O documento descreve a origem e desenvolvimento das universidades medievais na Europa entre os séculos XII e XIII. Apresenta como as necessidades de ensino superior levaram à formação das primeiras universidades em cidades como Paris e Bolonha de forma espontânea, e como essas instituições ganharam autonomia e privilégios ao se organizarem como corporações. Também discute os conflitos entre as universidades e novas ordens religiosas como os dominicanos no período.
O documento descreve a origem e desenvolvimento das universidades medievais na Europa entre os séculos XII e XIII. Apresenta como as necessidades de ensino superior levaram à formação das primeiras universidades em cidades como Paris e Bolonha de forma espontânea, e como essas instituições ganharam autonomia e privilégios ao se organizarem como corporações. Também discute os conflitos entre as universidades e novas ordens religiosas como os dominicanos no período.
O documento descreve a origem e desenvolvimento das universidades medievais na Europa entre os séculos XII e XIII. Apresenta como as necessidades de ensino superior levaram à formação das primeiras universidades em cidades como Paris e Bolonha de forma espontânea, e como essas instituições ganharam autonomia e privilégios ao se organizarem como corporações. Também discute os conflitos entre as universidades e novas ordens religiosas como os dominicanos no período.
FICHAMENTO: AS UNIVERSIDADES NA IDADE MÉDIA – JACQUES VERGER
NASCIMENTO DAS UNIVERSIDADES
- Esse capítulo irá expor as causas que levaram à formação das universidades medievais (as necessidades). AS ESCOLAS NO OCIDENTE NO INÍCIO DO SÉCULO XII - O autor aponta que essas escolas estavam ligadas principalmente às catedrais, nas grandes cidades. Além disso, seu ensino estava baseado nos princípios do império Carolíngio, com o ensino das sete artes liberais (gramática, dialética, retórica, matemática, geometria, música e astronomia), além da teologia. - No final do item, autor acentua que, apesar dos avanços com a aplicação da dialética nos estudos teológicos e o aprofundamento da mesma, o ensino ainda contava com faltas de textos gregos, que proporcionariam um maior entendimento da dialética, e essa poderia levar a um “dinamismo, autonomia no plano intelectual” que viria com o desenvolvimento do século XII. O RENASCIMENTO DO SÉCULO XII A) TRADUTORES E TRADUÇÕES: -Verger expõem a importância desse século para as traduções dos escritos gregos, sobretudo, que se dão em locais com contato com a herança grega. Com isso, entraram em contato com boa parte da obra de Aristóteles; com os escritos de Euclides, Arquimedes, Ptolomeu; conheceram melhor Hipócrates e Galeno. - Contudo, o autor lembra que esses centros de tradução estavam distantes das escolas já estabelecidas e não surgiu novas nesses pontos, o que exprime, de acordo como pensamento do autor, a necessidade de condições sociais e econômicas para a formação desses centros acadêmicos. B) O DESENVOLVIMENTO URBANO - Verger discorre acerca do surgimento das corporações de ofício ligadas ao ensino, universitas, que, baseadas no pensamento livre burguês (estabelecido junto com a urbanização) e nos amplos estudos do direito, conseguiram o “reconhecimento de sua personalidade jurídica pelos poderes públicos” e autonomia interna. C) NOVAS CONDIÇOES DA VIDA ESCOLAR - Aponta o crescimento do número de estudantes e a consequente necessidade de legitimar (o agente é a Igreja, ainda portadora do monopólio do ensino) os portadores de conhecimento como mestres. Ainda é abordado o papel das novas traduções para a educação. A dialética contribui fortemente para a mudança das formas de estudo (mais ativas e interrogativas). - Tomada de consciência dos mestres, portadores de conhecimento e de função indispensável, afastando-se do meio eclesiástico. AS PRIMEIRAS UNIVERSIDADES A) PARIS (1200 – embrião) - Surgimento da universidade de Paris devido à multiplicação das escolas na cidade – problemas de organização. - Documentos existentes retratam apenas a legitimação de instituições “nascidas espontaneamente do desenvolvimento de escolas, da tomada de consciência dos mestres, de seus esforços para se unirem numa corporação autônoma”, mas não quanto a motivação dos universitários e dos meios para a formação das universidades. - O surgimento da universidade de Paris se deu a partir da “afirmação do caráter eclesiástico da universidade”, isso devido à resistência da Igreja em abandonar o monopólio da educação (Concílio de Latrão), aos problemas que os estudantes tinham com a sociedade burguesa, que acabava em penas jurídicas (estando atrelados à Igreja, estariam protegidos juridicamente), e ao fato da Igreja não impor obstáculos à formação de uma corporação unificada autônoma. - A partir da luta contra as determinações dos bispos, com o auxílio da Santa Sé (papa) e com greve de aulas (dispersão de Paris, indo para outras cidades), as corporações universitárias foram aos poucos instituindo-se. O que ocorreu através de longas batalhas para ter direitos jurídicos próprios das corporações de ofício. B) BOLONHA - Universidade que surgiu com a mobilização dos estudantes. Estes fizeram uso da dispersão, saindo de Bolonha e boicotando os mestres que vivam de suas contribuições financeiras.
