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UVA/FAMETRO
CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA
Mais do que colocar a turma para se mexer, é preciso refletir sobre os diferentes tipos de
dança, apresentar novos gêneros e permitir que os alunos criem passos próprios. "Cabe à
disciplina proporcionar experiências que viabilizem práticas significativas com as
danças presentes no universo cultural próximo e afastado", aponta o artigo As Danças
Folclóricas e Populares no Currículo de Educação Física: Possibilidades e Desafios,
escrito por Neira e pela professora Silvia Pavesi Sborquia, da Universidade Estadual de
Ponta Grossa (UEPG). Ou seja, é preciso extrapolar o que é conhecido pelas crianças,
aproveitando suas vivências para apresentar novas referências.
Uma boa maneira de iniciar o trabalho é mapear a cultura corporal dos alunos. É
importante conversar com a moçada para conhecer as músicas e danças de que eles
gostam e que conhecem. Esse levantamento serve como ponto de partida para planejar
as aulas. As danças apreciadas pelos alunos não devem ser ignoradas: manifestações
trazidas por imigrantes ou exibidas pela televisão e lengalengas, que combinam gestos
ritmados à música, pertencem à rica gama de manifestações da cultura corporal e podem
servir como base do trabalho. Na UME Antônio Ortega Domingues, em Cubatão, a 55
quilômetros de São Paulo, o professor César Rodrigues adotou essa estratégia com a
turma de 4º ano. Em sala, ele pediu que todos contassem sobre as práticas corporais que
conheciam. "Perguntei sobre os tipos de dança de que gostavam e quais eram as
brincadeiras mais comuns." Eles falaram sobre samba e lengalengas.
Na classe de Rodrigues, o repertório dos alunos foi o gancho para discutir a oposição
entre música popular e erudita. "A ideia era mostrar que as referências culturais trazidas
de casa têm valor", explica ele. Os alunos puderam entender as origens de canções
familiares e os aspectos da cultura presentes nelas.
Além de aprender mais sobre danças conhecidas, é essencial avançar e conhecer novos
ritmos. Será que existem outros grupos com danças semelhantes às nossas? Elas têm
relação? E o que difere umas das outras? Perguntas como essas tendem a aguçar a
curiosidade da moçada e são um chamariz para pesquisas sobre as diferentes práticas de
nossa cultura corporal.
Com base nas referências discutidas, é hora de colocar a turma para criar. A turma do
professor Rodrigues, por exemplo, uniu uma lengalenga conhecida e o que aprendeu
sobre tango em classe para preparar uma nova coreografia. "Os alunos inventaram a
letra e sugeriram o ritmo. Eu fui musicando", lembra.
"Sem a curiosidade que me move, que me inquieta, que me insere na busca, não
aprendo nem ensino.“
Paulo Freire