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Rosalind e Mike, e mais vários outros pacientes que passaram por sessões
de TCER ou leram meus livros, me convenceram de que as pessoas podem
mudar quase radicalmente a maneira como encaram as adversidades e
tornar-se mais imunes a elas. A personalidade de uma pessoa muda se ela
utilizar a TCER? Não exatamente. Uma "personalidade" consiste de várias
tendências biológicas — tais como ser introvertido ou expansivo. Até certo
ponto, você pode mudar essas tendências, esforçando-se. Mas não
completamente. Portanto, para começar, seria melhor você aceitar a base de
sua "personalidade" e conviver com ela.
Mesmo a tendência a distúrbios é parcialmente inata. Como indivíduos,
possuímos tendências naturais que podem nos deixar ansiosos (angustiados),
deprimidos (horrorizados ante eventos pesarosos) ou revoltados
(amaldiçoando a nós mesmos por atos reprováveis). Se você tem essas
tendências inatas, não precisa levá-las adiante ou entregar-se a elas. E isso
mesmo. Inato não significa permanente. Por exemplo, se você nasceu com
pouca habilidade musical, você pode fazer um curso de música e aprimorar
essa habilidade, mesmo que nunca venha a ser perfeito. Se você detesta
espinafre, você pode se condicionar para gostar um pouquinho da verdura, ou,
pelo menos, não detestar tanto.
E sim, você também pode modificar seus distúrbios. Mesmo que você
tenha sido sempre uma pessoa facilmente "afetável", você é capaz de mudar
esse padrão e tornar-se menos vulnerável. Como? Utilizando os vários
métodos da TCER que descreverei neste livro.
Felizmente, nós temos a opção de controlar nossos problemas emocionais.
A genética e o tipo de criação podem, de fato, ter influência, mas nós
possuímos uma considerável habilidade para bloquear e reduzir nossas
tendências neuróticas.
Por exemplo, considere o meu caso. Parece que eu nasci com uma
absurda necessidade de consumir doces, assim como minha mãe. Ela comia
todos os tipos de doce, até os 93 anos, quando foi flagrada roubando
chocolate de outros residentes na casa de repouso! Até os 40 anos, eu seguia
o exemplo de minha mãe: colocava quatro colheres de açúcar no café,
tomava um sorvete por dia, preparava macarrona- das com quilos de
manteiga e me empanturrava de milk-shakes. Uma alimentação muito
saudável!
Aos 40 anos, no entanto, tornei-me diabético. Imediatamente — desde o
primeiro dia em que soube do diagnóstico — parei de ingerir açúcar, sorvetes,
milk-shakes, manteiga e outros alimentos calóricos. Sinto falta de tudo isso 46
anos depois? Claro que sim! Ouso quebrar minha dieta? Raríssimas vezes.
Então, mesmo que alguém tenha nascido com uma forte tendência ao
negativismo e autodestruição — o que acontece, creio eu, com bilhões de
pessoas —, é possível mudar isso. Você pode se treinar, se condicionar e
redirecionar seu comportamento de acordo com seus interesses ou com os
interesses do grupo social ao qual você pertence. Ao ter um comportamento
neurótico, a pessoa cria problemas para si mesma (problemas intrapessoais) e
problemas com e para os outros (dificuldades interpessoais e sociais).
Portanto, o melhor a fazer é trabalhar para aprimorar essas duas áreas. Há
livros e fitas-cassete sobre a TCER que lhe indicarão os meios para isso, bem
como outros materiais de autoajuda.
Use esses materiais. Aprenda a mudar seus pensamentos, sentimentos e
ações, e, dessa maneira, reduzir o desgaste emocional. Continue a ler e usar
os procedimentos deste livro para ajudar a si mesmo. Se você seguir os
conselhos, tem grandes probabilidades de conseguir se afligir menos e se
relacionar melhor com as pessoas.
Talvez você esteja se perguntando por que escrevi este livro, uma vez que
já publiquei 40 obras de autoajuda — além de centenas de artigos e materiais
audiovisuais — para mostrar às pessoas como lidar com seus problemas.
Por uma razão muito especial. Em 1996, publiquei um livro destinado aos
profissionais da saúde mental: Better, Deeper and More Enduring Brief
Therapy ("Terapia rápida, melhor, mais profunda e mais duradoura"). Ele
apresenta os princípios gerais da Terapia do Comportamento Emotivo
Racional, mas é o único livro — um dos poucos no extenso campo da
psicologia — que especifica como ajudar os pacientes a melhorar e a mudar
elegantemente. Ele enfatiza o que descrevi nos livros anteriores a respeito da
TCER: Como ajudar as pessoas não só a se afligir menos e a encarar com
mais serenidade os problemas mais imediatos, mas também a se fortalecer
cada vez mais, emocionalmente.
Fiquei muito satisfeito com esse livro e espero que ele auxilie muitos
terapeutas e setts pacientes. Enquanto o escrevia, porém, percebi que esses
pacientes poderiam utilizar outros materiais de autoajuda como complemento
à leitura dos livros sobre TCER, a fim de interagir melhor com o terapeuta. E
também como se reeducar para mudar de maneira elegante.
Mais precisamente, escrevi este livro para mostrar aos leitores aspectos
importantes da mudança emocional. Lendo-o, será possível descobrir como:
Ao estimular sua herança genética e tendências adquiridas,
você pode se tomar extremamente ansioso, deprimido,
enfurecido, com ódio e/ou pena de si mesmo.
Você pode mudar os pensamentos, sentimentos e ações que
lhe causam perturbação ou transtorno e, assim, tornar- se
consideravelmente menos desgostoso e menos frustrado.
Ao usar os métodos da TCER — e continuar usando —,
você se sente gradativamente menos fragilizado, mesmo
quando ocorrem adversidades — ou quando você as faz
ocorrer — em sua vida.
Você pode usar este livro para se tornar menos neurótico e menos sujeito a
perturbações, aprendendo e praticando o seguinte:
Grande parte de suas aflições e estresse é gerada por você
mesmo. Você não se aflige só por causa das situações
presentes ou passadas.
Como é principalmente você que se aflige, você pode passar
a não se afligir.
Você se aflige principalmente ao criar necessidades e
exigências absolutas — transformando suas expectativas
naturais e espontâneas de sucesso, aprovação e gratificação
em expectativas doentias, insistências e comandos.
Quando você enxergar claramente essas tendências, poderá seguir os
próximos passos:
Esforçar-se para ser menos intransigente e mais flexível.
Forçar-se a mudar os sentimentos e as atitudes que
acompanham suas expectativas e que geram ansiedade e
perturbação.
Reeducar-se para pensar, sentir e agir de forma mais branda
e menos exigente.
Adquirir uma filosofia sólida que o ajude a acreditar que nada
— isso mesmo, nada — é medonho, horrível ou terrível, por
pior ou mais inconveniente ou injusto que possa ser.
Parar de criticar a si mesmo e aos outros, aceitando
inteiramente o fato de que as atitudes erradas, antiéticas e
insensatas nunca farão de você uma pessoa ruim, ou
desprezível, ou criminosa, ou incorrigível.
Adquirir as filosofias de autoajuda descritas neste livro — em
especial a ideia de que por maiores que sejam as perdas, as
frustrações, os fracassos e as falhas, você tem capacidade
de criar para si mesmo uma vida produtiva e feliz — embora
não tão feliz como poderia ser se você não tivesse esses
contratempos.
O exemplo acima é apenas um dos muitos que darei neste livro para
demonstrar que, ao mesmo tempo que as pessoas têm tendências saudáveis
de ser construtivas, criativas e positivas, elas também têm tendências doentias
e destrutivas de prejudicar desnecessariamente a si mesmas. Além do mais,
as tendências destrutivas normalmente são poderosas e frequentes. Portanto,
se você tiver bom senso, vai usar seus impulsos saudáveis e construtivos e
minimizar os doentios e destrutivos agora e no futuro.
Essa é a proposta principal deste livro: mostrar ao leitor quais são
precisamente as suas tendências construtivas naturais e como se reeducar
para usá-las a fim de superar suas inclinações nocivas.
Para sempre, infalivelmente, em todas as horas e sob quaisquer
circunstâncias? Lógico que não. A natureza biológica e social do ser humano
faz com que ele seja falível. Todos nós somos assim. Ninguém é perfeito ou
um super-homem. Nós erramos constantemente. E continuaremos a fazê-lo!
Este livro irá lhe mostrar como se fortalecer emocionalmente para não se
afligir sem necessidade. De uma maneira única, ele irá ensiná-lo a "desativar"
seus problemas comportamentais e emocionais, e a mantê-los num nível
mínimo; como eu disse antes, fazer com que você se tome mais imune, que
não se aborreça tanto com as adversidades do passado, do presente e do
futuro. E, quando você tiver uma recaída, o que eventualmente poderá
acontecer, saber como se desafligir rápida e determinadamente. Dessa forma,
você tende a ser cada vez menos afetado pelas adversidades.
Verdade? Sim, é verdade, se você ler e aplicar alguns métodos da Terapia
do Comportamento Emotivo Racional (TCER). Não se trata de um milagre;
mas, com esforço e prática, você pode conseguir se aborrecer bem menos na
sua vida. Pode, sim.
Por que este livro se destaca entre os milhares de livros, artigos e panfletos
de autoajuda publicados durante tantos anos? A maioria dos livros de
autoajuda ajuda o leitor a se sentir melhor e é isso que ele quer. Este livro vai
além disso. Ele ajuda o leitor a melhorar — a modificar sua maneira de
encarar os problemas, suas reações e impulsos, e criar para si mesmo uma
vida mais produtiva e feliz. E também auxilia o leitor a tornar-se melhor — a
evitar comportamentos negativos no futuro.
Os métodos apresentados neste livro, que o ajudarão a se sentir melhor, a
melhorar e a tornar-se melhor, podem vir a ser as informações mais
importantes que você já recebeu em sua vida. Essa técnica proporcionou um
significativo alívio do sofrimento aos meus pacientes e a milhares de pessoas
que leram meus livros e ouviram minhas fitas. O interessante é que eu
descobri esses métodos não apenas mediante pesquisas e de minha
experiência como psicólogo, mas também por meio de obras de filósofos.
Quando eu estava com 16 anos, comecei a estudar filosofia como hobby,
muito antes de pensar em me tornar psicólogo. Fiquei particularmente
interessado na filosofia da felicidade humana. Então, comecei a pensar em
maneiras de reduzir os transtornos emocionais das pessoas e aprimorar o
sentido de satisfação na vida.
Quando utilizei tais filosofias em minha vida, eu raramente me sentia infeliz.
E quando iniciei minha prática como terapeuta em 1943, comecei a ensinar
aos meus pacientes um pouco da sabedoria que eu aprendera.
Até os 40 anos, e não mais por hobby, desenvolvi urna teoria para ajudar
as pessoas a lidarem com seus problemas emocionais. Recorri às obras de
vários filósofos da Antiguidade, como os asiáticos — Confúcio, Gautama Buda
e Lao-Tsu; e os gregos e os romanos — particularmente Epicuro, Epíteto e
Marco Aurélio. Também reli as obras de filósofos modernos como Spinoza,
Kant, Dewey, Santayana e Russell, para saber o que eles diziam a respeito do
sofrimento e da felicidade. Eles diziam muito!
Tendo como base algumas dessas filosofias, criei a Terapia do
Comportamento Emotivo Racional (TCER) em janeiro de 1955. Foi a primeira
terapia de comportamento cognitivo a focalizar os modos de pensar, de sentir
e de agir como as principais fontes dos distúrbios "emocionais" e a focar-se na
mudança de atitudes para reduzir transtornos emocionais e comportamentais.
Eu queria que a TCER funcionasse de forma rápida e eficaz, e logo vi que
realmente funcionou. Descobri isso durante o primeiro ano em que utilizei a
TCER, e publiquei um estudo a respeito. Desde então, um grande número de
pesquisas tem demonstrado que as terapias cognitivas são incrivelmente
eficazes e que na maioria dos casos se obtêm resultados em curto prazo.
Capítulo 2.
Descobrindo, Desafiando e Derrubando as
Demandas Debilitadoras e Destrutivas
Tenha em mente o seguinte: é você quem cria a maior parte das suas
aflições e é você quem cria a sua felicidade.
Em meu primeiro livro de autoajuda, How To Live With A "Neurotic" ("Como
Viver com um 'Neurótico'") demonstrei que o sofrimento emocional consiste,
basicamente, em comportamentos tolos de pessoas nem um pouco tolas.
Quando transtornado, você cria metas e objetivos — principalmente para se
manter vivo e feliz — e a seguir (inacreditavelmente!) você age contra esses
objetivos. Ao pensar, sentir e se comportar de uma forma tola, você se torna
muito ansioso, deprimido, enfurecido e tem pena de si mesmo. *“ Junto com
esses sentimentos sabotadores, você recua (posterga, regride ou desenvolve
fobias) ou exagera (cria uma dependência química ou outras compulsões).
Que confusão! No entanto, se você está transtornado, saiba que é você
quem cria esses comportamentos derrotistas. Esse é um dos ensinamentos
principais da Terapia do Comportamento Emotivo Racional (TCER), e é o que
vou demonstrar neste livro. Você não fica transtornado passivamente. Não,
você cria, de maneira consciente ou inconsciente, o seu suplício. E logo você
verá como isso é bom. Claro! Pois, se é você mesmo quem cria o problema, é
óbvio que você tem poder e habilidade para amenizá-lo ou exterminá-lo.
