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Construção
Aplicação à barragem de Alqueva
Júri
Maio 2013
Agradecimentos
Gostaria de distinguir todos quantos tornaram possível a realização deste trabalho, tornando-o
tão gratificante para mim.
Em primeiro, agradeço à Doutora Noemí Schclar Leitão, minha orientadora, minha amiga, pela
sua infindável paciência, bem como pelos constantes apoio e incentivo. Por me ter concedido o
privilégio de me orientar neste trabalho, introduzindo-me na temática da térmica de um modo tão
organizado, estruturado, versado e aliciante. Pela sua dedicação, pela sua vontade de ensinar,
pelos seus conselhos, pelas chamadas de atenção e pelas observações que tanto me fizeram
crescer. Reconheço-lhe o mérito deste trabalho, fruto da forma notável como me ensinou e colocou
à minha disposição o seu saber.
Apresento igualmente o meu reconhecimento e gratidão ao Professor Doutor Carlos Tiago
Fernandes, meu orientador, pela sua receptividade e pelo profícuo acompanhamento. Pela
disponibilidade, pela sua colaboração na discussão de ideias, pelas críticas e sugestões e,
fundamentalmente, pelo rigor que pautou a sua orientação.
Gostaria também de agradecer ao meu colega, Eng.º Carlos Serra, pela iniciativa que fez este
trabalho acontecer, e ainda pelos constantes acompanhamento, apoio, ajuda, e tantos
esclarecimentos, contribuindo sobremaneira para o desenvolvimento deste trabalho.
Queria igualmente deixar um comentário de apreço a todos quantos me receberam no LNEC,
acolhendo-me e ajudando-me sempre que necessário, nomeadamente ao Doutor António Tavares
de Castro e ao Técnico especialista principal Manuel Andrade, que tantas vezes me esclareceram
em assuntos relacionados com as suas especialidades.
À Engª Fátima Gouveia um muito obrigada pelo apoio, incentivo, pela ajuda na resolução de
tantos problemas, e pela grande amizade.
Por fim, tenho o prazer de agradecer à EDIA (Empresa de Desenvolvimento e Infra-estruturas
do Alqueva) por ter colocado à minha disposição os registos de Alqueva, sem os quais este trabalho
não teria validação.
i
ii
Dedico este trabalho
ao meu sogro;
aos meus pais, por todos e tantos sacrifícios;
às minhas irmãs, pelo constante incentivo;
ao meu marido, pelo essencial apoio;
e à minha querida filha, Matilde:
és o meu orgulho, motivação e inspiração.
iii
iv
Resumo
Palavras-chave:
Análise Térmica, Barragem de Alqueva, Acções Climáticas, Radiação Solar, Calor de Hidratação,
Fase Construtiva
v
vi
Abstract
With this work it is intended to analyze the thermal action on concrete dams, in particular
during the construction phase.
Numerical simulation of dam’s thermal behavior is very useful when deciding about the
construction process, because only by predicting the influence of each variable on the dam’s
temperature it is possible to plan the construction in order to control it.
Among the factors that allow controlling the dam’s temperature it is possible to highlight: type
of formwork and time it remains in place, lift placement rate (lift height as well as time interval
between the placement of lifts) and, finally, concrete temperature control, either by using special
cements, by prior cooling concrete’s constituent materials, or by artificial cooling after pouring
(postcooling).
In order to achieve this work’s goal, the general laws of heat transfer by radiation, convection
and conduction are analyzed. Climatic actions are evaluated as they affect thermal state of dams, at
the same time as concrete’s constituent materials and construction methods do. Regarding climatic
factors, functions describing air and water temperatures and also solar radiation are estimated.
Climatic actions modeling, material properties and the finite element model’s discretization are
evaluated in exploration phase, by comparing model’s results with in situ observed temperature.
After validating these parameters, the construction phase is studied, which is the main purpose of
this work.
Construction phase of the dam is simulated. For this purpose a program was developed,
allowing to update the model on every construction date and to evaluate existing elements as well as
exposed and formwork faces at each stage.
Hydration heat of Alqueva’s Dam concrete is estimated, and then construction phase
calculation is performed.
The methodology used in the development of this work revealed to be suitable because,
despite all the uncertainties characteristic of this type of problem, variables are confirmed in
exploration phase, allowing achieving results very close to the ones actually observed in construction
phase.
Keywords:
Thermal Analysis, Alqueva’s Dam, Climatic Actions, Solar Radiation, Hydration Heat, Construction
Phase.
vii
viii
Índice
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 1
ix
3.2.4 Difusibilidade térmica ......................................................................................................... 30
3.2.5 Coeficiente de absorção .................................................................................................... 30
3.2.6 Energia de activação da reacção de hidratação ................................................................ 30
x
5.1 Introdução ..................................................................................................................................53
5.7 Validação dos modelos das acções térmicas ambientais em fase de exploração ............67
5.7.1 Campo de temperatura inicial.............................................................................................67
5.7.2 Condições de fronteira do modelo .....................................................................................68
5.7.3 Malha de elementos finitos .................................................................................................69
5.7.4 Resultados obtidos .............................................................................................................76
xi
6 CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS FUTURAS .............................................129
BIBLIOGRAFIA.....................................................................................................133
ANEXO A ..............................................................................................................137
ANEXO B ..............................................................................................................145
ANEXO C ..............................................................................................................147
ANEXO D ..............................................................................................................153
ANEXO E ..............................................................................................................157
ANEXO F...............................................................................................................159
xii
Índice de figuras
Fig. 2.1 - Volume elementar para análise de transmissão de calor por condução. ........................... 13
Fig. 3.2 – Velocidade média horizontal do vento (m/s) a 60m [29]. ................................................... 35
Fig. 3.3 - Influência da atmosfera terrestre na energia solar (extraído de [30]). ................................ 37
Fig. 3.4 - Distribuição mensal da radiação global diária em Alqueva (PVGIS © European
Communities, 2001-2010)................................................................................................................... 37
Fig. 3.5 - Distribuição diária média da radiação global e difusa em Alqueva durante os meses de
Junho (a) e Dezembro (b) (PVGIS © European Communities, 2001-2010). ..................................... 38
Fig. 4.4 – Comparação entre resultados obtidos pelo modelo LJGK1997 e valores indicados por
Silveira. ............................................................................................................................................... 51
Fig. 4.5 – Comparação entre resultados obtidos pelo modelo LJGK1997 (radiação directa) e valores
indicados por Silveira. ......................................................................................................................... 51
Fig. 4.6 – Comparação entre resultados obtidos pelo modelo LJGK1997 (radiação difusa) e valores
indicados por Silveira. ......................................................................................................................... 52
xiii
Fig. 5.5 - Barragem de Alqueva – Corte transversal. .......................................................................... 55
Fig. 5.8 – Representação dos valores médios observados vs função T1(t’). ...................................... 61
Fig. 5.9 – Sinusóides calculadas para a temperatura média diária e amplitude diária. ...................... 62
Fig. 5.11 – Sinusóides calculadas para as temperaturas registadas pelos termómetros. .................. 65
Fig. 5.12 – Variação da temperatura da água da albufeira com a profundidade. (a) temperatura
média anual; (b) amplitude da onda; (c) fase da onda. ....................................................................... 66
Fig. 5.16 – Faces com trocas de calor por convecção e radiação. ..................................................... 69
Fig. 5.17 – Discretização corpo barragem: 2 elementos igualmente distribuídos em espessura. ...... 70
Fig. 5.20 – Amplitude de temperaturas no bloco 8/9, próximo do coroamento (Z=141,0m) – Jusante -
Termómetro T60 (2 elemts. esp.). ....................................................................................................... 71
xiv
Fig. 5.23 – Temperaturas no bloco 8/9, próximas do coroamento (Z=141,0m) – Jusante–
Termómetro T60 (4 elemts. esp.). ...................................................................................................... 73
Fig. 5.25 – Amplitude de temperaturas no bloco 8/9, próximo do coroamento (Z=141,0m) – Jusante -
Termómetro T60 (4 elemts. esp.). ...................................................................................................... 73
Fig. 5.27 – Temperaturas no bloco 8/9, próximas do coroamento (Z=141,0m) – Jusante (5 elemts.
esp.). ................................................................................................................................................... 75
Fig. 5.30 – Temperaturas no bloco 8/9, próximas do coroamento (Z=141,0m), a jusante (T60), meia
espessura (T59) e montante (T58), respectivamente (5 elemts. esp.). ............................................. 77
Fig. 5.31 – Temps. no bloco17/18, próximas do coroamento (z=141,0m), a jusante (T70), meia
espessura (T69) e montante (T68), respectivamente (5 elemts. esp.). ............................................. 78
Fig. 5.32 – Temperaturas no bloco13/14, a meia-altura (z=113,0m), a jusante (T33), meia espessura
(T32) e montante (T31), respectivamente (5 elemts. esp.). ............................................................... 79
Fig. 5.34 – Distribuição de temperaturas na barragem ao longo do ano – Jusante e Montante. ...... 81
xv
Fig. 5.41 – Modelo prismático simples 2 -sem fundação. ................................................................... 88
Fig. 5.43 – Efeito da composição 108 nos extensómetros dos bordos - modelo 1 (b) com fundação.
............................................................................................................................................................. 90
Fig. 5.44 – Efeito do betão crivado envolvente da aparelhagem eléctrica – Modelo2. ...................... 91
Fig. 5.45 – Estudo da temperatura de colocação do betão – Modelo1(a) sem fundação. ................. 91
Fig. 5.46 – Modelo utilizado em fase construtiva – pormenor da discretização adoptada. ................ 93
Fig. 5.49 – Temperaturas em fase definitiva no bloco 8/9, próximas do coroamento (Z=141,0m), a
jusante – T60. ...................................................................................................................................... 94
Fig. 5.50 – Temperaturas em fase definitiva no bloco 17/18, próximas do coroamento (Z=141,0m), a
jusante – T70. ...................................................................................................................................... 95
Fig. 5.51 – Temperaturas em fase definitiva no bloco 13/14, a meia-altura (Z=113,0m), a jusante –
T33....................................................................................................................................................... 95
Fig. 5.53 – Programa criadad.f90 – fluxograma – Bizagi Process Modeler. ..................................... 100
xvi
Fig. 5.60 – Resultados do cálculo térmico -2000/04/25 a 2001/10/12. ............................................ 108
Fig. 5.63 – Evolução do campo de temperaturas num perfil da barragem – 1998/07/23 a 1999/11/13.
.......................................................................................................................................................... 109
Fig. 5.64 – Evolução do campo de temperaturas num perfil da barragem – 2000/02/20 a 2001/07/04.
.......................................................................................................................................................... 110
Fig. 5.65 – Evolução do campo de temperaturas num perfil da barragem – 2001/10/12 a 2003/02/24.
.......................................................................................................................................................... 111
Fig. 5.66 – Resultados – Máxima temperatura calculada – Paraview [47]. ..................................... 111
xvii
Fig. 5.80 – Resultados – Termómetro T69........................................................................................ 125
Fig. 5.83 – Efeito da consideração da fundação nos nós da base da barragem. ............................. 126
Fig. 5.84 – Efeito da consideração da fundação nos extensómetros da base da barragem – G05.
........................................................................................................................................................... 127
Fig. 5.85 – Efeito da consideração da fundação nos extensómetros da base da barragem – G08 .
........................................................................................................................................................... 127
Fig. 5.86 – Efeito da consideração da fundação nos extensómetros da base da barragem – G16 .
........................................................................................................................................................... 127
Fig. A.3 – Diagrama de estruturas para o cálculo da matriz de condutibilidade [4]. ......................... 139
Fig. A.4 – Determinação do vector normal sobre a face do elemento tridimensional....................... 141
Fig. C.1 – Ficheiro de dados para o cálculo térmico da barragem de Alqueva. ............................... 149
Fig.F.1 – Ficheiro de dados correspondente à temp prescrita dos nós da base do maciço. ........... 160
Fig. F.2 – Ficheiro de dados para o cálculo térmico em fase construtiva da barragem de Alqueva.
........................................................................................................................................................... 164
xviii
Índice de quadros
Quadro 3.1 - Variáveis que influenciam o comportamento térmico das barragens de betão. ........... 28
Quadro 5.4 – Valores dos parâmetros Tm, Ta e to observados nos termómetros de montante. ......... 64
Quadro 5.5 – Parâmetros requeridos para o cálculo da temperatura da água da albufeira. ............. 65
Quadro D.1– Identificação e propriedades do betão colocado em cada grupo de extensómetros [43].
.......................................................................................................................................................... 153
Quadro D.2- Composição do betão integral referente a cada grupo de extensómetros [43]. .......... 154
xix
xx
Simbologia
Observação
As abreviaturas e símbolos são introduzidos, na listagem que se segue, pela ordem da sua
conflito de notação, o significado deverá ser inferido de acordo com o contexto em que a mesma se
insere.
Capítulo 2
A Área
Q Quantidade de calor que atravessa a área A
Ta Temperatura ambiente
hc Coeficiente de convecção
a Coeficiente de absorção
Constante de Stefan-Boltzmann
Emissividade
m Massa de hidratos
t Tempo
dm / dt Velocidade da reacção de hidratação (indica a variação da massa do esqueleto
no tempo)
Medida da viscosidade
A Força termodinâmica (afinidade da reacção química)
xxi
R Constante universal dos gases perfeitos
Grau de hidratação
A
~ Afinidade química normalizada
Lm dm / dt Acoplamento termoquímico
F (x) Taxa de calor resultante da reacção de hidratação, devido aos efeitos do calor
latente
Superfície de fronteira
r Resíduo
i Função de peso
Ni Função de forma
xxii
Domínio
Capítulo 3
kf Condutibilidade térmica do ar
f Massa específica do ar
f Viscosidade absoluta do ar
t oa Fase da onda anual (número de dias após o início do ano até à data
correspondente ao mínimo da temperatura anual)
y Profundidade da água
H Profundidade da albufeira
xxiii
, , , d, f Constantes determinadas com base nas temperaturas observadas na albufeira
I0 Constante solar empírica
I Radiação global
k Constantes do material
, ,
0
Capítulo 4
Kc Índice de céu-real
Cs Coeficiente de ajustamento
SIG Sistema de Informação Geográfica
Latitude
Azimute
δ Declinação
N Dia do ano (contado a partir de 1 de Janeiro)
t Ângulo horário
Z Ângulo zenital
Y Ângulo de inclinação da superfície
Ângulo de incidência
xxiv
Bc Radiação directa em condições de céu limpo
s Altitude solar
Albedo do solo
Capítulo 5
T ad Temperatura final
xxv
T ad Taxa de variação da temperatura ao longo do ensaio
Notação
Observa-se que, ao longo deste trabalho, e se nada for indicado em contrário, se utilizam as
unidades no sistema SI.
xxvi
Capítulo 1
1 Introdução
1.1 Justificação e Enquadramento
1
após a presa do betão, sendo originada pela hidratação do cimento, a qual consome a água livre no
interior da massa de betão). Associando aspectos geométricos e restrições externas, poderão
desenvolver-se tensões de tracção relativamente importantes. A resistência à tracção do material,
neste período inicial, é particularmente reduzida (a rigidez e a resistência à tracção aumentam à
medida que avança o processo de hidratação), estabelecendo-se então uma concorrência entre o
desenvolvimento das tensões de tracção e da resistência, podendo resultar em dano estrutural ainda
antes de a estrutura ser carregada. A durabilidade das construções é, por conseguinte,
significativamente afectada, requerendo muito frequentemente dispendiosas reparações. Devem por
isso ser adoptados processos construtivos adequados no que se refere à composição dos betões,
colocação em obra, ritmos de betonagem (limitação do tempo entre betonagens sucessivas, bem
como do volume de cada camada) e separação das juntas de contracção, por forma a minimizar os
efeitos estruturais decorrentes das variações térmicas iniciais, evitando assim a fissuração prematura
em betões jovens. Para que se consiga avaliar a eficiência de determinado construtivo é necessário
modelá-lo convenientemente, bem como a todas as variáveis que interferem na temperatura da
barragem.
Silveira [3] ofereceu um contributo muito importante para o estudo deste problema. Segundo o
autor, a previsão da temperatura de uma barragem é um procedimento complexo face à diversidade
de causas que afectam o seu estado térmico e à dubiedade na sua caracterização: no paramento de
jusante a barragem está exposta ao efeito da radiação solar e em contacto com um fluido, o ar; a
montante, em fase de exploração, tem contacto com um fluido diferente, a água; por outro lado, em
barragens de betão, o seu material constituinte não é inerte do ponto de vista térmico, dado que a
reacção de hidratação do cimento, tal como se mencionou, é fortemente exotérmica e se processa
durante longos períodos; finalmente, a ligação à fundação introduz novos elementos de perturbação
no fluxo do calor no interior da sua massa.
Deste modo, a barragem, sendo um sólido, é essencialmente influenciada pela transmissão de
calor por condução através da sua massa. Por outro lado, estando submetida ao efeito das radiações
térmicas (procedentes do sol e de todos os objectos que reflectem o calor recebido), as leis da
radiação do calor têm também vasta aplicação. Finalmente, e estando em contacto com fluidos, a
transmissão do calor por convecção desempenha também um papel importante. Os diferentes
processos de transmissão do calor não actuam independentemente, mas em estreita colaboração [3].
Referir também que a solicitação térmica, em fase de exploração, condiciona fortemente o
comportamento da barragem pois em determinadas tipologias e circunstancias a incidência dos
efeitos térmicos sobre a estrutura tem ordem de grandeza equiparável à das restantes solicitações
mecânicas ou hidráulicas [4]. Assim, a durabilidade do betão é também influenciada pela acção
térmica, a qual se reveste de importância face às suas características de permanência e repetição.
Esta acção, associada com variações de humidade, e juntamente com as acções químicas e
mecânicas do ar e da água, pode originar a deterioração das barragens. O efeito da variação de
temperatura como elemento desagregador é auxiliado pela existência de água a montante da
barragem, resultando em potencial perda da sua funcionalidade [3].
2
Atendendo ao exposto, percebe-se que uma adequada previsão da temperatura da barragem
ao longo do tempo requer, para começar, o emprego de modelos de cálculo apropriados. A utilização
de modelos numéricos, nomeadamente os baseados no método dos elementos finitos, possibilita a
previsão com suficiente precisão da distribuição de temperatura e dos efeitos estruturais resultantes
das solicitações térmicas, sempre que a discretização adoptada para o modelo possua qualidade
suficiente para analisar todas as acções a que a estrutura se encontra sujeita, sendo essencial a
adopção de um grau de refinamento da malha suficiente para a obtenção de resultados
representativos para todas as acções. Adicionalmente, a malha de elementos finitos deverá também
ser concebida tal que os seus elementos potenciem uma correcta modelação do processo construtivo
(a nível de volume das camadas e de separação das juntas de contracção), tendo ainda que
proporcionar representatividade temporal, simulando fidedignamente, através de incrementos da
malha, o intervalo entre betonagens consecutivas bem como o seu enquadramento no calendário do
ano, aspectos fundamentais na obtenção de resultados coerentes com a realidade.
Um modelo preciso do comportamento do betão jovem é igualmente de elevada relevância na
determinação do campo de temperaturas da barragem. O betão em idade jovem é modelado como
um meio poroso quimicamente reactivo e termicamente activado [2]. Deste modo, a evolução da
reacção de hidratação é formulada dentro do quadro teórico termodinâmico para meios porosos e o
problema a resolver é não linear nas variáveis temperatura e grau de hidratação.
Adicionalmente, e sabendo que o campo de temperaturas gerado pelo calor de hidratação é
alterado pela acção térmica procedente do ambiente no qual está inserida a barragem [4], conclui-se
que a modelação das acções climáticas características da localização da barragem é também de
importância extrema no que se refere à qualidade dos resultados decorrentes desta análise, pelo que
um dos focos deste trabalho será a implementação de um modelo que permita representar a radiação
solar. A modelação das restantes acções climáticas é um tema que se encontra bastante
generalizado.
