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PIPOCAS

CONTAGIANTES
Coletivo de Professores e Professoras de Educação Física
Narradores de seus Saberes e Fazeres

Admir Soares de Almeida Junior


Aline Borges Moreira Dias
PIPOCAS
CONTAGIANTES
Coletivo de Professores e Professoras de Educação Física
Narradores de seus Saberes e Fazeres

Admir Soares de Almeida Junior


Aline Borges Moreira Dias
(Organizadores)
Prefeito: Alexis José Ferreira de Freitas
Vice-prefeito: William Vieira Batista

Secretaria Municipal de Educação

Secretária: Sueli Maria Baliza Dias


Subsecretária de Ensino: Dagmá Brandão Silva
Subsecretário de Gestão de Operações: Sérgio Mendes

Criação: Walber da Silveira


Projeto Gráfico e Diagramação: Guilherme Dias F. Campos
Gerência de Comunicação Social/SEDUC:
Edição e distribuição:

Secretaria Municipal de Educação de Contagem


Rua Coimbra, Nº 100, Santa Cruz Industrial
E-mail: seduc.gabinete@contagem.mg.gov.br
Site: www.contagem.mg.gov.br/educacao
A criação da capa do livro foi inspirada a partir da construção coletiva de narrati-
vas sobre os saberes e fazeres da educação física escolar em diferentes contextos
e realidades das escolas públicas municipais de Contagem. São textos, fragmentos,
partes de realidades diferentes que se juntam para formar um todo, ou seja, para
construir um livro onde as pipocas pedagógicas nos levam a saborear os prazeres,
desafios e obstáculos que estão presentes no contexto escolar.

A partir dessa ideia de fragmentos que se juntam, podemos dar forma e sentidos
às narrativas escritas por diversos autores/professores do município de Contagem,
revelando assim a visão de um todo que se constitui na educação física vivenciada
e experimentada no chão das escolas.

Como elementos iconográficos foram escolhidos detalhes da fachada do muro de


um ponto turístico muito importante da cidade de Contagem, conhecido como
“Casa de Cacos”, no qual expressam essa ideia das partes (os cacos – os autores)
que se juntam para formar o todo (um Coletivo – o livro de narrativas) com histórias
singulares, divertidas e reflexivas sobre a educação física escolar.

O elemento principal que foi escolhido para o layout da Capa do Livro é muito sim-
bólico e representa bem o nosso coletivo de narradores/professores – a figura de
uma “Mão” feita de cacos, que representa diretamente não só o ofício de escrever
essas narrativas, como também o nosso sacrifício em concretizar a produção cole-
tiva desse livro.

Foi nessa perspectiva de ideias e conceitos que construímos a proposta de criação


da capa para o nosso livro.

Dias, Aline Borges Moreira

            Pipocas contagiantes: coletivo de professores e professoras de educação física nar-


radores de seus saberes e fazeres  Contagem/ Minas Gerais. [manuscrito] / Aline Borges
Moreira Dias – 2019.

      100 f., enc. : il.

      Orientador: Admir Soares de Almeida Junior


D541p

2019 Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Educação


Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional.

Bibliografia: f. 93-100

      1. Professores – Teses. 2. Formação continuada – Teses. 3. Políticas públicas – Teses.


4. Cultura – Teses. I. Almeida Junior, Admir Soares de. II. Universidade Federal de Minas
Gerais. Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional. III. Título.

CDU: 379.8

Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário Danilo Francisco de Souza Lage, CRB: n° 3132, da 
Biblioteca da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da UFMG.

PIPOCAS CONTAGIANTES 5
Sumário
Apresentação (Sueli Maria Baliza Dias)....................................................................................... 8

Narrar é contagioso! (Guilherme do Val Toledo Prado)............................................................. 9

Formação Continuada de Professores e Professoras


de Educação Física em Contagem/MG: Narrar a Experiência,
Escrever a Aula (Admir Soares de Almeida Junior | Aline Borges Moreira Dias)...................... 11

PIPOCAS PEDAGÓGICAS - Coletivo de Professores e Professoras


Narradores (as) de seus Saberes e Fazeres...................................................................... 19

ESPECTRO DE CORES DA EDUCAÇÃO FÍSICA (Walber da Silveira).............................. 20

UMA EXPERIÊNCIA DE QUASE MORTE (Vinícius Gomes Cambraia)................................. 23

PRESENÇA (Camila do Carmo Dias)............................................................................................. 25

COTIDIANO (Raquel Maria dos Santos)........................................................................................ 26

VIRANDO O JOGO (Renata Dias Fernandes Caetano).............................................................. 27

QUE NEM O FILME! (Gustavo Lucio Gonçalves Torquato)......................................................... 28

“LÁ VAMOS NÓS” (Gizele A. P. de Castro)................................................................................. 29

SERÁ QUE CRIAMOS UM JOGO? (João Paulo Gonçalves dos Reis).................................... 31

PEGAR O RATINHO (Ohana Alves de Almeida Gonçalves)....................................................... 33

O PLANEJAMENTO E O VENTO (Hamilton Gonçalves Barbosa).......................................... 34

O PESO DE UMA PALAVRA (Matheus Marques da Silva)....................................................... 36

O MASCOTE FAVORITO (Tais Cristina do Santos).................................................................... 38

O DOIDO COM OS TACOS (Matheus Marques da Silva).......................................................... 39

O DIA EM QUE EU PAGUEI PAU! (Hamilton Gonçalves Barbosa)......................................... 41

MINI CORRIDA DE REGULARIDADE (Marcílio Cardoso dos Reis)....................................... 43

CHOQUE DE GÊNERO (Aline Borges Moreira Dias)................................................................. 44

PIRÂMIDE, NÃO! (Jean Santos Machado)................................................................................... 45

FORA DESTE MUNDO (Leonardo Teodoro da Silva)................................................................ 46

6 PIPOCAS CONTAGIANTES
60 MINUTOS VERSUS 5 MINUTOS (Angelina Solange Silva de Oliveira)............................ 47

PIPOCA QUEIMADA (Rodrigo Victor Parreiras)........................................................................ 49

PROFESSORA AVALIADA (Andrezza Regina da Silva Santos)............................................... 50

EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: UMA PROPOSTA INDECENTE! (Walber da Silveira).... 51

OS PRIMEIROS DIAS A GENTE NUNCA ESQUECE (Débora Richelly Aleixo Neves)...... 53

EM XEQUE (Paola Oliveira Fonseca)............................................................................................. 54

PAUSE/PLAY (Andreza Jeanne)................................................................................................... 55

É FUTEBOL COM AS MÃOS! (Marcelo Braga Ramos)............................................................. 56

RECOMEÇO (Patrícia Valéria Lima de Souza)............................................................................... 57

LAÇOS DESFEITOS (Luciana Alves da Silva).............................................................................. 58

HOJE NÃO É DIA DE QUADRA,


MAS NÓS VAMOS! (Leopoldina Nunes Barbosa Soares)........................................................... 60

ESTRATÉGIA (Keila Pereira Coelho)............................................................................................. 61

SUJEIRA BOA (Julia Grazielli de Paula)....................................................................................... 62

DANI E AS PIPAS (Silmara Ivana Novais de Souza).................................................................... 63

BRINCADEIRAS DO JOÃO (Andrea de Melo do Espirito Santo)............................................ 64

O “BRINQUEDO” PROIBIDO (Leonardo Teodoro da Silva).................................................... 65

METADE CAIPIRINHA (Paola Oliveira Fonseca)........................................................................ 66

BOLINHAS DE PAPEL (Waldizar Pinto Ferreira da Silva)......................................................... 67

MENINAS QUEIMADAS (Adriana Fernandes de Faria)............................................................. 68

O ESCORPIÃO (Stella Gontijo Teixeira de Souza)........................................................................ 69

“PELA ORDE”! (Poliana Barreto Fernandes)................................................................................ 71

A ARTE DA CONVERSA (Alfredo Martins Ricardo).................................................................. 72

CRIANÇAS, CRIANÇAS, CRIANÇAS (Carlos Alberto Rodrigues de Carvalho)................... 73

MOTIVO AÇÃO (Rafael Gomes da Fonseca)................................................................................ 74

Professores e Professoras Narradores e Narradoras ....................................................... 75

PIPOCAS CONTAGIANTES 7
Apresentação
A Prefeitura de Contagem, Coordenada pela Secretaria Municipal de Educação,
entrega à cidade uma ampla Rede de Formação, entendendo que esta é uma ação
continuada que possibilita a capacitação de Diretores, Pedagogos, Professores e os
diversos profissionais que atuam na educação básica.

Os cursos oferecidos foram concebidos de modo a propiciar vivências didáticas


que articulem conhecimentos teóricos com dimensões da prática pedagógica rela-
tivas aos processos de ensino, avaliação, planejamento e intervenção pedagógica.

A importância de uma política de formação para os profissionais da educação é


uma discussão permanente, a necessidade de interagir os diversos campos da es-
cola, articular os fazeres, as ações, os ciclos; todos com um único objetivo: garantir
a todo estudante uma educação de qualidade.

Apostamos no Coletivo de Professores(as) de Educação Física Narradores (as) de


Seus Saberes e Fazeres, integrantes dessa rede, onde o grupo de professores de
Educação Física é convidado a narrar suas experiências docentes e a escrever sobre
suas aulas como forma de refletir e fazer circular um conjunto de saberes produzi-
dos na prática pedagógica. O Coletivo se configura um espaço/tempo privilegiado
para discussão e construção de novas possibilidades pedagógicas em Educação
Física.

Este grupo tem muito que contribuir para um processo formativo e educador das
escolas desta rede, pois integram e otimizam a ação cotidiana de cada sala de aula.
Nesse sentido, é com muita alegria que recebemos e apresentamos a produção
deste coletivo. Queremos que esta ação de formação aponte algumas soluções
educacionais, atividades e projetos, que possam ser desenvolvidos nas escolas, e
que as tornem mais competentes no ofício de educar.

Finalizo desejando a todos uma excelente construção conjunta em prol da educa-


ção de crianças, jovens e adultos da cidade de contagem.

Sueli Maria Baliza Dias


Secretária de Educação de Contagem/MG

8 PIPOCAS CONTAGIANTES
Narrar é contagioso!
Guilherme do Val Toledo Prado1.

É com muita alegria que recebi o convite de prefaciar o livro “Pipocas Contagian-
tes”, organizado pelo Prof. Admir Soares de Almeida Junior e a Profa. Aline Borges
Moreira Dias, contendo pipocas pedagógicas de professores e professoras de Edu-
cação Física produzidas em contextos de formação e reflexão do cotidiano escolar.

Ao iniciar a leitura, fui rapidamente contagiado pelas alegrias e surpresas que emer-
gem do cotidiano escolar de profissionais da escola, que estão presentes nas qua-
dras, pátios, salas de aula, refeitórios e bibliotecas, com seus corpos em movimento
que movimentam os corpos de crianças, jovens, adolescentes e adultos da escola
básica.

São narrativas curtas – intensas pipocas pedagógicas – que revelam as dores e as


delícias do cotidiano escolar na área de Educação Física, em diferentes níveis de
ensino, em diferentes escolas, em diferentes contextos sociais e educacionais.

É nítido que a proposta que cativou professoras e professores a escreverem suas


histórias docentes foi marcada por uma escuta sensível, o acolhimento das diferen-
ças pessoais e profissionais, o estabelecimento de uma relação de horizontalidade
entre as instituições escolar e a universitária e, fundamentalmente, um horizonte de
trabalho estabelecido para e com todas e todos os participantes fundado no prin-
cípio de solidariedade a constituírem os encontros para a produção e partilha das
escritas de educadoras e educadores da cidade de Contagem, Minas Gerais.

E no contexto de uma produção escrita, a narrativa foi eleita como expressão da


existência humana, que implica em reflexão singular-plural, em parar o ritmo crono-
lógico e se permitir voltar sobre si mesmo, fortalecendo os fios que, em cada ciclo
de nossa vida, dão sentido à nossa existência pessoal e profissional.

Narrativas breves que, como aprendemos no GEPEC – Grupo de Estudos e Pes-


quisas em Educação Continuada sediado na Faculdade de Educação da Unicamp,
é uma produção cultural de um ser expressivo e linguajeiro que necessita de um
interlocutor para constituir-se e ser constituído pelo e para o outro, em encontros
sociais presenciais ou intermediados por essas próprias produções culturais. E essa
ontologia – eu para mim, eu para o outro, outro para mim – como nos ensina Bakh-
tin (2010)2, nos leva a ter a vontade de viver em um mundo narrado em que pessoas
se encontram para a produção de si em uma escuta responsiva e responsável, em
solidariedade e respeito.

As narrativas proferidas, possibilitam a produção de uma consciência sobre o vi-


vido, de modo singular, levando as narradoras a posicionarem-se ética e estetica-
mente no mundo, inclusive quando escrevem suas “pipocas pedagógicas”. Ao nar-

1 Professor Livre-Docente da Faculdade de Educação da UNICAMP e coordenador do GEPEC - Grupo


de Estudos e Pesquisas em Educação Continuada. Tem experiência na área de Educação, ênfase na Prática de
Ensino e Estágio Supervisionado nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, bem como consultoria e assessoria
à projetos educativos centrados na escola, atuando principalmente nos seguintes temas na graduação e pós-
-graduação: formação de professores - inicial e continuada, epistemologia da prática docente, professor-pes-
quisador, escrita docente, investigação educacional e pesquisa narrativa.

2 Bakhtin, M. Por uma filosofia o ato responsável. Tradução de Valdemir Miotello e Carlos Alberto Faraco. São Carlos, SP: Pedro
& João Editores, 2010.

PIPOCAS CONTAGIANTES 9
rar, para si e para outro, narradoras e narradores colocaram-se em movimento de
interpretação e interpenetração do mundo da vida e do mundo narrado, ampliando
horizontes de possibilidades e constituindo novas possibilidades de ampliar a pró-
pria existência.

Ao voltarmos às palavras proferidas pelos autores e autoras das contagiantes nar-


rativas, com o sentido de compreendê-las, podemos nos dar conta da riqueza de
vivências proporcionadas por esses e essas profissionais do movimento e da corpo-
reidade, a favor da ampliação dos repertórios corporais em suas múltiplas dimen-
sões junto e com seus estudantes, alunos e alunas, da escola básica.

Jogos, Quadra, Futebol, Movimento, Correrias, Queimadas, Avaliações, Campeo-


natos, Regras, Diversão, Formação, Brincadeiras, Cansaço, Saltos, Pesos, Masco-
tes, Planejamentos, Corridas, Laços, Brinquedos, Presenças, Esportes, Turmas,
Imaginação, Circuitos, Cordas, Equipes, Pipas, Feminino, Risadas, Objetos, Sonhos,
Lembranças, Pensamentos, Histórias, Achados, Aprendizados, Carinho, Bilhetes...
Muitas reflexões, muitas práticas, múltiplas identidades docentes... Movimentos e
gestualidade... Diferentes e diversas práticas corporais....

Com palavras que estão carregadas de sentimentos e pensamentos, os narradores


e narradoras, professoras e professores de Educação Física, se reportam não só às
experiências pessoais e formativas, mas também aquelas que marcaram a iniciação
na profissão docente ou mesmo a sólida experiência profissional, constituindo um
conjunto de sentidos muito peculiares em relação à docência em educação física
na cidade de Contagem. Sentidos que revelam o forte compromisso profissional
de cada um dos docentes na área de Educação Física e na força de sua docência a
favor dos estudantes da escola pública.

Força que precisa ser compreendida como saberes e conhecimentos que necessi-
tam dialogar com os saberes e conhecimentos produzidos na universidade, para a
constituição de um campo de produção científica outra – mais comprometida com
os desejos de mulheres e homens que produzem o cotidiano da vida. Só desse
modo é que vamos compreender que, como dizia Bakhtin (2010), o inacabamento
de cada um se faz presente em cada um de nós a todo o instante, e que existe uma
beleza nesse estar inacabado que possibilita a reflexão partilhada quando constitu-
ída em uma narrativa.

No modo como foi assumido pelos autores, cada um dos narradores e narradoras e
nas narrativas presentes neste livro, vemos que a escola não é só lugar de sofrimen-
to e de insatisfação... É lugar de presença, de alegrias e muita satisfação... De pro-
dução de inéditos-viáveis, como preconizava o querido Mestre Paulo Freire (2011)3,
por professores e professoras de Educação Física, comprometidos com uma escola
pública, com ensino público, laico, gratuito, de qualidade e forte compromisso com
a ampliação do repertório sócio-cultural de seus estudantes no âmbito dos movi-
mentos corporais e práticas educacionais.

Cada um dos narradores e narradoras – Renata, Vinícius, Camila, Jean, Raquel,


Rodrigo, Andrezza, Gustavo, Gizele, Walber, Paola, João Paulo, Andreza, Ohana,
Hamilton, Matheus, Tais, Marcílio, Luciana, Leopoldina, Patrícia, Leonardo, Keila, An-
gelina, Julia, Marcelo, Silmara, Aline, Andréa, Leonardo, Waldizar, Adriana, Poliana,
Stella, Alfredo, Débora, Rafael, Carlos – em sua simplicidade e singeleza, gentileza
e sagacidade, revelou-nos a força da singularidade, apresentando fortes indícios de

3 Freire, P. Pedagogia do Oprimido, 50ª ed. Rio de Janeiro, RJ: Editora Paz & Terra, 2011.

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seus conhecimentos e saberes construídos na relação dialógica, potente e tensa,
com seus outros muitos – seus estudantes – e seus muitos outros – de si mesmos,
no cotidiano de suas vidas pessoais e profissionais.

O intenso trabalho narrativo que gerou esse livro, porque produzido em comunhão
e partilhado agora para tantas outras e tantos outros profissionais da educação,
irá produzir outras possibilidades formativas, viabilizando a construção de projetos
emancipatórios e constituindo, pelo trabalho cotidiano na escola, um digno ethos
profissional docente dos professores e das professoras da Educação Física.

Santos, final de junho de 2019.

FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES


e PROFESSORAS DE EDUCAÇÃO FISICA EM
CONTAGEM / MG:
NARRAR A EXPERIÊNCIA, ESCREVER A AULA.

Professor Admir Soares de Almeida Junior - Escola de Educação Física,


Fisioterapia e Terapia Ocupacional (EEFFTO) da UFMG

Professora Aline Borges Moreira Dias – E. M. Albertina Alves do


Nascimento. Programa de Mestrado Profissional em Educação Física em
Rede Nacional (Proef)- Pólo UFMG

Iniciando nossa prosa...

Como já destacado nos textos que nos antecederam, este pode ser considerado
um livro elaborado por professores e professoras de educação física para professo-
res e professoras de educação física. Mas, o que há de especial e relevante nisso?
Acreditamos que o elemento mais significativo está no contexto singular que pos-
sibilitou que docentes que atuam em escolas de ensino fundamental da cidade de
Contagem, Minas Gerais, possam narrar as mais diversas experiências vividas junto
aos estudantes e demais sujeitos do cotidiano escolar.

Nesse sentido, pretendemos de forma breve apresentar e contextualizar as condi-


ções singulares que deram possibilidade à emergência desse inédito-viável do qual
tanto nos orgulhamos. Inicialmente, parece-nos importante destacarmos que esse
livro configura-se como a materialização de dois processos de formação continua-
da de professores de educação física que se iniciaram em locais e contextos distin-
tos e que, posteriormente, se articularam.

Assim, este livro também pode ser considerado como um “produto educativo”4 e

4 A elaboração de produtos é uma obrigatoriedade nos Mestrados Profissionais e, em particular, nos cursos da área de Ensino e

PIPOCAS CONTAGIANTES 11
expressão dos processos de formação vivenciados pela professora Aline Borges na
condição de participante da primeira turma do Programa de Mestrado Profissional
em Educação Física em Rede Nacional (Proef)- Pólo UFMG.

O segundo processo que possibilitou a produção do livro “Pipocas Contagiantes” e


o desenvolvimento de um programa de formação continuada para e com docentes
de educação física na cidade de contagem. É o que narraremos na sequencia.

