Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
BIOFÍSICA CELULAR
MANUAL PRÁTICO
Contração da
célula muscular
estriada
Bioenergética
Difusão Bioeletrogênese
Transporte
através de
membranas
biológicas
Potencial de
membrana
Potencial de
repouso (célula Potencial de ação
em repouso)
Propagação do Propagação do
sinal para o sinal de célula a
interior da célula célula
(célula em ação)
Junção neuro-
muscular Sinapse
Acoplamento
excitação-
contração da
celular muscular
estriada
Contração da
célula muscular
estriada
1o Ano Médico
1
2
3
CURSO DE BIOFÍSICA CELULAR
4
ATIVIDADES DESENVOLVIDAS DURANTE O CURSO
1. Aulas Teóricas (AT): são aulas expositivas, com duração aproximada de 2 horas, em
que se faz a apresentação de tópico, sem a intenção de esgotar o assunto.
A partir desta apostila, o curso de Biofísica Celular será ministrado pelos seguintes
professores:
Antonio de Miranda
Clóvis R. Nakaie (Chefe da Disciplina de Físico-Química)
Eneida de Gusmão Silva Barone
Eduardo Maffud Cilli
Sang Won Han
Teresa Feres de Oliveira
Viviane Louise Andrée Novailhetas (Chefe da Disciplina de Biofísica)
5
6
ÍNDICE
CONTRAÇÃO MUSCULAR
8. Bibliografia 029
BIOENERGÉTICA
7
I. Introdução 032
5. Processos 036
1. Conceituação 040
2. Entalpia 044
3. Interpretação molecular da energia interna e entalpia 045
1. Entropia 049
2. Energia Livre 052
2.1. Conceito 052
2.2. Energia livre e constante de equilíbrio (Keq) 053
2.3. Potencial químico 055
2.3.1 Potencial Químico e Trabalho Químico 056
2.3.2 Potencial Elétrico e Trabalho Elétrico 057
2.3.3 Potencial Eletroquímico e Trabalho Eletroquímico 057
8
IX. Bibliografia 065
1. Introdução 081
2. Pressão osmótica 081
3. Osmolaridade de uma solução 084
4. Comparação entre osmolaridade e tonicidade de uma solução 084
I. Introdução 087
MEMBRANAS BIOLOGICAS
9
2.1 Tipos de ligações químicas 000
2.2 Água 000
2.3 Energética das interações biológicas 000
5. Bioeletrogênese 000
5.1 Membrana permeável a um único íon 000
5.2 Membrana permeável a todos os íons 000
5.2.1 Condição de equilíbrio (Equação de Nernst) 000
5.2.2 Condição estacionária (Equação de Goldman) 000
5.3 Equilíbrio de Donnan 000
7. Bibliografia 000
10
CONTRAÇÃO MUSCULAR
11
CONTRAÇÃO MUSCULAR
1.1 Sarcolema
12
À microscopia ótica, cada miofibrila apresenta uma série de bandas transversais
claras e escuras que se alternam regularmente ao longo da mesma, dando uma
aparência em estrias. Daí estes músculos serem denominados estriados (Figuras 1 e
2).
As bandas claras foram denominadas Bandas I (isotrópicas, por permitirem a
passagem da luz em todas as direções) e as bandas escuras denominadas bandas A
(anisotrópicas, por apresentarem diferentes índices de refração com a direção),
indicando que a fibra muscular apresenta uma certa orientação molecular (Figura 1).
Quando a fibra muscular encontra-se em repouso, a banda A possui cerca de 1,5
µm de comprimento e a banda I ao redor de 0,8 µm. Na parte central da banda A,
observa-se uma zona mais clara, denominada zona H, e no meio da banda I, observa-
se uma linha mais escura, denominada linha Z. Denomina-se sarcômero à região
delimitada por duas linhas Z. Tal região corresponde à unidade contrátil, repetitiva, da
célula muscular, com um tamanho variando entre 1,5 a 3,5 µm (Figura 1).
Um único sarcômero contém cerca de 1000 filamentos grossos e ao redor de
2000 filamentos finos. No comprimento de repouso (2,3 µm), os filamentos grossos e
finos estão sobrepostos em cerca de 1/3 de seus comprimentos. O comprimento do
sarcômero durante a contração máxima atinge cerca de 1,5 µm, isto é, um
encurtamento ao redor de 30%.
2.1. Filamentos
13
Figura 1. Esquema da estrutura macroscópica e microscópica do músculo estriado
esquelético.
14
para grossos é de 2:1. Cortes transversais na zona H mostram apenas filamentos
grossos e na banda I aparecem apenas os finos, em disposição hexagonal (Figura 2).
2.2. Sarcoplasma
15
Figura 2. Representação esquemática de cortes transversais em diferentes níveis da
miofibrila (A); Músculo estriado esquelético visto à microscopia ótica (B); Linha Z,
constituída por moléculas de α -actina (C).
16
Figura 3. Representação esquemática do túbulo transverso (TT) e do retículo
sarcoplasmático longitudinal, com as cisternas laterais a cada lado do túbulo T
formando a tríade.
• Representa moléculas de ferritina16m, demonstrando que o TT está em contato com
o meio extracelular.
17
Figura 4. Estrutura tridimensional dos túbulos transversos e do retículo
sarcoplasmático.
2.3.3. Tríade
3.1. Miosina
18
A microscopia eletrônica da miosina isolada em solução de alta força iônica (KCl
0,6 M) mostra uma molécula alongada com cerca de 0,15 a 0,16µm de comprimento,
constituída de uma porção filamentosa, denominada cauda e outra globular, a cabeça.
Seu peso molecular é da ordem de 470.000 e ela é constituída de duas cadeias
polipeptídicas principais e quatro "cadeias leves", que se encontram ligadas não
covalentemente às partes globulares da molécula (Figura 5).
Cada cadeia polipeptídica possui peso molecular de 200.000, e na região da
cauda as duas cadeias se enrolam entre si numa estrutura chamada dupla hélice. Em
uma das extremidades as cadeias se separam e se enrolam sobre si mesmas,
constituindo as regiões globulares (ou cabeças).
O papel das cadeias leves da cabeça da miosina ainda não está bem
estabelecido, mas há sugestões de que elas possam desempenhar um papel
estabilizador da conformação tridimensional das regiões globulares e também um papel
regulatório durante a contração.
A molécula de miosina apresenta pontos particulares de suscetibilidade ao
tratamento com enzimas proteolíticas. Assim, pela ação da tripsina, a molécula é
rompida em dois fragmentos, denominados meromiosina leve (MML) e pesada (MMP)
(Figura 5). Com tratamento mais prolongado pela tripsina, a MMP é quebrada nos
subfragmentos S-1 e S-2 . O fragmento S-1 corresponde às partes globulares isoladas,
enquanto que o subfragmento S-2 corresponde à parte filamentosa. O tratamento por
papaína separa o subfragmento S-1 do restante da molécula de miosina. Acredita-se
que os pontos de maior flexibilidade da molécula de miosina localizem-se na junção
entre a MML e a MMP e entre o S-1 e S-2 (Figura 5).
A molécula de miosina apresenta, portanto, duas regiões que são
morfologicamente e funcionalmente distintas. A cauda desempenha um papel estrutural,
formando o arcabouço do filamento grosso. A cabeça, por sua vez, é capaz de se ligar
aos filamentos finos e é a sede do processo de transdução de energia química em
mecânica, base do processo contrátil. Portanto, encontramos em cada cabeça um sítio
de interação com a actina e outro sítio de ligação e hidrólise do ATP, esta última uma
reação fornecedora de energia (exergônica) essencial para a movimentação das
pontes.
Diminuindo-se a força iônica do meio a valores fisiológicos, as moléculas de
miosina se agregam, formando filamentos de aspecto muito semelhante a dos
filamentos grossos observados em cortes ou em homogenizados de músculos. Tais
filamentos apresentam projeções típicas, espaçadas em toda a sua extensão, exceto na
parte central (denominada zona careca). Nos sarcômeros, as zonas carecas estão
localizadas na altura da zona H.
Acompanhando-se o processo de polimerização das moléculas de miosina à
microscopia eletrônica, observa-se que as moléculas de miosina se agregam
19
inicialmente cauda a cauda, seguida de uma agregação lado a lado. Desta maneira,
300 a 400 moléculas de miosina formam um filamento bipolar, não apresentando
cabeças na região central do filamento (isto explica o fato de o filamento de miosina ser
capaz de puxar o filamento fino em direção ao centro do sarcômero no processo de
contração muscular).
20
Figura 5. Representação esquemática da molécula de miosina com os fragmentos
obtidos após a ação de enzimas proteolíticas (A); Pontos de maior flexibilidade da
molécula de miosina (B); Agregação das moléculas de miosina na formação do
filamento grosso (C).
21
Observando-se a superfície do filamento grosso, nota-se que a cada plano do
mesmo encontram-se 3 pares de cabeça de miosina, dispostos simetricamente
formando tripletes com um ângulo de 120° entre eles.
Tomando-se um dado triplete como referência (triplete 1, Figura 6), o triplete
seguinte (triplete 2, Figura 6) está deslocado por um ângulo de 40° e uma distância de
14,3 nm em relação ao primeiro e assim sucessivamente. A distância entre dois pares
de cabeças projetados para o mesmo lado é de 43 nm (3 x 14,3 nm) havendo, portanto,
9 projeções neste intervalo. Como cada filamento de miosina é envolvido por 6
filamentos de actina, cada triplete está interagindo com apenas 3 dos 6 filamentos finos
circundantes (Figuras 7 e 8).
22
Figura 7. Disposição das pontes entre os miofilamentos. O filamento grosso central
emite pontes para os filamentos finos circundantes.
3.2. Actina
23
globular) sendo uma molécula quase esférica, com um diâmetro de 5,5 nm.
Aumentando-se a força iônica de soluções de G-actina no sentido da força iônica
fisiológica, a actina se polimeriza, formando a F-actina (F de filamentosa). Para que a
polimerização ocorra é necessária a presença de íons cálcio e ATP no meio.
A F-actina assim obtida apresenta à microscopia eletrônica um aspecto
semelhante aos filamentos finos obtidos diretamente de homogeneizados de músculos.
Verificamos assim que, na força iônica vigente no interior da célula (aproximadamente
0,15M), tanto a actina como a miosina encontram-se na forma agregada e insolúvel.
No filamento fino, que possui 1 µm de comprimento, as moléculas de actina
estão arranjadas em 2 filamentos de F-actina, enrolados entre si como dois colares de
contas, formando uma dupla hélice. Cada molécula de actina ocupa 5,5 nm da cadeia
(cordão), de modo que para a distância que separa duas cabeças de miosina
consecutivas (14,3 nm), encontramos 2,6 moléculas de actina (Figura 9).
Caso fragmentos S-1 da molécula de miosina sejam adicionados a uma solução
contendo filamentos de actina puros, eles espontaneamente se ligarão de modo estável
na razão de um fragmento S-1 para uma molécula de actina. A dissociação deste
complexo requer ATP, que se liga ao fragmento S-1 na razão de 1:1.
3.3. Tropomiosina
24
Figura 9. Representação esquemática da estrutura do filamento fino.
3.4. Troponina
É uma proteína com peso molecular de 76.000, formada por três subunidades
globulares, unidas entre si por ligações não covalentes.
a) Troponina T (TnT): é a maior das subunidades, com peso molecular de 37.000,
capaz de se ligar à tropomiosina e à TnC. Sua função é a de unir o restante da
molécula de troponina ao filamento fino ou, mais especificamente, à tropomiosina.
b) Troponina I (TnI) (troponina inibidora): tem peso molecular de 20.800 e é capaz de se
ligar à TnC e à F-actina. Sua principal função é a de fortalecer a ligação tropomiosina-
actina, fixando a tropomiosina numa posição adequada, de modo a impedir a interação
miosina-actina na ausência de cálcio (Figura 9).
c)Troponina C (TnC): é a menor subunidade (peso molecular de 18.000) e apresenta
em sua estrutura sítios de alta afinidade pelos íons cálcio, sendo a combinação destes
íons com a troponina C o gatilho que inicia a contração muscular
No filamento fino, as moléculas de troponina estão encaixadas na tropomiosina
através da TnT. Cada complexo aparece periodicamente a cada 38,5 nm de modo que
grande parte dos monômeros de actina não estão em contato com a troponina.
25
4. Interações da miosina com a actina e o ATP
A actina não possui atividade ATPásica, ela sozinha não hidrolisa o ATP. A
miosina (M) por sua vez é capaz de hidrolisar o ATP mas, na ausência de actina (A), a
liberação dos produtos da hidrólise ocorre muito lentamente como se pode notar pela
flecha pontilhada na primeira linha do esquema. A actina aumenta a atividade
enzimática da miosina acelerando a liberação do Pi (A.M.ADP.PiII → A.M.ADP). Em um
ciclo de hidrólise do ATP a miosina passa por dois estados que correspondem a uma
conformação de baixa afinidade e outra de alta afinidade de ligação com a actina. Os
eventos que marcam a transição entre um e outro estado são a ligação do ATP (que
acarreta a mudança do estado de alta afinidade para o de baixa afinidade) e a liberação
do Pi (que provoca a transição do estado de baixa afinidade para o de alta afinidade)
O estado de baixa afinidade é caracterizado por: a) baixa afinidade das cabeças
da miosina pela actina, b) equilíbrio rápido de associação e dissociação entre a actina e
a miosina.
O estado de alta afinidade é caracterizado por a) uma afinidade muito maior das
cabeças de miosina pela actina, b) uma velocidade de dissociação entre a actina e a
miosina muito menor do que no estado de baixa afinidade.
26
5. Mecanismo molecular da contração muscular
27
A Figura 10 ilustra o mecanismo básico da contração muscular, onde está
representado o sarcômero em repouso e em dois níveis de contração isotônica. No
estado contraído, observa-se a aproximação das linhas Z e a diminuição da banda I e
zona H (que até podem desaparecer, conforme o grau de contração). A dimensão da
banda A e o comprimento dos filamentos finos e grossos permanecem constantes.
O estímulo determina inicialmente a contração de um sarcômero. Este puxa os
demais na sua direção (já que a disposição dos sarcômeros no músculo é em série),
resultando no encurtamento do músculo como um todo.
Tais observações levaram Huxley a formular a teoria dos filamentos deslizantes,
onde o encurtamento do músculo decorre do deslizamento dos filamentos finos entre os
grossos. Os filamentos grossos funcionam como ponto de apoio para os finos.
A participação da cabeça da miosina neste processo foi demonstrada pelo
movimento das cabeças durante o processo contrátil e pela observação de que no
músculo em repouso elas se encontram orientadas em um ângulo de 90° em relação ao
filamento fino, enquanto que no músculo contraído elas se encontram em um ângulo de
45°.
Portanto, a base para a contração é a formação de pontes transversais entre os
filamentos grossos e finos, através da interação da cabeça da miosina com uma
determinada região do monômero de actina (sítio de interação). Cada filamento grosso
tem possibilidade de interagir com 6 filamentos finos circundantes e, por sua vez, cada
filamento fino, com 3 grossos (arranjo hexagonal).
Figura 10. Mecanismo básico da contração muscular pela teoria dos filamentos
deslizantes.
28
Existe uma certa correlação entre as etapas bioquímicas e as conformações
assumidas pela cabeça de miosina. Assim, foi proposto por Eisenberg e Greene (1980)
o seguinte Modelo para um ciclo completo de movimentação das pontes transversais:
Figura 11. Diagrama ilustrando o ciclo de eventos químicos e mecânicos que ocorrem a
nível da cabeça da miosina durante o processo contrátil.
29
Se o fornecimento de ATP ao músculo não for adequado, as pontes transversais
permanecem na conformação de 45° que corresponde ao estado típico de rigidez
observado após a morte (rigor mortis). Maiores detalhes do balanço energético
envolvido nestas transições serão vistos na aula de aplicações da bioenergética, onde
este modelo será analisado novamente do ponto de vista de diferenças de energia livre
entre os complexos.
Se a teoria dos filamentos deslizantes estiver correta, a previsão mais óbvia que
dela pode ser tirada é que a quantidade de força gerada pelo músculo tem que ser
proporcional ao nível de sobreposição entre os filamentos finos e grossos.
A Figura 12 mostra a relação entre o comprimento do sarcômero e a tensão
desenvolvida pela fibra muscular em contração. Nesta Figura também estão
representados os diferentes graus de superposição dos filamentos de actina e miosina
para diferentes comprimentos do sarcômero, pré-fixados e, portanto, em contração
isométrica.
30
Figura 12. Curva comprimento-tensão em fibra muscular isolada.
31
desenvolvida pelo músculo é máxima, e o número de pontes formadas também é
máximo. Os pontos A, B e D são situações onde há queda de tensão explicada pela
diminuição do número de pontes estabelecidas.
Esta experiência mostra que a contração é máxima quando há uma máxima
sobreposição entre as pontes da miosina e os filamentos finos de actina, comprovando
a idéia de que quanto maior for o número de pontes formadas maior será a força de
contração.
6. Acoplamento excitação-contração
32
calsequestrina, difundem-se para o sarcoplasma até que, com a cessação do estímulo
despolarizante, os canais sejam novamente fechados.
6.1. Túbulos T
Como eles estão em contato com o espaço extracelular e são contínuos com a
superfície da membrana, a sua função é propagar a despolarização da superfície da
membrana até o centro da fibra de modo que as miofibrilas mais internas possam
contrair-se mais rapidamente.
