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verbos1
Alessandro Boechat de Medeiros - UFRJ
1. Introdução
(1) a. Pedro correu na praia ontem (verbo inergativo, segundo alguns testes).
b. Pedro correu a maratona (verbo transitivo, licenciando voz passiva).
c. A porta correu até a parede (verbo inacusativo, segundo alguns testes).
d. Pedro correu a porta até a parede (versão causativa de (c)).
1
Gostaria de agradecer a Ana Clara Polakof, João Paulo Cyrino e aos membros do GELin pela leitura e
comentários de versões prévias deste trabalho. Os erros que permanecerem são de minha total
responsabilidade.
1
Em (1) temos quatro contextos sintáticos em que o verbo correr é licenciado.
Uma teoria projecionista vai ter que assumir que existem quatro entradas lexicais para o
verbo, cada uma com uma grade argumental distinta das outras, ainda que
provavelmente relacionadas por regras lexicais.
O segundo tipo de teoria postula uma relação mais regular entre estrutura e
significado: o conteúdo lexical, idiossincrático, de um item é somente parte do sentido
associado a ele nas propostas projecionistas; a outra parte, a parte estrutural do
significado, é fornecida por algum gabarito ou arranjo, que interage de modos regulares
com a parte idiossincrática.
A parte estrutural do significado pode ser representada como um gabarito
puramente semântico (um gabarito de estrutura de eventos), como é o caso da
abordagem lexicalista de Levin e Rappaport, em vários trabalhos (particularmente
LEVIN; RAPPAPORT, 1995), onde os gabaritos incluem espaços para a contribuição
lexical do item. Veja-se, por exemplo, a estrutura de eventos associada ao verbo run
(correr em inglês) encontrada em Levin (1999): o gabarito inclui um predicado, ACT,
para dizer que o verbo descreve uma atividade, modificado diretamente pela raiz do
verbo, a qual indica qual é o tipo de atividade de que se trata (a contribuição
estritamente lexical ao significado); o predicado ACT abre uma posição para um
argumento interpretado como agente da atividade e a raiz descreve um determinado
modo de agir desse agente. Em teorias como essa, os gabaritos fazem uma interface
entre o léxico e a sintaxe, definindo o número de argumentos e que interpretação os
verbos terão, além de um conjunto de propriedades acionais dos sintagmas verbais que
encabeçam.
Apesar de serem menos estipulativas do que abordagens projecionistas como as
brevemente apresentadas no segundo parágrafo acima, teorias como a de Levin e
Rappaport precisam de regras (conhecidas como regras de link) que estabeleçam a
correlação entre as posições que os argumentos devem ocupar no gabarito e as posições
em que devem ocorrer na estrutura sintática da frase. Por exemplo, no caso do verbo run
acima, o argumento do predicado ACT tem que ser colocado em alguma posição da
estrutura sintática, e é preciso que haja uma regra estabelecendo, pelo menos, que
argumentos do predicado ACT sejam sujeitos sentenciais.
Regras de link, contudo, podem ser eliminadas da teoria se os operadores que
compõem os gabaritos de estrutura de eventos (por exemplo, o predicado ACT) forem
veiculados ou por relações entre núcleos sintáticos ou pelos próprios núcleos sintáticos,
que podem predicar sobre argumentos e interagir com o conteúdo idiossincrático dos
itens de algum modo. Assim, temos um arranjo sintático-semântico que codifica o
significado estrutural de um sintagma verbal, por exemplo, definindo diretamente as
posições (iniciais) ocupadas pelos argumentos. Teorias como a exo-esquelética de Hagit
Borer (BORER, 2005; 2010) e algumas abordagens para a estrutura argumental dentro
do quadro da Morfologia Distribuída (por exemplo, PYKKÄNEN, 2002; MARANTZ,
2006, entre outros) possuem essa característica.
Este capítulo, adotando o arcabouço teórico da Morfologia Distribuída (HALLE;
MARANTZ, 1993; MARANTZ, 1997; 2001), apresentará uma proposta para a estrutura
argumental dos verbos em português baseando-se numa decomposição dessa estrutura
em estruturas de predicados que atribuem papéis aspectuais aos seus argumentos (ou
seja, uma estrutura de eventos como a que encontramos nas teorias de Ramchand e
Borer). Por se tratar de Morfologia Distribuída, a decomposição proposta é sintática –
ou seja, os subpredicados são morfemas (núcleos) que projetam posições sintáticas para
a inserção dos argumentos. As raízes interagem com as estruturas não como elementos
que introduzem posições argumentais, mas que acrescentam, através de uma forma de
2
modificação adverbial, conteúdo lexical a determinadas partes da estrutura de eventos
sintaticamente representada.
Proporei que estruturas monoeventivas e bieventivas subjazam aos sintagmas
verbais encabeçados por verbos aos quais tipicamente atribuímos significados
dinâmicos, não estativos (ou seja, estou excluindo desta análise verbos de estado como
amar, ter, conhecer, etc.). As estruturas monoeventivas serão tipicamente associadas
aos verbos que a literatura tradicional chama de inergativos (ver MARANTZ, 2006 para
a mesma ideia) e uma parte dos verbos exclusivamente transitivos; as estruturas
bieventivas (em que se codifica uma relação causal entre as duas eventualidades;
HALE; KEYSER, 1993; 2002; MARANTZ, 2006) estarão associadas aos chamados
verbos alternantes, inacusativos e a algumas classes de verbos exclusivamente
transitivos. Em alguns casos, a raiz atribuirá um conteúdo lexical ao evento causador;
em outros, ao evento ou estado causados (MARANTZ, 2006). Procurarei mostrar que
essa arrumação explica diversas propriedades de variados tipos de sintagmas verbais.
O texto tem a seguinte organização. Na seção 2 e suas subseções discuto
propriedades diversas de alguns tipos de sintagmas verbais do português brasileiro:
verbos de alternância causativa, verbos inergativos, verbos inacusativos e verbos
exclusivamente transitivos. Na seção 3 e suas subseções, proponho um conjunto mínimo
de estruturas sintagmáticas que explicam as propriedades apresentadas na seção
anterior. Adotando uma versão mais livre da operação de identificação de eventos
(KRATZER, 1996), a ideia de que as raízes em si não projetam estrutura, são somente
modificadoras adverbiais de morfemas abstratos, que de fato projetam estrutura
sintagmática (BORER, 2005; MARANTZ, 2012), e a ideia de que eventos dinâmicos
introduzidos por morfemas sejam durativos ou não durativos (culminações), darei conta
de alguns fatos que são jogados no limbo das idiossincrasias lexicais pela literatura de
orientação lexicalista. A seção 4 conclui o capítulo com a recapitulação de alguns
pontos.
