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FICHAMENTO: AS UNIVERSIDADES NA IDADE MÉDIA – JACQUES VERGER

NASCIMENTO DAS UNIVERSIDADES


- Esse capítulo irá expor as causas que levaram à formação das universidades medievais (as
necessidades).
AS ESCOLAS NO OCIDENTE NO INÍCIO DO SÉCULO XII
- O autor aponta que essas escolas estavam ligadas principalmente às catedrais, nas grandes
cidades. Além disso, seu ensino estava baseado nos princípios do império Carolíngio, com o
ensino das sete artes liberais (gramática, dialética, retórica, matemática, geometria, música e
astronomia), além da teologia.
- No final do item, autor acentua que, apesar dos avanços com a aplicação da dialética nos
estudos teológicos e o aprofundamento da mesma, o ensino ainda contava com faltas de textos
gregos, que proporcionariam um maior entendimento da dialética, e essa poderia levar a um
“dinamismo, autonomia no plano intelectual” que viria com o desenvolvimento do século XII.
O RENASCIMENTO DO SÉCULO XII
A) TRADUTORES E TRADUÇÕES:
-Verger expõem a importância desse século para as traduções dos escritos gregos, sobretudo,
que se dão em locais com contato com a herança grega. Com isso, entraram em contato com
boa parte da obra de Aristóteles; com os escritos de Euclides, Arquimedes, Ptolomeu;
conheceram melhor Hipócrates e Galeno.
- Contudo, o autor lembra que esses centros de tradução estavam distantes das escolas já
estabelecidas e não surgiu novas nesses pontos, o que exprime, de acordo como pensamento do
autor, a necessidade de condições sociais e econômicas para a formação desses centros
acadêmicos.
B) O DESENVOLVIMENTO URBANO
- Verger discorre acerca do surgimento das corporações de ofício ligadas ao ensino, universitas,
que, baseadas no pensamento livre burguês (estabelecido junto com a urbanização) e nos
amplos estudos do direito, conseguiram o “reconhecimento de sua personalidade jurídica pelos
poderes públicos” e autonomia interna.
C) NOVAS CONDIÇOES DA VIDA ESCOLAR
- Aponta o crescimento do número de estudantes e a consequente necessidade de legitimar (o
agente é a Igreja, ainda portadora do monopólio do ensino) os portadores de conhecimento
como mestres. Ainda é abordado o papel das novas traduções para a educação. A dialética
contribui fortemente para a mudança das formas de estudo (mais ativas e interrogativas).
- Tomada de consciência dos mestres, portadores de conhecimento e de função indispensável,
afastando-se do meio eclesiástico.
AS PRIMEIRAS UNIVERSIDADES
A) PARIS (1200 – embrião)
- Surgimento da universidade de Paris devido à multiplicação das escolas na cidade – problemas
de organização.
- Documentos existentes retratam apenas a legitimação de instituições “nascidas
espontaneamente do desenvolvimento de escolas, da tomada de consciência dos mestres, de
seus esforços para se unirem numa corporação autônoma”, mas não quanto a motivação dos
universitários e dos meios para a formação das universidades.
- O surgimento da universidade de Paris se deu a partir da “afirmação do caráter eclesiástico da
universidade”, isso devido à resistência da Igreja em abandonar o monopólio da educação
(Concílio de Latrão), aos problemas que os estudantes tinham com a sociedade burguesa, que
acabava em penas jurídicas (estando atrelados à Igreja, estariam protegidos juridicamente), e
ao fato da Igreja não impor obstáculos à formação de uma corporação unificada autônoma.
- A partir da luta contra as determinações dos bispos, com o auxílio da Santa Sé (papa) e com
greve de aulas (dispersão de Paris, indo para outras cidades), as corporações universitárias
foram aos poucos instituindo-se. O que ocorreu através de longas batalhas para ter direitos
jurídicos próprios das corporações de ofício.
B) BOLONHA
- Universidade que surgiu com a mobilização dos estudantes. Estes fizeram uso da dispersão,
saindo de Bolonha e boicotando os mestres que vivam de suas contribuições financeiras.

