Você está na página 1de 10

GOM Tarot, o tarô de G. O.

Mebes
Apresentação de
Constantino K. Riemma

Quando lemos a tradução brasileira do tratado de G. O. Mebes – Os Arcanos Maiores do


Tarô. Curso de Enciclopédia do Ocultismo – logo chama atenção o fato de as descrições das
lâminas não coincidirem com qualquer jogo de cartas conhecido. Na tradução de Marta
Pécher, publicada no Brasil pela Ed. Pensamento, esses desenhos não foram reproduzidos.
Após um bom tempo de procura e com um pouco de sorte acabei por encontrar dois
estudiosos russos que dispõem das ilustrações dos arcanos maiores que aparecem na
edição de 1937, publicada na cidade chinesa de Xangai. Foi deles – Andriy
Kostenko e Victor Olsufiev – que obtivemos as reproduções das cartas com as quais
montamos as galerias que poderiam ser designadas como "O Tarô de Mebes".

Diferentes ilustrações estão associadas ao trabalho de G.O.Mebes,


como poderão ser observadas nas galerias apresentadas nesta resenha.

Veremos, a seguir, as informações que esses dois autores russos apresentam em seus sites
sobre os desenhos de cartas associados a Mebes. Poderemos constatar, assim, diferentes
vinculações de imagens ao texto de GOM. E, para finalizar, adicionamos dados biográficos
de G. O. Mebes recolhidos por Marta Pécher.

Os Tarôs de G. O. M. na Rússia
Andriy Kostenko

G.O.M. são as iniciais de Gregory Ottonovich Mebes (1869-1930), um proeminente


rosa-cruz pré-revolucionário da Rússia, que deixou uma importante obra sobre o Tarot. Na
edição original de sua Enciclopédia do Ocultismo (1912), contudo, não apareceram
ilustrações dos Arcanos Maiores que pudessem ser consideradas próprias ou exclusivas de
sua escola.
Decker e Damman em “Histórias do tarô esotérico” (2002) relatam que, pouco após a
publicação do livro, Mebes e seus alunos passaram a utilizar o Tarô Waite, mas com a
numeração original francesa, Balança = 8 e Força = 11, sem a inversão feita no baralho
inglês.     
Eis um resumo do que consegui recolher sobre as ilustrações para G.O.M.:
Em 1921, o livro Enciclopédia do Ocultismo teve sua segunda edição na Polônia. Essa
edição traz a reprodução dos 22 arcanos maiores, três deles redesenhados a partir do Tarô
de O. Wirth (1889) e as demais do Tarô Waite-Smith.
Em 1937, o Centro de Ocultismo russo de Xangai reedita o texto original do “Curso de
Enciclopédia do Ocultismo”, com a adição de ilustrações de um artista desconhecido. Essas
representações dos arcanos maiores, impressas em cor azul, estão nessa edição
acompanhas de uma descrição que ressalta os detalhes que merecem atenção especial.

As ilustrações da Torre, do Julgamento e do Mundo no livro de G. O. Mebes publicado em Xangai (1937)

• As imagens da edição de 1937 coincidem em todos os detalhes com a descrição da tradução brasileira
  de Marta Pécher : Galeria dos arcanos GOM - imagens e descrições
 

Em 1962, Dimitry Sudovsky (1900-67),  um esoterista de origem polonesa-prussiana,


escrevia sob o pseudônimo de Mouni Sadhu “O Tarô: um curso contemporâneo sobre a
quintessência do ocultismo hermético”, que na verdade consiste na tradução de palestras
de G. O. Mebes. Neste livro, as ilustrações dos arcanos maiores são de autoria de  Eva G.
Lucas. Texto completo, em espanhol, está disponível na Biblioteca Digital

A Morte, a Temperança e o Diabo no livro de Mouni Sadhu


Ilustrações de Eva G. Lucas

  • Veja a reprodução dessas ilustrações em : Galeria Mouni Sadhu - Eva Lucas  


No início dos anos 80, o ocultista armênio Shaen Yeremyan, inspirado pelo livro de
G.O.M. (1912) e pela aquisição de um baralho de Papus, produziu ilustrações buscando
correspondência com as descrições de G.O. Mebes. Juntamente com a artista Susana
Ayvazian, Shaen Yeremyan criou primeiramente o conjunto dos arcanos maiores e, em
seguida, o dos arcanos menores. O jogo foi publicado em 2001 em pequena circulação e
reeditada em Moscou, em 2003, com o título que pode ser traduzido por “GOM Kabbalistic
Tarot” ou “Tarô Kabbalístico de G.O.M”.

