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PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS


PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS

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PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS
Núcleo de Educação a Distância

PRESIDENTE: Valdir Valério, Diretor Executivo: Dr. Willian Ferreira.

O Grupo Educacional Prominas é uma referência no cenário educacional e com ações voltadas para
a formação de profissionais capazes de se destacar no mercado de trabalho.
O Grupo Prominas investe em tecnologia, inovação e conhecimento. Tudo isso é responsável por
fomentar a expansão e consolidar a responsabilidade de promover a aprendizagem.

GRUPO PROMINAS DE EDUCAÇÃO.


Diagramação: Ayrton Nícolas Bardales Neves

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Prezado(a) Pós-Graduando(a),

Seja muito bem-vindo(a) ao nosso Grupo Educacional!


Inicialmente, gostaríamos de agradecê-lo(a) pela confiança
em nós depositada. Temos a convicção absoluta que você não irá se
decepcionar pela sua escolha, pois nos comprometemos a superar as
suas expectativas.
A educação deve ser sempre o pilar para consolidação de uma
nação soberana, democrática, crítica, reflexiva, acolhedora e integra-
dora. Além disso, a educação é a maneira mais nobre de promover a
ascensão social e econômica da população de um país.
Durante o seu curso de graduação você teve a oportunida-
de de conhecer e estudar uma grande diversidade de conteúdos.
Foi um momento de consolidação e amadurecimento de suas escolhas
pessoais e profissionais.
Agora, na Pós-Graduação, as expectativas e objetivos são
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outros. É o momento de você complementar a sua formação acadêmi-


ca, se atualizar, incorporar novas competências e técnicas, desenvolver
um novo perfil profissional, objetivando o aprimoramento para sua atua-
ção no concorrido mercado do trabalho. E, certamente, será um passo
importante para quem deseja ingressar como docente no ensino supe-
rior e se qualificar ainda mais para o magistério nos demais níveis de
ensino.
E o propósito do nosso Grupo Educacional é ajudá-lo(a)
nessa jornada! Conte conosco, pois nós acreditamos em seu potencial.
Vamos juntos nessa maravilhosa viagem que é a construção de novos
conhecimentos.

Um abraço,

Grupo Prominas - Educação e Tecnologia

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Olá, acadêmico(a) do ensino a distância do Grupo Prominas!..

É um prazer tê-lo em nossa instituição! Saiba que sua escolha


é sinal de prestígio e consideração. Quero lhe parabenizar pela dispo-
sição ao aprendizado e autodesenvolvimento. No ensino a distância é
você quem administra o tempo de estudo. Por isso, ele exige perseve-
rança, disciplina e organização.
Este material, bem como as outras ferramentas do curso (como
as aulas em vídeo, atividades, fóruns, etc.), foi projetado visando a sua
preparação nessa jornada rumo ao sucesso profissional. Todo conteúdo
foi elaborado para auxiliá-lo nessa tarefa, proporcionado um estudo de
qualidade e com foco nas exigências do mercado de trabalho.

Estude bastante e um grande abraço!

Professora: Ingrid Van Der Linden


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O texto abaixo das tags são informações de apoio para você ao
longo dos seus estudos. Cada conteúdo é preprarado focando em téc-
nicas de aprendizagem que contribuem no seu processo de busca pela
conhecimento.
Cada uma dessas tags, é focada especificadamente em partes
importantes dos materiais aqui apresentados. Lembre-se que, cada in-
formação obtida atráves do seu curso, será o ponto de partida rumo ao
seu sucesso profisisional.

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Esta unidade analisará em âmbito processual penal, as prisões
cautelares e as medidas cautelares diversas da prisão as nulidades, os
recursos e também a execução penal. Especificamente, foram enfoca-
das: a) as espécies de prisão cautelar e as demais medidas cautelares;
b) a diferenciação entre nulidade relativa e absoluta; c) as espécies de
recursos criminais; e d) os institutos da execução penal. Trata-se de
uma pesquisa desenvolvida para detalhar cada um dos capítulos abor-
dados pelo Código de Processo Penal trazendo seus desdobramentos
doutrinários e jurisprudenciais. Justifica-se pela importância dos temas
abordados para a formação do operador do direito ao qual se direciona
essa especialização.
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Prisões e Medidas Cautelares Diversas da Prisão. Nulidades.


Recursos. Execução Penal.

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Apresentação do Módulo _______________________________________ 11

CAPÍTULO 01
DA PRISÃO E DAS MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS DA PRISÃO

Disposições Gerais _____________________________________________ 12


Prisão em Flagrante ___________________________________________ 15
Prisão Preventiva ______________________________________________ 26
Prisão Domiciliar _______________________________________________ 30
Prisão Temporária _____________________________________________ 31
Liberdade Provisória ___________________________________________ 35
Medidas Cautelares Diversas da Prisão _________________________ 41
Recapitulando _________________________________________________ 44

CAPÍTULO 02
DAS NULIDADES

Conceito _______________________________________________________ 50
Princípios _____________________________________________________ 52

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Espécies de Irregularidades ____________________________________ 55
Nulidade Absoluta X Nulidade Relativa _________________________ 56

Nulidades Cominadas no Código de Processo Penal ____________ 58


Momento Limite de Alegação das Nulidades ___________________ 66
Recapitulando _________________________________________________ 68

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CAPÍTULO 03
DOS RECURSOS EM GERAL

Teoria Geral dos Recursos ______________________________________ 73


Pressupostos __________________________________________________ 74
Prazos _________________________________________________________ 76
Efeitos _________________________________________________________ 76
Juízo de Admissibilidade _______________________________________ 78

Recursos em Espécie __________________________________________ 79

Referências ____________________________________________________ 88

CAPÍTULO 03
EXECUÇÃO PENAL

Noções Gerais _________________________________________________ 92


Classificação __________________________________________________ 96
Assistência ao Preso e Ao Egresso _______________________________ 98
Do Trabalho ___________________________________________________ 101
Dos deveres, Dos Direitos e Da Disciplina _______________________ 106
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Dos Órgãos da Execução Penal _________________________________ 115

Dos Estabelecimentos Penais __________________________________ 120


Da Execução das Penas em Espécie ____________________________ 122

Recapitulando _________________________________________________ 127

Fechando Unidade ____________________________________________ 132


Referências ____________________________________________________ 136

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A importância de um Curso de Pós-Graduação em Direito Pe-
nal e Processual Penal fundamenta-se na necessidade de reciclar e
aperfeiçoar o profi ssional atuante e o estudioso da área criminal, a par-
tir da atualização e enriquecimento dos conhecimentos constantes de
sua evolução acadêmica. Nesse sentido, busca-se propiciar uma visão
abrangente aos profi ssionais destes ramos do Direito, fundamental-
mente, das modifi cações objetivas e processuais advindas da ordem
constitucional de 1988 e as transformações infraconstitucionais. Este
módulo tem como propósito apresentar uma visão objetiva, sistemática
e aprofundada sobre as principais questões do Direito Processual Pe-
nal, sempre com base nos conceitos dos institutos jurídicos, nas con-
trovérsias doutrinárias, jurisprudências e evolução legislativa. O objeti-
vo é que, além de conhecimento técnico, o aluno consiga desenvolver
um raciocínio crítico acerca dos temas tratados nesse módulo. O Brasil
ocupa hoje o terceiro lugar no ranking dos países com maior população
carcerária, fi cando para trás apenas da China e dos Estados Unidos.
Possui cerca de 622 mil presos, enquanto só teria 371 mil vagas. E a
cada mês o país recebe 3 mil novos presos1. Sentenciados que são
mortos por seus próprios companheiros, funcionários e familiares de de-
tentos transformados em reféns, resgates e fugas audaciosas e espe-
taculares praticadas por criminosos. As regras nem sempre são cumpri-
das e a aplicação penal nem sempre é imposta de maneira adequada,
pois, hoje em dia, o preso é esquecido, a corrupção dentro das cadeias
e penitenciárias cresce de maneira assustadora, e ainda para piorar
mais a situação, as facções se estendem dentro e fora dos presídios.

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Infelizmente habitua-se com um processo de caos, onde o que ocorre
é a falência e desestruturação do sistema carcerário. Para que se inicie
o debate, é necessário conhecer as regras e os questionamentos, por
meio do estudo desse módulo.

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DA PRISÃO E DAS MEDIDAS
CAUTELARES DIVERSAS
DA PRISÃO
DISPOSIÇÕES GERAIS
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Assim como o Direito Processual Civil, o Processo Penal tam-


bém reconhece a existência da tutela cautelar, bem como a tutela de
conhecimento e de execução. Dentro Código de Processo Penal há me-
didas cautelares que são pessoais e outras patrimoniais. Nesta unidade
serão analisadas as medidas cautelares pessoais, quais sejam: a prisão
preventiva e as medidas cautelares diversas da prisão.
A partir da Lei n. 12.403/11, a prisão em flagrante (que também
será analisada nessa unidade) passou a ser considerada prisão em fla-
grante, uma prisão precautelar, ou seja, um estágio inicial que poderá
ser convertido em prisão preventiva ou em medida cautelar diversa da
prisão, contudo, no presente estudo, veremos que com o advento da Lei
nº 13.964/2019, a lei denominada de “Pacote Anticrime”, passaremos a
ver a chamada prisão processual de flagrante.
A prisão consiste no cerceamento da liberdade de locomoção
do indivíduo por meio do encarceramento.

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Em matéria penal há duas espécies de prisão, quais sejam, a
prisão pena e a prisão processual. A primeira se efetiva quando do
cumprimento da pena privativa de liberdade aplicada ao réu na senten-
ça condenatória e é tratada na Parte Geral do Código Penal entre os
artigos 32 a 42, bem como pela Lei de Execuções Penais.
Tratada entre os artigos 282 a 318 do Código de Processo Pe-
nal e na Lei n. 7.960/89 (prisão temporária), a prisão processual é, na
realidade, uma medida cautelar dada a necessidade de isolar-se o su-
posto autor do crime durante a persecução penal, conforme situações
previstas em lei.
O Código de Processo Penal de 1941 determinava duas condi-
ções ao indivíduo que estava submetido ao curso de uma investigação
criminal ou durante o processo penal: ou ele estaria sob prisão provisória
ou em liberdade (AVENA, 2018, p. 1033).
Tem-se que a partir Lei n. 12.403/11, o indivíduo poderia estar
em três condições distintas, quais sejam: medidas cautelares diversas da
prisão, em prisão provisória ou aguardando em liberdade o desfecho da
demanda criminal, no entanto, a lei nº 13.964/2019 recentemente trouxe
importantes alterações na legislação penal, que serão amplamente anali-
sadas no decorrer dessa unidade
A referida lei também determinou que a natureza da prisão pro-
cessual é de uma medida cautelar. Portanto, para que haja aplicação da
medida faz-se necessária a existência de dois requisitos: fumus boni iuris
e periculum libertatis.
O fumus comissi delicti (fumus boni iuris) consiste em uma
“probabilidade da ocorrência de delito (e não de um direito), ou, mais es-

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pecificamente, na sistemática do CPP, a prova da existência do crime e
indícios suficientes de autoria” (LOPES JR., 2017, p. 17). Já o periculum
libertatis (periculum in mora), decorre do perigo de fuga ou destruição
de prova, por exemplo, que o imputado pode praticar em função de sua
liberdade.
As medidas cautelares de natureza pessoal possuem seis carac-
terísticas principais: (1) jurisdicionalidade, (2) provisoriedade, (3) revogabi-
lidade, (4) excepcionalidade, (5) substutividade e (6) cumulatividade.
A jurisdicionalidade consiste no fato de que as medidas caute-
lares, em regra, devem ser impostas pelo Poder Judiciário. Excepcional-
mente caberá à autoridade policial conceder fiança nos casos de infração,
cuja pena privativa de liberdade máxima não seja superior a quatro anos,
conforme disposição do art. 322, do CPP.
O caráter provisório da medida cautelar consiste no fato de que
seus efeitos apenas persistirão até que haja o provimento final da deman-
da.
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Cabe ressaltar, que a medida cautelar é excepcional e subsi-
diária, e apenas deverá ser decretada ou mantida caso haja necessida-
de para aplicação da lei penal. Verificando-se a necessidade de tal me-
dida, o operador do direito deve aplicar ao caso aquela mais adequada
(princípio da proporcionalidade em sentido estrito), ou seja, aquela
que impuser menor restrição ao direito fundamental do acusado – art.
282, caput, CPP.

Especificamente em relação à prisão preventiva, o atributo da excepcionali-


dade deve ser visto sob dois ângulos: excepcionalidade geral, significando
que, assim como as demais cautelares, deve ser decretada apenas quando
devidamente amparada pelos requisitos legais, em observância ao princí-
pio constitucional da presunção de inocência, sob pena de antecipar a repri-
menda a ser cumprida quando da condenação; e, ainda, excepcionalidade
restrita, isto é, aquela relacionada a sua supletividade diante das demais
providências cautelares diversas da prisão, em face do que dispõe o art.
282, § 6.º, no sentido de que “a prisão preventiva será determinada (apenas)
quando não for cabível a sua substituição por outra medida cautelar”. (AVE-
NA, 2018, p. 1044)

Logo, caso o motivo pelo qual a medida cautelar tenha sido


necessária esteja superado, implicar-se-á na cessação da imposição da
medida cautelar imposta ao indivíduo.
É importante salientar que com o advento da Lei nº 13.964/2019,
a qual já se encontra em vigor no país desde 23 de janeiro de 2020, o
juiz no prazo máximo de 10 (dez) dias, após o recebimento da denúncia
ou queixa, deverá reexaminar a necessidade das medidas cautelares
em curso, lembrando ainda que a lei supra mencionada, ressalta em
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seu artigo 3º-C, § 2º1, que as decisões proferidas pelo juiz da garantias
não vinculam ao juiz da instrução e julgamento.
Outrossim, antes da entrada em vigor da Lei nº 13.964/2019,
conhecida como Pacote Anticrime, a antiga redação do artigo 282, § 2º,
salientava que as medidas cautelares deveriam ser decretadas pelo juiz,
de ofício ou a requerimento das partes ou, quando no curso da inves-
tigação criminal, por representação da autoridade policial ou mediante
requerimento do Ministério Público, todavia, essa redação foi alterada
recentemente, importando em uma significativa mudança, uma vez que,
com a nova legislação, atualmente as medidas cautelares serão de-
cretadas pelo juiz a requerimento das partes ou, quando no curso da
investigação criminal, por representação da autoridade policial ou me-
diante requerimento do Ministério Público, portanto, o magistrado não
1 § 2º As decisões proferidas pelo juiz das garantias não vinculam o juiz da instrução e
julgamento, que, após o recebimento da denúncia ou queixa, deverá reexaminar a necessidade
das medidas cautelares em curso, no prazo máximo de 10 (dez) dias.

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tem mais o condão de decretar quaisquer medidas cautelares de ofício.
Caso o indiciado ou réu venha a ser condenado, o tempo cum-
prindo em prisão cautelar será descontado de sua pena definitiva. A
esse instituto dá-se o nome de detração.

PRISÃO EM FLAGRANTE
A prisão em flagrante é uma espécie de prisão processual e
está regulamentada entre os artigos 301 a 310 do Código de Processo
Penal.
O flagrante está autorizado pelo art. 5º, inc. XI, da Constituição
Federal:

a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem


consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou
para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial; 

Trata-se de medida restritiva de liberdade de natureza cautelar


e consistente em ato administrativo, haja vista a dispensa de autori-
zação judicial para sua aplicação, que ocorre durante ou logo após a
prática da infração.
Em momento posterior, essa prisão poderá receber análise ju-
dicial de legalidade e adequação que deverá escolher um dos caminhos
previstos no art. 310, do CPP.
O flagrante pode ser dividido em subespécies, quais sejam:
(1) próprio; (2) impróprio; (3) presumido; (4) compulsório ou obrigatório;
(5) facultativo; (6) esperado; (7) preparado ou provocado; (8) prorroga-

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do;(9) forjado e (10) por apresentação.
No flagrante próprio o agente é surpreendido cometendo a
infração penal ou quando acaba de cometê-la. A prisão ocorre, no máxi-
mo, imediatamente após a infração – art. 302, inc. I e II, CPP.
Já no flagrante impróprio, o agente é perseguido logo após
a infração em situação que acredite ser o autor do crime. Entretanto,
nessa hipótese não há limite temporal para que a perseguição seja en-
cerrada – art. 302, inc. III, do CPP.
Tratar-se-á de flagrante presumido ou ficto o momento em
que o agente é preso, logo depois de cometer a infração, com instru-
mentos, armas, objetos ou papéis que se façam presumir que seja ele o
autor daquela infração – art. 302, inc. IV, CPP.
Considera-se sujeito ativo do flagrante aquele que efetua pri-
são, ou seja, pode ser qualquer do povo, integrante ou não da força po-
licial. Mas é preciso ressaltar que este não se confunde com o condutor,
que é aquele que apresenta o preso à autoridade policial, que presidirá
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a lavratura do auto, não sendo, obrigatoriamente, o mesmo que efetuou
a prisão.
Considera-se sujeito ativo compulsório, necessário ou obri-
gatório da prisão em flagrante aquele que tem o dever realizá-la (estrito
cumprimento do dever legal), ou seja, a autoridade policial e seus agen-
tes, sob pena de sanção disciplinar ou até mesmo de responsabilidade
penal. Cabe ressaltar que a obrigação pressupõe a possibilidade de
fazê-la – art. 301, in fine, CPP.
Cuida-se de flagrante facultativo da possibilidade que qual-
quer um do povo possa prender aquele que se encontre em situação
de flagrante delito. Essa é uma situação opcional e que seu descumpri-
mento não impõe qualquer tipo de sanção – art. 301, CPP.
O sujeito passivo é aquele apreendido em situação de fla-
grância e que se encontre em quaisquer das situações narradas pelo
art. 302 do Código de Processo Penal. No entanto, há algumas exce-
ções:
a) O Presidente da República não pode ser preso em flagrante,
somente poderá ser preso com o advento de sentença condenatória
transitada em julgado – art. 86, § 3º, da CF;

b) Os diplomatas estrangeiros podem desfrutar da possibilida-


de de não serem presos em flagrante, a depender dos tratados e con-
venções internacionais. Isso porque o art. 1º, inc. I, do CPP determina
que suas regras são aplicáveis em todo o território nacional, salvo se
houver disposição em sentido contrário em tratados, convenções ou re-
gras de direito internacional ratificados pelo Brasil. Em virtude da Con-
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venção de Viena de 1961 sobre Relações Diplomáticas, ratificada pelo


Decreto n. 56.435/65, tanto os agentes diplomáticos, como os Embai-
xadores, não podem ser objeto de nenhuma forma de prisão (art. 29 da
Convenção). Entretanto, em relação aos cônsules existe a Convenção
de Viena de 1963, ratificada pelo Decreto n. 61.078/67, que, em seu
art. 41, caput, estabelece que os funcionários consulares não poderão
ser detidos ou presos preventivamente, exceto em caso de crime grave
e em decorrência de decisão de autoridade judiciária competente, ou
seja, imunidade dos Cônsules, portanto, é mais restrita do que a dos
demais agentes diplomáticos;
c) Os Deputados Federais e Senadores só podem ser presos
em flagrante por crime inafiançável, devendo os autos serem remeti-
dos à respectiva Casa em 24 horas para a votação da maioria de seus
membros para análise sobre a prisão – art. 53, § 2º, CF. Entendendo a
Casa pela manutenção da prisão, caberá ao STF converter a prisão em
preventiva ou não – art. 53, § 1º, da CF;
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d) Os Deputados Estaduais só podem ser presos em flagrante
por crime inafiançável, devendo os autos serem encaminhados em 24
horas à Assembleia Legislativa, para que se decida sobre a prisão e
sua prerrogativa de foro perante o Tribunal de Justiça de seu respectivo
Estado;
e) Os Magistrados só poderão ser presos em flagrante por
crime inafiançável, devendo a autoridade fazer a imediata comunicação
e apresentação do magistrado ao Presidente do respectivo Tribunal –
art. 33 da LC n. 35/79;

f) Os membros do Ministério Público só poderão ser presos


em flagrante por crime inafiançável, devendo a autoridade fazer em 24
horas a comunicação e apresentação do membro do MP ao respectivo
Procurador-Geral– art. 40, inc. III, da Lei n. 8.625/93;

g) Os advogados somente poderão ser presos em flagrante,


por motivo de exercício da profissão, em caso de crime inafiançável,
sendo necessária a presença de representante da OAB, nas hipóte-
ses de flagrante em razão do exercício profissional, para a lavratura do
auto, sob pena de nulidade. Quando se tratar de crime afiançável no
desempenho da advocacia, é vedada a prisão em flagrante, devendo
a autoridade policial instaurar inquérito mediante portaria. Todavia, se
o crime afiançável não for cometido no desempenho da profissão, será
plenamente possível a prisão em flagrante, aplicando-se as regras co-
muns do Código de Processo Penal – art. 7º, § 3º, do Estatuto da OAB;
h) Conforme determinação do art. 228 da Constituição e art.

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27 do Código penal, os menores de 18 anos são inimputáveis, o que
significa dizer que os menores de 18 anos não estão sujeitos às regras do
CPP, e aqueles que tiverem 12 anos ou mais e menos 18 anos, estarão
sujeitos às regras do Estatuto da Criança e do Adolescente, praticando
ato infracional e não infração penal, podendo sofrer apreensão em
flagrante, e não uma prisão em flagrante. “Nenhum adolescente será
privado de sua liberdade senão em flagrante de ato infracional ou por
ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente”
(art. 106, Lei nº8.069/1990);
i) O motorista que presta pronto e integral socorro à vítima de
acidente de trânsito não será preso em flagrante, nem lhe será exigida
fiança (art. 301, CTB).
A doutrina e a jurisprudência criaram algumas classificações
para diferenciar situações de flagrância e, a partir disto, estabelecer a
sua validade.
Quando alguém é induzido ou instigado a cometer um delito,
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e nessa oportunidade, toma-se providências para que este seja preso,
denomina-se flagrante preparado. Esta é uma hipótese de consuma-
ção impossível e, portanto, é nulo por ser considerado atípico.
Nessa toada, o Supremo Tribunal Federal editou a súmula n.
145: “Não há crime quando a preparação do flagrante pela polícia torna
impossível a sua consumação”, ou seja, trata-se de hipótese de crime
impossível nos termos do art. 17 do Código Penal.
Contudo, o flagrante preparado não se confunde com o fla-
grante esperado, uma vez que neste, a autoridade policial tem conhe-
cimento da prática da infração em determinado local e lá aguarda o mo-
mento da execução para que, nesse momento, possa prender o autor
em flagrante. Nessa hipótese, não há qualquer interferência externa ou
induzimento para prática da infração, tudo transcorrerá em seu fluxo
normal. Diante disto, não há que se falar em invalidade ou irregularida-
de do ato.
Situação também diversa é a aquela ocorrida no flagrante for-
jado que, por ser considerado nulo, deve ter a prisão relaxada, haja
vista que a prisão fora efetivada com base em provas que foram criadas
a partir de uma infração penal que inexistiu.
Advindo da antiga lei de combate às organizações criminosas,
o flagrante prorrogado também conhecido como diferido, retardado
ou prorrogado consiste na hipótese em que a autoridade policial tem
a possibilidade de aguardar o momento mais adequado para realizar a
prisão, podendo postergar sua intenção para que haja apenas no mo-
mento que julgar melhor para angariar provas contra os envolvidos.
Atualmente essa espécie de flagrante é prevista em duas le-
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gislações: no artigo 8º da atual Lei de Organizações Criminosas (Lei n.


12.850/13) e no artigo 53, inc. II, da Lei de Drogas (Lei n. 11.343/2006).
O agente que se entrega à polícia, espontaneamente, sem se-
quer ser perseguido, não está em situação de flagrância e, portanto,
não se enquadra em nenhuma das hipóteses legais descritas não po-
dendo ser autuado.
Outro aspecto relevante no estudo da prisão em flagrante é a
relação entre essa modalidade de prisão e algumas espécies de infra-
ção penal.
Os crimes de ação penal privada ou de ação penal pública
condicionada à representação dependem da manifestação de vonta-
de do legitimado para que haja a lavratura do auto de prisão em flagran-
te. Isto se justifica pelo fato de que o auto de prisão inicia o inquérito
policial e, para que isso ocorra faz-se necessária a autorização da víti-
ma ou de seu representante, conforme disposição dos parágrafos §§ 4º
e 5º do art. 5º do CPP.
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Considera-se crime habitual aquele que não se consuma em
apenas um ato, pressupondo uma reiteração de condutas. Para parte
da doutrina e, em especial Tourinho Filho e Frederico Marques, essa
espécie de infração penal não admite prisão em flagrante, pois, esta
retrataria apenas um recorte, um ato isolado do todo, da infração penal
por inteiro, e que seria, portanto, conduta atípica. Para outros, a exem-
plo de Mirabete e Greco Filho, “compreendem possível a prisão em fla-
grante quando o agente for surpreendido na prática de um dos atos que
compõem a conduta delituosa, exigindo-se, porém, prova inequívoca de
atos anteriores” (AVENA, p. 1121, 2018). Parte majoritária da doutrina
adere ao entendimento de que é possível o flagrante no caso de crime
habitual.
Outra peculiaridade existe quando se trata da prisão em fla-
grante nos crimes permanentes, pois, essa só será possível enquanto
não cessada a permanência – art. 303 do CPP.
O auto de prisão em flagrante consiste em documento lavra-
do por autoridade policial local em que ocorreu a prisão-captura, ainda
que tenha sido outro o local onde o crime fora praticado.
O art. 308, do CPP adverte que na hipótese de que não haja
autoridade policial no local onde o indivíduo fora capturado, o condutor
deva levar o preso para a autoridade policial do lugar mais próximo.
Conforme prevê o artigo 304 do CPP, na lavratura do auto de
prisão em flagrante deverão ser ouvidos o condutor, duas testemunhas
presenciais e o conduzido. Entretanto, caso não haja duas testemu-
nhas presenciais poderão ser ouvidas duas testemunhas de apresen-
tação do preso, conforme disposição do art. 304, §1º, do CPP.

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O conduzido poderá manter-se em silêncio em exercício da
garantia constitucional da autodefesa preconizada pelo art. 5º, inc. LXIII
da CF.
É importante salientar que as testemunhas presencial e de
apresentação não se confundem, enquanto a primeira depõe acerca
do crime praticado e de sua autoria, a segunda apenas confirma que o
condutor apresenta o preso para a autoridade policial e que afirma ser
ele o autor do delito.
Difere-se ainda a testemunha de leitura (testemunha fedatá-
ria) que, de acordo com o art. 304, §3º, do CPP, caso o preso não saiba
ler, o auto de prisão em flagrante deverá ser assinado por duas teste-
munhas que tenha presenciado a leitura deste.
Em seguida, a prisão será imediatamente comunicada à autori-
dade judiciária, ao Ministério Público, à família do preso ou à pessoa por
ele indicada – art. 306, caput, do CPP e art. 5º, inc. LXII, 2ª parte, da CF.
Essa comunicação não se confunde com a comunicação indi-
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cada no parágrafo 1º do mesmo artigo que determina o envio do auto de
prisão em flagrante ao juízo em 24 horas.
A nota de culpa é o documento entregue ao preso e assinado
pela autoridade que lavra o auto de prisão em flagrante, devendo nela
constar o motivo da prisão, o nome do condutor e das testemunhas.
O prazo para entrega desse documento é de, no máximo, 24 horas, a
partir da lavratura do auto de prisão em flagrante.
Ao receber a nota de culpa o preso poderá assiná-la ou recu-
sar-se a assiná-la. Caso haja recusa, a autoridade deve fazer uma certi-
dão constando recusa, que deve ser assinada por duas pessoas. Caso
a nota de culpa não seja entregue, o flagrante deverá ser relaxado, em
virtude da ausência de formalidade. A entrega deste documento asse-
gura ao preso a identificação dos responsáveis por sua prisão2.
A desobediência de quaisquer das formalidades do auto de pri-
são em flagrante enseja a nulidade do auto. Todavia, a nulidade atinge
apenas o auto, não gerando outras consequências nas fases proces-
suais seguintes.
Atualmente, após a mudança advinda com a Lei nº 13.964/2019,
ao receber o auto de prisão em flagrante, no prazo máximo de até 24
(vinte e quatro) horas depois da realização da prisão, o juiz deverá
promover audiência de custódia com a presença do acusado, seu ad-
vogado constituído ou membro da Defensoria Pública e o membro do
Ministério Público, e, nessa audiência, o juiz deverá de maneira funda-
mentada, relaxar a prisão ilegal, ou converter a prisão em flagrante em
preventiva, quando presentes os requisitos constantes do art. 312 deste
Código, e se revelarem inadequadas ou insuficientes as medidas cau-
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telares diversas da prisão, por fim, cabe ainda a hipótese de conceder


liberdade provisória, com ou sem fiança. (artigo 310, incisos I, II e III do
Código de Processo Penal).
São consideradas circunstâncias ilegais que por consequência
autorizam o relaxamento da prisão:
a) Ausência de quaisquer dos requisitos formais na lavratura
do auto de prisão em flagrante;
b) inexistência de flagrante;
c) atipicidade do fato narrado por aqueles ouvidos no auto de
prisão;
d) excesso de prisão da prisão.

Com o advento do Pacote Anticrime (Lei nº 13.964/2019) hou-


ve significativas mudanças no que tange a prisão em flagrante.
Inicialmente, vejamos que a redação anterior do artigo 283 do
2 RT 433/455, STF; RHC 7.122/PA, STJ; RHC 20.625/BA, STJ

20
Código de Processo Penal, dispunha que ninguém poderia ser preso
senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada da auto-
ridade judiciária competente, em decorrência de sentença condenatória
transitada em julgado ou, no curso da investigação ou do processo, em
virtude de prisão temporária ou prisão preventiva, no entanto, na reda-
ção atual do referido artigo, a expressão “sentença condenatória transi-
tada em julgado” foi substituída por “condenação criminal transitada em
julgado” e expressão “em virtude de prisão temporária ou prisão pre-
ventiva” foi substituída por “em decorrência de prisão cautelar”3 , apesar
da mudança na nomenclatura, não houve muita relevância prática.
Todavia, a nova legislação trouxe de forma expressa a neces-
sidade de realização de audiência de custódia. Denoto que a referida
audiência já estava sendo adotada no Brasil, a priori vejamos:

O que é a audiência de custódia?


A audiência de custódia consiste no direito que a pessoa presa
possui de ser conduzida sem demora à presença de autoridade judicial
para que realize a análise da preservação de seus direitos fundamen-
tais, observando-se: se sua prisão em flagrante foi legal ou deve ser
relaxada; se a prisão cautelar deve ser decretada ou se ao preso possa
ser concedido liberdade provisória ou outra medida cautelar diversa da
prisão.
O artigo 306 do Código de Processo Penal prevê as providên-

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cias a serem tomadas pela autoridade policial quando da captura da
pessoa.
Ocorre que muitos Estados implantaram a audiência de custó-
dia (também chamada de audiência de apresentação) por meio de nor-
mas emanadas pelo Poder Judiciário local que estabelecem a neces-
sidade de que a pessoa presa seja apresentada a um juiz no prazo de
24 horas e que após a manifestação do Parquet e da defesa, decida-se
pela manutenção ou não da prisão.
A audiência de custódia está prevista na Convenção Ameri-
cana sobre Direitos Humanos (CADH), também conhecida como Pacto
de São José da Costa Rica, no art. 7º, item 5, 1ª parte
“toda pessoa presa, detida ou retida deve ser conduzida, sem
demora, à presença de um juiz ou outra autoridade autorizada por lei
3 Art. 283. Ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e
fundamentada da autoridade judiciária competente, em decorrência de prisão cautelar ou em virtu-
de de condenação criminal transitada em julgado. (Lei nº 13.964/2019).

21
a exercer funções judiciais e tem o direito de ser julgada em prazo ra-
zoável ou de ser posta em liberdade, sem prejuízo de que prossiga o
processo”4.
O Pacto de São José da Costa Rica foi promulgado por meio
do Decreto Presidencial n. 678/92. Conforme redação do art. 5º, §3º da
CF, os tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil
foi signatário incorporam-se em nosso ordenamento jurídico com status
de norma jurídica supralegal5. Portanto, a CADH é uma norma jurídica
hierarquicamente superior a qualquer lei ordinária ou complementar, só
estando abaixo, portanto de normas constitucionais.
Diante desse contexto, vários Tribunais Federais e Estaduais
editaram atos normativos determinando a realização de audiências de
custódia com fundamento no artigo 7º, item 5, da CADH.
Em agosto de 2015, o STF julgou a ADI 5240 proposta pela
Associação dos Delegados de Polícia do Brasil (Adepol/Brasil) que
questionava a realização das audiências de custódia por meio de pro-
vimento conjunto do Tribunal de Justiça de São Paulo e Corregedoria
Geral da Justiça de São Paulo alegando ter havido inovação no orde-
namento jurídico, uma vez que esta somente poderia ter sido criada por
lei federal e jamais por provimento autônomo, uma vez que esta seria
competência da União, por meio do Congresso Nacional.6.
Nessa ocasião, o STF entendeu não houve qualquer ino-
vação no ordenamento jurídico, uma vez que o direito fundamental do
preso de ser levado sem demora à presença do juiz está previsto na
Convenção Americana dos Direitos do Homem, e também no Código de
Processo Penal brasileiro. O procedimento apenas disciplinou normas
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vigentes.
Em 15 de dezembro de 2015, o Conselho Nacional de Justiça
(CNJ) aprovou a Resolução n. 213/2015 que regulamenta o procedi-
mento nas audiências de custódia. A Resolução determina que todo
preso em flagrante deverá ser apresentado pela autoridade policial, em
até 24 horas após a prisão, ao juízo, para participação em audiência de
custódia.
Antes da apresentação da pessoa presa ao juiz, será assegu-
rado seu atendimento prévio e reservado por advogado por ela consti-
tuído ou defensor público, sem a presença de agentes policiais, sendo
esclarecidos por funcionário credenciado os motivos, fundamentos e
ritos que versam sobre a audiência de custódia. Já na audiência, o ma-
gistrado, após explicar o que é a audiência de custódia e informar ao
4 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D0678.htm
5 RE 349.703/RS, DJe de 5/6/2009
6 http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=298112

22
preso sobre o direito ao silêncio, questionará se lhe foi dada ciência e
efetiva oportunidade de exercício dos direitos constitucionais inerentes
à sua condição, particularmente o direito de consultar-se com advogado
ou defensor público, o de ser atendido por médico e o de comunicar-se
com seus familiares; indagará sobre as circunstâncias de sua prisão ou
apreensão; perguntará sobre o tratamento recebido em todos os locais
por onde passou antes da apresentação à audiência, questionando so-
bre a ocorrência de tortura e maus-tratos e adotando as providências
cabíveis; verificará se houve a realização de exame de corpo de delito,
determinando sua realização nos casos em que não tenha sido realiza-
do, os registros se mostrarem insuficientes ou a alegação de tortura e
maus-tratos referir-se a momento posterior ao exame realizado.
O magistrado não deve formular perguntas com objetivo de
produzir prova para a investigação ou ação penal relativas aos fatos ob-
jeto do auto de prisão em flagrante. “Após a oitiva da pessoa presa em
flagrante delito, o juiz deferirá ao Ministério Público e à defesa técnica,
nesta ordem, reperguntas compatíveis com a natureza do ato, devendo
indeferir as perguntas relativas ao mérito dos fatos que possam consti-
tuir eventual imputação, permitindo-lhes, em seguida, requerer o relaxa-
mento da prisão em flagrante, a concessão da liberdade provisória sem
ou com aplicação de medida cautelar diversa da prisão, a decretação
de prisão preventiva ou a adoção de outras medidas necessárias à pre-
servação de direitos da pessoa presa.
Em seguida, o juiz decidirá, no próprio ato e de maneira funda-
mentada. O termo da audiência de custódia será apensado ao inquérito
ou à ação penal. Observe-se, por fim, que a apresentação à autoridade

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judicial no prazo de 24 horas também será assegurada às pessoas pre-
sas em decorrência de cumprimento de mandados de prisão cautelar ou
definitiva, aplicando-se, no que couber, os procedimentos previstos na
Resolução n. 213/2015 do CNJ” (GONÇALVES, p.337, 2018).
Denoto que a nova redação trazida pela Lei nº 13.964/2019
apenas atualizou o art. 287, para estabelecer expressamente que o pre-
so será apresentado ao Juiz que tiver expedido o mandado, para fins de
realização de audiência de custódia.