33
6.2. Papel do íon cálcio na contração muscular
O papel do cálcio como fator regulador da contração foi confirmado quando foi
feito um estudo da hidrólise de ATP em preparações de músculos estriados de
vertebrados contendo apenas os filamentos grossos e finos, ATP , Mg2+ e
concentrações variáveis de cálcio. Havia necessidade de uma concentração crítica de
cálcio para que aquela hidrólise se desencadeasse. O processo está ligado à presença
de tropomiosina e troponina nos filamentos finos pois, uma vez que estas são
removidas, a hidrólise de ATP passa a ser cálcio independente, ocorrendo
indefinidamente enquanto houver substrato. Estes resultados indicam que a regulação
da contração a nível molecular é feita pela tropomiosina, complexo troponina e íons
cálcio.
No músculo em repouso, em que a concentração de cálcio ao nível dos
filamentos é baixa, o complexo troponina-tropomiosina atua como um inibidor da
interação entre a actina e a miosina. Quando a concentração de cálcio aumenta, este
se liga à troponina e o complexo passa a não mais inibir a interação actina-miosina e o
músculo pode contrair.
A regulação da contração está relacionada a modificações que ocorrem no
filamento fino pela interação de algumas de suas proteínas com íons cálcio, provocando
a exposição dos sítios de interação da actina com a cabeça da miosina. Identificou-se,
34
no complexo troponina, a subunidade TnC, tendo esta alta afinidade pelo cálcio e
desenvolvendo alterações conformacionais quando interage com aquele íon.
Durante a contração muscular, o filamento de tropomiosina é deslocado mais
para dentro do sulco formado pela dupla hélice de monômeros de actina, expondo os
sítios de interação da actina com o complexo miosina-ATP. Esta situação pode ser
visualizada na Figura 14. Na ausência de cálcio, a subunidade TnT da troponina está
ligada à tropomiosina e a TnI à actina (estado desligado da actina com a miosina).
Quando o cálcio sai da cisterna para o sarcoplasma, ele se liga à subunidade
TnC e, em consequência, ocorre uma modificação em sua estrutura que a faz interagir
fortemente com a TnT e com a TnI (estado ligado da actina). Com isso, o filamento de
tropomiosina rola mais para dentro do sulco entre os monômeros de actina liberando o
sítio de interação dos mesmos com a miosina.
35
Figura 15. Esquema dos eventos do processo de contração muscular, indicando o
estados de baixa e alta afinidade da cabeça de miosina pela actina e o papel dos íons
cálcio.
36
7. Fontes de energia para a contração muscular
A contração depende da energia fornecida pelo ATP. Grande parte desta energia
é utilizada para ativar o mecanismo de contração, mas pequenas quantidades de ATP
são também necessárias para o bombeamento de cálcio do sarcoplasma para o retículo
sarcoplasmático.
O ATP é decomposto em ADP + Pi e é, em segundos, refosforilado a ATP
novamente. Há várias maneiras de produzir esta refosforilação. A primeira via de
regeneração do ATP é direta e corresponde a uma reação de transfosforilação
catalisada pela mioquinase, enzima específica das células musculares.
mioquinase
2 ADP →AMP + ATP
creatina quinase
ADP + PCr →ATP + Creatina
37
Figura 16. Diferentes vias de regeneração do ATP utilizado na contração muscular.
38
8. Bibliografia
39
QUESTIONÁRIO DE CONTRAÇÃO MUSCULAR
40
BIOENERGÉTICA
Conexões com outras disciplinas: qualquer disciplina em que haja o envolvimento dos
conceitos de transformações de energia e de interação de moléculas no organismo
vivo.
41
BIOENERGÉTICA
I. INTRODUÇÃO
42
II. HISTÓRICO
III. DEFINIÇÕES
Vamos ver, agora, uma série de conceitos abstratos que vão permitir verificar
como moléculas, que são intrinsecamente inanimadas, dão vida aos organismos.
43
Trabalho: é qualquer forma de energia trocada entre o sistema e os
arredores, independentemente da diferença de temperatura. Ex.: mecânico;
gravitacional (mgh), de expansão ou compressão (P∆V); elétrico (Q∆Ψ), etc.
Logo, trabalho e calor não são tipos de energia, mas são entidades que só têm
significado em termos de transferência de energia entre sistemas ou sistema-arredores
(energia em trânsito). Falamos em energia de um sistema, mas não calor ou trabalho
de um sistema.
3. Tipos de sistemas
4. Estado de um sistema
44
Em energética existem, além destas, outras funções de estado que iremos definir
futuramente:
45
externos podem ser utilizados para se determinar as funções de estado do sistema em
estudo. Esta propriedade é importante, pois simplifica a descrição de tal sistema e esta
é uma das razões porque a Energética trata primariamente com estados em equilíbrio.
5. Processos
5.1. Definição:
É um método operacional, através do qual uma mudança de estado é
efetuada no sistema.
46
Assim, o processo reversível pode ser descrito como uma sucessão de estados, cada
um dos quais está num estado de equilíbrio. Por isto, uma alteração finita reversível
leva um tempo infinito para produzir-se, visto que, em qualquer intervalo finito de tempo
só pode ocorrer uma alteração infinitamente pequena. Um processo reversível em
termodinâmica é análogo ao movimento sem atrito na mecânica. A vantagem deste
conceito é que introduz a idéia de continuidade da análise do processo e permite assim
o uso do Cálculo. Além disso, vimos que se o sistema se encontra em equilíbrio com os
arredores durante o processo reversível, então os seus parâmetros internos são iguais
aos parâmetros externos, possibilitando a utilização dos mesmos para a descrição
completa do estado deste sistema. Os parâmetros dos arredores são de fácil acesso,
evitando-se assim, a necessidade de se introduzir no interior do sistema instrumentos
de detecção que poderiam alterar o estado do mesmo.
47
IV. LEI ZERO DA TERMODINÂMICA
2 1
T = EC
3 k
48
vizinhas de alta energia, o que provocará um aumento na velocidade dos processos e
reações em geral. Nunca devemos, no entanto, esquecer o outro lado destes processos
efetuados a temperaturas mais elevadas, que é o problema da denaturação da maioria
das macromoléculas biológicas. Muitas sofrem alterações conformacionais
permanentes ou não (irreversíveis ou reversíveis), dependendo da temperatura do
meio, podendo perder por completo as suas propriedades biológicas.
Você irá estudar muitos exemplos destas macromoléculas (em Bioquímica,
Farmacologia, etc.) além das já vistas em contração muscular. Para analisar melhor
cada função molecular, não se deve perder de vista o movimento térmico destas
moléculas, que é um componente tão importante quanto a sua estrutura na descrição
de um processo biológico. Assim como você se lembra sempre da grande atividade que
um macrófago apresenta apesar de vê-lo fixado na lâmina de um microscópio, você
deve lembrar, ao analisar um modelo de qualquer macromolécula, que este é só uma
visão estática de uma estrutura que está vibrando, rodando, oscilando constantemente,
onde uma grande quantidade de energia cinética se encontra distribuída entre estes
tipos de movimentos moleculares, que são muito importantes para sua função.
Revendo alguns aspectos do "fenômeno biológico associado com a
temperatura", temos que:
a) o intervalo de temperatura em que a maioria dos organismos vivem é bastante
restrito;
b) os seres vivos podem ser, de um modo geral, divididos em homeotérmicos e
poiquilotérmicos.
49
V. PRIMEIRO PRINCÍPIO DE TERMODINÂMICA
1. Conceituação
Um sistema num dado estado possui uma quantidade de energia bem definida
que é denominada energia interna (E). Ao sofrer um processo qualquer que o leve para
um outro estado, este sistema pode trocar calor (q) e trabalho (w) com os arredores,
tendo portanto, a sua quantidade de energia alterada. Normalmente nos processos
biológicos, a energia interna é a energia química ligada à estrutura das moléculas
biológicas. Vamos, então, analisar as relações entre trabalho, calor e energia. Para tal
propósito vamos utilizar a reação:
que você verá em Bioquímica, ser a etapa final da via glicolítica na síntese de ATP (e
que foi mencionado na CONTRAÇÃO MUSCULAR, no item "Fontes de energia para a
contração muscular").
Se esta reação ocorrer numa célula eletroquímica (Figura. 1) de tal maneira que
seja obtido um trabalho elétrico à medida que a reação se processa, tem-se que:
O fato de uma reação liberar 2e- numa placa de platina e na outra retirar também
2e-, cria uma diferença de potencial elétrico entre as duas placas de modo a gerar uma
corrente elétrica quando se fecha o circuito através da ponte. Acoplando-se um motor
elétrico a este sistema, este pode perfeitamente realizar um trabalho mecânico (por
exemplo, girar as pás de uma ventoinha).
50
2e- + 2H+ + piruvato → Lactato NADH + H+ →2H+ + NAD+ + 2e-
e, no lado do piruvato-lactato:
51
a) que o calor e o trabalho envolvidos nas transformações dependem da natureza do
processo.
b) que a diferença q - w* é a mesma nos três processos.
∆E = q - w (2)
Esta última afirmação não é tão óbvia quanto parece. Nela está implícito o
conceito de conservação de energia que é o primeiro princípio da Termodinâmica: "A
energia não pode ser criada ou destruída" ou "A energia do universo é constante", e a
equação (2) é a expressão matemática desta lei para uma mudança de estado. Logo, o
que se observa, em qualquer processo, é a mudança de energia de uma forma para
outra, mas nunca alteração do conteúdo total de energia. Assim, esta primeira lei da
Termodinâmica expressa o princípio de conservação de energia que é de ampla
natureza pois inclui várias formas de energia. Historicamente, este princípio reconhece
a impossibilidade de se criar energia do nada. Voltando à equação (2), observamos que
ela:
a) nos permite determinar a variação do conteúdo energético do sistema que
sofre um processo qualquer através de termos mensuráveis, que são calor e trabalho;
b) declara que a energia interna é uma função de estado pois (q - w) depende
somente dos estados inicial e final.
As reações bioquímicas nos sistemas biológicos, de um modo geral, apresentam
trocas de calor sem trabalho observável macroscopicamente, visto que estas trocas se
encontram envolvidas em energias de quebra e formação de ligações químicas. Isto faz
com que o aluno muitas vezes ache que a Biologia é completamente distinta, como
ciência, da Físico-química. Mas, se analisarmos o sarcômero, vemos que existe, neste
52
sistema complexo, uma hierarquia de estrutura, organizada de tal maneira que permite
uma sucessão bem precisa e definida de processos, levando-o à realização de um
trabalho mecânico (contração). A cada um destes processos pode-se aplicar o
raciocínio energético ou termodinâmico. Assim, todas as etapas envolvidas no
acoplamento excitação-contração, desde a manutenção do potencial de membrana e
propagação do estímulo (trabalho elétrico) até as mudanças de conformação de
proteínas tanto estruturais (poros do sarcolema, dos tubos T e das cisternas) como das
contráteis (miosina, troponina, etc.) (energia química) são definidas pelo Primeiro
Princípio da Termodinâmica (E = q - w). Já foi dito anteriormente que a fonte de energia
para o sarcômero é o ATP e este é realmente a principal forma de transporte de
energia química nos seres vivos (como ele é obtido você verá em Bioquímica).
Resumindo, o sarcômero é uma máquina que transforma energia química em calor e
trabalho mecânico, não sendo necessário buscarmos uma "energia vital" para explicar o
fenômeno, pois a lei da conservação da energia se aplica ao mesmo perfeitamente.
A questão da aplicabilidade do primeiro princípio aos sistemas biológicos é
antiga. Lavoisier e Laplace, em 1781, construíram um calorímetro de gelo, onde a
quantidade de calor liberada era medida pela quantidade de água proveniente do gelo
derretido. Eles confinavam uma cobaia neste calorímetro por várias horas e
determinavam a quantidade de calor liberada e a quantidade de oxigênio consumido ou
CO2 produzido pelo animal. Fazendo-se depois a combustão de carvão (posteriormente
de alimento) na quantidade suficiente para produzir a mesma quantidade de CO2 que a
produzida pelas cobaias, verificaram que as quantidades de calor desprendidas eram
semelhantes. Demonstraram assim, que o carbono, ao ser oxidado, no animal ou em
um sistema qualquer, libera a mesma quantidade de energia, de acordo com o primeiro
princípio. Logo, o ser vivo não constitui um sistema criador de energia.
2. Entalpia
∆H = qp (3)
∆E + w = qp e daí,
∆H = ∆E + w
53
Sabemos que w = P∆V onde P é a pressão a que está sujeito o sistema e ∆V é a
variação de volume que ocorre durante o processo. Assim, obtemos a seguinte relação:
H = E + PV (4)
54
- Nosso sistema é constituído por 6 partículas (N = 6).
- A energia introduzida ∆E é de 10 ξ , onde ξ é uma unidade arbitrária e
conveniente de energia.
- Admitamos que existam 6 microestados de energia que possam ser ocupados
com igual probabilidade por estas partículas (seriam níveis quantizados de energia
igualmente acessíveis a qualquer uma das partículas). Postulamos que a distribuição
de energia mais provável corresponde ao estado de equilíbrio e procuraremos
determinar neste nosso sistema qual é esta distribuição.
Na Figura 3 representamos 3 distribuições (configurações) das 6 partículas nos
diferentes microestados. Destas, qual seria a mais provável e, portanto, correspondente
ao estado de equilíbrio?
55
A
6ξ
5ξ ➏ ∆E = (1 x 5ξ) + (5 x 1ξ) = 10ξ
4ξ número possível de combinações: 6
3ξ
2ξ
1ξ ➊ ➋ ➌ ➍ ➎
B
6ξ
5ξ ∆E = (1 x 3ξ) + (2 x 2ξ) + (3 x 1ξ) = 10ξ
4ξ número possível de combinações: 60
3ξ ➏
2ξ ➍ ➎
1ξ ➊ ➋ ➌
C
6ξ
5ξ ∆E = (4 x 2ξ) + (2 x 1ξ) = 10ξ
4ξ número possível de combinações: 15
3ξ
2ξ ➌ ➍ ➎ ➏
1ξ ➊ ➋
56
Se nós marcarmos as partículas, verificamos que há somente 6 maneiras de se
distribuí-las na configuração A, 60 na B e 15 na C. O número de maneiras (W) de se
dispor N partículas, sendo n1 em um microestado, n2 em outro e assim por diante é
dado por:
N!
W = -------------------- (5)
n1!.n2!...ni!
Resumindo:
O estado mais provável é o estado de equilíbrio e a distribuição de energia mais
provável num sistema corresponde àquela que permite o maior número de
combinações das partículas nos diferentes microestados (ou níveis). Pela equação (5)
calcula-se esse número W e procura-se obter o seu valor máximo para um dado ∆E e
N.
Quando o valor de N é grande, tem-se:
- (ξ i - ξo)/kT
ni/no = e (6)
57
que as partículas do sistema podem adquirir, mais provável é sua existência. Para cada
temperatura as partículas possuem uma certa energia, cujos valores estão distribuídos
segundo as curvas mostradas na Figura 4 que caracterizam a chamada distribuição de
Boltzmann (Eq. 6). Vemos que as moléculas (ou átomos) têm energias cujos valores
estão distribuídos em torno de um valor médio (por isto, no tópico anterior foi dito que a
temperatura era proporcional à energia cinética média das moléculas). À medida que se
aumenta a temperatura, as moléculas adquirem valores maiores de energia e ao
mesmo tempo observa-se aumento da dispersão dos seus valores. Em Estatística isto
corresponde a um aumento do valor médio com acréscimo do desvio padrão: as curvas
deslocam-se para valores maiores ao mesmo tempo que se alargam horizontalmente,
achatando-se na vertical.
Numa coleção de partículas, à temperatura do zero absoluto, a energia cinética
tem valor zero e a dispersão também é nula. Pela equação de Boltzmann (Eq.. 6) pode-
se observar que todas as moléculas se encontram no nível basal
(ξi - ξo = 0 e e-0 = 1 ∴ ni\no = 1)
58
quando se aumenta a temperatura de 10°C. Admitamos que a energia que as
moléculas devem ter para reagir seja EA (ver Figura. 4). Este valor é chamado de
energia de ativação para a reação em questão e a área abaixo da curva a partir da
seção EA (chuleada na Figura. 4) nos dá o número de moléculas com energia igual ou
superior à energia de ativação. Vemos que esta área para a curva correspondente a
308 K é o dobro da área correspondente para a curva 298 K. Ou seja, em 308 K o
número de moléculas com energia superior à energia de ativação é o dobro do número
de moléculas com energia suficiente para reagir a 298 K, o que vem explicar porque a
velocidade de reação dobra. A razão entre a velocidade de reação a uma dada
temperatura e a velocidade da mesma reação a uma temperatura de 10°C mais baixa é
chamada de coeficiente de temperatura, designado por Q10. Este coeficiente
geralmente tem valor próximo de 2 mas isto não ocorre em todos os processos
podendo o valor de Q10 ser maior ou menor que 2 e nestes casos pode fornecer
informações mais esclarecedoras a respeito dos processos em estudo: se existem
outros fatores que podem ajudar ou dificultar estas reações.
