Você está na página 1de 2

The Phantom Pain - Definitivo

Gustavo Severo e Letícia Lomes 3º B

“Nós não habitamos uma nação, e sim uma linguagem. Não se engane; nossa
língua mãe é nossa verdadeira pátria.”.
                                                                      - Emil Cioran, Filósofo Romeno.
Os corpos empobrecidos jazem ao redor de um único homem. Um semblante
desesperado tomou conta de seu rosto e ele se viu como um fraco murmúrio
ao redor dos sons estonteante de fogo e sangue de homens sem pátria
clamando por suas mães. Ercard falhou com esses homens e com as errôneas
promessas que forjou no coração desses soldados perdidos, falhou em
construir seu "Outro Céu”. Um lugar onde soldados se soltam dos grilhões de
ideologias e de nações, e se acolhem em si mesmos, se acolhem no ideal de
não serem descartados ou serem instrumentos políticos para alimentar um
sistema que os devora que os usa. Contudo esse ideal fora manchado de
sangue. Ele se arrastava entre seus soldados decepados e estraçalhados,
aquilo era a lembrança vil da violência e da brutalidade. Seu reino, sua efêmera
tentativa de se livrar de nomes, de destinos, de prisões e sistemas… Morreria
ali. Tentou chamar por nomes impronunciáveis e esquecidos. Gritou, sussurrou
e tentou espantar de si mesmo a chance do céu encher-se como véu de
sangue acima de si, mas o céu já estava queimado. Tudo que ali tinha tornou-
se cinzas e ficou em si uma dor fantasma. Levantou-se e tentou andar entre os
corpos carbonizados e destruídos sem olhá-los, pois queria manter a memória
de seus companheiros vivos e saudáveis em sua mente. Lágrimas tentavam
inutilmente sair de seu rosto, mas já estava seco e raso dentro de si, tinha em
suas mãos o sangue de seus compatriotas, o sangue da fé, das pessoas que
confiaram em um ‘’Outro Céu’.

Alinhou-se e tentou reconstruir seu pequeno vilarejo com suas mãos


sangrentas e lotadas de cicatrizes. Os engasgos e as lágrimas se perdiam na
chuva enquanto tentava reconstruir seu sonho perdido, porém ali se
encontravam apenas retalhos e resquícios de um devaneio insensato que
projetou para si mesmo, tudo se tornou sangue e tudo estava queimado…
Novamente. Respirava morte e sangue. Deitou-se entre os mortos. Seu choro
foi contido, silencioso e ínfimo. Olhou os restos dos seus companheiros e
percebera que tinha, sem razão alguma, reconstruir aquele lugar. Novamente
Ercard tentou erguer as pedras, as madeiras e fazer tudo novamente.
Continuou assim por dias a fios, porém tudo caia sobre ele até seu corpo
encher-se de cicatrizes e mais sangue. Insensato e em seus mais puros
desvairos… Cada espaço era uma memória perdida, esvaecida, ele fechava os
olhos e esperava a memória se diluir para continuar a reconstruir. Seus dedos
eram carne viva e o sangue misturava-se entre seus dedos, entre as feridas.
Enquanto tentava erguer seu pequeno ‘’império’’ caído.

Entendem meus caros leitores anônimos? O escarnio, o triunfo que é a agonia se


apoderando de um homem. Sua alma agora jaz manchada e enegrecida pelos dias a fio
que tentou se remodelar, tentou inutilmente ter-se de volta, tentando reaver o seu
passado. Ele ainda poderia sentir a dor, ainda continuava a doer, a pulsar. Por que
tanta dor? Por que tanto sofrimento? Não posso compreender. Como um ser que não
existe, eu tenho direito de perguntar.
Em irrisórias tentativas de erguer seus fantasmas e seus amores dormiu
porque sua mente não suportava mais.

Uma semana havira passado e dentro de si parecia imundo, sujo e vazio.


Lembrava-se sempre dos sorrisos dos irmãos, dos traumas e dos sonhos que
viveram juntos. Lembrara-se da Cavaleira Privada de Palavras, Auri.

- O lento bailar das coisas silenciosas, huh. – Ercard jogou essas palavras no
ar enquanto fitava a Auri movimentando-se na chuva.

Auri bailava entre a chuva, dançando com cada gota, cada partícula… Toda
molhada, adoecida de amor e ternura. Selvagem. Instável. Perdendo-se entre
essas gotas que caiam nela como poesia. Seus lábios abriam-se e ela parecia
sorrir e pedir com os olhos, com os gestos para Ercard vir. Vem-me, leve-me,
tome-me.

Você também pode gostar