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DANIEL NASCIMENTO-E-SILVA

REGRAS BÁSICAS PARA


REDAÇÃO ACADÊMICA

Daniel Nascimento e Silva


REGRAS BÁSICAS
PARA REDAÇÃO ACADÊMICA
DANIEL NASCIMENTO-E-SILVA

REGRAS BÁSICAS
PARA REDAÇÃO ACADÊMICA

1ª Edição

Daniel Nascimento e Silva

MANAUS – AMAZONAS
2020
Diagramação da capa: Daniel Nascimento e Silva
Modelo da capa: disponível em www.canva.com
Diagramação: do miolo: Daniel Nascimento e Silva
Revisão: Paulo Ubiratã Ferreira Martins

Esta obra pode ser livremente compartilhada, desde que


seja citada a fonte: NASCIMENTO-E-SILVA, Daniel.
Regras básicas para redação acadêmica. Manaus: D.
N. Silva Editor, 2020.
Para a Milene, Chiara, Danizinho e Isabela
SUMÁRIO

Introdução, 7

Primeira parte: regras de paragrafação, 11


Regra 1: Afirma, explica, exemplifica, 14
Regra 2: Cada parágrafo deve ter o mínimo de seis
linhas, 18
Regra 3: Cada parágrafo deve ter o mínimo de três
períodos, 21
Regra 4: Faça espaço simples em tudo, 27
Regra 5: Não recue a primeira linha, 30
Regra 6: Corrija ortografia e gramática, 32
Regra 7: Corrija as pontuações, 35

Segunda parte: regras de composição, 37


Regra 1: Ajuste título, objetivo e conclusão, 39
Regra 2: Coloque título, nome completo dos
autores, afiliação e contato, 44
Regra 3: Não coloque logomarcas institucionais, 49
Regra 4: Não coloque capa nem desenhos na
primeira página, 51
Regra 5: Aplique a lógica das seções, 54
Regra 6: Aprenda a fazer e corrigir citações, 58
Regra 7: Aprenda a fazer e corrigir referenciações,
61
Regra 8: Aprenda a fazer e corrigir as referências, 67
Regra 9: Ajuste o tamanho do seu texto, 71
Regra 10: Use figuras, tabelas, quadros e diagramas
com moderação, 79
Regra 11: Resumo são perguntas, 83
Regra 12: Palavras-chaves são recorrências, 87

Terceira parte: Regras de margens e tipos, 91


Regra 1: Ajuste as margens, 93
Regra 2: Tamanho do papel, 97
Regra 3: Use fonte tamanho 12, 99
Regra 4: Use fonte serifada, 101

Conclusão, 104

Referências, 107
DANIEL NASCIMENTO-E-SILVA

INTRODUÇÃO

Diferentemente do que muitos possa


imaginar, o universo acadêmico é um mundo de
comunicação. Ainda que o meio oral possa
prevalecer, de fato, o modo mais valorizado é o
textual. É por isso que se diz que alguém só tem
efetivamente uma ideia se souber expressá-la
textualmente. E isso vale para todas as áreas do
conhecimento, da aparente extremamente simbólica
matemática à expressivamente corporal dança.

Não é fácil escrever. É preciso anos e anos de


prática diária. E, ainda assim, erros e falhas são
cometidas, o que parece demonstrar que a perfeição

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REGRAS BÁSICAS PARA REDAÇÃO ACADÊMICA

tão almejada é apenas aparente. Em cada obra, se se


procurarem com minúcia, os erros aparecem. Mas é
sobre os erros que se deve agir para que,
infinitesimalmente, se possa galgar um degrau a mais
na escada da perfeição.

A redação acadêmica é diferente dos demais


tipos. A dissertação feita na academia não pode
seguir os ditames seguidos fora da academia. A
literatura acadêmica é diferente da literatura poética.
Um artigo científico é diferente de um romance ou
de uma dissertação não científica.

A diferença essencial é precisão.


Obrigatoriamente, a redação acadêmica visa à
precisão, evitando-se a todo custo a dúvida, a dupla
ou múltipla interpretação. A redação da literatura
poética, crônica, contos e romances, por exemplo, é
necessamente ambígua, dúbia, visa a múltiplas
interpretações, porque deve levar o leitor a
completar o texto.

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DANIEL NASCIMENTO-E-SILVA

Na academia, por exemplo, o objetivo de cada


texto precisa estar explícito, revelado, exposto com
precisão. Fora da academia, quase nunca aparece que
não seja de forma implícita, oculta, velada. Na
academia, o autor aponta o objetivo do texto; fora da
academia, o leitor precisa desvendá-lo, inventá-lo.

Certa vez, em um grupo de cerca de 20


professores de português, mostrei-lhes um texto
nota 1.000 no Enem. Perguntei-lhes qual o objetivo
do texto. Cada professor apontou um diferente dos
demais. Depois lhes mostrei um position paper, texto
acadêmico de uma página que mais se aproxima da
redação do Enem. Perguntei-lhes qual o objetivo do
texto e todos responderam exatamente a mesma
coisa. Por quê?

Surpresos, os professores não conheciam o tal


position paper (e nem as regras implícitas das
comunidades científicas para a produção textual),
perceberam que desconheciam não apenas as

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REGRAS BÁSICAS PARA REDAÇÃO ACADÊMICA

técnicas redacionais acadêmicas, mas também a sua


estrutura. Essas regras não estão escritas em lugar
algum porque nasceram do aperfeiçoamento diário,
no interior dessas comunidades, na busca de precisão
daquilo que precisava ser comunicado. São
normativas que apenas aqueles que convivem
diariamente com essas comunidades conhecem.

Neste manual não nos preocupamos com o


conteúdo dos textos. O foco são aspectos acessórios
que influenciam na apresentação e compreensão do
trabalho acadêmico. Algumas décadas de contato
diário com trabalhos acadêmicos permitiram
identificar seus erros acessórios mais comuns. Então,
para cada agrupamento de erros, um agrupamento de
regras para contorná-los. Por essa razão organizamos
as regras em três seções: paragrafação, composição e
marginalização.

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DANIEL NASCIMENTO-E-SILVA

PRIMEIRA PARTE: REGRAS DE


PARAGRAFAÇÃO

Um parágrafo é uma unidade intermediária de


estruturação (AGUIAR; MARQUESI, 2019;
ADAM, 2018). Esse palavrão quer dizer que o
parágrafo liga o que está dentro dele com o que está
fora, faz uma intermediação, é um meio. Além do
que estamos recomendando nesta parte para o que
está dentro do parágrafos, todo pesquisador precisa
conhecer outras regras para o que está fora deles. Há
regras, portanto, para fazer um parágrafo funcionar
bem e outras para fazer com que ele se uma de forma

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REGRAS BÁSICAS PARA REDAÇÃO ACADÊMICA

harmônica com os demais, produzindo a coerência


textual.

No entanto, como falamos na introdução, a


nossa preocupação, aqui, não é com a linguística, mas
com o domínio das regras que os pesquisadores
utilizam para compor cada parágrafo. É que, para as
comunidades científicas, essas regras facilitam o
entendimento porque garantem a precisão do que
está comunicado. Além disso, elas cumprem com
adequação uma grande parte da intermediação
estrutural da comunicação.

A preocupação de quem escreve deve ser


sempre com o desvelar, o desencobrir, o entregar de
forma clara e precisa o que precisa ser conhecido.
Isso vai de encontro à argumentação de que ler é um
desafio de resolver um problema (RIBEIRO, 2003;
NASCIMENTO-E-SILVA; LIMAS; SANTIAGO,
2020). Com essa atitude, o cientista se torna parceiro
do leitor, no esforço de eliminar a ambiguidade,

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DANIEL NASCIMENTO-E-SILVA

ainda que, linguisticamente falando, esta seja da


ordem do impossível.

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REGRAS BÁSICAS PARA REDAÇÃO ACADÊMICA

REGRA 1: AFIRMA, EXPLICA, EXEMPLIFICA:


A LÓGICA DAS REDAÇÕES ACADÊMICAS

Todo parágrafo acadêmico pode ser


sintetizado em uma fórmula matemática. A fórmula
é f(p) = a + 2e. Neste sentido, f(p) é o parágrafo, a
é uma afirmativa que deve iniciar o parágrafo e e é o
número de explicações mínimas que o parágrafo
deve conter. Textualmente, um parágrafo acadêmico
é uma sequência de afirmativa e explicações sobre o
significado daquilo que é afirmado.

Veja o exemplo no quadro 1. Que será o


nosso parágrafo padrão. A parte que está em negrito
representa a afirmativa. As outras partes são

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DANIEL NASCIMENTO-E-SILVA

explicações sobre a afirmativa, de maneira que toda


ela possa ser entendida. Se o autor não tivesse
colocado essas pequenas explicações, dificilmente o
leitor conseguiria desvendar o segredo que estava na
cabeça do pesquisador quando a redigiu. Tanto é
assim que o autor resolveu explicar cada elemento de
sua afirmativa: processo, planejar, organizar, dirigir,
controlar e produto final.

Quadro 1. Exemplo de parágrafo padrão de textos acadêmicos


Administração é o processo de planejar, organizar, dirigir
e controlar recursos para alcançar os objetivos
organizacionais. Processo é o sequenciamento lógico de
etapas, com início, meio e fim que, ao final da execução da última
etapa, um produto deve ser gerado. As etapas desse processo são
determinar o objetivo e o caminho até ele (planejar); identificar,
obter, utilizar e prestar contas dos recursos (organizar); elaborar
e implementar um esquema de liderança, motivação e
comunicação (dirigir); e aplicar um sistema de padronização,
mensuração, avaliaçõ e replanejamento (controle). O produto
final do processo é o alcance dos objetivos da organização.
Fonte: elaborado pelo autor.

Em muitos casos, os cientistas não encontram


recursos explicativos para deixar mais claro o que

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REGRAS BÁSICAS PARA REDAÇÃO ACADÊMICA

querem comunicar. Quando isso acontece, lançam


mão de exemplos. Um exemplo é a descrição ou
narração do funcionamento de determinado fato ou
fenômeno. Isso significa que exemplificar é
descrever, narrar, usar muitas palavras mostrando
como funciona alguma coisa.

