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METALOGÊNESE DAS PROVÍNCIAS

TECTÔNICAS BRASILEIRAS
CRÉDITOS INSTITUCIONAIS

REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL


PRESIDENTE
Dilma Vana Rousseff

MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA – MME


MINISTRO DE ESTADO
Edison Lobão

SECRETARIA DE GEOLOGIA, MINERAÇÃO E TRANSFORMAÇÃO MINERAL


SECRETÁRIO
Carlos Nogueira da Costa Júnior

SERVIÇO GEOLÓGICO DO BRASIL – CPRM


DIRETOR-PRESIDENTE
Manoel Barretto da Rocha Neto

DIRETOR DE GEOLOGIA E RECURSOS MINERAIS


Roberto Ventura Santos

DIRETOR DE HIDROLOGIA E GESTÃO TERRITORIAL


Thales de Queiroz Sampaio

DIRETOR DE RELAÇÕES INSTITUCIONAIS E DESENVOLVIMENTO


Antônio Carlos Bacelar Nunes

DIRETOR DE ADMINISTRAÇÃO E FINANÇAS


Eduardo Santa Helena
METALOGÊNESE DAS PROVÍNCIAS
TECTÔNICAS BRASILEIRAS
ORGANIZADORES
† Maria da Glória da Silva
Manoel Barretto da Rocha Neto
Hardy Jost
Raul Minas Kuyumjian

BELO HORIZONTE 2014


Copyright© 2014

Impresso no Brasil

Direitos exclusivos para esta edição: CPRM


Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser armazenada ou reproduzida por qualquer meio sem a
autorização por escrito da CPRM.

METALOGÊNESE DAS PROVÍNCIAS TECTÔNICAS BRASILEIRAS


ORGANIZADORES
† Maria da Gloria da Silva
Manoel Barretto da Rocha Neto
Hardy Jost
Raul Minas Kuyumjian

PROJETO GRÁFICO DA CAPA


Blackjack Comunicação

TRATAMENTO DE ORIGINAIS, REVISÃO E EDITORAÇÃO ELETRÔNICA DO TEXTO


Hardy Jost

REVISÃO FINAL DOS CAPÍTULOS


Os autores

PUBLISHERS
Ernesto von Sperling
José Marcio Henriques Soares

COLABORAÇÃO
Claiton Piva Pinto
Everton Assunção
Marcio Antonio da Silva

TIRAGEM: 1.000 exemplares

Coordenação editorial a cargo do Departamento de Relações Institucionais e Divulgação


Divisão de Marketing e Divulgação
Diretoria de Relações Institucionais e Desenvolvimento
Serviço Geológico do Brasil – CPRM

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Central da CPRM

Silva, Maria da Glória da.


Metalogênese das províncias tectônicas brasileiras /
Organizadores Maria da Glória da Silva, Manoel Barretto
da Rocha Neto, Hardy Jost [e] Raul Minas Kuyumjian... –
Belo Horizonte: CPRM, 2014.
589 p. : il.

ISBN 978-85-7499-221-1

1. Geologia econômica – Brasil . 2. Recursos minerais –


Brasil. 3. Metalogenia – Brasil. 4. Geofísica – Brasil. 5.
Economia mineral – Brasil. I.Título.

CDD 553.0981

Serviço Geológico do Brasil – CPRM


Serviço de Atendimento ao Usuário – SEUS
Av Pasteur, 404 – Urca – Rio de Janeiro – RJ – Cep: 22290-255 | Tel: 21 2295-5997 - Fax: 21 2295-5897 | E-mail: seus@cprm.gov.br
Apresentação

O Serviço Geológico do Brasil – CPRM tem a satisfa- Pontal e Rio Preto), Faixa Araçuaí, Faixa Brasília, Arco Mag-
ção de disponibilizar para a comunidade técnico-científica mático de Goiás, Faixa Araguaia, Faixa Paraguai, Faixa Ribei-
e a sociedade em geral o livro Metalogênese das Províncias ra, Cráton Rio de La Plata/Faixa Dom Feliciano. A sexta parte
Tectônicas Brasileiras. Este trabalho se insere no âmbito do descreve as Províncias Carbonatíticas do Fanerozoico.
Programa Geologia do Brasil, Ação de Recursos Minerais,
proposto pela Diretoria de Geologia e Recursos Minerais, sob
a coordenação do Departamento de Recursos Minerais. Os capítulos estão dedicados aos depósitos minerais
metálicos e estão organizados de forma a abordar, inicial-
mente, o ambiente geotectônico seguido da respectiva vo-
O Serviço Geológico do Brasil ciente de sua missão de cação metalogenética. Na descrição metalogenética o foco
gerar e difundir o conhecimento geológico do país tomou a está, em geral, voltado para a descrição dos recursos minerais
iniciativa de elaborar uma obra de síntese do conhecimen- distribuídos em depósitos isolados, distritos ou províncias
to atual sobre a vocação metalogenética de cada Província segundo roteiros adequados às características geológicas de
Tectônica Brasileira com a caracterização da ambiência ge- cada província. O roteiro de cada capitulo é sistemático e ini-
ológica e dos controles de formação dos principais depósi- cia com o contexto geológico regional da Província Tectôni-
tos minerais metálicos e, portanto, de caráter temático. Os ca, seguido da descrição sobre a diversificada vocação meta-
dados e informações que compõem este livro foram exaus- logenética conhecida no momento, mediante a abordagem
tivamente coletados em periódicos nacionais e do exterior, dos depósitos individuais, quanto aos principais controles
anais de eventos científicos, dissertações de mestrado, teses da mineralização, rochas encaixantes imediatas e hospedei-
de doutorado e em relatórios internos de empresas de pes- ras, forma do depósito, texturas, estruturas e mineralogia do
quisa e exploração mineral. Para alcançar tal objetivo, foram minério, dados de inclusões fluidas, alteração hidrotermal,
convidados Geólogos de renome, tanto da área acadêmica resposta supergênica, assinaturas isotópicas, geofísicas e
quanto de empresas, mais familiarizados com a metalogenia geoquímicas, idade das rochas encaixantes/hospedeiras e
de cada província, para elaborar cada capítulo. da mineralização e proposta de sua classificação tipológica.
Também abordam, de forma sumária, os principais métodos
de exploração mineral utilizados na descoberta. As aborda-
A obra contém vinte e quatro capítulos, reunidos em gens foram realizadas com base nos dados existentes, tendo
seis partes: A primeira, com dois capítulos, aborda a evolu- por meta a atualização do estado da arte sobre a metaloge-
ção geotectônica da plataforma sul-americana, seguido da nia do território brasileiro.
interpretação geofísica dos principais domínios tectônicos
brasileiros. A partir da segunda parte, a sequência dos ca-
pítulos segue, na medida do possível, de Leste para Oeste e A publicação dessa obra certamente consistirá em
de Norte para Sul. Esta parte aborda a metalogenia dos Nú- uma base de informações que permitirá uma visão ampla
cleos Arqueanos representados pelas províncias Carajás-Rio da distribuição geográfica dos principais depósitos metáli-
Maria, Cráton do São Francisco (Setor Setentrional), Cráton cos brasileiros e, em cada depósito, reconhecer lacunas de
do São Francisco (Setor Meridional) e o Terreno Arqueano de conhecimento e, assim, subsidiar o planejamento de futuras
Goiás. A terceira aborda os Terrenos Paleoproterozoicos da investigações que visem ao seu aprofundamento e conse-
Amazônia Oriental, Cráton São Luiz e Faixa Gurupi, Província quente progressivo salto qualitativo nas discussões sobre as
Tapajós-Parima (domínios Parima, Uaimiri, K´Mudku), Provín- características dos depósitos, os guias e os critérios que con-
cia Tapajós-Parima (domínio Tapajós, Amazonas Central) e duzam a novas descobertas minerais no país.
Província Tapajós-Parima (domínio Rio Negro). A quarta par-
te se destina aos Terrenos Mesoproterozoicos das Províncias
Sunsás e Matupá-Juruena-Teles Pires-Rondônia. A quinta
abrange os Terrenos Neoproterozoicos da Província Borbo- Manoel Barretto da Rocha Neto
rema Setentrional e Meridional (Faixas Sergipana, Riacho do Diretor-Presidente
IN MEMORIAM
MARIA DA GLORIA DA SILVA
* 24/04/1954 † 21/03/2013

Maria da Glória nasceu em Salvador, onde se graduou didatos a Professor Titular e de progressão funcional. Partici-
em Geologia (1975). Em 1976 ingressou na CPRM e trabalhou pou de vários simpósios regionais e congressos nacionais e
por um ano no Projeto Geoquímica do Bambuí, quando en- estrangeiros, e de comissões organizadoras desses eventos,
tão desligou-se da empresa. Entre 1980 e 1981 foi geóloga com apresentação de trabalhos. Durante sua vida acadêmi-
da PETROBRAS, onde trabalhou em Pesquisa e Desenvolvi- ca orientou dissertações de mestrado e teses de doutorado
mento e no Setor de Ensino da voltadas para a caracterização
Bahia e entre 1982 e 1983 foi petrográfica e geoquímica de
geóloga da Secretaria de Minas depósitos minerais vulcano-se-
e Energia do Estado da Bahia. dimentares e complexos máfi-
Obteve seu Mestrado em 1983 co-ultramáficos da Bahia.
pela Universidade Federal da
Bahia e, em 1987, doutorou-se Seu largo sorriso e altas
em Geologia pela Albert-Lu- gargalhadas eram a sua marca.
dwigs Universität, Freiburg, Viveu intensamente naquilo
Alemanha. Seus trabalhos de que mais gostava de fazer: es-
mestrado e doutorado contri- tudar e ensinar os processos
buíram significativamente para formadores do planeta Terra.
o entendimento da evolução Levou uma vida simples, não
do Greenstone Belt do Rio Ita- fazia questão de aparecer e
picuru (BA). Aos 23 anos de sim de dar suas contribuições
idade ingressou na vida acadê- à geologia. Mulher de origem
mica no Instituto de Geociên- pobre, trabalhadora e de uma
cias da Universidade Federal da inteligência privilegiada. Ven-
Bahia, onde atuou por mais de ceu muitas barreiras, tornando-
30 anos e galgou a categoria de se uma guerreira. Trocar ideias
Professor Associado I, com De- sobre alguma área, ou simples-
dicação Exclusiva, A partir de mente ouvi-la contar causos
2004 até o seu falecimento foi era bastante prazeroso, sempre
cedida ao Ministério de Minas e Energia, onde foi Assessora regado de muito humor. Glória lutou com muita garra até
da Diretoria de Geologia e Recursos Minerais e da Presidên- o último momento e deixou marcante trajetória, cujo carro
cia do Serviço Geológico do Brasil – CPRM. Sua vida acadê- chefe sempre foi sua postura ética e profissional. Estar com
mica e profissional foi intensamente dedicada à Petrologia, ela era sempre um momento de aprendizado, pois foi uma
Geoquímica, Geotectônica e Metalogenia, com ênfase nos das principais lideranças nacionais na área de Geologia Eco-
terrenos granito-greenstone e corpos máfico-ultramáficos, nômica. O Brasil perde uma grande geóloga, mas fica impor-
da qual resultaram inúmeros artigos completos publicados tante legado para as gerações futuras. Será lembrada com
em periódicos nacionais e do exterior, livros publicados/ alegria e carinho por todos aqueles com quem conviveu.
organizados ou edições, capítulos de livros, trabalhos com-
pletos, resumos expandidos e resumos publicados em anais Por fim, é oportuno lembrar que um dos sonhos
de congressos e outros trabalhos técnicos. Também exerceu de Glória foi a concretização desta obra, cuja semente foi
atividade de Assessoria, Consultoria e Treinamento na CPRM, plantada no primeiro semestre de 2009 e a ela se agrega-
DNPM, CBPM, Secretaria de Indústria e Comércio do Estado ram os demais Editores. Em agosto de 2009 foi realizado
de Mato Grosso, FINEP e CVRD. Foi Membro de corpo edito- um workshop em Brasília, do qual participaram, a convite,
rial Revista Brasileira de Geociências, da Sociedade Brasilei- os coordenadores de cada capítulo. Glória se empenhou
ra de Geologia. Participou de diversas bancas de Mestrado, profundamente para comemorar o lançamento da obra no
Doutorado, Livre Docência e de trabalhos de conclusão de seio da comunidade. Apesar do seu sonho, derradeiro, ter se
Cursos em diversas instituições de ensino superior brasilei- concretizado, não pode usufruí-lo, mas as gerações futuras
ras, bem como em bancas de comissões julgadoras de can- compartilharão do seu legado.
sumário

PROVÍNCIAS TECTÔNICAS E RESPOSTA GEOFÍSICA

A PLATAFORMA SUL-AMERICANA: UMA INTRODUÇÃO


Benjamim Bley de Brito Neves & Reinhardt Adolfo Fuck

INTRODUÇÃO 3
OS NÚCLEOS CRATÔNICOS 6
OS COIRMÃOS DESCRATONIZADOS 8
EVOLUÇÃO CRUSTAL E REGISTROS DE TENDÊNCIAS E PARTICULARIZAÇÕES 9
PROVÍNCIAS NEOPROTEROZOICAS - AS FAIXAS MÓVEIS 12
Feições e características gerais 12
Características mais marcantes 12
COBERTURAS DA PLATAFORMA 16
Coberturas Pré-Fanerozoicas 17
Coberturas Tardineoproterozoicas e Fanerozoicas 18
REFERÊNCIAS 19

INTERPRETAÇÃO GEOFÍSICA DOS PRINCIPAIS DOMÍNIOS TECTÔNICOS BRASILEIROS


Roberto Gusmão de Oliveira & João Batista Freitas de Andrade

INTRODUÇÃO 21
DADOS AEROMAGNÉTICOS E GRAVIMÉTRICOS 21
CRÁTON DO AMAZONAS 23
CRÁTON DO SÃO FRANCISCO 26
PROVÍNCIA TOCANTINS 27
PROVÍNCIA MANTIQUEIRA 31
PROVÍNCIA BORBOREMA 33
BACIAS DO AMAZONAS-SOLIMÕES 35
BACIA DO PARANÁ 36
BACIA DO PARNAÍBA 36
OBSERVAÇÕES FINAIS 37
REFERÊNCIAS 38

NÚCLEOS ARQUEANOS

METALOGÊNESE DA PROVÍNCIA CARAJÁS


Lena Virgínia Soares Monteiro, Roberto Perez Xavier, Carlos Roberto de
Souza Filho & Carolina Penteado Natividade Moreto

INTRODUÇÃO 43
CONTEXTO GEOLÓGICO REGIONAL 43
Domínio Rio Maria 44
Domínio Carajás 46
METALOGENIA DO DOMÍNIO RIO MARIA 49
Depósitos de ouro orogênicos 49
Outros depósitos auríferos 51
Depósitos de tungstênio 52
METALOGENIA DO DOMÍNIO CARAJÁS 53
Depósitos de ferro 53
Depósitos de óxidos de ferro-cobre-ouro 58
Outros depósitos IOCG de Carajás 64
Depósitos de cobre-ouro polimetálicos 67
Depósitos de ouro-paládio-platina 69
Depósitos de cromo-níquel-EGP 73
Depósitos de manganês 77
Depósitos de ouro laterítico 79
Depósitos de níquel laterítico 80
Depósitos de bauxita 81
CONSIDERAÇÕES FINAIS 82
Agradecimentos 84
REFERÊNCIAS 84

METALOGÊNESE DO SETOR SETENTRIONAL DO CRÁTON DO SÃO FRANCISCO


† Maria da Glória da Silva, João Batista Guimarães Teixeira, Aroldo Misi,
Simone Cerqueira Pereira Cruz & José Haroldo da Silva Sá

INTRODUÇÃO 93
EVOLUÇÃO METALOGENÉTICA DO CRÁTON DO SÃO FRANCISCO 95
Depósitos Paleoarqueanos de Zn de Mundo Novo 96
Depósitos Neoarqueanos (?) de Pb-Zn de Boquira 99
Depósitos Neoarqueanos de Fe-Ti-V (±EGP) de Maracás 99
Depósitos Neoarqueanos de Cobre do Vale do Curaçá 100
Depósitos Riacianos de cromita de Santa Luz (Pedras Pretas) 101
Depósitos Riacianos de Ni da Fazenda Mirabela 102
Depósitos Riacianos de cromita do Vale do Rio Jacurici 102
Depósitos Riacianos de Au do Rio Itapicuru 103
Depósitos Orosirianos de Au da Serra de Jacobina 104
Depósitos de cromita de idade indeterminada da região de Campo Formoso 106
DEPÓSITOS MINERAIS SITUADOS NAS ZONAS LIMÍTROFES DO CRÁTON DO SÃO FRANCISCO 107
Sulfetos Paleo/Mesoarqueanos (?) de Fe do Greenstone Belt do Rio Salitre 107
Depósitos Neoarqueanos (?) de Fe da região de Caetité 108
Depósitos Neoarqueanos (?) de Mn das regiões de Urandi/Caetité/Licínio de Almeida 109
Província Orosiriana de Campo Alegre de Lourdes: depósitos de Fe-Ti-V 109
Depósitos Tonianos de urânio de Lagoa Real 110
Depósitos Neoproterozoicos de Mn do oeste da Bahia 111
Depósitos Neoproterozoicos/cambrianos de Au e de barita do Espinhaço/Chapada Diamantina 112
CONCLUSÕES 112
Agradecimentos 113
REFERÊNCIAS 113

METALOGÊNESE DO SETOR MERIDIONAL DO CRÁTON SÃO FRANCISCO


Lydia Maria Lobato, Friedrich Ewald Renger, Rosaline Cristina Figueiredo e Silva,
Carlos Alberto Rosière, Franciscus Jacobus Baars & Vassily Khoury Rolim

INTRODUÇÃO 119
POTENCIAL METALOGENÉTICO REGIONAL 119
Fertilidade metalogenética 123
RECURSOS MINERAIS EM ROCHAS DO ARQUEANO 123
Jazidas de ouro no Greenstone Belt Rio das Velhas-GBRV 123
Jazidas de manganês 127
RECURSOS MINERAIS EM ROCHAS DO PALEOPROTEROZOICO 129
Jazidas de ferro da região do Quadrilátero Ferrífero 129
Jazidas de ferro da Serra da Serpentina, Conceição do Mato Dentro 131
Ouro da região de Mariana e arredores 132
Ouro paladiado do tipo “Jacutinga” 132
Ouro e Urânio em metaconglomerados piritosos 133
OUTROS RECURSOS MINERAIS 134
Bauxita 134
Agradecimentos 135
REFERÊNCIAS 135

METALOGÊNESE DOS GREENSTONE BELTS DE GOIÁS


Hardy Jost, Marcelo Juliano de Carvalho, Vinícius Gomes Rodrigues & Rodrigo Martins

INTRODUÇÃO 141
CONTEXTO REGIONAL 141
CONTEÚDO DO TERRENO ARQUEANO-PALEOPROTEROZOICO DE GOIÁS 142
Ortognaisses 142
Greenstone belts 143
Intrusões Paleoproterozóicas 149
Reflexos do Ciclo Brasiliano 149
METALOGENIA 149
DEPÓSITOS EPIGENÉTICOS DE OURO 149
DEPÓSITOS SINGENÉTICOS 158
Depósito aurífero em albitito 158
Prospectos de ouro do tipo VMS 160
Prospectos de ferro do tipo Algoma 162
Prospectos de ferro do tipo Lago Superior 162
Prospectos de ferro e manganês do tipo SEDEX 163
Ocorrência de Ni-Cu associados a komatiitos 164
PALEOPLACER AURÍFERO 164
CONCLUSÕES 166
Agradecimentos 166
REFERÊNCIAS 166

TERRENOS PALEOPROTEROZOICOS

METALOGÊNESE DA BORDA ORIENTAL DO CRÁTON AMAZÔNICO


Evandro Luiz Klein, Lúcia Travassos Rosa-Costa & Marcelo Lacerda Vasques

INTRODUÇÃO 171
GEOLOGIA E EVOLUÇÃO DA BORDA ORIENTAL DO CRÁTON AMAZÔNICO 171
Bloco Amapá 171
Domínio Carecuru 174
Domínio Lourenço 174
Domínio Bacajá 175
Domínio Santana do Araguaia 176
METALOGÊNESE DO DOMÍNIO LOURENÇO 176
Depósitos de ouro de classificação incerta 176
Depósitos sedimentares de ferro 177
METALOGÊNESE DO BLOCO AMAPÁ 178
Depósitos orogênicos de ouro 178
Depósitos sedimentares de ouro em paleoplacer 180
Depósitos estratiformes de cromita 180
Depósitos sedimentares de ferro 181
Depósitos supergênicos de manganês 182
Depósitos de cassiterita, columbita e tantalita em pegmatito e greisen 182
Depósitos de diamante em paleoplacer 183
Potencial para outros depósitos 183
METALOGÊNESE DO DOMÍNIO CARECURU 183
Depósitos orogênicos de ouro 183
Depósitos de cobre vulcanogênico 184
Depósitos de titânio 185
Potencial para outros depósitos 185
METALOGÊNESE DO DOMÍNIO BACAJÁ 185
Depósitos de ouro de classificação incerta 185
Depósitos supergênicos de manganês 186
Depósitos de níquel laterítico 188
METALOGÊNESE DO DOMÍNIO SANTANA DO ARAGUAIA 188
Depósitos de ouro de classificação incerta 188
Depósitos de urânio sedimentar tipo discordância 189
Potencial para outros depósitos 189
EVOLUÇÃO METALOGENÉTICA 189
Agradecimentos 191
REFERÊNCIAS 191

METALOGÊNESE DO CRÁTON SÃO LUÍS E DO CINTURÃO GURUPI


Evandro Luiz Klein

INTRODUÇÃO 195
GEOLOGIA E EVOLUÇÃO DO CRÁTON SÃO LUÍS E DO CINTURÃO GURUPI 195
METALOGENIA DO CRÁTON SÃO LUÍS 198
Depósitos orogênicos de ouro 198
Depósitos supergênicos de fosfato 203
METALOGÊNESE DO CINTURÃO GURUPI 204
Depósitos orogênicos de ouro 204
Depósitos de ouro em paleoplacer 209
Depósitos supergênicos de fosfatos 210
Depósitos de fosfato de origem sedimentar/hidrotermal 210
SUMÁRIO CONCLUSIVO 211
Agradecimentos 212
REFERÊNCIAS 212

METALOGÊNESE DA PROVÍNCIA TAPAJÓS-PARIMA: DOMÍNIOS PARIMA, UAIMIRI E K´MUDKU


Régis Munhoz Krás Borges, Ana Maria Dreher, Marcelo Esteves Almeida, Hilton
Tulio Costi, Nelson Joaquim Reis & João Batista Freitas de Andrade

INTRODUÇÃO 215
DOMÍNIOS PARIMA E SURUMU (OU PARIMA) 215
DOMÍNIO UATUMÃ-ANAUÁ (OU UAIMIRI) 216
DOMÍNIO GUIANA CENTRAL (OU K´MUDKU) 217
PRINCIPAIS METALOTECTOS DA PROVÍNCIA TAPAJÓS-PARIMA 217
DOMÍNIOS PARIMA E SURUMU (OU PARIMA) 217
Ouro aluvionar da região da Serra Parima 217
Cassiterita aluvionar proveniente dos granitos da Suíte Surucucus 218
Ouro primário e aluvionar da região dos rios Uraricaá e Furo de Santa Rosa 218
Diamante e ouro aluvionares associados ao Supergrupo Roraima 219
DOMÍNIO UATUMÃ-ANAUÁ (OU UAIMIRI) 220
Ocorrências aluvionares de columbita-tantalita da bacia dos rios Igarapé Azul e Sararamandaia
e de ametista na região da Vila Moderna (sudeste de Roraima) 220
Ouro aluvionar da região do garimpo Anauá (sudeste de Roraima) 220
DEPÓSITOS DE ESTANHO E CRIOLITA DA PROVÍNCIA PITINGA 220
Dados históricos, reservas, teores e localização 220
Rochas encaixantes imediatas e hospedeiras 220
Idade das rochas encaixantes, hospedeiras e da mineralização 221
Ambiente geodinâmico 222
DESCRIÇÃO DOS DEPÓSITOS-MODELO 222
Depósitos magmáticos associados ao Pluton Madeira 222
Depósitos hidrotermais associados ao Pluton Água Boa 224
DOMÍNIO GUIANA CENTRAL (OU K’MUDKU) 225
Fosfato de rochas alcalinas da serra Repartimento 225
REFERÊNCIAS 226

METALOGÊNESE DA PROVÍNCIA TAPAJÓS


Caetano Juliani, Marcelo Lacerda Vasquez, Evandro Luiz Klein, Raimundo Netuno Nobre
Villas, Carlos Mário Echeverri Misas, Érika Suellen Barbosa Santiago, Lena Virgínia Soares
Monteiro, Cleyton de Carvalho Carneiro, Carlos Marcello Dias Fernandes & Gustavo Usero

INTRODUÇÃO 229
CONTEXTO TECTÔNICO E GEOLÓGICO DA PROVÍNCIA MINERAL DO TAPAJÓS 230
DOMÍNIO TAPAJÓS 231
Associações do embasamento 233
Vulcano-plutonismo Paleoproterozoico 234
Coberturas sedimentares Paleoproterozoicas 237
Magmatismo máfico Proterozoico e Fanerozoico 237
METALOGENIA 238
DEPÓSITOS MAGMÁTICO-HIDROTERMAIS 238
Depósitos epitermais 238
Mineralização de Cu-Mo-(Au) low-sulfidation, V6 ou Chapéu de Sol 245
Depósito de Au-(Cu) do tipo pórfiro: Mina do Palito 247
Depósito de Au do tipo pórfiro profundo: Depósito do Batalha 253
Depósito de Au relacionado a intrusões: Depósito Tocantinzinho 256
DEPÓSITOS METAMÓRFICO-HIDROTERMAIS 259
Depósitos orogênicos de ouro 259
CONSIDERAÇÕES FINAIS 261
Agradecimentos 263
REFERÊNCIAS 263

METALOGÊNESE DA PROVÍNCIA AMAZÔNIA CENTRAL


Marcelo Lacerda Vasquez

INTRODUÇÃO 269
GEOLOGIA E EVOLUÇÃO DA PROVÍNCIA AMAZÔNIA CENTRAL 269
Associações de embasamento 269
Vulcano-plutonismo Paleoproterozoico 271
Coberturas sedimentares Paleoproterozoicas 275
Rochas máficas Proterozoicas 275
Intrusões alcalinas Proterozoicas 276
Rochas máficas e kimberlitos Fanerozoicos 276
METALOGENIA 277
Depósito de ouro em paleoplacer 277
Depósitos de ouro relacionados à intrusão 277
Depósitos de estanho em greisen e placers 278
Depósitos Antonio Vicente, Mocambo e Bom Jardim 279
Depósito São Pedro do Iriri 279
Depósitos associados aos complexos alcalino-ultramáfico-carbonatíticos 279
Potencial para jazimentos de ouro, metais base, estanho, wolfrâmio e nióbio 279
Potencial para jazimento de diamante 281
REFERÊNCIAS 281
METALOGÊNESE DA PROVÍNCIA RIO NEGRO
Marcelo Esteves Almeida, Sílvio Roberto Lopes Riker & Marco Antônio Oliveira

INTRODUÇÃO 285
SÍNTESE DA GEOLOGIA REGIONAL 285
PRINCIPAIS METALOTECTOS DA PROVÍNCIA 286
Indícios de ouro e cobre associados às rochas metavulcanossedimentares Daraá, Aracá e Tunuí
(<1,74 Ga: sequências relacionadas a arco magmático) e os complexos granítico-gnáissicos do embasamento
(1,80-1,74 Ga: magmatismo tipo I de arco continental) 286
Indícios de estanho, nióbio-tântalo, metais raros e minerais de pegmatito associados aos granitóides Marié-Mirim,
Marauiá e Tiquié (1,75-1,76 Ga: magmatismo tipo-A) 286
Indícios de estanho, tungstênio, nióbio e terras raras associados ao granito Igarapé Reilau (1,54 Ga: magmatismo tipo-S) 287
Indícios de cobre, cromo, cobalto, níquel e platinóides associados às rochas máficas-ultramáficas Tapuruquara (1,17 Ga) 287
DEPÓSITO DE NIÓBIO DE SEIS LAGOS 287
Sedimentos carbonosos, ritmitos e brechas 288
Crosta ferruginosa limonítica, goethítica e hematítica 288
Hematita compacta e brecha carbonatada 288
Sienito e rocha carbonática 288
REFERÊNCIAS 290

TERRENOS MESOPROTEROZOICOS

METALOGÊNESE DA PROVÍNCIA SUNSÁS


Amarildo Salina Ruiz, Marcos Luiz do Espírito Santo Quadros, Carlos José Fernandes,
Luis Carlos Melo Palmeira & Francisco Egídio Cavalcante Pinho

INTRODUÇÃO 295
CONTEXTO GEOLÓGICO REGIONAL 295
PROVÍNCIAS E DISTRITOS METALOGENÉTICOS EM MATO GROSSO 295
Província aurífera do Alto Guaporé 295
Distrito polimetálico do Alto Jauru 297
Distrito niquelífero de Comodoro 298
PROVÍNCIAS E DISTRITOS METALOGENÉTICOS EM RONDÔNIA 299
Província estanífera de Rondônia 299
Distrito de Bom Futuro 300
Distrito de Santa Bárbara 302
Distrito de São Lourenço-Macisa 302
Distrito de Massangana 303
Distrito de Oriente Novo 303
Depósito Igarapé Manteiga 304
REFERÊNCIAS 304

METALOGÊNESE DO SETOR LESTE DA PROVÍNCIA DE ALTA FLORESTA (MT), CRÁTON AMAZÔNICO


Rafael Rodrigues de Assis, Roberto Perez Xavier, Antônio João Paes de Barros, Danilo Barbuena,
Verônica Godinho Trevisan, Giseli Silva Ramos, Rafael de Vasconcellos Teixeira, Emílio Miguel Júnior,
Rosana Mara Rodrigues, Amarildo Stabile Júnior, Ticiano José Saraiva dos Santos, Guilherme Mateus
Testa Miranda, Márcia Aparecida de Sant´Ana Barros & Francisco Egídio Cavalcante Pinho

INTRODUÇÃO 305
CONTEXTO GEOLÓGICO DO SETOR LESTE DA PAAF 307
MINERALIZAÇÕES AURÍFERAS DO SETOR LESTE DA PAAF 315
Depósitos de Au ± Cu 315
Depósitos de Au - metais de base 324
DISCUSSÕES 330
Mineralizações de Au±Cu 330
Au associado a metais de base 333
Modelo metalogenético regional 335
CONCLUSÕES 337
Agradecimentos 338
REFERÊNCIAS 338

TERRENOS NEOPROTEROZOICOS

METALOGÊNESE DAS PORÇÕES NORTE E CENTRAL DA PROVÍNCIA BORBOREMA


Edilton José dos Santos, João Adauto de Souza Neto, Marcelo Reis Rodrigues da Silva, Hartmut
Beurlen, José Adilson Dias Cavalcanti , Maria da Glória da Silva, Vilson Marques Dias, Ádila
Ferreira Costa, Lauro Cézar Montefalco de Lira Santos & Roberto Batista Santos

INTRODUÇÃO 343
O ARCABOUÇO TECTÔNICO GERAL DA PROVÍNCIA BORBOREMA 343
MINERALIZAÇÕES NO ARQUEANO E PALEOPROTEROZOICO 348
Complexo acamadado com cromita e elementos do grupo da platina de Tróia 348
Mineralizações de ferro associadas a sulfetos em rochas metamáfico-ultramáficas (tipo IOCG) 350
Depósitos metassedimentares supergênicos de manganês 352
DEPÓSITOS DE Fe-Ti±V±Cr±Cu EM TERRENO METAMÓRFICO DE ALTA PRESSÃO TONIANO 353
FORMAÇÕES FERRÍFERAS BANDADAS EDIACARANAS (TIPO RAPITAN) 356
SKARNS POLIMETÁLICOS DA FAIXA SERIDÓ 357
PROVÍNCIA PEGMATÍTICA DO SERIDÓ 363
OUTROS DISTRITOS PEGMATÍTICOS 367
MINERALIZAÇÕES DE OURO OROGÊNICO 368
DEPÓSITOS DE U-P e U-P-ETR METASSOMÁTICOS 372
DEPÓSITOS ESTRATIFORMES E HIDROTERMAIS DE Cu e Cu-Fe 380
REFERÊNCIAS 384

METALOGÊNESE DA PROVÍNCIA BORBOREMA MERIDIONAL: FAIXAS


SERGIPANA, RIACHO DO PONTAL E RIO PRETO
Elson P. Oliveira, Alexandre Uhlein, Fabrício A. Caxito & Marcos E. Silva

INTRODUÇÃO 389
FAIXA SERGIPANA 389
Domínios litoestratigráficos 389
Estruturas regionais 393
METALOGÊNESE 394
Cobre e níquel 394
Cobre, ouro e ferro 394
FAIXA RIACHO DO PONTAL 395
Estratigrafia 396
Geologia estrutural e tectônica 399
METALOGÊNESE 401
Níquel 401
Cobre, zinco e ouro 402
Outros depósitos 402
FAIXA RIO PRETO 402
Estratigrafia 403
Geologia estrutural e tectônica 406
Geocronologia 408
Metalogênese 408
Manganês 408
Metacherts e lateritas ferro-manganesíferas 410
Outras ocorrências 411
REFERÊNCIAS 411

METALOGÊNESE DA FAIXA ARAÇUAÍ: O DISTRITO FERRÍFERO NOVA AURORA (GRUPO MACAÚBAS,


NORTE DE MINAS GERAIS) NO CONTEXTO DOS RECURSOS MINERAIS DO ORÓGENO ARAÇUAÍ
Francisco Teixeira Vilela, Antônio Carlos Pedrosa–Soares, Marco Túlio Naves
de Carvalho, Ranufo Arimatéia, Eduardo Santos & Eliane Voll

INTRODUÇÃO 415
CONTEXTO GEOLÓGICO 415
SUMÁRIO DOS RECURSOS MINERAIS DO ORÓGENO ARAÇUAÍ 418
O DISTRITO FERRÍFERO NOVA AURORA, NORTE DE MINAS GERAIS 419
Geologia do distrito ferrífero Nova Aurora 420
Petrografia e mineragrafia de depósitos de ferro da Formação Nova Aurora 422
COMENTÁRIOS FINAIS 428
Agradecimentos 428
REFERENCIAS 429

METALOGÊNESE DA ZONA EXTERNA DA FAIXA BRASÍLIA


† Marcel Auguste Dardenne & Nilson Francisquini Botelho

INTRODUÇÃO 431
DEPÓSITOS SEDIMENTARES DE FOSFATO 431
Depósitos de fosfato do tipo Campos Belos/Arraias 431
Depósitos de fosfato do Grupo Vazante 431
DEPÓSITOS DE CHUMBO E ZINCO 436
Depósitos Pb-Zn associados ao Grupo Vazante 436
Depósitos Zn silicatados de tipo Vazante 438
Depósitos Pb-Zn-CaF2 associados ao Grupo Bambuí na zona cratônica 441
DEPÓSITOS DE OURO NA ZONA EXTERNA 442
Depósitos Au-EGP Paleoproterozoicos 443
Depósitos do tipo Buraco do Ouro 443
Depósitos do tipo Aurumina 444
Depósitos de Au Neoproterozoicos 444
A PROVÍNCIA ESTANÍFERA DE GOIÁS 447
Depósitos de estanho e tântalo associados a granitos e pegmatitos tipo S 448
Depósitos de Sn associados a granitos tipo A 449
DEPÓSITOS E OCORRÊNCIAS DE URÂNIO 451
REFERÊNCIAS 452

METALOGÊNESE DO ARCO MAGMÁTICO GOIÁS


Claudinei Gouveia de Oliveira, Raul Minas Kuyumjian, Frederico Bedran Oliveira,
Gustavo Campos Marques, Nely Palermo & Elton Luiz Dantas

INTRODUÇÃO 455
CONTEXTO GEOLÓGICO REGIONAL 455
O ARCO MAGMÁTICO GOIÁS 455
CARACTERÍSTICAS DESCRITIVAS DOS DEPÓSITOS DE Au, Cu-Au e Ni-Cu DO ARCO MAGMÁTICO 457
Depósitos de Cu-Au porfiríticos 457
Depósitos de Cu-Au e Au vulcanogênicos 460
Depósitos de Au orogênicos 462
Depósitos de Au tipo Intrusion Related 462
DEPÓSITOS DE Ni-Cu ASSOCIADOS A COMPLEXOS MÁFICO-ULTRAMÁFICOS 463
ALTERAÇÃO HIDROTERMAL E MINERALIZAÇÃO DE Cu-Au e Au 463
DISCUSSÃO E CONCLUSÃO 465
REFERÊNCIAS 465

METALOGÊNESE DA FAIXA ARAGUAIA


Marco Antônio Pires Paixão & Paulo Sérgio de Souza Gorayeb

INTRODUÇÃO 467
AMBIENTE GEOTECTÔNICO 467
HISTÓRICO DE EXPLORAÇÃO E POTENCIAL MINERAL DA FAIXA ARAGUAIA 469
NATUREZA E ORIGEM DOS OFIOLITOS DA FAIXA ARAGUAIA 470
MINERALIZAÇÃO SULFETADA DE Cu-Pb-Zn 472
DEPÓSITOS DE CROMITA 475
DEPÓSITOS DE NÍQUEL LATERÍTICO 479
DEPÓSITOS DE OURO 484
CONCLUSÃO 485
Agradecimentos 485
REFERÊNCIAS 485

METALOGÊNESE DA FAIXA PARAGUAI


Jorge Silva Bettencourt, Francisco Egídio Cavalcante Pinho, Élzio da Silva
Barboza, Paulo César Boggiani & Mauro César Geraldes

INTRODUÇÃO 489
ESTRUTURAÇÃO DA FAIXA PARAGUAI 489
Geologia regional 489
Faixa Paraguai Meridional 491
Faixa Paraguai Setentrional 491
Faixa Paraguai Oriental 492
OURO DA FAIXA PARAGUAI 492
Resenha histórica 492
Depósitos e ocorrências da baixada Cuiabana 493
Depósitos e ocorrências da região de Nova Xavantina 495
FORMAÇÕES FERRÍFERAS E MANGANESÍFERAS 496
Maciço de Urucum 496
ÁREAS POTENCIAIS PARA EXPLORAÇÃO MINERAL E PERSPECTIVAS FUTURAS 497
Agradecimentos 498
REFERÊNCIAS 498

METALOGÊNESE DA FAIXA RIBEIRA


Ronaldo Mello Pereira, Monica Heilbron & Cláudio Valeriano

INTRODUÇÃO 501
CONTEXTO TECTÔNICO REGIONAL 501
A Faixa Ribeira resultante da amalgamação do Gondwana 501
Faixa Brasília Sul e a zona de Interferência 501
Faixa Ribeira Central 502
Faixa Ribeira Sul 503
PRINCIPAIS TIPOS DE DEPÓSITOS MINERAIS 504
Ouro 504
Metais base (Pb, Zn, Cu) 506
Pb-Zn-Cu filoneano 508
Manganês, níquel e alumínio 509
Mineralizações de metais raros relacionados a granitogênese Brasiliana 511
Domínios scheelitíferos associados a faixas de rochas calcissilicáticas 513
CONSIDERAÇÕES 514
REFERÊNCIAS 514

METALOGÊNESE DO CINTURÃO DOM FELICIANO E FRAGMENTOS


PALEOCONTINENTAIS ASSOCIADOS (RS/SC)
Eduardo Camozzato, João Ângelo Toniolo & Jorge Henrique Laux

INTRODUÇÃO 517
DADOS HISTÓRICOS 517
ESTRUTURAÇÃO TECTONO-GEOLÓGICA 518
Limites dos terrenos 520
RECURSOS MINERAIS METÁLICOS 520
Generalidades 520
Au no terreno Taquarembó (RS) 520
Au (Cu, Pb, Zn) no terreno São Gabriel (RS) 521
Au-Cu±(Pb, Zn, Ag) em Lavras do Sul 527
Cu, Pb, Zn (Au, Ag) na Bacia Camaquã 530
Sn±W no RS (distrito Encruzilhada do Sul) 538
Pb, Mo (Cu, Sn) no batólito Pelotas 539
Au±Pb(Ag)±Zn±Cu (complexos granulíticos e Bacia Itajaí) 540
Au no Complexo Brusque (SC) 544
W±(Sn, Au, Mo) em SC 547
CONSIDERAÇÕES FINAIS 548
REFERÊNCIAS 549

TERRENOS FANEROZOICOS

POTENCIAL E CONTROLES METALOGENÉTICOS DE ETR, Ti E Nb EM


PROVÍNCIAS ALCALINO-CARBONATÍTICAS BRASILEIRAS
Carlos Cordeiro Ribeiro, José Affonso Brod, Tereza Cristina Junqueira-Brod, José Carlos Gaspar, Matheus
Palmieri, Pedro Filipe de Oliveira Cordeiro, Murilo Gomes Torres, Carla Bertuccelli Grasso, Elisa Soares
Rocha Barbosa, Paulo Afonso Ribeiro Barbosa, Aldo José Duarte Ferrari & Caroline Siqueira Gomide

INTRODUÇÃO 559
CONTROLES METALOGENÉTICOS REGIONAIS E GEOTECTÔNICOS 561
Provincialidade 561
Origem do magmatismo alcalino 565
CONTROLES METALOGENÉTICOS LOCAIS PRIMÁRIOS 566
Composição de complexos carbonatíticos 566
Afiliação geoquímica dos magmas parentais 567
Tipo de carbonatito predominante 568
Associação com foscoritos 569
Mecanismos de instalação (emplacement) e geometria dos corpos de minério 570
Processos de diferenciação em magmas alcalinos e carbonatíticos 571
CONTROLES METALOGENÉTICOS LOCAIS SECUNDÁRIOS 574
Cobertura laterítica superficial 575
Saprolito aloterítico 575
Saprolito isalterítico 575
Rocha alterada 576
OS DEPÓSITOS DE TERRAS RARAS, NIÓBIO E TITÂNIO DE CATALÃO 1 576
Depósito de terras raras 576
Depósito de titânio 580
Depósitos de nióbio 582
DISCUSSÃO E CONCLUSÕES 584
REFERÊNCIAS 586
METALOGÊNESE DAS PROVÍNCIAS
TECTÔNICAS BRASILEIRAS
faixas Fanerozoicas
faixas Neoproterozoicas
faixas Mesoproterozoicas
faixas Paleoproterozoicas
núcleos Arqueanos

ESBOÇO TECTONO-GEOLÓGICO
DO BRASIL
Metalogenia das Províncias Tectônicas Brasileiras: A Plataforma Sul-Americana: uma introdução

2
Benjamim Bley de Brito Neves & Reinhardt Adolfo Fuck

A PLATAFORMA SUL-AMERICANA: UMA INTRODUÇÃO

BENJAMIM BLEY DE BRITO NEVES1 & REINHARDT ADOLFO FUCK2

1 - Instituto de Geociências, Universidade de São Paulo, Rua do Lago, 562 - Cidade Universitária, 05508-080,
São Paulo, SP - E-mail: bbleybn@usp.br
2 - Instituto de Geociências, Universidade de Brasília, Campus Universitário Darcy Ribeiro, 70910-900, Brasília.
E-mail: reinhardt@unb.br

INTRODUÇÃO des massas supercontinentais edificadas ao final


do Neoproterozóico. A contraparte africana desta
A Placa Sul-Americana é um segmento litosféri- supermassa continental, aqui tratada, somente foi
co de grandes proporções (>43.106 km2), compos- gradativamente sendo desgarrada da coirmã sul-
to por uma parte continental, o continente Sul- americana a partir dos últimos 235 Ma, com a evo-
Americano, e uma oceânica, consignada pela me- lução do Atlântico (Equatorial, Central e Meridio-
tade ocidental do Atlântico Sul. No contexto do nal), e o desenvolvimento subseqüente da mar-
continente Sul-Americano destaca-se uma área gem continental do tipo atlântica nos dois conti-
estável central e centro-oriental, caracterizada nentes antes unidos sob a designação de “Gon-
como ortoplataforma – a Plataforma Sul-America- dwana Ocidental”.
na - margeada a norte, a oeste e ao sul por por- O limite oriental da plataforma inclui as bacias
ções periféricas, de comportamento instável e de sedimentares costeiras desenvolvidas no pós-tri-
evolução principal ao longo do Fanerozóico. A de- ássico e que constituem a Província Costeira e
finição de Plataforma Sul-Americana é adequada Margem Continental (Almeida et al. 1981). As mar-
para este tipo crustal e litosférico, que funcionou gens ocidental (com os Andes, sensu latu), norte
como domínio estável em relação às faixas móveis (com os Andes Caribenhos) e sul (Sierra de La
que somam orogenias do Fanerozóico, hoje ocor- Ventana) são traçadas, mas ainda sem a precisão
rentes em suas margens norte (Andes Caribe- desejável. A dificuldade de tal traçado decorre da
nhos), oeste (Variscanas/Gondwanides, Andinas) presença de coberturas modernas que não per-
e sul (La Ventana, terrenos da Patagônia). A edifi- mitem marcar de forma inquestionável o limite
cação e estrututuração da plataforma foram com- entre os tratos estáveis e as faixas orogênicas
pletadas do Toniano (ca. 1.000Ma) ao Eo-Ordovi- fanerozóicas (e/ou de partes por elas “regenera-
ciano (ca. 470 Ma), sendo seu clímax de evolução das’). É necessário ressaltar que a entidade cra-
alcançado no Neoproterozóico, durante a colagem tônica (sin-Hercínica, sin-Andina, epi-Brasiliana)
orogênica do Brasiliano e, assim sendo, a carac- aqui em epígrafe, inicialmente chamada de Plata-
teriza como uma entidade dita epi-Brasiliana. forma Brasileira (Almeida 1967), inclui praticamente
A plataforma é constituída pelo amálgama de todo o Brasil e parcelas significativas de Colôm-
núcleos cratônicos de natureza diversa, pré-bra- bia, Venezuela, Guianas (que ao norte constituem
silianos, mais antigos que 900 Ma, e por um siste- a extensão do Cráton Amazônico) e, ao sul-sudo-
ma complexo de faixas móveis neoproterozóicas este, inclui partes de Argentina, Paraguai e Uru-
(Fig. 1), sobretudo mas não exclusivamente brasi- guai, onde continuam as faixas Pampeana e Dom
lianas, após delongada história precursora de Feliciano e o Cráton Rio de La Plata.
embaciamentos (basin-forming tectonics) marinhos, O contexto litosférico e crustal estável do con-
transicionais e continentais, e posteriores oroge- tinente Sul-Americano é assim definido, sobretu-
nias e colagens orogênicas, culminando com a fu- do por observações geológico-geotectônicas de
são supercontinental. A plataforma é, na verda- superfície, cabendo assinalar que é apenas parte
de, apenas fração importante, ocidental, do su- de uma entidade que teve dimensões prévias bem
percontinente Gondwana, uma das quatro gran- maiores, pois comprovadamente perdeu frações

3
Metalogenia das Províncias Tectônicas Brasileiras: A Plataforma Sul-Americana: uma introdução

Figura 1 – Esquema tectônico simplificado do continente sul-americano. A parte cinza a oeste (cadeia andi-
na) e a sul (maciços da Patagônia) não fazem parte da plataforma topônima. Cratons Sinbrasilianos: AMAZ
(Amazônico), SL (São Luis), SF (São Francisco), PA (Paranapanema), LA (Luiz Alves), RLP (rio de La Plata).
Em azul estão as principais províncias estruturais brasilianas e em branco as coberturas fanerozóicas indis-
criminadas. Modificado de Cordani (2010).

consideráveis de sua periferia norte e oeste, en- dade geotectônica de natureza supercontinental,
volvidas (“regeneradas”, “descratonizadas”) nos o supercontinente Rodínia (Fig. 2) (Li et al. 2008,
processos orogênicos fanerozóicos. Esta concep- Pisarevski et al. 2008, dentre muitos outros). As
ção tem algum respaldo sobretudo, mas não ex- faixas móveis brasilianas para as quais estes nú-
clusivamente, em dados gravimétricos e sísmicos cleos cratônicos, descendentes da fissão de Rodí-
(vide Oliveira & Andrade, neste volume). Em ver- nia, constituíram os referenciais estáveis, só fo-
dade, há demanda muito grande por incremento ram, pois, desenvolvidas após a fragmentação di-
em dados e respaldo geofísico, de forma a apri- acrônica desse supercontinente semental. Estima-
morar o conhecimento e a demarcação dos domí- se que o desenvolvimento da colagem orogênica
nios estáveis (cratônicos) e não estáveis (orogê- do Brasiliano tenha decorrido entre ca. 830 Ma até
nicos) do continente. o limiar do Fanerozóico, ca. 470 Ma, no Ordovicia-
É preciso ressaltar que há 900 Ma de anos os no Inferior. A última idade é a referência para mar-
núcleos cratônicos a serem discutidos (Amazôni- car o final da aglutinação/fusão de Gondwana Oci-
co, S. Luis-W África, São Francisco etc.) estavam dental e o limiar de sua estabilização.
em posições bastante diferentes das atuais, dis- Praticamente todas as faixas móveis da cola-
tanciados de centenas e até milhares de quilôme- gem Brasiliana apresentam continuidade na Áfri-
tros uns dos outros, e participando de outra enti- ca (Pankhurst et al. 2008, entre outros) e as por-

4
Benjamim Bley de Brito Neves & Reinhardt Adolfo Fuck

Figura 2 - Mapa esquemático dos descendentes do Supercontinente Rodínia que estão na América do Sul :
(Crátons e blocos de A a N. Na coluna superior as indicações de idades dos núcleos cratônicos e das Faixas
Móveis Paleoproterozóicas (do Riaciano, do Orosiriano e do Estteriano) e Mesoproterozóicas (Esteniano).
Modifficado de Fuck et al. (2008).

