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Transferência de Calor Industrial

1.1 Conceitos Fundamentais

Neste tópico são apresentados conceitos fundamentais; uma breve descrição,


importância e alguns exemplos de aplicações de transferência de calor e massa.

1.1.1 Importância de Transferência de Calor (Energia) e Massa

A Civilização Moderna depende fortemente de como ela manuseia e usa sua energia,
energia esta suprida através de recursos naturais, nem sempre fáceis de serem explorados.
O uso de energia pode ser identificado como trabalho, potência e calor, mas na
realidade o trabalho e potência que são usados finalmente degeneram em calor. Calor é a troca
de energia entre objetos (sistemas) “quentes” e “frios” e a troca ocorre espontaneamente do
“quente” para o “frio”
(Transferência) de Calor é a ciência que explica e prediz quão rápida ocorre a troca de
energia como calor. É a ciência que integra as várias ferramentas analíticas e empíricas
provendo um fórum, um corpo de conhecimento, para projetistas, construtores, operadores,
gerentes e pesquisadores de forma mais acurada estudar calor como uma troca de energia.
A preocupação com energia, sua conservação ou economia pela sociedade requer
numa extensão importante a compreensão dos conceitos de transferência de calor e
transferência de massa.
Alguns casos de aplicação de transferência de calor:
- isolamento (por fibra de vidro) de tetos e paredes de edifícios para manter determinadas
condições climáticas;
- quantificação da perda de energia através de janelas modernas e isoladas para manter o
ambiente confortável tanto no inverno quanto no verão;
- projeto e operação de geradores de vapor (caldeiras) ou ebulidores requer a compreensão
da transferência de calor que ocorre da queima (combustão) de carvão, gás ou óleo para a
água nos tubos;
- projeto e construção de um radiador (convector) para um motor de automóvel para mantê-
lo “frio” quando em operação envolve transferência de calor e massa;
- dissipação de calor em linhas de potência elétrica devido à resistência elétrica;
- proteção de cabos elétricos contra fogo e altas temperaturas;
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- manutenção de temperaturas adequadas em circuitos de computadores e outros sistemas;


- condicionamento de ar para conforto térmico;
- processos sanitários, manuseio de lixo, esterilização;
- manuseio e processamento de alimentos.
Transferência de massa é o estudo do movimento de massa de um local para outro
através do uso de dispositivos mecânicos ou naturalmente devido à diferença de densidade. A
diferença de densidade provoca difusão (transporte microscópico) de massa (uma espécie
penetra em outra) ou convecção natural (transporte macroscópico) de massa. Os dispositivos
mecânicos (bombas, ventiladores e compressores) provocam difusão e convecção forçada de
massa. Exemplos onde ocorrem transferência de massa:
- processos químicos;
- poluição do ar;
- combustão;
- processos criogênicos (baixas temperaturas) tais com produção de N2, H2 e O2 líquidos,
gelo seco (CO2 líquido)

1.1.2 Conceitos

1.1.2.1. Sistema Físico

Um sistema físico pode ser considerado com sendo constituído de um sistema material
(subsistema 1) mais um campo de radiação (subsistema 2). O sistema material, geralmente,
considerado como meio contínuo, é composto a nível elementar de moléculas( incluindo íons
e átomos), de elétrons e de partículas fictícias tais como fónons (quanta de energia vibracional
num sólido), etc.
Um meio pode ser considerado como contínuo quando o menor elemento de volume
ainda contém de 1015 a 1020 moléculas. Sob determinadas condições físicas, tais elementos
podem ser caracterizados estatisticamente por propriedades físicas macroscópicas médias
sobre todas as moléculas que eles contém (massa média, velocidade, pressão ou temperatura).
O campo de radiação eletromagnética é caracterizado em escala macroscópica pela
definição em cada ponto r do espaço e para cada direção Δ de uma quantidade Iν′ , a

intensidade monocromática relacionada com a freqüência ν . O campo de radiação resulta da


distribuição de fótons (quanta de energia particular de Bose-Einstein que em repouso possuem
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massa nula) cada caracterizado pela freqüência ν , momentum p e spin s. Um quanta tem
energia e = hν , onde h = 6, 6256 x10−34 Js é a constante de Planck.

1.1.2.2 Equilíbrio Termodinâmico

Em termodinâmica, o conceito de equilíbrio termodinâmico perfeito envolve equilíbrio


térmico (T uniforme), equilíbrio mecânico (p uniforme) e equilíbrio químico (potencial
químico μ uniforme) e é utilizado para equacionamento dos problemas. O equilíbrio térmico
significa que o sistema material é isotérmico a temperatura T; o campo de radiação tem uma
distribuição uniforme dependente apenas de T; o campo de radiação e sistema material estão
na mesma temperatura. Entretanto, para ocorrer transferência de calor, os sistemas devem
estar em não equilíbrio térmico.

1.1.2.3 Equilíbrio Termodinâmico Local

O não equilíbrio térmico causa a transferência de calor devido colisões entre


moléculas ou entre moléculas e uma parede; interações moléculas/fótons (absorção, emissão
espontânea, emissão estimulada); interações entre fónons, entre fónons e elétrons, elétrons e
fótons, outras interações. Como as leis da termodinâmica são utilizadas para equacionar
problemas de transferência, tem-se que lançar mão do conceito de equilíbrio termodinâmico
local (LTE).
A hipótese de equilíbrio termodinâmico local permite definir variáveis físicas
T (r , t ), p(r , t ), μ (r , t ) , etc. em qualquer instante de tempo e para cada ponto r . Sob esta
hipótese, pode-se assumir que durante um intervalo dt e em um elemento de volume
arbitrariamente pequeno (mas macroscópico, contínuo) o sistema material está localmente
infinitamente próximo a um estado de equilíbrio, descrito por propriedades intensivas e
extensivas.
Em LTE adotado para estudo de problemas de transferência de calor o sistema físico é
o local dos seguintes processos macroscópicos irreversíveis com os quais um fluxo está
associado:
- relativo a um elemento de matéria, o efeito cumulativo em escala macroscópica do
transporte de várias quantidades físicas (carga elétrica, no de um dado tipo, energia) por
partículas (moléculas, elétrons, fónons, etc) traduz para fluxos por difusão: condução
elétrica, difusão de uma espécie em outra, condução térmica;
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- simultaneamente associado com cada transferência macroscópica por um movimento


global de parte do sistema material estão associados fluxos macroscópicos de carga
elétrica, energia, etc. Estes são chamados fenômenos convectivos: convecção elétrica,
convecção térmica, etc.;
- interações entre moléculas do sistema material e os fótons do campo de radiação, quando
eles não estão em equilíbrio térmico resulta num fluxo macroscópico de energia na forma
de radiação.

1.1.2.4 Meio Contínuo

Em teoria cinética dos gases o conceito de meio contínuo é apresentado através da


seguinte definição de temperatura:


3 mv s2
Nk B T = (1.1.1)
2 s =1
2

na qual N é o no de átomos idênticos de massa m cada em equilíbrio térmico num elemento de


volume dV ( N ≈ 1015 − 10 20 ) o meio é considerado contínuo; k B = 1,38054 x10 −23 J / K é a

constante de Boltzmann e v s é velocidade de um átomo em relação a dV.

1.1.2.5 Modos Principais de Transferência de Energia

Os modos principais de transferência de energia na forma de calor são condução,


convecção e radiação. A condução térmica ocorre através de um elemento material no qual
existe um gradiente de temperatura. Ela representa o efeito global do transporte de energia por
portadores elementares (moléculas, fónons, elétrons, etc).
Em fluidos os portadores elementares (moléculas, átomos, íons, etc.) são
caracterizados por energia de translação, possivelmente vibração e rotação, energia eletrônica.
Em sólidos os átomos são arranjados em uma estrutura cristalina mais ou menos
perfeita. Os vetores de energia são fónons (quanta de vibração da estrutura cristalina) e talvez
elétrons livres (condução elétrica e térmica).
Em radiação, energia é permanentemente trocada entre um sistema material e um
campo de radiação pelos seguintes processos:
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- emissão espontânea de radiação que consiste na conversão de energia térmica (energia de


vibração ou rotação, energia eletrônica, energia de fónons, etc. para uma energia radiativa
(de fótons);
- absorção de radiação pela conversão inversa de energia radiativa para energia térmica.
Sob o ponto de vista de radiação, pode-se definir três tipos de meio, Figura 1.1.1:
- meio transparente como aquele que não emite, não absorve, não reflete ou difunde, mas
transmite toda radiação incidente qualquer que seja sua direção e freqüência;
- meio opaco que não transmite qualquer radiação incidente (Ii) que pode ser absorvida (Ia)
ou refletida (Ir). O meio opaco também pode emitir a radiação (Ie);
- meio semi-transparente que reflete, absorve ou difunde a radiação incidente, ou transmite
ela em distâncias finitas.

Figura 1.1.1 Radiação em meios transparente e opaco

1.1.2.6 Objetivos e Convenções

O objetivo principal é determinar para qualquer sistema em LTE, a evolução do campo


de temperatura T (r , t ) e o fluxo de energia (para todas as formas de energia) que é necessário
para controlar o processo. Um processo será em regime transiente (RT) se as quantidades
físicas A (escalares, vetores, tensores) dependem do tempo, isto é,
∂A(r , t )
≠0 (1.1.2)
∂t
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Para processos em regime permanente (RP), não há variação das grandezas físicas com o
tempo. Ou seja,

∂A(r , t )
=0 (1.1.3)
∂t

Define-se fluxo de energia como a potência dΦ (em Watts) atravessando um


elemento de superfície dS , cuja normal é n e cujo vetor densidade de fluxo é q [W/m2],
Figura 1.1.2. Numericamente,

dΦ = q • n dS . (1.1.4)

Define-se a densidade de fluxo [W/m2] como

q ′′ = q • n . (1.1.5)
ou


q ′′ = . (1.1.6)
dS

Figura 1.1.2 Vetor densidade de fluxo através de um elemento dS com normal n .

Nos processos de condução térmica, define-se o vetor densidade de fluxo condutivo,


pela Lei de Fourier, como
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q cd = −k∇T , (1.1.7)

na qual k é denominada condutividade térmica do material que pode depender da temperatura

e da direção espacial (caso em que k é um tensor e q cd = − k • ∇T ). O sinal negativo na Lei


de Fourier é requerido pela 2a Lei da Termodinâmica. O fluxo condutivo pode, então, ser
calculado na forma

∂T
q ′′ = q cd • n = −k∇T • n = − k , (1.1.8)
∂n

para q ′′ no sentido da normal ao contorno.


Compare a Lei de Fourier com as leis de Ohm e Fick. A Lei de Ohm estabelece que o
vetor densidade de corrente j é dado na forma:

j = σE = −σ∇Vel , (1.1.9)

na qual E é o campo elétrico, σ é a condutividade elétrica e Vel é o potencial elétrico. Já a

Lei de Fick de difusão de massa, estabelece que a taxa de difusão jα de uma espécie α numa

espécie β é definida pela equação

jα = − Dαβ ∇Cα , (1.1.10)

na qual Dαβ é a difusividade de α em β e Cα é a concentração molar definida por

ρ nα
Cα = , (1.1.11)
M n
onde ρ é a massa específica da mistura e M é o peso molecular da mistura.
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1.2. Condução de Calor Unidimensional em Regime Permanente

A equação da condução de calor nos casos mais genéricos pode ser encontrada em
livros textos de transferência de calor. No caso unidimensional em regime permanente, há
fluxo de calor predominante em uma dada direção, independente do tempo.

1.2.1 Paredes Planas

Considere o caso de uma parede plana de espessura L ao longo do eixo x, e infinita em


y e z, com temperaturas especificadas, T0 em x = 0 e TL em x = L, Figura 1.2.1. Suponha que
o material da parede seja isotrópico e homogêneo e que não há geração interna de energia na
parede. Com as hipóteses consideradas, este problema é governado pelo conjunto de
equações:
d 2T
=0 (1.2.1)
dx 2
T = T0 em x = 0 (1.2.2)

T = TL em x = L (1.2.3)

Figura 1.2.1 Condução através de uma parede plana. Resistência térmica.

A solução da Eq. (1.2.1) é obtida integrando-se duas vezes a Eq. (1.2.1), obtendo-se o
resultado: T = c1 x + c2 . As constantes de integração podem ser obtidas usando as Eqs. (1.2.2)
e (1.2.3), cujo resultado final é uma variação linear da temperatura com x na forma:
x
T = T0 + (TL − T0 ) (1.2.4)
L
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A partir da Eq. (1.2.4) obtém-se que o gradiente de temperatura ao longo da parede é


independente de x , devido à variação linear da temperatura, dT / dx = (TL − T0 ) / L , e,

portanto, o fluxo de calor através da parede pode ser calculado como


dT k
q′′ = − k = (T0 − TL ) (1.2.5)
dx L
A taxa de calor atravessando a fronteira é obtida multiplicando o fluxo de calor pela
área da superfície A , assim,
kA
q = q′′A = (To − TL ) (1.2.6)
L

1.2.1.1 Resistência Térmica

O inverso de kA / L é denominado de resistência térmica da camada e, portanto,


define-se:
L
Rt = (1.2.7)
kA
Combinado as Eqs. (1.2.7) e (1.2.6) resulta
To − TL
q= (1.2.8)
Rt
Observe que a taxa de calor como calculada pela Eq. (1.2.8) é completamente análoga à
corrente elétrica que atravessa um circuito com uma única resistência em que há uma
diferença de potencial elétrico. A resistência térmica é ilustrada na Figura 1.2.1

1.2.1.2 Paredes Compostas

Se a parede for constituída de várias camadas de espessura Li e condutividade térmica

ki , a resistência térmica de cada camada será

Li
Rt ,i = (1.2.9)
ki A
A resistência térmica total será a associação em série das resistências individuais, ou seja,
Li
Rt = ∑ (1.2.10)
i ki A
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Como exemplo, considere o caso de uma parede composta de três camadas de


materiais isotrópicos homogêneos, como ilustrado na Figura 1.2.2. Neste caso, a taxa de calor
pode ser calculada como
To − TL
q= (1.2.11)
L1 / k1 A + L2 / k2 A + L3 / k3 A

Figura 1.2.2 Parede composta e sua resistência térmica.

1.2.1.3 Coeficiente Global de Transferência de Calor

No caso de trocadores de calor, por exemplo, geralmente, a parede separa dois campos
de escoamento, com um fluido “quente” em uma das faces da parede e outro fluido “frio” na
outra face; Figura 1.2.3. A transferência de calor do fluido quente para a parede e da parede
para o fluido frio pode ser estimada através do coeficiente de transferência convectiva
definido no capítulo 1. Suponha que do lado do fluido quente a temperatura seja Th com um

coeficiente hh caracterizando a troca de calor do fluido para a parede, e do lado frio a

temperatura seja Tc com um coeficiente hc caracterizando a troca de calor da parede para o


fluido. Neste caso, têm-se as seguintes equações:
q′′
Th − T0 = (1.2.12)
hh
L
T0 − TL = q′′ (1.2.13)
k
q′′
TL − Tc = (1.2.14)
hc
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Figura 1.2.3 parede banhada por fluidos em suas faces. Coeficiente global de troca de calor.

Somando as Eqs. (1.2.12) – (1.2.14) obtém-se


⎛1 L 1⎞
Th − Tc = ⎜ + + ⎟ q′′ (1.2.15)
⎝ hh k hc ⎠
Numa forma mais compacta a Eq. (1.2.15) pode ser reescrita como
q′′
Th − Tc = (1.2.16a)
U
Ou na forma
q′′ = U (Th − Tc ) (1.2.16b)

Na qual o coeficiente global de transferência de calor é definido por


1 1 L 1
= + + (1.2.17)
U hh k hc

Exercício 1.2.1: A parede de um incubador de ovos é composta por uma camada de fibra de
vidro de 8 cm entre duas camadas de fórmica de 1 cm cada uma. Do lado de fora a
temperatura é Tc = 10o C e o coeficiente de troca de calor do lado externo do incubador é

hc = 5W / m 2 K . Do lado interno, a temperatura é Th = 40o C e devido um ventilador forçar o

ar internamente sobre os ovos, o coeficiente de troca convectiva é hh = 20 W / m 2 K . Calcule o


fluxo de calor através da parede do incubador.
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1.2.2 Cascas Cilíndricas

Muitos trocadores de calor são constituídos por cascas cilíndricas, como no caso do
trocador de calor conhecido como casco-tubo. Nestes casos, o fluxo de calor não se conserva
como ocorre na parede plana, visto que o gradiente de temperatura depende da posição radial.
Entretanto, a taxa de calor que atravessa a casca deve se conservar pela primeira lei da
termodinâmica. Considere uma casca cilíndrica de comprimento l ; de raio interno ri e cuja

superfície interna esteja a Ti . O raio externo é ro e a temperatura da superfície externa é To . O

fluxo de calor do lado interno é qi′′ e do lado externo será qo′′ ; Figura 1.2.4.

Figura 1.3.4 Condução radial numa casca cilíndrica.

A taxa de calor pode ser calculada se for determinado o fluxo de calor do lado interno,
por exemplo. Esta taxa pode ser estimada como
q = ( 2π rli ) qi′′ (1.2.18)

O fluxo de calor na direção radial pode ser obtido na forma:


⎛ dT ⎞
qi′′ = −k ⎜ ⎟ (1.2.19)
⎝ dr ⎠ r = ri

O que obriga a determinação do campo de temperatura através da casca. A equação


governante para este problema em regime permanente, sem geração interna na parede e
simetria da temperatura é
1 d ⎛ dT ⎞
⎜r ⎟=0 (1.2.20)
r dr ⎝ dr ⎠
18

sujeita às condições de contorno


T = Ti em r = ri (1.2.21)
e
T = To em r = ro (1.2.22)
A seqüência de solução é obtida integrando duas vezes a eq. (1.2.20):
d ⎛ dT ⎞
⎜r ⎟=0 (1.2.23)
dr ⎝ dr ⎠
dT
r = C1 (1.2.24)
dr
dT C1
= (1.2.25)
dr r
T = C1 ln ( r ) + C2 (1.2.26)

A Eq. (1.2.26) deve satisfazer as duas condições de contorno (1.2.21) e (1.2.22), o que
leva aos resultados:
Ti = C1 ln ( ri ) + C2 (1.2.27)

To = C1 ln ( ro ) + C2 (1.2.28)

Após a eliminação de C2 das Eqs. (1.2.27) e (1.2.28) obtém-se


Ti − To
C1 = (1.2.29)
ln ( ri / ro )

Finalmente, subtraindo (1.2.27) de (1.2.26) resulta


⎛r⎞
T − Ti = C1 ln ⎜ ⎟ (1.2.30)
⎝ ri ⎠
e pelo uso de (1.3.29) obtém-se
ln ( r / ri )
T = Ti − (Ti − To ) (1.2.31)
ln ( ro / ri )

dT 1 Ti − To
O gradiente de temperatura pode ser obtido como = . Combinando as
dr r ln ( ri / ro )

equações (1.2.18) e (1.2.19) obtém-se a taxa de calor na forma


2π kl
q= (Ti − T0 ) (1.2.32)
ln ( ro / ri )

Pode-se concluir que a resistência térmica da casca cilíndrica é


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ln ( ro / ri )
Rt = (1.2.33)
2π kl
Pela conservação da taxa de calor pode-se mostrar que
q = ( 2π rli ) qi′′ = ( 2π rl ) q′′ (1.2.34)

E, portanto, o fluxo de calor em qualquer raio será


ri
q′′ = qi′′ (1.2.35)
r
No caso de uma casca composta, por exemplo, de três camadas; Figura 1.2.5, cujos
raios das interfaces sejam r1 e r2 respectivamente com r0 > r2 > r1 > ri , e as temperaturas do

fluido interno seja Th com hi e do lado seja Tc com ho ; a taxa de calor pode ser calculada
como
Th − Tc
q = U i Ai (Th − Tc ) = U o Ao (Th − Tc ) = (1.2.36)
Rt
Na qual a resistência térmica pode ser calculada como
1 ln ( r1 / ri ) ln ( r2 / r1 ) ln ( ro / r2 ) 1
Rt = + + + + (1.2.37a)
hi Ai 2π k1l 2π k2l 2π k3l ho Ao

Figura 1.2.5 Casca cilíndrica composta com transferência convectiva em ambos os lados.

Pela combinação das Eqs. (1.2.36) e (1.2.37) pode-se demonstrar que


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1 1 r ln ( r1 / ri ) ri ln ( r2 / r1 ) ri ln ( ro / r2 ) 1 ri
= + i + + + (1.2.37b)
U i hi k1 k2 k3 ho ro

1 1 ro ro ln ( r1 / ri ) ro ln ( r2 / r1 ) ro ln ( ro / r2 ) 1
= + + + + (1.2.37c)
U o hi ri k1 k2 k3 ho

As áreas das superfícies interna e externa da casca são definidas por


Ai = 2π rli ; Ao = 2π rol (1.2.38)

1.2.3 Cascas Esféricas

A geometria esférica, Figura 1.2.6, pode ser analisada de maneira similar, por notar
que quando a temperatura das superfícies interna e externa são isotérmicas (Ti ,To ) , a

temperatura dentro da casca pode variar apenas radialmente. Neste caso a equação que rege o
problema, com todas as hipóteses simplificadoras consideradas, como no caso do cilindro,
fica na forma:
1 d ⎛ 2 dT ⎞
⎜r ⎟=0 (1.2.39)
r 2 dr ⎝ dr ⎠
sujeita às condições de contorno
T = Ti em r = ri (1.2.40)
e
T = To em r = ro (1.2.41)

Figura 1.2.6 Condução radial através de uma casca esférica.


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Multiplicando a Eq. (1.2.39) por r 2 dr e integrando uma vez resulta


dT dT C1
r2 = C1 ou = (1.2.42)
dr dr r 2
Agora, multiplicando a Eq. (1.2.42) por dr e integrando mais uma vez obtém-se
C1
T =− + C2 (1.2.43)
r
As restrições das condições de contorno levam ao sistema
C1
Ti = − + C2 (1.2.44)
ri
C1
To = − + C2 (1.2.45)
ro

A eliminação de C2 das Eqs. (1.2.44) de (1.2.45) leva ao valor de C1 na forma

ri ro (Ti − To )
C1 = (1.2.46)
ri − ro
Subtraindo a eq. (1.2.44)de (1.2.43) e pelo uso de (1.2.46) obtém-se

ro ⎛ r − ri ⎞
T − Ti = (Ti − To ) ⎜ ⎟ (1.2.47)
r ⎝ ri − ro ⎠

da qual se se obtém o gradiente de temperatura e o fluxo de calor qi′′ definidos


respectivamente por
dT ri ro (Ti − To )
= 2 (1.2.48)
dr r ri − ro

⎛ dT ⎞ ro Ti − To
qi′′ = −k ⎜ ⎟ =k (1.2.49)
⎝ dr ⎠ r = ri ri ro − ri

A taxa de calor pode ser obtida multiplicando o fluxo pela área de troca, no caso de
uma esfera, Ai = 4π ri 2 , resultando

Ti − To
q = 4π kro ri (1.2.50)
ro − ri
Pela observação da Eq. (1.2.50) pode-se concluir que a resistência térmica da casca esférica é

1 ⎛1 1⎞
Rt = ⎜ − ⎟ (1.2.51)
4π k ⎝ ri ro ⎠

No caso de uma casca esférica composta de duas camadas, por exemplo, com
convecção interna e externa, a resistência térmica total será
22

1 1 ⎛1 1⎞ 1 ⎛1 1⎞ 1
Rt = + ⎜ − ⎟+ ⎜ − ⎟ (1.2.52)
hi Ai 4π k1 ⎝ ri r1 ⎠ 4π k2 ⎝ r1 ro ⎠ ho Ao

1.2.4 Raio Crítico de Isolação

Uma aplicação do conceito de resistência térmica é determinação de espessura anular


que deve ser aplicada sobre a superfície externa de uma parede cilíndrica de temperatura
conhecida Ti . A função da camada isolante colocada entre o raio ri e ro é reduzir a taxa total

de transferência de calor entre o corpo interno e o fluido ambiente a T∞ e coeficiente h de


troca convectiva. A Figura 1.2.7, no alto à direita, ilustra a camada de isolante térmico.
A taxa total de transferência de calor varia inversamente com a resistência térmica,
porque q = (Ti − T∞ ) / Rt . A resistência térmica neste caso pode ser calculada como

ln ( ro / ri ) 1
Rt = + (1.2.53)
2π kl h ( 2π rol )

Para h e k constantes, Rt será uma função do raio externo ro . E quando a resistência térmica

alcançar um mínimo a taxa de calor atingirá um máximo. Derivando Rt da Eq. (1.2.53) em

relação a ro resulta ∂Rt / ∂ro = 1 / 2π klro − 1 / 2π lhro2 . Para se obter o ponto de mínimo ou

máximo faz-se ∂Rt / ∂ro = 0 o que leva ao resultado do raio crítico de isolamento

k
ro ,c = (1.2.54)
h
A resistência mínima será, portanto,
ln ( k / hri ) + 1
Rt ,min = (1.2.55)
2π kl
Algumas conclusões que se pode tirar do conceito de raio critico de isolação é que,
quando, o cilindro for espesso, de tal forma que
k
ri > ro ,c ou < 1; (1.2.56)
hri

a adição de uma camada de material isolante sempre se traduz em aumento de Rt e, portanto

redução de q como desejado. No caso oposto, quando,


k
ri < ro ,c ou > 1; (1.2.57)
hri
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o enrolamento de uma primeira camada isolante reduzirá a resistência térmica. O efeito inicial
será um aumento da transferência de calor. Apenas quando material suficiente tenha sido
adicionado de modo que ro exceda ro ,c , a espessura de isolamento aumentará o valor de Rt e

redução de q .
No caso de isolação de um objeto esférico de raio ri , o raio critico de isolação será
estimado pela relação:
k
ro ,c = 2 (1.2.58)
h

Figura 1.2.7 Efeito do raio externo sobre a resistência térmica global de uma camada
cilíndrica isolante.

Exercício 1.2.2: Um fio isolado suspenso no ar gera aquecimento pelo efeito Joule à taxa de
q′ = 1W / m . O fio cilíndrico de raio ri = 0,5 mm está 30 oC acima da temperatura ambiente. É

proposto encapar fio com plástico de isolamento elétrico, cujo raio externo será ro = 1 mm . A

condutividade térmica do material plástico k = 0 ,35W / mK . O plástico isolante aumentará o


contato térmico entre fio e ambiente, ou promoverá efeito de isolamento térmico? Para
verificar a resposta calcule a diferença de temperatura entre o fio e ambiente quando o fio
estiver encapado pelo plástico.
24

1.2.5 Superfícies Estendidas (Aletas - Fins)

No projeto de trocadores de calor, muitas vezes se torna necessário melhorar a


eficiência do processo de troca, bem como aumentar a troca de calor. Uma das maneiras de
conseguir tal objetivo é aumentar a área superficial do trocador. Devido a limitações de
tamanho, por exemplo, uma maneira de aumentar a superfície de troca é pelo uso de aletas
que são superfícies estendidas a partir de uma área base. As aletas têm as mais variadas
formas e serão analisadas neste item. Aletas retangulares são ilustradas na Figura 1.2.8.

Figura 1.2.8 Aumento da troca de calor na área coberta por aletas.

1.2.5.1 Melhoria da Transferência de Calor

A proposta de melhoria ou aumento de transferência de calor entre uma superfície


sólida e o fluido que a banha é comum em proposições de projetos de térmicos. Para entender
como uma aleta funciona, considera-se, inicialmente, uma superfície plana d(sem aletas) de
área A0 banhada por um fluido com coeficiente de troca h. A temperatura da superfície é Tb e

temperatura do fluido é T∞ . Assim a taxa de calor através da superfície pode ser calculada por

q0 = hA0 (Tb − T∞ ) (1.2.59)

O fluxo de calor na superfície sem aletas (unfinned – u) suposto uniforme em toda


área é definido como q0 / A0 . A taxa de calor na superfície aletada (finned) é definida por q .

O objetivo é ter uma superfície aletada de forma que q > q0 . Isto poder alcançado com aletas
que tenham boa condutividade térmica, de tal forma que a temperatura da superfície da aleta
25

seja comparável à temperatura da base Tb . Uma maneira de medir a melhoria da troca de


calor é através da definição de efetividade global da área projetada da aleta como
q q
ε0 = = (1.2.60)
q0 hA0 (Tb − T∞ )

No caso da superfície aletada a área A0 será a soma das áreas sem aletas mais a

projeção das áreas da aletas na base. Designando a área sem aletas por A0 ,u e a área projetada

da aleta por A0 , f ; então, tem-se

A0 = A0 , f + A0 ,u (1.2.61)

A taxa de calor para a superfície aletada será estimada como


q = qb′′A0 , f + hA0 ,u (Tb − T∞ ) (1.2.62)

na qual qb′′ é o fluxo de calor médio através da base de um aleta e será o foco de cálculo.

1.2.5.2 Aletas de Seção Transversal Constante

O caso mais simples é o de aletas de seção transversal constante; Figura 1.2.9. Num
modelo de condução longitudinal o fluxo de calor na base da aleta pode ser calculado como
⎛ dT ⎞
qb′′ = −k ⎜ ⎟ (1.2.63)
⎝ dx ⎠ x =0
Portanto, o cálculo do fluxo de calor requer a determinação da distribuição de temperatura
T ( x ) na aleta. Considere um elemento de volume de aleta de área superficial pΔx . Um

balanço de energia neste volume leva a equação


q′′x Ac − q′′x +Δx Ac − ( pΔx ) h (T − T∞ ) = 0 (1.2.64)
26

Figura 1.2.9 Condução longitudinal através de uma aleta de seção transversal constante.
dq′′x
O fluxo de calor em x + Δx pode ser expresso como q′′x +Δx = q′′x + Δx + que
dx
substituído em (1.2.64) leva à equação
dq′′x
− ΔxAc − ( pΔx ) h (T − T∞ ) = 0 (1.2.65)
dx
Usando a Lei de Fourier para expressar q′′x em função da temperatura resulta

d 2T
kAc 2 − hp (T − T∞ ) = 0 (1.2.66)
dx
A Eq. (1.2.66) expressa o balanço entre o calor que é conduzido e chega à posição x e o que
sai por convecção através da superfície da aleta. A Eq. (1.2.66) é uma EDO de segunda ordem
e requer, portanto duas condições de contorno para sua solução.
Aletas Longas. Considere, primeiro, o caso de aleta longa, de forma que na sua ponta tem –se
a seguinte condição de contorno:
T → T∞ quando x → ∞ (1.2.67)
A outra condição de contorno é obtida da hipótese de que sua raiz está na mesma temperatura
da parede base, ou seja,
T = Tb em x = 0 (1.2.68)
27

Definido o excesso de temperatura como


θ ( x ) = T ( x ) − T∞ (1.2.69)

a Eq. (2.94) pode ser reescrita como


d 2θ
2
− m 2θ = 0 (1.2.70)
dx
sujeita às condições de contorno
θ = θb em x = 0 ( θb = Tb − T∞ ) (1.2.71)

θ → 0 quando x → ∞ (1.2.72)
m é um parâmetro crucial do arranjo aleta-fluido, definido como
1/ 2
⎛ hp ⎞
m=⎜ ⎟ (1.2.73)
⎝ kAc ⎠
A solução Eq. (1.2.70) é do tipo
θ ( x ) = c1 exp ( − mx ) + c2 exp ( mx ) (1.2.74)

O uso das condições de contorno leva aos valores das constantes c1 e c2 :


c2 = 0 c1 = θb (1.2.75)
A distribuição de temperatura ao longo da aleta será, portanto, expressa como
θ ( x ) = θb exp ( −mx ) (1.2.76)

A temperatura decai exponencialmente da base para a ponta. Da mesma forma o fluxo


convectivo h (T − T∞ ) = hθ decai exponencialmente. Uma aleta é considera longa quando a

seguinte restrição é satisfeita


mL 1 (1.2.77)
A taxa de calor na base da aleta pode ser calculada como

qb = qb′′Ac = θb ( kAc hp )
1/ 2
(1.2.78)

que mostra como os parâmetros físicos afetam a troca de calor.

