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DISCIPLINA: MODELOS DE GESTÃO PROFª DANIELA CARTONI

PANORAMA GERAL DAS TRANSFORMAÇÕES SOCIAIS E SUAS IMPLICAÇÕES PARA AS ORGANIZAÇÕES

Esse texto tem por objetivos propiciar:


• a identificação das principais alterações sócio-econômicas que influenciaram o surgimento do sistema flexível de
produção, denominado de pós-fordismo;
• reconhecer as principais correntes da teoria da administração que orientaram os modelos de gestão nas
organizações.

Nas últimas décadas, diversas transformações políticas, econômicas, sociais e Taylor, com seus estudos
culturais imprimiram novas características à sociedade, envolvendo a forma das de tempos e métodos,
pessoas compreenderem e vivenciarem a realidade em suas comunidades, no consagrou a perspectiva
trabalho e nas famílias. Muitos estudiosos desses processos entenderam que as de que a divisão do
rupturas em que implicaram, conduziram à emergência de uma nova sociedade: a trabalho, com a
1 especialização do
pós-industrial.
trabalhador em tarefas
Um dos aspectos de grande influência para essas transformações é a tecnologia da propicia maior eficiência e
informação e comunicação. De acordo com CASTELLS (1999), a revolução da produtividade.
tecnologia destaca-se pela velocidade de sua expansão e abrangência, tendo se
dado entre os anos 70 e 90 e alcançado quase todos os países. Ela diferencia-se da
revolução industrial onde as inovações eram lentas e dependiam da localização geográfica à medida que certas
regiões contavam com sistemas educacionais, normas e fontes de inovação que podiam ser mais favoráveis à sua
configuração.
A revolução da tecnologia não encontrou essas barreiras geográficas, uma vez que resultou da convergência de
inovações difundidas em diferentes regiões, além de ter se ampliado a partir da formação de redes digitais que
integram diversos locais. Apesar disto, sua difusão encontra limites e promove desigualdades na medida em que
determinadas regiões estão ou não integradas a essas redes.
Para o autor, a revolução da tecnologia teve por consequência a emergência de um novo paradigma tecnológico.
Esse se caracteriza pela penetrabilidade da tecnologia em todas atividades humanas, pelo uso das redes digitais
para as relações e interações entre as pessoas, pela flexibilidade na reconfiguração das organizações que a
reprogramação e reaparelhamento possibilitam, pela convergência entre as tecnologias e pelo fato da informação
constituir matéria prima para a tecnologia, ao invés de agir sobre ela.
A partir dessas observações, é possível compreender a relevância do papel da tecnologia da informação sobre as
novas relações econômicas e políticas, já que contribuiu para a intensificação do fluxo de transações entre países,
para a concentração de informações financeiras em locais que passaram a contar com um grande poder econômico
e para a multiplicação e disseminação do conhecimento.
No campo produtivo, a tecnologia propiciou novas formas de organizar e gerenciar as A produção fordista (em
relações econômicas nas empresas, como será demonstrado a seguir. massa) aperfeiçoou-se
A Revolução industrial que se sobrepôs ao trabalho no campo e artesanal, deu origem com a aplicação dos
à produção industrial. A partir do final do século XIX, Frederick Taylor desenvolveu princípios gerais da
uma série de estudos de tempos e métodos, com a finalidade de identificar administração e das
mecanismos para racionalizar o trabalho. A partir de suas análises, foi consagrada a funções da gerência de
perspectiva de que a divisão do trabalho e a especialização do trabalhador em tarefas, Fayol e com a adoção do
entre outros, constituía o melhor caminho para obter maior eficiência e produtividade. modelo burocrático de
Apesar dos benefícios que tal abordagem propiciou aos empresários e acionistas, Max Weber.
para os trabalhadores sua aplicação significava dedicar boa parte de seu tempo a
atividades repetitivas e alienantes.
Ainda no início do século passado, Henry Ford lançou o primeiro carro popular, dando origem ao consumo de massa.
