mucopurulenta nas sem sinais meníngeos ou défices neurológicos.
24 horas anteriores. Não apresentava sinais de difi- Analiticamente salienta-se líquido cefalorraquidiano
culdade respiratória e a saturação periférica em ar sem alterações bioquímicas e citológicas de relevo;
ambiente era de 100%. Na auscultação pulmonar painel de vírus neurotrópicos negativo. Ressonância
identificaram-se fervores crepitantes na metade magnética crânio-encefálica: hipersinal nas se-
inferior do hemitórax direito. Laboratorialmen- quências tempo de repetição longo a nível talâmico
te destacava-se elevação da proteína C reativa e da posterior, nucleocapsular, insular, a nível cortical
gamaglutamiltransferase. As pesquisas de SARS- frontal anterointerno e temporal direito; sem refor-
-CoV-2 e de antigénios urinários de S. pneumoniae e ço de sinal pós gadolínio; hipersinal no estudo da
L. pneumophila foram negativas. O tomograma do difusão; efeito de massa com apagamento sulcal,
tórax identificou uma condensação do lobo inferior discreta moldagem do ventrículo lateral direito com
direito e um segundo foco no lobo superior direito, desvio das estruturas da linha média para a esquer-
em contiguidade com o anterior. O doente foi en- da. Electroencefalograma: electrogénese lentificada
viado para a consulta de Medicina medicado com e irregularmente estruturada no hemisfério direito
amoxicilina/ácido clavulânico e azitromicina. Na com lentificações teta-delta posteriores e frontais,
avaliação realizada em consulta, destacavam-se nesta última com aparentes paroxismos de pontas
as queixas extrapulmonares pelo que se alargou o - disfunção hemisférica direita com abundantes pa-
estudo epidemiológico, constatando-se o contacto roxismos epilépticos compatível com o diagnóstico
próximo com um “periquito” da espécie Agapornis e de encefalite herpética. Assumida meningoencefali-
estudo serológico de microrganismos atípicos, que te herpética, iniciou aciclovir que cumpriu durante
revelou anticorpo anti-Chlamydia psittaci IgG positi- 21 dias, com melhoria progressiva do quadro. Foi
vo e IgM negativo. suspenso dupilumab, ainda não realizou reavaliação
imagiológica e mantem-se em seguimento sem evi-
O diagnóstico definitivo de psitacose define-se pelo dência de distúrbio neurológico.
isolamento de C. psittaci numa amostra respiratória
ou no sangue ou pelo aumento igual ou superior a 4 Discussão: Apesar de não estar descrita, a presumi-
vezes do título de anticorpos anti-Chlamydia psittaci da correlação entre dupilumab e encefalite herpéti-
IgG entre duas amostras serológicas colhidas com ca acarreta grande morbi-mortalidade aos doentes
2 a 4 semanas de intervalo. Neste caso, apesar de e por isso deve ser suspeitada na presença de alte-
não estar disponível uma amostra correspondente rações neurológicas de novo em doentes sob este
à fase aguda, a amostra da fase de convalescença fármaco.
permitiu identificar anticorpos IgG em título elevado
(1:256), o que fortalece a hipótese diagnóstica em- P n.º 0578 
bora não permita o diagnóstico definitivo. Do ponto Esplenomegalia – envolvimento pelo SARS-COV-2
de vista laboratorial e radiológico, o caso corres- ou coincidência
ponde ao descrito na literatura. De forma diferida, a Magda Costa(1);Isabel Bessa(1);Mariana Formi-
ave foi testada e identificou-se C. psittaci nas fezes. go(1);Helena Sarmento(1);Jorge Cotter(1)
Destaca-se a importância da anamnese como ferra- (1) Centro Hospitalar do Alto Ave, EPE / Hospital da
menta proeminentemente diagnóstica. Senhora da Oliveira

P n.º 0568  Tema: Doenças infecciosas e parasitárias


Encefalite viral em doente imunossuprimido com
dupilumab. Apesar da sintomatologia da infeção por SARS-
Manuel Almeida(1);Joana Moutinho(2);Alexandra -COV-2 ser sobretudo respiratória, existem manifes-
Ávila(1);Nuno Bernardino Vieira(1);Luísa Arez(2) tações extrapulmonares diretamente causadas pelo
(1) Centro Hospitalar Universitário do Algarve, EPE vírus. Foi descrito o envolvimento esplénico que
- Hospital de Portimão (2) Centro Hospitalar Univer- desencadeia linfopenia, assim como a relação com
sitário do Algarve, EPE - Hospital de Portimão fenómenos trombóticos.
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
Homem de 62 anos, admitido em Abril de 2020 por
febre, tosse, dor torácica pleurítica e perda ponderal
Introdução: O dupilumab (anticorpo monoclonal do de 8%. Ao exame objetivo identificada massa no
recetor da IL-4 e IL-13) pode ser usado no tratamen- hipocôndrio esquerdo. Analiticamente com anemia,
to de eczema atópico refratário. Estão descritos linfopenia, elevação da proteína C reactiva e lactato
como efeitos adversos alopecia, psoríase, angiode- desidrogenase. Realizou tomografia computadori-
ma e herpes oral. zada que identificou consolidação no lobo inferior
esquerdo e esplenomegalia de 22 cm de eixo longi-
Caso clínico: Masculino, 59 anos, eczema atópico tudinal. Apresentou teste SARS-COV-2 positivo e an-
grave sob dupilumab há um 1 ano (300mg quinze- tigenúria positiva para Streptococcus pneumoniae.
nal). Recorre ao serviço de urgência por desorienta- Iniciou antibioterapia com amoxicilina/clavulanato,
ção, confusão, cefaleia e incontinência de esfíncter hidroxicloroquina e lopinavir/ritonavir durante 10
vesical com 24h de evolução. Exame objetivo a dias com evolução favorável, contudo com agrava-
destacar alternância entre períodos de desorienta- mento imagiológico.

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 569


Ao 20º dia apresentou recorrência de febre e insufi- com Rivaroxabano (20mg/dia). Realizou estudo
ciência respiratória (IR) de novo. Por sobre-infeção genético (homozigoto normal para factor V e II; ho-
nosocomial iniciou antibioterapia e corticoterapia, mozigoto normal para MTHFR C677T; heterozigoto
com resolução da IR volvidos 7 dias. Realizou con- para MTHFR A1298C) e imunológico (níveis normais
trolo ecográfico documentando-se redução do ta- de antitrombina, proteína C e S; sem resistência a
manho do baço para 17,7cm. PCA, fibrinogénio e factor VIII e negativo para anti-
corpos anticardiolipina, anti-beta-2GP1 e anticoa-
O esfregaço sanguíneo não tinha alterações e as se- gulante lúpico). Em Fevereiro de 2021, é diagnos-
rologias víricas foram negativas. Realizou mielogra- ticado com um episódio de TVP femoro-poplítea
ma e colheita para imunofenotipagem ao 50º dia, esquerda, com reintrodução de anticoagulação com
compatível com linfoma esplénico da zona marginal Acenocumarol (4 mg/dia). Em Março de 2021, sob
(LEZM). Teve alta ao 58º dia apresentando melhoria hipocoagulação com níveis terapêuticos, dá entrada
das citopenias e com consulta agendada de hema- com novo TEP bilateral. Procedeu-se à alteração
to-oncologia para orientação terapêutica. da estratégia de anticoagulação com Enoxaparina
60mg de 12/12h e, posterior, implantação de filtro
O LEZM corresponde a 25% dos linfomas de células da veia cava inferior. Foi repetido estudo genético
B de baixo grau, cursa com citopenias e espleno- e imunológico, novamente sem causa identificável.
megalia. Tanto o LEZM, como a infeção por SARS- Da história familiar, mãe com história de TVP em
-COV-2, estão associados a sintomas inespecíficos, idade jovem, assim como dois familiares de terceiro
citopenias e elevação dos parâmetros inflamatórios. grau de origem materna, sem estudo de trombofilia
Atualmente a corticoterapia está recomendada no conhecidos.
tratamento da infeção por SARS-COV-2. Concomi-  
tantemente é utilizada nos esquemas de quimio-
terapia para o tratamento do LEZM. Deste modo, a Discussão
diminuição do tamanho do baço interpreta-se em
provável contexto de resolução da infeção e respos- As trombofilias clínicas implicam a presença de his-
ta parcial da doença linfoproliferativa à corticotera- tória familiar forte e com episódios de tromboem-
pia. bolismo venoso (TEV) confirmado ou a presença de
mais do que um familiar de primeiro grau com his-
Este caso demonstra que o baço pode ser um dos tória de TEV. Assim sendo, discute-se a importância
órgãos-alvo da infeção por SARS-COV-2, e simulta- do reconhecimento genético ou imunológico, sendo
neamente realça o valor do diagnóstico oportuno da que a adoção de uma estratégia de anticoagulação
doença hematológica subjacente. mais agressiva pode ser indicado na maioria dos
casos, independentemente dos resultados analíti-
P n.º 0584  cos.
Tromboembolismo venoso associado a trombofilia
familiar. P n.º 0586 
Irene Pinto(1);Nuno Silva(2);Fernando Salvador(2) Dissociação escapulotorácica e lesão isolada da
(1) Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Dou- veia subclávia
ro, EPE / Hospital de Vila Real (2) Centro Hospitalar Marta Serejo Portugal(1);Catarina Lopes Silva(1);-
de Trás-os-Montes e Alto Douro, EPE João Pedro Araújo(1);Ana Paula Vilas(1)
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi-
Tema: Doenças hematológicas tal de Santa Maria

Trombofilia designa uma entidade nosológica, here- Tema: Doenças raras


ditária ou adquirida, associada a risco aumentado
de trombose do sistema venoso e arterial. De entre Introdução: A Dissociação EscapuloTorácica (DET)
as causas hereditárias, o fator V de Leiden e muta- consiste na separação da escápula da parede torá-
ção do gene da protrombina representam as causas cica posterior. É rara e apenas está descrita em trau-
mais frequentes, contudo, mutações genéticas mas de alta cinética (acidentes de viação). A lesão
não são identificadas na maioria das trombofilias da veia subclávia (LVS) também é rara, associa-se
familiares. De acordo com as últimas guidelines de usualmente a lesão da artéria subclávia e também
Trombose Venosa Profunda (TVP) da Sociedade Eu- resulta de traumatismo torácico (habitualmente tiro
ropeia de Cirurgia Vascular, a presença de trombofi- de arma). Apresentamos um caso de DET e LVS,
lias familiares associadas a estudo genéticos nega- sem trauma associado e sem lesão arterial. 
tivos, provavelmente decorrem de mutações ainda
não conhecidas. Assim, o seu estudo está apenas
indicado em casos selecionados, onde seja previsí- CASO CLÍNICO: Homem de 86 anos, obeso, com
vel a alteração da estratégia terapêutica. hipertensão arterial, insuficiência cardíaca, fibrilha-
ção auricular sob anticoagulação oral e doença re-
nal crónica, internado por síndroma cardio-renal tipo
Caso Clínico 2. Ao 6ºd de internamento, ao passar do cadeirão
para a cama e sem que houvesse queda ou trauma,
Sexo masculino, 29 anos, com história de Trom- iniciou omalgia direita intensa, objetivando-se de-
boembolismo Pulmonar (TEP) (sem aparente TVP) formação da articulação do ombro e hematoma da
em Dezembro de 2019, desde então hipocoagulado
570
E-POSTERS
parede torácica lateral homolateral. Nas 24 horas sinais sugestivos de hipertensão pulmonar e múlti-
seguintes surgiu edema da parede torácica direita. plas adenopatias mediastínicas e lombo-aórticas.
Ponderou-se luxação do ombro (LO). Avaliado por Assumiu-se IC inaugural com miocardite como cau-
Ortopedia descartou-se LO e equacionou-se DET. sa mais provável. Fez RM cardíaca que evidenciou
A angio-TC torácica comprovou DET e hematoma realce tardio de gadolínio sub-epicárdico no seg-
extenso da parede torácica direita em relação com mento médio ântero/infero-lateral. A biópsia endo-
LVS homolateral. A hemoglobina passou de 10 para miocárdica foi compatível com miocardite linfocíti-
6gr/dL. Parou a anticoagulação e fez transfusão de ca. Na investigação etiológica, as serologias víricas
concentrado eritrocitário, plasma fresco congelado e o estudo autoimune foram negativos. A serologia
e fator protrombínico. A Cirurgia Vascular decidiu da Chlamydia pneumoniae foi IgA + (titul. 15), IgG +
não intervir dadas as comorbilidades, elevado risco (titul. 3), obrigando a ponderar miocardite por este
cirúrgico e baixa taxa de sucesso. O doente faleceu agente. Tratado com furosemida, β-bloqueante e
24 horas depois. Sacubitril/Valsartan, com evolução muito favorável.
Pelo elevado risco de morte súbita colocou CRT-D.
DISCUSSÃO: A DET associa-se a lesões musculoes-
queléticas e neurovasculares, sendo as lesões ve- Discussão: A miocardite linfocítica é a forma mais
nosas menos frequentes e usualmente associadas frequente de miocardite e usualmente é viral.
a lesões arteriais. A mortalidade é de 10%. A LVS No caso apresentado parece dever-se a infeção
isolada é rara e a cessação espontânea da hemorra- por Chlamydia pn., sendo os restantes achados (der-
gia pouco provável dada a fraca contração venosa. rame pleural e pericárdico, infiltrados pulmonares,
A clínica inespecífica leva a diagnósticos tardios, adenomegálias) compatíveis com este diagnóstico.
sendo a mortalidade elevada e superior à da lesão
arterial. No caso apresentado não há traumatismo e P n.º 0590 
ocorre rotura isolada da veia subclávia associada a Diabetes Insípida Nefrogénica associada a Intoxi-
DET, situação não reportada na literatura até à data. cação por Lítio – um caso clínico
Beatriz r. Sousa(1);António Trigo(1);Rita Prayce(1);I-
P n.º 0589  sabel Baptista(1)
INSUFICIÊNCIA CARDÍACA AGUDA EM DOENTE (1) Centro Hospitalar Lisboa Central - Hospital de
PREVIAMENTE SAUDÁVEL São José
Catarina Lopes Silva(1);João Pedro Araújo(1);Marta
Serejo Portugal(1);Ana Paula Vilas(1) Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio-
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi- nais
tal de Santa Maria
Introdução: A diabetes insípida nefrogénica (DIN) é
Tema: Doenças cardiovasculares uma entidade rara que se caracteriza pela incapaci-
dade dos rins em concentrar a urina na presença de
Introdução: A insuficiência cardíaca (IC) aguda re- valores normais de hormona anti-diurética, resultan-
sulta na maioria dos casos de EAM extenso, poden- do poliúria de urina hipotónica e consequente hiper-
do ter outras causas, como miocardite ou tóxicos. A natrémia. O lítio está associado a várias formas de
miocardite é usualmente de etiologia viral, podendo lesão renal e é o fármaco mais implicado na DIN.
também ser secundária a outro agente infecioso, a
doença autoimune ou até idiopática. Caso clínico: Mulher de 48 anos, com perturbação
afectiva bipolar, medicada com lítio há 20 anos, com
Caso clínico: Homem de 53 anos, fumador acti- creatinina (Cr) basal de 1,2mg/dL. Por alterações
vo, com etanolismo crónico e psoríase, internado da linguagem, inquietação, insónia, desequilíbrio da
por IC inaugural. A referir ainda filha com Lúpus Eri- marcha e tremor generalizado, com uma semana de
tematoso Sistémico. Assintomático até 1-2 meses evolução, foi admitida no serviço de urgência. Do
antes, quando iniciou cansaço e dispneia de esforço estudo complementar a salientar Cr 4,27mg/dL, na-
de agravamento rápido, dispneia paroxística notur- tremia (Na) 138mmol/L, litémia 4,8mmol/L (tóxico
na e, mais tarde, ortopneia. Fez ecocardiograma, >2,5mmol/L). Não foi considerada, após discussão,
com VE muito dilatado, paredes não espessadas e candidata para hemodiálise, tendo feito “whashout”
FEVE 20%. Enviado ao Serviço de Urgência, encon- do fármaco com fluidoterapia vigorosa, sendo admi-
trava-se taquicárdico (120bpm), eupneico sob O2 a tida na Unidade de Cuidados Intermédios para vigi-
2lt/m com OP 98% e com fervores de estase biba- lância cardiovascular e hidro-eletrolítica. Estabilizou
sais, sem edema periférico. Laboratorialmente, leu- os valores de Cr em 1,6mg/dL, mas desenvolveu
cócitos 11700/uL, PCR neg., troponina T (cTnT-hs) poliúria (7-8L/dia), hiperNa com valor máximo de
21ng/L (<14) e NT-proBNP 1067pg/mL (<900). No 164mmol/L, osmolalidade urinária de 116mOsm/L.
ECG, taquicardia sinusal e BCRE de novo. Na TC tó- Fez teste de desmopressina, que conforme se espe-
raco-abdominal, cardiomegália, derrame pericárdico rava, não resultou em diminuição do débito urinário
ligeiro, calcificações das artérias coronárias, enfise- (DU) ou melhoria da Na, confirmando a DIN como a
ma pulmonar, densificação difusa em vidro despoli- causa mais provável da poliúria. Assim, além de hi-
do do parênquima pulmonar (processo inflamatório dratação vigorosa, iniciou dieta pobre em sódio e foi
vs infecioso), edema intersticial, derrame pleural medicada com hidroclorotiazida a que se associou
bilateral pior à direita com tendência à loculação, amiloride, após correcção de hipercaliémia (valor

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 571


máximo 6.4 mmol/L), com progressiva escalada de co raro e inclui casos de MM de cadeias leves - a
dose conseguindo-se supressão da poliúria e cor- maioria -, e os MM verdadeiramente não secretores.
recção da Na. À data de alta com DU inferior a 3L/ Na maioria das séries, os doentes com MM foram
dia, Cr 1,54mg/dL e Na 143mmol/L. excluídos pelo que não existe evidência robusta
quanto a diferenças de prognóstico e resposta ao
Discussão: O caso revela uma patologia rara e tratamento. O envolvimento leptomeníngeo no MM
com difícil gestão do balanço de água e iões (pelo ocorre em apenas 1% dos casos e prediz uma so-
elevado DU e natrémia), a justificar vigilância aper- brevida inferior a 3 meses nesses indivíduos.
tada conferida em nível de intermédios. Os autores
relembram que o uso de diuréticos, embora contra- P n.º 0593 
-intuitivo, é a principal arma terapêutica nesta pato- Causa incomum de dor lombar
logia. Catarina Sousa Gonçalves(1);José Eduardo Ro-
sa(1);Alexandra Wahnon(1);Carolina Carreiro(1);Nu-
P n.º 0591  no Reis Carreira(1);Ana Castro Barbosa(1);Ana
Lombalgia e Cervicalgia – uma apresentação de Maria Baltazar(1);Liliana r. Santos(1);Ana Mafalda
Mieloma Múltiplo Não Secretor Abrantes(1);Marisa Teixeira Silva(1);António Pais
Catarina Elias(1);Pedro Cardoso(1);Diana Gonçal- Lacerda(1)
ves(1);João Oliveira(1);Leila Cardoso(1) (1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi-
(1) Centro Hospitalar de S. João, EPE tal de Santa Maria
Tema: Doenças hematológicas Tema: Outro

Introdução: O Mieloma Múltiplo (MM) corresponde A comunicação entre a veia renal esquerda e a veia
a 1-2% de todas as neoplasias e 17% das hematoló- lombar ascendente homolateral é rara, com poucos
gicas. É mais frequente em homens com >65 anos. casos relatados. A sua identificação é importante,
Cerca de 3% dos doentes com MM não apresenta por ser confundido com gânglios linfáticos retrope-
alterações na imunofixação sérica ou urinária, cons- ritoneais, pseudo-massas suprarrenais e aneuris-
tituindo o subgrupo de MM não secretor.  mas dos vasos renais.

Caso Clínico: Um homem de 57 anos, sem ante- Caso clínico 


cedentes médicos relevantes, apresentou-se no
serviço de urgência com queixas de cervicalgia e Mulher, 31 anos, sem histórico médico relevante;
lombalgia com 2 meses de evolução, sem melhoria recorreu ao serviço de urgência por dor abdominal
com analgesia. Não apresentava alterações no exa- e lombar associadas a náuseas e vómitos. Realizou
me neurológico, estava hemodinamicamente está- avaliação clínica, laboratorial e imagiológica, tendo
vel e apirético. Realizou tomografia computorizada sido admitido uma infeção do trato urinário compli-
(TC) da coluna lombar que mostrou lesões líticas cada por litíase renal. Medicada com analgésicos
em todas as vértebras lombares, sagradas e asas e antibioterapia empírica, com alta para domicílio.
ilíacas. Foi admitido na enfermaria. Realizou TC Repetiu a ecografia renal  e sem identificação de
cervico-tóraco-abdómino-pélvica - massa de partes novos cálculos urinários. Na consulta de seguimen-
moles (64x43 mm) com invasão de D5 e extensão to,  queixas mantidas de dor lombar, de difícil de
intracanalar - e TC cerebral - área osteolítica no controlo,  sem fatores de alívio. Foi realizada  An-
côndilo occipital direito e acentuação do realce lep- gioTomografia Computorizada abdomino-pélvica,
tomeníngeo, sugerindo atingimento neoplásico. Es- detectando a existência de uma veia comunicante
tudo de gamopatia monoclonal com electroforese dilatada entre a veia renal esquerda e a veia lombar
de proteínas séricas, imunofixação sérica e urinária ascendente homolateral.
e doseamento de imunoglobulinas sem alterações,
mas doseamento de cadeias leves livres k  séricas DISCUSSÃO / CONCLUSÃO
de 117.37 mg/dL (rácio k/l = 81.51), sem cadeias
leves livres urinárias. Analiticamente tinha hipercal- Uma causa rara de lombalgia, consiste na variação
cemia ligeira, sem disfunção renal, nem proteinúria anatómica  desta veia comunicante e da sua dilata-
na urina de 24 H e sem anemia. Fez-se biópsia da ção. A predisposição para a dilatação não se encon-
massa de tecidos moles em D5 – plasmocitoma tra esclarecida, no entanto, pensa-se que a explica-
com população neoplásica de plasmócitos com ção basear-se-á na incompetência da válvula, como
expressão de cadeias k e ausência de cadeias lam- ocorre nas veias periféricas. A literatura existente é
bda. Realizada biópsia óssea e aspirado medular limitada, com alguns casos associados a náusea e
– ambas com plasmocitose monoclonal k. A resso- dor abdominal. Presume-se que a dilatação desta
nância magnética confirmou realce leptomeníngeo veia comunicante poderá causar irritação no plexo
compatível com esse envolvimento, mas a punção lombar, causando este sintoma. A sua identificação
lombar foi inconclusiva. O doente foi posteriormen- é importante numa perspetiva cirúrgica e nefrológi-
te transferido ao cuidado do Serviço de Hematolo- ca, o que pode implicar alterações no fluxo da veia
gia para início de tratamento dirigido. renal e, consequentemente, na função renal. Esta
entidade representa uma causa rara de dor lombar,
Discussão: O MM não secretor é um diagnósti- pouco conhecida, que pode facilmente excluir-se na
investigação clínica.
572
E-POSTERS
P n.º 0600  HEPATITE AUTOIMUNE TIPO 1 INAUGURAL AOS 85
Uma massa retroperitoneal rara ANOS
Vera Lúcia Ferreira Luís(1);Luís Soares(1);Joana Juliana Gonçalves(1);Maria Beatriz Santos(1);Cristi-
Moutinho(1);Svitlana Hrihoryan(1);Maria José Gra- na Correia(1);Isa Barbosa(1);Manuela Dias(1);Jorge
de(1);Luísa Arez(1) Almeida(1)
(1) Hospital Portimao (1) Centro Hospitalar de S. João, EPE
Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio- Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá-
nais ticas

Introdução: As massas retroperitoneais são um A hepatite autoimune é rara, mais prevalente no


grupo heterogéneo de lesões raras que representam sexo feminino e afeta qualquer idade.  É um diag-
um desafio diagnóstico por vezes demorado.  nóstico de exclusão e pode apresentar-se com cito-
colestase assintomática ou insuficiência hepática
aguda. Perante a suspeita, a presença de anticorpos
Caso clínico: Homem de 48 anos, talhante, sem an- característicos e elevação da IgG, pondera-se a rea-
tecedentes patológicos relevantes, recorreu ao Ser- lização de biópsia hepática, o que permite chegar
viço de Urgência (SU) por quadro de dor abdominal ao diagnóstico.
em moinha de caracter constante com 3 semanas
de evolução, acompanhada de sudorese nocturna, Apresenta-se o caso de uma mulher de 85 anos,
astenia e anorexia com perda ponderal não quan- caucasiana, com história pregressa de síndrome de
tificada. Sem história familiar e epidemiológica de Sjögren, doença renal crónica, insuficiência cardía-
relevo. À observação apresentava-se pálido, febril ca, fibrilação auricular e hipotiroidismo.  Apresenta-
(38.2ºC) dor à palpação abdominal profunda na ção inicial com 3 semanas de evolução de anorexia,
fossa ilíaca esquerda, com irradiação á região su- astenia, náuseas, prurido, mialgias generalizadas,
prapúbica. Ficou internado para estudo, e durante lentificação psicomotora, com surgimento posterior
o internamento realizou TC Abdominopélvico que de icterícia mucocutânea e colúria. O estudo analí-
mostrou massa retroperitoneal com áreas necró- tico revelou citocolestase hepática (AST 1704 U/L,
ticas colocando-se como hipótese de diagnóstico ALT 1222 U/L, FA 236 U/L, GGT 91 U/L), hiperbilirru-
principal carcinoma primário da glândula supra-re- binemia conjugada (BT 9,95 mg/dL) e coagulopatia
nal, a estabelecer diagnóstico diferencial com um (INR 12,99). Do estudo etiológico, salienta-se a toma
eventual GIST ou sarcoma retroperitoneal primário. de equinácia desde há 1 mês, sem outros possíveis
Foi pedida a colaboração de cirurgia geral que en- fatores causadores. Analiticamente, destaca-se
caminhou o doente para consulta externa. Um mês hipergamaglobulinemia, aumento da IgG 1620 mg/
depois apresentou agravamento do estado geral, dL, positividade ANAs (>1/1000) e negatividade
com febre (39ºC) que não cedia aos antipiréticos e dos restantes anticorpos. Excluída infeção vírica e
aumento dos parâmetros inflamatórios, tendo repe- leptospirose. A histologia da biópsia hepática trans-
tido TC Abdominal que mostrou aumento da massa jugular revelou infiltrado linfoplasmocítico, hepatite
retroperitoneal tendo sido encaminhado para o IPO de interface, lesões necro-inflamatórias e fibrose
de Lisboa onde foi submetido a Supra-renalectomia portal.
+ nefrectomia esquerda. Verificou-se na glândula
suprarrenal a presença de um tumor bem circuns- Por pontuação de 15 pontos no Revised Original
crito, multilobulado, sólido com 890g e 16 x 10,5 x 8 Score for Autoimmune Hepatitis, assumiu-se hepati-
cm. A morfologia, localização e parte do perfil imu- te autoimune tipo 1. Iniciou prednisolona 60 mg oral
nohistoquímico foram compatíveis com carcinoma com esquema de desmame lento e dada a idade
do córtex da glândula suprarrenal, não funcionante. avançada e múltiplas comorbilidades, foi protela-
Realizou PET Dotanoc sem evidência de metasti- do o início de azatioprina. Durante o internamento,
zação. Tem passado bem, seguido em consulta de apresentou subida das bilirrubinas até valor máximo
Cirurgia Geral e Endocrinologia no IPO medicado de BT 36,57 mg/dL. Após início da corticoterapia,
com Mitotano e Hidrocortisona. constatou-se excelente resposta clinico-analítica.
À data da alta, assintomática com AST 51U/L, ALT
114 U/L, BT 4,89 mg/dL, sob prednisolona 35 mg.
Discussão: Os Carcinomas Adrenocorticais são ra-
ros (1 em cada milhão) e extremamente agressivos,  A chave diagnóstica de hepatite autoimune
habitualmente com metastização à data do diag- é a resposta adequada à terapêutica
nóstico. A sua etiologia e fatores de risco não estão imunossupressora.  Neste caso clínico, verificamos
esclarecidos.  Têm mau prognóstico com uma mor- que apesar da negatividade dos anticorpos (com
talidade de 50% aos 5 anos. Neste caso, a ausência exceção do ANAs) e aumento ligeiro da IgG, a
de metastização eleva a sobrevida para 74%, o que biopsia hepática apresentava achados bastantes
ressalva a importância de um diagnóstico e resse- sugestivos de hepatite autoimune, sendo que a
ção completa da massa o mais precocemente pos- resposta clinicoanalítica à corticoterapia confirmou
sível. a hipótese diagnóstica. 

P n.º 0604  P n.º 0605 

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 573


Uma causa rara de anemia Aguda Disseminada (ADEM) é uma patologia des-
Cristina Isabel Moreira Marques(1);Ana Francisca mielinizante rara, que envolve a substância branca
Pereira(1);Márcia Ribeiro(1);Ana Ogando(1);Daniel do sistema nervoso central. Existem poucos casos
Martins(1);Ana Martins(1) reportados na literatura das duas entidades em
(1) Hospital Santa Maria Maior de Barcelos simultâneo, sendo que alguns são precedidos por
infecção e outros de causa idiopática.
Tema: Doenças oncológicas
Trata-se de uma mulher de 47 anos, com antece-
Introdução: Os tumores glómicos são neoplasias dentes de LES, não medicado. Avaliada no serviço
benignas que geralmente afetam a pele e surgem de urgência por febre, sudorese noturna, mialgias,
sobretudo nas extremidades. A apresentação gas- odinofagia, náuseas, vómitos e astenia com 3 sema-
trointestinal é rara, sendo a mais frequente loca- nas de evolução. Cumpriu doxiciclina, com resolu-
lizada no antro gástrico. O seu diagnóstico é um ção da pirexia. Evoluiu com queixas de palpitações
desafio dada a falta de características clínicas e e sintomas neurológicos: desequilíbrio e tonturas.
endoscópicas específicas. Objectivamente com taquicárdia e analiticamente
destacava-se D-dimeros 2149ng/mL. Realizou an-
Caso Clínico: Homem de 21 anos, antecedentes de gio-tomografia computorizada (TC) torácica que
espinha bífida oculta e perturbação/défice de aten- mostrou tromboembolismo pulmonar segmentar
ção na infância. Quadro de anorexia com 6 meses bilateral. No decorrer do internamento, verificou-se
de evolução, sem alterações do trânsito gastrointes- agravamento neurológico, com diplopia, estrabismo
tinal e anemia microcitica hipocrómica com défice convergente à esquerda, paraparésia com arreflexia
de ferro, ácido fólico e vitamina B12, apesar de dieta osteotendinosa e alterações esfincterianas. Rea-
equilibrada. Iniciada suplementação e enviado para lizou TC craneoencefálica que não apresentou al-
a consulta de Medicina Interna para continuação do terações e ressonância magnética do neuroeixo
estudo. Objetivada hemoglobina de 11g/dl, indice a evidenciar extensas áreas de desmielinização
de produção reticulocitário 1.2%; VS 4mm; IgG 1334 dispersas compatível com ADEM. Realizou punção
mg/dl, com IgA e IgM normais; TSH e T4 livre nor- lombar: dissociação albumino-citológica, pesquisa
mais; ANA, ANCA e factor intrinseco normais, com de antigénios capsulares e painel de vírus negati-
coagulação sem alterações. Endoscopia digestiva vos. Do estudo de auto-imunidade: ANA>1/640, an-
mostrou “lesão de 50 mm de aspecto infiltrativo, ti-dsDNA e anti-RNP positivos, C3 e C4 diminuídos,
com ulceração, na grande curvatura do corpo gás- anticoagulante lúpico, anticardiolipina e anti-beta2
trico, sugestiva de neoplasia (GIST ?)”. Realizado TC glicoproteína positivos. Perante estes achados, ad-
TAP sem outras lesões suspeitas de malignidade. mitiu-se flare de LES com sobreposição com Síndro-
Submetido a gastrectomia atípica via laparoscópi- me do Anticorpo Antifosfolípido, como entidade res-
ca. Histologicamente com aspectos morfológicos e ponsável pelo quadro clínico, tendo iniciado pulsos
imunohistoquímicos sugestivos de tumor glómico de corticóide e posteriormente ciclofosfamida, com
do estômago, sendo que as dimensões do tumor e o melhoria, associado a hipocoagulação terapêutica.
indice mitótico, sugeriam trata-se de um tumor com
potencial maligno incerto. Após exérese, o doente Com este caso clínico, pretende-se enfatizar que a
apresentou melhoria das queixas, com hemoglobina ADEM, apesar de infrequente, pode constituir uma
normal. Mantém seguimento em consulta externa, manifestação grave e de LES, devendo ser excluí-
sem evidência de recidiva. da na presença de sintomatologia neurológica em
doentes com esta patologia.
Conclusão: Os tumores glómicos são tipicamente
tumores mesenquimais benignos, cujo tratamento é P n.º 0609 
a resseção com margens livres, tendo habitualmen- A abordagem dos nódulos pulmonares
te bom prognóstico. Os autores apresentam o caso ANA SOFIA RAMOA OLIVEIRA(1)
pela sua raridade e características clínicas inespecí- (1) Hospital de Braga
ficas. Tema: Doenças respiratórias
P n.º 0607 
Encefalomielite Aguda Disseminada: Apresentação São várias as entidades clinicas que podem estar
Rara E Exuberante De Lúpus Eritematoso Sistémico associadas ao aparecimento de nódulos pulmo-
Inês Bargiela(1);Maria João Gomes(1);Ana Filipa nares em exame de imagem, desde neoplasias ou
Gomes(1);Isabel Bogalho Martins(1);Ana Sofia Ven- metástases, doenças infecciosas, granulomatosas,
tura(1);Teresa Branco(1) do interesticio pulmonar, sendo essencial caracteri-
(1) Hospital CUF Cascais zá-los detalhadamente.
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
culites Mulher de 57 anos, caucasiana, autónoma, enfer-
meira, recorreu ao serviço de urgência enviada pelo
médico assistente por quadro clinico de artralgias,
O Lúpus Eritematoso Sistémico (LES) é uma doença tosse produtiva persistente, nauseas, febre vesper-
imunomediada com envolvimento multissistémico, tina, suores noturnos e perda ponderal (6 kg) com
de morbimortalidade significativa. A Encefalomielite dois meses de evolução, associado a lesões nodula-

574
E-POSTERS
res pulmonares bilaterais que poupavam as bases, magnética lombo-sagrada e da bacia que identificou
grande parte delas cavitadas, e algumas com halo um volumoso hematoma a envolver o músculo iliop-
de densificação em vidro despolido detetadas em soas à esquerda, com extensão desde o nível de L4
tomografia computorizada (TC) do tórax, ficando in- até à inserção distal no pequeno trocânter femoral,
ternada para estudo. Como antecedentes pessoais com cerca de 8.4x8.7x23cm a comprimir os ramos
destacava-se um tumor neuroendócrino gástrico anteriores no nervo ciático, tendo motivado a sus-
submetido a ressecção endoscópica e tabagismo pensão da reabilitação motora que tinha iniciado
activo (40UMA). Sem alterações ao exame físico. pelo descondicionamento físico provocado pelo
As baciloscopias e os exames culturais foram ne- internamento prolongado. Pesados os riscos-bene-
gativos. A broncofibroscopia e o estudo imunológi- fícios da hipocoagulação optou-se pela redução da
co não revelaram alterações. A bióspia do nódulo dose de enoxaparina.
pulmonar evidenciava tecido com extensa fibrose e
elastose, com infiltrado inflamatório polimorfo, sem No caso de parésia unilateral do membro inferior,
envolvimento por processo neoplásico. Teste ao sob anti-coagulante, deverá levantar-se a suspeita
suor negativo. As provas funcionais respiratórias de- de hemorragia/hematoma no compartimento do
monstraram pletismografia normal mas diminuição iliopsoas, com localização posterior ao retroperito-
da capacidade de difusão do monóxido de carbono. neu. O tratamento conservador, incluindo programa
Considerou-se o quadro clinico e radiológico muito de reabilitação, representa uma opção eficaz e se-
sugestivo de Histiocitose de células de Langerhans, gura, sendo contudo necessário um longo período
destacando-se uma melhoria significativa após ces- de reabilitação para que sejam evidentes os resulta-
sação tabágica. dos.

Trata-se de uma doença pulmonar rara que pode P n.º 0622 


manifestar-se por tosse, dispneia, toracalgia ou Febre Q: Da suspeita à confirmação diagnóstica
sintomas constitucionais. Predomina em jovens e Cláudia Queirós(1);Maria Margarida Rosado(1);Nu-
adultos de meia idade, fumadores. Nos exames de no Bernardino Vieira(1);Luísa Arez(1)
imagem podem encontrar-se nodulos cavitados e (1) Hospital Portimao
quistos de parede fina que predominam nos cam-
pos pulmonares médios e superiores e é comum Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
a redução da difusão do mónoxido de carbono. A
cessação tabágica é a base do tratamento, com me- Introdução: A febre Q é uma zoonose causada pela
lhoria clinica marcada. Coxiella burnetti, cuja apresentação aguda consiste
num síndrome gripal que pode evoluir para uma for-
P n.º 0611  ma atípica de pneumonia, hepatite ou endocardite,
As sequelas não reportadas da COVID-19 sendo o seu diagnóstico desafiante. A Doxiciclina é
ANA SOFIA RAMOA OLIVEIRA(1) a primeira linha de tratamento em adultos e crian-
(1) Hospital de Braga ças e deve ser iniciada assim que haja suspeita de
febre Q.
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias

Caso clínico: Homem de 44 anos, sem anteceden-


O hematoma do músculo iliopsoas é uma entidade tes pessoais de relevo, residente em ambiente rural,
clínica rara, potencialmente ameaçadora de vida, foi admitido por febre alta com 5 dias de evolução,
que pode surgir como complicação da terapêuti- sem outra sintomatologia associada. À admissão
ca anti-coagulante. Uma vez que a COVID-19 está temperatura de 40ºC. Analiticamente com elevação
associado a uma alta prevalência de eventos trom- da Proteína C Reativa (138 mg/L), Ferritina (1972
bóticos e consequentemente ao inicio de hipocoa- mg/dL), Transaminases (AST 169 UI/L e ALT 230
gulação, devemos estar atentos às complicações UI/L) e Fosfatase Alcalina (543 UI/L). Iniciou antibio-
hemorrágicas associadas. terapia empírica com Ceftriaxone, mas por ausên-
cia de melhoria clínica e analítica, ao quinto dia foi
Homem de 67 anos, autónomo, obeso, foi internado associada Doxiciclina. Dois dias depois verificou-se
por Pneumonia extensa por SARS-CoV2 com insu- remissão da febre e melhoria analítica, tendo cum-
ficiência respiratória hipoxémica e TEP bilateral, prido ciclo de 2 semanas, com resolução do quadro.
tendo iniciado hipocogulação com enoxaparina. Ao Do estudo etiológico, a destacar hemoculturas e
vigésimo quinto dia de internamento iniciou quadro urocultura negativas e serologia, negativas para
clinico de dor e edema da região da anca e membro Treponema pallidum, HIV, hepatite B e C, Leptospira,
inferior esquerdo e incapacidade para marcha, apre- Brucella, Borrelia, Rickettsia e positivas para Coxiella
sentando uma paresia grau III, com défice marcado burnetti. 
da flexão da anca e extensão do joelho, com reflexo
rotuliano ausente e diminuição da sensibilidade Discussão: A apresentação clínica da Febre Q é
tátil e álgica. Analiticamente apresentava uma ane- muito inespecifica e a gravidade varia com a idade.
mia de novo, com queda abrupta da hemoglobina Não há formas típicas de febre Q aguda e o mais
e necessidade transfusional de duas unidades comum é o doente apresentar-se com mialgias, fe-
de concentrados eritrocitários. Não apresentava bre alta, cefaleias e fadiga. A hepatite está presente
traumatismo recente. Realizou uma ressonância na maioria dos doentes, como o foi o caso. O trata-

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 575


mento com Doxiciclina 100mg de 12/12h durante 2 Leila Duarte(1);Inês Lopes(1);Carolina Zinterl(1);-
a 3 semanas é a primeira linha. A febre Q deve ser João Fonseca(1);Ana Rita Ferreira(1);Armando
considerada um diagnóstico possível em doentes Braz(1)
que se apresentem com febre de etiologia indeter- (1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi-
minada e uma boa história epidemiológica deve ser tal de Santa Maria
colhida para avaliar possíveis fatores de risco. 
Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas
P n.º 0627 
Pneumonia bilateral: A “Influenza” da Pandemia Introdução: A síndrome maligna dos neurolépticos
Eduardo Macedo(1);Ana Raquel Covas(1);José (SMN) é uma reação idiossincrática rara a fármacos
Miguel Rocha(1);Filipa Rodrigues(1);Gonçalo San- antipsicóticos e outros que afetem a transmissão
tos(1);Ana Rita Marques(1) dopaminérgica central. Caracteriza-se por febre,
(1) Hospital de Braga alteração do estado consciência, rigidez muscular e
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias disfunção autonómica, podendo ser potencialmente
letal.
Introdução: A gripe é uma infeção respiratória vírica
causada por Influenza A ou B que ocorre em surtos Caso Clínico: Homem de 54 anos, com anteceden-
a nível mundial e mais frequentemente no Inverno. tes de alcoolismo, perturbação depressiva, abuso
A pneumonia é a principal complicação da gripe que de benzodiazepinas, e hiponatrémia hiposmolar a
afeta principalmente doentes com patologia cróni- propanolol, admitido na Urgência por alteração do
ca. Nesta época que vivemos de pandemia causada estado de consciência e intoxicação medicamento-
pela doença do novo coronavírus (COVID-19), torna- sa voluntária, de difícil confirmação. Realizada lava-
-se um desafio distinguir as duas patologias, pois gem gástrica com saída de comprimidos estando
podem ter sinais e sintomas muito semelhantes. inicialmente em GCS 14, taquicárdico e hipertenso.
Depois apresentou episódio de crise convulsiva tó-
nico clónica, que cedeu a diazepam, com posterior
Caso clínico: Mulher, 86 anos, hipertensa e com agitação psicomotora e discurso incompreensível,
fibrilação auricular, recorre ao serviço de urgência rigidez generalizada e febre, com possível aspiração
(SU) por dispneia de novo em repouso. Apresenta- de conteúdo alimentar. Laboratorialmente apresen-
va-se com hipoxémia, tendo necessidade de oxigé- tava leucocitose, hiponatrémia, elevação de D-dime-
nio suplementar até 4L/min, com sons cardíacos ros (6.75 ug/mL), rabdomiólise 55000 U/L e pesqui-
arrítmicos e com murmúrio vesicular diminuído sa de benzodiazepinas positiva na urina. Realizou
bilateralmente à auscultação pulmonar. Restante TCCE e punção lombar sem alterações. Angio-TC
exame físico normal. Tinha aumento dos parâme- revelou tromboembolismo pulmonar (TEP) bilateral
tros inflamatórios e linfopenia. Realizou tomografia subsegmentar inferior. Internado mantendo hiper-
computorizada torácica apresentando infiltrados tensão, taquicardia, alteração do estado de cons-
e áreas em vidro despolido bilaterais, tendo sido ciência, rigidez e hipertermia sendo equacionado
considerada a hipótese diagnóstica de COVID-19. O diagnóstico de síndrome maligna dos neurolépticos.
teste rastreio de SARS CoV 2 com zaragatoa nasal Medicado com dantroleno 1mg/kg e bromocriptina
e orofaríngea demonstrou-se negativo. Foi iniciada 2,5mg 6/6h e lorazepam 1mg 4/4h com resolução
antibioterapia empírica e corticoterapia com pulsos do quadro e recuperação do estado de consciência.
de metilprednisolona e a doente foi internada.  O Posteriormente confirmada ingesta de propanolol,
teste de rastreio foi repetido e o resultado foi nega- metoclopramida e olanzapina.
tivo. Já no internamento, o painel vírico demonstrou
positividade para Influenza A e foi suspensa anti- Discussão: No caso apresentado surgiram diversos
bioterapia. Com a degradação clínica progressiva e fatores confundidores que poderiam justificar os
aumento de necessidade de oxigenioterapia, iniciou sintomas apresentados: TEP, pneumonia de aspira-
ventilação não invasiva e foi transferida para uma ção, hiponatrémia e intoxicação medicamentosa per
enfermaria de maior vigilância. Apesar das medidas se. Apesar de infrequente, a SMN deve constar no
terapêuticas instituídas, ao 12º dia de internamento, diagnóstico diferencial de doentes que apresentem
a doente acabou por falecer. febre e alteração do estado de consciência porque
apenas a sua identificação precoce diminui morbili-
Discussão: No atual contexto pandémico, a maioria dade e mortalidade.
dos doentes internados com pneumonias bilaterais
são devido à COVID-19. No entanto, apesar das me- P n.º 0637 
didas preventivas adotadas, não devemos esquecer Síndrome Poliglandular a propósito de um caso clí-
que a gripe, por vezes complicada de pneumonia, é nico
muito frequente no Inverno e, tal como o caso des- Rita Calixto(1);Maryna Telychko(1);Quintino Bia-
crito, pode-se evitar instituição de terapêutica des- gue(1);José Vaz(1)
necessária se pensarmos nesse diagnóstico. (1) Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo, EPE /
Hospital José Joaquim Fernandes
P n.º 0636 
Síndrome maligna dos neurolépticos como diag- Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio-
nóstico diferencial nais

576
E-POSTERS
As síndromes poliglandulares autoimunes caracte- dade e mortalidade intra-hospitalar. No diagnóstico
rizam-se por associações de duas ou mais doenças diferencial, causas mais raras como perturbações
endócrinas autoimunes. A síndrome poliglandular do eixo hipotálamo-hipofisário constituem, por ve-
autoimune (SPA) tipo III é a mais frequente na idade zes, o cerne. Os autores descrevem o caso de uma
adulta e carateriza-se pela presença de doença au- doente de 81 anos de idade, hipertensa medicada
toimune da tiroide (DAT) associada a outras doen- com irbesartan e hidroclorotiazida, que recorreu
ças autoimunes (DAI’s), excluindo-se o envolvimen- ao serviço de urgência, por epigastralgia e tonturas
to da glândula suprarrenal. referindo concomitantemente vómitos pós-pran-
diais com quinze dias de evolução. O exame físico e
Os autores apresentam um caso de SPA tipo III que sinais vitais revelaram estabilidade hemodinâmica,
associa a tiroidite de Hashimoto, diabetes autoimu- auscultação de sopro sistólico mais audível no foco
ne latente do adulto (LADA) e anemia perniciosa. Os aórtico, exame neurológico sumário sem alterações.
diagnósticos foram feitos sequencialmente ao lon- Analiticamente, destacava-se  sódio plasmático de
go de vários anos. A LADA foi o primeiro diagnósti- 116 mEq/L e potássio de 3.15 mmols, tendo ini-
co estabelecido aos 39 anos de idade com níveis de ciado fluidoterapia para correção hidroelectrolítica
peptídeo C sérico ausentes e anticorpos anti-des- que se revelou refratária e morosa. Iniciou ainda
carboxilase do ácido glutâmico 65 e Ac. Anti-células betahistina por suspeita de síndrome vertiginoso
parietais (APCA) positivos. periférico recorrente e realizou tomografia computo-
rizada craniana, que revelou lesão expansiva intra e
Aos 63 anos de idade é avaliada na consulta de supra-selar, hiperdensa, com 17 x 24 mm, aspectos
Medicina por astenia, bradipsiquia, bradicardia e sugestivos de adenoma hipofisário. A ressonância
anemia macrocítica (Hb:8g/dL VGM:126.2fL). No magnética confirmou macroadenoma hipofisário
estudo realizado, destacava-se Hipotiroidismo de com 27 x 32 x 21 mm com compressão do quias-
Hashimoto com TSH de 37.81uUI/mL com T4L ma ótico, moldagem do 3º ventrículo e discreta
0.63ng/dL, Ac. Anti-tiroide peroxidase (TPO) positi- expressão cisternal. O campo visual computorizado
vos. Anemia perniciosa com vitamina B12 indoseá- revelou alterações campimétricas e cromáticas
vel e factor intrínseco positivo. Iniciou reposição de associadas a possível atrofia óptica bilateral. De
cianocobalamina intramuscular e levotiroxina com acordo com a Neurocirurgia, sem indicação cirúrgi-
melhoria da astenia e da bradipsiquia. Durante as ca emergente. O estudo hormonal demonstrou dimi-
consultas de reavaliação foi diagnosticada neopla- nuição dos níveis de hormona foliculoestimulante e
sia da mama direita tendo sido encaminhada para a luteinizante, progesterona, triiodotironina e tiroxina
consulta de decisão terapêutica. livre; hormona adrenocorticotrópica, tiroestimulante
e cortisol sérico normais; aumento de prolactina e
Os Indivíduos com uma doença autoimune têm ris- cortisol urinário. Foi avaliada por endocrinologia,
co superior à população geral de desenvolver outras que concordou tratar-se de macroadenoma não fun-
DAI’s. A diabetes mellitus (DM) tipo 1, por si só, re- cionante, com síndrome de compressão da haste
presenta um risco acrescido de desenvolver outras hipofisária, e com esquema terapêutico (corticote-
DAI’s. A tiroidite de Hashimoto é a DAT mais fre- rapia e levotiroxina) entretanto instituídas, sugerin-
quentemente associada à DM tipo 1. O tratamento do-se consulta urgente de reavaliação. Este caso
da SPA é idêntico ao tratamento das várias doenças reforça a importância de manter um elevado índice
na sua forma isolada. A classificação da SPA é di- de suspeição de causa central, no diagnóstico dife-
nâmica, pode mudar ao longo do tempo, de acordo rencial de hiponatremia grave.
com o aparecimento de novas disfunções endócri-
nas ou outras DAI’s não endócrinas. É importante P n.º 0640 
manter vigilância regular da função suprarrenal pois “Síndrome febril indeterminada - um diagnóstico
a qualquer momento, uma SPA tipo III pode ser re- inesperado… ou nem tanto assim…”
classificada em SPA tipo II. A morbi-mortalidade da Paula Marques Ferreira(1);Sandra Silva(1);Fábio
SPA tipo III é determinada pelos componentes indi- Murteira(1);Cristina Pinto(1)
viduais da síndrome. (1) Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia / Espinho
P n.º 0638  Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
Hiponatremia grave de causa central
Luís Miguel Esteves Soares(1);Francisco Pulido
Adragão(1);Mauro Calhindro(1);Maria José Gra- Introdução:
de(1);Luísa Arez(1)
(1) Hospital Portimao A síndrome febril indeterminada caracteriza-se por
febre com ≥ 3 semanas de duração e pelo menos
Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio- com ≥ 1 semana de investigação em internamento
nais ou em pelo menos 3 consultas externas. As etiolo-
gias desta síndrome são variadas desde doenças
A hiponatremia, sendo comum na prática clínica, re- infeciosas, inflamatórias, neoplásicas, miscelânicas
sulta maioritariamente de um contributo etiológico ou idiopáticas.
multifatorial. A hiponatremia grave, per se, constitui
uma alteração laboratorial com impacto na morbili- Caso clínico:

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 577


Homem, 84 anos, antecedentes de cardiopatia val- Caso clínico:
vular - portador de prótese biológica aórtica há 11
anos, diabetes mellitus tipo 2 com complicações Homem de 89 anos, autónomo, com antecedentes
microvasculares (retinopatia, neuropatia e nefro- de hipertensão, insuficiência cardíaca, fibrilhação
patia), hipertensão arterial e filbrilhação auricular. auricular (hipocoagulado com Rivaroxabano), défice
Foi admitido no serviço de urgência por quadro de cognitivo e tabagismo (70 UMA).
mal-estar generalizado e picos febris com 2 sema-
nas de evolução. Não apresentava alterações ao Recorreu ao Serviço de Urgência por disfagia pro-
exame objetivo, exceto mucosas descoradas e desi- gressiva com 2 semanas de evolução, inicialmente
dratadas. Do estudo efetuado destacava-se anemia para sólidos, vómitos incoercíveis e sialorreia. Ao
normocítica e normocrómica, elevação dos parâme- exame físico com dor à palpação superficial e pro-
tros inflamatórios, doença renal crónica agudizada funda da região epigástrica. Sem alterações visíveis
e uma discreta leucocitúria. Foi assumido quadro na orofaringe ou outros achados de relevo. Estudo
de pielonefrite aguda e após colheita de rastreio analítico sem alterações de relevo.
sético foi iniciada antibioterapia com ceftrixone e o
A TC do tórax que revelou distensão esofágica até
doente foi internado no serviço de Medicina Interna.
ao esfíncter esofágico inferior, “sem inequívoca
As hemoculturas revelaram a presença de Staphylo-
lesão infiltrativa local”, bem como derrame pleural
coccus epidermidis (assumida colonização) e a
direito, com atelectasia passiva do lobo inferior.
urocultura foi negativa. Ao longo do internamento,
Colocada imediatamente hipótese de neoplasia do
o doente manteve a sintomatologia, acabando por
esófago, pelo que foi realizada endoscopia digestiva
se alargar o estudo do quadro e por se colher novo
alta, na qual se observou “impactamento aparen-
rastreio séptico que voltou a revelar a presença de
temente de carne no esófago distal removido, com
Staphylococcus epidermidis. O ecocardiograma
ansa de polipectomia. Mucosa do esófago distal
transesófagico confirmou a presença de endocar-
congestiva, com algumas erosões - em provável re-
dite da válvula protésica aórtica com fistulização e
lação com impactamento prolongado”. 
pseudoaneurisma e da válvula mitral e os restantes
exames revelaram embolização esplénica e cerebral Após o procedimento ficou assintomático, a tolerar
não sequelar. Após 15 dias de antibioterapia dirigida dieta. O estudo do líquido pleural revelou tratar-se
(vancomicina + gentamicina) o doente aceite para de transudado.
cirurgia cardíaca.
Teve alta medicado com inibidor da bomba de pro-
Discussão: tões e incremento de dose de diurético (derrame de
etiologia cardíaca), com indicação para reavaliação
A endocardite é um diagnóstico que muitas vezes
a curto prazo no médico assistente.
pode passar despercebido, dada a apresentação
inespecífica. Os autores decidiram descrever este Conclusão:
caso dada a gravidade devido às complicações da
endocardite como a fistulização, o pseudoaneuris- Apresentamos este caso dado o engasgamento
ma e a embolização e a evolução favorável deste com alimentos ser umas das causas de disfagia,
doente octogenário. principalmente nos idosos mais frágeis. O estudo
endoscópico foi crucial na orientação do doente,
P n.º 0641  com diagnóstico e tratamento.
Suspeita de Neoplasia do Esófago - um caso de
tratamento com sucesso no Serviço de Urgência P n.º 0643 
Catarina Silva Araújo(1);Sílvia Raquel Santos(1);Ri- Condrite nasal e auricular em doente com Lúpus
cardo Miguel Costa(1);Cristina Cruz da Ânge- Pedro Manata(1);Paula Cerqueira(1);Mafalda Sou-
la(1);Rosa Ferreira(1) sa(1);João Matos Costa(1)
(1) Hospital de Braga (1) Hospital Distrital de Santarém, EPE
Tema: Medicina geriátrica Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
culites
Introdução:
Introdução: A policondrite recidivante (PR) é doença
O cancro do esófago causa frequente de disfagia inflamatória rara, que se caracteriza por episódios
rapidamente progressiva, associada a sintomas recorrentes de inflamação das estruturas cartila-
constitucionais muito limitativos. Associa-se a uma ginosas e dos tecidos ricos em proteoglicanos. De
elevada taxa de mortalidade (>50% aos 5 anos). etiologia desconhecida, tem o seu início entre as
4ª e a 5ª década de vida. A condrite auricular é a
O estudo endoscópico é de elevada importância manifestação mais frequente. A PR está associada
diagnóstica por permitir visualização direta e bióp- a vasculites ou outras doenças autoimunes como
sia dirigida. o lúpus eritematoso sistémico (LES). O diagnóstico
é quase sempre clínico, guiado pelos critérios de
Apresentamos o caso clínico de um doente idoso McAdam, Damiani e Levine e Michet. Pode ser com-
no qual, apesar de elevada suspeição, este diagnós- plementado por biopsia dos locais afetados. Caso
tico não se verificou. clínico: Mulher de 37 anos, seguida em consulta de
578
E-POSTERS
Dermatologia por eritema nodoso desde 2012, com hematológica.
história de dor articular e aftas, previamente não
valorizadas. Em consulta de Doenças Autoimunes, Reavaliação de estudo auto-imune a mostrar desci-
confirmou-se a presença de ANA com padrão fina- da progressiva de valores de anticorpos anti-cardio-
mente granular e também positividade de anti-SSa, lipinas: 60,7 MPL para 28.9 MPL. Sem evidência de
sendo anti-SSb e anti-Sm negativos. Ainda em 2012 eventos trombóticos posteriores.
tem recaída de nódulos subcutâneos, sendo medi-
cada com 20 mg de prednisolona durante 5 dias, DISCUSSÃO: há descritos na literatura casos raros
com alívio imediato das manifestações cutâneo-ar- de positividade para anti-corpos anti-cardiolipina
ticulares. Dado apresentar mais de 2 critérios ACR e a em contexto de linfoma esplénico, o que parece
4 critérios SLICC, bem como a perniose, foi classifi- ser o caso desta doente, dada presença de doença
cada como LES e medicada com Hidroxicloroquina oncológica e ausência de eventos trombóticos pos-
200 mg. Durante sensivelmente 4 anos manteve-se teriormente.
sem queixas significativas. Em finais de Março de
P n.º 0655 
2017 tem crise de condrite nasal e auricular esquer-
Pneumonia grave por SARS-CoV-2: uma nova cau-
da, sem eritema facial, tendo melhorado com napro-
sa de Síndrome de Platipneia-Ortodeoxia
xeno. Discussão: Neste caso raro de condrite numa
Andreia Fernandes(1);João Santos Faria(1);Pe-
doente com LES, apenas 2 critérios de McAdam são
dro Fragoso(1);José Pedro Fernandes(1);Adriana
cumpridos; dado ter melhorado rapidamente com
Dias(1);Pedro Moura(1);José Magalhães(1);Ana
naproxeno não foi realizada biopsia dos tecidos
Rita Ramalho(1);Mafalda Ferreira(1);Ricardo Ro-
envolvidos, pelo que não se pode confirmar definiti-
que(1);Maja Petrova(1);José Pereira de Moura(1);Ar-
vamente a co-existência de PR. Todavia o caso foi
mando de Carvalho(1)
documentado fotograficamente pela própria doente,
(1) Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra /
que se mantém em vigilância regular, pelo que é me-
Hospitais da Universidade de Coimbra
recedor de divulgação.
Tema: Doenças respiratórias
P n.º 0650 
Auto-Anticorpos positivos – interpretação e inte- Introdução:
gração clínica
Maria Teresa Brito(1);Claudemira Pinto(1);Maria
Beatriz Santos(1);Carolina Guimarães(1);Edite Perei- A Síndrome de Platipneia-Ortodeoxia (SPO) é rara
ra(1);Jorge Almeida(1) e define-se pela queda da saturação periférica de
(1) Centro Hospitalar de S. João, EPE oxigénio >5% e/ou pressão parcial de oxigénio
>4 mmHg despoletadas pelo ortostatismo, com
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas- melhoria na posição de decúbito dorsal. Tem fi-
culites siologicamente subjacente um efeito de shunt,
com o foramen ovale patente a ser a causa mais
frequententemente identificada. No último ano, foi
Introdução: o diagnóstico de Síndrome Anti-Fosfoli-
descrita uma nova causa de SPO: a pneumonia por
pídico implica, pelo menos, um critério clínico (trom-
SARS-CoV-2, existindo poucos casos descritos na
bose vascular -  venosa, arterial ou de pequenos
literatura.
vasos em qualquer tecido ou órgão, com imagem
inequívoca ou evidência histológica de trombose ou Caso clínico:
morte fetal) e pelo menos um critério laboratorial
(um ou mais anticorpos em duas ou mais ocasiões, Um homem, de 62 anos, previamente autónomo, foi
com pelo menos 12 semanas de intervalo - anticor- internado por pneumonia por SARS-CoV-2 com insu-
po anti-cardiolipina, anti-beta2-glicoproteína e anti- ficiência respiratória. Apresentou agravamento clíni-
coagulante lúpico). co com necessidade de transferência para Unidade
de Cuidados Intermédios, onde realizou ventilação
CASO CLÍNICO: mulher de 45 anos, orientada para não invasiva e oxigenoterapia de alto fluxo. Efetuou
consulta de Doenças Autoimunes por anticorpos angio-TC pulmonar que demonstrou tromboembo-
anti-cardiolipinas aumentados (73.6 MPL, valor nor- lismo pulmonar, opacidades em vidro despolido
mal <20.0). Sem eventos trombóticos (venosos ou e algumas áreas de consolidação sobretudo nos
arteriais) prévios ou história de morte fetal. lobos inferiores compatíveis com Covid-19. Consta-
tados episódios de dessaturação na posição senta-
Cerca de 4 meses antes, foi internada por anemia da, com alívio na posição de decúbito dorsal, tendo
grave e esplenomegalia volumosa homogénea (24 sido realizado ecocardiograma transesofágico com
cms), tendo sido feito diagnóstico de linfoma margi- soro agitado, que excluiu shunt auricular direito-es-
nal esplénico na sequência de esplenectomia. Não querdo. Assumido o diagnóstico de SPO pós-Co-
apresentava adenomegalias na TC-TAP e ecografias vid-19, pelo que se optou por manter oxigenoterapia
cervical e axilar realizadas, imunofenotipagem da e intensificar a reabilitação motora e respiratória.
medula óssea sugestiva de infiltração medular por O doente melhorou progressivamente, tolerando o
linfoma, mas sem permitir diagnóstico seguro. Ini- levante e treino de marcha sem intercorrências, ten-
ciou Rituximab, tendo realizado 6 sessões. Boa evo- do tido alta capaz de deambular autonomamente e
lução clínica, sem evidência de recidiva de doença sem oxigenoterapia.

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 579


Discussão: ra manifestação da neoplasia da próstata.
A SPO é ainda uma complicação pouco conheci-
da e, consequentemente, pouco diagnosticada da P n.º 0658 
pneumonia grave por SARS-CoV-2. É frequente- Diabetes Insípida central: um desafio desde o diag-
mente reconhecida durante a reabilitação motora, nóstico até à alta
com as mudanças posicionais a desmascararem a José Diogo Martins(1);André Colmente(1);Maria
exacerbação do shunt intrapulmonar subjacente. É Ferreira(1);Ana Catarina Carvoeiro(1);Miguel Roma-
importante os profissionais de saúde estarem cons- no(1);Rosana Maia(1);Francisco Teixeira Silva(1);A-
ciencializados para a sua existência e para a sua na Rita Caldas(1);Paula Felgueiras(1);Manuel Fer-
reversibilidade, de modo a permitir uma reabilitação reira(1);Carlos Ribeiro(1);Diana Guerra(1);Carmélia
precoce e adaptada a esta condição clínica. Rodrigues(1)
(1) Unidade Local de Saúde do Alto Minho, EPE /
P n.º 0656  Hospital de Santa Luzia
NEOPLASIA DA PRÓSTATA E ASCITE MALIGNA - A
SINGULARIDADE DE UMA APRESENTAÇÃO CLÍNI- Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio-
CA nais
Tiago Dias da Costa(1);Carolina Teles(1);Nélson Je-
sus(1);Lèlita Santos(1);Armando Carvalho(1) Introdução
(1) Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra /
Hospitais da Universidade de Coimbra A Diabetes Insípida (DI) Central é uma causa rara de
Tema: Doenças oncológicas hipernatremia, cuja etiologia pode ser hereditária ou
adquirida, sendo a adquirida mais frequente e asso-
ciada a lesão do eixo hipotálamo-hipofisário (HH). O
A neoplasia da próstata é o tumor maligno mais trauma é uma das causas mais frequentes de diabe-
frequente no sexo masculino, assumindo-se como tes insípida central. Pode ser transitória ou crónica,
uma das principais causas de morte por doença sendo a transitória mais frequentemente associada
oncológica. É possível objetivar doença metastática ao contexto pós-neurocirurgia.
no momento do diagnóstico em aproximadamen-
te um terço dos casos. A presença concomitante Caso Clínico 
de metastização peritoneal e ascite maligna é ex-
tremamente rara no momento do diagnóstico; en- Homem de 65 anos, antecedentes de défice cogniti-
contrando-se apenas, segundo a literatura, 17 casos vo severo, alcoolismo crónico e hematoma subdural
descritos até 2015. crónico. Encontrado caído na via pública, com sinais
CASO CLÍNICO: Doente do sexo masculino, 76 anos, de traumatismo cranioencefálico (TCE) e depressão
caucasiano, autónomo, recorreu ao SU por noção de estado de consciência (Glasgow 3); à admissão,
de aumento progressivo do perímetro abdominal objetivada intoxicação alcoólica aguda (alcoolemia
com 5 dias de evolução. Referia também dor abdo- 4.74mg/dL) e pneumonia de aspiração. Em D2-D3
minal generalizada e dispneia de esforço. Não tinha de internamento, desenvolveu hipernatremia (158
astenia e anorexia. Ao exame objetivo apresenta- com agravamento paulatino e refratário à terapêu-
va-se hemodinamicamente estável, eupneico em ar tica - máximo 172 mmol/L) e poliúria (500mL/h).
ambiente, apirético e o abdómen distendido, com Do estudo efetuado, documentada osmolaridade
timpanismo central, macicez periférica e sinal de plasmática elevada (326mOsm), apoiando o diag-
onda ascítica presente. Observou-se edema nos 2/3 nóstico de DI tendo iniciado desmopressina com
inferiores dos membros inferiores.  A ecografia ab- resposta da natremia e diurese. Já na enfermaria
dominal revelou volumoso derrame peritoneal livre de medicina, fez ressonância magnética cerebral,
em todos quadrantes do abdómen. Foi realizada realizada 1.5 meses pós-TCE, que não evidenciou
paracentese de diagnóstico com saída de líquido alterações no eixo HH. Pela ausência de reflexo de
hemático. Do estudo do líquido ascítico salienta-se sede associados aos antecedentes de défice cogni-
albumina 2.6 g/dL, proteínas 4.6 g/dL e LDH 814 tivo, o aporte hídrico era irregular, tendo sido difícil
U/L. Gradiente de albumina soro-ascite 0.6 g/dL. a estabilização da natremia. Houve necessidade de
Citologia: sangue e ausência de células neoplási- doses progressivamente menores de desmopres-
cas. Nas análises apresentou creatinina 2.44 g/dL, sina, sendo possível suspender no final do 2º mês
azoto ureico 54 mg/dL, Hb 8.6 g/dL e PSA 225.8 ng/ de internamento. 3 meses após a admissão, foi
ml.  Estudo complementar com PET- Tomografia de documentada estabilidade da natremia e da diure-
positrões com PSMA-68 Ga: compatível com neo- se, tendo sido possível a alta para uma Unidade de
plasia da próstata localmente avançada, com me- Convalescença.
tastização ganglionar abdomino-pélvica e inguinal,
peritoneal e óssea, exibindo hiperexpressão de Conclusão
PSMA. Foi realizada biopsia prostática e o resultado
histológico indicou tratar-se de um adenocarcino- A DI é uma entidade clínica de difícil diagnóstico e
ma. Iniciou tratamento com bloqueio androgénico gestão. Quando associada à ausência do reflexo de
- bicalutamida e leuprorrelina com boa resposta à sede e/ou falta de colaboração do doente, torna-se
terapêutica instituída.  Este caso pretende eviden- quase impossível manter a homeostasia do sódio.
ciar a singularidade da ascite maligna como primei- No caso supra descrito houve uma recuperação pro-

580
E-POSTERS
gressiva da função hipofisária, que permitiu o bom fortalece ainda mais a hipótese diagnóstica de ELA.
desfecho do caso.
P n.º 0661 
P n.º 0659  Síndrome de Guillain-Barré: Será COVID-19 ou será
Um diagnóstico de Esclerose Lateral Amiotrófica GRIPE?
em Doente com Imunodeficiência Comum Variável Letícia Leite(1);Ana Isabel Bessa(1);Ana sá(1);Mag-
Maria Teresa Brito(1);Joana Tender Vieira(1);Maria da Costa(1);Sofia Xavier(1);Helena Fernandes(1);-
Beatriz Santos(1);Maria Inês Matos(1);Carolina Gui- Jorge Cotter(1)
marães(1);Edite Pereira(1);Jorge Almeida(1) (1) Centro Hospitalar do Alto Ave, EPE / Hospital da
(1) Centro Hospitalar de S. João, EPE Senhora da Oliveira
Tema: Outro Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas

Introdução: a Imunodeficiência Comum Variável Introdução: O Síndrome de Guillain-Barré (SGB) é a


(IDCV) é uma imunodeficiência primária causada causa mais comum de tetraparésia flácida aguda
por diferenciação desadequada das células B e pro- e habitualmente manifesta-se até 6 semanas após
dução de Imunoglobulinas (Ig) defeituosas. Por esta um evento precipitante, como por exemplo uma in-
desregulação imunológica, os doentes apresentam feção ou vacinação.
infeções bacterianas recorrentes (respiratórias e
gastrointestinais), distúrbios inflamatórios e de au- Caso clínico: Homem de 70 anos, autónomo, com
toimunidade e neoplasias. O tratamento passa pela antecedentes pessoais de HTA. Realizou a vacina
reposição mensal com imunoglobulina humana en- contra a gripe em Outubro de 2020. Um mês depois,
dovenosa (IgIV). testou positivo para SARS-COV-2 por polymerase
chain reaction (PCR) em zaragatoa nasal, sem sin-
CASO CLÍNICO: mulher de 50 anos com diagnós- tomatologia associada. Sete dias depois, iniciou
tico recente de IDCV e Síndrome de Guillain Barré quadro de parestesias distais ascendente seguido
4 meses antes, tratada com IgIV, com recuperação de tetraparésia ascendente simétrica com posterior
gradual da força muscular e reflexos. Internada por disfagia e retenção urinária. Fez punção lombar
agravamento de défices neurológicos (défice de ex- com dissociação albumino-citológica. Pesquisa de
tensão dos dedos das mãos, dorsiflexão em ambos SARS-COV-2 no líquor (por PCR) negativa. Resso-
os pés, mais à esquerda) e pancitopenia de novo. nância magnética com discreto reforço das raízes
da cauda equina. Electromiografia compatível com
Oscilação dos valores de leucócitos e plaquetas, diagnóstico de polineuropatia motora e sensitiva
melhoria gradual do valor de hemoglobina após de tipo desmielinizante adquirido, tipo SGB. Iniciou
suplementação com ferro e vitamina B12 endoveno- terapêutica com imunoglobulina, com melhoria pro-
sos e ácido fólico. Sem eventos hemorrágicos. Rea- gressiva dos défices.  Ingressou no centro de reabi-
lizados 3 dias de pulsos de metilprednisolona, sem litação onde permaneceu durante 2 meses. À data
melhoria. Estudos endoscópicos sem alterações, de alta, autónomo com deambulação sem auxílio,
anticorpos anti-células parietais e anti-fator intrínse- sensibilidade preservada, com micção espontânea e
co sem alterações. sem disfagia. 
Realizada punção lombar, sem dissociação albumi- Discussão: No caso clínico existem dois possíveis
no-citológica, sem consumo de glicose, pesquisa fatores desencadeantes do Síndrome de Guillain-
de vírus e bactérias negativos. Eletromiografia com -Barré: a vacina contra a gripe e a infecção por
“achados compatíveis com grave polineuropatia SARS-COV-2. A vacina contra a gripe foi realizada 4
motora do tipo axonal evolutiva, não se podendo semanas antes do SGB e tem uma incidência de 1
excluir a hipótese de Esclerose Lateral Amiotrófica caso por milhão. Por outro lado, o SARS-COV-2 foi
(ELA), por desnervação generalizada.” Biópsia do associado ao SGB em vários casos, com pesquisa
nervo sural, glândulas salivares e gordura abdominal do mesmo no líquor negativa, tal como no doente
sem alterações. Realizado TC-CTAP e PET para ex- apresentado. Quem foi o verdadeiro culpado?
clusão de causa neoplásica, sem lesões suspeitas.
RMN-CE e RMN-coluna sem alterações. Realizado P n.º 0666 
inicialmente tratamento com IgIV em alta dose, sem Paralisia Periódica Hipocaliémica como diagnósti-
melhoria, mantendo o tratamento mensal. co diferencial de AVC no Serviço de Urgência
Letícia Leite(1);Márcia Machado(1);Isabel Bessa(1);-
Iniciou reabilitação ainda durante o internamento, Gabriela Pereira(1);Cristina Silva(1);Jorge Cotter(1)
tendo-se assumido diagnóstico de pancitopenia de (1) Centro Hospitalar do Alto Ave, EPE / Hospital da
provável etiologia carencial e polineuropatia no pro- Senhora da Oliveira
vável contexto de ELA em doente com IDCV.
Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio-
DISCUSSÃO: apesar dos doentes com IDCV pode- nais
rem apresentar uma variedade de sintomas, a poli-
neuropatia é uma manifestação extremamente rara
e há poucos casos descritos com esta associação. Introdução: A paralisia periódica hipocaliémica
A não resposta à terapêutica com IgIV em alta dose, (hipoPP) é uma canalopatia rara, autossómica

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 581


dominante, com mutação nos canais de sódio ou diabetes tipo II e espasmo idiopático da hemiface
cálcio associada à hipocaliémia. Cerca de 60 % dos esquerda. Recorreu ao Serviço de Urgência por sen-
doentes manifestam a doença antes dos 16 anos sação de febre com 3 dias de evolução, duas sema-
de idade. A hipoPP é caracterizada por episódios de nas antes tinha engolido um osso de galinha, com
paralisia muscular com hipocaliémia, despoletada múltiplas tentativas de vómito sem sucesso. Ao
principalmente pela realização de exercício físico exame objetivo doente apresentava uma ausculta-
vigoroso ou ingestão de hidratos de carbono. O tra- ção pulmonar com roncos dispersos, com múltiplos
tamento preventivo requer uma dieta sem adição de acessos de tosse com expectoração de odor fétido.
sal, com alimentos ricos em potássio, com ausência Analiticamente com elevação dos parâmetros infla-
de hidratos de carbono e evicção de esforço físico matórios, com exames de microbiologia negativos.
intenso. A TC-Tórax mostrou uma extensa coleção com
componente hídrico e gasoso com uma extensão
Caso clínico: Homem de 23 anos, autónomo, com crânio-caudal com trajecto fistuloso para o esófago.
antecedentes de paralisia periódica hipocaliémica, Verificou-se, ainda, imagens de densidade cálcica,
recorreu ao Serviço de Urgência por diminuição da correspondente a osso de galinha com que doente
força nos membros. Ao exame objetivo, encontrava- referiu engasgamento. O doente realizou uma en-
-se normotenso, normocárdico, vigíl, comunicativo, doscopia digestiva alta que confirmou corpo estra-
sem alterações no oculomotricidade ou campime- nho esofágico (osso de galinha) com perfuração,
tria, sem assimetrias faciais, com força muscular tendo sido removido e o orifício encerrado. O doente
mantida no membro superior esquerdo (grau 5/5, teve alta 15 dias após o procedimento, assintomáti-
segundo a escala de Medical Research Council, co.
MRC), força muscular membro superior direito di- Conclusão: A perfuração esofágica é uma emer-
minuída, com grau 3/5 (MRC), membros inferiores gência médica, devido à gravidade das suas conse-
com força grau 2/5 (MRC), simétrica. Fez gasome- quências. É um evento incomum, com um quadro
tria que mostrou hipocaliémia de 1.9 mmoL/L (3.5 clínico inespecífico e o atraso no seu diagnóstico é
– 5.10 mmol/L) com repercussão eletrocardiográfi- um factor de mau prognóstico.
ca. Iniciou reposição de cloreto de potássio. Ficou
internado na Unidade de Cuidados Intermédios, com P n.º 0671 
resolução da hipocaliémia no 4º dia de internamen- Febre intermitente: a propósito de um caso clínico
to. Teve alta hospitalar no 5º dia de internamento, Raquel Afonso(1);Joana Couto(1);Ana Catarina Car-
assintomático, medicado com acetazolamida 250 voeiro(1);Patrícia Sobrosa(1);Joana Urbano(1);Diana
mg, de 12 em 12 horas. Guerra(1);Carmélia Rodrigues(1)
(1) Unidade Local de Saúde do Alto Minho, EPE /
Conclusão: A informação clínica do doente apresen- Hospital de Santa Luzia
tado permitiu direcionar rapidamente o estudo, iden-
tificar e tratar a hipocaliémia severa sintomática. A Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
hipoPP é uma condição rara, no entanto, deve ser
um diagnóstico diferencial equaciado aquando da
tetraparésia e/ou outra alteração da força muscular Introdução: A doença de Lyme consiste numa in-
no doente jovem. feção transmitida por 3 espécies de Borriella, cuja
apresentação clínica é insidiosa, passando inicial-
P n.º 0667  mente muitas vezes despercebida. Na Europa e nos
Perfuração esofágica e mediastinite aguda Estados Unidos da América, é a infeção mais fre-
Paula Cerqueira(1);Pedro Manata(1);Mafalda Sou- quente transmitida pela picada de carraças.
sa(1);João Matos Costa(1)
(1) Hospital Distrital de Santarém, EPE Caso Clínico: Homem, 48 anos, operário em mata-
douro, antecedentes de gastrite crónica e dislipide-
Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá- mia, internado para estudo por quadro prolongado
ticas (2 meses) de febre intermitente, astenia, cefaleias
e artralgias migratórias de pequenas e grandes ar-
Introdução: A perfuração esofágica pode ocorrer ticulações, já com múltiplas vindas ao serviço de
durante procedimentos endoscópicos ou cirúrgicos, Urgência. Referiu também exantema cutâneo no
trauma, ferimentos por projéteis ou arma branca, tronco e membros superiores 3 meses antes, que
após ingestão de corpos estranhos, medicamentos, resolveu espontaneamente. Durante o internamento
substâncias cáusticas, na evolução de tumores objetivada elevação da Proteína C Reativa (5.31mg/
do esôfago e até espontaneamente (síndrome de dL), sem alterações no TAC toraco-abdomino-pélvi-
Boerhaave). A causa mais comum de é a iatrogenia co, no ecocardiograma transtorácico e com hemo-
e a sua localização/dimensão, atraso diagnóstico/ culturas e microbiológico de urina negativos. Dado
início terapêutico são os principais fatores de mau o contexto epidemiológico do doente e clínica com
prognóstico. A mediastinite aguda (MA) é uma com- exantema cutâneo no início do quadro decidido
plicação possível. excluir zoonoses, deste estudo destaca-se IgM Bor-
relia positivo e IgG Borrelia negativo. Considerado
Caso Clínico: homem de 71 anos, autónomo, com diagnóstico de Doença de Lyme, iniciou terapêutica
antecedentes de hipertensão arterial, dislipidémia, com doxiciclina 100mg de 12 em 12 horas durante

582
E-POSTERS
21 dias, com resolução completa do quadro clínico. giológicas das lesões. A correta marcha diagnóstica
com posterior discussão multidisciplinar são ful-
Discussão: Destacamos este caso clínico por se crais na gestão destes casos.
tratar de uma infeção comum, mas que muitas
vezes nos passa despercebida, devido à sua apre- P n.º 0680 
sentação clínica arrastada e insidiosa. Neste caso a Toxicidade neurológica e renal ao Tacrolimus - a
colheita de uma história clínica detalhada, tendo em propósito de um caso clínico
consideração o contexto epidemiológico do doente, Rita Gouveia(1);Marina Gonçalves(1);Pedro Mar-
e a visão holística e abrangente da Medicina Interna ques(1);Jorge Almeida(1)
confluiram no diagnóstico e terapêutica atempados, (1) Centro Hospitalar de S. João, EPE
permitindo a cura sem sequelas.
Tema: Outro
P n.º 0678 
A importância do estudo dos incidentalomas da Introdução: O tacrolimus é um inibidor da calcineuri-
supra-renal: um caso clínico de feocromocitoma na utilizado para imunosupressão após transplante
Rita Gouveia(1);Marina Gonçalves(1);Pedro Mar- de órgãos sólidos. Os efeitos adversos estão bem
ques(1);Jorge Almeida(1) descritos e variam amplamente de gravidade, sendo
(1) Centro Hospitalar de S. João, EPE a nefro e neurotoxicidade dos mais reconhecidos,
Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio- muitas vezes causadas por interações medicamen-
nais tosas. Os autores trazem um caso de toxicidade
neurológica e renal a tacrolimus por interação com
claritromicina.
Introdução: Os incidentalomas da supra-renal sur-
gem frequentemente relatados no estudo realizado
para o diagnóstico e caracterização de outras pato- Caso clínico: Homem, 71 anos, antecedentes de
logias, sendo por isso muitas vezes desvalorizados. Polineuropatia Amiloidótica Familiar, cardiopatia
O estudo e avaliação cuidada imagiológica reveste- amiloidótica portador de CRT-D, transplante hepáti-
-se da maior importância, uma vez que após estudo, co (2017) sob tacrolimus e micofenolato de mofetil.
10-15% apresentam algum grau de secreção hor- Admitido na Sala de Emergência (SE) por alteração
monal e até 7.5% revelam sinais de malignidade. Os do estado de consciência e mioclonias com neces-
autores apresentam um caso de feocromocitoma sidade de entubação. Quadro de dispneia para mé-
num doente com um incidentaloma da supra-renal. dios esforços com 2 dias de evolução e ciclo recen-
te de claritromicina (parou 4 dias antes) por infeção
respiratória. À admissão com acidemia metabólica,
Caso clínico: Sexo masculino, 69 anos, hipertenso, lesão renal aguda (ureia 108 mg/dL, creatinina
ex-fumador (45 unidades maço/ano), internado por 2.28mg/dL), hipercalémia e elevação do peptídeo
pneumonia pneumocócica – segundo episódio em natriurético do tipo B (401 pg/mL). TC cerebral sem
dois anos. Pela carga tabágica e infeções consecu- alterações e eletroencefalograma com disfunção
tivas pedido TC tórax para melhor esclarecimento cerebral difusa sem atividade epileptiforme. Ecos-
de alterações encontradas em raio-x, que revelou le- copia cardíaca sem alterações a explicar o quadro
são nodular heterogénea com captação de contras- e interrogado CRT-D sem evidência de eventos ar-
te, na dependência da glândula supra-renal direita, rítmicos. Melhoria do estado neurológico a permitir
com 35x31mm. Foi orientado para consulta externa extubação para ventilação não invasiva e foi interna-
para reavaliação imagiológica em 3 meses e estudo do. Durante o internamento com evidência de níveis
hormonal. Na reavaliação imagiológica crescimento tóxicos de tacrolimus (>30 ng/mL) pelo que foi co-
acentuado da lesão, sendo relatada volumosa lesão locada a hipótese do quadro se tratar de toxicidade
já com 52x37x54mm, sem características de ade- ao tacrolimus em contexto de interação farmacoló-
noma (nem antes da administração de contraste, gica com a claritromicina. Evolução favorável com
nem após – washout absoluto de 35%). Do estudo melhoria clínica, da função renal e resolução da
hormonal realizado com elevação na urina de 24 acidemia e hipercalémia. Sem novos episódios de
horas das metanefrinas (7 vezes o normal). O caso alteração do estado de consciência. Retomada tera-
foi apresentado em reunião de grupo de patologia pêutica à data de alta após normalização dos níveis.
endócrina tendo o doente realizado cintigrafia com
MIBG (metaiodobenzilguanidina) que revelou hiper- Discussão: A farmacocinética do Tacrolimus é in-
fixação intensa e heterogénea do radiofármaco na fluenciada por fatores genéticos, infeções agudas,
lesão nodular da supra-renal direita, compatível com doença hepática e interações medicamentosas
o diagnóstico de feocromocitoma e sem lesões à que levam a níveis tóxicos. Os autores trouxeram o
distância. O doente foi posteriormente submetido a caso para alertar para a importância de uma história
adrenalectomia direita por via laparoscópica, sem detalhada que permita identificar potenciais fato-
complicações peri-operatórias descritas. res causadores do quadro, bem como sensibilizar
para que aquando de cada prescrição de um novo
Discussão: Com este caso os autores pretendem fármaco a estes doentes, sejam revistas cuidadosa-
realçar a importância de valorizar o achado dos inci- mente interações medicamentosas conhecidas para
dentalomas da supra-renal, da realização de estudo evitar iatrogenia potencialmente fatal.
hormonal e consideração das características ima-

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 583


P n.º 0683  Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
COVID-19: uma Doença Personalizada
Ana Cruz(1);Diana Azevedo(2) Introdução: A febre Q é uma zoonose provocada por
(1) Centro Hospitalar do Médio Ave, EPE / Unidade um cocobacilo gram-negativo intracelular, a Coxiella
de Vila Nova de Famalicão (2) Centro Hospitalar de burnetti. 
Vila Nova de Gaia / Espinho
Tema: Outro Pode ter uma evolução aguda ou crónica e manifes-
tar-se de várias maneiras desde febre, pneumonia e
A infeção por SARS-CoV2 compreende um leque endocardite.
muito alargado de manifestações e de evolução do Em estudos realizados a infeção por C. burnetti foi
prognóstico. As manifestações cutâneas são um responsável por aproximadamente 1% dos diagnós-
grupo raro, destacando-se as lesões maculopapu- ticos de pneumonia adquirida na comunidade (PAC)
lares, seguidas de frieiras e urticária, vesiculares e, e 2% necessitaram de admissão em cuidados inten-
mais raramente, livedóides ou necróticas. Contudo, sivos.
o reconhecimento deste grupo de manifestações
enquanto apresentação clínica da COVID-19 ainda é Caso Clínico:  Mulher de 80 anos, autónoma com
limitado. limitação na marcha por patologia osteoarticular
degenerativa, antecedentes de cardiopatia hiper-
O caso clínico contempla uma doente do sexo fe- tensiva e sindrome metabólica. A viver sozinha em
minino, 24 anos, antecedentes pessoais de rinite apartamento, sem animais de companhia.
alérgica e dermatite atópica, não medicada cronica-
mente. Definimos o dia de inoculação da primeira Recorre ao Serviço de Urgência por quadro de febre,
dose da vacina Pfizer-BioNTech, como o dia de tosse produtiva e dificuldade respiratória com 1 dia
início da contagem (D1). Em D2, objetivou-se tume- de evolução.
fação, rubor e calor no local de inoculação. Em D6,
verificou-se tosse seca, que motivou a realização de Objetivamente com insuficiência respiratória tipo
teste PCR para SARS-CoV2, cujo resultado foi po- 2, rash purpúrico disperso pelos membros. Analiti-
sitivo. Em D7, apresenta afonia, odinofagia, herpes camente com lesão hepática de predomínio misto
labial e shivering, com temperatura axilar máxima e elevação dos parâmetros inflamatórios. Rx tórax
de 37.7ºC. Foi medicada sintomaticamente com sem seguras consolidações pneumónicas.
antipirético, com apirexia sustentada, que alternou É internada para tratamento de infeção respiratória
com anti-inflamatório. Em D13, surgimento de rash tendo sido colhidos produtos microbactériologicos
urticariforme exuberante confluente, com início nos e iniciado empiricamente ceftriaxone.
membros inferiores e progressão ascendente, com
atingimento da região dorsal. Verificou-se melhoria Sem resposta clínica ao curso de antibioterapia
após associação terapêutica de anti-histamínico e instituída e à escalada terapêutica para piperacilina
corticóide, com reaparecimento das lesões nas 24 / tazobactam. Para despiste de complicações rea-
horas seguintes, de atingimento maioritariamente lizou uma tomografia computorizada que mostrou
na metade superior do corpo, nomeadamente ce- área de condensação para-cardíaca esquerda.
fálico, incluindo a face, e dos membros superiores.
A terapêutica foi mantida 5 dias, com desmame Por suspeita de pneumonia por agentes atípicos ini-
progressivo da corticoterapia. Em D17, verificou-se ciou terapêutica com azitromicina. Não foram isola-
resolução completa do quadro. dos agentes em exames culturais seriados, contudo
obtivemos serologias sugestivas de febre Q aguda
Em suma, este caso pode levantar a hipótese de (IgM anti Coxiella positiva e IgG em zona cinzenta)
doentes com doença atópica crónica poderem ter, pelo que fez trial de doxiciclina com melhoria clinica
mais frequentemente, urticária como manifestação e analítica. Aprofundado melhor o contexto epide-
da doença causada por SARS-CoV2. Assim, o reco- miológico com a doente esta referiu por vezes ter
nhecimento destas manifestações, sobretudo neste contato com gato vadio. Completou estudo com
grupo de doentes, pode permitir diagnóstico clínico, ecocardiograma transtorácico que não evidenciou
quando surge como manifestação inaugural, com vegetações.
realização atempada de teste de diagnóstico e tra-
tamento mais precoce e adequado, com potencial À data de alta sem queixas respiratórias, apirética e
redução do recurso indevido dos serviços de urgên- marcadores de inflamação normalizados.
cia e, consequentemente, do risco de contágio. 
Conclusão: Embora seja pouco frequente a pneu-
P n.º 0686  monia como manifestação de febre Q aguda não
Febre Q – uma causa incomum de pneumonia. deixa de ser um doença com incidência global e o
ANA RITA OLIVEIRA REGO(1);Catarina Alves Cos- seu reconhecimento importante para garantir um
ta(1);Inês m. Amaral(1);Tiago Almeida(1);João Araú- desfecho favorável.  A colheita de uma história clíni-
jo Correia(1) ca completa não esquecendo o contexto epidemio-
(1) Centro Hospitalar do Porto, EPE / Hospital Geral lógico é essencial para o diagnóstico.
de Santo António

584
E-POSTERS
P n.º 0687  A maioria das infeções agudas pelo vírus Epstein-
Cefaleia: uma Etiologia Rara -Barr (EBV) são subclínicas. Quando sintomáticas,
Cristina Carvalho Gouveia(1);Luís Campos(1) apresentam-se classicamente com faringite, febre,
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE / astenia e adenopatias cervicais. O caso seguinte
Hospital de S. Francisco Xavier apresenta um conjunto de sinais raramente reporta-
dos nesta infeção.
Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas
Caso Clínico:
Introdução: Sexo masculino, 25 anos de idade, sem anteceden-
tes de relevo, veio ao serviço de urgência por 3 se-
A cefaleia é o sintoma neurológico mais frequente manas de astenia e tosse seca e ainda 2 semanas
na população, sendo uma importante causa de ab- de picos febris intermitentes vespertinos. Contacto
sentismo laboral e morbilidade. A sua etiologia é com uma criança com síndrome gripal. Ao exame
variada, pelo que a avaliação e abordagem cuidado- físico palpava-se adenopatia supraclavicular direita
sas do doente têm um papel preponderante no seu com cerca de 1cm, móvel e indolor. Analiticamente
correto encaminhamento e melhoria da sua qualida- com 700 eosinófilos/µL, ALT/AST 145/92 U/L e PCR
de de vida. 14,6 mg/L. Realizou TC toracoabdominopélvico sem
alterações de relevo. Foi internado para estudo. 
Caso Clínico:
Nas 1ªas análises do internamento com 6400
Homem de 57 anos. Quadro com um mês de evo- linfócitos/µL onde 4500/µL eram atípicos, e anti-
lução de dor tipo pressão, de localização parietal corpo anti-VCA IgM positivo do EBV. A ecografia
esquerda, numa região de contornos semelhantes a supraclavicular direita revelou duas adenopatias
uma moeda. A dor era contínua, de intensidade ligei- de 0,5cm não suspeitas. Ao longo dos dias com
ra a moderada e não tinha irradiação nem fatores de níveis crescentes de transaminases (máximo de
agravamento associados. O doente negou qualquer ALT/AST 300/193 U/L) e FA 150 U/L e GGT 83 U/L.
outra sintomatologia, nomeadamente alterações Em paralelo, aumento de eosinófilos até 900/µL e
sensitivas, motoras, da linguagem, visão, náuseas anemia (Hb 12.4 g/dL) com défice de ácido fólico
ou vómitos. O exame neurológico e a tomografia e hemólise, com Coombs direto negativo. Surgiu
computorizada com angiografia crânio-encefálica ainda hepatoesplenomegalia palpável, confirmada
estavam normais. Foi assumido o diagnóstico de em ecografia abdominal e um rash maculopapular
cefaleia numular (CN) e o doente teve alta medica- nos braços e tronco, inespecífico e transitório. Man-
do com gabapentina. teve picos febris de 38ºC vespertinos até ao 4º dia
de internamento, mas sempre com um bom estado
Discussão: geral. Quando iniciou melhoria analítica, teve alta.
Em consulta, 3 semanas depois, com normalização
A CN é um tipo raro de cefaleia, com incidência esti-
do hemograma e redução da citocolestase. O baço,
mada de 6.4 por 100 000 habitantes. É caraterizada
o fígado e as adenopatias supraclaviculares já não
por dor tipo pressão numa área circunferencial ou
eram palpáveis. Sem outras ocorrências. 
elíptica bem localizada, tipicamente com dois a seis
centímetros de diâmetro (em forma de moeda). Discussão:
Apesar de poder ocorrer em qualquer região, é mais
frequente na área parietal e tem, habitualmente, A presença de eosinofilia é raramente descrita na
intensidade ligeira a moderada. A dor pode ser con- infeção aguda por EBV. Crê-se que se deva à pro-
tínua ou intermitente e os doentes podem referir dução de IL-5 pelos linfócitos atípicos sendo que,
disestesia. A sua etiologia e fisiopatologia são des- na infeção crónica ativa, é uma causa de síndrome
conhecidas, mas a CN parece ser uma nevralgia de hipereosinofílico. A hemólise, apesar de rara, é ge-
um ramo terminal do nervo trigémio. Relativamente ralmente associada a aglutininas a frio, sendo que,
ao tratamento, a gabapentina tem sido utilizada de neste caso, foi interpretada no contexto da esple-
forma eficaz. Este caso pretende realçar a CN como nomegalia. As adenopatias supraclaviculares são
integrante do diagnóstico diferencial de cefaleia e outro achado pouco comum, sendo mais frequente
expor uma revisão teórica sobre a mesma. a presença de adenopatias cervicais. Assim, este
caso serve para relembrar que a infeção aguda por
P n.º 0695  EBV, tem uma pletora de possíveis apresentações.
Um caso atípico com linfócitos atípicos
Luís Neves da Silva(1);Ana Luís Vasconcelos(1);Ana P n.º 0698 
Sofia Ramoa(1);João Miguel Meneses(1);Ana Mar- Pneumonite de hipersensibilidade subaguda
garida Mosca(1);Margarida Monteiro(1) João Rocha(1);Cecília Caramujo(2);Ana Ribeiro(1);-
(1) Hospital de Braga Jorge Almeida(1)
(1) Centro Hospitalar de S. João, EPE (2) IPO Coim-
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias bra

Introdução:  Tema: Doenças respiratórias

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 585


Introdução: A pneumonite de hipersensibilidade Introdução
(PH) resulta da reação imune a agentes orgânicos
inalados, sendo fundamental o diagnóstico preco- A principal causa de derrame pleural maligno é o
ce e a identificação dos antigénios envolvidos. No cancro do pulmão, sendo que apenas 10% destes
entanto, a apresentação clínica é variável, sendo derrames são causados por linfomas. A abordagem
tipicamente classificada em aguda, subaguda ou diagnóstica do líquido pleural deve passar pelo estu-
crónica.  do anatomopatológico e frequentemente necessita
de biópsia pleural para diagnóstico etiológico final.
Caso clínico: Homem, 37 anos. Ex-fumador e com Este trabalho relata o caso de um doente com um
asma atópica na infância. Jardineiro, com expo- derrame pleural como apresentação de Linfoma B
sição a adubos e herbicidas. Contacto doméstico folicular com invasão torácica.
com papagaio e periquitos há anos. Recorreu ao
Serviço de Urgência por astenia, tosse seca, disp- Caso Clínico
neia para esforços progressivamente menores e
perda ponderal (> 10% do peso corporal) desde há Homem de 65 anos, ex-fumador, com antecedentes
2 meses. Sem febre ou hipersudorese noturna. À de gastrectomia total curativa por neoplasia gástri-
admissão, taquicárdico (120 bpm), com SpO2 91% ca.
(FiO2 21%), sem alterações no restante exame
Recorre ao Serviço de Urgência por dor no hemi-
objetivo. Analiticamente com leucocitose (12670/
tórax direito e dispneia ligeira com 3 meses de
uL, sem eosinofilia). Realizada tomografia compu-
evolução. Ao exame objetivo, apresentava diminui-
tadorizada (TC), com densificação parenquimatosa
ção dos sons respiratórios à direita, sem outros
micronodular em vidro despolido difusa, de dis-
achados. Sem insuficiência respiratória. Rx tórax e
tribuição centrilobular, com áreas de parênquima
TC torácico revelaram derrame pleural bilateral de
poupado com air-trapping. O estudo do lavado
predomínio direito, e imagem nodular periférica à
bronco-alveolar (LBA) evidenciou alveolite linfocítica
direita. Sem alterações analíticas de relevo.
intensa (60.4%), com predomínio de CD8+. Sem iso-
lamentos bacteriológicos ou micobacteriológicos Realizou toracocentese diagnóstica com drenagem
em hemoculturas ou LBA, pesquisa de SARS-CoV-2 de líquido seroso com características de exsudado
em zaragatoa nasofaríngea negativa. Precipitinas com predomínio de células mononucleares. ADA e
séricas de soro de pombo positivas. Diagnosticada estudo bacteriológico negativos. Estudo anatomo-
pneumonite de hipersensibilidade subaguda. Cum- patológico não revelou células neoplásicas. Após
priu 1 mês de corticoterapia sistémica (0.5mg/kg/ repetição de toracocentese diagnóstica 1 semana
dia) e cessou contacto com aves, com melhoria clí- depois, o estudo verificou-se sobreponível, nova-
nica e imagiológica e sem recidiva da doença. mente sem achados positivos no estudo anatomo-
-patológico.
Discussão: O diagnóstico atempado de PH e a iden-
tificação dos agentes orgânicos causais é essencial Realizada biópsia ecoguiada de espessamento pleu-
para a melhoria do prognóstico da doença. Apesar ral anterior direito, que revelou neoformação difusa
da apresentação clínica variável, a presença de com células linfóides que, após estudo imunohis-
um antigénio provável, achados clínicos e imagio- toquímico se verificou compatível com Linfoma
lógicos característicos e linfocitose > 20% no LBA não Hodgkin (LNH) B folicular, tendo o doente sido
dispensa a realização de biópsia para diagnóstico. orientado para Consulta urgente de Hemato-Onco-
Testes serológicos, como a deteção de precipitinas logia.
séricas, devem ser considerados com cautela, por
falta de especificidade e sensibilidade. A evicção Discussão e Conclusão
antigénica é a base do tratamento, e alguns doentes
com PH subaguda podem beneficar de um curso Linfoma B folicular é um dos subtipos mais comuns
curto de corticóide (prednisolona 0.5mg/kg/dia du- de LNH. Adenopatias periféricas indolores são a
rante 1-2 semanas, com 1-2 semanas de desmame), sua forma de apresentação mais comum. O derra-
nomeadamente se sintomas persistentes, hipoxe- me pleural pode surgir neste tipo de linfoma apesar
mia ou envolvimento pulmonar extenso.  de raramente se apresentar de forma isolada. Nos
casos de derrame pleural em linfoma não-Hodgkin,
P n.º 0700  a patofisiologia descrita como predominante é a
Derrame pleural para estudo, escalando etapas até invasão linfomatosa da pleura, tratando-se de um
ao diagnóstico achado progressivamente mais encontrado nestes
Pedro Fernandes Moura(1);Pedro Macedo Ne- doentes.
ves(1);Pedro Rodrigues(1);Patrícia Rocha(1);Inês
Albuquerque(1);Bernardo Silvério(1);Emanuel Carva- Com este caso releva-se a importância da realiza-
lho(1);Manuel Pinto(1);Mário Esteves(1) ção de um estudo abrangente no estudo de derrame
(1) Centro Hospitalar do Médio Ave, EPE / Unidade pleural, estando alerta para a possibilidade de linfo-
de Vila Nova de Famalicão ma mesmo na ausência de sintomas B ou adenopa-
tias periféricas.
Tema: Doenças oncológicas
P n.º 0707 
O que parece nem sempre é
586
E-POSTERS
Maria Costa(1);Bruno Gomes(1) Maria Helena Rocha(1);Fernando Nogueira(1);Maria
(1) Centro Hospitalar de Entre Douro e Vouga, EPE / Beatriz Santos(1);Maria Inês Matos(1);Ester Ferrei-
Hospital de S. Sebastião ra(1);Jorge Almeida(1)
(1) Centro Hospitalar de S. João, EPE
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
A Endocardite infecciosa é grave e potencialmente culites
fatal, com critérios específicos de diagnóstico e si-
nais e sintomas clássicos de febre, sopro cardíaco Introdução: Os fármacos inibidores do fator de
de novo, petéquias ou hemorragias subungueais. necrose tumoral alfa (anti-TNFa) revolucionaram o
Associa-se a complicações sistémicas como a tratamento das doenças inflamatórias crónicas. A
embolização sética, infeção disseminada ou, desen- síndrome de Vogt-Koyanagi-Harada é uma patologia
volvimento de reações imunes. O tratamento passa inflamatória granulomatosa rara que afeta as estru-
pela instituição de antibiótico, sendo o prognóstico turas pigmentadas e cujo tratamento assenta em
variável. imunossupressão. Têm sido reportados casos de
psoríase induzida pelos anti-TNFa, que por ter sido
Apresenta-se caso de doente de 65 anos, autónoma inicialmente identificada em doentes com psoríase,
e cognitivamente integra, com antecedentes pes- foi designada por psoríase paradoxal.
soais de relevo de hipertensão, dislipidemia e artrite
reumatóide. Caso clínico: Doente do sexo feminino, 50 anos, se-
guida em consulta de doenças autoimunes por sín-
Internada em Janeiro de 2021 por abcesso na ná- drome de Vogt-Koyanagi-Harada com envolvimento
dega esquerda com isolamento de estafilococos ocular (uveíte anterior recorrente) e cutâneo (polio-
aureus sensível a meticilina tendo cumprido antibio- se, vitiligo e alopecia). Por refratariedade/intolerân-
terapia dirigida com cefazolina. Com novo interna- cia a vários imunossupressores, em 2018 iniciou-se
mento em Março de 2021 por sépsis com ponto de terapêutica com Adalimumab, com boa tolerância
partida em mastite, sem isolamente de agente, ten- e sem novos episódios de uveíte ou outras mani-
do cumprido antibioterapia empírica com pip/tazo. festações da doença. Apresentou-se na consulta
com queixas de dor e rubor na região retroauricular
Em Abril de 2021 recorre novamente ao serviço de direita, com cerca de 6 meses de evolução, sem
Urgência por quadro de astenia, tosse seca e dor outra sintomatologia associada. À observação com
torácica de características pleuríticas objectivan- placa eritematosa descamativa em toda a extensão
do-se ainda lombalgia a condicionar diminuição do pavilhão auricular direito e região retroauricular,
da mobilização progressiva e aumento do grau de com bordos bem delimitados e regiões fissuradas.
dependência. Ao exame físico com sopro cardíaco, Não apresentava febre e analiticamente não tinha
sem outras alterações. Do estudo realizado com au- aumento dos parâmetros inflamatórios. Foi estabe-
mento dos marcadores de fase aguda e imagem de lecido o diagnóstico de psoríase paradoxal associa-
tórax compatível com processo infeccioso. Interna- da ao adalimumab. Optou-se por manter o fármaco
da com diagnóstico de infecção respiratória tendo e medicar com tratamento tópico. Reavaliada após
iniciado Pip/Tazo. 3 semanas com total resolução da lesão cutânea.
Durante o internamento com melhoria do ponto de Discussão: Apresentamos um caso de psoríase pa-
vista respiratório, mas agravamento das queixas radoxal, uma complicação rara do tratamento com
álgicas lombares. Optou-se pela realização de Res- fármacos anti-TNFa mas que tem sido reportada
sonância Magnética a coluna confirmando-se pre- de forma crescente. O mecanismo pelo qual estes
sença de espondilodiscite L4-L5. Rastreio séptico fármacos induzem psoríase não está esclarecido,
sem isolamento de agente, contudo optou-se pela mas não parece haver relação com a patologia de
realização de ecocardiograma no qual se objectivou base, nem com a dose ou duração do tratamento. O
imagem de vegetação. Assim assumiu-se diag- diagnóstico de psoríase paradoxal é clínico e deve
nóstico de endocardite com embolização séptica ser considerado sempre que um doente medicado
causando abcesso de nádega, mastite e espondilo- com fármacos anti-TNFa aparece com lesões cutâ-
discite, tendo cumprido 6 semanas de antibioterapia neas sugestivas de psoríase. A abordagem destes
dirigida com cefazolina com base no isolamento do doentes deve ser individualizada, tendo em conta o
primeiro internamento. Sob estas medidas com me- risco de agravamento se suspensão e a gravidade
lhoria progressiva das queixas álgicas. das lesões cutâneas.
Com este caso pretende-se apresentar um caso de P n.º 0719 
endocardite complicada com atingimento  disse- Artrite reumatoide inaugural no idoso – Caso clíni-
minado. Serve ainda para alertar que nem todos os co
diagnósticos são lineares devendo o clinico estar Juliana Gonçalves(1);Cristina Correia(1);Isa Barbo-
particularmente atento a sintomatologia do doente. sa(1);Manuela Dias(1);Jorge Almeida(1)
(1) Centro Hospitalar de S. João, EPE
P n.º 0709 
Psoríase paradoxal – uma complicação rara de Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
uma terapêutica fundamental

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 587


culites Introdução: A hipocalcémia pode apresentar mani-
festações clínicas diversas, desde ligeiras a graves
A artrite reumatóide (AR) tipicamente manifesta-se e potencialmente fatais. A falta de sensibilidade e
em adultos de meia-idade, mas há um pico de inci- especificidade das manifestações clínicas, assim
dência entre os 60 e os 85 anos. No idoso pode ser como a necessidade de uma avaliação integrada
acompanhado de sintomas constitucionais, envolvi- dos vários intervenientes no metabolismo do cálcio,
mento das grandes articulações, menor positividade fazem com que o diagnóstico de hipocalcémia seja
do fator reumatoide (FR). um desafio clínico. 

Sexo feminino, 79 anos, caucasiana. De história Caso clínico: Mulher de 82 anos, com história de
pregressa, hipertensão arterial essencial e osteopo- doença renal crónica (DRC) estádio 3a (KDIGO)
rose. Da história familiar, denota-se filha diagnosti- por nefropatia diabética, duodenopancreatecto
cada com AR. Recorreu ao SU por febre persistente mia total (DPC) em 2014 por adenocarcinoma
após ciclo de amoxicilina 875 mg + ácido clavulâ- pancreático e mastectomia direita com radioterapia
nico 125 mg por PAC e omalgia bilateral com limi- por neoplasia mamária em 2010, sem evidência
tação funcional. Objetivamente, dor à mobilização de recidiva de ambas as neoplasias. Recorreu ao
passiva e ativa dos ombros. Analiticamente, anemia Serviço de Urgência por confusão, desorientação,
normocítica normocrómica (Hb 11,6 g/dL MCV 93,2 prostração e alterações da memória desde há 2
fL MCHC 34,2 g/dL), leucocitose (12,38x109/L), neu- meses. Referia também cãimbras frequentes e
trofilia (10,28x109/L), PCR elevada 215,9 mg/L. Co- agravamento de tremor de repouso dos membros
lheu HC e fez a 1ª toma de piperacilina-tazobactam superiores. À admissão, com mucosas secas e sinal
4,5 g. de Chvostek positivo. Sinal de Trosseau ausente.
Documentado prolongamento do intervalo QTc (>
Durante o internamento, apesar da antibioterapia e 500 mseg) no ECG. Por suspeita de hipocalcemia
ceterolac fixo, manteve febre e agravou a omalgia sintomática, foi realizada gasimetria arterial,
bilateral e impotência funcional e surgiu edema com evidenciando-se cálcio ionizado 0.8 mmol/L. Do
sinal de godet +++ das 4 extremidades. Analitica- estudo adicional, documentado hiperparatiroidismo
mente, manteve parâmetros inflamatórios aumenta- (PTH 426 UI/mL), fosfato sérico normal (4.5 mg/dL),
dos (PCR 190 mg/L, VS 106 mm/1ªh, ferritina 1080 hipocalciúria (cálcio urinário em amostra de urina
ng/mL), trombocitose (453x109/L) e hipoalbumine- < 0.2 mEq/L) e défice de 25-hidroxicolecalciferol (4
mia (20 g/L). Foi excluída foco infecioso com HC ng/mL). Sem hipomagnesemia. Realizou ecografia
seriadas, ecocardiograma transtorácico, ressonân- cervical,sem alterações das glândulas paratiróides.
cia magnética dos ombros. Foi pedido estudo auto- Não foram identificadas metástases ósseas em
-imune: FR em título baixo (30,3 UI/mL), anticorpos cintigrafia óssea com HMDP-Tc-99m. Considerada
anti-CCP em título elevado (401 U/mL), ANAs nega- hipocalcemia sintomática por défice de vitamina D.
tivos. Cumpre 6/10 critérios da classificação de AR Foi iniciada correção com cálcio endovenoso e oral
da ACR/EULAR 2010. Assumido, assim, o diagnos- e suplementação com vitamina D, com correção do
tico de AR do idoso e iniciou-se prednisolona oral intervalo QTc e melhoria sintomática .
7,5 mg + 5 mg. Sem evidencia lesões radiológicas.
Apresentou melhoria clinicoanalítica progressiva, Discussão: A apresentação clínica dos doentes com
tendo alta com prednisolona 5 mg bid e foi orienta- hipocalcémia é diversa, incluindo sintomas subtis
da para Reumatologia.  Passado 2 meses, iniciou e manifestações clínicas graves. Várias causas po-
csDMARD – metotrexato 20 mg/semana. Perma- dem estar subjacentes, pelo que uma abordagem
nece clinicamente controlada e descida sustentada clínica sistematizada é fundamental. O défice de vi-
dos parâmetros inflamatórios. tamina D é uma causa importante de hipocalcémia
a considerar, particularmente em doentes idosos. A
Este caso clínico demonstra como outros relatados presença concomitante de DRC (com diminuição da
na literatura que a apresentação clínica da AR no produção de calcitriol) e a história de DPC (com má-
idoso pode difere substancialmente clássica em -absorção de vitamina D) foram prováveis fatores
idade jovem: com envolvimento das articulações determinantes para o desenvolvimento de hipocal-
proximais, como os ombros e títulos mais baixos cémia neste caso. 
de FR. A não esquecer, que as doenças autoimunes
também são uma importante causa de febre, apesar P n.º 0725 
da apresentação inaugural no idoso ser menos fre- Metastização cutânea de tumor testicular: manifes-
quente. tação rara de neoplasia comum
Ricardo Pereira(1);Emily González(1);Carolina Pal-
P n.º 0724  ma(1);João Tavares(1);Violeta Suruceanu(1);Hugo
Hipocalcémia sintomática por défice de vitamina D Jorge Casimiro(1);Beatriz Navarro(1);Mário Parrei-
João Rocha(1);Sara Correia Alves(1);Isabel Ca- ra(1);Ermelinda Pedroso(1)
mões(1);Jorge Almeida(1) (1) Centro Hospitalar de Setúbal, EPE / Hospital de
(1) Centro Hospitalar de S. João, EPE São Bernardo

Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio- Tema: Doenças oncológicas


nais

588
E-POSTERS
O tumor do testículo é uma neoplasia frequente no nevrite ótica mas também se pode manifestar, mais
sexo masculino. Manifesta-se frequentemente por raramente, por uveíte intermédia/posterior.
aumento do volume testicular, embora se possa
apresentar como doença metastizada. Caso clínico: Doente do sexo masculino, 23 anos,
enviado à consulta de Medicina Interna da consulta
Descreve-se o caso de um doente de 50 anos com de Oftalmologia para exclusão de doença sistémica
história de aumento do volume testicular ao longo associada a uveíte intermédia com periflebite reti-
de 10 meses, associado a dor local. Iniciou quadro niana. Clinicamente sem manifestações sistémicas
súbito de alteração do estado de consciência acom- de doença infeciosa ou autoimune. Do estudo com-
panhado de crise convulsiva, tendo sido trazido ao plementar realizado: sem aumento dos reagentes
Serviço de Urgência. Objectivamente verificou-se de fase aguda; perfil hepático e função renal sem
volumosa massa escrotal dolorosa à palpação alterações; anticorpos antinucleares (ANAs) 1/100
bem como lesões cutâneas ulceradas no couro (padrão midbody e mosqueado) sem espeficidades;
cabeludo, região frontal do crânio e perna direita. HLA-B27 e HLA-B51 negativos; fator reumatoide
Analiticamente destaca-se valor de alfa-fetoproteína normal; enzima conversora de angiotensina (ECA)
11780 ng/ml, gonadotrofina coriónica humana <2.3 normal; prova de Matoux e IGRA negativos; teste
mUI/mL e lactato desidrogenase 1489 U/L. Embora treponémico negativo; serologias infeciosas (vírus
a tomografia computorizada (TC) crânio-encefálica da imunodeficiência humana (HIV), vírus da hepatite
não tenha revelado alterações agudas, o estudo por B e C, toxoplasma, herpes vírus; citomegalovirus e
ressonância magnética evidenciou lesão ocupando vírus da varicela) negativas. Uma vez excluídas as
espaço na região parietal direita e duas lesões sub- causas infeciosas e autoimunes, e apesar de não
cutâneas captantes de contraste, sugerindo, respe- apresentar alterações ao exame neurológico, foi
tivamente, metastização cerebral e cutânea. Já em pedida ressonância magnética (RM) cerebral para
regime de internamento e para melhor caracteriza- esclusão de esclerose múltipla. A RM cerebral reve-
ção do quadro, realizou TC toraco-abdomino-pélvica lou: “duas áreas com hipersinal em T2 e T2 FLAIR
que revelou volumosa massa testicular heterogé- na substância branca do hemisfério cerebral direito,
nea e inúmeras formações nodulares pulmonares compatíveis com natureza inflamatória desmielini-
compatíveis com secundarização. Embora não se zante”. O doente foi encaminhado para a consulta
tenha realizado biópsia, o doente foi avaliado pelos de Neurologia para completar o estudo e iniciar tra-
colegas de Dermatologia que validaram a hipótese tamento.
de metastização cutânea de neoplasia testicular.
Foi posteriormente submetido a orquidectomia ra- Discussão: Com este caso clínico pretende-se re-
dical direita, tendo o resultado anatomo-patológico lembrar os diagnósticos diferenciais a considerar
revelado tumor misto de células germinativas com nos doentes com uveíte. O diagnóstico de esclerose
componente de tumor “yolk sac” (65%) e teratoma múltipla deve ser considerado após exclusão das
(20%). Após estabilização clínica, foi encaminhado causas mais comuns, no entanto, a apresentação
para a consulta de Oncologia para realização de qui- com uveíte, na ausência de sintomas neurológicos,
mioterapia. é extremamente rara.

Os tumores testiculares mistos de células germina- P n.º 0731 


tivas raramente cursam com metastização cutânea, Síndrome de Evans Secundário
estimando-se a sua incidência em 0,4% dos casos. Rita Sevivas(1);Susana Merim(1);Carolina Vei-
Com este caso pretende-se alertar para uma mani- ga(1);Luís Cardoso(1);Catarina Pinto Silva(1);Sofia
festação rara de uma neoplasia frequente. Barroso(1);Pilar Barbeito(1);Carlos s. Oliveira(1)
(1) Hospital Santa Maria Maior de Barcelos
P n.º 0727 
Uveíte – a resposta não é sempre autoimune Tema: Doenças hematológicas
Maria Helena Rocha(1);Fernando Nogueira(1);Maria
Inês Matos(1);Maria Beatriz Santos(1);Ester Ferrei- Introdução
ra(1);Jorge Almeida(1)
(1) Centro Hospitalar de S. João, EPE
A síndrome de Evans é uma patologia auto-imune
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas- que se apresenta com uma ou mais citopenias que
culites vulgarmente incluem anemia hemolítica auto-imune
e trombocitopenia imune, com ou sem neutropenia.
Trata-se de um diagnóstico de exclusão e identifi-
Introdução: A uveíte é um processo de inflamação cá-la é relevante uma vez que as citopenias neste
intraocular que pode afetar as estruturas anteriores quadro são mais severas.
ou posteriores do globo ocular. As causas mais
comuns de uveíte são infeciosas (bacterianas ou Caso Clínico
viricas) e imunomediadas (doenças inflamatórias
sistémicas ou reações a fármacos). A esclerose Mulher de 72 anos com antecedentes de hiperten-
múltipla é a doença desmielinizante imunomediada são arterial, dislipidemia e refluxo gastro-esofágico,
do sistema nervoso central mais comum. A mani- recorre ao Serviço de Urgência por hematúria ma-
festação ocular mais comum desta patologia é a croscópica, escleróticas ictéricas e síndrome cons-

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 589


titucional com 4 dias de evolução. História de qua- ta sem dor associada. Como animais de estimação
dro respiratório infeccioso nas 3 semanas prévias, tinha um gato vacinado e desparasitado, com episó-
melhorado à data de admissão. Excluída transfusão dios de arranhadelas frequentes, sem inflamação ou
prévia, toma de fármacos de novo ou produtos de infeção de nenhuma delas, segundo o doente. Sem
ervanária. Ao exame objetivo apresentava pele história de infeção nos últimos meses. Sem sinto-
pálida e escleróticas ictéricas. A destacar analitica- mas constitucionais. Ao exame objetivo apresenta-
mente: anemia com macrocitose e hipercromia com va nódulo bem delimitado, de consistência elástica,
Hb 10g/dL, trombocitopenia, ferritina, bilirrubina e indolor e bordos regulares na região epitroclear
lactato desidrogenase aumentadas e haptoglobina direita e na região axilar ipsilateral, sem demais ade-
diminuída; prova de Coombs direta e indireta e anti- nopatias. Ecograficamente apresentava “adenopatia
corpos anti-plaquetários positivos, coagulação sem hipoecogénica oblonga com 2,5 cm de maior diâme-
alterações; exame de urina com eritrocitúria; esfre- tro longitudinal, com hiperecogenicidade de tecido
gaço de sangue periférico com presença de esferó- celular subcutâneo envolvente, a sugerir alterações
citos; ecografia abdominal sem esplenomegalia.  de natureza inflamatória; várias outras adenopatias
na região axilar direita de idênticas características
Diagnosticada anemia hemolítica intravascular au- que não ultrapassam os 2.5cm”. Do estudo etio-
to-imune e trombocitopenia auto-imune - Síndrome lógico, sem anemia ou parâmetros inflamatórios
de Evans. Do estudo etiológico foram excluídas in- aumentados, serologias para HBV, HCV e HIV 1 e 2
feções por VIH, VHC, CMV e leptospira, assim como negativas, Imunoglobulinas M e G para Toxoplasma
doenças auto-imunes. A doente após resolução do Gondii e CMV negativas. A destacar imunoglobuli-
quadro foi encaminhada para a consulta externa. nas M e G positivas para Bartonella. Diagnosticado
Não apresentando recidiva, com resolução com- com Doença da Arranhadura do Gato - linfadenite
pleta do quadro, foi assumida Síndrome de Evans regional subaguda. Em reavaliações posteriores, 4
secundária a etiologia infecciosa prévia.  meses após primeira observação, sem palpação de
adenopatias com confirmação ecográfica da resolu-
Discussão ção completa do quadro.
Os autores pretendem destacar este caso pela sua CONCLUSÃO
raridade e pela importância da associação destas
duas citopenias para o diagnóstico de Síndrome Os autores destacam este caso, pela importância
de Evans que se encontra, ainda nos dias de hoje, da colheita detalhada da anamnese num primeiro
subdiagnosticado. Apesar de a distinção entre Sín- contacto com o doente, evitando um estudo etio-
drome de Evans primário e secundário influenciar o lógico exaustivo inicial, assim como identificação
tratamento, o diagnóstico etiológico revela-se desa- precoce desta patologia em doentes imunodeprimi-
fiante. Até à data, a corticoterapia é considerada de dos com curso da doença menos favorável e com
1ª linha, contudo existem muitos casos de resolu- necessidade de instituição de antibioterapia. Em
ção espontânea do quadro. doentes imunocompetentes, esta infeção é traçada
por uma evolução auto-limitada, com resolução em
P n.º 0734  2 a 4 meses
Doença da Arranhadura do Gato em doente imuno-
competente P n.º 0735 
Rita Sevivas(1);Cristiana Fernandes(1);Sofia Barro- Duas complicações atípicas da COVID-19
so(1);Carlos s, Oliveira(1);Catarina Silva(1);Flávia Rita Sevivas(1);Joana Braga(1);Cristiana Fernan-
Fundora(1) des(1);Marinha Silva(1);Sofia Barroso(1);Carlos s.
(1) Hospital Santa Maria Maior de Barcelos Oliveira(1)
(1) Hospital Santa Maria Maior de Barcelos
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
INTRODUÇÃO
Introdução
A doença da arranhadura do gato trata-se de uma
infeção provocada por bactérias Gram-negativas A atual pandemia COVID-19 cursa tipicamente com
- Bartonella henselae. Predomina em idades mais atingimento pulmonar. Contudo, outras manifesta-
jovens a apresenta um espectro clínico variado: for- ções extra-pulmonares estão a tomar um papel de
mas localizadas em doentes imunocompetentes e, relevo.
formas sistémicas em doentes imunodeprimidos. 
Caso Clínico
CASO
No primeiro caso trata-se de um homem de 75 anos
Trata-se de um homem de 23 anos, sem anteceden- com antecedentes de hipertensão arterial, diabetes
tes patológicos pessoais de relevo, estudante. Com mellitus tipo 2 e DPOC GOLD B, diagnosticado com
pedido de consulta externa de medicina interna com pneumonia bilateral a SARS-COV-2 e insuficiência
origem no Centro de Saúde por adenopatias cervi- respiratória tipo 1. Durante o internamento apre-
cais, axilares e epitrocleares à direita com 1 mês de sentou isquemia do membro inferior esquerdo;
evolução, dolorosas inicialmente e à data da consul- analiticamente com rabdomiólise e coagulação
590
E-POSTERS
sem alterações. Iniciada hipocoagulação e, por discussão com a Cirurgia Cardiotorácica e Cirurgia
não apresentar indicação para revascularização do Vascular foi colocada como hipótese de diagnóstico
membro, foi proposto para amputação. O segundo uma Síndrome Aórtica Aguda, possivelmente pro-
caso expõe um homem de 55 anos com anteceden- vocada pela COVID-19. Foi internado para vigilância
tes de diabetes mellitus tipo 2, sarcoidose e gastrite clínica e reavaliação imagiológica, tendo iniciado
crónica, internado por pneumonia bilateral a SARS- anticoagulação em dose terapêutica. Teve uma evo-
-COV-2. Apresentou melhoria clínica e analítica, ten- lução favorável e o trombo manteve-se estável nas
do alta. Regressou ao Serviço de Urgência 10 dias avaliações imagiológicas realizadas, tendo alta com
após a alta, por dor abdominal em banda. No dia indicação médica para manter a hipocoagulação e
da admissão apresentava ainda PCR SARS COV 2 reavaliação posterior em regime de consulta.
positiva e estaria no 16º dia de clínica de COVID-19.
Diagnosticado com pancreatite aguda - excluídas Discussão: Estudos dirigidos ao impacto clínico e
outras etiologias como a litiásica, hipertrigliceride- prognóstico da COVID-19 têm demonstrado uma
mia, hipercalcemia, álcool, drogas ou trauma. incidência relevante de eventos isquémicos venosos
e arteriais. Tais repercussões vasculares podem
Discussão ser explicadas pelos mecanismos fisiopatológicos
da COVID-19, que apresentam características
As complicações trombóticas na COVID-19 têm particulares distintas das de outras patologias já
diversas apresentações, sendo a mais frequente o conhecidas.
tromboembolismo venoso. Contudo, as complica-
ções trombóticas arteriais têm revelado um papel Embora a incidência dos fenómenos tromboembóli-
cada vez mais prevalente, o que torna essencial cos em doentes infetados pelo SARS-CoV-2 pareça
o seu reconhecimento atempado. Por outro lado, estar associada à gravidade clínica da doença, este
apesar de a pancreatite vírica estar bem descrita na caso não apresenta essa concordância dado tratar-
literatura, não há ainda evidência do impacto direto -se de uma infeção classificada como ligeira.
do SARS-COV-2 nesta patologia. No caso descrito,
a relação temporal entre esta patologia e o início Este trabalho teve como principal objetivo o relato
da infeção por COVID-19, assim como a exclusão de uma intercorrência rara mas potencialmente
dos fatores de risco mais frequentes, tornam esta grave associada à COVID-19, realçando quão amplo
associação provável e cada vez mais reconhecida. pode ser o espectro patológico desta infeção inde-
Ambas as complicações referidas, apesar de pouco pendentemente da sua gravidade.
referentes, já foram relacionadas com a COVID-19
P n.º 0740 
P n.º 0739  Dor abdominal – um sinal de alarme no Síndrome
COVID-19 e Síndrome Aórtica Aguda: uma relação Antifosfolipídico
de causalidade? Ângela Almeida(1);Teresa Frazão(1);Sara Freitas(1);-
João Campos Cunha(1);António José Cruz(1);Gon- Glória Alves(1);Jorge Cotter(1)
çalo Sarmento(1);Yolanda Martins(1) (1) Hospital Senhora da Oliveira, Guimarães
(1) Centro Hospitalar de Entre Douro e Vouga, EPE /
Hospital de S. Sebastião Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
culites
Tema: Doenças respiratórias
O Síndrome Antifosfolipídico (SAF) é uma doença
Introdução: A COVID-19 é uma infeção causada autoimune sistémica caracterizada por um esta-
pelo vírus SARS-CoV-2, cujos sintomas são na do de hipercoagulabilidade em que se combinam
sua maioria do foro respiratório. No entanto, à trombose de qualquer segmento do leito vascular,
medida que o seu estudo vai sendo aprofundado, complicações obstétricas e títulos elevados de
novos achados clínicos graves associados ao auto-anticorpos antifosfolipídeos[1,2,3], sendo neces-
vírus vão sendo descobertos, demonstrando que sário pelo menos um critério clínico e um laborato-
este pode afetar vários sistemas do organismo rial para se firmar diagnóstico, de acordo com os
que não apenas o pulmonar. Os autores deste critérios atualizados de Sapporo[4]. Entre os eventos
trabalho relatam o caso de um doente a quem trombóticos, incluem-se manifestações intra-abdo-
foi diagnosticado uma Síndrome Aórtica Aguda, minais que, embora raras[3], podem tornar-se poten-
concretamente um trombo intramural na crossa cialmente ameaçadoras de vida[2].
aórtica, no período em que esteve infetado pelo
vírus. Mulher, 49 anos, autónoma, com antecedentes de
pré-eclâmpsia, encaminhada pelo Médico Assis-
Caso clínico: Doente do sexo masculino de 66 tente para consulta de Medicina Interna por ferriti-
anos, com diagnóstico de COVID-19 por RT-PCR na 500-700ng/mL, com história de dor abdominal
10 dias antes, recorre ao Serviço de Urgência por recorrente, com litíase biliar e, portanto, assumida
tosse, dispneia para pequenos esforços, toracalgia como cólica biliar, submetida a colecistectomia. Em
de características pleuríticas, anosmia, ageusia e regime de consulta, objetivado prolongamento de
anorexia. Foi realizada uma tomografia computa- aPTT em 30 segundos, com posterior positividade
dorizada torácica, onde era visível um defeito de para anticoagulante lúpico. Durante estudo etioló-
preenchimento vascular na crossa da aorta. Após gico, episódio de dor abdominal intensa, com recur-
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 591
so ao Serviço de Urgência, onde realizou angioTC resolução do quadro, realizou TC-tórax que revelou
abdominal que demonstrou isquemia recente da ligeiro derame bilateralmente, com áreas de ligeira
artéria mesentérica superior e redução de calibre do densificação parenquimatosa em vidro despolido,
tronco celíaco em contexto com trombose crónica. inespecíficas.
A doente foi submetida a laparotomia exploradora,
constatando-se viabilidade intestinal, pelo que foi Passado um ano, apresentava perda ponderal recen-
orientada para consulta sob enoxaparina. Repetiu te (cerca de 6 Kg), associado a anorexia, com quei-
pesquisa de anticoagulante lúpico - novamente po- xas de astenia. Realizou endoscopia digestiva alta
sitivo - firmando-se o diagnóstico de SAF e sendo, (EDA) que revelou uma pangastrite crónica atrófica
portanto, alterada hipocoagulação para varfarina, moderada, com atividade moderada e colonização
que mantém. antral ligeira por microrganismos helicoidais do tipo
do Helicobacter pylori (Hp), mucosa duodenal com
A isquemia mesentérica é incomum, principalmente hiperplasia linfoide e lesões de duodenite ligeira.
de leito arterial versus venoso, mas deve ser con- Fez esquema de erradicação Hp. Apesar do trata-
siderada em doentes com SAF e queixas abdomi- mento, mantinha queixas de anorexia e perda pon-
nais, atendendo a que pode acarretar inviabilidade deral, com anemia associada, motivo pelo qual rea-
intestinal e risco de vida[2]. A clínica pode ser ines- lizou colonoscopia que revelou hiperplasia linfoide
pecífica, pelo que é essencial um elevado índice de do íleon terminal e do cólon aos 30 cm da margem
suspeição para a deteção precoce desta entidade[2]. anal e mucosa do cólon sigmoide com alterações
Em situações de diagnóstico definitivo de SAF e inflamatórias ligeiras e inespecíficas. Função tiroi-
primeiro episódio de trombose arterial, como é o deia normal. Marcadores tumorais negativos. O es-
caso, o tratamento passa por hipocoagulação com tudo revelou défice de fator intrinseco bem como de
antagonistas da vitamina K, não havendo evidência vitamina B12, afigurando o diagnóstico de anemia
para o uso de anticoagulantes orais[1]. Além disso, perniciosa.
pacientes com SAF e trombose arterial têm maior
risco de recorrência versus trombose venosa[1], pelo Foi pedido estudo de imunoglobulinas com défice
que importa uma vigilância regular e diligente. de todas as classes.

P n.º 0742  Discussão:


Quando as infeções são muitas... até o internista
desconfia! Os autores pretendem evidenciar a importância da
Maria Inês Bertão(1);Ivo Barreiro(1);Ana Catarina suspeita da ICV perante uma vasta heterogeneidade
Camarneiro(1);Sara Helena da Costa Fontainhas(1);- de quadros infeciosos sem aparente relação, de for-
Gabriela Pena(1);Rosário Santos Silva(1);Abílio Gon- ma a integrar mais rapidamente a imunodeficiência.
çalves(1) Estes doentes têm maior suscetibilidade ao linfoma
(1) Hospital Distrital da Figueira da Foz, EPE e neoplasia gástrica e podem beneficiar de terapêu-
tica com imunoglobulinas.
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
culites P n.º 0749 
Tuberculose extrapulmonar - a propósito de um
caso clínico
Introdução:  Rita Serejo Portugal(1);Maria Helena f. Silva(1);An-
dré Matos Gonçalves(1);Ana Rita Sanches(1);Sónia
A imunodeficiencia comum variável (ICV) carateri- Cunha Martins(1);Margarida Sousa Carvalho(1)
za-se pelo défice de produção das imunoglobulinas. (1) Centro Hospitalar do Médio Tejo, EPE / Unidade
É a forma mais frequente de deficiência grave no de Torres Novas
entanto tem uma grande heterogeneidade clinica. O
seu diagnóstico pode justificar infeções recorrentes Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
de vários orgãos e sistemas num doente, sem cau-
sa aparente.
Introdução: A tuberculose (TB) é uma infeção gra-
Caso clínico:  nulomatosa crónica causada pela Mycobacterium
tuberculosis. Nos últimos anos tem aumentado
Mulher de 67 anos. Doméstica, reformada por inva- o número de casos, especialmente em países de-
lidez há cerca de 10 anos por problemas osteoarti- senvolvidos, associado à propagação da infeção
culares. História familiar de neoplasia gástrica (tio VIH, imunodeficiência e fenómeno da imigração. A
paterno e prima 1º grau). linfadenite cervical, apesar de rara, é a localização
mais frequente de TB extrapulmonar. As manifesta-
Admitida por quadro de diarreia, sem história de ções clínicas consistem em crescimento indolente
viagens recentes, residindo em habitação com e indolor de nódulos cervicais únicos ou múltiplos,
boas condições sanitárias, nega consumo de água geralmente unilaterais, que podem fistulizar ou estar
do poço. Coproculturas com teste rápido giardia associados a sintomas sistémicos.
positivo, foi tratada com metronidazol 250 mg 8-8h
durante 7 dias.
Caso clínico: Doente de 59 anos, com alcoolismo
Teve duas infeções pulmonares em um ano. Após e tabagismo crónicos, recorreu ao serviço de ur-
gência por tumefação cervical lateral direita com
592
E-POSTERS
2 semanas de evolução, inicialmente ligeiramente mento de um exantema não pruriginoso no tórax,
dolorosa, de consistência dura e móvel relativamen- abdómen e braços, um episódio de otite aguda e
te aos planos profundos. Sem sintomas sistémicos o surgimento de duas lesões maculares no pénis,
associados. Realizou estudo analítico que não na mesma altura. Revelou ainda nessa altura um
mostrou alterações de relevo, e tomografia compu- contacto sexual de risco. Ao exame físico salien-
torizada cervical e toraco-abdominal que mostrou tavam-se duas adenopatias cervicais de pequenas
massa cervical direita, com área de degeneração dimensões (cerca de 1 cm), não dolorosas, e um
necro-quística no interior, a infiltrar o músculo ester- exantema maculopapular localizado no abdómen,
no-cleido-mastoideu, a relacionar com provável con- dorso e braços; não apresentava lesões na boca e
glomerado adenopático. Foi internado no Serviço de identificavam-se duas lesões penianas maculares.
Medicina para estudo etiológico. Iniciou terapêutica O estudo analítico, que incluiu esfregaço de sangue
antibiótica e anti-inflamatória, sem alteração do periférico e serologias víricas não apresentou alte-
quadro. Foi decidido não realizar biópsia da lesão rações, à excepção das serologias para sífilis que
atendendo ao risco de fistulização. Do estudo rea- foram positivas (RPR 1:128, TPHA/TP >1:10240).
lizado destaca-se IGRA positivo, num doente sem Assim, foi feito o diagnóstico de sífilis secundária
história prévia de TB, sem outras serologias infecio- e iniciado tratamento com penicilina (24.000 MUI).
sas positivas, com estudo linfoproliferativo negati- Posteriormente foi feita referenciação para segui-
vo. Após exclusão de causa neoplásica, admitiu-se mento em consulta de doenças infecciosas.  O
o diagnóstico de TB extrapulmonar e o doente foi doente foi reavaliado 2 meses após tratamento com
encaminhado para o Centro de Diagnóstico Pneu- ecografia cervical que demonstrou uma evolução
mológico. favorável das adenopatias, com redução das dimen-
sões, e já sem critérios de adenomegalias. Conside-
Discussão: Reportamos o caso de um doente com rando a evolução favorável e a relação temporal en-
linfadenite cervical unilateral de grandes dimensões, tre o aparecimento das lesões e um contacto sexual
sem sintomas sistémicos associados. Apesar das de risco, foi assumido o diagnóstico e não foram
manifestações cabeça e pescoço da TB serem realizadas biópsias.
raras, é necessário um elevado nível de suspeição
devido à semelhança de apresentação clínica com Discussão: As linfadenopatias regionais ou generali-
neoplasias desta região ou outras patologias, infe- zadas são uma manifestação frequente de sífilis na
ciosas ou não. A identificação de fatores de risco sua fase precoce, podendo envolver qualquer linfo-
para TB extrapulmonar pode ser importante para nodo, sendo particularmente comuns nos gânglios
auxiliar o diagnóstico. Um diagnóstico precoce e inguinais. De forma menos comum a sífilis pode-se
assertivo é crucial para iniciar tratamento, reduzir apresentar como linfadenite cervical isolada, mime-
sequelas a longo-prazo e diminuir a disseminação tizando doenças linfoproliferativas. Este diagnóstico
da doença. deve ser considerado em todas as situações de ade-
nopatias cervicais isoladas em que a história clínica
P n.º 0751  seja particularmente sugestiva.
Linfadenopatias cervicais: uma manifestação rara
de sífilis. P n.º 0768 
Ana Isabel Andrade Oliveira(1);Francisca Vasconce- Síndrome Maligna dos Neurolépticos - Uma Síndro-
los(2);Paula Perestrelo(3);André Mendes(4);Marisol me Hipertérmica Fármaco-Induzida
Guerra(2);Manuel Cunha(2) Helena Luís(1);Mariana Gomes(1);Carolina Bar-
(1) Hospital de Braga (2) Centro Hospitalar de Trás- ros(1);Bela Machado(1);Mariana Bilreiro(1);José
-os-Montes e Alto Douro, EPE / Hospital de Vila Real Luís Andrade(1);Rafael Freitas(1)
(3) Centro Hospitalar Cova da Beira, EPE / Hospital (1) Hospital Dr. Nélio Mendonça
Distrital da Covilhã (4) Unidade Local de Saúde do
Norte Alentejano - Hospital de Portalegre Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas

Tema: Doenças infecciosas e parasitárias Introdução: A Síndrome Maligna dos Neurolépticos


(SMN) representa uma emergência neurológica
Introdução: A Sífilis é uma doença causada pelo potencialmente fatal associada ao uso de agentes
Treponema pallidum e de transmissão sexual. Apre- neurolépticos. Caracteriza-se por alterações do es-
senta-se frequentemente com sinais e sintomas tado mental, rigidez, febre e disautonomia. Se não
inespecíficos, mimetizando outras patologias. Apre- for rapidamente reconhecida e tratada, a SMN pode
sentamos um caso incomum de sífilis secundária levar à morte ou causar sequelas neurológicas per-
que se apresentou com linfadenopatia cervical iso- manentes. 
lada.
Caso Clínico: Sexo feminino de 66 anos, com an-
Caso clínico: Reportamos o caso de um homem de tecedentes de hipotiroidismo e doença bipolar, e
46 anos, com antecedentes de condiloma por HPV, medicada habitualmente com levotiroxina sódica,
encaminhado pelo médico assistente à consulta de olanzapina, valproato de sódio, lítio, biperideno e
Hematologia por adenopatias cervicais com 1 mês amantadina. Trazida ao Serviço de Urgência (SU)
de evolução, ecograficamente sugestivas de doença por febre, mutismo e rigidez muscular, com 5 dias
linfoproliferativa. O doente referia ainda o apareci- de evolução.  À observação, encontrava-se prostra-

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 593


da, desnutrida e desidratada, febril (38,5ºC), sudo- tomografia abdominal e pélvica que documentou
rética, PA 180/107 mmHg e taquicardia (119 bpm). maior probabilidade da lesão pancreática se tratar
À auscultação cardíaca com S1 e S2 taquicárdicos, de uma neoplasia do pâncreas e menos de uma
rítmicos e regulares, e à auscultação pulmonar com doença linfoproliferativa; toracocentese diagnóstica
murmúrio vesicular mantido e simétrico, sem ruídos com imunofenotipagem a revelar 81.16% de células
adventícios. No exame neurológico, apresentava es- linfóides B monoclonais com fenótipo compativel
cala de coma de Glasgow de 12 e pupilas isocóricas com Linfoma Não Hodgkin B de Grandes Células.
e isorreativas. No exame da força muscular, com Pela possibilidade de doença síncrona, doente rea-
bradicinesia intensa e rigidez plástica. Gasimetrica- lizou ecoendoscopia com realização de biópsia da
mente com alcalémia respiratória e hiperlactacidé- massa pancreática que confirmou etiologia linfopro-
mia (3,4 mg/dL). Os exames laboratoriais revelaram liferativa.
leucocitose (18.700/µL) e neutrofilia (16.600/µL),
hiperglicemia (402 mg/dL), lesão renal aguda (ureia Apresenta-se um caso de uma doente com uma
108 mg/dL e creatinina 2,13 mg/dL), hipernatrémia doença linfoproliferativa, cuja hipótese mais prová-
(157 mEq/L) e hipercaliémia (5,7 mEq/L), citólise vel pelo estudo imagiológico, seria uma neoplasia
hepática (ALT 62,7 U/L, AST 45,5 U/L), LDH 456 U/L sólida do pâncreas. Podendo apresentar doença
e CK total 1400 U/L. Tomografia computorizada síncrona, para razões de prognóstico e opções te-
crânio-encefálica sem lesões expansivas ou hemor- rapêuticas, foi importante a confirmação etiológica
ragia. Feita punção lombar cujo exame citoquímico da lesão pancreática. Os autores propõem-se a
do líquido cefalorraquidiano não relevou alterações. apresentar detalhadamente o quadro inicial, a mar-
Internada no Serviço de Medicina Interna com a hi- cha diagnóstica e a evolução do caso. Serão ainda
pótese diagnóstica de SMN. Iniciado dantroleno 20 levantadas questões como a necessidade imperati-
mg ev de 6 em 6 horas e bromocriptina 2,5 mg oral va de adequar cuidados consoante a evolução - por
de 12 em 12 horas. vezes diária - das necessidades dos doentes.

Conclusão: A SMN é uma condição incomum, mas P n.º 0786 


com risco de vida, frequentemente esquecida em Uma apresentação rara de Doença de Graves
doentes febris. Nesta doente, o aparecimento de Marina Coelho(1);André Nunes(1);Carina Rôlo Sil-
febre sem etiologia aparente levou-nos a expandir vestre(1);Inês Antunes(1);Teresa Vilaça(1);Ivone
o nosso diagnóstico diferencial para incluir causas Barracha(1)
não infeciosas. Ao revisarmos cuidadosamente a (1) Centro Hospitalar do Oeste / Hospital Distrital de
medicação habitual, notamos que a doente se en- Torres Vedras
contrava a realizar fármacos crónicos e agudos que
foram identificados como potenciais agentes preci- Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio-
pitantes da SMN. nais

P n.º 0779  Introdução: A tiróide apresenta uma íntima rela-


Massa Pancreática: Um Jogo de Probabilidades ção com a patologia cardiovascular, sendo reco-
Teresa Lopes Bruno(1);Sérgio m. Pereira(2);Joana nhecido o papel do hipertiroidismo como fator
Suarez(2);Rita Reis(2) de descompensação de doença cardíaca e como
(1) Centro Hospitalar de Leiria / Hospital de Santo responsável por cardiomegalia e arritmias, no-
André (2) Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, meadamente a fibrilação auricular. No entanto a
EPE / Hospital Egas Moniz insuficiência cardíaca como manifestação inicial de
hipertiroidismo é rara, acometendo apenas cerca de
Tema: Doenças hematológicas 6% dos casos.

A Medicina como ciência humana apresenta ques- Caso clínico: Mulher de 47 anos com história de
tões difíceis de gerir como o equilíbrio entre o que bócio multinodular sob vigilância, sem medicação
é mais e menos provável. Para uma boa prática, é habitual. Admitida no serviço de urgência por pal-
indispensável um bom diagnóstico diferencial, pro- pitações e dispneia para pequenos esforços. À ad-
tegendo sempre os interesses do doente. missão: apirética, pressão arterial de 141/89mmHg
e frequência cardíaca 110bpm; Auscultação cardio-
Apresenta-se o caso de uma mulher de 89 anos, pulmonar: s1 +s2 arrítmicos, sem sopros evidentes
com hipertensão, diabetes mellitus tipo 2 e osteopo- e discretos fervores crepitantes na base do hemi-
rose, admitida por quadro de dificuldade respira- tórax direito; exoftalmia e palpação cervical com
tória, recusa alimentar, astenia, desconforto abdo- tiroide dolorosa à palpação e frémito anterior au-
minal e dor torácica bilateral. Realizou tomografia dível. Eletrocardiograma (ECG): fibrilação auricular
computadorizada de tórax que revelou achados com resposta ventricular rápida entre 120-140bpm.
compatíveis com tromboembolismo pulmonar, múl- Analiticamente salientava-se: BNP 505 ng/ml, tro-
tiplas adenopatias supracentimétricas dispersas, ponina I 4.5ng/L, TSH<0.01UI/ml, T4 livre 1.33ng/
derrame pleural bilateral, imagens sugestivas de dL, T3 livre 3.05ng/dL; Ac. anti-Receptores TSH
secundarização pulmonar e hepática e uma massa 118,00 U/L (N<1.22U/L). Tomografia computorizada
pancreática com cerca de 8cm de maior eixo. Neste de tórax: moderado derrame pleural direito. Ecocar-
contexto, foi internada para estudo complementar: diograma transtorácico (TT): Dilatação bi-auricular,

594
E-POSTERS
com hipocinesia generalizada (fração de ejeção Com este caso pretendemos alertar para a impor-
41%) e regurgitação tricúspide e mitral moderada. tância da monitorização e reconhecimento precoce
Feito o diagnóstico de doença de Graves (DG). Ini- dos sinais e sintomas associados à intoxicação pela
ciou terapêutica dirigida com Tiamazol, Propranolol colchicina, nomeadamente os sinais associados
para controlo de FC e hipocoagulação pela FA, com a disfunção cardíaca, que embora raros, estão
melhoria clínica e controlo adequado da FC. Em am- associados a maior mortalidade. Embora não
bulatório, foi observada em consulta de Medicina haja uma clara separação entre as doses não
Interna já assintomática e sem alterações ao exame tóxicas e tóxicas de colchicina, sabe-se que os
objectivo, repetiu ECG em ritmo sinusal e ecocardio- sintomas graves de disfunção multiorgânica podem
grama TT com normalização da função sistólica e desenvolver-se até 7 dias após ingestão do fárma-
resolução das alterações estruturais. co.  O reconhecimento precoce e a instituição de
terapêutica de suporte são fulcrais no prognóstico
Discussão: Os autores apresentam este caso pela destes doentes.
raridade da apresentação da DG, ressalvando a
importância de considerar este diagnóstico nas P n.º 0795 
causas de IC e alterações valvulares não explica- Disartria escondida por sequelas de tumor cerebral
das – dado ser uma entidade tratável e as suas Marina Coelho(1);André Nunes(1);Juliana Maga-
complicações serem reversíveis com o tratamento lhães(1);Teresa Vilaça(1);Ivone Barracha(1)
apropriado. (1) Centro Hospitalar do Oeste / Hospital Distrital de
Torres Vedras
P n.º 0794 
Intoxicação por colquicina: um caso de disfunção Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas
cardíaca
Andreia Amaral(1);Beatriz Sampaio(1);Diogo Ferrei- Introdução: O acidente vascular cerebral (AVC) no
ra da Silva(1);Felisbela Gomes(1);Catarina Espirito adulto jovem é considerado uma patologia rara com
Santo(2);Catarina Salvado(2) uma incidência crescente nas últimas décadas. Tan-
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE / Hos- to o diagnóstico como a investigação etiológica são
pital de Santo António dos Capuchos (2) Hospital complexos, não só pela prevalência de diagnósticos
dos Capuchos diferenciais como pela variedade de causas poten-
Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente crí- ciais.
tico
Caso clínico: Homem de 39 anos com antecedentes
A colchicina é um alcalóide que é maioritariamente pessoais de tumor da protuberância e mesencéfalo
usado no tratamento de doenças inflamatórias. A diagnosticado aos 18 meses, submetido a cirurgia
intoxicação com colchicina é incomum, podendo de excisão lesional com alterações neurológicas
ocorrer de forma acidental ou intencional, estando sequelares: paresia do III par esquerdo, estrabismo
muitas vezes associada a quadros graves de disfun- divergente, disartria ligeira, desvio da comissura la-
ção multiorgânica. bial para a esquerda e descoordenação motora com
ataxia da marcha. Admitido no serviço de urgência
por quadro de agravamento disartria e ataxia da
Apresentamos o caso de uma mulher de 50 anos, marcha de base e queixas de tonturas com cerca de
com quadro psicótico em estudo e não medicado, 24h de evolução. À admissão: Obeso (IMC de 34kg/
admitida no serviço de urgência 24h após a inges- m2), normotenso, auscultação cardiopulmonar s1
tão acidental de colchicina (10mg) por náuseas, +s2 rítmicos, sem sopros. Ao exame neurológico,
vómitos e dejeções diarreicas. No serviço de urgên- salientava-se agravamento da disartria, sem outras
cia sem alterações ao exame objetivo, na avaliação alterações de novo. Realizou tomografia computori-
analítica, no eletrocardiograma (ECG) e na radiogra- zada cranioencefálica (TC-CE) que demonstrou en-
fia torácica. Foi iniciada terapêutica de suporte e farte isquémico agudo lenticulo-caudado e capsular
transferida para a Unidade de Cuidados Intermédios interno anterior esquerdo a induzir ligeiro efeito de
para vigilância. No terceiro dia de internamento ini- massa com deformação do ventrículo lateral, para
ciou quadro súbito de dor torácica anterior direita e além da lesão sequelar heterogénea incluindo por-
dessaturação periférica. Auscultação pulmonar com ções quísticas hipodensas e outras calcificadas no
diminuição do murmúrio vesicular na metade infe- teto do mesencéfalo. Do estudo etiológico realizou
rior do hemitórax direito. Do estudo realizado salien- ECG em ritmo sinusal; ecocardiograma transto-
ta-se: gasimetria, em ar ambiente, com insuficiência rácico e ecodoppler dos vasos do pescoço sem
respiratória parcial; radiografia e tomografia torácica alterações; holter de 24 horas que revelou arritmia
apenas com derrame pleural direito; ecocardiogra- sinusal. Analiticamente a salientar hipercolesterole-
ma com lâmina de derrame pericárdico; ECG sem mia com colesterol total 217mg/dL. Estudo imuno-
alterações e análises com marcadores de necrose lógico, serológico e trombótico negativo. Iniciou an-
cardíacos negativos e NT-proBNP elevado. Admitiu- tiagregação. Ao longo do internamento apresentou
-se disfunção cardíaca no contexto de intoxicação melhoria clínica e teve alta orientado para consulta
pela colchicina e iniciou terapêutica diurética com de fisiatria.
total reversão do quadro.
Discussão: Os autores apresentam o caso de AVC

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 595


num doente jovem que, pelas sequelas neurológicas potencialmente fatal como a SCA. Dado o contexto
de tumor da protuberância e mesencéfalo dificulta- epidemiológico levanta-se a hipótese de estar
ram o diagnóstico. Recentemente tem se objetivado associado a Covid-19. É fundamental que o
que os fatores de risco vascular tradicionais como internista tenha conhecimento das complicações
dislipidemia, sedentarismo, obesidade, tal como associadas a esta condição de modo a agilizar o
identificado neste caso, têm um papel cada vez diagnóstico e terapêutica.
mais importante na fisiopatologia do AVC no doente
jovem, sobretudo nos homens a partir dos 35 anos, P n.º 0809 
em parte pelo facto de serem cada vez mais preva- Polimialgia reumática: A patologia oculta
lentes nesta população. Inês Monteiro Araújo(1);Margarida Robalo(1);Ma-
rina Salwegter(1);Nereida Monteiro(1);Rui Domin-
P n.º 0800  gues(1);Sofia Esperança(1);António Oliveira e Sil-
Serviço de Urgência em tempos de Covid-19 va(1)
Ana Sofia Ferreira Silva(1);João Miranda(1);Ricardo (1) Hospital de Braga
Fernandes(1)
(1) Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia / Espinho Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
culites
Tema: Doenças cardiovasculares
Introdução: A polimialgia reumática é uma doença
Introdução: A doença cardíaca, em doentes infeta- inflamatória crónica comum com pico de incidência
dos com Covid-19, parece associar-se a um aumen- entre os 70-75 anos, que apesar de apresentar sinto-
to da morbimortalidade por hiperactividade inflama- mas caraterísticos, carece de alterações clínicas ou
tória traduzida pela produção de vários marcadores analíticas especificas, o que torna o seu diagnóstico
inflamatórios.  desafiante.
Caso clínico: Homem, 56 anos, trabalha na cons-
trução civil, fumador (60 unidades maço-ano), com Caso clínico: Mulher, 82 anos, autónoma, sem an-
patologia osteoarticular da coluna. Sem medica- tecedentes de relevo, admitida por quadro de febre
ção habitual. Recorre ao serviço de urgência (SU) e prostração com três dias de evolução. Chega-se
por quadro de dor intermitente, de intensidade ao diagnóstico de urosépsis com disfunção neu-
moderada, no antebraço esquerdo, com cerca de rológica e renal. Instituída antibioterapia dirigida
15 dias de evolução. Acresce irradiação da dor ao agente isolado. Apesar disso manteve astenia,
em aperto para o braço e hemitórax esquerdos, de sonolência, confusão, rigidez e limitação da mobili-
forma esporádica e sem relação com o esforço, dade dos membros superiores. Proteína C Reativa
posição de alívio ou agravamento. Nega trauma re- com perfil decrescente, mas longe de ter a evolução
cente ou esforços. Observado previamente em SU e esperada. A radiografia dos ombros não mostrava
nos cuidados de saúde primários, onde foi excluída alterações significativas. Por suspeita diagnóstica
lesão aguda do membro superior esquerdo (MSE). de polimialgia reumática, pediu-se velocidade de se-
Iniciada analgesia multimodal, sem alívio. Encon- dimentação, que se revelou aumentada. Assim, foi
trava-se hemodinamicamente estável, sem altera- iniciada prova terapêutica com corticoterapia, com
ções ao exame físico, incluindo na mobilidade e melhoria significativa do quadro clínico supracitado
sensibilidade do MSE. Realizado eletrocardiograma em 24h e posterior melhoria analítica. A doente teve
(ECG) que evidenciou supra ST milimétrico nas alta medicada com prednisolona 15mg/dia, com
derivações inferiores e infra ST em V1-V2. Analiti- autonomia total.
camente, troponina T de alta sensibilidade de 1277 Discussão: Frequentemente o diagnóstico de po-
ng/L. Realizou ecoscopia, que mostrou hipocinésia limialgia reumática só é estabelecido meses após
das paredes posterior e lateral e função sistólica o início da sintomatologia, embora este seja geral-
do ventrículo esquerdo preservada. Com o diagnós- mente abrupto e com um grande impacto na quali-
tico de síndrome coronária aguda (SCA), realizou dade de vida. Apesar de a resposta à corticoterapia
cateterismo cardíaco emergente com oclusão da favorecer o diagnóstico, não o confirma, pelo que
porção média da artéria grande obtusa marginal; está recomendado excluir outras doenças reumato-
realizada trombectomia aspirativa e angioplastia da lógicas, infeciosas e neoplásicas. Este caso preten-
artéria ocluída. Por necessidade de internamento, de demonstrar a importância de manter um elevado
realizou teste PCR ao SARS-Cov2, que foi positivo. grau de suspeição diagnóstica para esta patologia,
Admitido na Unidade Coronária para continuação de mesmo em pacientes admitidos no internamento
cuidados, com boa evolução clínica e alta orienta- por intercorrências agudas que podem mascarar o
do para consulta externa de Cardiologia, medicado quadro. Apesar de os estudos que incidiram sobre a
com dupla antiagregação e fármacos de controlo relação entre triggers infeciosos e o desenvolvimen-
de fatores de risco. Reavaliado pela Cardiologia em to de polimialgia reumática terem mostrado resulta-
dois meses, assintomático e com bom controlo de dos contraditórios e inconclusivos, este caso vem,
fatores de risco. uma vez mais, favorecer essa hipótese.
Conclusão: A clínica apresentada pelo doente pode P n.º 0810 
mimetizar várias condições clínicas, atrasando A vacina que gripou a plaqueta
o diagnóstico de uma situação emergente e

596
E-POSTERS
Joana Freitas Ribeiro(1);Ana Matos(1);Raquel Batis- a integração dos dados complementares crucial
ta(1);Fátima Pimenta(1) para o seu diagnóstico.
(1) Centro Hospitalar do Médio Tejo, EPE / Unidade
de Torres Novas Caso clínico: Homem, 65 anos, antecedentes de
Tema: Doenças hematológicas adenocarcinoma do cólon operado, sem recidiva
locorregional ou metastização à distância na última
avaliação, e síndrome mielodisplasico pós quimio-
Introdução: A trombocitopenia pode ter variadas terapia. Recorreu à urgência por astenia e tosse
causas e, na maioria das circunstâncias, o risco he- produtiva com cerca de 2 semanas de evolução. À
morrágico é inversamente proporcional à contagem observação febril e com palidez cutânea. Analitica-
absoluta plaquetar. A determinação da causa é fun- mente pancitopenia e elevação de proteína C reativa
damental para a seleção do tratamento apropriado. 20,63 mg/dl. Em tomografia computorizada identi-
ficadas adenopatias necrosadas supraclaviculares
Caso clínico: Homem, 76 anos, antecedentes de bilateralmente e paratraqueais direitas levantando-
pneumoconiose, bronquiectasias e celiaquia. Re- -se hipótese de metástases. Concomitantemente
correu por tosse e hemoptises com início nesse hemoculturas com Staphylococcus epidermidis e
dia. Sem contacto com tóxicos, nova medicação expectoração com Candida albicans, tendo cum-
ou suplementos alimentares, referindo vacinação prido ciclo de antibioterapia dirigida e antifúngico,
antigripal na semana anterior. À observação corado, sem defervescência de febre. Pesquisa Influenza,
petéquias nos membros inferiores, sem organome- SARS-CoV-2, citomegalovírus, Epstein-Barr, vírus
galias ou adenopatias palpáveis. Analiticamente imunodeficiência humana, hepatites víricas e au-
com plaquetas 19 x 109/L, sem outras alterações no toimunidade negativos. IGRA positivo, exames de
hemograma ou nas restantes análises. Do estudo, expectoração negativos para micobactérias. Con-
sublinha-se ausência de alteração das provas hepá- tactos com Cirurgia Torácica para biópsia excisional
ticas ou parâmetros inflamatórios, doseamentos de diagnóstica sem sucesso. Biópsia transbrônquica
ferritina, ácido fólico e vitamina B12 normais, imuni- com resultado inconclusivo. Realizou broncofibros-
dade para citomegalovírus e vírus Epstein-Barr, se- copia com exame micobacteriológico de aspirado
rologias de hepatites víricas, vírus de imunodeficiên- brônquico positivo para Mycobacterium tuberculo-
cia humana, anticorpos anti-plaquetários e teste de sis. Iniciou terapêutica antibacilar, no entanto, veio
libertação do interferão gama negativos. Realizou a falecer ao 18º dia de terapêutica, por infecção
transfusão plaquetária e controlo analítico no dia nosocomial.
seguinte com agravamento da trombocitopenia (1 x
109/L) e anemia de novo (hemoglobina 10g/dL) em Discussão: A tuberculose é uma realidade frequente
provável relação com as perdas hemáticas. Realizou no nosso país. Perante um doente com manifesta-
ecografia abdominal que não mostrou alterações ções clínicas ou fatores epidemiológicos relevan-
e tomografia computorizada torácica com possível tes, esta patologia deve ser sempre equacionada e
foco infecioso/inflamatório, pelo que realizou anti- investigada. O diagnóstico definitivo é estabelecido
bioterapia. Ao quarto dia, por ausência de melhoria, após isolamento de Mycobacterium tuberculosis
iniciou Prednisolona 1 mg/Kg com posterior recupe- numa secreção ou fluido corporal.
ração dos valores de hemoglobina e plaquetas. P n.º 0820 
Discussão: Após exclusão de outras causas possí- DIAGNÓSTICO DE PNEUMONIA EOSINOFILICA EM
veis para a trombocitopenia, assumiu-se como se- EPÓCA DE PANDEMIA A SARS-CoV-2
cundária a toma da vacina contra o vírus Influenza. Inês de Albuquerque(1);Pedro Fernandes Moura(1);-
Embora a associação esteja descrita, é incomum, Cecília Soares(1);Diana Fernandes(1);Sofia Teixei-
com incidência indeterminada, e a boa resposta a ra(1);Manuel Vaz(1);José Carlos Carneiro(1);Mário
corticoterapia suporta a hipótese de mecanismo Esteves(1)
imune subjacente. O caso pretende assim realçar a (1) Centro Hospitalar do Médio Ave, EPE / Unidade
importância da cronologia na história clínica como de Vila Nova de Famalicão
base do estudo etiológico. Tema: Doenças respiratórias
P n.º 0813 
TB or not TB Introdução: A Pneumonia eosinofílica aguda (PEA)
Joana Freitas Ribeiro(1);Ana Matos(1);Raquel Batis- é uma doença rara caracterizada por infiltrados eo-
ta(1);Fátima Pimenta(1) sinófilicos no parênquima pulmonar, podendo ser
(1) Centro Hospitalar do Médio Tejo, EPE / Unidade idiopática ou secundária a vários agentes. Apresen-
de Torres Novas ta- se o caso de um doente com PEA com diagnósti-
co prévio a infeção a SARS-CoV-2.
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
Caso clínico: Doente de 60 anos, sexo masculino,
Introdução: A linfadenopatia regional e, particular- com história de sinusite crónica e tabagismo no
mente a supraclavicular, encontram-se conotadas passado. Iniciou quadro de tosse seca, dispneia
com etiologia neoplásica. No entanto, podem cor- para esforços e febre que motivou avaliação em
responder a manifestações de outras causas, sendo Serviço de Urgência (SU). Diagnosticada infeção

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 597


moderada a SARS-CoV-2, com sobreinfeção bacte- lamento.  Após correção de cetoacidose diabética,
riana tendo alta medicado com antibioterapia. Um houve persistência do tremor, agitação psicomotora,
mês após, por persistência dos sintomas, recorreu depressão do nível de consciência e febre, pelo que
novamente ao SU.  Na admissão apresentava-se por suspeita de meningoencefalite, realizou-se Pun-
hemodinamicamente estável, sem insuficiência ção Lombar, com presença, no liquido cefalorraqui-
respiratória ou disfunções de órgão. Analiticamente diano (LCR), de células polimorfonucleares e hiper-
a destacar eosinofila. Realizou tomografia compu- proteinorráquia, negativa para antigénios capsídeos.
torizada (TC) de tórax que identificou áreas de con- Iniciou antibioterapia de largo espectro e aciclovir.
solidação do parênquima pulmonar bilateralmente, Agravou-se o quadro clínico, com sépsis e lesão re-
particularmente nos segmentos apicais. O doente nal aguda, foi necessário suporte ventilatório invasi-
foi internado para estudo de doença pulmonar eo- vo temporário. No LCR fez-se também pesquisa de
sinofílica. Do estudo efetuado salienta-se broncofi- DNA viral, negativa para vírus da família do Herpes,
broscopia sem alterações, e biópsia pulmonar que mas positiva para EBV. Com terapêutica de suporte
documentou pneumonia eosinofilica. Descartada verificou-se uma gradual melhoria do estado de
patologia auto-imune bem como infeções viricas ou consciência e motor.
bacteriana subjacentes. Iniciou corticoterapia com
resolução dos sintomas e da eosinofilia periférica DISCUSSÃO: É necessário ter em consideração que
e melhoria imagiológica (um mês após TC de tórax após a correção de cetoacidose diabética, a causa
inicial). para a descompensação poder-se-á manter ativa,
pelo que deve ser ativamente pesquisada e sempre
Discussão: As descrições iniciais da PEA descre- que possível tratada.
viam-na como um doença respiratória aguda de
causa não identificada. Estudos subsequentes P n.º 0824 
vieram descrever um conjunto de causas que va- Rickettsia spp. escondida no sofá
riam desde a tabaco, outro inalantes, fármacos e Isaac s Pereira(1)
infeções. Dois estudos prévios já descreveram PEA (1) Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo, EPE /
após infeção a SARS-CoV-2, levantando a hipótese Hospital José Joaquim Fernandes
de este ser um fator predisponente para o desenvol-
vimento da doença. Pretende-se assim, como este Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
caso destacar a importância do diagnóstico dife-
rencial entre PEA nos doentes com pneumonia por Introdução: A Febre-escaronodular (FEN) é caracte-
Covid-19. rizada por um processo de vasculite generalizada,
causado pelas rickettsias. Ocorre sobretudo nos
P n.º 0822  meses quentes da Primavera, Verão e início de
Diabetes Mellitus: Incumprimento quase fatal Outono e predomina em zonas rurais e a doença
Isaac s Pereira(1);Filipa Laje(1);Filipe Almeida(1) é transmitida pela picada da carraça infectada en-
(1) Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo, EPE / quanto efectua a sua refeição.
Hospital José Joaquim Fernandes
Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas CASOC CLÌNICO: 70 anos, sexo masculino, autóno-
mo, hábitos etílicos e tabágicos marcados. Levado
ao Serviço de Urgência por prostração, maior de-
Introdução: Cetoacidose diabética pode ser precipi- pendência e confusão, com 2 dias de evolução. Ao
tada, entre outras, por infeções ativas, podendo até exame objectivo salientava-se desorientação e len-
mesmo mascarar, por alteração do estado neuro- tificação psicomotora, febril, hipotenso, exantema
lógico do doente, outras doenças nomeadamente macular eritematoso disseminado, com atingimento
encefalite viral. Epstein-Barr vírus (EBV) causa mo- palmar. Analiticamente com desvio da curva matu-
nonucleose infeciosa, mas raramente pode causar rativa polimorfonuclear, com PCR elevada, trombo-
encefalite, sendo o seu tratamento sintomático. citopenia e elevação das transaminases. Punção
lombar sem alterações de relevo, Tomografia Com-
CASO CLÍNICO: Mulher, 77 anos, autónoma, com an- putorizada (TC) Crânio-encefálica compatível com
tecedentes patológicos de diabetes mellitus tipo 2 vasculopatia subcortical. Excluiu-se infecção viral
insulino-tratada, hipertensão arterial e dislipidemia. e foi internado medicado com doxiciclina perante
Admitida no Serviço de Urgência por astenia, ano- suspeita de FEN. No inicio do internamento o filho
rexia vómitos biliares e alteração comportamental. confirmou que o doente tinha animais em casa e
Objetivamente GCS de 14 sem sinais meníngeos, que tinha encontrado múltiplas carraças no sofá do
com polipneia e taquicardia sinusal. Analiticamente doente. Observou-se redução progressiva do exan-
com elevação dos parâmetros de retenção azotada tema generalizado e melhoria do quadro confusio-
e infeciosos. Observou-se então uma depressão do nal, associado a regressão dos parâmetros inflama-
estado de consciência, diaforese e tremor genera- tórios e resolução da trombocitopenia.
lizado, sem febre associada. Hiperglicemia e hiper-
cetonémia foram objetivados, portanto cetoacidose DISCUSSÃO: A FEN é uma doença endémica de zo-
diabética, com necessidade internamento em Cui- nas rurais, como por exemplo o Alentejo, tendo uma
dados Intensivos, para estabilização. Fez exames particularidade, o clima, que permite que o vector se
culturais para microbacteriológia, sem qualquer iso- mantenha activo todo o ano.