A Força desenhada por Susana Ayvasian, a caixa do baralho publicado em 2003 e a carta da Lua

  • Galeria das ilustrações de Susana Ayvazian : G.O.M. Tarot Yeremyan-Ayvazian  


• Uma galeria completa das cartas publicadas do “GOM Kabbalistic Tarot” está no site russo:
  www.tarot-house.ru/koloda/russkoe-kabbalisticheskoe-taro-gom-russian-cabbalistic-tarot  
Link indicado por Adiles Almada - RS Porto Alegre

Em 1994, a Editora Sofia, de Kiev, propôs a restauração do livro de G.O. Mebes (Xangai,
1937), adicionando cores e detalhes aos desenhos anônimos daquela edição. O projeto foi
abandonado e o artista Vitaly Serdyukov conseguiu produzir apenas o primeiro arcano.
Alexander Morozov, que manteve a guarda do desenho original de Serdyukov, gentilmente
me autorizou a reproduzi-lo.
.
Foi uma pena a interrupção, pois a amostra que podemos apreciar, à esquerda,
revela que o artista manteria o perfil das ilustrações publicadas em 1937, à direita.

A edição chinesa da Enciclopédia de Ocultismo


Victor Olsufiev
As principais informações que encontrei sobre o tarot russo foram as oferecidas por Andrew
Kostenko e referiam-se à edição do livro de G.O.M. (Mebes) em Xangai. Ao comentar a
reedição desse livro na Rússia, em 1994, Kostenko afirma “Infelizmente a editora Sofia não
conseguiu obter a impressão original de Xangai, o que explica a má qualidade da
reprodução das ilustrações”, que foram reimpressas em preto e branco, numa qualidade
muito inferior. Quando li esse artigo lembrei que tinha um exemplar da edição chinesa de
1937, na qual as imagens estão incluídas, impressas com tinta azul. É preciso dizer que a
qualidade da impressão deixa muito a desejar, o que explica porque são tão difíceis de
serem encontradas.
19. O Sol, na edição chinesa (Xangai, 1937), impressa em azul e, na edição de 1994, em preto e branco.

A edição chinesa, feita em Xangai, 1937, reproduzia inteiramente o texto da primeira, de


1912, autorizada por Mebes, e também não citava nem apresentava as ilustrações dos
jogos de cartas que haviam sido utilizados no curso dado por ele entre 1911 e 1912.
Na edição chinesa foi incluído um Epílogo, que remete às imagens inéditas adicionadas no
miolo do livro, mas sem mencionar o nome de seu autor.

• Xangai, 1937. Veja as ilustrações do Curso de Enciclopédia do Ocultismo de G. O. Mebes,


  reproduções dos originais impressos em azul, acompanhadas da descrição : Galeria das imagens
 

Seriam essas ilustrações impressas em azul as primeiras imagens de um Tarô russo?


Dificilmente. Seriam elas da autoria de Vasily Masiutin? Até poderiam, embora as dúvidas
sejam muitas.
De fato, os desenhos do tarô de Masiutin, reconhecidamente de sua autoria, foram feitos
por volta de 1920, antes da revolução comunista, e são bem diferentes das que aparecem
no livro de G.O. Mebes.
As cartas 6. Namorados e 19. Sol desenhadas pelo artista russo Vasily Masiutin

Deixo para vocês compararem as ilustrações de Masyutin com as do livro publicado em


Xangai, 1937.

• Tarot de Vasily Masiutin (1884-1955), conhecido artistas russo que desenhou lâminas para Tarot
  com V. Schmakov : Galeria Vasily Masiutin
 

O texto original do estudo de Mebes sobre os arcanos maiores, publicado inicialmente em


1912, teve nova impressão, em 2003, pela Editora Enigma, na Rússia (capa à esquerda na
ilustração abaixo).