A organização do trabalho, sob essa perspectiva, tinha por pilares a integração do processo produtivo, padronização
e economicidade, mantendo a divisão do trabalho taylorista.
O modelo de produção concebido a partir da produção em massa de Ford foi aperfeiçoado a partir da aplicação dos
princípios preconizados por Fayol e Weber. Apesar de ser publicado nos anos 20, somente nos anos 40 passaram a
ser adotados internacionalmente os estudos de Henri Fayol que delinearam os princípios gerais da administração e
as funções da gerência, estabelecendo o planejamento, o comando, a organização, o controle e a coordenação como
papéis fundamentais para o alcance dos objetivos organizacionais.
1
Para o aprofundamento do conhecimento sobre as questões analisadas nesse texto, recomenda-se as leituras de HARVEY (1996) e CASTELLS
(1999). Além da abordagem trazida nesse documento, outras podem contribuir no entendimento das transformações sociais aqui referidas, como a
relativa às ondas econômicas de TOFLER ou os ciclos de inovação de SCHUMPETER.
Também passou a influenciar as organizações, o modelo burocrático de Max Weber que buscava o desempenho
organizacional, a partir da minimização dos esforços que a inconstância do ser humano muitas vezes requer. Seus
pressupostos são a ética protestante que defende a dedicação ao trabalho, a racionalidade, a divisão do trabalho e
autoridade, a autoridade e o poder, a promoção e a seleção de acordo com a racionalidade, a separação entre
propriedade e administração, entre outros.
A produção em massa exigia, evidentemente, a existência de demanda pela sociedade, o que implicava em
estabelecer relações de trabalho que propiciassem as condições para o consumo. Os movimentos que se sucederam
no sentido de criar um modo de vida condizente com o padrão de consumo promoveram o alicerce do capitalismo no
século XX.
Foram desenvolvidas novas regras quanto à jornada e remuneração do trabalho e estabelecidos novos arranjos
institucionais para o papel regulamentador do Estado e, após a segunda guerra, o capitalismo alcançou condições
favoráveis ao crescimento econômico e aos padrões de vida elevados que lhe permitiu se expandir
internacionalmente, num ciclo que perdurou até os anos 70, quando a recessão provocada pelo choque do petróleo,
associada à problemas estruturais estancou esse processo. O final
desse ciclo colocou a flexibilização como mecanismo necessário para os A reengenharia rompe com o princípio
investimentos econômicos, para o equilíbrio das finanças do Estado e da divisão de trabalho d eTaylor,
para a reestrutuuração do trabalho. Segundo HARVEY (1996, p. 127- preconizando a importância do valor
139), “a mudança tecnológica, a automação, a busca de novas linhas de agregado aos clientes.
produto e nichos de mercado, a dispersão geográfica para zonas de
controle do trabalho mais fácil, as fusões e medidas para acelerar o
tempo de giro do capital passaram ao primeiro plano das estratégias corporativas de sobrevivência em condições
gerais de deflação.”
Esse contexto favorece a emergência do regime de acumulação flexível que conta com novas práticas
organizacionais, denominadas de pós-fordismo, contrapondo com a produção em massa vigente na revolução
industrial. O pós-fordismo pauta-se em abordagens diferenciadas, contando com flexibilidade na organização do
trabalho, a inovação dos produtos com conseqüente diminuição de seus ciclos de vida e com a restrição do tempo de
giro do capital. Além de novos setores de produção, surgem
diferentes mecanismos de financiamento, distribuição e O pós-fordismo pauta-se na flexibilidade na
comercialização, amplia-se o setor de serviços e é delineada uma organização do trabalho, na gestão, nos
nova geografia econômica que envolve regiões anteriormente mercados e nos produtos. Implicou no
totalmente apartadas do desenvolvimento econômico. Acompanha surgimento de novos setores industriais, na
essas transformações a questão do desemprego que se alastra ampliação dos serviços e em uma nova
pelas regiões onde a regulação do trabalho e a participação sindical geografia das atividades produtivas.
