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MARIANA MAURINA RIQUE DA SILVA

NATALIA BRILHANTE DA SILVA

AVALIAÇÃO DO PROCESSAMENTO AUDITIVO CENTRAL EM ALUNOS COM


DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM: Revisão de literatura

Porto Velho
2020
MARIANA MAURINA RIQUE DA SILVA
NATALIA BRILHANTE DA SILVA

AVALIAÇÃO DO PROCESSAMENTO AUDITIVO CENTRAL EM ALUNOS COM


DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM: Revisão de literatura

Artigo apresentado no curso de graduação


em Fonoaudiologia do Centro Universitário
São Lucas 2020, como requisito de
aprovação para obtenção do título de
bacharel.

Orientadora Prof.ª Tamier Viviane Souza


Costa Gaspar.

Porto Velho
2020
Ficha Catalográfica

S586a Silva, Mariana Maurina Rique da.

Avaliação do processamento auditivo central em alunos com dificuldades de


aprendizagem: revisão de literatura / Mariana Maurina Rique da Silva; Natalia
Brilhante da Silva – Porto Velho, Rondônia, 2020.

14 f.

Trabalho de Conclusão de Curso – Graduação em Fonoaudiologia – Centro


Universitário São Lucas - UNISL, Porto Velho, Rondônia, 2020.

Orientadora: Profa. Esp. Tamier Viviane Souza Costa Gaspar.

1. Audição. 2. Aprendizagem. 3. Escolares. 4. Transtornos da audição. 5.


Deficiências da aprendizagem. I. Silva, Natalia Brilhante da. II. Gaspar, Tamier
Viviane Souza Costa. III. Título. IV. UNISL.

CDU 616.89-008.434.5:37

Bibliotecária responsável:
Adriana Bruna Silva Albuquerque
CRB-11/1018
MARIANA MAURINA RIQUE DA SILVA
NATALIA BRILHANTE DA SILVA

AVALIAÇÃO DO PROCESSAMENTO AUDITIVO CENTRAL EM ALUNOS COM


DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM: Revisão de literatura

Artigo apresentado no curso de graduação


em Fonoaudiologia do Centro Universitário
São Lucas 2020, como requisito de
aprovação para obtenção do título de
bacharel.

Orientadora Prof.ª Esp. Tamier Viviane


Souza Costa Gaspar.

Porto Velho, 13 de junho de 2020.

Resultado: APROVADO

BANCA EXAMINADORA

_____________________________ Centro Universitário São Lucas.


Prof.ª Dra Ana Karolina Zamprônio Bassi

_____________________________ Centro Universitário São Lucas.


Prof.ª Mª Pâmela Paôla Carneiro Lopes

_____________________________ Centro Universitário São Lucas.


Prof.ª Espª Tamier Viviane Souza Costa Gaspar
AVALIAÇÃO DO PROCESSAMENTO AUDITIVO CENTRAL EM ALUNOS COM
DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM: Revisão de literatura1

Mariana Maurina Rique da silva2

Natalia Brilhante da Silva 3

RESUMO: O objetivo do presente estudo é realizar uma revisão bibliográfica com vistas a decorrer
informações sobre os métodos de caracterizar as habilidades auditivas de processamento auditivo em
alunos com queixas de dificuldades de aprendizagem citados pela literatura. Trata-se de uma revisão
sistemática da literatura com artigos publicados no período de 2015 a 2020. Na busca foram utilizados
artigos indexados nas bases de dados disponíveis na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e plataforma
Scientific Electronic Library Online (SCIELO). Os critérios de inclusão foram aplicados, sendo
necessário ser uma publicação na íntegra, com idioma em português. Foram excluídos artigos
repetidos, com palavras ou temas não coerentes com a temática e artigos em língua estrangeira, sendo
por fim, incluídos neste estudo três artigos científicos. Dados como metodologia, objetivos e resultados
encontrados foram extraídos dos estudos selecionados. Dentre os artigos incluídos, um foi realizado
com pacientes de um hospital e dois com alunos no ambiente escolar. Os artigos selecionados
destacam as queixas e evidências de dificuldades de aprendizagem escolar nas crianças avaliadas.
No entanto, apenas um artigo não evidenciou alterações na avaliação do processamento auditivo com
significância estatística, mas destaca uma quantidade considerável de resultados alterados para a
habilidade de ordenação temporal simples. O presente estudo possibilitou verificar a presença de
alterações do processamento auditivo central, mais precisamente nas habilidades de processamento
temporal e escuta dicótica, havendo, portanto, evidências científicas quanto a relação entre alterações
do processamento auditivo e dificuldades de aprendizagem.