1. Entropia
59
solução, a distribuição mais provável é aquela que tem o soluto distribuído
uniformemente no sistema. Logo, a principal diferença entre o estado inicial e final
deste sistema está no número de combinações (W) nas quais as moléculas do soluto
podem se distribuir pelo volume total disponível para elas. Quanto maior o volume,
maior é o número de maneiras de se distribuir N moléculas de soluto. Assim, podemos
determinar o equilíbrio de um sistema através do grau de desordem, pois há mais
opções nas configurações desordenadas que nas ordenadas.
Resumindo, a tendência universal de todas as transformações é levar os
sistemas ao estado de equilíbrio, o que pode ser correlacionado com rearranjos das
moléculas passando de configurações ordenadas para configurações desordenadas.
Para medir este grau de desordem foi definida uma função de estado chamada Entropia
(S) que está relacionada com o número de combinações (W) conforme a equação:
S = k ln W (7)
dqrev
dS = _________ (8)
T
onde dqrev seria a quantidade infinitamente pequena de calor trocada por um sistema
com os arredores quando sofresse um processo reversível, dS é a variação infinitesimal
de entropia correspondente e T a temperatura absoluta durante esta variação. Como a
entropia é também uma função de estado, a sua variação (∆S) por um processo
qualquer, em um dado sistema, pode ser calculada utilizando-se a equação (8) e um
processo reversível conveniente.
Podemos agora formular o Segundo Princípio: "Num sistema isolado, toda
transformação espontânea é aquela que se dá com aumento de entropia". E como na
Natureza todos os processos são irreversíveis, Clausius formulou o seguinte aforisma:
"A energia do universo é constante, a entropia tende para um máximo".
Na formulação deste conceito devemos enfatizar que se o sistema não for
isolado, os arredores estarão incluídos.
60
Portanto, podemos caracterizar um sistema em termos entrópicos da seguinte
maneira:
Sistema Arredor
←
→
∆Ssistema ∆Sarredores
b) Sistema isolado:
Sistema Arredor
∆Ssistema ∆Sarredores = 0
e portanto,
∆STotal = ∆Ssistema
61
Para melhor esclarecermos este aspecto, consideramos o processo de formação
do corpo humano. Percebe-se que durante o mesmo há aumento da ordem e, portanto,
∆Ssistema < 0 (entropia diminui), concluiríamos pela não espontaneidade deste
processo. Como você explica esta aparente contradição do Segundo Princípio da
Termodinâmica? Na realidade, durante a formação do corpo, temos que considerar o
∆Sarredores que, certamente, foi positivo o suficiente (∆Sarredores >> 0), permitindo que
∆STotal fique também positivo (∆STotal > 0), tornando o processo espontâneo. Portanto,
para definir a espontaneidade de um processo através da entropia, devemos
determinar duas grandezas, ∆Ssistema e ∆Sarredor. Do ponto de vista operacional, a
determinação do ∆Sarredor não é muito prática, devido à conceituação de arredor ser,
em alguns casos, difícil de ser estabelecida. Em vista disso, procurou-se uma nova
função de estado que dependesse de parâmetros restritos ao sistema. Esta nova
função é a chamada energia livre (G).
2. Energia livre
2.1. Conceito
∆G = ∆H - T∆S (9)
∆G = ∆E - T∆S (10)
onde não existe trabalho realizado por variação de volume. Como a maioria dos
processos biológicos que nos interessam se dá a pressão e temperatura constantes, o
valor de ∆G dado pela equação (9) nos permite determinar a espontaneidade destes
processos.
A variação de energia livre recebe este nome porque ela define aquela porção da
variação total de energia (∆H ou ∆E) que é disponível para realizar um trabalho qualquer
62
quando o sistema caminha para o equilíbrio (à pressão e à temperatura constantes).
Atingido este equilíbrio, a entropia do sistema + arredores aumentou ao máximo e G do
sistema atingiu o mínimo, isto é, a capacidade de realizar trabalho pelo sistema em
equilíbrio se torna zero (observe pela equação (9) ou (10), que quanto maior o fator
entrópico T∆S, mais negativo será o valor de ∆G).
Em resumo, quando o sistema se encontrar em equilíbrio, ∆G = 0, e se o sistema
estiver fora do equilíbrio, o processo se dará no sentido de se atingir sempre o valor
mínimo de G. Logo, como ∆G = Gfinal - Ginicial e Ginicial é maior que Gfinal, temos que
∆G<0, e dizemos que o processo é exergônico ou espontâneo. Se determinarmos para
um processo a temperatura e pressão constantes, um valor de ∆G > 0 (processo
endergônico) podemos afirmar que o mesmo não é espontâneo. Vê-se, então, a
importância do parâmetro energia livre: ele nos permite definir o sentido ou a
espontaneidade da transformação de um sistema qualquer. Assim, para reação de
hidrólise de ATP, podemos finalmente dar o seu sentido:
∆G = -30514 J, logo, ela é espontânea, na temperatura e pressão estudadas.
No sistema biológico, ocorrem basicamente três tipos fundamentais de
processos:
primeiro: a troca de informações entre organelas celulares, entre células, entre
célula e meio extracelular. Esta troca se dá graças aos transportes de "mensageiros",
que podem ser moléculas orgânicas (hormônios) ou inorgânicas e mesmo íons. É o
item a ser estudado no próximo capítulo.
63
A variação de energia livre associada a uma dada reação química, depende de
temperatura, pressão e da atividade (= concentração) dos componentes que dela
participam.
Aqui, também, existe o problema da definição da energia livre absoluta do
sistema e para se determinar, então, a variação da mesma no estado padrão,
necessitamos escolher um estado de referência, o qual é justamente definido para a
transformação do sistema a 25°C, 1 atm de pressão e 1 M dos componentes.
Para uma reação química, por exemplo, ∆G° é a variação de energia livre,
partindo-se da concentração padrão (1 M) dos reagentes e produtos e deixando-se a
reação atingir o equilíbrio, a temperatura de 25°C e 1 atm de pressão.
situação inicial A + B → C + D
(T: 25°C, 1 atm)
1M 1M 1M 1M
situação final aA + bB → cC + dD
(T: 25°C, 1 atm)
[A] [B] [C] [D]
onde
[C]c [D]d
Keq = ____________
[A]a [B] b ...
64
aA + bB ↔ cC + dD
[A] [B] [C] [D]
dGi
µi = _____ (14a), onde G = energia livre do componente i e n é o
dn número de moles
Demonstra-se que
∆Gi
_____ = ∆µi = µi1 - µi2 (14b) com
n
Gi1 Gi2
µi1= _____ e µi2 = _____
-n -n
65
onde 1 e 2 são dois diferentes pontos de um sistema ou dois estados de um mesmo
sistema e µi é, portanto, a energia livre molar de um componente i deste sistema.
Demonstra-se que em qualquer processo onde ocorre transferência de massa,
uma das três possibilidades abaixo pode ocorrer, permitindo estabelecer o sentido da
espontaneidade do processo.
Ci (2)
R.T. ln ________
Ci (1)
66
A relação acima corresponde à diferença de energia livre do componente i
decorrente da existência de concentrações diferentes deste componente nas regiões 1
e 2.
Ci (2)
∆µi = µi2 - µi1 = R.T. ln ________
Ci (1)
67
potencial eletroquímico ou de energia livre molar do componente i será a soma
algébrica das diferenças de potencial químico e elétrico vistas anteriormente. Assim:
Ci (2)
∆µi = µi2 - µi1 = R.T. ln ________ + Zi F (Ψ2 - Ψ1)
Ci (1)
R.T. Ci (2)
Ψ2 - Ψ1 = - _____ ln ________
Zi. F Ci (1)
68
liberação de ADP e Pi da cabeça da miosina, em suma, qualquer troca de material
entre músculo e o meio externo).
1. Acoplamento de Transformações
69
70
Figura. 5. Relação entre ligação fosfato de alta energia e o trabalho celular
71
O Sol é a fonte única de energia de toda a vida na Terra. Através de reações
fotossintéticas nas plantas verdes, um pouco desta energia é armazenada na forma de
energia química nos carboidratos.
luz
nCO2 + nH2O → carboidrato + nO2
Esta energia química dos carboidratos recebida pelo homem é convertida nos
seguintes usos finais:
b. manutenção de temperatura
Pouca energia livre é desperdiçada pelo organismo biológico sendo ele por isto,
um sistema bastante eficiente. Em outras palavras, a queima da glicose, por exemplo,
não se dá numa única centelha (como no pouco eficiente motor de combustão interna),
mas numa série de etapas, cada uma das quais diminui o potencial termodinâmico G,
de um degrau relativamente pequeno, que será transferido a ligações químicas de alta
energia. Um exemplo deste tipo de processo será visto em Bioquímica com o nome de
ciclo de Krebs onde se tem que a transferência de energia a cada estágio ocorre
através das ligações fosfato de alta energia. No final deste ciclo tem-se a produção de
38 ligações deste tipo. A combustão de um mol de glicose produz 2.867.480 J de
energia pela via aeróbica, e no sistema biológico, 1.207.184 J desta são convertidos em
ligações químicas de alta energia, que serão envolvidos na manutenção e no trabalho
celular. Logo a eficiência deste sistema é de 42% (!). Para você poder comparar, temos
que uma máquina térmica a vapor, ideal, tem eficiência de 21,4% (se queimasse a
mesma quantidade de glicose).
72
Das relações lógicas da Energética chega-se à seguinte sinopse:
∆G, ∆µ e ∆µ
Energia Livre, Potencial Químico e
Eletroquímico
73
2. Estado de fluxo constante ("steady state")
74
VIII. CONCLUSÃO
75
IX. BIBLIOGRAFIA
Katchalsky, A. K. e Curran , P. F.
"Non Equilibrium Thermodynamics on Biophysics"
Castellan, G. W. "Físico-Química"
76
QUESTIONÁRIO DE BIOENERGÉTICA
b) Estado 1 - Sistema composto por uma panela com tampa contendo água a 25°C.
Estado 2 - Sistema composto da mesma panela contendo água a 100°C.
Processo: Aquecimento
77
3. A concentração de 1 l de uma solução de NaCl é 0,75 M a 25°C. Qual será a
concentração de 50 ml desta mesma solução? Classifique as seguintes funções de
estado: temperatura, no de moles de NaCl, massa de soluto, concentração, volume.
6. Discuta os resultados obtidos com a reação do piruvato dando lactato (pg. 40). Por
que este experimento serve para entendermos o Primeiro Princípio da Termodinâmica?
7. Defina entalpia e por que se diz que em processos biológicos, a sua variação é
praticamente igual à variação da energia interna?
∆E (J)
b) H+ + CH3-COO- → CH3COOH 0
78
10. Quatro moléculas (a, b, c, d) se difundem livremente entre dois compartimentos de
mesmo tamanho. Analise esta difusão em termos de estado mais provável (W),
equilíbrio e entropia do sistema.
11. Nos processos abaixo, ∆Ssist é positivo ou negativo? Quais processos são
espontâneos?
Qual destes dois antibióticos parece ter maior probabilidade de uso terapêutico?
79
16. Se num sistema em que diferentes processos estão ocorrendo temos ∆GTotal = 0,
significa que ∆µi também é nulo?
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------
íon meio intracelular (mM) meio extracelular (mM)
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Na+ 12 145
K+ 155 4
Cl- 4 117
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------
80
20. Por que se diz que o organismo vivo está em "Steady State" (fluxo constante) e não
em equilíbrio?
81
DIFUSÃO - OSMOSE
Conexões com outras disciplinas: Nefrologia, Clinica Médica, Exame Laboratorial etc.
82
DIFUSÃO EM MEMBRANAS ARTIFICIAIS
I. DIFUSÃO DE SOLUTO
1. Introdução e objetivos
c. Transporte ativo: por exemplo, de Na+ e K+ através das membranas; retirada ativa
do Ca2+ do sarcoplasma para o retículo através de uma bomba de Ca 2+ (relaxamento
muscular).
83
No tópico seguinte do curso (2° semestre) você terá a oportunidade de estudar a
difusão simples e outros tipos de transporte em uma membrana biológica (pele de
anfibio).
Entende-se por sistema contínuo, um sistema no qual não existe barreira física
(membrana) entre duas regiões adjacentes do sistema. Consideremos nosso sistema
em estudo como uma solução. Sabendo-se que as moléculas estão em contínuo
movimento, temperatura-dependente (Lei Zero da Termodinâmica), é fácil imaginar que
as mesmas se movimentam ao acaso, de uma região para outra do sistema e que
possam ocorrer colisões entre as mesmas (movimento browniano).
Se as propriedades da solução forem iguais em toda sua extensão, o
deslocamento de cada partícula para qualquer direção do espaço tem a mesma
probabilidade de ocorrer.
Assim, se admitirmos as moléculas cruzando uma área limite imaginária no
interior da solução separando duas regiões, verificaremos que, um dado instante, o
número de moléculas que cruzam em um dado sentido é igual ao número de moléculas
que cruzam no sentido inverso. Consequentemente, o deslocamento resultante do
conjunto de moléculas será nulo. Todavia, se existir diferenças de concentração entre
duas regiões da solução, o movimento ao acaso de partículas determinará que, num
dado instante, um número maior de partículas atravesse o limite imaginário da região
de maior para a de menor concentração, criando assim um fluxo. Chamamos esse
fenômeno de difusão. Tomemos como exemplo a difusão de glicose através de dois
elementos de volume adjacentes e iguais de uma solução.
84
Na situação inicial A, o compartimento 1 contém solução de glicose 20 mmol/l e o
compartimento 2 contém água pura. Em B, após um dado intervalo de tempo algumas
moléculas passam para o compartimento 2, devido ao movimento ao acaso das
moléculas de glicose no compartimento 1. Podemos então definir um fluxo unidirecional
de glicose do compartimento 1 para o compartimento 2 (J12).
Conforme as moléculas de glicose vão passando para o compartimento 2,
aumenta a concentração de glicose neste último. Consequentemente, teremos agora
um aumento na probabilidade das moléculas de glicose que se encontram no
compartimento 2 de retornar ao compartimento 1. Podemos então definir outro fluxo
unidirecional de glicose do compartimento 2 para o compartimento 1 (J21).
O aumento resultante na concentração de glicose no compartimento 2 é dado
pela diferença entre os fluxos unidirecionais, J12 e J21, e é chamado de fluxo
resultante.
À medida que o tempo vai passando, o fluxo resultante provoca a diminuição da
concentração de glicose no compartimento 1 e aumento da mesma no compartimento
2. Em um dado momento, as concentrações de glicose dos dois compartimentos
tornam-se iguais, bem como os fluxos de glicose em ambos os sentidos (J12 = J21),
tornando-se nulo o fluxo resultante. O sistema alcançou então, o equilíbrio de difusão,
não ocorrendo nenhuma alteração subseqüente na concentração de glicose nos
compartimentos. Isto está mostrado na Figura 1, na situação C, onde a concentração
de glicose nos compartimentos 1 e 2 é de 10 mmol/l.
Assim podemos observar que:
1. A difusão de moléculas sendo um processo espontâneo, sempre ocorre da região de
maior para a de menor concentração.
2. No processo de difusão existem 3 fluxos, dois unidirecionais, J12 e J21 e o fluxo
resultante. O fluxo resultante determina a quantidade de material que é transferida de
uma região para outra e é dado pela equação:
85
3. Difusão através de uma membrana
Ji = civi (1)
86
J i= cimifi (2)
Em geral, a força pode ser definida como a variação da energia com a distância
(dE/dx). Deste modo, a força atuante sobre um mol de matéria é o gradiente de energia
livre por mol ou o gradiente do potencial químico (µ) no caso das moléculas não
serem carregadas e eletroquímico, (µ) no caso de se tratar de íons. Assim,
Ji = Di (∆ci/∆x) (5)
87
Notamos portanto que o fluxo de um soluto i é diretamente proporcional ao
coeficiente de difusão, à diferença de concentração entre os dois compartimentos e é
inversamente proporcional à espessura da membrana.
A espessura da membrana ∆x, nem sempre é fácil de ser determinada, por isso
definimos um outro coeficiente, o coeficiente de permeabilidade, Pi:
Pi = (Di/∆x) (6)
Ji = Pi∆ci
ou
Ji = Pi (ci2 - ci1) (7)
Se ci2 < ci1 então ∆ci < 0 e teremos um fluxo resultante de i do compartimento de
maior para o de menor potencial químico (Ji > 0), sendo portanto a difusão um processo
espontâneo.
88
3.2. Coeficiente de permeabilidade
J = J12 + J21
89
(Obs. J12 e J21 têm sinais contrários)
Em uma difusão simples, o fluxo de uma partícula em um sentido é sempre
proporcional à concentração do compartimento de origem do fluxo, teremos então:
J12 = P c1 (6)
J21 = P c2 (7)
J = P ∆c
90
4. Resumo e conclusões
91
II. FLUXO DE ÁGUA (OSMOSE)
1. Introdução
2. Pressão osmótica
ímembrana semi-permeável
1 2 1 2
∆P
A B
H2O H2O
92
1). Há um fluxo de água do compartimento 1, de maior potencial químico em H 2O, para
o compartimento 2, de menor potencial.
3). De maneira óbvia, o equilíbrio será atingido quando os fluxos de água nos dois
sentidos (de 1→2 em consequência da diferença de concentração do soluto
impermeante e de 2→1 em consequência da ∆ P) serão iguais.