ções que iremos considerar e discutir são as que ram “regeneradas” ou “descratonizadas” nos
ficaram do nosso lado após a deriva pós-Triássico, eventos tectônicos, termais e somáticos (como
após a fissão de Pangea. Assim, a conscientiza- granitização de forma geral, underplating etc.) das
ção sobre o fator tempo e sobre os processos de orogenias do Brasiliano. Alguns dos fragmentos/
aglutinação/fusão e fissão/dispersão das massas descendentes menores de Rodínia, e portanto
supercontinentais é condição fundamental para coirmãos dos crátons do Brasiliano, constituem
entender o trato estável aqui designado e discu- partes importantes do mosaico de faixas móveis,
tido como Plataforma Sul-Americana. estando nelas incluídos como basement inliers de
O que denominamos de núcleos cratônicos do diversas ordens e grau de envolvimento, sendo
interior da plataforma são os fragmentos maiores em geral e informalmente chamados de “maciços”.
herdados da fissão da massa supercontinental de Os inliers atuam ora ramificando as faixas móveis,
Rodínia (Fig. 2). As frações de Rodínia funciona- quando frações de menor grau de retrabalhamen-
ram como placas continentais e desenvolveram to, ora como integrantes dos seus internides, re-
margens continentais do tipo Atlântico durante o presentando frações que perderam todas as ca-
Neoproterozóico, e as partes restantes dessas racterísticas prévias de estabilidade e adquiriram
placas, em grande parte regeneradas nas suas novas tramas estruturais.
bordas, vieram a constituir os núcleos dito cratô- A história e trama da plataforma devem ser
nicos. Estes núcleos foram domínios estáveis que abordadas focando dois contextos distintos de
atuaram como antepaíses no concerto das oroge- evolução: os crátons e maciços compostos por ro-
nias brasilianas. Porções consideráveis dos frag- chas do Arqueano ao final do Mesoproterozóico,
mentos menores e das margens dos maiores fo- filiados à história e trama de Rodínia; e as das
5
Metalogenia das Províncias Tectônicas Brasileiras: A Plataforma Sul-Americana: uma introdução

faixas móveis neoproterozóicas. Neste último con- do cenários exemplares de thrust-and-fold belts
junto dois grupos maiores devem destacados. Um que permitem observar, com clareza, a polaridade
do período Toniano, presente até o momento nas sedimentar e deformacional em relação ao núcleo
províncias Borborema (orogenia “Cariris Velhos”, cratônico.
entre 1000 e 930 Ma, Santos et al. 2010), Tocan- Na forma semifinal dos mosaicos de estruturas
tins (Mara Rosa, entre 920-880 Ma, Junges et al. brasilianas, isto é, o arranjo de crátons e faixas
2008) e na Mantiqueira Central (parte da Faixa móveis, os processos de extrusão pós-colisional
Itaiacoca, Poidevin et al. 1997, Basei 2005). Outro foram decisivamente importantes em tempos pré-
conjunto de orogenias mais abrangente e que Ordovicianos. Claramente, os processos colisionais
compreende todo somatório de orogenias do Bra- ocorreram e a convergência continuou como ob-
siliano (a colagem do Brasiliano sensu lato), de- servado em praticamente todas as províncias es-
senvolvidas entre ca. 850 e ca. 480 Ma, na qual é truturais brasilianas e nas suas coirmãs africanas.
possível discriminar vários estágios e etapas. To- Assim, a ação da tectônica transcorrente foi efeti-
das as unidades tectônicas e litoestruturais que va e criou e reaproveitou falhas precedentes para
precederam este segundo e mais importante con- comandar rejeitos direcionais de dezenas e mes-
junto de eventos foram invariavelmente retoma- mo centenas de quilômetros. Dessa maneira, a
das, em diferentes circunstâncias e graus de in- visão bidimensional, cartográfica hoje observada
tensidade, e em nível crustal variado. e descrita é significativamente distinta da que
As faixas móveis geradas nas orogenias neo- antecedeu o final dos processos orogênicos. O
proterozóicas contêm registros litoestruturais pro- resgate dos cenários paleogeográficos e dos qua-
cedentes de diversos tipos de bacias e pilhas vul- dros tectônicos iniciais deve considerar estes fa-
canossedimentares continentais, transicionais e tos, e mais, precisa considerar a visão de conjun-
oceânicas, separados por altos estruturais de di- to, com foco também na continuidade na África,
versas naturezas. No interior das faixas comumen- de praticamente todas as províncias.
te ocorrem frações do embasamento, tanto de É necessário acrescentar que a Província Pam-
rochas de alto e médio grau de metamorfismo, peana, de idade cambriana, situada no sudoeste
assim como de coberturas pré-900 Ma. Os tratos/ do continente e que foi parte da Plataforma Sul-
altos do “embasamento” condicionam a ramifica- americana, está hoje inserida no contexto das
ção destas províncias neoproterozóicas. No entan- áreas regeneradas (Almeida 2004), à semelhança
to, muitos dos blocos inicialmente discriminados dos muitos outros blocos proterozóicos conheci-
como “altos” ou basement inliers significativos, di- dos no interior das cadeias fanerozóicas (Fuck et
visores de ambientes, têm sido, na óptica e análi- al. 2008, Cardona et al. 2009, dentre outros) que
se de escalas maiores, configurados como lascas foram intensamente remobilizados e desastibiliza-
de embasamento, frações de faixas móveis do dos nas orogenias pós-brasilianas.
Mesoproterozóico, etc., de forma que o estudo
mais detalhado e o reexame destas unidades tec- OS NÚCLEOS CRATÔNICOS
tonoestruturais e demais contextos pré-900 Ma
se faz sempre necessário (vide Quadro 1). Os núcleos cratônicos são frações continentais
Algumas das faixas móveis admitem e apresen- geradas com a fissão de Rodínia. A análise de sua
tam claro zoneamento, tanto paleogeográfico (fai- constituição tectônica e litoestrutural, essencial-
xas marginais, faixas distais, ambientes continen- mente embasamento pré-Neoproterozóico dos ci-
tais, transicionais etc.), quanto sob a óptica dos clos geotectônicos neles consignados, possibilitam
processos deformacionais (internides, altos estru- discriminar dois grupos distintos: de um lado o
turais, externides etc.). Em praticamente todos os Cráton Amazônico e, de outro, os demais crátons
ramos dos sistemas de faixas de dobramento têm (São Luis-Oeste África, São Francisco-Congo, Luis
sido possível determinar, ou inferir, polaridades Alves, Rio de La Plata). Às características deste
sedimentar, metamórfica e orogênica, tendo por segundo grupo se alinham muitas das unidades
referência um núcleo cratônico. As faixas margi- geotectônicas (“maciços” e litótipos afins) de em-
nais proximais dos núcleos cratônicos invariavel- basamento regenerado que afloram ostensiva-
mente apresentam esta possibilidade, com notó- mente, e os que não afloram, como os sotopostos
ria vergência para os mesmos e consubstancian- às grandes sinéclises, como, por exemplo, os blo-

6
Benjamim Bley de Brito Neves & Reinhardt Adolfo Fuck

Quadro 1 – A saga dos descendentes de Rodínia nas assembléias de Gondwana Oriental e no Pós-Pangea.

cos Parnaíba e Paranapanema. Sunsás-Aguapeí, Nova Brasilândia, etc.), progres-


O Cráton Amazônico tem reconhecida afinida- sivamente mais jovens de nordeste para sudoes-
de com os blocos do hemisfério norte (Laurentia, te. Há evidências geológicas e isotópicas de uma
Báltica), particularmente pela semelhança na evo- dimensão pretérita ainda maior deste cráton para
lução geral com a daqueles blocos norte-america- oeste, de acordo com os dados de basement inli-
nos (Brito Neves 2005) e com a de alguns coir- ers das cordilheiras andinas orientais. A faixa es-
mãos regenerados presentes no interior e na parte tateriana Rio Negro-Juruena, em particular, apre-
mais oriental da Cadeia Andina (e.g. Arequipa, senta provável continuidade para os continentes
Antofalla, Cuyania etc.). Várias outras caracterís- norte-americano (Província Transcontinental) e
ticas podem ser assinaladas como peculiares e europeu (Gothian). A continuidade de Sunsás-
intrínsecas deste maior e mais completo dos des- Aguapeí/Nova Brasilândia com o Grenvilliano (Nor-
cendentes de Rodínia. te América e Europa) é uma possibilidade bastan-
Esta fração continental cratônica (> 5,5.106 km2) te debatida na literatura internacional.
é maior que todas as demais, e apresenta o mais A este quadro quelogênico de crescimento crus-
completo registro de sistemas do Arqueano ao fi- tal, orientado de nordeste para sudoeste, se so-
nal do Mesoproterozóico. Na sua porção mais ori- brepôs outro similar, de atividades anorogênicas,
ental expõe núcleos arqueanos circunscritos por de extraordinária riqueza de tipos e variedades
faixas móveis do Paleoproterozóico, formando um de processos (granitos diversos, intrusões alcali-
conjunto muito semelhante ao de “Hudsonia” ou nas, tafrogenia e implantação de bacias sedimen-
Cráton Hudsoniano (Reed Jr. et al. 1993). A partir tares e vulcanossedimentares) que foram progres-
desta massa centro oriental do Paleoproterozói- sivamente se instalado nas áreas que foram gra-
co inferior e médio, o Cráton Amazônico apresen- dualmente sendo estabilizadas. Estas atividades
tou crescimento quelogênico, com o desenvolvi- foram respostas tanto de processos infracrustais
mento de faixas móveis acrescionárias do Paleo- (manto ativado, plumas, pontos quentes) como
proterozóico (Ventuari – Tapajós, do Orosiriano e também de atividades reflexas no interior das áre-
a Rio Negro-Juruena, a única de idade estateriana as estabilizadas, resultantes de vários processos
do continente), do Mesoproteróico (Santa Helena, de litosfera ativada, devido à interação em mar-

7
Metalogenia das Províncias Tectônicas Brasileiras: A Plataforma Sul-Americana: uma introdução

gens das placas. Estes eventos mostram regis- tras inferências da geologia regional alinhavadas
tros multiformes entre 2,0 Ga e 0,98 Ga e ampla até o presente.
distribuição no espaço, do que decorrem muitos
problemas de terminologia e classificação estrati- OS COIRMÃOS “DESCRATONIZADOS”
gráfica, ainda distante de uma síntese ideal. Es-
tes processos anorogênicos, lado-a-lado com even- Considerando a Plataforma Sul-Americana como
tos orogênicos, são de riqueza e variedade sem entidade epi-Brasiliana, é preciso reiterar que são
similar no mundo, com exposições sobejas, mal- muitos os contingentes litoestruturais mais anti-
grado condições de floresta tropical. A rigor, são gos, de embasamento, presentes não apenas nas
ocorrências mais exuberantes de que as do bloco áreas cratônicas, mas também fora delas, no in-
norte-americano, onde se situa a continuidade de terior de faixas móveis de diferentes ciclos. Em pre-
embasamento e cobertura, tendo em vista que, tensa ordem ideal, ocorrem desde segmentos pré-
naquele continente, a cobertura paleozóica é mui- tonianos do embasamento caprichosamente pre-
to mais extensa e melhor preservada e que em servados, como é o caso do Cráton Amazônico,
muito obscurece o Pré-Cambriano. seguidos de segmentos com diferentes graus de
Os demais núcleos cratônicos têm grande afi- retrabalhamento representados pela maioria dos
nidade ente si e com os do bloco africano, razão demais crátons e dos chamados “maciços” e de
pela qual são conhecidos como entidades “gon- outras frações de embasamento completamente
dwânicas”. São de dimensões menores, em geral ductilizadas (vide Quadro 1).
inferiores a 1.10 6 km2 e incluem núcleos microcon- Mesmo em áreas cratônicas, diversos vestígios
tinentais do Arqueano amalgamados por faixas e registros da penetração da deformação brasili-
móveis do Paleoproterozóico, sobretudo do Riaci- ana têm sido detectados, em número crescente
ano. Não há registros concretos de orogenias pós- de casos na medida em que o conhecimento geo-
Orosiriano, e/ou mesoproterozóicas. Merecem des- lógico e geocronológico avança. O Quadro 1 é uma
taque as coberturas de plataforma vulcano-sedi- tentativa de discriminar alguns casos e classificar
mentares e sedimentares, moderadamente dobra- preliminarmente os tipos e modos de retrabalha-
das, do Paleoproterozóico Superior, Mesoprotero- mentos observados até o presente.
zóico e amplas bacias do Neoproterozóico. Em al- O emprego do termo “maciço” deve ser enca-
guns casos, verifica-se que parte destas cobertu- rado como artifício descritivo, de caráter informal
ras meso- e neoproterozóicas possuem flagrante e necessariamente passageiro. Em todos os ca-
continuidade litoestratigráfica com as sequências sos deve ficar implícita a premência de classifica-
supracrustais das faixas móveis marginais aos crá- ção adequada, em acordo com o avanço do co-
tons. nhecimento. Algumas vezes, os maciços refletem
As características destas porções extra-Ama- contexto tectônico singular de vulto (e.g. micro-
zônicas podem ser estendidas, de certa forma, e continente, microplaca, terreno tectonoestratigrá-
de acordo com os dados disponíveis, a muitas das fico), mas em outras, as áreas designadas como
unidades do embasamento das faixas móveis do “maciços”, ao curso da regionalização tectônica
Neoproterozóico, onde estas unidades litoestru- preliminar, agregam diferentes contextos tectôni-
turais estão reestruturadas em nível crustal pro- cos e outras frações litoestruturais da infraestru-
fundo. Este é o quadro geológico-geotectônico que tura. Em síntese, a aplicação do termo “maciço”
se encontra igualmente configurado na maioria exige cautela e reexame frequente de suas ca-
inconteste das exposições diretas e indiretas do racterísticas. Por outro lado, a par dos crátons e
embasamento, inclusive os chamados basement “maciços”, deve ficar claro que frações do emba-
inliers, profundamente transformados por even- samento de várias idades foram também retraba-
tos do Brasiliano nas quatro grandes províncias lhadas de diversas maneiras no interior das fai-
neoproterozóicas, como será visto. Esta descrição xas móveis do Fanerozóico, durante as interações
parece possível de ser aplicada também aos nú- de placas e eventos do Famatiniano, Hercínico e
cleos supostamente cratônicos do substrato das Andino. A identificação das porções retrabalhadas
grandes sinéclises do Paraná (bloco Paranapane- no contexto da plataforma e das faixas móveis fa-
ma) e do Parnaíba (bloco Parnaíba), de acordo com nerozóicas e a compreensão sobre o papel que
os poucos dados geológicos e geofísicos, e ou- estas porções desempenharam antes e durante

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Benjamim Bley de Brito Neves & Reinhardt Adolfo Fuck

as orogenias em que foram envolvidas, é um de- vro. Dessa forma, as propostas esquematizadas
safio da pesquisa geotectônica, e um alerta con- nos Quadros 2 (Arqueano) e 3 (Paleoproterozói-
tra simplismos apressados. co), apesar das limitações deste tipo de sistema-
O grau de retrabalhamento tectônico-magmá- tização, sintetizam de forma introdutória o patri-
tico das unidades pré-brasilianas varia amplamen- mônio litoestrutural e a evolução crustal dos sis-
te. Há registros de casos desde fragmentos do temas que estão melhor expostos na plataforma.
embasamento arqueano, paleoproterozóico e/ou No tocante ao Mesoproterozóico e a partir do
mesoproterozóico praticamente preservados, até Estateriano Superior, são consignadas diferenças
extremos de porções litoestruturais totalmente significativas entre o registro da região amazôni-
“regeneradas” ou “descratonizadas” e incorpora- ca, que guarda afinidades com os continentes do
das nas zonas internas de faixas móveis neopro- hemisfério norte, e da região extra–amazônica,
terozóicas, como é o caso de algumas ocorrênci- parte central e sudeste da América do Sul, que
as/blocos clássicos como Guanhães, Cabo Frio, mostra afinidades com os continentes gondwâni-
Punta del Leste, Terreno Alto Moxotó, Terreno Alto cos ocidentais.
Pajeú etc. E também, por seu turno, há casos no No Cráton Amazônico, como mencionado, veri-
interior das faixas fanerozóicas, como Pâmpia, fica-se uma evolução marcada por sucessivas oro-
Cuyania, Arequipa, Garzon- Santa Marta, etc. genias, com crescimento quelogênico de nordeste
Processos de “descratonização”, como acima para sudoeste bem marcado no tempo, de forma
apontados, estão na ordem do dia da investiga- a sobrepujar os eventos de tafrogênese, que em
ção geotectônica e são temas ditos de vanguarda geral possuem papel subordinado. Na porção ex-
(o quê?, como? e por quê?). O continente Sul-Ame- tra-Amazônia predomina a tafrogenia, com mag-
ricano, como um todo, contém exemplos notáveis matismo anorogênico diversificado, processos ex-
de tratos considerados como da mesma natureza tensionais e formação de bacias (basin-forming
original do que os domínios cratônicos, mas que tectonics) e onde orogêneses segundo o Ciclo de
estão diversamente regenerados. A título de com- Wilson são, até o momento, desconhecidas e a
paração, no Quadro 1 os crátons brasilianos são presença, ou não de processos contracionais tem
mostrados (itens 1 e 2) para servirem de referên- sido foco freqüente de questionamento e discus-
cia aos casos de processos de “descratonização” são. Em consequência, a esquematização dos re-
mais latentes e sensíveis que atingiram os mais gistros dos sistemas, a partir do Estateriano, é
diversos coirmãos. O Quadro 1 reflete o conheci- feita com o emprego de dois quadros diferentes
mento atual e, por isto, tem validade temporal, é (Quadros 4 e 5).
de difícil aceitação consensual e é apenas um apoio No caso do desenvolvimento dos processos do
ao presente texto. Neoproterozóico e seus registros, a parte central
e sudeste do continente, isto é, dita extra-ama-
EVOLUÇÃO CRUSTAL E REGISTROS DE TENDÊN- zônica é que foi a privilegiada. Na porção amazô-
CIAS E PARTICULARIZAÇÕES nica, os registros do Neoproterozóico estão pre-
sentes em zonas periféricas e localmente, de for-
Os registros litoestruturais do Arqueano e do ma atenuada e/ou indireta, quando não totalmen-
Paleoproterozóico nos núcleos cratônicos, “maci- te ausentes.
ços” e no embasamento das faixas móveis prote- Dois conjuntos de eventos tectônicos foram dis-
rozóicas da Plataforma Sul-Americana guardam criminados no setor central e centro-oriental do
semelhanças com os clássicos registros descritos continente. Um é referente ao Toniano (pré-850
em outros continentes, como no Canadá e África Ma) e ocupa espaços muito modestos das três
do Sul, com poucas particularidades merecedoras maiores províncias estruturais e sem registros
de registro. Poderíamos, por exemplo, assinalar a consignados na Província Pampeana. O outro con-
relativa escassez de terrenos komatiíticos em al- junto, mais importante e abrangente e com fran-
guns dos nossos greenstone belts ou, ainda, men- ca sobreposição ao primeiro e ao embasamento
cionar os registros conspícuos do Sideriano, que pré-Neoproterozóico em geral, corresponde a uma
é uma particularização interessante da evolução configuração e trajetória típicas de colagem oro-
crustal. Outras feições de semelhança e diferen- gênica, com a somatória de três a quatro ciclos
ças virão no bojo dos demais capítulos deste li- orogênicos (“processos concretos de interação de

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Metalogenia das Províncias Tectônicas Brasileiras: A Plataforma Sul-Americana: uma introdução

Quadro 2 – Arqueano na América do Sul – Diversidade dos registros e da tectônica.

Quadro 3 – Principais processos/registros geológicos do Paleoproterozóico.

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Benjamim Bley de Brito Neves & Reinhardt Adolfo Fuck

Quadro 4 – Evolução crustal mesoproterozóica no Bloco Amazônico.

Quadro 5 – Evolução crustal mesoproterozóica nos domínios extra-Amazônia. Vulcanismo básico (VVV) e
félsico (granítico principalmente +++) estão assinalados. Sedimentação em todos os períodos, mais desta-
cada apenas no Ectasiano e, em parte no Esteniano, consorciada ou não com vulcanismo.

placas”) relativamente completos, responsável cessos tonianos, nem saber sua extensão real,
pela edificação da plataforma em discussão. Ain- uma vez que todos se localizam de forma subordi-
da não é possível discriminar, como desejável, a nada à abrangência da colagem brasiliana, quan-
paleogeografia e a trajetória tectônica dos pro- do os esforços contracionais iniciais foram impo-

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Metalogenia das Províncias Tectônicas Brasileiras: A Plataforma Sul-Americana: uma introdução

nentes e seguidos por expressivos processos de tar as antigas margens continentais “passivas” e
extrusão do Neoediacarano ao Eo-ordoviciano. “ativas”, nestes últimos casos com evidências de
contextos ofiolíticos e de arcos de ilhas e magmá-
PROVÍNCIAS NEOPROTEROZÓICAS - AS ticos etc. Nas zonas mais internas e nas mais afe-
FAIXAS MÓVEIS tadas pelos processos de extrusão, a problemáti-
ca cresce substancialmente por obscurecimento
Feições e Características Gerais das feições paleogeográficas devido à influência
de novas tramas tectônicas, o que deixa muitos
Consoante Almeida et al. 1981, com poucas problemas em aberto.
adaptações, a fração neoproterozóica, de filiação Pelo menos dois ciclos distintos de evolução
gondwânica, do embasamento da plataforma está foram reconhecidos nas províncias, isto é, do To-
representada e exposta significativamente em três niano (pré-850 Ma) e do Brasiliano s.s. (ca.800-
grandes províncias estruturais: Borborema (Nor- 470 Ma). A colagem orogênica que ocorreu duran-
deste Oriental) Tocantins (Brasil Central, com ra- te este segundo termo foi muito mais abrangen-
mificações para sudoeste e sudeste) e Mantiquei- te, com claro overprinting em todos os desenvolvi-
ra (de este-sudeste para o extremo sudeste). Há mentos anteriores (do Toniano e precedentes),
outra província menor adicional, como (ex-)porção predomina em área, e assim sendo, dificulta em
sudoeste da plataforma, a província Pampeana, muito a identificação de domínios geográfico-geo-
situada nas fraldas da Cordilheira Andina e por lógicos do primeiro ciclo e o estabelecimento de
esta bastante remobilizada. Uma conexão preté- suas características. Na verdade, a individualiza-
rita desta província com o ramo mais sul-ocidental ção, compreensão e demarcação dos ciclos do To-
da Província Tocantins (Faixas Paraguai-Valemi, niano ainda constituem temas embrionários. Há
que circunscrevem o bloco do Rio Apa) é bastante alguns candidatos a serem melhor investigados.
provável. Esta província, pela perda da estabili- É oportuno reiterar que o panorama geológi-
dade pós-Cambriana, deve ser considerada no co-geotectônico expresso pela riqueza de regis-
contexto do continente, mas retirada do contexto tros e exposições nas províncias brasilianas é algo
estável da Plataforma Sul-Americana. absolutamente próprio e difere dos contextos e
A identificação das províncias estruturais ocor- arcabouços neoproterozóicos dos continentes se-
reu há cerca de três décadas e já existem muitos tentrionais. Naqueles, as retomadas promovidas
elementos de conhecimento geológico, resultan- pela implantação das orogenias fanerozóicas fo-
tes de mapeamento básico e de dados geocrono- ram intensas, assim como o recobrimento por se-
lógicos que permitem aprimorar a proposta origi- quências fanerozóicas foi mais vasto. Cabe reite-
nal de Almeida et al. (1977, 1981). Ainda não hou- rar também as semelhanças e continuidades de
ve nova proposta de discriminação de províncias nossas províncias com as pan-africanas do conti-
e a pretérita foi muito bem fundamentada, ainda nente africano, com as quais estiveram aglutina-
é útil aos nossos propósitos e será aqui seguida, das em Gondwana.
com apreciações e comentários laterais quando
necessários. Ao nível do conhecimento atual, to- Características mais marcantes
das as províncias permitem a identificação de sub-
províncias, para as quais já existem algumas de- Sendo a Plataforma Sul-Americana caracteriza-
signações informais e/ou subentendidas, mesmo da como epi-Brasiliana, e como todas as provínci-
que não sejam totalmente consensuais. as estruturais serão temas dos demais capítulos
O cenário das faixas móveis e províncias estru- deste livro, aqui serão ressaltadas as caracterís-
turais neoproterozóicas do continente apresenta ticas mais importantes, procurando pinçar, da me-
muitas semelhanças com as pan-africanas. O grau lhor forma possível, a essência do conhecimento
de preservação dos registros litoestruturais é ele- atual, a saber:
vado, com muitos orogenic belts sobrepondo em a) As províncias brasilianas estão situadas fun-
número os orógenos “vestigiais” de Clifford (1970), damentalmente entre núcleos cratônicos, os quais
e é possível resgatar muitas feições paleogeográ- atuaram como paleocontinentes pré-mesoprote-
ficas e paleotectônicas valiosas. Localmente, em rozóicos e como placas litosféricas durante o Neo-
determinados sistemas, tem sido possível resga- proterozóico. Todos os núcleos cratônicos (vide

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Benjamim Bley de Brito Neves & Reinhardt Adolfo Fuck

destaque no Quadro 1) são considerados como turas podem refletir, ou destacar descontinuida-
frações descendentes mais ou menos preserva- des geotectônicas e estruturais do embasamento
das da fissão do Supercontinente Rodínia. Todas sotoposto (Brito Neves et al. 1984).
as províncias constituem complexos sistemas ra- d) Nas províncias Tocantins (Mara Rosa, 920-
mificados de orógenos (branching system of oro- 860 Ma), Borborema (Cariris Velhos, 1000-930 Ma)
gens), as ramificações sendo comandadas por di- e Mantiqueira (Itaiacoca, 1000-930 Ma), dentre
ferentes tipos de basement inliers paleo- e meso- outras candidatas, foram identificados registros de
proterozóicos e alguns, mais raramente, do Arque- ciclos orogênicos “wilsonianos” relativamente bem
ano. Muitos dos inliers mostram afinidades litoes- preservados e datados do Toniano. Registros de
truturais e cronológicas com os núcleos cratôni- remanescentes oceânicos, arcos de ilhas, arcos
cos, uma vez que são frações do mesmo todo (vide magmáticos e de granitóides (ortognaisses) coli-
Quadro 1), deles diferindo pelo retrabalhamento sionais puderam ser mapeados e datados. São
tectônico-termal e magmático a que foram subme- casos considerados especiais, para os quais os
tidos. eventos tectônicos e termais sobrepostos do Bra-
b) O reconhecimento de diferentes províncias, siliano não foram capazes de mascarar os regis-
extensas como as da Borborema (ca. 450.000 km2), tros litoestruturais de ciclos orogênicos preceden-
Tocantins (ca. 800.000 km 2) e Mantiqueira (ca. tes, da parte inicial do Neoproterozóico. Se estes
500.000 km2), certamente obedece razões geoló- ciclos que antecedem o Brasiliano são parte da
gicas próprias, mas também são substanciais as formação de Rodínia e, assim, seriam parte do
razões descritivas. As províncias possuem alguns contexto “grenvilliano”, quase global, ou se cons-
ramos que apontam para nítidas conexões entre tituem um dos primeiros capítulos orogênicos pós-
elas, assim como indicações e evidências de con- Rodínia, é ainda problema sem resposta, tendo
tinuidade no continente africano. Este não é o caso em vista que Rodínia foi um supercontinente cu-
da pequena Província Pampeana (ca. 240.000 jos eventos de fusão e fissão foram diacrônicos
km2), relativamente distante, isolada e tolhida de (Li et al. 2008).
observação pelos sedimentos recentes do Chaco, e) A história orogênica dos ciclos do Toniano
e que foi, a principio, colocada fora do contexto da nas diferentes províncias, desde a implantação (ca.
plataforma por retrabalhamento pela margem an- 1,05-1,0 Ga) até os estágios orogênicos finais
dina desde o Ordoviciano, na orogenia famatinia- (>0,93Ga) é tema aberto e amplo de pesquisas
na. Uma conexão pretérita com a Província Tocan- futuras. A idade de 0,9 Ga foi proposta como refe-
tins é provável e tema de investigação no presen- rência para a magna aglutinação de Rodinia, sabi-
te. Todas as províncias admitem a possibilidade damente diacrônica (Li et al. 2008). Não há refe-
de reconhecer subprovíncias de acordo com a seg- rências bibliográficas concretas e decisivas, em-
mentação geográfico-geológica, seja de norte para bora haja várias menções, sobre ciclos e eventos
sul ou de leste para oeste, e outras razões de como estes nas demais províncias do Neoprotero-
cunho geotectônico, razão porque algumas desig- zóico. Nos domínios gondwânicos, algumas alu-
nações novas têm sido introduzidas na bibliogra- sões e possibilidades dignas de nota têm sido
fia com a acepção informal de “subprovíncias”. apontadas na Faixa Trans-Sahara, a leste do Crá-
c) A forma final e atual das províncias foi abso- ton Oeste África (Caby et al. 2003, de Witt et al.
lutamente condicionada pelos importantes even- 2005) e no domínio de Moçambique (Vasconcelos
tos de extrusão do final do Neoproterozóico ao & Gamal 2010). Nos continentes setentrionais, os
Cambriano, fato comum em todo supercontinente valores de idade mais próximos são os das oro-
Gondwana, de forma que a trama hoje apresen- genias ditas grenvillianas, mas que são geralmen-
tada difere em muito da organização paleogeo- te um pouco mais antigas (>50 Ma) e do Mesopro-
gráfica e litoestrutural do Neoproterozóico. Soma- terozóico mais superior. Por outro lado, é neces-
se a isto a presença de coberturas sedimentares sário enfatizar que as atividade anorogênicas do
fanerozóícas de vários tipos, que cobrem mais de Toniano foram significativas, havendo muitos re-
3,5 milhões de km2 da plataforma e interrompem gistros de riftes e processos afins, consorciados
a continuidade das faixas dobradas e dos “maci- com magmatismo diversificado, representado por
ços” e parte dos crátons de referência. Destaque- enxames de diques máficos a magmatismo graní-
se que, algumas vezes e em parte, estas cober- tico tipo A. Tupinambá et al. (2007) chamam a aten-

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Metalogenia das Províncias Tectônicas Brasileiras: A Plataforma Sul-Americana: uma introdução

ção para e discriminaram estes eventos (Evento têm as rochas mais antigas do continente, como
II) no contexto brasileiro. Entretanto, estes even- os “maciços” São José do Campestre (RN) e de
tos aparentemente ocorreram de forma indepen- Sobradinho (PE-BA), as partes mais norte-orien-
dente das “orogenias” tonianas. tal e meridional da Província Borborema, respecti-
f) A história da implantação dos processos oro- vamente. Neste embasamento, os núcleos arque-
gênicos da colagem do Brasiliano dispõe de docu- anos em geral ocorrem como peças no interior de
mentação ainda relativamente escassa ou concen- faixas móveis do Riaciano. Há algumas indicações
trada apenas em algumas províncias. No geral, há indiretas da existência de faixas móveis do Orosi-
um acervo de dados coerentes com a hipótese de riano neste embasamento, o que é esperável, mas
trabalho de processos de abertura diacrônica pós- falta confirmação. Vários tipos de coberturas se-
Rodínia, desde o início do Criogeniano. Há vários dimentares e vulcanossedimentares do Paleopro-
dados, ainda longe do número ideal e de consen- terozóico mais superior (Estateriano) e do Meso-
so, que indicam extensão, vulcanismo fissural e proterozóico têm sido identificadas como parte do
magmatismo anorogênico, mais marcadamente embasamento. Algumas coberturas só vieram a ser
entre 830 e 750 Ma, em praticamente todas as deformadas ao longo do Brasiliano, quando por
províncias, e que são interpretados como even- este atingidas. Também têm sido identificados di-
tos dos primórdios dos ciclos do Brasiliano (vide versos granitóides e associações gabro-anortosí-
Evento III de Tupinambá et al. 2007, Brito Neves ticas (AMCGr originalmente?) do Mesoproterozói-
et al. 2009 e Quadro 6). co e, como no caso das coberturas, transforma-
g) Quanto à diversidade do embasamento das dos em metamorfitos ao longo do Brasiliano. Nes-
províncias, há certas semelhanças a serem des- tes termos gerais, é oportuno salientar novamen-
tacadas. Há alguns núcleos do Arqueano que con- te que o contexto de embasamento das provínci-

Quadro 6 – Evolução dos processos/eventos orogênicos do Neoproterozóico na Plataforma Sul-Americana.

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Benjamim Bley de Brito Neves & Reinhardt Adolfo Fuck

as neoproterozóicas é bastante similar ao das sília, leste da Província Tocantins) e oriental (Sis-
províncias cratônicas extra-Amazônia propriamen- tema Araçuaí, Província Mantiqueira norte). Em
te ditas. todos estes casos têm sido identificadas margens
h) Nas províncias brasilianas há alguns casos continentais do tipo Atlântico (“passivas”), prece-
de registros de remanescentes de associações dentes a sua transformação em faixas de dobra-
vulcanossedimentares do Mesoproterozóico inclu- mentos marginais (“ativas”, colisionais). Margens
sas nas estruturas típicas do Brasiliano, sobrepu- “passivas” transformadas numa segunda instân-
jantes. Nestes casos, a distinção entre os litoti- cia em margens “ativas” são a consequência de
pos e processos mais antigos (inliers) e os mais subducção e posterior colisão.
novos, do Neoproterozóico, tem sido sempre pro- k) Nas bordas cratônicas referidas é eventual-
blemática e ainda dependente de detalhamentos mente possível observar e/ou rastrear sequênci-
estruturais e geocronológicos. Em geral, há au- as de cobertura cratônica envolvidas na deforma-
sência de dados estruturais concretos sobre de- ção das faixas móveis, com notáveis exemplos de
formações anteriores ao Neoproterozóico (Ectasi- passagem de um estilo de dobramento intracra-
anas, Estenianas, etc.) nestas rochas, embora não tônico (idiomórfico, descontínuo) para outro (ho-
faltem alusões a isto. Trata-se de um tema pro- lomórfico contínuo), no sentido da faixa móvel, com
missor de pesquisa para os próximos anos, pois diversos tipos de transições.
existem muitas questões e contrové’rsias em jogo. l) Uma característica de praticamente todas as
Merece especial destaque a parte central da Pro- províncias é a preservação de coberturas sedimen-
víncia Mantiqueira (e.g. no interior dos sistemas/ tares da fase final de evolução, pós–orogenias,
complexos São Roque e Assunguí). ditas “molássicas”, moderadamente ou não dobra-
i) Há também os casos locais, especiais e, até das. Geralmente são conglomerados e brechas
o presente, relativamente raros pelos métodos de polimícticas imaturos, com passagens graduais
datação disponíveis, de granitóides e corpos bá- para termos siliciclásticos finos, depositados em
sicos anorogênicos da história mesoproterozóica, diferentes tipos de grabens (bacias transtracio-
comuns na história dos crátons, e descritos como nais) associadas a grandes zonas de cisalhamen-
ortognaisses, milonitos e anfibolitos do interior das to. A ocorrência de vulcanismo de caráter inter-
porções distais das faixas móveis. Interessante mediário é frequente, com raros basaltos, e gra-
acrescentar que também têm sido identificados nitóides. Exemplos destas bacias ocorrem do Ce-
alguns granitóides intraplaca, originalmente do ará (Jaibaras, Cococi) ao Uruguai (Arroyo del Sol-
tipo “A” associados com riftes, de diferentes ida- dado, pró-parte), como sintetizado por Teixeira et
des paleo- e mesoproterozóicos, mas também al. (2004). A idade destas unidades varia de edia-
neoproterozóicos e transformados em ortognais- carana a eo-ordoviciana e são colocadas como
ses durante o Brasiliano. parte da chamada “Sequência Alfa”, a primeira
j) Na periferia dos núcleos cratônicos, que já relativa ao Fanerozóico, por Soares et al. (1978).
foram apontadas como margens de antigos pale- Localmente, as espessuras podem chegar a mi-
ocontinentes, ocorrem faixas orogênicas ditas pro- lhares de metros (vide Quadros 7 e 8, vide Sequ-
ximais, com associações quarzito-pelito-carbona- ência Alfa).
to e eventuais diamictitos e tilitos, do Sturtiano e/ m) A denudação dos relevos criados no Brasili-
ou Marinoano. Nestas faixas tem sido possível res- ano durante o Paleozóico forneceu as cargas clás-
gatar a organização das pilhas litoestratigráficas, ticas das sinéclises e, no Mesozóico-Cenozóico, da
caracterizar a proveniência sedimentar e recons- complexa evolução da Província Costeira e Mar-
tituir a polaridade, em parte tectônica (vergência), gem Continental. A cobertura dita gondwânica,
em parte do metamorfismo etc. Tais feições foram originalmente muito ampla, desenvolvida do Or-
identificadas na Faixa Paraguai, situada ao longo doviciano ao Triássico, está retalhada em todo o
de toda a borda sudeste do Cráton Amazônico e continente, com surgimento de “arcos” e “altos”
sudoeste da Província Tocantins. O mesmo ocor- que separam as sinéclises ou as subdividiram in-
reu em toda a periferia nordeste, norte, noroeste ternamente. A deriva Brasil-África foi dramática e
do Cráton do São Francisco (sistemas Sergipano- contundente, com fases de soerguimento (áreas
Riacho do Pontal-Rio Preto da Província Borbore- “dômicas”) de mais de uma dezena de quilôme-
ma), assim como na periferia ocidental (Faixa Bra- tros. Como resposta à denudação em mais de um

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Metalogenia das Províncias Tectônicas Brasileiras: A Plataforma Sul-Americana: uma introdução

ciclo, há algumas faixas móveis onde o registro plantados em diferentes laboratórios (São Paulo,
supracrustal foi extensivamente varrido, forman- Belém, Brasília, Porto Alegre) têm ajudado em
do os chamados schist belts ou vestigial belts (Cli- muito tecer o esquema preliminar do conhecimen-
fford 1970), que expõem tratos do embasamento to tectonoestratigráfico do continente, mas há
ao nível de crosta inferior. Nestes casos, a discri- muitas lacunas para as quais a comunidade deve
minação entre rochas supracrustais do Brasiliano estar ciente para supri-las.
e rochas do seu substrato só pode ser feita com
emprego de métodos adicionais, por exemplo iso- COBERTURAS DA PLATAFORMA
tópicos.
n) A elaboração de um quadro com pretensões A reconstituição, classificação e sistematização
cronoestratigráficas para as orogenias do Neopro- das coberturas sedimentares e vulcanossedimen-
terozóico (pós-Toniano) da plataforma é tarefa di- tares do Pré-Cambriano da plataforma enfrentam
fícil. Primeiro porque há muitas concorrências em vários problemas, por se tratar de tema comple-
tempo, de orogenias de uma província para ou- xo. Cabe registrar que, pelo menos até o final do
tra. Segundo, porque o grau de conhecimento cro- Neoproterozóico, o amplo, rico e variado quadro
nológico e sua repartição por fenômenos para mar- das coberturas da Plataforma Sul-Americana re-
car isotopicamente dobramento/magmatismo/me- sulta da reunião circunstancial de frações de co-
tamorfismo em diferentes etapas do tempo ainda berturas de diversas massas e supermassas con-
está em fase de reconhecimento. O acervo de da- tinentais com históricos próprios e distintos entre
dos, em número e qualidade, é extremamente si, e que se articularam de diferentes formas até
desigual entre as províncias estruturais. O Qua- serem reunidas na coalizão de Gondwana e de
dro 6 deve ser visto como uma tentativa arrojada sua posterior separação. No pré-Neoproterozói-
e circunstancial de encadear estes fenômenos, com co, sobretudo não se pode falar em coberturas
o emprego de 8 “patamares” de discernimento genuínas.
mais ostensivo, mas que deverá ser gradualmen- Em geral, a partir do início do Fanerozóico as
te modificado com o avanço do conhecimento, mas coberturas a serem apontadas são em grande
dificilmente duas tentativas como esta não venham parte frações de desenvolvimentos sedimentares
a colidir em algum ponto. Consenso não existe, gondwânicos mais amplos. É preciso reiterar que
nem será alcançado com brevidade. o que está exposto e preservado resulta de vári-
Em todos os itens acima discutidos, veiculados as histórias tectonossedimentares de continentes
com frequência na literatura especializada, há e supercontinentes pretéritos e até mesmo dis-
dúvidas e controvérsias, frutos da condição de tintos. A ocorrência em diferentes tipos de bacias,
conhecimento modesto e ainda insuficiente da Pla- sinéclises, dalas/mesas, riftes é fato importante,
taforma Sul-Americana, mas este é o laudo mais mas secundário na apreciação do contexto e do
próximo do justo e do honesto, frente às suas di- legado tectonossedimentar na escala global.
mensões (ca. 10.106 km2) e a complexidade de seus Uma proposta de síntese do registro das co-
problemas. Malgrado o grande esforço em mape- berturas sedimentares da Plataforma Sul-Ameri-
amentos geológicos realizados sobretudo por cana foi apresentada por Brito Neves (2002), aqui
empresas federais e estaduais nos últimos 40 retomada com as necessárias e possíveis atuali-
anos, o conhecimento da nossa plataforma é ain- zações, e mesmo porque a revisão do tema será
da modesto e com grandes desigualdades de es- sempre necessária na esteira do progresso do
cala e propósitos de um ponto a outro. De modo conhecimento. As relações litoestratigráficas de
geral, menos de 20% da plataforma está recober- campo das unidades pré-Cambrianas são, muitas
to em escala 1/ 1.000.000. Progresso foi feito, e vezes, de difícil obtenção e entendimento, e o acer-
está sendo feito, em termos de mapeamentos pela vo geocronológico é pobre e tem progredido va-
CPRM - Serviço Geológico do Brasil, com seu qua- garosamente. Cerca de oito grupos principais de
dro e com recursos humanos das universidades, sequências (sintemas) sedimentares foram discri-
pelos esforços das universidades, elas próprias, minados em função de idade, características ge-
por algumas empresas estaduais de geologia, mas rais e comportamento/significado tectônico em di-
falta muito. Do ponto de vista de evolução crustal, ferentes blocos e massas continentais, do Arque-
os métodos geocronológicos gradualmente im- ano ao final do Proterozóico. A nona unidade a

16
Benjamim Bley de Brito Neves & Reinhardt Adolfo Fuck

ser discriminada, e que poderia ser acrescentada eventos atribuídos como potenciais responsáveis
a este conjunto (vide Quadro 7), é a que contém pela formação de sequências é de natureza glo-
os registros da passagem dos eventos orogêni- bal, a saber: as unidades sedimentares do topo
cos do Neoproterozóico para a estabilidade do dos greenstone belts; as unidades formadas pela
Fanerozóico, as unidades do chamado Estágio de fusão dos continentes do Paleoproterozóico e a
Transição (vide Zalán 2004). Estas últimas cober- sua posterior fissão, a Tafrogênese do Estateri-
turas realmente são um estágio de “passagem” ano; as típicas coberturas dos grandes crátons
das condições tectônicas. do Mesoproterozóico; as unidades formadas an-
tes e após a fusão de Rodínia etc. O estudo e
Coberturas Pré-Fanerozóicas entendimento da evolução crustal do pré-Fane-
rozóico da plataforma será sempre um apoio con-
No trato com as sequências/sintemas do pré- sistente para a compreensão destas sequênci-
Fanerozóico são muitas as limitações, implicando as, e a recíproca é verdadeira. O vínculo entre a
sempre em exercícios de ousadia e especulações. tectônica, sedimentação e o magmatismo tem re-
São exercícios fadados a receber críticas e a exigir gistro muito concreto na apreciação destas se-
revisões periódicas, como em todos os quadros quências (Vide Quadros 7 e 8).
anteriores, diante do fluxo de novos dados. Na Mesmo conhecendo as diferenças enfatizadas
verdade, a ordenação de sequências retrata, passo da porção amazônica em relação ao restante do
a passo, a evolução crustal na grande maioria de continente, no trato das sequências sedimenta-
blocos pré-cambrianos do mundo. A maioria dos res, a separação do registro das coberturas di-

Quadro 7 – Seqüências sedimentares pré-fanerozóicas.

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Metalogenia das Províncias Tectônicas Brasileiras: A Plataforma Sul-Americana: uma introdução

Quadro 8 – As seqüências/superseqüências fanerozóicas da Plataforma Sul-Americana.

tas “dobradas” (Quadro 7) dos dois contextos não cessivos estágios tectônicos e a sedimentação
pode ser feita na atual instância de conhecimen- resultante. Da fase de formação propriamente dita
tos. Com a carência de dados geológicos e crono- da plataforma (epi-Brasiliano) até o seu presen-
lógicos esta discriminação neste momento soaria te, há um histórico de 6 (1 + 5) diferentes e su-
artificial, e o tratamento em conjunto é ainda a cessivas fases evolutivas consignadas nos regis-
melhor via. tros litogenéticos e estruturais da cobertura nos
mais deferentes tipos de bacias interiores (“da-
Coberturas Tardineoproterozóicas e Fanerozóicas las”, sinéclises, riftes diversos), e, em parte, nas
bacias da margem continental. Na síntese de Za-
O estudo das coberturas tardi-neoproterozói- lán (2004) aqui utilizada com pequenos adendos,
cas e fanerozóicas da plataforma (Quadro 8) tem estão sistematizadas estas seis fases, associan-
o estímulo de tratar de um referencial de embasa- do eventos de sedimentação, magmatismo bási-
mento praticamente uno, primeiramente Gondwa- co, alcalino e granítico (continental e oceânico) e
na e posteriormente Pangea, e porque está con- os eventos tectônicos extensionais, compressio-
templado com extraordinário acervo de dados, de nais e transpressionais consorciados.
universidades, centros de pesquisa diversos e O Quadro 8 procura retratar da melhor forma o
empresas, incluídos os da indústria petrolífera, estágio do conhecimento litoestratigráfico e a vin-
bem como respaldada em inúmeros exercícios pre- culação tectônica, visando uma forma de equacio-
téritos de sistematização. O acervo de dados ge- nar o problema, válida para a presente instância
ológicos em geral, estratigráficos e mesmo isotó- do conhecimento, mas já apontando alguns pro-
picos é grande e consistente, além de uma série blemas, foco para pesquisas futuras. O Quadro 8,
de abordagens e aprimoramentos prévios (Almei- aqui apresentado, é apenas um preâmbulo e um
da 1969, Soares et al 1978, dentre outros). Mere- auxílio para a discussão das diversas províncias
ce destaque a síntese mais recente, de Zalán sedimentares da plataforma, como elas serão tra-
(2004), considerada o arremate atualizado e cui- tadas neste volume.
dadoso do problema. No âmbito do presente livro, o tratamento das
De certa forma, estas coberturas, em conjunto coberturas sedimentares por outros autores, em
com os processos magmáticos presentes e ausen- vários domínios da plataforma, deve ser
tes, retratam apropriadamente e com consistên- arregimentado para o melhor conhecimento do
cia e fidelidade as fases evolutivas da plataforma, problema e cotejado com a tentativa de síntese
reiterando os vínculos indissociáveis entre os su- aqui formulada.

18
Benjamim Bley de Brito Neves & Reinhardt Adolfo Fuck

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Metalogenia das Províncias Tectônicas Brasileiras: A Plataforma Sul-Americana: uma introdução

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Paulo, Editora Beca, p. 595-612.

20
Roberto Gusmão de Oliveira & João Batista Freitas de Andrade

INTERPRETAÇÃO GEOFÍSICA DOS PRINCIPAIS DOMÍNIOS TECTÔNICOS


BRASILEIROS

ROBERTO GUSMÃO DE OLIVEIRA1 & JOÃO BATISTA FREITAS DE ANDRADE2

1 - CPRM – Serviço Geológico do Brasil, Avenida Sul 2291, Bairro Afogados, 50770-011, Recife, PE.
E-mail: rgusmao@re.cprm.gov.br
2 - CPRM – Serviço Geológico do Brasil, Av. Pasteur 404, Urca, 22290-240, Rio de Janeiro, RJ.
E-mail: jfreitas@rj.cprm.gov.br

INTRODUÇÃO a anomalia gravimétrica negativa representa o


registro fóssil da flexura da litosfera produzida pelo
O conhecimento da litosfera é fundamental para carregamento das nappes durante a orogênese,
a compreensão dos processos tectônicos que con- somada ao contraste de densidade entre os me-
dicionaram a formação e evolução das grandes tassedimentos vestigiais e o embasamento do
massas continentais. Entretanto, a maioria das ante-país, como é o caso da Província Grenville no
informações sobre a evolução tectônica das pro- Canadá (Gibb et al. 1983, Thomas 1985).
víncias estruturais brasileiras tem sido obtida a Apesar dos estudos de geofísica profunda ain-
partir dos estudos das rochas expostas na super- da serem incipientes no Brasil, nos últimos anos
fície. Porém, os pesquisadores já possuem uma ocorreram avanços no conhecimento das proprie-
clara percepção da importância do emprego de dades geofísicas da crosta continental com vista
dados geofísicos para a compreensão dos proces- à investigação dos limites entre compartimentos
sos de evolução litosférica que produzem fissão e tectônicos. Neste capítulo serão descritas as carac-
colisão continental, deformação, granitogênese, terísticas magnéticas e gravimétricas mais relevan-
metamorfismo e formação dos depósitos minerais. tes dos principais domínios tectônicos brasileiros.
Os limites entre domínios tectônicos que repre-
sentam grandes blocos crustais em geral coinci- DADOS AEROMAGNÉTICOS E GRAVIMÉTRICOS
dem com os maiores gradientes entre anomalias
gravimétricas emparelhadas positivas-negativas Os dados aeromagnéticos empregados neste
de grande comprimento de onda. Essas anomali- trabalho (Fig. 1) pertencem a um banco de dados
as são causadas pela convergência e colisão de aerogeofísicos (BASE AERO) organizado pela
crostas com densidades distintas, em que a ano- CPRM-Serviço Geológico do Brasil e administrado
malia positiva corresponde ao soerguimento da pela Divisão de Geofísica (DIGEOF). Fazem parte
crosta inferior da província mais jovem, e a nega- deste banco de dados os levantamentos aeroge-
tiva corresponde à bacia de foreland e a flexura da ofísicos realizados pelas instituições do Governo
litosfera mais antiga (Gibb et al. 1983, Karner & Federal (DNPM/CPRM/CNEN). Também estão inclu-
Watts 1983, Bayer et al. 1989, Ussami & Molina ídos projetos levantados por órgãos de governos
1999). Em orógenos colisionais Cenozóicos ativos estaduais em convênio com a CPRM, e projetos do
(p. ex. Alpes, Karner & Watts 1983) e Paleozóicos banco de dados da Agência Nacional do Petróleo
inativos, que ainda preservam a cadeia orogênica (ANP), com levantamentos nas áreas das bacias
(p. ex. Apalaches, Karner & Watts 1983), a anma- sedimentares. Para obtenção da malha dos da-
lia gravimétrica negativa está associada com a fle- dos aeromagnéticos empregados neste trabalho,
xura da litosfera produzida na borda da placa tomou-se como partida a malha de 1,0 x 1,0 km
(ante-país) pelo peso dos sedimentos deposita- preparada pelo South American Magnetic Mapping
dos na bacia de foreland (Beuamont 1981, Karner Project (SAMMP) (GETECH & PGW 1996). Para sua
& Watts 1983). Nas faixas orogênicas pré-cambri- preparação o SAMMP executou uma série de pro-
anas, onde a cadeia de montanhas já foi erodida, cessamentos que inclui: i) digitalização e edição

21
Metalogenia das Províncias Tectônicas Brasileiras: Geofísica dos principais domínios tectônicos brasileiros

Figura 1 - Imagem da malha interpolada dos dados aeromagnéticos de campo total do Brasil. Com superposição
dos limites das províncias, dos alinhamentos magnéticos interpretados e das principais estruturas tectônicas.
Limite das províncias estruturais de acordo com Almeida et al. (1977). Estruturas e limites geológicos
reproduzidos de Delgado et al. (2003).

dos dados; ii) reprojeção e interpolação dos da- malha única; vii) aplicação de um filtro de continu-
dos; iii) remoção do Definitive Geomagnetic Refe- ação para cima de 1 km; e finalmente viii) remo-
rencial Field (DGRF); iv) processamento no domínio ção de um campo crustal regional obtido a partir
Fourier; v) nivelamento altimétrico dos dados; vi) de medidas do satélite Magsat. Ao longo dos anos,
reunião de todas as malhas para formação de uma após o término do SAMMP, os geofísicos da DIGE-

22
Roberto Gusmão de Oliveira & João Batista Freitas de Andrade

OF-CPRM foram adicionando a esta malha inicial eventos colisionais antigos. Nos dados aeromag-
os projetos antigos que não fizeram parte do néticos observa-se a existência de expressivos
SAMMP, bem como, os novos projetos que foram alinhamentos com direção E-W que correspondem
sendo levantados, até a obtenção da malha em- à direção geral dos greenstone belts arqueanos
pregada neste trabalho. que afloram na Área Carajás (Costa et al. 1995).
Os dados gravimétricos empregados neste tra- As rochas fontes dos alinhamentos gravimétricos
balho (Fig. 2) tiveram como fonte o Center for Spa- e magnéticos prosseguem por baixo dos sedimen-
ce Research da NASA (http://www.crs.utexas.edu/ tos Paleozóicos da Bacia do Amazonas. No leste
grace/gravity) e fazem parte do projeto GRACE - da Província Amazônia Central, em contraste com
Gravity Recovery and Climate Experimet. O modelo a direção geral E-W, ocorre uma faixa de anomali-
gravimétrico empregado foi o Grace Gravity Model as gravimétricas de direção N-S, com largura em
02 (GGM02) (Tapley et al. 2005). A partir da malha torno de 250 km, paralela ao limite oeste da Faixa
original em anomalia ar livre foi calculada a ano- Araguaia. Essa assinatura gravimétrica no interi-
malia Bouguer para uma topografia com densida- or do Cráton do Amazonas corresponde ao eixo
de igual 2,67 g/cm3. Para este cálculo foi empre- positivo da anomalia bipolar positiva-negativa que
gada a malha topográfica do GLOBE DEM do pro- reflete o contraste de densidade entre as duas
jeto Global Land One-kilometer Base Elevation (GLO- crostas e corresponde ao resíduo gravimétrico
BE) (Hastings et al. 1999). Segundo os adminis- deixado pela colisão neoproterozóica entre o Crá-
tradores desses dados, a qualidade varia de re- ton do Amazonas e a Faixa Araguaia (Ussami &
solução para diferentes partes do mundo, porém Molina 1999). Estudos efetuados por Tassara et
fornece uma excelente referência topográfica. Os al. (2007) indicam que a Província Amazônia Cen-
dados não são considerados espacialmente robus- tral possui a litosfera mais resistente da América
tos e demandam algum cuidado quando utiliza- do Sul, com valores de espessura elástica efetiva
dos em aplicações de precisão. de até 100±15 km.
A Província Maroni-Itacaiúnas, estruturada pela
CRÁTON DO AMAZONAS Orogênese Transamazônica (2,25-1,95 Ga), limita
a Província Amazônia Central a leste e a norte (Tas-
O arcabouço do Cráton do Amazonas apresen- sinari et al. 2000). Do ponto de vista geofísico,
ta subdivisões em seis províncias baseadas em apresenta tendência gravimétrica Bouguer positi-
dados geocronológicos (Tassinari & Macambira va e possui expressivos alinhamentos magnéti-
1999) (Fig. 3). Estas subdivisões têm boa correla- cos que circundam os limites da Província Amazô-
ção com os contrastes de assinaturas observa- nia Central (Fig. 3). Essas assinaturas geofísicas
das nos dados gravimétricos e aeromagnéticos estão relacionadas com sequências metavulcano-
(Fig. 3), bem como, alguns limites dessas provínci- sedimentares, como é caso do Grupo Vila Nova no
as estão correlacionados com alinhamentos de Amapá (Lima et al. 1974), com complexos de ro-
anomalias gravimétricas que sugerem eventos de chas gnaíssicas-migmatíticas, e com rochas meta-
colisão tectônica. morfisadas na fácies granulito, como é caso do cin-
A Província Amazônia Central é o domínio geo- turão Tumucumaque (João & Marinho 1982).
lógico mais antigo do cráton (Tassinari et al. 2000). A Província Ventuari-Tapajós bordeja o limite
Ela está correlacionada com um amplo baixo gra- sudoeste da Província Amazônia Central. Ela pos-
vimétrico com amplitude média de 30 mGal (Fig. sui uma forma alongada na direção NW-SE e apre-
3). Essa tendência negativa da anomalia Bouguer senta uma expressiva tendência gravimétrica Bou-
pode indicar a existência de uma crosta mais es- guer positiva, com fortes contrastes em relação
pessa do que a crosta dos domínios adjacentes, às províncias adjacentes (Fig. 3). Os seus limites
ou refletir os expressivos processos de sedimen- tectônicos com as províncias vizinhas são bem mar-
tação e magmatismo que ocorreram ao longo do cados por gradientes gravimétricos, que registram
Paleoproterozóico (Tassinari et al. 2000). Nos limi- a justaposição de crostas com densidades distin-
tes com os domínios adjacentes Maroni-Itacaiú- tas. Possivelmente, essas assinaturas refletem o
nas e Ventuari-Tapajós observa-se um gradiente processo de aglutinação de arcos magmáticos ocor-
positivo de 3,0 mGal/10 km que pode estar relaci- ridos no período em torno de 2,0 a 1,4 Ga na mar-
onado com suturas e representar um resíduo de gem do protocráton Amazônia Central/Maroni-Ita-

23
Metalogenia das Províncias Tectônicas Brasileiras: Geofísica dos principais domínios tectônicos brasileiros

Figura 2 - Imagem da malha interpolada dos dados de anomalia gravimétrica Bouguer do Brasil processados
a partir dos dados do GRACE - Gravity Recovery and Climate Experimet (Tapley et al. 2005). Com superposição
dos limites das províncias, dos alinhamentos gravimétricos interpretados e das principais estruturas tectônicas.
Limite das províncias estruturais de acordo com Almeida et al. (1977). Estruturas e limites geológicos
reproduzidos de Delgado et al. (2003).

