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A Actuação do Assistente Social no Contexto da Vulnerabilidade Socioeconómica das

Famílias: Uma Reflexão Centrada no Desenvolvimento das Crianças no posto


administrativo de Ntega.

1. INTRODUÇÃO

O trabalho que a seguir apresentamos, tem enquadramento na monografia para a obtenção do


grau de licenciatura em Educação e Assistência Social na Universidade Pedagógica de
Maputo (UP) e tem como objectivo principal compreender o contributo do Assistência Social
no contexto da superação dos efeitos da vulnerabilidade socioeconómica das famílias em prol
de desenvolvimento da criança no posto administrativo de Ntega.

Partindo-se do pressuposto que a actuação do Assistente Social nas famílias vulneráveis é


relevante para o desenvolvimento integral da criança, torna-se fundamental compreender o
que efectivamente pode ser cientificamente comprovado dessa relação e qual é a função da
ciência e da pesquisa científica na busca por ampliar e aprofundar o conhecimento humano
sobre esses dois temas e as suas relações. Nessa ordem de ideia, entendemos que a actuação
do Assistente Social aqui abordada, deve ser considerada como instrumento que influencia no
desenvolvimento das crianças vivendo em famílias vulneráveis no contexto moçambicano.

Para discutir esta temática, iremos privilegiar a consulta bibliográfica de autores que se
debruçam sobre aspectos ligados a matérias em pesquisa, conjugado com as técnicas de
observação e entrevista dirigida aos chefes de agregados familiar com crianças, no sentido de
nortear e compreender os diferentes conceitos atribuídos ao tema em análise. Deste modo,
ambicionamos realizar um estudo claro, objectivo, coerente e, fundamentalmente, que seja
importante e útil na nossa vida profissional, o que aliás justifica o tema escolhido para este
trabalho.

No que concerne a organização deste trabalho, no primeiro capítulo inicia com uma
introdução e de seguida apresentamos o problema, a justificativa onde se levanta a questão de
partida e pertinência do nosso estudo, os objectivos da pesquisa e as questões de pesquisa que
norteiam a nossa pesquisa.

No segundo capítulo, discorremos sobre a fundamentação teórica, tendo em conta os


conceitos básicos relacionados com o tema em estudo, incindindo, factores e implicações da
vulnerabilidade socioeconómica das famílias no desenvolvimento das crianças e a actuação
do Assistente social em volta do tema desta pesquisa

No terceiro capítulo, iremos apresentar a metodologia do estudo efectuado no posto


administrativo de Ntega. Para tal, procederemos à descrição do tipo de pesquisa, a população
e a amostra, instrumentos e técnicas de recolha de dados, procedimentos de análise de dados.
No quarto capítulo, apresentamos a análise e discussão de resultados.

Fará ainda, parte deste trabalho, a conclusão, as referências bibliográficas e os anexos.

1.1 Problema de Pesquisa

Os estudos mais recentes sobre o desenvolvimento da criança enfatizam a importância de se


examinar o contexto em que este ocorre e, em especial, o efeito da presença simultânea de
múltiplos factores de risco, tanto biológicos como ambientais. Nessa ordem de raciocínio,
PEREIRA (2009) considera a família como núcleo primário de protecção, afecto e
socialização para a criança.

A (WFP,2008) realça o problema de que apesar dos resultados encorajadores em termos de


redução da pobreza alcançados por Moçambique nos últimos anos, vários estudos apontam
para a existência de famílias que estão sujeitas a uma forte vulnerabilidade socioeconómica.
A entidade acima refere ainda no seu estudo realizado na cidade de Maputo e Matola que
27,3% dos agregados familiares vivem alguma forma de vulnerabilidade. Neste caso,
entendemos que a vulnerabilidade socioeconómica limita a capacidade das famílias de se
prepararem e responderem as necessidades desenvolvimentais das crianças.

A título exemplificativo, o estudo realizado por de DELVAN (2010), opina que a


vulnerabilidade socioeconómica das famílias é um dos factores de risco no desenvolvimento
das crianças, podendo vivenciar eventos negativos da vida, e que, quando presentes,
aumentam a probabilidade da criança apresentar problemas físicos, sociais ou emocionais”. É
mister ainda reforçar a pertinência do tema quando MAYA & WILLIAMS, (2005) afirmam
que a vulnerabilidade socioeconómica inclui todo um ambiente de estresse gerando
problemas situacionais que comprovadamente comprometem o desenvolvimento das
crianças.

Após a realização de um levantamento exploratório desenvolvido no posto administrativo de


Ntega, província de Maputo no mês de Maio do ano de 2019 com o objectivo de sustentar a
presente pesquisa, constatamos que a vulnerabilidade socioeconómica das famílias naquela
parcela do País, leva as crianças desde cedo, perceberem-se como inferiores, incapazes,
desvalorizadas, sem o reconhecimento social mínimo que as faça crer em seu próprio
potencial como ser humano, podendo oferecer-se a qualquer tipo de maus-tratos como é o
caso de trabalho ou prostituição infantil colocando em causa o seu próprio desenvolvimento.

Olhando os esforços do governo moçambicano na superação destes problemas, foi possível


entender na base do estudo realizado por Department for International Development (2009)
que, Moçambique ainda não dispõe de um programa de transferências sociais que se destine
especialmente às crianças (como os subsídios de apoio à criança, existentes na África do Sul
e na Namíbia) e, em contraste com muitos outros programas de transferências sociais nos
países em desenvolvimento, os programas existentes não visam explicitamente o uso dos
subsídios como um meio de promoção do investimento, por parte das famílias
economicamente vulneráveis, no capital humano das crianças como mecanismo de saída da
pobreza a longo prazo.