Seguindo os ensinamentos da TCER, você adquire a habilidade de reverter
os sentimentos negativos de tal forma que conseguirá ser uma pessoa bem
menos "afetável" pelo resto da vida. Isso significa que, se você usar o bom
senso e se reeducar para pensar, sentir e agir contra a sua tendência de criar
suplícios para si mesmo (e para os outros), e se continuar a praticar, raras
vezes você será seriamente afetado por alguma coisa (isso mesmo, por
qualquer coisa). E caso você tenha uma recaída, estará apto para deter
rapidamente o processo utilizando as mesmas técnicas de antes. É possível
conseguir tudo isso por meio dos métodos da TCER ou de outros métodos
similares de terapia de comportamento cognitivo, que seguem a teoria e a
prática da TCER.
O que, exatamente, é a TCER?
Como se deve usar a TCER para se tornar uma pessoa mais feliz e menos
amargurada pelo resto da vida? Primeiro, deixe-me explicar o simples, mas
fundamental, ABC da TCER, que desenvolvi em 1955, baseado muito mais
nas ideias de filósofos do que de psicólogos e outros profissionais da área de
saúde mental. (Algumas das ideias a seguir — com exceção do ABC — já
foram abordadas no capítulo anterior).
Em suma, você começa com Metas (M) e muitas vezes se depara com
Eventos Ativadores ou Adversidades (A) que bloqueiam ou dificultam essas
Metas.
A. (Evento Ativador ou Adversidade). Por exemplo, o desejo
de se sair bem num curso, no trabalho, num esporte ou num
relacionamento, e não conseguir.
B. (Convicções), principalmente as Convicções Irracionais,
relacionadas ao fracasso e à rejeição. Por exemplo, "Não
posso falhar! Tenho de ser aceito! Será horrível se eu falhar!
Se eu for rejeitado, é porque não tenho nenhum valor!".
C. (Consequências) que se seguem às Adversidades e
Convicções Irracionais. Por exemplo, sentimentos de
ansiedade e depressão; comportamentos derrotistas como
recaída e desistência das Metas; abandonar um curso, não
procurar um emprego melhor, esquivar-se de praticar algum
esporte, não querer namorar nem fazer amizades.
Para ilustrar, vamos começar com C (sua Consequência emocional), que
ocorre logo depois da experiência A (Eventos Ativadores ou Adversidades
infelizes ou indesejáveis). Não. Para ser mais específico, voltemos ao ponto
anterior, o M (suas Metas principais).
Suponhamos que suas Metas principais (M) sejam viver muitos anos e
viver feliz — principalmente com um(a) parceiro(a). Por que são essas as suas
Metas? Porque elas lhe trarão alegria. Você as escolheu baseado em suas
tendências biológicas, sua família, experiências culturais e preferências
pessoais. Ótimo. Você pode escolher essas Metas (M) — ou quaisquer outras
—, desde que, preferivelmente, elas não interfiram nos objetivos e interesses
de terceiros.
Agora, suponhamos que você esteja tocando a sua vida, mas que a sua
Meta de ter um relacionamento duradouro esteja bloqueada. No ponto A
(Eventos Ativadores e Adversidades) a pessoa pela qual você está
apaixonado(a) rejeita você e diz: "Saia da minha vida! Não estou
interessado(a) em você. Você não faz meu tipo!".
Pois bem. O A se opõe à sua Meta e seus interesses, o que é bastante
desanimador. Então, no ponto C (sua Consequência emocional), você
imediatamente se sente péssimo. No mínimo, frustrado e desapontado,
porque sua Meta, suas preferências legítimas estão bloqueadas, jogadas por
terra. É difícil encontrar algum ponto positivo nessa história!
Um dos princípios da TCER é que quando você se sente frustrado e
desapontado (em C), depois que as suas Metas foram bloqueadas em A
(Adversidade), os seus sentimentos são negativos, mas também são
saudáveis e úteis. Pois, quando um parceiro em potencial rejeita você, não
seria saudável nem benéfico você se obrigar a se sentir feliz e exultante.
Como é possível ficar contente com uma situação que é exatamente o oposto
do que você queria? Seria muito estranho.
Da mesma forma, depois de ser rejeitado em A (Adversidade) não é um
bom sinal sentir-se indiferente em C (Consequências), porque isso pode levar
você a desistir da sua Meta de ter um relacionamento duradouro e passar a
evitar qualquer envolvimento com outra pessoa.
A conexão A-C da TCER, portanto, diz que, quando uma das Metas (M)
está bloqueada por causa de um A (Adversidade), é bom que você tenha
fortes sentimentos negativos ou Consequências emocionais (C). Caso
contrário, você não terá motivação para procurar nem para tentar desencadear
Eventos Ativadores menos desafortunados, mais propícios, que possam
ajudá-lo, mais cedo ou mais tarde, a alcançar suas mais acalentadas Metas.
Certo. Mas a conexão A-C da TCER prega que não se deve criar
sentimentos negativos doentios nem perturbadores em C (Consequências)
depois de vivenciar um A infeliz (Evento Ativador). Esses C doentios são
sentimentos como extrema ansiedade, depressão profunda, baixa autoestima,
raiva, autopiedade e outros. Por que é melhor evitar este tipo de C
(Consequências)? Porque eles normalmente interferem na conquista de suas
Metas e também tendem a produzir, por si só, um sofrimento desnecessário.
A conexão A-C também previne sobre a criação de consequências
comportamentais derrotistas, que normalmente acompanham as
consequências emocionais doentias. Se uma pessoa se sente muito
deprimida (C) após uma desilusão amorosa (A), há uma grande probabilidade
de ela se sentir insegura ao conhecer outra pessoa, ou até mesmo recusar-se
a ter qualquer relacionamento, para não correr o risco de ser rejeitada
novamente. Ou, ao contrário, ela pode começar a flertar compulsiva e
indiscriminadamente com todo parceiro em potencial que apareça, no
desespero de conquistar pelo menos um deles.
A TCER adverte para o seguinte: você pode escolher suas emoções e
comportamentos. Quando sua Meta é barrada por Adversidades, você pode
optar por sentimentos saudáveis ou doentios em C (Consequências) e
também pode escolher entre — como se diz na gíria — "sair por cima", ou
"numa boa", ou ter uma atitude derrotista. É natural reagir (C) depois de uma
experiência frustrante ou infeliz (A) que bloqueia os seus desejos e Metas (M).
Mas como reagir depende quase cem por cento de você.
Passemos ao B do ABC da TCER. B é o seu Sistema de Convicções — o
que você pensa, imagina e como avalia em A. B inclui, primeiro, as
preferências, desejos e vontades; e, segundo, as exigências, intransigências e
cobranças. Portanto, B inclui um amplo espectro de Convicções, que podem
originar consequências saudáveis ou doentias.
Tomemos como ponto de partida as suas preferências. Mais uma vez a
sua Meta principal, e perfeitamente natural, é ter um relacionamento estável e
duradouro. Em A (Adversidades ou Eventos Ativadores), você é rejeitado pela
pessoa que escolheu, que diz: "Saia da minha vida! Não estou interessado(a)
em você. Você não faz meu tipo!". Fim do relacionamento em potencial.
Agora vamos supor que a sua Convicção principal (B) em relação a essa
rejeição (A) seja simplesmente uma preferência ou um desejo: "Eu realmente
gostaria de ter sido aceito por tal pessoa e preferiria não ser rejeitado. Mas eu
tenho outras opções. Posso conhecer outra pessoa e ter um relacionamento
feliz. Mesmo que eu nunca venha a ter um relacionamento estável e
duradouro com alguém, eu posso perfeitamente ser feliz com relacionamentos
breves, ou até mesmo sozinho(a). Tudo bem, mas como encontrar a pessoa
certa?".
Quando as suas Convicções realmente se tratam de preferências, como
você se sentirá diante da Adversidade? Resposta: muito provavelmente, bem
triste e desapontado. Esses sentimentos são saudáveis porque motivam você
a continuar tentando conseguir o que quer. Isso é muito bom. Sentimentos
negativos como tristeza, desapontamento, arrependimento e frustração
estimulam as pessoas a mudarem os eventos infelizes e criarem situações
mais favoráveis, tais como aceitação e subsequente namoro. Portanto,
embora sejam sentimentos negativos, eles são benéficos. Você
saudavelmente os cria quando os seus desejos são frustrados. Por isso,
continue cuidando para que as suas Convicções (B) sejam preferências, pois
elas geram sentimentos úteis para você.
Mas cuidado se as suas Convicções (B), em vez de preferências, forem
exigências ou cobranças em relação a A (Adversidades). Suponhamos que
você seja rejeitado por um possível parceiro(a), potencialmente a pessoa
"certa" para você, e que você tenha uma Convicção muito firme e absoluta, do
tipo: "Eu não posso, de jeito nenhum, ser rejeitado! Tal pessoa tem de me
aceitar! Eu preciso de um relacionamento estável, e o fato de eu não ter
conseguido com essa pessoa é uma prova de que eu não sou lá grande coisa.
É horrível sentir-se rejeitado! É insuportável. Acho melhor desistir de uma vez
por todas de encontrar alguém, nunca vou conseguir mesmo!" Nesse caso,
como você se sentiria no ponto C (Consequência)?
Muito provavelmente, deprimido, em pânico e com a autoestima destruída.
E que benefícios essas Convicções intransigentes (B) e sentimentos doentios
(C) trarão a você? Nenhum. Eles encorajarão você a se esquivar de convites
para sair e a desistir de encontrar uma pessoa para namorar ou casar; ou a
relacionar-se com a primeira pessoa disponível que aparecer, alguém que não
significa nada para você. Comportamentos nem um pouco saudáveis, nenhum
dos dois!
Em suma: quando suas Metas são bloqueadas por Adversidades (A), e se
o que sucede é que você prefere e anseia (B) por alguma coisa e quer
continuar perseguindo esse objetivo se não conseguir da primeira vez, você
produzirá sentimentos negativos saudáveis (C emocional) que o levarão a
atitudes construtivas (C comportamental). Mas se você transformar suas
Convicções (B) em exigências absolutas, você produzirá sentimentos
doentios, destrutivos (C emocional), que o levarão a tomar atitudes derrotistas
(C comportamental). Você começa criando uma conexão A-C, mas na
verdade a conexão B-C é mais importante para você, porque o seu modo de
encarar A — o que você pensa, sente e conclui — é que irá, em grande parte,
no ponto B, determinar o tipo de sentimentos e comportamentos que você
produzirá em C.
Se o ABC da TCER é correto — e várias experiências e sessões de
psicoterapia colaboram para demonstrar isso — você, como ser humano
pensante, tem a capacidade de observar suas Convicções, perceber como
suas exigências e expectativas intransigentes criam sentimentos e
comportamentos destrutivos, e transformar essas exigências grandiosas e
irreais em preferências.
Por exemplo, supondo que a sua Meta de ter um relacionamento tenha
sido frustrada pela Adversidade (A), quando você foi rejeitado por uma pessoa
potencialmente "ideal", e que você, sentindo-se deprimido e desvalorizado (C
emocional), tenha desistido de procurar outra pessoa (C comportamental).
Agora você compreende que esses sentimentos e esse comportamento não o
levarão a lugar algum e quer transformá-los em consequências — emocionais
e comportamentais — que possam ajudá-lo. Como fazer isso?
Passando ao D (Desafiando). Você toma conhecimento do seu B destrutivo
— que na TCER chamamos de Convicções Irracionais (Cl). Você então
desafia essas convicções e disputa com elas até transformá-las em
Convicções Racionais (CR) ou preferências. As três principais maneiras de
fazer isso são: reeducar-se para pensar, sentir e agir de forma diferente.
Primeira convicção:
Segunda convicção:
"Eu sou capaz de reduzir meu pensamento irracional que estimula meus
problemas emocionais e comportamentais."
Conforme afirmei nos três primeiros capítulos, você tem uma ampla
capacidade de escolher entre atormentar-se ou não, diante de acontecimentos
indesejáveis. Não é possível controlar os Eventos Ativadores ou Adversidades
(A) que acontecem, mas você tem o poder de controlar as Convicções (B) em
relação a A. Dessa maneira, você pode controlar as Consequências (C)
emocionais que se seguem a B.
Quando um A indesejável ocorre, você pode dizer, no ponto B, o seguinte:
"Já que não gosto desse A indesejável, verei se consigo mudá-lo ou afastá-lo.
Se eu não conseguir, será uma pena, mas vou suportá-lo agora e lidar
serenamente com aquilo que não posso mudar. Mais tarde, tentarei melhorar".
Portanto, se você se frustra no trabalho, no relacionamento ou no esporte
(no ponto A), pode se convencer de que (no ponto B) não gosta de frustrar-se,
mas que não é o fim do mundo, que a frustração não faz de você um
Fracassado. Você se sentirá (no ponto C) triste e desapontado (sentimentos
negativos saudáveis), mas não ficará horrorizado nem deprimido (sentimentos
doentios e derrotistas).