Palavras chaves: Audição. Aprendizagem. Escolares. Transtornos da audição. Deficiências da


Aprendizagem.

ASSESSMENT OF CENTRAL AUDITORY PROCESSING IN STUDENTS WITH


LEARNING DIFFICULTIES: bibliographic review

ABSTRACT: The objective of the present study is to carry out a bibliographic review with a view to
developing information on the methods of characterizing auditory processing skills in students with
complaints of learning difficulties mentioned in the literature. This is a systematic review of the literature
with articles published from 2015 to 2020. In the search, articles indexed in the databases available at
the Virtual Health Library (VHL) and the Scientific Electronic Library Online (SCIELO) platform were
used. The inclusion criteria were applied, and it must be a full publication, with language in Portuguese.
Repeated articles were excluded, with words or themes not consistent with the theme and articles in a
foreign language, and finally, three scientific articles were included in this study. Data such as
methodology, objectives and results found were extracted from the selected studies. Among the articles
included, one was carried out with patients from a hospital and two with students in the school
environment. The selected articles highlight the complaints and evidence of school learning difficulties
in the children assessed. However, only one article did not show changes in the evaluation of auditory
processing with statistical significance, but it highlights a considerable amount of altered results for the
simple temporal ordering ability. The present study made it possible to verify the presence of alterations
in central auditory processing, more precisely in the skills of temporal processing and dichotic listening,
therefore, there is scientific evidence regarding the relationship between alterations in auditory
processing and learning difficulties.

Keywords: Hearing. Learning. School. Hearing disorders. Learning Disabilities.

1
Artigo apresentado à Banca Examinadora do curso de Fonoaudiologia do Centro Universitário São Lucas, como requisito de
aprovação para obtenção do Título de Bacharel em Fonoaudiologia sob orientação da professora Esp. Tamier Viviane Souza
Costa Gaspar. E-mail: tamier.costa@saolucas.edu.br
2
Graduanda em Fonoaudiologia do Centro Universitário São Lucas. E-mail: mariana.maurina@hotmail.com
3
Graduanda em Fonoaudiologia do Centro Universitário São Lucas. E-mail: nataliabrilhante9742@gmail.com
4