Entretanto, entendemos que todas estas questões sociais devem ser consideradas no trabalho
com profissionais que ajudam indivíduos que vivem em contexto de vulnerabilidade,
especificamente os Assistentes Sociais, pois exercem forte influência sobre o comportamento
das famílias e da comunidade em geral, tal como sustenta MARTINS (2008), que o
Assistente Social atende diversos casos individuais, lida com expressões da questão social
que, muitas vezes, não são atendidas por meio das políticas públicas que deveriam garantir a
resolução dessas situações.

Corroborando, PEREIRA (2009) defende que os profissionais que compõem a rede sócio
assistencial de crianças precisa estar atento a estas questões que ferem o desenvolvimento
saudável deste grupo alvo. Ora, diversas instituições de ensino superior em Moçambique
formam Assistentes Sociais como é o caso da Universidade Pedagógica (UP) – Maputo,
dotando-os de ferramentas básicas para o enfrentamento dos problemas sociais como é o caso
da vulnerabilidade socioeconómica que faz se sentir no posto administrativo de Ntega.

Tomando em consideração os factos acima expostos sobre os problemas da vulnerabilidade


socioeconómica das famílias e a sua influência no desenvolvimento das crianças, o principal
problema objecto desta pesquisa é: De que maneiras a actuação do assistente social pode
contribuir na superação dos efeitos da vulnerabilidade socioeconómica das famílias no
desenvolvimento da criança no posto administrativo de Ntega.
1.2 Justificativa da pesquisa

Esta pesquisa representa o reconhecimento do direito ao desenvolvimento integral das


crianças. Enfatiza também o extraordinário valor e importância do Assistente Social,
colocando-o no centro do processo e evidenciando o seu insubstituível papel. Seria por isso,
importante que quer investigadores quer Assistentes Sociais procurassem estratégias de
intervir no problema levantado nesta pesquisa.

Entendemos que em Moçambique tem havido pouca discussão ou análise baseada numa
compreensão mais ampla de vulnerabilidade socioeconómica como um conceito analítico que
ajude a explicar porque é que as crianças são mais susceptíveis a sofrerem influencia no seu
desenvolvimento do que outras e como superar esta problemática.

Ainda, a preferência de trabalhar este tema, advém de razões de ordem pessoal, dado a
necessidade contínua de aprender e de rever os conhecimentos que fomos construindo ao
longo do curso, de modo a prepararmos para os desafios que temos de enfrentar como futuro
profissionais desta área.

Outrossim, a sua escolha deve-se a razões de ordem prática que durante os trabalhos da
cadeira de Práticas Técnico Profissional em Serviço Social I, II e III realizados no Bairro de
Mussumbuluco, observamos situações de crianças vivendo em famílias vulneráveis lutando
pela sobrevivência carecendo de alguém que ajude ou mostre caminhos seguros para a
construção do seu futuro sem colocar em causa o pleno desenvolvimento.

Estas iniciativas dão conta de um maior reconhecimento por parte do governo de que
Moçambique precisa de se afastar de respostas à vulnerabilidade com base em emergências,
definidas como choques a curto prazo, para uma resposta mais robusta aos factores
demográficos e estruturais a longo prazo que criam vulnerabilidade, o que deteriora
grandemente a capacidade das famílias libertar-se da pobreza.

A intenção é trazer instrumentos e informações que fomentem a reflexão para uma


compreensão mais ampla acerca da infinidade de situações vividas por crianças que sofrem
pela vulnerabilidade socioeconómica das suas famílias e entender como essas situações se
relacionam com as possibilidades de um trabalho do Assistência Social, e demais órgãos do
Sistema de Garantia de Direitos (responsáveis pela execução de serviços nas áreas de cultura,
lazer, geração de trabalho e renda, habitação, transporte, capacitação profissional e pela
garantia do acesso das crianças, adolescentes e suas famílias a estes serviços).

Tratando se de uma pesquisa que vai explorar a questão da actuação do Assistente Social,
figura principal de defesa dos direitos violados conforme refere MARTINS (2008), julgamos
que será um contributo significativo para a reflexão do papel deste profissional nas famílias
vulneráveis, assim como nas instituições superiores existentes no país como é o caso da UP
em particular nos cursos de Educação e Assistência Social.

1.3 Objectivos da Pesquisa

Baseando-se no problema definido, a pesquisa tem como objectivo geral: Compreender o


contributo da actuação do Assistente Social na superação dos efeitos da vulnerabilidade
socioeconómica das famílias no desenvolvimento da criança.

Especificamente, a presente pesquisa visa:

 Identificar como é que a vulnerabilidade socioeconómica surge nas famílias;

 Descrever as implicações causados pela vulnerabilidade socioeconómica das famílias


no desenvolvimento das crianças;

 Descrever a relação existente entre actuação do Assistente Social e a vulnerabilidade


socioeconómica das famílias no desenvolvimento das crianças;

 Sugerir como é que o assistente social, a partir das suas estratégias, pode contribuir na
superação da vulnerabilidade socioeconómica das famílias no desenvolvimento da
criança.

1.4 Questões de Pesquisa

Para responder aos objectivos específicos acima, foram formuladas as seguintes perguntas de
pesquisa:

 Como é que a vulnerabilidade Sócio- económica surge nas famílias;


 Que implicações advêm da vulnerabilidade socioeconómica no desenvolvimento das
crianças?

 Qual é a relação existente entre actuação do Assistente Social e a vulnerabilidade


socioeconómica das famílias no desenvolvimento das crianças?