Por outro lado, suponhamos que você experimente o mesmo tipo de
frustração (no ponto A) e acredite (no ponto B) que: "Não posso fracassar! Isso
não pode acontecer! O fracasso me torna uma pessoa incompetente!". Você,
portanto, cria a Consequência (C) de se tornar ansioso, deprimido e, com
frequência, cria comportamentos destrutivos, tais como isolamento,
dependências e compulsões.
A TCER orienta a assumir a responsabilidade, não pelas coisas
indesejáveis que lhe acontecem (A), mas pelas suas Convicções (B). A técnica
ensina como preservar suas Convicções como preferências — "Eu gostaria
que A fosse melhor, mas vou lidar com a realidade presente e não exigirei que
minha vida seja perfeita. Mesmo que não consiga mudar A, posso encontrar
alegria na vida, a despeito de A". Se você sustenta tais preferências, sentir-se-
á triste e frustrado quando não conseguir o que deseja. Esses sentimentos
negativos são saudáveis porque eles o encorajam a mudar as Adversidades
indesejáveis (A) — ou a conviver com elas sem se atormentar tanto por causa
delas.
Segundo a TCER, quando você exige que A não pode, de jeito nenhum,
ser ruim, você cria sentimentos e comportamentos por si só nocivos. Assim, ao
acreditar (no ponto B) que: "Não posso fracassar de jeito nenhum!", você
desenvolve uma depressão doentia (pior do que uma frustração saudável) se
fracassar. Mesmo que você obtenha a aprovação de alguém, ficará apavorado
ante a possibilidade de perdê-la. Dessa forma, você fará do seu desejo uma
exigência. E achará que os seus monstruosos pais são os responsáveis por
sua infelicidade! Encare o fato, foi você. Você aceitou a visão deles de que
necessita de aprovação. E acredita até hoje que precisa dela.
A TCER prega que, apesar de pensar, sentir e agir contra seus principais
interesses, você sempre estabelece suas metas ou preferências sob um
padrão absoluto, rígido e inatingível. Por que você faz isso? Porque é humano,
e os seres humanos transformam seus desejos em exigências grandiosas.
Que tolice! Mas é assim que você e as demais pessoas se comportam. E
quando você não consegue algo de que necessita de qualquer jeito, você
conclui: "Que situação horrível! Não aguento! Sou uma pessoa imprestável,
porque não consegui o que eu precisava conseguir. Agora que eu fracassei
numa coisa que não podia de jeito nenhum ter fracassado, nunca mais na vida
vou conseguir nada de bom!".
Felizmente, você nasceu e foi criado com tendências construtivas, as quais
você pode usar para aliviar os seus tormentos. Embora nem sempre seja
possível mudar as Adversidades (A), quase sempre é possível modificar suas
Convicções (B) e sentimentos (C) em relação a A. Por quê? Porque você se
aborrece. Portanto, você tem a felicidade de poder, praticamente sempre,
aliviar o sofrimento da única pessoa no mundo cujos pensamentos e
sentimentos você controla — você mesmo!
Terceira convicção:
Quarta convicção:
"Meus aborrecimentos e sofrimento emocional incluem pensamentos,
sentimentos e ações que posso observar e mudar."
Não completamente, é claro. Você pode se convencer de que não precisa
de boa comida e de que pode sobreviver se comer algo estragado, mas não
de que não precisa comer nada. Pode se convencer de que não precisa ter
rios de dinheiro para ser feliz, mas não de que será delirantemente feliz
mesmo sem um centavo no bolso.
No entanto, como você em grande parte criou sentimentos depressivos
porque foi rejeitado e ainda insiste em que aquela pessoa tinha de
corresponder ao seu interesse, você pode parar de exigir o amor dessa
pessoa e então parar de se sentir deprimido. Isto, se você for o que eu chamo
de "neurótico normal".
Portanto, você consegue mudar — a menos que esteja firmemente
convencido de que não consegue. Sua "perturbação emocional" inclui
sentimentos bastante fortes, como pânico e depressão, mas também inclui
pensamentos e ações. Quando se sente ansioso, você normalmente acredita
em pensamentos e noções que geram ansiedade (por exemplo, "Que coisa
terrível, não estou falando tão bem quanto deveria"), o que resulta num
comportamento medíocre e insatisfatório: você acaba se retraindo e evitando
falar em público. Quando você pensa de forma derrotista (por exemplo, "Sou
um idiota completo!"), você se sente péssimo (deprimido), o que resulta num
comportamento insatisfatório, como, por exemplo, evitar socializar-se. Quando
você se comporta de modo defensivo, se fecha ou se retrai (como evitar
praticar um esporte), você pensa irracionalmente ("Vou perder sempre e ser
motivo de chacota"), o que o levará a se sentir muito mal, frustrado e com
baixa autoestima.
Como os seus tormentos e aflições incluem pensamentos, sentimentos e
ações que tendem a ser autodestrutivos, você pode contra-atacar em três
tempos: mudar o seu mecanismo de pensar, sentir e comportar-se. Por isso a
TCER é tão versátil, ela oferece métodos para modificar ideias, sentimentos e
comportamentos.
Esses métodos funcionam para todos os tipos de aborrecimentos? Não.
João, Joana e José tinham verdadeira fobia de festas e reuniões, morriam de
medo de não saber se portar adequadamente em ambientes sociais e de ser
rejeitados pelos colegas de trabalho. João convenceu-se de que: "Se eu for e
meter os pés pelas mãos, será ruim, mas não morrerei por causa disso".
Joana sentia-se ansiosa de imaginar-se comportando-se inadequadamente,
mas usou a Imagem Emotiva Racional para sentir-se apenas frustrada, e não
em pânico ou deprimida. José não modificou seus pensamentos e
sentimentos de medo, mas obrigou-se a ir à festa, sentindo-se muito pouco à
vontade, e somente depois de conversar com umas dez pessoas é que se
sentiu mais descontraído. João, Joana e José usaram três métodos diferentes
para ir à festa e curtir a ocasião. Jane, que no início era mais apavorada do
que qualquer um dos outros três, compareceu a sessões de TCER, usou
diversos métodos de terapia para controlar e modificar o mecanismo de
pensar, sentir e agir, e não só superou o medo de socializar como outros
problemas emocionais também. Moral da história:
Convença-se de que vários caminhos terapêuticos funcionam. Use a
cabeça, o coração, as mãos e os pés!
Quinta convicção:
Suponhamos, agora que você sabe o que é força de vontade, que esteja
determinado a conquistá-la a fim de tornar- se menos afetável e se aborrecer e
sofrer menos. Pronto, mas... e agora?
Primeiro, consideremos algumas atitudes que você pode tomar para
começar a ser menos afetado pelas adversidades da vida. Mais adiante,
mostrarei mais detalhes para conquistar essas filosofias.
Imagine a pior coisa que poderia lhe acontecer (como perder todos os seus
entes queridos, ter uma doença terminal, sofrer uma mutilação, enfim). Mostre
a si mesmo que, mesmo vivenciando experiências excepcionalmente tristes
como essas, você ainda é capaz de encontrar alegria em sua vida. Determine-
se profundamente a aceitar — embora não a gostar, é claro — essas
circunstâncias e a encontrar coisas, situações, atividades, que lhe deem
prazer, satisfação e alegria, nas quais você possa se concentrar, em vez da
dor e das limitações. Não desista. Tenha a convicção de que, mesmo numa
situação extremamente indesejável e lamentável como as que acabei de citar,
as quais provavelmente nunca ocorrerão, você tem a capacidade de sentir
alegria e uma certa dose de felicidade, embora logicamente não tanto quanto
poderia sob circunstâncias menos dolorosas.
Trate de se convencer — realmente se convencer — de que, por pior ou
mais dolorosa que seja a situação que você está enfrentando, nada — isso
mesmo, nada — é verdadeiramente terrível ou insuportável. Como eu já frisei
anteriormente, muitos acontecimentos podem ser ruins, dolorosos, frustrantes
e contra os seus interesses pessoais e sociais. Mas nada é cem por cento
ruim, porque sempre pode haver algo pior. Nada é mais do que ruim.
Marilyn era professora de história e se considerava uma pessoa realista e
pragmática. Ela se adaptou muito bem à TCER, quando veio me procurar.
Com 37 anos, ela estava divorciada, já havia sofrido dois abortos e não
conseguia encontrar o homem adequado para ser o pai da criança que ela
tanto desejava ter. Marilyn concordava que não tinha de ser mãe de qualquer
maneira, mas que se sentiria tão frustrada se não tivesse um filho que, para
ela, seria uma perda terrível. Por esse motivo, estava profundamente
deprimida.
Marilyn reconheceu que nunca ter filhos não seria cem por cento ruim, pois
admitia que havia coisas piores na vida, como, por exemplo, ser torturada até
a morte. Também se deu conta de que a palavra "terrível" significava "mais do
que ruim", e reconheceu que o fato de nunca ter filhos não podia ser
enquadrado nessa categoria. Mas, ainda assim, Marilyn insistia que, no seu
caso, o anseio de ter um filho era tão grande que, se esse desejo não se
realizasse, seria terrível.
No princípio não consegui ajudar Marilyn, e à medida que o tempo passava
e ela não encontrava um parceiro, ela foi ficando mais deprimida. Até eu quase
entrei em depressão por causa disso!
No entanto, persisti com a TCER e consegui mostrar a Marilyn que
considerar sua perda "ruim" a fazia se sentir triste e infeliz, mas considerá-la
"terrível" a fazia se sentir mais do que triste e infeliz — fazia-a se sentir
deprimida. A diferença, eu mostrei para ela, era que "terrível" significava que,
como a perda era algo muito triste, essa tristeza não deveria existir. E,
obviamente, ela existia!
Marilyn, então, chegou, por si mesma, a uma conclusão racional: "Você
tem razão. Todos os graus de perda e de tristeza por causa da minha perda
definitivamente existem, independentemente da minha vontade. Tenho de
sofrer essa privação enquanto ela existir. É uma pena! Mas se eu considerar o
meu infortúnio como algo "terrível", vou me sentir deprimida. E isso não vai me
ajudar em nada a ter um filho ou a conseguir qualquer outra coisa que eu
queira. Agora consigo entender, e de fato me sinto melhor só de dizer para
mim mesma que nada é terrível, a menos que eu defina alguma coisa como
tal. E é essa definição que me deixa deprimida! Se eu repetir para mim mesma
que é muito ruim, mas apenas ruim, e não terrível, sinto a depressão ir
embora, restando apenas a tristeza. E nem mesmo a maior das tristezas é
terrível!" Com essa conclusão racional, Marilyn livrou-se da depressão e
continuou em sua busca por um parceiro.
Tornando-se racional
Você é incurável!
Ao trabalhar o seu emocional pela sua saúde e felicidade, assim como pela
saúde e felicidade de outras pessoas, esqueça o conceito de cura. A condição
humana não tem cura. Você sempre, sempre será falível, passível de erros e
sujeito a pensamentos e atitudes derrotistas. Não há como renegar a sua
natureza humana. Você pode, se seguir as ideias deste livro, tornar-se —- e
continuar a ser — menos afetável e se reeducar para ter pensamentos,
sentimentos e atitudes saudáveis. Pode até chegar ao ponto de raramente se
aborrecer seriamente. Mas não completamente. Não absolutamente. Não cem
por cento. E se você acreditar numa cura total, irá parar de trabalhar seu
emocional quando atingir um certo patamar e tenderá a regredir. Esqueça a
utopia. Esqueça o perfeccionismo. Tente o seu melhor, em vez de o melhor.
Você nunca será totalmente racional, são e sensato. Isso se aplica a mim
também? Claro que sim!
E sempre aconselhável tentar primeiro os métodos de autoajuda e
psicoterapia. Mas não rejeite uma possível medicação. Experimente. Veja o
que funciona para você. Cuidado com gurus e outros fanáticos que
proclamam curas esotéricas e milagrosas. Procure aconselhamento com
profissionais capacitados e não com charlatões da Nova Era. Quando alguém
lhe oferecer uma cura rápida e fácil, vá ao psicólogo mais próximo! Fique
esperto, ame a si mesmo!
Capítulo 6.
Aceitando a Si Mesmo e aos Outros
Como Jerome Frank, Simon Budman, Russell Grieger, Otto Rank, Paul
Woods e outros terapeutas conhecidos afirmam, a terapia só funciona quando
o cliente quer e acredita que pode mudar. Ótimo. Mas as expectativas não
devem ser irreais. Se você apostar tudo na terapia, ou no terapeuta,
esperando algum tipo de mágica, você vai se desapontar e se desiludir e
acabará desistindo de tentar.
A mesma coisa ocorrerá com os métodos de autoajuda. Seja otimista, mas
não tire os pés do chão. Os métodos não proverão nenhuma cura milagrosa,
nenhum caminho fácil para eliminar suas neuroses. Porém, acredite que
podem funcionar.
Isso vale para a TCER e a Terapia do Comportamento Cognitivo. Seja
cético em relação a elas. Investigue as bases teóricas, e não apenas os
históricos de casos, os quais incluem muita ficção. Se vasculharmos casos
"bem-sucedidos", frequentemente registrados por psicólogos, e se avaliarmos
os vários grupos de controle com e sem terapia, veremos que a terapia
comportamental tem excelentes registros de eficácia comprovada. Mas, veja
bem, elas possuem um certo limite de atuação.