1 INTRODUÇÃO
A audição é uma via de acesso para a aquisição da linguagem, uma vez que a
integridade do sistema auditivo é essencial para que o processo do desenvolvimento
de aprendizagem ocorra de forma eficaz (NORTHERN, DOWNS, 2001).
Para que o indivíduo interprete o que ouve é necessário que um conjunto de
habilidades auditivas (detecção, discriminação auditiva, atenção seletiva, localização
da fonte sonora, figura fundo auditiva, separação e integração binaural, fechamento
auditivo e memória sequencial auditiva). Tais habilidades são comandadas pelo
sistema nervoso central após recebimento de informações pelas vias auditivas
periféricas (CONRADO, 1997).
As vias sensoriais e neurais, são responsáveis pela condução do som ao córtex
cerebral, quando alteradas, o sujeito pode receber mensagens auditivas confusas,
comprometendo sua compreensão, tendo assim uma elaboração oral afetada,
havendo um período curto de atenção e memória comprometida, podendo ocasionar
dificuldades de leitura e escrita (CONRADO, 1997). Para Pereira (1993) essa
anomalia interfere em importantes aspectos do aprendizado.
A atenção dos pais e professores no comportamento auditivo de uma pessoa
em atividades cotidianas é de suma importância para detectar indivíduos com risco
para o Transtorno do Processamento Auditivo Central (TPAC) (RIBAS, 2007). As
queixas mais frequentes dos indivíduos que convivem com pessoas que possuem
Distúrbio do Processamento Auditivo Central (DPAC) estão ligados com a distração
(“vivem distraídos”, “só vive no mundo da lua”, “não prestam atenção em nada”, “só
ouve quando quer”, “não presta atenção na professora”) e a aprendizagem (“não
consegue aprender”) (PEREIRA, 2012). Tais queixas vão de acordo com a
Associação Auditiva da Língua da Fala Americana (ASHA) que relata que pessoas
com Desordem do Processamento Auditivo Central (DPAC) apresentam dificuldades
para compreender em locais com ruído competitivo, pedem com frequência que
repitam o que foi dito, distraem-se com facilidade, apresentam dificuldade para realizar
ordens auditivas complexas e para localizar o som (ASHA, 2005).
Compreensão auditiva é a capacidade de dar significação a informação
recebida, o aluno com DPAC realiza um grande esforço na tentativa de compreender
informações auditivas (BELLIS, 2003). Estudantes com DPAC alegam que sua grande
dificuldade em uma sala de aula é entender o que é falado (SILVESTRIN et al., 2006).
5

O desenvolvimento inadequado das habilidades auditivas em conjunto com as


dificuldades de aprendizagem pode resultar no fracasso acadêmico (NORTHERN,
DOWNS, 2001). Além disso, o transtorno do processamento auditivo manifesta sinais
que afetam a aprendizagem pois o indivíduo pode escutar os sons, mas pode não
conseguir compreende-los (CANTO; SILVEIRA, 2003). Acrescenta-se que há uma
desordem importante no aprendizado, que influencia na comunicação oral e escrita,
portanto é importante considerar como um problema significativo (PEREIRA, 1993).
Em casos em que o transtorno do processamento auditivo proporciona danos
na audição, na comunicação e no sucesso acadêmico a intervenção é fundamental.
técnicas focadas em linguagem e habilidades auditivas embasam o treino auditivo,
que busca reduzir os prejuízos ocasionados por tal alteração, promovendo a
plasticidade das habilidades alteradas e a reorganização cortical (MUSIEK, 2002).
A plasticidade neuronal auditiva pode ser definida como a capacidade de
modificar as células nervosas, por meio da reorganização cortical a partir das
influências ambientais pelas quais ocasionam mudanças comportamentais. Alguns
estudos demonstraram estas mudanças após treinamento auditivo através da
utilização de testes comportamentais e eletrofisiológicos (MUSIEK, 2002).
A revisão da literatura é necessária não somente para assegurar o problema,
mas também para se obter uma ideia precisa sobre o estado atual dos conhecimentos
sobre o tema abordado, suas lacunas e a contribuição da investigação para
desenvolver o conhecimento (SAMPAIO, et al., 2007).
Sendo assim, conforme exposto, acredita-se que quanto mais precoce for a
identificação e reabilitação de habilidades auditivas alteradas, menor será o impacto
negativo que o escolar poderá sofrer durante o desenvolvimento de sua
aprendizagem, o que justifica a importância do presente estudo.
Assim sendo, o objetivo do presente estudo é realizar uma revisão de literatura
visando caracterizar as habilidades auditivas alteradas e analisar a relação entre as
alterações do processamento auditivo com queixas de dificuldades de aprendizagem
em escolares.