Em agosto de 2017 a Secretaria de Educação de Contagem (SEDUC) iniciou um


processo de formação continuada em serviço para todos os trabalhadores/as em
educação da rede municipal. No ano de 2018 o município de Contagem implantou
um novo referencial curricular e as ações de formação continuada tomaram novo
formato, que privilegiou relatos de experiências de práticas pedagógicas realizadas
nas escolas. Esse formato foi bem avaliado pelos docentes participantes, em virtu-
de da possibilidade de diálogo coletivo e troca de experiências.

No contexto das ações desenvolvidas, no mês de agosto de 2018 foi realizado um


encontro com uma dinâmica diferente: houve a participação do professor Admir
Soares de Almeida Junior, na condição de docente convidado, que apresentou ele-
mentos de sua pratica pedagógica – quando professor da Educação Básica – bem
como diferentes estratégias de documentação narrativa e pedagógica. Ao final
desse encontro um convite foi apresentado aos professores/as: a constituição de
um “Coletivo de Professores e Professoras de Educação Física Narradores/as de
seus saberes e fazeres”.

O convite foi atendido por parte significativa dos docentes e, a partir de um proces-
so de negociação com a SEDUC, foram realizados dois encontros mensais no ano
de 2018 e em 2019 foram previstos dez encontros que fazem parte da programação
geral da “Rede de Formação 2019 – conhecimentos, experiências, práticas e diálo-
gos”, uma ação organizada pela equipe de gestores da SEDUC.

Concepções de Formação Continuada de Professores e Professoras de Educação


Física

Para o desenvolvimento dos encontros com os professores e professoras de Educa-


ção Física temos nos referenciado numa compreensão de formação como a apre-
sentada por Souza (2010) que a considera

“como um movimento constante e contínuo de construção e recons-


trução da aprendizagem pessoal e profissional, envolvendo saberes,
experiências e práticas. A formação integra a construção da identidade
social, pessoal e profissional, que se presentacionam e demarcam a
autoconsciência, o sentimento de pertença.” (p.158)

Nesse sentido, tomamos a formação docente como um percurso de desenvolvi-


mento pessoal e profissional que tem início antes mesmo da formação inicial. No
tocante à formação continuada, temos nos pautado na compressão dessa etapa
da formação profissional como um direito dos docentes. Além disso, buscamos
também nos ancorar numa concepção que supere o paradigma da “Racionalidade
Técnica” e se aproxime de práticas colaborativas e construcionistas de formação
(MOLINA NETO; MOLINA, 2010).

Educação, é imperativo que as pesquisas realizadas resultem em um produto educacional com potencial de inserção na Educação Básica,
Profissional e Ensino Superior. Para detalhes ver: BRASIL, Portaria Normativa do MEC n.° 017 de 29 de dezembro de 2009.

12 PIPOCAS CONTAGIANTES
Dada a singularidade da modalidade e práticas de formação que vêm sendo de-
senvolvidas, também temos dialogado com os conceitos de Acompanhamento e
Mediação Biográfica proposta por Souza (2010). Para o autor o processo de acom-
panhamento no contexto de formação continuada de professores e professoras
vale-se de princípios epistemológicos das histórias de vida em formação e signifi-
ca caminhar com, partilhar experiências, participar do desenvolvimento profissio-
nal por meio de mediações não diretivas sobre a história e singularidade do adul-
to (professor/professora) em processos contínuos de aprendizagem e formação
(SOUZA, 2010, p.162).

Nessa direção, em articulação com a noção de acompanhamento, a mediação bio-


gráfica e entendida por nós, em dialogo com (Souza, 2010), como um processo que
explicita dimensões de copresença, de estar e caminhar com, de partilha das expe-
riências, trilhas e percursos de professores e professoras, lançando mão das figuras
antropológicas do narrador e do formador.

Narrar a Experiência, Escrever a Aula em Contextos de Formação Continuada

Até o momento, o “Coletivo de Professores e Professoras de Educação Física Nar-


radores/as de Seus Saberes e Fazeres” conta com a participação de, aproxima-
damente, 50 docentes que atuam nas escolas municipais de Contagem. Foram
realizados dois encontros mensais no segundo semestre de 2018. Nesse ano, estão
garantidos mais 10 encontros mensais que fazem parte da programação geral da
“Rede de Formação 2019 – conhecimentos, experiências, práticas e diálogos”, co-
forme quadro abaixo:

Quadro 1. Cronograma dos encontros

Primeiro Encontro do Ano


21-02-19
Discussão e Organização do processo de trabalho do Coletivo

Relatos de Pratica
21-03-19 Elaboração de Pipocas Pedagógicas
Dinâmica de Socialização das narrativas em Tríades (Narrador, Ouvinte, Escriba)

Relatos de Pratica
11-04-19 Elaboração de Pipocas Pedagógicas
Dinâmica de validação de Pipocas em pequenos grupos

Visita do Professor Guilherme de Val Toledo Prado (UNICAMP)


30-05-19 Apresentação e discussão das narrativas já elaboradas.
Definição do Esboço do Primeiro Volume do Livro de Narrativas Docentes

Participação do Coletivo com apresentação de trabalhos no


19-06-19
II Encontro Pensando a Educação Física Escolar (BH)

Relatos de Pratica
04-07-19
Elaboração de Pipocas Pedagógicas

Relatos de Pratica
18-08-19
Elaboração de Narrativas

PIPOCAS CONTAGIANTES 13
Participação do Coletivo com apresentação de trabalhos e lançamento do Primeiro
15-09-19 Volume do Livro de Narrativas Docentes no
XXI Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte (CONBRACE)

Relatos de Pratica
24-10-19
Elaboração de Narrativas

Relatos de Pratica
28-11-19 Elaboração de Narrativas
Definição do Esboço do Segundo Volume do Livro de Narrativas Docentes

Fonte: Os autores

O grupo vem adotando a seguinte dinâmica de trabalho: nos encontros mensais


os docentes são convidados a apresentarem relatos de sua pratica pedagógica. Os
relatos estão centrados nos desafios, saberes e fazeres relacionados à construção
curricular da Educação Física. Além dos relatos de pratica, os encontros mensais
também são organizados de modo a possibilitar a elaboração e socialização de
narrativas pedagogicas (PRADO e DAMASCENO, 2007), no formato de Pipocas
Pedagógicas.

Mas, afinal, o que são Pipocas Pedagógicas? O termo foi criado por um grupo de
professores do ensino fundamental participantes do GEPEC – Grupo de Estudos e
Pesquisas em Educação Continuada da Faculdade de Educação da UNICAMP.

A pipoca pedagógica passou a ser a expressão metafórica usada por


nós, integrantes do grupo de Terça, para denominar uma narrativa cur-
ta – um causo – cujo conteúdo são as questões da educação de crian-
ças e jovens que nos inquietam enquanto educadores; são retratinhos
3x4,em branco e preto ou à cores, feitos por fotógrafos-professores-
-contadores de causos seus e de seus alunos. As Pipocas mostram as
margens possíveis no dia-a-dia dos professores, as brechas “estoura-
das” (descobertas), que deixam o exílio das ausências, para ampliar
nosso presente, e as cavadas à unha, respostas ao movimento das
emergências. (GEPEC-FE-UNICAMP, 2008. P.106)

Na condição de pipocas, as narrativas elaboradas pelos professores e professoras


de Educação Física precisam ser saboreadas, sentidas e apreciadas como “causos”
do cotidiano que, ao serem lidas, instigam-nos a ler outra e outra. O exercício da
escrita de si é uma tarefa complexa, pois exige que, além do registro da própria
trajetória profissional, cada autor/a reflita sobre o que viveu- o que nem sempre é
prazeroso e habitual-, mobilizando conhecimentos, saberes, crenças, emoções e o
estabelecimento de relações não necessariamente percebidas (CAMPOS e PRADO,
2013).

Nesse sentido, apresentamos uma pipoca para ser saboreada:

Em Xeque

Professora Paola Oliveira

Retomava o xadrez numa turma de nono ano. Faltava pouco mais de um mê para
encerrar o ano letivo e o tema, na verdade, ia combinar slackline e skate, mas um-
dos estudantes dessa sala passou a usar um colete em função da escoliose e estava

14 PIPOCAS CONTAGIANTES
impedido de fazer atividades físicas e sugeriu retomarmos o xadrez.

A turma topou a idéia e alternávamos o xadrez e as outras práticas, ou combináva-


mos numa mesma aula.

É uma escola onde trabalho há oito anos e onde acompanho as turmas no ciclo. Em
uma aula especifica de xadrez, onde revisávamos o que já sabíamos, anotando no
quadro e jogando à vontade, trocando as duplas, tirando dúvidas; quando todos es-
tavam envolvidos com seus respectivos jogos, passei pela sala assistindo os jogos.
Dois estudantes conversavam, tirando dúvidas sobre o xadrez:

- Como é que a dama se move?

- Mano, ela vai pra onde ela quiser, do jeito que ela quiser, ela é uma mulher que se
impõe perante a sociedade... Ela é uma empoderada....

Um agradeceu e retomou o jogo, aquele que respondeu também seguiu seu jogo
com naturalidade. Eu não disse nada. Sorri e contemplei a naturalidade com que
brincavam com questões de representação de gênero enquanto jogavam xadrez.

Mais tarde comentei com outros professores, e então rimos e nos orgulhamos. Lem-
brei de um jeito nostálgico dessa turma, de acompanhá-los por anos e vê-los cres-
cer. Respirei fundo e me enchi de esperança; de vaidade e esperança... Nós parti-
cipamos da formação de pessoas que podem ser melhores do que esperamos e
maiores do que pensamos.

As pipocas elaboradas são, posteriormente, disponibilizadas em um arquivo digi-


tal, o que possibilita a leitura e discussão de todos/as os participantes. A partir dai,
tem inicio um processo que temos denominado de “validação das narrativas”, com
vistas à publicação das mesmas. Para tanto, os docentes são divididos em trios
ou quartetos onde alternam os papéis de narradores, ouvintes e escribas. Nesses
grupos as narrativas são lidas, discutidas, adensadas e, se necessário, reescritas. A
figura a seguir, bem como o registro fotográfico, representa esse processo:

Figura 1. Dinâmica de validação das narrativas

PIPOCAS CONTAGIANTES 15
Figura 2. Momento de apresentação dos relatos de experiência da pratica pedagó-
gica

Fonte: Os autores

Figura 3. Professores e Professoras em processo de validação das narrativas

Fonte: Os autores

Figura 4. O coletivo de Professores e Professoras Narradores

4.1. Grupo do turno da manhã 4.2. Grupo do turno da tarde

Fonte: Os autores

16 PIPOCAS CONTAGIANTES
Mais um dedo de prosa antes de finalizarmos...

No processo de elaboração das Pipocas Pedagógicas foi possível identificar,


até o momento, dois tipos de narrativa. Um conjunto de narrativas se relaciona à
escrita das aulas; isto é, narram o processo de ensino e aprendizagem de praticas
corporais na Educação Física escolar. Um segundo grupo de pipocas relaciona-se
de forma mais intensa com a “condição docente”, ou seja: dilemas, desafios e ten-
sões vividos pelos professores e professoras nos cotidianos escolares nas relações
estabelecidas com diferentes sujeitos da comunidade escolar.

Ainda sobre o processo de elaboração das narrativas, é importante ressaltar-


mos um dos momentos mais significativos da formação: a validação das Pipocas
Pedagógicas pelos docentes. A divisão do Coletivo em grupos menores (tríades ou
quartetos) possibilita que todos conheçam, leiam e conversem sobre as produções.
Nestes pequenos grupos os professores trocam dicas para melhorar a escrita, a
compreensão e as possíveis interpretações que surgem a partir da leitura de cada
texto.

Por fim, a elaboração das Pipocas Pedagógicas tem se mostrado uma estratégia
muito significativa para a produção de sentidos sobre o que é um Coletivo Docente
que propõe narrar as experiências e escrever sobre as aulas de Educação Física.
Josso (2004, p.219) nos lembra de que “o trabalho biográfico de si mesmo dá ini-
cio à aprendizagem da implicação permanente em jogo, no trabalho individual e
no trabalho coletivo”. Nesse sentido, o acompanhamento e a mediação biográfica
tem demonstrado uma gradativa e crescente implicação dos professores/as com a
formação, com sentimentos que emergem da dinâmica de escrita, com o compar-
tilhamento e validação das narrativas.

Nesse momento, convidamos todos e todas a conhecerem, se deliciarem e se


deixarem contagiar pelas pipocas elaboradas pelos docentes.

Boa leitura!

Referências

CAMPOS, C. M.; PRADO, G. V. T. (Orgs.). Pipocas Pedagógicas: narrativas outras da


escola. São Carlos: Pedro e João Editores, 2013. 96p.

GEPEC-FE-UNICAMP. Pipocas Pedagógicas: causos de professores. In: IV Seminá-


rio Fala Outra Escola. Caderno de Resumos e de Programação. Campinas, FE-Uni-
camp, 2008, p. 106.

JOSSO. M.C. Experiências de vida e formação. Tradução de José Claudino e Julia


Ferreira. São Paulo: Cortez. 2004

MOLINA NETO, V.; MOLINA. R.K. Pesquisa Qualitativa em Educação Física Escolar:
a experiência do F3P-EFICE. In: MOLINA NETO, V.; BOSSLE, F. (orgs). O Ofício de
Ensinar e Pesquisar na Educação Física Escolar. Porto Alegre: Sulina, 2010. P.09-36

PRADO, G.V.T. DAMASCENO, E.A. Saberes Docentes: narrativas em destaque. In:


VARANI, A. FERREIRA, C.R., PRADO, G.V.T. (orgs). Narrativas docentes: trajetórias
de trabalhos pedagógicos. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2007. P.15-28

PIPOCAS CONTAGIANTES 17
SOUZA. E.C. Acompanhar e Formar – Mediar e Iniciar: Pesquisa (Auto)Biográfica
e formação de Formadores. In: PASSEGGI, M.C.; SILVA, V.B. (orgs.) Invenções de
Vida: compreensão de itinerários e alternativas de formação. São Paulo: Cultura
Acadêmica, 2010. P.157-179.

18 PIPOCAS CONTAGIANTES
PIPOCAS PEDAGÓGICAS
Coletivo de Professores e Professoras
Narradores (as) de seus Saberes e Fazeres
ESPECTRO DE CORES DA EDUCAÇÃO FÍSICA
Professor Walber da Silveira

O ano se iniciou nas escolas e a acolhida dos alunos nas aulas de educação física
envolveu discussões sobre os diferentes conteúdos do currículo escolar, refletindo
com os alunos a importância de diversificar e ampliar as atividades propostas para
o ano letivo de 2019.

Para ilustrar essa discussão com os alunos sobre o planejamento participativo na


educação física escolar, foi apresentado um curta motivacional chamado ¨Alike –
Escolhas da Vida¨, que foi retirado do YouTube e tem duração de, aproximadamen-
te, 7 minutos.

Quando comecei a apresentar o vídeo para os alunos, me deparo com os clássicos


questionamentos sobre a Educação Física:

- Vai pra quadra hoje professor?

- Vai ter futebol professor?

- Queremos quadra e futebol!

Dei aquela suspirada e numa mistura de cores, passei do amarelo vibrante da em-
polgação para uma escala monocromática de tons de cinza. E com muito esforço
tentava chegar num aspecto mais azulado onde eu pudesse me escorar e me man-
ter de pé diante de uma avalanche de expectativas que coloriam os olhos daquelas
crianças e adolescentes que estavam ali, numa roda dentro da sala de aula.

Aqui cabe um recorte para esclarecer ao leitor os tons e as cores citadas acima. E
no decorrer deste texto, os leitores perceberão as nuanças e sutilezas entre a poli-
cromia e a monocromia que envolvem as aulas de educação física escolar.

O filme apresenta um roteiro que reflete sobre as escolhas das vidas das pessoas
em seus diferentes momentos da vida. Destaca-se nesse curta, o contexto escolar
e do trabalho, onde as tarefas são tão repetitivas e desmotivantes que fazem o co-
tidiano das pessoas se colorirem de tristeza, apatia e desânimo.

Como se percebe no curta, nessa rotina das pessoas, o dia começa com cores e
animação, e ao longo das horas e dos cumprimentos das tarefas, as cores vão se
apagando e tons de cinza e branco colorem a fisionomia dos humanos, tanto nos
adultos quanto nas crianças e jovens, demonstrando sentimentos ruins e as angús-
tias do nosso dia a dia.

Toda a temática do vídeo se baseia nessa reflexão e para não dar “spoiler” do filme,
convido você leitor a assistir esse curta e colorir um pouco sua vida.

Agora, retomemos à dinâmica da aula com os adolescentes. Durante toda a apre-


sentação do vídeo uma aluna chamada Paloma ficou tumultuando a sala, conver-
sando e atrapalhando o desenvolvimento da atividade. E isso me levou a intervir
várias vezes, chamando a atenção da garota e tentando trazê-la para a discussão
proposta. Nessa hora, eu já estava quase branco de tão desanimado com a aluna.

Depois da apresentação do vídeo questionei a turma sobre o entendimento e a

20 PIPOCAS CONTAGIANTES
mensagem que eles tiveram do curta:

- E aí galera, alguém consegue me explicar com suas palavras o que entenderam


do vídeo?

Nesse momento veio um silêncio mortal... Mas, de repente, saiu um suspiro no fun-
do de sala. Uma das garotas que atrapalhava bastante durante o filme, nesse caso
em especial, Paloma, aquela falante e de gargalhadas que não alegravam o ambien-
te, me disse sem titubear:

- Não sei de nada! Não entendi nada!

Com essa resposta me vi saindo do cinza para o vermelho de raiva em segundos,


porém, para manter as aparências diante dos alunos, dei aquela suspirada nova-
mente e num gole saboroso d’água na minha garrafinha, retomei a dinâmica pro-
posta dizendo aos colegas:

- Galera, então vamos entender juntos e cada um contribui com um pouco. Assim
nós construiremos um desfecho para essa história, pode ser?

Foram segundos de reflexão na sala, e eu pensando comigo mesmo como aquela


água incolor, me encheu de cores e lubrificou os pensamentos para eu responder
com respeito àquela situação desagradável.

Nesse pequeno intervalo de tempo, as palavras e pensamentos dos alunos foram


pipocando e as reflexões tomando diferentes cores dentro da sala, durante os pou-
cos minutos que faltavam para acabar aquela aula.

Para finalizar a dinâmica deste grupo de alunos do 8º ano, pedi para que os alunos
escrevessem num pequeno pedaço de papel algumas palavras que eles consideras-
sem fundamentais para colorir as aulas de educação física e a escola no ano letivo
de 2019.

Nesse momento bate o sinal e os alunos numa disparada desorganizada levantam-


-se para trocar de sala. Como estava na porta da sala, consegui controlar a saída
dos adolescentes liberando apenas quem me entregasse o papel com a atividade
das palavras. Como um “guardião” ou “soldado”, eu fiquei de pé recebendo o pas-
saporte para a liberdade. Cobrei pedágio para sair da sala, foi o que me restou,
antes de ser atropelado pela rapaziada.

Nessa toada, o congestionamento na saída da sala ajudou a acalmar os ânimos e


aos poucos os adolescentes foram saindo, até que chegou a vez da Paloma me
entregar a atividade. Lembram-se da coleguinha? Pois bem, a aluna me entregou
a folha virada para baixo para que eu não visse o que estava escrito. Como eu já
esperava algo que pudesse me atingir, ou para o bem ou para o mal, esperei todos
saírem e separei os escritos da Paloma na outra mão para fazer a leitura.

E veio o golpe fatal, com aquelas palavras estapeando minha cara:

- As aulas de educação física não têm cor!

Naquele momento o mundo veio ao chão e meu espectro de cores não importava
mais nada. Respirei... Respirei novamente e fiz uma leitura momentânea da situ-
ação. Nesse caso, os mais de 12 anos de experiência na caminhada da educação
me deram forças para buscar respostas para aquela mensagem agressiva, naquele

PIPOCAS CONTAGIANTES 21
contexto de dinâmica coletiva.

Era a última aula da manhã e tinha que manter o pique para encarar mais quatro
aulas no turno da tarde, desenvolvendo essa proposta reflexiva com o mesmo curta
de animação.