Na condição de equilíbrio, a ∆P necessária e suficiente que deve ser aplicada no
compartimento mais concentrado é denominada pressão osmótica da solução (π ).
Por definição, pressão osmótica de uma solução é a diferença de pressão que
deve existir entre esta e seu solvente puro para que não haja fluxo de solvente através
de uma membrana semi-permeável. Seu valor é dado pela equação de van't Hoff:
∆P = π = R.T.∆Ci (1)
93
Exemplo 1
π = R.T.∆C
π = R.T. (C2 - C1) como C1 = 0
π = R.T.C2
π = 247,34 x 103 Pa
Exemplo 2
π = R.T. (0,5 + 1 + 1 - 1)
π = R.T. (1,5)
π = 3710,1 x 103 Pa
94
3. Osmolaridade de uma solução
95
Figura 3. Variação no volume celular em função da tonicidade da solução em relação à
célula.
96
III. BIBLIOGRAFIA
97
QUESTIONÁRIO DE DIFUSÃO
Compartimento 2: glicose 1M
NaCl 1M
1 2 1 2
98
6. a) Calcule a osmolaridade das seguintes soluções:
Solução B: KCl 35 mM
NaHCO3 0,07 M
CaCl2 15 mM
glicose 300 mM
99
8. Discuta a Lei de Lambert-Beer e tente imaginar uma situação em que ela não é
obedecida.
100
IV. PARTE EXPERIMENTAL
I- Introdução
101
B. INTRODUÇÃO GERAIS PARA USO DO FOTÔMETRO
4) Inserir no aparelho uma cubeta (de mesma espessura que a usada para o
"branco") com a solução cuja absorbância ou transmitância se deseja saber, e fazer a
leitura no galvanômetro. Procure o instrutor que mostrará para você como se maneja e
calibra o colorímetro fotoelétrico.
102
C. CONSTRUÇÃO DA CURVA PADRÃO DE PERMANGANATO DE POTÁSSIO
(FOTOMETRIA)
OBJETIVO: CONSTRUIR UMA CURVA PADRÃO DE KMNO4 QUE SERÁ UTILIZADA PARA SE DETERMINAR
CONCENTRAÇÕES DESCONHECIDAS DE SOLUÇÕES DESTA SUBSTÂNCIA (VIDE A SEGUNDA AULA).
103
2. PROTOCOLO PARA CONSTRUÇÃO DA CURVA PADRÃO DE KMNO4
104
D. DIFUSÃO DE PERMANGANATO DE POTÁSSIO ATRAVÉS DE MEMBRANA DE
CELOFANE.
Montagem experimental:
No compartimento D coloca-se KMnO4 0,5 g/l (10 ml), através de uma seringa.
Verifique se não há vazamento para fora ou para a outra câmara. Se não houver,
coloque água destilada na Câmara E. Introduza neste último compartimento (E) o
agitador elétrico, ligue o motor e inicie a contagem do tempo. Aos cinco (5) minutos
retire toda a solução da Câmara E com uma seringa e recolha-a num tubo de vidro
rotulado. Lave a câmara E com um pouco de água destilada e recoloque água destilada
neste compartimento repetindo as manobras anteriores. Aguarde dez (10) minutos
desta vez. Repete-se estas operações até preencher a seguinte tabela:
105
Tabela 1
Procedimento:
106
ORIENTAÇÃO PARA DISCUSSÃO DO RELATÓRIO
2. Por que foi escolhido o λ = 525 nm? O que aconteceria se a curva padrão fosse lida
em um outro λ ?
107
IV. MEDIÇÕES E ERROS
A Biologia, que até recentemente era uma ciência muito empírica e descritiva, tem
sofrido um grande impulso devido a aplicação dos métodos quantitativos da Física e da
Química no estudo de fenômenos biológicos. Em consequência, a descrição
quantitativa assumiu grande importância para os biologistas, e em particular para os
médicos, que devem estar bem capacitados para aquilatar o valor e as limitações dos
dados numéricos com que eles tem que se haver constantemente. Entre estes
preponderam os que representam medidas, isto é, números obtidos através de
medições.
O termo erro pode ter dois significados diferentes: 1) diferença entre um valor
medido e o valor "verdadeiro” (desvio), e 2) incerteza estimada de um experimento.
Neste caso é o valor que acompanha a media do experimento, por exemplo, 123,45 +
0,06, onde o erro tem a mesma unidade que a media (Há, ainda, o termo discrepância
que significa falta de coincidência entre duas medidas de uma grandeza, tenham sido
obtidas no mesmo experimento, pela mesma pessoa ou não).
Os erros são usualmente classificados em sistemáticos e acidentais.
Erros sistemáticos são aqueles que ocorrem por um vício constante da técnica
de medição. O uso de instrumentos com calibração errada, por exemplo, uma régua
que marca 30 cm quando deveria marcar 29,7 cm, é uma das causas possíveis de
erros sistemáticos (erro instrumental). Outras causas comuns de erros sistemáticos são
o uso de métodos de medição inadequada (erro metodológico) e vícios do observador
(erro pessoal).
108
Se fizermos um numero muito grande de medições da mesma grandeza e ao
representarmos graficamente, colocando em abscissas os valores encontrados e em
ordenadas a frequência com que cada valor foi obtido, teremos uma distribuição normal
de freqüências ( Fig. 1), em que a medida obtida mais vezes (com maior frequência)
será o valor médio de todas as medidas obtidas. Quanto maior numero de vezes for
feita uma medição, maior será a probabilidade de os erros positivos anularem os
negativos na obtenção da media aritmética, que merecerá maior confiança. Entretanto,
isto não significa que para se obter o valor "real" de uma magnitude basta se fazer um
numero grande de medições e calcular sua media, pois por maior que seja o numero de
medições feitas o erro sistemático porventura existente não será corrigido. A figura 1
ilustra este aspecto mostrando a distribuição de freqüências dos dados obtidos na
medição de uma grandeza.
O erro acidental é a causa da dispersão das medidas em torno de seu valor médio
e o erro sistemático é responsável pela diferença entre o valor médio encontrado
e o valor real da grandeza.
Exatidão e Precisão. Diz-se que uma medida tem grande exatidão quando em
sua obtenção houve pequeno erro sistemático. Diz-se que uma medida tem
grande Precisão quando foi obtida com pequeno erro acidental. Exatidão e
precisão são, pois, qualidades diferentes das medidas que podem ou não ocorrer
juntas.
109
instrumentos de medida. Em ambos casos os erros acidentais originam falta de
precisão e o erros sistemáticos originam inexatidão.
Figura. 2. Alvos atingidos por tiros disparados por diferentes atiradores utilizando armas
diferentes.
EXERCÍCIO
Figura. 3. Distribuição de frequência das medidas de uma mesma grandeza feitas com
quatro técnicas diferentes: (1) precisão e exatidão; (2) precisão e exatidão; (3) precisão
e exatidão e (4) precisão e exatidão.
110
Essas grandezas são chamadas de padrões e sua magnitude real é definida por
convenção. Por exemplo, a distância entre duas marcas em uma barra de platina
iridiada e mantida a 0°C no Instituto de Pesos e Medidas de Paris, é definida como
sendo de um metro. Este é, por definição, o comprimento real da barra entre as duas
marcas. Para conhecermos a exatidão de uma fita métrica, por exemplo, medimos com
ela o comprimento padrão e após afastado o erro acidental (realizando-se várias
medidas e tirando-se a media), determinamos a diferença entre o valor obtido e o valor
real, que nos dará o erro sistemático do instrumento. Este processo é chamado
calibração do instrumento. Uma vez conhecido o erro sistemático da fita métrica,
dizemos que ela está calibrada é sempre que a usarmos em medições poderemos
corrigir o valor das medidas efetuadas eliminando o erro sistemático .
111
V. FOTOMETRIA
1. Introdução
E = hυ = h c/λ (1)
112
Tabela I. Principais tipos de radiações eletromagnéticas em função do seu valor
energético e de seu comprimento de onda.
113
molecular de modo que os elétrons de diferentes moléculas são capazes de absorver
diferentes e bem definidas quantidades de energia da radiação eletromagnética
incidente.
Por isso, quando a luz visível ou ultra violeta incide sobre certos tipos de
molécula, estas absorvem apenas a radiação com comprimentos de onda cujas
energias correspondem às transições eletrónicas permissíveis. Cada molécula,
portanto, possui um espectro de absorção de luz característico, que pode permitir a sua
identificação. Como exemplo, a figura 1 mostra o espectro de absorção de quatro
moléculas diferentes (o termo absorbância será definido posteriormente).
114
Figura. 1. Espectros de absorção da luz ultravioleta e visível por soluções aquosas da
tirosina (I), para-nitrofenol (II), hemoglobina (III) e CuSO4 (IV).
2.2. Espectrofotômetro,
115
depende da posição do prisma
11. Amplificador
3. Colorimetria
Por definição, colorimetria e uma parte da fotometria pelo qual pode-se obter a
concentração de soluções através da medida de suas respectivas absorções da luz em
um dado comprimento de onda (de uma dada cor). Geralmente este comprimento de
onda está no intervalo de 350 nm a 850 nm que corresponde ã faixa de luz visível.
116
de absorver energia desse comprimento de onda (λ), parte da luz que incide sobre a
solução e absorvida e não emerge do outro lado. Chama-se transmitância (T) a razão
entre a intensidade de luz emergente I, e a intensidade da luz incidente Io:
I onde o valor de
T=- T (adimensional) (2)
Io e rotineiramente dado em (%)
T = 10 -ε .c.l
(3)
A = ε.c.l
117
filtros que são feitos de vidro colorido e rotulados com o valor do principal comprimento
de onda que eles deixam transmitir. Note-se, entretanto, que o filtro não transmite luz
monocromática mas sim um feixe de comprimentos de onda. A luz transmitida pelo filtro
passa através de uma cubeta (C), de calibre determinado, que contem a solução em
estudo, e vai incidir sobre uma célula fotoelétrica (S), que traduz a intensidade luminosa
em um sinal elétrico que e detectado por um galvanômetro, G. A escala do
galvanômetro pode ser graduada de modo a indicar a transmitância ou a absorbância
da solução colocada em C. A escala de transmitância vai de 0% (T = 0) até 100% (T =
1) [100 % de transmitância significa que toda a luz incidente é transmitida, donde I = I o e
T=I/Io =1; 30% de transmitância significa que I = (30/100).Io, donde T=I/Io = 0,3; e assim
por diante]. A escala de absorbância é graduada desde 0 (correspondendo a 100% na
escala de transmitância, pois se T = 1, A = - log 1 = 0) até ∞ correspondente a T = 0,
pois - log 0 = ∞).
4 Conclusão
118
ESTRUTURA DE MEMBRANA BIOLÓGICA
TIPOS DE TRANSPORTE
BIOELETROGENESE
119
MEMBRANA BIOLÓGICA
(ESTRUTURAÇÃO E TRANSPORTE)
1. Introdução e objetivos
A vida de qualquer ser vivo depende da sua capacidade de interação com o meio
em que vive. Se considerarmos isto a nível celular, observaremos que a vida da célula
depende da troca de informações e de substâncias entre o meio externo (extracelular
ou intersticial) e o meio interno, através da membrana. Podemos visualizar a célula
como um conjunto de compartimentos, cada qual com composição química diferente e
com capacidade de realizar conjuntos distintos de reações químicas. Cada
compartimento é, portanto, separado dos demais por uma membrana. Assim temos,
além da membrana plasmática, as membranas que envolvem cada organela celular
(mitocôndria, sistema de Golgi, núcleo, etc.). Já que, para a sua sobrevivência, a célula
necessita receber matéria prima e eliminar os produtos manufaturados (mantendo ao
mesmo tempo a constância do meio intracelular), sua unidade estrutural básica é a
membrana cuja função é a de agir como barreira à entrada e saída de substâncias.
O objetivo principal das aulas a seguir é, em primeiro lugar, analisarmos a
estruturação das membranas biológicas não somente em termos puramente de
composição química, mas também do ponto de vista bioenergético baseando-nos nos
princípios e conceitos vistos anteriormente. O entendimento mais completo de como, no
caso das membranas biológicas, diferentes moléculas orgânicas ou íons dispersos
aleatoriamente em meio aquoso tendem espontaneamente para a formação de uma
estrutura definida, servirá de modelo de raciocínio a ser extrapolado para a formação
de outras estruturas complexas como a célula, tecidos e órgãos.
Em segundo lugar pretendemos analisar alguns fenômenos físico-químicos
envolvidos no transporte de substâncias através da membrana, visualizar os fatores
que influenciam estes transportes, caracterizar os tipos de transporte existentes na
célula e, finalmente, descrever as propriedades da membrana de uma célula excitável
em repouso e em atividade.
Um ser vivo deve ser encarado como uma entidade dinâmica permanentemente
sofrendo transformações. Se, por um lado, os constituintes orgânicos interagem na
busca de uma maior estabilidade (menor conteúdo de energia livre), por outro lado,
precisam de uma fonte externa de energia para reativar todos ou alguns destes
120
estados, estabelecendo uma sequência de transições cíclicas que no final de tudo irão
possibilitar a manutenção da vida propriamente dita (em estado de fluxo constante).
O organismo vivo é constituído predominantemente de água, moléculas
orgânicas grandes e pequenas e de íons que se complexam em diversos níveis de
organização (complexos moleculares livres, organelas, células, tecidos, órgãos, etc.),
de modo a formar um conjunto harmônico e capacitado a exercer funções múltiplas e
altamente sofisticadas, como as requeridas nos mecanismos vitais.
Quais serão, portanto, as bases energéticas (termodinâmicas) que no final das
contas irão explicar, por exemplo, que moléculas de miosina se "atraiam" formando o
filamento grosso em um sarcômero, ou que moléculas de naturezas químicas diferentes
como lipídeos, proteínas, íons e água acabem formando uma estrutura extremamente
ordenada e complexa como a membrana?
Para que possamos começar a responder, em parte, a perguntas desta natureza,
precisamos agora introduzir ou relembrar resumidamente certos conceitos básicos.
a) Interações eletrostáticas
b) Interações polares
C=O C N S H O H N H
δ + δ- δ+ δ- δ- δ+ δ- δ+ δ- δ+
121
As pontes de hidrogênio constituem um caso especial de interação polar,
apresentando um requisito geométrico bastante definido:
NH------------O = C
2.2. Água
δ-
O
H H
δ+ δ+
122
É, portanto, uma molécula polarizada (dipolo permanente), formando
predominantemente pontes de hidrogênio com outros grupamentos polares ou com
outras moléculas de água. Soluções aquosas puras são geralmente constituídas, não
apenas por moléculas de água aleatoriamente dispersas, mas por uma mistura de
complexos, alguns dos quais estão representados a seguir:
O O O O
H H H H H H H H
O O O O
H H H H H H H H
O O
H H H H
∆ G = ∆H - T∆S
∆G = ∆E - T∆S
123
Quanto maior a diminuição da entalpia e/ou aumento da entropia (desordem do
sistema) mais estável será a estrutura formada, pois esta atinge um valor mínimo de
energia livre (∆ G << 0).
Voltemos agora ao exemplo de um complexo sendo formado a partir de uma
mistura heterogênea de inúmeras moléculas orgânicas e íons e tendo-se a água como
o único solvente deste processo de estruturação. Logicamente a espontaneidade ou
não da formação deste complexo será dependente da somatória dos fatores entálpicos
e entrópicos de todas as interações químicas efetuadas (formadas ou rompidas) entre
os diferentes solutos entre si e com as moléculas de água.
Para que possamos entender melhor este processo da formação do complexo,
precisamos agora introduzir o seguinte tópico:
|||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Composto apolar + H2O ⇔ Composto apolar
|||||||||||||||||||||||||||||||||||||
água mais
estruturada
(∆S < 0)
124
hidrofóbica. Um exemplo simples e clássico deste tipo de interação é a mistura água :
benzeno (apolar). As moléculas de benzeno se associam entre si, fora do contato com
a água. Forma-se, portanto, uma solução com duas fases imiscíveis.
|||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Composto polar + H2O ⇔ Composto polar
|||||||||||||||||||||||||||||||||||||
água mais
estruturada
(∆S < 0)
125
Sabendo-se que muitos dos componentes biológicos como proteínas e lipídeos
podem apresentar dualidade de funções químicas, isto é, regiões polares e apolares em
uma mesma molécula (próximo tópico), os mesmos se orientarão e se associarão na
mistura aquosa heterogênea de conformidade com estas regras termodinâmicas
citadas, à procura sempre de um estado final mais estável.
126
Figura 2. Localização dos resíduos de açucares de glicoproteínas e glicolipídeos na
superfície externa da membrana plasmática de mamíferos.
3.1. Lipídeos
127
Figura 3. Representação esquemática de moléculas de fosfolipídeos.
128
Tabela 1. Unidades hidrofóbicas e hidrofílicas de lipídeos de membrana
cadeia de hidrocarboneto
da esfingosina
cadeia de hidrocarboneto
da esfingosina
grupo OH
129
Figura 5. Estrutura geral de uma micela.
Nas micelas, os lipídeos posicionam-se de modo a ter a cabeça polar para fora,
em contato com o solvente ou íons, e a cauda apolar para dentro. A constituição de
uma micela é regida por dois mecanismos básicos:
130
Figura 6. Estrutura de um lipossomo.