UNIVERSIDADES “ESPONTÂNEAS” E UNIVERSIDADES “CRIADAS”


A) UNIVERSIDADES “ESPONTÂNEAS”
- Chamadas de escolas pré-existentes. Exemplos: Paris, Bolonha e Oxford.
B) UNIVERSIDADES NASCIDAS POR MIGRAÇÃO
- Universidades nascidas da dispersão de outras, que utilizavam essa ferramenta para suas
reivindicações. Exempli: universidade de Cambridge, que “nasceu da secessão oxfordiana de
1208.
C) UNIVERSIDADES “CRIADAS”
- “Universidades criadas de uma só vez pelo Papa ou pelo Imperador”. “significava reconhecer
na formação universitária, além de seu valor cultural e de seu prestígio, uma utilidade prática e
um alcance político”.
- O autor salienta que o surgimento de grandes universidades inibiu o crescimento ou fez
desaparecer outras locais.
AS UNIVERSIDADES COMO CORPORAÇÕES
INSTITUIÇÕES E PRIVILÉGIOS
- As universidades eram estabelecidas com base em dois princípios: studium, que se refere ao
ensino em si, e universitas, que caracteriza a instituição como uma corporação de ofício, com
seus atributos jurídicos e burocracias.
- Relacionados a esses termos, temos as faculdades, que eram especializações do ensino, como
Faculdade de Direito, e as nações, organizações nas quais os estudantes e mestres se reuniam
em auxílio mútuo. Esse tipo de organização se dava por critérios geográficos (nações dos
estudantes franceses...).
- Verger aponta o governo das universidades como um sistema democrático, em que havia um
reitor e a assembleia, onde participavam estudantes e mestres para tomarem as decisões.
- No quesito da administração material, não havia muito o que fazer, já que não possuíam
prédios próprios.
- Dessa forma, o autor diz que as questões administrativas das universidades se resumiam a dois
pontos: “a defesa dos privilégios universitários e a organização do trabalho, isto é, do ensino”.
- Em meio a esses benefícios, temos a questão jurídica, em que a universidade também estava
atrelada à jurisdição eclesiástica, usufruindo de privilégios papais.
- Verger assinala que, apesar das boas relações predominantes das universidades com os
monarcas e o clero, haviam fortes conflitos entre estudantes e burgueses. Tal fato se deve aos
privilégios de taxação, às diferenças culturais (estudantes eram em grande parte estrangeiros) e
à consequente violência que se estabelecia nas cidades.
A ORGANIZAÇÃO DO ENSINO
A) PROGRAMAS
- Os programas de ensino das universidades estavam baseados na leitura de autores
consagrados e de comentários de outros antigos ou modernos. O autor ressalta as
transformações que ocorreram nas Faculdades de Artes, estabelecendo uma “filosofia ousada”.
B) MÉTODOS
- Os métodos universitários se baseavam na leitura e no debate. Este último foi considerado
pelo autor como o “exercício fundamental da pedagogia escolástica”.
- Verger ressalta, ainda, a rápida multiplicação de livros com as universidades, o que não tira o
caráter financeiro e dispendioso da produção de copias manuscritas.
ASPECTOS SOCIAIS DA HISTÓRIA DAS UNIVERSIDADES
- Item se debruça na vida cotidiana das universidades, a identidade dos universitários e na
relação entre universidade e sociedade.
A) DIVERSIDADE
- “caráter internacional das universidades medievais, tornado possível pela existência de uma
língua universal de cultura, o latim”.
- Os universitários não ficavam restritos à uma universidade, frequentavam várias ao mesmo
tempo, o que favorecia uma grande circulação de ideias.
- Outra diversidade existente era a social, existiam também alunos pobres, que se mantiam, em
algumas universidades, por meio de colégios. Esses eram instituições organizadas por um rico
fundador que provia alojamento e manutenção de alguns estudantes.
B) UNIDADE