Art. 310. Após receber o auto de prisão em flagrante, no prazo máximo de até
24 (vinte e quatro) horas após a realização da prisão, o juiz deverá promover
audiência de custódia com a presença do acusado, seu advogado constitu-
ído ou membro da Defensoria Pública e o membro do Ministério Público, e,
nessa audiência, o juiz deverá, fundamentadamente: (Redação dada pela
Lei 13.964/19)
§ 1º Se o juiz verificar, pelo auto de prisão em flagrante, que o agente praticou
o fato em qualquer das condições constantes dos incisos I, II ou III do caput

23
do art. 23 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal),
poderá, fundamentadamente, conceder ao acusado liberdade provisória,
mediante termo de comparecimento obrigatório a todos os atos processuais,
sob pena de revogação. (Incluído pela Lei 13.964/19)
§ 2º Se o juiz verificar que o agente é reincidente ou que integra organização
criminosa armada ou milícia, ou que porta arma de fogo de uso restrito,
deverá denegar a liberdade provisória, com ou sem medidas cautelares.
(Incluído pela Lei 13.964/19)
§ 3º A autoridade que deu causa, sem motivação idônea, à não realização da
audiência de custódia no prazo estabelecido no caput deste artigo responderá
administrativa, civil e penalmente pela omissão. (Incluído pela Lei 13.964/19)
§ 4º Transcorridas 24 (vinte e quatro) horas após o decurso do prazo
estabelecido no caput deste artigo, a não realização de audiência de
custódia sem motivação idônea ensejará também a ilegalidade da prisão, a
ser relaxada pela autoridade competente, sem prejuízo da possibilidade de
imediata decretação de prisão preventiva.” (NR) (Incluído pela Lei 13.964/19)
– SUSPENSO CAUTELARMENTE PELO STF (ADI 6298).

Portanto, vê-se que anterior a lei denominada de Pacote Anti-


crime (Lei nº 13.964/2019), o judiciário já adotava a audiência de cus-
tódia, não porque estava prevista em lei ordinária, mas sim, porque
foi implantada por força de regulamentação do CNJ7, uma vez que há
previsão do ato no Pacto de São José da Costa Rica, que prevê, em
seu art. 7º, item 5, que “toda pessoa detida ou retida deve ser conduzi-
da, sem demora, à presença de um juiz ou outra autoridade autorizada
pela lei a exercer funções judiciais”8, conforme restou explicitado em
quadro acima, visto isso, o Brasil atualmente continua a adotar a pre-
sente audiência, mas agora, prevista como ato processual na legislação
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brasileira e compondo ordenamento jurídico com status de lei ordinária.


Sobre ato da audiência de custódia, vê-se que a audiência
é realizada logo após a prisão em flagrante, de maneira a permitir que
haja um contato direto entre o Juiz e o preso, devendo ser acompa-
nhada por um defensor (advogado constituído, defensor público, etc.) e
pelo Representante do Ministério Público. A finalidade da audiência de
custódia é verificar a legalidade da prisão e certificar se houve ocorrên-
cia de excessos (maus-tratos, tortura, etc.), devendo o Juiz decidir pela
decretação da prisão preventiva ou concessão de liberdade provisória.
Ademais, a audiência deverá ser realizada em até 24 horas, com a pre-
sença do acusado, seu advogado constituído ou membro da Defensoria
7 Resolução 213 do CNJ
8 Art. 7º (...) 5. Toda pessoa detida ou retida deve ser conduzida, sem demora, à presença
de um juiz ou outra autoridade autorizada pela lei a exercer funções judiciais e tem direito a ser
julgada dentro de um prazo razoável ou a ser posta em liberdade, sem prejuízo de que prossiga o
processo. Sua liberdade pode ser condicionada a garantias que assegurem o seu comparecimento
em juízo.

24
Pública e o membro do Ministério Público.
Importante lembrar que com a Lei nº 13.964/2019, trouxe que a
não realização da audiência de custódia no prazo de 24 horas, além de
ensejar a ilegalidade da prisão em flagrante, ensejará a responsabilida-
de da autoridade que deu causa ao descumprimento do mandamento
legal, todavia, O Supremo Tribunal Federal, em decisão liminar na ADI
6298, suspendeu a eficácia do §4º do art. 310 do CPP, portanto, a pre-
visão de que a não realização de audiência de custódia sem motivação
idônea ensejaria a ilegalidade da prisão, com o consequente relaxa-
mento da prisão, está SUSPENSA até o julgamento do mérito da ADI.
Para finalizar, no tocante a possibilidade de realização da au-
diência de custódia por videoconferência, restou vetado o trecho da lei
(Lei nº 13.964/19) em que proibia a realização de audiência de custódia
por meio de videoconferência (art. 3º B, § 1º, do Código de Processo
Penal, nesse sentido, destaco atual jurisprudência sobre o assunto:

EMENTA: HABEAS CORPUS. DESCAMINHO. IMPORTAÇÃO IRREGULAR


DE PRODUTOS PARA FINS TERAPÊUTICOS OU MEDICINAIS. DESO-
BEDIÊNCIA. TENTATIVA DE HOMICÍDIO. DANO QUALIFICADO. PRISÃO
EM FLAGRANTE. AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA REALIZADA POR MEIO DE
VIDEOCONFERÊNCIA. INCOMPETÊNCIA DO JUÍZO. NULIDADE DO DE-
CRETO DE PRISÃO PREVENTIVA. NÃO OCORRÊNCIA. 1. Por ocasião da
sanção presidencial à Lei nº 13.964/19 (Pacote Anticrime), restou vetado
o trecho da lei que proibia a realização de audiência de custódia por
meio de videoconferência (art. 3º-B, § 1º, do CPP). Dessa forma, não ha-
vendo qualquer proibição quanto à sua utilização, é válida a audiência
realizada pelo juízo impetrado. 2. De acordo com a Resolução nº 43/2019,

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complementada pela Resolução nº 60/2019, ambas desta Corte, que tratam
da regionalização da competência criminal, os processos criminais da Sub-
seção Judiciária de Campo Mourão - PR passaram à atribuição da 1ª Vara
Federal de Umuarama - PR, não havendo falar em incompetência do juízo
para examinar o caso. 3. Inviável a aplicação, no caso em tela, da decisão
proferida no Conflito de Competência nº 168.522/PR, julgado em 11-12-2019
pela 3ª Seção do STJ. É que no presente feito a discussão travada é acerca
de prisão em flagrante e no referido conflito de competência a discussão
versa sobre o cumprimento de mandado de prisão expedido por autoridade
de localidade diversa daquela em que efetivada a prisão (Curitiba/PR x Gua-
rulhos/SP). 4. A decisão proferida pelo  Ministro DIAS TOFFOLI nos autos
da Reclamação para Garantia das Decisões n.º 0008866-60.2019.2.00.0000,
que deferiu medida liminar para suspender a Resolução CM nº 09/2019 do
Tribunal de Justiça de Santa Catarina, possui eficácia restrita ao âmbito da-
quele Tribunal de Justiça, não abarcando os feitos em tramitação perante a
Justiça Federal da 4ª Região. 5. Ordem de habeas corpus denegada. (TRF4,
HC 5007186-39.2020.4.04.0000, SÉTIMA TURMA, Relator LUIZ CARLOS
CANALLI, juntado aos autos em 17/03/2020) (grifei).

25
PRISÃO PREVENTIVA
A prisão preventiva é uma prisão de natureza cautelar. Tem-se
que anterior a entrada em vigor da lei nº 13.964/2019, a prisão preventi-
va era decretada pelo juiz de ofício ou a requerimento das partes quan-
do presentes seus requisitos previstos em lei e ocorrerem as hipóteses
autorizadoras, tanto durante a fase de inquérito policial, bem como na
fase processual, antes do trânsito em julgado da sentença.
Todavia, com a entrada em vigor da nova lei denominada de
Pacote Anticrime (Lei nº 13.964/2019), o artigo 311 do Código de Pro-
cesso Penal, passa a ganhar uma nova redação “Em qualquer fase da
investigação policial ou do processo penal, caberá a prisão preventiva
decretada pelo juiz, a requerimento do Ministério Público, do querelante
ou do assistente, ou por representação da autoridade policial”, portanto,
observa-se que com a legislação atual, o juiz não pode mais decretar
a prisão preventiva de ofício, conforme era visto antes da modificação
trazida pela nova legislação.
É sabido que a decretação de tal medida tem caráter excepcio-
nal e apenas deverá ser adotada quando a liberdade do indivíduo possa
comprometer a prestação jurisdicional. Destarte, não há que se falar em
violação à presunção de inocência, uma vez que esta prisão tem caráter
meramente processual, não constituindo pena, devendo, conforme art.
5º, inc. LXI, da CF, ser escrita e devidamente fundamentada por auto-
ridade judiciária competente. Caso a fundamentação seja considerada
insuficiente ensejará a revogação da prisão por meio da interposição de
habeas corpus9.
Essa modalidade de prisão rege-se pelos princípios da “taxati-
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vidade, adequação e proporcionalidade, não se sujeitando a regime de


aplicação automática” (GONÇALVES, p. 339, 2018).
A prisão preventiva pode ser requerida pelo Ministério Público,
pela autoridade policial, pelo Ministério Público, do querelante ou do as-
sistente, ou por decretação da prisão preventiva de ofício pelo Juiz, ou
seja, o Juiz não pode mais decretar a prisão preventiva representação
da autoridade policial, portanto, não cabe mais sem que haja provoca-
ção, situação em que era cabível antes da entrada em vigor da Lei nº
13.964/2019.
Vale ressaltar que o art. 20 da Lei 11.340/06 (“Lei Maria da Pe-
9 Victor Eduardo Rios Gonçalves (Direito Processual..., p.339) entende que “tem natureza
interlocutória simples a decisão que decreta ou denega a prisão preventiva. Em caso de decreta-
ção, mostra-se cabível o habeas corpus e, na denegação, o recurso em sentido estrito (art. 581, V,
do CPP). Cabe ainda recurso em sentido estrito contra a decisão que revoga a prisão preventiva,
admitindo-se, também, a impetração de mandado de segurança para a obtenção de efeito suspen-
sivo ao recurso para que, em eventual liminar, o tribunal mantenha o réu preso até a decisão de
mérito”.

26
nha”) tem em sua redação que, em qualquer fase do inquérito policial ou
da instrução criminal, cabe a prisão preventiva do agressor, decretada
pelo juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público ou mediante re-
presentação da autoridade policial, porém, tendo em vista as recentes
mudanças legislativas, entendo que a redação do art. 311 (que veda a
decretação ex officio) possui redação mais recente, cabendo a aplica-
ção da lei prevista no Código de Processo Penal.
Para que haja a decretação da prisão preventiva faz-se neces-
sário a presença do pressuposto positivo e do pressuposto negativo e
as hipóteses de cabimento da prisão presentes no artigo 313, do CPP.
O pressuposto positivo, ou seja, o fumus comissi delicti con-
siste na prova da existência do crime e indício suficiente de autoria as-
sociado a, no mínimo, uma das hipóteses de periculum libertatis, quais
sejam: garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniên-
cia da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal –
art. 312, caput, do CPP.
O pressuposto negativo consiste no fato de que para que
seja decretada a prisão preventiva, o agente não pode estar acobertado
por nenhuma das excludentes de ilicitude, conforme prescreve o art.
314, do CPP.
São hipóteses de periculum libertatis – art. 312, do CPP:
Atualmente, a prisão preventiva poderá ser decretada como
garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da
instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando
houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria e de
perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado.

PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS


a) Garantia da ordem pública: a expressão ordem pública
confere um conceito extremamente vago, indeterminado, e dessa am-
plitude semântica se valem as decretações da maior parte das prisões
preventivas.
Como bem cita BADARÓ10, a jurisprudência tem utilizado a ex-
pressão para ressignificar várias situações, quais sejam, de periculosi-
dade do indivíduo, gravidade do delito, comoção social, credibilidade
das instituições, perversão do crime, repercussão midiática, preserva-
ção da integridade física do acusado ou ameaça a prestação jurisdicio-
nal.
A corrente intermediária confere interpretação constitucional à
acepção da expressão ordem pública, acreditando que a mesma está
em perigo quando o criminoso simboliza um risco, pela possível reitera-
ção criminosa, caso permaneça em liberdade.

10 Gustavo Badaró, Processo Penal..., p. 1041-1042.

27
b) Garantia da ordem econômica: essa hipótese foi incluída
ao art. 312, do CPP pela Lei n. 8.884/94 com a finalidade de prevenir
e reprimir os crimes contra a ordem tributária (artigos 1º a 3º da Lei n.
8.137/90), os crimes contra o sistema financeiro (Lei n. 7.492/86), os
crimes contra a ordem econômica (artigos 4º a 6º da Lei n. 8.137/90 e a
Lei n. 8.176/91), etc.

c) Conveniência da Instrução criminal (tutela da prova):


tutela-se a livre produção probatória, evitando o comprometimento da
busca da verdade. Consiste em prisão cautelar instrumental.

d) Assegurar aplicação da lei penal: tem por fim evitar a fuga


do agente que deseja eximir-se de eventual cumprimento da sanção
penal. É conhecida como prisão cautelar final.

e) quando houver prova da existência do crime e indício


suficiente de autoria e de perigo gerado pelo estado de liberdade
do imputado, ambas hipóteses foram incluídas recentemente em razão
da Redação dada pela Lei 13.964/19.

Todas as hipóteses de periculum libertatis analisadas acima


autorizam a decretação da prisão preventiva, devendo a decisão pro-
ferida pelo Juiz ser motivada e fundamentada11 em receio de perigo e
existência concreta de fatos novos ou contemporâneos que justifiquem
a aplicação da medida adotada, não podendo, em nenhuma hipóte-
se, ser admitida a decretação da prisão preventiva com a finalidade
PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS

de antecipação de cumprimento de pena ou decorrência imediata de


investigação criminal, bem como, pela apresentação ou recebimento de
denúncia.
11 Art. 315. A decisão que decretar, substituir ou denegar a prisão preventiva será sempre
motivada e fundamentada. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019) § 1º Na motivação da
decretação da prisão preventiva ou de qualquer outra cautelar, o juiz deverá indicar concretamente
a existência de fatos novos ou contemporâneos que justifiquem a aplicação da medida adotada.
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019); § 2º Não se considera fundamentada qualquer decisão
judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que: (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019);
I - limitar-se à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar sua relação
com a causa ou a questão decidida; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) II - empregar conceitos
jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de sua incidência no caso; (Incluído pela
Lei nº 13.964, de 2019) III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão;
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no proces-
so capazes de, em tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador; (Incluído pela Lei nº 13.964,
de 2019) V - limitar-se a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus funda-
mentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos;
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou
precedente invocado pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento
ou a superação do entendimento. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019).

28
Outrossim, pondero ainda que a decisão que substituir ou de-
negar a prisão preventiva, também deverão ser motivadas e fundamen-
tadas.
São hipóteses de cabimento da decretação da prisão preventi-
va – art. 313, CPP:
I - Crimes dolosos punidos com pena privativa de liberda-
de máxima superior a 4 (quatro) anos;
II - se tiver sido condenado por outro crime doloso, em
sentença transitada em julgado, ressalvado o disposto no inciso I
do caput do art. 64 do Código Penal;
III - se o crime envolver violência doméstica e familiar con-
tra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com
deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de
urgência.
O parágrafo único do mesmo artigo determina que também
será admitida a prisão preventiva quando houver dúvida sobre a iden-
tidade civil da pessoa ou quando esta não fornecer elementos sufi-
cientes para esclarecê-la, devendo o preso ser colocado imediatamente
em liberdade após a identificação, salvo se outra hipótese recomendar
a manutenção da medida.
Ademais, outra importante mudança trazida pela lei do Pacote
Anticrime, foi no tocante a necessidade de manutenção da prisão pre-
ventiva, uma vez que o artigo 316, em seu parágrafo único, trouxe na
redação que o órgão emissor da decisão deverá revisar a necessidade
de sua manutenção a cada 90 (noventa) dias, mediante decisão fun-
damentada, de ofício, sob pena de tornar a prisão ilegal. Nesse senti-

PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS


do, destaco recente julgado do Tribunal de Justiça do Estado de Minas
Gerais:
EMENTA: HABEAS CORPUS - TRÁFICO DE DROGAS - CONVERSÃO DA
PRISÃO EM FLAGRANTE EM PREVENTIVA - DECISÃO FUNDAMENTADA
- REITERAÇÃO DE IMPETRAÇÃO ANTERIOR - ILEGALIDADE DA PRISÃO
PREVENTIVA - INOCORRÊNCIA - DECISÃO REVISADA HÁ MENOS DE 90
DIAS - AUSÊNCIA DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL. Tratando-se alguns
dos pedidos de mera reiteração de habeas corpus anteriormente impetra-
do, não se conhece dessa parte do pedido, nos termos da súmula n° 53 do
TJMG. Não há que se falar em ilegalidade da prisão preventiva, tendo
em vista que a necessidade da manutenção da custódia cautelar foi re-
analisada pelo Juízo a quo há menos de 90 (noventa) dias, respeitando
o disposto no artigo 316, parágrafo único, do Código de Processo Pe-
nal, com redação dada pela Lei 13.964/2019 (Pacote Anticrime).  (TJMG - 
Habeas Corpus Criminal  1.0000.20.008483-8/000, Relator(a): Des.(a) José
Luiz de Moura Faleiros (JD Convocado) , 8ª CÂMARA CRIMINAL, julgamento
em 05/03/0020, publicação da súmula em 05/03/2020) – grifei.

29
A prisão preventiva é regida pela cláusula rebus sic stantibus,
ou seja, cessados os motivos que justificam a manutenção da prisão,
a revogação é obrigatória, devendo o juiz revogar a medida, de ofício,
ou por provocação, sem a necessidade de oitiva prévia do Ministé-
rio Público. O promotor será apenas intimado da decisão judicial, para
se desejar, apresentar o recurso cabível à espécie. Contudo, uma vez
presentes novamente os permissivos legais, nada obsta a que o juiz a
decrete novamente, quantas vezes se fizerem necessárias.

PRISÃO DOMICILIAR
A prisão domiciliar consiste no recolhimento do (a) indiciado
(a) ou acusado (a) em sua residência, só podendo dela ausentar-se
com autorização judicial. Trata-se, na realidade, de maneira especial
de cumprimento da prisão preventiva, sem que constitua modalidade
autônoma de medida cautelar pessoal.
Essa substituição da prisão preventiva possibilita que o (a) in-
diciado (a) ou réu permaneça fechado em sua residência em determi-
nadas hipóteses, só podendo dela ausentar-se com autorização judicial.
Trata-se de direito subjetivo do (a) preso (a) que tem como hipóteses,
aquelas previstas no artigo 318 do Código de Processo Penal, quais
sejam:
a) maior de 80 (oitenta) anos;
b) extremamente debilitado por motivo de doença grave;          
c) imprescindível aos cuidados especiais de pessoa menor de
6 (seis) anos de idade ou com deficiência; 
PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS

d) gestante;        
e) mulher com filho de até 12 (doze) anos de idade
incompletos;          
f) homem, caso seja o único responsável pelos cuidados
do filho de até 12 (doze) anos de idade incompletos. 
Vale frisar que a prisão preventiva imposta à mulher gestante, mãe
ou responsável por crianças ou pessoas com deficiência será substituída
por prisão domiciliar, desde que não tenha cometido crime com violência
ou grave ameaça a pessoa ou que não tenha cometido o crime contra seu
filho ou dependente.
A vedação nos parece óbvia. Conceder prisão domiciliar à mulher
que agride o próprio filho ou seu dependente é inadmissível e beira o ab-
surdo. Seria até desnecessário ter lei vedando tal concessão, pois o próprio
bom senso veda, mas como o bom senso foi jogado fora nos últimos anos
de vida forense no País é melhor dizer... é sempre bom dizer12.
Lembrando que a substituição de que tratam os arts. 318 e

30
318-A do Código de Processo Penal, poderá ser efetuada sem prejuízo
da aplicação concomitante das medidas alternativas previstas no art.
319 da mesma lei.
Cabe ressaltar que a prisão domiciliar dos artigos 317 e 318
do Código de Processo Penal não se confundem com aquela prevista
no art. 117 da Lei de Execuções Penal (Lei n. 7.210/84) que se destina
ao condenado por sentença definitiva e que, portanto, cumpre pena em
regime aberto, bem como também não se confunde com a medida cau-
telar diversa da prisão estipulada pelo art. 319, inc. V também no CPP,
que denomina-se recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias
de folga.
O art. 318, do Código de Processo Penal utiliza o verbo poderá
para indicar a existência de discricionariedade do juiz. No entanto, ha-
vendo prova idônea que confirme hipótese legal, o juiz deverá conceder
a medida, independentemente de outros fatores, haja vista que se trata
de direito subjetivo do réu.

PRISÃO TEMPORÁRIA
A prisão temporária é uma prisão de natureza cautelar, com
prazo preestabelecido de duração, cabível exclusivamente na fase do
inquérito policial, determinando o encarceramento em razão das infra-
ções seletamente indicadas na legislação. Tem por fim impedir que o
investigado possa dificultar a colheita de provas durante a fase investi-
gativa de crimes de maior gravidade.
A medida poderá ser decretada pelo juiz por representação da

PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS


autoridade policial ou a requerimento do Ministério Público, não sendo
possível a decretação de prisão temporária ex officio.
Essa modalidade restringe sua aplicabilidade à cláusula de re-
serva jurisdicional e, em face do disposto no art. 2º da que a instituiu,
qual seja, a Lei n. 7.960/1989, somente podendo ser decretada pela
autoridade judiciária, mediante representação da autoridade policial ou
requerimento do Ministério Público. A temporária não pode ser decreta-
da de ofício pelo juiz, pressupondo provocação.
A prisão temporária apenas estará em harmonia com o prin-
cípio da presunção de inocência se admitida como prisão processual
em caráter cautelar e suas hipóteses de cabimentos forem analisadas
conjuntamente aos pressupostos do periculum libertatis e fumus comis-
si delicti13.

O art. 1º da Lei n. 7.960/1989 trata da matéria, admitindo a


13 Badaró, Processo Penal..., v.5, p. 1060.

31
temporária nas seguintes hipóteses:
I - quando imprescindível para as investigações do
inquérito policial;
II - quando o Indiciado não tiver residência fixa ou não
fornecer elementos ao esclarecimento de sua identidade;
III - quando houver fundadas razões, de acordo com qualquer
prova admitida na legislação penal, de autoria ou participação do indi-
ciado nos seguintes crimes:

a) homicídio doloso;
b) sequestro ou cárcere privado;
c) roubo;
d) extorsão;
e) extorsão mediante sequestro;
f) estupro;
g) atentado violento ao pudor14;
h) rapto violento15;
i) epidemia com resultado de morte;
j) envenenamento de água potável ou substância alimentícia
ou medicinal qualificado pela morte;
l) quadrilha ou bando16;
m) genocídio, em qualquer de suas formas típicas;
n) tráfico de drogas;
o) crimes contra o sistema financeiro;
p) os crimes hediondos e assemelhados, quais sejam, tráfico,
tortura e terrorismo, mesmo os não contemplados no rol do art. 1º da Lei
PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS

n. 7.960/1989, por força do § 4º do art. 2º da Lei n. 8.072/1990 (Lei de


Crimes Hediondos), são suscetíveis de prisão temporária.
Muito se discute acercado cabimento da temporária no que
tange ao preenchimento dos elementos que justifiquem a decretação
da medida. Há várias correntes sobre o tema, predominando aquela
que admite a prisão temporária com base no inciso III obrigatoriamente,
uma vez que ele materializaria o fumus comissi delicti, trazendo o rol
14 “Assim, como a conduta — privação da liberdade de alguém para fim libidinoso — con-
tinua sendo ilícita, tendo havido apenas alteração na capitulação jurídica, cabível a prisão tempo-
rária para quem a realizar. O crime de atentado violento ao pudor também consta do dispositivo,
contudo, tal delito foi revogado pela Lei n. 12.015/2009, tendo sido unificado com o crime de estu-
pro”. (GONÇALVES, p. 352, 2018)
15 “O crime de rapto violento consta desse dispositivo, porém foi revogado como infração
penal autônoma e, nos termos da Lei n. 11.106/2005, passou a ser considerado figura qualificada
do crime de sequestro (art. 148, § 1º, V, do CPP)”. (GONÇALVES, p. 352, 2018)
16 “A Lei n. 12.850/2013 modificou a denominação do crime de quadrilha para associação
criminosa e passou a exigir o envolvimento de apenas três pessoas para sua configuração (antes
eram necessárias quatro pessoas). Assim, é possível a prisão temporária no crime de associação
criminosa”. (GONÇALVES, p. 352, 2018)

32
dos crimes que admitem essa modalidade prisão e, além dele, uma
das hipóteses que representam o periculum libertatis, quais sejam, os
incisos I ou II: ou é imprescindível para as investigações, ou o indiciado
não possui residência fixa, ou não fornece elementos para a sua iden-
tificação.
Em regra geral, a prisão temporária é decretada por 5 dias,
prorrogáveis por mais 5 dias em caso de comprovada e extrema neces-
sidade. Entretanto, se tratando de crimes hediondos e assemelhados,
como por exemplo tráfico, terrorismo e tortura (parágrafo 4º, art. 2º, Lei
n. 8.072/1990), o prazo da prisão temporária é de 30 dias, prorrogáveis
por mais 30 dias, em caso de comprovada e extrema necessidade.
Lembrando-se que a prorrogação pressupõe requerimento fun-
damentado, cabendo ao magistrado deliberar quanto a sua admissibili-
dade e ouvir membro do Ministério Público quando o pedido for realiza-
do pela autoridade policial, não cabendo prorrogação de ofício.
Conforme redação do artigo 2º, § 7º da Lei n. 7.960/89, vencido
o prazo de duração da medida o preso deve ser colocado em liberdade
imediatamente, independentemente da expedição de alvará de soltura.
O juiz ao receber o requerimento do Ministério Público ou a
representação da autoridade policial, devendo nessa última hipótese
ouvir membro do Parquet, terá vinte e quatro horas para proferir sua
decisão, decretando, de forma fundamentada, a prisão temporária ou
indeferindo-a.
O magistrado poderá, de ofício, ou em razão de pedido do
Ministério Público ou da defesa, determinar a realização de algumas
providências: que o preso lhe seja apresentado, solicitar informações e

PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS


esclarecimentos da autoridade policial e submete​-lo a exame de corpo
de delito.
Por interpretação extensiva ao art. 581, V, do CPP, cabe re-
curso em sentido estrito contra a decisão que denega a decretação da
prisão temporária e habeas corpus contra aquela que a decreta. Se a
prisão for mesmo decretada, será expedido um mandado de prisão em
duas vias e uma delas será entregue ao indiciado e servirá como nota
de culpa.
Vale destacar ainda que não há que se falar em constrangi-
mento ilegal devido à expiração do prazo determinado na lei para a du-
ração da prisão temporária, ante a superveniência de decreto de prisão
preventiva.
Nesse sentido destaco recente jurisprudência do Tribunal de
Justiça mineiro:

EMENTA: “HABEAS CORPUS” - HOMICÍDIO QUALIFICADO - PRISÃO

33
TEMPORÁRIA - REVOGAÇÃO - IMPOSSIBILIDADE - PERDA DO OBJETO
- SUPERVENIÊNCIA DE PRISÃO PREVENTIVA - PEDIDO PREJUDICADO.
Considera-se prejudicado o pedido de revogação da prisão temporária
se tal prisão não mais subsiste, encontrando-se o paciente preso em
razão de custódia preventiva decretada em seu desfavor.  (TJMG - Ha-
beas Corpus Criminal 1.0000.19.131102-6/000, Relator(a): Des.(a) Alexandre
Victor de Carvalho, 5ª CÂMARA CRIMINAL, julgamento em 05/11/0019, pu-
blicação da súmula em 06/11/2019) – grifei.

A prisão apenas será executada após a expedição do respecti-


vo mandado. Após a prisão, a autoridade deve informar ao preso acerca
de seus direitos constitucionais17— o direito de permanecer calado, de
ter sua prisão comunicada aos familiares ou pessoa por ele indicada
etc. Conforme redação do art. 3º da Lei n. 7.960/89, os presos tem-
porários devem permanecer, obrigatoriamente, separados dos demais
detentos (provisórios ou condenados). Em todas as comarcas e seções
judiciárias deve haver plantão permanente de vinte e quatro horas do
Poder Judiciário e do Ministério Público para apreciação dos pedidos de
prisão temporária.
É importante destacar que quando se fala no tema prisão
temporária, há autores que consideram este tipo de prisão como sendo
inconstitucional, senão vejamos o posicionamento da doutrina de Paulo
Rangel “Prisão temporária é também inconstitucional por uma razão muito
simples: no Estado Democrático de Direito não se pode permitir que o
17 O uso de algemas. Súmula Vinculante n. 11: Só é lícito o uso de algemas em casos de
resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte
do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade
PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS

disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a


que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado.
Possibilidade excepcional de usar algemas e necessidade de apresentar justificativa por escrito:
“Ementa: (...). Ato reclamado proferido em conformidade com o enunciado sumular (que permite,
excepcionalmente, o uso de algemas, desde que justificada sua necessidade) - Precedentes -
Recurso de Agravo improvido.” (Rcl 25495 AgR, Relator Ministro Celso de Mello, Segunda Turma,
julgamento em 7.3.2017, DJe de 28.4.2017)
Uso injustificado de algema: nulidade relativa e necessidade de demonstrar o prejuízo: “Mesmo que
assim não fosse, é de registrar-se, tal como assinalado pelo Ministério Público Federal em seu douto parecer,
que o uso injustificado de algemas em audiência, ainda que impugnado em momento procedimentalmente
adequado, traduziria causa de nulidade meramente relativa, de modo que o seu eventual reconhecimento
exigiria a demonstração inequívoca, pelo interessado, de efetivo prejuízo à defesa - o que não se evidenciou
no caso -, pois não se declaram nulidades processuais por mera presunção, consoante tem proclamado a
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal: (...) O entendimento ora referido reafirma a doutrina segundo
a qual a disciplina normativa das nulidades no sistema jurídico brasileiro rege-se pelo princípio de que ‘Ne-
nhum ato será declarado nulo, se da nulidade não resultar prejuízo para a acusação ou para a defesa’ (CPP,
art. 563 - grifei). Esse postulado básico - ‘pas de nullité sans grief’ - tem por finalidade rejeitar o excesso de
formalismo, desde que a eventual preterição de determinada providência legal não tenha causado prejuízo
para qualquer das partes (...). (Rcl 16292 AgR, Relator Ministro Celso de Mello, Segunda Turma, julgamento
em 15.3.2016, DJe de 26.4.2016)
Atenção para o art. 292, parágrafo único do Código de processo Penal alterado pela Lei n.
13.434/2017.

34
Estado lance mão da prisão para investigar, ou seja, primeiro prende,
depois investiga para saber se o indiciado, efetivamente, é o autor do
delito. Trata-se de medida de constrição da liberdade do suspeito que,
não havendo elementos suficientes de sua conduta nos autos do inquéri-
to policial, é preso para que esses elementos sejam encontrados”18.

LIBERDADE PROVISÓRIA
A partir da interpretação da Constituição de 1988, é possível
perceber que a liberdade é a regra, enquanto a prisão cautelar ocupa
uma posição provisória, de exceção, conforme pode-se perceber diante
do princípio da presunção de inocência – art. 5º, inc. LVII, da CF.
Trata-se de um direito subjetivo garantido constitucionalmente
no art. 5º, inc. LXVI, da CF: “ninguém será levado à prisão ou nela man-
tido, quando a lei admitir liberdade provisória, com ou sem fiança”.
Diante desse contexto, a liberdade provisória configura-se
como situação de liberdade dada àquele preso em flagrante, atendidos
requisitos para que possa aguardar ao processo em liberdade, pagando
fiança ou não fiança, conforme determinar o caso, sem que haja liber-
dade plena.
Ressalto que com o advento da Lei nº 13.964/2019, caso o juiz
verifique pelo auto de prisão em flagrante, que o agente praticou o fato
em qualquer das condições constantes dos incisos I, II ou III do caput
do art. 23 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código
Penal), poderá, fundamentadamente, conceder ao acusado liberdade
provisória, mediante termo de comparecimento obrigatório a todos os

PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS


atos processuais, sob pena de revogação ou ainda, se verificar que o
agente é reincidente ou que integra organização criminosa armada ou
milícia, ou que porta arma de fogo de uso restrito, deverá denegar a
liberdade provisória, com ou sem medidas cautelares (artigo 310, §§
1º e 2º do Código de Processo Penal).
Este instituto da liberdade provisória, tem por fim inibir a con-
tinuidade de uma prisão cautelar desnecessária, mas em contrapartida
mantém o acusado vinculado ao processo.