 Como é que o assistente social, a partir das suas estratégias, pode contribuir na
superação da vulnerabilidade socioeconómica das famílias no desenvolvimento da
criança.
CAPÍTULO I: MARCO TEÓRICO

Na conotação deste capítulo, abordamos os procedimentos teóricos que vão sustentar a parte
teórica do trabalho. Assim, propomos a clarificação dos conceitos que entendemos serem
fundamentais para a realização deste trabalho, exigindo, por conseguinte, uma boa escolha de
referências bibliográficas.

1.1. Conceitos básicos


a) Assistente social

Na óptica de AQUINNO (2009), Assistente social é um profissional que busca diminuir as


disparidades sociais e actua, através de pesquisas e análises da realidade social, na
formulação, execução e avaliação dos serviços, programas e políticas sociais que visam a
prevenção, defesa, ampliação dos direitos humanos e justiça social. Para este autor, o trabalho
do assistente social tem como objectivo fundamental garantir direitos e assistência para a
população desamparada, fazendo isso por meio de políticas sociais, de forma organizada e
planejada, lutando contra os problemas das injustiças que podem afectar os desamparados
socialmente.

Por sua vez, MARTINS (2008), define Assistente Social como sendo um profissional que
atende diversos casos individuais, lida com expressões da questão social que, muitas vezes,
não são atendidas por meio das políticas públicas que deveriam garantir a resolução dessas
situações.

Em função destes conceitos, podemos entender que assistente social é um profissional que
ajuda ou apoia os seus utentes a resgatar os seus direitos perdidos garantindo com os mesmos
a resolução dessas situações. Neste caso, entendemos que a intervenção do assistente social
deve estar orientada por uma perspectiva crítica que junta a leitura crítica da realidade e
capacidade de identificação das condições materiais de vida, identificação das respostas
existentes no âmbito do estado e da sociedade civil, reconhecimento e fortalecimento dos
espaços onde as crianças estão inseridas em defesa de seus direitos; formulação e construção
colectiva, em conjunto com famílias, de estratégias políticas e técnicas para modificação da
realidade e formulação de formas de pressão sobre o Estado, com vista a garantir os recursos
financeiros, materiais, técnicos e humanos necessários à garantia e ampliação dos direitos.
Vulnerabilidade

A noção de vulnerabilidade tem sido vista como estando associada a uma situação de
susceptibilidade de indivíduos ou de grupos, face a três factores, nomeadamente: i) exposição
ao risco; ii) incapacidade de reacção; e iii) dificuldade de adaptação diante das consequências
do risco (MOSER, 1998 apud ANAZAWA, 2012:29).

A visão contemporânea, porém, procura analisar a vulnerabilidade não como apenas a


exposição ao risco”, mas sim como o conjunto das condições que envolvem a capacidade de
resposta de indivíduos, famílias e grupos a determinados riscos, a qual, depende
fundamentalmente da quantidade e qualidade de recursos (ou activos, também denominados
capitais) que cada indivíduo/grupo possui (MARANDOLA JR.; HOGAN, 2007 apud
ANAZAWA, 2012:29). Para Moser, (1998 apud Lauchande, 2006), Vulnerabilidade pode ser
descrita como a insegurança e sensibilidade no bem-estar dos indivíduos, famílias e
comunidades, mediante situações de mudanças ambientais, e, implícito a isto, a sua
capacidade de reacção e resiliência ao risco que enfrentam. Autores como Devereux, (2001);
Farrington, (2002); entre outros, defendem que o conceito de Vulnerabilidade é de capital
primazia na análise dos meios de vida nas zonas rurais, permitindo compreender tanto as
estratégias empreendidas no combate à pobreza, quanto as políticas definidas para o
desenvolvimento (LAUCHANDE, 2006:46).

b) Vulnerabilidade Socioeconómica

O conceito de Vulnerabilidade Social SETSAN (2006), define o termo vulnerabilidade


socioeconómica como sendo um fenómeno que se caracteriza pela precariedade das relações
e das condições de trabalho, incapacidade de sustento, exposição a riscos e mobilidade na
escala descendente,

Na mesma linha de raciocínio, ESCOREL (1999) entende a vulnerabilidade socioeconómica


como a possibilidade de transição da condição de pobre para a de indigente. A autora chama
a atenção para as trajectórias sociais dos indivíduos que, em geral, se deslocam para as
condições extremas de vulnerabilidade, ou seja, para a exclusão social.

Deste modo, podemos entender que vulnerabilidade socioeconómica é entendida como a


precariedade das condições e relações de trabalho que implicam a perda de capacidade de
suprir as necessidades básicas, a exposição a riscos e mobilidade social em escala
descendente. A partir deste conceito é possível entender que o conceito espelha a condição de
vida dos sujeitos objecto de análise, inseridos em uma problemática de vida que os expõe a
riscos as crianças em desenvolvimento.