No estudo de obras existentes, havendo disponibilidade de registos de temperaturas da
barragem, uma abordagem possível para a eliminação das incógnitas que caracterizam este tipo de
problema consiste em realizar um estudo inicial em fase de exploração (no qual se validam as acções
climáticas modeladas, bem como as propriedades admitidas para os materiais, pela comparação das
temperaturas calculadas com as registadas), permitindo que em fase construtiva haja menos
variáveis e se consigam obter resultados representativos da realidade. Este tipo de estudo afere o
modelo de cálculo, constituindo por isso uma importante ferramenta na análise de potenciais futuros
comportamentos anómalos da barragem. Permite ainda extrapolar conclusões para outras barragens
ainda em nível de projecto. Um modelo de cálculo que acompanhe a construção de uma barragem é
de grande utilidade na medida em que possibilita estimar, dinamicamente e em tempo real, o efeito
da alteração de determinado parâmetro (relacionado por exemplo com o ritmo de betonagem) no
comportamento térmico previsível da barragem.
3
1.2 Objectivos da dissertação
4
e de céu não-limpo, e expõem-se as vantagens resultantes da sua utilização na modelação das
acções climáticas que afectam as barragens.
No capítulo 5 é realizado o cálculo da subida de temperatura durante a construção da barragem
de Alqueva. Inicialmente apresentam-se as características gerais da barragem de Alqueva e são
quantificadas as propriedades térmicas dos materiais utilizadas no modelo. Entretanto são estimadas
as acções térmicas ambientais características da localização da barragem, as quais são validadas em
fase de exploração, pela comparação dos valores calculados com os registos existentes. Nesse
sentido é realizado um cálculo em fase de exploração utilizando o programa PAT_2. São definidos o
campo de temperatura inicial e as condições de fronteira do modelo, e é realizado um estudo com a
finalidade de definir o grau de refinamento da malha que permita a obtenção de resultados com a
precisão desejada para todas as acções que afectam a barragem. Os resultados são validados,
atestando a fiabilidade das propriedades adoptadas no modelo de cálculo, pelo que se prossegue
para a modelação da fase construtiva, utilizando o programa PATQ_2. É apresentado o modelo
termoquímico do betão durante as primeiras idades e é determinada a afinidade química do cimento
utilizado na composição do betão empregue na barragem de Alqueva. É realizado um estudo de
sensibilidade em modelos simples simulando diversas alternativas (influência da fundação, influência
da temperatura de colocação, etc.) por forma a permitir interpretar de forma mais versada os
resultados que se obtiverem. Posteriormente, é apresentada a forma como se simulou o processo
construtivo, com uma breve descrição sobre os programas que se realizaram para esse efeito.
Finalmente são exibidos os resultados obtidos e é realizada a respectiva interpretação.
Por último, as conclusões são apresentadas no capítulo 6, salientando-se as impressões mais
relevantes, e fazendo-se uma breve alusão às contribuições inovadoras e desenvolvimentos futuros
potenciados por este trabalho.
5
6
Capítulo 2
A transmissão de calor pode ser definida como a propagação de energia de uma região para
outra de um meio (sólido, líquido ou gasoso), resultando da diferença de temperaturas entre estas.
Os processos pelos quais ocorre transferência de calor (transferência de energia sob a forma de
calor) são tradicionalmente divididos em: condução, convecção e radiação.
As trocas de calor verificadas no interior de um corpo ou com um meio fluido envolvente podem
também decorrer do calor gerado (ou dissipado) no interior do corpo.
2.2.1 Condução
A condução é o modo de transferência de calor que se processa em meios estacionários
(sólidos, líquidos ou gasosos) em virtude de um gradiente de temperatura. Salienta-se que não há
transporte das partículas, há somente transmissão de energia térmica.
A lei fundamental que rege a transmissão de calor por condução foi proposta por Fourier em
1822. Segundo esta lei, a quantidade de calor que passa através de uma área A , normal à direcção
do fluxo calorífico, na unidade de tempo, é proporcional ao produto da área pelo gradiente térmico,
T
Q kA (2.1a)
n
ou
7
Q T
q k
A n (2.1b)
2
onde Q é a quantidade de calor [W] que atravessa a área A [m ] segundo a sua normal exterior n,
e q representa o fluxo de calor na direcção n [W/m2]. A constante de proporcionalidade k é a
condutibilidade térmica do material [W/(mK)]. As unidades indicadas correspondem ao sistema S.I.,
podendo obviamente utilizar-se outro sistema de unidades. O sinal negativo nas equações (2.1)
respeita a convenção de se considerarem positivos os fluxos correspondentes a gradientes térmicos
negativos (o calor é transmitido no sentido decrescente da temperatura).
2.2.2 Convecção
A transmissão de calor por convecção está associada a trocas de calor no interior de um fluido,
ou entre este e uma superfície em contacto, e ocorre como resultado do movimento das partículas do
fluido.
Se o movimento das partículas do fluido decorrer de diferenças de pressão devidas a
diferenças de temperatura, a convecção designa-se por natural. Se actuam causas exteriores, como
seja o vento, a convecção diz-se forçada. No caso do estudo de problemas térmicos relativos às
barragens de betão observa-se convecção forçada sempre que correntes de ar devidas ao vento
actuam sobre os seus paramentos. Também se verifica convecção forçada sempre que se retira o
calor de hidratação do cimento, por circulação de água fria em tubos embebidos no betão, e no
processo de arrefecimento do betão, quando correntes de ar frio passam sobre as faces da barragem
[3]. O regime de convecção pode ainda ser laminar, se o movimento do fluido for regular, ou
turbulento, no caso contrário.
A transmissão de calor por convecção é regida pela Lei de Newton, a qual exprime a
proporcionalidade entre a quantidade de calor trocada por convecção através de uma superfície, por
unidade de área e de tempo, e a diferença de temperatura entre essa superfície e o fluido envolvente
expressa por ( Tw - Ta ). É definido um coeficiente de convecção hc , expresso em [W/(m2 K)], tal que:
q hc (Tw Ta ) (2.2)
2.2.3 Radiação
Chama-se radiação térmica ao processo de emissão, por um corpo, de energia radiante, cuja
quantidade e qualidade dependem da temperatura do corpo.
A radiação ocorre quando, na ausência de um meio interveniente, a energia é emitida na forma
de ondas electromagnéticas, entre duas superfícies a diferentes temperaturas. As ondas, ao
8
atingirem um corpo, poderão ser absorvidas, reflectidas, ou eventualmente refractadas. A
percentagem de radiação que é absorvida designa-se por coeficiente de absorção, a.
O fluxo máximo de calor que pode ser emitido por radiação é dado pela Lei de Stefan-
Boltzmann, definida por:
q Tw4 (2.3)
em que F é o factor que toma em conta a natureza das duas superfícies radiantes; FG é o factor
que toma em conta a orientação geométrica das duas superfícies radiantes e A1 é a área da
superfície 1.
Quando a superfície à temperatura T1 está completamente envolvida dentro da superfície à
temperatura T2 , a equação anterior toma a forma:
q hr (T1 T2 ) (2.7)
q h (T1 T2 ) (2.9)
9
em que o parâmetro h hc hr se designa por coeficiente de transmissão térmica total.
hr não é avaliado através de (2.8). Desta forma, esta condição de fronteira passa a ser linear em T .
10
propriedades, ao nível micro da matéria, não se alteram. Assim, o betão pode ser entendido como um
sistema composto pela sobreposição de um esqueleto sólido e de uma solução intersticial continua
dentro de um sistema poroso associado [7].
Tal como se mencionou, a teoria dos meios porosos formulada por Ulm e Coussy [2] considera
que o betão é um meio poroso, em que os poros estão saturados por duas fases fluidas: a fase
reactiva e a fase produto. Uma reacção química pode ocorrer entre as fases, produzindo-se uma
mudança de fase de água livre para água combinada [5].
Assim, o betão pode ser descrito através de grãos de cimento anidro envolvidos por camadas
de hidratos. Estes grãos são conectados entre si formando o esqueleto, e o espaço entre eles é
preenchido com água, a qual penetra nas camadas de hidrato para se combinar com a matéria no
centro do grão, formando novos hidratos [7].
A difusão da água através das camadas de hidratos controla a cinética da hidratação. Então, a
taxa de hidratação poderá ser interpretada como uma medida da taxa de difusão [2].
O processo de microdifusão da água pode-se modelar com uma lei linear de percolação:
dm 1
A (2.10)
dt
dm 1 E
A(m) exp a (2.11)
dt (m) RT
onde E a é a energia de activação da reacção [J/mol], R é a constante universal dos gases perfeitos
(8,314 J/(mol K)) e T é a temperatura [K].
A evolução da massa do esqueleto proposta segue, por conseguinte, a equação de Arrhenius.
Resulta que esta taxa é controlada pelo desequilíbrio termodinâmico (afinidade da reacção
química, A ) entre a água livre e a água combinada na fase sólida, e amplificada pela termoactivação
quando a água livre se combina com o cimento anidro para formar hidratos [2].
A afinidade química pode-se considerar como dependente apenas da massa m de hidratos
[7].
11
Em termos práticos é conveniente reescrever o modelo em termos de uma variável
normalizada, o grau de hidratação, , [8] definido como a relação entre a massa de hidratos já
formada e a massa total de hidratos no final (teórico) da reacção de hidratação. O grau de hidratação
constitui um parâmetro objectivo para a medida do avanço da reacção de hidratação [7]:
m(t )
(2.12)
m
d ~ Ea
A( ) exp (2.13)
dt RT
onde [7]:
~ A(m( ))
A( ) (2.14)
m ( )
12
hidratação pode pois ser determinado através do quociente entre o calor gerado até um instante t ,
Q(t ) , e o calor gerado a tempo infinito, Q() , i.e. [9]:
Q(t )
(2.15)
Q ( )
Q() corresponde ao calor que seria gerado caso se atingisse a hidratação completa de todo o
cimento. Sabe-se no entanto que a hidratação completa só muito raramente é atingida, pelo que é
assumido um valor potencial para esta grandeza, o calor gerado potencial Q pot . Este valor pode ser
para relações de w / c 0,36 não se consegue atingir a hidratação completa -- na realidade, mesmo
que exista quantidade de água suficiente para hidratar todas as partículas de cimento, a distribuição
da água face às partículas do cimento e o desenvolvimento da micro-estrutura do material geralmente
não permitem a hidratação completa [9]. De acordo com Silveira [3], a partir de valores w / c 0,45 o
Fig. 2.1 - Volume elementar para análise de transmissão de calor por condução.
13
Aplicando o desenvolvimento em série de Taylor e desprezando os termos de ordem superior
ao linear, resulta:
Q x
Q x dx Q x x
x
Q y
Q y dy Q y y (2.16)
y
Q z
Q z dz Q z z
z
A diferença entre a quantidade de calor que entra e a que sai é a quantidade de calor
armazenada nesse elemento de volume, dada por:
Q Q y Q
Q x x y z z (2.17)
x y z
T
Q x yzq x k x yz
x
T
Q y xzq y k y xz (2.18)
y
T
Q z xyq z k z xy
z
T T T
Q k x k y k z xyz (2.19)
x x y y z z
T T T
Q k x y k y y z k z z xyz Gxyz (2.20)
x x
14
Igualando as equações (2.20) e (2.21), obtém-se:
T T T T
kx k y k z G c (2.22)
x x y y z z t
escrita na forma:
T T T T
k k k G c (2.23)
x x y y z z t
2T 2T 2T G 1 T
(2.24a)
x 2 y 2 z 2 k t
ou
G 1 T
2T (2.24b)
k t
k
em que é a difusibilidade térmica do material.
c
Se não existir geração interna de calor tem-se a equação de Fourier:
1 T
2T (2.25)
t
T
Em regime permanente 0 a equação (2.24) decorre na conhecida equação de
t
Poisson:
G
2T 0 (2.26)
k
2T 0 (2.27)
15
2.4.2 Evolução dos campos de temperatura e hidratação
T T T dm T
kx k y k z G Lm c (2.28)
x x y y z z dt t
dm
onde foi introduzido o termo Lm à equação standard de evolução dos campos térmicos. Tendo
dt
modelo seria materializando esta acção no termo G desta equação. Este estudo reserva-se no
entanto para futuros desenvolvimentos.
calor pela reacção de hidratação (exotermia). Lm é o calor latente de hidratação, positivo devido à
dm d
m m (2.29)
dt dt
Fazendo
L m Lm (2.30)
T T T T
kx k y k z G L c (2.31)
x x y y z z t
16
T T T
Q0 G
x x y y z z
kx ky kz (2.32)
bem como a variável F (x) , a qual exibe a taxa de calor resultante da reacção de hidratação, devido
aos efeitos do calor latente:
F ( x) L (2.33)
C .c (2.34)
a expressão (2.31) degenera na preconizada por Ulm e Coussy para representar o campo de
temperaturas [2]:
C T Q 0 F ( x) (2.35)
A fronteira de Neumann (ou fronteira estática) define uma fronteira sujeita a um fluxo de calor
prescrito (na mecânica, corresponderia a uma força imposta). Fisicamente, representa a condução
com o fluxo de calor imposto; a fronteira de Dirichlet (ou fronteira cinemática) define uma fronteira
sujeita a uma temperatura imposta (na mecânica, corresponderia a um deslocamento imposto) [10].
Resumindo:
17
T
Condições de Neumann q k C em q (2.37)
n
complementares e a intersecção entre ambas é o conjunto vazio uma vez que é fisicamente
impossível impor simultaneamente num ponto uma força e o deslocamento correspondentes, ou, no
caso em estudo, um fluxo e a temperatura correspondente, existindo apenas uma condição de
fronteira por ponto) e n é o vector normal exterior à superfície do sólido.
As condições de fronteira adiabáticas são obtidas fazendo C = 0. As condições de
T T T
k x l ky m kz n C (2.39)
x y z
Resultando, finalmente, a condição de fronteira para as faces com fluxo de calor prescrito e
com trocas de calor por convecção e radiação:
T T T
kx l ky m kz n q h(T Ta ) 0 em q (2.40)
x y z
Dado que o tempo aparece associado a derivadas de primeira ordem, para resolver (2.22)
basta conhecer a temperatura de todo o domínio num determinado instante de tempo to,
isto é:
T To em para t = to (2.41)
18
calor por convecção e radiação e faces expostas à radiação solar) e q corresponde ao fluxo da
radiação solar.
m
L(T ) 0 em ; T T N i Ti L(T ) 0 r (2.42)
i 1
pontualmente se comete) por uma função de peso i de valor nulo na fronteira T , obrigando a que
a média ponderada do produto das duas funções, obtida por integração estendida a todo o domínio
, seja nula, isto é [14]:
r i d 0 L(T )
i d 0 (2.43)
A função de peso que caracteriza o método de Galerkin coincide com a função de forma Ni
[15]:
19
i N i ) Ni
L (T d 0 (2.44)
m
T ( x, y, z, t ) T ( x, y, z, t ) N j ( x, y, z ) T j (t ) (2.45)
j 1
T T T T
N i x k x x y k y y z k z z G c t d 0 (2.46)
Integrando por partes os três primeiros termos, a equação (2.46) transforma-se em:
N i T N i T N i T T
k x ky kz N i G N i c d
x x y y z z t
(2.47)
T T T
Ni kx l dq N i k y m dq N i k z n dq 0
q x q y q z
N i T N i T N i T T
k x ky kz NiG Ni c d
x x y y z z t (2.48)
N i q dq N i h(T Ta ) dq 0
q q
20
N i N j N i N j N i N j
k x T j (t ) k y T j (t ) k z T j (t ) d
x x y y z z
(2.49)
T j (t )
N i G N i cN j d q N i q dq q N i h(T Ta ) dq 0
t
Observando a expressão (2.49), pode concluir-se que a equação que governa o fenómeno em
estudo, em fase construtiva, é expressa por [5]:
N i N j N i N j N i N j
k x T j (t ) k y T j (t ) k z T j (t ) d
x x y y z z
(2.50)
T j (t )
N i L N i G N i cN j d q N i q dq q N i h(T Ta ) dq 0
t
qual pode ser resolvido aplicando um método iterativo. O acoplamento termoquímico vem assim dado
pela solução da equação de calor transiente (2.50) em simultâneo com a equação diferencial que
representa a evolução da reacção de hidratação (2.13).
A equação (2.50) pode escrever-se numa forma mais conveniente como:
ou
C Tt K T f
ij
j
ij j i (2.52)
onde
C
ij
c N i N j d (2.53)
N i N j N i N j N i N j
K
ij
kx
ky
kz
d q hN i N j dq (2.54)
x x y y z z
f i N i ( L G )d q
N i q dq q
N i h Ta dq (2.55)
21
equação de equilíbrio. No que se refere às condições de fronteira estáticas (secção 2.5), o efeito do
fluxo de calor, q , que não afecta directamente o grau de liberdade, é imposto ao vector do lado
coeficiente de transmissão térmica total, h , figura na matriz de rigidez (que agrupa as contribuições
da condutibilidade no domínio e da convecção na fronteira de Neumann), K , e no vector de carga.
com:
N 1 N 2 N m
x
x x
N m
B N1 N 2
(2.60)
y y y
N 1 N 2 N m
z z z
k x 0 0
D 0 ky 0 (2.61)
0 0 k z
22
n 1 T n t 2 2T n
T T t n
(2.62)
t 2 t 2
T
variação da temperatura
n+1
T
T n
T
t
tn t n+1
t
T n T n1 T n
O( t ) (2.63)
t t
T n1 T n
C K T f
n n
(2.65)
t
ou
C T Tn
n 1
t
n 1
K T (1 ) T f (1 )f
n n 1 n
(2.66)
A equação (2.67) faculta os valores da temperatura nos nós para o instante de tempo n+1.
Estas temperaturas são calculadas usando os valores do intervalo n . O parâmetro é um factor de
23
estabilidade variando entre 0 e 1. O método toma designações particulares para alguns valores de ,
nomeadamente:
= 0 - método explícito
= 0,5 - método semi-implícito ou de Crank-Nicolson
= 1 - método implícito
n 1 n
(2.69)
t
L2 c
quadrilátero de 4 nós, t , para evidenciar que esta está em contraste com a exigência de
2k
precisão.
Observando (2.13), entende-se a dependência da temperatura na determinação da taxa do
grau de hidratação. Por este motivo, a resolução de (2.68) obriga a dois níveis de iteração, patentes
no programa PATQ_2 [5]:
A nível estrutural, para cada instante de tempo, devido à dependência não linear de f
n 1
(2.58);
A nível local, em todos os pontos de integração de cada elemento, com o objectivo de
resolver a equação não linear que determina o grau de hidratação, devido à dependência da
24
A metodologia implementada em [5] para resolver o comportamento não linear, a nível estrutural,
da equação de equilíbrio global é designada por método de substituição sucessiva. Segundo este
método, um dos vectores T da equação é tomado da iteração anterior e o outro é calculado nessa
iteração. A iteração é interrompida quando é alcançado o critério de convergência.
A nível local, a equação a resolver decorre da substituição de (2.69) em (2.13), resultando para
~ Ea
n1 t n1 A( n1 , T n 1 ) exp n 1
0 (2.71)
RT
Segundo Hellmich et al. [17] a resolução da equação não linear (2.71) pelo método de Newton
não é incondicionalmente estável, uma vez que esta expressão não é, necessariamente, uma função
convexa. Em [5], para evitar este inconveniente, a autora utiliza o método iterativo de regula falsi, o
qual é empregue em cada ponto de integração, com o objectivo de determinar o grau de hidratação
25
26
Capítulo 3
27
Quadro 3.1 - Variáveis que influenciam o comportamento térmico das barragens de betão.
Condutividade térmica
CARACTERIZAÇÃO TÉRMICA Calor específico
DO BETÃO Massa específica
(Tipo de cimento e respectiva dosagem; Coeficiente de absorção
Composição do betão) Coeficiente de emissão
Calor de hidratação
Latitude
Declinação solar
CARACTERIZAÇÃO
Azimute do paramento
GEOMÉTRICA E DO LOCAL
Espessura
Inclinação do paramento
Temperatura do ar
Temperatura da água
CARACTERIZAÇÃO TÉRMICA
Coeficiente de convecção (velocidade do vento)
DO AMBIENTE
Radiação solar
Coeficiente de reflexão do entorno
28
3 3
Para o maciço de fundação, em [22] indicam-se valores de 26 kN/m para o granito, 27,1 kN/m
3
para o basalto, 25,7 kN/m para o xisto argiloso, entre outros, a que correspondem, respectivamente,
3
massas específicas de 2651,3, 2763,4 e 2620,7 kg/m .