Com a nova redação do art. 319, foi estabelecido um sistema polimorfo, com
amplo regime de liberdade provisória, com diferentes níveis de vinculação
ao processo, estabelecendo um escalonamento gradativo, em que no topo
esteja a liberdade plena e, gradativamente, vai-se descendo, criando restri-
ções à liberdade do réu no curso do processo pela imposição de medidas
cautelares diversas, como o dever de comparecer periodicamente, de pagar

18 Rangel, Paulo Direito processual penal / Paulo Rangel. – 27. ed. – São Paulo: Atlas,
2019.

35
fiança, a proibição de frequentar determinados lugares, a obrigação de per-
manecer em outros nos horários estabelecidos, a proibição de ausentar-se
da comarca sem prévia autorização judicial, o monitoramento eletrônico, o
recolhimento domiciliar noturno. Quando nada disso se mostrar suficiente e
adequado, chega-se à ultima ratio do sistema: a prisão preventiva.
Dessa forma, a liberdade provisória é uma medida alternativa, de caráter
substitutivo em relação à prisão preventiva, que fica efetivamente reservada
para os casos graves, em que sua necessidade estaria legitimada. (LOPES
JR., p. 118, 2017)

É importante ressaltar que os institutos a seguir não se con-


fundem: relaxamento da prisão em flagrante ou em prisão preventiva
devido à ilegalidade da prisão seja ela originária ou posterior19;a revo-
gação da prisão preventiva ou da medida cautelar diversa da prisão ou
a concessão da liberdade provisória com ou sem fiança.
Há discussão doutrinária acerca natureza do instituto que pode
acarretar em consequências distintas20:
1ª corrente – liberdade provisória ligada a prisão em fla-
grante: Trata-se de vantagem que garante ao preso em flagrante res-
ponder ao processo em liberdade – art. 310, inc. III, do CPP.

2ª corrente – liberdade provisória como instituto autôno-


mo: trata-se de mecanismo aplicado quando imposta uma das medidas
cautelares alternativas à prisão dispostas nos art. 319 e 320, do CPP.
Conforme interpretação do art. 321, do CPP, se acusado estiver cum-
prindo a medida cautelar será considerado liberdade provisória, ainda
que não estivesse preso em flagrante. Este dispositivo admitiria a con-
PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS

cessão de liberdade provisória antes de realizada a prisão.

3ª corrente – liberdade provisória aplicável apenas ao pre-


so em flagrante, se presentes as hipóteses autorizadoras: esta cor-
rente compreende que tal benefício apenas seria aplicável às prisões
em flagrante, uma vez que o art. 310, inc. III, do CPP é disciplinado no
capítulo que trata da “prisão em flagrante” e traz a expressão “liberdade
provisória”. Completando o referido artigo, o art. 321 refere quando se
utiliza do verbo “conceder”, ou seja, depreende-se que se trata de a
uma concessão de benefício a alguém que já se encontra preso, condi-
ção prévia para tal concessão.
A doutrina clássica classifica o instituto em: (1) obrigatória, (2)
permitida e (3) vedada.

19 BADARÓ, p. 1120, 2017.


20 AVENA, p. 1198, 2018.

36
• Liberdade Provisória Obrigatória: refere-se a um direito in-
condicional do infrator que ficará em liberdade, mesmo tendo sido sur-
preendido em flagrante.

• Liberdade Provisória Permitida: É admitida quando não es-


tiverem presentes os requisitos de decretação da preventiva, e quando
a lei não vedar expressamente.

• Liberdade Provisória Vedada: É vedada quando couber


prisão preventiva e nas hipóteses que a lei estabelecer expressamente
a proibição.
Contudo, muito se questiona em se fazer a distinção entre a
liberdade provisória obrigatória da liberdade provisória permitida, haja
vista que não se trata de uma faculdade do magistrado21.
Em resumo, as hipóteses em que a liberdade provisória é ve-
dada pela lei encontram abrigo nos artigos 323 e 324, do CPP. Há hipó-
tese de vedação no artigo 44 da Lei n. 11.343/2006, que dispõe que os
crimes relacionados ao tráfico de drogas previstos nos artigos 33, caput
e § 1º, e 34 a 37 dessa Lei eram insuscetíveis de liberdade provisória,
bem como no art. 7º da Lei n. 9.034/1995, determinando a vedação de
concessão da liberdade provisória aos agentes com intensa e efetiva
participação em organização criminosa.
Entretanto, em relação a vedação constante na Lei de Drogas
foi declarada inconstitucional pelo STF, de forma incidental, no julga-
mento do Habeas Corpus n. 104.339/SP (DJ 05.12.2012). A partir de
então “firmou-se o sentido de que está superada a vedação irrestrita à

PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS


concessão do benefício aos agentes de crime relacionado à narcotra-
ficância, facultando-se ao julgador deixar de concedê-lo, unicamente,
quando presentes os requisitos do art. 312 do CPP, o que deve ser
analisado caso a caso” (AVENA, p. 1200, 2018).
Em relação à vedação da Lei n. 9.034/95, esta foi tacitamente
revogada pelo art. 1º, inc. II da Lei n. 12.694/12 e, posteriormente tal
legislação fora integralmente revogada pela Lei n. 12.850/13.
Outra hipótese de vedação à liberdade provisória que foi decla-
rada inconstitucional pelo STF na ADI 3.112/DF, estava no artigo 21 do
Estatuto do Desarmamento – Lei n. 10.826/03.
São hipóteses de liberdade provisória obrigatória:
a) Infrações de menor potencial ofensivo - art. 69, parágra-
fo único, da Lei n. 9.099/95: prevê que àquele surpreendido quando
da prática de infração de menor potencial ofensivo, em sendo “imediata-
21 BADARÓ, Processo penal..., 5ª ed., p. 1120, 2017 e no mesmo sentido AVENA, Proces-
so Penal..., 10ª ed., p. 1199, 2018.

37
mente encaminhado ao juizado” ou assumindo o compromisso de a ele
comparecer, “não se imporá prisão em flagrante, nem se exigirá fiança”;

b) Porte de drogas para consumo pessoal - art. 48, § 2º,


da Lei n. 11.343/06: A Lei de Drogas apresenta uma situação pecu-
liar, pois, o usuário de drogas será encaminhado à lavratura do termo
circunstanciado, com a colheita do respectivo compromisso de compa-
recimento. Contudo, mesmo não se comprometendo, ainda assim está
vedada a sua detenção (§ 3º, art. 48). Mesmo não assumindo o compro-
misso, ainda assim não ficará preso, o que configura mais um caso de
liberdade provisórias em fiança incondicionada.

c) Acidentes de trânsito de que resultem vítimas, havendo


prestação de socorro - art. 301 da Lei 9.503/97: trata-se de hipótese
que não prevê prisão em flagrante haja vista que houve prestação de
socorro. Por configurar crime de menor potencial ofensivo, aplica-se o
regramento do art. 69, parágrafo único da Lei n. 9.099/97 (art. 294, da
Lei n. 9.503/97).

d) Infrações que permitem ao réu livrar-se solto (art. 283,


§ 1º, do CPP): caberá liberdade provisória, àqueles que estiverem res-
pondendo por infrações a que a multa seja a única pena comida – art.
283, § 1º, do CPP. Por conseguinte, faz-se possível a aplicação do art.
309, do CPP que autoriza a autoridade policial a liberar o indivíduo, logo
após a lavratura do auto de prisão em flagrante, independentemente do
arbitramento de fiança.
PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS

Considerando a liberdade provisória o gênero, há de se reco-


nhecer a existência das seguintes espécies:
• Liberdade provisória com fiança;
• Liberdade provisória sem fiança.
A fiança é uma garantia real, patrimonial, prestada para se as-
segurar a liberdade do indiciado ou réu durante o processo penal desde
que preenchidas determinadas condições, sendo efetivada por meio do
pagamento em dinheiro ou na entrega de valores ao Estado.
Este instituto apenas poderá ser aplicado pela autoridade po-
licial às infrações leves punidas com penas privativas de liberdade não
superior a quatro anos conforme determinação do art. 322, do CPP.
Após o requerimento para arbitramento de fiança, advindo por
indiciado/réu ou Ministério Público, o magistrado tem o prazo de qua-
renta e oito horas para decidir sobre a concessão e, caso ultrapasse tal
prazo, caberá habeas corpus por constrangimento ilegal.
Trata-se de crimes inafiançáveis:
38
- o crime de racismo;
- os crimes de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas
afins, terrorismo e nos definidos como crimes hediondos;
- os crimes cometidos por grupos armados, civis ou militares,
contra a ordem constitucional e o Estado Democrático.
Restringida a
Conceito Fiança Vínculo quais tipos de
infrações?
- infrações cuja
ocorrerá quando a liber- pena de multa é a
dade provisória for con- única cominada
Liberdade cedida obrigatoriamente, - infrações cujo má-
provisória sem que haja nenhuma ximo de pena pri-
 
sem fiança e condição ao beneficiado, vativa de liberdade,
sem vínculo devendo a autoridade po- seja isolada, cumu-
licial lavrar o auto, e em lada ou alternada,
seguida liberar o agente não ultrapasse a
três meses
O infrator permanecerá
em liberdade, subme-
tendo-se às exigências
legais, sem necessida-
de de realizar nenhum

PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS


Liberdade implemento pecuniário.
provisória Há duas possibilidades:
sem fiança e havendo excludente de   Demais infrações
com vincu- ilicitude com vínculo de
lação comparecimento a todos
os atos e havendo a con-
cessão de fiança sendo o
acusado hipossuficiente
aplicar-se-a a liberdade
provisória.

É preciso salientar que o instituto da liberdade provisória, quan-


do concedida mediante fiança, é sempre condicionada, exigindo a lei,
que afiançado esteja compelido ao adimplemento pecuniário e outros
deveres:
- comparecimento perante a autoridade, toda vez que for inti-
39
mado para os atos do inquérito e da instrução;
- impossibilidade de mudar de residência, sem prévia permis-
são da autoridade competente;
- proibição de ausentar-se por mais de oito dias de sua resi-
dência, sem comunicar àquela autoridade o lugar em que poderá ser
encontrado;
- vedação à prática de novas infrações.
Ocorrerá a quebra da fiança quando houver o descumprimen-
to injustificado de algum dos deveres descritos acima pelo afiançado,
podendo ser determinada de ofício ou por provocação e tem as seguin-
tes consequências:
– recolhimento ao cárcere, efetivando-se a prisão que foi evita-
da pela prestação de fiança, ou restabelecendo-se aquela previamente
existente.
– perda de metade do valor caucionado, que será destinado ao
Tesouro Nacional (Fundo Penitenciário Nacional, art. 346, CPP). A outra
parte será devolvida. Mesmo que ao final o réu seja absolvido, a quebra
não é revertida.
– impossibilidade, naquele mesmo processo, de nova presta-
ção de fiança (art. 324, I, CPP).
A decisão judicial que impõe a quebra da fiança admite recurso
em sentido estrito conforme o art. 581, inc. VII, CPP.
De acordo com o art. 584, §3º, do CPP, o recurso terá efeito
suspensivo apenas quanto ao perdimento da metade do valor prestado
em fiança, podendo ser interposto até mesmo pelo terceiro que prestou
fiança em favor de outrem.
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Caso seja julgado procedente, a fiança volta a subsistir, sendo


o afiançado colocado em liberdade, retornando todos seus efeitos - art.
342, CPP.
Havendo trânsito em julgado da sentença condenatória e caso
o condenado venha a frustrar a efetiva punição, negando-se ou evadin-
do-se para não cumprir a pena, fugindo da autoridade policial, a fiança
poderá ser julgada perdida – art. 345, do CPP.
Mais uma vez, esta decisão admite o recurso em sentido estri-
to, por meio do mesmo fundamento legal, e também tem efeito suspen-
sivo quanto à destinação do valor remanescente, conforme se depreen-
de do art. 584, caput, CPP.
Na mesma toada, será considerada cassada a fiança que:
– for concedida por equívoco. Deve ser cassada, de ofício, ou
por provocação. Somente o judiciário pode determinar a cassação.
– ocorra uma inovação na tipificação do delito, reconhecendo-
-se a existência de infração inafiançável (art. 339, CPP). Oferecida a de-
40
núncia, a fiança deve ser prontamente cassada, seja por requerimento
do Ministério Público, seja de ofício.
– houver aditamento da denúncia, imputando-se mais uma in-
fração ao réu. Como no concurso material as penas mínimas devem ser
somadas, se isso ocorrer e ultrapassar o limite legal (pena mínimade
dois anos), deve haver a cassação.
A decisão de cassação da fiança admite recurso em sentido
estrito, entretanto, sem efeito suspensivo. Uma vez julgado procedente
o recurso, a fiança será reestabelecida. Se a fiança for cassada, diz-se
que a mesma foi julgada inidônea.

É possível que haja a cassação em fase recursal.


Em alguns casos, é possível que o valor da fiança não seja
suficiente, ou que haja depreciação material ou perecimento de bens
hipotecados ou caucionados; ou que haja nova classificação do delito,
que tenha repercussão, em razão da alteração da pena, no quantitativo
da fiança etc. Nestas hipóteses, é preciso que haja o reforço da fiança,
conforme art. 340 do CPP.
Caso não haja o reforço, a fiança vai ser julgada sem efeito,
sendo o valor inicialmente prestado devolvido, com o consequente re-
colhimento ao cárcere, expedindo-se mandado de prisão.
Contra a decisão que julga sem efeito a fiança caberá recurso
em sentido estrito, sem efeito suspensivo.

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É possível que haja dispensa do reforço caso o agente seja
considerado hipossuficiente. Nesta hipótese, o agente permanece em
liberdade com pleno efeito da fiança prestada.

MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS DA PRISÃO


As medidas cautelares diversas da prisão estão previstas no
art. 319, do CPP, quais sejam:

I - comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições fixadas pelo


juiz, para informar e justificar atividades;
II - proibição de acesso ou frequência a determinados lugares quando, por
circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado permane-
cer distante desses locais para evitar o risco de novas infrações;
III - proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por cir-
cunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado dela perma-
necer distante;

41
IV - proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanência seja con-
veniente ou necessária para a investigação ou instrução
V - recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga quando o
investigado ou acusado tenha residência e trabalho fixos
VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza
econômica ou financeira quando houver justo receio de sua utilização para a
prática de infrações penais;
VII - internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados
com violência ou grave ameaça, quando os peritos concluírem ser inimputá-
vel ou semi-imputável (art. 26 do Código Penal) e houver risco de reiteração;
VIII - fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o comparecimento
a atos do processo, evitar a obstrução do seu andamento ou em caso de
resistência injustificada à ordem judicial;
IX - monitoração eletrônica22.

A fiança será aplicada podendo ser cumulada com outras me-


didas cautelares.
Vale ressaltar que a única autoridade competente para decre-
tar a quebra da fiança é a judiciária (seja o juiz singular ou o relator no
Tribunal), pois, da decisão que julgar quebrada a fiança (cf. art. 341),
caberá recurso em sentido estrito (cf. art. 581, VII). A autoridade policial
somente pratica ato coercitivo de restrição da liberdade individual se
for através da prisão em flagrante. Portanto, julgar quebrada a fiança,
revogando a liberdade do réu e, por consequência, expedir mandado de
prisão, somente por decisão judicial, nos precisos termos do art. 5º, LXI,
da Constituição Federal23.
Importante ressaltar que, conforme traz a doutrina de Rangel, o
artigo 319 do Código de Processo Penal, deu ao magistrado liberdade e
PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS

autonomia para adotar todas as medidas cautelares diversas da prisão


que entender cabíveis diante do caso concreto, sejam crimes afiançá-
veis ou não.
O juiz tem a prisão como medida mais grave e séria de res-
trição da liberdade e outras de menor gravidade que poderão ser apli-
cadas levando-se em conta o princípio da proporcionalidade, portanto,
o magistrado tem três opções: deixar o réu solto; impor uma medida
cautelar diversa da prisão ou prender o réu.
A prisão decretada na jurisdição cível será executada pela au-
toridade policial a quem forem remetidos os respectivos mandados.
A proibição de ausentar-se do País será comunicada pelo juiz
às autoridades encarregadas de fiscalizar as saídas do território nacio-
nal, intimando-se o indiciado ou acusado para entregar o passaporte, no
22 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del3689.htm
23 Rangel, Paulo Direito processual penal / Paulo Rangel. – 27. ed. – São Paulo: Atlas,
2019.

42
prazo de 24 (vinte e quatro) horas.
Importante ressaltar que com a entrada em vigar da lei denomi-
nada Pacote Anticrime (Lei nº 13.964/2019), em seu artigo 3º- C, § 2º ,
instituiu que as decisões proferidas pelo juiz das garantias não vinculam
o juiz da instrução e julgamento, que, após o recebimento da denúncia
ou queixa, deverá reexaminar a necessidade das medidas cautelares
em curso, no prazo máximo de 10 (dez) dias, todavia, ressalto que o
Supremo Tribunal Federal, em decisão liminar na ADI 629824 (Decisão
do Relator, Min. Luiz Fux), suspendeu a eficácia dos arts. 3º-A a 3º-F do
Código de Processo Penal).

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43
QUESTÃO 1
Ano: 2019 Banca: CESPE Órgão: PRF Prova: Policial Rodoviário
Federal
Em decorrência de um homicídio doloso praticado com o uso de
arma de fogo, policiais rodoviários federais foram comunicados de
que o autor do delito se evadira por rodovia federal em um veículo
cuja placa e características foram informadas. O veículo foi abor-
dado por policiais rodoviários federais em um ponto de bloqueio
montado cerca de 200 km do local do delito e que os policiais acre-
ditavam estar na rota de fuga do homicida. Dada voz de prisão ao
condutor do veículo, foi apreendida arma de fogo que estava em
sua posse e que, supostamente, tinha sido utilizada no crime.
Considerando essa situação hipotética, julgue o seguinte item.
De acordo com a classificação doutrinária dominante, a situação
configura hipótese de flagrante presumido ou ficto.
( ) Certo
( ) Errado

QUESTÃO 2
Ano: 2018 Banca: FUMARC Órgão: PC-MG Prova: Escrivão de Po-
lícia Civil
Compreendido o conceito de flagrante delito, pode-se definir a pri-
são em flagrante como uma medida de autodefesa da sociedade,
consubstanciada na privação da liberdade de locomoção daquele
que é surpreendido em situação de flagrância, a ser executada in-
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dependentemente de prévia autorização judicial (CF, art. 5°, LXI).


Face ao exposto, a afirmativa CORRETA afeta ao instituto do “fla-
grante” no âmbito do Processo Penal é:
A) No flagrante presumido, ficto ou assimilado, o agente é preso logo
depois de cometer a infração, com instrumentos, armas, objetos ou pa-
péis que façam presumir ser ele o autor da infração (CPP, art. 302,
IV). Nesse caso, a lei não exige que haja perseguição, bastando que a
pessoa seja encontrada logo depois da prática do ilícito com coisas que
traduzam um veemente indício da autoria ou participação no crime.
B) Quando da lavratura do Auto de Prisão em flagrante, o escrivão de
polícia, independentemente da presença da Autoridade Policial, deverá
proceder à oitiva do conduzido, do condutor e de duas testemunhas
que presenciaram toda a ação policial que culminou na apreensão do
conduzido.
C) Teremos a figura do flagrante esperado quando alguém (particular
ou autoridade policial), de forma insidiosa, instiga o agente à prática
44
do delito com o objetivo de prendê-lo em flagrante, ao mesmo tempo
em que adota todas as providências para que o delito não se consume.
Como adverte a doutrina, nessa hipótese de flagrante, o suposto autor
do delito não passa de um protagonista inconsciente de uma comédia,
cooperando para a ardilosa averiguação da autoria de crimes anterio-
res, ou da simulação da exterioridade de um crime.
D) Teremos a figura do flagrante provocado quando, valendo-se de in-
vestigação anterior, sem a utilização de um agente provocador, a autori-
dade policial ou terceiro limita-se a aguardar o momento do cometimen-
to do delito para efetuar a prisão em flagrante, respondendo o agente
pelo crime praticado na modalidade consumada, ou, a depender do
caso, tentada.

QUESTÃO 3
Ano: 2018 Banca: MPE-BA Órgão: MPE-BA Prova: Promotor de
Justiça Substituto
A Sra. Mimosa compareceu à Delegacia Especializada no Atendi-
mento à Mulher (DEAM) e narrou para a Delegada de Polícia planto-
nista, Dra. Nativa, que sofre abuso sexual por parte de seu genitor,
desde a sua adolescência. Embora, atualmente, casada, com 21
anos de idade, continua recebendo esporadicamente mensagens
do seu pai por meio do aplicativo WhatsApp, ameaçando de pu-
blicar, nas redes sociais, fotos íntimas da mesma (já que ao longo
dos anos da adolescência foi obrigada a posar nua enquanto ele a
fotografava), pois trata-se de um fotógrafo profissional.
A autoridade policial propôs à Sra. Mimosa a instalação de um sof-

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tware no seu celular que permite o monitoramento da localização
da vítima, além de retransmitir, para o celular da delegada de po-
lícia, todo conteúdo das mensagens enviadas para o aparelho de
celular da indigitada vítima.
Assim, no dia 1º de dezembro de 2018, o genitor de Mimosa lhe
enviou mensagens acompanhadas das fotos íntimas, determinan-
do que a sua filha comparecesse ao seu estúdio fotográfico às 18
horas, com pretensão de manter com ela relação sexual.
Ao visualizar as mensagens, Dra. Nativa orientou que a vítima, Sra.
Mimosa, atendesse ao convite do seu genitor, no horário definido,
pois estaria monitorada, e lá deveria agir naturalmente. Assim, a
Sra. Mimosa fez.
Enquanto isso, a Delegada determinou que agentes da Polícia Civil
se posicionassem no entorno do imóvel onde funcionava o estú-
dio.
Ao ouvirem os gritos de socorro da Sra. Mimosa, os agentes po-
45
liciais arrombaram a porta e encontraram a vítima de calcinha e
sutiã, com as vestes rasgadas e o agressor totalmente despido. Foi
dada voz de prisão.
Conforme a doutrina, a situação ilustra uma hipótese de
A) flagrante ficto.
B) quase flagrante.
C) flagrante esperado.
D) flagrante controlado.
E) flagrante provocado.

QUESTÃO 4
Ano: 2018 Banca: VUNESP Órgão: TJ-SP Prova: Juiz Substituto
Em relação à prisão temporária, prevista na Lei n° 7.960/1989, assi-
nale a alternativa correta.
A) É cabível para os crimes que a admitem, e somente na fase pré-pro-
cessual, desde que em atenção a requerimento da Autoridade Policial
ou do Ministério Público, vedada a decretação de ofício.
B) É cabível para os crimes que a admitem, tanto na fase pré-proces-
sual quanto na processual, a requerimento da Autoridade Policial ou do
Ministério Público, vedada a decretação de ofício, por 5 (cinco) dias,
prorrogáveis uma vez e pelo mesmo prazo, em caso de extrema neces-
sidade, devidamente demonstrada.
C) É cabível para os crimes que a admitem, e somente na fase pré-
-processual, sendo imprescindível para a decretação, quando requerida
pela Autoridade Policial, a concordância do Ministério Público.
D) É cabível para os crimes que a admitem, tanto na fase pré-proces-
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sual quanto na processual, podendo ser decretada de ofício, ou a re-


querimento da Autoridade Policial ou do Ministério Público.

QUESTÃO 5
Ano: 2018 Banca: FCC Órgão: Prefeitura de Caruaru - PE Prova:
Procurador do Município
Poderá o juiz substituir a prisão preventiva pela domiciliar quando
o agente for
A) gestante somente a partir do 7° mês de gravidez.
B) maior de 75 anos.
C) mulher com filho de 11 (onze) anos de idade.
D) debilitado por motivo de doença.
E) imprescindível aos cuidados especiais de criança com deficiência
mental ou visual.

46
QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE

Na data do dia 03 de fevereiro de 2020, Luiz foi preso em flagrante na


Comarca de Juiz de Fora/MG pela prática do crime de curandeirismo.
O Flagranteado estava na praça central da cidade vendendo remédios
caseiros, aonde prometia a cura para várias doenças. Os policiais que
por ali passavam, decidiram prender Luiz em flagrante e o levá-lo para a
delegacia. O delegado lavrou o auto de prisão em flagrante e em segui-
da, o encaminhou para o juiz de direito da comarca, mantendo a prisão
de Luiz. Após receber o flagrante, o juiz logo proferiu decisão mantendo
a prisão e convertendo-a em preventiva, fundamentando que iria manter
Luiz preso, mesmo sendo réu primário, porque não concordava que o
Flagranteado iludisse a fé das pessoas. A postura do juiz foi correta?
Explique.

TREINO INÉDITO

A autoridade policial da 24ª Delegacia de Polícia de Piedade no Rio


de Janeiro, durante as investigações de um crime de associação cri-
minosa, representa pela decretação da prisão temporária do indiciado
Francisco, tendo em vista que a medida seria imprescindível para a con-
tinuidade das investigações. Os autos são encaminhados ao Ministério
Público do Estado do Rio de Janeiro, que se manifesta favoravelmente
à representação da autoridade policial, mas deixa de requerer expres-
samente, por conta própria, a decretação da prisão temporária. Por sua
vez, o magistrado, ao receber o procedimento, decretou a prisão tempo-

PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS


rária pelo prazo de 10 dias, ressaltando que a lei admite a prorrogação
do prazo de 05 dias por igual período. Fez o magistrado constar, ainda,
que Francisco não poderia permanecer acautelado junto com outros
detentos que estavam presos em razão de preventivas decretadas.
Considerando apenas as informações narradas, o advogado de Fran-
cisco, ao ser constituído, deverá alegar que:

a) O prazo fixado para a prisão temporária de Francisco é ilegal.


b) A decisão do magistrado de determinar que Francisco ficasse sepa-
rado dos demais detentos é ilegal.
c) A prisão temporária decretada é ilegal, tendo em vista que a asso-
ciação criminosa não está prevista no rol dos crimes hediondos e nem
naquele que admite a decretação dessa espécie de prisão.
d) A decretação da prisão foi ilegal, pelo fato de ter sido decretada de
ofício, já que não houve requerimento do Ministério Público.

47
NA MÍDIA

Ministro do STJ manda soltar 13 investigados no caso Brumadinho

O ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Nefi Cordeiro deferiu


nessa ocasião media liminar para soltar 13 funcionários da Vale e da
empresa TUV SUD presos no curso da investigação sobre o rompimen-
to da barragem de Brumadinho. Eles haviam sido presos depois que
o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), ao julgar o mérito do
habeas corpus impetrados pela defesa, rejeitou os pedidos.
Para o Min. Nefi Cordeiro, relator do caso, a decisão que embasou as
prisões não traz apontamento que justifique a mudança da compreen-
são apresentada naquele writ, pois, apesar de o fato em apuração ser
gravíssimo, a prisão temporária exige requisitos expressos de cautelari-
dade, com a indicação da necessidade da prisão para as investigações
criminais”, explicou o relator.
Entretanto, segundo o ministro, a prisão temporária exige a in-
dicação de riscos para a investigação de crimes taxativamente graves,
o que não foi verificado no caso analisado. Nefi Cordeiro afirmou que
tanto o juízo de primeiro grau quanto o TJMG apontam genericamente
a necessidade da prisão.

Fonte: Istoé
Data: 14mar. 2019.
Leia a notícia na íntegra:https://istoe.com.br/ministro-do-stj-manda-
-soltar-13-investigados-no-caso-brumadinho/
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NA PRÁTICA

Qualquer que seja a área de atuação do operador do direito cri-


minal é preciso que se exerça a profissão a partir de um olhar humano.
Tanto para a vítima que sofreu o crime, quanto àquele que responderá
por seus atos.
Quando se trata do encarceramento, a situação é ainda mais
delicada. Trata-se do cerceamento da liberdade de um indivíduo.
Os profissionais das ciências criminais, que geralmente têm cunho mais
humanitário em nossa formação jurídica, denunciam a prática insana
que se perpetua ao longo da práxis forense, de primeiro encarcerar al-
guém, para depois investigar e ver se realmente é culpado pelo que lhe
foi imputado.
Ao leigo parece mesmo que a preventiva é a regra, uma vez que a prá-
tica do aprisionamento é a mais comum, enquanto deveria ser a ultima
48
ratio. Iria mais longe para dizer que não é de agora que esta prática é
presente em nossa comunidade forense. Estamos em um grande mo-
mento do encarceramento.
Eis uma situação em que a prática se tornou regra: as audiên-
cias de custódias. Medida fundamental em que, ao mesmo tempo, hu-
maniza-se o ritual judiciário e criam-se as condições de possibilidade de
uma análise acerca do periculum libertatis, bem como da suficiência e
adequação das medidas cautelares diversas do art. 319 do CPP.

PARA SABER MAIS

Documentário sobre o assunto: “Torturas e maus-tratos, como preve-


nir?” (CNJ, 2018)

Acesse os links:http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/88171-documentario-
-mostra-papel-da-audiencia-de-custodia-contra-a-tortura-2

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49
DAS
NULIDADES
CONCEITO
Sem dúvida, em um Estado Democrático de Direito, o exercício
do direito de punir só é legítimo quando respeitado o devido processo le-
PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS

gal. A função jurisdicional exercida pelo Estado é obtida em uma relação


processual equilibrada. As nulidades advêm do princípio constitucional
do devido processo penal – art. 5º, inc. LIC, da CF – e está descrito nos
artigos 563 a 573 do Código de Processo Penal.
O legislador determinou um padrão a ser seguido, uma se-
quência de atos processuais concatenados que exigem o cumprimento
de regras legais subordinadas a eficácia e a validade, o que se denomi-
na um sistema de tipicidade de formas.
Trata-se da natureza instrumental do direito processual penal.
Imagine uma coreografia composta de passos interligados e sequen-
ciais. Qualquer passo dado fora de ordem desmantela toda a coreogra-
fia.
Quando se trata da tipicidade no âmbito do direito material, sig-
nifica dizer que a conduta praticada pelo agente deve corresponder ao
tipo penal previsto em lei, com o objetivo que o agente apenas responda
por penalmente por aquilo que a lei penal proíbe, bem como permite
50
que o Estado possa exercer o direito de punir quando um tipo penal for
violado25.
A tipicidade das formas em âmbito processual penal garante
às partes segurança jurídica, uma vez que os atos forem praticados em
conformidade com as leis processuais e com o texto constitucional.
O ato praticado pode ser típico ou atípico, ou seja, pode estar
em conformidade com as exigências legais ou não. Entretanto é preciso
fazer uma ressalva: enquanto o ato típico é puro e simplesmente aquele
que atende aos requisitos legais, o mesmo não se pode dizer do ato
atípico, uma vez que há graus de atipicidade e suas consequências
poderão variar.
Diante do sistema adotado pelo legislador há o que se conhe-
ce como vícios dos atos processuais em inexistentes, irregulares e
nulos.
É inexistente aquele ato que desrespeitar essencialmente os
requisitos suficientes para sua relevância. Esse ato não precisa sequer
ter seu vício reconhecido, uma vez que não gera qualquer efeito.
São irregulares aqueles atos que mesmo não respeitando a lei,
não geram desequilíbrio ao processo.
O reconhecimento da nulidade de qualquer ato processual de-
penderá sempre de um provimento judicial. O ato perderá sua eficácia
somente quando a nulidade for declarada judicialmente. Até aí, o ato
estará apto a produzir todos os efeitos que lhe são próprios, o que dife-
rencia a nulidade da inexistência. O ato inexistente, independentemente
de qualquer decisão judicial, não produz efeitos pela simples razão de
que juridicamente ele não existe.

PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS


Assim se vê que, sendo declarada a nulidade, o ato processual
nulo perderá sua eficácia jurídica. Vale lembrar, desde já, que alguns
efeitos do ato nulo podem remanescer, não obstante a decretação da
nulidade. Assim, a pena imposta por sentença condenatória anulada em
virtude de recurso exclusivo do réu não poderá ser exasperada em uma
segunda condenação, pela proibição da reformatio in pejus indireta.
A nulidade tem por fim compelir os sujeitos processuais ao
cumprimento do padrão típico legal, ou seja, se o sujeito não observar
a forma, aquele ato será considerado inválido. Logo, a nulidade em si é
uma sanção cominada ao desrespeito às formas.
De acordo com o grau do interesse protegido pela norma, a
nulidade pode ser26:
a) Absoluta. Diz-se absoluta a nulidade que deve ser reconhe-
25 DE LIMA, Renato Brasileiro. Manual de Processo Penal. Volume Único, 2017, p. 1.565.
26 Mougenot, Edilson Curso de processo penal / Edilson Mougenot. – 13. ed. – São Paulo
: Saraiva Educação, 2019.