Exemplificar nada a ver com apenas citar “Por


exemplo, o caso da navegação fluvial”. Um exemplo seria
mais ou menos assim “A navegação fluvial é um exemplo
para o sistema de abastecimento em regiões de muitos rios. Os
rios, nesses casos, cumprem o papel de rodovias, ferrovias ou
mesmo aerovias. A diferença é no tipo de veículo que será
utilizado, o que depende, também, das características fluviais,
tais como profundidade, largura e correntezas, dentre outras
variáveis importantes. A finalidade, contudo, deve ser sempre
a de promover como adequação o sistema logístico”.

É possível, também, alterar a fórmula padrão


para outros modelos, como f(p) = a + 2exe, onde
exe são os exemplos, ou f(p) = a + exp + exe, onde

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DANIEL NASCIMENTO-E-SILVA

exp é a explicação. Sintetizando: um parágrafo pode


ser construído com uma afirmativa e duas
explicações, uma afirmativa e dois exemplos e uma
afirmativa e uma explicação seguida de um exemplo.
Sem esse esquema, dificilmente os cientistas
conseguem entender um parágrafo.

Alguém pode perguntar, se é possível inverter


os elementos da fórmula, começando-se o parágrafo
com as explicações. Evidentemente que sim. Não há
essas regras de forma imperativa nas comunidades
científicas. Mas o autor terá que utilizar de recursos
estilísticos que dificilmente terá, porque lhe
demandaria uma enormidade de tempo para adquiri-
los. Talvez um tempo muito maior do que investiu
para obter os conhecimentos e habilidades para gerar
conhecimentos científicos.

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REGRAS BÁSICAS PARA REDAÇÃO ACADÊMICA

REGRA 2: CADA PARÁGRAFO DEVE TER O


MÍNIMO DE SEIS LINHAS

É muito comum encontrar textos cujos


parágrafos parecem mais poesias do que trabalho
acadêmico. Nos textos poéticos, cada verso é um
parágrafo – e cada parágrafo é um verso, com
raríssimas exceções, como nos poemas concretos.
Como será mostrado depois nas regras de
composição, o parágrafo que apresenta poucas linhas
geralmente contém apenas uma afirmativa. As
poucas linhas não permitem que se cumpra a regra
que diz que para cada afirmativa é necessário
apresentar pelo menos duas explicativas, duas

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DANIEL NASCIMENTO-E-SILVA

explicações. Como todos os parágrafos deste


manual.

A razão disso é que com menos de seis linhas


fica impraticável a primeira regra. Não dá para
afirmar e explicar de forma compreensível em apenas
duas, três, quatro linhas. Geralmente aplicamos a
regra 1 para 2. Essa regra diz que, para cada linha
gasta na afirmativa, deve-se utilizar pelo menos duas
para cada explicação. Se uma afirmativa tem apenas
uma linha, o que exige alta capacidade de síntese do
autor, deve utilizar pelo menos quatro linhas para
19 xplica-la (duas linhas para cada afirmativa). A
recomendação das seis linhas é a garantia de que cada
explicação terá o espaço necessário para surtir o
efeito de compreensão pretendido. No caso do
nosso parágrafo-padrão do quadro 1, ampliamos a
regra para 1 para 3: para cada linha da afirmativa,
usamos três para 19xplica-la.

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REGRAS BÁSICAS PARA REDAÇÃO ACADÊMICA

Além de garantir compreensão, o parágrafo


com número médio de seis linhas fica mais elegante.
Essa elegância é tanto visual, no que chamamos de
estética material, quanto sensitiva, no que chamamos
de estética mental. Textos escritos com essa
recomendação têm maiores probabilidades de serem
lidos e compreendidos pelos leitores.

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DANIEL NASCIMENTO-E-SILVA

REGRA 3: CADA PARÁGRAFO DEVE TER O


MÍNIMO DE TRÊS PERÍODOS

Para entender essa regra, é preciso, antes,


saber o que é uma frase e o que é uma oração,
assuntos lá das séries iniciais do ensino fundamental.
Sem que se possa reconhecer uma oração, não é
possível identificar um período. Como
consequência, se não se sabe o que é um período,
como é que se vai construí-lo?

Uma frase é qualquer expressão que transmite


uma idéia. Os liguistas chamam de enunciado a tudo
aquilo que falamos ou escrevemos. Quando alguém
fala, contrariado, “Droga!”, está enunciando uma

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REGRAS BÁSICAS PARA REDAÇÃO ACADÊMICA

frase. Qualquer coisa que se fala ou escreve, desde


que seja compreensível para outra pessoa, é uma
frase. Simples assim.

Uma oração é um pouquinho diferente. Só um


pouquinho. A enunciação precisa ter um verbo.
Aquilo que se fala ou escreve precisa ter um verbo.
O verbo é que faz a diferença entre as frases e uma
oração. “Eu amo” é uma oração, porque tem um
verbo “amo, amar”. “Eu” é uma frase, mas não é uma
oração. “Amo” é uma frase e é uma oração porque
tem um verbo.

Então basta ter um verbo para uma frase ser


oração? Não. É preciso ter um sentido. Veja esse
enunciado: “Quando eu vi, mas que coisa. Toda hora é isso,
oito minutos de guardando para cima e graças a Deus tanto
quanto eu vim me abraçar no barco da cachoeira”. Como se
vê em muitos trabalhos acadêmicos, muito do que se
escreve não tem sentido, não se consegue entender
o que quer dizer.

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DANIEL NASCIMENTO-E-SILVA

Linguisticamente falando, um período é uma


unidade sintático-semântica (COX, 2009).
Traduzido para a prática de redação acadêmica, é a
expressão de uma ideia completa. Essa unidade, por
sua vez, comporta unidades sintático-semânticas
menores (COX, 2009), que, em outra tradução,
significa que cada parte menor tem que ter um
sentido completo também.

Vejamos um exemplo: João ama Luzia e o barco


saiu atrasado novamente. Aqui temos duas orações: João
ama Luzia e O barco saiu atrasado novamente. Cada
unidade, cada oração, tem sentido completo. Isso
quer dizer que é possível compreender isoladamente
cada oração (João ama Luzia e que O barco saiu atrasado
novamente). Mas quando essas duas orações são
unidas, o todo fica sem sentido. Então, nesses casos,
não há período. É preciso dar sentido às orações,
como em João ama Luzia de uma forma tal que ele faz
qualquer coisa por ela.

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REGRAS BÁSICAS PARA REDAÇÃO ACADÊMICA

Se as orações tiverem sentido, fica muito fácil


identificar cada período de um parágrafo. É só
procurar pelos pontos que ele apresenta. Todo
período precisa terminar com um ponto (LIMA;
MELO; MARINHO, 2019), seja ele de exclamação
(!), interrogação (?), ponto em seguida (.) ou três
pontos (...).

Onde tiver um ponto, lá deve ter um período,


se ali tiver uma oração. Por isso é preciso ter cuidado.
Um período será sempre uma oração. Uma frase
pode ser um período, se ela tiver um verbo (o que a
transforma automaticamente em oração), mas nem
toda frase é um período (GONÇALVES, 2007).

Agora fica fácil saber por que todo parágrafo


das redações científicas precisam apresentar pelo
menos três períodos. Um é para a afirmativa ser
entendida e os outros dois são para a apresentação
de pelo menos duas explicações que a esclareçam. Se

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DANIEL NASCIMENTO-E-SILVA

o autor não conseguir se fazer entender com essa


estrutura, precisa lançar mão de exemplos.

Veja o nosso parágrafo-padrão no quadro 2.


Quadro 2. Parágrafo padrão.
Administração é o processo de planejamento, organização,
direção e controle de recursos para alcançar objetivos
organizacionais. Processo é o sequenciamento lógico de etapas,
com início, meio e fim que, ao final da execução da última etapa,
um produto deve ser gerado. As etapas desse processo são
determinar o objetivo e o caminho até ele (planejar); identificar,
obter, utilizar e prestar contas dos recursos (organizar); elaborar
e implementar um esquema de liderança, motivação e
comunicação (dirigir); e aplicar um sistema de padronização,
mensuração, avaliaçõ e replanejamento (controle). O produto
final do processo é o alcance dos objetivos da organização.
Fonte: elaborado pelo autor.

O esquema lógico dos cientistas é afirmar e


explicar. Mas não basta uma única explicação. É
preciso ser muito bom de redação para se fazer
entender uma afirmativa com apenas uma ideia. Na
verdade, a recomendação é que os parágrafos sejam
construídos com o maior número possível de
períodos. Além de se tornarem agradáveis,

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REGRAS BÁSICAS PARA REDAÇÃO ACADÊMICA

proporcionam maior probabilidade de


entendimento.

Percebem-se quatro períodos na sua


composição. O autor quer mostrar uma única ideia:
o que é administração, exposta no primeiro
enunciado, na primeira oração, no primeiro ponto.
Em seguida ele explica o que é processo, em duas
orações, que juntas dão um único sentido. Depois ele
detalha as etapas do processo de gestão em várias
orações (quase uma dezena delas) em sequência. Por
último, mostra o que caracteriza o produto final da
gestão em uma única oração, finalizando o parágrafo.

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DANIEL NASCIMENTO-E-SILVA

REGRA 4: FAÇA ESPAÇO SIMPLES EM


TUDO

Muitas instituições criam seus padrões de


configurações de trabalhos acadêmicos. Esses
padrões são de uma importância sem igual para
orientar seu corpo docente e discente na sua
apresentação final. Por essa razão, deve-se ter em
mente duas coisas. A primeira é obedecer aos
ditames institucionais, que deve ser feito sempre;
outra coisa é fazer a composição para efeitos
compreensivos, em conformidade com as regras
internas das comunidades e grupos de pesquisa. Essa

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REGRAS BÁSICAS PARA REDAÇÃO ACADÊMICA

segunda coisa cresce de importância, se o manuscrito


tiver a pretensão de ser submetido a publicação.