A TCER e a Terapia do Comportamento Cognitivo são utilizadas por
pessoas com alto grau de ansiedade e depressão, e têm mostrado eficácia.
Sem resultados perfeitos, é claro, e sem milagres. Se quiser conhecer alguns
estudos da TCER, procure autores como H. Barlow, A.T. Beck, D. Eíajzler, M.
Bernard, L. Lyons, P. Woods, T.E. McGovern e M.S. Silverman.
Você pode, portanto, usar a TCER com confiança. Convença-se de que
pode entendê-la, aplicá-la e obter uma boa chance de tomar-se menos
afetável. Por quê? Por três motivos importantes:
Segundo a TCER, você tem pouco controle sobre Eventos Ativadores ou
Adversidades (A), mas consegue controlar suas Crenças (Cl) em relação a
essas Adversidades. Felizmente, na grande maioria das vezes você não se
estressa nem sofre por causa de suas preferências de sucesso e aprovação,
mas sim por alimentar expectativas absolutas, intransigentes.
Você pode controlar e mudar suas exigências. Mesmo após acreditar e agir
de acordo com elas durante anos, a TCER mostra que você está
emocionalmente abalado hoje porque ainda (consciente ou
inconscientemente) opta por essas exigências; e você tem a capacidade e o
poder de mudá-las e, às vezes, de abrir mão delas totalmente.
A TCER oferece diversos métodos de entendimento e mudança para
orientar pensamentos, emoções e ações, transformando suas exigências
dogmáticas e os comportamentos nocivos que normalmente as acompanham.
Você pode desafiá-las — de forma realista, lógica e pragmática — e reduzi-las.
— Se você abrir mão de suas expectativas grandiosas e inflexíveis,
conseguirá minimizar a tendência de pensar nelas e senti-las com tamanha
carga emocional. Você pode mudar a visão perturbadora de que é uma
pessoa sem valor, que as pessoas que lhe fazem mal deviam morrer e que o
mundo é uma droga. A partir do momento que você se conscientizar de que as
suas exigências são nocivas e de que você pode mudá-las, você,
automaticamente, criará novas atitudes.
Se as suas expectativas em relação ao uso da TCER são realistas, você
pode tomar atitudes como as seguintes:
"Sou uma pessoa que se aborrece facilmente, alguém que, sem
necessidade, se perturba e se aflige. E assim acontece toda vez que
estabeleço metas e preferências tendo em vista exigências
grandiosas e inflexíveis. É um comportamento ridículo, mas posso
me aceitar incondicionalmente com esse comportamento e não me
sentir um idiota por alimentá-lo. Como sou eu que causo a minha
própria perturbação, eu posso mudar esse mecanismo. Ao Desafiar
as minhas exigências, enxergo claramente várias maneiras de
neutralizar minha neurose. Posso usar a TCER pelo resto da vida. Se
continuar a fazê-lo, eu serei menos afetável, em raras ocasiões irei
me aborrecer e, se tiver uma recaída, serei capaz de reconhecer
minhas exigências intransigentes outra vez e transformá-las em
preferências. Eu consigo!".
Se você adquirir essa filosofia de autoajuda, se tiver expectativas realistas e
se continuar determinado a usar os métodos da TCER, você não poderá
garantir que se tornara menos afetável, mas pelo menos estará seguindo o
caminho certo, com grandes probabilidades de conseguir!
A vida é difícil para tudo mundo. Com que tipo de coisas nos deparamos,
desde bebés até o fim da vida? Centenas — às vezes, milhares — de dores,
doenças, aflições, preocupações, frustrações, restrições, decepções,
problemas, limitações, injustiças, desavenças, dificuldades financeiras,
rejeições, críticas, afrontas, barreiras, preconceitos etc.
Por que será que, com tanta frequência, nossos mais acalentados desejos
são frustrados e aquilo que mais tememos ou abominamos se realiza?
Simplesmente porque é assim que as coisas são. E precisa ser sempre
assim? Sim, precisa. Ninguém, nem mesmo as crianças que são bem tratadas
e bem cuidadas, que recebem todo o carinho e atenção dos pais, escapa de
atribulações e provações. Na adolescência e na idade adulta, então, nem se
fala!
O que uma pessoa pode fazer para deixar de se enfurecer e se deprimir
com as coisas "terríveis" da vida? A resposta é óbvia, e para ela inventei uma
palavra que não existe, mas que explica o que quero dizer: "desterribilizá-las".
Lembre-se do que Reinhold Niebuhr muito sabiamente disse no início do
século vinte: "Tenha coragem para mudar os infortúnios que você pode mudar,
serenidade para aceitar (não para gostar) o que você não pode mudar e
sabedoria para distinguir a diferença". Fazendo assim, você terá obstinação
para se recusar a transformar as adversidades e inconveniências em coisas
terríveis ou trágicas.
Entretanto, existem, e não com pouca frequência, verdadeiras dificuldades,
grandes problemas: doenças graves, acidentes sérios, assalto, violência,
crime e outros problemas que afetam profundamente não só a vítima como
toda a família e as pessoas que a amam. Na televisão e nos jornais, o que não
faltam são notícias, com detalhes sórdidos, de enchentes, fome, terrorismo,
guerras, genocídio, terremotos e outras atrocidades e catástrofes. No entanto,
nem todas as pessoas que sofrem enfrentam esse tipo de situação realmente
penosa. Nem todos definem as adversidades e contrariedades como
péssimas ou horríveis, tornando a situação ainda pior. Muitos o fazem, a
maioria com frequência, mas não todo mundo. E ninguém faz isso o tempo
inteiro.
Por que será que as pessoas em geral magnificam as adversidades e com
isso aumentam o seu sofrimento? Talvez porque tenhamos herdado essa
tendência de nossos ancestrais, dos primórdios dos tempos, quando se
desenvolveu uma espécie de instinto de dramatizar as adversidades,
contratempos e perigos, pois a vida pacífica e harmoniosa demais seria tão
monótona que as pessoas morreriam de tédio. Para sobreviver, os seres
humanos criaram um tipo de ação preventiva.
É provável também que, além desse "mecanismo de segurança", os
primeiros humanos tenham descoberto que o fato de se queixar e se lamuriar,
de expressar verbalmente quão terríveis eram as adversidades, quanto
sofrimento causavam, angariava o apoio das outras pessoas, o que, por sua
vez, pode muito bem ter ajudado imensamente aqueles mais fracos e
vulneráveis, com baixa autoestima e um exacerbado sentimento de
autopiedade.
Seja como for, a tendência do ser humano a dramatizar existe numa escala
universal e pode muito bem ser uma reação inerente a eventos muito
indesejáveis, potencialmente fatais. Quantas pessoas não se deixam
sucumbir? Poucas!
Além disso, a dramatização tem um lado benéfico. Quando você encara
uma adversidade como algo terrível, você se concentra nela, sente o impulso
de mudá-la ou de escapar dela e geralmente toma atitudes preventivas que,
em caso contrário, talvez não tomasse. Trata-se de um mecanismo que muitas
vezes compele a pessoa a salvar a própria vida e a de seus entes queridos.
Portanto, pode — veja bem, pode — ser um dos mecanismos do instinto de
sobrevivência do ser humano.
Mas não de uma sobrevivência muito feliz! A nossa natureza humana não
está muito preocupada com como sobrevivemos, desde que sobrevivamos.
Portanto, ela encoraja a nós — animais frágeis e vulneráveis — a ser
altamente cautelosos, vigilantes e ansiosos quando diante do perigo, e a
correr como loucos de qualquer predador. Aliás, por causa de nossa natureza,
vemos perigos demais à nossa volta. Nós sobrevivemos, em geral, de forma
infeliz e com bastante pânico e pavor. Mas sobrevivemos!
Sendo assim, a dramatização geralmente funciona. Mas evitar horrorizar-
se diante de eventos adversos funciona melhor. Como preconiza a TCER, a
pessoa pode escolher seus sentimentos quando enfrenta algum perigo ou
ameaça. Ela pode se sentir saudavelmente preocupada e vigilante, ou
doentiamente horrorizada e em pânico. A primeira opção quase
invariavelmente ajuda bem mais do que a segunda. E isso ocorre por várias
razões:
O horror e o pânico que acompanham a dramatização são destrutivos e
interferem no bom senso e na capacidade de discernimento. Eles bloqueiam o
raciocínio sensato, a ponderação. Podem ajudar a fugir mais depressa do
"horror", mas na direção errada. São sentimentos que impelem a pessoa a
criar uma solução rápida que, geralmente, é apenas paliativa; desgastam a
resistência física e a energia. Fazem a pessoa se sentir fraca e fora de
controle e abalam a autoestima, induzindo à depressão.
Mas como não ver certas coisas como terríveis quando não só você mas
todos à sua volta concordam que são de fato terríveis? Não é fácil! Coisas
realmente sérias podem afligir qualquer um de nós ou nossos familiares. Por
exemplo: perda da visão, de um membro, da audição, de um rim ou outro
órgão importante; estupro, incesto, assalto, agressão; pobreza, crime,
discriminação, assédio sexual; distúrbios mentais e emocionais graves etc.!
Ainda assim, os acontecimentos excepcionalmente ruins só são horríveis
ou terríveis ou insuportáveis quando você os define assim. Ruim não significa
terrível, mas você pode achar que significa. E você não tem de pensar de
forma destrutiva. Aliás, se pensar bem, você verá que nada — isso mesmo,
nada — é terrível. Porque "terrível" normalmente tem vários significados, a
maioria deles imprecisa. Dois significados precisos de "terrível" são:
1. Alguma coisa muito ruim ou extremamente ruim.
Considerando-se os padrões, expectativas e objetivos de
cada pessoa, essa definição quase sempre é correta. Se
uma pessoa tem um forte desejo de obter êxito no amor, no
sexo, no trabalho ou no esporte, e fracassa e é rejeitado, o
fracasso obviamente contraria os interesses pessoais e,
portanto, é frustrante ou ruim. Não necessariamente para os
outros, mas para você, sem dúvida, é. Portanto, classificar
um fracasso ou rejeição como ruim parece bastante acurado.
2. Pode-se considerar legitimamente alguma coisa como muito
ruim se ela for altamente contrária aos interesses ou metas
estipuladas. Portanto, se uma pessoa fracassa tão
miseravelmente em alguma coisa importante que fica quase
evidente que ela nunca conseguirá, pode-se dizer que esse
fracasso é muito ruim ou altamente frustrante. Por exemplo,
se uma pessoa não consegue conquistar o amor de alguém
por quem está verdadeiramente apaixonada e tudo indica
que ela nunca encontrará alguém por quem possa se
apaixonar com a mesma intensidade, pode-se dizer que se
trata de uma perda muito lamentável.
Portanto, o termo "terrível" é uma definição quase acurada para esses dois
exemplos de Adversidade. Mas quando nos referimos a algum outro tipo de
Adversidade como "terrível" normalmente queremos dizer alguma outra coisa
que não pode ser realisticamente comprovada. Veja, por exemplo, estas
definições ilegítimas e autoderrotistas de "terrível":
1. Ao chamar um evento de terrível, estamos querendo dizer
que aquilo é tão ruim que jamais, de maneira alguma,
poderia ter acontecido. Mas isso não faz sentido, porque,
seja quão ruim for, acontece. E ficamos nós, em nossa
grandiosa altivez, exigindo que apenas as coisas
ligeiramente, ou não muito, ruins é que poderiam acontecer,
e que as coisas muito ruins não poderiam acontecer de jeito
nenhum. Na verdade, quando você classifica algum
acontecimento ou circunstância de "terrível", você
contraditoriamente admite que aquilo existe, mas que não
poderia de forma alguma existir. Não é estranho?
2. Ao insistir em dizer que um evento indesejável é horrível, ou
terrível, você está afirmando que ele é o pior possível, ou
seja, cem por cento ruim. Mas, na verdade, nada pode ser
cem por cento ruim, porque sempre, invariavelmente, poderia
ser pior. Se uma pessoa é estuprada ou assassinada, isso é
muito ruim, mas não cem por cento ruim, pois poderia
acontecer de, além dela, várias pessoas que ela ama serem
estupradas ou assassinadas, o que seria pior. Se alguém é
torturado lentamente até a morte, poderia ter sido torturado
ainda mais lentamente até a morte. A única coisa que seria
totalmente ruim seria a aniquilação total da raça humana e
da vida na Terra e de todo o universo, o que não é provável
que aconteça num futuro próximo. E mesmo que o universo
inteiro fosse aniquilado, claro que seria urna coisa bastante
ruim, mas não de todo terrível, por várias razões: (a) todos
nós morreríamos e não sobraria ninguém; (b) uma vez
mortos, não teríamos consciência disso; (c) é uma pena que
algumas espécies — como os dinossauros — não existam
mais, mas pode-se dizer que isso seja, realmente, terrível?;
(d) se você vê uma possível aniquilação da humanidade
como terrível, como isso pode ajudá-lo a permanecer vivo ou
a ser feliz?
3. Ao rotular uma ocorrência bastante infeliz como horrível ou
terrível, o que você normalmente quer expressar é que ela é
mais do que ruim — cento e um por cento ou talvez duzentos
por cento ruim. Como você irá provar essa hipótese?