598
E-POSTERS
P n.º 0828  irreversíveis.
O DESAFIO DIAGNÓSTICO DAS VASCULITES DE
GRANDES VASOS - A PROPÓSITO DE UM CASO P n.º 0837 
CLÍNICO Carcinoma de Células de Merkel de primário desco-
Mariana Fidalgo(1);Beatriz Samões(1);Sofia Perei- nhecido
ra(1) Alexandra Guedes(1);Henrique Carmona Alexandri-
(1) Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia / Espinho no(1);Ana Joaquim(1);Cristina Carneiro(1)
(1) Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia / Espinho
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
culites Tema: Doenças oncológicas

Introdução: As vasculites são doenças inflamatórias Introdução: O carcinoma de células de Merkel


de apresentação muito variável e atingimento fre- (MCC) é um tumor cutâneo neuroendócrino raro que
quentemente sistémico, com morbilidade importan- afeta sobretudo homens, idosos e leucodérmicos.
te e evolução potencialmente fatal.  Trata-se de um tumor agressivo, com alta taxa de
mortalidade (duas vezes superior à do melanoma) e
apresenta-se classicamente com lesões eritemato-
CASO CLÍNICO: Mulher caucasiana de 76 anos, sas-violáceas de rápido crescimento.
enviada à consulta de Medicina Interna por lom-
balgias, cefaleias, astenia e perda ponderal. Ante-
cedentes: hipertensão, diabetes mellitus, dislipi- Caso clínico: Trata-se de um doente do sexo mas-
demia e patologia osteoarticular degenerativa da culino, com 71 anos de idade, sem antecedentes
coluna lombar. Sem alterações no exame objectivo: de relevo. É encaminhado pelo médico de famí-
sem assimetria dos pulsos ou tensão arterial, sem lia à consulta de medicina interna por volumosa
sopros ou frémitos nos leitos vasculares. Analitica- tumefacção inguinal esquerda com 3 meses de
mente: anemia (Hb 8.5g/dL) normocítica/hipocró- evolução, sem outras queixas. Ao exame objetivo,
mica de caraterísticas inflamatórias (ferro 22ug/dL, palpava-se massa com cerca de 3 cm de diâmetro
sat. transferrina 12.6%, ferritina 631ng/mL), veloci- de consistência dura e aderente aos planos pro-
dade sedimentação>120mm/h e proteína C reativa fundos, sem outras adenopatias ou lesões derma-
7.47mg/dL; estudo imunológico negativo. Prosse- tológicas visíveis. O estudo analítico não revelava
guiu investigação para exclusão de neoplasia: es- alterações; a ecografia inguinal mostrou adenopatia
tudo endoscópico digestivo negativo, electroforese inguinal esquerda com dimensões de 31x20mm.
de proteínas sem picos monoclonais e exames de Após a biópsia histológica, o estudo morfológico
imagem toracoabdominopélvica sem alterações. e imunohistoquímico revelou-se compatível com
MCC (CK20+, cromogranina+, sinaptofisina+; KI67
Por persistência dos sintomas e agravamento da de 60%). A TC-TAP de estadiamento não mostrou
anemia realizou PET de corpo inteiro: intensa capta- outras lesões. Da consulta de grupo multidisciplinar,
ção nas paredes dos grandes vasos - aorta, artérias o doente foi referenciado ao IPO-Porto. Aí, realizou
ilíacas, femorais, tronco braquiocefálico, artérias uma PET-CT que veio a revelar nodularidade subcu-
subclávias, axilares e carótidas comuns, compatível tânea na região calcânea do pé esquerdo. O estudo
com vasculite de grandes vasos. histológico e  imunohistoquímico da mesma veio a
ser compatível com angioleiomioma (AML+, desmi-
Iniciou corticoterapia e realizou biópsia da artéria na+, caldesmon+, CD34+). Cerca de 4 meses após a
temporal: marcado espessamento da íntima por primeira consulta na nossa instituição, o doente foi
fibrose, fragmentação focal da lâmina elástica in- submetido a esvaziamento inguinal esquerdo, sem
terna e infiltrado inflamatório linfocitário da camada intercorrências.
muscular e tecido conjuntivo – processo inflamató-
rio crónico compatível com arterite temporal. Discussão: Dada a agressividade do MCC, é fun-
damental a celeridade no encaminhamento destes
Apresentou boa resposta à terapêutica instituída, doentes para os grandes centros. É fundamental um
sem recidiva sintomática.  exame físico completo e investigação imagiológica
exaustiva. Em cerca de 2 a 19% dos MCC, a lesão
DISCUSSÃO: As vasculites de grandes vasos com- primária não é identificada. As curvas de sobrevi-
preendem a arterite de Takayasu (pico 3ª década vência destes doentes são ligeiramente mais favo-
vida) e a arterite de células gigantes (pico 8ª dé- ráveis, mas pouco se sabe acerca desta entidade.
cada). Esta última atinge a aorta e seus ramos
principais, incluindo a artéria temporal superficial. P n.º 0846 
A biópsia deste vaso é o gold standard diagnóstico, Doença Anti-MBG: Uma causa rara de lesão renal
podendo ser realizada após início da corticoterapia, aguda
sem prejuízo da acuidade.  Carina Costa e Silva(1);Marina Reis(2);Vitória Fa-
ria(2);Sara Rodrigues(2);Clara Almeida(2)
As vasculites de grandes vasos são doenças (1) Hospital Santa Maria Maior de Barcelos (2) Cen-
de apresentação inespecífica e diagnóstico frequen- tro Hospitalar de Vila Nova de Gaia / Espinho
temente tardio. Devem ser consideradas precoce-
mente na excursão diagnóstica, de forma a permitir Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
intervenção terapêutica atempada e evitar danos culites
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 599
Introdução: A doença anti-membrana basal glo- e elevação dos marcadores de necrose miocárdica.
merular (MBG) é uma vasculite de pequenos vasos,
que classicamente se apresenta como uma glo- Caso Clínico: Mulher de 74 anos com antecedentes
merulonefrite rapidamente progressiva e em 60% de esclerose sistémica rapidamente progressiva,
dos casos se associa a envolvimento pulmonar. É doença do interstício pulmonar, leucemia mielóide
uma condição rara, com incidência de um por mi- crónica, síndrome depressivo, hipertensão arterial
lhão por ano, de início súbito e habitualmente não e dislipidemia, medicada com micofenolato de
recidivante, associada a um mau prognóstico renal. mofetil, hidroxiureia, escitalopram, amlodipina e
atorvastatina. Dispneia de esforço habitual devido
Caso Clínico: Homem, de 71 anos, não fumador, à doença pulmonar. Recorreu ao Serviço de Urgên-
com antecedentes de hipertensão arterial, recorreu cia por agravamento da dispneia até ao repouso,
ao Serviço de Urgência por quadro de edema pro- sem toracalgia. Ao exame físico com hipotensão e
gressivo dos membros inferiores com cerca de duas hipoxemia. Analiticamente com leucocitose, PCR
semanas de evolução, aumento do perímetro ab- elevada, hipercalemia, hiperlactacidemia e troponina
dominal e noção de diminuição do débito urinário. I elevada. ECG revelou ritmo sinusal com má pro-
Negou febre, queixas respiratórias, nomeadamente gressão da onda R na parede anterior, inversão da
hemoptises, ou queixas gastrointestinais. Sem toma T profunda de V1-V3 e QT longo. O ecocardiograma
de anti-inflamatórios ou fármacos de novo. Encon- (ETT) revelou acinesia dos segmentos médios de
trava-se hipertenso (TA 158/81 mmHg), apirético, todas as paredes ventriculares  e contratilidade pre-
com edema dos membros inferiores e sem altera- servada ao nível dos segmentos basais e apicais. A
ções no restante exame objetivo. Analiticamente angiotomografia do tórax excluiu tromboembolismo
apresentava anemia normocítica e normocrómica, pulmonar. O cateterismo excluiu doença coronária
lesão renal aguda (creatinina 10,1 mg/dL – previa- e a ressonância magnética miocardite. Atendendo à
mente com função renal sem alterações) e sem clínica e ao padrão de ECG e ETT iniciais foi assumi-
elevação dos parâmetros inflamatórios. Não apre- do o diagnóstico de MT. A corroborar este diagnós-
sentava insuficiência respiratória. O exame sumário tico temos o facto de se ter verificado recuperação
de urina revelou hematoproteinúria e na ecografia funcional em ETT seriados. A doente evoluiu com
renovesical observaram-se rins sem alterações e episódios de bloqueio auriculoventricular do 3ºgrau,
excluiu-se quadro obstrutivo. Tendo em conta o QT longo com episódio único de Torsade de Poin-
quadro de azotemia grave com oligoanúria, iniciou tes, tendo sido implantado pacemaker (PM) provisó-
hemodiálise. Necessitou de suporte transfusional à rio. Apresentou recuperação cardíaca funcional em
admissão, mantendo-se estável durante o interna- ETT seriados, com normalização do padrão de ECG,
mento. O estudo complementar revelou anticorpo mantendo ritmo próprio, sendo possível remoção do
anti-MBG positivo e na biópsia renal observou-se PM à data da alta.
uma glomerulonefrite crescêntica. Dado tratar-se
de um doente com doença anti-MBG, sem evidência Discussão: A MT é uma condição transitória, com
de hemorragia alveolar e que se apresentava depen- elevado risco de complicações, pelo que o seu diag-
dente de hemodiálise à admissão, optou-se por não nóstico precoce é importante. A maioria dos casos
iniciar tratamento de imunossupressão de acordo evolui com normalização da função ventricular, mas
com a evidência atual. numa pequena percentagem de casos esta pode
prevalecer. Assim sendo, é crucial o correto diag-
Discussão: A apresentação da doença de anti-MBG nóstico da entidade e das suas complicações para
sem envolvimento pulmonar é rara e ocorre com um correto tratamento.
mais frequência nos idosos. Num doente com in-
suficiência renal aguda rapidamente progressiva e P n.º 0853 
sem sintomas constitucionais deve ser sempre pon- Endocardite Infecciosa: Um desafio do diagnóstico
derado o diagnóstico de doença de anti-MBG. ao tratamento
Carina Costa e Silva(1);Cristina Marques(1);Carolina
P n.º 0851  Veiga(1);João Mota(1);Carlos Oliveira(1)
Miocardiopatia de Takotsubo e as suas complica- (1) Hospital Santa Maria Maior de Barcelos
ções
Carina Costa e Silva(1);Cristiana Fernandes(1);Caro- Tema: Doenças cardiovasculares
lina Veiga(1);Rita Sevivas(1);Susana Merim(1);João
Mota(1);Carlos Oliveira(1) Introdução: A endocardite infeciosa (EI) é uma
(1) Hospital Santa Maria Maior de Barcelos infeção aguda ou subaguda causada por bacté-
rias, vírus ou fungos. É uma condição que pode ter
Tema: Doenças cardiovasculares diversas formas de apresentação e cursa frequen-
temente com Insuficiência Cardíaca Congestiva e
Introdução: A Miocardiopatia de Takotsubo (MT) é Acidente Vascular Cerebral, mantendo mortalidade
caracterizada por disfunção ventricular esquerda e morbilidade elevadas apesar dos avanços no tra-
transitória, tendo como diagnóstico diferencial sín- tamento nas últimas décadas. 
drome coronário agudo (SCA). Habitualmente asso-
cia-se a stress físico ou emocional e a sua apresen- Caso Clínico: Homem de 57 anos, com anteceden-
tação pode incluir toracalgia ou dispneia, alterações tes de etilismo e tabagismo, recorreu ao serviço
no eletrocardiograma (ECG) sugestivas de isquemia

600
E-POSTERS
de urgência (SU) por quadro de toracalgia de ca- Mulher caucasiana de 31 anos, levada ao Serviço de
racterísticas pleuríticas, associada a dispneia em Urgência por alteração do estado de consciência,
repouso e tosse com expetoração mucosa com com agitação psicomotora, discurso incoerente e
uma semana de evolução. Apresentou febre e expe- flutuação da atenção e compreensão.
toração hemoptoica 2 dias antes da vinda ao SU. Ao
exame objetivo taquipneico e com sopro sistólico. Ao exame objetivo, a doente apresentava taquicar-
Analiticamente com elevação dos parâmetros infla- dia, taquipneia, face ruborizada, pupilas midriáticas
matórios, troponina I e Pro-BNP. Na gasimetria apre- e não reativas, com globo vesical e dor à palpação
sentava insuficiência respiratória (IR) tipo 1 com hi- hipogástrica; normotensa e apirética. Sem outros
pocapnia. Durante a permanência no SU evoluiu em sinais neurológicos focais.
choque cardiogénico, tendo iniciado suporte ami-
nérgico, e insuficiência respiratória em agravamento Foi solicitado estudo analítico que excluiu altera-
progressivo, com necessidade de entubação endo- ções agudas que pudessem condicionar a apre-
traqueal. Colheu hemoculturas e iniciou antibiotera- sentação clínica, nomeadamente, hipoglicemia/
pia com Ceftriaxone e Claritromicina. Realizou Eco- hiperglicemia, alterações eletrolíticas e pesquisa
cardiograma Transesofágico que revelou vegetação toxicológica na urina negativa.
na válvula mitral (VM), condicionando prolapso mar-
Após inquérito detalhado com os conviventes da
cado do folheto anterior, com deficiente coaptação,
doente foi identificado o consumo de trigo sarra-
sem rotura de cordas, condicionando insuficiência
ceno uma hora antes do início da sintomatologia,
mitral (IM) severa. Colheu novas hemoculturas e foi
proveniente de uma moagem para a qual foram
alterada antibioterapia para Flucloxacilina, Ampicili-
previamente identificados outros quatro casos com
na e Gentamicina. Dado o quadro de possível EI de
sintomatologia semelhante.
VM nativa com IM severa e choque cardiogénico foi
submetido a cirurgia urgente para substituição val- Após identificação do agente responsável, a doente
vular, tendo sido colocada uma prótese mecânica, permaneceu em ambiente hospitalar onde foram
sem intercorrências. Apresentou evolução favorável providenciados cuidados de monitorização e supor-
no pós-operatório, mantendo-se hemodinamica e te, com reversão total da sintomatologia após 92
eletricamente estável, apirético e sem IR. Sem iso- horas.
lamento de agente nas hemoculturas, cumpriu 28
dias de antibioterapia com Flucloxacilina, Ampicilina Discussão:
e Gentamicina. 
O caso clínico descrito enquadra-se num conjunto
Conclusão: A EI é uma doença grave que, nem sem- de cinco casos associados ao consumo de trigo
pre é fácil diagnosticar numa primeira abordagem, sarraceno contaminado com um agente antimusca-
principalmente quando o ecocardiograma não está rínico.  
disponível em contexto de urgência 24h, ressalvan-
do-se a importância da colheita da história clínica O caso exposto destaca a importância do enquadra-
completa e da auscultação cardíaca como parte de mento de uma história clínica detalhada, inquérito
um exame objetivo cuidado. exaustivo dos conviventes e abordagem integral do
conjunto das manifestações clínicas na abordagem
P n.º 0857  diagnóstica de uma potencial intoxicação em con-
Intoxicação Antimuscarínica em contexto de Ur- texto de Serviço de Urgência.
gência
Simão Carvalho(1);Laura Batista(1) P n.º 0860 
(1) Centro Hospitalar do Baixo Vouga / Hospital In- Trombose da Veia Mesentérica Superior – um cul-
fante D. Pedro, EPE pado incomum de dor abdominal: Caso Clínico
Jerina Nogueira(1);André Mendes(1);Rúben Raimun-
Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente crí- do(1);Adriano Pacheco Mendes(1);Djenabu Cassa-
tico ma(1);Joana Gomes Cochicho(1);Augusto Mendon-
ça(1);Isabel Lavadinho(1)
Introdução: (1) Hospital Portalegre
Tema: Doenças hematológicas
O conhecimento da apresentação clínica das princi-
pais intoxicações observadas em contexto de servi-
ço de urgência é de importância primária na prática A trombose da veia mesentérica é a forma menos
médica. comum (<10%) das isquemias mesentéricas, porém
apresenta uma alta taxa de mortalidade (45%), pelo
O presente caso ocorreu após consumo de trigo que o diagnóstico e tratamento precoces são essen-
sarraceno contaminado com um agente com pro- ciais.
priedades antimuscarínicas presente no conteúdo
da embalagem, provavelmente associado à conta- Apresenta-se o caso de um homem com 57 anos
minação da colheita de trigo por plantas invasoras, que recorre às urgências com queixas de dor ab-
nomeadamente Datura stramonium. dominal com 13 dias de evolução. Dor de caracter
inespecífico, mais localizada nos quadrantes supe-
Caso Clínico:
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 601
riores e peri-umbilical, de intensidade 6/10, sem irra- insidiosa de agitação psicomotora e comportamen-
diação, sem fatores de agravamento, sem posição to agressivo. Apresentava inatenção marcada, dis-
de alívio, porém com ligeira melhoria após analge- curso abundante, mudança de tema repetidamente,
sia. Desconhecia um possível fator causal, negava sem défices neurológicos focais. Vigil, sem febre,
evento traumático. Referia dor agravada nos últimos eupneica e hemodinamicamente bem.  Do estudo:
dias associada a enfartamento pós-prandial, náu- análises sem alterações de relevo, pesquisa de
seas, vómitos e diarreia. Apresentava antecedentes drogas negativa, angioTC CE sem lesões agudas;
de tromboflebite (2 episódios) e encontrava-se punção lombar a excluir infecção SNC com exames
medicado com clopidogrel. Como antecedentes bacteriológico e micobacteriológico este´reis, pes-
familiares apresentava pai com história de várias quisas de BAAR, VDRL, FTA-ABS, EBV, CMV, HSV 1
tromboflebites e um irmão com enfarte agudo do e 2 e herpes zooster negativas, ausência de bandas
miocárdio aos 47 anos. oligoclonais e ATC anti-NMDA negativo; ácido fólico
e vitamina B12 normal, hipertiroidismo (TSH 0.04
Ao exame objetivo sem alterações de relevo, no- uUI/mL, T4 livre 2.17 ng/dL), serologias VIH1/2, VHB
meadamente abdominais, com sinais vitais está- e VHC negativas, RMN CE a revelar lesão isquémica
veis. Analiticamente com leucocitose (11530uL) e antiga cerebelosa, EEG normal, doppler dos vasos
elevação da velocidade sedimentação (42mm/h), do pescoço sem alterações significativas e prova de
D-dímeros (7.6ug/ml) e PCR (121.8mg/dl). AngioTA- Synacthen a excluir insuficiência adrenal. Diagnosti-
C-abdominal evidenciou trombose da veia mesenté- cado delirium em contexto de reacção adversa me-
rica superior. dicamentosa e hipertiroidismo. Suspensa amioda-
rona e iniciado B-Bloqueador. Efectuado desmame
Colhidas análises para estudo de trombofilias, ini- progressivo de corticoterapia (CCT) com melhoria
ciou heparina não fracionada em perfusão e foi in- clínica progressiva. Veio a ter alta, calma, orientada,
ternado nos cuidados intermédios com acompanha- com discurso coerente e fluente, sem défices neuro-
mento de equipa multidisciplinar (Medicina Interna, lógicos focais.
Cirurgia Geral e Vascular).
O diagnóstico precoce de delirium e a correcção
Alta ao 7º dia com switch da anticoagulação para dos factores precipitantes contribui para evitar um
varfarina mantendo seguimento em ambulatório. declínio funcional significativo. Neste caso, o senso
Estudo de trombofilias revelou-se positivo para clínico e a marcha diagnóstica numa doente com
heterozigotia das mutações Factor V Leiden e PT várias comorbilidades e polimedicada, foram cru-
G20210A. ciais para a suspensão da CCT e da amiodarona,
promovendo uma evolução clínica favorável e aler-
A trombose da veia mesentérica é uma entidade
tando para a importância da prescrição no risco de
rara, sem sinais ou sintomas específicos, associada
delirium.
a alta taxa de mortalidade. Deste modo, é uma enti-
dade que não pode ser esquecida na abordagem da P n.º 0879 
dor abdominal e a anamnese pode ser um elemento Awake proning: a future standard of care in acute
fundamental para a orientação diagnóstica. respiratory diseases?
Bernardo Lopes Leitão Vidal Pimentel(1);Tiago Neto
P n.º 0863 
Gonçalves(1);Jorge Correia(1);Francisco Laranjei-
A importância da prescrição no risco de delirium
ra(1);Margarida Nascimento(1);Luis Landeiro(1);Fi-
Sofia Garcês Soares(1);Miguel Monteiro(1);Zélia Lo-
lipa Rocha(1);Gil Prazeres(1);Pedro Morais Sarmen-
pes(1);Mari Mesquita(1)
to(1)
(1) Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, EPE /
(1) Hospital da Luz Lisboa
Hospital Padre Américo, Vale do Sousa
Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente crí-
Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas
tico

O delirium é um estado confusional agudo multifac-


INTRODUCTION
torial marcado pelo início repentino de confusão,
inatenção e, frequentemente, um nível de consciên-
cia alterado. Tem curso flutuante, podendo ser hipe- COVID19 leads to a moderate/severe disease pri-
ractivo, hipoactivo ou misto.  Constitui um desafio marily through Acute Respiratory Failure (ARF) ac-
diagnóstico para o internista pelo número de doen- companied by dyspnea and respiratory exhaustion,
tes mais velhos e polimedicados com aumento da ultimately progressing to Acute Respiratory Distress
sua prevalência. Syndrome (ARDS). The authors present a case of an
awake proning/reposition (APR) strategy in a patient
with COVID19-ARF.
Mulher, 64 anos, autónoma, cognitivamente íntegra,
com hipertensão arterial, dislipidemia, prótese me- CASE-REPORT
cânica em posição aórtica, cardiopatia isquémica
e flutter auricular, cronicamente tratada com amio- A 65-year-old man with hypertension, dyslipidemia
darona 100mg id.  Evoluiu com hipertiroidismo e and chronic coronary syndrome was admitted for
foi medicada com tiamazol 5mg id e prednisolona severe COVID19 in February, 2021. At presentation,
40mg id. Trazida ao SU após 1 mês, por instalação he was dyspneic on the 10th day of disease, and
602
E-POSTERS
had mild hypoxemia (SpO2 93%, pO2 62mmHg) me físico, de destacar a evidência de desidratação,
and mild systemic inflammation (CRP 2.54mg/dl). taquicardia (FC-112bpm) e febre. Foi Internada com
Immediately, dexamethasone 6mg qd, prophylactic suspeita de toxicodermia, constando-se em 24h
anticoagulation and conventional oxygen therapy agravamento de lesões com aparecimento de vesí-
(COT) were started. In the first 48 hours, ARF kept culas e áreas de descamação (sinal de Nikolsky +)
worsening and increasing COT demand was needed. e bolhas hemorrágicas dolorosas na cavidade oral.
APR was started, leading to hypoxemia, polypnea Analiticamente, destaca-se citólise hepática (AST-
and the patient was transferred to the Intensive Care -200U/L), lesão renal aguda (Cr-1,3 mg/dl, U-30mg/
Unit (ICU), where non-invasive-ventilation (NIV) was dl) e leucocitose com ligeira eosinofilia. O estudo
maintained for one week and invasive ventilation infeccioso (incluindo hemoculturas e serologias
(IV) avoided. After twenty days of hospitalization, víricas) e autoimune foi negativo. A biópsia de pele,
the patient was discharged without COT. efectuada para excluir outros diagnósticos como
doenças bolhosas autoimunes, eritema multiforme
DISCUSSION e pustulose exantemática, confirmou o diagnóstico
de NET. Atendendo à gravidade clínica, atingimento
Proning position (PP) is an already largely diffused mucoso e de >70% da superfície cutânea, com SCO-
strategy in ICU patients, which has already shown RETEN de 4, a doente foi transferida para a unidade
improving ARF and even preventing ARDS and IV. de queimados. Apesar de controversa, foi iniciada
Supine position leads to dorsal alveoli atelectasis by corticoterapia no 1º dia de 1mg/Kg, com posterior
causing direct (compression) and indirect (over-in- redução para 0,5mg/Kg. Apresentam-se os vários
flation of ventral alveoli) pressure, which ultimately estadios das lesões, salientando-se a a abordagem
leads to V/Q mismatch. Thus, PP improves V/Q mis- terapêutica dirigida ao controlo de complicações
match, reduces shunt and recruits posterior alveoli. agudas graves como desequilíbrio eletrolítico, insu-
APR is a PP strategy in awake and conscious patien- ficiência renal, bacteremia, estado hipercatabólico e
ts, which improves oxygenation and dyspnea, and disfunção multiorgânica. A sépsis é a principal cau-
maybe prevents IV. APR has the advantage of being sa de morte, discutindo-se especificidades da anti-
autonomously achieved and therefore possibly mas- bioterapia neste contexto. Sendo o aloupurinol um
sively performed, which can be particularly relevant dos fármacos mais prescritos, muitas vezes sem
during a pandemic context. indicação especifica, importa lembrar as suas pos-
síveis reacçoes adversas, incluindo as mais raras e
CONCLUSION
muitas vezes fatais.
In this case, the authors demonstrate that APR leads
to a great oxygenation and respiratory comfort im- P n.º 0887 
provement, possibly improving COVID19 prognosis Trombo da aorta ascendente com embolização pe-
and avoiding IV. Moreover, it could become a future riférica - um caso invulgar
standard of care in ARF caused by other acute respi- Nuno Maia Neves(1);Natália Marto(1);Susana Carva-
ratory diseases. lho Coelho(1);Alexandra Bayão Horta(1)
(1) Hospital da Luz Lisboa
P n.º 0886 
Necrólise epidérmica tóxica a alopurinol - o lado Tema: Doenças cardiovasculares
imprevisto de um fármaco comum
Cristina Correia(1);Juliana Gonçalves(1);Leonor Es-
Introdução: Os trombos da aorta torácica em vaso
caleira(1);Manuela Dias(1);Paulo Chaves(1);Jorge
normal são raros. Localizam-se, preferencialmente,
Almeida(1)
na aorta descendente e são uma causa incomum de
(1) Centro Hospitalar de S. João, EPE
embolização. Podem ser idiopáticos ou secundários
Tema: Outro a estados protrombóticos. Apresentamos um caso
invulgar de trombo móvel da aorta torácica ascen-
dente, manifestado por embolização periférica.
A síndrome de Stevens-Johnson (SJS) e a necrólise
epidérmica tóxica (NET) são reações mucocutâneas
raras mas potencialmente fatais, caracterizadas por Caso clínico: Homem de 48 anos com arrefecimen-
extensa necrose e descolamento espidérmico. Os to, dor, palidez e parestesias na mão e antebraço
fármacos são o principal fator desencadeante, com direitos, sem história de trauma. Apresentava dor
destaque para sulfamidas, anticonvulsivantes, alo- 4/10, diminuição da temperatura, palidez da mão
purinol e anti-inflamatórios. Trata-se de uma doente e antebraço, pulso umeral palpável, pulsos cubital
de 75 anos, sem história de alergias, que recorreu e radial ausentes, sem défice motor. O ecoDoppler
ao serviço de urgência por febre e exantema macu- arterial revelou trombose da artéria umeral direita.
lar eritematoso com lesões em alvo mal definidas, Iniciou hipocoagulação com enoxaparina. Realizou
coalescentes, atingindo face, tronco e membros, angiotomografia computadorizada do pescoço,
incluindo palmas das mãos. Apresentava secreção tórax e abdómen, que identificou defeito de reple-
conjuntival e disfagia com máculas purpúricas na ção endoluminal na aorta ascendente, a montante
cavidade oral. Tinha iniciado há 23 dias alopurinol dos vasos supra-aórticos, compatível com trombo
300 mg por evidência analítica de hiperuricemia, as- móvel com 2 cm de diâmetro, aderente à parede
sintomática, sem história de crises gotosas. Ao exa- da aorta por um fino pedículo. O ecocardiograma
transtorácico não apresentava sinais de fonte car-
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 603
dioembólica. Foram excluídas síndromes mielo- lomatose eosinofílica com poliangeíte, bem como
proliferativas e trombofilias. Dado o risco de novos neoplasias hematológicas. Face ao diagnóstico de
fenómenos embólicos, disseção ou rutura aórtica, SK, destaca-se o subsequente estadiamento adap-
foi submetido a cirurgia para correção do defeito tado às manifestações típicas do SK e premência
aórtico e revascularização do membro superior. de exclusão de outras causas de imunossupressão,
Evoluiu favoravelmente, ficando anticoagulado com sendo discutidas as implicações terapêuticas. Por
varfarina. O estudo anatomopatológico revelou um outro lado, evidencia-se o dilema terapêutico ineren-
trombo pediculado, sem vasculite e sem doença da te ao uso de corticoterapia a longo prazo, sendo o
aorta subjacente. O trombo umeral exibia morfo- SK iatrogénico um exemplo potencialmente grave
logia similar. Após 6 meses de follow up, o doente dos efeitos da mesma. Discutem-se, com base na
encontra-se assintomático. literatura, as principais características fisiopatoló-
gicas e opções terapêuticas face à necessidade de
Discussão: Os trombos murais idiopáticos da aorta encontrar um equilíbrio entre a imunossupressão e
torácica são raros sobretudo na porção ascendente a potencial progressão neoplásica.
e na ausência de alterações locais na parede arte-
rial. Devem ser considerados no diagnóstico dife-
rencial de eventos embólicos. Trombos pediculados P n.º 0895 
e móveis, a montante dos vasos supra-aórticos, Tiroidite de Hashimoto e Colangite Biliar Primaria:
têm maior potencial de embolização para o sistema pior prognóstico?
nervoso central, devendo a remoção cirúrgica ser Catarina Pinto Marques(1);Mónica Spencer Perei-
considerada. ra(1);Ana Rita Rocha(1);Domingas Pereira(1);José
Vaz(1)
P n.º 0890  (1) Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo, EPE /
Sarcoma de Kaposi após corticoterapia em doente Hospital José Joaquim Fernandes
HIV-negativo com pneumonia eosinofílica crónica
Cristina Correia(1);Juliana Gonçalves(1);Leonor Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
Escaleira(1);Manuela Dias(1);Sofia Pereira(1);Jorge culites
Almeida(1)
(1) Centro Hospitalar de S. João, EPE Introdução:
Tema: Doenças oncológicas
A colangite biliar primária (CBP) está frequentemen-
te associada a outras doenças autoimunes, como
A Pneumonia Eosinofílica Crónica (PEC) é uma as da tiroide. A probabilidade de estar associada
doença pulmonar intersticial rara associada a in- com pelo menos outra doença autoimune é superior
filtração alveolar eosinofílica, com significativa a 60%. Caracteriza-se por uma progressiva destrui-
morbilidade e que exige frequentemente corticote- ção dos ductos biliares resultando em colestase e
rapia de longa duração. O Sarcoma de Kaposi (SK) progredindo em estados mais avançados até cirro-
é uma doença angioproliferativa, com 4 variantes: se hepática.
clássica, endémica, relacionada com o síndrome
de imunodeficiência adquirida e associada a imu- Caso Clinico:
nossupressão. Esporadicamente, tem sido descrita
em doentes sob corticoterapia para doenças autoi- Mulher de 49 anos com história conhecida de hi-
munes, pulmonares ou hematológicas. Expõe-se o potiroidismo, medicada com levotiroxina. Recorreu
caso de uma doente de raça negra de 83 anos, com ao serviço de urgência por queda na sequência de
um quadro insidioso de dispneia e tosse, associa- quadro com 1 mês de evolução de letargia, amne-
da a insuficiência respiratória, eosinofilia periférica sia, aumento de peso, edema da face e dos mem-
(48,3%, 0.9 × 10^9 eosinófilos/L), aumento de imu- bros inferiores e sensação de aumento da língua de
noglobulina E (17200ng/ml) e infiltrados periféricos agravamento progressivo. Ao exame objectivo con-
irregularmente distribuídos no raio x tórax. A tomo- firmaram-se os edemas, macroglosia e lentificação
grafia axial computorizada revelou opacidades com psico-motora. Analiticamente apresentava aumento
áreas de vidro despolido subpleurais e o lavado da TSH (10.88 µUl/mL), T4L dentro dos valores
broncoalveolar documentou eosinofilia significa- normais (1.39 ng/dL) e elevação da GGT (186 U/L),
tiva (45%). A doente foi diagnosticada com PEC, FA (197 U/L) e Bilirrubina directa e total (6.26/9.21
iniciou corticoterapia (pulsos de metilprednisolona, mg/dL). Constatou-se que o padrão de colestase já
seguidos de prednisolona 0.5 mg/kg/dia). Manteve tinha longa evolução, sem estudo etiológico prévio.
prednisolona (20-25mg) durante 1 ano, com 2 read- A ecografia da tiroide descreveu dimensões au-
missões hospitalares quando a dose foi reduzida. mentadas, com contornos lobulados, ecoestrutura
Simultaneamente, desenvolveu nódulos violáceos difusamente heterogénea, com vários nódulos mal
nos membros superiores que após biópsia, se cons- definidos, sugestivo de tiroidite. Associava-se fran-
tatou corresponderam a SK, com positividade para co aumento do Anticorpo (Ac.) Antitiroglobulina e
herpesvirus humano 8.Salienta-se, na abordagem Ac. Anti-tiroide peroxidase, a favor de Tiroidite de
diagnóstica descrita, a importância da exclusão de Hashimoto (TH) como causa do hipotiroidismo. A
outras causas de eosinofilia pulmonar, incluindo elevação do padrão de colestase fez suspeitar de
infeções (destacando fungos e parasitas), aspergi- CBP. Ecografia abdominal sem alterações hepáti-
lose broncopulmonar alérgica, sarcoidose, granu- cas. Fibroscan com evidência de cirrose (F4). Ana-

604
E-POSTERS
liticamente Ac. Anti-mitocôndria e Ac. Anti-sp100 Discussion and Conclusion
positivos a favor de CBP. Ajustou-se a dose de levo-
tiroxina e iniciou ácido ursodesoxicólico, com franca SCAD is increasingly recognized as an important
melhoria clinica inclusivamente do cansaço. cause of MI in young (most female) patients, but
its true incidence is unknown and probably un-
Discussão: derestimated. SCAD’s pathogenesis is still being
elucidated, with inside-in and inside-out hypothesis
A CBP normalmente progride para estados mais proposed as possible mechanisms. Fibromuscu-
avançados ao longo de 15 a 20 anos. A sobreposi- lar dysplasia is the most common extra-vascular
ção de CBP com TH, segundo estudos realizados, abnormality and physical or emotional distress the
não parece conferir pior prognóstico ao doente, no most common precipitant factors. Catheterization
entanto, a doente apresentada à data do diagnósti- remains the gold-standard diagnosis modality, with
co de CBP evidenciava já cirrose. LAD being the most common dissected artery. The
role of other diagnosis modalities such as CCTA or
Embora a CBP seja considerada uma doença rara, cardiac magnetic imaging is still not known. Con-
à luz dos conhecimentos actuais, realçamos a im- servative therapy remains the first-line therapy, with
portância de suspeitar desta doença na presença doubts regarding which is the best medical therapy.
de aumento dos padrões de colestase hepática The authors present a case of SCAD treated with
sem outra causa aparente. O início atempado de SAT besides doubts on its diagnosis and treatment,
terapêutica pode atrasar a progressão para cirrose and urge the need to better recognize and study this
hepática. nebulous entity.
P n.º 0904  P n.º 0908 
TEARS IN HAZE – TIME CAN BREAK YOUR HEART SIADH e pseudo-acalásia como manifestações
Bernardo Vidal Pimentel(1);Luis Landeiro(1);Francis- inaugurais de neoplasia pulmonar
co Laranjeira(1);Tiago Neto Gonçalves(1);Margarida Ângela Almeida(1);Anabela Carvalho(1);Ussumane
Nascimento(1);Filipa Rocha(1);Jorge Correia(1);Gil Embaló(1);Helena Sarmento(1);Jorge Cotter(1)
Prazeres(1);Rui Marques Costa(1);Pedro Moraes (1) Hospital Senhora da Oliveira, Guimarães
Sarmento(1)
(1) Hospital da Luz Lisboa Tema: Doenças oncológicas
Tema: Doenças cardiovasculares
A síndrome de secreção inapropriada de hormona
antidiurética (SIADH) pode estar presente em várias
Introduction entidades, como seja contexto paraneoplásico, pelo
que a sua etiologia deve ser diligentemente inves-
Spontaneous coronary artery dissection (SCAD) is a tigada, principalmente se na presença de outros
non-traumatic and non-iatrogenic coronary arterial achados, como sintomas constitucionais importan-
wall rupture, and a rare but increasingly recognized tes.
cause of acute coronary syndrome (ACS).
Masculino, 71 anos, fumador, com perda ponde-
Case-report
ral involuntária de 5% em 6 meses e astenia com
A 54-year-old man with no relevant previous heal- 4 meses de evolução. Referia episódios de tos-
th conditions besides obesity was admitted for a se não produtiva esporádica de longa data, sem
new-onset chest pain with typical anginous charac- agravamento recente. Documentada hiponatremia
teristics. At presentation he was hemodynamically hiposmolar euvolémica, cujo estudo etiológico foi
stable with no remarkable findings at the physical inconclusivo, tendo alta sob seguimento em consul-
exam. The electrocardiogram (ECG) revealed a nor- ta externa de Medicina Interna. Após 6 meses, ma-
mal sinus rhythm with no abnormalities, the labora- nutenção de astenia, em agravamento progressivo,
tory workup an elevated Troponin I (4.2ug/L) and the e perda ponderal involuntária quantificada em 30%
transthoracic echocardiogram an apical septal and em 1 ano, apresentando também parestesias de
lateral left ventricular hypokinesia. ACS due to myo- mãos e pés, anorexia franca e disfagia para sólidos
cardial infarction (MI) without ST-elevation (NSTE- e líquidos, já avaliado endoscopicamente e sem al-
MI) was admitted, and a catheterization (CAT) was terações. Detetada recorrência de hiponatremia, in-
planned. CAT revealed a left anterior descendent terpretada como provável SIADH de etiologia ainda
(LAD) artery with a diffuse stricture pattern without a esclarecer. Do estudo efetuado em internamento,
atherosclerotic plaques nor traces of dissection, evidência de acalásia grave e polineuropatia de tipo
which didn’t change after intracoronary nitrates ad- axonal, bem como lesão expansiva suspeita em TC,
ministration, suggesting a spontaneous intramural ao nível de T5, com invasão intracanalar, confirmada
LAD hematoma. A SCAD was admitted, and a single por RMN e submetida a biópsia, que foi inconclusi-
antiplatelet therapy (SAT) strategy was initiated af- va. Após realizar PET-FDG com captação anómala
ter multidisciplinary discussion. Of note, the patient pulmonar e paravertebral, repetiu biópsia da mesma
confessed a present grief experience due to his lesão, mostrando neoplasia com características de
sisters’ recent death, which have been continually carcinoma pulmonar de células pequenas (CPPC)
causing a great emotional distress. com perfil imunocitoquímico de mau prognóstico.

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 605


Durante internamento desenvolveu compromisso Conclusão: Discute-se a possibilidade da introdução
medular e intercorrência infeciosa nosocomial, evo- do lisinopril como factor que contribui para exacer-
luindo rapidamente para desfecho fatal 2 anos após bação da doença. Discute-se também a possibilida-
início do quadro clínico. de de neoplasia cólica como fator contributivo para
eritrodermia. Destaca-se a necessidade de reconhe-
O CPPC pode manifestar-se como síndrome para- cimento e intervenção precoce nestas situações
neoplásico inaugural, no qual se incluem SIADH, dis- tendo em conta a sua gravidade.
funções neurológicas e síndromes de dismotilidade
gastrointestinal como pseudo-acalásia. Ao contrário P n.º 0912 
da SIADH, que é um fenómeno comum neste con- Parasitose endémica: uma realidade esquecida.
texto, associando-se a pior prognóstico em caso Bernardo Pereira(1);Joana Rabaçal(1);Teresa Ro-
de CPPC, a pseudo-acalásia paraneoplásica é uma mão(1);Isabel Madruga(1)
entidade rara, que aparece reportada especialmente (1) Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE /
em casos de CPPC, acreditando-se que seja imuno- Hospital Egas Moniz
mediada. Deste modo, é imperativa uma investiga-
ção exaustiva de achados compatíveis com síndro- Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
me paraneoplásico pelas implicações diagnósticas
e terapêuticas que tem. Introdução: O Ancylostoma duodenale (Ad.) e o
Strongyloides stercoralis (Ss.) são dois nemátodos
P n.º 0911  parasitas do intestino humano. A sua distribuição
Psoríase eritrodérmica - um caso clínico geográfica, predominantemente tropical, e o seu ca-
Leonor Gouveia Simões(1);Jandira Lima(1);Rui San- rácter frequentemente assintomático faz com que
tos(1);Armando Carvalho(1) estas parasitoses sejam muitas vezes esquecidas.
(1) Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra /
Hospitais da Universidade de Coimbra
Caso Clínico: Mulher de 55 anos, natural de São
Tema: Outro Tomé e Príncipe, residente em Portugal há 2 anos,
com quadro de astenia, anorexia e perda ponderal
Introdução: A psoríase eritrodérmica é uma derma- com 1 ano de evolução. Dos antecedentes desta-
tite exfoliativa com grande potencial de gravidade. cam-se as más condições de habitação em ambien-
Esta caracteriza-se por eritema que envolve mais te rural. No exame objectivo apresentava-se muito
de 75 a 90% da superfície corporal e que pode ser emagrecida, pálida, edemaciada e taquicárdica.
despoletada por diversos fatores. Apresenta-se o A avaliação laboratorial evidenciava uma anemia
caso de uma doente com eritema generalizado com normocítica grave (hemoglobina de 3,8 g/dL) com
evolução para choque. anisocitose acentuada e múltiplos défices iónicos,
proteicos e vitamínicos. A presença de lesões de
duodenite, com a identificação de Ss. em biópsia
Caso Clínico: Mulher, 78 anos, com antecedentes de duodenal e o isolamento no exame parasitológico
psoríase, medicada com acitretina e corticoterapia das fezes de Ss. e Ad. permitiram que se estabe-
tópica, e hipertensão arterial recentemente medi- lecessem os diagnósticos de ancilostomíase e
cada com lisinopril e hidroclorotiazida, admitida no estrongiloidíase. A par do suporte transfusional e
serviço de urgência por eritema difuso com atingi- nutricional, a doente fez terapêutica antiparasitá-
mento de toda a superfície corporal, poupando ape- ria contra o Ad. (Albendazol) e o Ss. (Ivermectina),
nas palmas e plantas, com descamação em gran- apresentando na reavaliação após 3 meses: ausên-
des retalhos, conjuntivite sicca bilateral e mucosite. cia de sintomas, resolução dos défices nutricionais
À admissão encontrava-se hipotensa, com hipoter- e ganho ponderal, não sendo identificáveis parasitas
mia e má perfusão periférica. Por hipotensão refra- nas fezes.
tária houve necessidade de suporte aminérgico, de-
senvolvendo consequentemente necrose seca distal Discussão: A ancilostomíase e a estrongiloidíase
dos dedos das mãos. É internada, com choque são importantes causas de morbimortalidade em
distributivo com disfunção multiorgânica. Apesar da regiões endémicas. O seu carácter indolente leva
melhoria inicial, com resolução quase completa do a que a infecção persista  durante vários anos,
eritema, existiu agravamento clínico, iniciando dor à “consumindo” o hospedeiro até um ponto de ruptu-
descompressão da fossa ilíaca direita e febre, com ra, que no caso da doente apresentada, apesar do
elevação de parâmetros inflamatórios. Neste senti- diagnóstico tardio e quadro exuberante, foi ultra-
do, realizou tomografia computadorizada abdominal passado.  Pretende-se assim realçar: a importância
que revelou presença de abcesso no espaço retro- das referidas parasitoses no diagnóstico diferencial
peritoneal e goteira parietocólica direita em possível da anemia associada a síndrome constitucional no
relação com fistulização entérica ou processo de doente oriundo dos trópicos, a utilidade do exame
necrose intestinal. Foi colocado dreno e a doente parasitológico das fezes na prática clínica e a rele-
foi transferida para o serviço de cirurgia geral para vância que a biópsia duodenal pode ter na identifi-
eventual intervenção cirúrgica. A doente encontra- cação de Ss.
-se a evoluir favoravelmente, contudo, ainda sem
resolução completa do quadro. P n.º 0913 
Pneumomediastino Espontâneo em Doente com

606
E-POSTERS
COVID-19 Uma fratura, múltiplas causas
Inês Parreira(1);Valeria Maione(1);Pedro Gas- Catarina Regala(1);Alexandra Montenegro(2);José
par(1);Leila Duarte(1);Hélder Diogo Gonçalves(1);- Leão Mendes(2);Miguel Nunes(2);Francisca Mar-
Sérgio Bronze(1);Filipa Reis(2);Federica Parla- tins(2);Rui Malheiro(2)
to(1);Carolina Carreiro(1);Filipe Bessa(1);Catarina (1) IPO Lisboa (2) Centro Hospitalar de Lisboa Cen-
Mota(1);Sandra Braz(1) tral, EPE / Hospital de Santo António dos Capuchos
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi-
tal de Santa Maria (2) Centro Hospitalar de Lisboa Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio-
Norte, EPE / Hospital Pulido Valente nais

Tema: Doenças infecciosas e parasitárias Introdução:

Introdução: A osteoporose, caracterizada pela diminuição da


massa óssea e deterioração da arquitetura do osso,
O pneumomediastino pode ser classificado em é uma entidade frequentemente subdiagnosticada
primário ou secundário, este último quando resul- e subtratada. Existem múltiplos fatores que au-
tante de causas traumáticas, não traumáticas ou mentam o risco de fraturas de fragilidade, como a
iatrogénicas. Tem vindo a ser descritos casos de Diabetes mellitus (DM) e a exposição excessiva a
pneumomediastino em doentes com COVID-19, sem glucocorticoides.
doença pulmonar conhecida ou uso de ventilação
mecânica. Apresentamos um caso de pneumome- Caso clínico:
diastino em doente com diagnóstico inaugural de
Pneumonia a SARS-CoV-2. Homem de 66 anos, com antecedentes de DM tipo
1, Arterite de Células Temporais e Polimialgia Reu-
Caso Clínico: mática. Iniciou corticoterapia sistémica com predni-
solona 40mg, seguida de introdução de metotrexato
Homem de 44 anos, sem antecedentes pessoais e, posteriormente, tocilizumab por falência terapêu-
relevantes, não-fumador, admitido por quadro tica. Verificou-se um aumento ponderal de 20 kg e
com uma semana de evolução de cansaço, sem um maior descontrolo metabólico. Após 1 ano de
outra sintomatologia acompanhante. À observa- corticoterapia, sofreu uma queda, com fratura de
ção, taquipneico, com SpO2 92%, à auscultação L1 e do ramo isquiopúbico esquerdo, ambas sub-
pulmonar com crepitações dispersas. Gasimetria metidas a tratamento conservador, e sem posterior
a documentar insuficiência respiratória tipo I. La- seguimento. Em fevereiro de 2021 é internado por
boratorialmente com leucocitose (12000x10^9/L), quadro de dor lombar incapacitante. Ao exame físi-
neutrofilia (10900x10^9/L), linfopénia (400x10^9/L), co objetivava-se fácies cushingóide, eritema malar,
PCR 20.7mg/dL e pO2 66mmHg. Dado contexto epi- obesidade central e acumulação de gordura nas re-
demiológico efectuou exsudado nasofaríngeo para giões supraclavicular e cervical dorsal. Apresentava
SARS-CoV-2 que se revelou positivo. Realizou tomo- também equimoses nos locais de administração de
grafia de toráx que documentou pneumomediastino insulina e lesões estriadas nas pernas. Foi realizada
moderado com extensão desde a base torácica uma RM dorso lombar que para além das fraturas
até à região cervical com moderado volume de ar antigas, revelou uma fratura recente em D8. Na
envolvendo a traqueia, o esófago e grandes vasos; densitometria óssea (DSO) tinha redução da massa
assim como extensas opacidades em vidro despo- óssea (T-score fémur -2.0 e T-score L1 -1.9). Iniciou
lido bilaterais. Iniciou oxigenoterapia e tratamento tratamento com ácido zoledrónico e suplementação
conservador para o pneumomediastino. Ao 10º dia com cálcio e vitamina D, e foi feita redução progres-
de internamento com reavaliação imagiológica, com siva da dose de glucocorticoide.
reabsorção completa do pneumomediastino.
Discussão:
Discussão:
Este caso alerta-nos para a importância do rastreio
De acordo com a literatura, doentes com COVID-19 e implementação de medidas de prevenção em
têm mais incidência de barotrauma associado doentes com fatores de risco para osteoporose.
a ventilação invasiva quando comparados com Tanto na Síndrome de Cushing como na DM tipo 1
Síndrome de Dificuldade Respiratória Severa se- existem alterações na microarquitetura óssea, que
cundária a outras patologias. Mais ainda, parece levam à ocorrência de fraturas de fragilidade com
haver um risco aumentado de pneumomediastino e valores normais na DSO. Embora os bifosfonatos
pneumotoráx associado ao dano alveolar difuso ca- sejam o tratamento de 1ª linha, a PTH intermitente
racterístico da doença. Os autores apresentam um pode ser mais benéfica em doentes com fraturas
caso de pneumomediastino espontâneo em doente vertebrais prévias.
com Pneumonia a SARS-CoV-2 não ventilado, enfa-
tizando a importância de reconhecer este risco nas P n.º 0925 
estratégias de ventilação não invasiva e invasiva a Meningite por VZV como complicação de zona do
utilizar. trigémio
Ângela Almeida(1);Elisabete Ribeiro(1);Ussumane
P n.º 0922  Embaló(1);Helena Sarmento(1);Jorge Cotter(1)

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 607


(1) Hospital Senhora da Oliveira, Guimarães cortisol, que se manifesta com hipertensão, diabe-
tes, obesidade e osteoporose, na ausência dos es-
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias tigmas do S. Cushing.

A infeção pelo vírus varicela-zoster (VZV) é comum Caso clínico:


e geralmente apresenta-se como primo-infeção em Os autores apresentam o caso de uma mulher de
idade pediátrica. O vírus mantém-se posteriormente 74 anos internada com um quadro de dispneia, per-
quiescente e em algumas circunstâncias, mesmo fil tensional alto, edemas periféricos e toracalgia
em indivíduos imunocompetentes, pode haver rea- em repouso com 1 mês de evolução. Verificou-se:
tivação levando ao aparecimento de uma erupção D-dímeros de 1084ng/mL, LDH 962U/L e de PCR
vesicular restrita a um dermátomo - zona. Embora 2.36mg/dL, marcadores de necrose miocárdica e
seja maioritariamente uma infeção benigna, esta BNP negativos, função tiroideia e renal normais;
pode associar-se a complicações, nomeadamente ECG em ritmo sinusal e radiografia do tórax com
com atingimento do sistema nervoso central (SNC), hipotransparências nodulares bilaterais. Dos ante-
manifestando-se como ataxia da marcha, náuseas, cedentes, destacava-se um adenoma da suprarre-
vómitos, cefaleias e por vezes letargia. nal direita com 18mm. Na última TC abdominal de
controlo, cerca de 10 meses antes, percebia-se um
Masculino, 66 anos, hipertenso, apresenta-se com nódulo de novo com 15mm adjacente e com carac-
lesões vesiculares no dermátomo V3 do trigémio terísticas semelhantes ao adenoma já conhecido,
direito, sem acometimento do ouvido externo, com que não foi valorizado. Realizou-se, então, TC-TAP
5 dias de evolução, tendo iniciado em ambulatório onde se observou uma formação heterogénea no
valaciclovir 1gr 8/8h. Recorre ao serviço de urgên- polo superior do rim direito, com 12.9 cm de diâ-
cia ao 2º dia de tratamento por desequilíbrio da metro, múltiplas massas bilaterais pulmonares e
marcha, náuseas, vómitos, palidez e hipersudorese mediastínicas e aparente invasão vascular local. O
com 24 horas de evolução. Ao exame neurológico, ecocardiograma mostrou uma massa heterogénea
objetivada parésia facial do terço inferior direito, e de 38x24mm na aurícula direita. Efetuou-se biópsia
à otoscopia a referir hipersensibilidade com dor à da massa suprarrenal direita, confirmando o diag-
manipulação do otoscópio à direita. Estudo analíti- nóstico de carcinoma cortical da suprarrenal com
co, electrocardiográfico e imagiológico cerebral sem metastização pulmonar e cardíaca.
alterações. Realizou punção lombar, tendo o líquor
sido compatível com meningite vírica, com positi- A doente apresentou uma evolução desfavorável
vidade para VZV. Colhida serologia vírica, também com disfunção respiratória, perfil tensional alto de
positiva para VZV. Iniciou terapêutica com aciclovir difícil controlo e edemas refratários, acabando por
endovenoso, que cumpriu durante 10 dias, com me- falecer.
lhoria clínica e resolução completa dos sintomas.
Conclusão:
Apesar de pouco comum em indivíduos imunocom-
petentes, a meningite por VZV é uma complicação Os carcinomas da suprarrenal, apesar de raros,
conhecida da sua reativação e pode acarretar se- apresentam uma clínica insidiosa. Perante um inci-
quelas pelo que deve ser diagnosticada e tratada. dentaloma, é necessário um controlo imagiológico
Quando ocorre concomitantemente com a erupção e hormonal estreito, para uma intervenção possivel-
vesicular o diagnóstico torna-se mais fácil, mas, vis- mente modificadora de prognóstico.
to que as manifestações neurológicas podem pre-
P n.º 0929 
ceder ou mesmo suceder o rash em até 2 semanas,
Mononeuropatia Peroneal Diabética
é necessária uma anamnese detalhada e um senso
Henrique José da Costa Pina(1);Sofia Pimente-
clínico apurado para se aturar de forma oportuna.
l(1);Rita Jorge(1);Ana Rita Ambrósio(1);Joana de
P n.º 0926  Oliveira(1);Fernando Martos Gonçalves(1);José
Insuficiência Cardíaca Aguda – Uma apresentação Araújo(1)
atípica de um carcinoma da suprarrenal (1) Hospital Beatriz Ângelo
Dra. Barbara Oliveira(1);Mariana da Silva Leal(1);Tia-
Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio-
go Valente(2);Mariana Sousa(1);Rosa Jorge(1)
nais
(1) Centro Hospitalar do Baixo Vouga / Hospital In-
fante D. Pedro, EPE (2) Centro Hospitalar do Baixo
Vouga / Hospital Infante D. Pedro Apresenta-se o caso de um homem, 66 anos, com
Diabetes Mellitus tipo 2 com 8 anos de evolução,
Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio- mau controlo metabólico prévio (HbA1c 9,0%), Hi-
nais pertensão Arterial, Dislipidémia e Obesidade (IMC
32). Medicado com metformina + vildagliptina
Introdução: 1000+50 mg, sinvastatina 20 mg, lisinopril 20 mg e
acarbose 50 mg, com baixa adesão à terapêutica.
Da totalidade dos incidentalomas suprarrenais,
apenas 2-5% serão carcinomas primários. Dos res- Internado por pneumonia por SARS-CoV-2 com
tantes, 10-15% apresentam secreção autónoma de extensão grave e necessidade de admissão em uni-

608
E-POSTERS
dade de cuidados intensivos para início de suporte ral.
ventilatório não invasivo. Instituída ainda corticote-
rapia sistémica com dexametasona 12mg/dia. Internado no Serviço de Medicina por astenia,
cansaço fácil e agravamento de edema periférico
Verificado descontrolo glicémico importante (glicé- após incremento da terapêutica diurética na dose
mia >400 mg/dL persistente) tendo necessitado de máxima tolerada. Ao exame objetivo apresentava
perfusão de insulina. Transferido para a enfermaria hipertensão, ginecomastia, edema acentuado da
após estabilização. Ao 11º dia de internamento, ins- parede abdominal e dos membros inferiores, rash
talação súbita de incapacidade para dorsiflexão do papular e pruriginoso na região anterior do tronco.
pé direito, sem alterações da força noutros segmen- Nos exames complementares apresentava panci-
tos. Reflexos osteotendinosos fracos. Sem altera- topenia de novo [(anemia normocítica (Hb 10.4g/
ções da sensibilidade álgica exceto na face interna dL), leucopenia (2.1x109/L) e trombocitopenia (55
do 1º dedo do pé direito. x109/L)]. Elevação da VS (>120mm/h), excreção de
proteínas em faixa nefrótica (13,577g) na urina de
Realizada Tomografia Computorizada Lombar 24H. A eletroforese de proteínas com pico em β,
e Ressonância Magnética do joelho direito, que base alargada de γ e a imunofixação apresentava
não evidenciaram alterações justificativas do bandas oligoclonais na cadeia λ e a β2-microglobu-
quadro; fez Eletromiografia (EMG) que demonstrou lina aumentada (6.81mg/L).  PET-SCAN a favor de
neuropatia bilateral dos medianos, neuropatia do doença linfoproliferativa com esplenomegalia. 
peroneal profundo direito entre o escavado popliteu O diagnóstico de HCL foi confirmado por imuno-
e cabeça do perónio e sinais de compromisso fenotipagem de medula óssea. O doente iniciou a
neurogéneo crónico nos territórios L3-4 e L5-S1 à quimioterapia com Cladribina. Apesar de inicio de
esquerda. terapêutica dirigida o doente faleceu de complica-
ções com pancitopenia grave e choque séptico com
O doente iniciou reabilitação motora com recupera- bacteriemia a Pseudomonas Aeruginosa.
ção progressiva da marcha.
Conclusão: A HCL tem uma elevada taxa de respos-
A Síndrome do Pé Pendente é uma entidade com ta completa aos análogos das purinas, inibidores da
várias etiologias, muitas vezes multifatorial. Neste BRAF e às imunotoxinas recombinantes, apresen-
doente, a existência de uma diabetes mellitus pro- tando uma longa sobrevida. Apesar de não existir
longada e não tratada levou ao desenvolvimento um sistema internacional de prognóstico foram con-
de uma neuropatia diabética generalizada. O stress siderados como fatores de mau prognóstico o grau
associado à infeção por SARS-CoV-2 em associa- da citopénia (Hb<10g/dL; plaquetas<100x109/L e
ção com a corticoterapia em alta dose utilizada neutrófilos <1x109/L) e a presença de adenopatias.
condicionaram hiperglicémias difíceis de controlar, As infeções são uma das principais causas de mor-
que por sua vez, precipitaram uma mononeuropatia te associada a esta entidade.
diabética periférica aguda do nervo peroneal profun-
do. Destacamos este caso pelo evidente contributo P n.º 0942 
da descompensação metabólica para a instalação Fibrinólise extra hospitalar – Movimento de ousa-
do défice neurológico súbito. dia
Miguel Carias(1);Francisco Cláudio(1);Rita Ro-
P n.º 0932  cha(1);Mafalda Carrington(1);João Pais(1);Rui Guer-
Tricoleucemia - a propósito de um caso clínico reiro(1);Ângela Bento(1);Manuel Trinca(1)
Rita Calixto(1);Mariana Nápoles(1);Maryna Tely- (1) Hospital do Espírito Santo, EPE, Évora
chko(1);Quintino Biague(1);José Vaz(1)
(1) Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo, EPE / Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente crí-
Hospital José Joaquim Fernandes tico
Tema: Doenças oncológicas
Introdução
A Tricoleucemia (HCL) é uma neoplasia linfoprolife-
rativa crónica de células B, rara, com apresentação A realização de trombólise extra hospitalar em con-
na quinta década de vida e com prevalência no sexo texto de paragem cardiorrespiratória (PCR) não é
masculino. sistematicamente recomendada. No entanto, em
situação de life saving pode ter beneficio, dado que
a etiologia deste evento tem frequentemente causa
A apresentação clínica caracteriza-se por citopé- trombótica.
nias, esplenomegalia e sintomas inespecíficos. O
diagnóstico é feito pela imunofenotipagem de me- Caso clínico
dula óssea por citometria de fluxo, e identificação
de uma população que habitualmente expressa os Homem de 69 anos, de antecedentes pessoais hi-
antigénios CD11c, CD25 e CD103 e está frequente- pertensão arterial, dislipidemia e excesso de peso,
mente presente a mutação BRAFV600E.  apresentou um episódio de dor precordial intensa
Os autores apresentam o caso de um homem, 54 de carácter opressivo com irradiação para o mem-
anos, com antecedentes de diabetes tipo 2, obesi- bro superior esquerdo. Sem alívio dos sintomas no
dade, osteoartropatia neuropática de Charcot bilate- repouso. Quando a equipa médica de emergência

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 609


chegou ao local o doente encontrava-se bradipnei- Caso Clínico: Paciente do sexo masculino de 24
co, tendo evoluído em PCR no contexto de fibrilha- anos, recorre ao serviço de urgência por febre, diar-
ção ventricular. Iniciou-se suporte avançado de vida reia e dor abdominal com 3 dias de evolução. Anali-
e o doente manteve-se em manobras por 22 ciclos, ticamente com evidência de elevação dos parâme-
tendo sido desfibrilhado 11 vezes, sem sucesso. tros inflamatórios sistémicos. Ecografia abdominal
Em situação de life-saving, foi decidido em equipa com evidência de espessamento ileal. Após pri-
médica a realização de trombólise no local com meira suspeita de apendicite aguda, que não se
tenectplase e o doente teve recuperação da circula- confirmou, o paciente desenvolve quadro hiperin-
ção espontânea (RCE). O eletrocardiograma (ECG) flamatório com febre persistente e múltiplas lesões
realizado após RCE demonstrou ritmo sinusal, com de órgão alvo: respiratória, cardiovascular, digestiva,
elevação do segmento ST em D1 e aVL e infrades- hematológica e mucocutânea. Na investigação não
nivelamento do mesmo de V1 a V3. Foi admitido foi possível o diagnóstico de uma etiologia especí-
enfarte póstero-lateral e transferiu-se o doente para fica (autoimune, neoplásica ou infeciosa). A infeção
o hospital com serviço de hemodinâmica mais pró- passada por SARS-CoV-2 foi comprovada pela pre-
ximo para realizar cateterismo cardíaco. sença de anticorpos (IgG positivo). Assim, foi feito
um diagnóstico de presunção de MIS-A, tendo sido
A coronariografia não evidenciou lesões angiografi- iniciada terapêutica com corticoide sistémico com
camente significativas. franca melhoria clínica e analítica. Em reavaliações
a 1 e 3 meses após a alta o doente encontrava-se
O doente foi internado, assistindo-se a normaliza- assintomático, com resolução analítica completa
ção do segmento ST e a uma descida sustentada das múltiplas disfunções e dos marcadores inflama-
do valor sérico de troponina. tórios.
O doente não mostrou novo episódio de precordial- Discussão: O síndrome inflamatório multissistémico
gia ou equivalente anginoso e teve alta hospitalar. do adulto é uma entidade ainda largamente desco-
nhecida, sem critérios de diagnóstico específicos
Discussão
ou diretrizes terapêuticas. Muito do que se sabe é
A realização de trombólise extra hospitalar, sem sa- inferido pela informação acumulada sobre o MIS-C.
ber o motivo de PCR acabou por ter um papel fulcral Existe uma série de casos reportados com gravida-
na reversão do quadro, contribuindo para um outco- de diversa, desde a ligeira à severa. A fisiopatologia
me favorável neste doente. deste fenómeno mantém-se uma incógnita. É ne-
cessária mais evidência de qualidade para estabele-
A normalização do segmento ST e a resolução do cer o diagnóstico e definir tratamento.
quadro clínico de precordialgia, sem novos episó-
dios semelhantes após esta abordagem constituem P n.º 0948 
critérios de efetividade da trombólise realizada. Proteinúria nefrótica de origem infrequente
Ana Catarina Varandas Rodrigues(1);Ruben Rai-
Segundo estudos publicados, tendo em conta que mundo(2);Lorena Lozano(1);Juan Alba Gil(1);Juan
70-90% das PCR’s extra hospitalares são de etiolo- Urbano(1)
gia trombótica, nomeadamente tromboembolismo (1) Unidade Local de Saúde do Norte Alentejano -
pulmonar e trombose coronária com enfarte agudo Hospital Santa Luzia de Elvas (2) Unidade Local de
do miocárdio, pode ser legítimo iniciar trombólise Saúde do Norte Alentejano - Hospital de Portalegre
em situação de life saving neste contexto, apesar
das possíveis complicações hemorrágicas que pos- Tema: Doenças renais
sam ocorrer.
Introdução:
P n.º 0945 
Síndrome inflamatório multissistémico associado à
COVID-19 num jovem adulto A amiloidose de cadeias leves AL (amiloidose pri-
Francisco Pombo(1);Carolina Seabra(1);Bárbara mária) é uma doença que se caracteriza pela supe-
Silva(1);Marina Mendes(1);Ana João sá(1);Inês Fer- rexpressão adquirida de cadeias leves de imuno-
reira(1) globulina clonal. Pode ocorrer de forma isolada ou
(1) Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, EPE / estar associada a doença linfoide clonal tal como o
Hospital Padre Américo, Vale do Sousa mieloma múltiplo e a macroglobinémia de Waldens-
trom.
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
Caso clínico:
Introdução: A síndrome inflamatória multissistémi- Homem de 62 anos de idade com antecedentes
ca das crianças (MIS-C), relacionado com infeção pessoais de trombose da veia mesentérica superior
por SARS-CoV-2 passada, foi descrita numa série de no contexto de mutação do factor V de Leiden e
casos no início da pandemia por SARS-CoV-2. Existe Jak2 positivo.
evidência crescente de uma entidade semelhante
em adultos (MIS-A). Neste caso clínico reportamos Doente internado a partir da consulta por cansaço
um jovem adulto com uma síndrome hiperinflamató- para pequenos esforços, ascite volumosa e edemas
ria sistémica e infeção recente por SARS-CoV-2. dos membros inferiores.
610
E-POSTERS
No internamento foram realizados exames laborato- disfonia e tosse persistente com cerca de 6 meses
riais, imunes, serologicos e de imagem. de evolução.
Destaca-se a presença de proteinuria nefrótica de
13,6 gr/24h. Eletroforese de proteinas normal.  Caso Clínico: Homem de 60 anos, com anteceden-
tes de DPOC estadio 4D, silicose, bronquiectasias,
A ressonância magnética abdomino-pelvica revelou tabagismo cessado, diabetes mellitus tipo 2 e dis-
“ transformação cavernomatosa da veia porta e veia lipidemia, acompanhado em consulta de Pneumo-
mesentérica superior que apresenta um calibre fino logia e Cuidados Paliativos, recorre ao serviço de
e com pequenos colaterais sinuosos adjacentes (…) urgência com queixas de agravamento do padrão
ascite de moderado volume, aspectos que indiciam habitual de dispneia, disfonia e tosse persistente
a presença de hipertensão portal.” com cerca de 6 meses de evolução. Acresce sen-
sação de corpo estranho na laringe. Trata-se de um
Os estudo imunes e serológicos que foram negati- doente com múltiplas recorrências ao serviço de
vos. urgência sempre interpretadas em contexto de agu-
dização. Internado no serviço de Medicina Interna
Perante a hipótese de se tratar de uma nefropatia o para controlo sintomático. Durante o internamento
doente realizou biópsia renal que revelou a presen- o doente desenvolve quadro de hipersudorese no-
ça de deposição mesangial e parietal de material turna e febre de predomínio vespertino. Avaliado por
amorfo, que cora com vermelho congo e apresenta Otorrinolaringologia (ORL) e realizada videolaringos-
birrefringência à luz polarizada. Pesquisa de subs- copia que mostrou massa úlcero-vegetante locali-
tancia amiloide positiva. Imunofluorescencia com zada na corda vocal direita. Realizado lavado bron-
depósitos lambda, pesquisa de AA negativa. coalveolar com pesquisa de DNA do Mycobacterium
tuberculosis positiva. Iniciada terapêutica antibacilar
Realizou RM cardiaca com evidência de hipertrofia com franca melhoria clínica. Em reavaliação, 3 se-
ventricular esquerda por depósito de amilóide. manas após início de terapêutica, lesão laríngea
praticamente resolvida. Desta forma, assumiu-se
Concluiu-se assim que o doente apresenta uma o diagnóstico de tuberculose laríngea. Apesar de
amiloidose AL com afectação renal e cardíaca. melhoria clínica, o doente manteve sensação de
corpo estranho, interpretado por ORL como caso de
Neste momento está sob terapêutica com corticoi-
globus faríngeo.
de e melfalano com escassa resposta terapêutica.
Discussão: A tuberculose é a grande imitadora, devi-
Conclusão:
do ao seu envolvimento multissistémico com sinais
Este caso demonstra a complexidade diagnóstica e sintomas muito diversos que mimetizam patolo-
de um doente com diversas comorbilidades e com gias dos orgãos envolvidos. O atingimento laríngeo
sintomas pouco específicos que abrem ainda mais é raro em países desenvolvidos devida à baixa
o leque de diagnósticos diferenciais. incidência da infeção e ao seu habitual diagnóstico
célere. Neste caso, apresentamos um paciente com
Estima-se que 50% dos doentes com amiloidose patologia crónica grave, com seguimento paliativo,
apresenta sintomas específicos de atingimento com sinais e sintomas sobreponíveis entre patolo-
renal, cardíaco, autonómico e neuropatia periférica gias. Este caso reforça a importância da valorização
sensorio-motor, no entanto, e dada a afectação de das queixas do paciente, mesmo em estadio termi-
múltiplos orgãos as manifestações podem ser mais nal, uma vez que se pode fazer a diferença quanto à
vagas tais como fadiga, edemas, perda ponderal. qualidade de vida do doente.
A sobrevida mediana é inferior a 1 ano dada a afec-
tação cardíaca. P n.º 0963 
Infeção por SARS-CoV-2 num doente com Distrofia
P n.º 0959  Miotónica tipo 1
Tuberculose laríngea: um caso clínico Ana Abrantes(1);Carolina Ramos(1);Maria José Pi-
Francisco Pombo(1);Carolina Seabra(1);Bárbara res(1);Carolina António Santos(1);Liliana Santos(1);-
Silva(1);Miguel Monteiro(1);Marina Mendes(1);Ana Frederico Trigueiros(1);António Pais de Lacerda(1)
João sá(1);Inês Ferreira(1) (1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi-
(1) Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, EPE / tal de Santa Maria
Hospital Padre Américo, Vale do Sousa
Tema: Doenças respiratórias
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
Introdução: A Distrofia Miotónica tipo 1 (DM1) é
Introdução: A tuberculose laríngea é uma apresen- uma doença multissistémica caracterizada por mio-
tação rara da doença. Pode ter origem primária tonia, alterações da condução cardíaca e fraqueza
na laringe ou origem secundária por via bronco ou muscular esquelética e respiratória gradualmente
hematogénica. Apresenta-se concomitante, na sua progressiva. As complicações respiratórias são co-
grande maioria, com tuberculose pulmonar. Trata-se muns nos doentes com DM1. O impacto da infeção
da apresentação da doença mais contagiosa. Neste por SARS-CoV-2 em doentes com DM1 ainda é pou-
caso apresentamos um paciente com queixas de co conhecido.

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 611


Caso clinico: Doente do sexo masculino, 49 anos, Ecografia mamária inconclusiva e biópsia ecoguia-
residente em lar, com antecedentes de miopatia de da com evidência de mastite granulomatosa. Como
etiologia desconhecida associada a défice cogni- complicação apresentou celulite mamária com
tivo e dislipidémia. Admitido por quadro de febre, formação de múltiplos abcessos a motivar inter-
tosse e dispneia com 2 dias de evolução. Realizada namento no serviço de Cirurgia Geral com neces-
pesquisa de SARS-CoV-2 por RT-PCR com resultado sidade de drenagem cirúrgica. Do estudo efetuado
positivo e tomografia computorizada de tórax que destaca-se anemia hipoproliferativa de doenças
identificou focos bilaterais de densificação em vidro crónicas, VS 96mm, PCR 52mg/L e estudo autoi-
despolido e condensação da base direita. Assumida mune e serológico para infeções crónicas negativo.
Pneumonia a SARS-CoV-2 com sobreinfeção bacte- IGRA negativo. Estudo bacteriológico e micobacte-
riana a condicionar insuficiência respiratória parcial, rológico de lesão abcedada negativos. Iniciada tera-
tendo iniciado oxigenoterapia por óculos nasais a pêutica com prednisolona e metotrexato com franca
2l/min, antibioterapia com amoxicilina+ácido clavu- melhoria clínica e analítica. Estudo imagiológico do
lânico e azitromicina, que cumpriu durante 5 dias, e corpo inteiro sem outras lesões sugestivas de gra-
dexametasona. Evolução inicial desfavorável com nulomas, nomeadamente no pulmão. Assim, dado
episódios de mioclonias nos membros inferiores ao o diagnóstico histológico, a presença de eritema
3º e 4º dia de doença, associados a hipoxemia, com nodoso, exclusão de outras causas e boa resposta
necessidade de incremento do aporte de oxigénio a imunossupressão foi assumida sarcoidose com
para máscara de alto débito com FiO2 100%. Por atingimento mamário. A doente apresentou evolu-
evolução para insuficiência respiratória global, ini- ção clínica favorável
ciou ventilação não invasiva (VNI) em modo BiPAP
ao 7º dia de doença, com resposta adequada, man- Discussão: A sarcoidose é uma patologia de difícil
tendo necessidade de VNI até ao 17º dia de doença. diagnóstico e o atingimento mamário especial-
Após inicio de programa de cinesiterapia e reabi- mente raro. No caso específico da mastite a lista
litação motora, foi possível a redução progressiva de diagnósticos diferenciais é extensa e obriga a
de aporte de O2, encontrando-se em ar ambiente exclusão minuciosa de patologia neoplásica que
ao 26º dia de doença, com alta ao 29º dia. No total também se encontra em risco aumentado em casos
cumpriu 7 dias de remdesivir e 6 dias de dexame- de sarcoidose mamária. O diagnóstico atempado e
tasona, seguida de metilprednisolona. Durante o o tratamento adequado têm uma influência impor-
internamento realizou estudo genético de distrofias, tante na evolução da doença.
que identificou uma expansão do tripleto CTG pato-
lógica no segundo alelo do gene DMPK, permitido P n.º 0968 
confirmar o diagnostico de DM1. Disfagia como manifestação de derrame pericárdi-
co
Conclusão: Os doentes com DM1  têm um risco Carina Costa e Silva(1);Cristina Marques(1);Catarina
aumentado para descompensação respiratória pelo Silva(1);Luís Cardoso(1);Flávia Ramos(1);João Mo-
que a avaliação destes doentes no contexto de infe- ta(1);Carlos Oliveira(1)
ção por SARS-CoV-2 deve ser especialmente cuida- (1) Hospital Santa Maria Maior de Barcelos
dosa de modo a identificar precocemente sinais de
insuficiência respiratória e proceder à sua correção.  Tema: Doenças cardiovasculares

P n.º 0966  Introdução: O derrame pericárdico (DP) tem um


Sarcoidose mamária: uma apresentação rara espectro de apresentação muito variável, desde as-
Francisco Pombo(1);Marina Mendes(1);Sofia Soa- sintomático até ao tamponamento, habitualmente
res(1);Pedro Lopes(1) relacionado com a velocidade de instalação.
(1) Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, EPE /
Hospital Padre Américo, Vale do Sousa
Caso Clínico: Mulher de 79 anos, com anteceden-
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas- tes de hipertensão arterial, neoplasia gástrica em
culites remissão há 2 anos e cirurgia de substituição de
válvula aórtica e aorta ascendente. Um mês após a
cirurgia recorreu ao Serviço de Urgência por quadro
Introdução: A sarcoidose é uma patologia granu- de disfagia e náuseas com 3 semanas de evolução.
lomatosa muito associada ao pulmão, mas com Hemodinamicamente estável e apirética, analitica-
atingimento de qualquer órgão. O atingimento mente sem elevação dos parâmetros inflamatórios
mamário é raro (<1%). Apresentamos um caso de e pro-BNP elevado. O eletrocardiograma apresen-
aparecimento concomitante de eritema nodoso e tava ritmo sinusal com má-progressão da onda R e
mastite unilateral com diagnóstico histológico de baixa voltagem pré-cordial. Ecocardiograma (ETT)
sarcoidose. revelou DP circunferencial de grande volume, com
variação de fluxo transmitral limítrofe e compressão
Caso Clínico: Paciente do sexo feminino, 40 anos, sistodiastólica do ventrículo direito, sem colapso da
de origem magrebina, recorre ao serviço de urgên- aurícula direita. Apesar dos critérios ecocardiográfi-
cia por massa na mama esquerda, dolorosa e erite- cos limítrofes, não apresentava critérios clínicos de
matosa, precedida em 1 mês por aparecimento de tamponamento (ausência da tríade de Beck), pelo
lesões de eritema nodoso nos membros inferiores. que iniciou terapêutica anti-inflamatória com acetil-

612
E-POSTERS
salicilato de lisina e colchicina. Realizou ETTs seria- Caso clínico 2: Homem, 26 anos, encaminhado ao
dos, sem redução do volume do DP. Por apresentar serviço de urgência por recorrência de proteinuria e
quadro de hipotensão e taquicardia, foi realizada edema periférico e peri-orbital em doente com ante-
pericardiocentese com drenagem de 600 ml de lí- cedentes de glomerulosclerose segmentar e focal
quido sero-hemático. Após 5 dias, com drenagem (GESF) diagnosticado aos 16 anos. Durante interna-
total de 1250 ml, foi removido o dreno, sem intercor- mento realizado estudo de causas secundárias, que
rências. O líquido pericárdico tinha características foi negativo. Repetida biópsia renal com evidência
de exsudado, amicrobiano, citologia negativa para de GESF, assumindo-se recidiva de patologia prévia.
células malignas, sem consumo de glicose e ADA Apresentou melhoria clinica, sob corticoterapia.
negativo. Tomografia computorizada sem evidên-
cia de recidiva neoplásica ou metastização.  Após  Discussão
exclusão de etiologia infecciosa, paraneoplásica ou
tuberculose, atendendo ao período temporal entre a Foi possível avaliar o percurso de doença em dois
cirurgia e o início de sintomatologia e a ausência de doentes com a mesma apresentação clinica de
recidiva após drenagem, foi assumido DP de etio- duas entidades nosológicas diferentes, com evolu-
logia pós-cirurgia cardíaca. À data de alta, doente ção em ambos os casos favorável. Verificou-se ain-
assintomática, sem DP no ETT. No follow-up aos 6 da o estudo diagnóstico necessário a exclusão de
meses, mantém-se sem recidiva de DP. causas secundárias deste síndrome.

Discussão: Neste caso, a suspeição clínica asso-  Conclusão


ciada ao exame físico adquirem um papel primor-
O síndrome nefrótico pode ser a forma de apresen-
dial no diagnóstico diferencial numa doente com
tação de múltiplas patologias, sejam de etiologia
sintomas tão inespecíficos mas com antecedentes
primária ou secundária. É necessário o estudo cui-
cirúrgicos recentes. Após o diagnóstico de DP ga-
dado e sistematizado de cada doente para institui-
rantir a estabilidade hemodinâmica é vital, seguido
ção de tratamento adequado.
do estudo etiológico com vista a tratar a condição
adjacente. P n.º 0989 
Síndrome de Sjögren – um quadro inaugural atípico
P n.º 0977 
Luís Neto Fernandes(1);Bárbara Machado(1);Gonça-
Síndrome Nefrótico - o desafio clínico desde o
lo Sarmento(1);Mafalda Santos(1)
diagnóstico ao tratamento
(1) Centro Hospitalar de Entre Douro e Vouga, EPE /
Filipa Gonçalves(1);Marta Batista(1);Carla Ama-
Hospital de S. Sebastião
ral(1);Sara Freitas(1);Jorge Cotter(1)
(1) Centro Hospitalar do Alto Ave, EPE / Hospital de Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
Guimarães culites
Tema: Doenças renais
Introdução
Introdução
A síndrome Sjögren (SS) primária pode associar-se
a doença cardíaca, habitualmente valvular ou de
Síndrome Nefrótico (SN) é definido por um sín-
condução, mais raramente miocardite e pericardite.
drome clinico associado a proteinúria maciça e
às complicações resultantes. É causado por um Caso Clínico
aumento da permeabilidade da membrana basal
glomerular, cuja alteração pode ser causada por Mulher de 55 anos. Quadro de dispneia para médios
doenças primárias do rim ou secundária a outras esforços com 1 semana de evolução e dor abdomi-
patologias como infeções, Diabetes Mellitus, Lupus nal inferior intensa com 2 dias de evolução. Recor-
Eritematoso Sistémico, neoplasias ou outras. Apre- dava episódio único de precordialgia autolimitada
sentam-se dois casos clínicos de SN de etiologia que antecedeu todo o quadro. De sintomatologia
primária. passada de relevo, fenómeno de Raynaud desde a
adolescência. Ao exame objetivo, febril (Tº 38ºC),
 Caso Clínico com estase pulmonar e edema periférico. Do estudo
inicial, com insuficiência respiratória hipoxémica,
Caso clínico 1: Homem, 57 anos, admitido no SU
aumento dos parâmetros inflamatórios (PCR 93.2
por aumento ponderal superior, anasarca e dispneia
mg/L), BNP 1293 pg/mL, estudo da coagulação nor-
para pequenos esforços. Analiticamente documen-
mal (INR 1.1; aPTT 24.2 seg). Realizado angio-TC de
tada hipoalbuminemia, hipertrigliceridemia, protei-
tórax, sem sinais de tromboembolismo e descrito
nuria 11g/24h; imagiologicamente derrame pleural
edema pulmonar. Na TC abdominopélvica, áreas
de grande volume a direita. Foram despistadas
de enfarte esplénico e renal direito, grandes vasos
todas as causas infeciosas e neoplásicas. Realiza-
sem alterações. De realçar ainda, procalcitonina e
da biópsia renal com evidencia de glomerulonefri-
hemoculturas negativas; ecocardiograma transtorá-
te membranosa. Solicitado antiPLA2R com titulo
cico com disfunção diastólica e derrame pericárdico
1/1000. Assumida causa primária, atualmente sob
ligeiro, transesofágico sem vegetações valvulares;
corticoterapia, com evolução favorável.
Holter 24h com ritmo sinusal; ANA positivo, SSA

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 613


>240 U/ml, restante estudo autoimune negativo. do septo interventricular, a levantar a suspeita de
TC-CE sem lesões isquémicas recentes, e PET sem MAVD. Ressonância magnética (RM) cardíaca a evi-
sinais de vasculite de grandes vasos. Biópsia de denciar dilatação moderada das câmaras cardíacas
glândulas salivares, com infiltrado linfocítico, com- direitas e depressão grave da função sistólica do
patível com SS. Em internamento, hipocoagulada VD. O diagnóstico de MAVD foi estabelecido com
com enoxaparina, cumpriu 7 dias de ceftriaxona e a associação de alterações clínico-imagiológicas
otimizado diurético, com evolução favorável. Não e elétricas que integram critérios major e minor,
efetuada corticoterapia. Em reavaliação em ambula- estando presentes 1 critério major (achados em
tório, normalização do ecocardiograma, suspendeu RM) e 2 minor (inversão da onda T nas derivações
antagonista da vitamina K após 6 meses. précordiais, arritmia e EV >500 no Holter). Implan-
tado cardiodesfibrilhador e aconselhada evicção de
Discussão esforços moderados a intensos. Atualmente com
recuperação da função ventricular.
Este caso ilustra uma apresentação atípica de SS,
a qual, após exclusão doutras causas (endocardite DISCUSSÃO: A MAVD ocorre em 1 por 2000-5000
infeciosa, fibrilação auricular paroxística, vasculite indivíduos, sendo uma importante causa de morte
de grandes vasos), assumimos poder estar na ori- súbita em jovens. Assim, torna-se imperativo o diag-
gem na origem da insuficiência cardíaca inaugural nóstico célere, o rastreio familiar e implementação
e fenómenos tromboembólicos. Julga-se que o de medidas modificadoras de prognóstico - controlo
mecanismo etiológico subjacente seja miocardite arritmogénico, farmacológico e devices.
por vasculite leucocitoclástica, podendo cursar com
dilatação e depressão grave da função do ventrículo P n.º 0994 
esquerdo, revertendo após instituição de terapêu- Acidose láctica tipo B: um fenómeno paraneoplási-
tica imunossupressora. Admite-se que o presente co
caso se enquadre num quadro mais ligeiro, evo- Francisco Pombo(1);Carolina Seabra(1);Bárbara
luindo favoravelmente com terapêutica de suporte Silva(1);Marina Mendes(1);Teresa Mendes(1);Ana
apenas. João sá(1);Inês Ferreira(1)
(1) Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, EPE /
P n.º 0990  Hospital Padre Américo, Vale do Sousa
MIOCARDIOPATIA ARRITMOGÉNICA DO VENTRI-
CULO DIREITO Tema: Doenças oncológicas
Filipa David(1);Ana Pinho(1);Ana Catarina Trigo(1);-
José Ribeiro(1);Nuno Amorim(2);Sandra a Mo- Introdução: A acidose láctica tipo B decorre de alte-
rais(3);Gracieta Malangatana(1) rações graves do metabolismo e pode apresentar-se
(1) Unidade Local de Saúde de Matosinhos, EPE / como complicação paraneoplásica. Trata-se de uma
Hospital Pedro Hispano (2) Hospital Distrital da Hor- emergência oncológica potencialmente ameaçado-
ta (3) Hospital Vila Real ra da vida. Relatamos um caso de acidose láctica
Tema: Doenças cardiovasculares tipo B secundária a neoplasia metastizada.

Introdução: A miocardiopatia arritmogénica do Caso Clínico: Paciente do sexo feminino de 44 anos,


ventrículo direito (MAVD) é uma cardiomiopatia he- com antecedentes de carcinoma ductal invasor
reditária subdiagnosticada e importante causa de da mama, pT1bN1M0, submetida a mastectomia
morte súbita em jovens adultos. Carateriza-se por total, radioterapia, quimioterapia e sob hormonote-
alterações morfo-funcionais do miocárdico com rapia, que a doente suspendeu por vontade própria,
substituição deste por tecido fibroso e adiposo, au- recusando qualquer tratamento antineoplásico de
mentando o risco de depressão da função ventricu- novo. Recorre ao serviço de urgência por astenia
lar e arritmias graves. e hematomas dispersos com 10 dias de evolução.
Analiticamente com pancitopenia grave (anemia
normocítica normocrómica, leucopenia com neutro-
CASO CLÍNICO: Homem de 32 anos, com episódios penia e linfopenia e trombocitopenia). TC do corpo
de precordialgia desde há cinco anos, em estudo inteiro com lesão hepática hipoecogénica, suspeita
por Cardiologia com ecocardiogramas transtorácico de metastização, com 50x30mm. No 9º dia de inter-
(ETT) e transesofágico normais, eletrocardiograma namento a doente apresenta agravamento clínico
com inversão das ondas T de V3-V6 e pseudonor- com taquipneia, taquicardia, acidemia metabólica
malização na prova de esforço. Por palpitações e com anion gap aumentado e hiperlactacidemia
tonturas com o esforço realizou Holter de 24h, com persistente (máximo de 8,6mmol/L). Sem sinais de
registo de 900 extrassístoles ventriculares (EV), hipoperfusão ou sépsis. Hemoculturas negativas.
em ritmo sinusal. Admitido no serviço de urgência Sem qualquer resposta às medidas de ressuscita-
após síncope com pródromo durante o exercício. ção instituídas. Analiticamente sem elevação dos
Objetivada fibrilação auricular com resposta ventri- parâmetros inflamatórios e ionograma normal. TC
cular lenta e inversão de onda T. Sem aumento de sem evidência de complicação infeciosa ou hemor-
marcadores de necrose miocárdica ou distúrbios rágica. De acordo com os desejos da doente foram
metabólicos. ETT a revelar dilatação biventricular, cumpridos os seus limites de cuidados expressos,
recessos no ápex do VD e movimento anormal tendo a doente vindo a falecer sob medidas de con-

614
E-POSTERS
forto. P n.º 1000 
Trombofilia em viagem intercontinental
Discussão: A acidose láctica do tipo B é uma com- João Barros Rodrigues(1);Maria Pacheco(1);Inês
plicação rara, mas frequentemente fatal das neo- Salvado(1);José Diogo Rebolo(1);Joana Caires(1);-
plasias. Neste caso em particular o mecanismo Vasco Neves(1);Maria João Baldo(1);Paulo Robore-
etiológico poderá ser misto (aumento da produção do(1);João Correia(1)
de lactato pelas células tumorais e redução de seu (1) Unidade Local de Saúde da Guarda, EPE / Hospi-
metabolismo hepático dada presença de metástase tal Sousa Martins
de grandes dimensões). É importante considerar
esta entidade em agravamentos clínicos importan- Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
tes em pacientes com neoplasias. culites

P n.º 0998 
DA INFLAMAÇÃO À TROMBOSE: UM CASO DE Introdução: O tromboembolismo pulmonar (TEP) é
AORTITE uma forma de tromboembolismo venoso (TEV)  que
Patrícia Moreira(1);Mafalda Vasconcelos(1);Maria pode por vezes ser silencioso e fatal. A rápida iden-
Maia(1);João Espírito Santo(1);Célia Machado(1);- tificação de doentes em risco para TEP é de grande
José Lomelino Araújo(1) importância na gestão deste tipo de doentes e dos
(1) Hospital Beatriz Ângelo exames complementares que requisitamos. Entre
os fatores de risco adquiridos para TEV estão as
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas- viagens ou outras formas de imobilização prolonga-
culites da. A identificação inicial de um destes fatores de
risco não deve levar à negligência dos restantes.
O termo aortite descreve uma inflamação anormal
da parede da aorta de etiologia inflamatória (maio- Caso clínico:
ritariamente associadas a vasculites de grandes
vasos) ou infeciosa (diferentes organismos associa- Apresentamos o caso de um homem de 38 anos,
dos como bactérias, micobactérias e vírus). natural dos Estados Unidos da América, recente-
Apresentamos o caso de um homem de 86 anos, mente chegado a Portugal em contexto turístico.
com história de fibrilhação auricular paroxística Após 3 semanas de estadia no nosso país inicia
hipocoagulada com rivaroxabano, avaliado em quadro de dor torácica ligeira que posteriormente
contexto de urgência por quadro de febre, calafrios, evolui para intensa, agravando com esforço respira-
disúria e desorientação. Ao exame físico desta- tório e em certas posições, negando tabagismo ac-
que febre, dor à percussão lombar à esquerda; tivo, automedicação ou uso de drogas recreativas,
laboratorialmente com aumento dos parâmetros dispneia, febre, tosse ou expectoração. Recorre ao
inflamatórios e urina com hemoglobina (++). Iniciou SU de um hospital distrital ao fim de 6 dias de clíni-
fluidoterapia endovenosa e antibioterapia com co- ca intermitente. O doente apresenta-se consciente e
trimoxazol, por presunção diagnóstica de prostatite orientado, estável hemodinamicamente, sem altera-
vs infecção urinária complicada, com regressão ções dos sinais vitais.
das queixas após 24 horas. Exames bacteriológicos Realiza inicialmente estudo analítico geral, eletro-
negativos. Realizou TC abdomino-pélvica que de- cardiograma e radiografia torácica simples, não re-
monstrou uma densificação da gordura envolvendo velando alterações justificativas. Dado o baixo risco
a aorta abdominal distal e artérias ilíacas primitivas de evento trombótico são doseados D-DÍmeros,
proximais, com irregularidade e indefinição do con- cujo resultado elevado leva a realização de angioTC
torno mural da aorta e extenso processo inflamató- que revela TEP bilateral de muito baixo risco (PESI
rio adjacente que permitiu o diagnóstico de aortite; classe I). O doente inicia terapêutica anticoagulante
coexistia uma trombose subtotal da emergência da com enoxaparina e internado para estudo adicional.
artéria ilíaca primitiva esquerda, com trombo de 12 Esse estudo revela a presença de anticoagulante lú-
mm, sendo normal a opacificação das artérias ilía- pico, confirmado em nova análise 12 semanas após
cas esquerdas a jusante. o evento agudo.
O estudo etiológico revelou VDRL negativo, IgG4
normal e ANA 1/160 nucleolar; ecocardiograma Discussão: O caso que apresentamos pareceu-nos
transtorárico normal. ser relevante pela presença de um fator de risco evi-
Iniciou ciclo antibiótico prolongado e manteve hipo- dente a justificar o TEP, mas cujo seguimento poste-
coagulação com reversão dos achados imagiológi- rior revelou a existência de uma causa “silenciosa”
cos de aortite e repermeabilização vascular. subjacente e potencialmente sinérgica. Este caso
Realçamos assim o caso de um doente com aortite deve-nos relembrar a importância de não ter em
em contexto de infecção urinária que culminou em consideração apenas a hipótese diagnóstica mais
evento trombótico. Apesar dos mecanismos por evidente, mas sim de uma abordagem sistematiza-
detrás do estado de hipercoagulabilidade associado da a todos os doentes.
a vasculites sistémicas ainda não estar totalmente
esclarecido, pretende-se com este caso estabelecer P n.º 1001 
a contribuição da inflamação local e sistémica para Uma causa rara de colecistite alitiásica
eventos trombóticos. Maria João Costeira(1);Luis Luz(1);Sandra Catarina
Cunha(1);Diana Fernandes(1)
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 615
(1) Centro Hospitalar de Leiria / Hospital de Santo tecedentes familiares de doença hepática que não
André soube especificar em 3 familiares diretos, tendo o
seu estudo genético revelado heterozigotia simples
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias para a mutação H63D, sem presença das mutações
C282Y e S65C, portanto sem critérios para HH. Ao
A colecistite aguda alitiásica (CAA) compreende exame físico, apresentava icterícia generalizada e
5 a 10% de todos os casos de colecistite aguda. A ascite de grande volume. Analiticamente, destaca-
infecção por Epstein Barr vírus (EBV) é uma causa va-se ferritina 3244 mg/dL e saturação transferrina
rara de CAA.  de 65%, hiperbilirrubinemia, citocolestase, hipoalbu-
minemia, coagulopatia e elevação dos parâmetros
inflamatórios. Apresentava imunidade para o VHB,
Esta patologia apresenta frequentemente uma evo- com anti-VHC e anti-VIH negativos. A ecografia
lução clínica favorável, e a intervenção cirúrgica ra- abdominal mostrou fígado com alterações de he-
ramente é necessária. Apresenta-se o caso de uma patopatia crónica, sinais de hipertensão portal e as-
doente do sexo feminino, 18 anos, saudável, que cite de grande volume. Realizada paracentese com
recorreu ao serviço de urgência por dor abdominal, saída de 4L de líquido ascítico, sem critérios de PBE
coluria e ictericia das mucosas com 5 dias de evolu- e citologia negativa para células malignas. Realizou
ção. À observação clínica apresentava adenopatias RM hepática, que mostrou uma volumosa massa
na região cervical e hepatoesplenomegalia. Analiti- hipodensa, lobulada, no lobo hepático direito, com
camente com neutropenia, trombocitopenia, padrão cerca de 7.7x11.3 cm e múltiplos nódulos dispersos
de citocolestase e aumento da proteína C reativa.  pelo parênquima hepático, assim como lesões se-
cundárias pulmonares e em ambas as suprarrenais,
Por suspeita de infecção por EBV foi solicitada se- carcinomatose peritoneal e trombose do ramo di-
rologia que se revelou positiva, com restante estudo reito da veia porta, achados compatíveis com CHC
serológico, nomeadamente HIV, HCV, HAV, HBV e metastizado. O doente evoluiu com encefalopatia
CMV negativo. Por dor abdominal refratária à tera- hepática grave, sem resposta às medidas farmaco-
pêutica analgésica,  início de febre e agravamento lógicas instituídas, tendo falecido no internamento.
do padrão de citólise hepática, solicitou-se TC abdo-
minal que revelou espessamento da vesícula biliar Este caso clínico ilustra o risco aumentado de
com edema parietal, compatível com colecistite CHC nos doentes com mutações genéticas do es-
aguda alitiásica. A doente manteve terapêutica de pectro da HH, mesmo quando o estudo genético
suporte com vigilância clínica e analítica, verifican- revela apenas heterozigotia simples para uma das
do-se evolução favorável e sem complicações.  mutações. O diagnóstico precoce é o factor mais
importante na evolução clínica, sendo importante
Devemos estar cientes que a colecistite aguda ali- o seguimento imagiológico regular destes doentes
tiásica pode ser uma complicação da infecção por em consulta.
EBV, evitando-se assim cirurgias invasivas desne-
cessárias e terapêutica antibiótica. P n.º 1008 
Uma causa infrequente de paralisia periódica
P n.º 1002  Sílvia Santos Balhana(1);Madalena Manchete(1);-
Carcinoma Hepatocelular num doente com hetero- Carla Noronha(1);Célia Machado(1);José Araújo(1)
zigotia simples para a mutação H63D (1) Hospital Beatriz Ângelo
Gonçalo Alcobia Santos(1);Ana Raquel Covas(1);A-
driana Filipa Marques Rodrigues(1);José Miguel Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio-
Rocha(1);Eduardo Macedo(1);Maria Isabel Apoliná- nais
rio(1);Ilídio Brandão(1)
(1) Hospital de Braga
Introdução: O hiperaldosteronismo primário é fre-
Tema: Doenças oncológicas quentemente manifesto por hipertensão arterial
secundária e hipocaliémia. A paralisia periódica
hipocaliémica é uma manifestação rara e poten-
O carcinoma hepatocelular (CHC) é um problema cialmente fatal, podendo cursar com tetraparésia e
de saúde global com elevada morbimortalidade. A morte por falência da musculatura respiratória.
hemocromatose hereditária (HH) é um importante
fator de risco genético para o CHC, sendo as muta-
ções do gene HFE em homozigotia as mais frequen- Caso clínico: Mulher de 45 anos com hipertensão
temente implicadas. arterial desde os 20 anos, medicada com 2 clas-
ses de anti-hipertensores e bem controlada. Apre-
senta-se no serviço de urgência com 48 horas de
Homem de 64 anos, internado por astenia, icterícia evolução de diminuição progressiva da força nos
e distensão abdominal progressiva com 6 semanas membros inferiores e envolvimento sequencial dos
de evolução. Referia também colúria e dejeções membros superiores e da musculatura axial. À ob-
em menor quantidade e de coloração amarelada. servação, constata-se incapacidade funcional com-
Referia não consumir bebidas alcoólicas há pelo pleta (força muscular de grau 2 com envolvimento
menos 4 anos e negava também consumo de predominante proximal).
substâncias hepatotóxicas. Tinha antecedentes
pessoais conhecidos de sobrecarga férrica, com an-
616
E-POSTERS
Descrevia episódios prévios de diminuição da força astenia, prostração e dependência nas atividades de
dos membros inferiores nos últimos meses, atribuí- vida diária com uma semana de evolução. A referir
dos a patologia degenerativa da coluna, não obstan- quadro de diarreia autolimitada prévio à sintomato-
te, em tomografia prévia, sem alterações sugestivas logia descrita.
de compressão meningo-radicular. Adicionalmente,
menção a perda ponderal involuntária significativa. À observação, apresentava prostração e tetraparesia
flácida grau 1. Do estudo analítico efetuado destacava-se
Do estudo complementar destaque para hipocalié- elevação da proteína C reativa, serologias virais negativas
mia grave (1.2 mmol/L), ligeira hipernatrémia (149 nomeadamente VDRL e níveis séricos de Vitamina B
mmol/L) e hipertiroidismo primário ligeiro (fT4 24.5 12 normais. TC crânio sem alterações e punção lombar
pmol/L, TSH 0.07 mUI/L) por bócio multinodular demonstrou uma importante dissociação albumino-
tóxico, posteriormente documentado em ecografia citológica, assim levantada a hipótese diagnóstica de
e cintigrafia. Constata-se elevação basal da aldos- síndrome Guillain- Barré.
terona plasmática (22.2 ng/dl), não suprimível na
prova de sobrecarga salina (39.7ng/dL) e com re- Perante quadro de diarreia prévia foi realizado es-
lação aldosterona/renina plasmáticas elevada. Em tudo serológico de Campylobacter jejuni que se
tomografia computorizada, presença de formação revelou positivo.  A doente realizou terapêutica
nodular na supra-renal esquerda com 29 mm com com Imunoglobulina durante 5  dias, com evolução
características de suspeição. clínica favorável, à data de alta apresentando força
muscular grau 4.
Embora tenha permanecido sobre intensa suple-
mentação de potássio, assistiu-se a difícil e demo- O diagnóstico da SGB é primariamente clínico. No
rada correção iónica. Paradoxalmente, recuperou entanto, exames complementares são necessários
total funcionalidade ao 2º dia de internamento, para confirmar a impressão clínica e excluir outras
com níveis de potássio ainda infra-corrigidos (2.3 causas de paraparesia flácida. A doente apresenta-
mmol/L). va critérios clínicos essenciais para o diagnóstico.
Por sua vez, a Campylobacter jejuni é responsável
Após o diagnóstico de hiperaldosteronismo, foi ini- por 30% dos casos de SGB e neste caso o fator des-
ciada terapêutica com espironolactona e realizada poletante.
suprarrenalectomia esquerda, com consequente
normalização de caliémia. P n.º 1015 
Dor torácica, e agora?
Conclusões: Este caso ilustra uma apresentação Maria João Costerira(1);Luís Henrique Luz(1);San-
incomum e grave de um hiperaldosteronismo primá- dra Catarina Cunha(1);Diana Fernandes(1)
rio por adenoma produtor. A identificação etiológica (1) Centro Hospitalar de Leiria / Hospital de Santo
precoce foi relevante para a instituição de tratamen- André
to curativo e redução da morbimortalidade associa-
da. Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio-
nais
P n.º 1012 
Quando a prática vai ao encontro da teoria  A pancreatite aguda tem uma incidência de 1 caso
Maria João Costerira(1);Luís Henrique Luz(1);San- por 4000 pessoas. Clinicamente, na maioria dos
dra Catarina Cunha(1);Diana Fernandes(1) casos, apresenta-se com dor abdominal epigástrica
(1) Centro Hospitalar de Leiria / Hospital de Santo com irradiação dorsal, náuseas, vômitos e distensão
André abdominal. Laboratorialmente, por níveis séricos
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias elevados das enzimas pancreáticas. A hipertriglice-
ridemia é a terceira causa mais comum.
A síndrome de Guillain-Barré (SGB) é uma doença
autoimune que conduz à desmielinização e/ou de-  Apresenta-se o caso clinico de uma paciente, sexo
generação axonal dos nervos periféricos através feminino, 57 anos, antecedentes pessoais de hi-
de um mecanismo de mimetismo molecular, geral- pertensão arterial e dislipidemia, controlados me-
mente é desencadeada por infeções, sendo a mais dicamente. Apresentava-se com dor torácica tipo
comum a provocada pela Campylobacter jejuni, e pontada com irradiação para o membro superior
ainda após-imunização e pós operatório.  Caracteri- esquerdo com 1 dia de evolução, acompanhada
za-se clinicamente por paralisia flácida e arrefléxica de episódio isolado de vómito ao pequeno almoço,
ascendente. O prognóstico é geralmente favorável, encontrando-se nauseada desde então. Ao exame
com recuperação completa em 80-85% dos casos. objetivo, apresentava abdómen distendido, indolor
No entanto, 10% permanecem com incapacidade e ruídos hidroaéreos presentes. Realizou ECG, sem
residual grave e cerca de 5% não sobrevivem.  alterações e estudo analítico com marcadores de
necrose miocárdica, uma vez que a suspeita clínica
era síndrome coronária aguda. À chegada ao labora-
O seguinte caso descreve uma doente do sexo tório, e após centrifugação, os tubos de bioquímica
feminino, 74 anos, autónoma, com antecedentes e de hemograma, apresentavam um plasma lipê-
pessoais de Diabetes Mellitus, Hipertensão e Dislipi- mico. Assim, levantou-se a suspeita de pancreatite
demia. A doente recorreu ao serviço de urgência por aguda alitiasica por hipertrigliceridemia. Analitica-
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 617
mente, triglicerídeos 4020mg/dL, colesterol total (latência mais longa), destacamos o rápido início
1293mg/dL, amilase 94 U/L, lipase 271 U/L, tro- das manifestações clínicas e analíticas, bem como
poninas de alta sensibilidade 7.2. A TC abdominal da sua resolução.
evidenciou pancreatite aguda alitiasica sem disfun-
ção de órgão. A doente realizou plasmaferese, sem P n.º 1019 
intercorrências, tendo regressado ao hospital de Schwannoma vestibular – um tumor silencioso
origem com valores de triglicerídeos de 438mg/dL. Marta Dalila Martins (1);Francisco Pombo(1);Fáti-
ma Costa(1);Sofia Garcês Soares(1);Teresa Fonse-
 Este caso alerta-nos para a importância do diag- ca(1);Inês Ferreira(1);Mari Mesquita(1)
nóstico diferencial e de uma história clínica detalha- (1) Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, EPE /
da.São necessários níveis elevados de triglicerídeos Hospital Padre Américo, Vale do Sousa
para causar pancreatite, sendo importante excluir
causas mais comuns. A plasmaferese foi importan- Tema: Doenças oncológicas
te para reduzir rapidamente a hipertrigliceridemia,
evitando, assim, danos teciduais maiores. Os schwannomas vestibulares são neoplasias be-
nignas de crescimento lento, com origem esporá-
P n.º 1016  dica nas células que envolvem a divisão vestibular
Hepatotoxicidade associada à amoxicilina/ácido do VIII par craniano, constituindo 85% dos tumores
clavulânico da região do ângulo pontocerebeloso. As manifes-
José Filipe Santos(1);Luís Pedro Santos(1);Jorge tações mais comuns são surdez neurossensorial
Leitão(1);Arsénio Santos(1);Armando Carvalho(1) unilateral, geralmente progressiva, associada a acu-
(1) Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra / fenos, perda do equilíbrio e vertigens. O atingimento
Hospitais da Universidade de Coimbra bilateral, que ocorre em 5% dos casos, é patogno-
Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá- mónico de neurofibromatose tipo 2.
ticas
Homem, 69 anos, com hipertensão arterial, dislipi-
Introdução: a amoxicilina/ácido clavulânico (AMC) demia e diabetes mellitus tipo 2. Admitido por sur-
é um antibiótico de uso generalizado, sendo a he- dez súbita e acufenos à direita, vertigens, náuseas,
patotoxicidade associada ao mesmo uma reação vómitos alimentares e desequilíbrio com 10 dias
adversa, rara, idiossincrática e imunomediada, com de evolução, e parestesias da hemiface direita com
um espetro alargado de manifestações e período de horas de evolução. Apresentava otoscopia normal,
latência variável, geralmente prolongado. Weber esquerdo com teste Rinne negativo à direita
e positivo à esquerda. Estudo analítico e ECG nor-
mais. A TC craneoencefálica mostrou lesão com
Caso clínico: mulher, caucasiana, 60 anos, sem an- 30X28 mm heterogénea aparentemente extra-axial,
tecedentes médicos relevantes, internada por cistite no ângulo ponto cerebeloso direito, condicionando
aguda e medicada empiricamente com AMC. Ao 3º moldagem da protuberância e pedúnculo cerebelo-
dia teve episódio único de vómito biliar, náuseas e so médio direitos e moldagem e desvio para a es-
mal-estar inespecífico, encontrando-se subictérica. querda do IV ventrículo. A RMN cerebral confirmou a
Negou prurido. O controlo analítico mostrou altera- localização extraparenquimatosa da lesão, no ângu-
ções da enzimologia hepática de novo (AST 1248 lo pontocerebeloso direito, adjacente ao poro acús-
UI/ml, ALT 966 UI/ml, FA 827 UI/ml, GGT 367 UI/ml tico, com um pequeno componente intracanalar e
e bilirrubinemia total de 2,2mg/dl). Pontuou 8 na outro de volumosa dimensão, cisternal. Provocava
escala CIOMS (possível) e 12 na escala Maria e Vic- significativa deformação da transição bulbo-protu-
torino (possível). Todo o estudo etiológico, incluindo berancial e do hemisfério cerebeloso direito, incluin-
hepatites virais e autoimunidade foi negativo e a do do pedúnculo cerebeloso médio ipsilateral, não
ecografia abdominal foi normal, tendo-se assumido apresentando extensão ao labirinto membranoso,
como provável o diagnóstico de hepatotoxicidade sugerindo corresponder a schwannoma vestibular.
associada à AMC, a qual foi suspensa. Nos dias O estudo angiográfico excluiu estenoses hemodina-
seguintes houve redução gradual das alterações. micamente significativas, aneurismas ou malforma-
Nunca houve evidência de insuficiência hepática. ções arteriovenosas. A exérese cirúrgica da lesão
Manteve-se nauseada durante alguns dias, com me- permitiu melhoria do equilíbrio e recuperação da
lhoria gradual. Recusou outros estudos (incluindo marcha autónoma.
biópsia hepática). Apresentou boa evolução clínica O schwannoma vestibular resulta de mutações do
e analítica apenas com terapêutica de suporte. Teve cromossoma 22 num gene que codifica a proteína
alta para a consulta externa ao 18º dia de interna- responsável pelo controle da proliferação das célu-
mento, apresentando ainda alterações ligeiras da las de schwann. O seu crescimento lento e silencio-
enzimologia hepática, mas com diminuição susten- so dificulta o diagnóstico precoce e compromete o
tada (AST 41 UI/ml ALT 84 UI/ml FA 524 UI/ml GGT êxito do tratamento. 
505 UI/ml e bilirrubinemia total de 1,1 mg/dl).  
Conclusões: Este caso mostra como é importante P n.º 1020 
estar atento à potencial hepatotoxicidade da AMC, Pneumonia por Nocardia Cyriacigeorgica
de muito larga utilização. Ao contrário do habitual Miguel Rodrigues Monteiro(1);Catarina Rodri-

618
E-POSTERS
gues(1);João Gigante(1);Bárbara Flor de Lima(1);- (1) Hospital do Barreiro
Francesca Peruzzu(1)
(1) Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca Tema: Doenças cardiovasculares

Tema: Doenças infecciosas e parasitárias O presente caso clínico retrata um homem de 66


anos, com antecedentes pessoais de Hipertensão
Introdução: A Nocardiose é uma infeção oportu- Arterial e Enfisema Pulmonar, medicado para am-
nista rara e afeta principalmente doentes imuno- bas as patologias. É referenciado à Consulta de Me-
comprometidos, sendo a localização pulmonar a dicina Interna por quadro com 2 meses de evolução
mais frequente. Pode ser localizada ou sistémica de disfonia. Negou febre, dispneia, cansaço, tosse
e a transmissão ocorre por inalação de esporos ou com expectoração, disfagia, perda de peso ou aste-
por inoculação direta na pele. A Nocardia cyriaci- nia. Ao exame objectivo, sem quaisquer alterações.
georgica é considerada uma espécie emergente, Realizou radiografia de tórax, sem alterações. Pedi-
tendo sido o primeiro caso descrito na literatura em da colaboração de ORL, realizou nasolaringoscopia
2001. que descreveu paralisia da hemilaringe esquerda
por provável lesão ou compressão do recorrente,
Caso clínico: Homem de 49 anos, internado por mantendo, contudo, competência glótica. Cavum
perda ponderal de cerca de 30Kg em dois anos, ano- faríngeo, palato mole, amígdalas, valéculas, epiglote
rexia e astenia de agravamento progressivo. Nos e laringe sem alterações. Assim, foi requisitada TC
últimos seis meses, com tosse produtiva, e nas últi- tóracoabdominopélvica: “aneurisma sacular trom-
mas duas semanas, mialgias e febre de predomínio bosado com ponto de partida na parede inferior da
vespertino com temperatura máxima de 38,7ºC. Ne- crossa da aorta, com cerca de 5,5 cm de maior diâ-
gou hemoptises ou sudorese noturna. Sem contexto metro. Placas de ateroma calcificadas, sem outras
epidemiológico para COVID-19 ou Tuberculose. Ao alterações aórticas. Sem evidência de envolvimento
exame físico apresentava-se emagrecido, febril ganglionar a nível do mediastino e hilos pulmona-
(temperatura timpânica de 38ºC) e eupneico em ar res. Padrão enfisematoso exuberante; ausência
ambiente sem hipóxia periférica. Analiticamente, de derrame ou espessamento pleural. Sem outras
destacava-se leucocitose (16.2x109 leucócitos/L) alterações.” Desta forma, admitiu-se o diagnóstico
e PCR 17 mg/dL. A radiografia de tórax revelou hi- final de aneurisma sacular da crossa da aorta con-
potransparência no lobo superior direito (LSD) e a dicionando paralisia do nervo laríngeo recorrente.
TC de tórax revelou consolidação com cavitação do O doente foi referenciado à Cirurgia Cardíaca do
LSD e com evidência de disseminação endobrônqui- hospital de referência, tendo sido submetido a te-
ca para o lobo inferior direito. A serologia para VIH-1 rapêutica endovascular com implantação de endo-
foi positiva. Do estadiamento, salienta-se linfócitos prótese. A cirurgia decorreu sem intercorrências. O
TCD4+/µL 56 (7%) e carga viral de 356000 cópias/ doente manteve controlo apertado da sua tensão
mL. arterial em consulta e iniciou terapia da fala, tendo
apresentado ligeira melhoria do quadro de disfonia,
Foram realizadas três colheitas de expetoração e la- sem recuperação completa. O presente caso clínico
vado bronco-alveolar sem identificação de bacilos pretende realçar a presença de uma sintomatologia
álcool-ácido resistentes e com PCR para Mycobac- atípica para a detecção de um aneurisma torácico;
terium tuberculosis negativa. Foi isolada Nocardia pretende também demonstrar a importância que as
cyriacigeorgica na expetoração, pelo que iniciou an- terapêuticas endovasculares têm no tratamento das
tibioterapia com trimetoprim-sulfametoxazol (TMP/ doenças aórticas, evitando em muitos casos a ne-
SMX) e amicacina, tendo-se verificado resposta cessidade de cirurgia aberta. 
clínica lenta, com febre mantida durante 3 semanas.
Por evidência de mielotoxicidade com pancitopénia, P n.º 1027 
houve necessidade de terapêutica alternativa com Angina vasospástica em doente com doença arte-
Meropenem. Teve alta referenciado para a consulta rial conhecida: um diagnóstico desafiador
de Infecciologia após quatro semanas de antibiote- Sérgio Ferreira Cristina(1);Gustavo Carvalho(2);Ana
rapia injetável. Após melhoria hematológica, mante- Teresa Boquinhas(2)
ve terapêutica com TMP/SMX, tendo indicação para (1) Hospital de Cascais Dr. José de Almeida (2)
cumprir 6 meses de terapêutica. Hospital CUF Tejo
Discussão: Em doentes com imunodepressão grave Tema: Doenças cardiovasculares
com doença pulmonar cavitada, a Nocardiose de-
verá ser considerada no diagnóstico diferencial de
tuberculose pulmonar. Nestes doentes, a duração Introdução: A angina vasospástica é caracterizada
de tratamento deverá ser prolongada. por angina em repouso secundária a espasmo coro-
nário e com resposta rápida a nitratos. Quando as-
P n.º 1025  sociada a elevação do segmento ST, o diagnóstico
Disfonia: apresentação atípica de aneurisma diferencial com enfarte agudo do miocárdio (EAM) é
Mariana Almeida(1);Carina Ramalho(1);Francisco desafiador, particularmente se doença arterial coro-
Gomes(1);Maria do Rosário Ginga(1);Martinho Fer- nária (DAC) conhecida.
nandes(1)

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 619


Caso Clínico: Descrevemos o caso de um homem de Glasgow, hipotensão com uma pressão arterial
de 47 anos que recorreu ao serviço de urgência por média de 58 mmHg, bradicardia de 30 batimentos
dor precordial com 2 horas de evolução. Duas se- por minuto, hipotermia com temperatura timpânica
manas antes apresentou quadro semelhante tendo de 34oC e hipoventilação com hipoxemia e hipercap-
sido diagnosticado EAM sem supra ST e realizada nia. O eletrocardiograma detetou bloqueio auricu-
intervenção coronária percutânea (ICP) de duas le- loventricular (BAV) completo com ritmo de escape
sões da artéria descendente anterior. Teve alta sob ideoventricular a 20-30 batimentos por minuto, com
dupla antiagregação. Outros antecedentes incluíam necessidade de suporte aminérgico e de colocação
hipertensão arterial e tabagismo. de electrocateter provisório para estabilização he-
modinâmica. Na avaliação analítica no SU destaca-
Neste novo episódio, apresentou electrocardiogra- va-se troponina T de 329 ng/L, mioglobina de 27255
ma (ECG) com elevação do segmento ST (5 mm) µg/L, ALT 110 U/L, AST 519 U/L, creatinina de 2.97
em II, III e aVF e depressão em I e aVL. Fez terapêu- mg/dL e ureia de 108 mg/dL e uma hipercaliémia de
tica com dinitrato de isossorbido endovenoso com 5.6 mmol/L. Por BAV completo associado a síncope
resolução completa da dor e normalização do ECG. foi colocado pacemaker definitivo. A avaliação da
função tiroideia em internamento revelou hipotiroi-
Perante a rápida melhoria clínica e electrocardiográ- dismo grave com uma TSH > 100 µUI/mL e T4 livre
fica após nitrato, colocou-se a hipótese de angina < 1.3 pmol/L. Foi assumido o diagnóstico de coma
vasospástica. Atendendo à ICP recente, foi submeti- mixedematoso e iniciada levotiroxina e hidrocortiso-
do a nova coronariografia que mostrou patência dos na endovenosas, verificando-se melhoria clínica.
stents e espasmo acentuado da artéria coronária
direita que resolveu com nitroglicerina intra-coroná- Discussão: O coma mixedematoso, tratando-se de
ria, confirmando o diagnóstico de angina vasospás- uma condição extremamente rara, nem sempre é o
tica. O doente teve alta medicado com mononitrato diagnóstico pensado quando abordamos um doente
de isossorbido e nifedipina. instável. Contudo, este caso mostra-nos a impor-
tância da sua correta abordagem, devendo este
Discussão: A angina vasospástica parece ser uma diagnóstico ser considerado, sobretudo perante
entidade subdiagnosticada. Assim, é fundamental uma clínica sugestiva com bradicardia, hipotermia
que o médico no serviço de urgência esteja familia- e hipoventilação, num doente com antecedentes de
rizado com esta síndrome. A dificuldade diagnós- hipotiroidismo com incumprimento terapêutico.
tica reside na apresentação semelhante ao EAM
secundário a DAC. Embora haja semelhança clínica, P n.º 1032 
a sua abordagem é diferente, sem necessidade de MONOCLONAL GAMMOPATHY OF RENAL SIGNIFI-
terapêutica antitrombótica e consequente risco he- CANCE: CASE REPORT
morrágico. Na presença de DAC conhecida, e parti- Sérgio Bronze(1);Inês Parreira(1);Pedro Gas-
cularmente se ICP recente, a reavaliação angiográfi- par(1);Leila Duarte(1);Hélder Gonçalves(1);Valeria
ca é fundamental  para exclusão de nova obstrução Maione(1);Filipe Bessa(1);Sandra Braz(1);Catarina
fixa ou trombose de stent pela sua gravidade. Mota(1)
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi-
P n.º 1031  tal de Santa Maria
Coma mixedematoso: Uma emergência médica em
que a suspeição clínica é essencial Tema: Doenças renais
Guilherme Sacramento(1);Diogo Domingos(1);Ana
Rita Bello(1);Andrea Castanheira(1);Ricardo Sou-
sa(1);Isabel Madruga(1) Introduction:
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE /
Hospital Egas Moniz The term monoclonal gammopathy of renal signi-
ficance (MGRS) was proposed in 2012 and speaks
Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio- for a group of disorders in which a monoclonal im-
nais munoglobulin secreted by a nonmalignant or prema-
lignant clone causes renal injury, including Fanconi
Introdução: O coma mixedematoso é uma condi- Syndrome, amyloidosis, proliferative glomerulone-
ção extremamente rara causada por um défice de phritis and several others. 
hormona tiroideia. Trata-se de uma situação poten-
cialmente fatal que, se não tratada, apresenta uma Case report:
mortalidade de cerca de 40%. A 60 year-old caucasian man was admitted due
to SARS-CoV2 pneumonia, with a  benign course
Caso clínico: Homem de 77 anos com antecedentes during hospitalization under steroids and supportive
conhecidos de cardiopatia isquémica e hipertensiva, measures. Clinical monitoring revealed polyuria and
doença arterial periférica, hipotiroidismo primário polydipsia. Initial laboratory work up showed nor-
por tiroidite autoimune e hábitos etílicos e tabágicos mal renal function, sodium 135 mmol/L, potassium
prolongados, segundo os filhos não cumprindo qual- 3.1 mmol/L, phosphorus 1 mg/dL, calcium 2.12
quer medicação. Recorreu ao serviço de urgência mmol/L, vitamin D 21.9 ng/mL, PTH 8.5 pg/mL and
(SU) por síncope com queda no domicílio. À admis- uric acid 2.7 mg/dL. He had no history of diarrhea
são apresentava um score de 10 na escala de coma nor was he under any diuretic. Protein electrophore-
620
E-POSTERS
sis revealed peak on gamma band (0.2 g/dL). Fur- terapia de substituição de função renal.
ther investigation detected augmented IgM kappa
and lambda on serum immunofixation, only with Do estudo realizado destaca-se ratio proteína crea-
vestigial kappa on urine. The patient went through tinina 6.3g/g (proteinúria nefrótica), eritrocitos dis-
myelogram, which documented 1% of plasmocytes. morficos presentes na urina, Imunoelectroforese
Renal ultrasound demonstrated normal sized kid- sérica IgG 462, IgA 53, IgM < 18, aumento cadeias
neys and body x-ray showed no bone lesions or plas- leves livres Kappa (K) 37,8 e Lambda (L) 5, razão
macytoma. Considering that no anemia was found, K/L livre aumentada, imunofixação sérica sem ban-
nor bone pain or hypercalcemia, this picture configu- das monoclonais, C3 73 diminuido, restante estudo
res a new diagnosis of monoclonal gammopathy of auto-imunidade e virologia negativos. Ecografia
undetermined significance (MGUS). To continue the renal sem alterações. Realizou biópsia renal com
study of hypokalemia, 24 hour urine was collected, anatomia patológica a mostrar: “Fragmento de corti-
showing non nephrotic proteinuria and augmented cal com cápsula contendo 15 glomérulos e artérias
excretion of potassium, glicose, phosphorus and de médio calibre. 9 Glomérulos estão esclerosados.
uric acid, raising the hypothesis of incomplete Fan- Os restantes apresentam lobulação e nódulos, PAS
coni Syndrome (normal pH) associated with MGUS, positivos, não argirofílicos. Interstício Extensa fibro-
taking the name of Monoclonal Gammopathy of Re- se intersticial, ocupando cerca de 90% da cortical.
nal Significance.  Tubos Extensa atrofia tubular. Observam-se alguns
cilindros hialinos intratubulares, não suspeitos de
Discussion: malignidade. Vermelho do Congo Pesquisa de subs-
tância amilóide - negativa. Visualizam-se depósitos
The authors present a rare case of incomplete Fan- de cadeia K na membrana basal dos tubos e nos
coni Syndrome as a presentation of monoclonal glomérulos, de distribuição nodular.”
gammopathy. Patients with multiple myeloma or
monoclonal gammopathy of undetermined signifi- O caso foi discutido com Hematologia com indica-
cance who present with electrolyte abnormalities ção de realizar 3 pulsos de 1g metilprednisolona e
should raise the awareness for Fanconi syndrome realização de medulograma que foi compatível com
as a form of monoclonal gammopathy of renal sig- gamapatia monoclonal. Foi encaminhada para con-
nificance, having a presumptive diagnosis of light sulta de Hematologia para início de quimioterapia.
chain proximal tubulopathy.
Pretende-se demonstrar a gravidade desta entidade
P n.º 1034  clínica e complexa marcha diagnóstica.
Gamapatia monoclonal de significado renal como
causa de falência renal em idade jovem P n.º 1035 
Rodrigo Rufino(1);Patrícia Domingues(2);Ana Pie- Presentation and outcomes of Chronic Kidney Di-
dade(2);Daniela Luz Rodrigues(1);Joana Ferrei- sease patients with COVID-19
ra(1);Inês Carvalho(1);Francisco Gomes(1);Liliana Carolina Carreiro(1);Carolina Branco(1);Inês Duar-
Cunha(2) te(1);Joana Gameiro(1);Cláudia Costa(1);Filipe
(1) Centro Hospitalar Barreiro/Montijo, EPE / Hospi- Marques(1);João Oliveira(1);João Bernardo(1);José
tal Nossa Senhora do Rosário (2) Centro Hospitalar Nuno Fonseca(1);José António Lopes(1);Sandra
de Setúbal, EPE / Hospital de São Bernardo Braz(1)
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi-
Tema: Doenças renais tal de Santa Maria
Tema: Doenças renais
A Gamapatia monoclonal de significado renal re-
presenta um grupo de doenças em que uma imu-
noglobulina monoclonal secretada por clone célula Introduction: COVID-19 has spread throughout the
plasmática ou célula B, não maligna ou pré-maligna, world and is currently a global health issue and an
provoca dano renal. Idade aquando diagnóstico ten- important cause of mortality. Chronic kidney disea-
de a superior a 50 anos. se is one of the risks factors for infection, morbidity
and mortality by SARS-CoV-2. In our study, we aim to
evaluate the clinical presentation and outcomes of
Mulher, 44 anos, antecedente de Hipertensão Ges- chronic kidney disease patients with COVID-19, as
tacional com necessidade de manutenção terapêu- well as identifying predictors of mortality.
tica após 2 gravidezes de termo, iniciou quadro de
cansaço, anorexia e edema membros inferiores,
de tempo indeterminado. Para esclarecimento fez Materials and Methods: This was a retrospective
estudo analítico: Anemia 9.2 g/dL, Colesterol total study of CKD patients admitted between March and
282 mg/mL, LDL 200, Ureia 178 mg/dL, Creatinina August of 2020 in Centro Hospitalar Universitário
8.08 mg/dL e urina II com proteinúria 200mg/dL Lisboa Norte, Portugal. CKD was defined as a eGFR
e sedimento inocente. No ultimo estudo analitico, lower than 60ml/min/1.73m2. All variables were
realizado há 3 anos, não tinha alterações. Para in- submited to univariate and multivariate analysis to
vestigação e estabilização clínica foi internada em determine factors predictive of in-hospital mortality.
enfermaria Nefrologia. Durante o internamento agra-
vou a função renal e necessitou de induzir e manter Results: 130 CKD patients were analyzed (median
age 73.9 years, male 60.0%). Hypertension, cardio-

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 621


vascular disease and diabetes were frequent co- DISCUSSÃO. Evolução favorável sob antibioterapia
morbidities. Cough, dyspnea, fever and respiratory e sem diurético, perante contexto para nosocomiali-
failure were common clinical presentations. Almost dade, constitui um forte argumento para a etiologia
60% of patients were anemic, 50% had hypoalbu- infeciosa, mesmo tratando-se de um agente inco-
minemia, 13.8% hyperlactacidemia and 17% were mum. A lesão maligna em região adjacente ao líqui-
academic. Mean serum ferritin was 1531ug/L, mean do surge como confundidor, mas a ausência de tra-
CRP 8.3mg/dL and mean LDH 336.9U/L. Most of tamento dirigido não se coaduna com a evolução.
our patients were treated with lopinavir/ritonavir
(36), hydroxychloroquine (23) or corticosteroids P n.º 1043 
(23), and only 2 with remdesivir. AKI was present Adenopatias inguinais, entre o inespecífico e o atí-
in 80.8% and ICU admission was required in 16.2%. pico
The thirty four patients who died (26.2%) were sig- Nuno Ricardo Oliveira(1);Francisco San Mar-
nificantly older and more likely to have heart failure tín(2);Rosa Amorim(2)
and present with dyspnea, respiratory failure and (1) Centro Hospitalar do Oeste - Unidade de Caldas
Brescia score greater than 2. They also had higher da Rainha (2) Centro Hospitalar do Oeste Norte, EPE
neutrophils/lymphocytes ratio, ferritin, lactate and / Hospital Distrital das Caldas da Rainha
LDH levels. Multivariate analysis identified an asso-
ciation between older age, higher ferritin and higher Tema: Doenças oncológicas
LDH levels and mortality.
As adenopatias sendo motivo frequente de estudo
Conclusion: In our cohort of CKD patients with CO- pela Medicina Interna, estão associadas a uma mi-
VID-19 older age, higher ferritin and higher LDH le- ríade de patologias. A abordagem diagnóstica re-
vels were independent risk factors for mortality. quer uma história clínica completa, boa caracteriza-
ção dos sintomas, observação exaustiva e escolha
P n.º 1037  sensata dos exames complementares. 
Ochrobactrum e pleura: uma associação rara
Joao Queirós Coelho(1);Maria Bourbon Aguiar Bran-
co Ruão(1);Bruno Fraga Dias(1);Guiomar Pinheiro(1) Discute-se aqui o caso de um homem de 65 anos,
(1) Centro Hospitalar do Porto, EPE / Hospital Geral referenciado por adenopatias inguinais esquerdas
de Santo António com um mês de evolução e crescimento progressi-
vo, sem outros sintomas. Objetivada massa inguinal
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias esquerda com cerca de 7 cm, tipo conglomerado
adenopático, consistência pétrea, fixa aos planos
INTRODUÇÃO. Ochrobactrum antrophi, é um bacilo profundos e indolor. 
gram negativo aeróbico, progressivamente reco- Analiticamente, verificou-se RPR 1/8 e TPHA 1/5120
nhecido pelo potencial patogénico oportunista e colocando-se a hipótese de sífilis secundária e
nosocomial, com raros casos de infeção descritos. realizou-se tratamento nesse sentido. No entanto,
Apresenta-se um caso cuja interpretação patológi- prosseguiu-se, logicamente, com o estudo para ou-
ca do agente é desafiante, correspondendo a um tras etiologias. A TAC documentou adenomegalias
caso particularmente incomum de identificação em inguinais e ilíacas externas e comuns esquerdas,
amostra pleural. com áreas de necrose e supuração. Foi excluída tu-
berculose ganglionar. 
CASO CLÍNICO. Mulher de 86 anos, autónoma, com
cardiopatia valvular e derrame pleural direito pre- Fez PAAF que revelou metástase de carcinoma pavi-
viamente filiado em etiologia cardíaca. Admitida mento-celular. 
por dispneia e perda ponderal, com agravamento
franco do derrame pleural, após 6 meses sob dose Na procura de tumor primário de origem ano-rectal
crescente de diuréticos (condicionando 2 interna- ou pele, fez rectosigmoidoscopia que não detetou
mentos). Derrame compatível com exsudado, não alterações e não se encontraram lesões cutâneas
complicado, com predomínio de polimorfonuclea- suspeitas.
res, sem isolamentos micro ou micobacteriológicos
A RMN revelou alteração milimétrica do revestimen-
e com citologia negativa para malignidade. Biópsia
to anterior anal, sem captação de contraste.
pleural apenas com isolamento de O. anthropi. Do
restante estudo, documentado adenoma tubulovi- Encaminhado para o IPO, realizada linfadenectomia
loso com displasia de baixo grau (focalmente alto inguinal e ileo-obturadora à esquerda, ainda sem
grau) no ângulo hepático, sem outros achados de identificação do tumor primário.
malignidade na PET-FDG, TC ou endoscopia alta.
Excluído tromboembolismo pulmonar, hipotiroidis- Na abordagem deste doente, a palpação das adeno-
mo, ascite, patologia parenquimatosa pulmonar ou patias, devido às suas características pétreas, du-
autoimune/imunodeficiências. Realizada drenagem ras, indolores e fixas a planos profundos, mesmo na
evacuadora e 14 dias de antibioterapia dirigida. Sus- ausência de sintomas constitucionais, era sugestiva
pendeu o diurético. Evolução favorável, sem reagra- de malignidade. Contudo, a unilateralidade e a lo-
vamento imagiológico, 30 dias após o tratamento. calização das adenopatias, o bom estado geral e
um estudo analítico inicial sugestivo de sífilis eram

622
E-POSTERS
fatores de confundimento. Assim, por vezes, a sen- géneas e o SHF tem sido descrito associado a esta
sibilidade clínica do exame objetivo pode não estar infecção, nem sempre cumprindo todos os critérios
em concordância com os resultados dos meios diagnósticos. O reconhecimento e tratamento pre-
complementares requeridos. Nesse cenário, deverá coces são fundamentais para evitar um desfecho
o médico prosseguir o estudo, atendendo sempre à fatal. Com este caso, pretendemos sensibilizar a
sua sensibilidade clínica até ficar a situação escla- necessidade de vigilância e deteção precoce desta
recida. Os exames são como bem diz o seu nome síndrome nos doentes com COVID-19.
“complementares”.
P n.º 1053 
P n.º 1046  Tratamento de infeções graves por bactérias pro-
Síndrome Hemofagocitica e COVID-19: importância dutoras de ESBL com Fosfomicina por via endove-
da deteção precoce nosa
Mafalda Teixeira da Costa(1);Mário Bibi(1);Cecília Pedro Caiado(1);António Epifânio Mesquita(1)
Moreira(1);João Pedro Lázaro Mendes(2);Ana Pi- (1) Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE / Hos-
nho(1);Diana Mata(3);Tiago Castro Pinto(1);Raquel pital de Santo António dos Capuchos
Calisto(1);Sofia Tavares(1)
(1) ULSMatosinhos (2) Centro Hospitalar Tondela- Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
-Viseu, EPE / Hospital de São Teotónio, EPE (3) IPO
Porto Introdução: A maioria das recomendações e linhas
de orientação internacionais recomendam o uso
Tema: Doenças hematológicas de fosfomicina para tratamento de bactérias pro-
dutoras de beta-lactamases de espectro estendido
A síndrome hemofagocitica (SHF) é uma entidade (ESBL) apenas nas infeções urinárias não complica-
rara e potencialmente fatal, caracterizada por uma das ligeiras. Existem dúvidas quanto à sua utilidade
hiperativação imunitária. É frequentemente despo- nas infeções complicadas.
letada por estímulos agressores, como infecções
ou neoplasias, que provocam uma ativação descon- Caso clínico: Homem de 80 anos, internado inicial-
trolada dos linfócitos T citotóxicos, células natural mente por prostatite aguda com bacteriémia a Kle-
killer e macrófagos conduzindo a hipersecreção/ bsiella pneumoniae ESBL sensível a amoxicilina-cla-
tempestade de citocinas com consequente lesão de vulanato, com que foi tratado durante 28 dias, com
órgão imunomediada [1-3]. resolução clínica e analítica. Manteve-se internado
por motivos sociais. Durante o internamento, de-
Mulher de 60 anos, admitida para limpeza cirúrgica senvolveu quadro de delirium hiperativo com febre
de bursite do joelho direito. Apesar de assintomá- causado por recidiva de prostatite complicada com
tica, por contacto com doente com infeção SARS- abcesso prostático, documentado em ecografia
-CoV-2, fez teste de rastreio que foi positivo. Ao fim prostática transrectal (EPTR). Em urocultura, iso-
de 4 dias, iniciou febre (39.5ºC) persistente. Nas lou-se de novo Klebsiella pneumoniae ESBL, desta
48h seguintes desenvolve insuficiência respiratória vez sensível apenas a meropenem e fosfomicina.
hipoxémica e exantema não pruriginoso cervical O doente foi tratado com fosfomicina endovenosa
e infra mamário.Tomografia computorizada com 4g de 8/8h, durante 28 dias. Observou-se excelente
contraste mostrou atingimento pulmonar <10%, sem evolução clínica, com resolução de sintomas após 7
tromboembolismo pulmonar. Aumento abrupto de dias de antibioterapia e com melhoria imagiológica
parâmetros inflamatórios com proteina C reativa na EPTR de reavaliação após 15 dias de antibiotera-
(PCR) de 178 mg/L, desidrogenase láctica (LDH) pia.
de 2802 U/L, ferritina  superior a 40 000 ng/mL e
pancitopenia com valores mínimos de hemoglo- Discussão: o ensino clássico sobre antibioterapia
bina 11.4g/dL, leucócitos de 2250/μL (neutrófilos é que se deve tratar as infeções graves por bacilos
de 1800/μL e linfócitos de 400/μL) e plaquetas de gram-negativos (BGN) produtores de ESBL com
76000/μL. Fibrinogénio normal e triglicerídeos de carbapenemos. Do nosso conhecimento, não exis-
145 mg/dL. Sem esplenomegalia. Apesar de à data tem ensaios clínicos aleatorizados publicados que
não apresentar critérios diagnósticos suficientes comparem carbapenemos com fosfomicina para o
segundo as guidelines, tinha um Hscore de 170 pon- tratamento de infeções por BGN-ESBL. Neste caso a
tos (>169) pelo que iniciou dexametasona 10mg/ fosfomicina foi eficaz, podendo vir a ser uma opção
m²/dia, com melhoria clinica e analítica considerá- terapêutica válida para o tratamento destas infe-
vel, sem introdução de outras terapêuticas dirigidas. ções. Mais estudos serão necessários para avaliar a
A pesquisa de antigénio CD 25 solúvel foi positiva, sua efetividade comparada.
a corroborar o diagnóstico de SHF. Manteve corti-
coterapia nesta dose durante duas semanas, com P n.º 1058 
normalização de PCR, LDH de 302 U/L,ferritina de Síndrome de Stevens-Johnson – o cessar da tera-
818 ng/mL e resolução de citopenias e insuficiência pêutica como a chave da cura
respiratória. Teve alta sob corticoide em desmame Leonor Gama(1);Josiana Duarte(1);Ana Santos e
lento. Silva(1);João Gamito Lopes(1);Henrique Rita(1)
(1) Unidade local de Saúde do Litoral alentejano,
As manifestações de COVID-19 são muito hetero- EPE

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 623


Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas- Introdução: A eosinofilia pulmonar é uma síndrome
culites rara com expressão clínica variada cujas causas
mais frequentes incluem infecções por helmintas
Introdução: A síndrome de Stevens-Johnson (SJS) ou fungos, pneumonia eosinofílica, vasculites, reac-
e a necrólise epidérmica tóxica (NET) são dois es- ções a fármacos e aspergilose broncopulmonar
pectros da mesma doença, potencialmente fatais, e alérgica (ABPA).
caracterizam-se por uma reação de hipersensibilida-
de cutânea tardia. A diferença entre ambas consiste Caso Clínico: Apresentamos o caso de um homem
na percentagem de área de pele afetada. Para além de 75 anos, ex-fumador, que recorreu ao serviço
da expressão cutânea ocorre ainda disfunção de de urgência por agravamento de tosse produtiva e
outros órgãos/sistemas, sendo que a fisiopatologia pieira com 8 anos de evolução, sem dispneia asso-
não está completamente esclarecida. Fármacos são ciada. À observação apresentava apenas prolonga-
a causa mais comum perfazendo cerca de 80% dos mento do tempo expiratório. Sem outras alterações
casos. à auscultação ou hipoxemia. Analiticamente revelou
uma eosinofilia de 503/mcL (que evoluiu para um
Caso clínico: Mulher, 79 anos, história de hiperten- máximo de 6040/mcL) e elevação da Imunoglobu-
são arterial e diabetes Mellitus, medicada recente- lina (Ig) E (272.4 UI/mL). Não se observaram para-
mente com canagliflozina. Recorre ao Serviço de sitas nas amostras de fezes e as serologias para
Urgência (SU) por quadro de odinofagia, hiperemia Strongyloides stercoralis foram negativas. A tomo-
ocular e febre com 1 dia de evolução, tendo sido grafia computorizada de tórax evidenciou uma den-
admitida uma amigdalite aguda tendo sido adminis- sificação parenquimatosa superior direita e bron-
trada 1 toma de penicilina e medicada com azitro- quiectasias à esquerda. A espirometria mostrou
micina para ambulatório. Regressa ao SU por agra- alteração ventilatória obstrutiva grave com resposta
vamento das queixas associado a edema labial e significativa após broncodilatação. A broncofibros-
dificuldade de deglutição. Objetivamente com uma copia não evidenciou alterações mas o lavado bron-
candidíase oral exuberante e lesões maculares na coalveolar revelou eosinofilia marcada (75%).
região dorsal que não desapareciam à digitopres- O estudo complementar em consulta revelou IgE
são. Laboratorialmente com aumento dos parâme- e IgG específicas para Aspergillus fumigatus e foi
tros inflamatórios (PCR 32.4 mg/dl), lesão renal admitido o diagnóstico de ABPA. Iniciou tratamento
aguda (creatinina 1.7 mg/dl e ureia 97 mg/dl) e au- com prednisolona e itraconazol mas, por manter
mento dos parâmetros de citocolestase. Assistiu-se exacerbações, foi proposto para terapêutica com
a um agravamento gradual do quadro clínico sob omalizumab.
terapêutica com fluconazol e piperacilina/tazobac-
tam, com extensão das múltiplas lesões maculares Discussão: A ABPA resulta de uma resposta de hi-
para os membros superiores, inferiores, abdomén e persensibilidade à colonização das vias aéreas por
região perineal, com flictenas dispersas (calcâneos, Aspergillus fumigatus.  Ocorre quase exclusivamen-
mãos, braços). Por alterações visuais, observada te em doentes asmáticos ou com fibrose quística
por Oftalmologia que documentou ulceração da cór- e traduz-se por múltiplas exacerbações de asma,
nea. Assumiu-se o diagnóstico de SJS em overlap eosinofilia, elevação da IgE e presença de IgG e IgE
com NET em contexto de Azitromicina/Penicilina específicas para Aspergillus fumigatus. A pouca es-
ou Canaglifozina com atingimento cutâneo, ocular pecificidade das manifestações implica um elevado
e gastrointestinal. Por necessidade de escalada de grau de suspeição para o diagnóstico, sendo este
cuidados, foi transferida para a UCI onde recebeu fundamental para a instituição de terapêutica dirigi-
cuidados de queimado com hidratação vigorosa. da, nomeadamente corticoterapia e antifúngicos.
Após 13 dias, descalada de cuidados para reabilita-
ção. P n.º 1064 
Um caso de elevação extrema das transaminases:
Discussão: Apesar do mecanismo biológico desta nem sempre é hepatite!
entidade ser desconhecido, pensa-se que ocorre Martim Trovão Pereira Bastos(1);Ana Carolina Mon-
devido à ligação de um antígeno ou metabólito as- teiro(1);Marta Arriaga Rocha(1);Sofia Carola(1);Sofia
sociado ao fármaco com o complexo principal de Bragança(1);Maria Clara Matos(1)
histocompatibilidade (MHC) tipo 1. Com este traba- (1) Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca
lho, os autores pretendem alertar para as alterações
dermatológicas e para o diagnóstico precoce desta Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente crí-
entidade. tico
P n.º 1062 
Aspergilose Broncopulmonar Alérgica – uma causa Introdução:
rara de exacerbação de asma
Sérgio Ferreira Cristina(1);Carolina Sepúlveda(1);A- A hipertransaminasémia é uma alteração analítica
na Rafaela Alves(1) frequente e, nos casos extremos, é sugestiva de
(1) Hospital de Cascais Dr. José de Almeida hepatite aguda tóxica, viral ou isquémica. Porém,
pode ter origem extra-hepática e ser a principal ma-
Tema: Doenças respiratórias nifestação de situações clínicas graves, entre elas a

624
E-POSTERS
rabdomiólise, como ilustra o caso apresentado.  moptises massivas ou morte súbita. Considera-se
uma dilatação patológica do tronco pulmonar acima
Caso Clínico: dos 4cm e a sua presença obriga a despistar várias
etiologias: congénitas, adquiridas ou idiopática. A
Homem de 26 anos, autónomo. Sem antecedentes congénita é a mais prevalente e as etiologias adqui-
pessoais ou familiares de relevo. Nega alergias ou ridas podem ser infeciosas, autoimunes e associa-
hábitos toxifílicos. das a hipertensão pulmonar (HTP). 
Recorreu ao serviço de urgência por dor abdominal
epigástrica com um mês de evolução, referindo, nos CASO CLÍNICO: Senhora de 59 anos com síndrome
últimos dias, episódios de micção com urina acas- metabólico. Por episódios de dor torácica atípica
tanhada e mialgias generalizadas. realizou um eletrocardiograma, sem alterações, e
um ecocardiograma transtorácico que evidenciou
À admissão, encontrava-se eupneico, normotenso, um aneurisma do tronco pulmonar, insuficiência val-
normocárdico, apirético, corado, hidratado e vular pulmonar grave com válvula pulmonar estru-
anictérico. Sem alterações na auscultação turalmente normal e cavidades cardíacas normodi-
cardiopulmonar ou no exame abdominal. mensionadas. A angiotomografia computorizada do
Analiticamente, apresentava AST de 1103 U/L e ALT tórax confirmou o aneurisma com 6.9x8.8cm, sem
360 U/L, com restante perfil hepático, hemograma, sinais indiretos de HTP.  Do estudo etiológico foram
ionograma, função renal e urina 2 normais. Foram excluídas causas infeciosas (sífilis, endocardite,
pedidas serologias virais (Anti-HAV, Ag Hbs, Anti- tuberculose), autoimunes (vasculites sistémicas),
HCV, IgM EBV e CMV e HIV), que vieram negativas. doenças cardíacas congénitas (exclusão de shunts
Adicionalmente, foi pedido doseamento de enzimas intracardíacos por ecocardiograma transesofágico),
musculares, com creatina cinase (CK) de 71705 doenças hereditárias do tecido conjuntivo (ausência
U/L e mioglobina de 7666 ng/ml, evidenciando de fenótipo sugestivo), e a cintigrafia de perfusão/
rabdomiólise grave. Foi apurada história de início ventilação e o cateterismo cardíaco direito excluí-
recente e abrupto de treino muscular vigoroso, ram HTP secundária a patologia cardíaca ou pulmo-
sem toma de suplementos dietéticos ou esteróides nar crónicas.
anabolizantes.
DISCUSSÃO: Os critérios de diagnóstico do AAPI
Foi internado e iniciou fluidoterapia intensiva, com baseiam-se em 5 premissas: dilatação isolada do
descida progressiva dos valores de CK (até 4521 tronco pulmonar; ausência de shunts intra e extra-
U/L) e descida paralela das transaminases (até AST cardíacos; ausência de doença cardíaca ou pulmo-
249 U/L e ALT 188 U/L), com manutenção da função nar crónicas; a inexistência de doenças que afetam
renal normal. Realizou ecografia abdominal sem a vasculatura pulmonar; e a ausência de HTP. O
alterações hepáticas estruturais. diagnóstico é feito após uma investigação detalha-
da com base na história clínica, exames não inva-
Teve alta no 4º dia de internamento, com indicação sivos e invasivos. Por ser uma entidade incomum
para moderar o exercício físico. Em consulta de que pode estar associada a uma grande morbimor-
reavaliação, apresentava-se assintomático e com talidade, os autores consideram ser importante o
análises normalizadas.   seu reconhecimento assim como uma abordagem
multidisciplinar.
Discussão:
P n.º 1067 
A rabdomiólise é uma causa de hipertransamina- Helicobacter pylori: uma causa de anemia.
sémia com clínica inespecífica, sendo facilmente Ana Isabel Bezerra Rodrigues Machado(1);Marga-
confundível com doença hepática aguda. Apresenta, rida Araújo(1);Sara Freixo(1);Inês Manuel Gonçal-
não obstante, um importante risco de complicações ves(1);Marina Alves(1);Maria Luísa Pinto(1);Francis-
sistémicas e uma abordagem específica, não po- co Gonçalves(1);António Oliveira e Silva(1)
dendo deixar de ser considerada nos doentes sem (1) Hospital de Braga
causa provável de hepatite ou com elevações da
AST desproporcionais à ALT. Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá-
ticas
P n.º 1066 
ANEURISMA DA ARTÉRIA PULMONAR IDIOPÁTICO:
UM ACHADO INESPERADO A anemia é muito comum na prática clínica, com
Filipa David(1);Rute Cruz(1);Sofia Correia(1);Joana várias etiologias. A identificação da sua causa e res-
Cancela(1) petivo tratamento devem ser sempre realizados.
(1) Unidade Local de Saúde de Matosinhos, EPE /
Hospital Pedro Hispano Apresenta-se o caso de uma jovem de 23 anos,
natural do Brasil, a viver em Portugal há 1 ano. An-
Tema: Doenças cardiovasculares tecedentes de anemia ferropénica assintomática há
cerca de 2 anos, interpretada no contexto de perdas
Introdução: O Aneurisma da artéria pulmonar idio- menstruais abundantes. Realizou anticontraceção
pático (AAPI) é raro e a sua apresentação é diversa, oral e ferroterapia, com melhoria da anemia. Sus-
desde ser um achado em exames auxiliares até he- pendeu o tratamento 1 ano depois, desde então

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 625


com ciclos menstruais regulares, sem menorragias precordialgia com 1 hora de evolução e cefaleia pa-
abundantes.  rietal direita, dor ocular, visão turva e vómitos com
5 horas de evolução. Realizou electrocardiograma
Vem à urgência por astenia marcada há 6 meses, que mostrou elevação do segmento ST em V2, I e
com dispneia para médios esforços e tonturas aVL e depressão em III e aVF. Perante a suspeita de
ocasionais com o ortostatismo. Do estudo efetua- enfarte agudo do miocárdio (EAM) com supra ST
do destacou-se anemia microcítica, microcrómica com apresentação atípica realizou coronariografia
(hemoglobina (Hb) 5.9 g/dl) e ferropenia marcada emergente que mostrou estenose proximal da arté-
(ferro sérico 6ug/dL, ferritina 2ng/mL), ácido fólico ria descendente anterior (50-70%), com significado
e vitamina B12 normais, reticulócitos 1.2%. Realizou hemodinâmico por avaliação funcional, pelo que
transfusão de duas unidades de glóbulos rubros, realizou intervenção percutânea. O diagnóstico de
com bom rendimento. EAM foi posteriormente confirmado pela elevação
da troponina à admissão. No pós-procedimento, ob-
Durante o internamento realizou ferroterapia endo- servou-se diminuição da acuidade visual, midríase
venosa e manteve-se pouco sintomática (apenas não reativa e hiperemia conjuntival no olho direito.
com tonturas quando mudava de posição para or- A PIO era 60 mmHg no olho direito e admitiu-se  o
tostatismo). Foi excluída Doença Celíaca e doença diagnóstico de GAAF. Fez manitol e colírio de dorzo-
tiroideia. Sem alterações na eletroforese de proteí- lamida, pilocarpina e dexametasona. Foi ainda sub-
nas e de hemoglobina. A endoscopia digestiva alta metida a iridotomia transfixiva. Apresentou melhoria
apresentou-se macroscopicamente normal. Exame clínica e da PIO para 6 mmHg.
parasitológico de fezes negativo.
Discussão: Em indivíduos com doença coronária,
À data de alta aguardava histologia da biópsia e processos que aumentem o consumo de O2 pelo
apresentava Hb 9.5g/dL.  miocárdio têm o potencial de desencadear isque-
mia. Neste caso, o GAAF parece ter sido o fator
Reavaliação em consulta de Medicina Interna cerca
precipitante de EAM. Perante um doente que se
de 3 meses depois: sentia-se bem e negava can-
apresenta simultaneamente com duas emergências
saço fácil ou perdas hemáticas. A biópsia gástrica
médicas, é fundamental uma célere articulação in-
mostrava gastrite crónica superficial do antro e
terdisciplinar para minimizar a morbilidade para o
corpo associada a Helicobacter pylori de atividade
doente.
moderada. Fez erradicação com antibioterapia e
remarcou-se consulta em meio ano, altura em que P n.º 1076 
já apresentava Hb 13.6 g/dl, ferro sérico 124, ferri- Disseção espontânea da porção petrosa da artéria
tina 11, transferrina 327 e saturação de transferrina carótida interna: causa rara de enfarte cerebral
29.6%. Ana Isabel Gonçalves Ferreira(1);Catarina Jorge(2);-
José da Cunha Marques(1);José Dias Costa(1);Pau-
Apesar de não ser uma causa frequente de anemia
lo Castro Chaves(1);Luísa Fonseca(1)
por si só, a infeção por Helicobacter pylori pode ser
(1) Centro Hospitalar de S. João, EPE (2) Centro
responsável por má absorção gástrica do ferro e,
Hospitalar do Algarve, EPE / Hospital de Faro
consequentemente, por anemia ferropénica, pelo
que é sempre importante a sua pesquisa em ane- Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas
mias sem etiologia conhecida.
P n.º 1068  Introdução: O diagnóstico de disseção da porção
Glaucoma Agudo de Ângulo Fechado - um fator petrosa da artéria carótida interna (ACI) é desafian-
precipitante de Enfarte Agudo do Miocárdio te e raro.
Sérgio Ferreira Cristina(1);João Presume(2)
(1) Hospital de Cascais Dr. José de Almeida (2) Cen- Caso Clínico: Trata-se de uma doente do sexo femi-
tro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE / Hospital nino, de 47 anos, com tiroidite de Hashimoto, que
de Santa Cruz recorre ao Serviço de Urgência (SU) com cefaleia e
cervicalgia intensas e fadiga com 2 dias de evolu-
Tema: Doenças cardiovasculares
ção. Horas antes da admissão no SU, teve instala-
ção de diminuição de força muscular no membro
Introdução: O glaucoma agudo de ângulo fechado superior esquerdo e desvio da comissura labial.
(GAAF) é uma neuropatia óptica que resulta de um Negava história de trauma. No SU, encontrava-se
aumento súbito da pressão intraocular (PIO) secun- hemodinamicamente estável e normoglicémica e
dário à obstrução da drenagem do humor aquoso. É apresentava paralisia facial esquerda (PFE) minor,
uma emergência oftalmológica que pode conduzir a hemianopsia homónima esquerda (HHE), anosog-
cegueira se não for atempadamente tratado.  A sin- nosia, extinção sensitiva esquerda e hemiparesia
tomatologia exuberante pode levar à activação sim- esquerda. Não foi submetida a trombólise por se
pática com consequente taquicardia e hipertensão. encontrar fora de janela terapêutica.
O angioTC cerebral revelou um trombo no início da
Caso Clínico: Descrevemos o caso de uma mulher
artéria cerebral média direita. Foi realizada trom-
de 77 anos, com antecedentes de diabetes e dis-
bectomia, recanalização TICI2c. Durante o proce-
lipidemia que recorreu ao serviço de urgência por

626
E-POSTERS
dimento, suspeita de possível disseção da ACI. Foi nessa altura, identificados ANAs (título 1:1280) e
admitida na Unidade de Acidente Vascular Cerebral ENAs (anti-SSA e SSB) positivos. Teve alta sob hi-
(AVC) com HHE e PFE. Iniciou terapêutica com droxicloroquina 400mg id e prednisolona 20mg id,
ácido acetilsalicílico e atorvastatina. Realizou ECG que não cumpriu.
que mostrava ritmo sinusal, ecodoppler carotídeo
e ecocardiograma sem alterações e angioRMN ce- No episódio actual, ao exame físico, objectivado
rebral que revelou ACI direita em forma de “bico de eritema malar. Prosseguido estudo que evidenciou
lápis” na porção petrosa, associada a deformidade hipocomplementémia de C3 e C4 e proteinúria
da parede compatível com hematoma intramural. (<0.5g/24h). Efetuada biópsia cutânea das lesões,
Os estudos: autoimune, pró-trombótico e o painel cuja imunofluorescência demonstrou depósitos de
genético de aortopatias foram negativos. Teve alta IgM e C3 na junção dermo-epidérmica. Admitido
ao 5º dia de internamento com HHE. Aos 4 meses, LES com atingimento cutâneo na forma de lupus
não apresentou recorrência de sintomas, mantendo cutâneo subagudo com evolução em necrólise epi-
terapêutica. dérmica tóxica, induzida pela infeção SARS-CoV-2.
Reintroduzida corticoterapia sistémica e hidroxiclo-
Discussão: A etiologia do evento vascular cerebral roquina, com resolução progressiva dos sintomas.
é, por vezes, difícil de esclarecer. Apesar de rara, a
disseção arterial é uma das causas possíveis de Conclusão
AVC no jovem, podendo ser traumática ou espontâ-
nea, obrigando neste caso a pensar em doenças do O caso supracitado relata o diagnóstico de LES,
colagénio. com apresentação cutânea grave, associado à infe-
ção SARS-CoV-2. Existe escassa literatura capaz de
Neste caso, a angiografia alertou para a possibili- associar ambas as doenças, mas sabe-se que este
dade de disseção na porção petrosa da ACI direita, vírus tem a capacidade de induzir uma activação
que se confirmou na AngioRM e que facilitou o diag- imunológica importante, resultando numa tempes-
nóstico. tade de citocinas inflamatórias, tendo sido descrito
o seu envolvimento noutras doenças autoimunes.
P n.º 1084  Este caso clínico demonstra o possível papel do
INFEÇÃO POR SARS-CoV-2 COMO TRIGGER DE LU- novo coronavírus como trigger do LES.
PUS ERITEMATOSO SISTÉMICO COM APRESENTA-
ÇÃO CUTÂNEA GRAVE P n.º 1094 
Ana Luisa Nunes(1);Leonor Gouveia Simões(1);Ana Envolvimento multiorgânico por Citomegalovírus
Coimbra(1);Jandira Lima(1);Rui m. Santos(1);Ar- Rita Reis Bragança(1);Carolina Anjo(1);Mónica d.
mando Carvalho(1) Mesquita(1);Renata Violante Silva(1);Fernando Gui-
(1) Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra / marães(1);Paulo Carrola(1);Fernando Salvador(1)
Hospitais da Universidade de Coimbra (1) Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Dou-
ro, EPE / Hospital de Vila Real
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
culites Tema: Doenças infecciosas e parasitárias

O lupus eritematoso sistémico (LES) é uma doença Introdução


autoimune com atingimento de múltiplos órgãos,
incluindo a pele. O lupus eritematoso cutâneo (LEC) A infeção por Citomegalovírus (CMV) é frequente e
pode ocorrer em associação ou independentemente geralmente assintomática. Em doentes imunodepri-
do LES. Ambos podem ser desencadeados por in- midos a ocorrência de casos graves não é menos-
fecções víricas, como descrito na literatura. Severe prezável, com um espectro de apresentação vasto,
acute respiratory syndrome coronavirus 2 (SARS- desde retinite, pneumonia a colite.
-CoV-2) é o agente vírico responsável pela actual
pandemia mundial. O seu papel nas doenças autoi- Caso clínico
munes permanece por esclarecer, mas escassos
casos foram reportados de LES diagnosticado após Homem de 45 anos, com infeção por VIH em es-
infeção por este microorganismo. tadio C3 conhecida há 30 dias em contexto de
pneumocistose, para a qual iniciou antiretrovirais 8
dias antes e completou tratamento de pneumocis-
Caso Clínico
tose nos 6 dias prévios à admissão. Admitido em
Mulher, 70 anos, internada por lesões cutâneas internamento hospitalar por clínica de febre, diarreia
maculares, com evolução para bolha e posterior sem muco ou sangue e sintomas constitucionais
descolamento epidérmico extenso, com início no com dez dias de evolução.
dorso e progressão descendente, com 3 semanas
Objetivamente desidratado e com epigastralgia à
de evolução. Antecedentes de artrite psoriática em
palpação profunda, aumento da frequência e timbre
seguimento no particular. De salientar infeção por
dos ruídos peristálticos em todos os quadrantes
SARS-CoV-2 6 semanas antes do início do quadro, a
abdominais e sem sinais de irritação peritoneal. Do
condicionar internamento, durante o qual se verifica-
estudo complementar, a destacar elevação dos
ram artralgias das pequenas articulações das mãos
parâmetros inflamatórios, espessamento da parede
e poliserosite. Do estudo complementar realizado
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 627
cólica em toda a sua extensão na TC abdominopel- pia, clorhexidina em colutório e reforço hídrico. Em
vica e isolamento de Giardia Lamblia em coprocul- D19 constatou-se a presença de lesões maculares
tura. Iniciado tratamento com metronidazol, com purpúricas indolores nas mãos e pés, que excluídas
manutenção de febre e diarreia. Analiticamente, e alterações hematológicas, auto-imunes, iatrogenia
de forma simultânea ao descrito, desenvolve citoco- farmacológica e outras infeções, foram interpreta-
lestase importante. das em contexto de infeção COVID-19. Teve alta da
unidade em D20 com melhoria das lesões cutâneas
Apresentava serologias positivas para CMV com e da tumefação parotídea.
avidez elevada e identificação por biologia molecu-
lar em sangue periférico. A endoscopia digestiva DISCUSSÃO
baixa evidenciava proctocolite extensa e ulcerativa,
cuja biópsia demonstrava múltiplas células endo- A parotidite aguda e a púrpura são manifestações
teliais e estromais com inclusões secundárias a atípicas pouco relatadas da COVID-19. A apresenta-
infeção por CMV, confirmada no estudo imunohisto- ção unilateral e a ausência de flutuação e drenagem
químico. Realiza biópsia hepática, com hepatite em são manifestações típicas da parotidite aguda nes-
resolução e imunohistoquímica negativa para CMV. te contexto, apesar de mais frequente na primeira
semana de doença. A sua ocorrência parece refletir
Atendendo ao diagnóstico de pancolite por CMV, o tropismo vírico para os recetores celulares ACE2
iniciou ganciclovir 350 mg, com resolução da febre presentes nos ductos salivares. A púrpura pertence
e diarreia, e normalização progressiva das enzimas às manifestações cutâneas descritas e tal como
de biologia hepática, pelo que foi assumida hepatite neste doente, está associada a doença ligeira. Este
colestática secundária a infeção por CMV. caso, ao ilustrar a variedade de manifestações clí-
nicas da COVID-19, realça o carácter sistémico da
Conclusão doença e alerta para a necessidade de um alto grau
de suspeição clínica para o seu diagnóstico.
Este caso reforça a importância de pesquisar ativa-
mente infeções por CMV em doentes imunodeprimi- P n.º 1099 
dos. A colite por CMV, apesar de rara, é a manifesta- Dores ósseas migratórias - qual a causa?
ção extraocular mais frequente nestes doentes, mas Ana Catarina Varandas Rodrigues(1);Ruben Rai-
o atingimento de outros órgãos não pode ser me- mundo(2);Lorena Lozano(1);Juan Alba Gil(1);Juan
nosprezado.  Urbano(1)
(1) Unidade Local de Saúde do Norte Alentejano -
P n.º 1096  Hospital Santa Luzia de Elvas (2) Unidade Local de
Púrpura e parotidite aguda – um caso atípico de Saúde do Norte Alentejano - Hospital de Portalegre
infeção por SARS-CoV-2
Inês Aparício Martins(1);Alexandra Montenegro(1);- Tema: Doenças oncológicas
Miguel João Pinheiro(1);Rui Malheiro(1)
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE / Hos-
pital de Santo António dos Capuchos Introdução: Os tumores neuroendocrinos são neo-
plasias malignas pouco diferenciadas de alto grau.
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias Podem ter origem em qualquer orgão do sistema
neuroendocrino, sendo mais frequente o tracto gas-
trointestinal e o pulmão.
INTRODUÇÃO 
Caso clínico: Homem de 71 anos de idade com an-
A Coronavirus Disease 19 (COVID-19) manifesta-se tecedentes de hipertensão arterial, diabetes mellitus
tipicamente por febre, tosse e dispneia. Contudo, tipo 2 e ex-fumador (cessou hábitos há 5 anos).
foram descritos casos assintomáticos e apresen-
tações atípicas. Descreve-se um caso de púrpura Internado no Serviço de Medicina Interna por dores
e parotidite aguda, na ausência de manifestações ósseas com seis meses de evolução e de intensi-
típicas, num doente com COVID-19. dade crescente, localizadas na grelha costal, anca
esquerda e lombalgia de caracteristicas inflamató-
CASO CLÍNICO rias. Cerca de uma semana antes do internamento
iniciou incontinência de esfíncteres e diminuição da
Doente de 84 anos, sexo masculino, internado com
força muscular dos membros inferiores.
os diagnósticos de artrite séptica do ombro e in-
suficiência cardíaca descompensada. Durante o Ao exame objectivo destacava-se a presença de
internamento, por infeção COVID-19 nosocomial, incapacidade funcional quer do tronco quer dos
foi transferido para a unidade COVID-19 onde se membros inferiores pela dor aguda intensa. Analiti-
manteve assintomático. Em D15 desenvolveu uma camente apresentava hipercalcemia de 13,2 mg/dl.
tumefação parotídea direita dolorosa e com rubor
local, sem drenagem pelo canal de Stenon. Analiti- Perante as queixas sistémicas realizou TC torácico,
camente com agravamento dos parâmetros infla- coluna e bacia com a evidência de formação nodu-
matórios, realizou TC cervical que revelou aumento lar no segmento lateral e posterior do lobo inferior
da parótida direita e adenopatias submaxilares. esquerdo (3,1 cm de diâmetro) bem como lesões
Diagnosticada parotidite aguda, realizou antibiotera- líticas múltiplas nos corpos vertebrais a diferentes

628
E-POSTERS
níveis da coluna vertebral, arcos costais e bacia bi- com lesões de leucoencefalopatia isquémica ate-
lateralmente de provável origem metastática. roesclerótica (ganglios da base e tálamo) sem le-
sões agudas, sem evidência de disrritmia e/ou TEP.
Pelas alterações neurológicas realizou RM dorso- Analiticamente com Hb 11 g/dl, com função renal
-lombar que revelou fractura patológica com com- normal e sódio 119 mmol/L. Iniciada suplementa-
pressão medular a nível D11, tendo sido submetido ção com melhoria dos défices neurológicos. Após
a radioterapia. suspensão da mesma, hiponatremia de 123 mmol/L
e crise convulsiva. Reiniciada terapêutica com me-
A anatomia patológica de biópsia óssea foi compa- lhoria. Do estudo efetuado, sódio e osmolaridade
tível com carcinoma neuroendocrino de pequenas urinária elevadas, com ácido úrico baixo. Excluído
células de provável origem pulmonar. hipotiroidismo, deficiência de glucocorticoides, VIH
e fármacos. Efetuado TC TAP e estudo endoscópico
O doente iniciou quimioterapia com carboplatino e
sem evidência de neoplasia. Poteriormente iniciada
etoposideo com estabilização da doença aos 6 me-
suplementação com cloreto de sódio oral, sem no-
ses. 
vos episódios de AEC e crises convulsivas. Doente
Conclusão: encaminhado para a consulta externa onde manteve
seguimento durante 36 meses sem evidência de
A pertinência deste caso é demonstrar a dificuldade neoplasia. Assim sendo assumido SIADH idiopático.
diagnóstica deste tipo de neoplasias quer pela sua
raridade quer pela sua apresentação tão diversifica- Conclusão: O estudo etiológico do SIADH é desa-
da. fiante dadas as múltiplas etiologias na sua origem.
A causa paraneoplásica é muitas vezes de difícil
Apesar de ser uma neoplasia maligna o seu cres- diagnóstico dado o longo seguimento necessário
cimento é lento o que dificulta por vezes o diag- para a sua exclusão definitiva. Nos últimos anos
nóstico precoce, acabando na maioria das vezes estudos têm vindo a demonstrar a relação do SIA-
(60-80%) por ser diagnosticado em fase muito avan- DH idiopático com o processo do envelhecimento,
çada. o que parece ser o caso relatado. Em alguns des-
tes doentes apesar de a hiponatremia ser ligeira é
O seu tratamento pode ser realizado com cirurgia, necessária a suplementação, dadas as patologias
em estadios iniciais, ou quimioterapia em estadios associadas. Com este caso os autores pretendem
avançados. alertar para o longo seguimento que estes doentes
requerem e o estudo exaustivo necessário.
A sobrevida depende do estadio do tumor e da sua
localização primária. P n.º 1104 
Nefrite lúpica seronegativa: um desafio diagnóstico
P n.º 1100  Marta Braga(1);Bárbara Fontes Oliveira(1);Margarida
SIADH crónico do idoso Correia(1);Carla Campinho Ferreira(1);Filipa Abreu
Cristina Isabel Moreira Marques(1);Cristiana Fernan- Martins(1);Cristiana Honrado Martins(1);Vânia Go-
des(1);José Miguel Ferreira(1);Márcia Ribeiro(1);Ana mes(1);Céu Rodrigues(1);António Oliveira e Silva(1)
Ogando(1);Carlos Oliveira(1) (1) Hospital de Braga
(1) Hospital Santa Maria Maior de Barcelos
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio- culites
nais
Introdução: A nefrite lúpica é uma complicação
Introdução: A secreção inadequada de ADH é ca- grave e comum do lupus e muitas vezes a forma de
racterizada pela ativação de mecanismos de con- apresentação da doença. A apresentação sem po-
servação de água, apesar da ausência de estímulos sitividade para os anticorpos antinucleares é muito
osmóticos ou relacionadas com o volume plasmáti- rara.
co. Tipicamente estes doentes apresentam-se com
hiponatremia euvolémica, dado que existe adequa-
Caso clínico: Homem de 32 anos, saudável, avalia-
da resposta renal. As principais causas de SIADH
do na urgência por diminuição da acuidade visual
são múltiplas sendo que por vezes nenhuma causa
- oftalmologia diagnosticou atingimento vascular
é encontrada.
por hipertensão maligna. Clinicamente apresentava
astenia, cefaleias, fenómeno de Raynaud e hiper-
Caso Clínico: Homem de 81 anos, história de insu- sudorese noturna. Nas análises: anemia grave (8,5
ficiência cardíaca de etiologia hipertensiva, anemia mg/dL microcítica hipocrómica), lesão renal aguda
por défice de ferro, nódulo da tiroide, psoríase, intrínseca renal (creatinina 3.3 mg/dL), hipoalbumi-
síndrome demencial incipiente e alcoolismo (con- nemia, proteína C reativa de 13 mg/dL e velocidade
sumo passado de 120g/dia). Entrada no Serviço de de sedimentação de 123 mm/h. Ecografia renal a
Urgência por síncope com traumatismo craneo-en- traduzir nefropatia. Tomografia computorizada com
cefálico com perda transitória da consciência, sem derrame pleural e pericárdico. Ficou internado para
memória. Hemodinamicamente estável, discurso estudo alargado de quadro inflamatório sistémico,
coerente, mas com períodos de desorientação. TC poliserosite e provável síndrome nefrótico. 

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 629


Detectada hipocoplementémia; hipergamaglobu- Porém, no quinquagésimo dia de internamento en-
linemia, hipercolesterolemia, hipertrigliceridemia, quanto realizava a sessão de fisioterapia, iniciou
proteinúria de 24h: 19g, mas com anticorpos antinu- um quadro súbito de toracalgia e necessidade de
cleares, anti-ds-DNA, anti-neutrófilo e anti fosfolípi- instituição de oxigenoterapia suplementar nova-
dos negativos. Estudo infecioso alargado negativo. mente, tendo sido detectado um tromboembolismo
Tomografia de emissão de positrões e estudos en- pulmonar maciço bilateral que apesar do início da
doscópicos sem alterações. Considerada hipótese hipocoagulação evoluiu rapidamente para um cho-
inicial de vasculite, iniciados pulsos de metilpredni- que obstrutivo que culminou em paragem cardiores-
solona 1g durante 3 dias, seguido de prednisolona piratória.
1mg/Kg/dia. Realizada biópsia renal cujo resultado
revelou nefropatia “full-house” compatível com ne- O vírus da COVID-19 apresenta características imu-
frite lúpica. Atendendo ao resultado histológico, e no-angiogénicas caracterizadas pela existência de
apesar da ausência do perfil serológico típico, assu- dano alveolar difuso com presença de células infla-
mido o diagnóstico e associada terapêutica de indu- matórias na microvasculatura e associa-se a fatores
ção com micofenolato de mofetil. Acesso posterior imunes que contribuem para uma coagulopatia
a doseamento de classes de IgG, com IgG4 superior intravascular que  provoca um quadro de hipercoa-
a 10x o normal, e confirmação de depósitos na gulação generalizada.
biópsia renal. No entanto, a microscopia eletrónica
afastou esta hipótese. É seguido em consulta com P n.º 1107 
desmame de corticoide após melhoria da função Doença de Caroli - a propósito de um caso clínico
renal e proteinúria. André Colmente(1);José Diogo Martins(1);Ma-
ria Pontes Ferreira(1);Joana sá Couto(1);Rosana
Discussão: Os critérios de classificação desta en- Maia(1);Miguel Romano(1);Francisco Teixeira da
tidade incluem a positividade para anticorpos anti- Silva(1);Rogério Corga da Silva(1);Manuel Ferrei-
nucleares, e há muito poucos casos relatados sem ra(1);Carmélia Rodrigues(1);Diana Guerra(1)
este critério, mas com diagnístico dada a elevada (1) Unidade Local de Saúde do Alto Minho, EPE /
suspeição clínica e os achados na biópsia renal. Hospital de Santa Luzia

P n.º 1105  Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá-


O desfecho trágico após a “cura” da infecção pela ticas
COVID-19
ANA SOFIA RAMOA OLIVEIRA(1);Luis Neves Sil- INTRODUÇÃO
va(1);Ana Luís Vasconcelos(1);João Miguel Mene-
ses(1);Manuela Vasconcelos(1);Rosário Araújo(1)
(1) Hospital de Braga A doença de Caroli (DC) é uma doença autossómica
recessiva rara caracterizada por dilatações segmen-
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias tares dos ductos biliares intra-hepáticos, podendo
resultar em fibrose hepática. Normalmente está as-
sociada a doença renal poliquística. É uma entidade
É cada vez mais evidente que a infecção pela que pode cursar com disfunção hepática, sendo im-
Covid-19 pode ter um ponto de partida respiratório e portante o seguimento e vigilância regular. 
posteriormente causar complicações sistémicas de
difícil gestão. CASO CLÍNICO

Descrevo um caso clínico de um homem de 61 Homem de 43 anos, com antecedentes de dislipide-


anos, autónomo, com antecedentes de Síndrome mia, tabagismo ativo e malformação congénita dos
de Sjogren sob tratamento com hidroxicloroquina. dedos do pé, enviado à consulta de Hepatologia por
Recorreu ao serviço de urgência por dispneia e tos- um emagrecimento involuntário com cerca de 1 ano
se, com detecção, após realização de exames com- de evolução e um desconforto no hipocôndrio direi-
plementares diagnósticos de Pneumonia por SAR- to com agravamento nos últimos 2 meses. Negados
S-CoV2 com atingimento extenso e insuficiência consumos alcoólicos, chás/produtos de herbanária,
respiratória grave com necessidade de ventilação drogas ou contactos sexuais de risco; sem outras
mecânica invasiva e posteriomente não invasiva queixas gastrointestinais. Na consulta, exame físico
com desmame lento da oxigenoterapia, sobreinfec- sem alterações de relevo e sem qualquer estigma
ção bacteriana com necessidade de vários esque- de doença hepática crónica. Apresenta uma en-
mas de antibióticos que conduziu a um internamen- doscopia digestiva alta (EDA) e baixa (EDB) que se
to prolongado, resultando numa acentuada miopatia revelaram normais e a TC abdominal revelou peque-
de desuso, disfonia e disfagia decorrente da entuba- nas ectasias dos ductos biliares e uma incipiente
ção de longa duração. Após iniciar o cumprimento esteatose. Atendendo ao quadro clínico, realizou
de um plano criterioso de reabilitação respiratória, colangiopancreatografia por ressonância magnética
motora e da fala, o doente apresentou uma melhoria (CPRM) que documentou malformações de placa
franca do seu descondicionamento muscular polis- biliar, do tipo Todani V modificada, compatíveis com
segmentar e capacidade para alimentar-se por via Doença de Caroli simples. Analiticamente sem alte-
oral. rações da função hepática e restante estudo etioló-
gico negativo, apenas revelando uma elevação do
colesterol total (254 mg/dl). Após início de estatina
630
E-POSTERS
e conselhos higienodietéticos, mantém-se em se- (Deauville 3) após 2 ciclos (dos 6 previstos).
guimento e vigilância em consulta de Hepatologia.
Conclusão: Apresenta-se um caso extremamente
CONCLUSÃO raro de DLP-MTX com histologia de LHc.
A doença de Caroli é uma entidade rara cujo diag- Com este caso, pretende evidenciar-se a importân-
nóstico é baseado em estudos imagiológicos que cia da suspeição de DLP-MTXem doentes com qua-
documentem ectasia irregular dos ductos biliares. dro consumptivo e adenomegálias e a necessidade
A estase biliar pode levar a litíase biliar e colangites de persistir na marcha diagnóstica apesar das oca-
de repetição, tendo associada uma elevada morbi- sionais dificuldades.
lidade. O tratamento é essencialmente de suporte,
consistindo na vigilância de desenvolvimento de Na DLP-MTX, caso não exista resolução com a sus-
complicações infecciosas, aparecimento de compli- pensão do fármaco ou perante subtipos histológi-
cações de hipertensão portal e rastreio de colangio- cos distintos do LNH-B, preconiza-se a terapêutica
carcinoma.  de quimioterapia dirigida.

P n.º 1110  P n.º 1114 


O preço da imunossupressão - Um caso de doença Streptococcus gallolyticus subespécie pasteu-
linfoproliferativa relacionada com o metotrexato rianus e neoplasia colorretal: Caso Clínico
Cátia de Almeida(1);Adriana Roque(1);Ana Isabel José Leão Mendes(1);Miguel Duarte Nunes(1);Ale-
Espadana(1) xandra Montenegro(1);Francisca Martins(1);Catari-
(1) Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra / na Regala(2);Eugénio Teófilo(1)
Hospitais da Universidade de Coimbra (1) Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE / Hos-
pital de Santo António dos Capuchos (2) IPO Lisboa
Tema: Doenças hematológicas
Tema: Doenças oncológicas
Introdução: O metotrexato (MTX) é amplamente
utilizado na patologia autoimune. Raramente, tem Introdução
sido descrito como associado a um subtipo distinto
de doença linfoproliferativa (DLP) (tipicamente com Está bem descrita a relação entre o microbioma
características histológicas e imunofenotípicas de intestinal e neoplasia colorretal. Dentro dos vários
linfoma não-Hodgkin B [LNH-B]), de onde se destaca microorganismos implicados, o Streptococcus
a possibilidade de regressão da doença após sus- gallolyticus é o mais bem estabelecido, em parti-
pensão do MTX. cular a subespécie gallolyticus (Sgg) – ao invés da
subespécie pasteurianus (Sgp), associação cuja ro-
Caso clínico: Homem, 58 anos, com antecedentes bustez não é atualmente substancial. Os autores do
de artrite psoriática sob terapêutica com MTX (5 trabalho ressalvam, a propósito de um caso clínico,
mg/semana) por 2 décadas. Desenvolveu quadro a importância desta associação.
de perda de 15% do peso e sudorese noturna com
1 mês(M) de evolução associado a quadro poliade- Caso Clínico
nopático e hepatoesplenomegália.
Homem de 64 anos, fumador, sem outros antece-
Analiticamente com trombocitopenia e elevação da dentes pessoais relevantes, foi internado com qua-
LDH. Estudo infeccioso não diagnóstico.  PET/CT dro de cansaço progressivamente agravado e febre
com extenso envolvimento hipermetabólico ganglio- atribuído a Insuficiência Cardíaca descompensada
nar supra e infradiafragmático, esplénico, pulmonar por infeção. Sem foco estabelecido, isolaram-se
e ósseo. Escherichia coli em urocultura e hemocultura e Sgp
em hemocultura. Após ajuste de antibioterapia e
Foi colocada a hipótese de DLP-MTX pelo que se realização de ecocardiograma transtorácico sem
suspendeu o fármaco, com resolução completa da identificação de vegetações valvulares, o doente foi
sintomatologia B no mês posterior. submetido a rastreio de neoplasia do cólon através
de colonoscopia total. Identificou-se lesão polipoide
Biópsia medular óssea, de conglomerado intraabdo- do reto distal com cerca de 40 milímetros. A lesão
minal e esplénica não conclusivas. foi quase totalmente excisada por mucosectomia e
a biópsia descreveu adenoma tubuloviloso com dis-
Realizou PET/CT 4M depois, com regressão parcial plasia de alto grau. O doente teve alta estável enca-
das lesões, mas com posterior progressão após minhado a consulta de Gastrenterologia.
3M. Foram efetuadas 2 novas tentativas de diag-
nóstico histológico, mais uma vez infrutíferas. Por Discussão
agravamento do quadro poliadenopático, foi efetua-
da esplenectomia que concluiu pelo diagnóstico de Ao contrário do que está descrito na bacteriémia a
linfoma de Hodgkin clássico (LHc). Sgg – associada a neoplasia colorretal em até 71%
dos casos – a relação é menos substancial no que
O doente iniciou terapêutica de quimioterapia se- concerne ao Sgp, verificando-se neoplasia colorretal
gundo protocolo ABVD, com resposta completa em cerca de 17% dos doentes. Não sendo claro se

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 631


corresponde a um fator de risco ou consequência cialmente um dos agentes diretos. Apesar de inco-
da neoplasia colorretal, em ambas as subespécies mum, a TVPMS pode acometer jovens saudáveis e
associa-se sobretudo a adenomas pré-malignos. Tal exige tratamento dirigido precoce com o intuito de
como se verifica no Sgg, a identificação de Sgp no evitar possíveis complicações, pelo que deve ser
trato gastrintestinal poderá ter um papel na deteção considerada se clinicamente provável.
precoce da neoplasia colorretal e impacto na morbi-
mortalidade desta entidade.    P n.º 1120 
DESCOBERTA INUSITADA DE UM OBSTÁCULO EN-
P n.º 1116  DOBRÔNQUICO
TVP do membro superior primária – uma questão Sandra Raquel Sousa(1);Lília Castelo Branco(1);Pe-
de esforço dro Simões(1);Micaela Sousa(1);Nelson Teixeira(1);-
Ângela Almeida(1);Olinda Miranda(1);Ana Vila- Cátia Marisa l. Pereira(1);Miriam Blanco(1)
ça(1);Margarida Rocha(1);Fernando Esculcas(1);Jor- (1) Unidade Local de Saúde do Nordeste
ge Cotter(1)
(1) Hospital Senhora da Oliveira, Guimarães Tema: Doenças respiratórias

Tema: Doenças hematológicas Introdução:  A Traqueobroncopatia osteocondroplá-


sica (TO) é uma doença benigna rara caracterizada
A trombose venosa profunda do membro superior por pólipos sésseis osteocartilaginosos com pro-
(TVPMS), menos frequente que do membro inferior jeção para o lúmen laringotraqueobrônquico com
e atingindo tendencialmente idades mais jovens, crescimento lento, focal ou difuso podendo estar
pode ser primária (sem fator de risco associado e associado a metaplasia e necrose. Habitualmente a
habitualmente despoletada por esforço vigoroso TO é asssintomática mas pode cursar com dispneia,
intenso) ou secundária (dependente de fatores de tosse crónica produtiva e hemoptises.
risco). A primeira, apesar de rara, pode acontecer
em qualquer idade e apresenta maior risco de sín- CASO CLÍNICO:  Homem, 77 anos, autónomo,
drome pós-trombótico. hipertenso e portador de bloqueio aurículo
ventricular de1º grau, recorre ao SU por tosse
Masculino, 24 anos, antecedentes de psoríase pus- produtiva, hemoptises e dor torácica esquerda
tulosa, sem cirurgias prévias, sem trauma recente, de características pleuríticas com 1 semana de
apresenta episódio de edema, rubor e dor do mem- evolução, sem história de trauma. Ao exame
bro superior direito, auto-limitado, com 2 horas de físico a salientar hipertensão arterial e murmúrio
duração e resolução espontânea, com recorrência vesicular diminuído no hemitórax esquerdo. 
após 1 semana, mantendo queixas ao fim de 24 ho- Analiticamente hemoglobina 15,3g/dL, neutrofilia
ras. Imagiologicamente com “opacificação da veia relativa de 80,9%, PCR 2,63mg/dL e marcadores
braquial, axilar e subclávia direitas, com calibre au- de necrose miocárdica negativos. Gasimetria e
mentado face às contralaterais, indicando trombose eletrocardiograma sem alterações. TC de tórax a
venosa, sem evidência de compressão extrínseca”, revelar condensação parenquimatosa justapleu-
pelo que inicia hipocoagulação com heparina de ral no segmento apical do lobo inferior esquerdo
baixo peso molecular (HBPM). Quando questionado, e micronodularidade difusa do contorno mucoso
referência a prática de exercício físico regular de traqueal distal e dos brônquios principais. Foi rea-
alta intensidade com foco em hipertrofia muscular, lizada broncofibroscopia que evidenciou inúmeras
sem recurso a suplementação hormonal ou outra. formações polipóides, endurecidas na traqueia
Fez estudo etiológico exaustivo de trombofilias com diminuição do lúmen a 50% e na árvore tra-
hereditárias e adquiridas, incluindo risco cardiovas- quoeobrônquica bilateralmente, impossibilitando
cular, serologias víricas, síndrome paraneoplásico, a passagem distalmente ao brônquio intermédio
auto-imunidade e estudos genéticos, que foi nega- e carina secundária. Resultado do Lavado bron-
tivo, e fez switch para rivaroxabano. Reavaliado por coalveolar foi negativo para exame microbiológico,
doppler após 6 meses, com atrofia fibrótica dos pesquisa de Mycobacterium tuberculosis e células
territórios afetados, com colateralidade subcutânea malignas. A biópsia das lesões demonstrava epité-
alternativa à drenagem profunda, compatível com lio de tipo respiratório com metaplasia pavimentosa
sequelas de TVP, tendo suspendido hipocoagula- e nódulos irregulares composto por osso maduro e
ção. cartilagem sem sinais de malignidade, compatível
com o diagnóstico de TO. O doente cumpriu ciclo de
Ao contrário da TVP de membro inferior, na TVPMS antibioterapia empírica para Pneumonia adquirida
o valor diagnóstico de D-dímeros não está instituí- na comunidade com evolução favorável tendo sido
do, pelo que não foi solicitado. Apesar de a venogra- orientado para consulta de Pneumologia para vigi-
fia ainda ser o exame gold-standard na suspeita de lância ativa.
TVPMS, o ecodoppler é o exame mais usado para
estabelecer diagnóstico, podendo também ser usa- DISCUSSÃO: Atualmente, não existe tratamento
da tomografia contrastada. O tratamento passa por definitivo nem dirigido para a TO. O tratamento cirúr-
hipocoagulação durante pelo menos três meses, gico/laser/crioterapia é indicado se ocorrer agrava-
geralmente com toma inicial de HBPM em dose te- mento sintomático e obstrução significativa. Apesar
rapêutica, seguida de anticoagulante oral, preferen- do quadro, o prognóstico destes doentes é favorável

632
E-POSTERS
sendo as infeções respiratórias a principal causa de QUIATRIA?
internamento e morbimortalidade. André Filipe Conchinha(1);Lourenço Cruz(1);Sofia Pi-
cão(1);Salomé Serranito(1);André Ferreira(1);Raquel
P n.º 1122  Santos(1);José Sousa(1);Torcato Marques(1);Tiago
O QUE DIZEM OS TEUS OLHOS? – a propósito de Pack(1);Afonso Rodrigues(1);Ana Teresa Ferrei-
um caso de linfoma do Vítreo ra(1);Teresa Garcia(1);Patrícia Cachado(1);António
Cátia de Almeida(1);Adriana Roque(1);Cristina Fon- Santos(1)
seca(1);Catarina Geraldes(1);Luis Francisco(1);Ana (1) Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE / Hos-
Isabel Espadana(1) pital de Santa Marta
(1) Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra /
Hospitais da Universidade de Coimbra Tema: Doenças hematológicas
Tema: Doenças hematológicas
Introdução: a Neutropénia Febril (NF) constituiu
uma situação clínica frequente, com significativa
Introdução: Os linfomas do olho representam um mortalidade, sendo paradigmática em diversos es-
grupo heterogéneo de linfomas que envolvem os quemas de quimioterapia. Reportamos um caso de
diferentes compartimentos do olho. O linfoma pri- NF, com 2 fatores etiológicos concomitantes, não
mário do vítreo/retina (LPVR) é uma entidade muito associada a tratamento oncológico.
rara, com elevado risco de envolvimento encefálico
e/ou meníngeo, e cujo diagnóstico constitui um
desafio pela sobreposição da clínica com múltiplas Caso Clínico: mulher, 71 anos, autónoma, com an-
patologias oculares primárias e sistémicas. tecedentes de hipertensão arterial, hipotiroidismo e
doença bipolar sob clozapina. Recorre ao Serviço de
Urgência por anorexia e disúria com 1 semana de
Caso clínico: Homem, 47 anos, sem antecedentes evolução, objectivando-se febre (39,2ºC) e neutro-
de relevo. Seguido em consulta de Oftalmologia pénia (0,03 X 10?/L). Iniciou antibioterapia empírica
por episódios de repetição com 2 anos de evolução com piperacilina/tazobactam, tendo-se ulteriormen-
de uveíte intermédia bilateral medicada com meto- te isolado E. coli em urocultura. Internada para estu-
trexato em baixa dose e corticoterapia sistémica. do etiológico da NF que, atendendo ao incremento
de clozapina nos 2 meses precedentes, se admitiu
Realizou estudo complementar para exclusão de tratar-se de uma agranulocitose à mesma. Já após
patologia autoimune sistémica e infeciosa, que não a suspensão deste fármaco, por neutropénia em
revelou alterações. decrescendo (0 neutrófilos), procedeu-se à realiza-
ção de mielograma e biopsia óssea, que revelaram
No sentido de prosseguir o diagnóstico realizou
síndrome de overlap mielodisplásico/ mioloproli-
vitrectomia esquerda, cujo material colhido foi in-
ferativo, com 16% de blastos. Ao 16º dia, por febre
suficiente, com a citologia a colocar a hipótese de
sem foco aparente, iniciou antibioterapia com me-
linfoma. Foi efetuada vitrectomia contralateral, cuja
ropenem, com progressiva leucocitose e neutrofilia
análise por citologia e citometria de fluxo estabele-
16,07 X 10?/L. Neste contexto, repetiu a biópsia
ceu o diagnóstico de linfoma B difuso de grandes
óssea cujo resultado foi sobreponível. Por suspeita
células.
de transformação leucémica, iniciou hidroxiureia
O estadiamento com ressonância magnética crâ- com normalização sustentada do leucograma. A
nio-encefálica e PET/CT não revelou atingimento de destacar no decorrer do internamento oscilação do
outras estruturas. Não foi realizada punção lombar estado de consciência e orientação, com períodos
por motivos técnicos. Concluiu-se pelo diagnóstico de prostração a alternar com agitação psicomotora
de LPVR. e surto maníaco, o que exigiu ajustes constantes da
medicação psicotrópica. Ao 35º dia, por estabilida-
Iniciou quimioterapia conforme protocolo MATRix de do hemograma, manutenção da sintomatologia
(metotrexato e citarabina em dose alta, tiotepa e psicótica e exclusão de outras causas, é transferida
rituximab), por 4 ciclos, com posterior consolidação para Psiquiatria, assumindo-se como diagnóstico
com transplante autólogo de progenitores hemato- agranulocitose a clozapina enxertado num síndrome
poiéticos, com resposta completa. mielodisplásico com excesso de blastos tipo 2.

Conclusão: Apresenta-se um caso de LPVR, evi- Discussão: os autores enaltecem este caso por
denciando-se a necessidade de uma abordagem ilustrar uma etiologia infrequente de neutropénia
meticulosa das uveítes e a necessidade de elevada febril, bem como pela complexidade e necessidade
suspeição clínica para se conseguir um diagnóstico permanente de articulação entre as distintas espe-
correto, muitas vezes dificultado pelas múltiplas cialidades.
terapêuticas prévias, em particular a corticoterapia.
Acresce a esta dificuldade a necessidade de proces- P n.º 1134 
samento imediato de uma amostra biológica muito Relação entre ferritina e oxigenoterapia em doente
escassa. com COVID-19 grave
Manuel g. Costa(1);Beatriz Fernandes(1);Carlos Ra-
P n.º 1133  malheira(1);Diogo Cruz(1)
NEUTROPÉNIA FEBRIL: HEMATOLOGIA OU PSI- (1) HPP Hospital de Cascais

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 633


Tema: Doenças infecciosas e parasitárias A síndrome febril de causa indeterminada é um de-
safio diagnóstico. Infeções, neoplasias e doenças
Introdução: Encontram-se descritos vários marca- reumáticas sistémicas são as causas mais comuns,
dores laboratoriais associados a prognóstico na mas existem outras condições a considerar.
COVID-19. CASO CLÍNICO

Caso clínico: Uma mulher caucasiana de 67 anos Expomos o caso de uma mulher, 40 anos, saudável,
foi admitida por dispneia e toracalgia com 12 horas encaminhada a consulta externa de Medicina Inter-
de evolução. Após investigação, revelou-se ter um na por síndrome febril com 6 meses de evolução,
tromboembolismo pulmonar bilateral (PESI III), re- temperatura máxima 38.5ºC com intervalos irregu-
querendo um aporte máximo de O2 de 3 L/minuto lares, sudorese noturna, anorexia, astenia, ortop-
por óculos nasais (FiO2 0,32). Evoluiu favoravelmen- neia, dispneia paroxística noturna e para pequenos
te sob anticoagulação terapêutica, encontrando-se esforços. Referia ingestão de queijo não pasteu-
em ar ambiente ao nono dia de internamento (PaO2 rizado, contacto com gado e exposição a doente
78 mmHg, PaO2/FiO2 (P/F) 371). Ao décimo dia de com tuberculose. Não apresentava alterações ao
internamento, diagnosticou-se infeção nosocomial exame objetivo. Do estudo realizado previamente, a
por SARS-CoV-2. Nessa data, não apresentava cri- eletroforese de proteínas, autoanticorpos e serolo-
térios de gravidade, mantendo-se em ar ambiente gias (hepatites, VIH, CMV e EBV) foram negativas e
e com ferritina sérica de 466 ug/L. Ao quinto dia o teste de Mantoux foi <10mm com IGRA positivo.
de doença, documentou-se aumento da ferritina Cumprira 3 dias de Azitromicina sem melhoria.
para 2703 ug/L. Dois dias depois, a doente repor- De forma a prosseguir a marcha diagnóstica, rea-
tou dispneia e houve necessidade de reintroduzir lizou tomografia toracoabdominal, ressonância
oxigenoterapia – FiO2 0,24 (PaO2 65 mmHg, P/F abdominal, ecocardiograma e broncofibroscopia,
270). Nesse mesmo dia, verificou-se nova subida da destacando-se quisto pericárdico de 4.5x3cm no
ferritina para 5198 ug/L. A doente evoluiu desfavo- ângulo cardiofrénico direito. As serologias para
ravelmente com maior necessidade de oxigénio su- Mycoplasma, Chlamydia, Legionella, Treponema,
plementar, encontrando-se dois dias depois sob FiO2 Coxiella, Borrelia e Echinococcus revelaram-se ne-
0,36 (PaO2 77 mmHg, P/F 213). Nos dias seguintes, gativas. Avaliações analíticas seriadas não mostra-
verificou-se uma descida progressiva da ferritina ram alterações. Realizou ressonância cardíaca que
sérica, que se  acompanhou de melhoria da função confirmou quisto pericárdico retroauricular direito
respiratória e possibilidade de diminuição de aporte puro, sem compressão de estruturas.
de O2 suplementar. Admitiu-se o quisto pericárdico como possível cau-
sa para a febre, discutiu-se em reunião multidisci-
Discussão: A maioria dos doentes com COVID-19 plinar com Cirurgia Cardiotorácica e decidiu-se pela
grave apresenta hiperferritenemia >800 ug/L. A pro- sua excisão.
dução de ferritina é estimulada pela interleucina-6,
que por sua vez desempenha um papel central na No período de follow-up a doente referiu melhoria
tempestade citocínica. Foi assim postulado que das queixas, sem recidiva de febre. Manteve segui-
valores elevados de ferritina predizem o grau de mento em consulta de Cardiologia.
inflamação sistémica nestes doentes. O estado
pró-inflamatório na COVID-19 tem o pulmão como DISCUSSÃO
principal órgão-alvo, podendo condicionar doença
Os quistos pericárdicos têm uma incidência de
ARDS-like. É interessante notar que variações na
1/100000 sendo geralmente benignos. Em doentes
ferritina sérica parecem predizer, por vezes com
com quadro de cansaço e febre sem outra etiologia
mais de 24 horas de antecedência, variações na ne-
dever-se-á considerá-los como possível etiologia e
cessidade de aporte de O2 suplementar. Sendo uma
proceder à sua excisão.
medida fiável do grau de inflamação sistémica, é
provável que variações da ferritina permitam medir P n.º 1138 
o grau de inflamação pulmonar, e, com isso, pre- Choque sético por Capnocytophaga Canimorsus
dizer a repercussão ventilatória e necessidade de numa doente esplenectomizada
oxigenoterapia. Pedro Oliveira(1);Nuno Leal(1);Rita Costa(1);Pedro
Salvador(1);Maria Figueiredo(1);Vitória Paes de
P n.º 1135 
Faria(1);Gabriela Abreu(1);Janine Resende(1);João
PERICÁRDICO: UMA CAUSA RARA DE FEBRE
Valente(1)
Ana Luísa Esteves(1);Rodrigo Duarte(1);Sara Poci-
(1) Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia / Espinho
nho(1);Ana Rita Barradas(1);Sérgio Pereira(1);Ma-
riana Constante(1);Ana Pãosinho(1);António João Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
Pereira(1);Isabel Madruga(1)
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE /
Hospital Egas Moniz Introdução: A Capnocytophaga Canimorsus é uma
bactéria gram-negativa, parte da flora comensal
Tema: Doenças cardiovasculares da boca dos cães. Entre os doentes esplenectomi-
zados que mantêm contato próximo com cães, a
bactéria pode levar a infeção e sépsis fulminante,
INTRODUÇÃO

634
E-POSTERS
mesmo sem evidência de um ponto claro de rutura tes de infeção por VIH e meningite criptocócica,
da pele. com contagem de CD4 de 120 células/uL. Iniciou
quadro de agravamento progressivo de icterícia e
CASO CLÍNICO: Descrevemos o caso de uma mulher prurido, sem outros sintomas associados. Analiti-
de 71 anos, esplenectomizada 35 anos antes. Re- camente apresentou-se sem leucocitose, com PCR
correu ao serviço de urgência com queixas de lom- de 2 mg/dL, hiperbilirrubinémia (máximo de 26 mg/
balgia, mialgias, astenia e febre de 40,2ºC. Nenhum dL) e elevação das enzimas hepáticas (ALT 411 U/L,
outro sintoma foi observado aquando da admissão. GGT 1068 U/L, fosfatase alcalina 2147 U/L). Com
As análises revelaram hiperlactacidemia, aumento serologias para os vírus da hepatite B e C negativas.
da proteína C-reativa e linfopenia. Foi solicitada uma A ecografia abdominal revelou dilatação da via biliar
análise sumária de urina e uma radiografia de tórax, principal (VBP) e intra-hepáticas. Realizou CPRM
ambas sem alterações; o teste SARS-CoV-2 foi ne- que confirmou a dilatação das vias biliares e mos-
gativo. A doente evoluiu com hipotensão persistente trou estenose papilar, sem obstruções endoluminais
e prostração, que não melhoraram com ressuscita- ou compressivas extrínsecas, achados compatíveis
ção volémica. Foi assim necessário iniciar perfusão com colangiopatia do VIH. Foi proposta para CPRE
de noradrenalina. Foram colhidas hemoculturas e que confirmou os achados prévios, tendo sido efec-
iniciada antibioterapia endovenosa com amoxicilina tuada esfincterotomia e colocada prótese na VBP.
/ ácido clavulânico 2,2mg e azitromicina 500mg. Não existiram isolamentos no exame cultural da
Apesar de todos os exames complementares de bílis e a citologia da VBP foi negativa para células
diagnósticos, nenhuma causa infeciosa foi identi- neoplásicas. A doente evoluiu favoravelmente, com
ficada. No segundo dia de internamento, o estado melhoria da icterícia e do prurido, acompanhado
clínico da doente deteriorou-se e a antibioterapia foi por descida do padrão de citocolestase. Mantém-se
escalada para piperacilina / tazobactam 4,5g, com atualmente a cumprir TARV com melhoria do estado
boa resposta clínica. No terceiro dia após a admis- imunológico.
são, após uma profícua discussão com a equipa de CONCLUSÃO: Apesar da redução da sua incidência,
patologia clínica, foi possível identificar uma Capno- é importante não esquecer esta entidade nosoló-
cytophaga canimorsus nas hemoculturas da doen- gica em doentes com infeção por VIH em estadios
te. A revisão da história revelou que tinha contato avançados que se apresentem com este tipo de
muito próximo com o seu cão, apesar de não haver sintomas.
história de qualquer mordida.
P n.º 1150 
DISCUSSÃO: Este caso destaca a importância de Esófago negro – uma complicação possivelmente
uma discussão multidisciplinar, incluindo a equipa fatal da cetoacidose diabética
de microbiologia, para que seja possível chegar a TORCATO JOSE MOREIRA MARQUES(1);Lourenço
um diagnóstico incomum. Quando observamos in- Cruz(1);Ana Raquel Soares(2);Pedro Fiúza(3)
divíduos esplenectomizados que se apresentam em (1) Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE / Hos-
choque séptico de origem não identificada, uma his- pital de Santa Marta (2) Unidade Funcional de Medi-
tória de contato próximo com cães deve levar-nos a cina Interna 4, Hospital de Santa Marta, Centro Hos-
considerar o C.canimorsus como agente causador. pitalar Universitário de Lisboa Central (3) Unidade
P n.º 1146  Funcional de Medicina Interna 4, Hospital de Santa
Colangiopatia do VIH - uma causa menos frequente Marta, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa
de icterícia Central
Cristiana Camacho(1);Fátima Sousa Gonçalves(2);- Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente crí-
Gonçalo Jantarada Domingos(2);Inês Moreira Sou- tico
sa(2);Tiago Marques(2);Luís Campos(1)
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE /
Hospital de S. Francisco Xavier (2) Centro Hospita- A cetoacidose diabética representa uma emergên-
lar de Lisboa Norte, EPE / Hospital de Santa Maria cia médica não rara entre diabéticos, que se não tra-
tada de forma adequada e emergente pode levar à
Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá- morte tendo em conta o estado de acidémia grave,
ticas alterações hidroelectrolíticas importantes e, menos
frequentemente, hemorragia digestiva secundária a
Introdução: A colangiopatia pelo vírus da imunode- esófago negro. Esta última entidade rara, tem como
ficiência humana (VIH) consiste na obstrução biliar uma das suas etiologias a cetoacidose diabética,
secundária a estenose do trato biliar, em doentes resultando na necrose da mucosa esofágica que
com infeção por VIH com imunodepressão avan- afecta sobretudo o esófago distal.
çada. A manifestação clínica mais comum é a dor
abdominal, sendo menos frequente o aparecimento Apresenta-se o caso de uma doente de 67 anos de
de icterícia. A incidência desta patologia tem dimi- idade, diabética tipo 2 insulinotratada com mau con-
nuído desde o advento da terapêutica antirretroviral trolo metabólico, admitida no SU por um quadro de
(TARV). alteração do estado de consciência. GCS 9 à admis-
são, hipotensa, taquicárdica, temperatura imensu-
CASO CLÍNICO: Mulher de 43 anos com anteceden- rável, pH 6.9 (GSA), glicémia HI e cetonemia de 7.2.