2 MATERIAL E MÉTODOS

O presente estudo trata-se de uma revisão sistemática da literatura com artigos


publicados no período de 2015 a 2020 (últimos 5 anos).
6

Para a realização da busca foram utilizados artigos indexados nas bases de


dados disponíveis na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e plataforma Scientific
Electronic Library Online (SCIELO).
Foram utilizadas as seguintes combinações de palavras chaves:
“processamento auditivo and dificuldade de aprendizagem”, “processamento auditivo
and dificuldades escolares”, “habilidades auditivas and aprendizagem”.
Quanto a correlação ao objetivo do estudo, foram adotados os seguintes
critérios de inclusão: ser uma publicação na íntegra, com idioma em português. A partir
deste foram excluídos artigos repetidos, com palavras ou temas não coerentes com a
temática e artigos em língua estrangeira.
A primeira busca foi realizada em cinco momentos, a saber:
● Primeiro momento: combinações das palavras chaves;
● Segundo momento: aplicação dos filtros “textos completos”, “língua
portuguesa”, “últimos 5 anos”;
● Terceiro momento: exclusão de artigos repetidos,
● Quarto momento: análise dos títulos e resumos.
Com base nesses critérios foram selecionados 11 artigos completos nacionais,
conforme aponta o quadro 1.

Quadro 1 – Resultados das combinações de buscas nas bases de dados


selecionados em seus diferentes momentos.
Buscas realizadas Quantidade de artigos

1º MOMENTO 240

2º MOMENTO 35

3º MOMENTO 23

4º MOMENTO 11
Fonte: Próprio autor.

Buscando-se atingir o objetivo do estudo, após leitura criteriosa desses 11


artigos científicos, foram selecionados no estudo 3 artigos, conforme aponta o quadro
2.

Quadro 2 – Descrição dos artigos científicos incluídos na revisão de literatura.


Nº Título Autor Periódico/Local/Ano
7

01 Achados da avaliação comportamental e Audiology - Communication


SANTOS, et al.
eletrofisiológica do processamento auditivo Research. São Paulo, 2015.

Competência leitora de palavras e


SOUZA, C.A.
02 pseudopalavras, desempenho escolar e Audiology - Communication
ESCARCE, A.G.
habilidades auditivas em escolares do ensino Research. São Paulo, 2019.
LEMOS, S.M.A.
fundamental
Triagem do processamento auditivo central: Audiology - Communication
03 contribuições do uso combinado de questionário SOUZA, et al. Research. São Paulo, 2018.
e tarefas auditivas
Fonte: Próprio autor.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na análise dos estudos eleitos foram extraídos os dados metodológicos, como


objetivo ou questão investigativa, população e amostra, metodologia empregada e os
resultados encontrados, conforme apresenta o Quadro 3.

Quadro 3 – Caracterização dos artigos científicos selecionados.

Título Objetivo Metodologia Resultados

Achados da Realizar uma Estudo transversal descritivo A queixa principal foi a de


avaliação análise em que participaram pacientes dificuldade de aprendizagem e
comportamental e descritiva no encaminhados pelo sistema os testes que avaliam
eletrofisiológica do desempenho de público de saúde para avaliação processamento temporal e
processamento pacientes nos do processamento auditivo ao escuta dicótica foram os que
auditivo quais foram Hospital das Clínicas da UFMG. apresentaram uma grande
encaminhados Foram incluídos na pesquisa prevalência de alteração. Em
para um hospital pacientes atendidos no período todos os testes
de uma de agosto de 2013 a agosto de eletrofisiológicos, o número de
instituição de 2014 e excluídos aqueles com resultados normais foi maior do
ensino público, alterações evidentes nos que o alterado. A proporção de
para realizar a aspectos cognitivos e/ou indivíduos normais e alterados,
avaliação do psicológicos e problemas nos testes comportamentais e
processamento periféricos de audição. eletrofisiológicos, não
auditivo, e Todos os participantes concedeu em relação ao
estabelecer os realizaram audiometria tonal gênero. Houve uma correlação
achados dessa liminar, medidas de imitância fraca entre fechamento auditivo
avaliação à, acústica, testes e potencial evocado auditivo de
queixas, idade, comportamentais do média latência da orelha
resultados e às processamento auditivo e direita; potencial evocado
avaliações avaliação eletrofisiológica da auditivo de média latência da
auditivas audição. Com relação à orelha esquerda e potencial
comportamental amostra, essa foi constituída evocado auditivo de média
e por 159 indivíduos, sendo 69 latência total; ordenação
eletrofisiológica. (43,4%) do gênero feminino e temporal e efeito eletrodo
90 (56,6%) do gênero direito e P300; processamento
masculino, com idades entre 4 e temporal e potencial evocado
72 anos. Os procedimentos auditivo de média latência da
adotados foram anamnese, orelha direita; escuta dicótica e
meatoscopia, medidas de P300 e entre interação binaural
8