4. Ao classificar um acontecimento ou circunstância ruim como
terrível, você está querendo dizer que aquilo é tão ruim que:
(a) a existência dele é ilegítima; (b) não poderia ser tão ruim
quanto indubitavelmente é; (c) não poderia acontecer de
forma alguma; (d) é tão pavorosamente horrível que você
não pode mudar, não pode aceitar e não pode suportar. No
curso desse processo de pensamentos contraditórios, você
tende a simultaneamente engrandecer e abominar o
problema; a insistir em que ele é tão real quanto irreal; e,
portanto, fica perdido para encontrar uma solução. Que
loucura, não?!
5. Como foi mencionado acima, a dramatização de um evento
ou de uma circunstância raramente ajuda a melhorar as
coisas, e na maior parte das vezes interfere na capacidade
de amenizá-lo ou de encontrar uma solução. A pessoa sente
que o problema é mais frustrante e pior do que realmente é;
e com isso ela mesma pode agravar ainda mais a situação.
Ao fixar-se nos problemas e nas adversidades, a pessoa
aumenta e prolonga a inconveniência, seja ela qual for,
transformando-a num tormento sem fim.
Qual é a solução? Convencer-se de que o que é ruim é apenas ruim, não
terrível. Até as coisas muito ruins são simplesmente ruins. Aceitar os
acontecimentos e as circunstâncias e tentar mudá-los, se possível. Procurar
desfazer os "horrores" até não mais acreditar neles, pois assim,
automaticamente, você irá parar de criá-los, e quando surgirem de novo, você
os transformará em meras contingências adversas. Depois de fazer isso
diversas vezes, você ainda se sentirá frustrado e desapontado diante das
Adversidades reais — o suficiente para tentar amenizá-las e solucioná-las.
Mas não mais verá os contratempos e as inconveniências como catástrofes,
nem os verdadeiros infortúnios como horrores fictícios.
Reduzir a "não-aguentite"
A pior coisa que poderia nos acontecer não é muito provável que aconteça.
Mas é possível. Você poderia descobrir que está com uma doença terminal,
ou que um de seus entes queridos encontra-se nessa condição. Ou que o fim
do mundo está próximo, ou que outro evento "terrível" está prestes a
acontecer. Como você lidaria com essa Adversidade?
Deixe-me resumir um dos casos que descrevi em meu livro destinado a
terapeutas — Better, Deeper, and More Enduring Brief Thempy (Terapia rápida
melhor, mais profunda e mais duradoura). Gail, uma terapeuta do Instituto
Albert Ellis em Nova York, estava tratando de Roberta, que tinha pavor de
contrair o vírus da AIDS, embora ela e o namorado se precavessem. Roberta
também considerava um aperto de mão "muito perigoso", e vivia em pânico
constante. Por fim, Gail conseguiu convencer Roberta de que a AIDS não era
transmitida por um simples toque, pelo menos não por um toque superficial
como um aperto de mão.
Roberta passou a encarar a questão com mais tranquilidade e a perder o
medo, e aparentemente chegava ao ponto de ter alta da terapia.
Gail e eu concordamos que o progresso de Roberta fora muito bom, após
somente 12 sessões de TCER. No entanto, eu observei que Roberta ainda se
mostrava escrupulosa demais em relação a apertar as mãos das pessoas e
exagerava qualquer dor que porventura sentisse. Uma dor de estômago, para
ela, significava que estava com câncer.
Então sugeri a Gail que, caso tivesse outro cliente com um problema
semelhante ao de Roberta, utilizasse uma solução elegante e o ajudasse a ver
que a probabilidade de contrair uma doença fatal era pequena — de fato,
muito pequena — mas que se ele a contraísse, a morte não seria tão horrível.
Por que não? Porque não seria cem por cento ruim (ele poderia morrer jovem
e sofrendo). Não importa quão ruim seja, o fato é que poderia ser ainda pior —
porque é assim que é: muito ruim!
Gail concordou que a ansiedade de Roberta poderia diminuir se ela
experimentasse a solução elegante que apresentei. Na sessão seguinte, Gail
tentou convencer Roberta de que nada era horrível, nem mesmo a morte. Ela
lhe mostrou que a morte, pelo que sabemos, é exatamente o mesmo estado
em que as pessoas se encontram antes da concepção: zero. Nenhuma dor,
nenhum sofrimento, nenhuma preocupação — nada. Por que se afligir com
isso, se a probabilidade é de que você morra bastante idoso?
Durante a sessão na qual Gail apresentou esse argumento, Roberta
recusou-se a aceitá-lo. Ela concordou que a morte não seria tão horrível, e
que morrer com dor seria ainda pior. Ela refletiu a respeito nas sessões
seguintes e viu que Gail tinha razão. A morte em si não era algo tão
perturbador; e morrer seria rápido e indolor.
Depois de chegar a essa conclusão, o pavor de contrair uma doença grave
diminuiu e Roberta começou a ousar mais. Na última sessão, ela agradeceu a
Gail por tê-la ajudado a controlar a ansiedade.
"Agora que você me ajudou a superar isso", Roberta disse, "e a ver
minha morte como algo indesejável mas não horrível, sinto-me livre.
Ainda tomo precauções contra os riscos reais de uma doença
sexualmente transmissível. E sei que terei algumas preocupações
pelo resto da vida. Mas não tantas e nem tão graves."
Quando Roberta chegou a essa solução elegante para seus pânicos e
fobias, sua alegria foi superada apenas pelo prazer que Gail sentiu por tê-la
ajudado.
A vantagem de se trabalhar com o suponhamos que o pior realmente
aconteça é que se tende a minimizar as "tragédias". Pois, se a pior
possibilidade realmente ocorrer, ela será apenas frustrante e não
completamente ruim; e a pessoa resistirá a qualquer perturbação. Ficará
preocupada, mas não horrorizada por causa das Adversidades ruins.
Se você adotar essa solução para seu sentimento de desespero, você não
mais irá esperar que coisas "medonhas" aconteçam e se fortalecerá
emocionalmente. Harry, por exemplo, tinha medo de ir a jogos de beisebol
porque temia que a bola o atingisse no olho e o cegasse para sempre. Depois
de aceitar o fato de que, caso o incidente ocorresse, ele sofreria, mas ainda
assim sobreviveria e teria uma vida feliz, Harry conseguiu perceber que
poderia escolher um lugar seguro na arquibancada e evitar ser atingido nos
olhos. Ele, então, passou a assistir a vários jogos.
Tal qual os clientes que acabo de descrever, você também pode aceitar a
realidade de que não possui controle sobre o "destino" e outros acidentes que
possam acontecer.
Se achar que deve controlar todos os eventos perigosos, você acabará por
limitar sua vida e sua liberdade. Portanto, se você evita viajar de avião porque
tem medo de um desastre, ainda existirá a possibilidade de sofrer um grave
acidente de carro. Caso permaneça em seu apartamento para se proteger,
ainda assim poderá ficar preso num incêndio. Por mais restrita que seja a sua
vida, você poderá ser vítima de um vírus ou de uma bactéria. Mas não há
como controlar o destino!
Se você aceitar o que existe de incontrolável no universo, conseguirá
reduzir enormemente sua ansiedade. Assim que perceber as restrições que
você mesmo impõe para se manter "em segurança", verá que o preço a pagar
é caro demais. Mesmo a maior das precauções não garante sua segurança. A
vida em si é perigosa. Se a aceitar, suas preocupações e seus cuidados
excessivos diminuirão sobremaneira. Quando razoavelmente precavido e
vigilante, mas ainda aceitando as contingências, você dará a si mesmo a
oportunidade de aproveitar a vida que tem. As pessoas que realmente sabem
que irão morrer um dia optam por curtir a si mesmas enquanto estão vivas.
Lewis Thomas, famoso médico e escritor, passou a aproveitar a vida tão
logo soube que sofria de uma doença grave. Também Arthur Ashe, que foi
contaminado pelo vírus da AIDS através de uma transfusão, viveu
heroicamente seus últimos dias. Magic Johnson e Anatole Broyard também
enfrentaram doenças fatais. Muitos outros indivíduos como Warren Johnson,
professor e psicoterapeuta da TCER, que escreveu um excelente livro a
respeito, também lutaram pela vida. A filosofia de aceitar perigos reais pode
ajudar a pessoa a ter uma vida mais proveitosa.
Eu, um homem de 85 anos e dependente de insulina desde os quarenta,
faço uso da TCER? Claro que sim! Quando percebi que o pior poderia me
acontecer — como uma gangrena nos pés ou cegueira total — eu logo me
convenci de que o diabetes não seria o fim do mundo. Não era um evento
péssimo nem horrível, mas apenas frustrante e desagradável.
Acreditei em tudo isso? Sim, e assimilei tal premissa como filosofia, não
como psicologia.
Adotei o hobby de ler e escrever a respeito de filosofia aos dezesseis anos.
Concentrei-me na filosofia da felicidade e logo descobri que, uma vez vivos e
isentos de dor física excessiva, podemos encontrar prazer na vida a despeito
de doenças, solidão, rejeição ou qualquer coisa que implique privações.
Também concluí, aos vinte anos, que se eu naufragasse numa ilha deserta,
sem livros, pessoas para conversar, música ou material de escrita, eu ainda
assim poderia escrever um poema épico em minha mente e dar a mim
mesmo algum tipo de satisfação. Na pior das hipóteses, eu me recusaria a ser
infeliz — desde que estivesse vivo e sem uma grande dor física.
A TCER oferece a todos uma solução similar para o problema da
Adversidade humana. Ela ensina que somente a dor física constante —
embora nem sempre — torna a existência sem valor. Do contrário, é possível
encontrar distração e valor para a vida.
E quanto a ser cego e aleijado? E ser confinado a uma cama ou uma
cadeira de rodas? E estar sozinho no mundo, sem amigos?
Não importa tanto assim! Só irá importar se a pessoa for privada de muitas
e de quase todas as alegrias. Mas se as restrições não forem totais, sempre
se pode buscar certos prazeres: música, arte, leitura, escrita, coleções,
bordado, jardinagem, conversas ao telefone, trabalho voluntário. Qualquer
coisa de que se goste, qualquer coisa que faça bem. Apesar das limitações!
Portanto, não desista. Não pense que não há esperança. Você pode
aceitar a realidade social (e talvez a injustiça) e superar somente a frustração e
não uma depressão grave. Sim, é muito difícil. Mas não é impossível. Sempre
há a possibilidade de encontrar um certo grau de satisfação real e pessoal. Se
você acreditar que é capaz!
Mais uma vez: esforce-se para entender que, se o pior acontecer, você não
tem de se sentir o ser mais insignificante do mundo. Haverá problemas e
dificuldades. Mas horror e autopiedade, não. Essa é a mensagem da TCER
na qual você pode acreditar. Portanto, use-a!
Prevenindo perturbações
Talvez exista magia no mundo. Talvez você entre em contato com alguma
forma cósmica, algum poder sobrenatural, uma intuição mística ou experiência
transpessoal que o libertará dos problemas e o presenteará com uma vida
inusitada.
Talvez. Mas, se eu fosse você, não contaria com isso. Se acredita em
magia, xamanismo, vidas passadas, misticismo, cultismo ou qualquer forma
de cura milagrosa, não deixe que sua crença interfira em seus esforços
pessoais.
Não, você não encontrará nenhuma solução mágica para seus problemas
emocionais e comportamentais. E você não precisa de soluções mágicas. O
insight é fácil de obter. Mas mudar pode ser muito difícil! Quanto mais mágica
você procurar, menos fará o que pode: trabalhar sua cabeça para mudar!
Então, acredite em ajudas cósmicas e gurus milagrosos. Mas se esforce para
implementar o velho ditado: "Deus ajuda aqueles que se ajudam".
Como mencionei anteriormente, mesmo as crenças erradas podem ajudá-
lo. Acreditar que Deus responderá a todas as suas preces ou que a fé nas
revelações espirituais de um santo que morreu anos atrás pode auxiliá-lo a
melhorar a vida. Talvez!
A crença em soluções mágicas, no entanto, sabota o trabalho persistente
de mudança pessoal para você se tornar menos afetável. A convicção de que
você pode reduzir sua irritabilidade e o esforço para sustentar tal convicção
incluem a noção de que você está fazendo isso, e não alguma força
sobrenatural nem algum poder mágico. A confiança na magia dificilmente
fortalecerá sua força de vontade!
Muitos eventos ruins têm seu lado bom. Problemas difíceis são
interessantes de resolver. Terminar uma relação amorosa lhe dá a
oportunidade de encontrar uma pessoa diferente e descobrir outras
intimidades. Ser demitido pode incentivá-lo a aprimorar seus talentos, procurar
um emprego melhor ou preparar-se para uma nova profissão.
Se você olhar com atenção, verá que qualquer dificuldade oferece um
desafio para despertar sentimentos negativos — como tristeza,
arrependimento, frustração e aborrecimento —, os quais podem ajudá-lo a
superar e mudar a Adversidade em questão. Ela lhe proporciona o desafio de
recusar-se a ter sentimentos doentios e sabotadores, depressão, raiva,
aversão e autopiedade.
A Adversidade não é exatamente uma coisa fantástica, mas ela pode trazer
benefícios reais, se você a encarar de maneira apropriada. Esse é um dos
pontos principais que você pode anotar em sua agenda para sentir-se melhor,
permanecer bem e, por fim, adquirir uma saúde emocional automática.