UNIVERSIDADES “ESPONTÂNEAS” E UNIVERSIDADES “CRIADAS”
A) UNIVERSIDADES “ESPONTÂNEAS” - Chamadas de escolas pré-existentes. Exemplos: Paris, Bolonha e Oxford. B) UNIVERSIDADES NASCIDAS POR MIGRAÇÃO - Universidades nascidas da dispersão de outras, que utilizavam essa ferramenta para suas reivindicações. Exempli: universidade de Cambridge, que “nasceu da secessão oxfordiana de 1208. C) UNIVERSIDADES “CRIADAS” - “Universidades criadas de uma só vez pelo Papa ou pelo Imperador”. “significava reconhecer na formação universitária, além de seu valor cultural e de seu prestígio, uma utilidade prática e um alcance político”. - O autor salienta que o surgimento de grandes universidades inibiu o crescimento ou fez desaparecer outras locais. AS UNIVERSIDADES COMO CORPORAÇÕES INSTITUIÇÕES E PRIVILÉGIOS - As universidades eram estabelecidas com base em dois princípios: studium, que se refere ao ensino em si, e universitas, que caracteriza a instituição como uma corporação de ofício, com seus atributos jurídicos e burocracias. - Relacionados a esses termos, temos as faculdades, que eram especializações do ensino, como Faculdade de Direito, e as nações, organizações nas quais os estudantes e mestres se reuniam em auxílio mútuo. Esse tipo de organização se dava por critérios geográficos (nações dos estudantes franceses...). - Verger aponta o governo das universidades como um sistema democrático, em que havia um reitor e a assembleia, onde participavam estudantes e mestres para tomarem as decisões. - No quesito da administração material, não havia muito o que fazer, já que não possuíam prédios próprios. - Dessa forma, o autor diz que as questões administrativas das universidades se resumiam a dois pontos: “a defesa dos privilégios universitários e a organização do trabalho, isto é, do ensino”. - Em meio a esses benefícios, temos a questão jurídica, em que a universidade também estava atrelada à jurisdição eclesiástica, usufruindo de privilégios papais. - Verger assinala que, apesar das boas relações predominantes das universidades com os monarcas e o clero, haviam fortes conflitos entre estudantes e burgueses. Tal fato se deve aos privilégios de taxação, às diferenças culturais (estudantes eram em grande parte estrangeiros) e à consequente violência que se estabelecia nas cidades. A ORGANIZAÇÃO DO ENSINO A) PROGRAMAS - Os programas de ensino das universidades estavam baseados na leitura de autores consagrados e de comentários de outros antigos ou modernos. O autor ressalta as transformações que ocorreram nas Faculdades de Artes, estabelecendo uma “filosofia ousada”. B) MÉTODOS - Os métodos universitários se baseavam na leitura e no debate. Este último foi considerado pelo autor como o “exercício fundamental da pedagogia escolástica”. - Verger ressalta, ainda, a rápida multiplicação de livros com as universidades, o que não tira o caráter financeiro e dispendioso da produção de copias manuscritas. ASPECTOS SOCIAIS DA HISTÓRIA DAS UNIVERSIDADES - Item se debruça na vida cotidiana das universidades, a identidade dos universitários e na relação entre universidade e sociedade. A) DIVERSIDADE - “caráter internacional das universidades medievais, tornado possível pela existência de uma língua universal de cultura, o latim”. - Os universitários não ficavam restritos à uma universidade, frequentavam várias ao mesmo tempo, o que favorecia uma grande circulação de ideias. - Outra diversidade existente era a social, existiam também alunos pobres, que se mantiam, em algumas universidades, por meio de colégios. Esses eram instituições organizadas por um rico fundador que provia alojamento e manutenção de