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 635


Verificou-se melhoria paulatina do perfil tensional e na 9.73 mg/dL e presença de hemato-proteinúria. A
estado de consciência, assim como diminuição da radiografia de tórax revelou extenso infiltrado bila-
glicémia e cetonemia. Analiticamente com elevação teral e a TC de Tórax demonstrou hipotransparência
de parâmetros inflamatórios (PCR 150mg/L) e dis- alveolar com distribuição endobrônquica, cavita-
função renal de novo (SUr 197 mg/dL SCreat 2.92 ção no lobo superior esquerdo, hipotransparências
mg/dL). Apresenta ainda no SU 2 episódios de me- difusas bilaterais em “vidro despolido” e adenome-
lenas com repercussão hemodinâmica, tendo sido gálias mediastínicas. A broncofibroscopia revelou
feita ressuscitação volémica e iniciada perfusão de hemorragia ativa em pequena quantidade no brôn-
pantoprazol. Realizada endoscopia alta (EDA) que quio principal esquerdo. Por manter oligoanúria e
descrevia mucosa com coloração negra, de inten- agravamento de acidémia, iniciou hemodiálise inter-
sidade progressivamente maior no sentido distal, mitente.
com múltiplos focos hemorrágicos que se controla-
ram com terapêutica hemostática local. Neste con- O ANCA perinuclear (p-ANCA) dirigido contra a mie-
texto de esófago negro como causa de hemorragia loperoxidase foi positivo. Admitiu-se o diagnóstico
digestiva alta com instabilidade hemodinâmica, foi de síndrome pulmão-rim por vasculite associada a
transferida para UCI onde se manteve terapêutica ANCA com fenótipo clínico de GPA. Não foi realiza-
de suporte e perfusão de pantoprazol, realizando da biópsia renal pela urgência no início de imunos-
nova EDA após três dias e resolução do quadro de supressão, tendo feito corticoterapia, ciclofosfami-
cetoacidose, tendo-se verificado melhoria do qua- da e rituximab, com melhoria clínica, laboratorial
dro, apresentando-se a mucosa hiperemiada com e resolução do envolvimento pulmonar. Teve alta
erosões dispersas, sem sinais de hemorragia activa. após cinco semanas de internamento, mantendo
Necessitou de suporte transfusional com 2 UCE e necessidade de hemodiálise intermitente.
não se verificaram novos episódios de melenas, ten-
do recuperado na totalidade. Conclusão: O diagnóstico de GPA foi admitido como
sendo o mais provável após conjugação da clínica,
A necrose esofágica aguda, apesar de uma com- dos exames complementares de diagnóstico e da
plicação rara da cetoacidose diabética, representa presença de cavitação pulmonar, que é a favor da
mais um desafio na gestão deste tipo de doente presença de lesões granulomatosas. Apesar dos
muitas vezes crítico. A elevada suspeição, mesmo pANCA estarem associados com maior frequência
na ausência da meios para realização de técnica à poliangeíte microscópica, podem ocorrer em 20 a
endoscópica, deve motivar o início de terapêutica de 30% dos casos de GPA.
forma a evitar agravamento progressivo do quadro
que contribua para um desfecho desfavorável.  P n.º 1156 
Muito mais que aerocolia e obstipação...
P n.º 1152  Rodolfo Viríssimo Gomes(1);Henrique Pina(1);Rita
Síndrome pulmão-rim: Vasculite associada a ANCA Gameiro(1);Joana Oliveira(1);Fernando Martos Gon-
Miguel Rodrigues Monteiro(1);Fernando Kellen(1);- çalves(1);José Lomelino Araújo(1)
Susana Oliveira(1) (1) Hospital Beatriz Ângelo
(1) Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca
Tema: Outro
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
culites INTRODUÇÃO

Introdução: A vasculite associada a anticorpos an- O síndrome de Ogilvie é uma dilatação aguda do


ti-citoplasma de neutrófilos (ANCA) é uma doença cólon na ausência de obstrução, sendo uma compli-
autoimune, inflamatória e multissistémica com cação cirúrgica rara (100 casos por 100000 admis-
atingimento dos pequenos vasos e envolve três enti- sões hospitalares por ano), com elevada mortalida-
dades clínicas, entre elas a granulomatose com po- de (15% na ausência de complicações e 36-44% se
liangeíte (GPA). Esta doença atinge frequentemente houver perfuração ou isquémia intestinais).
o rim e o trato respiratório superior e inferior e apre-
senta-se tipicamente entre os 45 e os 75 anos como CASO CLÍNICO
doença grave ou potencialmente fatal.
Mulher, 62 anos, com história de esclerose múltipla,
obstipação crónica e síndrome depressivo, interna-
Caso clínico: Homem de 75 anos, internado por 2
da para correcção cirúrgica de fractura do tornozelo.
semanas de evolução de dispneia, cansaço para
Nos primeiros dias de internamento, desenvolveu
pequenos esforços e edema dos membros infe-
quadro de distensão abdominal, acompanhado de
riores. À admissão, apresentava-se hipertenso
dor e obstipação alternada com diarreia, tendo sido
(177/80mmHg), polipneico e hipoxémico. Consta-
objectivada hipocaliémia, aerocolia e distensão co-
tou-se hemoptises, fervores crepitantes dispersos à
lónica marcada em radiografia abdominal. Apesar
auscultação pulmonar e edema simétrico dos mem-
de entubação nasogástrica, optimização da terapêu-
bros inferiores até à raiz das coxas. Analiticamente,
tica procinética e iniciada correção de caliémia, hou-
verificou-se acidémia mista (pH 7.21), anemia nor-
ve evolução desfavorável e foi realizada TC abdo-
mocítica/normocrómica (Hb 6.8 g/dL), leucocitose
minal que excluiu obstrução mecânica e identificou
(10500x109 leucócitos/L), PCR 7.66 mg/dL, creatini-
marcada distensão colorretal com calibres do cólon
636
E-POSTERS
direito e do transverso >10cm, sem sinais de isqué- pulmonar e sinais de pneumonia organizativa. Após
mia. Realizada descompressão com sonda e anus- terminar 10 dias de dexametasona realizado switch
cópio, apenas com discreta melhoria. Apesar de para metilprednisolona, e posteriormente predniso-
terapêutica médica optimizada, mantinha pseudo- lona 1mg/kg, em esquema de desmame lento, com
-obstrução, pelo que foi realizada colonoscopia des- melhoria progressiva.
compressiva, com alguma melhoria. Complicação
com sépsis com ponto de partida em catéter veno- Ao 27º dia de internamento inicia de forma súbita
so central a motivar admissão na UCI, onde foi reali- febre, toracalgia esquerda e dispneia, com subida
zada neostigmina, também sem melhoria do quadro franca de parâmetros inflamatórios, hiperlactaci-
abdominal. Face à refractoriedade do quadro, após demia e hipoxemia agravada. TC urgente com área
discussão multidisciplinar (Medicina Interna, Cirur- cavitada à esquerda e derrame pleural loculado com
gia Geral, Medicina Intensiva e Gastroenterologia), características de empiema. O exame microbiológi-
realizada cecostomia com posterior evolução favo- co do líquido pleural revelou Capnocytophaga spp,
rável e resolução do quadro abdominal. sendo os restantes exames culturais negativos.
Cumpriu 21 dias de piperacilina + tazobactam após
DISCUSSÃO drenagem do empiema, e progrediu no desmame
de corticoide com evolução favorável, tendo alta ao
Tratando-se de uma condição clínica com mortali- 53º dia.
dade elevada, é importante a suspeição clínica para
a detecção precoce do síndrome de Ogilvie bem Discussão:
como a aplicação de todas as estratégias terapêu-
ticas ao nosso dispor. Neste caso, concluímos que A infecção por Capnocytophaga spp em humanos é
apenas com colaboração de várias especialidades rara, sendo mais comum na sua vertente zoonótica,
e realização atempada de várias intervenções foi por mordedura de cão ou gato. Pode ser uma causa
possível a resolução deste caso. As dificuldades en- esporádica de infeção, como empiema, em doentes
contradas neste caso são também explicadas pelas com imunossupressão grave – neste caso confe-
múltiplas situações contributivas para o seu desen- rida por corticoterapia em alta dose e COVID-19
volvimento: esclerose múltipla, cirurgia ortopédica, grave.
distúrbios hidro-electrolíticos e sépsis.
P n.º 1162 
P n.º 1160  Hipercoagulabilidade paraneoplásica – a propósito
Para além da COVID-19 – consequências indirectas de um caso clínico
da infecção por SARS-CoV-2 Vilma Grilo(1);Maria Rita Dias(1);Matilde Ferreira
Vilma Grilo(1);Ana Glória Fonseca(1) Almeida(1);Ana Glória Fonseca(1)
(1) Hospital Garcia de Orta, EPE (1) Hospital Garcia de Orta, EPE

Tema: Doenças infecciosas e parasitárias Tema: Doenças oncológicas

Introdução: Introdução:

A infeção por SARS-CoV2 está associada a compli- Muitas neoplasias têm associado um estado de hi-
cações como falência respiratória, tromboembolis- percoagulabilidade, manifestando-se com eventos
mo e disfunção inflamatória; as infeções secundá- trombóticos, maioritariamente venosos, que podem
rias são eventos menos frequentes. ser a primeira manifestação da doença.

Caso clínico: Caso clínico:

Homem de 50 anos, com antecedentes de hiperten- Mulher, 60 anos, com antecedentes de tabagismo e
são arterial, dislipidémia, obesidade e cardiopatia história familiar de doença neoplásica.
isquémica.
Quadro consumptivo com um mês de evolução,
Quadro de febre, tosse seca e dispneia com 5 dias com perda ponderal, anorexia, astenia e tosse seca.
de evolução. Realizou pesquisa de SARS-CoV-2 que Por episódio de dor e edema súbitos de ambos
foi positiva. Por dispneia em agravamento foi ava- os membros inferiores foi avaliada no serviço de
liado no serviço de urgência, sendo internado por urgência (SU), diagnosticando-se flebotrombose
COVID-19 com insuficiência respiratória. Iniciou cor- superficial bilateral medicada com anticoagulação.
ticóide e oxigenoterapia. Analiticamente D-dímeros Recorreu novamente ao SU após uma semana por
elevados pelo que realizou tomografia computoriza- dor torácica pleurítica de novo, sem alterações ao
da (TC) de tórax, que demonstrou COVID-19 extensa exame objetivo. Analiticamente com elevação de
e tromboembolismo segmentar múltiplo, sendo ins- D-dímeros. Tomografia computorizada (TC) torácica
tituída anticoagulação. demonstrou lesão nodular de contornos espicula-
dos com contacto pleural sugestiva de neoplasia
Inicialmente evolução desfavorável, com agrava- primária pulmonar, associada a trombose de ramos
mento gasimétrico e dor torácica persistente. Re- vasculares na dependência da lesão, extenso con-
petiu TC de tórax que demonstrou áreas de enfarte glomerado adenopático hilar, e áreas subsegmen-

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 637


tares de tromboembolismo. Estadiamento sem lesões cavitadas; fígado com dimensões normais,
evidência de metastização à distância. Realizou contornos regulares e estrutura homogénea; volu-
biópsia transtorácica da lesão justa-pleural e trans- moso derrame peritoneal e espessamento difuso do
brônquica do conglomerado justa-hilar, ficando a peritoneu”. Paracentese - líquido ascítico com 850/
aguardar resultado histológico. uL células nucleadas com predomínio de linfócitos
e com características de exsudado, ADA 37U/L e
Reinternada na semana seguinte por desorientação, negativo para presença de células neoplásicas,
afasia global e diminuição da força muscular à es- bactérias aeróbias/anaeróbias e micobactérias.
querda. A ressonância magnética encefálica (RM-E) Hemoculturas em aerobiose e para micobactérias
identificou áreas de isquémia microangiopática, e negativas. Marcadores tumorais - CEA, CA 19.9, alfa
pequenas áreas suspeitas para secundarização. fetoproteína e CA 125 dentro dos valores de referên-
Em menos de 48h evolui para estado comatoso; TC cia.  Serologias para hepatite B, C e HIV negativas.
de crânio com evolução catastrófica, apresentando Deteção molecular de Mycobacterium tuberculosis
múltiplas hemorragias parenquimatosas agudas em complex na expectoração positiva.
relação com doença metastática, e extensos enfar-
tes isquémicos agudos dos territórios das artérias A doente iniciou terapêutica quadrupla com tuber-
cerebral média esquerda e direita, culminando no culostáticos, com melhoria do quadro clínico, tendo
óbito da doente. Não houve rentabilidade dos exa- tido alta ao 7º dia de internamento.
mes.
Discussão:
Discussão:
O presente caso ilustra uma apresentação de tuber-
Esta doente destaca-se pela multiplicidade e gra- culose pulmonar pouco frequente, associada a der-
vidade dos fenómenos trombóticos, tanto arteriais rame pleural e peritoneal. A tuberculose peritoneal
como venosos, associada a uma doença de pro- está associada a tuberculose pulmonar em apenas
gressão rápida. 3.5% dos casos, mimetizando frequentemente
malignidade. A descrição deste caso justifica-se
P n.º 1163  pela importância de se pensar no diagnóstico de
Tuberculose pulmonar complicada de polisserosite tuberculose peritoneal em doentes com ascite e
Ana Castro Barbosa(1);Laura Rodrigues Carva- apresentação clínica inespecífica, principalmente
lho(1);Catarina Sousa Gonçalves(1);Alexandra em alcoólicos.
Wahnon(1);Carolina António Santos(1);Ana Mafalda
Abrantes(1);Nuno Reis Carreira(1);Marina Fonse- P n.º 1164 
ca(1);António Pais de Lacerda(1) HIPERCALCÉMIA: UMA PISTA SEMPRE RELEVAN-
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi- TE
tal de Santa Maria Ana Melício(1);Mariana Dias(1);Leila Duarte Ro-
drigues(1);Cristiana Canelas Mendes(1);Inês Cos-
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias me(1);João Madeira Lopes(1);António Pais Lacer-
da(1)
Introdução: (1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi-
tal de Santa Maria
A tuberculose extra-pulmonar ocorre em cerca de Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio-
20% dos casos, sendo que as formas extra-pulmo- nais
nares mais frequentes são: pleural, ganglionar, os-
teoarticular, geniturina´ria, intestinal, peritoneal, me-
níngea/SNC e pericárdica. O seu diagnóstico requer Introdução: O cálcio tem um papel central na excita-
uma elevada suspeição clínica, dado que os sinais bilidade da membrana celular, mineralização óssea
e os sintomas são inespecíficos, mimetizando fre- e sinalização intracelular. A hipercalcémia (Ca2+>
quentemente malignidade.   10.5 mg/dL) é na maioria dos casos assintomática
e as suas causas são maioritariamente neoplasias e
Caso clínico: hiperparatiroidismo primário.

Mulher, 49 anos, com antecedentes relevantes de Caso clínico: Homem de 77 anos, com anteceden-
consumo excessivo de álcool no passado e hábi- tes de hipertensão arterial, dislipidémia, doença
tos tabágicos (20UMA). Internada no serviço de renal crónica, litíase renal, alcoolismo crónico e sur-
Medicina para estudo de síndrome consumptivo dez total à esquerda, recorreu à urgência por queda
e ascite inaugural. Laboratorialmente, a destacar: da própria altura, associada a desequilíbrio e dor
anemia normocrómica normoctica (Hb 10.9g/dL), torácica. Laboratorialmente apresentava: leucocito-
trombocitose (564x10^9L plaquetas), aumento da se com neutrofilia, PCR de 12.4 mg/dL, creatinina de
velocidade de sedimentação (90mm), ausência de 2.44 mg/dL, ureia de 134 mg/dL (creatinina basal de
alterações da enzimologia hepática e aumento dos 1.27 mg/dL), hipercalcémia de 1.81 mmol/L (Ca2+
parâmetros inflamatórios (PCR 9.81mg/dL, sem ionizado) e exame sumário de urina com leucocitú-
leucocitose). Tomografia computorizada toraco- ria e proteinúria.
-abdómino-pélvica: “considerável derrame pleural
direito; lobo superior esquerdo com pelo menos três Admitidos à data de internamento hipercalcémia e
638
E-POSTERS
doença renal crónica agudizada em provável con- Evolução com cansaço a pequenos esforços, ta-
texto de desidratação e infeção do trato urinário. Da quicardia e sons cardíacos hipofonéticos, motivou
investigação realizada a salientar hipercalcémia mo- realização de ecocardiograma que revelou um der-
derada (cálcio corrigido de 12.9 mg/dL), elevação rame pericárdico moderado com colapso parcial da
da hormona paratiroideia (1326 pg/mL), vitamina aurícula direita.
D total diminuída e fósforo de 3 mg/dL. Iniciou te-
rapêutica com pamidronato em perfusão com boa TC torácica com derrame pleural, seguida de colhei-
resposta (cálcio corrigido de 10.9 mg/dL à data da ta de líquido pleural por toracocentese , compatível
alta). Evolução favorável da função renal após flui- com exsudado, pelo que se instituiu antibioterapia
doterapia endovenosa. Urocultura negativa. com piperacilina/tazobactam e linezolide, que cum-
priu 10 dias, com melhoria.
Realizou cintigrafia paratiroideia que revelou hiper-
fixação persistente abaixo do polo inferior do lobo Ausência de janela para pericardiocentese. Serolo-
esquerdo da tiroide e posterior a este, lateral à pare- gias virais, imunologia e marcadores tumorais ne-
de posterior da traqueia e outra zona de fixação à di- gativos. Ausência de evidência de neoplasia em TC
reita no mediastino superior, 1/3 proximal do corpo corpo, ecografia mamária e tiroideia.
do esterno, maior do que à esquerda sugestiva de
ectopia paratiroideia, contudo com captação hete- RMN cardíaca com evidência de achados compatí-
rogénea (possível necrose). A ecografia tiroideia veis com pericardite constritiva.
mostrou uma glândula de aspeto normal, volumoso
Assumida etiologia idiopática, medicada com AAS
adenoma da paratiroide infra adjacente ao polo infe-
650mg 8/8h durante 3 meses e colchicina durante 6
rior do lobo esquerdo da glândula tiroide, correspon-
meses.
dendo a nódulo sólido hipoecogénico de contornos
regulares com cerca de 2.7x1.5x1 cm. Sem evidência de fisiologia constritiva ou alterações
de função, em ressonância de controlo.
Discussão: Foi possível diagnosticar hiperparati-
roidismo primário (adenoma da paratiroide) pelas Discussão
características ecográficas e a reduzida prevalência
de malignidade como causa. Este caso revela a A pericardite aguda é forma mais frequente de
importância da hipercalcémia como pista para diag- doença pericárdica, sendo que a evolução subaguda
nóstico de adenoma da paratiroide. e a etiologia idiopática são fatores de risco para o
desenvolvimento de complicações e recorrência.
P n.º 1167  Por outro lado, um baixo valor de troponina é fator
PERICARDITE SUBAGUDA: MANIFESTAÇÕES INES- protetor de recorrência.
PECÍFICAS E ATRASO NO DIAGNÓSTICO
Marta Monteiro(1);Sara Lemos Rocha(1);Inês de A rentabilidade diagnóstica é baixa, rondando os
Sousa Miranda Mendes da Silva(1);Raquel Domin- 16%, principalmente no que toca a etiologia idiopáti-
gos(1) ca/pós-viral, típica de quando os sintomas respirató-
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE / rios precedem a afeção cardíaca.
Hospital Egas Moniz
O diagnóstico é essencialmente clínico, sendo o
Tema: Doenças cardiovasculares ecocardiograma o exame que faz o diagnóstico
definitivo. A abordagem precoce diminui o risco de
Introdução inflamação e espessamento pericárdico, a cronici-
dade e a recorrência.
A pericardite é uma patologia pouco frequente que P n.º 1171 
representa menos de 5% das admissões por tora- MORTE SÚBITA POR CHOQUE OBSTRUTIVO: UMA
calgia. As manifestações são inespecíficas e a ren- COMPLICAÇÃO DA INFEÇÃO A SARS-COV2
tabilidade diagnóstica baixa. Apesar de geralmente Marta Monteiro(1);Pedro Fidalgo(2);Patricia Moni-
benigna, pode ter complicações como derrame ou z(2);Pedro Póvoa(2)
tamponamento pericárdico, com desfecho fatal. (1) Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE /
Hospital Egas Moniz (2) Centro Hospitalar de Lisboa
Caso clínico Ocidental, EPE / Hospital de S. Francisco Xavier
Mulher de 85 anos, hipertensa e com apneia obs- Tema: Doenças cardiovasculares
trutiva, sob CPAP noturno, recorre à urgência por
toracalgia de agravamento com inspiração e palpa-
ção. Destaque para aumento de parâmetros infla- Introdução:
matórios (leucocitose 19 000 U/L; PCR 38 mg/dL),
alargamento do mediastino e reforço intersticial em A pandemia causada pelo SARS CoV2 emergiu ra-
radiografia torácica. pidamente como um problema de saúde pública.
Sabe-se que a infeção predispõe a disfunção na
Assumiu-se infeção respiratória e realizou 10 dias coagulação, com aumento do risco de tromboem-
de ceftriaxone e claritromicina. bolismo arterial e venoso, principalmente no doente
crítico.
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 639
Caso clínico: pital de Santo António dos Capuchos (2) Centro
Hospitalar Lisboa Central - Hospital de São José
Apresenta-se um caso de um homem de 43 anos
obeso, admitido na Unidade de Cuidados Intensi- Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente crí-
vos (UCI) por pneumonia grave a SARS CoV2, com tico
necessidade de ventilação invasiva, sedação e cura-
rização. Sem disfunção de outros órgãos ou siste- A amiodarona é um fármaco antiarrítmico de classe
mas, instituída terapêutica com remdesivir (10 dias) III amplamente utilizado no tratamento de arritmias
e profilaxia com enoxaparina 40mg. supraventriculares e ventriculares, com efeitos ad-
Durante desmame ventilatório, episódio de instabi- versos pró-arrítmicos conhecidos.
lidade hemodinâmica súbita após posicionamento,
com peri-paragem cardiorrespiratória. Realizada Os autores apresentam o caso de uma doente de 89
ecocardiografia, que revelou achados compatíveis anos com antecedentes de fibrilhação auricular hi-
com tromboembolismo pulmonar agudo grave, com pocoagulada que requisita auxílio pré-hospitalar por
choque obstrutivo; foi instituída noradrenalina e ini- taquicardia sintomática.
ciada trombólise numa janela temporal inferior a 10
minutos. À chegada da equipa médica de reanimação, a
doente apresentava-se vígil e colaborante, apirética,
Por manutenção de instabilidade hemodinâmica, sem sinais de dificuldade respiratória e com
realizou ainda trombectomia lobar inferior e média perfil tensional elevado, com frequência cardíaca
esquerda, com redução das dimensões do ventrícu- de 166 batimentos por minuto (bpm). Realizou
lo direito após o procedimento. imediatamente um eletrocardiograma (ECG)
de 12 derivações que revelou uma taquicardia
O doente apresentou boa evolução tendo tido alta supraventricular a 164bpm, com hemibloqueio
da UCI ao 20º dia. anterior-esquerdo (HBAE) e sinais de sobrecarga,
permanecendo a dúvida acerca do ritmo presente.
Discussão: Neste contexto, fez adenosina 6mg seguida de
12mg sem resposta da frequência cardíaca.
Sabe-se que a infeção a SARS CoV2 é multissistémi-
Iniciou indução de amiodarona endovenosa a um
ca, sendo o sistema respiratório o principal afetado.
ritmo inadvertidamente superior ao intensionado,
Nesta população, a trombose sistémica é um dos apresentando quadro súbito de bradicardia irregular
riscos, nomeadamente no doente crítico, associan- no monitor e baixo débito, com afundamento do
do-se a maior disfunção respiratória e inflamação estado de consciência e paragem respiratória
sistémica, bem como ao aumento de parâmetros mantendo pulso carotídeo. Foi iniciada ventilação
de hipercoagulabilidade.  O risco permanece apesar manual assistida e suspensa amiodarona, com
da profilaxia farmacológica e estima-se que este rápida recuperação espontânea de estado de
fenómeno seja subdiagnosticado, com estudos consciência.
pós-morte com incidências de TEP até duas vezes
Notando-se alteração da conformação dos comple-
superiores.
xos QRS no monitor, realizou novo ECG após estabi-
O excesso de peso e a própria infeção, bem como lização, que apresentava uma fibrilhação auricular
os fatores inerentes ao doente crítico, tornaram-no a 136bpm, com presença de bloqueio completo de
de elevado risco, em que apenas a monitorização ramo direito (BCRD) de novo. A doente foi transpor-
apertada impediu um desfecho fatal. tada com acompanhamento médico para a sala de
reanimação, sob perfusão de amiodarona a um rit-
Uma revisão sistemática reportou até 74% de au- mo lento, mantendo estabilidade hemodinâmica.
mento da mortalidade por SARS CoV2 com trom-
boembolismo venoso. No serviço de urgência confirmou-se a presença
de BCRD, sem elevação de marcadores de necrose
No entanto, permanece controverso o benefício da miocárdica. Após o término da indução de amio-
anticoagulação, com trabalhos que referem a ne- darona e sem administração de outra terapêutica,
cessidade de profilaxia em todos os doentes sem observou-se conversão a ritmo sinusal a 54bpm, au-
contraindicações, enquanto outros onde apenas um sência de BCRD e recuperação do padrão de HBAE
subgrupo com critérios SIC (sepsis-induced coagu- previamente observado.
lopathy) ou aumento de d-dímeros beneficiam de
anticoagulação. Com o caso supracitado, os autores alertam para a
necessidade da correta administração de amiodaro-
P n.º 1173  na pelo risco de instabilidade hemodinâmica e para
BLOQUEIO DE RAMO DIREITO INDUZIDO POR um efeito eletrofisiológico raro que é a indução de
AMIODARONA: UMA IATROGENIA NA MEDICINA bloqueio completo de ramo.  
PRÉ-HOSPITALAR
Daniela Guerreiro Carneiro(1);Carlos Gustavo Mar- P n.º 1175 
tins(2);Marta Gonçalves(1) Não há duas sem três – Quando a trombocitose e
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE / Hos- os nódulos pulmonares levam ao diagnóstico de DII
Leila Barrocas(1);Sofia Moura(1);Tereza Veloso(1);-
640
E-POSTERS
Conceição Barata(1) Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
(1) Hospital do Espírito Santo, EPE, Évora culites
Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá-
ticas Introdução: A Granulomatose Eosinofílica com
Poliangeíte (EGPA), previamente denominada Sín-
drome de Churg-Strauss, é uma vasculite necroti-
Introdução: A doença de Crohn e´ uma doenc¸a zanterara, que atinge os vasos de pequeno e médio
inflamato´ria intestinal (DII) de etiologia desconheci- calibre. Trata-se de uma doença multissistémica,
da, caracterizada por inflamac¸a~o que afecta qual- sendo o pulmão o órgão mais frequentemente en-
quer porção do tracto gastrointestinal desde a boca volvido. A sua etiologia é desconhecida.
ao ânus. O pico de incidência e´ na 2ª-3ª de´cadas
de vida, podendo existir um 2º pico de incidência na
6ª-7ª de´cadas de vida. A DII pode também apresen- Caso Clínico: Homem de 58 anos, ex-fumador, com
tar frequentemente manifestações extraintestinais, antecedentes de esofagite eosinofílica. Recorreu
como são exemplo as manifestações pulmonares, ao serviço de urgência por dispneia com 1 mês de
sendo a presença de nódulos pulmonares uma evolução, de agravamento progressivo, associada
manifestação rara. No presente caso retrata-se a tosse produtiva e pieira. Objectivou-se insuficiên-
um caso cujo diagnóstico de DII ocorreu após terem cia respiratória parcial e broncospasmo. Analitica-
sido identificados vários nódulos pulmonares na mente, apresentava eosinofilia periférica (14,5%),
sequência do estudo de trombocitose. Parece tam- aumento da VS e da IgE, com ANCA-MPO positivo.
bém existir uma associação relativa às mutações A pesquisa de BK e de vírus respiratórios revelou-se
na via de sinalizac¸a~o do gene Janus kinase-2 negativa. A imunofenotipagem mostrou diminui-
(JAK2) estarem implicadas em si´ndromes mielo- ção de CD4+/CD8+ (0.36), sem outras alterações.
proliferativos (SMP), bem como na DII, como se veio Realizou TC de tórax que documentou alterações
a verificar neste caso clínico. inespecíficas (vidro despolido e crazy paving) com
distribuição periférica nos lobos superiores e infe-
riores. Foi colocada a hipótese diagnóstica de gra-
Caso clínico: Sexo masculino, 56 anos de idade, nulomatose eosinofílica com poliangeíte, realizando
encaminhado a consulta por trombocitose, pelo que broncofibroscopia que revelou alterações inflamató-
realizou o estudo de JAK2 que revelou ser positivo, rias ligeiras e inespecíficas. Realizou ainda TC dos
sendo encaminhado neste contexto a consulta de seios perinasais com objectivação de vários pólipos
hematologia com início de hidroxicarbamida com perinasais, a biópsia dos quais demonstrou intenso
boa resposta. No estudo da trombocitose realizou infiltrado inflamatório misto à volta de vasos e agre-
também TC-Tórax que documentava “micronódulo gados de histiócitos com esboço de granulomas.
paramediastínico a nível lingular, no lobo inferior Foi assumida vasculite sistémica e iniciada cortico-
esquerdo e outros dois a nível do lobo médio”. Dos terapia, verificando-se resolução da eosinofilia peri-
antecedentes pessoais destaca-se ser ex-fumador férica e melhoria da sintomatologia.
(90UMA). Negava história de febre, perda ponde-
ral, astenia, anorexia ou sudorese nocturna. Desta Discussão: Sendo a EGPA uma doença pouco fre-
forma decidiu-se realizar estudo endoscópico, cuja quente, é importante conhecer as suas caracterís-
colonoscopia revelou “Estenose ulcerada do ascen- ticas com vista a motivar suspeição que leve ao
dente proximal/cego” e biópsia “Lesões de colite diagnóstico. Os doentes geralmente apresentam
crónica com actividade moderada, inespecífica” uma boa resposta à corticoterapia, sendo que o
tendo sido assumida Doença de Crohn, pelo que foi tratamento precoce tem um impacto importante na
encaminhada a consulta de Gastroenterologia onde remissão  da doença e, consequentemente, na so-
iniciou Pentasa e Cirurgia geral para resseção ileo- brevida.
cecal via laparoscópica.
P n.º 1185 
Discussão: Os nódulos pulmonares são uma ma- Síndrome Pulmão-Rim
nifestação rara na DII, e quando presentes levam a Letícia Leite(1);Ana Ferreira(1);Vítor Sousa(1);Joana
necessidade de um estudo etiológico para exclusão Peixoto(1);Cristina Silva(1);Rui Fernandes(1);Magda
de outras causas, não devendo de todo esquecer Fernandes(1);Jorge Cotter(1)
que estes podem preceder as manifestações intes- (1) Centro Hospitalar do Alto Ave, EPE / Hospital da
tinais da DII. No caso acima descrito foi a presença Senhora da Oliveira
de nódulos pulmonares que permitiu o diagnóstico
de DII, e que surgiu pelo estudo de trombocitose, Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
que parece também estar presente de forma mais culites
expressiva em doentes com DII.
Introdução: A vasculite ANCA é uma vasculite ne-
P n.º 1182  crotizante de pequenos vasos, pauci-imune, carate-
SÍNDROME DE CHURG-STRAUSS: CASO CLÍNICO rizada pela presença de anticorpos anti-citoplasma
Vanessa Leite(1);Vanessa Fraga(1);João Porte- de neutrófilos (ANCA). A Poliangeíte microscópica
la(1);Andreia Nunes(1);Pedro Beirão(1) (MPA) é um subtipo frequentemente associada a
(1) Hospital Garcia de Orta, EPE anticorpos anti-mieloperoxidase (MPO), afetando
sobretudo o pulmão, com capilarite necrotizante, e

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 641


o rim, com glomerulonefrite e formação de crescen- tabagismo. Foi admitido no Serviço de Urgência por
tes. tosse seca, mialgias, cansaço, vómitos e febre, com
7 dias de evolução. Ao exame objectivo, apresen-
Caso Clínico: Homem de 74 anos, com anteceden- tava-se prostrado, febril, taquicardico, polipneico;
tes de insuficiência cardíaca, NYHA I. Recorreu ao à auscultação pulmonar com fervores crepitantes
Serviço de Urgência por hemoptises e dispneia para e murmúrio diminuído na base direita. Laborato-
esforços de agravamento progressivo. À admissão, rialmente apresentava hipoxemia (pO2 56mmHg),
hemodinamicamente estável,febril. Analiticamente, linfopenia (570/uL), elevação de parâmetros infla-
com anemia compatível com doença inflamatória e matórios (PCR 50mg/dL, PCT 6.18ng/mL), aumento
com PCR de 73 mg/L (normal <3). Tomografia com- das transaminases (AST 85 U/L, ALT 42 U/L), eleva-
putorizada do tórax a demonstrar espessamento ção de CK (5143 U/L) e da creatinina (1.47mg/dL).
intersticial septal e imagens de faveolamento com Realizou TC de tórax que evidenciou padrão atípico
predomínio periférico e nas bases sugerindo fenó- para pneumonia por SARS-CoV-2, e consolidação
menos de fibrose pulmonar. com broncograma aéreo no lobo inferior direito,
compatível com pneumonia lobar. O exsudado
No último ano, verificou-se o agravamento progres- nasofaríngeo para pesquisa de SARS-CoV-2 foi po-
sivo da função renal (taxa de filtração glomerular de sitivo. Foi internado no contexto de pneumonia por
82,5 para 30 mL/min/1.73m2 à data de internamen- este agente, com suspeita de sobreinfeção bacteria-
to). Durante o internamento, com perfil tensional na, a condicionar insuficiência respiratória parcial,
controlado e sem recorrência de hemoptises ou admitindo-se ainda lesão renal aguda AKIN 2 e rab-
necessidade de oxigenoterapia. Do estudo realiza- domiólise. Adicionalmente, a antigenúria de Legio-
do, VS de 80 mm (range 0-30), haptoglobina de 194 nella revelou-se positiva. Cumpriu terapêutica com
mg/dL (range 16-200), sedimento com eritrocitúria, azitromicina (14 dias), remdesivir (5 dias) seguido
ANCA anti-MPO positivo, 1/80 UI/mL (N<5), anti-PR3 de dexametasona (10 dias). Necessitou de aporte
e anti-membrana basal glomerular negativos. O suplementar de O2, com progressão até máscara de
lavado bronco-alveolar revelou hemorragia alveolar alto débito, conseguindo-se posterior desmame. A
moderada e a biópsia renal apresentou 3 crescen- evolução durante o internamento foi favorável, ten-
tes. Feito o diagnóstico de vasculite ANCA, com do alta para domicílio.
26 pontos no Birmimgham Vasculitis Activity Score,
iniciou pulsos de corticoterapia (CCT), seguido de Este caso é ilustrativo de uma coinfecção por dois
terapêutica combinada com CCT oral e rituximab. agentes atípicos causadores de pneumonia. A Le-
Teve alta orientado para a consulta externa e para gionelose é uma forma de pneumonia grave, ainda
o Hospital de Dia Polivalente para continuação do subdiagnosticada. Salienta-se o maior acometimen-
tratamento,  tendo realizado 4 ciclos de rituximab to de outros sistemas (como o renal e gastrintesti-
semanais, com evolução favorável, aguardando o nal). Os valores laboratoriais e achados imagiológi-
quinto ciclo de rituximab, no sexto mês. cos apresentados ajudavam a colocar a hipótese.

Conclusão: A vasculite ANCA é uma doença multi- P n.º 1190 


sistémica com afeção de vários órgãos e sistemas, Metamizol - uma causa a considerar de neutrope-
sendo urgente o diagnóstico e o início de tratamen- nia
to, potenciado assim a probabilidade de remissão Paulo Fernandes(1);Vera Guerreiro(1);Paulo Cé-
da doença, descrita em 80-90% dos casos segundo sar(1);Catarina Semedo Graça(1);José Vaz(1)
a literatura.  (1) Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo, EPE /
Hospital José Joaquim Fernandes
P n.º 1186 
Legionella nos tempos de COVID-19 Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
Ana Furão Rodrigues(1);Ana Cardoso(1);Ana Maria
Baltazar(1);Catarina Gonçalves(1);Ana Mafalda A neutropenia febril é uma condição clínica que re-
Abrantes(1);Alexandra Wahnon(1);Diogo de Sou- quer uma avaliação minuciosa, sendo a iatrogenia
sa(1);Nuno Carreira(1);Liliana Ribeiro(1);Laura Car- a causa mais frequente e sendo fundamental iniciar
valho(1);Carolina Ramos(1);Dúlio Passos(1);Marisa antibioterapia precocemente.
Silva(1);António Pais de Lacerda(1)
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi- Apresentamos o caso de uma doente de 72 anos,
tal de Santa Maria sexo feminino, sem antecedentes relevantes. Teria
Tema: Doenças respiratórias sido recentemente diagnosticada com amigdalite
bacteriana, tendo já sido medicada com macrólido
durante 6 dias, 2 tomas de penicilina e metamizol
Apesar da atual pandemia, outros agentes atípicos magnésico. Recorreu ao serviço de urgência por
de pneumonia devem ser considerados. É o exem- persistência de febre e odinalgia, com uma sema-
plo da Doença dos Legionários, diagnosticada neste na de evolução. À admissão apresentava-se febril,
caso em simultâneo com COVID-19. hemodinamicamente estável, polipneica, com hi-
pertrofia e hiperemia amigdalina bilateral com pre-
Apresenta-se o caso de um doente do sexo mascu- sença de exsudado esbranquiçado sem evidência
lino, de 66 anos, autónomo, com antecedentes de de abcesso. Analiticamente a destacar anemia nor-

642
E-POSTERS
mocítica normocrómica de novo com hemoglobina ções faringolaríngeas. Avaliação imagiológica com
(Hb) de 8,7g/dL, leucopenia com neutropenia grave TC do tórax, que revelou aneurisma volumoso da
(100/uL), plaquetas normais, lesão renal aguda, aorta torácica ascendente, com 7cm de maior diâ-
ligeira elevação dos parâmetros cito-colestáticos e metro, e da aorta descendente, com 6cm de maior
alcalémia respiratória com lactato normal. Após rea- extensão. Nesta última, observava-se ainda um
lização de exame de imagem e exclusão de outros possível hematoma da parede, extrínseco à camada
focos infeciosos, assumiu-se diagnóstico de sépsis íntima, com uma espessura máxima de 3cm. De
com ponto de partida em amigdalite aguda. Foram referir ainda cardiomegalia, com proeminência de
colhidas hemoculturas e urocultura, iniciou fluido- ambas aurículas.
terapia e antibioterapia empírica com piperacilina-
-tazobactam e foi internada no serviço de Medicina. DISCUSSÃO: Após exclusão de outras causas, po-
Cumpriu fator recombinante de estimulação das co- deremos concluir que, neste caso, o aneurisma da
lónias de granulócitos durante 3 dias, com aumento aorta condiciona disfonia crónica. A síndrome de
gradual da contagem de neutrófilos. Realizou ciclo Ortner deverá ser uma hipótese a colocar durante
de antibioterapia de 6 dias com progressiva melho- a investigação de uma parésia unilateral esquerda
ria da sintomatologia e dos parâmetros laborato- das cordas vocais. Torna-se essencial o estabeleci-
riais, não se tendo isolado agente microbiológico mento de uma relação causal precoce, uma vez que
nas culturas colhidas, tendo tido alta. A doente foi poderá ter uma causa subjacente com mau prog-
reavaliada em consulta 15 dias após alta hospitalar, nóstico associado.
apresentando-se assintomática, com normalização
do leucograma, e com aumento do valor de Hb em P n.º 1208 
2g/dL. Apesar de haver neste caso um componente Rotura esplénica espontânea no diagnóstico dife-
séptico que poderá justificar a leucopenia, a gravida- rencial de dorso-lombalgia
de da neutropenia e a evolução clínica aponta-nos Carla Pereira Fontes(1);Samuel Fonseca(1)
para uma provável iatrogenia ao metamizol, estando (1) Centro Hospitalar de Entre Douro e Vouga, EPE /
descritos vários casos de agranulocitose secundá- Hospital de S. Sebastião
ria a este fármaco.
Tema: Doenças hematológicas
Salientamos assim a necessidade de uma aborda-
gem emergente perante um diagnóstico de neutro- Introdução
penia febril, bem como a importância da identifica-
ção da causa e a possibilidade de estarmos perante
um caso de neutropenia iatrogénica. A rotura esplénica espontânea ocorre na ausência
de causa traumática. É uma apresentação rara, es-
P n.º 1197  tando geralmente associada a neoplasias hemato-
Síndrome de Ortner – uma causa menos frequente lógicas ou metastáticas (30%), infeciosas (27%) ou
de disfonia inflamatórias (20%); em alguns casos, é idiopática
Rita Vilar da Mota(1);Luís Costeira Pereira(1);Nuno (7%). O diagnóstico e tratamento adequados são de
Pardal(1);Marta Batoca Sousa(1);Ângela Paredes extrema importância, visto que a taxa de mortalida-
Ferreira(1);Patrícia Sôra Sobrosa(1);João Pedro de pode atingir os 12.2%.
Pais(1);Ana Rita Cambão(1);Diana Guerra(1)
(1) Unidade Local de Saúde do Alto Minho, EPE / Caso clínico
Hospital de Santa Luzia Homem de 60 anos, com diagnóstico de leucemia
Tema: Doenças cardiovasculares prolinfocítica T. Admitido por dorso-lombalgia bila-
teral de agravamento progressivo e dispneia de es-
forço com 1 semana de evolução. Negava febre ou
Introdução: A síndrome de Ortner ou síndrome car- outra sintomatologia; sem história traumática. À ad-
diovocal, é uma causa rara de paralisia unilateral missão, apresentava-se apirético, normotenso, ligei-
das cordas vocais e ocorre devido à compressão do ramente taquicárdico e taquipneico; abdómen dis-
nervo laríngeo recorrente esquerdo, por estruturas tendido, depressível, indolor à palpação. Gasimetria
vasculares aumentadas, nomeadamente a aurícula do sangue arterial com insuficiência respiratória e
esquerda, a artéria pulmonar ou a artéria aorta. acidose metabólica; lactatos 2.5 mmol/L. Analitica-
mente com anemia (hemoglobina 9.9 g/dL), leuco-
CASO CLÍNICO: Mulher de 81 anos, com anteceden- citose acentuada (462.200/µL) com expressiva pre-
tes de HTA, IC de etiologia valvular, por insuficiência sença de blastos (384.100/µL), plaquetas 236.000/
aórtica severa, fibrilhação auricular permanente, µL; lesão renal aguda (creatinina/ureia 3.7/212 mg/
carcinoma bilateral da mama e doença renal crónica dL) e hipercaliemia (7.6 mmol/L). Realizou tomo-
estadio 3b. Doente referia que, após infeção das grafia computorizada (TC) toraco-abdomino-pélvica
vias respiratórias superiores, teria iniciado quadro que revelou derrame pleural esquerdo de moderado
de disfonia. Teria tido melhoria transitória, mas com volume, esplenomegalia (17 cm) heterogénea e lí-
posterior agravamento. Ao momento da observa- quido livre intra-abdominal, compatível com rotura
ção, com fonoastenia e voz bitonal. Realizada naso- esplénica associada a hemoperitoneu, sem evidên-
faringolaringoscopia, tendo sido objetivada parésia cia de hemorragia ativa (Fig. 1). Progressão para
da hemilaringe esquerda, sem lesões ou neoforma- choque com disfunção multiorgânica, tendo sido
submetido a esplenectomia emergente. O estudo
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 643
histológico confirmou natureza linfoproliferativa. tar face ao quadro consumptivo evolutivo, com evo-
Evolução posterior favorável, retomando terapêutica lução desfavorável durante o internamento, tendo o
imunossupressora e acompanhamento em consulta doente falecido. A autópsia revelou doença linfopro-
de Hemato-oncologia.  liferativa disseminada compatível com linfoma T
periférico.
Conclusão
Apesar da elevada suspeição de se tratar de uma
A dor abdominal, particularmente a nível do hipo- anemia hemolítica de etiologia paraneoplásica, a
côndrio esquerdo, é o sintoma mais frequente na ro- dissociação entre a clínica e os exames comple-
tura esplénica, podendo tornar-se difusa e associa- mentares de diagnóstico, com um quadro pouco
da a sinais de irritação peritoneal. Em alguns casos, “floreado” e sem focalização foi um entrave ao diag-
contudo, a clínica abdominal é frustre ou tardia e a nóstico.
dor referida a outras localizações. Por isso, é neces- O diagnóstico do linfoma periférico de células T
sário um elevado índice de suspeição, sobretudo na é histopatológico e a doença tem uma evolução
presença de fatores predisponentes. Exames como agressiva, com elevada taxa de mortalidade.
a ecografia e a TC são essenciais para o diagnósti-
co e abordagem precoces, os quais têm impacto em P n.º 1214 
termos de morbi-mortalidade. Doença por aglutininas a frio e anemia perniciosa:
uma associação pouco comum
P n.º 1209  Pedro Campelo(1);Carlos Candeias(1);Fábio Emí-
Anemia hemolítica autoimune: um caso de apre- dio(1);Ana Fortuna(1);Carlos Cabrita(1);Ana Lo-
sentação inicial de linfoma de células T periférica pes(1)
Marta Azevedo Ferreira(1);Joana Marques(1);Caro- (1) Centro Hospitalar do Algarve, EPE / Hospital de
lina Abreu(1);Ana Grilo(1);Sónia Passô(1);Fernando Faro
Martos Gonçalves(1);José Lomelino Araújo(1)
(1) Hospital Beatriz Ângelo Tema: Doenças hematológicas
Tema: Doenças oncológicas
Introdução: A doença das aglutininas a frio
(DAF) é um tipo de anemia hemolítica autoimune
Os linfomas periféricos de células T são um grupo caracterizada pela aglutinação de eritrócitos por
heterogéneo de neoplasias, que constituem menos anticorpos IgM a baixas temperaturas. Pode ser
de 15% dos linfomas não Hodgkin em adultos. A primária ou secundária, relacionada geralmente
idade média de diagnóstico é 60 anos. Apresenta-se com distúrbios hematológicos ou processos
habitualmente com adenopatias, e pode cursar com infeciosos, sendo a associação com anemia
ou sem envolvimento extranodal. perniciosa extremamente rara.

Homem, 74 anos, agricultor, recorreu ao serviço de Caso clínico: Mulher de 29 anos de idade. Apresen-
urgência por quadro insidioso de tosse, cansaço e ta-se com quadro de astenia, anorexia, tonturas,
astenia com 2 meses de evolução que associou à perda ponderal e parestesias das extremidades com
toma da vacina da gripe. a exposição ao frio, com 5 meses de evolução. Ao
À observação destacava-se presença de icterícia, sem exame físico apresentava palidez cutânea e analiti-
outras alterações. Analiticamente apresentava anemia camente destacava-se anemia macrocítica com he-
normocítica normocrómica, elevação da LDH e da moglobina de 5,9g/dL e eritrócitos aglutinados em
bilirrubina não conjugada, e hiperbilirrubinúria. Realizado lâmina a frio, só sendo possível realização de hemo-
teste de coombs que foi positivo. grama após aquecimento. O estudo complementar
Assumiu-se como hipótese de diagnóstico uma revelou reticulocitose, haptoglobina diminuída, LDH
anemia hemolítica autoimune, desencadeada por aumentada, consumo dos fatores de complemento
trigger vacinal, quadro infecioso por agente atípico C3 e C4, défice de vitamina B12, anticorpos anti-
ou neoplasia. Iniciou antibioterapia empírica com -células parietais positivos e teste de antiglobulina
azitromicina e corticoterapia sistémica, inicialmente direto positivo (2+) por C3d (1+). Realizou TC tora-
com resposta lenta e persistência da hemólise, mas co-abdomino-pélvico que não mostrou alterações
boa resposta reticulocitária. Do estudo complemen- de relevo e realizou endoscopia digestiva alta com
tar salientava-se sangue periférico com anisocitose biópsias gástricas que mostraram gastrite atrófica
e anisocromia e autoanticorpos de origem policlo- com metaplasia intestinal, Helicobacter pylori ne-
nal, frios, anti-I positivo. Restante estudo imunoló- gativo. Face a estes resultados, admitiu-se anemia
gico sem alterações e serologias virais negativas. hemolítica autoimune por DAF e anemia perniciosa.
Realizou TAC toraco-abdomino-pélvica que excluiu Iniciou vitamina B12 intramuscular e evicção do frio
neoplasia sólida ou adenomegalias. com resolução da anemia e da sintomatologia, sem
Teve alta melhorado, com estabilidade laborato- necessidade de suporte transfusional. Mantem-se
rial dissociada do quadro persistente de astenia e em seguimento por medicina interna e hematologia
mal-estar. Numa das avaliações em consulta foi um ano após o diagnóstico, sem terapêutica adicio-
identificada lesão ulcerada na amígdala direita, cuja nal especifica.
biópsia foi inconclusiva.
Foi novamente internado para estudo complemen- Discussão: Destaca-se este caso pela raridade da

644
E-POSTERS
associação da DAF e anemia perniciosa, sobretudo P n.º 1226 
em idade jovem. Esta associação já foi descrita Aspergilose pulmonar invasiva após pneumonia
na Literatura mas não está completamente escla- COVID-19
recida, levantando-se a possibilidade de não ser Joana Rodrigues Morais(1);Filipa David(1);Mário
acidental dada a natureza auto-imune de ambas as Bibi(1);Helena Greenfield(1);Francisca Beires(1);Ri-
patologias. Deve-se assim estar alerta para a pre- cardo Sousa(1);Gonçalo Fernandes(1);Rui Moço(1)
sença de anemia megaloblástica em doentes com (1) Unidade Local de Saúde de Matosinhos, EPE /
DAF primária. Hospital Pedro Hispano

P n.º 1225  Tema: Doenças infecciosas e parasitárias


Astrocitoma Anaplásico – apresentação atípica de
um tumor raro Introdução: A pneumonia COVID-19 emergiu na
Joana Rodrigues Morais(1);Luís Ribeiro(1);Danay China, no final de 2019, mas rapidamente se esten-
Perez(1);Sara Ramos(1);Catarina Trigo(1);Filipe Cor- deu à escala mundial. A imunomodulação severa
reia(1);Nídia Pereira(1) e depleção de linfócitos causada pelo vírus e tera-
(1) Unidade Local de Saúde de Matosinhos, EPE / pêutica antecipavam um aumento na incidência de
Hospital Pedro Hispano sobreinfeções.
Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas
Caso Clínico: Mulher de 68 anos, com fatores de ris-
Introdução: O astrocitoma anaplásico é um tumor co vascular, é admitida na unidade de cuidados in-
maligno raro do sistema nervoso central (SNC) com tensivos por pneumonia COVID-19 com insuficiência
elevada taxa de mortalidade. A apresentação é su- respiratória hipoxémica grave (ratio pO2/FiO2<100).
baguda e dependente do local e tamanho da lesão, A angiotomografia computorizada torácica inicial
geralmente identificando-se em imagem cerebral mostrava áreas em vidro despolido com atingimen-
como lesão única. to superior a 75% do parênquima pulmonar, sem
áreas de cavitação, sem sinais de tromboembolis-
mo pulmonar. Foi iniciada terapêutica dirigida com
Caso clínico: Homem de 72 anos, fumador, é inter- dexametasona 16mg ev id e medidas de suporte
nado por quadro constitucional associado a fra- de orgão, nomeadamente ventilação invasiva. Por
queza muscular global, disfagia e disartria com 1 traqueobronquite aguda a Enterobacter cloacae
mês de evolução. Ao exame objetivo documentada spp., isolado em aspirado traqueal, cumpriu 5 dias
disartria severa, disfagia global, reflexo velopalatino de Piperacilina/Tazobactam. Evolução clínica a
e faríngeo ausentes, tetraparésia simétrica grau 4 permitir gradual desmame ventilatório e step-down
e hiperreflexia global, sem sinal de Babinski, sem de cuidados, com subsequente transferência para a
atrofias ou fasciculações. Do estudo realizado a sa- enfermaria. 
lientar: exclusão de evento vascular agudo, infeção
ou doença autoimune; bandas oligoclonais, anticor- Ao 14º dia de internamento, ainda sob corticote-
pos-onconeuronais e anti-neuronais negativos; ele- rapia em esquema de desmame, é constatado re-
tromiografia não reveladora de doença do neurónio crudescimento de parâmetros inflamatórios, sem
motor. Ressonância magnética cerebral a mostrar clínica focalizadora. Documentado, em tomografia
extensas lesões bilaterais e simétricas, centradas computorizada torácica, abcesso pulmonar no lobo
na substância branca da coroa radiada, com hiper- superior esquerdo com áreas de consolidação peri-
sinal em T2, hiposinal em T1, restrição à difusão e féricas, com identificação por broncofibroscopia de
sem captação de contraste, a sugerir leucoencefa- Aspergillus niger. Apesar de antibioterapia de largo
lopatia tóxico-metabólica. Doseamento de sais de espectro e voriconazol, a doente manteve evolução
ouro e chumbo negativos. Na ausência de etiologia desfavorável a somar disfunção de orgãos, culmi-
e perante o agravamento clínico sustentado, iniciou nando com o óbito.  
suplementação com vitamina B12 e tiamina e, pos-
teriormente, pulsos de metilprednisolona e imuno- Discussão: Embora o SARS-CoV-2 seja primaria-
globulina endovenosa, sem melhoria clínica nem mente responsável por causar pneumonia com
imagiológica. Em biópsia cerebral identificado astro- diferente expressão de gravidade, é também um re-
citoma anaplásico de alto grau. Face ao diagnóstico conhecido fator de risco para aspergilose pulmonar,
e status funcional do doente foi considerado não com incidência de 20-30% e elevada taxa de mor-
cadidato a qualquer terapêutica curativa, cursando talidade associada. Acresce que a corticoterapia
com o óbito 5 meses após a apresentação clínica. agrava o estado de imunossupressão. Os autores
pretendem alertar para a associação destas duas
Discussão: O caso descrito é exemplo da hetero- entidades, dado o diagnóstico e tratamento preco-
geneidade clínica e imagiológica das neoplasias ces poderem ser modificadores de prognóstico.
primárias do SNC, não havendo referência nem des-
crição prévia de imagem bilateral simétrica num as- P n.º 1228 
trocitoma anaplásico. O diagnóstico foi desafiante Cerebrite com empiema subdural – um caso com
e apenas possível de estabelecer após biópsia cere- evolução desfavorável
bral estereotáxica, que permanece o gold-standard. Luís Reis de Almeida(1);Manuel António Montei-
ro(2);Vera Salvado(1)

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 645


(1) Hospital de São José (2) Unidade Funcional Me- Introdução: O Lupus Eritematoso Sistémico (LES) é
dicina 1.2 - Hospital de São José - CHULC uma doença autoimune que pode afetar virtualmen-
te qualquer órgão do organismo, com variado espe-
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias tro de gravidade.

Introdução: A infecção do sistema nervoso central Caso Clínico: Mulher de 27 anos, melanodérmica,
associa-se a elevada morbimortalidade, pelo que a saudável, é encaminhada à consulta de medicina
sua identificação e tratamento precoces, bem como interna por quadro com 8 meses de evolução de
a abordagem multidisciplinar são essenciais. perda ponderal (10Kg em 3 meses), mialgias, poliar-
tralgias e cansaço para mínimos esforços. Referia
Caso Clínico: Senhor de 74 anos, com antecedentes uma tumefação inguinal esquerda desde há 6 me-
de carcinoma da próstata em remissão, apresenta- ses. Sem febre, artrite, dispneia, diarreia, alterações
va um quadro de cefaleia, febre e rinorreia com duas cutâneas ou outras queixas. Ficou internada para
semanas de evolução. Foi admitida rinossinusite estudo etiológico.  À admissão com hepatomega-
aguda e medicado com amoxicilina/clavulanato, lia palpável 6cm abaixo da grelha costal e múlti-
com melhoria dos sintomas. Após quinze dias, plas adenopatias móveis e dolorosas à palpação.
houve recidiva de febre e alteração do estado de Realizou TC tóraco-abdomino-pélvica que relevou
consciência (EC) de novo. No serviço de urgência, a várias adenomegálias cervicais, axilares, subma-
tomografia computorizada de crânio (TC-CE) iden- xilares, abdomino-pélvicas e inguinais e volumoso
tificou uma lesão frontal esquerda heterogénea, derrame pericárdico. Realizada pericardiocentese
com edema perilesional, de suspeição infecciosa com drenagem líquido compatível com exsudado;
ou neoplásica. Iniciou ceftriaxona empírica (dose citologia suspeita para células neoplásicas, exames
subóptima) e foi proposto internamento. Nas 24 ho- microbiológicos negativos. Submetida a biópsia de
ras seguintes verificou-se obnubilação e hemiplegia adenopatia inguinal, compatível com hiperplasia
direita. Foi efectuada TC-CE urgente que mostrou folicular reativa. Analiticamente com Hb 10,1g/
uma nova colecção subdural parafalcina esquerda dL, VGM 80fL, HGM 24fL, sem défice de ferro, VS
(5 mm) e rarefacção óssea da calote adjacente ao 64mm/s, sem outras alterações. Eletroforese das
seio frontal. Admitiu-se quadro de cerebrite com proteínas séricas sem frações monoclonais na imu-
empiema subdural, tendo realizado punção lombar, nofixação. Do estudo auto-imune: hipocomplemen-
hemoculturas e iniciado ceftriaxone, vancomici- témia (C3 e C4), ANA positivo (título 1/1280 padrão
na, ampicilina e metronidazol em dose meníngea fino granular e mosqueado), Ac. anti-ribosoma, Ac.
e dexametasona. O exame citoquímico de líquor Anti-SSA/Ro, Ac Anti-Sm e Ac Anti-RNP positivos
apresentava proteinorráquia, pleocitose neutrofílica fortes. Estudo de SAAF negativo. Exame sumário de
e hipoglicorráquia, mas sem isolamento de agente urina com proteinúria ligeira. Assumido diagnóstico
(no estudo alargado); as hemoculturas isolaram de LES, iniciou terapêutica com hidroxicloroquina,
Streptococcus intermedius sensível à terapêutica prednisolona e azatioprina. Melhoria dos sintomas
instituída. A evolução neurológica foi inicialmente em 3 meses.
favorável. O doente foi periodicamente avaliado por
Neurocirurgia e Otorrino, mantendo-se opção por Conclusão: A forma Kikuchi-like é uma apresenta-
tratamento conservador apesar de parca melhoria ção rara de LES. A presença de derrame pericárdico
imagiológica. Após cinco semanas de tratamento numa doente jovem deve ter sempre em conta o
houve agravamento rápido do EC associado a pneu- LES no seu diagnóstico diferencial. A marcha diag-
monia nosocomial, que evoluiu com choque séptico nóstica dos quadros constitucionais deve incluir o
refractário e falecimento do doente. estudo auto-imune, pela sua prevalência especial-
mente nos adultos jovens. O diagnóstico precoce e
Discussão: A suspeição clínica de infecção do sis- o tratamento dirigido melhoram a qualidade de vida
tema nervoso central deve conduzir a instituição de dos doentes.
antibioterapia empírica precoce, a fim de prevenir
lesão neurológica adicional e complicações. Deve P n.º 1234 
ser continuamente ponderado o risco-benefício de Policitemia Vera - a propósito de um caso clínico
uma intervenção cirúrgica para controlo da infec- Catarina Pinto Silva(1)
ção, na ausência de melhoria clínica e radiológica (1) Hospital Santa Maria Maior de Barcelos
consistente. Tema: Doenças hematológicas
P n.º 1232 
Coração de leão Introdução: A Policitemia Vera (PV), entidade per-
Carla Costa(1);Sílvia Balhana(1);Patrícia Moreira(1);- tencente ao grupo de neoplasias mieloproliferativas
Carla Noronha(1);Célia Machado(1);José Lomelino crónicas (NMP), caracteriza-se pela proliferação
Araújo(1) clonal de células da linhagem mielóide o que cul-
(1) Hospital Beatriz Ângelo mina numa maior produção de eritrócitos. Esta en-
tidade apresenta diversas formas de manifestação
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas- – desde assintomática a sintomática, com sinais e
culites sintomas como cefaleia, tonturas, prurido aquagéni-
co ou saciedade precoce. Pode ainda apresentar-se

646
E-POSTERS
com complicações como trombose arterial/venosa pacidade da marcha,  vários episódios de mialgias
ou hemorragia. A PV é impulsionada por mutações com rabdomiólise incluindo internamento já em ida-
JAK2 na grande maioria dos casos.   de adulta, no contexto de infecção por Influenza A
associada a rabdomiólise massiva com LRA. Segui-
Caso clínico: Homem de 59 anos, antecedentes do em consulta de Medicina Interna após episódio
pessoais de hipertensão arterial (HTA) desde há 10 descrito. Recorreu ao Serviço de Urgência (SU) por
anos e tromboembolismo pulmonar (TEP) em 2019 quadro de hematúria,  dor lombar e mialgias, asso-
(medicado com anticoagulante oral durante seis ciadas a esforço físico intenso prévio. Objectivada
meses) recorreu ao Serviço de Urgência (SU) com rabdomiólise massiva (CK 69047 U/L; Mioglobina
clínica de dispneia súbita e toracalgia esquerda com 25020 ng/mL), tendo sido internado. Do estudo pré-
um dia de evolução. Ao exame objetivo apresenta- vio, a destacar PM-Scl75 fracamente positivo, sem
va-se taquicárdico e com hipertensão arterial (grau alterações no restante estudo imunológico. Dada
1). Angio-TC Torácica a confirmar TEP bilateral e a recorrência de episódios e associação a triggers,
evidenciar esplenomegalia. Após colheita de histó- requisitado estudo metabólico inicial (gene PYGM,
ria clínica, doente menciona antecedentes familia- carnitina sérica e urinária, ácidos orgânicos e perfil
res de PV (pai).  Em estudo etiológico efetuado,  po- carnitinas) – negativo. Realizou biópsia muscular a
liglobulia com Hemoglobina 17.2 g/dL,  Hematócrito revelar  “fibras com discreta acumulação subsarco-
52.2% e Leucocitose (17000 leucócitos); Eritropoeti- lémica de glicogénio e mais frequentes fibras com
na reduzida; estudo pró-trombótico sem alterações aumento do número e dimensões das gotículas lipí-
de relevo. Solicitada mutação JAK 2, sendo deteta- dicas”. À data de alta, sob suplementação com car-
da, na amostra estudada, a mutação V617F no gene nitina e dieta com restrição lipídica até confirmação
JAK2. Neste sentido orientado para consulta de de diagnóstico. Em contexto de consulta externa,
Medicina e Hematologia clínica para seguimento de pedido estudo genético NGS com identificação  da
PV com fenótipo de leucocitose e poliglobulia com variante c.338 C>T em homozigotia, no exão 3 do
mutação JAK2 positiva. Iniciou hidroxiureia 500 mg gene CPT2, confirmando suspeita de miopatia me-
e manteve hipocoagulação. tabólica.

Discussão: Serve o presente caso clínico para de- Discussão: As doenças hereditárias metabólicas
monstrar o diagnóstico de uma patologia a partir são uma causa rara de rabdomiólise, muitas vezes
de uma das suas possíveis complicações mais esquecidas na prática clínica, especialmente em
frequentes. Assim, o estudo etiológico do TEP e a idade adulta. O presente caso destaca a importân-
colheita de história clínica tendo em conta antece- cia da anamnese na suspeição de doenças mais
dentes pessoas/familiares assume-se como im- incomuns e da visão holística da medicina interna.
perativo. A PV enquanto NMP merece seguimento P n.º 1238 
rigoroso pelo risco de transformação noutras NMP “Very Early SSc” – Importância do diagnóstico
e por isso a sua orientação deverá ser multidiscipli- atempado
nar. Deverá ficar a cargo do internista a orientação Catarina Pinto Silva(1)
das complicações desta doença hematológica. (1) Hospital Santa Maria Maior de Barcelos
P n.º 1236  Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
Deficiência de Carnitina palmitoil transferase II - culites
Causa rara de rabdomiólise no jovem adulto
Catarina Pinto Silva(1)
(1) Hospital Santa Maria Maior de Barcelos Introdução: O diagnóstico precoce da Esclerose Sis-
témica (SSc) pode passar despercebido,  sobretudo
Tema: Doenças raras pela heterogeneidade de apresentação clínica. Dada
a importância de diagnóstico célere, surge o concei-
Introdução: A deficiência da carnitina palmitoil to de “Very early SSc” –caracterizada por fenómeno
transferase (CPT) 2 é o defeito de oxidação dos áci- de Raynaud (FR), puffy fingers, autoanticorpos espe-
dos gordos de cadeia longa (AGCL) mais recorrente cíficos de doença e alterações microvasculares em
a afetar o músculo esquelético, sendo a mutação capilaroscopia. Segundo a bibliografia, grande parte
S113L a presente na grande maioria. Esta patologia destes doentes apresentam ad início atingimento
autossómica recessiva (AR), pode apresentar-se orgânico, daí a importância do reconhecimento pre-
de três formas: a neonatal letal e a hepato-cardio- coce desta entidade.
muscular infantil, habitualmente fatais; a deficiência
muscular de CPT 2 com apresentação clínica mais Caso clínico: Mulher de 48 anos, trabalhadora
leve, benigna, que requer gatilhos externos – exer- têxtil, sem antecedentes de relevo. Encaminhada
cício físico, jejum – para a sua manifestação. Esta para consulta por edema das mãos incapacitante
caracteriza-se por rabdomiólise e mioglobinúria na atividade laboral. Em consulta, queixas de ar-
em adolescentes ou jovens adultos, sendo a causa tralgias bilaterais com predomínio de pequenas
mais frequente de mioglobinúria hereditária. articulações, de ritmo inflamatório e FR bifásico. Ao
exame objetivo, espessamento cutâneo dos dedos
Caso clínico: Homem de 22 anos, antecedentes de distalmente às articulações metacarpofalângicas,
internamento aos 7 anos por mialgias com inca- com puffy fingers, com pitting ungueal. Exame arti-

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 647


cular sem articulações tumefactas ou dolorosas. Do tivos; estudo autoimune negativo (incluindo ANCA,
estudo realizado destacam-se ANA positivos com crioglobulinas e antifosfolipídicos); estudo das
título 1/640, padrão Mosqueado (immunoblot nega- trombofilias hereditárias negativo; ecocardiograma
tivo para ES). Capilaroscopia com megacapilares, transtorácico sem evidência de fonte embólica ou
compatível com estádio precoce de SSc. Eletromio- vegetações. AngioTAC de abdómen com achados
grafia dos membros superiores, sem alterações. Em sugestivos de vasculite de médios vasos com atin-
TC-Alta resolução sem sinais explícitos de patologia gimento do tronco celíaco e das artérias hepática
intersticial associados a esclerodermia. Ecocardio- comum, artéria esplénica e gástrica. Endoscopia
grama transtorácico dentro da normalidade, provas digestiva alta sem alterações. Assumido diagnós-
de função respiratória e DLCO sem alterações. Em tico de vasculite de médios vasos intra-abdominal
Endoscopia Digestiva Alta a destacar gastropatia ANCA-negativa, altamente sugestiva de poliarterite
eritematosa – compatível com atingimento GI da nodosa. Cumpriu 3 pulsos de metilprednisolona 1g
SSc – e Manometria a revelar-se normal. ev tendo tido alta medicado com prednisolona 1mg/
Kg/dia para Consulta de Doenças Autoimunes.
Discussão: O diagnóstico de Very Early SSc é es-
sencial no sentido de modificar o curso natural da Discussão: Apesar de não ter sido possível biópsia
doença e prevenir dano a longo prazo. Para isso, é confirmativa, considerando os achados e franca res-
necessário um acompanhamento rigoroso do doen- posta à corticoterapia, foi estabelecido o diagnósti-
te, com o propósito de monitorizar o envolvimento co de PAN, causa rara mas a considerar no estudo
multiorgânico e em tempo real definir uma estra- de enfartes esplénicos.
tégia terapêutica. Desta forma, deve-se  priorizar a
avaliação por sintomatologia/exame objetivo (es- P n.º 1250 
pessamento cutâneo/alterações da pele) e meios Hiperlactacidémia de 21, assintomática, durante 21
complementares de diagnóstico por sistema orgâ- dias. Em busca da etiologia.
nico. Assim, a gestão responsável das diferentes Marisabrochado(1);Marta Cerol(1);Petra Pego(1)
fases da SSc permite uma ampla implementação de (1) Hospital Distrital de Santarém, EPE
medidas terapêuticas ajustadas e apropriadas no
tempo correto. Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio-
nais
P n.º 1240 
Raridade ao Quadro: Quando um Enfarte Esplénico Introdução: O lactato é um biomarcador de prognós-
Tem Uma Causa Rara tico relevante na monitorização de doentes críticos
Sofia Miranda(1);Inês Amarante(1);Daniel Cala- e chave no rastreio dos defeitos do metabolismo
do(1);Carolina Roias(1);Miriam Cimbron(1);Luís glicolipídico. A lactacidemia aumenta na hipoper-
Dias(1) fusão e disfunção mitocondrial genética (doenças
(1) Hospital do Divino Espírito Santo, Ponta Delgada metabólicas) ou adquirida (hepatotoxicidade).
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
culites Caso Clínico: Doente do sexo masculino, 71 anos.
Antecedentes Pessoais de Hipertensão Arterial; Dia-
bético tipo 2 insulino tratado, Doença Renal Crónica
Introdução: A poliarterite nodosa (PAN) é uma estadio 4. Diagnóstico recente de HIV.
vasculite sistémica necrosante que tipicamente
acomete as artérias musculares de tamanho médio Doente com várias recorrências ao serviço de ur-
e ocasionalmente as de mais pequena dimensão, gência por vómitos e diarreia. Ficou internado por
resultando em isquémia tecidual secundária. A quadro de diarreia e vómitos em doente imunossu-
maioria dos casos é idiopática e o diagnóstico de- primido. À admissão, ao exame objetivo sem altera-
safiante. ções relevantes e dos exames complementares de
diagnóstico: anemia normocitica e normocrómica,
Caso Clínico:  Homem de 49 anos. Antecedentes de hipoglicemia (60mg/dL) e parâmetros inflamatórios
tabagismo e de etilismo. Quadro de dor no flanco aumentados; gasimetricamente com acidose me-
esquerdo, anorexia, febre e astenia marcada com 3 tabólica e hiperlactacidemia de 10. Durante o inter-
dias de evolução. Ao exame objetivo com abdómen namento manteve persistência de hipoglicemias
doloroso à palpação do flanco esquerdo e dor à graves apesar da terapêutica fixa bidiária com soro
percussão lombar esquerda, sem defesa. Analitica- glicosado; persistência da hiperlactacidémia com
mente a destacar leucocitose, PCR 8,57mg/dL, LDH valores de aproximadamente 21 em doente prati-
268U/L, bilirrubinas normais e urina tipo II sem alte- camente assintomático. Suspendeu ciclosporina.
rações. ECG em ritmo sinusal, sem alterações de is- Iniciou antibioterapia de largo espetro com parâme-
quémia. TAC abdominal urgente sem contraste com tros inflamatórios em plateau.  
áreas de enfarte esplénico e espessamento circun-
ferencial do tronco celíaco. Em estudo subsequente Dos exames complementares: HAV (Hepatite A):
a destacar velocidade de sedimentação de 30mm/h, IgG+IgM Positivo; HBV (Hepatite B), Ac. HBs >
d-dímeros 762pg/mL e hiperferritinémia ligeira 1000.00; HBV (Hepatite B), Ac. HBc total Positi-
(364ng/mL); hemoculturas negativas; serologias vo; HIV 1+2 Ac.+Ag P24 Positivo com carga viral
virais e sífilis negativas; marcadores tumorais nega- 6000000, CD4 202; Cortisol (Soro): 10.0; Insulina
Jejum: 1.7; Hemoculturas negativas; Parasitológico,
648
E-POSTERS
bacteriológico de fezes e clostridium negativos. lizar um hemograma na presença de sintomatologia
Outros exames: Colonoscopia: “Colite inespecífica”; hemorrágica e considerar iatrogenia farmacológica
Ecografia abdominal e renal sem alterações relevan- em casos de trombocitopenia isolada, incluindo
tes. fármacos de uso comum como os AINE. Um diag-
nóstico atempado permite evitar complicações
Discussão: O caso clínico poderia traduzir um graves, iniciar terapêutica adequada com impacto
quadro de infeção oportunista gastrointestinal, em na recuperação do doente bem como documentar
doente imunossuprimido e com diagnóstico recente um efeito adverso que implica posterior evicção do
de VIH. Pelos resultados analíticos, inferiu-se uma fármaco.
hiperlactacidémia e hipoglicemia. Assumiu-se insu-
ficiência hepática com provável etiologia a infeção P n.º 1274 
recente HIV. Ao 21º dia de internamento, manuten- Sarcoidose óssea
ção de hiperlactacidémia e hipoglicémia. Doente Mafalda Cordeiro de Sousa(1);Paula Cerquei-
com agravamento clínico, tendo vindo a falecer. O ra(1);Pedro Manata(1);João Matos Costa(1)
diagnóstico histológico da mucosa intestinal veio a (1) Hospital Distrital de Santarém, EPE
ser conhecido apenas pós-mortem “Infiltração cóli-
ca por células de um Linfoma não Hodgkin B de alto Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
grau de malignidade.”. culites

P n.º 1258  Introdução: Sarcoidose é uma doença inflama-


Trombocitopenia induzida por etodolac tória multissistémica de etiologia desconhecida.
Cecília Moreira(1);Mafalda Costa(1);Sara Moutinho- Caracteriza-se pela formação de granulomas não
-Pereira(1);Joana Simões(1);Luísa Guerreiro(1) caseosos e manifesta-se mais frequentemente na
(1) Unidade Local de Saúde de Matosinhos, EPE / forma de linfadenopatia hilar bilateral e infiltração
Hospital Pedro Hispano pulmonar. O envolvimento ósseo é pouco frequente
Tema: Doenças hematológicas e normalmente ocorre em doentes com apresenta-
ção crónica, afetando principalmente as falanges
das mãos e dos pés. É necessário excluir patologias
Introdução: A trombocitopenia é uma alteração subjacentes como doenças autoimunes, infeções e
hematológica comum, tem várias etiologias e as neoplasias.
complicações incluem hemorragias potencialmente
fatais. Uma das causas é farmacológica. O etodolac
é um AINE usado no tratamento da dor e, em <1% CASO CLÍNICO: Doente do sexo feminino, 61 anos.
dos casos, pode cursar com trombocitopenia. O Tem antecedentes pessoais de pólipos gástrico,
mecanismo descrito para outros fármacos da mes- doença bipolar e carcinoma papilar da tiroide. O
ma classe é autoimune levando a trombocitopenia diagnóstico de sarcoidose pulmonar foi efectuado
isolada. Geralmente o intervalo entre o início de um pela Pneumologia no estudo de quadro constitu-
novo fármaco e o desenvolvimento de trombocito- cional e linfadenite granulomatosa. Iniciou cortico-
penia é inferior a 2 semanas. terapia com melhoria significativa da astenia e das
dimensões das adenomegalias. Após desmame de
corticoterapia, inicia dor e edema osteoarticulares
Caso Clínico: mulher de 75 anos sofreu traumatis- envolvendo as falanges de ambas mãos, sendo
mo do pé tendo sido medicada com etololac 400mg enviada à consulta de Doenças Autoimunes. À ob-
bid. Sem introdução de outros fármacos. Passados servação, a doente apresentava nódulos de osteoar-
6 dias iniciou quadro de gengivorragias e epistáxis. trose sem edema articular. A radiografia das mãos
Recorreu ao SU, realizado tamponamento nasal e revelou múltiplas lesões líticas do 2º dedo da mão
dada indicação para suspender etodolac e iniciar direita e a TAC das mãos confirma estas lesões
deflazacorte 30mg 12/12h. No dia seguinte regres- registando-se áreas de adelgaçamento da cortical
sou ao SU por recidiva de epistáxis e surgimento de e de “scalloping” marginal, bem como calcificações
petéquias e equimoses dispersas. Analiticamente em “favo de mel” na 1ª falange, que enquadrados no
apresentava 0 plaquetas/UL, sem outras alterações contexto clínico, são aspetos consistentes com en-
incluindo estudo de coagulação normal e ausência volvimento esquelético de sarcoidose. Foi proposta
de esquizócitos. Assumida provável trombocito- corticoterapia e metotrexato, recusado pela doente
penia autoimune induzida por etodolac. Restante mesmo após segunda opinião. A doente manteve-
estudo negativo incluindo serologias víricas (HBV, -se assintomática sem medicação e sem evolução
HCV, VIH, CMV, EBV e parvovírus), ANA’s, SAF e an- radiológica desfavorável ao longo de 5 anos.
ticorpos anti-plaquetários; sem défices vitamínicos,
função tiroideia normal; sem esplenomegalia. DISCUSSÃO: A sarcoidose pode ter apresentação
clínica variada, podendo afetar vários órgãos em
Fez controlo de epistáxis com tamponamento nasal simultâneo. O envolvimento ósseo implica diagnós-
e ácido aminocapróico e foi transfundida com 1 tico diferencial com outras etiologias de lesões líti-
pool de plaquetas. Iniciou dexametasona 20mg bid cas. Esta doença pode atingir remissão espontânea
com progressiva recuperação da contagem plaque- sem terapêutica.
tária e sem novos episódios de hemorragia.
P n.º 1276 
Discussão: este caso enaltece a importância de rea-
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 649
Prostatite aguda a Raoultella planticola, um agente da com olmesartan. Com episódios recorrentes de
infeccioso emergente? diarreia não sanguinolenta com mais de 6 meses de
Sofia Moura de Azevedo(1);Diogo Brandão da Cos- evolução, um dos quais com acidose metabólica
ta(1);Fabienne Gonçalves(1);João Araújo Correia(1) grave a motivar internamento em cuidados inten-
(1) Centro Hospitalar do Porto, EPE / Hospital Geral sivos. Sempre sem evidência de infeção, coprocul-
de Santo António turas estéreis. Sem clínica de doença inflamatória
intestinal, doseamento de antitransglutaminase e
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias estudo imunológico negativos. Realizou endosco-
pia digestiva baixa sem alterações macroscópicas,
Introdução: A Raoultella planticola é uma bactéria contudo não foram realizadas biópsias. Levantou-se
Gram negativo da família das Enterobacteriaceae, a hipótese à posteriori de enteropatia por olmesar-
conhecida por raramente causar doença, mas tan, e com a sua suspensão, o quadro não recorreu.
quando acontece, na sua maioria afeta doentes Na biópsia esperaria-se atrofia vilosa.
imunocomprometidos. Contudo, está a tornar-se
um agente infeccioso emergente na última década, Discussão: Salientamos que podendo tratar-se de
principalmente em meio hospitalar. Estes agen- um efeito secundário reversível, deve ser equaciona-
tes devem ser monitorizados pelo risco inerente e da a suspensão do olmesartan perante um quadro
crescente de resistências a antibióticos. de diarreia crónica, previamente a uma investigação
extensa.

Caso Clínico: Apresentamos o caso de um homem P n.º 1280 


de 91 anos, autónomo, com síndrome metabólica Encefalopatia hipoglicémica - A propósito de um
e hiperplasia benigna da próstata. Foi admitido caso clínico
no serviço de urgência por alteração do estado de Marina Gonçalves(1);João Marcelo(1);Sofia Perei-
consciência e dor perineal, e ao exame físico a des- ra(1);Jorge Almeida(1)
tacar dor ao toque retal. Analiticamente com eleva- (1) Centro Hospitalar de S. João, EPE
ção de parâmetros inflamatórios e do valor de PSA,
sedimento urinário ativo e urocultura com isolamen- Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio-
to de Raoultella planticola,  sendo assumida pros- nais
tatite aguda a R. planticola. Esta foi tratada com
sucesso com ciprofloxacina, de acordo com o perfil Introdução
de sensibilidade aos antibióticos, durante 21 dias.
Discussão: Existem poucos casos reportados de A hipoglicemia é a emergência metabólica e endó-
infecções urinárias a este microrganismo, sendo no crina mais comum na prática clínica. Os sintomas
nosso conhecimento, o 2º caso publicado de pros- evoluem de tremor, palidez, ansiedade e palpitações
tatite aguda. Estima-se que mais de metade das para sintomas neuroglicopénicos como desorien-
infeções sejam em imunocomprometidos, mas po- tação, confusão, lentificação psicomotora e outros,
dem ocorrer em imunocompetentes, ressaltando a que dependendo da gravidade da hipoglicemia e
importância do diagnóstico e tratamento adequado, duração da mesma pode surgir crises convulsivas
tanto em duração, como na escolha do antibiótico. e/ou coma. 

P n.º 1278  Esta entidade surge mais frequentemente nos doen-


Diarreia crónica: Qual é o seu anti-hipertensor? tes diabéticos com sobredosagem farmacológica
Sofia Moura de Azevedo(1);Diana Isabel Ro- (insulina e antidiabéticos orais, como as sulfonilu-
cha(1);Manuela Vidigal Bertão(1);João Araújo Cor- reias), mas também pode aparecer nos com insu-
reia(1) ficiência hepática aguda, renal, supra-renal, sépsis,
(1) Centro Hospitalar do Porto, EPE / Hospital Geral intoxicação alcoólica aguda ou secundária a fárma-
de Santo António cos.

Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá- Caso Clínico


ticas
Mulher de 61 anos, caucasiana, casada e com an-
tecedentes de diabetes mellitus tipo II sob insulina.
Introdução: A associação entre enteropatia sero- Chamada a VMER por coma (ECG 4) com hipoglice-
-negativa e o olmesartan está descrita na literatura, mia de 11 mg/dL com tempo de evolução impreciso
tratando-se de uma entidade clínica que se mani- (pelo menos 5h). Foi entubada, iniciou medidas de
festa por diarreia crónica, devendo ser considerada correção e ficou internada na Unidade de Cuidados
no seu diagnóstico diferencial. O olmesartan é um Intensivos (UCI). O rastreio toxicológico (nomeada-
anti-hipertensor de uso generalizado, cuja diarreia é mente etanol) foi negativo e foram excluídas altera-
um possível efeito secundário e o reconhecimento ções da função hepática, renal, tiroideia e presença
desta entidade pode reduzir a sobreutilização de de insulinoma. 
meios complementares de diagnóstico.
A RMN cerebral evidenciou hipersinal nas ponde-
Caso Clínico: Apresentamos o caso de uma mu- rações T2 na topografia cortical temporo-occipital
lher de 70 anos, hipertensa, medicada há uma déca- bilateral,  região parietal esquerda, hipocampos,

650
E-POSTERS
amígdalas e regiões temporais anteriores. Os acha- ção do perfil hepático sendo assumido o diagnósti-
dos foram sugestivos de encefalopatia metabólica co de hepatite aguda pelo vírus Epstein-Barr (EBV).
enquadráveis em encefalopatia hipoglicémica que Durante o follow-up constatado perfil flutuante de
mantiveram-se nas RMN sequenciais. transaminases e bilirrubina. Repetido estudo de HAI
com autoanticorpos negativos, mas elevação da
Ficou internada 70 dias (20 dias na UCI), evoluiu Imunoglobulina G. Realizada biópsia hepática com
desfavoravelmente com epilepsia secundária e sinais de fibrose portal, hepatite de interface e ati-
sem recuperação neurológica completa. À data de vidade necroinflamatória intralobular com infiltrado
alta com abertura ocular espontânea, não cumpre linfoplasmocitário. Assumido o diagnóstico de HAI
ordens simples nem apresenta resposta verbal. Ne- provável e iniciado tratamento de indução com cor-
cessidade de sonda nasogástrica para alimentação. ticóide com boa resposta clínica e analítica.
Orientada para Unidade de Cuidados Continuados.
A infeção por EBV poderá ser o trigger para a HAI,
Discussão devendo existir elevada suspeição diagnóstica
principalmente perante um perfil flutuante de lesão
Por se tratar de uma situação muito frequente e por hepática. O inicio precoce do tratamento permite a
poder apresentar-se de várias formas clínicas, a prevenção das complicações da doença.
hipoglicemia deve ser considerada no diagnóstico
diferencial de quadros clínicos caracterizados por P n.º 1287 
défices neurológicos agudos, sobretudo na presen- Seguindo as Pistas como Sherlock Holmes: A im-
ça de factores de risco como diabetes, alcoolismo e portância da Visão Holística do Internista
desnutrição, entre outros. Sofia Miranda(1);Inês Amarante(1);Daniel Cala-
do(1);Carolina Roias(1);Miriam Cimbron(1);Luís
Quanto mais precocemente for diagnosticada e cor- Dias(1)
rigida, menor é a probabilidade de progressão para (1) Hospital do Divino Espírito Santo, Ponta Delgada
encefalopatia.
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
P n.º 1283  culites
Hepatite autoimune e infeção pelo vírus Epstein-
-Barr
Filipe Machado(1);Marta Calçada(1);Joana Malhei- Introdução: As vasculites associadas a ANCA são
ro(1);Joana Rodrigues(1);João Gonçalves(1);Luis um grupo heterogéneo de doenças que causam a
Andrade(1) inflamação da parede vascular, com ou sem necro-
(1) Centro Hospitalar de Entre Douro e Vouga, EPE / se. Apresentam grande variedade de sinais e sinto-
Hospital de S. Sebastião mas e podem acarretar grande morbi-mortalidade.

Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá- Caso Clínico: Mulher de 48 anos. Em 2020, quadro
ticas de tosse inicialmente seca e após com hemop-
tises e hematúria. Analiticamente com elevação
A hepatite autoimune (HAI) é uma doença crónica dos parâmetros inflamatórios e radiologicamente
caracterizada por inflamação hepatocelular asso- com infiltrados bilaterais à admissão. TAC de tórax
ciada a autoimunidade. As infeções víricas poderão com múltiplos focos consolidativos nodulares e
desencadeá-la em indivíduos suscetíveis. pseudonodulares e áreas de vidro despolido, apre-
sentando alguns focos de conformação anciforme,
compatível com pneumonia organizativa. Por de-
Homem de 24 anos, sem antecedentes patológicos
senvolvimento posterior de insuficiência respiratória
ou medicação crónica. Sem consumo de álcool,
hipoxemiante grave, foi admitida em Unidade de
chás ou cogumelos selvagens. Recorreu ao serviço
Cuidados Intensivos e ventilada invasivamente.
de urgência por febre, náuseas e icterícia. Exame
Serologias virais e exames bacteriológicos e mi-
objetivo com pele e mucosas ictéricas. Estudo ini-
cobacteriológicos negativos. Após estabilização
cial com citólise (AST/ALT 3699/3899 U/L), hiper-
clínica, é transferida para serviço de Pneumologia,
bilirrubinemia à custa da fração conjugada (15.25
onde cumpriu esquema antibiótico e de corticote-
mg/dL) e coagulopatia (INR 2). Angio-TC abdomi-
rapia, com melhoria clínica e radiológica. Em 2021,
nopélvico com hepatoesplenomegalia. Internado
novo quadro de hemoptises e lesões purpúricas dos
por lesão hepática aguda grave de etiologia não es-
membros inferiores, ficando internada no Serviço de
clarecida. Do estudo posteriormente disponível do-
Medicina. Analiticamente, anemia de 7g/dL, aumen-
cumentadas serologias IgM e IgG VCA e IgG EBNA
to dos parâmetros inflamatórios e hematúria. TAC
positivas; IgM anti-vírus Hepatite A positivo, contu-
de tórax novamente com lesões compatíveis com
do, carga viral negativa. Sem marcadores de infeção
pneumonia organizativa. Novos estudos serológicos
pelos vírus da Hepatite B, C ou da Imunodeficiência
e bacteriológicos negativos. Do estudo autoimune,
Humana. Elevação da ferritina e taxa de saturação
a ressalvar ANCA-PR3 positivo. Assumido diagnós-
da transferrina mas estudo genético negativo para
tico de granulomatose com poliangeíte. Cumpriu 3
hemocromatose hereditária. Estudo não sugestivo
pulsos de metilprednisolona 500mg e após pred-
de défice de alfa 1 anti-tripsina ou doença de Wil-
nisolona 1mg/kg/dia (80mg/dia), com franca me-
son. Autoanticorpos associados a HAI negativos.
lhoria clínica, analítica e radiológica. Encaminhada
Sob tratamento de suporte evoluiu com normaliza-

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 651


para Consulta de Autoimunes para estratificação da manteve-se sem necessidade de oxigenoterapia
doença e seguimento regular. Em consulta posterior, suplementar, eupneico e sem evidência imagioló-
foi associada azatioprina, com resolução completa gica de pneumonia, admitindo-se COVID-19 ligeiro.
das lesões pulmonares em TAC de controlo. Teve alta ao sexto dia de internamento clinicamente
melhorado.
Conclusão: Este caso exemplifica a importância
da visão holística do internista no diagnóstico de Discussão
doenças raras, complexas e de envolvimento mul-
tissistémico, para além de reforçar a crescente ne- O SLT é uma emergência médica com elevada
cessidade de integração das várias especialidades morbi-mortalidade e o seu diagnóstico exige ele-
na procura de um diagnóstico precoce, que possa vada suspeição clínica, no contexto de neoplasias
evitar maior morbi-mortalidade para o doente. sólidas. Neste caso raro de SLT em doente com
CHC multifocal sob terapêutica bem tolerada com
P n.º 1288  sorafenib há 3 meses, presume-se como trigger a
Síndrome de lise tumoral em carcinoma hepato- infeção SARS-CoV-2, tendo ela própria sido um fator
celular multifocal sob sorafenib e infeção SARS- confundente na apresentação clínica do doente.
-CoV-2
Mário Ferreira(1);Marta Fonseca(1);Joana Pau- P n.º 1294 
lo(1);Sara Magno(2);Aurora Monteiro(1);Fernando QUANDO A CLÍNICA É DESVALORIZADA: CHOQUE
Kellen(1);Filipa Nunes(1);Beatriz Porteiro(1);Zélia SÉPTICO COM PONTO DE PARTIDA EM ARTRITE
Neves(1) SÉPTICA
(1) Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca (2) IPO Tiago Valente(1);Bárbara Paracana(1);Laura Baptis-
Lisboa ta(1);Gorete Jesus(1);Rosa Jorge(1)
(1) Centro Hospitalar do Baixo Vouga / Hospital In-
Tema: Doenças oncológicas fante D. Pedro, EPE
Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente crí-
A Síndrome de Lise Tumoral (SLT) é a uma emergên- tico
cia médica potencialmente fatal decorrente da lise
celular maciça que ocorre em neoplasias malignas
com grande carga tumoral e é caracterizada pela INTRODUÇÃO
instalação rápida de hiperuricémia, hipercaliémia, hi-
perfosfatémia e hipocalcémia. Ocorre sobretudo em A artrite séptica (AS) é uma emergência reumatoló-
neoplasias hematológicas sob quimioterapia, sendo gica rara. O fator mais importante para o diagnós-
menos frequente em tumores sólidos. O SLT no tico é a suspeição clínica. Os sinais inflamatórios
carcinoma hepatocelular (CHC) tratado com sora- podem ser menos proeminentes quando está envol-
fenib é extremamente raro, descrevendo-se apenas vida a anca ou ombro, o que reforça a necessidade
oito casos na literatura, não existindo nenhum caso de um índice de suspeição elevado. Atrasos no
descrito na população europeia. Apresentamos um diagnóstico estão associados a destruição articular
caso de SLT num doente com CHC multifocal sob e morbimortalidade significativa.
tratamento com sorafenib e infeção SARS-CoV-2.
CASO CLÍNICO
Caso clínico
Homem, 78 anos, tinha recorrido ao serviço de ur-
Homem, 55 anos, com CHC multifocal sob sorafe- gência (SU) por dor e edema do ombro direito com
nib 400mg/dia desde há três meses, admitido por 3 semanas de evolução, com elevação dos parâme-
queixas de astenia, prostração, cefaleia e tosse tros inflamatórios, tendo tido alta com analgésico.
seca com agravamento na semana precedente, Voltou ao SU 3 dias depois com queixas de astenia
confirmando-se pesquisa SARS-CoV-2 positiva. Ana- e palpitações, mantendo queixas articulares. Sem
liticamente à admissão a destacar bicitopenia (Hb outros sintomas de relevo, incluindo febre. À ad-
11.4g/dl, VGM 99fl, plaquetas 101x109/L), d-dímeros missão apresentava-se hipotenso, apirético, com
3622 µg/L, fosfatase alcalina 515U/L, LDH 282U/L, dor e edema do ombro e membro superior direito,
bilirrubina total 2.82mg/dL, creatinina sérica 1.94 com restrição dos movimentos. Analiticamente com
mg/dL, hiperuricémia 11.6mg/dL, hiperfosfatémia elevação dos parâmetros inflamatórios. Entretan-
4.9mg/dL, cálcio ionizado 1.23mmol/L e hipercalié- to com agravamento da hipotensão e redução do
mia 8.18mmol/L, refratária às medidas iniciais de débito urinário apesar de fluidoterapia, com neces-
correção. Gasimetricamente com acidose metabóli- sidade de suporte aminérgico. Realizou ecografia
ca compensada pH 7.38 pCO2 29.2 pO2 83.5 HCO3 do ombro direito, que revelou derrame articular de
17.2 Lact 2. A radiografia torácica revelava reforço aspeto heterogéneo e espesso. Submetido a artro-
perihilar e reticular bilateral. ECG em ritmo sinusal centese, com saída de material purulento, confir-
80bpm com ondas T apiculadas V2-4. Assumindo- mando o diagnóstico de AS. Enviadas várias amos-
-se SLT, foi administrada raburicase 14mg (dose úni- tras para microbiologia, todas com isolamento de
ca) com correção dos distúrbios iónicos e melhoria Staphylococcus aureus meticilino-sensível (MSSA).
da função renal, sem terapêutica de substituição Hemoculturas também com isolamento de MSSA.
renal. Do ponto de vista da infecção SARS-CoV-2 Inicialmente sob terapêutica com vancomicina, mu-
dou-se para flucloxacilina dirigida após resultados
652
E-POSTERS
culturais. Para controlo de foco, fez-se lavagem e P n.º 1297 
desbridamento cirúrgico do ombro direito no bloco Da Doença Pulmonar Intersticial à doença autoimu-
operatório. ne
Francisca Carmo(1);Catarina Pacheco(1);Luís Afon-
DISCUSSÃO so Rocha(1);José Mário Bastos(1);Fábio Murtei-
ra(1);Sara Pinto(1)
Com este caso mostramos a extrema importância (1) Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia / Espinho
de uma boa história clínica e exame físico, que diri-
giram a hipótese de diagnóstico para AS do ombro Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
direito. Também os resultados analíticos são im- culites
portantes, e num quadro de dor articular e elevação
inespecífica dos parâmetros inflamatórios é sempre
necessário excluir a hipótese de AS. Introdução: A Síndrome de Sjögren (SS) é uma
doença autoimune sistémica caracterizada por infil-
P n.º 1295  tração linfóide nas glândulas salivares e lacrimais.
Osteomielite após mordedura de gato Pode surgir isoladamente ou com outras doenças
José Miguel Martins(1);João Ricardo Campos autoimunes, sendo a doença pulmonar intersticial
Faia(1);João Costa Oliveira(1);Susana Cavadas(1);A- uma manifestação extranglandular possível.
na Rita Barbosa(1)
(1) Centro Hospitalar do Baixo Vouga / Hospital In- CASO CLÍNICO: Mulher, 65 anos, mRankin 1, que
fante D. Pedro, EPE recorreu ao SU por dispneia com um mês de evolu-
ção. Trata-se de uma doente hipertensa, diabética,
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias com fibrilhação auricular e internamento recente
por insuficiência cardíaca (IC) “de novo”. À admis-
As mordeduras de gato ocorrem tipicamente em são hospitalar apresentava-se febril, sem ruídos
mulheres adultas e têm maior risco de infeção por adventícios à auscultação, com saturações de 89%
atingirem extremidades e penetrarem profundamen- e edema periférico. Internada por IC agudizada. Du-
te. A Pasteurella multocida é o primeiro agente a rante o internamento manteve-se febril, sem clínica
considerar em caso de infeção dos tecidos moles, ou achados físicos focalizadores de infeção, com
podendo causar artrite séptica, osteomielite e bac- insuficiência respiratória persistente e diminuição
teriémia. Nos casos de infeção devem ser feitas da força muscular proximal. Do estudo pedido, obje-
colheitas para culturas. A profilaxia antibiótica está tivado: Rabdomiólise (CPK 1821 mg/dL, mioglobina
recomendada nos casos de maior risco de infeção: 2617 mg/dL); ANAs, SS-A, antiRo-52, anti-PL7 e anti
imunossupressão, feridas da face, mãos, áreas ge- Mi-2B positivos; extensas áreas em vidro despolido
nitais e com necessidade de reparação cirúrgica, e adenomagelias mediastínicas. Por suspeita de SS
entre outras. com doença do interstício associada, foi realizada
biópsia das glândulas salivares, teste de Schirmer
e broncofibroscopia com lavado que corroboraram
Mulher de 60 anos, diabética recorre à urgência por diagnóstico. A biópsia muscular descreveu achados
dor e edema no 1º dedo da mão esquerda, após de miopatia inflamatória de características mistas.
mordedura de gato há 18 dias, sob amoxicilina/ Iniciada imunossupressão com corticóide, com
clavulanato há 10 e doxiciclina há 3. Apresentava evolução clínica favorável e a doente teve alta me-
sinais inflamatórios no terço médio e área de flutua- lhorada. Após alta iniciou micofenolato de mofetil
ção da extremidade proximal do dedo afetado. Tem que não tolerou por intercorrências infeciosas. Sem
alta medicada com clindamicina. Volta após 19 dias reaparecimento da miopatia, atualmente apresenta
por manter clínica, sem aumento dos parâmetros in- doença pulmonar em progressão, com necessidade
flamatórios, mas tomografia computorizada da mão de oxigenoterapia, estando a aguardar tratamento
com imagens sugestivas de osteomielite na base com imunoglobulinas.
da falange distal e cabeça da falange proximal. É
internada em Hospitalização Domiciliária e inicia DISCUSSÃO: Este caso clínico demonstra uma
piperacilina/tazobactam e azitromicina endovenosa. causa menos provável de dispneia, principalmente
Cultura do exsudado revela Pasteurella multocida numa doente com IC já conhecida. Deve ser incluí-
multissensível pelo que altera antibioterapia para da no diagnóstico diferencial, nomeadamente em
amoxicilina/clavulanato. Após 2 semanas apresenta doentes que se apresentam com escassos sinais de
melhoria da clínica e tem alta a cumprir amoxicilina/ hipervolémia.
clavulanato oral durante 2 semanas. À reavaliação
apresenta rigidez da interfalange sequelar. P n.º 1299 
FATORES DE RISCO E ESPECTRO DA DOENÇA
Neste caso a imunossupressão pela Diabetes e o PNEUMOCÓCICA INVASIVA
início tardio da antibioterapia, favoreceram o de- Tiago Valente(1);Laura Baptista(1);Gisela Gonçal-
senvolvimento de complicações. Numa apresen- ves(1);Carla Matias(1);Gorete Jesus(1);Rosa Jor-
tação precoce a profilaxia poderia ter prevenido a ge(1)
osteomielite. A Pasteurella multocida é tipicamente (1) Centro Hospitalar do Baixo Vouga / Hospital In-
resistente a macrólidos e a clindamicina pelo que fante D. Pedro, EPE
devem ser evitados. Mesmo após o tratamento de
osteomielite persistem sequelas funcionais.
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 653
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias Introdução: A Amiloidose AL é uma doença infiltrati-
va caraterizada pela deposição de fibrilas compos-
INTRODUÇÃO tas de fragmentos de imunoglobulinas leves. 

A doença pneumocócica invasiva (DPI) é rara e de Caso Clínico: Mulher de 69 anos, autónoma, ante-
declaração obrigatória. O diagnóstico faz-se quan- cedentes de DM tipo 2, HTA e Dislipidemia, recorreu
do se isola S. pneumoniae em materiais biológicos à urgência por dispneia, ortopneia e edema dos
estéreis. Fatores de risco (FR) incluem tabagismo, membros inferiores com 1 semana de evolução.
abuso de álcool, infeção por influenza, asplenia e Apresentava também história de perda ponderal de
doença inflamatória intestinal (DII). Ocorre sobretu- 18kg no último ano. Ao exame objetivo de referir
do nos extremos de idade. Apresentamos 3 casos macroglossia e púrpura periorbital. ECG com baixa
de DPI que ilustram diferentes formas da doença voltagem membros. Analiticamente destaca-se
em indivíduos jovens com FR. creatinina 1.5mg/dL, Trop T 0.09 ng/mL, proBNP
12908 pg/mL. Rx Torax com aumento do ICT e der-
CASO CLÍNICO rame pleural bilateral. Admitida ao internamento
no contexto de IC descompensada e LRA. Realizou
Primeiro caso, homem de 21 anos, fumador e com ecoTT que demonstrou derrame pericárdico, hiper-
consumo abusivo de álcool, sem vacina antip- trofia severa do septo compatível com doença infil-
neumocócica. Irmã com infeção por influenza B. trativa. Cintigrafia cardíaca com Tc99m-DPD foi ne-
Diagnóstico de pneumonia bilateral e falência respi- gativa. Colheita de urina de 24h com proteinúria não
ratória com necessidade de ventilação invasiva. Iso- nefrótica (1355g/24h), eletroforese das proteínas
lamento de S. pneumoniae nas hemoculturas (HC), séricas sem pico monoclonal, pesquisa de cadeias
secreções nasofaríngeas e aspirado endotraqueal, leves lambda elevadas no soro (133 (vr 0.57-2.63)),
sem isolamento de influenza A ou B. Ecocardiogra- relação kappa/lambda livres 0,02, medulograma
ma a revelar derrame pericárdico, interpretado como com 3% de plasmócitos. Eletroforese de proteínas
pericardite pneumocócica. urinárias com banda monoclonal correspondente
a cadeias leves Lambda livres. EMG com síndro-
Segundo caso, homem de 25 anos, fumador e com me de túnel carpico discreto bilateral, sem segura
doença de Crohn sem terapêutica, sem vacina antip- polineuropatia sensitiva-motora. Realizou biópsia
neumocócica. Clínica de febre, cefaleia e alteração óssea, glândulas salivares e gordura abdominal,
do estado de consciência. Líquido cefalorraquidiano todas negativas para pesquisa de substância ami-
(LCR) com proteinorráquia, consumo de glicose e lóide. Avançou-se para biópsia renal que mostrou
pleocitose polimorfonuclear. HC e culturas de LCR envolvimento por amiloidose. Durante internamento,
negativas, mas deteção de S. pneumoniae no LCR intercorrência de hipotensão ortostática (provável
por PCR (polymerase chain reaction). neuropatia autonómica), que limitou o tratamento
da IC. Diagnosticada com Amiloidose AL com envol-
Terceiro caso, mulher de 37 anos, esplenectomiza- vimento cardíaco, renal e SNA, não sendo elegível
da há 10 anos por púrpura trombocitopénica imune para transplante de células hematopoiéticas, optou-
e vacinada unicamente nessa altura com a vacina -se por QT com CyBorD com normalização das ca-
pneumocócica polissacárida 23-valente, com febre deias leves livres após 6 ciclos. Evoluiu em 3meses
e mialgias, sem clínica focalizadora. Analiticamente para DRC Terminal, tendo iniciado hemodiálise com
com elevação marcada dos parâmetros inflamató- boa tolerância.
rios. Sem alterações na radiografia torácica. Isola-
mento de S. pneumoniae em 2 HC. Discussão: A amiloidose AL é uma doença sistémi-
ca de difícil diagnostico, baseando-se na suspeita
Em todos os casos registou-se boa resposta a tera- clínica, tendo como gold standard uma biópsia teci-
pêutica com cefalosporinas. dual compatível. A sobrevivência depende do grau
de envolvimento orgânico e da resposta hematológi-
DISCUSSÃO ca à terapêutica. O diagnóstico precoce é essencial,
bem como o reconhecimento de sinais sugestivos
A DPI pode manifestar-se por meningite, pericardite
da doença.
ou mesmo bacteriémia isolada. Devem-se conside-
rar sempre os vários FR para DPI, destacando-se a P n.º 1311 
asplenia e a DII. Sublinha-se a importância do es- FEBRE E DISPNEIA: UM CASO DE TEP SUBAGUDA
quema vacinal correto nos grupos de risco para DPI. Tiago Valente(1);Laura Baptista(1);Gisela Gonçal-
ves(1);Gorete Jesus(1);Rosa Jorge(1)
P n.º 1300 
(1) Centro Hospitalar do Baixo Vouga / Hospital In-
Mais que uma Insuficiência Cardíaca– a propósito
fante D. Pedro, EPE
de um caso
Joana Subtil(1);Ana Filipa Rebelo(1);Fernando Sal- Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente crí-
vador(1) tico
(1) Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Dou-
ro, EPE / Hospital de Vila Real
INTRODUÇÃO
Tema: Doenças cardiovasculares

654
E-POSTERS
A tromboembolia pulmonar (TEP) pode ter uma consciência, a hipersonolência e a alteração dos
apresentação clínica variável. Os sintomas mais co- movimentos oculomotores. Neste caso apresenta-
muns são dispneia, dor torácica pleurítica e tosse. -se um doente de 37 anos, internado por hipersónia
Raramente, pode apresentar-se com febre, mimeti- e hipomnésia com 3 dias de evolução que recorreu
zando uma infeção respiratória. Apresentamos um ao SU.
caso de TEP subaguda com febre, que inicialmente
fazia pensar em infeção respiratória, sobretudo no Caso Clínico: Homem de 37 anos, leucodérmico,
contexto de pandemia COVID-19. com consumo regular de tabaco e haxixe desde
CASO CLÍNICO os 20 anos. Admitido no SU por períodos de sono
superiores a 24h e hipomnésia há 3 dias, sem ou-
Homem, 45 anos, com dispneia, fadiga e dor toráci- tras alterações. A TC-CE mostrou “Hipodensidades
ca com 3 semanas de evolução e pico febril horas bi-tálamo-mesencefálicas, simétricas, sugestivas
antes. Sem tosse, síncope, hemoptises ou edema de lesões isquémicas agudas sugestivas de enfarte
assimétrico dos membros inferiores. Ao exame do território da artéria de Percheron”. Foi internado
físico com saturação periférica de 79% em ar am- para investigação de AVC no jovem, apresentan-
biente. Com máscara de alta concentração (MAC) do ECG, ecocardiograma transtorácico, estudo de
mantinha-se polipneico, com frequência respiratória trombofilias, estudo de autoimunidade e pesquisa
26 cpm, respiração superficial, temperatura auricu- de infeções virais sem alterações. Realizou Angio-
lar 38.8ºC, hemodinamicamente estável. Gasome- -RM-CE que confirmou os achados do TC-CE e o
tria sob MAC com PaO2 84 mmHg, sem alcalose diagnóstico sugerido. O doente teve alta sem défi-
respiratória. Auscultação impossibilitada pelo uso ces neurológicos, antiagregado e com estatina. Foi
de equipamento de proteção individual. Radiografia encaminhado para a consulta de Medicina Interna
torácica sem alterações. Análises com leucocitose para continuação da investigação etiológica, à qual
e neutrofilia, D-dímeros 15698 ng/mL, troponina I não compareceu.
de alta sensibilidade 1749.9 pg/mL, peptídeo na-
triurético B 19 pg/mL e proteína C reativa 2.16 mg/ Discussão: A artéria de Percheron é uma variante
dL, sem outras alterações. SARS-CoV-2 (PCR-Ge- anatómica da artéria paramediana com um tronco
neXpert) não detetado. Fez AngioTC torácica, que arterial a emergir de uma das artérias cerebrais pos-
revelou TEP bilateral. Ecocardiograma à cabeceira teriores e irrigar a região paramediana do tálamo
do doente: depressão muito grave da função ventri- e do mesencéfalo bilateralmente. Estas estruturas
cular direita, ventrículo esquerdo hiperdinâmico. Fez coordenam a regulação da consciência, do sono e
fibrinólise com alteplase, seguido de hipocoagula- do despertar e os seus enfartes podem manifestar-
ção com heparina não fracionada. Melhoria clínica -se de formas heterogéneas como alteração do es-
significativa, com redução da necessidade de oxi- tado de consciência ou da memória, psicose, afasia,
genoterapia suplementar, bem como normalização disartria ou disfunção oculomotora. Ocorre em 33%
das alterações analíticas em poucos dias. da população e representa 0,1-2% de todos os en-
fartes cerebrais. Esta variação associada ao vasto
DISCUSSÃO conjunto de funções que o tálamo e o mesencéfalo
desempenham explicam a variedade de sintomas
A lista de diagnósticos diferenciais de febre, disp- descritos e, consequentemente, o desafio diagnósti-
neia e dor torácica é grande. Este caso é importante co que estes representam. Isto traz consequências
para relembrar que é preciso ter em atenção que a ao nível do tratamento e prognóstico dos doentes,
TEP pode também causar febre e imitar uma infe- devendo ser mantido um elevado nível de suspeita,
ção respiratória em todos os sintomas, na evolução principalmente nos doentes com alteração do sen-
temporal, que nem sempre é aguda e súbita, bem sório.
como em alguns parâmetros analíticos.
P n.º 1325 
P n.º 1316  Sensibilidade ao Glúten Não Doença Celíaca como
Artéria de Percheron - A propósito de um caso cli- quadro constitucional
nico Flávia Fundora Ramos(1);Catarina Pinto Silva(1);Luis
Carina Ramalho(1);Mariana Almeida(2);Francisco Augusto Cardoso(1);Carolina Veiga(1);Pilar Barbei-
Gomes(1);Magda Silva(1);Sílvia Rodrigues(1);Marti- to(1);Carlos Oliveira(1)
nho Fernandes(1) (1) Hospital Santa Maria Maior de Barcelos
(1) Centro Hospitalar Barreiro/Montijo, EPE / Hospi-
tal Nossa Senhora do Rosário (2) Hospital do Barrei- Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio-
ro nais

Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas Introdução: O diagnóstico de Doença Celíaca (DC)


pressupõe deteção de marcadores serológicos po-
Introdução: A oclusão da artéria de Percheron é sitivos e biópsia do intestino delgado característica.
uma causa rara de AVC isquémico caracterizada Por sua vez, o diagnóstico de sensibilidade ao glú-
pelo atingimento bilateral do tálamo. A sua apre- ten não doença celíaca (NCGS) é feito por exclusão
sentação é variada e pouco específica, sendo as de DC e de alergia ao glúten mediada por IgE. A não
principais manifestações a alteração de estado de existência de biomarcadores específicos para NCGS

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 655


dificulta o diagnóstico e distinção entre esta e o sín- dias prévios, sem outros sintomas ou contexto
drome de intestino irritado, sendo que muitas vezes epidemiológico relevante. Ao exame físico com
estas duas patologias se sobrepõem.  hepatoesplenomegalia. Investigação: rastreio SAR-
S-CoV-2 negativo, radiografia toráx e sedimento
Caso Clínico: Homem de 61 anos, sem antece- urinário sem alterações. Análises com hemograma,
dentes de relevo, sem medicação crónica. Foi coagulação, função renal, tiroideia e ionograma sem
encaminhado ao Serviço de Urgência pelo médico alterações; função hepática anormal com AST
assistente por astenia, anorexia com perda ponderal 436U/L, ALT 854U/L, GGT 165U/L, FA 105U/L, LDH
marcada e aftas frequentes com 7 meses de evo- 672U/L, Bilirrubina (Brb) total(T) 0.8mg/dl, direta(D)
lução, em doente com anemia, défice de vitamina 0.4mg/dl; anticorpos (atc) anti HBc, HAV, HCV, HIV
B12 e Ácido Fólico marcados e trombocitopenia. e hepatite E não reativos. EBV, Rosa bengala e Paul
Sem sintomas gastrointestinais. Objetivamente de Bunnell negativos. Atc CMV IgG 5,6 AU/mL (não rea-
realçar doente emagrecido, com hiperpigmenta- tivo) e IgM 0,9 (indeterminado). Ecografia abdomi-
ção cutânea e lesões compatíveis com dermatite nal: hepatomegalia e esteatose hepática. O doente
herpetiforme. Do estudo analítico apontavam-se foi internado e evoluiu com agravamento da função
virologias negativas, anticorpos anti-citoplasma hepática com valores máximos de: AST 993U/L,
dos neutrófilos, anti-célula parietal gástrica, anti- ALT 1650U/L, GGT 327U/L, FA 172U/L, LDH 948U/L,
-factor intrínseco, anti-gliadina, anti-endomísio e Brb T 1.2mg/dl, D 0.6mg/dl e ferritina >2000ng/mL.
anti-transglutaminase negativos, assim como Ig A Esfregaço: linfócitos com citoplasma hiperbaso´filo.
e IgE de valores normais. Tomografia Computoriza- Imunoglobulinas, eletroforese de proteínas, cobre,
da Abdomino Pélvica sem alterações de relevo. Do ceruloplasmina, IGRA, marcadores tumorais e autoi-
estudo endoscópico salientava-se aspeto conges- munidade negativa. Seroconversão de CMV: atc IgG
tivo das pregas gástricas e atrofia moderada das (16,1) e IgM (6.3) reativos. Tomografia abdominal:
vilosidades, sugerindo DC e o estudo histológico hepatoesplenomegalia, esteatose hepática, sem
com duodenite moderada (grau II), gastrite crônica adenopatias, vias biliares e estruturas vasculares
sem sinais de atividade. Iniciou dieta sem glúten, permeáveis. Assumida hepatite por CMV sob trata-
corrigiram-se os défices vitamínicos e acaba por ter mento de suporte com melhoria clínica e analítica.
alta orientado para consulta externa (CE) com indi- Discussão: Apresentamos o caso de uma hepatite a
cação para manter uma dieta sem glúten. Durante CMV num doente imunocompetente pela gravidade
o acompanhamento em CE verificou-se a resolução clínica inicial e pela importância de inclusão desta
da anemia e melhoria do quadro clinico. Mais tarde, patologia na marcha diagnóstica inicial em doentes
por iniciativa própia, retoma dieta com glúten, repete sem fatores predisponentes.
quadro semelhante, agora com diarreia associada. 
P n.º 1329 
Discussão: Por ser um diagnóstico de exclusão e Síndrome de May-Thurner sintomática
não existirem biomarcadores de NCGS devemos Flávia Fundora Ramos(1);Susana Merim(1);Luis
reconhecer a importância da suspeição em doentes Augusto Cardoso(1);Catarina Pinto Silva(1);Carina
que se apresentem com défices vitamínicos e perda Silva(1);Cristiana Fernandes(1);Alexandra Leitão(1);-
ponderal. A distinção entre NCGS e DC é importante Carlos Oliveira(1)
pela gravidade do quadro clínico e pela necessidade (1) Hospital Santa Maria Maior de Barcelos
de dieta sem glúten ad eternum.
Tema: Doenças cardiovasculares
P n.º 1327 
Hepatite por CMV em adulto jovem imunocompe-
tente: um novo paradigma Introdução:  A Síndrome de May-Thurner (SMT)
Ana Morais Alves(1);Catarina Costa(1);Beatriz Riqui- corresponde à presença de uma variável anatómica
to(1);Cristiana Sousa(1);Fernando Salvador(2) patológica que consiste na obstrução do fluxo
(1) Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Dou- venoso da veia ilíaca por compressão da mesma,
ro, EPE / Unidade Hospitalar de Chaves (2) Centro pela artéria ilíaca, contra estruturas ósseas
Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro, EPE / adjacentes, podendo ser assintomática ou levar à
Hospital de Vila Real formação de varizes pélvicas, edema do membro
inferior ou Trombose Venosa Profunda (TVP).
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
Caso Clínico: Mulher de 18 anos, sem antecedentes
Introdução: A infeção por citomegalovirus (CMV) pessoais de relevo, sob contraceptivo oral. Admitida
em doentes imunocompetentes, na maioria do no SU por dor e edema no membro inferior esquer-
casos, caracteriza-se por infeção assintomática. do, com 4 dias de evolução, associado a marcha
Ocorre atingimento hepático em 30-80%, sendo a claudicante, cansaço fácil e dispneia para esforços
insuficência hepática grave incomum. Caso Clínico: moderados. Negava toracalgia, síncope ou febre. 
Homem de 21 anos, operador de caixa supermer- Ao exame físico de salientar edema do membro in-
cado; sem antecedentes pessoais de relevo, medi- ferior esquerdo, sinal de Homans positivo e frequen-
cação habitual ou alergias conhecidas. Recorreu cia cardíaca de 100 batimentos por minuto, sem
ao serviço de urgência por febre com uma semana outras alterações. Eletrocardiograma sem altera-
de evolução, associada a anorexia e vómitos nos 3 ções. Sem insuficiência respiratória, analiticamente
apenas D-dímeros 2 μg/mL (ref<0.5), pro-BNP 370
656
E-POSTERS
pg/mL. Eco-Doppler revelou TVP ilío-femoro-poplí- periventriculares e bi-hemisféricas cerebelosas.
tea até à ilíaca comum esquerda, próximo da veia
cava inferior. TC pélvica mostrou redução do calibre Atendendo a este achado imagiológico foram pedi-
da veia ilíaca comum esquerda, proximalmente dos os doseamentos de Cálcio e Magnésio.
à confluência com a veia ilíaca comum contrala- >>Analiticamente: Hipocalcémia 5.72 + Hipomagne-
teral, por compressão pela artéria ilíaca comum sémia 1.57
direita, compatível com diagnóstico de Síndrome
de May-Thurner. Angio-TC Tórax mostrou defeito >>ECG: RS, QTc 497 ms.
de preenchimento na artéria interlobar direita em
relação com Tromboembolismo Pulmonar (TEP). Iniciou correcção electrolítica gluconato de cálcio e
Iniciou hipocoagulação com heparina de baixo peso sulfato de magnésio.
molecular em dose terapêutica, assim como meias
compressivas. Ecocardiograma sem alterações. Ho- Com a recuperação do estado de consciência e
mocisteína 22 mmol/L, anticorpos antifosfolipideos orientação, foi permitido completar a história clínica
negativos, estudo coagulação normal. Acaba por ter na qual o doente faz referência a Tiroidectomia total
alta hipocoagulada, encaminhada para consulta de há cerca de 20 anos, sem posterior seguimento.
Medicina Interna e Cirurgia Vascular.
Doente observado pela Endocrinologia e orientado
Discussão: A suspeição de SMT sintomática deve posteriormente para consulta, tendo sido medicado
ser mantida, principalmente em mulheres jovens para ambulatório com Calcitriol e Carbonato de Cál-
com poucos fatores de risco para TVP, sendo um cio.
diagnóstico etiológico de exclusão para TVP.  O
tratamento depende dos sintomas e da presença Com este caso clínico os autores reforçam a neces-
de TVP, passando por meias de compressão, an- sidade da realização de uma história clínica com-
gioplastia, hipocoagulação e trombólise, conforme pleta pois muitas vezes existem situações que os
indicado. doentes consideram irrelevantes mas que acabam
por ser fundamentais para a nossa conduta.
P n.º 1331 
NÃO ERA AVC
Mauro Fernandes(1);Carolina Aguiar(1);Ana Patricia P n.º 1332 
Nunes(1);Luís Marote Correia(1);Styliani Karama- Reativação do Zoster e atingimento ao sistema ner-
nou(1);Rafael Freitas(1) voso central, reação adversa á vacina Sars-CoV-2?
(1) Hospital Dr. Nélio Mendonça Raffaele Junior Aliberti(1);Rita Lopes Cunha(1);-
Diogo Ferreira da Silva(1);Carla Nicolau(1);Catarina
Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio- Salvado(2)
nais (1) Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE / Hos-
pital de Santo António dos Capuchos (2) Hospital
dos Capuchos
A hipocalcémia define-se como a concentração sé-
rica de cálcio ionizado inferior a 8.5 mg/dl e entre Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
as suas causas destaca-se o hipoparatiroidismo,
sendo importante as determinações do cálcio total
e ionizado, fósforo, magnésio, albumina, PTH e fun- O vírus varicela-zoster (VVZ) é um vírus neurotrópi-
ção renal para o diagnóstico diferencial. co que causa a varicela. Após a primeira infecção,
Clinicamente podem ocorrer manifestações neu- entra em fase de latência nos gânglios sensitivos
romusculares (parestesias peri-oral e periféricas, das raízes dorsais ou trigeminais.  
sinais de Chvostek ou Trousseau, tetania, laringos-
pasmo, broncospasmo, disfagia, bleferospasmo), O vírus pode ficar latente durante anos e a sua rea-
a nível do SNC (convulsões, sintomas extrapirami- tivação apresenta-se como zona, caracterizada pela
dais) e cardiovasculares (QT prolongado predispon- erupção de vesículas dolorosas e unilaterais confi-
do a arritmias, insuficiência cardíaca). nadas ao dermátomo inervado pelo gânglio onde a
reactivação aconteceu.
Neste caso clinico, apresenta-se um doente de 53
anos, antecendentes pessoias de hipertensão ar- A reativação do vírus em indivíduos imunocompe-
terial e medicado habitualmente com Olmesartan tentes é rara, sendo mais comum em indivíduos sob
20mg + Nebivolol 2.5mg. terapia imunossupressora ou com vírus da imuno-
deficiência humana (VIH) onde pode ter uma apre-
O doente trazido ao serviço de Urgência por quadro sentação mais generalizada.
de inatenção e discurso lentificado com ligeira di-
sartria. Normalmente é mais frequente em mulheres do que
Quadro com início súbito. Sem aparentes alterações em homens, sendo a incidência mais elevada em
focais ou de lateralização. Sem sinais de meningis- idosos. A diabetes mellitus (DM) também é descrita
mo. Apresentava igualmente hipotensão – 85/55 como fator de risco para a reactivação.
mmHg.
Homem, 76, com historia de DM tipo 2 e fibrose in-
>>TC CE: Múltiplas calcificações parenquimatosas tersticial idiopática, avaliado no Serviço de Urgência

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 657


(SU) por aparecimento de lesões herpéticas num tível com PBS (244.000 cél/mm3, 90% PMN, Protei-
dermátomo torácico à esquerda, tendo tido alta me- nas 1,7g/dL, LDH 3855). Admitiu-se PBS secundária
dicado com aciclovir e amoxicilina clavulânato. a LEVE e iniciou meropenem e linezolide com poste-
rior isolamento de E. coli sensível. As hemoculturas
Passadas 2 semanas, retorna ao SU, por manuten- foram negativas. A TC-abdominal mostrou aspetos
ção das lesões associado a prostração de novo. compatíveis com múltiplos abcessos hepáticos de
Realizada punção lombar, com detecção de VVZ no novo.
líquido cefalorraquidiano.
Além da antibioterapia foi realizada fluidoterapia e
Internado para tratamento. Realizados estudos albumina, mas por agravamento mantido da função
para estabelecer eventual imunossupressão. Sem renal (Cr máx. 5.11mg/dL), iniciou terlipressina e
alterações analíticas, pesquisa VIH negativa, e sem ainda uma sessão de hemodiálise, apresentando
alterações na Tomografia Computarizada toraco-ab- melhoria. Na paracentese ao 7º dia: líquido amarelo
domino-pélvica. turvo com 856 cél/mm3 e 79% de PMN, indicando
boa resposta à antibioterapia. Cumpriu 4 semanas
A DM tipo 2 aparenta, neste caso, ser o único fator de antibiotico, guiado pela evolução dos abces-
de risco para reativação do VVZ, apesar de não pa- sos. Na paracentese ao 31º dia, já sem critérios de
recer justificar um atingimento meníngeo. PBS.
Após uma anamnese mais cuidada, apurou-se que Discussão: A presença de bacteriémia transitória,
o aparecimento das lesões cutâneas coincidiram pode levar ao desenvolvimento de infeções à distân-
com a toma da vacina Sars-CoV-2 com tecnologia cia. No caso clínico descrito, por não existir outro
mRNA. fator predisponente para a formação de abcessos
hepáticos, apesar de as hemoculturas à admissão
Alguns estudos relataram eventos adversos a este
serem negativas, não podemos excluir que a exis-
tipo de vacina, como a reativação cutânea da zona,
tência de bacteriémia transitória, após a realização
contudo, ainda não foram descritos casos de me-
de LEVE, tenha dado origem a estas alterações. O
ningoencefalite por VVZ.
doente foi tratado em conformidade, apresentando
P n.º 1333  uma boa evolução clínica.
PERITONITE BACTERIANA SECUNDÁRIA A LA-
P n.º 1334 
QUEAÇÃO ELETIVA DE VARIZES ESOFÁGICAS
Penfigóide bolhoso associado a demência
Carina Ramalho(1);Mariana Almeida(1);Francisco
Sara Moutinho Pereira(1);Ana Gabriela Castro(2);Re-
Gomes(1);Sílvia Rodrigues(1);Bruno Bonito(1);Joana
gina Caldas(2);Celeste Brito(2)
Cartuxo(1);Martinho Fernandes(1)
(1) Unidade Local de Saúde de Matosinhos, EPE /
(1) Centro Hospitalar Barreiro/Montijo, EPE / Hospi-
Hospital Pedro Hispano (2) Hospital de Braga
tal Nossa Senhora do Rosário
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá-
culites
ticas

Introdução: O penfigóide bolhoso (PB) é uma der-


Introdução: A peritonite bacteriana secundária
matose bolhosa autoimune caracterizada pela for-
(PBS) é uma infeção do líquido ascítico associada
mação de folhas subepiteliais, como consequência
a um foco intra-abdominal, representando 4,5% das
de auto-anticorpos contra as proteínas da junção
peritonites, com uma mortalidade de 20-30%. A
dermo-epitelial BP230 e BP180 (1). As bolhas do PB
laqueação elástica das varizes esofágicas (LEVE)
são caracteristicamente tensas, o que as diferencia
é um dos tratamentos de 1ª linha para profilaxia
das bolhas flácidas típicas do pênfigo vulgar.
secundária de varizes esofágicas. Os estudos sobre
bacteriémia transitória após LEVE mostram uma
incidência até 16%, não estando esclarecida a im- Caso clínico: Uma mulher de 82 anos com antece-
portância clínica da mesma e não sendo, por isso, dentes de demência e hipertensão arterial, apresen-
recomendada antibioterapia profilática em doentes tou lesões urticariformes pruriginosas que evoluí-
sem hemorragia ativa. O caso clínico descreve um ram em bolhas dispersas num período de 5 meses.
homem que desenvolveu abcessos hepáticos e PBS Não havia registo de introdução de novos fárma-
uma semana após ser submetido a LEVE. cos nos últimos anos. Ao exame físico, a doente
apresentava bolhas tensas com base eritematosa,
erosões húmidas e crostas dispersas pelo tronco,
Caso Clínico: Homem de 65 anos, com doença
extremidades flexoras e pregas inguinais. O sinal
hepática crónica (DHC) cirrótica complicada com
de Nikolsky era negativo e não havia envolvimento
hipertensão portal e varizes esofágicas submetido
genital ou mucoso. O estudo analítico demonstrou
a LEVE 1 semana antes do internamento. Dois dias
anticorpos anti-BP180 positivos e a biópsia cutâ-
depois iniciou dor abdominal e febre. À avaliação no
nea confirmou o diagnóstico de penfigóide bolhoso
SU com encefalopatia hepática grau 1, hipotensão
(PB). Foi iniciada prednisolona 1mg/Kg/d e azatio-
e dor à palpação abdominal; Análises com elevação
prina 50 mg/d, com melhoria clínica. Foi iniciado
dos parâmetros infeciosos e de função hepática;
desmame de corticoide e aumentada a dose de
Paracentese com saída de líquido purulento compa-

658
E-POSTERS
azatioprina, dados os níveis de tiopurina metiltrans- linfoproliferativa. Do estudo complementar realiza-
ferase serem normais, com praticamente resolução do destaca-se, de relevo, estudo analítico com IGRA
completa à data de alta. positivo; RMN CE com discreto realce dural nas
vertentes superior e posterior do seio sagital supe-
Discussão: O PB é comum em doentes idosos com rior, com supressão completa do sinal de líquor em
múltiplas comorbilidades. Doentes com diagnós- FLAIR a nível parietal, podendo traduzir infiltração
ticos prévios de demência, doença de Parkinson meníngea; TC de corpo com micronodulação pulmo-
ou doença cérebro-vaascular estão em risco sig- nar dispersa de padrão miliar e aumento do núme-
nificativamente maior de desenvolver PB, quando ro e tamanho das adenopatias abdomino-pélvicas.
comparados com controlos (2). A predisposição Perante os resultados, foram colocadas as hipóte-
genética e homologia entre os antigénios BP na pele ses de TB miliar vs infiltração linfomatosa com atin-
e antigénios neuronais no sistema nervoso central, gimento pulmonar e meníngeo, confirmando-se a
podem explicar a associação observada entre o PB 1ª hipótese diagnóstica, após realização de punção
e doenças neurológicas (3). lombar e broncofibroscopia com lavado bronco-al-
veolar, ambos com PCR positiva para M. tuberculo-
Referências Bibliográficas:  sis e sem evidência de invasão tumoral. Foi iniciada
terapêutica quádrupla com Rifampicina, Isoniazida,
1 - Kasperkiewicz et al 2012. Pemphigoid diseases:
Pirazinamida e Etambutol e o doente foi transferido
pathogenesis, diagnosis, and treatment. Autoimmu-
para o Serviço de Doenças Infeciosas para cumprir
nity
isolamento e continuação terapêutica, enquanto
2 - Langan SM et al 2011. The relationship between aguardava a confirmação diagnóstica cultural.
neurological disease and bullous pemphigoid: a
DISCUSSÃO
population-based case-control study. J Invest Der-
matol. A TB Miliar é uma forma rara de TB, que resulta da
disseminação hematogénea de M. tuberculosis.
3 - Amber et al 2017. A multi-hit hypothesis of
Afeta habitualmente doentes imunocomprometidos
bullous pemphigoid and associated neurological di-
e pode atingir diversos órgãos, sendo particular-
sease: IS HLA-DQB1*03:01, a potential link between
mente grave quando envolve o SNC. Este caso é
immune privileged antigen exposure and epitope
interessante e pertinente uma vez que reflete o de-
spreading? HLA
safio diagnóstico inerente a esta doença, e o respe-
P n.º 1335  tivo diagnóstico diferencial, nomeadamente, com as
Quando nem tudo o que parece é - a propósito de doenças linfoproliferativas.
um caso clínico
P n.º 1345 
João Peixoto(1);Christine Canizes(1);Diogo Leal(1);-
Síndrome de lise tumoral secundário à corticotera-
Cristina Martins(1);Dilva Silva(1);Pedro Ribeiro(1);Ar-
pia
mando Carvalho(1)
Alexandra Montenegro(1);José Leão Mendes(1);I-
(1) Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra /
nês Aparício Martins(1);Catarina Regala(2);Francis-
Hospitais da Universidade de Coimbra
ca Martins(1);Miguel Duarte Nunes(1);Rui Malhei-
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias ro(1)
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE / Hos-
pital de Santo António dos Capuchos (2) IPO Lisboa
INTRODUÇÃO
Tema: Doenças oncológicas
A tuberculose (TB) consiste numa doença granulo-
matosa provocada pela bactéria Mycobacterium tu- Introdução: A Síndrome de Lise Tumoral (SLT) é
berculosis que, apesar das diversas manifestações uma emergência oncológica potencialmente fatal.
clínicas possíveis, se apresenta, habitualmente, de Usualmente ocorre após quimioterapia (QT), porém,
forma inespecífica e sistémica, constituindo um estão descritos escassos casos secundários à cor-
diagnóstico diferencial frequente de quadros de fe- ticoterapia (CT). Reporta-se um caso clínico de SLT
bre sem foco e constitucionais/de sintomas B. laboratorial (SLTL) num doente com Linfoma Difuso
de Grandes Células B (LDGCB) após início de dose
CASO CLÍNICO moderada de CT.
Doente do sexo masculino, de 73 anos, com ante-
cedentes de LNH-B de pequenos linfócitos, des- Caso clínico: Homem de 57 anos internado para
de 2011, com atingimento adenopático múltiplo, estudo de quadro constitucional com 1 mês de
mas de comportamento indolente, sob Prednisolona evolução. Ao exame objetivo, presença de massa
10/20mg em dias alternados. Foi internado no Ser- submandibular pétrea de 5 cm e parestesia
viço de Medicina Interna para estudo de febre sem desde o lábio inferior até à região mentoniana.
foco com 1 mês de evolução, associado a cefaleia Analiticamente com anemia, trombocitopenia
frontal, anorexia, perda ponderal e sudorese noturna e LDH aumentada. O esfregaço do sangue
com 3 meses de evolução, colocando-se como prin- periférico evidenciou desvio esquerdo da série
cipal hipótese diagnóstica a progressão da doença granulocítica e disgranulopoiese. A TC maxilofacial

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 659


demonstrou hipercaptação dos músculos masséter, antebraço esquerdo, assumindo-se recorrência do
pterigoideu medial, esternocleidomastoideu direitos PG e iniciou novamente CT associada a ciclosporina
e múltiplas adenopatias ipsilaterais. Durante a (3-5mg/kg/dia) com resolução célere. Em Setembro
investigação, houve incremento do volume da de 2019, lesões semelhantes extensas e dolorosas
massa com compressão de estruturas vasculares. na região inframamária esquerda e abdómen, pelo
Após a biópsia excisional, compatível com que se preconizou o tratamento prévio com boa
LDGCB, iniciada CT com dexametasona (DX) e resposta. Em Janeiro de 2021, nova recidiva do PG
hidratação endovenosa tendo em consideração com lesões nos membros superiores, inferiores e
comportamento agressivo do tumor. Após as tronco, decidido tratamento com CT em associação
primeiras 24h de DX, verificada redução da com dapsona, com melhoria clínica em 1 mês. O
massa tumoral, todavia com hiperuricemia e estudo etiológico extenso realizado para despiste
hiperfosfatemia de novo, compatíveis com SLTL. de causas secundárias foi negativo. Portanto, PG
Iniciada terapêutica hipouricemiante e correção da recidivante idiopático com impacto significativo na
hiperfosfatemia com resolução da SLTL. qualidade de vida.
Discussão: A SLT decorre da lise maciça de células Discussão e Conclusão:
tumorais com extravasamento de conteúdo intrace-
lular culminando com hiperuricemia, hipercaliemia, O PG constitui um desafio clínico. É uma entidade
hiperfosfatemia e disfunção de órgão. O risco é pouco compreendida, subdiagnosticada e de trata-
superior nos tumores hematológicos de alto grau e mento difícil, dada ausência de evidência científica
após QT, contudo estão reportados casos secundá- robusta. Tem claro impacto na qualidade de vida
rios à CT em dose variável. O mecanismo prende-se pelo que é essencial elevada suspeição e tratamen-
com a ação linfolítica tumoral desta. A CT é usada to atempado para se minimizarem as complicações.
frequentemente como coadjuvante na terapêutica
de doentes oncológicos, sendo essencial um baixo P n.º 1350 
limiar de suspeição para SLT e a implementação de Síndrome Parsonage-Turner: a propósito de um
medidas preventivas ab initio. caso clínico
Débora Sá(1);Brenda Soares Nunes(1);Daniel Carva-
P n.º 1347  lho(1);Fabiana Rodrigues(1);Luísa Teixeira(1);Rafael
Pioderma gangrenoso idiopático recidivante Freitas(1)
Rafaela Lopes Freitas(1);Mafalda Costa(1);Filipa (1) Hospital Dr. Nélio Mendonça
David(1);Rute Cruz(1);Rute Morais Ferreira(1);Joana
Rocha(1);Cristina Rosário(1) Tema: Doenças raras
(1) Unidade Local de Saúde de Matosinhos, EPE /
Hospital Pedro Hispano Introdução:
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
culites A Síndrome Parsonage-Turner (SPT) ou Nevrite Bra-
quial é uma patologia inflamatória autolimitada do
plexo braquial, idiopática, que afecta principalmen-
Introdução: te jovens entre os 20-30 anos, mais frequente no
homem (rácio 3:2). É uma patologia rara com uma
O Pioderma Gangrenoso (PG) é uma dermatose incidência estimada 1-3 por cada 100.000 habitan-
neutrofílica crónica rara. A fisiopatologia é com- tes por ano. O diagnóstico é clínico e assenta no
plexa podendo associar-se a doenças sistémicas, reconhecimento do padrão característico: dor súbita
fármacos ou ser idiopático. Classicamente apre- lancinante localizada à cintura escapular, com me-
senta-se como uma lesão papulonodular ou pústula lhoria espontânea, seguida diminuição da força ao
que evolui com progressão para úlcera de bordos nível dos músculos proximais do membro superior.
irregulares, elevados, violáceos e periferia eritema- A electromiografia é útil para identificar os nervos
tosa. O tratamento varia de acordo com o quadro. afectados. O tratamento é conservador (analgesia e
Os autores pretendem alertar para a importância do reabilitação).
diagnóstico e tratamento atempados do PG.
Caso Clínico:
Caso:
Mulher de 24 anos com antecedentes de DRC es-
Mulher de 54 anos com hipertensão arterial e pato- tadio 5d e HTA. Recorre ao Serviço de Urgência
logia osteoarticular degenerativa. Em Maio de 2018 (SU) por impotência funcional ao nível do ombro e
realizada exérese de quisto sinovial da 1ª metacar- cotovelo esquerdos com uma semana de evolução,
pofalângica esquerda com evolução desfavorável associado a dor ligeira e prurido. Negava síndrome
da cicatrização e consequente deiscência de ferida. febril ou vacinação recente. Ao exame físico apre-
Desenvolve posteriormente lesão cutânea ulcerada sentava força muscular grau 1 na abdução do braço
necrótica dolorosa na mão esquerda, biópsia com- e na flexão do antebraço esquerdos, sem outras
patível com PG, pelo que iniciou tacrolimus tópico alterações.
e corticoterapia (CT) oral (0.5-1mg/kg/dia) com
resolução clínica em 3 semanas. Em Abril de 2019, Tinha recorrido previamente ao SU cerca de uma
nova lesão necrótica dolorosa na face posterior do semana e meia antes por dor intensa na cintura es-

660
E-POSTERS
capular esquerda. Negava traumatismo. Fez radio- tipo A e a biópsia da tiroide revelou tumor do epité-
grafia cervical que não mostrou alterações. Orienta- lio folicular, sendo orientado para consulta externa
da pela Ortopedia, teve alta com analgesia. de oncologia, onde mantem vigilância.
Assumiu-se o diagnóstico de SPT. Em ambulatório O timoma é por si só um tumor raro, representando
realizou electromiografia que foi compatível com 1% das neoplasias do timo, já o tumor folicular da
lesão do tronco superior do plexo braquial esquerdo tiroide corresponde a 12% dos tumores da tiroide.
em fase aguda/subaguda. Foi encaminhada para Neste caso o doente recorreu ao hospital por Pneu-
consulta de Neurologia e de Medicina Física e Rea- monia por Influenza A tendo alta com diagnóstico
bilitação. de dois tumores síncronos, ambos diagnósticos
incomuns, apresentando melhor prognóstico do que
Discussão: se tivesse tratado de carcinoma tímico com metas-
tização tiroideia.
Apesar de se tratar de uma patologia rara deve ser
considerada no diagnóstico diferencial de ombro P n.º 1365 
doloroso quando associado a diminuição da força Uma síndrome rara com uma apresentação atípica
e atrofia muscular. O reconhecimento da evolução António Lorena Pessoa(1);Eugénio Dias(1);Hugo
clínica característica é essencial ao diagnóstico. Viegas(1);Margarida Madeira(1);Daniela Brigas(1);-
Francisca Santos(1)
Na ausência de reabilitação precoce estes doentes (1) Centro Hospitalar de Setúbal, EPE / Hospital de
evoluem para quadros de atrofia muscular e impo- São Bernardo
tência funcional marcada. O diagnóstico precoce
permite assim melhorar o prognóstico, como tam- Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
bém evitar a realização de exames desnecessários. culites
P n.º 1362 
Uma pneumonia com surpresa dupla Introdução: A síndrome de Goodpasture é uma pa-
Eulália Antunes(1);Joana Lopes(1);Maurício Peixo- tologia autoimune caracterizada por uma glomeru-
to(1);Catarina Cerqueira(1);Carla Campinho Ferrei- lonefrite e hemorragia alveolar causada por anticor-
ra(1);Sofia Caridade(1);Isabel Silva(1) pos anti membrana basal glomerular (anti-MGB).
(1) Hospital de Braga Este caso expõe uma manifestação atípica desta
patologia.  
Tema: Doenças oncológicas
Caso Clínico: Homem de 84 anos, com história pes-
Os timomas e os carcinomas tímicos são tumo- soal de adenocarcinoma da ampola de Vater metas-
res raros do mediastino. Os carcinomas são mais tizado. Recorreu ao serviço de urgêngia por quadro
agressivos podendo apresentar ao diagnóstico me- de astenia e adinamia associadas a um perfil tensio-
tastização para o rim, tiroide, fígado, osso e cérebro nal hipertensivo. Á observação destacava-se ana-
em cerca de 7% dos doentes. sarca, fervores subcrepitantes bilaterais à ausculta-
ção pulmonar e presença de colúria. Analiticamente
apresentava anemia normocitíca hipercrómica, com
Homem, 46 anos, autónomo para as atividades de
aumento da ureia e da creatinina, e (hiperbilirrubine-
vida diária, com antecedentes de doença de refluxo
mia conjugada) hipoalbuminemia. O sedimento uri-
gastroesofágico e fumador ativo de 20 UMA. Re-
nário revelou proteinúria compatível com síndrome
correu ao serviço de urgência por febre, tosse seca,
nefrótico, posteriormente confirmado na colheita
mialgias e toracalgia, e ainda perda ponderal que
de urina de 24 horas. Para esclarecimento do caso
não sabia precisar. Diagnosticado com Pneumonia
efetuou ecografia renal que evidenciou ‘’aumento
por Influenza A com necessidade de internamento
patológico da ecogenecidade parenquimatosa‘’ e
na unidade de cuidados intensivos e ventilação
no estudo autoimune destacou-se anticorpo anti-M-
invasiva por agravamento progressivo e disfun-
GB fortemente positivo. Neste contexto admitiu-se
ção multiorgânica. A radiografia torácica mostrou
lesão renal com proteinúria nefrótica por provável
reforço para-hilar bilateral. Realizou TC tórax que
síndrome de Goodpasture. Ponderou-se início de
evidenciou massa mediastínica anterior com perda
corticoterapia face ao diagnóstico, contudo por he-
dos planos de clivagem com as estruturas subja-
morragia digestiva com repercussão hemodinâmica
centes, medindo 45x56x37mm associado a adeno-
e analítica refratária às tentativas de hemóstase
patias mediastínicas infracarinais, paratraqueais,
endoscópica considerou-se que o doente apenas
aortopulomonares e peri-hilares bilaterais. Aquando
teria indicação para uma abordagem conservadora.
da transferência para o serviço de Medicina Interna
Ao 12º dia de internamento, o doente acabou por se
realizou PET–SCAN para melhor esclarecimento
verificar o óbito.   
da massa mediastínica e estadiamento de possí-
vel neoplasia que mostrou captação de 18F-FDG Conclusão: A síndrome de Goodpasture é rara, com
de etiologia indeterminada ao nível do mediastino uma incidência estimada entre 0,5 a 1,8 casos por
anterior, mas também lesão de natureza sólida eco- milhão de habitantes na população europeia. Na
génica e com halo hipoecogénico com 16mm no maioria dos casos afecta caucasianos, apresentan-
polo inferior do lobo direito da tiroide. A biópsia da do uma distribuição bimodal entre os 20-30 anos
massa mediastínica fez o diagnóstico de Timoma

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 661


e os 60-70 anos. Sabe-se ainda que a prevalência Lúpus induzido por Adalimumab
é maior no género masculino nos doentes mais jo- Carlota Lalanda(1);João Alves Teixeira(1);Miguel
vens e no feminino nos doentes mais velhos. Assim Martins(1);Catarina Costa(1);Rita Ribeiro(1);Sofia
este caso representa não só uma apresentaçao Pinheiro(1)
atípica, provavelmente associada a uma neoplasia, (1) Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE / Hos-
como surge num indíviduo idoso do g+enero mas- pital de Santo António dos Capuchos
culino, o que a torna ainda um caso mais raro.
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
P n.º 1370  culites
Défice Neurológico Ictal – Quando nem tudo o que
parece é Os agentes Antifator de Necrose Tumoral α (an-
Antony Dionísio(1);Sérgio Brito(1);Pedro Sena(1);- ti-TNF-α) são comumente utilizados em diversas
Fausto Pinto(1);Teresa Mesquita(1);Luís Campos(1) doenças inflamatórias autoimunes, mas apesar
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE / do seu perfil de segurança elevada, podem induzir
Hospital de S. Francisco Xavier autoimunidade. O aparecimento de autoanticorpos
Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas associados ao tratamento com estes fármacos é
bem conhecido sabendo-se que pode chegar aos
50%, geralmente ANAs e Anti-dsDNA, sendo, no
Introdução: O diagnóstico do Acidente Vascular entanto, rara (0.14%-0,19%2) a relação causal entre
Cerebral (AVC) na fase aguda é dificultada pelo ele- estes e o aparecimento de doenças autoimunes. O
vado número de mimetizadores, representando até adalimumab é um anticorpo monoclonal humano
25% dos casos suspeitos. Os quadros funcionais recombinante anti-TNFα utilizado em várias doen-
ocorrem geralmente associados a estímulos ansio- ças inflamatórias, entre as quais Artrite Reumatóide,
génicos patológicos com manifestações neurológi- Artrite Psoriática, Espondilite Anquilosante, Doença
cas múltiplas. de Crohn e Hidradenite supurativa.

Caso Clínico: Mulher, 60 anos, sem antecedentes de


relevo, que durante observação após a 1ª dose da Apresentamos 2 casos de Lupus induzido pelo
vacina da COVID-19 iniciou quadro súbito de tontu- Adalimumab.
ras, sensação de desequilíbrio para a esquerda e  hi- Caso 1
pertensão (212/106 mmHg). Avaliada no Serviço de Doente do sexo feminino, 40 anos, medicada com
Urgência (SU), sem défices neurológicos. Realizou adalimumab por hidradenite supurativa que inicia, 6
tomografia computorizada craniana (TC-C) sem al- meses após início de terapêutica, quadro de fadiga
terações, ficou em vigilância neurológica, tendo alta e artralgias de ritmo inflamatório nas articulações
contra parecer médico. Regressou ao SU após 48 interfalângicas proximais e distais pelo que é re-
horas por agravamento das queixas, apresentando ferenciada à nossa consulta. Na observação apre-
parésia facial esquerda, hemiparesia atáxica es- sentava sinovite da interfalângica distal 3º dedo
querda, hipostesia ipsilateral, parésia da abdução do mão direita e, analiticamente, salientava-se veloci-
olho esquerdo, com espasmos de convergência e dade de sedimentação 28mm/h, ANA 1/320 mos-
ligeira limitação da infraversão, sem evidência ima- queado (previamente negativo) e Ac. Anti-dsDNA
giologica de lesão em nova TC-C. Admitido AVC em 358UI/mL, não existiam outras. 
território vertebrobasilar com possíveis lesões bila- Caso 2
terais, sem indicação para terapêutica de fase agu- Doente do sexo feminino, 35 anos, diagnóstico de
da. No internamento apresentou flutuação e incon- Doença de Crohn medicada com adalimumab e
sistência dos défices, com alterações oculomotoras azatioprina iniciados 1 ano antes do início da tera-
complexas e inconsistentes com lesão vascular. pêutica, quadro de fadiga e artralgias dos membros
Realizou ressonância magnética cranioencefálica superiores e inferiores com rigidez matinal de 1
sem evidência de lesões isquémicas, inflamatórias hora. Na observação inicial sem articulações ede-
ou outras. Observada por neurooftalmologia que maciadas ou tumefactas; analiticamente com ANA
descartou parésia do VI par esquerdo, correspon- 1/160 mosqueado, Anti-dsDNA 595UI/mL, ac. Anti-
dendo a espasmo de acomodação. Assumido as- -histonas +, antiScl70 +, sem outras alterações. Em
sim síndrome neurológico funcional. Teve alta com ambas as doentes foi admitido LES induzido pelo
indicação para controlo tensional, reabilitação mo- adalimumab e suspensa a terapêutica, com melho-
tora e consulta de psiquiatria. ria sintomática 2 semanas depois.
Discussão: A divulgação do caso pretende alertar
para a dificuldade no diagnóstico diferencial de O Lúpus induzido pelos anti-TNF-α é raro e a sua
manifestações neurológicas complexas. O conheci- apresentação pode ser muito variada. Tal como
mento da neuroanatomia, incongruência e flutuação noutras formas de Lúpus induzidos por fármacos,
dos défices e correlação com exames complemen- este pode estar associado a manifestações raras
tares são fulcrais no diagnóstico de síndrome neu- mas graves, como glomerulonefrites ou vasculites,
rológico funcional. pelo que é necessário um um elevado grau de aler-
ta nos doentes sob estas terapêuticas. Para o seu
P n.º 1373  diagnóstico, baseamo-nos nos critérios clássicos
de LES associado a história de exposição ao adali-
662
E-POSTERS
mumab. infeciosas, transmitidas através de carraças, mais
comuns na Europa. Esta doença inflamatória mul-
P n.º 1376  tissistémica pode ter diferentes apresentações clí-
Nem todas as ataxias são cerebelosas nicas. Sintomas neurológicos, como meningoence-
Mónica Spencer Pereira(1);Catarina Pinto Mar- falite ou vasculite cerebral, ou miocardite são pouco
ques(1);Domingas Pereira(1);José Vaz(1) comuns.
(1) Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo, EPE /
Hospital José Joaquim Fernandes Caso Clínico: Homem de 71 anos, vive em meio
rural, com história de diabetes tipo 2, com mau con-
Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas trolo, hipertensão arterial, e síndrome Guillain-Barré.
Recorreu à Urgência por episódio súbito, com mais
Introdução: A tuberculose é uma doença multissis- de 24 horas de evolução, de diminuição da força do
têmica causada por Mycobacterium tuberculosis, membro superior direito, disartria de expressão e
que afecta predominantemente os pulmões, que ca- febre não quantificável. Além das queixas neurológi-
racteriza-se por febre, sudorese com predomínio cas confirmadas objetivou-se desvio da língua para
de 2/3 superior do corpo, perda ponderal, anorexia, a direita. Tomografia computorizada crânio-encefá-
astenia, tosse. Em 10-40% são extrapulmonares, lica sem alterações agudas. Assumiu-se acidente
sendo uma delas a tuberculose meníngea, que por vascular cerebral sem tradução imagiológica.
vezes é acompanhado por  cefaleias, hidrocefalia,
hipertensão intracraniana, convulsões, coma, menin- Em internamento, por febre, foi realizada punção
gismo e ainda paralisia de alguns pares cranianos. lombar, rastreio séptico e estudo serológico para
microorganismos zoonóticos. Destacou-se hiper-
proteinorráquia com contagem diferencial de pre-
Descrição: Doente  do sexo feminino de 62 anos domínio de mononucleares. Resultado serológico
de idade, com antecedentes  de fibrilhação auricu- e confirmatório positivo para Imunoglobulina (Ig)
lar, dislipidémia, asma, síndrome de cólon irritável, M para Borrelia Burgdorferi, e IgG negativa. Assu-
osteoartrose, hipertiroidismo. Enviada da consulta miu-se meningoencefalite a B.Burgdorferi e iniciou
de neurocirurgia  para o Hospital de residência ceftriaxone. Ressonância magnética com patologia
para esclarecer quadro de ataxia da marcha com inflamatória/infeciosa com componente hemorrági-
imagem de tumor anterior inacessível a biópsia co à esquerda. Assistiu-se a resolução gradual dos
em ressonância magnética. Concomitantemente a défices neurológicos.
este quadro tinha queixas de astenia e adinamia.
Durante o internamento realizou-se punção lombar Verificou-se também bradicardia sinusal assintomá-
com líquido cefaloraquidiano  com  características tica, com melhoria progressiva com resolução de
sugestivas de neurotuberculose (hiperproteinorrá- infeção sistémica a B.Burgdorferi. Ecocardiograma e
quia, hipoglicorráquia e ADA positivo), iniciou-se marcadores de necrose miocárdica sem alterações.
assim terapêutica antibacilar associada a corticote-
rapia, com boa evolução e melhoria clínica. Discu- Discussão: Apesar de pouco comum no nosso dia-
tido posteriormente o caso com neurocirurgia para -a-dia e tendo em conta a sua sintomatologia, esta
reavaliação, foi realizada ressonância magnética da patologia deve ser considerada nas hipóteses de
coluna dorsal  com alterações da D3 e 9 provável diagnóstico aquando de doentes residentes ou reali-
captação leptomeníngea e paquimeningite, punção zação de viagens para meios rurais. O diagnóstico e
lombar com resultado ADA negativo e Ig G4 positi- o respetivo tratamento poderá permitir a resolução
vo.  dos sinais e sintomas de infeção e prevenção de
recidiva de infeção.
Conclusão: Relativamente a  meningite tuberculosa
os sintomas são geralmente de início insidioso, sen- P n.º 1382 
do alguns  transversais a outras formas de tubercu- SÍFILIS TERCIÁRIA – UMA ENTIDADE A LEMBRAR
lose.  A realçar que existem  sintomas que poderão Ana Raquel Soares(1);Sofia Eusébio(2);Pedro Fiú-
não ser típicos, e variar consoante o orgão afectado, za(2);André Conchinha(2);Lourenço Cruz(2);José
sendo que um diagnóstico atempado pode delinear Sousa(2);Torcato Moreira Marques(2);Ana Raquel
o prognóstico. A  destacar que a base do diagnósti- Santos(2);Francisco Albuquerque(2);Inês Duar-
co é a punção lombar, e no que concerne a terapêu- te(2);Paula Nascimento(2);Rita Barata Moura(2);Te-
tica, há benefícios no uso de  glucorticóides como resa Garcia(2);António Mário Santos(2)
adjuvante aos antibacilares.  (1) Unidade Funcional de Medicina Interna 4, Hospi-
tal de Santa Marta, Centro Hospitalar Universitário
P n.º 1378  de Lisboa Central (2) Centro Hospitalar de Lisboa
Meningoencefalite a Borrelia Burgdorferi Central, EPE / Hospital de Santa Marta
Filipe Alfaiate(1);Teresa Leitão(1);Sandra Ganchinho
Lucas(1);Irene Verdasca(1);Conceição Barata(1) Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
(1) Hospital do Espírito Santo, EPE, Évora
Introdução: Os aneurismas aórticos podem ter
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias várias etiologias: degenerativa, doenças do tecido
conjuntivo, anomalias congénitas ou inflamatória
Introdução: A doença de Lyme é uma das doenças (infeciosa ou autoimune). O caso que se descreve
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 663
representa uma rara apresentação de uma infeção hormonoterapia. Apresentava internamento recente
que deve ser lembrada.  por Pneumonia por SARS-CoV-2. Recorreu ao servi-
ço de urgência por edema e calor do membro infe-
Caso clínico: Homem de 72 anos, com história pré- rior esquerdo sendo diagnosticada com TVP exten-
via de hipertensão arterial primária, dislipidémia e sa femoro-poplítea, tendo iniciado hipocoagulação.
tabagismo, enviado a consulta de Cirurgia Cardíaca Dado os antecedentes neoplásicos da doente pedi-
por achado de aneurisma da aorta ascendente em dos marcadores tumorais o que revelou aumento de
TC. Foi realizada angiografia por TC que confirmou CA 125. A mamografia não mostrou alterações de
aneurisma da aorta ascendente com 57x53mm de relevo, sendo apenas identificado um quisto anexial
maiores eixos, com indicação cirúrgica. Procedeu- esquerdo em tomografia computadorizada. Para
-se ao internamento eletivo para cirurgia - interpo- melhor esclarecimento deste achado realizou eco-
sição de conduto aórtico – que decorreu sem inter- grafia transvaginal e ressonância magnética pélvica
corrências. Para estudo etiológico foram realizadas que confirmaram a existência de um quisto anexial
serologias, incluindo RPR (V.D.R.L.) que foi positivo à esquerda com 2,5 cm, e um quisto direito de cerca
no título 1/16, e reação de T.P.H.A. também positiva. de 3 cm, com fundo de saco Douglas livre e sem ou-
Por ser mais frequente o atingimento da aorta proxi- tros achados patológicos. A doente foi submetida a
mal na sífilis, foi considerado provável o diagnóstico cirurgia para ooforectomia bilateral, que veio revelar
de sífilis terciária com atingimento vascular resul- que os quisto em estudo correspondiam a carcino-
tando em aneurisma aórtico, pelo que foi iniciada ma seroso bordeline do ovário bilateral.
terapêutica de acordo, com penicilina endovenosa Este caso vem evidenciar a necessidade da procura
de 4/4h durante 14 dias (24 milhões de unidades/ dos diferentes fatores de risco associados ao TEV.
dia). Posteriormente, no exame anatomopatológico A doente apresentava homozigotia MTHFR, história
de fragmentos da parede aórtica, os aspetos mor- prévia de TVP e internamento recente por SARS-
fológicos foram compatíveis com os resultantes de -CoV-2 que por si já constituem fatores de risco para
infeção por Treponema pallidum, confirmando-se o desenvolvimento de eventos de tromboembolis-
o diagnóstico de sífilis terciária com envolvimento mo, no entanto, a investigação etiológica permitiu
vascular. Foi cumprida a totalidade dos 14 dias de diagnosticar uma neoplasia de novo e possibilitar a
tratamento, sem intercorrências associadas e com sua orientação.
boa evolução clínica.
P n.º 1387 
Discussão: A sífilis com atingimento cardiovascular Lipoma por trás das parestesias
mais frequentemente resulta em aortite, aneurisma Mónica Spencer Pereira(1);Catarina Pinto Mar-
aórtico ou valvulopatia aórtica, com elevada morbi- ques(1);Domingas Pereira(1);José Vaz(1)
mortalidade se não tratados adequadamente.  Após (1) Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo, EPE /
tratamento, o seguimento com realização de testes Hospital José Joaquim Fernandes
não-treponémicos seriados é necessário. Apesar de
menos comum atualmente pelo uso generalizado Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas
de antibióticos, a sífilis deve ser lembrada como a
“grande imitadora”, podendo atingir vários órgãos e
estruturas. Introdução: Os lipomas são tumores benignos que
podem ocorrer em várias localizações, podendo
P n.º 1385  acometer a região medular, sendo intradural quando
Um trombo nem sempre vem só há acúmulo das células adiposas neste espaço. Há
Eulália Antunes(1);Joana Lopes(1);Mauríco Peixo- maior prevalência na região lombar e torácica, exis-
to(1);Carla Campinho Ferreira(1);Catarina Cerquei- tem ainda casos isolados na região cervical. Estão
ra(1);Marta Braga Martins(1);Vânia Gomes(1);Sofia associados a sintomas característicos de processo
Caridade(1);Isabel Silva(1) compressivo da medula com evolução insidiosa.
(1) Hospital de Braga A etiologia poderá estar associada a má formação
congénita.
Tema: Doenças oncológicas
Descrição: Doente de sexo feminino, de 36 anos
O tromboembolismo venoso (TEV) inclui a trombo- de idade, enviada à consulta de Medicina Interna/
se venosa profunda (TVP) e a embolia pulmonar doenças auto imunes por um quadro de pareste-
(EP). Estes ocorrem por formações de coágulos sias e artralgias dos membros inferiores, punhos e
venosos que levam à oclusão total ou parcial do mãos com  agravamento progressivo, com sinais
vaso. Os fatores de risco para a sua ocorrência são inflamatórios recorrentes de ambos os punhos.
variados, desde hereditários a adquiridos, como é o Antecedentes de hipertensão arterial sistêmica me-
caso das neoplasias. dicada com enalapril 20 mg.  Após avaliação clínica
e exames complementares, a destacar velocidade
Apresenta-se o caso de uma mulher de 69 anos, au- sedimentação de 30mm/1h, sem alterações de mar-
tónoma, com antecedentes de homozigotia MTHFR cadores reumatológicos/autoimunues. Ecografia do
C677TT e história de TEV: trombose da veia porta punho com quervain bilateral, electromiografia com
em 2013 após nefrectomia, TVP secundária a neo- síndrome canal cárpico bilateral ligeiro. Ressonân-
plasia da mama em 2013 e em 2017 associada a cia magnética coluna cervico-dorso lombar com

664
E-POSTERS
lesão intra raquidiana,  intradural, medular/justame- história de queda, cirurgia
dular na vertente posterior e mediana, estendendo- cardiotorácica), metabólica e auto-imune. Realiza-
-se de D5 a D6, com sinal ligeiramente heterogéneo das endoscopias alta e baixa não se tendo
em relação com componente maioritariamente li- verificado qualquer alteração relevantes. A histolo-
pomatoso. Com a  clínica e ressonância com forte gia da biópsia transtorácica do nódulo
suspeita de  se tratar de um lipoma   a doente foi revelou uma neoplasia neuroendócrina com caracte-
enviada para consulta de  neurocirurgia aonde foi in- rísticas de carcinóide típico. Assumido,
tervencionada  com laminectomia com excisão do assim, a neoplasia pulmonar como causa etiológica
tumor intradural,com anatomia patológica compatí- do derrame pericárdio. A doente foi
vel com lipoma. encaminhada para consulta de Pneumologia Onco-
lógica.
Discussão: Embora o lipoma intradural seja uma CONCLUSÃO: Apesar de ser uma apresentação ini-
causa rara das parestesias, temos  sempre de ter cial pouco comum, é importante ter a
em conta a possibilidade de ser uma causa de pa- suspeição clínica de doença oncológica quando
restesias, dado a sua evolução insidiosa com dete- confrontados com um doente com derrame
rioração neurológica progressiva e  incapacitante. pericárdico de moderado a grande volume. Este
O exame de diagnóstico de eleição é a ressonân- caso demonstra que nem sempre a
cia magnética.   apresentação inicial nos indica de forma inequívoca
o diagnóstico final.
P n.º 1388 
Derrame pericárdio: um desafio diagnóstico.
Carolina Veiga(1);Cristiana Fernandes(1);Cristina P n.º 1390 
Marques(1);Catarina Pinto Silva(1);Ilda Coelho(1);- Défice de glicose-6-fofasto desidrogenase associa-
Carlos Oliveira(1) do a uma maior gravidade à COVID-19?
(1) Hospital Santa Maria Maior de Barcelos Filipe Alfaiate(1);Sandra Ganchinho Lucas(1);Ana
Tenreiro(1);IRENEIA LINO(1)
Tema: Doenças oncológicas (1) Hospital do Espírito Santo, EPE, Évora
Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio-
Introdução: O derrame pericárdico é relativamente nais
comum na prática clínica, quer como
consequência de doença primária do pericárdio,
quer como manifestação de doença Introdução: O défice de glucose-6-fosfato desidro-
sistémica, constituindo o seu estudo etiológico um grenase (G6PD) é uma doença genética ligada ao
desafio na pratica clinica. cromossoma X, onde há diminuição nos níveis de
CASO CLÍNICO: Os autores apresentam um caso dinucleótido de nicotinamida e adenina, e redução
clinico de uma mulher de 70 anos, que da glutationa, originando stress oxidativo e altera-
recorreu ao serviço de urgência com queixas de ção no balanço redução-oxidação. Existe evidência
dispneia para pequenos esforços com 2 que sugere associação entre o défice de G6PD e o
meses de evolução associada a ortopneia e aumen- aumento da suscetibilidade e severidade à infeção
tos dos edemas dos membros inferiores por SARS-CoV-2.
em agravamento nas 3 últimas semanas. Associa-
damente, referia perda ponderal não Caso Clínico: Homem de 59 anos, com internamen-
intencional de cerca de 12 kg nos 6 meses anterio- to prévio em 2009 em unidade de cuidados intensi-
res. Ao exame físico, apresentava-se vos, com pneumonia grave com necessidade ven-
hemodinamicamente estável, apirética, com auscul- tilação mecânica invasiva, por Influenza A subtipo
tação cardíaca arrítmica. Analiticamente, H1N1, encontrava-se no seu estado de saúde habi-
de relevo, verificou-se uma anemia normocítica, nor- tual há 2 dias, quando iniciou com quadro de aste-
mocrómica, sem outras alterações. nia, dispneia e tosse seca. No serviço de urgência,
Eletrocardiograma com fibrilação auricular de novo à observação destacou-se temperatura de 38,2ºC e
e frequência cardíaca média de 101 saturação periférica de 88%, em ar ambiente, com o
bpm. Na tomografia computorizada de tórax consta- restante exame objetivo sem alterações. De exames
tou-se um derrame pericárdico de complementares de diagnóstico, destacam-se:
moderado volume, formações ganglionares pericen-
timétricas nos diferentes - Gasimetria (ar ambiente): pH 7,52, pO2 55 mmHg,
compartimentos mediastínicos e um nódulo pulmo- pCO2 33 mmHg, HCO3 26.1 mmol/L, sO2 89.3%;
nar no segmento posterior do lobo
superior direito. O ecocardiograma transtorácico - Radiografia torácica: hipotransparência bilateral
confirmou a presença de derrame com reforço para-hilar e periférico;
pericárdico de moderado volume, sem sinais de
compressão das cavidades cardíacas. Foram - Analiticamente: linfocitopenia de 800, PCR 8,0 mg/
excluídas causas infecciosas (serologias víricas dL, LDH 643 U/L;
para VIH, hepatite B e C: negativas; pesquisa
de DNA de Mycobacterium tuberculosis no lavado - Teste RT-PCR SARS-CoV-2: Positivo;
bronco-alveolar (LBA): negativa, exame De acordo com a avaliação clínica e analítica, o
directo e cultural LBA: negativos), traumática (sem
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 665
doente ficou internado com agravamento progres- toxoplasma, leptospira foram negativas para infec-
sivo da necessidade de oxigenoterapia, realizando ção activa, assim como hepatite A, B, C, E, HIV e
cânula nasal de alto fluxo durante 8 dias. Durante o CMV. Teste rápido da mononucleose negativo. Estu-
internamento, iniciou programa de reabilitação res- do auto-imune negativo. Durante o internamento foi
piratória com evolução clínica favorável, tendo alta suspensa a nitrofurantoína, com melhoria analítica
com oxigénio de longa duração a 1,5L/min. paulatina. A normalização dos valores foi observada
um mês após alta, em consulta, acompanhada de
Discussão: Do ponto de vista molecular, há evidên- resolução da colúria e da dor epigástrica. Não foi
cia de que a infeção viral induz a produção de espé- possível realizar biópsia hepática em tempo útil. As-
cies reativas de oxigénio e azoto. No caso de défice sumido diagnóstico de hepatite tóxica em contexto
de G6PD, existindo uma pré-disposição para dese- medicamentoso.
quilíbrio redução-oxidação nos eritrócitos, podem
ocorrer síndromes hemolíticas com um insuficiente
aporte de oxigénio aos tecidos. Neste caso, o défice O caso ilustra a importância da detecção precoce
de G6PD pode ter sido um fator de maior suscetibi- de um potencial mecanismo de lesão hepática, vi-
lidade e gravidade para ambas as infeções, seja por sando a redução da extensão dos danos hepáticos.
H1N1 e SARS-CoV-2. É importante identificar estas Não sendo bem compreendido o mecanismo da
associações, de forma a que, se possa intervir rapi- lesão hepática da nitrofurantoína é ainda mais im-
damente em casos associados a maior gravidade portante reportar reacções adversas.
da expressão clínica da COVID-19.
P n.º 1394 
P n.º 1391  Artrite por pirofosfato de cálcio no hiperparatiroi-
NITROFURANTOÍNA: um efeito lateral incomum. dismo primário
Carolina Veiga(1);Carina Silva(1);Joana Braga(1);Ri- Carlota Lalanda(1);Jorge Frade(1);Manuel Albu-
ta Sevivas(1);Ilda Coelho(1);Carlos Oliveira(1) querque(1);Elisabete Brum Sousa(1);Beatriz Bara-
(1) Hospital Santa Maria Maior de Barcelos ta(1);Pedro Mesquita(1);João Alves Teixeira(1);Inês
Urmal(1);Cláudia Janeiro(1);Daniela Guerreiro Car-
Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá- neiro(1)
ticas (1) Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE / Hos-
pital de Santo António dos Capuchos
Introdução: A lesão hepática induzida por fármacos
é comum e manifesta-se geralmente 1 a 90 dias Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio-
após administração do medicamento em doses nais
habituais. O quadro clínico varia desde ligeira alte-
ração das enzimas hepáticas até insuficiência he- A artrite por pirofosfato de cálcio, ou pseudogota, é
pática fulminante. A nitrofurantoína é um fármaco uma doença causada pela deposição de pirofosfato
muito utilizado na profilaxia de infecções do trato de cálcio na cartilagem das articulações levando a
urinário, cuja toxicidade se pode apresentar com inflamação e consequente monoartrite ou poliartri-
manifestações de hepatite crónica ou aguda. A for- te, atingindo principalmente a articulação do joelho.
ma aguda geralmente apresenta-se com padrão de
citocolestase com ou sem icterícia acompanhada Apresenta-se o caso de um homem de 71 anos,
de sintomas como febre ou rash. Descreve-se um internado por hemorragia digestiva alta por úlcera
caso clínico de um doente medicado durante mais péptica em contexto de abuso de anti-inflamató-
de 1 ano com 100 mg de nitrofurantoína diariamen- rios, que desenvolve um quadro de dor e edema
te para profilaxia de infecção do trato urinário. migratório de ambos joelhos. O estudo analítico
mostrou PCR 179mg/L, velocidade de sedimenta-
ção 93mm/h, ácido úrico 10.4mg/dL, sem elevação
CASO CLÍNICO: Apresenta-se caso clínico de ho- de fator reumatoide, anticorpo anti-citrulina ou anti-
mem de 66 anos, antecedentes de pneumonite de corpos anti-nucleares. O estudo radiológico sugeria
hipersensibilidade crónica, hiperplasia benigna da artropatia de natureza inflamatória e sob tratamento
próstata e infecções do trato urinário de repetição. com colchicina, observou-se melhoria progressiva.
Recorreu ao serviço de urgência por epigastralgias, A hipótese de deposição de pirofosfato de cálcio,
icterícia e colúria em agravamento progressivo há com cálcio sérico de 9mg/dL, levantou a suspeita
vários dias. Ao exame físico, pele e escleras ictéri- de hiperparatiroidismo, sendo que o estudo revelou
cas, dor à palpação profunda do hipocôndrio direito, um nível de paratormon intacta (PTH) de 125pg/mL,
sem outras alterações. Analiticamente com hiperbi- vitamina D25 14ng/mL e ausência de nefrocalcino-
lirrubinemia total à custa da directa (bilirrubina total se. Iniciou colecalciferol com aumento de vitamina
de 4,9 mg/dL, directa de 4,49 mg/dL), citocolestase D25 e sem redução significativa de PTH, concluindo
hepática (ALT 97 U/L, AST 145 U/L, FA 99 U/L, GGT tratar-se de um hiperparatiroidismo primário.
707 U/L), albumina
3,6g/dL, INR 1,10. Verificada esteatose hepática em Através do caso representado, os autores alertam
ecografia, sem lesões hepáticas focais, sem obs- para o estudo etiológico de poliartrite e da alteração
trução das vias biliares. A RM abdominal não tinha do metabolismo do cálcio como fator precipitante.
alterações hepáticas de relevo. As serologias para
P n.º 1395 
666
E-POSTERS
Síndroma hemofagocítico - um suspeito inusitado guel Ferreira(1);Ilda Coelho(1);Carlos Oliveira(1)
Daniela Viana(1);Joana Rua(1);Guilherme As- (1) Hospital Santa Maria Maior de Barcelos
sis(1);Paulo Carrola(1);Fernando Salvador(1)
(1) Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Dou- Tema: Doenças oncológicas
ro, EPE / Hospital de Vila Real
Introdução: A paralisia facial periférica (PFP) re-
Tema: Doenças hematológicas sulta da lesão neuronal periférica do nervo facial
podendo ser primária ou secundária a múltiplas
A linfo-histiocitose hemofagocítica é uma síndroma causas (doenças metabólicas, cerebrovasculares,
rara, caracterizada por uma resposta inflamatória infeciosas, imunológicas, tumores, traumatismo e
sistémica desregrada e excessiva, desencadeada farmacológica). A PFP é uma entidade comum, po-
pela ativação inapropriada de linfócitos. Ela pode rém, raramente é a apresentação inicial de doença
ser primária ou secundária, e na ausência de diag- oncológica.
nóstico e tratamento atempado é potencialmente
fatal. 
CASO CLÍNICO: Apresenta-se o caso de uma mulher
Homem de 79 anos de idade, autónomo, com hiper- de 70 anos, com antecedente de carcinoma invasor
tensão arterial essencial, diabetes mellitus tipo 2 e misto da mama aos 60 anos (submetida a mastec-
perturbação do uso do álcool.  tomia total esquerda e quimioterapia e hormonote-
rapia adjuvantes). Recorreu ao serviço de urgência
Recorreu ao SU por astenia, anorexia e polipneia por desvio da comissura labial em desfavor da es-
com 3 semanas de evolução, foi assumida uma querda e incapacidade para fechar o olho esquerdo
infeção respiratória, medicado com amoxicilina e há 3 dias. Objetivado desvio da comissura labial em
ácido clavulânico e teve alta. Volta 5 dias depois desfavor da esquerda, sem enrugar a região frontal
por manutenção dos sintomas, com diminuição esquerda e com dificuldade em encerrar na totali-
da autonomia, hipotensão e apresentava-se subic- dade o olho esquerdo. Analiticamente, verificou-se
térico. Analiticamente com bicitopenia (anemia e uma bicitopenia discreta (anemia e trombocito-
trombocitopenia), citocolestase com bilirrubina total penia) e hipotiroidismo subclínico. A tomográfica
de 5 mg/dL à custa da directa e PCR de 15 mg/dL. computorizada (TC) e angio-TC de crânio revelaram
Na tomografia axial computorizada (TAC) apresen- múltiplas lesões osteolíticas na calote e na base do
tava hepatomegalia com área nodular hipodensa crânio sugestivas de lesões tumorais secundárias.
de 27mm e esplenomegalia com enfarte esplénico Realizada ressonância magnética de crânio onde se
focal. Foi internado na suspeição de hepatite al- constatou múltiplas lesões focais que infiltravam
coólica. No internamento inicia quadro febril, com extensamente a calote craniana, uma das quais
febre sustentada intermitente (> 39,5º), e aumento podendo interceptar o canal estilomastoideu e por-
da prostração, colheu rastreio séptico e iniciou tanto o trajecto mastoideu do nervo facial. Realizou,
empiricamente ceftriaxone. Do estudo realizado: ainda, TC toraco-abdomino-pélvico que mostrou
microbiologias negativas, endoscopia digestiva alta apenas 2 micronódulos subpleurais sem caracte-
sem sinais de hepatopatia crónica, TAC toracoabo- rísticas suspeitas. A ecografia tiroideia não tinha
micopélvico, TAC cranioencefálico e punção lombar alterações. Fez estudo endoscópico alto e baixo
sem alterações. Por manter febre e parâmetros in- normais. O restante estudo foi negativo (eletrofore-
flamatórios elevados, com pancitopenia, ferritinemia se de proteínas, cadeias leves livres no soro e urina,
de 4400 ng/mL , hipertrigliceridemia e imagiologi- imunoglobulinas, estudo auto-imune, serologias
camente hepatoesplenomegalia marcada, foi colo- víricas para hepatite B e C, VIH). Dada a ausência de
cada a hipótese de síndroma hemofagocítico, pos- novos achados, foi assumido um caso de recidiva
teriormente confirmada pelo mielograma. Iniciou da neoplasia mamária com metastização óssea,
curso de corticoterapia de alta dose (1 gr/dia de tendo a doente sido encaminhada para Oncologia.
Metilprednisolona) durante 3 dias, continuando com
prednisolona 70 mg/dia, com boa resposta clínica e
analítica, tendo alta, para seguimento e continuação CONCLUSÃO: A PFP é uma entidade comum, com
de estudo etiológico em consulta externa de Medici- múltiplas causas e muitas vezes idiopática. É de
na Interna.  extrema importância, no entanto, enquadrar estes
achados no quadro clínico e nos antecedentes
O caso constitui um desafio diagnóstico, eviden- pessoais do doente, uma vez que podemos chegar
ciando a importância de uma elevada suspeição mais precocemente a outros diagnósticos relevan-
clínica. A dificuldade prende-se com a raridade e tes, como se torna evidente neste caso.
apresentação heterogénea, que pode levar a um
diagnóstico tardio. P n.º 1404 
Ehlers-Danlos Syndrome presenting with premature
P n.º 1397  rupture of membranes
Paralisia facial periférica: quando uma entidade Sofia Correia(1);Carolina Ramos(1);Carolina António
benigna se torna algo mais. Santos(1);Liliana Santos Ribeiro(1);Maria José Pi-
Carolina Veiga(1);Catarina Pinto Silva(1);Flávia Fun- res(1);Ana Lobato de Faria Abrantes(1)
dora Ramos(1);Luis Augusto Cardoso(1);José Mi- (1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi-

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 667


tal de Santa Maria damente neurológicas, entre elas AVC isquémicos,
hemorragias subaracnoideias e crises convulsivas.
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
culites
Caso clínico: Mulher de 61 anos hipertensa, diabé-
tica e obesa, recorre ao serviço de urgência (SU)
This case study presents a 21-year old, 27-week por perda de consciência com incontinência de es-
pregnant woman who was admitted to the Obstetri- fíncteres e posterior discurso confuso. À admissão,
cs and Gynaecology department due to premature sem défices neurológicos, taquipneica com insufi-
rupture of membranes, who a few day later also ciência respiratória hipoxémica, taquicárdica, hiper-
became infected with COVID19 and developed se- tensa, com estase pulmonar e hiperlactacidemia,
rious infection. What we know is that there is still no assumindo-se edema agudo do pulmão com res-
clear association between pregnancy in a woman posta a diurético e nitratos. No SU, teve nova alte-
without relating diseases such as hypertension or ração do estado de consciência com afasia, hemia-
diabetes and severity of the COVID19 infection, and nópsia homónima direita, desvio ocular esquerdo e
what we tried to find out was whether there was any agitação psicomotora. A TAC e angioTAC cerebral
other underlying condition in this patient, such as an excluíram eventos agudos e a RM cerebral mostrou
undiagnosed syndrome, that could be causing such leucoencefalopatia isquémica crónica. Foi excluída
severe infection (with organising pneumonia) and infecção do sistema nervoso central e iniciado leve-
such a complicated pregnancy (complicated with tiracetam. O EEG mostrava actividade epileptiforme,
premature rupture of membranes, chorioamnionitis, assumindo-se o diagnóstico de crises epilépticas de
respiratory failure with need of ECMO). etiologia desconhecida.