24
Roberto Gusmão de Oliveira & João Batista Freitas de Andrade

Figura 3 - Imagem da malha interpolada dos dados de anomalia gravimétrica Bouguer e aeromagnética do
Cráton do Amazonas. Com superposição das principais estruturas tectônicas e alinhamentos geofísicos
interpretados. Arcabouço das províncias tectônicas de acordo com Tassinari & Macambira (1999).
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Metalogenia das Províncias Tectônicas Brasileiras: Geofísica dos principais domínios tectônicos brasileiros

caiunas (Tassinari et al. 2000). O padrão aeromag- A Província Rondônia-San Ignacio margeia o li-
nético indica dominância de rochas pouco magné- mite sudoeste da Província Rio Negro-Juruena (Fig.
ticas, como as coberturas sedimentares dos gru- 3). Possui um embasamento composto por com-
pos Gorotire e Beneficente, as rochas vulcânicas plexos gnaíssicos-migmatíticos e granulitos, sequ-
ácidas-intermediárias associadas aos granitóides ências metavulcano-sedimentares e rochas mag-
Maloquinha (Santos et al. 1977) e as intrusões máticas intrusivas, com evolução ao longo do Me-
anorogênicas intraplaca dos granitos tipo rapaki- soproterozóico (Tassinari et al. 2000). O seu limite
vi (Santos et al. 1999). O padrão geofísico no no- com a Província Rio Negro-Juruena é muito bem
roeste desta província é fortemente influenciado marcado pelo emparelhamento de anomalias gra-
por um feixe de alinhamentos gravimétricos e mag- vimétricas e expressivas anomalias magnéticas
néticos com direção NE-SW que atravessa os limi- (Fig. 3). Internamente essa província é caracteri-
tes tectônicos das províncias no noroeste do crá- zada pela alternância de anomalias Bouguer po-
ton. O padrão desses alinhamentos sugere corre- sitivas e negativas com amplitudes de 20 a 30
lação com zonas de cisalhamentos, que provavel- mGal, possivelmente refletindo contrates de den-
mente são mais jovens do que os limites colisio- sidades entre as rochas do embasamento (ano-
nais formados entre 2,0 a 1,4 Ga. Fraga (2002) malias Bouguer positivas), faixas de rochas vulca-
fez datações em rochas miloníticas de um cintu- no-sedimentares e batólitos graníticos (anomali-
rão de deformação que atravessa a região de Ro- as Bouguer negativas).
raima na direção NE-SW (Episódio Deformacional A Província Sunsás bordeja o limite sudoeste
K‘Mudku) e obteve a idade de 1,26 Ga. da Província Rondônia-San Ignacio (Fig. 3) e pos-
A Província Rio Negro-Juruena é formada por sui uma evolução geológica que inclui sedimenta-
uma faixa de rochas sedimentares, metamórficas ção, magmatismo e metamorfismo (Tassinari et al.
e magmáticas, que se estende na direção NW-SE, 2000). Ela apresenta uma expressiva tendência
margeando o flanco sudeste da Província Ventua- gravimétrica Bouguer positiva, com fortes contras-
ri-Tapajós (Fig. 3). Na parte sudeste, a província tes em relação à Província Rondônia-San Ignacio
está correlacionada com um eixo gravimétrico ne- (Fig. 3). Aparentemente, essa assinatura gravimé-
gativo com amplitude de até 100 mGal. Essa in- trica está associada com o processo de colisão tec-
tensidade anômala diminui gradativamente no sen- tônica que produziu o cinturão de empurrões Agua-
tido noroeste. Os seus limites com as províncias peí (Saes & Leite 1993), relacionado com a cola-
vizinhas são marcados por fortes gradientes gra- gem Grenville (Sadowski & Bettencourt 1996).
vimétricos que sugerem a justaposição de cros-
tas com densidades distintas (Fig. 3). Esses limi- CRÁTON DO SÃO FRANCISCO
tes também são marcados por expressivas ano-
malias magnéticas alinhadas que evidenciam a Os dados geocronológicos indicam que o Crá-
existência de um grande volume de rochas mag- ton do São Francisco é o remanescente de uma
néticas ao longo dos limites tectônicos. O eixo gra- evolução tectônica desenvolvida em etapas de
vimétrico negativo parece está associado com a aglutinações de quebramentos de massas conti-
plataforma vulcano-sedimentar do Grupo Caiabis nentais (Teixeira 1993, Teixeira et al. 2000). Para
(idade de deposição em torno de 1,4 a 1,2 Ga, compreender a importância geotectônica deste crá-
Tassinari et al. 1978) e com o volumoso magmatis- ton em relação às províncias adjacentes, além dos
mo anarogênico (recorrência entre 1,6 Ga e 970 conceitos iniciais esboçados por Almeida (1977),
Ma, Tassinari et al. 1996). O contraste de densida- destaca-se o conceito de Placa Sanfranciscana
de que gera o forte gradiente gravimétrico pode apresentado por Alkmin et al. (1993), que a carac-
ser resultante da justaposição dessas rochas de terizaram como o resultado de um processo que
densidades mais baixas, com cinturões de rochas começou com a reativação e fragmentação de um
metamorfisadas na fácies granulito e/ou rochas supercontinente aglutinado no final do Paleopro-
básicas de densidades mais altas. Seja como for, terozóico (Supercontinente Atlântica, Rogers 1996)
a amplitude gravimétrica anômala e a presença e culminou com uma colagem no Neoproterozóico.
de fortes anomalias magnéticas ao longo dos limi- Nesse processo, a paleoplaca se comportou como
tes da província indica a existência de desconti- um ante-país, em cujas margens ocorreram even-
nuidades profundas e de importância crustal. tos colisionais que acrescentaram material juvenil

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Roberto Gusmão de Oliveira & João Batista Freitas de Andrade

e desenvolveram suturas (Supercontinente Gon- alongadas na direção N-S que estão correlaciona-
dwana) (Alkmin et al. 1993). das com o cinturão granulítico arqueano Itabuna-
Como podem ser observados na Fig. 4, os ca- Salvador-Curaça, terrenos granito-greenstone e
valgamentos Brasilianos que definem os limites do cinturões paleoproterozóicos, como descrito por
Cráton do São Francisco estão bem marcados por Delgado et al. (2003). Essas faixas gravimétricas
expressivas anomalias gravimétricas negativas, positivas possuem correlação com anomalias mag-
com amplitudes entre 30 e 70 mGal. Os gradien- néticas expressivas que marcam as frentes de ca-
tes mais significativos dessas anomalias gravimé- valgamentos, as zonas de cisalhamentos e as fai-
tricas definem os limites das faixas orogênicas mar- xas de rochas metavulcano-sedimentares.
ginais e, possivelmente, indicam a existência de A anomalia gravimétrica positiva na região do
espessamentos da crosta pela flexura da litosfe- Quadrilatéro Ferrífero está correlacionada com
ra durante a Orogênese Brasiliana na região dos uma anomalia positiva de geóide. Estudos efetu-
fold thrust belts das faixas Brasília, Araçuaí e Rio ados por Pinto et al. (2010), demonstraram que
Preto (Ussami et al. 1999). No caso da Faixa Brasí- nessa região a crosta inferior é eletricamente mais
lia, a existência de espessamentos da crosta é condutiva e anomalamente densa. Segundo Pinto
confirmada por dados de sísmica profunda publi- et al. (2010), essa crosta anômala pode ter sido
cados por Berrocal et al. (2004). No interior do crá- gerada por underplating magmático associado com
ton, anomalias gravimétricas negativas são obser- intrusão de diques toleíticos mesoarqueanos a
vadas na região das coberturas neoproterozóicas, proterozóicos.
e ao longo do Aulacógeno do Espinhaço. No pri- No interior do cráton ocorrem duas expressi-
meiro caso, os dados gravimétricos indicam que vas anomalias magnéticas circulares de origem des-
as coberturas neoproterozóicas possuem espes- conhecida. A anomalia localizada no sul, aproxi-
suras significativas. No segundo caso, a anomalia madamente 200 km a norte de Belo Horizonte, é
gravimétrica pode indicar o somatório do efeito conhecida como anomalia magnética de Pirapora.
produzido pelas rochas que preencheram a bacia Ussami (1981) propôs que esta anomalia tem como
do Espinhaço (Dominguez 2003), mais a intrusão fonte um corpo retangular localizado em profundi-
do plutonismo intraplaca paleoproterozóico (Brito dade. A outra está localizada no norte do cráton,
Neves et al. 1979), finalizando com o espessamen- na região da Chapada Diamantina na Bahia. Am-
to da crosta produzido pelo processo de inversão bas, possuem comprimento de onda médio de 120
tectônica que resultou no fechamento do aulacó- km e amplitudes superiores a 1.000 nT. Além dis-
geno (Alkmin et al. 1993). As direções de deforma- so, ambas possuem polaridade invertida, sugerin-
ção que definem o arcabouço atual do Aulacóge- do que a magnetização tem origem remanente.
no do Espinhaço são também bem marcadas por Nos dados magnéticos destacam-se também
alinhamentos magnéticos com direção NNW-SSE. dois conjuntos de alinhamentos magnéticos. Um
Anomalias gravimétricas positivas podem ser no sudoeste do cráton, o outro no norte. São for-
observadas em três regiões no interior do cráton mados por alinhamentos muito alongados com até
(Fig. 4): i) no sul, na região do Quadrilátero Ferrí- 500 km de comprimento, tectonicamente contro-
fero ocorre uma anomalia gravimétrica semicircu- lados pelas bordas das bacias do Paraná e do Par-
lar com diâmetro em torno de 200 km e amplitude naíba. No primeiro caso, ocorre a correlação dos
de 40 mGal que possui correlação com o aflora- alinhamentos com zonas de deformação frágil e
mento de terrenos granito-greenstones arquea- afloramentos de kimberlitos e carbonatitos na re-
nos e cinturões paleoproterozóicos. Essas rochas gião de Goiás e Minas Gerais. No segundo caso
também produzem expressivas anomalias magné- ainda não existe uma correlação geológica eviden-
ticas; ii) na região central, ocorre uma larga ano- te com rochas ou estruturas aflorantes.
malia gravimétrica, também com forma semicircu-
lar, diâmetro em torno de 500 km e amplitude de PROVÍNCIA TOCANTINS
até 50 mGal. Neste caso não é possível definir cor-
relações geológicas, pois as rochas que produzem A Província Tocantins (Fig. 5) é constituída pe-
as anomalias estão encobertas pelos sedimentos las faixas de dobramento Brasília, Paraguai e Ara-
da Bacia do Urucuia; e iii) na região nordeste ocor- guaia, resultantes da convergência dos crátons do
rem faixas de anomalias gravimétricas positivas Amazonas e do São Francisco durante a Orogêne-

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Metalogenia das Províncias Tectônicas Brasileiras: Geofísica dos principais domínios tectônicos brasileiros

Figura 4 - Imagens das malhas interpoladas dos dados de anomalia gravimétrica Bouguer e aeromagnética
do Cráton do São Francisco e regiões adjacentes. Com superposição das principais estruturas tectônicas e
alinhamentos geofísicos interpretados. Estruturas e limites geológicos reproduzidos de Delgado et al. (2003).

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Roberto Gusmão de Oliveira & João Batista Freitas de Andrade

se Brasiliana (Fuck 1994, Alvarenga et al. 2000, Na região de justaposição das rochas do arco
Delgado et al. 2003). Nessa convergência e coli- magmático Brasiliano com os terrenos paleprote-
são foram formados arcos magmáticos, e a tectô- rozóicos da região central da Faixa Brasília (Fig. 5)
nica de deformação produziu dobramentos e ca- ocorre um gradiente gravimétrico muito forte (em
valgamentos no sentido dos crátons (Dardene torno de 1,5 mGal/km), que sugere uma sutura de
2000, Delgado et al. 2003). crostas em contato relativamente abrupto. Nesta
Os dados gravimétricos dessas faixas orogêni- região, os terrenos paleoproterozóicos estão cor-
cas são compatíveis com colisões tectônicas que relacionados com faixa de anomalias gravimétri-
causaram espessamento significativo da crosta e cas positivas, enquanto os metassedimentos e
empilhamentos por cavalgamento das rochas me- rochas do arco magmático estão correlacionados
tassedimentares na borda dos crátons. As evidên- com as anomalias gravimétricas negativas. Essa
cias são mais fortes para o caso da Faixa Brasília, justaposição tectônica possivelmente está relaci-
onde se observa uma faixa de anomalias gravi- onada com as zonas de cisalhamento do Linea-
métricas emparelhadas positivas-negativas, com mento Transbrasiliano, que nessa região está bem
amplitudes de até 100 mGal e comprimento de marcado por vários alinhamentos magnéticos alon-
onda em torno de 200 km (Fig. 5). Essas anomali- gados na direção NE-SW. O traçado e a continua-
as formam um grande arco na margem oeste do ção desses alinhamentos por baixo dos sedimen-
Cráton do São Francisco, que representa o regis- tos das bacias do Parnaíba e do Pantanal são evi-
tro do evento orogênico, em que o peso das na- dentes nos dados aeromagnéticos (Fig. 5). Ade-
ppes deve ter produzido flexura das placas tectô- mais, nos dados gravimétricos também é possível
nicas envolvidas na colisão. Segundo Berrocal et perceber que a continuidade da Faixa Brasília para
al. (2004), os modelos resultantes do processa- norte ocorre segundo dois ramos, um que segue
mento de linhas de refração sísmica profunda mos- na direção N-S sob os sedimentos da Bacia do
tram a crosta sob o setor central da Província To- Parnaíba, e outro que segue na direção NE-SW,
cantins com espessura variando entre 32 e 43 km, em continuidade com a Faixa Rio Preto (Fig. 5).
enquanto no setor sudeste da Faixa Brasília a es- As faixas Araguaia e Paraguai estão correlacio-
pessura média da crosta está em torno de 38 km. nadas com um extenso eixo gravimétrico negativo
Estudos com função do receptor e tomografia te- que margina a borda sudeste do Cráton do Ama-
lessísmica efetuados por Assumpção et al. (2004) zonas ao longo de aproximadamente 1.500 km. A
confirmam esses resultados e sugerem a hipóte- amplitude dessa anomalia (em torno de 50 mGal)
se de que o domínio de foreland da Faixa Brasília e é menor do que a da Faixa Brasília, porém com
o Cráton do São Francisco fizeram parte de uma intensidade suficiente para se cogitar a atuação
grande placa continental (Congo-São Francisco) na de processos de colisão com justaposição de blo-
colisão final com a Placa do Amazonas. cos continentais com densidades distintas. Esse
No sudeste da Faixa Brasília, a convergência eixo negativo acompanha a borda oeste da faixa
entre a massa continental da Placa Sanfrancisca- anômala gravimétrica positiva correlacionada com
na ocorreu em relação ao bloco continental do Pa- os terrenos paleoproterozóicos da Faixa Brasília.
ranapanema (Fig. 5). Interpretado a partir de da- Segundo Ussami & Molina (1999), essas anomali-
dos gravimétricos por Mantovani et al. (2005), este as gravimétricas de longo comprimento de onda
bloco está encoberto pelos sedimentos da Bacia (em torno de 200 km) somente podem ser expli-
do Paraná, porém seus limites podem ser inferi- cadas pela flexão da placa Amazônica em respos-
dos com a contribuição da anomalia gravimétrica ta a carregamentos produzidos pela topografia e
Bouguer. Observa-se que o sinal gravimétrico as- lascas de empurrão da Faixa Araguaia. A intensi-
sociado é dominantemente positivo, e os seus li- dade inferida dessa carga permitiu estimar a es-
mites podem ser marcados pelo gradiente gravi- pessura elástica efetiva desse segmento litosféri-
métrico que delimita um bloco alongado na dire- co em 80 km. Adicionalmente, segundo Ussami &
ção NE-SW (Fig. 5). No limite com a Faixa Brasília, Molina (1999), esses resultados reforçam o mo-
o contraste de densidade entre as crostas dos dois delo de formação da Faixa Araguaia durante a co-
diferentes domínios geológicos produz uma ex- lisão das placas litosféricas do Amazonas e do São
pressiva anomalia gravimétrica bipolar (Lesquer et Francisco, no Neoproterozóico.
al. 1981). As faixas Araguaia e Paraguai não apresentam

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Metalogenia das Províncias Tectônicas Brasileiras: Geofísica dos principais domínios tectônicos brasileiros

Figura 5 - Imagens das malhas interpoladas dos dados de anomalia gravimétrica Bouguer e aeromagnética
da Província Tocantins e regiões adjacentes. Com superposição das principais estruturas tectônicas e
alinhamentos geofísicos interpretados. Estruturas e limites geológicos reproduzidos de Delgado et al. (2003).

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Roberto Gusmão de Oliveira & João Batista Freitas de Andrade

um grande volume de rochas magnéticas, entre- tanto, na região da Faixa Ribeira o sinal gravimé-
tanto nos dados aeromagnéticos (Fig. 5) é possí- trico possui menor amplitude, possivelmente ate-
vel perceber que os alinhamentos magnéticos des- nuado pela presença de rochas do embasamento
sas faixas truncam em ângulo ortogonal os expres- paleoproterozóico soerguidas tectonicamente pela
sivos alinhamentos magnéticos do Cráton do Ama- colisão Brasiliana. Segundo Almeida & Ebert
zonas (Fig. 3). (2001), estudos gravimétricos indicam que a in-
terface crosta/manto no segmento central da Fai-
PROVÍNCIA MANTIQUEIRA xa Ribeira apresenta um aumento de profundida-
de da Moho em direção ao Cráton do São Francis-
A Província Mantiqueira (Fig. 6) é um extenso co. Os estudos de França & Assumpção (2004) com
cinturão de rochas que foi instalado na borda les- base em dados telessísmicos, empregando a fun-
te do Cráton do São Francisco/Rio de La Plata no ção do receptor, indicaram que a espessura da
final do Neoproterozóico/início do Paleozóico (Del- crosta varia de 34 a 42 km, com o afinamento no
gado et al. 2003). Apesar de sua estruturação ser sentido da costa. O espessamento crustal tem
dominantemente marcada pela orogênese Brasili- correlação com a elevação, o que sugere uma com-
ana, esta província preserva remanescente de pensação isostática regional do tipo Ayri (França
rochas arqueanas, paleoproterozóicas e mesopro- & Assumpção 2004).
terozóicas. A sua estruturação é complexa, porém Nos dados magnéticos, as faixas Araçuaí e Ri-
apesar de não ser consensual, destacam-se três beira são marcadas por expressivas anomalias
sistemas orogênicos brasilianos, os cinturões Ara- alongadas na direção NE-SW (Fig. 6) e correlacio-
çuaí, Ribeira e Dom Feliciano (Fig 6). Os dois pri- nadas com zonas de cisalhamento. Esse fato de-
meiros, considerado por alguns pesquisadores monstra a existência de um grande volume de ro-
como uma entidade única (Pedrosa-Soares & Wi- chas magnéticas que foram deformadas e alonga-
edmann-Leonardos 2000), estão separados do das segundo as zonas de cisalhamento.
cinturão Dom Feliciano pelo Cráton Luis Alves. Na extensão para sudoeste, na região a norte
Na Faixa Araçuaí, os dados gravimétricos estão de Curitiba, o sinal gravimétrico negativo que ca-
muito influenciados pelo efeito do afinamento da racteriza as faixas Araçuaí e Ribeira fica empare-
crosta continental na anomalia Bouguer ao longo lhado com o sinal gravimétrico positivo do Cráton
da margem costeira (Fig. 6). Este aspecto pode Luis Alves (Fig. 6). Apesar de não ser muito ex-
ser atribuído ao fato da plataforma continental ser pressivo, o contraste entre os dois domínios tec-
estreita. Por isso, observa-se que na região leste tônicos é evidente nos dados gravimétricos. Isto
da Faixa Araçuaí o sinal gravimétrico dominante é também pode ser notado nos dados magnéticos,
positivo. Neste caso, o efeito é produzido pelo afi- onde a forte tendência linear das faixas orogêni-
namento da crosta na direção do oceano. Por ou- cas é relativamente atenuada no interior do crá-
tro lado, na borda do Cráton São Francisco obser- ton (Fig. 6). Nos dados gravimétricos, a observa-
va-se uma expressiva anomalia gravimétrica ne- ção do prosseguimento desses domínios geológi-
gativa (Fig. 6), sugerindo que ocorreu durante a cos sob dos sedimentos da Bacia do Paraná é difi-
Orogênese Brasiliana um importante espessamen- cultada pelo efeito de baixa densidade produzido
to da crosta e um grande empilhamento de ro- na anomalia Bouguer pelos sedimentos. Entretan-
chas supracrustais. A anomalia negativa indica a to, nos dados magnéticos é possível observar o
existência de contrastes de densidade entre cros- continuidade da Faixa Ribeira além dos limites da
tas de composição diferentes, e seu emparelha- bacia por aproximadamente 100 km (Fig. 6).
mento com um alinhamento de anomalias positi- A Faixa Dom Feliciano apresenta também ex-
vas na borda do cráton sugere que ocorreram fle- pressivos alinhamentos magnéticos de direção NE-
xuras da litosfera produzidas por bacias de fore- SW correlacionados com as zonas de cisalhamen-
land durante o processo orogênico. to (Fig. 6). Nos dados gravimétricos, na região do
Nos dados gravimétricos não é possível fazer Rio Grande do Sul, o conjunto Faixa Dom Felicia-
uma distinção clara entre as faixas Araçuaí e Ri- no-Cráton Rio de La Plata está posicionada em uma
beira, porque a tendência gravimétrica negativa região de tendência Bouguer regional positiva (Fig.
observada na Faixa Araçuaí prossegue para su- 6). Porém, observa-se que as rochas supracrus-
doeste ao longo da Faixa Ribeira (Fig. 6). Entre- tais da Faixa Dom Feliciano formam um eixo nega-

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Metalogenia das Províncias Tectônicas Brasileiras: Geofísica dos principais domínios tectônicos brasileiros

Figura 6 - Imagens das malhas interpoladas dos dados de anomalia gravimétrica Bouguer e aeromagnética
da Província Mantiqueira e regiões adjacentes. Com superposição das principais estruturas tectônicas e
alinhamentos geofísicos interpretados. Estruturas e limites geológicos reproduzidos de Delgado et al. (2003).

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Roberto Gusmão de Oliveira & João Batista Freitas de Andrade

tivo nessa tendência regional. Para oeste deste to formadas durante a Orogênese Brasiliana, em
eixo negativo está localizado o Cráton Rio de La que a Província foi comprimida entre os crátons
Plata com sinal gravimétrico positivo, enquanto Congo-São Francisco e Oeste Africano (Trompette
para leste a tendência Bouguer positiva tem cor- 1994). Nos dados aeromagnéticos, as maiores zo-
relação em superfície com a Lagoa dos Patos. Essa nas de cisalhamentos são visualizadas como line-
tendência gravimétrica regional positiva no senti- amentos contínuos que se estendem por até 700
do do Uruguai, indica excesso de massa que so- km. É possível também observar o prolongamento
mente pode ser explicado pela existência de uma das principais estruturas da Província Borborema
fonte subcrustal (Mantovani et al. 1995). por baixo dos sedimentos da Bacia do Parnaíba. A
Apesar das reativações tectônicas da Faixa Dom análise dos dados demonstra que as principais
Feliciano-Cráton Rio de La Plata ao longo Fanero- zonas de cisalhamentos convergem para o Linea-
zóico, os estudos da espessura elástica efetiva mento Transbrasiliano (Fig. 7).
(Te) efetuados por Mantovani et al. (1995) nesta Os remanescentes dos terrenos (núcleos) ar-
região indicam que a litosfera é resistente, com queanos estão sempre correlacionados com ano-
valores em torno de 95 km. malias gravimétricas positivas e geralmente pos-
suem anomalias magnéticas (Fig. 7). Isso se deve
PROVÍNCIA BORBOREMA a preservação parcial desses núcleos pelo inten-
so magmatismo ácido que ocorreu na província du-
A Província Borborema (Fig. 7) foi inicialmente rante a Orogênese Brasiliana e ao grande volume
descrita como um conjunto de maciços e sistemas de rochas básicas que fazem parte das sequenci-
de dobramentos estruturados durante a Orogê- as supracrustais dos núcleos arqueanos. Um
nese Brasiliana (Brito Neves 1975, Almeida et al. exemplo é o núcleo de São José do Campestre no
1977). Com a evolução dos conhecimentos, pas- Rio Grande do Norte (Dantas et al. 2004).
sou a ser apresentada como o resultado da ocor- No sul da Província Borborema, a sutura com o
rência e superposição de mais de uma orogênese Cráton São Francisco é bem marcada por anoma-
ao longo do tempo, e sua complexidade tectônica lias gravimétricas na Faixa Riacho do Pontal e no
foi atribuída à aglutinação de terrenos alóctones oeste da Faixa Sergipana. Ela é definida por um
de origens diferentes, separados por grandes zo- eixo gravimétrico anômalo positivo com 200 km de
nas de cisalhamento (Jardim de Sá et al. 1992, San- comprimento de onda e amplitudes em torno de
tos 2000). Nesse modelo de evolução, a Província 40 mGal, ao contrário do Cráton do São Francisco,
Borborema foi formada pela aglutinação de gran- onde a tendência Bouguer é dominantemente ne-
des fragmentos de crostas (terrenos tectonoes- gativa, com amplitudes em torno de 20 mGal. O
tratigráficos) durante as orogêneses Cariris Ve- par positivo-negativo constituí uma assinatura com
lhos (início do Neoproterozóico, em torno de 1,0 amplitude máxima, pico-a-pico, de 70 mGal (Fig.
Ga, Brito Neves et al. 1995) e Brasiliana (final do 7). Oliveira (2008) sugeriu a hipótese de que o
Neoproterozóico, em torno de 0,6 Ga). eixo gravimétrico positivo deve corresponder ao
A anomalia gravimétrica Bouguer na Província alçamento da crosta inferior da província e o ne-
Borborema (Fig. 7) é muito influenciada pelo afi- gativo às nappes de supracrustais da Faixa Riacho
namento da crosta ao longo da margem continen- do Pontal cavalgadas sobre o cráton.
tal, ocorrido no mesozóico durante o processo de No noroeste da Província, as anomalias gravi-
separação de Gondwana. Por causa disso, apre- métricas positivas e negativas emparelhadas ao
senta gradientes positivos no sentido do oceano longo do Lineamento Transbrasiliano, localmente
ao longo de todo o contorno da margem. Na ano- denominado Zona de Cisalhamento Sobral-Pedro
malia Bouguer é também marcante o efeito de II, marcam um limite colisional neoproterozóico (Fig.
baixa densidade produzido pelas bacias sedimen- 7), onde ocorreu a formação de um arco magmáti-
tares interiores formadas no Mesozóico (Matos co continental (Fetter et al. 2003). O sinal gravi-
1992). Essas bacias estão correlacionadas com métrico é definido por um par de anomalias Bou-
anomalias gravimétricas alongadas e negativas, guer, positiva-negativa, com amplitude, pico a pico,
com é caso da Bacia Tucano-Jatobá e Araripe (Fig. de 25 mGal, e comprimento de onda de 80 km. No
7). Por outro lado, os dados aeromagnéticos mar- interior da Faixa Médio Coreaú, ocorre outro par
cam de forma expressiva as zonas de cisalhamen- Bouguer, positivo-negativo com amplitude pico a

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Metalogenia das Províncias Tectônicas Brasileiras: Geofísica dos principais domínios tectônicos brasileiros

Figura 7 - Imagens das malhas interpoladas dos dados de anomalia gravimétrica Bouguer e aeromagnética
da Província Borborema e regiões adjacentes. Com superposição das principais estruturas tectônicas e
alinhamentos geofísicos interpretados. Estruturas e limites geológicos reproduzidos de Delgado et al. (2003).

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Roberto Gusmão de Oliveira & João Batista Freitas de Andrade

pico de 20 mGal e comprimento de onda de 100 çadas (Milani & Thomaz Filho 2000). A Bacia do Ama-
km. Beltrão & Silva (1989) interpretaram estes dois zonas, também com preenchimento sedimentar
pares Bouguer anômalos como o resíduo de um que inclui rochas depositadas no Paleozóico e Me-
processo de compressão tectônica de direção NW- sozóico, possui um eixo principal de direção E-W.
SE que, ao atuar em uma crosta que originalmen- No Permiano-Triássico, uma extensão tectônica
te apresentava faixas alternadas de adelgaça- regional de direção E-W possibilitou a intrusão de
mento e espessamento crustal, produziu o soer- corpos magmáticos. Atualmente, o pacote sedi-
guimento de fatias de rochas granulíticas prove- mentar no seu depocentro atinge espessuras de
nientes da crosta inferior. Em seguida, o conjunto 5.000 metros (Milani & Thomaz Filho 2000).
crustal foi afetado por cisalhamentos de direção Nos dados gravimétricos e magnéticos, a fei-
NE-SW. Fetter et al. (2003) interpretaram que a ção mais proeminente é um alinhamento positivo
anomalia gravimétrica dipolar na Faixa Médio Co- E-W, centralizado no eixo da Bacia do Amazonas
reaú marca a posição de uma zona de subducção (Fig. 3). O alinhamento está truncado na região
de um domínio oceânico Neoproterozóico durante de Manaus e não prossegue para a Bacia do Soli-
a convergência do Cráton Oeste-Africano-São Luís, mões. A amplitude gravimétrica de até 80 mGal e
com a Província Borborema, que gerou o arco mag- comprimento de onda em torno de 150 km (Fig. 3)
mático de Santa Quitéria. indicam que ela é produzida por grande excesso
Eestimativas de espessura da crosta da Pro- de massa. Aparentemente, a julgar pelo compri-
víncia Borborema por modelagens isostáticas (Cas- mento de onda, o sinal gravimétrico tem origem
tro et al. 1999, Oliveira 2008) indicam que há duas profunda e possivelmente não é causado apenas
regiões de espessamento na crosta da província: pelas rochas magmáticas que intrudiram a bacia
uma na região do Planalto da Borborema no leste no Permiano-Triássico. O alinhamento magnético,
da província (33,5 km) e oitra na região corres- ao contrário do gravimétrico, prossegue na Bacia
pondente ao arco magmático de Santa Quitéria, do Solimões. Seus parâmetros, amplitude de 200
noroeste da província (32,5 km). A primeira repre- nT e comprimento de onda de 150 km (Fig. 3), in-
senta uma raiz da crosta, associada com a com- dicam também uma fonte com origem profunda na
pensação isostática do Planalto da Borborema. A crosta. Tectonicamente, o alinhamento magnético
segunda é um registro vestigial da colisão entre a pode ser correlacionado com a Megazona de Ci-
Província Borborema e o Cráton Oeste-Africano salhamentos da Bacia do Solimões.
durante a Orogênese Brasiliana, que causou es- Pela posição dos alinhamentos em relação ao
pessamento da crosta ao longo do Lineamento eixo da bacia (Fig. 3), as fontes relacionadas com
Transbrasiliano. Entre estas duas regiões, ocorre as anomalias Bouguer e magnética devem estar
um afinamento que representa o registro no inte- relacionadas aos processos tectônicos de evolu-
rior do continente de um rifteamento cretáceo ção e formação da bacia, sem necessariamente
abortado. As estimativas de espessura da crosta ter uma herança tectônica, pois ela trunca as di-
foram confirmadas por processamento de dados reções principais das estruturas do embasamen-
telessísmicos (Cândido et al. 2010) e de sísmica to. Hipoteticamente, a anomalia gravimétrica po-
de refração profunda (Soares & Fuck 2010). deria ser produzida por fortes afinamentos da cros-
ta ou alternativamente por underplating de rochas
BACIAS DO AMAZONAS-SOLIMÕES básicas durante magmatismo Permno-Triássico.
Na região da Bacia do Solimões, os sedimentos
As bacias do Solimões e do Amazonas estão encobrem as fontes de anomalias gravimétricas,
separadas pelo Arco de Purus (Figs. 1 e 3). A Ba- tanto positivas como negativas, além de expres-
cia do Solimões, com preenchimento sedimentar sivas anomalias magnéticas. Nos dados gravimé-
que inclui rochas depositadas no Paleozóico e Me- tricos observam-se várias anomalias gravimétricas
sozóico, possui arcabouço estrutural marcado pela dipolares com amplitudes suficientes para justiçar
presença da Megazona de Cisalhamentos Solimões a interpretação de limites de crostas com fortes
de direção ENE-WSW. Esta zona de cisalhamen- contrastes de densidades. É também possível iden-
tos foi desenvolvida em um cinturão de deforma- tificar duas direções principais: NW-SE e NE-SW. A
ção intraplaca definido por falhas inversas en éche- primeira direção corresponde aos prolongamen-
lon, com direção NNE-SSW e regularmente espa- tos dos limites das províncias tectônicas já conhe-

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Metalogenia das Províncias Tectônicas Brasileiras: Geofísica dos principais domínios tectônicos brasileiros

cidas no embasamento aflorante. A segunda dire- dos desses trabalhos foram confirmados por meio
ção trunca a primeira, e parece estar associada do processamento de dados de função do recep-
com um evento tectônico mais jovem, tal como o tor e dispersão de ondas Rayleigh efetuado por
Episódio Deformacional K‘Mudku, cujos milonitos Julià et al. (2008). Segundo esses autores, as ob-
foram datados em 1,26 Ga por Fraga (2002) na servações são consistentes com a existência de
região de Roraima. um fragmento cratônico sob a Bacia do Paraná,
cujas suturas definiram as zonas de fraqueza para
BACIA DO PARANÁ a subsidência inicial no Paleozóico e permitiram
underplating do magmatismo Cenozóico.
A Bacia do Paraná (Figs. 1 e 6) está localizada Os dados gravimétricos mostram que o limite
no sul-sudeste do Brasil e se estende para os pa- nordeste do bloco do Paranapanema apresenta
íses vizinhos do Paraguai, Argentina e Uruguai. Ela gradientes gravimétricos muito fortes (Fig. 6), for-
apresenta uma forma elíptica com direção geral mando um arco com concavidade voltada para a
NNE-SSW, com dois terço de sua superfície estan- região da Faixa Brasília, cujas rochas afloram na
do coberta por lavas basálticas (Milani & Thomaz borda nordeste da Bacia do Paraná. Por esses
Filho 2000). Dois eventos de extensão tectônica, dados é possível inferir que a região do gradiente
um no Ordovinciano e outro no Carbonífero, con- gravimétrico mais intenso possivelmente represen-
trolaram os processos de subsidência que permi- ta uma zona de sutura de colisão do Bloco do Pa-
tiram a deposição das espessas sequências sedi- ranapanema com a Faixa Brasília.
mentares da Bacia do Paraná. Um terceiro evento Nos dados magnéticos destacam-se duas fei-
tectônico ocorreu no Cretáceo, e resultou no ex- ções principais (Fig. 6): i) a textura magnética re-
tenso derrame de basaltos continentais que pre- lacionada com o sinal produzido pelo derrames de
cedeu a separação de Gondwana (Milani 1992). lavas basálticas no Cretáceo, que se caracteriza
Alguns pesquisadores, com base no emprego de por um grande número de dipolos arranjados ale-
dados geofísicos, sugeriram modelos de crosta em atoriamente e distribuídos por grande parte da
que esse volumoso magmatismo basáltico teria bacia; e ii) os grandes alinhamentos magnéticos
produzido underplating magmático (Molina et al. com extensão de até 500 km, que representam
1988, Vidotti et al. 1998; An 2004). estruturas de deformação frágil da crosta, com pre-
Do ponto de vista da correlação do arcabouço enchimento de diques de rochas magnéticas (Us-
desta bacia com as províncias tectônicas adjacen- sami et al. 1991).
tes, a feição mais importante é o Bloco de Parana-
panema (Mantovani et al. 2005). Observa-se nos BACIA DO PARNAÍBA
dados de anomalia Bouguer que esse bloco pode
ser delineado a partir dos gradientes gravimétri- A Bacia do Parnaíba, localizada a oeste da Pro-
cos positivos mais expressivos (Fig. 6). O traçado víncia Borborema, é uma sinéclise com contornos
dos limites tectônicos do Bloco do Paranapanema circulares preenchida por sedimentos com espes-
definidos por Mantovani et al. (2005) estão con- suras de até 3.500 m em seu depocentro (Figs. 1
substanciados nos resultados dos trabalhos de e 7). O seu limite norte é definido por uma feição
Quintas et al. (1999) para o estudo termomecâni- de flexura positiva relacionada com a abertura do
co da Bacia do Paraná. Quintas et al. (1999) inter- Atlântico Equatorial. Uma estrutura marcante é o
pretaram que as regiões de maior esforço de dis- Lineamento Transbrasiliano, expresso por uma lar-
tensão na bacia podem refletir a existência de uma ga região de deformações superficiais e subsuper-
paleo-estrutura representativa de limite entre blo- ficiais, que controlaram aulacógenos paleozóicos
cos tectônicos. Adicionalmente, segundo Manto- (Milani & Thomaz Filho 2000).
vani et al. (2005) esse padrão de esforços apre- Souza (1995) confeccionou um mapa Bouguer
senta coincidência geográfica com altos gravimé- para toda a bacia. Segundo esse autor, o traçado
tricos, sugerindo a existência de uma sutura pré- das linhas de contorno demonstra a influencia do
existente. O mosaico gravimétrico resultante e a Lineamento Transbrasiliano e enfatiza alinhamen-
localização das falhas dão suporte à existência de tos de baixos gravimétricos nas direções N-S e NW-
um bloco cratônico abaixo dos sedimentos da Ba- SE, relacionados com grabens alongados. Com
cia do Paraná (Mantovani et al. 2005). Os resulta- base no modelo do campo regional gravimétrico,

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Roberto Gusmão de Oliveira & João Batista Freitas de Andrade

ajustado para os dados de anomalias Bouguer e métrico em correlação com a Província Amazônia
ar-livre, Souza (1995) sugeriu que um underpla- Central sugere que a crosta nessa região man-
ting na litosfera pode ter sido a causa de um pro- tém um resíduo de espessura que indica a exis-
cesso de subsidência termal que, associado com tência de crosta resistente de consolidação anti-
um sistema de grabens precursores, permitiu o pre- ga, como indicado pelos dados geocronológicos.
enchimento sedimentar Pós-Ordoviciano da bacia. Ademais, a existência de gradientes gravimétricos
Souza (1997), mediante a modelagem da sub- positivos nos limites com as províncias vizinhas
sidência da bacia pela técnica de backstripping, es- confirma o modelo de evolução tectônica que indi-
timou uma contribuição de 40-45% para causas ca o crescimento do protocráton por aglutinação
tectônicas e 60-65% para a carga sedimentar. A de novas massas continentais nas margens. No
aplicação do modelo de Royden-Keen permitiu sudoeste da província, os dados gravimétricos e
identificar os maiores valores de estiramento li- magnéticos indicam que o emparelhamento das
tosférico nas regiões de grabens e ao longo do províncias Ventuari-Tapajós, Rio Negro-Juruena,
Lineamento Transbrasiliano. A zona de maior afi- Rondônia-San Ignacio e Sunsás ocorreu por pro-
namento da crosta está correlacionada com as cessos de justaposição de crostas com expressi-
maiores espessuras sedimentar e os maiores re- vos contrastes petrofísicos, que corroboram os mo-
siduais gravimétricos. delos de aglutinação de paleocontinentes ao lon-
Vidotti et al. (1997) utilizaram dados gravimé- go do Paleoproterozóico-Mesoproterozóico. As
tricos para estimar por meio da função coerência suturas entre esses paleocontinentes são bem
os valores de espessura elástica efetiva (Te) da marcadas por anomalias gravimétricas dipolares
litosfera da bacia. Os resultados indicam que, em e fortes anomalias magnéticas. Aspecto marcante
uma grande área no norte, a espessura elástica quanto à evolução tectônica do Cráton do Amazô-
efetiva tem valores em torno de 58 km, porém no nas é a clara existência de um evento mais jovem
interior dessa região ocorrem áreas litosféricas de direção NE-SW, bem marcado por alinhamen-
mais frágeis. Em pequenas áreas do interior da tos magnéticos e gravimétricos, que atravessam
bacia os valores de Te variam entre 24 e 30 km. ortogonalmente os limites NW-SE das províncias.
Um trabalho de investigação detalhada efetu- O Cráton do São Francisco possui limites com
ado por Góes et al. (1993) com contribuição de da- as faixas dobradas marginais muito bem marca-
dos geofísicos e amostragem de poços revelou que dos por expressivas anomalias gravimétricas ne-
uma parte significativa do embasamento da bacia gativas. Essas anomalias indicam a existência de
é constituída pelo prolongamento das faixas mó- espessamentos da crosta pela flexura da litosfe-
veis, maciços e zonas de cisalhamento dos terre- ra durante a Orogênese Brasiliana na região dos
nos pré-cambrianos adjacentes. Nos grábens as- fold thrust belts das faixas marginais. No interior
sociados com as zonas de cisalhamentos foram do cráton, uma importante anomalia gravimétrica
preservadas rochas sedimentares de baixo meta- negativa está correlacionada com o Aulacógeno
morfismo, com idade de deposição neoproterozói- do Espinhaço, possivelmente associada com so-
ca e cambro-ordoviciana. matória dos efeitos dos eventos de sedimenta-
ção, magmatismo e deformação da bacia. Três re-
OBSERVAÇÕES FINAIS giões anômalas, tanto densas como magnéticas,
ocorrem no interior do Cráton do São Francisco: o
As interpretações dos dados aeromagneticos Quadrilátero Ferrífero; a região da Bacia do Uru-
e gravimétricos das principais domínios tectônicos cuia; e o cinturão granulítico arqueano Itabuna-
brasileiros demonstram que há boa correlação das Salvador-Curaça. Todas as três regiões possuem
assinaturas geofísicas com as principais estrutu- crostas com idades paleoproterozóicas-arquea-
ras tectônicas e domínios geológicos conhecidos. nas. Nos dados magnéticos destacam-se duas
No Cráton do Amazonas as subdivisões geo- amplas e expressivas anomalias, uma na região
cronológicas possuem boa correlação com contras- de Pirapora (MG) e outra no norte da Bahia, am-
tes gravimétricos e magnéticos sugerindo a jus- bas de origem ainda desconhecida.
taposição de crostas com propriedades petrofísi- Na Província Tocantins os dados gravimétricos
cas distintas, possivelmente associadas com limi- são compatíveis com colisões tectônicas que cau-
tes colisionais. A existência de amplo baixo gravi- saram espessamento da crosta e empilhamentos

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Metalogenia das Províncias Tectônicas Brasileiras: Geofísica dos principais domínios tectônicos brasileiros

por cavalgamento das rochas metassedimentares duzido pelas bacias sedimentares interiores. Con-
na borda dos crátons. As evidências são mais for- tudo, os dados aeromagnéticos marcam de forma
tes para o caso da Faixa Brasília, onde a espessu- expressiva as zonas de cisalhamento da Orogê-
ra da crosta atinge valores de 43 km. Na região nese Brasiliana. A análise dos dados demonstra
central, os dados gravimétricos e magnéticos de- que as principais zonas de cisalhamentos conver-
monstram que esta faixa foi fortemente condicio- gem para o Lineamento Transbrasiliano. Os rema-
nada pelo Lineamento Transbrasiliano e pela con- nescentes dos terrenos (núcleos) arqueanos es-
vergência dos crátons do Amazonas e do São Fran- tão sempre correlacionados com anomalias gravi-
cisco. No sudeste, os dados gravimétricos indicam métricas positivas e anomalias magnéticas. No sul
que a Faixa Brasília está relacionada com a con- da Província Borborema, a sutura com o Cráton
vergência do Cráton do São Francisco e o Bloco São Francisco é bem marcada por um eixo gravi-
do Paranapanema (encoberto pelos sedimentos métrico anômalo positivo, ao contrário do cráton,
da Bacia do Paraná). As faixas Araguaia e Para- onde a tendência Bouguer é dominantemente ne-
guai estão correlacionadas com um extenso eixo gativa. No noroeste da Província Borborema o si-
gravimétrico positovo-negativo que margina o li- nal gravimétrico é definido por dois pares de ano-
mite sudeste do Cráton do Amazonas. No caso da malias Bouguer, positivas-negativas, paralelos ao
Faixa Araguaia a anomalia gravimétrica bipolar Lineamento Transbrasiliano. A larga anomalia Bou-
pode ser explicadas pela flexão da paleoplaca guer negativa localizada a leste desse lineamen-
Amazônica em resposta aos carregamentos pro- to está correlacionada com o arco magmático de
duzidos pela topografia e por lascas de cavalga- Santa Quitéria.
mento durante o processo de orogênese. Os sedimentos das grandes bacias sedimenta-
Na Província Mantiqueira as anomalias gravi- res do interior do Brasil escondem o embasamen-
métricas e magnéticas estão truncadas pela mar- to cristalino e dificultam a compreensão dos even-
gem continental. Entretanto, na Faixa Araçuaí ob- tos pré-cambrianos. Contudo, os dados geofísi-
serva-se uma expressiva anomalia gravimétrica cos são uma ferramenta importante na interpre-
negativa que a acompanha a borda do Cráton do tação do prolongamento das estruturas e domíni-
São Francisco, sugerindo que ocorreu durante a os geológicos sob os sedimentos dessas bacias.
Orogênese Brasiliana um importante espessamen- Destacam-se, de forma evidente, a definição de
to da crosta e um grande empilhamento de ro- limites do Bloco do Paranapanema na Bacia do Pa-
chas supracrustais. Nos dados gravimétricos e mag- raná, o traçado da continuidade do Lineamento
néticos não é possível fazer uma distinção clara Transbrasiliano nas bacias do Parnaíba e Panta-
entre as faixas Araçuaí e Ribeira, porque as ten- nal e a definição da continuidade dos limites e es-
dências anômalas observadas na Faixa Araçuaí truturas das Províncias do Cráton do Amazonas
prosseguem para sudoeste ao longo da Faixa Ri- sob os sedimentos das bacias do Solimões e do
beira. Contudo, na região da Faixa Ribeira o sinal Amazonas.
gravimétrico possui menor amplitude. Na exten-
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40
núcleos Arqueanos

ESBOÇO TECTONO-GEOLÓGICO DOS NÚCLEOS


ARQUEANOS DO BRASIL
Lena Virgínia S. Monteiro, Roberto P. Xavier, Carlos R. de Souza Filho & Carolina Penteado N. Moreto

METALOGÊNESE DA PROVÍNCIA CARAJÁS

LENA VIRGINIA SOARES MONTEIRO1, ROBERTO PEREZ XAVIER2,


CARLOS ROBERTO DE SOUZA FILHO2 & CAROLINA PENTEADO NATIVIDADE MORETO2

1 – Instituto de Geociências, Universidade de São Paulo, Rua do Lago, 562, São Paulo, SP. CEP 05508-080. E-
mail: lena.monteiro@usp.br
2 – Instituto de Geociências, Universidade Estadual de Campinas, Rua João Pandiá Calógeras, 51, Campinas,
São Paulo. CEP 13083-870. E-mails: xavier@ige.unicamp.br; beto@ige.unicamp.br;
carolina.moreto@ige.unicamp.br

INTRODUÇÃO distinta nos dois domínios e isso se reflete de for-


ma marcante na metalogenia da Província Cara-
A Província Carajás (Santos et al. 2000, Santos jás.
2003) compreende o núcleo crustal mais antigo No Domínio Rio Maria ocorrem depósitos aurí-
do Cráton Amazônico e representa uma das mais feros orogênicos associados a zonas de cisalha-
importantes províncias minerais do planeta. For- mento regionais que interceptam as sequências
mada e estabilizada tectonicamente no Arqueano greenstone belt, além da principal reserva de Tun-
(Teixeira et al. 1989, Tassinari 1996, Tassinari & gstênio conhecida na Amazônia, representada
Macambira 1999, 2004), a Província Carajás é sub- pelo depósito de Pedra Preta.
dividida em dois domínios tectônicos, Carajás e Rio No Domínio Carajás, a diversidade e o potenci-
Maria (Santos 2003, Vasquez et al. 2008a), limita- al metalogenético são notáveis. O domínio desta-
dos por uma descontinuidade regional de direção ca-se por apresentar depósitos gigantes de mi-
aproximada E-W. nério de Ferro de alto teor, a maior quantidade
Os domínios Rio Maria, ao sul, e Carajás, ao conhecida no planeta de depósitos de óxido de
norte, apresentam significativas diferenças em sua Ferro-Cobre-Ouro de classe mundial e um dos ra-
evolução geológica, reconhecidas a partir das as- ros exemplos mundiais de depósito de Ouro-EGP
sociações litológicas presentes nos dois blocos. associado a rochas metassedimentares, represen-
No Domínio Rio Maria, há predominância de faixas tado por Serra Pelada, que se tornou famoso na
de greenstone belts strictu sensu e magmatismo década de 1980 devido à intensa atividade ga-
mesoarqueano tonalítico-trondjemítico-granodio- rimpeira. Adicionalmente, depósitos cupro-aurífe-
rítico (TTG), sanukitóide e granítico (Oliveira et al. ros sem associação com óxidos de Ferro ou poli-
2009, 2010, Almeida et al. 2010, 2011). No Domí- metálicos, depósitos de Cromo e Níquel-EGP as-
nio Carajás, unidades ultramáficas são raras nas sociados a intrusões máfica-ultramáficas acama-
sequências metavulcano-sedimentares e o mag- dadas, depósitos manganesíferos sedimentares e
matismo mesoarqueano, predominantemente gra- depósitos lateríticos de Ouro, Níquel e Bauxita
nítico, não revela caráter juvenil. Importante even- apresentam grande importância econômica.
to de granitogênese (ca. 2,76 – 2,74 Ga; Huhn et A particular evolução metalogenética da Pro-
al. 1999b, Avelar et al. 1999, Barros et al. 2009, víncia Carajás é apresentada a seguir, a partir da
Feio et al. 2012) e extensivo retrabalhamento crus- síntese dos atributos e modelos genéticos já pro-
tal durante o Neoarqueano são restritos a esse postos para os seus depósitos.
domínio. Magmatismo granítico anorogênico pale-
oproterozóico (ca. 1,88 Ga; Machado et al. 1991, CONTEXTO GEOLÓGICO REGIONAL
Dall’Agnoll et al. 1994, 1999a, 1999b, 2005, Talla-
rico 2003) ocorre amplamente em ambos os domí- A Província Carajás foi incluída na Província
nios, assim como coberturas sedimentares arque- Amazônia Central no modelo de compartimenta-
anas a paleoproterozóicas. No entanto, as dife- ção tectônica do Cráton Amazônico proposto por
renças podem apontar para evolução tectônica Tassinari e Macambira (2004). Na proposta de San-

43
Metalogêmese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Província Carajás

tos et al. (2000) e Santos (2003), adotada por Os complexos máfico-ultramáficos de Serra Azul
Vasquez et al. (2008a), a província tectônica ar- (2.970 ± 7 Ma, U-Pb zircão; Pimentel & Machado
queana foi individualizada, denominada Província 1994) e Guará-Pará (Macambira et al. 1986) inter-
Carajás e subdividida nos domínios Rio Maria e ceptam as sequências greenstone-belt.
Carajás. A Província Carajás, segundo Vasquez et Três episódios de formação de suítes TTG fo-
al. (2008a), é limitada ao norte e ao sul pela Pro- ram reconhecidos no Domínio Rio Maria por Almei-
víncia Transamazonas (2,26 – 1,90 Ga), respecti- da et al. (2011): (1) ca. 2,96 ± 0,02 Ga (rochas
vamente pelos domínio Bacajá e Santana do Ara- mais antigas do Tonalito Arco Verde; 2.957 +25/-
guaia, que apresentam porções juvenis paleopro- 21 Ma, Macambira & Lancelot 1996; e do Trondje-
terozóicas e segmentos arqueanos retrabalhados mito Mogno); (2) ca. 2,93 ± 0,02 Ga (Complexo
durante o Paleoproterozóico. Ao leste, a província Tonalítico Caracol, Tonalito Mariazinha e rochas
é limitada pela Província Tocantins e pelo Cinturão mais novas do Tonalito Arco Verde); e (3) ca. 2,86
Araguaia, neoproterozóicos, e ao oeste pelas ro- ± 0,01 Ga (Trondjemito Água Fria; 2.864 ± 21 Ma,
chas vulcano-plutônicas e sedimentares paleopro- Leite et al. 2004). Outras unidades associadas às
terozóicas da Província Amazônia Central. suítes TTG mais novas compreendem o Tonalito
Parazônia (2,86 Ga; Pimentel & Machado 1994) e
Domínio Rio Maria o Granodiorito Cumaru (2.817 ± 4 Ma; Lafon &
Scheller 1994).
O Domínio Rio Maria (Fig. 1), denominado pre- Embora o magmatismo TTG seja considerado o
viamente de Terreno Granito-Greenstone Rio Ma- mais volumoso no Domínio Rio Maria, também são
ria por Huhn et al. (1988), compreende sequênci- reconhecidas rochas sanukitóides (Dall’Agnol et al.
as metavulcano-sedimentares do tipo greenstone 2006, Oliveira et al. 2009), exemplificadas pelo
belt agrupadas nos supergrupos Andorinhas e granodiorito Rio Maria (2.874 +9/-10 Ma, Macam-
Serra do Inajá por DOCEGEO (1988) ou nos gru- bira & Lancelot 1996; 2872 ± 5 Ma, Pimentel &
pos Gradaús, Serra do Inajá, Babaçu, Lagoa Seca, Machado 1994) e leucogranitos potássicos de afi-
Tucumã e Sapucaia (Vasquez et al. 2008a). nidade cálcio-alcalina, tais como Xinguara (2.865
Essas sequências possuem idade U-Pb em zir- ± 1 Ma, Leite et al. 2004), Mata Surrão (2.872 ± 10
cão entre 3,00 e 2,90 Ga (3.002 ± 3 Ma; Tassinari Ma, Lafon et al. 1994; 2.894 ± 38 Ma) e Rancho de
et al. 2005; 2988 ± 4 Ma, Rolando & Macambira Deus (Barbosa & Lafon 1996).
2003, 2.979 ± 5 Ma; Pimentel & Machado 1994; As coberturas sedimentares dos grupos Rio
2.971 ± 18 Ma, Macambira & Lafon 1995; 2.904 Fresco e Gemaque, depositadas em uma única
+29/-22 Ma, Macambira & Lancelot 1996). Inclu- bacia plataformal no Paleoproterozóico (Vasquez
em, em sua base, derrames komatiíticos, dunitos et al. 2008a), são compostas por sucessões psa-
com texturas cumuláticas e peridotitos e piroxeni- míticas na base e pelito-carbonáticas no topo, in-
tos com textura spinifex, metabasaltos toleiíticos cipientemente metamorfisadas, que marcam trans-
com pillow-lavas, metatufos, talco xistos e interca- gressões marinhas sobre sedimentos de ambien-
lações de formações ferríferas e metachert. No tes costeiros e continentais (Cunha et al. 1984,
topo, predominam rochas vulcânicas félsicas e me- Macambira et al. 1986, Santos & Pena Filho 2000).
tassedimentares clásticas e químicas (DOCEGEO Estas sequências transgressivas não seriam cor-
1988). relacionáveis à Formação Águas Claras (Nogueira
As rochas vulcano-sedimentares do Domínio Rio et al. 1995), reconhecida no Domínio Carajás como
Maria foram metamorfisadas nas fácies xisto ver- uma sequência marinha progradante. A Formação
de a anfibolito inferior durante evento tectonoter- Gorotire, paleoproterozóica, por sua vez, caracte-
mal concomitante com o desenvolvimento de uma riza-se por sedimentação psamítica quartzosa e
foliação de cisalhamento subvertical penetrativa arcoseana de ambiente continental, que sucedeu
de direção E-W a WNW-ESE (Souza et al. 1990), a sedimentação plataformal do Grupo Rio Fresco.
relacionada às grandes zonas de cisalhamento Granitos alcalinos a sub-alcalinos de ca. 1,88
Andorinhas e Gradaús. Estrutura sinformal asso- Ga representados pelos granitos das suítes Gra-
ciada às zonas de cisalhamento foi interpretada daús, Bannach, Musa, Jamon, Seringa, São João,
como sinclinório (Silva et al. 1974) ou como resul- São José, Cachoeirinha, Velho Guilherme, Reden-
tante de sistemas de duplexes (Araújo et al. 1988). ção e Marajoara (Dall’Agnol et al. 1999, 2005,

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Lena Virgínia S. Monteiro, Roberto P. Xavier, Carlos R. de Souza Filho & Carolina Penteado N. Moreto

Figura 1 - A. Localização da Província Carajás no Estado do Pará. B. Divisão da Província Carajás nos domínios
Rio Maria (DRM) e Carajás (DC), e seu limite norte com o Domínio Bacajá (DB), paleoproterozóico. C. Mapa
geológico do Domínio Rio Maria (Vasquez et al. 2008b, Oliveira et al. 2010, Almeida et al. 2011).