Aleta de Comprimento Finito com a Ponta Isolada. Muitos projetos não satisfazem o
critério de aleta longa; portanto, a aleta deve ser considerada de comprimento finito. Neste
caso, como a temperatura da ponta da aleta é diferente da temperatura ambiente, a taxa de
calor na ponta da aleta será
qtip = hAc ⎡⎣T ( L ) − T∞ ⎤⎦ (1.2.79)
28

Um passo intermediário antes deste caso mais geral é considerar a aleta com a ponta
isolada, caso em que se tem
dT dθ
= 0 ou = 0 em x = L (1.2.80)
dx dx
Este caso limite é uma boa aproximação para o caso
qb > qtip (1.2.81)

A solução geral para este caso tem a forma:


θ ( x ) = c1* senh ( mx ) + c*2 cosh ( mx ) (1.2.82)

As condições de contorno (1.2.71) e (1.2.80) levam aos valores das constantes


c*2 = θb e c1* = −θ b tanh ( mL ) (1.2.83)

Este caso é ilustrado na Figura 1.2.10. A forma final da solução, após algumas
manipulações, é:
cosh ⎡⎣ m ( L − x ) ⎤⎦
θ = θb (1.2.84)
cosh ( mL )

Figura 1.2.10 Aleta com a ponta isolada (lado esquerdo) versus aleta com transferência de
calor na ponta ((lado direito)

A temperatura na ponta das aleta será


θb
θ ( L) = (1.2.85)
cosh ( mL )

A taxa de calor através da base da aleta será


29

⎛ dT ⎞
qb = Ac ⎜ −k ⎟
⎝ dx ⎠ x =0 (1.2.86)
= θb ( kAc hp ) tanh ( mL )
1/ 2

Pode-se demonstrar que o caso de aleta com a ponta isolada é satisfeito quando
1/ 2
qtip 1 ⎛ hAc ⎞
= ⎜ ⎟ << 1 (1.2.87)
qb senh ( mL ) ⎝ kp ⎠

Efeito de Transferência de Calor na Ponta. Neste caso, ilustrado, do lado direito da Figura
1.2.10, a condição de contorno é da forma

− kAc = hAcθ em x = L (1.2.88)
dx
A solução da Eq. (1.2.70) com as condições de contorno (1.2.71) e (1.2.88) é da forma
cosh ⎡⎣ m ( L − x ) ⎤⎦ + ( h / mk ) s en h ⎡⎣ m ( L − x ) ⎤⎦
θ = θb (1.2.89)
cosh ( mL ) + ( h / mk ) s en h ( mL )

A taxa de calor na base, neste caso, pode ser estimada da mesma forma que aleta da
ponta isolada, porém, corrigindo o comprimento, de tal forma que
⎛ dT ⎞
qb = Ac ⎜ −k ⎟
⎝ dx ⎠ x =0 (1.2.90)
= θb ( kAc hp ) tanh ( mLc )
1/ 2

na qual, o comprimento corrigido, Figura 1.2.11, é expresso como


Ac
Lc = L + (1.2.91)
p
Por exemplo, para uma aleta plana de espessura t e largura W , Ac = tW e

p = 2 (W + t ) ≅ 2W . Neste caso, pode-se mostrar que

t
Lc = L + (aleta plana) (1.2.92)
2
Para uma aleta de seção cilíndrica de diâmetro D constante tem-se
D
Lc = L + (pino ou aleta cilíndrica) (1.2.93)
4
30

Figura 1.2.11 Conceito de comprimento corrigido.

A partir da Eq. (1.2.89) pode-se obter a derivada da temperatura na forma

dθ m s en h ⎡⎣ m ( L − x ) ⎤⎦ + ( h / k ) cosh ⎡⎣ m ( L − x ) ⎤⎦
= −θb (1.2.94)
dx cosh ( mL ) + ( h / mk ) s en h ( mL )

A taxa de calor calculada pela expressão exata do gradiente em x = 0 seria da forma


⎛ dT ⎞
qb = Ac ⎜ − k ⎟
⎝ dx ⎠ x =0
(1.2.95)
1 / 2 senh ( mL ) + ( h / mk ) cosh ( mL )
= θb ( kAc hp )
cosh ( mL ) + ( h / mk ) sen h ( mL )

Eficiência da aleta versus efetividade da aleta. O parâmetro adimensional que descreve


quão bem são as funções da aleta como uma extensão da superfície da base é a eficiência da
aleta η ( 0 < η < 1) :

taxa real de transferencia de calor qb


η= = (1.2.96)
maxima taxa de transferencia de calor hpLcθb
quando toda aleta esta na temperatura
da base
Usando a Eq. (1.2.90) obtém-se a eficiência da aleta na forma
tanh ( mLc )
η= (1.2.97)
mLc

Algumas vezes se usa como abscissa, no lugar de mLc , o parâmetro:


31

1/ 2
⎛ 2h ⎞
Lc ⎜ ⎟ (1.2.98)
⎝ kt ⎠
A Figura 1.2.12 mostra a eficiência para alguns perfis de aletas. Alternativamente, se
usa a efetividade da aleta como uma medida de sua performance. A efetividade ε f é definida

como
taxa total de transferencia de calor q
εf = = b (1.2.99)
taxa de transferencia de calor que deveria hAcθb
ocorrer atraves da area da base
na ausencia da aleta

Figura 1.2.12 Eficiência de aletas bidimensionais com perfis retangular, triangular e


parabólico.

Se for para a aleta desempenhar sua função de aumento de transferência de calor


apropriadamente, então, ε f deve ser maior do que 1. Uma boa aleta tem, portanto, efetividade

maior do que sua eficiência. A relação entre elas será


ε f pLc area total de contato com o fluido
= = (1.2.100)
η Ac area da seçao transversal
32

A efetividade da aleta é também maior do que a efetividade global baseada na área superficial
projetada. A relação entre ε 0 e ε f é obtida pela combinação de (1.2.60), (1.2.62) e (1.2.99):

A0 , f A0 ,u
ε0 = ε f + (1.2.101)
A0 A0

1.2.5.3 Aletas de Seção Transversal Variável

No caso da aleta plana de seção transversal constante, ela é denominada de aleta


retangular, pois olhando lateralmente vê-se um retângulo. Há casos em que a seção transversal
da aleta diminui da base para sua ponta; Figura 1.2.13. O balanço de energia neste caso leva à
equação:
qx − qx +Δx − ( pΔx ) h (T − T∞ ) = 0 (1.2.102)

Após simplificações resultará


dqx
− − hp (T − T∞ ) = 0 (1.2.103)
dx
Pelo uso da Lei de Fourier, qx = − kAc ( x ) dT / dx chega-se a

d ⎛ dT ⎞
⎜ kAc ⎟ − hp (T − T∞ ) = 0 (1.2.104)
dx ⎝ dx ⎠

Figura 1.2.13 Condução longitudinal através de uma aleta de seção transversal variável.
33

Para dadas variações de Ac ( x ) e p ( x ) , o objetivo é determinar a taxa de transferência

de calor que passa através da base da aleta:


⎛ dT ⎞
qb = − ⎜ kAc ( x ) ⎟ (1.2.105)
⎝ dx ⎠ x =0
O resultado final também pode ser quantificado em função eficiência da aleta na forma:
qb
η= (1.2.106)
hAexp (Tb − T∞ )

na qual Aexp é área exposta da superfície da aleta, isto é, a área banhada pelo fluido. No caso

de aletas triangulares e parabólicas, apenas a área da seção transversal varia, mas não o
perímetro. No caso de uma aleta na foram de disco, Figura 1.2.14, ambos Ac e p variam.

Figura 1.2.14 Eficiência de uma aleta anelar de espessura constante.


34

1.2.5.4 Superfícies Estendidas com Movimento Relativo e Geração Interna de Calor

1.2.5.4.1 Equação Geral de Condução

O modelo de condução unidimensional da aleta clássica também encontra aplicação no


caso de corpos longos. Considere o caso de um corpo cilíndrico de seção variável que tenha
movimento relativo na direção x com velocidade U e está exposto a convecção num
reservatório fluido; Figura 1.2.15. Suponha que exista geração interna no corpo. O balanço de
energia neste caso leva à equação:
qx − qx +Δx − ( pΔx ) h (T − T∞ ) + mix − mix +Δx + q′′′Ac Δx = 0 (1.2.107)

na qual ix é a entalpia especifica do sólido na posição x . Tratando o sólido como


incompressível, tem-se
1
dix = cdT + dP (1.2.108)
ρ
Para pressão constante, dix = cdT e, portanto,

dix dT
m ( ix − ix +Δx ) = − m Δx = − mc Δx
dx dx
Está implícita nesta derivação que a vazão mássica é conservada de uma seção
transversal para outra:
m = ρ AcU (1.2.109)

Figura 1.2.15 Conservação da energia num corpo longo com movimento sólido e geração
interna
35

A equação final de balanço de energia fica na forma:


d ⎛ dT ⎞ dT
⎜ kAc ⎟ − hp (T − T∞ ) − ρ cAcU + q′′′Ac = 0 (1.2.110)
dx ⎝ dx ⎠ dx

1.2.5.4.2 Extrusão de Plásticos e Trefilação

Nestes processos de fabricação, após passar pelas matrizes, os corpos se comportam


como superfícies estendidas em movimento relativo, Figura 1.2.16. Nestes processos pode-se
desprezar a geração interna, e supondo Ac e U constantes, resulta para o excesso de
temperatura, a equação:
d 2θ U dθ
− − m 2θ = 0 (1.2.111)
dx 2 α dx
As condições de contorno para este caso são:
θ = θb em x = 0 (1.2.112)

θ → 0 quando x → ∞ (1.2.113)

Figura 1.2.16 Distribuição de temperatura ao longo de uma fibra plástica em processo de


extrusão;.

A solução para este problema é imediata e da forma:


⎛ x⎞
θ ( x ) = θb exp ⎜ − ⎟ (1.2.114)
⎝ ⎠ l
36

na qual l é um comprimento característico em que a temperatura do sólido se aproxima da


temperatura do fluido circundante:
−1
⎧⎪ ⎡⎛ U ⎞ 2 ⎤ U ⎫⎪
l = ⎨ ⎢⎜ ⎟ +m ⎥−
2
⎬ (1.2.115)
⎩⎪ ⎢⎣⎝ 2α ⎠ ⎥⎦ 2α ⎭⎪

Dois casos limites são de interesse. No limite de altas velocidades, U / 2α >> m , o


comprimento de resfriamento é proporcional à velocidade da fibra plástica:
U ⎛ U ⎞
U≅ ⎜ >> 1⎟ (1.2.116)
α m2 ⎝ 2α m ⎠
No caso oposto, U / 2α << m , o comprimento de resfriamento aproxima-se de uma constante:
1 ⎛ U ⎞
l≅ ⎜ << 1⎟ (1.2.117)
m ⎝ 2α m ⎠
Neste último caso, a fibra se comportas como uma aleta longa de seção constante.

1.2.5.4.3 Cabos Elétricos

Nestes casos pode desprezar efeitos variação de entalpia e considerar o efeito Joule
como geração interna, que é amortecido via condução no suporte, Figura 1.2.17. A equação a
ser resolvida neste caso é da forma:
d 2θ q′′′
2
− m 2θ + =0 (1.2.118)
dx k
sujeita às restrições:
θ = θb em x = 0 (1.2.119)

θ → valor finito quando x → ∞ (1.2..120)


A solução para este problema é da forma
q′′′
θ ( x ) = θb exp ( −mx ) + ⎡1 − exp ( − mx ) ⎤⎦ (1.2.121)
m2 k ⎣
A interação por condução longitudinal com o suporte x = 0 é sempre sentida no comprimento
de fator de escala 1 / m . Além deste comprimento, a temperatura do cabo se torna

( )
independente de x , isto é, θ ≅ q′′′ / m 2 k . Isto mostra que a seção do cabo se torna cada vez

mais quente quando q′′′ cresce. Se o suporte será aquecido ou resfriado pelo cabo depende de
como significativo é o efeito de q′′′ . Pelo cálculo da taxa de transferência de calor através da
37

raiz do cabo (saindo do suporte) pode-se mostrar que o suporte será aquecido pelo cabo
( qb < 0 ) se
q′′′Ac
>1 (1.2.122)
hpθb
Quando o valor do grupo grandeza da Eq. (1.2.122) for unitário, o cabo inteiro estará
isotérmico.

Figura 1.2.17 Distribuição de temperatura num cabo elétrico com aquecimento volumétrico.
38

1.3. Condução de Calor Multidimensional em Regime Permanente

A equação da condução de calor, que é o processo de transferência de energia que


ocorre na fronteira de um sistema em repouso devido a um gradiente de temperatura, tem sido
deduzida em muitos livros. Essa equação genérica é da forma:
∂T (r , t )
−∇iq (r , t ) + q′′′(r , t ) = ρ C p (1.3.1)
∂t
na qual o primeiro termo do membro do lado esquerdo da equação representa a taxa de calor
entrando através da superfície do sistema, o segundo termo representa a taxa de geração por
unidade de volume e o termo do lado direito da equação representa a taxa de armazenamento
de energia dentro do sistema.
No caso de meios ou materiais em que a condutividade térmica independe da direção
(meios isotrópicos), o vetor fluxo de calor pode ser definido na seguinte forma (Lei de
Fourier):
q = − k ∇T (1.3.2)

em que k é a condutividade térmica que pode ser uma função da temperatura, k = k (T ) .

A expressão para os componentes do fluxo de calor, em sistemas de coordenadas


curvilíneas ortogonais ( x1 , x2 , x3 ) , é da forma

1 ∂T
qi = − k ; i = 1, 2,3 (1.3.3)
hi ∂xi

na qual hi são fatores de escalas que aparecem em transformações de coordenadas de um


sistemas de coordenadas para outro, em que se conheçam as relações,
xi = xi ( u1 , u2 , u3 ) ; i = 1, 2,3 com ( u1 , u2 , u3 ) sendo a tripla de coordenadas no novo sistema.

Os fatores de escalas são definidos na forma

2
⎛ ∂x j ⎞
3
h = ∑⎜
2
⎟ (1.3.4)
j =1 ⎝ ∂ui ⎠
i

Nos sistemas de coordenadas cartesianas, cilíndricas e esféricas têm-se os dados na


Tabela 1.3.1
39

Tabela 1.3.1 – Sistemas de coordenadas ortogonais e fatores de escalas


Coordenadas Cartesianas Cilíndricas Esféricas
u1 x r r
u2 y θ θ
u3 z z φ
x1 x r.cos( θ ) r.cos( θ )sen( φ )
x2 y r.sen( θ ) r.sen( θ )sen( φ )
x3 z z r.cos( φ )
h1 1 1 1
h2 1 r r ⋅ sen (φ )
h3 1 1 r

No sistema de coordenadas cartesianas ( x, y , z ) , os fluxos de calor ficam, então,

definidos como
∂T
q1 = − k (1.3.5a)
∂x
∂T
q2 = − k (1.3.5b)
∂y
∂T
q3 = − k (1.3.5c)
∂z
Para coordenadas cilíndricas ( r , θ , z ) resulta:

∂T
qr = − k (1.3.6a)
∂r
∂T
qθ = −k (1.3.6b)
r ∂θ
∂T
qz = − k (1.3.6c)
∂z
Para coordenadas esféricas ( r , θ , φ ) resulta:

∂T
qr = − k (1.3.7a)
∂r
∂T
qθ = −k (1.3.7b)
rsen (φ ) ∂θ

∂T
qφ = −k (1.3.7c)
r∂φ
40

A partir das Equações (1.3.1) e (1.3.3) pode-se obter

1 ⎡ ∂ ( h2 h3q1 ) ∂ ( h1h3 q2 ) ∂ ( h1h2 q3 ) ⎤ ∂T


⎢ + + ⎥ + q′′′ = ρ C p num domínio Ω, t > 0 (1.3.8)
h1h2 h3 ⎣ ∂x1 ∂x2 ∂x3 ⎦ ∂t

Substituindo os fluxos de calor dos sistemas de coordenadas (equações (1.3.5) a


(1.3.7)) obtêm-se as equações para os sistemas de coordenadas cartesianas, cilíndricas e
esféricas como a seguir.
- Sistema de coordenadas retangulares:
∂ ⎛ ∂T ⎞ ∂ ⎛ ∂T ⎞ ∂ ⎛ ∂T ⎞ ′′′ ∂T
⎜k ⎟+ ⎜k ⎟+ ⎜k ⎟ + q ( x, y , z , t ) = ρ C p (1.3.9)
∂x ⎝ ∂x ⎠ ∂y ⎝ ∂y ⎠ ∂z ⎝ ∂z ⎠ ∂t

- Sistema de coordenadas cilíndricas:


1 ∂ ⎛ ∂T ⎞ 1 ∂ ⎛ ∂T ⎞ ∂ ⎛ ∂T ⎞ ′′′ ∂T
⎜ kr ⎟+ 2 ⎜k ⎟+ ⎜k ⎟ + q (r ,θ , z, t ) = ρ C p (1.3.10)
r ∂r ⎝ ∂r ⎠ r ∂θ ⎝ ∂θ ⎠ ∂z ⎝ ∂z ⎠ ∂t

- Sistema de coordenadas esféricas:


1 ∂ ⎛ 2 ∂T ⎞ 1 ∂ ⎛ ∂T ⎞ 1 ∂ ⎛ ∂T ⎞
⎜ kr ⎟+ 2 2 ⎜k ⎟+ 2 ⎜ ksen (φ ) ⎟+
r ∂r ⎝
2
∂r ⎠ r sen (φ ) ∂θ ⎝ ∂θ ⎠ r sen (φ ) ∂φ ⎝ ∂φ ⎠
(1.3.11)
∂T
+ q′′′(r , θ , φ , t ) = ρ C p
∂t

As condições de contorno em problemas de condução podem ser escritas na seguinte


forma genérica, para uma superfície Si normal a um eixo de coordenadas xi

∂T
∓ ki + γ iT = fi sobre Si , t > 0 (1.3.12)
∂nì Si

Assume-se que o domínio Ω tem um número de superfícies contínuas Si , i = 1, 2,… , s em

número, tal que cada superfície Si coincide com a superfície do sistema de coordenadas

ortogonal escolhido. As combinações ki = 0, γ i = 1 ou δ i = 1, γ i = 0 recuperam as condições


de contorno de primeiro ou de segundo tipos respectivamente. O sinal mais ou menos depende
se a normal a Si está apontando no sentido positivo ou negativo da direção xi
respectivamente.
41

A condição inicial geralmente é da forma:


T ( r , t ) = F ( r ) para t = 0 no domínio Ω (1.3.13)

Os métodos de solução da equação de condução podem ser analíticos exatos, métodos


analíticos aproximados ou métodos numéricos dependendo da complexidade do problema a
ser analisado. Os métodos analíticos englobam os métodos de Separação de Variáveis,
Técnica de Transformada Integral, Técnica de Transformada de Laplace, por exemplo. Os
métodos analíticos aproximados incluem o Método Integral, Método de Rayleigh-Ritz,
Método de Galerkin, entre outros. Os métodos numéricos clássicos são: Método de Diferença
Finita, Método de Volume Finito e Método de Elemento Finito. Um método numérico
também usado é o método de Monte-Carlo. Alguns destes métodos serão descritos a seguir.

1.3.1 Soluções Analíticas

O método analítico clássico em problemas de condução de calor homogêneos é o


método de separação de variáveis. O procedimento de separação de variáveis pode ser
aplicado também ao caso dos problemas em regime permanente sem geração de calor quando
apenas uma das condições de contorno seja não homogênea. Se várias condições de contorno
são não homogêneas é possível separar o problema original em um conjunto de problemas em
que cada um dos subproblemas tenha apenas uma condição de contorno não homogênea.
Considere, por exemplo, o problema de condução multidimensional homogêneo em regime
permanente com condição de contorno não homogênea definido a seguir:
∇ 2T ( r ) = 0 num domínio Ω (1.3.14a)

∂T
ki + hT = fi sobre Si (1.3.14b)
∂nì
i

O problema definido por (1.3.14) pode ser separado em um conjunto de problemas


mais simples de forma que apenas uma condição de contorno permaneça não homogênea.
Cada subproblema será governado pelas seguintes equações

∇ 2T j ( r ) = 0 num domínio Ω (1.3.15a)

∂T j
ki i j = δ ij f i sobre Si
+ hT (1.3.15b)
∂nì
42

nas quais
i = 1, 2,… , s
j = 1, 2,… , s
⎧1 se i = j
δ ij = ⎨
⎩0 se i ≠ j
A solução para a distribuição de temperatura será a superposição das soluções dos problemas
mais simples na forma
s
T ( r ) = ∑ Tj ( r ) (1.3.16)
j =1

Considere o seguinte caso de condução num paralelepípedo


0 ≤ x ≤ a, 0 ≤ y ≤ b, 0 ≤ z ≤ c com as condições de contorno definidas a seguir

∂ 2T ∂ 2T ∂ 2T
+ + = 0 em 0 < x < a, 0 < y < b, 0 < z < c (1.3.17a)
∂x 2 ∂y 2 ∂z 2
T = T0 em x = 0 ; T = T∞ em x = a (1.3.17b, c)

∂T ∂T
−k = q1′′ em y = 0 ; k + h1T = h1T∞ em y = b (1.3.17d, e)
∂y ∂y
∂T ∂T
−k = q2′′ em z = 0 ; k + h2T = h2T∞ em z = c (1.3.17f, g)
∂z ∂z
Como todas as condições de contorno são não homogêneas, inicialmente, faz a
seguinte mudança de variável θ = T − T∞ , que homogeneíza três condições de contorno
resultando
∂ 2θ ∂ 2θ ∂ 2θ
+ + = 0 em 0 < x < a, 0 < y < b, 0 < z < c (1.3.18a)
∂x 2 ∂y 2 ∂z 2
θ = θ 0 em x = 0 ; θ = 0 em x = a (1.3.18b, c)

∂θ ∂θ h1
−k = q1′′ em y = 0 ; + θ = 0 em y = b (1.3.18d, e)
∂y ∂y k
∂θ ∂θ h2
−k = q2′′ em z = 0 ; + θ = 0 em z = c (1.3.18f, g)
∂z ∂z k
Agora propõe-se a separação do problema (1.3.18) em três problemas mais simples,
cada um deles com apenas uma condição de contorno não homogênea, pela seguinte
superposição:

θ ( x, y, z ) = θ1 ( x, y, z ) + θ 2 ( x, y, z ) + θ3 ( x, y, z ) (1.3.19)
43

Pode-se obter os seguintes três problemas:

Problema 1
∂ 2θ1 ∂ 2θ1 ∂ 2θ1
+ + = 0 em 0 < x < a, 0 < y < b, 0 < z < c (1.3.20a)
∂x 2 ∂y 2 ∂z 2
θ1 = θ 0 em x = 0 ; θ1 = 0 em x = a (1.3.20b, c)

∂θ1 ∂θ h
= 0 em y = 0 ; 1 + 1 θ1 = 0 em y = b (1.3.20d, e)
∂y ∂y k
∂θ1 ∂θ h
= 0 em z = 0 ; 1 + 2 θ1 = 0 em z = c (1.3.20f, g)
∂z ∂z k

Problema 2
∂ 2θ 2 ∂ 2θ 2 ∂ 2θ 2
+ 2 + 2 = 0 em 0 < x < a, 0 < y < b, 0 < z < c (1.3.21a)
∂x 2 ∂y ∂z
θ 2 = 0 em x = 0 ; θ 2 = 0 em x = a (1.3.21b, c)
∂θ 2 ∂θ 2 h1
−k = q1′′ em y = 0 ; + θ 2 = 0 em y = b (1.3.21d, e)
∂y ∂y k
∂θ 2 ∂θ 2 h2
= 0 em z = 0 ; + θ 2 = 0 em z = c (1.3.21f, g)
∂z ∂z k
Problema 3
∂ 2θ 3 ∂ 2θ 3 ∂ 2θ3
+ + 2 = 0 em 0 < x < a, 0 < y < b, 0 < z < c (1.3.22a)
∂x 2 ∂y 2 ∂z
θ3 = 0 em x = 0 ; θ3 = 0 em x = a (1.3.22b, c)

∂θ3 ∂θ3 h1
= 0 em y = 0 ; + θ3 = 0 em y = b (1.3.22d, e)
∂y ∂y k
∂θ3 ∂θ h
−k = q2′′ em z = 0 ; 3 + 2 θ3 = 0 em z = c (1.3.22f, g)
∂z ∂z k
A solução de cada um dos três problemas por separação de variáveis fica na forma
θ ( x, y , z ) = X ( x ) Y ( y ) Z ( z ) (1.3.23)

que substituída em qualquer das três equações (1.3.20a) ou (1.3.21a) ou (1.3.22a) resulta após
algumas manipulações
1 d 2 X 1 d 2Y 1 d 2 Z
+ + =0 (1.3.24)
X dx 2 Y dy 2 Z dz 2
44

Para o problema 1 propões-se a seguinte separação:


1 d2X 1 d 2Y 1 d 2Z
2
= β = γ +η ,
2 2 2
2
= −γ e
2
2
= −η 2 (1.3.25)
X dx Y dy Z dz
As equações separadas se tornam, então,
d2X
2
− β2X = 0 (1.3.26a)
dx
X = 0 em x = a (1.3.26b)
d 2Y
2
+ γ 2Y = 0 (1.3.27a)
dy
dY
= 0 em y = 0 (1.3.27b)
dy
dY
+ H1Y = 0 em y = b (1.3.27c)
dy

d 2Z
+η 2Z = 0 (1.3.28a)
dz 2
dZ
= 0 em z = 0 (1.3.28b)
dz
dZ
+ H 2 Z = 0 em z = c (1.3.28c)
dz
Para o problema 2 propõe-se a seguinte separação:
1 d2X 1 d 2Y 1 d 2Z
= − β 2
, = +γ 2
= β 2
+ η 2
e = −η 2 (1.3.29)
X dx 2 Y dy 2 Z dz 2
As equações separadas se tornam, então,
d2X
2
+ β2X = 0 (1.3.30a)
dx
X = 0 em x = 0 (1.3.30b)
X = 0 em x = a (1.3.30c)
d 2Y
2
− γ 2Y = 0 (1.3.31a)
dy
dY
+ H1Y = 0 em y = b (1.3.31b)
dy

d 2Z
2
+η 2Z = 0 (1.3.32a)
dz
dZ
= 0 em z = 0 (1.3.32b)
dz
45

dZ
+ H 2 Z = 0 em z = c (1.3.32c)
dz

Para o problema 3 propõe-se a seguinte separação:


1 d2X 1 d 2Y 1 d 2Z
2
= − β 2
, 2
= −γ 2
e 2
=η2 = β 2 +γ 2 (1.3.33)
X dx Y dy Z dz
As equações separadas se tornam, então,
d2X
+ β2X = 0 (1.3.34a)
dx 2
X = 0 em x = 0 (1.3.34b)
X = 0 em x = a (1.3.34c)
d 2Y
2
+ γ 2Y = 0 (1.3.35a)
dy
dY
= 0 em y = 0 (1.3.35b)
dy
dY
+ H1Y = 0 em y = b (1.3.35c)
dy

d 2Z
−η 2 Z = 0 (1.3.36a)
dz 2
dZ
+ H 2 Z = 0 em z = c (1.3.36b)
dz
O Problema 1 requer a solução das equações (1.3.26), (1.3.27) e (1.3.28). A solução
das equações (1.3.27) e (1.3.28) correspondem ao caso 4 da Tabela 1.3.2, portanto, são da
forma
Y ( γ n , y ) = cos ( γ n y ) ; γ ntg ( γ nb ) = H1 (1.3.37a)

Z (η p , z ) = cos (η p z ) ; η p tg (η p c ) = H 2 (1.3.37b)

Para completar a solução do Problema 1, falta resolver a equação (1.3.26). A solução


da Equação (1.3.26a) que satisfaz a condição (1.3.26b) é do tipo
X ( β m , x ) = senh ⎡⎣ β m ( a − x ) ⎤⎦ (1.3.37c)

em que
β m2 = β np2 = γ n2 + η p2 (1.3.38)

Desta forma a solução do Problema 1 fica na forma


46

∞ ∞
θ1 ( x, y, z ) = ∑∑ cnp senh ⎡⎣ β np ( a − x ) ⎤⎦ cos ( γ n y ) cos (η p z ) (1.3.39)
n =1 p =1

Aplicando a condição de contorno em x = 0 resulta


∞ ∞
θ 0 = ∑∑ cnp senh ( β np a ) cos ( γ n y ) cos (η p z ) (1.3.40)
n =1 p =1

d2X
Tabela 1.3.2 – Solução, Norma e Autovalores da Equação + β 2 X = 0 em 0 < x < L para
dx 2
as condições de contorno mostradas na Tabela.
No. Condições Condições Autofunções. Inverso da norma Autovalores
de Contorno de Contorno X ( βm , x ) 1/ N ( β m ) são as raízes

x=0 x=L positivas de

1 dX dX β m cos β m x + 2 tg β m L =
− + H1 X = 0 + H2 X = 0
dx dx + H1senβ m x ⎛ H β 2 + H12 ( ) ⎞ β m ( H1 + H 2 )
⎜ ( m 1 )
⎜L β2 + H2 + 2 m
β m2 + H 22
⎟+H
⎟ 1
β m2 − H1H 2
⎝ ⎠

2 −
dX
+ H1 X = 0
dX
=0
cos β m ( L − x ) (
2 β m2 + H12 ) β mtg β m L = H1

( )
dx dx
L β m2 + H12 + H1

3 −
dX
+ H1 X = 0 X =0 senβ m ( L − x ) (
2 β m2 + H12 ) β m ctg β m L = − H1

( )
dx
L β m2 + H12 + H1

4 dX
=0
dX
+ H2 X = 0
cos β m x
(
2 β m2 + H 22 ) β mtg β m L = H 2

( )
dx dx
L β m2 + H 22 + H 2

5 dX dX * cos β m x 2 senβ m L = 0
=0 =0 para β m ≠ 0
dx dx L
1
para β m = 0
L

6 dX X =0 cos β m x 2 cos β m L = 0
=0
dx L

7 X =0 dX
+ H2 X = 0
senβ m x
(
2 β m2 + H 22 ) β m ctg β m L = − H 2

( )
dx
L β m2 + H 22 + H 2

8 X =0 dX senβ m x 2 cos β m L = 0
=0
dx L

9 X =0 X =0 senβ m x 2 senβ m L = 0
L
47

cos ( γ i y ) dy e cos (η q z ) dz e
b c
Operando ambos os lados da equação (1.3.40) por ∫
0 ∫
0

utilizando a condição de ortogonalidade das autofunções resulta

sen ( γ nb ) sen (η p c )
θ0 = cnp senh ( β np a ) N n N p (1.3.41)
γn ηp
da qual se obtém

sen ( γ nb ) sen (η p c ) 1
cnp = θ 0 (1.3.42)
γn ηp senh ( β np a ) N n N p

que substituída em (1.3.59) leva a forma da solução para o Problema 1 na forma


∞ ∞ sen ( γ nb ) sen (η p c ) senh ⎡⎣ β np ( a − x ) ⎤⎦
θ1 ( x, y, z ) = θ 0 ∑∑ cos ( γ n y ) cos (η p z ) (1.3.43)
n =1 p =1 γn ηp N n N p senh ( β np a )

As normas na equação (1.3.43) correspondem ao caso 4 da Tabela 1.3.2 e, portanto,


são

1
=
(
2 γ n2 + H12
;
1
=
)
2 η p2 + H 22 ( ) (1.3.44)
( )
N n b γ n2 + H12 + H12 N p c η p2 + H 22 + H 2 ( )

O Problema 2 requer a solução das equações 1.3.30 a 1.3.34. A solução do problema


(1.3.30) corresponde ao caso 9 da Tabela 1.3.2 é da forma
X ( β m , x ) = sen ( β m x ) ; sen ( β m a ) = 0 (1.3.45)

A solução da equação (1.3.31a) que satisfaz (1.3.31b) pode ser encontrada e é do tipo
Y ( γ n , y ) = γ n cosh ⎡⎣γ n ( b − y ) ⎤⎦ + H1senh ⎡⎣γ n ( b − y ) ⎤⎦ (1.3.46)

na qual
γ n2 = γ mp
2
= β m2 + η p2 (1.3.47)

A solução da equação (1.3.32a) corresponde ao caso 4 da Tabela 1.3.2 e já foi mostrada na


Equação (1.3.37b).
A solução do Problema 2 fica na forma genérica

∞ ∞ ⎧γ mp cosh ⎡γ mp ( b − y ) ⎤ + ⎫
⎪ ⎣ ⎦ ⎪
θ 2 ( x, y, z ) = ∑∑ cmp sen ( β m x ) ⎨ ⎬ cos (η p z ) (1.3.48)
m =1 p =1
⎩⎪ 1
H senh ⎡γ
⎣ mp ( b − y ) ⎤
⎦ ⎭⎪
da qual se obtém
48

⎪ sen h ⎣⎡γ mp ( b − y ) ⎦⎤ + ⎪
∂θ 2 ( x, y, z ) ∞ ∞ ⎧γ mp
2

−k = k ∑∑ cmp sen ( β m x ) ⎨ ⎬ cos (η p z ) (1.3.49)
∂y m =1 p =1 ⎪⎩+γ mp H1 cos h ⎡⎣γ mp ( b − y ) ⎤⎦ ⎪⎭

Aplicando a condição de contorno (1.3.21d) resulta


∞ ∞
q1′′ = k ∑∑ cmp sen ( β m x ) γ mp
m =1 p =1
2
{ }
sen h ( γ mp b ) + γ mp H1 cos h ( γ mp b ) cos (η p z ) (1.3.50)

sen ( β m x ) dx e cos (ηq z ) dz e


a c
Operando ambos os lados da equação (1.3.50) por ∫ 0 ∫
0

utilizando a condição de ortogonalidade das autofunções resulta para a constante

q1′′ ⎡⎣1 − cos ( β m a ) ⎤⎦ sen (η p c ) 1


cmp = (1.3.51)
k βm Nm η p N p γ mp sen h ( γ mp b ) + γ mp H1 cos h ( γ mp b )
2

que substituída em (1.3.48) leva a forma final da solução do Problema 2

⎧γ mp cosh ⎡γ mp ( b − y ) ⎤ + ⎫
⎪ ⎣ ⎦ ⎪
sen ( β m x ) ⎨ ⎬ cos (η p z )
q′′
θ 2 ( x, y, z ) = 1 ∑∑ ⎣
m ⎦ ( p)
∞ ∞ ⎡1 − cos ( β a ) ⎤ sen η c +
⎩⎪ 1 H senh ⎡γ
⎣ mp ( b − y ) ⎤
⎦ ⎭⎪
k m =1 p =1 βm Nm ηpNp γ mp sen h ( γ mp b ) + γ mp H1 cos h ( γ mp b )
2

(1.3.52)

A norma N m corresponde ao caso 9 da Tabela 1.3.2. A norma N p corresponde ao

caso 4 da Tabela 1.3.2. Assim tem-se

1 2 1 2 (η p2 + H 22 )
= ; = (1.3.53)
N m a N p c (η p2 + H 22 ) + H 2

O Problema 3 é similar ao Problema 2, exceto a direção da condição de contorno não


homogênea. Analogamente, então, tem-se a solução de (1.3.36a) e (1.3.36b) na forma
Z (η p , z ) = η p cosh ⎡⎣η p ( c − z ) ⎤⎦ + H 2 sen h ⎡⎣η p ( c − z ) ⎤⎦ (1.3.54)

na qual
η p2 = η mn
2
= β m2 + γ n2 (1.3.55)

A solução para θ3 , então, será da forma


49

⎧⎪ηmn cosh ⎣⎡η mn ( c − z ) ⎦⎤ + ⎪⎫


sen ( β m x ) cos ( γ n y ) ⎨ ⎬
q2′′ ∞ ∞ ⎡⎣1 − cos ( β m a ) ⎤⎦ sen ( γ n b ) ⎪⎩+ H1senh ⎡⎣ηmn ( c − z ) ⎤⎦ ⎭⎪
θ3 ( x, y, z ) = ∑∑
k m =1 n =1 βm Nm γ n Nn η mn
2
sen h (ηmn c ) + η mn H1 cos h (η mn c )

(1.3.56)

1.3.2 Métodos aproximados

Os métodos aproximados servem para estimativas de soluções quando alguma


complicação dificulta uma solução analítica. Hoje, com o grande desenvolvimento de
métodos numéricos e disponibilidade de computadores, talvez, os métodos aproximados
sejam menos utilizados. Entre os vários métodos aproximados tem-se o método integral,
método de análise de escala e métodos gráficos.