29
3.2.4 Difusibilidade térmica
A difusibilidade térmica, , é uma medida da taxa a que as variações de temperatura podem
ocorrer num material e é definida como a condutibilidade térmica dividida pelo produto do calor
específico com a massa específica.
Silveira [3] realizou ensaios para a determinação da difusibilidade térmica de vários espécimes
de betão, em cilindros moldados com betão crivado e cubos moldados com betão integral de duas
barragens portuguesas (Bouçã e Picote). Os resultados obtidos merecem alguma reserva pelo facto
de a quantidade de espécimes observado ter sido muito pequena. Apresenta-se no entanto, como
referência, a ordem de grandeza determinada para esta propriedade, variando entre 0,003 e 0,004
2
m /h. Ribeiro [24] apresenta valores de difusibilidade térmica, determinados para várias barragens de
2
betão convencional, entre 0,0025 e 0,006 m /h
O manual ETL 1110-2-542 [23] indica para o betão em massa e para a rocha valores típicos
2
compreendidos entre 0,003 e 0,006 m /h, observando-se que correspondem à mesma ordem de
grandeza dos supracitados.
Para estimar as perdas de calor de uma barragem pelos seus paramentos em contacto com o
ar, devidas aos efeitos de radiação e de convecção, torna-se necessário determinar o coeficiente da
fórmula de Newton para a convecção, hc , e a perda de calor por radiação, hr , pela fórmula de
Boltzmann.
30
3.3.1 Convecção térmica
Quando há uma corrente de um fluido em contacto com uma superfície sólida verifica-se a
existência de um filme do fluido aderente à superfície que está em repouso e que funciona, de certo
modo, como isolante térmico (camada de passagem). Trata-se de uma verdadeira barreira à
passagem do calor que pode ser varrida quando a velocidade do fluido aumenta. Aceita-se, em geral,
que o filme do fluido, cuja espessura depende da viscosidade, da densidade e da velocidade do
fluido, está completamente em repouso [3].
O coeficiente de convecção, hc , coeficiente de superfície ou condutância unitária do filme, é a
quantidade de calor transmitida por unidade de área, na unidade de tempo, por cada grau de
diferença entre as temperaturas das duas faces da camada de passagem. Percebe-se assim que
quanto menor for o valor do coeficiente de convecção mais isolada estará a superfície sólida,
indicando uma camada de passagem espessa, associada a baixas velocidades do vento.
Em fase de construção este coeficiente, entre outros factores, afecta a velocidade com que a
barragem perde o calor de hidratação. Em fase de exploração interfere, por exemplo, na facilidade
com que a barragem dissipa, durante a noite, o calor correspondente à radiação solar absorvida.
Silveira [3] indica uma expressão para o coeficiente de convecção, válida para convecção em
regime turbulento no caso de existir uma corrente de um gás, por exemplo o ar, paralela a uma
superfície plana [3]:
0 , 75
kf L V f
hc 0,055 (3.1)
L f
em que
k f , f e f são, respectivamente, a condutibilidade térmica, a massa específica e a viscosidade
3
absoluta do ar, a que correspondem os valores de, respectivamente, 0,026 W/(m K), 1,2 kg/m e
-5
1,8x10 kg/(m s). V é a velocidade média do vento e L representa a dimensão da superfície plana
no sentido da corrente, para a qual Silveira adopta o valor de 0,60 m.
A literatura apresenta numerosas correlações para determinar o coeficiente de convecção em
função da velocidade do vento [27]. Para o cálculo de pontes de betão, Mendes [14] utiliza uma
expressão simplificada do coeficiente de convecção, válida para convecção forçada:
31
3.3.2 Radiação
radiação por cada grau de diferença de temperatura entre a superfície do paramento e o ar.
Na subsecção 2.2.3 indica-se a expressão que permite determinar este coeficiente (expressão
(2.8)). No entanto, Silveira [3] demonstrou que, para os valores de T que se observam na realidade,
-6
o valor do coeficiente de radiação hr é praticamente constante, e tem um valor médio de 125x10
-2
cal cm ºC s
-1 -1 5,23 W/(m2K).
3.4.1 Temperatura do ar
2
T (t ' ) Tm Taa cos
(t 't oa ) Tad (t ' ) cos 2 (t 't od ) (3.3)
365
em que:
t' = tempo, em dias, decorrido desde o início do ano;
t oa = fase da onda anual (número de dias após o início do ano até à data
32
t od = fase da onda diária (fracção do dia, relativamente às zero horas).
O cálculo dos parâmetros envolvido nestas funções é realizado, habitualmente, com base nas
temperaturas médias diárias do ar observadas no local da barragem, utilizando o método dos
mínimos quadrados, como se descreverá para a barragem de Alqueva na subsecção 5.6.1.
2
T ( y, t ' ) Tm ( y ) Ta ( y) cos t 't o ( y) (3.4)
365
em que:
t' = tempo, em dias, decorrido desde o início do ano;
y = profundidade da água;
33
2
T ( y, t ) Tm ( y) Ta ( y) cos t to ( y)
365
Ta ( y) Tas e y (3.6)
t o ( y) t oar ( y) (3.7)
g e H (3.9)
( y) d f ey (3.10)
em que:
Tms = temperatura média anual na superfície da albufeira;
H = profundidade da albufeira;
s
Para determinar os valores dos parâmetros utilizados nas expressões anteriores, isto é, Tm ,
Tas , Tmb , , , , d e f , Zhu apresenta expressões empíricas [28]. No entanto, nos casos em que
existam termómetros instalados no paramento de montante da barragem, estes parâmetros podem
ser determinados a partir das observações. Este procedimento encontra-se apresentado na
subsecção 5.6.2.
34
3.4.3 Velocidade do vento
35
3.4.4 Radiação solar
O conhecimento da radiação solar, bem como das condições de exposição das superfícies de
uma barragem, são fundamentais para determinar a temperatura dessas superfícies, ou, mais
concretamente, a elevação da temperatura das mesmas em relação à temperatura do ar [3].
A irradiância extraterrestre no topo da atmosfera pode ser calculada utilizando fórmulas
2
astronómicas e a constante solar empírica I 0 =1367 W/m (Allen et al. 1998). A radiação solar, ao
atravessar a atmosfera, sofre vários fenómenos de absorção, reflexão e absorção/re-emissão. Após
atravessar a atmosfera, num dia de céu relativamente limpo, a radiação solar atinge a superfície
terrestre com uma potência inferior em cerca de 30% da registada no topo da mesma, ou seja,
2
aproximadamente, de 1000 W/m [30].
Ao nível do terreno, a radiação solar de curto comprimento de onda é dada pela soma de três
componentes: radiação directa ou de feixe, radiação difusa proveniente da atmosfera e radiação
reflectida pelo solo. A radiação directa corresponde à parcela de radiação que não sofreu qualquer
desvio, sendo função da posição do Sol e da orientação da superfície; a radiação difusa resulta da
fracção de radiação que, tendo sido desviada do feixe directo, atinge a superfície, proveniente de
todas as direcções, sendo função do ângulo de aceitação e da orientação da superfície; a radiação
reflectida corresponde à porção de radiação reflectida pelo solo e objectos circundantes, sendo
função do ângulo de aceitação, da orientação da superfície colectora, e do albedo das superfícies
circundantes [31].
A soma destas componentes recebe o nome de radiação global, I , e corresponde ao fluxo
total incidente na unidade de área de uma superfície colocada na Terra (Fig. 3.3).
O valor da radiação solar global varia, ao longo do dia e ao longo do ano, devido ao facto de os
ângulos segundo os quais os raios do Sol incidem sobre a superfície considerada variarem com a
posição da Terra em relação ao Sol. Por exemplo, em relação a uma superfície horizontal, durante o
nascer e o pôr-do-sol, o seu valor é muito reduzido, não só devido ao facto de ser maior a espessura
da camada atmosférica atravessada, mas, principalmente, porque o ângulo de incidência é elevado.
Na Fig. 3.4. ilustra-se a variação mensal da radiação solar global para Alqueva calculada num plano
horizontal. Nas Fig. 3.5 (a) e (b) representam-se as variações diárias médias da radiação solar global
para o céu limpo e céu em condições normais e a radiação difusa para Alqueva, calculadas num
plano horizontal, para os meses de Junho e Dezembro. A acção da radiação solar foi introduzida no
presente trabalho implementando o modelo LJGK1997 [32] no programa PAT_2, tal como se
descreverá no capítulo 4.
36
Fig. 3.3 - Influência da atmosfera terrestre na energia solar (extraído de [30]).
Fig. 3.4 - Distribuição mensal da radiação global diária em Alqueva (PVGIS © European Communities, 2001-2010).
37
(a) (b)
Fig. 3.5 - Distribuição diária média da radiação global e difusa em Alqueva durante os meses de Junho (a) e Dezembro (b)
(PVGIS © European Communities, 2001-2010).
k A 0
exp
~
A( , T ) (3.11)
0 k
em que ,
0
e k são constantes do material, A 0 é a afinidade inicial da reacção e é o grau de
hidratação a tempo infinito.
Sabe-se que a relação adequada de água/cimento que garanta a hidratação completa e o
contacto perfeito entre a água e os grãos de cimento são condições que não se conseguem
assegurar durante a cura do betão. Por este motivo a hidratação completa do betão não é atingida, e
o grau de hidratação a tempo infinito é inferior à unidade.
Para estimar Cervera et al. propõem a seguinte expressão, segundo a qual o grau de
hidratação a tempo infinito está relacionado com a relação w / c [8]:
1,031 w / c
(3.12)
0,194 w / c
38
k A 0 Ea
exp exp (3.13)
0 k
RT
Pode-se observar nesta expressão que a activação térmica expressa pelo factor de Arrhenius,
i.e., exp Ea / RT , é de importância primordial no início da reacção. No entanto, à medida que a
reacção avança, produz-se uma atenuação devido à presença de exp / , bem como do
factor , o qual cancela a evolução do grau de hidratação quando este atinge o seu valor final
[33].
Nas barragens, as altas temperaturas do betão em massa podem ser controladas pelo recurso
ao arrefecimento artificial posteriormente à betonagem.
A primeira barragem cujo betão foi arrefecido artificialmente após a sua colocação foi a de
Hoover, nos EUA. O sistema utilizado foi o da circulação de água fria em serpentinas horizontais
embebidas no betão [3].
Este método tem as vantagens de interferir pouco com as operações de betonagem e de
permitir um controlo de temperatura total rápido e uniforme, independentemente da estação do ano
em que se constrói a barragem. O principal inconveniente do arrefecimento é o seu elevado custo.
Outra limitação deste sistema é a sua ineficácia na diminuição da temperatura máxima do betão: este
sistema diminui, de facto, o tempo de arrefecimento da barragem. No entanto, não tem efeito sensível
na diminuição da temperatura máxima do betão, dado que a taxa a que se produz o calor é muito
superior à taxa com que este pode ser retirado pela circulação da água dos tubos [3].
Face ao exposto, o objectivo principal da refrigeração artificial está normalmente associado à
injecção das juntas entre blocos. Ao circular nas serpentinas a água fria contrai os blocos, abrindo as
juntas de contracção entre os mesmos. As juntas são então injectadas, criando-se uma barragem
39
monolítica. Este processo tem também outros benefícios, uma vez que o facto de a junta ser maior na
altura da injecção permite que se instale uma pré-compressão no arco (quando a temperatura dos
blocos subir após a refrigeração) favorável ao seu comportamento, especialmente atractiva no caso
de arcos abatidos em que a forma funicular não esteja assegurada para a carga distribuída do nível
da água. Observa-se que o efeito desta pré-compressão não corresponde exactamente à pressão
aplicada, dado que há relaxação de tensões. Assim, este efeito é normalmente um benefício não
contabilizado.
O coeficiente de transmissão térmica total das faces expostas foi já mencionado na subsecção
2.2.3 e quantificado na secção 3.3. No entanto, quando as superfícies estão cofradas este coeficiente
é necessariamente diferente. De acordo com [23], o coeficiente de transmissão total deverá ser
modificado da seguinte forma:
1
h' (3.14)
b 1
k cofragem ht
40
Capítulo 4
41
Monteiro aplicou o modelo de Hottel na estimativa do potencial energético da Ilha da Madeira
(tal como documentado em [36]). Este modelo não apresenta no entanto qualquer expressão que
permita estimar a componente difusa da radiação. Para além disso, torna-se complicado generalizar
este modelo uma vez que os seus coeficientes dependem do tipo de clima, estação do ano e
visibilidade atmosférica.
O modelo LJGK1997, apresentado em [32], é utilizado em implementações SIG (Sistema de
Informação Geográfica) [36], e é uma aplicação do modelo de Liu & Jordan, o qual permite determinar
a parcela da componente difusa da radiação solar sobre planos inclinados, obviando assim uma das
lacunas da teoria apresentada por Silveira [3]. Com o modelo LJGK1997, a transposição do fluxo de
radiação para planos inclinados está portanto resolvida. Para além disso, este modelo tem aplicação
em qualquer local do planeta, permitindo estimativas aproximadas do valor da radiação solar,
podendo-se aperfeiçoá-las no caso de haver informação sobre valores de radiação medidos
localmente.
Atendendo ao exposto, propõe-se neste trabalho a utilização do modelo LJGK1997, cujos
resultados, tal como se terá possibilidade de mencionar, poderão ser refinados com base em
medições locais, nomeadamente para adaptar o modelo às condições de céu não-limpo.
42
um sistema horizontal local. No sistema equatorial, a declinação solar, δ, é o ângulo medido sobre o
círculo horário da estrela, desde o equador até ao vector solar (utilizando valores positivos para Norte
e negativos para Sul). O ângulo horário, t, é medido sobre o plano equatorial, desde o meridiano do
observador até à projecção do vector solar (utilizando valores positivos antes do meio dia solar e
valores negativos após o meio dia). No sistema local, o ângulo solar zenital, Z, é o ângulo medido
sobre o círculo horário da estrela desde o zénite local até ao sol. A altitude solar é o complemento do
ângulo zenital. O azimute solar é o ângulo medido sobre o plano horizontal de Sul até à projecção do
vector solar. O azimute solar é positivo para Leste e negativo para Oeste. A esfera celeste
encontra-se convencionalmente representada na Fig. 4.3.
(Fonte: <http://podcast.sjrdesign.net/images/024_SunPathDay.jpg>).
Do ponto de vista do cálculo, a radiação solar consiste num fluxo de calor prescrito que
depende não só do tempo mas também da orientação da superfície exposta. A orientação desta
superfície é definida pelo seu vector normal.
43
4.3 Relações geométricas
As relações geométricas referidas anteriormente são dadas por:
Latitude :
Ângulo medido entre o plano do Equador e a normal à superfície de referência.
Azimute :
Ângulo definido pela normal à superfície contado a partir do Sul, no sentido do movimento
dos ponteiros do relógio.
Declinação δ:
Tal como se mencionou, corresponde ao ângulo formado pelo plano da elíptica com o plano
do Equador. A declinação solar pode ser determinada mediante a aplicação de fórmulas e
expressões aproximadas que dão o seu valor com diferentes graus de precisão reportados
por numerosos autores. Em [32] foi construída uma hierarquia dos algoritmos disponíveis,
tendo em conta a soma do quadrado das diferenças aos valores de referência, tendo-se
chegado à conclusão que o algoritmo com melhor desempenho é o de Bourges:
2
com ( N 79,346) [37]
365,25
onde N é o dia do ano contado a partir de 1 de Janeiro, considerando que Fevereiro tem 28
dias.
Ângulo horário t:
De acordo com o que se indicou anteriormente, corresponde ao ângulo formado pelo plano
do meridiano local (do observador) com o plano do meridiano do Sol. O meio-dia solar ocorre
quando o Sol passa pelo meridiano do lugar. Por convenção, ao meio dia t = 0 °; t é positivo
no período da manhã e negativo no período da tarde. O ângulo horário diminui 15° por hora
(360°/24h = 15°/h) antes do meio-dia e aumenta 15° por hora após o meio-dia solar.
Ângulo zenital Z:
Tal como se referiu, corresponde ao ângulo formado pela linha vertical do local (zénite) e a
linha que conecta ao Sol. Assim, ao nascer e ao pôr-do-sol Z = 90 º. O valor de Z é uma
função da posição geográfica (latitude ), da declinação solar e do ângulo horário t . Esta
relação é dada por:
44
cos Z sen sen cos cos cos t (4.2)
Para efeitos do cálculo da radiação solar deve-se ter em conta que só existe radiação solar
durante o percurso do Sol acima do horizonte, isto é, cos Z > 0.
Ângulo de incidência :
Ângulo entre a radiação directa incidente numa superfície e a normal àquela superfície,
calculada como:
cos A sen B cos t cos C sen t cos (4.3)
em que
A cos Y sen senY cos cos
B cos Y cos senY sen cos (4.4)
C senY sen
4.4.1 Introdução
As componentes directa, difusa e reflectida respondem de forma diversa à inclinação do plano
de incidência, sendo por isso necessário dispor de estimativas desagregadas para as mesmas.
Existem duas abordagens genéricas a este problema, que se designam por integração ou
decomposição [36]. Nos métodos por integração, geralmente usados em condições de céu-limpo, em
cada ponto do espaço-tempo é determinada a irradiância extraterrestre e a massa óptica relativa do
ar, m , (i.e., o comprimento do percurso da radiação na atmosfera) com base na Geometria Sol-Terra.
A fracção da radiação solar que atinge o solo é estimada com base em modelos da transmissividade
atmosférica. Os métodos por decomposição partem da distribuição espacial dos valores médios
mensais de irradiação global diária para uma superfície horizontal, com base em valores de insolação
relativa (i.e. fracção de tempo de sol descoberto).
Não se dispondo de informação relativa à fracção de tempo de sol descoberto optou-se por
utilizar os métodos por integração.
A partir do momento em que se conhecem os valores médios da irradiação directa e difusa no
plano horizontal, os métodos por decomposição e por integração podem usar algoritmos similares
para estimar a radiação em planos inclinados.
45
4.4.2 Métodos por integração
Bnc
R o n g w a (4.5)
H on
em que Bnc é a irradiância directa ou de feixe (beam) em condições de céu-limpo (clear-sky) incidente
num plano normal em direcção ao vector solar e H 0 n é a irradiância extraterrestre numa superfície
normal ao vector solar. Os diferentes factores são transmissividades para os vários processos de
( o ) , absorção por dióxido
atenuação atmosférica: dispersão de Rayleigh ( R ) , absorção por ozono
de azoto ( n ) , absorção por gases atmosféricos ( g ) , absorção por vapor de água ( w ) e
atenuação devida a aerossóis ( a ) .
A densidade da radiação varia inversamente ao quadrado da distância Sol-Terra. Devido à
excentricidade da órbita da Terra, esta distância altera ligeiramente ao longo do ano, pelo que é
aplicado um factor de correcção (que tem em consideração a variação da distância ao Sol) para
obter, dado um número sequencial do dia do ano, a irradiância extraterrestre numa superfície normal
ao vector solar H 0n :
H on I 0 (4.6)
Existem diversas formulações para determinar o factor de correcção (tal como mencionado
em [36]: Spencer 1971, Kreith and Kreider 1978, Young and Vidal 1990, Allen et al. 1998, Hofierska
and Suri 2002). A equação apresentada por Hofierska & Suri apresenta a menor soma do quadrado
do desvio em relação a um médio obtido pelas diferentes formulações [32]. É esta a formulação
que se usa modelo LJGK1997 [32], bem como no modelo r.sun descrito em PVGIS (Photovoltaic
Geographical Information System) [38].
Segundo Hofierska & Suri [34]:
2
1 0,00344 cos N 0,048869 (4.7)
365, 25
em que N é o número sequencial do dia do ano, variando de 1 (1 de Janeiro) a 365 (ou 366).