The decision to make this case study was made Paralelamente houve elevação da troponina I AS
when, through detailed clinical inspection and chil- (máxima ao T6 de 3900 ng/L), sem toracalgia e sem
dhood/family history taking, diagnostic criteria for alterações do segmento ST-T no ECG. O ecocardio-
Ehlers-Danlos Syndrome were met. We found the grama mostrava depressão da função do ventrículo
patient presented with generalised joint hypermobi- esquerdo (VE) com fracção de ejecção do VE de
lity; a history of immense flexibility; repeated dislo- 31% e acinésia de todos os segmentos apicais,
cations of both her shoulders and kneecaps; ability médios do septo e das paredes anterior e lateral.
to bend her thumbs to touch her forearm; presence O cateterismo cardíaco revelou artérias coronárias
of skin has always been unusually smooth; an ex- normais. A RM cardíaca confirmou cardiomiopatia
tremely extensible skin; stria at the abdomen and de Takotsubo. A doente teve alta com medicação
groins since her pre-pubertal age; atrophic scarring modificadora de prognóstico, constatando-se re-
in various locations including legs and arms; ara- cuperação da função sistólica do VE e ausência de
chnodactyly with a positive wrist sign (Walker sign) alterações da contractilidade em exame de reavalia-
on both sides and a positive thumb sign (Steinerg ção.
sign) on both sides; positive family history; history Discussão: A CT associada a crises convulsivas é
of recurrent knee dislocations and instability in the incomum e manifesta-se frequentemente com de-
absence of any known trauma. terioração hemodinâmica súbita, que pode resultar
This case report shows how unforeseen complica- em morte sem o tratamento adequado. Pensa-se
tions can be explained by a syndrome that could que alguns casos de morte súbita não explicada
not have been diagnosed without access to detailed que ocorre na epilepsia são atribuíveis a CT. Os
patient history and emphasises the importance of doentes com CT associada a crises convulsivas re-
diagnosis to early identify, prevent and avoid syndro- portam menos precordialgia, têm maior taxa de cho-
me-related complications. que cardiogénico e a taxa de recorrência é superior
relativamente a doentes com CT isolada. 
P n.º 1406 
Cardiomiopatia de Takotsubo secundária a Epilep- P n.º 1410 
sia inaugural Síndrome da veia cava superior como apresentação
Sara Moutinho Pereira(1);Joana Rodrigues Mo- de carcinoma pulmonar de pequenas células
rais(1);Ana Oliveira Pinho(1);Filipa David(1);Marga- Sara Correia Alves(1);João Rocha(1);Isabel Ca-
rida Calejo(1);Gracieta Malangatana(1);Rute Ferrei- mões(1);Jorge Almeida(1)
ra(1) (1) Centro Hospitalar de S. João, EPE
(1) Unidade Local de Saúde de Matosinhos, EPE / Tema: Doenças oncológicas
Hospital Pedro Hispano
Tema: Doenças cardiovasculares O Síndrome da Veia Cava Superior (SVC) resulta de
obstrução ao fluxo através da Veia Cava Superior.
Introdução: A Cardiomiopatia de Takotsubo (CT) A invasão tumoral pode obstruir o fluxo por invasão
surge em contexto de stress emocional ou físico e direta ou compressão. As neoplasias intratorácicas
está relacionada com a libertação aguda excessiva são responsáveis pela maioria dos SVC e estes são,
de catecolaminas. A CT secundária surge em doen- muitas vezes, a forma de apresentação de uma neo-
tes hospitalizados por outras patologias, nomea- plasia.

668
E-POSTERS
Mulher, 55 anos, admitida por edema e rubor da pessoais relevantes, internada por febre e tumefa-
face, sensação de opressão cervical, dispneia para ção cervical anterior esquerda, com 1 mês de evolu-
médios esforços e ortopneia. Em adição, apresenta- ção.
va dor lombossagrada com 1 mês de evolução. Ao À observação a destacar adenopatia cervical à es-
exame físico era evidente edema e rubor da face, querda, adenopatia axilar esquerdo e adenopatia
sobretudo, na região periorbitária e engurgitamento inguinal direita, todas com dimensões entre 1,5 a 2
jugular direito. Hemodinamicamente estável. Dos cms de diâmetro, de consistência fibro-elástica, do-
exames complementares realizados destaca-se An- lorosos à palpação. 
gioTC torácico com evidência de massa adenopáti- Laboratorialmente a salientar anemia normocíti-
ca central a envolver a traqueia e a bifurcação brôn- ca normocrómica, leucopenia com neutropenia e
quica com 76x88mm, sem plano de clivagem com aumento da velocidade de sedimentação (44mm/
a aorta, condicionando embainhamento da artéria hora). Serologias virais (entre elas VIH, Herpes vírus
pulmonar direita e da veia cava superior; adenopa- 1-2, vírus Epstein-Barr, citomegalovírus) negativas.
tias supraclaviculares e múltiplas lesões nodulares IGRA negativo. Anticorpos Anti-nucleares positivos
hepáticas sugestivas de lesões secundárias e au- (título 1/160). Restante estudo imunológico negati-
mento da densidade dos corpos vertebrais. Realizou vo. 
biopsia de adenopatia supraclavicular com resulta- Realizou tomografia computorizada tóracica que
do de imunofenotipagem de população B policlonal revelou múltiplas adenomegalias cervicais bilate-
com 80% de células não hematopoiéticas CD45-/ rais, a maior à esquerda com centro necrótico e
CD56+ sugestivo de linhagem neuroendócrina; e his- adenomegalia axilar esquerda. Realizou  biópsia ex-
tológico de neoplasia de células pequenas redondas cisional de gânglio axilar cujo estudo anatomo-pa-
e azuis com imunorreatividade para TTF1, CK8/18 e tológico revelou hiperplasia folicular e áreas de ne-
CD56, sugestivo de Carcinoma Pulmonar de Peque- crose bem delimitadas constituídas por histiócitos
nas Células (CPPC) em estadio IV. Iniciou quimio- (CD68+ e MPO+), linfócitos e alguns plasmócitos –
terapia com carboplatina/etaposideo com reversão achados a favor de DKF, pelo que iniciou terapêutica
clínica dos sintomas compressivos. Após 4 ciclos, com anti-inflamatório não esteróide, verificando-se
realizou TC de reavaliação com resolução completa melhoria progressiva dos sintomas e redução das
da massa central e diminuição dos conglomerados linfadenopatias em 6 meses.
adenopáticos e tamanho de metástases hepáticas, Discussão: A DKF é uma patologia rara, benigna,
mantendo densificação vertebral. Vai iniciar 5º ciclo auto-limitada, sem tratamento preconizado. O diag-
de quimioterapia, sem recorrência clínica do SVC. nóstico é histológico, sendo que os doentes devem
manter seguimento pela possibilidade de recorrên-
O caso apresentado evidencia o SVC como forma cia ou evolução para lúpus eritematoso sistémico.
de apresentação de CPPC. As neoplasias do pul-  
mão e a doenças linfoproliferativas com envolvi-
mento mediastínico são as causas mais frequentes
de SVC, no 1º caso traduzindo um estádio avançado P n.º 1419 
da doença. Com este caso, pretendemos realçar a Hepatite tóxica ou autoimune? Quando o diagnósti-
importância do diagnóstico precoce e instituição de co diferencial é difícil.
terapêutica dirigida, permitindo um melhor controlo Isabel Fonseca Silva(1);José Cunha Marques(2);Ju-
sintomático e a melhoria de qualidade vida. dit Gandara(3);Vitor Lopes(3);Helena Pessegueiro
Miranda(3);Sofia Ferreira(3)
P n.º 1415  (1) Centro Hospitalar do Porto, EPE / Hospital Geral
Adenomegalias e febre - apresentação comum de de Santo António (2) Centro Hospitalar de S. João,
uma doença rara EPE (3) Unidade de Transplantação Hepática e Pan-
Daniel Calado(1);Filipa Carreiro(1);Luís Dias(1);Ca- creática - Centro Hospitalar e Universitário do Porto
rolina Roias(1);Sofia Miranda(1);Rita Banha(1);Filipa
Lima(1);Paula Costa(1);Rodrigo Cordeiro(1);Isabel Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá-
Borges(1) ticas
(1) Hospital do Divino Espírito Santo, Ponta Delgada
Introdução: A lesão hepática por fármacos é co-
Tema: Outro mum e transversal a praticamente todas as clas-
ses. A terapêutica com metronidazol, bismuto e
Introduçao: A Linfadenite Histiocítica Necrotizan- tetraciclina (Pylera) é usada para a erradicação da
te ou doença de Kikuchi-Fujimoto (DKF) trata-se de Helicobacter Pylori. Tanto o metronidazol como a
uma entidade nosológica rara, benigna, de causa e tetraciclina podem estar associados a dano hepáti-
fisiopatologia pouco esclarecida. Estudos revelam co, embora seja muito raro.  Existe uma associação
maior incidência na população asiática, no género clara entre a lesão hepática e doses altas de tetraci-
feminino, sendo a apresentação clínica mais fre- clina sob via endovenosa, principalmente em grávi-
quente a linfadenopatia, muitas vezes acompanha- das, quanto à via oral, tal não é claro. Por outro lado,
da de febre. Estão descritas apresentações mais a hepatite autoimune (HAI) é também uma entidade
atípicas sob a forma de mialgias, artralgias, rash rara, nem sempre sendo fácil o diagnóstico diferen-
cutâneo, náuseas, vómitos, perda ponderal e sudo- cial. Este foca-se na clínica, histologia e estudo imu-
rese noturna. nológico. A distinção entre estas etiologias pode ser
Caso Clinico: Mulher de 27 anos, sem antecedentes um desafio. 

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 669


Caso Clínico: Mulher de 56 anos, com neurofibro- de risco para osteoporose além do gênero, idade e
matose tipo 1 e neoplasia da mama prévia. Quadro menopausa. Recorre ao serviço de urgência (SU)
de icterícia e colúria com 3 dias de evolução. Ao por agravamento da dor, sendo medicada sintoma-
exame objetivo apenas icterícia marcada. Analitica- ticamente com AINE e tramadol. No dia seguinte,
mente com bilirrubina total= 22,26 mg/dl, TGO= 513 por aumento da dor com intolerância ao levante,
U/l, TGP= 639 U/L, GGT= 788U/l; FA= 803 U/L e INR= náuseas e vómitos recorre novamente ao SU. Reali-
1,63. Sem hábitos alcoólicos ou comportamentos za tomografia axial computorizada (TAC) da coluna
de risco. De salientar, ciclo de 10 dias com Pylera no lombar que revela lesão expansiva osteolítica do
mês anterior. Ecodoppler abdominal normal. Mar- corpo vertebral de L4 e é então admitida ao interna-
cadores viricos negativos. Estudo imunológico com mento para investigação. 
discreta redução de IgG, anticorpos ANA 1/160 e
anti-musculo liso 1/160. Biópsia hepática com ligei- Do estudo etiológico destaca-se: leucocitose
ro infiltrado inflamatório linfocitário, esteatose hepa- (14000/uL) com neutrofilia e leucocitúria com iso-
tocitária macro e microvesicular e colestase, com- lamento de E. Coli na urocultura. A função renal,
patível com etiologia tóxico-medicamentosa. A ionograma, biologia hepática, TAC toracoabdomi-
fibrose estava ausente. Por manutenção sustentada nopelvico, PET-scan, electroforese de proteínas,
de hepatite grave e com base no estudo imunológi- imunoglobulinas, esfregaço de sangue periférico e
co equacionada HAI e iniciado trial com prednisolo- mielograma foram normais. Cumpriu antibioterapia
na. Sem melhoria, e por agravamento analítico, foi para infecção do trato urinário. Realizou biópsia
decidido suspender o corticoide e repetir a biópsia, guiada por TAC que revelou neoplasia plasmocitária
sobreponível. Assumida hepatite aguda por prová- e posteriormente estabilização cirúrgica da fratura e
vel toxicidade à tetraciclina. Após o primeiro mês radioterapia.
de estabilidade, observou-se lenta mas progressiva
melhoria, com normalização analítica.     Os plasmocitomas solitários são mais frequente-
mente encontrados no osso, embora possam ser
Discussão: A toxicidade hepática por fármacos encontrados em outras localizações. Os autores
associada à positividade de auto- anticorpos pode pretendem evidenciar a necessidade de uma abor-
tornar difícil a distinção entre HAI e lesão hepática dagem sistematizada para obter o diagnóstico clí-
por toxicidade. A clínica, incluindo a cronologia e a nico em entidades clínicas desta raridade. A grande
histologia podem ajudar à distinção. Na ausência de maioria dos plasmacitomas evolui para mieloma
melhoria após suspensão do fármaco e existindo múltiplo, pelo que está indicado o tratamento e
dúvida, o trial com corticorterapia pode ajudar. follow-up após o diagnóstico.

P n.º 1425  P n.º 1431 


Plasmocitoma da coluna vertebral - um diagnóstico Serratia marcescens - uma causa rara de endocar-
a não esquecer dite infecciosa
Daniela Viana(1);Joana Rua(1);Guilherme Assis(1);- Mariana Oliveira(1);Luis Tavares(1);Sara Ledo(1);Pa-
Francisco Cubal(1);Bruno Mesquita(1);Paulo Carro- mela Ferreira(1);Humberto Costa(1)
la(1);Fernando Salvador(1) (1) Hospital do Divino Espírito Santo, Ponta Delgada
(1) Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Dou-
ro, EPE / Hospital de Vila Real Tema: Doenças infecciosas e parasitárias

Tema: Doenças hematológicas A Serratia marcescens é um agente patogénico


maioritariamente associado a infecções hospitala-
As lesões ósseas solitárias da coluna têm um diag- res, sendo a endocardite infeciosa (EI) uma mani-
nóstico diferencial muito vasto, incluindo lesões festação rara. A presença de mecanismos de mul-
benignas e malignas. A metástase é a primeira hipó- tirresistência torna-se um desafio à sua abordagem
tese diagnóstica perante uma lesão lítica na coluna terapêutica. 
em doentes com mais de 40 anos, dado este ser o Descreve-se um doente, 51 anos, com diagnóstico
tumor ósseo mais comum nesta faixa etária. Contu- de carcinoma epidermóide do pénis, portador de
do no estudo etiológico não podemos negligenciar cateter venoso totalmente implantável (CVCTI),
lesões primárias do osso. O mieloma múltiplo (MM) sob quimioterapia endovenosa (QT) que recorre ao
é o tumor ósseo primário mais comum, o plasmo- hospital, 24h após ciclo de QT, por quadro de febre e
citoma solitário é a forma isolada da doença e é astenia, sem outra sintomatologia associada. Sem
muito mais raro (3-7 % das neoplasias de células neutropenia, Proteína C Reativa 19mg/dL e Procal-
plasmocitárias).  citonina 51,6ug/mL. Sem foco evidente (Radiografia
de tórax, Ecografia abdominal e renal sem lesões),
colheu Hemoculturas (HC) e urocultura e iniciou
Mulher de 66 anos de idade, autónoma, com antece- Ceftriaxone. Com isolamento de S. marcescens nas
dente de dislipidemia e histerectomia com anexec- HC, alterada antibioterapia para Piperacilina/Tazo-
tomia bilateral há 20 anos. bactam. Retirado o CVCTI com isolamento de S.
História de lombalgia difusa com 3 semanas de marcescens. Identificado embolização séptica pul-
evolução, de características mecânicas, sem irra- monar em TC e vegetação de grandes dimensões
diação, sem trauma associado, sem mais fatores (23 mm) da válvula mitral, sem complicações locais,
em ecocardiografia. Escalada antibioterapia para

670
E-POSTERS
Meropenem e Gentamicina, tendo em conta o foco 6.3 Trombo apical no ventrículo esquerdo (27mm)
de EI. Doente apresentou boa evolução estando 6.4 4 segmentos teoricamente irrigados pela artéria
ainda a cumprir antibioterapia dirigida, não podendo descendente anterior são viáveis, contudo por estar
ser descartada potencial indicação cirúrgica pelas em fase subaguda, a análise da viabilidade nos seg-
dimensões da vegetação.  mentos com realce transmural encontra-se condi-
Com uma população crescente de doentes com cionada pela existência de edema. Optimizou-se te-
múltiplas co-morbilidades e imunocomprometidos, rapêutica médica modificadora de prognóstico e
com exposição frequente aos cuidados de saúde, colocou CDI em prevenção primária. Geneticamente
certamente haverá mais relatos de EI devido a Ser- apresentava a mutação JAK2 que em conjunto com
ratia spp. É importante considerar a resistência a os eventos trombóticos, classifica a Trombocitose
AmpC Betalactamase e ESBL, uma vez que a falên- Essencial de alto risco. Neste contexto iniciou tera-
cia terapêutica pode resultar no aumento da morta- pêutica com hidroxiurea e varfarina. 
lidade. Os carbepenemes são assim o antibiótico de
escolha. A endocardite por Serratia têm mau prog- A trombocitose essencial está associada a eventos
nóstico e a abordagem cirúrgica é frequentemente trombóticos. O enfarte agudo do miocárdio como
necessária. Portanto, o diagnóstico precoce é fun- apresentação inicial de trombocitose essencial é
damental para a boa evolução do doente. incomum, contudo deve ser considerado em doen-
tes com eventos trombóticos e presença de trombo-
P n.º 1433  citose.
Enfarte agudo do miocárdio como apresentação de
Trombocitose Essencial! P n.º 1434 
Antonio Eliseu(1);Patrícia Rocha(2);Ana Silva Ro- Síndrome de Takotsubo ou Síndrome Coronário
cha(3);Fábio Nunes(4);Olga Sousa(4);Rafael Silva Agudo - Dor típica em tempos atípicos?
Teixeira(4) Inês Urmal(1);Rita Monteiro(1);Felisbela Go-
(1) Centro Hospitalar de Setúbal, EPE / Hospital de mes(1);Rita Ilhão Moreira(2);Beatriz Sampaio(1);Luís
São Bernardo (2) Centro Hospitalar de Vila Nova de Bento(3)
Gaia / Espinho (3) Centro Hospitalar do Tâmega e (1) Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE / Hos-
Sousa, EPE / Hospital Padre Américo, Vale do Sousa pital de Santo António dos Capuchos (2) Centro
(4) Hospital Vila Nova Gaia Hospitalar de Lisboa Central, EPE / Hospital de San-
Tema: Doenças cardiovasculares ta Marta (3) Centro Hospitalar Lisboa Central - Hos-
pital de São José
A trombocitose essencial é uma doença mielo- Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente crí-
proliferativa associada a um risco aumentado de tico
eventos trombóticos ou hemorrágicos. Em 50% dos
casos a trombocitose essencial é um diagnóstico O espectro da infecção a SARS-CoV-2 é amplo. As
acidental. O enfarte agudo do miocárdio como apre- complicações cardiovasculares incluem o síndrome
sentação inicial de trombocitose essencial é inco- coronário agudo (SCA), miocardite, miocardiopatias,
mum. arritmias e tromboembolismo pulmonar, estando
associadas a pior prognóstico. O síndrome de Tako-
M, 64 anos, AP: dislipidemia; Recorreu ao SU por dor tsubo (STT) caracteriza-se por uma alteração transi-
interescapular em contexto de esforço acabando tória da cinética segmentar do ventrículo esquerdo
por ter alta medicada sintomaticamente. Regressa 2 desencadeada por stress físico ou emocional. Des-
semanas depois por dor retroesternal, dispneia e de o início da pandemia foram publicados 12 casos
ortopneia. A destacar os seguintes exames: 1) ECG de STT induzido pela COVID-19.
Taquicardia sinusal, BCRE-like 2) Lab: Hb 14.6, Leuc
14, Plaq 659. D-dimeros 1275, TnI 492, BNP 1268; 3) Os autores apresentam o caso de uma doente de
TC-TAP: Falha de enchimento endoluminal no ven- 92 anos, hipertensa e diabética, sem doença psi-
trículo esquerdo (trombo?); Derrame pleural bilateral quiátrica ou neurológica conhecida. Admitida por
de considerável volume. Congestão hepática e ima- quadro com 48h de evolução de dor pré-cordial com
gens sugestivas de múltiplos enfartes esplénicos 4) irradiação ao membro superior e mandíbula, inter-
ETT: dilatação grave da aurícula esquerda. IM ligei- mitente, desencadeada pelo esforço, associada a
ra a moderada. FSVE moderadamente deprimida náuseas e lipotimia. À observação apresentava-se
(FE 39%), por acinésia do SIV e ápex e hipocinésia hemodinamicamente estável, sem alterações ao
médio-distal das paredes lateral, anterior e inferior. exame objetivo. Electrocardiograficamente com
Trombo na parede infero-apical (22x17 mm). Sem intervalo PQ prolongado, bloqueio de ramo direito,
derrame pericárdico 5) CC: DA ocluída no ostium supradesnivelamento do segmento ST na parede
(imagem sugestiva de trombo); leito distal preenche anterior e ondas QS de novo nas derivações inferio-
por circulação própria 6) RMC: 6.1 VE gravemente res. Laboratorialmente com troponina I alta sensibi-
dilatado, FEVE estimada 22% 6.2 Alterações da lidade 18433,1 pg/mL e CK 403 U/L. Admitido SCA,
contractilidade segmentar, de sinal em T2 e padrão tendo sido aceite para realização de coronariografia
de realce tardio compatíveis com enfarte transmu- emergente. Realizou pesquisa de SARS-CoV-2 pré-
ral em fase subaguda, em território habitualmente -procedimento que foi positiva. Na angiografia sem
irrigado pela artéria descendente anterior proximal
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 671
lesões coronárias aparentes, tendo realizado ventri- Discussão: A distinção entre o envolvimento me-
culografia que mostrou acinésia ântero-lateral e do tastático suprarrenal e outras causas (adenoma,
segmento diafragmático e discinésia apical, com- abcesso) pode ser desafiadora. Este caso alerta-
patíveis com STT, com interTAK Diagnostic Score -nos para manter um grau de suspeição elevado,
de 68 pontos (probabilidade de 82,4%). Admitida na pois uma clínica detalhada, não descurando outras
Unidade de Cuidados Intensivos, com evolução para hipóteses e mantendo a investigação, permitiu aos
bloqueio auriculoventricular completo e paragem autores identificar a neoplasia primária e confirmar
cardiorrespiratória. Apesar das medidas instituídas, o diagnóstico. Sendo de todo o interesse que ocorra
assistiu-se a uma evolução clínica desfavorável. o mais precocemente possível, pela elevada taxa de
mortalidade associada.
Pretende-se chamar a atenção para o desafio diag-
nóstico dos doentes com COVID-19 pela sobrepo- P n.º 1438 
sição entre os sintomas infecciosos e os sintomas Linfoma difuso de grandes células B - Uma apre-
clássicos de síndromes cardíacas. Estão descritos, sentação incomum
à data, raros casos de STT relacionados com a Tânia Duarte(1);Inês Egidio de Sousa(1);Marco Fer-
COVID-19, sendo o mecanismo subjacente pouco reira Fernandes(1);Pedro Neves Ferreira(1);Vanessa
claro. O pico de catecolaminas observado devido à Duarte Branco(1);Antony Dionísio(1);Andreia Salga-
tempestade inflamatória poderá ser relevante, bem dinho Machado(1);Sara Brandão Machado(1);Ana
como o impacto do isolamento social nos níveis de Martins(1);Luís Campos(1)
stress. Os doentes com factores de risco cardiovas- (1) Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE /
culares e maior carga pró-inflamatória tiveram prog- Hospital de S. Francisco Xavier
nóstico mais desfavorável.
Tema: Doenças hematológicas
P n.º 1435 
Carcinoma do Pulmão de Não Pequenas Células – Introdução: A anemia é uma complicação comum
uma apresentação clínica invulgar nos doentes com linfoma difuso de grandes célu-
Jessica Sobreiros (1);Inês Pinheiro(1);Daniela Al- las B (LDGCB), causada por vários mecanismos:
ves(1);Ana Sofia Montez(1);Rosa Jorge(1) infiltração medular, hemólise, défices nutricionais e
(1) Hospital Aveiro alterações na eritropoiese. Ao diagnóstico, a anemia
Tema: Doenças oncológicas é geralmente ligeira.

Introdução: A metastização suprarrenal é um acha- Caso Clínico: Homem, 54 anos, saudável. Recorreu
do comum a várias neoplasias primárias destacan- ao Serviço de Urgência por cansaço fácil e agra-
do-se o pulmão, a mama e o rim sendo habitual- vamento da dor no flanco esquerdo com 1 mês de
mente indicador de doença avançada. Na maioria evolução; em ambulatório com anemia ferropénica
dos casos, este processo de metastização é silen- (hemoglobina 8,5g/dL). Referia perda ponderal de
cioso. Contudo, a presença de metastização suprar- 6Kg em 3 meses. Objetivamente: emagrecido, páli-
renal sintomática como apresentação clínica inicial do, com esplenomegalia. Analiticamente a destacar
em doentes com diagnóstico de carcinoma pulmo- Hb 8,4g/dL. Ecografia abdominal documentou es-
nar de não pequenas células, inaugural, é incomum, plenomegalia heterogénea (17cm) e adenopatias
ocorrendo em menos de 10% dos doentes. lombo-aórticas. No Serviço de Medicina Interna,
do estudo etiológico: imunofenotipagem de san-
gue periférico sem populações celulares anormais,
Caso clínico: Mulher de 51 anos, de raça caucasia- autoimunidade e serologias virais negativas.  Ao
na, fumadora, que recorreu ao Serviço de Urgência 3º dia de internamento evoluiu com instabilidade
por dor no flanco esquerdo de intensidade modera- hemodinâmica por anemia severa (Hb 3,5g/dL),
da persistente e febre, com 3 semanas de evolução. com LDH 1065U/L, bilirrubina total 0,15mg/dL,
Do estudo analítico destacava-se anemia e elevação reticulócitos 172x109/L, teste coombs negativo e
dos parâmetros inflamatórios. Realizou ecografia exames endoscópicos urgentes sem hemorragia
abdominal que revelou uma formação nodular na ativa, foi admitido na Unidade de Cuidados Intensi-
glândula suprarrenal esquerda, medindo cerca de vos com estabilização após transfusão sanguínea.
72 x 51 mm. Inicialmente foi abordada como abces- O estudo tomográfico documentou esplenomegalia
so, iniciou antibioterapia empírica e ficou internada heterogénea (19,5cm), adenopatias lombo-aórticas,
para tratamento e melhor esclarecimento. O estudo pericelíacas e mesentéricas, com suspeita de he-
tomodensitométrico (TC) de corpo realizado, suge- moperitoneu por rotura esplénica espontânea, evo-
riu tratar-se de lesão neoplásica suprarrenal e iden- luindo favoravelmente sob tratamento conservador.
tificou  processo expansivo ao nível do lobo inferior Realizou laparoscopia diagnóstica com excisão de
pulmonar esquerdo. Realizou broncofibroscopia, gânglio intra-abdominal cuja anatomopatologia foi
tendo o exame citológico do esfregaço brônquico compatível com LDGCB, não se documentou infiltra-
revelado aspetos sugestivos de carcinoma pulmo- ção medular e iniciou R-CHOP.
nar de não pequenas células. Do estadiamento,
identificada metastização cerebral. Verificou-se Discussão: O LDGCB pode envolver locais extra-no-
uma rápida deterioração da doente, que faleceu 1 dais, sendo a infiltração esplénica uma apresenta-
mês após o diagnóstico. ção inicial rara e a rotura espontânea do baço pouco

672
E-POSTERS
descrita na literatura. A esplenectomia para controlo P n.º 1441 
das citopenias só é necessária quando outras te- Lupus eritematoso sistémico (LES) num homem
rapêuticas falham, pelo que uma monotorização idoso: a propósito de um caso clínico particular
apertada e deteção precoce de deterioração clínica Bruno Fraga Dias(1);João Neves Maia(1);João
é imprescindível. Queirós Coelho(1);Sandrine Fernandes(1);Ana Rita
Cruz(1);Álvaro Ferreira(1)
P n.º 1439  (1) Centro Hospitalar do Porto, EPE / Hospital Geral
De Budd-Chiari a Hughes – quando uma síndrome de Santo António
não vem só
Daniel Calado(1);Filipa Carreiro(1);Luís Dias(1);Ca- Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
rolina Roias(1);Sofia Miranda(1);Rita Banha(1);Filipa culites
Lima(1);Paula Costa(1);Mariana Oliveira(1);Isabel
Borges(1);Ana Pinto(1) Introdução: O diagnóstico inaugural de LES no idoso
(1) Hospital do Divino Espírito Santo, Ponta Delgada é raro caracterizando-se por um curso clínico habi-
Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá- tualmente mais benigno e atípico, predominando
ticas envolvimento hematológico e pulmonar em detri-
mento do cutâneo, articular e renal. O tratamento
apresenta desafios particulares, pelo maior risco de
Introdução: A Síndrome de Budd-Chiari (SBC) con- iatrogenia e maior carga de comorbilidades.
siste na obstrução do sistema venoso hepático/veia
cava inferior decorrente de um processo trombótico,
com várias etiologias possíveis. Caso clínico:
Apresentamos um caso com Síndrome Anticorpo Homem de 75 anos, autónomo. Lúpus discóide
Antifosfolipído (SAAF) como causa de SBC, diag- quiescente há 10 anos e perfil de anticorpos anti-
nosticada durante o estudo do doente. -fosfolipideo de alto risco, sem eventos trombóticos
Caso Clínico: Homem de 39 anos, com antecedente prévios.
de hérnia lombar L4-L5 submetida a intervenção
cirurgica, que recorreu ao Serviço de Urgência por Admitido no serviço de urgência por quadro de as-
dor abdominal generalizada, obstipação e distensão tenia e icterícia com 4 semanas de evolução, sem
abdominal. Ao exame objetivo a salientar escleras outras queixas sistémicas. Anemia grave (Hb 3.6g/
ictéricas e hepatomegalia palpável 1 cm abaixo de dl), compatível com anemia hemolítica Coombs
rebordo infra-costal direito, indolor.  positiva. Estudo imunológico com anticorpos IgM e
Analiticamente apresentava leucocitose com neu- IgG anti-cardiolipina e IgM anti-beta2 glicoproteína
trofilia, padrão de citocolestase e hiperbilirrubinémia positivos; ANAs com título de 1/1280, de padrão nu-
ligeiras. Realizou ecografia abdominal que mostrou: cleolar e citoplasmático e hipocomplementemia C3.
“Fígado de dimensões aumentadas, aumento da
ecogenicidade no lobo direito e lobo caudado - no Perante o diagnóstico de LES inaugural (15 pontos
seio destas alterações há perda da visualização SLICC) com apresentação grave iniciou prednisolo-
do trajecto das veis supra-hepáticas direita e mé- na 1mg/kg/dia e rituximab (2 tomas de 1000mg);
dia com alterações ecoestruturais do parênquima resposta hematológica lentamente favorável e sus-
adjacente, de provável natureza congestiva”. TAC tentada.
toraco-abdomino-pélvico corroborou achados, sem
sinais de cirrose ou achados que favorecem causa Internamento complicado por acidente isquémico
neoplásica. Da investigação realizada, a destacar: transitório (interpretado como primeira manifesta-
serologias virais (incluindo vírus hepatotrópicos) ção trombótica de síndrome do anticorpo anti-fos-
negativas, pesquisa de mutação JAK2 negativa. folipídeo, tendo iniciado hipocogulação oral) e dois
Doseamentos de proteína C, S e antitrombina III nor- episódios de pancreatite aguda ligeira de filiação in-
mais. Apresentava anticorpo anti-cardiolipina IgM certa, concorrendo à sua etiologia a atividade lúpica
positivo em duas determinações seriadas (título per se e a iatrogenia a corticoterapia em alta dose.
18U/mL). Restante estudo de SAAF e estudo imuno-
lógico negativo. Sem fatores de risco modificáveis Evolução favorável sem outro envolvimento sistémi-
para trombose.  co tendo alta sob prednisolona e hidroxicloroquina.
Iniciou anti-coagulação com enoxaparina, poste-
riormente alterada para varfarina, tendo tido alta Sem intercorrências na avaliação ao 6º mês de se-
referenciado para consulta de Medicina Interna e guimento.
Gastrenterologia.
Discussão:
Discussão: Todos os órgãos ou sistemas são passí-
veis de serem afetados pela SAAF. Apesar da forma O LES, embora mais frequente em mulheres jovens,
mais típica de apresentação ser a trombose venosa deve ser considerado em doentes idosos com apre-
profunda dos membros inferiores, este caso salien- sentação clínica multissistémica e atípica, nomea-
ta-se pela forma rara de apresentação, com instala- damente pelo envolvimento hematológico frequen-
ção de um quadro de SBC. te.
  A terapêutica imunossupressora deve obrigar a uma

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 673


vigilância clínica apertada na identificação precoce níveis na comunidade foi fulcral no tratamento e
de efeitos adversos. orientação deste doente. O paradigma dos cuidados
de saúde deve ter sempre o doente e o seu ambien-
Os autores apresentam um caso paradigmático e te como principal foco, pois essa é a chave para a
grave mas com excelente resposta clinica ao trata- melhoria e sustentabilidade do SNS.
mento instituído.
P n.º 1452 
P n.º 1451  Marchiafava-Bignami - Diagnóstico pouco comum
(In)suficiências da Medicina Luís Augusto Cardoso(1);Elsa Gonçalves(1);Catari-
Sara Rodrigues Silva(1);Tiago Fiúza(1);Isabel Tavei- na Silva(1);Rita Sevivas(1);Marinha Silva(1);Márcia
ra(1);Teresa Bernardo(1);Artur Gama(1);Adelaide Ribeiro(1);Ana Barroso(1);Flávia Ramos(1);João
Belo(1);Henrique Rita(1) Abreu(1);Carlos Oliveira(1)
(1) Unidade local de Saúde do Litoral alentejano, (1) Hospital Santa Maria Maior de Barcelos
EPE
Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas
Tema: Organização, gestão e qualidade de serviços
de saúde
A doença de Marchiafava-Bignami é uma entidade
rara, caracterizada por desmielinização/necrose do
Introdução: Na gestão do doente crónico a coorde- corpo caloso e da substância branca subcortical.
nação de cuidados de saúde é essencial para alcan- É mais prevalente em doentes do sexo masculino
çar os objetivos individuais e otimizar os recursos com idade entre 40 e 60 anos e história de alcoo-
do SNS. lismo e desnutrição. A etiologia da doença ainda é
incerta, mas é presumívelmente atribuída à com-
Caso Clínico: Homem de 39 anos, com anteceden- binação de neurotoxicidade induzida pelo álcool e
tes pessoais de Insuficiência Cardíaca (IC) com Fra- deficiência das vitaminas do complexo B. A doença
ção de Ejeção (FEj) reduzida (15%) e hidronefrose pode ser aguda, subaguda ou crônica. O quadro clí-
crónica. Admitido no Serviço de Urgência (SU) por nico é marcado por demência, disartria, espasticida-
quadro progressivo caracterizado por anorexia e de e alterações na marcha. O diagnóstico definitivo
cansaço para esforços gradualmente menores. Ne- pode ser complicado e baseia-se na história clínica
gava cumprimento de qualquer medicação, mesmo e em achados imagiológicos. A ressonância magné-
a que lhe foi prescrita no internamento anterior (di- tica cerebral é o exame de diagnóstico de eleição.
rigida à IC), com múltiplas admissões no SU neste Não existem normas de gestão e de tratamento
contexto. Objetivamente apresentava-se hipertenso comprovadas. O tratamento passa pela abstinência
e taquicárdico, sem edema periférico. Do estudo alcoólica e administração de complexos de tiamina,
complementar, destaca-se Radiografia de tórax com folato e vitamina B. O prognóstico é muito variável.
índice cardiotorácico aumentado; discreta anemia
normocítica normocrómica (Hb 12.6g/dL), função Caso Clínico: Apresenta-se o caso de um doente,
renal com ligeiro agravamento (Cr 1.4mg/dL) e NT- sexo masculino, 48 anos, com antecedentes de
-Pro-BNP aumentado (16487 pg/mL). Internado por hábitos etílicos e tabágicos marcados. Admitido
IC descompensada (incumprimento terapêutico), no serviço de urgência por astenia e disartria com
desenvolve pneumonia e evolui para perfil hemodi- um mês de evolução. Ao exame físico destaca-se
nâmico B, com necessidade de suporte vasopressor caquexia, disartria, sem défices motores focais e
e inotrópico a motivar transferência para a unidade estigmas de doença hepática (telangiectasias, hi-
de cuidados intensivos. Progrediu favoravelmente pertrofia parotídea e sinais de circulação colateral).
permitindo posterior início de Sacubitril/Valsartan e Analiticamente apresentava anemia macrocítica,
restante terapêutica modificadora de prognóstico. trombocitopenia, elevação das transaminases e hi-
Ecocardiograficamente apresentava uma FEj de poalbuminemia. A tomografia axial computorizada
30% (miocardiopatia dilatada), cateterismo inocen- não demonstrou alterações. O doente foi internado,
te e Tc-tórax com evidência de tromboembolismo iniciou tratamento com suplementação de comple-
pulmonar. Colocou CDI para prevenção primária e xos vitamínicos B, ácido fólico e tiamina. A resso-
manteve hipocoagulação. Após nova intercorrên- nância magnética cerebral revelou lesão envolvendo
cia infeciosa, resolvida com antibioterapia de largo o esplénio do corpo caloso, compatível com Síndro-
espectro, o doente teve alta após 52 dias de inter- me Marchiafava-Bignami. Posteriormente, o doente
namento. Envolvido no programa multidisciplinar teve alta com indicação de manter a terapêutica
Gestão de Caso, assim como nas consultas de Me- iniciada e evicção total álcool e orientado para a
dicina dirigidas à IC, o doente mantém cumprimento consulta.
terapêutico, evicção etanólica e tabágica. Detém
adequado conhecimento e controlo da sua doença Conclusão: A Síndrome Marchiafava-Bignami é uma
crónica, sem novos reinternamentos ou recorrên- doença rara. O diagnóstico e o seguimento do doen-
cias ao SU no último ano, com melhoria até da FEj te são tarefas bastantes árduas devendo ser realiza-
(57%). das por uma equipa multidisciplinar. O tratamento
passa, para além da reposição dos défices vitamíni-
Discussão: A gestão do doente com IC em equipa cos, pela abstinência alcoólica total.
multidisciplinar e a integração dos recursos dispo-

674
E-POSTERS
P n.º 1455  la(1);Ana Órfão(1);Maria Clara Matos(1);Zélia Ne-
Quando a etiologia da anemia não é óbvia ves(1)
Margarida Madeira(1);António Lorena Pessoa(1);- (1) Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca
Francisca Santos(1);Daniela Félix Brigas(1);Eugénio
Nóbrega Dias(1);Susana Marques(1);Ermelinda Pe- Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio-
droso(1) nais
(1) Centro Hospitalar de Setúbal, EPE / Hospital de
São Bernardo Introdução: A hipocalcémia define-se como con-
centração de cálcio total sérica inferior a 8.5mg/dL,
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas- podendo as suas etiologias ser divididas consoante
culites os níveis de paratormona (PTH), quando reduzidos,
a causa mais comum é cirúrgica. Infrequentemen-
Introdução: A anemia é um motivo de referenciação te, surge como motivo de admissão no serviço de
muito prevalente nas consultas de medicina interna urgência (SU), sendo imperativo o seu diagnóstico
e o seu diagnóstico etiológico pode ser um desa- e correção, de forma a evitar as possíveis complica-
fio. A história clínica, o exame objetivo e os meios ções associadas.
complementares de diagnóstico são, na maioria dos
casos, úteis na marcha diagnóstica, mas por vezes Caso Clínico: Mulher, 38 anos, com antecedentes
também podem ser um factor confundente. Os au- de hipotiroidismo e hipoparatiroidismo iatrogéni-
tores apresentam um caso em que, apesar da exis- cos, devido a tiroidectomia total por neoplasia da
tência de vários fatores de risco concretos, a causa glândula tiroideia não especificada, e obstipação
da anemia se revelou menos óbvia. crónica. Medicada em ambulatório com levotiroxina
0.1mg e carbonato de cálcio 1250mg, o qual sus-
Caso Clínico: Homem de 48 anos, com história pendeu por obstipação agravada. Recorreu ao SU
pessoal de gota úrica, gonartrose bilateral incapaci- por parestesias nos quatro membros. À observação,
tante associada a gonalgia do tipo mecânico, sem hemodinamicamente estável, com espasmo car-
outras artralgias nomeadamente axiais, medicado popedal espontâneo em ambas as mãos, sinal de
cronicamente com anti-inflamatórios não esteróides Chvostek e redução da sensibilidade termo-álgica
(AINE), e história familiar de neoplasia colorretal no membro inferior esquerdo e superior direito. Ga-
(pai e tio). Foi referenciado à consulta de Medicina simetricamente com hipocalcémia (cálcio ionizado
Interna por anemia, apresentando ferropénia. Dados de 0.78mmol/L) e hipocaliémia (3.17mEq/L). O ele-
os antecedentes pessoais de terapêutica crónica trocardiograma era normal. Analiticamente, a des-
com AINE realizou uma endoscopia digestiva alta tacar hipocalcémia (cálcio corrigido à albumina de
que não demonstrou alterações e, posteriormente, 6.6mg/dL), hipocaliémia (3.26mEq/L) e TSH aumen-
realizou uma colonoscopia total, com o diagnóstico tada (8.560mUI/L). Permaneceu sob monitorização
de vários pólipos – displasia da baixo grau. A ferro- cardíaca e foi iniciada reposição iónica endovenosa
pénia foi corrigida com ferro endovenoso e a conti- com gluconato de cálcio e cloreto de potássiobem
nuação da investigação etiológica foi interrompida como hormonal oral, com resolução total das mani-
pela realização da artroplastia do joelho. O material festações. Teve alta com indicação para ser reava-
extraído foi enviado para exame anatomo-patológi- liada pelo médico assistente e cumprir terapêutica
co, tendo revelado sinovite crónica fibrinosa, sendo de reposição com carbonato de cálcio, colecalcife-
sugerida investigação de etiologia reumatóide. Em rol e aspartato de potássio, bem como incremento
consulta, apresentou VS> 120mm, HLA B27 positivo da dose de levotiroxina para 0.15mg. 
e foi feito o diagnóstico de espondilite anquilosante.
Iniciou terapêutica com Infliximab, apresentando Discussão:A hipocalcémia grave deve ser abordada
melhoria das queixas álgicas com consequente re- como uma emergência médica pelo risco de disrit-
dução da ingestão de AINE, assim como melhoria mias cardíacas fatais, nomeadamente intervalo QTc
da sua anemia. longo e torsade de pointes. As manifestações de ir-
ritabilidade neuromuscular, nomeadamente sinal de
Conclusão:  A anemia é uma alteração muito preva- Chvostek, de Trousseau, e o espasmo carpopedal,
lente e muitas vezes é a primeira manifestação de este associado a maior gravidade, devem alertar o
uma patologia oculta. Neste caso concreto o doente clínico para essa emergência. Em caso de hipopa-
apresentava mais que uma possível causa para a ratiroidismo iatrogénico o doente deve ser alertado
sua anemia – terapêutica crónica com AINE e his- para o risco de suspender a terapêutica. Apresenta-
tória familiar de neoplasia colorretal. Contudo, o mos este caso pela exuberância clínica que levou a
diagnóstico acabou por se revelar improvável, ainda rápida abordagem no SU.
que a anemia seja uma das manifestações extra-ar-
ticulares mais comuns nos doentes com Espondilite P n.º 1459 
Anquilosante, podendo afectar entre 18 a 46% dos Infeção autóctone por virus da hepatite E
doentes. Anton f. r. Gameiro(1);Milda Saldanha(1);Eugénia
Silva(1);Rita Magalhães(1);Anabela Barros(1)
P n.º 1458  (1) Hospital do SAMS
Midnight calcium in urgency
Sofia Bragança(1);Catarina Morgado(1);Sofia Caro- Tema: Doenças infecciosas e parasitárias

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 675


Introdução: O vírus da hepatite E (HEV) é um vírus Introdução:
de RNA, pertencente à família Hepeviridae, do qual
existem 8 genótipos (gt) conhecidos. Os gt 1 e 2 A insuficiência cardíaca (IC) é um síndrome frequen-
estão associados a infeções exclusivamente huma- te, com sinais e sintomas que podem ser mimeti-
nas. Os gt 3 e 4 podem infetar suínos e outros ma- zados por outras patologias, como no caso que se
míferos, além dos humanos. O HEV pode provocar apresenta.
uma hepatite aguda, geralmente auto-limitada, mas
com potencial para cronificar, especialmente em Caso clínico:
doentes imunocomprometidos. A principal via de
transmissão do vírus é a via fecal-oral. Trata-se, por Mulher de 53 anos, autónoma, com antecedentes
tanto, de uma zoonose considerada endémica nal- de obesidade, oligofrenia, história de alcoolismo e
guns países em desenvolvimento, nomeadamente histerectomia com anexectomia bilateral por leio-
no Médio Oriente, Índia e Sudeste Asiático. No en- mioma uterino.
tanto, atualmente existe evidencia de que a infeção
pelo gt 3 do HEV é autóctone em países industriali- Recorreu ao Serviço de Urgência por dispneia pro-
zados, por consumo de carne de suíno mal cozinha- gressiva para esforços, sensação de opressão to-
da ou águas contaminadas. rácica e dificuldade na deambulação com 1 mês de
evolução. Ao exame físico a destacar crepitações
bibasais e edema marcado dos membros inferiores
A fase sintomática ou ictérica pode durar poucos
e abdómen globoso, com massa indolor palpável.
dias a varias semanas. A resolução do quadro
acompanha a diminuição do RNA viral no soro, pelo Internada na Medicina Interna por IC inaugural e
que a janela para deteção do vírus em circulação suspeita de síndrome hipoventilação/obesidade as-
por PCR (polymerase chain reaction) pode ser estrei- sociado, com insuficiência respiratória global com
ta. acidemia. Iniciou ventilação não invasiva (VNI), não
sendo identificado fator agudo de descompensação
A notificação deste doença, de declaração obrigató-
numa fase inicial.
ria em Portugal, tem vindo a aumentar nos últimos
anos, mas é ainda pouco expressiva. Em 2017 e Durante o internamento realizou ecocardiograma
2018, foram notificados, respetivamente, 16 e 15 que evidenciou hipertrofia ventricular esquerda e
casos. Porém, a seroprevalência de IgG para HEV insuficiência tricúspide severa com PSAP estimada
na população portuguesa é de 16.3%, atingindo os em 37 mmHg, sem outras alterações de relevo. Ex-
30,1% na população acima dos 70 anos. cluída embolia pulmonar por angio-TC torácico.
Caso clínico: homem de 71 anos, sem antecedentes Apresentou boa resposta à terapêutica diurética ins-
de doença crónica relavante, internado por ictericia tituída mantendo necessidade de VNI noturna por
e nauseas. Sem história de viagens fora de Portu- hipercapnia.
gal. Objetivou-se hepatite viral aguda, com pico de
transaminases hepáticas no quarto dia de inter- Realizou TC abdominal para esclarecimento de
namento (AST 1363 U/L, ALT 1965 U/L). Serologia massa abdominal que evidenciou volumosa massa
para IgM e IgG anti-HEV positivas. O genótipo não intra-abdominal com 25x23 cm desviando as estru-
foi apurado por apresentar apenas quantidades turas vizinhas, a traduzir provável lipossarcoma bem
residuais de RNA no momento da determinação da diferenciado.
carga viral, após confirmação serológica.
Assim, assumida síndrome de hipoventilação se-
Discussão: os autores defendem que perante o cundária a tumor volumoso com interferência no
diagnóstico de hepatite aguda, mesmo sem ante- retorno venoso. Teve alta sob VNI noturno, orienta-
cedentes de viagens a zonas endémicas, deve ser da para Consulta de Sarcomas.
despistada a hipótese de hepatite E, incluindo a aná-
lise serológica logo na primeira avaliação, dada a Conclusão:
significativa prevalência serológica conhecida para
este vírus. O desafio diagnóstico consiste em obter Os lipossarcomas são tumores que geralmente pro-
serologia positiva para IgM em tempo útil de forma vocam poucos sintomas até serem grandes o sufi-
a poder fazer a correta quantificação e genotipagem ciente para comprimir ou invadir estruturas vizinhas.
do HEV, evitando a clearance viral. Os bem diferenciados têm muito baixo potencial
de metastização, no entanto, as recorrências locais
P n.º 1461  são frequentes. O prognóstico depende sobretudo
Lipossarcoma “Mascarado” de Insufiência Cardíaca da ressecabilidade cirúrgica.
Catarina Silva Araújo(1);Eulália Antunes(1);Inês
Monteiro Araújo(1);Ana Luís Vasconcelos(1);Sandra P n.º 1470 
Correia(1);Inês Manuel Gonçalves(1);Cristina Cruz Apresentação catastrófica de COVID19
da Ângela(1);Alexandre Carvalho(1) Antonio Eliseu(1);Maria Lima(1);Paula Lopes(1);Ais-
(1) Hospital de Braga satu Cassama(1)
(1) Centro Hospitalar de Setúbal, EPE / Hospital de
Tema: Doenças oncológicas São Bernardo

676
E-POSTERS
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias Está descrito na literatura que os doentes VIH+
apresentam, frequentemente, positividade para os
Introdução: A COVID19 está associada a um estado anticorpos anti-fosfolipídos. Porém, não se compro-
de protrombotico e consequentemente a compli- vou qualquer associação estatística a manifesta-
cações tromboembólicas. Geralmente são mais ções trombóticas. Esta positividade será um epife-
frequentes eventos de tromboembolismo veno- nómeno sem consequências clínicas, associado à
so, enquanto os fenómenos de trombose arterial estimulação antigénica do sistema imune aquando
são raros (~4%). da infeção viral, com maiores níveis de anticorpos
consoante o nível de replicação viral.

Caso clínico: H, 77 anos, autónomo, AP: HTA; dis-


lipidemia; Recorreu ao SU por polaquiúria. Foi ob- Os autores descrevem o caso de um homem de 56
jectivado a presença de cianose membro inferior anos, autónomo, com infeção VIH1 diagnosticada
direito, extremidade fria, pulso pedioso e poplíteo em 2002 e com abandono de seguimento e tera-
direito ausentes e colocada a hipótese de isquemia pêutica em 2017. Recorreu ao SU por dor subcostal
aguda do MID, aguardando observação por Cirurgia direita pleurítica com agravamento progressivo as-
Vascular. Em horas, verificou-se agravamento do sociada a cansaço para médios esforços. Negava
estado clínico com alteração do estado de cons- dispneia, dor gemelar, cirurgia ou internamento nos
ciência, desvio conjugado do olhar para a direita e 3 meses prévios ou viagens de longa duração. La-
nistagmo, contudo com alguma flutuação. Realizou boratorialmente destacou-se D-dímeros 2.12mcg/
os seguintes exames: 1) ECG FAcRVR de novo 2) mL, carga viral VIH 469000 cópias e CD4+ 121.3cél/
Lab: 16.3 g/dL, Leuc: 18 INR: 1.3 D-Dimeros: 121735 uL. Objetivado em angio-TC tórax tromboembolismo
ng/mL , ALT: 56; AST: 116, LDH: 769, PCR: 20.87 pulmonar bilateral segmentar e subsegmentar nos
mg/dL, TnI: 728.3 pg/mL; GSA em A.A.: pH: 7.48, lobos inferiores (PESI 66 pontos - baixo risco) asso-
pCO2: 32.2 mmHg, pO2: 55.8 mmHg, K: 5.8 mmol/L; ciado a insuficiência respiratória tipo 1, alcalemia
Lac: 1.9 mmol/L;  sO2: 88.8% 3) TC-CE+angio: sem com alcalose respiratória e enfarte pulmonar. Rea-
alterações agudas, sem imagens seguras de oclu- lizou-se estudo dos fatores pró-trombóticos com
são  4) TC-TAP: Áreas hipodensas na região mural constatação de anticorpos anti-fosfolipídos triplo
e no lúmen da artéria aorta ascendente, sugestivos positivo (anticoagulante lúpico positivo; IgG anticar-
com trombose (trombos livres?). Não se observa, diolipina 33.9UQ; IgG anti-β2 glicoproteína 240UQ;
extravasação de contraste. Aorta abdominal com re-confirmado com IgG anti-β2 glicoproteína positi-
calcificações ateromatosas e trombos murais, va após 9 meses - 30.1UQ) e mutação em heterozi-
permeáveis. Tronco da pulmonar, ramos principais gotia do gene da protrombina. Ficou anticoagulado
e segmentares sem sinais de TEP. Opacidades durante o internamento com enoxaparina em dose
em ambos os campos pulmonares, com áreas de terapêutica, tendo tido alta com varfarina.
consolidação, sugestivo de pneumonite intersticial O caso abordado relata um evento trombótico ma-
atípica (provável covid-sobreinfeção?) compromisso jor, num doente com infeção VIH não controlada,
do parênquima de aprox 50-60%. Baço, normodi- sem identificação de fatores de risco/desencadean-
mensionado, com áreas de hiporealce de contraste, tes para além da mutação heterozigótica da pro-
sugestivo de enfarte. 5) PCR para SARS-CoV2: po- trombina e positividade de anticorpos anti-fosfolípi-
sitivo.  O doente apresentou uma evolução clínica dos. Apesar da literatura relacionar, na maioria dos
catastrófica com detioração rápida culminando na casos, as infeções virais a positivade de anticorpos
sua morte. anti-fosfolipídos sem eventos trombóticos, o caso
Conclusão: A COVID19 está associada a complica- descrito demonstra a importância de equacionar a
ções protrombóticas, contudo eventos tromboem- presença de síndrome dos anticorpos anti-fosfolípi-
bolicos arteriais múltiplos são raros.  Perante a dos num doente VIH+ com manifestações trombóti-
presença de eventos trombóticos, particularmente cas vasculares.
durante a pandemia, deve ser equacionada a hipóte- P n.º 1478 
se diagnóstica de COVID19.  Não te oiço, podes falar mais alto? A propósito de
uma manifestação rara da doença de Lyme.
  Valentim da Silva Lopes(1);Elisa Condez(1);Narciso
Oliveira(1);Teresa Pimentel(1);Vanessa Palha(1)
P n.º 1476  (1) Hospital de Braga
Infeção crónica VIH com positividade dos anticor-
pos antifosfolípidos e evento trombótico Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
Roberto Pereira da Costa(1);Ana Costa Ferreira(1);-
Leda D’almeida(1);Ana Beatriz Garcia(1);Manuel A hipoacúsia neurossensorial súbita consiste na
Ferreira Gomes(1) perda auditiva neurossensorial de ≥ 30 dB em pelo
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi- menos 3 frequências audiométricas contíguas num
tal de Santa Maria período de 72 horas. O diagnóstico diferencial é vas-
to, incluindo causas infecciosas, auto-imunes, neu-
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas- rológicas, otológicas e tóxicas. Dentro das infeccio-
culites sas, a doença de Lyme é uma das etiologias, sendo

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 677


a sua prevalência nos doentes com hipoacúsia neu- denais, do co´lon transverso e em menor grau do
rossensorial súbita de até 21%. Mulher de 40 anos co´lon descendente e do sigmoide, da ampola retal,
com início progressivo de hipoacúsia e acufenos associada a distensão por li´quido do co´lon e do
esquerdos, recorrendo ao serviço de urgência após esto^mago e edema, das paredes de ansas ileais. 
2 semanas de evolução. Negava traumatismo cra- Analiticamente, durante o internamento, com leuco-
niano, cefaleias, vertigens, febre, artralgias e exan- citose em decrescendo, marcada elevac¸a~o inicial
temas. Como antecedentes pessoais, de destacar de d-di´meros que foram normalizando, elevação
adenoma hipofisário manifestado por acromegalia da FA e das transaminases, PCR e PCT inicialmente
tratado com cirurgia e radioterapia, encontrando-se baixas com cinética ascendente, mas que estabi-
atualmente em tratamento com lanreótido e sob lizaram. Realizou EDA e Colonoscopia sem altera-
suplementação com levotiroxina e hidrocortisona ções. Pedida colaboração da Medicina Interna para
por hipopituitarismo pós-tratamento. O audiograma esclarecimento do quadro.
tonal inicial revelou hipoacúsia neurossensorial
profunda no ouvido esquerdo. A ressonância mag- Estudo complementar com C4 normal, C1q1 C1INH
nética nuclear crânio-encefálica não evidenciou normal, VS 38 mm/h, proteinograma eletrofore´tico
alterações, nomeadamente ao nível dos feixes ves- sem alterações, ANCAs e ANAS negativos, ENA po-
tíbulo-cocleares. Observada inicialmente por Otor- sitivo, que já era previamente. Serologias VIH, Hepa-
rinolaringologia, tendo sido tratada com 2 injeções tite B e C, Treponema pallidum negativas.
intra-timpânicas de dexametasona e prednisolona
oral durante 7 dias. O audiograma tonal após a corti- Em discussa~o multidisciplinar, colocou-se a hipo´-
coterapia mostrou uma recuperação total dos limia- tese de Angioedema, justificando-se a normalidade
res auditivos nas frequências 250, 500 e 1000 Hertz de C4 por ter sido determinado fora de crise. A` data
no ouvido esquerdo. O estudo adicional revelou da alta, percebeu-se que a doente iniciara recente-
ANA positivo, com um título de 1/160 e padrão mos- mente enalapril, e que não teria referido na observa-
queado, no entanto a pesquisa de ENA e do anticor- ção no serviço de urgência, pelo que se conclui por
po anti-68 KD foram negativas. As serologias reve- prova´vel angioedema do tubo digestivo secunda´rio
laram positividade para a IgM e negatividade para a a inibidor da enzima conversora de angiotensina
IgG anti-Borrelia por ELISA e por Western-blot e con- (IECA).  Suspendeu-se o fármaco e, até momento
tacto prévio com a Rubéola, Toxoplasma, Herpes não houve recorrência da sintomatologia.
simplex I e Epstein Barr. O VDRL foi não reativo. Foi
O angioedema induzido por IECA é uma complica-
realizada posteriormente punção lombar, tendo a
ção rara, com manifestações clínicas variadas e de
pesquisa de Borrelia no LCR sido negativa. A doente
aparecimento imprevisível. O diagnóstico é clínico e
foi tratada com doxiciclina durante 14 dias. Este
a remissão das crises com a suspensão do fármaco
caso clínico reflete a importância de equacionar o
confirma-o. Sendo os IECA usados amplamente na
diagnóstico de doença de Lyme nos doentes com
prática clínica, é necessário estar alerta para este
hipoacúsia neurossensorial súbita, devendo ser pes-
efeito adverso, que poderá ser potencialmente fatal.
quisadas as serologias anti-Borrelia.
P n.º 1485 
P n.º 1483  Uma causa rara de Amnésia Global Transitória
Um caso de Angioedema do tubo digestivo João Luís Cavaco(1);Miguel Schön(1);Sara Vas-
Dora Gomes(1);Adelino Carragoso(1);Catarina Oli- concelos-Teixeira(1);Ana Furão Rodrigues(1);Paula
veira(1);Ana Lemos(1) Rocha(1);Ana Oliveira Pedro(1);António Pais de La-
(1) Centro Hospitalar Tondela-Viseu, EPE / Hospital cerda(1)
de São Teotónio, EPE (1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi-
tal de Santa Maria
Tema: Doenças raras
Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas
O Angioedema é definido pelo edema, comummente
bem localizado, do tecido subcutâneo e submuco- Introdução: Amnésia global transitória corresponde
so, provocado pelo aumento da permeabilidade ca- ao síndrome de amnésia anterógrada e retrógrada,
pilar com extravasamento do líquido intravascular. de início súbito e geralmente com resolução após
Os mediadores vasoactivos reconhecidos na sua 24h. Apesar de conhecida há mais de 40 anos, a
patogénese são a histamina e a bradicinina, e têm sua etiologia não é clara. Foram sugeridos meca-
implicações clínicas e diagnósticas distintas. nismos vasculares, epileptiformes, migranosos e
psicogénicos. Apresentamos um caso de amnésia
global transitória após relação sexual.
Mulher de 56 anos, antecedentes de espondiloartro-
patia seropositiva e poliartrose, síndrome depres-
sivo e hipertensão arterial. Recorre ao serviço de Caso Clínico: Homem de 76 anos que apresentou
urgência por dor abdominal de início insidioso, tipo perturbação súbita da memória durante a manhã,
co´lica. após relação sexual; não se recordando da data
nem do que tinha feito nessa manhã. Ao exame ob-
Pedido TC-abdómen que não evidenciou alterações jetivo, manifestava discurso repetitivo mas fluente
vascular, tendo mostrado edema difuso das pare- com alterações na evocação diferida. Sem altera-
des do antro gástrico, das primeiras porções duo- ções laboratoriais de relevo, e a TC-CE também não
678
E-POSTERS
revelava alteração estrutural ou vascular aguda. Ad- ar ambiente, com saturação periférica de O2 de 95%
mitida amnésia global transitória, com necessidade em repouso e a tolerar pequenos/médios esforços.
de internamento para vigilância, por manter defeito
após 12h de observação. Verificou-se remissão Discussão: Apesar dos poucos relatos até hoje,
espontânea da amnésia às 36h. Realizou RM-CE e suspeita-se que a pneumonia organizativa seja mais
EEG, que não revelaram alterações. Não se verifica- comum do que o relatado na doença COVID. O seu
ram igualmente condicionantes psicogénicas apa- diagnóstico e tratamento oportunos podem levar a
rentes. menor necessidade de suporte ventilatório, redução
do uso desnecessário de antibióticos e melhoria na
Discussão: Não estando clarificados os sobrevida dos doentes.
mecanismos fisiopatológicos conducentes à
amnésia global transitória, têm sido enumeradas P n.º 1492 
algumas hipóteses como a hipoxémia ou isquémia Polisserosite a Mycoplasma Pneumoniae
transitórias, alterações do fluxo venoso ou ainda Joana Pereira Dias(1);Andreia Henriques(1);Inês
causas migranosas ou epileptogénicas (fora Rato Rueff(1);Joana Rigor(1);Manuela Sequeira(1)
eventuais situações psicogénicas). A ativação (1) Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia / Espinho
simpática e manobras de Valsalva repetitivas
durante uma relação sexual podem condicionar Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
aumento de pressão venosa no sistema venoso
cerebral profundo, resultando em isquémia venosa Introdução: O estudo etiológico da polisserosite é
transitória. Neste caso a amnésia global transitória complexo e frequentemente inconclusivo, assentan-
apresentou-se logo após atividade sexual, sendo do na exclusão de causas infeciosas e não infecio-
esta uma circunstância rara na produção de sas. O Mycoplasma pneumoniae (M. pneumoniae)
amnésia, tendo sido excluídas  eventuais causas é causa frequente de infeções respiratórias, sendo
estruturais e psicogénicas. raras as manifestações extrapulmonares. Acredi-
ta-se que estas sejam imunomediadas, traduzindo
P n.º 1486  quadros clínicos arrastados.
Pneumonia Organizativa Pós-Covid
Joana Pereira Dias(1);Andreia Henriques(1);Joana
Rigor(1);Inês Rato Rueff(1);Manuela Sequeira(1) Caso clínico: 77 anos, sexo feminino, com antece-
(1) Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia / Espinho dentes de diabetes mellitus e hipertensão resis-
tente, recorreu ao Serviço de Urgência por dispneia
Tema: Doenças respiratórias para pequenos esforços e precordialgia com 1 se-
mana de evolução, sem outra sintomatologia. Apre-
sentava-se dispneica, normotensa e apirética, com
Introdução: A pneumonia organizativa é uma doen- hipofonese dos tons cardíacos, sem turgescência
ça intersticial difusa, que pode ser criptogénica ou venosa jugular. Do estudo realizado de salientar hi-
secundária a diferentes condições clínicas, nomea- poxemia na gasometria, leucocitose com neutrofilia
damente infeções. Apesar de inespecífica, o seu e elevação da proteína c reativa, no estudo analítico;
diagnóstico pode ser feito pela associação de crité- eletrocardiograma com baixa voltagem, sem outras
rios imagiológicos e clínicos. A confirmação clínica alterações; ecocardiograma transtorácico: derra-
é frequentemente presumida quando há a resposta me pericárdico de moderado volume; tomografia
ao tratamento com corticosteróides. computadorizada do tórax com derrame pleural
bilateral de pequeno volume, processo infeccioso
Caso clínico: Mulher, 60 anos, antecedentes de nos brônquios distais e hiperrealce dos folhetos
asma grave sob Omalizumab, internada por pneu- pericárdicos. Internada por pericardite aguda com
monia a SARS-CoV-2, com evolução para Acute Res- polisserosite para estudo. Iniciou colchicina. Sem
piratory Distress Syndrome grave e necessidade de indicação para pericardiocentese ou toracocentese.
internamento prolongado em cuidados intensivos, Do estudo realizado: serologia positiva a M. pneu-
complicado com múltiplas intercorrências infecio- moniae; Hipotiroidismo subclínico; VS 68; Restante
sas e desmame ventilatório difícil. Ao 55º dia de estudo negativo. Hipótese mais provável de polis-
internamento, transferida para enfermaria de Medi- serosite pós infeção por M. pneumoniae. Iniciou azi-
cina Interna onde manteve insuficiência respirató- tromicina, verificando-se melhoria clínica e redução
ria, dispneia para pequenos esforços e alterações expressiva do derrame pericárdico. Teve alta com
radiológicas sem melhoria significativa. Realizadas o diagnóstico de polisserosite após infeção por M.
tomografia computadorizada do tórax que revelou pneumoniae. 
com opacidades lineares e arciformes e áreas em
vidro despolido bilateralmente, e broncofibroscopia Discussão: O M. pneumoniae é uma bactéria atípica
com lavado broncoalveolar negativo para bacterioló- raramente identificada como causa de pericardite/
gico, microbacteriológico, micológico e vírus respi- polisserosite, cursando com pródromos respira-
ratórios. Assumido quadro de pneumonia organiza- tórios prolongados e recorrências frequentes. O
tiva e iniciada prednisolona 0.75mg/kg/dia. Franca estudo etiológico minucioso é fundamental, dada a
melhoria clínica, a permitir desmame progressivo existência de terapêutica eficaz.
da oxigenoterapia estando, à data de alta, assinto-
mática do ponto de vista respiratório, eupneica em P n.º 1493 
Causa rara de cefaleia! 
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 679
Antonio Eliseu(1);Joana Simões(1);Mafalda Figuei- Introdução: A hipercalcémia é uma complicação
ra(1);Aissatu Cassama(1);Bárbara Lobão(1);Paula frequente em doentes com neoplasia, sendo mais
Lopes(1);José Villa de Brito(1);Ermelinda Pedro- comum em estadios avançados. A sua causa
so(1) mais usual corresponde a hipercalcémia humoral
(1) Centro Hospitalar de Setúbal, EPE / Hospital de da malignidade mediada por PTHrP. Ocorre mais
São Bernardo frequentemente em neoplasias sólidas renais, ge-
nito-urinárias, mamárias e pulmonares. A sua apre-
Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas sentação em neoplasias pavimentocelulares orais é
rara.  Apresentamos um caso de “hipercalcemia da
Introdução: A cefaleia Hemicraniana Continua é malignidade” com pseudohiperparatiroidismo por
uma cefaleia primária, incapacitante, caracterizada carcinoma da cavidade oral.
por dor contínua, unilateral, associada a sintomato-
logia autonômica, com resposta à indometacina. A Caso Clínico: Homem de 62 anos, natural de Cabo
grande maioria dos doentes apresenta dor persis- Verde, com hábitos tabágicos de 46 UMA, inicia
tente sem remissão que pode durar dias a meses, queixas de astenia, letargia e odinofagia em junho
podendo apresentar períodos de exacerbações 2019. No exame objetivo, apresentava bradipsiquis-
com evidencia de alterações autonómicas. A dor é mo e lesão ulcerada do trígono retromolar direito.
tipicamente orbitária,região frontal e temporal, sem Laboratorialmente, destacava-se calcémia 13.5mg/
envolvimento ocipital. Os primeiros casos foram dL, fosfatémia 2.1mg/dL, PTH 7.0pg/mL, vitamina
descritos em 1984, sendo a prevalência desta doen- D total (25-OH) 33.2 ng/mL (> 20). A TC cervical do-
ça desconhecida, apenas com alguns casos repor- cumentou extensa massa tumoral com epicentro na
tados. O diagnóstico baseia-se nas seguintes carac- orofaringe, infiltrando cavum, espaço mastigador e
terísticas:  1) cefaleia unilateral, presente durante > parafaríngeo direitos, com aparente destruição ós-
3 meses associado a exacerbações de moderada a sea mandibular adjacente. Realizou terapêutica com
grande intensidade 2.1) Sintomas autonômicos: epí- zolendranato e fluidoterapia, com correção da hiper-
fora, congestão nasal, edema palpebral, sudorese calcémia. Regressou depois a Cabo Verde, por ra-
facial, miose ou ptose 2.2) Acompanhado de ansie- zões familiares, desconhecendo-se a sua evolução.  
dade ou inquietação 3) Resposta completa a doses
terapêuticas de indometacina Discussão: Os mecanismos fisiopatológicos da
hipercalcémia no contexto de neoplasias são va-
Caso Clínico: H, 64 anos, AP: SMD associado a riados. O mecanismo mais comum, designado por
PMR-like com seguimento em consulta externa de “hipercalcémia humoral da malignidade”, ocorre ge-
Medicina Interna. O doente apresentava cefaleia ralmente em neoplasias sólidas sem metastização
hemicraniana contínua, na região orbitária e fronto- óssea (ou com metástases mínimas), apresentando
temporal direita, com > 3 meses de evolução. Nos frequentemente pseudohiperparatiroidismo (hipo-
períodos de agudização tinha associado epífora, fosfatémia com hipercalcémia). Salientamos a rari-
sudorese facial e ansiedade. Realizou TC-CE: sela dade desta situação, já que a sua presença em neo-
turca vazia, sem outras alterações e RM-CE e angio plasias pavimentocelulares da cavidade oral apenas
: sela turca parcialmente vazia (sem significado),  ocorre em até 5% dos casos.
sem alterações vasculares (aneurismas, fístulas, P n.º 1498 
dissecções) ou lesões tumorais. Perante as carac- Amiloidose cardíaca: um diagnóstico raro e desa-
terísticas da cefaleia, após exclusão de alterações fiante mas com impacto no prognóstico vital
estruturais optou-se por iniciar prova terapêutica Ana Carolina Monteiro(1);Ana Catarina Lamei-
com indometacina. O doente apresentou desapa- ras(1);Marta Lopes(1);Martim Trovão Pereira Bas-
recimento dos sintomas com dose terapêutica de tos(1);Marta Rocha(1);Maria do Céu Dória(1)
indometacina 25 mg (tid). Foi feito ajuste de dose (1) Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca
para terapêutica de manutenção, ficando medicado
com 50 mg/dia. Tema: Doenças cardiovasculares
Conclusão: A cefaleia hemicraniana continua é uma
cefaleia rara incapacitante. Deve ser considerada Introdução: A amiloidose cardíaca é uma doença
quando apresentar os critérios acima referidos. A rara, cujo diagnóstico requer um elevado nível de
resposta à indometacina é prova terapêutica. suspeição dada a ausência de manifestações es-
pecíficas. O diagnóstico é tipicamente histológico,
P n.º 1495  sendo a espectrometria de massa o método de elei-
Pseudohiperparatiroidismo: um caso infrequente ção pela maior sensibilidade e especificidade para
João Luís Cavaco(1);Ana Furão Rodrigues(1);Sara identificar o tipo de fibra amiloide.
Vasconcelos-Teixeira(1);Ana Oliveira Pedro(1);Antó-
nio Pais de Lacerda(1) Caso: Homem de 78 anos com fibrilhação auricular
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi- e gamopatia monoclonal de significado indetermi-
tal de Santa Maria nado, recorre à urgência por dispneia de esforço
Tema: Doenças oncológicas com semanas de evolução. Apresenta edemas peri-
féricos, derrame pleural direito volumoso, hipoxemia
e NTproBNP elevado 6360pg/mL. Sem elevação de

680
E-POSTERS
parâmetros inflamatórios ou evidência de isquémia dispersas no endomísio e marcação (imunocito-
miocárdica. Admitido quadro de insuficiência car- química) de linfócitos T, achados sugestivos de
díaca agudizada em contexto a esclarecer. Ecocar- miopatia inflamatória. A biópsia cutânea de pápula
diograma transtorácico revela ventrículo esquerdo de Gottron demonstrou alterações compatíveis com
com cavidade pequena, espessura parietal muito dermatomiosite.
marcada e fracçao de ejecção reduzida (37%). O
estudo da miocardiopatia revela pico monoclonal Diagnosticou-se dermatomiosite e realizou tomo-
IgG lambda (IgG 2000 mg/dl), elevação das cadeias grafia computorizada, que revelou marcado es-
leves livres (CLL) no soro kappa (30 mg/L) e lambda pessamento do reto com apagamento dos planos
(91 mg/L), com razão kappa/lambda normal (0.3), de gordura com as vesículas seminais e próstata
elevação de CLL kappa na urina (65 mg/L).Biópsia e múltiplas adenopatias e a citologia por agulha
da gordura abdominal inconclusiva, mas cintigrafia fina do gânglio supra-clavicular foi compatível com
corporal com tecnécio 99 a favor do diagnóstico de adenocarcinoma metastático. Ao toque retal obje-
amiloidose transtirretina positiva do tipo selvagem tivou-se massa pétrea de contornos irregulares e a
(ATTRts). Iniciou terapêutica com tafamidis. biópsia prostática transperineal detetou adenocarci-
noma.
Discussão: A utilização de métodos de diagnóstico
menos invasivos atualmente existentes permite Fez tratamento com imunoglobulina humana com
cada vez mais o reconhecimento da amiloidose melhoria da fraqueza muscular e manteve fisiotera-
ATTRts como causa de micardiopatia infiltrativa em pia. Iniciou seguimento e tratamento para a neopla-
idosos. Dado que a amiloidose AL também pode ser sia em Oncologia.
causa de miocardiopatia e que gamopatias mono-
clonais amiloidogénicas podem existir na mesma Discussão: Na dermatomiosite a presença de anti-
faixa etária, é essencial efetuar a tipagem exata da -NXP-2 associa-se a fraqueza, atrofia e contraturas
amiloide para que os doentes com ATTRts sejam musculares, compromisso funcional significativo,
tratados adequadamente. O diagnóstico precoce edema subcutâneo e disfagia. Apesar de ainda não
e início atempado de terapêutica dirigida é fulcral totalmente esclarecido mecanismo, parece haver
para a diminuição da mortalidade e hospitalizações uma associação entre o anti-NXP-2 e malignidade.
por descompensação da doença cardíaca. Na nossa prática clínica encontramos síndromes
que podem estar associados a doença maligna e
P n.º 1499  devemos fazer uma investigação célere e exaustiva
Dermatomiosite – red flag para doença maligna para garantir o seu diagnóstico.
Mariana Constante(1);Ana Rita Barradas(1);Sérgio
m. Pereira(1);Ana Luísa Esteves(1);Rita Reis(1);João P n.º 1500 
Lopes Delgado(1);Isabel Madruga(1) “Vasculite IgA: uma tétrade clínica”
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE / Daniel Calado(1);Filipa Carreiro(1);Luís Dias(1);Ca-
Hospital Egas Moniz rolina Roias(1);Sofia Miranda(1);Rita Banha(1);Ma-
riana Oliveira(1);Filipa Lima(1);Paula Costa(1);Isabel
Tema: Doenças oncológicas Borges(1)
(1) Hospital do Divino Espírito Santo, Ponta Delgada
Introdução: A dermatomiosite é uma doença infla- Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
matória idiopática caracterizada por fraqueza mus- culites
cular e alterações cutâneas típicas. A fraqueza mus-
cular está presente em 90% dos casos e geralmente
é simétrica e proximal. As manifestações cutâneas Introdução: A púrpura de Henoch-Schönlein (PHS)
mais frequentes são as pápulas de Gottron, lesões trata-se de uma vasculite de pequenos vasos imu-
nas articulações das mãos. nomediada, associada a deposição de Imunoglobu-
lina A (IgA) nos vasos afectados. Sendo a vasculite
mais comum na infância, é pouco frequente na
Caso Clínico: Um homem de 65 anos com antece- idade adulta. Apesar de estabelecida a sua relação
dentes de hipertensão arterial e diabetes recorreu com processos infeciosos, a sua causa permanece
ao serviço de urgência por incapacidade para a desconhecida.
marcha, dificuldade na deglutição, perda de força Caso Clínico: Homem de 64 anos, com anteceden-
gradual nos membros inferiores e perda de 30 kgs tes pessoais de gastrite e oclusão intestinal de
em 6 meses. À observação apresentava dois nódu- etiologia   não esclarecida submetido a ressecção
los supra-claviculares duros e dolorosos à esquerda, do cólon e colostomia que recorreu ao serviço de
diminuição da força nos membros inferiores (grau urgência por quadro de lesões cutâneas purpúricas,
3/5), rash eritematoso na região supra-ciliar e pápu- não pruriginosas mas dolorosas, dispersas pelas
las nas articulações metacarpofalângicas e inter- extremidades distais dos membros superiores e
falângicas das mãos. inferiores (progressão proximal, poupando tronco e
face). Referia episódios semelhantes no passado,
As análises revelaram uma creatina de 1450 U/L e de menor exuberância, com resolução espontânea
elevação dos anticorpos anti-nuclear matrix pro- em poucos dias. Associadamente relatava quei-
tein-2 (NXP-2). A biópsia muscular revelou fibras xas de poliartralgias migratórias (de pequenas e
musculares atrofiadas, células mononucleadas grandes articulações) com 20 anos de evolução.

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 681


Analiticamente apresentava anemia normocítica translocação BCR-ABL1 (com 34% de transcritos) e
normocrómica, contagem plaquetas e provas de o estudo medular confirmou a ausência de blastos.
coagulação normais, aumento da velocidade de se- Foi iniciada terapêutica dirigida com Imatinib com
dimentação (73 mm/h), e lesão renal aguda (Creati- resposta favorável e diminuição significativa dos
nina: 1.38mg/dL, proteinúria 0,14 g/24h). Do estudo transcritos (para 0.48%).
realizado a destacar: serologias virais negativas, IgG
e IgM normais com IgA aumentada (476-596mg/dL) Discussão: Este caso clínico destaca a apresenta-
em determinações seriadas; restante estudo imuno- ção rara de uma LMC numa doente jovem e a neces-
lógico negativo. sidade de maior investigação das características
Realizou biópsia cutânea que revelou lesões de vas- desta doença nesta população para que se possa
culite leucocitoclástica, ainda que sem depósitos de adequar a estratégia terapêutica e minimizar o seu
IgA. Atendendo à exuberância da clínica e pelo re- impacto prognostico.
sultado do estudo, assumiu-se o diagnóstico de vas-
culite IgA, tendo iniciado corticoterapia sistémica P n.º 1510 
com melhoria das lesões cutâneas, das artralgias SUPER Renais - Hiperaldosteronismo primário por
e  estabilização da função renal hiperplasia bilateral das Supra-Renais
Discussão: O diagnóstico de PHS é alicerçada com Miguel Ângelo Leite Coelho(1);Maxim Jitari(1);Dilo-
base na suspeição clínica, posteriormente confirma- rom Alimova(1);Adelaide Figueiredo(1)
da na biópsia cutânea ou renal através da identifi- (1) Hospital Distrital de Santarém, EPE
cação de imunocomplexos IgA. O caso em questão
Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio-
reforça a importância da conjugação de apresen-
nais
tações de vários sistemas, ainda que espaçadas
temporalmente, e sua sistematização, de forma a
orientar a marcha diagnóstica. Introdução: Hiperaldosteronismo primário (HAP) é
  uma doença caracterizada pelo excesso de produ-
ção de aldosterona pelas Supra-Renais (SR), resul-
tando em baixos níveis de renina. O sintoma mais
P n.º 1507 
comum é a hipertensão arterial (HTA) refratária.
Leucemia mieloide crónica: um diagnóstico raro em
Das causas mais comum apura-se a hiperplasia e
idade jovem
o adenoma da SR. É mais comum em mulheres de
Ana Carolina Monteiro(1);Ana Catarina Lamei-
raça negros, entre os 30 e 50 anos (A). Sendo esta
ras(1);Marta Lopes(1);Martim Trovão Pereira Bas-
uma causa secundária de HTA, deve ter-se elevado
tos(1);Marta Rocha(1);Maria do Céu Dória(1)
nível de suspeição sobretudo em jovem com HTA
(1) Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca
refrataria à terapêutica. Caso clínico: Mulher de 58
Tema: Doenças hematológicas anos, caucasiana, com história de HTA refrataria
nos últimos 18 anos e com necessidade de aumen-
to progressivo da medicação anti hipertensora. Em
Introdução: A Leucemia mieloide cronica (LMC) é Maio 2020 inicia quadro de cansaço para pequenos
diagnosticada em pacientes com uma idade média esforço, edema e diminuição da força muscular dos
de 67 anos. É rara a sua apresentação em adultos membros inferiores, tendo recorrido ao serviço de
jovens, sendo que a evolução natural da doença, a urgência (SU). Antecedentes pessoais de dislipide-
resposta à terapêutica e a biologia molecular pode- mia, angina estável, depressão e obesidade. Da his-
rão divergir da apresentação habitual, condicionan- tória familiar apura-se filha de 33 A com HTA desde
do o seu prognóstico. os 28 A, pai faleceu aos 57 A por AVC e mãe de 80
A, todos com HTA. À admissão com hipocaliémia
Caso: Trata-se de uma mulher de 28 anos que recor- grave (1.9 mmol/L) e alcalose metabólica. Aquando
reu ao serviço de urgência por hemorragia vaginal, da alta, medicada para ambulatório com suplemen-
no contexto de aborto espontâneo do 1º trimestre, tação de potássio (k) oral e medicação anti-hiper-
avaliado pela ginecologia. À admissão, apresentava- tensiva tripla. Em Junho 2020 recorre novamente
-se subfebril e palpava-se uma adenopatia inguinal ao SU por hipocaliémia de 2.2 mmol/L. À admissão
direita com 1cm de maior eixo, móvel e indolor.  Dos perfil hipertensivo (182/102 mmHg), tendo ficado
exames complementares realizados, destacam-se: internada para estudo. Na avaliação laboratorial,
anemia normocítica normocrómica (Hb 9.8 g/dL), destacou-se no Soro: Aldosterona 470.2 pg/mL e
leucocitose (118.000 x 109/L) com neutrofilia (84%) Renina sérica 2.1 mcUI/dL; Urina 24h: Cortisol 25
e basofilia (5.1%), trombocitose (525.000 x 109/L), ug/d e Aldosterona 21 ng/dL. Realizou TC e RM das
PCR 0.98mg/dl, elevação da LDH (736U/L), sem ele- SR identificando-se imagem nodular que favorecia
vação do acido úrico, potássio e fosfato. O esfrega- o diagnóstico de adenoma. Cintigrafia do córtex SR
ço de sangue periférico apresentava basofilia, pro- compatível com Hiperplasia Bilateral das SR. Peran-
mielócitos (1%), mielócitos (2%) e metamielócitos te o acima descrito admitiu-se diagnóstico de HAP
(5%), sem blastos. Realizada ecografia abdominal: em contexto de hiperplasia bilateral das SR, tendo
sem hepatoesplenomegalia ou adenopatias. Assu- iniciado espironolactona, com melhoria progressiva.
mido diagnostico presuntivo de LMC, tendo sido Discussão: O HAP é uma entidade clínica e patolo-
iniciada citorredução com hidroxiureia, com remis- gicamente diversa cujo risco de morbilidade e mor-
são analítica da leucocitose para 17.600 x 109/L. O talidade justificam um rastreio e diagnóstico efetivo,
estudo genético de sangue periférico confirmou a uma vez que a apresentação nem sempre é típica.
682
E-POSTERS
Deve ser realizado um estudo para diferenciação do tos(1);Marta Rocha(1);Maria do Céu Dória(1)
subtipo de HAP, uma vez que a forma unilateral tem (1) Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca
possibilidade de cura. Nos casos que apresentam
formas bilaterais de HAP, a opção terapêutica mais Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas
correta passa pelo uso de antagonistas dos receto-
res mineralocorticóides. Introdução: A miastenia gravis (MG) é uma doen-
ça auto-imune da junção neuromuscular de difícil
P n.º 1511  diagnóstico, que pode apresentar correlação com
Sindrome de Wallenberg: a propósito de um caso triggers infeciosos. Ao mimetizar outras doenças,
clínico pode condicionar o atraso do início de tratamento e
Sara sa(1);Lília Castelo Branco(1);Rita Pera(1);João progressão da doença.
Lagarteira(1);Cristiana Batouxas(1);Miriam Blan-
co(1) Caso: Homem de 57 anos, hipertenso e obeso, re-
(1) Unidade Local de Saúde do Nordeste corre à urgência por quadro com 9 dias de evolução
de diplopia binocular horizontal com agravamento
Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas ao olhar para longe e para a direita. Referência a
rinorreia anterior, otalgia direita e odinofagia nas 2
Introdução: O síndrome de Wallemberg, também co- semanas prévias, com remissão espontânea (pes-
nhecido como síndrome medular lateral, é causado quisa SARS-COV2 negativa). À observação com limi-
mais frequentemente por oclusão arterotrombótica, tação parcial da abdução do olho direito, nistagmo
envolvendo a região lateral da medula, artéria verte- horizontal do olho esquerdo na levoversão, redução
bral, seguindo-se da artéria cerebral inferio-posterior bilateral da fenda palpebral. Admitida hipótese diag-
e finalmente as artérias medulares. Existem fatores nóstica de acidente vascular cerebral isquémico. To-
de risco como hipertensão arterial, diabetes melli- mografia computorizada e ressonância magnética
tus e o tabagismo. crânioencefálicas sem alterações. À reavaliação em
consulta 1 mês após a alta, mantinha oftalmopa-
Outra causa etiológica é a disseção da artéria ver- résia e parésia de novo bilateral da região proximal
tebral e esta ocorre principalmente em pacientes dos membros inferiores e superiores grau 4/5. Estu-
jovens. Os principais fatores de risco são o trauma do adicional revelou elevação da velocidade de sedi-
durante a manipulação por pescoço, síndrome de mentação (87mm/h), creatina quinase normal, anti-
Marfan e a displasia fibromuscular. corpos tiroideus negativos, anticorpos anti-receptor
de acetilcolina positivos. TC torácica sem evidência
Caso clinico: Homem de 55 anos, construtor civil. de timoma. Electromiograma compatível com per-
Sem antecedentes pessoais de relevo. Sem antece- turbação pós-sináptica da transmissão neuromus-
dentes familiares de tromboembilismo, problemas cular, assumindo-se diagnóstico de MG primária.
cardiovasculares ou alterações do tecido conjun- Foi iniciada terapêutica dirigidia com piridostigmina
tivo. Recorreu á urgência por quadro de tonturas, com remissão completa da sintomatologia.
desequilibro, cefaleia e diplopia. Ao exame objetivo
apresentava anisocoria, com miose à direita e ptose Discussão: O diagnóstico diferencial etiológico de
palpebral ipsilateral. Apresentava também hiposte- oftalmoparesia incluiu lesão isquémica do sistema
sia á esquerda e desequilibro na marcha. Realizou nervoso central, miopatias e doenças da placa neu-
TAC CE sem evidencia de isquemia/hemorragia romuscular. A oftalmoparesia isolada é um dos si-
agúda, mas com discretas calcificações na subs- nais mais precoces da MG, pelo que é crucial estar
tancia branca peri-núcleos dentados. Realiza RMN alerta para este diagnóstico perante esta apresenta-
para esclarecimento, sendo identificada uma zona ção ocular. O diagnóstico numa fase inicial da doen-
de restrição em difusão medindo 9mmna vertente ça é importante para o inicio célere do tratamento e
postero-lateral direita do bulbo, coexistindo sinais assim minimizar o impacto da doença na qualidade
de disseção do segmento intracraniano proximal da de vida.
artéria vertebral direita, com redução do lúmen em P n.º 1518 
50%. Doente inicia antiagregação e mantém segui- Tuberculoma coroideu: uma manifestação rara que
mento em consulta. merece um olhar atento
Discussão: Descreve-se o caso de um doente jo- Ana Carolina Monteiro(1);Ana Catarina Lamei-
vem, com Síndrome de Wallenberg em contexto de ras(1);Marta Lopes(1);Martim Trovão Pereira Bas-
disseção da artéria vertebral direita mas, contudo tos(1);Marta Rocha(1);Maria do Céu Dória(1);João
sem fatores de risco, que ilustra a necessidade ful- Machado(1)
cral da identificação dos sinais e sintomas e o do (1) Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca
seu diagnóstico. Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
P n.º 1512 
Oftalmoparésia: uma pista para o diagnóstico de Introdução: A tuberculose extra-pulmonar, parti-
Miastenia Gravis cularmente a ocular, é uma doença rara e muitas
Ana Carolina Monteiro(1);Ana Catarina Lamei- vezes não pesquisada pela baixa incidência. A sua
ras(1);Marta Lopes(1);Martim Trovão Pereira Bas- deteção é fundamental para o diagnóstico precoce,

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 683


por implicar frequentemente a disseminação hema- sedimento urinário com cilindros patológicos e eri-
togénea da doença, permitindo o inicio imediato do trócitos dismórficos. A colonoscopia revelou proc-
seu tratamento, redução de sequelas e melhoria do tite subaguda, com pesquisa de Chlamydia tracho-
prognóstico. matis positiva no exsudado rectal. Ecograficamente
com rins aumentados e alterações compatíveis com
Caso: Mulher de 68 anos, natural do Brasil, com nefropatia. Realizada serologia VIH-1: positiva (car-
doença renal crónica estadio 3 e exposição 20 anos ga viral 458.000 copias/mL, linfócitos TCD4+ 451
antes a doente com tuberculose pulmonar (marido). células), com infecção crónica concomitante pelo
Recorre à urgência por quadro com 15 dias de evo- Vírus da Hepatite B (VHB) (AgHBs e AgHBe positi-
lução de cansaço, astenia, anorexia, perda ponderal, vos). Biopsia renal com glomerulosclerose focal e
mialgias, temperatura sub-febril calafrio e dispneia segmentar colapsante e nefropatia diabética. Ad-
para esforços, com hipoxemia à admissão. Anali- mitido diagnóstico inaugural de co-infecção VIH-1
ticamente com leucócitos normais mas linfopenia e VHB, com nefropatia associada ao VIH e proctite
(500 x 109/L), trombocitopenia (80.000 x 109/L), pro- infecciosa a Chlamydia. Iniciada terapêutica antibió-
teína C reactiva 7 mg/dL, procalcitonina 3 ng/mL, tica e antiretroviral (TARV). Após o diagnóstico, apu-
ferritina 3458 ng/ml, velocidade de sedimentação rou-se que o doente tinha parceiros sexuais homens
40mm/h., LDH 504 U/L. Serologia virus imunodefi- sem uso de preservativo.
ciência humana negativa. Radiologicamente com Discussão: É fundamental estar alerta para o ras-
padrão pulmonar micronodular difuso bilateral e treio de infecção VIH perante indivíduos com com-
gânglios mediastínicos e hilares esquerdos escle- portamentos de risco e com outras infeções sexual-
ro-calcificados. Na fundoscopia foram detectados mente transmissíveis, e assim evitar o diagnóstico
três tubérculos coroideus no olho esquerdo. Perante tardio e perpetuação da transmissão. Destaca-se
os achados clínicos muitos sugestivos, foi colocada o diagnóstico de nefropatia associada ao VIH, que
a hipótese diagnóstica de tuberculose miliar, tendo surge frequentemente em estádios avançados de
sido iniciada imediatamente terapêutica antibacilar doença, associada a nefropatia diabética. A multi-
(isoniazida, rifampicina, pirazinamida e etambutol). morbilidade deste doente é transversal ao doente
Posteriormente com polymerase chain reaction com infecção VIH actual, dado o aumento da espe-
de Mycobacterium tuberculosis positiva no lavado rança de vida pela eficácia da TARV. Pela sua com-
bronco-alveolar colhido por broncofibroscopia, con- plexidade e pluripatologia, a sua abordagem deve
firmando-se o diagnóstico, apesar de baciloscopia e ser multidisciplinar.
exame cultural lowenstein negativos do lavado.
P n.º 1521 
Discussão: Este caso destaca a necessidade de Falência hepática por ciproterona - um caso clínico
uma elevada suspeição clínica para o diagnósti- com discussão
co atempado de tuberculose miliar em doentes Laura Batista(1);Tiago Valente(1);Alexandre Sar-
imunocompetentes. Uma abordagem diagnóstica mento(1);Carla Matias(1);Gorete Jesus(1)
multidisciplinar permite a deteção de tuberculomas (1) Centro Hospitalar do Baixo Vouga / Hospital In-
coroideus e o início precoce de terapêutica dirigida, fante D. Pedro, EPE
contribuindo para uma evolução favorável da doen-
ça. Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá-
ticas
P n.º 1520 
Infecção por VIH: diagnóstico, multimorbilidade e
abordagem multidisciplinar Introdução: A hepatite tóxica é uma doença poten-
Ana Carolina Monteiro(1);Ana Catarina Lamei- cialmente fatal, em que o reconhecimento do agen-
ras(1);Marta Lopes(1);Martim Trovão Pereira Bas- te implicado deve ser uma prioridade no caso de
tos(1);Marta Rocha(1);Maria do Céu Dória(1) hepatite de origem desconhecida. Apesar de exis-
(1) Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca tirem vários fármacos com potencial hepatotóxico
descrito, a sua identificação nem sempre é fácil.
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias CASO CLÍNICO: Relata-se o caso de um homem de
67 anos, com antecedentes de adenocarcinoma da
Introdução: A infecção pelo Vírus da Imunodeficiên- próstata sob bloqueio androgénico com ciproterona
cia Humana (VIH) continua a apresentar-se como 300mg/dia, que recorre ao Serviço de Urgência por
um importante problema de saúde pública pelo astenia, febre, dor abdominal e icterícia. Analitica-
impacto significativo associado à ausência de diag- mente, apresentava citocolestase exuberante, com
nóstico e atraso no início do tratamento. transaminases >20x dos valores normais, e hiperbi-
lirrubinémia total 20mg/dL

Caso: Homem de 58 anos, diabético e hipertenso,


internado por alteração do trânsito intestinal (tenes- , à custa da directa. Realizou TAC e CPRM, onde se
mo e fezes com muco) com 2 meses de evolução. exclui patologia obstrutiva das vias biliares, e onde
Nos 8 meses prévios, referência a perda ponderal se verificam achados compatíveis com hepatite
significativa e síndrome gripal-like auto-limita- aguda. As serologias víricas regressaram negativas,
do. Analiticamente com anemia (Hb 8.2g/dL), Cr e o doente negava toma de qualquer substância ou
1.35mg/dL, razão albumina/creatinina 2378 mg/g e alteração na medicação, à excepção do início de

684
E-POSTERS
terapêutica com ciproterona, receitada por Urologia tável, abdómen doloroso à palpação do hipocôndrio
três meses antes. Realiza biópsia hepática, com direito, sem defesa. Analiticamente, sem leucocito-
achados muito compatíveis com hepatite tóxica, se mas com elevação da PCR. Imunologicamente,
e onde se verificou adicionalmente existência de com contagem de células T CD4 + de 66 /uL e carga
vários depósitos de ferro dispersos pelo parênqui- vírica do VIH de 224.638 cópias/mL. 
ma hepático. Apresentava ferritina de 16700ng/dL,
com sat. transferrina de 140%, e heterozigotia para Em TC AP documentou-se hépato-esplenomegalia,
variante H63D do gene HFE. O doente interrompeu com múltiplas adenopatias mesentéricase retroperi-
ciproterona, e realizou terapêutica de suporte, no toneais, com áreas de necrose central.
entanto iniciou quadro de insuficiência hepática
fulminante, acabando por falecer após 30 dias de Ficou internado para estudo de tuberculose gan-
internamento. glionar vs doença linfoproliferativa. O exame direto
de fezes e líquido peritoneal foi (+) para bacilos
DISCUSSÃO: Apesar do seu potencial hepatotóxico álcool ácido resistentes atípicos. Efetuou-se ainda
conhecido, a ciproterona continua a ser amplamen- exérese de ganglios mesentéricos.
te administrada no adenocarcinoma da próstata,
muitas vezes sem adequada monitorização clínica e Admitida micobacteriose por micobactérias atípi-
analítica. A presença do gene HFE em heterozigotia, cas, iniciou anti-tuberculostáticos (isoniazida, rifam-
embora não condicione hemocromatose, condicio- picina, etambutol e pirazinamida). Posteriormente,
na susceptibilidade a lesão hepática por sobrecarga com teste amplificação ácido nucleicos (TAAN)
de ferro, o que pode explicar a evolução desfavorá- (+) nas fezes para M. genavense e cultural (+) ao
vel neste doente. Este caso ilustra a importância da 56º dia. Exame anatomopatológico compatível com
vigilância clínica e laboratorial após a introdução micobacteriose com identificação de bacilos álcool-
deste fármaco na estratégia de tratamento, espe- -ácido resistentes e TAAN (+) para M. genavense.
cialmente em doentes com doença hepática prévia,
Com 1 mês de tratamento, ajustada terapêutica
que poderá até não ser conhecida previamente. Está
para teste sensibilidade (baixa para etambutol), para
descrita apenas uma dúzia de casos em que a fa-
rifampicina, moxifloxacina e claritromicina. 
lência hepática aguda atribuível à ciproterona resul-
tou em morte do doente. Após 4 meses, o doente encontra-se clinicamente
estável, com TC de reavaliação mantendo hépato-
P n.º 1523 
-esplenomegalia e adenopatias mesentéricas está-
Infeção disseminada por Mycobacterium genaven-
veis.
ce em doente com SIDA
Sandra Correia(1);Sílvia Santos(1);Catarina Silva Este é um caso clínico raro, cujo diagnóstico e trata-
Araújo(1);Ricardo Miguel Costa(1);Cindy Tribu- mento são um desafio.
na(1);Paulo Ferreira Gouveia(1);Cristina Cruz da
Ângela(1) P n.º 1524 
(1) Hospital de Braga Poliartrite Inflamatória – uma apresentação invul-
gar de um diagnóstico comum
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias Sérgio Madureira(1);Rita Lino(1);Ana Pinho(1);Ana
Lídia Neves(1);Alice Martins(1);Edite Pereira(1);Jor-
A micobacteriose atípica infeta sobretudo doen- ge Almeida(1)
tes imunocomprometidos. Frequentemente é (1) Centro Hospitalar de S. João, EPE
devida a infeções pelo complexo Mycobacterium
avium. Raramente, estão descritas micobacterioses Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
por Mycobacterium genavense. Esta bactéria tem culites
requisitos de crescimento exigentes in vitro e a sua
resistência a antibióticos tem impacto clínico. A biologia Introdução: A dor poliarticular é um sintoma fre-
molecular é um auxílio precioso para o diagnóstico e quente. Quando acompanhada por sinais inflama-
estabelecimento do M. genavense como causa definitiva tórios das articulações e outros sintomas torna-se
de infeção micobacteriana. imperativa a exclusão de doença sistémica. Des-
crevemos um caso de poliartrite subaguda como
Apresentamos o caso de um homem, 27 anos, forma de apresentação invulgar de um diagnóstico
brasileiro, VIH positivo há 5 anos, sob terapêutica frequente.
antiretrovírica (TARV) iniciada no Brasil. Entretanto a
residir em Portugal, sem TARV há 10 meses. Obser- Caso Clínico: Mulher de 62 anos com obesidade,
vado em consulta, apresentava-se emagrecido, com hipertensão arterial, diabetes mellitus tipo 2 e crises
perda de 7 kg em 18 meses, sem outras queixas. de gota no passado, medicada com diurético de
Re-iniciou TARV.  ansa. Recorreu ao serviço de urgência por poliartral-
gia com 2 semanas de evolução, refratária a várias
Após 1 mês regressou por febre e dor abdominal classes analgésicas. Associava-se a rigidez matinal
intensa, em barra nos quadrantes superiores, com e não agravava com os movimentos. Ao exame
dias de evolução.  físico apresentava febre persistente e poliartrite
assimétrica com sinovite do punho direito e sinais
Objetivamente, apirético, hemodinamicamente es-
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 685
inflamatórios de várias articulações da mão direita evolução, pulsátil, que agrava à noite, muito intensa
e pé esquerdo – 1ª metacarpo-falângica, 2ª inter- (não consegue quantificar) que o impede de dormir,
falângica proximal e 1a metatarso-falângica. Aná- associada a anorexia, perda ponderal de 13 Kgs em
lises com elevação de marcadores inflamatórios e 2 meses, adinamia, tonturas, alteração da visão,
anemia normocítica. Ecografia do punho direito sem desequilíbrio da marcha ocasional e temperaturas
derrame articular e sem sinal de duplo contorno e subfebris. Desde há 3 dias, vómitos aquosos e cer-
radiografia sem sinais de artrite erosiva. Internada vicalgia.
para estudo complementar. Evoluiu com atingimen-
to de ambos os tornozelos e joelho esquerdo, man- Exame objetivo sem alterações de relevância exce-
tendo febre nos primeiros dias. Do estudo etiológico tuando fundoscopia que revelou edema papilar bila-
realizado apresentava hiperuricemia grave. Estudo teral e hemorragias retinianas.
exaustivo de causas infeciosas e inflamatórias sem
outras alterações. Dada elevada suspeição clínica Analiticamente, leucocitose com neutrofilia PCR <3
de poliartrite gotosa iniciou colchicina e corticote- mg/dL hiponatremia moderada. Tomografia compu-
rapia sistémica com melhoria clínica e laboratorial torizada crânio-encefálica inocente. Punção lombar
completa ao fim de 5 dias de tratamento. Reavalia- com liquído cristal de rocha e pressão de abertura
da em consulta externa 1 mês após alta não tendo de 22 cmH2O. Citobioquímica do liquor com 211 cé-
apresentado recidiva dos sintomas e iniciada tera- lulas com predomínio de mononucleados, consumo
pêutica hipouricemiante. de glicose e proteinorráquia, e pesquisa de Crypto-
coccus positiva por método com tinta da china.
Discussão: Os flares de gota são tipicamente mo-
noarticulares e com inflamação intensa, com tro- Discussão: Trata-se de um caso de meningo-ence-
pismo para as extremidades inferiores. Apesar de falite pelo agente já descrito mas em doente apa-
menos comum, o envolvimento poliarticular e febre rentemente imunocompetente, demonstrando que
podem ocorrer à apresentação, sendo mais fre- esta entidade deve ser considerada em todos os
quentes em doentes com hiperuricemia crónica não doentes com clínica sugestiva. Torna-se necessá-
medicada.  rio perceber as particularidades da doença nestes
doentes, para possibilitar maior celeridade diagnós-
P n.º 1529  tica e para melhor entender a conduta quanto a tera-
Meningo-encefalite criptocócica em doente imuno- pêutica e seguimento.
competente
Teresa Tomásia Silva(1);Ana André(1);Ana Isabel P n.º 1531 
Loureiro(1);Ana Sara Monteiro(1);Ana Baptista(1);- Hemorragia e Embolia, duas faces da mesma moe-
Mário Lázaro(1) da
(1) Centro Hospitalar do Algarve, EPE / Hospital de Ivo Alexandre Pina(1);Carolina Vasconcelos Balta-
Faro zar(1);Salomão Fernandes(1);Raquel Tavares(1);Ana
Rita Silva(1);Paulo Rodrigues(1)
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias (1) Hospital Beatriz Ângelo
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
Introdução: Meningo-encefalite criptocócica é a ma-
nifestação mais frequente de criptococose, sendo o
agente mais frequente o Cryptococcus neoformans. Os defeitos da coagulação encontram-se descritos
Este fungo é geralmente atribuído a infeções opor- em várias infeções por vírus respiratórios, assu-
tunistas, sendo que as formas mais comuns de mindo especial relevo no SARS-CoV-2. A disfunção
imunossupressão associam-se a infeção por vírus endotelial, inflamação, libertação de citocinas, es-
da imunodeficiência humana (VIH), terapêutica com tado de hipercoaguabilidade e hipoxia podem ser
glucocorticóides ou biológica, doentes oncológicos, possíveis fatores que contribuem para a formação
transplantados, com sarcoidose ou insuficiência de trombos. Além do tromboembolismo, também
hepática.  as complicações hemorrágicas e isquémicas fazem
parte do espectro de apresentações clínicas asso-
ciadas ao SARS-CoV-2. Neste trabalho são apresen-
Com base em evidência recente, parece haver dife- tados 2 casos que pretendem ilustrar e alertar para
rença na clínica, epidemiologia, morbimortalidade e a diversidade destas complicações.
tratamento desta entidade em doentes com e sem
infeção por HIV, assumindo-se que terá associação
com imunocompromisso. Caso 1: Homem, 58 anos, antecedentes de obesi-
dade e Síndrome de Apneia Obstrutiva do Sono. Ao
Caso clínico: Homem, 47 anos, Ucraniano a residir 12º dia de doença por SARS-CoV-2, na sequência de
em Portugal, trabalhador da construção civil, ante- dispneia, realizou AngioTC de Tórax que diagnosti-
cedentes irrelevantes, enviado do serviço de urgên- cou tromboembolismo pulmonar. Identificaram-se
cia básica (SUB) para o serviço de urgência geral também duas úlceras penetrantes no arco aórtico
(SU) por pesquisa de anticorpo do vírus da hepatite com 9 e 11 mm de diâmetro e 4 e 5 mm de profun-
C positivo. Terá recorrido por cefaleia intensa asso- didade, interpretadas como sendo uma complica-
ciada a alteração do estado de consciência. Histó- ção macrovascular associada à infeção por SARS-
ria de cefaleia frontal e occipital com 2 meses de -CoV-2.

686
E-POSTERS
Caso 2: Homem, 74 anos, antecedentes de tabagis- entidades que representam manifestações impor-
mo, hipertensão arterial e cirurgia valvular com im- tantes da intolerância ao ortostatismo associadas à
plantação de válvula aórtica mecânica. Ao 14º dia DA.
de doença por SARS-CoV-2 recorreu ao Hospital por
agravamento progressivo de dispneia, cansaço para Discussão: Estima-se que mais de 70% dos doentes
esforços e hemoptises ocasionais, tendo ficado in- com DHC de etiologia etanólica sofram de altera-
ternado. Ao 24º dia identificou-se hemorragia diges- ções a nível do sistema nervoso simpático e/ou
tiva maciça, condicionando choque hipovolémico. parassimpático. Existem casos documentados de
De realçar que na mesma data verificou-se isquémia acrocianose como manifestação de STPO. A HO foi
da mão direita (após 5 dias de evolução de pareste- igualmente comprovada no caso clínico apresenta-
sias e má perfusão) e isquémia distal do pé direito, do. A fisiopatologia permanece pouco compreen-
representando um exemplo típico de coagulação dida, mas pensa-se que possa estar relacionada
intravascular disseminada com complicações trom- com alterações da atividade simpática periférica e
bóticas e hemorrágicas. Culminou com o falecimen- diminuição da sensibilidade dos barorreceptores às
to do doente no dia seguinte. alterações tensionais, consequências da vasodilata-
ção esplâncnica observada na DHC. Com este caso,
Os casos clínicos ilustram a complexidade dos de- pretendemos dar a conhecer uma apresentação
feitos da coagulação na infeção por SARS-CoV-2. atípica de duas entidades que caracterizam a DA e
As apresentações clínicas podem variar desde o podem estar presentes nestes doentes.
tromboembolismo até complicações hemorrágicas
ou isquémia dos membros. As consequências são P n.º 1536 
muitas vezes irreversíveis, podendo constituir uma Síndrome hemolítico urémico - a propósito de um
importante causa de mortalidade intra e extra-hos- caso clínico
pitalar. Na prática clínica é assim essencial manter Filipa Abreu Martins(1);Cristiana Honrado Mar-
um elevado grau de suspeição e vigilância constan- tins(1);Margarida Correia(1);Luís Dias(1);Marta Bra-
tes, assentes numa gestão clínica individualizada ga Martins(1);Bárbara Fontes Oliveira(1);Céu Rodri-
dos doentes, optando-se por uma abordagem multi- gues(1);Castro Gomes(1)
disciplinar sempre que necessário. (1) Hospital de Braga

P n.º 1533  Tema: Doenças hematológicas


Acrocianose, uma manifestação de disfunção auto-
nómica na Doença Hepática Crónica Introdução 
Inês Ângelo(1);Joana Cartucho(1);Joana Diogo(1);-
Joana Filipa Lopes Ferreira(1);Bruno Bonito(1);-
Joaquim Peixoto(1);Carla Fernandes(1);Rosário As alterações agudas do estado de consciência são
Ginga(1);Maria João Mello Vieira(1);Martinho Fer- frequentes, havendo um vasto conjunto de diagnós-
nandes(1) ticos diferenciais a considerar. Apresenta-se um
(1) Centro Hospitalar Barreiro/Montijo, EPE / Hospi- caso em que a alteração do estado de consciência
tal Nossa Senhora do Rosário foi o evento inaugural de algo mais complexo, pre-
tendendo-se alertar para uma entidade rara, cujo
Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas reconhecimento precoce é crucial. 
Caso clínico 
Introdução: A disfunção autonómica (DA) corres-
ponde a uma entidade com impacto considerável Homem de 58 anos, hipertenso. Internado por
na Doença Hepática Crónica (DHC). Embora fisio- suspeita de colite isquémica: clínica de dor abdo-
patologicamente pouco compreendida, podem minal nos quadrantes inferiores e diarreia sangui-
existir fatores inerentes à história natural da DHC e nolenta, analiticamente com leucocitose, panco-
ao tratamento que podem mascarar e/ou dificultar lite em TAC abdominal e colonoscopia a sugerir
o seu diagnóstico. O caso apresentado relata uma colite isquémica. Ao quarto dia de internamento,
apresentação rara da acrocianose enquanto mani- desenvolveu alterações do estado de consciên-
festação de DA na DHC. cia: sonolência, alterações do discurso, disartria,
com rápido afundamento do estado de consciên-
Caso clínico: Apresentamos o caso de um doente cia. Apresentava-se subfebril sob paracetamol.
do sexo masculino, 57 anos, internado no contexto Analiticamente anemia de novo com critérios de
de descompensação da sua DHC (etiologia etanó- hemólise, teste de coombs direto negativo, sem
lica) que inicia quadro de acrocianose nos mem- consumo de complemento, esfregaço de sangue
bros inferiores (MI) após mudança posicional para periférico com raros esquizócitos. Também com
ortostatismo, acompanhado de descida franca do trombocitopenia e lesão renal aguda. Realizou TAC
perfil tensional e subida dos valores de frequência crânio sem lesões agudas e RM que revelou padrão
cardíaca. Uma vez excluídas causas vasculares (por sugestivo de etiologia tóxica/metabólica. Face à
exames de imagem) e iatrogénicas (farmacológi- suspeita de microangiopatia trombótica, iniciou pul-
cas), as alterações objetivadas foram interpretadas sos de corticoide e foi transferido para unidade de
no contexto de Hipotensão Ortostática (HO) e Sín- cuidados intensivos, onde realizou sessões de plas-
drome da Taquicárdia Postural Ortostática (STPO),  maferese. Na investigação etiológica, a atividade
da ADAMTS-13 era normal e foi solicitada pesquisa
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 687
da toxina Shiga nas fezes. Evoluiu favoravelmente, dentalmente” no decurso de investigação de uma
com normalização do hemograma, função renal e (mais plausível) síndrome aórtica aguda.
praticamente sem défices neurológicos. Estamos
perante um caso que se apresenta com a clássi- P n.º 1540 
ca pentade das microangiopatias trombóticas: ane- Artéria lusória e Comunicação Inter-Auricular -
mia hemolítica, trombocitopenia, lesão renal aguda, Diagnóstico incidental
alterações neurológicas e febre. Tendo em conta Sara sa(1);Sandra r. SOUSA(1);Rita Pera(1);João La-
os achados, foi assumido tratar-se de um síndrome garteira(1);Rita Diz(1);Cristiana Batouxas(1);Miriam
hemolítico urémico típico. Blanco(1)
(1) Unidade Local de Saúde do Nordeste
Discussão
Tema: Doenças cardiovasculares
Apesar de raras, as microangiopatias trombóticas
são síndromes graves, que podem cursar com mau Introdução: A comunicação inter-auricular (CIA)
prognóstico. A suspeição clínica torna-se funda- consiste na existência de uma comunicação no sep-
mental, de forma a permitir uma implementação to que separa as duas aurículas no coração, permi-
célere do tratamento adequado. tindo a passagem de sangue da aurícula esquerda
P n.º 1538  para a aurícula direita. Existem várias formas de
Apresentação atípica de tumor carcinóide do pul- CIA, mas a mais comum é o tipo osteum secundum.
mão
João Luís Cavaco(1);Ana Furão Rodrigues(1);Sara Geralmente são diagnosticadas na infância mas
Vasconcelos-Teixeira(1);Ana Oliveira Pedro(1);Antó- também podem chegar até à idade adulta. Apro-
nio Pais de Lacerda(1) ximadamente 10% dos indivíduos com estas mal
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi- formações acabam por desenvolver aumento das
tal de Santa Maria câmaras direitas e consequentemente hipertensão
pulmonar (HTP).
Tema: Doenças oncológicas
Caso clínico: Feminino de 70 anos, sem antece-
Introdução: Os tumores neuroendócrinos (carcinói- dentes pessoais de relevo. Recorreu à urgência por
des) do pulmão são raros, correspondendo a 2% das quadro de desconforto pré-cordial esquerdo, inter-
neoplasias deste órgão. Os tumores carcinóides mitente, grau VI/X, associado ao esforço físico, com
“típicos” (baixo grau e índice mitótico baixo) são os vários meses de progressão. O ECG relevou padrão
mais frequentes. A sua apresentação sintomática S1Q3T3. Estudo analítico sem elevação dos mar-
pode refletir a obstrução extrínseca de vias aéreas cadores de necrose miocárdica e dos D-dímeros.
ou a sua hipervascularização, com hemorragia. O Realiza angio-TAC torácico que exclui Tromboembo-
síndrome carcinóide ocorre em apenas 8% dos tu- lismo Pulmonar, mas revela cardiomegalia e artéria
mores carcinóides pulmonares. No caso que apre- subclávia direita com trajeto retro-esofágico (arté-
sentamos, o seu diagnóstico foi incidental. ria lusória). Realiza ecocardiograma transtorácico
que descreve dilatação das câmaras direitas com
ectasia do tronco da artéria pulmonar e aumen-
Caso Clínico: Mulher de 57 anos, sem anteceden- to da pressão arterial pulmonar (PSAP estimada
tes de relevo, inicia em outubro de 2019 toracalgia 40mmHg). Ressonância magnética cardíaca com
retrosternal opressiva com irradiação à região in- dilatação ligeira da aurícula esquerda e moderada
ter-escapular, motivando observação em serviço de na aurícula direita, comunicação inter-auricular tipo
urgência. Presumindo-se síndrome aórtica aguda, osteum secundum (~12mm) com shunt esquerdo
realiza angioTC torácica que documenta vários direito e Qp/Qs 1.6 por fluxo pulmonar e aórtica e
nódulos pulmonares bilaterais, excluindo disseção dilatação das artérias pulmonares. Excluídas outras
ou outra patologia aórtica. O exame histológico de causas de Hipertensão pulmonar. Atualmente em
biópsia de nódulo pulmonar foi compatível com tu- avaliação para melhor tratamento dirigido à sua pa-
mor neuroendócrino. Dois meses depois inicia sín- tologia cardíaca.
drome carcinoide, com rubor facial, eritema cutâneo
e prurido, tendo iniciado lanreótida, com sucesso. Discussão: Os autores realçam a importância do
Realiza estudo PET com  68GA-DOTA-NOC que com- diagnostico precoce de cardiopatia congénita e a
prova captação anómala em nódulo no lobo médio sua abordagem, tendo em conta as consequências
e noutros micronódulos pulmonares bilaterais, não do diagnóstico tardio destas situações. Este caso
se registando novas crises carcinoides ulteriores, e ilustra uma paciente com uma CIA não diagnostica-
sem aparente progressão de doença. da previamente, tendo culminado numa HTP grave.
Discussão: É grande a variabilidade de apresenta- P n.º 1543 
ção do tumor neuroendócrino do pulmão, que, em Neutropenia febril: esperar o inesperado?
geral, cresce lentamente, permanecendo muitas Sérgio Azevedo(1);Daniela Brito(1);Samba Baldé(1);-
vezes assintomático ou dando origem a sintomato- Fernanda Coutinho(1);Fátima Pimenta(1)
logia respiratória ou a síndrome carcinoide. A sua (1) Hospital Distrital de Abrantes
manifestação com dor torácica aguda é de extrema
raridade, tendo sido encontrado, neste caso, “inci- Tema: Doenças oncológicas
688
E-POSTERS
Introdução: A neutropenia febril é a complicação com o nervo facial. Este síndrome desenvolve-se
mais frequente e grave da quimioterapia (QT). A em cerca de 0,2% das infeções primárias por her-
clínica atípica nestes doentes é frequente poden- pes zoster, sendo caracterizada pela presença de
do dificultar o fluxo diagnóstico O presente caso otalgia, paralisia facial ipsilateral, vertigem e exante-
pretende ilustrar a complexidade de abordagem ma vesicular no ouvido externo e/ou orofaringe.
diagnóstica e a importância da deteção do agente
etiológico. Caso Clínico: Doente, género masculino, 29
anos. Recorreu ao serviço de Urgência por otalgia
Caso clínico: Homem de 73 anos, com anteceden- direita e tonturas com 5 dias de evolução. Negava
tes de tricoleucemia - último ciclo de QT com pen- noção de febre ou outra sintomatologia. Tinha diag-
tostatina realizado no mês anterior -, que recorreu nóstico em novembro de 2020 de colite ulcerosa
ao Serviço de Urgência por febre com 2 dias de com atividade severa e em seguimento na Consulta
evolução, sem outra sintomatologia associada. À de Gastroenterologia. Medicado com infliximab, me-
admissão apresentava-se febril, com hepatoesple- salazina 4 g/dia e a terminar ciclo de corticoterapia
nomegalia evidente à palpação abdominal. sistémica com prednisolona.  Ao exame objetivo,
apresentava o canal auditivo externo ruborizado
Analiticamente com neutropenia e proteína-C reati- com vesículas e dor à mobilização do tragus ipsi-
va elevada de novo. Iniciou terapêutica empírica de lateral. Otoscopia sem alterações. Parésia facial
largo espectro com Piperacilina/tazobactam e pos- periférica grau IV na escala de House-Brackmann.
terior escalada terapêutica para ampliação de es- Analiticamente, destaca-se apenas anemia ferripri-
petro. Dada a manutenção do quadro febril, realizou va já com suplementação com ferro oral. Discutido
tomografia computorizada torácica que revelou “(…) com ORL e perante os achados clínicos e antece-
Infiltrados micronodulares difusos e dispersos bila- dentes do doente foi assumido o diagnóstico de
teralmente, esboçando ocasionalmente tree in bud, Síndrome de Ramsay-Hunt, tendo o doente reinicia-
com algumas nodularidades nos lobos superiores do corticoterapia sistémica em desmame, aciclovir
(…)”. Por haver contraindicação para a realização de 800 mg 5 vezes ao dia, 7 dias e aplicação tópica  de
broncofibroscopia, realizou estudo microbiológico gentamicina+betametasona no pavilhão auricular.
de expetoração provocada e pesquisa de antigénio Neste momento, mantem programa de reabilitação
sérico Galactomanann. Detetou-se Micobacterium com Medicina Física e Reabilitação com melhoria
tuberculosis (MT) através de polymerase chain reac- significativa de parésia facial (grau II) e seguimento
tion e Candida norvegensis em cultura resistente ao em consulta de ORL, aguardando a realização de
fluconazol. Assumiu-se o diagnóstico de Tuberculo- exames audiométricos.
se pulmonar com sobreinfeção fúngica. Apesar de
terapêutica antibacilar e antifúngica dirigida, o qua- Conclusão: A doença inflamatória intestinal (DII)
dro clínico evoluiu desfavoravelmente. constitui um fator de risco para infeções oportu-
nistas, sendo que, a infeção por herpes zoster é
Discussão e Conclusão: A deficiência imune e a uma das principais descritas no cohort de doentes
autoimunidade são características intrínsecas da seguidos pela Mayo Clinic, contudo, existem pou-
tricoleucemia, sendo estes doentes mais suscetí- cos casos descritos na literatura de Sindrome de
veis a infeções graves. O uso de análogos da purina Ramsay Hunt em doentes com DII. Por outro lado, é
amplia o espectro de suscetibilidade a infeções, igualmente de destacar que existem poucos casos
passando a incluir agentes oportunistas entre os na literatura desta rara complicação de reactivação
quais a MT. Sendo Portugal um país em que a taxa do vírus varicela zooster em contexto do uso de
de Tuberculose é de 20,8 casos por 100 000 habi- agentes anti-TNF.
tantes, esta deve ser ponderada de forma a iniciar a
terapêutica o mais precocemente possível. P n.º 1548 
Uma causa rara de derrame pleural
P n.º 1546  João Luís Cavaco(1);Ana Furão Rodrigues(1);Sara
QUANDO AS TONTURAS SÃO ALGO MAIS? Vasconcelos-Teixeira(1);Ana Oliveira Pedro(1);Antó-
Ana Margarida Pedro Antunes Gaudêncio(1);Maria nio Pais de Lacerda(1)
Inês Bertão(1);André Carvalho(1);Bárbara Baptis- (1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi-
ta(1);Gabriela Pena(1);Isabel Bessa(1);Abílio Gonçal- tal de Santa Maria
ves(1)
(1) Hospital Distrital da Figueira da Foz, EPE Tema: Doenças oncológicas
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
Introdução: O cancro do pénis é raro em países
desenvolvidos, correspondendo geralmente a car-
Introdução: O síndrome de Ramsay Hunt é uma cinoma pavimentocelular associado a infeção por
complicação rara de infeção por herpes zoster que papilomavírus humano (HPV). Quatro por cento dos
resulta da reativação do vírus varicela zoster no doentes apresenta doença metastática avançada,
gânglio geniculado no VII par craniano. Esta condi- sendo o pulmão, fígado e coluna vertebral os órgãos
ção pode também afectar outros nervos craniano mais afetados. Apresentamos um caso de carcino-
como o V, VIII, IX, XI e XII, sendo o VII (vestíbulo-co- ma pavimentocelular peniano recidivado com derra-
clear) o mais frequentemente envolvido, juntamente me pleural unilateral associado.

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 689


Caso Clínico: Homem de 61 anos, natural de Ango- défice apresentado limitou a reabilitação motora,
la, com estado pós-penectomia parcial em junho sem indicação para intervenção, segundo orienta-
2018 por carcinoma pavimentocelular não-relacio- ção da oftalmologia. 
nado com HPV. Iniciou um ano depois queixas de
dor e tumefação inguinais direitas, assim como Durante o internamento procedeu-se de forma in-
toracalgia da base direita com características pleu- termitente à suspensão palpebral com auxílio de
ríticas. Apresentava ao exame objetivo diminuição elevadores externos das pálpebras, providenciando-
do murmúrio vesicular na base pulmonar direita e -se hidratação ocular adequada, a fim de promover
tumefação inguinal direita. A TC de corpo documen- o encerramento e abertura palpebral. Objetivou-se
tou volumoso derrame pleural direito, adenopatias abertura ocular espontânea de forma ocasional e
mediastínicas e nódulos pulmonares secundários. ganhos nas sessões de reabilitação.
O exame anátomo-patológico de biópsia de ade-
nopatia inguinal sugeriu recidiva de carcinoma. Discussão: Existe pouca evidência no que respeita
A toracocentese revelou exsudado, negativo para à abordagem da ptose bilateral neurológica, nomea-
células neoplásicas. Iniciou quimioterapia paliativa damente no AVC, e da sua reabilitação motora. Nos
considerando recidiva locoregional e à distância de casos em que a acuidade visual se encontra manti-
carcinoma peniano, De prognóstico reservado, veri- da, representa um entrave ao ganho de autonomia
ficou-se o óbito dois meses após o reconhecimento com impacto psicológico negativo e, pela maior de-
da recidiva. pendência dos doentes, uma maior sobrecarga para
as famílias e para o serviço nacional de saúde.
Discussão: A metastização de carcinoma peniano é
rara. A sua apresentação mais comum corresponde P n.º 1550 
a doença localizada com eventual disseminação Derrame pleural recidivante
local, inguinal. O tratamento cirúrgico e linfadenec- João Luís Cavaco(1);Ana Furão Rodrigues(1);Sara
tomia correspondem à estratégia preferencial. Exis- Vasconcelos-Teixeira(1);Ana Oliveira Pedro(1);Antó-
tem menos de 10 casos relatados de metastização nio Pais de Lacerda(1)
pleural de carcinoma peniano. Apesar da pesquisa (1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi-
se ter revelado negativa, foi admitida invasão pleural tal de Santa Maria
com consequente derrame.
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
P n.º 1549 
Ptose palpebral bilateral no Acidente Vascular Ce- Introdução: Derrame pleural é uma forma frequen-
rebral te de tuberculose extrapulmonar, de apresentação
Sofia Bragança(1);Sofia Carola(1);Carolina Ma- variável, geralmente com queixas agudas de febre,
teus(1);Martim Trovão Bastos(1);Clara Matos(1);I- tosse e toracalgia. Em zonas não endémicas, afeta
nês Silva(1);Teresa Branco(1) sobretudo doentes com mais de 45 anos. O agrava-
(1) Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca mento sob forma de empiema tuberculoso é raro.
O  caso que expomos relata um derrame pleural tu-
Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas berculoso recidivante em jovem imunocompetente.

Introdução: As manifestações do acidente vascular Caso Clínico: Mulher de 19 anos, sem sintoma-
cerebral (AVC) variam consoante a localização da tologia até agosto 2018, iniciando depois febre,
lesão e permitem o diagnóstico topográfico. A ptose cansaço para esforços progressivamente menores
palpebral pode decorrer da lesão do núcleo do ocu- e tosse não produtiva. Revelava diminuição do mur-
lomotor (III), ao nível do mesencéfalo, e usualmente múrio vesicular na base direita. Laboratorialmente,
é unilateral. Porém, em raros casos, a ptose bilateral verificava-se elevação de PCR. A radiografia de
poderá ser justificada por lesão vascular mesence- tórax apresentava hipotransparência homogénea
fálica unilateral, apresentando nesse contexto par- na metade inferior do campo pulmonar direito, com
cas opções terapêuticas.  concavidade superior. A TC torácica demonstrou
volumoso derrame pleural à direita, pneumonia com
Caso Clínico: Mulher de 84 anos, autónoma, com microcavitação retículo-micronodular no lobo supe-
diagnósticos prévios de cardiopatia isquémica, hi- rior direito. Foi internada por “pneumonia adquirida
pertensão arterial essencial, diabetes mellitus tipo na comunidade com derrame pleural parapneumóni-
2 e dislipidémia. Trazida ao serviço de urgência co”. A toracocentese revelou líquido serofibrinoso;
por prostração. O estudo complementar realizado um exsudado de predomínio linfocitário, glicose e
levou ao diagnóstico de AVC isquémico com lesões triglicéridos baixos, teste de dosagem de adenosina
bihemisféricas e flutter auricular paroxístico não deaminase (ADA) aumentado. Nas secreções brôn-
hipocoagulado como etiologia mais provável. Do quicas foi isolado Mycobacterium tuberculosis,  ini-
exame neurológico salienta-se ptose bilateral, miose ciando terapêutica antibacilar. Ao 4º dia, porém,
e hipotropia com limitação da supraversão e adução refez o derrame pleural, realizando nova toracocen-
do olho direito e parésia de todos os movimentos tese com saída de apenas 30mL. A ecografia toráci-
do olho esquerdo, associada a oftalmoplegia inter- ca documentou derrame multiloculado. Submetida
nuclear. Realizou RMN CE que documentou áreas a descorticação de empiema tuberculoso, a sua
lesionais mesencefalo-diencefalicas esquerdas. O evolução foi favorável.

690
E-POSTERS
Discussão: Apesar da tuberculose extrapulmo- later stages of life, it can be associated with increa-
nar surgir frequentemente com derrame pleural, sed severity and atypical presentation, making its
é incomum em jovens imunocompetentes. A sua diagnosis a challenge of utmost importance.
terapêutica inclui antibacilares, toracocentese se
manifestar sintomatologia grave, e descorticação se In a patient presenting with acute viral hepatitis,
desenvolver empiema. Este é mais um exemplo da particularly in the presence of splenomegaly and/or
variabilidade de apresentação clínica da tuberculo- skin rash, EBV infection should always be conside-
se, aqui expressa por derrame pleural rapidamente red as one of the differential diagnosis.
progressivo e recidivante sob forma de empiema,
entidade rara. P n.º 1560 
Investigação de Hipercalcémia e Febre Persistente
P n.º 1553  em Internamento – Uma revisão e caso clínico
Acute Viral Hepatitis to Epstein-Barr Virus José Vicente Rocha(1);Sofia Romão(1);Mariana Sil-
João Corrêa(1);Sara Ferreira(1);Renato Gonçal- va de Sousa(1);Tiago Sepúlveda Santos(1)
ves(1);Ricardo Gomes(1);Juliana Carneiro(1);Dália (1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi-
Estevão(1);Leopoldina Vicente(1) tal de Santa Maria
(1) Centro Hospitalar Cova da Beira, EPE / Hospital
Distrital da Covilhã Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio-
nais
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
Introdução: O hiperparatiroidismo primário é uma
Introduction: Epstein-Barr virus (EBV) is a widely patologia frequente, mais incidente na faixa etária
disseminated gamma herpes virus with a high pre- dos 40-60 anos e no sexo feminino. Este é a causa
valence. EBV infection is usually asymptomatic or mais frequente de hipercalcémia em ambulatório. A
presents with the classical symptoms of infectious sintomatologia clássica do hiperparatiroidismo está
mononucleosis (fever, pharyngitis and adenopathy), bem caracterizada na literatura com manifestações
but it can affect almost every organ and system. We mais evidentes a nível ósseo e renal. No entanto, o
present the case of a patient with acute viral hepati- hiperparatiroidismo é frequentemente paucissinto-
tis due to EBV infection. mático ou associa-se a sintomas inespecíficos.

Case Report: A 46-year-old men, presented with A doença de deposição de cristais de pirofosfato de


fever (maximum 39.2 ºC), malaise, nausea, vomi- cálcio (DDCPC) é mais comum em idosos. Altera-
ting, jaundice and choluria for the last 11 days. ções da cartilagem, assim como alterações metabó-
Physical examination revealed pain in the right licas podem predispor à formação destes cristais. A
hypochondrium and spleen enlargement. Biochemi- apresentação desta doença pode ser diversa, sendo
cal analysis showed lymphocytosis with activated frequente a monoartrite. Algumas condições asso-
lymphocytes on peripheral blood smear, elevated ciam-se frequentemente à DDCPC, nomeadamente
transaminases’ levels, elevated alkaline phosphata- hipomagnesémia, hemocromatose e hiperparati-
se and gama glutamil transferase levels and hyper- roidismo. De forma semelhante a DDCPC é uma
bilirubinemia. Abdominal computed tomography manifestação reumatológica frequente de hiperpa-
showed no other abnormalities other than spleno- ratiroidismo. A correção aguda hipercalcémia e a
megaly (15cm). terapêutica com bisfosfonatos podem desencadear
exacerbações da DDCPC
Initial serologic testing revealed positivity for IgM
and IgG antibodies directed against Epstein-Barr vi- Caso clínico: Aqui descreve-se o caso de uma doen-
ral capsid antigen (VCA) and negativity for IgG anti- te de 83 anos, internada para estudo de hipercal-
bodies directed against Epstein-Barr nuclear antigen cémia (Ca2+ máximo 14mg/dL), com uma marcha
(EBNA). Patient also had antibodies compatible with diagnóstica difícil e muitas complicações, tratada
past cytomegalovirus (CMV) and hepatitis A virus inicialmente com fluidoterapia, diurético e pamidro-
(HAV) infection. No other abnormalities, including nato. A destacar febre persistente por exacerbação
other infectious causes or auto-immune markers, de DDCPC, em provável relação com hiperparatiroi-
were found.  dismo e tratamento agudo da hipercalcémia, com
documentação de condrocalcinose de várias articu-
During follow-up, sequential antibody determination lações por TC e radiografia. Verificou-se melhoria do
confirmed the diagnosis acute viral hepatitis due to estado geral, queixas álgicas e febre sobre cortico-
Epstein-Barr Virus infection and splenomegaly resol- terapia com prednisolona.
ved.
Discussão: Este caso clínico evidencia a diversidade
Discussion / Conclusion: Symptomatic EBV infec- de manifestações do hiperparatiroidismo e a asso-
tion typically occurs during childhood and adoles- ciação já descrita, mas pouco frequente, entre hiper-
cence, manifesting as the triad of fever, tonsillar paratiroidismo e DDCPC, assim como a apresenta-
pharyngitis and adenopathy, and sometimes accom- ção atípica desta última com um quadro sistémico.
panied by malaise, fatigue, skin rash and splenome-
galy. Its clinical course is generally benign, seldom P n.º 1562 
requiring more than supportive therapy. However, in Uma causa rara de demência

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 691


João Luís Cavaco(1);Ana Furão Rodrigues(1);Sara internado por quadro constitucional com 6 meses
Vasconcelos-Teixeira(1);Ana Verdelho(1);Ana Olivei- de perda ponderal (11 kg), astenia e dor no hipo-
ra Pedro(1);António Pais de Lacerda(1) côndrio esquerdo; tinha também lesões cutâneas
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi- papulares e eritematosas no dorso. A tomografia
tal de Santa Maria computorizada de corpo mostrou fibrose pulmonar
bilateral, adenopatias torácicas e abdominais (5
Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas cm de maior eixo) e hepato-esplenomegalia. Ana-
liticamente tinha hemograma normal, anticorpos
Introdução: A degeneração corticobasal é uma antinucleares e anti-dsDNA negativos, assim como
doença neurodegenerativa progressiva e rara. É IGRA e serologias para hepatite B e C, vírus da imu-
considerada uma forma atípica de parkinsonismo. nodeficiência humana e vírus linfotrópicos T. Salien-
A sua apresentação clássica inclui marcada rigidez tava-se, contudo, eletroforese de proteínas com ele-
assimétrica, bradicinésia com distonia focal e defei- vação policlonal da imunoglobulina G e A, e enzima
to cortical. Não tem tremor e não responde a tera- de conversão da angiotensina aumentada (461 U/L,
pêutica de substituição dopaminérgica. normal <85); acabou por realizar biópsia de uma
das lesões cutâneas, que confirmou o diagnóstico
de sarcoidose. Ao 6º dia de internamento (D6) inicia
Caso Clínico: Mulher de 60 anos, com fatores de queda aguda e grave das plaquetas (234x109/L para
risco vasculares de hipertensão arterial e dislipide- nadir de 13x109/L em D9), sem discrasia hemorrági-
mia, inicia em 2018 queixas de desequilíbrio da mar- ca associada. A biópsia óssea não mostrou granu-
cha, lentificação do discurso, labilidade emocional lomas, e o mielograma revelou celularidade normal,
e diplopia vertical. As TC-CE e RM-CE  documentam com série megacariocítica aumentada em todos os
doença microvascular de substância branca; um estadios maturativos. Assumindo PTI, fez 1 toma de
EEG e a punção lombar não revelam alterações, não imunoglobulina endovenosa (IGEV) 1 g/kg e pulsos
havendo aparente causa reversível de demência. de metilprednisolona 500 mg durante 3 dias, segui-
Mantém a deterioração motora e cognitiva, com pa- dos de prednisolona 1 mg/kg/dia. Houve melhoria
résia de movimentos oculares verticais, aumento de progressiva da trombocitopenia, tendo alta em D15
tónus assimétrico à esquerda, apraxia ideomotora com 48x109/L plaquetas. Mantém seguimento em
esquerda, hiperreflexia generalizada, marcha com consulta, já com normalização hematológica, e em
base alargada e queda fácil. Prova terapêutica com redução progressiva do corticoide.
levodopa sem alterações. O estudo genético excluiu
demência frontotemporal e esclerose lateral amio- Discussão: a trombocitopenia pode ocorrer na sar-
trófica, com diagnóstico final de degeneração corti- coidose por 3 mecanismos: granulomas na medula
cobasal. Seguida em consulta, à última observação óssea, hiperesplenismo e, menos frequentemente,
apresentava-se com marcha em bicos de pés só PTI. Neste caso o primeiro mecanismo foi excluído;
possível com apoio bilateral,  e membros esquerdos o hiperesplenismo pode ter contribuído, mas certa-
com postura distónica. mente não foi a causa dominante, tendo em conta
a rapidez de instalação da trombocitopenia, a sua
Discussão: A degeneração corticobasal é uma gravidade, e a resposta à IGEV e corticoides. Os
forma rara de parkinsonismo atípico. Apesar de his- raros casos descritos de PTI na sarcoidose relatam
toricamente descrita como uma “doença motora”, início frequentemente grave, mas com boa resposta
são atualmente reconhecidos sintomas cognitivos e à terapêutica convencional.
comportamentais. O diagnóstico é complexo e não
existe tratamento específico, com redução progres- P n.º 1564 
siva da qualidade de vida. CO-INFEÇÃO COVID19 E TUBERCULOSE
Andreia Coutinho(1);João Correia Cardoso(1);Patrí-
P n.º 1563  cia Rocha(1);Carla Melo(1);Violeta Iglesias(1);Mário
SARCOIDOSE E PÚRPURA TROMBOCITOPÉNICA Esteves(1)
IMUNE: UMA ASSOCIAÇÃO RARA (1) Centro Hospitalar do Médio Ave, EPE / Unidade
Manuel António Monteiro(1);Luís Reis(2);Mariana de Vila Nova de Famalicão
Morais(2);Mário Rodrigues(2)
(1) Unidade Funcional Medicina 1.2 - Hospital de Tema: Doenças respiratórias
São José - CHULC (2) Hospital de São José
Tema: Doenças hematológicas INTRODUÇÃO

Introdução: a sarcoidose é uma doença granuloma- A tuberculose permanece um problema importan-


tosa sistémica, de etiologia desconhecida. As ma- te de saúde pública e uma das principais causas
nifestações hematológicas são incomuns, sendo a infecciosas de morte em todo o mundo. Por outro
trombocitopenia extremamente rara, com incidência lado, a COVID19 tornou-se uma pandemia, sendo
de 1-2%. Apresentamos um caso de púrpura trom- responsável por uma carga elevada de morbilidade
bocitopénica imune (PTI) grave após diagnóstico e mortalidade global. Parte dos fatores que influen-
recente de sarcoidose. ciam a susceptibilidade dos doentes ao SARS-COV2
sobrepõe-se aos que conferem susceptibilidade ao
Mycobacterium tuberculosis, tornando possível a
Caso clínico: um homem de 44 anos, saudável, foi
692
E-POSTERS
co-infeção. Apesar de serem duas infeções muito Caso Clínico: Homem de 71 anos, com diagnósticos
comuns atualmente, poucos casos foram descritos de tumor neuroendócrino carcinoide do duodeno 
de infeção simultânea. excisado em 2006 após investigação etiológica de
anemia ferropénica, inicia em 2013 investigação
CASO CLÍNICO de policitémia assintomática, com valor máximo
de hemoglobina de 18.4g/dL. Estudo etiológico
Homem de 58 anos, ex-fumador, em estudo por inconclusivo até final de 2013, altura em que é refe-
suspeita de silicose e com infeção respiratória ativa rida “visão turva”, com posterior documentação de
a SARS-COV2 com 3 dias de evolução. Recorre ao massa coroideia. Submetido a enucleação do globo
serviço de urgência por febre, tosse com expeto- ocular em 2014, com relatório anatomo-patológico
ração hemoptoica com 4 dias de evolução e perda a referir melanoma maligno da coroideia. Regressão
ponderal não quantificada. Ao exame físico salien- da poliglobúlia após intervenção cirúrgica, no entan-
ta-se aparência emagrecida e taquicardia. O estudo to com posterior recidiva de doença e metastização
analítico apresentou leucocitose e elevação da pro- hepática e pulmonar, tendo falecido em 2019 por
teína C reativa e de D-Dímeros; a tomografia compu- progressão da mesma.
torizada de tórax mostrou densificação da língula de
contornos irregulares, sem evidência de broncogra- Discussão: Deve ser excluída etiologia neoplásica
ma aéreo, com pequenas zonas de cavitação. Rea- na investigação etiológica de policitémia secundá-
lizou exame bacteriológico e micobacteriológico de ria. Justificamos a apresentação deste caso pela
secreções brônquicas que revelou: PCR BK e exame raridade quer da patologia, quer da forma de insta-
cultural positivos (serologia do VIH negativa). lação.
Estamos, portanto, perante um doente com co-in- P n.º 1570 
feção respiratória a SARS-COV2 e Mycobacterium Trombose venosa mesentérica - um diagnóstico
tuberculosis. Iniciou terapêutica antibacilar com inaugural de infeção por VIH
evolução favorável e à data de alta foi encaminhado Sofia Carola(1);Fábio Correia(1);Sofia Bragança(1);-
para o centro de diagnóstico pneumológico local. Carolina Mateus(1);Martim Trovão Bastos(1);Clara
Matos(1);Inês Silva(1);Teresa Branco(1)
CONCLUSÃO (1) Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca
Este caso reporta um doente com co-infeção (ad- Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
quirida na comunidade) a SARS-COV2 e Mycobacte-
rium tuberculosis. Trata-se de um doente com pato-
logia pulmonar em estudo, o que pode ter sido um Introdução: A trombose venosa mesentérica (TVM)
fator de susceptibilidade para o desenvolvimento é uma entidade pouco frequente de etiologia multi-
concomitante de ambas as infeções. Para além do fatorial, identificando-se na maioria dos casos pelo
desafio diagnóstico, uma vez que a apresentação menos um fator de risco. A apresentação clínica
de cada uma destas doenças pode ser semelhante, é variável de acordo com localização e tempo de
o tratamento também é complexo, sendo essencial evolução, sendo necessário um índice de suspeição
o uso criterioso de corticóides para o tratamento elevado para o diagnóstico. O estudo etiológico in-
da infeção respiratória a SARS-COV2, pelo risco de clui a pesquisa de fatores de risco para estados de
exacerbação de outras infecções pela imunossu- hipercoagulabilidade.
pressão. Este doente não apresentava insuficiência
respiratória grave e não realizou tratamento com Caso Clínico: Homem de 52 anos, sem história mé-
corticóide, evitando assim o risco de agravamento dica ou familiar relevante. Recorreu ao serviço de
da tuberculose pulmonar. urgência por quadro de 5 dias de evolução de epi-
gastralgia com irradiação dorsal e obstipação. Rea-
P n.º 1568  lizou ecografia abdominal com achados sugestivos
Uma causa rara de policitémia de isquémia mesentérica, pelo que fez AngioTAC
João Luís Cavaco(1);Ana Furão Rodrigues(1);Sara abdomino-pélvica confirmando oclusão trombóti-
Vasconcelos-Teixeira(1);Ana Oliveira Pedro(1);Antó- ca da veia mesentérica inferior, com extensão aos
nio Pais de Lacerda(1) confluentes espleno-portal e da veia mesentérica
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi- superior, sem evidência de enfarte intestinal. Da in-
tal de Santa Maria vestigação etiológica, a salientar, serologia VIH1 po-
sitiva (carga viral de 36.100copRNA/mL e linfócitos
Tema: Doenças oncológicas
T CD4+ de 201 cel/ul), défice de proteína S (40%) e
ausência de evidência imagiológica de neoplasia
Introdução: Neoplasias são causas incomuns em TAC de corpo. Iniciou hipocoagulação oral tera-
de policitémia secundária. Os tumores mais fre- pêutica com apixabano e terapêutica anti-retroviral
quentemente associados são o carcinoma renal, (TARV) com dolutegravir+emtricitabina+tenofovir. À
hemangioblastoma cerebeloso, leiomioma uterino, data da alta, encaminhado para consulta de imuno-
feocromocitoma, paraganglioma e hepatoma. Apre- supressão com reavaliação analítica.  
sentamos um caso de uma policitémia secundária a
melanoma da coroideia. Discussão: A infeção por VIH é por si só um factor
de risco conhecido para eventos tromboembólicos,

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 693


relacionando-se de forma direta com o grau de imu- noma das vias biliares e de hepatocarcinoma, razão
nossupressão, devendo a sua pesquisa integrar o para alteração quanto ao seguimento e ao próprio
estudo etiológico. Existe evidência da relação entre tratamento.
a infeção por VIH e défice adquirido de proteína S,
porém a relação dessa associação com o aumento P n.º 1583 
de risco tromboembólico não está ainda estabeleci- Quando o doente nos coloca uma questão difícil
da. A interação entre os novos anticoagulantes orais Margarida Santos(1);Sara Silva(1);Isabel Tavei-
e a terapêutica antiretroviral foi outro aspecto a ter ra(1);Alexey Shigaev(1);Henrique Rita(1)
em conta neste caso. O diagnóstico atempado da (1) Hospital Litoral Alentejano
TVM é fundamental, uma vez que a instituição pre-
coce de hipocoagulação confere melhor prognósti- Tema: Doenças oncológicas
co comparativamente a outras formas de isquémia
mesentérica. Introdução: Neoplasias síncronas ou primitivas
múltiplas dizem respeito a duas ou mais neoplasias
P n.º 1580  malignas que ocorrem no mesmo indivíduo, que po-
“Colite ulcerosa-CEP: Respeitar as relações” dem envolver o mesmo órgão ou órgãos diferentes
Cristiana Honrado Martins(1);Filipa Abreu Mar- e cuja tradução clínica ocorre num período temporal
tins(1);Guilherme Castro Gomes(1);Céu Rodri- inferior a 6 meses. É um acontecimento raro (ocor-
gues(1);Bárbara Fontes Oliveira(1);Sara Cos- rem em cerca de 2 a 17% dos casos) e comporta
ta(1);Marta Braga Martins(1) maiores dificuldades terapêuticas e consequente-
(1) Hospital de Braga mente maior mortalidade.
Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá-
ticas Caso Clínico: Homem de 61 anos, com hábitos
alcoólicos (156 g álcool puro/dia) e tabágicos (45
Unidades Maço Ano) pregressos. Admitido no servi-
Introdução: A coexistência da Colangite Esclero- ço de urgência por cefaleia de intensidade variável
sante (CEP) com a Colite Ulcerosa (CU), parece ser e diminuição da força do hemicorpo direito (agra-
mais que fortuita, já que na sua génese pode estar vava com a cefaleia) de predomínio nocturno. Sem
uma base imune e, por esta via, sobreposição com outros défices focais ou outros sintomas acompa-
outras doenças auto-imunes e, ainda, substrato ge- nhantes. Ao exame objectivo salientava apenas hi-
nético comum. Acresce que, na sua evolução, pode pocratismo digital. Ao exame neurológico mantinha
haver condicionamento recíproco. pausas anómicas com o discurso prolongado.
Em Tomografia computorizada crânio encefálica
Caso clínico: Homem, 39 anos, diagnóstico de proc- (TC-CE) com angiografia apresentava lesão ocupan-
tite ulcerosa sob messalazina. Por apresentar nas do espaço frontal com edema peri-lesional e desvio
análises padrão citocolestático (ALT 8x LSN, AST 3x das estruturas da linha média e em Ressonância
LSN, GGT 3xLSN), Ac anti-DNAds 283, ANA 1/1280, magnética CE descrito glioblastoma multiforme
ASMA normal, realizou colangiorressonância grau IV da Organização Mundial de Saúde (OMS).
(CPRM) que não revelou qualquer alteração estru- Pedido TC cérvico-tóraco-abdómino-pélvico para
tural. Enviado à consulta de doenças auto-imunes estadiamento neoplásico que mostrou nódulo espi-
para investigação de doença sistémica e do tecido culado no lobo inferior do pulmão direito, com cerca
conjuntivo subjacentes. Referia prurido ligeiro e de 57 mm x 54 mm, associado a espessamento
colúria, não apresentava icterícia nem sintomas ge- pleural. Internado posteriormente para realização de
rais, e não tinha evidência de patologia hepato-biliar Biópsia Aspirativa Transtorácica (BATT) cujo resul-
colestática, hemólise, doença sistémica auto-imune tado anátomo-patológico mostrou Adenocarcinona
ou suspeita de doença metabóllica ou malformativa pulmonar. Discutido caso em consulta de decisão
congénita/familiar. O diagnóstico positivo de CU, terapêutica e proposto início de ciclo de radioterapia
embora com normalidade da CPRM, exigia exclusão e quimioterapia, para o qual o doente questiona:
definitiva de CEP inaparente. A biópsia hepática re- “diga-me a verdade doutora, vale a pena fazer o tra-
velou CEP de pequenos ductos e alterações compa- tamento?”.
tíveis com hepatite auto-imune (HAI), corroborando,
assim, a existência da simultânea de CU e de CEP, Discussão: Muitas vezes na nossa prática clíni-
e Síndrome de Sobreposição de CEP-HAI. O doente ca somos confrontados com situações de difícil
iniciou terapêutica dirigida à HAI com normalização gestão e onde a decisão pela clínica interventiva
dos parâmetros de lesão hepática. muitas vezes prevalece acima da qualidade de vida
do doente. As opções terapêuticas disponíveis
Discussão: As técnicas de imagem devem ter na clí- (nomeadamente a quimioterapia e a radioterapia),
nica e no bom-senso o enquadramento adequado. A comportam intrinsecamente efeitos adversos para
díade CU-CEP existe e deve ser procurada, mesmo o doente, muitas vezes mantendo incerteza relativa-
contra a evidência. Numa primeira abordagem pa- mente ao benefício clínico. Neste caso específico,
recia tratar-se da sobreposição simples da CU com atendendo à extensão e localização das lesões,
uma HAI. A possibilidade da existência simultânea bem como o facto de o doente se encontrar assinto-
de CEP, ainda que de pequenos ductos, tem de ser mático, fica a questão, valerá a pena?
excluída dado o risco do desenvolvimento de carci-

694
E-POSTERS
P n.º 1585  disciplinar é assim de suma importância na minimi-
Uma isquemia que ia passando despercebida! - Um zação de possíveis erros médicos.   
alerta para a importância da multidisciplinaridade
Sílvia Santos(1);Catarina Silva Araújo(1);Ricardo Mi- P n.º 1587 
guel Costa(1);Sandra Correia(1);Joana Bravo(1);Jo- NEOPLASIA DA MAMA: UMA APRESENTAÇÃO
sé Pedro Pinto(1);Francisco Grilo(1) RARA
(1) Hospital de Braga Maria Margarida Pereira(1);Marisa Brochado(1);A-
na Cristina Mestre(1);Ana Alves Oliveira(1);Petra m
Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá- Pego(1)
ticas (1) Hospital Distrital de Santarém, EPE
Tema: Doenças oncológicas
Introdução

Introdução: O cancro da mama é a neoplasia mais


A isquemia aguda da mesentérica é uma patologia frequente no sexo feminino. Cerca de 6% das mu-
rara, mas que pode ser altamente deletéria se atra- lheres tem neoplasia da mama metastizada no
so no diagnóstico. Ocorre quando existe uma obs- momento do diagnóstico, sendo os locais mais co-
trução ao normal fluxo sanguíneo, e as áreas mais muns de metastização o pulmão, osso, fígado e sis-
afetadas são a flexura esplénica e a junção recto- tema nervoso central. Apresentamos um caso raro
sigmoideia (Ponto de Sudeck). No caso da isquemia de metastização do tracto gastrointestinal (TGI).
cólica os doentes habitualmente são mais velhos,
com história de dor moderada que agrava com a
palpação e associado a rectorragias ou diarreia san- CASO CLÍNICO: Doente do sexo feminino, 79 anos
guinolenta.  de idade, cognitivamente íntegra, com antecedentes
patológicos conhecidos de fibrilhação auricular e
Caso Clínico história de trombose venosa profunda – hipocoa-
gulada com edoxabano, cardiopatia hipertensiva,
Mulher de 55 anos de idade, autónoma, com ante- doença renal crónica, hipotiroidismo e bronquite
cedentes de fibromialgia. Medicada habitualmente crónica. Internada para estudo por vómitos e diar-
com Diazepam e Duloxetina. Recorre ao Serviço de reia de carácter subagudo com anemia normocítica
Urgência por dor abdominal com 15 dias de evolu- e normocrómica com necessidade transfusional
ção, em agravamento progressivo apesar da anal- e doença renal crónica agudizada. Realizou tomo-
gesia instituída pelo médico assistente. Associada- grafia computorizada de corpo e tomografia por
mente referia rectorragia em quantidade ligeira nos emissão de positrões que mostraram várias lesões
últimos 2 dias. Ao exame físico o abdómen estava osteoblásticas dispersas. No seguimento do estudo
distendido, era mole e depressível, mas difusamente de neoplasia oculta foi pedida colonoscopia que
doloroso à palpação profunda. Analiticamente e no identificou área de mucosa irregular e ulcerada, cuja
exame de urina sem alterações de relevo. Realizou biópsia foi compatível com carcinoma lobular da
tomografia computorizada (TC) abdominal e pélvica mama, tendo sido feito o diagnóstico de neoplasia
com contraste onde foi relatada “presença de ar da mama com metastização óssea e intestinal. A
nos ramos periféricos da veia porta”. Foi contactada mamografia mostrou massa suspeita ao nível da
a radiologia para discussão do caso clínico reven- mama direita e edema exuberante ao nível do estro-
do toda a história e exames. Após uma pormenori- ma da mama esquerda, a merecer estudo dirigido.
zada análise das imagens de tomografia detetado Contudo, a doente apresentou degradação da sua
que “o cólon descendente e o sigmóide não apre- situação clínica, tendo vindo a falecer.
sentam o realce parietal semelhante ao restante
cólon pelo que é suspeito de um processo de isque- DISCUSSÃO: A metastização do TGI pelo cancro
mia”. O relatório de TC foi reescrito e a doente reali- da mama é rara, afetando cerca de 3.4 a 4.5% dos
zou de seguida rectosigmoidoscopia que identificou doentes. É mais frequente no cólon e recto, segui-
“mucosa colo-rectal eritematosa, friável e erosiona- dos do estômago e intestino delgado. O carcinoma
da, compatível com colite isquémica”. Ficou inter- lobular invasivo e as neoplasias com receptores
nada no serviço de cirurgia geral. Cumpriu terapêu- hormonais positivos são os mais relacionados com
tica antibiótica e apresentou boa evolução clínica e a metastização do TGI em comparação com os ou-
analítica, tendo retomado a dieta, com tolerância, e tros subtipos histológicos. O diagnóstico precoce
restabelecimento do trânsito intestinal.  é desafiante devido à sua raridade e sintomas ines-
pecíficos, pelo que devemos estar alerta para a sua
Conclusão potencial existência, principalmente na presença
dos subtipos referidos.
O diagnóstico de isquemia intestinal é um desafio,
nomeadamente, porque a apresentação clínica não P n.º 1589 
é específica. A presença de aeroportia, mesmo na “Emergência oncológica como forma de apresenta-
ausência de alterações analíticas sugestivas, deve ção neoplásica”
sempre colocar a hipótese de isquemia. No caso de Cristiana Honrado Martins(1);Filipa Abreu Mar-
dúvida a discussão entre especialidades é funda- tins(1);Margarida Correia(1);Guilherme Castro
mental para a definição precoce do diagnóstico e Gomes(1);Céu Rodrigues(1);Sara Costa(1);Bárbara
cuidados a instituir ao doente. A abordagem multi-
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 695
Fontes Oliveira(1);Marta Braga Martins(1) considerados, como o forâmen ovale patente (FOP),
(1) Hospital de Braga presente em cerca de 25% da população, podendo
chegar a 40% em jovens com acidente vascular ce-
Tema: Doenças oncológicas rebral criptogénico.

Introdução:  Emergências oncológicas são Caso clínico 


ocorrências ocasionais nos serviços de urgência, Mulher de 50 anos, com antecedentes de dislipide-
com tendência a aumentar em paralelo com a mia e obesidade, trazida ao Serviço de Urgência por
incidência crescente das neoplasias. O tratamento sonolência, tonturas e visão turva com poucas ho-
nem sempre é etiologicamente dirigido e pode ras de evolução. Associadamente, com queixas de
preceder a caracterização anatomopatológica. dispneia de esforço na semana prévia. Na avaliação
inicial hipertensa, com flutuação do estado de cons-
Caso clínico: Homem, 80 anos, grande fumador e ciência, limitação da adução do olho direito e aniso-
com DPOC grave. Fez tomografia computorizada coria. Com hipoxemia, hipocapnia e ECG com taqui-
(TAC) ambulatorial por dor da coluna e limitação da cardia sinusal. Realizou angio-TAC crânio que revela
marcha, tendo sido relatada apenas patologia dege- trombo no topo da artéria basilar, sem imagem de
nerativa. Admitido por instalação súbita de  pareste- enfarte estabelecido. Submetida a trombectomia,
sias e diminuição da força muscular dos membros com reversão completa dos défices. Fez angio-TAC
inferiores e perda da marcha. Negava queixas cons- torácico que mostrou um tromboembolismo pul-
titucionais ou sintomas de órgãos e sistemas além monar maciço bilateral. Internada para estudo etio-
do respiratório. Análises com evidência de infla- lógico, direcionado pela presença de eventos trom-
mação e padrão colestático marcado, sem citólise bóticos venosos e arteriais, com as possibilidades
hepática. No TAC havia nódulos pulmonares, lesões de embolia paradoxal e estado pró-trombótico con-
ósseas suspeitas (D4 e costais), volumosa massa comitante. Realizou ecocardiograma transesofági-
hepática sugestiva de colangiocarcinoma, adenopa- co a confirmar FOP com shunt bidirecional. Estudo
tias no hilo hepático e próstata moderadamente au- pró-trombótico orientado pelos sinais e sintomas,
mentada e heterogénea. A ressonância magnética destacando-se uma massa de grandes dimensões
confirmou grande massa captante em D4, com des- palpável no hipogastro, pouco móvel e indolor. Rea-
truição óssea, invasão intracanalar e compressão lizado TAC abdominal, a salientar volumosa massa
medular radicular. Iniciou corticóide e radioterapia uterina, com dimensões de 12.5 x 9 x 15.5 cm. Ava-
com reversão parcial dos défices. Investigação do liada por ginecologia e submetida a histerectomia
tumor primário: CA19.9-8265 (N<37), CA15.3-2890 pela forte suspeita de sarcoma uterino. Mais tarde,
(N<32), PSA 11.24. Broncofibroscopia normal. Bióp- histologicamente, não se confirmou, obtendo-se o
sia de massa de arco costal e da massa hepática diagnóstico de leiomioma. 
revelaram metastização de adenocarcinoma não
definido. Ecografia prostática com próstata de 60cc Discussão 
e nódulo. Biópsia prostática revelou adenocarcino-
ma acinar, Gleason 4+4, grau 4. Transferido para Este caso ilustra a necessidade de ter em conta
Urologia, onde iniciou tratamento paliativo. vários fatores, por vezes simultâneos, no estudo de
eventos trombóticos, permitindo revisitar questões
Discussão:. Tumores da próstata em idade avan- como hipocoagulação, a abordagem terapêutica do
çada são, no geral, indolentes. Ainda assim, um FOP, nomeadamente indicações muitas vezes con-
pequeno grupo apresenta-se com metastização dis- troversas para o seu encerramento, e o seu papel na
seminada (mais frequentemente óssea). O interesse etiologia destes eventos.
do caso resulta dos vários aspectos confundidores
quanto à génese do tumor primário (pulmonar; he- P n.º 1593 
pático; prostático) e da expressão generalizada de Anemia hemolítica secundária a IECA
um tumor sem ter dado sintomas prévios. Carlos Rego Gonçalves(1);Ana Sofia Ferreira(1);An-
dré Calheiros(1);Raquel Costa(1);Joana Silva(1);Bár-
P n.º 1592  bara Sousa(1);João Carlos Veloso(1);Paula Bran-
Trombose arterial e venosa - um caso clínico dão(1)
Filipa Abreu Martins(1);Cristiana Honrado Mar- (1) Unidade Local de Saúde do Alto Minho, EPE /
tins(1);Carolina Veiga(1);Luís Dias(1);Margarida Hospital de Santa Luzia
Correia(1);Bárbara Fontes Oliveira(1);Marta Braga
Martins(1);Céu Rodrigues(1);Castro Gomes(1) Tema: Doenças hematológicas
(1) Hospital de Braga
Há múltiplas causas de anemia hemolítica e os me-
Tema: Doenças cardiovasculares dicamentos não são a causa mais comum. A chave
que identifica a hemólise como causa da anemia
Introdução  deve-se ao aumento dos reticulócitos que não é
explicada por hemorragia ou défice nutricional cor-
rigido recentemente e concomitantemente aumento
Os eventos trombóticos, arteriais ou venosos, são da desidrogenase láctica e bilirrubinas, diminuição
frequentes. O seu estudo pode ser um desafio, prin- da haptoglobina e alterações da forma dos glóbu-
cipalmente em jovens. Vários fatores devem ser
696
E-POSTERS
los vermelhos observável no esfregaço de sangue de da marcha autónoma desde o ano anterior. Foi
periférico. Há dois mecanismos major de anemia assumida neuropatia em contexto de défice grave
hemolítica induzida por fármacos a imuno-mediada de cobalamina, motivo pelo qual iniciou estudo de
e destruição por stress oxidativo. A microangiopatia anemia perniciosa, apresentando anticorpos anti-cé-
trombótica induzida por fármacos é a menos co- lula parietal e anti-factor intrínseco positivos. Iniciou
mum. terapêutica com vitamina B12 intramuscular sema-
nalmente numa primeira fase e mensalmente poste-
Relata-se o caso de uma senhora de 81 anos, hiper- riormente, com seguimento pela equipa de Medicina
tensa e seguida em dermatologia por prurido. Sem Física e Reabilitação. Nas consultas subsequentes,
antecedentes familiares de relevo. Internada para verificou-se uma normalização dos valores de vita-
estudo da anemia. Com um quadro com 3 semanas mina B12 (248mcg), com uma melhoria da marcha
de evolução de cansaço e astenia, com diagnósti- (mantendo necessidade de apoio com canadianas)
co recente de anemia. Ao exame físico, mucosas e da incontinência urinária. Apresentou posterior-
descoradas e hidratadas, escleróticas ictéricas, AC: mente, uma dor tipo queimadura ao longo de ambos
S1 e S2 rítmicos e sem sopros, abdómen: mole, de- os membros inferiores, admitida como dor neuro-
pressível, indolor à palpação , sem massas ou orga- pática e medicada com pregabalina 50mg (12/12
nomegalias. Restante exame físico sem alterações. horas), com melhoria na consulta seguinte.
Analiticamente: Hb 7.0 (MCV 98.5, MCH 35.7), Plaq Discussão: Os autores pretendem com este caso
232.000; BT 2.0, BD 0.66, LDH 350, Tx Ret 7.3%, hap- mostrar como manifestações sistémicas graves
toglobinas <8, Reação de Coombs directa positiva, podem, por vezes, ter uma causa facilmente identifi-
esfregaço sanguineo: abundantes esferocitos; estu- cável e curável. Pretendem ainda dar a conhecer um
do por TAC abdominal sem hepatoesplenomegalia. caso extremo associado a um défice vitamínico.
Sem alterações relevantes dos principais orgãos do
andar superior do abdomen, designadamente sem P n.º 1601 
ectasia do sistema excretor biliar, pancreatico e Hipertensão intracraniana por tetraciclina: Uma
urinario. Colocada a hipótese de anemia hemolítica complicação rara
secundária a IECA e iniciou corticóide. Atualmente Bruno Bonito(1);Janice Alves(2);Joana Cartu-
a doente está sem anemia, seguida em Hospital de cho(1);Joana Diogo(1);Inês Ângelo(1);Carla
Dia para redução progressiva de corticóide e contro- Fernandes(1);Maria João Mello Vieira(1);Martinho
lo analítico. Fernandes(1)
(1) Centro Hospitalar Barreiro/Montijo, EPE / Hospi-
O caso clínico relata o caso de anemia hemolític tal Nossa Senhora do Rosário (2) Centro Hospitalar
secundária a IECA, uma vez que foi o único medi- de Setúbal, EPE / Hospital de São Bernardo
camento introduzido para controlo tensional nas
semanas que antecederam a vinda às urgências. Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas
Apesar de raro ou não descrito na literatura, o diag-
nóstico permitiu à doente controlar a causa da sua
anemia e manter qualidade de vida. Introdução: A tetraciclina é um fármaco frequente-
mente utilizado no tratamento da infecção por Heli-
P n.º 1596  cobacter pylori (HP). Um efeito secundário raro des-
O extremo da deficiência de vitamina B12 - um te fármaco é hipertensão intracraniana (HIC).
caso clínico Apresentamos o caso de uma doente que desenvol-
Fausto Silva Pinto (1);Catarina Faria(1);Marco Fer- veu um quadro de HIC transitória após tratamento
nandes(1);Hugo Moreira(1);Luís Campos(1) com tetraciclina.
(1) Hospital São Francisco Xavier
Caso clínico: Mulher de 55 anos com antecedentes
Tema: Doenças hematológicas de enxaqueca, diabetes mellitus não insulinotratada,
síndrome depressivo e com história recente de cefaleia
Introdução: A cobalamina, a par do folato, é funda- hemicraniana à direita tipo picada. Em contexto de estudo
mental para a síntese de DNA e maturação nuclear de epigastralgias, realizou endoscopia digestiva alta, que
dos eritroblastos. O seu défice pode cursar com detetou infeção por Helicobacter pylori, tendo sido
uma anemia megaloblástica, e em casos graves, medicada com com Pylera® (subcitrato de bismuto
associar-se com sintomas neurológicos. potassico (140 mg) + metronidazol (125 mg) + tetra-
ciclina (125 mg)). Dias depois do início do tratamen-
Caso Clínico: Homem, 22 anos, evacuado da Guiné to de erradicação da HP, houve agravamento da ce-
em maio de 2019 por um diagnóstico de valvulopa- faleia, com caracter pulsátil e alteração da acuidade
tia de novo. Encaminhado do Serviço de Urgência visual, mais grave no olho esquerdo. Foi observada
em julho de 2019 para a consulta de Medicina Inter- por Oftalmologia que objetivou edema papilar, ini-
na por diminuição progressiva da mobilidade dos ciou tratamento com prednisolona, acetazolamida
membros inferiores, incontinência de esfíncteres e triflusal. Posteriormente, após observação pela
e défice de vitamina B12 (< 74mcg) com macro- Neurologia, a doente foi encaminhada para interna-
citose e anisopoiquilocitose, sem outros défices mento para estudo.
nutricionais. Na consulta, referia dorso-lombalgia Durante o internamento referiu melhoria subjecti-
com três anos de evolução, com perda de capacida-

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 697


va da acuidade visual, à fundoscopia continuou a Sífilis, Coxiella, Borrelia, Ricketsia e Brucella eram
observar-se edema e palidez do disco óptico bilate- negativas. Foi realizada radiografia da articulação
ralmente, mais evidente à direita e com contornos glenoumeral bilateral que não mostrou alterações.
menos definidos à esquerda, embora com evolução Assumiu-se o diagnóstico de polimialgia reumática
favorável e sem outras alterações ao exame neuro- e a doente iniciou prednisolona na dose de 15 mg
lógico. Realizou TC, angioTC e RM cranioencefálica com excelente resposta à terapêutica instituída.
sem alterações, analiticamente também sem altera- Conclusão: Desde cedo se considerou que a infeção
ções, punção lombar inocente. Teve alta clinicamen- por Parvovirus B19 poderia ser um fator precipitante
te melhorada após suspensão do Pylera® e terapêu- para a polimialgia reumática e, apesar da literatura
tica com acetazolamida e metilprednisolona. atual ser controvérsia em estabelecer esta relação,
são vários os casos já descritos desta associação.
Discussão: As manifestações mais comuns de hi- Com este caso clínico pretende-se salientar a im-
pertensão intracraniana são cefaleia e papiledema. portância da história clínica na marcha diagnóstica
Outros sintomas incluem diplopia e alterações vi- e dos estímulos infeciosos nas patologias autoimu-
suais. A hipertensão intracraniana associada ao uso nes e reumatológicas
de tetraciclina é uma complicação rara que acomete
com maior frequência mulheres jovens com exces-
so de peso. Em doentes tratados com tetraciclina P n.º 1604 
que desenvolvem cefaleia e papiledema, sem cau- Right atrial mass and intermediate-high risk pulmo-
sa aparente, deve ser equacionada no diagnóstico nary embolism. Is reperfusion a better strategy?
diferencial a relação com o fármaco. Atendendo à Mariana Martinho(1);Rita Calé(1);Melanie Ferrei-
raridade desta etiologia na hipertensão intracrania- ra(1);Filipa Ferreira(1);Inês Cruz(1);Tatiana Soares
na, pretendem o autores partilhar este caso com os Correia(1);Catarina Abreu(1);Ana Gomes(1);Tiago
colegas. Judas(1);Hélder Pereira(1);Francisca Delerue(1)
(1) Hospital Garcia de Orta, EPE
P n.º 1602 
Infeção por Parvovírus B19 e Polimialgia Reumáti- Tema: Doenças cardiovasculares
ca
Tiago Dias da Costa(1);Ana da Mota Maga- Free-floating right-atrial (RA) masses are rare in
lhães(1);Ana Borges(1);Lèlita Santos(1);Armando acute Pulmonary Embolism (PE) and are associated
Carvalho(1) with increased mortality. Treatment of such cases
(1) Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra / remains unclear, specifically in hemodynamically
Hospitais da Universidade de Coimbra (HD) stable patients (pts), where first-line reperfu-
sion is potentially a more adequate strategy.  This
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas- case intends to illustrate the gap of evidence for the
culites management and follow-up given the absence of
randomized clinical trials.
A polimialgia reumática é uma doença inflamatória
sistémica que afeta predominantemente indivíduos A 68-year-old obese woman with no medical history
com idade superior a 50 anos. A sua etiologia é presented with an intermediate-high risk PE. Besides
desconhecida, mas encontra-se associada a fatores right ventricle (RV) dysfunction, transthoracic echo-
genéticos e ambientais. O Parvovirus B19 esta clas- cardiogram also revealed a large and highly mobile
sicamente implicado no eritema infecioso, contudo RA mass, without the typical serpiginous aspect of
a infeção por este agente contempla um grande es- a mobile thrombus, increasing the suspicion of a
pectro de sintomas e pode servir de terreno a doen- tumor, namely a myxoma. The Pulmonary Embolism
ças autoimunes e reumatológicas. Response Team was activated and unfractionated
Caso Clínico: Doente do sexo feminino, 79 anos, heparin (UFH) was started with the intention to be-
caucasiana e previamente autónoma. Recorreu ao tter characterize the mass and referral to surgery.
SU por poliartralgias nas articulações sacroilíacas One month after UFH, there was no decrease in the
e glenoumerais de ritmo inflamatório com a dura- mass volume and cardiac magnetic resonance and
ção de 15 dias e com agravamento progressivo. positron emission tomography were compatible
Referia rigidez matinal com uma duração superior with thrombus. Due to ineffective anticoagulation,
a 30 minutos na cintura escapular e pélvica e limi- surgical RA embolectomy and left pulmonary endar-
tação da mobilidade com incapacidade funcional terectomy were performed, with histopathology con-
nos membros superiores. Negava astenia, anorexia, firming thrombus. Although thrombophilia screening
cefaleias e alterações da visão. Ao exame objetivo was not performed, the patient was discharged with
apresentava-se hemodinamicamente estável, eup- edoxaban 60mg o.d. She had recurrent respiratory
neica em ar ambiente, apirética e com um eritema symptoms for which she did not seek medical assis-
maculopapular na face com palidez perioral. Do es- tance and died 10 weeks after surgery. Autopsy was
tudo analítico salienta-se: ferritina 1046 ng/mL, PCR not performed.
28.78 mg/dL e VS 54 mm/h. No que concerne ao
estudo da autoimunidade os anticorpos antinuclea- For atypical non-serpiginous thrombi, a thorough
res e citoplasmáticos, anti dsDNA e anti CCP eram investigation based on a multimodality imaging
negativos. Tinha anticorpos para Parvovírus IgG e approach is essential for the differential diagnosis
IgM positivos (em título alto). As serologias para and therapeutic decision. According to the 2019
698
E-POSTERS
ESC guidelines, reperfusion treatment is recom- gilizado pode evoluir rapidamente para uma sépsis
mended for HD instability. For HD stable pts the evi- grave com falência multissistémica, pelo que o seu
dence is conflicting, with some studies suggesting tratamento não deve ser protelado.
surgical thrombectomy as the best option due to
increased risk of further embolization with throm- Salienta-se ainda o caso, pelo reduzido número de
bolysis and anticoagulation. In the present case, casos descritos na literatura de sépsis grave com
UFH was started with the intention to better charac- origem em parotidite aguda.
terize the mass, but early surgery might have been a
better strategy considering findings of a large mobi- P n.º 1613 
le thrombus, the proximal localization of the pulmo- Cefaleia persistente como manifestação incomum
nary embolus, HD stability and the non-response to de síndrome dos anticorpos antifosfolípidos
medical treatment. Manuel g. Costa(1);Beatriz Fernandes(1);Carlos An-
jo(1);Diogo Cruz(1)
P n.º 1611  (1) HPP Hospital de Cascais
Choque sético por parotidite aguda bacteriana su-
purativa Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
Gonçalo rm Ferreira(1);Marlene Delgado(1);Rui Soa- culites
res Correia(1);Diana Pinho Santos(1);Ana Lemos(1)
(1) Centro Hospitalar Tondela-Viseu, EPE / Hospital Introdução: O lúpus eritematoso sistémico (LES) é
de São Teotónio, EPE uma doença heterogénea, multiorgânica e que se
relaciona com síndrome dos anticorpos antifosfolí-
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias pidos (SAAF).