- De acordo com o autor, a unidade dos frequentadores se dava em três aspectos: o esforço e
dedicação pelos estudos, as distrações que se submetiam (brigas, taverna, ...) e pelo caráter
religioso presente nas universidades (padroeiros, cultos, ...)
C) AMBIGUIDADES
- Verger aponta como adversidades o fato de serem uma instituição urbana e ter inúmeros
privilégios como forma de contornar essa situação. Além disso, o fato das universidades se
dedicarem a um estudo livre e estarem associados à Igreja. Por fim, existe o fato de “pregarem”
um estudo gratuito, onde os professores receberiam das instituições eclesiásticas, mas o estudo
em si era extremamente dispendioso, tendo que arcar inclusive com honorários dos mestres.
PROBLEMAS E CONFLITOS DO SÉCULO XIII
- Como já foi abordado anteriormente pelo autor, o papado auxiliava largamente as
universidades, o que ocorria através da jurisdição eclesiástica concedida aos mestres e alunos e
através da proteção frente às autoridades (bispos, monarcas, etc), o que conferia, a essas
instituições, maior liberdade.
- Entretanto, Verger afirma que havia um interesse da Santa Sé nesse apadrinhamento das
universidades, o que é apresentado no texto em dois pontos:
* formação de pessoal capacitado para os cargos religiosos e para o ensino nas escolas
capitulares.
* Contribuição intelectual para a defesa da ideologia da Igreja, que vinha sendo atacada pelas
heresias.
RELIGIOSOS MENDICANTES E MESTRES SECULARES
- Ordens mendicantes =ordens religiosas formadas por frades ou freiras que vivem em um
convento
- Papas ‘’se esforçaram para introduzir nas universidades” religiosos dessas novas ordens
(dominicanos e franciscanos principalmente), cujo “problema dos estudos esteve
imediatamente no centro da espiritualidade dessas ordens”.
- Os mendicantes se recusavam a integrar definitivamente à universidade, não aderindo às
greves e desvalorizando e boicotando o trabalho de mestres seculares, em especial da Faculdade
de Artes.
- Diante dos conflitos entre religiosos de ordens mendicantes dentro das universidades e mestres
seculares, o Papa se posicionou junto aos frades, demonstrando que “a finalidade do papado
não era a de favorecer o desenvolvimento das universidades e sua autonomia mais sim a de pô-
las a seu serviço direto”. Junto com o posicionamento, houve uma redução da autonomia das
universidades.
APOGEU E CRISE DA ESCOLÁSTICA
- A chegada dos escritos aristotélicos nas universidades foi responsável pelo nascimento de
duas vertentes de pensamento: o tomismo e o averroísmo. Este estava ligado à faculdade de
Artes e aquele à de Teologia. Ambos traziam a ideia de conciliar fé e razão.
- O autor aponta que essa tentativa de conciliação, por parte do averroísmo, causou diferentes
conflitos com os eclesiásticos, que muitas vezes condenavam a aplicação das obras de
Aristóteles ao estudo da fé. Assim, havia um grande esforço para manter os estudos fieis às
proposições agostinianas.
- A partir da inconformidade dos religiosos com os ensinos aristotélicos nas faculdades de Artes
e de Teologia, as duas instituições sucumbiram. A primeira se tornou secundária, sem o grande
prestígio intelectual de outrora, e a segunda perdeu o livre exercício do saber, se voltando para
a censura da heresia e para um pensamento em conformidade com os ideais ortodoxos.
- Assim sendo, Verger expõem que o pensamento tomista migrou para os conventos
dominicanos e as escolas de Medicina e Direito lucraram com a queda das antigas faculdades
de renome.

Referências:
VERGER, Jacques. As universidades na Idade Média. Editora da UNESP, 1990. (Primeira
Parte).

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