Quando redigimos em espaços simples dentro


dos parágrafos e acima e abaixo temos uma
dimensão mais precisa do que quando aumentamos
essa formatação. O formato simples dá uma ideia
mais precisa de quantas páginas o manuscrito terá
quando for publicado. E isso tem a ver com a
quantidade máxima e mínima de páginas que os
periódicos e editoras exigem para uma publicação.

Evidentemente que o uso dos espaços simples


não ficariam esticamente bem em um documento
final, como são os casos dos Trabalhos de Conclusão
de Cursos, dissertações e teses. Precisam,
consequentemente, de uma formatação especial, tao
como normatizados pelas instituições. Ainda assim,
recomenda-se produzir o texto, primeiro, em espaço
simples e, depois, seguir os formatos institucionais,
para gerar o produto final.

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DANIEL NASCIMENTO-E-SILVA

Por outro lado, se a finalidade for a publicação


em periódicos ou livros, recomenda-se enviar os
originais em formatos simples. O motivo é que, fora
orientação em contrário, o formato simples torna
mais rápida a editoração. Apesar de alguns
periódicos exigem o envio do texto em formatos pré-
definidos, os formatos simples facilitam a
incorporação imediata a partir de templates.

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REGRAS BÁSICAS PARA REDAÇÃO ACADÊMICA

REGRA 5: NÃO RECUE A PRIMEIRA LINHA

A primeira linha dos parágrafos é interessante.


Algumas vezes, quando submeti artigos para
publicação, me pediram para não recuar a primeira
linha. E isso acendeu em mim uma constatação
corriqueira nos livros e artigos que do passado, mas
que, de vez em quando, ainda acontece: recuos
exagerados.

Certa vez perguntei a um editor o porquê de


algumas revistas e editoras pedirem para não recuar
a primeira linha. A resposta que obtive foi que,
quando se aplicam os padrões automáticos nos
manuscritos, o recuo da primeira linha do padrão se
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DANIEL NASCIMENTO-E-SILVA

soma ao recuo da primeira linha que o manuscrito


tiver. Daí a geração do recuo exagerado. E daí,
também, a recomendação de não deixar o recuo no
manuscrito.

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REGRAS BÁSICAS PARA REDAÇÃO ACADÊMICA

REGRA 6: CORRIJA ORTOGRAFIA E


GRAMÁTICA

Erros de digitação acontecem. Também é


normal que não se saiba como escrever determinada
palavra. Por exemplo, o correto é “exceção” ou
“escessão”? Mas não é normal não procurar corrigir o
que o próprio processador de texto aponta como
erro. Se alguém digitar “escessão”, automaticamente
o processador vai fazer algum tipo de marcação
colorida embaixo da palavra, que é o mesmo que
dizer “Olha, amigo, acho que essa palavra não existe ou deve
ter sido escrita errado”. Escrever errado até pode ser

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DANIEL NASCIMENTO-E-SILVA

normal, mas é imperdoável ver que há a possibilidade


de o texto apresentar erro e não corrigir.

Ainda que muitos argumentem que podem


perder o raciocínio, se pararem para consertar os
erros, podem fazer a correção quando o texto estiver
pronto. Os processadores de texto varrem todo o
texto à procura de erros de ortografia e
concordância. Talvez a gramática seja a parte mais
ultrajada nos textos acadêmicos justamente porque
os autores não se preocupam com sua correção.

Quem avalia um texto, no mínimo se


pergunta: “Se o autor deixou passar um erro tão grosseiro
quanto este de ortografia ou gramática, provavelmente deverá
ter deixado passar erros imperdoáveis relativos às partes
essenciais da pesquisa”. A experiência tem mostrado,
infelizmente, que essa desconfiança quase sempre se
justifica. Textos que apresentam erros crassos de
ortografia e gramática geralmente são extremamente
frágeis técnica e cientificamente.

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REGRAS BÁSICAS PARA REDAÇÃO ACADÊMICA

A lisura dos procedimentos, a validade dos


resultados e a confiança da conclusão parecem estar
relacionados com a preocupação que seus autores
têm em relação a todos os aspectos do manuscritos.
E todos significa, naturalmente, também a correção
ortográfica e gramatical. E não é preciso ser
especialista em linguística para isso. Basta acionar o
comando de revisão para que o próprio processador
execute a tarefa.

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DANIEL NASCIMENTO-E-SILVA

REGRA 7: CORRIJA AS PONTUAÇÕES

A pontuação é uma questão um pouco mais


delicada. Não há, ainda, recursos de processadores
para auxiliar nessa empreitada. Mas algumas técnicas
simples podem ajudar a fazer um texto mais elegante
e fácil de compreender. É preciso, contudo,
conhecer o básico de uma oração chamada completa.

Veja o exemplo da oração “João ama Maria”.


Aí temos Sujeito (João), Verbo (Ama) e predicado
(Maria). Digamos que eu queira diferenciar João de
outro João na mesma oração. Para isso, eu poderia
fazer a seguinte alteração: “João, aquele que é filho do

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REGRAS BÁSICAS PARA REDAÇÃO ACADÊMICA

vendedor de laranjas na praia do Tupé, ama Maria”. Veja


que o texto diferenciador está separado por vígulas.

Imagine que eu queria dizer que Maria é essa


que João ama, na mesma oração. Eu poderia escrever
assim: “João, aquele que é filho do vendedor de laranjas na
praia do Tupé, ama Maria, aquela menina maravilhosa e
delicada de belíssimos olhos azuis que todos querem namorar”.
Novamente, aqui a explicação foi separada por
vígulas.

A recomendação, portanto, é essa. Faça


sempre uma oração completa do tipo Sujeito +
Verbo + Predicado e coloque um ponto no final do
predicado. Se precisar fazer alguma explicação, falar
alguma coisa do Sujeito ou do Predicado, faça entre
vírgulas.

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DANIEL NASCIMENTO-E-SILVA

SEGUNDA PARTE: REGRAS DE


COMPOSIÇÃO

Estamos chamando de regras de composição


aquelas que têm como finalidade dar um aspecto
formal ao texto. Aspecto formal é como as partes
que têm a ver com o conteúdo devem ser
apresentadas. O conteúdo em si chamamos de parte
material. Nada têm a ver, portanto, com a
formatação do texto, que chamamos de regras de
marginalização, que serão apresentadas na terceira
parte deste Manual.

As regras de composição têm como finalidade


apresentar o conteúdo, a parte material do texto, de

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REGRAS BÁSICAS PARA REDAÇÃO ACADÊMICA

uma forma lógica, compreensível. Elas abrangem


desde o título do manuscrito, passam pelo uso de
figuras e diagramas e culminam com as referências,
aquela lista de textos citados do final dos
manuscritos. Vejamos as principais regras de
composição.

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DANIEL NASCIMENTO-E-SILVA

REGRA 1: AJUSTE TÍTULO, OBJETIVO E


CONCLUSÃO

Existe um esquema lógico que une esses três


aspectos fundamentais de todo trabalho acadêmico,
especialmente os chamados científicos. Para que seja
compreendido com adequação, vejamos uma
analogia. Imagine que você não conheça Manaus e
queira saber quais são os principais atrativos
turísticos da bela capital amazonense. O que você
faria, se fosse um cientista?

Sinteticamente, é provável que você faria a


pergunta para várias pessoas, organizaria as respostas
e produziria sua própria resposta. É a mesma coisa

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REGRAS BÁSICAS PARA REDAÇÃO ACADÊMICA

que acontece com as pesquisas científicas: fazemos


uma pergunta/questão/hipótese, coletamos dados,
organizamos esses dados e quando estiverem
coletados, a resposta aparecerá aos nossos olhos.

Na nossa analogia, a pergunta seria “Quais são


os principais atrativos turísticos da cidade de Manaus?”. Meu
objetivo seria, portanto, “Saber quais são os principais
atrativos turísticos da cidade de Manaus” ou “Conhecer os
principais atrativos turísticos da cidade de Manaus”. Note
que, para saber qual é o objetivo do estudo, basta que
o pronome interrogativo e o verbo da pergunta
sejam substituídos por um verbo no infinitivo que
represente com exatidão o que se pretende alcançar
com a investigação. No nosso exemplo, os verbos
poderiam ser “saber” ou “conhecer”. O restante da
oração permanece inalterado.

Imagine, agora, que os seus resultados


apontaram o Teatro Amazonas, o Encontro das
Águas e a Praia da Ponta Negra como os principais

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DANIEL NASCIMENTO-E-SILVA

atrativos turísticos da cidade. O primeiro parágrafo


da conclusão (e não considerações finais) deveria
começar mais ou menos assim: “Este estudo mostrou
que os principais atrativos turísticos da cidade de Manaus são
o Teatro Amazonas, o Encontro das Águas e a Praia da
Ponta Negra.”. Como o objetivo é uma questão de
pesquisa invertida, como explicamos no capítulo
anterior, a conclusão tem que responder a pergunta
formulada. Assim, objetivo e conclusão precisam
estar alinhados.

O outro alinhamento é em relação ao título.


Não se inventam títulos. A invenção dos títulos deve
ficar para cientistas muito experientes, com centenas
de publicações feitas. Quem está começando deve
aplicar o esquema lógico que os iniciantes praticam.
Essa lógica é fácil de entender e aplicar.

Ainda com base no nosso exemplo analógico,


tomemos o objetivo geral “Saber quais são os
principais atrativos turísticos da cidade de Manaus”.

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REGRAS BÁSICAS PARA REDAÇÃO ACADÊMICA

Pela primeira regra, o título seria “Os principais


atrativos turísticos da cidade de Manaus”. Simples assim.
O que aconteceu? Apenas foram eliminados os
verbos e o pronome “quais”. Tudo o mais
permaneceu.