Para terminar esta introdução, uma nota de esclarecimento sobre o termo verbo
usado ao longo deste capítulo. Expressões como verbos inergativos ou verbos
alternantes podem soar muito projecionistas para uma proposta que se nega a sê-lo.
Contudo, essas expressões só estão lá por razões de concisão, ou por inabilidade do
autor de encontrar uma expressão que seja ao mesmo tempo precisa e concisa. Esta nota
serve para esclarecer que se trato de verbos transitivos, não estou de fato tratando de
verbos, mas de estruturas sintagmáticas com sujeito e objeto, nas quais mais comumente
(mas não exclusiva ou obrigatoriamente) determinadas raízes ocorrem, por conta de
suas propriedades semânticas idiossincráticas.
Nesta seção do capítulo, farei uma discussão ampla sobre as propriedades dos
tipos de verbos alvos de investigação deste estudo. Levarei em conta diversos de seus
aspectos (alguns já apontados na literatura – por exemplo, em CANÇADO; GODOY,
2012, AMARAL; CANÇADO, 2015, entre muitos outros autores), não só propriedades
sintático-semânticas, mas também propriedades morfológicas e morfossintáticas desses
verbos (e de formas morfologicamente relacionadas). A apresentação será organizada
em seções que indicam os tipos de estrutura sintática em que o verbo tipicamente ocorre
(alternância causativa, sintagmas verbais inergativos, sintagmas verbais inacusativos,
sintagmas verbais exclusivamente transitivos). Os levantamentos de propriedades
contidos na seção fornecerão subsídios para a elaboração das propostas da seção 3.
3
2.1 Alternância causativa
Verbos de alternância causativa são, pelo menos, de dois tipos básicos. (1)
Aqueles que denotam eventos que, quando culminam, acarretam um estado,
frequentemente reversível (estado-alvo; PARSONS, 1990), atingido pelo objeto
(superficial ou subjacente), como: abrir, fechar, deitar, levantar, quebrar, melhorar,
entortar, curvar, acordar, despedaçar etc. Aqui, a raiz contribui para a descrição do
estado atingido: posso usá-la, por exemplo, para a formação de particípios que denotam
estados-alvo (PARSONS, 1990; KRATZER, 1999) dos eventos aqui descritos (aberto,
acordado, levantado, etc.); ou a própria raiz é a de um adjetivo que denota um estado
que também é o alvo do evento descrito pelo verbo (entortar/torto, curvar/curvo,
melhorar/melhor, etc.). (2) Aqueles que, em sua versão intransitiva, denotam eventos
puramente dinâmicos especificados ou descritos pela raiz; são verbos desse tipo: rodar,
crescer, girar, rodopiar, rolar, balançar, explodir, entre outros.
Chamamos tais verbos de verbos de alternância porque ocorrem nos contextos
sintáticos abaixo. Note-se que o que é sujeito numa versão do verbo é objeto na outra:
Os prefixos re- e des- podem indicar como é a estrutura interna dos sintagmas
verbais encabeçados pelos verbos que os aceitam (MEDEIROS, 2016). Por isso, uma
breve discussão sobre esse ponto quando tratamos de estrutura argumental é
indispensável. Em Medeiros (2016) mostrei que verbos alternantes com estados
atingidos com frequência aceitam os prefixos re- e des-. Os verbos que não codificam
um estado-alvo costumam aceitar o prefixo re- quando forçamos uma interpretação de
estado resultante (na verdade, algo mais bem descrito como o “estado de uma tarefa ter-
se cumprido”) ou acrescentamos um estado atingido à estrutura, através de um sintagma
preposicional, por exemplo2. Note-se que se o evento não produz um estado como
resultado, o uso do prefixo é, na melhor das hipóteses, marginal:
2
Em Medeiros (2016) propus que os prefixos re- e des- se anexam a camadas distintas de um sintagma
verbal tripartido (VozP-vP-Raiz-P). Na proposta, o prefixo des- é um modificador adverbial da camada
mais interna (Raiz-P), que introduz um estado-alvo do evento e o complemento do verbo (o qual atinge
tal estado). Esse estado normalmente é o mesmo denotado pelo particípio do verbo. O prefixo re- é um
modificador adverbial que se anexa ao nível verbal (vP). Ambos estão abaixo do núcleo Voz, que
introduz argumento externo. Esse arranjo explica diversas propriedades dos prefixos, particularmente a
única ordem permitida entre eles dentro da estrutura verbal (redes-, mas não desre-).
3
Restrições ao uso do prefixo des- nesse grupo podem ser explicadas se assumimos que o prefixo, em vez
de simplesmente negar um estado (cf. MEDEIROS, 2016), faça uma inversão de escala nos verbos cujos
particípios derivados ou adjetivos de base introduzam certos tipos de escala. Isso explicaria porque
formas como desfechar, desabrir, desmelhorar, despiorar etc. são marginais ou soam como neologismos
4
particularmente o prefixo des-, oferece uma boa maneira de avaliar se a estrutura
acional associada ao verbo inclui um estado reversível atingido, ou seja, oferece uma
boa maneira de incluir determinado verbo em um grupo ou outro dos alternantes.
Além do processo de prefixação discutido acima, uma outra maneira de
identificar mais de uma eventualidade no significado de um determinado sintagma
verbal é manipular os escopos de variados tipos de advérbios. Tendo isso em mente,
uma pergunta relevante para nossa pesquisa é: será que temos mais de uma
eventualidade (estado ou evento) nos sintagmas verbais encabeçados por verbos de
alternância? Em alguns casos, pelo menos, parece que sim. Veja-se que se digo que o
porteiro fechou o portão por alguns minutos, a locução adverbial por alguns minutos
trata da duração do estado fechado do portão, não do evento de fechá-lo: nosso
conhecimento de mundo nos diz que um portão não costuma demorar dez minutos
fechando e, portanto, o intervalo de tempo descrito pelo advérbio deve ser o do estado
que o portão atingiu. Isso quer dizer que há um estado disponível para modificação na
estrutura acional do sintagma verbal. Mas é claramente possível modificar o evento
causador desse estado com outra locução adverbial. Imagine-se o seguinte contexto. Um
laboratório de um complexo de pesquisa foi contaminado por um vírus que se transmite
pelo ar e é preciso fechar uma porta para evitar que a contaminação se alastre para
outras partes do complexo. A única pessoa capaz de fechar a porta nesse contexto é o
Pedro, que, ou pode fechar a porta diretamente, ficando ainda numa parte do complexo
em risco e sem saber se o local já está contaminado, ou chegar a uma central de controle
fora da região em risco, e fechar a porta a distância, através de um painel com botões.