A forma geral das funções de transmissividade é dada por analogia com a lei de Bouguer
[36]:
exp( m) (4.8)
46
onde m é a massa óptica relativa do ar, proporcional ao comprimento do percurso atmosférico
efectuado pela radiação, e é um coeficiente de atenuação ou espessura óptica. Estes factores
reflectem a atenuação atmosférica da radiação solar pelos gases.
A atenuação da radiação atmosférica pelas partículas sólidas e liquidas é descrita pelo factor
de turbidez de Linke TL [34]. No entanto, da selecção de modelos de banda larga a utilizar,
Gueymard exclui expressamente os que recorrem ao factor de turbidez de Linke TL , porque este
depende simultaneamente da turbidez atmosférica e do vapor de água, apresentando variações
diárias devidas à massa óptica do ar e ao conteúdo em água precipitável na atmosfera. Os modelos
baseados no factor de turbidez de Linke apresentam pior desempenho [36]. Observa-se que o
modelo r.sun, utilizado no mencionado Photovoltaic Geographic Information System, estima a
transmissividade atmosférica para a radiação difusa em condições de céu limpo a partir do factor de
turbidez de Linke, referindo que à medida que o céu sem nuvens se torna mais turvo a componente
difusa da radiação aumenta, enquanto que a componente directa diminui. Este modelo também
calcula a componente directa da radiação utilizando TL [34].
Nos modelos muito simples de céu limpo (viz., FAO56, ASHRAE, Haurwitz, Hottel) é utilizada
uma transmissividade única para todos os constituintes atmosféricos e para todos os comprimentos
de onda. Obtém-se assim um valor único de transmissividade atmosférica para a radiação directa em
condições de céu-limpo, B . Para a radiação difusa é igualmente possível obter um valor de
transmissividade atmosférica, D (Liu & Jordan). São desprezadas as variações sazonais da
irradiância extraterrestre e a diminuição da espessura da atmosfera com a altitude [36].
B Bc / H 0 (4.9)
D Dc / H 0 (4.10)
Kumar et al. (1997) implementaram o modelo de Liu & Jordan (1960) tal como descrito por
Gates (1980). Este modelo é designado de LJGK1997 [32] (acróstico dos modelos em que se
baseia), e foi utilizado no presente trabalho tal como se descreve em seguida:
Bc B .H 0 Bc h B .H 0 h ; Bc i B .H 0 i (4.11)
47
Observa-se que o índice c identifica a radiação em condições de céu-limpo (clear-sky), o 0
indica a radiação extraterrestre no limite superior da camada terrestre. Os índices n, i e h
assinalam a orientação relativa da superfície na qual incide a radiação: o índice n é usado para uma
superfície normal à direcção do vector solar, o i designa superfícies com uma qualquer inclinação em
relação ao vector solar, e o h indica superfícies de nível, horizontais.
Assim, sabendo que [36]:
H 0h H 0n cos(Z ) (4.12)
Resulta que, para uma superfície horizontal, a radiação directa (ou de feixe) em condições de
céu-limpo, Bc h , é uma função do ângulo zenital, Z (sendo Z o ângulo formado pela linha vertical
do local (zénite) e a linha que conecta ao Sol), e da atenuação atmosférica, B , da irradiância
extraterrestre ( H 0 n ):
Bc h H 0n B cos(Z ) (4.13)
H 0i H 0n cos( ) (4.16)
Resulta portanto que Bci , a radiação directa proveniente do disco solar e incidente num plano
inclinado em relação ao vector solar, em condições de céu-limpo, é dada por:
Bc i H 0 n B cos FB (4.17)
onde é o ângulo de incidência, e FB é uma variável indicatriz que toma o valor 1 se o disco solar
está visível, e 0 se está oculto pelo horizonte ou pelo próprio plano (se cos 0 ).
Observa-se que a radiação directa em planos inclinados é modelada de forma simples: os
efeitos topográficos locais (i.e., o gradiente do terreno, ou, no caso em estudo, a inclinação da
superfície da barragem) são proporcionais ao cosseno do angulo de incidência do feixe e os efeitos
topográficos focais (i.e., o horizonte) resultam na ocultação do disco solar [36].
48
4.5.2 Radiação Difusa
O modelo de Kumar et al. utiliza a formulação de Liu & Jordan, segundo a qual a fracção difusa
é estimada com base na radiação directa em condições de céu limpo. A partir de observações de
irradiância directa e difusa para diferentes altitudes solares em dias de céu limpo, Liu & Jordan
ajustaram a seguinte relação [40]:
A componente difusa da radiação em condições de céu limpo vem então dada por:
Dc H 0 D (4.19)
Nos modelos mais simples a radiação difusa considera-se isotrópica (i.e., provém
uniformemente da abóbada celeste, hipótese admitida por Liu & Jordan) e directamente proporcional
à fracção do hemisfério celeste visível de um dado ponto. A restante fracção do hemisfério contribui
com radiação reflectida pelo terreno. A componente de radiação reflectida é por vezes desprezada,
dado que tem um peso reduzido no total, excepto em condições de elevado albedo (e.g. solo coberto
de neve ou gelo) [36].
A proporção mencionada é dada pelo sky-view factor. O método mais fácil para estimar o
sky-view factor consiste em considerar apenas o gradiente local da superfície no ponto de
observação, Fsky ,l (factor de forma local).
O modelo LJGK1997 utiliza a fórmula de Gates para determinar o factor de forma local [32]:
Y 1 cos Y
Fsky,l cos 2 (4.20)
2 2
49
Ri
Fground,l (4.23)
R
onde R representa a radiação reflectida pelo terreno envolvente, Ri corresponde à mesma radiação,
quando incidente sobre uma superfície inclinada em relação ao vector solar, e Fground,l representa o
Y 1 cos Y
Fground,l sin 2 (4.25)
2 2
250) e para várias horas do dia, na latitude onde se encontra a barragem. Estes valores
compararam-se com os indicados por Silveira [3] para I h , em Évora, os quais foram determinados
50
Confrontando os resultados, e tal como se esperaria, percebe-se que os decorrentes do
modelo implementado são sempre superiores aos valores indicados por Silveira, uma vez que os
segundos foram medidos e determinados em condições de céu não-limpo.
Achou-se interessante comparar cada uma das parcelas da radiação calculada pelo modelo
LJGK1997 com a radiação global em plano horizontal apresentada por Silveira (Fig. 4.5 e Fig. 4.6).
Pela análise da informação apresentada considera-se que, para uma superfície horizontal, a
parcela directa da radiação solar determinada pelo modelo LJGK1997 simula adequadamente as
condições de céu-real características da implantação da barragem. Assim, adaptou-se o modelo
LJGK1997 à zona de Alqueva pela não incorporação da parcela difusa da radiação solar.
É importante mencionar que este ajustamento se justifica claramente em plano horizontal,
ressalvando que, tendo em conta que as diferentes componentes da radiação respondem de forma
diferente à inclinação dos paramentos da barragem, haveria que validar estas conclusões com dados
de radiação solar incidente em plano inclinado.
1 200
LJGK1997-dia 15
1 000 LJGK1997-dia 50
LJGK1997-dia 150
Ich ; Ih (Wm-2)
400
200
0
0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0
cos (Z)
Fig. 4.4 – Comparação entre resultados obtidos pelo modelo LJGK1997 e valores indicados por Silveira.
1 200
LJGK1997(DIRECTA)-dia 15
1 000
LJGK1997(DIRECTA)-dia 50
Bch ; Ih (Wm-2)
LJGK1997(DIRECTA)-dia 150
800
LJGK1997(DIRECTA)-dia 200
LJGK1997(DIRECTA)-dia 250
600
Silveira (GLOBAL-Évora)
400
200
0
0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0
cos (Z)
Fig. 4.5 – Comparação entre resultados obtidos pelo modelo LJGK1997 (radiação directa) e valores indicados por Silveira.
51
1 200
LJGK1997(DIFUSA)-dia 15
1 000 LJGK1997(DIFUSA)-dia 50
LJGK1997(DIFUSA)-dia 150
Dch; Ih (Wm-2)
800
LJGK1997(DIFUSA)-dia 200
LJGK1997(DIFUSA)-dia 250
600
Silveira (GLOBAL-Évora)
400
200
0
0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0
cos (Z)
Fig. 4.6 – Comparação entre resultados obtidos pelo modelo LJGK1997 (radiação difusa) e valores indicados por Silveira.
O fluxo de radiação solar estimado pelo modelo LJGK1997 e adaptado para condições reais e
locais (pela utilização exclusiva da componente directa Bc i ) é considerado na condição de fronteira
estática expressa pela equação (2.40) directamente no termo q .
52
Capítulo 5
Fig. 5.1 - Barragem de Alqueva – vista de Jusante. Fig. 5.2 - Barragem de Alqueva - vista de Montante.
53
A barragem é constituída por uma abóbada espessa em betão com encontros artificiais, a qual
se prolonga, na margem esquerda, por um conjunto de blocos em que se inscreve um descarregador
de superfície, antes de uma estrutura que completa o fecho do vale.
Os encontros artificiais têm base trapezoidal, paramento de montante vertical e altura máxima
de 52,50m. O da margem direita é constituído por 3 blocos de 20,00m, em que se inscreve a abertura
de um descarregador de superfície; o da margem esquerda, em virtude da pior qualidade da
fundação, não é vazado, pelo que os descarregadores desta margem se situam nos blocos
imediatamente a seguir.
54
A abóbada, com altura máxima teórica de 96,00m, desenvolvimento de 348,00m ao nível do
coroamento e 124,00m no fundo do vale, é de dupla curvatura e apresenta uma espessura de 33,50m
na base da consola de fecho e de 7,00m no topo. É constituída por 24 blocos, limitados por juntas
verticais, genericamente com 14,50m de desenvolvimento, exceptuando os dois blocos que dão
passagem aos descarregadores de meio fundo, que têm 16,50m, e os adjacentes, com somente
13,50m.
O maciço de fundação é constituído, na margem direita e fundo do vale, por xisto verde de boa
qualidade e elevado módulo de elasticidade. Na margem esquerda é composto por filites menos
competentes, sendo também atravessado por uma falha importante, conhecida como falha 22 [42].
55
56
Fig. 5.6 – Barragem de Alqueva – Localização dos extensómetros e termómetros de resistência eléctrica.
5.4 Características térmicas dos materiais
5.4.1 Betão
Normalmente não existem estudos específicos que definam as propriedades térmicas do betão
das barragens, pelo que é habitual recorrer aos valores indicados na literatura. Assim, e tal como se
mencionou na secção 3.2 em relação ao betão das barragens, o manual ETL 1110-2-542 [23] indica
para o calor específico, c, valores típicos compreendidos entre 750 e 1166 J/(kg K) e para a
condutibilidade térmica, k, valores entre 1,73 e 3,46 W/(m K).
Neste estudo, para a barragem de Alqueva, foram adoptados valores de c = 920 J/(kg K) e
k=2,62W/(m K) os quais, considerando uma massa especifica = 2400 kg/m , conduzem a uma
3
difusibilidade térmica = k/( c) = 0,10 m /dia (=0,00417 m /hora), valor pertencente ao intervalo
2 2
em que V é a velocidade média do vento. Na subsecção 3.4.3 observa-se que para a localização da
barragem em estudo se pode adoptar uma velocidade do vento de 4,0 m/s, obtendo-se hc igual a
2
15,2 W/(m K).
Tal como se indica na subsecção 3.3.2, hr poder-se-á considerar praticamente constante, com
2
um valor médio de 5,23 W/(m K).
57
Em fase construtiva, tendo em conta as incertezas próprias da determinação da constituição do
maciço de fundação, consideraram-se propriedades médias relativamente aos casos expostos na
secção 3.2. No que se refere ao calor específico utilizou-se um valor de 879J/(kgK) e no que respeita
3
à condutividade térmica consideraram-se 4,6 W/(mK). A massa específica utilizada foi de 2600kg/m .
No Quadro 5.2 apresenta-se um resumo das propriedades adoptadas para o modelo térmico
em fase de construção.
58
Quadro 5.2.– Propriedades adoptadas para o modelo térmico (fase de construção).
FUNDAÇÃO
Calor específico, c [J/(kg K)] 879
Condutividade térmica, k [W/(m K)] 4,6
Massa específica,
3
[kg/m ] 2600
Coeficiente de absorção, a [-] 0
BETÃO
Calor específico, c [J/(kg K)] 920
Condutividade térmica, ki [W/(m K)] 2,62
Massa específica,
3
[kg/m ] 2400
Coeficiente de absorção, a [-] 0,65
k
[1/s] 555,1360
0
A 0
[-] 0,0015
k
[-] 5,4749
3 . 7
Calor latente, L [J/m ] 6,289 10
59
5.6 Simulação das acções térmicas ambientais
Em anexo (A.3), encontra-se descrita a forma como a acções térmicas ambientais são
introduzidas nos programas de cálculo utilizados, PAT_2 e PATQ_2.
5.6.1 Temperatura do ar
Na Fig. 5.7 é apresentado o gráfico da evolução da temperatura média, obtido a partir dos
registos diários de temperatura máxima e mínima do ar.
Com o propósito de modelar a evolução anual do campo térmico no corpo da barragem, a
variação da temperatura do ar ao longo do tempo é aproximada pela sobreposição, ao valor da
temperatura média anual, de duas funções harmónicas, uma de período anual e outra de período
diário, Eq. (3.3). A variação anual da amplitude da onda diária é também representada por uma
variação sinusoidal do mesmo tipo, isto é:
2
2Tad (t ' ) A(t ' ) Am Aaa cos (t ' oa ) (5.1)
365
onde Am , Aa e
a
oa representam, respectivamente, a amplitude média anual, a semi-amplitude da
T (ºC)
40
35
30
25
20
15
10
5
0
Mar-00 Mar-02 Mar-04 Mar-06 Mar-08 Mar-10 Mar-12
A avaliação dos parâmetros envolvidos nestas funções, com base nas temperaturas médias
diárias do ar observadas no local da barragem, realiza-se recorrendo ao método dos mínimos
quadrados:
2
T (t ' ) Tm Taa cos
(t 't oa ) Tad (t ' ) cos 2 (t 't od ) (5.2)
365
T (t ' ) T1 (t ' ) Tad (t ' ) cos 2 (t 't od ) (5.3)
60
2
T1 (t ' ) Tm Taa cos (t 't oa ) (5.4)
365
2 2
T1 (t ' ) Tm a cos t ' b sen t' (5.5)
365 365
determina-se: Tm =17,49ºC; a =-7,43ºC; b =-3,34ºC, obtendo-se a seguinte distribuição da
temperatura média diária do ar ao longo do ano (Fig. 5.8):
T (ºC)
40
35 T1(t)
T1 (t)
30 T1 (t)
T1(t) observados
observados
25
20
15
10
0
0 50 100 150 200 250 300 350
dias desde inicio do ano
2
A(t ' ) Am Aaa cos (t ' oa ) (5.6)
365
2 2
A(t ' ) Am a cos t ' b sen t' (5.7)
365 365
obtém-se: Am =10,48ºC; a =-3,99ºC; b =-0,82ºC.
No Quadro 5.3 resumem-se os valores obtidos para os parâmetros da expressão (5.2) e na Fig.
5.9 apresentam-se as sinusóides de período anual que caracterizam a variação da temperatura do ar
ao longo do tempo.
Com o objectivo de traduzir a variabilidade desta acção apresenta-se em seguida (Fig. 5.10)
uma representação das temperaturas máximas e mínimas registadas, em paralelo com a função
determinada para a temperatura do ar, retratada horariamente desde as 0 às 24h.
Observa-se que é largo o espectro de variação desta acção, principalmente no que se refere às
temperaturas máximas. Havendo a necessidade de traduzir esta acção sobre a forma de uma
expressão percebe-se que a função determinada tem como limites superior e inferior a média dos
registos, concluindo-se também que a amplitude diária considerada simula correctamente o
61
andamento desta acção, não obstante o facto de não conseguir acomodar o desvio tão grande que a
caracteriza.
T (ºC)
40
35 T
Tm
m
T1 (t)
T1(t)
30
A
Am
m
25 A (t)
A(t)
20
15
10
0
0 50 100 150 200 250 300 350
Fig. 5.9 – Sinusóides calculadas para a temperatura média diária e amplitude diária.
62
T (ºC)
50
Tar calculada
T_ar-calculada
45
Tmin observada
Tmin-observada
40
Tmax-observ
Tmax observada
35
30
25
20
15
10
0
0 50 100 150 200 250 300 350
Fig. 5.10 – Temperaturas máximas e mínimas registadas vs função temperatura do ar utilizada no cálculo.
À cota 141, em que estão os termómetros T47, T52, T57, T62, T67, T72, T77
Começou por se estudar, isoladamente, a função que define a temperatura da água em cada
cota, com a finalidade de modelar a temperatura da água mediante a expressão (3.6).
2
T ( y, t ' ) Tm ( y ) Ta ( y) cos t 't o ( y) (5.8)
365
63
2t ' 2t '
T ( y, t ' ) Tm ( y ) a cos b sin (5.9)
365 365
b 365
t 0 ( y ) arctg . (5.10)
a 2
e
a
Ta ( y ) (5.11)
2
cos
365
Assim, partindo do registo de temperaturas da água para cada uma das cotas, foram
Quadro 5.4 – Valores dos parâmetros Tm, Ta e to observados nos termómetros de montante.
64
T (ºC)
30
Temperatura média
Temperatura
do ar
média
25
do ar
T_agua:_Z=78
Tágua - z = 78m
20
T_agua:_Z=99
Tágua - z = 99m
15
T_agua:_Z=113
Tágua - z = 113m
10
T_agua:_Z=120
Tágua - z = 120m
5 T_agua:_Z=141
Tágua - z = 141m
0
0 50 100 150 200 250 300 350
[-] 0,0632
[-] 0,0434
[-] 0,0609
d [meses] 3,313
f [meses] 2,00
65
21
19 valores observados
17
Tm (y) (ºC) 15
13
11
9
0 20 40 60 80 100
8
7 valores observados
6
5
Ta (y) (ºC)
4
3
2
1
0
0 20 40 60 80 100
Profundidade (m)
0
-20 0 20 40 60 80 100
to (y) (dias)
-40
-60
-80
-100
-120
-140 valores observados
(c) -160
Fig. 5.12 – Variação da temperatura da água da albufeira com a profundidade. (a) temperatura média anual; (b) amplitude da
66
de céu-limpo à situação de céu não limpo característica da zona onde se insere a barragem
(Alqueva).
A determinação da radiação solar implica o conhecimento da latitude e da orientação da
barragem. A barragem de Alqueva encontra-se a uma latitude de 38º11’ e o azimute do seu eixo,
contado a partir do Sul no sentido do movimento dos ponteiros do relógio, é de 150º.
67
com menor espessura facilita as transferências de calor pelas faces expostas, possibilitando que se
independentizem mais aceleradamente das condições inicias, acompanhando mais rapidamente a
curva periódica da temperatura do ar.
Fig. 5.13 – Faces a que pertencem os nós submersos. Fig. 5.14 – Faces a que pertencem os nós da base do maciço.
68
Fig. 5.15 – Faces com fluxo de calor prescrito. Fig. 5.16 – Faces com trocas de calor por convecção e radiação.
Sabe-se que, ao contrário da onda térmica anual que afecta toda a barragem, a onda térmica
diária tem um efeito muito concentrado na proximidade dos paramentos, atingindo apenas uma zona
de profundidade de cerca de 0,5m a 0,8m junto aos paramentos expostos ao ar. Este efeito da onda
térmica diária é importante nos casos em que possa agravar estados de tensão susceptíveis de
provocar fissuração junto aos paramentos [20].
A sensibilidade do modelo ao efeito da onda diária da temperatura do ar foi, por este motivo,
estudada mediante discretizações sucessivas da malha junto aos paramentos, comparando os
resultados obtidos com a temperatura registada em secções onde se encontra instalada
instrumentação, particularmente termómetros de resistência à cota 141,00 m para os blocos 8/9 e à
cota 113,00 m para o bloco 13/14 (Fig. 5.6).