Introdução: Caso clínico: Doente do sexo feminino, 35 anos,


com história de aborto espontâneo às 12 semanas
A parotidite aguda bacteriana (PAB) supurativa é e mutação do gene PT20210 GA, admitida por cefa-
uma doença pouco comum, que afeta predominan- leia persistente resistente à analgesia com 20 dias
temente o doente idoso e com comorbilidades e, de evolução. Foram realizados tomograma de crâ-
geralmente está associada a desidratação e sialoli- nio e punção lombar, que não revelaram alterações.
tiase. Dentro dos agentes patogénicos, o Staphylo- As serologias infeciosas foram negativas. Analiti-
coccus aureus é o mais frequente. A PAB pode dar camente com trombocitopenia ligeira. Apuraram-se
origem a complicações locais (abcesso) ou sistémi- episódios recorrentes de longa data de febre, ano-
cas (bacteriémia com consequente sépsis). rexia, cansaço, poliartralgias de ritmo inflamatório e
aftas orais. Dosearam-se anticorpos antinucleares
Caso Clínico: (título 1:160) de padrão mosqueado. Os anticorpos
anti-dsDNA, anti-Sm, anti-RNA polimerase I e anti-
Homem 91 anos, com antecedentes de gastropatia -U1RNP foram negativos. Doseou-se anticoagulante
ulcero-erosiva, doença cerebrovascular, fibrilhação lúpico e anticorpo anti-cardiolipina IgM fracos posi-
auricular sob hipocoagulação oral, insuficiência car- tivos, sendo negativos os restantes anticorpos an-
díaca e hipertensão arterial. Internado por anemia tifosfolípidos (AAF). Pela mutação da protrombina,
grave sintomática com necessidade transfusional. iniciou anticoagulação, com melhoria dos sintomas.
Durante o internamento, iniciou quadro de dor, Pontuando 21 pontos nos Critérios de Classificação
edema e rubor da região parotídea esquerda, com de LES da EULAR (2019), iniciou hidroxicloroquina e
saída de conteúdo purulento à aspressão do respe- prednisolona. Posteriormente, confirmou-se SAAF,
tivo ducto de Stenon. Horas após o diagnóstico e segundo classificação de Sapporo, por morte fetal e
de instituição de antibioterapia empírica, o doente confirmação de anticoagulante lúpico às 12 sema-
desenvolve quadro de instabilidade hemodinâmica, nas.
com necessidade de suporte aminérgico, pela au-
sência de resposta à fluidoterapia intensiva. Entre- Discussão: A SAAF caracteriza-se pela presença de
tanto, isolamento de S. aureus multissensível nas AAF associados a fenómenos trombóticos/ morte
hemoculturas e cultura do exsudado parotídeo, com fetal, sendo mais frequente em mulheres jovens.
ajuste da antibioterapia segundo TSA. Apesar de Desde a descrição inicial de Hughes que estão
melhoria com estabilidade hemodinâmica, o doente descritas manifestações neurológicas, sobretudo
evolui desfavoravelmente com disfunção renal com eventos vasculares cerebrais. Outras manifestações
anúria e insuficiência respiratória, vindo a falecer neurológicas têm sido descritas, nomeadamente
pelo quadro de sépsis grave com ponto de partida cefaleia persistente. A fisiopatologia está ainda por
em parotidite aguda. Contribuiu para a gravidade definir, mas, além das alterações microvasculares,
desta infeção, não só a idade do doente bem como pode incluir a ação deletéria direta dos AAF contra
a imunossupressão decorrente da sua neoplasia da as células gliais. Trata-se de um sintoma persistente
próstata com metastização óssea, diagnosticada no e difícil de controlar com analgésicos, mas com res-
decorrer do estudo da anemia. posta à anticoagulação, tal como se verificou neste
caso. Manifestações neurológicas menos comuns
Conclusão: são mais frequentes em doentes com SAAF secun-
dário a LES. Conclui-se que é necessário um eleva-
Embora seja rara, a PAB supurativa no doente fra-

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 699


do grau de suspeição perante manifestações menos Renata Monteiro (1);Maria Leonor Silva(2);Joana
comuns da SAAF. Mesmo na ausência de isquemia Cabrera(2);Filipa Borges Santos(2);Carlos Azeve-
documentada imagiologicamente, a anticoagulação do(2);Margarida Mota(2)
tem efeito terapêutico. (1) Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia / Espinho
(2) Hospital Gaia
P n.º 1614 
O que esconde um síndrome coronário agudo... Tema: Doenças hematológicas
Margarida Santos(1);Sara Silva(1);Isabel Tavei-
ra(1);Alexey Shigaev(1);Henrique Rita(1) Introdução: O diagnóstico de VIH cada vez menos
(1) Hospital Litoral Alentejano acontece na presença de infeções ou neoplasias
Tema: Doenças cardiovasculares oportunistas. No entanto, o estudo inicial de uma
neoplasia poderá constituir uma oportunidade para
rastreio da infeção VIH.
Introdução: A terapêutica fibrinolítica tem sido larga-
mente utilizada no tratamento do enfarte agudo do
miocárdio associando-se a uma redução na mortali- Caso Clínico: Doente do  sexo feminino, 57 anos,
dade por esta causa, no entanto comporta um risco referenciada à consulta por tumefação amigdalina
hemorrágico significativo, sendo o risco de hemorra- e quadro constitucional com 3 meses de evolução.
gia intracraniana a complicação mais temida. Referida perda ponderal involuntária de 20 kg, aste-
nia, anorexia, picos febris recorrentes e episódios de
hipersudorese nocturna. Analiticamente com bicito-
Caso clínico: Homem de 61 anos, com história de penia (anemia e leucopenia), citocolestase hepática
hipertensão arterial, dislipidémia, tabagismo (45 grave e alterações da coagulação. TC abdominal
Unidades Maço Ano) e hábitos alcoólicos (não con- revelou múltiplas adenopatias cervicotorácicas e es-
tabilizados). Admitido no serviço de urgência por plenomegalia e dispersos micronódulos hepáticos.
dor torácica retroesternal opressiva com 6 horas de Na sequência do estudo, realizou-se o diagnóstico
evolução. Analíticamente Troponina ultrasensível de VIH inaugural com 33 células CD4+ (3.8%) e car-
aumentada (6696 pg/mL) e em electrocardiograma ga vírica de 741.0000 cópias. Realizadas biópsias
mostrava enfarte agudo do miocárdio da parede amigdalina, gânglio cervical e hepáticas no senti-
lateral, com supradesnivelamento do segmento do de obter um diagnóstico breve em doente com
ST. Transferido para o hospital de referência de Car- insuficiência hepática em agravamento e uma vez
diologia onde realizou cateterismo cardíaco urgente que os estudos por imunofenotipagem se revelaram
com angioplastia primária do segmento proximal inconclusivos. O resultado histológico veio confir-
da artéria circunflexa (revascularização do segmen- mar o diagnóstico de Linfoma de Hodgkin clássico
to distal sem sucesso). Por manter dor precordial amigdalino e com envolvimento hepatoesplénico,
pós-procedimento, realizou fibrinólise com Tenecte- estadio IV.
plase, sem intercorências imediatas. Regressou ao
hospital da área de residência com indicação para
manter hipoagulação e antiagregação com terapêu- Discussão: Apesar de o linfoma de Hodgkin não ser
tica tripla durante os 5 dias subsequentes, no entan- uma neoplasia definidora de SIDA, a prevalência na
to, 24 horas depois, inicia quadro de alteração do população com VIH é cerca de 10 vezes superior
estado de consciência, confusão, afasia de expres- à população geral. Considerado assim por vários
são e hemiplegia direita. Pedida Tomografia com- autores como uma neoplasia oportunista associada
putorizada crânio encefálica (TC CE) que mostrou ao VIH. A cabeça e o pescoço é a localização pre-
“volumoso hematoma cortico-subcortical parietal ferencial de linfomas em indivíduos VIH. Como tal,
esquerdo com edema vasogénico associado”. Esta- ao diagnóstico de um linfoma dessa região deverá
bilizado o quadro, foi transferido para o serviço de ser realizado o despiste de infeção VIH. No entanto,
cuidados intermédios para vigilância e reabilitação. o linfoma de hodgkin amigdalino é uma entidade
extremamente rara, constituindo apenas 1% dos
Discussão: A fibrinólise representa mais uma “arma” linfomas do anel de Waldeyer e portanto facilmente
terapêutica no tratamento do síndrome coronário confundível com outras condições clínicas neces-
agudo com supradesnivelamento ST em fase aguda, sitando do exame histológico para confirmação
minimizando o tempo de oclusão da artéria coroná- diagnóstica e traduzindo-se assim um desafio diag-
ria envolvida e impedindo a sua reoclusão, no entan- nóstico.
to, tem também maior o risco hemorrágico associa-
do, especialmente em doentes acima dos 75 anos e P n.º 1618 
uso concomitante de fármacos hipocoagulantes e Colangite Biliar Primária em homem, a Propósito
antiagregantes plaquetários. Neste caso por se tra- de um Caso Clínico
tar de um doente mais jovem, com vários factores Andreia Diegues(1);Sérgio Alves(1);Ana Rita Alves
de risco cardiovascular foi utilizada uma terapêutica Lopes(1);Cristiana Batouxas(1)
de revascularização mais agressiva, levando infeliz- (1) Unidade Local de Saúde do Nordeste
mente a um desfecho mais desfavorável.
Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá-
P n.º 1615  ticas
Linfoma de Hodgkin amigdalino: uma entidade rara

700
E-POSTERS
Introdução: A colangite biliar primária (CBP) é uma changes.
doença hepática colestática autoimune crónica, rara
e mais frequente em mulheres.  O diagnóstico é ba- Computer tomography (CT) scan showed the pre-
seado na presença de hepatite colestática em as- sence of multiple white matter hypodense lesions,
sociação com anticorpos antimitocondriais (AMA) with predominance for the right cerebral hemis-
circulantes. Caso Clínico: Homem, 62 anos com phere. Cerebral magnetic resonance imaging (MRI)
história de hipertensão com lesão renal, dislipide- identified multiple scattered lesions, on the white
mia, hiperuricemia, colecistectomia por colecistite matter of both hemispheres, with hyperintensity in
aguda e consumo de 25gr de álcool/dia. Avaliado T2 and ring contrast-enhancing lesions post-con-
em consulta por quadro de anorexia, perda ponderal trast in T1 and FLAIR. Spinal MRI also revealed the
de 8Kg, astenia e prurido generalizado com 6 me- presence of one cervical lesion with hyperintensity
ses de evolução. Objetivamente a destacar “lesões in T2, confirming the diagnosis of multiple sclerosis.
de coceira” generalizadas. A investigação mostrou Cerebrospinal fluid (CSF) analysis also revealed the
Hemoglobina 15,4g/dL, plaquetas 149 x10^9/L, presence of IgG oligoclonal bands, without serum
TGP 126U/L, TGO 90U/L, FA 745U/L, GGT 1223U/L. correspondence. 
Ecografia abdominal com fígado de dimensões nor-
mais, homogéneo e contornos regulares. Serologias Patient failed to respond to intravenous methylpred-
víricas VIH, VHB e VHC negativas. O estudo imune nisolone pulse therapy, but showed significant neu-
com AMA 1/320, M2 e BPO positivos e IgM elevada. rological recovery after treatment with plasmaphe-
Realizou colangiorressonância que não mostrou resis. Since discharge, she has been on monoclonal
dilatação das vias biliares intra e extra-hepáticas antibody therapy with natalizumab.
ou outras alterações. Iniciou tratamento com ácido
Discussion: The subgroup of patients most affected
ursodesoxicólico 15 mg/kg/dia, com resposta
by MS are women in their child-bearing years. Preg-
clínica e analítica apenas parcial. Suspendeu defi-
nancy, in particular, plays an important role on disea-
nitivamente hábitos etílicos e fármacos hepatotóxi-
se progression, with the pre-partum period having
cos, com resolução da clínica de astenia e prurido
a protective effect against MS relapses opposite to
e melhoria analítica das aminotransferases, GGT e
the early post-partum period which is associated
FA. Discussão: Este caso tem interesse não só pelo
with increased risk of exacerbation.
facto de ser uma patologia pouco frequente em
homens, quer também, pela importância da abor- Even in the absence of a previously established
dagem multifatorial da doença hepática, antes de diagnosis, in a patient presenting with progressive
assumir refratariedade ao tratamento instituído. or relapsing neurological deficits, the diagnosis of
MS should be considered, especially if the patient
P n.º 1621  is female and has recently given birth.
Inaugural episode of Multiple Sclerosis manifesting
after pregnancy P n.º 1624 
João Corrêa(1);Sara Ferreira(1);Renato Gonçal- Hepatite Autoimune: A propósito de um caso clíni-
ve(1);Ricardo Gomes(1);Juliana Carneiro(1);Marta co
Arenga(1);André Leitão(1);Dália Estevão(1);Leopol- Andreia Guimarães(1);Olga Pires(1);Joana Sousa
dina Vicente(1) Morais(1);Ana Isabel Oliveira(1);Martinha Vale(1);I-
(1) Centro Hospitalar Cova da Beira, EPE / Hospital nês Conde(1);Inês Burmester(1);Maria João Rega-
Distrital da Covilhã das(1);António Oliveira e Silva(1)
(1) Hospital de Braga
Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas
Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá-
ticas
Introduction: Multiple sclerosis (MS) is the most
common immune-mediated inflammatory demye-
linating disease of the central nervous system, af- A hepatite autoimune é uma entidade rara, caracte-
fecting predominantly women in their 2nd and 3rd rizada por lesão predominantemente hepatocelular,
decades of life, and is one of the most frequent neu- hepatite de interface a nível histológico, presença
rological causes of permanent disability in young de anticorpos e hipergamaglobulinemia.
adults.
Descrevemos o caso de uma mulher, 66 anos, que
Case Report: A 29 years-old female patient, 3 mon- recorreu ao Serviço de Urgência por queixas de
ths into the postpartum period, with a past medical astenia, anorexia, náuseas e dor abdominal a nível
history of active smoking, obesity, depression and do epigastro e hipocôndrio direito com cerca de 1
anxiety, presented with a subacute and progressive mês de evolução, com agravamento do quadro nos
clinical course of fatigue, proximal muscle weak- últimos dias, após introdução de antibioterapia com
ness and hypoesthesia in the left hemibody, accom- amoxicilina-ácido clavulânico para tratamento de
panied by postural balance and bladder problems. infeção urinária. À admissão, com transaminases
No other neurological findings were observed, in- de cerca de 2000 unidades por litro de soro (U/L),
cluding pupil anomalies, ocular movements, visual fosfatase alcalina no limite superior da normalidade
fields, nystagmus, speech or comprehension im- e gama glutamil transpeptidase (GGT) ligeiramente
pairment, facial asymmetry or deep tendon reflexes aumentada. Negava viagens recentes, consumo de

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 701


outras substâncias hepatotóxicas, utilização de dro- moglobina, foi encaminhado o Centro de Medicina
gas endovenosas ou comportamentos sexuais de Hiperbárica do Hospital das Forças Armadas, com
risco. Trazia estudo analítico prévio realizado seis resolução clínica e eletrocardiográfica após a mes-
meses antes em ambulatório no contexto de estudo ma. Após a alta do SU, manteve seguimento em
etiológico de episódios anteriores semelhantes, que consulta de Cardiologia, tendo-se verificado na co-
evidenciava transaminases na ordem dos 400 U/L e ronariografia uma oclusão proximal da artéria coro-
anticorpo antinuclear (ANA) positivo. Foram excluí- nária direita (CD) e estenose de 30-50% no tronco
das as principais etiologias de lesão hepatocelular. comum. Foi submetido a uma angioplastia da CD
O estudo realizado demonstrou positividade para com implantação de stent revestido, tendo ficado
ANA, anticorpo antirribonucleo-proteína (anti-RNP) duplamente anti-agregado e com seguimento na
e hipergamaglobulinemia. A biópsia hepática de- consulta de Cardiologia.
monstrou hepatite crónica com hepatite de interfa-
ce e fibrose, compatível com etiologia autoimune Discussão: Os autores pretendem com e caso mos-
e presença de infiltrado inflamatório agudo com trar como nos casos de intoxicação por monóxido
polimorfonucleares eosinófilos podendo significar de carbono não se deve descurar a realização de
hepatite tóxica simultânea. Apresentou resposta um ECG devido à frequência elevada de isquémia
favorável à corticoterapia, com melhoria clínica e miocárdia pela hipoxia associada a este tipo de into-
analítica. Embora a hepatite autoimune se apresen- xicações.
te geralmente em idades mais jovens, na presença
de lesão hepatocelular com transaminases cerca de P n.º 1630 
10 vezes o limite superior, após exclusão de outras Ectasia Vascular do Antro Gástrico - intercorrência
causas, esta hipótese deve ser considerada. potencialmente fatal.
Rita Rosa Domingos(1);Pedro Reboredo(1);Ana Sara
P n.º 1628  Monteiro(1);João Costa(1);Pedro Santos(1);Diana
Da intoxicação por monóxido de carbono ao Enfarte Reis(1);Pedro Gil(1);Pedro Vilas(1);Cristina Sou-
Agudo do Miocárdio sa(1);Ana Lopes(1)
Fausto Silva Pinto (1);Cristiana Camacho(1);Catari- (1) HOSPITAL FARO
na Rodrigues(1);Hugo Moreira(1)
(1) Hospital São Francisco Xavier Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá-
ticas
Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente crí-
tico Introdução:

Introdução: As intoxicações por monóxido de car- A Ectasia Vascular do Antro Gástrico (GAVE), é uma
bono (CO) têm classicamente associados sinais e causa rara mas significativa de hemorragia digesti-
sintomas neurológicos típicos, verificando-se em va crónica ou aguda recorrente, sendo responsável
1/3 dos casos mais graves uma isquemia do mio- por 4% das causas não varicosas de hemorragia
cárdio. Este caso clínico relata um Enfarte Agudo do digestiva alta. Acomete principalmente idosos e
Miocárdio (EAM) em contexto de intoxicação invo- mulheres. A coagulação endoscópica oblitera as
luntária por CO. ectasias vasculares e reduz o grau de hemorragia,
no entanto, a recorrência da hemorragia pode ir dos
Caso Clínico: Homem de 56 anos, autónomo nas 35% aos 80%. Uma percentagem significativa de
atividades de vida diárias, fumador ativo (40 UMA), doentes com este diagnóstico permanece depen-
a residir com a esposa e 2 filhos.Trazido ao Serviço dente de transfusões.
de Urgência (SU) a 26/11/2020 pelas 02h00 por
quadro de náuseas, vómitos, precordialgia e mal-es- Caso clínico:
tar com 3 horas de evolução. A esposa e os filhos
Homem de 83 anos, reformado, independente, que
do doente apresentavam sintomatologia semelhan-
recorre ao Serviço de Urgência por precordialgia
te. Ambos estariam em sala fechada com aquece-
centro torácica com irradiação dorsal e cervical es-
dor de botija de gás propano / butano aquando do
querda, de início em repouso. Adicionalmente refere
início dos sintomas. À observação no SU apresen-
aumento do seu cansaço habitual para esforços
tava-se vígil, agitado, orientado no tempo, espaço e
progressivamente menores e “fezes escuras”sic,
pessoa, hemodinamicamente estável, eupneico em
que associa a toma de ferro oral. 
ar ambiente com spO2 98%, apirético, com pele bas-
tante rosada ao nível da face, auscultação cardio- Antecedentes pessoais: Ectasia Vascular do Antro
pulmonar sem alterações, abdómen mole e indolor Gástrico diagnosticada em 2011, com múltiplos tra-
à palpação, sem edema periférico. Na gasimetria tamentos com coagulação endoscópica por Argon-
com máscara de alta concentração (O2 a 15L/min) -plasma, o último dos quais há 1 ano.
destacouse uma concentração de carboxi-hemoglo-
bina de 26.2% e um lactato de 5.10 mmol/L. Aquan- Exame objetivo: sudoretico, dispneico, pálido. Toque
do da realização do ECG apresentava um ritmo Si- retal: fezes de coloração preta. Durante a permanên-
nusal, 46 bpm, com supra-ST DII-DIII-aVF e infra-ST cia no Serviço de Urgência é registado episódio de
V1-4 e I-aVL. hematemeses.
Pela isquemia de órgão e pelo valor de carboxi-he-

702
E-POSTERS
Analiticamente hemoglobina 74g/L, normocrómica, acidémia metabólica (pH 7.087) com hiato aniónico
normocítica, troponina 11188.3pg/mL. Eletrocar- aumentado, euglicémica (glicémia 109g/dl) e com
diograma: ritmo sinusal com infradesnivelamento lactatos inalterados (1,8mmol/L). A cetonémia era
do segmento ST de V4 a V6. Foi admitido Enfarte indoseável. Analiticamente observou-se neutropénia
Agudo do Miocárdio tipo 2 e iniciada terapêutica (0,7x109L), lesão renal aguda (creatinina de 9,4mg/
com reposição de hemoglobina, sucralfato e pan- dl, ureia 27mg/dl), hipercaliémia (5,9mmol/L), lípase
toprazol. No dia seguinte, apresenta novo episódio 138 UI/L e PCR 32 mg/L. Na TC abdominal obser-
de pré-cordialgia com descida da hemoglobina para vou-se pa^ncreas normodimensionado de estrutura
70g/L associado a quadro de melenas e subida das homoge´nea.
troponinas para 12175.4pg/mL. Realizou novamen-
te reposição de hemoglobina, com bom rendimento Foi instituída fluidoterapia com soro fisiológico
transfusional. 0,9% e dextrose 5% e perfusão de insulina conforme
protocolo ajustado aos valores de glicémia. O perfil
A endoscopia digestiva alta revelou várias lesões metabólico foi monitorizado a cada 2h, glicémia e
eritematosas no antro, compatíveis com GAVE, com cetonemias avaliadas a cada hora. Quando pH 7,39,
dois pontos de hemorragia em toalha. Foi aplicado hiato aniónico 14 e cetonemia 1,1, a doente tolerou
argon plasma com bom controlo hemorrágico.   dieta oral, iniciou insulina de longa ação e suspen-
deu perfusão de insulina. A doente teve alta para o
Sem outras intercorrências, teve alta para o domici- domicílio com insulinoterapia.
lio com nova Endoscopia Digestiva Alta agendada e
manutenção de tratamento com Pantoprazol. Conclusão: Neste caso verificava-se acidose meta-
bólica grave multifatorial devida a lesão renal aguda
Conclusão: de etiologia pré-renal, gastroparésia, jejum prolon-
gado e quadro infecioso condicionado cetoacidose
Com este caso clínico, os autores pretendem co- em doente com DM 2. O contributo da cetoacidose
locar destaque nesta patologia, que embora inco- euglicémica neste contexto poderia ter passado
mum, se apresenta como causa importante e poten- despercebido. Um elevado índice de suspeição é
cialmente fatal de anemia severa e perda oculta de importante para identificar e tratar atempadamente
sangue no idoso. esta condição.
P n.º 1641  P n.º 1645 
Cetoacidose diabética euglicémica a contribuir Piomiosite por Actinomyces turicensis
para acidémia grave Diogo Faustino(1);Carla Maia(1)
Ana Sara Monteiro(1);Dra. Rita Martins Fernan- (1) Unidade Funcional Medicina 1.2 - Hospital de
des(2);Diana Briosa Reis(1);Rita Domingos(1);João São José - CHULC
Costa(1);Sofia Amálio(1)
(1) HOSPITAL FARO (2) Centro Hospitalar do Algar- Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
ve, EPE / Hospital de Faro
Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio- Introdução
nais
As infeções de tecidos moles são complicações
Introdução: A cetoacidose diabética euglicémica frequentes das úlceras de pressão, sendo o Acti-
(CADE) consiste numa síndrome clínica que ocorre nomyces turicensis uma causa rara deste tipo de
na Diabetes mellitus tipo 1 e na Diabetes mellitus infeções.
tipo 2 (DM 2). Caracteriza-se por euglicémia (glicé-
mia <250mg/dl), acidose metabólica (pH arterial Caso clínico
<7.3 e bicarbonato sérico <18mEq/L) e cetonémia. Apresenta-se o caso de um homem de 86 anos,
O mecanismo subadjacente consiste num estado institucionalizado em lar na sequência de maior
de inanição com cetose mantendo-se a normoglicé- dependência por doença cerebrovascular crónica
mia. Anorexia, gastroparésia, jejum, dieta cetogéni- e síndrome demencial, tendo desenvolvido uma
ca, etilismo, gravidez, pancreatite e infeção são cau- úlcera trocantérica direita (grau IV) com decúbito
sas que levando à inanição de hidratos de carbono prolongado. Com sinais francos de infecção e expo-
culminam em cetoacidose. sição óssea, foi imperioso o desbridamento cirúr-
gico associado à antibioterapia de largo espectro
Caso clínico: Mulher de 74 anos com antecedentes (Piperacilina/Tazobactan). Exibindo extensão da
pessoais de DM 2 sob metformina, com gastropa- inflamação a todo o membro inferior ipsilateral, foi
résia, hipertensão arterial e doença renal crónica efectuada tomografia computorizada que documen-
(DRC) estadio 3b. Recorreu ao serviço de urgência tou marcada perda de substância peri-trocantérica
por quadro de 7 dejecc¸o~es/dia líquidas, sem com afectação cortical óssea e espessamento di-
muco ou sangue com uma semana de evoluc¸a~o, fuso dos tecidos profundos da coxa e perna com a
nauseas e vo´mitos po´s-prandias, recusa alimentar presença de conteúdo líquido e gasoso sugestivo
e febre. Outros co-habitantes apresentaram sinto- de piomiosite. Em hemoculturas, foi isolado Acti-
matologia semelhante. À admissão encontrava-se nomyces turicensis.
desidratada, apresentando na gasometria arterial

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 703


Discussão patível com tumor maligno da baínhas nervosas
periféricas. Referenciado ao IPO para quimioterapia
Bacilo Gram-positivo, anaeróbio, o Actinomyces tu- e eventual radioterapia. Remissão desde há 18 me-
ricenses é um habitual comensal da flora cutânea e ses.
mucosa. Como agente patogénico foi pouco repor-
tado na literatura, habitualmente responsável por Apresentamos este caso pela sua raridade, ines-
infeções genitais, tecidos moles e profundas. Os pa- pecificidade dos sintomas e pela possibilidade de
drões de sensibilidade reportados diferem, havendo sucesso atingido quando a abordagem é multidis-
descrições de organismos multissensíveis e outros ciplinar desde o diagnóstico, por vezes difícil, ao
com resistência a quinolonas e metronizadol. No tratamento e cura.
caso apresentado, o organismo era multissensível,
tendo sido descalada antibioterapia para amoxicili- P n.º 1660 
na+ácido clavulânico de forma eficaz, com evolução Síndrome Sarcoidose-Linfoma
muito favorável mediante curso antibiótico pro- Joana Rita Lopes(1);Eulália Antunes(1);Maurício
longado e contributo da terapia de vácuo (pressão Peixoto(1);Isabel Silva(1);Sofia Caridade(1)
negativa) na cicatrização da úlcera. Por controlo de (1) Hospital de Braga
imagem, confirmou-se redução do espessamento
muscular e fáscias, já sem componente gasoso vi- Tema: Doenças oncológicas
sível.
Introdução
P n.º 1650 
Uma etiologia rara de dor abdominal epigástrica
Filipa Leitão(1);Joana Carvalho(1);Pedro Leite Viei- A sarcoidose é uma doença multissistémica carac-
ra(1);Rui Isidoro(1);Diana Brites(1);Dra. Olga Koro- terizada pela formação de granulomas não caseo-
bka(1);João Grilo(1);João Freixo(1);Maria Eugénia sos. A sua mortalidade cinge-se principalmente à
André(1) fibrose pulmonar, envolvimento cardíaco e do siste-
(1) Unidade Local de Saúde de Castelo Branco ma nervoso central. Tem associado um maior risco
de neoplasias hematológicas.
Tema: Doenças oncológicas
Caso Clinico
Os schwannomas são tumores raros, normalmente Mulher de 64 anos, antecedentes de anemia fer-
benignos, com origem nas células de Schwann das ropénica, uveíte bilateral granulomatosa e com
bainhas nervosas. São muito raros no trato gastroin- síndrome constitucional em estudo há 1 ano, com
testinal, sobretudo no delgado. Apresenta-se com astenia e perda ponderal. Em contexto de alteração
dor abdominal, hemorragia e/ou obstrução intesti- de estado de consciência, com afasia motora e
nal. O tratamento é cirúrgico com a ressecção com- perda de força segmentar global, vai ao serviço de
pleta do tumor. urgência onde é internada por suspeita de encefalite
vírica. Do estudo realizado constatadas múltiplas
Homem, 35 anos, brasileiro, residente em Portugal adenopatias axilares, cervicais e mediastínicas em
há 7 meses. Antecedentes de gastrite, medicado tomografia emissora de positrões (PET), com en-
com pantoprazol. Recorreu ao Serviço de Urgência zima conversora de angiotensina (ECA) de 91 U/L,
por epigastralgias pós-prandiais, vómitos biliares, beta 2 microglobulina de 4000 U/L e biópsia de ade-
melenas, astenia com 15 dias de evolução e perda nopatia subcarinal a mostrar processo inflamatório
ponderal 8 kg em 6 meses. À observação, mucosas granulomatoso. Serologias infeciosas e estudo au-
descoradas, taquicárdico, febril 38,6ºC. Abdómen toimune normais. Assumido diagnóstico de alta de
doloroso à palpação do epigastro, sem sinais de encefalite aguda secundária a provável sarcoidose e
irritação peritoneal. Analiticamente: anemia micro- iniciada corticoterapia. Após alta a doente manteve
cítica (hemoglobina 6,1g/dL, ferro 9,5 μg/dL), PCR: picos febris diários de predomínio noturno e astenia
115,8mg/L. Ecografia abdominal: espessamento pelo que foi novamente internada. O estudo analí-
parietal irregular de ansa intestinal que sugeria na- tico mostrou anemia normocitica e normocrómica
tureza neoplásica. TC-abdómen: No mesentério, em (Hb 7.6 g/dL) com ferropenia, padrão de citocoles-
situação paramediana esquerda, imagens nodulares tase hepática, proteína c reativa de 153 mg/L sem
compatíveis com conglomerado adenopático. Foi leucocitose e ECA de 119 U/L. Em comparação com
internado no Serviço de Medicina Interna para inves- PET realizado 2 meses antes a doente tinha agora
tigação. Entero-RNM: lesão intra-peritoneal na raiz extenso envolvimento adenopático supradiafrag-
do mesentério. Não foi possível realizar biópsia por mático, com biópsia de gânglio cervical compatível
ecoendoscopia. Programada intervenção cirúrgica com linfoma de Hodgkin clássico de subtipo rico
por possível neoplasia do jejuno. Em laparotomia em linfócitos.
exploradora: lesão ulcerada do delgado a aproxi-
Discussão
madamente 60cm do ângulo de Treitz associada a
massa de possível conglomerado adenopático na A relação entre a sarcoidose e malignidade tem vin-
raíz do mesentério, excisada em bloco. Anatomia do a ser explorada em vários estudos, que mostram
patológica: lesão schwânnica de alto grau de ma- maior incidência de neoplasias nestes doentes.
lignidade do intestino delgado, com 3,6 cm, com- O síndrome sarcoidose-linfoma é uma entidade

704
E-POSTERS
descrita na literatura e que deve ser considerada P n.º 1665 
sempre que um doente com diagnóstico prévio de Paraganglioma e feocromocitoma: diagnósticos ra-
sarcoidose apresenta agravamento inexplicado de ros e desafiantes, com impacto no prognóstico vital
envolvimento adenopático. Clara Matos(1);Ana Carolina Monteiro(1);Sofia Ca-
rola(1);Ana Órfão(1);Daniela Madeira(1);Martim Tro-
P n.º 1664  vão Bastos(1);Teresa Branco(1);João Guimarães(1)
Miopericardite por SARS-COV2 (1) Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca
Joana Rita Lopes(1);Eulália Antunes(1);Carla Cam-
pinho Ferreira(1);Catarina Cerqueira(1);Vânia Go- Tema: Doenças oncológicas
mes(1);Sofia Caridade(1)
(1) Hospital de Braga Introdução: Os tumores produtores de catecola-
Tema: Doenças cardiovasculares minas, paragangliomas e feocromocitomas, são
tumores raros, que se podem manifestar-se com
sintomas de hiperativação simpática, nomeadamen-
Introdução te hipertensão arterial, taquicardia, cefaleia, hiper-
sudorese e tremor. O seu diagnóstico é desafiante,
A infeção por SARS-COV2 pode acompanhar-se principalmente nos casos em que não apresentam
de diversas complicações do foro cardiovascular manifestações clínicas diretamente associadas à
nomeadamente tromboembolismo pulmonar, lesão produção de catecolaminas. A deteção precoce é
miocárdica e pericardite. importante, não só para a instituição de tratamento
dirigido, mas também pelo potencial de malignida-
Caso Clínico de, que ocorre em cerca de 10% destes tumores.

Homem de 48 anos com história de episódio de an- Caso: Trata-se de um homem de 60 anos com his-
gina instável há 1 ano com coronariografia e ecocar- tória de hipertensão arterial e tremor essencial me-
diograma normais. Vem ao serviço de urgência por dicado com perindopril e propranolol, que recorreu
dor torácica pleurítica, dispneia, tosse seca e febre. ao serviço de urgência por quadro com um mês de
Ao exame físico, polipneico e taquicárdico. Auscul- evolução de cansaço para esforços progressiva-
tação pulmonar com crepitações nos 2/3 inferiores mente menores, anorexia, astenia, perda ponderal
direitos. Gasimetria com alcalose respiratória. Estu- (5Kg em 2 meses). Referia ainda obstipação com
do analítico com leucocitose de 14800 u/L, proteína vários meses de evolução. À admissão, apresenta-
c reativa de 156 mg/dL e marcadores de necrose va-se hipertenso (pressão arterial 154/75mmHg),
miocárdica normais. Estudo imagiológico mostrou pálido e com mucosas descoradas, edemas dos
trombo na artéria interlobar direita e ramos segmen- membros inferiores até ao nível do joelho. Da ava-
tares, com enfarte pulmonar associado, e densifi- liação analítica, destacava-se anemia ferropenica
cações do lobo inferior e médio direitos em vidro (Hb 5g/dl) e velocidade de sedimentação 24 mm/h.
despolido com áreas de consolidação. PCR SARS- Realizou endoscopia digestiva alta que revelou uma
-COV2, antigenúria para pneumococos e legionella ulcera gástrica, sem displasia no exame histológico.
negativos. Resposta favorável analítica e imagioló- Para investigação do quadro consumptivo, realizou
gica com betalactâmico e macrólido. Por episódio TAC tóraco-abdómino-pélvica que revelou nódulo
de précordialgia realizado electrocardiograma que retroperitoneal esquerdo de densidade tissular com
mostrou ligeiro SupraST com concavidade superior 6cm de maior eixo que contacta com a glândula
nas derivações inferiores e laterais e infradesni- supra-renal esquerda. Verificou-se elevação das me-
velamento do intervalo PR. Ecocardiograma sem tanefrinas totais plasmáticas (170 pg/ml) e uriná-
alterações da cinética segmentar. Estes achados rias (24.030 ug/24h), da noradrenalina e adrenalina
em associação com subida de troponina levantaram urinárias (297 ug/24h e 27 ug/24h, respectivamen-
a suspeita de miopericardite. Estudo autoimune te). Efectuada PET-TC 18FDG: com hipercaptação
e serologias víricas negativos. Perante história de anómala em massa supra-renal esquerda sugestiva
síndrome gripal nas 2 semanas que antecederam de feocromocitoma. Assumido diagnóstico de feo-
o internamento levantou-se a hipótese de infecção cromocitoma/paraganglioma, tendo sido proposta a
SARS-COV2 recente como etiologia. Serologias IgG excisão cirúrgica.
foram positivas com valor >100 u/mL (cut-off de 10
u/mL). Iniciado acetilsalicilato de lisina e dexameta- Discussão: Este caso destaca o desafio inerente
sona com resolução de episódios de toracalgia. ao diagnóstico de tumores produtores de catecola-
minas, não só pela idade avançada do diagnóstico
Discussão face à idade média de apresentação (37-43 anos),
Há um pequeno número de casos reportados como pela apresentação clínica atípica (com sinto-
de miocardite e insuficiência cardíaca aguda no mas consumptivos e obstipação), salientando-se a
contexto de inflamação sistémica semanas após importância da pesquisa ativa de atividade bioquí-
infeção SARS-COV2. Este caso demonstra a impor- mica independentemente da sintomatologia apre-
tância da valorização de pequenos achados clínicos sentada.
que precedem o quadro do doente e as repercus- P n.º 1669 
sões do SARS-COV2 mesmo após a fase aguda. Colite ulcerosa e insuficiência pancreática grave:

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 705


uma associação pouco frequente (1) Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca
João Casanova Pinto(1);Manuel g. Costa(1);Carlos
Ramalheira(1);Diogo Cruz(1) Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas
(1) HPP Hospital de Cascais
Introdução:
Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá-
ticas
As encefalites virais devem ser consideradas em
qualquer doente que manifeste cefaleia, convulsões,
Introdução: As manifestações extra-intestinais da alterações comportamentais ou do estado de cons-
doença inflamatória intestinal são frequentemente ciência. O vírus Epstein-Barr (EBV) é de distribuição
subdiagnosticadas e subestimadas. A insuficiência ubíqua, infetando mais de 95 % da população, mas é
pancreática exócrina grave ocorre em cerca de 9% uma causa incomum de encefalite, afetando essen-
dos casos de colite ulcerosa.  cialmente doentes imunodeprimidos. Apresentamos
um raro caso de encefalite causada pelo EBV num
Caso clínico: Homem de 64 anos seguido em con- doente imunocompetente.
sulta de Gastroenterologia por pancreatite crónica
dita alcoólica mas em abstinência há pelo menos Caso Clínico:
20 anos. Recorreu ao hospital por diarreia gordu-
rosa com sangue (>6 dejecções diárias) e cansaço Homem, 75 anos, autónomo. Sem antecedentes
com 20 dias de evolução. Apresentava-se apirético, pessoais de relevo.
hipotenso, emagrecido, pálido, com edemas perifé-
Trazido ao serviço de urgência por quadro confusio-
ricos exuberantes até ao escroto. Laboratorialmente
nal com duas semanas de evolução. À admissão,
tinha Hb 9.3 g/dL, leucocitose neutrofílica, PCR de
apresentava-se subfebril (37,8 ºC), eupneico  normo-
10.15 mg/dL, albumina 1.1 g/dL, K+ 2.8 mmol/L,
cárdico e normotenso, estando desorientado, com
colesterol total 23 mmol/L, LDL 9mmol/L, HDL 6
atenção flutuante e delírios persecutórios, sem
mmol/L, Vitamina A <0.02 mg/L, Vitamina D 17.5
défices neurológicos focais. Analiticamente, apre-
pg/mL, Vitamina E <1.0, Vitamina K1 <0.20 ug/L,
sentava sódio 133 mEq/L, potássio 3.1 mEq/L, PCR
Elastase fecal-1 < 100 mg/g. A pesquisa de Clostri-
de 0,5 mg/dl, com doseamento de tóxicos negativo.
dioides difficile (Toxina A e B e GDH), as hemocul-
A TAC crânio-encefálica não mostrava alterações de
turas e as coproculturas foram negativas. Apresen-
relevo. 
tava anticorpos anti-nucleares, IgG4, γ-globulina,
γGT e FA negativos. VIH negativo. A angio-TC Em internamento, colheu análises com HIV e VDRL
abdominal revelou pâncreas com calcificações negativos, TSH, B12 e ácido fólico normais. Realizou
grosseiras e espessamento difuso das paredes de punção lombar (PL), com líquor límpido, com 2 célu-
todo o cólon, sugerindo pancolite, sem isquémia. las, normoglicorráquia e hiperproteinorráquia ligeira
A colonoscopia total revelou friabilidade, edema e (48,59 mg/dl). Iniciou  aciclovir empiricamente,
erosões superficiais contínuas com muco aderente enquanto aguardava estudo molecular do líquor. O
em toda a mucosa observada. As biópsias do cólon eletroencefalograma mostrou lentificação difusa da
ascendente, transverso, sigmóide e recto demons- electrogénese, sem focos de atividade paroxística.
traram um padrão de colite ulcerosa com infiltrados Realizou ressonância magnética crânio-encefálica,
inflamatórios, criptite, distorções nas criptas, e evidenciando focos de hipersinal em T2 subcorti-
um número reduzido de células caliciformes. CMV cais bihemisféricos cerebrais, inespecíficos. 
negativo. Foram assumidos os diagnósticos de
colite ulcerosa em fase activa grave e insuficiência A PCR de vírus no líquor foi positiva para EBV (4410
pancreática exócrina a condicionar défice grave de cópias/µL) e negativa para outos Herpesvírus. Foi
vitaminas lipossolúveis (A, D, E, K) e caquexia com admitida encefalite viral a EBV e suspendida te-
hipoalbuminemia grave. Foi induzida com sucesso a rapêutica com aciclovir. Tinha anticorpo Anti-EBV
remissão da colite ulcerosa com budesonido rectal EBNA positivo e Anti-EBV VCA IgM  negativo, pelo
e prednisolona oral. O desequilíbrio hidroelectrolíti- que se admitiu reativação viral no sistema nervoso
co induzido pelas perdas gastro-intestinais também central (SNC), não se apurando evidência clÍnica ou
foi compensado. Evoluiu favoravelmente tendo alta laboratorial de imunodeficiência. 
medicado com messalazina, pancreatina e suple-
mentação de vitaminas A, D, E e K. Verificou-se resolução progressiva do quadro confu-
sional, tendo tido alta e mantendo-se assintomático
Discussão: Os antecedentes etanólicos são relevan- na reavaliação. 
tes, mas a evolução clínica deste caso favorece um
diagnóstico alternativo ou concorrente. Discussão: 
P n.º 1683  O EBV é um agente raro mas possível de encefalite
Um vírus ubíquo e um estranho caso de encefalite no imunocompetente, produzindo geralmente um
Martim Trovão Pereira Bastos(1);Ana Carolina Mon- quadro clínico ligeiro e autolimitado. A realização
teiro(1);Marta Arriaga Rocha(1);Sofia Carola(1);Sofia precoce de PL e instuição de aciclovir até exclusão
Bragança(1);Maria Clara Matos(1);Joana Maurí- de Herpes Simplex são fundamentais em todos os
cio(1) doentes com suspeita de encefalite viral. 

706
E-POSTERS
P n.º 1684  Araújo(1)
Síndrome de platipneia-ortodesoxia: uma causa (1) Hospital Beatriz Ângelo
pouco frequente de dispneia
Joana Aguiar(1);Alfredo Martins(1);Vânia Ribei- Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá-
ro(1);Pedro Braga(1);António Carneiro(1) ticas
(1) Hospital da Luz - Arrábida
Estima-se que a diarreia crónica afeta aproximada-
Tema: Doenças cardiovasculares mente 3-5% da população geral dos países desen-
volvidos, diminuindo a qualidade de vida e implican-
Introdução: A síndrome de platipneia-ortodesoxia do custos diretos e indiretos, no que concerne, por
(SPO) é pouco frequente e caracteriza-se por disp- exemplo, ao absentismo ou à utilização dos recur-
neia e dessaturação periférica na posição ortostá- sos de cuidados de saúde, mesmo sendo difícil apu-
tica em mais de 5% e/ou descida de PaO2 mais de rar o grau real dessa afetação.
4 mmHg, com melhoria em decúbito. A condição
anatómica subjacente mais frequente é a presença Apresentamos o caso de um homem de 88 anos,
de forâmen ovale patente (FOP). com cardiopatia isquémica, doença renal crónica,
diabetes mellitus tipo 2, hipertensão arterial, dislipi-
Caso Clínico: Apresenta-se o caso de uma mulher, demia e anemia multifatorial, internado por insufi-
83 anos de idade, parcialmente dependente e com ciência cardíaca descompensada em relação com
insuficiência respiratória crónica sob VNI noctur- um quadro, caracterizado por diarreia sem sangue
no de longa duração e cinesiterapia respiratória. (3-4 dejeções/dia), com 3 meses de evolução e
Agravamento do quadro clínico, aparentemente de sem melhoria após antibioterapia. Foram excluídos
forma súbita, com dispneia e dessaturação peri- infeção por Salmonella, Shigella, Campylobacter,
férica significativa que limitava a doente ao leito Giardia e Clostridium difficile, doença celíaca e hiper-
nos últimos 6 meses. Realizou radiografia de tórax tiroidismo. A tomografia computorizada abdominal
com eventração da hemicúpula diafragmática es- revelou uma distensão cólica, sem ponto de transi-
querda, tendo sido colocada a hipótese de shunt ção e ligeiro espessamento parietal difuso do reto e
cardíaco direito-esquerdo, tendo sido internada para cólon sigmoide. Em internamento foram realizadas
esclarecimento etiológico. Durante o internamento, duas colonoscopias, ambas incompletas por defi-
realizadas provas posturais de determinação de ciente preparação. Teve alta referenciado à consulta
saturação periférica de O2 com objetivação de SpO2 de Gastrenterologia. Reinternado um mês mais tar-
em decúbito lateral esquerdo de 94% com evidência de por persistência da diarreia e hipocaliemia grave
de taquipneia e dessaturação imediata para 84% na (2.6mmol/L). A colonoscopia foi inicialmente pro-
posição sentada, sem correção após administração telada pela caliemia de difícil correção (apesar de
de oxigenoterapia suplementar. Perante a suspeita doses elevadas de cloreto de potássio em perfusão
se SPO, realizou ecocardiograma transesofágico e otimização da restante terapêutica) e que poderia
que mostrou dilatação da aorta ao nível dos seios de ser agravada pela preparação intestinal. Após corre-
valsalva (45mm) e segmento ascendente (50mm), ção da caliemia realizou colonoscopia que revelou
com septo aneurismático, muito móvel, com fôramen dois corpos estranhos (sacos de plástico) ao nível
ovale patente e evidência de fluxo bidirecional. Reali- do cólon transverso que foram removidos com pin-
zado encerramento de FOP por via percutânea com ça.
Amplatzer®, com resolução da ortodesoxia. Após 7
meses, mantém-se assintomática e sem dessatura- Evolução favorável com resolução da diarreia.
ção periférica no ortostastimo, sendo documentado Como intercorrência, pneumonia nosocomial por
por ecocardiograma transtorácico normal posicio- SARS-CoV-2 que evoluiu com insuficiência respirató-
namento do dispositivo. ria e óbito.

Discussão: O diagnóstico de SPO exige uma ele- Discute-se o diagnóstico diferencial da diarreia
vada suspeição clínica, após uma história clínica crónica no doente idoso, com uma etiologia ines-
detalhada, apoiada pelos dados do exame objetivo perada, bem como, o desafio de gerir a preparação
sistemático e pormenorizado. A sua etiologia impli- intestinal no contexto de desidratação e alterações
ca a localização de shunt direito-esquerdo. Neste iónicas graves.
caso, a determinação de FOP permitiu a resolução
do quadro clínico, com benefício na qualidade de P n.º 1695 
vida da doente. Quando o Lúpus Eritematoso Sistémico não vem
só… Linfoma…ou Lúpus …ou Lúpus e Linfoma!
P n.º 1694  Diana Pinho Santos(1);Rui Soares Correia(1);Ana
Poluição Intestinal – um caso raro de diarreia Filipa Viegas(1);João Tavares(1);Marlene Delga-
Bárbara s. Abreu(1);Marta Sanches(1);Beatriz Cas- do(1);Ana Lemos(1)
tro Silva(1);Vânia Rodrigues Pereira(1);Ana Isabel (1) Centro Hospitalar Tondela-Viseu, EPE / Hospital
Brochado(1);David Prescott(1);Margarida Pimentel de São Teotónio, EPE
Nunes(1);Inês Branco Carvalho(1);Isabel Montene-
gro Araújo(1);Bárbara Morão(1);Vasco Oliveira Ne- Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
ves(1);António Martins Baptista(1);José Lomelino culites

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 707


Introdução: O Lúpus Eritematoso Sistémico (LES) nenhuma destas caracteristicas e são esses os mais
está reconhecidamente associado a um risco au- dificieis de diagnosticar.
mentado de neoplasia, particularmente linfoma, no
entanto a fisiopatologia do linfoma nestes doen- CASO CLÍNICO: Homem, 82 anos, leucodérmico, in-
tes ainda não está bem compreendida. O linfoma dependente, elevado nivel socioeconomico, com es-
ocorre após o diagnóstico e tratamento do LES na tilo de vida saudável, antecedentes pessoais irrele-
maioria dos casos, embora possa preceder ou ser vantes, sem historia familiar de diabetes. Trazido ao
diagnosticado simultaneamente com o LES. serviço de urgência por prostração, sem outra sin-
tomatologia associada. À observação  de destacar
Caso clínico: Homem, 57 anos, com hábitos tabá- prostração, lentificação, disartria, polipneia, má per-
gicos e etanólicos. Quadro com um mês de febre, fusão periferica e taquiarritmia, sem outras altera-
sintomas constitucionais e poliartralgias (sem ar- ções relevantes. No estudo complementar efetuado
trite). Análises: anemia hemolítica, leucopenia, VS, documentou-se cetoacidose diabetica, elevação dos
PCR, ferritina e LDH elevadas, citocolestase ligeira, parâmetros inflamatorios (PIs) e lesão renal aguda
hiponatrémia, pico gama policlonal, serologias in- (LRA). Fez punção lombar com saida de liquido
feciosas e marcadores tumorais negativos, exceto purulento e visualização de diploccocos Gram posi-
β-2-microglobulina; ECA elevada sem calciúria; au- tivos e posteriormente hemoculturas precocemente
toimunidade com positividade para ANA (1/1280 positivas para Streptococcus pneumoniae. Após es-
padrão homogéneo), anti-dsDNA (126U/mL), anti- tabilização, transferido para enfermaria de medicina
-histonas e anti-nucleossomas e consumo de C3. sob insulina basal. Perante o diagnostico inaugural
Ecografia articular de mãos e punhos: normal. TC de diabetes com apresentação em cetoacidose em
cervico-toraco-abdomino-pélvica: derrame pleural doente com idade avançada e HbA1C à admissao
bilateral e múltiplas adenopatias mediastínicas, de 16,4% foi pedido doseamento de péptido C (nor-
abdominais, ilíacas, axilares e inguinais. BFO: sem mal) e CA 19,9 (aumentado). Foram pedidas provas
lesões e estudo citológico e micobacteriológico ne- de imagem que revelaram fenómenos sugestivos de
gativo.  Biópsias aspirativas de adenopatia subcari- pancretite aguda sobreposta a pancreatite crónica.
nal e ilíaca externa não revelaram malignidade, mas Durante o internamento sob insulina em esquema
insuficientes. basal-bolus e ajuste progressivo de dose, com bom
controlo à alta. Cumpriu terapêutica para meningite
Apesar de cumprir critérios para diagnóstico de LES, a pneumococo com melhoria progressiva, já sem
foi solicitada biópsia ganglionar mediastínica cuja alteraçoes ao exame neurologico à alta.
histologia com imufenotipagem foi compatível com
Linfoma de células B com características intermé- DISCUSSÃO: É importante ter em conta outras
dias entre Linfoma difuso de grandes células B e causas de DM para além das mais comuns e neste
Linfoma de Hodgkin clássico. Referenciado para a doente com diagnostico inaugural com quadro pouco
Hematologia e Reumatologia para terapêutica. tipico em idade avançada, procurar outras etilogias
nomeadamente neoplasica. Considerou-se a pancreatite
Discussão: O diagnóstico de linfoma em doen- cronica agudizada de etiologia litiasica como a causa
tes com LES é difícil porque ambos partilham mais provável. Os doentes com DM não tratada ou mal
características clínicas.  Sendo a adenopatia controlada são suscetiveis a infeções graves e mais uma
uma característica frequente mas inespecífica vez é essencial a observação abrangente do doente e a
de LES e considerando que este se associa a procura de outros diagnosticos para além do que motivou
risco aumentado de neoplasia, esta deve ser diretamente o internamento.
considerada no diagnóstico diferencial para permitir
o diagnóstico precoce de doença neoplásica P n.º 1706 
concomitante. Tromboembolismo venoso, uma associação de fa-
tores protrombóticos
P n.º 1703  Hélder Diogo Gonçalves(1);Leila Duarte(1);Inês Par-
Diabetes inaugural no idoso com apresentação em reira(1);Sérgio Bronze(1);Valeria Maione(1);Pedro
cetoacidose diabetica Gaspar(1);Federica Parlato(1);Carolina Carreiro(1);-
Cláudia Ferreira Tátá(1);Filipa Pinto(1);Mafalda Hi- Filipa Reis(2);Filipe Bessa(1);Catarina Mota(1);San-
polito Reis(1);Alexandre Canarías(1);Ana Luisa Sil- dra Braz(1)
va(1);Conceição Barata(1) (1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi-
(1) Hospital do Espírito Santo, EPE, Évora tal de Santa Maria (2) Centro Hospitalar de Lisboa
Norte, EPE / Hospital Pulido Valente
Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio-
nais Tema: Doenças cardiovasculares

Introdução: A Diabetes mellitus (DM) tipo 2 é a O tromboembolismo venoso (TEV) é uma impor-
forma mais comum de DM e geralmente desenvolve-se tante causa de morbimortalidade. Na sua etiopato-
insidiosamente.  Os antecedentes familiares e herança genia pode estar incluída uma interação complexa
genética são um fator predisponente juntamente com e sinérgica, ainda que por vezes transitória, entre
fatores ambientais como uma dieta inadequada e vários fatores de risco protrombótico genéticos e
sedentarismo. Contudo há casos que não apresentam adquiridos. Apresenta-se um caso de tromboembo-

708
E-POSTERS
lismo pulmonar (TEP) numa mulher com associa- Homem de 19 anos, saudável, recorre ao serviço de
ção de fatores protrombóticos (gravidez, infeção urgência por quadro de febre, astenia e diarreia com
por SARS-CoV-2, variante alélica MTFHR e PAI-1). 11 dias de evolução, sem outras queixas. À obser-
vação hipotenso com PA 93/54 mmHg, sem outras
Mulher de 29 anos, com gravidez de 26 semanas, alterações de relevo. Laboratorialmente Troponina T
sob ácido fólico e vitamina B12, e insuficiência 628 ng/L, NT-proBNP 13.225 pg/mL, Proteina C Rea-
venosa periférica. Admitida no Serviço de Urgên- tiva 9.28 mg/dL e sem insuficiência respiratória na
cia por precordialgia opressiva súbita e quadro de gasimetria arterial em ar ambiente.
tosse seca, odinofagia e febre com 1 semana de Foi realizada pesquisa de SARS-CoV-2 que se reve-
evolução. Medicada com enoxaparina 60mg/dia lou positiva.
por tromboflebite superficial da veia safena interna
diagnosticada no mês anterior. Apresentava-se vígil, O eletrocardiograma mostrava ritmo sinusal com in-
apirética, hemodinamicamente estável, eupneica em fradesnivelamento do segmento ST nas derivações
ar ambiente, sem edema periférico, sinais de com- V1-V4.
promisso vascular agudo. Laboratorialmente des-
tacavam-se hemoglobina 10.8 g/dl, linfopenia 730 / No estudo TC do tórax apresentava escassas áreas
µL, INR 1.08, APTT 22.8/29 seg, D-dímeros 0.70 µg/ de densificação em vidro despolido periféricas bila-
ml, fibrinogénio 340 mg/dl e proteína C reativa 0.56 terais.
mg/dl. A pesquisa de SARS-CoV-2 no exsudado na-
sofaríngeo foi positiva. A tomografia computorizada Realizou ecocardiograma transtorácico sem altera-
de tórax com contraste endovenoso documentou ções da cinética segmentar ou da função sistólica
trombo oclusivo proximal das artérias lobares mé- global, sem anomalias valvulares. Foram excluídos
dia e inferior direitas, sem infiltrados ou lesões no- os principais agentes infeciosos responsáveis de
dulares. Admitidos diagnósticos de TEP e COVID-19 miocardite (serologia negativa para Echovirus, Cox-
ligeira. Do estudo de trombofilias hereditárias do- sackie vírus, Adenovirus, Parvovirus, Leptospira, Bor-
cumentaram-se variantes alélicas MTFHR 677C>T e relia burgdorferii, Herpes simplex 1 e 2, Treponema
PAI-1 5G/4G, em heterozigotia, sem hiperhomocis- pallidum, EBV, Coxiella burnetii).
teínemia ou outros fatores genéticos associados.
Após introdução de corticoterapia sistémica e
O contributo protrombótico das variantes alélicas colquicina, progressiva melhoria com descida de
MTFHR 677C>T e PAI-1 5G/4G, em heterozigotia, Troponina para 484>48 ng/L e NT-proBNP para
para o TEV é controverso. No presente caso assu- 7612>343 pg/mL, com paralela redução dos parâ-
mem-se como promotores do TEP a gravidez e a metros inflamatórios. 
infeção SARS-CoV-2. Contudo, a identificação das
referidas mutações implica seguimento futuro e A ressonância magnética cardíaca realizada após
orientação terapêutica individualizada com avalia- recuperação não mostrou alterações estruturais ou
ção do risco/benefício da instituição de hipocoagu- funcionais ou realce tardio de gadolínio.
lação.
Discussão:
P n.º 1708 
Miocardite: manifestação única de infeção SARS- A miocardite é uma complicação rara mas poten-
-CoV-2 cialmente grave de infeção pelo SARS-CoV-2, quer
Valeria Maione(1);Pedro Gaspar(1);Inês Parrei- por cardiotropismo direto do vírus, quer pela res-
ra(1);Leila Duarte(1);Hélder Diogo Gonçalves(1);- posta inflamatória sistémica desencadeada pela
Sérgio Bronze(1);Filipa Reis(2);Federica Parla- infeção, não estando ainda descrito o mecanismo
to(1);Carolina Carreiro(1);Filipe Bessa(1);Sandra fisiopatológico inerente.
Braz(1);Catarina Mota(1)
Os autores apresentam um caso raro de miocardite
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi-
a SARS-CoV-2 como manifestação clínica única da
tal de Santa Maria (2) Centro Hospitalar de Lisboa
infeção.
Norte, EPE / Hospital Pulido Valente
Evidencia-se a importância da definição de um
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
work-up diagnostico adequado para identificação
do mecanismo responsável e instituição de eventual
Introdução: terapêutica dirigida, bem como de definição de es-
tratégias de follow-up dos doentes. 
A inflamação sistémica em resposta à infeção viral P n.º 1711 
é o principal mecanismo fisiopatológico do dano Apresentação tardia de pneumonia organizativa
tecidual provocado pelo SARS-CoV-2, com atingi- secundária a COVID-19 com carácter recorrente
mento principalmente pulmonar e, menos frequen- Carolina Carreiro(1);Mariana Dias(1);Hélder Gon-
temente, de outros tecidos alvo, entre os quais o çalves(1);Federica Parlato(1);Leila Duarte(1);Pedro
miocárdio. Gaspar(1);Inês Parreira(1);Valeria Maione(1);Sérgio
Caso clínico: Bronze(1);Filipe Bessa(1);Catarina Mota(1);João
Inácio(1);Sandra Braz(1)

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 709


(1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi- or hemorrhagic stroke or cerebral vascular malfor-
tal de Santa Maria mations.
Tema: Doenças respiratórias
We report a case of a 55 years old woman diagno-
sed with type II hereditary antithrombin III deficiency
A pneumonia organizativa (PO) é um padrão de with decreased antithrombin activity level of 53%
lesão pulmonar frequente na COVID-19 moderada/ and history of popliteal venous thromboembolism,
grave. O tratamento padrão, aplicado em doentes who developed numbness around the right side
com critérios de gravidade, tem sido a corticotera- corner of the mouth and in the right hand and foot.
pia em alta dose. Todavia, foram descritos na litera- Objective sensory deficit was noticed in these areas
tura alguns casos de PO recorrente após suspensão without other relevant findings on neurologic exami-
da terapêutica. A evidência da frequência da PO nation. Cranioencephalic computed tomography did
recorrente e da dose e/ou duração da corticoterapia not reveal any changes. Brain magnetic ressonance
é limitada. imaging showed a lesion on the left thalamic-cap-
sular region suggestive of an acute lacunar infarc-
Apresenta-se o caso de uma mulher de 59 anos, tion. The patient maintained her sensory symptoms
admitida por COVID-19 com hipoxémia e sem evi- during hospitalization, started anticoagulation with
dência imagiológica de infiltrados pulmonares na apixaban and did not develop other neurological de-
radiografia do tórax realizada à admissão. Após a ficits during the 3 months follow-up.
alta a doente manteve-se assintomática durante 6
meses, altura em que iniciou queixas de cansaço e To conclude, we report this case to raise awareness
dispneia de esforço. A tomografia computorizada to the cheiro-oral-pedal syndrome, which is a rare
(TC) do tórax mostrou opacidades em vidro despoli- disorder that can be a manifestation of significant
do e consolidações multifocais subpleurais sugesti- neurological conditions, as the lacunar infarction in
vas de PO. Foi iniciada prednisolona (PDN) (40 mg/ this case. This is an underdiagnosed syndrome due
dia), que manteve durante 6 meses em esquema de to its difficulty to be recognized by the physician
desmame, com regressão rápida e completa dos and identified by the patient, so it is important to
sintomas. Cerca de 1 ano após a infeção aguda por be investigated in all neurological patients to pre-
SARS-CoV-2, e ainda sob PDN (5 mg/dia), a doente vent misdiagnosis of serious conditions. To finish,
apresentou recorrência do cansaço e da dispneia de anticoagulation is essential in patients with high
esforço. Repetiu TC do tórax que mostrou resolução thrombotic risk, as in this case, to prevent ischemic
das opacidades pulmonares previamente descritas events.
e a presença de novas opacidades pulmonares mul- P n.º 1716 
tifocais, com padrão radiológico semelhante, em Síndrome de Ogilvie após Acidente Vascular Cere-
localizações diferentes, compatíveis com opacida- bral – uma complicação rara a ter em conta
des migratórias no contexto de PO recorrente. Após Clara Matos(1);Ana Órfão(1);Sofia Carola(1);Maria-
aumento da dose de PDN para 20 mg/dia assistiu- na Passos(1);Fábio Correia(1);Martim Trovão Bas-
-se, de novo, a rápida melhoria clínica.  tos(1);Sara Vilas-Boas(1);Teresa Branco(1)
Opacidades pulmonares migratórias podem ser (1) Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca
observadas na PO, mas, que seja do nosso conhe- Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas
cimento, não foram descritas em doentes com
COVID-19.  A ocorrência tardia, 6 meses após a
infeção aguda, e recorrente da PO suscita questões Introdução
relativas ao seguimento destes doentes e à escolha
da terapêutica. Este caso reforça a importância da A Síndrome de Ogilvie (SO) define-se por uma dila-
criação de protocolos de seguimento clínico, ima- tação aguda do cólon sem causa mecânica, sendo
giológico e funcional respiratório dos doentes recu- o diagnóstico clínico e imagiológico. É mais comum
perados da COVID-19 em doentes internados, por desregulação da inerva-
ção autonómica do trato gastrointestinal, estando
P n.º 1714  a maioria dos casos associada a desequilíbrios
Cheiro-oral-pedal syndrome in a patient with here- eletrolíticos, fármacos anticolinérgicos e cirurgia
ditary antithrombin III deficiency: a case report abdominal recente. O Acidente Vascular Cerebral
Marisa c. Couto(1);Maria Lume(1) (AVC) é uma causa rara e geralmente transitória
(1) Centro Hospitalar de S. João, EPE desta síndrome. O tratamento inclui correção de
Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas desequilíbrios eletrolíticos, revisão farmacológica,
descompressão com sonda nasogástrica/entero-
clise, terapêutica laxante e procinética, e, em casos
Cheiro-oral-pedal syndrome is an incomplete pure de maior gravidade ou refratários, descompressão
sensory disorder characterized by a sensory distur- endoscópica ou cirúrgica.
bance in the unilateral hand and foot and ispsilateral
mouth region. This rare syndrome occurs due to a Caso clínico
lesion in the thalamocortical projections or thala-
mus and brainstem as a consequence of ischemic Apresentamos o caso de um homem de 82 anos,

710
E-POSTERS
sem antecedentes relevantes, internado por AVC compatível com miopatia aguda e exame de ima-
isquémico complicado por transformação hemorrá- gem (TC e RMN) a revelar massa com densidade de
gica. Da medicação realizada salienta-se apenas an- tecidos moles junto aos corpos vertebrais de D8 a
tiagregação plaquetar e estatina. Apresentou como D11, com envolvimentos da pleura. O estudo imuno-
intercorrência quadro de obstipação com 6 dias de lógico e de causas infeciosas foi negativo. A biópsia
evolução, distensão abdominal e vómitos alimen- pleural revelou histologia compatível com linfoma B
tares. Analiticamente, destacava-se leucocitose de da zona marginal com diferenciação plasmocítica.
novo 16,1x109/L com neutrofilia de 87%, Proteína C Em linha com estes achados, foi feito o diagnóstico
Reativa de 2,29 mg/dL, sem distúrbios hidroeletrolí- de miopatia inflamatória paraneoplásica secundária
ticos. Realizou radiografia abdominal que mostrava a linfoma não Hodgkin. O doente foi orientado para
distensão do cólon e intestino delgado com múlti- consulta de Hemato-oncologia, tendo realizado 6 ci-
plos níveis hidroaéreos. Posteriormente, realizou TC clos de R-CHOP com critérios de remissão completa
abdominal que revelou distensão de todo o intestino e resolução dos sintomas musculares.
delgado, cólon e reto, sem causa obstrutiva aparen-
te. Admitiu-se o diagnóstico de Síndrome de Ogilvie Discussão: A ocorrência de miopatia inflamatória
secundário a AVC. Iniciou bisacodilo, enemas de como síndrome paraneoplásico está bem estabe-
limpeza e metoclopramida, com evolução favorável lecida, devendo a investigação ser dirigida para a
e sem recidiva do quadro pseudo-oclusivo. pesquisa do tumor primário, já que, em 10-30% dos
doentes com este diagnóstico existe neoplasia sub-
Discussão jacente. A erradicação desta, na maioria dos casos,
leva à remissão da sintomatologia.
A SO é frequentemente subdiagnosticada e, se não
for reconhecida e tratada precocemente, pode levar P n.º 1725 
a complicações graves e potencialmente fatais, Uma etiologia inesperada de trombocitopenia
nomeadamente perfuração intestinal, peritonite ou Marta Azevedo Ferreira(1);Joana Marques(1);Caro-
isquémia. Apesar de rara, pode ser observada em lina Abreu(1);Ana Grilo(1);Fernando Martos Gonçal-
doentes com AVC e deve ser suspeitada em caso de ves(1);José Lomelino Araújo(1)
distensão abdominal e obstipação (1) Hospital Beatriz Ângelo
P n.º 1724  Tema: Doenças hematológicas
Miopatia inflamatória paraneoplásica
Bárbara Fontes Oliveira(1);Marta Braga Mar- A trombocitopenia pode decorrer da produção redu-
tins(1);Cristiana Honrado Martins(1);Filipa Abreu zida de plaquetas, destruição, diluição volémica ou
Martins(1);Margarida Correia(1);Maria Céu Ro- hiperesplenismo.
drigues(1);Vânia Gomes(1);Guilherme Castro Go- A etiologia, bem como investigação, difere depen-
mes(1);António Oliveira e Silva(1) dendo do cenário clínico em que ocorre, podendo
(1) Hospital de Braga apresentar elevada complexidade, sobretudo quan-
Tema: Doenças oncológicas do a constelação de sintomas se apresenta trans-
versal a várias patologias.
Introdução: As miopatias inflamatórias incluem
várias entidades, de expressão variável. São mais Homem de 48 anos referenciado a consulta de Me-
frequentemente idiopáticas, mas podem surgir em dicina Interna por 2 meses de evolução de mal-es-
associação a doenças infeciosas, do tecido conjun- tar, perda ponderal e trombocitopenia. Antecedentes
tivo e neoplásicas, entre outras. de osteomielite crónica do membro inferior. Sem
terapêutica habitual.
Foi seguido regularmente e, após exclusão de etio-
Caso clínico: Homem de 55 anos de idade, sem logia iatrogénica, realizou estudo complementar,
antecedentes patológicos de relevo. Recorre ao mantendo anemia normo/normo e trombocitope-
Serviço de Urgência por mialgias generalizadas com nia até um valor mínimo de 9000 plaquetas. O valor
3 semanas de evolução, com agravamento progres- de reticulócitos variou entre 1.5 e 3.8%, com ferro e
sivo. Cerca de 5 dias antes da admissão, notou ede- ferritina normais. Serologias virais e estudo imuno-
ma dos membros superiores e lesão eritematosa, lógico negativos. A TAC toraco-abdomino-pélvica
pouco pruriginosa, com ~8cm de diâmetro, na face mostrou hepatoesplenomegalia e adenomegalias
anterior do hemitórax esquerdo. abdominais, com agravamento em reavaliação
imagiológica. Realizou 3 mielogramas, sempre com
Aquando da admissão, referia impotência funcional medula normocelular, concluindo tratar-se de uma
e dores na musculatura proximal dos membros. medula reativa sem depósitos de ferro. A biópsia
Apresentava discreto eritema da região cervical an- óssea foi inconclusiva por amostra insuficiente.
terior, pequenas pápulas eritematosas no dorso das Realizou ainda excisão de um gânglio, compatível
articulações metacarpofalângicas e força muscular com gânglio reativo. No exame objetivo apresen-
grau 4+.  Analiticamente, a destacar elevação das tava esplenomegalia em progressão, associada a
transaminases (ALT 132, AST 500), LDH 565, CK to- sintomas compressivos, perda ponderal, astenia e
tal  10 289, mioglobina 2232, VS 88 e PCR 39. sensação de mal-estar. 
Não foi iniciada imunossupressão pela presença de
Do estudo realizado, destaca-se eletromiografia

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 711


osteomielite crónica com fístula ativa. periférica e bronquiectasias de tração, colocando
Avaliado em consulta de cirurgia foi proposto para a hipótese de pneumonite de hipersensibilidade
esplenectomia, tendo realizado cirurgia com exci- fibrosante. Foi alargado o estudo - positividade para
são de baço com 2900g. O estudo anatomopato- a IgE (251 UI/L) e realizado lavado broncoalveolar
lógico foi compatível com hematopoiese extra-me- com ratio CD4+/CD8+ < 1. Face à exposição
dular esplénica exuberante. Discutido em equipa laboral, titulou-se as precipitinas - galinhas
multidisciplinar, assumiu-se diagnóstico presuntivo positivas e IgG 180 g/L. Com DLCO 65%. Iniciou-
de mielofibrose primária. Não foi possível concluir o se esquema de corticoterapia. Reavaliação após
estudo uma vez que o doente faleceu de COVID-19. 5 meses, demonstrou uma melhoria clínica e
imagiológica, com DLCO 86%. 
A esplenomegália é o hallmark da mielofibrose pri-
mária. A ausência de medula “seca” no mielograma Discussão: Este caso clínico demonstra a
ou alterações no esfregaço de sangue periférico, importância de pensarmos em diagnósticos
bem como a presença de um quadro constitucional diferenciais nos quadros clínicos respiratórios
inespecífico colocou como hipótese principal uma que não melhoram com a terapêutica instituída.
patologia hematológica maligna, não confirmada É importante a integração de elementos clínicos,
após esplenectomia. O diagnóstico, ainda que pre- analíticos e de exposição quando existe suspeita de
suntivo, é altamente provável quer pelos achados doença intersticial pulmonar.
laboratoriais quer pela anatomopatologia.
P n.º 1734 
P n.º 1732  Um incidentaloma da glândula supra-renal: caso
Pneumonite de hipersensibilidade: um diagnóstico raro de linfoma B extra-nodal
diferencial. Inês Figueiredo(1);Francisco Guimarães(1);Cristina
Telma Alves(1);Christine Canizes(1);Joana Pai- Duarte(1);Luísa Fontes(1)
xão(1);Fátima Silva(1);Jorge Fortuna(1);Armando de (1) Hospital Cuf Descobertas
Carvalho(1)
(1) Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra / Tema: Doenças hematológicas
Hospitais da Universidade de Coimbra
Introdução: A prevalência de incidentalomas da
Tema: Doenças respiratórias supra-renal tem crescido nos últimos anos com a
evolução dos métodos de imagem bem como a sua
Introdução: A Pneumonite de hipersensibilidade (al- utilização alargada. A verdadeira prevalência não é
veolite alérgica extrínseca) é uma doença inflama- conhecida, mas estima-se em torno de 6%, obser-
tória intersticial pulmonar com apresentação clínica vado sobretudo em doentes de idade avançada.
variada. Pode ser classificada como aguda/inflama- As massas da supra-renal podem ser benignas ou
tória, crónica com ou sem fibrose - dependendo da malignas e ser ou não funcionantes. As malignas
duração, frequência e intensidade da exposição aos são menos frequentes e remetem a carcinomas
antigénios. Por ser uma patologia mediada por me- adrenocorticais ou metástases de outros tumores
canismos imunológicos, existe dificuldade no seu primários. É ainda menos frequente a deteção de
diagnóstico pois depende da suscetibilidade indi- neoplasias primárias da supra-renal, sobretudo
vidual. A sua apresentação clínica faz diagnóstico tratando-se de um linfoma difuso de grandes
diferencial com outras patologias.   células B(LDGCB) extra-nodal.

Caso clínico: Doente do sexo feminino, 63 anos, Caso Clínico: Homem, 68 anos, com história de
imunocompetente. Agricultora (exposição a diabetes, adenocarcinoma da próstata e anemia
galináceos). Antecedentes pessoais de HTA. ferropénica. Recorre à urgência por cansaço e adi-
Recorreu ao serviço de urgência por astenia e namia nas últimas 3 semanas. Não apresentava
temperatura sub-febril de predomínio noturno, com alterações ao exame físico e analiticamente veri-
15 dias de evolução. Simultaneamente apresentou ficou-se leucopenia e trombocitopenia que mais
episódio de picada de parasita não identificável, 3 tarde evoluiu para pancitopénia, D-dímeros aumen-
dias antes, na região inguinal esquerda. Ao exame tados, NT-proBNP 636 ng/mL e PCR 1.83 mg/dL.
objetivo diminuição do murmúrio vesicular nos Face à elevação de D-dímeros fez angio-tomografia
ápices pulmonares e síbilos expiratórios, e região computorizada do tórax que excluiu tromboem-
inguinal esquerda com rubor, sem descontinuidade bolismo pulmonar mas nos cortes superiores do
cutânea. Analiticamente com aumento dos abdomen identificou massa com 13.9x10.4x13 cm
parâmetros inflamatórios (leucocitose 14,7x10^9/L, na loca supra-renal esquerda com deslocamento
neutrofília 11,09x10^9/L e PCR 5,14 mg/dL). do rim homolateral. Esta foi confirmada por res-
Imagiologicamente com padrão alveolar disperso sonância magnética que não revelou adenopatias
bilateralmente. Objetivada insuficiência respiratória ou alterações em outros órgãos sólidos. O estudo
hipoxémica. Colheu-se serologias e rastreio hormonal dirigido à supra-renal não tinha altera-
séptico negativos, com início de antibioterapia ções. Realizou tumorectomia, adrenalectomia e
empírica. Pela evolução clínica respiratória fruste, nefrectomia esquerdas, a massa foi enviada para
fez-se TAC-tórax objetivando vidro despolido Anatomia Patológica e identificou-se LDGCB de tipo
de predomínio nos lobos superiores, reticulação não centro germinativo com CD-20, Bcl-2, MUM-1 e

712
E-POSTERS
Bcl-6 positivos. Iniciou quimioterapia com R-CHOP Conclusão: Embora o LDGCB seja frequente dentro
mantendo seguimento pela Hematologia. da classe de linfomas não-Hodgkin, só 1/3 corres-
ponde a linfoma extra-nodal e destes 1% são na
Conclusão: Embora o LDGCB seja frequente dentro supra-renal (200 casos descritos). Estudos mos-
da classe de linfomas não-Hodgkin, só 1/3 corres- traram que estes têm pior prognóstico em relação
ponde a linfoma extra-nodal e destes 1% são na a linfomas nodais e ainda mais se considerarmos
supra-renal (200 casos descritos). Estudos mos- localização primária na supra-renal. Também tumo-
traram que estes têm pior prognóstico em relação res com mais de 8cm, de tipo não centro germina-
a linfomas nodais e ainda mais se considerarmos tivo e BCL-6 positivo estão associados a doença
localização primária na supra-renal. Também tumo- rapidamente progressiva. O diagnóstico precoce é
res com mais de 8cm, de tipo não centro germina- essencial para que se inicie quimioterapia dirigida,
tivo e BCL-6 positivo estão associados a doença tendo o rituximab revolucionado a sobrevida dos
rapidamente progressiva. O diagnóstico precoce é doentes com 62% de sobrevida aos 2 anos.
essencial para que se inicie quimioterapia dirigida,
tendo o rituximab revolucionado a sobrevida dos P n.º 1739 
doentes com 62% de sobrevida aos 2 anos. Policitemia secundária a esteróides: a propósito de
uma caso clínico
P n.º 1736  Marta Azevedo Ferreira(1);Joana Marques(1);Caro-
Um incidentaloma da glândula supra-renal: caso lina Abreu(1);Ana Grilo(1);Fernando Martos Gonçal-
raro de linfoma B extra-nodal ves(1);José Lomelino Araújo(1)
Inês Figueiredo(1);Francisco Guimarães(1);Cristina (1) Hospital Beatriz Ângelo
Duarte(1);Luísa Fontes(1)
(1) Hospital Cuf Descobertas Tema: Doenças hematológicas
Tema: Doenças hematológicas
O aumento absoluto da massa eritrocitária tem múl-
tiplas causas, sendo as mais comuns as mutações
Introdução: A prevalência de incidentalomas da genéticas hereditárias ou adquiridas, a produção
supra-renal tem crescido nos últimos anos com a aumentada de eritropoetina, ou o consumo de subs-
evolução dos métodos de imagem bem como a sua tâncias ilícitas para aumentar a performance des-
utilização alargada. A verdadeira prevalência não é portiva.
conhecida, mas estima-se em torno de 6%, obser-
vado sobretudo em doentes de idade avançada.
As massas da supra-renal podem ser benignas ou Relata-se o caso de um doente de 40 anos do sexo
malignas e ser ou não funcionantes. As malignas masculino, autónomo, descendente de etnia cigana.
são menos frequentes e remetem a carcinomas Referenciado do serviço de urgência para consulta
adrenocorticais ou metástases de outros tumores de Medicina Interna para investigação por trombo-
primários. É ainda menos frequente a deteção de flebite do membro inferior direito e eritrocitose, com
neoplasias primárias da supra-renal, sobretudo tra- estudo analítico a revelar poliglobulia (eritrócitos
tando-se de um linfoma difuso de grandes células 6.51x1012/L, hemoglobina 19.1 g/dL, hematócrito
B(LDGCB) extra-nodal. 57.4%), INR 1.02; elevação de CK 421 UI/L, sem ou-
tras alterações laboratoriais. Teve alta para consulta
hipocoagulado e com meia de contenção elástica.
Caso Clínico: Homem, 68 anos, com história de Em consulta, apurados antecedentes de dois even-
diabetes, adenocarcinoma da próstata e anemia tos trombóticos da circulação venosa do membro
ferropénica. Recorre à urgência por cansaço e adi- inferior direito (trombose venosa profunda e trom-
namia nas últimas 3 semanas. Não apresentava boflebite, 2 anos e 7 meses antes, respetivamente)
alterações ao exame físico e analiticamente veri- sem fator etiológico identificado, hábitos tabágicos
ficou-se leucopenia e trombocitopenia que mais de 18 UMA e hiperuricémia. Negava consumo de
tarde evoluiu para pancitopénia, D-dímeros aumen- drogas de adição. Sem terapêutica habitual.
tados, NT-proBNP 636 ng/mL e PCR 1.83 mg/dL. O doente apresentou-se sem sintomas de hipervis-
Face à elevação de D-dímeros fez angio-tomografia cosidade. Ao exame objectivo destacava-se face
computorizada do tórax que excluiu tromboem- pletórica e cordão venoso do membro inferior ain-
bolismo pulmonar mas nos cortes superiores do da palpável. Analiticamente mantinha poliglobulia
abdomen identificou massa com 13.9x10.4x13 cm (eritrócitos 6.62x1012/L, hemoglobina 19.4 g/dL,
na loca supra-renal esquerda com deslocamento hematócrito 57.6%), INR 1.40 e elevação de CK 684
do rim homolateral. Esta foi confirmada por res- UI/L. Contactou-se o serviço de imunohemoterapia
sonância magnética que não revelou adenopatias para realização de flebotomia.
ou alterações em outros órgãos sólidos. O estudo O estudo adicional revelou eritropoietina dentro do
hormonal dirigido à supra-renal não tinha altera- intervalo de normalidade e pesquisa de mutação
ções. Realizou tumorectomia, adrenalectomia e JAK2-V617F negativa.
nefrectomia esquerdas, a massa foi enviada para Em reavaliação em consulta o doente confessou su-
Anatomia Patológica e identificou-se LDGCB de tipo plementação vitamínica, que após esclarecimento,
não centro germinativo com CD-20, Bcl-2, MUM-1 e revela tratar-se de esteróides anabolizantes. Após a
Bcl-6 positivos. Iniciou quimioterapia com R-CHOP suspensão destes suplementos, verificou-se desci-
mantendo seguimento pela Hematologia. da paulatina do hematócrito para valores normais,

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 713


sem novos episódios trombóticos.  tagonista da serotonina. 
A ciproheptadina é um antagonista do receptor da
Os esteróides anabolizantes estimulam a eritropoie- histamina-1 com propriedades antagonistas 5-HT1A
se, conferindo um estado protrombótico associado e 5-HT2A. Na dose de 12mg/dia bloqueia 85%  dos
ao aumento da viscosidade sanguínea. O tratamen- receptores 5-HT2 do córtex pré-frontal e na dose de
to passa pela suspensão das drogas, associado ao 18 mg/dia bloqueia mais de 95%. 
tratamento sintomático imediato, como é o caso A dose recomendada no síndrome serotoninérgico é
da flebotomia. É igualmente importante persuadir de 12 mg, seguida  de 2 mg a cada 2 horas até res-
o doente em cessar o consumo, e encaminhar para posta favorável. 
acompanhamento psicológico adequado, se neces- Este fármaco encontra-se comercializado como
sário.  estimulador do apetite, para tratamento da anorexia,
na forma de ciproheptadina piridoxal fosfato. Foi
P n.º 1741  esta a forma utilizada no caso descrito, na dose de
Síndrome Serotoninérgico 12 mg, com reversão da taquicardia, normalização
Sara Correia(1);Mariana Soares(1);Alexandre Cana- do QT, do tónus muscular e da hipertemia.
rias(1);Inês Santos(1);Margarita Urquiola(1);Concei- São vários os relatos que descrevem o uso bem-su-
ção Barata(1) cedido da ciproheptadina no tratamento do síndro-
(1) Hospital do Espírito Santo, EPE, Évora me serotoninérgico. 
Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente crí- P n.º 1742 
tico Síndrome de Heyde: um diagnóstico a relembrar
Margarida Rajão Saraiva(1);Cátia de Almeida(2);-
Introdução  Joana Cascais Costa(1);Pedro Ribeiro(1);Armando
Carvalho(2)
O Síndrome serotoninérgico é uma condição ia- (1) Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra,
trogénica, potencialmente fatal, consequente EPE / Hospital Geral (2) Centro Hospitalar e Univer-
da sobrestimulação dos recetores serotoninérgi- sitário de Coimbra / Hospitais da Universidade de
cos.  A intoxicação com inibidores selectivos da Coimbra
recaptação da serotonina (SSRI)  pode estar na sua
origem, com convulsões, depressão do sistema Tema: Doenças hematológicas
nervoso central e prolongamento do intervalo QT. As
convulsões ocorrem em 1 a 2% dos casos, sendo Introdução:  A síndrome de Heyde é uma patologia
tipicamente de curta duração e auto-limitadas. O rara caracterizada pela tríade: estenose aórtica,
tratamento inclui a remoção do agente precipitan- hemorragia gastrointestinal por angiodisplasias e
te, terapêutica de suporte e antagonismo dos rece- Doença de von Willebrand Adquirida. Apesar de as
tores 5-HT2A. duas primeiras condições serem frequentes em
doentes idosos, a síndrome estará provavelmente
Descrição do caso  subdiagnosticada.

Homem de 22 anos, com antecedentes de Síndro- Caso-Clínico: Mulher de 75 anos com antecedentes


me Depressivo, admitido no Serviço de Urgência de insuficiência cardíaca valvular por estenose aór-
após Intoxicação Medicamentosa Voluntária com tica e anemia sideropénica crónica; sem terapêutica
1800 mg de Sertralina. Apresentava-se taquicárdico anticoagulante ou antiagregante.
(FC 120 bpm), apirético, orientado e colaborante.
Realizada lavagem gástrica e fluidoterapia. Após 1 Recorreu ao serviço de urgência por cansaço pro-
hora desenvolveu  convulsão tónico-clónica gene- gressivo para pequenos esforços, palpitações e
ralizada que cedeu à administração de diazepam 5 dispneia. Analiticamente com anemia hipocrómica
mg. Recuperou o estado de consciência poucos mi- microcítica com necessidade de transfusão de 2
nutos depois, no entanto  com agravamento da ta- unidades de concentrado eritrocitário (Hb 5,7 g/dL).
quicardia sinusal (FC 150 bpm) e prolongamento do
QT, rigidez muscular e hipertermia (38.5 ºC), sendo Internada para esclarecimento etiológico, apresen-
colocada a hipótese de Síndrome Serotoninérgico.  tando sideropenia, saturação de transferrina dimi-
Realizada terapêutica com di-hexazina pelas suas nuída, mas ferritina normal, hemostase normal e red
propriedades de antagonismo serotoninérgico, com cell distribution width (RDW) aumentado. Restante
resolução do quadro.  estudo negativo, nomeadamente serologias e au-
  toimunidade. Exames de imagem sem alterações
relevantes. Endoscopia digestiva alta revelou “pre-
Discussão  gas do antro gástrico edemaciadas com pequenas
erosões da mucosa e ectasia vascular no bulbo
O síndrome serotoninérgico ocorre por sobre-esti- duodenal”; colonoscopia sem alterações.
mulação dos receptores pós-sinápticos 5-HT1A e
5-HT2A. Os casos leves são resolvidos com des- Após discussão com hematologia, tendo em conta
continuação do fármaco, cuidados de suporte e a os achados clínicos, analíticos, endoscópicos e an-
sedação. Os casos graves exigem o uso de um an- tecedentes da doente, assumiu-se o diagnóstico de
Síndrome de Heyde.
714
E-POSTERS
À data de alta com Hb estabilizada (Hb 10.2g/dL). pesquisa do RNA viral no ENF foi persistentemente
Cumpriu suplementação com ferro endovenoso positiva (Ct variaram entre 15 a 25) e os Ac IgG anti-
seguido de manutenção com ferro oral e beneficiou -SARS-CoV-2 < 0.4 U/mL. Apesar de medicado com
de tratamento endoscópico com fotocoagulação a remdesivir, corticóide, Ig polivalente e plasma de
laser. Assintomática desde então e com Hb estável. convalescentes o doente faleceu.
Conclusão: Este caso ilustra uma forma de apresen- DISCUSSÃO: As doenças oncológicas e seus trata-
tação grave da Síndrome de Heyde – a qual, por ter mentos comprometem a resposta imunitária inata e
um potencial fatal, deve ser relembrada, com vista a adaptativa do hospedeiro, condicionando persistên-
uma identificação e gestão terapêutica mais preco- cia da infeção e outcomes mais severos e potencial-
ces. Tipicamente, o tratamento inclui a abordagem mente fatais. As terapêuticas dirigidas à infeção e
cirúrgica da valvulopatia, diminuindo significativa- de reconstituição imunitária e o timing de reinício de
mente a recorrência de hemorragia intestinal. terapêutica anti-neoplásica são aspetos fulcrais na
abordagem destes doentes.
P n.º 1743 
Infeção persistente por SARS-CoV-2 em doentes P n.º 1744 
imunocomprometidos: a propósito de dois casos ntoxicação grave por cogumelos silvestres: relato
clínicos de 3 casos
Hélder Diogo Gonçalves(1);Leila Duarte(1);Filipa Inês Farinha(1);Leandro Martins Valente(1);Lurdes
Reis(2);Inês Parreira(1);Sérgio Bronze(1);Valeria Correia(1);Rui Pina(1);Adélia Simão(1);Armando Car-
Maione(1);Pedro Gaspar(1);Federico Parlato(1);- valho(1)
Carolina Carreiro(1);Ana Catarina Santos(1);André (1) Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra /
Gomes(1);Filipe Bessa(1);Catarina Mota(1);Sandra Hospitais da Universidade de Coimbra
Braz(1)
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi- Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente crí-
tal de Santa Maria (2) Centro Hospitalar de Lisboa tico
Norte, EPE / Hospital Pulido Valente
Introdução: O micetismo é uma situação recorrente,
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias apesar de toda a informação transmitida à popula-
ção. A mortalidade estimada em Portugal é de 6,8%
Introdução: A infeção persistente por SARS-CoV-2, e ocorre sobretudo em Novembro. A maioria dos
confirmada por deteção da virémia ou inferida pelo cogumelos tóxicos causa gastroenterite autolimita-
número de ciclos replicativos (Ct) virais, tem sido re- da ligeira a moderada, no entanto algumas espécies
latada em case reports. Os doentes oncológicos são podem causar reações graves e mesmo fatais. Os
grupo de risco. Apresentamos 2 casos de doença cogumelos do tipo Amatoxina são responsáveis por
linfoproliferativa e infeção persistente com evolução mais de 90% das mortes por intoxicações por cogu-
grave e fatal. melos.

CASOS CLÍNICOS:   Casos Clínicos:


CASO 1. Homem, 69 anos, com leucemia linfocítica Os autores apresentam 3 casos de intoxicação por
crónica sob ibrutinib, hipogamaglobulinémia se- cogumelos que foram observados no Serviço de
cundária e linfoma de Hodgkin sob quimioterapia. Urgência de um Hospital Central durante o mês de
Em Outubro/2020, após diagnóstico de infeção novembro de 2020.
assintomática por SARS-CoV-2, suspendeu trata-
mentos. A pesquisa do RNA viral no exsudado na- Homem de 79 anos que iniciou diarreia e vómitos
sofaríngeo (ENF) foi persistentemente positiva até no dia seguinte à ingestão de cogumelos. Tinha
Janeiro/2021. Nessa altura reiniciou tratamentos. citólise hepática decidindo-se tratamento com per-
Após 2 ciclos de ibrutinib e ChlPP (clorambucil, pro- fusão de acetilcisteína e silibinina, apresentando
carbazina, prednisona) desenvolveu quadro de febre melhoria clínica e analítica progressiva e alta ao fim
e hipoxémia com documentação imagiológica de de 5 dias.
pneumonia. A pesquisa do SARS-CoV-2 no ENF foi
novamente positiva (Ct 25) e os anticorpos (Ac) IgG Homem de 45 anos com vómitos e diarreia após
anti-SARS-CoV-2 < 0.4 U/mL. Apesar da administra- ingestão de cogumelos selvagens 2 dias antes. À
ção de remdesivir, dexametasona e imunoglobulina admissão doente, com lesão renal aguda, acidemia
(Ig) humana polivalente, a evolução foi desfavorável metabólica e insuficiência hepática aguda com icte-
e culminou no óbito. rícia, coagulopatia e encefalopatia grau II, necessi-
tando de transplante hepático urgente.
CASO 2. Homem, 64 anos, com linfoma não-Hod-
gkin em remissão completa, após terapia com CAR- Mulher de 67 anos, com sintomatologia gastroin-
-T cells, e hipogamaglobulinémia secundária. Em testinal 2 dias após ingestão de cogumelos. Apesar
Dezembro/2020 foi diagnosticada infeção por SAR- das medidas de suporte, carvão ativado, N-acetil-
S-CoV-2. Nos 4 meses seguintes manteve-se sinto- cisteina, perfusão de penicilamina e posteriormente
mático, com hipoxémia e achados imagiológicos de de silibinina, manteve agravamento clínico com
pneumonia vírica o que motivou 3 internamentos. A insuficiência hepática e coagulopatia. Proposta para

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 715


transplante hepático que recusou, realizando plas- orientação terapêutica e prognóstico.
maferese como tratamento de resgate, com evolu-
ção desfavorável e óbito. P n.º 1749 
Um caso de cansaço hemorrágico.
Discussão: Não existem diferenças facilmente Catarina Pestana Santos(1);Bruno Gonçalves de
reconhecíveis entre cogumelos venenosos e não Sousa(1);Daniela Cruz(1);Tiago Judas(1)
venenosos. A apresentação clínica é variável e a (1) Hospital Garcia de Orta, EPE
gravidade depende do tipo de cogumelo, da quanti-
dade de toxina ingerida e do tempo decorrido até ao Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá-
início do tratamento. É muito importante a vigilância ticas
clínica e laboratorial apertada evitando uma alta
precoce com consequências graves e evolução para Introdução: A hemorragia digestiva é causa frequen-
falência hepática aguda e morte. te de hospitalizações, sendo a sua mortalidade bai-
xa, habitualmente motivada pela descompensação
P n.º 1745  de co-morbilidades. O  tratamento pode variar de
Esteatose focal ou metástase? acordo com as várias etiologias.
Joao Queirós Coelho(1);João Neves Maia(1);Bruno
Fraga Dias(1);Ana Rita Cruz(1)
(1) Centro Hospitalar do Porto, EPE / Hospital Geral Caso Clínico: Doente de 81 anos, sexo masculino,
de Santo António antecedentes pessoais de hipertensão arterial;
diabetes mellitus tipo II e tabagismo. Admitido no
Tema: Doenças oncológicas serviço de urgência por quadro de enfarte agudo do
miocárdio no contexto de anemia ferropénica grave.
INTRODUÇÃO. A esteatose hepática é uma entidade Realizou suporte transfusional e estudo endoscópi-
bem reconhecida e facilmente identificada em es- co do tubo digestivo alto e baixo que não identificou
tudos de imagem, podendo, contudo, manifestar-se lesões luminais sangrantes. Após estabilização clí-
segundo um espectro amplo, com uma distribuição nica e analítica teve alta encaminhado para consul-
que pode ser irregular/circunscrita, focal/multifocal, tas de Medicina Interna e Gastroentrologia. Realizou
perivascular/subcapsular. Em casos raros, metásta- posteriormente videocápsula endoscópica, que re-
ses hepáticas podem ter um aspecto que leva erra- velou erosões gástricas e angiectasias do delgado.
damente ao diagnóstico de esteatose focal. O doente manteve episódios de hemorragia diges-
tiva e múltiplos internamentos por quadro de des-
compensação de insuficiência cardíaca no contexto
CASO CLÍNICO. Mulher de 75 anos, hipertensa e dia- de anemia. Repetiu endoscopia digestiva alta com
bética, doença de Alzheimer, sem doença hepática “push enteroscopy” para fulguração de angiectasia.
prévia, com diagnóstico de adenocarcinoma gás- Manteve contudo persistência de episódios de he-
trico com histologia mista (tipo intestinal e células morragia digestiva após terapêutica endoscópica.
anel de sinete) dois meses antes. TC de estadia- Neste contexto foi iniciada terapêutica com octreó-
mento a documentar hepatomegalia (18 cm), com tido de libertação prolongada intramuscular (20mg/
hipodensidades não homogéneas de contorno pe- mês). Desde então, salienta-se franca melhoria clí-
riférico geográfico, pré-administração de contraste, nica, sem que se tenham verificado novos episódios
envolvendo os segmentos II, III, IV e região posterior de hemorragia digestiva ou de descompensação de
do lobo direito, que persistia em fase arterial e por- insuficiência cardíaca. Verificou-se ainda correcção
tal, com trajetos vasculares não amputados no seu de anemia, sem necessidade de terapêutica marcial
interior, interpretados como esteatose geográfica. ou suporte transfusional desde então.
Não foi proposto tratamento curativo por fragilidade
global da doente (ECOG 3). Internada por quadro de Discussão: O caso clínico é ilustrativo de um caso
intolerância alimentar, associando sinais de falência de sucesso da terapêutica vasoactiva com octreó-
hepática aguda (encefalopatia hepática, icterícia, tido no controlo de hemorragia digestiva recorrente
hepatite aguda de predomínio colestático com por angiodisplasias do delgado, condição clínica
elevação marcada da desidrogenase láctica, coagu- relativamente comum em doentes de idade avança-
lopatia, acidose láctica e hipoglicemia). Sem toma da e com frequente má resposta às várias modali-
de hepatotóxicos, vírus hepatotrópicos negativos dades terapêuticas disponíveis.
e sem contexto para isquemia hepática. Evolui com
encefalopatia hepática grau 4 (classificação West- P n.º 1754 
-Haven) e morte. Biópsias hepáticas post-mortem Quando a amnésia é um sinal urgente!
a documentarem infiltração hepática por células de Catarina Pestana Santos(1);Bruno Gonçalves de
adenocarcinoma gástrico em anel de sinete. Sousa(1);Daniela Cruz(1);João Leote(1);Tiago Ju-
das(1)
DISCUSSÃO. A situação descrita representa um (1) Hospital Garcia de Orta, EPE
caso incomum de metastização hepática apresenta-
da na forma de hipodensidades geográficas suges- Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas
tivas de esteatose. O seu correto reconhecimento
e interpretação são essenciais no estadiamento de Introdução: A síndrome Wernicke-Korsakoff é uma
doença oncológica, tendo implicações óbvias na complicação neurológica bem conhecida do défi-

716
E-POSTERS
ce de tiamina. Este termo engloba dois síndromes reconhecimento da SBG e atempada intervenção
distintos em termos clínicos, cada um dos quais terapêutica. Relata-se o caso de SGB numa paciente
representa diferentes fases da doença. A encefalo- com infeção SARS-CoV2 confirmada.
patia de Wernicke (EW) corresponde à fase aguda
e requer tratamento emergente, de modo a prevenir Mulher de 60 anos, com história de lombalgia me-
sequelas neurológicas e morte. cânica com ciatalgia esquerda, sem medicação
diária nem hábitos tóxicos. Internada por pneu-
Caso Clínico: Homem de 62 anos, com anteceden- monia a SARS-CoV2 com insuficiência respiratória
tes relevantes de adenocarcinoma do canal anal tipo I e necessidade de incremento progressivo de
submetido a recessão cirúrgica, adenocarcinoma oxigénio e ventilação não invasiva. Adicionalmente
gástrico submetido a gastrectomia e alcoolismo a destacar tromboembolismo pulmonar e pneumo-
crónico. Admitido para esclarecimento de altera- nia organizativa secundária. Apesar da melhoria
ções comportamentais e neurocognitivas (alteração do padrão ventilatório, constatou-se um agrava-
de memória e linguagem), perda de cuidados de mento da lombalgia crónica com início de quadro
higiene, desequilíbrio e estrabismo convergente do de parestesia e fraqueza de novo em ambos os
olhar. Ao exame objectivo apresentava-se desorien- membros inferiores, seguidas de paraparésia arre-
tado no tempo e espaço; lapsos mnésicos para fac- fléxica, tendo realizado punção lombar que revelou
tos recentes; estrabismo convergente com parésia proteinorraquia sem pleocitose. Seguindo o padrão
da abdução no olho esquerdo, nistagmo horizonto- típico ascendente, revelou afetação dos membros
-rotatório para a esquerda na posição primária do superiores com parestesias e diminuição da força,
olhar e para a direita na dextroversão; marcha de fraqueza axial impossibilitando a posição sentada
base alargada, sem outras alterações relevantes. e posteriormente paresia facial e disartro-disfonia
Analiticamente apresentava macrocitose, tromboci- progressivamente mais acentuada, desenvolvendo
topenia e padrão de citólise hepática com AST>ALT. ainda disfagia para líquidos. Realizou eletromio-
Realizou tomografia computadorizada, seguida de grafia que corroborou o diagnóstico. Foi medicada
ressonância magnética de crânio que evidenciaram durante 5 dias com imunoglobulina endovenosa
atrofia cortical difusa, moderada leucoencefalopatia 0.4g/Kg, paralelamente otimizado o controlo álgico
crónica e enfartes isquémicos lacunares. Realizou e a reabilitação, objetivando-se uma melhoria clínica
ainda ecografia abdominal que mostrou ligeira he- progressiva.
patomegalia e marcada esteatose em relação com
doença hepática crónica. Admitiu-se o diagnósti- Apesar de ser um diagnóstico de exclusão, no caso
co presumptivo de EW no contexto de alcoolismo apresentado para além da clínica e da dissociação
crónico. Iniciou suplementação com tiamina, verifi- albumino-citológica, também a eletromiografia
cando-se melhoria das alterações cognitivas, rever- apoia o diagnóstico. Embora ainda seja limitada a
são do nistagmo e ataxia. evidência sobre a afetação neurológica secundária
a infeção SARS-CoV2, a SGB parece ser, com ele-
Discussão: Com o caso apresentado os autores vada probabilidade uma delas, sendo este vírus um
pretendem salientar a importância do rápido reco- possível agente etiológico frequente desta síndro-
nhecimento dos sintomas de EW, particularmente me.
em doentes com alcoolismo crónico, pela possível
reversibilidade do quadro quando diagnosticado e P n.º 1759 
tratado atempadamente. Álcool: um tóxico multissistémico
Catarina Pestana Santos(1);Bruno Gonçalves de
P n.º 1755  Sousa(1);Daniela Cruz(1);João Leote(1);Inês Pintas-
Síndrome Guillain-Barré pós-infeção a SARS-CoV-2 silgo(1);Tiago Judas(1)
Ana Rita Ambrósio(1);Henrique Pina(1);Rita Jor- (1) Hospital Garcia de Orta, EPE
ge(1);Sofia Pimentel(1);Hugo Pêgo(1);Fernando
Martos Gonçalves(1);José Lomelino Araújo(1) Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio-
(1) Hospital Beatriz Ângelo nais

Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas Estima-se que por mês, 30% dos homens e 12% das
mulheres têm, pelo menos, um episódio de binge-
A Síndrome de Guillain Barré (SGB) apesar de hete- -drinking. O álcool tem impacto em mais de 200 pa-
rogénea tem como apresentação mais frequente a tologias, sendo a mortalidade atribuída ao álcool na
polirradiculoneuropatia aguda inflamatória desmie- sua maioria devida a doenças cardiovasculares.
linizante. Caracteriza-se por paralisia ascendente e
simétrica rapidamente progressiva, com arreflexia Homem de 40 anos, com antecedentes relevantes
e disfunção autonómica. Nos casos mais graves de hipertensão arterial medicada e alcoolismo
pode envolver os músculos respiratórios e culminar crónico. Observado no serviço de urgência por crise
em insuficiência respiratória com necessidade de convulsiva tónico-clónica generalizada após período
ventilação invasiva. É uma doença imuno-mediada de abstinência alcoólica e quadro com dois meses
que na maioria dos casos ocorre após uma infeção. de evolução de adinamia e perda ponderal. À admis-
Os casos de SGB associados a infeção SARS-CoV2 são apresentava sonolência, sem outras alterações
têm emergido, salientando-se  a importância do relevantes. Analiticamente destacava-se pancito-

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 717


penia (hemoglobina 7.2g/L leucócitos 3.2 x10^9/L, vasiva e posterior realização de toracocentese. Ana-
plaquetas 107 x10^9/L), macrocitose, gama-gluta- liticamente com elevação marcada e sustentada
mil transferase 1687UI/L e dislipidémia mista (tri- dos parâmetros inflamatórios e estudo de autoimu-
glicéridos 3619 mg/dl, colesterol total 792 mg/dl). nidade com ANAs 1/160 e anti-Ro52 positivo. Rea-
Do estudo etiológico realizado em internamento a lizou teste de Schirmer que foi fortemente positivo
destacar função renal e função tiroideia sem altera- e, portanto, foi assumido provável Síndrome Sjö-
ções, folato e vitamina B12 normais, apolipoproteí- gren com apresentação atípica (segundo critérios
na B elevada, ecografia abdominal compatível com ACR/EULAR 2016) e teve alta orientada para a con-
esteatose hepática e mielograma sem alterações. sulta de Doenças Autoimunes.  
A tomografia computorizada de crânio mostrou
atrofia cortical cerebelosa. Foi suspenso beta-blo- Conclusão:  Este caso é um exemplo raro de polis-
queante e iniciou estatina e benzafibrato. Durante serosite como apresentação clínica do Síndrome
o internamento verificou-se melhoria marcada das de Sjögren primário, com manifestações de gravida-
alterações analíticas. Desta forma, o quadro clínico de, provavelmente devido a presença de inflamação
foi interpretado no contexto de toxicidade medular, sistémica marcada. 
hepática e cerebelosa da ingestão alcoólica.
P n.º 1774 
Este quadro é representativo de alterações extre- Pancitopenia e Parvovírus B19: a propósito de um
mas da toxicidade alcoólica em múltiplos órgãos. caso clínico
Deste modo, os autores pretendem demonstrar o Sara Ramos Lopes(1);Jéni Quintal(1);Ana Rita Pitei-
impacto do alcoolismo na morbilidade e qualidade ra(1);Filipa Silva(1);Filipa Carrega(1);Diana Pedrei-
de vida dos doentes. ra(1);Manuela Fera(1);Ermelinda Pedroso(1)
(1) Centro Hospitalar de Setúbal, EPE / Hospital de
P n.º 1770  São Bernardo
Polisserosite – uma apresentação atípica de Sín-
drome de Sjögren Tema: Doenças hematológicas
Ana Inês Neves(1);João Miranda(1);Francisca Silva
Carmo(2);Filipe Breda(1) Introdução: A pancitopenia corresponde à dimi-
(1) Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia / Espinho nuição da contagem das 3 linhagens celulares do
(2) Hospital Vila Nova Gaia sangue periférico abaixo dos valores de referência.
A etiologia é variável e sistematizável em 3 grupos
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas- de acordo com o mecanismo subjacente: infiltração
culites medular, aplasia medular e destruição/ sequestro
de células sanguíneas, sendo que a mesma doença
Introdução: A polisserosite é um desafio diagnós- pode atuar por diversos mecanismos. 
tico com múltiplas etiologias incluindo causas
neoplásicas, infeciosas e autoimunes. O Síndro- Caso: Homem, 55 anos, antecedentes pessoais
me de Sjögren é caracterizada pela hipofunção de irrelevantes, levado ao serviço de urgência após epi-
glândulas salivares e lacrimais, com possíveis mani- sódio de síncope na via pública. Referia astenia, ne-
festações multiorgânicas.   gando outros sintomas. Habitação com condições
precárias, mas com saneamento básico, sendo a
Caso Clínico: Sexo feminino, 80 anos, autónoma restante epidemiologia irrelevante. Ao exame obje-
para os autocuidados, com antecedentes de obe- tivo, estava febril (TT 39ºC), normotenso e taquicár-
sidade, hipertensão arterial, diabetes tipo 2, dislipi- dico. Pálido, com sopro sistólico no foco tricúspide
demia, insuficiência cardíaca com fração de ejeção e desconforto à palpação do hipocôndrio esquerdo
conservada, fibrilação auricular paroxística, epilep- onde se palpava massa 3cm abaixo da grelha cos-
sia vascular e agenesia do rim esquerdo. Admitida tal. Sem adenopatias palpáveis ou alterações da
no Serviço de Urgência (SU) por desconforto retros- pele. Analiticamente, a destacar pancitopenia (Hb
ternal e dispneia para esforços progressivamente 8,4g/dL, VGM 87fL, CHGM 33,1g/dL, leucócitos
menores com cerca de uma semana de evolução. À 1800?L e plaquetas 70 000?L), confirmada no esfre-
admissão no SU, a doente apresentava-se eupnei- gaço de sangue periférico, reticulocitopenia 0,25% e
ca sob oxigenoterapia por cânula nasal, ausculta- PCR 17mg/dL. Radiografia de tórax sem alterações.
ção cardíaca com sons hipofonéticos e auscultação TC CTAP revelou esplenomegália (14,5cm). Iniciou
pulmonar com crepitações bibasais. Apresenta- antibioterapia empírica com piperacilina-tazobac-
va também xeroftalmia e xerostomia de longa tam IV após colheita de culturas e foi internado para
data. Do estudo efetuado no SU, destacam-se estudo etiológico. Do estudo realizado, destaca-se
a gasometria arterial com insuficiência respirató- serologia ParvovírusB19 IgM positiva e IgG nega-
ria tipo II, angioTC torácico com derrame pleural tiva, admitindo-se o diagnóstico de infeção aguda
bilateral de pequeno volume e ecocardiograma por ParvovírusB19. A referir ainda défice de ácido
sumário com derrame pericárdico circunferencial fólico (0,7ng/dL), serologias EBV, CMV, EBNA IgG
de moderado volume com fibrina e sem sinais de positivas, hepatites virais negativas e VIH negativo.
tamponamento cardíaco. Durante o internamento Eletroforese (ELF) de proteínas com pico inespecífi-
com agravamento das trocas gasosas e do derra- co na zona alfa e ELF hemoglobina normal. Ecocar-
me pleural com necessidade de ventilação não in- diograma com insuficiência tricúspide ligeira, sem

718
E-POSTERS
vegetações. Real(1);Luis Carvalho(1);Nuno Catorze(1)
(1) Hospital Distrital de Abrantes
Discussão: O quadro clínico da infeção por Parvo-
vírusB19 depende da idade, antecedentes e estado Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
imunológico do hospedeiro. Na maioria dos adul-
tos imunocompetentes, a infeção é assintomática Introdução
ou cursa com sintomas ligeiros como artralgias. A malária é uma das infeções parasitárias com
A aplasia eritrocitária pura e aplasia medular são maior impacto a nível mundial. Estão descritas
mais frequentes em indivíduos imunossuprimidos várias complicações associadas, entre as mais ra-
ou com antecedentes de doença hemolítica crónica, ras a colecistite alitiásica.
respetivamente. O autor destaca a importância da
infeção por ParvovírusB19 integrar o diagnóstico
diferencial de todos os doentes com pancitopenia. Caso Clínico
Homem angolano de 29 anos, sem antecedentes
P n.º 1775  relevantes, inicia quadro de febre, mialgias e
Quando o tratamento é a causa cefaleia 10 dias após a chegada de Angola. Por per-
Isabel Maria Dias Martins de Freitas(1);Tatiana sistência dos sintomas, recorre ao Serviço de
Salazar(1);Patrícia Rocha(2);João Correia Cardo- Urgência no dia seguinte. À admissão, excluída CO-
so(1);Mário Esteves(1);Ana Luísa Cruz(1);Ana Lima VID19 e realizada a pesquisa de
Silva(1) Plasmodium, que confirma o diagnóstico de Malária
(1) Centro Hospitalar do Médio Ave, EPE / Unidade a Plasmodium falciparum (25% de
de Vila Nova de Famalicão (2) Centro Hospitalar do parasitémia). Analiticamente, com trombocitopenia
Médio Ave, EPE / Hospital Conde São Bento grave (6.000/L), lesão renal aguda
(Cr:1.5mg/dL), citocolestase hepática com hiperbi-
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias lirrubinemia direta de 24mg/dL e
hiperlactacidemia (7.6mmol/L). Inicia Doxiciclina e
Quando o tratamento é a causa. Quinino e é internado na Unidade de
Cuidados Intensivos (UCI) para vigilância.
Ao 2º dia, inicia quadro de dor no hipocôndrio direito
Introdução:  Em doentes imunocomprometidos, o com defesa, associado a agravamento da
Citomegalovírus (CMV) é uma causa  importante hiperbilirrubinemia. Ecograficamente: “vesicula es-
de morbidade e mortalidade. A doença frequente- pessada, mas sem evidência de litíase”. Face
mente é o resultado da reativação do vírus latente. à falta de evidência no benefício do tratamento diri-
Nestes indivíduos a doença pelo CMV pode envolver gido da colecistite associada à Malária,
gravemente vários órgãos podendo resultar em alte- optou-se pela atitude expetante. De facto, a dor ab-
rações pulmonares, gastrintestinais ou do sistema dominal resolveu-se em 36horas, com
nervoso central. melhoria clinica progressiva.
Ao 4º dia, início de dispneia e tosse produtiva, com
Caso clínico: Homem de 78 anos com vários ante-
evidência de pneumonia nosocomial,
cedentes pessoais destacando-se artrite temporal
realiza broncofibroscopia, colhe culturas e inicia an-
sob corticoide e metotrexato. Admitido no serviço
tibioterapia. Contudo, agravamento da
de urgência por quadro de diarreia sanguinolenta,
hipoxemia e rápida evolução para Sindrome de Difi-
dispneia, exantema macular e astenia com cerca
culdade Respiratória Aguda (ARDS), com
de 2 semanas de evolução. Documentada panci-
necessidade de entubação orotraqueal e início de
topenia, lesão renal aguda e pneumonia direita por
ventilação mecânicainvasiva.
tomografia computorizada torácica. Inicialmente
Durante a permanência na UCI, cumpriu 10dias de
medicado empiricamente com ceftriaxone sem me-
Doxicilina e Quinino (suspensos após 96h de
lhoria clínica. Colocada a hipótese de infeção por
parasitémia &lt;1%) e 7dias de Piperacilina/Tazobac-
CMV com possível envolvimento gastrointestinal e
tam e Linezolide; esteve ventilado de forma
respiratório, sustentada por antigenemia e PCR de
invasiva durante 5 dias; foi submetido a suporte
CMV positivas. Sob ganciclovir teve boa resposta
transfusional de pool de plaquetas e
clínica, analítica e radiológica.
concentrados eritrocitários, com estabilização da
Discussão: Este caso pretende chamar a atenção anemia e trombocitopenia ao 6ºdia;
para a importante incidência de infeções opotunís- apresentou hipoglicemia persistente de difícil reso-
ticas em doentes sob imunossupressão. A doença lução durante 15 dias.
citomegalia deve ser sempre ponderada nestes Evolução favorável com transferência para a Enfer-
doentes, quando a clínica é sugestiva. O diagnóstico maria de Medicina ao 15º dia, e alta
célere permite o adequado tratamento e minimiza a hospitalar ao 18º dia.
sua gravidade, tal como documentado neste caso.
P n.º 1779  Discussão
Colecistite Aguda Alitiásica associada a Malária A colecistite alitiasica é uma complicação extrema-
grave mente rara da infeção por Plasmodium,
Ana Clara Dinis(1);Sofia Silva Narciso(1);Teresa Oli- exigindo um elevado nível de suspeição, tornando
veira(1);Tiago Lima Pereira(1);Lídia Caley(1);André ainda mais desafiante o tratamento da

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 719


Malária. pélvis renal (5-10%), o seguimento deve ser mantido
após cinco anos de remissão, pelo elevado risco de
P n.º 1782  recidiva.
Quando a face incha
Isabel Maria Dias Martins de Freitas(1);Tatiana Sa-
lazar(1);Patrícia Rocha(2);Ana Lima Silva(1);Pedro Caso Clínico: Senhor de 64 anos, com história de
Rodrigues(1);Inês Albuquerque(1);Ana Luísa Cru- carcinoma urotelial de alto grau com envolvimento
z(1);Mário Esteves(1) vesical e ureteral direito (T2, N0, M0), foi submetido
(1) Centro Hospitalar do Médio Ave, EPE / Unidade a ureteronefrectomia direita, múltiplas ressecções
de Vila Nova de Famalicão (2) Centro Hospitalar do transureterais de lesões vesicais (RTU-V) e qui-
Médio Ave, EPE / Hospital Conde São Bento mioterapia intravesical (QT-V), encontrando-se em
remissão há 6 anos. Manteve o seguimento em
Tema: Doenças oncológicas Urologia, tendo-se identificado nova lesão vesical
em cistoscopia, com citologia compatível com
recidiva. Foi submetido a nova RTU-V e QT-V (com-
Introdução: A síndrome da veia cava superior pletou 3 meses). Durante este ciclo de tratamento,
(SVCS) é uma condição pouco frequente, causada iniciou quadro de dor lombar esquerda progressiva,
por uma obstrução/compressão da veia cava supe- com irradiação de padrão ciatal e refractária a te-
rior(VCS). Fácies pletórica, edema e ingurgitamento rapêutica antiálgica. Apresentava disfunção renal
vascular do pescoço e parte superior do tronco são (creatinina 2.15mg/dL), aumento da proteína C
sinais chave desta patologia. reactiva (143mg/L, sem leucocitose) e leucocitúria
sob algaliação (287uL). Excluiu-se causa obstruti-
va e realizou tomografia computorizada de corpo
Caso clínico: Homem de 56 anos com antecedentes (TC) que identificou densificação da gordura perir-
de diabetes mellitus tipo2, dislipidemia e fumador. renal e espessamento da parede vesical. Admitida
Estava a ser estudado em ambulatório por clínica pielonefrite aguda, foi internado, tendo cumprido
progressiva de dispneia e dor tipo pleurítica. Reali- antibioterapia dirigida a Serratia marcescens isola-
zou vários meios complementares de diagnóstico, da em urocultura. Realizou ressonância magnética
destacando-se uma volumosa massa pulmonar di- (RM) lombossagrada que mostrou protusão discal,
reita sugestiva de pancoast. admitindo contacto radicular nos níveis L3-L4 e L4-
L5. Foi avaliado por Neurocirurgia e teve alta após
Uma semana mais tarde, recorreu ao serviço de ur- optimização terapêutica. Por intensificação da dor,
gência, por agravamento da dispneia, rubor e calor foi reinternado após 24 dias. Repetiu RM que identi-
da face. Ao exame objetivo evidência de face pletó- ficou lesões líticas vertebrais em L3, asa esquerda
rica, edema e ingurgitamento das veias do pescoço do sacro e ilíaco. Repetiu TC que mostrou também
exacerbadas após a manobra de Pemberton . Por metastização pulmonar e ganglionar. Foi programa-
suspeita de SVCS realizou angiotomografia torácica do apoio oncológico e paliativo.
que não só confirmou esta hipótese como também
evidenciou trombose da VCS. Pelo elevado risco da Discussão: Este caso corrobora o alto risco de re-
cirurgia/procedimento endovascular, foi decidido cidiva do carcinoma urotelial de alto grau no longo
início de hipocoagulação, quimioterapia e radiotera- curso e o seu rápido potencial metastático. Preten-
pia na perspetiva de redução do volume da massa, de ainda enfatizar a importância da clínica como
cujo resultado histológico revelou tratar-se de um sinal de alerta na invasão locorregional ou metasti-
carcinoma pulmonar de pequenas células. zação, que neste caso e apesar de severidade dos
sintomas não era ainda identificável em TC ou RM.
Discussão:  O caso pretende destacar o valor do
exame objetivo na avaliação dos doentes, tornan- P n.º 1789 
do-o imprescindível. Foram os sinais evidenciados Neutropenia Febril Persistente – Infecção Fúngica
que, por serem característicos do SVCS, desenca- Marta Monteiro de Castro(1);Paulo Silva(1);Joana
dearam a sua investigação e, consequentemente a Dias(1);Luís Lázaro Ferreira(1);Ana Mondragão(1)
orientação apropriada. (1) Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia / Espinho

P n.º 1785  Tema: Doenças oncológicas


Recidiva de carcinoma vesical com metastização
de rápida progressão Introdução:
Luís Reis de Almeida(1);Rosário Eça(1);Manuel An-
tónio Monteiro(2);Vera Salvado(1)
(1) Hospital de São José (2) Unidade Funcional Me- A neutropenia febril permanece uma das principais
dicina 1.2 - Hospital de São José - CHULC complicações da quimioterapia. Nestes doentes, a
febre pode ser o único sinal de infecção. Os agentes
Tema: Doenças oncológicas mais frequentemente envolvidos são as bactérias,
contudo o risco de infecções fúngicas invasivas au-
menta com a duração e gravidade da neutropenia,
Introdução: O carcinoma urotelial é a neoplasia
uso prolongado de antibióticos e número de ciclos
vesical mais comum nos países desenvolvidos.
de quimioterapia.
Nos tumores de alto grau com invasão do ureter ou

720
E-POSTERS
CASO CLÍNICO: sintomas B. Ao exame objetivo apresentava-se vígil
e com direção do olhar. Comunicava nome e idade,
Mulher de 75 anos, com diagnóstico recente de mas não respondia a outras questões nem cumpria
leucemia mieloblástica aguda sob quimioterapia. ordens simples. Postura em retrocólis com rigidez
Recorreu ao serviço de urgência por febre e astenia muscular. Prova de elevação dos braços com queda
com uma semana de evolução. Negou outra sinto- mais acentuada à direita e Mingazzini com queda
matologia. Objetivamente, encontrava-se hemodi- bilateralmente. Reflexos osteotendinosos mantidos,
namicamente estável e com temperatura timpânica excepto no joelho (diminuídos). Restante exame
38,7ºC. Sem outras alterações ao exame objetivo. objetivo sem alterações. Analiticamente tinha au-
Do estudo realizado, apresentava pancitopenia, fun- mento dos parâmetros inflamatórios e sedimento
ção renal e ionograma sem alterações e elevação urinário patológico compatível com cistite, hipona-
da proteína C reativa. Rastreio séptico negativo e trémia 111mmol/L e hipocalémia 2.7mmol/L. Rea-
radiografia do tórax sem alterações. lizou TC-crânio que revelou discreta encefalopatia
microangiopática, sem alterações agudas. Realizou
Optou-se pelo internamento e iniciou-se antibiotera- punção lombar, sem aumento de pressão de saída,
pia empírica com piperacilina-tazobactam. Durante apenas com hiperproteinorráquia. Pela dissociação
o internamento manteve-se febril e com elevação da albuminocitológica iniciou imunoglobulina, sem re-
proteína C reativa. Ao 15º dia de internamento, por versão do quadro neurológico. Pedida colaboração
manutenção de febre após antibioterapia de largo de Neurologia que coloca hipótese de polineuropa-
espectro e suspeita de infecção fúngica, foi requisi- tia desmielinizante de evolução atípica vs parkinso-
tada tomografia computorizada do tórax, que reve- nismo atípico. Realizou RM-crânio com alterações
lou a presença de múltiplas formações nodulares sobreponíveis à TC. Anticorpos anti-gangliosídeos,
distribuídas por todos os segmentos pulmonares, a anti-canais de cálcio, anfifisina e anti-Ri negativos.
maioria com atenuação em vidro despolido perifé- EMG com alterações compatíveis com AMAN (acu-
rica (sinal do halo), sugestivas de etiologia fúngica. te motor axonal neuropathy). Na TC de corpo identi-
Foi iniciado antifúngico empírico com resolução da ficaram-se 2 nódulos pulmonares. Para completar
febre e diminuição do valor de proteína C reativa. estudo de atipia realizou cintigrafia ósssea com
aumento da atividade osteoblástica na região sa-
DISCUSSÃO: 
croilíaca direita e crista ilíaca esquerda. Realização
Trata-se de um caso de neutropenia febril persisten- de biópsia à lesão óssea. Manteve agravamento de
te e nestes casos, a incidência de infecções fúngi- situação clínica acabando por falecer previamente
cas (mais frequentemente provocadas pela Candida à conclusão da marcha diagnóstica. Resultados de
ou Aspergillus spp) aumenta. anatomia patológica post-mortem a revelar identifi-
cação de células neoplásicas de origem pulmonar
No caso apresentado, apesar de a doente não apre- no líquor, cbem como células de adenocarcinoma
sentar clínica focalizadora, perante a ausência de pulmonar na biópsia óssea. O diagnóstico final foi
resposta à antibioterapia de largo espectro empírica de neoplasia do pulmão com carcinomatose menín-
e a presença de achados radiológicos compatíveis, gea, e eventual componente de neuropatia paraneo-
admitimos estar na presença de uma infeção fúngi- plásica, bem como eventual síndrome de secreção
ca pulmonar. inapropriada de hormona antidiurética.

Com o presente caso clínico, pretende-se salientar a P n.º 1794 


importância de considerar as infecções fúngicas em Linfangioma jejunal: uma causa rara de anemia fer-
doentes imunocomprometidos. ropénica
André Coimbra Trigo(1);Luís Guilherme Santos(1);-
P n.º 1790 
Sofia Brasil(1);Maria Perry Vidal(1);Rui Caceiro(1);-
Demência Pulmonar
João Madaleno(1);João Costelha(1);Adélia Si-
Vânia Rodrigues Pereira(1);Margarida Pimentel
mão(1);Armando de Carvalho(1)
Nunes(1);Beatriz Silva(1);Marta Sanches(1);Ana
(1) Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra /
Isabel Brochado(1);David Prescott(1);Inês Branco
Hospitais da Universidade de Coimbra
Carvalho(1);Isabel Montenegro Araújo(1);Bárbara s.
Abreu(1);Raquel Almeida(1);António Martins Baptis- Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá-
ta(1);José Lomelino Araújo(1) ticas
(1) Hospital Beatriz Ângelo
Tema: Doenças oncológicas Introdução: Linfangiomas são um grupo heterogé-
neo de malformações vasculares benignas, sendo o
envolvimento do sistema digestivo em idade adulta
Mulher, 76 anos com hipertensão arterial, diabetes
particularmente raro. O intestino delgado é a loca-
tipo 2 e dislipidémia. Autónoma até ao mês prévio à
lização mais comum. A maioria é assintomática e
vinda ao Serviço de Urgência, onde recorre por al-
o seu diagnóstico é incidental, contudo em raras
terações mnésicas com perda progressiva de auto-
ocasiões podem manifestar-se com hemorragia di-
nomia, diminuição da força nos membros inferiores
gestiva.
e incapacidade para marcha. Acresce disfagia to-
tal, retenção urinária e obstipação. Sem presença de
CASO CLÍNICO: Mulher de 29 anos, previamente
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 721
seguida em consulta de Medicina Interna para es- anos, com acometimento progressivo do tronco e
tudo de anemia ferropénica. Recorreu ao serviço membros superiores. À observação, acrocianose da
de urgência por agravamento sintomático com mão esquerda, pulso radial esquerdo menos amplo,
cansaço fácil, palpitações e melenas com 3 meses adenomegália axilar direita de características infla-
de evolução, encontrado-se pálida, taquicárdica e matórias (2cm) e várias lesões cutâneas no tronco
hemodinamicamente estável. Analiticamente com e membros superiores, algumas eritemo-descama-
anemia microcítica hipocrómica (Hb 2.8g/dL; VGM tivas, outras eritematosas com aspeto “infiltrado”.
79.4fL, HCM 22.2pg), com ferritina 63ng/mL e re- Laboratorialmente, ausência de elevação dos parâ-
fratária a transfusões. Identificadas ainda hipoalbu- metros inflamatórios, estudo autoimune negativo e
minemia e hipogamaglobulinemia, com défice de PSA 7,0ng/L (livre/total 12%). O ecodoppler arterial
IgG e IgA, e linfopenia. Sem lesões no estudo inicial do membro superior esquerdo não mostrou altera-
com colonoscopia total e endoscopia digestiva alta, ções. Colocada a hipótese de linfoma cutâneo, foi
tendo sido ainda excluídas doença Celíaca e doença avaliado por Dermatologia, que ponderou ainda der-
de Whipple. Durante internamento apresentou nova matose paraneoplásica. A biópsia cutânea confir-
queda de hemoglobina (4.2g/dL em 10 dias), apesar mou micose fungóide (Linfoma T cutâneo em fase
de suplementação com carboximaltose férrica. Rea- de máculas/placas). A TC-tóraco-abdomino-pélvica
lizou videocápsula endoscópica que detetou lesão apenas mostrou adenopatia paratraqueal com
séssil arredondada no jejuno proximal, que ocupava 13mm. Medicado com Pentoxifilina com melhoria
1/4 da circunferência luminal, ulcerada e recoberta da cianose.
por linfagiectasia. Removida por enteroscopia com
duplo balão, que revelou lesão de cerca de 12 mm, DISCUSSÃO: A acrocianose é habitualmente bilate-
Paris 0-Is, de cor esbranquiçada nas margens e ral. Se unilateral, o mais provável é ser secundária e,
vasos proeminentes na região central, com hemor- num homem idoso, o mais provável é ser paraneo-
ragia em babamento na região central, cujo diagnós- plásica. No caso apresentado foi diagnosticada mi-
tico histológico foi de um linfangioma benigno. No cose fungóide. Esta, no entanto, não está reportada
follow-up a 1 mês, doente assintomática e com Hb como associada à acrocianose. Colocou-se assim
11.6g/dL. a hipótese de neoplasia da próstata. Ponderou-se
também etiologia neurológica, visto o doente ter
DISCUSSÃO: Com a evolução das técnicas endos- parésia sequelar do membros superior esquerdo e
cópicas, o linfangioma jejunal tem registado um nú- esta poder associar-se a lesão do plexo braquial,
mero crescente de casos reportados. Um elemento podendo esta ser causa de acrocianose unilateral. 
distintivo deste caso foi a linfopenia e hipogamaglo-
bulinemia, que poderá ter origem na perda de fluído P n.º 1799 
linfático para o lumen intestinal a partir da lesão. Anasarca: uma odisseia até ao rim
Rita Leite Cruz(1);Marta Mello Vieira(2);Laura Bonito
P n.º 1798  Moreira(1);Marta Ilharco(1);Carolina Midões(3);Fáti-
ACROCIANOSE UNILATERAL ma Lampreia(1)
Catarina Lopes Silva(1);João Pedro Araújo(1);Marta (1) Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE / Hos-
Serejo Portugal(1);Ana Paula Vilas(1) pital de Santa Marta (2) Hospital de São José (3)
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi- Centro Hospitalar Lisboa Central - Hospital de São
tal de Santa Maria José
Tema: Doenças raras Tema: Doenças renais

Introdução: A acrocianose é uma patologia vascular A anasarca é uma apresentação frequente de várias
periférica rara, caracterizada por cianose persisten- condições cardíacas, hepáticas e renais, obrigando
te habitualmente simétrica e indolor das extremi- a uma anamnese cuidada e diagnóstico diferencial
dades (mãos, pés e por vezes face), resultando da rigoroso e adequado. A nefropatia de IgA é a glo-
diminuição dos níveis de oxihemoglobina na circula- merulonefrite mais comum, muitas vezes subdiag-
ção periférica. nosticada.

CASO CLÍNICO: Homem de 82 anos, leucodérmi- Homem de 52 anos com antecedentes de etano-
co, autónomo. Antecedentes de AVC isquémico lismo e tabagismo ativo, obesidade, hipertensão
em Mai./2019, com parésia sequelar do membro arterial e dislipidemia, que recorreu ao Serviço de
superior esquerdo, pacemaker definitivo desde Urgência por anasarca com 3 semanas de evolu-
Jun./2019, por BAVC, e fibrilhação auricular sob an- ção associado a cansaço e dispneia para esforços
ticoagulação oral. Enviado à consulta por Raynaud progressivamente menores. Apresentava creatinina
“de novo”. Referia cianose constante da mão es- 1,9mg/dL, com eritroleucocitúria e serologias para
querda desde 1 mês antes, negando relação com a hepatite A, B e C e para vírus da imunodeficiência
exposição ao frio. Da revisão de órgãos e sistemas humana negativas; realizou ecografia abdominal
apenas se apurou quadro dermatológico com 30 que revelou aspetos sugestivos de hepatopatia
anos de evolução, inicialmente caracterizado por crónica. Foi internado com as hipóteses de insufi-
manchas e placas descamativas ao nível da cintura ciência cardíaca (IC) ou doença hepática crónica
pélvica (biópsia “sem alterações”) e, nos últimos 2 (DHC) descompensadas, que foram excluídas: eco-

722
E-POSTERS
cardiograma e péptido natriurético tipo B normais; ticas e ecográficas sugestivas de doença hepática
ausência de encefalopatia, provas de coagulação e crónica- DHC), realizada RM com espectroscopia
enzimologia hepática normal. Ao longo do interna- com evidência de pico de lactato e glutamato, depo-
mento, teve perfil tensional hipertensivo e agrava- sição de manganésio no globo pálido e alterações
mento da creatinina (máximo 3,6mg/dL). Foi docu- sugestivas de edema vasogénico, compatíveis com
mentada proteinúria de 7940mg/24h associada a encefalopatia metabólica e, menos provavelmente,
hipoalbuminemia, hipercolesterolemia. O restante encefalopatia epilética/ alterações pós-ictais. Consi-
estudo documentou aumento IgA e IgE, sem com- derando a hipótese de EH foi intensificada terapêuti-
ponente monoclonal na imunofixação; ausência de ca laxante com melhoria clinica, mas sem recupera-
consumo de complemento; anticorpos antinuclea- ção funcional para o basal.
res, anticorpos anti-citoplasma e anticorpo anti-re-
cetor fosfolipase A2 negativos; e VS aumentada. Foi DISCUSSÃO: As alterações neurocomportamentais
assumida lesão renal aguda rapidamente progressi- compreendem um amplo espectro clínico e em
va com síndrome nefrótico, sendo o doente transfe- doentes sem diagnóstico prévio de DHC, dificilmen-
rido para o Serviço de Nefrologia para biópsia renal, te são catalogados como encefalopatia hepática e
que revelou nefropatia de IgA e necrose tubular agu- motivam um estudo exaustivo de outras etiologias,
da. Cumpriu ciclo de corticoterapia, tendo alta ao sendo este um diagnóstico de exclusão.  A RM
fim de 25 dias de internamento, melhorado clinica e por meio de espectroscopia fornece informação
analiticamente. importante do metabolismo cerebral e distribuição
da água, permitindo a identificação de metabolitos
Este caso traduz a importância de uma integração (p.e. glutamato), cujo o pico varia de acordo com a
dos dados clínicos e da investigação sistemática da gravidade da EH, tendo preponderância nos últimos
anasarca. A confirmação do diagnóstico permitiu anos como método diagnóstico. Neste caso, em
a instituição de corticoterapia de acordo com as particular a espectroscopia foi fulcral para o diag-
recomendações e isso traduziu tanto uma melhoria nóstico final do doente.
clínica, como laboratorial.
P n.º 1807 
P n.º 1806  Aplasia eritróide pura – uma complicação rara da
A IMPORTÂNCIA DA RM NO DIAGNÓSTICO DA EN- leucemia linfocítica crónica
CEFALOPATIA HEPÁTICA Filipa Duarte Ribeiro(1);Raquel Barreira(1);Carina
Carolina Seabra(1);Francisco Pombo(1);Bárbara Silva(1);Margarida Badior(1);Henrique Coelho(1)
Silva(1);Fátima Costa(1);Ana João sá(1);Inês Ferrei- (1) Centro Hospitalar Gaia e Espinho
ra(1);Mari Mesquita(1)
(1) Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, EPE / Tema: Doenças hematológicas
Hospital Padre Américo, Vale do Sousa
Introdução: A aplasia eritróide pura (AEP) carac-
Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá- teriza-se por anemia normocítica normocrómica,
ticas reticulocitopenia e redução marcada ou ausência de
eritroblastos na medula óssea (MO). Pode ser con-
Introdução: A encefalopatia hepática (EH) é defi- génita ou adquirida, sendo esta última forma idiopá-
nida como uma disfunção cerebral causada por tica ou secundária a outras doenças nomeadamen-
insuficiência hepática, manifestando-se com amplo te doenças hematológicas. Na leucemia linfocítica
espectro clínico. O mecanismo fisiopatológico é crónica (LLC) a maioria dos casos de anemia surge
controverso, com um contributo importante da infla- por infiltração maligna da MO com supressão da
mação e da hiperamonémia. eritropoiese ou secundariamente a quimioterapia.
Em 5-37% dos casos deve-se a anemia hemolitica
CASO CLÍNICO: Doente de 61 anos, autónomo, com autoimune e em 1-6% a AEP.
hábitos etílicos superiores a 120g/dia. Internado
por alteração do comportamento com lentificação Caso Clínico: Homem, 74 anos, antecedentes de hi-
psicomotora com 24h de evolução. Excluído even- pertensão arterial, dislipidemia, adenocarcinoma da
to vascular cerebral agudo e distúrbios iónicos. próstata (diagnóstico em 2008) sob hormonoterapia
Análise do líquor com pleocitose ligeira. Estudo e LLC-B (diagnóstico em 2018). Encaminhado para
microbiológico alargado negativo. EEG sugestivo de a consulta aberta de Medicina Interna por anemia
disfunção cerebral difusa e ressonância magnética grave (Hb 5.8 g/dL) normocítica e normocrómica
(RM) com lesão cortico-subcortical parieto-temporal (sem leucopenia ou trombocitopenia), com neces-
à direita, sem respeitar territórios vasculares. Com- sidade de suporte transfusional semanal e sem
pletou ciclo de aciclovir, tendo em conta a clínica e perdas hemáticas objetiváveis. O estudo realizado
os achados imagiológicos, apesar da pesquisa de documentou reticulocitopenia, excluiu hemólise,
vírus herpes negativa. Manteve estado clinico e al- perdas gastrointestinais e infeção vírica nomeada-
terações imagiológicas em RM pelo que se prosse- mente por Parvovírus e Epstein-Barr. Foi realizada
guiu no estudo etiológico com análise do painel de biópsia de MO que mostrou infiltração medular mar-
encefalites autoimunes (negativo) e realizado ciclo cada por LLC e documentou ausência total de série
de corticoterapia. Dada a necessidade de excluir eritróide. O doente iniciou tratamento com rituximab
etiologia neoplásica e metabólica (alterações analí- 1 vez por semana durante 6 semanas com resolu-

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 723


ção da anemia. imunocompetente.

Discussão/Conclusão: A anemia na LLC pode ter P n.º 1812 


várias etiologias, uma das quais a AEP. Pode de- Hiperatividade Simpática Paroxística: a propósito
senvolver-se em qualquer momento da evolução de um caso clínico
da doença e, apesar de muito rara, deve ser sempre Sónia Baldo(1);Beatriz Fernandes(1);Carolina Ale-
equacionada por forma a permitir um diagnóstico e gria(1);Joana Coelho(1);Margarida Andrade(1);Mar-
tratamento céleres que terão um impacto determi- ta Ramos(1);António Carneiro(1)
nante no curso da doença e na qualidade de vida e (1) HPP Hospital de Cascais
bem-estar do doente.
Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas
P n.º 1810 
PANCREATITE POR CITOMEGALOVÍRUS NO DOEN- Introdução: A Hiperatividade Simpática Paroxística
TE IMUNOCOMPETENTE: UM DIAGNÓSTICO RARO (HSP) é uma complicação incomum de lesões do
Filipa Pinto(1);Leila Barrocas(1);Margarida Mas- Sistema Nervoso Central. A sua etiologia é pouco
sas(1);Cláudia Tátá(1);Ana Bernardo(1);Tereza Velo- compreendida, caraterizando-se por episódios re-
so(1);Conceição Barata(1) correntes de taquicardia, hipertensão, diaforese,
(1) Hospital do Espírito Santo, EPE, Évora taquipneia, podendo apresentar febre e posturas
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias distónicas. Com altas taxas de morbilidade e morta-
lidade, esta entidade é muitas vezes de dificil diag-
nóstico diferencial, atrasando o seu tratamento.
Introdução: A infecção por Citomegalovírus (CMV)
no doente imunocomprometido pode causar doen-
ça significativa. São raros os casos reportados de Caso Clínico: Homem, 67 anos, previamente autóno-
infecção severa por CMV no imunocompetente.  Re- mo. Antecedentes pessoais de cardiopatia isquémi-
porta-se um caso raro de pancreatite por CMV num ca dilatada, hipertensão arterial, dislipidemia e sin-
homem de 75 anos imunocompetente. drome de dependência de álcool. Levado ao serviço
de urgência por alteração do estado de consciência,
desconhecendo-se o tempo de evolução. À admis-
CASO CLÍNICO: Homem, 75 anos, autónomo, ante- são apresentava aspecto pouco cuidado, mau esta-
cedentes de miocardiopatia dilatada, de provável do geral e de higiene. Hemodinamicamente estável,
etiologia alcoólica, fibrilhação permanente hipo- apirético, eupneico a ar ambiente. Ao exame neuro-
coagulada e diabetes mellitus tipo 2 não insulino- lógico, pouco colaborante, sonolento. Abertura ocu-
-tratada. Refere nos últimos 4 meses picos febris lar à estimulação verbal, discurso incompreensível.
paroxísticos com calafrios intensos associados a Não nomeia, repete, nem cumpre ordens. simples.
epigastralgia após a refeição e perda de apetite com Paratonia marcada, reflexo cerebral profundo em
saciedade precoce. Descreve a urina com aspecto extensão à direita. Realizou TAC-CE com alterações
“vinho do Porto”.  Nega medicação de novo e inges- imagiológicas compatíveis com Acidente Vascu-
tão alcoólica recente. Recorreu ao Serviço de Urgên- lar Cerebral Isquémico. Fica internado no serviço
cia por vómitos pós-prandiais, desde essa manhã. de medicina para tratamento e esclarecimeno da
Objectivamente, icterícia mucocutânea, mas sem etiologia. Durante a permanência em SU o doente
dor, estável e apirético. Analiticamente, hiperbilirru- apresentou-se febril, com tremor generalizado e dia-
binemia directa de 10 mg/dL, leucócitos normais furese profusa, assumindo-se síndrome de privação
e PCR 21.6 mg/dL. Na ecografia abdominal, litíase alcóolica, para o qual se institui terapêutica dirigida,
vesicular e via biliar principal ligeiramente proe- com melhoria clínica. Durante o internamento, ini-
minente (11mm), sem sinais de colecistite aguda. ciou programa de reabilitação motora apresentando,
Tomografia computorizada abdominal com vesícula contudo, deterioração franca do estado geral, com
biliar em repleção, com paredes finas e conteúdo diversas intercorrências entre as quais episódios
homogéneo. Iniciou piperacilina e tazobactam. Foi recorrentes de taquicardia e diaforese profusa, de
internado para estudo de icterícia/ colestase.  Já difícil controlo, assumindo-se síndrome da HSP
em internamento, desenvolveu lípase de 2300, ini- em contexto de lesão cerebral grave. Ao 96º dia de
ciou medidas de suporte e dieta líquida. Do estudo internamento, doente morre após paragem cardior-
efectuado, CMV IgM e IgG positivos, com avidez respiratória.
elevada, e restantes marcadores virais e serologias
negativas. Por se tratar de quadro arrastado paro- Discussão: Associada a taxas de morbimortalidade
xístico, decidiu-se prosseguir estudo com recurso significativas e aumento do tempo de internamento,
à colangiorressonância magnética e a endoscopia a ausência de critérios clínicos e numenclatura con-
digestiva alta, e ambos os exames excluíram outras sensual, tornam difícil o diagnóstico da HSP. Deste
etiologias. Com a terapêutica, verificou-se melhoria modo é importante que os médicos estejam alertas
dos parâmetros analíticos e das queixas. para este sindrome uma vez que o seu rapido reco-
nhecimento e tratamento, são cruciais.
DISCUSSÃO:  A infecção por CMV no
imunocompetente é normalmente auto-limitada. A P n.º 1826 
pancreatite secundária a CMV é rara, mas deve De suspeita de acidente vascular cerebral até ao
ser considerada na marcha diagnóstica do doente diagnóstico de uma vasculite ANCA

724
E-POSTERS
Rafaela Evangelista(1);Luísa Costa(1);Andreia Sil- Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá-
va(1);André Ferreira(1);Carolina Ferreira(1);Miguel ticas
Oliveira(1);Sérgio Lemos(1);Sofia Pereira(1);Ana
Gomes(1);Pedro Ribeiro(1);Ilídia Carmezim(1);Lénea Introdução: A colangite é uma inflamação e fibrose
Porto(1);Alina Osuna(1);Ana Lemos(1);Vera Ermi- do sistema hepatobiliar com várias etiologias pos-
da(1);Jorge Caldas(1) síveis, sendo a mais frequente a obstrução litiásica
(1) Centro Hospitalar Tondela-Viseu, EPE / Hospital com sobreinfeção bacteriana por estase biliar. Os
de São Teotónio, EPE critérios de diagnóstico de Tokyo são os atualmente
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas- utilizados, constituindo os métodos de imagem uma
culites parte essencial para que se considere o diagnóstico
definitivo de colangite aguda. No entanto, os exa-
mes de imagem, sobretudo em contexto de urgên-
Introdução: O diagnóstico de Acidente Vascular cia, nem sempre são completamente fidedignos.
Cerebral (AVC), sendo clínico, é desafiante face aos
vários “stroke mimics” que podem surgir. As apre-
sentações atípicas e de enquadramento topográfico Caso clínico: Doente do sexo feminino, 81 anos,
difícil constituem um estímulo à perícia médica, com antecedentes patológicos relevantes de co-
pelo ténue balanço entre a valorização excessiva lecistectomia em 2016. Recorreu ao serviço de
das queixas e a desvalorização precoce das mes- urgência por náuseas, vómitos, dor abdominal tipo
mas. cólica nos quadrantes superiores e febre com 8
dias de evolução. Analiticamente com aumento dos
marcadores de citólise hepática e colestase. Reali-
Caso clínico: Homem, 72 anos, admitido na Unidade zou tomografia computorizada abdominal que não
de AVC por diminuição súbita da força muscular do revelou quaisquer alterações das vias biliares. Ficou
membro superior direito. Antecedentes de hiperten- internada para estudo etiológico e continuação de
são arterial, dislipidemia e esofagite Grau C (Barret). cuidados. Após tratamento de suporte, os valores
Estudo imagiológico crânio-encefálico normal. No das transaminases e bilirrubinas normalizaram,
internamento, evoluiu para diminuição da força mantendo-se a elevação da fosfatase alcalina e
muscular e parestesias no membro superior oposto, gama-glutamil-transferase. Foi então orientada para
com reversão espontânea. As queixas sensitivo-mo- consulta de Medicina Interna para continuação do
toras transitórias, quadro constitucional associado estudo etiológico de hepatite que foi todo incon-
e febre de início no internamento, direcionaram a clusivo, nomeadamente com repetição de estudo
investigação para uma possível causa infeciosa, imagiológico, apresentando agravamento progres-
imuno-mediada ou neoplásica. Rastreio sético ne- sivo dos parâmetros de colestase. Nesse contexto,
gativo. Analiticamente apresentava hipereosinofilia, realizou biópsia hepática, que revelou o diagnóstico
anticorpos anti-citoplasma de neutrófilos subtipo de colangite supurativa. Foi então submetida a co-
mieloperoxidase (ANCA-MPO) de 119 UI/mL, lesão langiopancreatografia retrógrada endoscópica, com
renal aguda não oligúrica (Creatinina 1.9 mg/dl), remoção de um cálculo de 10 mm. Posteriormente
sedimento urinário ativo e proteinúria subnefrótica. com resolução completa do quadro.
Eletromiografia, realizada 8 dias depois, já com re-
versão das parestesias, normal. Presumida vasculi- Discussão:  A presença da tríade de Charcot asso-
te de pequenos vasos, foi submetido a biópsia renal ciada ao aumento dos marcadores de colestase su-
compatível com poliangeíte microscópica. Iniciou gere obstrução nas vias biliares, apesar de não ser
pulsos de corticoterapia e rituximab, com boa res- possível diferenciar se intra- ou extra-hepática. Os
posta clínica e analítica, tendo tido alta orientado métodos imagiológicos, nomeadamente ecografia
para consulta de Nefrologia. ou tomografia computorizada abdominal, permitem,
na maioria dos casos, identificar dilatação das vias
Discussão: Neste caso, a suspeita de atingimento biliares e/ou uma etiologia de obstrução das mes-
do sistema nervoso periférico aliado às alterações mas. O presente caso vem demonstrar, no entanto,
analíticas apresentadas foram a chave para o diag- que nem sempre se pode descartar o diagnostico
nóstico precoce. Pretende-se ilustrar a importância de colangite com base em imagens normais, pelo
de manter uma marcha diagnóstica adequada e de- que, no caso de alta suspeição clinica, devem ser
monstrar que existe uma considerável sobreposição utilizados outros métodos de diagnóstico, nomea-
na apresentação clínica das diferentes síndromes damente a biopsia hepática.
vasculíticas. É essencial uma elevada suspeição
clínica para a correta orientação destes doentes. P n.º 1835 
Diabetes insípida paraneoplásica
P n.º 1833  Filipa Gomes(1);Maria João Gomes(1);Isabel Bo-
Biópsia hepática no diagnóstico de colangite supu- galho(1);Inês Bargiela(1);Sofia Ventura(1);Teresa
rativa Branco(1)
Manuel Costa Pinto(1);Cecília Vilas Boas Soa- (1) Hospital CUF Sintra
res(1);Núria Fonseca(1);Pedro Fernandes Moura(1);-
Cátia Dias(1);Mário Esteves(1) Tema: Doenças oncológicas
(1) Centro Hospitalar do Médio Ave, EPE / Unidade
de Vila Nova de Famalicão Introdução:

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 725


Os tumores cerebrais primários ou secundários dicos debateram-se com a incerteza relacionada
(habitualmente neoplasias do pulmão ou doenças com o curso clínico e o tratamento da COVID-19.
linfoproliferativas) podem envolver a região hipo- Atualmente, têm surgido preocupantes relatos de
talâmica-hipofisária e desencadear diabetes insípi- sequelas, nomeadamente de inflamação pulmonar
da central (DIC), sendo a poliúria o principal sintoma persistente com evolução para a fibrose. Os dados
de apresentação da doença metastática. preliminares parecem mostrar que estas se rela-
cionam com a gravidade do episódio inicial. Assim,
CASO CLÍNICO: relatamos 2 casos que ilustram os desafios subja-
centes a esta nova realidade.
Homem, 76 anos, com antecedentes de obesidade,
dislipidemia e ex-fumador, internado por polidipsia,
poliúria, noctúria, náuseas, vómitos, anorexia, per- Caso 1: Homem de 68 anos, autónomo, sem ante-
da ponderal e cansaço, com 2 semanas de evolu- cedentes, admitido a 12.01.2021 por pneumonia a
ção. Referia ainda cefaleia occipitoparietal direita, SARS-CoV-2. Iniciou dexametasona e cumpriu 5D
desequilíbrio e alterações da visão. de remdesivir. Com estratégia inicial de OAF, alter-
nado com VNI. Após melhoria clínica, foi transferido
Objetivamente apresentava-se polipneico, com sa- para enfermaria a 05.02. Iniciou à data cotrimoxazol
turação periférica de O2 de 96%, broncospasmo à profilático. Passadas 3 semanas apresentou agrava-
auscultação pulmonar e neurologicamente com di- mento do quadro respiratório. Iniciou antibioterapia,
plopia e Romberg positivo. cotrimoxazol terapêutico e aciclovir. Repetiu TAC
que mostrou fibrose extensa que se interpretou
Analiticamente destacava-se anemia (Hb 11.9g/ como sequelas pós-COVID, pelo que fez ainda pul-
dL), PCR 2mg/dL, Na 142mmol/L, osmolalémia 284 sos de metiprednisolona. Após discussão com o
mOsmol/Kg, HbA1c 5.3% e gasimetria arterial sem serviço de medicina intensiva, dada a baixa proba-
hipoxemia. As hemoculturas, PCR SARS-CoV2 e bilidade de reversibilidade, estabeleceu-se limitação
serologias para agentes atípicos foram negativas. A terapêutica. Evolução desfavorável com óbito a
tomografia computorizada (TC) torácica confirmou 09.03.
consolidação pulmonar do lobo inferior direito, do-
cumentada em radiografia, e múltiplas adenopatias Caso 2: Mulher de 66 anos, autónoma, antecedente
mediastínicas e hilares. Cumpriu antibioterapia de linfoma. Admitida a 26.01.2021 por Pneumonia
empírica durante 10 dias. Por suspeita de atipia COVID-19 com necessidade de VMI. Iniciou cortico-
efetuou biópsia transtorácica que revelou adeno- terapia e cumpriu 5 dias de remdesivir. Por ausência
carcinoma pulmonar. Realizou TC cranioencefálica de melhoria, e dado contexto de imunossupressão
que identificou múltiplas lesões secundárias, com por rituximab (imunofenotipagem a 22.02 com 0
estiramento das vias óticas, sem alterações da sela células B), considerou-se a possibilidade de replica-
turca. Por manutenção da poliúria (4500mL/dia) fez ção vírica persistente e administrou-se plasma con-
ressonância magnética (RM) que confirmou a infil- valescente. Posteriormente com evolução favorável.
tração tumoral da hipófise, a condicionar moldagem A 06.04 teve alta para centro de reabilitação. No dia
do quiasma ótico, metástase cerebelosa esquerda 25.05 apresentou tosse e dessaturação. Teste PCR
e envolvimento meníngeo. Iniciou desmopressina, SARS-CoV-2 positivo e infiltrados pulmonares de
com melhoria clínica, tendo efetuado restante es- novo em vidro despolido. Realizou biópsia pulmonar
tudo hormonal hipofisário que foi compatível com a 02.06 que mostrou moderada fibrose intersticial
hipopituitarismo secundário. Deste modo, iniciou com processo inflamatório crónico associado.
suplementação com levotiroxina e testosterona
e foi referenciado à Oncologia para radioterapia Discussão: Atualmente existe pouca informação
holocraniana, imuno e quimioterapia. sobre a fisiopatologia do pós-covid-19. Perante o
aumento de doentes nesta situação, torna-se ne-
DISCUSSÃO: cessário recolher dados sobre a sua evolução e
seguimento. Tendo em conta a possível gravidade
Este caso pretende salientar a invulgar forma de das sequelas, como aquelas descritas nos casos
apresentação, com DIC, de uma doença metastática reportados, torna-se essencial investigar novas es-
com origem pulmonar. tratégias de avaliação e tratamento.
P n.º 1870  P n.º 1871 
Pós-covid - o próximo desafio? Massa Abdominal: Um Caso de Tumor Metácrono
João Pedro Lázaro Mendes(1);Cecília Morei- Mariana Santiago(1);Alexandre Macedo(1);Eugeniu
ra(2);Paula Costa(2);Mário Bibi(2);Mariana Tavei- Gisca(1);Joana Lopes(1);João Luís(1);Mário Ama-
ra(2);Joana Simões(2);Luísa Guerreiro(2) ro(1)
(1) Centro Hospitalar Tondela-Viseu, EPE / Hospital (1) Hospital Garcia de Orta, EPE
de São Teotónio, EPE (2) Unidade Local de Saúde de
Matosinhos, EPE / Hospital Pedro Hispano Tema: Doenças oncológicas

Tema: Doenças infecciosas e parasitárias


Introdução: Os tumores do rim representam 2% de
todas as neoplasias, sendo o carcinoma de células
Introdução: Na fase inicial da pandemia, os mé- renais o mais comum (80-85%), em particular o sub-

726
E-POSTERS
tipo de células claras (CCRcc). Atualmente, é maiori- Após 3 semanas, picos febris diários, odinofagia,
tariamente identificado de forma incidental em exa- tosse seca, cefaleias, exantema morbiliforme da
mes de imagem, cursando em menos de 10% dos coxa esquerda não pruriginoso e adenopatia cervi-
casos com a tríade clássica de dor no flanco, he- cal posterior esquerda. No SU, apresentava-se febril,
matúria e massa palpável. Outros sintomas incluem com parâmetros inflamatórios elevados, linfopenia
perda ponderal, anemia, alterações gastrointestinais e trombocitopenia ligeira com PCR SARS-CoV2
ou relacionadas com metastização. Quando cirurgi- negativo. Assumida amigdalite, tendo tido alta me-
camente exequível, a nefrectomia radical é o trata- dicado com antibiótico. Passados 2 dias, vómitos
mento recomendado, acompanhada de trombecto- aquosos, edema palpebral e labial e progressão do
mia quando existe trombo na veia cava inferior (VCI) exantema para tronco e restantes membros, com
ou aurícula direita (<10% dos casos). atingimento palmar. Agravamento de linfopenia e
trombocitopenia, parâmetros inflamatórios em subi-
CASO CLÍNICO: Doente de 77 anos, com antece- da, prolongamento do PT < 5seg e transaminases <
dentes de adenocarcinoma perfurante do cólon 2x LSN. Internado com suspeita de Mononucleose
sigmoideu há 16 anos, com anemia em estudo, Infeciosa, excluída ao 3º dia após resultado de IgM
agravamento do estado geral em cerca de 5 meses, negativa para EBV. No 5º dia de internamento, dor
caquexia extrema, perda ponderal (28kg em 2 anos), torácica inespecífica associada a dispneia para
anorexia e alterações do trânsito gastrointestinal. pequenos esforços. ECG em ritmo sinusal, sem alte-
Analiticamente com elevação da proteína c reativa, rações isquémicas, com subida de troponina e perfil
sem alterações da função renal ou hepática. O exa- hipotensivo com resposta a fluidoterapia. TC TAP ao
me objetivo revelou massa pétrea com extensão da 6º dia com derrame pleural bilateral de pequeno
fossa ilíaca direita ao flanco direito, indolor. Inter- volume e derrame pericárdico anterior loculado.
nada para estudo de quadro consumptivo, realizou Ecocardiograma transtorácico mostrava disfunção
tomografia computorizada toraco-abdomino-pélvica sistólica ventricular esquerda ligeira (FEVE 46%),
e ressonância magnética, denotando volumosa hipocinésia generalizada, disfunção diastólica grau
lesão expansiva envolvendo os dois terços inferio- I e fina lâmina de derrame pericárdico. Apirexia sus-
res do rim direito (15.5cm), trombose tumoral com tentada desde o 7º dia de internamento, com reso-
extensão à VCI (cerca de 4.5cm), sem evidência de lução progressiva e espontânea do quadro clínico,
adenopatias ou metástases. Doente submetida a sem isolamento de agente infecioso. Ao 14º dia de
nefrectomia radical e trombectomia, sem intercor- internamento, RMN cardíaca demonstrou recupera-
rências de relevo. A histologia revelou CCRcc, grau ção da FEVE para 64%, sem alterações da contracti-
4, pT3a, de 16cm, sem envolvimento do gânglio da lidade segmentar, excluindo também alterações da
amostra. Mantém seguimento, com melhoria franca vasculatura e infiltração miocárdica. Alta orientado
do estado geral, sem evidência de progressão da para consulta de Medicina Interna.
doença, mantendo boa função renal. Serve o presente caso para ilustrar um novo pro-
DISCUSSÃO: Os autores destacam a apresentação blema – com a evolução da pandemia COVID, as
pouco frequente, com tumor de grandes dimensões manifestações pós-COVID vão aparecer, algumas
e trombo na VCI, cujo tratamento cirúrgico teve uma potencialmente graves que poderão implicar vigilân-
evolução favorável, aliado à importância da aborda- cia em regime de internamento, apelando à eficiente
gem multidisciplinar do doente, de modo a propor- gestão dos cuidados de saúde.
cionar a melhor estratégia terapêutica. P n.º 1877 
P n.º 1874  Síndrome de Behçet vs Doença de Crohn: Um Desa-
Síndrome inflamatória multissistémica pós-COVID: fiante diagnóstico diferencial.
um novo problema João Carvalho(1);André Resendes Sousa(1);Ana
Ana Luís Ferreira(1);David Paiva(1);Joana Peixo- Cochicho Ramalho(1);Susana Amador(1);Helena
to(1);Ana Correia de sá(1);Daniela Casanova(1);Ana Vitorino(1);Nadine Monteiro(1);Helena Cantante(1)
Luísa Campos(1);Isabel Trindade(1);Helena Sarmen- (1) Hospital dos Lusíadas Lisboa
to(1);Jorge Cotter(1) Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
(1) Hospital Senhora da Oliveira, Guimarães culites
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
Introdução: Duas entidades clínicas que devem ser
A síndrome inflamatória multissistémica pós-CO- excluídas na abordagem do doente com ulcera-
VID mimetiza a doença de Kawasaki mais frequen- ção oral e genital são o Síndrome de Behçet (SB)
temente em crianças. No entanto, começam a surgir e Doença de Crohn (DC). Alcançar um diagnóstico
descrições em doentes adultos, em particular com definitivo pode representar um desafio importante.
manifestações cardíacas, tal como o caso apresen-
tado. Caso clínico: Homem, caucasiano, 53 anos, inicia
em Dezembro de 2019 quadro de hematemeses e
Homem, 39 anos, com infeção por SARS-CoV2 em melenas que motivou internamento, submetido a
janeiro de 2021, na altura com cefaleias e tosse endoscopia digestiva alta (EDA) onde se documen-
seca e resolução de sintomas em 2 de fevereiro. tou gastrite ligeira e úlcera esofágica (histologia

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 727


com alterações inflamatórias inespecíficas). Após o HCO3 26,9 mmol/L). Analiticamente, anemia nor-
internamento com vários episódios de aparecimen- mocítica normocrómica (hemoglobina 9,2 g/dL),
to e resolução de úlceras aftosas da mucosa oral, hipoglicemia (67 mg/dL), aumento dos parâmetros
região abdominal e perianal durante o período de de retenção azotada (creatinina plasmática (pCreat)
um ano, acompanhado de perda ponderal de cerca 4,4 mg/dL, ureia 171 mg/dL, sem valores prévios),
de 10kg.  Novamente internado em Outubro de 2020 sódio 139 mEq/L, potássio 5,3 mEq/L, rabdomióli-
por febre e ulceração da mucosa oral extensa com se (creatinina cinase 5540 UI/L), tireotrofina (TSH)
lesões em vários estádios de evolução a condicio- indoseável (>100 mUI/L) e níveis diminuídos de
nar perda de via oral e ulceração genital. Analitica- tiroxina (T4) livre (0,8 pmol/L) e triidotironina (T3)
mente com Proteína C Reativa 9.58mg/dL e Veloci- livre (1,2 pmol/L). Urina II com hematoproteinúria e
dade de sedimentação 87mm/h, sem leucocitose leucocitúria e ecografia renal com sinais de croni-
ou neutrofilia. Durante o internamento realizada EDA cidade, sem uropatia obstrutiva. Eletrocardiograma
que revelava ulceração da transição gastroesofá- com bradicardia sinusal. Tomografia computoriza-
gica com fundo nacarado e colonoscopia que de- da de crânio sem lesões agudas. Admitiu-se coma
monstrou várias ulcerações a nível do ileon terminal mixedematoso com alteração do estado de cons-
e cólon, com realização de biópsia cujo anatomo- ciência, bradicardia, hipoventilação, hipoglicemia e
patologia revelou alterações inflamatórias crónicas rabdomiólise com provável agudização de doença
inespecíficas. Por suspeita de SB/DC foi iniciada renal crónica prévia. Foi medicado com fluidote-
corticoterapia sistémica com prednisolona 0.5mg/ rapia, hidrocortisona e levotiroxina endovenosa,
kg/dia, bem como colchicina na dose 1mg/dia com alterada depois para oral, verificando-se melhoria do
regressão das lesões genitais e retoma de via oral, estado de consciência, da bradicardia e da função
tendo alta para a consulta externa, onde realizou renal (pCreat 3,5 mg/dL). A referir níveis normais de
Entero-RM pélvica que demonstrou espessamento hormona adrenocorticotrófica (ACTH, 19 pg/mL) e
parietal concêntrico de extenso segmento da tran- cortisol (8,9 ug/dL). O doente teve alta clinicamente
sição jejuno-ileal. Em ambulatório apresentou nova estável, medicado com levotiroxina e referenciado
recidiva do quadro após desmame de corticoterapia para seguimento em consulta.
com necessidade de reintrodução de prednisolona
na terapêutica com melhoria. DISCUSSÃO: O coma mixedematoso constitui uma
emergência endocrinológica com elevada taxa de
Conclusão: O caso clínico descrito relembra a im- mortalidade. Salienta-se um caso em que a rápida
portante sobreposição de características entre a identificação diagnóstica e implementação terapêu-
DC e o SB e a necessidade de desenvolvimento de tica permitiram um desfecho clínico favorável.
novas ferramentas diagnósticas que permitam o
diagnóstico definitivo da doença. P n.º 1887 
Diagnóstico concomitante de APBA e COVID 19
P n.º 1886  Vascogaspar(1);Bernardo Silva(1);Marta Guisado
COMA MIXEDEMATOSO: UMA EMERGÊNCIA MÉDI- Orantos(1);Cláudia Rodrigues Alves(1);João Cruz
CA Cardosos(1);Joana Jardim(1);Cátia Correia(1);Marta
Mafalda Vasconcelos(1);Beatriz Donato(1);Carla Cerol(1);Luís Siopa(1)
Costa(1);Patrícia Moreira(1);Rui Valente(1);Célia Ma- (1) Hospital Distrital de Santarém, EPE
chado(1);José Lomelino Araújo(1)
(1) Hospital Beatriz Ângelo Tema: Doenças respiratórias

Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio- A Aspergilose Broncopulmonar Alérgica(ABPA)


nais resulta de uma hipersensibilidade a Aspergillus
que ocorre em doentes asmáticos podendo levar a
Introdução: O coma mixedematoso é uma forma fibrose, bronquiectasias e destruição pulmonar. No
grave de hipotiroidismo com depressão do estado último ano a Pneumonia a SARS CoV2 teve elevada
neurológico, hipotermia e outros sintomas relacio- incidência. Existem alguns casos descritos de CO-
nados com a lentificação do funcionamento de múl- VID associado Aspergilose invasiva e Aspergiloma
tiplos órgãos. Constitui uma apresentação cada vez relacionados com a alteração do sistema imunitá-
mais rara, pelo que se realça a importância de uma rio. A distinção entre estes e ABPA é importante.
suspeição clínica precoce.
Apresentamos o caso de uma mulher de 65
CASO CLÍNICO: Homem de 47 anos, sem patologia anos autónoma, com antecedentes de Asma, Obesi-
conhecida à exceção de défice cognitivo congénito, dade, Hipertensão, Rinite e historia de Tuberculose
sem medicação habitual. Admitido no Serviço de há 42 anos, que se apresenta no SU com quadro
Urgência por astenia e desequilíbrio da marcha. com 8 dias de evolução de cansaço, dispneia e tos-
Apresentava-se lentificado, com discurso confu- se mucopurulenta. Negava febre. Tinha sido medi-
so e repetitivo, bradicárdico (frequência cardíaca cada pelo medico assistente com Azitromicina que
45 bpm), normotenso, hipotérmico (temperatura cumpriu 3 dias. Apresentava-se hemodinamicamen-
timpânica 33ºC), descorado e desidratado, com te estável, polipneica, com alguns roncos e sibilos à
alopécia e edema peri-orbitário. Gasimetricamente auscultação pulmonar. O Rx Tórax apresentava infil-
com acidemia mista (pH 7,29, pCO2 56 mmol/L, trado difuso bilateral. A pesquisa de SARS CoV2 por

728
E-POSTERS
PCR foi positiva. Analiticamente apresentava linfoci- tórax. TC cervical evidenciava volumoso macronó-
topenia, PCR 25.53mg/dL, procalcitonina: 6.2ng/mL, dulo a substituir quase todo o lobo esquerdo da
elevação das transaminases, gasimetria com hipo- tiróide, hipodenso à injeção de contraste endove-
xemia sem hiperlactacidemia e sem acidose. Ficou noso com diversas microcalcificações e esboço
internada por Pneumonia bilateral a SARS-COV2 e de áreas necróticas irregulares centrais a moldar
Insuficiência respiratória parcial. estruturas vizinhas com componente transopercular
mediastínica, sugestivo de carcinoma diferenciado
Foram colhidas hemoculturas e secreções bron- da tiróide. Efetuada punção aspirativa de macróno-
quicas e iniciou Ceftriaxona 2g/dia empiricamente dulo com resultado histológico a sugerir carcinoma
e Dexametasona 6mg/dia; que cumpriu 5 e 10dias folicular da tiróide. Verificava-se hipotiroidismo sub-
respectivamente. clínico e calcitonina negativa. Tendo em conta a es-
tabilidade e comorbilidades decidiu-se não realizar
Durante o internamento identificou-se Aspergilus intervenção cirúrgica urgente.
spp nas secreções brônquicas, tendo iniciado ao
3ºdia de internamento Voriconazol 200mg/dia, A síndrome da VCS surge mais frequentemente as-
que cumpriu 14 dias. Realizou ainda Tc Torax sociada a neoplasia do pulmão ou linfomas, sendo
que identificou opacidades em vidro despolido raramente reportada em associação com neopla-
bilateralmente e com focos de consolidações sia da tiróide. O carcinoma folicular da tiróide, em
centrais e periféricas; identificaram-se ainda particular, pela sua propensão para angioinvasão
algumas bronquiectasias, sem evidênia de microscópica é o que tem a maior probabilidade de
aspergiloma. O internamento decorreu sem se apresentar com sintomatologia sugestiva de sín-
intercorrências, com melhoria clínica. Foi drome da VCS. Nestes doentes deve ser realizada
referenciada a consulta tendo de consulta de uma observação cuidadosa da tiróide e o diagnós-
Pneumologia e Medicina. A pesquisa de IgE para tico deve ser considerado se existir nódulo sólido
Aspergillus e a IgE total mostraram-se elevados. tiroideu.
A COVID19 tem maior gravidade em doentes com P n.º 1892 
patologia respiratória da base. Além da pneumonia Um caso de cardiotoxicidade ao Sorafenib
a COVID, podem co-existir doenças de base não Mariana Dias(1);Ana Melício(1);Leila Duarte(1);João
diagnosticadas previamente, bem como sobreinfe- Madeira Lopes(1);António Pais de Lacerda(1)
ção por outros agentes. O diagnóstico de APBA é (1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi-
raro. Mostramos um caso de um diagnóstico conco- tal de Santa Maria
mitante de APBA e COVID 19.
Tema: Doenças cardiovasculares
P n.º 1891 
Síndrome da Veia Cava Superior como forma de
apresentação de neoplasia da tiróide A cardiotoxicidade é um dos efeitos adversos mais
Mariana Dias(1);Ana Melício(1);Leila Duarte(1);- significativos da terapêutica oncológica, responsá-
Cristiana Canelas Mendes(1);João Madeira Lo- vel por considerável morbimortalidade. Os inibido-
pes(1);António Pais de Lacerda(1) res da tirosina cinase, embora tenham menos efei-
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi- tos adversos cardíacos reportados, podem provocar
tal de Santa Maria desde alterações estruturais subclínicas até arrit-
mias malignas ou síndromes coronários agudos.
Tema: Doenças oncológicas
Apresenta-se o caso de um homem de 55 anos
A síndrome da veia cava superior (VCS) define-se com antecedentes de infeção por VHC não tratada
por obstrução do fluxo sanguíneo na VCS por qual- a condicionar cirrose e posteriormente carcinoma
quer causa. A obstrução de etiologia maligna é a hepatocelular com 1 ano de evolução. Teria inicia-
mais comum e pode ser causada por invasão direta do Sorafenib há três meses apresentando, nesse
ou por compressão extrínseca. contexto, hipertensão arterial com necessidade de
terapêutica anti hipertensora. Recorreu ao SU por
toracalgia anterior de início súbito, em repouso, tipo
Apresenta-se o caso de uma mulher de 60 anos opressivo, com 3 horas de evolução sem melhoria
com antecedentes de esclerose múltipla, nevralgia com repouso. Apresentava-se hemodinamicamen-
do trigémio, neoplasia da mama já intervencionada te estável, sem alterações auscultatórias, a referir
e submetida a radioterapia sob tamoxifeno e disli- melhoria gradual da dor sem necessidade de tera-
pidemia, totalmente dependente nas atividades de pêutica. Analiticamente com valor de troponina T à
vida diária, trazida ao serviço de urgência por qua- admissão de 57 ng/mL que subiu para 87 ng/L na
dro de dispneia e rubor facial com 1 dia de evolução reavaliação às 3 horas. ECG com alterações ines-
acompanhado de sensação de opressão torácica. pecíficas da repolarização semelhante a exames
À observação apresentava-se hemodinamicamente prévios, sem alterações do segmento ST. Pela hipó-
estável com saturações adequadas de oxigénio em tese de síndrome coronário agudo sem supradesni-
ar ambiente, sem estridor, sem alterações auscul- velamento de ST em doente com clínica sugestiva
tatórias e com marcado rubor e edema facial. Dos e cinética ascendente de troponina T realizou dose
exames complementares realizados apresentava de carga de aspirina e clopidogrel e ficou internado
desvio da traqueia para a direita na radiografia de
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 729
para estudo invasivo. Realizou cateterismo cardíaco fonuclear, linfadenite mesentérica e polisserosite.
que não mostrou alterações significativas, realizou A associação dos dados clínicos, serológicos e
ecocardiograma a documentar razoável função sis- imagiológicos confirmou tratar-se de uma DRIgG4,
tólica global. Admitiu-se quadro de vasoespasmo sendo iniciada corticoterapia
coronário associado ao Sorafenib pelo que o fár-
maco foi suspenso até reavaliação por oncologista Conclusão: A DRIgG4 é uma doença multiorgânica
assistente. Apresentou resolução total das queixas em que é necessária uma elevada suspeição diag-
sem recorrência das mesmas.  nóstica de forma a ser detetada atempadamente,
evitando fibrose irreversível e evolução para cirrose
O Sorafenib provoca cardiotoxicidade tipo II, não biliar secundária.
cumulativa e reversível após a suspensão do fár-
maco. O caso apresentado descreve dois efeitos P n.º 1903 
adversos reportados em associação ao Sorafenib: Encefalite Límbica
hipertensão arterial (efeito frequente) e vasoespas- Madalena Costa Santos(1);Miguel Cabral Carri-
mo coronário (efeito raro, reportado em 2.9% dos lho(1);Mariana Belo Nobre(1);Inês Goulart(1);Ryan
doentes). Costa Silva(1);Joana Rosa Martins(1)
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi-
P n.º 1896  tal de Santa Maria
Diarreia Crónica com envolvimento multissitémico,
um desafio diagnóstico Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas
Alexandra Wahnon(1);Diogo de Sousa(1);Catarina
Sousa Gonçalves(1);Ana Castro Barbosa(1);Ana A encefalite límbica refere-se a um processo in-
Mafalda Abrantes(1);Carolina Carreiro(1);Nuno Reis flamatório das estruturas límbicas, embora fre-
Carreira(1);Marisa Silva(1);António Pais Lacerda(1) quentemente os achados clínicos, patológicos ou
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi- imagiológicos não se restrinjam a este sistema. É
tal de Santa Maria considerada uma síndroma paraneoplásica clássi-
ca, no entanto, pode ocorrer também sem neoplasia
Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá- associada.
ticas

Os autores apresentam o caso de uma doente de


Introdução: A doença relacionada à imunoglobulina 64 anos, autónoma, com antecedentes pessoais
G4 (DRIgG4) é uma doença auto-imune fibroinfla- de penfigóide bolhoso sem aparente neoplasia
matória sistémica com manifestações pancreáticas subjacente, diabetes mellitus tipo 2, dislipidemia,
e extra-pancreáticas, acometendo principalmente obesidade mórbida e doença bipolar. Avaliada no
vias biliares, rins, gânglios linfáticos, retroperitoneu serviço de urgência por quadro de alteração do
e glândulas salivares. Incide principalmente na 6ª- e comportamento, desorientação temporo-espacial e
7ª décadas de vida. Clinicamente apresenta-se com lentificação psicomotora. Ao exame objectivo apre-
dor abdominal, icterícia obstrutiva e perda ponderal, sentava GCS 11, disartria e apagamento do sulco
sendo importante o diagnóstico diferencial com nasogeniano à direita. Realizou TC-CE que não mos-
neoplasia pancreática. Os critérios de diagnóstico trou alterações de relevo. Durante o internamento,
baseiam-se na clínica, serologia, imagiologia e his- foi realizada punção lombar que mostrou apenas
tologia. discreta proteinorraquia sem pleocitose, o EEG ex-
cluiu actividade comicial e a RM-CE documentou
Caso clínico: Doente do sexo feminino, 71 anos, hipersinal nos hipocampos, atrofia insular e frontal.
com antecedentes pessoais de diarreia crónica com Foi admitida como hipótese mais provável encefali-
um ano de evolução. Biópsias do cólon sem atipia, te límbica versus síndroma confusional em doente
microrganismos ou colite microscópica. Admitida com demência frontotemporal em fase inicial.
por agravamento de dejecções diarreicas (8-10 de- Assim, optou-se por realizar prova terapêutica
jeções/dia), sem sangue ou muco, anorexia, perda com corticoterapia em alta dose observando-se
ponderal de 10-15kg e dor abdominal difusa recor- melhoria clínica marcada com retorno ao estado
rente. Ao exame objetivo apresentava palidez da funcional basal. Já após início de terapêutica
pele e mucosas, sem defesa à palpação abdominal. foram conhecidos os resultados dos anticorpos
Laboratorialmente com anemia de doença crónica antineuronais no LCR que foram negativos. Repetiu-
agravada, citocolestase sem hiperbilirrubinemia, ele- se despiste de neoplasia concomitante que não
vação da lipase e amilase e elevação dos parâme- mostrou evidência de doença tumoral até à data
tros inflamatórios, com velocidade de sedimentação (cerca de 18 meses de follow up).
120mm. Assumido flare em contexto de sobreinfe-
ção por translocação bacteriana e completado ciclo Destaca-se, com este caso, a importância do
de antibiótico, destacando-se coproculturas e he- diagnóstico diferencial com outras patologias do
moculturas negativas. Os valores da elastase fecal sistema nervoso central, ressalvando-se que esta
foram compatíveis com insuficiência pancreática hipótese deve ser equacionada mesmo na ausên-
exócrina grave. A Tomografia computadorizada do cia de anticorpos antineuronais enquadrando-se
abdómen evidenciou ectasia das vias biliares e do no diagnóstico de encefalite límbica seronegativa,
canal pancreático, sugestivo de infiltração polimor- por forma a instituir terapêutica imunossupressora

730
E-POSTERS
precoce prevenindo a progressão da deterioração AGUDA APÓS ADMINISTRAÇÃO DE PROPOFOL
neurológica. Catarina Reigota(1);Pedro Camões(1);Carolina Te-
les(1);Ana Rita Afonso(1);Filipe Vilão(1);Lèlita San-
P n.º 1905  tos(1);Armando Carvalho(1)
Aortite infeciosa: uma hipótese de diagnóstico (1) Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra /
Susana p Silva(1);Bárbara Paracana(1);Mariana Sou- Hospitais da Universidade de Coimbra
sa(1);Andreia do Carmo Lopes(1)
(1) Centro Hospitalar do Baixo Vouga / Hospital In- Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente crí-
fante D. Pedro, EPE tico
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
O Propofol é um fármaco amplamente utilizado
como anestésico pelo seu excelente perfil de segu-
Introdução: A aortite infeciosa por Streptococcus rança. Estão descritos casos de síndrome extrapira-
agalactiae é uma entidade rara, existindo poucos midal secundários a este fármaco mas que na sua
casos descritos na literatura. O alcoolismo crónico maioria ocorrem aquando da indução anestésica e
e a Diabetes mellitus tipo 2 são os maiores fatores não após a mesma.
de risco associados a infeções por Streptococos do
grupo B.
Doente do género feminino, 54 anos, que recorreu
ao Serviço de Urgência por espasticidade generali-
Caso clínico: Homem de 80 anos, autónomo, com zada súbita, com progressão distal para proximal,
antecedentes de hipertensão arterial, DM tipo 2, dis- 2 horas após recuperação de sedação com 100
lipidemia, gota, alcoolismo e osteoartrose. Recorreu mg de Propofol endovenoso administrado para
ao Serviço de urgência por agravamento de coxalgia realização de colonoscopia. Não foram administra-
direita com 3 meses de evolução. Apresentava tem- dos antieméticos como Ondansetrom. Medicada
peratura auricular 37.8ºC, dor à mobilização da anca cronicamente com Aripiprazol 5 mg id. Sem outros
direita e à compressão do grande trocânter, sem antecedentes relevantes. Ao exame objetivo, na
sinais inflamatórios locais. Analiticamente destaca- admissão, apresentava postura quase em “opistóto-
va-se elevação dos parâmetros inflamatórios (leuco- nus” mas sem extensão cervical típica, com fácies
citose 26x109/L, neutrofilia 21x109/L, PCR 26 mg/ hipomímica e com disartria grave. Objetivaram-se
dL e procalcitonina 2.73 g/dL). Teste SARS-CoV-2 hipotermia e sinais de má perfusão periférica mas
negativo. Dada as queixas álgicas, fez ressonância com estabilidade hemodinâmica mantida. Analiti-
magnética da anca direita que excluiu artrite sépti- camente não apresentava alterações. Na suspeita
ca. Realizou ecocardiograma transtorácico e transe- de efeito de bloqueio dopaminérgico por propofol
sofágico com exclusão de endocardite infeciosa, e administrou-se 10 mg de biperideno por via endove-
tomografia computorizada toracoabdominopélvica nosa constatando-se reversão completa da clínica
que mostrou espessamento da parede da crossa da descrita em segundos.
aorta e artérias supra-aórticas, podendo ser enqua-
drado em patologia ateroesclerótica ou inflamatória. Reporta-se um caso de bloqueio dopaminérgico
Apesar da ausência de clínica de vasculite evidente, agudo por propofol num doente sob terapêutica an-
realizou estudo neurossonológico, com espessa- tipsicótica crónica com Aripripazol (bloqueador dos
mento dos vasos, que não exclui processo arterítico recetores dopaminérgicos D2) e que reverteu após
de grandes vasos. O processo de vasculite foi ex- terapêutica anticolinérgica. Pela vasta utilização do
cluído após realização de PET. Iniciou empiricamen- propofol é importante salientar os sintomas extra-
te ceftriaxone após colheita de hemoculturas, com piramidais agudos como complicação da sua admi-
isolamento posterior de Streptococos agalactiae. nistração bem como a sua abordagem terapêutica.
Contudo, por não se poder excluir aortite bacteriana,
manteve-se sob antibioterapia durante 27 dias, com P n.º 1911 
apirexia sustentada, recrudescência dos parâmetros DISFUNÇÃO HEPÁTICA, RENAL E HEMATOLÓGICA
inflamatórios, e negativação de hemoculturas. NUMA IDOSA RURAL: UM CASO DE SÍNDROME DE
WEIL
Conclusão: Este caso reflete a complexidade do Henrique Atalaia Barbacena(1);Mariana Dias(1);-
doente internado na enfermaria de Medicina Interna. Juliana Serrazina(1);Cristiana Mendes(1);Leila
Apesar de nem sempre haver um diagnóstico clíni- Duarte(1);Raquel a. Soares(1);João Victor Frei-
co definitivo, a colocação de diferentes hipóteses tas(1);Francisco Santos Cunha(1);João Madeira
de diagnóstico e sua investigação são importantes Lopes(1);Patrícia Howell Monteiro(1);António Pais
para a sua resolução. Neste caso, embora o diag- de Lacerda(1)
nóstico de aortite não tenha sido confirmado, o (1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi-
início precoce da antibioterapia pode ter retardado tal de Santa Maria
a progressão, evitando o surgimento de outras com-
plicações como aneurismas micóticos e endocardi- Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
te.
Introdução: A leptospirose é uma doença zoonótica
P n.º 1906  transmitida aos humanos através do contacto com
BIPERIDENO PARA SÍNDROME EXTRAPIRAMIDAL urina de animais infectados. A síndrome de Weil,

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 731


caracterizada por icterícia, lesão renal e hemorra- cirrose hepática de etiologia alcoólica. Recorreu ao
gia, consiste numa forma grave e fatal da doença. SU por febre, dor abdominal, astenia e anorexia com
Apresentamos um caso de síndrome de Weil numa 2 meses de evolução. Realizou TC abdominal, que
doente residente em meio rural. CASO CLÍNICO: Mu- demonstrou espessamento vesícula biliar, tendo
lher de 78 anos, agricultora. Admitida por náuseas, sido interpretado como colecistite aguda; decidido
mal-estar generalizado e icterícia com uma semana tratamento conservador, cumpriu antibioterapia
de evolução. Ao exame objetivo, abdómen mole, com Piperacilina-tazobactam, tendo tido alta ao fim
depressível e indolor, sem outras alterações. Avalia- de 7 dias. Por recorrência da febre, voltou ao SU 2
ção inicial: anemia normocítica/ normocrómica (Hb dias depois. Analiticamente de relevo, apresentava
13.2 g/dL), trombocitopénia de 31000/uL, elevação um aumento dos parâmetros inflamatórios (proteí-
de parâmetros inflamatórios (Leucócitos de 21000/ na C reativa 8.65mg/dL). Por não haver evidência de
uL, PCR 18 mg/dL), lesão renal aguda AKIN 3 oligúri- foco infecioso, realizou TC toraco-abdomino-pélvico,
ca (Creatinina 7.2 mg/dL) e padrão de citocolestase onde foi descrita calcificação valvular mitral, sinais
e elevação de marcadores pancreáticos (AST 120 compatíveis de enfartes esplénicos e sem evidência
U/L, ALT 79 U/L, GGT 42 U/L, Bilirrubina total 9.3 de complicações de colecistite. Considerada possí-
mg/dL, Bilirrubina directa 6.9 mg/dL, Amilase 704 vel endocardite infeciosa (EI) (critérios modificados
U/L, Lipase 2092 U/L). Gasimetria com hiperlacta- de Duke) com embolização séptica, tendo sido insti-
cidémia de 19 mg/dL. TC abdominal sem sinais su- tuída antibioterapia empírica.
gestivos de litíase biliar ou alterações morfológicas
do pâncreas. Iniciada antibioterapia empírica com No estudo complementar, apresentou negatividade
Piperacilina/ Tazobactam, com persistência da dis- nas hemoculturas e na pesquisa de outros agentes
função multiorgânica. Ecografia abdominal excluiu infeciosos. Realizou ecocardiograma transesofági-
pancreatite e lesão renal de causa obstrutiva. De- co (após transtorácico inconclusivo), que identificou
senvolvimento posterior de hematúria e hemorragia calcificação marcada da válvula mitral com estrutu-
conjuntival. Face ao contexto epidemiológico da ra filiforme calcificada na face ventricular. Contac-
doente, colocada hipótese de zoonose, com sero- tada cirurgia cardiotorácica, que descreve imagens
logia para Leptospirose compatível com infecção como sugestivas de TCA a beneficiar remoção
aguda, manifestada por síndrome de Weil. Alterada cirúrgica. Pela febre e possibilidade de infeção con-
antibioterapia para Doxiciclina e Ceftriaxone, com comitante, terminou as 6 semanas de antibioterapia
melhoria progressiva e resolução das disfunções com flucloxacilina, gentamicina e ampicilina, tendo
orgânicas. Serologia da Leptospirose dois meses sido observada apirexia sustentada. Foi orientado
após o diagnóstico negativa. CONCLUSÃO: A colhei- para a consulta de Medicina Interna, Cardiologia e a
ta de uma história clínica e epidemiológica comple- aguardar cirurgia.
ta e o rápido reconhecimento de padrões semiológi-
cos é fundamental para o diagnóstico e tratamento Conclusão
adequados, especialmente em patologias raras e
Os TCA estão raramente associados a infeção, mas
rapidamente progressivas, destacando-se o papel
estão descritos alguns casos na literatura. Os even-
integrador da Medicina Interna.
tos embólicos são as principais complicações asso-
ciadas a esta entidade, sendo a principal indicação
P n.º 1917  para a correção cirúrgica.Em caso de suspeita de in-
Tumor cálcico amorfo: um diagnóstico diferencial feção concomitante, deve ser realizado tratamento
de endocardite de acordo com as recomendações antibióticas para
José Diogo Martins(1);André Colmente(1);Maria Fer- tratamento de EI e considerar tratamento cirúrgico
reira(1);Miguel Romano(1);Rosana Maia(1);Joana sá
Couto(1);Francisco Teixeira Silva(1);Carla Dias(1);- P n.º 1920 
Conceição Santos(1);Manuel Ferreira(1);Carlos Ri- Parasitas intestinais – causa rara de anemia?
beiro(1);Diana Guerra(1);Carmélia Rodrigues(1) Mariana Almeida(1);Lúcia Ribeiro Dias(1);João Ro-
(1) Unidade Local de Saúde do Alto Minho, EPE / cha(1);Bruno Besteiro(1);Susana Ferreira(1);Jorge
Hospital de Santa Luzia Almeida(1)
(1) Centro Hospitalar de S. João, EPE
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
Introdução
Introdução: O Enterobius vermiculris é o principal
helminta causador de infecções na Europa ociden-
O tumor cálcico amorfo (TCA) cardíaco é uma
tal, sendo os humanos o seu único hospedeiro.
massa não neoplásica, caracterizada por tecido
Habitualmente é assintomático, quando não o é, o
degenerativo fibrinoso com depósitos nodulares
sintoma mais comum é prurido anal.
de cálcio. Habitualmente são assintomáticos, mas
podem surgir sintomas relacionados com eventos
tromboembólicos. Caso Clínico: Homem de 54 anos, seguido em con-
sulta de Medicina Interna por Hipertensão arterial
Caso clínico com várias lesões de órgão mediadas pela mesma,
nomeadamente doença renal crónica estadio 3a.
Homem, 68 anos com antecedentes pessoais de Apresenta-se na consulta com queixas de anorexia
732
E-POSTERS
e perda ponderal, associadas a queda de 6g/dL de Caso Clínico: Homem de 83 anos, referenciado à
hemoglobina (Hb) em 5 meses (8,6g/dL, microci- consulta de Medicina por astenia, anorexia, perda
tose). Negava alteração das características das ponderal, fraqueza da cintura escapular e pélvica,
fezes ou presença de sangue ou muco, negava ou- omalgia bilateral, e edema simétrico do dorso e
tras perdas hemáticas. Doente foi internado neste dedos das mãos. Negada febre e manifestações de
contexto. Do estudo realizado: sem défice de ferro, ACG. Estudo complementar a revelar: elevação da
vitamina B12 ou ácido fólico, sem alterações no VS e PCR, anemia ligeira compatível com anemia
esfregaço de sangue perfiférico, electroforese de inflamatória, função tiroideia normal, estudo imune
proteínas séricas sem alteração, ligeiro aumento da negativo (incluindo ANAs, ENAs, ANCAs, fatores
imunoglobulina (Ig) A sem outras alterações nas Ig; reumatóides e anticorpos anti-citrulina), serologias
eritropoetina, paratormona e vitamina D normais e víricas sem evidência de infeção aguda. Assumido
sem infecção por VIH, VHC ou VHB. A endoscopia diagnóstico de PMR e iniciado tratamento com 20
digestiva alta mostrou apenas esofagite de refluxo mg de prednisolona/dia, tendo-se verificado resolu-
grau A e hérnia de hiato. A colonoscopia mostrou ção de todas as queixas, incluindo o referido edema,
diverticulose cólica e a presença de parasita intesti- em cerca de uma semana de tratamento.
nal (provável Enterobius vermicularis). Foi ainda rea-
lizado mielograma e biópsia de medula óssea que Discussão: O diagnóstico de PMR é clínico, estabe-
não mostraram alterações de relevo. O doente fez lecendo-se com base nas manifestações atrás men-
tatamento com albendazol (2 tomas separadas por cionadas, na elevação de VS e PCR, e na idade de
14 dias) com melhoria significativa da Hb (11,7 g/dL apresentação. É suportado pela resposta à cortico-
aproximadamente 1 mês após o fim do tratamento. terapia, que é geralmente rápida e completa. Os au-
Os familiares do doente foram também aconselha- tores apresentam um caso típico de PMR, alertando
dos a cumprir o mesmo tratamento. para uma manifestação menos comum da mesma,
com a presença de sinais de Síndrome RS3PE.
Discussão: Apesar de serem apresentações raras,
a perda ponderal e dor abdominal podem estar P n.º 1926 
presentes em casos de infecção intestinal por para- Um caso difícil de cetoacidose
sitas. Há também descrição na literatura de alguns Inês Fonseca Marques(1);Filipa Monteiro(1);Érica
casos de associação entre o E. Vermicularis e colite Barata(1);Letícia Santos(1);Conceição Escarigo(1)
eosinofílica com associação a anemia. Neste caso, (1) Hospital Garcia de Orta, EPE
apesar de não haver isolamento do agente, parece
existir uma relação causal entre a presença de ane- Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio-
mia e a infecção. nais

P n.º 1923  Introdução: A cetoacidose diabética é a mais te-


Síndrome RS3PE como manifestação de Polimial- mível complicação aguda da diabetes mellitus,
gia Reumática caracterizada classicamente pela tríade de acidose
Ana Catarina Trigo(1);Sara Ramos(1);Filipa Davi- metabólica, cetose e hiperglicémia. No entanto, em
d(1);José Ribeiro(1);Nuno Amorim(1);Liliana Carnei- alguns casos pode não se verificar a hiperglicémia
ro(1) - a chamada “cetoacidose euglicémica”. Estes ca-
(1) Unidade Local de Saúde de Matosinhos, EPE / sos eram relativamente raros até à introdução dos
Hospital Pedro Hispano inibidores do cotransportador renal de sódio-glicose
(iSGLT2) e associavam-se a doenças de armaze-
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas- namento do glicogénio, doença hepática crónica,
culites gravidez, intoxicação por cocaína ou etanólica ou a
administração recente de insulina.
Introdução: A Polimialgia Reumática (PMR) é uma
doença inflamatória relativamente comum, cuja Caso clínico: Descreve-se o caso de um homem
incidência aumenta com a idade, sendo praticamen- de 75 anos com história de abuso etanólico cróni-
te exclusiva de indivíduos com mais de 50 anos. co - não quantificado mas mantido e marcado nos
Caracteriza-se pela presença de dor e rigidez das últimos dias segundo os familiares - e de diabetes
cinturas escapular e pélvica, coluna cervical e tron- mellitus tipo 2. Foi admitido no serviço de urgência
co, com maior gravidade matinal e geralmente com por quadro com 7 dias de evolução de febre e difi-
significativa limitação funcional. Outras manifes- culdade respiratória de agravamento progressivo e
tações incluem: astenia, anorexia, perda ponderal, prostração com início no mesmo dia. À observação,
febre e sintomas de Artrite de Células Gigantes encontrava-se obnubilado, com hálito cetónico, de-
(ACG), como cefaleia, hipersensibilidade do couro sidratado, febril, taquicardico e com respiração de
cabeludo, claudicação da mandíbula e alterações da Kussmaul. A gasimetria arterial mostrou acidémia
acuidade visual, que devem ser ativamente excluí- metabólica (pH 7.20 e bicarbonato 10 mmol/l) com
dos. Manifestações raras incluem as da Síndrome hiato aniónico aumentado e hipoxémia mas com
RS3PE (Remitting Seronegative Symmetrical Synovi- glicémia de 130 mg/dl e cetonémia de 4.8 mmol/l.
tis with Pitting Oedema), caracterizada por poliartrite A pesquisa de Sars-CoV-2 foi positiva e a radiogra-
simétrica, que afeta essencialmente as mãos e os fia torácica mostrava infiltrado pulmonar bilateral.
pés, associada a edema depressivo do dorso e de- Assumiram-se os diagnósticos de cetoacidose
dos das mãos.  
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 733
diabética (CAD) euglicémica associada ao iSGLT2 longo dos dias melhoria analitica e da IR mas sem
(e eventual sobreposição a alcoólica) e pneumonia alteração do seu estado neurológico. Fez 3 dias de
Covid-19. Iniciou fluidoterapia e perfusão de insu- Metilprednisolona 250mg e depois Dexametasona
lina, bem como aporte suplementar de oxigénio. 6mg/dia, porque alguns relatos de casos clínicos
Verificou-se evolução clínica desfavorável, quer do similares tinham mostrado melhoria com corticote-
ponto de vista metabólico, quer respiratório, com rapia. Em D28 de sintomas mostrou-se colaborante
fraca resposta à hidratação e insulinoterapia e fran- e parcialmente orientado, recuperando o seu estado
co agravamento de hipoxémia. Foi admitido em uni- habitual em D29. Teve alta pouco tempo depois e
dade de cuidados intensivos e acabou por falecer nas avaliações em ambulatório sem intercorrências. 
no dia seguinte.
Discussão:
Discussão: Apesar dos muitos benefícios do trata-
mento com iSGLT2, têm sido reportados vários ca- Este caso de encefalopatia é complexo na medida
sos de CAD euglicémica. A colheita de uma história em que várias situações potencialmente contribuí-
clínica completa é crucial para o prognóstico, uma ram para este estado. No entanto é de notar que
vez que a presença de glicémia normal (ou apenas demorou cerca de duas semanas para recuperar o
discretamente elevada) na ausência de factores seu estado habitual. É possível que a infeção SAR-
predisponentes pode fazer escapar o diagnóstico S-CoV-2 tenha um mecanismo próprio de encefalo-
correcto e atrasar o tratamento, particularmente na patia, para lá das alterações sistémicas decorrentes
presença de infecção a Sars-CoV-2 em plena fase da doença, com alguns casos a responder a cortico-
de agravamento. terapia, tal como pode ter sido este o caso.