Preocupado com a situação do Pedro, eu pergunto: o Pedro fechou a porta na central de
controle? Aqui, estou perguntando se o Pedro executou a tarefa (a atividade que causou
o fechamento da porta) na central, não se Pedro fechou uma porta que ficava nesse local
(ainda que essa seja uma possibilidade de interpretação da frase). Ou seja, posso
discriminar um subevento causador dentro do sintagma verbal usando uma locução
adverbial locativa. Outros verbos se comportam de modo semelhante. É possível
pensarmos que se Pedro melhorou a situação das crianças no orfanato por dois anos,
há duas leituras: uma em que ele tomou uma série de medidas no orfanato que foram
rápidas, talvez em um único dia, mas que deixaram as crianças melhores por dois anos,
e outra em que a ação dele, que tinha como consequência a melhoria da situação das
crianças, durou dois anos. Com “entortou” temos também como localizar dois eventos:
a sentença
(4) Usando seus poderes, Uri Geller entortou uma colher no fundo do teatro
é ambígua, podendo descrever uma situação em que Uri Geller está no fundo do teatro,
usando seus poderes para entortar a colher, mas a colher está entortando no palco, diante
da plateia.
(Raciocínio equivalente vale para verbos como girar, rodar, etc. A sentença
usando seus poderes, Uri Geller girou uma manivela no fundo do teatro tem também
interpretação ambígua, como a da última sentença do parágrafo anterior.)
Quando tratamos das versões intransitivas dos verbos, há diferenças
interessantes entre os verbos que acarretam estados e os verbos que só envolvem
engraçados: o uso do prefixo em, por exemplo, abrir, inverte a escala associada ao seu adjetivo
participial, e essa escala invertida é a escala do adjetivo participial fechado, derivado do verbo fechar. E
vice-versa. A prefixação, portanto, geraria uma forma com significado bastante próximo ao de um verbo
simples já existente na língua.
5
eventos dinâmicos no que diz respeito às possibilidades de modificação adverbial.
Vejam-se os exemplos a seguir:
4
O clítico não precisa ser um reflexivo anafórico, indicando uma espécie de ação sobre si mesmo neste
dado. Veja-se que em situações como a descrita pela frase a árvore se balançou com as crianças subindo
nela, o clítico não está ali para indicar uma espécie de ação da árvore sobre si mesma.
6
(se) levantar, (se) deitar, etc. Interessantemente, alguns desses verbos parecem ser não
verbos verdadeiramente de alternância (como (se) machucar, (se) perder, (se) cortar,
(se) ferir, etc.), mas verbos que sofreram um processo de detransitivização via clítico
(Cf. CANÇADO; AMARAL, 2010; CYRINO, 2015).
É também importante mencionar o fato de que verbos como rodar, girar,
balançar, etc. – os alternantes que só envolvem eventos dinâmicos –, costumam aceitar
uma espécie de complemento cognato, como em o pião girou um giro rápido, ou em a
cadeira balançou um balanço suave. A existência de complementos cognatos costuma
ser um teste (ver próxima seção) considerado para se estabelecer que um verbo é
inergativo. Veremos mais adiante frases como Pedro tossiu e Pedro tossiu uma tosse
rouca. Note-se, entretanto, que, nos verbos que estamos considerando nesta seção, o
complemento cognato pode ser, marginalmente, um sujeito, mas nos verbos inergativos
isso não é possível. Assim, ??o giro do pião girou rapidamente; mas *a tosse rouca do
Pedro tossiu. Parece-me claro que, ademais do fato de os verbos inergativos não terem
uma versão causativa, esta propriedade dos verbos desta seção os diferencia dos verbos
de que tratarei a seguir.
O espaço e os objetivos mais básicos deste texto não me permitem tratar mais
detalhadamente das questões levantadas nos dois últimos parágrafos. Mas elas não são
de modo algum desprezíveis, e receberão atenção especial em estudos futuros.
vP VP
2 3
DP v’ V DP
2
v VP
4
V
Os verbos inergativos são, portanto, aqueles que não têm complementos (um
irmão para a raiz, como vemos em (7b)), ou, quando os têm, estes são cognatos (HALE;
KEYSER, 2002). Assim, verbos como caminhar (cem metros), dormir (um sono
profundo), dançar (uma valsa), gritar (seu grito de guerra), vomitar (as entranhas),
chorar (lágrimas de crocodilo), sorrir (um sorriso maroto), arrotar (um arroto azedo),
etc., seriam exemplos de verbos inergativos.
Tipicamente, os sintagmas verbais encabeçados por esses verbos têm
argumentos externos agentes (ainda que, para alguns, não se trate de um agente típico,
com controle pleno sobre a situação); além disso, os verbos não se prestam bem à
7
inversão de ordem com sujeito no português do Brasil: quando comparados com os
inacusativos (ver seção 2.2), a ordem VS é bem menos aceitável do que a ordem SV.
8
desgritar o grito de guerra, etc.). Esta propriedade tem relação com a anterior, uma vez
que, por não haver ponto final necessário, mesmo nas versões transitivas com
complementos cognatos quantificados, não há estado (do complemento) para ser
modificado por esses prefixos (MEDEIROS, 2016). Mas observe-se que se em Pedro
dançou a valsa o complemento a valsa for interpretado não como uma atividade, mas
como uma espécie de percurso temporal para a atividade, a anexação do prefixo re- é
substancialmente mais aceitável (?Pedro redançou a valsa com a namorada em quinze
minutos).
Por fim, vale dizer que verbos inergativos são monoeventivos; ou seja, ao
contrário do que ocorre com os verbos de alternância (ver seção 2.1) ou com alguns
verbos transitivos, constituintes adverbiais não tomam diferentes eventos possivelmente
codificados nos sintagmas verbais encabeçados por verbos inergativos. Veja-se que se
digo que Pedro caminhou por duas horas, ou que Pedro caminhou um quilômetro no
calçadão, não há estado ou outro evento envolvido que possa ser modificado pelas
locuções adverbiais apresentadas acima: somente o evento de caminhar, cujo agente é
Pedro, é acessível para a modificação.
A literatura lista alguns testes para a identificação dos verbos inacusativos (ver
esquema (7b) acima) no português falado no Brasil:
Os verbos inacusativos tipicamente não aceitam complementos cognatos. Assim,
não encontramos coisas como nascer um parto/nascimento, cair uma queda/um tombo,
chegar uma chegada, etc6.
Formam particípios adjetivos que modificam os sujeitos dos verbos de base,
descrevendo um estado alcançado quando o evento descrito por esses verbos culmina.
Vejam-se os exemplos a seguir:
(11) a. Pedro caiu em cima das caixas./Pedro está caído em cima das caixas.
b. Pedro desmaiou sentado na cadeira./Pedro está desmaiado sentado na
cadeira.
c. Mariana dançou no final da festa./*Mariana estava dançada ao final da
festa.
d. Alberto tossiu muito durante a noite./*Alberto está tossido agora.