Dall’Agnol & Oliveira 2007) também são reconhe- desse magma TTG teria reagido, durante sua as-
cidas nesse domínio. censão, com a cunha mantélica espessada, resul-
Segundo Souza et al. (2001), Leite et al. (2004), tando em metassomatismo do manto sub-litosfé-
Vasquez et al. (2008a), Oliveira et al. (2010) e Al- rico.
meida et al. (2011), a evolução geológica do Do- Em ca. 2,87 Ga, eventos termais relacionados
mínio Rio Maria compreendeu ao menos dois está- a slab-break-off e ressurgência do manto astenos-
gios de acresção crustal com adição de material férico ou pluma mantélica, induziram a fusão do
juvenil. Em ca. 3,04 Ga, alto fluxo de calor teria manto previamente metassomatizado, gerando os
induzido a fusão parcial do manto superior e da magmas sanukitóides. Esses magmas podem ter
crosta oceânica produzindo grandes volumes de aquecido a base da crosta continental e causado
magma komatiítico e toleiítico associado aos gre- fusão da crosta basáltica, originando o Trondjemi-
enstone-belts formados em ambiente de arcos de to Água Fria (Oliveira et al. 2009, Almeida et al.
ilhas (Souza et al. 2001). Entre ca. 2,98 Ga e 2,92 2011) e demais suítes TTG mais novas.
Ga, a subducção teria possibilitado fusão de cros- Os leucogranitos potássicos de ca. 2,88-2,87
ta oceânica basáltica gerando magma TTG. Parte Ga (granitos Xinguara, Mata Surrão e Rancho de

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Metalogêmese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Província Carajás

Deus) são considerados como marcadores do últi- nockitos que ocorrem ao longo do rio Cateté, nas
mo evento tectonotermal relacionado à cratoni- proximidades da aldeia indígena Chicrim, anteri-
zação do Domínio Rio Maria (Vasquez et al. 2008a). ormente considerados por Araújo & Maia (1991)
como parte do Complexo Pium, foram separados
Domínio Carajás por Ricci & Carvalho (2006) e Vasquez et al.
(2008a) e denominados de Ortogranulitos Chicrim-
O Domínio Carajás (Vasquez et al. 2008a), pre- Cateté.
viamente denominado de Cinturão de Cisalhamen- A Bacia Carajás compreende sequências meta-
to Itacaiúnas por Araújo et al. (1988), inclui a Ba- vulcano-sedimentares do Grupo Rio Novo (Hirata
cia Carajás e, em sua parte sul, uma faixa deno- et al. 1982) e do Supergrupo Itacaiúnas (Wirth et
minada de Subdomínio de Transição (Dall´Agnol al. 1986, DOCEGEO 1988, Machado et al. 1991),
et al. 2006, Feio 2011), na qual o possível emba- além da Formação Águas Claras, metassedimen-
samento mesoarqueano da bacia é predominan- tar (Araújo et al. 1988, Nogueira et al. 1995).
te. O Grupo Rio Novo inclui anfibolitos, xistos, me-
No Domínio Carajás (Fig. 2), o embasamento tagrauvacas, rochas metavulcânicas toleiíticas e
arqueano é atribuído ao Complexo Xingu compos- gabros (Hirata et al. 1982). O Supergrupo Itacaiú-
to de gnaisses tonalíticos a trondhjemíticos e mig- nas (Wirth et al. 1986, DOCEGEO 1988) é consti-
matitos e ao Complexo Pium com ortogranulitos tuído pelos grupos Igarapé Salobo (Wirth et al.
máficos a félsicos, cujos protólitos teriam idades 1986), Igarapé Pojuca (DOCEGEO 1988; 2.732 ±
de cristalização de 3,002 ± 14 Ma (U–Pb SHRIMP 3 Ma U-Pb zircão, Machado et al. 1991), Grão Pará
zircão; Pidgeon et al. 2000). O último episódio de (DOCEGEO 1988; 2.759 ± 2 Ma, U-Pb zircão, Ma-
migmatização que afetou as rochas do Complexo chado et al. 1991; 2.760 ± 11 Ma, U-Pb zircão,
Xingu (2.859±2 Ma e 2.860±2 Ma; U-Pb em zircão; Trendall et al. 1998) e Igarapé Bahia (DOCEGEO
Machado et al. 1991) e a granulitização das ro- 1988; 2.747 ± 1 Ma Pb-Pb zircão, Galarza & Ma-
chas do Complexo Pium (2.859±9 Ma, U–Pb SHRIMP cambira 2002).
zircão; Pidgeon et al. 2000) seriam coevos. O Grupo Igarapé Salobo inclui paragnaisses,
Estudos recentes (Gomes 2003, Moreto 2010, anfibolitos, meta-arcóseas e formações ferríferas,
Moreto et al. 2011a, Feio 2011, Silva 2011), no enquanto o Grupo Igarapé Pojuca apresenta ro-
entanto, sugerem que é possível individualizar chas metavulcânicas básicas, xistos pelíticos, an-
unidades mesoarquenas distintas nas áreas an- fibolitos e formações ferríferas metamorfisadas em
tes atribuídas ao Complexo Xingu, o que restrin- fácies xisto verde a anfibolito (DOCEGEO 1988). O
ge a ocorrência desse complexo na Província Ca- Grupo Grão Pará compreende derrames basálti-
rajás. Entre tais unidades geológicas, incluem-se: cos intercalados a jaspilitos, riólitos, rochas vulca-
(1) ca. 3,0 Ga – Tonalito Bacaba e Granito Sequei- noclásticas e diques/sills de gabros subordinados
rinho (Moreto et al. 2011a, 2011b); (2) 2,96-2,93 (Zucchetti 2007). O Grupo Igarapé Bahia, afloran-
Ga - Granito Canaã dos Carajás, de afinidade cál- te em uma janela estrutural dentro da Formação
cio-alcalina, e rochas mais antigas do Trondhjemi- Águas Claras, inclui rochas metavulcânicas, meta-
to Rio Verde (Feio 2011); (3) 2,87-2,83 Ga - Tron- piroclásticas e formações ferríferas (DOCEGEO
dhjemito Rio Verde e os granitos predominante- 1988).
mente cálcio-alcalinos Bom Jesus, Cruzadão e Ser- O Supergrupo Itacaiúnas é parcialmente reco-
ra Dourada (Feio 2011, Moreto et al. 2011a). Adi- berto pela Formação Águas Claras (Nogueira et al.
cionalmente, Barros et al. (2010) reinterpretou a 1995) representada por metaconglomerados,
idade U-Pb em zircão de ca. 2,86 Ga de Machado meta-arenitos, mármore dolomítico, filito carbono-
et al. (1991), atribuída à migmatização, como rela- so e sericita quartzitos, que refletem sedimenta-
tiva à idade de cristalização de alguns dos grani- ção marinha rasa a fluvial. Esta unidade tem ida-
tóides foliados da região de Serra Leste. de limitada ao Arqueano por datações de cristais
Na localidade-tipo do Complexo Pium, também de zircão detríticos em arenitos (2.681 ± 5 Ma, U-
foram individualizadas rochas ígneas, tais como Pb SHRIMP, Trendall et al. 1998) e por idade atri-
noritos, gabros e dioritos, maciças e foliadas, sob buída a sill de metagabro intrusivo (2.645 ± 12 Ma
a denominação de Diopsídio-norito Pium (Vasquez U-Pb, Dias et al. 1996; 2.708 ± 37 Ma U-Pb, Mou-
et al. 2008a). Os ortogranulitos, enderbitos e char- geot et al. 1996). Idades Pb-Pb em sulfetos dia-

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Lena Virgínia S. Monteiro, Roberto P. Xavier, Carlos R. de Souza Filho & Carolina Penteado N. Moreto

Figura 2 - Mapa geológico do Domínio Carajás e áreas adjacentes (modificado de Vasquez et al. 2008b).

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Metalogêmese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Província Carajás

genéticos em arenitos de ca. 2,06 Ga foram obti- A estrutura dominante da Serra dos Carajás
das por Mougeot et al. (1996) e consideradas por foi definida inicialmente por Beisegel et al. (1973)
Fabre et al. (2011) evidência de idade paleoprote- como um sinclinório com eixo WNW-ESE, reinter-
rozóica para a Formação Águas Claras. pretado por Araújo et al. (1988) como associado a
Intrusões acamadadas representadas pelo uma estrutura em flor positiva. Rosière et al. (2006)
Complexo Máfico-Ultramáfico Luanga (2.763 ± 6 consideram que as estruturas das serras Norte e
Ma, U-Pb zircão; Machado et al. 1991), localizado Sul seriam relacionadas a um par antiformal-sin-
na Serra Leste, e pela Suíte Intrusiva Cateté (Ma- formal em forma de “S”, denominado de Dobra
cambira & Vale 1997), no Subdomínio de Transi- Carajás.
ção, hospedam importantes mineralizações de Ní- A complexa configuração estrutural da Bacia
quel e planitóides (Ferreira Filho et al. 2007). Dife- Carajás também foi atribuída ao desenvolvimento
rem devido à ausência de deformação ou meta- de zonas de cisalhamento de alto mergulho com
morfismo na Suíte Intrusiva Cateté (2.766 ± 6 Ma; direção regional E-W e ESE-NNW representadas
U-Pb em zircão, Lafon et al. 2000). na porção norte pelos sistemas transcorrentes
O magmatismo neoarqueano (ca. 2,76 a 2,74 Carajás e Cinzento (Araújo e Maia 1991). Tais zo-
Ga), restrito ao Domínio Carajás, foi responsável nas mostrariam evidências de diversos episódios
pela formação de granitos, em geral foliados, e de reativação, segundo Pinheiro & Holdsworth
que compreendem as suítes Plaquê, Planalto, Es- (1997), Holdsworth & Pinheiro (2000) e Pinheiro &
trela, Igarapé Gelado e Serra do Rabo (Huhn et al. Nogueira (2003). De acordo com estes autores, o
1999b, Avelar et al. 1999, Barbosa 2004, Sardi- longo período de evolução tectônica ocorreu em
nha et al. 2006, Barros et al. 2009, Feio et al. 2012). diversos eventos: (1) 2,85-2,76 Ga – transpres-
Granitos peralcalinos a meta-aluminosos, meso- são sinistral; (2) < 2,76 Ga – Formação de bacia
zonais com augita, representados pelos granitos pull-a-part com a deposição do Grupo Grão Pará;
Old Salobo e Itacaiúnas (ca. 2,57; Ga Machado et (3) 2,7-2,6 Ga – transtensão dextral, seguida do
al. 1991, Souza et al. 1996) foram caracterizados estabelecimento das zonas de cisalhamento trans-
apenas na parte norte do domínio, nas proximi- correntes Cinzento e Carajás; (4) ca. 2,6 Ga – in-
dades da Zona de Cisalhamento Cinzento. versão tectônica da bacia devido à reativação do
O magmatismo paleoproterozóico (ca. 1,88 Ga) sistema de falhas formadas durante o evento de
é representado pelos granitos alcalinos a sub-al- transpressão dextral; (5) 1,9-1,8 Ga – regime de
calinos do tipo A, que inclui os granitos Central de transtensão, que favoreceu a intrusão de diques
Carajás, Salobo Jovem (Young Salobo), Cigano, e plútons anorogênicos.
Pojuca, Breves e Rio Branco (Machado et al. 1991, Segundo Pinheiro & Holdsworth (1997), o par
Dall’Agnoll et al. 1994, Tallarico 2003). antiforme-sinforme estaria relacionado à trans-
Outras rochas intrusivas também ocorrem nes- pressão durante a evolução da Zona de Cisalha-
te bloco, tais como pórfiros dacíticos a riolíticos mento Carajás. Contudo, Rosière et al. (2006) con-
datados em 2.645 ± 9 Ma e 2.654 ± 9 Ma (Pb-Pb sideram que as zonas de cisalhamento de Cara-
SHRIMP zircão, Tallarico 2003) e diques de leuco- jás e Cinzento teriam se desenvolvido no flanco
granito alcalino datado em 1.583 ± 7 Ma (Pimen- rompido de pares antiformal-sinformal, paralela-
tel et al. 2003, U-Pb SHRIMP zircão). Grainger et al. mente ao plano axial da Dobra Carajás, como
(2008) também descrevem o Granito Formiga, que possível produto de amplificação da dobra duran-
apresenta mineralizações cupro-auríferas, consi- te os estágios tardios do encurtamento N-S.
derado neoproterozóico (ca. 600 - 550 Ma). Con- Segundo Feio (2011), o magmatismo meso- e
tudo, cristais de zircão ígneo neoproterozóicos não neoarqueano do Domínio Carajás, no Subdomínio
foram reconhecidos pelos autores, apenas cristais de Transição, é distinto do magnatism do Domínio
de zircão com idades mesoarqueanas, considera- Rio Maria e não favorece a hipótese de uma evo-
dos herdados. Também são registrados no Domí- lução tectônica idêntica ou similar em ambos os
nio Carajás outros eventos magmáticos pelas in- domínios.
trusões dos metagabros Borrachudo, Santa Inês A crosta arqueana do Domínio Carajás não tem
e Complexo Lago Grande (Villas & Santos 2001) e caráter juvenil e a curva de evolução do Nd suge-
diques de diabásio e gabro tardios, cujas idades re a existência de uma crosta um pouco mais anti-
radiométricas são desconhecidas. ga em relação à do Domínio Rio Maria, existente

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Lena Virgínia S. Monteiro, Roberto P. Xavier, Carlos R. de Souza Filho & Carolina Penteado N. Moreto

pelo menos desde o Mesoarqueano (ca. 3,2 a 3,0 Leonardos et al. 1991). Destaca-se ainda nesse
Ga; Feio 2011). domínio, a principal reserva de Tungstênio conhe-
Magmatismo granítico neoarqueano (ca. 2,74 cida na Amazônia, representada pelo depósito de
Ga, Suíte Planalto), segundo Feio et al. (2012), Pedra Preta (Rios et al. 1988, 2003).
apresenta relação espacial e petrogenética com Além desses depósitos, Klein & Carvalho (2008)
rochas da séries charnoquítica, tais como os nori- relatam a presença no Domínio Rio Maria, de ge-
tos do Diopsídio-norito Pium, reconhecidos ape- mas, rocha ornamental, carvão e amianto, além
nas no Domínio Carajás, no Subdomínio de Tran- de ocorrências de outros bens metálicos, incluin-
sição. Essa associação seria análoga à relativa ao do: (i) Níquel laterítico associados a rochas máfi-
magmatismo em limites de blocos tectônicos ou cas-ultramáficas das sequências greenstone belt
em sua zona de interação. (Serra do Inajá; Cunha 1981; Serra dos Gradaús,
A relação da Bacia Carajás com sistemas trans- Correa 2006; Vale do Sol e Água Limpa, Correa
correntes Carajás, Cinzento e Araraquara sugere 2006); (ii) Cobre-Cobalto (Boa Esperança, Correa
para Pinheiro & Nogueira (2003) formação de uma 2006), (iii) chumbo e zinco associadas a grauva-
bacia pull-apart. No entanto, segundo Wirth et al. cas do Grupo Gemaque (Santos 1981) e a rochas
(1986), Gibbs et al. (1986), DOCEGEO (1988), Ma- metavulcânicas félsicas sericitizadas contendo pi-
cambira (2003) e Tallarico et al. (2005), a forma- rita e a gossans na Serra do Inajá (Palermo et al.
ção da Bacia Carajás estaria relacionada a aber- 2001); (iv) Ferro associado a formação ferrífera
tura de um rifte continental. As idades das intru- na Serra do Inajá (Cunha 1981); (v) Manganês
sões acamadadas máfico-ultramáficas do Comple- supergênico na Serra do Inajá (Cunha 1981) e (vi)
xo Luanga, próximas às do vulcanismo bimodal do molibdenita em microfraturas do Granito Marajoa-
Grupo Grão Pará sugerem, segundo Ferreira Filho ra (Suíte Intrusiva Jamon; Almeida et al. 2008).
et al. (2007), que tais intrusões correspondem a
câmeras magmáticas associadas ao rifteamento. Depósitos de Ouro orogênicos
Meirelles (1986), Dardenne et al. (1988), Mei-
relles & Dardenne (1991), Teixeira (1994), Lobato Depósitos auríferos (Diadema, Lagoa Seca,
et al., (2005), Silva et al., (2005) e Teixeira et al. Babaçu, Mamão, Tucumã, Inajá, Cuca) e vários
(2010), sustentam a hipótese de que a bacia te- garimpos (Serqueiro, Peladinha, Serrinha e Tatu-
ria se formado em ambiente de arco vulcânico, as- Frango) associados a veios de quartzo estrutu-
sociada à subducção, o que seria evidenciado pela ralmente controlados são reconhecidos no Domí-
afinidade cálcio-alcalina de alto potássio dos ba- nio Rio Maria (Oliveira & Leonardos 1990, Leonar-
saltos do Supergrupo Itacaiúnas e rochas intrusi- dos et al. 1991, Huhn 1992, Santos et al. 1998,
vas. Zucchetti (2007) considera que tais caracte- Villas & Santos 2001, Oliveira & Santos 2003).
rísticas poderiam refletir vulcanismo sobre crosta Alguns desses depósitos, tais como Babaçu
continental atenuada, em ambiente de retro-arco (855 kg de Ouro contido com teores entre 7-10 g/
desenvolvido em ca. 2,76 Ga. Nesse modelo geo- t Au, Carvalho 2004), Mamão (7050 kg de Ouro
tectônico, colisão continente-continente em ca. 2,74 contido com teores entre 7-10 g/t Au, Carvalho
Ga teria sido responsável pela justaposição dos 2004) e Logoa Seca (4650 kg de Ouro contido com
domínios Rio Maria e Carajás (Teixeira et al. 2010). teores entre 7-10 g/t Au, Carvalho 2004), foram
descobertos na década de 1970 em decorrência
METALOGENIA DO DOMÍNIO RIO MARIA de trabalhos de pesquisa efetuados pela DOCE-
GEO que incluíram levantamentos geológicos, geo-
Depósitos auríferos orogênicos (Groves et al. químicos e geofísicos (magnetometria e IP), visando
1998, Goldfarb et al. 2001) associados a zonas de inicialmente depósitos de metais básicos.
cisalhamento regionais que interceptam as sequ-
ências greenstone belt são reconhecidos no Domí- DEPÓSITO MODELO: DEPÓSITO AURÍFERO DE DIADEMA
nio Rio Maria (Oliveira & Leonardos 1990, Huhn
1992, Santos et al. 1998, Villas & Santos 2001). O depósito aurífero de Diadema (Fig. 3) locali-
Alguns depósitos auríferos, no entanto, apresen- za-se ao longo da Zona de Cisalhamento Diade-
tam associação espacial com intrusões, como o ma de direção WNW-ESE e com mais de 100 km
depósito aurífero de Cumaru (Santos et al. 1998, de extensão, que corta unidades do greenstone-

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Metalogêmese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Província Carajás

Figura 3 - Mapa geológico do depósito aurífero de Diadema (Oliveira 1993).

belt Sapucaia e o terreno granitítico adjacente (Oli- resultaram em quartzo-sericita-(albita-clorita) mi-


veira & Leonardos 1990). As zonas mineralizadas, lonitos, por vezes, com veios com turmalina, en-
denominadas Zona Principal, Zona Oeste e Muri- quanto as formações ferríferas são constituídas
çoca e a ocorrência da Serra do Deoti (Oliveira e por quartzo, magnetita, silicatos de Fe (almandi-
Leonardos 1990), possuem reservas medida + na, grunerita, biotita, chamosita, cloritóide) e car-
indicada de 517.142 t de minério com teor médio bonatos (siderita, ankerita).
de 5,18 g/t e 8,7 t de Ouro contido (MultiplicMine- Em contato com as rochas hospedeiras meta-
ração S.A. 1989 em Klein & Carvalho 2008). vulcano-sedimentares ocorrem rochas cumuláticas
metamorfisadas associadas a complexo máfico-ul-
Rochas hospedeiras tramáfico, aflorantes a norte. Essas incluem ser-
pentina-magnetita xistos com relíquias de olivina
As zonas mineralizadas são hospedadas por (dunitos), clorita-talco-actinolita-serpentina xistos
rochas metavulcânicas máficas a intermediárias, (peridotitos), rochas ricas em actinolita e clorita
principalmente basaltos andesíticos e andesitos, (piroxenitos), além de gabros mais preservados.
e félsicas, incluindo riólitos e dacitos, além de for-
mações ferríferas, metamorfisadas na fácies dos Alteração hidrotermal e Mineralização
xistos verdes (Oliveira 1993). Os litotipos hospe-
deiros são variavelmente deformados, apresen- Os estágios de alteração hidrotermal acompa-
tando foliação milonítica a ultramilonítica, pares S- nharam o desenvolvimento de zonas transtensio-
C e bandas miloníticas e cataclásticas. Relíquias nais e intrusão de corpo granítico e incluem, se-
de texturas ígneas podem ser observadas, contu- gundo Oliveira & Leonardos (1990) e Oliveira
do as rochas derivadas dos basaltos andesíticos (1993): (i) formação inicial de clinocloro, minerais
e andesitos, em porções muito foliadas, são hi- carbonáticos, albita e muscovita; (ii) subsequente
drotermalizadas e constituídas por clorita, actino- desaparecimento do clinocloro e epidoto e forma-
lita, albita, epidoto, quartzo, carbonato, titanita, ção de albita-carbonatos e chamosita-sericita nas
ilmenita, rutilo, magnetita, pirita, pirrotita e calco- rochas vulcânicas máficas e intermediárias e tur-
pirita (Oliveira 1993, Oliveira & Santos 2003). Pro- malina nas vulcânicas félsicas; (iii) alteração tar-
tólitos derivados de rochas metavulcânicas ácidas dia com formação de quartzo-pirita (vulcânicas

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máficas e intermediárias) e muscovita-carbonato Diadema, respectivamente. A origem dos fluidos


e quartzo-turmalina (vulcânicas félsicas). mineralizantes, a partir de estudos de isótopos
Os corpos de minério são representados por estáveis de O, C e H e da razão inicial de estrôn-
veios com até 400 m de extensão e poucos me- cio (87Sr/86Sr = 0,7155), foi atribuída por Oliveira et
tros de largura, paralelos ao traço da zona de ci- al. (1994) a fontes metamórficas, magmáticas ou
salhamento e controlados por falhas D-Riedel, além mistas.
de boudins de quartzo brechados e rods achata-
dos. Ouro ocorre como finas partículas livres, in- Outros depósitos auríferos
clusas em pirita ou entre cristais de turmalina.
Magnetita e ilmenita são mais abundantes que os O depósito de Cumaru (Fig. 4) foi descoberto
sulfetos, representados por pirita, calcopirita, pir- na década de 1980 e pesquisado pelas empresas
rotita, bismutinita, bismuto, mackinawita e milleri- Brumadinho e Gradaús, sendo explorado em pe-
ta (Oliveira & Leonardos 1990). As zonas minera- quena cava a partir do início da década de 1990.
lizadas podem apresentar enriquecimento em As, Os recursos em Cumaru foram inferidos em 17 to-
B, Ba, Bi e Sb. neladas de Ouro (incluindo os minérios primários
e secundários) com teor médio de 10 ppm (Faraco
Natureza do fluido hidrotermal e gênese do minério et al. 1996). A mina inativa de Cumaru contém re-
aurífero servas de 3,1 Mt de minério com 10,8 t Au contido
e com teor de 3,4 g/t, além de uma reserva em
Temperaturas entre 170 e 350 oC foram esti- material oxidado (supergênico) de 6,0 t Au com
madas a partir de equações de fracionamento de teor de 17,2 g/t (Mineração Gradaús Ltda. 1987).
isótopos de oxigênio entre quartzo-calcita (Olivei- O depósito de Cumaru, localizado ao longo da
ra & Santos 2003), enquanto temperaturas mais Zona de Cisalhamento Transcorrente Serra Ruim,
elevadas (470 oC) foram estimadas a partir do par é hospedado por unidades metavulcânicas félsi-
quartzo-magnetita de formações ferríferas. De cas do Greenstone Belt Gradaús e pelo Granodiori-
acordo com Oliveira & Santos (2003), a deforma- to Cumaru (2.817 ± 4 Ga, Pb-Pb em zircão; Lafon
ção, o metamorfismo e a mineralização aurífera & Scheller 1994).
teriam ocorrido nas condições de maiores tempe- O minério aurífero primário de alto teor (> 10
raturas em níveis crustais hipozonais (> 12 km). ppm de Au) ocorre em veios de quartzo e sulfetos
Nessas condições, os fluidos hidrotermais teriam (pirita, calcopirita, bismutita, molibdenita, magne-
percolado pelas rochas hospedeiras e processos tita e hematita) com envelope com mineralização
de devolatização e infiltração de fluidos externos disseminada (1-10 ppm de Au) associada a halo
teriam predominado nos domínios transpressionais de alteração hidrotermal sericítica. Alterações pro-
e transtensionais da Zona de Cisalhamento de pilítica (epidoto-albita-calcita-clorita) e potássica

Figura 4 - Mapa e perfil geológico do depósito aurífero de Cumaru (Santos et al. 1998).

51
Metalogêmese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Província Carajás

(microclínio-quartzo) são restritas a pequenas tone Belt Gradaús. Devido às evidências que su-
porções do plúton e sobrepostas pela alteração gerem participação de fluidos magmáticos na gê-
sericítica (Santos et al. 1998). nese do depósito, esse foi classificado por Santos
Fluidos aquo-carbônicos (H2O-CO2-NaCl) e car- et al. (1998) como de um tipo híbrido, denominado
bônicos em inclusões fluidos em quartzo dos vei- pelos autores de lode-porphyry.
os mineralizados foram considerados metamórfi-
cos, associados à Zona de Cisalhamento Serra Depósitos de Tungstênio
Ruim (Santos et al. 1998). Um outro tipo de fluido,
aquoso, representado pelo sistema H2O-NaCl-KCl- O depósito de wolframita de Pedra Preta (Fig.
CaCl2, foi interpretado como derivado do magma 5; Gastail1987, Cordeiro et al. 1984, 1988, Rios
associado ao Granodiorito Cumaru. Mistura entre 1995, Rios et al. 1998) constitui a principal reser-
fluidos metamórficos e fluidos magmáticos ao lon- va de Tungstênio conhecida na Amazônia com
go da zona de cisalhamento, seguida por circula- 508.300 toneladas de minério, com teor médio de
ção de fluidos de baixa salinidade de origem me- 1,01% de WO3 (Cordeiro et al. 1988).
teórica, foi proposta por Santos et al. (1998), com
base tanto nos dados microtermométricos como ROCHAS HOSPEDEIRAS
em isótopos de O e H.
Dois eventos de deposição do Ouro em condi- O minério de wolframita é filoneano e corta, em
ções de 350 a 350 °C e 1,3 a 3,8 kbar foram rela- profundidade, a cúpola do granito Musa (Dall’Agnol
cionados com oxidação do fluido mineralizante et al. 1994) e as rochas das sequências greensto-
causada pela imiscibilidade do fluido aquo-carbô- ne belt dos grupos Babaçu, dominado por rochas
nico e pelo abaixamento da fS2 nas rochas hospe- metavulcânicas básicas, e Lagoa Seca, predomi-
deiras. A mistura tardia do fluido aquo-carbônico nantemente metassedimentar.
com as salmouras também provocou oxidação do O Granito Musa é representado por monzo e
fluido mineralizante, com aumento da fO2 e dimi- sienogranitos e biotita microgranito com evidênci-
nuição do pH, favorecendo a deposição do Ouro as de greisenização (Gastai 1987, Rios et al. 1998).
(Santos et al. 1988).
Esse depósito difere dos demais por ser hos- EVENTOS HIDROTERMAIS: FORMAÇÃO DE VEIOS
pedado pelo Granodiorito Cumaru, além de unida-
des metavulcânicas félsicas atribuídas ao Greens- Registros de eventos hidrotermais no depósito

Figura 5 - Mapa e perfil geológico do depósito de Tungstênio de Pedra Preta (Rios et al. 1998).

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Lena Virgínia S. Monteiro, Roberto P. Xavier, Carlos R. de Souza Filho & Carolina Penteado N. Moreto

de Maria Preta estão relacionados, segundo Rios pal de cristalização da wolframita seria relaciona-
et al. (1998), à formação de: (1) veios com quart- do à circulação desse fluido externo a condições
zo, topázio e sulfetos prévios à colocação do Gra- de 330 oC, seguido por metassomatismo de F, com
nito Musa, reconhecidos nas unidades metavulca- formação de topázio e fluorita relacionada a flui-
no-sedimentares; (2) veios principais com quart- dos aquosos e carbônicos. Os veios tardios teri-
zo, wolframita, topázio, fluorita, mica branca, piri- am sido associados a relaxamento tectônico e flu-
ta, pirrotita, calcopirita, molibdenita e bismutinita, xo de fluidos inicialmente hipersalinos (42 wt%
que se seguiram ao alojamento da intrusão; e (3) CaCl2 equivalente) progressivamente diluídos (H
veios tardios de quartzo. <30 wt% NaCl equivalente) e formados em condi-
Os veios principais no setor inferior do depósi- ções de 1,0 kbar e > 220 oC. Assim, os fluidos me-
to, localizado a profundidades abaixo de 160 m a talíferos no depósito de Pedra Preta teriam sido
partir da atual superfície de erosão, cortam as principalmente externamente derivados, possivel-
zonas apicais do Granito Musa, sua cúpula greise- mente metamórficos, e não derivados da cristali-
nizada e os metarenitos do Grupo Lagoa Seca, zação do Granito Musa (Rios et al. 2003).
enquanto no setor superior interceptam as rochas
de ambos grupos. METALOGENIA DO DOMÍNIO CARAJÁS

NATUREZA DOS FLUIDOS HIDROTERMAIS E ASSINA- No Domínio Carajás, além dos importantes de-
TURA ISOTÓPICA pósitos de Ferro, de Cobre-Ouro, Ouro-EGP, Ní-
quel, EGP, Cromo, Manganês e bauxita, são tam-
Os estudos isotópicos de oxigênio na jazida bém conhecidos, segundo Klein & Carvalho (2008),
Pedra Preta sugerem a participação de fluidos hi- indícios de mineralização de Estanho associada ao
drotermais empobrecidos em 18O (-3,16 e -0,10 ‰ Granito Serra dos Carajás (Rios et al. 1995a, b),
a 240 a 300 oC) na formação dos veios mineraliza- gemas (malaquita, crisoprásio, ametista e citrino;
dos principais, que não seriam condizentes com Costa & Costa 1985, Collyer et al. 1991, Costa et
fluidos magmáticos. De origem externa ao Granito al. 1994) e o depósito de Vaqueiro, no qual quart-
Musa, esses fluidos, com composição aquo-carbô- zito do Grupo Rio Novo é explotado para fabrica-
nica (H2O + CH4 + sais ± CO2) e fortemente reduzi- ção de silício metálico (Carvalho 2004).
dos, foram oxidados nas zonas apicais do grani-
to, onde o CH4 foi quase que totalmente transfor- Depósitos de Ferro
mado em CO2. Ao ascenderem, já enriquecidos em
CO2, os fluidos tornaram-se também enriquecidos A Província Carajás hospeda depósitos gigan-
em 18O propiciando a precipitação de quartzo com tes de Ferro nos distritos de Serra Norte (N1 a
maiores valores de δ18O em relação ao setor inferi- N9), Serra Sul (S11 a S45) e Serra Leste (SL1 a
or (Rios et al. 1998). SL3), nos quais foram reconhecidos 39 corpos des-
contínuos de minério de Ferro de alto teor (Loba-
Gênese do minério de Tungstênio to et al. 2005). Reservas de aproximadamente 18
bilhões de toneladas de minério com teores entre
Segundo Rios et al. (2003), mistura entre flui- 60 e 67% de Fe são estimadas para os três distri-
dos aquo-carbônicos, pobres em F, exsolvidos do tos (Coelho 1986, Dardenne & Schobbenhaus
magma, e fluidos externos com CH4 e N2, em equi- 2001, Guedes et al. 2002).
líbrio com as rochas hospedeiras metavulcanos-
sedimentares teria sido responsável pela forma- DEPÓSITO MODELO: A MINA DE FERRO DE N4E
ção dos veios principais mineralizados com wol-
framita ao longo de planos de fraturas a pressões Na Mina N4E (Figs. 6, 7, 8a), os corpos de mi-
de 2 kbar. Reabertura de fraturas seladas teria nério de alto teor (> 65 % Fe) são hospedados
possibilitado a canalização de fluidos metamórfi- por uma sequência de formações ferríferas ban-
cos redutores com CH4. Devido às condições oxi- dadas, denominadas de jaspilitos, de 100 a 400
dantes geradas pela colocação do Granito Musa, m de espessura, cortadas por diques e sills de
transformação substancial de CH4 em CO2 ocorreu rochas máficas (Klein & Ladeira 2002). Os jaspili-
no sítio de deposição do minério. O estágio princi- tos (Formação Carajás, Grupo Grão Pará, Super-

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Metalogêmese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Província Carajás

Figura 6 - Mapa geológico da Mina N4E (VALE em Lindenmayer et al. 2005, 2008).

Figura 7 - Perfil geológico da Mina N4E mostrando as relações entre os minérios de ferro friável, compacto e
rochas metabásicas (VALE em Lindenmayer et al. 2005).

grupo Itacaiúnas) ocorrem intercalados entre uni- dadas e riólitos em derrames homogêneos, além
dades metavulcânicas máficas, inferior e superior, de tufos de lapilli e hialoclastitos (Hirata et al. 1982,
do Grupo Grão Pará (2757-2760 Ma; Wirth et al. Gibbs et al. 1986). A unidade superior, pertencen-
1986, Machado et al. 1991, Trendall et al. 1998). te à Formação Igarapé Cigarra, inclui metabasal-
Tanto o minério de Ferro (Figs. 8b a 8e) como as tos com intercalações de tufos recobertos por
rochas metabásicas decompostas são recobertas metassedimentos clásticos (arcósios e arenitos),
por canga limonítica. formações ferríferas bandadas e chert. As duas
unidades são interceptadas por diques e sills de
Rochas hospedeiras: metabasaltos e jaspilitos do gabro.
Grupo Grão Pará Os jaspilitos (Formação Carajás) apresentam
contatos com as rochas metavulcânicas concor-
A unidade metavulcânica inferior, atribuída à dantes e tectônicos, caracterizados por planos de
Formação Parauapebas, inclui metabasaltos amig- falha com slickensides e desenvolvimento de folia-
daloidais (Fig. 8f), porfiríticos e com lavas almofa- ção nas rochas metabásicas. Na área da Serra

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Lena Virgínia S. Monteiro, Roberto P. Xavier, Carlos R. de Souza Filho & Carolina Penteado N. Moreto

Figura 8. (A-I Serra Norte, N4E) A. Vista parcial da Mina de Ferro N4E; B. Minério de ferro friável laminado
(HM) da Mina de Ferro N4E; C. Jaspilito com bandas constituídas por jaspe e quartzo microcristalino parcial-
mente substituído por hematita; D. Jaspilito parcialmente substituído por hematita, cortado por vênulas
carbonáticas; E. Minério de ferro compacto constituído predominantemente por hematita, com porções bre-
chadas e cimentadas por carbonatos hidrotermais; F. Rocha metabásica cloritizada com vesículas preenchi-
das por quartzo e calcita; G. Rocha metabásica intensamente hematitizada, brechada e cortada por vênulas
carbonáticas; H. Jaspilito com bandas constituídas por jaspe e quartzo microcristalino parcialmente substi-
tuído por hematita; I. Jaspilito com pirita fina disseminada cortado por vênulas e bolsões carbonáticos; (J-M
Serra Sul) J. Jaspilito parcialmente substituído por hematita, magnetita e carbonatos; L. Concentrações de
magnetita e vênulas carbonáticas; M. Formação ferrífera bandada com magnetita cortada por veio de brecha
com matriz constituída por hematita. Abreviações: HM = hematita friável; HD = hematita compacta; Jp =
jaspilito; Hm = hematita; Mt = magnetita; Cc = carbonato; Py = pirita.

Norte, os jaspilitos (Figs. 8 g e 8h) são rochas fi- gânica (Meirelles 1986, Macambira 2003).
namente laminadas, com estrutura plano-parale- Tanto os padrões de distribuição de ETR (Lin-
la, constituídas por bandas alternadas de quart- denmayer et al. 2001, Klein & Ladeira 2002, Ma-
zo microcristalino e de jaspe vermelho com hema- cambira 2003) nos jaspilitos como sua composi-
tita esferulítica, maghemita, martita e, subordina- ção isotópica de Ferro (Fabre et al. 2011) indicam
damente, magnetita (Lindenmayer et al. 2001). formação em ambiente marinho a partir de águas
Apresentam estruturas deposicionais preservadas, de ressurgência. O trend de enriquecimento rela-
tais como estruturas de escavação e preenchimen- tivo em ETRL e anomalia positiva de Eu são indica-
to e esferulitos/grânulos de provável origem or- tivos de associação com fumarolas hidrotermais e

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Metalogêmese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Província Carajás

soluções de fundo oceânico (Lindenmayer et al. em contato com minério compacto. A alteração hi-
2001). Os valores altamente positivos de δ57FeIRMM- drotermal seria responsável por diminuição dos
14
(2,06±0,34‰), poderiam ser explicados por oxi- valores de δ18O das rochas hidrotermalizadas, além
dação parcial do Fe2+ aq na superfície do oceano, de perda de Si, Ca, Na e V e ganho relativo de P,
subsequente à ressurgência hidrotermal de águas Zr e ETRL (Teixeira 1994, Teixeira et al. 1997).
marinhas anóxicas e profundas. Isso teria resul- O zoneamento da alteração hidrotermal nas
tado na formação de hidróxidos de Ferro e sua rochas máficas, de acordo com Lobato et al. (2005,
conversão para hematita na zona fótica, mais rasa 2008) e Zucchetti (2007), inclui: (i) zonas distais
e oxidada, em um processo sazonal (Fabre et al. com clorita-quartzo-carbonato ± hematita; (ii) zo-
2011). nas intermediárias com clorita-hematita-quartzo-
albita-mica-carbonato ± titanita ± magnetita ±
Metamorfismo e alteração hidrotermal dos metaba- sulfetos, e (iii) zonas proximais com hematita-clo-
sitos rita-quartzo-albita-mica-carbonato ± titanita ±
magnetita ± sulfetos
Embora efeitos de metamorfismo de fundo oce- Segundo Teixeira (1994) e Teixeira et al. (1997),
ânico, ou espilitização, nas rochas básicas do Grupo a alteração hidrotermal teria resultado da intera-
Grão Pará sejam considerados intensos (Meirel- ção das rochas metabásicas com fluidos meteóri-
les 1986, Teixeira 1994, Teixeira et al. 1997), o cos aquecidos pela colocação do Granito Central
registro de metamorfismo regional nessas rochas de Carajás. Zucchetti (2007) considera, entretan-
é ambíguo. to, que além dos fluidos meteóricos de baixa sali-
A preservação de estruturas primárias e ausên- nidade, mistura de fluidos teria envolvido contri-
cia de foliação, em geral reconhecidas apenas pró- buição magmática, responsável por componentes
ximo a falhas, levou diversos autores a conside- de alta salinidade para o sistema hidrotermal.
rarem que tais rochas não apresentam evidências
claras de metamorfismo regional (Beisiegel et al. Minério de Ferro
1973, Beisiegel 1982, Lindenmayer et al. 2001).
Paragêneses minerais compatíveis com condições A distribuição dos corpos de minério de Ferro
de fácies dos xistos verdes foram relacionadas com de alto teor da Serra Norte teria sido controlada
alteração hidrotermal ou metamorfismo dinâmico por zonas de maior permeabilidade, localizadas na
associado ao desenvolvimento de zonas de cisa- zona de charneira do antiforme da Dobra Cara-
lhamento regionais (Dardenne & Schobbenhaus jás, que se apresenta desmembrada em diversos
2001, Macambira & Schrank 2002, Macambira blocos rotacionados (Rosière et al. 2006).
2003). De acordo com Gibbs et al. (1986), Teixeira O minério de Ferro de alto teor é representado
(1994), Teixeira et al. (1997), no entanto, as ro- por corpos de hematita friável ou mole (HM, Fig.
chas do Grupo Grão Pará foram metamorfisadas 8b) e hematita compacta, ou dura (HD, Fig. 8d).
em baixo grau, possivelmente durante o evento Os corpos tabulares de hematita friável (HM), com
tectono-metamórfico associado ao desenvolvimen- espessura de até 350 m, em geral, são bastante
to da Dobra Carajás (Zucchetti 2007). porosos, descontínuos e ocorrem de forma pulve-
Efeitos de alteração hidrotermal nos metabasi- rulenta ou apresentam-se bandados a laminados.
tos foram reconhecidos principalmente próximo ao São constituídos por hematita lamelar muito fina
contato com os jaspilitos e com o minério de alto intercalada com hematita pulverulenta. Próximo ao
teor (Teixeira 1994, Teixeira et al. 1997, Guedes et contato com as rochas máficas superiores, o mi-
al. 2002, Dalstra & Guedes 2004, Zucchetti 2007). nério friável apresenta como contaminantes alu-
Os metabasitos apresentam evidências de inten- mina e Fósforo, enquanto em contato com a rocha
sa cloritização, acompanhada de Fe-metassoma- máfica inferior apresenta enriquecimento em Man-
tismo, com formação de hematita (hematitização) ganês. Maiores teores de sílica associam-se a
e brechação (Fig. 8g). Guedes et al. (2002) tam- maiores profundidades, enquanto em zonas de
bém descreve auréolas de alteração hidrotermal cisalhamento há maior concentração de Manga-
com carbonatação associada, brechas hidráulicas nês e Fósforo (CVRD 1996 em Lobato et al. 2005)
hidrotermalizadas e vênulas de hematita e caoli- Corpos de minério representados por hemati-
nita em stockwork nas rochas vulcânicas máficas ta compacta (HD) constituem corpos tabulares ou

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lenticulares discordantes, concentrados próximo dominante e preenchimento de espaços abertos


ao contato com as rochas metabásicas inferiores, por hematita. Essas zonas também contêm veios
e representam menos de 10% dos recursos (Dals- discordantes ou concordantes ao bandamento com
tra & Guedes 2004). Apresentam estrutura ban- quartzo e hematita (V3). As zonas de alteração
dada, em geral mimetizando a estrutura dos jas- proximais representam o estágio de alteração
pilitos, maciça e brechada e são constituídos por avançada que resulta na formação do minério de
hematita-martita e hematita (Figueiredo & Silva alto teor. São caracterizadas por martitização e
2004, Lobato et al. 2005). Os corpos de hematita preenchimento de espaços por hematita, presen-
compacta ou dura (HD) são subdivididos em he- te em vênulas e ao longo do bandamento. Veios
matita dura compacta e dura laminada. brechados com carbonatos, quartzo e hematita (V4
O minério de baixo teor (MBT) contém entre 50 e V5) também ocorrem nessas zonas.
a 60% de Fe e alto teor de contaminantes, tais Datações de monazita hidrotermal (idade 208Pb/
como Alumínio (>1,2%), sílica (> 1%), Manganês 232
Th de 1.613 ± 21 Ma) inclusa em hematita lame-
(>1%), Fósforo (> 0,07%; Lobato et al. 2005). lar, e de anatásio (1.717 ± 12 Ma; Pb-Pb) de me-
tabasitos hidrotermalizados com clorita e hemati-
Evidências de alteração hidrotermal associada aos ta, foram obtidas por Santos et al. (2010).
corpos de minério
Natureza dos fluidos hidrotermais e assinaturas iso-
Nas partes mais profundas do depósito de N4E, tópicas
corpos de hematita friável e compacta gradam para
rochas ricas em carbonatos, tais como rochas ban- Estudos de inclusões fluidas realizados por Fi-
dadas com Fe-Mn-dolomita-hematita-(quartzo-apa- gueiredo e Silva et al. (2008) em quartzo e carbo-
tita-talco), rochas ricas em veios carbonáticos ou natos dos veios (V1 a V5), associados às zonas
brechas com matriz substituída por Fe-Mn-dolomi- distais a proximais, possibilitaram a identificação
ta-clorita-apatita (Dalstra & Guedes 2004). As ro- de fluidos aprisionados em condições de tempe-
chas bandadas apresentam pseudomorfos indica- ratura relativamente baixa a moderada (190 e 315
tivos de substituição de magnetita por hematita, o
C), com temperaturas mais elevadas relativas aos
que por sua vez é parcialmente substituída por veios brechados de zonas proximais (V4 e V5). Flui-
grandes cristais de martita. O minério constituído dos altamente salinos, ricos em Ca, foram identifi-
por hematita friável é texturalmente idêntico às cados tanto em veios de zonas distais (até 29,3
rochas bandadas com hematita-dolomita, porém wt % CaCl2 eq) como proximais (até 30,1 wt %
apresenta cavidades no lugar dos minerais car- CaCl2 eq).
bonáticos. Dalstra & Guedes (2004) consideram Fluidos aquosos com composição variável, com
que os minerais carbonáticos identificados na Mina proporções distintas de Ca, Na, Mg e Fe, e amplo
N4E resultaram de alteração hidrotermal. intervalo de variação de salinidades (1,2–19,2 wt
Graus variáveis de alteração hidrotermal estru- % CaCl2 eq) foram caracterizados principalmente
turalmente controlada nos jaspilitos também fo- na zona intermediária. Adicionalmente, fluidos de
ram reconhecidos por Figueiredo e Silva (2004, baixa salinidade (0,2–7,3 wt % NaCl eq), ricos em
2009) e Lobato et al. (2005, 2008). De acordo com Na-K-Mg, foram também identificados em minerais
Figueiredo e Silva et al. (2008), a alteração hidro- de veios brechados nas zonas proximais, coexis-
termal inicial, preservada em zonas distais em re- tindo com os fluidos altamente salinos (Figueire-
lação aos corpos de minério de mais alto teor, é do & Silva et al. 2008).
caracterizada por recristalização de jaspe, remo- Diminuição dos valores de δ318O foi observada
ção do Fe e formação de magnetita sobrecrescida em relação à evolução paragenética do depósito,
a hematita microcristalina, associada a quartzo e caracterizada por valores de δ318O de –1,0‰ para
veios carbonáticos (Figs. 8e). Veios brechados com a martita e de –10,0‰ para a hematita tabular a
quartzo ± pirita-calcopirita (V1) e carbonato ± pi- euhedral, considerada tardia (Figueiredo & Silva
rita-calcopirita (V2) ocorrem nas zonas distais. 2009).
As zonas intermediárias são caracterizadas por Estudos de isótopos de enxofre em pirita reve-
lixiviação progressiva do chert e quartzo, resultan- lam valores de δ34S mais elevados (+2,5 a +10,8‰)
do em cavidades, formação de martita como fase nas zonas distais e menores (δ34S = –5 a +5‰)

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Metalogêmese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Província Carajás

nas zonas intermediárias de alteração dos meta- ponsável por metassomatismo intenso das rochas
basaltos. máficas adjacentes ao protominério.
Isótopos de carbono e oxigênio em carbona- Estudos realizados por Figueiredo e Silva et al.
tos (calcita, kutnahorita e dolomita) de veios de (2008, 2011) indicam que os processos hidroter-
diferentes gerações revelam intervalo restrito de mais teriam sido responsáveis pela substituição
valores de δ13C (–6,0 a –2,0‰) e maior variação dos jaspilitos e formação do minério compacto.
de δ18O (+8,0 a +20,0‰), que foi atribuída a dife- Esse processo teria envolvido interação com flui-
rentes fontes de fluidos ou mudanças significati- dos iniciais magmáticos de alta salinidade e relati-
vas no razão fluido-rocha. A composição isotópica vamente reduzidos, responsáveis pela formação
de estrôncio (87Sr/86Sr) de calcita ± kutnahorita em inicial de magnetita e lixiviação de sílica, predomi-
equilíbrio com magnetita e kutnahorita-dolomita nantemente nas zonas distais. Esse fluido teria
varia de 0,712 a 0,750, o que também pode refle- se tornado mais oxidante, possivelmente devido
tir, de acordo com Figueiredo e Silva et al. (2008), à mistura com fluidos meteóricos, sendo associa-
fontes graníticas altamente radiogênicas. do ao avanço da martitização e formação da he-
matita em veios nas zonas de alteração interme-
Gênese do Minério de Ferro diárias. A predominância de fases oxidadas, como
a hematita tabular e euhedral, associadas com flui-
A formação do minério de Ferro a partir dos jas- dos de mais baixas salinidades, evidenciam gran-
pilitos foi atribuída por Tolbert et al. (1971), à lixi- de aporte de fluidos meteóricos nos estágios de
viação da sílica das formações ferríferas por águas alteração mais avançada nas zonas proximais.
superficiais, resultando no enriquecimento residual Segundo Lobato et al. (2005a) e Figueiredo e
dos óxidos de Ferro e na formação dos atuais cor- Silva et al. (2008), a mineralização de Ferro teria
pos de minério. De modo análogo, enriquecimen- sido relacionada a um sistema magmático-hidro-
to supergênico foi considerado por outros auto- termal relativamente raso e representaria um
res responsável pela lixiviação da sílica e forma- membro de baixa temperatura dos depósitos de
ção do minério friável (Beisiegel et al. 1973, Dar- óxidos de Ferro-Cobre-Ouro (iron oxide-copper-gold
denne & Schobbenhaus 2001). deposits ou IOCG) conhecidos em Carajás ou se-
Entretanto, Beisiegel et al. (1973) propuseram ria associada aos depósitos de Au-Cu relaciona-
origem hipogênica para a hematita compacta com dos à colocação dos granitos anorogênicos pale-
substituição metassomática do quartzo, favoreci- oproterozóicos. Segundo Santos et al. (2010), no
da pelo calor associado à colocação de diques entanto, a atividade hidrotermal na Bacia de Ca-
básicos e/ou deformação tectônica. Outros estu- rajás pode ter sido episódica, relacionada a pelo
dos também enfatizam a importância de proces- menos dois pulsos (ca. 1,7 e 1,6 Ga) associadas à
sos hidrotermais para a formação dos corpos de fluidos bacinais durante o Stateriano, após a gra-
hematita compacta (Guedes et al. 2002, Figueire- nitogênese paleoproterozóica.
do e Silva 2004, Dalstra & Guedes 2004, Lobato Os depósitos de Ferro de Carajás apresentam
et al. 2005, 2008, Figueiredo e Silva et al. 2008, consideráveis diferenças nos três distritos, Serra
Figueiredo e Silva 2009). Norte, Serra Sul e Serra Leste, sendo que nos
Guedes et al. (2002) e Dalstra & Guedes (2004), depósitos da Serra Sul, segundo Lindenmayer et
consideram que as rochas ricas em minerais car- al. (2001), evidências de metamorfismo ao longo
bonáticos representariam protominérios carboná- de zonas de cisalhamento de alto ângulo resulta-
ticos (até 45% de Fe) formados em condições ra- ram em recristalização das formações ferríferas
sas e relativamente frias (< 300 oC) com influência bandadas, que são constituídas principalmente por
de fluidos hidrotermais descendentes e oxidados, magnetita e quartzo (Figs. 8l a 8m).
possivelmente meteóricos. O modelo proposto por
Dalstra & Guedes (2004) envolve alteração hidro- Depósios de Óxidos de Ferro-Cobre-Ouro
termal inicial resultando em diminuição de sílica da
formação ferrífera e formação de carbonatos hi- A Província Carajás destaca-se mundialmente
drotermais, seguida por lixiviação intempérica dos por apresentar a maior quantidade conhecida de
carbonatos para formação do minério de Ferro de importantes depósitos de óxido de Ferro-Cobre-
alto teor. O mesmo sistema hidrotermal seria res- Ouro (iron oxide-copper-gold deposits ou IOCG; Hit-

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Lena Virgínia S. Monteiro, Roberto P. Xavier, Carlos R. de Souza Filho & Carolina Penteado N. Moreto

zman et al. 1992, Hitzman 2000). Os depósitos metavulcânicas ácidas com lentes de rochas ultra-
IOCG de Carajás são também considerados os máficas, representadas por tremolita-talco xistos
únicos de classe mundial de idade arqueana (Ré- com relíquias de olivina. Consideradas como per-
quia et al. 2003, Tallarico et al. 2005, Groves et al. tencentes ao Supergrupo Itacaiúnas, o posiciona-
2010, Xavier et al. 2010), refletindo a particular mento estratigráfico das rochas metavulcânicas
evolução da Província Carajás. ainda é incerto. O Corpo Pista, que representa uma
Entre os depósitos dessa classe destacam-se extensão a oeste do Corpo Sequeirinho, é hospe-
Salobo (com reservas de 789 Mt @ 0.96% Cu e dado essencialmente por tais rochas metavulcâ-
0.52 g/t Au; Lindenmayer 1990), Igarapé Bahia- nicas félsicas milonitizadas. Todos os litotipos hos-
Alemão (219 Mt @ 1.4% Cu e 0.86 g/t Au; Tavaza pedeiros apresentam aspecto anastomosado e,
1999, Tallarico et al. 2005), Sossego (355 Mt @ localmente, foliação milonítica relacionada ao trend
1.5 % Cu e 0.28 g/t Au; Lancaster et al. 2000), regional WNW-ESE.
Cristalino (500 Mt @ 1.0% Cu e 0.3 Au; Huhn et al. O Corpo Sossego (Figs. 9b, 10l a 10s), localiza-
1999a) e Alvo 118 (170 Mt @ Cu e 0.3 g/t Au; Ri- do ao leste do Corpo Sequeirinho, é hospedado
gon et al. 2000), além de vários outros depósitos pelo Granito Sequeirinho e, principalmente, pelo
em avaliação. Granito Granofírico Sossego (2.740 ± 26 Ma, Mo-
As minas de Cobre de Sossego e Salobo, ope- reto et al. 2011b), caracterizado por texturas de
radas pela VALE, foram as primeiras da província intercrescimento de quartzo com cor azulada e
a entrarem em produção, em 2004 e 2011, res- feldspato potássico, indicativas de colocação rasa,
pectivamente. A Mina de Sossego, localizada no além de corpos de gabronoritos coevos.
limite sul da Bacia Carajás, situa-se no Cinturão Intrusivos nas unidades hospedeiras dos cor-
Sul do Cobre com mais de 60 km de extensão, pos Sossego e Sequeirinho são reconhecidos di-
assim como os depósitos Cristalino, Alvo 118, Cas- ques de quartzo-feldspato pórfiros (ca. 1,88 Ga;
tanha, Bacaba, Jatobá, Bacuri, Visconde. A Mina C.P.N.Moreto, comunicação verbal), de coloração
de Salobo, localizada a 30 km ao norte da Serra marrom, relativamente preservados, apenas com
de Carajás, localiza-se ao longo de uma zona de incipiente alteração hidrotermal, que interceptam
cisalhamento regional próximo ao limite entre os as zonas fortementente hidrotermalizadas. Adici-
domínios Carajás e Bacajá, paleoproterozóico (2,26 onalmente, o Granito Rio Branco, também consi-
– 1,95 Ga). No setor norte do Domínio Carajás derado paleoproterozóico, aflora a sul das cavas
também são conhecidos os depósitos Gameleira, da Mina do Sossego, e não tem evidências de al-
Pojuca, Paulo Alfonso, Furnas, Polo e Igarapé Cin- teração hidrotermal ou mineralização cuprífera.
zento/Alvo GT46. O depósito de Igarapé Bahia/Ale-
mão, por sua vez, situa-se em uma janela estru- Alteração hidrotermal
tural que expõe unidades do Supergrupo Itacaiú-
nas, dentro da Formação Águas Claras. O Corpo Sequerinho ocorre ao longo de falha
sinistral NE-SW que intercepta a zona de cisalha-
Depósito Modelo: A Mina de Sossego mento regional (Fig. 10b; Morais & Alkmim 2005,
Domingos 2010). Regionalmente são reconhecidas
A Mina de Sossego é constituída por dois gru- nesse corpo, extensas zonas de alteração sódica
pos de corpos de minério (Sequerinho-Baiano-Pista (albita–hematita) e sódica–cálcica (actinolita-albi-
e Sossego-Curral). Os corpos principais, Sequeiri- ta-titanita-epidoto-allanita), desenvolvidas parti-
nho e Sossego (Figs. 9 e 10), correspondem, res- cularmente no granito, controladas pelo desenvol-
pectivamente, a 85% e 15% dos recursos, lavra- vimento da foliação milonítica WNW-ESE (Fig. 10c
dos em duas cavas separadas. a 10e). No gabronorito, alteração sódico-cálcica
inicial resultou na formação de potássio-cloro has-
Rochas hospedeiras tingsita-escapolita-albita-(biotita), seguida por
actinolita, e posteriormente por grandes quanti-
O Corpo Sequeirinho (Figa. 9a, 10a a 10j) é hos- dades de biotita.
pedado pelo Granito Sequeirinho (3.010 ± 21 Ma; Próximo a corpos de maciços de magnetita–
Moreto et al. 2011b), por intrusões de gabronori- (apatita) (Fig. 10h) e apatititos (Fig. 10f) um en-
tos (ca. 2,74 Ga; Moreto et al. 2012) e por rochas velope de rochas constituídas essencialmente por

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Metalogêmese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Província Carajás

Figura 9 - Mapa geológico dos corpos Sequeirinho (A) e Sossego (B) da Mina de Cobre do Sossego (VALE em
Domingos 2010).

actinolita, denominadas de actinolititos, é reconhe- biotita ± escapolita ± hastingsita-turmalina pode


cido. Restritas zonas de alteração potássica com ser identificada nas rochas metavulcânicas ácidas
feldspato potássico, biotita rica em cloro e quart- (Villas et al. 2005, Sousa 2007). Semelhantes aos
zo ocorrem espacialmente relacionadas às bre- litotipos identificados nesse corpo, biotita-escapo-
chas mineralizadas, cortando as zonas de altera- lita milonitos também ocorrem nas zonas de lapa
ção sódico-cálcica (Monteiro et al. 2008a, 2008b, dos corpos Sossego e Sequeirinho.
Carvalho 2009). No Corpo Pista, alteração com O Corpo Sossego apresenta estrutura subcir-

Figura 10 - (Página oposta) - (A-J Corpo Sequeirinho) A. Vista da mina a céu aberto; B. Frente de lavra
mostrando alteração hidrotermal sódica, sódico-cálcica e potássica controlada por estruturas dúcteis-rúp-
teis; C. Intensa alteração sódica em rocha metavulcânica ácida; D. Vênulas de actinolita cortando rocha
previamente albitizada; E. Intensa alteração sódico-cálcica com predominância de actinolita; F. Cristais de
fluorapatita associados com actinolita; G. Brecha com fragmentos do granito albitizado e substituído por
epidoto em matriz com feldspato potássico e óxidos de ferro; H. Rocha rica em magnetita (magnetitito) com
actinolita associada; I. Associação de calcopirita, magnetita e calcita; J. Aspecto típico das brechas minerali-
zadas com calcopirita do Corpo Sequeirinho, com fragmentos cominuídos de magnetita, apatita e actinolita
hidrotermais; (L-S) Vista do Morro do Sossego mostrando a distribuição de veios sulfetados substituídos por
malaquita (Abril de 2005); M. Aspecto típico da brecha mineralizada do Corpo Sossego com fragmentos do
Granito Granofírico envolvidos por filme de magnetita e imersos em matriz constituída por quartzo, calcita,
calcopirita, apatita e actinolita; N. Calcopirita associada a calcita e quartzo em bolsão no Granito Granofírico;
O. Alteração potássica com feldspato potássico e cloritização controladas pelo desenvolvimento de foliação
milonítica; P. Brecha com fragmentos do Granito Granofírico previamente albitizados com calcopirita, na
matriz (Coleção de Referência VALE); Q. Zona mineralizada com calcopirita associada com calcita em quartzo
na matriz de brechas com fragmentos do Granito Granofírico cloritizado; R. Vênula com calcopirita associada
com clorita e calcita; S. Cristais euhedrais de apatita associados a calcita, quartzo e clorita (Coleção de
Referência VALE). Ab = albita; Act = actinolita; Ap = apatita; Cc = calcita; Chl = clorita; Cpy = calcopirita; Ep
= epidoto; Hm = hematita; Kfs = feldspato potássico; Mt = magnetita.