Agora imagine o seguinte objetivo geral:


“Analisar a correlação entre investimento em saúde e felicidade
nas cidades do estado do Amazonas”. O título poderia ser
“Análise da correlação entre investimento em saúde e felicidade
nas cidades do estado do Amazonas”. O que aconteceu
aqui? O verbo no infinitivo (analisar) foi
transformado em substantivo (análise). Em seguida,
fez-se a concordância nominal: análise é sempre de
alguma coisa, por isso a preposição de junto ao artigo
feminino a para formar da. O restante da frase
permaneceu.

É a isso que chamamos ajustar. Objetivo,


conclusão e título têm que ser a mesma coisa, mas
apresentados de formas diferentes. Quem provoca

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DANIEL NASCIMENTO-E-SILVA

desarmonia entre esses três aspectos dos textos


científicos provavelmente desconhece as regras de
lógica interna, tanto de produção científica quanto de
redação.

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REGRAS BÁSICAS PARA REDAÇÃO ACADÊMICA

REGRA 2: COLOQUE TÍTULO, NOME


COMPLETO DOS AUTORES, AFILIAÇÃO E
CONTATO

Por mais incrível que possa parecer,


recebemos muitos textos para analisar sem título e
sem nome dos autores. Afiliação e contato? Não
lembro jamais de ter encontrado. Vejamos isso mais
de perto, para que se possa entender por que são
partes importantes dos textos acadêmicos,
especialmente se queremos publicá-los.

Título. Todo texto precisa ter um. É como os


nomes das pessoas. Todo mundo precisa ter um. O
título é a identificação daquilo que o texto contém.

44
DANIEL NASCIMENTO-E-SILVA

Por isso não se pode escrever qualquer coisa como


título. Tem que ser preciso, dizer com exatidão todo
o conteúdo do texto. Na regra anterior mostramos
como o título dos trabalhos acadêmicos são criados.
Pratique-a.

Autoria. As leis proíbem a manifestação


anônima. Todo texto, portanto, tem um autor. E esse
autor precisa ser identificado. E identificação
significa nome completo, sem abreviaturas. Se o
nome do autor for “José João da Silva Paranhos dos
Anzóis Ferreira de Oliveira”, esse nome todo tem
que ser colocado no texto, abaixo do título, sem
abreviaturas.

Afiliação. Todo trabalho acadêmico é feito


por solicitação oficial de alguma instituição para seus
membros, seus afiliados. Se você é estudante, você é
afiliado a uma instituição de ensino; se você é
professor, você é afiliado à instituição onde você
ensina; se você é técnico administrativo de educação,

45
REGRAS BÁSICAS PARA REDAÇÃO ACADÊMICA

você é afiliado à instituição onde você trabalha.


Simples assim. Essa instituição ao qual você é
afiliado precisa aparecer no seu texto de forma
obrigatória. Se for um manuscrito a ser submetido
para publicação, as revistas científicas exigem essa
menção, como mostra o quadro 3.

Quadro 3. Exemplo de título, autoria, afiliação e contato


VARIÁVEIS QUE INTERFEREM NA QUALIDADE DO
SERVIÇO NA PERCEPÇÃO DOS CLIENTES

Daniel Nascimento-e-Silva
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas
(92) 99166-9984 – danielnss@gmail.com

Isabela Simões do Nascimento-e-Silva


Universidade da Felicidade
(1010) 98765-4321 – isa.bela@gmail.com
Fonte: elaborado pelo autor.

É preciso listar todos os autores, colocar a


afiliação de todos eles (se todos forem da mesma
instituição, repetir a mesma instituição em todos
eles) e os seus devidos contatos. Todos os autores

46
DANIEL NASCIMENTO-E-SILVA

significa que você é obrigado a colocar o nome do


seu professor como coautor, ainda que ele não tenha
escrito uma vírgula.

Coautor é todo aquele que colabora com os


resultados do estudo. Colaboração tem diversas
formas de se realizar. E uma delas é apontar o que
não está legal e o que está aceitável, como os
professores fazem. Então eles são coautores. E é o
coautor mais importante. E como todo coautor mais
importante, coloque o nome dele por último da lista.
O último nome quer dizer que foi o suporte do
trabalho. O primeiro nome aponta quem mais
trabalhou na produção do texto.

Contato. Se alguém gostar do seu texto, como


entrará em contato, se não tiver um número de
telefone ou endereço eletrônico no documento? E se
não gostar, como lhe fazer sugestões de melhoria?
Por essas e outras razões, acostume-se a colocar pelo

47
REGRAS BÁSICAS PARA REDAÇÃO ACADÊMICA

menos um meio de contato nos seus manuscritos,


como mostra o exemplo do quadro 3.

Essas informações devem começar o seu


artigo. Devem ser as primeiras coisas que o leitor vai
ler, assim que colocar os olhos no seu documento.
Uma boa impressão é o que fica, ditado que também
vale para os produtos acadêmicos.

48
DANIEL NASCIMENTO-E-SILVA

REGRA 3: NÃO COLOQUE LOGOMARCAS


INSTITUCIONAIS

Tem uma prática que marca os trabalhos


acadêmicos até nas pós-graduações stricto sensu:
colocar no cabeçalho das páginas a logomarca ou o
nome da instituição. Tem outros que fazem pior:
colocam a logomarca em tamanho gigante no centro
da página. Nunca faça isso.

Seu manuscrito, ainda que você esteja afiliado


a uma instituição, não é um produto institucional. O
produto é seu e de seu orientador. Se foi trabalho em
equipe, o produto é de sua equipe, o que inclui o seu
orientador ou seu professor. É de vocês, não da sua

49
REGRAS BÁSICAS PARA REDAÇÃO ACADÊMICA

instituição. Por isso, nunca coloque a logomarca ou


qualquer representação simbólica institucional nos
seus originais, nos seus manuscritos.

Se seu trabalho for um trabalho de conclusão


(graduação, especialização, mestrado, doutorado ou
pós-doutorado), siga as orientações institucionais.
Cada instituição tem um manual de uso de suas
marcas. E isso precisa ser respeitado. Fora isso, vale
a recomendação: não as coloque nos seus textos.

50
DANIEL NASCIMENTO-E-SILVA

REGRA 4: NÃO COLOQUE CAPA NEM


DESENHOS NA PRIMEIRA PÁGINA

Lembro da época de ensino fundamental que


as meninas (e muitos meninos) faziam belas capas
para os seus trabalhos, onde as ilustrações tinham
um papel central. Elas colocavam uma grande e bela
figura no centro da página de capa, as informações
institucionais na parte de cima, seus nomes na parte
de baixo e, no meio da figura, algo do tipo “Trabalho
de Português”. Depois, por onde fosse possível,
colocam mais e mais figuras. Parecia mais um
trabalho de colagem que da disciplina que a solicitou.

51
REGRAS BÁSICAS PARA REDAÇÃO ACADÊMICA

Por mais inacreditável que pareça, ainda hoje


há pessoas que fazem o mesmo procedimento na
graduação e até na pós-graduação. A experiência tem
mostrado que o motivo desse procedimento é o fato
de que não têm intimidade com produtos técnicos,
científicos ou tecnológicos. Se tivessem, veriam que
esses documentos têm a estrutura singela de título,
autoria, afiliação, contato, resumo, introdução,
desenvolvimento, conclusão e referências. Não têm
capas e não podem ter desenhos naquilo que não
deve ter.

Para que esse problema seja sanado, não


coloque capa nos seus trabalhos originais. Enquanto
ele estiver sendo produzido e enquanto ele não for
dado como finalizado, não coloque as capas
institucionais. Faça o documento frio. Somente
depois de aprovado, cumpra as exigências formais da
sua instituição. Isso vai lhe impedir de encher a

52
DANIEL NASCIMENTO-E-SILVA

primeira página de seu trabalho de desenhos, se você


ainda mantém esse costume. Se não tem, parabéns.

Guarde o seu esforço e o seu intelecto para


colocar no trabalho aquilo que são suas verdadeiras
riquezas: a contribuição para o conhecimento.
Quando se perde tempo com o que não é necessário,
falta tempo para o que é fundamental. Se se perder
tempo com o desnecessário, provavelmente o que é
essencial não será contemplado.

53
REGRAS BÁSICAS PARA REDAÇÃO ACADÊMICA

REGRA 5: APLIQUE A LÓGICA DAS SEÇÕES

Esse erro é muito, muito comum: prometer


alguma coisa em uma seção e não cumprir.
Novamente, aqui, as pessoas só cometem esse erro
grave porque não conhecem a lógica das seções, não
sabem como elas são criadas. Se souberem, não mais
o cometerão e terão suas seções harmoniosamente
redigidas.

Uma seção é uma parte do texto. Um capítulo


é uma parte do trabalho. Uma seção é uma parte do
capítulo e assim por diante. Assim como todo
capítulo precisa ser um título, toda seção tem que ter
um título também. É simples assim.
54
DANIEL NASCIMENTO-E-SILVA

Quadro 4. Exemplo de organização de trabalho


1. O PROCESSO GERENCIAL
1.1 Processo de planejamento
1.2 Procdesso de organização
1.3 Processo de direção
1.4 Processo de controle
Fonte: elaborado pelo autor.

Imagine um trabalho que está organizado


como no quadro 4. Cada título daquele é uma
pergunta. Ela apenas está invertida. Onde está escrito
“O processo gerencial”, o cientista vai ler “O que é o
processo gerencial”; onde se lê “Processo de planejamento”,
o cientista vai ler “Como é o processo de planejamento” ou
algo parecido. É isso mesmo que você está
desconfiando: os cientistas são pessoas esquisitas
que veem e fazem as coisas de forma diferente. Eles
também leem diferente da forma como as pessoas
leem. Na verdade, eles não leem: eles fazem
perguntas e procuram respostas.

55
REGRAS BÁSICAS PARA REDAÇÃO ACADÊMICA

Por essa razão, use a lógica de leitura dos


cientista para escrever bem. Comece o primeiro
parágrafo de cada seção apresentando um problema,
uma questão. E termine esse parágrafo dizendo qual
é o objetivo dele, o que ele vai mostrar, ensinar ao
leitor. Nos parágrafos seguintes, cumpra o
prometido e o faça detalhadamente. Se prometeu
mostrar as etapas do processo de planejamento,
descreva cada uma delas ao longo dos parágrafos, se
possível com um parágrafo para cada etapa. Proceda
assim até que todas elas tenham sido apresentadas.