6
Ainda que Cyrano de Bérgerac esteja morto depois de ter morrido uma morte poética. É importante
notar, também, que os exemplos envolvem possíveis objetos cognatos que são derivados
morfologicamente dos próprios verbos. No caso dos cognatos de que tratamos até o momento, contudo,
havia espaço para se pensar que o verbo fosse derivado do nome que é seu complemento (e não o
contrário).
9
Muitos particípios de verbos inacusativos que não denotam estados-alvo podem
ocorrer em construções de particípio absoluto, como em (13). Mais uma vez, é preciso
dizer, verbos inergativos não ocorrem nessas construções.
Há casos em que nem o particípio absoluto do verbo é licenciado, a não ser que
outro constituinte sentencial defina um ponto de chegada (ou de partida) para o sujeito
do verbo. Por exemplo, escorregar passa pelos testes de inacusatividade comentados
acima: não aceita complemento cognato, causativiza em contextos específicos, com a
exigência de um alvo ou ponto de partida locativo, e tem sujeito paciente, não agente. O
comportamento é semelhante ao dos verbos alternâncias que só apresentam
eventualidades dinâmicas.
10
Para terminar, tratemos brevemente da relação entre a prefixação e os verbos
inacusativos. Apesar de alguns deles envolverem claramente um estado-alvo atingido,
que pode ser denotado pela forma participial do verbo, a anexação do prefixo des- é
vetada ou marginal nos casos em questão, ou é idiomática. A razão para isso talvez
esteja no fato de que, em muitos desses verbos, a inversão de estado (ou escala)
introduzido(s) pelo verbo prefixado está codificada numa contraparte lexical não
prefixada, como ocorre com, por exemplo, o par desmaiar e despertar. O assunto é
interessante, mas foge ao escopo do trabalho e às finalidades desta seção, e não será
abordado aqui.
11
Mas não só os sintagmas verbais incrementais geram particípios com leitura
exclusiva de estado resultante (ou denotam um tipo de tarefa cumprida). Vejam-se os
exemplos a seguir:
Não é à toa que nenhum desses exemplos aceita com naturalidade o prefixo des-,
uma vez que o prefixo ocorre em verbos cuja estrutura acional envolve estados
reversíveis (alvo) (MEDEIROS, 2016).
Muitos dos verbos mencionados acima denotam mais de uma eventualidade,
como vimos nos verbos de alternância. Vejam-se os seguintes casos de modificação
adverbial, em que ou a locução modifica um evento dinâmico (de deslocamento no
espaço) causado, ou um estado causado:
12
(23) a. Pedro engavetou o documento (?o documento ainda está engavetado).
b. Pedro engarrafou o gênio (o gênio ainda está engarrafado).
c. Pedro encaixotou os livros (os livros ainda estão encaixotados).
d. Pedro ensacou os presentes (os presentes ainda estão ensacados).
e. Pedro azulejou a cúpula (?a cúpula ainda está azulejada).
f. Pedro selou o cavalo (o cavalo ainda está selado).
g. Pedro acarpetou o piso (?o piso ainda está acarpetado).
3. A proposta
(26) a. vP b. vP c. v
3 3
v DP v XP
3
DP X
13
As estruturas (26) podem ser modificadas por raízes que ou se adjungem a v
(MARANTZ, 2006; 2012) ou se adjungem a X, criando as quatro possibilidades abaixo:
(27) a. vP b. vP
3 3
v DP v XP
2 3
v √ DP X
2
X √
c. vP d. vP
3 2
v XP v √
1 3
v √ DP X
7
Uso as palavras “causação” e “implicação” para me referir a uma relação entre eventos em que um e
outro estão numa sucessão temporal e indissociável. Assim, incluem-se não só situações em que um
evento de fato causa outro como situações em que um evento simplesmente culmina no outro.
14
outros estados). No segundo caso, X introduz uma eventualidade dinâmica, e a raiz
adjungida introduz o conteúdo lexical correspondente. Os exemplos a seguir ilustram a
ideia:
(29) f g → h
<e,<s,t>> <s,t> <e,<s,t>>
8
Usarei as letras e e s nos esquemas para me referir a evento e estado respectivamente. Mas, adiante, ao
apresentar a formulação da regra de identificação de eventos (KRATZER, 1996), as letras e e s servirão
para indicar, respetivamente, os tipos semânticos entidade e eventualidade (ou situação). Apesar de ser
potencialmente confuso, essa é a maneira com que essas coisas são expressas dentro da literatura em
semântica formal, e preservarei essa notação aqui.
15
(30) f g → h
<s,t> <s,t> <s,t>
16
A estrutura (32) apresenta três eventualidades, com a causação, relação default
entre eventos, se aplicando duas vezes. Veremos mais adiante que advérbios podem
tomar três eventualidades nas versões transitivas dos sintagmas verbais encabeçados por
esses verbos, o que justifica a proposta.
Em alguns sintagmas verbais do tipo (27a) o morfema X é fonologicamente
realizado. Tomem-se, por exemplo, os verbos formados por derivação parassintética
com o prefixo es-: aqui, seguindo uma derivação semelhante à proposta por Hale e
Keyser (1993) para os verbos do tipo location-locatum, o morfema X será realizado
pelo prefixo, criando, junto com a raiz, uma predicação interna ao vP para o objeto. O
esquema abaixo o ilustra:
17
4 2
Pedro Voz vP = a manivela é um undergoer do evento e de girar
e’3
v XP = a manivela é um undergoer do evento e de girar
e 3
DP X = x é um undergoer do evento e de girar
5 2
a manivela X √GIR-
e
9
No esquema, o DP é interno à estrutura do adjetivo. Em trabalhos como os de Levin e Rappaport (1988),
Embick (2004) e Marantz (2006), entre outros, o DP é externo ao adjetivo participial, e há argumentos
sólidos para que isso seja verdade. Como resolver o conflito? Note-se que, se v e Part são semanticamente
nulos, mas Part seleciona sintaticamente v, podemos entender que, nas formas participiais, nada impede
que a combinação entre X e a raiz seja tomada diretamente por v e depois por Part, projetando uma
posição de especificador em Part-P. O DP então combina-se a Part-P para satisfazer uma exigência
argumental de X. O esquema a seguir, para a porta (está) aberta, ilustra a ideia:
É claro que dizer que “nada impede” não é o mesmo que explicar por que ocorre. Mas isso fica para
pesquisa futura.
18
Part vP = a porta no estado s aberto
3
v XP = a porta no estado s aberto
3
DP X
5 2
a porta X √ABR-
s
O advérbio ainda indica, segundo Kratzer (1999), que a forma participial denota
um estado-alvo, mas a presença do morfema verbalizador –ec- indica que o núcleo v
está presente na derivação (porque adoto aqui a Morfologia Distribuída, uma teoria
realizacional). Como o advérbio cuidadosamente não é licenciado nos exemplos, v deve
ser semanticamente nulo (MARANTZ, 2012); assim, o particípio descreverá um estado
que é o típico alvo de determinado evento, mas que não decorre necessariamente dele.