3.2. Proteínas
131
b. Proteínas integrais ou intrínsecas
132
para a membrana celular tornam-se altamente improváveis. Por exemplo, analisemos o
modelo clássico de um arranjo trilamelar de uma bicamada lipídica contínua disposta
entre duas monocamadas de proteínas. Esse modelo é termodinamicamente instável
não somente porque os resíduos de aminoácidos apolares das proteínas estão
amplamente expostos à água, mas também porque os grupos iônicos e polares dos
lipídeos estão sequestrados do contato com a água por uma camada de proteínas.
Desta forma, nem interações hidrofóbicas nem hidrofílicas estão facilitadas neste
modelo clássico.
As considerações termodinâmicas e os resultados experimentais obtidos até
agora se encaixam no modelo do mosaico fluido proposto em 1972 por Singer e
Nicholson (Figura 8). Neste modelo as proteínas periféricas e os carboidratos
posicionam-se em contato com o meio aquoso externo. As proteínas integrais
constituem um conjunto heterogêneo de moléculas globulares, cada uma delas
arranjada em uma estrutura anfipática, com os grupos iônicos e polares destacando-se
da membrana e entrando em contato com o meio aquoso e os grupos apolares
mantidos no interior hidrofóbico da bicamada lipídica da membrana.
133
Este aspecto da fluidez é de grande importância para a função biológica das
membranas pois este estado semilíquido (semelhante ao azeite de oliva) permite um
alto grau de movimentação de muitos componentes de sua estrutura. Tal fato introduz
uma concepção dinâmica para as membranas celulares, onde as proteínas e os
lipídeos difundem-se rapidamente no plano da membrana (difusão lateral), a menos
que sejam restritos por interações especiais (presença de colesterol). Em contraste, a
rotação de proteínas ou lipídeos de uma face a outra da membrana (difusão transversa
ou "flip-flop") é em geral muito lenta.
Concluindo, todas estas considerações feitas até o momento permitiram um
entendimento mais completo da estruturação de uma membrana biológica e é esta sua
natureza dinâmica e complexa que vai lhe possibilitar exercer diferentes funções vitais,
tais como:
134
Os principais pontos da difusão são:
3. O fluxo de soluto é dado pela lei de Fick, J = P∆C, onde J representa o fluxo
resultante do soluto (mol.cm-2. min-1), ∆C representa a diferença de concentração entre
os dois compartimentos (mol/l) e P representa a permeabilidade da membrana ao
soluto (cm.min-1).
Diversos fatores influenciam a permeabilidade da membrana celular aos
solutos, tais como coeficiente de partição (ver mais adiante), tamanho e conformação
molecular, carga do soluto, etc.
A velocidade com que uma substância atravessa a membrana celular pode ser
medida pela velocidade com que a concentração intracelular (Ci) aumenta quando a
célula é colocada em uma solução contendo a substância (Figura 9).
135
barreiras que só podem ser ultrapassadas pelas moléculas que possuírem energia de
ativação suficiente. A seguinte ilustração esclarece o problema:
→ fácil difícil →
MASL MASL - molécula com alta
solubilidade em lipídeos ou alto
coeficiente de partição
→ difícil fácil →
MBSL MBSL - molécula com baixa
solubilidade em lipídeos ou baixo
coeficiente de partição
136
Figura 10. Relação entre coeficiente de partição (Cóleo/Cágua) e a constante de
permeabilidade para diversas moléculas.
137
4.2. Transporte passivo mediado (difusão facilitada)
a) Especificidade química
b) Saturação
138
externo (Je→i = PCe), considerando-se constante o valor da concentração no meio
intracelular (Ci).
No transporte mediado, o influxo aumenta com a concentração extracelular da
substância até um determinado ponto. Existe, portanto, uma velocidade máxima de
transporte e quando esta é atingida, dizemos que o sistema atingiu a saturação (Figura
12).
F
Figura 12. Comparação entre o transporte passivo simples e o mediado quanto à
saturação.
c) Competição
139
Figura 13. Comparação entre o transporte passivo simples e o transporte passivo
mediado quanto à competição.
140
Cinética do transporte realizado por carregador
Se Si
C ⇔S
k1 k3
→ →
S + C SC C+S
←
k2
(S - q) (C - q) (q)
Onde:
C: concentração de carregador livre na membrana
Se: concentração da substância a ser transportada no compartimento externo (S)
Si: concentração da substância a ser transportada no compartimento interno
SC: concentração do complexo substância-carregador (q)
k: constantes de velocidade das reações
141
k2 = Km = [S].[C] -[S].[q]
k1 [q]
[q] = [C]
Km/[S] + 1
v = k3 [SC] = k3[q]
v = k3 . [C]
Km + 1
[S]
onde:
142
Km: é a constante de Michaelis-Menten e corresponde à concentração de substância
sendo transportada com velocidade correspondente à metade da velocidade máxima. A
equação acima corresponde à equação matemática
y= ax
b+x
1 = b . 1 + 1
y a x a
1 = Km . 1 + 1
V Vmáx [S] Vmáx
Sabendo-se que existe uma relação direta entre velocidade (v) e fluxo (J), dada
pela equação J = v.c (c = concentração), podemos também escrever a equação acima
de modo similar, usando o conceito de fluxo:
1 = Km . 1 + 1
J Jmáx [S] Jmáx
143
que as células vivas podem manter um "steady state " somente através do fornecimento
de energia livre no mesmo ritmo em que a mesma é espontaneamente degradada; a
fonte para esta energia é o metabolismo bioquímico dos substratos energéticos.
Assim, ao contrário dos transportes passivos simples e passivo mediado, o
transporte ativo ocorre contra ou na ausência de gradiente químico ou eletroquímico,
com utilização de energia metabólica. É, portanto, dependente de substratos
energéticos tais como a glicose, ou do metabolismo aeróbico quando O2 será
consumido, sendo que o ritmo do transporte está relacionado estequiometricamente
com o consumo de energia. Apresenta sensibilidade a venenos metabólicos que inibam
ou desacoplem as reações metabólicas, como por exemplo o DNP (dinitrofenol).
Também se dá por meio de carregadores e portanto apresenta, como o transporte
mediado, as características de especificidade química, competição e saturação.
144
Tabela 2. Principais características dos diferentes tipos de transporte
145
5. Bioeletrogênese
A B C D
K+ K+ K+ K+ K+ K+ K+ K+
146
entre os compartimentos 2 e 1 retarda a passagem de potássio do compartimento 1
para o 2, agindo, portanto, em sentido oposto ao gradiente de concentração (B). O
gradiente de concentração ainda consegue suplantar o efeito oposto gerado pelo
gradiente elétrico (C). Esta situação evolui até o momento em que o equilíbrio é atingido
(D), quando a difusão do potássio devido ao gradiente de concentração do
compartimento 1 para o 2 for igual à passagem de potássio do compartimento 2 para o
1 devido ao gradiente elétrico. Portanto, para o sistema atingir o equilíbrio, existe a
atuação de duas forças iguais, mas em sentidos opostos: a força devida ao gradiente
de concentração favorecendo J1→2, e a força devida ao gradiente elétrico criado
favorecendo J2→1.
O potencial elétrico de equilíbrio é dado pela equação de Nernst (como já visto
anteriormente):
∆Ψ 2 - 1 = - R.T ln C2
Z.F C1
147
5.2. Membrana permeável a todos os íons
A B C
148
diferente de zero), observa-se o surgimento de uma diferença de potencial elétrico de
caráter transitório ou dissipativo.
No equilíbrio, a ∆Ψ através da membrana será nula uma vez que o gradiente de
concentração dos íons difusíveis através da membrana também se anula. O perfil da
evolução temporal da diferença de potencial através da membrana é:
149
Em um gráfico ∆Ψ x tempo, observaríamos o aparecimento de uma ∆Ψ estável e
constante através da membrana, que não corresponderia a uma ∆Ψ de equilíbrio, uma
vez que o sistema não se encontraria neste estado (∆µ ≠ 0, Jres ≠ 0)
C+ C+
A- A-
P-
Int Ext
Onde:
150
[Ae] = concentração de ânion difusível no compartimento externo
[Pi] = concentração de ânion não difusível no compartimento interno
• Eletroneutralidade:
Ψi - Ψe = R.T ln Ce
F Ci
Ψi - Ψe = R.T ln Ai
F Ae
151
•Desequilíbrio Osmótico:
Esta é outra consequência do equilíbrio de Donnan. Quando ele é atingido, a
concentração iônica total (cátions e ânions) no compartimento que contém o ânion não
difusível é maior que a concentração de íons no outro compartimento. Isto origina uma
diferença de pressão osmótica entre os dois compartimentos, de sérias consequências
para a vida celular (como já visto anteriormente).
A existência de ânions intracelulares incapazes de atravessar a membrana
celular origina distribuição assimétrica dos cátions e ânions permeantes. Quando o
equilíbrio é atingido, a relação de concentrações dos íons deve obedecer a seguinte
distribuição (considerando apenas o Na+, o K+ e o Cl- dentre os íons difusíveis presentes
nos meios extra e intracelular):
6. Potencial de Repouso
152
membrana apresenta coeficiente de permeabilidade diferente em relação às espécies
iônicas envolvidas. A diferença de potencial pode ser transitória (item 5.2.1.), ou estável
se o sistema for mantido em condição estacionária (item 5.2.2.) ou evoluir para uma
situação de equilíbrio (itens 5.2. e 6). Nosso sistema de estudo, a célula, consiste em
um sistema mantido em condição estacionária: o potencial através da membrana, bem
como as concentrações iônicas intracelulares, não se alteram com o tempo apesar do
fluxo constante de massa.
O meio celular é constituído por proteinatos carregados negativamente (em
decorrência do pH intracelular) e por íons tais como sódio, cloreto, potássio, hidrogênio,
magnésio, bicarbonato, fosfato e cálcio. Com exceção dos proteinatos, a membrana
plasmática é seletivamente permeável a estes íons. No entanto, os íons que podem
contribuir para a gênese do potencial através da membrana são o Na+, o K+ e o Cl-
(cujas distribuições celulares estão mostradas na tabela abaixo) por estarem presentes
nos tecidos vivos em quantidades bem maiores do que as outras espécies iônicas,
cujos fluxos resultantes podem ser desprezados.
Tabela 3. Distribuição dos íons sódio, potássio e cloreto em uma célula muscular de
mamífero, cujo potencial de repouso é de -90 mV.
intracelular extracelular
(mM) (mM)
K+ 155 4 -97
Os cálculos de ∆µ para cada um dos íons, através dos dados da tabela acima,
permitiriam verificar que na célula muscular em repouso ocorre um fluxo resultante de
K+ para fora da célula (efluxo) e um fluxo resultante de Na + para dentro da célula
(influxo), enquanto que o fluxo resultante de Cl- é nulo (o Cl- encontra-se em equilíbrio
eletroquímico através da membrana). A permeabilidade da membrana é cerca de 100x
maior ao K+ do que ao Na+ e assim, admitindo-se inicialmente que não exista potencial
de membrana, para cada 100 íons potássio que saem, 1 íon sódio entra na célula.
Portanto, a separação de cargas através da membrana celular é devida primariamente
à difusão de potássio através da célula (tanto é assim, que o potencial de repouso da
célula muscular encontra-se muito próximo ao potencial de equilíbrio do K+ e muito
153
afastado, com polaridade inversa, do potencial de equilíbrio do Na+). Com o
desenvolvimento do potencial elétrico, ocorre uma diminuição gradativa do fluxo
resultante de K+ e um aumento do fluxo resultante de Na+ através da membrana. Estes
dois fluxos resultantes em sentidos opostos se igualam a partir do momento em que o
potencial elétrico atinge o valor de -90 mV, que é o potencial de repouso. Nesta
situação, não existe mais fluxo resultante de cargas positivas através da membrana; o
sistema atinge o estado estacionário, não ocorrendo alteração imediata na magnitude
do potencial. Todavia, o sistema não poderia permanecer assim por muito tempo uma
vez que continuaria ocorrendo perda de K+ e ganho de Na+ pela célula de tal modo que
a concentração intracelular de K+ diminuiria e a de Na+ aumentaria com o decorrer do
tempo. Embora estas alterações devessem ocorrer muito lentamente pelo fato de os
fluxos resultantes destes íons serem muito pequenos, a longo prazo observaría-se
diminuição do gradiente dos íons K+ e Na+, com consequente diminuição de seus
potenciais de difusão e do potencial de membrana. Entretanto, não é isto que se
verifica. A célula muscular mantém o seu potencial de repouso durante muito tempo e
as concentrações de K+ e Na+ são mantidas constantes. O potencial de repouso é
mantido graças à atuação de transporte ativo, onde um transportador específico
(bomba de Na+ e K+), utilizando energia metabólica, retira Na+ do meio intracelular e
repõe o K+ no interior da célula.
Um esquema da célula muscular em repouso poderia ser representado pela na
figura:
154
Ψi - Ψe = R.T 2,3 log PK[K]e + PNa[Na]e + PCl[Cl]i
F PK[K]i + PNa[Na]i + PCl[Cl]e
Podemos verificar através desta equação que a distribuição iônica do íon mais
permeante terá maior influência sobre o valor do potencial de repouso. Assim, torna-se
evidente que o K+, sendo mais permeante através da membrana da célula muscular,
destaca-se como o íon mais importante na gênese do potencial de repouso da mesma.
Diversas comprovações experimentais foram feitas a respeito da importância do
potássio para o potencial de repouso devido basicamente à sua permeabilidade. Por
exemplo, foi observado que em músculo sartório de rã existe variação no potencial de
repouso quando se altera a concentração extracelular de potássio (Figura 15). Como
podemos ver no gráfico da página seguinte, quando as concentrações externas de
potássio são muito pequenas, o potencial de repouso da membrana está desviado do
potencial de equilíbrio deste íon. Todavia, o potencial de repouso da membrana
acompanha o potencial de equilíbrio do potássio quando as concentrações externas
deste íon são superiores a 10mM.
Em diversos tipos de células foi demonstrado que o potencial de repouso é
dependente das concentrações interna e externa de K+, tais como células gliais do
nervo óptico da salamandra Necturus, nervo de lula, músculo de rã e várias células
vegetais. Em nenhum caso, a alteração na concentração de Na + externo resultou em
alterações significativas do potencial de membrana.
Assim, o principal responsável pelo aparecimento do potencial de repouso celular
é o potencial de difusão ao K+, visto que a membrana é mais permeável a este íon.
Como na célula em repouso existe uma tendência difusional passiva de saída de
potássio para o meio externo e uma entrada de Na + para o meio intracelular, o
transporte ativo desempenha um importante papel para a manutenção do potencial de
repouso da célula uma vez que ele é responsável pela manutenção do estado
estacionário da mesma. O seu funcionamento evita alterações nas concentrações
iônicas, expelindo Na+ e captando K+ (manutenção da homeostasia celular),
155
consequentemente mantendo constante o potencial elétrico transmembranal ao redor
de -90mV.
156
No tópico seguinte (Potencial de Ação) será vista a importância da manutenção
deste potencial elétrico de repouso para o fenômeno da propagação do estímulo
nervoso.
157
8. BIBLIOGRAFIA
- Biofísica- capítulos 4, 5 e 7
F. Lacaz-Vieira e G. Malnic
ed. Guanabara-Koogan
158
QUESTIONÁRIO DE TRANSPORTE ATRAVÉS DE MEMBRANAS
5. Recapitule o que é difusão simples e quando ela ocorre. Qual a lei que rege o fluxo
de um soluto no transporte passivo simples através da membrana?
9. Como surge uma diferença de potencial elétrico através de uma membrana? Analise
esta questão nas seguintes situações:
159
11. Calcule a razão de Donnan e indique a polaridade da diferença do potencial elétrico
no equilíbrio : Compartimento 1: 5mM de NaCl e 20mM de NaPr (proteinato de sódio);
Compartimento 2 : 5mM de NaCl. [Obs: Pr- é impermeante)
12. Determine o sentido dos fluxos resultantes de Na+ e K+ através de uma célula
muscular, utilizando as informações da tabela 3 (página 35). Quais os valores de ∆µ
para cada um destes íons?
13. O que é potencial de repouso? Determine o seu valor numa célula muscular de
mamífero, utilizando os valores das concentrações intra e extracelulares de Na + e de K+
dados na tabela 3 (página 35) e das respectivas permeabilidades, indicadas na página
36.
160
TRANSPORTE ATRAVÉS DE MEMBRANAS BIOLÓGICAS
INFORMAÇÕES ADICIONAIS
161
ativo. Este tipo de transporte funciona, portanto, sempre como um sistema de
cotransporte.
Como exemplos, temos a entrada de aminoácidos nas células e a passagem de
açucares través do epitélio intestinal impulsionados pela diferença de potencial
eletroquímico de Na+ que é mantido pela atividade da bomba de Na+- K+ (simporte).
Um outro exemplo importante de transporte ativo secundário do tipo simporte
ocorre no ramo ascendente da alça de Henle, onde a difusão do Na + da luz para o
interstício (gradiente também mantido pela bomba de Na+ - K+) determina o transporte
de Cl- no mesmo sentido.
Ao nível da membrana da fibra cardíaca, tem-se um cotransporte do tipo
antiporte: para a entrada de 3 Na+ (a favor de um gradiente eletroquímico) para o meio
intracelular, tem-se a saída de um Ca2+ para o interstício. Uma inibição deste
cotransporte leva a um acúmulo de Ca2+ no sarcoplasma e consequente aumento de
contração cardíaca. É neste fato que se baseia a utilização de digitálicos no tratamento
de insuficiência cardíaca congestiva.