1.3.2.1 Método integral

Considere o problema de encontrar a máxima temperatura na seção transversal de um


condutor elétrico de dimensões L por H, cujo contorno esteja à temperatura T∞ , e com geração
interna q′′′ . Este problema é governado pela seguinte equação, supondo condutividade
térmica constante,
∂ 2T ∂ 2T q′′′
+ 2 =− (1.3.57)
∂x 2
∂y k
com as condições de contorno
T = T∞ em x = ± L / 2 (1.3.58a, b)
T = T∞ em y = ± H / 2 (1.3.58c, d)

A temperatura máxima para este problema ocorre na posição ( x = 0, y = 0 ) que é o

ponto mais distante de todos os contornos. A chave do método integral é a escolha de um


perfil de temperatura que satisfaça as condições de contorno e que quando substituído na
equação integrada permita estimativa de parâmetros de interesse no problema. Definindo o
excesso de temperatura como θ = T − T∞ . Um perfil razoável para T ( x, y ) pode ser da forma
50

⎡ ⎛ x ⎞2 ⎤ ⎡ ⎛ y ⎞2 ⎤
T ( x, y ) = T∞ + θ max ⎢1 − ⎜ ⎟ ⎥ ⎢1 − ⎜ ⎟ ⎥ (1.3.59)
⎢⎣ ⎝ L / 2 ⎠ ⎥⎦ ⎢⎣ ⎝ H / 2 ⎠ ⎥⎦

que satisfaz as condições de contorno e no qual θ max é a incógnita. Integrando a equação


(1.3.57) tem-se

L/2 H /2 ⎛ ∂ 2T ∂ 2T ⎞ q′′′
∫− L / 2 ∫− H / 2 ⎝ ∂x 2 ∂y 2 ⎠
⎜ + ⎟dxdy = −
k
HL (1.3.60)

Derivando a equação (1.3.59) em relação a x e y duas vezes obtém-se

∂ 2T 8θ ⎡ ⎛ y⎞ ⎤
2

= − max ⎢ 1 − 4 ⎜ ⎟ ⎥ (1.3.61a)
∂x 2
L2 ⎢⎣ ⎝ H ⎠ ⎥⎦

∂ 2T 8θ max ⎡ ⎛x⎞ ⎤
2

=− ⎢1 − 4 ⎜ ⎟ ⎥ (1.3.61b)
∂y 2 H 2 ⎣⎢ ⎝ L ⎠ ⎦⎥

Substituindo (1.3.61a, b) em (1.3.60) e integrando o lado esquerdo resulta

16 ⎛ H 2 + L2 ⎞ q′′′
− θ max ⎜ ⎟ = − HL (1.3.62)
3 ⎝ HL ⎠ k

da qual se obtém a temperatura máxima como


16 q′′′ L2 H 2
θ max = (1.3.63)
3 k H 2 + L2
A máxima diferença de temperatura aumenta proporcionalmente com a razão q′′′ / k e com o
quadrado do menor dos dois lados. A fórmula (1.3.63) aproxima-se da solução exata quando a
seção transversal é plana ( H >> L ou H << L ) . Ela é menos precisa no caso de uma seção

quadrada, quando ela superestima a máxima diferença de temperatura em cerca de 27 %.

1.3.2.2 Método de análise de escala

O primeiro termo na equação (1.3.57) representa a curvatura da distribuição de


temperatura na direção x. A curvatura representa a mudança na inclinação ∂T / ∂x , a ordem
de grandeza derivada segunda pode ser avaliada como
⎛ ∂T ⎞ ⎛ ∂T ⎞
⎜ ⎟ −⎜ ⎟
∂ T ⎝ ∂x ⎠ x = L / 2 ⎝ ∂x ⎠ x =0
2
∼ (1.3.64)
∂x 2 L/2−0
51

O símbolo ∼ significa da mesma ordem de grandeza. Por simetria, ( ∂T / ∂x ) x =0 = 0 . O

gradiente de temperatura deve ser proporcional à diferença máxima de temperatura; desta


forma,
⎛ ∂T ⎞ θ
⎜ ⎟ ∼ − max (1.3.65)
⎝ ∂x ⎠ x = L / 2 L/2
e conseqüentemente,
∂ 2T θ
∼ − max 2 (1.3.66)
∂x ( L / 2)
2

Por um argumento semelhante pode-se concluir que


∂ 2T θ
∼ − max 2 (1.3.67)
∂y ( H / 2)
2

Substituindo (1.3.66) e (1.3.67) em (1.3.57) resultará

θ max θ max q′′′


+ ∼ (1.3.68)
( L / 2) ( H / 2)
2 2
k

da qual se obtém a diferença máxima de temperatura como


q′′′ L2 H 2
θ max ∼ (1.3.69)
4k L2 + H 2
A análise de escala levou a um resultado que é cerca de 33 % maior do que o resultado
da análise integral (Eq. (1.3.63)). A análise de escala produz um resultado compacto e barato
que concorda com a solução exata dentro de um fator de grandeza de ordem 1 com a solução
exata do problema.

1.3.2.3 Método gráfico

O método gráfico é ilustrado na Figura 1.3.1. Suponha o caso de uma região retangular
com as faces esquerda e direita isoladas termicamente. Suponha que o topo esteja numa
temperatura mais alta do que o fundo. As linhas horizontais serão linhas isotérmicas, normais
a estas linhas têm-se as linhas de fluxo, que serão as linhas verticais. A taxa total de calor que
entra na parede superior é suposta ser composta de n mini-correntes de igual dimensão, cada
obtida como
q
qi = ( i = 1, 2,… , n ) (1.3.70)
n
52

Cada mini-corrente escoa através de um tubo de calor, isto é, o espaço entre duas linhas de
fluxo adjacentes.

Figura 1.3.1 – Malhas de isotermas e linhas de fluxos: (a) malha quadrada; (b) malha curva

O desenho das linhas de fluxo e das isotermas formam uma malha ou grade. Suponha
que a dimensão de cada malha seja Δx × Δy . Se a dimensão vertical for dividida em m malhas,
pode-se estimar a variação de temperatura em um malha como
Th − Tc
ΔT j = ( j = 1, 2,… , m ) (1.3.71)
m
De acordo com a lei de Fourier, a mini-corrente que passa através do quadrado ( i, j ) é

ΔT j
qi = k ΔxW = kW ΔT j (1.3.72)
Δy
na qual W é a dimensão normal ao plano da folha. Pela combinação das equações (1.3.70)-
(1.3.72) pode-se obter a taxa total de transferência de calor
n
q= Wk (Th − Tc ) (1.3.73)
m
Na equação (1.3.73), define-se o que se chama de fator de forma como
53

n
S= W (1.3.74)
m
Este procedimento que resultou na Eq. (1.3.73) se aplica mesmo no caso das linhas
isotermas e de fluxo serem curvas. Existem nos livros de transferência de calor fatores de
forma para várias configurações.

1.3.3 Métodos numéricos

Atualmente, com o desenvolvimento e maior disponibilização de computadores, os


métodos mais comumente usados para se resolver a equação de condução multidimensional
são métodos numéricos, em que um meio continuo é substituído por subdomínios que formam
uma malha ou conjunto de pontos. Os pontos são nós (nódulos) na intersecção das linhas da
malha ou grade. Em condução de calor, o método numérico mais comumente usado é o
método de diferença finita. Com o uso de métodos numéricos, muitas das simplificações para
se obter soluções analíticas não necessitam serem feitas.

1.3.3.1 Volume finito

Considere um volume de controle de dimensões ( Δx ) × ( Δy ) × W , Figura 1.3.2, um

balanço de energia leva ao


qw + qe + qs + qn + q′′′ΔxΔyW = 0 (1.3.75)
na qual foi assumido que as taxas de calor entram no volume de controle, cujo nó central é
identificado pelo símbolo P . O subscrito w é a face oeste voltada para o nó W ; e a face leste
voltada para o nó E ; s á face sul voltada para o nó S e n é a face norte voltada para o nó N .
As taxas de calor são definidas como
TN − TP
qn ≅ knW Δx
(δ y ) n
TW − TP TE − TP
qw ≅ k wW Δy ΔxΔyWq′′′ qe ≅ keW Δy (1.3.76)
(δ x ) w ( δ x )e
TS − TP
qs ≅ k sW Δx
(δ y ) s
No centro da eq. (1.3.76) está indicada a taxa de geração de calor dentro do volume de
controle.
54

Figura 1.3.2 – Volume de controle em torno de um ponto P.

Substituindo (1.3.76) em (1.3.75) obtém-se


⎡ k Δx k Δx kw Δy ke Δy ⎤
−⎢ s + n + + ⎥ TP +
⎣⎢ (δ y ) s (δ y )n (δ x )w (δ x )e ⎦⎥ (1.3.77)
k Δy k Δy k Δx k Δx
+ w TW + e TE + s TS + n T + q′′′ΔxΔy = 0
(δ x ) w (δ x )e (δ y ) s (δ y )n N
se for considerado que a geração seja uma função da temperatura: q′′′ = S pTp + SC , a equação

(1.3.77) fica na forma


a pTP = aW TW + aETE + aS TS + aN TN + b (1.3.78)

na qual
ke Δy
aE = (1.3.79a)
( δ x )e
k w Δy
aW = (1.3.79b)
(δ x ) w
kn Δx
aN = (1.3.79c)
(δ y )n
k s Δx
aS = (1.3.79d)
(δ y ) s
a p = aE + aW + aN + aS − S P ΔxΔy (1.3.79e)

b = SC ΔxΔy (1.3.79f)
55

A equação (1.3.78) se escrita numa forma matricial sugere um arranjo pentadiagonal,


que pode ser resolvida por técnicas numéricas bem conhecidas.
No caso de um problema tridimensional, a coordenada z também será discretizada e
existirão fluxos nas faces t (topo) e b (fundo), equação (1.3.78) e os coeficientes ficam na
forma
a pTP = aW TW + aETE + aS TS + aN TN + aT TT + aBTB + b (1.3.80)

na qual
ke ΔyΔz
aE = (1.3.81a)
( δ x )e
k w ΔyΔz
aW = (1.3.81b)
(δ x ) w
kn ΔxΔz
aN = (1.3.81c)
(δ y )n
k s ΔxΔz
aS = (1.3.81d)
(δ y ) s
kt ΔxΔy
aT = (1.3.81e)
( δ z )t
kb ΔxΔy
aB = (1.3.81f)
( δ z )b
a p = aE + aW + aN + aS + aT + aB − S P ΔxΔyΔz (1.3.81g)

b = SC ΔxΔyΔz (1.3.81h)
No caso de problemas tridimensionais, a equação (1.3.80) sugere um arranjo
heptadiagonal.

1.3.3.2 Diferença finita

No caso em que se usa o método clássico de diferenças finitas pode-se ter as três
seguintes aproximações para o gradiente de temperatura num ponto i, j , Figura 1.3.3,

∂T ΔT T ( i + 1, j ) − T ( i − 1, j )
≈ = (1.3.82a)
∂x Δx 2Δx
∂T ΔT T ( i, j ) − T ( i − 1, j )
≈ = (1.3.82b)
∂x Δx Δx
56

∂T ΔT T ( i + 1, j ) − T ( i, j )
≈ = (1.3.82c)
∂x Δx Δx

Figura 1.3.3 – Nomenclatura para discretização por diferença finita.

As equações (1.3.82a), (1.3.82b) e (1.3.82c) são conhecidos como diferenças centrais,


diferenças para trás e diferenças para frente respectivamente. Derivadas segundas podem ser
aproximadas como

∂ ⎛ ∂T ⎞ k ⎡⎣T ( i + 1, j ) − T ( i, j ) − T ( i, j ) + T ( i − 1, j ) ⎤⎦
⎜k ⎟≈ =
∂x ⎝ ∂x ⎠ ( )
2
Δ x
(1.3.83)
k ⎡T ( i + 1, j ) − 2T ( i, j ) + T ( i − 1, j ) ⎤⎦
= ⎣
( Δx )
2

Analogamente, tem-se

∂ ⎛ ∂T ⎞ k ⎡⎣T ( i, j + 1) − T ( i, j ) − T ( i, j ) + T ( i, j − 1) ⎤⎦
⎜k ⎟≈ =
∂y ⎝ ∂y ( Δy )
2

(1.3.84)
k ⎡⎣T ( i, j + 1) − 2T ( i, j ) + T ( i, j − 1) ⎤⎦
=
( Δy )
2

Desta forma a equação de condução em regime permanente discretizada em diferenças


finitas fica na forma
T ( i, j − 1) T ( i − 1, j ) 2T ( i, j ) 2T ( i, j ) T ( i + 1, j ) T ( i, j + 1) q′′′
+ − − + + + = 0 (1.3.85)
( Δy ) ( Δx ) ( Δx ) ( Δy ) ( Δx ) ( Δy )
2 2 2 2 2 2
k

que numa forma mais compacta fica como


aTi , j −1 + bTi −1, j + cTi , j + bTi +1, j + aTi , j +1 = di , j (1.3.86)

na qual
57

1
a=− (1.3.87a)
( Δy )
2

1
b=− (1.3.87b)
( Δx )
2

2 2
c= + (1.3.87c)
( Δx ) ( Δy )
2 2

q′′′
di , j = (1.3.87d)
k

1.3.3.3 Elemento finito

O método de elementos finitos, ilustrado na Figura 1.3.4, também tem sido usado para
se resolver a equação de condução, devido sua versatilidade para discretizção de domínios
complexos

( )
∇i k ∇T + q′′′ = 0 (1.3.88)

Multiplicando a equação (1.3.88) por uma função de ponderação W e integrando no domínio


de um elemento, após uma integração por partes obtém-se

∫Ωe
W ∇ik ∇Td Ω + ∫ Wq′′′d Ω = 0
Ωe

− ∫ ∇W ik ∇Td Ω + ∫ Wk ∇T ind Γ + ∫ Wq′′′d Ω = 0 (1.3.89)


Ωe Γe Ωe

∂T
∫Ωe
∇W ik ∇Td Ω = ∫ Wk
Γe ∂n
d Γ + ∫ Wq′′′d Ω
Ωe

Agora, interpola-se a temperatura dentro de um elemento na forma:


T = N Te { } (1.3.90)

na qual
T
⎧ N1 ⎫ ⎧T1 ⎫
⎪N ⎪ ⎪T ⎪
⎪ ⎪ ⎪ ⎪
N =⎨ 2 ⎬ ; {T } e
=⎨ 2 ⎬ (1.3.91a, b)
⎪ ⎪ ⎪ ⎪
⎪⎩ N Ne ⎪⎭ ⎪⎩TNe ⎪⎭

em que N i e Ti são funções de interpolação conhecidas e associadas ao nó i de um elemento e


os valores nodais da temperatura respectivamente num elemento. Tomando caso do método
de Galerkin, em que
58

W = N (1.3.92)

e substituindo (1.3.90) e (1.3.92) em (1.3.89) resultará


∂T
∫Ωe
{ }
∇ { N }ik ∇ N d Ω T e = ∫
Γe
{N } k
∂n
d Γ + ∫ { N } q′′′d Ω
Ωe
(1.3.93)

Figura 1.3.4 – Malhas de elementos finitos: (a) elementos triangulares; (b) elementos
quadrilaterais.

A equação (1.3.93) pode ser escrita numa forma matricial como

{ } { }
⎡⎣ K e ⎤⎦ T e = Q e (1.3.94)

No caso de um problema bidimensional os elementos da matriz ⎡⎣ K e ⎤⎦ e do vetor fonte são

definidos por
⎛ ∂N ∂N j ∂N i ∂N j ⎞
K ije = ∫ k ⎜ i + ⎟dxdy (1.3.95)
Ωe
⎝ ∂x ∂x ∂y ∂y ⎠

∂T
Qie = ∫ N i k d Γ + ∫ N i q′′′dxdy (1.3.96)
Γe ∂n Ωe
59

O primeiro termo do lado direito da Eq. (1.3.96) será avaliado somente nos elementos
que tenha um contorno coincidindo com o contorno externo do domínio com fluxo de calor
especificado. Se o domínio for discretizado em um número de elementos Nelem, considerando
a contribuição de todos os elementos, resultará a forma matricial,
[ K ]{T } = {Q} (1.3.97)

na qual, agora, a matriz [ K ] e o vetor {Q} conterão a contribuição de todos os elementos:

∑ {Q }
Nelem Nelem
[K ] = ∑ ⎡⎣ K e ⎤⎦ ; {Q} = e
(1.3.98)
e =1 e =1

O vetor {T } conterá as temperaturas de todos os pontos do domínio.

A solução da equação (1.3.97) é feita após introdução dos valores conhecidos de


temperatura em alguma parte do contorno do domínio, por técnicas numéricas apropriadas
para solução de sistemas lineares esparsos.
No caso de condução num meio anisotrópico, a equação de condução ficaria na forma:

∂ ⎛ ∂T ⎞
⎜⎜ kij ⎟⎟ + q′′′ = 0 (1.3.99)
∂xi ⎝ ∂x j ⎠
Em tal caso, a matriz ⎡⎣ K e ⎤⎦ será definida na forma para um problema tridimensional:

⎡ ∂Nα ∂N β ⎛ ∂N ∂N β ∂Nα ∂N β ⎞ ∂Nα ∂N β ⎤


⎢ k11 + k12 ⎜ α + ⎟ + k22 + ⎥
⎢ ∂x ∂x ⎝ ∂x ∂y ∂y ∂x ⎠ ∂y ∂y ⎥
⎢ ⎛ ∂N ∂N β ∂Nα ∂N β ⎞ ⎛ ∂N ∂N β ∂Nα ∂N β ⎞ ⎥
K αβe = ∫ ⎢ + k13 ⎜ α + ⎟ + k23 ⎜ α + ⎟ + ⎥dxdydz (1.3.100)
Ωe
⎢ ⎝ ∂x ∂z ∂z ∂x ⎠ ⎝ ∂y ∂z ∂z ∂y ⎠ ⎥
⎢ ⎥
⎢ + k ∂Nα ∂N β ⎥
⎢ 33 ∂z ∂z ⎥
⎣ ⎦
O vetor do termo fonte ficará na forma
⎡⎛ ∂T ∂T ∂T ⎞ ⎤
⎢⎜ k11 + k12 + k13 ⎟ n1 + ⎥
⎢⎝ ∂x ∂y ∂z ⎠ ⎥
⎢ ⎛ ∂T ∂T ∂T ⎞ ⎥
Qαe = ∫ Nα ⎢ + ⎜ k21 + k22 + k23 ⎟ 2 d Γ + ∫Ωe Nα q′′′dxdydz
n + ⎥ (1.3.101)
Γe
⎢ ⎝ ∂x ∂y ∂z ⎠ ⎥
⎢ ⎥
⎢ + ⎛ k ∂T + k ∂T + k ∂T ⎞ n ⎥
⎢⎣ ⎜⎝ 31 ∂x 32
∂y
33
∂z ⎠
⎟ 3 ⎥

Portanto, pode-se ver a vantagem de usar o método de elementos finitos neste
problema mais complexo.
60

1.3.4 Resolução das Equações Geradas pelo Método de Diferenças Finitas

Qualquer que seja o método numérico empregado para solução de uma equação
diferencial parcial, o resultado final é a obtenção de um sistema algébrico de equações que
pode ser escrito na seguinte forma genérica:
AT = B (1.3.102)
na qual A é a matriz de coeficientes que depende da geometria, das propriedades do material,
etc. T é o vetor de incógnitas das temperaturas em pontos do domínio que depende do
método de discretização. B é o vetor de termos fontes, etc.
Existem vários métodos de solução: diretos e iterativos que podem ser encontrados na
literatura.

1.3.4.1 Método de Inversão de Matriz

Trata-se de um método direto, mas nem sempre pode ser aplicado, por exemplo,
quando a matriz A depende de T , o que torna o problema não linear. Em essência o método
consiste em multiplicar pela esquerda a Eq. (1.3.102) pela inversa de A , ou seja, por A−1
A−1 AT = A−1 B ⇔ IT = A−1 B ⇔ T = A−1 B (1.3.103)
A solução para T pode também ser escrita na forma:
T =C (1.3.104)
em que
C = A−1 B (1.3.105)

1.3.4.2 Método de Iterativo de Gauss-Seidel

i −1 n
Dado To fazer Ti( k ) = Ti( k −1 ) + ( bi − ∑ aijT j( k ) − ∑ aijT j( k −1 ) ) / aii , k = 1, 2, 3,.... (1.3.106).
j =1 j =i +1

Nesta equação o termo


i −1 n
∑ aijT j( k ) + ∑ aijT j( k −1 ) (1.3.107).
j =1 j =i +1

pode ser simplesmente implementado como

n
∑ aijTˆ j( k ) , onde Tˆ (k) = ( T1( k ) ,T2( k ) Ti(−1k ) ,Ti( k −1 ) Tn(−k1−1 ) ,Tn( k −1 ) )T (1.3.108)
j =1
61

Portanto, basta manter o vetor T atualizado e utilizar esta informação assim que se torne
disponível. Abaixo apresenta-se o algoritmo baseado na equação (1.3.106)

Algoritmo - Método iterativo de Gauss-Seidel


Escolha um vetor inicial T(0), aproximante de T
Defina o número máximo de iterações, iMax
for k = 1:iMax
T(k-1) = T(k)
for i = 1:n
Calcule o resíduo: r(k)(i) = b(i) – A(i,:)T(k)(:)
T(k)(i) = T(k-1)(i) + r(i)/A(i,i)
end for
Calcule ||r(k)||
Calcule ||T(k) – T(k-1)||
Teste o critério de convergência, continue se necessário
end for

1.3.5 Separação de Variáveis em outros sistemas de coordenadas

O método de separação de variáveis pode ser aplicado em vários outros sistemas de


coordenadas. Vide Bejan, 1993, Ozisik, 1984.
62

1.4. Condução de Calor Multidimensional em Regime Transiente

A condução transiente ocorre principalmente quando um sólido experimenta uma


mudança repentina em seu ambiente térmico, por exemplo, nos processos de tratamento
térmico. Os métodos usados para se resolver tais problemas englobam o modelo de
capacitância concentrada ou o modelo de sólido semi-infinito, transformada de Laplace,
transformada integral, métodos numéricos (diferença finita, elemento finito, etc.) e métodos
aproximados. Alguns destes métodos serão vistos na seqüência.

1.4.1 O modelo da capacitância concentrada

A essência do método da capacitância concentrada é a hipótese de que a temperatura


do sólido é espacialmente uniforme em qualquer instante durante o processo transiente. Ou
seja, despreza-se o gradiente de temperatura no interior do corpo. Sob determinadas
condições, o modelo de capacitância concentrada pode ser aplicado. Normalmente, um
processo de condução transiente inicia-se pela convecção imposta na superfície do sólido, mas
dependendo do nível de temperatura pode ocorrer transferência radiativa. A Figura 1.4.1
ilustra o processo.

Figura 1.4.1 – Resfriamento de um sólido por imersão num líquido.

Considere uma situação na qual as condições térmicas de um sólido podem ser


alteradas por convecção, radiação e fluxo de calor aplicados à superfície e geração interna de
energia. Assume-se que no instante t = 0 a temperatura do sólido seja Ti diferente da

temperatura do fluido T∞ e da temperatura da vizinha Tviz . Em parte da superfície é imposto


63

um fluxo q′′ e a geração interna é qg . Desprezando gradientes de temperatura no interior do

sólido, um balanço de energia fornece


dT
q′′As ,h + qg − qc′′As ,c − qr′′As ,r = ρVc (1.4.1)
dt
Substituindo os fluxos de calor convectivo e radiativo na equação (1.4.1) resulta a equação

( )
q′′As ,h + qg − h (T − T∞ ) As ,c − εσ T 4 − Tviz4 As ,r = ρVc
dT
dt
(1.4.2)

A equação (1.4.2) é uma equação diferencial ordinária não linear que pode ser rearranjada na
forma

q′′As ,h + qg − ⎢ hAs ,c + εσ
(
T 4 − Tviz4 )

As ,r ⎥ (T − T∞ ) = ρVc
dT
(1.4.3)
⎢⎣ (T − T∞ ) ⎥⎦ dt

ou definindo o excesso de temperatura, θ = T − T∞ , resulta após algumas manipulações

dθ he (θ ) As ,c ⎛ q′′As ,h + qg ⎞
+ θ −⎜ ⎟=0 (1.4.4)
dt ρVc ⎝ ρVc ⎠
na qual

he (θ ) = ⎢ h + εσ
(
T 4 − Tviz4 As ,r ⎤

) (1.4.5)
⎢⎣ (T − T∞ ) As ,c ⎥⎦
Definindo
he As ,c q′′As ,h + qg
a= ; b= (1.4.6)
ρVc ρVc
a equação (1.4.4) pode ser reescrita como
dθ ( t )
+ a ( t )θ ( t ) − b ( t ) = 0 (1.4.7)
dt
com a condição inicial
θ ( 0 ) = θi (1.4.8)

A solução da Eq. (1.4.7) com condição inicial (1.4.8) é da forma

( 0 ) (
θ ( t ) = θi exp − ∫ a ( t ′ ) dt ′ + exp − ∫ a ( t ′ ) dt ′
t

0
t
) ∫ b (t′) exp ( −∫ a (t′′) dt′′) dt′
0
t t′

0
(1.4.9)

No caso em que se tenha somente convecção no contorno do sólido e nenhuma


geração interna
hAs
a= , b=0 (1.4.10)
ρVc
64

Em tal caso, resulta a solução


⎛ hAs ⎞
θ ( t ) = θi exp ⎜ − t⎟ (1.4.11)
⎝ ρVc ⎠
Uma análise mostra que o modelo de capacitância concentrada é válido quando o
número de Biot que é razão da resistência condutiva pela resistência convectiva for
hLc
Bi = < 0,1 (1.4.12)
k

1.4.2 O modelo do sólido semi-infinito

O modelo de capacitância concentrada se aplica quando a temperatura através do


sólido tem praticamente o mesmo valor, num período que é denominado regime posterior,
quando
r02
t >> T ≅ T (t ) (1.4.13)
α
na qual r0 é uma dimensão característica do corpo. No regime inicial, quando,

r02
t << T ≅ T ( r ,t ) (1.4.14)
α
o modelo de capacitância concentrada não é mais válido. Neste caso o modelo de sólido semi-
infinito é mais apropriado, Figura 1.4.2. Três casos são de interesse: temperatura constante no
contorno, fluxo de calor constante no contorno ou superfície em contato com um fluido.