Juntei os cacos coloridos e quebrados e fui embora almoçar. Afinal, tinha a expec-
tativa de que noutro grupo de trabalho, numa outra escola, agora com crianças do
2º ciclo, tudo poderia ser diferente e mais cheio de cores.

Fiquei com a pulga atrás da orelha com aquela frase impactante, e mesmo assim
insisti nessa roda de conversa com as crianças da tarde.

Para minha sorte e satisfação, as crianças adoraram o vídeo e as reflexões fluíram


como um arco-íris, com muito brilho e cores fortes de emoção. O olhar daquelas
crianças renovou minha alma e no final daquela tarde, numa das turmas que fize-
mos a atividade, uma criança fala do fundo da rodinha de conversa:

- Professor, adoro a educação física! Você colore nossos dias com as brincadeiras!

Naquele momento pensei novamente na Paloma, aquela garota da outra escola,


aquela que se apagou na aula e por pouco também acinzentou o meu dia. Parei,
pensei e me questionei: O que eu faço para me manter colorido e não apagar o dia
dos outros?

Afinal, tem a minha cor, a sua cor e a cor dos outros...e a caminhada, independente
das tonalidades, tem que continuar!

22 PIPOCAS CONTAGIANTES
UMA EXPERIÊNCIA DE QUASE MORTE
Professor Vinícius Cambraia

Último horário de quinta-feira, segundo encontro da semana com uma das turmas
de 5º ano da escola, conteúdo de jogos e brincadeiras. Maria Eduarda já vinha dan-
do um pouco de trabalho no decorrer do ano... cabulando aulas, respondendo mal
os professores, resolvendo conflitos com agressividade e afins. Durante uma brin-
cadeira de pegar, Duda acabou se desentendendo e agredindo uma das colegas de
sala. Ao perceber o conflito, corri para intervir e separar as duas alunas. Enquanto
alguns colegas consolavam a aluna agredida, levei Maria Eduarda para uma das la-
terais da quadra com o intuito de conversarmos sobre o ocorrido. Após ouvir suas
justificativas, ponderei sobre a importância do diálogo e do combate a violência,
chamei atenção para sua conduta nos últimos meses e tive a grande infelicidade de
terminar nossa conversa com os seguintes dizeres: “Você está se comportando mui-
to mal. Matando aula, batendo, falando palavrão... está parecendo um MENINO!”.
Terminada a nossa conversa, Maria saiu e foi se desculpar com a colega. Reuni toda
a turma, conversei sobre o ocorrido, fiz algumas ponderações e encerrei a aula.

Os alunos foram deixando a quadra para se encontrar com os pais no portão da


saída, enquanto eu terminava de recolher e guardar os materiais utilizados. Quando
de repente, avistei um senhor alto, moreno e forte, se aproximar da quadra com a
seguinte indagação: “É você o professor de Educação Física?”. Sua expressão facial
não era muito animadora, então, meio ressabiado, respondi: “Sou eu sim. Em que
posso ajudar?”. Após minha curta resposta, a expressão facial pouco animadora,
já havia se transformado em algo muito pior. “Eu sou o pai da Maria Eduarda e ela
me contou o que aconteceu. Que história é essa de você chamar minha filha de
homem?”.

Um misto de sensações tomou conta do meu corpo; comecei a suar frio, senti um
nó apertando a garganta e as pernas tremendo feito vara verde. Olhei pro alto, com
toda calma e tranquilidade que eu não tinha, e disse: “Olha, não foi bem assim que
aconteceu. Posso te explicar?”. Nem bem terminei a frase e fui interrompido com
um sonoro “Cala a boca!”. Tentei argumentar por vezes, e em todas elas fui respon-
dido com a mesma sentença. Resolvi me calar; enquanto meus os olhos buscavam
por ajuda e o resto do corpo já temia o pior. Não encontrei nenhum funcionário da
escola, apenas um dos meus alunos, que a alguns metros atrás, acompanhava todo
o ocorrido.

Após me silenciar, o simpático senhor vociferou: “Se você não sabe mexer com os
filhos dos outros, eu vou te ensinar!”. Quem dera se ele estivesse me oferecendo
conceitos pra que eu pudesse compreender melhor as relações entre os gêneros, o
comportamento adolescente ou coisas do tipo... me ensinaria de outra forma. “Vou
te encher de porrada pra você aprender a mexer com os filhos dos outros! Se isso
acontecer de novo, volto aqui, te quebro no meio! Te encho de porrada!”.

Tremendo e temendo ainda pelo pior, tentei por mais uma vez me explicar, mas fui
novamente interrompido por aquela imperativa sentença: “Cala a boca!”. Assim o
fiz! O pai se virou e foi embora. Assentei-me no local firme mais próximo, minhas
pernas bambas, já não conseguiam me suportar. No peito aquela confusão de sen-
timentos: alívio (pelo que não foi), temor (pelo que poderia vir) e frustração (pela
intervenção errada que fiz).

PIPOCAS CONTAGIANTES 23
Jéferson, o aluno que de longe havia acompanhado tudo, ao me ver sentado após
toda aquela confusão se aproximou. Imaginei que, como se não bastasse todo o
ocorrido, ainda seria presenteado por ele com afirmações do tipo: “Deu ruim com
o pai da Duda hein professor!?” ou “Pagou pau! Ficou morrendo de medo!”. Para
minha surpresa e contentamento, Jéferson bateu com a mão no meu ombro e dis-
se: “ Professor, se esse cara encostasse a mão em você, a gente ia pular pra dentro
dele!”. Desfecho animador! Após uma experiência de medo, angústia e desamparo,
enfim; após uma experiência de quase morte, tive um alento; alguém estaria ali para
me defender, ou melhor, juntar meus pedaços...

24 PIPOCAS CONTAGIANTES
PRESENÇA
Professora Camila do Carmo Dias

Ano de 2019, primeira aula prática do ano, ao olhar nos olhos dos alunos é visível à
expectativa para uma atividade diferente, mas decidi iniciar com brincadeiras sim-
ples, mas com nomes diferentes.

Ao falar o nome das brincadeiras, Bate Bola e Lobinho, muitos ficaram me olhando
com cara de quem não estava entendendo nada, logo veio à indagação:

- Ah! Não teremos futebol?

- Claro, que não! Já deixei claro que futebol não esta no cronograma e vai aconte-
cer de surpresa.

Voltamos às atividades, realizamos e nos divertimos (melhor parte).

No final, convidei a todos para sentar próximo ao círculo central e perguntei:

- Gostaram da aula? (Nessa hora da um frio na barriga).

- Sim! Responderam em coro.

Uma aluna levantou a mão e disse:

- Essa foi a melhor aula que já tivemos, pois você estava o tempo todo ao nosso
lado.

Terminei a aula agradecendo a participação de todos e fui para a sala refletindo o


quanto a presença, o carinho e a atenção podem fazer diferença na vida dos nossos
alunos.

PIPOCAS CONTAGIANTES 25
COTIDIANO
Professora Raquel Maria dos Santos

Acordar bem cedinho, arrumar, ajeitar o cabelo tudo rapidinho. Olha a hora! Corre,
anda logo!

Ir para o ponto de ônibus, correndo. Ufa! Quase perdi o ônibus. Sair de um, correr
entrar em outro. Ufa! Quase perdi o outro. Será que vai dar tempo? Não posso me
atrasar. Afinal hoje tem aula de educação física! É na quadra, quanta empolgação!
Será que vai ter bola? Mas já tudo planejado... Já imagino tudo que ira acontecer,
sei que vou me divertir muito, e aprender também. Mas será que todos estarão tão
empolgados quanto eu na hora que pisarmos na quadra?

Nessa hora imagino que todos irão adorar, pelo menos a maioria sim. É claro que
vai ter um ou outro que vai reclamar, resmungar... Reclama porque não ficou muito
tempo com a bola, ou que a atividade acabou rápido por culpa da professora que
ficou falando um tempão... Mas fazer o que né? Não da para agradar a todos.

Se bem que a professora tenta, Ô se tenta, porém... Sei que mesmo acordando tão
cedo para pegar dois ônibus por dia, numa correria danada para chegar a tempo
na escola, ainda assim, EU continuarei tentando.

26 PIPOCAS CONTAGIANTES
VIRANDO O JOGO
Professora Renata Dias

Um novo ano se iniciava, novas turmas, novos colegas, nova escola, nova rede. O
primeiro impacto já recebi na apresentação: um modelo de como deveria trabalhar
durante o ano e que o mesmo não poderia ser modificado. Esse impacto foi tão
forte que demorou uns dois meses para me recuperar.

Sem alternativas, fiz o que foi mandado. O primeiro desafio foi convencer os alunos,
que poderia ser legal fazer coisas diferentes, além do eterno “Futebol” ou do mais
novo concorrente: o Celular.

Conheci uma ferramenta utilizada por outros colegas e no mesmo instante quis fa-
zer na minha nova escola, achando eu que tinha encontrado a solução para os meus
problemas, o “INOVADOR PORTFÓLIO”. Logo descobri que não seria tão fácil as-
sim, a direção da escola não aceitou, justificando que já tinha um planejamento e
que analisaria a proposta para o ano seguinte, “como assim? Eu não estaria lá, eu
queria fazer!”.

Não desisti, depois de muita insistência e um pouco de rebeldia, CLARO! Mesmo


sabendo que a escola não iria me dar nenhum material para um trabalho “não auto-
rizado”, logo precisei pensar e buscar alternativas e métodos para burlar o sistema,
como pegar folhas da maquina de xerox da sala dos professores e muitos outros
meios, mas, enfim, consegui fazer o portfólio.

Para mim uma das maiores vitórias que alcancei na minha caminhada de professo-
ra, pois alunos, que não faziam nada com nenhum outro professor, ao final do ano,
possuíam material construído por eles e até me cobravam quando, por vários mo-
tivos, me esquecia de fazer a folha com eles. O jogo tinha virado, agora o interesse
era todo deles, isso não tem preço.

PIPOCAS CONTAGIANTES 27
QUE NEM O FILME!
Professor Gustavo Torquato

No ano de 2018 recebemos alunos que vieram de outra escola da região. No tema
Jogos e Brincadeiras escolhi trabalhar o Dodgeball, um jogo diferente de queimada
com 6 bolas ao mesmo tempo e algumas regras específicas muito praticado e co-
nhecido nos Estados Unidos.

Na primeira aula do tema a turma foi para o auditório assistir o filme “Com a bola
toda”, uma comédia estadunidense que mostra um campeonato de Dodgeball. Os
alunos dessa turma de quinto ano não gostaram muito de ir para o auditório, pois
segundo eles “educação física é na quadra”. Mas como o filme é muito engraçado
logo pararam de reclamar e muitos perguntaram se iam jogar aquele jogo no mes-
mo dia. Deram muitas gargalhadas.

Na parte final do filme acontece a final do campeonato. Para dar mais emoção,
no fim da partida acontece uma situação chamada “falta dupla”, onde um jogador
queima o outro, mas pisa na linha que divide a quadra. Segundo a regra do campe-
onato seria uma “morte súbita”. Um jogador de cada equipe teria apenas uma chan-
ce de mandar a bola no adversário e o primeiro a ser atingido perderia. Os alunos
ficaram muito empolgados com o final, vibraram e até bateram palmas.

As aulas seguintes foram para aprender as regras, jogar e depois fazer um trabalho
teórico. Em uma das aulas, quando só restava um jogador de cada equipe, eis que
acontece uma situação igual à final de campeonato do filme. Confesso que não me
atentei pra isso, mas vários alunos vibraram e gritaram “foi falta dupla professor,
que nem no filme. Vai ter que ser morte súbita!” Foi um alvoroço, todos ficaram no-
vamente empolgados e curiosos como iriam fazer. Corri na sala de matérias, peguei
dois cones e dois bambolês, preparei o espaço e a cena foi montada, que nem no
filme.

Os expectadores estavam ansiosos, só faltaram as pipocas e um celular para filmar


tudo. Assim como no filme, o fim de aula foi espetacular, mas não pôde ser revela-
do, pois final de filme não se conta!

28 PIPOCAS CONTAGIANTES
“LÁ VAMOS NÓS”
Professora Gizele A. P. de Castro

Estava iniciando uma aula em uma turma de quarto ano, que, poderia dizer colo-
cando em prática uma “brilhante ideia” que tive. Em um dia quente de 2018, para
chamar a atenção de meus alunos, fiz uma dinâmica antes de sairmos da sala para
deslocarmos para a quadra. Eles falavam tanto que parecia que não percebiam a
minha presença. Tentando explicar a atividade daquele dia e como nada surtia efei-
to, usei várias estratégias para ser notada, quando bati palmas, eis que um deles
gritou.

- Cala a boca, senão vamos ficar na sala! A professora está esperando silêncio!

Nesse momento eu e os demais alunos levamos um susto. Olhei e vi que era o aluno
Lucas que havia gritado. Foi aquela confusão, não estava esperando...

- Oh menina, sua tagarela! Gritou Lucas para Talita: - não vê que vai ser por sua
culpa que vamos ficar na sala?

Talita não deixou por menos e o respondeu : - Tagarela é a sua vó! Até parece que
você não atrapalha, né? E sou somente eu que estou falando? Seu IMBECIL!

Neste momento minha esperança foi por água abaixo, ela não me deixava intervir,
falava sem parar, Lucas novamente rebateu.

- Minha vó não é TAGARELA! Você que é!

Talita e Lucas não paravam, parecia que nem respiravam. Tinha que retomar o con-
trole da turma. Falei em tom ALTO e firme:

-Chega com tudo isto! Estou invisível? Puxa vida, que falta de educação!

A minha vontade era sair correndo e ir para casa, mas não podiam nem sonhar com
isto! Como se eu estivesse num jogo de basquete, tinha três segundos para decisão.

Foi aí que retornei a minha “brilhante ideia”.

- Vamos viajar? Por isto precisamos de muito silêncio e atenção para que possam
entender as instruções de uma grande missão.

E assim, fui percebendo que o semblante deles estava diferente, estava dando cer-
to, pelo menos parecia, e daí continuei, antes mesmo de pensar que poderia ser
interrompida.

- Entraremos em uma grande espaçonave ao passarmos pela porta.

Neste momento, fui interrompida por Daniel:

- Professora, vamos para Marte? Vamos conhecer o planeta de Marcos? Falou Da-
niel com certa dose de empolgação, como se realmente estivesse em uma missão
da NASA. Pensei: Pior não poderá ficar. Naquele instante, Daniel enfatizou:

- Uai professora foi você mesma que falou outro dia que Marcos era de lá! Foi aque-

PIPOCAS CONTAGIANTES 29
la risada...

- Eu não sou de Marte! Rebateu Marcos.

- Calma pessoal! Fui logo dizendo. – Ah meninos, foi só uma brincadeira!

Marcos então desabafou:

- Pois é professora, desde que você fez esta brincadeira, todo mundo fica fazendo
bullying comigo, me chamando de marciano.

Pensei: Eu e minha boca... Logo falei:

- Às vezes dizemos algo que não medimos as proporções que irão ter. Desculpe
todos nós Marcos, não é pessoal? Confirmaram e ainda alguns soltaram gargalha-
dinhas bem baixinhas.

Retomando, fui pedindo para que fossem me imitando para irmos à nave espacial.

- Pessoal, coloquem seus capacetes, terão que fazer estes movimentos para entra-
rem na nossa nave mãe, igual no Star Wars!

Daí ouvi bem baixinho alguém perguntando:

- estar aonde professora?

Olhei perplexa, e estava aquela carinha tímida olhando para mim e vi que novos
risos já soavam de volta a sala. E o comando da turma, não passou de um grande
sonho... Fui explicar para a Letícia, o que era. Queria simplesmente correr, estava
ficando enfurecida e muito vermelha, comecei a gritar:

- Não tenho mais tempo, não tenho mais tempo! Ouvi como bomba relógio, o soar
daquela música. Nãooooo!

- Não acreditooo!

Eis que chegou a hora, a hora de me levantar... Era meu despertador! Tudo não
passou de um sonho! Sentei na cama, ainda meio atordoada, com uma sensação de
alivio, mas com aquela expectativa; com coragem fui me arrumar para mais um dia,
como este do sonho. Antes de sair, minha filha se levantou e perguntou para onde
eu estava indo tão cedo.

De pronto respondi:

-Vou trabalhar!

Estranhamente olhou para mim e depois deu uma gargalhada.

- Mas hoje é domingo!

Estaria pirando?

Sentamos no sofá e rimos muito....

30 PIPOCAS CONTAGIANTES
SERÁ QUE CRIAMOS UM JOGO?
Professor João Paulo Gonçalves dos Reis.

A Educação Física Escolar tem a capacidade de ser surpreendentemente mais posi-


tiva em relação às outras disciplinas da educação básica nas escolas pelo motivo de
ser livre para criar e recriar jogos, brincadeiras e esportes já existentes. Será mes-
mo? Sim! Responde este professor de educação física que atua há exatos 10 anos
na educação básica. Experiência adquirida daqui e dali, com o passar dos anos
desenvolvi um projeto de recriação de jogos, brincadeiras e esportes nas escolas
em que atuo. No ano de 2018, tive uma grande surpresa no desenvolvimento deste
trabalho, quando uma dupla de estudantes começou a rebater a bola utilizando en-
costo de cadeiras de sala de aula, que estavam jogados pela escola.

Usaram a bola de handebol, que estava nova e quicava bastante. Aproximei-me dos
dois, observando para não atrapalhar, mas logo perguntei:

- O que estavam jogando?

Com uma resposta rápida e cheia de simplicidade disseram:

- Hóquei de shopping.

No jogo os estudantes tinham que rebater a bola e não deixar passar por de trás do
jogador, como se fosse um gol, mas era em uma área livre.

Por um instante, deixei os demais educandos realizando suas tarefas e continuei a


observar o jogo daquela dupla. Percebi outro grupo que rebatia uma bolinha pe-
quena de borracha que quica muito, sendo, por vezes quase impossível rebater. Os
estudantes dão o nome de bolinha pula-pula ou bolinha perereca.

Eureka!!! Opa estou brincando! Não disse isso, mas tive uma grande ideia! Resolvi
parar tudo, chamei todos, nos posicionamos em roda, e falei sobre a possibilidade
de termos dado inicio a criação de um jogo. Todos com os olhos atentos, arre-
galados e também curiosos para saber quem ou qual grupo ou dupla conseguiu
sobressair-se sobre os demais. Expliquei que foi o trabalho em conjunto de toda a
turma, que fez com que este novo jogo fosse semeado. Disse que vi alguns utilizan-
do materiais que estavam descartados pela escola (os encostos das cadeiras) com
bolas de handebol, vi que outros utilizavam bolinhas pula-pula, mas a semelhança
era que nas duas ocasiões as rebatidas destas bolas eram o objetivo principal dos
jogos. Então resolvi juntar os dois em um só. Trocamos a bola de handebol pelas
bolinhas e mantemos os encostos das cadeiras.

Recolhemos os encostos de cadeiras quebradas espalhados pela escola, logo todos


tinham uma em mãos, e no dia seguinte, cada um trouxe sua bolinha. Já na quadra,
formamos duplas, demarcamos um espaço para cada área de jogo onde e come-
çamos a brincar, ate encontrar uma forma melhor de dar ritmo e fazer com que o
objetivo fosse alcançado. Como a bolinha de pula-pula ganhava muita velocidade
ao rebater com o encosto da cadeira. Utilizando apenas uma das mãos para reba-
ter, passamos a utilizar as duas mãos para segurá-la, como se estivesse segurando
um volante de carro e o deslocamento tinha que ser modificado. Sendo assim só
era permitido deslocar-se lateralmente, e com os dois pés no chão. Demarcamos
esta área de deslocamento, bem como a área onde a bolinha deveria quicar antes
de chegar ao campo adversário. Se o jogador rebate corretamente a bolinha, e a
PIPOCAS CONTAGIANTES 31
mesmo passe pelo campo oposto onde esta o adversário, concretizaria se assim o
ponto.

Após muito jogar pensamos que este jogo deveria ter um nome. Os alunos sugeri-
ram muitos nomes como: madeira bol, quica-quica bol, rebatida bol, rebatida pu-
la-pula bol. Após as sugestões fui embora pensativo, determinado a encontrar um
nome para o jogo.