Encontra-se igualmente disponível, para leitores da língua russa, um novo livro de Mebes
sobre o tarô: trata-se da publicação, em 2007, de transcrições de palestras e comentários
sobre os Arcanos Maiores, até então inéditas. Victor Olsufiev colaborou nessa edição (capa
à direita na ilustração acima).
O relato da tradutora de Mebes para o português
Marta Pécher
na Introdução aos Arcanos Maiores

Uma amiga me trouxe, um dia, um velho livro russo, intitulado “Enciclopédia do Ocultismo”
e editado em Xangai, na China, em 1937, pelo Centro Russo de Ocultismo. Interessada nos
assuntos espiritualistas, ela o comprara por acaso.
A obra continha os ensinamentos de um misterioso “Mestre”, sem revelar o nome do autor
ou dar outras informações a seu respeito.
Lido o livro, achei-o extremamente interessante e fiquei impressionada pela autoridade que
emanava das palavras do “Mestre”. Não era a “certeza nascida da ignorância”, tão
frequente nos escritos e palestras espiritualistas, mas parecia ser bem o resultado da
experiência própria e do profundo saber.
Receando que o texto, tão valioso, pudesse perder-se pela destruição do livro, já em mau
estado, comecei imediatamente o trabalho de sua tradução, procurando, ao mesmo tempo,
descobrir quem seria o misterioso “Mestre”.
Depois de muita busca, consegui entrar em contato com pessoas ligadas, por laços de
amizade ou mesmo de família, com os antigos discípulos do “Mestre”, e até trocar
correspondência com um de seus discípulos diretos, vivendo então no Chile, e hoje já
falecido.
A obra apresenta a transcrição de uma série de aulas ministradas  nos anos 1911-12, em
São Petersburgo (naquele tempo capital da Rússia) por G. O. Mebes, mais conhecido como
“GOM”.

Folha de rosto do livro "Curso de Enciclopédia do Ocultismo", publicado em Xangai, 1937,


e capa da tradução ao português por Marta Pécher, publicada em 1988.

Mebes, professor de matemática e de francês em dois dos melhores liceus da capital, era
também chefe da Maçonaria, do Martinismo e da Rosa-cruz da Rússia, bem como fundador
e dirigente da Escola Iniciática do Esoterismo Ocidental.
Em 1912, Mebes autorizou os alunos a publicar uma parte de suas aulas, principalmente
para o uso da Escola. O livro apareceu numa edição muito limitada, tendo se esgotado
rapidamente.
Após a revolução russa, quando as autoridades começaram a perseguir todo movimento
religioso, a atividade espiritualista de Mebes tornou-se clandestina mas continuou até 1926,
ano em que foi preso e deportado a um “gulag”, nas ilhas do Mar Branco. Faleceu poucos
anos depois.
Alguns livros, no entanto, foram salvos e levados para além das fronteiras russas.
Considerado já como obra clássica do ocultismo, o livro foi reeditado na China, em poucos
exemplares ainda. Um destes chegou ao Brasil e, após o falecimento do seu detentor, foi
vendido.
O título original russo “Enciclopédia do Ocultismo” poderá surpreender, todavia ele se
explica pelo fato que os 22 Arcanos Maiores do Tarô encerram a gama total do ocultismo.
Toda e qualquer manifestação no mundo por nós habitado apresenta uma faceta de um
destes 22 Arcanos. Os mesmos abrangem a totalidade da vida da nossa Humanidade atual,
decaída. Somente pelo nosso próprio esforço podemos ultrapassar esse circulo limitador e
entrar no campo dos Arcanos Menores, regentes da Humanidade primordial, não decaída.
A todos que colaboraram na publicação “Os arcanos maiores do Tarô. Curso de
Enciclopédia do Ocultismo” e, especialmente, a Fanny Ligeti, Simone Deceuninck, Maria
Luiza de Andrade Simões, Dr. Sandor Pethö e José António Arantes meus mais sinceros
agradecimentos.
O texto acima é a transcrição da Apresentação que a tradutora Marta Pécher fez para a
edição brasileira de "Os Arcanos Maiores do Tarô - Seu simbolismo, suas iniciações e
  seus passos para a realização espiritual. Curso de Enciclopédia do Ocultismo",
 
publicada pela Editora Pensamento no final dos anos oitenta.