Figura 1.4.2 – Modelo de sólido semi-infinito


65

1.4.2.1 O modelo do sólido semi-infinito: temperatura constante no contorno

Considere o seguinte caso,


∂ 2T 1 ∂T
= (1.4.15)
∂x 2 α ∂t
com as condições inicial e de contorno definidas com a seguir,
Condição inicial:
T = Ti em t = 0 (1.4.16)

Condições de contorno:
T = T∞ em x = 0 (1.4.17)
T → Ti em x → ∞ (1.4.18)

A solução das equações (1.4.15) por ser pelo uso de variável de similaridade, desta
forma, define-se
x
η= (1.4.19)
αt
Os termos da Eq. (1.4.15) podem ser transformados como
∂T dT ∂η dT 1
= = (1.4.20)
∂x dη ∂x dη α t

∂ 2T d ⎛ ∂T ⎞ ∂η d 2T 1
= ⎜ ⎟ = (1.4.21)
∂x 2 dη ⎝ ∂x ⎠ ∂x dη 2 α t

∂T dT ∂η dT ⎛ x ⎞
= = ⎜ − 3/ 2 ⎟
(1.4.22)
∂t dη ∂t dη ⎝ 2 α ⋅ t ⎠
Que substituídos em (1.4.15) leva à equação:
d 2T η dT
+ =0 (1.4.23)
dη 2 2 dη
Com as condições de contorno, agora, representadas por
T = T∞ em η = 0 (1.4.24)
T → Ti em η → ∞ (1.4.25)
A Eq. (1.4.23) pode ser rearranjada como
d (T ′ ) η dT
= dη , T ′ = (1.4.26)
T′ 2 dη
Integrando duas vezes em η , a equação (1.4.26) leva ao seguinte resultado:
66

η2
lnT ′ = − + ln C1 (1.4.27)
4

dT ⎛ η2 ⎞
= C1 exp ⎜ − ⎟ (1.4.28)
dη ⎝ 4 ⎠

η ⎡⎛ β ⎞ 2 ⎤
T = C1 ∫ exp ⎢⎜ − ⎟ ⎥ d β + C2 (1.4.29)
0
⎢⎣⎝ 2 ⎠ ⎥⎦

na qual β é uma variável muda e de acordo com a equação (1.4.24), C2 = T∞ :

η ⎡⎛ β ⎞ 2 ⎤
T − T∞ = C1 ∫ exp ⎢⎜ − ⎟ ⎥ d β (1.4.30)
⎣⎢⎝ 2 ⎠ ⎦⎥
0

O membro direito da Eq. (1.4.30) lembra a função erro, definida como


2
erf ( x ) = exp ⎡( − m ) ⎤ dm
x

2
(1.4.30)
π 1/ 2 0 ⎣ ⎦
Com as seguintes propriedades
erf ( 0 ) = 0 erf ( ∞ ) = 1 (1.4.31a, b)

d 2
⎡⎣ erf ( x ) ⎤⎦ = 1 / 2 = 1,1284 (1.4.32)
dx x =0
π
O lado direito da equação (1.4.30) pode ser reformulado como

η ⎡⎛ β ⎞ 2 ⎤ ⎛ β ⎞
T − T∞ = 2C1 ∫ exp ⎢⎜ − ⎟ ⎥ d ⎜ ⎟
0
⎢⎣⎝ 2 ⎠ ⎥⎦ ⎝ 2 ⎠
η/2
= 2C1 ∫ exp ⎡( − m ) ⎤ dm
2
0 ⎣ ⎦ (1.4.33)
π 1/ 2
2 η/2
1 / 2 ∫0
exp ⎡( − m ) ⎤ dm
2
= 2C1
2 π ⎣ ⎦
= C3erf (η / 2 )

Pela condição de contorno (1.4.25), C3 é determinada como, C3 = Ti − T∞ . A solução

para T ( x,t ) fica na forma

T ( x,t ) − T∞ ⎡ x ⎤
= erf ⎢ ⎥ (1.4.34)
Ti − T∞ ⎢⎣ 2 (α t ) ⎥⎦
1/ 2

A partir da equação (1.4.34) pode-se calcular o fluxo de calor por


⎛ ∂T ⎞ Ti − T∞
q′′ ( t ) = −k ⎜ ⎟ = −k (1.4.35)
⎝ ∂x ⎠ x =0 (πα t )
1/ 2
67

1.4.2.2 O modelo do sólido semi-infinito: fluxo de calor constante no contorno

Considere, agora, o caso em que a condição de contorno em x = 0 , seja fluxo e calor


constante especificado, ou seja, em lugar de (1.4.17) tem-se
∂T
−k = q0′′ em x = 0 (1.4.36)
∂x
Definindo uma nova variável como
∂T
φ = −k (1.4.37)
∂x
e introduzindo-a na eq. (1.4.15) resulta
∂ 2φ 1 ∂φ
= (1.4.38)
∂x 2 α ∂t
As condições inicial e de contorno ficam na forma para a variável φ
φ = 0 em t = 0 (1.4.39)
φ = q0′′ em x = 0 (1.4.40a)

φ → 0 em x → ∞ (1.4.40b)
De acordo com o item 1.4.5.1, a solução de (1.4.38) é da forma
⎛ x ⎞
φ = C1erf ⎜ ⎟ + C2 (1.4.41)
⎝ 2 αt ⎠
Usando as condições de contorno (1.4.40a, b) obtém-se C1 = − q0′′ e C2 = q0′′ , e, portanto,

⎡ ⎛ x ⎞⎤ ⎛ x ⎞
φ = q0′′ ⎢1 − erf ⎜ ⎟ ⎥ = q0′′erfc ⎜ ⎟ (1.4.42)
⎣ ⎝ 2 α t ⎠⎦ ⎝ 2 αt ⎠
Substituindo (1.4.42) em (1.4.37) resulta
∂T q′′ ⎛ x ⎞
= − 0 erfc ⎜ ⎟ (1.4.43)
∂x k ⎝ 2 αt ⎠
que integrada leva ao resultado
q0′′ ∞ ⎛ x ⎞
T =−
k ∫x
erfc ⎜ ⎟dx + C
⎝ 2 αt ⎠
(1.4.44)

Após integração por partes da integral na eq, (1.4.44) obtém-se e determinado a constante C
obtém-se a solução para T ( x,t ) na forma

2q0′′ ⎛ α t ⎞ ⎛ x 2 ⎞ q0′′x ⎛ x ⎞
T ( x,t ) − Ti = ⎜⎜ ⎟⎟ exp ⎜ − ⎟− erfc ⎜ ⎟ (1.4.45)
k ⎝ π ⎠ ⎝ 4α t ⎠ k ⎝ 2 αt ⎠
68

A partir de (1.4.45) pode-se obter a temperatura na face x = 0 como

2q0′′ ⎛ α t ⎞
T0 = Ti + ⎜ ⎟ (1.4.46)
k ⎜⎝ π ⎟⎠

1.4.2.3 O modelo do sólido semi-infinito: superfície em contato com um fluido

Neste caso a condição de contorno em x = 0 é imposta na forma


∂T
−k = h (T∞ − T ) em x = 0 (1.4.47)
∂x
Por procedimentos similares aos dos casos anteriores chega-se á solução na forma:
T ( x,t ) − T∞ ⎛ x ⎞ ⎛ hx h 2α t ⎞ ⎛ x h αt ⎞
= e rf ⎜ ⎟ + exp ⎜ + 2 ⎟ erfc ⎜⎜ + ⎟ (1.4.48)
Ti − T∞ ⎝ 2 αt ⎠ ⎝ k k ⎠ ⎝ 2 αt k ⎟⎠

1.4.3 Condução unidimensional

O interesse em soluções unidimensionais transientes é que elas serão usadas,


posteriormente, nas soluções multidimensionais.

1.4.3.1 Placa de espessura constante

Considere o caso de uma placa de espessura 2 L e temperatura inicial Ti , cujos lados

são repentinamente expostos a um meio convectivo de temperatura T∞ e coeficiente h .

Definindo o excesso de temperatura θ ( x,t ) = T ( x,t ) − T∞ , resulta o conjunto de equações para

solução do problema:
- equação de condução
∂ 2θ 1 ∂θ
= (1.4.49)
∂x 2 α ∂t
- condição inicial
θ = θi em t = 0 (1.4.50)
69

- condições de contorno
∂θ
= 0 em x = 0 (1.4.51)
∂x
∂θ
−k = hθ em x = L (1.4.52)
∂x
Pelo procedimento de separação de variáveis, adotando θ ( x,t ) = X ( x )τ ( t ) , obtém-se

d2X
2
+ λ2x = 0 (1.4.53)
dx
dX
= 0 em x = 0 (1.4.54)
dx
dX h
+ X = 0 em x = L (1.4.55)
dx k

= −αλ 2 dt (1.4.56)
τ
A solução de (1.4.53) a (1.4.55) corresponde ao caso 4 da Tabela 4.2, sendo da forma:
⎛ x⎞
X = cos ⎜ λm L ⎟ (1.4.57)
⎝ L⎠
A solução de (1.4.56) é do tipo:
τ = C exp ( −αλ 2t ) (1.4.58)

Portanto, a solução de θ será da forma:



θ ( x,t ) = ∑ Cm cos ( λm x ) exp ( −αλm2 t ) (1.4.59)
m =1

Aplicando a condição inicial obtém-se



θi = ∑ Cm cos ( λm x ) (1.4.60)
m =1

cos ( λn x ) dx e usando a condição de ortogonalidade


L
Operando ambos os da eq. (1.4.60) por ∫
0

das autofunções

θi ∫ cos ( λm x ) dx = Cm ∫ cos 2 ( λm x ) dx
L L
(1.4.61)
0 0

Após efetuar as integrações em (1.4.61) chega à expressão da constante:


2θi sen ( λm L )
Cm = (1.4.62)
λm L + sen ( λm L ) cos ( λm L )
A substituição de (1.4.62) em (1.4.59) leva à solução para a temperatura na forma:
70

θ ( x,t ) T ( x,t ) − T∞
=
θi Ti − T∞
(1.4.63)
∞ sen ( am ) ⎛ x⎞ ⎛ αt ⎞
= 2∑ cos ⎜ am ⎟ exp ⎜ − am2 2 ⎟
m =1 am + sen ( am ) cos ( am ) ⎝ L⎠ ⎝ L ⎠

na qual
hL
amtg ( am ) = , am = λm L (1.4.64)
k
T − T∞
Na forma adimensional , a temperatura depende de três grupos adimensionais:
Ti − T∞
x αt hL
, Fo = 2 , Bi = (1.4.65)
L L k
na qual Fo e Bi são os números de Fourier e de Biot respectivamente.
A temperatura no plano médio da placa pode ser calculada fazendo x = 0 na eq.
(1.4.63), resultando
Tc − T∞ ∞ sen ( am )
= 2∑ (
exp − am2 Fo ) (1.4.66)
Ti − T∞ m =1 am + sen ( am ) cos ( am )

A temperatura em qualquer outro plano da placa pode ser calculada na forma:


T ( x,t ) − T∞ ⎡ T ( x,t ) − T∞ ⎤ ⎡ Tc ( t ) − T∞ ⎤
=⎢ ⎥×⎢ ⎥ (1.4.67)
Ti − T∞ ⎣⎢ Tc ( t ) − T∞ ⎦⎥ ⎣ Ti − T∞ ⎦
É comum graficar os termos entre colchetes na eq. (1.4.67) em função do número de Fourier
tendo o número de Biot como um parâmetro para facilitar estimativas rápidas da temperatura.
A taxa total de transferência de calor é de interesse. Considerando apenas metade da
placa, a máxima taxa de transferência de calor num intervalo 0 − t é calculada por
Qi = ρWHLc (Ti − T∞ ) (1.4.68)

na qual W e H são a largura e altura da placa respectivamente frontal á transferência de


calor.
A taxa de calor real num intervalo 0 − t é sempre menor do que o máximo e pode ser
calculada como

Q ( t ) = WH ∫ q′′dt
t
(1.4.69)
0

na qual
⎛ ∂T ⎞
q′′ = − k ⎜ ⎟ (1.4.70)
⎝ ∂x ⎠ x = L
71

Normalmente se gráfica Q ( t ) / Qi em função de Bi 2 Fo .

1.4.3.2 Cilindro longo

No caso de um cilindro longo, as equações governantes ficam na forma:


- equação de condução
∂ 2θ 1 ∂θ 1 ∂θ
+ = (1.4.71)
∂r 2 r ∂r α ∂t
- condição inicial
θ = θi em t = 0 (1.4.72)

- condições de contorno
∂θ
= 0 em r = 0 (1.4.73)
∂r
∂θ
−k = hθ em r = ro (1.4.74)
∂r
A separação de variáveis agora é proposta como θ ( r,t ) = R ( r )τ ( t ) , que resulta em

d 2 R 1 dR
2
+ + λ2R = 0 (1.4.75)
dr r dr
dR
= 0 em r = 0 (1.4.76)
dr
dR h
+ R = 0 em r = ro (raio externo) (1.4.77)
dr k
A equação na variável tempo é idêntica à do caso do item 1.4.3.1. A solução geral da eq.
(1.4.75) é do tipo:
R = C1 J 0 ( λ r ) + C2Y0 ( λ r ) (1.4.78)

na qual J 0 e Y0 são funções de Bessel de ordem zero do primeiro e segundo tipos


respectivamente.
O valor finito da temperatura no centro do cilindro requer que C2 = 0 . A solução final
para a temperatura será da forma:
T ( r,t ) − T∞ ∞
⎛ r⎞
=∑
2 Bi
(
J 0 ⎜ bn ⎟ exp −bn2 Fo ) (1.4.79)
Ti − T∞ n =1 ( 2
n
2
)
b + Bi J 0 ( bn ) ⎝ ro ⎠
72

Na qual os números de Fourier e Biot são definidos como


αt hro
Fo = 2
, Bi = (1.4.80)
ro k

e os autovalores bn = λn ro sã as raízes da equação transcendental:

bn J1 ( bn ) − BiJ 0 ( bn ) = 0 (1.4.81)

1.4.3.3 Esfera

No caso de uma esfera, as equações governantes ficam na forma:


- equação de condução
∂ 2θ 2 ∂θ 1 ∂θ
+ = (1.4.82)
∂r 2 r ∂r α ∂t
- condição inicial
θ = θi em t = 0 (1.4.83)

- condições de contorno
∂θ
= 0 em r = 0 (1.4.84)
∂r
∂θ
−k = hθ em r = ro (1.4.85)
∂r

Definindo uma nova variável φ = rθ obtém-se um novo conjunto de equações na


forma:
- equação de condução
∂ 2φ 1 ∂φ
= (1.4.86)
∂r 2 α ∂t
- condição inicial
φ = rθi em t = 0 (1.4.87)

- condições de contorno
φ = 0 em r = 0 (1.4.88)

∂φ ⎛ h 1 ⎞
+ ⎜ − ⎟ φ = 0 em r = ro (1.4.89)
∂r ⎝ k ro ⎠
73

As equações (1.4.86), (1.4.88) e (1.4.89), após separação de variáveis, correspondem


ao caso 7 da Tabela 4.2 e, portanto, a solução é do tipo:

φ = ∑ Cm sen ( λm r ) exp ( −αλm2 t ) (1.4.90)
m =1

na qual
⎛ hro ⎞
λm r0 ctg ( λm ro ) = − ⎜ − 1⎟ (1.4.91)
⎝ k ⎠
Aplicando a condição inicial obtém-se

rθi = ∑ Cm sen ( λm r ) (1.4.92)
m =1

cos ( λn r ) dr e usando a condição de ortogonalidade


r0
Operando ambos os da eq. (1.4.92) por ∫
0

das autofunções

θi ∫ r s en ( λm r ) dr = Cm ∫ s en 2 ( λm r ) dr
r0 r0
(1.4.93)
0 0

Após efetuar as integrações em (1.4.89) chega à expressão da constante:


2θi ⎡⎣ sen ( λm r0 ) − λm r0 cos ( λm r0 ) ⎤⎦
Cm = (1.4.94)
λm ⎡⎣λm r0 − sen ( λm r0 ) cos ( λm r0 )⎤⎦
A substituição de (1.4.94) em (1.4.90) leva à solução para a temperatura na forma:
∞ s en ( sm r / r0 )
θ = 2θi ∑ K m
sm r / r0
(
exp − sm2 Fo ) (1.4.95)
m =1

na qual
2 ⎡ sen ( sm ) − sm cos ( sm ) ⎤⎦
Km = ⎣ (1.4.96)
sm − sen ( sm ) cos ( sm )

sm ctg ( sm ) = 1 − Bi, sm = λm r0 (1.4.97)

αt hro
Fo = 2
, Bi = (1.4.98)
r
o k
Tanto no caso do cilindro quanto da esfera são apresentados resultados similares ao
caso da placa de espessura finita.
74

1.4.4 Condução multidimensional transiente

Os resultados do item 1.4.3 podem ser usados para se determinar o campo de


temperatura em condução multidimensional como será ilustrado a seguir. Considere o caso
em que se deseja determinar a distribuição de temperatura numa barra retangular 2 L × 2 H .
Como ilustrado na Figura 1.4.3, a distribuição de temperatura numa barra imersa num
fluido pode ser determinada como o produto da solução da placa vertical pela solução da
placa horizontal. A equação original é da forma
∂ 2θ ∂ 2θ 1 ∂θ
+ = (1.4.99)
∂x 2 ∂y 2 α ∂t
Supondo uma solução na forma
θ ( x,t, y ) = θ L ( x,t ) × θ H ( y,t ) (1.4.100)

Derivando (1.4.100) duas vezes em relação a x e y, uma vez em relação ao tempo e


substituindo em (1.4.99), pode-se verificar que ela é automaticamente satisfeita
⎛ ∂ 2θ L 1 ∂θ L ⎞ ⎛ ∂ 2θ H 1 ∂θ H ⎞
⎜ 2 − θ
⎟ H ⎜ 2 −
+ ⎟θ L = 0 (1.4.101)
⎝ ∂x α ∂t ⎠ ⎝ ∂y α ∂t ⎠
Ambos os termos entre parênteses são nulos o que mostra que a solução produto satisfaz a
equação original.
A solução (1.4.100) é respeitada apenas se a temperatura inicial também satisfaça
θi = θi ,L × θi ,H (1.4.102)
Dividindo (1.4.100) por (1.4.102) membro a membro, pode-se verificar que a temperatura
adimensional da barra também é o produto das temperaturas adimensionais das placas, ou
seja,
⎡ θ ( x, y,t ) ⎤ ⎡ θ ( x,t ) ⎤ ⎡ θ ( y,t ) ⎤
⎢ ⎥ =⎢ ⎥ ×⎢ ⎥ (1.4.103)
⎣ θi ⎦ barra ,
2 L× 2 H
⎣ θi ⎦ placa ,
L = metade da espessura
⎣ θ i ⎦ placa ,
H = metade da espessura

Bejan (1993) mostra que a taxa total de transferência de calor pode ser calculada como
Q (t ) ⎛Q⎞ ⎛Q⎞ ⎛Q⎞ ⎛Q⎞
= ⎜ ⎟ +⎜ ⎟ −⎜ ⎟ ⎜ ⎟ (1.4.103)
Qi ⎝ Qi ⎠ L ⎝ Qi ⎠ H ⎝ Qi ⎠ L ⎝ Qi ⎠ H
75

Figura 1.4.3 Produto de soluções unidimensionais

Outras soluções para outras geometrias podem ser obtidas da mesma maneira.
Considere o caso de um cilindro curto de comprimento 2 L e raio externo ro , como ilustrado
na Figura 1.4.4.
76

Figura 1.4.4 – Determinação da temperatura dependente do tempo num cilindro curto.

A solução para este caso fica na forma


⎡ θ ( r,x,t ) ⎤ ⎡ θ ( r,t ) ⎤ ⎡ θ ( x,t ) ⎤
⎢ ⎥ cilindro curto , =⎢ ⎥ ×⎢ ⎥ (1.4.104)
⎣ θi ⎦ L = metade do comprimento ⎣ θi ⎦ cilindro
r = raio
longo , ⎣ θi ⎦ placa ,
L = metade da espessura
ro = raio o

Os casos da placa semi-infinita e de um cilindro semi-infinito podem ser obtidos como


ilustrado na Figura 1.4.5.

Figura 1.4.5 – Determinação da temperatura dependente do tempo numa placa e num cilindro
semi-infinitos.
77

A solução da placa semi-infinita é o produto da solução da placa de espessura finita


pela solução do sólido semi-infinito (item 1.4.2) e fica na forma
⎡ θ ( x, y,t ) ⎤ ⎡ θ ( x,t ) ⎤ ⎡ θ ( y,t ) ⎤
⎢ ⎥ =⎢ ⎥ ×⎢ ⎥ (1.4.105)
⎣ θi ⎦ Lplaca semi −inf inita ,
= metadade espessura
⎣ θi ⎦ placa infinita ,
L = metade da espessura
⎣ θ i ⎦ meio semi-infinito ,
y = normal a superficie

No caso do cilindro semi-infinito, a solução é da forma


⎡ θ ( r,x,t ) ⎤ ⎡ θ ( r,t ) ⎤ ⎡ θ ( x,t ) ⎤
⎢ ⎥ =⎢ ⎥ ×⎢ ⎥ (1.4.106)
⎣ θi ⎦ cilindro
r = raio
semi − infinito , ⎣ θ i ⎦ cilindro
r = raio
infinito , ⎣ θi ⎦ meio semi-infinito ,
x = normal a superficie
o o

O calculo da taxa total de transferência de calor é feito nos casos das equações
(1.4.104) a (1.4.106) por uma equação similar à eq. (1.4.103)
Finalmente, no caso de um paralelepípedo, como ilustrado na Figura 1.4.6, a solução
tridimensional pode ser obtida como
⎡ θ ( x, y,z,t ) ⎤ ⎡ θ ( x,t ) ⎤
⎢ ⎥ =⎢ ⎥
⎣ θi ⎦ barra , ⎣ θi ⎦ placa ,
2 L× 2 H L = metade da espessura

⎡ θ ( y,t ) ⎤
×⎢ ⎥ (1.4.107)
⎣ θi ⎦ Hplaca ,
= metade da espessura

⎡ θ ( z,t ) ⎤
×⎢ ⎥
⎣ θi ⎦Wplaca ,
= metade da espessura

1.4.6 - Determinação da temperatura dependente do tempo num paralelepípedo imerso num


fluido.

A taxa total de transferência de calor neste caso, de acordo com Bejan (1993) é
calculada como

Q (t ) ⎛ Q ⎞ ⎛ Q ⎞ ⎡ ⎛ Q ⎞ ⎤ ⎛ Q ⎞ ⎡ ⎛ Q ⎞ ⎤⎡ ⎛ Q ⎞ ⎤
= ⎜ ⎟ + ⎜ ⎟ ⎢1 − ⎜ ⎟ ⎥ + ⎜ ⎟ ⎢1 − ⎜ ⎟ ⎥ ⎢1 − ⎜ ⎟ ⎥ (1.4.108)
Qi ⎝ Qi ⎠ L ⎝ Qi ⎠ H ⎢⎣ ⎝ Qi ⎠ L ⎥⎦ ⎝ Qi ⎠W ⎢⎣ ⎝ Qi ⎠ L ⎥⎦ ⎢⎣ ⎝ Qi ⎠ H ⎥⎦
78

1.4.5 Fontes e sumidouros concentrados

Neste item consideram-se casos de condução dependente do tempo em que o aspecto


principal é a geração (ou absorção) de calor em uma região muito pequena – uma região
concentrada- do meio condutor. Quando calor é liberado no meio a partir desta pequena
região, o processo será de condução transiente na vizinhança de uma fonte de calor. Exemplos
incluem fissuras cheias de vapor geotérmico, explosões subterrâneas, containeres de lixo
nuclear ou químico, cabos elétricos enterrados no subsolo.
Quando a pequena região recebe calor do meio infinito, a região funciona como um
sumidouro concentrado de calor. Um exemplo é o caso de um duto enterrado de um trocador
de calor através do qual uma bomba de calor recebe calor do meio ambiente (solo) a fim de
aumentá-lo e depositá-lo num edifício.

1.4.5.1 Fontes e sumidouros instantâneos

Considere, primeiramente, a direção x através de um meio infinito com propriedades


constantes ( k ,α , ρ ,c ) , Figura 1.4.7. A equação de condução na direção x , para o excesso de

temperatura θ ( x,t ) = T ( x,t ) − T∞ é:

∂ 2θ 1 ∂θ
= (1.4.109)
∂x 2 α ∂t
Uma solução que satisfaz (1.4.109) pode ser do tipo:

K ⎛ x2 ⎞
θ ( x,t ) = exp ⎜ − ⎟ (1.4.110)
αt ⎝ 4α t ⎠
na qual K é uma constante.
Integrando a eq. (1.4.110) resulta
∞ ∞ K ⎛ x2 ⎞
∫ θ ( x,t ) dx = ∫ exp ⎜ − ⎟ dx (1.4.111)
−∞ −∞
αt ⎝ 4α t ⎠
Após um rearranjo a eq. (1.4.111) pode ser escrita como
79

∞ ⎧⎪ 2 −∞ ⎡ ⎛ η ⎞2 ⎤ ⎛ dη ⎞ 2 ∞ ⎡ ⎛ η ⎞ 2 ⎤ ⎛ dη ⎞ ⎫⎪
∫ θ ( x,t ) dx = K π 1 / 2 ⎨− ∫ exp ⎢ − ⎜ ⎟ ⎥ ⎜ ⎟ + 1/ 2 ∫ exp ⎢ − ⎜ ⎟ ⎥ ⎜ ⎟⎬
⎩⎪ π ⎣⎢ ⎝ 2 ⎠ ⎦⎥ ⎝ 2 ⎠ π ⎣⎢ ⎝ 2 ⎠ ⎦⎥ ⎝ 2 ⎠ ⎭⎪
−∞ 1/ 2 0 0

=K π 1 / 2 ⎡⎣ −erf ( −∞ ) + erf ( ∞ ) ⎤⎦
=K π 1 / 2 ⎡⎣ − ⎡⎣ −erf ( ∞ ) ⎤⎦ + erf ( ∞ ) ⎤⎦ (1.4.112)
=K π 1 / 2 2erf ( ∞ )
=2π 1 / 2 K
A integral do lado esquerdo da eq. (1.4.112) é proporcional ao inventário de energia interna
do de meio inteiro:
∞ ∞ ∞
∫ ρ ( u − u∞ ) Adx = ∫ ρ c (T − T∞ ) Adx = ρ cA∫ θ dx (1.4.113)
−∞ −∞ −∞

na qual A é a grande área do plano normal à direção x . Mas



∫ ρ ( u − u∞ ) Adx = Q (1.4.114)
−∞

é depósito de calor no plano x = 0 no instante de tempo t = 0 . Combinando as equações


(1.4.112) a (1.4.114) obrem-se
Q′′
K= (1.4.115)
2π 1 / 2 ρ c
na qual Q′′ = Q / A é o “poder” da fonte plana instantânea. Assim, o excesso de temperatura
na vizinhança do plano x = 0 em que Q′′ é liberado no instante t = 0 é

Q′′ ⎛ x2 ⎞
θ ( x,t ) = exp ⎜ − ⎟ (fonte plana instantânea) (1.4.116)
2 ρ c πα t ⎝ 4α t ⎠

Figura 1.4.7 – Distribuição de temperatura na vizinhança de uma fonte de calor instantânea.


80

Fórmulas similares podem ser obtidas para fontes no formato de linha ou fontes
pontuais. Em tais casos tem-se

Q′ ⎛ r2 ⎞
θ ( r,t ) = exp ⎜ − ⎟ (fonte linha instantânea) (1.4.117)
4 ρ cπα t ⎝ 4α t ⎠

Q ⎛ r2 ⎞
θ ( r,t ) = exp ⎜ − ⎟ (fonte ponto instantânea) (1.4.118)
8ρ c (πα t ) ⎝ 4α t ⎠
3/ 2

1.4.5.2 Fontes e sumidouros persistentes (contínuos)

A distribuição de temperatura dependente do tempo e o processo de condução que são


induzidos por fontes que persistem no tempo podem ser determinados analiticamente pela
superposição de efeitos de um grande número de fontes instantâneas.
Assuma o caso, novamente, o caso da fonte plana, eq. (1.4.116), só que no instante
t = 0 e no plano x = 0 , a magnitude da fonte seja Q0′′ . Então, pela eq. (1.4.116) tem-se a

distribuição de temperatura

Q0′′ ⎛ x2 ⎞
θ 0 ( x,t ) = exp ⎜ − ⎟ (1.4.119)
2 ρ c πα t ⎝ 4α t ⎠
Assuma também que no instante t = t1 , o plano x = 0 recebe uma nova fonte, Q1′′ . Se
esta nova fonte ocorrer só, ou seja, sem a presença de Q0′′ , então a variação de temperatura

provocada por Q1′′ poderia ser escrito na forma

Q1′′ ⎡ x2 ⎤
θ1 ( x,t ) = exp ⎢ − ⎥ (1.4.120)
2 ρ c πα ( t − t1 ) ⎢⎣ 4α ( t − t1 ) ⎥⎦

na qual, agora, t − t1 conta o tempo decorrido após a liberação de Q1′′ .


Se Q1′′ ocorrer na presença da temperatura criada por Q0′′ no instante t = 0 , então, a

distribuição de temperatura após t = t1 é simplesmente a soma de θ 0 ( x, t ) e θ1 ( x, t ) . Ou seja,

para t > 0 pode-se escrever


⎧⎪θ 0 ( x, t ) 0 < t < t1
θ ( x, t ) = ⎨ (1.4.121)
⎪⎩θ 0 ( x, t ) + θ1 ( x, t ) t1 < t

Pode ser mostrado que θ = θ 0 + θ1 satisfaz a eq. (1.4.109).


81

Outras entradas podem ser adicionadas à eq. (1.4.121) se fontes adicionais de


dimensão Qi′′ forem depositadas em tempos ti na fonte plana x = 0 . Por exemplo, após o

tempo t = tn (isto é, após n + 1 depósitos), a distribuição de temperatura é dada por

θ ( x, t ) = θ 0 + θ1 + θ 2 + + θn (1.4.122)

Uma fonte contínua no plano x = 0 em o mesmo efeito que uma seqüência de um


grande número de pequenas fontes planas instantâneas de igual tamanho:
ΔQ′′ = q′′Δt (1.4.123)

( )
na qual q′′ W / m 2 é o depósito de calor por unidade de área e tempo, e Δt é a curta duração

de cada depósito (tiro). Quando Δt se torna infinitesimalmente pequeno, a soma na eq.


(1.4.122) é substituída por uma integral

θ ( x, t ) = ∫ θi dτ
t

t q′′ ⎡ x2 ⎤ (1.4.124)
=∫ exp ⎢ − ⎥ dτ
0
2 ρ c πα ( t − τ ) ⎢⎣ 4α ( t − τ ) ⎥⎦

No integrando, a variável muda τ marca o tempo quando cada adicional fonte q′′dτ
entra em ação. Quando a integral (1.4.124) é avaliada o resultado é a distribuição de
temperatura próxima ao plano x = 0 em que fontes contínuas q′′ são ligadas no tempo t = 0 :

q′′ ⎛ t ⎞ ⎛ x 2 ⎞ q′′ x ⎛ x ⎞
θ ( x,t ) = ⎜⎜ ⎟⎟ exp ⎜− ⎟− erfc ⎜ ⎟ (fonte plana contínua) (1.4.125)
ρ c ⎝ πα ⎠ ⎝ 4α t ⎠ 2k ⎝ 2 αt ⎠
No plano x = 0 tem-se

q′′ ⎛ t ⎞
1/ 2

θ ( 0,t ) =
ρ c ⎜⎝ πα ⎟⎠
(1.4.126)

o que mostra que mesmo que a fonte plana persista em nível constante q′′ , a temperatura na
fonte plana e no meio aumenta quando o tempo t cresce.
As distribuições de temperatura também podem ser obtidas de forma similar para
fontes linhas e pontuais contínuas. No caso de fontes linhas, pela eq. (1.4.117) pode obter
q′ ∞ e−u
θ ( r,t ) = ∫ du (fonte linha contínua) (1.4.127)
4π k r 2 / 4α t u
Em um tempo suficientemente longo e/ou para distâncias radiais pequenas, onde o grupo
r 2 / 4α t é menor do que 1, a distribuição de temperatura se aproxima por

q′ ⎡ ⎛ 4α t ⎞ ⎤ ⎛ r2 ⎞
θ ( r, t ) ≅ ⎢ ln ⎜ r 2 ⎟ − 0,5772 ⎥ ⎜ ⎟ << 1 (1.4.128)
4π k ⎣ ⎝ ⎠ ⎦ ⎝ 4α t ⎠
82

O efeito de uma fonte pontual contínua pode ser determinado pela superposição de um
grande número de fontes pontuais instantâneas de igual tamanho:

q ⎛ r2 ⎞
θ ( r,t ) = e rfc ⎜ − ⎟ (fonte pontual contínua) (1.4.129)
4π kr ⎝ 2 αt ⎠
Lembrando que erfc ( 0 ) = 1 , pode-se concluir que na medida em que o tempo cresce e o

argumento r / ⎡ 2 (α t ) ⎤ se torna consideravelmente menor do que 1, a distribuição de


1/ 2

⎣ ⎦
temperatura se estabiliza no nível
q
θ ( r,∞ ) = (1.4.130)
4π kr
As mesmas fórmulas e equações se aplicam para o caso de sumidouros instantâneos e
contínuos, pela simples troca dos sinais de ( Q′′, Q′, Q, q′′, q′, q ) nas respectivas equações.