Na aula seguinte antes de colocar o nome do jogo para votação, disse para os alu-
nos que passei o fim de semana pensando também em um nome para o jogo e que
tinha encontrado, mas que iria para votação caso eles solicitassem.

- Sendo assim eu disse GUVERBOL! O quê?

- O senhor “ta doido fessôr”?

- Credo, “daonde” você tirou isso João?

Imaginem a cara de repulsa. Mas pedi uma chance para explicar o porquê de ter
escolhido este nome, e como cheguei ate ele.

Disse que observei os movimentos utilizados no jogo, que percebi que eles segu-
ravam o encosto da cadeira como se fosse um volante para rebater a bolinha, e a
principio pensei em VOLANTE BOL, mas achei um pouco sem graça, assim como as
expressões faciais de contrariedade que fizeram para mim. Mas não desapeguei da
ideia do volante, e pesquisei em outras línguas a tradução livre da palavra, apareceu
Guvernáculo, em Latim.

Então resolvi diminuir a palavra Guvernáculo para guver, e acrescentar o bol, for-
mando assim o Guverbol. Após a explicação, num raro momento de atenção geral
da turma, veio à aceitação ao nome e o alvoroço para jogar novamente. Então, será
que criamos um jogo?

32 PIPOCAS CONTAGIANTES
PEGAR O RATINHO
Professora Ohana Alves de Almeida Gonçalves

Era o ultimo horário das 08 aulas do dia. Eu já me encontrava cansada e os alunos


bem agitados. Tratava-se de uma turminha de 28 estudantes do 1º ano do 1º ciclo
que, após fazerem uma atividade com bola, estavam com energia total e ainda fal-
tavam alguns minutos para o término da aula.

Pedi a eles que assentassem no círculo pois faríamos uma brincadeira. Eles logo as-
sentaram e a curiosidade falou mais alto. Expliquei que seria um telefone sem fio e
grande parte deles já havia brincado. Como ainda estavam bem agitados, informei
que falaria uma frase e eles teriam que fazer o que eu dissera.

Iniciei a brincadeira com a seguinte frase:

- Ficar caladinho.

Eis que a mensagem foi passando, a curiosidade os acalmando e o clima ameni-


zando. Eles pareciam ter realmente ouvido e entendido, até que noto que alguns
estudantes faziam uma cara de espanto misturado com dúvida e risos. Logo pensei:
o que será que estão ouvindo?

Ao final da roda, o último estudante tinha que dizer a mensagem que foi passada:

- Pronto Isaque, qual era a frase?

Eis que Isaque nos diz com grande empolgação:

- Pegar o ratinho.

Pronto! A frase chata e sem brilho havia se tornado uma comédia que irradiou a
turma. Não tinha quem não estivesse rindo da situação, afinal, era para fazer o que
a frase dizia, e com grande alívio pensei, “ainda bem que ninguém se levantou para
procurar o ratinho!”.

PIPOCAS CONTAGIANTES 33
O PLANEJAMENTO E O VENTO
Professor Hamilton Gonçalves Barbosa.

18 de fevereiro de 2019. Primeiro dia do início do ano letivo. Hoje as três turmas
do quinto ano tem educação física. Ansiosos pela aula e para saber qual o tema...
entrei na primeira sala e como de costume no acolhimento, um abraço em cada
estudante. Conversamos rapidamente sobre as férias, mas, no olhar da maioria,
a expectativa para nossas práticas. Após relembrarmos as regras de convivência,
apresentei uma novidade para que todos pudessem registrar as aulas, teríamos um
álbum de educação física e em cada tema, teríamos uma foto de cada estudante
que poderia usar roupas ou implementos que pudessem identificar o tema através
das fotos. Após as explicações reiterei a necessidade do registro de todas as aulas
com a data, um texto e o desenho sobre a aula e anunciei: Atletismo será nosso
primeiro tema! Havia planejado corridas, saltos, lançamentos e arremessos. Conver-
samos sobre o que é e quais as modalidades do atletismo. Fomos para a quadra,
caminhamos, ‘trotamos’ e corremos. Fim da primeira aula que basicamente trans-
correu dessa forma para as três turmas. 20 de fevereiro. Alguns estudantes estavam
de camiseta e shorts bem mais largos, do tipo de atletas da modalidade. Comecei a
tirar as fotos na sala. Conversamos sobre as roupas e os calçados mais apropriados
e usados nas práticas do atletismo, sobre segurança e conforto, mas que não era
obrigatório o uso dessas vestimentas, para os que pudessem a orientação é que
fossem de tênis para as aulas. Dei “visto” nos registros da aula anterior. Expliquei
que faríamos o salto em altura. Fomos para a quadra. No primeiro salto – com um
sarrafo feito de barbante – conversamos sobre as regras necessárias para que o sal-
to fosse realizado em segurança. No primeiro salto – com o sarrafo bem baixo – to-
dos poderiam saltar da forma que melhor acreditassem ser eficiente para transpor
o sarrafo, sem encostar. Todos foram. Aumentei a altura do sarrafo, todos pularam.
Baixei o sarrafo para a primeira marca de altura e disse sobre o salto tesoura. Ex-
pliquei brevemente sua história, demonstrei e desafiei a todos saltarem da forma
como havia demonstrado. Coloquei o sarrafo bem alto – de um jeito que ninguém
poderia transpor sem encostar ou derruba-lo – vi empolgação e ouvi protestos,
alguns estudantes saindo da organização desistindo do salto e outros esfregando
as mãos. Ninguém pulou porque a aula tinha acabado, eles nem perceberam que
foi estratégico, outra onda de protestos – agora por todos – pelo fato de anunciar:
Atenção! Sem correr... banheiro, água e sala. 25 de fevereiro, antes mesmo de entrar
na sala fui cobrado por alguns que queriam saltar o sarrafo na marca deixada na
última aula, avisei que teríamos um desafio maior, entramos para sala e após os vis-
tos nos registros da aula anterior, conversamos que retomaríamos a prática do salto
em altura, agora, além dos tatames organizei colchonetes para que eles pudessem
vivenciar o salto em altura de costas. Deixei o sarrafo bem baixo, e fui aumentando
aos poucos. Expliquei a dinâmica do salto e que ele era um dos mais eficientes para
transpor o sarrafo. Finalizamos com os estudantes colocando a altura do sarrafo de
acordo com seu interesse com a orientação de que a altura escolhida devia ser a
maior possível para cada, e que o salto fosse realizado de preferência sem derru-
bar ou encostar no sarrafo. As aulas transcorriam conforme o planejado, a ideia era
vivenciar os saltos em altura e distância, depois retomar com corridas, caminhada
orientada e marcha atlética. 27 de fevereiro, visto nos registros – destaque para os
desenhos e a empolgação das turmas com as práticas – expliquei, ainda em sala,
sobre os tipos de corridas e saídas que poderíamos fazer nas aulas. Tiramos fotos
para os álbuns. Ficaram curiosos sobre as saídas, a ideia era vivenciar a saída bai-
xa nessa aula como estratégia para corridas rasas. Instiguei-os a pensar sobre de
que forma as corridas poderiam ser realizadas com segurança, e sobre as raias,

34 PIPOCAS CONTAGIANTES
qual a finalidade delas. Utilizando um pedaço de madeira para o apoio – bloco de
partida – da saída baixa e fita crepe para as raias, fomos correndo em quartetos,
a orientação foi para ter foco na saída. 11 de março, pensei de que forma poderia
aproveitar melhor o tema, vislumbrei um circuito com as atividades que estavam
e as que seriam desenvolvidas, outra proposta uma caminhada orientada, muitas
possibilidades. Vi que o mato na escola está alto, temos que esperar a capina, mas
enquanto isso, dá para pensar na forma de realizar a prática. Chegando na sala,
visto nos registros, conversamos sobre a saída baixa da última aula. Fomos para a
quadra, iniciamos o salto em distância com a ideia de os estudantes vencerem a si
próprios, começamos com salto sem corrida, impulso com aterrisagem – nossa ‘cai-
xa de areia’? Tatames! Depois, delimitamos um percurso para corrida que antecede
ao salto, apresentei a tábua de impulsão – feita com giz no solo da quadra – fizeram
alguns saltos – marcando com fita crepe – onde tinha aterrissado, o salto seguin-
te deveria haver um esforço para saltar mais em relação à própria marca. Fim da
aula, fui até a diretora me informar de quando ocorreria a capina para desenvolver
a corrida orientada, teria que esperar pois a capina seria um pouco antes da festa
da família marcada para o final do mês de abril. Pensei em várias estratégias para a
prática – mapeamento da escola com planta baixa, divisão em grupos, utilização de
registros como marcas de percurso, ponto de hidratação... 13 de março ao chegar
na escola, antes mesmo do habitual bom dia, fui informado de que a chuva com for-
tes ventos no início da noite anterior havia derrubado parte do telhado da quadra e
que ela ficaria interditada por tempo indeterminado.

PIPOCAS CONTAGIANTES 35
O PESO DE UMA PALAVRA
Professor Matheus Marques da Silva

Chegamos ao mês de Agosto e com ele a continuidade do conteúdo de dança, que


havia iniciado com meus alunos de primeiro ano do fundamental, todos com idades
entre seis e sete anos. O conteúdo havia sido introduzido antes do recesso com
os preparativos para a festa junina, onde as aulas foram voltadas para tal evento,
porém em Agosto decidi trabalhar com Just Dance um jogo de dança, onde perso-
nagens fazem os passos e os participantes repetem os movimentos que são capta-
dos por um sensor de um videogame. Nossa escola, diferente de outras em termos
de materialidade, é muito boa, temos um videogame, porém a galerinha é muito
agitada e não teriam paciência em esperar sua vez chegar. Decidi usar um recur-
so apresentado em nossas formações que consistia em baixar vídeos do Youtube
do próprio jogo e reproduzir para que todos possam participar ao mesmo tempo.
Achei fantástico, pois dança é um conteúdo que eu não tenho muita segurança
para ministrar aulas.

Aproveitei meu planejamento, sentei à frente do computador, e fui fazendo down-


loads dos vídeos do jogo. Decidi buscar por temas compatíveis com a faixa etária
dos meus alunos e assim o fiz: baixei Frozen, Moana, Caça-fantasmas, dinossauros,
doces que dançam, raposa que samba, leão que rebola e assim por diante. Quando
tinha um arsenal de vídeos que achei que seria o suficiente para uma primeira aula,
separei em uma pasta do meu notebook. No dia seguinte cheguei à escola e como
de costume, uma multidão banguelinha veio me receber com um grande abraço
coletivo seguido das indagações de sempre: - Prô, qual vai ser a aula de hoje?

– Calma gente, vamos entrar para eu explicar a brincadeira de hoje.

Assim fizemos, eles se sentaram e eu expliquei:

-Gente nossa aula de hoje não será na quadra.

Silêncio total na sala, seguido de carinhas tristes:

- Vai ser na sala Prô? Indagou Duda, uma das alunas mais participativas nas aulas.

-Não Duda, será na sala de vídeo, mas não iremos ver filme, nós vamos fazer uma
aula de dança!

Foi um misto de gritos, alguns de alegria e outros de negação, até então tudo nor-
mal, como acontecia em todas as aulas, mas no fim todos faziam, se divertiam e na
maioria das vezes os que se negavam a participar no início, eram os que não que-
riam para a prática no final.

Após a reação nos organizamos e fomos para a sala de vídeo. Durante o caminho, a
cada segundo vinha um aluno/a dizendo que já tinha feito aula de balé, zumba e hip
hop, a única que não disse nada foi a Duda, que parecia preocupada com alguma
coisa, se mantinha quietinha na fila e surpreendentemente caladinha, algo raríssi-
mo para uma aluna sempre agitada e pronta para qualquer prática e para uma boa
conversa, apesar de ter apenas seis anos.

Chegamos à sala de vídeo. Todos sentaram enquanto eu montava o notebook para


colocar os vídeos. Tão logo apareceu um quarteto de animais bem vestidos na

36 PIPOCAS CONTAGIANTES
tela, seguidos de uma música de hip hop, todos se levantaram dizendo qual animal
queria ser e assim começaram a dançar loucamente! Dançaram a primeira, a segun-
da, a terceira música e não esboçavam nenhum descontentamento, pelo contrário,
queriam até ajudar na escolha do repertório. Nesse momento percebi que alguém
estava no cantinho sentada, era Duda, a mesma aluna participativa em todos os
conteúdos ministrados no primeiro semestre, agora parecia travada, permaneceu
sentadinha, fui até ela e perguntei:

-Duda você não quer dançar?

Ela balançou a cabeça de forma negativa, mas seus pezinhos diziam o contrário ba-
lançando a cada música, até que próximo ao fim da aula, coloquei um vídeo onde
a personagem que fazia os passos era a Frozen, um desenho que Duda é muito fã.
Nos seus pezinhos que balançavam estavam uma botinha azul da Frozen. Nessa
hora Duda toma coragem se levanta, caminha até onde eu estava e me pergunta:

-Prô, essa música é de Deus?

Respondi que sim, instantaneamente ela abre um sorriso maior que eu, me dá um
abraço e, como se eu tivesse retirado o peso do mundo de seus pequenos ombros,
dançou, pulou, se divertiu juntos com todos os coleguinhas. Após esse dia Duda
nunca mais ficou fora de uma aula de dança e me relatou que aquela foi sua aula
preferida.

PIPOCAS CONTAGIANTES 37
O MASCOTE FAVORITO
Professora Tais Cristina

Depois de algumas aulas sobre os mascotes da copa do mundo, apresentei uma


proposta que cada aluno criasse um mascote para os jogos da escola. Então, cada
aluno criou um mascote e deu um nome para o mesmo. Eram cinco turmas do 3° e
4º Ciclo.

Os alunos ficaram bem empolgados na realização dos mascotes que aconteceram


durante as aulas. Alguns alunos levaram para a casa para terminar. Entretanto, vol-
taram com algum tipo de plagio da internet. Depois de uma conversa com a turma
em que afirmei que não seria aceito cópias da internet, os alunos ficaram envergo-
nhados e tiveram oportunidade de refazer o trabalho. Surgiram mascotes de várias
formas e maneiras. Fiquei surpresa com o envolvimento das turmas. Realizamos
uma nova proposta: montar um mural na escola e apresentar para todos da escola
o trabalho dos alunos.

Houve uma votação para escolher o mascote mais criativo, autentico e que tivesse
um nome bacana. Os funcionários da escola e os alunos votaram. O aluno vencedor
seria premiado e o mascote seria o representante dos jogos.

O mascote eleito foi de uma aluna do 7° ano, que deu o nome de Rodolfo. O mas-
cote tinha o nome masculino, porem era possível perceber identificações femininas,
inclusive em suas roupas. Percebi questionamentos dos alunos sobre o que seria o
mascote. Fiquei também curiosa e resolvi perguntei a aluna: o que representava o
mascote? Ela rapidamente respondeu:

- AHH! É O QUE VOCE QUISER!

38 PIPOCAS CONTAGIANTES
O DOIDO COM OS TACOS
Professor Matheus Marques da Silva

Era mês de Julho, havia terminado um conteúdo e na hora de seguir em frente com
o planejamento dos alunos de segundo e terceiro ano do fundamental, decidi tra-
balhar um esporte internacional com meus pequenos. Optei por adaptar um espor-
te de taco, o beisebol e assim o fiz. Procurei me informar sobre as regras do mesmo,
li, reli, peguei as principais regras e os pontos que caracterizam a modalidade, os
tacos, a bola menor e as passagens entre as bases.

Os tacos reaproveitei do “bet’s” dos alunos de quinto ano, a bola utilizei uma de
iniciação esportiva de borracha (a princípio uma maior) e as bases usei de alguns
mini tapetes de encaixar da educação infantil. Em uma reunião com a pedagoga ela
me perguntou a respeito do que seria trabalhado e soltei:

- Beisebol!

Ela para, dá um sorriso meio amarelado e pergunta: O quê? Eu disse: - Beisebol! Ao


mostrar o taco e a bola, ela viu que eu realmente falava sério e retrucou: - Nossa...
fez uma pausa e soltou o mesmo sorriso desconfiado: – Que coragem!

Após a surpresa do meu planejamento ela me disse que no dia seguinte chegaria
um rapaz que faria estágio de observação comigo, eu concordei.

Peguei minhas coisas e voltei ao planejamento, agora separando os materiais para a


prática do dia seguinte. Chegado o esperado dia entro na sala com o taco em mãos
e os alunos assustados perguntando: - para o quê serve “o pau”? Expliquei que
aprenderíamos o beisebol. Nessa hora Daniel o estagiário havia acabado de chegar
e presenciava um homem de 1,90 cm com um taco em mãos iniciar uma aula para
crianças de segundo ano. O sorriso desconfiado da pedagoga acabara de chegar
ao rosto de mais um!

Fomos para a prática usando as primeiras aulas somente para trabalhar a reba-
tida com o taco, sempre delimitando uma distância segura entre os alunos que
lançavam dos que rebatiam. Passadas algumas aulas inseri as bases e o conceito
de correr entre elas para pontuar após a rebatida. Nas primeiras duas aulas após a
inserção das bases foi um caos: dividi a turma toda em duas quadras menores para
evitar a ociosidade, era um tal de correr nas bases, passar direto e invadir a quadra
vizinha... e o Daniel lá no cantinho olhando de lado e anotando tudo!

Na aula seguinte cheguei mais cedo, peguei um barbante estiquei no meio da qua-
dra e para evitar que os mais distraídos embolassem no barbante passei coletes
coloridos no barbante. Enfim chega a turma: todos se sentam como todo inicio de
aula e perguntam: -Prô pra que o varal? Expliquei que era a maneira que pensei
para que não invadissem a quadra do vizinho e assim fomos para o jogo. Organizei
os alunos. Daniel, lá no canto, canto retoma as anotações e, dessa vez, a aula flui
sem invasões e sem corridas na base do vizinho, ufa! Nosso beisebol começa a fluir,
ao término da aula todos satisfeitos, inclusive o professor, entenderam a “logica”
do jogo.

As aulas seguintes foram tranquilas, as criançs chegavam me pedindo para esticar


o varal, colocavam nossas bases no chão e só esperavam o “Prô” dividir as equipes
para o jogo começar. Dias depois a notícia de nosso sucesso nas aulas de beisebol
PIPOCAS CONTAGIANTES 39
chegou aos ouvidos da Pedagoga e professoras regentes que começaram a olhar
de “rabo de olho” para ver se os pequenos realmente davam conta de rebater a
bola, que essa altura já havia sido trocada por uma de tamanho menor. Até um pai
apareceu perguntando se podia ver seu filho jogando beisebol pois ele nunca tinha
jogado quando criança. Daniel que anotava de canto, no seu último dia me parabe-
nizou e disse: - Olha não botei fé que conseguiria ensinar beisebol a eles, o dia que
em cheguei somente pensei o que será que vai fazer esse doido com os tacos?