Veja a questão fascinante da força de vontade, descrita no capítulo 5.
Como adquirir força de vontade para eliminar a raiz dos pensamentos,
sentimentos e ações perturbadores, e manter todos adormecidos?
Não é fácil! Trata-se de um desafio real, e você terá de usar força e
vontade consideráveis para conseguir. Vamos rever a discussão acerca da
força de vontade. Aplique esses passos para aceitar o desafio das
Adversidades e lutar para ser menos afetável:
1. Decida esforçar-se a fim de conquistar a solução elegante
para seu problema emocional — tornar-se
consideravelmente menos aflito agora e menos afligível no
futuro. Aceite as Adversidades que você não pode mudar e
opte por ser menos suscetível a elas.
2. Determine-se a agir de acordo com sua decisão de lutar e
trabalhar para se sentir menos afetado e menos afetável.
3. Adquira conhecimento sobre o que fazer e o que não fazer
para dar vazão a sua vontade, a sua decisão. Estude os
métodos descritos neste livro e em outros materiais, como
cursos, conversas, terapias individuais ou em grupo. Isso
mesmo: estude.
4. Comece a agir de acordo com sua determinação e
conhecimento. Trabalhe para encontrar, Desafiar e mudar
suas Crenças Irracionais e substituí-las por Crenças
Racionais ou Novas Filosofias Eficazes. Trabalhe para trocar
seus sentimentos negativos destrutivos em relação às
Adversidades — como ansiedade demasiada, depressão e
raiva — por sentimentos negativos saudáveis — como
tristeza, remorso e frustração. Lute para modificar seu
comportamento derrotista por causa das Consequências —
como compulsão ou fobias — e transformá-lo num
comportamento útil — como ausência de compulsões ou
fobias, aquisição de flexibilidade interna, curiosidade e
espírito aventureiro.
5. Continue firme e persistente em sua decisão para mudar
pensamentos, sentimentos e ações que contribuem para
afligi-lo. Encoraje sua determinação para mudar, para adquirir
conhecimento sobre como mudar e aja, aja, aja para mudar.
6. Se tiver uma recaída, mais uma vez decida minimizar suas
perturbações, reveja seu conhecimento de como modificar
seu jeito, determine-se a agir e obrigue-se a implantar sua
decisão e determinação.
7. Batalhe para conquistar as três metas relacionadas: primeira,
tornar-se menos perturbado agora; segunda, manter- se
menos derrotista e socialmente destrutivo; terceira, persistir e
lutar por essas três metas, aceitando o fascinante desafio de
tornar-se consideravelmente menos afetável, embora não
totalmente imune!
Com esse tipo de vontade, você vai conseguir — se colocar determinação
e ação, ou seja, poder, em sua força de vontade.
-
-
Capítulo 9.
Novas Maneiras de Pensar
Já descrevi os métodos da TCER que você pode utilizar para ser menos
afetável pelos acontecimentos adversos. Nos próximos quatro capítulos,
ilustrarei outras técnicas para orientar pensamentos, sentimentos e ações.
Você poderá usá-las para não se aborrecer diante de Adversidades (A),
mesmo quando você contribuir para que elas ocorram.
Os métodos que descreverei agora são fáceis de assimilar e também são
muito usados na TCER e em outros métodos mais conhecidos. Eles foram
criados com a prática clínica e experimental. Eu, pessoalmente, utilizo esses
métodos há anos e com ótimos resultados. No entanto, eles não são eficazes
para todas as pessoas o tempo todo. Às vezes, alguns podem até ser
prejudiciais. Portanto use-os com entusiasmo e ao mesmo tempo com
precaução!
Os métodos terapêuticos dos próximos capítulos irão ajudá-lo? Muito
provavelmente, sim. Eles o tornarão menos afetável? Em alguns casos sim,
principalmente se você os usar com determinação e persistência. Por outro
lado, vou também esclarecer algumas limitações e encorajá-lo a tentar os
procedimentos mais elegantes que advogo neste livro.
O fato é que a terapia eficaz geralmente é complexa. O que funciona para
uma pessoa pode não funcionar para ou- Ira. O que surte efeito hoje pode não
surtir amanhã. Desse modo, você conhecerá uma variedade de métodos da
TCER que foram testados e aprovados — por algumas pessoas, durante
algum tempo. Neste capítulo e no seguinte apresentarei linhas de pensamento
e técnicas cognitivas úteis; no capítulo 11, a técnica emocional evocativa; e no
capítulo 12, os métodos comportamentais. Considere-os, experimente-os e
teste-os no objeto de estudo mais interessante que existe: você!
A Terapia do Comportamento Emotivo Racional, como eu já disse, é a
primeira das principais terapias do comportamento cognitivo e multimodais.
Desde o início, a TCER sempre observou que os pensamentos, sentimentos e
ações estão interligados: quando uma pessoa pensa em alguma coisa que é
importante para ela, ela sente emoções e adota comportamentos. Quando ela
está zangada, triste ou contente, ela tem pensamentos e atitudes. Quando ela
age, ela tem pensamentos e sentimentos. Os três andam juntos e se afetam,
embora sejam diferentes e falemos deles como se fossem independentes.
Quando uma pessoa sente e age impulsionada pelas suas aflições, ela
também tem pensamentos, sentimentos e comportamentos acerca da própria
aflição. Ela os observa e pensa: "Que sentimento desagradável estou tendo. O
que devo fazer?". Ela também sente emoções relacionadas: "Sinto-me triste e
deprimido porque não desempenhei tão bem quanto deveria aquela função". E
ela age de acordo com eles: "Vou procurar terapia ou tomar medicação agora
que me sinto tão deprimido".
A TCER, portanto, aconselha: quando se sentir derrotista, é melhor
investigar pensamentos, sentimentos e comportamentos e, em seguida, usar
métodos cognitivos e emotivos para superar ou reduzir esses problemas.
Neste e no próximo capítulo, mostrarei alguns dos principais métodos
cognitivos que você pode empregar sempre que notar alguma redução no seu
desempenho ou potencial, seja no trabalho, seja no amor, seja no lazer. Às
vezes um único método é suficiente para ajudá-lo a aliviar o sofrimento e a
encontrar mais alegria de viver. Usando vários deles, o resultado será ainda
melhor, porque alguns se completam e se reforçam.
Primeiro, vamos aos métodos regulares da TCER, os quais são também
utilizados por várias outras terapias e produzem bons resultados ao longo dos
anos — alguns ao longo dos séculos.
Como afirmei nos quatro primeiros capítulos deste livro, porque suas
Crenças grandiosas e exigentes são adotadas e criadas, você pode mudá-las
— felizmente. Você, de forma natural, tende a acreditar nelas. Os outros o
encora- iam a acreditar nelas. Praticou acreditar e agir conforme essas
Crenças em inúmeras ocasiões. E, se elas ainda o afetam, você até hoje
acredita nelas. Mas também tem o poder de desacreditá-las. Você nasceu um
"sofredor"; mas também nasceu um "salvador" de si mesmo. Use sua
habilidade de solucionar problemas para desfazer suas tendências destrutivas.
Se assim o escolher! Se trabalhar para tanto.
Portanto: reveja os métodos que listei nos capítulos 2, 3 e 4 para Desafiar
realista, lógica e pragmaticamente suas exigências derrotistas.
Desafio realista: "Onde está a prova de que eu devo sempre
me sair bem num projeto importante? Quem disse que o
fracasso me torna um indivíduo sem valor?".
Desafio lógico: "Porque sempre o tratei bem, quem disse que
você é obrigado a me tratar da mesma maneira?".
Desafio pragmático: "Se eu continuar a acreditar que devo
conquistar o amor e a aprovação de todas as pessoas
queridas, onde essa crença irá me levar?".
Continue a procurar suas exigências e demandas e Desafie-as até
perceber que elas nunca resolveram nada. Uma vez que você transforma as
preferências em demandas arrogantes, a tendência é criar Crenças Irracionais
(Cl) derivativas, que incrementam seu sofrimento — como a penalização, o
"eu não suporto", condenar a si mesmo e aos outros, e supergeneralizações.
Esses derivativos de Cl são fáceis de encontrar e você pode Desafiá-los
diversas vezes. Por exemplo:
Desafiando a penalização: "Será ruim se eu fracassar num
projeto importante, mas será realmente horrível e péssimo?
Será 100% ruim? Será mais que ruim? Será pior do que
deveria ser?".
Desafiando o "eu não suporto": "Não suporto perder um
amor? A perda irá me matar? Significa que não posso ser
feliz nem agora nem nunca?".
Desafiando supergeneralizações: "O fato de ter ido mal
nesse exame importante significa que irei fracassar em
qualquer exame?"; "Apesar de eu ter postergado esse
projeto, por que acreditar que nunca o farei ou que jamais
terminarei qualquer projeto que eu venha a aceitar?".
Desafiando racionalizações: "Suponhamos que eu não me importe em ser
rejeitado várias vezes. Fingir que esse projeto não tem importância para mim
me ajudará a ter urna vida boa?".
Se, conscientemente, você encarar suas crenças perturbadoras e Desafiá-
las, não ficará livre de perturbações pelo resto da vida, muito menos será
eternamente feliz. Mas estará muito melhor do que antes!
Tal qual mencionei previamente, assim que comecei a utilizar a TCER com
meus clientes e com o público voluntário, percebi que as pessoas podiam usar
outros materiais educacionais como complemento do processo terapêutico ao
que se submetiam. Pois a TCER em si é educacional durante e fora das
sessões terapêuticas. Seus princípios são facilmente explicáveis e podem ser
usados pela maioria das pessoas que deseja se ajudar. Por sua vez, aqueles
que aprenderam os princípios podem ensiná-los a outros, como explicarei
abaixo.
Brochuras, panfletos e livros que apresentam a TCER são claros e efetivos.
Na clínica psicológica do Instituto Albert Ellis em Nova York, recomendamos a
nossos clientes que leiam algumas brochuras publicadas pelo Instituto, as
quais eles recebem na primeira sessão. Estão incluídos os seguintes textos:
"A Natureza da Interação Marital Conturbada", "A TCER Diminui o Ego
Humano" e "Atualizando-se".
Também recomendamos que nossos clientes leiam os principais livros
sobre a TCER e a Terapia Cognitivo-Comportamental, tais como meus
trabalhos, Como Recusar-se a Ser Infeliz; Um Guia para o Viver Racional, Um
Guia para a Felicidade Pessoal. Outros livros que indicamos com frequência
são: Superando o Jogo da Classificação, de Paul Hauck, e Superando A
Postergação de minha autoria; Como Controlar sua Raiva antes que Ela o
Controle; O Leitor de Albert Ellis; e Otimização da Idade: Superando o
Envelhecer. Esses são apenas uma amostra das brochuras e livros da TCER
que você pode ler. Há outros itens como recursos audiovisuais, e uma lista dos
materiais mais recentes pode ser obtida no Instituto Albert Ellis. O catálogo do
Instituto inclui palestras e workshops da TCER que estão ocorrendo.
A maioria das pessoas acha esse material muito útil. Meus clientes, após
algumas sessões de TCER, acreditam que rever nossa literatura e o material
audiovisual os ajuda a relembrar certos métodos e aprender outros. Mesmo
que não esteja em terapia, você achará esse material muito proveitoso.
Formulário de autoajuda da TCER
A. Eventos ativos ou Adversidade
- Resuma brevemente a situação que o perturba
(como seria o cenário?);
- Uma A pode ser interna ou externa; real ou
imaginária
- Uma A pode ser um evento do passado,
presente ou futuro.
C. Consequências
- Emoções negativas mais insalubres: ansiedade,
depressão, mágoa, ciúme,
vergonha/constrangimento, raiva, baixa tolerância
a frustração, culpa.
- Comportamentos mais derrotistas
CI – Crenças irracionais
- Deveres dogmáticos (exigências, demandas e
obrigações.
- Penalização (é péssimo, horrível)
- Baixa tolerância à frustração (não suporto)
- Classificar você mesmo/outros (eu sou, ele/ela é
sem valor e ruim)
D – Desafiando as CI
- Onde essa crença me prende? Ela é útil ou
derrotista?
- Onde está a prova de que minhas crenças
irracionais existem? São consistentes como
realidade social?
- Minha crença é logica? Ela surgiu de minhas
preferências?
- É realmente péssimo? (tão ruim quanto poderia
ser)
- Não posso mesmo suportar?
E – Novas filosofias Efetivas
- Preferências não dogmáticas (desejos, vontades,
sonhos)
- Avaliações realistas (é bom, ruim ou infeliz)
- Alta tolerância a frustração (não gosto disso, mas
posso suportá-lo)
- Não classificar (rotular) você mesmo e os outros
(eu e os outros somos seres humanos falíveis)
E – Emoções e comportamentos efetivos
- Novas emoções negativas saudáveis: decepção,
preocupação, aborrecimento, tristeza,
arrependimento, frustração
- Nos comportamentos construtivos:
Ensinando a TCER a amigos e parentes
Tão logo comecei a utilizar a TCER com meus clientes, descobri que vários
deles a ensinavam a amigos, parentes e colegas de trabalho. E não
encontravam dificuldade em passar os princípios, já que eles próprios os
entendiam muito bem. Algumas pessoas que aprenderam a usar a TCER
beneficiaram-se dela na mesma hora. Outras, em princípio, resistiram, mas ao
ver as mudanças em meus clientes, elas logo aderiram ao método.
