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ISSN 1517-5030
Colombo, PR
Dezembro, 2003

Jacarandá-da-Bahia
(Dalbergia nigra Vellozo)
Foto: Jacarandá-da-Bahia - cedida pela Vale do Rio Doce

Leguminoseae-
Papilionoidae: Produção
de Mudas

Gizelda Maia Rêgo1


Edilberto Possamai2

É importante incorporar-se o conhecimento ecológico da O jacarandá-da-bahia, é uma árvore perenifólia a semi-


regeneração arbórea na etapa de sementes e mudas, caducifólia, comumente encontrada com 15 a 25 m de
como uma ferramenta potencialmente crítica, para altura e 15 a 45 cm de DAP. Possui tronco tortuoso e
manter a produtividade das florestas. O conhecimento irregular; fuste com até 10 m de comprimento; folhas
sobre a produção de mudas e a implantação de espécies compostas, alternadas, paripenadas, com 10 - 20
florestais nativas é bastante limitado. Dentre elas, folíolos glabrescentes. Espécie com características de
destaca-se o jacarandá-da-bahia ( Dalbergia nigra), que secundária tardia a clímax e exclusiva da Floresta
desperta bastante interesse devido ao alto valor Ombrófila Densa (Floresta Atlântica) dos Estados da
econômico de sua madeira. Bahia, Espirito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo; semi-
heliófila, tolerante ao sombreamento leve a moderado na
Os conhecimentos atuais sobre as espécies florestais fase juvenil ( Lorenzi, 1992).
nativas são, ainda, insuficientes para assegurar a
reconstituição das florestas exploradas, principalmente Na floresta, a espécie aparece em terrenos ondulados e
porque não se conhecem as exigências ecofisiológicas montanhosos, ocupando o topo e as encostas das
para a sua regeneração natural. Esses estudos, devem elevações onde ocorrem solos argilosos e argilo-
dar ênfase à identificação das exigências da planta nos arenosos, profundos e de boa drenagem. A espécie
diferentes estádios de desenvolvimento, em relação aos floresce e frutifica a intervalos de 2 a 3 anos e a
fatores ambientais, destacando-se as exigências de luz, quantidade de sementes produzidas é variável ano a ano.
temperatura, água e nutrientes (Kageyama & Castro, O sul da Bahia, norte do Espirito Santo, em altitudes que
1989; Larcher, 2000). variam entre 30m a 1700m, é a maior zona de
ocorrência natural do jacarandá-da-bahia, onde é

1
Engenheira-Agrônoma, Doutora, Pesquisadora da Embrapa Florestas. gizelda@cnpf.embrapa.br
2
Engenheiro-Agrônomo, Doutor, Professor do Departmento de Fitotecnica e Fitossaitarismo da UFPR. possamai@agrarias.ufpr.br
.
2 Jacarandá-da-Bahia (Dalbergia nigra Vellozo) Leguminoseae-Papilionoidae: Produção de Mudas

encontrado numa freqüência de 0,8 árvores/ha, da primavera (setembro/outubro) e semeadas no


correspondendo a um volume de 1,4 m3/ha. As substrato: solo de floresta. As sementes submetidas aos
condições ambientais ideais para seu desenvolvimento e testes de germinação e vigor, possuíam em torno de 13%
crescimento são temperaturas médias entre 19 a 250C e de umidade e foram provenientes de frutos em estádio
precipitação acima de 2000 mm anuais. Na sua maioria, final de maturação. A germinação estendeu-se até aos 50
essa espécie ocorre espontaneamente em solos dias, com o percentual variando entre 10 e 15% e as
profundos e de baixa fertilidade natural e em topografia plântulas formadas nesse período, devem ser descartadas
acidentada, onde a floresta é menos densa. Apresenta porque produzem mudas menos vigorosas (Figura 1).
também crescimento rápido em solos de alta fertilidade,
da Floresta Atlântica (Lorenzi, 1992; Carvalho, 1994). Em laboratório, os maiores percentuais de germinação
ocorreram sob temperaturas de 250C; 300C; 20/300C e
O jacarandá-da-bahia, é uma espécie com alto potencial 350C. Essa faixa de temperatura, pode ser indicada como
para o manejo florestal sustentável. Entre as principais ideal para a formação de mudas de jacarandá-da-bahia
estão a sua facilidade de comercialização no mercado pois, além do alto percentual de germinação, o processo
atual, por sua madeira de alta qualidade; sua alta taxa de de emergência da radícula e formação de plântulas, foi
regeneração em florestas alteradas e sua fácil adaptação alcançando em menor espaço de tempo. Temperaturas
em terrenos de baixa fertilidade. Está incluída na lista inferiores a 200 C e superiores a 35 0C, reduzem o
oficial das espécies da flora brasileira ameaçadas de percentual de germinação desta espécie.
extinção, categoria vulnerável, devido à exploração
desordenada e sem plantios de reposição (Piña-
Rodrigues & Piratelli, 1993; Oliveira Filho, 1994).
Jacarandá-da-bahia
O trabalho foi conduzido, nas dependências da Embrapa
80
Florestas e Setor de Ciências Agrárias da UFPR, no
70
% de germinação