40 PIPOCAS CONTAGIANTES
O DIA EM QUE EU PAGUEI PAU!
Professor Hamilton Gonçalves Barbosa

Trabalho com três turmas do quinto ano, três do quarto e apenas uma do segundo.
Quando chegou o terceiro trimestre fui trabalhar Lutas do Brasil com os estudantes
do segundo ano. A ideia foi iniciar com as lutas que os estudantes conheciam para
chegarmos às lutas brasileiras. Antecipadamente, verifiquei junto aos estudantes
do quinto ano se alguém praticava algum tipo de luta e se poderiam me ajudar. Dois
alunos praticavam e se dispuseram. Nas primeiras aulas o planejamento foi pensa-
do para apresentar as lutas que eram desenvolvidas na comunidade – todas en-
contradas eram em academias. No encerramento da Unidade em que trabalhamos
Brincadeiras e Jogos a partir das obras do Ivan Cruz, anunciei aos estudantes – do
segundo ano – que a partir das próximas aulas nosso tema seria ‘Lutas do Brasil’ e
perguntei se algum estudante praticava alguma luta. Um aluno disse que praticava
Taekwondo, daí ficaram três estudantes praticantes de lutas para o inicio da unida-
de, dois do quinto ano praticantes do Jiu-jitsu e um do segundo. Combinei com os
três de levarem os quimonos, as faixas e qualquer implemento que eles utilizassem.
Na aula, eles relataram aos pequenos a indumentária utilizada, o tipo de faixa, pra
que serviam e para a prática solicitei que ensinassem alguns movimentos, golpes,
imobilizações e técnicas que pudessem ser assimiladas, além, claro, de dizer sobre
o tempo de preparação que antecede aos combates. Cada estudante maior assim
o fez. A aula foi bem dinâmica e como nessa turma do segundo ano apenas um es-
tudante era praticante do Taekwondo combinamos que ele teria um tempo maior
para dizer sobre a prática dessa luta. Em sala foram apresentadas as indumentárias
e formas de uso, o respeito à prática, sua origem e o tempo médio para gradua-
ção de faixas, conversamos sobre a diferença entre lutar e brigar. Solicitei que eles
dissessem sobre a relação que seus mestres tinham com o tema e sobre usar as
técnicas de lutas em brigas – que no caso confirmamos que é proibido. Na escola
temos tatames – finos, mas temos – fomos para a quadra organizamos a turma em
estações para prática. Num total de três estações conhecemos o “esgana galo”,
posições de imobilização, chutes, socos... Cada um dos três estudantes responsável
pela sua estação demonstrava e em sequencia a turma repetia a prática, assim to-
dos foram contemplados em três aulas com cada estação, fiquei como observador
e registrando alguns momentos no celular em fotos e vídeos.

Pronto, fim da primeira etapa planejada! Partindo do conhecimento dos colegas


para pensarmos sobre as práticas de lutas do Brasil as próximas aulas seriam so-
bre o Huka-Huka. Pesquisei alguns vídeos e baixei um bem interessante. O vídeo
mais didático que encontrei tinha a história do ritual, seu significado, regras e várias
lutas. Visualizei várias vezes e, em muitas cenas, de forma bem rápida, aparece o
pênis de alguns índios. Sinceramente, com todos os acontecimentos e acusações
que estão recaindo sobre professores e as escolas tive receio em passar o vídeo na
sala e causar alguma manifestação de pais. Lembrei-me da professora de Arte que
passou o filme Kiriku em sua aula no começo do ano e alguns pais foram reclamar,
pois o protagonista aparece nu na película, e o filme é um desenho! Estrategica-
mente no dia da exibição, conversei com a professora regente para que me acom-
panhasse em sala enquanto o vídeo sobre o Huka Huka era mostrado. Chamei-a de
canto e disse que em algumas cenas aparecia o pênis de alguns índios e que em
todo o vídeo eles estavam nus, então o bumbum era o tempo quase todo na tela.
Ela também “pagou pau” e disse pra procurarmos a supervisora e mostrar a ela o
vídeo antes de passar para os estudantes. Foi constrangedor! Há dois anos apre-
sentaria o vídeo tranquilamente, mas, fomos juntos para a supervisão e ela solicitou

PIPOCAS CONTAGIANTES 41
ver o vídeo para dar o aval e nos resguardar caso algum responsável reclamasse. A
supervisora ficou em dúvida se valeria a pena passar e deixou a meu critério.

Para a aula, eu havia planejado conversar sobre a cultura indígena antes da exi-
bição do vídeo. Após solicitar apoio à professora e a supervisora considerei que
tinha que exibir o vídeo. O horário chegou, conversei com os estudantes sobre os
índios e que eles praticavam uma luta muito interessante e a partir dai fui fazendo
várias perguntas sobre os trajes, o modo de vida e sobre os costumes indígenas até
chegarmos à questão da nudez. Foi uma conversa produtiva e bem tranquila, com
isso tomei mais coragem para exibir o vídeo. Coloquei o pen drive na televisão e fui
para o fundo da sala, onde podia verificar a reação das crianças com as cenas, cada
pênis que aparecia na cena – rapidamente – eu ficava incomodado e segundos,
pareciam minutos, um pênis ali no cantinho da tela parecia um close! Ao término
do vídeo conversamos novamente com foco na luta. Perguntava o que era mais in-
teressante na luta e eles foram respondendo de forma bem tranquila, observações
como a questão de somente os homens indígenas praticarem, foram levantadas
pelos estudantes e depois do vídeo fomos à prática do Huka-Huka.

Até ontem, nenhum responsável foi à escola reclamar e tive que lançar mão de vá-
rias estratégias que não seriam utilizadas em outro tempo e tema, mas naquele dia
eu “paguei pau” em realizar minha aula sozinho!

42 PIPOCAS CONTAGIANTES
MINI CORRIDA DE REGULARIDADE
Professor Marcílio Cardoso dos Reis

Em certa oportunidade participei de uma corrida de regularidade. Experiência úni-


ca, incrível, inesquecível e prazerosa, não somente pela competitividade, desafios
e cooperação, mas pela junção da atividade física e natureza. A corrida de regula-
ridade, é um esporte constituído de provas onde se devem percorrer trilhas prees-
tabelecidas em planilhas que fornecem informações como figuras representativas
sobre o caminho, direções para navegação por bússola, velocidade de caminhada
e distância dos trechos do percurso.

Nessa ocasião trabalhava com quatro turmas do 5º ano na cidade de Ibirité. “Via-
jei” na possibilidade de fazer esse trabalho com os estudantes. Consegui um sítio
maravilhoso, com mata, córrego, lago, enfim; muito verde! Cenário perfeito para a
prática da modalidade. Tive o apoio do diretor da escola que disponibilizou lanche
para todos alunos, horários de aulas e professores, onde foi realizado um trabalho
interdisciplinar. Além do apoio dos professores no dia da atividade, eles também
elaboraram questões que tinham que ser respondidas pelas equipes para com-
provar que haviam passado pelos pontos demarcados. Graças à experiência e boa
vontade de um amigo que me ajudou a adaptar e preparar todo o terreno: elaborou
as planilhas com desenho do terreno, percurso e etapas, com escalada, travessia de
córrego, subidas, descidas e ao final teve até uma falsa baiana, (falsa baiana é uma
atividade de deslocamento de um ponto a outro, que utiliza duas cordas paralelas,
uma acima da outra. Uma é usada para se segurar e a outra para caminhar).

A cada dia levamos uma turma, antecipadamente foram divididas as equipes que
tiveram que elaborar um grito de “guerra”, melhor dizendo: um grito de alegria. A
caminhada até ao sítio foi muito prazerosa e proveitosa, serviu como aquecimento,
conversas, risadas e houve cuidado mútuo.

Chegando ao sítio, foram dadas as instruções gerais, apresentados os gritos de


alegria e cada equipe teve seu tempo de largada para prova, que não consistia so-
mente em velocidade, correria, desespero, tiveram que conter a ansiedade, decifrar
a planilha e desbravar cada etapa. Foi muito legal ver os estudantes em contato
com a natureza, praticando atividade física e, sobretudo, a cooperação entre eles e
entre equipes que se encontravam durante o trajeto.

Ao final da atividade foi notória a satisfação de todos, especificamente a minha, por


a cada dia ter conseguido proporcionar aquela vivência às crianças. O mais legal foi
que quem venceu a prova, foi o que menos importou para todos.

A caminhada de volta foi momento de feedbacks, compartilhamento de momentos


específicos, várias risadas e alegria.

PIPOCAS CONTAGIANTES 43
CHOQUE DE GÊNERO
Professora Aline Borges Moreira Dias

Início do segundo bimestre de 2018, véspera de Copa do Mundo de Futebol. Decidi


desenvolver com meus alunos do 7º e 8º ano o conteúdo de futebol. Não queria
trabalhar apenas o futebol “tradicional”, desenvolvendo habilidades técnicas e des-
trinchando táticas e regras. Resolvi abordar a presença das meninas no esporte.
Pretendia discutir a não participação das meninas nas aulas e, aproveitando o even-
to esportivo mais conhecido no mundo, a Copa, também discutir a participação das
mulheres na copa, não só como arbitras ou jogadoras, mas como comentaristas,
apresentadoras e telespectadoras.

Durante as aulas práticas fizemos vários jogos adaptados para a inclusão das meni-
nas e a participação e interesse das alunas foram praticamente unânimes.

- Professora, por que gol de menina vale dois? Ouvi em certa atividade.

- Por que tenho que colocar menina no meu time? Ela não gosta de futebol! Não é
Izabela? Fala para a professora que você não gosta!

Izabela permaneceu em silêncio.

- Quero a Laura no meu time, ela joga igual homem!

Era o que diziam os meninos do 7ºC sempre que estavam dividindo as equipes.

Após os jogos do Brasil na copa sempre começávamos a aula fazendo uma reflexão
sobre o “para casa” que foi dado: observar onde e como as mulheres participavam
desse grande evento.

- Nossa professora, só vi mulheres durante o intervalo, nas propagandas de cerveja.


Disse Maria Eduarda.

- Vi muitas mulheres quando aparecia a torcida. Todas maquiadas, bonitonas, de-


viam ser bem ricas pra estar lá.

Percebi que os alunos estavam compreendendo que a falta de participação das


mulheres nos esportes também tinha uma relação cultural e de falta de oportuni-
dade e incentivo para a prática do esporte. As alunas começaram a participar das
aulas práticas por iniciativa própria e mesmo quando propunha para que jogasse
livremente, a maioria das meninas permanecia em quadra e jogavam junto com os
meninos.

Preparei então uma aula com dois vídeos chocantes, “Invisible Players” e “Like a
Girl”, para discutirmos a presença das mulheres no esporte e a participação das
meninas na aula de educação física. Durante a apresentação do vídeo, fiquei de
frente para a turma e observei muitas meninas de cabeça baixa, angustiadas, en-
gasgadas, algumas com lágrimas nos olhos, muitas se viram no vídeo. Quando
acendo a luz percebo um silêncio. Se a ideia era chocar, choquei! Daí então Ryan
levanta a mão e pede pra fazer uma pergunta:

- Professora, e eu? Os meninos também nunca me escolhem pra jogar.

44 PIPOCAS CONTAGIANTES
PIRÂMIDE, NÃO!
Professor Jean Santos Machado

Sexta-feira, último horário. Após uma cansativa semana de trabalho eu estava fren-
te a frente com o 9° E. Essa era considerada pelos funcionários da escola a pior
turma no que diz respeito à disciplina e produtividade.

Os alunos estavam bastante agitados e não querendo fazer a atividade proposta


de ginástica, pois, segundo eles, educação física tem que oferecer atividades com
bolas.

Apesar da má vontade de vários estudantes, iniciamos a aula relembrando os mo-


vimentos aprendidos em aulas anteriores (rolamento para frente, rolamento para
trás, vela, roda, ponte...) e resolvi, após isso, ensinar técnicas para formarem algu-
mas pirâmides humanas.

Parece que a metodologia que utilizei para o ensino dessa atividade não foi a mais
eficaz, pois, os dividi em grupo e a bagunça que eles fizeram no coletivo me levou
a pensar que não era possível realizar tal atividade.

Reuni os alunos para uma conversa sobre o comportamento deles durante essa
aula e enquanto se aproximavam, qual não foi minha surpresa quando alguns alu-
nos se reuniram, por iniciativa própria, e fizeram exatamente a pirâmide que “perdi”
grande tempo tentando ensinar.

Entendi que apesar das dificuldades que enfrento no dia-a-dia da profissão, a Edu-
cação Física vai muito além de um simples tema a ser abordado nas aulas. Os alu-
nos sempre nos ensinam durante as aulas.

Aquela sexta-feira cansativa se transformou em um ótimo momento de comparti-


lhamento de experiências.

PIPOCAS CONTAGIANTES 45
FORA DESTE MUNDO
Professor Leonardo Teodoro da Silva

Final do ano 2001. Uma manhã nublada e um pouco fria. Estava com uma
turma em uma das “salas de aula” de Educação Física: a quadra de esportes do
“Cordelina”. O espaço era “todo nosso”. A quadra coberta de bom tamanho de-
monstrava em seu piso no sentido lateral, divisões em que se era possível identifi-
car vestígios de marcações de três modalidades: futsal, basquetebol e voleibol. Os
alunos estavam felizes, e eu também, pois, uma das coisas que mais gosto neste
ofício é ver muita gente se movimentando. Sinto verdadeiramente a vida quando as
pessoas estão sorrindo e se agitando. Sei que este movimento corporal na maioria
das vezes é uma pulsão com pouquíssima consciência. Mas mesmo assim é bonito!

Dois alunos se aproximam e pedem para jogar Xadrez, conteúdo que já havia tra-
balho com alguma resistência das turmas. Lá vou eu buscar o tabuleiro e as peças
da “Xalingo”. Entrego aos jovens, mas aconselho que joguem após o do portão de
entrada – próximo ao muro da quadra, para não levarem bolada. Mantenho meu
foco principal nos alunos que estão em movimento.

A aula continua a se desenvolver com boa participação e interesse dos alunos.


Observo que alguns conseguiram internalizar tecnicamente alguns movimentos es-
portivos e os jogos acontecem sem a necessidade de minha intervenção. Assim,
volto a minha atenção para os dois estudantes que jogavam Xadrez. Estavam bas-
tante concentrados no jogo. Silêncio, olhar fixo, mão no queixo, braços próximos
ao corpo e pescoço flexionado era a postura que não se modificava, lembrando a
estátua do pensador de Rodin.

Aí acontece algo que me surpreendeu demais! Começa a chuviscar. Perma-


neci calado, observando. O jogo continua em andamento da mesma maneira. Man-
tenho a mesma atitude. Passam-se alguns minutos e a cena continua idêntica. Os
chuviscos engrossam um pouco e lá estão os dois em outra “dimensão”. Cheguei
mais próximo, vejo que o tabuleiro já está um pouco molhado. Sobre a cabeça do
cavalo escorre suavemente uma gota que vai até a sua base. O grau de concentra-
ção dos meninos foi impressionante. Nem o barulho da quadra ao lado e a “chuvi-
nha” foram capazes de trazerem para “este mundo” os dois enxadristas. Apesar de
toda a minha admiração resolvo infelizmente avisar que o horário já estava findan-
do tocando de leve nos garotos e, vendo como estavam focados no jogo sinto uma
grande satisfação pelo trabalho realizado.

46 PIPOCAS CONTAGIANTES
60 MINUTOS VERSUS 5 MINUTOS
Professora Angelina Solange Silva de Oliveira

No início do ano de 2018 conheci as crianças de uma das turmas das quais iria mi-
nistrar aulas de educação física. Elas ficaram muito alegres quando cheguei e os
meninos começaram a gritar:

- Futebol, futebol!

Percebi que os meninos entendiam que as aulas de educação física eram apenas jo-
gar futebol e que para as meninas era brincar do que quisessem, sem que houvesse
a interferência do docente.

Assim, expliquei para eles que naquela aula não iria ministrar futebol e, imediata-
mente, percebi que aqueles sorrisos com os quais eles tinham me recepcionado
tinham sido substituídos por expressões de decepção. Para tentar amenizar esse
problema, expliquei que havia um cronograma, o qual tinha como objetivo propor-
cionar a eles a vivência de outras práticas além do futebol.

Meu discurso de nada adiantou, os alunos continuaram insistindo em apenas jogar


futebol. Então resolvi fazer um acordo com eles, disse que sempre que fosse possí-
vel iria pres-los brincar do que quisessem nos cinco minutos finais da aula. O acordo
deu certo e em todas as aulas eles me perguntavam:

- Professora Angelina, hoje vai ter os cinco minutos livres?

Respondia que sim e eles aprendiam as novas práticas na expectativa de que iriam
poder se divertir livremente no final da aula. Tudo correu bem durante todo o ano
letivo, até que chegou um dia, já no mês de dezembro, que acabei me distraindo
com o horário, e quando olhei as horas já iria bater o sinal da próxima aula. Tive que
finalizar a aula rapidamente e os alunos me perguntaram:

- Professora, agora já são os cinco minutos livres?

Respondi que não e a “casa caiu”! Os alunos ficaram revoltados e saíram xingando.
Fiquei paralisada com aquela cena porque não sabia da importância que eles da-
vam para os “cinco minutos livres”. Para mim esse tempo era quase uma brincadei-
ra, muitas vezes os deixava brincar apenas dois minutos e encerrava a aula, nunca
pensei que eles levavam tão a sério esse nosso combinado.

Na aula seguinte expliquei para os alunos que os “cinco minutos livres” era um com-
binado entre nós, mas que se tivesse alguma aula a qual não pudesse dar esse tem-
po livre, eles deveriam compreender. Aparentemente eles entenderam e a revolta
diminuiu. Neste dia dei a eles dez minutos livres para compensar a aula anterior.

Os cinco minutos livres foram tão significativos para eles que, na última aula pedi
para que fizessem uma avaliação a meu respeito, e muitos escreveram que gosta-
ram muito de mim porque os deixava brincar cinco minutos livres toda aula, e uma
aluna destacou que um dia os deixei brincar dez minutos livres.

E até hoje eu não sei se eles gostavam de mim como professora de educação física
ou apenas dos cinco minutos livres.

PIPOCAS CONTAGIANTES 47
48 PIPOCAS CONTAGIANTES
PIPOCA QUEIMADA
Professor Rodrigo Victor Parreiras

Uma dúvida estava me atormentando... Preparar uma pipoca naturalmente saboro-


sa (apenas com um pouco de sal – e contar sobre a produção de um jogo de tabu-
leiro do quinto ano) ou colocar um pouco mais de tempero (acrescentando também
um pouco de manteiga – e escrever sobre o desenvolvimento de um estudante
durante as aulas de Futsal?). Isso porque fui incentivado a escrever sobre a minha
prática pedagógica e minha experiência docente.

Estava lá na sala dos professores com dois arquivos abertos e dividido entre as
duas narrativas quando a diretora começou a comentar sobre uma colega. Nosso
fazer pedagógico não esta descolado dos colegas e dos acontecimentos da escola
e naquele momento meu foco modificou, pois o assunto impactava diretamente na
atividade e organização da escola. Depois de passar alguns dias internada o médi-
co deu alta e recomendou que a colega retornasse para a sala de aula (sem mais
nenhum dia de atestado ou cuidado especial). No dia seguinte logo pela manhã ela
teve que retornar para o hospital e ser internada novamente...

Pronto! Minhas pipocas estavam queimadas... Minha atenção ganhara novo rumo
e estava completamente voltada para essa questão. E o tempero? Muito salgada e
com excesso de manteiga. Pipocas perdidas!

A reação dos colegas no dia e nos dias seguintes somadas às experiências na sala
dos professores da outra escola me deixou ainda mais preocupado, pois perce-
bi que muitos estavam sentindo suas atividades com sabor amargo do queima-
do, tudo estava salgado demais e o acúmulo de gordura era preocupante. Mesmo
quando eu tentava fazer algum comentário positivo sobre as práticas pedagógicas
com os colegas percebia que o assunto voltava para a pipoca queimada, engordu-
rada e salgada.

Salgada porque as perdas salariais estavam diminuindo gradativamente o padrão


de vida dos professores, mais de trinta por cento acumuladas nos últimos anos
deixava qualquer compra salgada para todos os envolvidos com a educação. En-
gordurada porque a saúde (física e mental) estava sendo destruída por uma rotina
de desvalorização acompanhada de uma falta de respeito dos direitos básicos dos
professores. Queimada! Sim, tudo queimado! Ambiente de trabalho, estrutura físi-
ca e organizacional nas escolas, somadas à grande mazela da sociedade, sempre
jogando suas carências para a escola resolver. Sofrendo por tudo que acontece de
ruim com os nossos estudantes e sem poder para modificar uma sociedade doente.

E então professor? Como resolver?

As boas receitas estão aí, sempre pipocando! Mas, sinto um crescente cheiro que
pipoca queimada no ar, acompanhado de olhares cansados e doentes; preocupa-
dos com o futuro e a aposentadoria, com a perda de direitos! Professores carregan-
do nos ombros a responsabilidade de preparar pipocas perfeitas e sem esperança
de que a panela queimada ficará completamente limpa para preparar novas recei-
tas saborosas.

PIPOCAS CONTAGIANTES 49
PROFESSORA AVALIADA
Professora Andrezza Regina da Silva Santos

Quando entrei para a rede municipal de Contagem faltava pouco tempo para en-
cerrar o 1º trimestre. Havia passado pelas turmas poucas vezes quando recebi as
datas para o conselho de classe, com um modelo que eu nunca tinha vivenciado,
pois este seria com os alunos, iríamos falar de um por um, sala por sala.