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Lena Virgínia S. Monteiro, Roberto P. Xavier, Carlos R. de Souza Filho & Carolina Penteado N. Moreto

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Metalogêmese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Província Carajás

cular, vertical, no qual a brecha mineralizada ocor- minério reflete enriquecimento em Cu-Fe-Au-(Ag-
re na parte central, envolvida por stockwork de Ni-Co-Pd-P-ETRL) (Carvalho 2009).
veios (Fig. 10l e 10r); Morais & Alkmim 2005, Car- Datações Pb-Pb em calcopirita de amostras do
valho 2009, Monteiro et al. 2008a, Domingos minério indicaram idades de 2.530±25 Ma e
2010). Nas zonas mais externas, ao redor do pipe 2.608±25 Ma para o Corpo Sequeirinho e 1.592±45
de brecha, a alteração sódica é pouco desenvolvi- Ma para o Corpo Sossego (Neves 2006).
da, sendo por vezes reconhecida em fragmentos
das rochas hospedeiras nas brechas mineraliza- Natureza dos fluidos hidrotermais e assinaturas iso-
das (Fig. 10p). A alteração potássica (Fig. 10o) e tópicas
clorítica são intensas e alteração hidrolítica com
sericita e hematita ocorre associada aos sulfetos Estudos de isótopos estáveis indicaram que a
nos corpos de minério. alteração sódico-cálcica e a formação dos actinoli-
titos e dos corpos de magnetita maciça do Corpo
Corpos de minério cupro-aurífero Sequeirinho foram associadas a fluidos hidroter-
mais de alta temperatura (> 550 oC) com composi-
A mineralização cupro-aurífera associa-se a bre- ção isotópica de oxigênio (δ18Ofluido = 6,9±0,9‰
chas hidrotermais. No Corpo Sequeirinho, as bre- SMOW) similar à de fluidos magmáticos ou forma-
chas apresentam predominância de calcopirita na cionais/metamórficos (Figs. 11 e 12). Fluidos com
matriz (Fig. 10j) associada a pirita, magnetita, epi- a mesma composição isotópica e temperatura te-
doto, allanita, apatita e clorita (Monteiro et al. riam sido responsáveis por formação inicial de
2008a, 2008b). A matriz rica em sulfetos envolve magnetita e actinolita nas brechas do Corpo Sos-
fragmentos cominuídos, parcialmente arredonda- sego (Fig. 11; Monteiro et al. 2008a).
dos, de actinolititos e magnetititos, além de cris- O estágio de mineralização nos diferentes cor-
tais hidrotermais de actinolita, apatita e magneti- pos do depósito foi associado a menores tempe-
ta fragmentados. A mineralização de Cobre-Ouro raturas (~300 oC) e à introdução de fluidos mete-
foi tardia e desenvolveu-se em condições essen- óricos, como indicado pelos valores de δ18Ofluido (–
cialmente rúpteis. No Corpo Sossego, as brechas 1,8± –3,4‰) em equilíbrio com fases minerais pre-
apresentam fragmentos angulosos do granito gra- sentes (quartzo, calcita, clorita e epidoto) nas bre-
nofírico hidrotermalizado (Figs. 10m, 10n e 10q), chas mineralizadas (Monteiro et al. 2008a).
em geral, com evidências de alteração potássica, As inclusões fluidas em quartzo das brechas
envolvidos por magnetita em matriz constituída por mineralizadas dos corpos Sequeirinho, Sossego e
calcopirita, calcita, quartzo, epidoto, allanita, apa- Pista indicam a participação de: (1) salmouras hi-
tita (Fig. 10s) e clorita com texturas de preenchi- persalinas de alta temperatura (35 a 70% NaCl
mento de espaços abertos (Fig. 10n) desenvolvi- equivalente; Tht = 570 a 250 °C) com cristais de
das também em condições essencialmente rúpteis saturação e multi-sólidos; (2) salmouras salinas
(Monteiro et al. 2008a, 2008b). (11 a 31% NaCl equivalente) de baixa temperatu-
Segundo Domingos (2010), as brechas mine- ra (~150 oC) e ricas em CaCl2; e (3) fluidos aquo-
ralizadas do Corpo Sossego apresentam caracte- sos compostos por NaCl-H2O de baixa salinidade
rísticas de brechas de explosão imaturas, enquan- (<11% NaCl equivalente) e baixa temperatura (<
to as brechas do Corpo Sequeirinho seriam bre- 250 oC), (Rosa 2006, Carvalho 2009). As salmou-
chas tectônicas maduras, com fragmentação do- ras salinas ricas em CaCl2 poderiam refletir uma
minada por desgaste e atrito associado ao desli- evolução contínua a partir de um fluido hipersali-
zamento ao longo da zona de falha. no magmático ou bacinal (Carvalho 2009), ou ain-
O minério de Cobre-Ouro dos dois corpos é da, representarem fluidos metamórficos que inte-
constituído pela associação de calcopirita com pi- ragiram com metevaporitos ou metaexalitos e tor-
rita (com até 2,3% de Co e 0,2% de Ni), magneti- naram-se mais salinos (Rosa 2006). Os fluidos de
ta parcialmente substituída por hematita, Ouro baixa salinidade podem representar o aporte de
(com até 14,9 % de Ag), siegenita, millerita, vae- fluidos meteóricos no sistema hidrotermal.
sita, Pd-melonita e, subordinadamente, hessita, As composições isotópicas de boro de turmali-
cassiterita, esfalerita, galena e molibdenita (Mon- na do Corpo Pista do depósito Sossego indicam
teiro et al. 2008b). A assinatura geoquímica do participação de fonte magmática, talvez proveni-

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Lena Virgínia S. Monteiro, Roberto P. Xavier, Carlos R. de Souza Filho & Carolina Penteado N. Moreto

Figura 11 - Perfil esquemático da distribuição das zonas de alteração hidrotermal nos corpos Sequeirinho e
Sossego, Mina Sossego, assim como as composições isotópicas de oxigênio dos fluidos hidrotermais associados
a cada estágio de alteração hidrotermal e as respectivas temperaturas estimadas a partir de isótopos estáveis
(Monteiro et al. 2008a).

ente da lixiviação de rochas vulcânicas, em adição Gênese do depósito de Sossego


a salmouras bacinais (Fig. 13; Xavier et al. 2008).
Estudos de isótopos de cloro realizados por Chia- Os padrões de alteração hidrotermal reconhe-
radia et al. (2006) também seriam coerentes com cidos no depósito de Sossego são semelhantes
contribuição de fluidos magmáticos e bacinais para aos reconhecidos em depósitos IOCG formados em
o depósito Sossego. Razões Cl/Br–Na/Cl em inclu- diferentes níveis crustais (Monteiro et al. 2008a).
sões fluidas do depósito Sossego indicam compo- A extensiva alteração sódica e sódica-cálcica as-
sições intermediárias entre as características da sociada à milonitização caracterizada no Corpo Se-
curva de evaporação da água do mar e de fluidos queirinho e suas extensões, Pista e Baiano, é típi-
magmáticos, porém não seriam condizentes com ca de depósitos formados em níveis crustais mais
derivação a partir da dissolução de (meta)evapo- profundos. Os padrões de alteração do Corpo Sos-
ritos (Xavier et al. 2009). sego, com predominância de alteração potássica

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Metalogêmese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Província Carajás

Figura 12 - Composição isotópica de oxigênio e hidrogênio do fluido hidrotermal em equilíbrio com minerais
hidrotermais de depósitos cupro-auríferos de Carajás. Fonte dos dados: Sossego (Monteiro et al. 2008a);
Bacaba & Castanha (Pestilho 2011), Estrela (Lindenmayer et al. 2005) e Breves (Botelho et al. 2005).

e cloritização, é característica de níveis crustais o que teria importância para a compreensão dos
intermediários a rasos, segundo o modelo de Hit- sistemas IOCG no Cinturão Sul do Cobre.
zman et al. (1992), Hitzman (2000) e Williams et A participação de fontes magmáticas profundas
al. (2005). na evolução do(s) paleo-sistema(s) hidroter-
Notadamente no Corpo Sequeirinho, os está- mal(is) é fortemente sugerida, assim como proces-
gios iniciais de alteração hidrotermal foram acom- sos de interação fluido-rocha responsáveis por
panhados por deformação dúctil, enquanto o es- significativa lixiviação de metais da sequência de
tágio de mineralização cupro-aurífera em todos os rochas hospedeiras, notadamente máficas e ultra-
corpos desenvolveu-se em condições dúcteis-rú- máficas, como evidenciado pelos enriquecimentos
pteis a essencialmente rúpteis. Segundo Domin- em Ni, Co e Pd do depósito Sossego, tanto no
gos (2010), a evolução do(s) sistema(s) hidroter- Corpo Sequeirinho como no Corpo Sossego (Mon-
mal(is) pode ter sido relacionada à progressiva teiro et al. 1998b, Carvalho 2009). Mistura com flui-
exumação associada com transpressão regional. dos externamente derivados, frios e diluídos, no
As idades obtidas no minério do Corpo Sequei- estágio de mineralização representou um impor-
rinho (ca. 2,6 Ga) foram atribuídas por Neves (2006) tante mecanismo de precipitação do minério. No
a processos metamórfico-deformacionais ao lon- entanto, tendências evolutivas distintas apontam
go das zonas de cisalhamento regionais, enquan- para contribuição de fluidos meteóricos no Corpo
to a idade mais nova (ca. 1,6 Ga) relativa ao Cor- Sossego e fluidos derivados da água do mar no
po Sossego não foi associada a um evento geoló- Corpo Sequeirinho (Fig. 12).
gico específico.
Embora os dados petrográficos, estruturais, de Outros depósitos IOCG de Carajás
inclusões fluidas e isótopos estáveis dos diferen-
tes corpos mineralizados apontem para uma evo- Processos genéticos muito distintos já foram
lução associada a fluidos composicionalmente e propostos para os depósitos cupríferos de Cara-
isotopicamente idênticos nos corpos Sequeirinho jás. A gênese dos depósitos de Salobo e Igarapé
e Sossego, os dados geocronológicos sugerem ou Bahia, hospedados principalmente por rochas me-
a abertura do sistema isotópico no Stateriano ou tavulcano-sedimentares do Supergrupo Itacaiú-
uma evolução multifásica do sistema hidrotermal, nas, foi atribuída inicialmente a modelos singené-

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Lena Virgínia S. Monteiro, Roberto P. Xavier, Carlos R. de Souza Filho & Carolina Penteado N. Moreto

junto de atributos compartilhados pelos depósi-


tos, tais como:
(i) - eriquecimentos em óxido de Ferro, Cu, Au,
ETRL, P, Ni, Co, e, em alguns casos, Ag, Mo, U, Th,
Y, Pd, Zn, Te e Sn, análogos aos descritos em de-
pósitos de IOCG de outras províncias mundiais
(Hitzman 2000, Williams et al. 2005, Grainger et al.
2008);
(ii) - proximidade com intrusões máficas (diori-
to, gabro, noritos) e félsicas;
(iii) - estágios iniciais de alteração hidrotermal
característicos de depósitos formados em níveis
crustais relativamente profundos, controlados por
zonas de cisalhamento regionais e foliação milo-
nítica, associados à circulação de fluidos quentes
(> 550 oC) e hipersalinos, incluindo alteração só-
dica com albita, escapolitização, alteração sódico-
cálcica e formação de magnetititos;
(iv) - alteração potássica (<450 oC) com biotita
e feldspato potássico espacialmente associada
com as zonas mineralizadas;
(v) - cloritização, alteração cálcica tardia (clori-
ta-epidoto-calcita) ou hidrolítica (sericita-hemati-
ta) desenvolvidas a menores temperaturas (< 350
o
C) e condições rúpteis, coevas com a precipita-
ção do minério nas porções mais rasas do(s) sis-
tema hidrotermal(is);
(vi) - amplo intervalo de temperaturas de ho-
mogeneização (100-570 °C) e salinidades (0 a
69% peso NaCl eq) em inclusões fluidas em mine-
rais de ganga do minério, indicando predominân-
Figura 13 - Histogramas das composições isotópicas cia de fluidos magmáticos iniciais e variável grau
de boro de turmalina de depósitos IOCD de Carajás
(Xavier et al. 2008) e intervalos de composições iso- de mistura com fluidos de origens diversas duran-
tópicas de boro para vários reservatórios naturais te o estágio de deposição do minério (Rosa 2006,
(Barth 1993, Palmer & Swihart 1996). Carvalho 2009, Xavier et al. 2010).
No Cinturão Sul do Cobre, os depósitos de clas-
ticos ou híbridos que incluem estágios de minera- se mundial, Sossego, Cristalino e Alvo 118, e vári-
lização vulcano-exalativa (Lindenmayer 1990, Vi- os outros depósitos menores (Bacaba, Bacuri,
eira et al. 1998, Almada & Villas 1999, Galarza et Castanha, Jatobá, Visconde, GT 34) apresentam
al. 2002, 2008, Dreher 2004, Dreher et al. 2008), uma evolução paragenética e fluidal possivelmen-
semelhantes aos também propostos para o de- te comum (Augusto et al. 2008, Siepierski 2008,
pósito de Cu-Zn de Pojuca (Medeiros Neto & Villas Craveiro 2011, Melo 2011, Pestilho 2011, Torresi
1985, Winter 1994, Schwarz 2010). et al. 2012) além de atributos particulares que
A primeira associação dos depósitos cupríferos sugerem a formação de cada um em uma porção
com significativas concentrações de magnetita de específica do sistema hidrotermal.
Carajás com a classe IOCG, definida por Hitzman O Alvo GT-34, hospedado por gnaisses atribuí-
et al. (1992), foi proposta por Huhn & Nascimento dos ao embasamento, apresentam corpos de or-
(1997), sendo adotada por outros autores (Ré- topiroxenitos interpretados como de origem me-
quia et al. 2003, Tallarico et al. 2005, Monteiro et tassomática, e podem refletir as mais elevadas
al. 2008a, 2008b, Xavier et al. 2010, Teixeira et al. condições de temperaturas (700 oC) já reporta-
2010). Essa classificação baseia-se em um con- das para os estágios iniciais de desenvolvimento

65
Metalogêmese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Província Carajás

de um sistema IOCG (Siepierski 2008). Estágios não-magmáticos, para o sistema hidrotermal as-
subsequentes de alteração sódica-cálcica (horn- sociado à gênese desses depósitos. Esse compo-
blenda-actinolita-escapolita-albita-apatita) de alta nente poderia ser derivado tanto de fluidos hidro-
temperatura (>550 oC) verificados nesse depósi- termais de fundo oceânico como da água do mar
to são análogos aos reconhecidos nos depósitos modificada e, de forma análoga ao verificado para
de Castanha, Cristalino e Sossego (Corpo Sequei- os depósitos IOCG do Cinturão Sul do Cobre, indi-
rinho) desenvolvidos em condições ainda relati- ca que os depósitos da parte norte também seri-
vamente profundas (Monteiro et al. 2008a, Ribei- am híbridos, formados com contribuições de com-
ro 2009, Pestilho 2011). ponentes de múltiplas fontes.
Alguns depósitos apresentam predominância A gênese dos depósitos IOCG de Carajás tem
de componentes magmáticos e contribuição muito sido relacionada a três eventos de alojamento de
limitada de fluidos externos, como o depósito de granitos identificados no Domínio Carajás com base
Castanha (Pestilho 2011), o que é evidenciado pela em dados geocronológicos (Fig. 14): (i) ca. 2,76-
ausência de fluidos de baixa salinidade ou com 2,74 Ga Ga (Huhn et al. 1999b, Galarza et al.
menores valores de δ18O que os tipicamente mag- 2003); (ii) ca. 2,57 Ga (Réquia et al. 2003, Tallarico
máticos. Nesse depósito, assim como no Alvo GT et al. 2005, Grainger et al. 2008), e (iii) ca. 1,88 Ga
34, a presença de brechas com pirrotita, calcopiri- (Pimentel et al. 2003, Tallarico 2003).
ta, pirita, pentlandita evidenciam também enrique- A importância das intrusões graníticas do Neo-
cimentos em Ni e Co, associados ao Cu, Fe, P e arqueano (ca. 2,57 Ga), semelhantes aos grani-
ETR (Siepierki 2008, Pestilho 2011). tos Old Salobo e Itacaiúnas, para o estabelecimen-
No entanto, a participação de fluidos superfi- to dos sistemas magmático-hidrotermais IOCG de
cais (água meteórica e salmouras derivadas da Carajás tem sido enfatizada por alguns autores
água do mar) parece ter sido importante em de- (Réquia et al. 2003, Tallarico et al. 2005, Grainger
pósitos desenvolvidos em níveis crustais mais ra- et al. 2008, Groves et al. 2010), com base em da-
sos (por exemplo, Alvo 118; Torresi 2009, Torresi dos geocronológicos considerados bastante robus-
et al. 2012; Corpo Sossego; Monteiro et al. 2008a) tos (Re–Os molibdenita, Salobo, Réquia et al. 2003;
e intermediários (Corpo Sequeirinho, Bacaba, Ba- U-Pb SHRIMP monazita, Igarapé Bahia, Tallarico et
curi; Augusto et al. 2008, Pestilho 2011), e seria al. 2005; Fig. 14).
responsável por favorecer a deposição do Cobre Entretanto, essa idade também é contestada,
transportado como complexos cloretados pelos uma vez que o magmatismo de ca. 2,57 Ga é mui-
fluidos metalíferos devido à diminuição de tempe- to restrito no Domínio Carajás, sendo ainda des-
ratura e salinidade. conhecido no Cinturão Sul do Cobre. Segundo Tei-
Na parte norte do Domínio Carajás, algumas xeira et al. (2010), essa idade seria próxima da
diferenças em relação aos depósitos IOCG da parte atribuída ao desenvolvimento da zona de cisalha-
sul são notáveis. O depósito de Salobo destaca- mento (2.555 ± 4 Ma; Machado et al. 1991) ao
se pela presença de almandina, grunerita e faya- longo da qual situa-se o depósito de Salobo. Ida-
lita entre as associações hidrotermais e pela pre- des Pb-Pb em calcocita (2.705±42 Ma), turmalina
dominância de distinta associação de minério com (2.587±150 Ma), calcopirita (2.427±130 Ma) e
bornita-calcosita-calcopirita (Lindenmayer 1990, magnetita (2.112±12 Ma) obtidas por Tassinari et
2003). Adicionalmente, apenas nos depósitos Iga- al. (2003), embora imprecisas e obtidas por méto-
rapé Bahia, Salobo e Igarapé Cinzento, inclusões do considerado menos robusto, revelam uma his-
fluidas carbônicas e aquo-carbônicas foram des- tória mais complexa para o Depósito Salobo, que
critas (Réquia 1995, Dreher 2004, Silva et al. 2005, inclui remobilização no Paleoproterozóico e/ou
Dreher et al. 2008). Embora a presença de tais sobreposição de eventos hidrotermais arqueanos
inclusões possa ser consideradas evidência de e paleoproterozóicos. De forma análoga, os de-
processos de desmistura de fluidos magmáticos pósitos Alvo GT46, Gameleira e Estrela também
em profundidade, como proposto por Pollard podem refletir múltiplos estágios de atividade hi-
(2001, 2006), isótopos de boro (δ11B = 14 a 26,5‰, drotermal e mineralização cuprífera em Carajás.
Xavier et al. 2008) em turmalina dos depósitos de Em que pese a importância de granitos neoar-
Igarapé Bahia e Salobo revelam também a partici- queanos e/ou paleoproterozóicos para o estabe-
pação de componentes externamente derivados, lecimento de sistemas magmático-hidrotermais em

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Lena Virgínia S. Monteiro, Roberto P. Xavier, Carlos R. de Souza Filho & Carolina Penteado N. Moreto

Figura 14 - Dados geocronológicos relativos aos eventos de mineralização e intervalos de idade dos principais
eventos magmáticos e tectônicos registrados no Domínio Carajás. Fonte dos dados: (1) Tallarico et al.
(2005); (2) Galarza et al. (2002); (3) Galarza and Macambira (2003); (4) Réquia et al. (2003); (5) Huhn et
al. (1999); (6) Neves (2006); (7) Silva et al. (2005); (8) Tallarico (2003); (9) Pimentel et al. (2003); (10)
Marshick et al. (2005); (11) Lindenmayer et al. (2005); (12) Tallarico et al. (2004); (13) Grainger et al.
(2008); (14) Santos et al. (2010).

larga escala, áreas de alta favorabilidade para de- Depósitos de Cobre-Ouro polimetálicos
pósitos IOCG não são coincidentes com as gran-
des intrusões reconhecidas no Domínio Carajás. As tipologias de depósitos cupro-auríferos re-
O modelo de prospectividade (Fig. 15), proposto conhecidas na Província Carajás incluem, além dos
por Leite & Souza Filho (2009), obtido a partir de depósitos de óxidos de Ferro-Cobre-Ouro, depó-
redes neurais artificiais com base em dados geo- sitos sem significativos conteúdos de óxidos de
lógicos, magnetométricos e gama-espectrométri- Ferro (e.g. depósito de Cu-Au-(Mo) de Serra Ver-
cos para depósitos de Cu-Au em Carajás, mostra de; Villas & Santos 2001, Reis & Villas 2002, Mars-
que zonas de alta favorabilidade podem ser as- chik et al. 2005) e depósitos paleoproterozóicos
sociadas a sequências espessas de rochas meta- polimetálicos, tais como o depósito de Cu-(Au) de
vulcânicas do Supergrupo Itacaiúnas, que repre- Águas Claras (Villas & Silva 1998), de Cu–Au–(W–
sentam unidades reativas na presença de fluidos Bi–Mo–Sn) de Breves (Tallarico et al. 2004, Xavier
oxidados e ácidos, próximo às zonas de contato et al. 2005, Botelho et al. 2005) e de Cu-Au-(Li-Be-
com embasamento ou com intrusões, e ao longo Sn-W) de Estrela (Lindenmayer et al. 2005), que
de grandes descontinuidades crustais que mar- apresenta padrões distintos de alteração hidro-
cam esses contatos. termal, como por exemplo, com zonas de greisens.

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Metalogêmese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Província Carajás

Figura 15 - Modelo de prospectividade para depósitos de Cu-Au no Domínio Carajá gerados a partir de análise
espacial de dados exploratórios por redes neurais artificiais. Áreas coloridas entre tons de violeta a vermelho
correspondem a setores progressivamente de mais alta prospectividade para Cu-Au (Fonte: Leite & Souza
Filho 2009).

DEPÓSITO TIPO: DEPÓSITO DE COBRE-(OURO) ESTRELA ou Fe-hornblenda, titano-magnetita e albita. Esse


estágio foi seguido por intensa alteração potássi-
O depósito Estrela (Fig. 16) situa-se na Serra ca com biotita, siderofilita, turmalina, titanita, flu-
do Rabo, na porção sudeste da Serra dos Cara- orita, quartzo e, subordinadamente, magnetita e
jás, 10 km ao norte do depósito IOCG de Cristali- uraninita, reconhecida nos meta-andesitos. O es-
no. Os recursos foram estimadas em 230 Mt com tágio de greisenização (Li-muscovita, zinnwaldi-
0,5% Cu, e quantidades subordinadas de Au, Mo ta, turmalina, quartzo, fluorita, topázio e clorita)
e Sn (Lindenmayer et al. 2005). foi tardio e localizado, assim como carbonatiza-
ção, posterior à mineralização.
Rochas hospedeiras
Mineralização cupro-aurífera
O depósito Estrela (Fig. 16) é hospedado por
metandesitos cálcio-alcalinos, metariólitos e me- A zona mineralizada, controlada por splays da
tagabros atribuídos ao Grupo Grão Pará, Super- Falha Carajás, inclui veios, brechas e stockworks.
grupo Itacaiúnas,. AS zonas mineralizadas têm Os veios que antecedem a mineralização cupro-
relação espacial com a cúpula de albita-ortoclásio aurífera, consistem de quartzo e magnetita, e ge-
granito, alcalino e peraluminoso (1.881 + 5Ma; U- ralmente estão deformados, dobrados ou estira-
Pb zircão; Lindenmayer et al. 2005). Na área do dos. Os veios mineralizados cortam predominan-
depósito também ocorre quartzo-diorito pórfiro e temente o metandesito, que também contém cal-
quartzo-álcali-feldspato sienito (1.875 + 1.5 Ma, copirita disseminada. Apresentam diferentes as-
U-Pb em monazita), sendo que o último possivel- sociações minerais que incluem quartzo, albita,
mente representa produto de alteração hidroter- turmalina, biotita, siderofilita, fluorita, feldspato po-
mal do albita-ortoclásio granito (Lindenmayer et tássico, epidoto, chamosita, topázio e mica bran-
al. 2005). ca associados aos minerais de minério represen-
tados por calcopirita aurífera, pirita cobaltífera, pir-
Alteração hidrotermal rotita niquelífera, molibdenita e bornita (Linden-
mayer et al. 2005). Veios tardios, não-mineraliza-
O estágio inicial de alteração hidrotermal reco- dos, são compostos por quartzo e fluorita. As bre-
nhecido predominantemente nos gabros é repre- chas contém fragmentos angulosos do metande-
sentado por alteração sódico-cálcica pouco desen- sito e do gabro cimentados por quartzo, fluorita,
volvida com formação de hastingstita, pargasita albita, calcopirita, pirita, pirrotita e magnetita.

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Lena Virgínia S. Monteiro, Roberto P. Xavier, Carlos R. de Souza Filho & Carolina Penteado N. Moreto

A composição isotópica de Enxofre de calcopirita


(δ34S = 0,1 a 3,5‰), pirita (0,6 a 4,1‰) e molibde-
nita (0,9‰) mostra pequena variação.

Modelo Genético

Segundo Lindenmayer et al. (2005), o depósito


de Cu-Au de Estrela difere dos depósitos IOCG de
Carajás por não apresentar grandes quantidades
de magnetita, pela alteração sódico-cálcica incipi-
ente e pelo estágio de greisenização tardio, em-
bora também apresente controle estrutural rela-
cionado à splays da Falha de Carajás. De acordo
com os autores, o vínculo do depósito com um sis-
tema magmático-hidrotermal paleoproterozóico é
evidenciado, além da associação espacial com a
cúpula do albita-ortoclásio granito, pelo enrique-
cimento em F, U, ETR, Mo, K, Rb, B e Li, por possível
fonte magmática do enxofre e pelas característi-
cas dos fluidos hidrotermais. No entanto, esse sis-
tema seria híbrido, com algumas características
também semelhantes a depósitos do tipo pórfiro,
com evolução final para greisenização tardia.
A coexistência dos diferentes tipos de inclusões
e intervalos tão amplos de salinidade seriam evi-
dência de evolução a partir de fluidos magmáticos
e sua interação com a rocha encaixante, acompa-
Figura 16 - Perfis geológicos do depósito de Cu-Au-
nhada de decréscimo de temperatura do sistema
(Li-Be-Sn-W) de Estrela (VALE em Lindenmayer et
al. 2005). hidrotermal (Lindenmayer et al. 2005). De acordo
com aqueles autores, a contribuição de fluidos me-
A idade dos veios mineralizados foi estimada teóricos no sistema é indicada pela diminuição de
por isócrona Sm-Nd em 1.857 + 98 Ma (εNd(T) = - salinidade e valores de δ18OH2O em estágios tardios
10.7), mas a datação Re-Os de molibdenita defor- de alteração. Segundo esses autores, o depósito
mada do mesmo veio resultou em idade de 2,7 Ga de Estrela seria paleoproterozóico, embora os
(Lindenmayer et al. 2005). dados geocronológicos sejam dúbios.

Natureza dos fluidos hidrotermais e assinaturas iso- Depósitos de Ouro-Paládio-Platina


tópicas
O depósito de Au-Pd-Pt de Serra Pelada (Mei-
Estudos de inclusões fluidas bifásicas aquosas, reles & Silva 1988, Tallarico et al. 2000, Moroni et
trifásicas, multifásicas e aquo-carbônicas em quart- al. 2001, Cabral et al. 2002a, 2002b) tornou-se
zo, fluorita e topázio revelaram amplo intervalo famoso devida à corrida do Ouro no início da dé-
de variação de salinidade (1 a 50% NaCl eq) e cada de 1980, que atraiu mais de 50.000 garim-
temperaturas de homogeneização entre 80 e 480 peiros para o maior garimpo a céu aberto do mun-
o
C (alteração potássica), 130 a 430 oC (greiseni- do, do qual foram lavradas 32,6 t de Ouro, além
zação) e entre 90 e 160 oC (carbonatização; Lin- de quantias desconhecidas de Platina e Paládio
denmayer et al. 2005). de uma reserva estimada em 110 t de Ouro, 35 t
A composição isotópica de Oxigênio do fluido de Paládio e 18 t de Platina (Meireles & Silva 1988).
em equilíbrio com quartzo dos veios com biotita Desde 2011, a mina subterrânea está em fase
(δ18OH2O = 5,3‰) difere da estimada a partir de de desenvolvimento pela Companhia de Desen-
clorita de veio brechado tardio (1,3‰), a 250 oC. volvimento Mineral Serra Pelada, que representa

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Metalogêmese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Província Carajás

uma joint venture da Colossus (75%) e da Coope- escarnitos com actinolita-calcita ± diopsídio e tal-
rativa de Mineração dos Garimpeiros de Serra Pe- co-calcita-quartzo. Rochas metavulcânicas máficas
lada (25%). Embora dados relativos às reservas e ultramáficas com intercalações de formações fer-
atuais não tenham sido divulgados, interceptos ríferas do Grupo Rio Novo (Hirata et al. 1982) aflo-
extensos com elevados teores de Ouro, Platina e ram a 5 km a leste do depósito sotopostas à For-
Paládio (7,30 m com 1.494,70 g/t de Ouro, 516,60 mação Águas Claras (Tallarico et al. 2000). As uni-
g/t de Platina e 558,90 g/t de Paládio e 70,70m dades metavulcano-sedimentares do Grupo Rio
com 53,59g/t de Ouro, 20,77 g/t de Platina e 31,30 Novo são intrudidas tanto pelo Complexo Luanga,
g/t de Paládio) foram reportados por (2010). representado por intrusões acamadadas máfico-
ultramáficas, aflorantes a 11 km a leste de Serra
ROCHAS HOSPEDEIRAS Pelada, como pelo Granito Cigano (1883±2Ma, U–
Pb zircão, Machado et al. 1991). Esse último é res-
O depósito de Serra Pelada (Figs. 17 e 18) é ponsável por auréola de metamorfismo de conta-
hospedado por rochas metassedimentares clásti- to nas unidades do Grupo Rio Novo, caracterizada
cas próximo ao contato com mármores dolomíti- pelas associações de biotita-anfibólio-cordierita e
cos da Formação Águas Claras (Tallarico et al. 2000, espinélio-hiperstênio-biotita-cordierita (Gonçalez
Moroni et al. 2001). Entre tais rochas, intensamen- et al. 1988). O Granito Cigano também intercepta
te intemperizadas, comumente brechadas e hidro- as rochas da Formação Águas Claras a aproxima-
termalizadas, são reconhecidos: (1) metarenitos, damente 7 km a oeste de Serra Pelada, resultan-
por vezes manganesíferos, (2) metassiltito carbo- do em auréola com cordierita e grandes quantida-
noso, ferruginoso e caolinizado e metassiltito cin- des de hematita (Berni 2009).
za com 2 a 10 % de carbono, (3) metassiltitos la-
minados vermelhos com óxidos de Ferro, (4) ro- CONTROLE ESTRUTURAL
cha friável e terrosa, preta a marrom, denomina-
da de “hidrotermalito”, (5) brechas alternadas a O depósito de Au-(Pd-Pt) de Serra Pelada é lo-
metassiltitos e metarenitos silicificados e ricos em calizado no segmento leste da Zona de Cisalha-
hematita e (6) mármore quartzo dolomítico (Bet- mento Cinzento, de direção ENE-WNW, em zona
tencourt et al. 2008). de charneira de um sinclinal invertido e inclinado
Intrusões dioríticas interceptam o mármore (Sinclinal Serra Pelada, Berni 2009). Na área de
dolomítico abaixo da zona mineralizada e, segun- Serra Leste, na qual se localiza o depósito, dois
do Tallarico et al. (2000), resultaram em zonas de episódios de deformação não-coaxial foram iden-

Figura 17 - Mapa geológico da área do depósito de Au-(Pd-Pt) de Serra Pelada (modificado de Docegeo 1988,
Tallarico et al. 2000).

70
Lena Virgínia S. Monteiro, Roberto P. Xavier, Carlos R. de Souza Filho & Carolina Penteado N. Moreto

Figura 18 - Perfil geológico do depósito de Au-(Pd-Pt) de Serra Pelada mostrando a distribuição das zonas de
alteração hidrotermal (Colossus, em Jones 2010).

tificados, sendo o primeiro responsável pelas do- acordo com Berni (2009), contudo, três importan-
bras recumbentes similares de grande amplitude tes zonas de alteração hidrotermal representadas
e orientação E–W com eixo com caimento de 15 a por enriquecimento hidrotermal em Carbono, ar-
25° para SW associadas a falhas de empurrão de gilo-minerais e sílica, podem ser identificadas na
direção E–W. O segundo é representado por sis- zona de charneira do Sinclinal Serra Pelada.
temas de falhas e dobras abertas, que seriam A zona de silicificação é o envelope de jaspe-
responsáveis por inflexão das dobras formadas róide (jaspe com sericita, pirita, turmalina, caolini-
no primeiro evento e dobramento do seu eixo ta, clorita, hematita) com 5 a 50 m de espessura
(Tallarico et al. 2000, Berni 2009, Jones 2010). descrito por Tallarico et al. (2000) e Grainger et al.
O importante papel do controle estrutural para (2002). A zona de alteração argílica, localizada
a mineralização de Serra Pelada é enfatizado por próximo ao contato entre os metassiltitos e ro-
vários autores, que o relacionam a: (i) zona de chas dolomíticas, caracteriza-se por intensa subs-
charneira do Sinclinal Serra Pelada com minerali- tituição das rochas hospedeiras por caolinita-(se-
zação posterior ao evento D1 e anterior à D2 (Ber- ricita) e quantidades variáveis de óxidos de Ferro,
ni 2009); (ii) Zona de Cisalhamento do Cinzento além de apresentar enriquecimentos em Bi, Pb, Cu
(Moroni et al. 2001) e, mais especificamente, a es- e U e ETRL (Berni 2009, Jones 2010).
truturas R’ associadas a sistema transtensivo dex- O minério de Au-Pd-Pt é associado a zonas de
tral desenvolvido entre as zonas de cisalhamento alteração argílica com baixo conteúdo de Fe2O3 e,
regionais ENE-WNW (Freitas-Silva 1998); (iii) fra- principalmente, com zonas com rocha carbonosa
turas em todas as escalas, associadas a falhas fina e isótropa com quartzo, sericita, caolinita, mo-
pós-D2 (Jones 2010). nazita, hematita, goethita, óxidos de Manganês,
além de turmalina, carbonato, clorita e magnetita
ALTERAÇÃO HIDROTERMAL (Tallarico et al. 2000). Segundo Jones (2010), o
Carbono nessas rochas é preferencialmente ori-
A alteração hidrotermal pode ser bastante su- entado ao longo da clivagem de crenulação S2. A
til e até críptica, ocorrendo em halos de poucos relação entre a concentração de Au-Pt-Pd e con-
centímetros a centenas de metros. No entanto, a centrações de Carbono, no entanto, não é clara,
intensidade da alteração hidrotermal não é indi- uma vez que alguns autores afirmam que não há
cativa dos maiores teores de Au-EGP, que podem correlação entre tais concentrações (Berni 2009),
ocorrer em fraturas menores sem evidências de enquanto outros consideram que houve precipi-
alteração hidrotermal (Grainger et al. 2008). De tação preferencial de Au-Pt-Pd nas zonas com con-

71
Metalogêmese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Província Carajás

centrações mais elevadas de Carbono (Jones de de 1.861±45 Ma para o minério de Serra Pela-
2010). da. Adicionalmente, idade 40Ar/39Ar de 1.882±3 Ma
Espacialmente zonas mineralizadas associam- foi obtida para biotita do halo de alteração distal
se também a brechas hidrotermais ricas em mag- (Grainger et al. 2008). Datações 40Ar/39Ar de cama-
netita e hematita-(sericita), a zonas de hematiti- das de óxido de Manganês intercaladas a quartzi-
zação e zonas com sílica-muscovita-monazita com tos da Formação Águas Claras da área de Serra
óxi-hidróxidos de Ferro (Grainger et al. 2008). Pelada forneceram idades de 35±1 Ma e 44±2 Ma,
interpretadas como correspondentes a dois epi-
Minério de Ouro-EGP sódios de lateritização. Cabral et al. (2011) obti-
veram idade 40Ar/39Ar de 75±6 Ma para amostra de
Sulfetos primários são raramente preservados massas de isomertieita e romanèchita intercresci-
nas zonas mineralizadas devido à intensa altera- das, que substituem as brechas ricas em goethi-
ção supérgena, contudo podem ainda ser reco- ta, tipo “bonanza”.
nhecidos, segundo Tallarico et al. (2000), pirita, cal-
copirita, arsenopirita, covelita, bornita, galena, sul- ASSINATURA GEOFÍSICA
fetos de Níquel (millerita e pentlandita) e de Ní-
quel e Cobalto (carrolita e siegenita). O processamento de dados aerogeofísicos e
Próximo à superfície, o Ouro ocorre como partí- modelamento espacial permitiram identificar a as-
culas livres e em pepitas em meio ao material ter- sinatura geofísica do depósito da Serra Pelada,
roso e massas argilosas completamente desagre- pelos altos valores de ASA (Fig. 19a), alta percen-
gadas ricas em quartzo brechado, caolinita, goe- tagem de K, alta contagem de radiação gama to-
thita, hematita, óxidos de Manganês e material tal (Fig. 19b), baixo Th e elevada condutividade
carbonoso (Tallarico et al. 2000). Ouro paladiado, eletromagnética (Souza Filho et al. 2007). Essa
Paládio nativo, ligas de Au-Ag-Pd e outros mine- assinatura reflete, possivelmente, as zonas de
rais portadores de elementos do grupo da Platina alteração hidrotermal que apresentam elevado
(“guanglinita”, atheneita, potarita, isoferroplatina, conteúdo de carbono, brechas hidrotermais ricas
isomertieita, sudovikovita e palladseita) ocorrem em magnetita, além das zonas com sericita e/ou
associados ao Ouro (Tallarico et al. 2000, Cabral muscovita. A partir da deconvolução Euler 3D do
et al. 2002a, 2002b). campo magnético anômalo, foram identificadas na
Adicionalmente, agregados grossos de Ouro área de Serra Pelada fontes magnéticas profun-
com aproximadamente 1 cm de comprimento ocor- das (500 a >1000 m de profundidade) relaciona-
rem em brechas com matriz rica em goethita, co- das com pipes verticais (Souza Filho et al. 2007).
nhecidas como do tipo “bonanza”, que apresen-
tam cavidades preenchidas por hematita tabular MODELOS GENÉTICOS PARA O DEPÓSITO DE AU-PD-
(Cabral et al. 2011). Essas brechas apresentam- PT DE SERRA PELADA
se parcialmente substituídas por uma associação
de Ouro com Paládio e Mercúrio e isomertieite Os modelos genéticos propostos para o depó-
(Pd11As2Sb2) que ocorre em uma matriz de óxidos sito de Serra Pelada não são consensuais. Moroni
de Manganês e Bário, análoga à romanèchite (Ca- et al. (2001) consideram que a alteração supérge-
bral et al. 2002b, 2011). na teria resultado em forte enriquecimento em Au
Alteração supérgena resultou em perfil de al- e EGP a partir de mineralização hidrotermal de
teração profundo, caracterizado por oxidação das baixo teor. Estudos de isótopos estáveis realiza-
rochas clásticas, lixiviação dos mármores e desen- dos por Bettencourt et al. (2008) também suge-
volvimento de brechas de colapso impregnadas rem forte sobreposição de assinatura supérgena
com óxidos e hidróxidos de Manganês e Ferro. à hidrotermal nas amostras mineralizadas. Segun-
do esses autores, as assinaturas isotópicas de
DADOS GEOCRONOLÓGICOS oxigênio de amostras Serra Pelada sugerem se-
melhança com as do depósito de Au-EGP-U de
Datação U-Pb de monazita hidrotermal (Grain- Coronation Hill, Austrália (Mernagh et al. 1994),
ger et al. 2008) considerada geneticamente rela- relacionado a inconformidade, no qual a ação de
cionada à mineralização de Au-Pt-Pd indicou ida- fluidos salinos e ácidos de baixa temperatura e

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Lena Virgínia S. Monteiro, Roberto P. Xavier, Carlos R. de Souza Filho & Carolina Penteado N. Moreto

derivação meteórica se sobrepôs à mineralização zação primária de Serra Pelada representaria um


primária. Comparação análoga ao depósito de Co- equivalente distal dos depósitos IOCG arqueanos
ronation Hill, Austrália, também foi proposta por de Carajás (ca. 2,57 Ga; Réquia et al. 2003, Talla-
Jones (2010), enfatizando, porém, o desenvolvi- rico et al. 2005). No entanto, com a estimativa de
mento de um sistema hidrotermal de baixa tem- uma idade paleoproterozóica (1.861±45 Ma) para
peratura no qual a precipitação dos metais seria Serra Pelada, Grainger et al. (2008) consideram
controlada por reação com Carbono. possível uma relação genética entre o depósito
Sobreposição de mineralização de baixa tem- de Serra Pelada e o magmatismo granítico anoro-
peratura a um sistema hidrotermal profundo, pre- gênico, como o associado ao Granito Cigano
existente, foi proposto por Cabral et al. (2011). (1883±2 Ma; Machado et al. 1991). Segundo es-
Segundo os autores, a idade cretácica (ca. 75 Ma) ses autores, fluidos magmáticos derivados da cris-
estimada para intercrescimentos de isomertieita talização do Granito Cigano representariam uma
e romanèchita, que refletem a coexistência de das únicas fontes possíveis de fluidos para o es-
óxidos de Manganês e minerais de Au-Pd-Pt, em- tabelecimento do sistema hidrotermal em Serra Pe-
bora seja compatível com o início da lateritização lada. Assim, os autores sugerem uma relação ge-
na Amazônia (72 ± 6 Ma; Vasconcelos et al. 1994, nética desse sistema com os associados aos de-
Costa et al. 2005), seria relativa a um sistema pósitos de Cu-Au paleoproterozóicos de Cara-
epitermal de baixa temperatura superposto ao sis- jás, tais como Breves, Estrela, Gameleira e Águas
tema hidrotermal de profundidade, possivelmen- Claras.
te paleoproterozóico. Essa associação mineral in- Embora ainda não haja consenso em relação a
dicaria, segundo os autores, que os óxidos de Man- um modelo genético, diferentes autores propuse-
ganês teriam atuado como um front redox favore- ram que tanto o Ouro como os EGP seriam trans-
cendo a precipitação dos metais preciosos a par- portados por complexos cloretados em soluções
tir de soluções ácidas ricas em cloro. Como solu- oxidadas e ácidas, como evidenciado pela associ-
ções semelhantes seriam típicas de ambientes la- ação de muscovita, sericita e caolinita. A precipi-
teríticos áridos, são alencadas como evidências da tação dos metais teria ocorrido em função de: (i)
origem hidrotermal das brechas ricas em goethita aumento do pH do fluido devido à dissolução do
a presença de: (i) grandes pepitas de Ouro, uma mármore dolomítico acompanhada por silicificação
vez que o Ouro tipicamente é fino em zonas late- e formação do jasperóide; (ii) decréscimo da fO2,
ríticas; (i) hematita tabular em cavidades, que se- devido à interação com ambiente fortemente re-
ria formada a pelo menos 100 oC; (iii) temperatu- dutor, representado pelas zonas com altas con-
ras de homogeneização entre 100° e 140°C em centrações de carbono; e/ou (iii) diminuição da
inclusões fluidas aquosas em quartzo; (iv) enri- temperatura, uma vez que solubilidade de Au-EGP
quecimento em As, Sb, Hg e Se e menores conteú- diminui rapidamente abaixo de 300 oC (Tallarico et
dos de Ir e Bi em relação ao minério de profundi- al. 2000, Bettencourt et al. 2008, Grainger et al.
dade. Dessa forma, dois sistemas hidrotermais sem 2008, Jones 2010).
conexões genéticas teriam se desenvolvido no Pa-
leoproterozóico e no Cretácio. Depósitos de Cromo-Niquel-EGP
Quanto ao sistema hidrotermal profundo, Talla-
rico et al. (2000) propuseram relação genética Corpos máfico-ultramáficos diferenciados, tais
entre a mineralização de Au-(Pd-Pt) e um sistema como Luanga, Luanga Sul, Luanga Norte, Orion,
hidrotermal resultante do resfriamento das intru- Afrodite, Formiga, Pegasus e Centauro (Complexo
sões dioríticas, cuja colocação seria posterior ao Intrusivo Luanga; Fig. 19) e os corpos conhecidos
desenvolvimento das dobras, mas concomitante como Serra da Onça, Serra do Puma, Serra do Ja-
aos últimos estágios de evolução do sistema trans- caré, Serra do Jacarezinho, Igarapé Carapanã, Fa-
corrente Cinzento. As fontes de Au, Pd e Pt são zenda Maginco, Ourilândia e Vermelho (Suíte In-
desconhecidas, mas os autores sugerem que po- trusiva Cateté; Macambira & Vale 1997), apresen-
deriam ser relacionadas à lixiviação de intrusões tam evidências de mineralizações de Cromo, Ní-
dioríticas, litotipos do Grupo Rio Novo, e das intru- quel sulfetado–(EGP) ou Níquel laterítico.
sões máfico-ultramáficas acamadadas de Luanga. O principal complexo máfico-ultramáfico é repre-
Grainger et al. (2002) sugerem que a minerali- sentado por Luanga (Figs. 20 e 21), localizado a

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Metalogêmese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Província Carajás

11 km a leste do depósito de Au-Pd-Pt de Serra críptica do ortopiroxênio com aumento do teor de


Pelada, no qual foram reconhecidos, entre 1983 e En da base para o topo. As características petro-
1987, e avaliados pela DOCEGEO com base em lógicas indicam que essa zona é um intervalo dis-
sondagens, corpos de cromitito disseminados a tinto e muito dinâmico na evolução do complexo.
maciços (Dillela et al. 1995). Nos últimos anos, tra- Adicionalmente, a composição de olivina das zo-
balhos de exploração mineral para Ni-EGP resul- nas Ultramáfica e de Transição evidencia a exis-
taram na identificação de mineralizações estrati- tência de intervalos estratigráficos com olivina de
formes de Ni-EGP, tanto em Luanga como na Serra baixos teores em Ni (Ferreira Filho et al. 2007).
da Onça, atestando, segundo Ferreira Filho et al.
(2007), a fertilidade da região de Carajás para Metamorfismo e deformação
esse tipo de mineralização.
Evidências de metamorfismo no Complexo Lu-
DEPÓSITO MODELO: COMPLEXO DE LUANGA anga incluem a substituição extensiva dos mine-
rais magmáticos por fases hidratadas, tais como
O Complexo de Luanga (2.763 ± 6 Ma, U-Pb em serpentina, talco, actinolita e clorita em zonas dis-
zircão; Machado et al. 1991) faz parte de um aglo- tribuídas de forma heterogênea no corpo intrusi-
merado de intrusões máfico-ultramáficas reconhe- vo, sem obliteração significativa das texturas íg-
cidas em Serra Leste. A intrusão de Luanga re- neas. As paragêneses metamórficas (serpentina-
presenta um corpo máfico-ultramáfico com aproxi- magnetita em rochas derivadas de protólitos pe-
madamente 6 km de comprimento por 3,5 km de ridotíticos, actinolita-clorita-epidoto em rochas má-
largura, com estrutura arqueada, acamamento ficas) indicam condições compatíveis com a fácies
magmático subverticalizado com mergulhos de 60- xistos verdes (Ferreira Filho et al. 2007).
70o para SE e estratigrafia magmática tectonica- O Complexo de Luanga apresenta-se também
mente invertida (Ferreira Filho et al. 2007). deformado devido à reativação do sistema de ci-
salhamento transcorrente Cinzento (Suita 1988,
Intrusão máfico-ultramáfica: estratigrafia magmática Suita & Nilson 1988), como evidenciado por proe-
minente foliação milonítica E-W.
A intrusão de Luanga cosiste numa sequência Os elevados conteúdos de ETRL nas rochas do
cumulática com dunitos e peridotitos basais, que Complexo Luanga, até 60 vezes em relação ao
grada para ortopiroxenitos, com níveis sulfetados condrito, e razões de La/Yb entre 6,2 to 20,0 (Sui-
e de cromititos estratiformes, e para noritos, co- ta & Nilson 1988), foram atribuídos à ação de flui-
ronitos, leuconoritos e leucogabronoritos no topo dos metamórficos ao longo da zona de cisalha-
(Suita 1988, Suita & Nilson 1988). mento (Suita & Nilson 1988). Entretanto, Girardi
Ferreira Filho et al. (2007) dividem o complexo, et al. (2006) considerem que, como fusão do man-
da base para o topo, em: (i) Zona Ultramáfica com to metassomatizado poderia resultar em magmas
olivina + cromita cumulados com texturas meso a também enriquecidos em ETRL, uma possível in-
ortocumuladas; (ii) Zona de Transição caracteri- fluência da fonte do manto parental não pode ser
zada por mudanças na sequência de cristalização desconsiderada.
dos cumulados, constituídos por harzburgito, or-
topiroxenito, cromitito e norito; (iii) Zona máfica Minério de Cromo
com sequência espessa de gabro (clinopiroxênio
+ plagioclásio cumulado) com intercalação descon- O minério de Cromo foi caracterizado como cro-
tínua de ortopiroxenito e cromitito. mita estratiforme de alto Fe, com valores de Cr2O3
A Zona de Transição contém as principais mine- < 45% em peso (Suita 1988, Diella et al. 1995).
ralizações estratiformes de Ni-EGP e cromititos. Associa-se a cromititos que ocorrem como cama-
Consiste em complexa sucessão de unidades cí- das de cromitito maciço, chain texture e cromita
clicas representadas por repetições de pacotes de disseminada em ortopiroxenito, que indicam pas-
harzburgitos-ortopiroxenitos-noritos. Isto resulta- sagem sucessiva em direção ao topo de cromita
ria das variações abruptas na sequência de cris- cumulado, cromita + ortopiroxênio cumulado a or-
talização e reversões em um trend geral de fracio- topiroxênio cumulado (Ferreira Filho et al. 2007).
namento inverso, como evidenciado pela variação Nos cromititos, texturas em atol na cromita e in-

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Lena Virgínia S. Monteiro, Roberto P. Xavier, Carlos R. de Souza Filho & Carolina Penteado N. Moreto

Figura 19 - (A) Mapa da amplitude do sinal analítico (ASA) em pseudo-cor. Note que existe uma clara asso-
ciação entre o depósito de Au-PGE de Serra Pelada, de Fe de Serra Leste, dos corpos de rochas máficas-
ultramáficas do Complexo Luanga e de falhas com elevados valores de ASA. (B) Mapa da contagem total (CT)
de radiação gama em pseudo-cor mostrando a delimitação dos corpos ultramáficos do Complexo Luanga, que
possuem uma marcante assinatura de baixo CT (e do radionuclídio eTh). Intrusões máficas-ultramáficas:
(a) Luanga; (b) Luanga Sul; (c) Orion; (d) Afrodite; (e) Formiga; (f) Luanga Sul; (g) Pegasus; e (h) Centauro;
AgrGni e AGrGntton = Complexo Xingu; AGrE = Granito Estrela; EoPgrC = Granito Cigano; SPDS = Falha de
Serra Pelada; CTSZ = Zona de Cisalhamento Transcorrente Cinzento. Fonte: Souza Filho et al. (2007).