imitância acústica, audiometria e reflexo acústico das orelhas


tonal liminar e logoaudiometria. direita e esquerda.
Para a avaliação do
processamento auditivo foram
selecionados testes de acordo
com a idade e possibilidade de
resposta dos pacientes. A
avaliação eletrofisiológica
incluiu a pesquisa dos
potenciais evocados auditivos
de tronco encefálico (PEATE),
potenciais evocados auditivos
de média latência (PEAML)
para pacientes a partir de 7
anos de idade e o potencial
cognitivo P300, a partir de 8
anos.
Competência leitora O objetivo desse A amostra não foi Crianças do 1º e 2º ano da
de palavras e estudo foi probabilística sendo composta escola, foram as que
pseudopalavras, verificar a por 109 estudantes. Foi apresentaram um melhor
desempenho associação realizado em dias distintos resultado quando comparado
escolar e entre a propostos pela própria escola, com as crianças do 3º ano,
habilidades competência utilizando um espaço levando em consideração que
auditivas em leitora em disponibilizado no local, e foi as crianças do 2º ano
escolares do ensino palavras e realizado em um período de 40 apresentaram 32,3% de
fundamental pseudopalavras a 60 minutos. Para ser incluso respostas adequadas e 5,9%
de escolares de no estudo, foi necessário ter apesentaram respostas
7 a 10 anos de idade de 7 a 10 anos e estar inadequadas. O 2º apresentou
idade e as matriculado na escola. Como esse resultado pois grande
variáveis sexo, exclusão, foi utilizado os parte dos participantes cursam
idade, critérios como não ser no mesmo ano. O 4º e 3º
desempenho alfabetizado, apresentar apresentaram baixo
escolar e histórico ou evidência de desempenho no teste de
habilidades alteração cognitiva, desistir da competência leitora em
auditivas. participação do estudo, palavras/ pseudopalavras em
apresentar alteração comparação ao 1º e 2º ano. Foi
neurológica ou observado que na associação
neuropsiquiátrica ou motora, não se obteve significância
ser desligado da escola antes estatística nos resultados da
do teste terminar, estar sendo Avaliação Simplificada do
avaliado ou realizando terapia Processamento Auditivo, foi
fonoaudiológica e apresentar visto que, grande maioria dos
diagnostico de perda auditiva. estudantes apresentaram
Utilizaram-se como adequação nos resultados dos
instrumentos tais testes como o, três testes aplicados. Foi
Teste de Localização Sonora, concluído que, não foi
Teste de Desempenho Escolar, observado associação
o Teste de Memória para Sons significativa estatisticamente
Não Verbais em Sequência e o entre as variáveis
Teste de Memória para Sons sociodemográficas,
Verbais em Sequência o Teste competência leitora em
de Memória para Sons Verbais palavras/ pseudopalavras e as
em Sequência e o Teste de habilidades auditivas
Competência de Leitura de (ordenação temporal simples e
Palavras e Pseudopalavras. localização sonora).
9