51
cida de ofício pelo juiz, pois o vício do ato atinge um interesse público,
normalmente consubstanciado no atendimento aos princípios que inte-
gram o devido processo legal em seu aspecto formal. Por essa razão, o
prejuízo, nos casos de nulidade absoluta, é presumido, evidente, mani-
festo. Também nos casos de violação de preceito constitucional estare-
mos diante de nulidade absoluta. A nulidade absoluta pode ser alegada
e reconhecida a qualquer tempo, não sendo passível de convalidação.

b) Relativa. Nos casos de nulidade relativa, o reconhecimento


da invalidade do ato processual dependerá de arguição da parte preju-
dicada, que deverá demonstrar o prejuízo ou gravame causado pelo ato
viciado. Caso a parte não se manifeste no momento oportuno (art. 571
do CPP), a nulidade será considerada sanada. Cumpre destacar que a
lei permite ao juiz reconhecer de ofício qualquer nulidade que ocorra no
feito, seja ela absoluta ou relativa, pois tem o dever de prover à regula-
ridade do processo, expurgando qualquer vício que possa prejudicar o
esclarecimento da verdade, nos termos do art. 251 do CPP.
É importante destacar a recente alteração legislativa conhecida
como Pacote Anticrime (Lei nº 13.964/2019) veio a reconhecer aquilo
que já era largamente aceito pela doutrina e pelos tribunais, deixando
positivado que ocorrerá nulidade sempre que a decisão for carente de
fundamentação.
Trata-se aqui de simples inclusão do inciso V ao art. 564 do
Código de Processo Penal, para consignar expressamente a existência
de nulidade quando se tratar de decisão carente de fundamentação.
PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS

PRINCÍPIOS
São princípios relativos à nulidade:
Princípio da Tipicidade das Formas: Este princípio com-
preende que todo ato processual deve ser praticado em conformidade
com as leis processuais e a Constituição Federal, com o objetivo de
garantir às partir e à coletividade segurança jurídica e a aplicabilidade
do devido processo legal.
Cabe lembrar, que nem todo ato atípico é capaz de acarretar
invalidação, dependendo fazer a análise do grau da atipicidade das con-
sequências da inobservância da forma legal acarretadas.
Princípio do Prejuízo: Ainda que o ato tenha violado a forma
prevista em lei, não será anulado se atingido o seu fim – art. 563, CPP
– pas de nullité sans grief.
Entende-se como princípio do prejuízo o fato de que o ato pro-
cessual estar viciado não suficiente para que seja considerado inválido,

52
pois, é preciso que esse vício seja capaz de produzir prejuízo às partes,
para que seja autorizado o reconhecimento da nulidade do mesmo.
O art. 566, do CPP, determina que “não será declarada a nuli-
dade de ato processual que não houver influído na apuração da verda-
de substancial ou na decisão da causa27”, ou seja, sendo o ato viciado
incapaz de prejudicar o convencimento judicial, não há por que reco-
nhecê-lo nulo. A exemplo vide a súmula 366 do STF.
É importante reafirmar que tal princípio é válido tanto para a
nulidade relativa quanto para nulidade absoluta, pois, deve ser compro-
vado na primeira, sendo presumido na segunda - Vide Súmula 523 do
STF.
Segue figura de quadro demonstrativo trazido na pela doutrina
de Norberto Avena:

Figura 1: Quadro esquematizado sobre o princípio do prejuízo28.

PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS

Princípio da Causalidade/ da Extensão/ da Sequencialida-


de da Contaminação ou da Consequencialidade: Sendo decretada
a nulidade de um ato processual, ela acarretará a nulidade daqueles
atos que forem dependentes deste ou que sejam sua consequência.
Anunciando a nulidade de um ato processual, o juiz deverá declarar a
nulidades daqueles a que se estendem – art. 573, § 2º, do CPP.
Da mesma forma, não havendo qualquer relação de causali-
dade entre o ato declarado nulo e demais atos processuais, a eficácia
53
destes permanecem a mesma e, isso se deve ao princípio da conserva-
ção dos atos processuais.
É importante fazer uma observação acerca da dependência
entre o ato anulado e aqueles que forem dependentes a ele: essa re-
lação não é sempre cronológica. É preciso que haja uma entre o ato
declarado nulo e os dependentes uma relação lógica, que ficará a cargo
do juiz avaliar a existência ou não desta.
Princípio do Interesse: Este princípio está estampado no art.
565, do CPP, que estabelece que nenhuma das partes pode arguir a
nulidade a que tenha dado causa – nemo auditur turpitudinem allegans.
Esse é um princípio que apenas é aplicável às nulidades relativas, uma
vez que para as nulidades absolutas há violação de norma de interesse
público e qualquer parte tem legitimidade para arguir.
Do mesmo modo, este é um princípio que não se aplica ao
Ministério Público, pois, cabe a este a defesa da ordem jurídica e, por-
tanto, seu interesse é presumido para pleitear nulidade relativa em favor
da defesa, seja quando atua como parte ou como custos legis29.
Princípio da Instrumentalidade das Formas/ da Finalidade:
Há três sistemas com os quais podem ser impostas sanções de nuli-
dade, quais sejam: (1) sistema da legalidade das formas, formalista ou
da indeclinabilidade das formas; (2) sistema da legalidade das formas
mitigado; e o (3) sistema da instrumentalidade das formas.
Por muito tempo, usou-se os dois primeiros sistemas que reco-
nheciam a nulidade sempre que o ato processual fosse praticado fora
do modelo legal ou sempre que a lei assim entendesse. Entretanto, isso
possibilitava que o magistrado usasse de sua discricionariedade para
PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS

analisar as consequências do vício, o que geralmente, acarretava na


declaração de muitas nulidades sem efetivo prejuízo às partes.
Atualmente, utiliza-se a instrumentalidade das formas cujas ir-
regularidades possuem graus distintos e sendo a declaração de nulida-
de condicionada à constatação de efetivo prejuízo às partes.
Princípio da Convalidação/ do Aproveitamento/da Prote-
ção: Esse princípio traz a ideia de que a nulidade não deve ser declara-
da, quando for possível sanear o vício, ou seja, suprir o defeito.
Entretanto, mais uma vez, este é um princípio válido apenas às
nulidades relativas, já que os atos absolutamente nulos não podem ser
saneados ou convalidado. São causas de convalidação:

- Suprimento: acréscimo, adição, suplemento. As omissões


podem ser resolvidas por meio de suprimentos.
29 DE LIMA, Renato Brasileiro. Manual de Processo Penal. Volume Único, 2017, p. 1.603.

54
- Retificação: consertar, emendar, ajustar, corrigir.
- Ratificação: reafirmação, reiteração, revalidação.
- Preclusão: trata-se da perda do direito de manifestar-se no
processo, ou seja, a perda da capacidade de praticar os atos proces-
suais por não os ter feito na oportunidade devida ou na forma prevista.
É a perda de uma faculdade processual, isto é, no tocante à prática de
determinado ato processual. São espécies de preclusão:
a) Temporal: advém do não exercício de um direito processual
em um prazo determinado.
b) Lógica: advém da contradição entre dois atos processuais
praticados
c) Consumativa: acontecerá quando o direito à prática daque-
le ato já houver sido exercido anteriormente.

- Prolação de Sentença: na hipótese de ato processual defei-


tuoso e haja decisão de mérito em favor de parte prejudicada, não há
que se falar em reconhecimento dessa nulidade, uma vez que, a prola-
ção da sentença resolve o vício. Essa é a ideia contida no art. 282, § 2°,
do CPC, determina que “quando puder decidir do mérito a favor da parte
a quem aproveite a declaração de nulidade, o juiz não a pronunciará
nem mandará repetir o ato, ou suprir-lhe a falta”.

- Coisa Julgada (Preclusão Máxima): aquelas irregularida-


des não alegadas ou não apreciadas durante a tramitação do processo
não poderão ser suscitadas após a coisa julgada que funciona como
uma “causa de saneamento geral”30.

PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS


Entretanto, quando se trata de nulidades absolutas em favor da
defesa, é possível que sejam arguidas mesmo após trânsito em julgado
em sentenças condenatórias ou absolutórias impróprias.

ESPÉCIES DE IRREGULARIDADES
A partir da análise da gravidade do defeito do ato processual e
suas consequências, RENATO BRASILEIRO classifica as irregularida-
des da seguinte forma31:
• Irregularidades ou defeitos sem consequência: nessa es-
pécie, embora não tenha sido observado a forma legal, a irregularidade
não acarretará quaisquer consequências. O doutrinador cita o exemplo
do art. 169, § 1º do CPC que veda a utilização de abreviaturas em peças
processuais.

30 Expressão usada por Renato Brasileiro.


31 DE LIMA, Renato Brasileiro. Manual de Processo Penal. Volume Único, 2017, p. 1.566.

55
• Irregularidades ou defeitos que acarretam tão somente
sanções extraprocessuais: nessa hipótese, a irregularidade acarre-
tará sanções para além do processo e não dentro daquele, como é o
exemplo do art. 277, parágrafo único, alínea c, do CPP e do art. 265,
caput, do CPP.

• Irregularidades ou defeitos que podem acarretar a invali-


dação do ato processual: esta já uma hipótese de irregularidade com
consequências mais graves, uma vez que a irregularidade atenta contra
o interesse público ou contra interesse de uma das partes e, portanto,
está sujeita à declaração de nulidade.

• Irregularidades ou defeitos que acarretam a inexistência


jurídica: trata-se de irregularidade extremamente grave que viola o de-
vido processo legal de maneira tão absurda que incorre na inexistência
do ato processual. Ex.: sentença prolatada por juiz impedido.
Vale ressaltar que a irregularidade é vista como o menor dos
vícios que podem atingir um ato jurídico, salientando que o ato existe, é
válido e eficaz32.
A lei não comina nenhuma sanção ao ato irregular, que, assim,
não precisa ser renovado. No âmbito do Código de Processo Penal,
materializa-se a irregularidade com a previsão do art. 569 do CPP, dis-
pondo que as omissões da denúncia ou da queixa poderão ser supridas
a qualquer tempo antes da sentença final, como exemplo podemos citar
a denúncia sem rol de testemunhas; falta de pedido de citação ou de
condenação na inicial acusatória; falta do recibo de entrega do preso
PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS

ao condutor do flagrante; deferimento de compromisso à testemunha


impedida de prestá-lo e ausência de qualificação dos peritos no laudo
de exame cadavérico.

NULIDADE ABSOLUTA X NULIDADE RELATIVA


A doutrina distingue a nulidade absoluta e a nulidade relativa.
Essa não é uma tarefa fácil, pois a classificação dada pela legislação
não é aceita majoritariamente. Em termos gerais, os termos se distin-
guem da seguinte forma:

32 Avena, Norberto Processo penal / Norberto Avena. – 10. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de
Janeiro: Forense, São Paulo: MÉTODO, 2018

56
Nulidade Absoluta Nulidade Relativa
Aquela que advém da violação de uma formalidade Aquela que advém da violação de forma
prevista em lei que tinha por fim a proteção de inte- do ato que tem por fim a proteção do inte-
Conceito resse processual de ordem pública. Portanto, havendo resse privado das partes.
violação de uma regra constitucional, haverá nulidade
absoluta.

A nulidade absoluta também prescinde de alegação A nulidade relativa está sujeita à preclu-
por parte dos litigantes e jamais preclui, podendo ser são. Serão consideradas sanadas caso
reconhecida ex officio pelo juiz, em qualquer fase do não sejam apresentadas no prazo.

Declaração ex officio processo. Não pode ser declara de ofício pelo juiz,
devendo a parte invocar.

• Exceção: exceto pela súmula 160 do STF

Sanável Não Sim

- violação a um princípio constitucional do processo; - violação de determinada forma do ato;

- a regra violada visa garantir interesse de ordem - tem por fim proteger um direito da
pública, e não mero parte;

interesse das partes; - interesse predominante das partes;

- prejuízo é presumido;

- possibilidade de ocorrência das partes;


Características

- não ocorre preclusão; o vício jamais se convalida,


sendo desnecessário

PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS


- necessário a comprovação do prejuízo;

arguir a nulidade no primeiro momento processual; o


juiz poderá reconhecê-la de ofício a qualquer momen- - deve ser arguida no prazo legal, sob
to do processo; pena de preclusão;

- depende de pronunciamento judicial para ser reco- - necessidade de pronunciamento judicial


nhecida. para o reconhecimento.

Rol de nulidades
Art. 564, inc. I, II, III, a, b, c, d, primeira parte, e, Art. 564, inc. III, d e e, segunda parte,
prevista no Código de
primeira e terceira parte, f, i, j, k, l, m, n, o e p. g e h, IV.
Processo Penal*

Princípio do prejuízo ou instrumentalidade das formas; Princípio da instrumentalidade das for-


mas;
Princípio da causalidade
Princípios aplicáveis
Princípio da causalidade;

Princípio do interesse.

57
*Outras nulidades podem ser reconhecidas fora do Código, este é um
rol exemplificativo.

Na prática, podemos trazer como exemplo de nulidade abso-


luta as incompetências ratione materiae e ratione personae que ense-
jam a nulidade absoluta do processo criminal, a realização do interro-
gatório do réu sem a presença de advogado, a ausência de intimação
pessoal do defensor público ou do defensor constituído para a audiên-
cia ou sessão de julgamento, a não formulação de quesito obrigatório
aos jurados por ocasião do julgamento pelo júri (Súmula 156 do STF),
a ausência de intimação do advogado constituído pelo réu para o ofere-
cimento de contrarrazões ao recurso interposto e a falta de notificação
pessoal do defensor dativo para a prática de atos processuais (art. 370,
§ 4.º, do Código de Processo Penal).
Por fim, no tocante a nulidade relativa, podemos citar como
exemplos no meio prático a incompetência do juízo ratione loci, a au-
sência de intimação do réu para audiência de oitiva de testemunhas
quando presente o seu advogado constituído, a falta de intimação quan-
to à expedição de carta precatória, a falta de requisição do preso para
assistir inquirição de testemunha mediante precatória, a inobservância
da ordem de inquirição estabelecida no art. 212 do Código de Processo
Penal.

NULIDADES COMINADAS NO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL


PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS

O art. 564, do CPP comina as nulidades em um rol exemplifi-


cativo, qual seja:
I – Por incompetência, suspeição ou suborno do juiz:
Prevalece o entendimento de os atos praticados por juiz in-
competente são nulos e não inexistente, uma vez que proferido por
juiz investido de jurisdição. Conforme se depreende do art. 567 do CPP,
a incompetência do juízo apenas aluna os atos decisórios e devolve o
processo ao juiz competente.
Apenas uma hipótese admite a inexistência jurídica do proces-
so, qual seja: que o ato tenha sido proferido por pessoa que não estaria
investido no cargo judiciário, resultando em efeito jurídico inócuo.

58
há corrente que entende que, havendo incompetência, haverá
a inexistência de todo o processo em razão da violação de regra consti-
tucional e que, portanto, não há aplicação do art. 567, do CPP.
São causas de suspeição aquelas circunstâncias de cunho
subjetivos capazes de influenciar a imparcialidade do juiz, ou seja, con-
sidera-se suspeito aquele juiz que se interessa pelo sucesso de quais-
quer das partes.
O referido artigo não trata da incompatibilidade e nem mesmo
do impedimento, mas se entende que, nesses casos o processo seria
inexistente, pois, o juiz não estaria investido em função jurisdicional.
Posição minoritária, como defendida por BADARÓ33, discorda
dessa afirmativa, entendendo que, no caso de impedimento haverá nu-
lidade absoluta conforme se verifica no art. 252 do CPP.
A expressão suborno não é utilizada adequadamente pela
doutrina, uma vez que, imediatamente, a associa a prática de crimes
como corrupção passiva, concussão ou prevaricação.
Diferentemente do que se pensa, o suborno abrange qualquer
vantagem que o juiz receba em proveito próprio ou alheio como, por
exemplo, favores sexuais, emprego a um parente, etc.34

II - Por ilegitimidade de parte:


Inicialmente, é preciso esclarecer que, a ilegitimidade ad cau-
sam difere-se da ilegitimidade ad processum, pois, enquanto a primeira
remete à capacidade que o indivíduo tem para figurar no polo ativo ou
passivo processual, a segunda decorre da impossibilidade de alguém
estar agindo em juízo em nome próprio ou alheio.

PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS


Parte da doutrina tem o entendimento de que a ilegitimidade
ad causam possui natureza absoluta, enquanto a ad processum tem
natureza relativa, uma vez que se submeteria ao art. 568, do CPP que
permite o saneamento por meio de ratificação.
Outra parte da doutrina da qual se filia NORBERTO AVENA35,
entende que a ilegitimidade ad processum é na realidade uma nulidade
absoluta, podendo ser suscitada a qualquer tempo, mesmo após trânsito
em julgado.
Há, no entanto, assim como BADARÓ36, quem entenda que o
Código de Processo Penal previu a ilegitimidade de partes como nuli-
dade do processo equivocadamente, pois, seria na realidade uma hipó-
tese de extinção do processo sem julgamento de mérito, conforme art.
395, caput, II, do CPP.
33 BADARÓ, Gustavo. Processo Penal. 5ª. ed. rev., atual. e ampl., 2017, p. 810.
34 AVENA, Norberto. Processo Penal, 2018, p. 1.252.
35 AVENA, Norberto. Processo Penal, 2018, p. 1.253.
36 BADARÓ, Gustavo. Processo Penal. 5ª. ed. rev., atual. e ampl., 2017, p. 811.

59
III - Por falta das fórmulas ou dos termos seguintes:

a) A denúncia ou a queixa e a representação e, nos pro-


cessos de contravenções penais, a portaria ou o auto de prisão em
flagrante;
Cabe ressaltar que, apenas se mantém vigente a primeira par-
te da alínea, qual seja, a falta de “a de denúncia ou queixa e a repre-
sentação”, uma vez que a segunda parte não fora recepcionada pela
Constituição Federal de 1988, referentes ao chamado procedimento ju-
dicialiforme dos art. 531 a 538, do CPP que já não têm mais aplicação.
É necessário também que se acrescente à referida alínea a
nulidade pela falta de requisição do Ministro da Justiça como condição
de procedibilidade.

b) O exame do corpo de delito nos crimes que deixam ves-


tígios, ressalvado o disposto no art. 167;
Conforme disposição do art. 158, do CPP, nos crimes que dei-
xam vestígio, a prova da materialidade do delito deve se dar por meio do
exame de corpo de delito, seja ele direto ou indireto, não podendo esse
meio de prova ser suprido pela confissão do acusado.
Entretanto, o art. 167, do CPP, permite que o exame de corpo
de delito seja suprido pela prova testemunhal, caso os vestígios tenham
desaparecido37.
PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS

Alteração legislativa realizada pela Lei n. 13.721 de


02/10/2018
Art. 158, do CPP38: Quando a infração deixar vestígios, será
indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não poden-
do supri-lo a confissão do acusado.
Parágrafo único. Dar-se-á prioridade à realização do exame de
corpo de delito quando se tratar de crime que envolva:
I - violência doméstica e familiar contra mulher;
II - violência contra criança, adolescente, idoso ou pessoa com
deficiência.

37 VideSTJ - HC: 131655 SP 2009/0049713-0, Relator: Ministro FELIX FISCHER, Data de Julgamen-
to: 09/03/2010, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 03/05/2010)
38 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del3689.htm

60
c) A nomeação de defensor ao réu presente, que o não ti-
ver, ou ao ausente, e de curador ao menor de 21 anos;
A defesa técnica é garantia constitucional indisponível e irre-
nunciável, em todo e qualquer processo penal. Ainda que o acusado
não tenha capacidade postulatória, e não queira defesa técnica, caberá
ao juiz nomear defensor. Essa é concepção que se abstrai do texto do
art. 261 do CPP que determina “nenhum acusado, ainda que ausente
ou foragido, será processado ou julgado sem defensor”39.
Neste mesmo dispositivo, a Lei n. 10.792/03 acrescentou o pa-
rágrafo único determinando que “a defesa técnica, quando realizada por
defensor público ou dativo, será sempre exercida através de manifesta-
ção fundamentada40”.
No mesmo sentido, segue o art. 396-A, §2º, do CPP que de-
termina: “Nos procedimentos ordinário e sumário, oferecida a denúncia
ou queixa, o juiz, se não a rejeitar liminarmente, recebê-la-á e ordenará
a citação do acusado para responder à acusação, por escrito, no prazo
de 10 (dez) dias”.41
A defesa técnica deve ser além de necessária, efetiva e capaz
de cumprir seu papel – vide súmula n. 523, STF.
Ademais, não há mais necessidade de nomeação de curador
para o indiciado menor de 21 anos, pois em virtude do Código Civil de
2002, a menoridade cessa aos 18 anos completos e o art. 194 do CPP
fora revogado pela Lei n. 10.792/03.
d) A intervenção do Ministério Público em todos os termos
da ação por ele intentada e nos da intentada pela parte ofendida,
quando se tratar de crime de ação pública;

PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS


O dispositivo trata de duas hipóteses distintas, quais sejam:
- Falta de intervenção do Ministério Público nos casos de
ação penal pública: Tratar-se-á de causa de nulidade absoluta quando
houver a falta de intervenção do Ministério Público nos crimes de ação
penal pública, pois, se trata de ação instaurada por meio de denúncia
oferecida pelo Parquet é óbvia sua intervenção, haja vista seu interes-
se. Assim afirma, BRASILEIRO (2017, p.1597):

Ora, se se trata de processo criminal instaurado por meio de denúncia oferecida


pelo Ministério Público, é evidente que sua intervenção é obrigatória em todos os
termos do processo, importando a falta de sua intervenção, quando não instado
para tanto, em evidente quebra da paridade de anuas inerente ao princípio do
contraditório, com a consequente nulidade absoluta do feito em virtude do cer-
ceamento da acusação.

39 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del3689.htm
40 Idem.
41 Idem.

61
O autor entende que, tratando-se de atos instrutórios, caso o
Ministério Público tenha sido notificado corretamente para prática do ato
e, ainda assim, se mantenha inerte, tratar-se-á de causa de nulidade
relativa que estará condicionada à comprovação de prejuízo.
Dessa forma, ao se tratar de atos postulatórios, estar-se-á
diante de causa de nulidade absoluta.
- Falta de intervenção do Ministério Público nos casos de
ação penal privada subsidiária da pública: Nessa hipótese, a não
intervenção do órgão ministerial acarreta a nulidade relativa do ato pro-
cessual, passível de ser sanada caso não seja sanada em prazo legal
preestabelecido, conforme art. 572, inc. I, do CPP.

e) A citação do réu para ver-se processar, o seu interro-


gatório, quando presente, e os prazos concedidos à acusação e à
defesa;
Este dispositivo é composto de três hipóteses, quais sejam:
- Falta de citação do réu para ver-se processar: é por meio
da citação que se dá ciência ao acusado do recebimento da denúncia
ou queixa contra sua pessoa, dando oportunidade para que se defenda,
garantindo o exercício tanto do contraditório quanto da ampla defesa.
Portanto, a falta da citação acarreta a nulidade absoluta. Se a
citação não existiu ou, se existiu, mas houve nulidade, o processo será
considerado nulo ab initio, a isso dá-se o nome de circundação.
- Falta de interrogatório do acusado: haverá aplicabilidade
na hipótese em o juiz se nega a realizar o interrogatório de acusado
presente, devendo haver, então, o reconhecimento da nulidade absolu-
PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS

ta, uma vez que ao se negar o interrogatório nega-se também o exercí-


cio do direito de autodefesa do réu, que por conseguinte viola garantia
constitucional da ampla defesa – art. 5º, inc. LV, CF.
- Não concessão de prazos à acusação e à defesa: esta
hipótese, trata dos prazos legais que poderão ser abertos ou reduzidos
pelo juiz à acusação ou à defesa. Esta hipótese também está abarcada
no art. 572, do CPP, na medida em que tal vício poderá ser sanado se
não for arguido em tempo oportuno ou ainda se praticado por outra for-
ma, desde que tenha seu objetivo atingido. Portanto, na maior parte das
vezes, trata-se de caso de nulidade relativa.

f) A sentença de pronúncia, o libelo e a entrega da respec-


tiva cópia, com o rol de testemunhas, nos processos perante o
Tribunal do Júri;
Inicialmente, cumpre ressaltar que, o legislador embora trate
a pronúncia como sentença, sua natureza jurídica é, na verdade, de
62
decisão interlocutória mista não terminativa.
Isto posto, a partir da Lei n. 11.689/08, a intimação da pronún-
cia embora continue sendo obrigatória, permite que o acusado solto
possa ser intimado por edital, caso não seja encontrado, permitindo que
seja declarada a sua revelia e que o processo siga seu curso normal-
mente, ainda que sem sua presença.
Em relação ao libelo crime acusatório, não há aplicabilidade,
uma que foi extinguido pela Lei n. 11.689/2008.

g) A intimação do réu para a sessão de julgamento, pelo


Tribunal do Júri, quando a lei não permitir o julgamento à revelia;
A intimação para a sessão de julgamento funciona como garan-
tia constitucional do contraditório, portanto, na falta de sua realização há
que ser declarada nulidade. Na hipótese do acusado solto regularmente
intimado que não compareça à sessão, não há qualquer obstáculo que
impeça a realização da sessão de julgamento, cabendo a ele solicitar
dispensa de comparecimento (art. 457, § 2º, in fine, CPP). Entretanto,
caso não haja intimação, a sua ausência acarretará nulidade. Embora o
art. 572, do CPP sugira ser hipótese de nulidade relativa, é preciso con-
siderar que se trata de grave violação à garantia constitucional da ampla
defesa, na medida em que o acusado é privado de exercer o direito de
audiência e, portanto, de autodefesa.

h) A intimação das testemunhas arroladas no libelo e na


contrariedade, nos termos estabelecidos pela lei;
Assim como a letra “f”, não há aplicabilidade integral para a

PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS


letra “h” haja vista a reforma dada pela Lei n. 11.689/08 que extinguiu o
libelo e contrariedade ao libelo.
Diante do novo procedimento, logo após a pronúncia, as par-
tes são intimadas para arrolar as testemunhas e requer diligências (art.
422, do CPP). Caso as testemunhas arroladas e deferidas pelo juiz não
forem intimadas, ocorrerá nulidade.

i) A presença pelo menos de 15 jurados para a constituição


do júri;
Para que haja o início do Tribunal do Júri, é necessário que
haja a presença de pelo menos 15 (quinze) dos 25 (vinte e cinco) jura-
dos convocados para que o juiz presidente possa declarar instalados
os trabalhos, anunciando o processo que será submetido a julgamento
– art. 463, caput, do CPP. Caso não haja esse quórum mínimo, há que
se declarar a nulidade absoluta do processo
Não é possível que haja empréstimo de jurados, ou seja, a cha-
63
mada de jurados de outras listas de julgamentos previstos para aquele
mesmo dia em diferentes plenários42.

j) O sorteio dos jurados do conselho de sentença em nú-


mero legal e sua incomunicabilidade;
O juiz presidente se certificará que as cédulas corresponden-
tes aos jurados presentes se encontram na urna para que, em seguida,
seja sorteado 7 (sete) jurados que formarão o Conselho de Sentença.
Se o julgamento for realizado sem que tenha sido realizado previamente
o sorteio para formação do Conselho, há que se reconhecer a nulidade
absoluta do ato.
Sendo assim, havendo nosso julgamento, o jurado que des-
te tenha participado não poderá participar do julgamento subsequente,
conforme previsão do art. 449, inc. I, do CPP.
O sistema da incomunicabilidade dos jurados constitui causa
de nulidade absoluta que viola o sigilo das votações – art. 5º, inc. XXX-
VIII, CF.

k) Os quesitos e as respectivas respostas;


A posição majoritária da doutrina e da jurisprudência com-
preende o vício na formulação dos quesitos como causa de nulidade
relativa, devendo ser suscitado naquele momento qualquer impugnação
aos quesitos elaborados pelo juiz, sob pena de preclusão – art.484,
caput, do CPP. Todavia, esta alínea não está arrolada no art. 572, do
CPP que perto o saneamento posterior, caso não seja a nulidade ar-
guida em momento oportuno, o que faz presumir que esta seja uma
PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS

nulidade absoluta4344.

i) A acusação e a defesa, na sessão de julgamento;


Considera-se nulo o processo caso não haja a presença física
do acusador ou do defensor, bem como se considerara nulo a falta de
efetiva acusação e defesa, devendo neste caso o juiz, declarar o réu
indefeso e dissolver o conselho de sentença conforme art. 497, inc. V,
do CPP.
m) A sentença;
A falta de sentença, na realidade, se trata de ato inexistente, e
não de hipótese de nulidade do processo. Trata-se de hipótese de omis-
são de ato de prolação de sentença que é ato final do processo, sem a
42 Vide (STF - HC: 88801 SP, Relator: SEPÚLVEDA PERTENCE, Data de Julgamento: 06/06/2006, Pri-
meira Turma, Data de Publicação: DJ 08-09-2006 PP-00043 EMENT VOL-02246-02 PP-00371)
43 Vide Súmula 156 e 162 do STF.
44 Também compreende como nulidade absoluta: Grinover, Magalhães Gomes Filho e
Scarance Fernandes, As nulidades do Processo Penal, p. 259.

64
qual não há fim do processo. Neste caso, não há nem mesmo que se
falar em recurso, haja vista que não há objetivo de impugnação.
Por outro lado, é possível que haja a ausência parcial de sen-
tença, ou seja, que o juiz tenha decido apenas sobre uma das preten-
sões tornando a sentença citra petita e, ensejando a interposição de
recurso para que haja manifestação acerca da pretensão omitida.

n) O recurso de ofício, nos casos em que a lei o tenha es-


tabelecido;
O recurso de ofício ocorre nos seguintes casos:
- Concessão de habeas corpus pelo juiz de primeiro grau – art.
574, inc. I, do CPP;
- Concessão de reabilitação – art. 746, do CPP.

A hipótese prevista no art. 574, inc. II do CPP fora tacitamente


revogada.
Súmula n. 423, do STF: Não transita em julgado a sentença
por haver omitido o recurso ex officio, que se considera interposto ex
lege.

o) A intimação, nas condições estabelecidas pela lei, para


ciência de sentenças e despachos de que caiba recurso;
A intimação tem por fim dar ciência à parte do ato processual,
bem como definir o termo inicial de seu prazo recursal.
Observada a ausência de intimação das partes em relação às
sentenças e decisões judiciais recorríveis, deve ser reconhecida nulida-

PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS


de do processo daquele momento em diante e, portanto, invalidada a
certidão de trânsito em julgado, reabrindo o prazo recursal.

p) No Supremo Tribunal Federal e nos Tribunais de Apela-


ção, o quórum legal para o julgamento;
Atualmente, entende-se por Tribunal de Apelação os Tribunais
de Justiça dos Estados e Distrito Federal, Tribunais Regionais Federais
e Superior Tribunal de Justiça.
IV - Por omissão de formalidade que constitua elemento
essencial do ato:
O inc. IV do art. 564 do CPP se difere do inc. III deste artigo, na
medida que no segundo haverá nulidade do processo se o ato disposto
em quaisquer das referidas alíneas não existir, enquanto no primeiro, o
ato existe, mas não tenha sido praticado com as formalidades essen-
ciais não podendo ser considerado válido e eficaz.

65
Sobre o tema, segue entendimento jurisprudencial:

Ementa: APELAÇÃO CRIMINAL. CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO. ROU-


BO MAJORADO PELO EMPREGO DE ARMA E PELO CONCURSO DE
PESSOAS. NULIDADE DO PROCESSO. AUSÊNCIA DE CITAÇÃO. Nos
termos do Art. 363 do Código de Processo Penal, a citação no processo
penal tem o efeito de formar a relação angular entre acusação, juiz e réu, o
qual somente passa a integrar tal relação com a sua citação válida. A citação
válida do acusado é pressuposto para um processo penal válido, uma vez
que, além da certificação do acusado sobre os termos da acusação que recai
sobre ele, chama o réu para exercer seu fundamental direito de defesa, asse-
gurando o contraditório e a ampla defesa. No caso dos autos, o réu não foi
citado da denúncia, bem ainda não foi citado do aditamento à denúncia,
razão pela qual é de ser declarada a nulidade do processo, nos termos
do Art. 564, III, “e”, do Código de Processo Penal, determinando-se a
remessa dos autos à origem, para que o acusado seja citado, deven-
do-se renovar o prazo para a apresentação de resposta à acusação e
ulteriores atos. PRELIMINAR DE NULIDADE DO PROCESSO. ACOLHI-
DA. (Apelação Crime, Nº 70080712748, Sétima Câmara Criminal, Tribunal
de Justiça do RS, Relator: José Conrado Kurtz de Souza, Julgado em: 13-
06-2019) – grifei.

MOMENTO LIMITE DE ALEGAÇÃO DAS NULIDADES


Momento Limite de Alegação das Nu-
lidades
Procedimento As nulidades da instrução devem ser ale-
Comum Ordi- gadas até as alegações finais – art. 571,
nário inc. II e 403, caput, CPP).
PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS

Na primeira fase do júri as nulidades de-


vem ser arguidas no prazo dados deba-
tes orais conforme art. 411, § 4º do CPP -
Art. 571, inc. I, CPP. Já na segunda fase,
Procedimento caso a nulidade tenha ocorrido após a
do Júri pronúncia deverá ser arguida quando
do anúncio do julgamento em plenário.
Mas se ocorrida em plenário, deverá ser
anunciada logo depois que ocorrerem –
art. 571, inc. VIII, do CPP.
Procedimento As nulidades devem ser arguidas nos
Sumário debates orais – art. 534, caput, do CPP.

Ainda assim, nulidades que ocorram na sentença ou após e


em julgamento em plenário, em audiência ou em sessão do Tribunal
deverão ser alegadas logo depois que ocorrerem – art. 571, inc. VII e
VIII, do CPP.
A sentença de primeiro grau também é um meio de convalida-

66
ção e está intimamente ligada ao princípio do interesse, pois, sendo a
sentença de mérito favorável à parte a quem beneficiaria o reconheci-
mento da nulidade, sana o vício.
Da mesma forma, havendo coisa julgada, haverá a convalida-
ção de um ato originalmente nulo.
Sobre o tema, na prática pode-se observar recente julgado do
Tribunal de Justiça mineiro:

EMENTA: APELAÇÃO CRIMINAL - JÚRI - HOMICÍDIO SIMPLES - RECUR-


SO DEFENSIVO - PRELIMINAR - NULIDADE DO JULGAMENTO - ACUSA-
DO QUE UTILIZAVA VESTES CARCERÁRIAS - ALEGADA INFLUÊNCIA NO
ÂNIMO DOS JURADOS - IMPROCEDÊNCIA - ARGUIÇÃO NÃO OPORTU-
NA - PRECLUSÃO - PREJUÍZO NÃO COMPROVADO - PRELIMINAR RE-
JEITADA - MÉRITO - DECISÃO MANIFESTAMENTE CONTRÁRIA À PROVA
DOS AUTOS - INOCORRÊNCIA - SOBERANIA DO CONSELHO DE SEN-
TENÇA - CONDENAÇÃO MANTIDA - RECURSO MINISTERIAL - PENA-
-BASE - AUMENTO - POSSIBILIDADE - CIRCUNTÂNCIAS DA CULPABILI-
DADE E CONSEQUÊNCIAS DO CRIME DESFAVORÁVEIS AO ACUSADO.
- Não merece acolhida a arguição de nulidade, quan-
do preclusa a faculdade da defesa de arguí-la, eis
que se silenciou a tal respeito no momento oportuno.
- Se o Conselho de Sentença apenas optou por uma das versões apresen-
tadas, com respaldo na prova produzida, é necessário que tal decisão seja
respeitada, diante do princípio constitucional da soberania dos veredictos,
previsto no art. 5º, inciso XXXVIII, da CF, não podendo a Corte Revisora ne-
gar sua vigência. (Súmula nº 28 do TJMG). - Deve ser reestruturada a repri-
menda estabelecida ao acusado, quando se mostrar desfavorável a ele parte
das circunstâncias judiciais do art. 59 do Código Penal.  (TJMG - Apelação

PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS


Criminal  1.0188.13.011136-5/001, Relator(a): Des.(a) Agostinho Gomes de
Azevedo , 7ª CÂMARA CRIMINAL, julgamento em 06/02/2019, publicação da
súmula em 15/02/2019) – grifei.