Conceito de Família
Segundo o artigo 119 da Constituição da República de Moçambique (2004) família é o
elemento fundamental e a base de toda a sociedade, sendo responsável pela garantia da
educação e do bem-estar dos seus membros. No termos do artigo 2 da lei nº 10/2004 de 25 de
Agosto (Lei da Família) aprovada pela Assembleia da República, família é entendida como
sendo a comunidade de membros ligados entre si por laços de parentesco, casamento,
afinidade e adopção. Segundo Fonseca, (2005:54) um laço familiar pode ser definido como
uma relação marcada pela identificação estreita e duradoura entre determinadas pessoas que
reconhecem entre elas certos direitos e obrigações mútuos. Essa identificação pode ter origem
em factos alheios à vontade da pessoa (laços biológicos, territoriais), em alianças conscientes
e desejadas (casamento, compadrio, adopção) ou em actividades realizadas em comum
(compartilhar o cuidado de uma criança ou de um ancião, por exemplo). Neste sentido, a
família significa muito mais do que um núcleo de ascendência e descendência, mais do que
laços conjugais e mais ainda do que qualquer descrição que se possa fazer. Família no sentido
em que é tratada no contexto do presente trabalho tem a ver com sentimento de pertença e de
identidade dos membros, independentemente da sua descendência, desde que para si e para os
outros um certo grupo de indivíduos se identifique como família.
A Vulnerabilidade Socioeconómica nas famílias no Mundo

A Vulnerabilidade Socioeconómica nas famílias em Moçambique

Para uma compreensão exaustiva deste ponto, começamos por afirmar que vários estudos
apontam para a existência de grupos da população que estão sujeitos a uma forte insegurança
e vulnerabilidade materiais (WFP, 2008). A vulnerabilidade em Moçambique está fortemente
ligada às características da agricultura, visto grande parte da população estar dependente da
produção agrícola. Estudos sobre vulnerabilidade indicam que 34,8% dos agregados
familiares em Moçambique estão submetidos a uma situação de grande vulnerabilidade
socioeconómica (SETSAN, 2006).

O estudo do SETSAN (2006) faz uma distinção importante entre a vulnerabilidade crónica e
a vulnerabilidade transitória. Para este autor existem grupos de agregados familiares em
Moçambique que pelas suas características estruturais (seus meios de produção, fontes de
rendimento, características demográficas e sociais) estão submetidos cronicamente à
insegurança alimentar. Outros agregados familiares são estruturalmente menos vulneráveis,
mas podem estar submetidos a um forte choque conjuntural que os coloque em situação de
vulnerabilidade pontual. Os estudos mostram também que existe uma grande mobilidade e
instabilidade em torno das fronteiras de vulnerabilidade e de pobreza. Embora sejam
estruturalmente menos vulneráveis, alguns agregados familiares podem ser profundamente
afectados por choques repentinos que os colocam abaixo da linha da pobreza ou sob
insegurança alimentar temporária. Tendo em conta o carácter estrutural e conjuntural da
vulnerabilidade e pobreza em Moçambique as políticas públicas de assistência social deverão
ter em conta os diferentes tipos de vulnerabilidade acima descritos.

O estudo sobre Maputo e Matola (WFP, 2008) indica que nestas cidades 27,3% dos
agregados familiares vivem alguma forma de vulnerabilidade.

Os dados encerram um amplo conjunto de indicadores de vulnerabilidade socioeconómica


para cerca de oito a dez mil agregados familiares em todo Moçambique e, por causa da base
de amostragem e a inclusão de pesos da população extraídos do Censo Populacional (INE,
2010a), os números podem ser expandidos para números que são representativos tanto a nível
nacional como a nível provincial.
Os indicadores de vulnerabilidade socioeconómica que são capturados incluem os detalhes
dos padrões de consumo dos agregados familiares - a compra de alimentos, alimentos
produzidos em casa e despesas não alimentares, bem como das características da sua
habitação, educação, saúde e o emprego dos seus membros e, por último mas não menos
importante, a altura e o peso de crianças menores de cinco anos de idade (ver INE, 1998a,
2004, 2010B para uma descrição detalhada dos inquéritos).

A parte dos alimentos no consumo total dá uma indicação da preocupação do agregado


familiar com suas necessidades básicas, enquanto a parte do autoconsumo na alimentação
total mostra até que ponto as famílias dependem da agricultura de subsistência de baixa
produtividade. Estas duas características são frequentemente reflexo de comunidades
empobrecidas e, como tal, podem ser úteis como um indicador de pobreza (SCHMIDT,
2009).

As políticas públicas e as práticas actuais em Moçambique sugerem que “vulnerabilidade” é


restritamente compreendida como uma categoria, referindo-se a grupos de pessoas
específicos e facilmente identificáveis. Tem havido pouca discussão ou análise baseada numa
compreensão mais ampla de vulnerabilidade como um conceito analítico que ajude a explicar
porque é que algumas pessoas são mais susceptíveis de serem pobres do que outras. Em vez
disso, uma visão restrita de vulnerabilidade que incidiu sobre “grupos vulneráveis” discretos
é reflectida pela abordagem de várias instituições públicas. As principais instituições com
mandato para dar resposta às necessidades dos “grupos vulneráveis” são o Ministério da
Mulher e Acção Social (MMAS) e a sua instituição subordinada, o Instituto Nacional de
Acção Social (INAS).

Dentro do MMAS, a Direcção Nacional da Mulher e da Criança é responsável por atender às


necessidades de assistência social das mulheres e crianças mais pobres; e a Direcção
Nacional de Acção Social é responsável por atender às necessidades dos pobres e idosos,
deficientes, toxicodependentes, reclusos e ex-reclusos. Este organigrama sugere, em si
mesmo, uma compreensão de vulnerabilidade como uma característica de grupos sociais
específicos.
1.3 Factores que Influenciam a Vulnerabilidade Socioeconómicas nas famílias
Moçambicanas

Em primeiro aspecto, começamos por apontar os factores estruturais da vulnerabilidade que


são semelhantes aos determinantes da pobreza. A vulnerabilidade socioeconómica surge
quando estas variáveis assumem estados negativos extremos. Segundo vários estudos
quantitativos os determinantes da vulnerabilidade socioeconómica são: i) o nível de educação
dos membros do agregado familiar, ii) as fontes de rendimento e emprego, e iii) factores
demográficos, como o tamanho e a taxa de dependência do agregado familiar e o género do
chefe do agregado familiar (MAXIMIANO et al., 2005).