Triagem do Realizar uma Foram realizados os Foi observado que se obteve


processamento análise do procedimentos de meatoscopia, uma diferença estatística
auditivo central: desempenho de imitanciometria, avaliação significativa entre os grupos, na
contribuições do escolares em simplificada do processamento atividade de ordenação
uso combinado de tarefas auditivas auditivo (ASPA). e questionário temporal para sons verbais.
questionário e e comparar com baseado no Scale of Auditory Nos critérios de avaliação na
tarefas auditivas o escore obtido Behaviors. Fizeram parte do ASPA, foi observado
pela criança em estudo 67 escolares com idade desempenho nos grupos
um questionário de 8 e 12 anos. Foram divididos sendo o Grupo II com maior
de em dois grupos sendo, Grupo I, alteração nos resultados de
autopercepção composto por 40 crianças com “passa” ou “falha”, concluindo
da audição. bom desempenho escolar e que a maioria “falharam” na
desenvolvimento normal (23 avaliação. No questionário
meninas) e Grupo II, composto aplicado com os pais e as
por 27 crianças com crianças, se obteve respostas
dificuldades de aprendizagem contraditórias.
(12 meninas). Desses grupos,
foram excluídas as crianças que
apresentaram histórico de
diagnostico neurológico,
otológicos, que já haviam
realizado acompanhamento
fonoaudiológico e/ou
psicopedagógico, que
apresentam alteração no meato
acústico externo, e alteração na
orelha média.
Fonte: Próprio autor.

O processamento auditivo é responsável por abranger os mecanismos e


processos encarregados pela localização do som, discriminação auditiva,
reconhecimento de padrões e aspectos temporais da audição, englobando a
resolução, mascaramento, integração e ordenação temporais, desempenho auditivo
com sinais acústicos competitivos e degradados, análise e síntese auditiva, figura
fundo (ASHA, 2005).
Para o desenvolvimento adequado das habilidades auditivas e da linguagem é
importante ressaltar que a interação básica do sistema nervoso central e periférico
permite que o processo da aprendizagem ocorra de forma adequada (MYKLEBUST,
JOHSON, 1983). Na literatura compilada verificou-se que pessoas que apresentam
dificuldades de aprendizagem, podem apresentar um atraso maturacional nas
estruturas corticais, o que pode dificultar o desempenho de tais habilidades auditivas,
diagnosticado em testes de processamento auditivo (SANTOS et al., 2015).
Tal estudo revelou também que as habilidades auditivas de maior prevalência
de alterações foram as habilidades de processamento temporal e escuta dicótica
(SANTOS et al., 2015). Outro estudo revela que a maior prevalência de alterações na
bateria de testes do processamento auditivo é no SSW (Stagged Spondaic Words) e
10

no PPS (Pitch Pattern Sequence), sendo o teste SSW considerado importante na


avaliação do processamento auditivo por envolver diversas habilidades necessárias
para o favorecimento da aprendizagem (VARGAS, 2014). Souza et al., (2018)
verificaram habilidades auditivas de ordenação temporal para sons verbais com
resultados insatisfatórios em crianças com dificuldades de aprendizagem.
Um estudo onde o objetivo foi avaliar as habilidades auditivas em crianças com
alterações de aprendizagem observou que o maior número de alterações estava nos
Testes de Memória Sequencial Verbal (TMSV), seguido do Teste de Memória
Sequencial Não-verbal (TMSNV) e do Teste de Localização Sonora (TLS), os quais
avaliam as habilidades de localização e memória sequencial. No estudo os autores
selecionaram dois grupos sendo um com crianças que apresentaram dificuldades de
aprendizagem e outro com crianças que tem um bom desempenho estudantil. Ao
comparar os dois grupos, os autores viram que as alterações nos testes do
processamento auditivo central estiveram em maior porcentagem nas crianças com
dificuldades de aprendizagem (PELITERO, MANFREDI, SCHENCK, 2010).
Alunos com dificuldade de aprendizagem podem ter habilidades alteradas de
processamento auditivo tais como: síntese binaural; figura fundo; separação binaural;
memória; discriminação; fechamento auditivo; atenção e associação. São
características de desempenhos nas habilidades do processamento auditivo em
alunos com dificuldades de aprendizagem (FURBETA, 2005).
Musiek e Gollegly (1988) afirmam que há pouco avanço na resposta da criança
de acordo com a idade da mesma, notoriamente nos testes de dicóticos e a relacionam
com a determinada maturação atrasada do corpo caloso, área que é envolvida nos
testes dicóticos.
Pereira e Schochat (1997), afirmam que crianças são capazes de responder os
testes comportamentais de processamento auditivo a partir dos sete anos de idade.
Acredita-se que a melhora nas respostas na avaliação do processamento auditivo
possa aparecer aos dez anos de idade (CHERMAK, MUSIEK, 1992; CÂMARA, 1998;
ALMEIDA, 2000; SCHOCHAT et al., 2000).
Souza, Escarce e Lemos (2019), contrariamente aos estudos acima, não
encontraram evidência na associação entre a competência leitora em
palavras/pseudopalavras e a avaliação simplificada das habilidades auditivas. No
entanto, deve-se ressaltar que, apesar de não apresentar significância estatística na
análise dos resultados, os testes de ordenação temporal simples para sons verbais e
11