No último parágrafo, apresente o resultado, a


resposta à questão. Sim, aquela questão com que
você começou o parágrafo. Esse procedimento, além
de permitir que o leitor relembre da promessa feita,
vai dar a convicção de que ela foi cumprida e o
objetivo, alcançado. Se você não seguir esse
esquema, dificilmente seu texto será compreendido e
talvez o leitor pule essa seção de forma até

56
DANIEL NASCIMENTO-E-SILVA

inconsciente, porque o cérebro se recusa a perder


tempo com o que ele não entende.

Assim, toda seção tem que começar com uma


questão/problema. Isso tem que estar explícito no
primeiro parágrafo. Em seguida, o prometido tem
que ser cumprido, parágrafo a parágrafo, até que
toda a promessa se concretize. O último parágrafo
precisa retormar a questão, respondendo-a,
solucionando-a, desvendando o enigma. Essa
mesma regra vale para os capítulos e para o
manuscrito como um todo.

57
REGRAS BÁSICAS PARA REDAÇÃO ACADÊMICA

REGRA 6: APRENDA A FAZER E CORRIGIR


CITAÇÕES

Você sabe para o que servem as citações?


Você sabe o que é uma citação? Se você gosta de ficar
copiando e colando frases pequenas ou gigantescas
no seu trabalho pensando que eles ficam bonito
assim ou simplesmente para aumentar o volume de
texto, talvez você se decepcione com o que vai saber
aqui. Por outro lado, você se libertará para uma nova
realidade e entenderá os esforços dos cientistas
quando fazem fazem citações.

Uma citação é uma demonstração de que


alguém falou algo exatamente com aquelas palavras.
58
DANIEL NASCIMENTO-E-SILVA

Quando os cientistas citam alguém querem


demonstrar isso: que aquelas palavras foram
utilizadas por determinado autor. É como se eles
quisessem “esfregar na cara” do leitor ou de algum
outro autor que, em algum texto, desconfiou que
determinado autor tenha realmente falado aquelas
coisas com aquelas palavras.

Vamos dar um exemplo para que isso fique


bem claro. Imagine que o Betonildo Silva seja
inimigo feroz (sim, a inimizade infelizmente existe na
literatura científica) de Alfanildo Souza. Digamos
que Gamonilda Santos tenha encontrado um texto
em que Betonildo elogia Alfanildo, mas Omeganildo
Dias não acredita e diga isso em algum texto que
tenha publicado. Para provar que não mentiu,
Gamonilda transcreve a parte do texto em que
Betonildo elogia Alfanildo. Digamos que ela tenha
feito assim:

59
REGRAS BÁSICAS PARA REDAÇÃO ACADÊMICA

“Não é fácil criar método de investigação das


relações sociais em que, ao mesmo tempo,
contemplem aspectos quali e quantitativos. Mas
Souza (2020) o faz com precisão e elegância,
fazendo avançar não apenas a sua área de
conhecimento, mas todos os campos que têm
dificuldades de aplicar métodos
qualiquantitativos” (SILVA, 2015, p. 12).
Atualmente, isso é que é citar: a transcrição de
palavras de determinado autor para demonstrar que
ele falou exatamente aquilo que foi transcrito. Se
fosse feito paráfrase, que é dizer a mesma coisa que
um autor falou com outras palavras, por parte de
quem está escrevendo o manuscrito, provavelmente
o leitor ainda ficaria em dúvida se aquilo realmente
tenha sido dito. A citação curta (com menos de três
linhas) ou longa (com mais de três linhas) serve para
isso. É diferente de referenciação, como será
mostrado a seguir.

60
DANIEL NASCIMENTO-E-SILVA

REGRA 7: APRENDA A FAZER E CORRIGIR


REFERENCIAÇÕES

Você já parou para pensar sobre a palavra


referência? Sei, é um termo que vem do verbo referir.
Mas o que quer dizer o verbo referir? O que
queremos dizer quando falamos “Eu me referi ao João,
naquele momento”? Exatamente! Referir significa falar
de algo, de alguém. Quando se diz que o hospital X
é referência em oncologia em Manaus está querendo
dizer que ninguém pode falar de câncer sem dizer o
nome daquele hospital.

É exatamente neste sentido que, atualmente,


se fala de referenciação: citar a fonte. Citar a fonte é

61
REGRAS BÁSICAS PARA REDAÇÃO ACADÊMICA

a mesma coisa, hoje, que fazer referência nas


produções científicas e acadêmicas. Vamos já
mostrar como isso é utilizado na prática e como isso
vai lhe livrar de possíveis e graves problemas futuros,
inclusive criminais.

Ciência se faz com ciência. Isso quer dizer que


os conhecimentos científicos são produzidos a partir
do uso de conhecimentos científicos (e algumas
poucas vezes de outros tipos) existentes. Na prática,
pegamos os conhecimentos existentes e procuramos
uma possível lógica entre eles. Depois a gente testa
essa lógica para ver se ela acontece na prática. Se
acontecer (ou não acontecer), produzimos um relato
para informar a comunidade científica sobre os
resultados da nossa investigação e o que elas
representam para o estoque de conhecimentos
existentes. É o que chamamos de artigo científico.

Mas, veja: utilizamos conhecimentos nossos e


dos outros. Quando utilizamos conhecimentos

62
DANIEL NASCIMENTO-E-SILVA

nossos que já foram publicados, somos obrigados a


citar a fonte, ou seja, autor(es) e ano onde cada
conhecimento utilizado foi publicado. A mesma
regra vale para quando utilizamos conhecimentos de
outros autores. Referenciar é isso: citar as fontes das
ideias que utilizamos no nosso manuscrito. É
diferente de citar. Não confunda os dois
procedimentos, apesar de, em ambos, a fonte ser
obrigatória.

A diferença essencial entre citação e


referenciação está na finalidade do ato. Na citação, a
finalidade é demonstrar que alguém falou algo
daquela forma como foi transcrita; na referenciação,
a finalidade é dar o devido crédito ao autor da ideia
utilizada. Ambas são, portanto, fontes de evidência.
Veja o caso abaixo, extraído do estudo de Davis e
Bendickson (2020).
Helfat et al. (2007) observam que as capacidades
dinâmicas (CD) são fenômenos orientados a
processos que consistem em processos

63
REGRAS BÁSICAS PARA REDAÇÃO ACADÊMICA

organizacionais e gerenciais. Muita pesquisa foi


realizada sobre os processos dos CDs. Os
estudiosos identificaram três tipos de processos:
detecção, apreensão e reconfiguração (Helfat &
Peteraf, 2003; Kay, 2010; O’Reilly & Tushman,
2008; Teece, 2007). Como alternativa, Zott
(2003) se referiu a conceituações semelhantes de
processos DC, mas as chamou de variação,
seleção e retenção. Os pesquisadores também
postularam que os três processos subjacentes das
DCs são únicos e discretos (Helfat et al., 2007), o
que está alinhado com os aspectos raros e
inimitáveis do VRINS. O trabalho de Teece
(2007) fornece descrições baseadas em
habilidades dos processos organizacionais
subjacentes. Lewin, Massini e Peeters (2011)
também avançam em nossa compreensão de um
tipo de CD – capacidade de absorção, explicando
as meta-rotinas internas e externas da capacidade
de absorção.

Veja o que foi feito aqui. Eu fiz uma


referenciação para o exemplo de Davis e
Bendickson, apontando a obra dele, de 2020. Logo
em seguida, eu colei uma parte da obra para
demonstrar que as referenciações são feitas daquele
jeito que aparecem no trecho copiado.

64
DANIEL NASCIMENTO-E-SILVA

Cada autor (ano) ou (autor, ano) que aparece


ao longo do trecho copiado é uma referenciação.
Toda vez que Davis e Bendickson usam uma ideia
que não é deles, eles apontam a fonte. Veja que
vários autores ofereceram a Davis e Bendickson a
mesma ideia. Tanto é assim que a ideia é apresentada,
como é o caso da identificação de três tipos de
processos feita por Helfat & Peteraf, que foi
publicada em 2003; Kay, no estudo de 2010; O’Reilly
& Tushman, na sua publicação de 2008; e no artigo
de Teece, de 2007. Note a quantidade de ideias de
outros utilizada em um único parágrafo para
demonstrar uma única ideia. E eu copiei apenas
metade do parágrafo!

Por que é obrigatória a referenciação nos


trabalhos acadêmicos, especialmente os de cunho
científico? Simples: porque não referenciar significa
apropriação indébita, que é a mesma coisa que roubo
e que a comunidade científica chama de plágio. Isso

65
REGRAS BÁSICAS PARA REDAÇÃO ACADÊMICA

tem, portanto, implicações éticas, que é


desonestidade com os colegas cientistas, e criminais,
que fere as leis de proteção aos direitos autorais. Por
isso, muito cuidado ao utilizar frases que você
considera bonitinhas no seu texto seu citar as fontes,
sem referenciá-las.

66
DANIEL NASCIMENTO-E-SILVA

REGRA 8: APRENDA A FAZER E CORRIGIR


AS REFERÊNCIAS

Referenciar é cita a fonte. Fazer as referências


é fazer as referenciações bibliográficas seguindo
determinados padrões. Se seu manuscrito for
publicado no Brasil ou for exigido por uma
instituição brasileira, siga as regras da Associação
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Se for
publicado no exterior, veja quais regras precisam ser
obedecidas. Só para curiosidade, existem as regras da
American Psychological Association (APA), da
Modern Language Association (MLA) e de várias
outras entidades internacionais.

67
REGRAS BÁSICAS PARA REDAÇÃO ACADÊMICA

Se seu estudo for científico, se utilizar o


método científico, suas fontes serão
obrigatoriamente científicas. Isso significa que você
utilizará predominantemente (mas não
exclusivamente) artigos científicos publicados em
revistas científicas, artigos científicos publicados em
anais de eventos científicos, dissertações de
mestrado e teses de doutorado. Podem ser utilizados
artigos de revisão, desde que publicados em revistas
ou anais de eventos científicos, o que significa que
foram aprovados na avaliação por pares.