Por fim, vale ainda dizer que o prefixo des- é licenciado em grande parte dos
verbos alternantes com X estativo: descolar, desentortar, descurvar, etc. E isso pode ser
10
Talvez a sentença não seja agramatical num contexto bem específico. Mas isso não chega a ser um
problema para a proposta: basta assumirmos que v não é semanticamente nulo neste caso e o particípio
denota um estado resultante, mas com um subevento no vP disponibilizado pelo XP, que fornece um
estado-alvo para ser tomado pelo advérbio ainda. A seção 3.3 tratará desse tipo de particípio em verbos
transitivos.
19
facilmente explicado se assumirmos que o prefixo em questão é adverbial e toma a
camada XP, que introduz um estado-alvo (invertível). Remeto o leitor interessado a
Medeiros (2016) para um tratamento dos prefixos recursivos des- e re- em verbos e uma
justificativa para essa posição11.
Já nos verbos em que X introduz um evento, o fato de v ser semanticamente nulo
ou não é irrelevante, pois, como X não introduz um estado-alvo, a forma participial
necessariamente levará em conta um evento e terá um sentido forçado de tarefa
cumprida, como ocorre com atividades em geral (KRATZER, 1999). O morfema
participial, aqui, será responsável por criar o sentido de evento ou atividade concluídos,
e dar destaque ao estado correspondente, como ilustrado no esquema a seguir. No
exemplo, assumirei que a estrutura abaixo apresenta um alossema não-nulo de v.
11
Em Medeiros (2016) propus que des- modificasse um Raiz-P com semântica estativa. Aqui,
obviamente, ele modificará o XP com semântica estativa.
20
abertura, e isso significa que, na abordagem proposta neste capítulo, o advérbio está
modificando o estado disponibilizado na camada XP.
Se os advérbios podem tomar qualquer uma das eventualidades disponíveis,
parece razoável supor que duas posições estruturais possam ser alvos para adjunções, e
que os sintagmas verbais possam ser modificados simultaneamente por dois advérbios
com escopos distintos. Isso quer dizer que a frase a seguir é verdadeira numa situação
em que o evento em que o portão se abre ocorreu rapidamente, e o estado atingido está
numa espécie de grau máximo, definido pelo advérbio. O esquema que vem na
sequência mostra os locais da estrutura sintagmática em que as expressões adverbiais se
penduram para compor o sentido pretendido.
(40) vP
3
rápido vP
3
v XP
3
escancaradamente XP
3
o portão X
3
X √ABR-
12
Agradeço a Ana Paula Quadros Gomes por esse exemplo.
21
modificações simultâneas para o sintagma verbal. A sentença abaixo, por exemplo, é
degradada se usada para descrever uma situação em que a porta abriu rapidamente,
ficou escancarada como resultado e foi aberta por Pedro a partir da central de controle.
Não tenho como fornecer uma explicação para isso, mas o problema me parece não
relacionado à estrutura que estamos assumindo para as versões transitivas dos verbos
alternantes.
Como reforço à ideia de que existem três eventos envolvidos, note-se que, como
é o caso da ação realizada por Pedro para abrir a porta, o evento que redunda no estado
“aberto” da porta não é especificado no contexto acima. A porta, por exemplo, pode ter
girado lentamente em torno de gonzos para abrir, pode ter corrido lateralmente, pode ter
corrido verticalmente, pode até mesmo ter se tornado lentamente diáfana até
desaparecer por completo. As frases acima são compatíveis com qualquer um desses
cenários13. Ou seja, em todos os casos, podemos dizer que a porta (lentamente) se abriu,
independentemente do tipo de evento envolvido que conduziu ao estado atingido pela
por ela.
Agora tratemos dos verbos alternantes com o X introduzindo um evento, não um
estado.
Uma coisa importante que os esqueletos propostos acima estabelecem,
combinados com as restrições sobre a aplicação da regra de identificação de eventos, é
que não haverá mais do que duas eventualidades disponíveis para a modificação
adverbial nos sintagmas verbais onde X denota um evento: ou seja, mesmo na estrutura
sintagmática verbal que inclui Voz, nunca os três núcleos que introduzem eventos estão
disponíveis para a modificação adverbial. Em (44a) abaixo, por exemplo, não há a
ambiguidade que há em (44b): em (44a) há somente um evento (em que um pião gira),
localizado em um único lugar no espaço (atrás do muro); em (44b), por outro lado,
temos ambiguidade locativa – por exemplo, suponha que Pedro é um paranormal que
consegue, escondido atrás de um muro, fazer um pião girar num palco diante de uma
plateia atônita. A frase será verdadeira nessa situação. E só existem duas leituras
possíveis para a frase: uma em que Pedro atrás do muro fez o pião girar em outro lugar e
outra em que o pião girou atrás do muro, estando Pedro também atrás do muro ou não.
O cenário em (44c) é incompatível com o significado de (44b).
22
discutido na seção 2.1 acima, os eventos são pontuais, como é o caso de despertar; em
outros, os eventos são durativos, como em melhorar ou entortar. Se a breve discussão
no final da seção 2.1 estiver no caminho certo, os verbalizadores deverão ser
interpretados como durativos nas estruturas em que há um adjetivo sendo tomado
diretamente por X (como em esvaziar ou curvar); já nos casos em que o estado atingido
pelo argumento interno do verbo, superficial ou subjacente, só pode ser expresso por um
particípio, fica licenciada a interpretação de culminação para os verbalizador. De fato, a
depender da raiz, essa interpretação será obrigatória.
Os verbos inergativos terão a estrutura em (27d) acima. Uma vez que a raiz
modifica diretamente o núcleo verbalizador, o núcleo Voz, introdutor de argumento
externo, será obrigatoriamente anexado ao esqueleto, para a integração de um
argumento ao sintagma verbal (cf. MARANTZ, 2006). O sintagma vP inclui uma raiz e
introduz uma variável de evento; o núcleo Voz introduz uma variável de evento e uma
variável do tipo entidade – ou seja, introduz um iniciador ou agente para um evento (cf.
KRATZER, 1996). Segundo as restrições estabelecidas acima, haverá identificação de
eventos entre os núcleos Voz e v. Isso quer dizer que só há um evento disponibilizado
pela estrutura dos verbos inergativos – o contrário do que vimos nos verbos alternantes
que analisamos acima.
23
(47) a. Pedro dançou a valsa por duas horas.
b. Pedro dançou a valsa em quinze minutos.
Uma das interpretações de (47b) é aquela em que Pedro concluiu a valsa (isto é,
dançou-a do início ao fim) em quinze minutos. Como explicamos que em casos como o
de (47) acima o mesmo complemento quantificado possa introduzir um telos em (47b),
mas não o faça em (47a)?