eram mais estruturadas.
O advento do Sistema Toyota de Produção idealizado por Taiichi Ohno, trouxe a aplicação do “just in time” e outras
técnicas que possibilitam às empresas restringir o capital de giro aplicado em estoques, além de reduzir desperdícios.
Também as abordagens de gerenciamento pela qualidade viabilizam a melhoria contínua nos processos produtivos,
propiciando maior eficiência. A administração com base nessas perspectivas surge no Japão que conta com
características culturais diferenciadas à medida que valoriza a visão sistêmica dos empregados quanto a todo o
processo organizacional, bem como requer sua participação.
As necessidades de flexibilização na produção faz com que essas abordagens alcancem empresas de todo o globo.
No ocidente, a forte competição entre empresas coloca o desafio de encontrar novos parâmetros de organização e
gestão, propiciando que se expandam os movimentos de reestruturações organizacionais e de reengenharia.
Preconizada por Hammer & Champy nos anos 80, a reengenharia propõe repensar toda a organização a partir de
uma folha em branco, onde deverão constar apenas os conjuntos de atividades que agreguem valor aos clientes,
descartando aquelas desnecessárias e redesenhando a forma de execução daquelas que não são fundamentais para
a empresa. Apesar dos processos de reengenharia terem sido aplicados indiscriminadamente nas empresas como
justificativa para redução de número de funcionários, sua validade permanece principalmente pelo fato de, ao reforçar
o valor agregado ao cliente, conceber o trabalho de forma não fragmentada, em oposição aos pressupostos
tayloristas.
Entre as alterações características do regime pós-fordista, tem grande importância o conceito de que as
organizações devem reter em seus ambientes os processos de trabalho, as tecnologias, os conhecimentos e as
habilidades que lhes garantem competitividade, podendo ser transferidos a terceiros, fornecedores ou mesmo aos
clientes, todos os trabalhos que não estão nesse grupo. A partir dessa perspectiva, muitas organizações passaram a
terceirizar processos inteiros, a inserir fornecedores em seus ambientes de produção e a desenvolver serviços que
agreguem maior valor aos seus produtos.
Nesse contexto, surgem oportunidades de pequenos e médios negócios que são criados por empreendedores que
deixam de atuar nas empresas e passam a ser seus fornecedores. Ainda, o conhecimento das novas técnicas passa
a ter valor econômico. Surgem as teorias relacionadas com as organizações voltadas ao conhecimento e as
organizações voltadas ao aprendizado. Ser capaz de identificar, explicitar e dividir o conhecimento das pessoas nas
organizações passa a ser essencial para a sobrevivência organizacional.
A inovação contínua leva à restrição do ciclo de vida dos produtos e, portanto, à renovação constante. Para viabilizar
esse processo, é necessário haver uma valorização do produto inovador, forte comunicação mercadológica e
disseminação do conhecimento necessário à comercialização de
produtos intensivos em tecnologia. Tudo isso, associado a custos O pós-fordismo traz aos Estados novas
cada vez menores, de forma a viabilizar a constante renovação de características e papéis, relacionados com
produtos consumidos, já que o desemprego e restrição de salários a competitividade internacional, o
constituem características do pós-fordismo. A resposta a essas crescimento nacional, a economia do setor
necessidades vem num contexto cultural que valoriza o público, a estabilização e o papel
individualismo, a moda e o consumismo, além de apoiar-se regulador do capital corporativo.
fortemente nos meios de comunicação em massa.
O pós-fordismo traz aos Estados novos papéis, como a atuação na competitividade internacional necessária para
manter o crescimento nacional, as políticas de austeridade voltadas a enfrentar a situação deficitária da economia do
setor público, as intervenções contundentes no mercado financeiro orientadas a manter a estabilização e o papel
regulador das atividades do capital corporativo.