No conjunto dos processos de transporte que ocorrem nas membranas celulares,
os transportes ativos secundários contribuem para a economia de energia celular. A
célula investe ATP apenas no transporte de uma espécie química e consegue
transportar contra-gradientes (por acoplamento de processos) aminoácidos, Cl-, Ca2+,
etc.
162
DEMONSTRAÇÃO EXPERIMENTAL
1. Noções de Eletricidade
163
poderia ser decorrente de um maior comprimento em relação ao condutor 2. Portanto,
para gerar a mesma intensidade de corrente, a DDP aplicada em 2 deveria ser maior do
que a DDP aplicada em 1.
Para se observar uma corrente elétrica é necessário que exista no sistema pelo
menos um percurso fechado (circuito fechado) para a passagem das cargas elétricas, e
que haja um gerador elétrico (que varia e mantém uma DDP). Chamamos de circuito
elétrico ao conjunto de todos os percursos possíveis para a corrente em um sistema e
de todos os dispositivos associados a este percurso.
164
Elementos de um circuito
• resistência Ôhmica
• condutor Ôhmico
_____________
2. Objetivo
165
A pele abdominal de anfíbio é constituída por duas camadas distintas: o epitélio e
a camada de tecido conjuntivo. Esta última não tem função de transporte e serve
somente de sustentação do epitélio que é a camada que nos interessa.
166
3. Composição das Soluções de Ringer
Na2SO4 57,5 mM
KHCO3 2,5 mM
CaSO2 1,0 mM
Na2SO4 3,0 mM
KHCO3 2,5 mM
CaSO4 1,0 mM
NaCl 115,0 mM
KHCO3 2,5 mM
CaSO4 1,0 mM
K2SO4 57,5 mM
KHCO3 2,5 mM
CaSO4 1,0 mM
167
4. Montagem experimental
b) Após lavar o retalho da pele com um pouco de solução Ringer, montá-la como uma
membrana separadora entre duas câmaras (ver Figura abaixo), deixando os lados
externo e interno voltadas para as câmaras E e I, respectivamente. Após verificar que a
pele não apresenta dobras e que está obliterando perfeitamente a comunicação entre
as duas câmaras, fixá-la nessa posição com o dispositivo apropriado.
4. resistência variável.
168
V. voltímetro (para medir a diferença de potencial transepitelial).
169
e) Com Ringer-sulfato [Na+] = 115 mM em ambos os lados da pele, ligar o voltímetro e
mantendo-o ligado, ligar o microamperímetro. A caixa do microamperímetro contém
também um gerador (bateria) e resistores que correspondem às "resistências
variáveis", ligadas a ele em série. Através de dois botões (G e F), colocados à frente da
caixa, é possível variar tais resistência ligadas à bateria e consequentemente a
voltagem aplicada em oposição à ∆Ψi-e transepitelial.
Utilizando os botões G e F variar a voltagem aplicada nos eletrodos de
calomelano até que o voltímetro indique zero; a corrente então indicada pelo
microamperímetro é a corrente de curto-circuito (c.c.c ou Icc).
O circuito elétrico se apresenta agora da seguinte forma:
g) Calcular a resistência da pele, empregando a lei de Ohm (R = V/I). Fazer este cálculo
para cada par de leituras de ∆Ψi-e e Icc, e multiplicar o valor médio da resistência pela
área da pele para determinar a resistência de 1 cm2 da mesma (resistência específica).
170
h) Proceder às substituições das soluções de Ringer nas câmaras E ou I, conforme a
tabela abaixo. A cada ponto, manter o microamperímetro ligado e ajustado para a
passagem de Icc durante 3 minutos, após os quais os valores de Icc através da
membrana devem ser medidos. Em seguida, desligar a chave de ajuste para a
passagem de Icc e ler, no voltímetro, o valor da ∆Ψi-e através da membrana.
171
Os resultados obtidos estão no quadro abaixo:
Estudo de ânions
RNa2SO4 (115) RNa2SO4 (115) 159 0.49
RNaCl (115) RNaCl (115) 90 0.46
RNa2SO4 (115) RNaCl (115) 172 0.62
RNaCl (115) RNa2SO4 (115) 65 0.36
Estudo de cátions
RNa2SO4 (115) RNa2SO4 (115) 159 0.49
RNa2SO4 (6) RNa2SO4 (115) 85 0.35
RNa2SO4 (115) RNa2SO4 (6) 159 0.49
RK2SO4 (115) RNa2SO4 (115) 47 0.01
RNa2SO4 (115) RK2SO4 (115) 39 0.10
RK2SO4 (6) RNa2SO4 (115) 47 0.01
RNa2SO4 (115) RK2SO4 (6) 113 0.24
Estudo de drogas
RNa2SO4 (115) RNa2SO4 (115) 159 0.49
RNa2SO4 (115) + A RNa2SO4 (115) 47 0.01
RNa2SO4 (115) RNa2SO4 (115) + A 159 0.49
RNa2SO4 (115) + D RNa2SO4 (115) 159 0.49
RNa2SO4 (115) RNa2SO4 (115) + D 0 0
172
5. Interpretação dos dados:
a) Hipótese:---------------------------------------------------------------------------------------------------
Experimento realizado:
Externo Interno
- +
RNa2SO4 RNa2SO4
(115) (115)
Conclusão:-----------------------------------------------------------------------------------------------------
Estudo de ânions
b) Hipótese:------------------------------------------------------------------------------------------------
Experimento realizado:
Externo Interno
- +
RNa2Cl RNa2Cl
(115) (115)
Conclusão:-------------------------------------------------------------------------------------------------
173
Questão 2. A qual dos ânions (SO4= ou Cl-) a pele é mais permeável? Por que?
---------------------------------------------------------------------------------------------------------------
---------------------------------------------------------------------------------------------------------------
---------------------------------------------------------------------------------------------------------------
c) Hipótese:------------------------------------------------------------------------------------------------
Experimentos realizados:
1 2 3
Resp:
∆Ψi-e = ------- icc = -------- ∆Ψi-e = ------- icc = -------- ∆Ψi-e = ------- icc = -------
Robs:
∆Ψi-e = 159 mV icc = 0.49 mA ∆Ψi-e = 172 mV Icc = 0.62 mA ∆Ψi-e = 65 mV Icc = 0.36 mA.
Conclusão:-------------------------------------------------------------------------------------------------
174
Estudo de cátions
d) Hipótese:------------------------------------------------------------------------------------------------
Experimentos realizados:
1 2 3
Resp:
∆Ψi-e = ------- icc = -------- ∆Ψi-e = ------- Icc = -------- ∆Ψi-e = ------- Icc = -------
Robs:
∆Ψi-e = 159 mV icc = 0.49 mA ∆Ψi-e = 85 mV Icc = 0.35 mA ∆Ψi-e = 159 mV Icc = 0.49 mA.
Conclusão:-------------------------------------------------------------------------------------------------
e) Hipótese:------------------------------------------------------------------------------------------------
Experimento realizado:
1 2 3 4
Resp:
∆ Ψ 1i-e = --- mV Icc1 = ------ mA ∆Ψ2i-e = --- mV Icc2 = ----- mA ∆Ψ1i-e = ---- mV Icc1 = ------ mA ∆Ψ1i-e = ----- mV Icc1 = ----- mA
Robs:
∆Ψ1i-e = 47 mV Icc1 = 0.01 mA ∆Ψ2i-e = 47 mV Icc2 = 0.01 mA ∆Ψ1i-e = 39 mV Icc1 = 0.10 mA ∆Ψ1i-e = 113 mV Icc1 = 0.24 mA
Conclusão:-------------------------------------------------------------------------------------------------
175
Estudo de drogas
f) Hipótese:------------------------------------------------------------------------------------------------
Experimentos realizados:
1 2 3
Resp:
∆Ψi-e = ------- icc = -------- ∆Ψi-e = ------- Icc = -------- ∆Ψi-e = ------- Icc = -------
Robs:
∆Ψi-e = 159 mV icc = 0.49 mA ∆Ψi-e = 47 mV Icc = 0.01 mA ∆Ψi-e = 159 mV Icc = 0.49 mA.
Conclusão:-------------------------------------------------------------------------------------------------
g) Hipótese:------------------------------------------------------------------------------------------------
Experimentos realizados:
1 2 3
Resp:
∆Ψi-e = ------- icc = -------- ∆Ψi-e = ------- Icc = -------- ∆Ψi-e = ------- Icc = -------
Robs:
∆Ψi-e = 159 mV icc = 0.49 mA ∆Ψi-e = 159 mV Icc = 0.49 mA ∆Ψi-e = 0 mV Icc = 0 mA.
Conclusão:-------------------------------------------------------------------------------------------------
176
6. Resumo das informações obtidas:
E I
Questão 6. De que resulta a ∆Ψi-e através da pele de anfíbio e que equação você
utilizaria para a determinação da mesma? Através de que mecanismo esta DDP é
mantida em "steady state"? -------------------------------------------------------------------------------
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
177
B. Segunda aula (Estudo Quantitativo do transporte iônico)
a) Montar a pele de anfíbio colocando solução Ringer-sulfato com [Na +] = 115 mM nos
dois lados da pele. Equilibrar por 30 minutos e medir a ∆Ψi-e e Icc.
c) Da maneira descrita em (b), substituir a solução da câmara externa por outra em que
[Na+] = 6 mM e fazer a leitura de Icc e ∆Ψi-e.
[Na+]e log [Na+]e 1/[Na+]e Icc (mA) ∆Ψi-e J (mmol/cm2.s) 1/J (cm2.s/mmol)
(mM) (mV)
3 0.27 68
6 0.35 85
18 0.43 113
30 0.47 126
60 0.48 143
f) Calcular o fluxo resultante de íon sódio através da pele nos diferentes tempos da
experiência. De acordo com a lei de Faraday, cada mol de Na+ corresponde a uma
carga elétrica de 96 500 Coulombs. Como a unidade de corrente, o ampère (A),
corresponde a 1 Coulomb por segundo, a migração de 1,04 x 10-5 (1/96 500) moles de
178
Na+ por segundo corresponderá a uma corrente de 1 ampère. Sabendo-se que a Icc
corresponde à corrente gerada pela migração de Na+, calcular o fluxo de íon nos
diferentes tempos da experiência e anotar na tabela acima. (I = ZFJ)
a) Substituir a solução da câmara interna por Ringer-sulfato com [K+] = 3,0 mM. Esperar
3 minutos, durante os quais o potencial deve ser mantido nulo. Ler a ∆Ψi-e.
b) Da mesma maneira descrita acima, determinar as DDPs para [K+] = 6, 18, 30, 60 e
115 mM.
179
c) Os resultados obtidos estão no quadro abaixo:
3 130
6 113
18 85
30 72
60 55
115 39
180
Observações Finais
181
Note que no túbulo contornado distal o transporte de Na+ e K+ guarda
semelhança com o movimento destes íons em pele de anfíbio. A luz, ou lado luminal,
corresponde ao lado externo da pele e o interstício, ou lado seroso, corresponde ao
lado interno da pele. O transporte de aminoácidos no túbulo contornado proximal é
semelhante ao cotransporte com Na+ observado na mucosa intestinal.
182
Existe, neste tecido, um transporte transepitelial de NaCl à semelhança do que
ocorre também no túbulo contornado proximal e na mucosa intestinal de mamífero. Este
tipo de transporte é muito importante nestes epitélios para o transporte de água, da luz
para o interstício (reabsorção de água), sem consumo de ATP. O processo de
reabsorção de água está acoplado ao de reabsorção de NaCl e, este último sim, se dá
com hidrólise de ATP.
183
EXCITABILIDADE CELULAR: SISTEMA NERVOSO E MUSCULAR
184
EXCITABILIDADE CELULAR: SISTEMA NERVOSO E MUSCULAR
Introdução
Nesta etapa final do curso estaremos discutindo os mecanismos que participam da
sinalização celular e intercelular (nervo-músculo), garantindo que a mensagem contração-
relaxamento seja percebida pela célula muscular.
Na aula inicial do Curso de Biofísica Celular (início do ano) sobre contração,
referimo-nos à mensagem que atinge a membrana plasmática da célula muscular como a
chegada do impulso nervoso, isto é, de uma onda de despolarização ou de excitação.
Nesta fase do curso, estaremos detalhando os mecanismos celulares responsáveis pela
geração e condução do impulso nervoso no axônio motor e na célula muscular, assim
como a sua transmissão na junção neuromuscular.
A partir das informações sobre o meio ambiente percebidas pelos nossos órgãos
do sentido (tato, visão, audição, olfato e gustação) ou da vontade cognitiva, as mensagens
são enviadas para processamento no sistema nervoso central, e a resposta de um
conjunto de músculos pode ser solicitada através de uma mensagem enviada através dos
nervos que inervam os referidos músculos (axônios motores). A linguagem utilizada pelo
sistema nervoso para receber e levar mensagens corresponde sempre a uma alteração
do potencial de membrana, que denominamos impulso nervoso. Esta mensagem deve
ser mantida inalterada (amplificação) ao longo do trajeto percorrido até atingir o órgão
efetor, no caso a célula muscular estriada. Portanto o impulso nervoso percorre toda a
extensão do axônio motor (propagação ou condução), é transferido para a célula
muscular na junção neuromuscular (transmissão) e percorre a membrana plasmática da
célula muscular (propagação ou condução), atingindo os túbulos T. A chegada do
estímulo no
túbulo T determina a liberação dos íons Ca2+ das cisternas laterais do retículo
sarcoplasmático, aumentando a concentração deste íon no citoplasma, disparando assim
o processo contrátil.
Alguns progressos importantes sobre o cérebro foram obtidos, especialmente
através do estudo de células nervosas isoladas, assim como de suas moléculas
constituintes, sobre a condução e transmissão do impulso nervoso, tendo sido
estabelecido alguns fundamentos básicos do funcionamento deste sistema multicelular.
Embora o cérebro como um todo ainda seja um dos órgãos menos conhecidos do corpo,
as propriedades dos neurônios são bem mais conhecidas que em outras células,
principalmente em relação às propriedades elétricas da membrana. Os mecanismos de
185
sinalização celular dos neurônios, responsáveis pela excitabilidade celular, que serão
descritos a seguir, são semelhantes aos que ocorrem na célula muscular estriada.
Portanto este capítulo se concentrará no funcionamento da célula nervosa, que é o
principal componente do sistema nervoso. Inicialmente iremos descrever como algumas
proteínas de membrana funcionam como canais iônicos, permitindo à célula conduzir,
transmitir e responder aos estímulos. Deste modo, iremos entender como estes canais
iônicos permitem à célula nervosa integrar e processar as informações a ela transmitidas.
Para se estudar a excitabilidade celular, isto é a capacidade da célula gerar,
propagar e transmitir o impulso nervoso, devemos ter uma maneira experimental de gerar
um estímulo elétrico através da membrana, portanto um circuito estimulador, e uma
maneira de captar, registrar e armazenar a resposta biológica decorrente deste estímulo,
e portanto um circuito de registro. Deste modo, em qualquer estudo eletrofisiológico
deve ficar claro para o aluno os componentes do circuito de estimulação (geralmente uma
fonte de corrente ou de tensão) e os componentes do circuito de registro (geralmente um
voltímetro ou osciloscópio, ou outra combinação de aparelhos de medida mais
sofisticados). Além disto, como a excitabilidade celular depende de variações do potencial
e da presença de correntes eletrolíticas através da membrana, em qualquer experimento
eletrofisiológico é necessário a presença de um dispositivo (os eletrodos ou
microeletrodos) que permite a transformação da corrente eletrolítica (aquela que ocorre
na preparação biológica, ou seja através da movimentação de íons) em eletrônica (aquela
que é percebida pela circuitaria eletrônica, ou seja através da movimentação de elétrons)
e vice-versa.
186
-70 para -50 mV, por exemplo). O circuito de captação e registro do sinal é constituído de
um microeletrodo colocado no meio intracelular e conectado a um dos terminais do
voltímetro e de um outro microeletrodo conectado ao segundo terminal do voltímetro e
em contato com o meio externo, sendo este ligado ao "terra" do sistema (microeletrodo
de referência). Deste modo mede-se, de acordo com a convenção, Vi-Ve, com Ve igual
a 0 mV (esta convenção deve ser SEMPRE obedecida).
Por exemplo, no caso da célula hepática, uma vez feita a montagem experimental,
verifica-se que antes de ligar o circuito de estimulação, registra-se no voltímetro uma
diferença de potencial, que obviamente corresponde ao potencial de repouso da célula
(Figura 17).
Aplicando-se um estímulo hiperpolarizante, observa-se uma variação lenta do
potencial de membrana, estabilizando-se em um novo valor mais negativo
(hiperpolarizado) em relação ao potencial de repouso após um determinado intervalo de
tempo e aí permanecendo desde que o estímulo seja mantido. A resposta da membrana
neste caso é proporcional à intensidade e duração do estímulo. Assim, quanto maior a
intensidade do estímulo, maior será a hiperpolarização atingida pela membrana. O mesmo
acontece se um estímulo despolarizante for aplicado. O potencial de membrana assumirá
valores mais positivos (despolarizados) que o potencial de repouso, de acordo com a
intensidade do estímulo. A esta variação gradual do potencial de membrana em resposta
a um estímulo hiper ou despolarizante denominamos potencial eletrotônico (Figura 18,
registros a,b,c e d).