A resposta para essa pergunta será dada na seção a seguir, que trata dos verbos
transitivos. Como se verá, os verbos inergativos, quando apresentam complementos
cognatos nos vPs encabeçados por eles, terão a estrutura dos verbos transitivos sem
subevento causado – a estrutura (27a) acima.
Além dos típicos verbos de tema incremental, como comer, há aqueles em que o
evento se dá incrementalmente em um espaço definido pelo complemento, como os
exemplos de (49) a seguir (cf. RAMCHAND, 1997). Mais uma vez, a estrutura (27a) é a
proposta para dar conta dessa subclasse de verbos:
24
Como já mencionado, quando o núcleo verbalizador é modificado diretamente
pela raiz, o núcleo Voz é obrigatório na estrutura. Uma vez que tais estruturas não
envolvem um estado-alvo especificado pela raiz do verbo, não será possível a anexação
do prefixo des- a esses verbos, a não ser nos casos em que há reinterpretação da raiz, o
que pode significar um outro esqueleto definindo contexto para seu significado especial.
Por exemplo, se o complemento do verbo cruzar forem alguns tipos de sintagmas
determinantes, como os braços ou as pernas, o significado da raiz é outro, e o verbo se
torna alternante14: o particípio passado do verbo denota um estado alvo (os braços ainda
estão cruzados) e o verbo aceita modificação pelo prefixo des- (os trabalhadores
descruzaram os braços). O mesmo vale para o verbo prender, com determinados tipos
de complementos (não animados) e um sintagma preposicional locativo, como em a
chave prendeu na fechadura ou João prendeu a chave na fechadura. Isso quer dizer
que, nesses casos, as raízes também são licenciadas como modificadoras do X estativo
em (27b). Nos termos da Morfologia Distribuída, podemos pensar que existe uma
entrada especial listada na Enciclopédia para as raízes desses verbos no contexto de X
estativo.
Mas não somente os sintagmas verbais “incrementais” têm a estrutura (27a)
acima. Proponho que a maioria dos exemplos em (20), repetidos a seguir, compartilhe a
mesma estrutura. Não há qualquer indicação, sintática, morfológica ou semântica,
dentre as que discutimos neste capítulo, para distinguir os incrementais dos exemplos
(b), (d), (e), (f), (g), (i) e (j) abaixo por estruturas sintáticas distintas.
Da lista apresentada em (50), contudo, pelo menos os itens (a) e (k) teriam
estruturas como a apresentada em (27c), onde X denota um evento dinâmico, durativo,
com interpretação default de deslocamento no espaço15. Vimos na seção 2.4 que o
evento de deslocamento no espaço pode ser modificado por locuções adverbiais, o que
indica, seguindo a lógica que vimos adotando até o momento, haver estrutura sintática
correspondente para anexação da locução. A sentença abaixo, seguida da estrutura de
seu sintagma verbal, ilustra a ideia:
14
A comparação que tenho em mente é com frases como Pedro cruzou a rua, em que a alternância é
bloqueada (*a rua cruzou).
15
A sentença em (50c) também envolve um sintagma verbal com a estrutura (27c), onde X é estativo.
Abaixo desenvolvo a ideia de um X estativo que não é modificado por uma raiz.
25
3
NP Voz’ = x é iniciador de e’, que causa o evento e
4 2
Pedro Voz vP = o evento e’ de empurrar causa o evento e cujo undergoer é
e’ rp o carrinho e e é muito rápido.
v XP = o carrinho é um undergoer do evento e de
1 3deslocamento no espaço e e é muito rápido.
v √EMPURR XP muito rápido
e’ 3
DP X
5 e
o carrinho
16
A possibilidade de causação contínua parece ser típica das estruturas em que os dois subeventos são
dinâmicos. Por exemplo, em Pedro girou a manivela, a atividade realizada por Pedro pode causar
continuamente o giro da manivela ou não. O mesmo não acontece quando o estado é a culminação do
evento: nesse caso, a atividade se encerra no momento em que o objeto atinge o estado causado.
17
Ainda que isso possa ocorrer, como no primeiro cenário descrito, onde Pedro empurra o carrinho, mas
não se desloca com ele. Note-se que nesse cenário é possível dizer que Pedro empurrou o carrinho em
menos de dois minutos para indicar que ele levou menos de dois minutos para iniciar e concluir a tarefa,
mesmo que o deslocamento do carrinho se mantenha por muito mais tempo.
26
um estado-alvo codificado na estrutura do verbo, e o sistema teria uma simetria
interessante e desejável. Abstratamente, a estrutura do sintagma verbal seria a seguinte:
27
(55) a. ?O muro ainda está pintado18.
b. O muro ainda está pintado de azul.
18
A sentença (55a) se torna indiscutivelmente aceitável no seguinte contexto: o muro da minha casa foi
inteiramente pichado e eu contratei um pintor para eliminar as pichações enquanto faço uma viagem de
trabalho de dois dias. Na volta, percebo que o trabalho mal começou e comento, decepcionado: Puxa, o
muro ainda está (todo) pintado!
28
Vale dizer que nesses particípios o alossema nulo de v não é licenciado como
ocorria nos particípios de verbos alternantes: aqui, a raiz modifica diretamente esse
morfema, e se v fosse semanticamente nulo, não haveria elemento do significado
estrutural para receber o conteúdo lexical idiossincrático da raiz no arranjo postulado.
Aproveitando um esquema proposto por Marantz (2006), que é perfeitamente
compatível com a análise desenvolvida neste capítulo, podemos pensar que os
sintagmas verbais encabeçados por alguns verbos bimorfêmicos exclusivamente
transitivos como destruir, obstruir, entre outros, envolvem também um X estativo,
realizado pelo prefixo, num esquema semelhante a (54) acima. Assim, o esquema da
frase Pedro obstruiu a estrada por algumas horas seria:
19
Encontrado em: simsaogoncalo.com.br/sao-goncalo/futebol-para-sapucai-tigre-unidos-porto-da-pedra/
20
Encontrado em: http://www.sul21.com.br/jornal/justica-da-prazo-de-um-dia-para-prefeitura-marcar-
reuniao-com-ocupantes-do-demhab/
21
Encontrado em: www.ijsn.es.gov.br/bibliotecaonline/Record/318187
29
Os verbos bimorfêmicos listados acima têm uma característica importante: eles
são exclusivamente transitivos. Não possuem versão incoativa (*a casa construiu) nem
versão inergativa (*o Pedro construiu). Isso pode ser explicado pela estrutura em (59):
uma vez que há uma raiz modificando v, o núcleo Voz introduzindo um argumento
externo é obrigatório, e já que há um prefixo, supostamente realizando o morfema X, o
complemento do verbo é obrigatório. Note-se que verbos cujo complemento, segundo a
proposta, se junta diretamente ao vP, como supostamente ocorre com uma parte dos
exemplos em (50) acima, têm versões inergativas, como podemos ver nos exemplos a
seguir.