Livros podem ser usados, mas com muita


moderação. Livros têm finalidades pedagógicas;
produções científicas têm finalidades
comunicacionais, informacionais. O que os livros
contêm geralmente é sintetizado, simplificado,
deformado, portanto, para que permita
compreensão, dada a complexidade das explicações

68
DANIEL NASCIMENTO-E-SILVA

científicas. Por isso, afora os livros de referência, é


recomendável que os demais sejam deixados de lado.

Dessa forma, aprenda a fazer as referências


bibliográficas dos livros, artigos científicos, artigos
em anais de eventos e dissertações e teses. Se você
aprender a fazer esses quatro tipos, provavelmente
não terá nenhuma dificuldade em colocar todas as
informações exigidas para cada obra citada.

A título de exemplo, os livros são


referenciados assim, pela ABNT: NASCIMENTO-
E-SILVA, Daniel. Manual de redação para
trabalhos acadêmicos: position paper, ensaios
teóricos, artigos científicos e questões discursivas.
São Paulo: Atlas, 2012, 132 p. Veja a sequência de
informações que devem ser colocadas na referência
de livros: autor, título (com palavras em destaque) e
subtítulo, número da edição (não colocar nada
quando for a primeira), local de publicação, nome da
editora, ano e número de páginas.

69
REGRAS BÁSICAS PARA REDAÇÃO ACADÊMICA

Você precisa aprender também as variações.


Há livros com vários autores, sem subtítulo, sem
editora, sem local de publicação, dentre inúmeras
outras. As variações também acontecem nos artigos,
dissertações e teses. A prática da redação vai lhe fazer
“decorar” cada parte das referências bibliográficas
que você será capaz de perceber a falta de uma
vírgula ou qualquer outro elemento obrigatório de
imediato.

70
DANIEL NASCIMENTO-E-SILVA

REGRA 9: AJUSTE O TAMANHO DO SEU


TEXTO

Os trabalhos acadêmicos têm tipos e tamanos.


Alguns tipos são Trabalho de Conclusão de Curso
(TCC) de graduação e especialização, Dissertação de
Mestrado e Tese de Doutorado. Cada um desses
tipos de trabalhos tem um tamanho máximo e
mínimo. Ainda que não esteja escrito em nenhum
documento institucional, a prática dos grupos de
professores, grupos de pesquisa e cursos de
graduação e pós-graduação tem em mente um
número razoável que é costumeiramente praticado.
Procure saber os tamanhos máximo e mínimo de

71
REGRAS BÁSICAS PARA REDAÇÃO ACADÊMICA

todos os tipos de trabalho e se policie para não os


ultrapassar, pecando pelo excesso, e não deixar de
72lcança-los, pecando pela falta.

Vamos nos ater agora aos manuscritos para


publicação. Veremos quatro tipos de textos que as
revistas científicas publicam: artigos científicos ou
simplesmente paper, artigos de revisão (ensaios
teóricos), estudos de casos e resenhas. Vejamos o
que é cada um desses textos e o tamanho
recomendável para cada um deles.

A ABNT não determina o número mínimo e


máximo para nenhum tipo de produção científica na
NBR 6012, de 2018, que trata especificamente de
artigos científicos impressos. Os periódicos e
eventos científicos brasileiros costumam definir o
tamanho dos textos em quantidade de páginas,
enquanto os estrangeiros o fazem a partir da
quantidade de palavras. Como o número de palavras
representa com mais fidelidade os tamanhos efetivos

72
DANIEL NASCIMENTO-E-SILVA

de textos, é esse padrão que vamos utilizar aqui como


recomendação. Recomendação significa que segue
quem quiser, certo?

Um artigo científico deve ter, então, entre


6.000 e 8.000 palavras. Esse quantitativo deve estar
distribuído entre título e subtítulo, resumo,
introdução, marco teórico, metodologia,
resultado/discussão, conclusão e referências. Vale
lembrar que algumas revistas usam um esquema de
conversão de diagramas, tabelas, quadros e outras
figuras em quantidade de palavras. É bom atentar
para isso.

Vejam as descobertas de um estudo feito


justamente sobre o tamanho dos artigos científicos
publicados em duas importantes revistas médicas
internacionais (ARAÚJO, 2014). Introdução: 1
página, com o máximo de 400 palavras e mínimo de
350, entre 1 e 4 parágrafos e continha em média de 5
a 10 referências. Metodologia: 2 a 3 páginas, máximo

73
REGRAS BÁSICAS PARA REDAÇÃO ACADÊMICA

de 750 palavras em 6 a 9 parágrafos, com 5 a 15


referências. Resultados: 3 a 4 páginas, máximo de
1.000 palavras em 4 a 9 parágrafos, geralmente sem
referências. Discussão: 3 a 4 páginas, entre 1.500 a
2.000 palavras em mais de 10 parágrafos, com 10 a
20 referências em média. Em número de páginas, o
mínimo seria 9 e o máximo, 12.

O que a prática tem mostrado é que as revistas


variam de um limite mínimo de 3.000 a 10.000, como
mostra o estudo de Björk, Roos e Lauri (2009). Por
essa razão, deve-se consultar a página de cada revista
para saber o tamanho máximo e mínimo aceito, tanto
em número de páginas quanto em quantidade de
palavras.

Como as revistas brasileiras seguem os


tamanhos internacionais (pelo menos não estão
muito distantes delas), é razoável que seu texto tenha
o alvo de 6.000 palavras. Pode ser um pouco mais ou
um pouco menos, algo em torno desse quantitativo,

74
DANIEL NASCIMENTO-E-SILVA

para o tamanhos dos artigos científicos. É


importante saber, também, que os artigos científicos
têm introdução, materiais e métodos, resultados,
discussão dos resultados e conclusão. Eles têm como
finalidade apresentar descobertas teórico-empíricas
para a comunidade científica. E, por essa razão, são
também chamados de textos e artigos teórico-
empíricos, ou simplesmente paper, assim mesmo, em
inglês.

A maior parte das revistas aceitam os artigos


de revisão, também chamados de ensaios teóricos,
com o tamanho dos artigos científicos, os papers.
Outras não, e os limitam a, no máximo, 4.000
palavras. Artigos de revisão são aqueles que não
aplicam o método científico para gerar seus
resultados. Geralmente são textos discursivos, que
debatem algum aspecto teórico ou metodológico
importante para determinada área.

75
REGRAS BÁSICAS PARA REDAÇÃO ACADÊMICA

Como apresentam aspectos de limites de


conhecimentos, os ensaios teóricos apresentam
arquiteturas ou marcos teóricos (que são duas coisas
diferentes, assim como fundamentação teórica)
passíveis de serem testados empiricamente. É um
ensaio de teoria, como chamamento para outros
pesquisadores testarem sua validade, procurando-se
evidências empíricas que as sustentem. Quase
sempre são escritos por cientistas de primeira
grandeza, aqueles que têm décadas de produção
científica e contribuíram bastante tanto para a ciência
quanto para a sua área de pesquisa. Daí vem a
recomendação de iniciantes não se aventurarem por
esse caminho: comecem com as produções
científicas menos ousadas para dominar o método e
o estoque de conhecimento de sua área.

Os estudos de casos são textos que


demonstram a aplicação de determinado
procedimento ou arranjo teórico. São textos de

76
DANIEL NASCIMENTO-E-SILVA

natureza técnica, entendido o termo técnica como


uma maneira através da qual um resultado é
produzido. Esses documentos relatam, portanto,
como algo foi feito, apontando-se aspectos
específicos, como contexto, variáveis trabalhadas,
procedimentos executados, pessoal envolvido,
dificuldades encontradas, dentre inúmeras outras
eventualidades que caracterizam as situações reais de
aplicação de métodos e conhecimentos. Essas
produções são fundamentais para transformar
conhecimentos em técnicas e tecnologias.
Recomenda-se que seu tamanho não exceda as 4.000
palavras, nem seja inferior a 3.000.

As resenhas são documentos que analisam


livros ou artigos. A finalidade dessas análises é
destacar as contribuições contidas nessas obras para
determinada área do conhecimento, além de apontar
seus possíveis pontos fracos. Para isso, comparar a
obra com outras obras sobre o mesmo assunto ou

77
REGRAS BÁSICAS PARA REDAÇÃO ACADÊMICA

temática ou faz a comparação com as obras do


mesmo autor, procurando-se apontar avanços e
diferenciações. Recomenda-se que não tenham
menos que 1.000 e nem mais de 2.000 palavras.

Mais uma vez: procurem as informações nas


revistas e anais de eventos para onde queiram
submeter seus manuscritos para publicação. Quase
todas elas têm uma ou mais “Orientações para
autores”. Além do tamanho de cada tipo de texto,
são dadas informações sobre aspectos tipológicos,
como a fonte a ser utilizada, tamanho, capitulares,
margens, papel etc. Quase todas elas explicitamente
informam que o manuscrito só será avaliado se
seguirem todas essas exigências. Se não seguirem, o
próprio sistema já reprova a submissão.

78
DANIEL NASCIMENTO-E-SILVA

REGRA 10: USE FIGURAS, TABELAS,


QUADROS E DIAGRAMAS COM
MODERAÇÃO

Talvez a grande regra da redação acadêmica


seja: só escreva e coloque no seu texto o que for
absolutamente imprescindível. Isso vale tanto para
uma vírgula quanto para as figuras, tabelas, quadros
e qualquer tipo de diagrama. Talvez você se
surpreenda ao saber que figuras, tabelas, quadros e
diagramas são fontes de evidência. Se você não sabe
o que é isso, vamos esclarecer.

Vimos que há um esquema lógico dentro dos


parágrafos. Primeiro se afirmar e depois se explica a

79
REGRAS BÁSICAS PARA REDAÇÃO ACADÊMICA

afirmativa – ou se apresenta um ou alguns exemplos,


para que fique clara a afirmativa. Esse mesmo
esquema aparece dentro de uma seção: coloca-se o
problema e depois, ao longo de alguns parágrafos,
demonstra-se a solução. É aí que entram as figuras,
tabelas, quadros e diagramas – assim como as
referenciações e citações.