A vulnerabilidade na zona rural em Moçambique está fortemente ligada às características da


agricultura e às condições de vida no meio rural, visto grande parte da população
Moçambique viver no meio rural e de a sua subsistência estar fortemente dependente da
produção agrícola. O estudo do SETSAN (2006) faz uma distinção importante entre a
vulnerabilidade crónica e a vulnerabilidade transitória. Como acima se descreve, existem
grupos de agregados familiares em Moçambique que pelas suas características estruturais
(seus meios de produção, fontes de rendimento, características demográficas e sociais) estão
submetidos cronicamente à insegurança alimentar.

Estes agregados familiares também podem estar submetidos a situações conjunturais que
façam crescer a sua insegurança alimentar, mas estruturalmente estes são agregados
familiares muito vulneráveis. Outros agregados familiares são estruturalmente menos
vulneráveis, mas podem estar submetidos a um forte choque (grande catástrofe natural, perda
das culturas, morte ou doença grave e prolongada de um membro do agregado familiar,
aumento brusco dos preços dos alimentos) que os coloque em situação de vulnerabilidade
pontual. Esta distinção é importante do ponto de vista das políticas públicas pois os dois tipos
de vulnerabilidade requerem modos de assistência social diferente.

Vários autores sublinham o facto de a pobreza e a vulnerabilidade estarem fortemente


marcadas pelo género do chefe do agregado familiar. Os agregados familiares chefiados por
mulheres são particularmente vulneráveis. Para além destes, os agregados familiares
chefiados por idosos são também mais vulneráveis. Uma taxa de dependência elevada
aumenta também a vulnerabilidade, sobretudo quando o agregado familiar contém deficientes
físicos e doentes crónicos.
Referindo-se a grupos de população particularmente vulneráveis, alguns autores chamam a
atenção para o caso particularmente vulnerável das crianças em agregados familiares de baixa
rendimento e das crianças órfãs (Fox et al., 2008, Waterhouse, 2009).

nas áreas urbanas, a vulnerabilidade e a grande pobreza estão fortemente ligadas à dificuldade
de acesso ao trabalho assalariado, à incerteza e aos baixos rendimentos no sector informal, e à
dificuldade de acesso às áreas agrícolas. Sem acesso ao emprego formal, sem uma actividade
assalariada ou por conta própria que lhes forneça um rendimento seguro, muitos agregados
familiares vivem sob a incerteza em relação ao volume dos seus rendimentos que caracteriza
as actividades e pequenos negócios do sector informal e, por isso, expostos a grande
vulnerabilidade (Paulo et al., 2007; WFP, 2008; Matine e Fonseca, 2009). Os estudos
qualitativos sobre a pobreza têm sublinhado a importância do isolamento social e
institucional nas situações de grande pobreza e vulnerabilidade tanto no meio rural como
urbano. Esses estudos têm mostrado que os agregados familiares mais pobres não conseguem
alimentar as relações sociais com a família alargada ou com a comunidade mais próxima
(amigos e conhecidos), nem com grupos religiosos, instituições e organizações fora da sua
comunidade mais próxima que lhes permitiria o acesso a oportunidades várias, como
emprego, assistência financeira, e apoio de vária ordem (Tevedten et al, 2006; Paulo et al.,
2007; Rosário et al., 2008; Cruzeiro do Sul, 2007). No meio urbano em particular, onde as
relações sociais são mais "mercantilizadas" e a reciprocidade mais fortemente marcada pelo
dinheiro, o acesso ao rendimento e dinheiro é uma determinante importante no acesso a essas
redes (Paulo et al., 2007). A importância das relações sociais e da pertença a redes sociais e
institucionais extensas e variadas é tanto mais marcada quanto alguns estudos indicam que a
estratégia mais comum para enfrentar choques externos, tanto no meio rural como urbano, é a
de buscar ajuda junto da família e amigos (Fox et al., 2008).

Os agregados familiares estruturalmente mais vulneráveis estarão por isso em situação mais
frágil para enfrentar choques repentinos, como uma seca ou cheias, ou uma doença. A
prevalência crescente do HIV/SIDA e o facto de que este vírus introduza a possibilidade de
doenças graves, prolongadas e/ou frequentes no interior dos agregados familiares, faz com
que nalguns casos a doença deixe de constituir um factor conjuntural de vulnerabilidade, mas
passe a ser um factor estrutural de vulnerabilidade a ter sobretudo em conta nas províncias do
país onde a taxa de prevalência é mais elevada, como no sul e no centro de Moçambique.
1.4 Implicações da Vulnerabilidade Socioecónomica no Desenvolvimento das Criança.

Para a família vulnerável, marcada pela fome e pela miséria, a casa representa um espaço de
privação, de instabilidade e de esgarçamento dos laços afectivos e de solidariedade. Segundo
GOMES (2003), quando a casa deixa de ser um espaço de protecção para ser um espaço de
conflito, a superação desta situação se dá de forma muito fragmentada, uma vez que esta
família não dispõe de redes de apoio para o enfrentamento das adversidades, resultando,
assim, na sua desestruturação. A realidade das famílias com vulnerabilidade socioeconómica
não traz no seu seio familiar a harmonia para que ela possa ser a propulsora do
desenvolvimento saudável de seus membros, uma vez que seus direitos estão sendo negados.