A primeira turma foi o 5º ano A, os alunos estavam tensos e assustados ao serem


avaliados naquela situação, para eles, constrangedora.

Acredito que avaliação seja um momento construtivo entre professores e alunos,


um seguimento de conhecimentos onde o sujeito (aluno) demonstra sua dificulda-
de ou limites a serem superados ao longo do ano letivo. Uma troca de experiências
que faça ambas as partes procurarem estratégias para melhorar a forma de receber
e transmitir o conhecimento.

Os professores fizeram suas observações sobre a turma e eu, sem muito que dizer,
também fiz algumas considerações. Passaram a falar sobre cada aluno individual-
mente. Iniciaram pela estudante Alice que tinha uma boa disciplina, mas falava pou-
co, não argumentava nas aulas. Nesse momento passei a maior parte em silêncio,
apenas concordando com o que os outros diziam. E assim foram seguindo com o
restante da turma até que em um momento uma das alunas (que não era a Alice)
levantou o dedinho para falar, todos aguardavam sua opinião e disse ela:

- A professora de Educação Física não fala nada, só fica calada igual a Alice.

Pronto!

Foram muitas gargalhadas e o clima tenso que os alunos estavam vivendo foi que-
brado por alguns instantes.

E eu, também fui avaliada!

50 PIPOCAS CONTAGIANTES
EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: UMA PROPOSTA
INDECENTE!
Professor Walber da Silveira

Bate o sinal na escola! Inicia-se o recreio. Aos poucos a sala dos professores se en-
che de pessoas para lanchar, descansar e reclamar dos alunos/crianças que andam
aprontando travessuras diariamente na escola.

Foi quando entrei nesta sala e de longe escutei dois professores falando de estraté-
gias de punição para seus alunos que não copiavam as coisas do quadro e também
não faziam os deveres e/ou atividades propostas.

Percebia no rosto desses educadores a frustração em não saber lidar com a des-
motivação e o desinteresse das crianças nas atividades escolares. Porém, na con-
tramão da frustração, também sentia certo prazer nos discursos de punição que
queriam aplicar a esses alunos, retirando as poucas coisas boas que a escola ainda
conseguia oferecer nesse ambiente caótico da educação.

Eles comentavam em fazer:

- Retirar o recreio dos bagunceiros e dos preguiçosos.

- Retirar o tempo de brincar do recreio e pres-los sentados na porta da sala dos


professores. Dentre outras estratégias e punições.

Foi aí que, em meio a esses devaneios, eu escutei a seguinte colocação:

- Vamos retirar a aula de educação física!

Olhando pra mim ao entrar na sala dos professores e seguindo meus passos até o
lanche que eu pegaria no meu armário, veio a pergunta capciosa:

- Não é Walber? Podemos tirar a educação física de alguns alunos?

- Queremos tirar a diversão dos alunos, pois eles não querem fazer as coisas em
sala de aula.

Assim exclamou o professor de inglês, ao tom de ironia e sarcasmo que lhe é bem
peculiar.

Minha resposta foi rápida e certeira:

- Opa! Espera ai. Como é essa história mesmo, professor?

Em meio a risos e surpresos com meu questionamento, os professores que faziam


esse diálogo atravessado, fizeram o seguinte comentário:

- É Walber, queremos tirar o prêmio dos alunos. Eles não iriam pra educação física,
já que eles gostam tanto!

Imediatamente, sem pensar, soltei logo um papo reto:

- Opa! Minha aula não é prêmio não! É direito de todos participarem da Educação

PIPOCAS CONTAGIANTES 51
Física Escolar, mas posso lhe propor então outra coisa, professor...

Veio então o sorriso do professor seguido de um comentário:

- Diga Walber, qual é a proposta?

Ai foi minha vez de dizer o que pensava:

- Você pode retirar da Educação Física os que estão aprontando na sua aula, des-
de que eu também possa mandar para sua sala os alunos que estão atrapalhando
na educação física. Vai encarar essa? Vou punir os bagunceiros da educação física
encaminhando-os para sua sala.Topa?

Percebi um desconcerto na situação, onde os risos e uma expressão amarelada de


“sem graça” por parte do professor, seguiu-se de um momento de pausa e silêncio
para digerir a seco minha proposta indecente.

- Não! Não Walber...ai não!

Começamos a rir juntos e cada um foi fazer o seu lanche.

Pensando com calma, acho que nem refleti muito sobre a minha proposta aos pro-
fessores, pois minha cabeça estava voltada somente para matar a fome naquele
momento. Também, só me restavam uns dez minutos depois que se passaram essas
conversas e devaneios típicos do horário do recreio.

Confesso aqui ao leitor: - como ficou saboroso meu biscoito pedagógico com café
no recreio deste dia! Melhor dizendo; como um toque de bom humor é necessário
para que os colegas façam um exercício de reflexão e com isso tentamos descons-
truir essas “indecências” que ainda são pensadas, ditas e realizadas nos espaços
escolares.

Assim vamos seguindo, um dia de cada vez, nesse ambiente louco que chamamos
de escola.

52 PIPOCAS CONTAGIANTES
OS PRIMEIROS DIAS A GENTE NUNCA ESQUECE
Professora Débora Richelly Aleixo Neves

Acredito que os primeiros dias de aula são um dos mais marcantes na carreira de
um professor, principalmente quando é no meio do ano, para ser mais exata, sex-
ta-feira, vinte e quatro de junho de dois mil e dezesseis. Quem não se lembra do
medo, nervosismo, ansiedade, das mãos trêmulas e frias, da sensação de que não
sabe absolutamente nada. Comigo foi assim ao receber o nome da escola na qual
iniciei a minha docência, tratei logo de pesquisar no Google. Entretanto, o primei-
ro tópico aumentou mais o meu medo, dizia: “mãe de aluno bate em diretora.” Ao
pesquisar um pouquinho mais, verifiquei que eu ia trabalhar com adolescentes. Meu
Deus, adolescentes?! Tudo o que eu não queria. Ao chegar à escola, percebi que eu
havia esquecido toda minha documentação dentro do ônibus. Que mancada!

Cheguei sem ser apresentada às turmas, era final de bimestre. Nos dois últimos
horários ocorreu a reunião de pais com entrega de resultados. Acompanhei o pro-
fessor de Ciências e a única coisa que fiz, foi me apresentar. Ao término, caminhei
para a sala dos professores quando, de repente, uma mãe vem me questionar sobre
o porquê de a sua filha ter perdido média. Comentei que provavelmente ela não
tinha feito uma boa prova. Prova? Sim, respondi. A mãe começou a falar que não
existe prova em Educação Física, que era um absurdo e que ao ficarmos em sala,
professores de Educação Física aproveitam para descansar, o que segundo ela, não
é o correto. Peguei a prova, cujo conteúdo era handebol, li rapidamente e percebi
que as respostas estavam no enunciado. Entreguei-a e mostrei a falta de atenção
de sua filha e justifiquei que a escola contava com dois professores de Educação
Física, apenas uma quadra e eram necessárias aulas em sala e se a filha dela sabia
jogar era porque em algum momento, independente do espaço, ela precisou com-
preender as regras, fundamentos, história e curiosidades da modalidade. Por fim,
ela saiu gritando, “é Franciele até hoje não aprendeu a ler, presta atenção, pois a
resposta estava na prova, em casa a gente conversa.”

O sinal bateu, respirei fundo, por um instante refleti que apesar de todos os con-
tratempos daquele dia, tudo terminou bem, pois consegui me posicionar, diante
de situações em que as pessoas não estão preocupadas se você tem vinte anos de
experiência ou está apenas começando, precisei me virar nos “trinta” e consegui.

PIPOCAS CONTAGIANTES 53
EM XEQUE
Professora Paola Oliveira Fonseca

Retomava o xadrez numa turma de nono ano. Faltava pouco mais de um mês para
encerrar o ano letivo e o tema, na verdade, ia combinar slackline e skate, mas um
dos estudantes dessa sala passou a usar um colete em função da escoliose e estava
impedido de fazer atividades físicas e sugeriu retomarmos o xadrez.

A turma topou a ideia e alternávamos o xadrez e as outras práticas, ou combináva-


mos numa mesma aula.

É uma escola onde trabalho há oito anos e onde acompanho as turmas no ciclo. Em
uma aula especifica de xadrez, onde revisávamos o que já sabíamos, anotando no
quadro e jogando à vontade, trocando as duplas, tirando dúvidas; quando todos
estavam envolvidos com seus respectivos jogos, passei pela sala assistindo os jo-
gos. Dois estudantes conversavam, tirando dúvidas sobre o xadrez:

- Como é que a dama se move?

- Mano, ela vai pra onde ela quiser; do jeito que ela quiser, ela é uma mulher que se
impõe perante a sociedade... Ela é uma empoderada....

Um agradeceu e retomou o jogo, aquele que respondeu também seguiu seu jogo
com naturalidade. Eu não disse nada. Sorri e contemplei a naturalidade com que
brincavam com questões de representação de gênero enquanto jogavam xadrez.

Mais tarde comentei com outros professores e então rimos e nos orgulhamos. Lem-
brei-me de um jeito nostálgico dessa turma, de presenta-los por anos e vê-los cres-
cer. Respirei fundo e me enchi de esperança; de vaidade e esperança... Nós par-
ticipamos da formação de pessoas que podem ser melhores do que esperamos e
maiores do que pensamos.

54 PIPOCAS CONTAGIANTES
PAUSE/PLAY
Professora Andreza Jeanne

Escola nova, novos colegas de trabalho e novos estudantes (5º ano). Há cinco anos
não trabalhava com esta idade. Primeira semana de aula do ano de 2019. Entro
meio apreensiva na sala. Faço as devidas apresentações e comunico o planejamen-
to do trimestre: Jogos, brincadeiras e ginástica. Escuto um alvoroço no fundo da
sala e um dos estudantes grita:

- E o futebol?

Continuo com as péssimas notícias. Comunico que aula do dia é na sala e que
faremos um jogo. Mais reclamações:

- Mas Educação Física é na quadra!

Explico que podemos ter jogos na quadra, campo, casa, rua e também em sala de
aula. Falo um pouco sobre jogos e brincadeiras, mostrando a diferença desse con-
teúdo para o esporte.

Apresento no quadro o jogo que faremos: o stop, também conhecido como “ade-
danha”. Explico a dinâmica do jogo, pois alguns não sabiam brincar. Montamos jun-
tos a tabela com os tópicos dos temas escolhidos. Fizeram os grupos e começaram
a jogar.

Jogaram uns 20 minutos, mas logo perderam o interesse. Pedi que voltassem
as mesas para o lugar. Olho no relógio. Ainda faltavam 10 minutos para acabar a
aula. Pensei: “vão quebrar a sala”.

Como eu imaginava o caos estava formado. Começaram a brincar de pause e “dis-


pause”. Um aluno gritava para o outro: Pause e esse ficava imóvel. Depois gritava
“dispause” e o colega podia voltar a se mexer.

Foi uma confusão, todos gritavam “pause”, “dispause” e ficavam andando


pela sala. Fui obrigada a intervir e perguntei se existia a palavra “dispause”, pois o
contrario de pause era play, um deles me respondeu:

- Não existe professora, mas achamos mais legal.

Resolvi então participar da brincadeira, fiz um movimento com os braços


como se eu tivesse apontando para todos e gritei:

- Pause!

Assim, consegui os últimos minutos em silêncio e sentados. Quando a professora


referência chega olha pra mim e olha para os alunos. Vejo pela sua expressão que
não estava entendendo nada. Toda turma imóvel e em silêncio. Eu sem explicar vou
saindo e na porta falo:

- Play...

PIPOCAS CONTAGIANTES 55
É FUTEBOL COM AS MÃOS!
Professor Marcelo Braga Ramos

Quarta-feira, um dia ensolarado, cheguei à escola às 12:55 para iniciar a tarde de


trabalho: quatro horários de aulas de uma hora. No primeiro horário uma turma de
3º ano, tudo ocorreu sem surpresas. No segundo horário o 5º ano; entrei na sala e
cumprimentei os alunos com um sonoro boa tarde! Alguns responderam, outros já
gritavam: - hoje é futebol?

Outros perguntavam com uma ansiedade assustadora:

- O que vai ser hoje professor?

Para “quebrar o clima” digo:

- De merenda? E sorrio, para demonstrar meu revide!

Miguel logo falou:

- Na aula de hoje, professor!

Faço aquele suspense, todos atentos me olhando com uma atenção sobrenatural e,
de repente, digo: - HANDEBOL!

Muitos gritam de alegria, outros quase choram, alguns reclamam e dizem que que-
riam futebol, um aluno corrigiu:

- não é futebol é futsal, futebol é no campo gramado!

Um se lembra das aulas do ano anterior e fala: é futebol com as mãos!

Todos os insatisfeitos gritam: - é futebol! E a alegria tomou conta da turma! As


meninas tem uma aceitação muito boa com o handebol, alguns meninos tem resis-
tência, mas quando se fala em futebol, mesmo com as mãos, explode-se de alegria!

Pedi silêncio, a maioria atendeu, os que não atenderam foram advertidos pelos
colegas. Relembrei as regras do HANDEBOL, muitos opinavam para demonstrar
conhecimento, após a explicação, pedi as meninas e depois os meninos para for-
marem a fila para descermos para a quadra, a alegria era geral. Ao chegarmos à
quadra pedi que todos se assentassem no círculo central para formarmos as equi-
pes de com 7 jogadores cada, com meninos e meninas nas duas equipes. Formadas
as equipes, tiramos o “adedanha” para saber quais equipes começariam primeiro
a partida e as outras equipes que aguardariam para jogarem. Jogos de 5 minutos,
todos eufóricos, quando saia o gol, uma explosão de alegria na equipe, com todos
se abraçando e comemorando, a equipe que sofria o gol prometia reagir, assim, foi-
-se a uma hora de aula, que passou “voando” e com uma muita alegria e satisfação
em participar.

Ah! Se em todos os conteúdos pudéssemos associar a palavra mágica, futebol! Se-


ria tudo mais fácil!

56 PIPOCAS CONTAGIANTES
RECOMEÇO
Professora Patrícia Valéria

Início do ano escolar de 2019, nova jornada...

Receosa por assumir todas as turmas... Iria assumir as turmas de um colega compe-
tente e não parecia uma tarefa agradável.

Em pé, no pátio, observava a entrada dos alunos do 6º. Ao 9º. Anos. Fiquei surpre-
endida pelos alunos do 6º ano, pois muitos foram meus educandos no 1º e 2º ciclos.
Eles pareciam alegres por estarem de volta a aquela escola. Afetuosos me cum-
primentavam com abraços e até beijos. Atos que raramente eram demonstrados
antigamente.

Alegre, subi para a sala de aula para recepcionar os alunos e realizar os primeiros
contatos com as turmas. Estava em pé na porta da sala quando uma mãe chegou
com seu filho. Fiz minha apresentação: - sou Patrícia, professora de educação física
da turma.

Sem prestar muita atenção em minhas palavras, ou ignorando-me, a mãe pergun-


tou a professora da turma?! Olhei para ela... Pensei... Sem resposta ela partiu.

A tarde transcorreu tranquila, com reconhecimento das turmas, reencontros, ex-


pectativas.

Passado alguns dias, trabalhava estabelecendo meu ritmo, ganhando abraços bei-
jados no início da aula de alguns garotos, explicando e encorajando-os a realizarem
os movimentos de ginástica artística e outras modalidades de ginástica, as aulas
seguiam naturalmente.

Contudo, a disciplina, o comprometimento e o respeito de alguns alunos do 9º ano


desafiavam minha paciência e tolerância. Então, na aula de quarta-feira, “descas-
quei o verbo” com a turma, ressaltando que os indisciplinados antes de me atingir,
estavam desrespeitando toda a turma, que a aula era coletiva, mas as avaliações
seriam individuais, e que reconhecia o comprometimento dos alunos.

A aula continuou e qual não foi minha surpresa ao terminar as atividades, uma alu-
na chegou perto de mim pedindo um abraço. Ela não era uma indisciplinada, pelo
contrário. Segui com ela até as outras meninas da turma – composta de apenas sete
alunas e vinte e um alunos – e conversamos sobre a aula.

Na sexta-feira, com quase todos presentes, apenas três alunos não participaram da
aula. A participação acontecia com menos interrupções infantis e mais tranquilida-
de.

Avaliando os primeiros 30 dias de aula, observo que o desprezo da mãe e de alu-


nos, é parte de um processo que, constantemente, fazem parte do cotidiano esco-
lar. Entretanto, estes fatos me impulsionam a seguir com dignidade e respeito ao
meu trabalho e consequentemente meu ALUNO.

Que venham todos os dias de 2019...

PIPOCAS CONTAGIANTES 57
LAÇOS DESFEITOS
Professora Luciana Alves da Silva

O ano era 2017, tinha acabado de chegar à escola Professora Maria Olintha. Escolhi
lecionar para os estudantes do primeiro ciclo. Logo nas primeiras aulas com as tur-
minhas do 1° ano, percebi que alguns desafios estavam por vir.

A aula mal começava e já apareciam alguns pezinhos com cadarços enormes e de-
samarrados me pedindo:

- Professora, amarra ‘pra’ mim?

Outros apenas punham seus pés à minha frente, com carinha de desespero. Alguns,
ainda, desamarravam seus tênis só para terem a chance de um contato um pouco
mais próximo.

Após algumas aulas com infindáveis sessões de ‘amarração’, e sem ver progresso
na situação – afinal, esperava que, com auxílio dos pais, esses estudantes conse-
guissem aprender essa tarefa tão útil – tomei a decisão de preparar uma aula na
tentativa de deixar os pequeninos independentes e de não perder mais tanto tem-
po da minha aula amarrando cadarços alheios.

Busquei informação nos materiais que possuía, procurei na internet e então optei
pela dinâmica do pente de ovos com barbante. Alguns poucos estudantes que já
davam conta da difícil arte de amarrar cadarços, serviram como meus auxiliares,
prestando apoio aos mais embaraçados.

Saldo final: 99% da turma a caminho de tornar-se um expert nessa tarefa.

Entretanto, ainda faltava Camila. Tentei de um jeito, de outro, usei todas as estraté-
gias que conhecia, inventei algumas outras, mas, nada! Camila não dava conta.

Ao longo desse ano insisti em ensiná-la algumas vezes, mas, sem resultado. Pergun-
tava a ela se em casa não a ajudavam, e um dia sugeri que ela pedisse à mãe para
ensiná-la. De pronto respondeu:

- “Minha mãe não tem tempo, ela trabalha muito”.

Chegou 2018. Camila aparece com um calçado sem cadarço, com prendedores de
elástico. Pensei: que maravilha, não vou ficar agoniada em ver essa menininha cor-
rendo com os enormes cadarços desamarrados. Mas a alegria durou muito pouco.
Logo ela reapareceu com seus velhos tênis. Indaguei:

- “Camila, ‘cadê’ seu tênis de elástico?”

- “Ah, professora, minha mãe disse que eu estava estragando ele”.

- “E você já aprendeu a amarrar o cadarço?”

- “Não, e nem vou aprender. Não quero mais, isso é muito difícil”.

Durante esse ano ela foi se virando: enfiava os cadarços para dentro do tênis, pedia
aos colegas para amarrarem, até chegou a cortá-los com a tesoura.

58 PIPOCAS CONTAGIANTES
Mas seu dilema ia muito mais além.

Chegamos a 2019! Camila já está no terceiro ano, impossível não saber amarrar seu
próprio calçado. Engano meu, é plenamente possível:

- Camila, ainda não sabe amarrar o cadarço? Não pediu a ninguém da sua casa para
te ajudar nas férias?

Os olhos de Camila encheram-se d’água. Meu coração amoleceu:

- ’Vem cá’, vamos aprender isso agora.

Enquanto os demais estudantes realizavam a sessão de alongamentos, com a qual


início minha aula, fui tentar, mais uma vez, ajudar Camila.

Desamarrei e amarrei meu tênis para ver se ela conseguia entender como fazer.
Resolvi fazer o mesmo com o cadarço dela. Camila exclamou:

-Eu não consigo!