1.4.5.3 Fontes de calor móveis

Uma característica das fontes e sumidouros móveis é a simetria das isotermas em


torno do local da fonte. Agora, considera o caso de fontes que se movem em relação ao meio
condutivo com velocidade constante, como ilustrado na Figura 1.4.8, a qual pode representar
um processo de soldagem de duas chapas. Após um longo período de tempo, pode-se escrever
as equações governantes para essa fonte linha como
∂T ∂ 2T
U =α 2 (1.4.131)
∂x ∂y
T = T∞ em y = ±∞ (1.4.132)

q′ = ∫ ρ cU (T − T∞ ) dy (1.4.133)
−∞

Figura 1.4.8 – Fonte móvel


83

A solução do problema (1.4.131) a (1.4.133) pode ser obtida definindo as variáveis


q′ / ρ c
T ( x, y ) − T∞ = θ (η ) (1.4.134)
(U α x )
1/ 2

1/ 2
⎛U ⎞
η = y⎜ ⎟ (1.4.135)
⎝αx ⎠
as quais substituídas em (1.4.131) a (1.4.133) resulta
d 2θ η dθ 1
+ + θ =0 (1.4.136)
dη 2 2 dη 2
θ = 0 em η = ±∞ (1.4.137)

∫−∞
θ dη = 1 (1.4.138)

A solução de (1.4.136) que satisfaz (1.4.236) e (1.4.137) deve ser do tipo

θ = Ce−η
2
/4
(1.4.139)
a qual substituída em (1.4.138) leva ao resultado para a constante C

C ∫ e −η / 4 dη = 1
2

−∞

⎡ ∞ −⎜⎛ η ⎟⎞ ⎛ η ⎞ ⎤
2

2C ⎢ ∫ e ⎝ 2 ⎠ d ⎜ ⎟ ⎥ = 1
⎢ −∞ ⎝ 2 ⎠ ⎥⎦

⎡ 0 −⎛⎜ η ⎞⎟ ⎛ η ⎞ ∞ −⎛⎜ η ⎞⎟ ⎛ η ⎞ ⎤
2 2

2C ⎢ ∫ e ⎝ 2 ⎠ d ⎜ ⎟ + ∫ e ⎝ 2 ⎠ d ⎜ ⎟ ⎥ = 1
⎢ −∞ ⎝2⎠ 0 ⎝ 2 ⎠ ⎥⎦

π 1/ 2 ⎡ 2 −∞ −⎜⎝ 2 ⎟⎠ ⎛ η ⎞ 2 ∞ −⎜⎝ 2 ⎟⎠ ⎛ η ⎞ ⎤
⎛η ⎞ ⎛η ⎞
2 2

2 ⎢ π 1/ 2 ∫0
2C ⎢− e d ⎜ ⎟ + 1/ 2 ∫ e d ⎜ ⎟⎥ = 1 (1.4.140)
⎝ 2⎠ π 0
⎝ 2 ⎠ ⎥⎦

Cπ 1/ 2 ⎡⎣ −erf ( −∞ ) + erf ( ∞ ) ⎤⎦ = 1
Cπ 1/ 2 2erf ( ∞ ) = 1
C = 1/ π 1/ 2 2
A solução para θ será, portanto, da forma

e −η / 4
2

θ = 1/ 2 (1.4.141)

que substituída em (1.4.134) juntamente com (1.4.135) leva ao resultado para a distribuição
de temperatura:
q′ / ρ c ⎛ Uy 2 ⎞
T ( x, y ) − T∞ = exp ⎜ − ⎟ (1.4.142)
( 4π U α x ) ⎝ 4α x ⎠
1/ 2
84

No caso de uma fonte pontual contínua, de forma similar pode-se obter a distribuição
de temperatura como

q′ / ρ c ⎛ Ur 2 ⎞
T ( r , y ) − T∞ = exp ⎜ − ⎟ (1.4.143)
4πα x ⎝ 4α x ⎠

1.4.6 Solidificação e fusão

Os problemas de transferência de calor com mudança de fase envolvem um


movimento de fronteira cuja posição deve ser determinada como parte da solução. Os casos
considerados aqui são de fusão e solidificação.

1.4.6.1 Solidificação e fusão unidimensional

A Figura 1.4.9 ilustra os casos de fusão e solidificação unidimensional de um material.

Figura 1.4.9 – Processos de fusão e solidificação

A Figura 1.4.10 ilustra o movimento da fronteira e balanço de energia na mudança de


fase. Considerando um volume de controle em torno da fronteira móvel tem-se pela primeira
lei da termodinâmica
⎛ dδ ⎞ ⎛ dδ ⎞ ⎛ ∂T ⎞
⎜ρA ⎟ hl −⎜ρA ⎟ hs = − kl A ⎜ ⎟ em x = δ ( t ) (1.4.144)
⎝ dt ⎠ ⎝ dt ⎠ ⎝ ∂x ⎠ x =δ ,lado liquido
85

na qual A , hl hs são a entalpia são a área frontal do volume de controle, a entalpia específica
do líquido e a entalpia específica do sólido respectivamente. O termo do lado direito de
(1.4.144) representa a transferência de calor que chega de cima, isto é, do lado líquido da
frente de fusão. Não foi considerado nenhum termo de transferência de calor do lado do
sólido da frente de fusão, pois o sólido foi considerado isotérmico. O coeficiente kl é,
portanto, a condutividade térmica do líquido.

Figura 1.4.10 – Fusão de um sólido semi-infinito

O cálculo da frente de fusão requer a determinação dos campos de temperatura. Uma


solução simples é baseada na observação de que bem no início do processo, quando a camada
de fusão é bem fina, a distribuição de temperatura é linear:
T ( x,t ) − Tm x
≅ 1− (1.4.145)
T0 − Tm δ (t )
da qual se obtém
∂T ( x,t ) T0 − Tm
≅− (1.4.146)
∂x δ (t )
Substituindo (1.4.146) em (1.4.144) resulta uma equação para determinar δ :
dδ k
δ ≅ l (T0 − Tm ) (1.4.147)
dt ρ hsl
cuja solução é
1/ 2
⎡ kt ⎤
δ ( t ) ≅ ⎢ 2 l (T0 − Tm ) ⎥ (1.4.148)
⎣ ρ hsl ⎦
em que hsl = hl − hs é o calor latente de fusão do material.
De acordo com Bejan (1993) uma solução exata foi obtida por Stefan e é da forma:
86

c (T0 − Tm )
π 1 / 2 λ exp ( λ 2 ) erf ( λ ) = (1.4.149)
hsl
na qual c é o calor específico do líquido e λ é um número adimensional definido como
δ
λ= (1.4.150)
2 (α t )
1/ 2

O grupo aparecendo do lado direito da eq. (1.4.149) é denominado por número de Stefan:
c (T0 − Tm )
Ste = (1.4.151)
hsl
No caso em que há troca de calor tanto no líquido quanto no sólido como ilustrado nos
processos de solidificação e fusão da Figura 1.4.11, a equação na interface fica na forma
∂Ts ∂T dδ ( t )
ks − kl l = ρ hsl em x = δ ( t ) (1.4.152)
∂x ∂x dt
Se do lado líquido predominar um processo de troca convectiva com coeficiente de troca de
calor convectivo h , a equação na interface fica na forma
∂Ts dδ ( t )
ks − h (T∞ − Tm ) = ρ hsl em x = δ ( t ) (1.4.153)
∂x dt

Figura 1.4.11 Processo de mudança de fase: (a) solidificação; (b) fusão

Se as densidades do líquido e do sólido forem diferentes, com ρ s > ρl e considerando


movimento do líquido pelos efeitos volumétricos, a equação na interface fica como
∂Ts ∂T
ks − kl l = ( ρl hl − ρ s hs ) Vx − ρl hV
l l em x = δ ( t ) (1.4.154)
∂x ∂x
na qual Vl é a velocidade do líquido pelos efeitos volumétricos e a velocidade da fronteira é
87

dδ ( t )
Vx = (1.4.155)
dt
Um balanço de massa na fronteira leva ao resultado
( ρl − ρ s )Vx = ρlVl (1.4.156)

da qual se obtém

Vl =
( ρl − ρ s )Vx (1.4.157)
ρl
Substituindo (1.4.157) em (1.4.154) obtém-se na interface
∂Ts ∂T
ks − kl l = ρ s ( hl − hs ) Vx = ρ s hslVx em x = δ ( t ) (1.4.158)
∂x ∂x
que é idêntica à eq. (1.4.152), exceto com a massa específica do sólido no lugar da massa
específica constante.

1.4.6.2 Solidificação e fusão multidimensional

No caso de um processo de fusão ou solidificação tridimensional, a frente de mudança


de fase será uma superfície no espaço como ilustrado Figura 1.4.12 dada pela função
F ( x, y,z,t ) = 0 .

Figura 1.4.12 – Solidificação em três dimensões.

Para um movimento da fronteira na direção da normal n , o balanço de energia na


fronteira leva à equação
∂Ts ∂T
ks − kl l = ρ ( hl − hs )Vn em F ( x, y,z,t ) = 0 (1.4.159)
∂n ∂n
88

Uma forma explícita de escrever a função que representa a superfície de mudança de


fase é:
F ( x, y , z , t ) ≡ z − s ( x, y , t ) = 0 (1.4.160)

O vetor normal à superfície pode ser calculado como


∇F
n= (1.4.161)
∇F

A superfície F está na temperatura de mudança de fase e, portanto, ela é uma superfície


isotérmica; conseqüentemente, ∇T é normal a esta superfície, daí,
∇F ∇Ti
n= = , i = s ou l (1.4.162)
∇F ∇Ti

A partir de (1.4.162) pode-se obter que


∂Ti ∇T i∇F
= ∇Ti in = i , i = s ou l (1.4.163)
∂n ∇F

V i∇F
Vn = V in = (1.4.164)
∇F

A derivada total de (1.4.160) é:


∂F ∂F ∂F ∂F
dt + dx + dy + dz = 0 (1.4.165)
∂t ∂x ∂y ∂z
da qual se obtém
∂F dx ∂F dy ∂F dz ∂F
+ + =−
∂x dt ∂y dt ∂z dt ∂t
(1.4.166)
∂F
V i∇F = −
∂t
−∂F / ∂t
Vn = V in = (1.4.167)
∇F

Também se pode demonstrar que


∂F ∂s ∂F ∂s ∂F ∂F ∂s
=− , =− , = 1, =− (1.4.168)
∂x ∂x ∂y ∂y ∂z ∂t ∂t

∂Ti ⎡ ⎛ ∂s ⎞ ⎛ ∂s ⎞ ⎤
2 2

∇Ti i∇F = ⎢1 + ⎜ ⎟ + ⎜ ⎟ ⎥ (1.4.169)


∂z ⎢ ⎝ ∂x ⎠ ⎝ ∂y ⎠ ⎥
⎣ ⎦

∂Ti ∂Ti ⎡ ⎛ ∂s ⎞ ⎛ ∂s ⎞ ⎤
2 2

= ⎢1 + ⎜ ⎟ + ⎜ ⎟ ⎥ / ∇F (1.4.170)
∂n ∂z ⎢ ⎝ ∂x ⎠ ⎝ ∂y ⎠ ⎥
⎣ ⎦
89

Substituindo (1.4.167) e (1.4.170) em (1.4.159) resulta para o caso tridimensional a


equação na interface:
⎡ ⎛ ∂s ⎞2 ⎛ ∂s ⎞ 2 ⎤ ⎛ ∂T ∂T ⎞ ∂s
⎢1 + ⎜ ⎟ + ⎜ ⎟ ⎥ ⎜ k s s − kl l ⎟ = ρ hsl em z = s ( x, y,t ) (1.4.171)
⎢⎣ ⎝ ∂x ⎠ ⎝ ∂y ⎠ ⎥⎦ ⎝ ∂z ∂z ⎠ ∂t

Os casos bidimensionais e unidimensionais podem ser obtidos a partir de (1.4.171) como


⎡ ⎛ ∂s ⎞ 2 ⎤ ⎛ ∂Ts ∂T ⎞ ∂s
⎢1 + ⎜ ⎟ ⎥ ⎜ k s − kl l ⎟ = ρ hsl em z = s ( x,t ) (2D) (1.4.172)
⎣⎢ ⎝ ∂x ⎠ ⎦⎥ ⎝ ∂z ∂z ⎠ ∂t

⎛ ∂Ts ∂T ⎞ ds
⎜ ks − kl l ⎟ = ρ hsl em z = s ( t ) (1D) (1.4.173)
⎝ ∂z ∂z ⎠ dt
A eq. (1.4.173) é idêntica à eq. (1.4.152), bastando trocar z por x .
90

1.5 Convecção

1.5.1 Coeficiente de Transferência de Calor Convectiva

Considere o escoamento de um fluido com velocidade V (r ) e temperatura T (r ) num


canal de altura l, cuja parede inferior (y = 0) está a T1 e a parede superior (y = l) está a T2 .
Suponha que a distribuição de temperatura em função de y seja como ilustrado na Figura 1.5.1

Figura 1.5.1 Temperatura de um fluido num canal em função de y.

O fluxo conduto-convectivo na parede inferior pode ser definido como


91

∂T f Tm − T1
q cc = −kf = −k f = h(T1 − Tm ) (1.5.1)
y =0 ∂y y =0
ξ

na qual h = função( propriedades do fluido, natureza do escoamento) e é denominado de


coeficiente de transferência de calor por convecção. Generalizando pode-se calcular o fluxo
conduto convectivo por

q cc = h Tw − Tc (1.5.2)

na qual Tw é a temperatura na parede e Tc é uma temperatura característica do fluido.

Tabela 1.5.1. Valores de h para determinados escoamentos


Tipo Fluido H [Wm-2K-1]
gás 5-30
Convecção natural
água 100-1000
gás 10-300
água 300-12000
Convecção forçada
óleo 50-1700
metal líquido 6000-110000
ebulição (água) 3000-60000
Mudança de fase
condensação (água) 5000-110000

1.5.2 Convecção Forçada Externa

Na convecção forçada externa tem-se interesse em calcular o fator de atrito e o


coeficiente de transferência convectiva.

1.5.2.1 Escoamentos Laminares

O fator de atrito local em escoamentos laminares é da forma:

0,664
c f ,x = (1.5.3)
Re x
92


x
A força de cisalhamento numa parede de comprimento x é: τ w, x dx = xτ w, x . Assim,
0

obtém-se

τ w, x

1 x
= c f ,x = c f , x dx (1.5.4)
1 2 x 0
ρu ∞
2

O coeficiente médio de atrito, após substituir o coeficiente local na equação (1.5.4) e resolver
a integral será

1,328
c f , x = 2c f , x = (1.5.5)
Re x

1.5.2.1.1 Camada Limite Térmica

A camada limite térmica geralmente é analisada considerando o caso Pr = 1 e o caso


geral para qualquer número de Pr . O número de Nusselt é definido por

∂θ ( X ,0)
Nu x ( X ) = (1.5.6)
∂Y

e o fator de atrito é definido por

2 ∂U ( X ,0) 0,664
c f ,x ( X ) = = (1.5.7)
Re x ∂Y Re x

A partir da equação (1.5.7) obtém-se que derivada da velocidade na parede é:

∂U ( X ,0)
= 0,332 Re x
∂Y
93

∂θ ( X ,0) ∂U ( X ,0)
e portanto, como = , obtém-se o número de Nusselt, neste caso, definido
∂Y ∂Y
por

Nu x ( X ) = 0,332 Re x (1.5.8)

No caso mais geral de qualquer número de Prandtl não unitário assume-se que
⎛ Re L ⎞
θ ( X , Y ) = θ (η ) = θ ⎜⎜ Y ⎟ , resultando a solução da distribuição de temperatura na forma

⎝ X ⎠

η η′
⎛ Pr ⎞
0 ∫
exp⎜ −
θ (η ) = ∞ ⎝
2 ∫ f (η ′′)dη ′′⎟⎠dη ′
0
(1.5.9a)
η′
⎛ Pr ⎞
0 ∫
exp⎜ −
⎝ 2 ∫ f (η ′′)dη ′′ ⎟dη ′
0 ⎠

Na qual a função f (η ) é solução do sistema EDO a seguir:

df
=g

dg
=h (1.5.9b)

dh

= − fh + β g 2 − 1( )

com as seguintes valores iniciais

f (0) = 0
g (0) = 0 (1.5.9c)
h(0) = desconhecido

O número de Nusselt será então

∂θ ( X ,0) dθ ∂η Re L dθ (0)
Nu x ( X ) = = = (1.5.10)
∂Y dη ∂Y X dη
94

A partir da equação (1.5.10) pode-se obter correlações para calcular o número de


Nusselt. Schilichting (1968) sugere as correlações, para 0,6 ≤ Pr ≤ 10 :

Nu x ( X ) = 0,332 Re1x/ 2 Pr 1 / 3 (1.5.11)

e para o Nusselt global resulta


L
Nu x ( X )
Nu L = dX = 0,664 Re1L/ 2 Pr 1 / 3 (1.5.12)
0 X

1.5.2.1.2 Camada Limite Térmica Espessa (Parede Isotérmica)

A distribuição de temperatura no escoamento paralelo a uma parede isotérmica na


temperatura Tw é ilustrada na Figura 1.5.2. Neste caso, a espessura da camada limite térmica é
bem maior do a espessura da camada limite hidrodinâmica, ou seja

δ T >> δ (1.5.13)

Figura 1.5.2.Camada térmica em fluidos com baixos números de Prandtl.

A espessura da camada limite térmica será proporcional a razão de x pela raiz quadrada do
número de Péclet, ou seja

x u∞ x
δt ≈ , Pe x = (1.5.14)
Pe x α

O fluxo condutivo transversal à parede será


95

∂T
q w, x = − k = h(Tw − T∞ ) (1.5.15)
∂y y =0

∂T ΔT
O gradiente de temperatura junto à parede ≈ , ΔT = Tw − T∞ . O fluxo de calor será
∂y δt
ΔT h( x ) x
então da ordem de grandeza q w, x ≈ k . O número de Nusselt definido como Nu x = ,
δt k
pode ser reescrito em função do fluxo de calor como

q w, x x ΔT 1 x
Nu x = ≈k (1.5.16)
ΔT k δ t ΔT k

O número de Nusslet será, então, proporcional x / δ t , obtendo-se, após substituir a espessura


da camada limite que

x x
Nu x ≈ = ou que
δt xPe x−1 / 2

Nu x ≈ Pe1x / 2 (Pr << 1) (1.5.17).

Os fluidos com Prandtl muito baixos são os metais líquidos mercúrio e sódio.

1.5.2.1.3 Camada Limite Térmica Fina (Parede Isotérmica)

No caso da camada limite térmica ser bem mais fina do que a camada limite
hidrodinâmica, Figura 1.5.3

Figura 1.5.3.Camada limite térmica para fluidos com altos números de Prandtl
96

δ T << δ (1.5.18)

Neste caso em δ , u ≈ u ∞ e em δ t , u ≈ u , portanto,

u u∞ δt
≈ ⇒u≈ u∞ (1.5.19)
δt δ δ

ΔT ΔT
A partir da u ≈ α 2 , resulta
x δt

δt ΔT ΔT
u∞ ≈ α 2 ou δ t3 ≈ xαδ (1.5.20)
δ x δt

A equação (1.5.20) pode ser manipulada após substituir a espessura da camada limite
hidrodinâmica:

1/ 2
⎛ ⎞
α ν ⎜ x ⋅ x ⎟⎟

1/ 2 1/ 2
xα ⎛ ν ⎞ 1 x ⎛ 1 ⎞
δ ≈3
⎜ ⎟ ⇒ δ t3 ≈ x ⇒δ ≈ x
3 2
⎜ ⎟
u ∞ ⎜⎝ xu ∞ ⎟⎠ ν u ∞ ⎜ xu ∞ ⎟ Pr u ∞ x ⎜⎝ Re x ⎟⎠
t t

⎜ ⎟
⎝ ν ⎠ ν

x3 1
δ t3 ≈
Pr Re 3x / 2

δ t ≈ x Pr −1 / 3 Re −x 1 / 2 (1.5.21)

q w, x x
O número de Nusselt definido por Nu x = terá portanto a ordem de grandeza
ΔT k
x
Nu x ≈ , resultando após substituição da equação (1.5.21) que
δt

Nu x ≈ Re1x/ 2 Pr 1 / 3 , Pr >> 1 (1.5.22)


97

Fluidos com número de Prandtl altos incluem água e óleos pesados.


Na literatura aparecem correlações da forma

Nu x = 0,564 Re1x/ 2 Pr 1 / 2 , (Pr ≤ 0,5) (1.5.23a)

Nu x = 0,332 Re1x/ 2 Pr 1 / 3 , (Pr ≥ 0,5) (1.5.23b)

A transferência de calor total num comprimento x é:

∫ ∫
x x
Nu x
q w, x dx = xq w, x ⇒ kΔT dx = xq w, x
0 0 x
obtendo-se após algumas transformações o número de Nusselt global

∫ ∫
q w, x x x
Nu x x
h( x ) x
= dx = dx
kΔT 0 x 0 kx


q w, x x x1 x h ( x) x
= h( x)dx =
kΔT k x 0 k

q w, x x
Nu x = = 1,128 Re1x/ 2 Pr 1 / 2 (Pr ≤ 0,5) (1.5.24a)
kΔT

N u x = 0,664 Re1x/ 2 Pr 1 / 3 (Pr ≥ 0,5) (1.5.24b)

u∞ x
Na literatura aparece para Pe x = > 100 , a correlação para todo faixa de número
α
de Prandtl:

0,928 Re1x/ 2 Pr 1 / 3
Nu x =
[1 + (0,0207 / Pr ) ]
(1.5.25)
2 / 3 1/ 4

Outras situações de transferência de calor podem ocorrer: parede com um


comprimento inicial não aquecido (isolado termicamente); temperatura de parede não
98

uniforme, fluxo de calor uniforme na parede ou fluxo de calor não uniforme na parede. Vide
Bejan (1993).

1.5.2.2 Escoamentos Turbulentos

Em escoamentos turbulentos sobre uma placa, o fator de atrito pode ser estimado pela
correlação:
−1 / 5
τ w, x 1 ⎛u x⎞
= c f , x u ∞2 = 0,0296⎜ ∞ ⎟ (1.5.26)
ρ 2 ⎝ ν ⎠

A tensão média e espessura da camada limite são obtidas pelas correlações:

τ w, L = 0,037 ρu ∞2 Re −L1 / 5 (1.5.27)

−1 / 5
δ ⎛u x⎞
= 0,37⎜ ∞ ⎟ (1.5.28)
x ⎝ ν ⎠

1.5.2.2.1 Camada Limite Térmica

O fluxo de calor aparente é definido como

∂T
q w, x = −(k + ρc pα t ) (1.5.29)
∂y

O coeficiente de transferência de calor pode ser definido como

q w, x
h( x ) = (1.5.30)
Tw − T∞

Dividindo a tensão de parede pelo fluxo de calor resulta

τ w, x ρ (ν + ν t ) du
= (1.5.31)
q w, x ρc p (α + α t ) dT
99

No caso particular de α = ν , α t = ν t o que é equivalente de se ter Pr = 1 e Prt = 1 ; resulta

1 du τ w, x
= (1.5.32)
c p dT q w, x

Na parede, y = 0; u = 0, T = Tw . Em y → ∞; u = u ∞ , T = T∞ . Portanto

1 u∞ τ w, x
= (1.5.33)
c p (Tw − T∞ ) q w, x

Define-se o número de Stanton como

h( x ) q w, x τ w, x
St x = = = (1.5.34)
ρc p u ∞ ρc p u ∞ (Tw − T∞ ) ρu ∞2

ou

Nu x Nu x
St x = = (1.5.35)
Pe x Re x Pr

No caso de Pr = 1 e Prt = 1 , obtém-se a equação

1
St x = c f ,x (1.5.36)
2

que é conhecida como Analogia de Reynolds.

No caso de Pr ≠ 1 e para Pr ≥ 0,5 Colburn sugeriu a correlação

1
St x Pr 2 / 3 = c f ,x (1.5.37)
2

Neste caso o Nusselt local é dado pela correlação


100

1
Nu x = c f , x Re x Pr 1 / 3 = 0,0296 Re 4x / 5 Pr 1 / 3 (1.5.38)
2

conhecida como Analogia de Colburn entre atrito e transferência de calor.


O coeficiente médio de transferência de calor pode ser definido na forma

∫ ∫
1 xtr 1 L
hL = hx ,lam dx + hx ,turb dx (1.5.39)
L 0 L xtr

O número de Nusselt global ficara na forma

Nu L =
hL L
k
(
= 0,664 Pr 1 / 3 Re1x/tr2 + 0,037 Pr 1 / 3 Re 4L / 5 − Re 4xtr/ 5 ) (1.5.40)

Se Re xtr = 5 x10 5 , então

( )
N u L = 0,037 Pr 1 / 3 Re 4L / 5 − 23550 ; 5 x10 5 < Re L < 10 8 , Pr ≥ 0,5 (1.5.41)

Para Re L < 5 x10 5

N u L = 0,664 Pr 1 / 3 Re1L/ 2 (1.5.42)

A Figura 1.5.4 ilustra a variação do coeficiente de transferência de calor com x para


escoamentos laminares e turbulentos.
101

Figura 1.5.4. Coeficiente local de transferência de calor


102

1.6 Convecção Forçada Interna

1.6.1 Fator de atrito de Fanning e Queda de Pressão

A tensão na parede é definida, no caso do escoamento laminar no tubo, como

⎛ du ⎞ U
τ w = μ⎜ − ⎟ = 4μ (1.6.1)
⎝ dr ⎠ r = rw rw

O fator de atrito de Fanning é definido por

τw 4 μU 1 16 16
f = = = = (1.6.2)
1 rw 1 ρUD Re D
ρU 2 ρU 2
2 2 μ

ρUD
com Re D = . Na literatura também aparece o fator de atrito de Darcy-Weisbach
μ

64
f * = 4f = (1.6.3)
Re D

Em dutos de seção não circular define-se o diâmetro hidráulico na forma

4A ⎧ A = área da seção transversal


Dh = ⎨ (1.6.4)
P ⎩P = perímetro molhado

Alguns casos de dutos não circular são:


a) duto de seção quadrada; Dh = a (onde a é o lado do quadrado)

8
b) duto de seção retangular; Dh = a (onde a é o comprimento do menor lado)
5
c) canal de placas paralelas; Dh = 2a (onde a é o espaçamento entre as placas)

a
d) triângulo eqüilátero; Dh = ( onde a é o lado do triângulo)
3
103

A queda de pressão no duto ou tubo pode ser calculada a partir de um balanço de


forças

ΔpA = τ w PL

L 1
Δp = f ρU 2
A/ P 2

L 1
Δp = 4 f ρU 2 (1.6.5)
Dh 2

Em geral o fator de atrito pode ser definido na forma:

C
f = (1.6.6)
Re Dh

na qual C depende da forma da seção transversal do duto. Re Dh = UDh / ν . Na literatura

encontra-se correlações do tipo

C ≅ 16 exp(0,294 B 2 + 0,068B − 0,318) (1.6.7)

πDh2 / 4
com B = .
A

Ex. 1.6.1 Calcule ΔP / L para escoamento de água a 20oC num tubo de D=2,7 cm e
U = 6 cm/s. Determine também p comprimento da região de entrada. Compare com o
comprimento adotado na prática ( Le = 0,05D Re D ).

1.6.2 Entrada Térmica

No caso de escoamentos internos define-se a temperatura média de mistura na forma


104


1
Tm = uTdA (1.6.8)
UA A

O coeficiente de transferência de calor pode então ser definido como

q ′w′
h= (1.6.9)
Tw − Tm

No caso de escoamento completamente desenvolvido termicamente num tubo tem-se

∂T Tw − Tm
≈ (1.6.10)
∂r r = rw rw

Um balanço de energia num elemento de fluido de comprimento dz resulta

∫ ρu(i
A
z + dz − i z )dA = q ′w′ Pdz

∫ ρuc dTdA = q′′ Pdz


A
p w

ρc p d ⎛⎜ uTdA ⎞⎟ = q ′w′ Pdz


⎝ ∫ A ⎠

dTm P q ′w′
= (1.6.11)
dz A ρc p U

No caso de tubo resulta

dTm 2 q ′w′ hπD(Tw − Tm )


= = (1.6.12)
dz rw ρc pU mc p

A equação de energia em escoamento completamente desenvolvido hidrodinâmica e


termicamente é:
105

∂T 1 ∂ ⎛ ∂T ⎞
ρc p u (r ) =k ⎜r ⎟ (1.6.13)
∂z r ∂r ⎝ ∂r ⎠

Uma análise de ordem de grandeza dos termos nesta equação mostra que

1 q ′w′ ΔT k
ρc pU ≈ k 2 ou h ≈ (constante) (1.6.14)
rw ρc pU rw rw

hDh
Como o número de Nusselt é definido por Nu Dh = , então, Nu D ≈ O(1) .
k

Para satisfazer a condição de h constante o perfil de temperatura deve ser da forma:

⎛ r ⎞
T (r , z ) = Tw ( z ) − [Tw ( z ) − Tm ( z )]φ ⎜⎜ ⎟⎟ (1.6.15)
⎝ rw ⎠

na qual φ é uma função apenas de r. No caso de parede com fluxo de calor uniforme resulta

dTw dTm
= (1.6.16)
dz dz

∂T dTw dTm
= = (1.6.17)
∂z dz dz

Neste caso, pode-se obter

u (r ) q ′w′ 1 d ⎛ dφ ⎞
=− ⎜r ⎟ (1.6.18)
U krw ΔT r dr ⎝ dr ⎠

Com
106

u ⎡ ⎛ r ⎞2 ⎤
= 2 ⎢1 − ⎜⎜ ⎟⎟ ⎥ e
U ⎢⎣ ⎝ rw ⎠ ⎥⎦

φ (rw ) = 0
(1.6.19)
φ ′(0) = 0 ( simetria )

resulta a solução da Eq. (1.6.18) na forma

q ′′ r ⎡ 3 ⎛ r ⎞2 1 ⎛ r ⎞4 ⎤
φ (r ) = w w ⎢ − ⎜⎜ ⎟⎟ + ⎜⎜ ⎟⎟ ⎥ (1.6.20)
kΔT ⎢⎣ 4 ⎝ rw ⎠ 4 ⎝ rw ⎠ ⎥

Assim com fluxo de calor constante na parede resulta o número de Nusselt

Nu D = 48 / 11 = 4,364 (q ′w′ = cte ) (1.6.21)

Churchill & Ozoe propuseram uma expressão válida tanto para o comprimento de
entrada quanto para a região completamente desenvolvida:

1/ 3
⎧ ⎡ ⎤
3/ 2

Nu D ⎪ Gz / 19,04 ⎪
= ⎨1 + ⎢ ⎥ ⎬
4,364[1 + (Gz / 29,6 ) ] [ ] [ ]
(1.6.22)
⎪⎩ ⎢⎣ 1 + (Pr/ 0,0207 ) 1 + (Gz / 29,6 )
2 1/ 6 2 / 3 1/ 2 1/ 3
2
⎥⎦ ⎪⎭

na qual Gz é o número de Graetz definido como

−1
πD 2U π ⎛ z / D ⎞
Gz = = ⎜⎜ ⎟ (1.6.23)
4αz 4 ⎝ Re D Pr ⎟⎠

Para parede isotérmica o fluxo de calor é calculado como

q ′w′ = h(Tw − Tm (z ) ) (1.6.24)

e o gradiente da temperatura média de mistura será:


107

dTm
=
2h
[Tw − Tm ( z )] (1.6.25)
dz rw ρc pU

Integrando a Eq. (1.6.25) de z1 onde Tm = Tm ,1 , obtém-se

Tw − Tm ( z ) ⎡ 2h( z − z1 ) ⎤
= exp ⎢− ⎥ (1.6.26)
Tw − Tm,1 ⎢⎣ rw ρc pU ⎥⎦

No caso de temperatura uniforme na parede do tubo, o número de Nuselt do


escoamento completamente desenvolvido será

Nu D = 3,66 (1.6.27)

e o fluxo de calor na parede pode ser calculado como

⎡ 3, 66α ( z − z1 ) ⎤
qw′′ = 3, 66
k
( Tw − Tm,1 ) exp ⎢ −
rw2U
⎥ (1.6.28)
D ⎣ ⎦

Ex. 1.6.2 Uma corrente de água à temperatura ambiente é aquecida quando escoa através de
W
um tubo com fluxo de calor uniforme na parede q ′w′ = 0,1 . O escoamento é
cm 2
completamente desenvolvido hidrodinamica e termicamente. A vazão mássica é m = 10 g / s
g
e o raio do tubo é rw = 1 cm . As propriedades da água na temperatura são μ = 0,01 e
cm ⋅ s
W
k = 0,006 . Calcule a) a velocidade média U; b)o número de Reynolds baseado no
cm ⋅ K
diâmetro; c) o coeficiente de troca de calor h e d) a diferença entre a temperatura local de
parede e a temperatura média local.
108

1.6.3 Escoamentos Turbulentos

A maioria dos escoamentos ocorrendo na natureza e em aplicações industriais são


turbulentos. No caso de escoamento em tubo de seção circular a transição de escoamento
laminar para turbulento ocorre para número de Reynolds em na faixa de 2000 a 2300.
Geralmente, considera-se

⎧ até ≅ 2000 (laminar)



Re D = ⎨2000 a 2300 (transição)
⎪> 2300 (turbulento)

As equações para análise de escoamentos turbulentos são as equações médias de


Reynolds, que no caso do escoamento no tubo são:

1) Equação de Continuidade

∂u 1 ∂ (rv )
+ =0 (1.6.29)
∂z r ∂r

2) Equações e Quantidade de Movimento em z e r

∂u ∂u 1 ∂p 1 ∂ ⎡
z: u +v =− + ⎢ (ν + ν t )r ∂u ⎤⎥ + ∂ ⎡⎢(ν + ν t ) ∂u ⎤⎥ + Fz ; (1.6.30)
∂z ∂r ρ ∂z r ∂r ⎣ ∂r ⎦ ∂z ⎣ ∂z ⎦

∂v ∂v 1 ∂p 1 ∂ ⎡
r: u +v =− + ⎢ (ν + ν t )r ∂v ⎤⎥ − (ν + ν t ) v2 + ∂ ⎡⎢(ν + ν t ) ∂v ⎤⎥ + Fr
∂z ∂r ρ ∂r r ∂r ⎣ ∂r ⎦ r ∂z ⎣ ∂z ⎦
(1.6.31)
3) Conservação de Energia Térmica

∂T ∂T 1 ∂ ⎡ ⎤ ∂ ⎡ ∂T ⎤
u +v = ⎢ (α + α t )r ∂T ⎥ + ∂z ⎢(α + α t ) ∂z ⎥ (1.6.32)
∂z ∂r r ∂r ⎣ ∂r ⎦ ⎣ ⎦

No caso de considerar o conceito de camada limite, pode-se definir a tensão e o fluxo


de calor aparentes como
109

∂u ∂u
τ ap = − μ − ρν t (1.6.33)
∂r ∂r

∂T ∂T
q ap = −k − ρc pα t (1.6.34)
∂r ∂r

O perfil de velocidade e a tensão aparente são ilustradas na Figura 1.6.2

Figura 1.6.2. Perfil de velocidade turbulento e tensão aparente.