Apresentam-se em seguida as diferentes discretizações testadas.
Utilizou-se inicialmente uma malha de elementos finitos desenvolvida no LNEC, a qual contava
com apenas dois elementos igualmente distribuídos na espessura do corpo da barragem, constituída
por 3874 elementos (450 dos quais são pertencentes à barragem, e os restantes à fundação) e
19 317 nós (ver Fig. 5.17).
Seria previsível que este modelo tivesse pouca sensibilidade ao efeito da onda diária da
temperatura do ar. Achou-se interessante, no entanto, a sua inclusão, como forma de estimar quanto
se perderia em qualidade de resultados, face ao ganho computacional relacionado com o menor
número de elementos da malha.
69
Fig. 5.17 – Discretização corpo barragem: 2 elementos igualmente distribuídos em espessura.
Nas Fig. 5.18 e Fig. 5.19 apresentam-se os valores calculados de temperatura no paramento
de jusante, em duas secções distintas, para as 24 horas do dia, contrastados com os valores
registados de temperatura nas mesmas secções (medidos em horas dispersas ao longo do dia) e
com a função da temperatura média do ar. Devido à escala utilizada, a variação térmica diária
reflecte-se como uma maior banda da onda térmica anual. Tal como seria de esperar, verifica-se que
as temperaturas obtidas no modelo não alcançam as observadas.
Pela análise da Fig. 5.20 constata-se a dificuldade apresentada pela malha na representação
da onda diária da temperatura do ar. Observa-se, inclusivamente, que a banda da onda térmica anual
obtida no cálculo para as várias horas do dia está relacionada com o efeito da radiação (a qual
provoca um aumento de temperatura da superfície em relação à temperatura do ar) e não com a
onda térmica diária.
T (ºC)
50
45
40
35
30
25
20
15 valores
Valorescalculados
calculados
10 valores
Valoresobservados
observados
T do ar
T_media_ar
m
5
0
0 50 100 150 200 250 300 350
dias desde o início do ano
Fig. 5.18 – Temperaturas no bloco 8/9, próximas do coroamento (Z = 141,0m) – Jusante – Termómetro T60 (2 elemts. esp.).
70
T (ºC)
50
45
40
35
30
25
20
15
Valorescalculados
valores calculados
10 Valores observados
valores observados
5 T m do ar
T_média_ar
0
0 50 100 150 200 250 300 350
dias desde o início do ano
Fig. 5.19 – Temperaturas no bloco13/14, a meia-altura (Z = 113,0m) – Jusante – Termómetro T33 (2 elemts. esp.).
T(ºC)
50
45 valores
Valorescalculados
calculados
valores
Valoresobservados
observados
40
Tm do ar
T_media_ar
35
30
25
20
210 211 212 213 214 215 216 217 218 219 220
Fig. 5.20 – Amplitude de temperaturas no bloco 8/9, próximo do coroamento (Z=141,0m) – Jusante - Termómetro T60
(2 elemts. esp.).
A inaptidão verificada na reprodução, com precisão, do efeito da onda térmica diária surge
como resultado da deficiente discretização. Uma discretização pouco refinada junto aos paramentos
origina um modelo muito “rígido”, o qual não tem capacidade para modelar correctamente os efeitos
que ocorrem localmente junto aos paramentos. Esta situação é ainda mais visível no coroamento
(Fig. 5.18), onde há entrada de calor por duas faces (jusante e topo), e a rigidez do modelo em planta
se associa à rigidez em altura (nesta zona o modelo deveria ser mais discretizado em altura)
provocando uma maior disparidade nos resultados do que a que se verifica a meia altura da
barragem (Fig. 5.19), onde só há entrada de calor por uma das faces.
71
somente junto aos paramentos. Assim, cada elemento da malha anterior foi dividido em dois, com a
particularidade de que essa partição se dá a um terço do elemento antigo, a contar dos paramentos
para o interior da barragem (ver Fig. 5.21).
Obteve-se, desta forma, um modelo constituído por 3747 elementos (900 dos quais são
pertencentes à barragem, e os restantes à fundação, a qual se simplificou em relação ao modelo
anterior, com o intuito de agilizar o cálculo) e 18 491 nós (ver Fig. 5.22).
Observa-se que (Fig. 5.23 e Fig. 5.24), não obstante a melhoria face à discretização anterior
(veja-se a Fig. 5.25), a qualidade dos resultados demonstra-se ainda insuficiente no que se refere à
amplitude da onda diária da temperatura do ar, dado que os valores observados estão ainda bastante
apartados da banda de valores calculados.
72
T (ºC)
50
45
40
35
30
25
20
15
10 valores
Valorescalculados
calculados
valores observados
Valores observados
5
T do ar
T_media_ar
m
0
0 50 100 150 200 250 300 350
dias desde o início do ano
Fig. 5.23 – Temperaturas no bloco 8/9, próximas do coroamento (Z=141,0m) – Jusante– Termómetro T60 (4 elemts. esp.).
T (ºC)
50
45
40
35
30
25
20
15 valores
Valorescalculados
calculados
10 valores
Valoresobservados
observados
5 Tm do ar
T_média_ar
0
0 50 100 150 200 250 300 350
Fig. 5.24 – Temperaturas no bloco13/14, a meia-altura (z=113,0m) – Jusante – Termómetro T33 (4 elemts. esp.).
T (ºC)
50
valorescalculados
Valores calculados
45
valoresobservados
Valores observados
40 TT_media_ar
m do ar
35
30
25
20
210 211 212 213 214 215 216 217 218 219 220
dias desde o início do ano
Fig. 5.25 – Amplitude de temperaturas no bloco 8/9, próximo do coroamento (Z=141,0m) – Jusante - Termómetro T60
(4 elemts. esp.).
73
Malha com 5 elementos na espessura do corpo da barragem (mais refinada junto aos
paramentos)
Na sequência do raciocínio que conduziu à malha anterior, optou-se por refinar essa malha
apenas junto ao paramento exposto à temperatura do ar (paramento de jusante), dividindo o
elemento de jusante ao meio (Fig. 5.26).
Realça-se o facto de que, com este critério, obtêm-se elementos muito esbeltos em altura, o
que normalmente é inadequado e resulta em grandes erros de aproximação. No entanto, para a
análise em particular que se está a realizar, não se considera prejudicial esta configuração dos
elementos. Acontece que, como consequência da esbelteza dos elementos resultante desta
discretização, existem de facto poucos pontos de amostragem (pontos de integração de Gauss) na
direcção da altura. Em simultâneo, nesta direcção não existe significativa variação da temperatura,
pelo que a esbelteza dos elementos não se reflecte em perda de qualidade dos resultados. Face ao
exposto, não se considerou necessário dividir os elementos em altura, o que penalizaria o cálculo em
termos de tratamento de dados e de tempo de execução.
Obteve-se assim um modelo constituído por 4432 elementos (1125 dos quais são pertencentes
à barragem) e 21 597 nós (ver Fig. 5.28).
74
T(ºC)
50
45 valores calculados
Valores
valores observados
Valores observados
40 TT_media_ar
m do ar
Linear (valores calculados)
35
30
25
20
210 211 212 213 214 215 216 217 218 219 220
dias desde o início do ano
Fig. 5.27 – Temperaturas no bloco 8/9, próximas do coroamento (Z=141,0m) – Jusante (5 elemts. esp.).
75
Fig. 5.29 – Discretização da falha e respectivo tratamento.
76
Tal como se pode apreciar nas Fig. 5.9 e Fig. 5.10, a amplitude da onda térmica diária é
variável ao longo do ano, tendo maior expressão nos meses quentes. Nos gráficos correspondentes
T(ºC)
50
45 valores calculados
valores observados
40
T média ar
35
30
25
20
15
10
5
0
0 50 100 150 200 250 300 350
50
valores calculados
45
40 valores observados
35
30
25
20
15
10
5
0
0 50 100 150 200 250 300 350
T (ºC)
50
45 valores calculados
40 valores observados
35
30
25
20
15
10
5
0
0 50 100 150 200 250 300 350
Fig. 5.30 – Temperaturas no bloco 8/9, próximas do coroamento (Z=141,0m), a jusante (T60), meia espessura (T59) e
77
T(ºC)
50
45 valores calculados
40 valores observados
35 T média ar
30
25
20
15
10
5
0
0 50 100 150 200 250 300 350
50
45
40
35
30
25
20
15
10
5
0
0 50 100 150 200 250 300 350
T (ºC)
50
45
40
35
30
25
20
15
10
5
0
0 50 100 150 200 250 300 350
Fig. 5.31 – Temps. no bloco17/18, próximas do coroamento (z=141,0m), a jusante (T70), meia espessura (T69) e montante
78
T (ºC)
50
45 valores calculados
40 valores observados
35 T média ar
30
25
20
15
10
5
0
0 50 100 150 200 250 300 350
50
45
40
35
30
25
20
15
10
5
0
0 50 100 150 200 250 300 350
T (ºC)
50
45
40
35
30
25
20
15
10
5
0
0 50 100 150 200 250 300 350
Fig. 5.32 – Temperaturas no bloco13/14, a meia-altura (z=113,0m), a jusante (T33), meia espessura (T32) e montante (T31),
79
às faces expostas das Fig. 5.30, Fig. 5.31 e Fig. 5.32 (paramento de jusante) esse efeito está no
entanto disfarçado. Acontece que o paramento exposto está também sujeito ao efeito da radiação
solar, o qual se reflecte com a elevação da temperatura das superfícies expostas da barragem em
relação à temperatura do ar. Assim se compreende o desvio das temperaturas calculadas em relação
à temperatura média do ar, o qual tem maior expressão no sentido ascendente (efeito da onda diária
e da radiação solar) do que no descendente (apenas efeito da onda diária da temperatura do ar),
ocultando o andamento referido da onda térmica diária.
No paramento de montante a temperatura determinada pelo cálculo corresponde à temperatura
prescrita aplicada aos nós submersos, verificando-se que a função utilizada para a temperatura da
água aproxima bastante bem o seu comportamento real. Constata-se que, tal como seria de prever, a
temperatura da água se mantém praticamente constante ao longo do dia, e, na sua variação anual,
encontra-se desfasada em relação à onda da temperatura do ar. Os efeitos, na temperatura da água,
da temperatura do ar e da radiação solar, perdem significado à medida que aumenta a profundidade.
Dada a geometria da barragem, a distribuição de temperaturas nos paramentos varia de
secção para secção durante as diferentes horas do dia, e ao longo do ano.
Para ilustrar este efeito apresenta-se na Fig. 5.33 a distribuição de temperaturas da barragem
em determinadas horas do dia (num dia genérico de Março) e na Fig. 5.34 em diferentes alturas do
ano.
Chama-se a atenção para o facto de que a hora com que o programa trabalha corresponde à
hora solar, lembrando que a hora legal está adiantada em relação a esta cerca de 36 minutos no
Inverno e aproximadamente 1 hora e 36 minutos no Verão.
80
Fig. 5.34 – Distribuição de temperaturas na barragem ao longo do ano – Jusante e Montante.
81
5.8 Modelação da fase construtiva
Entre os diversos modelos que têm sido propostos para representar o processo de hidratação,
foi adoptado neste trabalho o proposto por Ulm e Coussy [2]. De acordo com este modelo, e face ao
exposto nas secções 2.3 e 3.5, o betão em idade jovem é modelado como um meio poroso
quimicamente reactivo e termicamente activado [2]. Assim, as equações que governam a evolução da
reacção de hidratação são deduzidas dentro do quadro teórico termodinâmico para meios porosos e
consideram os efeitos cruzados entre a reacção de hidratação, a evolução da temperatura,
deformações e mudanças nas propriedades do betão [7].
O problema a resolver é não linear em temperatura e grau de hidratação (quer a determinação
da temperatura, quer do grau de hidratação, dependem das próprias variáveis, tal como se
demonstrou na subsecção 2.6.2). Para além disso, o campo de temperatura gerado pelo calor de
hidratação é alterado pela acção térmica procedente do ambiente no qual está inserida a barragem
[4].
82
sendo normalmente utilizados no fabrico de betões e argamassas sujeitos a ambientes agressivos e
em obras com exigências específicas de durabilidade. São também os cimentos mais adequados
para a realização de estruturas e peças de betão de grande massa, devido ao baixo calor de
hidratação que desenvolvem [9].
No âmbito do controlo de qualidade realizado ao betão da barragem de Alqueva foi
determinado o calor de hidratação do cimento utilizado na barragem [44], o qual se indica no Quadro
5.6:
de montante e de jusante, numa espessura de 1,5 m, são constituídos pelas composições 107 e 108,
designadas por 07524020 (max de 75 mm, Dfinos igual a 240 kg/m dos quais 20% são cinzas) e
3
83
3
Obteve-se um c médio de 160,00 kg/m e um w / c médio de 0,49.
0 0,00 0,00
3 57,80 241,84
7 64,70 270,70
28 69,50 290,79
3
Sabendo que o betão tem na sua composição, em média, 160,00 kg/m de cimento, obtém-se:
0 0,00 0,00
3 3,85 16,12
7 4,31 18,05
28 4,63 19,39
1,031 0,49284
0,74 (5.12)
0,194 0,49284
Observa-se que é inferior à unidade, confirmando que a hidratação completa não é atingida.
Assim, interpreta-se que a assimptota da curva do calor gerado acumulado corresponde ao calor
gerado em condições não ideais, aqui definido por Q .
Em [9] é sugerida uma curva do tipo exponencial para aproximar os valores correspondentes
ao calor gerado acumulado:
1
B.
Q Ae t
(5.13)
O valor de A corresponde a Q , e o valor de B é determinado por forma a ajustar a
expressão (5.13) aos valores apresentados no Quadro 5.8.
Assim, determina-se que a curva que representa o calor gerado acumulado pelo betão na
barragem de Alqueva é:
84
1
12,8.
Q 19,386e t
(5.14)
Obtendo-se a seguinte relação:
Q (kJ/kg)
25
20
15
10
Q_estimado (curvarepresentativa)
Q estimado (curva representativa)
5
Q_determinado_experimentalmente
Q determinado experimentalmente
0
0 200 400 600 800 1000 1200
t (horas)
Q
C
T
ad
T0 (5.15)
Q Q (5.16)
Desta forma, e tendo em conta que por (5.14) é determinado Q , é possível obter, através
de (5.16), o grau de hidratação que lhe corresponde em cada instante de tempo.
Cervera relaciona também o grau de hidratação com o aumento de temperatura no ensaio
adiabático, na forma:
T ad
ad (5.18)
T T ad
85
ad
Assumindo uma temperatura inicial de 20ºC obtém-se, por (5.15), T =41,07ºC. É assim
possível determinar a temperatura no betão ao longo do ensaio, representada na Fig. 5.36.
T (ºC)
25
20
15
10
0
0 200 400 600 800 1000 1200
t (horas)
Relativamente à curva determinada convém observar que, como resultado da curva do tipo
exponencial utilizada para aproximar os valores correspondentes ao calor gerado acumulado, não é
perceptível o lento início da reacção de hidratação, o qual ocorre devido à reduzida afinidade química
inicial, relatado por Cervera [8]. Esta reacção aceleraria apenas após o período de activação, depois
do qual a reacção seria muito rápida, em condições adiabáticas, devido ao seu carácter
termoactivado. Percebe-se que a temperatura aumenta muito rapidamente durante as primeiras
horas, até que o grau de hidratação chegue a um valor próximo do limite de percolação. Nesta altura
há uma inflexão evidente na curva (Fig. 5.37), e a reacção abranda significativamente. Obtém-se
então a taxa de variação da temperatura ao longo do ensaio, T ad :
T.ad
1,0
0,9
0,8
0,7
0,6
0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
0,0
0 200 400 600 800 1000 1200
t (horas)
Segundo Cervera et al. [8], é possível determinar a relação entre a afinidade química
normalizada e o grau de hidratação a partir dos resultados experimentais, pela expressão:
86
T ad E
A ad
~
exp aad (5.19)
T T0 RT
Dispondo desta informação é possível, através da expressão analítica proposta no modelo de
k A 0
Cervera para esta função (expressão (3.11)), calibrar as propriedades do material , e , as
0
k
70000
Cervera (5.19)
60000
Cervera (3.11)
Ãz(z) (1/h)
50000
40000
30000
20000
10000
0
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 z
A curva a cheio (Cervera (3.11)), obtida pela minimização do quadrado da diferença entre as
expressões (5.19) e (3.11), será introduzida no modelo de cálculo da barragem de Alqueva pela
k A 0
inclusão das propriedades , e .
0
k
grau de hidratação, L , o qual representa o calor total gerado por uma unidade de volume, fazendo
apenas:
87
5.8.4 Análise de sensibilidade em modelos simples
Fig. 5.39 – Modelo Fig. 5.40 – Modelo prismático simples Fig. 5.41 – Modelo prismático simples
fundação.
88
Relativamente à influência da fundação sobre a temperatura atingida nos nós da base
observa-se que, para um nó situado à cota 0,0, centrado em planta no bloco, se obtém (Fig.
5.42):
T(ºC)
45
Modelo1(a)-fundacao
Modelo 1(a) – fundaçãofront adiab
fronteira adiabática
40
35 Modelo1(b)-fundacao
Modelo 1(b) – fundação representada
30 representada
25
20
15
10
5
0
23-07-99 31-10-99 08-02-00 18-05-00 26-08-00 04-12-00 14-03-01 22-06-01 30-09-01
Apesar de a composição do betão nos paramentos ser, tal como se mencionou, a 108, os
extensómetros que se encontram crivados nesta zona não têm necessariamente essa mesma
composição (ver Quadro D.1, por exemplo: G38G39 – composição 109; G21G22 – composição
108). A heterogeneidade na composição do betão crivado nos paramentos complica a futura
generalização de conclusões, pelo que se considerou importante estudar a influência desta
particularidade.
Simulou-se esta situação no modelo 1(b) - com fundação - atribuindo aos elementos dos
paramentos da penúltima camada as propriedades da composição 108, comparando-se com uma
alternativa em que todo o modelo tem a composição 109 (Fig. 5.43).
Em primeiro, e tal como seria previsível, observa-se que nos nós do bordo existe diferença
caso se considere uma composição ou a outra, ou seja, um modelo com uma composição com mais
cimento aplicada a determinado elemento gera mais calor nesse elemento. As temperaturas obtidas
nos dois modelos estão em fase (e em fase com a temperatura do ar, uma vez que os nós são de
bordo), tal como se esperaria, no entanto a temperatura obtida pelo modelo com composição 108 nos
elemementos de bordo é sempre superior uma vez que parte de condições iniciais em conformidade.
Achar-se-ia plausível que a composição 108, utilizada no betão crivado do extensómetro do
paramento, isolasse toda a camada, e que por isso houvesse um aumento de temperatura de toda
ela, comparativamente com a utilização da composição 109 homogeneamente na camada. Observa-
89
se no entanto que as linhas a negro são coincidentes, de onde se conclui que o efeito não se propaga
para o interior da camada.
T(ºC)
45
nós
nóscentrais
centrais – modelo
- modelo receita 109
composição 109
40 nós
nóscentrais
centrais – modelo
- modelo receita 108 nos108
composição extensometros bordo
nos elementos de bordo
nós
nósbordo
bordo – modelo
- modelo receita 109
composição 109
35
nós
nósbordo
bordo – modelo
- modelo receita 108 nos108
composição extensometros bordo
nos elementos de bordo
30
25
20
15
10
0
19-10-99 27-01-00 06-05-00 14-08-00 22-11-00 02-03-01
Fig. 5.43 – Efeito da composição 108 nos extensómetros dos bordos - modelo 1 (b) com fundação.
O betão crivado não tem agregados com dimensão superior à da malha do crivo (neste caso,
crivo com malha espaçada de 38 mm), o que se reflectiu por uma maior relação água/ligante.
Este efeito, se representativo, sê-lo-á na base da fundação, onde há 3 zonas crivadas (meio e
paramentos).