Na perspectiva da UNICEF (2010) as famílias com vulnerabilidade socioeconómica têm mais


dificuldade em aceder a cuidados de saúde de qualidade, têm menos probabilidade de ter as
suas crianças na escola e igualmente menos probabilidade de aceder a água potável e
instalações sanitárias adequadas. É elevado o risco que correm as crianças vivendo nessas
famílias de se tornarem adultos vulneráveis e, por sua vez, virem a ter filhos vulneráveis. A
vulnerabilidade nas crianças tem efeitos imediatos e de longo prazo. A desnutrição crónica,
por exemplo, nos dois primeiros anos de vida pode influenciar permanentemente o
desenvolvimento da criança, resultando em baixa altura para a idade e desenvolvimento
mental reduzido.

Ainda neste ponto, a UNICEF (2010), refere que a desnutrição como um dos indicadores da
vulnerabilidade socioeconómica tem vastas repercussões na vida das crianças em
Moçambique. O mais drástico desses impactos é a mortalidade infantil. Uma nutrição
adequada também é importante por si própria, uma vez que a desnutrição afecta o
desenvolvimento físico e mental da criança, estando intimamente ligada à capacidade de ser
bem-sucedida na escola e tornar se um adulto produtivo. As crianças de agregados mais
vulneráveis economicamente, assim considerados com base num índice de riqueza, têm uma
probabilidade quase dez vezes superior de sofrer privação severa de educação do que as
crianças de agregados mais abastados.

Uma das consequências óbvias deste ambiente familiar, segundo LOFORTE (2008), é o fraco
desempenho escolar de suas crianças. Elas recusam-se a ir à escola e a fazer os deveres de
casa. A estabilidade familiar, neste caso, é ameaçada pois se torna difícil ter dinheiro
disponível para a aquisição de alimentos. Pelo não fornecimento do capital social, os parentes
inadvertidamente interferem na habilidade das crianças atingirem o seu potencial
educacional, aumentando a probabilidade de enfrentar dificuldades económicas ao longo da
vida.

Outrossim, as implicações da vulnerabilidade socioecónomica a que está sujeita a família


precipitam a ida de suas crianças para a rua e, na maioria das vezes, o abandono da escola, a
fim de ajudar no orçamento familiar. Essa situação, inicialmente temporária, pode se
estabelecer à medida que as articulações na rua vão se fortalecendo, ficando o retorno dessas
crianças ao convívio sociofamiliar cada vez mais distante.

Percebe-se que para essa família, a perda ou rompimento dos vínculos produz sofrimento e
leva a criança à descrença de si mesma, tornando-a frágil e com baixa auto-estima. Esta
descrença conduz ainda a criança a se desfazer do que pode haver de mais significativo para o
ser humano, a capacidade de amar e de se sentir amado, incorporando um sentimento
desagregador. A questão da família vulnerável aparece como a face mais cruel da disparidade
económica e da desigualdade social. Esse estado de privação de direitos atinge a todos de
forma muito profunda, à medida que produz a banalização de sentimentos, dos afectos e dos
vínculos, conforme ressalta VICENTE (1994): O ser humano é complexo e contraditório,
ambivalente em seus sentimentos e condutas, capaz de construir e de destruir. Em condições
sociais de escassez, de privação e de falta de perspectivas, as possibilidades de amar, de
construir e de respeitar o outro ficam bastante ameaçadas. Na medida em que a vida à qual
está submetido não o trata enquanto homem, suas respostas tendem à rudeza da sua mera
defesa da sobrevivência.

Noutro desenvolvimento sobre este assunto, PETRINI (2003) afirma que à medida que a
família encontra dificuldades para cumprir satisfatoriamente suas tarefas básicas de
socialização e de amparo/serviços aos seus membros, criam-se situações de vulnerabilidade.
A vida familiar para ser efectiva e eficaz depende de condições para sua sustentação e
manutenção de seus vínculos A situação socioeconómica é o factor que mais tem contribuído
para a desestruturação da família, repercutindo directamente e de forma vil nos mais
vulneráveis desse grupo: os filhos, vítimas da injustiça social, se vêem ameaçados e violados
em seus direitos fundamentais.

Em referência, GOMES (2003) demostra que as particularidades das crianças a realidade de


vida na rua expõem as mesmas a uma série de factores de risco, como o uso de drogas, a
prostituição por sobrevivência e a falta do suprimento das necessidades básicas, colocando-os
em uma situação de extrema vulnerabilidade. Isso ocasiona consequências negativas em
relação à saúde. Entre essas consequências, encontram-se as dependências químicas, doenças
sexualmente transmissíveis, lesões por acidentes, gravidez indesejada e morte prematura
resultante de suicídio ou homicídio. De forma geral, as vulnerabilidades das famílias
socioeconómica no desenvolvimento das crianças, manifestam-se em violência cotidiana no
contexto familiar e escolar. A falta de oferta de uma educação de qualidade afectam também
a trajectória de vida desses moçambicanos, obrigando-os a se inserirem precocemente no
mercado de trabalho e/ou no tráfico de drogas.

Analisando a visão dos autores acima, leva-nos a entender que as relações em contexto de
vulnerabilidade socioeconómica geram crianças e famílias passivas e dependentes, com a
auto-estima consideravelmente comprometida. De forma as crianças desde cedo, percebem-se
como inferiores, incapazes, desvalorizadas, sem o reconhecimento social mínimo que as faça
crer em seu próprio potencial como ser humano. Neste caso, todas estas questões sociais
devem ser consideradas no trabalho com pessoas que vivem em contexto de vulnerabilidade,
pois exercem forte influência sobre o comportamento das famílias, sobretudo no
desenvolvimento da criança.