187
No caso da célula muscular estriada, a aplicação de um estímulo hiperpolarizante
de qualquer intensidade sempre determinará uma variação do potencial de membrana no
sentido hiperpolarizante, caracterizando uma resposta eletrotônica, com as mesmas
características descritas para a célula hepática (Figura 18, registros a e b). Já a aplicação
de um estímulo despolarizante determina comportamentos distintos do potencial de
membrana de acordo com a intensidade do mesmo. Abaixo de uma determinada
intensidade e duração do estímulo (limiar de excitabilidade), observamos o
desenvolvimento de uma resposta graduada, e portanto, eletrotônica (Figura 18,
registros c e d). Porém quando um estímulo despolarizante de intensidade e duração
acima do potencial liminar é aplicado, observamos SEMPRE um mesmo tipo de
resposta: uma variação rápida e transiente do potencial de membrana, com 2 a 3 ms de
duração (no caso de nervos e músculos estriados) e de amplitude constante, qualquer
que seja a intensidade do estímulo despolarizante aplicado. Denomina-se este tipo de
resposta de potencial de ação (PA) e de potencial liminar ao valor do potencial de
membrana que determina o aparecimento do potencial de ação em resposta a um
estímulo despolarizante de intensidade e/ou duração mínimos (Figura 18, registro e).
Concluindo, a célula hepática é dita não excitável porque em resposta a um
estímulo elétrico hiper ou despolarizante, desenvolve um potencial eletrotônico; já a célula
muscular estriada é dita excitável porque desenvolve um potencial de ação (PA) em
resposta a um estímulo despolarizante acima do seu limiar de excitabilidade.
Quais os fatores que determinam uma mudança do potencial de membrana,
justificando o desenvolvimento de um potencial eletrotônico ou do potencial de ação?
1 "Gated channels são canais de abertura controlada por um "gate" (porta) que por sua vez é
controlada por voltagem ou por um "ligand" (ligante).
188
importância: (1) os canais dependentes de voltagem, que desempenham papel central
no disparo da atividade elétrica através da qual os PAs são propagados ao longo de um
processo celular nervoso e (2) os canais dependentes de ligantes, que convertem
sinais extracelulares químicos em sinais elétricos, desempenhando um papel central no
funcionamento das sinapses. Estes dois tipos de canais não são restritos apenas aos
neurônios: são também encontrados em outros tipos de células, como nas musculares,
onde desempenham funções semelhantes.
189
fluxos movidos pela ATPase Na+/K+ e as taxas de vazamento de Na+ e de K+ através dos
"leak channels"2 . A condição de repouso em termos elétricos é definida como "steady
state" ou potencial de repouso (PR), sendo o Vm no qual o fluxo resultante de corrente
através da membrana plasmática é nulo. Em outras palavras, no PR, os fluxos de Na +, K+,
Cl- e de outros íons, embora possam não ser nulos individualmente, estão exatamente
contrabalançados quanto à carga total que atravessa a membrana.
O fluxo de um íon através de um canal é decorrente do gradiente eletroquímico.
Este gradiente resulta da combinação de duas forças: o gradiente de voltagem através da
membrana e o gradiente de concentração do íon. Quando estas duas forças são
exatamente iguais, o gradiente eletroquímico é nulo, não havendo
2 "Leak channels" são canais que não possuem "gates", cuja abertura e fechamento
independem de voltagem ou de ligante. Podem estar aleatoriamente abertos ou fechados, e
são responsáveis pela permeabilidade da membrana em seu estado de repouso. Nesta
situação o número médio de canais abertos não varia no decurso do tempo.
190
191
fluxo resultante do íon considerado através do canal
(Figura 21).
A equação de Nernst estabelece quantitativamente esta condição de equilíbrio. Se
o interior da membrana apresentar uma voltagem Vi em relação ao meio exterior (Ve = 0
mV), e se as concentrações interna e externa do íon são Ci e Ce respectivamente, não
haverá fluxo resultante do íon através da membrana quando:
Vm = Vi - Ve = -(RT/zF)ln(Ci/Ce) = -(RT/zF)2,3log(Ci/Ce)
onde:
R = constante dos gases
T = temperatura absoluta (em K)
F = constante de Faraday (96.500 coulomb/mol)
z = valência do íon
(RT/zF)2,3 » 0,058 V ou 58 mV
Assim, não haverá fluxo resultante de Na+ através da membrana quando o valor de
Vm for igual a 58log([Na+]e/[Na+]i) mV, isto é no potencial de equilíbrio do Na+ (ENa). Do
mesmo modo, o fluxo resultante de K+ será também nulo, se o Vm assumir o valor de
58log([K+]e/[K+]i) mV, correspondente ao potencial de equilíbrio do K+ (EK). Para uma célula
típica, ENa fica entre +50 e +65 mV e EK entre -100 e -70 mV.
Para um determinado valor de Vm, a força resultante que promove a saída ou
entrada de um determinado íon na célula (corrente iônica) pelos canais iônicos na
membrana é descrita como:
femx = Vm - Ex
onde:
femx: corresponde à força movente para o íon X
Ex: corresponde ao potencial de equilíbrio do
íon X.
192
193
A corrente carreada pelo íon x é dada por:
ix = gx.femx
onde:
gx: corresponde à condutância da membrana ao íon x
Assim,
ix = gx.(Vm - Ex)
194
195
GNa.(Vm-ENa) + GK.(Vm-EK) + corrente originada pela bomba Na+/K+ +
correntes carreadas por outros íons = 0.
196
Do ponto de vista elétrico, podemos representar a membrana biológica pelo circuito
equivalente abaixo:
onde:
Cm: representa o elemento capacitivo equivalente da
membrana.
Rm: representa o elemento resistivo equivalente da
membrana.
C = Q/V
onde:
Q: é o valor absoluto das cargas armazenadas em uma das
placas (coulomb).
V: é o valor absoluto do potencial de uma das placas
(Volt).
C: é a capacitância (Faraday = 1 Coulomb/ 1 Volt).
Como o capacitor não é capaz de gerar ou separar cargas elétricas, mas apenas
armazená-las, qualquer variação do potencial elétrico em uma das placas decorre do
aporte ou da retirada de cargas da placa, gerando uma corrente capacitiva.
Assim toda membrana biológica apresenta as propriedades de um capacitor, onde
a bicamada lipídica representa o material isolante e os meios iônicos intra e extracelular,
aquosos, representam as placas. Consequentemente, toda membrana biológica pode ser
197
caracterizada por sua capacitância específica, isto é a capacitância de 1 cm2 de
membrana, que em geral tem o valor de
1 uF/cm2. Assim, durante uma variação qualquer do potencial de membrana, seja em
função de um potencial eletrotônico ou de ação, surge uma corrente capacitiva (Ic) na
membrana, que corresponde a uma maior ou menor aproximação dos íons no plano da
membrana, cujo sentido dependerá da natureza do sinal estimulador (intensidade e
duração).
Por outro lado, a membrana biológica apresenta distintas permeabilidades aos
íons, isto é a membrana apresenta maior ou menor facilidade à passagem de íons
através dela. Do ponto de vista elétrico isto significa dizer que a membrana apresenta
menor ou maior resistência (Rm). Atualmente sabemos que uma pequena porção das
proteínas integrais de membrana funcionam como canais iônicos, com distintas
seletividades aos íons, permitindo a passagem dos mesmos através da membrana.
Portanto, para completarmos a representação elétrica de um canal iônico para um
determinado íon na membrana, devemos acrescentar uma bateria em série com a
resistência. Sua força eletromotriz (fem) corresponde ao potencial elétrico imposto pela
distribuição daquele íon através da membrana (Eíon, calculado pela equação de Nernst).
Finalmente, conectamos a Cm e a Rm em paralelo pelo fato da extensão total da
membrana se encontrar submetida ao mesmo potencial (potencial de repouso). Portanto,
uma representação mais correta da membrana em repouso através de um circuito elétrico
seria:
onde:
Cm: capacitância da membrana
RNa e ENa: resistência e potencial de equilíbrio
do íon Na.
RK e EK: resistência e potencial de equilíbrio
do íon K.
RCl e ECl: resistência e potencial de equilíbrio
do íon Cl.
198
estímulo. De acordo com a sua constante de tempo (t = RmCm), o potencial estabiliza
em novo valor de acordo com a intensidade do estímulo. O potencial permanecerá neste
valor enquanto o estímulo for mantido (duração). Finalizado o estímulo, o potencial
retornará ao valor observado antes da estimulação, também de modo gradual, e
novamente refletindo a constante de tempo do circuito. O mesmo sucederá se o estímulo
for despolarizante (corrente negativa), apenas com diminuição do potencial através das
placas do capacitor (Figura 23).
O mesmo efeito é observado em uma membrana biológica submetida a um
estímulo hiperpolarizante de qualquer intensidade e duração, ou despolarizante de
intensidade abaixo de um determinado valor (limiar), isto é, enquanto o estímulo
despolarizante não alterar o valor de Rm de repouso da célula. A este tipo de resposta
gradual e proporcional à intensidade e duração do estímulo denominamos potencial
eletrotônico, e reflete a propriedade capacitiva da bicamada lipídica da membrana.
Assim, qualquer alteração do potencial de membrana em função de um estímulo hiper ou
despolarizante abaixo do limiar obedecerá à seguinte equação:
199
membrana e um outro eletrodo para estimular a célula artificialmente, como apresentado
na figura 24:
Suponhamos que o potencial de repouso deste nervo seja de
-60mV e a constante de tempo seja de 10 ms. Admitamos ainda que a bateria ao ser
ligada desencadeia um estímulo que leva o nervo a se despolarizar de 10 mV.
Antes da bateria ser ligada, registramos o potencial de repouso do nervo, qual seja
-60 mV. No instante zero, o eletrodo é conectado à bateria (a chave é fechada), o
potencial de membrana se desloca do seu valor inicial (-60 mV) para o valor final (-50
mV). Observe que apesar da variação da corrente ser instantânea e constante, o
potencial de membrana NÃO se modifica instantaneamente. Existe um intervalo de tempo
no qual o potencial de membrana se desloca gradualmente até alcançar seu valor final.
Este processo de carga da membrana é uma função exponencial do tempo, de acordo
com a sua constante de tempo. Assim, em 10 ms, o potencial de membrana passou de
-60 mV para -53,7 mV, ou seja a 63% do valor do deslocamento final do potencial de
membrana). Assim, quanto menor a constante de tempo, mais rapidamente a célula
responderá a um estímulo qualquer. Se no exemplo acima a constante de tempo fosse de
1 ms, a célula alcançaria os mesmos -53,7 mV em apenas 1 ms.
200
através do eletrodo de corrente. O valor de Vm se manterá constante se, e somente se,
não houver perda ou acúmulo resultante de cargas no interior da célula - isto é, quando, e
somente quando, a corrente que fluir através dos canais da membrana for exatamente
igual e oposta à corrente injetada. Logo, se o Vm se mantiver constante, a corrente
através dos canais da membrana pode ser determinada pela intensidade da corrente
medida no eletrodo de corrente. Desta maneira, o eletrodo de corrente serve
simultaneamente para controlar o Vm e medir a corrente que passa através dos canais da
membrana. Além disto, é possível ajustar automaticamente, através de um circuito
eletrônico adequado, a corrente injetada em função do sinal elétrico enviado pelo eletrodo
de potencial. Assim o Vm é mantido constante no valor de voltagem desejado. Este
arranjo eletrônico é conhecido como "voltage clamp" (fixação de voltagem), e o valor
determinado de Vm é chamado de voltagem de comando. Impondo voltagens de
comando distintas e medindo as correspondentes correntes injetadas para mantê-las,
pode ser investigada com detalhes a condutância da membrana em função do Vm.
201
A identificação dos íons que transportam a corrente transmembranal pode ser feita
através do monitoramento do efeito de uma alteração da concentração de um íon
específico no banho. Por exemplo, qualquer corrente de Na+ através da membrana
depende da concentração extracelular de Na+, que é anulada quando a concentração
extracelular de Na+ for tal que o Vm assume o mesmo valor do ENa. A corrente para um
determinado íon através dos "leak channels" ou dos "gated channels" são indistintamente
afetadas por alterações no gradiente de concentração daquele íon através da membrana
e, portanto, pode ser analisada da mesma maneira. Porém, o canal dependente de
voltagem é reconhecido devido a uma alteração drástica da condutância da membrana
para um aquele íon em resposta a uma alteração brusca do Vm.
Estes métodos permitem distinguir a contribuição dos diferentes íons para a
corrente total, assim como identificar os fluxos que ocorrem através de "gated channels".
Mas, caso a corrente seja composta parcialmente por íons Na+ e parcialmente por íons K+,
como distinguir se estes íons atravessam a membrana através de canais distintos ou
através de um mesmo canal seletivo a cátions? A maneira mais simples é utilizar toxinas
específicas para os canais. Assim, se a tetrodotoxina (TTX) - um veneno extraído das
vísceras do baiacu - for adicionada ao meio externo, o componente da corrente devido à
passagem dos íons Na+ pelos canais de Na+ dependentes de voltagem é bloqueado,
enquanto o componente devido à corrente de K+ não é afetado. Por outro lado, a adição
do íon tetraetilamônio (TEA) bloqueia o componente da corrente devido á passagem de
íons K+ através de canais de K+ dependentes de voltagem, presentes em diferentes
tipos de neurônios, sem afetar o componente devido à corrente de Na+. Estas e outras
evidências indicam que existem pelo menos dois tipos distintos de canais dependentes de
voltagem: um seletivo ao Na+ e bloqueado por TTX, e outro seletivo ao K+ e bloqueado por
íons TEA.
202
condição. Se a voltagem de comando for bruscamente alterada para valores menos
negativos que o PR - digamos para 0 mV - e a célula for mantida neste estado
despolarizado, os canais de Na+, dependentes de voltagem, são abertos e os íons Na+
fluem para o interior da célula devido ao gradiente de concentração de Na+ existente
através da membrana. Esta corrente de Na+ atinge o máximo em cerca de 0,5 ms após a
mudança do potencial. No entanto, esta ela não é mantida elevada, voltando praticamente
a zero em poucos milisegundos, mesmo mantendo-se a membrana despolarizada (Figura
26). Assim, os canais que abriram por alguns instantes, agora fecham rapidamente. Uma
vez fechados, eles permanecem assim, no estado inativado, distinto do estado inicial,
fechado, quando são então capazes de abrir em resposta a uma despolarização da
membrana. No estado inativado estes canais não são responsivos, e assim permanecem
enquanto o Vm não retornar, por no mínimo alguns milisegundos, ao seu valor negativo
original (ie ao PR).
203
As Flutuações da Corrente Transmembranal Sugerem que os Canais
Estão Individualmente Abrindo e Fechando ao Acaso
204
confirmadas por um método mais direto, introduzido na década de 80 e chamado registro
de "patch clamp"3, que será discutido na próxima seção.
205
A Abertura e Fechamento dos "Gated Channels" Ocorre de Maneira Tudo-ou-Nada
O registro de corrente pela técnica de "patch clamp" fornece uma rara oportunidade
- na verdade quase sem precedentes - de estudar o comportamento cinético de uma
única molécula protéica. A idéia é simples, embora a execução seja trabalhosa (para não
dizer capciosa). A ponta de uma micropipeta de vidro, preenchida com solução fisiológica,
é comprimida sobre a superfície de uma célula e, após uma ligeira sucção, um "patch" da
membrana é aspirado para dentro desta micropipeta (Figura 28); se o vidro estiver limpo e
a membrana não se encontrar recoberta com material extracelular espúrio, forma um selo
elétrico firme entre as bordas do "patch" de membrana, que se encontra no interior da
micropipeta, e a superfície interna da micropipeta.
A corrente injetada no interior da pipeta só pode sair passando através das
proteínas que constituem os canais no "patch" de membrana que veda a ponta da pipeta.
Se a membrana da célula tiver uma baixa densidade de canais, e se o diâmetro da ponta
da pipeta for menor que 1 µm, uma das três alternativas são possíveis: encontrarmos
poucos canais, apenas um ou a vezes nenhum canal neste "patch" de membrana
estudado. Os equipamentos eletrônicos modernos permitem o registro da corrente através
de um único canal, que é da ordem de 1 pA, assim como o estudo da sua variação em
resposta à voltagem aplicada sobre o "patch" da membrana que o contém.
207
A figura 29 mostra algumas observações típicas da resposta de um canal unitário
de Na+ dependente de voltagem registradas em um "patch" de membrana de célula
muscular de rato. Fica evidente que a abertura de cada canal ocorre de uma maneira
tudo-ou-nada. Quando aberto, o canal apresenta sempre a mesma condutividade (para a
mesma voltagem através da membrana), mas os tempos de abertura4 e de fechamento5
são variáveis e casuais. Logo, a corrente total que atravessa a membrana celular em toda
sua extensão através de uma população elevada de canais não indica o grau de abertura
de um canal unitário típico, mas sim a probabilidade deste canal estar aberto.