Utilizou-se o “modelo 2” com o objectivo de representar mais fielmente a proporção entre o
betão integral e o betão crivado. Consideraram-se, numa camada genérica, os elementos do
paramento, bem como um alinhamento de elementos centrais, com as propriedades do betão
crivado, obtendo-se, para um nó central dessa camada, os resultados apresentados na Fig.
5.44.
Pela análise dos resultados obtidos observa-se que a diferença de resultados é marginal, e
esta tende a atenuar com o tempo.
90
T(ºC)
45
40
nó
Nó central: Sit referência
central: Situação de referência
35
Nó central:
nó central: Betão
betaocrivado 2,0m
crivado 2,0nos
m extensómetros
nos extensómetros
30
25
20
15
10
5
0
31-Ago-99 18-Mar-00 4-Out-00 22-Abr-01 8-Nov-01 27-Mai-02
Estando a trabalhar com modelos simples achou-se também muito útil estudar a influência da
temperatura de colocação do betão (veja-se a Fig. 5.45), com o objectivo de possibilitar uma
melhor interpretação dos resultados que se obtiverem.
Os resultados obtidos, para um nó a meia espessura de uma camada genérica, reflectem que a
diferença entre as temperaturas obtidas é, inicialmente, da ordem de grandeza da diferença existente
na temperatura de colocação, e essa desigualdade tende a desaparecer com o tempo.
Este efeito foi abordado por Cervera, em [45], a respeito do estudo da eficiência do
pré-arrefecimento do betão previamente à betonagem, tendo concluído que a eficiência do
procedimento é limitada. O pré-arrefecimento é tanto mais eficiente quando mais espessas forem as
camadas betonadas (em camadas espessas, a baixa condutividade do betão impede que o fluxo de
calor na direcção da face exposta da camada betonada seja suficiente para reduzir a diferença de
temperatura entre o betão e o ambiente) e quanto mais rapidamente for betonada a camada seguinte
(permitindo desta forma reduzir o período de tempo em que a camada recentemente betonada está
exposta à temperatura ambiente).
T(ºC)
45
40
Situação de referência: Tcolocação=Tcoloc1
Sit referência:Tcoloc=Tcoloc1
35
Situação: Tcolocação=Tcoloc1-10ºC
Situacao:Tcoloc=Tcoloc1-10ºC
30
25
20
15
10
5
0
31-Ago-99 9-Dez-99 18-Mar-00 26-Jun-00 4-Out-00 12-Jan-01 22-Abr-01 31-Jul-01 8-Nov-01 16-Fev-02
91
5.8.5 Malha de elementos finitos
92
Fig. 5.46 – Modelo utilizado em fase construtiva – pormenor da discretização adoptada.
93
Fig. 5.48 – Discretização utilizada em fase construtiva- vista geral.
T(ºC)
50
valores calculados-malha fase definitiva
45 valores calculados-malha fase construtiva
valores observados
40
T_media_ar
35
30
25
20
15
10
0
0 50 100 150 200 250 300 350
dias desde início do ano
Fig. 5.49 – Temperaturas em fase definitiva no bloco 8/9, próximas do coroamento (Z=141,0m), a jusante – T60.
94
T(ºC)
50
valores calculados-malha fase definitiva
45 valores calculados-malha fase construtiva
valores observados
40 T_média_ar
35
30
25
20
15
10
0
0 50 100 150 200 250 300 350
dias desde o início do ano
Fig. 5.50 – Temperaturas em fase definitiva no bloco 17/18, próximas do coroamento (Z=141,0m), a jusante – T70.
T (ºC)
50
valores calculados - malha fase definitiva
45 valores calculados - malha fase construtiva
valores observados
40 T_média_ar
35
30
25
20
15
10
0
0 50 100 150 200 250 300 350
dias desde o início do ano
Fig. 5.51 – Temperaturas em fase definitiva no bloco 13/14, a meia-altura (Z=113,0m), a jusante – T33.
95
utilizada aquando da interpretação dos resultados obtidos nas faces expostas durante o processo
construtivo.
5.8.6.1 Introdução
A simulação do processo construtivo (Fig. 5.52) numa análise por elementos finitos deve
contemplar [5]:
Desactivar/activar os elementos de acordo com a sequência construtiva;
As temperaturas do material já construído, calculadas no passo anterior, devem entrar no
novo passo como temperaturas inicias;
As matrizes de “rigidez” (condutividade) e de “massa” (calor específico), bem como as
correspondentes condições de fronteira, devem ser actualizadas em cada incremento, por
forma a serem coerentes com as mudanças de topologia da malha de elementos finitos.
96
5.8.6.2 Construção do ficheiro de dados
BARRAGEM
97
enquanto as faces estiverem cofradas este programa não considerará a sua inclusão no vector de
faces expostas ao fluxo de calor da radiação solar.
Por forma a implementar a sequência descrita, o programa foi preparado para receber
informação sobre o coeficiente de transmissão térmica total das faces expostas e das faces cofradas,
bem como sobre o número de horas depois da betonagem após o qual se procede à descofragem.
Não havendo conhecimento sobre a data em que se descofrou cada camada betonada em Alqueva, e
tendo em conta que em [23] se indica que um período de 5 dias entre betonagens é tipicamente
assumido para o betão tradicional, assumiu-se, simplificadamente, que se descofram as camadas
uma semana após a respectiva betonagem.
O último input necessário para este programa é a indicação do fim do período de análise.
Tendo em conta que não se simulou a temperatura prescrita da água da albufeira sobre o paramento
de montante, nem o processo de refrigeração artificial do betão, não teria qualquer validade física
calcular até vários anos após a finalização da construção. Realizou-se o cálculo até 31-12-2004 (a
última betonagem acontece a 21-12-2001). A interpretação dos resultados deverá por isso ser
efectuada à luz desta informação.
Na representação do processo construtivo é necessário ter em conta a actualização das
condições de fronteira coerentemente com as mudanças da malha de elementos finitos. Para isso,
atribui-se a cada face, de cada elemento, informação sobre a face do elemento adjacente. Com a
activação de um elemento no vector de elementos colocados, a matriz de faces expostas em cada
fase é actualizada por forma a reflectir a nova condição (exposta/coberta) da face do elemento
adjacente.
Determinou-se que as faces expostas dos descarregadores de fundo e de meio fundo deveriam
ser consideradas adiabáticas (em vez de expostas à radiação solar e à temperatura do ar), uma vez
que estão bastante isoladas das condições ambientais. Calculou-se então o plano das superfícies
pertencentes aos descarregadores, o qual se introduziu no programa, permitindo a determinação das
faces de elementos que deverão ser adicionadas ao vector de faces adiabáticas. É lógico que estas
faces só se tornam isoladas numa fase bastante posterior à sua colocação, quando os elementos
adjacentes estiverem todos construídos e as começarem a proteger. Face à necessidade de adoptar
um critério que determine o momento em que as faces deixam de estar expostas, considerou-se
muito simplesmente que enquanto o elemento a que pertencem estiver cofrado essa face poderá ser
exposta (quando se tratar de uma face superior, logicamente), e assim que se proceda à sua
descofragem as faces passarão a adiabáticas. Quando adiabáticas, no que respeita à exposição à
radiação solar, bastou simplesmente não considerar as faces respectivas no vector correspondente
às faces com fluxo de calor prescrito. Quanto à exposição à temperatura do ar considerou-se um
coeficiente de transmissão nulo para simular o isolamento.
Apresenta-se na Fig. 5.53 um fluxograma indicativo das linhas gerais que definem o programa
elaborado.
98
(continua)
99
Fig. 5.53 – Programa criadad.f90 – fluxograma – Bizagi Process Modeler.
100
Criou-se, posteriormente, um programa que desenha as fases construtivas (des_fases.f90)
para uma listagem de data e hora em que se pretenda essa representação. Este programa tem como
dados de entrada a informação que resulta do programa criardad.f90, tendo a particularidade de
diferenciar as faces expostas, das faces cofradas e das adiabáticas pela interpretação do coeficiente
de transmissão térmica total respectivo.
Apresentam-se em seguida fotografias da construção da barragem de Alqueva (Fig. 5.54) bem
como algumas imagens resultantes da utilização do programa referido (Fig. 5.55). A cor verde da
superfície representa uma face cofrada, enquanto que a vermelha é indicativa das superfícies
consideradas adiabáticas. As superfícies a azul exibem as superfícies expostas à radiação solar e à
temperatura do ar.
Pela apreciação das imagens é possível observar que os blocos pertencentes à margem
esquerda foram os últimos que se construíram. Esta particularidade ocorreu devido ao facto de que,
enquanto se construiu o resto da barragem, se procedeu ao tratamento da falha existente nesta
margem, havendo necessidade de retardar a construção dos blocos sobre a mesma.
É interessante contrastar estas imagens com fotografias realizadas durante a construção da
barragem, sendo possível observar um paralelismo muito forte, como se pode reconhecer na Fig.
5.56.
101
Fig. 5.55 – Faseamento construtivo.
102
Fig. 5.56 – Simulação do faseamento construtivo.
FUNDAÇÃO
Após trabalhar com o modelo sem fundação (fundação representada como uma fronteira
adiabática), afinando e validando por exemplo a expressão analítica que define a afinidade química
normalizada característica do betão empregue na barragem de Alqueva, torna-se necessário
incorporar a fundação no ficheiro de dados. A fundação é introduzida como mais uma fase
construtiva, a primeira, na qual se adicionam os 7529 elementos que a constituem. Relativamente à
data e hora que determinam o início desta fase, estas têm que ser coerentes com o dia do ano e a
hora para os quais é determinado o campo de temperatura inicial da fundação (ver subsecção 5.8.7),
para que este esteja bem enquadrado no tempo. Assim, considera-se que esta fase começa
exactamente um ano antes do início da construção da barragem, dado que o campo de temperatura
inicial da fundação é determinado para este dia do ano.
103
Definiu-se a fundação coerentemente com a discretização adoptada para a malha da barragem
(ver Fig. 5.46), sendo portanto necessário proceder à sua inclusão no ficheiro de dados a ser lido por
PATQ_2.
Determinaram-se as faces expostas do maciço. Estas são designadas por faces expostas
potenciais, uma vez que, ao longo da construção da barragem, há faces expostas que são ocultas
pelos elementos da barragem que vão sendo betonados. Resulta portanto necessário realizar a
actualização da matriz de faces efectivamente expostas do maciço para todas as betonagens. Para
isso, construiu-se um programa (criardad_fund.f90), o qual recebe informação sobre os dados
gerais que definem a estrutura (barragem e fundação), e partindo dos resultados de criardad.f90
e da informação relativa ao maciço rochoso de fundação constrói o ficheiro de dados definitivo
PATQ2.dad (ver Anexo F)
No que respeita às faces expostas ao fluxo de radiação solar não existe, relativamente ao
ficheiro obtido por criardad.f90, alteração na matriz de faces expostas, uma vez que se
considera que o maciço rochoso não tem faces expostas à radiação solar, dado que se admite um
coeficiente de absorção nulo como resultado da protecção conferida pela vegetação. As faces
expostas à radiação solar correspondem simplesmente às da barragem.
Relativamente às faces a considerar para o efeito de trocas de calor com o ar, as faces
efectivamente expostas do maciço terão quer ser adicionadas às da barragem. É por isso necessário,
para cada fase, determinar quais das faces potencialmente expostas do maciço rochoso são
eliminadas devido à ocultação por elementos da barragem. Em linhas gerais, este programa
determina quais as faces do maciço rochoso que são ocultas pelas consecutivas betonagens
determinando, em cada fase, se existe alguma face do novo elemento betonado com pelo menos 3
nós coincidentes com os nós das faces expostas do maciço rochoso. Caso exista, não adicionará
essa face do maciço à matriz de faces expostas à temperatura do ar.
Barragem
Fundação
104
A data correspondente ao final de análise deverá permitir um período de cálculo
suficientemente longo para que as temperaturas do maciço de fundação adquiram um
comportamento cíclico. Pela interpretação de 5.7.1 admitiu-se que um período de 10 anos seria
suficiente. É também importante que este cálculo termine no mesmo dia do ano, e à mesma hora, em
que se inicia a construção da barragem, para que as temperaturas iniciais assim obtidas estejam bem
enquadradas no tempo. Assim, em 5.8.6.2 – Fundação, esta fase será adicionada exactamente um
ano antes do início da construção, e toda a informação será coerente.
É assinalado o número de nós com temperatura prescrita correspondente à temperatura da
água a montante (0), sendo também fornecido, de acordo com Anexo E, um ficheiro de dados
secundário com informação sobre os nós da base do maciço (ver Fig. 5.57) e correspondente
temperatura prescrita (considerada igual a 15ºC).
Passa-se a designar o número de faces expostas à radiação solar (0, tendo em conta que o
maciço rochoso tem um coeficiente de absorção muito reduzido), e são também enumeradas as
faces com trocas de calor por convecção e radiação, as quais se encontram materializadas na Fig.
2
5.58, e correspondente coeficiente de transmissão térmica, considerado de 20,2W/(m K).
Finalmente é introduzida a temperatura inicial tomada para os 37 710 nós que pertencem à
fundação, tomada como 15ºC.
São analisados 6 nós pertencentes ao interior do maciço rochoso, a várias cotas, com o
objectivo de perceber se as suas temperaturas se comportam ciclicamente, indicando que são
independentes das condições iniciais. As temperaturas assim validadas podem portanto ser
introduzidas no ficheiro de dados final (PATQ2.dad) correspondentemente à temperatura inicial dos
nós pertencentes à fundação, à hora do dia do ano em que terminou este cálculo.
Fig. 5.57 – Faces pertencentes à base do maciço rochoso. Fig. 5.58 – Maciço rochoso – faces expostas.
105
5.8.8 Ficheiros de dados
Os dados introduzidos nos ficheiros 0-base_mac.dad e PATQ2.dad, lidos pelo programa
PAT_2, que definem, respectivamente, a temperatura prescrita dos nós da base do maciço, e a malha
da Fig. 5.48, encontram-se no Anexo F.
No que se segue, far-se-á uma breve apresentação dos resultados obtidos (Fig. 5.59 a Fig.
5.61) após o cálculo térmico, observando-se que a escala de cores está adaptada a cada figura.
Relativamente à Fig. 5.59, particularmente na primeira imagem apresentada, deve-se assinalar
que dada a simplificação adoptada na geração da malha, os elementos superiores do maciço da
margem esquerda apresentam uma temperatura inferior à real (elementos representados a azul), no
entanto verificou-se que esta simplificação parece não ter relevância nos resultados obtidos na
barragem.
Apresenta-se em seguida, Fig. 5.63 a Fig. 5.65, a evolução do campo de temperaturas num
perfil central do corpo da barragem, tal como se indica na Fig. 5.62.
A validade e interpretação destes resultados serão discutidas na subsecção 5.9.2.
A máxima temperatura calculada foi de 54,13ºC, a 2001-08-01. Esta temperatura acontece num
nó pertencente à margem esquerda (Fig. 5.66), o que é justificável uma vez que a betonagem dos
elementos respeitantes a esta margem ocorreu a um ritmo mais elevado do que no resto da
barragem, na sequência da realização dos necessários trabalhos de tratamento da falha existente
nesta margem. Durante o decurso desta operação foi impossibilitada a betonagem dos elementos da
barragem existentes sobre a falha, sendo que a sua betonagem se realizou posteriormente à da
restante barragem, e a um ritmo superior, provocando a geração de temperaturas mais elevadas no
betão devido à inibição da dissipação do calor pela face superior das camadas betonadas.
106
Fig. 5.59 – Resultados do cálculo térmico -1997/05/27 a 2000/01/16.
107
Fig. 5.60 – Resultados do cálculo térmico -2000/04/25 a 2001/10/12.
108
Fig. 5.61 – Resultados do cálculo térmico -2001/12/01 a 2001/12/21.
Fig. 5.63 – Evolução do campo de temperaturas num perfil da barragem – 1998/07/23 a 1999/11/13.
109
Fig. 5.64 – Evolução do campo de temperaturas num perfil da barragem – 2000/02/20 a 2001/07/04.
110
Fig. 5.65 – Evolução do campo de temperaturas num perfil da barragem – 2001/10/12 a 2003/02/24.
111
5.9.2 Comparação dos resultados obtidos com as temperaturas
registadas durante a construção
112
Quadro 5.9.– Localização dos instrumentos estudados.
G27 13-08-2001 20-08-2001 20,29 33,0 20,29 25,0 0,49 0,54 160,0 156,8
G02 03-03-1999 18-03-1999 8,21 - 8,21 16,0 0,49 0,38 160,0 160,8
G08 06-01-1999 05-02-1999 6,97 - 7,00 12,0 0,49 0,56 160,0 158,4
G16 10-12-1999 17-12-1999 8,66 13,0 8,66 12,0 0,49 0,40 160,0 163,2
T59 05-07-2001 12-07-2001 18,86 30,0 18,86 - 0,49 0,59 160,0 160,0
T64 19-09-2000 02-10-2000 16,32 23,0 16,32 - 0,49 0,55 160,0 162,4
T74 27-09-2000 10-10-2000 15,41 24,0 15,41 - 0,49 0,55 160,0 160,0
113
5.9.2.1 Extensómetros
114
faseamento construtivo real faz-se também sentir na evolução da temperatura atingida pelo nó. Ora,
os blocos foram modelados segundo elementos com 3,0m de altura. No entanto, tal como se
mencionou, nesta zona as camadas foram betonadas com apenas 1,0 m. Assim, o modelo de cálculo
não tem flexibilidade para simular o verdadeiro processo construtivo, uma vez que agrupa três
betonagens num só elemento, imputando-lhe a data de colocação correspondente à data cujo
intervalo de cotas betonadas engloba a cota do ponto médio desse elemento. Materializando o que se
acaba de explicar, sabe-se que: na realidade, a 23-12-98 betonou-se da cota 78 à 79, a 06-01-99 da
cota 79 à 80, a 21-01-99 da cota 80 à 81, a 05-02-99 da cota 81 à 83, a 19-02-99 da cota 83 à 84, a
19-03-99 da cota 84 à 85, a 09-04-99 da cota 85 à 87 e a 26-04-99 da cota 87 à 89. No entanto, no
modelo de cálculo, o processo construtivo resultante da discretização dos elementos com 3,0m de
altura designa que a betonagem da cota 78 à 81 ocorreu a 06-01-99, da cota 81 à 84 a 05-02-99, e
da cota 84 à 88 a 26-04-99. Resulta portanto que a camada existente entre as cotas 81 e 83 deixa de
estar exposta, na realidade, a 19 de Fevereiro, e entre as cotas 83 e 84 a 19 de Março. No entanto,
no modelo de cálculo, a camada correspondente (cotas 81 à 84) deixa de estar exposta apenas a 26
de Abril, passando por isso muito mais tempo a arrefecer do que na realidade, introduzindo a
diferença que se verifica nos resultados a partir de fins de Março.
Quanto ao extensómetro G16, obtiveram-se os resultados indicados na Fig. 5.71, a partir dos
quais se constata que a temperatura inicial é idêntica à registada, visualizando-se perfeitamente a
subida de temperatura a 17 de Dezembro, data em que é betonada a camada seguinte. Entretanto, a
partir de Janeiro de 2000 os resultados começam a afastar-se das leituras realizadas, e a explicação
para o sucedido é idêntica à do caso anteriormente apresentado, justificando-se face à discretização
da malha, que não permite simular exactamente o processo construtivo. Assim, de acordo com o
modelo de cálculo, a camada com cotas 96,75 à 99,5 é betonada a 10-12-99, com cotas 99,5 à 102,2
a 17-12-99, e com cotas 102,2 à 105 a 14-01-00. No entanto, na realidade, a betonagem ocorreu da
seguinte forma: cota 96 à 97 a 03-12-99, cota 97 à 99 a 10-12-99, cota 99 à 101 a 17-12-99, cota 101
à 101,5 a 29-12-99, cota 101,5 à 103 a 07-01-00 e cota 103 à 104 a 14-01-00. Então, a camada que
na realidade deixa de estar exposta a 29 de Dezembro, deixa de o estar, no modelo, apenas a 14 de
Janeiro. Estando-se no Inverno, o facto de as faces estarem mais tempo expostas reflecte-se num
abaixamento de temperatura relativamente à situação em que tal não sucede.