Além desses aspectos, o amplo acesso às informações e ao conhecimento tiveram como conseqüência a ampliação
das exigências da sociedade quanto aos papéis do Estado e a ação da administração pública. Essa última, que se
caracteriza pela adoção do modelo burocrático weberiano passa a enfrentar novas exigências externas e a adaptar-
se a novos requisitos em termos de suas operações, custos e resultados.
Na vertente estatal, o modelo burocrático favorecia a distinção entre a esfera pública e privada, valorizando a
padronização, impessoalidade, neutralidade, profissionalização, estrutura hierárquica verticalizada, seleção
meritocrática dos funcionários, controle legal da ação administrativa e a separação de políticos e burocratas. Esses
pressupostos, entretanto, não mais atendiam às novas exigências do Estado, tendo sido o modelo burocrático
amplamente criticado. Em decorrência, o Brasil, assim como vários outros países, promoveu a reforma de Estado dos
anos 90, com o objetivo de reordenar sua relação com a sociedade e propiciar as condições para que a
administração pública assumisse novos parâmetros de desempenho.
A gestão integrada por resultados surge, portanto, num cenário social e econômico que exige da administração
pública lidar com problemas complexos em seus diversos âmbitos de atuação. As múltiplas causas e conseqüências
inter-relacionadas desses problemas faz com que as respostas setoriais, por departamentos não dêem conta da
crescente e diversificada demanda da sociedade, obrigando a uma articulação entre as diversas áreas de
conhecimento presentes na administração pública.
Nesse sentido, a flexibilidade organizacional torna-se fundamental, pois dá dinamicidade ao planejamento
organizacional, possibilitando a atuação por equipes que se articulam conforme os problemas que lhes são
colocados, em substituição às estruturas rígidas com diversos níveis hierárquicos e fragmentação do trabalho. A
organização e gestão por processos constitui um princípio norteador dessa flexibilidade, pois possibilita à
administração pública lidar com as complexas demandas sociais à medida que articula as pessoas, a tecnologia, os
processos e os princípios organizacionais de forma apropriada para agregação de valor aos cidadãos.
As considerações apresentadas possibilitam compreender que os parâmetros de produção capitalista vigentes a
partir da revolução industrial, pautados no consumo em massa, possibilitaram o crescimento econômico até os anos
70. Nas organizações, esse modelo exigiu a divisão taylorista do trabalho, a produção em massa e a estruturação
das funções gerenciais. No caso da esfera estatal, a adoção dos princípios do modelo weberiano orientou a
organização da administração pública no período, quando cabia ao Estado a função reguladora necessária para a
criação das condições sócio-econômicas para a expansão capitalista.
Com a revolução da tecnologia e o contexto recessivo, emerge o sistema flexível de produção, denominado de pós-
fordismo. Para as organizações, o modelo de produção deve possibilitar a inovação contínua, com redução de capital
de giro, do ciclo de vida dos produtos e de seus custos, para o que a administração japonesa, a reengenharia e a
qualidade contribuem. O conhecimento, base desse novo sistema, também conduz ao surgimento de um novo
patamar de demandas da sociedade.

Este novo momento traz à tona várias questões relacionadas não somente ao desenvolvimento técnico-
científico, mas à importância do conhecimento dos trabalhadores no contexto do desenvolvimento
organizacional. Temos como destaque temas que serão abordados em nossas aulas e seminários, tais como:

- Planejamento Estratégico e suas ferramentas de controle, como o BSC (Balanced ScoreCard)


- Pilares do Comportamento Organizacional, como liderança, trabalho em equipe, motivação no trabalho,
comunicação, gestão por processos e mudanças organizacionais.
- Tecnologias de Gestão e Qualidade: produção enxuta, programas de qualidade total, 5S, terceirização, seis
sigma,etc.

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