No caso do escoamento turbulento ser completamente desenvolvido hidrodinamica


e termicamente tem-se

v =0
u = u (r ) (1.6.35)
p = p( z)

As equações de quantidade de movimento e energia ficam na forma simplificada

1 dp 1 ∂ (rτ ap )
0=− − (1.6.36)
ρ dz ρr ∂r

u
∂T
=
1 ∂
∂z ρc p r ∂r
[ ]
rq ap (1.6.37)

Integrando a Eq. (1.6.36) obtém-se


110

∫ ∫
rw rw
dp
0= rdr + d (rτ ap )
0 dz 0

dp rw2
+ rwτ w = 0
dz 2

dp 2τ w
− = (1.6.38)
dz rw

Substituindo a Eq. (1.6.38) em (1.6.36) e integrando até um r genérico resulta

τ ap r
= (1.6.39)
τ w rw

Bem próximo da parede, τ ap ≅ τ w e com as coordenadas de parede, u + = u / (τ w / ρ )


1/ 2
,

y+ =
y
(τ w / ρ )1 / 2 resulta
ν

⎧ y + se ν >> ν t

+
u = ⎨1 (1.6.40)
⎪ ln( y ) + B se vt >> ν
+

⎩k

ou

u + = 8,7 y + ( ) 1/ 7
(1.6.41)

Para calcular o fator de atrito e a queda de pressão no tubo, pode-se por exemplo
integrar a Eq. (1.6.41). A velocidade média no, caso será

∫ ∫
rw
1
U= dθ u rdr (1.6.42)
πrw2 0 0

A velocidade no centro do tubo ( r = 0 ) é u = u c . Assim obtém-se


111

1/ 7
uc ⎡r ⎛τ w ⎞
1/ 2

= 8,7 ⎢ w ⎜⎜ ⎟⎟ ⎥ (1.6.43)
(τ w / ρ )1 / 2 ⎢⎣ ν ⎝ ρ ⎠ ⎥⎦

τw
Da definição do fator de atrito, f = resulta
1
ρU 2
2

1/ 2
⎛τ w ⎞
1/ 2
⎛f⎞
⎜⎜ ⎟⎟ = U⎜ ⎟ (1.6.44)
⎝ ρ ⎠ ⎝2⎠

Combinando as Eqs. (1.6.43) e (1.6.44) pode-se mostrar que

0,079
f ≅ ; 2 x10 3 < Re D < 2 x10 4 (1.6.45)
(Re D ) 1/ 4

Existem na literatura várias correlações para cálculo do fator de atrito. Para tubos lisos
e altos números de Reynolds tem-se

0,046
f ≅ ; 2 x10 4 < Re D < 2 x10 6 (1.6.46)
(Re D ) 1/ 5

A correlação de Karman-Nikuradse é do tipo

1/ f 1/ 2 = 1, 737 ln( f 1/ 2 Re D ) − 0,396 (1.6.47)

Para tubos rugosos e altos números de Reynolds tem-se

1
f = 2
(1.6.48)
⎡ ⎛D⎞ ⎤
⎢1,74 ln⎜⎜ ⎟⎟ + 2,28⎥
⎣ ⎝ ks ⎠ ⎦

na qual k s é a rugosidade da parede do tubo.


112

A eq. (1.6.37) também pode ser integrada resultando

∂T
∫ ρc u ∂z rdr = 2πrq
r
2π p ap (1.6.49)
0

Para r = rw , resulta

∂T

rw
ρc p u rdr = rw q ′w′ (1.6.50)
0 ∂z

Combinando as Eqs. (1.6.49) e (1.6.50) resulta

q ap r
=M (1.6.51)
q ′w′ rw

em que

∂T
∫ u ∂z rdr
r
1
2
M = r 0
(1.6.52)
∂T
∫ ∂z rdr
rw
1
u
rw2 0

∂T
Se q ′w′ é independente de z, é independente de r, a Eq. (1.6.52) fica então na forma
∂z

∫ u rdr
r
1
2
M = r 0
(1.6.53)
∫ u rdr
rw
1
rw2 0

O perfil de velocidade u (r ) é quase plano, desta forma, M ≅ 1 , obtendo-se a relação


do calor aparente para o calor da parede

q ap r
≅ (1.6.54)
q ′w′ rw
113

Para r ≤ rw , q ap = cte = q ′w′ . O coeficiente de troca de calor pode ser calculado pela analogia

entre transferência de quantidade de movimento e transferência de calor. Sabe-se o número de


Stanton e definido como

h 1
St = = f / Pr 2 / 3 ; Pr ≥ 0,5 (1.6.55)
ρc pU 2

Para tubos lisos resulta a correlação para cálculo do coeficiente de transferência de


calor

hD
Nu D = = 0,023 Re 4D/ 5 Pr 1 / 3 ; 2 x10 4 < Re D < 10 6 (1.6.56)
k

Uma correlação muito utilizada é a de Dittus-Boelter:

⎧2500 < Re D < 1,24 x10 5



⎪0,7 < Pr < 120
hD ⎪
Nu D = = 0,023 Re 4D/ 5 Pr n ; ⎨ L / D > 60 (1.6.57)
k ⎪n = 0,4 se T > T
⎪ w m

⎪⎩n = 0,3 se Tw < Tm

Na correlação de Dittus-Boelter, as propriedades são avaliadas a Tm . Para aplicações em que a


influência da temperatura sobre as propriedades é significante, Sieder & Tate propuseram

0, 4
hD ⎛ μ ⎞ ⎧Re > 10 4
Nu D = = 0,027 Re 4D/ 5 Pr 1 / 3 ⎜⎜ ⎟⎟ ; ⎨ D (1.6.58)
k ⎝ μw ⎠ ⎩0,7 < Pr < 16700

com as propriedades avaliadas a Tm , exceto μ w que é avaliada na temperatura de parede Tw .


A correlação mais acurada é de Gnielinski na forma:

Nu D =
hD
=
(
( f / 2) Re D − 10 3 Pr) ⎧⎪2300 < Re D < 5 x10 6
; ⎨
( )
(1.6.59)
1 + 12,7( f / 2) Pr 2 / 3 − 1 ⎪⎩0,5 < Pr < 10 6
1/ 2
k
114

Na Eq. (1.6.59) o fator de atrito é obtido do Diagrama de Moody, Figura 1.6.3

Figura 1.6.3. Fator de atrito para escoamento laminar e turbulento completamente


desenvolvido em um tubo.

Outras correlações alternativas a Eq. (1.6.59) aparecem na literatura [1], são elas:

⎧10 4 ≤ Re D ≤ 5 x10 6
= 0,0214(Re D − 100 )Pr ; ⎨
hD
Nu D = 0 ,8 0, 4
(1.6.60)
k ⎩0,5 ≤ Pr ≤ 1,5

⎧3 x10 3 ≤ Re D ≤ 10 6
Nu D =
hD
( )
= 0,012 Re 0D,8 − 280 Pr 0, 4 ; ⎨ (1.6.61)
k ⎩1,5 ≤ Pr ≤ 500

Para metais líquidos são recomendadas as correlações

hD ⎪⎧6,3 + 0,0167 Re D Pr ; (q ′w′ = cte ) ⎧0,004 < Pr < 01


0 ,85 0 , 93

Nu D = =⎨ ; ⎨ (1.6.62)
k ⎪⎩4,8 + 0,0156 Re 0D,85 Pr 0,93 ; (Tw = cte ) ⎩10 4 < Re D < 10 6

com as propriedades avaliadas a Tm .


115

1.6.4. Variação da temperatura média de mistura

A variação da temperatura média de mistura para parede isotérmica e fluxo e fluxo de


calor uniforme na parede é ilustrada na Figura 1.6.4

Figura 1.6.4. Variação da temperatura média de mistura: esquerda, Tw = cte ; direita, q ′w′ =cte.

Para calcular as propriedades é recomendável fazer Tm = (Te + Ts ) / 2 , em que Te = Tm ,e e

Ts = Tm, s

Ex. 1.6.3 O tubo interno de um trocador de calor coaxial usado para extração de energia
geotérmica tem diâmetro de 16 cm. O material do tubo é aço comercial. Numa certa
localidade ao longo do tubo, a temperatura média da corrente de água é 80oC. Ofluxo de água
é de 100 ton/h. Calcule a queda de pressão por unidade de comprimento.

1.6.5 Taxa total de transferência de calor

Bejan propõe calcular a taxa total de transferência de calor na forma:

q = hAw ΔTlm (1.6.63)

Para escoamento turbulento completamente desenvolvido com parede isotérmica,


ΔT = Tw − Tm decresce exponencialmente na direção jusante, entre um certo valor na entrada
116

do tubo e o menor valor na saída do tubo. Se ΔTe = Tw − Te e ΔTs = Tw − Ts , ΔTlm está entre

ΔTe e ΔTs . Também a taxa de calor pode ser calculada como

q = mc p (Ts − Te ) = mc p [(Tw − Te ) − (Tw − Ts )] = mc p (ΔTe − ΔTs ) (1.6.64)

O fluxo de calor na parede pode ser estimado como

q ′w′ = h(Tw − Tm ) (1.6.65)

dTm P q ′w′
como = , obtém-se
dz A ρc pU

dTm P h
= dz (1.6.66)
Tw − Tm A ρc pU

a qual integrada entre z = 0; (Tm = Te ) e z = L; (Tm = Ts ) resulta

⎛ T − Te ⎞ hPL
ln⎜⎜ w ⎟⎟ = ou
⎝ Tw − Ts ⎠ ρUAc p

⎛ ΔT ⎞ hA
ln⎜⎜ e ⎟⎟ = w (1.6.67)
⎝ ΔTs ⎠ mc p

Comparando as Eqs. (1.6.64) e (1.6.67) pode-se concluir que

ΔTe − ΔTs
ΔTlm = (1.6.68)
⎛ ΔT ⎞
ln ⎜ e ⎟
⎝ ΔTs ⎠

que é denominada de diferença média logarítmica de temperatura. Alternativamente a taxa


total de transferência de calor pode ser calculada como
117

⎡ ⎛ − hAw ⎞⎤
q = mc p ΔTe ⎢1 − exp⎜ ⎟
⎜ mc ⎟⎥⎥
(1.6.69)
⎢⎣ ⎝ p ⎠⎦


Se o coeficiente h = h( z ) , então h = h( z )dz / L .
L

Pode-se verificar imediatamente que no caso de fluxo de calor uniforme na parede:

ΔTlm = ΔTe = ΔTs

ΔTe
que é um caso especial da Eq. (1.6.68) quando → 1.
ΔTs
118

1.7 Convecção Livre

1.7.1 Análise de escala em regime laminar

Em escoamentos em regime laminar a ordem de grandeza do coeficiente de


transferência de calor e dos termos nas equações são como a seguir:

k
hy ≈ (1.7.1)
δt

u v
(m) ≈ (1.7.2)
δt y

v v v
(M) u ,v ≈ ν 2 , gβΔT (1.7.3)
δt y δt

ΔT ΔT ΔT
(E) u ,v ≈α 2 (1.7.4)
δt y δt

Substituindo a Eq. (1.7.2) nas Eqs. (1.7.3) e (1.7.4) resulta

v2 v
(M) ≈ ν 2 + gβ ΔT (1.7.5)
y δt

ΔT ΔT
(E) v ≈α 2 (1.7.6)
y δt

Empuxo balanceado por atrito

Na Eq. (1.7.5) pode-se ter o empuxo balanceado por atrito ou por inércia. No caso de
v
empuxo balanceado por atrito ν ≅ gβ ΔT que combinada com as Eqs. (1.7.2) e (1.7.6) leva
δ t2
aos seguintes resultados:
α α
u≈ Ra 1y/ 4 ; v ≈ Ra1y/ 2 ; δ t ≈ yRa y−1 / 4 (1.7.7)
y y
119

na qual Ra y é o número de Rayleigh definido como

gβ (Tw − T∞ ) y 3
Ra y = (1.7.8)
αν

Também pode-se demonstrar que o coeficiente de transferência de calor convectiva é


proporcional a

hy ≈
k
(Ra y )1 / 4 (1.7.9)
y

hy y
e portanto o número de Nusselt local, definido como Nu y = , será proporcional
k

Nu y ≈ (Ra y )
1/ 4
(1.7.10)

v2 v
Os resultados acima são válidos quando < ν 2 ou para α < ν ou 1 < Pr . Ou seja
y δt
para número de Prandtl da ordem de 1 ou maior que 1, Pr ≥ 1 . Uma análise para a camada
limite hidrodinâmica levará ao resultado

δ ≈ yRa y−1 / 4 Pr 1 / 2 ou

δ
≈ Pr 1 / 2 > 1 (1.7.11)
δt

Se Ra 1y/ 4 > 1 ⇒ Ra 1y/ 4 Pr 1 / 2 > 1 . Geralmente, escoamentos com convecção natural são

caracterizados por altos Ra.

Empuxo balanceado por inércia


120

v2
No caso de empuxo balanceado por inércia, ≅ gβ ΔT e a ordem de grandeza da
y
espessura de camada limite e das velocidades será:

α α
u≈ (Ra y Pr ) ; v ≈
1/ 4
(Ra y Pr )
1/ 2
; δ t ≈ y (Ra y Pr )
−1 / 4
(1.7.12)
y y

O produto do número de Rayleigh pelo número de Prandtl é definido como número de


Boussinesq

gβ (Tw − T∞ ) y 3
Bo y = Ra y Pr = (1.7.13)
α2

Neste caso, o número de Nusslet será proporcional

Nu ≈ (Ra y Pr )
1/ 4

Os resultados obtidos quando o empuxo é balanceado por inércia são válidos para
Pr ≤ 1 e as camadas limites e os perfis de velocidade e temperatura são ilustrados na Figura
1.7.3

Figura 1.7.3. Camada limite para fluidos com baixos números de Prandtl.
121

A espessura da camada limite hidrodinâmica neste caso será proporcional a razão do


número de Rayleigh pelo número de Prandtl na forma:

−1 / 4
⎛ Ra y ⎞
δ s ≈ y⎜⎜ ⎟⎟ (1.7.14)
⎝ Pr ⎠

Pode-se demonstrar, então, que

−1 / 4
⎛ Ra ⎞
δ s ≈ y⎜ ⎟ ou
⎝ Pr ⎠

δ
≈ Pr 1 / 2 < 1 (1.7.15)
δt

A razão do número de Rayleigh pelo número de Prandtl é definida com o número de Grashof,
ou seja,

Ra y gβ (Tw − T∞ ) y 3
Gry = = (1.7.16)
Pr ν2

Os resultados no limite de baixo Prandtl são válidos se as camadas limites


hidrodinâmica e térmica são estreitas e longas, isto requer que

1/ 4
⎛ Ra y ⎞
⎜⎜ ⎟⎟ > 1 ; (Ra y Pr ) >1
1/ 4
(1.7.17)
⎝ Pr ⎠

1.7.2 Parede isotérmica (escoamento laminar)

A análise por variável de similaridade também pode ser aplicada neste caso de
convecção natural ou livre. Definindo a variável de similaridade e a velocidade adimensional
como
122

x
η=
y (Ra y )
−1 / 4
(1.7.18)

G (η , Pr ) =
v
(1.7.19)
(α / y )Ra1y/ 2

Definindo a função de corrente por

∂ψ ∂ψ
u= ; v=− (1.7.20)
∂y ∂x

a função de corrente adimensional pode ser definida como

ψ
F (η , Pr ) = (1.7.21)
αRa 1y/ 4

dF
Daí pode-se demonstrar que G = − . Definindo a temperatura adimensional como

T − T∞
θ (η , Pr) = (1.7.22)
Tw − T∞

Nas variáveis de similaridade, as equações de quantidade de movimento e de energia


são:

1 ⎛1 2 3 ⎞
⎜ F ′ − FF ′′ ⎟ = − F ′′′ + θ (1.7.23)
Pr ⎝ 2 4 ⎠

3
Fθ ′ = θ ′′ (1.7.24)
4

com as seguintes condições de contorno


123

F = 0; η = 0; (u = 0)
F ′ = 0; η = 0; (v = 0)
θ = 1; η = 0; (T = Tw ) (1.7.25)
F ′ → 0; η → ∞; (v = 0)
θ → 0; η → ∞; (T = T∞ )

A solução das equações acima permite obter correlações par o coeficiente de


transferência de energia convectiva. O número de Nusselt pode ser calculado na forma

hy y y ⎛ ∂T ⎞
Nu y = = ⎜− k ⎟
k kΔT ⎝ ∂x ⎠ x =0
(1.7.26)
⎛ dθ ⎞
= ⎜⎜ − ⎟⎟ Ra 1y/ 4
⎝ dη ⎠η =0

Uma correlação de Nusselt válida em toda faixa de número de Prandtl é da forma:

1/ 4
⎛ Pr ⎞
Nu y = 0,503⎜⎜ ⎟⎟ Ra 1y/ 4 (1.7.27)
⎝ Pr + 0,986 Pr + 0,492 ⎠
1/ 2

Nos limites de números de Prandtl muito altos ou muito baixos têm-se as correlações:

Nu y = 0,503Ra 1y/ 4 ; (Pr >> 1) (1.7.28)

Nu y = 0,600(Ra y Pr ) ; (Pr << 1)


1/ 4
(1.7.29)

O número de Nusselt global pode ser definido como

hy y q w′′, y
y
Nu y = = (1.7.30)
k Tw − T∞ k

O fluxo de calor num comprimento y de placa pode ser calculado como


124

1 y
y ∫y =0
q w′′, y = q ′w′ , y dy (1.7.31)

Pode-se definir também, q ′w, y = q w′′, y y . Se W e a largura da placa, a taxa de calor pode ser

calculada como

q w, y = q ′w, yW = q w′′, yW ⋅ y (1.7.32)

O número de Nusselt global definido como N u y = q ′w, y / kΔT , será calculado pela

seguinte correlação

1/ 4
⎛ Pr ⎞
N u y = 0,671⎜⎜ ⎟⎟ Ra 1y/ 4 (1.7.33)
⎝ Pr + 0,986 Pr + 0,492 ⎠
1/ 2

No caso de ar (Pr = 0,72 ) , resulta a correlação:

N u y = 0,517 Ra1y/ 4 (1.7.34)

Ex.: 1.7.1. A porta de um forno de cozinha é um retângulo vertical de área 0,5 m de altura e
0,65 m de largura. A superfície externa da porta do forno está a 40oC, enquanto o ar do
ambiente está a 20oC. Calcule a taxa de transferência de calor da porta par o ar ambiente.

1.7.3 Transição e Efeito de Turbulência sobre a Transferência de calor

A camada limite permanece laminar se o número de Rayleigh não excede um


determinado valor, ou seja para baixos valores de y. De acordo com Bejan, a transição de
laminar para turbulento ocorre na posição y onde Gry ≈ 10 9 . A Figura 1.7.4 ilustra a transição

de escoamento laminar ara turbulento na parede vertical. Alguns autores baseiam no em


Ra y ≈ 10 9 , independente do número de Prandtl. Mas isso só seria verdade para Pr = 1 .

Portanto o critério de transição é adotado como


Gry ≈ 10 9 (10 −3 ≤ Pr ≤ 10 3 ) (1.7.35)
125

Figura 1.7.4. Seções laminar, transição e turbulenta em convecção natural na parede vertical

O critério de transição também pode ser baseado no número de Rayleigh,


Ra y = Gry Pr

Ra y ≈ 10 9 Pr (10 −3 ≤ Pr ≤ 10 3 ) (1.7.36)

Desta forma o critério de basear-se em Ra y ≈ 10 9 como critério de transição só é válido para

( )
Pr = 1 . Pode-se ver que no caso de metais líquidos Pr ≈ 10 −3 − 10 −2 o número de Rayleigh

estaria na faixa 10 6 − 10 7 que é bem abaixo de Ra y ≈ 10 9 .

O critério de transição também pode ser baseado no número de Reynolds em função


da espessura da camada limite. Este Reynolds e estimado como

−1 / 4
δ t v yRa y α 1 / 2
Re ≈ ≈ Ra y ≈ Ra 1y/ 4 / Pr (1.7.37)
ν ν y
126

No caso de Pr = 1 , obtém-se

Re ≈ Gry1 / 4 (Pr = 1) (1.7.38)

O que leva ao valor de

Re ≈ (10 9 )1 / 4 = 178 (Pr = 1) (1.7.39)

na transição.
A correlação para cálculo do coeficiente de transferência de calor na faixa laminar e
transição e turbulenta foi proposta por Churchill e Chu:

2
⎧⎪ 0,387 Ra 1y/ 6 ⎫⎪
N u y = ⎨0,825 + 8 / 27 ⎬
(1.7.40)
⎪⎩ [
1 + (0,492 / Pr) 9 / 16 ] ⎪⎭

Correlação válida para 10 −1 < Ra y < 1012 e todos números de Prandtl. Para ar a correlação

(1.7.53) se reduz a

{
N u y = 0,825 + 0,325 Ra 1y/ 6 }2
(Pr = 0,72) (1.7.41)

No faixa laminar, Gry < 10 9 , a correlação que representa os experimentos mais

acuradamente é:

0,67 Ra 1y/ 4
N u y = 0,68 + (1.7.42)
[1 + (0,492 / Pr) ] 9 / 16 4 / 9

A qual no caso do de ar reduz a

N u y = 0,68 + 0,515 Ra 1y/ 4 (Pr = 0,72) (1.7.43)


127

1.7.5 Fluxo de Calor Uniforme na Parede

No caso de fluxo de calor uniforme na parede a temperatura da parede é desconhecida,


então surge um dilema de como definir o número de Rayleigh, uma vez que Tw ( y ) − T∞ é
incógnita também. Para fluidos com altos números de Prandtl foi demonstrado que
Nu y ≈ (Ra y ) , da qual obtém-se
1/ 4

⎡ gβ (Tw − T∞ ) y 3 ⎤
1/ 4
hy y
≈⎢ ⎥ ou
k ⎣ αν ⎦

y ⎡ gβ (Tw − T∞ ) y 3 ⎤
1/ 4
q ′w′

(Tw ( y ) − T∞ ) k ⎢⎣ ⎥ (1.7.44)
αν ⎦

da qual se conclui que Tw ( y ) − T∞ é proporcional a y 1 / 5 . Desta forma a Eq. (1.7.44) pode ser
escrita em função do fluxo de calor na parede como

1/ 5
q ′w′ y ⎡ gβq ′w′ y 4 ⎤

(Tw ( y ) − T∞ ) k ⎢⎣ ανk ⎥⎦
(1.7.45)

O lado direito da Eq. (1.7.45) é definido como um número de Rayleigh modificado , ou seja,

gβq ′w′ y 4
Ra *y = (1.7.46)
ανk

Para escoamento laminar com alto número de Prandtl, obtém-se a correlação

1/ 5
⎛ Pr ⎞
Nu y ≅ 0,616⎜ ⎟ (Ra )
* 1/ 5
(1.7.47)
⎝ Pr + 0,8 ⎠
y

Para fluidos com Prandtl no range ar-água, a transição a turbulência ocorre para
Ra *y ≈ 1013 . Neste caso, as seguintes correlações
128

(
Nu y = 0,6 Ra *y )
1/ 5


⎬ laminar, 10 < Ra y < 10
5 * 13
(1.7.48)
( 1
N u y = 0,75 Ra y ⎪⎭
* / 5
)
( )
Nu y = 0,568 Ra *y
0 , 22


0 , 22 ⎬
turbulento, 1013 < Ra *y < 1016 (1.7.49)
Nu y = 0,645(Ra ) *
y ⎪⎭

Nas correlações (1.7.61) e (1.7.62) o Nusselt global é baseado na diferença média de


temperatura, Tw ( y ) − T∞ . Existem várias outras correlações disponíveis na literatura. Vide
Bejan.

1.7.6 Outras Configurações de Escoamentos Externos

1.7.6.1 Reservatório Fluido Estratificado Termicamente

Em muitas situações o reservatório que banha a parede aquecida não é isotérmico.


Neste caso define-se um parâmetro de estratificação do fluido como
ΔTmax − ΔTmin
b= (1.7.50)
ΔTmax

A variação do parâmetro de estratificação é mostrada na Figura 1.7.5. O caso b = 0


corresponde ao reservatório isotérmico e o caso b = 1 corresponde à máxima estratificação.
129

Figura 1.7.5 Número de Nusselt global (médio) para escoamento laminar numa parede
isotérmica e fluido estratificado termicamente.

Para escoamento laminar o Nusselt “médio” definido como

q w′′, H H gβΔTmax H 3
Nu H = ; Ra H = (1.7.51)
ΔTmax k αν

é calculado como

N u H = f (b, Pr) Ra 1H/ 4 (1.7.52)

1.7.6.2 Paredes Inclinadas

Escoamentos por convecção natural sobre paredes inclinadas são ilustrados na Figura
1.7.6.
130

Figura 1.7.6. Transferência de calor por convecção natural em paredes inclinadas.

A seguinte correlação foi proposta para escoamento laminar:

0,67 Ra 1y/ 4
N u y = 0,68 +
[1 + (0,492 / Pr ) ]
(1.7.53)
9 / 16 4 / 9

g cos φβ (Tw − T∞ ) y 3 g cos φβq ′w′ y 4


na qual Ra y = para parede isotérmica (Tw = cte ) e Ra *y =
αν ανk
para parede com fluxo calor uniforme q ′w′ = cte . No caso de escoamentos turbulentos foi

encontrado que as correlações dão melhores resultados com g no lugar de g cos φ . A Tabela
1.7.1 mostra valores de número de Rayleigh na transição de escoamento laminar de água para
turbulento para fluxo uniforme e parede isotérmica em função da inclinação da parede.
131

Tabela 1.7.1. Valores de número de Rayleigh na transição em água (Pr ≅ 6,5) .


q ′w′ = cte

φ Ra *y

0 5x1012 - 1014
30o 3x1010 - 1012
60o 6x107 – 6x109
Tw = cte

φ Ra y

0 8,7x108
20o 25x108
45o 1,7x107
60o 7,7x105

Dentro deste tópico outras configurações estão também os casos de convecção natural
em paredes horizontais, cilindros horizontais e verticais, esfera e corpos de outras formas
geométricas, cujas correlações podem ser encontradas na literatura. Vide Bejan (1993).

1.7.7 Configurações de Escoamentos Internos

1.7.7.1 Canais Verticais

Agora serão considerados casos em que paredes confinam o fluido em escoamento por
convecção natural. A Figura 1.7.7 ilustra os casos de escoamentos em canais largos e
estreitos.
132

Figura 1.7.7 canal vertical com paredes isotérmicas; as extremidades do canal comunica com
um fluido isotérmico.

No caso do canal largo suficientemente, de modo que, não haja interação das camadas
limites, pode-se usar os resultados do escoamento sobre uma placa. Com os comprimentos
característicos H e L, para Pr ≥ 1 , o canal largo pode ser representado pelos seguintes limites:

L L
> Ra H−1 / 4 ou > Ra L−1 (1.7.54)
H H

O canal estreito tem interesse especial. Pode-se ver pela Fig. 1.7.7 que, quando o canal
é estreito, o perfil de velocidade nas paredes interage formando um perfil similar ao do
escoamento num canal de placas paralelas (esc. Hagen-Poiseuille). O perfil de temperatura
tem o comportamento mostrado ao lado do canal estreito, de forma que pode-se assumir

Tw − T ( x, y ) < Tw − T∞ (1.7.55)

O escoamento é puramente vertical e com a hipótese de escoamento completamente


desenvolvido, a equação de quantidade de movimento se reduz a
d 2v
0 = ν 2 + gβ (T − T∞ ) (1.7.56)
dx

d 2v gβ
≅− (T − T∞ ) = cte (1.7.57)
dx 2
ν
133

A solução da Eq. (1.7.57) é similar ao caso de convecção forçada num canal de placas
paralelas e é da forma

gβΔTL2 ⎡ ⎛ x ⎞ ⎤
2

v= ⎢1 − ⎜ ⎟ ⎥ (1.7.58)
8ν ⎣⎢ ⎝ L / 2 ⎠ ⎦⎥

e a vazão mássica por unidade de comprimento pode ser calculada como

ρgβΔTL3

L/2
m′ = ρvdx = (1.7.59)
−L / 2 12ν

Pela inspeção das Eqs. (1.7.58) e (1.7.59), pode-se verificar que a velocidade e vazão
mássica independem da altura do canal H.
A taxa total de transferência de calor extraída pela corrente m ′ das duas paredes
verticais é:

ρgβc p (ΔT )2 L3
q ′ = m ′c p (Tw − T∞ ) = (1.7.60)
12ν

q′
q ′′ = (1.7.61)
2H

O número de Nusselt “médio” é calculado como

q ′′ H 1
Nu H = = Ra L (1.7.62)
ΔT k 24

Tendo em vista a Eq. (1.7.55) pode-se concluir que


q ′′L
< (Tw − T∞ ) = ΔT (1.7.63)
k

Portanto no limite de canal estreito


134

H
Ra L < (1.7.64)
L

O escoamento num canal estreito, também denominado de escoamento em chaminé,


em dutos de outras seções, possui N u H / Ra Dh constante, em que Dh é o diâmetro hidráulico.