115
T(ºC)
55
50 T_observada
T_calculada
45
40
35
30
25
20
15
10
5
0
13-08-01 02-10-01 21-11-01 10-01-02 01-03-02 20-04-02
T(ºC)
55
50 T_observada
T_calculada
45
40
35
30
25
20
15
10
5
0
03-03-99 19-09-99 06-04-00 23-10-00 11-05-01 27-11-01
116
T(ºC)
55
T_observada
50
45 T_calculada
40
35
30
25
20
15
10
5
0
10-07-99 26-01-00 13-08-00 01-03-01 17-09-01 05-04-02
T(ºC)
55
50 T_observada
T_calculada
45
40
35
30
25
20
15
10
5
0
06-01-99 06-04-99 05-07-99 03-10-99 01-01-00 31-03-00 29-06-00 27-09-00 26-12-00 26-03-01 24-06-01
117
T(ºC)
55
50 T_observada
T_calculada
45
40
35
30
25
20
15
10
5
0
09-12-99 08-03-00 06-06-00 04-09-00 03-12-00 03-03-01 01-06-01 30-08-01 28-11-01 26-02-02 27-05-02
5.9.2.2 Termómetros
118
considerada provocaria um gráfico de temperaturas inicialmente superior, sendo que essa diferença
desapareceria ao longo do tempo, o que é consistente com os resultados apresentados.
Relativamente aos termómetros localizados nos paramentos, T31 e T33, obtiveram-se os
resultados constantes nas Fig. 5.74 e Fig. 5.75. Observa-se que as temperaturas calculadas e os
registos existentes seguem a mesma linha de tendência. A composição do betão nesta zona, tal
como se indica no Quadro 5.10, incorpora uma quantidade em cimento superior à considerada no
modelo, motivo pelo qual as temperaturas iniciais são superiores às calculadas. Entretanto este calor
é rapidamente dissipado pelos paramentos, e são depressa observadas as oscilações sazonais da
temperatura ambiente. Os valores observados a jusante, Fig. 5.75, apresentam maior dispersão que
os valores registados a montante devido à diferente exposição às radiações solares. Dada a elevada
quantidade de resultados, apenas foram representadas as temperaturas obtidas cada 24h, razão pela
qual os gráficos de temperaturas calculadas não apresentam a onda diária.
T(ºC)
55
50 T_observada
45 T_calculada
40
35
30
25
20
15
10
5
0
22-07-99 30-10-99 07-02-00 17-05-00 25-08-00 03-12-00 13-03-01 21-06-01
119
T(ºC)
55
50 T_observada
45
T_calculada
40
35
30
25
20
15
10
5
0
07-02-00 17-05-00 25-08-00 03-12-00 13-03-01 21-06-01
T(ºC)
55
50 T_observada
45 T_calculada
40
35
30
25
20
15
10
5
0
04-02-00 22-08-00 10-03-01 26-09-01 14-04-02 31-10-02
120
T(ºC)
55
50 T_observada
45 T_calculada
40
35
30
25
20
15
10
5
0
04-02-00 22-08-00 10-03-01 26-09-01 14-04-02 31-10-02
121
sendo que essa diferença desapareceria ao longo do tempo, o que é consistente com os resultados
apresentados.
No que respeita ao termómetro T59 alcançaram-se os resultados mostrados na Fig. 5.78. Não
existe um conjunto de informação que permita fundamentar o comportamento tão fidedigno da curva
correspondente à temperatura calculada. A quantidade de cimento é idêntica, e infere-se que todos
os outros factores (ritmo de betonagem, temperatura de colocação, etc.) deverão ter sido modelados
à semelhança do que aconteceu na realidade, por forma a contribuir para uma resposta tão similar à
que se verificou efectivamente — apesar de a temperatura ambiente real e a considerada serem
substancialmente diferentes, uma vez que a temperatura ambiente real na altura da colocação era
superior ao limite preconizado pelo DL 445/89 [46] para a temperatura de colocação do betão, então
ter-se-á arrefecido o betão, e ter-se-á atingido uma temperatura de colocação idêntica à considerada
no modelo.
Relativamente ao termómetro T64, obtiveram-se os resultados patentes na Fig. 5.79. Não
existe informação suficiente que permita explicar o pequeno desnível inicial, entendendo-se que
poderá estar relacionado com a diferença de 7ºC na temperatura ambiente considerada relativamente
à registada.
Quanto ao termómetro T69, obtiveram-se os resultados apresentados na Fig. 5.80. Apesar de
não existir informação que permita justificar o desfasamento inicial, deduz-se que, tal como nos
termómetros T49 e T54, a diferença verificada poderá ser devida à temperatura de colocação
considerada.
Finalmente, para os termómetros T74 e T79 alcançaram-se os resultados expostos nas Fig.
5.81 e Fig. 5.82, respectivamente. Não se dispondo de informação que permita enquadrar o
comportamento tão realista das curvas correspondentes à temperatura calculada, tecem-se os
mesmos comentários que os mencionados para o termómetro T59.
122
T(ºC)
55
50 T_observada
45 T_calculada
40
35
30
25
20
15
10
5
0
06-11-01 14-02-02 25-05-02 02-09-02 11-12-02 21-03-03 29-06-03 07-10-03 15-01-04
T(ºC)
55
50 T_observada
45
40 T_calculada
35
30
25
20
15
10
5
0
2001-03-16 2001-10-02 2002-04-20 2002-11-06 2003-05-25 2003-12-11
123
T(ºC)
55
50 T_observada
45
T_calculada
40
35
30
25
20
15
10
5
0
05-07-00 21-01-01 09-08-01 25-02-02 13-09-02 01-04-03 18-10-03
T(ºC)
55
50 T_observada
45 T_calculada
40
35
30
25
20
15
10
5
0
19-09-00 07-04-01 24-10-01 12-05-02 28-11-02 16-06-03 02-01-04
124
T(ºC)
55
50 T_observada
45 T_calculada
40
35
30
25
20
15
10
5
0
04-04-01 21-10-01 09-05-02 25-11-02 13-06-03 30-12-03
T(ºC)
55
50 T_observada
45
T_calculada
40
35
30
25
20
15
10
5
0
27-09-00 15-04-01 01-11-01 20-05-02 06-12-02 24-06-03 10-01-04
125
T(ºC)
55
50 T_observada
45 T_calculada
40
35
30
25
20
15
10
5
0
31-07-00 16-02-01 04-09-01 23-03-02 09-10-02 27-04-03 13-11-03
126
T(ºC)
50
45
G05
G05 –SEM_FUNDAC
Fundação fronteira adiabática
40
35 G05 –COM_FUNDAC
G05 Fundação representada
30
25
20
15
10
5
0
10-07-99 18-10-99 26-01-00 05-05-00 13-08-00 21-11-00 01-03-01 09-06-01
Fig. 5.84 – Efeito da consideração da fundação nos extensómetros da base da barragem – G05.
T(ºC)
50
45
40 G08
G08 SEM_FUNDAC
– Fundação fronteira adiabática
35 – Fundação representada
G08 COM_FUNDAC
G08
30
25
20
15
10
5
0
06-01-99 05-06-99 02-11-99 31-03-00 28-08-00 25-01-01 24-06-01
Fig. 5.85 – Efeito da consideração da fundação nos extensómetros da base da barragem – G08.
T(ºC)
50
45
G16–SEM_FUNDAC
G16 Fundação fronteira adiabática
40
35 G16–COM_FUNDAC
G16 Fundação representada
30
25
20
15
10
5
0
09-12-99 18-03-00 26-06-00 04-10-00 12-01-01 22-04-01 31-07-01
Fig. 5.86 – Efeito da consideração da fundação nos extensómetros da base da barragem – G16.
127
5.9.4 Comentários finais
Durante o processo construtivo, e tal como vem sendo mencionado, a evolução da temperatura
no corpo da barragem é condicionada por diversos factores.
Assim, pela análise dos resultados obtidos, observa-se que num período inicial tem grande
importância a temperatura de colocação do betão, a correspondente reacção de hidratação do
cimento, bem como o ritmo de colocação das camadas consecutivas. Entretanto ganha relevância a
evolução da temperatura do ar no paramento de jusante e nas zonas expostas do paramento de
montante, a acção da radiação solar sobre essas zonas expostas, bem como o progresso da
temperatura da água da albufeira nas zonas submersas do paramento de montante. Estas condições
interferem no ritmo a que ocorre o arrefecimento do betão após a geração do calor de hidratação.
Para além disso, na barragem de Alqueva, tendo em vista os trabalhos de injecção das juntas
de contracção, procedeu-se ao processo de refrigeração artificial do betão da barragem utilizando um
sistema de circulação de água fria em serpentinas horizontais embebidas no betão. Este processo, e
tal como se mencionou na subsecção 3.6.1, para além de permitir a injecção das juntas tem também
outros benefícios: o facto de a junta estar mais aberta quando é injectada possibilita que se instale
uma pré-compressão no arco, favorável ao seu comportamento, uma vez que o arco de Alqueva é
muito abatido. Este processo foi realizado a partir de 2001, mas não foi modelado no presente
cálculo.
A conjugação de todos estes factores torna difícil a realização de previsões sobre a evolução
da temperatura da barragem durante o processo construtivo.
Deve-se ainda recordar que a malha adoptada para o estudo desta fase apresenta pouca
sensibilidade ao efeito da onda térmica diária, tal como se demonstrou na subsecção 5.8.5, o que
deverá ser tido em consideração na análise dos resultados obtidos nas faces expostas.
Não obstante, apesar de toda a variabilidade descrita, obtiveram-se resultados bastante
satisfatórios quando comparados com os registos existentes, pelo que se constata que é possível,
utilizando o programa de cálculo PATQ_2 [5], obter estimativas bastante credíveis da subida da
temperatura de barragens durante a sua construção, desde que se reproduzam convenientemente os
factores que mais a afectam.
128
Capítulo 6
129
Assim, para que os métodos de controlo de temperatura utilizados nas barragens sejam
eficazmente previstos, é necessário que a reflexão sobre os mesmos se baseie em avaliações
verosímeis da temperatura das barragens.
Após a realização deste trabalho percebeu-se que é possível, utilizando o programa de cálculo
PATQ_2 [5], obter estimativas bastante credíveis das variações de temperatura de barragens durante
a sua construção, desde que se reproduzam convenientemente os factores que mais a afectam.
Antes de mais, e começando pelo óbvio, é necessário modelar adequadamente as acções
climáticas características da localização da barragem, bem como as propriedades dos materiais. No
que se refere ao betão, é muito importante conhecer a sua composição, bem como o tipo de cimento
e respectiva dosagem, para representar convenientemente a sua curva de hidratação. É também
importante conhecer o tipo de cofragem utilizada e o tempo que esta se mantém colocada.
No que concerne à malha de elementos finitos, percebeu-se neste trabalho que é essencial
que a sua discretização esteja adaptada à altura das camadas betonadas, bem como ao
espaçamento das juntas de contracção, por forma a dotar o modelo de flexibilidade suficiente para
simular convenientemente o processo construtivo. Por exemplo, se a malha não for muito refinada, e
por isso agrupar várias betonagens num só elemento, não serão reproduzidas as condições de
fronteira reais das faces pertencentes a esse elemento, interferindo na dissipação do seu calor de
hidratação, com repercussões na temperatura por ele atingida. É portanto fundamental que a malha
de elementos finitos tenha uma discretização adaptada ao faseamento construtivo, não só ao nível da
geometria dos seus elementos, mas também na sua actualização ao longo de tempo (elementos
existentes e condições de exposição, para cada fase de betonagem ou descofragem), permitindo
assim representar convenientemente o ritmo de betonagem.
Ainda no que diz respeito ao modelo, verificou-se também que é necessário que a malha seja
refinada junto aos paramentos expostos, por forma a dotá-lo de capacidade para captar o efeito da
onda diária da temperatura do ar.
A temperatura de colocação do betão é também relevante no cálculo da subida de temperatura
do betão, sendo que o efeito associado a esta condição inicial tende a diminuir ao longo do tempo,
com maior ou menor intensidade dependendo das condições de exposição das camadas. Esta
observação atesta a limitada eficiência do pré-arrefecimento dos materiais constituintes do betão
como técnica de controlo da temperatura.
Verificou-se que a modelação da fundação, ou a sua consideração como uma fronteira
adiabática, é um efeito que apenas interfere na temperatura dos nós da base da barragem, não se
propagando em altura.
A conjugação da correcta simulação de todos estes factores permite, como se observou, a
obtenção de estimativas muito credíveis da subida da temperatura do betão durante a construção.
Assim, é possível ensaiar, em fase de projecto, diferentes ritmos de betonagem, espaçamento de
juntas, pré-arrefecimento dos materiais ou refrigeração artificial, por forma a adoptar, de forma
versada, o processo construtivo mais eficiente e económico ao nível do controlo da temperatura do
betão.
130
6.3 Desenvolvimentos Futuros
Como sugestão para futuro desenvolvimento, considera-se que seria apropriado implementar a
acção da refrigeração artificial do betão. Este trabalho seria bastante interessante, na medida em que
permitiria que se quantificasse antecipadamente a quantidade de energia que teria que se gastar para
obter determinado abaixamento de temperatura. Com esta ferramenta tornar-se-ia possível, por
exemplo, estimar o custo do abaixamento da temperatura até um determinado nível que permitisse
não só injectar as juntas de contracção, como também introduzir uma pré-compressão apreciável nos
arcos, optimizando assim o seu comportamento estrutural. Percebe-se que o procedimento para a
implementação desta acção é complexo, não só devido à dificuldade do próprio tema, como também
devido às implicações geométricas de discretização do modelo, decorrentes da diferença na ordem
de grandeza das serpentinas em relação ao volume da barragem. Não obstante, o assunto
aparenta-se muito atractivo e com muito potencial, pelo que se pretende desenvolvê-lo, em última
instancia procedendo a simplificações, pela incorporação desta acção no termo G da expressão
(2.28), representativo de uma fonte externa de geração de calor, tal como mencionado em 2.4.2.
Também se considera que seria conveniente realizar um cálculo mecânico correspondente às
temperaturas obtidas no corpo da barragem durante o processo construtivo, por forma a quantificar o
nível de tensões de tracção que tipicamente poderá ocorrer nesta fase.
131
7 Bibliografia
[1] “Regulamento de Segurança de Barragens,” Decreto-Lei n.º 344/2007 - Diário da República, 1.ª
série — N.º 198 — 15 de Outubro de 2007.
[3] A. Silveira, "As variações de temperatura nas barragens". Tese de Especialista LNEC. Memória
nº177, LNEC, 1961.
[4] LNEC, “Análise Térmica de barragens de Betão - Acções térmicas ambientais,” Relatório
185/2012-DBB/NMMF, 2012.
[6] M. Azenha, “Comportamento do betão nas primeiras idades - Fenomenologia e análise termo-
mecânica,” Dissertação de Mestrado, FEUP, 2004.
[11] O. C. Zienkiewicz , R. Taylor e J. Zhu, "Finite Element Method: Its Basis and Fundamentals",
Elsevier Butterworth - Heinemann, 2005.
[12] T. J. R. Hughes, "The Finite Element Method: Linear Static and Dynamic Finite Element
Analysis", Mineola, New York, USA: Dover Publications, Inc, 2000.
[14] P. Mendes, "Acção Térmica Diferencial em Pontes de Betão", Tese de Mestrado, IST, 1989.
[15] R. Lewis, P. Nithiarasu e K. Seetharamu, "Fundamentals of the Finite Element Method for heat
and fluid flow", John Wiley & Sons Ltd, 2004.
[16] H. Thomas e Z. Zhou, “An analysis of factors that govern the minimum time step size to be used
in the finite element analysis of diffusion problems,” Communications in Numerical Methods in
Engineering, vol. 14, pp. 809-819, 1998.
133
[17] C. Hellmich, F.-J. Ulm e H. Mang, “Consistent linearization in Finite Element analysis of coupled
chemo-thermal problems with exo- or endothermal reactions,” Computational Mechanics 24,
Springer-Verlag, pp. 238-244, 1999.
[22] “Geologia de Engenharia - Propriedades indice e classificação das rochas - FEUP,” [Online].
Available: http://paginas.fe.up.pt/~geng/ge/apontamentos/Cap_3_GE.pdf. [Acedido em 18 05
2013].
[23] USACE - Engineering and Design - Thermal studies of mass concrete structures, ETL 1110-2-
542, 1997.
[24] A. C. B. Ribeiro, Betão compactado com cilindros - composição e caracteristicas, FEUP: Teses
e programas de investigação LNEC, 1999.
[27] S. Kumar e S. Mullick, “Wind heat transfer coefficient in solar collectors in outdoor conditions,”
Solar Energy 84, pp. 956-963, 2010.
[28] B. Zhu, “Prediction of Water temperature in deep reservoirs,” Dam Engineering Vol VIII Issue I,
pp. 13-25, 1997.
[29] INETI, "Potencial Eólico em Portugal Continental", vol. Unidade de Energia Eólica e dos
Oceanos, Departamento de Energias Renováveis.
[30] D. Queluz, "Central de Torre Solar para Produção de Energia Eléctrica: Modelação e Simulação
do sistema em regime permanente", Dissertação de Mestrado, IST, 2007.
[32] F. Néry e J. Matos, “Terrain Parameters in solar radiation models,” em Proceedings of the 14th
134
European Colloquium on Theoretical and Quantitative Geography, Tomar, Portugal, 9 a 13 de
setembro de 2005.
[33] M. Cervera, R. Faria, J. Oliver e T. Prato, “Numerical modelling of concrete curing, regarding
hydration and temperature phenomena,” Computers and Structures 80, pp. 1511-1521, 2002.
[34] J. Hofierka e M. Súri, “The solar radiation model for Open source GIS: implementation and
applications,” em Proceedings of the Open source GIS - GRASS users conference 2002,
Trento, Italy, 11-13 Setembro 2002.
[35] F. Jin, Z. Chen, J. Wang e J. Yang, “Practical procedure for predicting non-uniform temperature
on the exposed face of arch dams,” Applied Thermal Engineering , vol. 30, pp. 2146-2156,
2010.
[37] J. G. Corripio, “Vectorial algebra algorithms for calculating terrain parameters from DEMs and
solar radiation modelling in mountainous terrain,” Int. J. Geographical Irformation Science, vol.
17(1), pp. 1-23, 2003.
[38] “Joint Researcg Centre - Institute for energy and transport - PVCIS,” European Commission,
[Online]. Available: http://re.jrc.ec.europa.eu/pvgis/solres/solmod3.htm. [Acedido em 12 2012].
[40] B. Y. H. Liu e R. C. Jordan, “The interrelationship and characteristic distribution of direct, diffuse
and total solar radiation,” Solar Energy, Volume 4, Issue 3, pp. 1-19, July 1960.
[43] “Caracterização das propriedades reológicas do betão da barragem de Alqueva,” LNEC - NO,
(a publicar).
[44] LNEC, “Apreciação sobre o controlo da qualidade do betão aplicado na barragem do Alqueva -
relatório final,” Relatório 106/2003 DM.
[45] M. Cervera, J. Oliver e T. Prato, “Simulation of Construction in RCC dams - I - Temperature and
aging,” Journal of Structural Engineering, vol. 126(9), pp. 1053-1061, 2000.
[48] I. M. Smith e D. Griffiths, "Programming the Finite Element Method", Wiley, 2004.
135
[49] P. Vila Real, "Modelação por Elementos Finitos do Comportamento Térmico e termo-elástico de
Sólidos Sujeitos a Elevados Gradientes Térmicos". Tese de doutoramento, Universidade do
Porto, 1988.
136
8 Anexo A
ABORDAGEM COMPUTACIONAL
O presente trabalho foi desenvolvido aplicando o programa de análise térmica PAT_2 [4] e o
programa de análise termoquímica PATQ_2 [5], desenvolvidos no LNEC. Os programas estão
escritos em linguagem Fortran 90, utilizando o estilo de programação estruturada proposto por
Smith e Griffiths [48].