Dados biográficos de G. O. Mebes e sua obra


Marta Pécher
no Prefácio aos Arcanos Menores

Na segunda metade do século XIX e primeira do XX, viveu na capital da Rússia,


Petersburgo (hoje Leningrado), um dos maiores esoteristas de sua época, G. O. Mebes
(1869-1930), mais conhecido como G.O.M. no seu trabalho espiritual.
G. O. Mebes, homem de cultura excepcional e de grandes poderes ocultos, era o chefe da
"Fraternidade Russa da Cruz e da Rosa", que contava mais de 200 anos de existência
naquele momento e, também, o fundador da “Escola de Iniciação ao Esoterismo Ocidental”.
Em sua vida profissional, ocupava o cargo de professor de Francês e Matemática em duas
das melhores escolas de São Petersburgo. Ele era bem conhecido e apreciado entre os
membros da sociedade na então Capital da Rússia. No entanto, poucos sabiam de sua
Escola. Só os convidados por ele eram ali admitidos.
A Escola tinha um “círculo exterior”, frequentado por todos os seus alunos, e também
alguns “grupos interiores” formados de acordo com o nível evolutivo dos discípulos, suas
aspirações e capacidades individuais.
Em 1912, prevendo a tempestade politica prestes a chegar à Rússia, G. O. Mebes consentiu
que seus discípulos publicassem o ensinamento dado por ele sobre os 22 Arcanos Maiores
do Tarot. O livro veio à luz com o título de Curso de Enciclopédia do Ocultismo, o que era
totalmente justificado, pois por meio da explicação dos Arcanos, que são faces da Verdade,
ele apresenta todas as ramificações e aspectos do ocultismo. A primeira edição foi
rapidamente esgotada.
No final de 1917, quando o novo regime soviético começou a perseguir as religiões e o
espiritualismo, a Escola de Mebes se tornou clandestina, mas seus trabalhos continuaram.
"Os Arcanos Menores do Tarô" foi compilado no Brasil por imigrantes russos,
discípulos e herdeiros de apontamentos das aulas dadas por G. O. Mebes.
O Nove de Paus, o Seis de Copas e o Dez de Ouros — exemplos de ilustrações.
À direita, a capa do livro com material traduzido por Marta Pécher.

Em 1926, devido à imprudência de um dos alunos, a Escola e as residências de seus


membros foram invadidas pelas autoridades soviéticas, os documentos destruídos e todos
aqueles que estavam ligados à Escola foram presos.
G. O. Mebes foi deportado para um gulag nas Ilhas Solovetsk, no Mar Branco, na região
sub ártica. E lá faleceu em 1930.
Em 1937, A Enciclopédia, considerada como um clássico do ocultismo, foi de novo
publicada em Xangai, na China.
Antes disso, na década de vinte, em Tallin, na Estônia, a teósofa russa Catarina
Sreznewska-Zelenzeff, que se preparava para deixar a Europa e vir morar no Brasil,
recebeu de sua amiga Nina Rudnikoff, discípula de Mebes, um material precioso sobre os
Arcanos Menores do Tarot. Nina, ao fugir da Rússia, conseguira salvar suas anotações
feitas durante os estudos na Escola. Ao saber que Catarina ia viajar para o Brasil, Nina lhe
entregou as anotações que fizera dos ensinamentos que tinham sido ministrados por Mebes
num dos grupos internos da Escola; pediu-lhe que guardasse as anotações e, um dia, o
transmitisse aquele material a "alguém digno", a fim de que pudesse ser preservado.
Anos mais tarde, já no Brasil, por uma "coincidência" muito estranha, Catarina conheceu
Nádia, viúva de Gabriel Iellatchitch, outro discípulo e grande amigo de Mebes. As duas
senhoras decidiram viver juntas. Pouco tempo depois, o irmão de Nadia, Alexandre Nikitin-
Nevelskoy, profundo conhecedor do esoterismo e também seguidor da Escola de Mebes,
veio do Chile para morar com elas.
Reunindo suas anotações e com a ajuda das duas senhoras, Alexandre restabeleceu, na sua
totalidade, o curso dos Arcanos Menores do Tarô. Desse modo, o desejo ardente de Nina
tornou-se realidade, pois o material salvo foi não apenas transmitido a "alguém digno",
mas também organizado por uma pessoa competente que, inclusive, pertencia à mesma
egrégora. Isto permitiu que os trabalhos fossem traduzidos para o português.
Tal é a história do presente livro [Os Arcanos Menores do Tarô]. Esperamos que sua
publicação no Brasil possa ser útil a algum peregrino do Caminho Espiritual.

Você também pode gostar