Na Tabela 1.7.2 apresentam-se alguns resultados

H
Tabela 1.7.2. Escoamento em chaminé (canal estreito, Ra Dh < )
Dh

Forma da seção do canal N u H / Ra Dh

Placas paralelas 1/192


Circular 1/128
Quadrada 1/113.6
Triângulo equilátero 1/106.4

1.7.7.2 Cavidades Aquecidas do Lado

Um caso importante de convecção natural interna é o de escoamentos induzidos em


espaços fechados que estão sujeitos a variação de temperatura horizontal. A Figura 1.7.8
ilustra o caso de um fluido aquecido em uma parede e resfriado na parede oposta.
135

Figura 1.7.8. Regimes de escoamentos para convecção natural em cavidades aquecidas do


lado para fluidos com Pr ≥ 1

Da mesma forma, tem-se neste caso, cavidades largas e cavidades estreitas. A


cavidade é larga quando a espessura da camada limite é menor do que a dimensão horizontal,
δ t < L o que é equivalente L / H > Ra H−1 / 4 . As correlações para o número de Nusselt médio
são:

0 , 28 0 , 09
⎛ Ra H Pr ⎞ ⎛L⎞
N u H = 0,22⎜ ⎟ ⎜ ⎟
⎝ 0,2 + Pr ⎠ ⎝H⎠ (1.7.65)
H
2< < 10; Pr < 10 5 ; Ra H < 1013
L

0 , 29 −0 ,13
⎛ Ra H Pr ⎞ ⎛L⎞
N u H = 0,18⎜ ⎟ ⎜ ⎟
⎝ 0,2 + Pr ⎠ ⎝H⎠
3
(1.7.66)
H Pr Ra H ⎛ L ⎞
1< < 2; 10 −3 < Pr < 10 5 ; 10 3 < ⎜ ⎟
L 0,2 + Pr ⎝ H ⎠

q ′′H
O Nusselt médio e número de Rayleigh são definidos como N u H =
kΔT
gβ (Th − Tc )H 3
Ra H = .
αν
136

No caso oposto de cavidade estreita, L / H < Ra H−1 / 4 tem-se

q ′′H ⎛ kΔT ⎞ H H
Nu H = =⎜ ⎟ = (1.7.67)
kΔT ⎝ L ⎠ kΔT L

indicando que neste caso a transferência de calor é puramente por condução ou difusão.

Toda a precedente discussão refere-se a cavidades quadradas ou altas em que


H / L ≥ 1 . No caso de H / L < 1 pode-se Ter jatos horizontais distintos nas paredes de topo e
fundo. Pode-se encontrar o Nusselt médio em função de Rayleigh em gráficos da literatura
(Bejan, pg 370).
No caso de cavidades aquecidas e resfriadas por fluxos de calor constantes também é
possível se obter correlações para o número de Nusselt. No regime de camada limite , a
temperatura varia linearmente na direção vertical ao longo da parede aquecida, parede
resfriada e no centro, e de acordo com Bejan

αν ⎛ H ⎞
4/9
∂T
= 0,0425 ⎜ ⎟ Ra H*8 / 9 = cte (1.7.68)
∂y gβH 4 ⎝ L ⎠

Desde que a temperatura aumenta a mesma taxa em ambas paredes na direção vertical, em
q ′′H
cada nível, Th ( y ) − Tc ( y ) = ΔT = cte . O solução teórica para o Nusselt médio N u H =
kΔT
na camada limite para fluidos com Pr ≥ 1 é

1/ 9
⎛H⎞
N u H = 0,34 Ra *2 / 9
H ⎜ ⎟ (1.7.69)
⎝L⎠

na qual Ra H* = gβH 4 q ′′ /(ανk ) . Se o número de Rayleigh for baseado em ΔT ,

Ra H = Ra H* / N u H = gβΔTH 3 /(αν ) . Neste caso, a eq. 1.7.82 fica na forma


1/ 7
⎛H⎞
N u H = 0,25Ra 2/7
H ⎜ ⎟ (1.7.70)
⎝L⎠
137

1.7.7.3 Cavidades aquecidas por Baixo

Nas cavidades aquecidas do lado, o escoamento acontece tão logo a uma pequena
diferença de temperatura Th − Tc seja imposta entre as duas paredes. Já na cavidade aquecida
por baixo, a diferença de temperatura imposta deve exceder um valor crítico para o
escoamento e transferência de calor sejam detectados. Quando a cavidade é longa e larga na
horizontal, para Ra H = gβ (Th − Tc )H 3 (αν ) ≥ 1708 formam-se dois rolos quase quadrados
que giram em sentidos opostos, como ilustrado na Figura 1.7.9. Este tipo de escoamento é
conhecido com convecção de Bénard.

Figura 1.7.9 Camada de fluido horizontal entre duas paredes paralelas e aquecida por baixo.
Esquerda: Ra H < 1708; N u H = 1 . Direita: Ra H > 1708; N u H > 1

O efeito do escoamento celular é aumentar a transferência de calor na direção vertical.


Neste caso o número de Nusselt médio definido como N u H = q ′′H /(kΔT ) é dado pela
correlação:

N u H = 0,069 Ra 1H/ 3 Pr 0,074 ; 3x10 5 < Ra H < 7 x10 9 (1.7.71)

na qual as propriedades físicas para se calcular N u H , Ra H , Pr são avaliadas na temperatura


média (Th + Tc ) / 2 .

1.7.7.4 Cavidades Inclinadas

As correlações para este caso podem ser encontradas no livro de Adrian Bejan (1993).
138

1.7.7.5 Outras Formas de Cavidades: Espaço Anelar entre Cilindros e Esferas


Concêntricas

Espaços anelares entre um cilindro ou esfera internos aquecidos e os externos


resfriados, por exemplo, formam cavidades onde pode ocorrer escoamentos ou células de
escoamentos por convecção natural. As correlações de transferência de calor são da forma:

Cilindro:

2,425k (Ti − To ) ⎛ Pr Ra Di ⎞
1/ 4

q′ ≅ ⎜ ⎟
[ ]
em W/m (1.7.72)
3 / 5 5 / 4 ⎜ 0,861 + Pr ⎟
1 + (Di / Do ) ⎝ ⎠

na qual Ra H = gβ (Ti − To )Di3 /(αν ) . A Eq. (1.7.85) é válida quando

Do Ra D−1o / 4 > ( Do − Di ) (1.7.73)

Esfera:

2,325kDi (Ti − To ) ⎛ Pr Ra Di ⎞
1/ 4

q′ ≅ ⎜ ⎟
[ ]
em W/m (1.7.74)
7 / 5 5 / 4 ⎜ 0,861 + Pr ⎟
1 + (Di / Do ) ⎝ ⎠

Nas correlações acima, o sub-índice i refere-se ao cilindro ou esfera internos e o sub-índice o


aos externos. Nestes casos as propriedades são avaliadas a (Ti − To ) / 2 .
139

1.8 Convecção com Mudança de Fase

1.8.1 Transferência de Calor na Condensação

1.8.1.1 Filme Laminar sobre uma Superfície Vertical

Nos capítulos anteriores independentemente do aquecimento ou resfriamento, o fluido


sempre permanecia numa única fase. Neste capítulo, consideram-se os casos em que o fluido
sofre uma mudança de fase durante a convecção. Condensação pode ocorrer quando um
reservatório contendo um vapor tem sua parede resfriada, como ilustrado na Figura 1.8.1, na
qual também são ilustrados os perfis de velocidade e temperatura. Na interface entre o filme
líquido e o vapor a temperatura é igual a temperatura de saturação.

Figura 1.8.1 Regimes de escoamento de filme de condensado sobre uma parede vertical
resfriada.

Considere, agora, só a região laminar ilustrada na Figura 1.8.2, em que um vapor


saturado e estacionário entra em contato com uma parede resfriada. Na hipótese de camada
limite a equação de movimento fica na forma:
140

Figura 1.8.2 Filme laminar de condensado suprido por um reservatório de vapor saturado
estacionário

⎛ ∂v ∂v ⎞ ∂p ∂ 2v
ρ l ⎜⎜ u + v ⎟⎟ = − + μ l 2 + ρ l g (1.8.1)
⎝ ∂x ∂y ⎠ ∂y ∂x

Admitindo que a distribuição de pressão seja dada pelo vapor, dp / dy = ρ v g , então a Eq.
(1.8.1) pode ser reescrita como

⎛ ∂v ∂v ⎞ ∂ 2v
ρ l ⎜⎜ u+ v ⎟⎟ = μ l 2 + g (ρ l − ρ v ) (1.8.2)
⎝ ∂x ∂y ⎠ ∂x sumidouro
inércia fricção

Supondo que os termos de inércia sejam desprezíveis em relação ao atrito viscoso,


resulta a equação:

∂ 2v
0 = μl + g (ρ l − ρ v )
∂x 2 sumidouro
fricção

com as condições de contorno


141

v = 0; x = 0
∂v (1.8.3)
= 0; x = δ ( y )
∂x

Integrando duas vezes em x, obtém-se a distribuição da velocidade do filme de condensado:

⎡ 2

v ( x, y ) =
g
(ρ l − ρ v )δ 2 ⎢ x − 1 ⎛⎜ x ⎞⎟ ⎥ (1.8.4)
μl ⎣⎢ δ 2 ⎝ δ ⎠ ⎦⎥

na qual δ ( y ) é a espessura do filme líquido que é desconhecida.


A taxa total de escoamento de massa através da seção de filme é:
δ gρ l
Γ( y ) = ∫ ρ l vdx = (ρ l − ρ v )δ 3 em [kg/s/m] (1.8.5)
0 3μ l

Pode se notar que a velocidade e vazão mássica são proporcionais a g (ρ l − ρ v ) e

inversamente proporcionais a μ l .

Para estimar a espessura do filme de líquido aplica-se a primeira lei da termodinâmica


ao volume de controle δ x dy , obtendo-se

H − q ′w′ dy + hg dΓ = H + dH ; dH = ρ l vdxh (1.8.6)

que integrada fornece

δ
[
H = ∫ ρ l v h f − c p ,l (Tsat − T ) dx
0
] (1.8.7)

Visto que o fluido levemente sub-resfriado ( T < Tsat ) a entalpia específica será menor do que

a entalpia do líquido saturado ( h < h f ) . Nusselt propôs a seguinte relação:

Tsat − T x
≅ 1− (1.8.8)
Tsat − Tw δ
142

que substituída na Eq. (1.8.7) juntamente com a Eq. (1.8.4) leva à equação para cálculo da
entalpia

⎡ ⎤
H = ⎢h f − c p ,l (Tsat − Tw )⎥ Γ
3
(1.8.9)
⎣ 8 ⎦

O fluxo de calor na parede é:

Tsat _ Tw
q ′w′ ≅ k l (1.8.10)
δ
Do balanço de energia
dH = −q ′w′ dy + hg dΓ (1.8.11)

e, portanto, com o uso das Eqs. (1.8.5), (1.8.9) e (1.8.11) obtém-se

⎡ ⎤ T − Tw
− ⎢h f − c p ,l (Tsat − Tw )⎥ dΓ + hg dΓ − k l sat
3
dy = 0 ou
⎣ 8 ⎦ δ

Tsat − Tw ⎡ ⎤
dy = ⎢h fg + c p ,l (Tsat − Tw )⎥ dΓ
3
kl
δ ⎣ 8 ⎦ (1.8.12)
= h ′fg dΓ

Pela Eq. (1.8.5)

gρ l
dΓ = (ρ l − ρ v )3δ 2 dδ (1.8.13)
3μ l

a qual substituída em (1.8.12) resulta

k lν l (Tsat − Tw )
dy = δ 3 dδ (1.8.14)
h ′fg g (ρ l − ρ v )

Integrando a Eq. (1.8.14) de y = 0 até y = δ obtém-se a espessura de filme líquido:


143

⎡ 4k ν (T − Tw ) ⎤
1/ 4

δ ( y ) = ⎢ y l l sat ⎥ (1.8.15)
⎣⎢ h ′fg g (ρ l − ρ v ) ⎦⎥

Os coeficientes local e médio de transferência de calor podem ser calculados como

k l (Tsat − Tw ) / δ k l ⎡ k l h ′fg g ( ρ l − ρ v ) ⎤
1/ 4
q ′w′
3

hy = = = =⎢ ⎥ (1.8.16)
Tsat − Tw (Tsat − Tw ) δ ⎣⎢ 4 yν l (Tsat − Tw ) ⎦⎥

hy=L 4
hL = = hy=L (1.8.17)
1 + ( − 1 / 4) 3

O número de Nusselt global (médio) é então calculado pela correlação

⎡ L3 h ′fg g ( ρ l − ρ v ) ⎤
1/ 4
hL L
Nu L = = 0,943⎢ ⎥ (1.8.18)
kl ⎣⎢ k lν l (Tsat − Tw ) ⎦⎥

A partir das Eqs. (1.8.15) e (1.8.18) pode-se demonstrar que

⎡ L3 h ′fg g (ρ l − ρ v ) ⎤
1/ 4
L
= 0,707 ⎢ ⎥ (1.8.19)
δ ( L) ⎣⎢ k lν l (Tsat − Tw ) ⎦⎥

As propriedades são avaliadas a temperatura (Tw + Tsat ) / 2 e a entalpia de condensação é

encontrada em tabelas de propriedades termodinâmicas a Tsat . Para perfil de temperatura não


linear Rohsenow propôs

h ′fg = h fg + 0,68c p ,l (Tsat − Tw ) ou (1.8.20)

h ′fg = h fg (1 + 0,68 Ja) (1.8.21)

na qual
144

c p ,l (Tsat − Tw )
Ja = (1.8.22)
h fg

é o número de Jakob que mede o grau de sub-resfriamento do filme líquido.

A taxa total de calor absorvida pela parede por unidade de largura é

q ′ = hl L(Tsat − Tw ) = k l (Tsat − Tw )N u L (1.8.23)

Se y = L , a taxa total de condensação é

q′ k
Γ( L) = = l (Tsat − Tw )N u L (1.8.24)
h ′fg h′fg

Em muitos casos ρ l >> ρ v ⇒ ρ l − ρ v ≅ ρ l .

Ex. 1.8.1 Uma parede plana vertical na temperatura Tw = 60 o C faceia um espaço cheio de
vapor saturado estagnante a pressão atmosférica. A altura da parede é 2 m . Assumindo
escoamento laminar, calcule a taxa em que vapor se condensa na parede vertical.

1.8.1.2 Filme Turbulento sobre uma Superfície Vertical

O filme líquido se torna ondulado e mais abaixo, turbulento quando a ordem de


grandeza do Reynolds local é maior do 100. O Reynolds local do filme líquido pode ser
ρ l v δ ( y)
calculado na forma Re y = , em que o numerador e igual à taxa de condensação,
μl
Γ = ρ l v δ ( y ) . O Reynolds local tem sido, entretanto, definido como

4Γ ( y )
Re y = (1.8.25)
μl
145

Experimentos mostram que o escoamento laminar cessa quando Re y ≈ 30 e é

ondulado na faixa 30 ≤ Re y ≤ 1800 . Foi proposto por Chen et al. a correlação

1/ 3
⎛ ν l2 ⎞
hl

⎜ g

⎟ [
= Re −L0, 44 + (5,82 x10 −6 ) Re 0L,8 Prl1 / 3 ]
1/ 2
; Re L ≥ 30 (1.8.26)
kl ⎝ ⎠

Para Re L abaixo de 30 pode-se usar a equação (1.8.18) que para ρ l >> ρ v reduz a

1/ 3
hL ⎛ ν l2 ⎞
⎜ ⎟ = 1,468 Re −L1 / 3 (1.8.27)
⎜ g ⎟
kl ⎝ ⎠

Pode-se verificar que ambos o número de Reynolds e a taxa de condensação são


desconhecidos, portanto é proposto resolver a Eq. (1.8.26) na forma:

1/ 3
hL ⎛ ν l2 ⎞ Re L
⎜ ⎟ = (1.8.28)
⎜ g ⎟
kl ⎝ ⎠ B

na qual

1/ 3
4k l ⎛ g ⎞
B = L(Tsat − Tw ) ⎜ 2
⎜ν

⎟ (1.8.29)
μ l h′fg ⎝ l ⎠

Por comparação com as Eqs. (1.8.26) e (1.8.27) pode-se mostrar

[
B = Re L Re −L0, 44 + (5,82 x10 −6 ) Re 0L,8 Prl1 / 3 ]−1 / 2
(1.8.30)

B = 0,681 Re 4L / 3 (1.8.31)

Um gráfico da variação de B com Reynolds local é mostrado na Figura 1.8.3.


146

Figura 1.8.3 Filme de condensação numa parede vertical: taxa total de condensação em
função de B.

Ex. 1.8.2 Refazer o Ex. 1.8.1

1.8.1.3 Filme de Condensação em Outras Configurações

Os resultados descritos até agora são válidos não só para superfícies planas, mas
também para superfícies curvas em que o filme de condensado seja suficientemente fino.
Superfícies curvas englobam, por exemplo, cilindros e esferas, e desde que o diâmetro seja
maior do que a espessura do filme pode-se usar os resultados anteriores. Um filme sobre uma
esfera pode ser considerado como um processo de condensação sobre uma parede inclinada.
Alguns exemplos são ilustrados na figuras a seguir.
147

Figura 1.8.4 Filme de condensado em superfícies planas, curvas e inclinadas.

No caso de superfícies curvas a componente tangencial da gravidade varia ao longo do


filme Um exemplo é uma superfície esférica. Para filme laminar ao redor da esfer, a
correlação para calcular o Nusselt médio é da forma

⎡ D 3 h ′fg g (ρ l − ρ v )⎤
1/ 4
hD D
Nu D = = 0,815⎢ ⎥ (1.8.32)
kl ⎣⎢ k lν l (Tsat − Tw ) ⎦⎥

Para escoamento laminar em torno de um único cilindro a correlação é

⎡ D 3 h ′fg g (ρ l − ρ v ) ⎤
1/ 4
hD D
Nu D = = 0,729 ⎢ ⎥ (1.8.33)
kl ⎢⎣ k lν l (Tsat − Tw ) ⎥⎦

No caso de uma fileira vertical de cilindros horizontais, Figura 1.8.5, foi proposto

⎡ D 3 h ′fg g (ρ l − ρ v ) ⎤
1/ 4
hD , n D
Nu D = = 0,729 ⎢ ⎥ (1.8.34)
kl ⎢⎣ nk lν l (Tsat − Tw ) ⎥⎦

Comparando a Eq. (1.8.34) com a Eq. (1.8.33) pode demonstrar que


hD
hD , n = (1.8.35)
n1 / 4
148

Figura 1.8.5 .Filme de condensado em escoamentos em tubos horizontais

Outras configurações podem ser encontradas por exemplo, no livro do Bejan. A Figura
1.8.6 ilustra condensação numa superfície horizontal de uma tira ou disco. Um caso
interessante é o caso de condensação num cilindro num escoamento cruzado por convecção
forçada ou paralelo a uma placa, Figura 1.8.7. Vapor escoando verticalmente num tubo é
ilustrado Figura 1.8.8. Escoamentos rápido e lento de vapor em tubos horizontais são
ilustrados na Figura 1.8.9
149

Figura 1.8.6 Filme de condensado numa fita horizontal de largura L ou disco de diâmetro D.

Figura 1.8.7 Filme de condensação sobre um cilindro horizontal em escoamento cruzado e


sobre uma placa plana paralela ao escoamento.
150

Figura 1.8.8 Condensação num tubo vertical com escoamento co-corrente do vapor.

Figura 1.8.9 Condensação como um filme anelar num tubo com escoamento rápido de vapor
(esquerda) e acumulação no fundo com escoamento lento de vapor (direita).

1.8.1.4 Condensação em gotas por Contato Direto

A condensação pode ocorrer quando a tensão superficial for alta o condensado forma
gotas que escorem pela superfície quando o tamanho das gotas aumentam. Veja ilustração no
livro Bejan.

1.8.2 Transferência de Calor na Ebulição

1.8.2.1 Regimes de Ebulição em Vaso Aberto


151

Nesta seção considera-se o caso de transferência de calor na ebulição, que ocorre


quando a temperatura de uma superfície sólida é suficientemente mais alta do a temperatura
de saturação do líquido que está em contato com ela. Ebulição é sinônimo de transferência de
calor convectiva com mudança de fase líquido para vapor quando o líquido está sendo
aquecido por uma superfície suficiente quente. Este é o processo inverso da condensação em
que vapor se torna líquido quando ele é resfriado em contato com uma superfície fria. O
processo de ebulição em vaso (pool boiling) é ilustrado na Figura 1.8.10. No caso do líquido
estar inicialmente sub-resfriado as bolhas de vapor formado não conseguem alcançar a
superfície livre e se condensam novamente. Quando o líquido já esta na temperatura de
saturação as bolhas de vapor alcançam a superfície livre.

Figura 1.8.10 Nucleação de ebulição em vaso, líquido sub-resfriado (esquerda) e líquido


saturado (direita).

Os regimes de ebulição em vaso são ilustrados na Figura 1.8.11. No experimento com


temperatura controlada consegue-se reproduzir a curva de ebulição, já no experimento com
potência controlada quando o fluxo de calor atinge o máximo (que é chamado ponto de
queima, pois a temperatura atinge o ponto de fusão do aquecedor), daí não se consegue
reproduzir a parte descendente da curva, no regime de transição. Se for um processo de
resfriamento, quando o fluxo de calor atinge o mínimo, o filme de vapor se colapsa e inicia-se
o processo de nucleação de bolhas, também não se conseguindo reproduzir a parte da curva de
ebulição no regime de transição.
152

Figura 1.8.11 Os quatro regimes de ebulição de água em vaso a pressão atmosférica

Figura 1.8.12 Curva de ebulição em vaso, em um experimento com temperatura controlada


(esquerda) e em um experimento com potência controlada

1.8.2.2 Nucleação da Ebulição e Fluxo de Calor de Pico

O regime mais importante de ebulição ilustrado na curva da Figura 1.8.11 é o de


nucleação da ebulição, porque é neste regime que o coeficiente de transferência de calor
definido por
153

q ′w′
h= (1.8.36)
Tw − Tsat

atinge altos valores, no range de 103-105 W/(m2K).


Muitos estudos têm sido realizados, uma correlação proposta para por Rohsenow tem
a forma:

1/ 3
h fg ⎡ q ′′ ⎛ σ ⎞
1/ 2

Tw − Tsat = Pr C sf ⎢ w
s
⎜⎜ ⎟⎟ ⎥ (1.8.37)
⎢⎣ μ l h fg ⎝ g (ρ l − ρ v ) ⎠
l
c p ,l ⎥⎦

a qual se aplica para superfícies limpas e como uma aproximação de engenharia é insensitiva
a orientação da superfície. Ele depende de duas constantes empíricas C sf e s . C sf é um

coeficiente que leva em conta a combinação do líquido com a superfície do material e s é um


expoente que depende do líquido. Estes valores podem ser encontrados na Tabela 8.1 do livro
do Bejan (Heat Transfer, pg. 425). σ [N/m] é a tensão superficial do líquido em contato com
seu vapor. Se considerar uma bolha de vapor de forma esférica seu raio pode ser estimado
como: r = 2σ /( pv − pl ) , em que p v é pressão dentro da bolha e pl é pressão fora.

No caso em que a diferença de temperatura Tw − Tsat é conhecida a Eq. (1.8.37) pode


ser rearranjada para se determinar o fluxo de calor na forma

⎛ g (ρ l − ρ v ) ⎞ ⎡ c p ,l (Tw − Tsat ) ⎤
1/ 2 3

q ′w′ = μ l h fg ⎜ ⎟ ⎢ ⎥ (1.8.38)
⎝ σ ⎠
s
⎢⎣ Prl C sf h fg ⎥⎦

O fluxo de calor de pico sobre uma grande superfície horizontal baseado em análise
dimensional é da forma:

′′ = 0,149h fg ρ v1 / 2 [σg ( ρ l − ρ v )]
q max
1/ 4
(1.8.39)

que independe da superfície do material. Esta correlação se aplica para superfícies cujo
comprimento linear é muito maior do que o tamanho das bolhas de vapor.
154

Ex.: 1.8.3 Um elemento cilíndrico de aquecimento de diâmetro 1 cm e comprimento 30 cm é


imerso horizontalmente numa piscina de água saturada a pressão atmosférica. A superfície
cilíndrica é coberta com níquel. Calcule o fluxo de calor e a taxa total de transferência de
calor do cilindro para a piscina de água, quando Tw = 108 o C . Calcule também o fluxo crítico
de calor.

1.8.2.3 Filme da Ebulição e Mínimo Fluxo de Calor

Filme de ebulição é uma camada contínua de vapor (0,2-0,5 mm de espessura) que


separa a superfície aquecida do resto do líquido. O fluxo mínimo de calor é registrado na
temperatura mais da superfície do aquecedor que ainda mantém o filme contínuo. Para
superfícies horizontais extensas, o fluxo mínimo é da forma:

⎡ σg ( ρ l − ρ v ) ⎤
1/ 4

′′ = 0,09h fg ρ v ⎢
q min 2 ⎥
(1.8.40)
⎣⎢ ( ρ l + ρ v ) ⎦⎥

Para um cilindro horizontal a correlação é da forma:

⎡ D 3 h ′fg g ( ρ l − ρ v )⎤
1/ 4
hD D
Nu D = = 0,62 ⎢ ⎥ (1.8.41)
kv ⎢⎣ k vν v (Tw − Tsat ) ⎥⎦

na qual as propriedades são do vapor. Para filme de ebulição sobre uma esfera tem-se

⎡ D 3 h ′fg g ( ρ l − ρ v ) ⎤
1/ 4
h D
N u D = D = 0,67 ⎢ ⎥ (1.8.42)
kv ⎢⎣ k vν v (Tw − Tsat ) ⎥⎦

Em que

h′fg = h fg + 0,4c p ,v (Tw − Tsat ) (1.8.43)

e neste caso k v , ν v , ρ v , c p ,v são avaliados a (Tw + Tsat ) / 2 .


155

Se a temperatura do aquecedor aumenta, o efeito de radiação térmica deve ser levado


através do filme se torna importante. Para se considerar a radiação pode-se definir um
coeficiente equivalente na forma:

3
h = hD + hrad ; hD > hrad (1.8.44)
4
na qual

σε w (Tw4 − Tsat4 )
hrad = (1.8.45)
Tw − Tsat

Na Eq. 1.8.45 a constante de Stefan-Boltzmann tem o valor σ = 5,669 x10 −8 W/m2K4. Para

água se Tw − Tsat > 550 − 600 o C , deve-se considerar radiação. No caso em que hrad > hD o
coeficiente pode ser calculado na forma

1/ 3
⎛h ⎞
h = hD ⎜⎜ D ⎟⎟ + hrad ; hD ≤ hrad (1.8.46)
⎝ h ⎠

Ex.: 1.8.4 Rafazer o Ex. 1.8.3 considerando radiação. Adote Tw = 300 o C e ε w = 0,8 .

1.8.2.4 Escoamento com Ebulição

Se o líquido for forçado sobre o aquecedor, o fluxo de calor deve ser calculado na
forma:

q ′′ = q ′w′ + q c′′ (1.8.47)

na qual q ′w′ é calculado pela Eq. (1.8.38) e o fluxo de calor devido ao escoamento pode ser
calculado como

q c′′ = hc (Tw − Tl ) (1.8.48)


156

O coeficiente de troca convectiva pode ser avaliado como nos capítulos anteriores como nos
casos de convecção forçada externa ou interna ou convecção natural. Por exemplo para
ebulição num duto, uma correlação usada é da forma:

hc D
Nu D = = 0,019 Re 4D/ 5 Pr 0, 4 (1.8.49)
k
157

1.9. Radiação

Radiação diferentemente da condução e convecção é o mecanismo de troca de energia


entre sistemas à distância, sem fazer contato direto. Uma transferência líquida de calor por
radiação pode ocorrer mesmo que o espaço entre duas superfícies esteja evacuado.
O campo de radiação eletromagnética é caracterizado em escala macroscópica pela
definição em cada ponto r do espaço e para cada direção Ω de uma quantidade Iν , a

intensidade monocromática relacionada com a freqüência ν . O campo de radiação resulta da


distribuição de fótons (quanta de energia particular de Bose-Einstein que em repouso possuem
massa nula) cada caracterizado pela freqüência ν , momentum p e spin s. Um quanta tem

energia e = hν , onde h = 6, 6256 x10−34 Js é a constante de Planck.


Em radiação, energia é permanentemente trocada entre um sistema material e um
campo de radiação pelos seguintes processos:
- emissão espontânea de radiação que consiste na conversão de energia térmica (energia de
vibração ou rotação, energia eletrônica, energia de fônons, etc. para uma energia radiativa
(de fótons);
- absorção de radiação pela conversão inversa de energia radiativa para energia térmica.
Sob o ponto de vista de radiação, pode-se definir três tipos de meios:
- meio transparente como aquele que não emite, não absorve, não reflete ou difunde, mas
transmite toda radiação incidente qualquer que seja sua direção e freqüência;
- meio opaco que não transmite qualquer radiação incidente ( I i ) que pode ser absorvida

( I a ) ou refletida ( I r ). O meio opaco também pode emitir a radiação ( I e );


- meio semitransparente que reflete, absorve ou difunde a radiação incidente, ou a transmite
em distâncias finitas.
158

Figura 1.9.1 Radiação em meios transparente e opaco

A análise de transferência radiativa é complicada pelo fato que a propagação de


radiação em qualquer ponto em um meio não pode ser representada por um único vetor como
no caso da condução de calor. Para especificar a radiação incidente em um dão ponto, é
necessário conhecer a radiação de todas as direções porque os feixes de radiação de todas as
direções são independentes uns dos outros. Portanto a quantidade fundamental
freqüentemente usada em estudos de transferência radiativa para descrever a quantidade de
energia de radiação transmitida pelo raio em qualquer dada direção por unidade de tempo é a
intensidade de radiação monocromática (ou espectral). Para definir esta quantidade considere
um elemento de superfície dA , sobre um espaço de coordenadas r , caracterizada por uma
direção cuja normal é o vetor n como ilustrado na Figura 1.9.2. Seja dEν a quantidade de

energia radiativa no intervalo de freqüência entre ν e ν + dν , confinada em um elemento de


ângulo sólido dΩ ao redor da direção de propagação Ω escoando através do elemento de
superfície dA (i.e., transmitida através ou emitida pela e/ou refletida da superfície) durante o
intervalo de tempo entre t e t + dt . Seja θ o ângulo polar entre a direção normal n e a

( )
direção de propagação Ω . A intensidade de radiação monocromática Iν r , Ω, t é definida

como

( )
Iν r , Ω, t =
dEν
dA cos θ d Ωdν dt
(1.9.1)
159

Figura 1.9.2 – Símbolos para definição de intensidade

Na equação (1.9.1) dA cos θ é a projeção da superfície dA sobre um plano


perpendicular à direção dΩ ; daí a intensidade é definida com base na área projetada. De
acordo com a Eq. (1.9.1) a intensidade monocromática é a quantidade de energia radiativa
(em unidades apropriadas de energia) escoando através da unidade de área perpendicular à
direção de propagação Ω , por unidade de ângulo sólido em torno da direção Ω , por unidade
de freqüência sobre a freqüência ν , e por unidade de tempo sobre o tempo t .
Se a intensidade de radiação para ou de um elemento de superfície é considerada na
faixa de freqüência entre ν 1 e ν 2 e através do ângulo sólido entre Ω1 e Ω 2 , então a
quantidade por metro quadrado
Eν ν 2 φ2 θ 2
= ∫ ∫ ∫ Iν ( r , θ , φ , t ) cos θ senθ dθ dφ dν (1.9.2)
m 2 ν1 φ1 θ1

é o total de energia radiativa para ou da superfície por unidade de área e por unidade de tempo
na faixa de freqüência entre ν 1 e ν 2 e através do ângulo sólido entre Ω1 e Ω 2 . Um elemento
de ângulo sólido em coordenadas esféricas é representado por
d Ω = senθ dθ dφ (1.9.3)
na qual θ é o ângulo polar entre a direção normal n à superfície e a direção da intensidade e
φ é o ângulo lateral como mostrado na Figura 1.9.3
160

Figura 1.9.3 Cálculo do ângulo sólido

1.9.1 Radiação em corpo negro

A superfície de um sistema que participa em uma troca de calor por radiação pode ser
classificada de acordo com sua habilidade de absorver a radiação que nela incide. O termo
corpo negro é usado para denotar um corpo que possui a propriedade de permitir que toda a
radiação incidente entre no meio sem reflexão pela superfície e sem permitir que ele deixe o
meio novamente. Portanto um corpo negro deve possuir uma superfície que permite que a
radiação incidente entre sem reflexão. Durante a propagação de radiação em um meio cada
raio sofre certo enfraquecimento por causa da absorção; portanto um corpo negro deve ter
espessura suficiente, dependendo do seu poder absorsivo, para assegurar que os raios não
deixarão o meio. Um feixe viajando em um meio é desviado de seu caminho original e
espalhado em todas as direções por causa da presença de pequenas impurezas e não
homogeneidades. Embora no processo de espalhamento de radiação térmica a energia não seja
nem criada nem destruída, um corpo negro não deve ter nenhuma ou ser desprezível suas
propriedades de espalhamento para assegurar que a radiação entrando no meio não será
espalhada para fora. Estas propriedades referem-se aos feixes de radiação vindo de todas as
direções e para todos os comprimentos de onda. Daí um corpo negro absorve toda radiação
incidente de todas as direções e em todas as freqüências, sem refletir, transmitir e espalhar os
raios incidentes.
161

Da discussão anterior, conclui-se que um corpo negro é um perfeito absorvedor de


radiação de todas as direções em todas as freqüências. Considere agora um corpo negro dentro
de uma cavidade isotérmica cujas paredes absorve e emite radiação, e assuma que após um
período de tempo o corpo negro e a cavidade alcancem o equilíbrio térmico e atinjam alguma
temperatura uniforme. Enquanto em equilíbrio térmico um corpo emite tanta energia quanto
absorve, e para um corpo negro a emissão de radiação deve ser máxima visto que ele absorve
a máxima radiação possível de todas as direções e em todas as freqüências. Portanto a
radiação emitida em qualquer dada temperatura T é um máximo para um corpo negro.
Por considerar um corpo negro em equilíbrio térmico dentro de uma cavidade cujas
paredes emitem e absorvem apenas em um intervalo de freqüência dν em torno de ν , e por
um argumento similar, pode ser concluído que a radiação emitida por um corpo negro em uma
dada temperatura T e freqüência ν é um máximo. Além do mais a radiação emitida por um
corpo negro é isotrópica.
A intensidade de radiação espectral ou monocromática emitida por um corpo negro em
uma dada temperatura T no vácuo foi determinada por Planck e é dada por
2hv 3
Iν b ,vac (T ) = (1.9.4)
c02 ⎡⎣exp ( hν / kT ) − 1⎤⎦

na qual h e k são, respectivamente, as constantes de Planck e de Boltzmann, c0 é a

velocidade da luz no vácuo, T é a temperatura absoluta e ν é a freqüência.