alguns estudantes. B) UNIDADE - De acordo com o autor, a unidade dos frequentadores se dava em três aspectos: o esforço e dedicação pelos estudos, as distrações que se submetiam (brigas, taverna, ...) e pelo caráter religioso presente nas universidades (padroeiros, cultos, ...) C) AMBIGUIDADES - Verger aponta como adversidades o fato de serem uma instituição urbana e ter inúmeros privilégios como forma de contornar essa situação. Além disso, o fato das universidades se dedicarem a um estudo livre e estarem associados à Igreja. Por fim, existe o fato de “pregarem” um estudo gratuito, onde os professores receberiam das instituições eclesiásticas, mas o estudo em si era extremamente dispendioso, tendo que arcar inclusive com honorários dos mestres. PROBLEMAS E CONFLITOS DO SÉCULO XIII - Como já foi abordado anteriormente pelo autor, o papado auxiliava largamente as universidades, o que ocorria através da jurisdição eclesiástica concedida aos mestres e alunos e através da proteção frente às autoridades (bispos, monarcas, etc), o que conferia, a essas instituições, maior liberdade. - Entretanto, Verger afirma que havia um interesse da Santa Sé nesse apadrinhamento das universidades, o que é apresentado no texto em dois pontos: * formação de pessoal capacitado para os cargos religiosos e para o ensino nas escolas capitulares. * Contribuição intelectual para a defesa da ideologia da Igreja, que vinha sendo atacada pelas heresias. RELIGIOSOS MENDICANTES E MESTRES SECULARES - Ordens mendicantes =ordens religiosas formadas por frades ou freiras que vivem em um convento - Papas ‘’se esforçaram para introduzir nas universidades” religiosos dessas novas ordens (dominicanos e franciscanos principalmente), cujo “problema dos estudos esteve imediatamente no centro da espiritualidade dessas ordens”. - Os mendicantes se recusavam a integrar definitivamente à universidade, não aderindo às greves e desvalorizando e boicotando o trabalho de mestres seculares, em especial da Faculdade de Artes. - Diante dos conflitos entre religiosos de ordens mendicantes dentro das universidades e mestres seculares, o Papa se posicionou junto aos frades, demonstrando que “a finalidade do papado não era a de favorecer o desenvolvimento das universidades e sua autonomia mais sim a de pô- las a seu serviço direto”. Junto com o posicionamento, houve uma redução da autonomia das universidades. APOGEU E CRISE DA ESCOLÁSTICA - A chegada dos escritos aristotélicos nas universidades foi responsável pelo nascimento de duas vertentes de pensamento: o tomismo e o averroísmo. Este estava ligado à faculdade de Artes e aquele à de Teologia. Ambos traziam a ideia de conciliar fé e razão. - O autor aponta que essa tentativa de conciliação, por parte do averroísmo, causou diferentes conflitos com os eclesiásticos, que muitas vezes condenavam a aplicação das obras de Aristóteles ao estudo da fé. Assim, havia um grande esforço para manter os estudos fieis às proposições agostinianas. - A partir da inconformidade dos religiosos com os ensinos aristotélicos nas faculdades de Artes e de Teologia, as duas instituições sucumbiram. A primeira se tornou secundária, sem o grande prestígio intelectual de outrora, e a segunda perdeu o livre exercício do saber, se voltando para a censura da heresia e para um pensamento em conformidade com os ideais ortodoxos. - Assim sendo, Verger expõem que o pensamento tomista migrou para os conventos dominicanos e as escolas de Medicina e Direito lucraram com a queda das antigas faculdades de renome.
Referências: VERGER, Jacques. As universidades na Idade Média. Editora da UNESP, 1990. (Primeira Parte).