1.5 A Actuação do Assistente Social na Superação das Implicações da Vulnerabilidade


Socioeconómica das Famílias no Desenvolvimento da Criança

O desenvolvimento da criança é uma responsabilidade de toda a sociedade e do Estado. Para


assegurar que todas as crianças do país tenham acesso a serviços que garantam o seu
desenvolvimento adequado como futuros cidadão responsáveis e pró-activos, a sociedade
deverá organizar-se de acordo com o contexto específico de cada local.

Nessa ordem de raciocínio, os assistentes sociais trabalham com a questão social nas suas
mais variadas expressões quotidianas, tais como os indivíduos as experimentam no trabalho,
na família, na área habitacional, na saúde, na assistência social pública. Ora, SOUSA (2008)
afirma que na medida em que o assistente social actua directamente no cotidiano dos menos
favorecidos, ele produz um conhecimento sobre a realidade o seu instrumento de trabalho que
permite ter a real dimensão de intervenção profissional.

De acordo com MIOTO (2000), podemos identificar que, no atendimento à família, o


assistente social desenvolve um processo do qual constam 4 etapas com as seguintes
actividades: entrada do grupo familiar no serviço, identificação, acompanhamento e seu
desligamento.

a) Entrada das famílias aos Serviços

 Por procura espontânea do grupo familiar ou um de seus membros, quando este toma
conhecimento de que o serviço pode atender a uma de suas necessidades.

 Através de encaminhamento de outras instituições/serviços e/ou profissionais, que


pretendem viabilizar o atendimento das necessidades da família, ou quando se
esgotam as áreas de actuação destes. Nesse caso, podemos citar como exemplo o
encaminhamento do Juizado da Infância e Juventude para a inclusão da família em
algum programa comunitário ou oficial de auxílio, como uma medida de protecção a
crianças e adolescentes, (Idem).

b) Identificação do grupo familiar

Nesta etapa, o profissional utiliza vários instrumentos que, articulados, permitem conhecer e
analisar a situação, a estrutura e a dinâmica familiar, assim como levantar dados relativos às
condições sanitárias e habitacionais, de emprego, de renda, de religião etc. Entre os principais
instrumentos utilizados nesta fase, destacam-se a entrevista, o estudo social e a visita
domiciliar. De maneira geral, os dados e as informações sobre a família são ordenados pelos
profissionais a fim de se construir uma síntese com base na interpretação dos mesmos. A fase
de identificação é vista como contínua ao longo do processo de atendimento, uma vez que
novas informações sobre a família e sua situação vão sendo incorporadas ao longo do
atendimento, indicando elementos para a reformulação de novas intervenções, (idem).

c) Acompanhamento familiar

Refere-se às acções dos assistentes sociais directamente com as famílias, bem como dos
demais profissionais da equipe quando existente (atendimento psicológico, fona audiológico,
fisioterapêutico, entre outros), MIOTO, (2000).

Após a identificação das dificuldades familiares, iniciam-se as acções de cuidado, que


buscam atingir os objectivos dos serviços, como a autonomia do grupo familiar na resolução
dos seus problemas e o reconhecimento dos recursos existentes na rede de apoio social e na
própria família.
Ainda sobre o assunto, SANTOS (2014) refere que o acompanhamento é realizado as
famílias com maior índice de vulnerabilidade, levando em conta a noção dos vínculos
fragilizados, a questão de baixa renda, a questão de moradia precária, falta de acesso ao
trabalho, baixa escolaridade, saúde precária, enfim e avaliada essas vulnerabilidades.

d) Desligamento da família

Nesta fase, o assistente social ou a equipe conclui o acompanhamento avaliando a capacidade


de enfrentamento e a administração da crise/conflitos por parte da família. Pode ocorrer
também que a família seja desligada por outros motivos, como o facto de o serviço não
atender mais às necessidades da mesma, a não-adesão ao acompanhamento, (Idem).
CAPÍTULO II. METODOLOGIA DA PESQUISA

Neste capítulo, descrevemos a natureza da pesquisa, o contexto em que a pesquisa ocorreu, a


caracterização dos participantes, os instrumentos utilizados na colecta de dados e os
procedimentos para a análise dos dados. A população desta pesquisa é referente a toda a
população que se encontra em situação de vulnerabilidade sócio económica, residente no
posto administrativo de Ntega, na Província de Maputo. Desta população seleccionamos uma
amostra de natureza intencional, sobre um universo de 25 famílias. A amostra desta pesquisa
é não-probabilística por acessibilidade. Portanto, o pesquisador seleccionou a que teve
acesso, admitindo que estes possam, de alguma forma, representar o universo

2.1 Tipo de Pesquisa

Para o desenvolvimento desta pesquisa seguimos os procedimentos metodológicos da


pesquisa qualitativa. Nisto, a pesquisa qualitativa é segundo RICHARDSON (1999: 90),“
tentativa de uma compreensão detalhada dos significados e características situacionais
apresentadas pelos entrevistados em lugar da produção de medidas quantitativas de
características ou comportamentos.” Portanto, tendo em conta os objectivos definidos,
optamos pela abordagem e metodologia qualitativa, pois consideramos que esta forma de
desenvolver o conhecimento demonstra a importância primordial da compreensão da
investigadora e dos participantes no processo de investigação desenvolver e aprofundar o
conhecimento de determinada situação num dado contexto. Assim, podemos afirmar que a
metodologia de investigação deve estar em harmonia ou consonância com as preocupações e
as orientações do estudo a realizar. Portanto, esta abordagem permitiu-nos compreender o
ponto de vista dos elementos da amostra sobre as questões colocadas nos instrumentos de
recolha de dados.