Esse material não verbal (figuras, tabelas,


quadros e diagramas) são representações da
realidade. Uma tabela, por exemplo, são
quantificações de alguma coisa que aconteceu de
fato. Um quadro contém sempre esquematizações
sintetizadores da realidade. Usamos este tipo de
material porque ficaria muito longo, cansativo e
chato descrever com palavras o que os olhos podem
captar e compreender com mais rapidez e precisão.
E só se tem o trabalho gigantesco de prepará-los
(porque demoram mais para fazer do que
simplesmente escrever) porque elas são muito mais

80
DANIEL NASCIMENTO-E-SILVA

eficientes e eficazes no esforço de comunicar do que


o discurso. Usamos essas representações da realidade
para sobrar espaço para explicar o que elas querem
dizer. Daí vem a regra para os seus usos.

A regra é simples: só use o que for


absolutamente necessário. Tome o caso das
fotografias. Elas não devem e nem podem ser
colocadas nos trabalhos só para embelezá-los ou
ilustrá-los. Elas só podem ser colocadas ali se forem
absolutamente necessárias. E isso significa que, sem
elas, a mensagem que se quer passar vai ficar
distorcida, incompreendida. Daí vem a compreensão
do uso desses recursos.

Não basta colocar o gráfico, quadro, figura,


diagrama, foto etc. e pronto. Como fonte de
evidências, têm que seguir a regra básica da ciência:
o que eles apresentam, o que eles querem dizer e
como se relacionam com o marco teórico de
referência. Por isso, cada material desse precisa ser

81
REGRAS BÁSICAS PARA REDAÇÃO ACADÊMICA

descrito, é preciso dizer o que tem nele, o que eles


mostram; depois, o que eles significam, o que eles
querem dizer, qual é a prova que eles representam,
que parte da realidade eles retratam; e finalmente,
como eles se acoplam ao conjunto teórico que
orienta e conduz a investigação.

Como se pode perceber, quando se colocam


esses recursos é que se escreve mais, diferente do que
muita gente pensa. Na prática, nos parágrafos
anteriores ao diagrama, fotografia, gráficos, tabelas e
quadros já se começa a falar do seu conteúdo e
continua parágrafos depois deles serem
apresentados. Como são fontes de evidência, é sobre
eles que a maior parte do texto vai se concentrar, a
partir do momento em que são apresentados.
Quanto mais recursos visuais desses forem
utilizados, mais texto deverá lhe acompanhar, ainda
que sejam diferentes representações da mesma
realidade. Moderação, portanto, no seu uso.

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DANIEL NASCIMENTO-E-SILVA

REGRA 11: RESUMOS SÃO PERGUNTAS

Quem vê o resumo que se coloca antes da


introdução dos textos acadêmicos talvez não saiba
que ali há, pelo menos, cinco perguntas. Essas
perguntas sintetizam todo o manuscrito na sequência
exata de uma comunicação completa. A estrutura do
resumo é muito parecida com as fofocas (na verdade,
as comunicações científicas são as fofocas dos
cientistas). Vejamos a estrutura dessa fofoca
diferente que os cientistas publicam.

A primeira pergunta é: o que estava


acontecendo para que o estudo fosse realizado? Esta

83
REGRAS BÁSICAS PARA REDAÇÃO ACADÊMICA

primeira questão exige que a gente descreva o


contexto da pesquisa. O contexto deve ser redigido,
preferencialmente, em um único período.

A segunda pergunta é: qual foi o objetivo do


estudo? O que o estudo pretendeu alcançar? O
objetivo precisa estar conectado com o contexto. Na
verdade, é a consequência natural da
contextualização. É algo do tipo: como estava
acontecendo aquilo, a proposta da pesquisa foi fazer isso.
Obrigatoriamente o objetivo precisa ser escrito em
um período, preferenciamente em uma oração
simples do tipo Sujeito + Verbo + Predicado. E
ponto.

A terceira pergunta é: como foi feito o que foi


feito? A finalidade, aqui, é apontar as principais
etapas que foram seguidas para gerar os resultados,
as descobertas da pesquisa. A terceira parte está
vinculada à segunda porque ela quer saber como o
objetivo foi alcançado. Tente sintetizar as etapas em

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DANIEL NASCIMENTO-E-SILVA

um único período, dividindo as partes com ponto-e-


vírgula.

A quarta pergunta é: quais foram os resultados


alcançados pela pesquisa? Quais foram as suas
descobertas? Aqui é preciso sintetizar cada resultado,
cada descoberta. Veja que é possível até contar
quantas foram as descobertas. Veja que as
descobertas são a consequência da aplicação das
etapas da pergunta anterior. Responda a pergunta em
um único período, separando as descobertas com
vírgulas.

A quinta pergunta é: qual foi a conclusão do


estudo? É isso mesmo. Todo estudo científico tem
que ter uma conclusão, se não não alcançou o
objetivo. Quase sempre a conclusão é a conjunção
das descobertas parciais listadas na questão anterior.
As pequenas descobertas geram a grande descoberta,
a conclusão. Redija a resposta em um único período,

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REGRAS BÁSICAS PARA REDAÇÃO ACADÊMICA

preferencialmente simples, com Sujeito + Verbo +


Predicado.

E uma sexta pergunta que muitos cientistas


adicionam às cinco mais comuns é: qual foi a
contribuição do estudo para a sua área de
conhecimento ou de estudo? Essa resposta permite
que se aponte com precisão o avanço que o estudo
proporcionou ou a lacuna que ele preencheu no
estoque de conhecimentos disponível. Redija essa
resposta em um único período, separando as
contribuições do estudo por vírgulas ou ponto-e-
vírgulas.

Depois que as respostas foram redigidas,


uma-as em um único parágrafo. Esse parágrafo terá
seis períodos, se você responder a última pergunta,
ou cinco, se você contemplar apenas as questões
tradicionais. Finalmente, atente para a quantidade de
palavras: elas devem ficar entre 150 e 200, para seguir
os padrões das revistas científicas.

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DANIEL NASCIMENTO-E-SILVA

REGRA 12: PALAVRAS-CHAVES SÃO


RECORRÊNCIAS

Logo abaixo dos resumos aparecem as


chamadas palavras-chaves. Duas coisas precisam ser
faladas sobre elas. A primeira é o que elas
representam; a segunda é como as escolhemos. Essas
regras simples sugeridas vão facilitar tanto que
outros cientistas encontrem seu texto quanto
proporcionar precisão a essas buscas.

Como você tem acuidade, já percebeu para


que as palavras-chave servem. Justamente. É para
que outras pessoas possam achar o seu texto. Muitos
métodos bibliométricos de pesquisas têm nas

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REGRAS BÁSICAS PARA REDAÇÃO ACADÊMICA

palavras-chaves um dos alvos das buscas. Se você


colocar as palavras-chaves corretamente,
provavelmente seu texto será encontrado e será
devidamente utilizado pelos cientistas.

As palavras-chave são aquelas que mais se


repetem no seu manuscrito. Isso significa que essas
palavras aparecem mais vezes, foram escritas em
maior quantidade. É claro que não entram nessa
contabilidade os artigos definidos e indefinidos
(procure evitar ao máximo o uso de indefinidos
como um, uma, algum etc.), verbos, conjunções e
assim por diante. Só entram na contabilidade
conceitos, constructos e variáveis. Expliquemos.

Um conceito é uma palavra que a comunidade


científica da área tem certo consenso sobre o seu
significado, sua definição conceitual. Por exemplo,
quando se fala “Mulher” é provável que a
comunidade imediatamente relacione essa palavra a

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DANIEL NASCIMENTO-E-SILVA

“ser humano do sexo feminino”. Quando isso acontece,


Mulher é um conceito.

Acontece que, na ciência, os cientistas


inventam palavras e grupos de palavras para
significar as coisas da realidade. Por exemplo,
“Desenvolvimento Econômico” não existe. Esse
termo foi inventado para significar uma série de
coisas, dependendo das circunstâncias e situações da
realidade. Então, todas as vezes que os cientistas
mencionam essa palavra dupla eles são obrigados a
dizer qual é o significado que eles estão dando para
ela. Então eles constroem um significado temporário
para aquela palavra. Isso é um constructo.

As variáveis são os nomes que damos para as


coisas de que analisamos nos nossos estudos, cujos
comportamentos relatamos. Na verdade, as variáveis
são o centro das pesquisas científicas (e, portanto,
dos trabalhos acadêmicos) e sobre o comportamento
delas é que construímos os conhecimentos. É com

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REGRAS BÁSICAS PARA REDAÇÃO ACADÊMICA

elas que construímos os constructos e explicamos


como os conceitos funcionaram.

Dessa forma, as palavras-chave são aqueles


conceitos, constructos e variáveis que mais se
repetem, mas são faladas no estudo. É a isso que
chamamos recorrência: a todo momento ela está
aparecendo no texto. Quanto maior a recorrência,
maior a importância dela para o texto, mais chave ela
será para a compreensão do estudo e suas
descobertas. Simples assim.

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DANIEL NASCIMENTO-E-SILVA

TERCEIRA PARTE: REGRAS DE


MARGENS E TIPOS

As regras de margens e fontes aqui


recomendadas têm a finalidade de conferir uma certa
estética aos textos, assim como indicar maior
precisão na quantidade de páginas do manuscrito. A
estética causa impactos positivos na mente de quem
avalia ou simplesmente lê o texto. A quantidade de
páginas (e o número de palavras) é um requisito que
os periódicos científicos cobram para o início da
submissão para publicação.

91
REGRAS BÁSICAS PARA REDAÇÃO ACADÊMICA

Essas regras, portanto, também não alteram o


conteúdo dos textos. Embora haja regras explícitas
das comunidades científicas sobre o que cada parte
do texto deve conter, e também como devam ser
expressas, é responsabilidade do autor, seus
parceiros e orientadores 92plica92-las e 92plica-las.
Além disso, há também as exigências institucionais,
que são variadas e que precisam ser obedecidas.