O fato de os verbos bimorfêmicos não terem versões inergativas não quer dizer
que as raízes que ocorrem em estruturas contendo um X não podem ocorrer em
estruturas sem o morfema X22. Por exemplo, a raiz do verbo pintar, que, como defendo
aqui, ocorre modificando o v em (54), ocorre em frases como (62a) abaixo, que
apresenta uma versão inergativa do verbo, e em (62b), em que o complemento não
atinge um estado alvo como decorrência da atividade de pintar, mas é criado por (e
estabelece um ponto final para) essa atividade.
Importante ainda ressaltar que os verbos com X estativo, com exceções que
precisam de explicação, podem receber o prefixo des- (cf. MEDEIROS, 2016). A ideia
é que o prefixo des- seja um adjunto ao constituinte XP, e movimentos sucessivos de
núcleo (MEDEIROS, 2012) o coloquem como afixo de uma palavra morfológica
(EMBICK, 2010) de categoria verbal. Os exemplos abaixo o mostram:
22
Ainda que algumas dessas raízes só sejam licenciadas em estruturas com o morfema X, como se fossem
verbos bimorfêmicos cujo prefixo é um zero fonológico.
30
(64) ... para que os dias não fossem tão sem movimento despintou a cara e
decidiu descer do palco, se misturar aos comuns, catalisar seu semblante23...
Para concluir a discussão sobre os verbos transitivos, é preciso dizer que alguns
predicados veiculam eventos pontuais e são exclusivamente transitivos. Por exemplo,
verbos como vencer ou perder denotam culminações, com ou sem subevento estativo
associado. A proposta aqui desenvolvida, pressupondo a possibilidade de interpretação
não durativa para os verbalizadores, pode, talvez, lançar alguma luz sobre esses casos –
neles, os verbalizadores veiculam culminações modificadas diretamente por raízes, que
lhes atribuem conteúdos lexicais específicos. Com a possibilidade de v e X denotarem
pelo menos esses dois tipos acionais básicos de eventos (culminações e “atividades” ou
eventos durativos), o sistema ganha grande poder descritivo sem perder a elegância e a
simplicidade que também são buscadas neste trabalho. A questão com que é preciso
lidar em casos como o de vencer, entre outros, que tomam complementos interpretados
como eventos, é entender a relação entre a culminação denotada pelo verbo e as
propriedades aspectuais do evento denotado pelo complemento, que são diferentes. Por
exemplo, em Pedro venceu a corrida, o verbo denota uma culminação, mas o
complemento denota um processo culminado. O sistema apresentado até aqui precisa
ser expandido para lidar com casos como esses. A primeira questão que deve ser
colocada é que, por conta das diferenças aspectuais, não é possível haver identificação
de eventos entre o evento introduzido pelo verbo e o introduzido pelo complemento –
possibilidade de que falarei logo a seguir para os verbos inergativos com complementos
cognatos. O segundo ponto é que os efeitos do verbo incidem justamente sobre a
culminação do evento denotado pelo complemento, o que significa que somente eventos
culminados podem ocorrer como complemento. Esses fatos apontam alguns caminhos,
mas, por conta dos objetivos mais modestos deste trabalho, não desenvolverei um
tratamento detalhado para essa classe verbos.
Agora tratemos dos verbos inergativos com complementos cognatos.
Um dos aspectos mencionados anteriormente é o fato de que seus
complementos, mesmo quantificados, não contribuem para a criação de um evento
télico. Outra coisa importante é que muito frequentemente esses complementos
cognatos são nomes que denotam atividades, como em dormir um sono profundo,
dançar uma dança eslava, chorar um choro doído, tossir uma tosse rouca, etc. Parece
claro que, nos predicados listados acima, apesar de verbo e complemento expressarem
eventos, não temos eventos distintos, mas o mesmo evento referido por duas entidades
sintáticas separadas. Uma maneira de lidar com isso é supor que a operação de
identificação de eventos se aplique opcionalmente entre o verbalizador modificado pela
raiz e o complemento, que não denota uma entidade, mas um evento (uma atividade).
Assim, já que os verbalizadores modificados por raízes exigem um núcleo Voz e há
identificação de eventos entre o evento introduzido pelo verbalizador e o evento
introduzido pelo núcleo Voz, o qual não tem ponto final intrínseco necessário, teremos
somente um evento, atélico, com um iniciador/agente no especificador de Voz-P.
Na estrutura sintática, teríamos a seguinte situação:
23
minzyzerafin.blogspot.com
31
NP Voz’ = x é iniciador de e
4 2
Pedro Voz vP = evento e de dançar a valsa
e rp
v DP
1 5
v √DANÇ- a valsa
e e
(66) f g → h
<s,t> <s> <s,t>
Até aqui, não tratei das situações em que a raiz dos verbos está, segundo a teoria
aqui proposta, anexada diretamente ao núcleo X estativo, mas os verbos são
exclusivamente transitivos, não admitindo versão intransitiva incoativa. É o caso de
muitos verbos derivados pelo que a gramática tradicional chama de parassíntese,
incluindo-se aqui os verbos do tipo location-locatum. O sistema proposto neste capítulo
sugere que nas situações em que o X é modificado por uma raiz o verbo deva ser
alternante; mas esse não parece ser o caso sempre, e isso requer uma explicação. Nos
parágrafos a seguir apresentarei algumas possibilidades de tratamento que introduzem
muitos custos e, portanto, serão descartadas. A solução para a questão que se coloca
neste ponto exige mais investigação, que será conduzida em pesquisas futuras.
A primeira solução para este problema seria simplesmente considerar que nesse
grupo de verbos o elemento verbalizador seja o núcleo Voz, diretamente anexado ao
constituinte XP, como no esquema a seguir. Como Voz introduz um evento e X
introduz um estado, não temos identificação de eventos, mas a relação default de
causação. E como não há um v intermediando a relação entre Voz e XP, não existe
versão incoativa do verbo. A proposta também captaria uma intuição de Hale e Keyser
(1993), quando discutiram esta mesma propriedade nos verbos location-locatum: o
32
elemento verbal da estrutura desses verbos é, de algum modo, voltado para o agente,
não para o paciente.
Para que essa proposta seja razoável, no entanto, é preciso explicar os seguintes
pontos: (1) Por que a anexação de v é bloqueada sobre o XP nos verbos discutidos nesta
subseção? Ou, por outros termos, o que há de especial no XP desses verbos que faz com
que eles sejam licenciados somente por um núcleo Voz, não por um núcleo v? (2) Como
explicar que nominalizações e particípios desses verbos não exijam a presença do
argumento externo do verbo de base?