2.2 População e Amostra

O estudo foi conduzido sobre uma população agregada de 25 famílias consideradas a viver
em situações de vulnerabilidade socioeconómica pelas autoridades locais, no posto
administrativo de Ntega. A amostra estudada envolveu 04 famílias, tendo como critérios de
escolha o estado da habitação, localização e ocupação dos membros do agregado familiar.
Neste caso, a amostra é constituída por famílias que têm renda abaixo do salário mínimo
(3.642,00mt) ou que vivem sem renda, residentes no posto administrativo de Ntega, onde
algumas famílias sobrevivem a base do subsídio de pobreza disponibilizado pelo INAS.
Farão parte também desta amostra 02 funcionários do INAS sendo 01 da Repartição de
Assistência Social (RAS) e 01 do Programa de Desenvolvimento Comunitário.

A amostra, foi escolhida de forma intencional com ajuda das autoridades do Bairro, isto é,
Chefes de Unidade e de Quarteirão, pois tem conhecimento das famílias em situação de risco
sobretudo o permanente do bairro1.

Tabela 1: Distribuição da Amostra por Categorias


Masculino Feminino Total
Categoria
Assistentes Sociais do INAS 1 1 2
Chefes de Agregado familiar 2 2 4
Total 3 3 6
Fonte: Autor da Pesquisa

2.3 Técnicas e Instrumentos de recolha de Dados

No desenvolver desta pesquisa, optamos por recorrer às seguintes técnicas de recolha de


dados: análise bibliográfica e documental, observação e entrevista por se considerar como
técnicas adequadas para a obtenção de dados nas pesquisas sociais. Nessa óptica, foram
elaborados os seguintes instrumentos de recolha de dados: grelha de observação e guiões de
entrevistas dirigidos aos elementos da amostra.

Os dados de consulta bibliográfica e documental serviram para subsidiar e/ou arguir durante
a redacção do texto.

A técnica de observação consistiu em visitas domiciliárias com objectivo de ver in loco, o


cenário presente das famílias relacionando com o desenvolvimento das crianças. Assim, foi
possível elaborar a grelha de observação para captar (instrumento) aspectos não apreensíveis
pela via de outras técnicas.

As entrevistas foram realizadas no domicílio das famílias abrangidas e no local de trabalho


para os Assistentes Sociais do INAS. Responderam nesta pesquisa indivíduos considerados
responsáveis pela família (chefes de agregado familiar). Não se considerou responsável
1
Representante do INAS na Comunidade que tem a missão de inquerir famílias vulneráveis para serem
certificados pelos técnicos da Repartição de Assistência Social deste sector, a fim de receber o subsídio social
básico.
(chefe do agregado familiar) apenas o pai, ou a mãe, deu-se primazia a quem sustenta ou faz
as coisas acontecerem, isto é, o que gere e está mais directamente ligado ao quotidiano
familiar em termos do que comprar, como comprar e o que fazer. As entrevistas
administradas são compostas por questões abertas e fechadas.

2.4 Questões Éticas

Para a realização da pesquisa, contactamos e apresentamos em primeiro lugar a direcção do


INAS, assim como, as estruturas locais no posto administrativo de Ntega, uma credencial
esclarecendo os objectivos da pesquisa e observância aos preceitos éticos que nos norteiam, o
sigilo e os direitos de pessoas, grupos, famílias e instituições envolvidos, assim como a
necessidade de realizar a pesquisa nesses locais.

Neste caso, antes do início da recolha de dados foi respeitado o princípio bioético do
consentimento informado para os participantes na presente pesquisa, sobre o trabalho a ser
levado a cabo para evitar possíveis transtornos, assegurando a confidencialidade e anonimato
através da não obrigatoriedade de menção da identidade dos mesmos, nos instrumentos de
recolha de dados, e através de textos introdutórios nos instrumentos que explicam que a
informação pretendida destina-se exclusivamente a conclusão de um nível académico e os
resultados serão apenas usados para fins de pesquisa.

2.5 Procedimento Metodológico

Para a recolha de dados, depois do pré-teste dos instrumentos e sua validação, observamos
diferentes fases que se circunscreveram em primeiro lugar no contacto com a direcção do
INAS e autoridades no posto administrativo de Ntega, a quem apresentamos o propósito da
pesquisa para a sua formalização. Em conjunto fizemos um programa para a execução da
recolha de dados. Foram entrevistados 06 elementos dos quais 04 chefes de agregado familiar
e 02 Assistentes Sociais do INAS.

O guião de entrevista foi constituído por duas partes onde a primeira tem os dados
sociodemográficos e a segunda, trata-se de perguntas relacionadas ao objectivo geral desta
pesquisa. Em apêndice, encontra-se uma versão do roteiro de entrevista utilizado. Os
procedimentos éticos foram acautelados por meio de termo de consentimento informado na
parte introdutória dos instrumentos. Para cada entrevistado foi produzido um guião de
entrevista que diante das respostas dadas por cada entrevistados, foram preenchidos nas
questões correspondentes conforme os critérios acordados com os mesmos.

Concluída esta etapa, seguiu-se a análise de dados que obedeceu a um processo orientado em
3 (três) momentos, sendo que o primeiro, procuramos compreender e sistematizar os
diferentes pontos de vista constantes nos instrumentos, através de leitura. Neste processo,
identificamos os aspectos que nos pareceram comuns em cada questão levantada. O segundo,
agrupamos as respostas dadas pelos participantes em categorias específicas tendo em conta os
aspectos comuns nas respostas dadas pelos diferentes entrevistados. O terceiro momento foi a
análise e interpretação dos dados. Finalmente, elaboramos o relatório final da pesquisa sob
forma de conclusão e sugestões.

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