67
QUESTÃO 1
Ano: 2018 Banca: CONSULPLAN Órgão: TJ-MG Prova: Juiz de Di-
reito Substituto
Sobre as nulidades no processo penal, analise as afirmativas a se-
guir, marque V para as verdadeiras e F para as falsas.
( ) O Juiz poderá, ao proferir sentença condenatória, aplicar a agra-
vante da reincidência, ainda que ela não tenha sido descrita na
denúncia, não configurando ofensa ao princípio da correlação.
( ) A ausência de quesito obrigatório nos julgamentos do Tribunal
do Júri é causa de nulidade absoluta.
( ) A ausência de intimação do denunciado para oferecer contrarra-
zões ao recurso interposto da rejeição da denúncia constitui mera
irregularidade sanável pela nomeação de defensor dativo.
() A nulidade decorrente da citação, por edital, de réu preso só será
verificada se o denunciado estiver custodiado no mesmo estado
em que atuar o Juiz processante.
A sequência está correta em
A) V, V, F, V.
B) F, V, F, F.
C) F, F, V, V.
D) V, F, V, F.

QUESTÃO 2
Ano: 2018 Banca: VUNESP Órgão: PC-SP Prova: Delegado de Po-
lícia
PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS

Sobre as nulidades, é correto afirmar:


A) para fins de convalidação dos atos processuais, as nulidades da sen-
tença condenatória deverão ser alegadas na execução da pena, sob
pena de convalidação.
B) a preclusão não se aplica às nulidades por expressa disposição legal.
C) segundo o princípio da instrumentalidade das formas, não se anula
um ato se, embora praticado em desacordo com a forma prevista em
lei, atingiu o seu fim.
D) a não intervenção do Ministério Público na ação privada subsidiária
da pública gera nulidade absoluta.
E) o princípio do interesse aplica-se tanto às nulidades absolutas como
às relativas.

QUESTÃO 3
Ano: 2018 Banca: VUNESP Órgão: Câmara de Campo Limpo Pau-
lista - SP Prova: Procurador Jurídico
68
A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, no que concerne às
nulidades, firmou o seguinte entendimento:
A) é relativa a nulidade do processo criminal por falta de intimação da
expedição da precatória para inquirição de testemunha (Súmula).
B) é relativa a nulidade do julgamento, pelo júri, por falta de quesito
obrigatório (Súmula 156).
C) não ofende o devido processo legal a decisão do Tribunal que aco-
lhe, contra o réu, nulidade não arguida no recurso de acusação (Súmula
160).
D) é relativa a nulidade do julgamento pelo júri, quando os quesitos de
defesa não precedem aos das circunstâncias agravantes (Súmula 162).
E) não é causa de nulidade o julgamento ulterior pelo júri com participa-
ção de jurado que funcionou em julgamento anterior ao mesmo proces-
so (Súmula 206).

QUESTÃO 4
Ano: 2018 Banca: NUCEPE Órgão: PC-PI Prova: Delegado de Polí-
cia Civil
O código de processo penal elenca apenas um rol meramente
exemplificativo, no que diz respeito às nulidades. É caso de nulida-
de relativa à incompetência
A) Ratione materiae.
B) Ratione personae.
C) Competência funcional.
D) No júri, por falta de quesito obrigatório.
E) Territorial.

PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS


QUESTÃO 5
Ano: 2018 Banca: CESPE Órgão: STJ Prova: Analista Judiciário -
Oficial de Justiça Avaliador Federal
Considerando a jurisprudência dos tribunais superiores e a doutri-
na acerca dos procedimentos especiais e das nulidades no proces-
so penal, julgue o item que se segue.
A juntada tardia aos autos — após o interrogatório do réu — de
transcrições integrais de interceptações telefônicas autorizadas
judicialmente constitui causa de nulidade absoluta dos autos.
( ) Certo
( ) Errado

QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE

Capazes de invalidar o processo no todo ou em parte, as nulidades


69
se encontram regulamentadas na legislação, que estabelece critérios
para se desfazer ou sanar os atos defeituosos, ou seja, aqueles pratica-
dos com inobservância das formas previstas no ordenamento em vigor.
Aponte, dando algumas explicações, quais são os princípios informado-
res das nulidades no processo penal.

TREINO INÉDITO

Considerando a jurisprudência dos tribunais superiores e a doutrina


acerca das nulidades no processo penal, analise as afirmativas a seguir,
marque V para as verdadeiras e F para as falsas.

I - Em regra, a nulidade absoluta de sentença poderá ser arguida a qual-


quer tempo, ressalvada a hipótese da sentença absolutória que, uma
vez transitada em julgado, não mais comportará a referida arguição.

II - A falta de intimação do recorrido para apresentar resposta a recurso


interposto é hipótese de nulidade absoluta, mesmo que, a despeito de
não ter sido intimado, ele apresente as contrarrazões ao recurso aviado.
III - Caso o único advogado constituído nos autos renuncie ao mandato
antes de oferecer razões em sede de apelação, a não intimação prévia
do réu para constituir novo defensor será causa de nulidade do julga-
mento daquele recurso, por cerceamento de defesa.
IV - Nulidade ocorrida após a pronúncia deverá ser arguida na fase de
especificação das provas que serão produzidas em plenário, sob pena
de preclusão.
PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS

A sequência está correta em


A) V-F-F-V
B) V-F-V-V
C) V-F-V-F
D) F-F-V-F
E) F-V-F-V

NA MÍDIA

HABEAS CORPUS. ROUBO CIRCUNSTANCIADO. NULIDADE DO


FLAGRANTE. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. NULIDADE DO RECO-
NHECIMENTO PESSOAL. NÃO CONFIGURAÇÃO. PRISÃO PREVEN-
TIVA. ART. 312 DO CPP. PERICULUM LIBERTATIS. FUNDAMENTA-
ÇÃO IDÔNEA. EXCESSO DE PRAZO PARA O ENCERRAMENTO DO
FEITO. NÃO OCORRÊNCIA. ORDEM DENEGADA. 1. Para configura-
ção da situação de flagrância, deve-se evidenciar alguma das hipóteses
70
previstas no art. 302 do Código de Processo Penal. 2. A inobservância
das formalidades legais para o reconhecimento pessoal do acusado não
enseja nulidade, se não demonstrado o prejuízo. Precedentes. 3. O Tri-
bunal de origem, ao entender que a norma prevista no art. 226 do CPP
não é obrigatória e que o reconhecimento é válido, decidiu em conso-
nância com o entendimento do Superior Tribunal de Justiça, motivo pelo
qual não há flagrante ilegalidade na espécie. 4. A questão atinente à nu-
lidade do flagrante não foi apreciada pela Corte estadual, que conside-
rou prejudicada a tese em virtude da decretação da custódia preventiva
dos acusados, de modo que seu exame diretamente por este Tribunal
Superior acarretaria indevida supressão de instância. 5. Para submeter
alguém à prisão cautelar, é cogente a fundamentação concreta, sob as
balizas do art. 312 do CPP. 6. O Juízo singular, ao converter a prisão em
flagrante em custódia preventiva, evidenciou a necessidade de preser-
vação da ordem pública, ante a acentuada reprovabilidade da conduta
perpetrada e, por conseguinte, a maior periculosidade do paciente, visto
o modus operandi adotado por ele e pelos outros agentes na prática de-
litiva (roubo praticado mediante o emprego de arma de fogo, concurso
de cinco agentes e restrição de liberdade das vítimas, funcionários de
um estabelecimento comercial), havendo, portanto, elementos hábeis
a justificar a segregação cautelar. 7. É entendimento consolidado nos
tribunais que os prazos indicados na legislação processual penal para
a conclusão dos atos processuais não são peremptórios, de modo que
eventual demora no término da instrução criminal deve ser aferida le-
vando-se em conta as peculiaridades do caso concreto. 8. Fica afas-
tada, ao menos por ora, a alegação de excesso de prazo, em especial

PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS


porque falta apenas o interrogatório dos réus para a conclusão da fase
instrutória. 9. O Juízo natural da causa adotou as providências cabí-
veis para evitar a delonga injustificada na tramitação do feito, tanto que
determinou o desmembramento dos autos para um dos corréus, em
relação ao qual ainda havia testemunhas pendentes de inquirição. 10.
Ordem denegada.
(STJ - HC: 426067 SP 2017/0304224-1, Relator: Ministro ROGERIO
SCHIETTI CRUZ, Data de Julgamento: 05/04/2018, T6 - SEXTA TUR-
MA, Data de Publicação: DJe 16/04/2018)

NA PRÁTICA

O art. 563 do CPP dispõe que “nenhum ato será declarado nulo, se da
nulidade não resultar prejuízo para a acusação ou para a defesa.”
De maneira geral, a nulidade ocorre sempre que determinado ato ou
decisão judicial se revestisse de vícios e, por meio desse defeito, resul-
71
tasse prejuízo para a acusação ou para a defesa. Portanto, ao suscitar
uma nulidade, seria preciso demonstrar a ocorrência de prejuízo. Mas
lembre-se, apenas as nulidades relativas exigem prejuízo.
Por outro lado, as nulidades absolutas são consideradas vícios mais
sérios, uma vez que violam princípios constitucionais e penais, lesando
o interesse público. Destarte, tratam-se de vícios insanáveis que violam
a ordem pública. Cabendo lembrar que, embora não se convalidem em
nenhuma hipótese, podem ser declaradas de ofício.
Na prática, há uma resistência por parte da jurisprudência para reco-
nhecer as nulidades, principalmente as nulidades absolutas. A maior
parte das nulidades são relativas e justificam-se pela ausência de de-
monstração de prejuízo ou falta de impugnação em momento oportuno.
E a atenção do advogado em relação a estes fatores deve ser redobra-
da, sob pena de preclusão.

PARA SABER MAIS

Leitura indispensável: As Nulidades No Processo Penal

Autores: Grinover, Ada Pellegrini


Fernandes, Antônio Scarance
Gomes Filho, Antônio Magalhães
PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS

72
DOS RECURSOS
EM GERAL
TEORIA GERAL DOS RECURSOS

PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS


PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS
O recurso é o meio voluntário de impugnação, utilizado antes
da preclusão e na mesma relação processual, apto a propiciar a refor-
ma, a invalidação, o esclarecimento ou a integração de decisões judi-
ciais.
O direito de recorrer conecta-se ao princípio do duplo grau de
jurisdição (todas as decisões devem ser sujeitas, em tese, a nova rea-
preciação).
Os recursos sempre são voluntários e as hipóteses previstas
no Código no art. 574, são condições necessárias para preclusão ou
trânsito em julgado da decisão – Súmula 423 do STF.
Na doutrina, Renato Brasileiro demonstra as principais carac-
terísticas dos recursos quais sejam45:
a) voluntariedade: a existência de um recurso está condicio-
nada à manifestação da vontade da parte, que demonstra seu interesse
45 Lima, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal: volume único / Renato Brasileiro
de Lima – 4. ed. rev., ampl. e atual. – Salvador: Ed. JusPodivm, 2016.

73
de recorrer com a interposição do recurso;

b) previsão legal: para que um recurso possa ser conhecido,


é indispensável a análise do cabimento, compreendido pela doutrina
como a previsão legal da existência do recurso. Portanto, se a lei não
prevê recurso contra determinada decisão, significa dizer que tal de-
cisão é irrecorrível, o que, no entanto, não impede que a parte volte a
questionar a matéria em preliminar de futura e eventual apelação, por
meio de habeas corpus ou mandado de segurança;

c) anterioridade à preclusão ou à coisa julgada: o recurso é


interposto antes da formação da preclusão ou da coisa julgada;

d) desenvolvimento dentro da mesma relação jurídica pro-


cessual de que emana a decisão impugnada: a interposição de um
recurso não faz surgir uma nova relação jurídica processual. Na ver-
dade, o que ocorre com a interposição de um recurso é o simples des-
dobramento da relação anterior, em regra perante órgão jurisdicional
diverso e de hierarquia superior.
Casos remanescentes de reexame necessário:
- Sentença concessiva de habeas corpus - art. 574, inc. I,
do CPP.
- Sentença concessiva de reabilitação criminal - art. 746,
do CPP.
- Arquivamento de inquérito e sentença absolutória em crime
contra a economia popular ou saúde pública - art. 7º, da Lei n. 1.521/51.
PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS

A possibilidade de aproveitar a interposição de um recurso ina-


dequado consiste no cumprimento do princípio da fungibilidade dispos-
to no art. 574, do CPP aplicando-se a instrumentalidade das formas.
Entretanto, para que isso ocorra é preciso que o recurso tenha sido
interposto sem má-fé.
Obedecendo ao princípio da reformatio in pejus, a situação do
acusado não poderá ser agravada no julgamento de recurso exclusivo
da defesa. Cabe ressaltar, que a jurisprudência admite a reformatio in
pejus para a acusação, que é denominada reformatio in mellius, ou seja,
beneficia-se o acusado em recurso exclusivo da acusação, por força da
ausência de impedimento legal.

PRESSUPOSTOS
O cabimento de um recurso envolve duas condições: a recor-
ribilidade e a adequação.

74
A recorribilidade significa que a decisão impugnada deve es-
tar sujeita a recursos. Deve-se ter atenção a esse aspecto, eis que exis-
tem diversas situações de irrecorribilidade no processo penal, como o
indeferimento da suspensão do processo em virtude de questão prejudi-
cial facultativa (art. 93, § 2.º, do CPP); a admissão ou não do assistente
de acusação (art. 273 do CPP); a decisão na exceção de suspeição
de perito ou serventuário da justiça (art. 105 do CPP); a decisão que
conclui pela inexistência de repercussão geral no recurso extraordinário
(art. 326 do Regimento Interno do STF) etc.
A adequação, por sua vez, traduz-se como a necessidade de
que o recorrente utilize a via impugnativa correta para atacar a decisão,
entre as previstas em lei. Não é a adequação, entretanto, uma condição
inflexível, pois a própria lei processual prevê no art. 579 uma exceção
denominada princípio da fungibilidade, que possibilita ao juízo a quo
receber e ao juízo ad quem conhecer do recurso errado como se fosse
o recurso certo.

Art. 579. Salvo a hipótese de má-fé, a parte não será prejudicada pela in-
terposição de um recurso por outro. Parágrafo único. Se o juiz, desde logo,
reconhecer a impropriedade do recurso interposto pela parte, mandará pro-
cessá-lo de acordo com o rito do recurso cabível.

Os pressupostos recursais se dividem em objetivos e


subjetivos, vejamos:
Pressuposto Objetivos Pressupostos Subjetivos
- Cabimento: é sinônimo de previsão legal, devendo - Legitimidade: O art. 577, caput, do CPP determina

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o rol dos recursos é taxativo (princípio da taxatividade que possuem legitimidade para recorrer os mesmos
recursal). legitimados para a ação penal.

- Adequação: manejo do recurso correto. Conecta-


-se com o princípio da unirrecorribilidade ou singula-
ridade (como regra, cada decisão comporta um re- a) Acusação: Ministério Público, querelante e assis-
curso) e com o princípio da fungibilidade recursal (é tente de acusação (recurso do assistente tem nature-
expressamente disciplinado no art. 579, a parte não za subsidiária, ele somente poderá recorrer quando o
será prejudicada pela interposição de um recurso por MP não o fizer).
outro, salvo na hipótese de má-fé).

- Regularidade formal: observância das regras for-


mais de interposição. b) Defesa: Defensor, réu (só pode interpor aqueles
recursos que podem ser interpostos desacompanha-
- Tempestividade: O recurso deve ser interposto no dos das razões, ou seja, apelação e RESE) e curador.
prazo assinalado. O prazo dos recursos é processual
(exclui-se o termo inicial e inclui-se o termo final).

- Ausência de fatos impeditivos ou extintivos:


são fatos impeditivos aqueles acontecidos antes
da interposição e trata-se de renúncia – Súmula - Interesse recursal: O interesse recursal decorre da
705 do STF. Já os fatos extintivos surgem após a sucumbência (frustração de expectativa das vítimas).
interposição e tratam-se de desistência e deserção. Tem interesse a parte que sucumbiu em face da deci-
(Vide arts. 576, 806 §2º, e 602 § 2º, do CPP). são – art. 577, parágrafo único, do CPP.

75
PRAZOS
São cinco prazos dos recursos:

PRAZOS RECURSOS
48 horas Carta Testemunhável
2 dias Embargos de Declaração
Apelação

Recurso em Sentido Estrito

5 dias Agravo em Execução (Súmula n. 700, STF)

Embargos de Declaração na Lei n. 9.099/95

Recurso Ordinário Constitucional Criminal


Embargos Infringentes ou de Nulidade do CPP (aquele no STF o prazo
10 dias é de 15 dias)

Apelação na Lei n. 9.099/95


Recurso Extraordinário

15 dias Recurso Especial

Apelação e RESE do assistente de acusação não habilitado nos autos.


RESE no caso do art. 581, XIV (decisão que inclui ou exclui jurado da
20 dias
lista geral)
PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS

EFEITOS
Os recursos podem ter os seguintes efeitos:
• Devolutivo: O efeito devolutivo confunde-se com a própria
finalidade do
recurso de obter um novo pronunciamento sobre determinada
decisão, modificando-a, anulando-a ou integrando-a.
Em tela, estabelece a transferência da matéria decidida ao ór-
gão ad quem para reapreciação, nos exatos limites do pedido de re-
forma, que está contido na interposição, podendo ser classificado em
razão da extensão, isto é, o quantum de matéria se submete à reapre-
ciação e quanto à profundidade, que se traduz no material a ser utiliza-
do para julgar.
As decisões judiciais podem ser atacadas por error in judican-
do (erro de julgamento) ou error in procedendo (erro de procedimento).
76
O primeiro refere-se, por exemplo, à errônea apreciação de uma prova,
à fixação de pena em desconformidade com o merecido etc. Já o erro
de procedimento denuncia a ocorrência de um vício processual (v.g.,
nulidade absoluta por cerceamento do direito de defesa). Se o erro for
de julgamento, o juízo ad quem profere uma decisão substitutiva; caso
se trate de erro de procedimento, o tribunal anula os atos, determinando
que sejam refeitos.
É corolário do efeito devolutivo a proibição da reformatio in
pejus.
• Suspensivo: O efeito suspensivo impede que a decisão seja
executada até o julgamento do recurso, devendo ser consignadas na lei
suas hipóteses, por se tratar de medida excepcional.

Em âmbito processual penal, como regra, o efeito suspensivo


está ligado à possibilidade de se poder realizar a constrição da liberda-
de do réu quando sobrevier, contra ele, decisão desfavorável, conde-
nando-o pela prática de determinado delito.

Cumpre observar que exceção ao efeito suspensivo será a


sentença absolutória de réu que se encontrava preso. Neste caso, ain-
da que o Ministério Público interponha recurso da decisão, o réu deverá
ser colocado imediatamente em liberdade, tal como disposto no art. 596
do Código de Processo Penal.

• Extensivo: Previsto no art. 580 do Código de Processo Pe-


nal, o efeito extensivo, também chamado de iterativo, estabelece, no

PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS


caso do concurso de agentes (art. 29 do CP), o aproveitamento de uma
decisão a corréu não recorrente, desde que seja favorável e os motivos
que a ensejaram não forem de caráter exclusivamente pessoal.

Observa-se que o efeito extensivo é aplicado a todos os recur-


sos e às ações impugnativas autônomas de habeas corpus e revisão
criminal. Registre-se, ainda, a posição da doutrina (Tourinho Filho, entre
outros) no sentido de que o efeito extensivo não é propriamente um efei-
to, mas sim mera consequência da decisão. Nesse sentido, a doutrina
e a jurisprudência apontam existir somente três casos de extensão do
julgado, quais sejam: inexistência material do fato; atipicidade do fato ou
este não constituir crime e a extinção da punibilidade.

• Regressivo ou diferido: Previsto no artigo 589, caput, do


Código de Processo Penal, é resultado do juízo de retratação, em que
o juiz a quo reexamina sua decisão podendo reformá-la ou reafirmá-la.
77
JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE
O juízo de admissibilidade ou chamado de prelibação tem por
fim verificar a presença dos pressupostos recursais que, geralmente, se
realiza nos juízos a quo (recebimento) e ad quem (conhecimento).
Sendo admitido, o juízo ad quem fará o juízo de mérito (objeto
da impugnação), podendo dar ou não provimento ao recurso interposto.
O art. 252, III, do Código de Processo Penal, estabelece que
um mesmo magistrado não pode funcionar como juiz de outra instância
na hipótese de já haver se pronunciado, de fato ou de direito, sobre a
questão.
Em outras palavras, se determinado juiz sentenciou o caso
concreto como juiz de 1ª instância, não poderá atuar como desembar-
gador no julgamento de eventual apelação em relação ao mesmo pro-
cesso, contudo, não significa que após a prolação da sentença ou de
eventual acórdão, não possa o magistrado fazer o juízo de admissibi-
lidade de determinado recurso, portanto, se certos recursos são inter-
postos perante o juízo a quo, é de se concluir que, ainda que a decisão
impugnada tenha sido prolatada pelo próprio magistrado, não estará ele
impedido de proceder à análise da presença (ou não) dos pressupostos
de admissibilidade recursa.

Vejamos recente entendimento sobre a matéria pelo Supremo


Tribunal Federal:

EMENTA AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. LESÃO CORPO-


RAL NO ÂMBITO DOMÉSTICO. PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE
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DO RECURSO ESPECIAL. COMPETÊNCIA PRECÍPUA DO SUPERIOR


TRIBUNAL DE JUSTIÇA. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. WRIT SUCEDÂ-
NEO DE RECURSO OU REVISÃO CRIMINAL. 1. Compete constitucional-
mente ao Superior Tribunal de Justiça o julgamento do recurso especial,
cabendo-lhe, enquanto órgão ad quem, o segundo, e definitivo, juízo de
admissibilidade positivo ou negativo quanto a tal recurso de fundamen-
tação vinculada. Salvo hipóteses de flagrante ilegalidade ou abuso de po-
der, inadmissível o reexame dos pressupostos de admissibilidade do
recurso especial pelo Supremo Tribunal Federal. Precedentes. 2. Inviável
o exame das teses defensivas não analisadas pelo Superior Tribunal de Jus-
tiça, sob pena de indevida supressão de instância. 3. Inadmissível o emprego
do habeas corpus como sucedâneo de recurso ou revisão criminal. Prece-
dentes. 4. Agravo regimental conhecido e não provido46. (grifei).

46 HC 176616 AgR, Relator(a):  Min. ROSA WEBER, Primeira Turma, julgado em 29/11/2019, PRO-
CESSO ELETRÔNICO DJe-274 DIVULG 10-12-2019 PUBLIC 11-12-2019.

78
ESPÉCIES
O Código de Processo Penal discorre os seguintes recursos
em espécie:

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79
Importante ressaltar que, com a entrada em vigor da lei deno-
minada Pacote Anticrime (Lei nº 13.964/2019), foi acrescentado ao
artigo 581, o inciso XXV do Código de Processo Penal, a seguinte reda-
ção “que recusar homologação à proposta de acordo de não persecu-
ção penal, previsto no art. 28-A desta Lei”.
Considerando a criação do acordo de não persecução penal,
o legislador estabeleceu expressamente o recurso cabível em caso de
recusa de homologação por parte do Juiz.
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Apelação
Fundamentação Legal Arts. 593 a 603, do CPP + art. 416, do CPP
Exclusivo da defesa, ficando vedada a agravação da
Legitimidade situação, ou seja, incide a proibição da reformatio in
pejus – art. 617, do CPP.
Interposição: 5 dias + Razões: 8 dias
Prazo e Interposição
JECrim: interposição e razões juntas em 10 dias

80
Será cabível:
I - das sentenças definitivas de condenação ou absol-
vição proferidas por juiz singular;
II - das decisões definitivas, ou com força de definiti-
vas, proferidas por juiz singular nos casos não previs-
tos no Capítulo anterior;
III - das decisões do Tribunal do Júri.

- Haverá cabimento de apelação contra decisões de


Hipóteses de Cabimento impronuncia e de absolvição sumária proferidas ao fi-
nal da primeira fase – art. 416, do CPP.

- JECrim:
a) rejeição de denúncia ou queixa;
b) sentença de condenação ou absolvição proferida no
procedimento sumaríssimo;
c) homologação da transação penal.

Embargos Infringentes e de Nulidades


Fundamentação Legal Art. 609, parágrafo único, do CPP
Legitimidade Exclusivo da defesa

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Dirigido ao relator do acordão embargado
Prazo e Interposição no prazo de 10 dias contados da publica-
ção do acordão.
Quando não for unânime a decisão de
segunda instância, desfavorável ao réu,
proferidas por tribunal de 2ª instancia no
julgamento da apelação, RESE ou agravo
em execução.
Hipóteses de Cabimento

Se o desacordo for parcial, os embargos


serão restritos à matéria objeto de diver-
gência.

81
Embargos Infringentes e de Nulidades
Fundamentação Arts. 619 a 620, do CPP
Legal
Legitimidade Todas as partes
Petição contendo os pontos em que a decisão teria um dos
vícios, dirigidos ao relator, em caso de acordão ou ao juiz pro-
lator da decisão, no prazo de 2 dias – arts. 382 e 619, do CPP.
Opostos os embargos ficam interrompido o prazo para inter-
posição de demais recursos.

Prazo e Interposi-
ção
JECrim: 5 dias contados da ciência da decisão. – Suspensão
do prazo para inteposição do outro recurso – art. 82, § 2º da
Lei 9.099/95

- Se a divergência se refere ao mérito: Embargos Infringentes

- Se a divergência se refere a alguma questão processual (re-


conhecimento ou não de nulidade): Embargos de Nulidade
Opostos contra acórdãos proferidos pelos Tribunais de Ape-
lação, câmaras ou turmas, poderão ser opostos embargos de
declaração, no prazo de dois dias contados da sua publica-
ção, quando houver na sentença ambiguidade, obscuridade,
contradição ou omissão.
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Hipóteses de Cabi-
mento Vícios:
Obscuridade – não é possível compreender
Ambiguidade – duplo sentido
Contradição – decisão conflitante consigo mesma
Omissão – juiz não examinou alguma alegação das partes

Art. 382, CPP: Trata dos embargos oponíveis em fase de sen-


tença ou qualquer decisão monocrática, basta que tenha um
dos vícios que possa ser embargada. Doutrina os chama de
“embarguinhos”.

82
Carta Testemunhável
Fundamentação Legal Art. 639 a646, do CPP
Legitimidade
Interposição: 48 horas.

Se não for possível contar minuto a minuto será contado em 2


dias (prazo processual).

Interposição (petição com as razões pelas quais o juiz deveria


ter admitido o RESE ou agravo indeferido – pressupostos recur-
sais estavam presentes) em 48 horas dirigida ao escrivão. Não
se espera do escrivão nenhum ato jurisdicional e sim formar
a carta ficando sujeito a pena administrativa de suspensão de
suas funções.

Formar a carta é a retirada de cópias e formar o instrumento.


Prazo e Interposição

Formada a carta segue-se o rito do recurso indeferido (RESE


ou agravo em execução).

Posteriormente, dá-se o prazo de 2 dias para as razões e con-


trarrazões. O objeto das razões da carta é o preenchimento dos
pressupostos recursais, nessas razões o objeto de análise será
as razões do recurso indeferido. Segue ao juiz podendo manter
ou retratar-se. Mantendo > Tribunal. Retratando-se > intimação
das partes.

PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS


Se a carta estiver suficientemente instruída, o Tribunal poderá
admitir o recurso indeferido julgá-lo no mérito.
Serve para impugnar decisões que indeferem outros recursos.

Possui caráter residual, ou seja, só será cabível havendo o in-


deferimento do RESE, bem como o agravo em execução.
Hipóteses de Cabimento

Possui linguagem peculiar:

- Testemunhante: “recorrente”

- Testemunhado: é o juiz que indeferiu o recurso

83
Recurso Ordinário Constitucional
Art. 102, inc. II, CF: ao STF

Fundamentação Art. 105, inc. II, CF: ao STJ


Legal

Lei n. 8.038/90
Legitimidade Todas as partes
Prazo e Interposi- 5 dias (petições + razões)
ção
Ao STJ: quando houver um acordão denegatório de habeas
corpus proferido por Tribunal (TJ ou TRF). Esse ROC também
é exclusivo da defesa.

Ao STF: quando houver acórdão denegatório de habeas cor-


Hipóteses de Cabi- pus proferido por Tribunal superior; contra sentença proferida
mento em julgamento de crime político.

STF e STJ afirmam que não se admite habeas cor-


pus substitutivo de ROC. Ainda assim há exame, pois nada
impede porem que se conceda a ordem de ofício.

Recurso Especial

Fundamentação Art. 105, inc. III CF


PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS

Legal Lei n. 8.038/90


Legitimidade Todas as partes
É interposto perante o Presidente do Tribunal a quo, que fará
Interposição o juízo prévio de admissibilidade. Se o juízo for negativo,
cabe agravo – art. 28, da Lei n. 8.038/90

84
Caberá recurso especial julgar, em recurso especial, as cau-
sas decididas, em única ou última instância, pelos Tribunais
Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distri-
to Federal e Territórios, quando a decisão recorrida:

a) contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência;

b) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em


face de lei federal;
Hipóteses de Cabi-
mento
b) julgar válido ato de governo local contestado em face de
lei federal; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº
45, de 2004).

Obs.: não se admite contra decisão de juiz de 1º grau. Vide


súmula 203, STJ.

c) der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja


atribuído outro tribunal.

Recurso Extraordinário

Fundamentação Art. 102, inc. III, da CF


Legal

PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS


Lei n. 8.038/90.
Legitimidade Todas as partes
15 dias tendo corrido 15 dias para responder será interposto
Interposição perante o Presidente do Tribunal a quo, que fará o juízo prévio
de admissibilidade. Se o juízo for negativo, cabe agravo.
Caberá Recurso Extraordinário das decisões, de última ou úni-
ca instância que:

Hipóteses de Ca- a) Contrariem dispositivos da Constituição;


bimento b) declarem a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal;
c) julgarem válida lei ou ato de governo local contestado em
face da Constituição;
d) julgarem válida lei local contestada em face de lei federal.

85
Com a entrada em vigor da lei denominada Pacote Anticrime
(Lei nº 13.964/2019), o artigo 638 do Código de Processo Penal teve
sua redação alterada “O recurso extraordinário e o recurso especial se-
rão processados e julgados no Supremo Tribunal Federal e no Superior
Tribunal de Justiça na forma estabelecida por leis especiais, pela lei
processual civil e pelos respectivos regimentos internos”.
A alteração apenas deixa mais específica a previsão relativa
ao processamento do RE e do RESP. Assim, pela redação atual, o RE
e o RESP serão processados e julgados no Supremo Tribunal Federal
e no Superior Tribunal de Justiça (respectivamente) na forma estabe-
lecida pelas leis especiais, pela lei processual civil e pelos respectivos
regimentos internos.

Agravo em Execução
Fundamentação Art. 197 da Lei n. 7.210/84
Legal
Legitimidade Todas as partes
Interposição dirigida e recebida pelo juiz que prolatou a de-
cisão, devendo as razões serem dirigidas ao juízo ad quem,
Interposição embora recebidas pelo juízo a quo, uma vez que é possível a
retratação. O prazo é de 5 dias para interpor e de 2 dias para
a apresentação das razões e contrarrazões
Cabível das decisões proferidas pelo juiz da Vara das Execu-
ções Criminais.

Hipóteses de Cabi-
PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS

mento Obs.: segue o mesmo procedimento do RESE – súmula 700


do STF.
Do despacho que nega seguimento ao agravo caberá a carta
testemunhável – art. 639, do CPP.

A revisão criminal é uma ação autônoma de impugnação e


não um recurso de competência originária dos Tribunais (ou da Turma
Recursal, no caso dos Juizados), por meio da qual a pessoa condenada
requer ao Tribunal que reveja a decisão que a condenou (e que já
transitou em julgado) sob o argumento de que ocorreu erro judiciário,
com hipóteses previstas no art. 621, do CPP.
A revisão criminal se assemelha à ação rescisória do processo
civil, havendo duas diferenças, quais sejam: a revisão pode ser inter-
posta a qualquer tempo após o trânsito em julgado (não há prazo de
decadência para ajuizar a revisão) e apenas pode ser ajuizada em favor
do condenado (só existe revisão criminal pro reo; não existe revisão
criminal pro societate).
86
Possui dois pressupostos: existência de decisão condenatória
(ou absolutória imprópria) com trânsito em julgado e a demonstração de
que houve erro judiciário.
Tem legitimidade para propor a ação tanto o próprio réu, quan-
to procurador legalmente habilitado pelo réu, quanto o cônjuge ou com-
panheiro, ascendente, descendente ou irmão do réu, caso este já tenha
morrido.
Com relação a possibilidade de propositura de revisão criminal
pelo Ministério Público, ainda que a favor do réu, há divergência na
doutrina. No entanto, para fins de prova objetiva, deve-se afirmar que
não é possível, considerando que o CPP não prevê essa legitimidade.
Será sempre julgada por um Tribunal ou pela Turma Recursal,
não existindo julgamento por juiz singular.
O Código prevê que se julgado procedente a revisão, o tribunal
poderá alterar a classificação da infração, absolver o réu, modificar a
pena ou anular o processo.
Cabe ressaltar que, será cabível mesmo no caso de condena-
ções proferidas pelo Júri.

PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS

87
QUESTÃO 01
Ano: 2018 Banca: MPE-BA Órgão: MPE-BA Prova: Promotor de
Justiça Substituto
Sobre os recursos no Processo Penal, é correto afirmar que da de-
cisão que negar a concessão de livramento condicional é cabível
A) agravo
B) apelação
C) recurso especial
D) carta testemunhal
E) recurso em sentido estrito

QUESTÃO 2
Ano: 2018 Banca: VUNESP Órgão: TJ-SP Prova: Juiz Substituto
Quanto aos recursos, assinale a alternativa correta.
A) A renúncia do réu ao direito de Apelação, manifestada em termo pró-
prio na presença de 2 (duas) testemunhas, sem assistência do defen-
sor, impede o conhecimento do recurso por este interposto.
B) No caso de concurso de pessoas, a decisão do recurso interposto
por um dos réus, se fundado em motivos que não sejam de caráter ex-
clusivamente pessoal, aproveitará aos outros, em extensão subjetiva do
efeito devolutivo do recurso.
C) Não gera nulidade a decisão do tribunal que acolhe, contra o réu, nu-
lidade não arguida no recurso da acusação, salvo os casos de recurso
de ofício.
D) O acórdão que provê o recurso contra a rejeição da denúncia vale,
PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS

desde logo, pelo seu recebimento, ainda que nula a decisão de primeiro
grau.

QUESTÃO 3
Ano: 2018 Banca: VUNESP Órgão: MPE-SP Prova: Analista Jurídico
A respeito dos efeitos dos recursos, assinale a alternativa correta.
A) Não é dado ao Tribunal a possibilidade de conversão do julgamento
em diligência para determinação de novas provas, por expressar referi-
do entendimento violação do princípio in dubio pro reo.
B) O efeito extensivo, previsto no art. 580, do CPP, tem aplicação irres-
trita em caso de corréus condenados por roubo majorado por concurso
de pessoas quando um deles recorre e o outro não recorre, dando-se
por satisfeito em relação ao teor da sentença recorrida.
C) Admite-se o efeito iterativo quando da remessa dos autos de inquérito
policial ao Procurador Geral de Justiça, nos casos de aplicação do art.
28, do CPP, por força da aplicação do princípio in dubio pro societate.
88
D) Entende-se por efeito devolutivo a possibilidade do recurso devolver
ao juiz prolator da decisão da qual se recorre a análise daquela mesma
decisão.
E) Todo recurso possui efeito devolutivo, mas nem todos os recursos
são dotados de efeito suspensivo.

QUESTÃO 4
Ano: 2018 Banca: FGV Órgão: TJ-SC Prova: Técnico Judiciário Au-
xiliar
O Ministério Público ofereceu denúncia em face de Antônio pela
suposta prática do crime de peculato. O juiz, porém, considerando
a ausência de justa causa, rejeitou a denúncia oferecida. Em razão
disso, intimado pessoalmente, o Promotor de Justiça entregou ao
cartório o procedimento com o recurso cabível.
O recurso apresentado pelo Ministério Público aos serventuários
de Justiça é o de:
A) recurso em sentido estrito
B) embargos infringentes
C) embargos de declaração
D) apelação
E) agravo

QUESTÃO 5
Ano: 2018 Banca: FCC Órgão: DPE-AM Prova: Defensor Público -
Reaplicação
Ao disciplinar os recursos em geral, estabelece o Código de Pro-

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cesso Penal que:
A) A carta testemunhável somente terá efeito suspensivo quando o re-
lator deferir o efeito ativo.
B) Caberá recurso, em sentido estrito, da decisão que denegar a ape-
lação interposta pela Defensoria Pública, quando tiver atuado somente
na fase recursal.
C) O recurso, em sentido estrito, poderá ser interposto em 5 dias pelo
Advogado constituído e em 10 dias pela Defensoria Pública e pelo Mi-
nistério Público.
D) O protesto por novo Júri é recurso exclusivo da defesa, salvo quando
a pena for superior a 20 anos, hipótese em que deverá ser interposto,
de ofício, pelo presidente do Tribunal do Júri.
E) Serão voluntários, excetuando-se da sentença que conceder habeas
corpus e da que absolver o réu na audiência de instrução preliminar, do
procedimento do Tribunal do Júri, com fundamento na existência de cir-
cunstância que exclua o crime ou isente o réu de pena, quando deverão
89
ser interpostos, de ofício, pelo juiz.

QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE

Qual a diferença entre a renúncia e a desistência do recurso de apela-


ção após a interposição? Justifique sua resposta.

TREINO INÉDITO

06. À luz do CPP e da jurisprudência do STJ, julgue o seguinte item,


relativo aos recursos.

I - Na hipótese de divergência entre o acusado e o seu advogado a


respeito de interesse recursal manifestado, deve prevalecer o entendi-
mento da defesa técnica, seja no sentido da desistência, seja no sentido
da interposição do recurso.
II - Nos crimes da competência do Tribunal do Júri, ou do juiz singular,
se da sentença não for interposta apelação pelo Ministério Público no
prazo legal, o ofendido, ainda que não se tenha habilitado como assis-
tente, poderá interpor apelação, que terá efeito suspensivo. O prazo
para interposição desse recurso será de 10 (dez) dias, e correrá do dia
em que terminar o prazo do Ministério Público.
III - Conforme posição do STF, será anulável o julgamento da apelação
se, após a renúncia do defensor, o réu não tiver sido previamente inti-
mado para constituir outro.
Considerando as assertivas acima, assinale a alternativa correta:
PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS

A) Somente a assertiva III está correta.


B) Todas as assertivas estão erradas.
C) Estão corretas as assertivas II e III.
D) Estão corretas as assertivas I e II.
E) Todas as assertivas estão corretas.

NA MÍDIA

O art. 580 do CPP afirma que, no caso de concurso de agentes, a deci-


são favorável que um dos réus conseguir no julgamento do seu recurso
poderá ser aproveitada pelos demais acusados, salvo se a decisão ti-
ver se fundamentado em motivos que sejam de caráter exclusivamente
pessoal.
Esse dispositivo não pode ser aplicado quando:
90
a) o réu que estiver requerendo a extensão da decisão não participar
da mesma relação jurídico-processual daquele que foi beneficiado. O
requerente será, neste caso, parte ilegítima;
b) se invoca extensão da decisão para outros processos que não fo-
ram examinados pelo órgão julgador. Isso porque, neste caso, o que
o requerente está pretendendo é obter a transcendência dos motivos
determinantes para outro processo, o que não é admitido pela jurispru-
dência do STF.

Veja a jurisprudência do Informativo n. 867 do STF: STF. 1ª Turma. HC


137728 EXTN/PR, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 30/5/2017

NA PRÁTICA

O recurso é o meio de impugnação da decisão judicial, estando o co-


nhecimento deste condicionado ao preenchimento dos pressupostos
recursais, sob pena de ser declarado deserto e não haver a análise do
mérito.
Entretanto, além do conhecimento acerca da teoria geral dos recursos,
muitas vezes é necessário que o profissional tenha conhecimento acer-
ca dos regimentos internos dos tribunais que pode auxiliar no manejo do
instrumento correto para auxiliar seu cliente.
Cabe salientar também, a importância que esses regimentos vêm tendo
nos concursos públicos que a cada ano se aprofundam, exigindo do
candidato mais detalhes e conhecimento em relação a situações que
os envolva.

PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS



PARA SABER MAIS

Filme: “A lista de Carla”, 2006, 105 min.


Diretor: Marcel Schupbach
O documentário conta a história de Carla del Ponte, que, após a guerra
na ex-Iugoslávia, luta para conseguir a detenção dos últimos criminosos
de guerra ainda foragidos no Tribunal Penal Internacional.

91
EXECUÇÃO
PENAL
o juízo da execução deverá, dentre as ações voltadas à integração social do
condenado e do internado, e para que tenham acesso aos serviços sociais
PROMINAS

disponíveis, diligenciar para que sejam expedidos seus documentos pesso-


GRUPOPROMINAS

ais, dentre os quais o CPF, que pode ser expedido de ofício, com base no
artigo 11, V, da Instrução Normativa RFB n° 864, de 25 de julho de 200847.
PENAL-- GRUPO

A LEP também será aplicada, no que couber, às hipóteses


EXECUÇÃOPENAL

de sentença absolutória imprópria. Entretanto, não será aplicada aos


casos de medidas socioeducativas (resposta estatal aos atos infracio-
NULIDADES.EXECUÇÃO

nais), regradas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA e Lei


12.594/12).
PRISÕESEE......NULIDADES.

A execução penal se trata da atividade jurisdicional, voltada a


tornar efetiva a pretensão punitiva do Estado, em associação à ativida-
de administrativa, fornecedora dos meios materiais para tanto. Nessa
PRISÕES

ótica, está a posição de Ada Pellegrini Grinover, para quem “a execução


penal é atividade complexa, que se desenvolve, entrosadamente, nos
planos jurisdicional e administrativo. Nem se desconhece que dessa
atividade participam dois Poderes estatais: o Judiciário e o Executivo,
por intermédio, respectivamente, dos órgãos jurisdicionais e dos esta-
92
belecimentos penais”.
No art. 5.º da Constituição Federal, pode-se mencionar os se-
guintes preceitos relativos à execução penal: “XLVI – a lei regulará a
individualização da pena...”; “XLVII – não haverá penas: a) de morte,
salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX; b) de
caráter perpétuo; c) de trabalhos forçados; d) de banimento; e) cruéis”;
“XLVIII – a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de acor-
do com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado”; “XLIX – é
assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral”; “L – às
presidiárias serão asseguradas condições para que possam permane-
cer com seus filhos durante o período de amamentação”.
O princípio da individualização da pena está evidenciado no
art. 5º, da LEP: “os condenados serão classificados, segundo os seus
antecedentes e personalidade, para orientar a individualização da exe-
cução penal”. Portanto, a pena será individualizada conforme a perso-
nalidade e antecedentes do agente, bem como o tipo de delito por ele
praticado.
Em relação a esse princípio, sabe-se que há três aspectos a
considerar:
- individualização legislativa: o primeiro órgão estatal respon-
sável pela individualização da pena é o Poder Legislativo, afinal, ao
criar um tipo penal incriminador inédito, deve-se estabelecer a espécie
de pena (detenção ou reclusão) e a faixa na qual o juiz pode mover-se;
- individualização judicial: na sentença condenatória, deve o
magistrado fixar a pena concreta, escolhendo o valor cabível, entre o
mínimo e o máximo, abstratamente previstos pelo legislador, além de

PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS


optar pelo regime de cumprimento da pena e pelos eventuais benefí-
cios;
- individualização executória: a terceira etapa da individualiza-
ção da pena se desenvolve no estágio da execução penal. Esta parte é,
normalmente, desconhecida – ou mal compreendida – dos estudiosos
das ciências criminais.
A partir da vedação constitucional aos trabalhos forçados, a Lei
de Execução Penal afirma a obrigatoriedade do trabalho do preso, sem
qualquer contradição. Trabalhar é um dever do condenado para que
fomente a sua ressocialização e a sua reeducação.
O princípio da humanidade48 (art. 5.º, XLVII, CF) veda as pe-
nas cruéis e a execução penal precisa seguir exatamente essa linha.
Lamentavelmente, essa não é a prática. O Brasil tem hoje a terceira
maior população carcerária do mundo, ficando atrás apenas da China e
dos EUA com cerca de 603 mil presos.
48 ROIG, p. 26, 2018.

93
Em vários dispositivos da Lei n. 7210/84 o princípio da lega-
lidade é privilegiado. No art. 2º, por exemplo, “A jurisdição penal dos
Juízes ou Tribunais da Justiça ordinária, em todo o Território Nacional,
será exercida, no processo de execução, na conformidade desta Lei e
do Código de Processo Penal”. O art. 3º, por sua vez: “Ao condenado
e ao internado serão assegurados todos os direitos não atingidos pela
sentença ou pela lei”.
Já o princípio da igualdade preconiza que “não haverá qual-
quer distinção de natureza racial, social, religiosa ou política” (art. 3o,
parágrafo único, LEP). Assegura que na execução da pena não serão
concedidas restrições ou privilégios de modo indiscriminado, por origem
social, política, de raça, cor, sexo etc.
O princípio da jurisdicionalidade compreende que o proces-
so de execução será conduzido por um juiz de direito, como estabele-
cido no art. 2º: “A jurisdição penal dos Juízes ou Tribunais da Justiça
ordinária, em todo o Território Nacional, será exercida...”. É possível
observar a jurisdicionalidade da execução penal por meio do art. 194,
da LEP: “O procedimento correspondente às situações previstas nesta
Lei será judicial, desenvolvendo-se perante o Juízo da execução”.
A Lei n. 7.210/84 incorporou taxativamente o princípio da cul-
pabilidade ao dispor que são vedadas as sanções coletivas (art. 45, §
3º). Com esse dispositivo, procura-se impedir a punição disciplinar da-
queles que sequer tiveram dolo ou culpa na ocorrência de determinado
resultado lesivo.
Como desdobramento do princípio da culpabilidade figura a
impossibilidade de punição de todos os habitantes de determinada cela
PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS

ou galeria, quando nelas são encontrados objetos ilícitos (ex.: celulares,


drogas) ou realizadas atividades disciplinarmente combatidas (ex.: con-
fecção de buraco para fuga ou dano a grades), mas não se consegue
identificar o responsável. Caso seja impossível a individualização da
conduta, deve ocorrer a absolvição de todos os habitantes da cela ou
galeria, por força do princípio da culpabilidade49.
Tendo em vista esse mesmo princípio, também deve ser afas-
tada a responsabilidade do preso ou internado por qualquer ato prati-
cado por seus visitantes, sem que se consiga provar o conluio entre os
mesmos. Nesse caso, nem mesmo se admite a presunção de conluio
entre preso e visitante, porquanto também é aplicável o princípio da
49 O STJ já se manifestou sobre o tema: “é ilegal a aplicação de sanção de caráter coleti-
vo, no âmbito da execução penal, diante de depredação de bem público quando, havendo vários
detentos num ambiente, não for possível precisar de quem seria a responsabilidade pelo ilícito. O
princípio da culpabilidade irradia-se pela execução penal, quando do reconhecimento da prática
de falta grave, que, à evidência, culmina por impactar o status libertatis do condenado” (STJ, HC
177293/SP, 6ª T., j. 24-42012).

94
presunção de inocência disciplinar do primeiro.
Para o princípio da lesividade somente pode ser considerada
punível a conduta exteriorizada e capaz de lesionar ou ameaçar con-
cretamente determinado valor ou direito, e não aquele comportamento
simplesmente pecaminoso ou imoral.
É importante destacar que os processos criminais de
conhecimento e execução são distintos e autônomos. Enquanto
naquele analisa-se a existência de um fato típico, antijurídico e culpável,
apurando-se as respectivas provas e, se for o caso, culminando com um
juízo condenatório sobre o agente, no processo de execução penal tem
o objetivo de efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal,
conforme expressamente determina o art. 1º, primeira parte, da LEP.
A execução penal poderá ser definitiva ou provisória, a depen-
der da existência do trânsito em julgado. Dessa forma, a LEP se aplica
tanto ao condenado, quanto ao preso provisório – art. 2º, parágrafo úni-
co, LEP. De maneira geral, por se tratar de título executivo, a sentença
que aplica pena privativa de liberdade permite a expedição de guia de
recolhimento para a execução (art. 105 da LEP) a partir do trânsito em
julgado da decisão condenatória.
Geralmente, em razão da demora da condenação definitiva, o
preso venha a fazer jus de alguns dos benefícios da execução penal.
Logo, é preciso que haja a aplicação da execução provisória para tanto.
A execução antecipada da pena viola o princípio da constitucio-
nal da presunção de inocência, embora já tenha sido discutido no STF
a possibilidade de o decreto prisional antes mesmo da sentença penal
condenatória transitar em julgado50.

PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS


A doutrina majoritária atual51 compreende que na hipótese de
substituição da pena priva privativa de liberdade por restritiva de direi-
tos, não é possível a sua execução provisória, por força do art. 147 da
LEP. Portanto, para se evitar o constrangimento ilegal do apenado, esta
deverá ser suspensa.52
Outrossim, vale ressaltar a recente mudança na trazida pela lei
nº 13.964/2019 (Pacote Anticrime), no que tange ao Tribunal do Júri, a
lei alterou a redação da alínea “e” do art. 492, I, acrescentando a possi-
bilidade de execução provisória da pena privativa de liberdade igual ou
superior a 15 anos.
Portanto, em se tratando de decisão condenatória proferida
pelo Tribunal do Júri, quando for aplicada pena igual ou superior a 15
anos, o Juiz deverá determinar o recolhimento do condenado à prisão,
50 STF, HC 126292/SP, Tribunal Pleno, j. 17-2-2016; STF, ADC 43; STF, ADC 44
51 STJ, HC 41002/PR, 5ª T.; STF, HC 88500/RS, 2 ª T, j. 20-10-2009
52 STJ, HC 249271/BA, j. 9-4-2013; STF, HC 88413/MG, 1 ª T., j. 23-5-2006

95
ainda que não tenha havido o trânsito em julgado. Esta possibilidade
de execução provisória de pena tem como fundamento o princípio da
soberania dos veredictos.
Ressalto, porém, que a execução provisória da pena no caso
citado acima nem sempre irá ocorrer. O §3º do art. 492 (também incluí-
do pela Lei 13.964/19) prevê que o Juiz-presidente do Tribunal do Júri
pode deixar de determinar a execução provisória de pena quando, uma
vez interposto recurso, houver questão substancial cuja resolução pelo
tribunal ao qual competir o julgamento do recurso possa plausivelmente
levar à revisão da condenação.
Outrossim, a execução provisória também não ocorrerá quan-
do o Tribunal atribuir efeito suspensivo ao recurso. Como regra, a ape-
lação interposta contra decisão condenatória do Tribunal do Júri a uma
pena igual ou superior a 15 (quinze) anos de reclusão não terá efeito
suspensivo, todavia, excepcionalmente, poderá ser atribuído efeito sus-
pensivo quando o Tribunal verificar que o recurso não tem propósito me-
ramente protelatório e levanta questão substancial, que pode resultar
em absolvição, anulação da sentença, novo julgamento ou redução da
pena para patamar inferior a 15 (quinze) anos de reclusão.

DA CLASSIFICAÇÃO
Outro grande impasse no sistema carcerário brasileiro diz res-
peito ao cumprimento eficiente da execução penal, uma vez que a se-
paração dos presos em locais previamente estabelecidos visa evitar o
contato de reincidentes e primários.
PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS

Ao sentenciar o réu, o magistrado levará em conta os antece-


dentes e a personalidade de cada um dos indivíduos, estabelecendo o
estabelecimento de cumprimento de pena, bem como pavilhão e bloco,
respeitando o princípio constitucional da individualização da pena.
No art. 5º, LEP encontra-se: “os condenados serão classifica-
dos, segundo os seus antecedentes e personalidade, para orientar a
individualização da execução penal”.
Os condenados serão classificados segundo seus anteceden-
tes e personalidade e essa classificação deve ser feita por uma Co-
missão Técnica de Classificação (CTC), que tem a função de criar
o programa individualizador adequado ao reeducando com a ajuda do
Centro de Observação Criminológica, que realizará os exames neces-
sários para que a CTC tenha mecanismos realizar o estudo de execu-
ção da pena com foco na reinserção social do apenado.
Conforme determina o art. 7º da Lei, a Comissão Técnica de
Classificação, existente em cada estabelecimento, será presidida pelo

96
diretor e composta, no mínimo por:
• 2 (dois) chefes de serviço;
• 1 (um) psiquiatra;
• 1 (um) psicólogo;
• 1 (um) assistente social, quando se tratar de condenado à
• pena privativa de liberdade.
Nos demais casos (restritivas de direitos ou medidas de segu-
rança) a Comissão atuará junto ao Juízo da Execução e será integrada
por fiscais do serviço social.
O exame criminológico53 é utilizado para orientar o juiz nos nas
hipóteses de progressão e livramento condicional e, geralmente, usado
para individualizar determinadas execuções envolvendo fatos mais gra-
ves. Difere-se do exame de classificação tratado no art. 5º da LEP que
orienta o modo de cumprimento da pena, com fins de ressocialização.
A partir da Lei n. 12.654/12, os condenados por crime pratica-
do com dolo mediante violência de natureza grave contra pessoa, ou
por qualquer dos crimes hediondos, tem identificação do perfil genético
obrigatória, mediante extração de DNA, devendo seguir técnica ade-
quada e indolor.
O objetivo dessa identificação é investigativa ou mesmo para
esclarecimento de quaisquer dúvidas acerca da identificação civil, mas
sim para abastecimento de um banco de dados sigiloso que pode servir
para investigação futura.
Para parte da doutrina essa prática seria inconstitucional ca-
racterizando-se em direito penal do autor e ferindo a segurança jurídica
e garantias constitucionais. Mas para outros, “a medida é salutar quan-

PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS


do se pensa num Estado que deve ser eficiente no combate à crescente
criminalidade (garantismo positivo), sem desconsiderar as garantias do
cidadão (garantismo negativo)” (CUNHA, p. 25, 2017).
Prevendo a judicialização da discussão acima, foi editada a
Resolução de nº 3, de 26 de março de 2014, do Comitê Gestor da Rede
Integrada de Bancos de Perfis Genéticos, que trata do “procedimento
unificado” para a coleta do material genético a informar o banco nacio-
nal de perfis genéticos. Referida resolução proíbe a coleta de sangue
como técnica a ser empregada (art. 22, § 22) e, principalmente, deter-
mina que havendo recusa, será consignada em documento próprio e
53 STF — Súmula Vinculante 26. Para efeito de progressão de regime no cumprimento de
pena por crime hediondo, ou equiparado, o juízo da execução observará a inconstitucionalidade do
art. 2º da Lei n° 8.072, de 25 de julho de 1990, sem prejuízo de avaliar se o condenado preenche,
ou não, os requisitos objetivos e subjetivos do benefício, podendo determinar, para tal fim, de modo
fundamentado, a realização de exame criminológico.
STJ - Súmula 439. Admite-se o exame criminológico pelas peculiaridades do caso, desde que em
decisão motivada.

97
informada à autoridade judiciária. O tema está em debate no Supremo
Tribunal Federal, com repercussão geral reconhecida (Recurso Extraor-
dinário 973837).
Visando à obtenção dos elementos necessários a uma ade-
quada classificação e com vistas à individualização da execução, nos
termos do art. 8º da Lei de Execução Penal, o condenado ao cumpri-
mento de pena privativa de liberdade em regime fechado ainda deverá
ser submetido a exame criminológico (de entrada, portanto), sendo o
mesmo exame apenas facultativo para o condenado que tiver de iniciar
o cumprimento da pena privativa de liberdade em regime semiaberto.
Muito embora o art. 8º da LEP não se refira ao condenado que
deva iniciar o cumprimento de pena em regime aberto, consideran-
do que a individualização decorre de regra constitucional, nada impede
seja determinado o exame criminológico de entrada, em sede de exe-
cução.
No processo individualizador, a individualização executória
continua intacta, decorrendo, como já o dissemos, de imperativo consti-
tucional (art. 5º, XLVI, da CF).
Na doutrina, Renato Marcão salienta que o problema que mui-
tos se esquecem, é de que o exame criminológico nunca se destinou
apenas e tão somente à aferição do mérito que se exigia expressa-
mente para a progressão de regime prisional e outros benefícios. An-
tes, e com maior relevância, propõe-se a orientar a classificação dos
condenados e a imprescindível individualização executória, e por aqui
nada mudou. Não é ocioso enfatizar: não se deve confundir o exame
criminológico de entrada — destinado a orientar a inicial individualiza-
PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS

ção da pena — com o exame criminológico realizado com o objetivo de


aferir requisitos para a concessão de determinado benefício no curso do
processo execucional54.

DA ASSISTÊNCIA AO PRESO E AO EGRESSO


A partir da ressocialização do preso, o Estado tem o dever de
prestar a este assistência material, saúde, jurídica, educacional, social
e religiosa, estendendo-se o tratamento especial também ao egresso
(liberado definitivo, pelo prazo de 1 ano a contar da saída do estabele-
cimento, e liberado condicional, durante o período de prova, nos termos
do art. 26, desta Lei).

54 Marcão, Renato Curso de execução penal / Renato Marcão. – 17. ed. – São Paulo :
Saraiva Educação, 2019.

98
Assistência Conceito
A assistência material ao preso e ao internado significa fornecimento
de alimentação, vestuário e instalações higiênicas, devendo o esta-
belecimento penal deverá dispor de instalações e serviços que aten-
Material
dam aos presos nas suas necessidades pessoais, além de locais
destinados à venda de produtos e objetos permitidos e não forneci-
dos pela Administração (arts. 12 e 13).
O Estado é responsável pela prestação do serviço de saúde nos
mesmos padrões serviços de saúde disponíveis à comunidade e os
serviços de saúde pública. Não podendo existir qualquer discrimi-
À Saúde nação em virtude de sua condição de preso (Regra 24 das novas
Regras Mínimas das Nações Unidas para o Tratamento de Presos).
Caso o Estado não possa o Estado promover devida assistência o
condenado deverá ser colocado em prisão domiciliar.55
A assistência jurídica é direcionada aos presos e internados que
sejam hipossuficientes financeiramente e, portanto, não possam
Jurídica constituir advogado, devendo as unidades da federação dispor de
assistência jurídica da Defensoria Pública integral e gratuitamente
(arts. 15 e 16).
Direito constitucionalmente garantido, a assistência educacional se
ampara no art. 26 da Declaração Universal dos Direitos Humanos,
bem como na Regra 104, n. 1, das novas Regras Mínimas das Na-
ções Unidas para o Tratamento de Presos. A medida de incentivo
educacional deve partir do Estado.

O art. 122, da LEP determina que os condenados que cumprem pena


em regime semiaberto poderão obter autorização para saída tem-
porária do estabelecimento, sem vigilância direta, para frequência a
Educacional curso supletivo profissionalizante, bem como de instrução do 2º grau
ou superior, na Comarca do Juízo da Execução.

O art. 18-A prevê o uso de novas tecnologias e de educação à dis-


tância para implementação do estudo dentro dos presídios, ficando a

PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS


União, Estados, Municípios e Distrito Federal encarregados de incluir
em seu programa de educação o atendimento aos presos.

A possibilidade de remição de pena pelo estudo formal passou a ser


regulada na Lei de Execução Penal em razão da Lei n. 12.403, de 29
de junho de 2011.

55 Portaria n. 2.048/2009; Resolução n. 07/2003 do Conselho Nacional de Política Criminal


e Penitenciária; Portaria Interministerial n. 1, de 2 de janeiro de 2014, instituindo a Política Nacional
de Atenção Integral à Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade no Sistema Prisional (PNAISP).
Ainda no que se refere à proteção da saúde das pessoas presas, impende destacar , na mesma
linha do julgamento do Recurso Extraordinário 592581 pelo Supremo Tribunal Federal (que enten-
deu ser possível o Poder Judiciário determinar obras emergenciais à Administração Prisional, caso
as condições carcerárias ameacem direitos fundamentais), que o Juízo da Vara de Execuções
pode e deve determinar a realização de cirurgias e intervenções médicas, pois se encontra em
risco o direito fundamental à saúde.

99
A assistência social tem fim ressocializador, evitando que haja rein-
cidência após a soltura. As Regras Mínimas da ONU (atualizadas
pelas Regras de Mandela) que, para atingir esse propósito, “todos
os meios apropriados devem ser usados, inclusive cuidados religio-
sos em países onde isso é possível, educação, orientação e capa-
citação vocacionais, assistência social direcionada, aconselhamento
Social
profissional, desenvolvimento físico e fortalecimento de seu caráter
moral. Tudo isso deve ser feito de acordo com as necessidades indi-
viduais de cada preso, levando em consideração sua história social
e criminal, suas capacidades e aptidões mentais, seu temperamento
pessoal, o tempo da sentença e suas perspectivas para depois da
liberação” (preceito 92.1).
Todo preso deve ter o direito de atender às necessidades de sua vida
religiosa, que pode ser por meio de celebrações de cultos, leitura de
livros, ensino religioso etc. (Regras de Mandela, preceito 66).
Religiosa
A assistência religiosa auxilia tanto na ressocialização do condena-
do, quanto na relação entre o preso e sua família diante daquela
nova realidade.
Conforme determina o art. 26, da LEP, o egresso é o liberado defini-
tivo pelo prazo de 1 (um) ano (ex-presidiário), bem como o liberado
condicional (beneficiário do livramento condicional).

Conforme dispõem as Regras Mínimas da ONU (atualizadas pelas


Regras de Mandela), os serviços e órgãos, oficiais ou não, que aju-
Ao Egresso dam os liberados (e egressos) a reencontrar o seu lugar na socie-
dade devem, na medida do possível, conseguir-lhes os documentos
de que necessitam, moradia, trabalho, roupa decente e adequada
ao clima e à estação e, ademais, meios suficientes para chegarem
ao lugar a que se destinam e subsistirem logo no início da liberdade
(preceito 108).
PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS

100
DO TRABALHO
Laborterapia é uma ferramenta na reinserção do preso na so-
ciedade. Lembrando as lições de Alfredo I. Assaly: “O trabalho presi-
diário, consagrado em todas as legislações hodiernas, constitui uma
das pedras fundamentais dos sistemas penitenciários vigentes e um
dos elementos básicos da política criminal” (Trabalho Penitenciário, Ed.
Martins, p. 15).
Sobre o tema, as Regras Mínimas da ONU (atualizadas pelas
Regras de Mandela) preveem:
a) que o trabalho penitenciário não deve ter natureza estres-
sante (preceito 97.1);
b) na medida do possível deverá contribuir, por sua natureza,
para manter ou aumentar a capacidade do preso para ganhar honrada-
mente sua vida depois da liberação (preceito 98.1);
c) sua organização e métodos devem assemelhar-se o mais
possível à dos que realizam um trabalho similar fora do estabelecimento
a fim de preparar o preso para as condições normais do trabalho (pre-
ceito 99.1);
d) devem ser tomadas nos estabelecimentos penitenciários as
mesmas precauções prescritas para proteger a segurança e a saúde
dos trabalhadores livres (preceito 101.1);
e) devem ser tomadas as providências necessárias para inde-
nizar os presos pelos acidentes do trabalho e enfermidades profissio-
nais em condições similares àquelas que a lei dispõe para os trabalha-
dores livres (preceito 101.2).
O trabalho penitenciário é um dever social e condição de dig-

PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS


nidade humana, com o objetivo pedagógico e produtivo56. Trata-se de
um dever, pois sua recusa injustificada configura falta grave conforme
disposição do artigo art. 50, VI, da LEP. Mas ao mesmo tempo é tam-
bém um direito, porque garante ao preso remuneração (art. 29 da LEP),
podendo descontar 1 dia de pena para cada 3 dias trabalhados (art.
126 da LEP). Entretanto é preciso lembrar que não há que se falar em
incidência da Consolidação das Leis do Trabalho.

101
Características Descrição
O trabalho do preso é obrigatório (art. 39, V, LEP) e faz parte da
laborterapia inerente à execução da pena do condenado, que ne-
cessita de reeducação. No entanto, a Constituição Federal veda
a pena de trabalhos forçados (art. 5.º, XLVII, c, o que significa
Obrigatoriedade
não poder se exigir do preso o trabalho sob pena de castigos cor-
porais ou outras formas de punição ativa, além de não se poder
exigir a prestação de serviços sem qualquer benefício ou remu-
neração. É um dever e também um direito.
Não aplicabilidade da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT
(art. 28, § 2º, da LEP). A atividade laborativa desempenhada pelo
apenado não possui natureza de relação de trabalho a suscitar a
Regime Legal
competência da Justiça do Trabalho, cabendo à Justiça Comum
o julgamento das respectivas causas (STJ, REsp 1124152/DF, 1ª
T., j. 9-11-2010).
A despeito da previsão legal de que o trabalho do preso não pode
ser inferior a 3/4 do salário mínimo (art. 29 da LEP), o direito ao
salário mínimo também deve beneficiar os presos, pois é conferi-
do pela Constituição de 1988 indistintamente a todos (art. 7º, IV).
A própria Declaração Universal dos Direitos do Homem estabe-
lece que toda pessoa, sem qualquer distinção, tem direito a igual
remuneração por igual trabalho. Dispõe ainda que toda pessoa
que trabalhe tem direito a uma remuneração justa e satisfatória,
que lhe assegure, assim como à sua família, uma existência com-
patível com a dignidade humana, e a que se acrescentarão, se
necessário, outros meios de proteção social (art. 23).
É importante salientar que a remuneração pelo trabalho possui
Remuneração caráter alimentar.
Mínima
PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS

Nos termos da LEP (art. 29, § 1º), o produto da remuneração pelo


trabalho deverá atender:
a) à indenização dos danos causados pelo crime, desde que de-
terminados judicialmente e não reparados por outros meios;
b) à assistência à família;
c) a pequenas despesas pessoais;
d) ao ressarcimento ao Estado das despesas realizadas com a
manutenção do condenado, em proporção a ser fixada e sem
prejuízo da destinação prevista nas hipóteses anteriores.