Quanto mais meus clientes ensinavam a TCER aos outros, mais ajudavam
a si mesmos. Foi isso que o famoso educador John Dewey apontou há quase
um século: nós nos aprimoramos em algo quando o ensinamos a outros.
Mostrando às pessoas que elas escolhem, consciente ou inconscientemente,
perturbarem-se com as Adversidades, você reforça essa ideia em sua cabeça
e em seu coração. Ao indicar as Crenças Irracionais dos outros e explicar
como Desafiá-las, você tende a ver suas próprias Cl mais claramente e
aprimora sua capacidade de Desafiá-las.
Essa é uma das razões pelas quais iniciei grupos terapêuticos da TCER
em 1959. Percebi que, em grupo, meus clientes tinham uma excelente
oportunidade de enxergar as Crenças Irracionais alheias e Desafiá-las. Além
disso, eu poderia supervisionar o trabalho deles com os outros, apontar as Cl
que certa ou erroneamente observavam e mostrar-lhes como melhorar o
Desafio. Aqueles que participaram mais ativamente do grupo, aprenderam a
desvelar e a enfrentar suas CI com mais acuidade. O grupo também era
altamente educacional, porque os membros viam outros colegas lidando com
problemas similares e percebiam que algumas CI condiziam com as deles.
Notavam também que certas estratégias para Desafiar as CI poderiam ser
úteis também para eles. Essa era uma modelagem efetiva.
Se você quiser reunir um grupo de amigos para conhecer a TCER e usá-la,
tudo bem. Caso não consiga reunir um grupo, ensine a TCER a uma pessoa
que queira falar dos próprios problemas. E esta, por sua vez, poderá ajudá-lo
a revisar o uso que você faz das CL
Rosalie ficou muito deprimida depois de romper com o namorado, Ronald,
dois anos atrás. O sofrimento era tão grande que ela até chegara a pensar em
suicídio. Após oito semanas de TCER, ela percebeu que não era a perda do
namorado que a perturbava, mas o fato de se recriminar por ter exigido muito
de Ronald. Rosalie tinha certeza de que nunca se libertaria das oscilações de
humor que vivera na infância e que não conseguiria sustentar uma relação
com ninguém e, portanto, era uma pessoa sem valor e desmerecedora do
amor.
Ao longo das sessões de TCER, corroboradas pelo material extra do
Instituto, Rosalie descobriu que o temperamento impulsivo advinha da
exigência infantil, a qual preconizava que as pessoas não deviam
absolutamente frustrar os desejos mais profundos de Rosalie —
especialmente a necessidade urgente de ser amada — e que eram umas
"cretinas ingratas" por se oporem a ela. Rosalie também viu que a
"necessidade" de constantes amostras de afeição era irreal e ilógica. Tratava-
se de uma "necessidade" somente porque ela a definia como tal.
Rosalie percebeu que possuía uma baixa tolerância à frustração e aos
sentimentos severos de desvalorização. Tais sentimentos não se originavam
no fato de não conquistar a afeição alheia, mas sim das exigências
impossíveis sobre si mesma e sobre os parceiros. Ela trabalhou muito para
conservar as preferências e desistir das exigências dogmáticas para o amor.
Com essa mudança, Rosalie saiu da depressão e voltou a paquerar, algo que
havia abandonado antes de iniciar a terapia.
Quando Rosalie discutiu seu problema com as amigas e mostrou-lhes
como lidava com as dificuldades por intermédio da TCER, ela notou que
quase todas estavam igualmente aflitas. Em adição ao desejo saudável de
amar e ser amada, elas pensavam que tinham de concretizar tal desejo de
qualquer maneira. Ao demonstrar a necessidade absoluta, elas
inevitavelmente afastavam os namorados; e mesmo quando o relacionamento
fluía bem, continuavam ansiosas por causa do medo de não serem
suficientemente amadas.
Rosalie enxergou os próprios erros ao ajudar as amigas e notou que, como
ela, transformavam as preferências saudáveis em necessidades absolutas.
Algumas das amigas, com a ajuda de Rosalie e da literatura da TCER,
melhoraram significativamente. Uma delas parou de atormentar o namorado,
tal qual fazia Rosalie com Ronald, e começou a resgatar o relacionamento que
ela vinha arruinando. Outra amiga aprendeu a conter a ansiedade cada vez
que o namorado preocupava-se com o trabalho e a negligenciava. As amigas
de Rosalie se beneficiavam com os princípios da TCER, enquanto Rosalie
solidificava os métodos ao lhes ensinar. Como freqüentemente acontece em
casos como esse, Rosalie resolveu estudar serviço social para ajudar os
outros.
Modelagem
Dois métodos que são amplamente usados por terapeutas, mas que
possuem limitações e desvantagens, são: aumentar o senso de eficiência e
aumentar a autoestima. Senso de eficiência é um termo popularizado e muito
pesquisado por Albert Bandura e seus alunos. É sinônimo para o que chamei,
em 1962, de "confiança no próprio taco", que significa que a pessoa percebe
que pode realizar tão bem determinada tarefa que passa sentir um alto grau
de confiança em si mesma. Várias experiências mostraram que as pessoas
que possuem senso de eficiência realizam melhor certas atividades do que o
fariam se não se julgassem eficientes. Portanto, é algo que ajuda muito!
No entanto, você pode adquirir um falso senso de eficiência quando
imagina que está realizando bem alguma coisa. Embora a autoconfiança o
ajude a se sair bem, ela também pode levar à desilusão, a uma redução na
eficiência natural e abalar a autoestima. Portanto, a maneira de obter um real
senso de eficiência é praticar, praticar e praticar. Dessa forma você conseguirá
realizar a tarefa e saberá que pode fazê-la bem.
A eficiência leva ao sentimento de autoestima, o que é perigoso e
venenoso para sua saúde mental. Por quê? Porque com a autoestima
exacerbada você classifica o seu "eu", sua essência, de acordo com o seu
desempenho. Você diz a si mesmo: "Já que eu consigo me sair tão bem em
tal coisa — trabalho, esporte, relacionamento etc. — sou uma pessoa boa e
competente!". Que ego inflado!
Infelizmente, a autoestima inclui o oposto: a baixa autoestima. "Como não
me saí bem em tal coisa, sou uma pessoa ruim e incompetente!". Aonde essa
noção o levará? À depressão e à ansiedade. Você fica deprimido quando se
sai mal; a ansiedade toma conta quando você tem medo de pôr tudo a perder.
Como você é um ser humano falível, continuará sempre deprimido e ansioso
se adotar esta filosofia.
A autoestima é um sentimento positivo mas frágil. Ela tende a criar tanta
ansiedade e depressão que sabota qualquer tentativa de eficiência. Portanto,
congratule-se por seus bons atos, por seu bom desempenho, por suas
atitudes eficientes, mas não por "ser o máximo". Em vez disso, adquira a auto-
aceitação incondicional (AAI) que advogo neste livro. É uma solução bem mais
profunda e elegante.
Capítulo 11.
Maneiras de Sentir
Afirmações poderosas
O Role-Playing na TCER
Role-playing ao contrário
Intervenções paradoxais
Muitas coisas, como escalar uma montanha ou criticar seu chefe, são
verdadeiramente perigosas. E racional e sensato ter medo de fazer uma coisa
desse tipo! Ser cauteloso, prudente e atento faz com que você continue vivo e
relativamente feliz. Você pode desistir, amenizar ou modificar suas possíveis
ações. Você olha para os dois lados antes de atravessar a rua e controla suas
palavras ao falar com o chefe, com um policial ou uma autoridade.
Algumas hesitações e recuos são, no entanto, irracionais ou derrotistas.
Por exemplo, recusar-se a ir a entrevistas de emprego, evitar falar num grupo
de amigos ou evitar atravessar grandes avenidas para não ser atropelado são
ações inúteis que limitam sua vida e deixam você ainda mais insatisfeito.
Certo. Mas você ainda alimenta o hábito de esquivar-se e limitar-se por
causa do medo. E agora?
Se você desafiar suas Crenças Irracionais relacionadas a atos "perigosos",
você se obrigará a fazer o que tem medo de fazer. E claro que não é preciso
ter pressa; siga seu ritmo para minimizar o sofrimento. Comece caminhando
pelas ruas, tente sair com alguém, compareça a entrevistas de emprego ou
manifeste-se quando estiver num grupo de amigos. Quanto mais praticar,
melhor será.
Carl, por exemplo, tinha medo de entrevistas de emprego. Ele se sentia
inadequado, demonstrava ansiedade e sempre acabava sendo rejeitado e
condenava-se por isso. Após ler vários livros da TCER, ele fez algumas
entrevistas, mas ainda permanecia muito ansioso. Quando suas economias
começaram a escassear, ele ficou ainda mais ansioso. Então obrigou-se a
fazer vinte entrevistas num mês, embora se achasse desqualificado para
certas funções.
Como previsto, Carl não conseguiu emprego, apesar de ter se saído bem
em duas entrevistas. No entanto, ele começou a realmente acreditar que
nenhuma catástrofe ocorreria se ele fosse rejeitado. Ele adquiriu experiência
nas entrevistas de emprego e aperfeiçoou seu desempenho. Passou a gostar
do processo de entrevistas, pois as via como um desafio cada vez que o
entrevistador o provocava.
Um mês depois, Carl conseguiu um emprego. Embora o salário fosse
inferior ao que ele desejava, a soma o ajudaria financeiramente. Nos meses
seguintes, enquanto trabalhava, ele continuou a fazer entrevistas até obter um
emprego melhor. Carl passou a ajudar os amigos, mostrando-lhes como
podiam superar a ansiedade com a TCER.
Você pode fazer algo semelhante. Comece identificando que ações são
derrotistas. Você tem medo de atividades inofensivas como esportes,
socialização, atravessar pontes, falar em público? Faça uma lista das
vantagens de superar seus medos irracionais. Use a lista para se convencer
de que, a despeito das experiências do passado (como falar em público e ser
motivo de zombarias), o incidente será apenas inconveniente, não horrível
nem terrível. Acredite que você sobreviveu ao fracasso e irá sobreviver caso
ele ocorra novamente. Compreenda que os erros são inofensivos. Perceba
que seu recolhimento o deixará ainda mais amedrontado porque apenas
estimulará comportamentos derrotistas.
Mostre a si mesmo que, embora seja desagradável em princípio, você
pode viver com o desconforto e consegue aumentar sua capacidade de
tolerância à frustração. Reconheça que, se as pessoas o menosprezam
porque você cometeu um erro, isso é problema delas. Você sabe que não
precisa se recriminar por causa de um comportamento inadequado. Sua fobia
faz parte da condição humana, e inúmeras pessoas têm medo de coisas
simples. Aceite a si mesmo com suas limitações e não se condene por tê-las.
Em outras palavras, pegue aquelas Crenças Irracionais que o impedem de
arriscar-se e Desafie-as, questione-as, lute contra elas até conseguir modificá-
las ou desistir delas. Nesse ínterim, arrisque-se a fazer o que o apavora e
observe seus pensamentos e ações durante o processo. Preste atenção em
seu discurso mental e em como você se aborrece ou se perturba sem
necessidade. Converse com os outros e note que eles possuem Crenças
Irracionais semelhantes. Veja como também são tolas e ajude-os a superá-las.
Lute contra suas fobias e isolamentos extremos. Diga a si mesmo que você
é capaz e brigue até que seu horror diminua ou desapareça. Se você morrer
durante o trabalho, como dizemos aos nossos pacientes, prometemos lhe dar
um belíssimo enterro! Você não vai morrer, é claro, mas deixará uma boa
parte de sua vida falecer se não experimentar essas coisas "tão perigosas".
Pare de fazer o que é mais fácil a fim de evitar o que o assusta. Há
pessoas que preferem perder uma hora ou mais no ônibus porque acham o
metrô "perigoso". Ou preferem ficar em casa lendo para evitarem ser
rejeitadas em algum evento social. Verifique quantas vezes você deixou de
fazer alguma coisa porque tinha medo, ou de quantas coisas você se priva
porque tem um medo irracional. Como vou aconselhar mais adiante, faça as
coisas de que você gosta somente depois de ter feito algo que o apavora.
Fique em casa e leia um bom livro depois de ter comparecido a um evento
social e corrido o risco de ser rejeitado.
O mais importante é continuar a arriscar até se sentir à vontade para
desfrutar da atividade assustadora.
O mesmo se aplica a tentar novas experiências: alimentos e outros
"perigos". Se você nunca comeu ostras porque tem receio de comê-las, mas
se forçar-se a comê-las, pode descobrir como são deliciosas e adquirir mais
um prazer em sua vida. Se você tem medo de aprender a dirigir, mas se
obrigar-se a aprender, talvez descubra que, além de útil e prático, é muito
divertido dirigir.
Mais uma vez, faça aquilo que você tem medo de fazer e com certa
frequência. A prática não será uma panaceia total para seus medos irracionais,
mas aposto que irá ajudá-lo e muito.
