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Notas à organização administrativa do Estado, livro I de Freitas do Amaral

As atribuições do Estado podem ser divididas em 3 categorias: atribuições


principais, atribuições auxiliares ou atribuições de comando.

1) Atribuições principais podem ser consideradas em 4 grupos:


a) Atribuições de soberania (ex. defesa nacional, relações externas, etc.)
b) Atribuições económicas (ex. relativas a moeda, ao imposto, ao comércio
externo, à produção nos diversos setores produtivos, etc.)
c) Atribuições sociais (ex. saúde, segurança social, habitação, urbanismo)
d) Atribuições educativas e culturais (ex. ensino, investigação científica,
fomento do desporto e da cultura)
2) Atribuições auxiliares podem ser:
a) Gestão do pessoal;
b) Gestão do material;
c) Gestão financeira;
d) Funções jurídicas e de contencioso;
e) Funções de arquivo e documentação.
3) As atribuições de comando destinam se a preparar e a acompanhar as tomadas
de decisão pela chefia, podem ser as seguintes:
a) Estudos e planeamento
b) Previsão
c) Organização
d) Controlo
e) Relações públicas

É na Constituição que vêm enumeradas as atribuições do Estado, contudo pode a


lei acrescentar ao Estado outras atribuições.

De acordo com o artigo 199º da CRP podemos afirmar que, do ponto de vista
administrativo, o Governo tem 3 principais funções:

a) Garantir a execução das leis;


b) Assegurar o funcionamento da Administração Pública;
c) Promover a satisfação das necessidades coletivas.

O Governo não dirige apenas a administração direta do Estado, como


superintende na administração indireta e tutela esta última e a administração
autónoma, isto é, controla as entidades públicas que fazem parte da Administração mas
sem pertencer ao Estado.

Em 1938, a propósito de um litígio em tribunal devido a um ministro ter tomado


uma decisão relativamente a uma obra entre um empreiteiro o Estado, o STA decidiu
que são os Ministros, singularmente considerados, que exercem em regra as atribuições
administrativas do Governo, na parte que diga respeito à sua pasta. Assim, a palavra
“Governo” tanto pode significar o órgão colegial Conselho de Ministros, como os
Ministros singularmente considerados.

A estrutura do governo (art.º 183 da CRP) compreende:

a) O Primeiro Ministro;
b) Os Vice-Primeiros-Ministros;
c) Os Ministros;
d) Os Secretários de Estado;
e) Os Subsecretários de Estado.

A diferença entre Secretários de Estado e Subsecretários de Estado é que os


primeiros têm mais elevada categoria protocolar do que os segundos, e são os principais
colaboradores dos Ministros, cabendo-lhes a substituição destes em caso de ausência ou
impedimento (art.185º/2 CRP); já os Subsecretários de Estado situam-se num escalão
menos elevado, e em regra não despacham com o respetivo Ministro mas com um
Secretário de Estado, os Subsecretários não vêm substituir um Ministro mas sim o
Secretário de Estado que auxilia o respetivo Ministro.

Os principais traços do Estatuto jurídico dos Secretários de Estado:

 Não participam das funções política e legislativa;


 Não participam, em regra, no Conselho de Ministros, salvo em substituição do
Ministro respetivo, mas podem participar nos Conselhos especializados;´
 Só exercem competência administrativa delegada, sob a orientação direta dos
respetivos ministros;
 Os Secretários de Estado não são hierarquicamente subordinados aos Ministros,
mas estão sujeitos à supremacia política destes: a sua competência é maior ou
menor conforme o âmbito da delegação recebida, mas não podem nunca
revogar, modificar ou suspender os atos dos Ministros.
O artigo 201º/1 na sua al. a) enuncia que compete ao Primeiro-Ministro coordenar e
orientar a ação dos Ministros. Mas o que é orientar? Em Direito dirigir é dar ordens-
comandos aos quais o seu destinatário deve obediência; ao passo que orientar é apenas
formular diretivas, ou dar conselhos, ou fazer recomendações- é muito diferente, pois as
diretivas, os conselhos e as recomendações nem são tão concretos e especificados no
seu conteúdo como as ordens, nem se revestem de uma obrigatoriedade tão intensa.

E o que é coordenar? Coordenar é orientar a resolução dos assuntos que tenham de


ser decididos em conjunto, por dois ou mais Ministros.

Os ministérios são os departamentos da administração central do Estado dirigidos


pelos Ministros respetivos. Assim sendo, os ministérios devem agrupar-se em 4
categorias:

a) Ministérios de soberania: são aqueles em que as atribuições políticas são


predominantes, por lhes estar confiado o exercício das principais funções de
soberania do Estado ( Administração Interna, Justiça, Negócios Estrangeiros,
Defesa Nacional).
b) Ministérios económicos: são aqueles que superintendem nos assuntos de
caráter económico, financeiro e monetário (Finanças, Planeamento,
Agricultura, Comércio, Indústria).
c) Ministérios sociais: são aqueles que se destinam a realizar a intervenção do
Estado nas questões de natureza social e cultural, bem como no mundo do
trabalho ( Educação, Cultura, Ciência, Juventude, Desporto, População,
Emprego, Saúde, Trabalho, Segurança Social).
d) Ministérios técnicos: são aqueles que se dedicam à promoção das
infraestruturas e dos grandes equipamentos coletivos, exercendo, funções
predominantemente técnicas (Obras Públicas, Habitação, Urbanismo,
Ambiente, Transportes, Comunicações).

Aspetos materiais da Administração indireta:

1. A administração estadual indireta é uma forma de atividade administrativa;


2. Trata-se se uma atividade que se destina à realização de fins do Estado.
3. Não se trata de uma atividade exercida pelo próprio Estado, é sim uma atividade
que o Estado transfere, por sua decisão, para outras entidades distintas dele. A
transferência denomina-se, em Direito Administrativo, de devolução de poderes:
o Estado devolve- ou seja, transfere, transmite- uma parte dos seus poderes para
entidades que não se encontram nele integradas.
4. É uma atividade exercida no interesse do Estado, mas desempenhada pelas
entidades a quem está confiada em nome próprio e não em nome do Estado.

Uma vez que é no interesse do Estado que estas entidades desenvolvem a sua
atividade, é natural que o Estado nelas possa intervir. Assim, o Estado dispõe, em regra,
do poder de nomear e demitir os dirigentes, possui o poder de lhes dar instruções e
diretivas acerca do modo de exercer a sua atividade e tem o poder de fiscalizar e
controlar a forma como tal atividade é desempenhada.

Aspetos orgânicos da administração estadual indireta:

1. É constituída por um conjunto de entidades públicas que são distintas do Estado,


isto é, que têm personalidade jurídica própria.
2. A decisão de criar estas entidades cabe ao Estado e é estabelecida pelo
legislador.
3. O financiamento destas entidades cabe ao Estado, em todo ou em parte.
4. Dispõem em regra de autonomia administrativa e financeira: tomam elas as suas
próprias decisões, gerem como entenderem a sua organização, cobram as suas
receitas, realizam as próprias despesas, etc.

A figura do instituo público tem natureza burocrática e exerce funções de gestão


pública, já a figura da empresa pública tem natureza empresarial e desempenha uma
atividade de gestão privada. Hoje distingue-se o setor público administrativo (SPA) e o
setor público empresarial (SPE); do primeiro são parte o Estado, os institutos públicos,
as associações públicas, as autarquias locais e as regiões autónomas, enquanto o
segundo é composto pelas empresas públicas.

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