102
Em que pese a preocupação com a natureza útil do trabalho pe-
nitenciário, a indicação trazida pelo art. 32. § 1º, da LEP de que
“deverá ser limitado, tanto quanto possível, o artesanato sem
expressão econômica, salvo nas regiões de turismo” é flagrante-
mente inconstitucional, por cercear uma modalidade de trabalho
que, ainda sem robusta expressão econômica, possui certa valia
financeira para o preso e que, em muitos casos, é a única saída
para aqueles que desejam exercer alguma atividade laborativa.
Natureza do tra-
Limitar o trabalho artesanal e – o que é pior – vedar a remição
balho prestado
neste caso é afrontar a própria dignidade humana. Na verdade,
nenhum tipo de trabalho artesanal pode ser excluído para fins de
remição, mostrando-se bastante pertinente a observação de que
a “castração do trabalho artesanal, situando-o em posição menor
, traz uma coloração preconceituosa que nada tem a ver com a
aparente juridicidade da proposição, não passando, no fundo, de
uma derivação de afronta mais aguda: a que contrapõe o traba-
lho manual ao trabalho intelectual.
O trabalho a ser realizado não deve ser desgastante ou aplicado
em regime de escravidão ou servidão (Regra 97 das novas Re-
gras Mínimas das Nações Unidas para o Tratamento de Presos)
e deve ser exercido na medida das aptidões e capacidade do
preso (art. 31 da LEP). Na verdade, o trabalho não deve apenas
considerar as aptidões e capacidade do preso, mas as próprias
atividades dispensadas devem atender às necessidades futuras
do preso, bem como às oportunidades oferecidas pelo mercado
(art. 32 da LEP). As novas Regras Mínimas das Nações Unidas
para o Tratamento de Presos também se ocupam exaustivamen-
te do tema: “Trabalho suficiente de natureza útil deve ser ofere-
Realização
cido aos presos de modo a conservá-los ativos durante um dia
normal de trabalho” (Regra 96.2); “Quando possível, o trabalho
realizado deve manter ou aumentar a habilidade dos presos para
que possam viver de maneira digna após sua liberação” (Regra

PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS


98.1); “Os presos devem receber treinamento vocacional em pro-
fissões úteis, das quais possam tirar proveito, especialmente os
presos jovens” (Regra 98.2); “A organização e os métodos de
trabalho nas unidades prisionais devem ser os mais parecidos
possíveis com aqueles realizados fora da unidade, para, dessa
forma, preparar os presos para as condições de uma vida profis-
sional normal” (Regra 99.1).

103
A jornada normal de trabalho não pode ser inferior a seis nem
superior a oito horas, com descanso nos domingos e feriados
(art. 33 da LEP). Muito embora prevaleça a posição de que, nos
termos dos arts. 33 e 126, § 1º, II, da LEP, o cálculo da remição
de pena por trabalho deve ser feito em dias e não em horas57, a
jurisprudência dominante dos Tribunais Superiores admite que o
trabalho diário que exceda a 8 horas seja aproveitado para fins
de remição58. Nessa perspectiva, a cada 6 horas extras realiza-
das além da jornada normal de oito horas diárias, o preso faz jus
a um dia de trabalho, para fins de remição59. Quanto às horas
de trabalho, dispõe ainda a LEP que poderá ser atribuído horá-
rio especial de trabalho aos presos designados para os serviços
Limitações Tem- de conservação e manutenção do estabelecimento penal (art.
porais 33, parágrafo único). Contudo, a atribuição de horário especial
de trabalho não deve beneficiar apenas aqueles que realizam
atividades internas, mas também os que desempenham traba-
lho externo. Cabível, aqui, a interpretação extensiva da norma,
considerando que o trabalho, além de princípio fundamental da
República (inc. IV do art. 1º), base da ordem social brasileira (art.
193), direito social (art. 6º da CF), dever social e condição de
dignidade humana (art. 28 da LEP), também encontra em sua
valorização um dos fundamentos da ordem econômica brasilei-
ra (art.170 da CF). Ademais, na perspectiva redutora de danos,
cabe ao Estado proporcionar condições para a redução do esta-
do de vulnerabilidade social do condenado, afastando todos os
entraves à consecução deste objetivo.

O art. 36 da Lei de Execução Penal determina que: “o trabalho


externo será admissível para os presos em regime fechado somente em
serviço ou obras públicas realizadas por órgãos da administração dire-
ta ou indireta, ou entidades privadas, desde que tomadas as cautelas
contra a fuga e em favor da disciplina. § 1.º O limite máximo do número
PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS

de presos será de 10% (dez por cento) do total de empregados na obra.


§ 2.º Caberá ao órgão da administração, à entidade ou à empresa em-
preiteira a remuneração desse trabalho. 3.º A prestação de trabalho a
entidade privada depende do consentimento expresso do preso”60.
É necessária a autorização do diretor do presídio, sem que haja
necessidade de autorização judicial, desde que cumpridos os seguintes
requisitos:
a) Leva-se em conta a aptidão do preso – exame de classifi-
cação;
b) Disciplina - comportamento
c) Responsabilidade (bom desempenho em atividades labora-
57 STF, HC 114393/RS, 2ª T., j. 3-12-2013; STJ, HC AgRg no REsp 1578179/MG, 5 ª T., j.
16-8-2016; AgRg no AREsp 876592/MG, 6ª T., j. 2-8-2016
58 STJ, HC 351951/MG, 5ª T., j. 17-5-2016
59 STJ, REsp 1064934/RS, 6ª T., j. 11-12-2009, AgRg no REsp 1546982/MG, 5ª T., j. 22-9-
2015
60 Súmula 40, STJ.

104
tivas no estabelecimento onde está)
d) Cumprimento mínimo de um sexto da pena61.
O preso que cumpre pena em regime fechado poderá executar
trabalhos externos, desde que em serviços ou obras públicas realizadas
por órgãos da Administração Direta ou Indireta, ou entidades privadas.
Tendo em vista que os estabelecimentos penais carecem de
estrutura para oferecer trabalho a todos os habitantes prisionais, o tra-
balho externo poderia ser uma alternativa. Contudo, correr-se-ia o risco
de, ao solucionar um problema, criar-se outro, já que faltariam policiais
para servirem na vigilância dos trabalhadores. Por isso, na prática, é
raro ver preso servindo nesse tipo de atividade.
Reconhecendo a importância e a dificuldade que o preso tem
em conseguir trabalho externo, o Superior Tribunal de Justiça, no julga-
mento do HC 310.515-RS, considerou que o fato de o irmão do apenado
ser um dos sócios da empresa empregadora não constitui obstáculo à
concessão do benefício do trabalho externo, ainda que se argumente
sobre o risco de ineficácia da realização do trabalho externo devido à
fragilidade na fiscalização62.
São causas para a revogação do trabalho externo:
- Praticar fato definido como crime. Neste caso, não é preciso
haver processo criminal e condenação com trânsito em julgado, pois, a
lei é clara ao mencionar fato definido como crime e não simplesmente
crime. Aliás, se fosse necessário aguardar a condenação definitiva, a
medida de revogação perderia completamente a eficiência;
- Cometer e ser punido por falta grave. Nesta situação, não
basta o cometimento da falta grave (ver o art. 50 desta Lei), mas é ne-

PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS


cessário haver apuração e, em seguida, a devida punição;
- Ter comportamento inadequado no trabalho que lhe foi de-
signado, agir com indisciplina ou irresponsabilidade - espelha apenas o
contrário dos requisitos necessários para a concessão do benefício do
trabalho externo (art. 37, caput, LEP).
Em qualquer hipótese de revogação arbitrária, sem causa justi-
ficada, pode o sentenciado provocar a instauração do incidente de des-
vio de execução (art. 185, LEP).
Sobre o tema, vejamos recente entendimento jurisprudencial
do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais:

61 O Plenário do STF decidiu que a exigência objetiva de prévio cumprimento do mínimo de


1/6 da pena, para fins de trabalho externo, não se aplica aos condenados que se encontrarem em
regime semiaberto (EP 2 TrabExt-AgR/DF, rei. Min. Roberto Barroso.
62 A prestação de trabalho à entidade privada depende do consentimento expresso do
preso. A autorização para o trabalho externo não se insere no rol de atos jurisdicionais do juiz da
execução, cabendo ao diretor do estabelecimento autorizar essa forma de labuta (art. 37 LEP).

105
EMENTA: AGRAVO EM EXECUÇÃO - TRABALHO EXTERNO - PRESO
PROVISÓRIO - IMPOSSIBILIDADE - PRECEDENTES - VEDAÇÃO LEGAL
EXPRESA. Em se tratando de preso em execução provisória de pena, há
vedação legal à concessão de trabalho externo.  (TJMG - Agravo em Exe-
cução Penal  1.0487.18.001311-1/001, Relator(a): Des.(a) Alexandre Victor
de Carvalho, 5ª CÂMARA CRIMINAL, julgamento em 15/10/2019, publicação
da súmula em 21/10/2019) – grifei.

DOS DEVERES, DOS DIREITOS E DA DISCIPLINA


Dispõe o art. 38 da LEP cumprir “ao condenado, além das obri-
gações legais inerentes ao seu estado, submeter-se às normas de exe-
cução da pena”.
São deveres do condenado conforme art. 39, da LEP:
I — Comportamento disciplinado e fiel cumprimento da
sentença: trata-se de uma exigência natural. Se mesmo vivendo em
sociedade, livres, temos que cumprir regras, leis, nada mais lógico que
os sujeitos presos também vivam sob preceitos e a eles se submetam.
O preso deve cumprir a sentença, ou seja, se submeter à privação de
liberdade imposta pelo Estado, e não fugir, pois, nessa hipótese (de
fuga) estará incorrendo em falta grave (art. 50, II, desta lei);

II - obediência ao servidor e qualquer pessoa: conforme


comentamos acima, o preso, que não deixa de estar em uma comu-
nidade (a carcerária), deve obedecer as regras e respeitar as pessoas
com quem se relaciona, seja servidor ou não. A não obediência ou des-
respeito pode caracterizar crime (resistência, desobediência, desacato
PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS

etc.) e falta grave (art. 50, VI, LEP);

III - urbanidade e respeito com os demais condenados: no


mesmo sentido dos comentários aos itens “a” e “b” supra, o preso deve
respeitar e tratar com urbanidade os demais condenados;

IV — conduta oposta aos movimentos de fuga ou subver-


são à ordem ou disciplina: no caso de movimentos de fuga, quer a lei
não só um comportamento passivo do preso (não adesão), como um
comportamento ativo (oposição). O incitamento ou a participação de
movimento para subverter a ordem ou disciplina pode configurar falta
grave (art. 50, I, LEP) e infração penal (art. 352 do CP);

V — execução do trabalho, das tarefas e das ordens re-


cebidas: o trabalho é um dever do preso, e caso não seja observado,
além de deixar de receber os benefícios, incorre em falta grave (art. 50,

106
VI e 51, III, desta Lei).

VI — submissão à sanção disciplinar imposta: se o Estado


pode submeter o preso à sanção disciplinar, legalmente prevista, obvia-
mente o preso deverá submissão a ela.

VII — indenização à vítima ou aos seus sucessores: a obri-


gação de reparar o dano causado à vítima está prevista não apenas no
rol de deveres, como também em vários outros dispositivos dispersos
na LEP, Código Penal e Código de Processo Penal.

VIII - indenização ao Estado: quase uma utopia. O preso,


quando tem a possibilidade de trabalhar, vê sua remuneração servin-
do a vários fins (indenização à vítima, assistência à família, pequenos
gastos pessoais) e, raramente, é suficiente para também indenizar o
Estado;

IX— higiene pessoal e asseio da cela: os locais onde o pre-


so frequenta, principalmente a cela, precisam ser mantidos limpo. Além
dos locais, deve ser exigido do preso que mantenha sua higiene pes-
soal. Claro que para esse fim deverão ser oferecidas as condições ne-
cessárias (água e artigos de higiene). No mesmo sentido, preceitos 17 e
18 das Regras Mínimas da ONU (atualizadas pelas de Mandela);

X — conservação dos objetos de uso pessoal: por razões


óbvias, os presos não podem destruir aquilo que o Estado fornece para

PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS


uso pessoal, por exemplo: colchão e vestimenta.
O art. 41 da LEP elenca os direitos do preso, quais sejam:
I - Alimentação suficiente e vestuário: a administração for-
necerá a cada preso, em horas determinadas, uma alimentação de boa
qualidade, bem preparada e servida, cujo valor nutritivo seja suficiente
para a manutenção da sua saúde e das suas forças. Todo o preso deve-
rá ter a possibilidade de dispor de água potável quando dela necessitar
(preceitos 20.1 e 20.2 das Regras Mínimas da ONU).
II - Atribuição de trabalho e sua remuneração: O trabalho
é um dos direitos sociais do homem (art. 6o da CF/88). Dentro desse
espírito, o Estado tem o dever de atribuir(também) ao preso, limitado na
sua liberdade de locomoção, trabalho remunerado, mesmo porque, com
a labuta, o habitante prisional resgatará parcela da pena (vide comentá-
rios aos arts. 28 a 37);
III - Previdência Social: os benefícios inerentes à previdência
social são garantidos ao preso (art. 39 do CP) e, consoante inteligência
107
do art. 23, VI, da LEP, incumbe ao serviço social providenciar a obten-
ção de documentos, dos benefícios da Previdência Social e do seguro
por acidente no trabalho. Questão polêmica órbita no chamado auxílio
reclusão. Não faltam reivindicações para que ele seja extinto. Todavia,
é preciso ter cautela. Trata-se de benefício previdenciário devido aos
dependentes de segurado preso (de baixa renda), desde que o segre-
gado não esteja recebendo outros benefícios, tais como aposentadoria
de qualquer espécie, auxílio doença ou até mesmo remuneração da
empresa. Importante ressaltar que só é segurado o cidadão filiado ao
INSS que possua inscrição e faça pagamentos mensais a título da Pre-
vidência Social. Não é difícil deduzir que raros presos cumprem esse
requisito. O valor a ser recebido é proporcional ao que ele contribuiu à
Previdência. O objetivo é não deixar desamparados os dependentes do
preso. Na prática, pouquíssimos conseguem cumprir todos os requisitos
necessários (ver art. 80 da Lei 8.213/91; art. 2o da Lei 10.666/03; arts.
116/119 do Decreto 3.048/99). De acordo com o Contas Abertas (entida-
de da sociedade civil que dentre suas atividades está a fiscalização das
contas públicas), apenas 7,1% da população carcerária recebe auxílio
reclusão (informações de março de 2016);
IV — Constituição de pecúlio
V — Proporcionalidade na distribuição do tempo para o
trabalho, o descanso e a recreação: embora o trabalho seja impor-
tante na ressocialização do preso, equilibrar o tempo de labuta com o
de descanso e recreação também é necessário, tanto que assim previu
a lei. O preso pode fazer horas extras, mas não pode virar uma atitude
frequente e frenética, devendo a administração observar o desejável
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equilíbrio. Assim recomendam as Regras Mínimas da ONU (preceito


78);
VI - Exercício das atividades profissionais, intelectuais,
artísticas e desportivas anteriores, desde que compatíveis com a
execução da pena: sobre o tema, ver comentários ao art. 83;
VII - Assistência material, à saúde, jurídica, educacional,
social e religiosa: sobre o tema, ver comentários aos arts. 10 a 27;
VIII — Proteção contra qualquer forma de sensacionalis-
mo: tem o condão de evitar a exposição desnecessária do preso, sub-
metendo-o ao sensacionalismo dos meios de comunicação, expondo o
reeducando à execração pública. A honra do preso é assegurada pela
CF/88 (art. 5º, X) e pela Convenção Americana de Direitos Humanos
(arts. 11, itens 1 e 2, e 14, item 3)63.
IX — Entrevista pessoal e reservada com o advogado:
como desdobramento lógico do princípio da ampla defesa, o art. 7o, III,
63 Caso do Complexo Penitenciário do Curado, em Recife.

108
da Lei 8.906/94 (Estatuto da Advocacia e da Ordem dos Advogados do
Brasil), garante ao advogado e, consequentemente, ao preso, o direito
de comunicar-se pessoal e reservadamente. A LEP, nesse tanto, obser-
vou o óbvio. Discute-se, contudo, se a comunicação entre advogado e
cliente pode ser gravada pelo sistema penitenciário. Entendemos que,
em regra, não, ferindo garantias constitucionais indisponíveis. Entretan-
to, sabendo que as liberdades públicas não são mais entendidas em
sentido absoluto, desaparecerá a ilicitude de qualquer violação quando
houver fundadas suspeitas das entrevistas estarem servindo, na ver-
dade, para a prática de infrações penais. Nesse caso, a gravação se
legitima como importante instrumento para a garantia da ordem pública
e das liberdades alheias;
X — Visita do cônjuge, da companheira, de parentes e ami-
gos em dias determinados: O contato com os familiares é fundamen-
tal para a ressocialização do preso.
As Regras de Mandela estabelecem que se deve velar particu-
larmente para que se mantenham e melhorem as boas relações entre
o preso e sua família, conforme apropriado para ambos (preceito 106).
No tocante à chamada visita íntima, embora não exista previsão legal,
a tendência moderna é considerá-la um direito do preso (e não uma
regalia ou recompensa).
XI - Chamamento nominal: respeito à dignidade da pessoa
humana, evitando que o preso seja tratado como objeto.
XII - Igualdade de tratamento, salvo quanto às exigências
da individualização da pena
XIII - Audiência especial com o diretor do estabelecimento:

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o preso tem direito de se comunicar com o diretor do estabelecimento,
oportunidade em que pode transmitir eventual reclamação, retratar abu-
so etc., sem que para isso precise do intermédio de outro funcionário.
As audiências não podem ser negadas, podendo a administra-
ção criar regras para disciplinar o encontro, evitando, assim, atrapalhar
o regular funcionamento do estabelecimento e a rotina do setor de co-
mando;
XIV — Representação e petição a qualquer autoridade, em
defesa de direito: o preso tem o direito de, em qualquer dia, fazer so-
licitações ou reclamações ao diretor da unidade prisional ou seu repre-
sentante. Reforça-se, com isso, o direito de petição, constitucionalmen-
te previsto (art. 5º, XXXIV);
XV - Contato com o mundo exterior por meio de correspon-
dência escrita, da leitura e de outros meios de informação que não
comprometam a moral e os bons costumes: O contato com o mundo
exterior é um direito do preso e poderá ser feito por meio de correspon-
109
dências, jornais, revistas etc. (no mesmo sentido, Regras de Mandela,
preceito 58).
XVI — Atestado de pena a cumprir, emitido anualmente,
sob pena da responsabilidade da autoridade judiciária competen-
te: buscando evitar a hipertrofia da punição bem como prejuízos des-
necessários ao condenado, a lei prevê que é direito do preso receber
anualmente atestado de pena a cumprir. O procedimento a ser adotado
na emissão do atestado está previsto na Resolução 113 do CNJ (arts.
12 e 13). Em agosto de 2016, o mesmo Conselho aprovou a inclusão do
parágrafo único ao art. 1º da referida resolução, para determinar que os
tribunais brasileiros sempre comuniquem ao juízo da execução, imedia-
tamente, casos de redução de pena de réus presos.
Os condenados à pena privativa de liberdade e restritiva de
direitos e os presos provisórios deverão colaborar com a ordem, obe-
decendo às determinações emanadas das autoridades e seus agentes.
Nos termos das Regras Mínimas da ONU (atualizadas pelas de
Mandela): “A disciplina e a ordem devem ser mantidas, mas sem maio-
res restrições do que as necessárias para garantir a custódia segura, a
segurança da unidade prisional e uma vida comunitária bem organiza-
da” (preceito 36).
Nos arts. 44 a 60 estão previstas normas atinentes à disciplina
do preso (definitivo e provisório), fundamentando-se em um sistema de
recompensas que estimula a boa conduta dos internos e uma série de
sanções para aqueles que realizam ações que ponham em perigo a
convivência ordenada que se requer em um centro penitenciário.
A LEP, no art. 45, caput, traz a garantia da legalidade para o
PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS

campo da execução penal, mais precisamente das sanções disciplina-


res. As Regras de Mandela também orientam que o preso só poderá
ser punido por conduta considerada, por lei ou regulamento, infração
disciplinar, obedecendo a duração cominada (preceitos 39 e seguintes).
As sanções não poderão colocar em perigo a integridade física
e moral do condenado, sob pena de infringir não só a LEP (art. 45, § 1º),
como também a Constituição Federal (art. 5o, X, e XLVII), a Convenção
Americana de Direitos Humanos (art. 11, itens 1 e 2), dentre outros tra-
tados da mesma natureza.
A LEP, no art. 46, assegura que todos que ingressarem nos
presídios deverão tomar ciência das normas disciplinares. O preso re-
ceberá por escrito as regras que orientarão seu tratamento, as imposi-
ções de caráter disciplinar bem como seus direitos e deveres.
Embora não esteja previsto expressamente no dispositivo em
comento, ele também se aplica aos presos provisórios (LEP, art. 44).
Na execução da pena privativa de liberdade, a autoridade ad-
110
ministrativa detém o poder disciplinar, uma clara exceção ao princípio
da judicialização.
O poder disciplinar na execução das penas restritivas de direi-
tos será exercido pela autoridade administrativa a que estiver sujeito o
condenado. Tal poder, entretanto, limita-se às hipóteses de cometimen-
to de faltas leves e médias, infrações que não repercutem na execução
da pena. Já nas faltas graves, deve a autoridade providenciar o regis-
tro no prontuário do reeducando e em seguida representar ao juiz da
execução para que tome as medidas cabíveis (aplicar não somente as
sanções, mas decidir sobre conversão de pena, regressão de regime,
perda de dias remidos, etc.).
As faltas disciplinares classificam-se em leves, médias e gra-
ves. A legislação local especificará as leves e médias, bem assim as
respectivas sanções.
O artigo 50 da Lei de Execuções Penais traz o rol taxativo das
faltas graves. A criação de falta grave por outro instrumento que não a
lei é inviável e configura manifesta violação ao princípio da legalidade.
Logo, por falta de previsão legal, a embriaguez do habitante prisional,
por si só, não configura falta grave.
Faltas Graves Descrição

I - incitar ou partici-
par de movimento
Esta falta guarda similaridade ao crime de motim (art. 354 do
para subverter a
Código Penal), mas com ele não se confunde.
ordem ou a disci-
plina

PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS


Fugir: a legislação penal considera crime a evasão quando
praticada mediante violência (art. 352 do CP), circunstância
II - fugir
esta dispensável na caracterização da falta em estudo (bas-
tando que o preso fuja).
III - possuir, inde- O preso que possuir, indevidamente, instrumento capaz de
vidamente, instru- ofender a integridade física de outrem (faca, canivete, esti-
mento capaz de lete etc.) comete falta grave. Importante ressaltar que para
ofender a integrida- configurar a referida falta basta que o preso possua tal ins-
de física de outrem trumento, sendo dispensável o efetivo porte ou uso.
O preso que provocar (dolosamente) acidente de trabalho
IV - provocar aci- comete falta grave. O acidente provocado culposamente não
dente de trabalho caracteriza esta falta, podendo ser rotulado como falta leve
ou média, desde que prevista na legislação local.
V - descumprir, no O preso que descumprir as condições impostas pelo art. 115
regime aberto, as desta lei incorre em falta grave (ver comentários ao artigo
condições impostas 115).

111
VI - inobservar os
A desobediência ao servidor e o desrespeito a qualquer pes-
deveres previstos
soa com quem deva relacionar-se (art. 39, inciso II) e a não
nos incisos II e V,
execução do trabalho, das tarefas e das ordens recebidas
do artigo 39, desta
(art. 39, inciso V) enseja falta grave.
Lei
VII — tiver em sua
posse, utilizar ou
fornecer aparelho
telefônico, de rádio O preso que possuir, utilizar ou fornecer aparelho que possi-
ou similar, que per- bilite a comunicação dos presos com outros presos ou am-
mita a comunicação biente externo comete falta grave.
com outros presos
ou com o ambiente
externo

Os três incisos do art. 51 estão relacionados com a desídia do


reeducando no cumprimento da pena alternativa imposta (descumprir
a restrição imposta, retardar o cumprimento da obrigação ou não ob-
servar os deveres legais), sujeitando seu autor, em especial, à sanção
do art. 181, § 1º, d, e § 2º, da LEP (conversão da pena alternativa em
privativa de liberdade).
O art. 52 trata das hipóteses que autorizam a inclusão do preso
faltoso no regime disciplinar diferenciado (RDD), espécie mais drástica
de sanção disciplinar.
Característica Descrição
Duração máxima de trezentos e sessenta dias, sem prejuízo
de repetição da sanção por nova falta grave de mesma espé-
Duração
cie, até o limite de um sexto da pena aplicada – contado na
PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS

forma do art. 10, do CP.


Tipo de cela Individual
Visitas semanais de duas pessoas, sem contar as crianças,
Visitas
com duração de duas horas
O preso terá direito à saída da cela por 2 horas diárias para
Banho de sol
banho de sol

São hipóteses de cabimento:


a) A prática de fato previsto como crime doloso constitui
falta grave e, quando ocasione subversão da ordem ou disciplina
internas, sujeita o preso provisório, ou condenado, sem prejuízo
da sanção penal, ao regime disciplinar diferenciado;
Mesmo que o crime doloso, causador de desordem carcerária,
fique no campo da tentativa, será punido com a sanção correspondente
à falta consumada (art. 49, parágrafo único, da LEP). No entanto, a cir-

112
cunstância do conatus será considerada na duração da punição.

b) O regime disciplinar diferenciado também poderá abri-


gar presos provisórios ou condenados, nacionais ou estrangeiros,
que apresentem alto risco para a ordem e a segurança do estabe-
lecimento penal ou da sociedade.

c) Estará igualmente sujeito ao regime disciplinar diferen-


ciado o preso provisório ou o condenado sob o qual recaiam fun-
dadas suspeitas de envolvimento ou participação, a qualquer títu-
lo, em organizações criminosas, quadrilha ou bando.
No caso do preso provisório ou definitivo que integre organiza-
ção criminosa (definida no art. 1º da Lei 12.850/13), quadrilha ou bando
(alterada pela Lei n. 12.850/13, a infração passou a ser denominada
“associação criminosa”, ainda prevista no art. 288 do CP). Eis aqui a
preocupação do legislador pátrio em coibir, de maneira firme e convin-
cente, os integrantes das empresas criminosas, verdadeiros líderes,
com seguidores dentro e fora do sistema carcerário, merecendo, por
isso, isolamento como forma de desmantelar o malfazejo grupo.
Uma das grandes discussões envolvendo o Regime Disciplinar
Diferenciado diz respeito à sua constitucionalidade. Predomina que o
RDD é constitucional (STJ, HC 44049/SP, 6ª T., Ministro Hélio Quaglia
Barbosa, j. 12-6-2006). A 5ª Turma do STJ chegou inclusive a declarar:
“Considerando-se que os princípios fundamentais consagrados na Carta
Magna não são ilimitados (princípio da relatividade ou convivência das
liberdades públicas), vislumbra-se que o legislador, ao instituir o Regime

PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS


Disciplinar Diferenciado, atendeu ao princípio da proporcionalidade. Le-
gítima a atuação estatal, tendo em vista que a Lei n. 10.792/2003, que
alterou a redação do art. 52 da LEP, busca dar efetividade à crescen-
te necessidade de segurança nos estabelecimentos penais, bem como
resguardar a ordem pública, que vem sendo ameaçada por criminosos
que, mesmo encarcerados, continuam comandando ou integrando fac-
ções criminosas que atuam no interior do sistema prisional – liderando
rebeliões que não raro culminam com fugas e mortes de reféns, agentes
penitenciários e/ou outros detentos – e, também, no meio social” (STJ,
HC 40300/RJ, 5ª T., j. 7-6-2005)64.
As sanções disciplinares estão taxativamente previstas no art.
53, da LEP, quais sejam:
I - advertência verbal: geralmente adotada quando da prática
de falta leve pelo condenado. Apesar de verbal, deve constar no pron-
tuário do reeducando;
64 ROIG, p. 124, 2018

113
II - repreensão: forma escrita de advertência, geralmente ado-
tada diante da prática reincidente de falta leve ou quando da prática da
falta média;

III - suspensão ou restrição de direitos: são direitos que po-


derão ser restringidos ou suspensos: proporcionalidade na distribuição
do tempo para trabalho, descanso e recreação (art. 41, V, desta lei); visi-
ta do cônjuge, da companheira, de parentes e amigos em dias determi-
nados (art. 41, X, desta lei); contato com o mundo exterior por meio de
correspondência escrita, da leitura e de outros meios de informação que
não comprometam a moral e os bons costumes (art. 41, XV, desta lei);

IV — isolamento na própria cela, ou em local adequado,


nos estabelecimentos que possuam alojamento coletivo, observa-
do o disposto no artigo 88 desta lei: dispositivo de difícil aplicação,
pois na atual conjuntura, o sistema penitenciário brasileiro não possui
sequer celas coletivas suficientes para todos os condenados. De toda
forma, havendo cela para isolamento individual, deverá respeitar o dis-
posto no art. 88, isto é, área mínima, salubridade etc.;

V - inclusão no regime disciplinar diferenciado: o preso po-


derá sofrer a sanção de inclusão no regime disciplinar diferenciado
São recompensas para aqueles que ostentam bom comporta-
mento, colaboram para a disciplina e se dedicam ao trabalho:
- elogio: será feito verbalmente e anotado no prontuário, servin-
do para, futuramente, atestar o comportamento do preso.
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- regalias: geralmente noticiadas de forma pejorativa, as rega-


lias consistem, na realidade, em privilégios para presos merecedores,
aplicando-se de modo transparente, com critérios preestabelecidos, im-
portante meio de incentivo ao bom comportamento carcerário, disciplina
e trabalho.
Recomendam as normas internacionais, como as Regras de
Mandela, que, na aplicação das sanções disciplinares, a autoridade
competente procederá a um exame completo do fato. Isto é, a auto-
ridade deverá analisar a natureza, os motivos, as circunstâncias e as
consequências do fato, para só então aplicar a sanção disciplinar, com
base nas informações colhidas.
O art. 57 da LEP obedece não apenas a recomendação alie-
nígena, mas também o princípio constitucional da individualização da
pena e da responsabilidade pessoal.
As Regras Mínimas da ONU (atualizadas pelas de Mandela)
preveem que deve ser determinada por lei ou por regulamento a dura-
114
ção das sanções disciplinares (preceito 37).
Dentro desse espírito, o art. 58 anuncia que o isolamento, a
suspensão e a restrição de direitos não poderão exceder a trinta dias,
ressalvada a hipótese do regime disciplinar diferenciado, que poderá
chegar a 360 dias (art. 52).
Ressalte-se que esse é o limite, podendo as sanções ser apli-
cadas por menos tempo, conforme a necessidade.

DOS ÓRGÃOS DA EXECUÇÃO PENAL


Os Órgãos da Execução Penal (art. 61 da LEP) são:
I – Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária;
II – Juízo da Execução;
III – Ministério Público;
IV – Conselho Penitenciário;
V – Departamentos Penitenciários;
VI – Patronato;
VII – Conselho da Comunidade;
VII – Defensoria Pública.

O Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária é


um órgão vinculado ao Ministério da Justiça, com sede em Brasília, que
já existia antes mesmo da criação da Lei de Execução Penal.
O Conselho será constituído por 13 (treze) membros desig-
nados pelo Ministério da Justiça, dentre professores e profissionais de
Direito penal, Processual Penal, Penitenciário e ciências correlatas (Cri-

PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS


minologia, por exemplo), bem como por representantes da comunidade
e dos Ministérios da área social.
O mandato dos membros do Conselho terá duração de 2 (dois)
anos, renovado 1/3 (um terço) em cada ano, ficando proibida a imedia-
ta recondução, o que não impede a nomeação de um ex-conselheiro,
desde que respeitado o intervalo de um ano do término do seu mandato.
Incumbe ao Conselho Nacional de Política Criminal e Peniten-
ciária a realização de atividades de fiscalização, pesquisa (para aprimo-
ramentos etc.) e correto funcionamento dos estabelecimentos penais
A competência do Juiz de Execuções inicia-se, em regra, com
o trânsito em julgado da sentença condenatória e será exercida por um
juízo especializado, de acordo com a Lei de Organização Judiciária.
Ê importante ressaltar que a competência na LEP não é ditada
pelo local onde transitou em julgado o processo de conhecimento.
Vejamos:

115
I — Para o sentenciado a pena privativa de liberdade, a exe-
cução correrá onde ele estiver preso. Mesmo que o sentenciado tenha
várias execuções a serem cumpridas, todas serão reunidas na comar-
ca onde ele estiver preso. Caso seja transferido, o rol de execuções o
acompanha.

II - Em se tratando de sursis e pena restritiva de direitos, a co-


marca competente é a do domicílio do sentenciado.

III — Para a pena de multa, a competência para execução é da


Vara de Execuções Fiscais (STJ REsp. 804143, Min. Felix Fischer), o
que não significa dizer que perdeu seu caráter penal.

IV - No caso de sentenciado com foro por prerrogativa de fun-


ção, a execução será da competência do próprio Tribunal que o proces-
sou e julgou (enquanto persistir a prerrogativa).

V - Para a execução da medida de segurança, competente é o


juízo da execução da comarca em que estiver sendo cumprida.
Difere-se a competência do Juízo da Execução, que se dá, em
regra, com o trânsito em julgado da sentença, com o início da execução,
o qual depende da prisão do sentenciado, expedindo-se, em seguida,
a guia de recolhimento (peça processual que formaliza o início da exe-
cução).
Conforme disposição do artigo 66 da LEP, compete ao juízo da
execução:
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I - aplicação da lei mais benigna ao condenado: transitada


em julgado a sentença condenatória, compete ao juízo das execuções
a aplicação da lei mais benigna (Súmula 611 do STF).