P n.º 1929  P n.º 1936 


Encefalopatia em tempos de COVID-19 Polifarmácia no idoso – importância de avaliação
Luís Neves da Silva(1);Bárbara Fontes Olivei- no doente com hiponatremia
ra(1);Marta Braga Martins(1);Margarida Monteiro(1) Marta Batoca Sousa(1);João Pedro Pais(1);Rita Vilar
(1) Hospital de Braga da Mota(1);Luís Costeira Pereira(1);Ângela Paredes
Ferreira(1);Nuno Pardal(1);Patrícia Sôra Sobro-
Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas sa(1);Ana Nascimento(1)
(1) Unidade Local de Saúde do Alto Minho, EPE /
Introdução:  Hospital de Santa Luzia
Tema: Medicina geriátrica
Com o avanço da pandemia COVID-19, vários têm
sido os casos de encefalopatia relatados, estando Introdução: A hiponatremia (sódio sérico inferior
ainda por se perceber se existe relação direta ou a 135 mmol/L) é o distúrbio electrolítico mais
apenas indireta (por hipoxemia, inflamação sistémi- comummente encontrado na clínica, tendo particular
ca ou descompensação de outras comorbilidades) impacto em indivíduos com mais de 75 anos. A sua
com a infeção pelo vírus SARS-CoV-2.  apresentação é variável, e pode ir de assintomática
Caso Clínico:  ou ligeira (sonolência, tonturas, náuseas e vómitos,
cefaleias) até condições ameaçadoras da vida. São
Sexo masculino, 63 anos de idade, autónomo. An- vários os fármacos - diuréticos, antidepressivos,
tecedentes de consumo de 40g álcool/dia e doen- antiepilépticos - que podem causar hiponatremia
ça renal crónica G4A3. Internado por Pneumonia e, por isso, devemos tê-los em consideração na
SARS-CoV-2, em dia 7 de sintomas (D7), sob FiO2 a investigação etiológica. A idade, as altas doses
31% por insuficiência respiratória (IR). Iniciou 6mg/ terapêuticas, a polifarmácia e o género feminino são
dia de dexametasona que interrompeu em D13 sin- factores de risco para hiponatremia. 
tomas por resolução da IR. Em D15 de sintomas,
lentificado e desorientado, com agravamento da CASO CLÍNICO: Mulher de 76 anos, autónoma, com
IR, febre de novo e subida da ureia/creatinina para antecedentes de hipertensão arterial, dislipidemia,
237/7.4 mg/dL, PCR para 271mg/L (prévia de 70) hipotiroidismo e malformação arterio-venosa
e procalcitonina de 0.52ng/mmoL. Ao exame neu- intracraniana (cirurgia há mais de 20 anos e desde
rológico com mioclonias negativas e soluços, fa- então sob carbamazepina 400 mg 2 vezes por
vorecendo encefalopatia metabólica. Fez EEG que dia). Adicionalmente medicada com olmesartan 20
sugeria encefalopatia moderada, AngioRMN-CE mg, amlodipina 5 mg, hidroclorotiazida 12.5 mg,
sem alterações de novo e punção lombar também clortalidona 15 mg, nebivolol 2.5 mg, rosuvastatina
inocente. Fez TC-Tórax com uma pequena área de 10 mg, ezetimibe 10 mg, levotiroxina 0.1 mg,
consolidação no lobo inferior esquerdo. Colhidas trazodona 50 mg e cloxazolam 1 mg. Observada
culturas infecciosas que foram negativas. Assim, por cefaleias com um mês de evolução associada
iniciou programa regular de hemodiálise na sus- a náuseas e a vómitos na última semana.
peita de que a uremia estivesse a contribuir para a Objetivamente a destacar pressão arterial de
encefalopatia, tiamina pela história de alcoolismo 170/89 mmHg e analiticamente com natremia de
e Ceftriaxone e Azitromicina na suspeita de sobrein- 122 mmol/L. No internamento normalização da na-
feção bacteriana. Em D17 sintomas escalou-se para tremia sob fluidoterapia com cloreto de sódio hiper-
Meropenem por agravamento analitico e da IR. Ao
734
E-POSTERS
tónico e suspensão de diuréticos. Após suspensão Este relato de caso mostra como o reconhecimento
de fluidoterapia, recrudescência da hiponatremia precoce e o tratamento atempado deste tipo de in-
(131 mmol/L). Substituída carbamazepina por le- fecção podem diminuir a mortalidade e progressão
vetiracetam 500 mg 2 vezes por dia com resolução da doença em doentes de alto risco, realçando a
clínica e analítica. Restante estudo sem alterações.  importância da realização da punção lombar para
o diagnóstico, confrontando o internista com a
DISCUSSÃO: A polifarmácia é um problema impor- dificuldade na abordagem de doentes imunocom-
tante na actualidade, sobretudo em doentes idosos prometidos pelos diferentes factores confundidores
e com múltiplas comorbilidades. Torna-se, por isso, presentes.
importante uma análise cuidada e reavaliação fre-
quente das terapêuticas crónicas, com rastreio dos P n.º 1960 
seus principais efeitos adversos, de forma a evitar Mieloma Múltiplo Produtor de Cadeias Leves - Um
situações mais graves e ameaçadoras da vida.  Caso Clínico
Beatriz Barata(1);Manuel de Albuquerque(1);Inês
P n.º 1942  Urmal(1);Daniela Guerreiro Carneiro(1);Cláudia Ne-
Vírus Varicela Zoster, um caso de Encefalite ves(1);Elisabete Margarido(1)
Adriana Filipa Marques Rodrigues(1);Marta Men- (1) Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE / Hos-
des(1);Gonçalo Santos(1);Eduardo Macedo(1);José pital de Santo António dos Capuchos
Miguel Rocha(1);Luís Silva(1);Raquel Covas(1);Isa-
bel Apolinário(1);Ílidio Brandão(1) Tema: Doenças hematológicas
(1) Hospital de Braga
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias O mieloma múltiplo é uma proliferação maligna de
plasmócitos, que se acumulam na medula óssea,
caracteristicamente com produção de paraproteí-
A reativação do Vírus Varicela Zoster (VVZ) é das nas. A maioria dos casos apresenta-se com lesão
doenças infeciosas neurológicas mais comuns, orgânica, tipicamente: hipercalcémia, disfunção
sendo o 2º vírus mais frequente na etiologia de en- renal, anemia e lesões ósseas líticas (sintomas
cefalite ou meningite. A apresentação clínica pode CRAB). Apresentamos um caso de mieloma múl-
variar de uma leve afeção cutânea a encefalite grave tiplo com eletroforese de proteínas (EP) sem pico
com mortalidade até 12-15%, sendo esta ainda mais monoclonal mas com elevação de cadeias leves
aumentada em doentes imunocomprometidos. livres.

Homem de 43 anos, autónomo, com antecedente Apresentamos um homem de 65 anos com lom-


de Hepatite C e infecção VIH desde 2000, sob te- balgia em evolução há 3 semanas, com impotência
rapia antirretroviral com má adesão e história de funcional por agravamento álgico em ortostatismo
infeções oportunistas. Recorreu ao SU por quadro e marcha. Sem outra sintomatologia. Em ambulató-
de diplopia com 3 semanas de evolução e cefaleia rio realizou ressonância magnética (RM) da coluna
frontal com 3 dias de evolução. Negava febre, dor lombar a documentar fratura patológica de L5.
ou lesões oculares, hipovisão ou traumatismo. O Analiticamente apresentava hemograma sem alte-
filho estava com infecção pelo vírus da varicela há 4 rações, disfunção renal e hipercalcémia. Internado
dias. Ao exame físico, com diplopia e paresia do III para estudo etiológico.
par craniano, sem outras alterações; Oftalmologia
descartou retinite. Realizou TAC CE, sem alterações. Salienta-se estudo analítico com EP sem pico mo-
Ficou internado para estudo. No internamento reali- noclonal, com discreta elevação das cadeias alfa 2
zou RMN CE que demonstrou lesão nodular hiperin- e beta 1; beta-2-microglobulina aumentada; função
tensa, captante, com 5 mm de diâmetro circundada tiroideia e paratiroideia normais; presença de pro-
por edema na região sublenticular direita e na re- teinúria de Bence-Jones com aumento significativo
gião justacortical occipital e parietal esquerda duas das cadeias leves livres kappa com relação kappa/
lesões semelhantes; realizou punção lombar com lambda aumentada. A tomografia computorizada
saída de líquido límpido, com pleocitose linfocítica, de crânio e tóraco-abdómino-pélvica revelou lesões
proteinorráquia, glicose normal, com VDRL e TPHA líticas para além da fratura já conhecida, nomeada-
negativos, microbiológico amicrobiano e pesquisa mente no sacro e íliaco, sem presença de adenome-
de DNA do VVZ positivo; Admitiu-se diagnóstico de gálias ou outras alterações. Ainda em internamento
Encefalite por VVZ, realizando-se Aciclovir 800mg repete RM da coluna lombar com agravamento e
de 8/8h durante 14 dias; face aos achados descritos agora achados sugestivos de doença infiltrativa da
e não se podendo excluir outros disgnósticos asso- medula óssea.
ciados pediu-se a pesquisa de vírus JC e toxoplas-
mose no LCR, que vieram negativos. Ao longo do A biópsia de medula óssea revelou hipercelularida-
internamento com melhoria dos défices, mantendo de com infiltrado plasmocitário maciço (90%) e res-
apenas diplopia monoclonar no olhar extremo à es- trição de cadeias leves kappa. Citogenética revelou
querda. Teve alta, com seguimento na consulta de presença da delecção p53 (17p13.1).
Doenças Infecciosas, tendo-se verificado resolução
da maioria das lesões descritas na RMN CE, perma- Foi considerado candidato a terapêutica de primeira
necendo apenas 1 com redução de dimensão. linha e iniciou tratamento ainda durante o interna-
mento.
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 735
É importante manter presente que a ausência de frequentemente associada a isquémia miocárdica,
pico monoclonal na EP não exclui o diagnóstico endocardite ou febre reumática, pode ocorrer na
de Mieloma Múltiplo, constituindo a presença de ausência de uma destas patologias, como no caso
cadeias leves livres um elemento importante no apresentado. O autor destaca ainda a importância
diagnóstico. de realizar ecocardiograma periódico em doentes
com IC conhecida em que a estrutura e função car-
P n.º 1962  díaca possam ter sofrido alterações desde estudos
Insuficiência cardíaca e regurgitação mitral – uma prévios.
pescadinha de rabo na boca.
Sara Ramos Lopes(1);Jéni Quintal(1);Mariana P n.º 1964 
Marçal(1);Joana Silvério Simões(1);Ana Rita Pitei- Cancro da mama masculina - metastização de um
ra(1);Sara da Silva Correia(2);Filipa Silva(1);Filipa CPC do pulmão
Carrega(1);Diana Pedreira(1);Pedro Freitas(1);Pedro Rita Sismeiro(1);Catarina Negrão(1);Telma Mar-
Carreira(1);Susana Neves Marques(1);Manuela Fe- tins(1);Margarida Monteiro(1);Tiago Tomás(1);Marta
ra(1);Ermelinda Pedroso(1) Jonet(1)
(1) Centro Hospitalar de Setúbal, EPE / Hospital de (1) Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca
São Bernardo (2) Hospital do Espírito Santo, EPE,
Évora Tema: Doenças oncológicas

Tema: Doenças cardiovasculares O carcinoma de pequenas células (CPC) do pulmão


é um cancro agressivo de origem neuroendócrina,
Introdução: A Insuficiência cardíaca (IC) aguda em muito associado a hábitos tabágicos. Tipicamente,
doentes com IC conhecida é um motivo frequente apresenta curto tempo de evolução de sintomas
de admissão no serviço de urgência (SU) e exige um e frequentemente (60-65%) doença metastática à
diagnóstico e tratamento imediatos. Vários fatores apresentação.
podem descompensar a IC crónica, tais como sín-
drome coronário agudo, infeção, hipertensão não Homem de 74 anos, ex-fumador, com adenocarci-
controlada, taquiarritmias e não adesão à terapêu- noma da próstata, submetido a rececção transure-
tica farmacológica. A marcha diagnóstica deve pro- tral-próstata e radioterapia (RT) em 2020. Apresen-
curar identificar o fator precipitante, apesar de nem tou-se com uma semana de evolução de cansaço,
sempre o ser possível identificar. edema dos membros inferiores, dor torácica que
agravava à mobilização do tórax e dispneia. Ao
Caso: Mulher, 76 anos, antecedentes de fibrilhação exame físico salientava-se massa pétrea na mama
auricular (FA) permanente anticoagulada com riva- direita, que teria sido previamente desvalorizada
roxabano e IC com fração de ejeção (FE) preserva- e adenomegalia supraclavicular esquerda. Anali-
da de etiologia hipertensiva com necessidade de ticamente a destacar PSA 13.7ng/mL, NT-proBNP
internamento há 1 mês por descompensação sem 524pg/mL e d-dímeros 7676ng/mL. Realizou angio-
fator precipitante conhecido. Trazida ao SU por -TC do tórax que revelou adenomegalias em múlti-
quadro compatível com edema agudo do pulmão, plas cadeias torácicas, opacidades nodulares pul-
tendo iniciado VNI e terapêutica farmacológica com monares bilaterais, derrame pleural direito, múltiplas
boa resposta clínica. Analiticamente, sem anemia, lesões osteolíticas e aumento do tecido glandular
alteração dos parâmetros inflamatórios, ionogra- retroareolar. A TC de estadiamento revelou lesão
ma, função renal ou tiroideia. Nt-proBNP 11967pg/ nodular hepática e lesão na base do pénis.
mL, troponina I 24pg/mL. ECG em FA com resposta
ventricular rápida. Radiografia de tórax sugestiva de A ecografia da mama descreveu volumosa massa
estase pulmonar. Admitiu-se IC descompensada e hipoecogénica, sólida de contornos irregulares,
a doente foi internada para estabilização e investi- podendo corresponder a lesão primária, e a biopsia
gação do quadro. Realizou ecocardiograma transto- foi compatível com neoplasia maligna sólida com
rácico que evidenciou ventrículo esquerdo com FE padrão morfológico de tipo neuroendócrino de pe-
preservada, insuficiência mitral grave excêntrica no quenas células. Foram realizadas também biópsias
contexto de aparente corda rota, aurícula esquer- da próstata, base do pénis, gânglios linfáticos e
da gravemente dilatada e insuficiência tricúspide brônquio. O estudo anatomo-patológico da próstata
moderada com hipertensão pulmonar moderada, mostrou infiltração focal pelo adenocarcinoma já
achados confirmados posteriormente por ecocar- conhecido, não documentando infiltração por car-
diograma transesofágico. O caso foi discutido com cinoma neuroendócrino. As restantes biópsias do-
Cardiologia e Cirurgia Cardíaca, tendo-se decidido cumentaram extensa infiltração por CPC cuja mor-
cirurgia de reparação valvular mitral e tricúspide, fologia e perfil imunohistoquímico era idêntico ao
que decorreu ao 23º dia de internamento, sem inter- da mama. A ressonância dorso-lombar e cintigrafia
corrências. óssea confirmaram lesões ósseas secundárias na
coluna vertebral (D3, D4, D6-D9, D12, L2 e L3), arcos
Discussão: A regurgitação mitral (RM) cursa com costais bilateralmente, esterno e epífises proximais
sintomatologia de IC esquerda, sendo o diagnóstico dos úmeros, que foram submetidas a RT paliativa
desafiante em doentes com IC crónica. A RM primá- para controlo álgico.
ria causada por rotura de músculo papilar, apesar de

736
E-POSTERS
O doente foi referenciado à oncologia, mas fale- P n.º 1971 
ceu de infecção respiratória antes do início da tera- Insuficiência cardíaca e enfarte do miocárdio em
pêutica. tempos de COVID-19
Nuno Pardal(1);Sabina Belchior Azevedo(1);Patrícia
Metastização para a mama de neoplasias primárias Araújo(1);Cátia Barreiros(1);Duarte Silva(1);Emília
extra-mamárias é muito raro, ainda mais quando se Guerreiro(1);António Ferreira(1);Carmélia Rodri-
trata de um CPC do pulmão num homem. Este caso gues(1);Diana Guerra(1)
salienta as consequências na abordagem diagnós- (1) Unidade Local de Saúde do Alto Minho, EPE /
tica de desvalorizarmos as queixas dos nossos Hospital de Santa Luzia
doentes.
Tema: Doenças cardiovasculares
P n.º 1970 
Leuconostoc mesenteroides spp cremoris: uma
causa rara de meningite bacteriana Introdução: O enfarte do miocárdio (EM) de tipo 2
Nuno Pardal(1);André Pereira(1);Ângela Paredes ocorre no contexto de desequilíbrio entre o forne-
Ferreira(1);Luís Costeira Pereira(1);Marta Batoca cimento e as necessidades cardíacas de oxigénio,
Sousa(1);Patrícia Sôra Sobrosa(1);Rita Vilar da Mo- podendo ser causado por anemia e hipoxémia
ta(1);João Pedro Pais(1);Cátia Barreiros(1);Augusta severas. CASO CLÍNICO: Mulher de 76 anos sem
Silva(1);Carmélia Rodrigues(1);Diana Guerra(1) antecedentes de relevo com dispneia, desconforto
(1) Unidade Local de Saúde do Alto Minho, EPE / torácico, astenia, febre e tosse de 3 semanas de
Hospital de Santa Luzia evolução; sem perdas hemáticas. À admissão po-
lipneica, taquicárdica e febril (38ºC) com SpO2 84%
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias sob máscara de alto débito. Gasimetria arterial em
ar ambiente com hipoxémia severa (pO2 32mmHg),
discreta hipocapnia (pCO2 34mmHg), SpO2 59%
Introdução: Os microorganismos do género Leuco- e lactato 4.5mmol/L. Analiticamente com anemia
nostoc, bactérias gram-positivas microaerofílicas ferropénica (Hb 5.6g/dL, VGM 72.3 fL), leucocitose,
ácido-lácticas da família Leuconostocaceae, são PCR 16.2mg/dL, Mioglobina 50ng/dL, Troponina I
de uso comum pela indústria alimentar e por vezes 1928ng/mL e BNP 168pg/ml. ECG com ritmo sinu-
identificados em pacientes imunocomprometi- sal, 100bpm, e inversão de onda T em V1-4 e DIII.
dos, portadores de dispositivos ou sob nutrição Angio-TC tórax sem evidência de TEP, com >90% do
parentérica. CASO CLÍNICO: Homem de 50 anos parênquima pulmonar em padrão de vidro despolido
com hipertensão arterial, diabetes mellitus tipo 2, e derrame pleural bilateral ligeiro. Iniciou antibiote-
obesidade e doença renal crónica, com história de rapia, dexametasona, furosemida e O2 por cânula
febre e vómitos aquosos medicado a 21/12 com nasal de alto fluxo. Fez transfusão de 2 unidades
ciprofloxacina por suspeita de gastroenterite aguda. de eritrócitos e ferro endovenoso. Apesar da forte
Manteve clínica durante 1 mês com evolução para suspeita clínica e radiológica de COVID-19, todos os
cefaleia fronto-occipital, febre e cervicalgia, sem testes de detecção SARS-CoV-2 negativos. Admitida
sinais meníngeos ou alterações no exame neuro- em C.Intermédios com diagnóstico de insuficiência
lógico. Analiticamente com anemia, leucocitose cardíaca (IC) aguda no contexto de EM tipo 2 por
com neutrofilia, lesão renal aguda, hiponatrémia, anemia ferropénica e hipoxémia severas. Boa evo-
proteína C reactiva elevada. TC CE sem alterações. lução clínica. Em consulta verificou-se resolução de
Punção lombar (PL) com 2600 leucócitos (leuc), anemia; RMN cardíaca compatível com enfarte sep-
glicose 143 mg/dL, proteínas 103.2 g/dL, LDH 72 tal e defeitos de perfusão durante prova de stress.
UI/L e algumas bactérias. Antigénios capsulares Estudo endoscópico com evidência de gastropatia
negativos. Iniciou dexametasona e antibioterapia atrófica. DISCUSSÃO: Os autores consideram este
empírica com ceftriaxone e ampicilina. Exame bac- caso relevante pela atipia da apresentação clínica
teriológico do líquido cefalo-raquidiano (LCR) ne- de IC no contexto de EM, aqui como mimetizadora
gativo. Entretanto hemoculturas (HC) da admissão: de pneumonia COVID-19 grave. Destaca-se assim a
Leuconostoc mesenteroides spp cremoris. Por este importância de manter presentes outras hipóteses
isolamento repetidas HC (negativas) e PL a 11/01 diagnósticas prováveis e potencialmente fatais du-
que mostrou 23 leuc. Exame bacteriológico do LCR rante a atual pandemia, não permitindo que o con-
com prolongamento do tempo de incubação nega- texto epidemiológico possa toldar o discernimento
tivo. Ecocardiograma transtorácico sem alterações e o raciocínio clínico.
de relevo. TC abdomino-pélvico sem alterações.
Colonoscopia sem alterações. Cumpriu 30 dias de
ceftriaxone + ampicilina com evolução favorável. P n.º 1974 
DISCUSSÃO: Leuconostoc mesenteroides é um Pneumonia organizativa pós- Gripe A
patógeno humano raro, e pela sua epidemiologia e Rui Soares Correia(1);Ana Filipa Viegas(1);Carla An-
difícil isolamento a sua identificação como agente tónio(1);Marlene Delgado(1)
causador de doença pode ser desafiadora. Neste (1) Centro Hospitalar Tondela-Viseu, EPE / Hospital
doente não foi identificado nenhum factor de risco de São Teotónio, EPE
para o desenvolvimento desta infecção. A duração
do tratamento não está definida, sendo importante a Tema: Doenças respiratórias
avaliação da evolução da doença.
Introdução
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 737
A pneumonia organizativa é uma condição rara e de Pode ser classificada de acordo com a extensão
causa variada cujo diagnóstico é difícil pelos acha- do envolvimento cutâneo em 4 tipos: Esclerose
dos clínicos e imagiológicos inespecíficos. Proces- Sistémica Cutânea Limitada que poupa o tronco e a
sos infeciosos pulmonares são uma causa comum, região proximal dos membros, Esclerose Sistémica
quando a inflamação permanece apesar de um Cutânea Difusa com envolvimento difuso do tegu-
controlo adequado do foco, levando à organização mento cutâneo, Esclerose Sistémica sine scleroder-
de exsudados fibrinosos dentro dos alvéolos. O tra- ma sem envolvimento cutâneo mas com alterações
tamento recomendado é a corticoterapia mas, em típicas como fenómeno de Raynaud, úlceras digitais
raros casos, ocorre resolução espontânea. e autoimunidade positiva e ainda Esclerose Sistémi-
ca com sobreposição a outras doenças auto-imu-
Caso clínico nes.
Homem de 63 anos, com hipertensão arterial, disli- Caso Clínico:
pidemia e fumador. Quadro de febre, dispneia e tos-
se com 4 dias de evolução. Gasimetricamente com Homem de 70 anos com HTA e Fibrilhação auricu-
insuficiência respiratória tipo 1, análises com ele- lar. Quadro com 3 meses de cansaço fácil para mé-
vação dos marcadores de inflamação, lesão renal dios esforços, edemas das mãos e dos membros
aguda e hiperglicemia. PCR Gripe A positiva. Radio- inferiores, cianose dos dedos das mãos agravada
grafia torácica com condensação no campo pulmo- com a exposição ao frio e disfagia. Ao exame físico:
nar direito. Admitido em internamento, por Gripe A esclerodactilia, cicatrizes de ulceras digitais, ciano-
com sobreinfecção bacteriana, cumpriu terapêutica se dos dedos das mãos, fenómeno de Raynaud, es-
com oseltamivir e antibiótico, com boa evolução pessamento cutâneo nas pernas e telangiectasias
clínica, analítica e radiológica. Confirmou-se ainda, da face. O estudo complementar revelou Analises
no internamento, o diagnóstico de diabetes mellitus com anemia ferropénica e autoimunidade com
tipo 2. Encaminhado para a consulta de Medicina ANA 1/640 com padrão granular, Ecocardiograma
Interna onde, apesar de assintomático, em reavalia- com PSAP de 29 mmHg, TC-TAP sem alterações do
ção radiológica se verificou reagravamento da hipo- parênquima pulmonar, Provas de Função Ventila-
transparência pulmonar. Por esse motivo realizou tória com diminuição moderada da difusão do CO,
TC torácica que mostrou áreas de consolidação de EDA com angiectasias vasculares antrais (tendo
limites irregulares, distribuição peribroncovascular feito terapêutica endoscópica), Manometria com
nos segmentos anterior e posterior do lobo superior motilidade esofágica ineficaz e esfíncter esofágico
direito e segmentos basais do lobo inferior direito inferior hipotónico, Capilaroscopia com alterações
aspetos compatíveis com pneumonia organizativa. da microcirculação sugestivas de doença do tecido
Tendo em conta, o doente estar assintomático e ser conjuntivo, Ecografia articular sem sinais de artrite
diabético optou-se por protelar a introdução de cor- ou sinovite e Biópsia cutânea compatível com es-
ticoterapia e repetir a TC torácica 3 meses depois, clerodermia. Configurando-se o diagnóstico de Es-
na qual se verificou regressão completa das altera- clerose Sistémica, institui-se imunossupressão com
ções descritas previamente. melhoria clinica progressiva.
Discussão Discussão:
Este caso destaca-se pelo diagnóstico de uma Salienta-se este caso pela riqueza da semiologia e
entidade rara, mas também pela importância da importância da mesma que conduziu ao diagnósti-
reavaliação clínica e radiológica dos doentes após co.
infeções respiratórias.
P n.º 1984 
P n.º 1975  Uma evolução clínica desafiante de um interna-
Esclerose Sistémica Cutânea Limitada: Caso Clíni- mento eletivo
co Ivanna Ostapiuk(1);Barbara Saraiva(1);Jessica Fi-
Rui Soares Correia(1);Ana Filipa Viegas(1);Ricardo dalgo(1);Joana Caires(1);Miguel Mendes(1);Maria
Lavajo(1);João Tavares(1);Marlene Delgado(1);Ana Pacheco(1);Orlando Mendes(1)
Lemos(1) (1) Unidade Local de Saúde da Guarda, EPE / Hospi-
(1) Centro Hospitalar Tondela-Viseu, EPE / Hospital tal Sousa Martins
de São Teotónio, EPE
Tema: Doenças oncológicas
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
culites Indrodução: O tamponamento cardíaco (TC) é uma
emergência médica, ocorre em 50% dos pacientes
Introdução: com derrames pericárdicos malignos e associa-se
a mau prognóstico. Os tumores malignos mais
A esclerodermia é uma doença multissistémica que frequentemente associados são o carcinoma do
se caracteriza por disfunção vascular generalizada pulmão, da mama e neoplasias hematológicas e
e fibrose progressiva da pele e dos restantes ór- gastrointestinais.
gãos. É uma doença heterogénea com um espectro
clínico, gravidade e prognóstico variados. Apresenta-se o caso de um homem de 52 anos,
738
E-POSTERS
pedreiro, ex-fumador, internado no serviço de Orto- Caso Clínico: Doente do género masculino de 59
pedia para colocação de prótese do joelho esquerdo anos, autónomo, com antecedentes de hábitos
por gonartrose. Após colocação de prótese teve in- tabágicos e episódio de disfonia há um ano, altura
feccão da mesma. Cumpriu antibioterapia empírica. em que realizou tomografia computorizada (TC)
que revelou múltiplas adenopatias cervicais, sem
No 18º dia de internamento foi pedida colaboração critérios patológicos com indicação para vigilância.
da Medicina Interna, por quadro clínico subfebril Recorreu à urgência por astenia, perda ponderal,
mantido desde há 5 dias. O doente referia gonal- artralgias, mialgias e edema dos joelhos com um
gia esquerda, tosse seca matinal com 1 semana mês de evolução. Negava sudorese noturna ou
de evolução, perda ponderal de 5kg nos últimos 2 outras queixas. Ao exame objetivo, apresentava fe-
meses e aparecimento de adenomegálias cervicais bre, articulações radio-carpais e joelhos com dor e
desde há cerca de 3 meses. À observação: apiréti- tumefação, adenopatias cervicais e inguinais palpá-
co, hemodinamicamente estável, sem alterações à veis bilateralmente. A TC tóraco-abdómina-pélvica
auscultação cardiopulmonar, hepatomegália, ade- mostrou  adenopatias axilares e mediastínicas e a
nopatias cervicais bilaterais e sinais inflamatórios avaliação analítica  apresentava aumento dos parâ-
no joelho esquerdo. Por apresentar adenomegálias metros inflamatórios e serologias EBV positivas. As
foi pedida TAC cervico-toraco-abdomino-pélvica biópsias do gânglio axilar, biópsia óssea e mielogra-
que revelou adenopatias cervicais bilaterais prova- ma sem alterações. No entanto, por forte suspeita
velmente de etiologia infeciosa, derrame pleural à de doença linfoproliferativa, foi realizada revisão
direita, múltiplas adenopatias mediastino-hilares e das lâminas da biopsia ganglionar que confirmou
axilares, volumoso derrame pericárdico e acentuada AITL. 
hepatomegália. Os achados ecocardiográficos con-
firmaram o tamponamento cardíaco. Foi submetido Discussão: Este caso clínico ilustra a complexidade
a pericardiocentese, com saída de 1480 mL de líqui- de diagnóstico de alguns linfomas e como podem
do hemático “velho”, cuja citologia foi negativa para mimetizar doenças infecciosas, como a mononu-
células neoplásicas. Foram excluídos infeção vírica cleose infecciosa.  Alerta ainda para a importância
ou bacteriana, tuberculose, linfoma, doenças autoi- de valorizar a forte suspeita clínica, mesmo quando
munes, como causa de TC. A biópsia do nódulo lin- os exames complementares diagnóstico não são
fático cervical revelou metástase ganglionar de ade- compatíveis.
nocarcinoma pulmonar e, após realização de PET,
foi confirmado o diagnóstico. Iniciou quimioterapia P n.º 1999 
com resposta parcial e deterioração significativa do It’s not Crohn
estado geral, com tromboembolias pulmonares e Marta Amaro(1);Cátia Teixeira(1);Alexandra Dias(1);-
metástases cerebrais, tendo falecido 4 meses após Nataliya Nedzeslka(1);Aurora Duarte(1);Fátima Pi-
o diagnóstico. menta(1)
(1) Centro Hospitalar do Médio Tejo, EPE / Unidade
Discussão: Trata-se de uma apresentação inaugural de Torres Novas
rara e grave de um adenocarcinoma do pulmão. O
envolvimento maligno do pericárdio é observado em Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá-
1 a 20% das autópsias dos doentes com neoplasia. ticas
Salienta-se a necessidade de intervenção mais pre-
coce do clínico no seu diagnóstico. A Colite Linfocítica é um dos subtipos da colite
microscópica e caracteriza-se por uma doença infla-
P n.º 1998  matória intestinal que afeta o cólon e manifesta-se
Linfoma T Imunoangioblástico: um linfoma raro por diarreia crónica aquosa não sanguinolenta com
Marta Amaro(1);Cátia Teixeira(1);Alexandra Dias(1);- perda ponderal, fadiga, dor e distensão abdominal.
Nataliya Nedzeslka(1);Aurora Duarte(1);Fátima Pi-
menta(1)
(1) Centro Hospitalar do Médio Tejo, EPE / Unidade Os fatores de risco associados são o sexo feminino,
de Torres Novas idade avançada, doenças autoimunes, hábitos tabá-
gicos e alguns fármacos como os anti-inflamatórios
Tema: Doenças hematológicas não esteroide, inibidores da bomba de protões e a
sertralina.  
O linfoma de células T angioimunoblástico (AITL) Caso clínico: Doente do género feminino 51 anos,
é um tipo raro e agressivo de linfoma de células T com antecedentes pessoais de síndrome depressi-
periférico, correspondendo a 1-2% de todos os lin- vo e perturbação de ansiedade sob sertralina e mir-
fomas não-Hodgkin. Os achados clínicos mais fre- tazapina. Recorre ao SU por diarreia crónica com 2
quentes são adenopatias, hepato e esplenomegália, meses de evolução, sem muco ou sangue, associa-
sintomas sistémicos B, fenómenos auto-imunes e da a dor abdominal, incontinência fecal e anorexia
manifestações cutâneas. Pensa-se que a expansão com perda ponderal > 10%. Revisão de órgãos e
típica de células B infetadas pelo vírus Epstein Barr sistemas e contexto epidemiológico irrelevantes. Do
(EBV) esteja na origem da transformação de células estudo salienta-se exclusão de causas infeciosas,
T helper foliculares encontradas no AITL. sem aumento dos parâmetros inflamatórios, ligeiro
hipertiroidismo, anticorpos anti-endomísio, anti-

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 739


-transglutaminase e anti-gliadina negativos, estudo dos valores de ACTH, FSH e LH, com prolactina au-
imagiológico sem achados de relevo, colonoscopia mentada e cortisol normal. Excluído compromisso
total sem alterações macroscópicas e calprotectina visual, atualmente mantém-se medicado com cor-
fecal 14 296 μg/g. Na histologia cólica foram ob- ticóide, cabergolina e levotiroxina, sem intercorrên-
jetivadas alterações reativas, infiltrado linfocitário cias de relevo.
e aspectos sugestivos de colite linfocítica. Iniciou
budesonido e foi referenciada à consulta de gas- Discussão: Com o caso clinico apresentado, os au-
troenterologia. Na reavaliação, com franca melhoria, tores pretendem demonstrar a importância clínica
diminuição do número dejeções por dia e ganho de de um adequado diagnóstico diferencial em doen-
peso. tes com alteração do estado de consciência e cirro-
se hepática, relatando uma causa pouco provável de
Discussão: Este caso alerta-nos para esta entidade encefalopatia.
pouco conhecida e para a necessidade de abrir le-
que de hipóteses diagnósticas no estudo da diarreia P n.º 2005 
crónica, para além das doenças inflamatórias intes- Chronic management of pulmonary embolism in
tinais clássicas. Thromboangiitis obliterans
Mariana Martinho(1);Ana Glória Fonseca(1);Rita
P n.º 2003  Calé(1);Melanie Ferreira(1);Hélder Pereira(1);Maria
Aparentemente encefalopatia hepática - Um caso Francisca Delerue(1)
de hipotiroidismo central (1) Hospital Garcia de Orta, EPE
Tiago Costa(1);Luis Rocha(1);Raquel Moura(1);Ma-
riana Estrela(1);Nuno Leal(1);Ana Canelas(1);Marta Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
Bastos(1);Sara Pinto(1) culites
(1) Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia / Espinho
Thromboangiitis obliterans (TAO) is a rare vasculitis
Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio- of young smokers affecting the small and medium
nais sized vessels of the extremities. Although pulmo-
nary embolism (PE) has been described, risk factors
Introdução: for large vessel occlusion and venous thromboem-
bolism (VTE) recurrence are not known and there is
A encefalopatia hepática é uma consequência co- no evidence favoring indefinite oral anticoagulation
mum de hipertensão portal, sendo a principal hipó- (OAC) for VTE prevention.
tese diagnóstica perante um doente com cirrose e
alteração do estado de consciência. Os macroade- Our first patient (pt) is an ex-smoker male diagno-
nomas hipofisários são tumores cerebrais benignos, sed with PE and TAO at 44yo. He was under inde-
que dependendo das suas dimensões podem justifi- finite warfarin until 64yo, when OAC was switched
car a presença de sintomas neurológicos. to clopidogrel due to absence of VTE recurrence.
Within 1 month, he had a massive unprovoked PE.
Caso clínico: Screening for autoimmunity (AI), antiphospholipid
syndrome (APLS) and thrombophilia were negative
Homem de 45 anos, mRankin 0, com antecedentes and he was discharged under indefinite warfarin. At
de hepatopatia crónica de etiologia vírica (hepatite 7y follow-up (FUP) he had arterial ischemia but no
C curada + Hepatite B), que recorreu ao Serviço de VTE recurrence.
Urgência (SU) por lentificação psicomotora com
quatro dias de evolução. The second pt is a male smoker diagnosed with
TAO at 30yo and previous PE treated with warfarin
Sem clínica focalizadora de infeção, à admissão for 6 months. AI and APLS screening were negati-
hospitalar apresentava-se lentificado; com apraxia ve and he had hyperhomocysteinemia associated
ideomotora; sem nistagmo, alteração dos campos with MTHFR A1298C heterozigoty. At 36yo he had
visuais, ou flapping. Analiticamente sem distúrbios a submassive central PE treated with indefinite riva-
iónicos/metabólicos, ou elevação dos parâmetros roxaban. At 3y FUP despite arterial ischemia there
inflamatórios. Na tomografia crânio-encefálica, were no VTE events.
descritas alterações compatíveis com macroadeno-
ma hipofisário, sugerindo eventual compressão do Thrombophilia and TAO have been associated and
quiasma óptico. this may correlate with vessel inflammation and pe-
ripheral disease severity, but no link has been made
Pela discrepância entre a clínica e os achados ima- to atypical presentation such as large vessel invol-
giológicos, assumida encefalopatia em provável vement. Hyperhomocysteinemia in MTHFR poly-
contexto de doença sistémica, tendo sido pedida morphisms do not seem to increase VTE recurrence
função tiroideia e objectivado hipotiroidismo central risk in the general population and do not determine
(TSH 0,81 uUI/mL; T4 livre 0,33 ng/dL). Internado no prolonged OAC after a first VTE event. Although
serviço de Medicina, onde iniciou suplementação controversial, chronic OAC has been proposed to
com levotiroxina e hidrocortisona e se assistiu a alleviate peripheral symptoms with some evidence
uma melhoria clínica progressiva. Pedidos restantes suggesting that the effect of OAC goes beyond their
doseamentos hormonais, apresentando diminuição action in the coagulation cascade, with warfarin
740
E-POSTERS
and rivaroxaban being able to reduce inflammatory No LAGCT-CP a existência de múltiplas lesões re-
markers in TAO. quer, geralmente, terapêutica sistémica e não ape-
nas a sua exérese ou radioterapia, sendo opções o
In both cases (the first not having any risk factor brentuximab vedotina ou o metotrexato.
other that TAO and the second having hyperhomo-
cysteinemia that alone should not determine long- P n.º 2012 
-term secondary prevention), OAC did not prevent Esclerose lateral amiotrófica com insuficiência res-
arterial events but seemed effective for VTE recur- piratória inaugural – forma rara de apresentação
rence, leading us to believe that the proinflammatory Laura Machado(1);Claudia Lima(1);Pedro Nunes
state in TAO may warrant long-term OAC after a Vicente(1);Arsénio Santos(1)
first event - as already happens with other AI disea- (1) Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra /
ses. Regardless, the authors acknowledge that we Hospitais da Universidade de Coimbra
need more evidence to determine the most suitable
approach. Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas

P n.º 2006  A esclerose lateral amiotrófica (ELA) é uma doença


De uma picada de inseto a uma neoplasia rara neurodegenerativa progressiva, inexorável e incu-
Patrícia Amaral de Almeida(1);Ana f. Costa(1);Diana rável. O envolvimento dos músculos respiratórios é
Mota(1);Simone Oliveira(1);Isabel Borges(1);Marta uma complicação tardia da ELA, sendo a falência
Ferreira(1);Teresa Alfaiate(1);Abílio Gonçalves(1) respiratória a principal causa de morte, mas muito
(1) Hospital Distrital da Figueira da Foz, EPE raramente a forma de apresentação inicial. A disp-
Tema: Doenças oncológicas neia é o primeiro sintoma em 1-3% dos casos e a
insuficiência respiratória com necessidade de venti-
lação inicial é rara.
Introdução: O linfoma anaplásico de grandes cé-
lulas T (LAGCT) é um tipo de linfoma não-Hodgkin
(LNH) raro, constituindo apenas 1% dos LNH. Pode Caso Clínico: Homem, 63 anos, com dispneia pro-
classificar-se como cutâneo primário (LAGCT-CP), gressiva para pequenos esforços, com 18 meses
caracterizado por lesões solitárias ou múltiplas que de evolução. Associadamente, ligeiro défice motor
tendem a ulcerar no centro e podem ser prurigino- mais evidente nos membros superiores e, no último
sas, ou sistémico (LAGCT-S). mês, disartro-disfonia. Antecendentes de diabetes
tipo 2, HTA e dislipidemia, medicado com carvedilol,
lisinopril+amlodipina, metformina e furosemida; não
Caso Clínico: Mulher de 42 anos, com antecedentes fumador, mecânico, contacto com galinhas. Ao exa-
de colecistectomia, recorreu ao Serviço de Urgência me objetivo, taquipneico, uso dos músculos acessó-
por lesão exofítica não pruriginosa no membro infe- rios, murmúrio vesicular diminuído e hipomobilidade
rior esquerdo com alguns meses de evolução, cujo da parede torácica, disatro-disfonia, tetraparésia
surgimento associou a uma picada de inseto. Objeti- de predomínio proximal (grau 4 a 4+), fraqueza dos
vamente foram observadas não uma, mas múltiplas músculos abdominais, reflexos osteotendinosos hi-
lesões exofíticas, a maior com 2cm de diâmetro, poativos e fasciculações. Na gasimetria tinha insufi-
redonda, ulcerada no centro e localizada na face ciência respiratória global com acidose respiratória
posterolateral da perna esquerda. Esta última foi (pH 7,36, pO2 48, pCO2 73, HCO3- 40,8, SO2 83%).
excisada e o exame histológico foi compatível com Analiticamente sem alterações, radiografia de tórax
o diagnóstico de doença linfoproliferativa CD30 po- com elevação hemicúpulas diafragmáticas, sem al-
sitiva, ALK (anaplastic lymphoma kinase) negativa terações parenquimatosas, TC-CE sem alterações e
e com expressão de EMA (antigénio da membrana TC coluna com osteopatia degenerativa. Apesar da
epitelial). A tomografia toraco-abdomino-pélvica não terapêutica broncodilatadora, diurética e oxigeno-
mostrou alterações de relevo, além de fibromioma terapia, houve agravamento da acidose respiratória
uterino e quisto ovárico. A tomografia por emissão que conduziu à necessidade de ventilação não in-
de positrões revelou envolvimento cutâneo e subcu- vasiva (VNI). Do estudo realizado em internamento,
tâneo, sem envolvimento de gânglios linfáticos ou punção lombar sem alterações, RM-CE/cervical com
outros locais extranodais. lesões vasculares crónicas microangiopáticas e al-
terações degenerativas da coluna, sem compromis-
O diagnóstico de LAGLT-CP foi estabelecido e inicia- so medular e EMG com desnervação diafragmática
da terapêutica com metotrexato, com boa resposta e abdominal favorecendo o diagnóstico de doença
e diminuição progressiva das lesões. do neurónio motor – ELA. Teve alta medicado com
riluzol, mantendo VNI com BiPAP com estabilidade
Discussão: A biópsia excisional, a revelar um LA-
clínica e gasimétrica.
GCT, foi fundamental para o diagnóstico diferencial
entre LAGCT-CP e outras entidades, particularmente Discussão: Embora rara, a insuficiência respirató-
o LAGCT-S pela positividade para o EMA. As lesões ria pode ser a manifestação inicial de ELA. Devem
cutâneas persistentes e o estudo imagiológico a re- considerar-se outras hipóteses diagnósticas para a
velar apenas atingimento do tecido celular cutâneo insuficiência respiratória aguda, para além das pato-
e subcutâneo, permitiram a confirmação do diag- logias cardíacas e pulmonares, principalmente em
nóstico de LAGCT-CP, cujo prognóstico é bastante doentes na 5ª e 6ª décadas de vida.
favorável quando comparado com o LAGC-S.
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 741
P n.º 2017  Blanco(1)
Dor abdominal e eosinofilia. Um caso de Gastroen- (1) Unidade Local de Saúde do Nordeste
terite Eosinofílica.
Jessica Fidalgo(1);Ivanna Ostapiuk(1);Ivan Antu- Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
nes(1);André Silva(1);Miguel Lázaro Mendes(1);Inês culites
Salvado Carvalho(1);Bárbara Saraiva(1);Carina San-
tos(1);Ana Teresa Moreira(1);João s. Correia(1) Introdução:
(1) Unidade Local de Saúde da Guarda, EPE / Hospi-
tal Sousa Martins
A Síndrome CREST é uma forma de esclerose sisté-
Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá- mica limitada, caracterizada por calcinose, fenôme-
ticas no de Raynaud, dismotilidade esofágica, esclerodac-
tilia e telangiectasias. Nem todos os doentes com
esta síndrome desenvolvem todas as manifesta-
Introdução: A gastroenterite eosinofílica (GEE) é um ções. Assim, para fazer o seu diagnóstico, é neces-
distúrbio inflamatório raro, caraterizado por infiltra- sária a presença de três dos sinais característicos.
ção eosinofílica do estômago e/ou do duodeno, na Por ser uma manifestação limitada da esclerose
maioria dos casos. Manifesta-se em qualquer faixa sistémica, os doentes com Síndrome CREST têm
etária, sendo mais comum entre a terceira e a quin- menor probabilidade de atingimentos dos órgãos-al-
ta décadas de vida, e no género masculino. Com vo clássicos desta doença.
este caso clínico, revemos a marcha diagnóstica, a
exclusão de diagnósticos diferenciais, e a complexi- Caso Clínico:
dade da manutenção terapêutica nestes casos.
Sexo feminino, 67 anos, com antecedentes de
Caso Clínico: Homem, 50 anos, recorreu ao serviço DRGE, encaminhada para consulta de doenças
de urgência por quadro de dor abdominal, com 4 auto-imunes por alteração da coloração das extre-
dias de evolução, acompanhado de diarreia, náu- midades com a temperatura com vários anos de
seas e distensão abdominal. Referia também mau evolução. Apresentava fenómeno de Raynaud grave
estar geral, anorexia e cansaço. Sem antecedentes com úlceras e perda de polpa digital, telangiectasias
patológicos relevantes. Da revisão de sistemas, malares, lábios, tronco e palmas, esclerodermia
salientou-se presença de candidíase oral, sem ou- proximal e esclerodactilia. Apresentava ainda vários
tras alterações relevantes, nomeadamente da pele, nódulos calcificados dispersos pelos antebraços
olhos, adenopatias. Analiticamente, leucocitose e cotovelos. Analiticamente com anticentrómero
com neutrofilia e eosinofilia marcadas. Estudo ima- positivo, manometria sem peristalse e capilarosco-
giológico sem alterações. Foi internado para estudo, pia com megacapilares e áreas avasculares, sem
do qual se destaca: serologias e auto-imunidade hemorragias. Da estratificação de envolvimento de
negativas; exame parasitológico nas fezes negati- órgãos, salienta-se o atingimento cardíaco e pulmo-
vo; imunoglobulinas normais; medulograma com nar.
imunofenotipagem e biópsia óssea sem alterações;
estudo genético em relação com eosinofilia foi Discussão:
negativo. Realizou colonoscopia com biópsias: no Das formas de esclerose sistémica, a Síndrome
córion, observou-se edema, congestão e acentuado CREST tem um melhor prognóstico. No entanto o
infiltrado inflamatório linfoplasmocitário, com parti- envolvimento visceral deve ser sempre exaustiva-
cipação de frequentes eosinófilos e alguns neutró- mente excluído como expresso no caso desta doen-
filos, com permeação de alguns eosinófilos e neu- te.
trófilos no epitélio vilositário - estas alterações são
compatíveis com ileo-colite. A endoscopia digestiva P n.º 2022 
alta (EDA) mostrou gastropatia ulceroerosiva do an- Mestastização cerebral de Adenocarcinoma da
tro. Iniciou corticoterapia e evicção alimentar. Teve próstata – Um evento raro
alta, mantendo seguimento em consulta externa de Bárbara Silva(1);Tânia f. Mendes(1);Nuno André
Medicina Interna, com controlo analítico e imagio- Sousa(1);José Augusto Barata(1)
lógico. Após 6 meses de corticoterapia, verificou-se (1) Hospital de Vila Franca de Xira
normalização dos valores de eosinófilos. Contudo,
manteve-se quadro de dor, e necessidade de reajus- Tema: Doenças oncológicas
tes terapêuticos.
Discussão: a GEE é um diagnóstico raro, exigindo Doente   sexo masculino,  71 anos, com diagnóstico
um elevado grau de suspeição, e implicando um de   adenocarcinoma prostático  em estádio Glea-
acompanhamento cuidado e “personalizado” do son 9  ,  com  metastização  óssea  difusa  ,  após  3
doente, mesmo após o diagnóstico. linhas sucessivas  de quimioterapia , com docetaxel,
enzalutamida e cabazitaxel, no decurso de  14 me-
P n.º 2018  ses.
Um caso de CREST “completo”
Micaela Sousa(1);Pedro Simões(1);Sandra Raquel  Recorreu ao Serviço de urgência por quadro de
Sousa(1);Catia Pereira(1);Elisabete Pinelo(1);Miriam desorientação  tempro-espacioal   e paresia  facial

742
E-POSTERS
direita de tipo central , sem outras alterações ao vantes ou medicação habitual, recorre ao serviço de
exame neurológico urgência por dor retrosternal e mialgias, referia des-
de criança fraqueza muscular de predomínio pro-
Analiticamente destacava-se Hb 10.7g; leucocitos  ximal com o exercício. Exame objetivo sem altera-
3700/67%N; plaquetas 200.000 ; LDH 981 UI/L; ções, analiticamente com CK 93513 U/L, LDH 5283
Fosfatase alcalina 481 UI/L.  Função renal , ionogra- U/L, troponina 33.4 ng/L em perfil descendente, e
ma  e calcémia com valores dentro da normalidade. proteinúria 500 mg/dL. Eletrocardiogramas seriados
sem alterações, com função sistólica adequada e
A TAC de corpo mostrava múltiplas lesões blásticas sem alterações estruturais ou funcionais cardíacas
ao nível dos ossos da bacia, coluna vertebral, cos- no ecocardiograma. Durante o internamento salien-
telas, esterno, omoplatas e extremidades proximais ta-se  níveis persistentemente elevados de CK, mas
dos fémures em relação com lesões secundárias. com boa evolução analítica e clínica. Serologias
Sem evidência de envolvimento de outros parênqui- virais e infeciosas, estudo de auto-imunidade e de
mas. sindromes paraneoplásicas negativos. Manteve se-
guimento em consulta de medicina interna, neurolo-
A TAC  crânio encefálica apresentava   lesões ex-
gia, e doenças auto-imunes. Do estudo destaca-se:
pansivas cortico-subcorticais frontais e temporais
pesquisa doença de Pompe, acetilcarnitinas e aldo-
bilaterais, de densidade heterogénea, algumas com
lase negativos, eletromiografia a apoiar compromis-
hiperdensidade, da substância branca circundante,
so predominante de músculos proximais. A biópsia
compatíveis  com  lesões metastáticas com edema
muscular confirmou a suspeita clínica de doença
peri lesional. O edema era mais pronunciado nas
de McArdle, aguarda teste genético. Aplicadas me-
lesões esquerdas, verificando-se deformação do
didas de restrição de exercício físico e alterações
sistema ventricular, com hérnia facial para a direita
dietéticas.
de cerca de 1 cm. Aumento difuso da densidade
óssea, sugerindo infiltração osteoblástica. Discussão:
 O doente foi encaminhado para consulta de  O sub-diagnóstico de doença de McArdle é comum,
oncologia, tendo sido proposto para programa de uma vez que a apresentação clínica destes doentes,
radioterapia das lesões  cerebrais. desde idade jovem, é inespecífica e frequentemente
desvalorizada. Apresentamos este caso pela sua
O presente caso   mostra um exuberante processo 
raridade assim como forma de sensibilização ao
de metastização  encefálica secundário a  neopla-
diagnóstico. Nesta doente, implicou um seguimento
sia maligna da próstata,   refratária à quimioterapia
multidisciplinar próximo de dois anos até ao diag-
instituída. Enfatiza-se   uma expressão  de doença
nóstico definitivo.
metastática  considerada rara na literatura, verifica-
da  em menos de 1%  dos casos de adenocarcino- P n.º 2025 
ma prostático , bem como a   invulgar implantação  Doença invasiva por CMV em doente dialisado.
múltipla, constatada apenas  em cerca de 15 % dos José Miguel Ferreira(1);Pedro Pinto(2);Diana
eventos.  Destaca-se ainda a  discrepância ente a Dias(3);Catarina Isabel Ribeiro(4);Ana Ventura(4);-
exuberância das lesões  centrais e a fraca  expres- Clara Almeida(4)
são focal, com  predomínio de disfunção cognitiva  (1) Hospital Santa Maria Maior de Barcelos (2) Uni-
, característica deste tipo de metastização, o que dade Local de Saúde do Alto Minho, EPE / Hospital
pode sugerir outras tipologias diagnósticas. de Santa Luzia (3) Centro Hospitalar de Entre Douro
e Vouga, EPE / Hospital de S. Sebastião (4) Centro
P n.º 2023 
Hospitalar de Vila Nova de Gaia / Espinho
Doença de McArdle
Joana Moutinho(1);Frederico Silva(1);Maria Inês Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
Simões(1);Vera Luís(1);Helena Rita(1);Luísa Arez(1)
(1) Centro Hospitalar Universitário do Algarve, EPE -
Hospital de Portimão Introdução: A infeção por citomegalovirus (CMV) é
uma infeção comum, sendo a apresentação clínica
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas- variável de acordo com o grau de imunocompetên-
culites cia. As infeções sintomáticas são geralmente limi-
tadas a indivíduos imunocomprometidos, com risco
de envolvimento multiorgânico.
Introdução: A doença de McArdle, ou doença de
armazenamento de glicogénio tipo 5, é uma doença
autossómica recessiva caracterizada pela deficiên- Caso clínico: Homem, 81 anos, mRankin 4, antece-
cia de miofosforilase. A doença apresenta-se tipi- dentes de HTA, dislipidemia, tabagismo, fibrilhação
camente na infância ou em adultos jovens, com in- auricular, cardiopatia isquémica, doença renal cróni-
tolerância a exercício, mialgias, fraqueza muscular, ca (DRC) por doença renal poliquística autossómi-
elevação da creatina cinase (CK) e rabdomiólise. ca dominante em hemodiálise, aneurisma ilíaco
esquerdo submetido a tratamento endovascular
e doença arterial periférica grave com múltiplos
Caso Clínico:
procedimentos de revascularização. Admitido no
Feminino, 31 anos, sem antecedentes pessoais rele- serviço de urgência por desorientação, desequi-

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 743


líbrio, discurso incoerente e perda de autonomia associado. Realizou radiografia da anca que mos-
no mês prévio, após alta hospitalar por isquemia trava fratura subtrocantérica esquerda pelo que foi
crítica do membro inferior esquerdo (protelado submetida a encavilhamento. No intra-operatório,
bypass femoro-poplíteo). À admissão, desorientado, devido ao aspecto patológico da fratura foi realiza-
discurso incoerente, hemodinamicamente estável, da biópsia óssea que posteriormente revelou neo-
extremidades cianosadas e úlcera no dorso do pé plasia maligna pleomórfica com padrão fusocelular
esquerdo com exsudado purulento. Analiticamente e citoplasma fibrilhar cujo estudo imunocitoquímico
com neutrofilia relativa e PCR 12,6mg/dL, sem ou- foi compatível com metástases de glioblastoma. Foi
tras alterações de relevo. TC crânio-encefálica (CE) assim orientada para consulta de Medicina Paliati-
sem lesões agudas, higromas subdurais bilaterais va para controlo da dor apresentando degradação
sem efeito de massa. AngioTC CE com doença funcional e neurológica tendo vindo falecer 2 meses
aterosclerótica difusa, sem compromisso hemodi- após o diagnóstico da metastização óssea.
nâmico. Rx de tórax e grade costal sem alterações.
Assumido quadro confusional multifatorial. Iniciado Discussão: A sobrevida média de um paciente com
amoxicilina/ácido clavulânico, ajustado para pipera- glioblastoma multiforme é de aproximadamente 10
cilina/tazobactam e vancomicina, por isolamento de a 12 meses. As metástases extraneurais tipicamen-
Enterobacter cloacae no exsudado da úlcera do pé, te ocorrem numa média de 2 anos após o diagnósti-
de acordo com o teste de sensibilidade. Agravamen- co. Neste caso apresenta-se uma doente sem muta-
to da lesão com cianose fixa e necrose distal, com ção IDH, o que leva a um prognóstico pior à partida,
necessidade de amputação transfemoral. Três dias com fratura patológica do fémur, que dada a rarida-
após cirurgia, retorragia abundante, com necessi- de da metastização por este tipo de tumor levantou
dade de transfusão eritrocitária. Colonoscopia com a questão da presença de um tumor síncrono, que
úlceras do reto e evidência de infecção por CMV na não se confirmou com a histologia da metástase
análise imuno-histoquímica das lesões. Doseamen- óssea e que a apresentação ocorreu apenas 5 me-
to de carga viral para CMV elevado, restantes sero- ses após o diagnóstico da neoplasia cerebral.
logias víricas negativas. Administrado ganciclovir
endovenoso (7 dias) seguido de valganciclovir oral P n.º 2033 
(15 dias), com evolução clínica favorável. De cólica… a enfarte renal
Catarina Vasconcelos Forra(1);Fábia Cruz(1);Rita
Discussão: O CMV é um agente a considerar no Reis Correia(1);Sandra Martin(1);Maria Eugénia An-
diagnóstico em contexto de infeção nos doentes dré(1)
sob diálise, por imunossupressão subjacente. O (1) Unidade Local de Saúde de Castelo Branco
diagnóstico é muitas vezes difícil e tardio, com im-
plicações na sobrevida. Tema: Doenças renais

P n.º 2026  Introdução: O enfarte renal é incomum, sendo o


Quando uma fratura não é o que se espera diagnóstico um desafio, atrasado pela sua manifes-
Teresa Medeiros(1);Rute Brás-Cruz(1);Gonçalo Mi- tação inespecífica, e pela associação de dor intensa
randa(1);Mrinalini Honavar(1);Hugo Oliveira(1) no flanco a nefrolitíase. A maioria é de origem car-
(1) Unidade Local de Saúde de Matosinhos, EPE / dioembólica mas muitas vezes idiopática. Para o
Hospital Pedro Hispano diagnóstico é necessária tomografia computorizada
(TC) com angiografia e das opções terapêuticas
Tema: Doenças oncológicas colocam-se a hipocoagulação, terapia endovascular
e cirurgia. A existência de artérias renais múltiplas
Introdução: O gliobastoma multiforme é a neoplasia tem implicações predominantemente cirúrgicas e a
maligna do sistema nervoso central mais comum sua associação a enfarte é rara.
em adultos (2-3 casos por cada 100.000 pessoas).
As metástases extra-cranianas são extremamente Caso Clínico: Homem de 44 anos com antece-
raras (apenas 0.4% dos casos), principalmente de- dentes pessoais de tabagismo ativo e excesso de
vido à baixa taxa de sobrevida destes doentes, que peso, sem medicação crónica ou história familiar.
não permite tempo suficiente para metastização à Recorre ao Serviço de Urgência por dor intensa tipo
distância. A recessão cirúrgica é importante para cólica no flanco esquerdo, sem outros sintomas,
reduzir o risco de metástase e a quimioterapia (QT) e realiza TC abdomino-pélvica com contraste sem
e radioterapia (RT) ajudam a prolongar a sobrevida alterações. Regressa oito dias depois hipertenso e
na doença metastática. com dor agravada que apenas responde a opióides.
Repete TC com posterior angiografia, que confir-
Caso clínico: Mulher de 76 anos, com antecedentes ma hipoperfusão renal esquerda compatível com
de asma brônquica, bloqueio aurículo-ventricular enfarte de origem indeterminada, acrescentando
de primeiro grau, insuficiência venosa crónica e ainda que a vascularização arterial se faz através de
Glioblastoma multiforme cerebral “IDH (isocitrate artérias principais únicas, sem evidência de trombo
dehydrogenase)-wildtype” diagnosticado 5 meses ou litíase. Não apresentando critérios para interven-
antes, tendo sido submetida a cirurgia e RT estando ção pela Urologia ou Cirurgia Vascular, foi internado
a aguardar inicio de QT. Admitida por dor na anca para controlo evolutivo. Da investigação, a destacar:
esquerda, com 3 dias de evolução, sem trauma dislipidemia, coagulação e função renal normais,

744
E-POSTERS
proteína C reativa negativa, estudo de trombofilias A enxaqueca com aura é o terceiro stroke-mimin
negativo, eletrocardiograma em ritmo sinusal. Um mais comum, sendo responsável por 18% de todas
mês após alta repetiu TC que mostrou reperfusão as trombólises inadequadamente realizadas. O
e recuperação da quase totalidade do parênquima, maior desafio para os clínicos é distinguir a EH do
tendo cumprido três meses de hipocoagulação. Foi AIT, uma vez que ambos são quadros neurológicos
feito aconselhamento de estilo de vida com evicção completamente reversíveis e nos quais a neuroima-
de tabaco. gem muitas vezes não é reveladora. Este caso vem
relevar a importância de pensar nos diagnósticos
Conclusão: Um caso raro de enfarte renal de cau- diferenciais mais raros no doente com clínica su-
sa não esclarecida em rim com artérias múltiplas, gestiva de AIT, de modo a identificar a EH, oferecer
ensina-nos a refletir para além das patologias mais o tratamento adequado e melhorar a qualidade de
frequentes. A especialidade de Medicina Interna vida destes doentes, já que a dor severa e os défi-
continua aquela que concentra o mais amplo espec- ces, embora transitórios, são incapacitantes.
tro de doenças e responsável pelos diagnósticos
mais desafiantes. P n.º 2045 
Pneumonia por Legionella pneumophila – para um
P n.º 2040  agente atípico, uma apresentação atípica
Enxaqueca hemiplégica – Um raro mimetizador de Ana Luísa Campos(1);Maria Luís Santos(1);David
AIT Paiva(1);Juliana Silva(1);Ana Luísa Leite(1);Sandra
Ana Luísa Campos(1);Letícia Leite(1);Isabel Bes- Barbosa(1);Jorge Cotter(1)
sa(1);Elisabete Ribeiro(1);Sara Silva(1);Laura Cas- (1) Hospital Senhora da Oliveira, Guimarães
tro(1);Jorge Cotter(1)
(1) Hospital Senhora da Oliveira, Guimarães Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas
A síndrome clínica clássica da pneumonia por Le-
gionella pneumophila (LP) caracteriza-se por febre,
A enxaqueca hemiplégica (EH) é uma condição rara tosse seca e toracalgia pleurítica, podendo haver
caracterizada por crises recorrentes de enxaqueca também dispneia. Mais raramente, o quadro pode
com aura, de intensidade severa, associada a défice ser dominado por sintomatologia gastrintestinal ou
unilateral da força muscular, podendo acompanhar- neurológica, formas de apresentação para as quais
-se de alterações da sensibilidade, défices visuais, o médico deve estar desperto.
afasia e ataxia cerebelar. Os sintomas duram 20-
60min e há recuperação completa dos défices. Uma
vez que mimetiza outras desordens neurológicas de Homem de 83 anos, autónomo. Trazido à urgência
maior gravidade, como o AVC, a EH representa um por traumatismo facial e crânio-encefálico decor-
desafio para o médico. rentes de episódio de perda de consciência, com
memória para o sucedido, sem perda de controlo
de esfíncteres e sem sinais de mordedura da lín-
Mulher de 38 anos. História de internamento recen- gua. Negou cefaleias, náuseas, vómitos, diarreia,
te por episódios frequentes de cefaleia associada dispneia, toracalgia, tosse, expectoração, febre,
a hemiparesia esquerda de predomínio braquial, palpitações ou queixas genito-urinárias. No exame
parestesias de tipo “formigueiro” ipsilaterais e físico apresentava solução de continuidade do cou-
tonturas, com 5-10min de duração e recuperação ro cabeludo na região fronto-parietal direita e esco-
espontânea. TC CE dessa ocasião sem alterações, riações da face. Não eram audíveis extrassons ou
tendo-se levantado a hipótese de AIT. RM CE e EEG ruídos adventícios na auscultação cardiopulmonar.
realizados durante esse internamento, sem altera- Não apresentava défices neurológicos focais, rigi-
ções. Desde a alta com vários episódios semelhan- dez da nuca ou sinais meníngeos. Dos MCDs rea-
tes, com défice da força muscular atingindo prefe- lizados: TC CE com fratura dos ossos próprios do
rencialmente o membro superior esquerdo. Recorre nariz; analiticamente com anemia normocítica/nor-
ao SU por novo episódio com características so- mocrómica (9.7 g/dL), linfopenia (300/uL), trombo-
breponíveis, com duração de ~30min. À admissão citopenia (115.000/uL), TGO 123 UI/L, TGP 57 UI/L,
já sem qualquer défice neurológico, analiticamente PCR 195 mg/L e dDímeros 2256 ng/mL; sumária de
sem alterações. Realizou angioTC CE e dos vasos urina e ECG sem alterações; pesquisa de SARSCoV2
supra-aórticos que não revelou alterações, nomea- negativa; gasimetria arterial sem insuficiência res-
damente lesões isquémicas antigas ou recentes, piratória ou outras alterações; e angioTC torácico
nem estenoses arteriais, oclusão de grande vaso ou com consolidação alveolar nos lobos superior e
malformação arteriovenosa. Face às características inferior esquerdos, sem sinais de embolia pulmonar.
dos episódios e aos resultados dos exames de diag- Foi empiricamente medicado com ceftriaxone e
nóstico, levantada a possibilidade de EH, tendo ini- azitromicina. A pesquisa de antigénio de LP na urina
ciado em regime de internamento tratamento com veio a revelar-se positiva, pelo que se suspendeu o
topiramato, com boa resposta, sem registo de no- ceftriaxone, mantendo o macrólido. O doente apre-
vas crises. Teve alta clínica orientada para consulta, sentou boa evolução clínica, permanecendo assinto-
com proibição do uso de triptanos e de derivados mático e sem necessidade de O2 suplementar. Teve
da ergotamina. alta ao fim de uma semana, com PCR e transamina-
ses em decrescendo e hemograma normal.  

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 745


Descreve-se o caso de um doente no qual a inves- castanha destes tumores deve-se ao depósito de
tigação de uma situação de trauma resultante de hemossiderina. Atualmente, é pouco comum que
episódio isolado de perda de consciência levou ao esta seja a primeira manifestação de hiperparatiroi-
diagnóstico inesperado de pneumonia por LP sem dismo primário, razão pela qual apresentamos este
que houvesse sintomatologia que o fizesse prever. caso clínico.
Trata-se de uma forma de apresentação atípica que
vem relembrar a importância de ter sempre presen- CASO CLÍNICO: Um doente de 82 anos foi refe-
te todo o espectro possível de apresentações, de renciado ao serviço de urgência pelo seu médico
modo a que não escape nenhuma doença potencial- assistente por dor e limitação funcional do ombro
mente tratável. esquerdo com cerca de três semanas de evolução.
P n.º 2047  Realizou uma tomografia computorizada previa-
Lombalgia por Espondilodiscite Tuberculosa com mente à sua admissão, que relatava uma lesão na
Abcesso Paravertebral região diafisária proximal do úmero com cerca de
Renzo Mozzer(1);Mariana Quelhas(1);Daniela Sil- 5 cm de maior eixo, em provável relação com depó-
va(1);Jorge Barbancho Bravo(1) sito secundário. No SU fez ainda uma radiografia
(1) Hospital Elvas que mostrava uma lesão osteolítica na porção mais
externa e superior do úmero. Associadamente, ana-
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias liticamente foi detetada uma hipercalcémia, uma
doença renal crónica agudizada e, posteriormente
em regime de internamento, um aumento da B2-mi-
Homem, 55 anos, independente, trabalhador do croglubulina. O doente foi internado em enfermaria
campo e ex-trabalhador de pedreiras, fumador des- de medicina interna com a suspeição diagnóstica
de os 45 anos, previamente com cifose dorsal, dá de mieloma múltiplo. Realizou biópsia da lesão ten-
entrada no serviço de urgência com lombalgia des- do o estudo anatomopatológico revelado um tumor
de há 2 meses que piora e limita ficar sentado, que de células gigantes secundário a hiperparatiroidis-
apresenta expetoração esbranquiçada desde há 6 mo. Assim, posteriormente, foi submetido a uma
meses. A radiografia de tórax mostrou ambos lobos cintigrafia das paratiroides que mostrou um adeno-
pulmonares superiores com imagens nodulares ma da paratiroide inferior esquerda, estabelecen-
com contornos espiculados, que não demonstraram do-se assim o diagnóstico de hiperparatiroidismo
relação com sua doença. A TC de tórax evidenciou primário. À data da realização deste caso clínico, o
fibrose e enfisema pulmonar. Já a RNM revelou doente encontrava-se inscrito para paratiroidecto-
ainda espondilodiscite em L3-L4, erosões das pla- mia inferior esquerda.
taformas e abcessos junto ao contorno discal pos-
teromediano e posterolateral esquerdo confluindo DISCUSSÃO: O presente caso serve para relembrar
para coleções mais volumosas paravertebrais mul- que o diagnóstico de hiperparatiroidismo deve ser
tiloculadas sendo as imagens sugestivas de Espon- sempre considerado na presença de lesões ósseas
dilodiscite tuberculosa que foram confirmadas após osteolíticas. O tratamento destes tumores prende-
biópsia com aspirado do abcesso guiado por TC e -se habitualmente com o tratamento do hiperparati-
estudo com coloração Ziehl-Neelsen. O tratamento roidismo e não com a sua excisão local. Uma cinti-
inicial com o esquema RHZE foi efetivo pelo que grafia óssea de corpo inteiro deve também ser feita,
melhorou as queixas antes dos 2 meses após início de modo excluir lesões multicêntricas.
do tratamento. A doença, também conhecida como
Mal de Pott, costuma atingir regiões anteriores dos P n.º 2059 
corpos vertebrais com tempo médio de 4 meses Coincidência improvável no diagnóstico da Esclero-
até o diagnóstico, respondendo bem ao tratamento se Sistêmica.
instituído. Abcessos podem estar presentes, sendo DANA PEREZ(1);João Caiano Gil(1);Olga Araú-
e tendo sido fundamental o diagnóstico diferencial jo(2);Ricard Cervera(2)
com outras doenças, nomeadamente cancros pri- (1) Unidade Local de Saúde de Matosinhos, EPE /
mários e metástases. Hospital Pedro Hispano (2) Hospital Clínic I Provin-
cial da Universidade de Barcelona
P n.º 2050  Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
Tumor castanho – uma manifestação inicial pouco culites
comum de hiperparatiroidismo primário
Filipa Trigo(1);Pedro Dias Dos Santos(1);João Aze-
redo Costa(1);Márcia Melo(1) A esclerose sistémica (ES) é uma doença autoimu-
(1) Centro Hospitalar do Médio Tejo, EPE / Unidade ne (DAI) sistémica crónica caracterizada por altera-
de Torres Novas ções inflamatórias e fibróticas da pele, vasos san-
guíneos e órgãos internos. O fenómeno de Raynaud
Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio- e o atingimento cutâneo constituem as caracterís-
nais ticas clínicas mais frequentes. A expressão de anti-
corpos anti-centrómero (ACA) e anti-topoisomerase
Introdução: Os tumores castanhos são lesões ós- I (ATA) associam-se normalmente a subconjuntos
seas focais que resultam da atividade excessiva de clínicos de doentes com ES. A coexistência desses
osteoclastos no hiperparatiroidismo. A tonalidade autoanticorpos é considerada uma forma bastante

746
E-POSTERS
exclusiva de apresentação, em <1% dos casos.  de prótese traqueal. Melhoria clínica e funcional que
Mulher de 56 anos, com antecedentes de dislipide- permitiu o regresso do doente para a sua residência.
mia controlada com estatina, recorreu ao Serviço
de Urgência por dor lancinante em ambas as mãos Caso clínico 2: Doente de 59 anos, sexo masculi-
com parestesias e fenómeno de Raynaud de agra- no com o diagnóstico de carcinoma epidermóide
vamento progressivo desde há 15 dias. Apresentava do esófago com metastização ganglionar. Iniciou
esclerodactilia, esclerose cutânea limitada e lesões tratamento com quimioterapia paliativa e colocada
de acrocianose ungueal dos segundos dedos, com- prótese esofágica por disfagia. Agravamento do
patível com isquemia digital. Na capilaroscopia, estado geral, tendo sido referenciado a Cuidados
observava-se dilatação de capilares e tromboses do Paliativos. Disfagia e dispneia como principais
primeiro dedo à direita. Imunologicamente, anticor- problemas. Necessidade de colocação de duas
pos antinucleares (ANA) com título de 1:320 (Hep2, próteses esofágicas por crescimento tumoral intra-
3-4+, padrão homogéneo mosqueado), ACA CENP-B -prótese. Por fístula esófago-brônquica com neofor-
positivo intenso, assim como ATA e anti-PM-Scl-75 mação endobrônquica obstrutiva foi submetido, sob
positivo intenso. O restante estudo (radiografia e broncoscopia rígida, à remoção da neoformação e
tomografia computorizada de tórax, eletrocardiogra- colocada prótese brônquica. Doente teve alta para o
ma, ecocardiograma, espirometria e eletromiogra- domicílio.
fia) não detetou alterações relevantes. Assumido
o diagnóstico de ES com esclerodermia limitada Discussão:
(15 pontos na classificação da American College of
Os Cuidados Paliativos visam a promoção da quali-
Rheumatology/European Alliance of Associations
dade de vida do doente, priorizando o controlo sin-
for Rheumatology de 2013). Iniciou terapêutica com
tomático. Apresentam-se dois exemplos em que os
antagonista dos canais do cálcio, prostaglandinas
procedimentos invasivos tiveram um papel crucial
e antiagregante plaquetário, com melhoria clínica e
no controlo de sintomas, promovendo o bem-estar
orientação atual em consulta de DAI.
e a qualidade de vida. Destaca-se a importância da
discussão em equipa multidisciplinar relativamente
Este caso alerta para um achado raramente descrito à decisão de realização de técnicas invasivas em
na literatura, resultante da dupla positividade para doentes com doenças avançadas, tendo em conta o
ATA e ACA. São necessários mais estudos para ava- desejo e os objetivos do doente, assim como o seu
liar, de uma forma mais concreta, se esta associa- estado funcional e prognóstico.
ção predispõe a uma tradução clínica diferente.
P n.º 2066 
P n.º 2064  Púrpura Trombocitopénica Trombótica - Um Caso
Haverá lugar a procedimentos invasivos em Cuida- Clínico
dos Paliativos? – O relato de dois casos clínicos Beatriz Barata(1);Manuel de Albuquerque(1);Inês
Vânia Sá-Araújo(1);Maria Paula Silva(1) Urmal(1);Daniela Guerreiro Carneiro(1);Carlota
(1) IPO Porto Lalanda(1);Jorge Salsinha Frade(1);Pedro Mesqui-
ta(1);João Teixeira(1);Elisabete Brum de Sousa(1);E-
Tema: Cuidados paliativos lisabete Margarido(1)
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE / Hos-
Introdução: pital de Santo António dos Capuchos
Tema: Doenças hematológicas
Os procedimentos invasivos são considerados
técnicas dolorosas e que, em contexto de doença
avançada, podem associar-se ao prolongamento da A púrpura trombocitopénica trombótica é uma mi-
sobrevida à custa da redução da qualidade de vida. croangiopatia trombótica aguda provocada pela de-
ficiência genética ou adquirida da protease ADAM-
Relatam-se dois casos clínicos que demonstram TS13. É classicamente caracterizada pela pêntade:
que a realização de técnicas invasivas pode promo- anemia hemolítica microangiopática, trombocito-
ver o controlo sintomático, a autonomia e o cumpri- penia, lesão renal, alterações neurológicas e febre.
mento dos objetivos do doente e família. Sendo potencialmente fatal, requer diagnóstico pre-
coce e início de tratamento célere com plasmafére-
Caso Clínico: se de grande volume e imunosupressores. 

Caso clínico 1: Doente de 68 anos, sexo masculino,


residente na ilha da Madeira, a ser tratado no conti- Apresentamos o caso de uma mulher de 57 anos,
nente por um carcinoma epidermóide do esófago. previamente saudável, que se apresentou no serviço
Constatada recidiva da doença, tendo sido suspen- de urgência com confusão e alteração do compor-
sa a quimioterapia e referenciado a Cuidados Palia- tamento. A avaliação analítica revelou anemia e
tivos. Apresentava como sintoma incapacitante a trombocitopenia de novo, e esfregaço de sangue pe-
dispneia e história de múltiplas infeções respirató- riférico com esquizócitos abundantes; e ainda lesão
rias. A broncofibroscopia detetou estenose traqueal renal aguda AKIN 1, lactato desidrogenase elevada
e a presença de um orifício fistuloso na parede e haptoglobina muito diminuída. O exame de ima-
lateral esquerda, tendo sido submetido à colocação gem cerebral não mostrou alterações. Perante alta
suspeita diagnóstica de púrpura trombocitopénica
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 747
trombótica, iniciou plasmaférese de grande volume Cuidados Paliativos.
e corticoide ainda em contexto de urgência, e foi in-
ternada em enfermaria de Medicina. A investigação A dor de difícil controlo, a ferida maligna complexa
complementar mostrou doseamento da actividade e o sofrimento emocional reativo à doença oncoló-
da ADAMTS13 <1% e identificação de autoanticorpo gica foram os principais focos de intervenção pela
anti-ADAMTS13. equipa multidisciplinar de Cuidados Paliativos. Ne-
cessidade de realização de radioterapia hemostáti-
A doente necessitou no total de 4 sessões de plas- ca e cuidados de penso diferenciados permitiram a
maférese de grande volume e transfusão única de alta hospitalar e a manutenção do doente no domi-
concentrado eritrocitário; e cumpriu 3 dias de me- cílio até à sua morte, cumprindo o seu desejo.
tilprednisolona 1g/dia, seguidos de prednisolona
1mg/kg/dia. Obteve normalização da contagem de Discussão:
plaquetas e da função renal, e retorno ao seu estado
neurológico basal. Passados 5 meses, mantém-se Este caso clínico salienta a importância do diagnós-
clinicamente e analiticamente estável. tico precoce deste tipo de tumores e a necessidade
de suspeição clínica perante lesões que possam
A púrpura trombocitopénica trombótica é uma ter aspeto benigno. Apesar do tratamento, é uma
emergência. Perante um doente que se apresenta neoplasia agressiva, com prognóstico reservado
no serviço de urgência com anemia e trombocito- associando-se a uma taxa de sobrevida de menos
penia de novo, é preciso manter esta hipótese diag- 40% em 5 anos.
nóstica sempre presente, uma vez que o atraso na
sua identificação e tratamento pode ter consequên- Pretende-se também chamar a atenção para a ne-
cias desastrosas. cessidade de intervenção multidisciplinar na fase
terminal da doença, valorizando as escolhas do
P n.º 2067  doente e família, assim como minimizar o sofrimen-
Angiossarcoma Epitelióide do couro cabeludo: o to físico e psicológico associado à ferida maligna.
desafio desde o diagnóstico à fase terminal
Vânia Sá-Araújo(1);Maria Paula Silva(1) P n.º 2069 
(1) IPO Porto Cisto pilonoidal com diferenciação maligna - relato
de casos em seguimento por Cuidados Paliativos
Tema: Cuidados paliativos Vânia Sá-Araújo(1);Maria Paula Silva(1)
(1) IPO Porto
Introdução: Tema: Cuidados paliativos

O angiossarcoma é uma neoplasia vascular origi- Introdução:


nada das células endoteliais. É um tumor raro, com
alta taxa de recorrência, agressivo e de mau prog-
nóstico. A malignização de cistos pilonidais é um aconteci-
mento raro,  ocorrendo tipicamente em casos cróni-
Apresenta-se um caso de angiossarcoma do couro cos e recorrentes.
cabeludo, com progressão rápida e desfecho desfa-
vorável, com necessidade de cuidados complexos Apresentam-se dois casos clínicos de degeneração
na fase terminal. carcinomatosa de cisto pilonoidal com evolução
desfavorável.
Caso Clínico:
Caso Clínico:
Doente de 74 anos, sexo masculino com apareci-
mento de uma lesão nodular vinosa localizada na Caso clínico 1: Doente de 55 anos, sexo masculino
região parietal esquerda do couro cabeludo com com história de doença pilonoidal crónica, com
três meses de evolução que revelou tratar-se de um diagnóstico de carcinoma espinocelular, submetido
angiossarcoma epitelióide. Submetido a exérese a exérese alargada, com evidência de metastização
alargada com plastia seguido de radioterapia ad- ganglionar um ano depois. Esvaziamento inguinal
juvante. Três meses após a intervenção cirúrgica, bilateral e radioterapia complementar. Recidiva com
constatada nova lesão de cerca de 1,5 centímetros ulceração extensa na região sagrada. Várias inter-
na área da cicatriz que revelou tratar-se de recidiva venções cirúrgicas e realização de medicina hiper-
da doença. Submetido a ressecção desta área, se- bárica sem resolução do quadro. Após confirmação
guido de vigilância clínica. de recidiva do carcinoma espinocelular, iniciou
quimioterapia paliativa, dada a irressecabilidade da
Identificadas várias lesões sugestivas de recidiva lesão. Orientado para Cuidados Paliativos, apresen-
em exame imagiológico realizado três meses após tando ferida maligna complexa e dor de difícil con-
a última intervenção cirúrgica. Considerada doença trolo com necessidade de utilização de medicação
irressecável, tendo sido proposto para quimiotera- por via epidural.
pia paliativa. Progressão da doença local após duas
linhas de tratamento sistémico e envolvimento ma- Caso clínico 2: Doente de 47 anos, sexo masculino
ligno ganglionar cervical esquerdo. Referenciado a com doença pilonoidal com 30 anos de evolução

748
E-POSTERS
que apresentava lesão ulcero-vegetante fistulizada tica e aumento do calibre da via biliar principal, sem
da região sacrococcígea em progressão. Diagnós- fenómenos trombóticos ou lesões hepáticas focais.
tico de carcinoma espinocelular, proposto para a CPRM com discreta irregularidade dos contornos
realização de quimioterapia com intuito neoadjuvan- das vias biliares intra-hepáticas, não se excluindo
te, suspensa após o primeiro ciclo por síndrome co- fenómenos de colangite esclerosante. A biópsia he-
ronária aguda. Referenciado a Cuidados Paliativos. pática revelou discretas alterações inflamatórias se-
Progressão da ferida maligna com necessidade de cundárias a perturbação do fluxo biliar, por litíase ou
realização de colostomia derivativa. patologia primária dos ductos biliares. Colonosco-
pia e biópsias intestinais sem alterações sugestivas
Discussão: de doença inflamatória intestinal. Estudo genético
com mutação no gene ABCB4 em heterozigotia, não
O carcinoma espinocelular é uma complicação rara permitindo estabelecer um diagnóstico definitivo.
associada à doença pilonoidal crónica, estando re- Após prova terapêutica com ácido ursodesoxicólico
lacionada com uma elevada taxa de recidiva após 15mg/Kg/dia, melhoria clínica e citocolestática.
tratamento cirúrgico e a um mau prognóstico.
Chegar a um diagnóstico de CEP é desafiante, mas
Os casos clínicos apresentados demonstram a evo- de extrema importância, quer a curto prazo pela
lução da doença maligna a nível local e os sintomas acentuada melhoria da qualidade de vida dos doen-
associados de difícil controlo. Salienta-se a necessi- tes, quer a médio/longo prazo pela vigilância aperta-
dade de seguimento por Cuidados Paliativos com o da do curso da doença e suas complicações.
objetivo do controlo sintomático. Assume-se como
principal problema a presença de feridas malignas P n.º 2074 
extensas e complexas associadas a exsudação, Uma patologia pediátrica em idade adulta: um diag-
infeção e dor que têm impacto não só a nível físico nóstico diferencial de dor abdominal
como psicológico. Salienta-se, ainda, a necessidade Sofia Rodrigues de Carvalho(1);Carolina Ventura(1);-
de intervenções invasivas na fase terminal da doen- Miguel Monteiro(1);Diana Pereira Anjos(1);Mari
ça como a realização de colostomia derivativa ou Mesquita(1)
intervenções anestésicas, como forma de melhorar (1) Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, EPE /
o controlo sintomático e a qualidade de vida. Hospital Padre Américo, Vale do Sousa
P n.º 2071  Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
Colangite esclerosante primária: o desafio diagnós- culites
tico
Sofia Rodrigues de Carvalho(1);Carolina Ventura(1);-
Miguel Monteiro(1);Diana Pereira Anjos(1);Mari A dor abdominal é um dos sintomas mais frequen-
Mesquita(1) tes no serviço de urgência (SU) e o seu diagnóstico
(1) Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, EPE / diferencial é vastíssimo. A anamnese, exame obje-
Hospital Padre Américo, Vale do Sousa tivo e antecedentes do doente são de capital impor-
tância para dirigir a abordagem clínica.
Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá-
ticas Relata-se o caso de um homem de 25 anos com
antecedentes de nefropatia de IgA. Medicado e con-
A colangite esclerosante primária (CEP) é uma trolado com Prednisolona 10 mg id; Ramipril 5 mg
doença hepática crónica e rara, caracterizada por id; Atorvastatina 10 mg id. Recorreu ao SU por dor
inflamação e fibrose biliar progressivas. É mais co- nos quadrantes abdominais inferiores, com 2 dias
mum em jovens do sexo masculino, estando asso- de evolução, sem alterações do trânsito gastrointes-
ciada a várias complicações. tinal, vómitos ou febre. História de rinorreia anterior
na semana anterior, sem outra clínica focalizadora
de infeção. Teve alta medicado sintomaticamente,
Relata-se o caso de um homem de 27 anos com mas regressou dois dias depois por agravamento
antecedentes de obesidade e hábitos tabágicos álgico, ao qual acrescia artrite do joelho e cotovelo
cessados, referenciado à consulta por episódios direitos. Durante a permanência no SU, surgiram le-
autolimitados e de curta duração de epigastralgia, sões cutâneas purpúricas no terço distal dos mem-
náuseas, icterícia e colúria, associados a citocoles- bros inferiores, poupando a planta dos pés, sem
tase persistente, sem febre. Sem história de consu- dor ou prurido associados, e que não desapareciam
mo de hepatotóxicos ou antecedentes familiares com a digitopressão. Do estudo efetuado: ligeiro
relevantes. Ao exame objetivo, ligeiro desconforto aumento dos parâmetros inflamatórios; sem dis-
à palpação profunda do epigastro e hipocôndrio função renal, trombocitopenia ou coagulopatia; se-
direito, sem outras alterações. Analiticamente, TGO dimento urinário com proteínas de 300 mg/dL, sem
52UI/L, TGP 227UI/L, GGT 300UI/L e FA 112UI/L. eritrocitúria; SARS-CoV 2 negativo; TC abdominal
Serologias para VIH, VHB e VHC negativas. Do estu- inocente. Assumido diagnóstico clínico de Vasculite
do autoimune: ANA, LKM negativos e anti-M2 mito- de IgA (previamente denominada Púrpura de Heno-
condrial no limite superior do normal. Imunoglobu- ch-Schönlein), iniciando-se terapêutica com Predni-
linas, velocidade de sedimentação, complemento, solona oral 1 mg/Kg/dia com melhoria franca, o que
ferritina, ceruloplasmina, ?1-antitripsina e cobre permitiu redução progressiva da corticoterapia.
normais.  Ecografia abdominal com esteatose hepá-
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 749
Apesar de mais comum na idade pediátrica, a pode resultar num diagnóstico precoce.
apresentação clínica clássica e os antecedentes
do doente permitiram realizar um diagnóstico infre- P n.º 2079 
quente, com uma abordagem e tratamento específi- Síndrome de Metal Fume Fever: a propósito de um
cos. caso clínico
Sofia Rodrigues de Carvalho(1);Ana Filipa Silva(1);-
P n.º 2075  Carolina Ventura(1);Miguel Monteiro(1);Diana Perei-
Mieloma Múltiplo IgA com apresentação invulgar ra Anjos(1);Mari Mesquita(1)
Laura Rodrigues de Carvalho(1);Ana Castro Barbo- (1) Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, EPE /
sa(1);Nuno Reis Carreira(1);Alexandra Wahnon(1);- Hospital Padre Américo, Vale do Sousa
Catarina Sousa Gonçalves(1);Marina Fonseca(1);An-
tónio Pais de Lacerda(1) Tema: Doenças respiratórias
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi-
tal de Santa Maria Metal Fume Fever é uma síndrome febril causado
pela inalação de fumos de metais oxidados, nomea-
Tema: Doenças hematológicas damente o zinco. Está frequentemente associado
a trabalhadores de indústrias metalúrgicas e cursa
Introdução: O mieloma múltiplo (MM) IgA repre- com febre e sintomatologia respiratória aguda, po-
senta o segundo subtipo de MM mais frequente dendo ter uma gravidade e duração variáveis.
(cerca de 21%), com idade média ao diagnóstico de
65 anos. Os sinais ou sintomas são relacionados à Relata-se o caso de um homem de 33 anos, fuma-
infiltração de células plasmáticas no osso ou insufi- dor ativo e empregado numa indústria metalúrgica
ciência renal decorrente da deposição de imunoglo- há 1 semana. Foi levado ao serviço de urgência por
bulina. febre, tosse não produtiva, dispneia, mal-estar gene-
ralizado, mialgias e cefaleias. Segundo o emprega-
Caso clínico: Mulher, 48 anos, com antecedentes de dor, exposição a vapor de zinco no dia anterior, sem
hipotiroidismo e gastrite crónica, recorre à urgência a proteção devida. À admissão: febril, polipneico
por quadro consumptivo e dor óssea localizada às e com insuficiência respiratória hipoxémica (pO2/
grelhas costais e região dorsolombar com oito me- FiO2 243). Analiticamente: leucocitose com neu-
ses de evolução. Negava febre, suores noturnos ou trofilia e PCR 290 mg/dL. Radiografia torácica com
perdas hemáticas. infiltrados intersticiais difusos. Iniciou metilpredni-
solona 1 mg/Kg/dia e oxigenoterapia de alto fluxo,
Ao exame objetivo, a destacar: desconforto à pal- com diminuição progressiva do aporte de O2 dada
pação dos quadrantes superiores do abdómen sem melhoria sustentada das trocas gasosas. Manteve
massas ou organomegalias palpáveis; sem adeno- boa evolução até resolução clínica, analítica e ra-
patias palpáveis e sem défices sensitivos ao exame diográfica completas. Tendo em conta o espetro de
neurológico. gravidade desta síndrome, as manifestações descri-
tas correspondem a uma forma severa da doença,
Laboratorialmente, com anemia normocítica nor- provavelmente em estreita relação com exposição
mocrómica (Hb 11,9 g/dL), aumento da velocidade prolongada e desprotegida ao tóxico. Além disso,
sedimentação (120 mm/h) e da beta 2 microglobu- acresce ao prognóstico tratar-se de um doente fu-
lina (3.62 ng/mL), discreto aumento do cálcio corri- mador ativo, com maior propensão a complicações
gido (10.4mg/dL), sem alterações da função renal. e, consequentemente, com necessidade de vigilân-
Electroforese de proteínas com pico monoclonal cia apertada.
de 2.6g/dl e imunofixação sérica com componente
monoclonal IgA (Lambda). Urina 24h com proteinú- Dada evolução sustentadamente favorável, o doente
ria (477.3 mg/24h) e na imunofixação há presença teve alta sob esquema de desmame de corticote-
de Bence Joneslambda. O mielograma revelou me- rapia, para seguimento em ambulatório e com in-
dula óssea com 67% de plasmócitos. Na avaliação dicação para evicção da exposição desprotegida a
imagiológica do esqueleto, perfil de crânio com fumos tóxicos e cessação tabágica.
padrão em “sal e pimenta” e coluna dorso-lombo-
sagrada com múltiplas lesões osteolíticas. P n.º 2080 
Um dueto pouco comum: Metástase Cerebral de
Admitido mieloma múltiplo IgA lambda com ex- Neoplasia da Mama e Adenocarcinoma do Cólon
tenso envolvimento ósseo. Iniciou tratamento com simultâneos
dexametasona, bortezomib e lenalidomida. Pedro Simões(1);Filipa Rodrigues(1);Andreia Die-
gues(1);Micaela Sousa(1);Sandra Raquel Sousa(1);-
Discussão: O presente caso clínico ilustra um diag- João Lagarteira(1);Elisa Tomé(1);Miriam Blanco(1)
nóstico de uma neoplasia plasmocitária, habitual- (1) Unidade Local de Saúde do Nordeste
mente relacionada a` senilidade, em idade jovem
e cuja a apresentação se traduz pelo extenso en- Tema: Doenças oncológicas
volvimento ósseo, no entanto, sem disfunção renal
ou hipercalcemia importante. Serve também como
chamada de atenção para casos de dor óssea refra- Introdução: A neoplasia da mama é a malignidade
tária, onde uma abordagem clínica individualizada mais frequente nas mulheres. A recorrência e me-

750
E-POSTERS
tastização são comuns. A presença simultânea de terfalângicas proximais (IFP), metacarpofalângicas
neoplasias em locais distintos pode representar (MCF) e punhos, simétricas, ritmo inflamatório, 1
doença metastática ou, mais raramente, a coexis- mês de evolução. Perda de peso, sem outros sinto-
tência de lesões originalmente distintas, podendo mas adicionais. Ao exame objetivo apresentava-se
estas ser síncronas ou metácronas. hipertenso, normocárdico, apirético, SO2(aa)88%,
PO2:55mmHg, com crepitações nos 2/3 inferiores
Caso Clínico: Mulher, 81 anos, antecedentes de direitos. 8 Articulações dolorosas. Sem adenomega-
neoplasia da mama em 2006, Hipertensão e tremor lias. Força muscular preservada. Sem leucocitose,
essencial. Admitida por clínica de tumefação crania- TGP/ALT 63 U/L; TGO/AST 52U/L) CK 505 U/L, LDH
na, tonturas, astenia, anorexia e perda de peso as- 346 U/L, PCR negativa. RX:infiltrado na base pulmo-
sociados. TAC craneoencefálico revelou massa ex- nar direita, caracterizado por TAC como: “múltiplas
tra-axial parietal direita com 5,5x5,5cm e destruição alterações consolidativas periféricas ou bronco-
óssea. Na investigação detetado espessamento no cêntricas,  com padrão perilobular organizativo e
1/3 distal do colon sigmoide. Marcadores tumorais opacidades em vidro despolido, em relação com
negativos. Colonoscopia com lesão estenosante, pneumonia a covid-19.” PCR SARS-CoV -2 negativo,
dura e friável não franqueável pelo colonoscópio. mas, face aos achados, ficou internado em área de-
Orientada para Neurocirurgia e Cirurgia geral, tendo dicada.
sido submetida a exérese da lesão cerebral com Discussão: Infeção por SARS-CoV-2 excluída.
anatomia patológica a revelar metástase de car- Rastreio sético negativo. Cumpriu antibioterapia
cinoma de mama. Biópsias do cólon compatíveis empírica, com melhoria do quadro respiratório.
com adenocarcinoma primário do colon sigmoide Exame físico detalhado revelou rash eritematoso
invasivo grau2, com necessidade posterior de cirur- em V, manchas violáceas nas pálpebras e pápulas
gia urgente por quadro suboclusivo. Proposta para de Gotron. Englobando todos os achados, coloca-
tratamento sistémico com quimioterapia adjuvante da a hipótese de miopatia inflamatória. Do estudo
e paliativa. imunológico, salientam-se: Anticorpo anti-Ku posi-
Discussão: A existência de múltiplos tumores pri- tivo, elevação da Aldolase (235ug/L) e mioglobina
mários tem uma incidência de 0,73 a 11%, consti- (15,9U/L). Eletromiografia sem características
tuindo um desafio em termos de diagnóstico, esta- miopáticas ou miositicas; biópsia muscular com
diamento e tratamento. A incidência de neoplasia sobrexpressão de MHC-1. PFR com alteração
da mama e cólon no mesmo período é de cerca de ventilatória restritiva de grau moderado. Excluída
3,85%, sendo infrequente em doentes sem história infeção e síndrome paraneoplásico. Assumiu-se o
familiar, como no caso apresentado – a sua fisiopa- diagnóstico de dermatomiosite e tendo em conta o
tologia não é totalmente conhecida, podendo estar envolvimento pulmonar, foi iniciada prednisolona e
associada a mutações genéticas específicas.  Ten- ciclosporina.
do em conta a dificuldade de orientação associada, Num período mais centrado na COVID-19, não deve-
a sua abordagem deve ser definida em reuniões mos esquecer a interligação de diferentes sintomas,
multidisciplinares. Este caso revela a importância procurando além do mais frequente. Este caso refle-
dessa multidisciplinariedade, bem como da neces- te a importância do reconhecimento e associação
sidade de investigação de outras lesões tumorais de alterações que permitiram a investigação de uma
aquando do diagnostico inicial. patologia do interstício pulmonar e o diagnóstico de
P n.º 2083  uma miopatia inflamatória.
COVID- 19 ou nem por isso? – A importância da P n.º 2090 
semiologia, a propósito de um caso de Dermato- Esclerose múltipla num jovem adulto - da suspeita
miosite de AVC ao diagnóstico de doença desmielinizante
Pedro Simões(1);Margarida Coelho(1);Sandra Ra- Jessica Fidalgo(1);Ivanna Ostapiuk(1);Miguel Lá-
quel Sousa(1);Micaela Sousa(1);Cátia Pereira(1);Eli- zaro Mendes(1);Ivan Antunes(1);Inês Salvado Car-
sabete Pinelo(1);Miriam Blanco(1) valho(1);Bárbara Saraiva(1);André Silva(1);Carina
(1) Unidade Local de Saúde do Nordeste Santos(1);Ana Teresa Moreira(1);Jorcélio Vicen-
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas- te(1);Gonçalo Santos(1);João s. Correia(1)
culites (1) Unidade Local de Saúde da Guarda, EPE / Hospi-
tal Sousa Martins

Introdução:As miopatias inflamatórias são um gru- Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas


po heterogéneo de doenças sistémicas imunome-
diadas, caracterizando-se por fraqueza e inflamação Introdução: A esclerose múltipla é a doença imuno-
do músculo esquelético e manifestações extra-mus- mediada inflamatória desmielinizante mais comum
culares. do sistema nervoso central (SNC). É caraterizada
por áreas multifocais de desmielinização com per-
Caso Clínico: Masculino, 59anos, mRankin0, hi- da de oligodendrócitos e astroglia. Estima-se que,
pertenso, diabético, Ex-fumador(78UMA), vem por em Portugal, atinja cerca de 60 indivíduos em cada
dispneia e tosse seca, sem febre, mialgias proxi- 100 mil habitantes. É mais comum no jovem adulto,
mais e da cintura escapular e poliartralgia nas In- sobretudo no género feminino, e na terceira década

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 751


de vida. É uma doença com apresentações clínicas sentamos um caso de apresentação clínica atípica
variáveis e com diversas formas atípicas. de um doente com TC e RMN a mostrar mielinólise
centropôntica.
Caso clínico: Masculino 29 anos, recorreu ao Servi- Caso clínico
ço de Urgência (SU) por quadro de parestesias no
hemicorpo direito (excepto face). Antecedentes de Homem, 61 anos, alcoolismo crónico activo. Levado
hábitos tabágicos ativos. Objetivamente, apresenta- ao Serviço de Urgência por queixas de desorien-
va dismetria do membro superior direito, com défice tação, desequilíbrio e alterações mnésicas e do
de coordenação de predomínio distal (mão); marcha comportamento. Na observação, desidratado, com
em funâmbulo sem desequilíbrio. Realizou angio-TC icterícia discreta e flapping. Exame neurológico a
CE, que excluiu lesões isquémicas e hemorrágicas. evidenciar desorientação, sem défices motores ou
Foi internado na unidade de AVC para estudo com- sensitivos. Análises com trombocitopenia, lesão
plementar. Observado por oftalmologia, que relatou renal aguda, padrão de citocolestase com predo-
presença de escotomas evidentes, periféricos/ mínio de AST e GGT, rabdomiólise e  hiponatrémia
arcuados, sobretudo à esquerda, onde se assistia a ligeira. Ecografia abdominal com esteatose hepáti-
coalescência com a mancha cega, colocando hipó- ca, sem alterações agudas. TC craniano a mostrar
tese de doença inflamatória do SNC. Realizou RMN lesão hipodensa centro-protuberancial, sugestiva de
CE e do neuro-eixo, que mostrou múltiplas lesões mielinólise.
encefálicas e medulares cervicais, compatíveis Internado para estudo e tratamento. Pedida RMN
com lesões inflamatórias desmielinizantes (carga cranioencefálica, a mostrar lesão centroprotuberan-
lesional alta), uma delas (cervical) com sinais de cial de configuração triangular com características
actividade inflamatória - provável esclerose múlti- nas diferentes sequências sugestivas de mielinólise
pla. Realizou punção lombar que confirmou o diag- centropôntica, sem outras alterações agudas.
nóstico. Mostrou melhoria clínica sob corticoterapia O doente evoluiu bem, com recuperação completa
e cuidados de fisioterapia. Teve alta, medicado e da desorientação, sem terapêutica dirigida.
orientado para consulta de Neurologia, tendo sido Durante o internamento, não apresentou qualquer
proposto para iniciar Natalizumab. Neste contexto, défice motor ou sensitivo, nomeadamente para/te-
foi chamado a consulta de avaliação de risco de traparésia, ou afundamento do estado de consciên-
infeção - iniciada terapêutica antibacilar por existên- cia geralmente associados às lesões de mielinólise
cia de tuberculose latente concomitante. Cerca de centropôntica.
3 meses depois, iniciou terapêutica, com evolução
favorável. Conclusão
Discussão: Este caso mostra-nos a importância da Apesar de frequentemente associada à correção da
realização de uma história clínica completa e bem hiponatremia, a mielinólise centropôntica foi inicial-
fundamentada, e da necessidade de nos manter- mente descrita em doentes com alcoolismo crónico,
mos alerta para a existência deste tipo de doenças sendo relativamente comum, embora subdiagnos-
neurodegenerativas, sobretudo nas idades mais ticada nesta população. Apresenta nestes doentes
jovens, de modo a que seja possível intervir o mais clínica e prognósticos mais benignos.
precocemente possível, evitando a degradação rápi-
da do estado neurológico dos doentes. P n.º 2094 
Dor óssea como sintoma principal
P n.º 2093  Diogo Ferreira da Silva(1);Raffaele Junior Aliber-
Um caso menos típico de mielinólise pôntica ti(1);Rita Lopes Cunha(1);Carla Nicolau(1);Sofia
Diogo Ferreira da Silva(1);Rita Lopes Cunha(1);Ra- Mateus(1);Beatriz Sampaio(1);Andreia Amaral(1);-
ffaele Junior Aliberti(1);Carla Nicolau(1);Sofia Ma- Salvador Morais Sarmento(1);Hugo Inácio(1);Miguel
teus(1);Andreia Amaral(1);Beatriz Sampaio(1);Sal- Paulo Oliveira Miranda de Sousa Leite(1);Daniela
vador Morais Sarmento(1);Hugo Inácio(1);Miguel Marto(1);Bárbara Picado(1);Catarina Salvado(1);Inês
Paulo Oliveira Miranda de Sousa Leite(1);Daniela Santos(1)
Marto(1);Inês Santos(1);Bárbara Picado(1);Catarina (1) Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE / Hos-
Salvado(1) pital de Santo António dos Capuchos
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE / Hos-
pital de Santo António dos Capuchos Tema: Doenças oncológicas

Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas


Introdução

Introdução
Portugal é um dos países europeus com maior in-
cidência de cancro gástrico. A sua metastização
A mielinólise centropôntica está geralmente asso- óssea é rara, mas associa-se a pior prognóstico.
ciada a correção demasiado rápida de hiponatrémia, Apresentamos dois casos de metastização óssea
sendo a RM CE o melhor exame de imagem para o como apresentação inicial desta neoplasia.
seu diagnóstico. Parte integrante da síndrome de  
desmielinização osmótica é o mau prognóstico as-
sociado, com mortalidade na ordem dos 40%. Apre- Caso clínico 1

752
E-POSTERS
Mulher, 53 anos, com diagnóstico de leucemia mie- ca comummente um pneumotórax.
lóide crónica controlada com imatinib, dislipidemia
e hipotiroidismo. Recorreu ao Serviço de Urgência O pneumotórax deve ser suspeitado nos doentes
(SU) por dorsolombalgia e disestesias dos mem- que se apresentam com dispneia súbita e dor torá-
bros inferiores com 6 semanas de evolução. Sem cica de tipo pleurítica. Além do mais, nos doentes
outras queixas. Na observação, duas adenopatias, com doenças pulmonares de base, a dispneia está
supraclavicular e laterocervical esquerdas, elásti- quase sempre presente e normalmente é intensa,
cas e indolores. Análises com fosfatase alcalina mesmo em casos de pequenos pneumotóraxes.
(FA) elevada. TC dorsolombar com lesões litícas de
múltiplos corpos vertebrais, sugestivas de metas- Caso clínico
tização. Decidido internamento para estudo, com
Mulher, 58 anos, com antecedentes pessoais de
biópsia óssea, ganglionar e
défice de A1AT, com enfisema pulmonar e status
gástrica a diagnosticar adenocarcinoma gástrico.
pós-bolhectomia; que não se encontra a fazer tera-
 
pêutica de suplementação.
Caso  clínico 2
Como parte do seu seguimento anual, a doente
realizou tomografia computorizada (TC) de tórax,
Homem, 71 anos, com hipertensão arterial e doença onde se objetivou um moderado hidropneumotórax.
cerebrovascular. Ida ao SU por cervicalgia posterior Quando questionada, a doente negou qualquer sin-
com 7dias, que agravava com rotação do pescoço. tomatologia.
Teve alta com analgesia
Devido ao achado imagiológico, a doente foi inter-
14 dias depois regressa por agravamento do qua-
nada, tendo sido iniciada terapêutica conservadora
dro. Referia ainda perda ponderal de 20kg e enfar-
com oxigenoterapia por máscara de alta concentra-
tamento pós-prandial precoce. Radiografia cervical
ção. Contudo, por agravamento clínico e radiológi-
com colapso vertebral. Análises com leucocitose
co, foi colocado dreno torácico, com saída de ar e
e neutrofilia e elevação de lactato desidrogenase e
líquido seroso. Mais tarde, por suspeita de fístula
FA. TC cervical a mostrar lesões líticas em pratica-
broncopleural, foi contactado o serviço de Cirurgia
mente todas as vértebras cervicais, sugestivas de
Torácica de outro hospital, que aceitou a transferên-
secundarização.
cia da doente para realização de talcagem. Após o
Internado para controlo álgico e estudo: TC to-
procedimento, a doente melhorou clinicamente e o
racoabdominopélvica, a mostrar espessamento
internamento decorreu sem qualquer intercorrência.
parietal gástrico, ascite, múltiplas adenopatias,
carcinomatose peritoneal e metastização óssea Passados mais de 4 meses desde o sucedido, a
com lesões líticas e blásticas de corpos vertebrais, doente refere ainda sentir algum cansaço para es-
sacro, ilíacos, arcos costais e esterno. Confirmação forços moderados.
histológica por biópsia gástrica e de L4 de adeno-
carcinoma gástrico. Conclusão
 
Apesar da literatura descrever claramente a se-
Conclusão miologia do pneumotórax, não podemos descartar
outras formas de apresentação, nomeadamente o
A metastização óssea é rara, mas confere pior prog- doente assintomático; razão pela qual os exames
nóstico e perda de qualidade de vida aos doentes complementares de diagnóstico são também muito
com cancro gástrico. Salientamos a importância do importantes no seguimento evolutivo de diversas
rastreio desta condição e da realização de estudos patologias, como é o caso da DPOC secundária ao
para avaliar potenciais armas terapêuticas. défice de A1AT.
P n.º 2102  P n.º 2107 
Hidropneumotórax secundário espontâneo e assin- Um caso improvável: dois vírus e uma encefalite...
tomático Filipa Leitão(1);Joana Carvalho(1);Pedro Leite Viei-
Mafalda Ferreira(1);Joana Carvalho(1);Filipa Lei- ra(1);Rui Isidoro(1);João Grilo(1);Dra. Olga Koro-
tão(1);Olga Korobka(1);Diana Brites(1);Manuel Car- bka(1);Diana Brites(1);João Freixo(1);Maria Eugénia
valho(1);Maria Eugénia André(1) André(1)
(1) Unidade Local de Saúde de Castelo Branco (1) Unidade Local de Saúde de Castelo Branco
Tema: Doenças respiratórias Tema: Doenças infecciosas e parasitárias

Introdução A encefalite, infeção do sistema nervoso central


(SNC), pode ser uma doença incapacitante e com
O pneumotórax espontâneo é aquele que ocorre na elevada morbilidade. A ausência de contexto epide-
ausência de eventos externos e pode ser secundário miológico, clínica e alterações específicas do líqui-
a doenças pulmonares de base, nomeadamente o do cefalorraquidiano (LCR) dificultam o diagnóstico
défice de alfa-1 antitripsina (A1AT). No défice de e condicionam significativa morbimortalidade,
A1AT, é a rotura de bolhas de enfisema o que provo- resultando frequentemente em danos neurológicos

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 753


permanentes. característica de exsudado. Internado no Serviço de
Medicina Interna sob ceftriaxone. Líquido pleural:
Homem, 80 anos, autónomo. Antecedentes: hiper- bacteriológico negativo e histológico sugestivo de
tensão arterial e hematoma subdural drenado há metástases de melanoma. TC-Tórax imagem den-
6 anos. Recorreu ao Serviço de Urgência (SU) por sa justapleural no lobo superior direito, contornos
febre (máximo de 39ºC axilar) e odinofagia com 3 espiculados 19mm, podendo corresponder a lesão
dias de evolução que cediam parcialmente a anti- expansiva. Após 7 dias diminuiu para 12mm, aspeto
piréticos. 2 dias antes iniciou quadro de confusão espiculado. Discussão com Pneumologia e Radiolo-
mental. À observação: desorientado no tempo, gia de Intervenção que, por regressão do tamanho,
espaço e pessoa, com afasia de compreensão, que consideraram etiologia mais provável infecciosa e/
impossibilitou o restante exame neurológico. Sem ou neoplásica de outro órgão. Prolongada antibio-
sinais meníngeos. Analiticamente sem alterações. terapia até aos 18 dias. Avaliado por Dermatologia:
TC cranioencefálica sem alterações agudas de re- sem lesões cutâneas de características neoplási-
levo. Após SARS-CoV2 negativo, foi internado no cas; e Oftalmologia: retina sem alterações. Teve alta
Serviço de Medicina Interna. Realizou punção lom- para a consulta em 1 mês. TC de controlo: aumento
bar (PL) com saída de LCR com aspeto de “água de do derrame à direita, nódulo pleural direito com
rocha” e colheu rastreio séptico. Dos exames com- 16mm de provável natureza secundária e metásta-
plementares diagnóstico realizados, destacam-se: ses diafragmáticas direitas. Evoluiu com anorexia,
LCR com pleocitose, com predomínio de linfócitos, e desnutrição e agravamento do estado geral, tendo
Transcriptase Reversa - Reação Cadeia Polimerase falecido após 1 mês.
(RT-PCR) positiva para Epstein Barr e Herpes Sim- 5 a 10% dos MM são encontrados primariamente
plex 1. Restantes serologias víricas e estudo mi- em áreas internas do organismo, sem lesões cutâ-
crobiológico negativo. Ressonância magnética ce- neas óbvias. Neste caso, a localização primária não
rebral: aspetos sugestivos de encefalite herpética. foi encontrada (oculto 3,2% casos) e a metastização
Cumpriu aciclovir durante 21 dias. À data da alta o era já extensa ao diagnóstico, o que reduz a sobrevi-
doente encontrava-se neurologicamente melhorado, da, cerca 6-8 meses de acordo com a literatura.
mas mantinha afasia de compreensão sequelar.
P n.º 2114 
Os autores chamam a atenção, neste caso, para a Doença de Madelung
existência, incomum, de coinfecção viral na ence- Ana de Carmo Campos(1);Guadalupe Ferreira Go-
falite. Pretendem, ainda, realçar a importância da mes(2);Celina Afonso(2)
realização precoce de PL no diagnóstico das infe- (1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi-
ções do SNC, porquanto a célere administração de tal Pulido Valente (2) Centro Hospitalar de Lisboa
terapêutica antimicrobiana pode permitir a redução Ocidental, EPE / Hospital de S. Francisco Xavier
do risco de sequelas, que chegam a verificar-se em
cerca de 2/3 dos sobreviventes. Tema: Doenças raras
P n.º 2109 
Mais que um simples derrame pleural... Uma forma Introdução: A lipomatose simétrica múltipla (Doen-
de apresentação atípica de melanoma! ça de Mandelung) corresponde a uma doença be-
Filipa Leitão(1);Joana Carvalho(1);Pedro Leite Viei- nigna rara caracterizada pelo aparecimento de volu-
ra(1);Rui Isidoro(1);Dra. Olga Korobka(1);Diana Bri- mosas massas de tecido adiposo, cuja patogénese
tes(1);João Freixo(1);Maria Eugénia André(1) ainda não está esclarecida. Tem incidência estima-
(1) Unidade Local de Saúde de Castelo Branco da de 1:25.000 casos, sendo mais prevalente em
homens caucasianos de meia idade. Apresenta as-
Tema: Doenças oncológicas sociação com etilismo crónico em 90% dos casos,
mas também com obesidade, dislipidemia, hiperuri-
O melanoma maligno (MM) é a neoplasia cutânea cemia, intolerância à glicose, anemia macrocítica,
mais agressiva e a sua incidência tem vindo a au- virus da imunodeficiência humana e o tratamento
mentar nas últimas décadas. A cura depende de um com anti-retrovirais e corticoterapia. Relatamos um
diagnóstico atempado. As metástases podem apre- caso de lipomatose simétrica múltipla recorrente,
sentar-se à data do diagnóstico primário ou, anos localizada na região cervical e dorsal em doente
após, como primeiro sinal de recorrência. com hábitos alcóolicos mantidos.

Homem, 77 anos, sem antecedentes relevantes. Caso Clínico: Homem de 54 anos, caucasiano,
Recorreu ao Serviço de Urgência por dispneia e autónomo com antecedentes de trombocitemia es-
cansaço fácil com 2 semanas de evolução e perda sencial, hipertensão arterial essencial, dislipidemia,
ponderal não quantificada desde 3 meses antes. etilismo crónico (100 g/dia), tabagismo ativo (20
Auscultação pulmonar murmúrio vesicular diminuí- UMA). Apresenta múltiplas massas exuberantes de
do nos 2/3 inferiores do hemitórax direito. Analiti- consistência mole, indolores, na região cervical e
camente: hemoglobina 10.9g/dL, normocrómica, tórax superior, de crescimento progressivo desde há
PCR 171mg/L. Radiografia de tórax: extenso der- 5 anos, associado a queixas de dispneia e disfagia
rame pleural direito. Toracocentese diagnóstica e alta. Em exames de imagem ecográfico e tomográ-
evacuadora: 1540mL de líquido serohemático com fico confirmada a presença de massas lipomatosas

754
E-POSTERS
não encapsuladas, expansivas, desde a região da múltiplas opacidades nodulares cavitadas, a maior
face envolvendo a gordura do tecido celular subcu- com 64mm com nível hidro-aéreo. Iniciou antibio-
tâneo e do compartimento parotídeo, estendendo-se terapia empírica com ceftriaxone e clindamicina.
lateral e posteriormente com exuberante expressão Micobacteriológico negativo. Citológico do líquido
no compartimento cervical posterior. Submetido a pleural negativo para células neoplásicas. Citológico
ressecção cirúrgica com confirmação histológica de do lavado bronco-alveolar com células neoplási-
lipomatose simétrica. Recidiva após 7 anos, sendo cas com características de adenocarcinoma, TTF1
submetido a nova cirurgia após a qual iniciou absti- negativo, favorecendo uma natureza metastática.
nência alcóolica. Em vigilância desde então.  Decidido tratamento sintomático e referenciada
para Unidade de Cuidados Paliativos. Durante o
Discussão: Apesar de ser uma entidade rara, é im- internamento com agravamento progressivo, tendo
portante ser considerada no diagnóstico diferencial acabado por falecer.
de massas de tecido adiposo, que inclui lipomatose
familiar múltipla, liposarcomas, neurofibromatose, DISCUSSÃO: Apesar da elevada prevalência de Insu-
doenças linfoproliferativas e distrofias musculares. ficiência Cardíaca, é importante o diagnóstico dife-
Embora benigna, o envolvimento cervical e medias- rencial com patologias com apresentação clínica
tínico pode condicionar sintomas compressivos semelhante e que podem necessitar de uma abor-
(dispneia, disfagia, disfonia), existindo ainda casos dagem dirigida.
raros de transformação maligna. O seu tratamento
é cirúgico com bons resultados, porém a recorrên- P n.º 2117 
cia é frequente. Dado o etilismo crónico ser um Lesões ósseas líticas – pensar além da patologia
dos principais factores precipitantes, a abstinência oncológica
alcóolica é fundamental, como verificado no caso Ana Maria Ferreira lé(1);Cláudia Maria Pereira(1);Ru-
descrito. te Sousa Martins(1);João Araújo Correia(1)
(1) Centro Hospitalar do Porto, EPE / Hospital Geral
P n.º 2115  de Santo António
O que esconde uma Insuficiência Cardíaca des-
compensada? Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
Margarida Araújo(1);Inês Gonçalves(1);Ana Isabel
Machado(1);Sara Freixo(1);Marina Alves(1);Luísa As lesões ósseas líticas múltiplas em contexto
Pinto(1);Francisco Gonçalves(1);António Oliveira e de quadro consumptivo associam-se com maior
Silva(1) frequência a doença neoplásica. A tuberculose na
(1) Hospital de Braga forma extrapulmonar deve ser considerada no diag-
nóstico diferencial, particularmente em imunodepri-
Tema: Doenças cardiovasculares midos.

Introdução: A insuficiência cardíaca (IC) tem re- Apresenta-se o caso clínico de uma doente de 78
gistado um aumento da prevalência com o enve- anos, com doença renal crónica estadio V, gota com
lhecimento da população. Vários fatores podem crises recorrentes e dor crónica lombar por patolo-
precipitar uma descompensação, sejam de natureza gia osteoarticular degenerativa. Com corticoterapia
cardíaca (como arritmia, síndrome coronário agudo, prolongada nos meses prévios à admissão, instituí-
crise hipertensiva, …) ou não (como tromboembo- da em contexto de crise gotosa e que foi mantida
lismo pulmonar, infeção, ou outras patologias). O por mote próprio da doente.
derrame pleural é frequente na IC, contudo, um ex-
sudado associa-se geralmente a etiologia infeciosa, Admitida por dor abdominal e lombar persistente,
inflamatória ou neoplásica. tosse não produtiva com 2 meses de evolução,
febre e perda de peso involuntária. Analiticamente
CASO CLÍNICO: Mulher, 98 anos, bom estado geral, com anemia de estado inflamatório, elevação dos
parcialmente dependente nas atividades de vida parâmetros inflamatórios sistémicos, sem altera-
diárias e cognitivamente íntegra. Admitida por ções do metabolismo fosfocálcio.
agravamento do padrão habitual de dispneia com
3 semanas de evolução, com dispneia em repouso, Tomografia computorizada apresentava padrão pul-
ortopneia, pieira e tosse seca. Sem febre. Objetiva- monar micronodular difuso bilateral e densificações
mente, com sons respiratórios diminuídos na base pulmonares nodulariformes, com derrame pleural
direita, crepitações bilaterais e edemas periféricos. bilateral e ascite de pequeno volume. Avaliação ós-
Apresentava Insuficiência Respiratória hipercápni- sea com presença de lesões líticas dos corpos ver-
ca com acidemia, pelo que iniciou Ventilação Não tebrais, mais expressiva em D10-D11 e nos ossos
Invasiva. Eletrocardiograma sem arritmia ou sinais ilíacos.
de isquemia e Radiografia de tórax com derrame
Aspirado brônquico sem células malignas e estudo
pleural de moderado volume à direita. Assumido
micobacteriológico com exame direto negativo para
diagnóstico de IC descompensada. Realizou tora-
Mycobacterium tuberculosis (MT), sem exame de
cocentese diagnóstica e terapêutica com drenagem
PCR disponível.
de líquido pleural compatível com exsudado. Após
drenagem, imagem torácica de controlo revelou Estudo de neoplasia primária negativo, tendo-se ex-

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 755


cluído mieloma múltiplo, neoplasia da mama, tiróide hiperbilirrubinémia de 40mg/dL, prurido intratável,
ou renal. Biópsia de lesão do osso ilíaco inconclusi- prolongamento do INR, anemia, lesão renal e per-
va (provavelmente não representativa). da ponderal de 30% desde o início do quadro. Por
fim, admitiu consumo de esteroides anabolizantes
As culturas de MT revelaram-se positivas ao fim de (Stanozol 10mg), confirmando-se diagnóstico de
3 semanas, tendo-se concluído como diagnóstico hepatite tóxica. Referenciado para avaliação para
mais provável uma tuberculose disseminada com transplantação hepática, onde manteve seguimento
envolvimento ósseo múltiplo. regular. 
Tentado início de terapêutica antibaciliar mas no Verificada melhoria lenta do quadro nos 3 meses
decorrer do internamento a doente tinha evoluído subsequentes, com resolução total dos sintomas e
com deterioração clínica e disfunções de órgão com achados laboratoriais.
progressão para falência ventilatória a agravamento
da função renal prévia. Perante estado geral com Discussão e Conclusão:
caquexia e após discussão multidisciplinar, consi-
derou-se não reunir condições para suporte invasivo O diagnóstico de hepatite tóxica exige elevado grau
renal e ventilatório, tendo sido privilegiadas medidas de suspeição, assentando essencialmente em da-
de conforto e a doente acabou por falecer. dos da história clínica. Habitualmente apresenta
A tuberculose óssea multifocal pode mimetizar curso autolimitado, com resolução do quadro em
doença neoplásica tanto clinicamente como do dias a semanas após evicção do agente causal. Em
ponto de vista de imagem e deve ser especialmente casos raros, pode apresentar um curso longo, ou
lembrada em doentes com contexto de imunossu- mesmo evoluir para cirrose, em que o transplante
pressão. hepático é o único tratamento curativo.

P n.º 2124  P n.º 2126 


FÍGADO DE GINÁSIO: UM MAU PRESSÁGIO? UMA CAUSA RARA DE PERICARDITE
Mariana Estrela Santos(1);Raquel Dias Moura(1);- Mariana Estrela Santos(1);Mariana Baptista(1);Ra-
Jorge Bernardo Reis(1);Janine Resende(1);Inês Rue- quel Dias Moura(1);Francisca Carmo(1);Janine Re-
ff Rato(1) sende(1);Marta Barbedo(1)
(1) Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia / Espinho (1) Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia / Espinho

Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá- Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio-
ticas nais

Introdução: Introdução:

Hepatite tóxica é um diagnóstico desafiante, pela Pericardite aguda é uma entidade frequentemen-
multiplicidade de fenótipos e ausência de biomarca- te encontrada na prática clínica e com múltiplas
dores específicos. O diagnóstico assenta num ele- causas possíveis. Contudo, pericardite secundária
vado grau de suspeição clínica, exclusão de causas a Doença de Graves é uma causa rara e incomum,
alternativas e presença de agente suspeito. Tem um limitada a relatos de casos e em que a fisiopatolo-
curso habitualmente autolimitado. gia é ainda desconhecida.

Caso Clínico: Caso Clínico:

Homem, 38 anos, com prática regular de exercício Mulher, 53 anos, com antecedentes de hipotiroi-
físico. Sem antecedentes patológicos. Quadro de dismo diagnosticado há 1 mês, medicada com
epigastralgia, náuseas e vómitos com 2 semanas de metibasol. Quadro de dor precordial em aperto, 7
evolução. Negava febre ou outras queixas. Negava em 10, com 1 mês de evolução que agravava com
consumos alcoólicos, drogas de abuso ou outros a inspiração profunda e aliviava com a inclinação
tóxicos. À admissão ictérico, com desconforto à anterior do tronco. Ainda tosse seca e dispneia para
palpação epigástrica. Sem encefalopatia. Do estudo pequenos esforços e quadro de febre de 8/8h (máxi-
inicial: creatinina 1,4mg/dL; Bilirrubina total 6.86mg/ mo 38.2ºC), que cedia a antipirético, com 2 dias de
dl, bilirrubina direta 4,33mg/dL; TGO 86 (2.5xLSN), evolução. Negada outra sintomatologia.
TGP 184 (3.5xLSN), FA 145 U/L; Ecografia abdomi-
nal sem alterações de relevo. Internado por hepatite À admissão: calma, flexão anterior do tronco, dor
aguda. 4/10, hemodinamicamente estável e com SpO2
96%. Exoftalmia; Auscultação cardíaca hipofonética,
Excluídas causas infeciosas, metabólicas e auto-i- sem atrito pericárdico. Restante exame objetivo
munes; Biópsia hepática com bilirrubinostase mar- inocente. Do estudo inicial: troponina alta
cada e atividade necroinflamatória lobular ligeira a sensibilidade negativa e PCR 15mg/dl; Rx tórax
moderada, sugerindo etiologia tóxica. Agravamento com aumento do índice cardiotorácico, ECG sem
do padrão citocolestático sob terapêutica de supor- alterações e ecocardiograma sumário com derrame
te, com prurido de difícil controlo. Teve alta contra pericárdico de 22mm. Assumida pericardite aguda
parecer mas reinternado por agravamento, com com derrame pericárdico.

756
E-POSTERS
Excluídas causas infeciosas, metabólicas e neoplá- internamento sem intercorrências.
sicas. A destacar anticorpos anti-receptores TSH
positivos, assumindo-se pericardite secundária Caso 2: Homem de 81 anos, autónomo, submetido
a Doença de Graves. Iniciou ibuprofeno 600mg, a RTU-P a 23.4.2021. Admitido a internamento a
12/12h, e colchicina 0.5mg no 1º dia de interna- 03.05 por urosépsis. Detetado sopro cardíaco de
mento, com resolução da febre, dor e diminuição do novo. Inicialmente com perfil hipotensivo e sinais de
derrame pericárdico, sendo de pequeno volume ao má perfusão, sob meropenem e fluidoterapia, pelo
8º dia. Alta ao 10º dia com ibuprofeno em desma- que iniciou noradrenalina. No dia 6.05 realizou eco-
me, colchicina durante 3 meses, ajuste na dose de cardiograma transtorácico que mostrou uma vege-
metibasol e orientação para consulta de medicina tação na válvula mitral nativa. Identificação de E.Coli
interna e endocrinologia. nas hemoculturas. Por desenvolvimento de disfun-
ção valvular grave foi intervencionado no dia 14.05.
Discussão e Conclusão: Válvula com bacteriológico negativo. Posteriormen-
te apresentou melhoria lenta, mas progressiva.
O diagnóstico de pericardite secundária a Doença
de Graves, além de raro e incomum, exige exclusão Discussão: Os casos reportados mostram a impor-
de causas alternativas tornando-se num desafio tância de se prestar atenção aos sinais sugestivos
diagnóstico. de endocardite, mesmo em doentes com válvulas
nativas e bacteriemias por agentes raramente impli-
O tratamento passa pela gestão da doença de base cados, como os descritos. Além disso, alerta para a
com anti-tiroideus e terapêutica dirigida à pericar- necessidade de se considerar procedimentos como
dite com ibuprofeno e colchicina para resolução da as RTU como possíveis fatores de risco. Com estas
sintomatologia e prevenção da recorrência. considerações presentes conseguem-se diagnós-
ticos precoces que são essênciais para a melhoria
P n.º 2129  dos resultados clínicos.
Endocardites atípicas de válvula nativa após proce-
dimento urológico – uma possibilidade a conside- P n.º 2132 
rar Loucura do hipotiroidismo
João Pedro Lázaro Mendes(1);Filipa David(2);Julia- Joana Vieira Jardim(1);Cláudia Rodrigues Al-
na Chen xu(3);Rute Fernandes(4);Margarida Olivei- ves(1);Bruna Nascimento(1);Mariana Moniz Ra-
ra(2);Adriana Alves(2);Luísa Guerreiro(2) mos(1);Sara Nicolau(1);Manuela Grego(1)
(1) Centro Hospitalar Tondela-Viseu, EPE / Hospital (1) Hospital Distrital de Santarém, EPE
de São Teotónio, EPE (2) Unidade Local de Saúde
de Matosinhos, EPE / Hospital Pedro Hispano (3) Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio-
Centro Hospitalar Póvoa de Varzim/Vila do Conde nais
(4) IPO Porto
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias Introdução: O Hipotiroidismo é uma patologia muito
frequente, com uma apresentação clínica variável.
Para além da sintomatologia típica, pode-se fazer
Introdução: A endocardite é uma doença que apre- acompanhar de distúrbios psiquiátricos, que variam
senta elevada mortalidade. O diagnóstico atempado de pequenas alterações da atenção a quadros gra-
é essencial para o prognóstico, porque permite o ves de agitação e delirium. 
início da antibioterapia adequada e a preparação
de eventual intervenção cirúrgica. Pela variabilida-
de na apresentação clínica permanece como um Caso Clínico: Homem, 69 anos, autónomo, com an-
diagnóstico desafiante. Recentemente, alguns tra- tecedentes pessoais de adenocarcinoma do cólon
balhos relacionaram a realização de procedimentos sigmóide, hipertensão arterial, diabetes mellitus,
urológicos com esta patologia. Nesse seguimento, fibrilhação auricular, insuficiência cardíaca e disli-
apresentamos 2 casos ocorridos após resseção pidemia, recorreu ao Serviço de Urgência por qua-
transuretral vesical e prostática (RTU-V/P). dro de recusa alimentar, tendo ficado internado ao
cuidado da Medicina Interna por lesão renal aguda
(creatinina 3.0 mg/dL). Ao 3º dia de internamento,
Caso 1: Homem de 79 anos, autónomo, submetido o doente desenvolveu quadro de agitação psicomo-
a RTU-V a 27.01.2021. A 11.02 foi admitido na SE tora com heteroagressividade de difícil controlo. A
por hemiparesia direita de instalação subaguda. marcha diagnóstica revelou hipotiroidismo primário
Objetivada febre e sinais de insuficiência cardíaca (TSH 51.19 µUI/mL, FT4 0.36 ng/dL). Do estudo
(IC). Fez TAC, que mostrou isquemia parietal direita, destaca-se tomografia computorizada crânio-ence-
e ecocardiograma, no qual se observaram imagens fálica sem alterações agudas, punção lombar sem
noduraliformes aderentes a válvula mitral nativa. alterações citoquímicas/bacteriológicas no líquor, e
Hemoculturas positivas para Proteus Mirabilis. ecografia tiroideia sem alterações. Admitiu-se hipo-
Cumpriu 3 dias meropenem e 9 dias de ceftriaxone tiroidismo primário de apresentação atípica, tendo
e metronidazol. Internamento complicado por pneu- iniciado terapêutica com levotiroxina. 
monia de aspiração, fibrilhação auricular paroxística
com resposta ventricular rápida e episódios de IC Discussão: A primeira associação de hipotiroidismo
aguda, que motivaram intervenção cirúrgica a 24.02. e psicose foi feita em 1888, sendo a terminologia
Bacteriológico da válvula amicrobiano. Restante “myxedema madness” adicionada à literatura em
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 757
1949. Desde essa altura muitos casos têm sido P n.º 2141 
reportados que relatam diversas manifestações psi- DRESS - quando os sintomas mais típicos são difí-
quiátricas consequentes do hipotiroidismo. Muitas ceis de avaliar/identificar
vezes a manifestação psiquiátrica é tão exuberante, João Miranda(1);Albina Moreira(1);Fábio Murtei-
que os doentes acabam por ser diagnosticados ra(1);Pedro Oliveira(1);Nuno Leal(1)
erradamente com perturbação psiquiátrica. O trata- (1) Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia / Espinho
mento consiste na reposição da hormona tiroideia.
O hipotirodismo é uma patologia que apresenta Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
bom prognóstico, no entanto a resolução das mani- culites
festações psiquiátricas ocorrem mais tardiamente
comparativamente aos sintomas típicos.   Introdução: Síndrome de DRESS (Drug Rash with Eo-
sinophilia and Systemics Symptoms) é uma reação
P n.º 2140  sistémica rara e potencialmente fatal que ocorre
Tuberculose disseminada: um diagnóstico difícil de 2 a 6 semanas após exposição a certos fármacos,
alcançar como o alopurinol. É caracterizada por febre, eosi-
Marta Mello Vieira(1);Rita Leite Cruz(1);Laura Bonito nofilia e rash cutâneo, mas quase todos os siste-
Moreira(1);Marta Ilharco(1);Leonor Soares(1);Maria mas de órgãos podem ser afetados.
do Carmo Fevereiro(1);Fátima Lampreia(1)
(1) Hospital de São José
Caso clínico: Homem de 37 anos, melanodérmico,
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias antecedentes médicos de gota, sob terapêutica
hipouricemiante com alopurinol. Quatro semanas
A tuberculose disseminada é a infecção pelo Myco- após o inicio da terapêutica com alopurinol desen-
bacterium tuberculosis de dois ou mais órgãos não volve cefaleias, febre, dor abdominal, mialgias e
contíguos através de disseminação linfo-hematogé- rash maculopapular generalizado, não pruriginoso.
nica e constitui <2% dos casos de tuberculose. À admissão apresentava-se hemodinamicamente
estável, febril (39.3ºC), com rash maculopapular em
toda a extensão corporal (poupando palmas e plan-
Mulher de 20 anos, natural do Nepal, com antece- tas) e abdómen globalmente doloroso a palpação.
dentes de anemia carencial, internada por febre Estudo inicial mostrou elevação de transaminases
vespertina, sudorese nocturna, astenia, anorexia, e parâmetros inflamatórios (leucocitose sem altera-
náuseas e dor abdominal. Apresentava leucocitose ção da fórmula leucocitária e elevação da proteína
com neutrofilia, colestase e uma tomografia com- C reativa), TC abdominal evidenciou hepatomegalia
putorizada (TC) abdomino-pélvica com linfadenite com adenomegalias peri-hepáticas. Durante o in-
mesentérica e adenomegálias íleo-cólicas. As se- ternamento manteve a sintomatologia previamente
rologias infecciosas, hemoculturas e coproculturas descrita, com agravamento progressivo da citólise
foram negativas. Fez uma biópsia dos gânglios hepática e dos parâmetros inflamatórios, com eosi-
abdominais que mostrou necrose e granulomas e nofilia “de novo” e lesão renal aguda (oligoanúrica
uma colonoscopia com biópsias da mucosa, ambas com necessidade de hemodiálise), síndrome confu-
com pesquisa de bacilos ácido-álcool resistentes sional agudo (estudo do liquido cefalorraquidiano
(BAAR) e teste de amplificação de ácidos nucleicos compatível com meningoencefalite). Sem isolamen-
(TAAN) negativos. A pesquisa de BAAR e TAAN no to de agente nos vários estudos microbiológicos
suco gástrico foi igualmente negativa; o interferon realizados (hemocultuas, urocultura, microbiológico
gamma release assay foi positivo. A TC-tórax e do de LCR). 
pescoço inicial mostrou adenomegália cervical e
micronódulos pulmonares subpleurais bilaterais Assumido quadro de síndrome de DRESS (após ex-
que, em TC subsequente, aumentaram em número e clusão de foco infecioso), tendo realizado biópsia
tamanho. Após 3 semanas de internamento com fe- cutânea e iniciado terapêutica com corticoterapia
bre sustentada, realizou biópsia de um gânglio cer- em alta dose. Resposta clinica paulatina mas fa-
vical que identificou um Mycobacterium tuberculosis vorável com resolução de todas as disfunções de
complex, sem mutações na detecção molecular de órgão. A biópsia cutânea foi compatível com a sus-
multirresistência, admitindo-se tuberculose dissemi- peita clínica de Síndrome de DRESS. 
nada (ganglionar, intestinal e pulmonar). Iniciou an-
ti-bacilares de 1ª linha com isoniazida, rifampicina, Conclusão: o caso descrito mostra como o diag-
etambutol e pirazinamida e teve alta. Posteriormen- nóstico de DRESS é um desafio clínico, sobretudo
te, constatou-se através da cultura e antibiograma devido ao surgimento tardio de eosinofilia, o desen-
de que se tratava de uma tuberculose polirresistente volvimento de um quadro neurológico (muito raro
a isoniazida, pirazanamida e estreptomicina. nesta síndrome) e a dificuldade na avaliação do
rash cutâneo num doente de etnia negra.
O diagnóstico de tuberculose disseminada é difícil
dada a apresentação clínica inespecífica, baixa sen- P n.º 2142 
sibilidade da pesquisa de BAAR e crescimento lento Miopatia associada às estatinas: mito ou realida-
em meio cultural que também condiciona aborda- de?
gem terapêutica adequada. João Luís Miranda(1);Albina Moreira(1);Fábio Mur-
teira(1);Francisca Carmo(1)

758
E-POSTERS
(1) Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia / Espinho ticas
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
culites Introdução: O abcesso hepático constitui uma enti-
dade infrequente, de etiologia bacteriana, fúngica ou
parasitária. A disseminação do agente infeccioso
Introdução: As miopatias inflamatórias podem ser pode ter origem na árvore biliar, na veia hepática ou
divididas em quatro grandes grupos: dermatomio- porta, por extensão dos tecidos adjacentes ou trau-
sites, polimiosites, miopatias necrotizantes imuno- ma, sendo a etiologia zoonótica de incidência rara.
mediadas e miosites de corpos de inclusão, e são
causas tratáveis de miopatia no adulto.
Caso Clínico: Homem, 49 anos, sem antecedentes
patológicos de relevo. Recorre ao Serviço de Ur-
Caso clínico: Mulher de 70 anos, antecedentes de gência por febre com 1 semana de evolução (picos
tiroidite autoimune, gastrite crónica, dislipidemia de 4/4h), associada a cefaleia bifrontal, náuseas e
(medicada há vários anos com sinvastatina 20mg, mialgias. Nega artralgias, dor abdominal e diarreia;
aumento de dose em Janeiro para 40mg). A doente nega tosse, expectoração e dispneia. Sem perda
foi admitida no Serviço de Urgência em Setembro ponderal. Referiu que na semana anterior ao início
por quadro de miopatia incapacitante, com início dos sintomas realizou um percurso de trekking em
em Junho (diminuição de força muscular e mial- ambiente rural tendo mergulhado numa lagoa.
gias) e agravamento progressivo. Na avaliação ini-
cial, de salientar mialgias incapacitantes, força mus- Ao exame objetivo encontrava-se febril, sem outras
cular grau 2/5 nos segmentos proximais de todos alterações de registo. Analiticamente apresentava
os membros, sem alterações cutâneas associadas. elevação da proteína c-reativa (215 mg/L) e citoco-
Estudo inicial: elevação de creatinina cínase (8122 lestase ligeira de padrão misto (ALT e g-GT 2 vezes
U/L), mioglobina (1884 ng/mL), aldolase 103,2 U/L, o limite superior do normal), sem hiperbilirrubinemia
sem outras alterações analíticas. Internada para associada. Realizou TC tórax que excluiu alterações
prosseguir estudo, iniciou fluidoterapia e suspendeu pleuroparenquimatosas, tendo documentado nos
a estatina, sem melhoria clínica ou analítica nos cortes abdominais a presença de lesão hipodensa
dias seguintes. Do estudo complementar realiza- com 5cm no lobo esquerdo, de características não
do destaca-se eletromiografia compatível com o esclarecidas.
diagnóstico de miopatia inflamatória crónica. Rea-
lizada biópsia muscular, com o seguinte resultado Realizou TC abdominopélvico trifásico que revelou
histopatológico: músculo de perfil inflamatório com duas lesões hepáticas hipodensas no segmento 4a,
características sugestivas de miopatia necrotizante com halo cantante e edema envolvente, sugestivas
imunomediada. Iniciou prednisolona 1mg/kg/dia de abcessos. As hemoculturas foram persistente-
imediatamente após a realização da biópsia com mente negativas; as serologias para Borrelia, CMV,
melhoria paulatina da força muscular e do perfil EBV, Ricketsia conorii, TPPA e Coxiella foram tam-
de citólise muscular. Estudo etiológico excluiu bém negativas. O estudo imunológico foi negativo.
neoplasia oculta e doença autoimune subjacente. Realizou colonoscopia total que não revelou altera-
Posteriormente ao resultado do exame histológico, ções. Realizada a pesquisa de DNA de Leptospira
e dado a relação temporal com o aumento de dose no soro que foi positiva, tendo sido realizada a dre-
da estatina, realizado doseamento do anticorpo nagem percutânea dos abcessos com boa evolução
anti-HMG-CoA-redutase que foi positivo. Durante o local. Cumpriu 4 semanas de antibioterapia com
seguimento em consulta, a doente teve necessidade doxiciclina, tendo apresentado resolução clínica
de otimizar terapêutica imunossupressora com iní- completa.
cio de metotrexato, com normalização das enzimas
de citólise muscular após. Discussão: A leptospirose constitui uma zoonose
provavelmente subdiagnosticada, raramente asso-
Conclusão: A miopatia necrotizante imunomediada ciada à formação de abcessos. O diagnóstico impli-
pelo anti-HMG-CoA-redutase é uma entidade a ser ca um elevado nível de suspeição para uma aborda-
considerada nos casos de miopatias inflamatórias gem terapêutica adequada e atempada.
em doentes com exposição prévia a estatinas, sen-
do geralmente subdiagnosticada. A biópsia mus- P n.º 2159 
cular tem um papel central no diagnóstico mas o Pneumotoráx Catamenial em Associação com En-
senso clínico impera.  dometriose Torácica
Inês Parreira(1);Pedro Antunes Meireles(2);Pedro
P n.º 2154  Gaspar(1);Leila Duarte(1);Valeria Maione(1);Sérgio
Abcesso hepático - um agente incomum. Bronze(1);Filipe Bessa(1);Catarina Mota(1)
Pedro Ribeirinho-Soares(1);Miguel Souto(1);Catarina (1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi-
Souto(1);Manuela Sousa(1);Diana Ferrão(1);José tal de Santa Maria (2) IPO Lisboa
Marques(1);Fernando Nogueira(1);Catarina Perei-
ra(1);Jorge Almeida(1) Tema: Doenças respiratórias
(1) Centro Hospitalar de S. João, EPE
Introdução:
Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá-

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 759


O pneumotoráx catamenial, descrito em 1958 por hepática crónica (DHC) e hiperesplenismo com
Maurer et al., define-se como pneumotórax recorren- trombocitopenia. Recorreu ao Serviço de Urgência
te espontâneo em mulheres em idade reprodutiva (SU) por cansaço para pequenos esforços, com 2
em relação com a menstruação, habitualmente semanas de evolução e alteração na coloração da
72 horas antes ou depois do 1º dia de cataménio. urina e pele. À observação, mucosas decoradas e
Critérios adicionais incluem lesões pleurais carca- ictéricas. Dos exames complementares de diag-
terísticas, pneumotoráx à direita e coexistencia de nóstico: hemoglobina (Hb) 4,9g/dL, macrocitose,
endometriose.  Os autores apresentam um caso de plaquetas 91 000, linfocitose 6x103/μL, bilirrubina
pneumotoráx catamenial recorrente em associação total 6,09mg/dL à custa da indireta, Coombs direto
com endometriose torácica. positivo (não determinada classe de anticorpo).
Realizou TC abdomino-pélvico que revelou hepato-
Caso Clínico: megalia sugestiva de DHC e marcada esplenome-
galia (23,5cm), sem lesões focais. Foi internado no
Mulher de 30 anos com antecedentes pessoais Serviço de Medicina Interna por anemia hemolítica
de doença inflamatória pélvica e pneumotoráx de para estudo etiológico e iniciou prednisolona 1mg/
etiologia não esclarecida. Admitida por toracalgia kg. Do estudo no internamento: reticulócitos e LDH
direita de início súbito, sem outros sintomas acom- aumentados, haptoglobina diminuída e Coombs
panhantes. À observação, hemodinamicamente directo para aglutininas quentes. Serologias víricas
estável com saturação periférica adequada sem negativas. Fenótipo do aspirado medular sugestivo
alterações de relevo. Laboratorialmente sem hipoxé- de síndrome mielodisplásico. Imunofenotipagem de
mia com alcalémia respiratória. Radiografia de toráx sangue periférico: 11% de células B clonais K com
com documentação de pneumotórax à direita. Foi fenótipo sugestivo de Linfoma da Zona Marginal.
efectuada drenagem do pneumotoráx com coloca- Biópsia óssea: hiperplasia medular, sem sinais de
ção de dreno torácico. Quando questionada a doen- envolvimento por neoplasia de linfócitos ou plasmó-
te refere que ambos os episódios de pneumotoráx citos. Estudo autoimune negativo. Evolução clínica
ocorreram cerca de 2 dias após início de cataménio. favorável, sob corticoterapia com Hb 10mg/dL à
Realizou neste contexto toracoscopia com identi- data da alta. Pedida TC de estadiamento e após dis-
ficação de implantes diafragmáticos compatíveis cussão com Hematologia, enviado a consulta para
com endometriose, tendo efectuado pleurectomia completar estudo e eventual biópsia esplénica.
parcial e talcagem. Assumido o diagnóstico de
pneumotoráx catamenial associado a endometriose Conclusão:
torácica, sem recorrência após procedimento cirúr-
gico.Pleurectomia parcial+talcagem VATS 2 portas Os autores pretendem, com este caso, alertar para
as múltiplas etiologias da AH. No caso apresentado,
Discussão: a investigação etiológica levou ao diagnóstico de
um sub-tipo de linfoma não-Hodgkin, o linfoma da
O pneumotoráx catamenial deve ser suspeitado em zona marginal, provavelmente esplénico, habitual-
mulheres jovens com diagnóstico de pneumotoráx mente com curso indolente e boa sobrevida.
recorrente durante período menstrual. Este entida-
de é responsável por 3 a 6% dos pneumotoráxes P n.º 2163 
espontâneos. A suspeição clínica e o diagnóstico Quando a cefaleia persiste - a importância de ade-
atempado são fundamentais, uma vez que a cor- quar o exame à suspeita
recção cirúrgica das lesões pleurais e eventual tera- Luís Reis de Almeida(1);Diogo Faustino(2);Sofia Pi-
pêutica hormonal diminuem francamente a taxa de nheiro(1)
recorrência. (1) Hospital de São José (2) Unidade Funcional Me-
dicina 1.2 - Hospital de São José - CHULC
P n.º 2161 
Anemia Hemolítica, a propósito de um caso clínico Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas
Joana de Carvalho(1);Filipa Leitão(1);Pedro Leite
Vieira(1);Rui Isidoro(1);Mafalda Ferreira(1);Diana Bri-
tes(1);Manuel Carvalho(1);Maria Eugénia André(1) Introdução: A cefaleia é uma queixa frequente no
(1) Unidade Local de Saúde de Castelo Branco Serviço de Urgência (SU). Embora maioritariamente
de causa benigna, a cefaleia deve ser investigada
Tema: Doenças hematológicas com exame de imagem quando se apresenta de
forma persistente ou refratária à terapêutica. Na
ausência de sinais neurológicos focais, a tomogra-
Introdução: fia computorizada (TC-CE) sem contraste é o exame
mais realizado, embora devamos atentar que pode
A anemia hemolítica (AH) é causada pela diminui- ser insuficiente.
ção da sobrevida dos glóbulos vermelhos devido
à sua destruição prematura. A AH tem numerosas Caso: Mulher de 34 anos, com antecedentes de
etiologias, hereditárias ou adquiridas, envolvendo rinossinusite e enxaqueca, medicada com anticon-
processos agudos ou crónicos e com grau de seve- cepcional oral combinado, foi admitida no SU com
ridade variável. quadro de cefaleia occipital moderada, com irradia-
ção cervical e hemicraniana direita, semelhante a
Homem, de 68 anos. Antecedentes de doença

760
E-POSTERS
episódios prévios de enxaqueca. Descrevia instala- admissão apresentava-se em Classe III NYHA, com
ção progressiva (sem aura ou febre) com cinco dias sinais sugestivos de IC em Perfil B. Analiticamente
de evolução, associando-se a sonofobia, náuseas com NTproBNP de 30708 pg/ml e radiografia tórax
e congestão nasal. Fora já avaliada noutro hospital, com derrame pleural.
com realização de TC-CE sem contraste que não
revelou alterações, estando medicada com tera- Do estudo complementar apresentava-se sem ane-
pêutica anti-inflamatória e miorelaxante. Ao exame mia, sem quadro infecioso e com Fração de Ejeção
físico não apresentava alteração da consciência ou (FE) do Ventrículo Esquerdo (VE) de 11%, em eco-
sinais neurológicos focais, destacando-se tensão cardiograma transtorácico (ECOTT).
miofascial cervical (sem rigidez nucal). O estudo
analítico foi inocente e foi avaliada por Neurologia Ao longo do internamento cumpriu terapêutica de
que corroborou a observação. Após analgesia endo- resgate com furosemida por via endovenosa, espiro-
venosa apresentou melhoria sintomática, tendo tido nolactona e, uma vez estabilizado e em euvolemia,
alta com terapêutica optimizada. Nos quatro dias foi iniciada terapêutica dirijida a IC com FE reduzida
seguintes houve nova agudização dos sintomas. Re- com bisoprolol e Sacubitril/Valsartan (ARNI), titula-
correu novamente ao SU, com achados objectivos do conforme tolerância.
semelhantes, tendo realizado TC-CE com contraste
Até à alta foi feito o estudo das comorbilidades e
em fase venosa (Angio-TC) e ressonância magnéti-
fatores precipitantes para IC e titulada a terapêutica
ca (RM) que identificaram trombose venosa do seio
oral. O doente e familia foram informados acerca do
longitudinal e lateral direito, sem lesão parenquima-
diagnóstico e fatores de risco e feito aconselhamen-
tosa. Foi admitida na unidade de doença cerebro-
to dietético e de evicção de hábitos etílicos. À alta
vascular, mantendo-se sem défices neurológicos e
apresentava-se em classe II NYHA, com NTproBNP
tendo tido alta sob hipocoagulação. O estudo etio-
3829 pg/ml, sem sinais de congestão cardíaca e foi
lógico dirigido a trombofilias foi negativo e a contra-
orientado para consulta externa (CE) de Medicina
cepção oral foi o único factor de risco identificado,
Interna em cerca de 3 semanas e primeira CE de
pelo que foi suspensa.
Cardiologia em 4 meses.
Discussão: A trombose venosa cerebral (TVC) repre-
Ao longo das CE foram ajustadas as doses de diu-
senta cerca de 1% dos eventos cerebrovasculares.
réticos e incrementada a dose de ARNI conforme
Apesar de incomum, a TVC deve ser equacionada
tolerância do doente, tendo tido melhoria clínica
na cefaleia persistente, particularmente em mulhe-
progressiva.
res (rácio 3:1) e na presença de factores de risco.
Uma vez que a TC-CE sem contraste apenas identi- Cerca de 7 meses após a alta do internamento o
fica sinais indirectos de TVC em cerca de 30% dos doente apresentava em ECOTT uma FE do VE de
casos, a realização de Angio-TC ou RM deve ser 55%, NTproBNP de 433 pg/ml e assintomático para
ponderada nestas circunstâncias. IC.
P n.º 2171  A alta de internamento por IC programada e estru-
Preparação da Alta: “Check”-Mate à Insuficiência turada deve cada vez mais ser um foco das equipas
Cardíaca e ferramentas como Checklist pré-alta podem ser
Daniel Aparicio(1);Rui Marques(1);Ana Lemos(1) determinantes no sucesso do tratamento de patolo-
(1) Centro Hospitalar Tondela-Viseu, EPE / Hospital gias tão multifatoriais e complexas como a IC.
de São Teotónio, EPE
P n.º 2173 
Tema: Doenças cardiovasculares “Policitemia Vera - a propósito de um caso clínico”
Catarina Pinto Silva(1);Luis Augusto Cardoso(1);-
Introdução: A insuficiência cardíaca (IC) é uma Flávia Fundora Ramos(1);Marinha Silva(1);Carina
doença crónica que motiva múltipos episódios de Silva(1);Rita Sevivas(1);João Pedro Abreu(1);Carlos
urgência, o que se traduz numa elevada carga so- S.Oliveira(1)
cioeconómica e está também associada a elevada (1) Hospital Santa Maria Maior de Barcelos
morbimortalidade. Os internamentos por IC são
momentos chave que no tratamento e resgate das Tema: Doenças hematológicas
agudizações quer no prognóstico do doente que
tem alta. Introdução: A Policitemia Vera (PV), entidade per-
tencente ao grupo de neoplasias mieloproliferativas
A Sociedade Portuguesa de Medicina Interna apre- crónicas (NMP), caracteriza-se pela proliferação
sentou em 2020 a sua Check-List pré-alta para inter- clonal de células da linhagem mielóide o que cul-
namentos por IC aguda e a propósito desse docu- mina numa maior produção de eritrócitos. Esta en-
mento apresenta-se um caso clínico. tidade apresenta diversas formas de manifestação
– desde assintomática a sintomática, com sinais e
Caso Clínico: Homem, 58 anos, profissionalmente sintomas como cefaleia, tonturas, prurido aquagéni-
ativo, com antecedentes de alcoolismo, sem medi- co ou saciedade precoce. Pode ainda apresentar-se
cação habitual, recorreu ao Serviço de Urgência por com complicações como trombose arterial/venosa
dispneia e cansaço com 2 semanas de evolução. À ou hemorragia. A PV é impulsionada por mutações

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 761


JAK2 na grande maioria dos casos.   prostração e gonalgia esquerda (esq). Ao exame
físico encontrava-se hipotenso, pálido e sudorético,
Caso clínico: Homem de 59 anos, antecedentes com sinais inflamatórios do joelho esq. Confirmada
pessoais de hipertensão arterial (HTA) desde há 10 artrite séptica por artrocentese com TC da perna a
anos e tromboembolismo pulmonar (TEP) em 2019 mostrar abcesso postero-medial. Identificada ain-
(medicado com anticoagulante durante seis meses) da subida de parâmetros inflamatórios e NP grave
recorreu ao Serviço de Urgência (SU) com clínica (11 neut/uL) com restantes linhagens celulares
de dispneia súbita e toracalgia esquerda com um normais. Concluiu-se por artrite séptica da PTJ esq
dia de evolução. Ao exame objetivo apresentava-se complicada com abcesso da perna. Dada relação
taquicárdico e com hipertensão arterial (grau 1). temporal com toma da Flu (ainda em curso – 20º
Angio-TC Torácica a confirmar TEP bilateral e a evi- dia de terapêutica) com leucograma prévio ao início
denciar esplenomegalia. Após colheita de história desta normal, considerou-se que a NP grave além
clínica, doente menciona antecedentes familiares de ser secundária a sépsis foi agravada pela toma
de PV (pai).  Em estudo etiológico efetuado,  poli- de Flu. Iniciou vancomicina+rifampicina e filgastrim,
globulia com Hemoglobina 17.2 g/dL e Hematócrito além de tratamento cirúrgico. Ao fim de 3 dias recu-
52.2% e Leucocitose 17000 leucócitos; Eritropoetina perou o valor de neut (5.500/uL), tendo identificação
reduzida; estudo pró-trombótico sem alterações de de MRSA no liquido sinovial com bacteriemia, pelo
relevo. Solicitada mutação JAK 2, sendo detetada, que manteve antibioterapia em curso.
na amostra estudada, a mutação V617F no gene Conclusões: A NP neste caso tem causa multifac-
JAK2. Neste sentido orientado para consulta de torial rara, sendo impossível dissociá-la quer da
Medicina e Hematologia clínica para seguimento de sépsis grave num doente imunodeprimido (CT), quer
PV com fenótipo de leucocitose e poliglobulia com da toma prolongada de Flu. Note-se que o tempo
mutação JAK2 positiva. Iniciou hidroxiureia 500 mg para recuperação analítica para valores normais é
e manteve hipocoagulação. consistente com outros casos descritos na literatu-
Discussão: Serve o presente caso clínico para de- ra de NP associada à toma de Flu isoladamente.
monstrar o diagnóstico de uma patologia a partir P n.º 2185 
de uma das suas possíveis complicações mais Leucemia mielomonocítica crónica: uma causa de
frequentes. Assim, o estudo etiológico do TEP e a monocitose persistente
colheita de história clínica tendo em conta antece- Joana Tender Vieira(1);Stefano Pinto(1);Maria Inês
dentes pessoas/familiares assume-se como im- Matos(1);Catarina Vale(1);Hugo Veiga(1);Joana Pi-
perativo. A PV enquanto NMP merece seguimento menta(1);Jorge Almeida(1)
rigoroso pelo risco de transformação noutras NMP (1) Centro Hospitalar de S. João, EPE
e por isso a sua orientação deverá ser multidiscipli-
nar. Deverá ficar a cargo do internista a orientação Tema: Doenças hematológicas
das complicações desta doença hematológica
P n.º 2184  A leucemia mielomonocítica crónica (LMMC) é um
Neutropenia na artrite séptica: um culpado inespe- distúrbio clonal de células-tronco hematopoéticas,
rado com características clínicas e fisiopatológicas so-
Miguel Reis Costa(1);Ângela Ferreira, Patrícia Sôra brepostas entre as síndromes mielodisplásicas e
Sobrosa, Irene Miranda, Diana Guerra(1) as neoplasias mieloproliferativas e com um risco
(1) Unidade Local de Saúde do Alto Minho, EPE / inerente de transformação leucémica (~15% em 3-5
Hospital de Santa Luzia anos). Caracteriza-se por monocitose absoluta (>
1.000/L) e relativa (> 10% do total de leucócitos) no
Tema: Doenças hematológicas sangue periférico e displasia da linhagem mielóide
na medula óssea (MO). A LMMC ocorre mais co-
Introdução: A neutropenia (NP) é definida pela con- mumente em idosos do sexo masculino e com uma
tagem de neutrófilos (neut) <1500 células/uL, tendo idade mediana de diagnóstico compreendida entre
inúmeras causas, tais como: a aplasia medular, os 65 e os 75 anos.
infeção grave e iatrogenia farmacológica; classica-
mente associada a citotóxicos (quimioterapia), mas Homem, 77 anos, com antecedentes médicos de
também a antiepilépticos e antibióticos por reação hipertensão arterial, diabetes mellitus tipo 2 e doen-
imunomediada. ça renal crónica admitido por insuficiência cardíaca
agudizada. Na admissão, verificada monocitose que
Caso clínico: Homem com 62 anos, com sarcoido- se manteve após resolução do quadro agudo em
se, estável, sob corticoterapia crónica(CT) e prótese valores de 3.19x10^9/L. Adicionalmente, anemia fer-
total do joelho (PTJ) bilateralmente. Internado por ropénica, trombocitopenia e hepatoesplenomegalia
infeção da PTJ direito com bacteriemia por Sta- documentada em ecografia abdominal. Foi realiza-
phylococcus aureus meticilino-sensível (MSSA); foi do esfregaço de sangue periférico com anisopoiqui-
removida PTJ e iniciou vancomicina com melhoria locitose e confirmação da monocitose, sem evidên-
clínica e analítica. Entretanto a antibioterapia foi cia de células imaturas ou agregados plaquetares.
descalada para flucloxacilina (Flu), que manteve em Orientado posteriormente para consulta externa de
ambulatório. Duas semanas depois voltou por febre, Hematologia Clínica, onde manteve seguimento du-

762
E-POSTERS
rante três meses até realizar biópsia medular óssea persistência do quadro clínico com necessidade
(BMO). Durante esse período apresentou apenas repetida de transfusões, realizou videoenteroscopia
queixas de equimoses fáceis, sem outra clínica he- por cápsula com identificação de lesão sangran-
morrágica e sem sintomas B. Realizado mielograma te no jejuno. Realizou nova endoscopia alta com
que revelou displasia moderada das séries eritróide progressão até ao jejuno identificando hemorragia
e megacariocítica, com 10 % de monócitos e 2% de pulsátil no jejuno proximal compatível com lesão de
blastos.  A BMO mostrou uma medula óssea acen- Dieulafoy. Tratamento endoscópico com clips com
tuadamente hipercelular, trilinear, com predomínio resolução da hemorragia, estabilização do valor de
da serie mielóide, desvio esquerdo e acentuado Hb e resolução do quadro clínico.
aumento de formas monocitárias. O cariótipo da
medula óssea era 46, XY (20 metafases). Realizado DISCUSSÃO
assim o diagnóstico de LMMC, classificada como
de risco prognóstico baixo. O doente manteve-se Trata-se de um caso clínico de HD numa doente
assintomático, sem citopenias críticas, pelo que foi com CH complicada com HTP e VE. Este caso tor-
adotada uma estratégia de monitorização de pro- na-se intrigante pelo facto de nenhuma dessas alte-
gressão da doença. rações, causas mais comuns de hemorragia nestes
doentes, ter originado o quadro clínico, tendo sido
Muitos doentes são assintomáticos à data de diag- identificada uma lesão rara numa localização atípi-
nóstico da LMMC. Nestes casos, a suspeita surge ca. Este caso demonstra a importância de manter a
habitualmente por alterações como anemia, neu- capacidade crítica e persistência na prática clínica,
tropenia, monocitose ou trombocitopenia num he- não assumindo como certo o que é mais provável.
mograma de rotina, permitindo o acompanhamento
destes doentes desde fases iniciais da doença. P n.º 2191 
SÍNDROMA DE ANTICORPOS ANTIFOSFOLÍPI-
P n.º 2190  DOS... E NÃO SÓ
LESÃO DE DIEULAFOY JEJUNAL COMO CAUSA DE Mariana Belo Nobre(1);Inês Goulart(1);Miguel Cabral
HEMORRAGIA DIGESTIVA EM DOENTE COM CIR- Carrilho(1);Madalena Santos(1);Ryan Costa Silva(1);-
ROSE HEPÁTICA Joana Rosa Martins(1)
Susana Pipa(1);Mariana Moreira Azevedo(1);Bárbara (1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi-
Ribeiro Costa(1);Raquel Costeira(1);Ricardo Manuel tal de Santa Maria
Pereira(1);Sónia Carvalho(1);Fernando Salvador(1)
(1) Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Dou- Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
ro, EPE / Hospital de Vila Real culites

Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá- A síndroma de Sneddon é uma patologia rara, que
ticas se caracteriza pelo envolvimento dos pequenos
e médios vasos, encontrando-se frequentemente
INTRODUÇÃO associada à presença de síndroma de anticorpos
antifosfolípidos.
A lesão de Dieulafoy é uma causa rara de hemorra-
gia digestiva (HD). Consiste na dilatação aberrante Os autores apresentam o caso de uma doente do
de uma artéria submucosa com protusão para o sexo feminino, 54 anos, com antecedentes de per-
epitélio, na ausência de lesão ulcerada. Localiza-se turbação psicótica não especificada, admitida por
habitualmente no estômago proximal. Já foram quadro de trombose venosa profunda do membro
descritas estas lesões noutros locais, contudo são inferior direito. Apresentava, ainda, lesões cutâneas
situações raras, nas quais se enquadra o presente extensas nos membros inferiores e abdómen com
caso clínico. Na cirrose hepática (CH) com hiperten- cerca de um ano de evolução, previamente interpre-
são portal (HTP), a HD resulta mais comummente tadas como eritema ab igne. Apurou-se história de
de varizes esofágicas (VE) ou gastropatia portal. morbilidade obstétrica e quadro de cefaleias recor-
rentes, défice cognitivo ligeiro e disartria com cerca
CASO CLÍNICO de 18 anos de evolução, altura em que teria apre-
sentado episódio psicótico. Constatou-se a presen-
Mulher de 76 anos, com antecedentes de CH por ça de livedo racemosa exuberante em doente com
doença hepática gorda associada ao metabolismo fenómeno trombótico, pelo que foi realizado estudo
(MAFLD) com HTP e VE, diabetes mellitus tipo 2, hi- de trombofilias e vasculites, que revelou anticoagu-
pertensão arterial, obesidade, colopatia hipertensiva lante lúpico positivo (confirmado às 12 semanas).
e angiodisplasias do cólon. Referia astenia, melenas Atendendo à presença concomitante de quadro
e perda ponderal de 3-4 kg com dois meses de evo- neurológico, foi colocada a hipótese diagnóstica de
lução, com agravamento progressivo associando-se síndroma de Sneddon, pelo que foi realizada RM-
a dispneia para pequenos esforços. Objetivamente -CE que mostrou lesões isquémicas sequelares e
com palidez cutânea e um sopro sistólico grau II/ doença microvascular crónica. Assumiu-se, assim,
VI. Analiticamente, hemoglobina (Hb) de 6,22 g/ o diagnóstico de síndroma de Sneddon secundária
dL, com ferropenia. Admitida ao internamento para a síndroma de anticorpos antifosfolípidos, condicio-
investigação, realizou estudo endoscópico alto e nando livedo racemosa e alterações neurológicas
baixo sem identificação de lesão sangrante. Por
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 763
(lesões isquémicas sequelares com défice cognitivo Pneumonia necrotizante ou tuberculose pulmonar?
ligeiro, disartria e eventual quadro psiquiátrico nes- O desafio das cavitações
te contexto), pelo que foi iniciada hipocoagulação, Sara Freixo(1);Dr. Francisco Gonçalves(1);Dra. Luisa
com melhoria marcada do livedo racemosa. Pinto(1);Dra. Marina Alves(1);Dr. António Oliveira e
Silva(1);Inês Gonçalves(1);Margarida Araújo(1);Ana
Destaca-se com este caso que o aprofundamento Isabel Machado(1)
da anamnese e um exame objectivo minucioso é (1) Hospital de Braga
essencial para o reconhecimento precoce das ma-
nifestações da síndroma de Sneddon, permitindo Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
reduzir a morbimortalidade associada a esta pato-
logia, nomeadamente no que diz respeito às altera- As cavitações pulmonares são espaços contendo
ções neurológicas. ar incluídos em áreas pulmonares de consolidação,
P n.º 2210  massas ou nódulos. O diagnóstico diferencial pode
Encefalite paraneoplásica: a propósito de um caso ser extenso, desde infeções, neoplasias ou até
clínico doenças autoimunes. É crucial uma boa integração
Fábia Cruz(1);Diana Cruz(2);Andreia Maga- clínica e laboratorial para obter um diagnóstico defi-
lhães(2);Mónica Santos(2);Ana Patrícia Antu- nitivo.
nes(2);Luísa Albuquerque(2)
(1) Hospital Amato Lusitano (2) Centro Hospitalar Caso clínico: Homem ,57 anos, antecedentes de
de Lisboa Norte, EPE / Hospital de Santa Maria Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica, hábitos tabá-
gicos e etílicos marcados, seguido em Pneumolo-
Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas gia por suspeita de silicose. Dirigiu-se á Urgência
por dispneia, tosse seca e hemoptises  com 8 dias
A encefalite devida a anticorpos anti-N-metil-D-as- de evolução. À observação, emagrecido, mau es-
partato (NMDA) surge em mulheres jovens e pode tado geral e higiene precária. Consciente, pouco
estar associada a teratoma do ovário. A apresen- colaborante, hemodinamicamente estável, febril
tação clínica pode ser rapidamente progressiva e (40ºC), saturações de O2 de 94% em ar ambiente.
incluir sintomas psicóticos e crises epilépticas que À auscultação apresentava murmúrio mantido, hi-
sugerem doença ovárica. perssonante no lobo superior direito e com sibilos
Mulher de 27 anos, sem antecedentes psiquiátricos, dispersos. Analiticamente com anemia (Hb 6,7mg/
que inicia em Março/2021 quadro de desorgani- dL); leucócitose (20100/µL) com neutrofilia (86.9%)
zação do discurso e pensamento, com fadiga e , PCR 250mg/L ,hipoxemia (pO2 60 mmHg) e hipo-
insónia. A 30 de Março recorre ao Serviço de Ur- capnia (pCO2 24 mmHg). Tomografia Axial Compu-
gência por períodos de confusão mental, discurso torizada pulmonar com perda de volume do campo
hiperfónico, postura hipercinética, perseveração do pulmonar direito com extensa imagem de consoli-
discurso e taquipsiquismo. Exame neurológico com dação e varias imagens de cavitação no seu interior.
défice importante de atenção, desorientação tempo- Levantadas as hipóteses de tuberculose pulmonar
ro-espacial e erros de evocação. Assumido quadro ou pneumonia necrotizante. Realizada broncofibros-
psicótico e a doente foi internada na Psiquiatria, copia com colheita de aspirado bronco-alveolar para
onde permaneceu por 46 dias. Pesquisa de tóxicos microbiológia e pesquisa de microbactérias. Iniciou
e serologias negativas, TC e RMN crânio sem alte- tratamento antibacilar e antibióterapia empírica com
rações, bem como o eletroencefalograma. Iniciou meropenem A pesquisa de micobactérias foi nega-
aripripazol titulado até 30mg/dia com melhoria tiva e foi isolado Staphylococcus aureus sensível
progressiva da sintomatologia psicótica, contudo a à penicilina. Suspenderam-se os antibacilares
manter défice mnésico, com memória a curto prazo e completou-se o ciclo de antibioterapia com
gravemente comprometida. A pesquisa de anti- Ceftriaxone  e Clindamicina durante 28 dias com
corpos anti-NMDA no líquor e no soro foi positiva. boa resposta clínica,analítica e imagiologica .
Transferida para o Serviço de Neurologia onde rea-
lizou ecografia endovaginal que evidenciou massa As causas de cavitação pulmonar são variadas e
anexial unilateral sugestiva de teratoma. Submetida o diagnostico diferencial destas patologias é de-
a quistectomia por via laparoscópica e cumpriu me- safiante. A identificação precoce da etiologia nem
tilprednisolona 1g e imunoglobulina 30g/dia durante sempre é possível, contudo devemos ter sempre em
5 dias com melhoria progressiva dos défices mnési- mente que o atraso no diagnóstico e consequente-
cos. mente no tratamento , pode determinar um desfe-
A suspeição de encefalite auto-imune paraneoplá- cho fatal.
sica é a primeira etapa para um diagnóstico célere P n.º 2216 
e intervenção terapêutica precoce, com impacto no Hipoglicemia num adulto sem Diabetes Mellitus: O
prognóstico do doente. A remoção cirúrgica de um que pensar?
teratoma pode resultar em melhoria clínica franca Catarina Almeida(1);André Ferreira(1);Daniela Duar-
e até recuperação completa no caso da encefalite te(1);Alexandra Vaz(1);Ana Lemos(1)
anti-NMDA. (1) Centro Hospitalar Tondela-Viseu, EPE / Hospital
de São Teotónio, EPE
P n.º 2215 

764
E-POSTERS
Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio- A leptospirose é uma zoonose provocada por
nais espiroquetas do género Leptospira, cujo quadro
clínico pode apresentar um amplo espectro de ma-
Introdução: Episódios de hipoglicemia são pouco nifestações, desde sintomas ligeiros até disfunção
comuns em pacientes que não realizam tratamento múltipla de órgão. A Doença de Weil, forma rara,
para Diabetes Mellitus. A avaliação e estudo da hi- mas grave, desenvolve-se após a fase aguda, sendo
poglicemia está apenas recomendada em pacientes caracterizada por insuficiência hepática e renal agu-
com a tríade de Whipple (hipoglicemia induzida das.
pelo jejum, com sinais e sintomas associados e
resolução rápida das queixas após administração Apresentamos o caso de um homem de 57 anos,
de glicose). Os medicamentos (insulina e secre- autónomo, residente em habitação com quintal, e
togogos de insulina) e o álcool são a causa mais história de patologia do foro ortopédico que recorre
comum de hipoglicemia. Esta é também frequente ao serviço de urgência por febre e mialgias com 5
no doente crítico e em casos mais raros é causada dias de evolução. De destacar ao exame objetivo
pela deficiência de cortisol, tumores de células não que se apresentava normotenso, ictérico e com
ilhotas ou hiperinsulinismo endógeno. CASO CLÍNI- sinais de desidratação. Ao estudo complementar
CO: Mulher de 44 anos, enfermeira. Antecedentes apresentava: lesão renal aguda, hiponatremia, hiper-
de depressão minor, medicada com fluoxetina. En- bilirrubinemia, citocolestase hepática e PCR eleva-
viada à consulta de Medicina Interna por quadro de da. Foram colhidos produtos biológicos para estudo
hipoglicemias (glicemia capilar mínima de 45mg/ etiológico à admissão. Evoluiu desfavoravelmente
dL), com 6 meses de evolução, tipicamente ao acor- para choque séptico com múltiplas disfunções de
dar e em jejum, associada a sintomas autonómicos órgão, pelo que foi transferido para a Unidade de
e neuroglicopénicos. Resolução da sintomatologia Cuidados Intermédios de Medicina, sendo assumido
após toma de 2 a 3 pacotes de açúcar. Sem toma contexto de provável zoonose de etiologia a escla-
de medicação hipoglicemiante, sem perda ponderal recer, iniciando empiricamente ceftriaxone 2g/dia.
neste período. Sem antecedentes de cirurgia gas- Apresentou insuficiência respiratória hipoxémica
trointestinal. Do estudo realizado com evidencia de em agravamento, com necessidade de suporte com
hipoglicemias ao acordar no sistema de monitoriza- oxigénio nasal de alto fluxo (ONAF) e que motivou
ção contínua da glicose intersticial; cortisol normal, estudo com TC-torácico. Este viria a revelar impor-
HbA1c 4.8%, peptídeo C e insulina normais, anti- tante envolvimento de hemorragia alveolar bilateral.
corpos anti-insulina, anti-GAD e anti-IA2 negativos, Apesar da melhoria de parametros inflamatórios
função tiroideia normal. Internada para realização as disfunções hepática e renal permaneciam pelo
de prova de jejum de 72 horas, cujo resultado foi a que iniciou ácido ursodesoxicolico e corticoterapia.
favor de hiperinsulinismo endógeno. A TC e a RMN Após 8 dias de terapêutica médica de suporte, apre-
abdominal revelaram uma lesão nodular ao nível sentava melhoria da lesão da colestase, da icterícia
do processo uncinado pancreático compatível com e iniciou desmame de corticoterapia e de fiO2. A
insulinoma. Submetida a enucleação e excisão ci- suspeita de leptospirose seria confirmada ao déci-
rúrgica da lesão. CONCLUSÃO: Os insulinomas são mo dia de internamento com anticorpos IgM para
tumores neuroendócrinos raros (4/1.000.000 por leptospira positivos.
ano), que ocorrem mais frequentemente no sexo fe-
minino e com idade média de apresentação aos 50 Destacar que perante a limitação diagnóstica de
anos. A maioria tem localização intrapancreática e alguns testes serológicos, um elevado índice de
são geralmente lesões solitárias (90%) e benignas. suspeição clínica é a chave para o diagnóstico e
Com este caso pretende-se chamar a atenção para suporte adequados. A Síndrome de Weil é a forma
uma causa rara de hipoglicemia, cujo diagnóstico e´ mais grave, e além das insuficiências hepática e
tipicamente tardio, podendo acontecer alguns me- renal aguda graves, os doentes também podem
ses a vários anos após o início da sintomatologia. desenvolver pneumonite hemorrágica, aumentado
Outros diagnósticos prévios, sobretudo neurológi- consideravelmente a taxa de mortalidade. A escolha
cos e/ou psiquiátricos são frequentes. da antibioterapia empirica adequada e o suporte de
orgão oferecido conduziram a um desfecho favorá-
vel e alta para o domícilio como neste caso.
P n.º 2219 
Doença de weil - complexidade de uma hemorragia P n.º 2229 
alveolar Lei de Velpeau – um efeito adverso raro mas não
Maria Pacheco(1);Tiago Mendes(2);Telmo Borges um caso único
Coelho(3);Manuel Barbosa(4);Janine Resende(1) Diana Rocha(1);João Borralho(2);Ana Brochado(3);-
(1) Unidade Local de Saúde da Guarda, EPE / Hos- João Vaz Alves(2);Isabel Antunes(2);Fernando Bor-
pital Sousa Martins (2) Unidade Local de Saúde do ges(2);Kamal Mansinho(2)
Alto Minho, EPE / Hospital de Santa Luzia (3) Centro (1) Unidade Local de Saúde de Matosinhos, EPE /
Hospitalar de Vila Nova de Gaia / Espinho (4) Centro Hospital Pedro Hispano (2) Centro Hospitalar de
Hospitalar Gaia e Espinho Lisboa Ocidental, EPE / Hospital Egas Moniz (3)
Hospital Beatriz Ângelo
Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente crí-
tico Tema: Doenças infecciosas e parasitárias

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 765


Introdução: A metahemoglobina (HbM) é uma for- Na prática clínica é frequente ter-se o diagnóstico
ma de hemoglobina que ocorre quando o grupo através da clínica e alterações laboratoriais, com
heme é oxidado, passando o ferro (Fe2+) para o es- exames de imagem normais. Incomum é o diag-
tado férrico (Fe3+), condicionando alteração da sua nóstico baseado apenas em clínica e alterações
configuração e consequente diminuição da disponi- imagiológicas, sem que as enzimas pancreáticas se
bilidade de oxigénio aos tecidos. A metahemoglo- alterem. O caso clínico exposto retrata esta forma
binémia pode ser congénita ou, mais frequentemen- infrequente de diagnóstico.  
te, adquirida, secundária a fármacos ou tóxicos. A
sua associação à dapsona e, menos comummente,
à primaquina, está descrita na literatura. Homem, 63 anos, com antecedentes patológicos
de estenose carotídea tratada e acidente vascular
Caso clínico 1: Doente com infeção VIH-1, estádio cerebral isquémico, recorre ao serviço de urgência
C3, com cumprimento terapêutico errático e alergia por dor epigástrica intensa, constante, com irra-
ao trimetoprim-sulfametoxazol (TMP-SMX). Admi- diação para os flancos, com menos de 24 horas
tido por pneumocistose pulmonar, tendo iniciado de evolução. Negou outros sinais e sintomas. Ao
terapêutica com primaquina e clindamicina, man- exame objectivo salientou-se apenas hipertensão
tendo profilaxia da toxoplasmose com dapsona. grau 2. Realizou electrocardiograma, estudo analíti-
Verificou-se, em análise gasimétrica, aumento per- co, e tomografia computorizada de abdómen. Dos
centual da HbM, tendo-se suspendido o fármaco, resultados obtidos salienta-se apenas a descrição
substituindo-se por atovaquona. Manteve valores de de “pâncreas ligeiramente tumefacto na região ce-
HbM ~5%, permitindo a conclusão do ciclo de pri- fálica, de contornos regulares, eventual pancreatite
maquina. Paralelamente, objetivado défice ligeiro de aguda edematosa, com densificação da gordura
glicose-6-fosfato desidrogenase (G6PD) mas sem peripancreática” na tomografia.
evidência de anemia ou hemólise durante o curso
de tratamento. Doente foi admitido em internamento com diagnós-
Caso clínico 2: Doente com diagnóstico inaugural tico de Pancreatite aguda alitiásica, classificando
de infeção VIH-1, estádio C3, admitido por pneumo- apenas em 1 critério de Ranson. Realizou dosea-
cistose pulmonar, iniciando terapêutica com TM- mentos regulares da amílase e lípase, sem que es-
P-SMX. Por toxidermia subsequente, suspendeu o tes se tenham alterado. Apresentou evolução clínica
fármaco e iniciou primaquina e clindamicina. Objeti- favorável mas o estudo etiológico foi negativo. Teve
vada ascensão de HbM, até um máximo de 12.6%, e alta assintomático.
cianose labial motivando a suspensão da primaqui-
na ao 20º dia de tratamento. Verificou-se resolução Reavaliação posterior em consulta, com novo estu-
progressiva do quadro. do de imagem, confirmou a reversão completa das
alterações imagiológicas.
Discussão: Os autores pretendem alertar para o
efeito adverso decorrente da dapsona e da prima-
quina, bem como para a sua gestão, por vezes,
desafiante. Nos casos de alergia ao TMP-SMX, as A pancreatite aguda é uma patologia cujo diagnósti-
opções terapêuticas na pneumocistose grave são co é tipicamente dado pela clínica associada à ele-
escassas. Os doentes com défice de G6PD parecem vação das enzimas pancreáticas. Contudo, serve o
estar em maior risco de desenvolver metahemoglo- seguint caso para relembrar que o diagnóstico pode
binémia. A resolução da situação ocorreu em am- ser feito sem a que a amílase ou a lípase se alterem.
bos os casos com abordagem conservadora, dada a
ausência de repercussões clínicas ou gasimétricas P n.º 2234 
do aumento de HbM, embora os efeitos possam ser Doença de Still um diagnóstico de exclusão
letais. Enfatiza-se que a ocorrência destes dos ca- Ana Rodrigues(1);Cláudia Antunes(1);Maria João
sos descritos decorreu no espaço de um mês. Palavras(1);Anton Vasin(1);Filipa Alçada(1);Adélia
Miragaia(1);Maria Jesus Banza(1)
P n.º 2233  (1) Centro Hospitalar de Leiria / Hospital de Santo
Uma combinação infrequente de critérios de diag- André
nóstico de Pancreatite Aguda
Joana Dias Alfaiate(1) Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
(1) Centro Hospitalar do Médio Tejo culites
Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá-
ticas Introdução: A doença de Still(DS) constitui uma enti-
dade rara, eventualmente subdiagnosticada, com in-
cidência de 0,16%/100000/ano. Existe uma provável
O diagnóstico de Pancreatite Aguda é feito na pre- correlação entre quadro infecioso e suscetibilidade
sença de 2 de 3 critérios: dor epigástrica caracte- genética. Febre, artralgias, ´rash´ e odinofagia são
rística, elevação 3 vezes ou mais o valor normal de frequentes mas não patognomónicos, sendo que
amílase e/ou lípase e exame de imagem com altera- um ´rash´ crescente com o pico febril, eritematoso
ções compatíveis com o diagnóstico. mas não purpúrico. Ferritina 5x limite superior nor-

766
E-POSTERS
mal, leucocitose e marcadores de auto-imunidade (TC-CE): leucoaraiose, quisto aracnóideu temporal
negativos, constituem critérios de diagnóstico, sen- polar à direita a moldar ligeiramente o parênquima
do o critério que se reveste de maior importância é subjacente, alargamento dos ventrículos laterais e li-
a exclusão categórica de outras entidades clínicas. geira acentuação de alguns sulcos corticais de con-
Os anti-inflamatórios não esteroides(AINEs) e corti- vexidade cerebral. Analiticamente com leucocitose,
coides(CT) apresentam-se como a primeira linha de lesão renal aguda (AKIN 2), hipernatremia e hipergli-
tratamento. cémica. Gasimetricamente com acidemia metabóli-
Caso clínico: Homem, 38 anos, sem antecedentes ca grave (pH 7.112; HCO3 4.1). Por agravamento do
relevantes, inicia um quadro de odinofagia medica- estado de consciência, realizou punção lombar com
da com AINEs que surtem efeito. Porém, após 10 pleocitose de predomínio de linfocitário, proteinor-
dias, acresce na apresentação clínica febre, ´rash´ raquia e glucorraquia. A pesquisa de PCR VVZ foi
cutâneo e poliartralgias. Foi sujeito a controlo ana- positiva. O estudo dos restantes vírus neurotrópicos
lítico que revelou uma neutrofilia, com proteína e outras serologias infeciosas foi negativo. Medica-
C reativa, velocidade de sedimentação e ferritina da com aciclovir, a doente faleceu ao terceiro dia de
aumentadas. Durante o internamento foram excluí- internamento.
das causas infeciosas, auto-imunes e neoplásicas.
Realizou tomografia computadorizada toraco-abdo- A afetação neurológica do VVZ é rara em doentes
minal onde foram evidenciadas várias adenopatias imunocompetentes, representando um desafio diag-
mediastínicas(AM). Foi feita prova terapêutica com nóstico. Assim, os autores pretendem alertar para a
CT, por provável hipótese diagnóstica de DS. Foi ocorrência desta patologia em doentes imunocom-
observada remissão de sintomas após 48 horas petentes, que por vezes ainda acrescem de “fator
e redução do tamanho das AM aos 4 meses, sem confusional” ao diagnóstico, como sendo uma pato-
recidiva após o desmame da CT. Doente manteve logia neurológica demencial de base.
seguimento em consulta externa estando assinto-
mático desde então. P n.º 2237 
Discussão: Provavelmente a DS é uma entidade sub- Mixedema – para lá do coma
diagnosticada. Para assumir DS é necessária uma Luísa Viveiros(1);Fernanda Almeida(1);Manuela
investigação laboriosa, uma vez que se trata de um Bertão(1);Miguel Saraiva(1);Filipe Pinto(1);Ana Elisa
diagnóstico de exclusão. Atualmente, valores eleva- Dias(1);Ana Sofia Oliveira(1);Paulo Paiva(1);João
dos de ferritina, com clínica sugestiva, em doente Correia(1)
jovem, devem levantar esta hipótese diagnóstica. (1) Centro Hospitalar do Porto, EPE / Hospital Geral
Os AINEs e CT são a opção terapêutica para remis- de Santo António
são de sintomas.
Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio-
P n.º 2236  nais
Quando o problema não é a doença de Alzheimer -
Meningoencefalite por agente atípico Introdução
Maria Pacheco(1);João Barros Rodrigues(1);Ivan
Marcelo Martins Antunes(1);Franscisco Lopes Mor-
gados(1);Ana Teresa Moreira(1);Adriano Cardoso(1) O hipotiroidismo é uma doença frequentemente
(1) Unidade Local de Saúde da Guarda, EPE / Hospi- diagnosticada e de tratamento simples. Contudo, se
tal Sousa Martins não reconhecido atempadamente, pode evoluir para
a sua manifestação mais grave – coma mixedema-
Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas toso. O termo é delusório, uma vez que a maioria
dos doentes não se encontra inicialmente em coma.
De facto, o presente caso ilustra a importância de
A Varicela e o Herpes-Zóster (HZ) são provocados manter um elevado índice de suspeição de coma
pelo vírus da varicela zóster (VVZ), sendo a Varice- mixedematoso, para além das manifestações neu-
la a fase invasiva aguda do vírus e o HZ a reativação rológicas.
da fase latente, caracterizado por erupção cutânea,
vesicular, dolorosa com distribuição restrita aos Caso clínico
dermátomos correspondentes à reativação do
VVZ nos gânglios da raiz dorsal. Esta reativação Mulher de 77 anos, com antecedentes de fibrilação
pode também apresentar uma distribuição central auricular sob controlo de ritmo com amiodarona,
causando encefalite, uma entidade rara, com maior recorre ao Serviço de Urgência por astenia, dispneia
prevalência em neonatos e imunodeprimidos. A de esforço em agravamento e ortopneia.  À admis-
clínica de apresentação inclui cefaleias, febre e es- são, pontuava 15 pontos na Escala de Coma de
tupor, podendo evoluir com hipoxemia, choque, me- Glasgow. Hipotérmica, hipotensa, bradicárdica, com
ningite e encefalite. edemas periféricos. Crepitações dispersas à aus-
Doente de 64 anos, com doença de Alzheimer e cultação pulmonar. Insuficiência respiratória global
diabetes mellitus tipo 2, recorre ao SU por vómitos e com acidemia. Analiticamente, hiponatrémia, lesão
crises tónico-clónico generalizadas. Ao exame obje- renal aguda e elevação marcada de tireotrofina
tivo a doente encontrava-se febril, taquicardica, vigil, (TSH) e diminuição de fração livre da tiroxina (T4L).
afásica, não colaborante, com sinais meníngeos. Pontuação de Score Diagnóstico de Coma Mixede-
Na Tomografia Computarizada Craneo-Encefalica matoso altamente sugestiva/diagnóstica (105-115).