Embora as regras desta parte sejam muito


comuns em livros e manuais, são costumeiramente
transgredidas. Essas recomendações têm mais a
finalidade de reforçar o que é solicitado, além de
confirmar que essas solicitações têm sentido. Mais
uma vez: estética e contemplação do número de
páginas são os fundamentos dessas regras.

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DANIEL NASCIMENTO-E-SILVA

REGRA 1: AJUSTE AS MARGENS

Antes de começar a redigir o seu texto,


formate a página do seu processador de texto. Se
possível, coloque essas margens como modelo
padrão. Acima e à esquerda, coloque 3 centímetros;
à direita e abaixo, 2 centímetros. Use essa
padronização para redigir todo o seu original.
Depois, se for o caso, coloque no formato de sua
instituição ou do periódico ao qual seu texto será
submetido, se exigir formato diferente.

Perceba que há uma relação entre os


tamanhos das margens. Acima e à direita têm

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REGRAS BÁSICAS PARA REDAÇÃO ACADÊMICA

formato 3:2, da mesma forma que abaixo e à


esquerda. O resultado final terá, visualmente,
margens menores do lado direito e embaixo, nos
rodapés, e maiores em cima e do lado esquerdo.

Parece que a tradição mental foi a responsável


pela manutenção desse formato. Do lado esquerdo é
que eram feitas as encadernações dos periódicos
antigos, como os jornais, em formato de brochura.
Ainda hoje é desse lado que os livros são costurados
e colados. Quando impressos, ambas as margens,
esquerda e direita, tendem a apresentar simetria.

A margem de cima parece ter tradição mental


de outra natureza. Parecem ser devido ao fato de que
é ali, ainda hoje, que se colocam os títulos das obras
e os nomes dos autores ou organizadores. Por essa
razão, teriam que ser maiores, de maneira que títulos
e autorias/organizações não ficassem muito colado
nos textos e comprometesse a estética das
publicações.

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DANIEL NASCIMENTO-E-SILVA

No caso da margem inferior, é lá onde se


colocam os números das páginas, na maioria das
vezes. É claro que há numeração na parte superior,
mas não é tão comum quanto na parte de baixo.
Além disso, nos formatos principais, o espaço da
numeração não pode comprometer esteticamente as
notas de rodapés, que eram muito comuns na
antiguidade, e que hoje estão caindo no desuso.

Finalmente, com relação à margem esquerda,


2 centímetros parece ser o tamanho médio razoável
para que o leitor possa manusear as páginas. Se fosse
um pouco menor, com o manuseio, qualquer
sujidade nos dedos contribuiria para borrar as
palavras e figuras impressas; se fosse um pouco
maior, a obra aumentaria em muito o número de
páginas. Evidentemente que isso não impede, tanto
para auferir resultados estéticos quanto para a forma
mais adequada do conteúdo, que esses formatos
padrões sejam alterados.

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REGRAS BÁSICAS PARA REDAÇÃO ACADÊMICA

Há revistas que utilizam templates, formatos


padrões, diferentes. Há os formatos 2:2;2:2, por
exemplo, com o mesmo espaçamento para as quatro
margens, assim como o formato 4:1;1:2, com 4
centímetros em cima, 1 centímentro à esquerda e à
direita e 2 centímetros embaixo. No entanto, a
recomendação é: faça o formato padrão no seu
original e depois altere para o formato exigido.

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DANIEL NASCIMENTO-E-SILVA

REGRA 2: TAMANHO DO PAPEL

Certa vez, um doutorando cometera suicídio


porque a banca reprovou seu manuscrito. Como
tinha dificuldade de escrever, conseguira apenas
redigir a quantidade mínima de páginas que uma tese
tradicionalmente continha naquele programa de pós-
graduação. O motivo da reprovação foi que, ao invés
de redigir em papel A4, usou o A5.

O papel A4 tem margens de 21 centímetros


de largura por 29,7 centímetros de altura. O papel A5
tem 21 centímetros de altura e 14,8 centímetros de
largura. A quantidade de textos que cada um

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REGRAS BÁSICAS PARA REDAÇÃO ACADÊMICA

comporta, portanto, é bastante diferente. Como os


textos acadêmicos de final de curso, como é o caso
das teses, são muito longos, no final a diferença é
muito grande.

A experiência tem mostrado que esses


equívocos são devidos à falta de preocupação com o
tamanho das composições por parte dos autores. Por
essa razão muitos periódicos têm criado seus
templates, forçando os autores a utilizarem-nos como
requisito para as submissões. Algumas instituições,
também, têm seguido o mesmo caminho.

De qualquer forma, tenha ou não sua


instituição ou a revista para onde você queira
submeter sua comunicação um arquivo-padrão, vale
sempre à pena se certificar se seu processador de
texto está programado para o formato A4 ou não. Se
não estiver, ajuste-o.

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DANIEL NASCIMENTO-E-SILVA

REGRA 3: USE FONTE TAMANHO 12

O tamanho 12 é o padrão dos textos


acadêmicos. Novamente, esse tamanho permite que
se saiba mais ou menos o tamanho do texto quando
for publicado, no caso de manuscritos para livros ou
revistas científicas. Além disso, facilita em muito o
trabalho dos olhos durante o processo de leitura.

Letras muito pequenas tendem a causar fadiga


ocular e, por extensão, mental. O motivo? Forçam
demais os olhos. Letras muito grandes tendem a
desfocar, literalmente, a cabeça do leitor. É preciso
afastar os olhos (e, portanto, a cabeça) do texto para

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REGRAS BÁSICAS PARA REDAÇÃO ACADÊMICA

que se possa vê-los com adequação. Letras no


tamanho 12 passaram a ser o padrão porque não são
pequenas o suficiente para não serem lidas e nem
grandes o bastante para causar desconforto pelo
afastamento dos olhos.

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DANIEL NASCIMENTO-E-SILVA

REGRA 4: USE FONTE SERIFADA

As serifas são pequenos traços ou barras que


podem ser percebidas em alguns tipos de letras. Veja
a diferença entre a fonte que está sendo utilizada
neste livro, a Garamond, com esta outra, a Arial.
Note que a Arial tem todas as suas letras retas. Veja
essas AAAAAA. Agora veja os AAAAAA da
Garamond. Note umas barrinhas no pé das letras A
em Garamond. Essas barrinhas são as serifas.

A Book Antigua e a Times New Roman são


fontes serifadas. Veja com elas têm também os
pezinhos nas letras e um formato de bolinha na parte

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REGRAS BÁSICAS PARA REDAÇÃO ACADÊMICA

de cima e um afinamento na parte de baixo do a


minúsculos. São as serifas. Por isso as fontes que têm
essas barras e traços são chamadas serifadas.

Parece que a tradição tornou mais cômodo


aos nossos olhos ler com fontes serifadas. As fontes
não serifadas são mais recentes, mais modernas.
Textos em Arial são desconfortáveis para ler,
principalmente quando são longos e mais ainda, se o
tamanho da fonte for pequena ou muito grande,
como são os casos dos textos acadêmicos.

A fonte Times New Roman tem sido adotado


como uma espécie de padrão informal pelas
comunidades científicas. Além delas, muitas
instituições têm elaborado seus templates e manuais
recomendando esse tipo de fonte. Embora algumas
revistas não usem Times New Roman, geralmente a
a fonte que usarem é serifada. E praticamente não há
diferença no tamanho final do texto escrito com ela
ou com qualquer outra.

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DANIEL NASCIMENTO-E-SILVA

Muitos livros são editados com fontes


modernas, não serifadas, especialmente para poesias.
Isso tem sido muito comum, ainda que haja a
predominância das fontes serifadas nesse tipo de
publicação. Revistas de informações, as chamadas
revistas populares, também são editadas com o uso
de fontes não serifadas. De fato, textos curtos, com
pouquíssimos parágrafos, parecem não ser
desconfortáveis, especialmente quando alternados
com figuras e diagramações. Mas esses não são os
casos dos textos acadêmicos. Portanto, para não
haver possibilidade de erros que lhe complique a
vida, use fonte serifada.

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REGRAS BÁSICAS PARA REDAÇÃO ACADÊMICA

CONCLUSÃO

Este manual apresentou três conjuntos de


regras para as redações de trabalhos acadêmicos. As
regras de paragrafação têm como finalidade
apresentar o texto em sua forma original, como
matéria-prima que, depois, será formatada no padrão
institucional ou de publicação. As regras de
composição visam a evitar que recursos estilísticos a
mais ou a menos venha a comprometer o conteúdo
do texto. As regras de marginalização pretendem dar
conta tanto do embelezamento do texto quando do
conforto eu lê-lo.

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DANIEL NASCIMENTO-E-SILVA

Essas regras são apenas recomendações. Não


são obrigações. São, talvez, a primeira vez que
aparecem em formato de texto, uma vez que fazem
parte da prática cotidiana das produções científicas.
Portanto, são regras não escritas que as diferentes
comunidades científicas obedecem, umas mais,
outras menos, quase que de forma tradicional.

Essas regras, contudo, aparecem com maior


ou menor peso, durante o processo de avaliação de
originais para publicação, avaliação de aprendizagem
de disciplinas ou para apresentação como trabalho
de conclusão de curso. Como não são regras escritas,
mas de tradição, muitas vezes as pessoas não sabem
por que seus textos foram reprovados ou por que
suas notas foram rebaixadas.

O processo avaliativo, ainda que seja subjetivo


ou fortemente objetivado, é contaminado por essas
regras que compõem a mente dos cientistas. Ainda
que o autor não as siga ou não goste delas, poderá

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REGRAS BÁSICAS PARA REDAÇÃO ACADÊMICA

sofrer as consequências do seu desconhecimento.


Ou se tornar vítima de seu desobedecimento.

106
DANIEL NASCIMENTO-E-SILVA

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REGRAS BÁSICAS PARA REDAÇÃO ACADÊMICA

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