Respondi:

-Vamos lá, eu vou te ajudar.

Fomos fazendo juntinhas: eu no meu calçado e ela no dela! E qual foi minha surpre-
sa ao perceber que Camila havia conseguido:

- Finalmente, Camila, depois de dois anos. Até que enfim... Parabéns!

Camila continuava cabisbaixa, mesmo tendo conseguido este grande feito. Pergun-
tei então por que ela ainda estava triste, se não estava satisfeita com o que havia
aprendido.

Sua fala me surpreendeu e entristeceu. Naquele momento percebi que Camila sen-
tia falta de outros laços. Laços esses que não poderiam ser atados por seus longos
cadarços. Reinava um enorme silêncio entre nós, em meio a algazarra dos outros
estudantes que nos aguardavam.

Então insisti:

- O que foi Camila?

- Agora já sei ‘amarrá’ meu tênis, mas, o que eu queria mesmo é que minha mãe me
desse atenção.

PIPOCAS CONTAGIANTES 59
HOJE NÃO É DIA DE QUADRA, MAS NÓS VAMOS!
Professora Leopoldina Nunes Barbosa Soares

Comecei a trabalhar com uma turma muito agitada. Isso porque no último ano foi
uma turma que ficou sem professor regente. Em todas as aulas de Educação Física
nunca consegui desenvolver a aula planejada do começo ao fim, principalmente as
aulas teóricas em sala. Mesmo assim continuei a insistir com a turma. Diante da si-
tuação a pedagoga interveio e achou melhor distribuir os alunos que atrapalhavam
a aula.

No dia seguinte entrei na sala, estava um silencio estranho.

Perguntei se eles estavam bem. A primeira resposta foi:

- “Fessora” sabe aqueles meninos “bagunceiros”, mudaram de sala. Graças a Deus!

Ministrei a aula teórica sem problemas, depois fomos para quadra. Na aula seguinte,
ficaríamos em sala, como houve um bom comportamento, falei a todos:

- Hoje não é dia de quadra, mas nós vamos.

Foi uma alegria geral. Passei uma atividade em duplas, que eles fizeram do começo
ao fim da aula, se divertiram tanto ao ponto de ouvir de alguns:

- Essa foi a melhor brincadeira que já fizemos em sua aula “fessora”.

60 PIPOCAS CONTAGIANTES
ESTRATÉGIA
Professora Keila Pereira Coelho

Estratégia vem do grego strategia que, no dicionário, é definido como: plano,


método, manobras ou estratagemas usados para alcançar um objetivo ou resultado
específico.

Iniciar o ano letivo em uma escola nova é sempre um grande desafio. Com o
objetivo de conhecer os alunos converso com eles para descobrir o que já tinham
visto de conteúdo e o que gostavam nas aulas. A turma em questão gostava de jo-
gar queimada e todos os alunos participavam, mesmo alguns que não gostavam e
acabavam por jogar devido a insistência dos colegas. Assim, foi relativamente fácil
identificar os alunos que só ficavam “parados”.

Resolvi apresentar para a turma uma variação do jogo de queimada – a quei-


mada real – com personagens que remetiam ao jogo de xadrez. Nessa variação o
jogo só acaba quando o rei da equipe adversária é queimado. Explicada a dinâmica
e feito os combinados, partimos para o jogo. Peguei junto a cada equipe a iden-
tificação de quem seriam os personagens, para um melhor acompanhamento. No
momento cheguei a estranhar a escolha de uma das equipes que colocou como rei,
uma colega que só ficava “parada” e que, às vezes, esquivava da bola. Não questio-
nei nem comentei, afinal ainda estava conhecendo a turma e a escola.

No decorrer do jogo, a escolha pela colega que quase não jogava se mostrou
“a grande estratégia”, pois a equipe adversária concentrava suas jogadas naqueles
alunos que julgavam serem os melhores na queimada; a bola poucas vezes ia em di-
reção da colega que era o rei e, quando ia em direção a ela, os colegas a protegiam
de maneira que a equipe adversária não percebesse.

Nesse dia aprendi muito. Conheci mais sobre a turma e como se comporta-
vam com situações diferentes e que demandam uma mudança, uma saída da zona
de conforto. Obtive mais conhecimento sobre estratégia, afinal eles me deram uma
“senhora aula”, pois ao fazerem a escolha pela colega que quase não jogava e que
poderia ser considera “ruim”, eles tiram todo o foco do seu rei, assim acabaram por
ganhar o jogo. A outra equipe quando descobriu quem era o rei dessa equipe não
acreditou e pediu revanche.

Quanto a mim ficou a lição sobre uma boa estratégia. Quanto à turma, ficou o de-
safio para ver quem iria bolar a melhor estratégia para a próxima aula.

PIPOCAS CONTAGIANTES 61
SUJEIRA BOA
Professora Julia Grazielli de Paula

Em 2018 estava trabalhando em uma escola na região de Nova contagem, com


turminhas de primeiro e segundo ano. Turmas ótimas, com desenvolvimento muito
bom, havia crianças de inclusão que participavam e gostavam das aulas.

Certo dia, resolvi fazer um mini circuito. Os alunos pularam, correram, arrastaram
e rolaram no chão. Saíram imundos, mas alegres e contentes. Eles adoraram, as
mães não! No final da aula percebi uns murmurinhos. As mães estavam reclamando
com o porteiro da cor das roupas dos filhos. Nem me importei, fui embora com a
sensação de dever cumprido.

No dia seguinte, assim que coloquei os pés na escola, a diretora me chamou e co-
meçou a rir, dizendo que havia reclamações da aula do dia anterior. Ela disse que as
mães falaram que os filhos chegaram em casa muito sujos, “que não tinham tempo
de ficar lavando roupa todo dia, que assim não dá”. Respondi que não havia proble-
ma. Peguei uma nova turma e novamente desenvolvi o mini circuito.

Como os alunos gostaram da aula, avisei a diretora que continuaria com o mesmo
planejamento na semana seguinte. Afinal, os alunos ficaram satisfeitos com a aula.

62 PIPOCAS CONTAGIANTES
DANI E AS PIPAS
Professora Silmara Ivana Novais de Souza

Entrei na sala da diretora e logo soltei um elogio:

- Boa tarde Dani. Você é linda!

De pronto veio a resposta, sem que ela tirasse os olhos dos papéis que estava exa-
minando:

- Que você está querendo?

- Sabe... Estava dando aula e os alunos estavam todos em alvoroço por causa dos
papagaios.

Ela respondeu:

- Sei... Lentamente ela tirou os olhos dos papéis e disse:

- Sei que está tramando alguma coisa, fala logo que estou sem tempo, você nunca
me elogia a toa, tem um interesse por traz.

Dei uma sonora gargalhada.

- Estou querendo fazer um festival de pipas para todos os alunos da escola.

- Faça a lista de tudo que você precisa, vou providenciar. É só isto que você quer?

- Sim, Obrigada chefe!

Fiz a lista no mesmo dia e entreguei. Lógico em uma folha dobrada ao meio com a
letra bem bonita. Dois dias depois me chamaram na direção, fui pronta para ouvir
que não foi possível comprar os itens da lista.

- Olha, comprei tudo que você colocou na lista, mais os papagaios e as linhas para
os alunos que não podem comprar. O ofício para o campo você pode entregar. O
oficio da Guarda Municipal eu já encaminhei. Veja se falta mais alguma coisa, dai
você me avisa. Sabe Silmara, se escola não tivesse verba eu tirava do meu bolso
para bancar o projeto. Os alunos merecem!

- Dani, está tudo perfeito. Muito obrigado!

No dia marcado todos os meninos e meninas da escola chegaram com os seus pa-
pagaios coloridos e bem agitados. O céu de inverno estava muito azul e limpo. O
campo foi tomado vento e alegria das crianças.

No final do dia quando os estudantes foram para casa, um deles me abraçou e dis-
se:

- Professora! Foi melhor dia que tive aqui na escola!

Os alunos com deficiência também participaram do festival de pipas. Foi tão incrí-
vel que vale uma pipoca só para eles...

PIPOCAS CONTAGIANTES 63
BRINCADEIRAS DO JOÃO
Professora Andrea Melo

Reinício o cronômetro e parto para o segundo turno de trabalho sem intervalo para
descanso. Cada minuto do percurso é precioso. Atravesso o portão da escola cer-
cada por vários alunos e, em meio a gritos, sorrisos e pisões nos pés, guiam-me até
a linha de chegada, a quadra.

Observo que todos estão com as listas de brincadeiras nas mãos. Para dar inicio ao
conteúdo de jogos e brincadeiras, pedi que fizessem uma lista com todas as brin-
cadeiras que conheciam.

- Atenção crianças! Vamos lá! Levante a mão quem gostaria de ler a sua lista de
brincadeiras.

Num salto do terceiro degrau da arquibancada surge ao meu lado o João:

-“Fessora”, me deixa começar?

Depois de um salto daquele, impossível dizer não.

-Pode começar João!

Ele leu a sua lista como se fosse um repentista, num fôlego só.

- Agora João, fale para seus colegas quais brincadeiras você mais gosta.

- São tantas... mas pode ser... mãe da rua, pique-cola e policia e ladrão.

- Muito bem João! Turma, vocês se lembram que na aula passada falamos que os
nomes das brincadeiras podem variar dependendo da região do país?

- Ah professora! Então eu posso dar outros nomes para as brincadeiras que escolhi?
Respirei fundo e deixei que o João falasse:

- Mãe da rua, vai se chamar Pai da rua; policia e ladrão vai ser polícia e político e
pique cola vai ser pique cola mesmo.

O riso tomou conta da aula com as “novas” brincadeiras do João.

64 PIPOCAS CONTAGIANTES
O “BRINQUEDO” PROIBIDO
Professor Leonardo Teodoro da Silva

Heitor era um menino de seis anos um tanto quanto mimado. Queria chamar
sempre a atenção nas aulas e quando não sabia algo ou não conseguia realizar a
atividade proposta começava a chorar. Era difícil manter o seu interesse e motivá-lo
a superar suas dificuldades.

Após presenta-lo a diversos materiais e possibilidades de movimento, ele se


interessou pelo arco – material também conhecido popularmente como bambolê.
A partir daí, o aluno modificou seu comportamento. Conseguia usar o arco em lan-
çamentos e diversas manipulações. Sentia-se motivado e demonstrava o que con-
seguia fazer para os colegas.

Mas, como sempre acontecem surpresas em nossa profissão, alguns dias de-
pois recebi a visita de sua mãe. Era uma senhora bastante simpática, na faixa dos
trinta e poucos anos. Tentarei abaixo transcrever o diálogo que ocorreu entre nós:

- Boa tarde professor Léo.

- Boa tarde.

- Meu marido falou que o filho dele não é menino para brincar de bambolê! Falou a
mãe um tanto quanto sem graça.

- Por quê?

- Meu marido é muito machista professor.

- Mãe, o bambolê ou arco é apenas um material que todas as crianças usam na gi-
nástica, na natação, nas aulas de circo, argumentei.

- Eu sei professor que hoje a aula é para todos – entendi que ela queria dizer que
não havia distinção do conteúdo em função do gênero das crianças.

- É isso mesmo, todos dançam, todos jogam futebol. São muitas as possibilidades
de movimento...

-Não repare não professor, mas é que meu marido é chato mesmo.

- Tudo bem – concluí a conversa sem me posicionar.

Passei a pensar sobre o fato. Conversei com minha colega de área: a profes-
sora Adriana. A postura do pai não foi surpresa para nós. Infelizmente o sexismo
ainda está muito presente em nossa sociedade. Resolvi continuar a mesma metodo-
logia. Utilizava o arco com usava qualquer outro material. O aluno continuava a se
interessar por ele, mas, aos poucos, começou a se interessar por outros materiais.
E para nós, em nossa rebelião silenciosa, o bambolê nunca foi algo proibido.

PIPOCAS CONTAGIANTES 65
METADE CAIPIRINHA
Professora Paola Oliveira Fonseca

Estávamos nos preparando para a festa junina! Este ano, mais do que apostar numa
dança do ciclo junino, escolhi musicas e artistas brasileiros cujas musicas tives-
sem relevância tanto no cenário da musica popular brasileira, como no ciclo junino.
Apresentei aos estudantes vídeos de danças de festas anteriores da nossa escola
(onde reconheceram primos, vizinhos, irmãos), apresentei sugestões de musicas e à
medida que reagiam positivamente à proposta, alternávamos nas aulas tempos de
dançar livremente e ensaios de coreografias organizadas por mim (fico de olho no
modo como dançam e se relacionam com o ritmo para construir as coreografias).

Na sala da Giovana, estávamos finalizando os ensaios. No final da aula, entreguei


os bilhetes de autorização para dançarem na festa junina da escola, ia de mesa em
mesa perguntando a cada estudante se gostaria de dançar e entregava os bilhetes
a quem se interessava. Perguntei a uma menina que me respondeu convicta:

- Não quero. Sou evangélica e não participo de festa junina.

Perguntei se tinha certeza e, diante do seu sim, não entreguei o bilhete. Giovana
seria a próxima... Perguntei se ela gostaria de dançar e entusiasmada respondeu:

- Eu sou evangélica e sou metade caipirinha e quero dançar sim! Vou pedir a minha
tia pra vir comigo na festa!

Ri bastante e entreguei o bilhete. A mim bastava o sim. A explicação era, na verda-


de, um convite a outras colegas, também evangélicas, a seguir na brincadeira, vir
pra festa, pra dançarem juntas.

66 PIPOCAS CONTAGIANTES
BOLINHAS DE PAPEL
Professor Waldizar Ferreira

Toda criança tem o direito de brincar. Porém, diante de uma educação conteudista
essa liberdade ficou um pouco distante, pois tudo tem que acontecer “milimetrica-
mente” na hora certa. Mas para as crianças toda hora é hora certa de brincar.

Na escola, quando estava indo buscar outra turma, passei em frente a uma das sa-
las de aula em que os alunos estavam brincando de jogar bolinhas de papéis uns
nos outros.

Fiquei estático diante daquela cena. Eles brincavam com tanta alegria que eu não
conseguiria mensurar. Em seguida a professora regente da turma chegou e deu
aquela bronca nos alunos e as bolinhas foram todas para o lixo juntamente com a
diversão deles.

Ao longo do dia fiquei pensando como poderia reverter aquela situação. No dia
seguinte cheguei à escola com 150 folhas de papéis de rascunho e pedi para aque-
les mesmos alunos que as amassassem e fizessem novas bolinhas. Percebi que eles
ficaram receosos, devido a bronca que receberam da professora no dia anterior.
Afinal, ela havia ordenado que não fizessem mais bolinhas de papéis.

Tranquilizei as crianças e expliquei que as bolinhas iriam ser usadas durante a minha
aula e que assim não haveria nenhuma punição.

Fizemos os combinados para iniciar a brincadeira que era: lançar as bolinhas em di-
reção ao lado oposto da quadra. Após quatro minutos de jogo a equipe que tivesse
o menor número de bolinhas do seu lado ganharia o jogo.

Dividi a turma em duas equipes, separei a quadra com cones e pedi a eles que afas-
tassem do meio da quadra. Distribui as bolinhas e apitei para que pudessem iniciar
a “guerra” de bolinhas de papéis. As duas equipes se desdobraram para manterem
o seu lado da quadra sem bolinhas.

A aula foi uma “festa” e tive a satisfação de vê-los novamente com aquela expres-
são de alegria que estavam no dia anterior, quando brincavam dentro da sala de
aula.

PIPOCAS CONTAGIANTES 67
MENINAS QUEIMADAS
Professora Adriana Fernandes de Faria

As aulas de Educação Física normalmente são muito esperadas pelos alunos/as do


segundo ano do primeiro ciclo. Eles são muito participativos e motivados. A ati-
vidade proposta naquele dia foi a “queimada cada um por si” (em alguns lugares
conhecida como Amoeba ou Campo Minado).

A brincadeira é a seguinte: uma bola é lançada para o alto e o primeiro aluno que
tiver a posse de bola pode queimar qualquer colega, se deslocando no espaço de-
terminado. Os alunos/as que não estiverem com a posse de bola também podem se
deslocar livremente. Quem for queimado/a fica sentado no chão. Se algum colega
passar perto e for tocado/a pelo colega que está sentado, este ocupa o lugar dele.
Os alunos/as estavam brincando animadamente, quando um deles veio ao meu en-
contro e disse:

- Professora, aquelas meninas estavam “morrendo” para brincar de outra atividade!

Relatei a ele que eu já havia percebido e a aula continuou. Geralmente esta brinca-
deira termina muito rápido. Durante uma aula repito a atividade umas três vezes,
para que os estudantes tenham mais chance de pegar a bola.

Esta parte da minha aula aconteceu no início deste ano. Chamou-me a aten-
ção o fato do estudante de sete aninhos da escola desejar uma aula engessada com
apenas um ano de escolarização no ensino fundamental. As crianças criam suas
próprias estratégias para brincarem ou fazerem outra atividade de acordo com o
desejo delas. Não estou dizendo que não temos nada a ensinar. Mas que nossas au-
las são atravessadas por desejos e expectativas naturais de cada grupo de crianças
de acordo com as necessidades e particularidades dos mesmos.

68 PIPOCAS CONTAGIANTES
O ESCORPIÃO
Professora Stella Gontijo

O dia amanheceu tranquilo. Parecia que seria apenas mais um dia comum de tra-
balho. Ao chegar na escola, fui recebida com os carinhos de sempre dos “meus
pequenos”. A primeira e a segunda aula do dia seguiram normalmente, como já era
esperado.

E então, no terceiro horário, que naquele ano era partido ao meio pelo recreio
– que eu detesto, pois a aula não rende nada – iniciei a aula com um pegador. Os
alunos do 4º ano brincavam e corriam na maior alegria. Foi neste momento que me
lembrei de um material na sala de educação física, que fica logo ao lado da quadra.
Corri lá rapidinho para pegar.

Ao entrar, vi que a sala estava uma bagunça! Naquele pequeno cubículo tinha gar-
rafa pet cheia de água caída pelo chão, cabos de vassoura espalhados, objetos es-
quecidos pelos alunos, um jornal em cima do armário de um colega e até comida!
Quando dei por mim, já estava jogando o lixo fora, entregando os achados e perdi-
dos para um aluno levar para o devido lugar na escola. Peguei o jornal e joguei no
lixo, mas quando olho para o latão de lixo, lá estava, em cima do jornal, um enorme
escorpião!

No começo estava todo enroladinho e ao cair na lixeira se abriu e foi para o fundo
de todo aquele lixo. Desesperada por ter colocado a mão no jornal com um baita
escorpião nele, pensei rápido. O que fazer? E os alunos? E se ele saísse do latão?
Fiquei vigiando o latão com uma vassoura na mão. Nessa hora, o pegador já tinha
acabado e eu precisava trocar a atividade na quadra. Tive medo que os alunos sou-
bessem do escorpião e virasse uma confusão.

Gritei o que os alunos deveriam fazer e continuei com os olhos fixos no latão. Pedi
a um aluno mais esperto para chamar o único colega homem que estava próximo.
Eu sabia que ele poderia estar disponível, pois trabalha na sala de xerox. O aluno
correu e voltou com a resposta: “Professora, ele falou pra você esperar que ele vem
daqui a pouco.”

Fiquei doida e respondi ao menino: “Volta lá e fala pra ele que é urgente!” O aluno
foi e prontamente voltou com ele. Expliquei que tinha um escorpião junto ao lixo, e
que eu não queria chamar a atenção das crianças, para não assustá-las. O colega
então teve a “brilhante ideia” de colocar fogo no lixo para matar o escorpião. Cor-
reu para buscar álcool e fósforo enquanto eu fiquei lá de vigia, com a vassoura na
mão e morrendo de medo do bicho.

Neste momento eu nem tinha me dado conta do horário ainda. Ao colocar fogo no
latão, imaginei que iria queimar só os lixos e pronto, estava acabado o sofrimento!
Mas não... o latão pegou fogo também. E para piorar, bate o sinal para as crianças
virem para o recreio.