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 767


Assumido como mixedematoso, secundário a efeito do vancomicina. Manteve ceftriaxone até completar
de Wolff-Chaikoff a amiodarona. Instituída suple- 2 semanas de terapêutica endovenosa, com poste-
mentação com levotiroxina, suporte aminérgico e rior alteração para terapêutica oral com cotrimoxa-
ventilação não invasiva, com evolução clínica favo- zol.
rável. Do estudo realizado, identificado como preci-
pitante pielonefrite aguda, resolvida sob antibiotera- Realizou ressonância magnética que confirmou Es-
pia. À data de alta, disfunções de órgão resolvidas, pondilodiscite a nível de D10-D11 e fleimão periver-
TSH em franco decréscimo e normalização de T4L. tebral. Dada a história recente de prostatite aguda,
considerada disseminação hematogénica, apesar
Discussão de não ter havido manipulação do trato genito-uriná-
rio.
O coma mixedematoso é uma manifestação rara
do hipotiroidismo, todavia associada a uma elevada Discutido caso com Ortopedia que foi da opinião de
taxa de mortalidade. O diagnóstico pode não ser não realizar intervenção cirúrgica. As HC de contro-
evidente, dada a ausência de critérios clínicos de lo foram negativas às 4 semanas de antibioterapia.
diagnóstico definitivos e sintomas inespecíficos. O doente teve alta para o domicílio após 6 semanas
Este caso ilustra uma forma avançada de coma de internamento, sob analgesia e cotrimoxazol oral
mixedematoso, sem depressão significativa do es- até completar 8 semanas de antibioterapia.
tado de consciência, na qual o reconhecimento das
restantes disfunções de órgão, não neurológicas, foi DISCUSSÃO
essencial para o diagnóstico e tratamento oportu-
nos. Apesar de pouco frequente no doente imunocompe-
tente, a Espondilodiscite a agentes gram negativos
P n.º 2242  pode acontecer sobretudo após instrumentação do
ESPONDILODISCITE A ESCHERICHIA COLI: UM RE- trato urinário. Na ausência de instrumentação, esta
LATO DE CASO infeção é ainda mais rara. No entanto, como ilustra
Sara Pereira(1);Marta Matos Pereira(1);Tiago Men- este caso, esta é uma hipótese diagnóstica a consi-
des(1);Ana Sofia Ferreira(1);Sabina Azevedo(1);Sel- derar nos doentes com lombalgia e febre, dadas as
mira Faraldo(1);Paula Brandão(1) complicações e sequelas associadas.
(1) Hospital Conde de Bertiandos, ULSAM
P n.º 2247 
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias Sick bone: a traição da paratiroide
Joana Marques(1);Henrique José da Costa Pina(1);-
Sílvia Santos Balhana(1);Marta Azevedo Ferreira(1);-
INTRODUÇÃO Carolina Cabrita Abreu(1);Ana Grilo(1);Fernando
Martos Gonçalves(1);José Lomelino Araújo(1)
A Espondilodiscite é uma infeção pouco comum da (1) Hospital Beatriz Ângelo
coluna vertebral. Pode surgir por inoculação direta
após trauma ou cirurgia, disseminação de infeção Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio-
de tecidos adjacentes, ou mais frequentemente por nais
disseminação hematogénica. A espondilodiscite por
E.coli está associada a bacteriémia após instrumen- Introdução: Na atualidade o hiperparatiroidismo
tação do trato urinário, sendo muito menos frequen- primário (HPTP) apresenta-se mais frequentemente
te na sua ausência. como uma hipercalcémia assintomática. As altera-
ções ósseas como a osteíte fibrosa quística ocorre
CASO CLÍNICO em <5% dos casos e sugere doença prolongada.
Homem de 57 anos, com história recente de pros-
tatite aguda a E.coli, sem outros antecedentes Caso clínico:
médicos. Duas semanas após o diagnóstico de
prostatite, iniciou lombalgia intensa, sem irradiação Homem, 45 anos, com miocardiopatia em fase dila-
ou posição antálgica, e hipersudorese noturna. À tada e insuficiência cardíaca com fração de ejeção
admissão no serviço de urgência, apresentava-se deprimida (provável etiologia hipertensiva e alcoó-
subfebril e sem défices neurológicos. lica), diabetes mellitus tipo 2, dislipidémia mista,
tabagismo e etanolismo.
Realizou estudo analítico com velocidade de sedi-
mentação aumentada (65mm/s), sem outras altera- Encaminhado à consulta por paraparésia de agra-
ções. O TC da coluna lombar revelou irregularidade vamento progressivo com incapacidade para a
dos corpos vertebrais de D10-D11 e edema dos marcha. À observação: mau estado geral, emagre-
tecidos paravertebrais adjacentes, sugerindo Es- cido, com perda de massa muscular nos membros
pondilodiscite. Colheu hemoculturas (HC) e iniciou inferiores, sem alterações à auscultação cardíaca
vancomicina e ceftriaxone empiricamente. com fervores bibasais bilaterais e edema pretibial;
hipostesia nos membros inferiores e diminuição da
No internamento teve dor de difícil controlo e ini- força global e segmentar com dificuldade em man-
ciou analgesia com opióide. As HC iniciais foram ter o ortostatismo.
positivas para E.coli multissensível, tendo suspendi-

768
E-POSTERS
Do estudo imagiológico a destacar presença de inflamatórios, marcadores de necrose miocárdica
múltiplas fraturas ósseas de corpos vertebrais com em cinética decrescente, rastreio séptico negativo,
colapso, calos ósseos por fraturas de arcos costais, eletrocardiograma com supradesnivelamento do
alteração estrutural do ilíaco direito e insuflação segmento ST em todas as derivações precordiais e
sugestiva de doença de Paget. A RM-lombo sagra- derrame pericárdico com 2cm de espessura. Dada
da excluiu envolvimento pagético da coluna, com a presença de febre sem foco, elevação de parâme-
múltiplas fraturas de plataformas vertebrais com tros inflamatórios e derrame pericárdico de novo,
estenose raquidiana central e foraminal acentuda admitiu-se a hipótese diagnóstica de síndrome pós-
em L5-S1 bilateral. -lesão cardíaca (síndrome de Dressler vs. pericardite
pós-traumática iatrogénica, no contexto da angio-
Estudo analítico a revelar anemia normocítica nor- plastia coronária) e iniciou-se ácido acetilsalicílico
mocrómica sugestiva de doença inflamatória, sem em dose anti-inflamatória, com esquema de desma-
outras alterações do hemograma ou do esfregaço me ao longo de 4 semanas, e colchicina, que mante-
de sangue periférico, sem lesão renal, com cálcio ve durante 3 meses. Objetivou-se uma boa resposta
corrigido à albumina de 10.4mg/dL, hormona pa- clínica com apirexia mantida, perfil hemodiamico
ratiroideia elevada (140pg/mL), calcitonina normal estável, sem recorrência da dor torácica e com des-
e défice de vitamina D (6.5UI/L). HbA1c 6,5%. Cin- cida sustentada de troponina. O ecocardiograma de
tigrafia óssea revelou alterações ósseas difusas reavaliação após 2 meses mostrou desaparecimen-
compatíveis com osteíte fibrosa quística. Cintigrafia to por completo do derrame pericárdico.
das paratiroideias com marcação assimétrica de
predomínio esquerdo. Discussão:
Admite-se o diagnóstico de HPTP com envolvimen- O diagnóstico das síndromes pós-lesão cardíaca é
to ósseo grave e difuso e foi encaminhado para con- feito com base na suspeita clínica, com o apareci-
sulta de Cirurgia Geral e Endocrinologia. mento de sintomas e sinais de pericardite, como dor
torácica pleurítica, fadiga, atrito pericárdico e febre.
Conclusões: Este caso é ilustrativo de um HPTP Apoiam o diagnóstico as alterações típicas no ele-
de longa evolução com envolvimento ósseo grave trocardiograma e aumento dos parâmetros inflama-
com múltiplas fraturas e osteíte fibrosa quística tórios, num doente com história de lesão cardíaca
uma apresentação raramente identificada. Destaco recente. O período de latência é altamente variável
a associação com patologia cardiovascular como a e pode ser tão curto como 3 dias ou tão prolongado
hipertensão arterial e hipertrofia ventricular as quais como 6 semanas. Uma implicação terapêutica im-
são mais comuns no HPTP prolongado. portante nestes doentes é a necessidade evicção
de anticoagulação, pelo risco de hemopericárdio e
P n.º 2252  tamponamento.
SÍNDROME PÓS-LESÃO CARDÍACA: A PROPÓSITO
DE UM CASO CLÍNICO P n.º 2254 
Rita Tinoco Magalhães(1);Marta Ramos(1);Maria Apresentação atípica de Linfoma B difuso de gran-
Margarida Andrade(1);Rita Valadas(1);Patrícia Ci- des células
priano(1);Víctor Espadinha(1);Diogo Cruz(1) Maria Pacheco(1);Ivan Marcelo Martins Antunes(1);-
(1) Hospital Cascais João Barros Rodrigues(1);Ana Teresa Moreira(1);A-
driano Cardoso(1)
Tema: Doenças cardiovasculares (1) Unidade Local de Saúde da Guarda, EPE / Hospi-
tal Sousa Martins
Introdução:
Tema: Doenças oncológicas
As síndromes pós-lesão cardíaca incluem um grupo
de entidades clínicas imunomediadas heterogéneas O Linfoma B difuso de grandes células representa
onde se verifica inflamação do pericárdio, epicárdio cerca de 1/3 de todos os linfomas.  Surge em indiví-
ou miocárdio em resultado de lesão cardíaca. São, duos com idade superior a 40 anos, e é rapidamente
atualmente, consideradas um fenómeno raro e dado progressivo, se não for tratado precocemente. Ape-
o seu amplo espectro de manifestações clínicas, nas 30-40% dos doentes têm atingimento extragan-
poderão ser difíceis de reconhecer. Os autores apre- glionar, mais frequentemente localizado no tubo
sentam um caso clínico em que foi admitido este digestivo.
diagnóstico, com uma apresentação invulgarmente
precoce. Doente de 86 anos, autónomo, com antecedentes
de hipertensão arterial, trombose venosa profunda
Caso clínico: do membro inferior esquerdo e doença renal cróni-
ca, recorre ao Serviço de Urgência por epigastrialgia
Um homem de 55 anos, admitido por enfarte agu-
intensa. Analiticamente apresenta anemia (10.6 g/
do do miocárdio com supradesnivelamento do
dL) normocitica normocromica, Velocidade de sedi-
segmento ST e submetido a angioplastia primária,
mentação de 70 mm/h e creatinina de 1.59 mg/dL.
desenvolve febre 3 dias após o procedimento, com
Objetivamente com abdómen doloroso à palpação.
manutenção de desconforto torácico. Do estudo
A tomografia computadorizada mostrou espessa-
complementar destaca-se elevação de parâmetros

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 769


mento difuso da parede gástrica com adenopatias pesquisa de bacilos álcool-ácido resistentes nas
epiploicas e implantes metastáticos peritoneais. secreções brônquicas foi negativa, tendo sido iso-
É internado para estudo complementar. No inter- lado Ad sensível à piperacilina/tazobactam e mero-
namento revelou já ter realizado em ambulatório, penem, sendo que as hemoculturas foram estéreis.
cerca de um mês antes, endoscopia digestiva alta O doente cumpriu 7 dias de antibioterapia com boa
(EDA) que revelou uma formação ulcerada na face evolução clínica e analítica.
anterior do estomago e histologia sem critérios de
malignidade.  Uma vez que doente mantinha epigas- DISCUSSÃO:
trialgias marcadas e agravamento da anemia, repete
EDA que demonstrou lesão ulcerada com abundan- O Ad é uma bactéria Gram negativa aeróbica
te fibrina sugestiva de neoplasia gástrica. A biopsia estrita, implicada em infeções de vários órgãos, em
revelou envolvimento gástrico por Linfoma B difuso doentes imunodeprimidos e imunocompetentes,
de células grandes. O doente foi então encaminha- embora os primeiros se encontrem em maior risco
do para consulta de Hematologia onde actualmente de as desenvolver. Acredita-se que a existência
mantém seguimento, sendo que pelo valor do IPI de patologia estrutural prévia desempenhe um
(índice internacional de prognóstico), apresenta papel importante na patogénese da pneumonia por
uma probabilidade reduzida de resposta à terapêuti- este agente, sendo que o seu tratamento depende
ca instituída. dos testes de suscetibilidade. Com este caso, os
autores pretendem alertar para o aparecimento de
Com este caso os autores pretendem realçar a novos agentes etiológicos de PAC.
importância da clínica em detrimento dos exames
complementares de diagnostico, ficando demons- P n.º 2262 
trado que na maioria das vezes a clínica deve pre- Será sépsis?!
valecer no juízo clínico e os exames são como o Micaela Sousa(1);Rita Diz(1);Pedro Simões(1);San-
próprio nome refere apenas complementares. dra Raquel Sousa(1);Filipa Alves Rodrigues(1);An-
dreia Diegues(1);Helena Maurício(1);Miriam Blan-
P n.º 2255  co(1)
Um agente raro de pneumonia da comunidade: (1) Unidade Local de Saúde do Nordeste
Achromobacter denitrificans
Catarina Borges Fernandes(1);Marco Diogo(1);Mar- Tema: Doenças hematológicas
garida Pereira e Alvelos(1);Paulo Torres Rama-
lho(1);Paulo Bettencourt(1) Introdução:
(1) Hospital CUF Porto
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias A Linfoistiocitose hemofagocítica (LHH) é uma
síndrome hiperinflamatória. Pode ser primária (ge-
nético) principalmente diagnosticada em crianças,
Introdução: ou secundária a malignidade, infeções e distúrbios
reumatológicos, sendo as infeções um dos triggers
A pneumonia é uma importante causa de morbilida- mais prevalentes. A LHH pode ter um largo espectro
de e mortalidade, sendo que a frequência de novos de apresentações clínicas que incluem febre sem
patogéneos emergentes tem implicações significa- foco, hepatite/falência hepática aguda, sépsis-like
tivas no tratamento destas infeções. Em 2014 foi ou neurológicas. O aparecimento súbito e inexplicá-
pela primeira vez relatada pneumonia por Achromo- vel de sinais e sintomas compatíveis com uma res-
bacter denitrificans (Ad). Os autores apresentam um posta inflamatória sistémica deve obrigar sempre à
caso de pneumonia adquirida na comunidade (PAC), exclusão da doença como hipótese diagnóstica. As
causada por este agente raro, num doente imunode- manifestações clinicas mais frequentes incluem fe-
primido com patologia pulmonar estrutural. bre, hepatomegalia, esplenomegalia, adenomegalias
múltiplas, rash e alterações neurológicas.
CASO CLÍNICO:
Caso Clínico:
Homem de 77 anos, com história de doença pulmo-
nar obstrutiva crónica, cronicamente medicado com Doente sexo masculino, 61 anos, sem antecedente
prednisolona 40mg/dia por polimialgia reumática, de relevo, recorre ao SU por quadro de tonturas,
com suspeita de disfagia, recorre ao serviço de epigastralgia, mal-estar geral e dejeções diarreicas
urgência por astenia, prostração, confusão mental, com cerca de 7 dias de evolução. Negada outra
tosse produtiva e dispneia para pequenos esforços sintomatologia. Objetivada febre e hipotensão à ad-
com cerca de duas semanas de evolução. À admis- missão. Analiticamente apresentava pancitopenia
são apresentava-se febril, hipotenso, taquicárdico, severa. Realizado estudo extensivo analítica e ima-
taquipneico, com insuficiência respiratória hipoxé- giológico, tendo sido objetivado hiperferritinemia,
mica e hiperlactacidémia ligeira. Analiticamente citólise hepática e fibrinogénio diminuído. Restante
exibia leucocitose e elevação da proteína C reativa, estudo sem alterações, tendo sido excluído doença
sem outras disfunções de órgão identificadas. A oncológicas e hematológica primária. Pelo quadro
tomografia computorizada torácica descrevia várias clinico apresentado, discutido caso com Hemato-
densificações nodulares cavitadas dispersas por logia e calculado o score HScore por suspeita de
ambos os pulmões e bronquiectasias bilaterais. A Síndrome hemofagocítico secundário a infeção
770
E-POSTERS
vírica, tendo classificação de 179, entre 54-70% de DISCUSSÃO:
probabilidade de diagnóstico. Iniciou corticoterapia
tendo melhoria do quadro clinico. Teve alta com se- A SCT é uma entidade frequentemente subdiagnos-
guimento em consulta. ticada, de evolução muitas vezes rápida, permitindo
ilustrar a importância do seu diagnóstico atempa-
Discussão: do, intervenção agressiva e precoce no sentido de
minorar a morbilidade e mortalidade associadas a
O LHH é uma doença rara e fatal sem tratamento. esta síndrome.
A sua incidência é incerta, pois o diagnóstico é difí-
cil devido ao mau reconhecimento, baixo índice de P n.º 2265 
suspeita e falta de critérios diagnósticos permane- Hipotensão ortostática - Uma apresentação atípica
cendo a necessidade de refinar os critérios diagnós- de feocromocitoma
ticos atuais e as opções de tratamento. Catarina Borges Fernandes(1);Paulo Torres Rama-
lho(1);Paulo Bettencourt(1)
P n.º 2263  (1) Hospital CUF Porto
Síndrome do choque tóxico por Streptococcus pyo-
genes Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio-
Catarina Borges Fernandes(1);Pedro Lobo(1);Alber- nais
to Leite(1);Margarida Pereira e Alvelos(1);Paulo Tor-
res Ramalho(1);Paulo Bettencourt(1) Introdução:
(1) Hospital CUF Porto
Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente crí- Os feocromocitomas são tumores neuroendócrinos
tico raros, na maioria das vezes esporádicos e unilate-
rais, secretores de catecolaminas, cuja sintoma-
Introdução: tologia depende do padrão de síntese e libertação
hormonal. A maioria dos doentes não apresenta a
tríade clássica (cefaleia, diaforese e taquicardia),
A síndrome do choque tóxico (SCT) é uma entidade sendo habitualmente associados a hipertensão
rara que cursa com elevada mortalidade, podendo arterial. Todavia, alguns podem apresentar valores
estar associada a infeção por vários agentes. As de pressão arterial normais/baixos, o que dificulta o
manifestações clínicas relacionam-se com a produ- diagnóstico.
ção maciça de citocinas inflamatórias em resposta
à libertação de toxinas pelos agentes infeciosos. Os CASO CLÍNICO:
autores apresentam um caso de SCT associado a
infeção por Streptococcus pyogenes com provável Homem de 44 anos, previamente saudável, sem
ponto de partida abdominal. medicação habitual, apresenta-se na consulta por
paroxismos, por vezes noturnos, de cefaleia inten-
CASO CLÍNICO: sa, diária, associada a palpitações, palidez cutânea
da face e extremidades e intolerância ortostática.
Mulher de 39 anos, com história de hipotiroidismo O Holter, ecocardiograma, prova de esforço e eco-
sob levotiroxina, recorre ao serviço de urgência por -doppler carotídeo eram normais e o teste de tilt
quadro com 3 dias de evolução caracterizado por reproduziu sintomas com resposta vasodepres-
febre, dor nos quadrantes inferiores do abdómen, sora. O doente manteve a sintomatologia apesar
náuseas, vómitos e diarreia. À admissão encontra- das medidas posturais e otimização volémica. Por
va-se pálida, desidratada, hipotensa, taquicárdica e desconforto abdominal, efectuada tomografia com-
febril. Analiticamente apresentava leucocitose, ele- putorizada que mostrou, incidentalmente, um nó-
vação da proteína C reativa (37,4mg/dL) e disfunção dulo da suprarrenal esquerda (6 cm). Foi realizado
renal ligeira, sem hiperlactacidémia. A tomografia o doseamento das metanefrinas urinárias (valores
toraco-abdomino-pélvica descrevia sinais sugesti- cerca de 20 vezes superiores ao normal) e do ácido
vos de processo pneumónico bilateral com derra- vanilmandélico (valor 3 vezes superior ao normal).
me pleural, aparente pielonefrite bilateral, aspetos Assumido o diagnóstico de feocromocitoma, proce-
sugestivos de gastroenterocolite e peritonite. Dada deu-se à ressecção cirúrgica. O exame anátomo-pa-
a exuberância dos achados imagiológicos e após tológico da peça cirúrgica confirmou o diagnóstico,
colheita de líquido peritoneal purulento realizou-se não se verificando evidência de necrose, que por
laparoscopia exploradora, com lavagem peritoneal vezes se associa à apresentação com hipotensão.
de abundante conteúdo purulento, sem identifica-
ção do ponto de partida nem isolamento microbio- DISCUSSÃO:
lógico no líquido. Foi isolado Sptreptococcus pyoge-
nes em hemoculturas. A doente evoluiu com choque Apresentamos um caso de feocromocitoma inci-
distributivo, disfunção multiorgânica e necessidade dental com clínica pouco habitual, constituindo um
de ventilação mecânica invasiva. Cumpriu 3 dias de desafio diagnóstico, dada a dificuldade de integra-
imunoglobulina humana, 14 dias de penicilina G e ção semiológica da hipotensão postural, prejudican-
10 dias de clindamicina com boa evolução clínica e do o seu reconhecimento precoce.
analítica e resolução de todas as disfunções.
P n.º 2266 

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 771


Tempestade Tiroideia, uma necessidade de anteci- P n.º 2268 
par a Trovoada Arterite de Células Gigantes: a propósito de um
Catarina Domingues(1);Joana Gonçalves(1);Cláudio caso clínico
Diogo(1);Ana Salgueiro Rodrigues(1);Carolina Fer- Ana Morais Alves(1);Sofia Perdigão(1);Marta Lis-
nandes(1);Bruno Cabreiro(1);Daniela Antunes(1);Tia- boa(1);Cristiana Sousa(1);Fernando Salvador(2)
go Pais(1);Ana Ponciano(1);Sónia Salgueiro(1);Ma- (1) Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Dou-
ria Jesus Banza(1) ro, EPE / Unidade Hospitalar de Chaves (2) Centro
(1) Centro Hospitalar de Leiria / Hospital de Santo Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro, EPE /
André Hospital de Vila Real

Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio- Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
nais culites

Introdução: Tempestade tiroideia, uma entidade rara Introdução: A arterite de células gigantes (ACG) é
mas com necessidade de identificação e tratamento uma vasculite de grande vaso, mais prevalente em
imediato dada a sua potencial fatalidade no atraso mulheres e idade >50 anos. A afetação sistémica
de diagnóstico e tratamento. O seu diagnóstico é na AAG ocorre em 80% e a aortite em 50-60%. Caso
fundamentalmente clínico. Na ausência de resul- Clínico: Mulher, 75 anos, autónoma, antecedentes
tados analíticos ou imagiológicos, perante clínica de estenose aórtica moderada, sem medicação.
sugestiva deve ser iniciado tratamento. Recorreu ao serviço de urgência por febre <24horas;
astenia, cefaleia, cansaço e perda ponderal há 1
Trata-se de uma exacerbação aguda do hipertiroi- mês; sem outros sintomas. Extração dentária há 6
dismo, precipitada mais frequentemente por infec- dias, realizou azitromicina profilática. Exame físico:
ções. pulso temporal esquerdo diminuído, febril 38.1ºC,
sopro aórtico II/VI. Dada extração, febre e sopro,
Caso Clínico: Mulher, 52 anos. Quadro de dor e au- colheu hemoculturas e iniciou ceftriaxone empíri-
mento de volume cervical anterior com evolução co na suspeita de endocardite infeciosa. Análises:
de 8 dias, febre com registo de 39,7ºC no domicílio. anemia (Hb 10.8g/dl) normocítica normocrómi-
Disfagia para sólidos e líquidos e disfonia. Vómitos, ca, leucócitos 14400, PCR 16,46mg/dl, aumento
diarreia, xerostomia, palpitações, insónias e emagre- de troponina, D-Di´meros e proteínas fase aguda
cimento recente não quantificado. (PFA)(VS 112mm/1ªh, haptoglobina 426mg/dL, FR
123.3UI/m). ECG: sinusal, sem alterações ST. Urina
Objectivamente: Febre de 40ºC, taquicardia sinusal II: proteinas. SARS-CoV2 negativo. Ecocardiograma
permanente de 130 bpm. Tiróide dolorosa, dura à sem vegetações e angioTC toráx sem trombose
palpação, volume aumentado no istmo e lobo direi- pulmonar mas com aortite. Por clínica sistémica e
to, sem nódulos palpáveis, dor à flexão e extensão aortite, suspeita de vasculite grande vaso, suspen-
cervical. Sem sinais meníngeos. deu antibiótico e iniciou metilprednisolona 250mg/
dia ev (3dias), seguida de prednisolona (PDN) 1mg/
Analiticamente marcada elevação de parâmetros kg oral. Restante estudo incluindo autoimunidade
inflamatórios: Leucócitos 16000, Neutrófilos 13900, negativa; exceto ANCA-MPO positivo. Urina 24ho-
PCR 310,5 mg/L. TSH 0,01 uUl/mL, T4Livre 73,9 ras: clerance 54ml/min, albumina 35mg, proteínas
pmol/L. 253mg. Ecografia renal: rins sem alterações e sem
estenoses arteriais. RMN crânio: isquemia protube-
Ecografia tiroideia: “Glândula tiroideia aumentada rancial esquerda, angioRMN: espessamento adven-
de volume(…)contorno algo bosselado. Estrutura tícia, crossa, descendente proximal, abdominal in-
heterogénea, predominantemente hipoecogénica frarrenal e ilíaca esquerda. EMG sem polineuropatia.
difusa com alguns esboços nodulares(…)aspectos Ecodoppler temporal: sem estenoses. Biópsia arté-
sugestivos de tiroidite.(…)Glândula mobiliza-se com ria temporal esquerda: lumén arterial com polimor-
deglutição. Sem adenomegalias laterocervicais.” fonucleares neutrófilos. Assumido diagnóstico ACG,
Sem evidência de abcessos ou hemorragia. 3 critérios classificatórios ACR 1990 (idade 50 anos,
VS>50mm/1ªh, diminuição pulso temporal esquer-
Iniciada terapia com ceftriaxona e metibazol com do). Foi associado metotrexato 20mg/semana, AAS
franca melhoria clínica e analítica. 100mg e desmame PDN. Ocorreu melhoria clínica,
diminuição PFA e troponina negativa. Discussão: Foi
Discussão: Dadas a clínica associada a marcada
estabelecido o diagnóstico de ACG mas dúvida se
elevação de T4L e de parâmetros inflamatórios, a
overlap ACG-vasculite associada ANCA (AAV) ou
doente apresenta um quadro de tireotoxicose em
AAV-MPO com atingimento grande vaso, extrema-
contexto de tiroidite subaguda. Segundo a clínica
mente raro. É importante ter em conta os sintomas
apenas, aplica-se o sistema de pontuação de Bur-
sistémicos no diagnóstico de ACG e avaliar a exten-
ch & Wartofsky para diagnóstico de Tempestade
são da doença, a referir afetação cardíaca e possí-
Tiroideia. São reunidos 55 pontos pelo que este
vel cerebral
diagnóstico é altamente provável. De acordo com a
Associação da Tiróide do Japão, em conjunto com
a tireotoxicose, as manifestações clínicas descritas P n.º 2269 
fazem diagnóstico de tempestade tiroideia. Um caso de intoxicação por lítio com toxicidade

772
E-POSTERS
multissistémica Catarina Borges Fernandes(1);Hugo Morais(1);Paulo
Catarina Borges Fernandes(1);Margarida Pereira e Torres Ramalho(1);Paulo Bettencourt(1)
Alvelos(1);Paulo Torres Ramalho(1);Paulo Betten- (1) Hospital CUF Porto
court(1)
(1) Hospital CUF Porto Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas

Tema: Outro Introdução:

Introdução: A doença de Beçet (DB) é uma vasculite sistémica


autoimune, cuja tríade clínica clássica inclui úlceras
O lítio é amplamente utilizado no tratamento da genitais, aftas orais e uveíte, mas pode atingir qual-
doença bipolar e como estabilizador do humor. quer aparelho e sistema, nomeadamente o sistema
Contudo, pelo seu estreito intervalo terapêutico, nervoso central (SNC) (em menos de 10% dos ca-
carece de monitorização regular dos níveis séricos sos) - Neuro-Beçet (NB). Os autores apresentam um
e vigilância do aparecimento de eventuais sinais caso de NB, a forma mais grave da doença.
ou sintomas de toxicidade. Com este caso clínico
os autores pretendem ilustrar a complexidade do CASO CLÍNICO:
diagnóstico e a abordagem da toxicidade multissis-
témica. Mulher de 49 anos, diagnosticada com DB há 7
anos, sob azatioprina, observada no serviço de
CASO CLÍNICO: urgência por astenia, letargia, desorientação e
náuseas. Apresentava-se prostrada, com discurso
Mulher de 69 anos, com diagnóstico de doença confuso e incoerente, dismetria na prova dedo-nariz,
bipolar, medicada há mais de 30 anos com carbo- desequilíbrio da marcha, ptose do olho esquerdo
nato de lítio na dose de 800mg/dia, é observada no com estrabismo divergente e diplopia. Analitica-
serviço de urgência por confusão mental e tonturas mente verificava-se leucocitose com neutrofilia rela-
com várias semanas de evolução de agravamen- tiva. A tomografia computorizada cerebral mostrou
to progressivo, apresentando-se à admissão com uma lesão ocupante de espaço na região talâmica
prostração marcada, lentificação psicomotora e esquerda e duas lesões justacorticais na região pe-
rigidez bilateral de predomínio axial. Analiticamente rirrolândica e occipital esquerda. Apresentava líqui-
apresentava insuficiência renal aguda não oligúrica. do cefalorraquidiano inflamatório, com consumo de
A imagiologia cerebral não mostrou lesões agudas glicose e  hiperproteinorráquia. Colocada a hipótese
ou ocupantes de espaço. Foi solicitado doseamento de infeção do SNC, foi iniciada antibioterapia empíri-
sérico do lítio, que se encontrava em níveis tóxicos ca. A ressonância magnética cerebral (RMN CE) evi-
(3.44mmol/L). O fármaco foi, de imediato, suspenso denciou lesões extensas e difusas com distribuição
e a doente iniciou fluidoterapia intensiva. O eletroen- e padrão de realce após administração de contraste
cefalograma era compatível com encefalopatia compatíveis com natureza inflamatória, não se iden-
metabólica severa. A função tiroideia e a calcémia tificando abcessos, sendo a etiologia linfoprolifera-
avaliadas foram normais. Ao longo do internamen- tiva desfavorecida pela escassa restrição à difusão
to constatou-se hipernatrémia e poliúria, tendo-se de moléculas de água. Assumindo-se provável NB,
diagnosticado diabetes insípida nefrogénica. A evo- foi suspensa antibioterapia e iniciados pulsos de
lução foi lenta, com washout difícil do lítio, mas não metilprednisolona 1g/dia (5 dias). A RMN CE à data
se verificou necessidade de diálise, tendo-se cons- da alta apresentava redução do volume das lesões,
tatado melhoria progressiva do estado de consciên- sugerindo resposta à terapêutica. Clinicamente veri-
cia e resolução da poliúria e da hipernatrémia. Após ficou-se melhoria das funções nervosas superiores
avaliação por psiquiatria foi decidida suspensão e resolução das náuseas, com persistência dos
definitiva do lítio tendo a doente alta medicada com restantes défices neurológicos. A doente teve alta
amissulpride e aripripazol. sob ciclofosfamida mensal. Quatro meses depois
apresentava resolução completa dos défices neu-
DISCUSSÃO: rológicos e a RMN CE de reavaliação documentava
involução evidente das lesões.
A intoxicação por lítio, apesar do seu mecanismo de
ação ainda não ter totalmente compreendido, é uma DISCUSSÃO:
situação grave que requer uma abordagem e atua-
ção imediatas e holísticas, tendo em conta a nature- Estamos na presença de uma apresentação pouco
za multissistémica das suas manifestações, sendo frequente da DB, com clínica inespecífica, em que o
que uma identificação precoce diminui o impacto diagnóstico e tratamento precoces se associam a
das mesmas. A sua interrupção também se torna melhor outcome de morbimortalidade.
um dilema, pois aumenta o risco de recorrência
precoce da doença bipolar, sendo necessária uma P n.º 2276 
abordagem multidisciplinar. Uma causa estranha de disfagia - disfagia lusória
Micaela Sousa(1);Rita Diz(1);Pedro Simões(1);San-
P n.º 2271  dra Raquel Sousa(1);Filipa Alves Rodrigues(1);An-
Neuro-Beçet – flare grave sob imunossupressão - dreia Diegues(1);Helena Maurício(1);Miriam Blan-
caso clínico co(1)

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 773


(1) Unidade Local de Saúde do Nordeste Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio-
nais
Tema: Doenças cardiovasculares
Introdução
Introdução
A apresentação inespecífica dos tumores neuroen-
A disfagia consiste em dificuldade na deglutição. dócrinos pode significar um atraso na sua avalia-
São várias as etiologias responsáveis, incluindo ção. Relatamos um caso de tumor neuroendócrino
doenças neuro-musculares e patologias estruturais. do intestino delgado, cujos sintomas carcinoides, só
Entre as entidades estruturais de natureza não neo- foram reconhecidos ano e meio após o seu início.
plásica, as anomalias vasculares devem ser consi-
deradas, pela possibilidade de compressão das vias Caso clínico
aero-digestivas superiores.
Mulher de 80 anos, hospitalizada em março de 2021
A disfagia lusória é consequência da compressão por astenia e dificuldade na marcha com 2 semanas
do esófago causada por uma ou mais anomalias de evolução. Desde há ano e meio referia: anorexia;
vasculares congénitas. O diagnóstico é feito por de- náuseas; diarreia líquida, sem sangue, muco ou pus
monstração da compressão extrínseca do esôfago (8 dejeções diárias); e perda ponderal de 62kg (de
e angiografia torácica. Em alguns casos, é necessá- 137kg com IMC 49,7 Kg/m2 para 75kg com IMC 27,2
rio tratamento cirúrgico. Kg/m2). Ao exame objetivo, apresentava nódulo no
lobo esquerdo da tiroide (1cm), elástico, móvel, e
Caso Clínico dor à palpação abdominal superficial e profunda
com hepatomegalia (2cm abaixo do rebordo costal).
Doente sexo feminino, 79 anos, com antecedentes Laboratorialmente salientava-se hipocaliemia (2.9
de patologia osteoarticular, parcialmente dependen- mmol/L) e padrão citocolestático (AST 47 U/L, GGT
te a nível motor. Internada no serviço de Ortopedia 240 U/L, FA 143 U/L). Em 2019 iniciara investigação
após realização de cirurgia por prótese total anca (antes do confinamento pandémico) com endosco-
esquerda, pedida colaboração de Medicina Interna pia digestiva alta e colonoscopia, sem identificação
por quadro respiratório agudo e disfagia para sóli- de malignidade. A RMN abdominal de janeiro 2021
dos com alguns meses de evolução. Doente já tinha revelava várias lesões hepáticas (a maior com
realizado endoscopia digestiva alta, sem alterações. 12x11x18cm). Da avaliação laboratorial dirigida sa-
Realizou Angio-TC tórax, tendo encontrado defeitos lientava-se calcitonina (1438 pg/mL), cromogranina
de repleção nos ramos sub-segmentares no lobo A (1938 ng/mL) e gastrina (443 pg/mL) elevadas,
inferior do pulmão direito, sendo diagnosticada com metanefrinas e normetanefrinas plasmáticas,
tromboembolismo pulmonar. Iniciou hipocoagula- função paratiroideia e hipofisária normais. TC toráci-
ção sem intercorrências. No mesmo estudo imagio- ca sem alterações. A citologia aspirativa do nódulo
lógico, observou-se percurso tortuoso da aorta que tiroideu foi “não diagnóstica” (Bethesda), lavado na
leva a compressão extrínseca do esôfago. Discutido ponta da agulha com calcitonina normal. A biópsia
com Cirurgia Geral e Cirurgia Vascular: sem possibi- da lesão hepática revelou tumor neuroendócrino
lidade de intervenção, apenas de indicação de colo- com índice proliferativo (Ki67) 15% e o Octreoscan
cação de gastrostomia. Foi transferida para Unidade revelou um tumor com recetores da somatostatina
de Cuidados Continuados com avaliação prévia de no intestino delgado e metástases hepáticas. A
Nutrição para plano alimentar, com pedido de con- terapêutica com octreótido resolveu a diarreia com
sulta para Cirurgia Geral. franca melhoria da dor abdominal.
Conclusão  Discussão
A disfagia extrínseca de etiologia não neoplásica Considerando os sintomas com ano e meio de evo-
é pouco frequente. O início da sintomatologia em lução, a suspeição clínica é crucial para um diag-
idosos resulta da acumulação de placas de ateros- nóstico atempado, tendo o Octreoscan permitido
clerose e da formação de dilatações aneurismáti- a localização do tumor primário. A evidência de
cas. Este caso sublinha a necessidade de incluir as recetores da somatostatina e o índice proliferativo
anomalias vasculares no diagnóstico diferencial de (Ki-67) apoiam a decisão terapêutica e a definição
disfagia, principalmente quando não se identificam do prognóstico.
lesões endo-luminais ou anomalias neuro-muscula-
res.  P n.º 2294 
Carcinoma tímico: uma causa rara de dispneia
P n.º 2281  Patrícia Sôra Sobrosa(1);Joana Couto(1);Ra-
Atraso de tratamentos em tempos de COVID-19 em quel Afonso(1);Rita Vilar da Mota(1);João Pedro
tumor neuroendócrino Pais(1);Nuno Pardal(1);Marta Batoca Sousa(1);Ân-
Cristiana Gomes da Costa(1);João Cavaco(1);Paula gela Paredes Ferreira(1);Luís Costeira Pereira(1);Lu-
Rocha(1);Tânia Matos(1);Sónia do Vale(1);António ciana Sousa(1);Diana Guerra(1)
Pais de Lacerda(1) (1) Unidade Local de Saúde do Alto Minho, EPE /
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi- Hospital de Santa Luzia
tal de Santa Maria

774
E-POSTERS
Tema: Doenças oncológicas Introdução: A Síndrome Anti-Sintetase (SA), uma
doença imunomediada rara, caracteriza-se por
Introdução doença pulmonar intersticial (DPI), miosite, poliar-
trite, “mãos de mecânico” e fenómeno de Raynaud.
Nem todos os doentes desenvolvem todo o espec-
O carcinoma tímico é uma neoplasia rara do me- tro clínico da síndrome, sendo este frequentemente
diastino anterior com características clínicas e pato- variável consoante os anticorpos envolvidos. Caso
lógicas distintas do timoma, caraterizando-se pelo clínico:  Mulher, 53 anos, não fumadora, com quei-
elevado potencial maligno. xas de cansaço e dispneia para pequenos esforços
com 5 semanas de evolução. Realizou estudo em
Caso Clínico ambulatório do qual se destaca CK 351U/L, ANAs+,
Anti-SSa+, ecocardiograma normal e radiografia
Mulher de 60 anos, antecedentes de doença pulmo- de tórax que levantou suspeita imagiológica de
nar intersticial. Observada em março de 2020 no pneumonia por SARS-COV-2. Foi referenciada ao
serviço de urgência por dispneia em repouso, tosse serviço de urgência e ficou internada por pneumonia
seca, astenia, anorexia e perda ponderal, com 1 mês intersticial bilateral sem insuficiência respiratória.
de evolução, sendo encaminhada para consulta Realizados 3 testes PCR SARS-COV-2 que foram
de Medicina. Em abril, agravamento da dispneia e negativos. Cumpriu 5 dias de dexametasona 6mg
tosse, associada a febre, diagnosticada com infe- pela suspeita de eventuais sequelas de COVID-19
ção respiratória e medicada com antibioterapia. com evolução favorável. Cerca de 1 mês depois
Reavaliada em maio, com manutenção das queixas, desenvolve novamente cansaço, intolerância ao es-
associadas a omalgia direita, cefaleia occipital forço e tosse matinal, com referência a episódios de
direita, assimetria facial, ptose palpebral, diplopia fenómeno de Raynaud. Anticorpos anti- SARS-COV-2
e desequilíbrio da marcha. Realizou TC CE, sem negativos e TC tórax de controlo com pneumonia
alterações. TC tórax, com evidência de lesão expan- organizativa bilateral. Realizada broncofibroscopia
siva em topografia tímica, com sinais de extenso e lavado broncoalveolar com citologia sugestiva de
comprometimento de grandes e pequenas vias aspeto inflamatório, com predomínio de linfócitos
aéreas, com bronquiectasias cilíndricas dispersas, CD8+. Posteriormente com resultado positivo de
notadamente no lobo médio e na língula. Anticorpos anticorpos anti-OJ. Estabelecido diagnóstico de
miastenia gravis negativos. Efetuou PET, objetivada SA e iniciada prednisolona 60mg/dia em esquema
provável lesão maligna em topografia tímica. Sub- de desmame com melhoria clínica e imagiológica.
metida a cirurgia de resseção, sem intercorrências. Proposta terapêutica adicional com azatioprina.
Histologicamente diagnosticado carcinoma espino- Discussão: Apresenta-se este caso por alterações
celular não-queratinizante (carcinoma tímico), com imagiológicas muito sugestivas de COVID-19, rele-
invasão do tecido adiposo mediastínico. Mantém vando a importância de elevada suspeição da SA,
dispneia para moderados esforços e astenia, melho- apesar de um envolvimento quase exclusivamente
ria das restantes queixas. Atualmente sob radiote- pulmonar, com apenas 1 valor isolado de CK eleva-
rapia. do, sem qualquer queixa músculo-esquelética. De
Conclusão salientar ainda a associação com o anticorpo anti-
-OJ, raramente identificado, tendo frequentemente a
Apresenta-se o caso pela importância da colocação DPI como manifestação isolada.
dos diagnósticos diferenciais numa fase inicial e
o papel essencial da investigação semiológica na P n.º 2296 
abordagem do doente. O carcinoma tímico é uma Trombocitopenia: o papel da biópsia óssea
patologia rara de difícil diagnóstico pela sua clíni- Patrícia Sôra Sobrosa(1);Joana Couto(1);Ra-
ca pouco especifica. Tendo em conta o pequeno quel Afonso(1);Rita Vilar da Mota(1);João Pedro
número de casos relatado e o seu prognóstico, é Pais(1);Nuno Pardal(1);Marta Batoca Sousa(1);Ân-
fundamental o diagnóstico precoce, tratamento e gela Paredes Ferreira(1);Luís Costeira Pereira(1);Lu-
seguimento. ciana Sousa(1);Diana Guerra(1)
(1) Unidade Local de Saúde do Alto Minho, EPE /
P n.º 2295  Hospital de Santa Luzia
Da suspeita de COVID-19 ao Síndrome Anti-Sinte-
tase: um desafio diagnóstico em período de pande- Tema: Doenças hematológicas
mia.
Sérgio Gomes Ferreira(1);Sofia Ferreira(1);Gil Fon-
toura(1);Mariana Cabral(1);Andreia Teixeira(1);Joa- Introdução
na Sequeira(1);Mafalda Santos(1);Mónica Teixei-
ra(1) A leucemia de células em cabeleira é uma doença
(1) Centro Hospitalar de Entre Douro e Vouga, EPE / linfoproliferativa de células B crónica caracterizada
Hospital de S. Sebastião pelo aumento de pequenas células linfóides ma-
duras com citoplasma abundante e projeções “pe-
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas- ludas” no sangue periférico, medula óssea e polpa
culites vermelha esplénica. É uma doença incomum, res-
ponsável por 2% dos casos de leucemia. É uma pa-
tologia que surge predominantemente em homens
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 775
entre os 49 a 51 anos, existindo uma proporção ho- correu ao serviço de urgência (SU) por  náuseas e
mem-mulher de 4:1 a 5:1. vómitos com 1 semana de evolução. Nos últimos
3 meses com  palpitações, tonturas, hipersudore-
Caso Clínico se, tremor membros superiores e perda ponderal
(20Kg). Ao exame físico, taquicárdico 130bpm,
Homem de 64 anos com antecedentes de fatores febril (38.4ºC), desidratado, pálido e emagrecido.
de risco vasculares. Em seguimento na consulta Analiticamente, TSH<0.01UI/mL, T3 livre>20.00pg/
de Medicina por trombocitopenia (plaquetas cerca mL, T4 livre 2.48ng/dL; Calcio 14.2mg/dl; creatinina
de 75x10^9/L) com cerca de 2 anos de evolução. 1.92mg/dl, BNP 240.2pg/mL. Realizou ecografia
Exame físico, restante estudo analítico e estudo tiroideia que revelou: tiróide móvel de contornos de-
imunológico sem alterações. Ecografia abdominal, finidos e dimensões no limite superior da normalida-
objetivada esplenomegalia homogénea-15cm. Ao de, marcado incremento laboratorial. Considerada
longo do seguimento, com agravamento da trom- tireotoxicose com suspeita de TT (score de Burch-
bocitopenia e aparecimento de leucopenia (Pla- -Wartofsky muito sugestivo – 65 pontos) e por isso
quetas 47x10^9/L; Leucócitos 2.84x10^9/L com admitido em Unidade de Cuidados Intermédios para
800linfócitos). Realizada biópsia óssea que revelou: monitorização e estabilização. Administrado bólus
“infiltração medula extensa por neoplasia de células de propiltiouracilo 500mg, posteriormente 300mg
B - periféricas com características de leucemia de 6/6horas; propanolol 10mg; hidrocortisona 100mg
células em cabeleira”. Encaminhado para consulta 8/8horas. Verificou-se evolução favorável, à data de
de Hematologia, onde mantém vigilância analítica, alta, assintomático, analiticamente TSH<0,01UI/mL;
dado ausência de agravamento trombocitopenia T3 2,99pg/mL; T4 1,51ng/dL, função renal normal e
(plaquetas >50x10^9/L). alterações iónicas corrigidas. Do estudo efetuado, a
destacar Anticorpos anti-receptor TSH 18.42, com-
Conclusão
patível com Doença de Graves, iniciou tratamento
Apresenta-se o caso pela importância do diagnósti- com iodo, com boa resposta.
co diferencial nas trombocitopenias, sendo essen-
Conclusão
cial papel da de biópsia óssea na marcha diagnós-
tica da causa de trombocitopenia, especialmente A TT está associada a alta morbi-mortalidade,
quando existe aparecimento de outras citopenias sendo fundamental a sua rápida deteção, e peran-
ou agravamento dos valores hematológicos. Neste te forte suspeita o tratamento deve ser instituído
caso, trata-se de uma leucemia que se comporta imediatamente, independentemente dos resultados
de forma crónica com aparente bom prognóstico, laboratoriais. Apresenta-se o caso clínico pela im-
sendo fundamental manter uma vigilância devido portância da história clínica à admissão no SU, com
às consequências sistémicas que podem ocorrer, especial enfoque nas queixas com meses de evolu-
incluindo anemia, hemorragia e aumento do risco de ção.  
infeção. Muitos destes doentes não efetuam qual-
quer tipo de tratamento, pois encontram-se assinto- P n.º 2300 
máticos e analiticamente estáveis. Comunicação interventricular: além da causa con-
génita
P n.º 2299  Sofia Picão Eusébio(1);Raquel Soares(1);Bárbara
Tempestade tiroideia como apresentação de doen- Teixeira(1);André Conchinha(1);Pedro Fiúza(1);-
ça de graves José Sousa(1);Lourenço Cruz(1);Torcato Moreira
Patrícia Sôra Sobrosa(1);Joana Couto(1);Raquel Marques(1);Ana Teresa Ferreira(1);Valentina Tosat-
Afonso(1);Catarina Carvoeiro(1);Paula Felguei- to(1);Catarina Pires(1);Tiago Pack(1);Afonso Rodri-
ras(1);Luciana Sousa(1);Diana Guerra(1) gues(1);Paula Nascimento(1);Teresa Garcia(1)
(1) Unidade Local de Saúde do Alto Minho, EPE / (1) Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE / Hos-
Hospital de Santa Luzia pital de Santa Marta
Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio- Tema: Doenças cardiovasculares
nais
Apresenta-se o caso de uma doente do sexo femi-
Introdução nino, 67 anos, raça negra, residente em Portugal há
7anos, sem história médica conhecida relevante,
A tempestade tiroideia (TT) é uma emergência previamente autónoma para as atividades da vida
médica, cujo diagnóstico é clinico e se baseia na diária. Recorre ao serviço de urgência por um qua-
evidência de disfunção orgânica num doente com dro de cansaço para esforços mínimos, a condi-
sintomas e sinais de tireotoxicose. É uma condição cionar restrição ao leito, associado a tosse seca e
rara que constitui uma exacerbação aguda do hi- dispneia com 6 dias de evolução a motivar interna-
pertiroidismo, estimando-se que ocorra em 1% dos mento na nossa unidade funcional de medicina in-
casos. terna. Exame objetivo com sinais compatíveis com
insuficiência cardíaca. Avaliação analítica com ane-
Caso Clínico mia, HbA1c 8%, BNP>35.000pg/ml, disfunção renal
(sCR 2.45mg/dl) e hepatocelular (AST 390U/L, ALT
Homem de 30 anos, antecedentes de vitiligo. Re- 396U/L, GGT 171U/L e FA 153U/L) de cronologia

776
E-POSTERS
imprecisa. Eletrocardiograma a mostrar ondas Q em elipsoide subdiafragmática esquerda com cerca de
DII, DIII, sugestivas de lesão isquémica da parede 49,5 mm de maio diâmetro transversal e cerca de
inferior. Ecocardiograma transtorácico a revelar pre- 48,5mm de maio diâmetro crânio-caudal obliquo
sença de comunicação interventricular com shunt com evolução de sinal sensivelmente característica
esquerdo-direito (VE/VD e VE/AD). Doente gerida de baço, com alguns sinais de restrição à difusão,
em conjunto com as especialidades de cardiologia mas com aspetos benignos. Concomitantemente
e cirurgia cardíaca.  O debate multidisciplinar cen- observa-se nodularidades subdiafragmáticos poste-
trou-se na etiologia da comunicação interventricular, riores que apresentam as mesmas características.
pós isquémica versus congénita e da sua eventual Os aspetos descritos traduzem o diagnóstico de
indicação cirúrgica. Coronariografia com lesão oclu- esplenosis, provavelmente por baços acessórios
siva da coronária direita a favorecer a hipótese de pré-existentes atualmente hipertróficos pós-cirúr-
etiologia isquémica. Rejeitada a opção de correção gicos versus tecido esplénico migrado pós-trauma
cirúrgica, pela evolução clínica desfavorável, sem e sem significado patológico...” A doente mantem
condições operatórias no momento da decisão, a seguimento na consulta de medicina.
doente foi transferida para a unidade de cuidados
intensivos coronários para terapêutica de suporte. Conclusão
Observou-se evolução desfavorável com choque
cardiogénico a culminar em disfunção  multiorgâni- A esplenosis deve ser mantida em mente como par-
ca e óbito. A comunicação interventricular constitui te de diagnóstico diferencial de massas em pacien-
uma causa rara de enfarte agudo de miocárdio e de tes com história de trauma esplénico e esplenecto-
insuficiência cardíaca que não deve ser desvalori- mia. Uma vez que é uma condição benigna e sendo
zada. Este caso explana o atraso diagnóstico pela geralmente diagnosticada de forma incorreta como
dificuldade na cronologia dos eventos numa doente neoplasia, o seu conhecimento se torna importante
sem história médica conhecida relevante e clínica em doentes com história previa de esplenectomia
inespecífica. ou trauma esplénico. Permitindo desta forma, evitar
procedimentos diagnósticos invasivos desnecessá-
rios.
  P n.º 2310 
Trombose da veia porta - quando dois fatores se
P n.º 2306  conjugam
Esplenosis – relato de um caso Núria Condé Pinto(1);Bernardo Silvério(1);Inês
Alexandra Dias(1);Cátia Teixeira(1);Aurora Duar- Albuquerque Monteiro(1);Cecília Vilas Boas Soa-
te(1);Eva Claro(1);Fátima Pimenta(1) res(1);Manuel Costa Pinto(1);Ana Pessoa(1);Helga
(1) Centro Hospitalar do Médio Tejo Martins(1);Mário Esteves(1)
(1) Centro Hospitalar do Médio Ave, EPE / Unidade
Tema: Outro de Vila Nova de Famalicão

Introdução Tema: Doenças respiratórias

A esplenosis refere-se a um autotransplante hete- A COVID-19 tem sido frequentemente reportada


rotópico ou implantação de tecido esplénico após como causa de complicações trombóticas, sendo
esplenectomia ou trauma do baço. Os implantes o tromboembolismo pulmonar a complicação mais
esplénicos são geralmente múltiplos e ocorre em comum. A trombose da circulação esplâncnica tam-
cerca de 16-67% dos doentes após cirurgia ou rutu- bém tem sido descrita. Esta é mais comum na cirro-
ra traumática do baço. A maioria dos doentes são se, podendo ser fruto de outras condições pró-trom-
assintomáticos, sendo um diagnóstico maioritaria- bóticas, congénitas ou adquiridas. Muitas vezes a
mente acidental. No entanto, a dor abdominal e a etiologia não é identificada.
disfunção hematológica podem ser observadas.
Apresentamos o caso de um homem de 34 anos
Caso clínico com antecedentes de mutação MTHFR em heterozi-
Mulher de 72 anos, com antecedentes relevantes de gotia e elevação discreta de homocisteína, sem his-
esplenectomia em 1990, fibrilhação auricular, hiper- tória de eventos trombóticos, síndrome Wolf-Parkin-
tensão secundária a hiperaldosteronismo primário son-White submetido a ablação da via acessória,
e obesidade, é enviada a consulta de Medicina inter- dislipidemia e internamento recente por pneumonia
na para estudo de múltiplas massas suspeitas de grave a SARS-CoV2. Após cumprir critérios de cura
doença linfoproliferativa demonstrado por tomogra- para COVID-19, o doente recorreu ao Médico Assis-
fia computorizada abdominal. O exame de imagem tente por epigastralgias. Ao ser observada taqui-
foi solicitado por agravamento de epigastrialgias cardia (FC 150bpm), foi referenciado ao serviço de
associado a dores abdominais tipo cólicas, com 1 urgência (SU). No SU, apresentava-se taquicárdico,
ano de evolução. Sem alterações ao exame objec- sem outras alterações de relevo. Realizou ECG que
tivo. Analiticamente sem alterações. Na consulta mostrou taquicardia sinusal. Por apresentar citoco-
de Medicina Interna foi solicitado uma ressonância lestase hepática realizou ecografia abdominal que
magnética abdominal que demontrou “...imagem revelou trombose da veia porta sem observação da

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 777


extensão distal por interposição de gás intestinal. -se Pneumotórax espontâneo secundário a infecção
A tomografia computorizada com contraste revelou COVID-19.
trombose do tronco porta e ramos intrahepáticos,
com apenas parcial permeabilidade de segmento do Fisiopatologicamente os pneumotórax formam-
ramo esquerdo. O doente iniciou hipocoagulação e -se por ruptura de bolhas de ar ou quistos aéreos
foi internado para estudo. Do estudo, apresentava subpleurais, mais predominantes perante patologia
fibrinogénio aumentado, estudo imunológico, viru- estrutural do pulmão. No entanto, também podem
lógico e alfafetoproteina normal, mutação JAK2 e ocorrer em neoplasias pulmonares, infecções necro-
imunofenotipagem negativa. Apresentou boa evolu- tizantes (tuberculose, pneumocistose) ou, mais rara-
ção clínica e teve alta para consulta, mantendo-se mente, asma, doença intersticial pulmonar, doenças
assintomático. granulomatosas pulmonares ou infecções virais
Este caso reflete trombose da veia porta em prová- ou fúngicas. Embora já descritos diversos casos, o
vel contexto de COVID-19 num doente com mutação pneumotórax secundário a esta infecção viral per-
MTHFR, pondo em evidência o risco pró-trombótico manece uma patologia rara.
associado à COVID-19, por vezes com manifesta-
ções menos frequentes que devemos reconhecer. P n.º 2324 
Especialmente num indivíduo com risco pró-trombó- Na pista da crioglobulinemia...
tico prévio, a infeção por COVID-19 pode ser “a gota Ana Catarina Pinto Carvoeiro(1);Patrícia Sobro-
de água”. sa(1);Ana Afonso(1);Joana Couto(1);Alexandra Este-
ves(1);Paula Felgueiras(1)
P n.º 2314  (1) Unidade Local de Saúde do Alto Minho, EPE /
Uma causa actual de Pneumotórax Hospital de Santa Luzia
David Prescott(1);Ana Isabel Brochado(1);Marta
Sanches(1);Beatriz Castro Silva(1);Vânia Rodrigues Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
Pereira(1);Margarida Pimentel Nunes(1);Inês Branco culites
Carvalho(1);Isabel Montenegro Araújo(1);Bárbara s.
Abreu(1);Vasco Evangelista(1);António Martins Bap-
tista(1);José Lomelino Araújo(1) Introdução: As crioglobulinas são imunoglobulinas
(1) Hospital Beatriz Ângelo que precipitam de forma reversível a temperaturas
inferiores a 37ºC.  A presença de crioglobulinas
Tema: Doenças respiratórias no soro e a sua posterior deposição nos tecidos
causam fenómenos trombóticos e de vasculite, res-
ponsáveis pelos sintomas mais frequentes da crio-
Os pneumotórax classificam-se em espontâneos globulinemia - púrpura palpável, astenia, artralgias e
e traumáticos, mediante a presença de um evento fenómeno de Raynaud (FR). CASO CLÍNICO: Homem
causal externo. Os espontâneos podem dividir-se 60 anos. Avaliado em consulta por lesões papulares
em primários e secundários, conforme a presença purpúricas nas mãos e placas coalescentes nos
de patologia pulmonar subjacente, tipicamente membros inferiores desencadeadas pelo frio com
doença estrutural como DPOC ou Fibrose Quística. um ano de evolução, posteriormente desenvolvendo
No entanto, raramente poderão ocorrer casos de FR trifásico nas extremidades dos dedos, joelhos e
pneumotórax secundários a infecções, particular- hélice das orelhas. Do estudo realizado, hemogra-
mente virais ou fúngicas. Manifestam-se classica- ma, Coombs direto, estudo imunológico sumário e
mente por dispneia súbita e/ou toracalgia pleurítica serologias víricas - incluindo pesquisa de VHC - ne-
homolateral. gativos com uma pesquisa de crioglobulinas positi-
va associada a uma imunoeletroforese de proteínas
Jovem de 33 anos recorre à Urgência por disp- a revelar um pico monoclonal IG/. Realizada PET
neia e palpitações, de início súbito, com 5 dias que mostrou patologia de elevado grau metabólico
de evolução. Agravamento no dia anterior à com envolvimento ganglionar supra e infra-dia-
fragmático. Biópsia incisional de adenopatia axilar
admissão com tosse, pieira, dor abdominal e direita a sugerir diagnóstico histológico compatível
diarreia. Antecedentes de Asma e Sinusite, com com Linfoma Não Hodgkin (LNH) de células B  bai-
broncodilatadores em SOS. Sem hábitos tabágicos xo grau com posterior confirmação de linfoma da
activos. zona marginal nodal.  Após biópsia de medula  ós-
sea, sem sinais de envolvimento neoplásico; iniciou
À admissão encontrava-se febril (38.5ºC) e com pulsos de metilprednisolona, com melhoria do FR,
abolição do murmúrio vesicular à direita, sem ruídos encontrando-se em tratamento.  DISCUSSÃO: A pre-
adventícios. Analiticamente com linfopénia (560u/L) sença de FR associado a fenómenos de vasculite
e PCR 6 mg/dL, sem elevação da PCT. Gasimetria de novo obriga à consideração de doença sistémica
com insuficiência respiratória tipo 1 (pO2 55 mmHg) e pesquisa de crioglobulinas. Pela sua associação
em ar ambiente. Radiografia de tórax revelava pneu- com doenças infecciosas, reumatológicas e hema-
motórax à direita com colapso parcial do pulmão e tológicas, o diagnóstico de uma crioglobulinemia
infiltrados subpleurais e basais à esquerda. Pesqui- exige uma abordagem sistemática da sua etiologia.
sa de SARS-CoV-2 positiva. Colocado dreno torácico A crioglobulinemia tipo I, caracterizada pela presen-
14Fr sem intercorrências. Fica internada admitindo- ça de crioglobulinas monoclonais isoladas, cons-

778
E-POSTERS
titui uma entidade rara (10-15%), frequentemente Covid19 e Pneumotórax
associada a patologia linfoproliferativa, pelo que o Dra. Soraia Silva(1);Diana Brites(1);Filipa Lu-
estudo deve ser dirigido para a sua pesquisa, com cas(1);Paulina Mariano(1);M.ª Eufémia Calmei-
instituição de terapêutica precoce. ro(1);Isabel Antunes(1);M.ª Eugénia André(1)
(1) Hospital Amato Lusitano
P n.º 2329  Tema: Doenças respiratórias
Uma ascite que escondia um pseudomixoma peri-
toneal (PMP)
Mariana Moreira Azevedo(1);Anusca Paixão(1);- Introdução: O pneumotórax e o pneumomediastino
Joana Liz Pimenta(1);Rosa Gomes(1);Sónia Carva- são complicações que podem ocorrer associadas
lho(1);Fernando Salvador(1) à ventilação mecânica invasiva. Sabe-se, também,
(1) Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Dou- que há uma maior probabilidade destas complica-
ro, EPE / Hospital de Vila Real ções ocorrerem em contexto hospitalar, em doentes
com pneumonia, ou status pós-pneumonia, por
Tema: Doenças oncológicas SARS-COV2, que apenas realizaram oxigenoterapia
simples e/ou ventilação não invasiva.
Introdução: O PMP consiste na acumulação pro-
gressiva de material mucinoso na cavidade perito- Caso clínico:
neal, resultante da rutura de um tumor mucinoso,
geralmente do apêndice ileocecal. É uma entidade A. Homem, 58 anos, fumador, com queixas de
rara e que tem geralmente uma evolução indolente. dificuldade respiratória e febre. Apresentava
Numa fase mais avançada da doença pode surgir insuficiência respiratória (IR) hipoxémica
dor e distensão abdominal, sendo inclusivamente (pO2<60). Radiografia de tórax (RxTórax)
causa de ascite. com hipotransparências dispersas. Proteína
C reativa (PCR) aumentada, 270 mg/dL. In-
ternado em enfermaria de Medicina Interna
Caso clínico: Homem de 58 anos, sem hábitos al- Covid por pneumonia a SARS-COV2. Como
coólicos nem antecedentes de relevo. Recorre ao intercorrências, no 7ºdia de internamento,
serviço de urgência por aumento progressivo do por agravamento clínico súbito após acesso
perímetro abdominal desde há 5 meses, associado de tosse, seguido de redução acentuada
a dor abdominal, febre e anorexia com 1 semana de das  saturações periféricas de O2 e dor
evolução. Ao exame físico apresentava ascite grau pleurítica intensa. Detectou-se pneumotórax
2, tendo realizado paracentese. O líquido peritoneal à direita (dir). No 12º dia, novo episódio de
apresentava um gradiente de albumina sero-ascí- tosse com nova diminuição das saturações
tico <1,1 g/dL e critérios de peritonite bacteriana, de O2: RxTórax com pneumotórax à esquer-
com posterior identificação de agente anaeróbio da (esq). Colocados 2 drenos torácicos, com
em exame cultural. Na TC abdomino-pélvica apre- melhoria clínica progressiva.
sentava espessamento peritoneal, compatível com
carcinomatose ou PMP. Foi internado para estudo B. Homem, 45 anos, fumador e com história
etiológico desta ascite. A endoscopia alta eviden- de psoríase. Apresentava clínica de IR mo-
ciou compressão extrínseca do antro gástrico e a derada e RxTórax com infiltrados dispersos
colonoscopia ulceração e inflamação do apêndice, bilateralmente. PCR aumentada, 73 mg/dL.
o que poderia traduzir neoplasia apendicular, não Admissão em Unidade de Medicina Intensiva
tendo sido possível realizar biópsia. A citologia do por pneumonia a SARS-COV2. Iniciada oxi-
líquido ascítico foi negativa para células malignas genoterapia de alto fluxo e posteriormente
mas a histologia da biópsia do espessamento peri- ventilação mecânica invasiva. Apesar de
toneal evidenciou mucinose compatível com PMP. melhoria clínica, no 23º dia de internamento
Foi orientado para um centro de referência e sub- (já sem ventilação mecânica invasiva) após
metido a cirurgia citorredutora com quimioperfusão realização de tomografia computorizada de
hipertérmica peritoneal. A histologia definitiva reve- tórax, verificou-se a presença de pneumo-
lou um PMP de alto grau associado a um adenocar- tórax à dir e à esq, com coexistência pneu-
cinoma mucinoso do apêndice ileocecal, estadiado momediastino moderado. Feita colocação
como pT4aN0M1b. Iniciou quimioterapia adjuvante de dreno torácico, com melhoria clínica pro-
durante 6 meses, estando atualmente em vigilância gressiva.
e com doença estável.
Aquando da estabilidade clínica, ambos os doentes
Discussão: A ascite é um achado frequente na foram admitidos em regime de internamento domi-
prática clínica e muitos são os seus diagnósticos ciliário para continuação de reabilitação respiratória.
diferenciais. Uma ascite, sobretudo não sugestiva
da existência de hipertensão portal, e de desenvol- Conclusão: A dispneia é um sintoma comum na
vimento insidioso, deve sempre levantar a suspeita prática clínica, mas pouco específico na pneumonia
de uma ascite neoplásica, da qual o PMP pode ser a SARS-COV2. Pode, no entanto, ser a apresentação
causa. clínica de complicações associadas como o pneu-
motórax e o pneumomediastino. Os exemplos
P n.º 2330  clínicos acima descritos retratam a importância
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 779
diagnóstica atempada da pneumonia a SARS-COV2, tónio Pais de Lacerda(1)
bem como, de complicações que podem ser mais (1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi-
frequentes nesta entidade. tal de Santa Maria
P n.º 2334  Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio-
POLINEUROPATIA PERIFÉRICA E COVID-19 nais
Henrique Atalaia Barbacena(1);Lisa Gonçalves(1);I-
nês Matias Lopes(1);Maria Ana Flores(1);Francisco Introdução
Santos Cunha(1);Raquel a. Soares(1);João Victor
Freitas(1);Patrícia Howell Monteiro(1);António Pais
de Lacerda(1) A hipomagnesemia (HipoMg) é frequente em doen-
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi- tes hospitalizados. Níveis inferiores a 1.2 mg/dL
tal de Santa Maria podem associar-se a hipocalcémia (HipoCa) grave
sintomática sendo tetania um sintoma chave de
Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas apresentação. As manifestações podem ser ligeiras
como cãibras, ou graves como convulsões. Alguns
Introdução: A síndrome de Guillain-Barré (SGB) con- doentes, em situações de cronicidade, podem apre-
siste numa polineuropatia periférica simétrica de sentar parkinsonismo.
etiologia autoimune, desencadeada maioritariamen- Caso Clínico
te por estímulos infeciosos, nomeadamente virais.
Seguidamente descreve-se um caso de provável Homem de 80 anos, com antecedentes de mielo-
SGB secundária ao SARS-CoV-2. CASO CLÍNICO: patia espondilótica cervical, hipertensão arterial e
Homem de 50 anos, diabético tipo 2, sem doença dispepsia, medicado com furosemida e omeprazol,
micro ou macrovascular conhecida. Internado por recorreu ao serviço de urgência (SU) por vómitos
celulite do membro superior direito complicada de alimentares e anorexia, com duas semanas de
fasceíte necrotizante, submetido a fasciotomia. evolução. Havia história de diarreia, perda de 10 kg
Pesquisa de SARS-CoV-2 pré-operatória positiva, em 4 meses, freezing e desequilíbrio da marcha.
em doente inicialmente assintomático. Durante Já tinha tido um quadro semelhante em 2018, com
o internamento boa evolução do quadro cutâneo resolução espontânea. Na admissão apresentava
mas desenvolvimento de insuficiência respiratória alteração do estado de consciência no contexto
associada a infeção SARS-CoV-2, radiologicamente de crise convulsiva. No exame objetivo, presença
com pneumonia bilateral, motivando início de corti- de rigidez em roda dentada ao nível dos membros
coterapia. Adicionalmente, aparecimento de défice superiores, tremor intencional e fasciculações nos
neurológico de novo com paraparésia, analgesia membros inferiores. Laboratorialmente, HipoCa (7.1
álgico-táctil dos membros inferiores e arreflexia, mg/dL), HipoMg (0.5 mg/dL), hiperparatiroidismo
mais preponderante no membro inferior esquerdo, secundário (PTH 76.1pg/mL), Cálcio urinário redu-
rapidamente evolutivo ao longo de dias. TC-CE e RM zido. Após correção do distúrbio iónico, regressão
da coluna sem lesões agudas. Admitida SGB como da sintomatologia Parkinson-like. Estudo comple-
hipótese mais provável. Realizada punção lombar, mentar a revelar divertículo duodenal de 8cm, sem
sem dissociação albuminocitológica, exames cul- outras alterações relevantes na marcha diagnóstica
turais e pesquisa de vírus neurotrópicos negativos. para exclusão de síndrome paraneoplásica.
Serologia Campylobacter negativa. Realizada imu-
noglobulina cinco dias, com resolução completa Discussão
dos défices. Electromiograma, efetuado após reso-
lução da pneumonia e já após recuperação neuroló- O caso revela uma situação rara de diverticulose
gica, sem critérios de diagnóstico claros para SGB, duodenal, sintomática, com fenómenos de sub-o-
sugerindo agravamento de polineuropatia periférica clusão intestinal intermitentes a provocar distúrbios
previamente presente, apesar de clinicamente na iónicos graves. A HipoMg causa HipoCa por resis-
admissão não apresentar sinais ou sintomas de tência periférica à PTH, e em conjunto provocaram
neuropatia periférica. CONCLUSÃO: A associa- hiperexcitabilidade neuronal, que culminou no qua-
ção entre SGB e SARS-CoV-2 tem vindo a ganhar dro convulsivo. A sua cronicidade justifica o parkin-
progressivamente maior relevo desde o início da sonismo. Outro fator contributivo para a HipoMg
pandemia, sendo aceite o potencial papel imunoa- é a terapêutica crónica com inibidor de bomba de
tivador do vírus. O caso apresentado reflete esta protões associada a diuréticos, obrigando quando o
associação, não se conseguindo definir com total tempo de terapêutica for superior a 1 ano, a vigilân-
certeza o papel do vírus quer como fator etiológico cia dos níveis de Magnésio.
para os défices, quer como fator de agravamento de
potenciais défices preexistentes. P n.º 2337 
Oftalmopatia de graves – o olho do internista
Inês Marques Ferreira(1);Sofia Fontes Ribeiro(1)
P n.º 2336  (1) Centro Hospitalar do Porto, EPE / Hospital Geral
Um caso raro de suboclusão intestinal de Santo António
Margarida Gomes(1);Luís Silva Cabral Adão(1);Ana
Maria Baltazar(1);Renata Macau(1);Gonçalo Soa- Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-
res(1);Vera Costa Santos(1);Ana Júlia Pedro(1);An- culites

780
E-POSTERS
Introdução: A oftalmopatia de Graves é uma pato- Tema: Doenças oncológicas
logia orbitária, de etiologia autoimune com envolvi-
mento dos músculos extraoculares. Pode estar pre- Introdução: O leiomiossarcoma é uma neoplasia
sente em apenas 25% dos doentes, e em 20% dos maligna rara com origem no músculo liso. Ocorre
casos antecede o aparecimento de outros sintomas mais frequentemente no útero e trato gastrointesti-
de hipertiroidismo. nal, embora todas as estruturas com músculo liso
sejam locais de potencial crescimento deste tipo
Descrição do caso: Mulher de 34 anos, saudável, de neoplasia. Reportamos um caso de um provável
sem antecedentes de relevo, com 5 dias de evo- leiomiossarcoma pulmonar. 
lução de náuseas, tonturas, cefaleias bifrontais,
dor retro-ocular e edema palpebral bilateral, que ten- Caso clínico: Mulher de 44 anos, natural do Caza-
de a melhorar ao longo do dia. Foi avaliada em con- quistão, residente em Portugal há 4 anos. Fuma-
sultas de Otorrinolaringologia e Oftalmologia em dora de 2 unidades maço-ano, com exposição a
regime privado que excluíram síndrome vertiginoso compostos acrílicos desde há 20 anos e história de
e patologia ocular.   leiomioma/leiomiossarcoma uterino, submetida a
Por persistência dos sintomas, recorre ao Serviço cirurgia, quimioterapia e radioterapia adjuvante há
de Urgência de um hospital público, tendo sido tria- cerca de 8 anos no país de origem. Recorreu ao ser-
da para Oftalmologia, que documenta bom tónus viço de urgência (SU) por quadro com 8 meses de
ocular, fundo de olho sem alterações e sem sinais evolução de tosse não produtiva e toracalgia direita
de olho vermelho. É ainda observada por Neurolo- ocasional com agravamento em decúbito homo-
gia, que pela ausência de alterações ao exame neu- lateral. Realizado estudo complementar com TC
rológico e com uma tomografia computorizada cra- toracoabdominopélvica, que demonstrou volumosa
neoencefálica, sem alterações, assumiu provável lesão atípica de 82x68x46mm de provável origem
cefaleia de tensão, sem alivio após analgesia, pe- primária pulmonar no lobo inferior esquerdo. Vi-
dindo-se colaboração da medicina para completar deobroncofibroscopia com abaulamento da parede
estudo.  do brônquio segmentar posterior do brônquio lobar
inferior esquerdo, sem evidência de células neoplá-
Revendo anamnese e exame objetivo documenta-se sicas em escovado brônquico e punção aspirativa.
um agravamento da cefaleia frontal e desconfor- PET-TC com captação em massa no lobo inferior es-
to retro-ocular com os movimentos, nomeadamente querdo e hipermetabolismo no lobo occipital direito.
em convergência, levantanda a suspeita de infla- Prosseguiu-se o estudo com realização de RMN cra-
mação muscular. Enquadrando estas alterações nioencefálica com suspeita de metastização cere-
com o restante quadro clínico levanta-se a suspeita bral. Para esclarecimento de lesão sólida pulmonar,
de oftalmopatia por Doença de Graves. Pedido es- realizou-se ecoendoscopia com punção aspirativa
tudo da função tiroideia, que revelou TSH 0.06 μUI/ com agulha fina, onde se verificaram achados sus-
mL e valores de T4L 2.2x limite superior do normal peitos de tumor maligno com diferenciação de mús-
(LSN) e T3L 2.5xLSN, pelo que foi assumida tireo- culo liso (leiomiossarcoma).
toxicose por hipertiroidismo e iniciou terapêutica
com metimazol 10mg. Foi orientada para a consulta Conclusão: Os autores realçam este caso por se
tendo completado estudo, com anticorpos anti-re- tratar de uma massa tumoral maligna de grandes
ceptores de TSH e anticorpo estimulador da tirói- dimensões, de etiologia rara.
de positivos. Atualmente com melhoria sintomática P n.º 2340 
significativa. Pneumocistose pós-COVID-19: uma complicação
Conclusão: Este caso demonstra a importância rara
de uma observação holística e cuidada do doente. Sérgio Gomes Ferreira(1);Sofia Ferreira(1);Joana
A valorização de todo o quadro clínico, ainda que Sequeira(1);Elsa Meireles(1)
algumas das queixas sejam mais ténues, e o alto (1) Centro Hospitalar de Entre Douro e Vouga, EPE /
grau de suspeição é essencial para a construção Hospital de S. Sebastião
de puzzles clínicos menos frequentes. A oftalmo- Tema: Doenças respiratórias
patia como manifestação inaugural de doença de
Graves, numa doente sem outros sintomas de hiper-
tiroidismo, dificultou a marcha diagnóstica. Introdução: A pneumonia por Pneumocystis jirovecii
afeta especialmente doentes com compromisso da
P n.º 2338  imunidade sendo o curso da doença variável. É fre-
Leiomiossarcoma no pulmão quentemente mais abrupto nos doentes não VIH e
Inês Duarte(1);Filipa Canedo(1);Francisco Albuquer- evolui frequentemente em insuficiência respiratória
que(1);Ana Raquel Santos(1);Raquel Soares(1);Pe- (IR) aguda.Caso clínico: apresenta-se um doente
dro Fiúza(1);Torcato Moreira Marques(1);Paula de 70 anos, com antecedentes de síndrome meta-
Nascimento(1);Valentina Tosatto(1);Rita Barata bólico, fibrilação auricular (hipocoagulado) e pneu-
Moura(1);António Mário Santos(1) monia organizativa após infeção com atingimento
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE / Hos- pulmonar a SARS-CoV-2.  Após alta clínica, manteve
pital de Santa Marta seguimento em consulta externa tendo iniciado
corticoterapia em esquema de redução gradual de

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 781


dose. Dois meses depois foi novamente internado alto débito. Ecocardiograma com fracção de ejec-
por insuficiência respiratória, com evidência de ção preservada, NT-ProBNP 920pg/mL. Resultado
pneumonia organizativa, tendo necessitado inclusi- dos doseamentos de vitaminas B1 e B6 baixas (B1
vamente de ventilação invasiva. Apresentou estudo 9ng/mL, B6 0.6ng/mL).
autoimune e vírico sem positividades de relevo. De-
cidido iniciar-se cotrimoxazol (com falência a pipe- Admitido beribéri seco e anemia por défice de B1 e
racilina e tazobactam) por suspeita de infeção por B6, com evolução para beribéri húmido, com insufi-
Pneumocystis jirovecii em indivíduo com fator de ciência cardíaca sintomática.Iniciou suplementação
risco. O doente evoluiu favoravelmente, tendo cum- com B1 endovenosa, com resolução rápida do qua-
prido posteriormente 21 dias desta antibioterapia dro de insuficiência cardíaca. Teve alta com suple-
com franca melhoria e alta clínica. Posteriormente, mentação de B1 e B6.
observou-se positividade de Pneumocystis jirovecii
por protein chain reaction (PCR) em LBA, após ter Em reavaliação ao fim de 5 semanas, sem sinais de
sido negativo na pesquisa por imunofluorescên- neuropatia, sem alterações da marcha, melhoria da
cia. Discussão: O prognóstico destes doentes é anemia (hemoglobina de 12.6g/dL) e melhoria do
geralmente favorável com tratamento atempado. A NT-ProBNP (375pg/mL)
sobreposição de outras possibilidades diagnósticas
atrasou o início da terapêutica, que acabou por se
iniciar adequadamente e resolver o caso, da melhor Conclusão
forma, com desfecho favorável.
Este caso mostra a importância dos défices de mi-
P n.º 2344  cronutrientes, mesmo em países desenvolvidos, em
Beribéri Seco e Húmido - Neuropatia e Insuficiência consequência de erros alimentares e consumos tó-
Cardíaca por Deficiência de Vitaminas B1 e B6 xicos (álcool, nesta situação), assim como da suple-
Tiago Barroso(1);Joana Caetano(1);José Delgado mentação empírica com vitamina B1, na suspeita de
Alves(1) beribéri seco, pela possibilidade de evolução para
(1) Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca beribéri húmido, bem como pela rápida reversibilida-
de do envolvimento neurológico.
Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio-
nais
P n.º 2352 
BRASH, um perigoso ciclo vicioso
Introdução Ana Sofia Silva(1);Patrícia Armanda Novo(1);Andreia
Mandim(1);Joana Vasconcelos(1)
As deficiências de micronutrientes são ainda um (1) Centro Hospitalar Póvoa de Varzim/Vila do Con-
problema em países como Portugal, coexistindo, de
frequentemente, com o consumo de álcool. Apre- Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente crí-
sentamos um caso que ilustra a história natural de tico
um défice multivitamínico não tratado.
Introdução: A combinação de bradicardia, insufi-
Caso Clínico ciência renal, medicamentos bloqueadores do nó
auriculoventricular (AV), choque e hipercalémia
Mulher de 51 anos com défice cognitivo desde a (BRASH) é uma nova síndrome que resulta do ciclo
infância, epilepsia, hipertensão arterial, asma e há- vicioso desencadeado pela bradicardia devida a
bitos alcoólicos (14 unidades padrão por semana). bloqueadores do nó AV e hipercalémia secundária à
Foi internada para estudo de quadro de desequilí- insuficiência renal. Pode ser desencadeada por fa-
brio com impossibilidade para a marcha. tores de risco que aumentam o potássio, incluindo
febre/sépsis, diabetes, lise tumoral e hipovolémia. O
caso clínico apresentado tem como objetivo alertar
Da história, apurada anorexia importante desde o para o reconhecimento e tratamento desta nova en-
início da pandemia SARS-CoV-2. Objectivada hi- tidade nosológica.
postesia até aos joelhos, alodínia, hipopalestesia
nos membros inferiores e marcha impossível sem Caso Clínico: Mulher de 75 anos, parcialmente de-
apoio. Análises: anemia macrocítica (Hb 7.1g/dL, pendente e com défice cognitivo ligeiro. Diabética
VGM 120fL), hipoproliferativa, com morfologia de tipo 2 com nefropatia, hipertensa, com insuficiência
sangue periférico normal; função tiroideia normal, cardíaca com fração de ejeção preservada e disli-
folato e vitamina B12 normais, serologias do HIV pidemia. Medicada habitualmente com bisoprolol
negativas, VDRL negativo, estudo da autoimunidade 10mg, metformina 1000mg, furosemida 40mg, pe-
negativo. Electromiograma com neuropatia sensiti- rindopril 10mg/amlodipina 10 mg e rosuvastatina
vo-motora axonal de grandes fibras. RM da coluna 10mg. Recorreu ao Serviço de Urgência por lipo-
dorso-lombar sem compressão medular ou radicular. timia e vómito. Apresentava bradicardia extrema
com sinais de baixo débito cardíaco e depressão da
consciência, tendo sido intubada a via aérea, colo-
Evolução com quadro de insuficiência cardíaca de cado pacemaker externo e transferida para Unidade

782
E-POSTERS
de Cuidados Intensivos (UCI). Na UCI apresentou-se síncrona. Eletrocardiograma com ritmo de PM e na
em choque, com lesão renal aguda em crónica e radiografia de tórax com dispositivos cardíacos e
hipercalémia graves, disfunção respiratória causada cardiomegalia. Foi considerada como hipótese de
por aspiração de vómito e disfunção neurológica diagnóstico mais provável a estimulação diafragmá-
com delirium após suspensão da sedoanalgesia. tica pelo elétrodo do dispositivo cardíaco. Avaliado
Teve evolução favorável após fluidoterapia e supor- por Cardiologia que confirma a estimulação frénica
te vasopressor, sem necessitar de terapêutica de por deslocamento do elétrodo ventricular esquerdo,
substituição renal. Na Enfermaria Geral apresentou estando os elétrodos auricular e ventricular direito
múltiplas intercorrências infeciosas e agudizações funcionantes. Foi intervencionado para reposiciona-
da função renal, com perda de autonomia motora e mento do elétrodo, com melhoria sintomática.
cognitiva. Teve alta para Unidade de Média Duração
e Reabilitação. Conclusão: Apesar da estimulação frénica não
ser letal, acaba por causar desconforto no doen-
Discussão/Conclusão: A síndrome BRASH mani- te e pode ser facilmente solucionada, na maior
festa-se com hipotensão e bradicardia graves em parte das vezes de forma não invasiva. Este caso
doentes sob fármacos cronotrópicos e insuficiência pretende relembrar uma das complicações locais
renal. Estes devem ser avaliados de forma abran- associada ao CRT e a importância de pensar nessa
gente quanto a possíveis fatores de risco para hiper- hipótese diagnóstica em doentes portadores de dis-
calémia. O tratamento inicial deve ser direcionado positivos cardíacos.
à redução dos níveis de potássio e à correção da
volémia. Em casos refratários, as catecolaminas e o P n.º 2357 
pacemaker podem ser necessários para melhorar o Efeito de Wolff-Chaikoff secundário a quimioembo-
estado hemodinâmico. Os médicos devem ser cui- lização
dadosos na prescrição de bloqueadores do nó AV Ana de Carmo Campos(1);Sara Sarmento(1);João
em doentes com múltiplas comorbilidades e disfun- Freitas Silva(1);Isabel Cruz Carvalho(1);Teresa Fon-
ção renal subjacente. seca(1)
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi-
P n.º 2353  tal Pulido Valente
Estimulação frénica – Uma das complicações lo-
cais de dispositivos cardíacos Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio-
Ângela Ferreira(1);Luís Costeira Pereira(1);Mar- nais
ta Batoca Sousa(1);Nuno Pardal(1);Patrícia Sôra
Sobrosa(1);Rita Vilar da Mota(1);Miguel Reis Cos- Introdução: O efeito de Wolff-Chaikoff é um fenóme-
ta(1);João Pedro Pais(1);Irene Miranda(1);Diana no autorregulatório de inibição da oxidação do iode-
Guerra(1) to que inibe a síntese das hormonas tiroideias e que
(1) Unidade Local de Saúde do Alto Minho, EPE / é independente da hormona estimuladora da tiróide
Hospital de Santa Luzia (TSH), conferindo um efeito protetor face ao exces-
Tema: Outro so de iodo. Porém, em indivíduos suscetíveis com
doença tiroideia ou em situação de stress fisiológi-
co, este fenómeno pode conduzir a hipotiroidismo
Introdução: Os soluços resultam de espasmos re- de forma transitória e por tempo variável.
petidos e involuntários do diafragma, estes podem
ocorrer de forma autolimitada ou persistente. Nes-
tas situações deve ser esclarecida a etiologia que Caso Clínico: Mulher de 27 anos, caucasiana, admi-
pode ser devida a irritação diafragmática local ou tida em internamento por febre e pancitopenia com
secundária a lesão no sistema nervoso central. diagnóstico de síndrome de linfohistiocitose he-
mafagocítico secundário a doença granulomatosa
pulmonar e extrapulmonar. Apresentação associada
Caso Clínico: Homem de 66 anos, com anteceden- a múltiplas adenopatias mediastínicas, complicada
tes de hipertensão arterial, dislipidemia, excesso com quilotórax recidivante por rotura não iatrogéni-
de peso, doença arterial periférica, insuficiência ca do canal torácico, que resolve apenas após qui-
cardíaca com fração de ejeção reduzida de etiologia mioembolização do canal torácico com Lipiodol®
isquémica, portador de pacemaker (PM) definitivo à por linfografia (administração 10 ml). Uma semana
direita desde 21/05/2012 com upgrade para CRT-D após o procedimento início de clínica sugestiva de
em 17/09/2019 com sistema completo à esquerda. estado hipometabólico, com avaliação laboratorial
Em 13/12/2019 foi avaliado em consulta de Cardio- de hipotiroidismo secundário, com anticorpos anti
logia com ajuste de parâmetros de CRT-D. Recorreu tiroideus negativos e sem alterações imagiológicas
ao serviço de urgência 8 dias depois por soluços da glândula tiroideia. Assumido hipotiroidismo ia-
persistentes que agravavam com o ortostatismo. trogénico e iniciada suplementação com hormona
Sem queixas respiratórias, dor abdominal ou to- tiroideia, com boa evolução clínica e laboratorial.
rácica, sem náuseas ou vómitos. Negava défices
neurológicos focais. Ao exame objetivo, apirético, Discussão: O Lipiodol® é um fármaco derivado de
sem alterações no exame neurológico, apresentava ésteres etílicos de ácidos gordos iodados do óleo
contração muscular nos quadrantes abdominais da semente de papoila-dormideira, com elevado teor
superiores associada aos sons cardíacos de forma em iodo (48%, ou seja, 480mg/ml). O seu longo tem-

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 783


po de semivida (meses a anos, média de 3 anos) e des que a integram permite uma redução da morbi-
a sua lenta excreção por via urinária, pode contribuir -mortalidade associada.
para estado de hipotiroidismo em associação ao
efeito de Wolff-Chaikoff. Por tal, é recomendada P n.º 2362 
uma avaliação prévia e subsequente monitorização Hepatite aguda em doente jovem – a propósito de
da função tiroideia nos doentes submetidos a qui- um caso clínico
mioembolização com este fármaco. Ângela Ferreira(1);Luís Costeira Pereira(1);Mar-
ta Batoca Sousa(1);Nuno Pardal(1);Patrícia Sôra
P n.º 2360  Sobrosa(1);Rita Vilar da Mota(1);Miguel Reis Cos-
Anemia Perniciosa – quando doenças auto-imunes ta(1);João Pedro Pais(1);Irene Miranda(1);Anabela
se associam Brito(1);Mariana Cruz(1);Diana Guerra(1)
Ângela Ferreira(1);Luís Costeira Pereira(1);Mar- (1) Unidade Local de Saúde do Alto Minho, EPE /
ta Batoca Sousa(1);Nuno Pardal(1);Patrícia Sôra Hospital de Santa Luzia
Sobrosa(1);Rita Vilar da Mota(1);Miguel Reis Cos-
ta(1);João Pedro Pais(1);Irene Miranda(1);Diana Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá-
Guerra(1) ticas
(1) Unidade Local de Saúde do Alto Minho, EPE /
Hospital de Santa Luzia Introdução: A hepatite aguda (HA) tem várias etio-
logias, sendo a medicamentosa (HM) uma delas,
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas- em que o diagnóstico é de presunção, necessitando
culites sempre da exclusão de outras causas.

Introdução: As causas mais comuns de anemia me- Caso Clínico: Homem, 18 anos, antecedentes de
galoblástica são: défice de vitamina B12 (VitB12), acne e fumador. Admitido por colúria, acolia, icterí-
défice de folato, fármacos que interferem na síntese cia e anorexia com 1 semana de evolução. Negada
de DNA ou distúrbios metabólicos raros. A anemia febre, dor abdominal, vómitos ou diarreia. Medica-
perniciosa (AP), distúrbio auto-imune (AI), é uma do com minociclina desde há 2 meses, sem toma
causa comum de défice de VitB12. de outros fármacos ou drogas. Contacto com cão
desparasitado. Sem hepatopatias prévias, relações
Caso Clínico: Mulher de 34 anos, com doença de sexuais desprotegidas, viagens ao estrangeiro ou
Addison (DA) diagnosticada aos 22 anos sob hidro- prática de desporto em montanha. Ao exame obje-
cortisona e fludrocortisona, encaminhada para con- tivo ictérico e com hepatomegalia. Análises: hiper-
sulta de Medicina Interna por anemia macrocítica. bilirrubinemia (9.37mg/dL) à custa da conjugada,
Negava astenia, anorexia, emagrecimento, pares- AST e ALT, respetivamente, 58 e 84 vezes os limites
tesias, alterações da marcha ou paladar. Ao exame superiores do normal (LSN), fosfatase alcalina e a
objetivo com mucosas pálidas e hiperpigmentação gama-GT 2 vezes LSN.  Hemograma, estudo de coa-
cutânea. Analiticamente: anemia megaloblástica, gulação, função renal, amílase, lipase e proteína C
défice de VitB12 (< 83 pg/mL), sem défice de fer- reativa normais. TC abdominal com hepatomegalia,
ro ou ácido fólico, esfregaço de sangue periférico sem outras alterações. Serologias víricas e estudo
com anisocitose e neutrófilos hipersegmentados; auto-imune (EAI) negativos, alfa 1-antitripsina, cobre
perfil hepático, hemoglobina glicada, função renal e ceruloplasmina normais, metabolismo do ferro
e tiroideia normais; anticorpos anti-células parie- sem alterações, excepto ferritina elevada. Conside-
tais positivo, anti-fator intrínseco, anti-tiroglobulina rada HM pela toma de minociclina, suspenso logo
e anti-tiroide peroxidase negativos. Endoscopia na admissão, com melhoria analítica lenta pelo que
digestiva alta com biópsia gástrica demonstrava fez biópsia hepática que mostra alterações suges-
infiltrado inflamatório crónico ligeiro, metaplasia tivas de hepatite com atividade marcada e fibrose
intestinal ligeira e atrofia, sem displasia. Concluiu-se ligeira com inflamação portal e lobular, associada a
por anemia perniciosa em doente com DA. Iniciou necrose hepatocitária, compatíveis com a suspeita
suplementação com VitB12 injetável (ad eternum) de HM. Entretanto mantém-se assintomático com
associado a suplementação de ferro durante o pri- estudo analítico normal, incluindo EAI.
meiro mês.
Conclusão: A HM ocorre em cerca de 10% das HA.
Conclusão: Os distúrbios AI tais como doença de Para se atribuir essa etiologia deve existir: exposi-
Graves, DA, Diabetes mellitus (DM) tipo 1, AP, entre ção ao fármaco prévia às alterações hepáticas, me-
outras, podem surgir associados - Síndrome Poli- lhoria analítica com a sua interrupção, recorrência
glandular Autoimune (SPA) que é caraterizado em 4 rápida e severa se nova exposição a este e exclusão
tipos. O tipo 2 inclui a DA associada a outro distúr- de hepatopatia anterior. Por vezes a HA induzida
bio major: doença AI da tiróide e/ou DM tipo 1. Con- pela minociclina tem sido associada a anticorpos
tudo, este tipo pode apresentar formas incompletas antinucleares com um longo período de latência,
com a presença de distúrbios minor como a AP. As que até agora não se identificou neste doente.
formas incompletas são mais prevalentes (150 ca-
sos/100 000 indivíduos), podendo vir a desenvolver P n.º 2365 
mais tarde outro distúrbio major. Por este motivo, o Uma dor torácica “autoimune”
diagnóstico precoce desta condição e das entida- Pedro Leite Vieira(1);Rui Isidoro(1);Filipa Leitão(1);-

784
E-POSTERS
Joana Carvalho(1);Diana Silva(1);Marco Perei- Introdução: No adulto jovem, os quadros de aci-
ra(1);Rita Correia(1);Paula Paiva(1);Maria Eugénia dente vascular cerebral (AVC) podem decorrer de
André(1) anomalias cardíacas congénitas ou adquiridas,
(1) Unidade Local de Saúde de Castelo Branco vasculopatias, tabagismo, gravidez e estados de hi-
percoagulabilidade, assim como de hipertensãao e
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas- aterosclerose prematura. As anomalias estruturais
culites cardíacas representam um importante fator de risco
para o AVC isquémico como resultado de fenóme-
Introdução: A Doença de Behçet (DB) é uma doença nos disrítmicos, dilatação de câmaras cardíacas
multissistémica, vasculítica, que afeta vasos de vá- com a consequente formação de trombose, emboli-
rios calibres e ambas as circulações. Caracteriza-se zação paradoxal e sética nos doentes com endocar-
pela presença de úlceras orais recorrentes, mas dite infeciosa.
pode afetar qualquer sistema de órgãos. Na sua
manifestação gastrointestinal a localização esofági- Caso Clínico: Mulher de 47 anos sob terapêuti-
ca é extremamente rara. ca crónica com Varfarina. Com antecedentes de
Trombose Venosa Profunda de repetição e AVC car-
CASO CLÍNICO: Mulher, 54 anos, educadora de dioembólico aos 46 anos de idade, no território su-
infância. Sem antecedentes de relevo. Recorreu perficial da Artéria Cerebral Média direita (ACM). Do
ao Serviço de Urgência por quadro de dor torácica estudo na Enfermaria aquando do evento cerebro-
intensa com irradiação dorsal, associada à degluti- vascular agudo, foi diagnosticado por ecocardiogra-
ção, com 6 dias de evolução. À observação, cavida- ma transtorácico e confirmado no transesofágico a
de oral com múltiplas aftas, dispersas pelos lábios, existência do foramen ovale patente (FOP).
língua, palato e gengivas. Analiticamente: PCR
17mg/L, marcadores de necrose miocárdica nega- Admitida em Internamento de forma eletiva para o
tivos. Eletrocardiograma e radiografia de tórax sem encerramento de FOP na sala de Hemodinâmica,
alterações. Endoscopia digestiva alta: lesões aftói- procedimento que decorreu sem intercorrências. 
des desde a boca até ao esófago médio. Histologia
das lesões aftóides: esofagite aguda compatível
com a hipótese de DB. Medicada com prednisolona Conclusão: Estudos recentes sugerem a superio-
20mg/dia e sucralfato com melhoria após 3 dias ridade do encerramento percutâneo do FOP face
de tratamento. Encaminhada para consulta de Me- ao tratamento com antiagregantes plaquetares na
dicina Interna/Autoimunes, onde não apresentava redução do risco de recorrência dos eventos cere-
qualquer lesão aftosa ativa. Apurou-se história de brovasculares nos doentes com AVC isquémico car-
úlceras orais e genitais recorrentes com mais de 30 dioembólico e anomalia do septo interauricular com
anos de evolução, muitas vezes precedidas por dor idade inferior a 60anos. Os doentes devem ser ava-
torácica à deglutição. Estudo analítico: VS 30mm, liados continuamente dado o risco do aparecimento
PCR 19mg/L; serologias víricas e estudo autoimune de Fibrilhação Auricular de novo, aumentando, por
sem alterações de relevo; HLA-B51, B5 e B27 nega- sua vez, o risco cardioembólico dos doentes.
tivos. Medicada com sucralfato e prednisolona em
crise. P n.º 2376 
O DESAFIO DIAGNÓSTICO DO COMA METABÓLICO
DISCUSSÃO/CONCLUSÃO: Com este caso, pre- - A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO
tende-se chamar a atenção para o diagnóstico Carlos Candeias(1);Ramiro Lopes(2);Luis Vicen-
diferencial dos doentes que se apresentam com te(2);Rui Gonçalves(3);Carlos Cabrita(1);Ana Lo-
úlceras orais recorrentes. O diagnóstico de DB é pes(1)
clínico, sem achados laboratoriais patognomóni- (1) Centro Hospitalar do Algarve, EPE / Hospital de
cos, e requer suspeição diagnóstica elevada para a Faro (2) HOSPITAL FARO (3) Harrogate and District
instituição de tratamento atempado, que pode ter NHS Foundation Trust
impacto importante na qualidade de vida dos doen-
tes. A apresentação esofágica é extremamente rara, Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio-
sendo apenas conhecidos algumas dezenas casos nais
clínicos publicados.
P n.º 2374  Introdução: O coma é um estado clínico em que
Hemodinâmica além do SCA: a propósito de um o doente se encontra inconsciente devido a alte-
AVC no adulto Jovem rações orgânicas. A etiologia pode ser variada:
Sónia Reis Santos(1);Ana Vera Marinho(2);Professor infeciosas, metabólicas, traumáticas, intoxicações,
Doutor Lino Gonçalves(2);Ana Mafalda Miranda(1) entre outros. Representa um importante desafio
(1) Centro Hospitalar Tondela-Viseu, EPE / Hospital diagnóstico não só pelas suas múltiplas etiologias,
de São Teotónio, EPE (2) Centro Hospitalar e Univer- mas também pela impossibilidade de colaboração
sitário de Coimbra / Hospitais da Universidade de do doente na colheita da história clínica. A estra-
Coimbra tégia diagnóstica deve assentar num exame físico
detalhado complementado com a informação exis-
Tema: Doenças cardiovasculares tente acerca do doente e com recurso a exames
complementares de diagnóstico.
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 785
CASO CLÍNICO: Mulher de 54 anos, trazida ao Caso Clínico: Homem de 38anos, autónomo. Sem
Serviço de Urgência por quadro com dois dias de história de antecedentes pessoais, para além de re-
evolução de prostração associado a mutismo. An- ferir hábitos etanólicos excessivos (~70 U/semana)
tecedentes pessoais de extrofia vesical congénita, e tabagismo activo (18 UMA). Recorre ao Serviço
corrigida cirurgicamente no primeiro ano de vida. de Urgência por dor abdominal intensa em cinturão,
Sem medicação habitual. Já tinha sido internada associada a náuseas e vómitos alimentares. Referia
pelo mesmo quadro clínico há 3 meses, sem diag- episódio semelhante, menos intenso e auto-limita-
nóstico definido. Ao exame objetivo não apresen- do, na semana prévia.
tava focalidade neurológica nem outras alterações
relevantes. A avaliação psiquiátrica revelou-se À avaliação inicial a destacar: Leucocitose
inconclusiva. Analiticamente havia a destacar um (17.5x10^9/L), PCR 7.8mg/dL, Amilase 199 U/L,
ligeiro aumento da creatinina (2mg/dL) e da Ureia Lipase 1074 U/L, Bilirrubina total 1.3mg/dL, GGT
(120g/dL). TC Cranioencefálica e punção lombar 907 U/L, Triglicéridos 7826mg/dL e Colesterol total
sem alterações. Admitida em internamento para 1155mg/dL. Restante bioquímica hepática não foi
estudo, com melhoria clínica do estado de cons- possível realizar por apresentar soro lipémico. A
ciência com medidas de suporte gerais. Realizou tomografia computorizada abdominal revelou Pan-
RMN CE também sem alterações. Dado o quadro creatite edematosa, com coleções nos espaços pa-
clínico arrastado, a indefinição relativamente ao ra-renais anteriores; hepatomegália com esteatose
diagnóstico e a inexistência de informação clínica difusa e homogénea; sem litíase biliar ou ectasia
relativa à intervenção cirúrgica no primeiro ano de das vias biliares.
vida, solicitou-se Uro-TC que revelou cloaca cirúrgi-
ca com ureterosigmoidostomia. Foi então pedido o Admitiu-se Pancreatite aguda alitiásica, em con-
doseamento de amónia que que revelou um valor texto de hipertrigliceridémia e alcoolismo, tendo-se
de 411 ug/dl (27 – 102 ug/dl). Iniciou-se tratamento optado por internar em Unidade de Cuidados Inten-
com lactulose, estando a doente assintomática des- sivos para vigilância hemodinâmica e metabólica.
de então.
Apresentou boa evolução sem necessidade de plas-
CONCLUSÃO: O coma representa um importante maferese ou insulinoterapia, com redução dos valo-
desafio diagnóstico, podendo ocorrer como conse- res de Triglicéridos (1900mg/dL às 48h e 450mg/dL
quência de fatores estruturais ou não estruturais ao 6dia) com fluidoterapia vigorosa e dieta zero nas
(infeciosa, tóxica, farmacológica ou metabólica). primeiras 48horas. Apresentou um score BISAP de 3
Entre eles, o coma hiperamonémico de etiologia pontos e um score Modificado de Marshall de 1 (por
não-hepática é uma causa rara, provocada pela ex- insuficiência respiratória ligeira).
posição da mucosa intestinal a elevados níveis de
Discussão: Este caso destaca uma etiologia pou-
ureia consequência da derivação urinária com urete-
co prevalente de pancreatite aguda, num doente
rosigmoidostomia.  
com outros factores de risco, como alcoolismo
P n.º 2380  e tabagismo. Uma vez que não existem linhas de
Hipertrigliceridémia, uma causa rara de Pancreatite orientação bem definidas para o tratamento da pan-
aguda creatite aguda secundária à hipertrigliceridémia, é
Beatriz Chambino(1);Pedro Neves Ferreira(1);Inês de salientar a rápida e eficaz resposta ao jejum de
Santos(1);Marta Maio Herculano(1);Margarida Ma- 48h, evitando terapêuticas mais invasivas, como a
tias(1);Joana Vasconcelos(1);Carla Brito(1);Cristia- plasmaferese.
na Camacho(2);Claudio Gonçalves Gouveia(2);Mar-
P n.º 2386 
ta Rebelo(1);Eduarda Carmo(1)
Ictiose adquirida - a primeira manifestação de Leu-
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE /
cemia Mielomonocítica Crónica
Hospital Egas Moniz (2) Centro Hospitalar de Lisboa
Ana Teixeira Reis(1);Margarida Gomes Neto(1);Ale-
Ocidental, EPE / Hospital de S. Francisco Xavier
xandra Gaspar(1);Sónia Serra(1);Clara Rosa(1);Er-
Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio- melinda Pedroso(1)
nais (1) Centro Hospitalar de Setúbal, EPE / Hospital de
São Bernardo
Introdução: A Pancreatite aguda é a inflamação Tema: Doenças oncológicas
súbita do pâncreas causada pela activação intra-
-acinar das enzimas pancreáticas, podendo evoluir
A Leucemia Mielomonocítica Crónica (LMMC) é
para necrose. Quanto à etiologia, a litíase biliar e
uma doença neoplásica hematológica descrita
o consumo de álcool correspondem à maioria dos
como um distúrbio das células-tronco hematopoié-
casos. Uma causa menos frequente (1-14% dos
ticas com características de síndromes mielodisplá-
casos) é a hipertrigliceridémia, seja primária (gené-
sicas (SMD) e mieloproliferativas (SMP), associada
tica) ou secundária (obesidade, diabetes mellitus ou
a um risco de transformação leucémica.
medicamentosa). A referir que existe uma associa-
ção independente entre o consumo de tabaco e o
risco de pancreatite. Caracteriza-se por uma monocitose sustentada (>3
meses) no sangue periférico (≥1 × 10^9; monócitos
≥10% dos leucócitos) e a presença de blastos na
786
E-POSTERS
medula óssea, associado a características displási- inferior direito com 4 semanas de evolução e agra-
cas na medula óssea. vamento progressivo, sem alívio com analgésicos.
A sua prevalência tem vindo a aumentar nos últimos Ao exame objetivo: dor à palpação paravertebral
anos e atualmente é classificada como uma neo- direita, reflexo rotuliano abolido à direita, sem alte-
plasia mielóide única. Geralmente assintomática, rações da força muscular ou da sensibilidade; sem
porém os sintomas mais frequentes são a perda alterações analíticas. TC revelou lesão osteolítica
ponderal, fadiga, astenia, a presença de hepatome- expansiva do corpo de L3 e RM confirmou invasão
galia e esplenomegalia, as manifestações cutâneas do canal medular com componente epidural anterior
são raras. e invasão do pedículo L3 direito, com característi-
cas radiológicas de malignidade (natureza metas-
Relata-se o caso de um doente do sexo masculino, tática ou plasmocitoma). Estudo de tumor primário
de 61 anos, cuja primeira manifestação de LMMC negativo, de relevante apenas 2 nódulos da tiroide,
foi o aparecimento de uma dermatose cutânea que foram biopsados - benignos. Observada por
generalizada dois anos antes do diagnóstico da neurocirurgia, sem indicação para descompressão
doença oncológica. A acompanhar o doente referia urgente pelo que  fez biópsia guiada por TC que se
queixas de cansaço e perda ponderal com um ano relevou inconclusiva. Posteriormente realizou bióp-
de evolução. sia cirúrgica, que revelou diagnóstico de Cordoma.
Submetida a cirurgia com artrodese e vertebrec-
As lesões da pele eram compatíveis com uma ic- tomia em bloco de L3, com colocação de prótese,
tiose adquirida e a histologia mostrava dermatose com melhoria clínica, mantendo vigilância clínica e
perivascular. imagiológica.
Analiticamente apresentava anemia, leucocitose DISCUSSÃO:
com neutrofilia, monocitose, VS aumentada e au-
mento policlonal de imunoglobulinas, com imunofi- A dor lombar é um motivo frequente de ida ao SU,
xação sérica negativa, sem outras alterações ana- e é, pela quantidade de diagnósticos diferenciais
líticas relevantes. Na TC-toraco-abdomino-pelvica e pelo amplo espectro de gravidade destes, uma
apresentava hepatomegalia, esplenomegalia e ade- queixa de difícil avaliação. A anamnese é essencial,
nopatias cervicais, axilares e inguinais. assim como o exame objetivo, para que possam ser
realizados os exames complementares adequados
Biopsia óssea e o mielograma confirmaram o diag- a cada doente. Este caso é um exemplo de uma dor
nóstico de LMMC, com características de mielodis- lombar prolongada no tempo e com pouca resposta
plasia. à analgesia, com apenas alteração no reflexo rotu-
liano e sem outros défices neurológicos, cuja abor-
A biopsia de gânglio mostrou alterações compatí-
dagem médica permitiu o diagnóstico precoce de
veis com linfadenopatia dermatopática.
um tumor raro e agressivo.
Desta forma alerta-se para as apresentações clíni-
P n.º 2390 
cas atípicas e para a importância da valorização de
Infeção por Clostridioides difficile após erradicação
toda a sintomatologia descrita pelo doente.
de Helicobacter pylori
P n.º 2387  Mariana l. s. Magalhães(1);Ana Marques(1);Joana
Cordoma: uma patologia rara, um sintoma comum Louro(1);Manuela Ricciulli(1);Rosa Amorim(1)
Mariana l. s. Magalhães(1);Joana Carneiro(1);Ma- (1) Centro Hospitalar do Oeste - Unidade de Caldas
nuela Ricciulli(1) da Rainha
(1) Centro Hospitalar do Oeste - Unidade de Caldas
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
da Rainha
Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas Introdução:

Introdução: Sabe-se que um dos fatores de risco para infe-


ção por clostridioides é antibioterapia prévia, no
O Cordoma é um tumor ósseo raro e localmente in- entanto, o papel da terapêutica de erradicação de
vasivo cuja localização lombar é rara. Helicobacter pylori (H.pylori) no aumento do risco
de infeção por Clostridioides ainda não está bem
Apresenta-se um caso de uma doente com queixas estudado. Apresenta-se o caso de uma doente que
de lombalgia, um sintoma comum, e que foi diag- teve infeção por Clostridioides e uma recidiva após
nosticada com uma patologia rara: Cordoma lom- tratamento, em que o único fator de risco conhecido
bar. era a toma recente do esquema quádruplo de erradi-
cação de H.pylori.
CASO CLÍNICO:
CASO CLÍNICO:
Mulher de 72 anos, com antecedentes de hérnias
discais e dislipidemia,  recorreu ao serviço de urgên- Mulher de 34 anos, médica, com antecedentes de
cia (SU) por dor lombar com irradiação ao membro relevo de gastrite crónica com pesquisa positiva de

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 787


H.pylori, pelo que fez erradicação com terapêutica terais e dispersos, alguns confluentes, associados a
quádrupla com bismuto. Recorreu ao Serviço de opacidades dispersas em vidro despolido. Ao final
Urgência por diarreia com 3 semanas de evolução. de duas horas o doente evoluiu com agravamento
À admissão encontrava-se emagrecida, sem alte- clínico com necessidade de ventilação mecâni-
rações analíticas. Feita pesquisa de C.difficile nas ca invasiva e suporte vasopressor. Realizou novo
fezes que foi positiva. Ficou internada na Unidade TC com agravamento acentuado das alterações
de Hospitalização Domiciliária (UHD) onde fez ciclo pulmonares em relação ao exame prévio. Colheu
de 10 dias de Vancomicina oral, com normalização amostras para microbiologia (negativas) e iniciou
do trânsito intestinal. 12 dias depois iniciou novo antibioterapia empírica. Necessitou suporte trans-
quadro de diarreia, repetiu pesquisa de C.difficile fusional frequente (glóbulos rubros e plaquetas) e
nas fezes que foi novamente positiva. Assumida terapêutica de substituição da função renal durante
primeira recidiva e foi novamente internada em UHD o internamento. Realizou broncofibroscopia ao se-
onde realizou o esquema pulsado de Vancomicina. gundo dia que revelou inúmeros coágulos na árvore
Teve melhoria gradual do trânsito intestinal com brônquica. A investigação documentou positividade
posterior normalização, sem nova recidiva. para leptospira na urina. O doente evoluiu favoravel-
mente tendo sido transferido posteriormente para
DISCUSSÃO: enfermaria do Serviço de Medicina Interna, com alta
hospitalar ao 27º dia de internamento.
A erradicação do H.pylori é recomendada após a
sua deteção. Na literatura há alguns casos des- O caso apresentado reflete uma forma rara e grave
critos de infeção por Clostridioides após variados de apresentação da leptospirose, conhecida como
esquemas de erradicação de H.pylori, incluindo síndrome de Weil, caracterizado pela tríade de ic-
esquemas com metronidazol, fármaco este que faz terícia, insuficiência renal e hemorragia pulmonar. 
parte do tratamento desta infeção. Apesar de não Destaca-se que o reconhecimento precoce dos sin-
haver ainda estudos que comprovem esta relação, a tomas e o início do tratamento dirigido são cruciais
descrição de casos existentes, deve fazer com que para diminuir o risco de mortalidade.
esta potencial relação esteja presente durante abor-
dagem ao doente com diarreia. P n.º 2397 
Febre no doente em diálise peritoneal e o impacto
P n.º 2391  na modalidade de TSFR
Hemorragia pulmonar com disfunção multiorgâni- Sónia Reis Santos(1);Pedro Boto Carlos(2);Andreia
ca: a propósito de um caso de Síndrome de Weil Dias Silva(1);Tiago Barra(1);Sérgio Lemos(1);Ana
Sofia Ferreira(1);Sérgio Gomes Ferreira(1);Sara s. Mafalda Miranda(1);Inês Batista Mesquita(1)
Santos(1);Luís Neto Fernandes(1);Marco Fernan- (1) Centro Hospitalar Tondela-Viseu, EPE / Hospital
des(1) de São Teotónio, EPE (2) Centro Hospitalar Cova da
(1) Centro Hospitalar de Entre Douro e Vouga, EPE / Beira, EPE / Hospital Distrital da Covilhã
Hospital de S. Sebastião
Tema: Doenças renais
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
Introdução: A peritonite representa uma complica-
A leptospirose é uma zoonose causada por espi- ção comum nos doentes em diálise peritoneal es-
roquetas da espécie Leptospira.  O curso clássico tando associada ao aumento da morbimortalidade
da doença é caracterizado por um padrão bifásico dos mesmos, podendo conduzir a perda do acesso
- uma fase de bacteriémia, seguida por uma fase ou mudança do tratamento para hemodiálise.
imunológica, na qual as toxinas da leptospira e a
resposta imunológica do hospedeiro causam um Caso Clínico: Homem de 77 anos com doença renal
amplo espectro de manifestações clínicas. terminal (DRT) em programa de substituição renal
com DPCA internado a partir da consulta externa
Apresenta-se o caso de um homem caucasiano de por febre de novo, desidratação e alterações no
38 anos, fumador ativo, trabalhador em ambiente efluente peritoneal. O estudo do efluente confirmou
rural, com contacto regular com animais e consumo a presença de peritonite, tendo sido identificando
de água de poço. Admitido no Serviço de Medici- alguns fungos ao exame direto. Iniciou terapêutica
na Intensiva por sépsis com ponto de partida não com Ceftazidima, Vancomicina e Fluconazol. Em D2
esclarecido com disfunção multiorgânica – clínica de Internamento programada remoção do cateter de
com 3 dias de evolução caracterizada por febre, Tenckhoff após confirmação da infeção pelo fungo
tosse seca, mialgias e vómitos. Ao exame obje- Rhodotorulla glutinis na cultura do efluente perito-
tivo apresentava-se ictérico, eupneico, hipotenso neal. Verificada boa resposta a terapêutica ficando
e taquicardico, febril, com crepitações bibasais à apirético desde D5 de Internamento. Perante a peri-
auscultação pulmonar e com dor ligeira à palpação tonite fúngica, após discussão clínica, proposto ao
do hipocôndrio direito. Analiticamente com anemia, doente a modalidade de hemodiálise para progres-
linfopenia e trombocitopenia, lesão renal aguda, são dos tratamentos da DRT. Iniciou o programa de
coagulopatia e elevação dos parâmetros de citoco- hemodialise em internamento com boa adaptação à
lestase e proteína C reativa; a tomografia computa- técnica com posterior integração em regime ambu-
rizada (TC) evidenciou inúmeros micronódulos bila- latório.

788
E-POSTERS
Conclusão: As peritonites nos doentes em diálise lineuropatia periférica sensitivo-motora desmielini-
peritoneal são maioritariamente de etiologia bacte- zante simétrica, mais grave nos MI.
riana, sendo as fúngicas responsáveis por 2 a 15%
dos casos. Apesar de menos prevalentes estão as- Admitiu-se o diagnóstico de PDIC idiopática, tendo
sociadas a uma maior morbimortalidade decorrente realizado imunoglobulina humana e corticoterapia,
das complicações inerentes, tais como a peritonite evidenciando melhoria dos défices neurológicos e
esclerosante, as aderências com consequente obs- dos parâmetros neurofisiológicos no EMG.
trução intestinal e a formação de abcessos. Deve
proceder-se a uma avaliação atempada da peritoni- DISCUSSÃO: A PDIC é uma entidade complexa e
te na medida em que a gravidade associada ao qua- cujo diagnóstico impõe a consideração de um am-
dro clínico pode motivar a alteração do esquema plo espectro etiológico. A sua natureza reversível
de tratamento substitutivo de função renal preconi- salienta a importância do início precoce da terapêu-
zado para o doente. tica.

P n.º 2400  P n.º 2401 


Polineuropatia Desmielinizante Inflamatória Cróni- Um caso de amaurose súbita no adulto jovem
ca - Desmascarando Uma Patologia Desafiante Sónia Reis Santos(1);Gustavo Campos(2);Ana Vera
Jorge Alves Correia(1);Margarida Nascimento(1);Re- Marinho(2);Francisco Gonçalves(2);Professor Dou-
nato Oliveira(1);Filipa Rocha(1);Tiago Gonçalves(1);- tor Lino Gonçalves(2);Ana Mafalda Miranda(1)
Filipa Malheiro(1);Bebiana Gonçalves(1);Alexandra (1) Centro Hospitalar Tondela-Viseu, EPE / Hospital
Bayão Horta(1) de São Teotónio, EPE (2) Centro Hospitalar e Univer-
(1) Hospital da Luz Lisboa sitário de Coimbra / Hospitais da Universidade de
Coimbra
Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas
Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas
Introdução: A polineuropatia desmielinizante infla-
matória crónica (PDIC) é uma neuropatia sensiti- Introdução: Os casos de amaurose súbita persis-
vo-motora rara, imunomediada, de instalação pro- tente representam um desafio diagnóstico poden-
gressiva, frequentemente idiopática mas por vezes do decorrer de alterações ao nível da retina, nervo
paraneoplásica. O diagnóstico baseia-se na clínica, ótico e estruturas oculares anteriores, constituindo
estudo do líquido cefalorraquidiano (LCR) e eletro- uma fonte importante de ansiedade e incerteza nos
miografia (EMG). doentes.
Caso Clínico: Homem de 25 anos com anteceden-
CASO CLÍNICO: Mulher de 80 anos, com história de tes de Bicuspidia Aórtica admitido em Serviço de
carcinoma do pulmão, urotélio e mama, em remis- Urgência no contexto de  episódio de amaurose sú-
são completa há 1 ano, sem quimioterapia sistémi- bita e indolor do olho direito. Internado na UCIC para
ca recente, sem hábitos alcoólicos ou toxicofílicos, estudo etiológico após observação pela Oftalmolo-
admitida por quadro com 2 meses de evolução e de gia com suspeita diagnóstica de oclusão embólica
agravamento progressivo caracterizado por parapa- da artéria central da retina. Do estudo realizado em
résia simétrica, força muscular grau 3/5, disestesias Internamento feito despiste de patologia autoimune
nas mãos e pés, e hiporreflexia osteotendionosa ou vasculites. Fez ecocardiograma transesofágico
nos membros inferiores (MI). que confirmou o agravamento da estenose aórtica
e sua severa calcificação. Sem alterações de relevo
Analiticamente sem alterações no hemograma, na RMN-CE e Angio-TC cerebral e carotídea. Avalia-
função renal, ionograma, provas hepáticas, creati- do por colegas de Neuroftalmologia com referencia-
na cinase, função tiroideia, ácido fólico, vitamina ção a consulta da especialidade com o diagnóstico
B12, tiamina e hemoglobina A1C; sem elevação de de amaurose no contexto de embolização periférica
parâmetros inflamatórios. Proteinograma normal e de nódulo de cálcio e indicação para anti-agregação
imunofixação sem frações monoclonais. Anticorpos ad eternum. 
anti-Yo/Hu/CV2/Ri/Ma2 negativos. VDRL, TPHA,
HIV, ANA e ANCAs negativos. Conclusão: Na amaurose decorrente da oclusão da
artéria central da retina, grande parte dos eventos
LCR com proteinorráquia (56mg/dL), glicorráquia é decorrente da presença de cardiopatia e compli-
normal, sem pleocitose; sem síntese intratecal de cações tromboembólicas, sendo o coração a fonte
IgG; VDRL/TPHA e anticorpos anti-Borrelia/Brucella/ embólica em 48% dos casos. Surgem tipicamente
Epstein-Barr negativos; exame bacteriológico e mi- em doentes com idade inferior a 40 anos onde se
cológico: negativos. consegue identificar uma causa para o evento.
São exemplo a fibrilhação auricular, endocardite
Perante os antecedentes, considerou-se a hipótese infeciosa, cardiopatia congénita, doença valvular
de neuropatia imunomediada associada a eventual reumática e tumores intra-cardíacos. É fundamental
contexto paraneoplásico. Realizou PET-CT de corpo, a vigilância regular destes doentes e assegurar o
mamografia e ecografia mamária, que descartaram cumprimento terapêutico com vista a minimizar o
lesões suspeitas. aparecimento de complicações graves e potencial-
Complementou estudo com EMG, sugestivo de po- mente irreversíveis como descrito no caso clínico.

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 789


P n.º 2405  reia(1)
A Anatomia Da Pancreatite Recorrente - Um Caso (1) Centro Hospitalar Uni. Porto
Clínico
Jorge Alves Correia(1);Gil Prazeres(1);Filipa Malhei- Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
ro(1);Bebiana Gonçalves(1);Alexandra Bayão Hor-
ta(1) Introdução: A linfadenite tuberculosa constitui uma
(1) Hospital da Luz Lisboa das apresentações mais comuns de tuberculose ex-
tra-pulmonar. Na ausência de doença pulmonar
Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá- concomitante, corresponde normalmente a reac-
ticas tivação de uma infecção latente. A apresentação
inicial frequente é através de adenopatias, existindo
Introdução: O pâncreas divisum é a variante ana- algumas formas raras de apresentação, tais como o
tómica pancreática congénita mais frequente, eritema nodoso.
caracterizada pela ausência de fusão das porções
ventral e dorsal do pâncreas, apresentando uma Caso clínico: Mulher de 63 anos, com diabetes
prevalência de 7% na população geral. A maioria mellitus insulinotratada com mau controlo metabó-
dos doentes permanecem assintomáticos, existindo lico (HbA1c 11%), dislipidemia, anemia ferropénica
um pequeno subgrupo (5%) que manifesta sintomas e osteopenia. História de eritema nodoso, com
tipicamente associados a episódios de pancreatite aparecimento há cinco anos, de etiologia inespe-
aguda recorrente. cífica, que havia regredido há cerca de três anos,
mas que recorrera nos últimos dois. Internada por
emagrecimento e episódios recorrentes de mial-
CASO CLÍNICO: Mulher de 51 anos, com história gias, arrepios e astenia com três meses de evo-
conhecida de dois episódios de pancreatite aguda lução. Analiticamente apresentava: elevação dos
(a primeira litiásica, submetida a colecistectomia; parâmetros inflamatórios (leucocitose 17.71x103/
a segunda sem etiologia identificada), sem hábitos μL, PCR 132.35mg/L e VS 73mm); anemia de es-
alcoólicos. tados inflamatórios; título antiestreptolisina O,
Admitida por quadro com duas horas de evolução serologia de vírus da imunodeficiência humana
caracterizado por epigastrialgia com irradiação em (VIH) e Interferon-Gamma Release Assay negativos.
cinturão e vómitos. Analiticamente com elevação da Realizou TC toraco-abdomino-pélvica, a demonstrar
amilase e lipase, discreta elevação dos parâmetros «acentuado espessamento da parede da
inflamatórios e das transaminases; IgG4 negativa, junção esófago-gástrica e do cárdia, sugerindo
sem alterações nos níveis de cálcio ou triglicéridos. neoplasia, e múltiplas adenopatias peri-gástricas,
peri-celíacas, mesentéricas e retropertitoneais,
Tomografia computorizada abdominal compatível algumas com necrose central». Realizado estudo
com novo episódio de pancreatite aguda, esboçan- endoscópico com biópsia gástrica, sem evidência
do um pâncreas globoso, heterogéneo e edemato- de malignidade. Submetida a biópsia excisional
so; sem lesões suspeitas ou coleções circunscritas; de gânglio linfático retroperitoneal, com histologia
com ectasia da via biliar principal (VBP) e interrup- compatível com linfadenite granulomatosa
ção abrupta na papila, mas sem sinais de coledoco- supurativa e estudo micobacteriológico com
litíase. identificação de Mycobacterium tuberculosis.
Assim, foi estabelecido o diagnóstico de
Dado o contexto de recorrência sem fator etiológico linfadenite tuberculosa intra-abdominal, tendo
identificado, foi solicitada colangiopancreatografia a doente cumprido nove meses de tratamento
por ressonância magnética, descrevendo a presen- dirigido, com resolução completa do quadro clínico.
ça de pâncreas divisum a condicionar estenose
distal na VBP. Fez eco-endoscopia, que descartou Discussão: Este caso ilustra uma apresentação atí-
malignidade, tendo sido intervencionada endosco- pica de tuberculose extra-pulmonar, numa doente
picamente com realização de esfincterectomia com sem infecção VIH, mas com diabetes mellitus mal
intuito curativo. controlada como factor de risco. Uma das etio-
logias possíveis de eritema nodoso é a infecção
Encontra-se assintomática desde há 18 meses, sob por Mycobacterium tuberculosis cujo diagnóstico
plano dietético hipolipídico. nem sempre é fácil, sendo por isso necessário um
elevado grau de suspeição clínica.
DISCUSSÃO: Pretende-se alertar para uma patologia
raramente sintomática e potencialmente grave, mas P n.º 2414 
de importante exclusão perante episódios de pan- Tromboembolismo pulmonar maciço: rara forma de
creatite recorrente sem fator etiológico óbvio, consi- apresentação de um colangiocarcinoma intra-hepá-
derando a possibilidade de intervenção curativa. tico
Laura Pratas Guerra(1);Rita Pichel(1);Pedro Maia
P n.º 2409  Neves(1);Ana Teresa Mendes Ferreira(1);Vital da
Eritema nodoso como apresentação de tuberculose Silva Domingues(1);Teresa Mendonça(1)
extra-pulmonar (1) Centro Hospitalar Uni. Porto
Laura Pratas Guerra(1);Daniela m. Soares(1);Ana
Rita Cruz(1);Álvaro Ferreira(1);João Araújo Cor- Tema: Doenças oncológicas

790
E-POSTERS
Introdução: O tromboembolismo venoso (TEV) pode Homem, 67 anos, com antecedentes de tímpano-
constituir a forma de apresentação inicial de uma -mastoide-petrosectomia (1998), abcesso temporal
neoplasia, tendo em conta o estado protrombótico direito por Proteus mirabilis (2012), SAOS e HTA.
que lhe está inerente. A evidência científica não fa- Clínica de otorreia à direita, febre e alteração do es-
vorece o screening de doença oncológica nos doen- tado de consciência. No SU apresentou episódio de
tes com TEV não provocado, dada a ausência de crise tónico-clónica generalizada. A TC-CE revelou
aumento da sobrevida global. uma lesão abcedada temporal direita justaposta
ao rochedo, com 12x12x12.5mm, associada a ede-
Caso Clínico: Mulher de 91 anos, com risco vascular ma com moldagem do ventrículo lateral direito e
elevado, hipotiroidismo e história recente de imo- presença de ar intracraniano sugestiva de comuni-
bilização na sequência de queda da própria altura. cação entre o exterior e a cavidade endocraniana
Trazida ao Serviço de Urgência por quadro de disp- (provavelmente através do rochedo direito). Admi-
neia e hemoptises. À admissão sem instabilidade tido em UCI, iniciada antibioterapia empírica com
hemodinâmica, com necessidade de oxigenoterapia vancomicina e meropenem e realizada craniotomia
suplementar (FiO2 45%). Estudo complementar com drenagem do abcesso. Realizada RM-CE que,
com policitemia (Hb 16.8g/dL), citocolestase de para além do abcesso, revelou ventriculite do corno
predomínio colestático (transaminases 3x Limite occipital esquerdo. Foi isolado Proteus mirabilis
Superior do Normal (LSN), FA 5xLSN e GGT 20xLSN) multi-sensível no exame bacteriológico do pus,
com hiperbilirrubinemia directa, elevação dos D-dí- tendo-se ajustado a antibioterapia para ceftriaxone
meros (>5250ng/mL), do pro-BNP (1448pg/mL) e e metronidazol. Por persistência de febre já na 2ª
da troponina T (0.051ng/mL). Realizou AngioTC to- semana de antibioterapia após controlo cirúrgico de
rácica para identificação etiológica da insuficiência foco, considerou-se a possibilidade de expressão de
respiratória, identificando-se tromboembolismo pul- AmpC pelo P. mirabilis, com ajuste da antibioterapia
monar agudo maciço, bilateral. Por este motivo, foi para cefepime e metronidazol. Após a alteração do
iniciada hipocoagulação terapêutica com heparina antibiótico, evolução favorável com apirexia sus-
não fraccionada, tendo sido feito o switch poste- tentada. Posteriormente desenvolveu neutropenia
riormente para rivaroxabano. A doente apresentou grave, admitiu-se toxicidade a cefepime e/ou metro-
uma evolução clínica favorável com resolução da nidazol, que foram suspensos. Iniciou meropenem
insuficiência respiratória. Por queixas de dor abdo- e G-CSF com resolução da neutropenia. Sem novas
minal e no contexto de estudo de citocolestase e toxicidades, cumpriu 6 semanas de antibioterapia
hiperbilirrubinemia, realizou TC abdomino-pélvica eficaz, com boa evolução clínica e imagiológica. A
compatível com suspeita de colangiocarcinoma RMN-CE de reavaliação mostrou alterações inflama-
intra-hepático e trombose de 75% do lúmen da veia tórias residuais. O doente teve alta sem antibiotera-
cava inferior. Após discussão multidisciplinar, op- pia e orientado para consulta Doenças Infeciosas.
tou-se por medidas de tratamento paliativo, sem
mais investigação dirigida. Este caso descreve um segundo episódio de ab-
cesso cerebral por P. mirabilis, uma etiologia rara,
Discussão: Trazemos este caso pela pertinência sobretudo num adulto sem fatores de imunossu-
da discussão da realização de exames comple- pressão. O diagnóstico e o tratamento precoces são
mentares de diagnóstico em doentes com vários essenciais para prevenir complicações e mortalida-
factores de risco para TEV. A decisão deverá ser de. Um desafio adicional em antibioterapia prolon-
ponderada caso a caso, tendo em conta os limites gada é a gestão da toxicidade farmacológica.
previamente definidos para o doente e o even-
tual potencial modificador do curso da doença de- P n.º 2426 
corrente destes exames. Plegia como Manifestação Rara de Hiponatrémia
Severa
P n.º 2424  Patrícia Araújo(1);Diogo Alves(1);Catarina Carvoei-
Abcesso cerebral por Proteus mirabilis: caso clíni- ro(1);António Ferreira(1);Diana Guerra(1);Carmélia
co Rodrigues(1)
André Santos(1);José Miguel Lessa Silva(2);El- (1) Unidade Local de Saúde do Alto Minho, EPE /
sa Branco(3);João Enes Silva(3);Gabriela Cane- Hospital de Santa Luzia
las(3);António Martins(3);Filipa Ceia(3);António
Sarmento(3) Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas
(1) Hospital de São Teotónio, E.P.E. - Viseu (2) Uni-
dade Local de Saúde do Norte Alentejano - Hospital Introdução
de Portalegre (3) Centro Hospitalar de S. João, EPE
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias Hiponatrémia é definida como concentração sérica
de sódio inferior a 135mEq/L e é dividida em ligeira
Os abcessos cerebrais são infeções com elevada (130-134mEq/L), moderada (120-129mEq/L) e se-
morbi-mortalidade quando não identificadas e trata- vera (<120mEq/L). É um distúrbio hidroelectrolítico
das atempadamente. Abcessos cerebrais causados relativamente comum na prática clínica sendo a sua
por Proteus mirabilis são raros em adultos.  gravidade variável.
Caso Clínico

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 791


Homem, 56 anos. Antecedentes: hipertensão arte- CASO CLÍNICO:
rial (HTA), medicado com perindopril + indapamida
5mg + 1.25mg, história de ingestão de 5 litros água Mulher de 28 anos, referenciada à consulta de Medi-
por dia e hábitos etílicos moderados. cina Interna por hematúria microscópica conhecida
desde 2012 (sem relação com ciclos menstruais
Recorreu ao serviço de urgência por diminuição da ou atividade física) e anemia ferropénica sob suple-
força nos membros inferiores (MIs) com duas se- mentação com ferro oral. Sem outros antecedentes
manas de evolução, com agravamento progressivo patológicos conhecidos.
e queda da própria altura no dia anterior à admis-
são. Ao exame neurológico verificada plegia do Encontrava-se assintomática e não apresentava
MI direito e parésia 4/5 do MI esquerdo. Restante qualquer alteração ao exame físico.
exame objetivo sem alterações. Analiticamente
apresentava sódio de 108mmol/L, função renal e Analiticamente com anemia ligeira, função renal
restante estudo normais. A tomografia axial cra- normal, sedimento urinário com hematúria (evi-
nioencefálica, cervical e dorsolombosagrada não denciada desde 2012), sem cilindros eritrocitários
evidenciavam alterações de relevo. Foi internado ou eritrócitos dismórficos, com proteinúria não-ne-
para correção lenta e progressiva de hiponatrémia frótica e restante estudo analítico sem alterações
com fluidoterapia hipertónica. Considerada como (nomeadamente estudo de coagulação, serologias e
etiologia da hiponatrémia a polidipsia e a utilização estudo imunológico). 
de indapamida.  Apresentou resolução progressiva
Realizada ecografia renal e vesical com rins de con-
dos défices motores, encontrando-se o doente à
tornos regulares e bem definidos, normal morfologia
data de alta com força muscular dos MIs normal e
e dimensões, mantendo boa diferenciação parenqui-
natrémia corrigida. Aconselhada restrição hídrica,
mo-sinusal. Sem litíase ou dilatação dos sistemas
abstinência alcoólica e medicado com lisinopril para
excretores.
a HTA. Posterior reavaliação em consulta externa,
sem recorrência. Estudo posteriormente por Tomografia Computo-
rizada que mostrou compressão da veia renal es-
Discussão
querda entre a aorta e artéria mesentérica superior,
O aparecimento de sintomas e sinais de hiponatré- achado relacionado com a síndrome de quebra-no-
mia depende da severidade e tempo de instalação zes (Nutcracker), sem outras alterações significati-
da mesma. Os doentes podem ser assintomáticos, vas, tendo sido referenciada à consulta de Urologia. 
apresentar sintomas inespecíficos como cefaleias,
DISCUSSÃO:
náuseas e vómitos, astenia, prostração e letargia,
com possível evolução para coma e paragem car- Devido à gravidade clínica ser variável (desde casos
diorrespiratória. A apresentação através de défice ligeiros a outros com necessidade de tratamento
neurológico focal é rara ocorrendo apenas em 5% cirúrgico ou endovascular) é importante a sua sus-
dos casos de hiponatrémia severa e, como no pre- peita clínica e diagnóstico.
sente caso clínico, a exclusão de evento neurológico
central é obrigatória. Assim, é fundamental a história clínica, exame físico
e exames laboratoriais básicos para excluir outras
P n.º 2431  causas de hematúria, bem como documentação
Síndrome do quebra-nozes: uma causa rara de he- imagiológica, o que o torna esta síndrome um diag-
matúria nóstico desafiante.
Bárbara Sousa(1);Joana Silva(1);Joana Fontes(1);-
Sabina Belchior Azevedo(1);António Ferro(1);Paula P n.º 2434 
Brandão(1) SIADH: Síndrome Paraneoplásico em Carcinoma
(1) Hospital Conde de Bertiandos, ULSAM Pulmonar de Pequenas Células – um desafio tera-
pêutico
Tema: Doenças renais Patrícia Araújo(1);Isabel Tarrio(1);Duarte Silva(1);An-
tónio Ferreira(1);Emília Guerreiro(1);Diana Guer-
Introdução:  ra(1);Carmélia Rodrigues(1)
(1) Unidade Local de Saúde do Alto Minho, EPE /
Hospital de Santa Luzia
A síndrome do quebra-nozes é causada pela com-
pressão da veia renal esquerda entre a aorta e a Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio-
artéria mesentérica superior. nais
Este fenómeno vascular leva à hipertensão venosa
renal esquerda, que se pode manifestar por dor ab- Introdução
dominal e hematúria uni ou bilateral.
Os síndromes paraneoplásicos (SPN), definidos
No entanto, existe um amplo espetro de apresen-
como efeitos à distância, não relacionados com in-
tações clínicas, o que frequentemente resulta num
vasão tumoral ou metastática, estão frequentemen-
diagnóstico tardio.
te associados a neoplasias do pulmão (presente em

792
E-POSTERS
10% dos casos). TB) e drenagem articular são a base terapêutica,
não havendo consenso sobre o melhor método de
Caso Clínico drenagem nem sobre a duração de tratamento.
Homem, 62 anos, autónomo, desde abril/2021 com Caso Clínico
múltiplas vindas ao SU por vómitos, sendo trazido
ao SU em 9/maio por vómitos e desorientação. Mulher de 61 anos com AR sob corticoide e meto-
Trata-se de doente ex-fumador seguido em consul- trexato, com quadro agudo de coxalgia esquerda
ta de Pneumologia desde março/2021 por massa incapacitante e febre, com artrite e síndrome infla-
pulmonar suspeita de neoplasia, com estudos his- matória sistémica. Artrocentese documentou AS a
tológicos obtidos por broncofibroscopia e ecoen- Staphylococcus aureus. Evoluiu com bacteriémia,
doscopia a revelar metástases de carcinoma não gonalgia e omalgia bilaterais, com presença de Sta-
caracterizado. Na admissão: lentificado, desorien- phylococcus aureus documentada por artrocentese
tado e desidratado. Analiticamente sódio plasmá- em todas as articulações referidas comprovando
tico de 110mmol/L. Radiografia do tórax mostrava PASA. Realizou tratamento cirúrgico e iniciou flu-
hipotransparência à direita sobreponível a estudos cloxacilina endovenosa(EV) com esterilização de
prévios. TAC cranioencefálica com metastização hemoculturas, mantendo febre diária e síndrome
cerebral. Admitido no internamento de Medicina. inflamatória sistémica prolongadas. Pelo estado de
Iniciou fluidoterapia hipertónica, anti-eméticos, imunodepressão crónica e evolução não favorável,
dexametasona e fez radioterapia cerebral. decidido potencializar ATB, progredindo para fluclo-
xacilina, doxicilina e rifampicina EV, com boa res-
Perante hiponatrémia grave e carcinoma metastiza- posta clínica, seguido de flucloxacilina e rifampicina
do é admitido síndrome de secreção inapropriada num total de 3 meses.
de ADH (SIADH). Realizada nova biópsia da massa
pulmonar que confirmou a suspeita de carcinoma Discussão
de pequenas células. Iniciou quimioterapia (QT)
com carboplatina e etoposideo. Persistiu hiponatré- A PASA é uma entidade rara. A AR, idade avançada,
mia grave de 118 mmol/L apenas melhorando cerca diagnóstico tardio e infeção por Staphylococcus
de 2 semanas após início de QT, com 131mmol/L. são fatores de mau prognóstico. Clinicamente difícil de
distinguir de um flare de AR, não obstante, o mau
O doente acabou por falecer por pneumonia noso- prognóstico associado obriga a elevada suspeição
comial com choque séptico, no contexto de imuno- clínica na abordagem destes doentes e à realização
depressão pela neoplasia e QT ao 23º dia de inter- de artrocentese das articulações envolvidas. O atra-
namento. so no diagnóstico ou tratamento inadequado po-
dem levar à destruição irreversível das articulações.
Discussão A abordagem terapêutica contempla drenagem
articular e ATB empírica precoce, preferencialmente
Os síndromes endócrinos são os SPN mais fre- bactericida, posteriormente ajustada ao agente, sen-
quentes, nomeadamente o SIADH, constatado em do que o tempo, via de tratamento e a necessidade
10-45% dos carcinomas pulmonares de pequenas de associação antibiótica, devem ser ajustados de
células. Nestes casos, a hiponatrémia é secundária acordo com a resposta clínica.
à produção ectópica de ADH pelo tumor. O trata-
mento do SIADH paraneoplásico é desafiador visto P n.º 2438 
que implica o tratamento célere da neoplasia e a COVID19 - morbilidade indireta num enfarte agudo
sua recuperação pode ser demorada. do miocárdio
Miguel Romano(1);Joana sá Couto(1);Francisco Tei-
P n.º 2435  xeira da Silva(1);José Diogo Martins(1);André Col-
Artrite Séptica Poliarticular e Artrite Reumatóide – mente(1);Sara Ferreira(2);Conceição Santos(1);Ma-
Uma Aliança Demolidora nuel Ferreira(1);Diana Guerra(1)
Ana Pais Monteiro(1);Márcia Cravo(1);Tânia Araújo (1) Unidade Local de Saúde do Alto Minho, EPE /
Ferreira(1);Miguel Abreu(1);Daniel Soares(1);Ricardo Hospital de Santa Luzia (2) Unidade Local de Saúde
Sousa(1);Catarina Mendonça(1);João Araújo Cor- do Alto Minho / Hospital Conde de Bertiandos
reia(1)
(1) Centro Hospitalar do Porto, EPE / Hospital Geral Tema: Doenças cardiovasculares
de Santo António
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias A pandemia por COVID19 tem um elevado grau de
morbimortalidade direta. No entanto, não podem
ser menosprezadas as consequências indiretas que
Introdução ela acarreta ao diminuir as admissões hospitalares
e adiar tratamento médico.
A artrite séptica(AS) é uma emergência clínica reco-
nhecidamente associada à Artrite Reumatóide(AR),
com o uso crónico de corticoides como fator pre- Neste caso clínico descreve-se um homem de 57
disponente. O envolvimento poliarticular(PASA), anos, sem antecedentes de relevo, que recorreu ao
estimado em 15%, é subdiagnosticado e determina serviço de urgência (SU) em fevereiro de 2021 por
elevada morbi-mortalidade(50%). A antibioterapia(A- um quadro arrastado de 20 dias de dispneia para

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 793


pequenos esforços em agravamento progressivo gressiva da força muscular nos membros inferiores
e ortopneia, após episódio de dor retroesternal. (MI) com 4 dias de evolução, simétrica, com inca-
Apesar da clínica, o doente manteve-se no domicí- pacidade na marcha e, posteriormente, diminuição
lio pelo número crescente de casos por COVID19 da força nos membros superiores (MS). Sem altera-
e com receio de ser infectado. Ao 20º dia de sin- ções da sensibilidade, linguagem e sem história de
tomas, e já com comprometimento da atividade trauma recente. Negava infeções prévias e cerca de
profissional e pessoal, recorreu ao SU. O doente 3 dias antes do início dos sintomas teria feito vaci-
apresentava alterações eletrocardiográficas, ligeira na da gripe (influenza).
elevação de marcadores de necrose miocárdica e
BNP de 2650, sendo avaliado por Cardiologia com Ao exame físico objetivada tetraparésia com força
objetivação de ruptura do septo interventricular (IV) muscular nos MS grau 4 e MI com grau 4 distal e
de grande dimensão com aneurisma dos segmen- grau 2 proximal. Reflexos osteotendinosos (ROT)
tos médio e basal da parede inferior e depressão bicipitais fracos, restantes ROT abolidos. Sem alte-
da função do ventrículo direito. Foi assumido EAM ração da sensibilidade, sem espasticidade.
de tempo indeterminado com ruptura do septo IV e
transferido o doente para Cirurgia Cardíaca, onde foi Do estudo realizado, análises sem alterações de re-
submetido inicialmente a cateterismo cardíaco com levo, Tomografia Computorizada craneo-encefálica
constatação de CD ocluída e comunicação IV (CIV) e coluna, bem como Ressonância Magnética com
com shunt de grande volume. Em D5 de internamen- achados degenerativos, sem outras alterações. Rea-
to submetido a encerramento da CIV com evolução lizada punção lombar com proteinorráquia e zero
favorável tendo alta em D7 pós-operatório orientado células (dissociação albumino-citológica).
para a consulta externa.
Admitido na unidade de cuidados intermédios, cum-
Este caso assume especial importância uma vez prindo imunoglobulina intravenosa durante 5 dias,
que vem reiterar a necessidade de sensibilização com melhoria clínica progressiva.
para a morbimortalidade indireta associada à
Estudo por eletromiografia com polineuropatia agu-
pandemia por COVID19. Este doente, por não ter
da sensitivo-motora severa de predomínio desmie-
recorrido ao serviço de saúde atempadamente, de-
linizante, simétrica, compatível com síndrome de
senvolveu complicações pós-EAM descritas como
Guillain-Barré.
infrequentes nos tempos modernos, nomeada-
mente a CIV com desenvolvimento de insuficiência DISCUSSÃO:
cardíaca. Por fim,  este caso serve para alertar o
público em geral para as condições ameaçadoras O diagnóstico da SGB como complicação da res-
de vida que necessitam de cuidados urgentes/emer- posta imunológica desencadeada pela vacinação,
gentes tal como no caso descrito, salienta a importância do
reconhecimento desta entidade e o seu tratamento
P n.º 2441  precoce, sendo, assim, fundamental na redução da
Síndrome de Guillain-Barré pós-vacinação: a pro- sua morbimortalidade.
pósito de um caso clínico
Bárbara Sousa(1);Joana Silva(1);Raquel Cos- P n.º 2444 
ta(1);Paula Pestana(2);António Ferro(1);Paula Bran- Tumor neuroendócrino (TNE) gástrico – um achado
dão(1) endoscópico raro
(1) Hospital Conde de Bertiandos, ULSAM (2) Unida- Mariana Moreira Azevedo(1);Susana Pipa(1);Ricardo
de Local de Saúde do Alto Minho, EPE / Hospital de Manuel Pereira(1);Raquel Costeira(1);Sónia Carva-
Santa Luzia lho(1);Fernando Salvador(1)
(1) Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Dou-
Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas ro, EPE / Hospital de Vila Real

Introdução: Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá-


ticas
A síndrome de Guillain-Barré (SGB) é uma doença
autoimune rara, mas potencialmente fatal. Embora a Introdução: Os TNEs digestivos são raros. A maio-
sua etiologia e fisiopatologia ainda não sejam com- ria destes tumores são acessíveis por métodos
pletamente compreendidas, a estimulação imunoló- endoscópicos, sendo muitas vezes diagnosticados
gica desempenha um papel fundamental. Uma vez de forma acidental, na avaliação de quadros dis-
que as vacinas têm um efeito imunológico, também pépticos ou no contexto de rastreio. No caso dos
elas podem estar associadas a SGB. TNEs gástricos bem diferenciados, a endoscopia
digestiva alta (EDA) é também fundamental para a
CASO CLÍNICO: classificação em 3 tipos, consoante a presença de
hipergastrinémia e/ou gastrite crónica atrófica.
Homem de 65 anos com antecedentes de hiperten-
são e diabetes mellitus 2 com 10 anos de evolução
Caso clínico: Homem de 62 anos, com várias idas
(sem lesões de órgão-alvo).
ao serviço de urgência por queixas dispépticas com
Recorre ao serviço de urgência por diminuição pro- 3 meses de evolução, sem alterações do trânsito

794
E-POSTERS
intestinal, sintomas constitucionais ou flushing as- canulação e Pneumotórax à dta. Como intercorrên-
sociados, tendo sido medicado com esomeprazol cia infeciosas a referir - ITU a Candida glabrata - fez
e sucralfato. Por achados analíticos e imagiológi- 5 dias de caspofungina, e PAV necrotizante
cos sugestivos de doença hepática alcoólica, foi cavitada a K. oxytoca com bacteriemia, Pseudomo-
orientado para consulta externa, tendo realizado nas aeruginosa e Stenotrophomonas maltophila,
EDA neste contexto. Na EDA apresentava mucosa tendo completado
oxíntica com aspeto atrófico e múltiplas formações esquema de antibioterapia. Dado o desmame ven-
polipóides/pápulas eritematosas, restritas ao corpo tilatório prolongado, foi realizada traqueostomia a
gástrico, com aspetos sugestivos de TNEs múltiplos 29/04/21, intercalando períodos de O2 de alto fluxo
em fundo de gastrite atrófica autoimune. Foi rea- com ventilação espontânea. Manteve necessidade
lizada biópsia da mucosa gástrica que evidenciou de suporte renal, suspensa 08/05/21. A referir ainda
TNE bem diferenciado, sem mitoses e com Ki-67 Delirium hiperactivo e fraqueza muscular apresen-
de 3-5%. Prosseguiu estudo com TAC toraco-abdo- tado uma tetraparesia flácida e ulcera de pressão
mino-pélvica, sem evidência de metastização, tinha na região glútea G4. Realizou reavaliação por TC do
autoimunidade gástrica positiva, com valores de an- torax, ultima a 2/6/2021 demonstrando ligeira me-
ti-célula parietal gástrica e anti-fator intrínseco au- lhoria imagiológica com redução da
mentados, mas sem anemia nem défice de vitamina condensação do lobo inferior do pulmão dto e redu-
B12. Apresentava ainda valores aumentados de ção do volume da formação cavitada localizada no
gastrina (3988 pg/mL) e cromogranina A (512 ng/ seu interior.
mL). Assumido diagnóstico de TNE gástrico bem Parênquima pulmonar com padrão em “vidros poli-
diferenciado grau 1 e do tipo 1, estadio T1N0M0. Foi do” bilateral difuso, pequeno pneumotórax septado,
referenciado para gastrectomia total, uma vez que com localização anterior no HD
as lesões não eram passíveis de resseção endoscó- Fez programa de fisioterapia, com melhoria pro-
pica, como tinha sido inicialmente proposto. gressiva, tendo-se trocado para cânula fenestrada a
31/6/21 e posterior descanulação a 4/6/21. Reali-
Conclusão: A EDA adquire especial relevância para zado teste de disfagia, tendo progredido também na
o diagnóstico e tratamento de várias patologias dieta, com remoção da SNG.
esofagogástricas, das quais fazem parte os TNEs. Melhoria franca da fraqueza muscular, mantem
Esta deve ser realizada precocemente em doentes tetraparesia - MS grau 4, MI grau 2 na região distal,
com idade superior a 60 anos e com dispepsia, para com flexão da quadríceps mantida.
exclusão de patologia orgânica.
P n.º 2453 
P n.º 2450  Síndrome Nefrótica: causa de Acidente Isquémico
Complicações secundários Covid em pacientes no- Transitório?
vos João da Costa Oliveira(1);Inês Pintor(1);João
Sandra Yaneth Suescun(1);Ana Rita Rocha(1) Faia(1);José Miguel Martins(1);Flávio Pereira(1);-
(1) Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo, EPE / Joana Neves(1);Susana Cavadas(1);Beatriz Pinhei-
Hospital José Joaquim Fernandes ro(1)
(1) Centro Hospitalar do Baixo Vouga / Hospital In-
Tema: Doenças respiratórias fante D. Pedro, EPE

Introdução Covid é uma infecção que pode mudar Tema: Doenças renais
nossa vida de um dia para outro sem importar a ida-
de ou a raça Introdução: A Síndrome Nefrótica manifesta-se por
proteinúria maciça, hematúria mínima, hipoalbumi-
M32 anos, cigana, ap Obesidade e HTA admitida nemia, hipercolesterolemia, edemas e HTA. Apre-
por gravidez de termo fez pesquisa de SARS-CoV-2 senta múltiplas etiologias, sendo o seu diagnóstico
positiva, referindo inicio de sintomas a 15/03/21. fundamental para a introdução de terapêutica dirigi-
Evolução para insuficiência respiratória, motivo pelo da, impedindo assim a insuficiência renal progressi-
qual foi admitida no serviço de Medicina Intensiva va. 
a 23/03/21. Nesta unidade fez período de oxigeno-
terapia de alto fluxo e inicio terapêutica com toci- Caso Clínico: Homem de 49 anos, autónomo, sem
lizumab,necessidade de escalar suporte para VNI e antecedentes relevantes e sem medicação habi-
posteriormente para VMI. tual. Recorreu ao serviço de urgência por noção de
Evolução para choque distributivo e LRA AKIN 3 “fala arrastada” e desequilíbrio na marcha para a
oligúrica com inicio de técnica de suporte renal. esquerda, com 1 hora de evolução. Referia astenia e
A 28/03/21 por falência da terapêutica, resgatada edemas dos membros inferiores desde há 3 meses.
para ECMO-VV fez três runs de ECMO À observação apresentava discurso lentificado, di-
Evolução para pneumonia pos COVID, realizou sartria ligeira, hipoestesia do membro superior es-
pulsos de metilprednisolona. Como intercorrência querdo e edema moderado dos membros inferiores
destaca-se um Pseudoaneurisma da art. femoral até ao joelho. Não apresentava alterações no hemo-
profunda esq, submetida a injecção ecoguiada de grama, estudo de coagulação e bioquímica sumária.
trombina a 13/04/2. Hemopneumotórax direito e O exame sumário de urina revelou cilindros hialinos
trombose da veia jugular direita - complicação da e uma relação proteína/creatinina de 4,53. A TC CE
não mostrou alterações, nomeadamente lesões vas-
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 795
culares agudas. Dado o doente ter recuperado todos Conclusão: O caso clínico revelou-se interessante
os défices neurológicos nas primeiras 24 horas, por as manifestações iniciais do doente apontarem
assumiu-se como diagnósticos acidente isquémico para vasculite paraneoplásica em contexto de um
transitório (AIT) e síndrome nefrótica. No interna- tumor primário peniano, acabando por ser diagnos-
mento objetivou-se HTA sistólica, dislipidemia (LDL ticada uma neoplasia hematológica rara.
287mg/dL), hipoalbuminemia (2,5g/dL) e proteinú-
ria de 3,1g/24h pelo que realizou biópsia renal que P n.º 2459 
mostrou histomorfologia e imunofluorescência Osteomielite do púbis - Um diagnóstico a não es-
compatível com Glomerulonefrite Membranosa. quecer
Ana Raquel d. Neves(1);Ana Clara Vasconce-
Discussão: A Glomerulonefrite Membranosa cor- los(1);Luís Santos(1);Francisco Carvalho(1);José
responde a 30% das síndromes nefróticas, com um da Cunha Marques(1);João Rocha(1);Catarina
pico de incidência entre os 30 e os 50 anos, numa Elias(1);Mariana Lopes Matos(1);Rita Gouveia(1);-
razão entre homens e mulheres de 2:1. Apresenta Sérgio Madureira(1);Maria Helena Rocha(1);Ester
múltiplas causas, entre as quais fármacos, doenças Ferreira(1);Jorge Almeida(1)
infeciosas, autoimunes, sistémicas e neoplásicas. (1) Centro Hospitalar de S. João, EPE
No caso descrito, o estado de hipercoagulabilidade
associado à síndrome nefrótica esteve provavel- Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
mente na génese do AIT.
A osteomielite do púbis é uma doença rara, com
P n.º 2457  destruição óssea local e envolvimento dos tecidos
Manifestação atípica de uma neoplasia rara hema- adjacentes. Ocorre sobretudo em mulheres, com
tológica antecedentes de neoplasias ginecológicas, inter-
Sandra Correia Silva(1);Mariana Santos(1);Sara Pin- venções cirúrgicas pélvicas, consumo de drogas de
to(1);Gabriel Atanásio(1) abuso e em contexto de pós-parto. É mais comu-
(1) Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia / Espinho mente causada por Staphylococcus aureus e Pseu-
Tema: Doenças hematológicas domonas aeruginosa. 

Introdução: O Linfoma T/NK extranodal do tipo na- Apresentamos uma doente de 62 anos, com ante-
sal é uma entidade rara na Europa, sendo a apresen- cedentes de diverticulose cólica, HTA essencial e
tação clínica inicial mais comum na nasofaringe. neoplasia do colo do útero em 2008, tendo sido sub-
Os autores apresentam um caso clínico de uma 1ª metida a histerectomia, quimio e radioterapia. 
manifestação atípica desta patologia. Nos dois anos anteriores, havia sido internada duas
Caso Clínico: Homem de 78 anos, hipertenso e com vezes com o diagnóstico presuntivo de diverticulite
hiperplasia benigna prostática, recorreu ao serviço aguda, sem evidência imagiológica. No entanto, era
de urgência (SU) por disúria e drenagem purulenta já descrito em TC abdomino-pélvica processo de os-
peniana com 2 meses de evolução bem como apa- teonecrose do púbis. Nestes, realizou antibioterapia
recimento de pápulas eritematosas nos membros empírica,  com resolução de febre e diminuição dos
inferiores (Mis) desde há 15 dias. Objetivamente parâmetros inflamatórios.
apresentava: pénis com glande eritematosa, dolo- Em Fevereiro de 2021 iniciou quadro de dor pélvica
rosa, endurecida e com exsudado purulento; Mis com uma semana de evolução, com irradiação para
com pápulas e placas purpúricas dispersas nas o membro inferior esquerdo. Associadamente com
pernas e coxas, dolorosas à palpação. Observado anorexia, náuseas e vómitos alimentares com um
por Dermatologia surgindo a suspeita de vasculi- dia de evolução. Referia picos febris recorrentes diá-
te paraneoplásica ou secundária a infeção, tendo rios vespertinos, com mais de um ano de evolução. 
realizada biópsia das lesões. Avaliado também por
Urologia que realizou biópsia peniana por suspei- Realizou TC abdomino-pélvica no Serviço de Urgên-
ta de neoplasia. Do estudo realizado, destaca-se: cia, que sugeriu processo de osteomielite do pubis
biópsia lesão cutânea e peniana com aspetos mor- com artrite da sinfise. Inicialmente sem isolamentos
fológicos e imuno-histoquímicos compatíveis com microbiológicos em hemoculturas e biópsia óssea.
neoplasia linfoproliferativa com diferenciação T. Re- Foi submetida a 2 cirurgias  de desbridamento com
correu novamente ao SU 15 dias depois por noção isolamento de Enterococcus faecium vancorresis-
de preenchimento nasal, tendo-se objetivado lesão tente, (sensível apenas a daptomicina, linezolida e
na fossa nasal esquerda, cujo resultado histológico tigeciclina) e Candida albicans sensível a anidula-
da biópsia revelou Linfoma T/NK extranodal do tipo fungina e anfotericina B. Realizou terapêutica com
nasal. Realizou TC toracoabdominopélvica de esta- daptomicina e anidulafungina com melhoria clínica,
diamento que se mostrou sem mestastização à dis- analítica e imagiológica.
tância. Foi orientado em consulta de Hematologia
e iniciado tratamento com gemcitabina, etoposideo Apesar de ser uma doença rara, a osteomielite do
e corticoide. Completou 1 ciclo de terapêutica com púbis deve ser suspeitada em doentes com antece-
boa tolerância, acabando por falecer 1 mês depois dentes de patologia pélvica, evitando-se sobrecarga
por intercorrência infeciosa. antibiótica desnecessária e desenvolvimento de
agentes multirresistentes.
796
E-POSTERS
P n.º 2464  pela presença de células Reed-Sternberg e células
Thyroid-associated ophthalmopathy de Hodgkin na biópsia ganglionar. É menos fre-
Pedro Mesquita(1);Rita Santos(1);Beatriz Barata(1);- quente que os linfomas não Hodgkin (LNH), sendo
Daniela Carneiro(1);Inês Urmal(1);João Teixeira(1);E- a incidência maior no sexo masculino e em adultos
lisabete Sousa(1);Manuel Albuquerque(1);Carlota jovens. Clinicamente manifesta-se pela presença de
Lalanda(1);Jorge Frade(1) adenopatias cervicais ou axilares, bem como con-
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE / Hos- glomerados mediastínicos, associadas a sintomas
pital de Santo António dos Capuchos B. O derrame pleural pode constituir uma forma de
apresentação da doença.
Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio-
nais
Caso clínico: Doente do sexo masculino, 42 anos,
antecedentes de asma alérgica, sem medicação
Thyroid-associated ophthalmopathy (TAO) is an habitual, foi admitido no serviço de urgência por
ocular condition that frequently manifests with quadro de febre, mialgias e dispneia com cerca de
thyroid dysfunction. Although TAO is usually seen 4 dias de evolução. Negava perda ponderal, astenia
in patients with Graves’ disease (80%), it may also ou tosse. Analiticamente: Hb 14.9 g/dl, leucócitos
occur in patients with thyroid cancers or autoimmu- 10500, Neutr 78.6%, plaquetas 402000, LDH e mar-
ne hypothyroid due to Hashimoto’s thyroiditis (10%), cadores de citocolestase normais e PCR 16.29 mg/
as well as individuals with no thyroid disease (10%). dl. PCR SARS-COV2 foi negativa. Realizou radiogra-
Ophthalmopathy is reported to occur in 2-6% of pa- fia de tórax com evidência de volumoso derrame
tients with Hashimoto’s thyroiditis.  pleural à direita. Foi efetuada toracocentese com
drenagem de 900cc de líquido compatível com
This case report resulted from reviewing the clinical exsudado. Após drenagem, doente ficou assinto-
process and a brief review of the relevant literature. mático, sem dispneia e sem novos picos febris.
Serologias víricas, IGRA e marcadores tumorais ne-
The authors present the case of a 69 year old wo- gativos. Exames culturais de líquido pleural sem iso-
man, with no relevant health history, who went to lamento de agentes patogénicos. Realizou TAC de
the Emergency Department complaining of bilateral tórax, após toracocentese, que revelou presença de
eye pain that had begun 2 weeks previously and was volumoso conglomerado adenopático mediastínico
worsening daily; she also mentioned she found her suspeito de doença linfoproliferativa. Foi efetuada
eyes were “swollen”. At examination she had bilate- biópsia ganglionar cujo exame anatomopatológico
ral eyelid retraction, with no other relevant physical foi compatível com linfoma de Hodgkin. Realizou
findings. A CT scan was performed, showing bilate- TAC toraco-abdomino-pélvica de estadiamento que
ral proptosis, thickening of the extraocular muscles, não demonstrou atingimento à distância. Foi enca-
particularly the inferior, lateral and medial rectus, minhado para seguimento em Hematologia.
sparing the tendinous insertions. This description
was compatible with TAO. The patient was reffe- Discussão: O linfoma de Hodgkin é um tipo raro de
red to an Internal Medicine. Her diagnostic workup linfoma, associado geralmente a bom prognóstico,
showed an ultrasound compatible with thyroiditis se diagnosticado e tratado atempadamente. Dado
and anti-thyroid peroxidase antibodies markedly que a sobrevida aos 10 anos ronda os 90%, torna-se
elevated; her thyroid function was normal. Due to imperativo colocar esta hipótese diagnóstica em de-
family problems, the patient declined further clinical terminadas faixas etárias na presença de sintomas
measures. Despite an initial worsening of the eye B e clínica respiratória. O derrame pleural, não sen-
pain and periorbitary inflamation, there was a spon- do o achado mais comum pode ser a apresentação
taneous resolution of the disease. The patient is cur- inicial da doença.
rently euthyroid and without orbitopathy.
P n.º 2466 
We highlight this case due to the rare cause of TAO - HEPATITE E – UMA REALIDADE A NÃO ESQUECER
euthyroid hashimoto disease - and its spontaneous Joana Alves Duarte(1);Marcelo Neto(1);Sara Lei-
resolution. tão(1);Rui m. Santos(1);Armando Carvalho(1)
(1) Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra /
P n.º 2465  Hospitais da Universidade de Coimbra
Derrame pleural como apresentação inicial de Lin-
foma de Hodgkin Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá-
Mariana Marques(1);Daniela Barbosa Ma- ticas
teus(1);Leuta Araújo(1)
(1) Hospital de Vila Franca de Xira Introdução: O vírus da hepatite E (VHE) é a causa
mais comum de hepatite aguda viral a nível global.
Tema: Doenças hematológicas Os genótipos 3 e 4, de transmissão zoonótica, são
os mais prevalentes nos países desenvolvidos. Na
Introdução: O linfoma de Hodgkin (LH) é uma Europa os suínos são o principal reservatório. A
doença linfoproliferativa, de etiologia indetermina- maioria das infeções agudas é assintomática; uma
da, multifatorial, apesar de existir associação com minoria desenvolve hepatite clinicamente evidente e
infeção pelo vírus Epstein Barr e HIV, caraterizada a falência hepática aguda é rara. O desenvolvimento

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 797


de hepatite é mais provável em homens de maior de imunodeficiência e exclusão de doença neoplá-
idade, devido à maior prevalência de esteatose/ sica. Tinha ADA elevada, IGRA neg (2x), pesquisa
fibrose hepática. Assim, é importante considerar o de BK em ex. direto neg na expetoração e LBA, bem
VHE no diagnóstico diferencial de hepatite aguda. como múltiplas serologias incluindo VIH, culturas
de sangue, urina e expectoração. Apresentava CD4
Caso clínico: Homem 55 anos, admitido por icte- 100/mm3, hipogamaglobulinémia e displasia ligeira
rícia, prurido generalizado e colúria com 1 dia de no mielograma. Fez tratamento com ceftriaxona e
evolução. Apresentava hepatite citocolestática azitromicina sem resposta. Após período de esta-
(AST 872, ALT 689, FA 216, γGT 465, bilirrubina total bilidade houve gradual deterioração vindo a falecer
7,2mg/dl com 72% de direta) sem sinais de falência ao 25º dia de internamento. A autópsia confirmou
hepática. Recente alteração da terapêutica antidisli- envolvimento pulmonar e pleural por processo infe-
pidémica e consumo de carne suína mal cozinhada. cioso sugestivo de TB. No mesmo dia surgiram os
Sem história de consumo etílico ou clínica sugestiva 1ºs resultados positivos para BK (PCR na urina) e
de hepatite isquémica. Por serologia sugestiva de posteriormente as culturas.
infeção por HSV 1 (IgG 53.1 e IgM 1.93) iniciou te-
rapêutica com aciclovir. Serologia para as hepatites Discussão: A elevada suspeição clínica de TB à
virais A, B e C, infeção por CMV, EBV e VIH e mar- admissão foi sendo questionada pelos vários resul-
cadores de autoimunidades negativos. Ecografia tados neg com ênfase para o IGRA, afinal justificado
abdominal com hepatomegalia. Vários dias depois, pela grave linfopenia, provável causa e consequên-
sem melhoria analítica significativa e com pesquisa cia da evolução da infeção. O tratamento, com
de DNA-HSV1/2 negativa, foi identificada infeção vários antibióticos, com toxicidade importante e
por VHE (IgG>15,7 e IgM>11,5). Suspendeu aciclovir por tempo prolongado, deve ser cuidadosamente
e manteve terapêutica de suporte com evolução ponderado em doentes debilitados antes da confir-
clínica favorável, com quase normalização da AST e mação da infeção. Tendo em conta a prevalência,
ALT e diminuição em 20% das enzimas de colestase diversidade de apresentação e morosidade na iden-
em 2 semanas. Teve alta, mantendo melhoria pro- tificação, é fundamental a consideração do diagnós-
gressiva. tico precocemente.
Discussão: O diagnóstico diferencial da hepatite P n.º 2473 
aguda pode ser um desafio. Não desmerecendo a SÍNDROME DE BRUGADA INDUZIDO POR FEBRE
história clínica, epidemiológica e as causas mais Sara Tereso(1);Catarina Camâra(1);Laura Pereira(2);-
comuns de doença hepática, a seroprevalência de Carlos Machado e Costa(1)
VHE na população europeia obriga à sua considera- (1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hos-
ção e realização de serologia em todos os doentes, pital de Santa Maria (2) Hospital de Vila Franca de
mesmo na presença de outra causa mais provável e Xira
ausência de contexto epidemiológico.
Tema: Doenças cardiovasculares
P n.º 2472 
“A GRANDE IMITADORA” – UMA REALIDADE A NÃO INTRODUÇAO: A  Síndrome  de  Bruga-
ESQUECER da  é  uma  doença  autossómica  dominante  rara 
Joana Alves Duarte(1);Marcelo Neto(1);Sara Lei- associada  a  elevado  risco  de  morte  súbi-
tão(1);Rui m. Santos(1);Armando Carvalho(1) ta  em  jovens  saudáveis.  É  8  vezes  mais 
(1) Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra / prevalente  no  género  masculino.  Caracteriza-
Hospitais da Universidade de Coimbra -se  por  elevação  convexa  em  rampa 
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias descendente do segmento ST nas derivações pre-
cordiais direitas. É intermitente, o que 
dificulta o diagnóstico. A febre é um fator desenca-
Introdução: Conhecida como “a grande imitadora” deante. 
a tuberculose (TB) é das principais causas de mor-  
bilidade e mortalidade no mundo. Portugal não é
exceção, apesar de se encontrar abaixo do limite CASO CLÍNICO:Homem de 78 anos com carcinoma
considerado de baixa incidência. A demora entre o das células renais metastizado sob 
início dos sintomas e o diagnóstico tem vindo a au- terapêutica com nivolumab. Encaminhado para o SU
mentar, em relação com o baixo índice de suspeição por cansaço fácil e dispneia. Estava 
e frequente dificuldade na identificação do Myco- hemodinamicamente estável e apirético. Tinha au-
bacterium tuberculosis (BK). mento dos parâmetros inflamatórios 
e o ECG estava em ritmo sinusal, com ondas T api-
Caso clínico: Homem 79 anos, com astenia e ano- culadas V2-V6. Angio-TC torácica com 
rexia com 2 semanas de evolução. Apresentava opacidades nodulares e áreas de densificação/con-
linfopenia (0,47x10^9/L), anemia microcítica e PCR densação parenquimatosa bilaterais, 
7.0mg/dL. Rx tórax com padrão intersticial difuso incluindo zonas em vidro despolido e opacidades
de tipo miliar confirmado em TC de alta resolução. irregulares. 
Com múltiplas comorbilidades, incluindo suspeita Foi internado com o diagnóstico de pneumonite in-
de síndrome mielodisplásico O estudo realizado foi tersticial secundária a nivolumab com 
exaustivo e dirigido à identificação de TB, avaliação sobreinfeção  e  medicado  empiricamen-

798
E-POSTERS
te  com  amoxicilina/ácido  clavulânico,  compatível com nódulo tiroideu com hemorragia in-
azitromicina e prednisolona.  terna. Avaliada por otorrinolaringologia que descre-
No segundo dia de internamento apresentou febre veu edema aritenoide exuberante com dificuldade
alta que despoletou um padrão de  na visualização completa das cordas vocais; fenda
Brugada tipo 1 com elevação do segmento ST con- glótica patente com cordas vocais móveis e simé-
vexo em rampa descendente em V1 e  tricas, sem lesões visíveis. A doente foi submetida
V2  e  onda  T  negativa.  Não  havia  história  de  fi- a drenagem do quisto, com saída de 100cc de con-
brilhação  ou  taquicardia  ventricular,  teúdo sero-hemático, tendo o exame anatomopato-
síncope, convulsões ou história de morte súbita na lógico levantado a possibilidade de uma neoplasia
família. Estávamos perante um ECG  de células de Hurthle. Submetida a tiroidectomia
de Brugada idiopático despoletado por febre, proce- near-total, tendo a histologia confirmado carcinoma
dendo-se ao controlo rigoroso da  papilar da tiroide, variante hobnail. Atualmente as-
mesma.  Foram  excluídos  consumo  de  ál- sintomática, em vigilância clínica.
cool  e  fármacos  potencialmente 
desencadeantes. Após a resolução do quadro infe- Conclusão: O caso clínico revelou-se interessante
cioso, o ECG evolui para um padrão de  na medida em que o diagnóstico de carcinoma pa-
Brugada  tipo 3  com  elevação  do  segmento  ST pilar da tiroide, geralmente indolente e, por vezes,
em  sela  em V1-V3.  Não  se  registaram  assintomático, foi realizado através de uma compli-
eventos disrítmicos.  cação aguda, rara e potencialmente fatal.
Foi efetuada pesquisa de mutação do gene SCN5A. 
  P n.º 2478 
SARCOMA DE KAPOSI CLÁSSICO
DISCUSSÃO:Um padrão de Brugada tipo 1 é vinte Sara Tereso(1);Catarina Câmara(1);Laura Pereira(2);-
vezes mais prevalente entre doentes  Carlos Machado e Costa(1)
com febre, induzindo a febre Síndrome de Brugada (1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hos-
em 2%. No estudo genético apenas  pital de Santa Maria (2) Hospital de Vila Franca de
18-30% dos casos identificada uma mutação pato- Xira
génica no gene SCN5A e mesmo nestes 
a  penetrância  é,  no  máximo,  de  16%.  No  entan- Tema: Doenças oncológicas
to,  nos  casos  em  que  a  mutação  é 
conhecida, é possível identificar os indivíduos porta- Introdução: Variante clássica do Sarcoma de Kaposi
dores que estarão em maior risco de  é 10 a 15 vezes mais comum em homens, geral-
desenvolver a doença.  mente na 6ª década de vida. Manifesta-se funda-
Este  caso  ilustra  a  possibilidade  de  diagnósti- mentalmente como doença cutânea, inicialmente
co  desta  entidade  numa  faixa  etária  sob a forma de máculas ou pápulas arroxeadas nas
avançada e reforça a necessidade de realização de mãos e nos pés, podendo estender-se aos braços e
ECG em contexto febril.  pernas num período de anos ou décadas. As lesões
podem confluir, dando origem a placas ou nódulos,
P n.º 2475  firmes e múltiplos. A evolução é indolente e prolon-
Carcinoma papilar tiroideu: uma manifestação agu- gada. Pode atingir mucosas e órgãos internos.
da rara
Sandra Correia Silva(1);Francisca Carmo(1);Maria CASO CLÍNICO:
Ana Canelas(1);Sara Pinto(1)
(1) Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia / Espinho Homem 76 anos, leucodérmico, com Demência Vas-
cular e Alcoólica e parkinsonismo atípico.
Tema: Doenças oncológicas
Apresenta ainda polimialgia reumática sob tra-
tamento com prednisolona. Em Janeiro de 2021,
Introdução: O cancro tiroideu geralmente apresen-
verificou-se o surgimento de novo de máculas eri-
ta-se sob a forma de um nódulo identificado à pal-
temato-violáceas nas plantas dos pés, sem outra
pação cervical ou acidentalmente num exame ima-
sintomatologia associada. A biopsia cutânea reve-
giológico. Os autores apresentam uma complicação
lou Sarcoma de Kaposi positivo para Herpes Vírus
aguda, grave e pouco comum de um carcinoma
Humano tipo 8.
papilar da tiroide.
Em Maio de 2021 surgiram novas lesões eritemo
Caso Clínico: Mulher, 68 anos, mRankin 0, hiperten-
- violáceas em número de 30 sendo as de maior
sa e diabética, que recorreu ao serviço de urgência
diâmetro de 2 cm, com atingimento dos membros
por cervicalgia posterior com 1 semana de evolução
superiores e inferiores. O doente foi testou negativo
associada a edema cervical, odinofagia, disfonia
para o vírus da imunodeficiência humana e negativo
e disfagia para líquidos. Sem antecedentes de pa-
para infeção recente para vírus Epstein Barr. Foram
tologia tiroideia, febre, trauma ou outras queixas.
excluídas outras causas de imunodeficiência.
Objetivamente apresentava tumefação tiroideia com
cerca de 7cm de diâmetro, endurecida e móvel à A tomografia computorizada cervical, torácica, ab-
palpação. Descrita na ecografia cervical: lesão pre- dominal e pélvica que revelou trombose da artéria
dominantemente cística, com cerca de 69 x 82 x 45 pulmonar direita e sem envolvimento sistémico.
mm, com aparente origem no lobo tiroideu direito,

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 799


DISCUSSÃO: O Sarcoma de kaposi Clássico é uma Introdução:  A isquemia aguda de membro ocorre
das variantes do Síndrome de Kaposi, neste caso foi na sequência de uma redução abrupta da perfusão
excluído a imunodeficiência subjacente e o envol- do mesmo, o que pode comprometer a sua viabilida-
vimento sistémico. Admite se que a corticoterapia de. Uma rápida avaliação para decisão terapêutica
iniciada para o controlo da polimialgia reumática é, portanto, essencial. O estudo etiológico assume
poderá ser um fator desencadeante da doença. particular importância por haver possibilidade de
alterar a história natural da doença e prevenir even-
P n.º 2481  tos futuros, na maioria dos casos. O caso clínico
Síndroma hemofagocítica enquanto diagnóstico de que aqui é descrito diz respeito a um episódio inau-
suspeição clínica gural de isquemia aguda do membro inferior numa
Fábio Barbosa(1) doente em idade jovem, sem comorbilidades conhe-
(1) Hospital Garcia de Orta, EPE cidas. Do estudo etiológico que foi realizado apenas
se encontrou achados compatíveis com ventrículo
Tema: Doenças raras esquerdo não compactado, tendo a doente sido an-
ticoagulada. Atualmente a ausência de evidencia
Introdução: A síndroma hemofagocítica é decor- robusta que associe esta condição a uma pre-dispo-
rente de uma hiperativação do sistema imunitário, sição para eventos trombóticos, dificulta o estabele-
na maioria dos casos com patofisiologia conhe- cimento de guidelines internacionais para a aborda-
cida, com uma importante componente genética gem destes doentes. 
associada e diferentes fatores precipitantes, o que
condiciona apresentações clínicas muito variadas. Caso clínico: Doente do sexo feminino de 35 anos,
Atualmente o diagnóstico desta síndroma assenta sem antecedentes patológicos conhecidos, fuma-
em critérios clínicos, pelo que a suspeição do diag- dora [10 cigarros/dia, carga tabágica de 20UMA],
nóstico é essencial. O caso apresentado aborda o medicada habitualmente com anticoncetivo oral
diagnóstico diferencial de um sinal frequente na combinado. Admitida no Serviço de Urgência por
prática clínica - a pancitopenia- e a dificuldade no quadro compatível com isquemia grau IIa [escala
diagnóstico de uma síndroma com consequências de Rutherford] da perna direita, tendo realizado eco-
devastadoras se não tratada atempada e adequada- -doppler arterial compatível com estenose grave
mente.  após a origem da artéria femoral superficial, tendo
cumprido terapêutica médica conservadora. Do
Caso clínico: Doente do sexo feminino de 76 anos, estudo etiológico efetuado com Holter 24H, estudo
sem antecedentes pessoais de relevo, admitida por analítico para condições pró-trombóticas, ecocar-
quadro de cansaço de agravamento progressivo, diograma trans-toracico e trans-esofágico, apenas a
distensão abdominal, enfartamento pós-prandial, destacar a presença de achados compatíveis com
náuseas com vómitos alimentares, urina de co- ventrículo esquerdo não compactado, tendo a doen-
loração escura, icterícia e prurido generalizado. te ficado anticoagulada com varfarina por ausência
Do estudo laboratorial realizado destacava-se a de evidência de eficácia de outros anticoagulantes. 
presença de pancitopenia, padrão de colestase, hi-
pertrigliceridemia, hiperferritinemia e anticorpos Conclusões: A não compactação do ventrículo es-
para EBV IgM Positivo.  O restante estudo, nomea- querdo pode predispor a eventos tromboembolicos,
damente de causa infeciosa compatível com o pelo que em doentes com eventos isquémicos a an-
quadro, negativo. Imagiologicamente com adeno- ti-coagulação deve ser instituída [mediante risco
patias abdominais e hepatoesplenomegalia. Reali- hemorrágico].  
zado mielograma e biopsia medular com imagens
de fagocitose sem outras alterações. A doente P n.º 2490 
iniciou corticoterapia, no entanto, por intercorrência Colangite esclerosante secundária associada aos
hemorrágica acabou por falecer.  cuidados intensivos – Uma entidade a não esque-
cer
Conclusões: O diagnóstico de síndroma hemo- Joana Batista Paulo(1);Margarida Mourato(1);Filipa
fagocítica posa um desafio dada a ausência de Ferreira(1);Mário Ferreira(1);Marta Fonseca(1);Zso-
sintomas ou sinais patognomónicos da doença e a fia Santos(1);Zélia Neves(1)
sua baixa prevalência. O caso apresentado reflete a (1) Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca
dificuldade no diagnóstico e a ausência de um úni-
co tratamento eficaz, bem como a necessidade de Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá-
vigilância apertada destes doentes, servindo como ticas
oportunidade de sensibilização da população médi-
ca para a possibilidade do diagnóstico.  Introdução: A colangite esclerosante secundária
do doente crítico (CES-DC) é uma entidade recente,
P n.º 2487  infrequente e subdiagnosticada. É uma doença co-
Isquemia aguda de membro inferior em doente jo- lestática descrita em doentes sem patologia hepa-
vem to-biliar. Difere de outras entidades do doente crítico
Fábio Barbosa(1);Vanda Spencer(1) por manutenção de colestase apesar da resolução
(1) Hospital Garcia de Orta, EPE de outras lesões de orgão. O diagnóstico é feito por
colangiopancreatografia por ressonância magnética
Tema: Doenças cardiovasculares
800
E-POSTERS
(colangio-RM) que evidencia padrão de estenose e 49mmHg (PaO2/FiO2=233). Análises com creatini-
dilatação das vias biliares. na de 1,52mg/dL, anemia microcítica e hipocrómica,
PCR 7,4mg/dL e Leucócitos 5200/L sem linfopénia.
CASO CLÍNICO: Apresentamos o caso dum homem TC tórax com opacidades irregulares periféricas
de 55 anos, melanodermico, sem antecedentes e densificações em vidro despolido. Pesquisa de
conhecidos. Admitido por pneumonia a SARSCoV2 SARS-CoV-2 negativa. Apresentou agravamento
com necessidade de Ventilação Mecânica (VM). da hipoxemia (PaO2/FiO2=201), foi admitida na
Evolui com padrão de citocolestase com valores unidade de cuidados intensivos (UCI) e iniciou an-
máximos de AST 692 U/L, ALT 819 U/L, GGT 3073 tibioticoterapia com Meropenem. Verificou-se evo-
U/L, FA 2417 U/L, Bilirrubina 4,6 mg/dL. Do estudo lução desfavorável para Síndrome de Dificuldade
etiológico de hepatopatia constata-se hepatite B Respiratória Aguda Grave (ARDS), com necessidade
crónica que se assume agudizada em contexto de de ventilação invasiva. Do estudo etiológico des-
corticoterapia. tacam-se 5 pesquisas de PCR (polymerase chain
reaction) para SARS-CoV-2, assim como serologias
Transferido para enfermaria ao 53º dia de interna- negativas. Evoluiu com lesão renal aguda de novo,
mento. Objectivamente encontrava-se miopático, associada a hematúria macroscópica. Colocadas
com escleras ictéricas e desconforto no hipocôn- as hipóteses diagnósticas de vasculite/ pneumonite
drio direito com bordo hepático palpável cerca de intersticial, pelo que suspendeu a amiodarona. Do
5cm abaixo do bordo costal, sem outras altera- estudo realizado, destaca-se observação de con-
ções. Realizou ecografia hepática com hepatome- teúdo hemático na broncofibroscopia; anti-GBM ne-
gália heterogénea. Fez Colangio RM que mostrou gativo; anticoagulante lúpico positivo forte; pANCA
achados sugestivos de colangite esclerosante, anti-PR3 positivo e ANA positivo fraco. Assumiu-se
excluindo obstruções litiásicas. Estudo de auto-imu- Granulomatose com Poliangeíte e realizou 3 pulsos
nidade negativo. A biópsia hepática foi concordante de metilprednisolona 500mg id.  Melhoria da função
com o diagnóstico de colangite obstrutiva. Aten- renal e do quadro respiratório, com possibilidade
dendo ao padrão analítico, histológico e radiológico, de extubação. Manteve prednisolona 60 mg id e foi
admitiu-se colangite esclerosante secundária do transferida para enfermaria ao 15º dia de UCI.
doente crítico, apesar da concomitante hepatite B
crónica. As vasculites são entidades raras, mas devem fazer
parte do diagnóstico diferencial com a COVID-19,
DISCUSSÃO: O caso apresentado mostra que a pois a deteção e tratamento precoces são cru-
CES-DC não deve ser excluída à priori aquando da ciais para evolução clínica do doente. 
existência de patologia hepatobiliar prévia. A impor-
tância do diagnóstico reside no facto desta doença P n.º 2493 
evoluir rapidamente para cirrose, não existindo Síncope “multisistémica”
tratamento eficaz disponível, pelo que os doentes Matilde Nunes Vicente Fraga(1);Jorge Fernan-
devem ser referenciados atempadamente a trans- des(2);Ana Catarina Rodrigues(1);Anna Taulai-
plante hepático. go(1);Madalena Vicente(2);Inês Figueiredo(1);Ana
Lladó(1);Ana Catarina Gonçalves(1);Heidi Gruner(1);-
P n.º 2491  João p Sousa Martins(1);Sandra Fernandes(1);Bea-
Em tempo de pandemia, nem toda a dispneia é CO- triz Bartolomeu Duarte(1);António Panarra(1)
VID-19 (1) Centro Hospitalar de Lisboa Central - Hospital
Larissa Morais(1);Rita Ivo(2);Filipa Feliciano(2);João Curry Cabral (2) Centro Hospitalar Lisboa Central,
Delgado(2);Pedro Freire(2);Catarina Conceição(2);- EPE / Hospital Curry Cabral
Cláudia Carvalho(2);Joana Osório(2);António Pais
Martins(2) Tema: Doenças hematológicas
(1) Hospital Évora (2) Centro Hospitalar de Lisboa
Ocidental, EPE / Hospital de S. Francisco Xavier A síncope é um dos principais motivos de recurso
ao Serviço de Urgência (SU) e resulta em interna-
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas- mento em cerca de 40% dos casos. São 3 os me-
culites canismos fisiopatológicos: reflexa, por hipotensão
ortostática e cardíaca. Dentro das causas menos
A COVID-19 tornou-se comum no Serviço de Urgên- frequentes, a disautonomia secundária à amiloidose
cia (SU). O seu diagnóstico atempado é fundamen- é um dos mecanismos na génese da hipotensão
tal, porém é importante não esquecer as patologias ortostática.
que podem mimetizá-la.
Homem, 75 anos, autónomo, com bicitopénia em
Mulher de 75 anos com antecedentes de lúpus eri- estudo - imunofixação recente com componente
tematoso sistémico (LES) sob prednisolona 2,5mg monoclonal de tipo IgG lambda a aguardar consulta
id e fibrilhação auricular paroxística sob apixabano de Hematologia - e diarreia crónica em investigação
2,5mg bid e amiodarona 200mg id. Recorre ao SU etiológica. Recorre ao SU por quadro de síncope
por quadro de 2 dias de evolução de tosse seca, com 2 semanas de evolução, 3 episódios, sem pró-
dor torácica e astenia. Apresentava-se polipneica, dromos e em ortostatismo pelo que foi internado
com SpO2 77% em ar ambiente e na gasimetria pO2 para estudo.