Paraná, tendo como objetivo estudar as características 60


germinativas da espécie, determinar o efeito de 50
diferentes substratos e temperaturas na germinação e 40
vigor (Índice de velocidade de germinação-IVG), e 30
estudar o efeito de níveis de radiação 20
10
fotossinteticamente ativa sobre o crescimento das mudas
0
de jacarandá-da-bahia. As sementes foram colhidas nas 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
Estações Experimentais do Instituto Florestal de São
Dias após a semeadura
Paulo e armazenadas em câmara fria, durante um período
de 30 dias. Observou-se, o percentual de germinação e Figura 1. Jacarandá-da-bahia (Dalbergia nigra Vellozo). Germinação das
IVG, sob a influência de cinco temperaturas ( 20, 25, sementes, em razão do número de dias após a semeadura, nas
condições de Colombo (PR).
30, 20/30 e 350 C), com fotoperíodo de 8 horas e
quatro substratos ( solo de floresta, substrato comercial,
vermiculita e rolo de papel). A germinação foi avaliada
A luz influenciou na germinação e no vigor (IVG), das
computando-se a percentagem de plântulas normais e o
sementes. A luz vermelha, induziu com mais intensidade
IVG, pela fórmula de Maguire (1962). Para o estudo da
a germinação (93,3%) e vigor (1,86). Com esses
influência da luz na germinação das sementes, foram
resultados, pode-se afirmar que essa espécie, poderá
testados em germinadores os comprimentos de onda,
germinar em áreas abertas e semi-abertas.
como: luz branca; vermelho; vermelho escuro e nenhuma
luz (escuro). No viveiro, as mudas foram submetidas a
O crescimento em diâmetro do colo e matéria seca total
cinco intensidades luminosas, com campânulas de
sombrite de 34%, 44%, 64%, 70%, além da plena (folhas e raízes), aumentou com o aumento da radiação
incidente ( 64%; 70% e 100%), fazendo com que esta
exposição à luz. Para o estudo do crescimento das
espécie tenha revelado um comportamento típico de
mudas, foram coletados dados de altura, diâmetro do
colo, peso da matéria seca da parte aérea, peso seco da espécie heliófila, nessa fase inicial de desenvolvimento.
O crescimento em diâmetro, guarda uma relação mais
raiz e peso seco total.
direta com a fotossíntese líquida, o qual depende dos
carboidratos acumulados e de um balanço favorável
No viveiro, com luminosidade e temperatura ambiente, o
entre fotossíntese líquida e respiração (Rêgo &
maior percentual de germinação do jacarandá-da-bahia,
Possamai, 2003).
foi de 75%, aos 30 dias após a semeadura, no período
Jacarandá-da-Bahia (Dalbergia nigra Vellozo) Leguminoseae-Papilionoidae: Produção de Mudas 3

As mudas, não apresentaram diferença em altura quando FONSECA, C. E. L. da; BUENO, D. M; SPERÂNDIO, J. P.
cultivadas sob diferentes intensidades luminosas. A Comportamento do jacarandá-da-bahia aos cinco anos de
maior área foliar, foi observada em mudas produzidas idade, em quatro diferentes espaçamentos em Manaus –
sob sombreamento moderado ( 44%, 64%), por um AM. Revista Árvore, Viçosa, v. 14, n. 2, p. 78-84, 1990.
período de 8 meses. O plantio no campo, devem ser
realizado em área ligeiramente sombreada, de forma a KAGEYAMA, P. Y; CASTRO, C. E. F. Sucessão
manter a qualidade do fuste das mudas e o crescimento secundária estrutura e plantações de espécies arbóreas
obtidos em condições de viveiro. nativas. IPEF, Piracicaba, n. 41/42, p. 83-93, 1989.