Aí é que a coisa ficou feia, pois além de um latão em chamas, tínhamos também tre-
zentas crianças correndo em volta e fazendo perguntas: “Professora, o que acon-
teceu?” “Por que está pegando fogo?” “Tem cobra aí?” “É rato?” “Barata?” “Escor-
pião?” “É dança da chuva?” Então, depois de um tempo interminável, conseguimos
finalmente apagar o fogo. Virou o assunto da escola naquele dia! Todo mundo que-
rendo saber o que tinha no latão de fogo. Por fim, tocou o sinal decretando o fim
do recreio e nem deu tempo de ir ao banheiro.

PIPOCAS CONTAGIANTES 69
“PELA ORDE”!
Professora Poliana Barreto Fernandes

Cheguei à escola, pouco tempo de formada, com esperança de fazer um bom tra-
balho, valorizar a Educação Física e, de repente, me deparo com o caos. Estudantes
brincando na quadra, usando o espaço para “matar” aula...

Decidi começar.

Iniciei com o conteúdo de esportes para facilitar a aceitação dos estudantes. Entre
brigas, reclamações, negociações e combinados as aulas aconteceram.

Mudei o conteúdo para ginástica e passei várias aulas ouvindo as mesmas frases:
“Isso é muito chato!”, “dá futebol!”, “Você não sabe dar aula!”, “Educação Física não
é assim!”

Depois de um mês, desmotivada, com vontade de desistir, resolvi tentar pela última
vez. Entro em sala e vêm as mesmas perguntas: “Hoje vai ser o quê? É ginástica de
novo?”

Respondi seca: - É.

“E vai ter pirâmide de novo?”

Dei a resposta arrastada, cansada, com a certeza absoluta de que seria a última
vez. –Vaai.

Eis que ouço: “Nó! Pela orde”...

70 PIPOCAS CONTAGIANTES
A ARTE DA CONVERSA
Professor Alfredo

Era uma tarde com os meninos de seis e sete anos na quadra da escola. Eles
já tinham participado da atividade inicial que neste dia fora o “grude aranha” – um
jogo de perseguição que trabalha também a atenção, velocidade, mudança de di-
reção – é o tradicional “pega-pega”.

Pois bem, todos já preparados física e psicologicamente para a aula, chamei


todos numa roda para mostrar os materiais disponíveis e as possibilidades de ativi-
dades para aquela aula.

Materiais ao chão, alguns minutos de conversa para mais uma vez explicar as
finalidades e as possibilidades de cada material e também a importância de com-
partilhá-los.

Sentei-me ao banco da quadra enquanto supervisionava as crianças em ativi-


dade e...

...qual foi minha surpresa quando me deparo com Diane sentada ao meu lado dizen-
do que não iria brincar de nada nesse dia. Já fui perguntando se havia acontecido
alguma coisa, ao mesmo tempo em que com as mãos sentia a temperatura do rosto
e do pescoço da menininha de olhos esbugalhados e a mais conversada de todas.

- Não professor, hoje vou ficar aqui de seu lado desenvolvendo a arte da conversa.

PIPOCAS CONTAGIANTES 71
CRIANÇAS, CRIANÇAS, CRIANÇAS...
Professor Carlos Alberto Rodrigues de Carvalho

Sempre ficava de cabeça quente na hora de escolher as atividades que seriam in-
cluídas no meu planejamento para as turmas do 2º ciclo (4º e 5º anos)

Livros, internet, normas e diretrizes... Habilidades e competências correspondentes


à faixa etária a fim de atingirmos os objetivos pré-determinados e esperados para
cada turma.

Depois de algum tempo, sempre em busca de novidades, me dei conta de que as


brincadeiras só eram repetidas para mim mesmo e então comecei a relembrar as
brincadeiras que faziam parte da minha infância. Em um mundo cada vez mais di-
gitalizado, talvez essas brincadeiras por si só poderiam fazer a diferença.

Fui relembrando e apresentando algumas brincadeiras às crianças: “bete”, “avião


de papel”, “bolinha de gude”, “tico-tico fuzilada”, “barra-manteiga”, “sela”, “mãe da
rua”, etc. Quem nunca brincou disso? Pedi às crianças que conversassem com seus
pais sobre as brincadeiras de sua época e estas descobriram que a maioria deles
já havia brincado com muitas delas. Os nomes às vezes eram outros, com regras
também um pouco diferentes, mas, a essência era a mesma, diversão.

Foi como percebi que apesar de algumas diferenças inerentes às gerações, criança
é criança. Ao relembrar minha infância fiz uma conexão mais pura e verdadeira com
meu trabalho. Decidi que parte do planejamento deveria ser voltada para a minha
criança interior, assim, consegui atingir os objetivos propostos e matar a saudade
de uma época prazerosa através dos risos das crianças que hoje brincam comigo.

72 PIPOCAS CONTAGIANTES
MOTIVO AÇÃO
Professor Rafael Gomes da Fonseca

Nossa prática docente passa por desafios diários que podem se tornar armadilhas
para frustração, tédio e repetição de fazeres pedagógicos. Venho buscando nos úl-
timos anos maneiras de entregar boas aulas para meus alunos. Mas como fazer isso
se não estar, primeiramente motivado para assim injetar esse novo fazer?

Pensando na minha vivência enquanto aluno, nas aulas de educação física e a carên-
cia de experiências desafiadoras que meus professores não oportunizaram, pensei
em uma aula atraente, que desenvolvesse habilidades básicas em brincadeiras de
correr, saltar, se equilibrar e outras. Cheguei à escola uma hora mais cedo, trouxe
furadeira, parafusos e ferramentas para fixar as cordas. Gastei cinquenta minutos
para montar as estruturas, formando um circuito com obstáculos, “falsa baiana”,
cordas dependuradas e outros materiais. Pensando em despertar a curiosidade dos
alunos sobre o que encontrariam na quadra naquele dia, decidi entrar na sala do 4º
ano C, no primeiro horário e escrever no quadro, “Um dia no exército”. Os alunos
me perguntaram:

 - O que é isso professor? 

- Um dia no exército? 

- Tenho medo de polícia e mais do exército? 

Expliquei que seria uma aula desafiadora, que provaria a coragem e determinação
de todos e que seriam soldados por um dia. A turma chegou à quadra e ouvi vários:

- oooHHHHHH, nnUUUU e aquele tradicional “estoura tímpanos”... aaaaaaaaa!

A aula correu com o entusiasmo esperado, participação total, muitas mãos cale-
jadas das subidas nas cordas, joelhos ralados e duas cabeças com “galos”. Pensei
qual seria o número de pais no outro dia que viriam reclamar, afinal, saiu da rotina,
já viu...

- Rafael os pais estão ligando pra saber o que aconteceu por que “TODOS” os alu-
nos estão se machucando na aula de educação física!? 

- Rafael, essa aula não vai ter mais não né?! 

São frases que costumo ouvir da direção. O segundo horário no 4º B, com a mesma
atividade, cem por cento de satisfação dos estudantes. Ao final das aulas me ques-
tionaram se teriam outros “dias no exército”. Afirmei que estivessem preparados
sim, porque aquela foi só a fase um. Sarah replicou: 

- São quantas fases professor? 

- Cinco! Porém, da fase três em diante só quando vocês estiverem no 5º ano. 

Ela insistiu:

 - Como é a fase cinco?

PIPOCAS CONTAGIANTES 73
- Com arames farpados, lama choque elétrico...

Contive meus risos para não deixar com que o seu direito de sonhar desaparecesse.
No recreio a notícia se espalhou como um rastro de pólvora deixado nos quartos
anos. São perguntas que não pude responder nos horários e dias seguintes, que
motivam minhas ações nessa viagem de ser comandante e ao mesmo tempo co-
mandado por esses baixinhos. 

- Boa tarde turma!

 - Professor vamos ganhar roupas do exército?

 - Que dia vai ser a fase dois?

- Professor o exército vai vir aqui?     

74 PIPOCAS CONTAGIANTES
Professores e Professoras Narradores e Narradoras

Hamilton Gonçalves Barbosa


Graduado em Educação Física (FHA 2007) Pedagogia (UEMG 2015)
Pós-graduando em Gestão (PUC-MG)
Professor de Educação Física no ensino fundamental; efetivo nas re-
des dos municípios de Contagem (E.M Dep. Jorge Ferraz há 07 anos)
e Ibirité (E.M Bonequinho Doce há 11 anos).
Redator e Formador do Currículo Referência de Minas Gerais no com-
ponente curricular Educação Física.
Idealizador do Aplicativo: “Educação Física Inspirar” e do Blog homô-
nimo (desde 2009).

Paola Oliveira Fonseca


Graduada em Educação Física (UEMG 2007)
Pós-graduação em docência em Libras, Educação Física Escola e
Educação Física e TGD.
Professora de Educação Física da E. M José Ferreira de Aguiar (desde
2012) e E. M. Maria Elena da Cunha Braz (desde 2010, Betim).

Luciana Alves da Silva


Graduada em Educação Física (UNI-BH, 2003).
Mestre em Ciências do Esporte, com ênfase em Psicologia do Esporte
(UFMG, 2007).
Professora efetiva da Rede Municipal de Contagem, desde 2012.
Atualmente leciona na Escola municipal Professora Maria Olintha

Marcilio Cardoso dos Reis


Graduado em Educação Física Universidade de Itaúna em 2005
Professor da rede Estadual e Municipal de Contagem desde 2003.
Atualmente trabalha na E. M. Maria de Mattos da Silveira e E.M. Prefei-
to Luiz Da Cunha.

Rafael Gomes da Fonseca


Graduado em Educação Física (UNINCOR 2004)
Especialista em treinamento Esportivo (UNINCOR 2007)
Pós graduando em educação Física Escolar (Faculdade São Luís)
Professor da rede municipal de Contagem desde 2014. Trabalha na E.
M. do Bairro Tropical.

PIPOCAS CONTAGIANTES 75
Camila do Carmo Dias
Graduada em Educação Física (UNINCOR 2006)
Professora Contratada da rede municipal de Contagem desde 2018.
Trabalha na E. M. Ricardo Braz Gomes Barreto e Ivan Diniz Macedo.

Angelina Solange Silva de Oliveira


Licenciatura em Educação Física (2016) e graduada em Pedagogia
(2018) pela UFMG.
Trabalha na E. M. Eli Horta Costa.

Taís Cristina dos Santos


Graduada em Educação Física (UEMG 2014)
Professora da Rede Municipal de Contagem
Atualmente trabalha na Escola Municipal Professor Ricardo Braz Go-
mes Barreto

Silmara Ivana Novais de Souza


Graduação em Educação Física (UEMG) 2007.
Especialização Universidade Gama Filho (2010).
Acadêmica do curso de Nutrição (PUC Minas)
Professora da rede municipal de Contagem desde 2015, E. M. Domin-
gos José Diniz Costa Belém.

Andreza Jeane
Licenciatura e Bacharelado em Educação Física pela Universidade de
Itaúna
Pós Graduação em educação física escolar pela Faculdade Gama
Filho
14 anos de experiência no ensino fundamental e médio
Atualmente é professora na E. M. Maria Olintha.

Patrícia Valério Lima de Souza


Graduação Educação Física UFMG 1994
Trabalha na E. M. Vereador Jesus Milton dos Santos.

76 PIPOCAS CONTAGIANTES
Marcelo Braga Ramos
Graduado em Educação Física (UNIBH2003)
Especialista em Educação Física Escolar e Treinamento Desportivo
(IPEMIG 2018)
Professor da rede municipal de Contagem desde 2007. Atualmente
trabalha na E. M. Newton Amaral Franco.

Matheus Marques da Silva


Graduação em Educação Física (UEMG 2014)
Professor da E. M. Deputado Jorge Ferraz (2018).
Atualmente trabalha na E. M. Jardim das Rosas em Ibirité.

Andrezza Regina da Silva Santos


Graduada em Educação Física (PUC Minas 2014)
Especialista em educação física escolar (IPEMIG 2017)
Atualmente trabalha na E. M. do Bairro Tropical.

Jean Santos Machado


Graduado em Educação Física (UEMG 2015)
Pós Graduado em Educação Física Escolar (INE)
Professor da rede municipal de Contagem desde 2018 na E.M. Doutor
Sabino Barroso.

Gizele Castro
Graduada na Universidade Federal de Viçosa 1997
Especialista em Práticas Educativas Inclusivas- UEMG 2008
Atualmente trabalha na E. M. Wancleber Pacheco e Glória Marques
Diniz.

Keila Pereira Coelho


Graduada em Educação Física (UNINCOR 2009)
Professora de rede municipal desde 2014, atuando na E. M. Newton
Amaral Franco.

PIPOCAS CONTAGIANTES 77
Walber da Silveira
Graduado em educação física (UFMG 2005)
Especialista em Educação Física escolar (Estácio de Sá 2014)
Especialista em Novas Tecnologias na educação (IPEMIG)
Especialista em esportes e Atividades Física Inclusivas (UFJF)
Atualmente trabalha na E. M. Domingos José Diniz Costa Belém

Débora Richelly Aleixo Neves


Graduada em Educação Física (UEMG - 2015) Especialista em Es-
portes e Atividades Físicas Inclusivas para pessoas com deficiência
(UFJF - 2019) Professora da rede municipal de Contagem desde 2016.
Atualmente trabalha na E. M. Professor Domingos Diniz.

Júlia Grazielle de Paula. 


Graduada  Educação Física  (FHA 2011). Especialista em Exercício
Físico  Aplicado À Reabilitação Cardíaca E A Grupos Especiais (2013).
Professora da Rede Municipal de Contagem. Atualmente trabalha na
Escola Municipal Maria do Carmo Orechio

Gustavo Lucio Golçaves Torquato


Formado em Educação Física (ISEAT- Fundação Helena Antipoff
2007
Especialista em Educação Física Escolar- FHA 2010
Especialista em Práticas Pedagógicas UFOP-2016
Professor da rede municipal de Contagem desde 2007 atando na E.
M. Nossa Senhora Aparecida desde 2011.

Adriana Fernandes de Faria


Licenciatura Plena em Educação Física UFMG 2004
Especialização em Educação Física Escolar FHA 2009
Professora da Educação Básica da rede municipal e estadual.
Trabalha na E.M Heitor Villa Lobos

Andrea de Melo do Espirito Santo


Graduada em Educação Física-UFMG 2008
Pós-graduada em Educação Integral-Faculdade UNYLEYA
Professora da rede municipal de Contagem. Trabalha na E. M. Profes-
sora Maria Olintha.

78 PIPOCAS CONTAGIANTES
Ohana Almeida
Mestre em Educação e Docência- UFMG
Especialista em Treinamento Esportivo e graduada em Educação
Física.
Professora da rede municipal de Contagem desde 2014, lotada na
E.M. Professora Maria Olintha.

Leopoldina Nunes Barbosa Soares


Graduada em Educação Física UNIMONTES 2011
Professora da rede municipal de Contagem desde 2018.
Trabalha atualmente na E. M. Apio Cardoso.

Raquel Maria Dos Santos


Graduada em licenciatura em Educação Física (UEMG- 2017)
Especialista em Educação Física Escolar (IPEMIG-2018)
Trabalha na E. M. do Bairro Tropical há dois anos.

Renata Dias Fernandes Caetano


Graduada em Educação Física (Izabela Hendrix 2010)
Professora da rede municipal de Contagem desde 2018, atualmente
trabalha na E. M. Newton Amaral Franco

Aline Borges Moreira Dias


Formada em Educação Física (UFMG-2010)
Especialista em Educação Física Escolar e Treinamento Desportivo
(IPEMIG- 2016)
Especialista em Educação Física Escolar e TGD (UNINTER-2018)
Mestranda do Mestrado Profissional em Educação Física Escolar
(PROEFE)
Trabalha na E. M. Albertina Alves do Nascimento na rede municipal de
contagem desde 2014.

Vinícius Gomes Cambraia


Graduado em Educação Física (UFMG 2019)
Especialista em Educação Física Escolar ( Faculdade Estacio de Sá)
Trabalha na E.M. Dona Gabriela Leite Araujo desde 2013.

PIPOCAS CONTAGIANTES 79
Waldizar Pinto Ferreira da Silva
Formado em Educação Física pela Universidade de Itaúna 2007
Pós-graduado em educação Física Escolar em 2009 pela UFMG
Trabalha na E.M. Professora Ana Guedes Vieira desde 2008.

Rodrigo Victor Parreiras


Licenciatura e Bacharelado em Educação Física- UFMG 2004
Atua na rede Municipal de Belo Horizonte desde 2011.
Trabalha na E. M. Randolfo José da Rocha desde 2012.

Leonardo Teodoro da Silva


Graduado em Educação Física.
Pós graduado em Fisiologia e Metodologia da atividade física perso-
nalizada- UVA 2003
pós graduação em educação de jovens e adultos – UNIUBE 2008
Trabalha na E. M Heitor Vila Lobos

João Paulo Gonçalves dos Reis


Graduado em Educação Física pela Fundação Helena Antipoff (Ibirité,
2008) e atuando desde 2009 nas escolas de Belo Horizonte, Betim,
Contagem e Ibirité. E.M. Doutor Sabino Barroso.

Stella Gontijo Teixeira de Souza


Graduação Licenciatura e Bacharelado em Educação Física pela UNI-
BH- 2008.
Professora da E.M. Newton Amaral Franco e também trabalha na rede
particular.

Alfredo Martins Ricardo


Graduado em educação física pela UNESP- RIO CLARO- 1998
Pós Graduação em Educação Física Escola e Treinamento Desportivo.
Atua há quinze anos na rede de Contagem na E. M. Hilton Rocha e E.
M. Isabel Nascimento de Mattos.

80 PIPOCAS CONTAGIANTES
Poliana Barreto Fernandes
Graduada em licenciatura e bacharelado em Educação Física – PUC
Minas 2011
Trabalha na E. M. Albertina Alves Do Nascimento desde 2012.

Carlos Alberto Rodrigues de Carvalho


Formado em Educação Física pelo Instituto Gammom (Lavras-MG
1996)
Atualmente trabalha na E. M. Machado de Assis, na rede publica de
Contagem desde 2003.

Organizadores(as)

Admir Soares de Almeida Junior


Possui Licenciatura em Educação Física pela Escola de Educação
Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional (EEFFTO) da UFMG, Es-
pecialização em Educação Física Escolar pela PUC-MINAS, em Lazer
pela EEFFTO e Mestrado em Educação pela PUC-MINAS. Doutor em
Educação pela Faculdade de Educação da UNICAMP. Atuou por mais
de 20 anos na docência em Educação Física na Educação Básica.
Vem atuando na formação inicial e continuada de professores de
Educação Física. Professor Adjunto do Departamento de Educação
Física da EEFFTO da
UFMG. Docente do Programa de Mestrado Profissional em Educação
Física em Rede na EEFFTO/UFMG. Docente do Programa de Mestra-
do Profissional Educação e Docência da
Faculdade de Educação (FAE-UFMG), na linha de Educação Física.

Aline Borges Moreira Dias

Formada em Educação Física (UFMG-2010)


Especialista em Educação Física Escolar e Treinamento Desportivo
(IPEMIG- 2016)
Especialista em Educação Física Escolar e TGD (UNINTER-2018)
Mestranda do Programa de Mestrado Profissional em Educação Física
Escolar em Rede Nacional (PROEF)- Pólo UFMG
Trabalha na E. M. Albertina Alves do Nascimento na rede municipal de
contagem desde 2014.

PIPOCAS CONTAGIANTES 81
TEXTO DE CONTRACAPA

O livro Pipocas Contagiantes apresenta um conjunto de narrativas autobiográficas


- no formato de Pipocas Pedagógicas - elaboradas pelo “Coletivo de Professores
(as) de Educação Física Narradores (as) de Seus Saberes e Fazeres”. Os docentes
autores e autoras das narrativas participam de uma ação de formação continuada
organizada pela Secretaria de Educação (Seduc) do Município de Contagem, em
Minas Gerais. As Pipocas Pedagógicas apresentadas neste livro evidenciam expe-
riências, saberes e fazeres produzidos e mobilizados por professores e professoras
de Educação Física nos cotidianos escolares. Nesse sentido, o presente livro tam-
bém pretende se constituir em uma estratégia de socialização e circulação de uma
forma singular de narrativas docentes.
Secretaria de
Educação

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