Com relação a (2), note-se que, segundo a proposta, o único elemento
verbalizador é o núcleo Voz, que projeta uma posição para o argumento externo.
Contudo, nominalizações como as a seguir não têm um argumento externo (visível),
mas devem incluir um morfema verbalizador, pois, além das vogais temáticas verbais
esperadas em todos os itens, temos as peças verbalizadoras -e- e -ec- nos itens (f) e (g) e
o alomorfe verbal da raiz em (e):
Ou seja, é muito difícil sustentar que não exista uma camada verbal
independente do morfema introdutor do argumento externo, uma vez que há evidência
33
morfológica dela sem a obrigatoriedade de um agente em formas derivadas como as
apresentadas em (69) e (70).
Essas considerações anulam a validade da proposta em (68). A questão (1),
portanto, não mais se coloca – e, de fato, não há resposta que não seja estipulativa para
essa questão.
Ademais, é possível criar contextos em que, por exemplo, o sujeito da sentença
realiza uma atividade em um local (como apertar um botão num laboratório), atividade
que causa diretamente o processo a que está sujeito o complemento (como o salgamento
de um tanque de água doce), mas o processo em si ocorre em outro (o lugar onde está o
tanque, distante da tal sala de controles), permitindo, assim, localizar eventos dinâmicos
diferentes em lugares distintos, mas expressos no mesmo sintagma verbal. Se não
houvesse uma camada verbal para permitir a ambiguidade locativa do exemplo abaixo,
teríamos que complicar os mecanismos de modificação adverbial que vimos usando até
aqui, o que não é desejável.
34
não num adjetivo, e fertilizar é um verbo transitivo, sem versão incoativa, que é
derivado de um adjetivo, fértil24); contudo, parece-me uma linha de investigação
razoável, que pode ser aprofundada em outras pesquisas.
Outra possibilidade é propor que o verbalizador que toma a estrutura estativa do
verbo, encabeçada pelo prefixo, seja “intrinsecamente modificado”. Chamo de
“intrinsecamente modificado” a situação em que o verbinho tem uma espécie de
“sabor”, como se existisse uma raiz nula modificando diretamente o v, definindo um
significado mais específico do que simplesmente evento para o morfema verbal, e, ao
mesmo tempo, criando a necessidade da anexação do núcleo Voz introduzindo o
argumento externo. Note-se que pelo menos os verbos location-locatum podem ser
razoavelmente parafraseados com o verbo pôr, como em: João engavetou os
documentos ≈ João pôs os documentos em uma (ou mais) gaveta(s); João selou o
cavalo ≈ João pôs uma sela no cavalo. A ideia seria, portanto, investigar a possibilidade
de haver verbalizadores com sabores como pôr (ou talvez fazer), que exigiriam a
anexação de núcleo Voz na estrutura do sintagma verbal. Essa proposta também capta a
intuição de Hale e Keyser (1993) de que haveria, nos verbos location-locatum, um
elemento verbal voltado para o agente.
Evidentemente, a “modificação intrínseca” deve ser mais bem desenvolvida.
Que mecanismo faz com que o verbalizador ganhe o significado em questão, com as
consequências sintáticas (obrigatoriedade do núcleo Voz) esperadas de uma
modificação direta do morfema por uma raiz, no contexto de um XP com semântica
locativa? Esta seção só discute possibilidades; ainda não tenho respostas.
(72) vP
3
v XP
3
DP X
3
24
Os verbos formados a partir de adjetivos e nomes com o sufixo –iz- são majoritariamente transitivos. A
exigência de um argumento externo pode indicar que o sufixo seja, de fato, uma raiz que modifica o v,
criando a necessidade de anexação de um núcleo Voz e do argumento externo. Assim, teríamos uma
estrutura com v e X (estativo) e duas raízes: uma modificando X e outra modificando v. Há, na literatura,
propostas que assumem que (pelo menos alguns) afixos derivacionais são raízes (CREEMERS et alii,
2016; De BELDER, 2011). A hipótese me parece promissora, e merece investigação aprofundada que
foge ao escopo deste trabalho. Ver a ideia de “modificação intrínseca” de que trato de maneira ainda
incipiente no parágrafo a seguir.
35
X √DESMAI-
25
A mesma alternância envolvendo elemento locativo ocorre em verbos tipicamente transitivos, como
prender, com complemento inanimado. Os exemplos (a) e (b) a seguir o mostram. Seguindo a teoria que
venho desenvolvendo, como a raiz desse verbo é licenciada em particípios de estado-alvo e há um
elemento estativo recuperável na estrutura verbal (a polícia prendeu o facínora por meses), o sintagma
verbal que licencia essa raiz envolve um X estativo.
36
A última questão que gostaria de discutir sobre (72) é a seguinte: por que muitos
desses verbos não aceitam qualquer tipo de alternância?
A resposta que posso oferecer a essa questão apela ao conteúdo lexical de certas
raízes: raízes de verbos como nascer são conceitualmente associadas a processos pelos
quais passam indivíduos, processos que excluem eventos causadores e agentes, e não
são, portanto, licenciadas em estruturas como (72) acima acrescidas de um núcleo Voz,
por uma simples questão de incompatibilidade semântica entre o conteúdo lexical
dessas raízes (bastante específico) e o significado estrutural de um sintagma verbal de
tal tipo. Isso explicaria também o fato de esses mesmos conceitos, veiculados em outras
línguas por outras palavras, tampouco ocorrerem em contextos sintáticos de alternância.
4. Conclusões
37
(75) VozP
3
NP Voz’
4 2
Pedro Voz vP
e’ rp
v XP
1 3
v √alç- des- XP
e 3
DP X
re-
Por fim, um aspecto relevante da proposta, que talvez não tenha ficado tão
explícito quanto deveria, é o fato de que, muito ao contrário das posições projecionistas,
em que as raízes projetam a estrutura sintática necessária para a inserção dos
argumentos que elas selecionam, a teoria desenvolvida neste capítulo aposta na ideia de
que as raízes são licenciadas em determinadas estruturas sintagmáticas que veiculam
certos tipos de significado estrutural. O licenciamento está condicionado ao possível
casamento entre os sentidos listados para tais raízes na Enciclopédia e o significado
estrutural veiculado pelas estruturas sintagmáticas que as hospedarão – e isso é
normalmente uma questão de grau. Adotando os pressupostos da Morfologia
Distribuída, as raízes aqui são desprovidas de qualquer propriedade sintática, incluindo-
se a propriedade de introduzir elementos como argumentos na estrutura sintática. Dando
um sentido mais radical a essa ideia, elas sequer são licenciadas em contextos em que
não haja um elemento funcional diretamente soldado a elas, como X ou v, que são
introdutores de eventualidades.
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