As mudas formadas no substrato de solo de floresta, LARCHER, W. Ecofisiologia vegetal. São Paulo: RiMa
apresentaram os melhores padrões de germinação e vigor ( Artes e Textos, 2000. 531p.
IVG). Em solos com baixa fertilidade. Reis et al. (1997),
recomendam aplicar doses de P e K de 250 e 30 mg/ dm3, LORENZI, H. Árvores brasileiras: manual de identificação
respectivamente. O jacarandá-da-bahia, na fase de e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. Nova
produção de mudas, exige baixos teores de Ca e Mg, Odessa: Plantarum, 1992. 352 p.
sendo: 0,24 a 0,75 Kg/m3 de substrato de baixa fertilidade.
MAGUIRE, J. D. Speed of germination-aid in selection
A instalação do viveiro deve ser em área plana, com boa and evaluation for seedling emergence and vigor. Crop
drenagem e próxima de uma fonte de água, para facilitar Science, Madison, v. 2, n. 2, p. 176-177, 1962.
a irrigação. Os sacos plásticos devem ser movimentados,
a cada 20 dias para evitar que as raízes penetrem no OLIVEIRA FILHO, A. T. Estudos ecológicos da vegetação
solo, dificultando posteriormente a sua retirada. Após o como subsídios para programa de revegetação com
período de 8 meses no viveiro, as mudas devem ser espécies nativas: uma proposta metodológica. Cerne,
plantadas no local definitivo, quando as mesmas tiverem Lavras, v. 1, n. 1, p. 113-117, 1994.
em média 30 cm de altura, com 6 a 7 pares de folhas.
PIÑA-RODRIGUES, F. C. M.; PIRATELLI, A. J. Aspectos
Em plantios puros, as mudas do jacarandá-da-bahia, ecológicos da produção de sementes. In: AGUIAR, B. de
devem ser plantadas em espaçamentos reduzidos, como: A.; PIÑA-RODRIGUES, F. C. M; FIGLIOLA, M. B.
2m x 2m ou 3m x 2m, pois proporcionam as melhores Sementes florestais tropicais. Brasília: ABRATES, 1993.
derramas naturais e apresentam o maior número de p. 47-81.
plantas com o fuste reto (Fonseca et al., 1990).
RÊGO, G. M.; POSSAMAI, E. Crescimento de mudas do
Conclui-se, que o jacarandá-da-bahia, é uma espécie jacarandá-da-bahia (Dalbergia nigra (Vellozo)
heliófila, quando se trata da germinação das sementes, Leguminoseae-Papilionoidae), sob níveis de luminosidade.
no entanto, em fase adiantada de desenvolvimento, as Informativo ABRATES, Brasília, v. 13, n. 3, p. 66, set.
mudas necessitam de dossel ligeiramente sombreado, 2003. Edição dos Resumos do XIII Congresso Brasileiro
para sobreviver e desenvolver-se como plantas adultas. de Sementes, 2003.

REIS, M. das G. F.; REIS, G. G. dos; LELES, P. S. S.;


REFERÊNCIAS NEVES, J. C. L.; GARCIA, N. C. P. Exigências
nutricionais de mudas de Dalbergia nigra ( Vell) Fr. Allem
CARVALHO, P. E. R. Espécies Florestais Brasileiras; ( Jacarandá-da-bahia) produzidas em dois níveis de
recomendações silviculturais, potencialidades e uso da sombreamento. Revista Árvore, Viçosa, v. 21, n. 4, p.
madeira. Colombo: Embrapa Florestas; Brasília: Embrapa 463-471, 1997.
- SPI, 1994. 640 p.

Comunicado Exemplares desta edição podem ser adquiridos na: Comitê de Presidente: Luciano Javier Montoya Vilcahuaman
Técnico, 106 Embrapa Florestas publicações Secretária-Executiva: Guiomar M. Braguinia
Endereço: Estrada da Ribeira km 111 - CP 319 Membros: Antonio Maciel Botelho Machado / Edilson
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Fax: (0**) 666-1276 Alfredo Sturion / Patricia Póvoa de Mattos / Susete
E-mail: sac@cnpf.embrapa.br do Rocio Chiarello Penteado
Para reclamações e sugestões Fale com o Expediente Supervisor editorial: Luciano J.Montoya Vilcahuaman
Ouvidor: www.embrapa.br/ouvidoria Revisão gramatical: Ralph D. M. de Souza
1a edição Normalização bibliográfica: Elizabeth Câmara
1a impressão (2003): conforme demanda Trevisan / Lidia Woronkoff
Editoração eletrônica:Cleide Fernandes de Oliveira

CGPE 4579

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