208
209
Usando esta terminologia, dizemos que o canal de Na+ abre e inativa em resposta à
despolarização da membrana porque, enquanto ambas transições são favorecidas pela
despolarização, a transição do estado fechado, mas responsivo, para o estado aberto
ocorre com tempo de relaxação curto, enquanto que a transição de qualquer um dos dois
estados acima para o estado inativo ocorre com um tempo de relaxação longo.
A compreensão dos fenômenos de controle por voltagem pode ser feita a partir de
princípios físicos simples. A voltagem no interior de um neurônio em repouso é de
aproximadamente 50 a 100 mV, negativa em relação ao meio externo. Esta diferença de
potencial pode parecer pequena, mas por ser através de uma membrana celular de
apenas 5 nm de espessura, provoca um gradiente de voltagem resultante da ordem de
100.000 V/cm. Portanto, as proteínas da membrana estão sujeitas a um campo elétrico
muito intenso. As proteínas da membrana, como todas as proteínas, possuem vários
grupos ionizados na superfície e ligações polarizadas (que dão origem a momentos
dipolares) nas ligações entre pares de átomos. Portanto, o campo elétrico exerce força
sobre a estrutura molecular. Por outro lado, as forças internas entre as cadeias de uma
proteína são relativamente fortes e agem modelando uma conformação particularmente
estável em relação a estas forças distorcivas. Portanto, para muitas proteínas de
membrana, os efeitos de modificações no campo elétrico da membrana não são
significativos.
Porém, o mesmo não acontece com os canais dependentes de voltagem que
apresentam uma sensibilidade finamente ajustada ao campo elétrico através da
membrana. Estes canais são proteínas que podem adotar conformações alternativas,
sendo cada uma delas estável em relação à influências distorcivas pequenas, mas podem
"saltar" para uma outra conformação, caso recebam uma perturbação suficientemente
violenta proveniente dos movimentos térmicos casuais dos arredores (Figura 30). É
necessário fornecer energia para que a proteína (ou o complexo de subunidades
protéicas) passe pelas conformações transicionais intermediárias instáveis que separam
uma conformação quase-estável de outra também quase-estável.
210
211
Quanto maior esta barreira energética, mais raras são as transições. Portanto, só
raramente o canal é encontrado nas conformações quase-estáveis de alta energia; na
maior parte do tempo ele transita nas conformações de baixa energia. Se as
conformações alternativas diferirem devido à distribuição de carga, então durante uma
alteração do campo elétrico da membrana, mudam tanto as energias relativas, como a
probabilidade do canal adotar uma determinada conformação. O comportamento do canal
de Na+ dependente de voltagem pode ser facilmente entendido desta maneira (Figura 31).
212
voltando assim ao estado de repouso (Figura 33). A repolarização da membrana provoca
o fechamento dos canais de K+ e permite que os canais de Na+ se recuperem da
inativação. Assim, a membrana celular fica pronta para responder a um segundo estímulo
despolarizante em menos de 1 ms.
213
214
215
216
As Mudanças de Voltagem São Propagadas Passivamente no Neurônio
217
Ri: resistência longitudinal do citoplasma
Re: resistência longitudinal do meio extracelular
218
ramificação (pontos 1,2,3 e 4), parte atravessando o segmento de membrana (r m)
(corrente transmembranal) e parte continua ao longo do axônio (ri) (corrente
longitudinal).
A corrente longitudinal diminuirá para cada incremento na resistência longitudinal
(ri) encontrada, porque esta é cumulativa (lembrar que r = rl/A). A corrente
transmembranal, através de rm, decresce exponencialmente à medida que aumenta a
distância do ponto de injeção da corrente de estímulo (ponto 0 até 4) (Figura 36).
219
Define-se como constante de espaço (l) a distância do ponto de estimulação na
qual o sinal decai de 63% do seu valor inicial, já que o decaimento exponencial do
potencial, uma vez estabilizado, é descrito pela equação:
Vx = V0.exp-x/l
onde:
Vx: valor do potencial à distância x do ponto de origem. V0:
valor do potencial no ponto de origem, isto é x = O.
l: constante de espaço
l = rm/re + ri = rm/ri
onde:
rm: resistência de uma unidade de comprimento do axônio.
ri: soma das resistências longitudinais interna por unidade de distância.
r e: soma das resistências longitudinais externas por unidade de distância.
Quando x = l, então,
220
quando a fonte do sinal produz um distúrbio que é mantido por um intervalo de tempo
prolongado. A propagação passiva é ainda menos satisfatória para transmissão de sinais
transientes a longas distâncias, porque a alteração do Vm que resulta do fluxo de corrente
não é instantânea, mas consome certo tempo para se estabelecer. Este tempo depende
da capacitância da membrana, isto é, da quantidade de carga que deverá ser acumulada
em cada lado da membrana para estabelecer o novo valor de Vm (veja a Figura 35). A
capacitância da membrana tem o efeito de desacelerar a propagação passiva dos sinais
ao longo do axônio, assim como distorcê-los, de modo que um estímulo induzido em um
dado ponto, na forma de uma onda quadrada, será detectado a poucos milímetros do
mesmo somente como um aumento e queda de potencial, lento e gradativo, e com
amplitude significativamente menor (veja a Figuras 35 e 36). Consequentemente, para
que ocorra uma propagação fiel a uma distância superior a poucos milímetros, o axônio
deverá ter, além de suas propriedades passivas de cabo, um mecanismo ativo para
manter a intensidade do sinal durante a transmissão.
221
222
223
No caso dos vertebrados, os PAs se propagam com velocidades que variam entre
1 e 100 m/s, dependendo do tipo de axônio.
224
225
Os internodos não são excitáveis, pois além de não possuírem os canais
adequados, são regiões que oferecem grande resistência à passagem de corrente através
delas. Por outro lado, estas mesmas áreas possuem excelentes propriedades de cabo -
baixa capacitância e alta resistência ao vazamento de corrente. Consequentemente, as
correntes associadas ao PA nodal são pronta e eficientemente canalizadas por
propagação passiva ao próximo nodo, onde um novo PA é disparado. Portanto, a
condução é saltatória: o sinal é propagado ao longo axônio saltando de nodo a nodo. A
mielinização tem duas vantagens principais: os PAs se propagam rapidamente, e a
energia metabólica é economizada porque a excitação ativa está confinada à pequenas
regiões nodais.
226
Resumo
A sinalização elétrica nas células nervosas depende das mudanças do potencial de
membrana devido ao movimento de um pequeno número de íons através de canais. A
bomba sódio/potássio, às custas de energia metabólica, controla estes movimentos
iônicos, diminuindo a concentração de sódio intracelular e aumentando a de potássio,
garantindo a manutenção dos gradientes iônicos. Na membrana do neurônio em repouso,
os canais seletivos ao potássio mantêm a permeabilidade deste íon mais alta do que para
os demais; consequentemente, o potencial da membrana está muito próximo do potencial
de equilíbrio do potássio, que é de -70 mV. Uma despolarização repentina da membrana
altera a permeabilidade iônica devido à abertura dos canais de sódio dependentes de
voltagem, os quais são inativados, caso a despolarização se mantenha por muito tempo.
Os canais individuais sofrem transições abruptas entre seus estados conformacionais
alternativos, influenciados pelo campo elétrico da membrana. Um potencial de ação surge
logo depois que um breve estímulo despolarizante causa a abertura de alguns canais de
sódio dependentes de voltagem, tornando a membrana mais permeável ao sódio, e
posteriormente deslocando o potencial da membrana em direção ao potencial de
equilíbrio do sódio. Este "feedback" positivo causa a abertura de um número maior de
canais de sódio, dando ao potencial de ação um caráter tudo-ou-nada. O potencial de
ação é rapidamente interrompido pela inativação dos canais de sódio e, em muitos
neurônios, pela abertura dos canais de potássio dependentes de voltagem. A propagação
do potencial de ação através da fibra nervosa depende de suas propriedades passivas de
cabo elétrico. Quando, após uma despolarização local, a membrana dispara um potencial
de ação, a corrente atravessa a membrana através dos canais de sódio que foram
abertos, causando assim a ativação das regiões vizinhas e consequentemente
propagando o PA. Em muitos axônios de vertebrados, a velocidade e a eficiência da
propagação do potencial são maiores devido à existência de uma bainha de mielina que
permite a ativação de apenas algumas regiões excitáveis da membrana, isto é os nodos
de Ranvier.
227
LEITURA COMPLEMENTAR
228
229
O estímulo elétrico com intensidade acima de um determinado valor liminar dispara
uma onda de atividade elétrica, que rapidamente se propaga por toda a membrana
plasmática do neurônio. Esta onda de excitação elétrica em movimento é conhecida como
potencial de ação (PA) ou impulso nervoso. Ela transporta uma mensagem, amplificada
ponto a ponto, de um extremo a outro do neurônio, com velocidade igual ou superior a
100 m/s.
A função de uma célula nervosa depende de sua forma, pois esta determina o local no
qual o sinal é recebido e o alvo para onde o sinal será enviado. Geralmente, os neurônios
são bastante alongados - bem mais do que qualquer outra classe de células do
organismo. Assim, um neurônio motor humano envolvido na transmissão de um sinal da
medula espinhal para o músculo do pé deve ser necessariamente longo. Basicamente, o
neurônio apresenta três partes principais: o corpo celular, os dendritos e o axônio
(Figura 2). O corpo celular é o centro biossintético, que abriga o núcleo e a maioria dos
ribossomos, o retículo endoplasmático e o aparelho de Golgi. Os dendritos são um
conjunto de ramificações tubulares da célula que se expandem do corpo celular como
antenas, formando, portanto, uma superfície bem amplificada para a captação de sinais
provenientes de outras células. O axônio é uma expansão celular geralmente única e mais
longa que os dendritos e que conduz os potenciais de ação do corpo celular para alvos
distantes. Nas suas extremidades, o axônio geralmente se subdivide em inúmeras
ramificações, distribuindo os sinais simultaneamente para muitos células alvos.
230
231
induz uma alteração elétrica na célula pós-sináptica. Deste modo esta comunicação
envolve, inicialmente, a conversão do sinal elétrico em químico, e em seguida, do químico
em elétrico novamente.
Os neurônios diferem entre si quanto aos neurotransmissores liberados, assim
como pela forma e tamanho (Figura 4). Os diversos tipos de neurônios se entrelaçam,
formando circuitos extremamente complexos. Geralmente as estruturas são ordenadas e
bem repetitivas. Por exemplo, o córtex visual possui uma estrutura modular, isto é, ele é
constituído de agrupamentos de neurônios que não só recebem informações de diferentes
regiões do campo visual, como também são interligados entre si. Deste modo, executam,
em conjunto, a análise dos sinais recebidos por este grupo, dentre os demais sinais
captados pelo sistema visual.
232
233
ROTEIRO DE AULA PRÁTICA DE POTENCIAL DE AÇÃO
Esta aula prática é constituída de duas partes, onde serão apresentados, em vídeo,
experimentos relacionados á bioeletrogênese e excitabilidade celular (primeira parte) e
experimentos utilizando a técnica de "patch clamp" (segunda parte), que possibilita o
estudo de correntes iônicas através de canais unitários.
234
Estimulação do nervo com dois eletrodos externos (na superfície do nervo), um
eletrodo de terra e dois eletrodos externos para a captação do resposta biológica (na
superfície do nervo ou músculo).
Desenvolvimento de equipamentos de alta sensibilidade e tempo de resposta
adequado (na faixa de ms): osciloscópio (procure saber com o professor como funciona
um (osciloscópio).
Resultado: registro de um potencial bifásico de amplitude e
duração conhecidas.
Descreva o sinal observado em termos de duração e de
amplitude. Compare este sinal com o registro intracelular do PA (amplitude e duração)
discutido em classe e também com a duração da contração muscular. Descreva as
propriedades do potencial bifásico. Descreva período refratário absoluto e relativo.
235
VÍDEO 2: DEMONSTRACAO DA TÉCNICA DE "PATCH CLAMP" EM
CÉLULAS DA LINHAGEM GH3 E MIÓCITOS DE AORTA BOVINA
236
2.2. Obtenção da configuração "cell-attached":
reconhecimento da presença de
canais iônicos. Propriedades de
um canal iônico.
237
2.2.3. Probabilidade de abertura do canal
E calculado a partir da medida do período de tempo que o canal
passou no estado aberto dividido pelo tempo total de registro.
2.2.4. Seletividade de um canal iônico
Através de que parâmetro se determina a
seletividade de um canal iônico?
- desvantagens e vantagens desta configuração
238
5. Demonstração da configuração em "whole cell" em célula GH3.
5.1. Obtenção da configuração "whole cell"
- pulso despolarizante de 50 mV
- presença de tetrodotoxina no meio externo
- presença de CsCl(5 mM) na solução da pipeta
- parâmetro medido: corrente elétrica total através da membrana: IK +
INa + ICa
- resultados:
1) presença das correntes IK e ICa
2) com o Cs + na célula, ocorre o bloqueio da IK, ativado por Ca, visualizando-
se melhor a corrente para dentro determinada pela entrada de íons Ca, pelos canais de
Ca, do tipo T (ativação e inativação rápidas).
5.2. Isolamento da corrente de Ca da corrente total:
- presença de íons Cs+ na pipeta (bloqueio dos canais de K, ativados por
Ca) e presença de TTX no banho (bloqueio dos canais de Na).
Esquematize e comente o resultado observado.
239
PERGUNTAS PARA SEMINÁRIOS
240
1. Quais são as principais diferenças entre PR e PA? Quais as características de
um PA? Descreva as fases do PA?
2. O que significa despolarização e hiperpolarização da membrana?
3. Esquematize o circuito básico de "voltage-clamp" e explique o princípio desta
técnica? Em que outra parte do nosso curso você teve que utilizar esta técnica?
4. Como foram identificados os íons responsáveis pela corrente registrada em um
experimento de "voltage-clamp"?
5. Como ocorre a abertura e inativação dos canais de Na +, dependentes de
voltagem?
6. Qual a técnica para se estudar a corrente iônica através de um canal iônico? No
que ela se diferencia do "voltage clamp"? Como você reconhece um canal iônico
dependente de voltagem com esta técnica?
7. Que propriedades caracterizam um canal iônico?
8. Interprete as diferentes fase do PA em termos de canais iônicos?
9. O que é tempo de abertura e de fechamento de um canal?
10. Qual a importância dos canais de Na+ para o PA?
11. Comente o caracter "tudo-ou-nada" do PA?
12. Duas drogas A e B (ainda a serem descobertas) bloqueiam especificamente os
"leak channels" de K+ e Na+, respectivamente. Discuta seus efeitos sobre o potencial de
repouso e de ação. Analise os efeitos das duas drogas A e B sobre o potencial de repouso
e de ação, mas em presença de ouabaína.
13. A relação corrente-voltagem foi determinada em três células, considerando que as
mesmas eram permeáveis apenas aos íons Na+ e K+ e que o potencial de Nernst para o
íon Na+ é de
+50 mV e para o K+ -50 mV. Analisando as relações obtidas:
a. discuta a seletividade da membrana para cada célula (A, B e C).
b. qual o sentido da corrente em cada célula quando o potencial de
membrana for igual a 0 mV nos três casos.
c. o que há de comum entre os valores de -50 mV em A, 0 mV em B e +50 mV em
C.
11. Duas células hipotéticas A e B apresentam os seguintes potenciais de repouso
de +30 mV e -30 mV, respectivamente. Em seguida, foi feita uma montagem experimental
de modo a alterar o potencial de membrana de cada célula para os seguintes valores:
a. +60 mV; b. 0 mV; c. -60 mV
241
Discuta o estado de polarização (relativa) para cada célula nas três situações
experimentais.
12. Relembre a montagem experimental feita na pele de anfibio que lhe permitiu
fazer um "voltage clamp". Discuta o princípio básico de um experimento de "voltage
clamp". Qual o parâmetro medido? Na pele de anfibio, seria possível fixar a sua voltagem
em outros valores? Que parâmetros Você mediria?
13. Foi feito um experimento de "voltage clamp" em axônio gigante de lula, dando-
se um pulso despolarizante para +10 mV a partir de um potencial de membrana
correspondente ao de repouso (-70 mV), em três condições experimentais:
a. em presença de Ringer normal
b. em presença de Ringer normal contendo 10 uM de tetrodotoxina
c. em presença de 20 mM de TEA (tetraetilamônio)
obtendo-se os resultados abaixo:
- Indique nos traçados onde a corrente registrada é para dentro e onde é para fora
da célula. Qual a convenção para registro de correntes?
- A corrente registrada é a corrente total ou é a corrente através de um único canal
iônico? Justifique a sua resposta.
- A que íons Você associaria a corrente para dentro e para fora? Justifique.
- Baseado nos dados acima posso afirmar que existem dois canais iônicos
envolvidos no potencial de ação? Justifique a sua resposta.
14. Discuta a propagação passiva de um sinal elétrico através de uma membrana
biológica? Por que o axônio funciona como um cabo?
15. Por que a célula não utiliza a propagação passiva para comunicação a longa
distância? Justifique.
16. Em uma situação de hipocalcemia (por exemplo na alcalose respiratória ou tetania
por baixo Ca) observa-se que ocorre o disparo espontâneo e repetitivo de PA(s)? E
durante uma hipercalemia? Interprete o ocorrido?
242
REFERENCIAS
1. Molecular Cell Biology, ed. J. Darnell, terceira edição, Capítulo 21, 1995.
2. Animal Physiology, ed. R. Eckert, terceira edição, Capítulo 5.
243