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 801


Do exame objectivo à admissão a destacar: TA tar título serológico de VDRL 1/64 e TPHA 1/5120.
135/74mmHg, FC 45bpm mas com positividade Progrediu marcha diagnóstica com estudo de liquor
para o teste da hipotensão ortostática, auscultação que mostrou proteinorráquia e VDRL e TPHA positi-
cardíaca com tons rítmicos sem sopros ou extras- vos, permitindo firmar o diagnóstico de neurossifilis.
sons e hipostesia em meia e luva. Da investigação Anticorpos VIH 1 e 2 negativos e serologias de he-
etiológica inicial a destacar Holter com alterações patites negativas. Assumida neurossífilis com mani-
da condução e ecocardiograma transtorácico sem festação principal oftalmológica - panuveíte do olho
alterações. Manteve  franca limitação funcional de- direito. O doente realizou 14 dias de antibioterapia
vido à hipotensão ortostática bem como quadro de - 3 milhões de unidades de Penicilina G EV de 4/4h,
diarreia exuberante e neuropatia periférica marca- tendo evidenciado melhoria clínica, nomeadamente
da. Dada a constelação de sintomas e sinais, bem da acuidade visual.
como a imunofixação prévia que revelava gamapa-
tia monoclonar, foi colocada a hipótese diagnóstica O aumento de incidência da sífilis deve alertar os
de amiloidose que se confirmou através da biopsia médicos a considerarem as suas complicações
óssea e de gordura abdominal. Além do envolvimen- oftalmológicas e do SNC. Continua a ser um enor-
to neurológico e gastroinstestinal, a ressonância me desafio clínico, tanto pelas diversas formas de
magnética cardíaca documentou também aspectos apresentação, que podem surgir em várias fases da
sugestivos de envolvimento cardíaco infiltrativo. infeção, como pela incompleta sensibilidade e espe-
Colocou pacemaker e encontra-se corticotratado cificidade dos testes realizados. É mandatório uma
a aguardar caracterização formal da substância anamnese detalhada para uma correta orientação
amilóide a fim de iniciar tratamento, apesar da forte diagnóstica e terapêutica já que muitas das suas
suspeita de amiloidose AL tendo em conta a imuno- manifestações mimetizam outros síndromes e o
fixação previamente referida e elevação de cadeias tratamento desadequado pode agravar o quadro.
lambda livres- 28,70 mg/L.
P n.º 2496 
Este caso ilustra a importância da correlação de Mixoma auricular: causa rara de acidente vascular
sintomatologia pertencente a diversos sistemas, cerebral isquémico
na presunção que na maioria dos casos a doença Gonçalo Pires Cristóvão(1);Marcel Guerreiro(1);-
é uma só. No caso da amiloidose o carácter multis- Susana Béjinha(1);João Fernandes(1);Mariana
sistémico é distintivo o que torna muito importante Coelho(1);Melissa Fernandes(1);Mariana Popo-
uma comunicação eficaz e célere entre especilida- vici(1);Sara Castro(1);Eunice Patarata(1);Claudia
des. Mihon(1);Heidi Gruner(1);António Panarra(1)
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Central - Hospital
P n.º 2495  Curry Cabral
Panuveíte como forma de apresentação de neuros-
sífilis Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas
Nuno Amorim(1);Ana Catarino Trigo(2);Filipa Davi-
d(2);José Coelho Ribeiro(2);Ana Oliveira Pinho(2);- Introdução: O Mixoma auricular (MA) é uma causa
Joana Laranjinha(2);Liliana Carneiro(2) rara (< 0.5%) de acidente vascular cerebral (AVC)
(1) Hospital Distrital da Horta (2) ULSMatosinhos isquémico, ocorrendo mais frequentemente em
mulheres jovens. A etiologia é desconhecida e a
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias tríade clínica clássica  inclui sintomas de obstrução
valvular, fenómenos tromboembólicos e sintomas
A sífilis é uma infeção sexualmente transmissível constitucionais.
causada pela espiroqueta Treponema pallidum que,
quando invade o Sistema Nervoso Central (SNC), Caso Clínico: Homem, asiático de 77 anos, sem his-
origina a neurossífilis. Esta última pode ocorrer em tória médica relevante ou medicação crónica. Recor-
qualquer altura após a infeção inicial. É apresentado re à urgência por hemiparésia esquerda com 5 dias
um caso de uma manifestação pouco comum de de evolução, que no exame objetivo e neurológico
sífilis (17%) num doente imunocompetente. era de grau III e de predomínio braquial (NIHSS3),
sem mais alterações. A tomografia computorizada
Homem de 75 anos, autónomo, com fatores de crânio-encefálica mostrava hipodensidades focais
risco vascular, cardiopatia isquémica e fibrilhação de etiologia vascular bilateralmente.
auricular hipocoagulada, com história de múltiplos
contactos sexuais ocasionais desprotegidos. Apre- Do estudo completo analiticamente destacava-se
senta-se com olho vermelho, diminuição da acuida- colesterol total 228mg/dL, lipoproteína de baixa
de visual e cefaleias com 12h de evolução. Negada densidade-colesterol 142mg/d, triglicerídos 129mg/
ulceração genital ou exantema no passado. Ao exa- dL e eletrocardiograma em ritmo sinusal. No Eco-
me objetivo sem alterações focais ao exame neu- Doppler carotídeo constatava-se placa fibroca´lcica
rológico e sem lesões genitais. Estudo de imagem na vertente anterior da bifurcac¸a~o da carótida
cerebral sem sinais de complicações vasculares esquerda, condicionando estenose de 30%. O Eco-
agudas. Foi observado por Oftalmologia e apresen- cardiograma transtorácico e ecocardiograma tran-
tava hiperemia conjuntival e vitrite densa no olho sesofágico identificaram uma massa se´ssil, com
direito sugestivos de panuveíte. Estudo a documen- dimensa~o ma´xima 21x14mm com características

802
E-POSTERS
morfológicas sugestivas de MA esquerdo com com- de pneumonia por bacteriemia associada a colo-
ponente de trombo predominante na ressonância nização do CVC, pelo que este foi retirado, iniciou
magnética cardíaca. novo ciclo de ATB, com melhoria sintomatológica,
analitica e radiológica.
Assim, manteve enoxaparina em dose terapêutica
e cumpriu programa de reabilitação motora com DISCUSSÃO: Em doentes com CVC, que estejam
recuperação dos défices. Às 4 semanas, após cate- com sinais de infecção sistémica, deve ser sempre
terismo cardíaco que revelou doença de dois vasos, equacionado o CVC como foco de infecção.
realizou cirurgia de revascularização do miocárdio
(CABGx2) e exérese completa do tumor MA que na P n.º 2515 
histologia se apresentava hialinizado com calcifica- Miopericardite aguda pós COVID-19: relato de um
ções. caso clínico
Beatriz Vitó Madureira(1);Daniela Soares(1);Mariana
Discussão: Um caso clínico raro de MA, sobretudo Cabral(1);Gonçalo Sarmento(1)
considerando uma primo manifestação em idoso (1) Centro Hospitalar de Entre Douro e Vouga, EPE /
e que lembra a importância da avaliação precoce e Hospital de S. Sebastião
cuidada da etiologia do AVC isquémico, permitindo
um tratamento atempado. Tema: Doenças cardiovasculares

P n.º 2512  Introdução: Estudos têm relatado um número cres-


Um CVC, múltiplas imagens cente de complicações a curto e longo prazo da
Isaac s Pereira(1) coronavírus disease 2019 (COVID-19), sendo um dos
(1) Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo, EPE / grupos predominantes as complicações cardiovas-
Hospital José Joaquim Fernandes culares. O mecanismo fisiopatológico aparenta ser
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias multifatorial, envolvendo o dano direto dos cardio-
miócitos, a própria resposta imune ao vírus e lesão
por hipóxia.
Introdução: O maior problema no tratamento por
hemodialise (HD), é o acesso, recorrendo-se a fistu- Caso clínico: Homem de 47 anos com doença mo-
la arterio-venosa (FAV), membrana peritoneal e cate- derada a COVID-19, admitido no serviço de urgência
ter venoso central (CVC). A população sob HD tem 20 dias desde o início de sintomas com febre e
cerca de 10 vezes maior risco de mortalidade por toracalgia de características pleuríticas em agrava-
infecções pulmonares que a população em geral. mento. Eletrocardiograma com discreto supra-ST
Staphyloccus aureus (SA) é o microorganismo mais côncavo inferior. Análises com troponina I e péptido
comum implicado em infecções hematogénicas natriurético tipo B (BNP) negativos, proteína C reati-
associadas a acesso-vascular. va (PCR) de 68 mg/L. Ecocardiograma transtorácico
sem alterações de relevo. Assumida pericardite
CASO CLINICO: Mulher de 71 anos, com antece- aguda e alta medicado com ibuprofeno e colquicina.
dentes relevantes de doença renal crónica, com Retornou após cinco dias por manutenção da febre,
FAV não funcionante sob programa de HD por CVC. melhoria da toracalgia mas com dorsalgia esquerda
Recorreu à Urgência por quadro de tosse com ex- de novo, de predomínio em decúbito dorsal e irra-
pectoração e dispneia com 7 dias de evolução. diação mandibular. Analiticamente com leucocitose
Na admissão apresentava-se eupneica, apirética, e neutrofilia, PCR de 269.1 mg/L, procalcitonina
local de inserção do CVC sem sinais inflamatórios, negativa, troponina I de 380-460 ng/L, BNP de 303
secreções bronquicas em moderada quantidade e pg/mL. Eletrocardiograma com ondas T aplanadas
aspecto purulento, auscultação cardiaca com sopro em DII, DIII, aVL, aVF e invertidas em V5, V6. Tomo-
sistolico grau II/VI no foco aortico e Murmurio Vesi- grafia computorizada de tórax com derrame pleural
cular rude. Analiticamente apresentava Leucocitose de pequeno volume na base direita, densificação
com Neutrofilia, PCR e velocidade de sedimentação da gordura mediastínica e adenopatia mediastínica
elevadas. Na radiografia de torax apresentava con- paratraqueal direita. Ecocardiograma transtorácico
densações heterogeneas nodulares bilaterais e TC com derrame pericárdico de pequeno volume cir-
de torax”(...) condensação envolvendo o lobo médio, cunferencial.
coexistem (...) pequenas cavitações. No lobo su- Internado com diagnóstico de miopericardite aguda,
perior do pulmão esquerdo define-se também con- sob acetilsalicilato de lisina e colquicina. Evoluiu
densação com a zona hipertransparente(...)”. Assu- com apirexia, PCR em decrescendo e normalização
miu-se pneumonia nosocomial, fez hemoculturas da troponina I. Hemoculturas e estudo imunológico
(HC), negativas, e iniciou Piperacilina+Tazobactam negativo. Após a alta, realizou ressonância magné-
e Linezolide. Manteve sessões de HD e ao 10º dia tica cardíaca, sem edema ou derrame pericárdico e
de antibioterapia (ATB). Altura em que repetiu TC sem nova recidiva do quadro.
de Tórax que revelou “(...) mais imagens cavitadas Conclusão: O quadro clínico é compatível com mio-
e novo foco de condensação nodular (...)” Perante pericardite aguda em resposta imunológica para-in-
agravamento imagiológico e ausência de melhoria feciosa a COVID-19.  Embora a infeção respiratória
clinica e analitica, fizeram-se novas HC, com isola- permaneça a manifestação mais frequente, as com-
mento de SA multissensivel e colocou-se a hipotese plicações cardíacas são uma realidade frequente

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 803


na evolução da doença. É necessário o diagnóstico Não existe associação entre gravidade da SHP e 
precoce, garantindo o tratamento adequado e gravidade da doença hepática de base. O transplan-
redução da morbimortalidade associada a estas te hepático permanece como único tratamento que
complicações. modifica a história natural da doença.
P n.º 2516  P n.º 2524 
Síndrome hepatopulmonar SDRIFE a amoxicilina/ácido clavulânico em tempos
Marli Ferreira(1);Luísa Viveiros(1);Catarina Castelo de COVID-19
Branco(1);Sara Raquel Martins(1);João Neves(1);- Diogo de Sousa(1);Alexandra de Wahnon(1);Catari-
João Araújo Correia(1) na Sousa Gonçalves(1);Ana Furão Rodrigues(1);Lau-
(1) Centro Hospitalar do Porto, EPE / Hospital Geral ra Carvalho(1);Carolina Ramos(1);Ana Maria
de Santo António Baltazar(1);Maria José Pires(1);Carolina António
Santos(1);Liliana Ribeiro(1);Ana Cardoso(1);Nuno
Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá- Reis Carreira(1);Dúlio Passos(1);Marisa Silva(1);An-
ticas tónio Pais Lacerda(1)
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi-
Os autores apresentam o caso clínico de um ho- tal de Santa Maria
mem de 53 anos com cirrose hepática a álcool
(classe Child A) e hipertensão portal. Tema: Outro

Internamento electivo para realização de glansecto- Introdução: A infeção por SARS-CoV-2 apresenta
mia por diagnóstico de carcinoma epidermoide do manifestações dermatológicas em cerca 24% dos
pénis. Objectivada insuficiência respiratória (IR) tipo doentes internados. As lesões dermatológicas são
1 (rácio pressão parcial de oxigénio (O2)/fracção habitualmente classificadas em quatro categorias:
inspirada de O2 118) sem cianose ou outros sinais exantemáticas, vasculíticas, urticariformes ou erup-
de dificuldade respiratória; negava dispneia, ortop- ções acro-papulares. O impacto que o SARS-CoV-2
neia, dispneia paroxística noturna ou platipneia. pode ter na exacerbação de outras patologias der-
Estudo analítico sem alterações de relevo e D-dí- matológicas não está ainda bem estabelecido.
meros normais; realizou angiotomografia torácica
que excluiu sinais de tromboembolismo pulmonar Caso Clínico: Apresentamos o caso  de uma doente
agudo, com derrame pleural de grande volume à de 86 anos, leucodérmica, totalmente dependente
direita, sem evidência de lesões nodulares ou outras para as atividades de vida diária. Recorreu ao ser-
consolidações parenquimatosas. Iniciou diurético viço deurgência por dispneia, tendo teste RT-PCR
com resolução do derrame, mas sem impacto na IR. para SARS-CoV-2 positivo 21 dias antes, mantendo
Transferência para o Serviço de Medicina para estu- positividade atual, em novo teste à admissão hospi-
do adicional. talar. A tomografia computorizada do tórax revelou
apenas padrão em vidro despolido periférico. La-
Evidência de ortodeoxia com dessaturação de ~6% boratorialmente apresentava elevação dos parâme-
com o levante. Perante achado e clínica, quadro de tros inflamatórios (PCR 9.84 mg/dL) e urina tipo II 
IR interpretado em contexto crónico com compor- compatível com infecção. Assumido pneumonia por
tamento sugestivo de presença de shunt direito-es- SARS-CoV2 e cistite com isolamento de Klebsiella
querdo (D-E). Prosseguida marcha diagnóstica: 1) pneumoniae, tendo iniciado dexametasona e amoxi-
ecocardiograma transtorácico com administração cilina mais ácido clavulânico. Ao 26º dia de doença,
de soro agitado a demonstrar passagem para as 2º dia de antibioterapia, desenvolveu um rash erite-
cavidades esquerdas de forma espontânea e abun- matoso macular bem delimitado, não pruriginoso e
dante ao 2º ciclo cardíaco; 2) ecocardiograma tran- não descamativo na região axilar, sulcos inframa-
sesofágico com exclusão de forâmen ovale patente; mários e região inguinal. Assumido toxidermia com
3) cintigrafia de perfusão pulmonar com achados padrão de “symmetrical drug-related intertriginous
sugestivos de shunt D-E. Após discussão multidis- and flexural exanthema” (SDRIFE), sem repercussão
ciplinar, assumido quadro de síndrome hepatopul- laboratorial, tendo sido instituída terapêutica com
monar (SHP) grave em doente com cirrose hepática betametasona tópica, com regressão total das le-
e hipertensão portal. Foram tituladas necessidades sões ao 8º dia.
de O2 de acordo com tolerância do doente com
prescrição de oxigenoterapia de deambulação e do- Conclusão: O conhecimento sobre os mecanismos
miciliária. Sinalizado caso à equipa de transplante fisiopatológicos do SARS-CoV-2 nas manifestações
hepático, estando esta hipótese dependente da evo- dermatológicas é ainda escasso. É importante re-
lução do quadro neoplásico identificado. conhecer possíveis predisposições que o estado
pró-inflamatório da infeção potencia e  que  em
A prevalência estimada do SHP nos doentes com associação com antibioterapia, podem conduzir ao
cirrose hepática varia entre os 4 e 47%. A principal surgimento de lesões dermatológicas.
alteração anatómica subjacente é a vasodilatação
capilar intrapulmonar com fenómenos de mismatch P n.º 2531 
ventilação perfusão. O shunt anatómico constitui Tumor neuroendócrino com síndrome carcinóide
um outro mecanismo de hipoxia, embora mais raro. exuberante - a propósito de um caso clínico

804
E-POSTERS
Tânia Lopes(1);Catarina Costa(1);Célia Cruz(1);João Tema: Doenças hematológicas
Correia(1)
(1) Centro Hospitalar do Porto, EPE / Hospital Geral TÍTULO: Cansaço numa adulta jovem
de Santo António
Tema: Doenças oncológicas Introdução: As massas mediastínicas são incomuns
e incluem um amplo espectro etiológico, incluindo
Introdução: Os tumores neuroendócrinos (TNE) são lesões benignas e malignas. A maioria ocorre no
um grupo heterogéneo de neoplasias que resultam compartimento anterior, sendo as mais comuns ti-
da transformação neoplásica de células neuroen- moma, teratoma, linfoma e bócio. A atenção à idade
dócrinas e que se distribuem sobretudo pelo trato e ao sexo, combinada com a identificação de certas
gastrointestinal (62-67%). Dado ser uma neoplasia características clínicas e imagiológicas, permite que
rara e com um leque diversificado de manifestações um diagnóstico presuntivo inicial seja estabelecido
clínicas, dependendo do tipo de célula e do local de na maioria dos doentes.
origem, o seu diagnóstico é frequentemente demo- CASO CLÍNICO: Mulher, 32 anos, natural do Brasil,
rado e a sua prevalência é subestimada. A maioria residente em Portugal desde 2019, sem antece-
dos TNE do íleo terminal surge de células enterocro- dentes relevantes. Refere quadro, com um mês de
mafins produtoras de serotonina e são geralmente evolução, de cansaço e dispneia para esforços cada
diagnosticados na sexta ou sétima década de vida. vez menores, ortopneia e tosse não produtiva, sem
A maioria é não funcionante, mas cerca de 20% deterioração do estado geral e sem outros sinais
apresenta síndrome carcinóide. Assim, torna-se im- e sintomas acompanhantes. Ao exame objetivo
portante a divulgação deste caso clínico pela rarida- apresentava apenas adenopatias submandibula-
de da patologia e pela exuberância do mesmo. res e cervicais palpáveis. A TC-Toráx documentou
Caso clínico: Doente do sexo feminino de 66 anos volumosa lesão expansiva de grandes dimensões,
de idade com antecedentes de hipertensão arterial, com densidade de partes moles, preenchendo me-
dislipidemia e ex-fumadora. Recorreu ao Serviço de diastino anterior, superior e vertente lateral direita
Urgência por quadro de diarreia secretória (10 a 15 pericardíaca, condicionando desvio esquerdo do
dejeções por dia), telangiectasias faciais e perda de coração com envolvimento da veia cava superior
12Kg de peso com cerca de um ano de evolução. e dos grandes vasos pulmonares direitos, e ainda
Ao exame objectivo destaca-se fácies violácea por derrames pericárdico e pleural. O exame anatomo-
presença de telangiectasias malares e nasais e fí- -patológico da massa revelou linfoma de Hodgkin
gado palpável com contorno nodular. A tomografia clássico, esclerose nodular. Transferida para o Servi-
computorizada mostrou uma lesão de 2cm com ço de Hematologia, iniciou quimioterapia com ABVD
conglomerado adenopático adjacente na última (Adriamicina, Bleomicina, Vinblastina e Dacarbazi-
ansa ileal, metastização hepática difusa e implan- na), mantendo seguimento e tratamento.
tes metastáticos nos ovários. Na colonoscopia foi DISCUSSÃO: As massas mediastínicas são inco-
identificada uma lesão submucosa do íleo terminal, muns e geralmente achados acidentais, sendo o
não biopsada por friabilidade da mucosa. A biópsia linfoma de Hodgkin clássico mediastinal primário
hepática revelou um TNE bem diferenciado G1. No raro. A esclerose nodular é o subtipo mais comum
ecocardiograma, a válvula tricúspide apresentava envolvendo o mediastino e/ ou gânglios mediastí-
folhetos espessados e retraídos, a condicionar limi- nicos. O diagnóstico pode ser desafiador e por isso
tação da sua abertura e regurgitação moderada a uma abordagem estruturada combinando os dados
grave. Foi apresentada em consulta de grupo, tendo- clínicos e imagiológicos permite estreitar e concen-
-se decidido iniciar terapêutica com Octreótido para trar avaliação diagnóstica destes doentes.
controlo dos sintomas do síndrome carcinóide, que
tem tolerado e ao qual apresentou boa resposta. P n.º 2541 
Tuberculose multiorgânica: uma entidade ainda
Discussão: Foi apresentado um caso de TNE do íleo “disseminada” na nossa população
terminal metastizado e com síndrome carcinóide Nuno Carvalho(1);Olinda Miranda(1);André Perei-
exuberante com cerca de um ano de evolução. Isto ra(1);Margarida Castro(1);Marco Silva(1);Ana Isabel
mostra-nos a sua evolução indolente e alerta-nos Ferreira(1);Margarida Rocha(1);Magda Fernan-
para a dificuldade e atraso no seu diagnóstico e, des(1);Clarisse Neves(1);Ussumane Embaló(1);E-
consequentemente, no início do tratamento com mília Lopes(1);Pedro Guimarães Cunha(1);Jorge
análogos da somatostatina, que têm grande impac- Cotter(1)
to na qualidade de vida. (1) Hospital Senhora da Oliveira, Guimarães
P n.º 2540  Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
Cansaço numa adulta jovem
Sara Vasconcelos-Teixeira(1);João Luís Cava-
co(1);Ana Furão Rodrigues(1);Beatriz Draiblate A infeção por Mycobacterium tuberculosis mantém-
Lopes(1);Ana Oliveira Pedro(1);António Pais de La- -se como a principal causa de morte em adultos por
cerda(1) infeção potencialmente tratável em todo o mundo,
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi- mantendo uma elevada prevalência em Portugal. A
tal de Santa Maria tuberculose (TB) pode envolver qualquer orgão ou

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 805


tecido, determinando certas especificidades tera- dos casos, os primeiros sintomas de AR surgem em
pêuticas relativamente à sua duração e necessidade maiores de 60 anos, com algumas características
concomitante de corticoterapia (CCT). sobreponíveis à PMR, dificultando o diagnóstico di-
ferencial destas duas entidades.
O caso que relatamos é o de um homem, de 55 Caso Clínico: Homem, 75 anos, referenciado à con-
anos, com história de exposição continuada e des- sulta de Medicina Interna por anemia. Antecedentes
protegida ao pó de pedra durante 20 anos, e sem de dislipidemia e hiperplasia benigna da próstata.
antecedentes pessoais de relevo. É admitido a inter- Apresentava queixas de poliartralgias de início súbi-
namento por quadro clínico de poliartralgias difusas to de carácter inflamatório, com envolvimento das
bilaterais com 4 meses de evolução, perda ponderal cinturas escapular e pélvicas, com rigidez matinal >
de 5% do peso corporal em 2 meses, tosse produti- 30 minutos. Associadamente com anorexia, perda
va com expetoração mucopurulenta com 1 semana ponderal superior a 10% (84 > 74 kg) e astenia.
de duração e documentação de adenomegalias
difusas supra e infra-diafragmáticas em tomogra- Ao exame objetivo apresentava osteartrose nodal
fia computorizada realizada na admissão. Numa nas IFPs, tumefações pétreas das IFPs e algumas
fase inicial do internamento, ainda sem etiologia MCFs, limitação da abdução do ombro direito, com
definida, é documentada proteinúria de 1,5 gramas crepitações bilaterais grosseiras, flexão de ambos
em urina de 24 horas, tendo sido realizada biópsia os cotovelos com crepitações, joelhos com crepita-
renal percutânea. Já na segunda semana de interna- ções, sem derrame, membros inferiores com ede-
mento é objetivada pesquisa positiva de DNA de M. mas. Analiticamente apresentava anemia de etio-
tuberculosis em amostras de expectoração e de uri- logia inflamatória, VS 100 mm/s, fator reumatóide
na, tendo sido iniciada terapêutica anti-bacilar quá- e anticorpos anti-CCP negativos, ANAs negativos,
drupla dada a suspeita diagnóstica provável de TB ENAs negativos, HLA-B27 negativo. Ecografia arti-
disseminada. No decorrer do internamento o doente cular com sinovite moderada do ombro direito com
desenvolve quadro de poliartrite com acometimento hipertrofia da articulação acromioclavicular e derra-
de múltiplas articulações (grandes e pequenas), em me ligeiro da articulação glenoumeral, bursite do su-
provável contexto infecioso disseminado. Para além bescapular esquerdo, bursite subacromiodeltoideia,
disso, é objetivado derrame pericárdico de grande com rotura parcial, do supraespinhoso, sinovite dos
volume, que não foi possível caracterizar, tendo sido punhos e joelhos com derrame ligeiro e hipertrofia
assumido envolvimento pericárdico tuberculoso sinovial. Iniciou terapêutica com prednisolona 15
concomitante, com instituição de CCT e terapêutica mg id com melhoria franca das queixas articulares
anti-inflamatória. e reabilitação funcional, confirmando o diagnóstico
Posteriormente, é disponibilizada a análise ultra-es- de PMR.
trutural renal, com documentação de glomerulone-
frite mesangioproliferativa por depósito de imuno- Discussão: É particularmente difícil diferenciar PMR
complexos. de AR com início no idoso. Os principais fatores na
O doente foi tratado com esquema anti-bacilar quá- diferenciação de PMR e AR de início tardio são a
druplo durante 2 meses, seguido de esquema duplo anamnese e o exame objetivo. Ambas as condições
que se encontra a cumprir. frequentemente apresentam rigidez articular e fa-
diga. Os reagentes de fase aguda elevados tendem
O caso exposto ilustra uma apresentação atípica a ser semelhantes em ambas. A idade é outro fator
de TB disseminada, com afectação multiorgânica importante, dado ser improvável que qualquer doen-
importante num doente sem aparentes fatores de te com idade inferior a 50 anos de idade tenha PMR.
imunosupressão primária ou adquirida conhecida,
ressalvando-se a importância de considerar este P n.º 2552 
diagnóstico diferencial num país com TB endémica Manifestação tardia de angioedema induzido por
como Portugal. inibidores de conversão da angiotensina
Maria José Pires(1);Sara Croca(1);Carolina An-
P n.º 2545  tónio Santos(1);Ana l f Abrantes(1);Carolina Ra-
Polimialgia Reumática ou Artrite Reumatóide de mos(1);Alexandra Wahnone(1);Catarina Sousa
início tardio? – a propósito de um caso clínico Gonçalves(1);Maria Inês Silva(1);Liliana r Santos(1);-
Marta f. Costa(1);Patrícia Carvalho(1);Rui San- Frederico Trigueiros(1);Anabela Oliveira(1)
tos(1);Armando Carvalho(1) (1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi-
(1) Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra / tal de Santa Maria
Hospitais da Universidade de Coimbra
Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente crí-
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas- tico
culites
Introdução:  Os inibidores de conversão da angio-
Introdução: A polimialgia reumática (PMR) e a artri- tensina (IECA) podem associar-se a angioedema
te reumatoide (AR) são as duas doenças reumáticas (AE) através do bloqueio da atividade da enzima de
mais comuns nos adultos. A PMR é uma síndrome conversão de angiotensina (ECA) e consequente re-
clínica que ocorre em doentes com mais 50 anos dução da degradação da bradicinina, constituindo a
e a AR tem início mais precoce. Contudo em 30% principal causa de AE induzida por fármacos (preva-

806
E-POSTERS
lência ~ 1%). O AE induzido por IECA é mediado por globina 12.9g/dl, 5880 leucócitos/ul, PCR 2.7mg/dl.
péptidos vasoactivos, nomeadamente a bradicinina, Esfregaço de sangue periférico com ligeira hipos-
manifestando-se habitualmente por edema da face segmentação dos PMN. TC da face com coleção
e língua com tempo de instalação variável (50% na pré-septal, estendendo-se da pirâmide nasal ao
primeira semana). O diagnóstico é clínico, verifican- saco lacrimal. Por diagnóstico de celulite com da-
do-se resolução dos sintomas após suspensão do criocistite, iniciada vancomicina e ceftriaxone, com
fármaco e terapêutica de suporte. O icatibant é um apirexia ao 3º dia e melhoria paulatina das lesões,
antagonista B2 dos recetores da bradicinina eficaz ainda que sem resolução completa. Do estudo rea-
no tratamento do AE hereditário, parecendo também lizado, autoimunidade e TC toracoabdominopélvica
ser util no tratamento do AE associado a IECA. sem alterações. Por isolamento de Enterococcus
faecalis em zaragatoa das lesões orais, alterada an-
Caso clínico: Mulher, 77 anos, antecedentes de tibioterapia, sem melhoria adicional. Pela suspeita
hipertensão, dislipidémia e hipotiroidismo, medi- de Doença de Behçet, iniciou colchicina, também
cada desde há anos com perindopril+indapamida, ineficaz. Diagnóstico possível após biópsia e estudo
levotiroxina e rosuvastatina.  Sem história familiar histológico de lesões aftosas e lesão ulcerada do
ou pessoal de angioedema ou atopia, nem alergias nariz, compatível com doença linfoproliferativa T de
alimentares ou medicamentosas. Recorreu ao SU envolvimento cutâneo. Imunofenotipagem de san-
por edema exuberante da metade inferior da face, gue periférico sem células malignas. Iniciado pulso
sem prurido ou lesões cutâneas associadas, sem de 5 dias de prednisolona 1mg/kg, com resolução
queixas respiratórias, gastrointestinais ou outras. quase completa das lesões. Alta orientada para
Medicada com corticoides, clemastina e ácido ami- consulta de Hematologia. Atualmente medicada
nocapróico em doses optimizadas, sem significativa com metotrexato semanal e prednisolona 20mg/dia
melhoria após 16 horas em observação, motivo pelo por lesões corticodependentes.
qual se associou icatibant, verificando-se rápida e Discussão: O diagnóstico de celulite com persis-
franca melhoria clínica. Teve alta com suspensão tência de sinais inflamatórios apesar de terapêutica
do IECA e no follow up após 6 meses, apresentava- dirigida, na ausência de alterações anatómicas,
-se sem recorrência de sintomas e com estudo imu- fatores de agressão externa e/ou imunossupressão,
noalergológico sem alterações significativas. deve motivar uma investigação alargada onde a his-
Discussão: O tempo entre o início de terapêutica tologia na maior parte das vezes é imprescindível.
com IECA e o desenvolvimento de AE é variável. O P n.º 2556 
tratamento com anti-histamínicos, corticoides ou Gastroparésia Diabética - importância de um diag-
epinefrina é pouco eficaz, já que a histamina tem nóstico de exclusão
um papel limitado na fisiopatologia do AE induzido Marta f. Costa(1);Patrícia Carvalho(1);Rui San-
por IECA. Em doentes com fraca resposta e risco de tos(1);Armando Carvalho(1)
obstrução da via aérea superior poderá ser conside- (1) Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra /
rado o icatibant. Hospitais da Universidade de Coimbra
P n.º 2553  Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio-
Celulites de repetição: quando pensar além do ób- nais
vio
Raquel Costeira(1);Ana Oliveira e Costa(1);Mariana
Moreira Azevedo(1);Susana Pipa(1);Cátia Cane- Introdução
las(1);Fernando Salvador(1)
(1) Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Dou- A gastroparésia diabética define-se pelo atraso no
ro, EPE / Hospital de Vila Real esvaziamento gástrico em diabéticos devido à alte-
ração da motilidade, na ausência de obstrução me-
Tema: Doenças hematológicas cânica e após exclusão de outras causas. Apesar
de frequente, dada a inespecificidade dos sintomas,
Introdução: A celulite é uma infeção comum da pele esta complicação pode ser subdiagnosticada.
e do tecido celular subcutâneo, de diagnóstico es-
sencialmente clínico e microbiológico.   Caso Clínico

Caso Clínico: Mulher, 80 anos, diabetes mellitus, Os autores descrevem o caso clínico de uma doente
carcinoma basocelular do dorso nasal e dacriocis- do sexo feminino de 75 anos, com antecedentes de
tites de repetição, já submetida a cirurgia. Polime- diabetes mellitus tipo 2 com 12 anos de evolução,
dicada, sem alteração terapêutica recente. Obser- excesso de peso e hipertensão arterial essencial.
vada por febre e lesões cutâneas com 6 meses de Iniciou seguimento em consulta por diarreia crónica
evolução, ciclicamente recrudescentes apesar de com 2 meses de evolução associada a dor abdo-
terapêutica antibiótica e antivírica, com resposta minal tipo cólica, náuseas, distensão abdominal e
apenas à corticoterapia. À admissão, edema e rubor sensação de enfartamento pós-prandial. Analitica-
desde glabela ao lábio superior, com extensão à mente apresentava HbA1c de 10.4% e anemia fer-
região ocular direita e lesões aftosas na cavidade ropénica. Realizado estudo com colonoscopia total,
oral, sem adenopatias ou organomegálias. Hemo- endoscopia com video-cápsula e digestiva alta cujo
resultado não evidenciou outras alterações, além de
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 807
hérnia do hiato. A TC do abdómen objetivou hepa- por quadro de melenas com um mês de evolução;
tomegália por esteatose. Por manutenção de sinto- sem perda ponderal, outros sintomas sistémicos ou
matologia, pedido estudo de esvaziamento gástrico alterações ao exame objetivo. Analiticamente com
com tecnésio 99m que revelou um evidente atraso hemoglobina de 7.7g/dL e ferropenia; melhoradas
no esvaziamento gástrico, compatível com neuropa- após suspensão da AA, suporte transfusional e car-
tia autonómica diabética. boximaltose férrica. Do estudo etiológico realizou:
endoscopia digestiva alta com evidência de lesão
Discussão séssil gástrica ulcerada; e tomografia computadori-
zada que mostrou lesão expansiva renal esquerda
A lesão neuronal que conduz à gastroparésia dia- (6x3cm). Foi referenciado a consulta de Oncologia
bética é resultado de vários factores, sendo a hi- e Cirurgia Geral, com posterior confirmação histo-
perglicemia o estímulo inicial que despoleta vários lógica e imunofenotípica de infiltração gástrica de
mecanismos de lesão neuronal. Os doentes com CCR (carcinoma de células claras). Em tomografia
gastroparésia podem apresentar sintomas de esta- de emissão de positrões verificou-se envolvimento
se (náuseas, vómitos, saciedade precoce, distensão adenopático locorregional, tendo iniciado Sunitinib
abdominal, eructações frequentes), sintomas de (sem indicação cirúrgica).
refluxo (pirose, regurgitação) ou outros sintomas
dispépticos. Sintomas severos de gastroparésia sur- Este caso pretende ilustrar e relembrar uma locali-
gem principalmente em doentes com mau controlo zação rara de metastização do CCR (e mesmo de
metabólico a longo-prazo. No caso apresentado, a outras neoplasias). As lesões gástricas secundárias
diabetes tinha uma evolução conhecida de 12 anos, são subdiagnosticadas e devem ser uma hipótese a
com mau controlo metabólico associado a hiper- considerar na existência de manifestações gastroin-
glicemia crónica. Dada a inespecificidade dos sin- testinais, pela possível influência no prognóstico.
tomas de gastroparésia é sempre necessário a ex-
clusão de outros diagnósticos, sendo a neuropatia P n.º 2561 
gastrointestinal um diagnóstico de exclusão. A con- Streptococcus pneumoniae – De pneumonia a
firmação do diagnóstico foi realizado através de aneurisma micótico da aorta
cintigrafia de esvaziamento gástrico, considerada Elisabete Brum de Sousa(1);João Alves Teixei-
o exame de eleição para avaliação do esvaziamen- ra(1);Pedro Mesquita(1);Carlota Lalanda(1);Catarina
to do estômago. Este caso inclui-se na minoria de Cruz Costa(1);Madalena Lisboa(1)
doentes diabéticos que manifesta sintomatologia (1) Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE / Hos-
clinicamente relevante de gastroparésia. pital de Santo António dos Capuchos
P n.º 2557  Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
Etiologia rara de lesão gástrica
Sofia Cruz(1);Joana Canadas(1);André Olivei- Os aneurismas micóticos são raros, de difícil diag-
ra(1);Daniela Mateus(1);Joana Pereira(1);Ana Rita nóstico pela sua apresentação inespecífica e fre-
Gomes(1);Ana Rita Lambelho(1);Carolina Cadó- quentemente envolvem a aorta, sendo as bactérias
rio(1);Bruno Ferreira(1) gram-positivas os agentes causadores mais fre-
(1) Hospital de Vila Franca de Xira quentes. A idade avançada, estados de imunossu-
Tema: Doenças oncológicas pressão e a doença vascular aterosclerótica consti-
tuem fatores predisponentes importantes.
Os carcinomas de células renais (CCR) correspon-
dem a 80% das neoplasias malignas renais, tendo Um homem de 68 anos, ex-fumador de 40 UMA,
maior incidência no sexo masculino e entre a sexta com DPOC, enfisema pulmonar extenso e dislipide-
e oitava década de vida. Surgem frequentemente mia não medicados foi admitido por pneumonia lo-
como incidentalomas e 25% apresenta metastiza- bar direita hipoxemiante, com antigenúria positiva a
ção aquando o diagnóstico, com sintomatologia Streptococcus pneumoniae e hemoculturas estéries.
dependente dessa localização: pulmão (75%); Após antibioterapia dirigida com ceftriaxone houve
tecidos moles (36%); osso (20%); fígado (18%); sis- melhoria significativa das queixas respiratórias, mas
tema nervoso central (8%) e, raramente, o trato gas- com persistência de febre e elevação da proteina C
trointestinal. Dado que na literatura apenas foram reactiva (PCR). A Angio TC abdomino-pélvica docu-
descritas metástases gástricas de CCR em apenas mentava aneurisma micótico da aorta abdominal in-
0,2% dos casos, a melhor abordagem destas lesões fra-renal e o ecocardiograma transtorácico ausência
permanece uma incógnita, especialmente com le- de vegetações ou abcessos valvulares. As hemocul-
são secundária isolada, onde a abordagem cirúrgica turas seriadas foram persistentemente negativas. O
poderá ter um impacto significativo na qualidade de doente iniciou antibioterapia com piperacilina/tazo-
vida do doente. bactam e vancomicina, apresentando nos primeiros
15 dias melhoria clínica e laboratorial. No entanto,
houve posteriormente recrudescimento da febre e
Os autores reportam o caso de um doente de 77 agravamento imagiológico com angio TC a demons-
anos, autónomo, com história pessoal de cardio- trar duplicação do tamanho do aneurisma conhe-
patia isquémica (sob antiagregação [AA]), atrofia cido e novo aneurisma sacular micótico da arte´ria
renal esquerda e doença ulcerosa péptica; admitido femoral comum direita. O doente foi submetido a

808
E-POSTERS
correção endovascular emergente dos aneurismas Discussão:
sem intercorrências, cumprindo no total 6 semanas
de antibioterapia. Teve alta melhorado. O hematoma retroperitoneal maciço causado por
laceração da artéria lombar deve ser considerado
Os autores consideram que neste doente o agen- em doentes com choque hemorrágico com antece-
te causal dos aneurismas micóticos tenha sido o dentes de cirurgia à coluna. A deteção precoce e a
Streptococcus pneumoniae apenas detetado em existência de centros de radiologia de intervenção
antigenúria, o que corrobora a elevada sensibilidade disponíveis para o tratamento dirigido são essen-
deste exame de diagnóstico em detrimento das he- ciais para o desfecho favorável desta complicação.
moculturas, sobretudo quando obtidas sob antibio-
terapia.  Por outro lado, a doença pulmonar grave, P n.º 2568 
bem como a doença vascular aterosclerótica viriam Tumor do estroma gastrointestinal - a propósito de
favorecer a disseminação hematogénea deste agen- uma cólica renal
te com focalização em território suscetível da aorta Catarina Cerqueira(1);Carla Campinho Ferrei-
e seus ramos. ra(1);Eulália Antues(1);Joana Lopes(1);Maurício Pei-
xoto(1);Sofia Caridade(1);Vânia Gomes(1)
P n.º 2565  (1) Hospital de Braga
Uma causa rara de Choque Hemorrágico – Caso
clínico Tema: Doenças oncológicas
Maria José Pires(1);João Cavaco(1);Mariana Al-
ves(1);Filipe Bessa(1);Ana Coelho Gomes(1);Elia Os tumores do estroma representam menos de 1%
Coimbra(1);Anabela Oliveira(1) dos tumores gastrointestinais, cursando frequente-
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi- mente com sintomatologia inespecífica. Raramente
tal de Santa Maria ocorrem em indivíduos com menos de 40 anos.
Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente crí-
tico Doente do sexo masculino, de 44 anos, ex-fuma-
dor, com antecedentes de hipertensão arterial não
controlada, obesidade e litíase renal. Medicado
Introdução:  A laceração vascular iatrogénica é com lisinopril e amlodipina. Recorreu ao serviço de
uma complicação rara da cirurgia discal lombar urgência por lombalgia intensa. Objetivamente en-
posterior. A sua ocorrência pode estar associada a contrava-se estável do ponto de vista hemodinâmi-
elevada morbilidade e mortalidade. O presente caso co e apresentava sinal de Murphy renal à esquerda.
clínico pretende alertar para um caso raro e grave Analiticamente com eritrocitúria. Efetuou ecografia
de iatrogenia associada a cirurgia da coluna, que renovesical que evidenciou cálculo intravesical com
apresentou uma evolução favorável. hidronefrose esquerda associada e quistos renais
a merecer caracterização por tomografia compu-
Caso clínico: Mulher de 61 anos, recorre ao serviço torizada (TC). Realizou TC abdominopélvica onde
de urgência por dor gemelar esquerda e descon- é descrito um nódulo vascularizado de 12 mm no
forto torácico súbito. Tinha história prévia de dis- jejuno proximal, com características de tumor neu-
cectomia lombar há 2 dias. Na triagem da urgência roendócrino. Foi internado no serviço de Medicina
estava vigíl e colaborante, hipotensa, taquicárdica, Interna para melhor caracterização do mesmo. À
eupneica em ar ambiente. Apresentava um hema- admissão no internamento o doente encontrava-se
toma extenso na região do flanco e face lateral da assintomático mas hipertenso. Efetuou estudo que
coxa esquerda. Cerca de 2 horas após a admissão revelou aumento do ácido 5-hidroxindolacético e
e, após esforço de defecação, foi encontrada em aumento do cortisol e da ACTH com prova de su-
paragem cardiorrespiratória em ritmo não desfibri- pressão com dexametasona normal. A aldosterona
lhável (AEsP). Após 10 minutos de suporte avança- sérica, metanefrinas e catecolaminas no soro e
do de vida recuperou pulso. Por hipotensão houve urinárias, somatomedina C, gonadotrofina coriónica
necessidade de iniciar aminas e suporte transfusio- humana e cromogranina A encontravam-se normais.
nal por deteção de hemoglobina de 6.1 g/dL. Reali- Realizou ainda cintigrafia de recetores de somatos-
zou TC toraco-abdomino-pélvica que revelou hemor- tatina e TC de tórax que não revelaram alterações.
ragia ativa com origem na artéria lombar esquerda Durante o internamento foi conseguido controlo
adjacente ao corpo vertebral de L4 e ao parafuso tensional com amlodipina 10 mg. Tal como decidido
correspondente de fixação pedicular, com hemato- em consulta de grupo oncológico, doente efetuou
ma muito volumoso (superior a 1500 ml). Foi inicia- enterectomia segmentar laparoscópica. O exame
do protocolo de hemorragia maciça e assegurada histológico revelou um tumor do estroma gastroin-
estabilização clínica da doente sob suporte ventila- testinal com baixo índice mitótico. Seis meses após
tório e aminas. Para controlo de foco hemorrágico a cirurgia o doente encontra-se assintomático e
foi contactada unidade de radiologia de intervenção sem sinais de recidiva. 
que realizou angiografia urgente com embolização
arterial. A doente foi internada no serviço de medici- Revelamos a importância deste caso dada a sua
na intensiva com evolução favorável do quadro, sem raridade e abordagem complexa. Apesar de no pas-
nova evidência de hemorragia. sado estes tumores serem considerados benignos,
é agora claro que, com um follow-up longo, todos

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 809


eles têm potencial de comportamento maligno. Tema: Doenças respiratórias
P n.º 2573 
Pancitopenia - um desafio A pneumonia organizativa é uma doença rara do
Raquel Costeira(1);Susana Pipa(1);André Maia(1);- interstício pulmonar. Esta entidade pode ser idiopá-
Cátia Canelas(1);Fernando Salvador(1) tica ou secundária a doenças inflamatórias ou fár-
(1) Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Dou- macos e o seu diagnóstico traduz um desafio.
ro, EPE / Hospital de Vila Real
Mulher de 81 anos com hipertensão arterial, dis-
Tema: Doenças hematológicas lipidemia, fibrilhação auricular, artropatia gotosa
e insuficiência venosa periférica. Medicada com
Introdução: Pela diversidade etiológica e clínica apixabano, rosuvastatina, valsartan/hidroclorotia-
variável, o diagnóstico da pancitopenia exige uma zida, alopurinol e diosmina. Admitida no serviço de
abordagem sistematizada, orientada pela clínica. urgência por síncope, dor retroesternal e dispneia.
Na admissão, encontrava-se hemodinamicamente
Caso Clínico: Masculino, 76 anos, com dislipidemia, estável, apirética, sem insuficiência respiratória mas
hiperplasia benigna da próstata, síndrome verti- com crepitações bibasais. O ECG revelou fibrilhação
ginoso, pólipos cólicos. Queixas de astenia há 1 auricular, sem outras alterações. Analiticamente
ano, perda ponderal e anorexia. Sem viagens recen- apresentava apenas aumento da proteína C reativa.
tes ou introdução de novos fármacos. À admissão, A pesquisa de vírus respiratórios, nomeadamente
febril, pálido e taquicárdico. Sem alterações na oro- Sars-Cov-2, antigénios urinários para Pneumococ-
faringe, adenopatias, organomegálias ou icterícia. cus e Legionella, assim como as hemoculturas
Analiticamente, anemia macrocítica hipoprolifera- foram negativas. A Tomografia computorizada (TC)
tiva grave com hemoglobina 7.1 g/dl. Leucograma, do tórax  revelou opacificação em vidro despolido
função renal e hepática normais, PCR de 1.2 mg/ associado a focos de consolidação em ambos os
dl. Internado para estudo e suporte transfusional. lobos superiores. A doente foi internada e efetuou
Do estudo realizado, sem ferropenia, défices vitamí- tratamento com ceftriaxone e claritromicina. Teve
nicos ou alterações da função tiroideia, serologias alta assintomática e sem insuficiência respiratória.
víricas negativas e haptoglobina 227 mg/dl. Radio- Três meses após, em radiografia torácica de reava-
grafia do tórax, urina II e TC toracoabdominopélvica liação, apresenta hipotransparência no lobo inferior
sem alterações. Durante o internamento, melhoria direito, não presente previamente. A doente encon-
da astenia e apirexia sustentada, mas neutropenia trava-se assintomática, estável hemodinamicamen-
e trombocitopenia de novo (260/uL neutrófilos e te mas com crepitações e sibilos na base direita.
97000/uL plaquetas). Esfregaço de sangue perifé- O estudo analítico revelou aumento da velocidade
rico com muito raros blastos. Tendo como único de sedimentação, ANA e anti-ds-DNA negativos e
dado positivo para o diagnostico etiológico os acha- ausência de picos monoclonais na eletroforese de
dos do esfregaço, avançou-se para o estudo medu- proteínas. A TC do tórax demonstra área de opacifi-
lar. Mielograma hipercelular com ligeira macrocitose cação com broncograma aéreo em ambos os lobos
dos precursores. Realizado estudo de imunofenoti- inferiores, não presente anteriormente. Foi sujeita a
pagem de sangue periférico e medula óssea, mos- uma biópsia pulmonar cuja histologia foi compatível
trando, respetivamente, 1.2% de blastos da linha com pneumonia organizativa. Quatro meses após o
mielóide e aumento de células blásticas com alte- diagnóstico a doente encontra-se assintomática e
rações da linha granulocítica e eritróide sugestivas sem sinais de recidiva, pelo que se protelou o início
de síndrome mielodisplásico (SMD) com excesso do tratamento.
de blastos tipo 2 (AREB-II). Após estabilização, alta
para consulta de Hematologia. Repetiu estudo com Este caso demonstra que perante opacidades pul-
morfologia e cariótipo, confirmando diagnóstico. monares migratórias devemos sempre suspeitar de
Atualmente, mantém seguimento, tendo iniciado Pneumonia Organizativa, sendo mandatória a exclu-
terapêutica com azacitidina. são de outras entidades para o seu diagnóstico.

Discussão: O diagnóstico etiológico de pancitope- P n.º 2578 


nia, apesar de desafiador, é essencial a uma melhor COVID-19 e Pneumonia a Pneumocystis jirovecii:
orientação dos doentes. As alterações do esfregaço co-infecção ou infecção pós-COVID?
justificam na maior parte das vezes o estudo medu- Eugeniu Gisca(1);Bárbara m. Ferreira(1);Mário c.
lar. Entre as múltiplas causas de pancitopenia asso- Amaro(1)
ciadas a SMD, o AREB-II parece definir um fenótipo (1) HOSP GARCIA DE ORTA
específico.
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
P n.º 2577 
Opacidades pulmonares migratórias - um desafio Introdução: Pneumocystis jirovecii (PJ) é um fungo
diagnóstico unicelular atípico causador de infeções oportunistas,
Catarina Cerqueira(1);Carla Campinho Ferrei- que ocorre em doentes imunodeprimidos, podendo
ra(1);Eulália Antunes(1);Joana Lopes(1);Maurício causar pneumonia grave ou pneumocistose (PJP).
Peixoto(1);Sofia Caridade(1);Vânia Gomes(1) O diagnóstico de PJP é particularmente difícil
(1) Hospital de Braga durante a pandemia a COVID-19, porque ambos

810
E-POSTERS
partilham semelhanças a nível de sintomas e associado à menor acessibilidade a cuidados de
características imagiológicas em radiografia e saúde imposta pela pandemia, sendo expectável
tomografia computorizada de tórax (TC-T). um número anormalmente elevado de novos casos
de TB com o controlo da pandemia. Os autores ilus-
Caso Clínico: Trata-se de um homem de 67 anos, tram esta tendência recorrendo à experiência viven-
com antecedentes pessoais de artrite reumatóide ciada no serviço de urgência, com 3 novos casos de
(medicada com prednisolona (PDN) 10mg/dia, me- TB bacilífera no espaço de 4 dias de maio de 2021,
totrexato 20mg/semana e leflunomida 10mg/dia) e a seguir descritos.
internamento recente por COVID-19 com necessida- 1 - Homem 26 anos, diabético tipo I, fumador. Qua-
de de suporte ventilatório não-invasivo. Readmitido dro de febre vespertina com 1 mês de evolução, su-
10 dias após a alta por febre (38,5-39ºC), tosse dorese, palpitações, perda ponderal e astenia. Ana-
seca, cansaço, astenia e anorexia, com 1 sema- liticamente leucocitose, neutrofilia, PCR 57,6 mg/
na de evolução. No exame objetivo, salientava-se dL. Imagem cavitada no vértice do campo pulmonar
uma SpO2 de 94% em ar ambiente, febre (39ºC), superior direito em radiograma de tórax (RxT), tomo-
auscultação pulmonar com crepitações dispersas grafia torácica (TC T) com cavidades bilaterais de
bilaterais. Analiticamente com proteína C reactiva predomínio direito. Pesquisa de bacilos álcool-ácido
de 17 mg/dL, velocidade de sedimentação de 120 resistentes (BAAR) na expectoração positiva.
mm na 1ªhora, neutrofilia de 83,7% sem leucocitose.
Pesquisa de RNA do vírus SARS-CoV-2 negativa. 2 – Homem 74 anos, fumador, HIV positivo, doença
TC-T com sinais de pneumonia organizativa de to- renal terminal em hemodiálise, doença hepática
dos os lobos de ambos os campos pulmonares, que crónica etanólica. Quadro de tosse seca recorrente
se concentram na periferia dos lobos superiores nos últimos 4 meses. Realizou pesquisa de BAAR
e afetando com maior expressão os lobos inferio- na expectoração positiva. Faleceu após 27 dias de
res. Pesquisa no lavado bronco-alveolar de PCR de internamento.
SARS-CoV2 negativa e imunofluorescência para
Pneumocystis jirovecii positiva. Cumpriu 15 dias de 3 - Homem 55 anos,fumador. Odinofagia com 1 se-
terapêutica empírica para PJP com Trimetropim/ mana de evolução, sudorese noturna e perda ponde-
Sulfametoxazol e 6 dias de terapêutica dirigida com ral de 10 kg em 3 meses. À auscultação pulmonar:
Clindamicina e Primaquina, associado a PDN 80mg/ crepitações na base esquerda. RxT: opacificações
dia com posterior desmame, com resposta clini- nodulares múltiplas sugestivas de cavitações. TC
co-laboratorial favorável. Teve alta referenciado a T: nodulação centrilobular de predomínio nos lobos
consulta de Medicina Interna, medicado profilatica- superiores bilateralmente compatível com TB. Aná-
mente com Dapsona. lises normais. Pesquisa de BAAR na expectoração
positiva.
Discussão: Os autores relatam um caso de um A pandemia afetou muito os cuidados de saúde.
doente imunodeprimido com COVID-19 e PJP, para Globalmente, a OMS estima uma redução de 50%
ressalvar a importância da avaliação do estado imu- nos diagnósticos de TB em 2020, com mais 400
nológico dos doentes e pesquisa de agentes opor- mil óbitos. É essencial reforçar as medidas de pre-
tunistas mesmo na presença de diagnóstico de CO- venção, rastreio, diagnóstico e tratamento destes
VID-19. Além disso, tem sido sugerido na literatura doentes.
que a infecção por SARS-CoV2 pode causar, por si
só, um estado de imunossupressão tal que permita
P n.º 2584 
o surgimento deste tipo de infecções oportunistas,
cujo diagnóstico e tratamento precoces fazem a Telangiectasia Hemorrágica Hereditária, Sars- CoV-
2 e Iatrogenia
diferença no prognóstico final.
Elisa Macedo Brás(1);Anusca Paixão(1);Mónica
P n.º 2580  Mesquita(1);Raquel Costeira(1);Nuno Ferreira da
Tuberculose: na sombra da COVID-19 Silva(1);Fernando Salvador(1)
Rodrigo Duarte(1);Marisa Santos(2);Cristina Gou- (1) Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Dou-
veia(2);Leonor Guia Lopes(1);Teresa Bruno(1);An- ro, EPE / Hospital de Vila Real
tony Dionísio(2);Carolina Antunes(1);Maria do
Carmo Mota(1);Ricardo Carnevale(1);Joana Duar- Tema: Doenças hematológicas
te(2);Sofia Duque(2)
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE / Introdução: o Síndrome de Rendu-Osler-Weber
Hospital Egas Moniz (2) Centro Hospitalar de Lisboa (ROW) é uma displasia vascular hereditária, de
Ocidental, EPE / Hospital de S. Francisco Xavier transmissão autossómica dominante, caracteriza-
da por epistaxis e malformações arterio-venosas
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias (MAV).

A tuberculose (TB) é uma doença com importante


morbi-mortalidade, com incidência decrescente Caso Clínico: Homem de 68 anos, recorreu ao ser-
em Portugal nas últimas décadas (DGS). Dados da viço de urgência por astenia e febre com três sema-
DGS revelam elevada mediana de dias até ao diag- nas de evolução; já tinha cumprido antibioterapia
nóstico, o que traduz menor grau de suspeição da (amoxicilina/ácido clavulânico) sem resolução dos
doença. Admite-se redução no diagnóstico de TB sintomas. Ao exame objetivo apresentava petéquias

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 811


no lábio inferior, já de longa data, e sopro aórtico. 38,3 seg; D-Dimeros 1,42 ug/mL; PCR 9,70 mg/dL
Iniciou antibioterapia empírica com flucloxacilina, e VS de 56 mm/h; Anticoagulante lupico positivo,
ampicilina e gentamicina; o ecocardiograma confir- ANA’s, ANCA’s, Fator Reumatoide, AntiCCP, anticor-
mou endocardite infeciosa. Realizou rastreio SARS- pos (AC) anticardiolipina negativos; AC esclerose
-CoV-2, que resultou em epistaxis de difícil controlo; sistémica negativos, complemento normal, imunole-
quando interrogado referiu epistaxis recorrentes, troforese de proteínas sem alterações e crioglobuli-
filho e pai também com epistaxis de repetição. nas negativas; TC sem lesões ocupantes de espaço
Perante história familiar e presença de telangiecta- ou oclusão trombótica; Ecodoppler arterial dos
sias em locais característicos, complementou-se o membros superiores sem estenose ou alterações
estudo durante o internamento; o TC mostrou um do fluxo arterial; Capilaroscopia sem megacapilares
aneurisma fusiforme da aorta abdominal infra-renal; ou microhemorragias.
a RMN-tórax confirmou a presença de fístula arterio-
venosa complexa no lobo pulmonar inferior direito; Iniciou perfusão com Iloprost e posteriormente
a endoscopia digestiva demonstrou angiectasias bosentano e nifedipina, com diminuição da progres-
no antro gástrico, submetidas a termocoagulação. são das lesões iquémicas. Iniciou cuidados de pen-
A presença de MAV viscerais tornou definitivo o so para mumificação digital, com evolução clínica
diagnóstico de Síndrome de ROW, de acordo com favorável.
os critérios de Curaçao. O doente evoluiu de forma
favorável da patologia infeciosa, contudo a epista- Inicialmente foi equacionado evento arterial trom-
xis manteve-se ativa, o que resultou em anemia e boembolico, pela FA e estado pro-trombotico
necessidade de oito transfusões de glóbulos rubros, pela COVID-19, mas o ecodoppler arterial não de-
além da intervenção por Otorrinolaringologia com monstrou alterações e o doente estava sob hipo-
colocação de sonda de Foley e merocele. Os ras- coagulação com apixabano.  A tromboangeiite obli-
treios SARS-CoV-2 passaram a ser realizados ape- terante foi também descartada, uma vez que não
nas por zaragatoa orofaríngea. há eventos trombóticos sincronos na TAC nem taba-
gismo. Atendendo à idade e inexistência de história
Discussão:  Trata-se de uma patologia infrequente, pessoal ou familiar de fenómeno de Raynaud (FR),
mas de fácil suspeição aquando da presença assumiu-se um provável FR secundário, tendo-se ex-
de sinais clínicos característicos. Pretende-se cluido hipotiroidismo, esclerodermia (anticorpos
também chamar à atenção para a problemática negativos e sem critérios EULAR), fármacos vasoes-
de uma prática comum como a realização de uma pasticos e síndrome do túnel cárpico.
zaragatoa nasal em doentes com telangiectasia
hemorrágica, em que deve ser preferida a via Dada a relação temporal com a infeção por SAR-
orofaríngea. S-COV-2, esta parece ter sido o trigger. Já previa-
mente outras infeções virais foram descritas como
P n.º 2589  predisponentes a FR. Coloca-se então a hipótese de
Fenómeno de Raynaud refratário e isquemia digital uma resposta imune tardia ao SARS-COV-2, sendo
pós COVID-19 necessários estudos adicionais para esclarecer esta
Daniela Bento(1);Ana Raquel Afonso(1);Catarina associação.
Sousa Alves(1);Renata Violante Silva(1);Fernando
Salvador(1) P n.º 2590 
(1) Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Dou- Carcinoma tímico - um outro “T terrível”
ro, EPE / Hospital de Vila Real André Guimarães(1);Dra. Paula Matias(1);João Bes-
sa(1);Pedro s. Marques(1);Jorge Almeida(1)
Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas- (1) Centro Hospitalar de S. João, EPE
culites
Tema: Doenças oncológicas
A COVID-19 associa-se habitualmente a quadros
respiratórios, mas pode ter envolvimento multissis- Introdução: As massas mediastínicas anteriores
temico com manifestações extra-pulmonares, que mais comuns na população adulta são timoma, te-
apesar da larga incidência mundial, ainda não estão ratoma, bócio tiróideu e linfoma. Os carcinomas tí-
totalmente documentadas. micos são tumores extremamente raros, agressivos,
com um prognóstico pior do que os timomas e pou-
cas vezes considerados no diagnóstico diferencial. 
Homem de 80 anos, autónomo, com síndrome me-
tabólico, fibrilhação auricular (FA) e infeção recente
por SARS-COV-2 (doença ligeira), apresentou-se Caso clínico: Homem, 53 anos. Antecedentes de
com 3 semanas de evolução de cianose digital hipertensão arterial e doença pulmonar obstrutiva
transitória associada a dor, edema e eritema subse- crónica. Admitido em internamento para estudo de
quente, em ambas as mãos. Iniciou ácido ascórbico, massa mediastínica encontrada incidentalmente
nifedipina, óleo de onagra e analgesia. Após 7 dias em AngioTC torácico após acidente de viação - no-
regressou com isquemia digital assimetrica das fa- dularidade tecidular ovóide 5.2x3.2cm no espaço
langes distais. pré-vascular em topografia tímica, acompanhada
de múltiplas adenopatias a nível do mediastino mé-
Do estudo realizado: INR 1,00, TP 12,9 seg; aPTT dio, pré e subcarinais, hilares e axilares. Do estudo
realizado, analiticamente com elevação ligeira da
812
E-POSTERS
desidrogenase láctica; valores de alfa-fetoproteina, ti-mieloperoxidase(ANCA-MPO) positivo >135U/mL,
gonadotrofina coriónica humana tipo B e 2-micro- (<5). Urina tipo 2 com proteínas + e hemoglobina + e
globulina normais; imunofenotipagem com presen- ratio P/C 195. Realizada tomografia computorizada
ça de população B policlonal. TC abdomino-pélvico (TC) toraco-abdomino-pélvica que revelou altera-
sem alterações de relevo. Submetido a biópsia ções inflamatórias das pequenas vias aéreas, sem
transtorácica de massa mediastínica anterior, a re- sinais de aortite ou evidência de neoplasia sólida.
velar carcinoma epidermóide do timo. Submetido a Excluída etiologia infeciosa com exames culturais
exérese de lesão do mediastino anterior em bloco negativos, incluindo hemoculturas em meio para
com pericárdio, segmento apical do lobo superior micobactérias e serologias virais negativas. Reali-
esquerdo e pleura e ainda exérese de adenopatia. zou broncofibroscopia com alterações inflamatórias
Exame anatomopatológico de peça operatória con- com exames culturais negativos.
cordante com achados histológicos previamente
descritos - estadio pT1aN0R0.  Por suspeita de vasculite com afeção da artéria
temporal, foi iniciada corticoterapia sistémica, com
Discussão/Conclusão: Apesar de o carcinoma franca melhoria clínica, normalização da VS, subida
tímico corresponder apenas a 20% de todas as de hemoglobina e redução do titulo de ANCA. Rea-
neoplasias tímicas, esta entidade diagnóstica, fre- lizada posteriormente biópsia da artéria temporal
quentemente desconsiderada pela sua reduzida esquerda sem alterações sugestivas de arterite de
prevalência, deve ser tida em conta no raciocínio células gigantes.
clínico de estudo de massas mediastínicas anterio-
res, dado ser uma neoplasia com comportamento Assumiu-se uma vasculite de vasos colaterais AN-
agressivo, risco de recorrência e prognóstico reser- CA-MPO positiva com características clínicas de
vado. A exérese cirúrgica é a principal modalidade arterite de células gigantes. O diagnóstico de vas-
terapêutica, especialmente para a doença em esta- culite de vasos colaterais deve ser considerado em
dio inicial. A terapia multimodal, incluindo quimio- doentes com características clínicas de arterite de
terapia e radioterapia, é usada para tratar a doença células gigantes, na ausência de alterações inflama-
localmente avançada, e a terapêutica sistémica tórias de grande vaso na biópsia da artéria tempo-
isolada está indicada para neoplasias tímicas me- ral, com afeção de pequenos vasos nomeadamente
tastáticas mediadas por ANCA.

P n.º 2595  P n.º 2602 


Vasculite de vasos colaterais: um diagnóstico a Causa rara de doença intersticial pulmonar
considerar Rute Sousa Martins(1);Arlindo Guimas(1);Sara Ro-
Carolina Cabrita Abreu(1);Joana Marques(1);Marta cha(1);Rosa Ribeiro(1);João Araújo Correia(1)
Ferreira(1);Ana Isabel Reis(1);Fernando Martos Gon- (1) Centro Hospitalar Uni. Porto
çalves(1);José Lomelino Araújo(1)
(1) Hospital Beatriz Ângelo Tema: Doenças raras

Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas- INTRODUÇÃO


culites
A doença de Niemann-Pick (NP) é uma doença me-
As vasculites são um grupo heterogéneo de doen- tabólica rara, autossómica recessiva, caraterizada
ças com múltiplas manifestações, podendo afetar pelo défice da enzima esfingomielinase ácida que
vasos de diferentes calibres. leva à acumulação da esfingomielina (lípido) em
vários tecidos. É subdividida em 3 tipos: A, B e C. A
Descrevemos o caso de uma mulher de 68 anos, doença de NP tipo B é habitualmente de início mais
autónoma, com história de cardiopatia isquémica, tardio, menos severa e com melhor prognóstico do
nefrolitíase, hipotiroidismo e doença intersticial que o tipo A e C. A apresentação clínica é variável
pulmonar em estudo na consulta de Pneumologia. sendo muito frequente a presença de hepatoesple-
Referenciada à consulta de doenças autoimunes nomegalia, doença intersticial pulmonar e ausência
por poliartralgias mecânicas, onde se apuram sin- de atingimento do sistema nervoso central (ao con-
tomas constitucionais de perda de peso (10kg em trário do tipo A e C).
2 meses), cansaço, claudicação intermitente da
mandíbula, tendo sido internada para investigação. CASO CLINICO
À observação destaca-se febrícula, emagrecimento,
Homem 65 anos sem antecedentes relevantes, com
fácies deprimido, pele e mucosas descoradas, e
diagnóstico de NP tipo B em 2009 (aos 53 anos).
palpação das artérias temporais indolor com pulsos
O diagnóstico foi feito após rutura espontânea do
amplos e simétricos, sem sinais de artrite
baço com histologia compatível e com atividade
Analiticamente destaca-se anemia inflamatória e da esfingomielinase dos fibroblastos baixa, assim
ferropénica, aumento de parâmetros inflamatórios como teste genético com mutação patológica dete-
(velocidade de sedimentação (VS) 140mm/h, PCR tada compatível com doença de NP tipo B.
12,56mg/dL), hipergamaglobulinémia policlonal,
No seguimento do doente verificada doença pulmo-
factor reumatoide 385,9U/mL (<18) e anticorpo an-
nar intersticial que se apresenta como a principal

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 813


manifestação da doença e que implica grande mor- mostrou“duas adenopatias da cadeia mama´ria
bilidade para doente. Atualmente com dispneia para interna direita e ligeira densificac¸a~o no segmento
médios a pequenos esforços já com necessidade posterior do lobo superior direito”.
de tratamento com oxigenoterapia de longa duração
e com evidência de agravamento progressivo da Realizada broncofibroscopia, sendo a microbio-
função pulmonar. Não há achados compatíveis com logia e baciloscopia do aspirado brônquico sido
hipertensão pulmonar. negativas.Realizada biópsia da tumefacção, com
positividade na pesquisa directa de BAAR. Iniciou
A terapêutica de substituição enzimática, olipudase terape^utica com isoniazida, rifampicina, etambutol
alfa, demonstrou clara melhoria na função ventilató- e pirazinamida, com redução gradual de tamanho. A
ria e dos infiltrados pulmonares, contudo ainda não cultura isolou Mycobacterium tuberculosis complex
está aprovada para uso terapêutico. A expectativa é sensível a todos os antituberculosos.  
iniciar o tratamento o mais precocemente possível e
reverter na dimensão do possível a acumulação de Discussão:
esfingolípidos a nível do interstício pulmonar.
No diagnóstico diferencial de adenopatia, importa
DISCUSSÃO: equacionar infecções e neoplasias. Neste caso, a
proveniência de zona endémica e febre tornavam
A doença de NP tipo B pode apresentar-se de várias possível a TB, mas a ausência de TB pulmonar pré-
formas sendo a doença intersticial pulmonar uma via, a negatividade do VIH e a localização da adeno-
das mais comuns. Esta etiologia não deve passar patia diminuíam a suspeita.
despercebida e deve ser levantada a suspeita se
não houver etiologia aparente para a doença pul- A linfadenite tuberculosa deve-se geralmente a reac-
monar associado a hepatoesplenomegalia. Acresce tivação de TB latente. O diagnóstico é estabelecido
ainda a importância deste diagnóstico uma vez que pela biópsia, sendo gold standard a pesquisa de
neste momento há um tratamento que demonstrou BAAR e cultura de micobactérias, dada a inespeci-
ser capaz de reverter pelo menos parcialmente o ficidade da histologia. Na suspeita de TBEP, é fun-
atingimento pulmonar e assim melhorar a qualidade damental excluir TB pulmonar, através de exames
de vida dos doentes. imagiológicos e micobacteriológico do esputo ou
aspirado brônquico, pela necessidade de isolamen-
P n.º 2604  to respiratório enquanto bacilífero.
Apresentação incomum de Linfadenite Tuberculosa
Elisa Condez(1);Ana sá(1);Vanessa Palha(1);Rodrigo A linfadenite tuberculosa tem resposta caracteris-
Silva(1);Ana Luís Vasconcelos(1);Teresa Pimente- ticamente lenta ao tratamento, podendo ocorrer
l(1);Narciso Oliveira(1) aumento das adenopatias (reacção paradoxal), não
(1) Hospital de Braga traduzindo insucesso terapêutico.

Tema: Doenças infecciosas e parasitárias P n.º 2608 


Espondilodiscite cervical: uma localização rara
Elisa Condez(1);Ana sá(1);Vanessa Palha(1);Rodrigo
Introdução: Silva(1);Ana Luís Vasconcelos(1);Teresa Pimente-
l(1);Narciso Oliveira(1);Joana Sotto Mayor(1)
A Tuberculose (TB) Extrapulmonar (TBEP) ocorre (1) Hospital de Braga
em 10-40% dos casos de TB, sendo mais frequente
na infecção VIH. A linfadenite tuberculosa é a apre- Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
sentação mais comum (>35% dos casos de TBEP).
Nos países desenvolvidos, ocorre mormente em imi- Introdução:
grantes de países endémicos. Surge frequentemen-
te como adenopatia única indolor na cadeia cervical
e sintomas sistémicos são incomuns. A Espondilodiscite caracteriza-se por osteomielite
vertebral e discite. Afecta sobretudo homens com
Caso Clínico: mais de 50 anos. Embora rara, apresenta incidência
crescente. Pode ocorrer por disseminação hemato-
Homem, 40 anos, raça negra. Angolano, em Por- génea, inoculação directa ou contiguidade. A coluna
tugal há meio ano. Sem antecedentes patológicos lombar é a mais atingida (60%), seguida da torácica
relevantes. (30%) e cervical (10%). Deve suspeitar-se de Espon-
dilodiscite se dor vertebral, sobretudo se associada
Recorreu ao SU por febre e tumefacc¸a~o paraes- a febre, bacteriemia ou endocardite infecciosa.
ternal dolorosa com dois dias de evolução. Negava
emagrecimento, sintomas respiratórios ou outros. Caso Clínico:
Ao exame físico apresentava tumefacc¸a~o pa-
raesternal direita, de 2cm, e auscultação pulmonar Homem, 51 anos, saudável. Recorreu ao SU por cer-
normal. vicalgia, febre e fotofobia com 4 dias de evolução. O
exame neurológico era normal e apresentava sinais
As análises não tinham alterações e o teste confir- inflamatórios da articulação esternoclavicular direi-
matório de VIH foi negativo. A TC toracoabdominal ta.  

814
E-POSTERS
Analiticamente, leucocitose, neutrofilia e PCR sexuais desprotegidas.
170mg/L. A TC de crânio era normal. Realizada
punção lombar, tendo o LCR 276 células/uL (96% Recorreu ao SU por lombalgia com 4 meses de evo-
neutrófilos), glicose 70 mg/dl e proteínas 0,6 g/dL. A lução. A RMN da coluna vertebral revelou lesões
RMN cervical mostrou “espondilodiscite C4-C5, ex- líticas dorso-lombares e massa óssea sagrada de 6
sudado epidural anterior e sinais de artrite se´ptica cm, tendo sido internado para estudo.
na articulac¸a~o esternoclavicular direita”.
Do estudo realizado: hemograma, função renal e
Foi internado por Espondilodiscite cervical com cálcio sérico normais; pico monoclonal IgG/kappa
provável origem em artrite se´ptica. Realizada pun- de 22,5g/dL na electroforese de proteínas séricas;
ção articular, tendo o exame microbiológico sido IgG sérica aumentada; ratio kappa/lambda se´rico
negativo. Apresentou serologias víricas negativas aumentado;excrec¸a~o urinária de cadeias kappa;
e ecocardiograma normal. As hemoculturas (HC) B2 microglobulina 2729ng/mL; VIH positivo, com
isolaram Staphylococcus aureus meticilino-sensível, contagem de linfócitos T CD4+ 642/uL e carga víri-
sendo tratado com flucloxacilina endovenosa duran- ca 34700 cópias/mL.
te 6 semanas, com melhoria clínica e tradução em
RMN. Realizados mielograma e biópsia de medula ós-
sea (MO), com identificação de 5% de plasmócitos
Discussão: monoclonais. A biópsia da lesão óssea revelou um
plasmocitoma ósseo, concluindo-se o diagnóstico
O diagnóstico requer culturas positivas de biópsia de MM.
discovertebral ou, como neste caso, pode inferir-se
aliando os achados clínicos e radiológicos a HC Foi encaminhado para Hemato-Oncologia, iniciando
positivas, sendo o S. aureus o agente mais comum quimioterapia com bortezomib, talidomida e dexa-
(>50%). O exame físico pode identificar potenciais metasona, sendo proposto para auto-transplante de
fontes de disseminação, como inflamação articular MO.
neste caso.
Pela infecção VIH, iniciada terapêutica anti-retrovíri-
O tratamento consiste em antibioterapia endove- ca.
nosa, 4-6 semanas, que deve ser dirigida e iniciada
após resultados culturais, excepto se compromisso Discussão:
neurológico, sépsis ou elevada suspeita e culturas
O diagnóstico de MM em doentes VIH pode ser um
negativas.
desafio, uma vez que a insuficiência renal e anemia
A clínica insidiosa e os sintomas inespecíficos po- podem ser secundárias à infecção e a plasmoci-
dem atrasar o diagnóstico, pelo que a suspeição tose da MO é um achado comum na infecção VIH.
clínica é crucial para um diagnóstico e tratamento Por este motivo, alguns autores sugerem as lesões
atempados, reduzindo a morbimortalidade. Compli- osteolíticas, a hipercalcemia ou os plasmocitomas
cações graves, com compromisso neurológico (ab- monoclonais como critérios sugestivos de MM na
cesso, colapso vertebral), têm indicação cirúrgica. população VIH.

P n.º 2615  Neste caso, dada a percentagem de plasmócitos


Mieloma Múltiplo e infecção VIH na MO (<10%) não permitir o diagnóstico de MM, a
Elisa Condez(1);Ana sá(1);Vanessa Palha(1);Rodrigo biópsia da lesão óssea foi determinante ao identifi-
Silva(1);Teresa Pimentel(1);Narciso Oliveira(1);Joa- car plasmocitoma ósseo, que, na presença de outra
na Sotto Mayor(1) lesão de órgão, estabelece o diagnóstico de MM.
(1) Hospital de Braga
P n.º 2623 
Tema: Doenças hematológicas Anemia Hemolítica Autoimune e Gamapatia Mono-
clonal: coincidência ou etiologia?
Elisa Condez(1);Ana sá(1);Vanessa Palha(1);Rodrigo
Introdução: Silva(1);Ana Luís Vasconcelos(1);Teresa Pimente-
l(1);Narciso Oliveira(1);Joana Sotto Mayor(1)
A infecção VIH aumenta a predisposição para vá- (1) Hospital de Braga
rios tipos de neoplasias. Embora raro em doentes
VIH, com cerca de 60 casos descritos na literatura, Tema: Doenças hematológicas
o Mieloma Múltiplo (MM) apresenta incidência 4,5
vezes superior nos doentes VIH, estando associado, Introdução:
em idades mais jovens, a um curso mais agressivo
e pior prognóstico. A sua patogénese parece incluir-
A Anemia Hemolítica Autoimune (AHAI) caracteri-
-se no espectro das neoplasias de células B asso-
za-se pela destruição de eritrócitos por autoanticor-
ciadas ao VIH.
pos, podendo estar associada a várias patologias,
Caso Clínico: como doenças linfoproliferativas.

Homem, 50 anos, saudável. HSH, com relac¸o~es As Gamapatias Monoclonais (GM) são neoplasias
de plasmócitos monoclonais. A Gamapatia Mono-
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 815
clonal de Significado Indeterminado (MGUS) define- pelo qual se apresenta este caso.
-se por proteína monoclonal sérica <3 g/dL, plasmó-
citos monoclonais <10% na medula óssea (MO) e Caso clínico: Mulher de 64 anos, com fibrilação auri-
ausência de lesão de órgão atribuível ao componen- cular paroxística medicada com Amiodarona desde
te monoclonal. Com prevalência de 5% acima dos há 8 anos, com aumento da dose para 400mg por
70 anos, é um achado comum na electroforese de dia há 7 meses. Recorreu ao Serviço de Urgência
proteínas séricas (EPS). por quadro com 3 semanas de evolução de tosse
seca, toracalgia pleurítica, febre, hipersudorese no-
Caso Clínico: turna e dispneia para esforços. Referia ainda aste-
nia, anorexia e perda ponderal de 15Kg nos últimos
Mulher, 74 anos. Recorreu ao SU por astenia e ema- 6 meses. Auscultação pulmonar com murmúrio
grecimento no mês precedente. Sem alterações no vesicular globalmente diminuído com crepitações
exame físico, além de palidez. basais. Analiticamente com anemia normocítica/
normocrómica, citólise hepática (3 vezes o limite
O estudo realizado revelou: Hb 5,0 g/dL macrocítica, superior do normal), proteína C reativa de 135mg/L,
índice de produção de reticulócitos (IPR) 3,15, ligeira velocidade de sedimentação de 111mm e função
hiperbilirrubinemia, LDH aumentada, haptoglobulina tiroideia normal. Foi suspensa a Amiodarona à
diminuída, Coombs directo positivo, pico monoclo- admissão, por se fazer acompanhar de uma tomo-
nal IgG/kappa de 0,67g/dL na EPS, B2-microglobu- grafia computorizada (TC) que mostrava hiperden-
lina 4867ng/mL, ratio kappa/lambda sérico aumen- sidade espontânea do parênquima hepático suges-
tado. Cadeias leves livres urinárias, função renal, tiva de intoxicação por Amiodarona. A TC do tórax
cálcio e estudo do ferro normais, autoimunidade e mostrou densificações subpleurais bilaterais de
serologias infecciosas negativas e ausência de le- contornos irregulares de características suspeitas e
sões osteolíticas. adenomegalias mediastínicas pericentrimétricas. A
biópsia de uma lesão pulmonar foi compatível com
Realizaram-se mielograma e biópsia óssea, que re-
doença intersticial pulmonar com aspectos de pneu-
velaram plasmocitose <10%, sem alterações citoge-
monia organizativa e macrófagos “espumosos”,
néticas de alto risco. Entendendo-se o diagnóstico
integrável no diagnóstico de pneumonite intersticial
de MGUS associado a AHAI, iniciou corticoterapia
por Amiodarona. Não foi iniciada corticoterapia por
com prednisolona 1mg/Kg/dia, com recuperação.
melhoria progressiva da clínica após a suspensão
Discussão: da Amiodarona. Após quatro meses, a doente en-
contra-se assintomática e a TC mostra redução das
A AHAI precede frequentemente o diagnóstico de dimensões das lesões pulmonares.
doença linfoproliferativa, em intervalos de tempo
variáveis. Embora mais rara, a associação da AHAI Discussão: A toxicidade pulmonar por Amiodarona
e da GM tem sido descrita, sendo sugerida a produ- é clínica e radiologicamente confundível com outras
ção de anticorpos monoclonais anti-eritrócitos. entidades, devendo-se manter um alto índice de
suspeição, mesmo após vários anos desde o início
Neste caso, a GM apresentava critérios de MGUS. do tratamento. Quando o diagnóstico é atempado, a
Contudo, a presença de AHAI permite questionar o maioria dos doentes apresenta uma evolução favo-
diagnóstico. rável após a descontinuação do fármaco, podendo
não necessitar de corticoide.
Futuramente será importante investigar melhores
métodos de detecção de anticorpos monoclonais, P n.º 2628 
no sentido de perceber se estes actuam como au- Hemartrose iatrogénica não-traumática do ombro –
toanticorpos contra eritrócitos. um caso a recordar
António Mesquita(1);Pedro Caiado Ferreira(1);Mi-
P n.º 2626  guel João Pinheiro(1);Marta Carvalho(1);Francisca
Toxicidade à Amiodarona - um diagnóstico diferen- Martins(1);Miguel Nunes(1);Miguel Martins(1);Ma-
cial nas lesões pulmonares dalena Lobão(1);Márcia Pereira(1);Catarina Patrí-
Tânia Lopes(1);Fernanda Almeida(1);Paulo Pai- cio(1);Augusto Ribeirinho(1);Vítor Brotas(1);Eduardo
va(1);Filipe Pinto(1);João Correia(1) Silva(1)
(1) Centro Hospitalar do Porto, EPE / Hospital Geral (1) Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE / Hos-
de Santo António pital de Santo António dos Capuchos

Tema: Doenças respiratórias Tema: Doenças autoimunes, reumatológicas e vas-


culites
Introdução: O uso de Amiodarona está associado a
efeitos adversos em vários órgãos. A incidência de Introdução: Edema e dor articular são queixas fre-
toxicidade pulmonar varia de 5 a 15% em doentes quentes nos doentes internados, seja no contexto
com dose superior ou igual a 400mg por dia, po- de artrite cristalina, exacerbação aguda de artrose,
dendo aparecer até vários anos após o seu início. ou mesmo artrite séptica. A hemartrose é uma
É um diagnóstico que facilmente passa desperce- causa mais rara, mas importante, de dor e edema
bido pela sua semelhança com outras patologias, monoarticular.
nomeadamente as de etiologia neoplásica, motivo

816
E-POSTERS
Caso Clínico: Mulher de 91 anos, autónoma nas ao Serviço de Urgência por quadro de alteração
actividades de vida diária, com história conhecida da linguagem, cansaço e dispneia com 10 dias de
de doença osteoarticular degenerativa, foi internada evolução. Ao exame objectivo apresentava disartria,
numa enfermaria de Medicina Interna com o diag- polipneia e fervores crepitantes à auscultação. Nos
nóstico de Tromboembolismo Pulmonar agudo, me- exames complementares de diagnóstico realizou
dicada com Enoxaparina 60mg de 12 em 12 horas. TC crânio-encefálica, que repetiu às 24 horas, sem
Ao 6º dia de internamento referiu aparecimento de alterações agudas e avaliação analítica onde se
dor e impotência funcional do ombro direito. Nega- destacava hemoglobina 7.8 g/dL, volume globular
va traumatismo ou febre. À observação apresentava médio 114 fL, plaquetas de 85000/µL, creatinina
edema do ombro direito, sem aumento da tempera- 1.26 mg/dL, Na 126 mmol/L, NT-proBNP 5738 pg/
tura, com dor à palpação e à mobilização passiva mL. Assumiu-se o quadro de Insuficiência Cardíaca
em toda a amplitude articular. Realizou radiografia agudizada tendo iniciado terapêutica diurética sem
que revelou sinais de omartrose e artropatia da melhoria.
coifa dos rotadores. Ecografia articular demonstrou
volumoso derrame articular compatível com hemar- Durante o internamento por quadro de bicitopenia
trose. Foi feita punção articular com aspiração de com anemia macrocítica, foi pedido estudo analítico
60ml de sangue, com diminuição significativa da para investigação. Foi feito esfregaço de sangue
tumefacção e alívio das queixas. Manteve imobiliza- periférico que documentou formação de rouleaux
ção do membro superior direito durante 2 semanas eritrocitários. O doente apresentava concomitante-
com melhoria clínica progressiva. Teve alta hipocoa- mente um número de Proteínas totais de 12.6 g/dL
gulada com Apixabano 2,5mg bidiário, sem recor- com Albumina de 2.9 g/dL. Desta forma foram pedi-
rência do quadro aos 3 meses. dos doseamentos de proteínas específicas onde se
salientava uma Beta2 Microglobulina de 15.6 mg/L.
Discussão: As causas de Hemartrose dividem-se Apresentava uma electroforese de proteínas com
entre traumáticas e não-traumáticas. As diáteses pico monoclonal IgG. Foi colocada a hipótese de
hemorrágicas devem ser consideradas a causa sub- MM com Síndrome de Hiperviscosidade associado.
jacente quando não existe história de trauma. No Realizou biópsia óssea e mielograma que verifica-
caso apresentado, a terapêutica com Enoxaparina, ram o diagnóstico. Iniciou terapêutica com ciclofos-
associada a osteoartrose do ombro, facilitaram a famida e dexametasona.
hemorragia intra-articular. Considerando a percen-
tagem de doentes sob anticoagulantes, devemos Discussão: A Síndrome de Hiperviscosidade é uma
manter um elevado índice de suspeição para He- emergência oncológica e que raramente surge as-
martrose perante queixas de edema e dor monoarti- sociada ao Mieloma Múltiplo com hipergamaglo-
cular, mesmo na ausência de traumatismo. A ausên- bulinemia a IgG. Realça-se o interesse do caso pela
cia de calor ao toque poderá facilitar a distinção das sua raridade e salientar a importância do seu diag-
causas inflamatórias. O tratamento precoce evitar a nóstico por necessidade de tratamento urgente para
evolução para artropatia crónica. controlo sintomático e de complicações.

P n.º 2629  P n.º 2631 


Uma apresentação atípica de um Mieloma Múltiplo Rivaroxabano: O lado B
a IgG Carolina Cadório(1);Alexandra Pousinha(1);João
Guilherme Sacramento(1);Maria Inês Roxo(1);Rita Melo e Silva(1);Diana Falcão(1);Sofia Cruz(1);João
Lima(1);Diogo Domingos(1);Andrea Castanheira(1);- Barreira(1);José Barata(1)
Francisco Silva(1);Isabel Madruga(1) (1) Hospital de Vila Franca de Xira
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE /
Hospital Egas Moniz Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá-
ticas
Tema: Doenças hematológicas
Os anticoagulantes orais diretos (AOD) vieram re-
Introdução: O Mieloma Múltiplo (MM) é uma discra- volucionar a forma como hipocoagulamos os nos-
sia maligna de plasmócitos caracterizada por uma sos doentes, sem necessidade de monotorização
proliferação descontrolada e infiltração difusa de frequente e menor risco de interações. Na literatura
plasmócitos monoclonais na medula óssea. É mais foram descritos casos de hepatotoxicidade (coles-
comum em idosos, tendo sintomas inespecíficos tática, hepatocelular ou mista)  associada ao rivaro-
(febre, suores noturnos, perda de peso), dor óssea, xabano.
podendo também ser assintomático. Apenas 2-6%
dos MM apresentam Síndrome de Hiperviscosidade Os autores apresentam um caso de um homem
associada, sendo esta emergência oncológica uma de 67 anos com história de timoma em estadio IV
forma rara de apresentação desta patologia. submetido a timectomia em bloco com a veia cava
superior (VCS) e tronco venoso braquiocefálico com
Caso Clínico: Homem de 80 anos com anteceden- colocação de prótese vascular na VCS em junho
tes de Esquizofrenia, AVC isquémico há 20 anos e de 2020; submetido a radioterapia adjuvante. Em
Angina Estável. Medicado com Risperidona, Quetia- janeiro de 2021 foi detetado um trombo na veia sub-
pina, Ácido acetilsalicílico e Sinvastatina. Recorreu clávia direita tendo sido medicado com enoxaparina

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 817


terapêutica e a 3/3/2021 alterado para rivaroxaba- A doente apresentava um quadro de náusea, ano-
no. rexia e prurido corporal com um mês de evolução
tendo recorrido ao seu médico assistente. Foi en-
Recorre à Urgência a 11/4/2021 por dor abdominal viada ao serviço de urgência na sequência de alte-
com irradiação para a região lombar, vómitos per- rações analíticas das provas hepáticas compatíveis
sistentes e um episódio de diarreia com 3 dias de com hepatite.
evolução. Ao exame objectivo encontrava-se febril
sem outras alterações de relevo. Analiticamente Os antecedentes médicos da doente incluíam asma
com leucocitose ligeira (11.300/uL) com neutrofilia, e rinite alérgica e não havia história de consumo al-
PCR 0.97mg/dL e citocolestase (ALT 257UI/L, GGT coólico, tabágico ou de outros tóxicos/suplementos
828UI/L, ALP 260UI/L, bilirrubina total 1.94mg/dL, alimentares.
Bilirrubina Direta 0,78mg/dL), INR 1.17. Ecografia
abdominal: parênquima hepático sugestivo de es- Do estudo foi excluída infecção por vírus hepato-
teatose. Tomografia computarizada do abdómen trópicos, hemocromatose, doença de Wilson, défice
sem alterações hepáticas assim como a colangior- de alfa1-antitripsina, lupus eritematoso sistémico e
ressonância. doença celíaca como causas potenciais. O estudo
imunológico e autoimune foi também integralmente
Realizado estudo que excluiu causas virais (hepatite negativo.
B, C e vírus de imunodeficiência humana), hemocro-
matose (ferritina 1264ng/ml, Ferro 43mcg/dl, Índice A doente foi submetida a biopsia hepática cujo
Saturação de Transferrina 21.6%) ou doença de produto em análise histológica evidenciou sinais de
Wilson (ceruloplasmina 39.2mg/dl). Doente negou hepatite aguda com necrose centrolobular.
alterações na dieta (chás/tisanas ou outras subs-
tâncias de ervanárias) assim como cogumelos de Foi iniciado tratamento com prednisolona 1mg/kg/
origem não certificada. dia com resposta favorável e rápida. Foi subsequen-
temente introduzida azatrioprina 50mg por dia, com
Doente teve uma melhoria dos parâmetros hepáti- titulação descendente da dose de corticoide, tendo
cos pelo que foi assumido quadro de hepatite asso- a doente apresentado resolução bioquímica com-
ciada ao rivaroxabano. pleta após 6 semanas de tratamento.

O rivaroxabano é um dos AOD mais utilizados, esta Sublinhamos a importância da obtenção de


complicação apesar de rara está descrita na bula do um diagnóstico precoce dada a potencial letalidade
medicamento pelo que deve ser tido em considera- da HAI se não tratada atempadamente, relevando
ção no momento da prescrição. a necessidade de um elevado grau de suspeição
clínica e a utilização de scores de probabilidade
P n.º 2635  diagnóstica neste processo. 
Hepatite Autoimune Seronegativa - Caso Clínico
Mariana Pacheco(1);Vitor Fernandes(1);Mariana P n.º 2637 
Seco(1);João Rocha(1);Pedro Von Hafe(1);Jorge Síndrome de Dressler num Serviço de Medicina
Almeida(1) Mariana Morais(1);Manuel António Monteiro(2);Ana-
(1) Centro Hospitalar de S. João, EPE bela Nunes(1)
(1) Hospital de São José (2) Unidade Funcional Me-
Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá- dicina 1.2 - Hospital de São José - CHULC
ticas
Tema: Doenças cardiovasculares
A hepatite autoimune (HAI) é uma doença rara
e crónica do fígado que afecta principalmente mu- Introdução: As síndromes pós-lesão cardíaca são
lheres em idade jovem. Esta entidade tem um fenó- doenças pericárdicas inflamatórias, de etiologia
tipo muito variável podendo ser desde totalmente autoimune, desencadeadas por uma lesão inicial
assintomática até apresentar-se como hepatite dos tecidos pericárdicos e/ou pleurais. 1.7 a 15%
fulminante. A HAI caracteriza-se por hipergamaglo- dos doentes submetidos a cirurgia cardiotorácica
bulinemia, circulação de autoanticorpos e carac- desenvolvem esta síndrome.
teriza-se tipicamente por hepatite de interface na
histologia do fígado. Pode, em cerca de 20% dos Caso Clínico: Doente de 78 anos, sexo masculino,
casos, não apresentar marcadores de autoimunida- leucodérmico, com cardiopatia isquémica, hiperten-
de e, nesses casos, a reposta à terapêutica imunos- siva e valvular com Insuficiência Cardíaca (IC) com
supressora reveste-se de especial importância no fracção de ejecção preservada. No dia 09/09/2020
apoio ao diagnóstico. O exame objectivo pode ser submetido a valvuloplastia aórtica biológica. A
incaracterístico ou evidenciar icterícia, espleno/he- 26/09/2020 recorreu ao Serviço de Urgência por
patomegalia ou outros sinais de cirrose, sendo que quadro de toracalgia (intensa, súbita, com carac-
até um terço dos doentes adultos se apresenta em terísticas pleuríticas), náuseas, diaforese, sem fe-
estadio de cirrose ao diagnóstico. bre. Analiticamente com aumento dos parâmetros
inflamatórios, sem aumento dos marcadores de
Reportamos o caso de uma mulher de 29 anos com necrose miocárdica e electrocardiograma sem alte-
hepatite autoimune (HAI) seronegativa. rações da repolarização. Realizou Angio-tomografia

818
E-POSTERS
computorizada torácica: derrame pericárdico com socomial iniciou piperacilina/tazobactam, escalada
5mm de espessura, com hipercaptação e densifica- para ertapenem após isolamento da Klebsiella oxy-
ção adjacente, sugestivo de pericardite, excluindo toca ESBL no aspirado brônquico. A broncofibros-
tromboembolismo e derrame pleural. Efectuou eco- copia realizada mostrou árvore brônquica bilateral
cardiograma transtorácico (EcoTT), com derrame com moderados sinais inflamatórios. Foi adiciona-
pericárdico (5-7mm em posição anterior e 10mm do linezolide e fluconazol à antibioterapia.
em posição posterior), sem sinais de tamponamen-
to ou disfunção do ventrículo direito, sem disfun- Ao 21º dia apresenta novo agravamento clínico,
ção da prótese aórtica. Após exclusão de causas analítico e imagiológico. Novas hemoculturas
infecciosas de pericardite, assumido Síndrome de revelaram fungemia para Candida albicans e, pos-
Dressler pós-valvuloplastia, tendo iniciado Colchici- teriormente retinocoroidite confirmada no exame
na e Ibuprofeno. Sem sinais de descompensação da oftalmológico. O fluconazol passou a dose de
IC, manteve-se apirético e sem toracalgia. Teve alta 100mg para 400mg/dia; fármaco substituído pela
após 6 dias, com indicação para manter terapêutica anfotericina B por hepatotoxicidade. Esta última foi
durante 1 mês. EcoTT de reavaliação a 30/12/2020 mantida até a obtenção de hemoculturas negativas,
com discreto derrame pericárdico posterior. e prolongada por mais 14 dias, dado o envolvimento
ocular.
Discussão: A síndrome pós-lesão cardíaca pode
ocorrer 1 semana a 3 meses após o traumatismo Um mês depois da 1ª observação oftalmológica,
cirúrgico. O tratamento baseia-se na terapêutica concluiu-se a resolução da retinocoroidite.
com ácido acetilsalicílico ou anti-inflamatórios
não esteróides e colchicina,  melhora os índices O doente teve alta, ao 71º dia de internamento, me-
de remissão e reduz o risco de recorrência, que se lhorado.
encontra entre os 10-15%. Em casos refratários a
Discussão:
pericardiocentese deve ser considerada. 
Os sinais e sintomas da candidemia são inespe-
P n.º 2640 
cíficos e não diferem das infeções bacterianas. É
Candidemia com envolvimento ocular no doente
preciso estarmos atentos à suscetibilidade e os
queimado: relato de caso
fatores de risco dos doentes queimados para esta
Lídia Caley(1);Alexandra Dias(2);Joana Dias Alfaia-
infeção. Uma vez detetada a candidemia, mesmo
te(1);Ana Clara Dinis(1);Teresa Oliveira(1)
na ausência de clínica ocular, importa excluir o seu
(1) Hospital Distrital de Abrantes (2) Centro Hospita-
envolvimento, pois é a partir deste que a duração da
lar do Médio Tejo
terapêutica antifúngica é definida.
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
P n.º 2641 
Mais um doente rotulado psiquiátrico sem o ser...
Introdução: Ana Patricia Silva(1);Céu Evangelista(1);Margarida
Ascensão(1);André Leitão(1);Artur Costa(1);Bruno
As candidemias são importante causa de morbi- Ferreira(1);Diana Moreira de Sousa(1);Joana Coe-
mortalidade nos doentes queimados. Têm como lho(1);Juliana Carneiro(1);João Silva(1)
principais fatores de risco: idade, área de superfície (1) Centro Hospitalar Cova da Beira, EPE / Hospital
corporal total queimada, queimadura por inalação, Distrital da Covilhã
ventilação mecânica, presença de cateteres, uso
de antibioterapia de largo espectro. O envolvimento Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas
ocular, apesar de raro, dita a duração do tratamento
antifúngico.
Introdução: Demência de corpos de Lewi é uma
Caso clínico: demência degenerativa e progressiva com défices
cognitivos flutuantes, alucinações, sintomas extra-
Homem, 90 anos, autónomo, antecedentes pes- piramidais e mioclonias. Não existem alterações
soais de hipertensão arterial e insuficiência cardía- analíticas ou imagiológicas patognomónicas desta
ca, internado por queimaduras de 1º e 2º grau na patologia, devendo ter-se em mente diagnósticos
face e membros, com envolvimento da via aérea diferenciais como doenças de Alzheimer e Parkin-
foi mecanicamente ventilado nas primeiras 72h de son, mais comuns, porém com características e tra-
internamento. tamento diferentes.

Ao 6º dia inicia febre, agitação psicomotora, polip- Caso clínico: Homem de 71 anos com antecedentes
neia, tosse produtiva; saturação periférica de 88%, de diabetes tipo 2, recorre ao Serviço de Urgência
sob cânula nasal. (SU) por quadro com 2 semanas de evolução de
Analiticamente com leucocitose (15,86x10^9/L), confusão, alucinações visuais e auditivas, delírio
aumento da PCR (16,84mg/dL). Gasimetria arterial de ciúme com agressividade, tremor de repouso,
com acidose respiratória compensada e hipoxemia. marcha de pequenos passos e emagrecimento
Radiografia do tórax com extenso infiltrado à es- importante no último mês. Teve episódio no SU 7
querda e na base direita. Assumido pneumonia no- dias antes, onde foi considerado doente psiquiátri-
co tendo alta com antipsicótico, sem melhoria do

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 819


quadro. Decidiu-se internamento, onde se consta- locado pacemaker provisório, que foi removido após
tou flutuação de estado cognitivo com períodos de 5 dias de tratamento antibiótico, com resolução do
prostração, agitação e períodos onde se apresen- BAV completo. Em ETE de reavaliação documenta-
tava calmo e orientado. O estudo analítico revelou do, ao nível da válvula aórtica, leak periprotésico/fís-
anemia ferropénica, vitamina B12 e função tiroideia tula para o trato de saída do ventrículo esquerdo de
normais, VDRL e HIV negativos. A análise do líquido grau moderado e suspeita de abcesso associado.
cefalorraquidiano exclui processo infecioso. A res-
sonância magnética cerebral não revelou alterações
especificas, o eletroencefalograma demonstrou Discussão
atividade de base difusamente lenta. O estudo en-
doscópico para despiste de neoplasia foi negativo. A válvula aórtica é a mais frequentemente implica-
Em colaboração com Neurologia, ligando toda a sin- da em contexto de abcessos perivalvulares. Uma
tomatologia e excluindo diagnósticos diferenciais vez desenvolvido o abcesso perivalvular, a infeção
como demência reversível, demência de Alzheimer, progride para o feixe de His ou para o nódulo auri-
demência vascular e síndrome paraneoplásico, culoventricular, resultando em bloqueios de ramo
chegou-se a demência por corpos de Lewy e iniciou ou BAV, respetivamente. A abordagem nestes casos
medicação com Clonazepam e agonistas dopami- passa pelo tratamento com antibióticos apropriados
nérgicos com melhoria do tremor, da marcha e do e, se clinicamente se justificar, colocação de pace-
estado cognitivo, tendo alta para o domicílio. maker ventricular.

Discussão: Este caso foi interessante pelo raciocí- P n.º 2651 


nio clínico que nos permitiu chegar ao diagnóstico e Síndrome de DRESS: um caso grave de hipersensi-
principalmente ao tratamento adequado do doente, bilidade ao alopurinol
permitindo a sua melhoria. Elisa Condez(1);Margarida Araújo(1);Teresa Pimen-
tel(1);Narciso Oliveira(1)
P n.º 2647  (1) Hospital de Braga
BAV completo secundário a endocardite
Margarida g. Figueiredo(1);Hélder Santos(1);Maria- Tema: Outro
na Santos(1);Paula Sofia Paula(1);Ines Almeida(1);-
Samuel Almeida(1);Lurdes Almeida(1) Introdução:
(1) Centro Hospitalar Barreiro/Montijo, EPE / Hospi-
tal Nossa Senhora do Rosário
A Síndrome de DRESS (Drug reaction with eosi-
Tema: Doenças cardiovasculares nophilia and systemic symptoms) é uma reacção de
hipersensibilidade a drogas, mediada por células T,
podendo estar associada à reactivação de Herpes-
Introdução viridae. Apresenta latência de 2-8 semanas entre o
início do fármaco e os sintomas: rash maculopapu-
A endocardite infecciosa, por norma, limita-se ao en- lar extenso, envolvimento visceral, linfadenopatia,
volvimento de estruturas valvulares e perivalvulares, eosinofilia e linfocitose atípica. O envolvimento mí-
com aparecimento de diferentes graus de bloqueio nimo das mucosas permite distinguir da Síndrome
auriculoventricular (BAV) numa minoria dos casos. de Stevens-Johnson.
Assim sendo, a existência de BAV secundário a
endocardite tende a ocorrer em doentes com co- Sendo rara, pode representar 10-20% de todos os
morbilidades, nomeadamente próteses valvulares, internamentos por toxicodermia. Entre os fármacos
indica que existe extensão significativa da infeção e com maior risco, encontram-se o alopurinol, antiepi-
associa-se a mau prognóstico. lépticos e vancomicina.

Caso Clínico Caso Clínico:

Mulher de 77 anos. De antecedentes pessoais, a Mulher, 57 anos. Antecedentes de DM tipo 2, HTA e


destacar substituição valvular aórtica por bio-pró- DRC estadio 3.
tese há mais de 12 meses. Quadro de prostração e
Recorreu ao SU por lesões cutâneas pruriginosas
cansaço fácil associado a náuseas, vómitos e febre.
em todo o corpo. Iniciara alopurinol 15 dias antes.
Ao exame físico foi constatada bradicardia 20bpm,
Negava outros sintomas ou toma de outros fárma-
tendo feito atropina, mantendo frequências cardía-
cos. Ao exame físico com icterícia e rash maculopa-
cas a rondar os 20bpm. Eletrocardiograma com BAV
pular eritemato-descamativo disperso pelo corpo.
completo, pelo que se iniciou perfusão de isoprena-
lina. Analiticamente com aumento dos parâmetros Analiticamente: eosinofilia 1500/uL, trombocitope-
inflamatórios. O ecocardiograma transtorácico nia 28000/uL, INR 1,29; ureia 187mg/dL, creatinina
(ETT) revelou aparente vegetação na válvula aórtica, 2,3mg/dL; hiperbilirrubinemia, LDH 547 U/L, AST
tendo-se realizado ecocardiograma transesofágico 420 U/L, ALT 1403 U/L e fosfatase alcalina 282 U/L.
(ETE), que confirmou vegetação na válvula aórtica. Ecograficamente apresentava hepatomegalia com
Iniciou antibioterapia empírica com gentamicina, sinais de esteatose.
flucloxacilina e ampicilina. Culturas da ponta do ca-
teter venoso central e hemoculturas negativas. Co-
820
E-POSTERS
Foi internada por Síndrome de DRESS secundária a de agente. A ecografia endovaginal documentou um
alopurinol, associada a LRA, hepatite e coagulopa- quisto simples no ovário esquerdo, a citologia gine-
tia. Suspendeu o alopurinol e iniciou prednisolona cológica excluiu malignidade e a colonoscopia reve-
1mg/Kg/dia, com melhoria clínica e analítica em lou pólipos sem displasia. A citologia do LA revelou
algumas semanas. células de adenocarcinoma e o CA 125 sérico apre-
sentava-se também elevado (174U/mL). As serolo-
Discussão: gias de VIH, hepatites víricas, o ANA, AMA e β-HCG
foram negativos. A ressonância magnética pélvica
O diagnóstico baseia-se na combinação de vários indicou carcinomatose peritoneal, sem lesões sóli-
factores: febre, adenopatias, eosinofilia, linfócitos das nos ovários. Realizou-se laparotomia diagnósti-
atípicos, rash, envolvimento de órgão e resolução ca e de estadiamento que confirmou carcinomatose
>15 dias. Frequentemente existe um fármaco de- peritoneal extensa, sem plano de disseção, tendo
sencadeante claro. A biópsia cutânea pode ajudar sido realizadas biópsias. Admitiu-se diagnóstico de
no diagnóstico. Neste caso, o rash exuberante, eo- carcinoma primário do peritoneu irressecável, sendo
sinofilia, atingimento hepático e renal, após toma a doente orientada para consulta de Oncologia.
de alopurinol, tornaram o diagnóstico altamente
suspeito. DISCUSSÃO
O tratamento baseia-se na cessação do fármaco, O CPP tem um comportamento clínico e histológico
medidas de suporte e, em casos graves, glucocor- semelhante ao carcinoma epitelial do ovário, sendo
ticoides ou mesmo transplante hepático. A maioria a distinção difícil no diagnóstico tardio com carci-
dos doentes recupera em semanas a meses, mas a nomatose peritoneal difusa. Apesar de raro, princi-
taxa de mortalidade pode chegar a 10%. palmente em idade jovem, deve ser considerado em
casos de ascite de etiologia não esclarecida.
P n.º 2655 
Um caso raro de ascite em mulher jovem P n.º 2659 
Rita Enriquez(1);Mafalda Vasconcelos(1);Rui Osório Síndrome hemofagocítica secundário a choque
Valente(1);Célia Machado(1);José Lomelino Araú- séptico
jo(1) Marta Mendes Valentim(1);Carolina Vasconcelos
(1) Hospital Beatriz Ângelo Guimarães(1)
(1) Centro Hospitalar de S. João, EPE
Tema: Doenças oncológicas
Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente crí-
INTRODUÇÃO tico

O carcinoma primário do peritoneu (CPP) é uma Introdução: A síndrome hemofagocítica (HFS) é


entidade rara (7 casos por 1.000.000 de indivíduos) uma entidade rara, que pode associar-se a pro-
que afecta quase exclusivamente mulheres, com cessos infeciosos, neoplásicos ou autoimunes.
idade média de diagnóstico aos 60 anos, apresen- Definida pela presença de 5/8 critérios: febre, es-
tando na maioria dos casos mau prognóstico. plenomegalia, citopénias, hipertrigliceridemia e/ou
hipofibrinogenémia, presença de hemofagocitose,
CASO CLÍNICO ferritina elevada, actividade células NK diminuída e
níveis de CD25 elevados.
Descreve-se o caso de uma mulher de 46 anos, sau-
dável, sem hábitos conhecidos ou história familiar
Caso clínico: Homem 76 anos, antecedentes de
de neoplasia. Recorreu à urgência por dor pélvica
Cardiopatia isquémica, AVC isquémico com afasia
com um mês de evolução associada a náuseas,
motora sequelar, DM2 com mau controlo metabóli-
anorexia e aumento do volume abdominal. Objeti-
co e status pós-amputação do 2º dedo do pé direi-
vamente com distensão abdominal, dor à palpação
to. Internado na Cirurgia Vascular para amputação
e ascite, confirmada em tomografia computoriza-
aberta do 1º dedo do pé esquerdo tendo em 2º tem-
da abdominal, que identificou também densificação
po realizado desbridamento com osteotomia e en-
da gordura epiplóica e espessamento do cólon
cerramento do coto. Ao 10º dia após procedimento
transverso. Analiticamente com citocolestase sem
é pedida avaliação por Medicina Interna, por quadro
hiperbilirrubinémia (AST 32UI/L, ALT 68UI/L, FA
de febre, elevação dos parâmetros inflamatórios e
179UI/L, yGT 181UI/L), parâmetros inflamatórios
aplasia medular de instauração rápida. A observa-
elevados (leucócitos 11.9x109/L e PCR 21mg/dL) e
ção doente hipotenso, desorientado, febril, débito
hipoalbuminémia 2.9g/dL.
urinário baixo, sem outras alterações e sem sinais
Realizou paracentese evacuadora, cujo líquido ascí- inflamatórios na ferida cirúrgica.  
tico (LA) apresentava características de exsudado
Do estudo analítico: anemia (Hb7,5g/dL), neutro-
(proteínas 4.9g/dL, albumina 2.7g/dL, GASA<1.1g/
penia grave (8células/microL), trombocitopenia
dL, LDH 325UI/L, 1700 células - 78% mononucleares
77 000 plaquetas, esfregaço com evidencia de
e 380 neutrófilos, ADA 26.6UI/L, CA 125 >600U/mL)
linhagem linfoplasmocítica em sangue periférico,
e critérios de peritonite bacteriana espontânea, ten-
LDH 3751U/L, Creatinina 3,84mg/dL (basal 0,98),
do cumprido ciclo de ceftriaxone, sem isolamento
ferritina 16 591ng/mL, PCR 249 mg/dL,  procalci-
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 821
tonina 87,08ng/mL e fibrinogénio 67mg/dL. Rea- de Medicina nos 9 meses que se seguiram, manten-
lizou estudo imagiológico (TAC), punção lombar, do-se sem sinais neurológicos focais ou alterações
pesquisas micobacteriológicas e virais, tendo sido cutâneas até à data. 
apurado esplenomegalia (15cm) e no TC do pé den-
sificação difusa de partes moles em redor da zona Discussão: A meningite por VZV constitui 5-29%
da amputação, traduzindo celulite. No mielograma das meningites assépticas, sendo rara em adultos
achado de duas figuras de hemofagocitose, confir- imunocompetentes. A ausência de rash cutâneo e 
mando HFS secundário a quadro de choque séptico défices neurológicos, torna o seu diagnóstico um
com ponto de partida da infeção de partes moles desafio, pelo que é importante a suspeita clínica,
com disfunção multiorgânica. Iniciou Meropenem, para realização de PL e início precoce de terapêuti-
Vancomicina, Fluconazol e Filgastrim assim como ca antiviral
suporte aminérgico e fluidoterapia para a estabili-
zação. Apresentou melhoria clínica e recuperação P n.º 2661 
medular após 10 dias de tratamento sem evidencia UMA MEDULA, MÚLTIPLAS COMPLICAÇÕES
de agente microbiológico associado. Ana Toste(1);Humberto Macedo(1);José Mar-
ques(1);Rui Ribeiro(1);José Costa(1);Jorge Almei-
Conclusão: Os autores pretendem alertar para as da(1)
semelhanças entre o quadro de choque sético e a (1) Centro Hospitalar de S. João, EPE
HFS, assinalando o desafio da abordagem diagnós-
tica e terapêutica do HFS quando esta é secundária Tema: Doenças hematológicas
a um processo infecioso.
Introdução: A transplantação de medula óssea (MO)
P n.º 2660  teve um tremendo impacto no tratamento das neo-
Causa rara de meningite em jovem imunocompe- plasias hematológicas e na sobrevida dos doentes.
tente No entanto, não é um tratamento inócuo, acarretan-
Mariana Morais(1);Patrícia Ribeiro Faustino(1);Ma- do toxicidade substancial, pelo que, a possibilidade
nuel António Monteiro(2);Rita Prayce(1);Anabela de complicações associadas, sejam estas precoces
Nunes(1) ou tardias, devem ser sempre equacionadas na
(1) Hospital de São José (2) Unidade Funcional Me- abordagem dos doentes sujeitos a este tipo de tra-
dicina 1.2 - Hospital de São José - CHULC tamento.  
Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas
Caso clínico: Sexo masculino, 56 anos. Anteceden-
tes de psoríase em placas sob metotrexato, tubercu-
Introdução: Apresentamos um caso de meningite lose latente com tratamento incompleto e Linfoma
por vírus varicela-zoster (VZV) num jovem imuno- Não Hodgkin (LNH) do SNC submetido a exérese
competente. Apesar de se tratar de uma infecção cirúrgica, quimioterapia (QT) e autotransplante MO.
comum, a sua reactivação, especialmente na forma Recorre à urgência por tosse e febre vespertina
de meningite, é rara.  com 3 dias de evolução, sem outra sintomatologia.
Apresentava-se febril e com lesões descamativas
Caso Clínico: Doente de 34 anos, saudável, recorre exuberantes, sem outras alterações. Analiticamente
ao Serviço de Urgência  por cefaleia frontal, com com pancitopenia grave, neutropenia de 580 cél/
2 dias de evolução, súbita, contínua e crescen- ul e TC tórax a demonstrar consolidação sugesti-
te, que agrava com manobra de valsalva. Nega va de pneumonia. Esfregaço de sangue periférico
outros sintomas, como febre ou alterações cutâ- com linfócitos atípicos, imunofenotipagem sem
neas, desconhecendo o diagnóstico de varicela células neoplásicas e com alterações de natureza
na infância e negando contacto com infectados. À reativa. Ficou internado e iniciou antibioterapia em-
observação, incluindo exame neurológico sumário, pírica. No internamento evoluiu com agravamento
sem alterações. Analiticamente com leucocitose da neutropenia, trombocitopenia e febre sustenta-
(11.400x109/L) e Tomografia Computorizada Crâ- da, apesar de alargamento do espectro antibiótico.
nio-Encefálica sem alterações. Por ausência de Foram excluídas complicações locais, outros focos
melhoria com analgesia, realizou punção lombar infeciosos, agentes atípicos e tuberculose ativa. TC
(PL), com saída de líquido cefalo-raquidiano (LCR) de corpo sem evidência de malignidade, nomeada-
límpido, com leucorráquia (745/µl) , predomínio de mente LNH sistémico, e cerebral sem recidiva. Foi
mononucleares (99%), proteínas e LDH aumentados colocada a hipótese de toxicidade ao metotrexato,
(160mg/dL e 41U/L respectivamente), sem glicorrá- pelo que iniciou leucovorina e G-CSF, sem resposta
quia (53mg/dL). Perante suspeita de meningite viral, medular. Realizou mielograma que mostrou MO hi-
iniciou aciclovir 1g 8/8h, a aguardar resultado de pocelular e alguma displasia mielóide, sem hemo-
pesquisa de vírus neurotrópicos, sendo admitido em fagocitose. Biópsia óssea revelou leucemia aguda e
Unidade de Cuidados Intermédios para vigilância achados compatíveis com a existência de síndrome
neurológica. Obteve-se o resultado da pesquisa de mielodisplásico prévio. A febre cedeu ao fim de 15
vírus no LCR: positivo para VZV. Estudo de imunode- dias de antibioterapia de largo espectro. O doente
ficiência primária e adquirida sem alterações. Apre- encontra-se sob QT de indução para posterior alo-
sentou resolução do quadro após 72h. Alta após 10 transplante MO. 
dias de internamento, com seguimento em consulta

822
E-POSTERS
Conclusão: Sobreviventes à transplantação de MO pela rápida deterioração clínica. A compreensão
apresentam risco aumentado de neoplasias secun- destes aspetos, numa população oncológica em
dárias, sólidas e hematológicas. Destas, o síndrome crescimento, poderá definir uma melhor orientação
mielodisplásico e as leucemias agudas são frequen- terapêutica, bem como conduzir ao próprio diagnós-
tes e devem ser alvo de suspeita em doentes que tico inaugural de uma neoplasia oculta.
desenvolvem citopenias sem etiologia identificada
ou que, apesar de uma etiologia provável, não resol- P n.º 2668 
vem com tratamento adirigido.  A different kind of syncope
Margarida g. Figueiredo(1);Hélder Santos(1);Hugo
P n.º 2663  Miranda(1);Mariana Santos(1);Paula Sofia Pau-
Anemia hipoproliferativa num doente oncológico: la(1);Ines Almeida(1);João Tavares(1);Lurdes Almei-
estado inflamatório, ou será que não? da(1)
Joao Queirós Coelho(1);Pedro Maia Neves(1);Ana (1) Centro Hospitalar Barreiro/Montijo, EPE / Hospi-
Luísa Marçal(1);Rita Ribeiro Dias(1);Teresa Mendon- tal Nossa Senhora do Rosário
ça(1)
(1) Centro Hospitalar do Porto, EPE / Hospital Geral Tema: Doenças cardiovasculares
de Santo António
Introduction
Tema: Doenças hematológicas

Nutcracker syndrome is a rare condition that oc-


INTRODUÇÃO. Anemia é um dos mais frequen- curs when the left renal vein becomes compressed
tes e entusiasmantes diagnósticos abordados na and the blood cannot flow normally. The signs and
Medicina Interna. Anemia por destruição medular symptoms are several, usually with hematuria and
associada a neoplasias sólidas, apesar de reconhe- abdominal pain. Nonetheless, autonomic dysfunc-
cida, mantém-se relatada de forma infrequente. No tion can be a manifestation of the disease and be
doente oncológico, a sobreposição de fenómenos responsible for other symptoms.
fisiopatológicos pode dificultar a interpretação etio-
lógica. Case Report

CASO CLÍNICO. Homem, 61 anos, autónomo. His- 48-year-old woman, referred to the emergency room
tória conhecida de hipertensão arterial, sem distúr- for sudden abdominal pain and syncope. Spon-
bios endocrinológicos ou digestivos, toxicofilias ou taneous recovery, without neurological deficits,
farmacoterapia relevante. Recorreu ao Serviço de presented other episode of abdominal pain in the
Urgência por quadro de perda ponderal, astenia e hospital and, one minute later, syncope. Physical
dor óssea, sem perdas hemáticas. Ao exame físico examination, blood tests and autoimmune panel un-
apresentava aspeto emagrecido e descoloração da remarkable. Electrocardiogram showed a complete
pele/mucosas. Durante o internamento, diagnósti- atrioventricular block and Mobitz II atrioventricular
co inaugural de adenocarcinoma da próstata, com block. Transthoracic echocardiography revealed
identificação de anemia normocítica/normocrómica non-dilated cavities and preserved left ventricular
com  hemoglobina (Hb) 6.2 g/dL e trombocitopenia ejection. In the first hours presented other episodes
(100.000x10^3/uL). Do estudo etiológico da ane- of abdominal pain without syncope, being perfor-
mia destaca-se índice reticulocitário baixo (0.39) a med an abdominal computed tomography that
sugerir hipoproliferação; saturação de transferrina showed an anterior nutcracker syndrome, with left
(TSAT) e ferro sérico (Fe) normais, capacidade de fi- renal vein compression between the aorta and the
xação do ferro no limite inferior do normal e ferritina mesenteric artery. Cardiac event recorder revealed
elevada; défice ligeiro de folato; vitamina B12, fun- sporadic first-degree atrioventricular block, intermi-
ção renal e hepática, fósforo e cálcio normais; sem ttent Mobitz I atrioventricular block and less than
evidência de hemólise. Cintigrafia óssea com me- one minute of 2:1 atrioventricular block, apparently
tastização difusa de praticamente todo o esqueleto related to low abdominal pain. The case was dis-
axial/apendicular. Iniciou suplementação vitamínica cussed with vascular surgery that did not consider a
e manteve terapêutica transfusional on demand, surgical procedure. Considering the symptoms and
com recuperações transitórias do valor de Hb. the findings reported, we decided not to proceed to
a definitive pacemaker implantation.
DISCUSSÃO. Apesar do contributo multifatorial, no-
meadamente pelo estado inflamatório e carencial, Discussion
assumiu-se um papel mais significativo da des-
Clinical suspicion of nutcracker syndrome is key
truição/invasão medular. A suportar esta hipótese
for its identification, since the vast majority of pa-
encontra-se o envolvimento medular extenso, com
tients present with non-concordant symptoms. The
compromisso da linhagem plaquetária, e a cinética
decision of a definitive pacemaker implantation is
de ferro com TSAT e Fe normais. A desproporção
controversial, once the syncope described can be
entre a gravidade da anemia e os défices nutricio-
secondary to a vasovagal response to pain. On the
nais, assim como a escassa resposta à suplemen-
other hand, it was not possible to completely exclu-
tação, conferem um papel secundário ao aspeto
de cardiac conduction disorders, since the patient
carencial. Não foi possível confirmação histológica
seemed to have conduction abnormalities not rela-

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 823


ted to pain. Carlos Freitas(1);Prof. Helena Cortez-Pinto(1)
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi-
P n.º 2669  tal de Santa Maria
O cão ajudou no diagnóstico de intoxicação por
monóxido de carbono (CO)! Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá-
Ana Patricia Silva(1);Céu Evangelista(1);Margarida ticas
Ascensão(1);Artur Costa(1);Bruno Ferreira(1);Diana
Moreira de Sousa(1);Joana Coelho(1);Juliana Car- Introdução: A hepatite alcoólica é uma síndrome
neiro(1);João Silva(1) clínica caracterizada por icterícia em doentes com
(1) Centro Hospitalar Cova da Beira, EPE / Hospital hábitos alcoólicos marcados. Mais frequente em
Distrital da Covilhã homens e após décadas de consumo alcoólico
Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente crí- marcado (>80g/dia). Scores de prognóstico como a
tico Função Discriminante de Maddrey (FDM) e Glasgow
Alcoholic Hepatitis Score (GAHS) identificam doen-
tes com elevado risco de morte a curto prazo e na
Introdução: O CO é um gás sem odor, sabor ou cor ausência de tratamento, respetivamente. FDM>32
que se difunde rapidamente pelos capilares pulmo- traduz mortalidade a curto prazo de 30-60%. FDM
nares e se liga à hemoglobina (Hb) com afinidade ≥32 ou GAHS ≥9 tem indicação para corticóide.
superior ao oxigénio (O2), formando carboxihemo- Se ausência de resposta após 7 dias de corticóide
globina (COHb). Os sintomas são inespecíficos. A de acordo com score de Lille (≥0,45), considera-se
oximetria de pulso não é útil, podendo ser normal, transplante hepático como resgate em casos sele-
é essencial uma gasometria arterial (GSA) com cionados.
medição de COHb. Os níveis de COHb não se corre-
lacionam com a severidade da intoxicação nem pre-
veem o risco de sequelas neurológicas. O tratamen- Caso clínico: Homem, 52 anos, hábitos alcoólicos
to deve ser guiado pelos sintomas, tendo por base >200g/dia. Sem outros antecedentes relevantes ou
instituição de oxigenoterapia de alto débito. medicação habitual. Admitido por icterícia, sem en-
cefalopatia ou ascite. A destacar AST 337 U/L,ALT
73 U/L, bilirrubina total (BT) 38.5mg/dL. Internado
Caso Clínico: Mulher de 67 anos encaminhada por hepatite alcoólica aguda (FDM 94,3 pontos,
ao serviço de urgência (SU) por síncope. Refere GAHS 9 pontos). Excluída infeção subjacente. Cum-
sensação de mal estar e tonturas nas horas que priu corticoterapia durante 7 dias com prednisolona
antecederam o episódio, refere que pouco antes 40mg/dia e 2 dias de acetilcisteína 10g/dia, sus-
do colapso viu o cão a fugir a cambalear do interior pensa por exantema pruriginoso. Não se verificou
da casa. Encontrava-se eupneica em ar ambiente melhoria clínica nem analítica com corticoterapia,
com saturações periféricas de 96%, normotensa, pontuando 0,99 no Score de Lille. De facto, desen-
discurso lentificado e exame neurológico sumário volveu encefalopatia grau 2 durante o internamen-
normal. Nega consumo de benzodiazepinas ou to e agravamento analítico com BT: 52.73mg/dL,
álcool. Pela suspeita de intoxicação ao CO foi reali- bilirrubina direta: 37.31 mg/dL. Pela gravidade do
zada GSA com doseamento de COHb que  mostrou  quadro clínico, se tratar da primeira manifestação
um valor de COHb de 32,8%. Foi contactado colega da doença e não ter tido oportunidade de ser acon-
de serviço na Unidade de Medicina Hiperbárica que selhado relativamente à necessidade de redução
sugeriu manter a doente no SU sob oxigenoterapia de consumos alcoólicos, demonstrando vontade de
com máscara de alto débito. Após uma hora apre- manter a abstinência iniciada em internamento, foi
sentava redução do valor de COHb para 16,1%. Teve referenciado para transplante hepático. Após avalia-
alta com completa normalização do estado clínico, ção por equipa multidisciplinar, foi aceite. Realizou
sem necessidade de O2 suplementar e COHb de transplante hepático, tendo contudo desenvolvido
2,8%. Após contacto com a GNR foi identificada quadro de sépis que levou à morte cerca de 15 dias
uma fuga de gás num esquentador da casa. Foi rea- após o procedimento.
valiada um mês após o episódio, sem sintomas de
novo. Discussão: Este caso demonstra a possibilidade de
realizar transplante hepático em casos muito sele-
Discussão: É necessária grande suspeita clínica cionados de hepatite alcoólica grave, após falência
para diagnosticar intoxicação por CO, não existindo de corticoterapia.
sinais patognomónicos. O tratamento atempado
permite uma rápida resolução sintomática isenta P n.º 2672 
de sequelas. Contudo, existe a possibilidade de um Será que o emagrecimento é no contexto da insuli-
síndrome neuropsiquiátrico tardio, sendo necessária noterapia?
reavaliação destes doentes. Pedro Maia Neves(1);Sofia de Almeida(1);Ana Tere-
sa Mendes Ferreira(1);Laura Pratas Guerra(1);Luísa
P n.º 2671  Serpa Pinto(1);Vital da Silva Domingues(1);Teresa
Um caso de hepatite alcoólica grave submetida a Mendonça(1)
transplante hepático (1) Centro Hospitalar do Porto, EPE / Hospital Geral
Inês sf da Silva(1);Ryan Silva(1);Joana Santos(1);Tâ- de Santo António
nia Vassalo(1);Patrícia Santos(1);Miguel Moura(1);-

824
E-POSTERS
Tema: Doenças oncológicas ticas

Titulo: Será que o emagrecimento é no contexto da Introdução: A tuberculose peritoneal corresponde a


insulinoterapia? 4.9% dos casos de tuberculose extrapulmonar e a
0,1-0,7% dos casos de tuberculose. O diagnóstico é
Introdução: Nos doentes com diabetes Mellitus de um desafio pelo início insidioso e inespecificidade
etiologia autoimune e em fase de insulinocarencia dos sintomas. Naturais da Guiné Bissau têm um
torna-se inevitável a insulinoterapia. Embora haja risco de tuberculose 9x superior ao da população
casos de perda de peso apos o inicio da terapêutica geral e infeção VIH e doença hepática alcoólica são
com insulina, sobretudo se doses supraterapeuti- fatores de risco para tuberculose peritoneal. O gold
cas, o mais frequente é o aumento de peso. Quando standard de diagnóstico é peritonoscopia com bióp-
a perda de peso e astenia são desproporcionais ao sia.
condicionado pelo fármaco devemos manter-nos
alerta para diagnósticos diferenciais. Caso clínico: Homem, 60 anos, natural da Guiné,
com infeção VIH2 (CD4+ 977.6 cél/µL), tabagismo
Caso clinico: Homem de 59 anos com antecedentes e hábitos alcoólicos. Agravamento progressivo de
de tabagismo e diabetes Mellitus com autoanticor- função hepática, aparecimento de ascite, icterícia,
pos positivos de diagnostico recente (< 2 anos) in- colúria, e cansaço. Excluídos VHB, VHC e VHE; IGRA
ternado eletivamente da consulta de Endocrinologia e alfafetoproteína negativos.
para estudo. Referia quadro com 1 ano de evolução
de astenia e anorexia com perda associada de 40% Internado com diagnóstico de peritonite bacteria-
do peso neste período de tempo. O doente foi ad- na espontânea (PBE) por 756 neutrófilos/µL no
mitido na Enfermaria de Medicina Interna tendo a líquido ascítico (LA), sem isolamento microbiano.
marcha diagnostica passado por avaliação de neo- Após antibioterapia mantinha 2000 células/µL no
plasias nomeadamente tumores neuroendocrinos e LA (predomínio de linfócitos com ≥ 250 neutrófilos)
síndromes paraneoplasicos. e elevação de adenosina desaminase, proteínas e
albumina no LA. TC com ascite loculada, adenome-
Do estudo realizado em TC toracoabdominopelvico gálias, espessamento e nodularidade do peritoneu.
foi identificado um nodulo pulmonar com 15mm Laparoscopia exploradora mostrou múltiplos nódu-
de maiores dimensões na região perihilar do lobo los milimétricos dispersos na cavidade peritoneal.
inferior direito. Foi realizada broncofibroscopia para Colhido líquido ascítico e realizada biópsia incisio-
biopsia da lesão. Adicionalmente estudos endoscó- nal de nódulos.
picos foram realizados a excluir lesões sugestivas
de neoplasia do trato gastrointestinal. O doente faleceu por sépsis antes de iniciar antiba-
cilares. Posteriormente foi isolado Mycobacterium
O produto da biopsia concluiu que se tratava de um tuberculosis em cultura de LA e na biópsia perito-
tumor carcinoide, típico, estadio G1. Foi realizada neal. Histologicamente compatível com peritonite
PET com Ga-68-DOTATOC não tendo sido encontra- tuberculosa.
das atividade maligna fora da localização conheci-
da. Discussão: O diagnóstico de ascite tuberculosa
torna-se mais difícil em cirróticos por se atribuir
O doente foi orientado para a consulta de grupo on- a causa de ascite e os sintomas serem sugesti-
cológica de tumores torácicos para decisão sobre o vos de PBE. No entanto, algumas características
esquema terapêutico. específicas do líquido ascítico e a persistência de
inflamação na avaliação citológica de LA após an-
Discussão: Embora o inicio da insulinoterapia pu- tibioterapia devem levar à suspeita de tuberculose,
desse atuar como confundidor dado o contexto principalmente se de áreas endémicas. O atraso
geral do doente a hipótese de uma neoplasia escon- no diagnóstico, que é frequente, condiciona pior
dida deve ser levantada. Os tumores neuroendocri- outcome clínico, o que salienta a importância de
nos afetam sobretudo o trato gastrointestinal sendo aumentar a sensibilidade de testes de diagnóstico
o pulmão a segunda localização mais frequente. não invasivos.
Nesta localização a apresentação sob a forma de
síndrome carcinoide é extremamente infrequente e P n.º 2683 
está mais associada a doença avançada/dissemi- Síndroma de Encefalopatia Posterior Reversível
nada. (PRES)
Mariana Belo Nobre(1);Maria Ravara(1);Teresa Ribei-
P n.º 2679  ro Boneco(1);Maria Afonso Albuquerque(1);Carolina
Um caso de ascite em doente imunodeprimido Ochôa Matos(1);Joana Rosa Martins(1)
Ines sf da Silva(1);Ryan Silva(1);Joana Santos(1);Tâ- (1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi-
nia Vassalo(1);Patrícia Santos(1);Miguel Moura(1);- tal de Santa Maria
Carlos Freitas(1);Prof. Helena Cortez-Pinto(1)
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi- Tema: Doenças cérebro-vasculares e neurológicas
tal de Santa Maria
Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá- A Síndroma de Encefalopatia Posterior Reversível

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 825


(PRES) caracteriza-se por quadro de cefaleias, al- por quadro de palpitações, astenia e edema dos
teração do estado de consciência e convulsões e membros inferiores com semanas de evolução.
resulta provavelmente de alterações da auto-regula- Ao exame objetivo, a destacar aparente exoftalmia
ção dos vasos cerebrais que levam à formação de e edemas dos membros inferiores bilateralmen-
edema vasogénico na substância branca, predomi- te até ao terço superior da tíbia, godet positivo.
nantemente em localizações cerebrais posteriores. Analiticamente com pancitopenia, destacando-se
uma anemia macrocítica e hipercrómica, com um
Os autores apresentam um caso de uma mulher de valor de reticulócitos normal. Da restante avaliação
36 anos, com antecedentes de neoplasia da mama laboratorial, a destacar um aumento do LDH e da
estadio IV em progressão sob quimioterapia pa- bilirrubina total, à custa da indireta, diminuição da
liativa com cisplatina e trastuzumab, admitida por haptoglobina e um valor de vitamina B12 indoseável
lesão renal aguda de provável etiologia pós-renal (<83pg/mL). Por evidência de pancitopenia associa-
em contexto de fibrose retroperitoneal maligna, com da a défice de vitamina B12, foram pedidos os anti-
necessidade de derivação urinária bilateral com corpos anti-fator intrínseco e anti-células parietais,
stent duplo J. Após o procedimento, iniciou quadro com resultados negativo e positivo, respetivamente.
de crises convulsivas tónico-clónicas generalizadas Iniciou terapêutica de reposição com cianocobala-
e hipertensão arterial (HTA) inaugural de difícil con- mina e ácido fólico. Posteriormente, tendo em conta
trolo, tendo sido iniciada terapêutica anticomicial os resultados supracitados, foi realizado um estudo
e labetalol, com melhoria progressiva do quadro. mais completo, que revelou hipertiroidismo subclí-
Realizou TC-crânio-encefálica (CE) que não mostrou nico, com anticorpos anti-tiroperoxidase positivos e
alterações. Foi colocada a hipótese diagnóstica de anti-tiroglobulina no limite superior da normalidade.
PRES, atendendo a quadro de crises convulsivas na O ACTH e cortisol encontravam-se dentro dos limi-
presença de múltiplas comorbilidades frequente- tes da normalidade.
mente associadas a esta patologia, nomeadamente Discussão
HTA, urémia e neoplasia sob quimioterapia. Reali-
zou RM-CE que mostrou áreas de hipersinal em T2/ A anemia perniciosa está associada a diversas
FLAIR no córtex e substância branca justacortical, doenças autoimunes, nomeadamente a patologia
bilateralmente e simétricas, frontais e occipitais, autoimune da tiroide, diabetes mellitus e vitiligo. Sa-
sem restrição à difusão hídrica, sugestiva de PRES. be-se que grande parte dos indivíduos com anemia
Manteve-se sem evidência de novas crises após perniciosa têm títulos elevados de anticorpos anti-
controlo de factores provavelmente implicados no -tiroideus, pelo que estão em risco de desenvolver
desenvolvimento da encefalopatia. doença tiroideia autoimune. Assim sendo, nestes
doentes, é recomendado o screening de patologia
A abordagem desta patologia tem importantes im- tiroideia através da avaliação da função tiroidea.
plicações prognósticas, atendendo ao seu elevado
potencial de reversibilidade, sendo determinante a P n.º 2686 
identificação e tratamento da causa subjacente, de Linfadenite localizada - um desafio diagnóstico:
forma a evitar complicações como isquémia e se- caso clínico
quelas neurológicas irreversíveis. José Miguel Lessa Silva(1);André Santos(2);Antonio
Martins(3);Elsa Branco(3);Gabriela Canelas(3);João
P n.º 2685  Enes Silva(3);Filipa Ceia(3);Antonio Sarmento(3)
Patologia tiroideia em doente com anemia perni- (1) Unidade Local de Saúde do Norte Alentejano -
ciosa Hospital de Portalegre (2) Hospital de São Teotónio,
Margarida g. Figueiredo(1);Teresinha Ponte(1);Mar- E.P.E. - Viseu (3) Centro Hospitalar de S. João, EPE
tinho Fernandes(1)
(1) Centro Hospitalar Barreiro/Montijo, EPE / Hospi- Tema: Doenças oncológicas
tal Nossa Senhora do Rosário
Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio- O linfoma difuso de grandes células B pode ter uma
nais apresentação clínica diversa e representar um desa-
fio diagnóstico. 
Introdução
Homem, 57 anos, saudável, apresentou-se com uma
tumefação inguinal esquerda com 2 meses de evo-
As doenças autoimunes são caracterizadas por lução, linfadenite e celulite suprajacente, sem me-
um estado patológico no qual uma resposta imune lhoria após amoxicilina/clavulanato oral. Sem febre,
aberrante, direcionada a um constituinte corporal hipersudorese, emagrecimento, sintomas respirató-
normal, leva a inflamação, a lesão celular ou a um rios, gastrointestinais ou genitourinários. Coabitava
distúrbio funcional com manifestações clínicas. A com gatos e cães, mas sem história de arranhadu-
anemia perniciosa e alguns tipos de doenças da ra/mordedura; negava comportamentos de risco
tiroide resultam de processos autoimunes. sexual. Ao exame objetivo apresentava adenopatias
Caso Clínico inguinais esquerdas, eritema e espessamento cutâ-
neo suprajacentes com extensão à face interna da
Mulher de 25 anos. Dirigiu-se ao serviço de urgência coxa, sem adenopatias noutra localização.

826
E-POSTERS
Perante o processo de linfadenite localizada, foram CO(~62%) que, a par dos achados da ecoscopia
consideradas várias etiologias: infeciosa (celulite compatíveis com IC de alto débito, confirmaram a
com falência da antibioterapia oral, doença da arra- impressão clínica da etiologia de descompensação
nhadura do gato, infeções de transmissão sexual, da IC.
esporotricose e micobacterioses), não infeciosas
(linfoma, neoplasias - pele e cavidade pélvica). Feita correção cirúrgica com posterior melhoria a
permitir melhor controlo da volémia e redução da
Foi instituída antibioterapia com amoxicilina/clavu- dose de diurético.
lanato endovenoso, apenas com melhoria da celuli-
te. Discussão/ Conclusão: A IC de alto débito relacio-
nada com FAV é uma causa subdiagnosticada e
Do estudo realizado: sem alterações do hemograma potencialmente reversível na qual o factor mais im-
e proteína C reativa baixa; VIH negativo; ecografia in- portante para o diagnóstico precoce e atempando
guinal com alterações inflamatórias da pele e tecido é um alto índice de suspeição clínica perante um
subcutâneo e várias adenopatias na raiz da coxa; TC enquadramento clínico sugestivo. A confirmar-se,
toraco-abdomino-pélvica sem outras adenopatias o tratamento passa por cirurgia para restrição da
ou hepatoesplenomegalia. Biópsia aspirativa sem anastomose arterio-venosa.
sinais de malignidade; bacteriológico e micológico
negativos; PCR Bartonella spp., Chlamydia tracho- P n.º 2693 
matis, Neisseria gonorrhoeae, HSV1/2, Sporothrix, Efeito de Warburg - a propósito de um caso
Mycobacterium tuberculosis e MAC negativas; mico- Sofia Cruz(1);Leonor Gama(2);Yirney López(3);Hé-
bacteriológico direto negativo e cultural em curso; lder Ranhada(3);Magda Bento(3);Rita Gavan-
serologia de Bartonella negativa; foi realizada micro- cha(3);Bruno Ferreira(1);Susana Carvalho(3)
biópsia cujo estudo foi novamente inconclusivo.  (1) Hospital de Vila Franca de Xira (2) Hospital Lito-
ral Alentejano (3) IPO Lisboa
Ainda sem etiologia definida, e com agravamento
e progressão distal do eritema e espessamento Tema: Doenças endócrinas, metabólicas e nutricio-
cutâneos, e surgimento de linfedema, foi realizada nais
biópsia excisional ganglionar e de pele, cujo estudo
imunocitoquímico permitiu o diagnóstico de linfoma O efeito de Warburg é uma consequência do meta-
difuso de grandes células B. bolismo das células malignas, quando a fermenta-
ção lática predomina sobre a fosforilação oxidativa
Este caso demonstra a complexidade do diagnósti- independentemente do oxigénio disponível. Existem
co diferencial, a necessidade de cuidado integral e vários mecanismos propostos e encontra-se as-
de persistência na amostragem para diagnóstico e sociado a neoplasias com elevada carga tumoral,
tratamento atempados. como linfomas e leucemias agudas. A sintomatolo-
gia é inespecífica, com lactato sérico >10mmol/L,
P n.º 2690  sem sinais de hipoperfusão tecidual (acidose lática
Uma causa de descompensação de IC a não esque- tipo B) e associado ou não a hipoglicemia refratária.
cer num doente com FAV O tratamento é dirigido à doença de base, sendo um
Carolina Guimarães(1);Paula Moreira(1);Rui Ribei- indicador de resistência tumoral e de mau prognós-
ro(1);Ana Ribeiro(1);Jorge Almeida(1) tico. 
(1) Centro Hospitalar de S. João, EPE
Os autores reportam o caso de uma doente de 73
Tema: Doenças cardiovasculares anos, parcialmente dependente, com diagnóstico
de Linfoma Não-Hodgkin B Difuso de Grandes Cé-
Introdução: A IC de alto débito secundária a uma fís- lulas estadio IV sob terceiro ciclo da primeira linha
tula arteriovenosa construída cirurgicamente é uma de quimioterapia (QT); internada por infeção respi-
entidade rara que geralmente é subdiagnosticada. ratória (infiltrado bibasal na radiografia de tórax e
proteína C reativa - PCR - 12mg/dL) por citomega-
Caso clínico: Homem, 71 anos, com IC FSVEp, DRC lovírus, sem insuficiência respiratória, com início
G5A2 KDIGO secundária a nefropatia isquémica/ de terapêutica dirigida e diminuição paulatina da
aterosclerótica (construída FAV no MSD 4 meses PCR. Paralelamente verificou-se hiperlactatemia
antes deste quadro mas ainda sem necessidade de (5,9>17>23mmol/L) associada a hipoglicemia re-
técnica dialítica regular). Internado por IC descom- fratária assintomática (46mg/dL); mantendo-se he-
pensada sem aparente causa de descompensação. modinamicamente estável, com discreta taquipneia
Múltiplas vindas ao SU pelo mesmo motivo, com em ar ambiente, mas sem sinais de hipoperfusão
hipervolémia refractária aos vários ajustes terapêu- periférica ou outras alterações. Realizou exclusão
ticos. De destacar ao exame físico, FAV MSD com analítica de insulinoma e de insuficiência suprarre-
frémito muito forte, veia cefálica tortuosa e pulsátil, nal bem como tomografia computadorizada, que
visualizável à inspecção até ao arco da cefálica. mostrou estabilidade do linfoma, admitindo-se ser
Com presença de frémito e sopro na face anterior primariamente refratário à QT. Pelo agravamento
do tórax. Ecoscopia: Índice cardíaco estimado em marcado do estado geral considerou-se não existir
3.19L/min/m2; com Débito Cardíaco~6L/min (LVOT condições para nova linha de QT, tendo-se verificado
20mm). O Ecodoppler da FAV revelou um Rácio Qa/ falência respiratória com consequente falecimento
da doente.
27º Congresso Nacional de Medicina Interna 827
Este caso serve para ilustrar uma causa rara e grave mes imagiológicos por TC ou Tomografia por Emis-
de hiperlactatemia, que indicia necessidade de tra- são de Positrões (PET) não tem indicação formal
tamento urgente da patologia de base e cuja identi- por baixa sensibilidade/especificidade.
ficação deve ser atempada, apesar do extremo mau
prognóstico a ela associado. Assim, como precaver desfechos tão dramáticos
como o apresentado?
P n.º 2694 
A traição pelo Melanoma “curado” P n.º 2703 
Helena Rita Antunes(1);Cláudia Rodrigues(1);Maria- Tuberculose miliar: um desafio diagnóstico
na Oliveira(1);Natacha m. Medeiros(1);Inês Amaran- Tomás Ribeiro da Silva(1);Filipa Vassalo(1);Bárbara
te(1);Carolina Roias(1);Luís Dias(1) Queirós(1);Inês Carolino(1);Luiz Menezes Falcão(1)
(1) Hospital do Divino Espírito Santo, Ponta Delgada (1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hospi-
tal de Santa Maria
Tema: Doenças oncológicas
Tema: Doenças infecciosas e parasitárias
O Melanoma Maligno (MM) é, de entre as neopla-
sias malignas da pele, uma doença potencialmente Introdução: A tuberculose miliar resulta da dissemi-
agressiva, dependendo da idade e estadio de doen- nação hematogénea do Mycobacterium tuberculo-
ça. Tem 4 subtipos principais: expansivo superficial sis. A apresentação clínica desta patologia é alta-
(mais comum e altamente curável), nodular, lentigo mente variável, sendo mais frequente uma evolução
maligno (maior relação com exposição solar, em subaguda ou crónica. Reportamos um caso de tu-
idades mais avançadas), acral lentiginoso (mais fre- berculose miliar bacilífera num doente com febre de
quente na raça negra, pouca relação com exposição origem indeterminada.
solar – lesões palmares/plantares/subungueais).
Caso clínico: Homem de 86 anos, indiano, com
Tem o potencial de metastização para qualquer ór- antecedentes de colite ulcerosa, hipertensão arte-
gão. rial e dislipidemia, medicado com sulfassalazina,
antihipertensores e estatina. Internado no contexto
Descreve-se o caso de uma doente de 44 anos com de quadro consumptivo e alterações analíticas,
antecedentes de MM do dorso (T4bN0M0 estadio com anemia normocítica normocrómica, tromboci-
IIC pela American Joint Committee on Cancer) exci- topenia e citocolestase (ALT 89 U/L; AST 125 U/L;
sado em 2014, sem evidência de metastização. Bilirrubina total 0.98 mg/dL; GGT 576 U/L e FA 362
U/L). Imagiologicamente, identificação de litíase
Observada no Serviço de Urgência, em fevereiro de biliar em ecografia, sem cálculos na via biliar princi-
2020, por quadro de síncope, com queda da própria pal, e evidência de remissão da colite ulcerosa em
altura. Referia queixas de omalgia direita, com im- colonoscopia total. Serologias virais e estudo de
potência funcional do membro. Ao exame objetivo, autoimunidade negativos. Durante o internamento,
objetivou-se tumefação pétrea clavicular direita apresentou picos febris vespertinos com 2 dias de
(3x2 centímetros de diâmetro) e parésia do membro intervalo, sem evidência clínica de infeção, sem
superior direito - grau III?.  Segundo familiares, com elevação de parâmetros inflamatórios e sem micror-
quadro de cefaleia e náuseas com cerca de 2 se- ganismos isolados nas hemoculturas e uroculturas.
manas de evolução, associadas a perceção de fala TC toracoabdominopélvico a demonstrar densifi-
mais arrastada, irritabilidade e agressividade verbal cação nodular difusa bilateral do parênquima pul-
não habituais. Avaliada também por Ortopedia, que monar e adenomegalias lomboaórticas, com maior
excluiu luxação/fratura do ombro. expressão lateroaórtica esquerda. Prosseguiu-se
no estudo, com broncofibroscopia para colheita de
Realizou Tomografia Computorizada (TC) crânio-en- secreções brônquicas e lavado broncoalveolar, a
cefálica que revelou volumosa lesão expansiva no destacar exame direto de secreções brônquicas e
hemisfério cerebeloso esquerdo com edema do pa- teste de amplificação de ácidos nucleicos (TAAN)
rênquima adjacente e condicionando desvio anterior positivos. Diagnosticada tuberculose disseminada
e lateral direito do IV ventrículo – alterações compa- com atingimento pulmonar confirmado, a condicio-
tíveis com secundarização. nar insuficiência respiratória, hepático e ganglionar.
Instituída terapêutica antibacilar com melhoria do
Foi internada para estudo de lesão primária, tendo
quadro hematológico, hepático e respiratório.
realizado TC de corpo que evidenciou polimestas-
tização: óssea (clavícula direita com lesão lítica), Conclusão: Os autores realçam este caso de tu-
ganglionar, pulmonar, pancreática e suprarrenal. berculose miliar por se tratar de uma entidade que
Biópsia óssea clavicular compatível com melanoma passa frequentemente despercebida pela sua apre-
metastático. sentação inespecífica.
Teve evolução clínica desfavorável, com óbito 20 P n.º 2708 
dias depois. Hemofilia A adquirida- um caso não tão óbvio
Ana da Mota Magalhães(1);André Bernardes(1);Tia-
De acordo com orientações atuais, em doentes
go Dias da Costa(1);Ana Linda Borges(1);Carlos Fili-
assintomáticos, estadios I e II, o follow-up com exa-
pe(1);Lèlita Santos(1);Armando de Carvalho(1)
828
E-POSTERS
(1) Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra / pital de Santa Maria (2) Hospital de Vila Franca de
Hospitais da Universidade de Coimbra Xira
Tema: Doenças hematológicas Tema: Doenças oncológicas

Introdução: A Hemofilia A adquirida é uma doença Introdução: O fibrinogénio, glicoproteína produzida


hematológica rara, potencialmente fatal e associada no fígado, desempenha um papel fundamental na
a processos neoplásicos ou doenças autoimunes. coagulação, pela sua conversão em fibrina. Um nível
A sua etiopatogénese reside na presença em circu- inferior a 100mg/dL associa-se frequentemente a
lação de auto anticorpos (inibidores) contra o fator sintomas hemorrágicos graves. A hipofibrinogené-
VIII. A sua apresentação clínica difere fortemente da mia adquirida e não associada a doença hepática é
forma congénita e caracteriza-se por hematomas uma entidade rara.
e hemorragia gastrointestinal e urinária ao invés de
hemartrose. CASO CLÍNICO: Homem de 73 anos, com hemato-
mas dispersos na parede abdominal, mão esquerda
Caso Clinico: Apresentamos um caso clínico de e pé direito, associados a dor abdominal com irra-
uma mulher de 88 anos que recorreu ao SU por diação lombar com 3 dias de evolução e história de
hematomas generalizados nos membros superio- perda ponderal (20kg) no último ano. Negava histó-
res, inferiores e abdómen e astenia com 1 mês de ria de traumatismo ou queda. Em avaliação analítica
evolução.  Apresentava hipotensão, taquicardia e apresentava níveis de antigénio específico prostá-
mucosas descoradas e desidratadas. Dos ante- tico (PSA) 1147.9ug/dL. Realizada ainda ecografia
cedentes pessoais destacava-se: Diabetes tipo 2, prostática suprapúbica que revelou Hiperplasia
HTA, Infeção por SarsCov2 3 meses antes, e pênfigo Benigna da Próstata (HBP) e ecografia prostática
bolhoso. Analiticamente: Hb 6.4 g/dL, VCM 92.2 fL, transretal que revelou HBP com lobo médio prostá-
Ht 21.2% e aPTT 119.3 seg.  Esfregaço do sangue tico com 8.6 mm e zona periférica heterogénea com
periférico com anisocitose e anisocromia. Por he- vários nódulos hipoecogénicos.
matomas extensos no local de punção, ausência
de história traumática e considerando a idade do Analiticamente apresentava bicitopénia ligeira, hi-
doente foi colocada a hipótese de hemofilia ad- percalcémia e ligeiro aumento dos parâmetros de
quirida e pedido estudo dirigido que revelou Fator retenção azotada, sem alterações da função hepá-
VIII < 0.4% e inibidores de fatores da coagulação tica. Do estudo da coagulação, apresentava níveis
com pesquisa positiva com título de 53.50 pelo de fibrinogénio 81mg/dL, tempo de protrombina
método Nijmegen. Para estudo do fator etiológico 17.4seg, INR 1.7, D-dímeros 34.18ug/dL, Fator X
foram realizados vários exames complementares, 36%, sem outras alterações de relevo. O estudo por
nomeadamente serologias para VHC e VHB, anti- tomografia computorizada toraco-abdomino-pélvica
coagulante lúpico e restante autoimunidade, que se mostrava lesões osteolíticas difusas sugestivas
revelaram negativos. A endoscopia digestiva alta de extensa metastização e um moderado aumento
não mostrou alterações de relevo. Realizada PET-CT prostático com área assimétrica procidente à es-
abdominal e pélvica que demonstrou vegetações querda. Realizada biópsia prostática transretal que
vesicais na parede postero-superior condicionando mostrou adenocarcinoma acinar da próstata, score
dilatação pielocalicial à esquerda assim como di- Gleason 7. Efetuou terapêutica com Concentrado de
latação do ureter esquerdo em toda a extensão em Fibrinogénio para profilaxia hemorrágica e vitamina
associação com neoplasia urotelial, provável fator K para correção do INR, sem normalização a longo
etiológico da hemofilia. Realizou imunossupressão prazo. Um mês após o início de quimioterapia com
com azatioprina 100 mg e prednisolona 60 mg com Degarrelix, os valores de fibrinogénio normalizaram
diminuição dos inibidores de fatores da coagulação e os hematomas regrediram.
assim como reposição de fator VIII com FEIBA (fac-
tor eight inhibitor bypassing activity) tendo à data da DISCUSSÃO: No caso clínico apresentado, a causa
alta um valor de 24%. da hipofibrinogenémia isolada foi uma manifesta-
ção paraneoplásica, tendo revertido com o início do
Conclusão: Inicialmente foi colocada a hipótese tratamento da neoplasia. Estes doentes devem rea-
diagnóstico do pênfigo vulgar como estímulo, no lizar terapêutica com concentrado de fibrinogénio
entanto, com o avanço do estudo e da marcha diag- previamente a procedimentos invasivos ou quando
nóstica conclui-se a neoplasia como fator etiológi- apresentam discrasia ativa.
co. Deste modo, com este caso clínico pretende-se
destacar as neoplasias uroteliais como causas de P n.º 2722 
hemofilia. “Celecoxib: DRESS code failure“
Adriana Henriques(1);Beatriz Mendes(1);Adriana
P n.º 2709  Girão(1)
UM CASO RARO DE HIPOFIBRINOGENÉMIA ADQUI- (1) Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra /
RIDA Hospitais da Universidade de Coimbra
Catarina Câmara(1);Sara Tereso(1);João Go-
mes(1);Laura Pereira(2);Carlos Machado e Costa(1) Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá-
(1) Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE / Hos- ticas

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 829


Introdução: DRESS (Drug reaction with eosinophi- isoniazida durante 6 meses. Recorreu ao Serviço
lia and systemic symptoms) é uma condição rara de Urgência (SU) com quadro de febre diária, tosse
que se estima que ocorra em 0,9 a 2 pessoas por seca, dispneia para pequenos esforços, astenia,
100.000 doentes por ano. A mortalidade de doentes mialgias, anorexia, perda de peso e sudorese no-
com DRESS é estimada entre 10 a 20%, sendo o en- turna com cerca de 2 meses de evolução. Tinha
volvimento grave de órgão e a insuficiência multior- sido excluída infeção por SARS-CoV-2, realizado
gânica a principal causa de morte. antibiótico e corticoterapia (6 dias), com recrudesci-
mento da febre e dos sintomas constitucionais uma
Caso Clínico: Mulher, 63 anos, recorreu à urgência semana após suspensão do tratamento, pelo que
por náuseas, vómitos, intolerância alimentar, dor no recorreu ao SU. Realizou tomografia computorizada
hipocôndrio direito e noção de icterícia com 10 dias torácica que mostrou opacidades em vidro despoli-
de evolução. Negou contacto com animais, consu- do periféricas bilaterais, com sinal do halo invertido
mo de produtos não pasteurizados, marisco, chás e algumas consolidações com broncograma aéreo.
de ervanária ou água não canalizada. Ao exame Analiticamente, proteína C reativa 87,5mg/L, sem
físico apresentava-se apirética, com escleras e pele leucocitose e anemia ligeira (hemoglobina 11,6g/dl),
ictéricas; dor à palpação e percussão superficial do sem mais alterações de relevo. Do estudo serológi-
hipocôndrio e flanco direitos, sem defesa abdomi- co alargado realizado no internamento, detetou-se
nal ou hepatomegalia. Analiticamente, apresentava IgM para Mycoplasma pneumoniae (M. pneumo-
lesão hepática de padrão hepatocelular (AST 47x niae). Realizou biópsia pulmonar transtorácia que
Limite superior do normal (LSN), ALT 76xLSN, FA revelou alterações histológicas compatíveis com
3xLSN, GGT 8xLSN), hiperbilirrubinemia à custa da PO. A doente teve alta ao 8º dia de levofloxacina e
directa (12,4/8,6mg/dl) e prolongamento do tempo sob corticoterapia, com apirexia sustentada e me-
de protrombina. A ecografia abdominal mostrou fí- lhoria significativa do estado geral e dos parâmetros
gado de textura homogénea, embora hiperreflectivo, inflamatórios, com indicação para não reiniciar a
em provável relação com esteatose. Assumindo-se estatina em ambulatório.
quadro de hepatite aguda de etiologia indetermina- A PO é um diagnóstico raro, sendo que a apresen-
da internou-se para realizar estudo complementar. tação clínica da forma secundária ou criptogénica
Excluiu-se causa infeciosa ou autoimune. Na anam- é semelhante. A PO secundária à infeção por M.
nese referiu toma recente e prolongada de celecoxib pneumoniae está descrita na literatura, bem como a
por dorsolombalgia crónica agravada. Ao 17º dia de sua associação ao uso de estatinas. Os corticóides
internamento desenvolveu febre, alteração do esta- são o tratamento de escolha na PO, no entanto este
do de consciência e agravamento da enzimologia caso alerta-nos para a importância de investigar
hepática. Posteriormente surgiu exantema macu- potenciais fatores que possam estar associados em
lopapular generalizado. Assumindo-se forte pro- simultâneo ao desenvolvimento de PO.
babilidade de DRESS, introduziu-se corticoterapia
em dose elevada, com melhoria clínica e analítica P n.º 2727 
progressiva. A biópsia cutânea foi compatível com Colangiopatia pós COVID-19: uma nova entidade
toxidermia. Margarida Mourato(1);Filipa Bordalo Ferreira(1);-
Joana Batista Paulo(1);Zsofia Santos(1);Zélia Ne-
Discussão: A apresentação tardia de exantema ves(1);Rita Dutschmann(1)
cutâneo num quadro de aparente hepatite tóxica (1) Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca
e a descrição na literatura de apenas um caso de
DRESS associado ao celecoxib tornou este caso um Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá-
desafio diagnóstico. ticas
P n.º 2726 
Pneumonia Organizativa: vários agentes causado- A colangiopatia pós COVID-19 é uma entidade
res? recentemente descrita em doentes com infeção
Carla Campinho Ferreira(1);Catarina Cerquei- grave por SARS-CoV-2, parecendo corresponder a
ra(1);Eulália Antunes(1);Joana Rita Lopes(1);Maurí- uma variante da colangite esclerosante secundá-
cio Peixoto(1);Sofia Caridade(1);Vânia Gomes(1) ria do doente crítico (CES-DC). Contudo, os casos
(1) Hospital de Braga descritos de colangiopatia pós COVID-19 sugerem
a existência de mecanismos de lesão hepática es-
Tema: Doenças respiratórias pecíficos da infeção SARS-CoV-2,  o que se pode
refletir nalguns aspetos histológicos diferentes dos
Pneumonia organizativa (PO) é um diagnóstico da CES-DC.
histopatológico que pode ocorrer na ausência de
contexto etiológico, designada PO criptogénica, ou Apresentamos o caso de uma mulher de 63 anos,
associada a infeções ou fármacos, por exemplo, melanodérmica, autónoma, com hipertensão arterial
designando-se PO secundária. e excesso de peso. Internada em unidade de cuida-
dos intensivos (UCI) durante 25 dias por COVID-19
Mulher de 65 anos, com antecedentes de dislipide- grave, com necessidade de ventilação mecânica
mia, medicada com estatina, anemia ferropénica invasiva e decúbito ventral.
e tuberculose latente há 5 anos, medicada com

830
E-POSTERS
Posteriormente transferida para uma enfermaria de de Hepatite virica, que foi excluído pelas serologias
Medicina Interna para esclarecimento de padrão de negativas tal como para Neisseria gonorrhoeae  e
citocolestase com hiperbilirrubinemia de novo. Chlamydia trachomatis. Analiticamente apresentava:
Leucócitos 17 x10^9/L, PCR 9.27. Foi realizada to-
Cumpriu antibioterapia por colangite bacteriana modensitometria abdominopélvica que mostrou he-
complicada com abcesso hepático, contudo, com patomegalia marcada, padrão em nutmeg no estudo
manutenção de citocolestase e hiperbilirrubinemia, dinâmico e hiper-realce e espessamento capsular
tendo atingindo valores máximos de ALT 550 U/L, ao nível do contorno lateral do lobo direito hepático.
AST 1179 U/L, FA 2160 U/L, GGT 2384 UI/L e bilirru- Tendo em conta os aspetos descritos, a clínica, e os
bina total 7,13 mg/dl. A colangiopancreatografia por antecedentes de instrumentação uterina foi assumi-
ressonância magnética (CPRM) e biópsia hepática do o diagnóstico de Síndrome de Fitz-Hugh-Curtis.
revelaram achados compatíveis com colangite es- Iniciou metronidazol e doxicilina de forma empírica
clerosante. que cumpriu durante 4 dias. Com boa resposta à
terapêutica analgésica instituída.
Por recorrência de colangite, fez colangiopancrea-
tografia endoscópica retrógrada (CPRE) que iden- Conclusão: Com este caso clínico pretende-se des-
tificou litíase da via biliar principal e microlitíase tacar a perihepatite como diagnóstico diferencial de
intra-hepática (cálculos negros) com vias biliares dor abdominal aguda em doentes do sexo feminino
intra-hepáticas rarefeitas com dilatações focais. com idade jovem e realçar a importância da anam-
nese na marcha diagnóstica que permitiu evidenciar
Constatou-se melhoria clínica e estabilidade analíti- a colocação recente de dispositivo intrauterino que
ca, pelo que a doente teve alta encaminhada para o apesar de ser um dos métodos contracetivos de in-
centro de referência de transplante hepático, estan- tervalo mais usados e mais seguros no mundo intei-
do a aguardar a abordagem subsequente. ro pode acarretar um risco aumentado de infeções
pélvicas devido à manipulação do trato genital.
Dado ser uma patologia que caracteristicamente
evoluiu para doença hepática terminal, para a qual P n.º 2731 
não existe tratamento eficaz, e tendo em conta o Distrofia muscular e insuficiência cardíaca – uma
elevado número de infeções graves COVID-19, é associação pouco comum
essencial reconhecer a existência desta nova enti- João Pedro Franco Pais(1);Rita Vilar de Mo-
dade. ta(1);Marta Batoca Sousa(1);Nuno Pardal(1);Luís
Costeira Pereira(1);Patrícia Sôra Sobrosa(1);Ângela
P n.º 2728 
Paredes Ferreira(1);Ana Nascimento(1);Diana Guer-
Síndrome de Fitz-Hugh-Curtis – um caso atípico
ra(1)
Ana Mota Magalhães(1);Tiago Dias da Costa(1);Ana
(1) Unidade Local de Saúde do Alto Minho, EPE /
Linda Borges(1);Lèlita Santos(1);Armando de Carva-
Hospital de Santa Luzia
lho(1)
(1) Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra / Tema: Doenças raras
Hospitais da Universidade de Coimbra
Tema: Doenças gastrenterológicas e doenças hepá- Introdução: A distrofia muscular tipo 1 (DM1)
ticas é a distrofia muscular hereditária mais comum
na população adulta, com uma prevalência
estimada de 1/8000. Classicamente, esta
Introdução: A síndrome de Fitz-Hugh-Curtis, tam-
patologia apresenta-se com miotonia, fraqueza
bém designada por perihepatite, é um processo
muscular, cataratas e alterações cardíacas,
inflamatório intra-abdominal que afeta a cápsula de
nomeadamente do sistema de condução. Apesar
Glisson sem atingimento do parênquima hepático.
da disfunção ventricular esquerda não ser uma
Tem como principal etiologia a infeção ascendente
das manifestações mais comuns da DM1, pode
do trato genitourinário por agentes como a Neisse-
ser observada com a progressão da doença,
ria gonorrhoeae e Chlamydia trachomatis e pode ser
normalmente associada a cardiomiopatia dilatada.
considerada como uma manifestação crónica da
doença inflamatória pélvica.
Caso clínico: Relata-se o caso de um homem de 71
anos, ex-fumador, com antecedentes pessoais de
Caso Clinico: Os autores apresentam o caso clinico
fibrilação auricular (FA) permanente e antecedentes
de uma doente do sexo feminino, 22 anos, cauca-
familiares de distrofia miotónica tipo 1. Apresentava
siana e autónoma, que recorreu ao SU por dor ab-
clinica de dispneia para esforços progressivamente
dominal no hipocôndrio direito que irradiava para a
menores, associada a ortopneia com 3 meses de
região lombar, e febre associada com uma semana
evolução. Adicionalmente com queixas de disfonia,
de evolução. Negava náuseas, vómitos, diarreia,
disfagia ocasional para líquidos e sólidos, astenia,
disúria e menometrorragias. Ao exame objetivo
anorexia e perda ponderal não quantificada.
apresentava hepatomegalia dolorosa, sem nódulos
Da avaliação objetiva, no serviço de urgência,
palpáveis, sem outras alterações relevantes. Ante-
destaca-se a presença de crepitações inspiratórias
cedentes pessoais de cardiopatia congénita e ins-
bilaterais. Analiticamente, com elevação de BNP
trumentação uterina recente (DIU no mês anterior à
(754,9 pg/mL) e insuficiência respiratória tipo
vinda ao SU). Inicialmente colocou se o diagnóstico

27º Congresso Nacional de Medicina Interna 831


1. O eletrocardiograma revelou FA e bloqueio O Point-of-care-ultrassound (POCUS) identificou der-
completo de ramo esquerdo. O ecocardiograma rame pericárdio de grande volume, com aderências,
transtorácico revelou disfunção sistólica severa do sem comprometimento significativo do enchimento
ventrículo esquerdo, com fração de ejeção (FE) de do ventrículo ou aurícula direitos. Derrame pleural
36%; e a ressonância magnética cardíaca revelou de moderado volume, bilateral com atelectasia pas-
dilatação do VE com compromisso da função e siva das regiões pulmonares adjacentes e ascite de
alterações sugestivas de cardiopatia isquémica. O pequeno volume.
cateterismo cardíaco não revelou lesões coronárias
significativas. O estudo genético mostrou Apresentava insuficiência respiratória tipo 1 e lacta-
expansão patogénica do gene DMPK, confirmando to de 1.9.
diagnóstico de DM1, assumindo-se como provável
etiologia da IC.   O electrocardiograma era compatível com pericardi-
te.
Discussão: Apresenta-se este caso clínico, pois
apesar da presença de dilatação e disfunção do VE O doente foi admitido em Unidade Intermédia.
não ser incomum na DM1, a apresentação inicial
Optou-se por realizar inicialmente toracocentese
desta patologia como quadro de IC descompensada
ecoguiada. O doente iniciou terapêutica com acetil-
raramente é descrita na literatura, sendo que a
salicilato de lisina, colchicina e furosemida, melho-
clínica de IC surge mais frequentemente nas fases
rando o perfil tensional e os sintomas. Após estabi-
mais tardias de evolução da DM1.
lização, completou tratamento e estudo etiológico
P n.º 2744  em enfermaria.
Point-of-care-ultrassound (POCUS) no Serviço de
Discussão e Conclusões:
Urgência – da orientação às técnicas invasivas
Joana Gomes Cochicho(1);José Mariz(2);Jorge Tei- A abordagem no serviço de urgência implica a es-
xeira(2) tabilização do doente e o seu correto encaminha-
(1) Unidade Local de Saúde do Norte Alentejano - mento. O POCUS assume-se como uma ferramenta
Hospital de Portalegre (2) Hospital de Braga crucial tanto como complemento ao exame físico,
como na realização de técnicas invasivas.
Tema: Urgência, cuidados intermédios e doente crí-
tico Atualmente, a formação em POCUS é reconhecida
como essencial na área de emergência, em diversos
Introdução: países. Apresentamos este caso clínico por ser de-
monstrativo do benefício da sua utilização no Servi-
ço de Urgência, permitindo uma abordagem célere e
A dor torácica é um dos sintomas mais frequentes
assertiva perante um sintoma comum.
no Serviço de Urgência e apresenta uma grande
diversidade de causas associadas. Consequen- P n.º 2745 
temente, a abordagem destes doentes implica a Longo caminho até ao diagnóstico da leucemia
identificação rápida de etiologias que constituem Ana Rita Rocha(1);Catarina Pinto Marques(1);Mar-
emergências. garida Lopes(1);José Vaz(1)
(1) Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo, EPE /
Caso Clínico:
Hospital José Joaquim Fernandes
Apresentamos o caso de um doente do sexo mas-
Tema: Doenças hemat

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