Em muitas aplicações de engenharia se usa mais o comprimento de onda do que a
freqüência para caracterizar a intensidade monocromática. Para se escrever a Equação (1.9.4)
em função do comprimento de onda considera-se que a radiação emitida no intervalo dν em
torno de ν deveria ser igual àquela no comprimento de onda d λ0 em torno de λ0 , isto é,

Iν dν = − I λ0 d λ0 (1.9.5)

Desde que o comprimento de onda depende do meio em que a radiação está viajando, usa-se o
subscrito 0 para denotar que o meio é um vácuo. A freqüência, entretanto, não depende do
tipo de meio. A freqüência e comprimento de onda estão relacionados por
c0
ν= (1.9.6a)
λ0
Por diferenciação de (1.9.4) resulta
c0 c0
dν = − d λ0 e d λ0 = − dν (1.9.6b)
λ 2
0 ν2
162

Pela utilização de (1.9.7) em (1.9.5) pode-se escrever


dν v2
I λ0b ,vac (T ) = − Iν b ,vac (T ) = Iν b ,vac (T ) (1.9.7a)
d λ0 c0
De (1.9.4) e (1.9.7a) obtém-se a intensidade de radiação de Planck em função em termos do
comprimento de onda:
2hc02
I λ0b ,vac (T ) = 5 (1.9.7b)
λ0 ⎣⎡exp ( hc0 / λ0 kT ) − 1⎦⎤
que representa a intensidade de radiação emitida por um corpo negro em um vácuo puro. Ou
seja, ela representa a energia radiativa por unidade de área projetada, por unidade de tempo,
por unidade de ângulo sólido, por unidade de comprimento de onda sobre λ0 . Por exemplo,
em watts (joule por segundo), por metro quadrado, por esterorradiano, por mícron tem-se
W / m 2 ⋅ sr ⋅ μ m .
Quando energia radiante é emitida por um corpo negro em um meio que não seja
vácuo, a Eq. (1.9.4) deverá ser substituída por
2hv 3
Iν b (T ) = (1.9.8a)
c 2 ⎡⎣exp ( hν / kT ) − 1⎤⎦

na qual c é a velocidade de propagação de radiação no meio em questão. Para um meio


dielétrico (meio com condutividade específica nula, ou perfeitamente não condutor elétrico),
c = c0 / n , a Eq. (1.9.8) fica na forma:

2hv 3n 2
Iν b (T ) = = n 2 Iν b ,vac (T ) (1.9.8b)
c0 ⎡⎣exp ( hν / kT ) − 1⎤⎦
2

na qual n é o índice de refração do meio. Com ν = c0 / nλ e por um procedimento similar ao


de obtenção da eq. (1.9.7b) pode-se mostrar que em função do comprimento de onda num
meio que não seja vácuo, tem-se
2hc02
I λb (T ) = (1.9.9)
n 2 λ 5 ⎡⎣exp ( hc0 / nλ kT ) − 1⎤⎦

na qual λ é o comprimento de onda no meio em questão.


A intensidade de radiação emitida por um corpo negro sobre todas as freqüências (ou
comprimentos de onda) é chamada de intensidade total de radiação do corpo negro e é obtida
pela integração da intensidade monocromática de radiação do corpo negro sobre o espectro
inteiro de energia:
163


I b (T ) = ∫ Iν b (T ) dν (1.9.10a)
v =0

Pela substituição de (1.9.8b) em (1.9.10a) obtém-se


2h ∞ v 3 n 2
I b (T ) =
c02 ∫ν =0 e hν / kT − 1
dν (1.9.10b)

e se o índice refrativo n é assumido ser independente da freqüência, a Eq. (1.9.10b) pode ser
rearranjada como

( vh / kT )
3
⎛ν h ⎞
4
2hn 2 ⎛ kT ⎞ ∞
I b (T ) = 2 ⎜ ⎟ ∫ν hν / kT
d⎜ ⎟ (1.9.10c)
c0 ⎝ h ⎠ =0 e − 1 ⎝ kT ⎠
ou
2k 4 2 4 x3 2k 4 2 4 π 4
( ) ( )

I b (T ) = 2 3 n T ∫ν =0 e x − 1dx = c02 h3 n T 15 (1.9.10c)
c0 h
A Eq. (1.9.10c) pode ser rearranjada como
2π 5 k 4 T 4 T4
I b (T ) = n 2
=n σ
2
(1.9.10d)
15c02 h3 π π
na qual
2π 5 k 4
σ= (1.9.10e)
15c02 h3

é a constante de Stefan-Boltzmann e seu valor em unidades SI é σ = 5, 67 x10−8 W/m 2 ⋅ K 4 ⋅ sr .


Em muitas aplicações de engenharia uma quantidade física de interesse é o fluxo
emissivo monocromático (ou espectral) ou poder emissivo do corpo negro Eλb (T ) definido

como
2π π /2
Eλb (T ) = ∫ ∫θ I λb (T )senθ cos θ dθ dφ
φ =0 =0

(T )μ d μ dφ
1
=∫ ∫ I (1.9.11a)
φ =0 μ =0 λb

= π I λb (T )

Substituindo a Eq. (1.9.9) em (1.9.11) resulta


c1
Eλb (T ) = (1.9.11b)
n λ ⎣⎡exp ( c2 / nλT ) − 1⎦⎤
2 5

na qual foram definidos


hc0
c1 = 2π hc02 e c2 = (1.9.11c)
k
164

O fluxo emissivo monocromático Eλb (T ) representa a quantidade de energia radiativa

emitida por um corpo negro na temperatura T por unidade de área, por unidade de tempo, por
unidade de comprimento de onda em todas as direções do espaço hemisférico. Em unidades
SI, W / m 2 ⋅ μ m .

A integração de Eλb (T ) sobre todos os comprimentos de onda de λ = 0 até infinito

leva ao fluxo emissivo total ou poder emissivo total do corpo negro Eb (T ) :


∞ ∞
Eb (T ) = ∫ Eλb (T )d λ = π ∫ I (T )d λ = π Ib (T ) = n 2σ T 4 (1.9.12)
λ =0 λ =0 λb

O local de máximo do fluxo emissivo monocromático é determinado analiticamente


pela regra de deslocamento de Wien, que é dada como
( λT ) q
λb ,max
= c3 (1.9.13)

Em unidades SI, a terceira constante é: c3 = 2,8978 × 10−3 m ⋅ K .

1.9.2 Transferência de calor entre superfícies negras

1.9.2.1 O Fator de Forma Geométrico

Considere o problema de determinar a taxa líquida de transferência de calor


q1− 2 (W ) entre duas superfícies negras isotérmicas ( A1 , T1 ) e ( A2 , T2 ) mostradas na Figura

1.9.4. Esta análise pode ser feita nos seguintes passos:


1. A fração da radiação emitida pelo elemento de área dA1 e interceptada (absorvida
totalmente) pelo elemento de área dA2 ;
2. A fração da radiação emitida pelo elemento de área dA2 e interceptada (absorvida
totalmente) pelo elemento de área dA1 ;
3. A taxa de transferência líquida de dA1 para dA2 , isto é, a diferença entre as respostas
da parte 1. e 2. e finalmente,
4. A taxa de transferência líquida de A1 para A2 , que é entre as duas áreas finitas
isotérmicas.
165

Figura 1.9.4 – Parâmetros geométricos para cálculo do fator de forma

Se r é a distância entre os elementos de áreas dA1 e dA2 , então o ângulo sólido

através do qual dA2 é visto por um observador estacionado em dA1 é igual a dA2 cos φ2 / r 2 .
Note que dA2 cos φ2 é a dimensão de dA2 após ele ter sido projetado na direção da linha
dA1 − dA2 .
Viajando de dA1 na direção de dA2 (e para todo o resto do espaço) tem-se a

intensidade total de radiação de corpo negro I b ,1 = I b (T1 ) . O tamanho da área emitente que é

normal à direção r é a área “ dA1 projetada”, dA1 cos φ1 . Portanto, a resposta ao item 1. é:
dA2 cos φ2
qdA1 →dA2 = I b ,1dA1 cos φ1 (1.9.14)
r2
A seta usada no subscrito dA1 → dA2 é para lembrar que qdA1 →dA2 representa a

transferência de energia unidirecional por unidade de tempo, neste caso, de dA1 (emissor) para
dA2 (alvo). Analogamente, a resposta ao item 2. será:
dA1 cos φ1
qdA2 → dA1 = I b ,2 dA2 cos φ2 (1.9.15)
r2
O terceiro passo consiste simplesmente de subtrair a Eq. (1.9.15) da Eq. (1.9.14) para
calcular a transferência de calor líquida de dA1 para dA2 :
166

cos φ1 cos φ2
qdA1 − dA2 = qdA1 →dA2 − qdA2 →dA1 = ( I b ,1 − I b ,2 ) dA1dA2 (1.9.16)
r2
Usando a equação 1(0.10d) para as intensidades de radiação de corpo negro, com n = 1 , a Eq.
(1.9.16) pode ser reescrita como

(
qdA1 − dA2 = σ T14 − T24 ) cos φπ rcos φ
1
2
2
dA1dA2 (1.9.17)

Para se calcular q1− 2 (W ) deve-se somar as contribuições de todos os elementos de

área de A1 e A2 , ou seja,
cos φ1 cos φ2
(
q1− 2 = σ T14 − T24 )∫ ∫A1 A2 π r2
dA1dA2 (1.9.18)

No lado esquerdo da Eq. (1.9.18) o subscrito 1-2 estabelece que a taxa de transferência
q1− 2 (W ) deixa a superfície A1 e entra (cruza) a superfície A2 .

A unidade da integral dupla na Eq. (1.9.18) é metro quadrado m 2 . É conveniente ( )


definir um fator adimensional formado pela razão da integral dupla por A1 , denominado de
fator de forma geométrico baseado em A1 :
1 cos φ1 cos φ2
F12 = ∫
A1 1 2
A ∫ A π r2
dA1dA2 (1.9.19)

A equação (1.9.18) pode, então, ser reescrita como

(
q1− 2 = σ T14 − T24 A1 F12 ) (1.9.20)

O fator de forma é puramente geométrico, pois depende apenas de dimensões,


orientações e posições relativas das duas superfícies.
Alternativamente poderia se definir
1 cos φ1 cos φ2
F21 =
A2 ∫ ∫ A1 A2 π r2
dA1dA2 (1.9.21)

de modo que q1− 2 (W ) fica na forma

(
q1− 2 = σ T14 − T24 A2 F21 ) (1.9.22)

Assim para se calcular q1− 2 (W ) deve-se calcular ou F12 ou F21 . Ao se integrar a Eq. (1.9.14)

obtém-se o resultado
cos φ1 cos φ2
q1→ 2 = I b ,1 ∫ ∫ 2
dA1dA2 = σ T14 A1 F12 (1.9.23)
A1 A2 r
167

Pela equação (1.9.12) σ T14 A1 = Eb ,1 A1 que é o número de watts de radiação de corpo negro

emitida pela superfície A1 em todas as direções que os pontos de A1 podem “olhar”. Apenas
uma porção de Eb ,1 A1 é interceptada e absorvida por A2 ( porque, em geral, A1 pode ser

cercada por outras superfícies além de A2 ); aquela porção é q1→2 ou Eb ,1 A1 F12 . Em conclusão,

o significado físico do fator de forma é:


q1→2 radiaçao deixando A1 e sendo interceptada por A2
F12 = = (1.9.24)
qb ,1 A1 radiaçao deixando A1 em todas as direçoes

A razão formulada na Eq. (1.9.24) sugere que o fator de forma está no intervalo entre
0 e 1. Livros textos de transferência de calor apresentam gráficos e tabelas de fatores de forma
para várias configurações. Vide Bejan (1993) Cap. 10, por exemplo.

1.9.2.2 Relações entre fatores de forma

Várias relações permitem estimativas de fatores de forma para diversas configurações.


Estas relações são de reciprocidade, aditividade e invólucro (enclosure). A relação de
reciprocidade pode ser obtida comparando as equações (1.9.20) e (1.9.22) sendo da forma:
A1 F12 = A2 F21 (Reciprocidade) (1.9.25)
No caso em que a área A2 é composta de n pedaços (mosaico), A2 = A21 + A22 + + A2n , o

fator de forma pode ser calculado somando-se os fatores de forma individuais, na forma:
n
F12 = ∑ F12i (Aditividade) (1.9.26)
i =1

em que F12i é o fator de forma de A1 para cada pedaço da área A2 .

Em geral nem toda radiação emitida por A1 é interceptada por A2 , porque outras áreas

podem circundar A1 . Sejam as áreas ( A2 , A3 ,… , An ) que juntamente com A1 formam um

invólucro (enclosure), Figura 1.9.5. A conservação de energia dentro da cavidade requer que
Eb ,1 A1 = Eb ,1 A1 F11 + Eb ,1 A1 F12 + + Eb ,1 A1 F1n (1.9.27a)

ou após dividir por Eb ,1 A1 resulta

1 = F11 + F12 + + F1n (1.9.27b)


A Eq. (1.9.27b) pode ser generalizada como
n
1 = ∑ Fij ( i = 1, 2,… , n ) (Invólucro) (1.9.28)
j =1
168

Figura 1.9.5 – Invólucro formado por n superfícies

1.9.2.3 Cavidade de duas superfícies

Os casos clássicos de cavidades de duas superfícies são: duas placas paralelas, um


cilindro interno a outro e uma esfera encapsulada por outra, como mostra a Figura 1.9.6.
Nestes casos, a transferência líquida de calor é dada pela Eq. (1.9.20) sendo da forma:
q1− 2 = ( Eb ,1 − Eb ,2 ) A1 F12 (1.9.29)

na qual Eb ,1 = Eb (T1 ) = σ T14 e Eb ,2 = Eb (T2 ) = σ T24 . O produto A1 F12 desempenha o papel de

condutância térmica e seu inverso é a resistência térmica de radiação, ou seja,


1 1
Rr = = (1.9.30)
A1 F12 A2 F21

Figura 1.9.6 – Exemplos de cavidades de apenas duas superfícies e correspondente diagrama


de resistência térmica.
169

1.9.3 Radiação em corpos cinzas

A maioria das superfícies não se comporta como corpos negros, e para analisar a
transferência calor por radiação para superfícies reais é necessário considerar o que acontece
com a irradiação, ou radiação térmica, incidente sobre a superfície. A irradiação incidente I i

ou é absorvida dentro da superfície como I a , ou refletida como I r , ou transmitida como I t .


Dessa forma, pode-se escrever
Ii = I a + I r + It (1.9.31)
ou na forma de frações
I a I r It
+ + =1 (1.9.32)
Ii Ii Ii
Estas frações são definidas como
Ia
=α (Absortividade) (1.9.33a)
Ii
Ir
= ρ (Refletividade) (1.9.33b)
Ii
It
=τ (Transmissividade) (1.9.33c)
Ii
e a equação (1.9.32) pode ser reescrita como
α + ρ +τ = 1 (1.9.34)
Corpos opacos não transmitem radiação, dessa forma
α + ρ =1 (1.9.35)
Corpos negros não refletem nem transmitem radiação, daí
α =1 (1.9.36)

1.9.3.1 Emissividade

A intensidade de radiação emitida por uma superfície real de temperatura T é apenas


uma fração da intensidade de um corpo negro. A intensidade de radiação monocromática de
um corpo negro foi designada como I b ,λ ( λ , T ) . Já para uma superfície real esta intensidade

será denominada I λ ( λ , T , φ , θ ) , pois, depende também da direção (φ , θ ) em que um dado raio


170

aponta. A razão entre I λ ( λ , T , φ ,θ ) e I b ,λ ( λ , T ) é chamada emissividade monocromática

direcional:
I λ ( λ , T , φ ,θ )
ε λ′ ( λ , T , φ ,θ ) = ≤1 (1.9.37)
I b ,λ ( λ , T )

O fluxo emissivo monocromático de uma superfície real ou poder emissivo


monocromático da superfície se define como
2π π /2
Eλ ( λ , T ) = ∫ ∫ I λ ( λ , T , φ ,θ )senθ cos θ dθ dφ (1.9.38)
φ =0 θ =0

De maneira análoga, pode-se definir a emissividade monocromática hemisférica para uma


superfície real como
Eλ ( λ , T )
ελ (λ,T ) = ≤1 (1.9.39)
Eb ,λ ( λ , T )

O fluxo emissivo da superfície é obtido da integração em todos os comprimentos de


onda do fluxo emissivo monocromático, ou seja,
∞ ∞
E (T ) = ∫ Eλ ( λ , T )d λ = ∫ ε ( λ , T ) Eb ,λ ( λ , T )d λ (1.9.40)
λ =0 λ =0 λ

Correspondente a este fluxo emissivo se define a emissividade total hemisférica na forma


E (T )
ε (T ) = ≤1 (1.9.41)
Eb (T )

Usando as equações (1.9.12) e (1.9.40) se obtém


1 ∞ 1 ∞
ε (T ) = ∫λ Eλ ( λ , T )d λ = ∫λ ε λ ( λ , T ) Eb ,λ ( λ , T )d λ (1.9.42)
σT 4 =0 σT 4 =0

Uma superfície cinza ou corpo cinza de temperatura T é a superfície cuja emissividade


monocromática hemisférica é independente do comprimento de onda (i.e. uma constante se T
é fixada), ou seja,
ε λ ( λ , T ) ≅ ε λ (T ) ou ε λ ≠ funçao ( λ ) (1.9.43)

Além do mais, pode-se mostrar a partir de (1.9.42) e (1.9.43) que a emissividade total
hemisférica de um corpo cinza é igual à sua emissividade monocromática hemisférica
ε (T ) = ε λ (T ) (1.9.44)

Um corpo cinza é um meio opaco emissor difuso (emite uniformemente em todas as


direções). Ele também é assumido como absorvedor e refletor difuso. O modelo de corpo
cinza aproxima bem o comportamento de muitas superfícies em transferência de calor na
engenharia, por exemplo, cobre, óxido de alumínio, tintas e papel. Superfícies metálicas
171

limpas e bem polidas são caracterizadas por baixos valores de ε . Superfícies não metálicas,
por outro lado, têm altas emissividades: de fato, algumas destas satisfazem bem o modelo de
corpo negro ε = 1 (fuligem, vidro liso, gelo). Superfícies metálicas que se tornam cobertas
por óxidos e outras impurezas também adquirem consideravelmente altos valores de
emissividade.

1.9.3.2 Absortividade e Refletividade

Da mesma maneira que foram definidas as emissividades pode-se definir as


absortividades. Seja I λ ( λ , T , φ ,θ ) a intensidade de radiação que atinge um elemento de uma

superfície real vindo da direção (φ , θ ) . A quantidade relativa que é absorvida na superfície,

I a ,λ ( λ , T , φ ,θ ) , é indicada pela absortividade monocromática direcional α λ′ :

I a ,λ ( λ , T , φ , θ )
α λ′ ( λ , T , φ ,θ ) = (1.9.45)
I λ ( λ , T , φ ,θ )

A absortividade monocromática hemisférica é definida como


Ga ,λ ( λ , T )
αλ ( λ, T ) = (1.9.46)
Gλ ( λ , T )

na qual o denominador Gλ ( λ , T ) ( W / m2 ⋅ m ) é a irradiação monocromática, ou o número de

watts que atinge a unidade de área de todas as direções por comprimento de onda e é definido
como
2π π /2
Gλ ( λ , T ) = ∫ ∫ I λ ( λ , T , φ ,θ )senθ cos θ dθ dφ (1.9.47)
φ =0 θ =0

O numerador da equação (1.9.46) é a fração da irradiação que é absorvida pela superfície


definido como
2π π /2
Ga ,λ ( λ , T ) = ∫ ∫ I a ,λ ( λ , T , φ ,θ )senθ cos θ dθ dφ (1.9.48)
φ =0 θ =0

Finalmente se define a absortividade total hemisférica como


Ga (T )
α (T ) = (1.9.49)
G (T )

na qual a irradiação total G (T ) é obtida pela integração



G (T ) = ∫ Gλ ( λ , T ) d λ (1.9.50)
0
172

O total absorvido é calculado como


∞ ∞
Ga (T ) = ∫ Ga ,λ ( λ , T ) d λ = ∫ α λ ( λ , T ) Gλ ( λ , T ) d λ (1.9.51)
0 0

Substituindo (1.9.51) em (1.9.49) obtém-se a expressão para a absortividade total hemisférica


1 ∞
α (T ) = α λ ( λ , T ) Gλ ( λ , T ) d λ
G (T ) ∫0
(1.9.52)

A diferença entre a irradiação total G (T ) e a absorvida total Ga (T ) é a porção

refletida (caso de superfície opaca, ρ = 1 − α ; τ = 0 ) Gr (T ) . Dessa forma

Gr = G − Ga = (1 − α ) G = ρ G (1.9.53)

em que ρ é a refletividade da superfície.

1.9.3.3 Lei de Kirchhoff

A lei de Kirchhoff estabelece que a absortividade monocromática direcional de uma


superfície não negra é sempre igual à sua emissividade monocromática direcional quando a
superfície está em equilíbrio térmico com a radiação que incide sobre ela, ou seja,
α λ′ ( λ , TA , φ , θ ) = ε λ′ ( λ , TA , φ ,θ ) (Lei de Kirchhoff) (1.9.54)

A Lei de Kirchhoff pode ser usada para estimar a absortividade de um corpo cinza?
Para responder a esta questão, considere que para um absorvedor difuso
α λ ( λ , T ) = α λ′ ( λ , T ) (1.9.55)

Da mesma forma, para um emissor difuso


ε λ ( λ , T ) = ε λ′ ( λ , T ) (1.9.56)

Em conclusão, para uma superfície que é tanto um absorvedor difuso quanto emissor
difuso, a Lei de Kirchhoff estabelece que
αλ (λ,T ) = ε λ (λ,T ) (1.9.57)

Para uma superfície cinza, a emissividade ε λ independe do comprimento de onda, ou seja,

ε λ = ε (T ) . Portanto, pode-se se concluir que a absortividade também independe do


comprimento de onda. Então (1.9.57) fica na forma
α λ (T ) = ε (T ) (1.9.58)

Substituindo (1.9.58) em (1.9.52) pode-se demonstrar que para uma superfície cinza
173

α ( T ) = ε (T ) (1.9.59)

Portanto, pode-se estimar a absortividade total hemisférica de uma superfície cinza a


partir de tabelas de emissividade total, desde que a superfície tenha a mesma temperatura da
radiação que incide sobre ela.

1.9.4 Transferência de calor entre superfícies cinzas

Considere agora o problema de determinar a taxa líquida de transferência de calor


entre duas superfícies cinzas que formam uma cavidade, Figura 1.9.7. As áreas ( A1 , A2 ) , as

temperaturas (T1 , T2 ) e as emissividades totais hemisféricas ( ε1 , ε 2 ) são especificadas.

Assuma que a menor das duas superfícies A1 é não côncava, de modo que F11 = 0 .

Figura 1.9.7 Cavidade definida por duas superfícies cinzas e resistência térmica de A1 para
A2

Seja G1 a irradiação total que chega num elemento de área dA1 . Na direção oposta está
a porção refletida ρ1G1 mais o fluxo de calor emitido por dA1 em si, ε1 Eb ,1 . O fluxo de calor

unidirecional que parte de dA1 representa o que se chama radiosidade da superfície

(
denominada J1 W / m 2 : )
J1 = ρ1G1 + ε1 Eb ,1 (1.9.60)

( )
A diferença entre o fluxo de calor que deixa dA1 , J1 W / m 2 e o fluxo que chega G1 , é o

fluxo líquido que deixa dA1 ,


q1′′ = J1 − G1 (1.9.61)
174

Eliminando G1 entre (1.9.60) e (1.9.61) e lembrando que para uma superfície cinza,
ρ1 = 1 − α1 = 1 − ε1 , obtém-se
J1 − ε1 Eb ,1 ε1
q1′′ = J1 −
ρ1
=
1 − ε1
( Eb,1 − J1 ) (1.9.62)

A taxa líquida que deixa a superfície A1 é simplesmente q1 = q1′′A1 , então,

ε1 A1 ( Eb,1 − J1 )
q1 =
1 − ε1
( Eb ,1 − J1 ) =
Ri
(1.9.63)

Em que o denominador é uma resistência interna que impede a passagem de q1 através de A1 .


A corrente líquida de calor que sai de A1 deve ser provida por um agente externo (um
aquecedor); esta corrente é bombeada através da superfície de A1 , isto é, de suas costas para a
face que está na cavidade. A resistência interna tem a forma genérica
1− ε
Ri = (1.9.64)
εA
A corrente total de calor J1 A1 tem todos os aspectos de Eb ,1 A1 já discutido

anteriormente. Assim pode se calcular a corrente unidirecional J1 A1 como


q1→2 = J1 A1 F12 = J1 A2 F21 (1.9.65)

De maneira análoga pode se calcular a corrente unidirecional J 2 A2 obtendo-se


q2→1 = J 2 A2 F21 = J 2 A1 F12 (1.9.66)

A corrente líquida de na direção A1 → A2 é, portanto,

q1− 2 = q1→2 − q2→1 = A1 F12 ( J1 − J 2 ) (1.9.67)

Observando o circuito elétrico na Figura 1.9.7 pode-se verificar que a taxa líquida de calor
pode ser calculada como se fosse um corpo negro na forma:

σ (T14 − T24 )
q1− 2 = (1.9.68)
1 − ε1 1 1− ε2
+ +
ε1 A1 A1 F12 ε 2 A2
Pela conservação de energia através de A1 pode-se demonstrar que
q1 = q1− 2 = − q2 (1.9.69)
na qual q1 é calculado pela Eq. (1.9.63) e q2 e definido como
ε 2 A2
q2 =
1− ε2
( Eb,2 − J 2 ) (1.9.70)
175

Três casos de configurações importantes de cavidades de duas superfícies foram


mostradas na Figura 1.9.6. Naqueles casos os fluxos líquidos podem ser avaliados como
1) Duas placas paralelas ( A1 = A2 = A )

σ A (T14 − T24 )
q1− 2 = (1.9.71)
1 1
+ −1
ε1 ε2
2) Espaço anelar entre dois cilindros infinitos ou entre duas esferas (não necessariamente
concêntricos(as))

σ A1 (T14 − T24 )
q1− 2 = (1.9.72)
1 A ⎛1 ⎞
+ 1 ⎜ − 1⎟
ε1 A2 ⎝ ε 2 ⎠

No caso em que uma superfície extremamente grande ( A2 ) circunda uma superfície

convexa ( A1 , F11 = 0 ) tem-se

q1− 2 = σ A1ε1 T14 − T24( ) (1.9.73)

O caso de invólucros de mais de duas superfícies também pode ser analisado de forma
similar ao caso de invólucro de duas superfícies. Considere o caso de um invólucro de n
superfícies cinzas, Figura 1.9.8. Em geral um observador sobre A1 pode ver as radiosidades de
todas as n partes do invólucro. Por exemplo, a corrente de irradiação que emana da j-ésima
superfície Aj e atinge A1 é J j Aj Fj1 . Segue que a corrente de irradiação que impinge sobre A1

é
A1G1 = J1 A1 F11 + J 2 A2 F21 + + J n An Fn1
n
= ∑J
j =1
j A j F j1 (1.9.74)

n
= ∑J
j =1
j A1 F1 j

Figura 1.9.8 – Invólucro formado por n superfícies cinzas, e resistência associada com Ai
176

Do ponto de vista de A1 , a transferência de calor é ainda o cálculo da taxa de


transferência líquida de calor q1 que deve ser suprida nas costas (atrás) de A1 . Esta corrente
de calor pode ser avaliada usando a eq. (1.9.63) desde que a radiosidade J1 seja conhecida. O
problema se reduz, então, ao cálculo de J1 . Substituindo a eq. (1.9.60) na eq. (1.9.74) obtém-
se
n
J1 = (1 − α1 ) ∑ J j F1 j + ε1σ T14 (1.9.75)
j =1

A eq. (1075) estabelece que a radiosidade da superfície A1 depende das propriedades

de A1 (α1 , ε1 , T1 ) , das radiosidades de todas as superfícies que formam o invólucro

( J ; j = 1, 2,… , n ) e dos respectivos fatores de forma através dos quais estas superfícies são
j

visíveis de A1 . Um sistema de n equações para as n radiosidades pode ser obtido por


escrever para cada superfície i que participa no invólucro:
n
J i = (1 − α i ) ∑ J j Fij + ε iσ Ti 4 ( i = 1, 2,… , n ) (1.9.76)
j =1

Se a geometria e propriedades de todas as superfícies são especificadas, então o


sistema (1.9.76) fornece os valores das n radiosidades. Uma equação para a taxa líquida de
calor de cada superfície pode ser escrita como
ε i Ai
qi =
1− εi
( σ Ti 4 − J i ) ( i = 1, 2,… , n ) (1.9.77)

A seguinte restrição deve ser satisfeita,


n

∑q
i =1
i =0 (1.9.78)

Alternativamente, a taxa de calor de cada superfície definida como qi = Ai J i − Ai Gi


pode ser calculada como
n
qi = Ai J i − ∑ J j Ai Fij (1.9.79a)
j =1

n
ou lembrando que ∑F
j =1
ij = 1 , tem-se

n n
qi = Ai J i ∑ Fij − ∑ J j Ai Fij (1.9.79b)
j =1 j =1

ou após um rearranjo de (1.9.79b) resulta


177

qi = ∑ Ai Fij ( J i − J j )
n
(1.9.79c)
j =1

Os fatores de forma de um invólucro de n superfícies formam uma matriz n × n num


total de n 2 fatores de forma. Nem todos deste número podem ser especificados

( )
independentemente. Existirão n 2 − n / 2 relações de reciprocidade, porque existirão n fatores

( )
na diagonal e n 2 − n / 2 fatores em cada lado da diagonal. Adicionalmente, n relações de
n
invólucro ( ∑ Fij = 1 ) podem ser escritas. Em conclusão, o número de fatores de forma
j =1

independentes é:

n2 −
1 2
2
( )
n
n − n − n = ( n − 1)
2
(1.9.80)

Existem em livros textos tabelas e gráficos de arranjos de várias configurações de


fatores de forma.

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