II — extinção da punibilidade: ocorrendo qualquer das cau-


sas de extinção da punibilidade (prescrição, morte do agente, anistia,
graça, indulto etc.) após o trânsito em julgado da decisão condenatória,
será de competência do juiz da execução declarar extinto o poder de
punir do Estado;

III — decidir sobre:


a) soma de penas: existindo mais de uma condenação contra
a mesma pessoa (e não se observando a regra da unidade de processo
e julgamento imposta pelos arts. 76 a 82 do CPP), compete ao juiz da
execução, de posse do prontuário do condenado contendo as várias
guias organizadas segundo a ordem cronológica de chegada e registra-
116
das em livro especial (art. 107, § 2º), somar as penas impostas.
b) unificação das penas: havendo duas ou mais condena-
ções em que tenha ocorrido concurso formal, crime continuado, erro na
execução ou resultado diverso do pretendido, será efetuada a unifica-
ção das penas impostas em processos diversos. Também ocorrerá a
unificação de penas para atender o limite máximo de 30 anos estabele-
cido no Código Penal (art. 75 do CP). ATENÇÃO: Súmula 715 do STF.
c) progressão ou regressão nos regimes: depois de fixa-
do o regime inicial pelo juiz da sentença (art. 59, inciso III do CP), a
pena privativa de liberdade será executada em forma progressiva com
a transferência para regime menos rigoroso, a ser determinada pelo juiz
da execução, quando o preso tiver cumprido parcela da pena e ostentar
bom comportamento carcerário, comprovado pelo diretor do estabeleci-
mento (art. 112 LEP). A execução da pena privativa de liberdade ficará
sujeita à forma regressiva, com a transferência para qualquer dos regi-
mes mais rigorosos, quando o condenado: praticar fato definido como
crime doloso ou falta grave; sofrer condenação, por crime anterior, cuja
pena, somada ao restante da pena em execução, torne incabível o regi-
me; frustrar os fins da execução (art. 118 LEP);
d) detração e remição da pena: detração é o computo, na
execução da pena ou medida de segurança, do tempo de prisão provi-
sória (art. 42 do CP). Remição significa a possibilidade que tem o ree-
ducando de reduzir o tempo de cumprimento da pena pelo trabalho e/
ou estudo.
e) suspensão condicional da pena: consoante art. 77 do CP,
é de competência do juiz da condenação fixar a suspensão condicional

PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS


da pena. Entretanto, o juiz da execução poderá conceder o mesmo be-
nefício quando, imotivadamente, o juiz ou Tribunal que proferiu a sen-
tença não se pronunciou ou quando surgir situação nova que elimine
obstáculo existente anteriormente que impedia a suspensão;
f) livramento condicional: artigos 131 a 146, LEP;
g) incidentes da execução: artigos 180 a 193 LEP;IV — auto-
rizar saídas temporárias: art. 122 a 125, LEP;

VI — zelar pelo correto cumprimento da pena e da medida


de segurança: incumbe também ao juiz zelar pelo cumprimento das
disposições da sentença ou decisão judicial no que diz respeito à exe-
cução penal;

VII - inspecionar, mensalmente, os estabelecimentos pe-


nais, tomando providências para o adequado funcionamento e pro-
movendo, quando for o caso, a apuração de responsabilidade
117
VIII - interditar, no todo ou em parte, estabelecimento penal
que estiver funcionando em condições inadequadas ou com infrin-
gência aos dispositivos desta Lei

IX — compor e instalar o Conselho da Comunidade:

X — emitir anualmente atestado de pena a cumprir: a ex-


pedição de atestado anual pelo juiz foi regulamentada pelos arts. 12 e
13 da Resolução 113 do Conselho Nacional de Justiça. Lembrando que
em agosto de 2016, o CNJ aprovou a inclusão do parágrafo único ao
art. 1º da referida resolução, para determinar que os tribunais brasileiros
sempre comuniquem ao juízo da execução, imediatamente, casos de
redução de pena de réus presos.
O art. 67 prevê a obrigatória intervenção do Ministério Público
na fase da execução da pena e da medida de segurança, fiscalizando
e intervindo nos procedimentos judiciais (recorrendo, requerendo, etc.).
O rol de atribuições previsto no artigo 68 é meramente exem-
plificativo, havendo muitas outras espalhadas pela Lei de Execução Pe-
nal, como por exemplo, manifestar-se nas autorizações de saída.

Art. 68. Incumbe, ainda, ao Ministério Público:


I - fiscalizar a regularidade formal das guias de recolhimento e de interna-
mento;
II - requerer:
a) todas as providências necessárias ao desenvolvimento do processo exe-
cutivo;
b) a instauração dos incidentes de excesso ou desvio de execução;
PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS

c) a aplicação de medida de segurança, bem como a substituição da pena


por medida de segurança;
d) a revogação da medida de segurança;
e) a conversão de penas, a progressão ou regressão nos regimes e a revoga-
ção da suspensão condicional da pena e do livramento condicional;
f) a internação, a desinternação e o restabelecimento da situação anterior.
III - interpor recursos de decisões proferidas pela autoridade judiciária, du-
rante a execução.
Parágrafo único. O órgão do Ministério Público visitará mensalmente os esta-
belecimentos penais, registrando a sua presença em livro próprio.

O Conselho Penitenciário é integrado por membros
nomeados pelo Governador do Estado, escolhidos dentre professores e
profissionais da área do Direito Penal, Processual Penal, Penitenciário,
ciências correlatas e representantes da comunidade, o Conselho
Penitenciário tem função consultiva (emitir parecer em pedidos de
indulto e comutação de pena), função fiscalizatória (inspecionar os

118
estabelecimentos e serviços penais, bem como supervisionar os
patronatos) e, ainda, apresentar no primeiro trimestre de cada ano, ao
Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, relatório dos
trabalhos efetuados no exercício anterior. Ressalte-se que esse rol
não é taxativo, pois dentre os artigos da LEP existem outras atividades
atribuídas ao Conselho (ex.: arts. 137, 143, 144, 145, 146 etc.).
O Departamento Penitenciário Nacional está subordinado
ao Ministério da Justiça e exerce importante e ampla função sobre a
política penitenciária nacional, tendo como atribuições:

I - acompanhar a fiel aplicação das normas de execução penal em


todo o Território Nacional;
II - inspecionar e fiscalizar periodicamente os estabelecimentos e ser-
viços penais;
III - assistir tecnicamente as Unidades Federativas na implementação
dos princípios e regras estabelecidos nesta Lei;
IV - colaborar com as Unidades Federativas mediante convênios, na
implantação de estabelecimentos e serviços penais;

V - colaborar com as Unidades Federativas para a realização de cur-


sos de formação de pessoal penitenciário e de ensino profissionali-
zante do condenado e do internado.
VI – estabelecer, mediante convênios com as unidades federativas, o
cadastro nacional das vagas existentes em estabelecimentos locais
destinadas ao cumprimento de penas privativas de liberdade aplica-
das pela justiça de outra unidade federativa, em especial para presos
sujeitos a regime disciplinar.
VII - acompanhar a execução da pena das mulheres beneficiadas

PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS


pela progressão especial de que trata o § 3º do art. 112 desta Lei,
monitorando sua integração social e a ocorrência de reincidência, es-
pecífica ou não, mediante a realização de avaliações periódicas e de
estatísticas criminais.

§ 1º Incumbem também ao Departamento a coordenação e supervi-


são dos estabelecimentos penais e de internamento federais.
§ 2º Os resultados obtidos por meio do monitoramento e das avaliações
periódicas previstas no inciso VII do caput deste artigo serão utilizados para,
em função da efetividade da progressão especial para a ressocialização das
mulheres de que trata o § 3º do art. 112 desta Lei, avaliar eventual desneces-
sidade do regime fechado de cumprimento de pena para essas mulheres nos
casos de crimes cometidos sem violência ou grave ameaça.

Em conformidade com as Regras Mínimas da ONU (atuali-


zadas pelas de Mandela), o diretor de estabelecimento penal deverá
achar-se devidamente qualificado para a função, por seu caráter, ca-
pacidade administrativa, formação adequada e experiência apropriada
119
(preceito 79).
Ao Diretor cabem importantes funções, dentre elas as de com-
por a Comissão Técnica de Classificação (incumbida de elaborar o pro-
grama de individualização e de orientação da pena).
No âmbito do processo de execução penal, é cediço que a in-
clusão social se dá fundamentalmente através do pleno acesso à Jus-
tiça aos mais necessitados, promovido pela Defensoria Pública. Con-
forme discorrido em outro trabalho, foram extremamente oportunas as
reformas promovidas pela Lei n. 12.313/2010, que passaram a regular
a atuação da Defensoria Pública, dentro e fora dos estabelecimentos
penais.

DOS ESTABELECIMENTOS PENAIS


Os estabelecimentos penais estão descritos no Título IV da Lei
de Execução Penal. Segundo a LEP, os estabelecimentos penais desti-
nam-se ao condenado, ao submetido à medida de segurança, ao preso
provisório e ao egresso (art. 82), sendo que o mesmo conjunto arqui-
tetônico poderá abrigar estabelecimentos de destinação diversa desde
que devidamente isolados. Em resumo, abrangem:
a) Penitenciária (destina-se ao condenado à pena de reclusão,
em regime fechado);
b) Colônia Agrícola, Industrial ou Similar (destina-se ao cumpri-
mento da pena em regime semiaberto);
c) Casa do Albergado (destina-se ao cumprimento de pena pri-
vativa de liberdade, em regime aberto, e da pena de limitação de fim de
PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS

semana);
d) Centro de Observação (onde se realizam os exames gerais
e o criminológico);
e) Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico (destina-se
aos inimputáveis e semi imputáveis referidos no artigo 26 e seu pará-
grafo único do Código Penal);
f) Cadeia Pública (destina-se ao recolhimento de presos provi-
sórios).
A lei, atendendo ao que dispõe o art. 5º, XLVIII, da CF (a pena
será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a nature-
za do delito, a idade e o sexo do apenado), bem como preceito 11 das
Regras Mínimas da ONU (atualizadas pelas de Mandela), assegura pro-
teção às mulheres (com o intuito de protegê-las de violências sexuais)
e idosos (em virtude da fragilidade física e emocional não raras vezes
advindas da avançada idade).
A exigência de o preso provisório ficar separado do condenado

120
por sentença transitada em julgado está assegurada tanto nas Regras
Mínimas da ONU (atualizadas pelas de Mandela, preceito 11, “b”) como
também na Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de San
Jose da Costa Rica, artigo 5º, item 4): “os processados devem ficar
separados dos condenados, salvo em circunstâncias excepcionais, e
devem ser submetidos a tratamento adequado à sua condição de pes-
soas não condenadas.”
Além disso, determina-se a separação entre o preso primário
e o preso reincidente, merecendo cada qual processos diferentes de
reabilitação.
No momento o Brasil e o mundo estão passando por uma Pan-
demia causada por um vírus (Covid-19), em razão disso, em todo Brasil
está se falando sobre os estabelecimentos penais e a condição dos
presos encarcerados.
Vejamos na íntegra decisão apresentada pelo Superior Tribu-
nal de Justiça, no último dia 23 de março de 2020.
“​O presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministro
João Otávio de Noronha, indeferiu nesta segunda-feira (23) um habeas
corpus da Defensoria Pública do Ceará que pedia a liberdade para to-
dos os presos do estado que se enquadrassem nas diretrizes da Re-
comendação 62/2020 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Segundo o presidente do STJ, a matéria não pode ser exami-
nada na instância superior, pois ainda não teve o mérito julgado pela
corte de origem – o Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE). Ele afirmou
que a jurisprudência não admite a impetração de habeas corpus contra
o indeferimento de liminar em outro habeas corpus, “salvo no caso de

PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS


flagrante ilegalidade” – o que não foi verificado no caso.
De acordo com a Defensoria Pública, a recomendação do
CNJ torna imperativa a libertação de todas as pessoas em situação
de risco de contágio pelo novo coronavírus (Covid-19).
No pedido dirigido ao STJ, a DP afirmou que, embora tenha
havido na segunda instância apenas o indeferimento da liminar, sem
julgamento de mérito, o novo habeas corpus deveria ser concedido, ten-
do em vista a situação excepcional causada pela pandemia e o caráter
teratológico da decisão do TJCE.
Ao negar a liminar, o relator no tribunal estadual afirmou que
não havia como conceder a liberdade “indistintamente”, sem que fosse
primeiro analisada a condição individual de cada interno do sistema car-
cerário – tarefa a ser feita pelos juízes de execução penal, de ofício ou
a pedido da parte.
O ministro João Otávio de Noronha declarou que, a despeito
dos argumentos expostos pela DP, o habeas corpus esbarra no impe-
121
dimento da Súmula 691 do Supremo Tribunal Federal (STF) – aplicada
por analogia pelo STJ –, segundo a qual não cabe habeas corpus im-
petrado contra decisão de relator que, em habeas corpus requerido à
instância anterior, indefere a liminar.
“No caso, não visualizo, em juízo sumário, manifesta ilegali-
dade que autorize o afastamento da aplicação do mencionado verbete
sumular”, concluiu o ministro ao justificar o indeferimento do pedido co-
letivo”65.

DA EXECUÇÃO DAS PENAS EM ESPÉCIE


O Título V da Lei de Execução Penal trata da execução das
penas em espécie e inicia em seu capítulo I, o tratamento das penas
privativas de liberdade.
Na sentença criminal o juiz deverá estabelecer o regime no
qual o condenado iniciará o cumprimento da pena privativa de liberda-
de, conforme dispõe o art. 33, caput e seguintes do Código Penal.
Para que haja o cumprimento da pena privativa de liberdade,
há a prisão do condenado e, portanto, a expedição da guia de recolhi-
mento, que é um documento que determina as informações em relação
à pena estabelecida, conforme diretrizes do artigo 160 da LEP.
Na hipótese de utilização da guia de recolhimento provisória,
ou seja, antes do trânsito em julgado da sentença condenatória, situa-
ção comumente utilizada pelo judiciário, é expedida a guia para que
se possa fazer a execução provisória da sentença penal condenatória,
para que o preso faça jus a alguns benefícios da execução penal.
PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS

Isto se verifica no verbete das súmulas 716 e 717 do STF, em


que a progressão de regime de cumprimento da pena ou a aplicação
imediata de regime menos severo nela determinada é possível ainda
que não haja trânsito em julgado da sentença condenatória e mesmo
que o beneficiado se encontre em prisão especial.
Todavia, a doutrina tem entendido que, para que ocorra a exe-
cução provisória de uma sentença penal condenatória ainda que não
tenha ocorrido o trânsito em julgado definitivo, é necessário que haja
o trânsito em julgado pelo menos para a acusação. Isto se justifica em
consequência da proibição da reformatio in pejus, ou seja, não é pos-
sível piorar a situação do condenado em recurso exclusivo da defesa.
Após a expedição da guia de recolhimento, inicia-se o cumpri-
mento da pena privativa de liberdade, e a partir desta, várias ocorrên-
cias podem acontecer, quais sejam:
- Detração (art. 42, CP): trata-se de um desconto da pena de-
65 http://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/Covid-19-habeas-corpus-
coletivo-para-presos-em-situacao-de-risco-nao-pode-ser-analisado-pelo-STJ.aspx

122
finitiva ou da internação em medida de segurança de caráter definitivo
daquele tempo de prisão provisória ou daquele tempo de internação
provisória que for cumprido no Brasil ou no estrangeiro, ou mesmo de
prisão administrativa ou de internação em hospital de custódia e trata-
mento.
- Remição (art. 126 e segs., LEP): a remição é um desconto
na pena referente ao tempo trabalhado ou estudado pelo condenado,
ou seja, o abatimento de um dia de pena para cada três dias trabalha-
dos. Este instituto apenas é viável no cumprimento da pena privativa
de liberdade em regime fechado ou regime semiaberto, não existindo,
portanto, no regime aberto. A jornada de trabalho mínima é de 6 horas
e a máxima de 8 horas.
ATENÇÃO: o instituto da remissão (com “SS”), tem o sentido
de perdão, renúncia, desistência, absolvição e, juridicamente, encontra-
-se inserido no campo do direito das obrigações, consistindo em forma
de extinção da obrigação pela qual o credor perdoa a dívida do devedor,
não pretendendo mais exigi-la.
Vale salientar que pela Súmula n. 341 do STJ, o tempo de es-
tudo também pode ser utilizado para fins de remição.
Na remição, havendo o cometimento de uma falta grave ocor-
rerá a perda de todo o tempo remido, este é o entendimento do STF e
do STJ. Logo, mesmo que o indivíduo tenha períodos que já tenham
sido apreciados por decisão judicial de remição, todo o tempo remido é
perdido, uma vez que as Cortes Superiores entendem que esta decisão
judicial não faz coisa julgada material e há apenas uma mera expecta-
tiva de direito.

PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS


Somente o condenado tem direito a remição, desta forma, o
preso provisório não tem direito a remição, mas se o diretor do estabele-
cimento prisional deixar o preso provisório trabalhar é razoável que lhe
seja concedido o tempo trabalhado.
A execução penal no Brasil adotou o sistema progressivo in-
fluenciado modelo inglês, determinando a passagem do preso do regi-
me mais rigoroso para o regime menos rigoroso, ainda que possa haver
a regressão de regime conforme dispõe o art. 118, LEP.
O sistema progressivo é composto de três regimes prisionais,
quais sejam:
a) Regime fechado;
b) Regime semiaberto;
c) Regime aberto;
A súmula n. 491, STJ proíbe a progressão per saltum, por
exemplo, do regime fechado diretamente para o regime aberto.
Os requisitos para a progressão são:
123
I. Bom comportamento carcerário atestado pelo diretor do es-
tabelecimento prisional;
II. Cumprimento de 1/6 da pena
Entretanto, em relação aos crimes hediondos ou assemelha-
dos, a progressão somente ocorrerá com o cumprimento de 2/5 da pena
para o condenado primário; e de 3/5 da pena para o condenado rein-
cidente. As Cortes Superiores têm entendido que a Lei nº 11.464/07 é
irretroativa, pois é mais prejudicial.
III. Ressarcimento do dano ou a restituição da coisa (art. 33, §
4º, CP) – nos crimes cometidos contra a Administração Pública.
O Supremo Tribunal Federal tem permitido a realização de
exame criminológico para a progressão da pena, entretanto, é preciso
que o juiz fundamente a necessidade neste exame criminológico, por-
tanto, entende que tal exame não foi abolido para a progressão, apenas
tornou-se requisito facultativo para que a progressão seja concedida.
A Lei n. 13.769/18 incluiu o §3º ao art. 112:

No caso de mulher gestante ou que for mãe ou responsável por crianças


ou pessoas com deficiência, os requisitos para progressão de regime são,
cumulativamente:                
I - não ter cometido crime com violência ou grave ameaça a pessoa;      
II - não ter cometido o crime contra seu filho ou dependente;          
III - ter cumprido ao menos 1/8 (um oitavo) da pena no regime anterior;           
IV - ser primária e ter bom comportamento carcerário, comprovado pelo dire-
tor do estabelecimento;           
V - não ter integrado organização criminosa.       
§ 4º O cometimento de novo crime doloso ou falta grave implicará a revogação
PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS

do benefício previsto no § 3º deste artigo.

O sistema progressivo também prevê a regressão, que é a


passagem do regime menos rigoroso para o regime mais rigoroso, por
exemplo, é a passagem do regime aberto para o semiaberto, do regime
aberto para o regime fechado, ou do regime semiaberto para o regime
fechado. Portanto, na regressão é possível a passagem por saltos.
As hipóteses de regressão previstas na lei podem ocorrer por:
I. Prática de fato definido como crime doloso;
II. Prática de falta grave;
III. Não cumprir o condenado, no regime aberto, as condições
deste regime, frustrando os fins da execução;
IV. Deixar o condenado de pagar a pena de multa que foi im-
posta cumulativamente com a pena privativa de liberdade, salvo motivo
justificado. A doutrina entende que esta hipótese foi tacitamente revo-
gada, tendo em vista que a pena de multa não pode mais ser convertida

124
em detenção;
V. Surge nova condenação, na qual a somatória da pena nesta
nova condenação, com a pena que está sendo cumprida, torne incom-
patível o regime desta pena.
Com exceção do último caso, em todas as demais hipóteses é
necessário que o juiz realize uma oitiva prévia do condenado para saber
se ele não possui alguma justificativa para o fato em que se envolveu.
A LEP estabelece que no cumprimento da pena privativa de
liberdade é possível um instituto chamado autorização de saída, com
duas espécies de autorizações:
I. Permissão de saída: nesta espécie é possível que o preso
saia do estabelecimento prisional mediante escolta quando houver fa-
lecimento ou doença grave do cônjuge, companheiro, ascendente, des-
cendente ou irmão, ou ainda para tratamento médico.
II. Saída temporária: cabível nas seguintes hipóteses:
a) Visita familiar;
b) Frequência de curso supletivo profissionalizante ou de 2º
grau;
c) Para participação em atividade de caráter social
São requisitos para a saída temporária:
a) Cumprimento de ¼ da pena ao preso reincidente ou 1/6 da
pena ao preso primário – considerado para este fim, o tempo de cum-
primento em regime fechado, de acordo com a Súmula n. 40 do STJ.
b) Somente condenado em regime semiaberto – não cabe ao
preso em regime fechado, nem mesmo ao preso provisório.
A saída temporária será realizada sem escolta, e a sua dura-

PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS


ção é de no máximo 7 dias feita no máximo cinco vezes ao ano, salvo
se for para frequência de algum curso, pois, precisa frequentar o curso
todos os dias.
Caso o preso não cumpra as condições estabelecidas, poderá
ter a saída temporária revogada. As condições são:
a) Não pode praticar crime doloso;
b) Não pode praticar falta grave;
c) Não pode deixar de observar as condições impostas nesta
autorização de saída;
d) Na hipótese de estudo, havendo baixa frequência ou o baixo
rendimento no curso.
Apenas poderá ser estabelecida aos presos que cumprem PPL
em regime aberto e que estejam nas condições abaixo, quais sejam:
I. Condenada gestante;
II. Condenado com mais de 70 anos;
III. Condenado com problema grave de saúde;
125
IV. Condenada que tem filho menor ou com problema mental.
Nestas quatro hipóteses, para condenados em regime aberto,
a LEP permite a prisão albergue domiciliar.
PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS

126
QUESTÕES DE CONCURSOS

QUESTÃO 1
Ano: 2019 Banca: MPE-PR Órgão: MPE-PR Prova: Promotor Subs-
tituto
Sobre o trabalho do preso, analise as assertivas abaixo e assinale
a alternativa correta:
A) O condenado à pena privativa de liberdade e o preso provisório estão
obrigados ao trabalho, na medida de suas aptidões e capacidades.
B) O trabalho do preso, como dever social e condição de dignidade
humana, terá finalidade educativa e produtiva, será remunerado e está
sujeito à Consolidação das Leis Trabalhistas.
C) É possível a execução indireta das atividades desenvolvidas nos es-
tabelecimentos prisionais, relacionadas à realização de trabalho pelo
preso.
D) Não será computado para fins de remição da pena o tempo em que
o preso ficou impossibilitado de prosseguir no trabalho, por motivo de
acidente.
E) A realização de trabalho externo depende da autorização da direção
do estabelecimento penal, além do cumprimento mínimo de 1/6 (um
sexto da pena), considerando o tempo da prisão preventiva e da pena
no regime fechado.

QUESTÃO 2
Ano: 2018 Banca: FCC Órgão: DPE-MA Prova: Defensor Público

PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS


Sobre os princípios constitucionais que regem a execução penal,
é correto afirmar que:
A) o devido processo legal é garantido na apuração de faltas disciplina-
res com a sua plena jurisdicionalização na Lei de Execução Penal.
B) o princípio da proporcionalidade é cumprido na previsão legal de re-
dução da sanção para faltas disciplinares tentadas.
C) o princípio da intranscendência da pena impede que a progressão de
regime ocorra de forma automática.
D) o princípio da humanidade das penas é violado com a previsão legal
de remição pelo estudo.
E) o princípio da taxatividade é observado na disposição legal da falta
grave de posse de celular, mas relativizado pela jurisprudência em pre-
juízo do condenado.

QUESTÃO 3
Ano: 2018 Banca: VUNESP Órgão: TJ-SP Prova: Juiz Substituto
127
Quanto à Lei de Execução Penal, assinale a alternativa correta.
A) A prática de falta grave não interrompe o prazo para fim de comuta-
ção de pena, apenas para indulto.
B) Para obtenção dos benefícios de saída temporária e trabalho ex-
terno, não se considera o tempo de cumprimento da pena no regime
fechado, somente o no semiaberto.
C) Para o reconhecimento da prática de falta disciplinar no âmbito da
execução penal, é imprescindível a instauração de procedimento admi-
nistrativo pelo diretor do estabelecimento prisional, assegurado o direito
de defesa, a ser realizado por advogado ou defensor público.
D) O reconhecimento de falta grave decorrente do cometimento de fato
definido como crime doloso no cumprimento da pena não prescinde do
trânsito em julgado de sentença penal condenatória no processo penal
instaurado para apuração do fato.

QUESTÃO 4
Ano: 2018 Banca: VUNESP Órgão: TJ-MT Prova: Juiz Substituto
No que toca à execução penal:
A) compete à autoridade administrativa a inclusão de preso em regime
disciplinar diferenciado, no interesse da disciplina e da averiguação do
fato, não excedendo ao prazo de um ano e comunicando o Juízo das
Execuções em 48 horas.
B) a decisão que indefere ou defere progressão de regime prisional é
passível de recurso em sentido estrito.
C) verificada a prática de falta grave pelo sentenciado, o juiz poderá
revogar até 1/6 (um sexto) do tempo remido, recomeçando a contagem
PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS

a partir da infração disciplinar.


D) compete ao juízo da execução onde o preso encontra-se recolhido a
decisão acerca da autorização de saída.
E) o juiz poderá definir a fiscalização por meio de monitoração eletrôni-
ca quando determinar a saída temporária no regime semiaberto.

QUESTÃO 5
Ano: 2018 Banca: VUNESP Órgão: TJ-MT Prova: Juiz Substituto
O Diretor do Presídio “A” oficia ao Juiz de Direito da Vara das Exe-
cuções Criminais da comarca local, informando que João, preso
em referido estabelecimento, faz parte de organização criminosa
e requerendo a sua inclusão no Regime Disciplinar Diferenciado.
Nesse caso:
A) se o juiz determinar a inclusão de João no Regime Disciplinar Dife-
renciado, o período de inclusão poderá ser de até 1 (um) ano renovado
por mais 1 (um) ano desde que não ultrapasse um sexto da pena.
128
B) o juiz não poderia determinar a inclusão de João no Regime Discipli-
nar Diferenciado se João fosse preso provisório.
C) o juiz somente poderá determinar a inclusão de João no Regime
Disciplinar Diferenciado após a manifestação do Ministério Público e da
Defesa.
D) poderá o Juiz determinar imediatamente, de forma fundamentada, a
inclusão de João no Regime Disciplinar Diferenciado.
E) o Diretor do Presídio poderia determinar a inclusão de João no Re-
gime Disciplinar Diferenciado desde que o Juiz homologasse a sua de-
cisão.

QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE

Leôncio, réu primário, foi condenado à pena privativa de liberdade de


4 anos e 2 meses de reclusão, em regime semiaberto, pela prática do
delito de associação ao tráfico, tipificado no artigo 35, caput, da Lei n.
11.343/2006.
Considerando apenas as informações narradas no enunciado, na condi-
ção de advogado(a) de Leôncio, responda ao item a seguir.

Quanto tempo de pena Leôncio deverá cumprir para obter progressão


de regime? Justifique sua resposta.

TREINO INÉDITO

À luz da Lei de Execução Penal, analise as assertivas abaixo.

PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS


I - A prática de falta grave pelo apenado, no curso da execução penal,
acarreta a perda da totalidade dos dias remidos com trabalho, recome-
çando-se a contagem a partir da data da infração disciplinar.

II – A Lei n.7.210/84 tratou em capítulo próprio acerca da classificação


dos condenados, com o objetivo de orientar a individualização da exe-
cução penal. Quanto à identificação dos condenados, todavia, a referida
lei padece pela desatualização, inexistindo previsão de coleta de per-
fil genético como forma de identificação criminal, a exemplo do que já
ocorre em outros países.

III - São deveres do condenado, previstos na Lei n.7.210/84: conduta


oposta aos movimentos individuais ou coletivos de fuga ou de subver-
são à ordem ou à disciplina; submissão à sanção disciplinar imposta;
indenização à vítima ou aos seus sucessores; indenização ao Estado,
129
quando possível, das despesas realizadas com a sua manutenção, me-
diante desconto proporcional da remuneração do trabalho.

Considerando as assertivas acima, assinale a alternativa correta:

A) Somente a assertiva III está correta.


B) Todas as assertivas estão erradas.
C) Estão corretas as assertivas II e III.
D) Estão corretas as assertivas I e II.
E) Todas as assertivas estão corretas.

NA MÍDIA

PRESÍDIO DE SP ONDE ESTAVA CÚPULA DO PCC MANTÉM 782


“SOLDADOS” DA FACÇÃO

A reportagem trata da transferência de 22 líderes do PCC para a presí-


dios federais de Brasília, Porto Velho e Mossoró (RN).
Entre 2007 e 2019, a penitenciária 2 de Presidente Venceslau no Esta-
do de São Paulo foi a principal moradia de Marco Willians Herbas Ca-
macho, o Marcola, apontado como líder do PCC (Primeiro Comando da
Capital). Ele costumava deixar a prisão nos últimos anos só para prestar
depoimentos ou para ir ao regime de isolamento, que fica próximo, em
Presidente Bernardes (SP). Ele foi um dos transferidos em regime dis-
ciplinar diferenciado.

PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS

Fonte: UOL
Data: 24/02/19
Leia a notícia na íntegra:https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-
-noticias/2019/02/24/presidio-de-sp-onde-estava-cupula-do-pcc-ainda-
-mantem-integrantes-da-faccao.htm

NA PRÁTICA

O debate sobre a execução penal e seus desafios no Brasil acaba le-


vando à discussão sobre o sistema penitenciário e a crise em vida há
décadas e só se agrava.
Ainda para aqueles que defendem o encarceramento, a reforma
do sistema penitenciário é realmente algo inquestionável. A realidade
dos estabelecimentos convive com problemas de falta de higiene, vio-
lência e tortura, superlotação, oferta insuficiente de trabalho e de estu-
dos e a incapacidade ressocialização, dos presos quando submetidos
130
ao cárcere. Na verdade, eles são o que popularmente se chama de
“escola do crime”.
PARA SABER MAIS
Livro: Só é Preso Quem Quer
Autor: Marcelo Cunha
Ed. Impetus, 2012

Documentário: Justiça, 2004, 104 min


Diretora: Maria Augusta Ramos
O documentário, dirigido por Maria Augusta Ramos, mostra o cotidiano
dos funcionários do Poder Judiciário, mais precisamente do Tribunal de
Justiça do Rio de Janeiro, bem como expõe as mazelas e a situação
precária do sistema carcerário brasileiro.

PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS

131
GABARITOS

CAPÍTULO 01

QUESTÕES DE CONCURSOS

01 02 03 04 05
CERTO A C A C

QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE – PADRÃO


DE RESPOSTA

A postula do Juiz não foi correta. Primeiramente, após receber o auto de


prisão em flagrante, o Juiz deveria ter decidido por dar liberdade provi-
sória a Luiz, uma vez que a pena que o mesmo incorreu não preenche
o requisito previsto no artigo 312, inciso I do Código de Processo Penal,
ou seja, a pena máxima para o crime de curandeirismo é de 2 (dois)
anos e não ultrapassa sequer 04 (quatro) anos, além disso, o fato do
Juiz argumentar em decisão sobre o fato de manter a prisão do Flagran-
teadi, salientando que não concorda com ilusão a fé das pessoas, não
torna a decisão fundamenta, nos termos do artigo 315, § 2º II do Código
de Processo Penal.

TREINO INÉDITO
PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS

Gabarito: A

GABARITOS

132
CAPÍTULO 02

QUESTÕES DE CONCURSOS

01 02 03 04 05
A C E E ERRADO

QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE – PADRÃO


DE RESPOSTA

Dentre os princípios que regem o sistema de nulidades do processo pe-


nal, a doutrina menciona com mais frequência os princípios do prejuízo,
do interesse, da convalidação e da causalidade.
O princípio do prejuízo é a norma de que não há nulidade sem prejuízo,
ou seja, a nulidade de um ato apenas deve ser declarada se de seu de-
feito decorrer algum prejuízo, que deverá ser demonstrado pelo interes-
sado, caso a nulidade seja relativa. Na hipótese de nulidade absoluta,
é possível a dispensa da comprovação do prejuízo, já que considerado
evidente.
Por seu turno, o princípio do interesse emana do princípio geral do direi-
to de que a ninguém é lícito se beneficiar da sua própria torpeza. Assim,
não se deve declarar nulo o ato cujo defeito decorra do comportamento
da própria parte que alega o vício, pois, não é admitida a arguição de
nulidade pela parte que provocá-la.
No que concerne ao princípio da convalidação, trata-se da possibilidade

PRISÕES E ... NULIDADES. EXECUÇÃO PENAL - GRUPO PROMINAS


de sanar o vício do ato praticado em desconformidade com a lei, quando
presentes as hipóteses legais. Por exemplo, restará sanada a nulidade
relativa que não for alegada em tempo oportuno (preclusão temporal).
Enfim, o princípio da causalidade (contaminação ou contagiosidade)
consiste no efeito que a nulidade de um ato processual relevante pode
desencadear nos consequentes, isto é, o defeito na prática do ato (nuli-
dade originária) se estenderá aos atos posteriores que dele dependam
(nulidade derivada).

TREINO INÉDITO
Gabarito: C

133
CAPÍTULO 03

QUESTÕES DE CONCURSOS

01 02 03 04 05
A B E A E

QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE – PADRÃO


DE RESPOSTA

As partes poderão renunciar ao direito de recorrer ou desistir da ape-


lação já interposta. O Ministério Público, embora possa renunciar a tal
recurso, dado que não é obrigado a apelar, não poderá desistir do re-
curso (CPP, art.576) em decorrência do caráter indisponível da ação
penal pública (CPP, art.42).No caso de ação penal privada subsidiária
da pública, se houver desistência da apelação interposta pelo quere-
lante, o Ministério Público poderá reassumir o processo, nos termos do
art.29 do CPP. Logo, a desistência da apelação, em tal caso, não impli-
cará o trânsito em julgado da sentença penal66.

TREINO INÉDITO
Gabarito: B
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134
CAPÍTULO 04

QUESTÕES DE CONCURSOS

01 02 03 04 05
C E C E C

QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE – PADRÃO


DE RESPOSTA

A jurisprudência pacífica do Superior Tribunal de Justiça reconhece que


o crime de associação para o tráfico de entorpecentes (art. 35 da Lei
n. 11.343/2006) não figura no rol de delitos hediondos ou a eles equi-
parados, tendo em vista que não se encontra expressamente previsto
no rol taxativo do art. 2º da Lei n. 8.072/1990. Não se tratando de crime
hediondo, não se exige, para fins de concessão do benefício da pro-
gressão de regime, o cumprimento de 2/5 da pena, se o apenado for
primário, e de 3/5, se reincidente para a progressão do regime prisional,
sujeitando-se ele apenas ao lapso de 1/6 para preenchimento do requi-
sito objetivo.

TREINO INÉDITO
Gabarito: A

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135
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criminal mediante coleta de material biológico que implique intervenção
corporal e o princípio nemo tenetur se detegere. Boletim IBCCRIM, n.
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