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Metalogêmese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Província Carajás

do cisalhamento das rochas metaultramáficas (Nu-


nes 2002).
O principal corpo de minério de Ni-EGP, denomi-
nado de “Luanga Reef”, é strabound, tem 10 a 50
m de espessura e 5 km de extensão e é associa-
do a espesso pacote de ortopiroxenito e harzbur-
gitos, embora outros intervalos mineralizados tam-
bém ocorram na Zona de Transição (Ferreira Filho
et al. 2007). Nos níveis sulfetados, caracterizados
por 1 a 3% de pirrotita-pentlandita-calcopirita in-
tersticiais aos minerais cúmulus, forte correlação
entre metais básicos e EGP foi observada.
Os cromititos maciços e disseminados da Zona
de Transição apresentam até 1 m de espessura e
1 km de continuidade (Diella et al. 1995), elevada
Figura 20 - Mapa geológico esquemático do Comple- razão Pd/Ir (24,2), elevado conteúdo de Pt (até
xo Luanga (modificado de VALE por Ferreira Filho et
8900 ppb) e baixos de Os, Ir e Ru, além de valo-
al., 2007). ZM = Zona Máfica; ZT = Zona de Transi-
ção; ZU = Zona Ultramáfica. res de 187Os/188Os (0,17869–0,18584) muito altos

Figura 21 - Secção esquemática do Complexo Luanga (modificado de VALE por Ferreira Filho et al. 2007).

tercrescimentos pseudomimerquíticos entre silica- (Diella et al. 1995, Girardi et al. 2006).
tos e cromita atestam a cristalização contemporâ- Os minerais de EGP nos cromititos (braggita,
nea de olivina, ortopiroxênio e cromita. A comum sperrylita, sulfo-arsenietos portadores de EGP,
associação entre cromititos estratiformes e orto- Pt(Rh) ou Pd nativos) ocorrem como agregados
piroxenitos bronzíticos assemelha-se a de alguns multifásicos e, menos comumente, como grãos iso-
níveis da Zona Crítica Superior do Complexo lados, variando entre 2 a 15 mm, associadamente
Bushveld (Dillela et al. 1995). a sulfetos de metais base (pentlandita, pirrotita,
millerita, calcopirita, mackinawita, ligas de Ferro-
Mineralização de EGP-Níquel: Luanga Reef, cromiti- Níquel; Suita 1988, Diella et al. 1995, Girardi et al.
tos e milonitos 2006). Ocorrem como inclusões em associações si-
licáticas, especialmente a sperrylita, e próximo aos
Zonas mineralizadas em EGP-(Ni) são hospe- grãos de cromita, notadamente a braggita.
dadas por: (i) metaortopiroxenitos cumuláticos com Mineralização de EGP também foi reconhecida
pirrotita, pentlandita e calcopirita intercúmulus; (ii) associada com alteração hidrotermal estrutural-
níveis de cromita disseminada a maciça; (iii) clori- mente controlada em zonas milonitizadas nas
ta-tremolita-actinolita-talco milonitos, originados quais ocorrem magnetita serpentinitos e clorita-

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tremolita-actinolita-talco milonitos (Nunes 2002). abruptas na sequência de cristalização na Zona


As zonas fortemente hidrotermalizadas contêm flo- de Transição (Ferreira Filho et al. 2007).
gopita, carbonatos, turmalina, ortoclásio e albita Para Ferreira Filho et al. (2007), a gênese das
associados a talco, tremolita, serpentina, clorita, mineralizações de EGP envolve a cristalização dos
epidoto e actinolita (Suita et al. 2005). Nessas zo- cromititos, favorecida por processos que alteram
nas, ocorrem minerais de Platina como grãos xe- a sequência normal de cristalização dos magmas,
nomórficos a subidioblásticos associados a silica- tais como novas injeções de magmas, em especial
tos hidrotermais e grãos de minerais de Paládio, os contaminados por material crustal.
em geral, subédricos a euédricos, associados a sul- Segundo Suita et al. (2005), mineralizações de
fetos. Estudos de inclusões fluidas indicaram que EGP nos clorita-tremolita-actinolita-talco milonitos
o processo de alteração hidrotermal teria sido as- sugerem que os minerais platiníferos foram disse-
sociado a um ou mais fluido(s) oxidante(s), minados por processos metamórficos-hidrotermais
alcalino(s), aquo-carbônico com CH4, N2, H2S, HS-, sobre o complexo. A influência de fluidos hidroter-
Cl, Ca, Na, K, B e ETR (Ribeiro 2004). mais também foi considerada importante para a
concentração de minério de EGP (Suita 1988, Ri-
Assinatura geofísica beiro 2004, Ribeiro et al. 2005, Suita et al. 2005),
uma vez que EGP podem ser móveis e, em condi-
A assinatura geofísica dos depósitos de Cr-PGE ções especiais, remobilizados, redistribuídos e re-
de Luanga caracteriza-se por altos valores de ASA precipitados, o que potencialmente poderia gerar
(Fig. 19a), baixa percentagem de K e de Th, baixa concentrações econômicas.
contagem de radiação gama total (Fig. 19b), além
de elevada condutividade eletromagnética. Os cor- Comparações com outros depósitos de Ni-EGP de
pos máfico-ultramáficos ricos em magnetita, assim Carajás
como zonas de cisalhamento marcadas por milo-
nitos com clorita-tremolita-actinolita-talco, apre- A mineralização de Ni-EGP do Complexo Serra
sentam elevados valores de ASA, relativos à am- da Onça, descrita por Macambira & Ferreira Filho
plitude do sinal analítico do campo magnético anô- (2005) e Ferreira Filho et al. (2007), diferencia-se
malo. As fontes magnéticas associadas ao Com- daquela caracterizada no Complexo de Luanga,
plexo Luanga seriam associadas a falhas verticais uma vez que associa-se à transição da Zona Ul-
rasas (< 500 m de profundidade), contatos verti- tramáfica para a Zona Máfica do complexo, em um
cais ou diques, como caracterizado pela deconvo- intervalo caracterizado por fracionamento normal,
lução Euler 3D do campo magnético anômalo (Sou- sem evidências de novas injeções na câmara mag-
za Filho et al. 2007). mática. Adicionalmente, é hospedada por cumula-
dos ígneos com mineralogia e textura bem pre-
Gênese das mineralizações de Cromo-Níquel-EGP servados, sem presença de sulfetos ou associa-
ção com cromititos e sem evidências de processos
O minério de Cromo, assim como a mineraliza- hidrotermais. Tais características, segundo os au-
ção de EGP associada a níveis ricos em sulfetos e tores, são indicativas de cristalização de cumula-
hospedada em níveis de cromititos, é considera- dos de Minerais do Grupo da Platina diretamente
do ortomagmático (Girardi et al. 2006, Ferreira Fi- a partir do magma, a partir da saturação em EGP
lho et al. 2007). devido ao seu enriquecimento residual durante a
No “Luanga Reef”, aspectos texturais e mine- cristalização fracionada do magma silicático. Des-
ralógicos sugerem que os sulfetos foram forma- sa forma, existe potencial para formação de de-
dos a partir da segregação de um líquido sulfeta- pósitos de Ni-EGP magmáticos com características
do imiscível separado do magma silicático de com- distintas, o que evidencia ainda mais a marcante
posição máfica. Esse processo de segregação te- diversidade metalogenética da Província Carajás
ria sido favorecido por eventos periódicos de no- (Ferreira Filho et al. 2007).
vas injeções do magma primitivo e, possivelmen-
te, também de magma parcialmente contaminado Depósitos de Manganês
por material crustal, concomitante à cristalização
fracionada, como evidenciado pelas mudanças No Domínio Carajás, a Formação Águas Claras

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Metalogêmese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Província Carajás

(Nogueira et al. 1995) hospeda os depósitos de ROCHAS HOSPEDEIRAS


Manganês do Azul e do Sereno, esse último corre-
lacionado ao depósito de Buritirama (Dardenne & As rochas hospedeiras do minério, pertencen-
Schobbenhaus 2001). tes à Formação Águas Claras, afloram no núcleo
O depósito de Manganês do Azul (Fig. 22) si- de um anticlinal assimétrico com eixo E-W com ca-
tua-se a 10 km ao sul da Mina de Ferro N4, foi imento para W. Incluem siltitos e arenitos finos,
descoberto em 1971 durante campanhas de reco- marrons, vermelhos, brancos e amarelos, maciços,
nhecimento geológico para pesquisa de minério laminados a bandados, com lentes de folhelhos
de Ferro. A Mina do Azul, a céu aberto, operada negros ricos em matéria orgânica e/ou óxi-hidró-
pela VALE, então Cia. Vale do Rio Doce, entrou em xidos de Manganês (cripnomelana) e margas ro-
produção em 1985, quando também foi implanta- docrosíticas (Costa et al. 2005). Vênulas com piri-
da uma unidade de tratamento de minério (Silva ta e calcopirita ou com óxi-hidróxidos de Manga-
1988). Atualmente, o minério é lavrado em três nês, quartzo, rodocrosita e caolinita cortam as
minas na área denominada Azul. Em 2006, as re- rochas sedimentares.
servas eram de 13,4 Mt de material detrítico, 31,06
Mt de material pelítico e 9,9 Mt de bióxido de Man- PROTOMINÉRIO DE MANGANÊS
ganês totalizando 54,36 Mt (Dardenne & Schob-
benhaus 2001). Em 2007 foi atingida uma produ- O protominério de Manganês foi considerado
ção de 945 mil toneladas (Mártires e Santana em estudos iniciais como relacionada a duas uni-
2008). dades manganesíferas, superior e inferior, corres-
Na Mina do Azul, o corpo mineralizado é orien- pondentes à marga manganesífera e rocha car-
tado segundo a direção E-W e ressaltado por fai- bonática manganesífera, respectivamente. Essas
xa contínua de blocos manganesíferos, margea- unidades seriam compostas essencialmente por
das por faixas descontínuas com pisólitos manga- cristais micríticos de rodocrosita, quartzo, illita, clo-
nesíferos. Associa-se a anticlinório assimétrico de rita, muscovita, smectita, caolinita, feldspato, piri-
eixo E-W com caimento suave para E. ta e matéria orgânica (Bernadelli & Beisiegel 1978,

Figura 22 - Seção geológica transversal da Mina do Azul mostrando a sucessão de rochas sedimentares e a
topo-sequência laterítica (adaptado de Costa et al. 2005).

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Lena Virgínia S. Monteiro, Roberto P. Xavier, Carlos R. de Souza Filho & Carolina Penteado N. Moreto

Valarelli et al. 1978, Silva 1988). O avanço das fren- mação da pirita. Condições análogas são descri-
tes de lavra e sondagens mais profundas eviden- tas para o período imediatamente posterior ao
ciaram, segundo Costa et al. (2005), que as mar- Grande Evento de Oxidação em 2,1±0,2 Ga, perí-
gas ou folhelhos carbonáticos com rodocrosita ocor- odo no qual outros importantes depósitos mundi-
rem como lentes e camadas delgadas de rocha ais de Manganês foram formados no Gabão e na
cinza-esverdeada sem matéria orgânica, interca- África do Sul. Segundo os autores, esses dados
ladas aos siltitos. sugerem uma idade paleoproterozóica para a For-
Um dos minérios mais ricos da mina, considera- mação Águas Claras, relacionada a uma importante
do primário, associa-se a lentes e camadas de fo- época metalogenética para formação de depósi-
lhelhos negros com óxi-hidróxidos de Manganês, tos manganesíferos sedimentares.
classificados como bióxido ou criptomelana, ricos
em matéria carbonosa, com centenas de metros MINÉRIO LATERÍTICO DE MANGANÊS
de extensão aparente e espessura máxima de 5
m, alojadas em siltitos vermelhos listrados. Segundo Costa et al. (2005), o perfil laterítico é
profundo (< a 100 m), bem desenvolvido e madu-
GÊNESE DA MINERALIZAÇÃO MANGANESÍFERA SE- ro, com espesso horizonte argiloso sobreposto ao
DIMENTAR domínio das lentes manganesíferas contidas nos
siltitos. O principal mineral de Manganês é a
Segundo Dardenne & Schobbenhaus (2001), o criptomelana, tanto herdada como neoformada,
protominério carbonático da Mina do Azul corres- ocorrendo também hollandita, todorokita,
ponderia a depósitos marinhos singenéticos for- pirolusita, litioforita e nsutita. Uma crosta laterítica
mados em bacias estratificadas na zona de talu- Ferro-aluminosa, nodular, brechóide e cavernosa
de, próximo da transição de uma bacia profunda a maciça, desenvolveu-se sobre o horizonte argi-
anóxica, no qual se depositaram folhelhos negros, loso, contendo também criptomelana e litioforita.
para um ambiente plataformal mais raso e oxida- A crosta laterítica encontra-se parcialmente trans-
do, com precipitação carbonática. Nesse contex- formada em materiais argilosos a terrosos, mar-
to, a rodocrosita representaria um produto diage- rom amarelos com esferolitos, que constituem so-
nético precoce a partir de matéria orgânica, en- los residuais ou depósitos de tálus. A lateritiza-
quanto a criptomelana foi considerada como pro- ção foi iniciada há 68 Ma, com maior desenvolvi-
duto da alteração supérgena da rodocrosita. mento entre 45 a 36 Ma, sendo seguida a partir
De acordo com Costa et al. (2005), no entanto, de 26 Ma por intenso intemperismo químico e, pos-
as lentes ricas em criptomelana também teriam ori- teriormente, físico-erosivo quando foram formados
gem sedimentar diagenética, relacionada à sedi- os solos residuais (Costa et al. 2005).
mentação em várias sub-bacias restritas nas quais
a diminuição de energia teria sido acompanhada Depósitos de Ouro laterítico
por aumento da atividade orgânica carbonosa. Nes-
se contexto, os óxi-hidróxidos de Manganês seri- Depósitos de Ouro laterítico no Domínio Cara-
am contemporâneos à sedimentação (Costa et al. jás incluem a Mina de Igarapé Bahia (Zang & Fyfe
2005). Deformação pós-diagenética seria respon- 1993, Angélica 1996, Porto et al. 2010) que pro-
sável por remobilização de Manganês e formação duziu, até 2003, cerca de 92 t de Ouro, além de
das vênulas com sulfetos e com óxi-hidróxidos de garimpos, entre os quais o de Cutia, localizado na
Mn, quartzo, rodocrosita e caolinita. Serra Leste (Domingos & Santos 2001).
Estudos de isótopos de Ferro (δ 57 Fe IRMM-14 = O depósito de Igarapé Bahia situa-se em um
1,02±0,2‰) e enxofre (δ34S = 11,97±0,12‰; δ33S platô escarpado, sustentado por regolito lateríti-
= 0,013±0,003‰) indicam assinatura isotópica co maduro (Costa 1991), formado há 50 a 70 Ma
para pirita cedo-diagenética da Formação Águas (Vasconcellos et al. 1994) durante o Ciclo geomor-
Claras distinta daquela da pirita formada em am- fológico Sul Americano, tendo sido alterado pelo
bientes marinhos modernos (Fabre et al. 2011). Ciclo Geomorfológico Velhas, subsequente, respon-
Essas assinaturas isotópicas indicam condições de sável por formação de latossolos que encobrem
fugacidade de oxigênio relativamente elevadas, as encostas (Medeiros Filho 2002).
mas limitada disponibilidade de sulfato para a for- A espessura do regolito das brechas hidroter-

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Metalogêmese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Província Carajás

mais mineralizadas atinge até 200 m, sendo que foram remobilizados e incorporados na zona fer-
nos 150 m superiores os corpos gossânicos com ruginosa, conforme o avanço do intemperismo e
goethita, hematita, gibbsita, caolinita e fosfatos erosão. Na terceira fase, após a elevação e a inci-
ricos em ETR representam a principal fonte do mi- são da paisagem, lixiviação de cloreto teria sido
nério de Ouro, muito empobrecido em Cobre (An- responsável por separar a Prata dos grãos de
gélica 1996). Uma zona de transição para o miné- Ouro. A presença de eléctrum na parte superior
rio primário de Cobre com malaquita, azurita, pseu- da zona ferruginosa pode ser atribuída às meno-
domalaquita, Cobre nativo, calcocita, digenita e res concentrações de cloreto na água subterrâ-
cuprita, ocorre de 150 m a 200 m. nea próximo à superfície e ao enriquecimento de
matéria orgânica que pode diminuir o potencial
ESTRATIGRAFIA DO REGOLITO redox e aumentar a estabilidade de Prata nativa.

Na área do depósito, a estratigrafia do regoli- Depósitos de Níquel laterítico


to, estabelecida por Santos (2006), inclui, da base
para o topo, saprólito argiloso e ferruginizado, ní- No Domínio Carajás, diversos corpos de rochas
vel silicoso, zona ferruginosa fragmentada, cros- máficas e ultramáficas acamadadas da Suíte In-
tas roxa, amarela e ocre, pisolíticas, ferruginosas trusiva Cateté (2.378 ± 55 Ma, Macambira & Tas-
e friável e crosta maciça e coesa recobertos por sinari 1998; ou 2.763 ± 6 Ma, Lafon et al. 2000)
latossolo, com concreções ferruginosas e pisóli- possuem cobertura laterítica relativamente espes-
tos, provavelmente depositado sobre a crosta, sa que contém concentrações supergênicas de Ní-
com teores muito baixos de Cobre e Ouro. quel, algumas associadas com Cobalto (Klein & Car-
O Ouro torna-se gradualmente enriquecido aci- valho 2008).
ma do saprólito, atingindo teores máximos na zona Entre os principais depósitos destacam-se Ver-
ferruginosa fragmentada. Na zona ferruginosa, melho com reservas provada + provável de 290
grãos de Ouro presentes em níveis superiores Mt de minério com 0,8% de Ni (Klein & Carvalho
apresentam o maior conteúdo de Prata. Acima 2008), Puma (34 Mt com 2,21% Ni, 0,07% Co e
desse nível, os teores de Ouro diminuem no perfil 22,60% Fe; Porto & Silva 2004, em Klein & Carva-
regolítico. Os conteúdos de Cobre, por sua vez, lho 2008), Serra da Onça (70 Mt com 2,12% Ni,
diminuem progressivamente a partir dos 20 m su- 0,12% Co e 21,77% Fe; Porto & Silva 2004), Jaca-
periores do saprólito (Porto et al. 2010). ré (53,9 Mt com teor médio de 1,41% de Ni; Cas-
Quando ainda presentes no perfil de alteração, tro Filho e Mattos 1986), Jacarezinho (23,4 Mt com
a 170 m, calcopirita e pirita apresentam micro in- teor médio de 1,19% de Ni; Castro Filho & Mattos
clusões de Au e Ag. Em gossans a 168 m, na zona 1986), Mundial/Carapanã (30 Mt com 1,4% Ni;
ferruginosa fragmentada, óxi-hidróxidos de Ferro Corrêa 2006) e as ocorrências de Fafá e Terra Mo-
e clorita neoformada a partir de anfibólio, apre- rena (Klein & Carvalho 2008).
sentam finas partículas (<10 mm) de Au-Ag incor-
poradas, que ocorrem como: grãos arredondados DEPÓSITO MODELO: DEPÓSITO DE VERMELHO
em cavidades associados a goethita coloforme,
grãos irregulares preenchendo fraturas na goe- O depósito de Vermelho é formado a partir da
thita e cristais sub-idioblásticos associados a go- alteração laterítica de dois corpos de rochas máfi-
ethita amorfa e em agulhas (Zang & Fyfe 1995). co-ultramáficas, denominados de V1 e V2, que com-
Em níveis superiores, a 6 m, partículas de Au ocor- preendem três unidades diferenciadas, em uma
rem incorporadas a uma matriz de óxi-hidróxidos disposição aproximadamente concêntrica, apre-
de Ferro e restos de clorita. sentando do centro para a borda dunitos e peri-
dotitos intensamente serpentinizados, piroxenitos
GÊNESE DO DEPÓSITO DE OURO LATERÍTICO e gabros (Alves et al. 1986). Na zona ultramáfica
registra-se a presença de diques de natureza pi-
De acordo com Zang & Fyfe (1995), nos primei- roxenítica. O depósito de Níquel do Vermelho é
ros estágios de intemperismo íons de tiossulfato constituído por perfis de alteração desenvolvidos
seriam responsáveis pelo trasporte de Ouro e Pra- essencialmente sobre os dunitos intensamente
ta no saprólito. Na segunda etapa, Ouro e Prata serpentinizados que estão situados na porção cen-

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Lena Virgínia S. Monteiro, Roberto P. Xavier, Carlos R. de Souza Filho & Carolina Penteado N. Moreto

tral dos dois corpos de rochas ultramáficas. Os sob condições climáticas mais secas, resultou em
perfis desenvolvidos sobre as demais rochas apre- silicificação generalizada, principalmente ao longo
sentam teores muito baixos de Níquel, sendo con- das fraturas, na base do perfil, isolando bolsões
siderados estéreis. de rocha fresca. Posteriormente, uma mudança cli-
mática favoreceu a erosão e um novo ciclo de la-
PERFIL LATERÍTICO teritização que atingiu esses bolsões e levou ao
desenvolvimento de um perfil laterítico abaixo do
O perfil típico do depósito (Alves et al. 1986, nível silicificado.
Carvalho e Silva & Oliveira 1995) foi desenvolvido
a partir de rocha constituída por serpentina, opa- Depósitos de bauxita
cos e restos de olivina e piroxênio e inclui, da base
para o topo, saprólito grosso com serpentina, clo- O depósito de bauxita do Platô N5 foi desco-
rita, esmectita, espinélios, opacos, goethita, quart- berto no final de 1974, quando foi constatada a
zo e calcedônia, além de produtos amorfos e goe- existência de nível de 4,5 m de espessura de bau-
thita, saprólito fino com goethita, clorita, quartzo, xita metalúrgica desenvolvido a partir de rochas
espinélios e caolinita e laterita vermelha. básicas do Grupo Grão Pará sem cobertura esté-
O minério silicático ou garnierítico com até 3- ril. Trabalhos de pesquisa seguiram-se à desco-
4% Ni relaciona-se aos horizontes de saprólito berta da ocorrência, conduzidos pela Amazônia Mi-
grosso, enquanto o minério oxidado com até 2% neração S.A, em 1974, e pela Docegeo, entre 1979
Ni é representado por saprólito fino. e 1983. As reservas foram estimadas em 48,92 Mt
As fases portadoras do Níquel no minério sili- de minério bruto, com espessura média de 4,2 m
catado seriam serpentinas, clorita e os produtos e sem capeamento estéril, e teores de 34,9% de
amorfos sílico-ferruginosos, além de esmectita su- Al2O3, 1,7 % de SiO2, 25% de Fe2O3 e 3,9 % de TiO2
bordinada, enquanto no minério oxidado a goe- (Alves 1988).
thita e a clorita representariam as fases portado- A área do depósito é representada por platô
ra de Ni, embora esmectita niquelífera e talco ni- de contornos irregulares, delimitado por encostas
quelífero mal cristalizado também tenham sido des- íngremes que compreende, do topo para base, (i)
critos (Bernadelli et al. 1983, Carvalho e Silva & (0,0 - 4,5 m) horizonte argiloso, terroso, friável e
Oliveira 1995). ferruginoso com elevado teor de alumina; (ii) (4,5
A sílica, presente sob a forma de quartzo e cal- – 13,35 m) laterita ferruginosa, normalmente dura,
cedônia, distribui-se em finos veios em vários ní- porosa, às vezes pisolítica, com teores muito bai-
veis do perfil de alteração, mas se concentra em xos de sílica, e (iii) (a partir de 13,35 m) material
duas zonas distintas (entre 5-10m e entre 18-22m) argiloso e plástico, silicoso, que representa o pro-
do minério oxidado, constituindo silcrete. Blocos duto da alteração de rochas básicas.
silicificados encontrados imersos no saprolito fino O processo de alteração supérgena das rochas
podem apresentar restos de rocha fresca a parci- básicas, em condições de clima tropical com esta-
almente alterada. A persistente presença da clo- ções alternadas chuvosas e secas, relevo apro-
rita de origem hipógena ao longo de praticamen- priado e ação de ácidos orgânicos, seria respon-
te todo o perfil de alteração, exceto nos seus ní- sável pela remoção de sílica, potássio, magnésio,
veis superiores representados pela laterita ver- sódio e cálcio no perfil de alteração.
melha, é uma peculiaridade do depósito do Ver- Kotschoubey & Lemos (1985) descrevem uma
melho. Uma explicação para sua estabilidade ex- evolução complexa em oito fases, alternando pe-
cepcional no ambiente laterítico pode ser a incor- ríodos de alteração intempérica mais ou menos
poração do Níquel disponível em substituição ao acentuada com períodos caracterizados pelo apor-
magnésio liberado à medida que a clorita se alte- te de materiais alóctones e/ou retrabalhamento
ra (Carvalho e Silva & Oliveira 1995). in situ. Essa evolução teria envolvido: (1) altera-
ção da rocha mãe, (2) retrabalhamento do topo
GÊNESE DO DEPÓSITO DE NÍQUEL LATERÍTICO do horizonte alterado com contribuição de materi-
al alóctone, (3) alteração (ferralitização) do mate-
Dois estágios são propostos por Bernardelli et rial depositado na etapa anterior, (4) desmante-
al. (1983) para a gênese do depósito. O primeiro, lamento da crosta ferralitizada, (5) bauxitização e

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Metalogêmese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Província Carajás

formação de cimento gibbsítico, (6) retrabalhamen- Ga; Huhn et al. 1999b ou 2,57 Ga; Réquia et al.
to, (7) deposição de bauxita terrosa e (8) aplaina- 2003, Tallarico et al. 2005).
mento, soerguimento regional, reativação da ero- Os depósitos de Níquel-EGP, assim como os de
são e individualização dos platôs. Cromo, seriam ortomagmáticos, porém formados
por processos diversos, que incluiriam segrega-
CONSIDERAÇÕES FINAIS ção de um líquido sulfetado imiscível coletor de EGP
no “Luanga Reef”, Complexo Luanga, ou, no caso
A distinta evolução geológica dos domínios Rio do Complexo Serra da Onça, cristalização de cu-
Maria e Carajás reflete-se de forma notável na me- mulados de Minerais do Grupo da Platina direta-
talogênese da Província Carajás. No Domínio Rio mente a partir do magma (Ferreira Filho et al.
Maria, os depósitos de Ouro apresentam a diver- 2007). O modelo genético proposto para o “Luan-
sidade esperada para os depósitos auríferos oro- ga Reef” por Ferreira Filho et al. (2007) seria aná-
gênicos. Essa classe, que inclui depósitos hospe- logo ao de Naldrett (2004) para os depósitos es-
dados comumente em sequências de greenstone tratiformes de EGP associados a sulfetos de
belts localizados ao longo de zonas de cisalhamen- Bushveld (Merensky Reef), Stillwater (J-M Reef) e
to, seria relacionada à circulação regional de flui- Great Dyke (Main Sulfide Zone).
dos associados à evolução dos orógenos, ou seja, Embora os grandes depósitos de EGP magmá-
ao tectonismo em margens convergentes (Groves ticos tenham sido formados predominantemente
et al. 1998, Goldfarb et al. 2001). no interior de crátons arqueanos, grande parte
Embora o depósito de Cumaru, espacialmente dos depósitos de Ni-(Cu-EGP) são relacionados com
relacionado à intrusão granodiorítica, tenha sido a ascensão de plumas mantélicas ao longo de ir-
considerado distinto, sua gênese pode ser inseri- regularidades nos limites litosféricos abaixo das
da no mesmo contexto dos demais depósitos, na margens de crátons arqueanos (Maier & Groves
qual a relação temporal e espacial com granitói- 2011). Esse ambiente geológico também foi con-
des indicaria que tanto magma como fluidos re- siderado propício à formação de depósitos IOCG,
presentam produtos inerentes à evolução termal relacionados a underplating do manto ou eventos
durante as orogêneses (Goldfarb et al. 2001). de superplumas e magmatismo granítico tipo A
As relações geológicas descritas por Santos et (Pirajno et al. 2008, Groves et al. 2010). Além dis-
al. (1998) permitem considerar a gênese do depó- so, a associação espacial de depósitos de Ni–(Cu)
sito de Cumaru como posterior ao metamorfismo e de IOCG também já foi caracterizada no contex-
regional da sequência greenstone belt, tardi-tec- to de colisão oblíqua e/ou continente–continente
tônica em relação ao desenvolvimento da zona de na Ossa Morena Zone, Iberia, desenvolvida duran-
cisalhamento e associada a magmatismo mesoar- te a orogenia Variscan (Tornos & Casquet 2005).
queano (ca. 2,82 Ga). Embora informações relati- Em Carajás, o contexto tectônico proposto para
vas às idade das demais mineralizações auríferas o Neoarqueano (ca. 2,76 – 2,74 Ga) seria relativo
no Domínio Rio Maria sejam escassas, possivel- à abertura de um rifte continental para a forma-
mente também formaram-se durante o último ção da Bacia Carajás (Wirth et al. 1986, Gibbs et
evento tectonotermal que antecedeu à cratoniza- al. 1986, DOCEGEO 1988, Tallarico et al. 2005) ou
ção do Domínio Rio Maria em ca. 2,86-2,80 Ga. Sua ambiente de arco vulcânico associado a subduc-
formação durante o Mesoarqueano coincide com ção (Dardenne et al. 1988, Meirelles & Dardenne
uma época metalogenética (ca. 2,8–2,55 Ga; Gol- 1993, Teixeira 1994), seguido por colisão conti-
dfarb et al. 2001) extremamente favorável para a nente-continente em ca. 2,74 Ga, responsável pela
formação de depósitos auríferos orogênicos, como justaposição dos domínios Rio Maria e Carajás (Tei-
os reconhecidos em sequências de greenstones xeira et al. 2010).
dos crátons Yilgarn, na Austrália, Dharwar, na In- Os dois cenários poderiam ser compatíveis com
dia, Slave, no Canadá, São Francisco, no Brasil, e a associação espacial de IOCGs e depósitos de
Tanzânia. Ni-EGP magmáticos, porém, tem implicações dis-
No Domínio Carajás, a metalogênese do Arque- tintas para a gênese dos depósitos e para a ex-
ano refere-se principalmente aos depósitos de Cro- ploração mineral. No primeiro caso, grandes zo-
mo e Níquel-EGP (ca. 2,76 Ga; Machado et al. 1991, nas de cisalhamento translitosféricas E-W, que
Lafon et al. 2000) e aos depósitos IOCG (ca. 2,74 marcam os limites dos domínios tectônicos, exer-

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Lena Virgínia S. Monteiro, Roberto P. Xavier, Carlos R. de Souza Filho & Carolina Penteado N. Moreto

ceriam um controle de primeira ordem. A herança néticos formados em bacias estratificadas, próxi-
de magmas originados a partir da fusão do manto mo à transição de uma bacia profunda anóxica
litosférico subcontinental metassomatizado duran- para um ambiente plataformal mais raso e oxige-
te processos anteriores de subducção, seria im- nado (Dardenne & Schobbenhaus 2001) ou em
portante para explicar as características do mag- várias sub-bacias restritas (Costa et al. 2005). As
matismo e dos fluidos magmáticos associados aos condições de fO2 do oceano durante a deposição
depósitos IOCG (Hayward & Skirrow 2010, Groves da Formação Águas Claras seriam análogas às do
et al. 2010). No segundo, a associação com depó- período imediatamente posterior ao Great Oxidati-
sitos de Cu-Mo do tipo pórfiro, de Au epitermais e on Event em 2,1±0,2 Ga, que representa uma im-
escarnitos, vinculado a magmatismo cálcio-alcali- portante época metalogenética para formação de
no seria esperada, mas intrusões máfico-ultramá- depósitos manganesíferos sedimentares, como os
ficos muito profundas poderiam estar relaciona- do Gabão e da África do Sul (Fabre et al. 2011), o
das à origem do magmatismo associado aos de- que pode sugerir idade proterozóica para a For-
pósitos IOCG. mação Águas Claras. Contudo, se a idade arque-
O retrabalhamento crustal no Neoarqueano e ana da Formação Águas Claras, relativa a sill de
o desenvolvimento de grandes zonas de cisalha- metagabro intrusivo (2.645 ± 12 Ma U-Pb, Dias et
mento permitiram circulação de fluidos hidroter- al. 1996; 2.708 ± 37 Ma U-Pb, Mougeot et al. 1996)
mais em larga escala em Carajás. Particularmente for confirmada, mudanças nas condições físico-quí-
no Complexo Luanga, processos metamórficos-hi- micas dos oceanos no final do Neoarqueano na
drotermais reconhecidos em clorita-tremolita-ac- Província Carajás poderiam ser evidenciadas. Isso
tinolita-talco milonitos com mineralização de EGP tem particular relevância para a compreensão da
(Suita 1988, Ribeiro 2004, Ribeiro et al. 2005, Sui- evolução de depósitos IOCG, nos quais componen-
ta et al. 2005), podem ter resultado também em tes derivados da água oceânica foram apontados
mobilização e redistribuição de EGP a partir de por métodos indiretos (eg. isótopos de boro, Xa-
sulfetos magmáticos devido à interação fluido-ro- vier et al. 2008; razões Cl/Br–Na/Cl, Xavier et al.
cha envolvendo fluidos salinos. Esses processos 2009; isótopos estáveis; Pestilho 2011) e poderi-
são análogos aos descritos nos depósitos de Cu- am refletir o ambiente de formação de alguns dos
Ni-(EGP) de Rathbun Lake, Canadá (Rowell & Ed- depósitos.
gar 1986), New Rambler, EUA (Nyman et al. 1990), Durante o Paleoproterozóico, a evolução me-
EGP de Jinchuan, China (Yang et al. 2006) e Ni– talogenética da Província Carajás foi fortemente
Cu–Co-(EGP) de Ferguson Lake, Canada (Campos- associada à colocação de granitos tipo A, anoro-
Alvarez et al. 2012). Têm especial importância para gênicos, em ca. 1,88 Ga. No Domínio Rio Maria, a
a evolução metalogenética de Carajás, visto que principal reserva de Tungstênio conhecida na Ama-
podem ter contribuído para a especialização dos zônia é representada pelo depósito de Pedra Pre-
depósitos de Ouro-EGP hospedados em rochas ta (Rios et al. 1988, 2003), espacialmente relacio-
metassedimentares (Serra Pelada) e dos IOCG, nado à cúpula do Granito Musa. Sua colocação
que apresentam concentrações significativas de pode ter favorecido o estabelecimento do siste-
EGP, notadamente de paládio (eg. Sossego; Mon- ma hidrotermal, contudo o papel de fluidos hidro-
teiro et al. 2008b; Carvalho 2009). termais externamente derivados foi sugerido (Rios
Também durante o Arqueano, os jaspilitos da et al. 2003).
Formação Carajás, Grupo Grão Pará (ca. 2,76 Ga; No Domínio Carajás, depósitos de Cu-Au-(Mo-
Machado et al. 1991) formaram-se em ambiente W-Bi-Sn) e Cu-Au-(Li-Be-Sn-W), tais como Breves,
marinho a partir da oxidação parcial do Fe2+ aq na Águas Claras e Estrela, além de ocorrências esta-
superfície do oceano, subsequente à ressurgên- níferas, relacionam-se espacial e temporalmente
cia hidrotermal de águas marinhas anóxicas e pro- com a colocação de granitos anorogênicos do tipo
fundas (Lindenmayer et al. 2001, Macambira 2003, A. Os depósitos IOCG Alvo 118 (Tallarico 2003),
Fabre et al. 2011). Gameleira (Pimentel et al. 2003) e Igarapé Cin-
Os depósitos manganesíferos hospedados na zento (Silva et al. 2005) também apresentam ida-
Formação Águas Claras, que apresentam impor- de paleoproterozóica. Embora compartilhem evo-
tante enriquecimento supergênico, têm gênese lução paragenética e fluidal muito semelhante com
inicial semelhante à de depósitos marinhos singe- os demais depósitos arqueanos dessa classe, fo-

83
Metalogêmese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Província Carajás

ram considerados como tipos híbridos ou transici- a canalização dos fluidos.


onais devido à idade. Contudo, não é claro se os A evolução metalogenética da Província Cara-
sistemas hidrotermais IOCG desenvolveram-se epi- jás inclui ainda a formação de depósitos lateríti-
sodicamente, como já reportado para outras im- cos de Ouro, Níquel, Bauxita e enriquecimento su-
portantes províncias com depósitos IOCG (e.g. Se- pergênico nos depósitos de Ferro e Manganês, que
lwyn-Mount Dore, Mount Isa, Australia; Duncan et teriam se desenvolvido a partir de 70 a 68 Ma (Vas-
al. 2011) ou se sistemas hidrotermais arqueanos concellos et al. 1994, Costa et al. 2005) durante o
foram sobrepostos por processos hidrotermais de- Ciclo Geomorfológico Sul Americano, sendo alte-
correntes da circulação regional de fluidos hiper- rados pelo Ciclo Geomorfológico Velhas, com perí-
salinos e metalíferos em ca. 1,88 Ga. odos de significativo desenvolvimento entre 45 a
Tanto o depósito de Au-EGP de Serra Pelada 36 Ma e de intenso intemperismo químico a partir
(1.861±45 Ma; Grainger et al. 2008) como o siste- de 26 Ma, seguidos por intemperismo físico-erosi-
ma magmático-hidrotermal associado aos depósi- vo (Costa et al. 2005).
tos de Ferro de Carajás, foram também conside-
rados paleoproterozóicos e relacionado à coloca- Agradecimentos Agradecimentos especiais deve-
ção dos granitos anorogênicos em ca. 1.88 Ga (Lo- se à VALE, em particular aos geólogos Márcio Go-
bato et al. 2005; Figueiredo e Silva et al. 2008). doy, Benevides Aires, Cleive Ribeiro, Roberta P.S.
Dessa forma, a especialização metalogenética Morais e Fabrício Franco. À FAPESP (03/09584-3,
dos depósitos paleoproterozóicos de Carajás é al- 03/01996-6) e ao CNPq (555065/2006-5, 472549/
tamente variável, como exemplificado pelos depó- 2009-0, 309285/2011-9) pelos auxílios concedi-
sitos de W, Sn, Au-EGP, Fe, Fe-Cu-Au-(ETR), Cu- dos. Esse trabalho é uma contribuição ao INCT Ge-
Au-(Mo-W-Bi-Sn) e Cu-Au-(Li-Be-Sn-W). Segundo ociências da Amazônia (CNPq/MCT/FAPESPA).
Botelho et al. (2005), a associação metalífera em
um único depósito incluiria elementos herdados de REFERÊNCIAS
rochas ou depósitos mais antigos, tais como Cu,
Au, Mo, As, Co, Ni, U e ETR, como caracterizado no Almada M.C.O. & Villas, R.N. 1999. O depósito Bahia:
um possível exemplo de depósito vulcanogenênico
depósitos de Cu-(Au-W-Mo-Sn) de Breves. Apenas tipo Besshi arqueano em Carajás. Rev. Bras. Geoc.,
Sn e W seriam relacionados diretamente ao mag- 29:579-592.
Almeida J.A.C., Dall’Agnol R., Dias S.B., Althoff F.J. 2010.
ma reduzido, intraplaca, associado à granitogê- Origin of the Archean leucogranodiorite–granite sui-
nese do tipo A, como é típico de províncias estaní- tes: Evidence from the Rio Maria terrane and impli-
cations for granite magmatism in the Archean. Li-
feras.
thos, 187:201-221.
Dessa forma, a especialização metalogenética Almeida J.A.C., Dall’Agnol R., Oliveira M.A., Macambira
dos depósitos paleoproterozóicos apenas pode- M.J.B., Pimentel M.M., Rämö O.T., Guimarães F.V.,
Leite A.A.S. 2011. Zircon geochronology and geo-
ria ser explicada por variações na afinidade geo- chemistry of the TTG suites of the Rio Maria grani-
química e estado de oxidação do magma, talvez te-greenstone terrane: implications for the growth
of the Archean crust of Carajás Province, Brazil.
vinculada a mecanismos de flat subduction, seme-
Precamb. Res., 120:235-257.
lhantes aos caracterizados na região de São Félix Almeida J.A.C., Oliveira M.A., Moura C.A.V., Oliveira D.C.
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dos à Formação Águas Claras. Nesse contexto, Angélica R.S. 1996. Mineralogia e geoquímica de gos-
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rozóicas seriam potencialmente importantes para

84
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92
Maria da Glória da Silva et al.

METALOGÊNESE DO SETOR SETENTRIONAL DO CRÁTON DO SÃO


FRANCISCO

MARIA DA GLÓRIA DA SILVA1,2 , JOÃO BATISTA GUIMARÃES TEIXEIRA1, AROLDO MISI1,


SIMONE CERQUEIRA PEREIRA CRUZ1 & JOSÉ HAROLDO DA SILVA SÁ1

1 - Grupo de Metalogênese, Centro de Pesquisa em Geofísica e Geologia, Universidade Federal da Bahia,


Campus Universitário de Ondina, 40170-290, Salvador, BA.
2 - Serviço Geológico do Brasil (CPRM), Av. Ulysses Guimarães, 2862, Sussuarana, Centro Administrativo da
Bahia, 41213, Salvador, BA.

INTRODUÇÃO foram gerados tanto por fluidos oriundos do mag-


matismo anatético quanto por fluidos movimenta-
O Cráton do São Francisco (CSF), como defini- dos pela excitação térmica gerada pela colocação
do por Almeida (1977), consiste numa porção bem e resfriamento destes magmas.
exposta da Plataforma Sul Americana, cujo subs- Na transição Estateriano/Calimiano (1750 a
trato é constituído por rochas arqueanas e paleo- 1600Ma), o setor central do CSF foi palco de tafro-
proterozóicas que não teriam sido afetadas pelos gênese, com a abertura do rifte do Espinhaço, que
eventos tectonotermais neoproterozóicos da oro- resultou na geração de um magmatismo anorogê-
gênese Brasiliana. Inclui grande parte dos esta- nico por fusão crustal e datado em 1750Ma (U-Pb
dos da Bahia e Minas Gerais, sendo limitado por zircão) por Schobbenhaus et al. (1994).
faixas móveis de idade neoproterozóica (Fig. 1). Trata-se de um magmatismo alcalino potássico
O contorno sul do Craton do São Francisco foi do tipo A 2, representado por rochas plutônicas
modificado por Alkmim (2004), com base em da- metaluminosas (Suíte Intrusiva Lagoa Real) e vul-
dos de campo e geocronológicos que revelaram cânicas/subvulcânicas (Formação Pajeú, no domí-
que parte do embasamento do “Corredor do Pa- nio do Espinhaço Setentrional e tectonossequên-
ramirim” foi modificado por deformação e metamor- cia Novo Horizonte, na Bacia Espinhaço Oriental)
fismo rocessos da orogênese Brasiliana (Fig. 1). além da deposição de espessa pilha de sedimen-
No Estado da Bahia, a consolidação do emba- tos eólicos, flúvio-lacustres, continentais costeiros
samento da área que hoje faz parte do Cráton do eólicos e marinhos litorâneos (Guimarães et al.
São Francisco é atribuída à colisão paleoprotero- 2008). O rifte consiste em uma depressão com cer-
zóica (riaciana/orosiriana) que envolveu os blocos ca de 500km de comprimento e 50 a 100km de
arqueanos de Gavião, Jequié e Serrinha e o Cin- largura, de direção NNW-SSE, cujo substrato com-
turão Itabuna-Salvador-Curaçá (Sabaté et al. preende terrenos arqueanos do tipo TTG, grani-
1990, Barbosa & Sabaté 2004). tóides paleoproterozóicos do tipo I e sequências
Processos metalogenéticos que ocorreram do tipo greenstone belt.
anteriormente, durante e posteriormente a esta Em decorrência dessa tectônica extensional, no
fase colisional, produziram grande número de de- intervalo entre 1600 e 1500Ma (Calimiano), ocor-
pósitos minerais, com destaque para ouro, cobre, reu a instalação da Bacia Chapada Diamantina,
cromo, ferro-titânio-vanádio, ferro, zinco, chumbo, superposta ao rifte Espinhaço (Guimarães et al.
níquel, magnesita e talco. 2008). Trata-se de uma sinéclise alongada NS, na
A sobrelevação do manto durante o colapso qual foram armazenados mais de 1000 m de sedi-
extensional pós-orogênico produziu fusão crustal, mentos siliciclásticos e carbonáticos, de ambien-
dando origem a intrusões leucograníticas, e fusão tes continental costeiro, eólico-fluvial e marinho
mantélica com extração de magma básico e gera- plataformal (Supersequência Tombador/Caboclo).
ção de diques e soleiras de gabro e diabásio (Tei- A essa fase extensional estão associados diques
xeira et al. 2007). Depósitos de ouro e esmeralda e soleiras máficos de filiação toleítica continental,

93
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Setor setentrional do Cráton Sao Francisco

datados ao redor de 1500 Ma, que intrudem as Criogeniano, entre 900 e 600Ma (Brito Neves et
rochas sedimentares. O conjunto de rochas das al. 1999, Condie 2002, Cordani et al. 2003, Misi et
bacias do Espinhaço e da Chapada Diamantina al. 2007). Na porção norte do CSF os registros
constitui o Supergrupo Espinhaço. dessa extensão compreendem sucessões sedi-
As bacias sedimentares neoproterozóicas na mentares carbonáticas e siliciclásticas represen-
América do Sul evoluíram como consequência de tadas pelo Grupo Bambuí, na Bacia do São Fran-
eventos extensionais durante a fragmentação do cisco, pelo Grupo Una, nas bacias de Irecê e Una-
paleocontinente Rodínia, na transição Toniano/ Utinga, e pelo Grupo Rio Pardo, na Bacia do Rio

Figura 1 - Mapa geológico do setor norte do Cráton do São Francisco (BA). Unidades geológicas com base em
Schobbenhaus et al. (2004). .

94
Maria da Glória da Silva et al.

Pardo (Misi et al. 2005, Sanches et al. 2007). sivelmente relacionados a segmentos tectonica-
A convergência dos blocos continentais do Gon- mente espessados. Na Figura 2a merecem desta-
dwana Ocidental envolveu uma série de colisões que os baixos gravimétricos relativos ao rifte fa-
de crátons e microcontinentes ao longo de um in- nerozóico do Recôncavo e ao rifte paleo-mesopro-
tervalo de tempo de ca. 400Ma. Os primeiros re- terozóico do Paramirim.
gistros de colisão situam-se em torno de 800Ma e O mapa do campo magnético total (Fig. 2b)
os episódios mais importantes, relacionados ao mostra a presença dominante de rochas de alta
evento orogenético Brasiliano/Panafricano, ocor- magnetização (granitóides ricos em magnetita,
reram entre 650 e 500Ma (Cordani et al. 2003). sequências do tipo greenstone belt, corpos máfi-
Esse evento produziu vários depósitos minerais, cos-ultramáficos) no contexto do Cinturão Itabu-
incluindo ouro e diamante em kimberlitos. na-Salvador-Curaçá, nas faixas maginais norte e
Após a consolidação do Gondwana Ocidental, sul do cráton e no vale do Paramirim. Esses altos
o colapso do orógeno brasiliano produziu volumo- magnéticos coincidem, em grande parte, com a lo-
so magmatismo granítico na Faixa Araçuaí (Cor- calização de jazimentos de Fe, Ni, Cr, Ti e V, e de
rêa-Gomes et al. 2002, Marshak et al. 2006). metais-base com magnetita.
A compilação dos dados gravimétricos e mag-
netométricos do estado da Bahia (Figs. 2a e b) EVOLUÇÃO METALOGENÉTICA DO CRÁTON DO
confrontados com o mapa geológico, explicíta bem SÃO FRANCISCO
a estruturação da porção norte do CSF e suas fai-
xas marginais. A figura 2a mostra claramente os Os recursos minerais hospedados nas rochas
altos gravimétricos correspondentes ao conjunto do embasamento do setor norte do Cráton do São
de rochas metamórficas de alto grau, associadas Francisco estão relacionados às diferentes etapas
a terrenos granito-greenstone e intrusões máfi- evolutivas desse segmento crustal e distribuem-
co-ultramáficos que compreendem a infraestrutu- se no extenso intervalo de 3300 a 500Ma, incluin-
ra arqueana-paleoproterozóica do cráton (Blocos do uma diversidade de tipos de depósitos mine-
Gavião e Jequié e Cinturão Itabuna-Salvador-Cu- rais (Figs. 3 e 4).
raçá). Altos gravimétricos são também observa- No Arqueano destacam-se os depósitos asso-
dos nas zonas marginais da área cratônica, pos- ciados a terrenos granito-greenstone e a intrusões

Figura 2 - (A) Mapa integrado de anomalias Bouguer do Estado da Bahia, com base em grid quadrado de cerca
de 5km; (B) Mapa integrado de campo magnétido total do Estado da Bahia. Ambos os mapas foram gerados
a partir da base de dados aerogeofísicos do Serviço Geológico do Brasil-CPRM. Contorno do Cráton de acordo
com Almeida (1977).