137
1
8 (1 )(1 )(1 )( 2)
1
(1 )(1 )(1 2 )
4
1 (1 )(1 )(1 )( 2)
8
1
(1 2 )(1 )(1 )
4
1 (1 )(1 )(1 )( 2)
8
1
(1 )(1 )(1 2 )
4
1 (1 )(1 )(1 )( 2)
8
1
(1 )(1 )(1 )
2
4
1
(1 )(1 2 )(1 )
4
1
(1 )(1 )(1 )
2
NT 4
1
(1 )(1 2 )(1 )
4
1
(1 )(1 )(1 )
2
4
1
(1 )(1 )(1 )( 2)
8
1
(1 )(1 )(1 )
2
4
1
(1 )(1 )(1 )( 2)
8
1
(1 2 )(1 )(1 )
4
1
(1 )(1 )(1 )( 2)
8
1
(1 )(1 )(1 )
2
4
1
8 (1 )(1 )(1 )( 2)
1
(1 )(1 )(1 )
2
4
138
A-2: INTEGRAÇÃO NUMÉRICA
k x 0 0
D 0 ky 0 (A.2)
0 0 k z
O processo de formação da matriz de rigidez térmica global implica a realização de dois ciclos, um
correspondente à integração no domínio de cada um dos elementos, e outro onde é efectuada a
integração nas fronteiras onde exista transferência de calor por convecção-radiação. Este processo
é descrito pelo diagrama de estruturas da Fig. A.3.
139
Integração no domínio
A integração no domínio é efectuada no sistema de coordenadas locais, isto é, o sistema de
coordenadas (, , z) para o cálculo tridimensional. A integração toma a forma:
K B( , , z ) DB( , , z ) J d d dz
1 1 1
1 T
m (A.3)
1 1 1
1 1 1 n n n nip
f ( , , z ) d d d f ( , i j , z k ) wi w j wk f ( , , z ) iWi (A.4)
1 1 1 i 1 j 1 k 1 i 1
onde n é o número de pontos de Gauss utilizado em cada direcção, nip=n3 é o número total de
pontos de integração de Gauss em cada elemento, ( i , j , z k ) são as respectivas coordenadas e
Integração na fronteira
No caso tridimensional, a integração ao longo da face do elemento onde se verifica a transmissão
de calor por convecção e radiação dá origem a um integral de superfície da forma:
com
140
g g x2 g y2 g z2 (A.8)
sendo g o vector normal à face do elemento (Fig. A.4):
g e e (A.9)
x y z x y z
onde e , , e e , , , então:
y z z y
gx
z x x z
gy (A.10)
x y y x
gz
Os pontos de integração de Gauss deverão estar localizados sobre a face do elemento em que se
verifica transmissão de calor por convecção e radiação.
g
e
e
141
1 1 n n nip
A posição dos pontos de amostragem em que a função deve ser avaliada está definida em
rotinas_PAT_1_2.f90, na subrotina fronteira. No caso em estudo foram utilizados 9 (3x3)
pontos de integração.
142
A-3: SIMULAÇÃO DAS ACÇÕES TÉRMICAS AMBIENTAIS
FUNCTION temperatura_ar(d)RESULT(t_a)
IMPLICIT NONE
INTEGER,PARAMETER::iwp=SELECTED_REAL_KIND(15)
REAL(iwp),INTENT(in)::d
REAL(iwp)::t_a
t_a=temperatura_ar_alqueva(d)
END FUNCTION temperatura_ar
143
144
9 Anexo B
IMPLEMENTAÇÃO DO MODELO LJGK1997 NO PROGRAMA DE CÁLCULO
PAT_2
O programa PAT_2 calcula a irradiância em cada um dos pontos de integração na fronteira indicada
de uma malha tridimensional, para as datas e horas pertencentes aos intervalos definidos pelo
utilizador.
Assim, após a entrada dos dados da malha e das faces expostas da barragem, o programa PAT_2
determina para cada incremento de tempo, o número de dias d e a fracção horária ut decorridos
desde o início do ano, mediante a subrotina dia_1_a_365. Todo este processo estava já
desenvolvido, tendo sido criada a subrotinha radiação_solar.
O número de dias d e a fracção horária ut decorridos desde o início do ano, bem como a latitude
fi, são introduzidos na subrotina radiação_solar, a qual calcula a declinação delta (function
rdecl_bourges), a massa óptica relativa da atmosfera m, a altitude solar alfa_s, o ângulo horário
ómega, as componenetes directa (dir) e difusa (dif) da radiação no plano normal ao vector solar,
a irradiância extraterrestre numa superfície normal ao vector solar G0, as transmissividades TB e
TD e o ângulo zenital Z. Por opção do utilizador, por forma a adaptar a radiação solar às condições
de céu-real características da localização da barragem – Alqueva –, a componente difusa da
radiação é considerada nula.
Para cada uma das faces com condições de fluxo de calor prescrito, o programa PAT_2 inicia o
ciclo através dos pontos de integração situados sobre a superfície exposta de cada elemento. Para
cada ponto de integração calcula as componentes do versor normal à superfície, g1, g2 e g3, e
determina a distância zenital da normal à superfície inclinada yy, o seu azimute beta e o cosseno
do ângulo de incidência das radiações solares cos_alfa, corrigindo o caso em que cos_alfa
seja negativo, pois neste caso não existe incidência dos raios solares. Incorporou-se neste
programa a capacidade de determinar o factor de forma local F_sky_l por forma a calcular o valor
da irradiância global em plano inclinado (para condições de céu não limpo) no ponto de integração,
afectado posteriormente pelo coeficiente de absorção ab (rad_g_i_r). Finalmente, o programa
determina para cada face o valor da irradiância como a média dos valores calculados nos pontos de
integração.
É de mencionar que o programa PAT_2 admite que não existem obstáculos que impeçam a
incidência dos raios solares, tais como as paredes do vale, elevações próximas ou até a própria
curvatura da barragem. Considera-se que o arco da barragem de Alqueva é suficientemente aberto
para que o sombreamento conferido pela sua curvatura não tenha influência. Observa-se também
145
que a encosta em que se encontra esta barragem não provoca sombreamento na mesma. Conclui-
se portanto que a consideração dos obstáculos aos raios solares não afectaria relevantemente os
resultados obtidos por este programa.
146
10 Anexo C
FICHEIRO DE DADOS FASE DE EXPLORAÇÃO
Os dados introduzidos no ficheiro Alqueva.dad, lido pelo programa PAT_2, que definem a malha
da Fig. 5.28 são definidos tal como se segue (Fig. C.1):
dtim theta
3600 0.5
utemp
s
fi azimute_y
38 150
npri nres
1 1000
np_types
1
prop(kx,ky,kz,,c,h,q,a)
2.62 2.62 2.62 2400 920 20.20 0 0.65
g_coord
3.20E+02 1.00E+02 1.18E+02
3.20E+02 1.00E+02 7.45E+01
-3.00E+02 -2.40E+02 -4.94E+01
-3.00E+02 -2.40E+02 -8.00E+01
147
g_num
19620 19737 19854 … 18914 18801 18837
20158 20243 20314 … 19165 19134 19144
594 504 418 … 495 567 566
592 503 416 … 494 565 564
194 188 177 129 1 12 18 135
370 364 353 305 177 188 194 311
546 540 529 481 353 364 370 487
581 15 502 15 405 15
204 15 140 15 28 15
380 15 316 15 204 15
556 15 492 15 380 15
148
hfbc (faces expostas à radiação solar)
482
((iflux(i,j), j=1,2), i=1, hfbc)
57 2
59 2
61 2
1089 6
1090 6
1091 6
1092 6
1093 6
indic
21597
(node2(i), value2(i), i=1, indic)
1 13,09543
2 14,77158
3 15,00468
21594 15,00005
21595 14,99998
21596 14,99996
21597 15,00000
149
Glossário das variáveis utilizadas
fixed_freedoms-1 número de nós com temperatura prescrita do tipo 1, isto é, nós submersos, em que
a temperatura da água é dada em função da cota do nó, pela função
temperatura_água definida nas rotinas_PAT_2_5 (ver Fig. 5.13)
fixed_freedoms-2 número de nós com temperatura prescrita do tipo 2, isto é, nós em que a
temperatura é dada por uma constante (ver Fig. 5.14)
hfbc número de lados ou faces de elementos com fluxo de calor prescrito (faces
expostas a considerar para o efeito da radiação solar - ver Fig. 5.15)
htbc número de lados ou faces de elementos com transferência de calor por convecção
e radiação (faces expostas a considerar para o efeito das trocas de calor com o ar
-ver Fig. 5.16)
i contador
indic número de nós onde se inicializa a temperatura. indic=0 significa que todos os
nós se inicializam à mesma temperatura val0
ndim dimensão do problema
nels número de elementos
nn número de nós
nip número total de pontos de integração de Gauss em cada elemento
nod número de nós por elemento
npri os resultados são impresos a cada npri incrementos de tempo
np_types número de diferentes tipos de materiais
nres número do nó para o qual se imprime o resultado
idate data no formato aaaammdd
ihour horas no formato hhmm
150
Variáveis indexadas inteiras:
151
152
11 Anexo D
INFORMAÇÃO RELATIVA AO BETÃO DOS GRUPOS DE EXTENSÓMETROS
O Quadro D.1 resume a informação relativa a cada um dos grupos de extensómetros [43].
Quadro D.1– Identificação e propriedades do betão colocado em cada grupo de extensómetros [43].
Temp. Temp.
Grupos de Data de Cota
Composição betão ambiente
extensómetros colocação (m)
(ºC) (ºC)
Nos Quadro D.2 e Quadro D.3 apresentam-se os dados referentes à composição do betão fresco da
amassadura de betonagem de cada grupo de extensómetros, onde w, c’, a, s e g são a dosagem
de água, ligante, agregados, areia e brita em kg/m3, respectivamente [43].
153
Quadro D.2- Composição do betão integral referente a cada grupo de extensómetros [43].
Grupos de w c’ a s g Slump
3 3 3 3 3 w/c’ a/c’ s/c’ a/g
extensómetros (kg/m ) (kg/m ) (kg/m ) (kg/m ) (kg/m ) (cm)
G1/G2/G3 61 201 2340 646 368 0,3 11,6 3,2 6,4 0,0
G7/G8/G9 88 198 2305 602 359 0,4 11,6 3,0 6,4 1,0
G10/G11/G12 34 110 2339 690 352 0,3 21,3 6,3 6,7 1,0
G13/G14 73 241 2260 881 453 0,3 9,4 3,7 5,0 1,0
G15/G16/G17 65 204 2327 695 347 0,3 11,4 3,4 6,7 5,5
G18/G19/G20 78 200 2303 645 355 0,4 11,5 3,2 6,5 2,5
G21/G22 65 240 2294 950 462 0,3 9,6 4,0 5,0 6,0
G23/G24/G25 66 199 2334 689 345 0,3 11,7 3,5 6,8 0,5
G26/G27/G28 84 196 2198 620 350 0,4 11,2 3,2 6,3 3,5
G29/G30/G31 86 201 2332 672 358 0,4 11,6 3,3 6,5 1,0
G32/G33 95 239 2162 810 448 0,4 9,0 3,4 4,8 5,0
G34/G35 82 240 2187 821 449 0,3 9,1 3,4 4,9 6,5
G36/G37 94 200 2315 658 356 0,5 11,6 3,3 6,5 6,0
G38/G39 90 203 2344 664 353 0,4 11,6 3,3 6,6 5,0
G40/G41 106 239 2155 764 476 0,4 9,0 3,2 4,5 3,0
G42/G43 88 200 2321 699 338 0,4 11,6 3,5 6,9 2,0
G44/G45
G46 130 307 1935 1138 797 0,4 6,3 3,7 2,4 12,0
154
Quadro D.3- Composição do betão crivado colocado em grupo de extensómetros (valores estimados) [43].
Grupos de w c’ a s g
extensómetro 3 3 3 3 3 w/c’ a/c’ s/c’ a/g
s (kg/m ) (kg/m ) (kg/m ) (kg/m ) (kg/m )
G4/G5/G6 128 311 2195 1112 602 0,4 7,1 3,6 3,6
G7/G8/G9 142 308 2043 979 581 0,5 6,6 3,2 3,5
G15/G16/G17 104 313 2129 1106 555 0,3 6,8 3,5 3,8
G18/G19/G20 125 308 2066 1036 568 0,4 6,7 3,4 3,6
G23/G24/G25 105 306 2122 1103 551 0,3 6,9 3,6 3,8
G26/G27/G28 134 300 1991 981 559 0,4 6,6 3,3 3,6
G29/G30/G31 136 306 2099 1066 569 0,4 6,9 3,5 3,7
G32/G33 119 288 2045 1016 563 0,4 7,1 3,5 3,6
G34/G35 103 290 2075 1033 564 0,4 7,2 3,6 3,7
G36/G37 148 304 2068 1043 564 0,5 6,8 3,4 3,7
G38/G39 144 309 2084 1060 561 0,5 6,7 3,4 3,7
G40/G41 132 288 2028 958 596 0,5 7,0 3,3 3,4
G42/G43 140 305 2116 1096 537 0,5 6,9 3,6 3,9
G44/G45
G46 130 295 1935 1138 797 0,4 6,6 3,9 2,4
155
Quadro D.4 - Relação w/c.
109
G1/G2/G3 61 201 0,3 0,3035 160,80 0,379
(15020020)
109
G4/G5/G6 79 200 0,4 0,3950 160,00 0,494
(15020020)
109
G7/G8/G9 88 198 0,4 0,4444 158,40 0,556
(15020020)
109
G10/G11/G12 34 110 0,3 0,3091 88,00 0,386
(15020020)
109
G15/G16/G17 65 204 0,3 0,3186 163,20 0,398
(15020020)
109
G18/G19/G20 78 200 0,4 0,3900 160,00 0,488
(15020020)
109
G23/G24/G25 66 199 0,3 0,3317 159,20 0,415
(15020020)
109
G26/G27/G28 84 196 0,4 0,4286 156,80 0,536
(15020020)
109
G29/G30/G31 86 201 0,4 0,4279 160,80 0,535
(15020020)
109
G36/G37 94 200 0,5 0,4700 160,00 0,588
(15020020)
109
G38/G39 90 203 0,4 0,4433 162,40 0,554
(15020020)
109
G42/G43 88 200 0,4 0,4400 160,00 0,550
(15020020)
109
G44/G45
(15020020)
156
12 Anexo E
PROGRAMA DE ANÁLISE TERMOQUÍMICA-PATQ_2
O PATQ_2 é um programa de cálculo não linear, que permite simular a reacção de hidratação, as
condições térmicas ambientais, e, através da variação da geometria da malha, a evolução da
temperatura para as diversas etapas construtivas de uma barragem [5].
Este programa determina a distribuição espacial das temperaturas através da resolução da equação
fundamental da transferência de calor por condução em regime transiente, considerando a geração
de calor originada pela hidratação do betão.
Decidiu-se generalizar este programa, por forma a permitir a introdução de um tipo de temperatura
prescrita para além daquele que é imputado aos nós submersos (o qual é atribuído sobre a forma
da função temperatura_agua, que em cada fase é indicada de forma não cumulativa, tal como
acontece com a declaração das faces expostas). Achou-se conveniente permitir a possibilidade de
introduzir a temperatura prescrita sobre a forma de um valor (e não de uma função), para
contemplar situações em que não se pretenda considerar determinadas fronteiras como adiabáticas,
permitindo por exemplo designar uma temperatura prescrita aos nós da base do maciço rochoso.
Esta informação é dada uma vez e utilizada em todas as fases construtivas. O ficheiro
correspondente dever-se-á designar 0-base_mac.dad.
Entretanto o programa PATQ_2 foi também alterado por forma a cumprir o artº 27.2 de [46], segundo
o qual a temperatura de colocação do betão terá que ser superior a 5ºC e inferior a 25ºC. Em
Alqueva, de acordo com o referido na subsecção 5.8.6.2, utilizou-se um limite mais rigoroso, entre
os 7ºC e os 25ºC. Este foi, por conseguinte, o limite introduzido no programa PATQ_2.
157
158
13 Anexo F
FICHEIRO DE DADOS FASE CONSTRUTIVA
F-2: 0-BASE_MAC.DAD
Indica-se, na Fig.F.1 o ficheiro a ser lido pelo programa PATQ_2, com informação correspondente à
temperatura prescrita do tipo 2, isto é, em que esta é introduzida como uma constante (por oposição
à temperatura prescrita da água nos nós submersos, a qual é introduzida como uma função
dependente da cota do nó). Neste caso, os nós representam a base do maciço rochoso, de acordo
com a Fig. 5.57.
159
fixed_freedoms (base maciço rochoso)
9824
8080 15,0 7679 15,0 7340 15,0 … 7187 15,0 7651 15,0
1282 15,0 1152 15,0 864 15,0 … 1265 15,0 1271 15,0
Fig.F.1 – Ficheiro de dados correspondente à temp prescrita dos nós da base do maciço.
F-3: PATQ2.DAD
Os dados lidos pelo programa PATQ_2 são introduzidos através de um ficheiro designado de
PATQ2.dad, em que os valores são escritos em formato livre.
Indicam-se em seguida (Fig. F.2) os dados introduzidos no ficheiro PATQ2.dad, os quais definem a
malha da Fig. 5.48.
dtim
3600
160
utemp
s
fi azimute_y
38 150
npri nres
24 23299 22866 22366 21449 21128
tol limit
0,0001 1000
np_types
2
0,A0 00,ñ,Ea/R)
2,62 2,62 2,62 2400,0 920,0 20,2 62890836,71 0,65 555,136 0,0015455 0,7398 5,474 4000,0
4,60 4,60 4,60 2600,0 879,0 0,0 0,00 0,00 1,000 1,0000000 1,0000 1,000 0,0
etype
1111111111111111111111111111111111111111111
2222222222222222222222222222222222222222222
g_coord
0.3200E+03 0.1000E+03 0.1180E+03
-0.3000E+03 -0.2400E+03 -0.4938E+02
g_num
82794 82751 82695 83090 83407 … 81584 81968 82117 82147 81732
1
3
8
1
4
1
8
9
5
6
6
9
6
7
9
6
1
8
1
8
1
6
3
1
8
3
6
8
1
5
3
5
9
2
3
9
4
3
1
5
3
5
1
3
2
1
8
1
9
5
8
3
7
8
1
7
8
2
7
1
3
1
1
5
2
4
1
9
2
1
9
0
1384 1185 966 967 968 … 872 873 1154 1291 1290
lifts betonagens
2163 1081
161
FUNDAÇÃO:
newele
7529
elem_vec(oldele+1:oldels+newele)
11329
11330
18856
18857
idate ihour (data e hora do final da fase corrente –> colocação da primeira betonagem)
19980526 0000
indic
37710
(node2(i), value2(i), i=1,indic)
1 19.65
2 15.20
3 15.48
90433 15.0
90434 15.0
162
BARRAGEM:
elem_vec(oldele+1:oldels+newele)
4049
4050
4075
4076
idate ihour (data e hora do final da fase corrente –> colocação da camada seguinte)
19980602 0000
idate ihour (data e hora do final da fase corrente –> fim da análise)
20041231 0000
163
4049 4
4051 4
4074 3
8703 5
8704 3
8704 5
indic
-1
Fig. F.2 – Ficheiro de dados para o cálculo térmico em fase construtiva da barragem de Alqueva.
164
limit máximo número de iterações não lineares
ndim dimensão do problema
nels número de elementos
nn número de nós
nip número total de pontos de integração de Gauss em cada elemento
nod número de nós por elemento
npri os resultados são impresos a cada npri incrementos de tempo
np_types número de diferentes tipos de materiais
nres número do nó para o qual se imprime o resultado
lifts número de fases construtivas
betonagens número de betonagens
newele número de elementos activados na respectiva fase
165
value2 vector de temperaturas iniciais
Chama-se a atenção para o facto de que, dado que o coeficiente de transmissão térmica total da
superfície varia consoante a face esteja exposta, cofrada, ou seja considerada adiabática, o valor
considerado pelo programa não é aquele que se declara inicialmente, mas sim o fornecido pelo
vector coef_conv.
166