não verbais apresentaram, respectivamente, resultados alterados em 47,9 e 34,7%


dos escolares avaliados. Cabe ainda ressaltar que todas as crianças do estudo foram
submetidas ao Teste de Desempenho Escolar (TDE), que avalia leitura, escrita e
aritmética, apresentou resultados que demonstraram desempenho inferior em 51,4%
das crianças participantes.
Santos et al., (2015), afirmam que é notório observar que a queixa de
dificuldade de aprendizagem é a principal referida na anamnese da avaliação do PAC.
As autoras Souza, Escarce, Lemos (2018) ressaltam a importância do resultado
encontrado em seu estudo, no qual evidenciou que mais da metade da amostra
indicou desempenho inferior no TDE. Tal estudo confirma a literatura, que as
alterações nas habilidades auditivas estão relacionadas com as dificuldades na leitura,
escrita e aprendizagem (AMARAL, 2013).
Para Canto e Silveira (2003) o transtorno do processamento auditivo manifesta
sinais que afetam a aprendizagem, pois o indivíduo pode ouvir os sons, mas não
compreende ou até não conseguir mesmo manter a atenção em um ambiente no qual
apresenta ruído.
Os autores Lucion e Frota (2009) tiveram como objetivo identificar quais as
possíveis causas das dificuldades de aprendizagem apresentadas por uma criança do
ensino fundamental da rede privada, através de entrevistas com os familiares e
professores, a fim de compreender o processo do desenvolvimento da aprendizagem
da criança desde os primeiros anos escolares. Realizaram posteriormente aplicações
de testes específicos para avaliar a leitura, escrita e raciocínio lógico-matemático.
Após a identificação de alterações e consequentemente a hipótese diagnostica, a
criança foi encaminhada para tratamento por equipe multidisciplinar, a qual concluiu
que se tratava do transtorno do processamento auditivo. Diante disto, foi utilizado o
lúdico como terapia e intervenções para ajudar a contornar os desgastes que
certamente prejudica o processo de aprendizagem. Os autores sugerem a divulgação
no meio educacional do que é o transtorno do processamento auditivo e quais as
estratégias de ensino possíveis no ambiente escolar.
Mediante ao exposto, esta pesquisa abre caminhos para que a continuidade de
estudos nessa área seja utilizada para a promoção de saúde no meio escolar, bem
como para o aperfeiçoamento da intervenção em crianças que apresentam
dificuldades escolares. Pois, uma vez iniciado o treinamento auditivo, estratégia para
reabilitação do DPAC, pode-se notar diferença significante quando compararam com
12

os desempenhos após a realização do treinamento auditivo em estudantes, o que é


interessante ressaltar sobre os exercícios com as habilidades alteradas e seus
resultados positivos (PINHEIRO, CAPELLINI, 2009).
Como sugestão recomenda-se realizar outros estudos sobre a relação do
transtorno do processamento auditivo e a aprendizagem, pois se trata de um tema de
extrema relevância para o profissional da área, para os alunos, para os pais e
professores.

4 CONCLUSÃO
Verificou-se que as habilidades prevalentemente alteradas foram de
processamento temporal, escuta dicótica e ordenação temporal para sons verbais.
Há relação entre as queixas de dificuldades de aprendizagem com o distúrbio
do processamento auditivo.

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