95
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Setor setentrional do Cráton Sao Francisco

máfico-ultramáficas em terrenos do tipo TTG, a sitos situados na área cratônica, independente do


exemplo do zinco do greenstone belt de Mundo traçado adotado e, posteriormente, serão descri-
Novo, associação de Fe-Ti-V±EGP de Maracás, co- tos e discutidos aspectos relativos aos situados
bre do Vale do Curaçá, ferro de Caetité e de mag- nas zonas limítrofes, sul e norte do cráton.
nesita-talco de Brumado. A associação Pb-Zn de
Boquira tem sido descrita como Arqueana, embo- Depósitos paleoarqueanos de Zn de Mundo Novo
ra hajam controvérsias em relação a essa idade.
No Paleoproterozóico foram gerados, dentre Depósitos de zinco têm sido investigados nos
outros, os depósitos de cromita de Santa Luz e vinte últimos anos pela Companhia Baiana de Pes-
do Vale do Jacurici, níquel de Fazenda Mirabela e quisa Mineral (CBPM) no embasamento paleoar-
de ouro e esmeralda da Serra de Jacobina. Igual- queano da Bahia, região entre as cidades de Mun-
mente, os depósitos de ouro de Fazenda Brasilei- do Novo, a norte, e Ruy Barbosa, a sul.
ro e de Fazenda Maria Preta, ambos no greensto- O minério está hospedado em rochas meta-vul-
ne belt do Rio Itapicuru, também tiveram origem canossedimentares do greenstone belt de Mundo
no Paleoproterozóico. Novo, como definido por Mascarenhas & Silva
Processos tectonotermais do Paleoproterozói- (1994). Estudos petrográficos e litogeoquímicos
co afetaram alguns depósitos arqueanos promo- realizados no Alvo da Fazenda Coqueiro por Bor-
vendo remobilização e enriquecimento metálico. ges et al. (2003, 2004) permitiram reconhecer a
No Mesoproterozóico destacam-se os depósi- presença de rochas metamáficas de fundo oceâ-
tos caliminianos de diamante detríticos da Chapa- nico (metabasalto e metagabro), metavulcânicas
da Diamantina, cuja fonte primária é até então félsicas a intermediárias com quimismo de arco
desconhecida. Os kimberlitos fertilizados do Bloco vulcânico (meta-riodacito e meta-andesito), sub-
Gavião são estenianos e os do Bloco Serrinha são vulcânicas (quartzo diorito e quartzo pórfiro), e
de idade neoproterozóica. metasedimentos vulcano-químicos (metachert ho-
Os eventos colisionais brasilianos, responsá- mogêneo e laminado, tremolita-chert, formação fer-
veis por falhas de empurrão e dobras com ver- rífera bandada, formação manganesífera e meta-
gência para o cráton, afetaram alguns depósitos pelito carbonoso).
das regiões limítrofes norte e sul do CSF. Tais pro- As metavulcânicas félsicas foram datadas por
cessos promoveram deformação e metamorfismo Peucat et al. (2002) pelo método U-Pb SHRIMP em
e, por vezes, remobiliação e enriquecimento de zircão, tendo sido obtida a idade de 3,3Ga.
depósitos anteriormente formados (Ex: Fe e Mn O greenstone belt de Mundo Novo, juntamente
de Urandi-Licínio de Almeida-Caitité, magnesita e com o Bloco Mairi e as rochas do grupo Jacobina,
talco de Brumado, U de Lagoa Real, Fe-Ti-V de foram intrudidos por biotita-granitos datados de
Campo Alegre de Lourdes, fosfato de Angico dos 1900Ma, posteriormente afetados por uma série
Dias) e também oroginaram novos depósitos, a de cavalgamentos com vergência para oeste e por
exemplo das mineralizações cambrianas de ouro, grandes falhas de direção NS, estas quase sem-
barita e quartzo rutilado do sistema Espinhaço/ pre preenchidas por gigantescos veios de quart-
Chapada Diamantina. zo. A idade destes falhamentos ainda é desconhe-
No final da orogênese Brasiliana, processos de cida (Cunha et al. 2001).
subsidência no interior da área cratônica permiti- A mineralização é formada por uma lente de
ram a sedimentação de pelitos e carbonatos do sulfeto maciço com cerca de 8m de espessura,
Grupo Bambui, as quais foram afetadas pelas de- 400m ao longo do strike aproximadamente N-S e
formações brasilianas tardias. Nesta bacia desta- registrad a 300m de profundidade. O minério, clas-
cam-se mineralizações criogenianas de fosfato. sificado como tipo VMS (volcanic massive sulfides),
São também neoproterozóicos os depósitos de é constituído por pirrotita, esfalerita, pirita e cal-
manganês do oeste da Bahia. copirita, com teores médios de 6,2% Zn, 0,7% Pb,
Nesse trabalho serão descritos os principais 498 ppm de Cu, 35ppm de Ag e 103 ppb de Au
depósitos minerais da porção setentrional do CSF. (Cunha et al. 2001). Segudo estes autores, a re-
Considerando a existência de divergências quan- serva de minério indicada é de 6Mt. A investiga-
to aos limites da área cratônica, como ilustrado ção do depósito ao longo da direção e mergulho
na figura 3, serão descritos inicialmente os depó- ainda está em aberto, mas o potencial é evidenci-

96
Maria da Glória da Silva et al.

ado por anomalias magnéticas e eletromagnéti- rio como tectono-controlado, condicionado às zo-
cas com boa correlação com os halos de anomali- nas de cisalhamento, e formado por esfalerita, pi-
as geoquímicas de solo (Mascarenhas et al. 1998). rita, pirrotita, magnetita e calcopirita. A composi-
Deformação, metamorfismo e alteração hidro- ção mineral das encaixantes imediatas do miné-
termal afetaram fortemente as rochas hospedei- rio, com expressivo desenvolvimento de biotita e
ras e os corpos de sulfetos durante a convergên- magnetita, foi interpretada por Borges et al. (2004)
cia riaciana (Milési et al. 2002). como evidência de que a atividade hidrotermal pro-
Borges et al. (2003, 2004) interpretam o miné- moveu o enriquecimento em ferro e potássio. Os

Figura 3 - Localização das províncias minerais mais importantes no setor norte do Cráton do São Francisco.
Unidades geológicas com base em Schobbenhaus et al. (2004).

97
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Setor setentrional do Cráton Sao Francisco

98
Figura 4 - Síntese da evolução geotectônica e metalogenética do setor norte do Cráton do São Francisco (Bahia). Modificado de Teixeira et al. 2007.
Maria da Glória da Silva et al.

autores também descrevem que a zona mienrali- ta (Ag E” 260g/t) e esfalerita, com pirita e calcopi-
zad contém apófises graníticas, pegmatitos e vei- rita subordinadas. Perto da superfície, a minerali-
os de quartzo com turmalina, e paragêneses hor- zação foi afetada, até 20m, por intemperismo e
nfélsicas superimpostas à trama milonítica, dadas formação de minério oxidado representado por ce-
por porfiroblastos de granada e de cordierita. Isto russita, smithsonita, limonita, anglesita e propor-
indica que um evento granítico tardi-tectônico pos- ções menores de piromorfita, hemimorfita, hidro-
sa ter fornecido calor e fluidos e, eventualmente, zincita, crisocola, bornita, covelita, malaquita e
formado o minério. azurita (Rocha 1985).
A idade da Unidade Boquira tem sido motivo de
Depósitos neoarqueanos (?) de Pb-Zn de Boquira controvérsias. Entretanto, a constatação da exis-
tência de uma nítida discordância entre esta uni-
Localizados aproximadamente a 680km a su- dade e as do Supergrupo Espinhaço demonstra
doeste de Salvador, os depósitos de Pb-Zn de Bo- afinidade com o domínio do embasamento Arque-
quira foram a principal fonte de chumbo no Brasil ano. No tocante às mineralizações de Pb-Zn, há
por cerca de 35 anos. Foram lavrados de 1957 controvérsias não apenas quanto à idade, mas
até 1992, quando a mina foi desativada com a jus- também em relação à gênese.
tificativa de que as reservas haviam se esgotado Quanto à gênese do minério, Espourteille &
e que houve signficativo aumento da oferta mun- Fleischer (1988) propuseram uma origem singe-
dial de Chumbo. nética sinsedimentar. Hipótese similar foi propos-
De 1959 a 1986 a mina de Boquira foi operada ta por Carvalho et al. (1997), que paralelamente,
pelo Grupo Penarroya, com produção de 6Mt de realizaram estudos isotópicos de Pb e S, obtendo
concentrado com teores médios de 9% de Pb e uma idade-modelo Pb-Pb de 2,5 a 2,7Ga. De acor-
2% de Zn (Carvalho et al. 1997). A partir de 1987 do com esses autores, o Pb teria sido derivado do
até seu fechamento 1991, a mineração passou a embasamento e o S possivelmente a partir da água
ser operada pelo Grupo Luxma. do mar ou de sulfatos de ambiente marinho. Por
Estes depósitos ocorrem no vale do Rio Para- outro lado, Misi et al. (1996, 1999) sugerem que a
mirim, borda oriental da Cordilheira do Espinhaço, mineralização é do tipo SEDEX, tendo em vista o
hospedados em anfibolitos bandados da Unidade seu caráter estratiforme, dado pela íntima associ-
Boquira, do Complexo Boquira (Arcanjo et al. ação ao bandamento primário das formações fer-
2005). Os corpos mineralizados distribuem-se ao ríferas bandadas e a ausência de vulcanismo.
longo de um trend de cerca de 4 km, em morros Os trabalhos desenvolvidos na mina Boquira
alinhados (morros do Pelado, Sobrado, Cruzeiro pela equipe do Projeto Vale do Paramirim (Arcanjo
e Maranhão, de norte para sul). et al. 2005), mostraram que, na Galeria do Sobra-
De acordo com as descrições contidas no rela- do, nos níveis 640 e 540, nos Filões A e B, os cor-
tório final do Projeto Vale do Paramirim (Arcanjo pos de minério acompanham zonas de brechas de
et al.2005), cada uma das quatro zonas minerali- falhas longitudinais NNW-SSE. Nesse projeto tam-
zadas continha mais de um corpo de minério. Os bém foi observado que anomalias radiométricas
corpos eram paralelos a subparalelos, com espes- regionais e locais de U, Th e K são paralelas ao
suras de 2 a 5m, comprimento máximo de 1400m trend das mineralizações, algumas nitidamente re-
e, localmente, com profundidade superiore a 450m. lacionadas a stocks ou apófises de corpos graníti-
As rochas hospedeiras da mineralização são cos dos tipos Boquira ou Veredinha. O relatório
dominadas por formações ferríferas das fácies também descreve a presença de pechblenda as-
óxido, silicato e carbonato (Rocha 1985). Além sociado ao minério.
destas, também são descritos na área minerali-
zada, quartzitos, micaxistos, mármores, talco-xis- Depósitos neoarqueanos de Fe-Ti-V (±EGP) de
tos e uma rocha intrusiva granítica. O minério está Maracás
intimamente associado à subfácies silicato-mag-
netita bandada, cujo silicato principal é cumming- Depósitos de vanádio, com ferro, titânio e EGPs
tonita-grunnerita e o subordinado actinolita-tre- associados na forma de corpos maciços de mag-
molita (Rocha 1985). netita titano-vanadífera, foram descobertos e pes-
O minério é constituído por galena rica em pra- quisados pela Companhia Baiana de Pesquisa Mi-

99
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Setor setentrional do Cráton Sao Francisco

neral (CBPM) no Município de Maracás, na parte to 2000, Sá et al. 2005). Brito (2000) relata que o
centro leste da Bahia, cerca de 400km a SW de teor médio de EGP´s do Alvo A é de 300 ppb, com
Salvador. Atualmente estes depósitos estão sen- valores localizados de até 2000 ppb de Pt e 1200
do explorados pela Largo Resources Ltd. ppb de Pd. No corpo Gulçari os teores são da or-
O depósito de Maracás está associado a cama- dem de 600ppb Pt, 240 ppb Pd e 150 ppb de Au, e
das maciças de magnetita-titanífera rica em vaná- em Novo Amparo de 700 ppb de Pt, 350 ppb de Pd
dio, com 2 a 100 m de espessura, em média real e 200 ppb de Au.
de 40 m, intercaladas em gabros e piroxenitos da De acordo com dados de setembro de 2010
soleira diferenciada do Rio Jacaré, uma intrusão publicados pela Largo Resources (2009) a soleira
estratificada com 70km segundo norte-sul e 1,2km do Rio Jacaré tem reserva provada de 13,1Mt com
de largura média (Brito 2000). teor de 1,34% de V2O5 e medida e indicada da or-
De acordo com Brito (2000), a soleira é com- dem 22,6 Mt, com teor médio de 1,26% de V2O5.
posta de duas zonas principais: (i) uma inferior, Estudos de detalhe por Sá et al. (2005) indicam
de gabros maciços e com espessura média de 300 que que o Ni e EGP foram concentrados nos cor-
m, e (ii) uma superior, com 600 a 1000m de espes- pos de magnetítico por co-precipitação de peque-
sura, constituída por gabros, piroxenitos e mag- na quantidade de sulfetos com a magnetita. Brito
netita-piroxenitos, ferrogabros e anortositos com (2000) advoga um modelo de mistura de magmas,
magnetita, em acamadamento rítimico, e leucoga- com assimilação de encaixantes e fracionamento
bros gradacionais a anortositos. Entre ambas as magmático para explicar a diferenciação da intru-
zonas ocorre uma transição (ZT), formada por cu- são e a mineralização.
mulatos de olivina, clinopiroxênio e magnetita,
modal e gradacionalmente acamadados com cu- Depósitos neoarqueanos de Cu do Vale do Curaçá
mulatos de plagioclásio e clinopiroxênio.
Análises isotópicas Sm-Nd obtidas por Brito Na porção norte do Orógeno Itabuna-Salvador-
(2000) da soleira do Rio Jacaré indicaram idade Curacá-OISC, no contexto do vale do Rio Curaçá,
de 2841±68 Ma (εNd -1,3), e uma isócrona Rb-Sr de nordeste da Bahia, ocorrem mais de trezentos
quatro pontos aponta a idade de 2757±187 Ma. corpos máfico-ultramáficos de dimensões variadas,
O autor revela ainda a idade Rb-Sr de 1863±26 alguns mineralizados a cobre. Estes corpos intru-
Ma, interpretada como resultante da recristaliza- dem rochas metamórficas de alto grau dos com-
ção metamórfica. plexos Caraíba e Tanque Novo-Ipirá. A área tem
Os principais corpos de magnetita vanadífera cerca de 1700km2 e engloba parcialmente os muni-
são Gulçari A, Gulçari B e Novo Amparo. O corpo cípios de Juazeiro, Jaguararí e Curaçá, conhecida
maior, Gulçari A, está hospedado em gabros da como “Província Cuprífera do Vale do Rio Curaçá”.
Zona Inferior enquanto os demais ocorrem na Zona Alguns corpos contêm mineralizações econômi-
Superior (Sá et al. 2005). O magnetito Gulçari A cas sulfetadas de cobre, com ouro subordinado,
passa a um piroxenito rico em magnetita, este a com destaque para os de Caraíba, que abriga a
um piroxenito que dá lugr a gabro. Os corpos Gul- Mina Caraíba, o Alvo R22 e os de Surubim e Ver-
çari B e Novo Amparo também consistem em mag- melhos. Os corpos consistem em cumulatos ultra-
netititos associados com piroxenitos, hospedados máficos, com abundantes piroxenitos e raros pe-
em gabros (Sá et al. 2005). ridotitos, e cumulatos máficos (melanoritos, nori-
Segundo Brito (2000), dois tipos de minério de tos, gabro-noritos), bem como leucogabros, leu-
ferro ocorrem na soleira: um de alto teor (Gulçari conoritos e raros anortositos.
A), com 2,2 e 4,5% de V2O5, e outro de baixo teor Estudos realizados por D’el-Rey Silva (1984,
(Gulçari B e Novo Amparo), com 0,3 a 2,5% de V2O5. 1985) e D’el-Rey Silva et al. (1988, 1996) na Mina
Os magnetititos também contêm ilmenita em grãos Caraíba mostram que o embasamento e as intru-
ou exsolvida na magnetita, até 1% de sulfetos (cal- sivas máfico-ultramáficas foram submetidas a pelo
copirita, pentlandita, milerita, pirita, bornita e pir- menos três fases de deformação progressiva (D1-
rotita), arsenietos (orcelita, maucherita, wester- D3), que geraram dobras abertas e fechadas, com
veldita e cobaltita) e EGP´s (esperrilita, gversita, planos axiais verticais, eixos N-S e mergulhos su-
cabriita, isoferroplatina e ligas de Pt-Pd-Fe-Ni-Cu- aves para sul. A essas correspondem três even-
Sn) inclusos nos óxidos de ferro e em fraturas (Bri- tos metamórficos (M1-M3) que deram origem a pa-

100
Maria da Glória da Silva et al.

ragêneses das fácies granulito a anfibolito. fico-ultramáficas, como destacam Maier & Barnes
Cristais de zircão de noritos de Caraíba foram (1996, 1999). Estas compreendem: (i) elevadas
datados por Oliveira et al. (2004) pelo método U- razões Cu/Ni devido à reduzida presença de sul-
Pb SHRIMP, tendo sido obtida a idade 207Pb/206Pb fetos de Ni; (ii) elevadas razões Se/S, em média
concordante de 2580±10Ma, interpretada como a 1200×10-6, mas de até 4500×10-6, em contraste
de cristalização. Os autores reportam-se ainda a com a do manto superior, da ordem de 230 a
uma população de zircões com razões Th/U<0,1, 350×10 -6; (iii) elevado percentual de magnetita
de idade de 2103±23Ma, interpretada como re- associada aos sulfetos; (iv) presença marcante,
sultante do metamorfismo regional de alto grau. por vezes dominante, de flogopita nos ortopiro-
Cristais de zircão dos granitóides sin-tetônicos xenitos; (v) concentrações anômalas de apatita e
do Vale do Rio Curaçá, os quais afetam os corpos zircão. Tais feições são incompatíveis com uma
máfico-ultramáficos, foram datados Silva et al. origem magmática do minério. A natureza tecto-
(1997) e Oliveira et al. (2004) pelo método U-Pb no-controlada de grande parte das mineralizações,
SHRIMP e obtiveram as idades de 2126 ± 0,0019 somada à abundância de flogopita e magnetita nas
Ma e de 2,082 ± 0,007 Ma, e de granitóides sin a encaixantes, além de apatita e zircão, enriqueci-
tardi-tectônicos de 2084 ± 9 Ma e 2078 ± 6 Ma. mento em LREE, ausência de níquel, presença de
Dos granitóides pós-tectônicos só existem isócro- ouro, dentre outras características, levou Teixeira
nas Rb-Sr em rocha total, com idades entre 1915 et al. (2010) a sugerir tratar-se uma associação
e 1897Ma (Melo 1991, Otero & Conceição 1996). Cu-Fe-Au do tipo IOCG (iron oxide-copper-gold).
A mineralização consiste da associação Segundo o corpo técnico da Mineração Caraíba
calcopirita+bornita, numa relação de 70% para S.A., as reservas de minério sulfetado no Vale do
30%, com ouro subordinado, e proporções meno- Curaçá (ano base de 2009), contidas nos corpos
res de covelita, cubanita, digenita, pirita, pirrotita de Caraíba, Surubim e Vermelhos, são da ordem
e pentlandita. Segundo Teixeira et al. (2010), ocor- de 85Mt, com teores de Cu de 0,88 a 1,8%.
rem dois tipos de mineralizações: (i) minério pri-
mário, disseminado em piroxenitos, e (ii) minério Depósitos riacianos de cromita de Santa Luz
epigenético, tectono-controlado, em brechas e pre- (Pedras Pretas)
enchendo fraturas nos piroxenitos, noritos e nas
rochas cálcio-silicáticas encaixantes do corpo má- O depósito de cromita de Pedras Pretas locali-
fico-ultramáfico. za-se a 2,7 km a sudeste da cidade de Santa Luz
As encaixantes da mineralização foram signifi- e é conhecido desde o início do século XX. Duran-
cativamente afetadas por fluidos hidrotermais, te a Primeira Guerra Mundial o depósito produziu
especialmente ao longo de zonas de cisalhamen- entre 25 e 30 mil toneladas de concentrado de
to, e consequente metassomatismo de Ferro, Po- cromita (Carvalho Filho et al.1986).
tássio e elementos de alto campo de força, tais A mina é operada pela Magnesita Refratários
como Zr e P (Teixeira et al. (2010). Uma das me- S.A. O corpo principal de minério tem cerca de 250
lhores evidências desse processo é a associação m de comprimento e ao qual se associam corpos
da mineralização tectono-controlada com rochas menores, todos contidos em uma faixa de 1 km de
biotitizadas/flogopitizadas, ricas em magnetita de comprimento segundo N-NW. As reservas de cro-
origem hidrotermal, com apatita, zircão e hercini- mitito são estimadas em 1,49Mt, contendo 0,59Mt
ta subordinados. A datação Ar-Ar do evento hi- de Cr2O3 (Carvalho Filho et al. 1986).
drotermal em flogopita gerou idades-platô nos in- A mineralização ocorre no complexo peridotíti-
tervalos de 2,0-2,1Ga e em torno de 1,9Ga (Tei- co de Santa Luz, que contém serpentinitos, harz-
xeira et al. 2010). Essas idades coincidem com a burgitos serpentinizados, faixas gabróicas e é cor-
dos granitóides sin- a tarditectônicos e com a ida- tado por pegmatitos e aplitos (Oliveira et al. 2007).
de K-Ar de 1956±0,008 Ma, obtida por Figueiredo Estas rochas estão tectonicamente encaixadas em
(1981) em biotita das rochas ultramáficas.. gnaisses do embasamento do Bloco Serrinha. O
O minério da Mina Caraíba e dos demais alvos minério ocorre como camadas de cromitito com-
mineralizados do Vale do Rio Curaçá possuem ca- pacto ou friável e como disseminações. A química
racterísticas incomuns quando comparados a ou- mineral e o padrão de EGP´s são compatíveis com
tros depósitos de cobre associados a rochas má- cromititos de ofiolitos (Oliveira et al. 2007).

101
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Setor setentrional do Cráton Sao Francisco

Aplitos que cortam as ultramáficas e os gnais- sulfetos de níquel primário na América do Sul, com
ses do embasamento geraram a idade U-Pb em reservas provadas e prováveis de 121Mt e teor
zircão de 2085 ± 12 Ma e 2983 ± 8 Ma, respecti- de 0,60% Ni (Mirabela Nickel Ltd. 2009).
vamente (Oliveira et al. 2007).
Depósitos riacianos de cromita do Vale do Rio
Depósitos riacianos de Ni da Fazenda Mirabela Jacurici

A intrusão máfico-ultramáfica estratificada de A província cromitífera do Jacurici ocorre em uma


Fazenda Mirabela localiza-se no município de Ita- faixa com cerca de 100 km de extensão segundo
jibá, região sul/sudeste da Bahia, a 370 km de Sal- a direção meridiana e largura aproximada de 10km,
vador. A exploração das jazidas está sendo con- no lado leste da Serra de Itiúba, acompanhando
duzida pela Mirabela Mineração do Brasil Ltda., sob o vale do Rio Jacurici, afluente do Rio Itapicuru.
controle da Mirabela Nickel Ltd. O projeto pioneiro Dezenas de registros de mineralizações de cromi-
envolveu um depósito laterítico com recursos es- ta são conhecidas nesta província, onde existem
timados em 2,32Mt de minério com 2,54% Ni. Pos- pelo menos 15 depósitos de interesse econômico,
teriormente descobriu-se a mineralização sulfeta- distribuídos nos municípios de Queimadas, Can-
da nas proximidades do depósito laterítico. sanção, Andorinha, Monte Santo e Uauá. As mi-
O corpo máfico-ultramáfico está encaixado em nas distribuem-se ao longo da Serra de Itiúba, com
zona de cisalhamento de direção NNE que corta as denominações, de sul para norte, de Pau Fer-
rochas metamórficas de alto grau da porção sul ro, Barreiro, Laje Nova, Ipueira, Socó, Pindoba,
do Orógeno Itabuna-Salvador-Curaçá-OISC Medrado, Lajedo, Riachão II, Riachão I, Monte Ale-
(Abram 1994, Fróes 1993, Silva et al. 1996). Em- gre, Teiú, Várzea do Macaco II, Várzea do Macaco
bora as encaixantes locais estejam fortemente I e Logradouro do Juvenal.
deformadas, o corpo máfico-ultramáfico apresen- Os métodos de lavra são a céu-aberto e sub-
ta estratificação críptica e rítmica, com texturas terrâneo, com reserva de 30Mt. A produção men-
cumuláticas bem preservadas, indicativo de colo- sal do complexo é de 26 mil toneladas de minério,
cação tardi a pós tectônica em relação ao oróge- distribuídos entre os tipos lump (19kt), concen-
no (Silva et al. 1996). trado (5kt) e areia de cromita (2kt) (Ferbasa 2009).
A intrusão tem afinidade toleítica intraplaca Os corpos máfico-ultramáficos são descontínu-
continental e foi subdividida por Abram (1994) em os e estão encaixados concordantemente com a
quatro zonas: (i) inferior, constituída por olivina- estruturação de rochas orto- e paraderivadas de
cumulado e olivina-ortopiroxênio cumulado (ser- alto grau da porção norte do Orógeno Itabuna-
pentinito, dunito e peridotito); (ii) intermediária, de Salvador-Curaçá (OISC). O conjunto é cortado por
ortopiroxênio-cumulado (ortopiroxenito e clinopi- pegmatitos graníticos e sieníticos e por soleiras e
roxênio- norito) e clinopiroxênio-ortopiroxênio cu- diques de diabásio.
mulado (websterito e gabronorito), (iii) superior, Oliveira Jr. (2001) interpreta as rochas máfico-
composta por gabronorito com típica textura ga- ultramáficas com cromita da região como um con-
bróica, e (iv) zona de borda, representada por ga- junto de soleiras e as divide em três zonas: (i) a
bronorito de granulação fina. Estudos isotópicos inferior constituída de cumulados de olivina e or-
Sm-Nd por Silva et al. (1996) geraram a idade topiroxênio, com Cr-espinélio, e, portanto, de com-
modelo TDM de 2200Ma da geração do magma- posição dunítica a harzburgítica; (ii) intermediária,
fonte máfico-ultramáficasdo. rica em cumulados de ortopiroxênios, olivina su-
O depósito consiste em concentrações de pen- bordinada e Cr-espinélio e, assim, dominada por
tlandita com graus variáveis de alteração para vi- websteritos. O espinélio ora ocorre como acessó-
olarita, e pirita subordinada, disseminadas desde rio, ora como fase predominante, em camadas,
dunitos até ortopiroxenitos. As feições texturais quando então forma os corpos de minério, e (iii)
indicam que o minério foi gerado por imiscibilidade zona superior, constituída de gabro-noritos a leu-
de líquidos (Abram 1994). A concentração de sul- cogabro-noritos, caracterizadas por cumulatos de
fetos na zona mineralizada varia de desde traços plagioclásio associado a ortopiroxênio.
até 8 a 10% em volume (Mirabela Nickel Ltd. 2009). Os depósitos econômicos de cromita ocorrem
Santa Rita é atualmente o maior depósito de como uma única camada maciça que atinge cerca

102
Maria da Glória da Silva et al.

de 7 m de espessura, localizada próximo à base zados em 1975 pela Rio Doce Geologia e Minera-
de cumulatos ricos em ortopiroxênio. A cromita ção S.A. (DOCEGEO) e, mais tarde, pela Compa-
atinge >80% da rocha, com ortopiroxênio pós-cu- nhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM).
mulo e parcial a totalmente alterado para serpen- As mineralizações auríferas estão associadas a
tina e clorita. Além desse corpo de cromitito, o mi- uma sequência metavulcanossedimentar intrudida
neral também ocorre com textura em rede nos por granitóides diversos, e denominada por Kishida
harzburgitos. (1979) como greenstone belt do Rio Itapicuru.
Dados de composição química de cromita dos O greenstone belt tem orientação geral N-S, com
corpos de Medrado e Ipueira (Schwartz & Novikoff inflexão para E-W no sul, e está inserido em gnáis-
1980, Oliveira Jr. 2001, Marques 2001) mostram ses e migmatitos de embasamento do Bloco Serri-
valores comparáveis aos de cromita de complexos nha. Segundo propostas de Kishida (1979), Kishi-
máfico-ultramáficos estratificados descritos na li- da & Riccio (1980), Silva (1983) e Silva (1987) a
teratura. seção vulcanossedimentar compreende (i) uma Uni-
A datação U-Pb SHRIMP realizada por Oliveira dade Vulcânica Máfica (UVM) composta por basal-
et al. (2004) em cristais de zircão dos gabros do tos toleiíticos de fundo oceânico com intercalações
corpo máfico-ultramáfico gerou a idade de 2085 ± de BIF, chert, formações manganesíferas e folhe-
5 Ma. Os autores obtiveram uma idade U-Pb lhos carbonosos; (i) uma Unidade Vulcânica Félsi-
SHRIMP de zircão muito próxima no Sienito de Iti- ca (UVF), com lavas e vulcanoclásticas andesíticas
úba (2084 ± 9Ma), o que os levou a interpretarem e dacíticas, bem como corpos subvulcânicos inter-
ambos os eventos magmáticos como contempo- mediários a félsicos, com predomínio de quartzo-
râneos e possivelmente controlados pela tectôni- diorito porfirítico. Dados geoquímicos obtidos por
ca de escape da colisão dos terrenos de alto grau Ruggiero (2008) revelaram a existência de ande-
do Jacurici e Curaçá. sitos e dacitos de afinidade adakítica na UVF; (iii)
Segundo Oliveira Jr. (2001), os corpos máfico Unidade Sedimentar (US), constituída de conglo-
ultramáficos do vale do Jacurici se originaram pela merado, arenito, siltito e folhelho, em grande par-
fusão de um manto hidratado em regime geotec- te derivados do retrabalhamento de rochas vul-
tônico continental sincolisional, com a colocação cânicas intermediárias e félsicas da UVF, bem como
destes corpos em zonas de controle tectono-es- chert laminado, formação ferrífera e formação man-
trutural, em fase de tardi-colisão. Dados isotópi- ganesífera. Silva (1983, 1987) descreve a presen-
cos indicaram valores elevados das razões 87Sr/ ça de raros e pequenos corpos ultramáficos de afi-
86
Sr e baixas de 143Nd/144Nd, com valores de εNd mui- nidade komatiitica.
to negativos, compatíveis com contaminação crus- As supracrustais foram intrudidas por granitói-
tal (Oliveira Jr. 2001). des cálcico-alcalinos sin, tardi e pós-tectônicos,
A abundância de elementos traços, padrões granitóides shoshoníticos tardi a pós-tectônicos
normalizados de ETR e dados isotópicos de Nd e e, mais raramente, granitóide de reciclagem crus-
Os da soleira de Ipueira-Medrado são compatíveis tal do tipo S (Rios et al. 1998)
com manto subcontinental litosférico como fonte O setor centro-norte do greenstone belt é ca-
do magma primário (Marques et al. 2003). racterizado por uma foliação marcante de direção
A contaminação crustal, em especial a assimi- geral N-S, que afeta tanto as rochas supracrus-
lação de SiO2 das rochas encaixantes teve, segun- tais quanto os granitóides sintectônicos, enquan-
do Oliveira Jr. (2001) e Marques et al. (2003), como to a porção sul exibe uma estruturação mais com-
conseqüência a elevação da fO2, crucial na gêne- plexa, com uma foliação principal de direção E-W
se dos cromititos. com mergulho para sul (Alves da Silva et al. 1993).
As seguintes idades foram obtidas por Silva
Depósitos riacianos de Au do Rio Itapicuru (1992) nas rochas vulcânicas máficas e félsicas:
(i) Pb-Pb em rocha total (RT) de 2,2Ga (m1=8,0)
A existência de ouro e diamante aluvionares em basaltos da UVM; (ii) Pb-Pb RT de 2,1Ga
na região do médio Rio Itapicuru é conhecida des- (m1=8,0) em andesitos e dacitos da UVF. Ruggiero
de o início do século XX. A potencialidade metalo- (2008) realizou datação U-Pb SHRIMP em zircão
genética para mineralizações auríferas deste ter- de andesito adakítico e obteve uma idade de cris-
reno foi confirmada pela prospecção mineral reali- talização de 2,081 ± 9Ma e de cristais de zircão

103
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Setor setentrional do Cráton Sao Francisco

herdados de 3364, 3017 e 3064Ma. de presão variável de 1,7 a 3,5kb (Silva et al. 2001).
Datações Pb-Pb por LAICP-MS em cristais de Idades Ar-Ar de muscovita dos halos de altera-
zircão e monazita dos domos graníticos de Am- ção hidrotermal revelaram idades-platô de 2050
brósio e Pedra Alta (Batista et al. 1998), confir- ± 4 Ma e 2054 ± 2 Ma, consideradas como as do
mam a existência de uma proto-crosta arqueana, evento mineralizante (Mello 2000).
com idades entre 2500 e 2850 Ma. Os zircões No Distrito Aurífero de Fazenda Maria Preta,
magmáticos do granito forneceram idades em tor- porção norte do greenstone belt, a mineralização
no de 2100 Ma. aurífera ocorrem em veios de quartzo, quartzo-
Dois distritos auríferos destacam-se no greens- carbonato, quartzo-scheelita, alojados em zonas
tone belt: (i) o distrito de Fazenda Brasileiro, na de cisalhamento que cortam metadacitos porfiríti-
porção sul e (ii) o distrito de Fazenda Maria Preta, cos, metavulcânicas félsicas e intermedárias e me-
na porção centro-norte. Em ambos, as mineraliza- tassedimentos carbonosos. A exploração mineral
ções auríferas são tectono-controladas, relaciona- realizada pela Companhia Vale do Rio Doce (CVRD)
das a veios de quartzo e quartzo-carbonato, com e pela Companhia Baiana de Pesquisa mineral
ou sem sulfetos (pirita, pirrotita, arsenopirita) e (CBPM) resultaram na descoberta de vários alvos
encaixados em splays secundários das principais mineralizados a ouro, sendo que dois, Antas I (da
zonas de cisalhamento. CVRD) e C1 (da CBPM), transformaram-se em mi-
O ouro ocorre em partículas inferiores a 20 mm, nas que foram exploradas entre 1987 até mea-
incluso, preenchendo fraturas ou na superfície dos dos da década de 90. Em 2005 e 2006, a Yamana
cristais de arsenopirita e, mais raramente, livre no Gold arrendou as áreas C1, Mansinha e Mari da
quartzo dos veios (Silva et al. 2001). CBPM e as áreas Antas I, Antas II e Antas III da
Na jazida de ouro de Fazenda Brasileiro, atual- CVRD, dando início ao Projeto C1 - Santa Luz.
mente gerenciada pela Mineração Fazenda Brasi- De acordo com relatórios da Yamana Gold, dis-
leiro S.A., subsidiária da Yamana Gold Inc., os prin- poníveis no website da empresa, as reservas do
cipais corpos de minério estão hospedados em um Projeto C1 Santa Luz são da ordem de 18,4 Mt,
ferrogabro, concordante com as rochas supracrus- com teor de 1,66 gAu/t, contendo 982,4 mil onças
tais, que foi submetido à deformação, metamor- de ouro. A mina a céu aberto deverá entrar em
fismo e alteração hidrotermal por cloritização, epi- operação em 2012.
dotização, carbonatização, silicificação, sulfetação, Os dados obtidos nos distritos auríferos de
dentre outras (Teixeira 1984, 1985, Davison et al. Fazenda Brasileiro e Maria Preta permitiram Silva
1988, Teixeira et al. 1990, Reinhardt & Davison et al. (2001) classificá-los como depósitos do tipo
1990, Alves da Silva 1990, Alves da Silva & Matos orogenético (orogenic gold deposits), na definição
1991, Silva et al. 2001). de Groves et al. (1998).
Os teores médios de ouro situam-se em torno
de 6 gAu/t, variável de 2 a 400 gAu/t. As reservas Depósitos orosirianos de Au da Serra de Jacobina
medidas são da ordem de 960 kt de minério. Os
recursos medidos e indicados são de 5.065 kt, a A Serra de Jacobina é uma cadeia de monta-
2,73 gAu/t. Os recursos inferidos são de 780 kt, nhas com cerca de 200 km segundo N-S, de 15 a
com teor médio de 4,28 gAu/t (Yamana Gold 2009). 25 km de largura e altitudes máximas da ordem
A zona mineralizada situa-se no interior de um de 1300 m, localizada 370km a noroeste da cida-
zona com paragêneses da fácies xisto verde (350° de de Salvador.
a 400°C) nas zonas proximais à mineralização e Situa-se ao longo do Lineamento Jacobina-Con-
temperaturas da fácies anfibolito (550°C) nas mais tendas, que representa a sutura da colisão conti-
distais (Silva 1987, Silva et al 2001). nente-continente paleoproterozóica que marca o
As inclusões fluidas dos veios mineralizados limite entre os blocos Jequié e Gavião do CSF (Sa-
revelaram fluidos aquo-carbônicos de baixa sali- baté et al. 1990). Em decorrência dessa tectônica
nidade (<6% eq. em peso NaCl) e origem meta- de cavalgamento, a Serra de Jacobina é susten-
mórfica e fluidos carbônicos, provavelmente origi- tada por diferentes unidades litoestratigráficas tec-
nados dos sedimentos carbonosos encaixantes tonicamente justapostas (Leo et al. 1964, Couto
(Silva et al. 2001). As condições de temperatura et al. 1978, Inda & Barbosa 1978, Mascarenhas &
da mineralização são da ordem de 370°-430°C e Sá 1982, Mascarenhas et al. 1989, 1992, 1998,

104
Maria da Glória da Silva et al.

Ledru et al. 1997, Sena 1991, Teixeira et al. 2001). sas, e continua até o presente, mas com vários
Estas compreendem (i) rochas metassedimenta- períodos de inatividade. A Mina Jacobina, que per-
res e metavulcanossedimentares do Complexo tencia ao grupo Anglo American, operou de modo
Saúde; (ii) metaultramáficas, metavulcânicas má- intermitentemente entre 1950 e 1999, tendo re-
ficas e félsicas e metassedimentos químicos do gre- cuperado um total aproximado de 50 t de ouro
enstone belt de Mundo Novo; e (iii) metassedimen- (Sims 1977, Molinari 1981, Horscroft et al. 1989,
tos do Grupo Jacobina. O conjunto é cortado por Mascarenhas et al. 1998). Em 2002, a canadense
intrusões ultramáficas, máficas e leucogranitos. A Desert Sun Mining comprou as minas de Jacobina
deformação destas rochas decorre de um empur- e de Morro do Vento, além de várias áreas poten-
rão com vergência para oeste e falhamento do tipo ciais para ouro, distribuídas ao longo de 155 km
strike-slip, sinistral, que imprimiu uma foliação (S2) de extensão da Serra de Jacobina. O conjunto de
N-S (Milési et al. 2002). áreas foi por eles denominado de Bahia Gold Belt.
O Grupo Jacobina é predominantemente me- Em 2006, a Desert Sun foi comprada pela Yamana
tassedimentar, constituído pelas formações Serra Gold Inc. Os trabalhos de pesquisa e exploração
do Córrego, Rio do Ouro, Cruz das Almas, Serra mineral realizados na área pela Desert Sun e, pos-
do Córrego e Serra da Paciência (Leo et al. 1964, teriormente, pela Yamana, resultaram em expres-
Mascarenhas et al. 1998). Segundo Ledru et al. sivo aumento das reservas.
(1997), foi depositado em ambiente com atribu- A explotação do minério Yamana Gold Inc. têm
tos de uma bacia de foreland, simelhante às baci- sido feita a partir de 4 minas subterrâneas (Jaco-
as de Tarkwa (Ghana) e Franceville (Gabão). bina - João Belo I, II e II; Morro do Vento, Canavi-
Intrusões de metaperidotito e metapiroxenito eiras e Basal). Relatórios da empresa disponíveis
ocorrem na Serra de Jacobina sob a forma de cor- na Internet revelam, paa o ano base de 2009, re-
pos alongados NS, afetados pela deformação, servas provada + provável de 22,43Mt, a 2,14gAu/
metamorfismo dinâmico e alteração hidrotermal t, medida + indicada de 16,25Mt, a2,74 gAu/t, e
que transformaram suas rochas em xistos proto- inferida de 16,48Mt, a 2,36gAu/t).
cataclásticos finos com talco, serpentina, clorita, Nas minas da região de Jacobina, o ouro ocor-
tremolita e carbonato (Teixeira et al. 2001). re em metaconglomerados piritosos e intercala-
Um evento intrusivo tardi-tectônico na região ções quartzíticas da Formação Serra do Córrego.
da Serra de Jacobina é representado por diques Teores econômicos situam-se em reefs específicos,
de gabro em um sistema de fraturas escalonadas, caracterizados pela ubíqua recristalização da ma-
algumas das quais hospedem mineralização aurí- triz, com cristais neoformados de pirita, fuchsita,
fera (Teixeira et al. 2001). rutilo, turmalina e andaluzita em fraturas e poros
Leucogranitos peraluminosos (tipo S), gerados (Ledru et al. 1997). Uma estreita associação de
no intervalo de 1,97 a 1,80Ga, ocorrem no con- reefs auríferos, zonas de cisalhamento anastomo-
texto da Serra de Jacobina, nas regiões de Famen- sadas e vênulas de sulfetos é descrita por Milési
go, Jaguarari, Senhor do Bonfim, Campo Formoso, et al. (1996) na cava da jazida de João Belo. Os
Carnaíba e Jacobina (Sabaté & McReath 1987, corpos de minério, com 5 a 6 gAu/t, em geral ocor-
McReath & Sabaté 1988, Sabaté et al. 1990). rem no contacto com quartzitos estéreis, acom-
A idade dos metassedimentos do Grupo Jaco- panhados por vênulas entrelaçadas de sulfeto. O
bina ainda não foi definida. Os grãos de zircão halo de alteração hidrotermal que envolve os ree-
detrítico mai jovens do do conglomerado basal da- fs consiste em uma zona interna de baixo teor (2
tados pelo método Pb-Pb por evaporação (Mou- gAu/t) com sulfetos disseminados, e uma externa
geot 1996, Mougeot et al. 1996) gerarlam a idade rica em fuchsita (Milési et al. 1996). As partículas
de 2086 ± 43Ma, interpretada como a idade má- de ouro têm aspecto fibroso ou ovalado e quase
xia da sedimentação. A idade mínima, por sua vez, sempre estão associados à pirita ou a grãos de
situa-se entre 1940 to 1910Ma, obtida por Ledru quartzo (Mougeot et al. 1996).
et al. (1993) pelo método Ar-Ar em muscovita e Trabalhos de pesquisa desenvolvidos na faixa
biotita das zonas de cisalhamento que afetam os que se estende a norte das minas de Jacobina
metassedimentos. geraram aumento substancial do número de zo-
A explotação do ouro na Serra de Jacobina ini- nas mineralizadas, tanto ao longo do strike da Mina
ciou no século XVII, por meio de escavações ra- Jacobina, quanto em áreas paralelas. Foram car-

105
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Setor setentrional do Cráton Sao Francisco

tografados cerca de 360 garimpos ao longo de um rios, Coitezeiro, Limoeiro, Mato Limpo, Gameleira
alinhamento com mais de 100km de comprimento. e Vigia) e várias ocorrências de propriedade da
Teixeira et al. (2001) descrevem que, além dos Cia. de Ferro Ligas da Bahia (FERBASA).
conglomerados da Formação Serra do Córrego, ou- Atualmente apenas a mina de Coitezeiro está
tros litotipos também estão mineralizados e, em em atividade, com reservas medidas de 2.446.432t
base à natureza da rocha hospedeira, classifica- e teor médio de 29,26% Cr 2 O 3 , indicadas de
ram os depósitos auríferos da Serra de Jacobina 3.937.524 t eteor médio: 29,26% Cr2O3 e inferidas
em quatro tipos: (i) Tipo 1, ocorre em metaconglo- de 2.500.000t e teor médio de 29,26% Cr2O3. Em
merados e quartzitos basais da Formação Serra 2009 a vida util da mina era de 5 anos.
do Córrego; (ii) Tipo 2, hospedado em diques de A principal forma da mineralização é estrati-
gabro e diorito hidrotermalmente alterados intru- forme, em horizontes desde subcentimétricos até
sivos nas formações Serra do Córrego e Rio do métricos, dispostos em até sete níveis, quatro dos
Ouro; (iii) Tipo 3, halo de alteração hidrotermal na quais de importância econômica (Hedlund et al.
lapa de diques ultramáficos em contacto com quart- 1989, Barbosa de Deus et al. 1982). O minério tam-
zitos das formações Serra do Córrego e Rio do bém ocorre como disseminação em serpentinito.
Ouro; e (iv) Tipo 4, veios de quartzo em quartzitos Três tipos de minério de cromo são reconheci-
das formações Rio do Ouro e Cruz das Almas. dos: minério disseminado (15 a 20% Cr2O3), o fita-
Para Ledru et al. (1997), o principal evento de do (20 a 30% Cr2O3) e maciço ou lump (30 a 45%
empurrão e as falhas do tipo strike-slip, relaciona- Cr2O3). Na zona de intemperismo estes estão al-
dos à inversão da bacia de Jacobina, ocorreu en- terados e são classificados como tipo “friável”, que
tre 1940 to 1910Ma, idades Ar–Ar de resfrimento tem características favoráveis na lavra e benefici-
de micas sincinemáticas. Idades Ar-Ar nesse in- amento por dispensarem o uso de explosivos e
tervalo (1943 a 1908 Ma) também foram obtidas moagem. O conentrados possuem de 50-59% de
por Teixeira et al. (2001) em fuchsita do halo de Cr2O3, 5-14% de MgO e 9-15% de Al2O3. Os teores
alteração hidrotermal. de Fe são mais variáveis, em geral altos, e a ra-
Teixeira et al. (2001) ressaltam que aspectos zão Cr/Fe varia de 2,2/1 a 3,3/1 (Ferbasa 2009).
importantes do ponto de vista prospectivo com- O Complexo Ultramáfico de Campo Formoso-
preendem a presença de falhas e zonas de cisa- CCF consiste de peridotito intensamente serpen-
lhamento de grande porte, evidências diretas de tinizado, embora preserve textura cumulática ori-
circulação de fluidos nos canais estruturais aber- ginal. Piroxenitos são subordinados (Silva & Misi
tos pela deformação (presença de veios) e ano- 1998) e ocorrem em maior extensão na extremi-
malias radiométricas de urânio. Isto permite as- dade sul do complexo, na porção superior da mina
sociar a circulação de fluidos hidrotermais em con- de Cascabulho. A leste, o CCF está em contato
dutos estruturais e a gênese do minério com as por falha reversa com as rochas do Grupo Jacobi-
deformações resultantes da inversão da bacia. Em na e, a oeste, em contato irregular com o granito
vista disto, os autaores propuseram que a mine- de Campo Formoso.
ralização aurífera seja interpretada como parte in- Estudos metalográficos realizados por Boukili
tegrante da evolução tectono-termal da região, (1984) mostram que além de cromita, o serpenti-
provavelmente durante a fase final do colapso nito pode conter proporções menores de magne-
orogenético e geração de leucogranitos. tita secundária sobre ferrocromita, ilmenita, às ve-
zes com prata nativa associada, be como millerita
Depósitos de cromita de idade indeterminada da e pentlandita. Quando há sulfetos de Ni foram
região de Campo Formoso detectados EGP´s (Lord et al. 2004), em teores
muito baixos, exceto na mina de Campinhos, onde
O Distrito cromitífero de Campo Formoso locali- ocorre, até 552 ppb de Pt e 1624 ppb de Pd. (Ave-
za-se no município homônimo e abrange uma es- na Neto & Sá 1984).
treita faixa com cerca de 40km de extensão na Os grãos de cromita são euedrais a anedrais e
borda setentrional da Serra de Jacobina. As mine- milimétricos a centimétricos, dispostos em bandas
ralizações ocorrem em rochas ultramáficas serpen- maciças ou intercrescidos com silicatos de trans-
tinizadas. Ao todo são 11 minas (Catuaba, Casca- formação de minerais primários, tais como serpen-
bulhos, Camarinha, Campinhos, Pedrinhas, Valé- tina, clorita, talco, tremolita–actinolita, kammere-

106
Maria da Glória da Silva et al.

rita, smectita, dentre outros (Barbosa de Deus et Cruz & Alkmin (2006) descrevem estruturas re-
al. 1991, Barbosa et al. 1996). Nos cromititos ma- lacionadas à inversão neoproterozóica do rifte
ciços, os cristais de cromita contêm inclusões de Espinhaço, as quais afetam tanto o embasamen-
pentlandita, heazlewoodita, digenita, covellita, to quanto as coberturas. Além dessas evidências
mackinawita, laurita, ligas de Fe-Ni e cobre nativo de campo, também há um significativo número de
com teores de Rh, Pt e Pd (Girardi et al. 2006). dados geocronológicos K-Ar e Ar-Ar que revelam
Heazlewoodita ocorre na borda dos grãos de cro- idades entre 900 e 500 Ma no embasamento do
mita e também intercrescida com silicatos de trans- aulacógeno do Paramirim (Cordani et al. 1985,
formação hidrotermal. De acordo com Garuti 1992, Mascarenhas & Garcia 1989, Wilson et al.
(1991), esse mineral foi gerado juntamente com a 1988, Teixeira 1993, Bastos Leal et al. 1998, 2000,
serpentinização das ultramáficas. dentre outros). Além dessas, há uma idade U-Pb
Os cromititos de Campo Formoso possuem ra- e zircão de 906 Ma, obtida por Machado et al.
zões Cr2O3/Al2O3 e Pd/Ir e teores de EGP muito (1989) em metabasitos intrusivos no Supergrupo
semelhantes aos dos cromititos de Niquelândia Espinhaço, a idade U-Pb de 961Ma U-Pb obtida
(Avena Neto & Sá 1984, Girardi et al. 2006) . por Pimentel et al. (1994) em titanita do minério
Segundo Garuti et al. (2007), vários ciclos de de Lagoa Real, com intercepto inferior de 375 Ma,
alteração hidrotermal modificaram os minerais bem como idades 40Ar/39Ar na faixa de 497 a 500
magmáticos das rochas ultramáficas, mas afetou Ma obtidas em sericita das bordas dos veios de
apenas parcialmente a composição da cromita e quartzo auríferos do sistema Espinhaço/Chapada
os conteúdos de EGP´s. Muito embora a altera- Diamantina e em sericita de uma zona de cisalha-
ção hidrotermal tenha transformado as bordas dos mento no complexo Paramirim (Silva et al. 2006a).
cristais de cromita em ferro-cromita, da base para A porção norte do CSF faz fronteira com as fai-
o topo da instusão ainda se detecta a diminuição xas de dobramentos Riacho do Pontal e Rio Preto,
dos teores de Cr e Mg e o aumento dos de Fe. ambas pertencentes à Província da Borborema.
Trend similar é comumente observado em cromiti- Nesse segmento, onde os limites cratônicos ain-
tos estratiformes do tipo Bushveld (Stowe 1994 da permanecem precariamente definidos, existem
apud Garuti et al. 2007). alguns importantes depósitos e ocorrências mine-
A idade de colocação do CCF ainda está sob rais com evidências de terem sido afetados pela
debate. A idade mímina da intrusão foi estabeleci- orogenia Brasiliana. Destacam-se os de sulfetos
da em torno de 2032 ±10Ma, em função da idade arqueanos da sequência metavulcanossedimen-
máxima de intrusão do granito de Campo Formo- tar do Rio Salitre e os de paloproterozóicos de óxi-
so (Giuliani et al. 1994). A idade máxima de intru- dos Fe-Ti-V de Campo Alegre de Lourdes e de fos-
são é desconhecida. fato de Angico dos Dias.

DEPÓSITOS MINERAIS SITUADOS NAS ZONAS Sulfetos paleo/mesoarqueanos (?) de Fe do gre-


LIMÍTROFES DO CRÁTON DO SÃO FRANCISCO enstone belt do Rio Salitre

Como anteriormente discutido e ilustrado na No limite norte do CSF, em meio aos terrenos
figura 3, alguns depósitos minerais do interior da TTG do Domínio de Sobradinho que, segundo Bar-
zona cratônica, considerando-se os limites propos- bosa & Dominguez (1996) seria uma prolongamen-
tos por Almeida (1977), passam a situar-se no in- to do Bloco Gavião para norte, ocorrem as sequ-
terior de área que teria sido remobilizada pela ências metavulcanossedimentares dos complexos
orogenia Brasiliana (Alkmim 2004, Cruz & Alkmim Rio Salitre e do Barreiro, como definidas por Sou-
2006). Dentre esses, destacam-se os depósitos za et al. (1979).
paleoarqueanos de magnesita e talco da região O Complexo Rio Salitre, de direção NS e cerca
de Brumado, os neoarqueanos (?) de ferro da re- de 30 km de extensão, foi posteriormente descri-
gião de Caitité, os neoarqueanos(?) de manga- to por Souza & Teixeira (1981) como uma seqüên-
nês das regiões de Urandi, Licínio de Almeida e cia vulcanossedimentar de baixo grau metamórfi-
Caitité, os tonianos de urânio de Lagoa Real e co, comparável a greenstone belt, constituída por
depósitos cambrianos de ouro, barita e quartzo rochas metavulcânicas ultramáficas, máficas e fél-
rutilado do sistema Espinhaço. sicaos, bem como metassedimentares psamítica-

107
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Setor setentrional do Cráton Sao Francisco

os, pelíticas e químico-exalativas associadas. As pesquisas exploratórias feitas pela CBPM


Estudos petrológicos e litogeoquímicos realiza- nesse Alvo conduziram a uma reserva de 9,5 mi-
dos por Ribeiro (1998) permitiram reconhecer que lhões de toneladas de sulfeto de ferro.
que a sequência do Rio Salitre compreende um
greenstone belt com os seguintes litotipos: (i) me- Depósitos neoarqueanos (?) de Fe da região de
tabasaltos toleiíticos, por vezes almofadados e Caetité
com intercalações descontínuas de metakomatii-
tos, de fundo oceânico (OFB); (ii) metavulcânicas Os depósitos de ferro das proximidades da ci-
félsicas cálcio-alcalinas de arco vulcânico; (iii) me- dade de Caetité, Bahia, é conhecida desde a dé-
tassedimentos químicos exalativos e pelítico-ar- cada de 1930, mas só ganhou destaque em 2005
cosianos turbidítico vulcanoderivados; (iv) grani- através da Bahia Mineração Ltda (BAMIN).
tos dos tipos I e S, possivelmente relacionados à As formações ferríferas do minério da região
orogênese transamazônica. O conjunto está do- possuem alinhamento regional N-S e estão asso-
brado em isoclinal de vergência para oeste e, se- ciadas a rochas calcissilicáticas, mármores, quart-
gundo Ribeiro (1993), metamorfisado na fácies xis- zitos e xistos da Formação Mosquito, a qual, se-
to verde a local fácies anfibolito. gundo Moraes et al. (1980), Silva & Cunha (1999)
Até o momento não há dados geocronológicos e Delgado et. al. (2004) pertenceria ao Complexo
robustos sobre o greenstone belt do Rio Salitre, Urandi-Licínio de Almeida (embasamento pré-Es-
apenas uma idade Rb-Sr em rocha total da ordem pinhaço), enquanto que para Barbosa & Domin-
de 2.0 Ga (Ri = 0.706). Souza & Teixeira (1981) gues (1996) e Rocha et al. (1998) esta unidade
relatam a existência hornfelses resultantes da in- pertenceria à base do Supergrupo Espinhaço (Gru-
trusão de um granito paleoproterozóico que aflo- po Borda Leste). O Complexo Licínio de Almeida,
ra entre as fazendas Juá e Pateiro. Contudo, o por sua vez, é descrito por Silva & Cunha (1999)
contexto no qual a sequência ocorre sugere que como uma sequência do tipo greenstone belt en-
a mesma possa ser arqueana e provavelmente cravada em TTG do Bloco Gavião. Estudos de Bor-
correlata com o greenstone belt de Mundo Novo, ges (2008) no distrito Urandi-Caitité-Licínio de Al-
mais ao sul. meida, com ênfase na evolução tectônica da área,
Trabalhos de pesquisa e exploração mineral apontam para uma ambiência pré-Espinhaço das
realizados pela CPRM e pela CBPM no greenstone formações ferríferas e manganesíferas. SEgundo
belt do Rio Salitre resultaram na descoberta, no o autor, as feições tectono-metamórficas revelam
extremo NW da área, de uma zona mineralizada que estas rochas estariam associadas aos sedi-
com sulfeto maciço composto por pirita e pirrotita, mentos do Complexo Licínio de Almeida, ou seja,
com disseminações de calcopirita e esfalerita (Ri- ao embasamento pré-Espinhaço. Borges (2008)
beiro et al. 1993). Essa faixa, denominada de alvo descreve evidências de processos tectono-meta-
Sabiá, se estende por 1.600 m com 20 m de largu- mórficos da orogenia Brasiliana sobre essas ro-
ra e ocorre em rochas calcissilicáticas interpreta- chas, com desenvolvimento de paragêneses da
das como derivadas do metamorfismo de sedimen- fácies anfibolito e de uma tectônica de cavalga-
tos químico-exalativos (Ribeiro 1998). Segundo o mento sobre as rochas do Supergrupo Espinhaço.
autor, existem dois tipos de minério, um de granu- O maior depósito conhecido é denominado Pe-
lação fina e concordante com as encaixantes e dra de Ferro e se situa cerca de 38 km a sul da
outro mais grosso, associado à Falha da Batatei- cidade de Caetité. A área mineralizada tem entre
ra. Considerando que a falha afeta as rochas me- 30 e 120 m de largura e é composta de itabirito
soproterozóicas do Grupo Chapada Diamantina, o compacto, itabirito friável e hematita friável. Alves
autor levanta a hipótese de que se trata de um (2008) descreve que os itabiritos têm de 25 a 50%
evento Brasiliano e que o minério da falha seja de óxidos de ferro (hematita e/ou magnetita), 20
remobilizado. a 40% de quartzo, 0 a 25% de anfibólio, 0 a 10%
Isótopos de S em sulfetos da zona mineraliza- de clorita e 0 a 5% de calcita. Trabalhos de pes-
da revelam valores de δ34S‰ em torno de zero, o quisa e exploração mineral realizados no Projeto
que sinaliza que o enxofre derivou de fonte mag- Pedra de Ferro determinaram reserva estimada em
mática e enseja o modelo do tipo VMS das mine- 470,5 milhões t de minério, com teor de ferro en-
ralizações do Alvo Sabiá (Ribeiro 1998). tre 38% e 42%.