Intervalos
Criando habilidades
■
■
Se você quiser encontrar algum interesse, tente procurá-lo entre pessoas
ou atividades nas quais você se sinta absorvido de forma positiva. E nobre e
gratificante dedicar-se aos membros da família, a uma causa social ou
assistencial. Mas você tem o direito de se dedicar "egoisticamente" a um
hobby de pouco valor social. Se isso lhe trouxer felicidade, não só você se
tornará um indivíduo melhor como a sua convivência com as pessoas será
melhor.
Comprometa-se com algum projeto desafiador. Realizações rápidas e
simples logo se tornam tediosas. Encontre um objetivo que o absorva por um
longo período, como escrever um livro, fazer uma descoberta científica ou
tornar-se um empresário.
É bom obter sucesso em seu campo de interesse, mas não pense que
você precisa vencer. Livre-se das exigências e achará o envolvimento em si
fascinante.
Você também não precisa descobrir o objeto de interesse
espontaneamente. Procure algo vital, obrigue-se a experimentar alguma área
e persista até se sentir envolvido. Não abandone o projeto antes de uma boa
tentativa. Então, caso não se anime, volte a pesquisar, experimente outro
campo e escolha outro compromisso. Não é necessário engajar-se em
apenas um projeto a vida toda!
Mesmo que seu empenho seja grande, você pode variar seus interesses e
abraçar projetos paralelos. Vários passatempos, círculos de amigos e outros
envolvimentos podem ajudá-lo a dar certo tempero à rotina.
Em meados de 1950, Bob Harper e eu víamos a terapia como um meio de
aumentar a felicidade e também de aliviar o sofrimento, e ainda defendemos a
mesma opinião. A atualização pessoal há anos tem sido endossada por
Abraham Maslow e outros pensadores. É um conceito da psicologia
humanista e existencial.
Isso significa que para ter uma vida boa você tem de encontrar um
interesse a longo prazo? Não! Você é diferente dos outros e o que é bom para
você pode não ser bom para eles. Os indivíduos, aliás, são tão diferentes
entre si que alguns conseguem ter uma vida saudável como catadores de
conchas. Não muitos, mas alguns!
Não é fácil atualizar-se quando se está emocionalmente abalado. Você
tende a se deixar levar pela ansiedade e pelos sentimentos depressivos,
restando pouca energia para perseguir as metas de vida. Por outro lado, suas
metas podem ser destrutivas — como, por exemplo, uma necessidade
absurda de ter sucesso em tudo. Uma "necessidade" como essa poderá
absorvê-lo pelo resto da vida, mas você não será feliz! Na verdade, você pode
alimentar comportamentos derrotistas, pois se sente preso a obsessões,
compulsões e estados de pânico. O distúrbio pode ser muito excitante! E por
isso torna-se difícil abrir mão dele para levar uma vida menos emocionante.
Mas vale a pena? Dificilmente. Os prazeres destrutivos capacitam alguém
a conquistar maiores e melhores alegrias na vida? Nem sempre. São tão
envolventes que não proporcionam tempo nem energia para a pessoa pensar
em ser feliz. As atribulações podem facilmente bloquear a realização das
metas.
As limitações da autoatualização.
Inconformismo e individualidade.
Você pode tentar ser "você mesmo". Você pode perseguir essa meta com
o objetivo de viver num grupo social e preservar o bem-estar social. Aja de
forma a incluir o interesse individual e social. Enquanto busca liberdade e
individualidade no sexo, amor, casamento, profissão e lazer, não acredite que
o seu jeito é o "certo"; estimule aqueles que buscam o próprio caminho.
Interesse social e confiança ética.
Para se atualizar, é melhor dedicar-se a metas e valores e, ao mesmo
tempo, aceitar o fato de que é membro de um sistema social. Seu interesse
pessoal pode ferir o grupo e, talvez, afetar a raça humana. Busque o que
deseja, mas também seja um bom modelo para os outros a fim de beneficiar a
humanidade.
Consciência.
Para se tornar mais fortalecido e produtivo e menos estressado, tenha
consciência dos seus sentimentos e não tenha vergonha de senti-los. Você
conhecerá sentimentos negativos e positivos, mas não agirá segundo eles. Na
maior parte do tempo, a raiva e o medo ficarão dentro de você. E você fará
tudo para reduzi-los. Você tentará mudar a si mesmo e o ambiente. Como
disse Hayakawa, "conheça-se", mas perceba quão pouco sabe a respeito de
si mesmo e tente descobrir o que realmente quer e o que não quer.
Aceitar a ambiguidade e a incerteza.
É preciso aceitar a ambiguidade, a incerteza e o fato de que sua vida e o
mundo possuem uma certa desorganização. Como observei em 1983, os
indivíduos emocionalmente maduros aceitam o fato de que vivemos num
mundo de probabilidades e chances, onde não há necessidades e certezas
absolutas. Viver neste mundo é tolerável e pode ser uma grande aventura.
Tolerância.
Mantenha a mente aberta. Aceite as semelhanças e diferenças. Nem todas
as árvores são verdes, nem toda a educação é boa. As pessoas são
intelectualmente flexíveis, tendem a mudar e se submetem a uma variedade
infinita de ideias e coisas.
Compromisso e alegria intrínsecos.
Se quiser se atualizar, você irá alegrar-se com objetivos (por exemplo,
trabalho) e recreações (por exemplo, esporte) em si, e não como meios de se
obter fins (trabalhar para ganhar dinheiro ou praticar um esporte para adquirir
boa saúde). Você tende a se comprometer com interesses vitais, e não
apenas com prazeres passageiros.
Criatividade e originalidade.
Abraham Maslow, Cari Rogers, Hayakawa, Rollo May e outros escritores
mostram que as pessoas mais conscientes e produtivas são mais criativas,
inovadoras e originais. Por não precisar da aprovação alheia e não ser
conformista, você tende a ser mais direcionado, flexível e encontra soluções
originais para os problemas.
Direcionamento pessoal.
Quando emocionalmente saudável e feliz, você tende a ser verdadeiro
consigo e com os outros. A dependência e o apoio alheio direcionam sua vida.
Não é necessária a opinião do outro para você saber que está fazendo "coisa
certa".
Flexibilidade e perspectiva científica.
A ciência não somente utiliza o empirismo e a lógica para verificar
hipóteses, como também se apoia em ideias flexíveis e nada dogmáticas —
como Ludwig Wittgenstein, Bertrand Russell, Karl Popper, W.W. Bartley e
outros filósofos da ciência. A TCER enfatiza que você se afeta demais com
exigências e obrigações. Mas tem a capacidade de se afetar menos e de ser
mais atualizado quando questiona e desafia as necessidades.
Aceitação incondicional.
Paul Tillich, Carl Rogers e outros pensadores ressaltaram que o valor da
pessoa está na aceitação incondicional. Desde o início, a TCER tem tal ideia
como princípio; eu e outros autores da TCER dissemos que você pode se
livrar de várias aflições e se atualizar, se aprender a avaliar pensamentos,
sentimentos e ações — relacionados às suas metas e propostas —, e
recusar-se a classificar seu ser e sua essência. A TCER também encoraja a
aceitar os outros incondicionalmente e a avaliar apenas pensamentos,
sentimentos e ações alheias em vez de avaliar as pessoas como um todo.
Riscos e experiências.
A autoatualização está diretamente relacionada a um bom grau de riscos e
novas experiências. Tente tarefas, projetos e preferências com o objetivo de
descobrir o que deseja. Continue arriscando se quiser adquirir o máximo de
envolvimento com a vida.
Hedonismo.
A filosofia da busca do prazer, evitando o sofrimento e a frustração, parece
necessária à sobrevivência do humano. Uma certa dose de hedonismo pode
ser interessante, mas tem limitações. Procure grandes prazeres, mas não
exagere para não adquirir uma forte ressaca no dia seguinte.
Todas as metas acima revelam preconceitos porque constituem a visão
dos praticantes da TCER, a qual acredita que você pode reduzir suas aflições
e ser mais feliz. Outros terapeutas concordam em que essas ideias e
pesquisas mostraram ótimos resultados, embora investigações científicas
sejam necessárias.
Pense nas atualizações e considere novas experiências em sua vida.
Esses métodos possuem desvantagens reais, principalmente se você os levar
ao extremo. É fácil exagerar quando se almeja muito alguma coisa,
negligenciando as pessoas e ferindo o grupo social em que se vive. A longo
prazo, você estará prejudicando a si mesmo.
Outro perigo: se você se forçar demais, acabará se dedicando ao que os
outros querem e não ao que você deseja. E assim que acontece quando a
pessoa se engaja em cultos. Se você se deixar levar por uma seita, acabará
seguindo os interesses e as metas do seu guru.
Então, busque sua satisfação pessoal, mas tome cuidado para não se
atualizar em função dos outros. As melhores palavras são: experiências, riscos
e aventura. Tente ser mais saudável, feliz e realizado. Mas avalie suas metas e
esteja preparado para mudar de rumo quando obtiver resultados duvidosos.
Mais uma coisa: a intransigência sobre a autoatualização não ajuda em
nada. Tentar se atualizar de maneira completa ou perfeita pode virar uma
grande sabotagem pessoal! O extremismo, mesmo nessa área, pode trazer
consequências danosas.
*cr-
*cr-
Capítulo 14.
Algumas Conclusões Sobre Tornar-se Mais Feliz
e Aborrecer-se Bem Menos
Vamos fazer um apanhado geral de algumas ideias nas quais você pode
pensar. Salientei três pontos principais neste livro:
Um: Em grande parte é você mesmo quem cria suas aflições
emocionais ao escolher, consciente ou inconscientemente,
pensar de forma irracional, criar sentimentos negativos
doentios e agir de maneira derrotista. Felizmente, você pode
optar por mudar sua maneira de pensar, sentir e agir. Se o
fizer com persistência e esforço, usando várias técnicas da
Terapia do Comportamento Emotivo Racional (TCER), irá se
tornar consideravelmente menos afetável — ou seja, menos
ansioso, menos deprimido, menos agressivo e menos
condoído de si mesmo — e talvez, num curto período de
tempo. Siga os métodos descritos neste livro e continue
praticando-os. Não são mágicos nem milagrosos. Mas
podem ajudar muito!
Dois: Se você utilizar as técnicas da TCER regularmente
sempre que pensar, sentir e agir de modo derrotista,
conseguirá se tornar consideravelmente menos afetável.
Você irá se aborrecer em raras ocasiões — e até conseguirá
evitar dificuldades emocionais quando estiver prestes a
vivenciá-las.
Três: Se estabelecer para si mesmo a meta de tornar-se
menos afetável e usar alguns métodos descritos nos
capítulos 7 e 8, você terá uma chance maior de atingir essa
meta. Proponha-se a isso e procure não trazer para si
mesmo tantos aborrecimentos!
Voltemos ao objetivo principal — demonstrado no capítulo 7 — que
consiste em construir sua força de vontade para mudar seu comportamento.
Seja determinado, obtenha conhecimento para ser determinado e aja de
acordo com a determinação e o conhecimento.
Conforme enfatizei neste livro, você é uma pessoa complexa em termos de
pensamento, sentimento e comportamento; a TCER, portanto, lhe oferece
vários métodos. No entanto, seus pensamentos ou filosofias são um aspecto
crucial de sua mudança pessoal. Mesmo quando se esforça para modificar
sentimentos e comportamentos, você tem de pensar nessa questão, planejar
essa questão e continuar a esquematizá-la para mudar.
Qualquer mudança na personalidade parece possuir elementos cognitivos
fundamentais (psicoterapeutas e psicólogos encontrarão mais detalhes em
meus livros anteriores). Eis um resumo:
Primeiro, é preciso estar ciente da possibilidade de mudança.
Segundo, o melhor é escolher uma meta, decidir perseguir
essa meta, determinar-se a consegui-la e obrigar-se a
implementá-la.
Então, enquanto muda, você observa seu progresso, decide como
continuar (ou não continuar), avalia se está ou não conseguindo, planeja
novas possibilidades, obriga-se a realizar seus planos, observa os resultados,
reflete acerca das metas, revisa as metas, os projetos, o comportamento, e
continua o ciclo.
Também é preciso considerar, escolher, revisar, experimentar e avaliar os
métodos que você emprega para mudar. Entenda que sentimentos e
comportamentos (assim como pensamentos) envolvem numerosos processos
cognitivos e não funcionam por si só. O mecanismo de pensamento sempre
tem a ver com qualquer tipo de mudança pessoal; e ao realizar mudanças
intensas e profundas, a reflexão é essencial.
Para seguir a trilha que o tornará menos afetável, o melhor é realizar
algumas mudanças filosóficas profundas. Às vezes, você se acha (ou pensa
que é) capaz de administrar a vida pelo pensamento. Se você se engajar num
grupo religioso ou político, pode, de repente, sentir e agir de modo muito
diferente. Mas, na verdade, tais mudanças ocorrem porque você decidiu
adotar e seguir as ideias do grupo. Se você escapar por pouco de morrer
afogado ou por causa de uma doença grave, você pode se tornar uma "nova
pessoa". Mas decida realizar essa mudança, pense em adotá-la e obrigue-se
a procurar novos caminhos.
Em vez de tomar uma atitude sem muita certeza, por que não descobre
conscientemente aonde quer ir e como chegar lá? Tornar-se menos afetável é
uma das coisas mais importantes que você pode fazer. Por que não aceita
algumas sugestões deste livro e usa a cabeça para conseguir?