108
Maria da Glória da Silva et al.

Depósitos neoarqueanos (?) de Mn das regiões sobre o Supergrupo Espinhaço; (iv) a orogenia Bra-
de Urandi/Caetité/Licínio de Almeida siliana seria, portanto, responsável pela deforma-
ção, metamorfismo e distribuição espacial do mi-
O distrito manganesífero de Urandi-Caitité-Li- nério; (v) processo supergênicos mais mais teri-
cínio de Almeida compreende dois subdistritos, am- am prmovido a alteração do proto-minério e a con-
bos no contexto setentrional da Serra do Espinha- centração econômica dos óxidos de manganês.
ço: o de Urandi, a oeste da serra, e o de Caitité-
Licínio de Almeida, a leste. Esses distritos contêm Provincia orosiriana de Campo Alegre de Lour-
pequenos depósitos de manganês em gnaisses e des: depósitos de Fe-Ti-V
metavulcanosedimentares do Complexo Licínio de
Almeida, pertencente ao embasamento pré Espi- O limite norte do CSF se caracteriza por feições
nhaço (Rocha et al. 1998). Os depósitos foram des- deformacionais transcorrente/transpressivas, ca-
cobertos em 1948, durante a construção da es- racterísitcas da orogenia Brasiliana, que origena-
trada de ferro que até hoje serve a região (Ribei- ram extensos empurrões e nappes com vergência
ro Filho 1968) e são explorados pela Rio Doce Man- para sul (Jardim de Sá et al. 1992). Na Bahia, o li-
ganês S.A. mite é com as faixas de dobramentos neoprotero-
As mineralizações são estratiformes, mais ra- zóicas de Rio Preto e Riacho do Pontal, com base
ramente venulares, e os principais minerais de mi- em dados geológicos e geofísicos (Ussami 1993).
nério são pirolusita e criptomelano (Ribeiro Fi- Na zona de transição entre o CSF e a Faixa Ri-
lho1974). Borges (2008) descreve diferentes faci- acho do Pontal ocorre um conjunto de corpos mag-
ologias do minério, com associações de óxidos de máticos toleíticos, alcalinos a carbonatíticos de
ferro e manganês, de silicatos (quartzo + espes- ambiente de rifte intracratônico Paleoproterozói-
sartita) do tipo gondito e minério rico em rodocro- co (Leite & Silva 1988, Leite et al. 1993, Moraes &
sita associado a mármores. Depósitos secundári- Veiga 2008). Esses corpos foram afetados pelos
os também têm significado econômico. No subdis- processos tectono-metamórficos da orogenia Bra-
trito da porção leste da Serra do Espinhaço foi esti- siliana, como descrito por Leite at al. 1993. O mag-
mada uma reserva de 12,34Mt, com teores de 20 a matismo toleítico é representado pelos complexos
50% de Mn no minério primário, mas nãp há dados máficos e máfico-ultramáfico acamadados do Pei-
de reservas do secundário (Rocha et al. 1998). xe e de Campo Alegre de Lourdes.
Segundo Borges (2008), os depósitos de am- O Complexo do Peixe consiste em gabros, il-
bos os distritos distribuem-se segundo um trend menita-magnetititos e gabro-noritos cumuláticos
NE-SW a N-S nas rochas do embasamento pré- (Leite & Silva 1988) e o de Campo Alegre de Lour-
Espinhaço. Os depósitos primários são estratifor- des por piroxenito, gabro, anortosito e ilmenita-
mes, descontínuos, associados a xistos, mármo- magnetitito (Couto 1989). No último, apesar da
res, rochas cálcissilicáticas e formação ferrífera. Os deformação e metamorfismo na fácies xisto ver-
secundários são constituídos por blocos coluviais, de, parte das texturas magmáticas originais es-
seixos e fragmentos parcialmente cimentados por tão preservadas. Dados geoquímicos e de quími-
óxido de ferro e/ou manganês. ca mineral indicam que a intrusão é de ambiente
Mapeamento geológico e estudos petrográfi- intraplaca.
cos, estruturais e geoquímicos do minério realiza- No Complexo de Campo Alegre de Lourdes,
dos por Borges (2008), levaram às seguintes pro- Couto (1989) descreve que a mineralização ocor-
postas: (i) as mineralizações manganesíferas te- re como corpos cumuláticos de ilmenita-magneti-
riam sido depositadas em uma bacia oceânica pré tito com acamamento rítmico dado pela alternân-
Espinhaço, estratificada, que evoluiu sob condi- cia de bandas ricas em óxidos e ricas em plagio-
ções físico-químicas distintas; (ii) a fonte primária clásio e acamamento decamétrico, da ordem de
do ferro e do manganês teria sido hidrotermal; (iii) 20 m, caracterizado pela diminuição, da base para
a inversão do rifte do Espinhaço, no Brasiliano, o topo, das proporções de magnetita, da razão
deformou e metamorfisou as rochas de cobertura, FeO/(FeO+Fe2O3) e dos teores de V2O5. Dados pe-
com envolvimento do embasamento. Tais proces- trográficos do minério não oxidado revelam a pre-
sos teriam nucleado zonas de cisalhamento e ca- sença de grãos xenomórficos de 0,5 a 2,5 mm de
valgamento das unidades ferro-manganesíferas titanomagnetita com lamelas de exsolução de il-

109
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Setor setentrional do Cráton Sao Francisco

menita e inclusões de minerais da ganga e sulfe- foram descobertas durante a execução do Proje-
tos, bem como grãos xenomórficos de ilmenita de to Urandi, do 7o Distrito do DNPM (Bahia), o qual
0,1 a 0,5 mm, e de ilmenita com finas lamelas de consistiu de uma série de levantamentos aeroge-
exsolução de hematita e inclusões irregulares de ofísicos entre 1976 e 1977, que peritiram identifi-
minerais de ganga e sulfetos. Além desses mine- car 19 áreas mineralizadas. Investigaçação deta-
rais, também ocorrem rutilo, pirita, calcopirita, pen- lhado de dados de aerogamaespectrometria le-
tlandita, pirrotita, arsenopirita e esfalerita. Segun- vou à descoberta de 33 ocorrências uraníferas
do Moraes & Veiga (2008), os teores médios de adicionais avaliadas pelo DNPM. O projeto básico
TiO2 situam-se em torno de 20,52% e os de V2O5 de mina foi concluído em 1996, contemplando uma
entre 0,56 e 0,93%. lavra a céu-aberto na jazida da Cachoeira (ano-
A Companhia Baiana de Pesquisa Mineral vem malia 13 com teor médio de 3.000 ppm). Gradual-
realizando de 1989 até o presente, trabalhos de mente serão explorados outros depósitos, dentre
pesquisa e exploração mineral em 11 corpos mi- 33 existentes.
neralizados, correspondentes a uma área de apro- As principais reservas se localizam cerca de 20
ximadamente 11,6km x 7km. Estes trabalhos per- km a nordeste da cidade de Caetité, no complexo
mitiram definir as seguintes reseras in situ (Mora- granítico anorogênico, paleoproterozóico, de La-
es & Veiga 2008): (a) medidas de 60,10 Mt a goa Real, o qual intrude TTG´s e greenstone belts
49,98% Fe2O3; 20,74% de TiO2; 0,71% de V2O5; (b) do bloco Gavião (Costa et al. 1985, Arcanjo et al.
indicadas de 40,1 Mt a 18,56% de TiO2; 0,61% de 2005, Cruz et al. 2007).
V2O5. Os autores citam a existência de material O Complexo Lagoa Real é descrito por Cruz et
coluvionar situado ao lado do minério in situ, for- al. (2007) como um conjunto de metagranitóides,
mado por matacões de minério e fragmentos de granitóides milonitizados em graus variados, albi-
rocha básica alterada, que representam uma re- titos, microclinitos, epidositos, piriclasitos (encla-
serva adicional da ordem de 13,30 Mt. ves), anfibolitos e diabásios. Os autores descre-
De acordo com Plá Cid (1994), a Província Alca- vem que estas rochas exibem uma foliação miloní-
lina de Campo Alegre de Lourdes é constituída por tica heterogênea, com metagranitóides isotrópi-
um alinhamento NE-SW de plutões de granitos al- cos alternados com faixas de milonitos, gnaisses,
calinos que se extende por cerca de 42 km e abran- albititos, microclinitos e epidositos. Foram identifi-
ge uma aproximados 391 km². O autor descreve cadas três fases deformacionais distintas, todas
os granitos como gnaissificados, localmente milo- neoproterozóicas, sendo as duas primeiras de na-
níticas, e com feições petrográficas e geoquímicas tureza compressional e a terceira extensional
que permitem caracterizá-los como anorogênicos (Cruz 2004, Cruz & Alkmin 2006, Cruz et al. 2007).
(tipo A) de ambiente intraplaca continental. Ainda Os corpos lenticulares de albitito foram gerados,
segundo esse autor, trata-se de granitos paleo- segundo Cruz et al. (2007), em um dos estágios
proterozóicos que foram significativamente afeta- da segunda fase de deformação, compressional.
dos pela orogenia Brasiliana, como registram as As mineralizações de urânio estão associadas
idades Rb-Sr entre 470 e 800 Ma e interpretadas aos albititos, os quais ocorrem em corpos tabula-
como resultantes da abertura do sistema isotópi- res e lenticulares, descontínuos e com orientação
co durante o neoproterozóico. N40E a N30W (Prates et al. 2009). Os corpos de
Não são conhecidos recursos minerais associ- albitito mineralizados possuem até 3 km de com-
ados a essas rochas, embora apresentem valores primento e 10 m de largura média (máximo de 30
elevados de ETR, em particular em zonas de alte- m). Furos de sonda na área detectaram a presen-
ração hidrotermal (Plá Cid 1994). ça desses corpos até 850 m de profundidades (Pra-
tes et al. 2009).
Depósitos tonianos de urânio de Lagoa Real Do ponto de vista petrográfico, os albititos con-
têm mais de 70% de albita e proporções variadas
As mineralizações de urânio mais importantes de aegirina-augita, andradita, hastingsita e bioti-
da América do Sul ocorrem no município de Caeti- ta, e menores de titanita, zircão, apatita, magne-
té, região sudeste do estado da Bahia, e são atu- tita e hematita (Prates et al. 2009). Segundo Lo-
almente exploradas e mineradas por Indústrias bato & Fyfe (1990) os albititos resultam de me-
Nucleares Brasileiras (INB). Estas mineralizações tassomatimo sóidco sobre granitos pela ação de

110
Maria da Glória da Silva et al.

fluidos hidrotermais com remoção de SiO2, K2O, Rb segundo NW-SE, desde o município de Formosa
e Ba e o enriquecimento Na2O, Fe2O3, Sr, Pb, V e U. de Rio Preto, na fronteira com o Piauí a norte, até
O principal mineral de urânio é uraninita, com os municípios de Cocos e Carinhanha, na frontei-
proporções menores de pechblenda, uranofano e ra com Minas Gerais, ao sul. Ocorrem mais de 40
tornbenita (Prates et al. 2009). depósitos e ocorrências, alguns localizados próxi-
Dados de inclusões fluidas e isotópicos obtidos mo às cidades de Barreiras e São Desidério, atu-
por Lobato & Fyfe (1990) indicam que o urânio, almente explorados pela Rio Doce Manganês S.A.
bem como V, Pb e Sr teriam sido trazidos por flui- Segundo Barbosa (1990), as mineralizações
dos hidrotermais salinos, sob temperatura entre econômicas são supergênicas formadas a prtir de
500 e 550º C). Maruèjol (1989) e Chaves et al. proto-minérios neoproterozóicas dos Grupos Rio
(2007) propõem que o urânio tenha sido lixiviado Preto e Bambui, ambos do Supergrupo São Fran-
de minerais acessórios dos granitos, em resposta cisco, e parcialmente cobertos por sedimentos cre-
à percolação de fluidos cogenéticos, tardimagmá- tácicos da Formação Urucuia e tércio-quartenári-
ticos. Entretanto, para Lobato & Fyfe (1990), os os. O Grupo Rio Preto consiste em uma associa-
fluidos seriam metamórficos, resultantes de rea- ção de xistos, filitos grafitosos, quartzitos, metas-
ções de devolatilização promovidas pelo espes- siltitos, metassiltitos manganesíferos, conglome-
samento crustal decorrente da tectônica de caval- rados e gonditos. Os gonditos, proto-minério, são
gamento envolvendo rochas da suite Lagoa Real, constituídos de quartzo, esperssartita, rodonita e
do embasamento e do Supergrupo Espinhaço. anfibólio. O Grupo Bambui, na área, é descrito por
A datação U-Pb de zircão de granitos e albiti- Barbosa (1990) como composto por calcáreos e
tos e de titanita de albititos por Pimentel et al. dolomitos, com intercalações de siltitos e argilitos
(1994), forneceram os seguintes resultados: (i) manganesíferos (proto-minério).
idade de cerca de 1746 Ma, cronocorrelata com a Na área em questão, parte das rochas do Su-
abertura do rifte Espinhaço, obtida em zircões de pergrupo São Francisco repousa sobre o substra-
granitos (ii) quatro frações de titanita de albititos to cratônico e parte na periferia do Cráton, esten-
continham níveis anômalos de urânio, indicando dendo-se a norte para a faixa marginal dobrada
que o mineral é contemporâneo com a mineraliza- (faixa Rio Preto). Na periferia da área cratônica e
ção e geraram intercepto superior de 961 Ma e na faixa dobrada estas rochas foram deformadas
inferior em cerca de 375 Ma. Os autores propõe e metamorfisadas durante a orogenia Brasiliana
que a idade dos granitos corresponde a de uma (Barbosa 1990).
atividade extensional e a dos albititos e minerali- Dois tipos de minérios de manganês são des-
zação de Urânio bem mais nova. A idade de cris- critos por Barbosa (1990): o minério in situ resul-
talização do Complexo Lagoa Real, em ca. de 1.7 tante do enriquecimento supergênicos de gondi-
Ga, foi obtida por vários autores (Maruèjol et al. tos, metassiltitos e argilitos manganesíferos, e o
1987, Turpin et al. 1988, Cordani et al. 1985, 1992, minério eluvial-coluvial/crostas manganesíferas.
Cruz et al. 2007). Idades K-Ar em torno de 500 Ma Análises por difratometria de Raios-x revelaram
foram obtidas por Cordani et al. (1992) e em cris- que o minério contem litioforita, pirolusita e crip-
tais de zircão discordantes por Turpin et al. (1988). tomelana, em ganga de espessartita, quartzo,
Estas idades têm sido interpretadas como decor- argilas e mica.
rentes de reativação tectônica do complexo no fi- Considerando que as mineralizações do oeste
nal da orogenia Brasiliana. da Bahia ocorrem na seção basal do Grupo Bam-
O Brasil detém a 7ª maior reserva de urânio do buí, podem ser correlacionadas a outros depósi-
mundo. De acordo com dados atualizados do we- tos manganesíferos estratigraficamente correla-
bsite da Indústrias Nucleares Brasileiras, a jazida tos, a exemplo dos do Grupo Macaúbas, em Minas
de Lagoa Real possui reservas medida + indicada Gerais (Dossin 1983) e da Formação Bebedouro,
de U3O8 da ordem de 94.000t e inferida de 6.770t. na Bahia (Barbosa 1990). De modo geral, as ro-
chas siliciclásticas do Supergrupo São Francisco,
Depósitos neoproterozóicos de Mn do oeste da sotoposto ao pacote pelito-carbonático do Grupo
Bahia Bambuí, foram consideradas por Karfunkel & Ho-
ppe (1988) como de origem glacial.
A província se extende por cerca de 350 km A estimtiva de reservas associadas ao Grupo

111
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Setor setentrional do Cráton Sao Francisco

Bambui na área realizada pela Companhia Baiana sugere que estes veios cristalizaram em ambien-
de Pesquisa Mineral-CBPM revelaram cerca de te crustal raso (Silva et al. 2006a).
665.000 toneladas, das quais apenas 275.000 são Amostras de sericita coletadas nas zonas de
viáveis de explotação e, no Grupo Rio Preto, da cisalhamento imediatamente adjacentes aos vei-
ordem de 1.500.000t, com um máximo de 500.000t os foram empregadas para datação 40Ar/39Ar pelo
de minério de alto teor, com perspectiva de desco- Dr. Paulo Vasconcelos, na Universidade de Que-
berta de novos depósitos (Galvão et al 1982). ensland, Brisbane, Austrália. Os resultados reve-
Recentemente, a Itaoeste Serviços e Participa- laram idades de resfriamento cambrianas de 497
ções Ltda., que realiza trabalhos de pesquisa e a 500 Ma (Silva et al. 2006b).
exploração mineral na área, anunciou que, na re- As mineralizações estão relacionadasà reativa-
gião de Barreiras, ocorre uma jazida de tálio com ção do embasamento e cobertura sedimentar ocor-
reservas da ordem de 60 milhões de gramas, as- rida no final do Neoproterozóico e que originou
sociada aos depósitos de manganês. grandes falhas de empurrão de direção NW-SE. A
base da crosta espessada foi devolatilizada, com
Depósitos neoproterozóicos/cambrianos de Au geração de fluidos hidrotermais ricos em metais
e de barita do Espinhaço/Chapada Diamantina lixiviados das rochas hospedeiras e deposição dos
veios mineralizados no nível superior da crosta
Depositos de ouro e de barita ocorrem em vei- (Silva et al. 2006 a, b).
os de boudinados e hospedados em zonas de ci-
salhamento de direção geral NNW-SSE alojadas CONCLUSÕES
em rochas sedimentares do Supergrupo Espinha-
ço da fase pré-rifte (Formação Serra da Gamelei- A interpretação do conjunto de dados coligidos
ra), vulcânicas, subvulcânicas e rochas sedimen- no presente trabalho indica que os eventos mine-
tares da fase sin-rift ( Grupo Rio dos Remédios) e ralizantes no setor setentrional do Cráton do São
rochas sedimentares da da fase pós-rifte (Grupo Francisco distribuem-se no amplo intervalo de tem-
Paraguaçu), como definido por Guimarães et al. po entre 3300 e 500Ma e incluem uma variedade
(2008) e Silva et al. (2006a). Alguns veios estão de tipos de depósitos minerais. A gênese da mai-
hospedados em estruturas que cortam o granitói- oria destes depósitos está intrinsecamente rela-
de paleoproterozóico de Ibitiara. Estas estrutu- cionada aos sucessivos eventos de fragmentação
ras decorrem de uma tectônica de escamas de e colagem dos diferentes blocos arqueanos que
empurrão frontais resultantes da inversão do rif- constituem o embasamento cratônico.
te Espinhaço (Cruz 2004, Cruz & Alkmim 2006). Os blocos arqueanos foram amalgamados du-
As encaixantes imediatas dos veios auríferos rante a orogênese paleoproterozóica, tendo sido
estão em geral milonitizadas e hidrotermalmente posteriormente envolvidos e remodelados pelos
alteradas, com desenvolvimento de sericita, he- processos de fragmentação e colagem dos paleo-
matita e carbonatos. Os teores de Au são erráti- continentes Rodínia (Mesoproterozóico ao Neopro-
cose situam-se em torno de 2 a 3 g/ton (Guima- terozóico) e Gondwana Ocidental (Neoproterozói-
rães et al. 2008). co ao Fanerozóico). O resultado final destes pro-
Nos depósitos de barita esta está frequente- cessos é a área hoje definida como Cráton do São
mente associada com hematita e quartzo (Guima- Francisco.
rães et al. 2008, Silva et al. 2006a). O contato dos O estado da arte do conhecimento sobre os
veios com as rochas encaixantes é, por vezes, principais depósitos do cráton permite reconhe-
marcado por brecha hidrotermal (Silva et al. cer: (i) zonas metalogenéticas pré-colisão riacia-
2006a). na, representadas pelos terrenos granito-greens-
Estudos de inclusões fluidas realizados em tone e pelos corpos máfico-ultramáficos estratifi-
quartzo de amostras selecionadas nos depósitos cados arqueanos: (ii) zonas metalogenéticas re-
de ouro e de barita revelaram fluidos aquosos e lacionadas ao evento colisional riaciano deu origi-
aquo-carbônicos de baixa salinidade, de provável nou os terrenos granito-greenstone, os corpos
origem metamórfica-hidrotermal, com maior ou máfico-ultramáficos e a um orógeno que pode ser
menor envolvimento da água meteórica. As tem- classificado como do tipo himalaiano, com defor-
peratura de homogeneização (Th) abaixo de 300°C mação principal e geração de granitóides por fu-

112
Maria da Glória da Silva et al.

são crustal no intervalo entre 2150 e 1800Ma; (iii) incluindo os de classe mundial.
zonas metalogenéticas decorrentes do evento de
tafrogênese estateriana, que deu origem a riftes Agradecimentos Ao Serviço Geológico do Brasil-
ensiálicos, com a geração de magmatismo ácido CPRM pelo convite para escrever esse capítulo, o
anorogênico e deposição de sedimentos fluviais, qual apresenta parte dos resultados do projeto
eólicos e marinhos; (iv) zonas metalogenéticas Mapa Metalogenético Digital do Estado da Bahia, re-
relacionadas à orogenia Brasiliana, caracterizada alizado de 2004 a 2006 pelo Grupo de Metalogê-
pela tectônica colisional relacionada com a agre- nese da Universidade Federal da Bahia.
gação do Gondwana Ocidental, que ocorreu apro-
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118
Lydia Maria Lobato et al.

METALOGÊNESE DO SETOR MERIDIONAL DO CRÁTON SÃO FRANCISCO

LYDIA MARIA LOBATO1, FRIEDRICH EWALD RENGER1,


ROSALINE CRISTINA FIGUEIREDO E SILVA1, CARLOS ALBERTO ROSIÈRE1,
FRANCISCUS JACOBUS BAARS2 & VASSILY KHOURY ROLIM1
1 - CPMTC-IGC-Universidade Federal de Minas Gerais, Av. Antônio Carlos 6.627, Pampulha - 31270-901, Belo
Horizonte - MG. e-mails: lobato@netuno.lcc.ufmg.br; frenger@terra.com.br; rosalinecris@yahoo.com.br;
crosiere@gmail.com; vassily.rolim@gmail.com
2 - RockGeologia, Av. Afonso Pena 4343/402, Mangabeiras - 30130-008, Belo
Horizonte - MG. e-mail: baarsf@rockgeo.com

INTRODUÇÃO os principais eventos de acresção crustal, i.e., o


Neoarqueano, Riaciano e Orossiriano. Durante o
Dentre Os maiores distritos e províncias mine- Neoproterozoico houve reciclagem crustal locali-
rais na superfície estão aqueles em terreno brasilei- zada, estendendo-se do Calymmiano, com depó-
ro, inclusive a porção meridional do Cráton São Fran- sitos de ferro do tipo Rapitan, até o Ediacarano.
cisco. Contemplam-se jazidas, províncias e distritos O presente capítulo apresenta a revisão acer-
gigantes (no sentido de Laznicka 1999, 2010) entre ca dos recursos minerais da área coberta pela
centenas de ocorrências menores (Figs. 1 e 2). porção meridional do Cráton São Francisco, com
No núcleo arqueano-paleoproterozoico estão foco especial nas jazidas de ouro dos terrenos
o Supergrupo - Greenstone Belt Rio das Velhas- arqueanos, e de ferro dos terrenos paleoprotero-
SGRV, da região do Quadrilátero Ferrífero-QF com zoicos. Outras fontes de revisão acerca dos de-
>1.500 t Au; o Supergrupo Minas-SGM do QF com pósitos minerais no Brasil são os livros de Figuei-
>12 Gt Fe @ >50 % de Fe; tântalo da Província redo (2000) e Biondi (2003).
Pegmatítica de São João del Rei. Já nos cinturões
marginais do Estado de Minas Gerais estão a re- POTENCIAL METALOGENÉTICO REGIONAL
gião de Salinas-Rio Pardo de Minas com >20 Gt Fe
@ 35 % Fe; a Província Pegmatítica Oriental, com O Cráton São Francisco e seus limites em su-
pedras preciosas; a jazida de Morro do Ouro com perfície têm sido alvo de redefinição constante,
>600 t Au; e o nióbio da Suíte Intrusiva do Barrei- desde que Guimarães (1951) reconheceu a pre-
ro, em Araxá, sendo o Brasil líder das reservas servação de núcleos arqueanos no sul e centro-
mundiais, com >800 Mt de minério a cerca de 1,3 leste do escudo brasileiro.
% Nb2O5, até 800 m de profundidade. Outros bens Barbosa (1966), Ebert (1968), Pflug et al.
minerais ricos na região, ainda carentes de pes- (1969) e Cordani (1973) descrevem as caracterís-
quisa mineral intensiva, incluem Mn, Pd, Pt, Ni, Co, ticas geológicas e geoquímicas do Cráton São Fran-
U, ETR, Ti, Al, Ta, diamante, P, Cr, esmeralda, calcá- cisco. Em 1977, F.F.M. de Almeida publicou um arti-
rio, grafita, pedras ornamentais (Dardenne & Schob- go histórico, definindo os limites superficiais do
benhaus 2001, 2003). Cráton com base nos afloramentos de falhas de
A parte aflorante da porção meridional do Crá- empurrão e transcorrências entendidas como de
ton São Francisco está parcialmente ilustrada nos idade brasiliana, i.e. do Neoproterozoico. O con-
mapas das Figuras 1 e 2 (vide também mapas de ceito dos limites desse cráton neoproterozoico foi
localização dos respectivos distritos em Darden- estendido ao Cráton Paramirim (Almeida 1981),
ne & Schobbenhaus 2003 e também Schobbe- referindo-se a um cráton precursor estabelecido
nhaus et al. 2004), junto à distribuição dos seus durante o Paleoproterozoico, no Riaciano, ao final
recursos minerais conhecidos. A fertilidade metá- do evento transamazônico entre 2,1 e 1,9 Ga.
lica descrita se deve à fertilidade metalogenética Com base em trabalhos geofísicos, entre eles
mantélica litosférica impressa na crosta durante gravimétricos e de fluxo térmico, e ainda aeromag-

119
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: setor meridional do Cráton São Francisco

120
Lydia Maria Lobato et al.

netométricos, diversos autores (Davino 1980, Ha- riano et al. 2008).


mza 1980, 1982, Haralyi 1980, Haralyi & Hasui 1982 Esses trabalhos demonstram a existência de
a, b, Almeida & Hasui 1984) confirmaram e modifi- uma tectônica do Neoproterozoico, vergente em
caram os conceitos geológicos e tectônicos, até direção ao núcleo arqueano-paleoproterozoico cra-
então publicados, acerca de um núcleo arqueano tônico, e que oculta uma crosta cratônica sotopos-
a paleoproterozoico, que é bordejado por cintu- ta aos cinturões neoproterozoicos. As assinatu-
rões mesoproterozoicos a neoproterozoicos, com ras mantélicas de xenólitos e xenocristais, conti-
sequências metavulcanossedimentares e metas- dos em kimberlitos, kamafugitos, carbonatitos e
sedimentares, de crosta menos densa e de fluxo magnetito piroxenitos, além de outras variedades
térmico maior. intrusivas alcalinas e máficas a ultramáficas, do
Vários novos estudos geofísicos foram realiza- Juro-Cretácico, atestam para um manto subconti-
dos ao longo da década de 1980, resultando em nental litosférico, subcratônico, por baixo do Cin-
ajustes nas interpretações originais, principalmen- turão Brasília até a porção meridional do Cinturão
te na porção meridional da área cratônica, e no Araçuaí (e.g. Bizzi et al. 1995, Peate 1997, Bizzi &
que diz respeito ao conceito da extensão de litos- Vidotti 2003). Há assim indicação de ampla exten-
fera cratônica, geofisicamente distinta, sotoposta são de embasamento cratônico para além dos li-
às faixas móveis marginais proximais do chamado mites tectônicos definidos pelos afloramentos das
Cráton São Francisco (Ussami et al. 1993a, b, Van rampas frontais basais (décollements) e laterais,
Decar et al. 1995, Zang 1996 in Pereira & Fuck i.e. as falhas direcionais de cisalhamento, confor-
2005). me proposição original do trabalho de Almeida
Pesquisas regionais, incluindo inúmeras obras (1977).
de cartografia geológica sistemática, além de com- Os dados geoelétricos do levantamento mag-
pilações geológicas e estudos tectônicos integra- netotelúrico, atravessando mais de 400 km de lar-
dos mais recentes, discriminam: gura do Cinturão Brasília (Bologna et al. 2005),
(i) O Cráton São Francisco, principalmente sua revelam lascas tectonoestratigráficas finas, de
porção sul (Marshak & Alkmim 1989, Alkmim et al. poucos quilômetros de espessura, interpretadas
1990, 1993, Baars & de Wit 1993, Baars 1995, Al- como lascas de empurrão neoproterozoicas, es-
meida 1993, Martins-Neto & Alkmim 2001, Martins- sencialmente horizontais, sobre um embasamen-
Neto et al. 2001, Bizzi & Vidotti 2003, Delgado et to cratônico. A cartografia sistemática e os inúme-
al. 2003, Schobbenhaus et al. 2004, Martins-Neto ros novos trabalhos de levantamento geocrono-
2009); lógico em amostras de rocha das lascas tectônicas,
(ii) Os cinturões Espinhaço e Araçuaí, a leste fenster e klippen de complexos metamórficos gnáis-
(Pedrosa-Soares et al. 2001, Alkmim et al. 2006, sicos tipo TTG (tonalito-trondhjemito-granodiorito),
Marshak et al. 2006, Noce et al. 2007b, Pedrosa- contidos nos cinturões, indicam a ampla extensão
Soares et al. 2008, Chemale Jr. et al. 2012); de rochas arqueanas e paleoproterozoicas nos cin-
(iii) O Cinturão Brasília, a oeste (Pimentel et al. turões marginais ao Cráton São Francisco.
2000, Valeriano et al. 2004, Seer et al. 2005, Vale- Assumpção et al. (2002) e Oliveira et al. (2008)

Figura 1. Mapa geológico e de recursos minerais da porção meridional do Cráton São Francisco, modificado
a partir de Heineck et al. (2004), Leite et al. (2004) e Schobbenhaus et al. (2004). Recursos minerais
incluem Metais Nobres e Gemas.
* Suítes: Alto Maranhão, Mercês-Ubari, Muriaé, Pedro Lessa e Ressaquinha. Corpos intrusivos: Açucena,
Alto Jacarandá, Barra Longa, Bicas, Brás Pires, Cansanção, Capela do Saco, Cassiterita, Córrego Estiva,
Córrego Ponte Nova, Cupim, Diogo Vasconcelos, Diorito Ibituruna, Divinésia, Dom Joaquim, Dores do
Campo, Goiaba, Ibitutinga, Itutinga, Jacém, Jacuba, Lambari, Macuco, Mombaça, Morro do Urubu,
Nazareno, Palestina, Passa Tempo, Peti, Pilões, Ribeirão Laranjeira, Ribeirão Pinheirinho, Ribeirão
Vermelho, Ritápolis, Santa Paula, São Félix, São João da Chapada, São José Soledade, São Sebastião
da Vitória, São Tiago, Senhora do Porto, Serra do Carmo, Serrinha, Silverânia, Tabuões e Tonalito Bom
Jesus do Galho.
** Complexos proterozoicos Juiz de Fora, Paraíba do Sul, Piedade e Serra do Jabitacá.
*** Corpos intrusivos arqueanos Bom Jardim, Bonsucesso, Caeté, Coelho, General Carneiro, Itaúna,
Monsenhor Isidro, Samambaia, Santa Luzia, Santana do Paraopeba e Souza Noschese.
**** Complexos arqueanos Acaiaca, Bação, Belo Horizonte, Bonfim, Córrego Taioba, Divinópolis, Gouveia,
Guanhães, Lavras, Mantiqueira e Santa Bárbara.

121
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: setor meridional do Cráton São Francisco

Figura 2 - Mapa de distriibuição dos recursos minerais de Metais Ferrosos, Não-Ferrosos e Semi-Metais do
Quadrilátero Ferrífero. Ver legenda da Figura 1.

122
Lydia Maria Lobato et al.

realizaram estudos de determinação de espessu- crustal tem sido postulada para o Escudo Sul-Ame-
ra elástica Te média da porção meridional do Crá- ricano e também em nível mundial por vários au-
ton São Francisco, na área onde seus limites são tores (e.g. Robb 2005, Begg et al. 2009, Lobato &
definidos por limites tectônicos aflorantes, segun- Baars 2012).
do Bizzi & Vidotti (2003). Os autores indicaram uma Uma parte do evento riaciano, que levou à es-
espessura elástica com anomalia relativamente tabilização cratônica Paramirim, se deve à acres-
baixa, da ordem de 45 km, se comparada com a ção do Cinturão Mineiro (e.g., Teixeira & Figueire-
espessura média esperada de 70 a 80 km para do 1991, Quéméneur et al. 1994, Quéméneur &
outros crátons estabelecidos em nível global. A Noce 2000, Delgado et al. 2003, Lobato & Baars
erosão térmica e o metassomatismo mantélico 2012), que é marcado por um cinturão metaloge-
subsequente, com afinamento da base da litosfe- nético de sul a norte, desde o Complexo Guaxupé
ra durante os cavalgamentos bivergentes centri- até possivelmente o norte do Estado da Bahia,
petais do Neoproterozoico, poderiam ter causado com Sn, Ta, Fe, Mn, U-Au, Cr e esmeralda (Baars et
essa anomalia. Da mesma forma, o tectonismo al. 2003), entre outros.
alóctone neoproterozoico teria alterado e masca-
rado a superfície cratônica, através da superposi- RECURSOS MINERAIS EM ROCHAS DO ARQUE-
ção dos Cinturões Araçuaí-Espinhaço e Brasília, ANO
sem alterar profundamente a constituição cratô-
nica em si. Jazidas de Ouro no Greenstone Belt Rio das
Para a área de interesse do presente traba- Velhas-GBRV
lho, dados de aerogravimetria em escala global
(GeTech 2008) reforçam a noção de um bloco cra- O Estado de Minas Gerais é um dos principais
tônico muito extenso, que adentra por debaixo dos produtores de ouro do Brasil. No mundo, a região
cinturões marginais do Cráton São Francisco Meri- do Quadrilátero Ferrífero-QF representa uma das
dional. Assim, os limites cratônicos estenderiam- mais importantes províncias deste metal, e é a
se para além dos limites já abrangentes, como maior província de depósitos de ouro hospedados
propõem por exemplo Pereira & Fuck (2005). Tam- em formações ferríferas bandadas-FFB de idade
bém estendem-se para além dos limites indicados arqueana do país (e.g., Ribeiro-Rodrigues 1998).
pela mais recente base de dados gravimétricos de Historicamente, o QF é responsável por cerca de
medidas terrestres de Ebinger et al. (1998), e seu 40 % (>1000 t) do ouro produzido no Brasil
mapa de anomalias Bouguer. Os resultados da (>2300 t; Lobato et al. 2000, Vial et al. 2007c).
aerogravimetria são semelhantes, mais detalha- As maiores jazidas auríferas do QF estão em
dos e mais abrangentes que os resultados obti- rochas de idade arqueana, metamórficas, domi-
dos a partir de estudo de sismicidade para o Cin- nantemente da fácies xisto verde, pertencentes ao
turão Brasília de Assumpção et al. (2004). Em to- Grupo Nova Lima da base do Supergrupo-Greensto-
dos os sentidos, os conceitos originais de Cráton ne Belt Rio das Velhas-GBRV (revisões geológicas
São Francisco e Cráton Paramirim se aproximam, regionais e.g. Dorr 1969, Baltazar & Zucchetti
diferindo-se por um intenso evento de erosão li- 2007), incluindo exploração garimpeira histórica
tosférica térmica subcontinental e aloctonia supra- (e.g., Lobato et al. 2000). São mineralizações gold
cratônica (e.g. Pereira & Fuck 2005). only, do tipo ouro orogênico (e.g., Groves et al.
1998, Hagemann & Cassidy 2000), associadas a
Fertilidade Metalogenética alteração hidrotermal estruturalmente controlada,
dominada por silicificação, sulfetação, com forma-
Do ponto de vista metalogenético, a fertilidade ção de quantidades variadas de carbonatos e mica
arqueana, principalmente neoarqueana, e paleo- branca, além de alguma albita, rutilo e outros
proterozoica, principalmente riaciana e orossiria- acessórios.
na, ocorreu junto aos períodos de acresção conti- Embora hospedem-se em todas as rochas do
nental, nas áreas do cráton aflorante e das vas- GBRV, as jazidas mais produtivas estão em
tas porções sotopostas aos cinturões, todas mui- FFBs±chert ferruginoso (e.g., Lobato et al. 2001a)
to atraentes à prospecção e mineração. Esta cicli- e em “lapa seca” (e.g., Ladeira 1991), essa última
cidade de picos metalogenéticos com acresção representando um conjunto de rochas hidroter-

123
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: setor meridional do Cráton São Francisco

mais quartzo-carbonáticas com sulfeto, mica branca através de dissertações e teses de diversas uni-
e albita, sendo responsáveis respectivamente por versidades, além de relatórios internos não publi-
49 % e 47 % do ouro contido. Rochas vulcânicas, cados de empresas de mineração e pesquisa.
máficas e ultramáficas, vulcanoclásticas e sedimen- Trabalhos científicos regionais sobre as mine-
tares hospedam os restantes 4 % (e.g., Lobato et ralizações de ouro na região do QF incluem um
al. 2001a, b) vasto acervo, com inúmeras publicações desde o
As diversas jazidas e ocorrências auríferas (Fig. fim do século XIX, destacando-se principalmente
3) ocorrem nos municípios de Nova Lima, Rio Aci- as de revisão de Ladeira (1991) e referências ali
ma até Ouro Preto, Itabirito, Sabará, Caeté e Santa citadas. Para uma listagem abrangente deve-se
Bárbara, constituindo os distritos auríferos de Nova consultar referências em Lobato et al. (2001 a,b,c),
Lima-Caeté e Barão de Cocais (Ladeira 1991). Há e diversos artigos publicados em Vial et al. (2007c),
também depósitos distribuídos a noroeste do QF, volume 32, do periódico Ore Geology Reviews so-
em faixa NW-SE entre Conceição do Pará e Pitan- bre ouro na região do Quadrilátero Ferrífero.
gui, e ao sul em associação com o lineamento Con-
gonhas (Corrêa-Neto et al. 2011). CONTROLES ESTRUTURAIS DOMINANTES
Dois depósitos de classe mundial são Morro
Velho (mina desativada em 2003), que iniciou sua Depósitos pouco documentados são hospeda-
produção em 1725, acumulou cerca de 470 t de dos em rochas granito-gnáissicas dos diversos
ouro, e foi operada até uma profundidade de 2.500 complexos metamórficos da região, e constituem
m; e Cuiabá, e que contém ~150 t (produção e veios discordantes de quartzo auríferos. Os de-
reservas) desse metal (Vial et al. 2007c). pósitos hospedados nas rochas do Grupo Nova
São várias as minas em operação atualmente Lima são associados com lineamentos regionais
e, de acordo com as próprias empresas detento- constituindo rampas oblíquas, falhas de empurrão,
ras das mesmas, alguns dados mais atuais de pro- de orientação geral NW com caimento para NE (no
dução e outros selecionados incluem: (1) Cuiabá- sul), ou NE caindo para SE (ao norte do município
subterrânea, em Sabará: 1,2 Mt/ano @ ~8 g/t Au; de Nova Lima). De Nova Lima até Juca Vieira (Fig.
produção 103 t Au (1985-2008) (AngloGold Ashanti 3), essas duas orientações de empurrão dão lu-
Brasil Mineração Ltda.-AGA); (2) Lamego, subter- gar à falhas transcorrentes de orientação EW, que
rânea, em Sabará: recurso 35 ton; produção 50 teriam acomodado duas direções de empurrão e
koz/ano (AGA); (3) lineamento Córrego do Sítio, teriam sido as mais favoráveis para a deposição
várias minas subterrâneas, região de Santa Bár- de ouro. São comuns corpos de minério controla-
bara: recurso 4,6 Moz; produção ~100 koz/ano; dos por uma lineação de estiramento que, em ge-
(4) Turmalina-subterrânea, em Pitangui: 1,9 ton ral, coincide com eixos de dobras mergulhando E/
Au @ ~4 g/t Au (2011; Jaguar Mining); (4) Com- SE, ao longo dos quais os corpos são rompidos e
plexo Paciência-minas subterrâneas, região de Ita- ramificados, com modificação da forma das dobras.
birito: 1,1 ton Au @ ~2,88 g/t Au 2011; Jaguar Corpos de minério raramente excedem 300 m de
Mining). Há ainda a revisão para consulta adicio- largura, ocupam as partes centrais de zonas de
nal de Thorman et al. (2001). cisalhamento dúcteis, e podem ser paralelos ao
Além de artigos em periódicos, artigos e resu- bandamento mineralógico de vários tipos rocho-
mos em eventos dominantemente nacionais, a sos, mas especialmente de FFB (e.g., Lobato et al.
maioria dos trabalhos nessas jazidas tem sido 2001a).
desenvolvida em depósitos isolados e conduzida Em trabalho recente, Martins et al. (2011) mos-
por diferentes grupos de trabalho, principalmente tram que, para o caso da jazida Lamego, as es-

Figura 3 - Mapa geológico do extremo sudeste da porção meridional do Cráton São Francisco, ressaltando as
principais ocorrências e minas de ouro indicadas no texto. A maioria acha-se localizada na região do Quadrilátero
Ferrífero associada ao (i) Supergrupo - Greenstone Belt Rio das Velhas-SGRV, (ii) Supergrupo Minas, incluindo
as da região de Mariana, de ouro paladiado do tipo “jacutinga”; e as hospedadas em metaconglomerados da
Formação Moeda. Legenda geológica segundo a Figura 1.
AP: Antônio Pereira; BN: Bananal; CdS Mina Córrego do Sítio; CG: Congo Soco; CN: Conceição; CP: Cata
Preta; JC: Juca Vieira; LM: Lamego; MB: Mina Cuiabá; MBJF: Mina Bom Jesus das Flores; MP: Mina Passagem
de Mariana; MQ: Maquiné; MV: Morro Velho; RC: Rocinha; RP: Raposos; SAN: Santo Antônio; SB: São Bento.

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Lydia Maria Lobato et al.

125
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: setor meridional do Cráton São Francisco

truturas do tipo pinch-and-swell controlam a dependendo do tipo de hospedeira e, no caso de


mineralização. Em escala centimétrica- rochas sedimentares clásticas por ex., arsenopirita
hectamétrica, as mesmas podem desenvolver é dominante, sendo que estibnita e o sulfossal
boudins e, geralmente, exibem formato de tablete bertierita também podem ocorrer (e.g., Lobato et
de chocolate com estrangulamento em duas dire- al. 2001a, c, Lima 2012).
ções perpendiculares entre si. Na escala do corpo Estudos de inclusões fluidas nesses depósitos,
de minério, corpos de minério elipsoidais oblatos como Raposos (Godoy 1994), São Bento (Alves et
correspondem a objetos individuais mineralizados. al. 1997), Cuiabá (Xavier et al. 2000, Lobato et al.
Esse modelo difere daquele indicado para outras 2001a, c) e, mais recentemente na jazida Carvoa-
jazidas arqueanas da região do QF, nas quais a ria, lineamento Córrego do Sítio (Ribeiro 2013), têm
mineralização está, geralmente, associada com indicado fluidos a H2O-CO2, de baixa salinidade, com
dobramentos e/ou estiramento unidirecional. presença de CH4, atestando, portanto, seu cará-
ter redutor. Os valores isotópicos desses fluidos,
ESTILOS DE MINERALIZAÇÃO E HIDROTERMALISMO obtidos por alguns desses autores, apontam se-
rem os mesmos de origem metamórfica, similares
São reconhecidos três estilos principais de a outros depósitos orogênicos do mundo.
mineralização aurífera, tanto em escala de distri- As feições mineralógicas de alteração, que
to, como de mina, refletindo competência litológica, acompanham a mineralização de ouro, são asso-
taxa de strain, pressão de fluido, variações na ciadas com praticamente todos os estilos estrutu-
interação fluido-rocha e composição dos minerais- rais. Isto confirma a noção de um único evento
minério (e.g., Lobato & Vieira 1998; Lobato et al. progressivo de deformação, ao invés de repeti-
1998): (i) substituição de sulfetos estruturalmen- dos, temporalmente distantes, pulsos de fluidos
te controlada em FFB; (ii) sulfetos disseminados hidrotermais (Lobato et al. 2001c).
em zonas de alteração hidrotermal relacionadas É notável que os corpos de minério das maio-
a zonas de cisalhamento; e (iii) veios e sistemas res jazidas estão, via de regra, em contato com
de venulações de quartzo-carbonato-sulfeto filitos carbonosos. Ainda que essas rochas mos-
auríferos (típico de rochas máficas e trem estreitas zonas de alteração a carbonato e
metassedimentares). Os três estilos podem ocor- sulfeto ao longo do contato com o minério
rem em uma mesma jazida, mas o estilo de subs- sulfetado principal, a infiltração de fluido nas mes-
tituição é observado principalmente em jazidas mas foi muito limitada. Essas unidades impermeá-
onde a hospedeira é FFB, como é o caso de Cuiabá veis parecem ter tido papel determinante na loca-
(Ribeiro-Rodrigues et al. 2007), São Bento (Martins- lização da deposição de ouro, atuando como bar-
Pereira et al. 2007), Raposos (Junqueira et al. reira química e física para a solução hidrotermal
2007) & Lamego (Martins 2011; Fig. 3). (e.g., Lobato et al. 2001a, c). Isso fica claro no
Os minerais de alteração hidrotermal desenvol- mapeamento subterrâneo desenvolvido recente-
veram-se em estágio tardi- a pós-metamórfico, já mente na jazida Lamego, onde as massas de quart-
que os mesmos substituem as paragêneses zo fumê, hospedeiras de parte da mineralização
metamórficas. A alteração hidrotermal define halos aurífera são completamente contornadas por filito
proximais a distais em volta dos corpos carbonoso (Martins et al. 2011).
mineralizados. Em rochas hospedeiras de compo- A razão Au/Ag dominante nesses depósitos
sição máfica e ultramáfica há zonas dominadas por varia de 5/1 a 6/1. O ouro ocorre incluso em
clorita, carbonato e mica branca, essa última jun- sulfetos ou como finos filmes em fraturas nesses
to às porções mineralizadas com sulfeto. minerais. Nos depósitos dominados por pirita é co-
Silicificação importante acompanha todas as eta- mum o aumento na quantidade de ouro com o en-
pas da alteração, com veios e massas de quartzo riquecimento de arsênio na pirita e/ou com o apa-
abundantes, especialmente junto ao minério. No recimento de arsenopirita. Grãos de ouro de 50 a
caso de Lamego, p. ex., as zonas de silicificação 120 μm são em geral encontrados na pirrotita, com
tipo quartzo fumê hospedam boa parte do ouro os mais finos (10 a 50 μm) inclusos na pirita. Onde
(Martins 2011). De fato, quartzo fumê rico em in- incluso na arsenopirita e associado com quartzo e
clusões fluidas comumente associa-se aos veios carbonato, ouro é <10 μm (e.g., Lobato et al.
auríferos. Há diferentes populações de sulfetos 2001a, Lima 2012, Martins 2011, Ribeiro 2013)
.
126
Lydia Maria Lobato et al.

ORIGEM E IDADE DAS MINERALIZAÇÕES dia de 20 m), ocorrem em contato gradacional com
as demais rochas. Elas são localmente bandadas,
Até o estabelecimento dos conceitos sobre a de textura granoblástica, contendo rodocrosita,
gênese das jazidas auríferas orogênicas em ter- espessartita, rodonita e olivina de manganês
renos metavulcanossedimentares (e.g., Groves et (tefroita), além de grafita, pirofanita, apatita e os
al. 1998), Ladeira (1980, 1991) defendia gênese sulfetos (Candia & Girardi 1979) pirita, calcopirita,
singenética, por vulcanismo exalativo; a gênese covelita, bornita, pirrotita e galena (inclusive
epigenética em zonas de cisalhamento seria res- alabandita-Mn2+S), esses últimos disseminados e
trita para depósitos em rochas metavulcânicas. preenchendo fraturas e falhas (Viana 2009). São
Uma gênese epigenética e sintectônica era classificadas como rochas sílico-carbonáticas e
sugerida por diversos autores (e.g., Vieira & Oli- constituem os protominérios (30 % MnO) de
veira 1988, Scarpelli 1991). A gênese hidrotermal manganês. Representam o produto metamórfico
epigenética desses sistemas auríferos é hoje am- de rochas sedimentares quartzo-carbonáticas (em
plamente aceita (e.g., Lobato & Vieira 1998, Lobato especial carbonatos de manganês)-aluminososas,
et al., 1998, Lobato et al., 2001 a, c). A idade U-Pb o que resultou em rochas granoblásticas de com-
SHRIMP de 2,67 + 0,014 Ga de monazita posições variadas, desde extremamente silicáticas
hidrotermal em pirita aurífera das jazidas Cuiabá e até carbonáticas. Essa variação recebeu os ter-
Morro Velho (Lobato et al. 2007) indica que a mos gondito e queluzito, respectivamente em re-
mineralização está relacionada aos estágios mais ferência aos protominérios ricos em quartzo e
tardios da evolução do GBRV (Lobato et al. 2001a, espessartita e aos ricos em rodocrosita e silicatos
b; Noce et al. 2007a). de manganês (espessartita, tefroíta e Mn-
cummingtonita; Pires 1977). Os gonditos podem
Jazidas de Manganês ser bandados, com alternância de espessartita e
quartzo, enquanto os queluzitos são maciços, sem
Na região do QF existe um grande número de quartzo.
pequenos depósitos de manganês (Serra da Mo- A atividade exploratória no Distrito
eda, Serra de Gandarela, Ouro Preto e outras lo- Manganesifero de Conselheiro Lafaiete foi feita,
calidades), além de áreas ao sul, na região de principalmente, a partir de óxidos de manganês
Conselheiro Lafaiete-Ritápolis-Nazareno (Fig. 4). do minério supergênico, especialmente o formado
O distrito manganesífero de Conselheiro Lafaiete do protominério rodocrosítico (queluzito). O miné-
conta com muitos depósitos, porém nenhum com rio oxidado é uma rocha coesa, negra e densa,
as dimensões do Morro da Mina com produção ini- com pirolusita, criptolomelana, psilomelano e
ciada em 1902, e que até 1955 produziu 6.074.238 manganita, de ocorrência restrita e pouco volu-
t de minério secundário com um teor médio em me. Após exaurido o minério supergênico, na dé-
torno de 45 % Mn. Morro da Mina é atualmente cada de 1970, os protominérios sílico-carbonáticos
operada a céu-aberto pela empresa Vale, com teor passaram a ser explotados.
médio de minério de 24 % de MnO (www.vale.
com), tendo a empresa iniciado a lavra subterrâ- ORIGEM E IDADE DAS MINERALIZAÇÕES
nea recentemente.
Dominam xistos a mica, clorita, anfibólio e tal- O controle estratigráfico e litológico das mine-
co, anfibolitos e rochas sílico-carbonáticas do Gru- ralizações de manganês, assim como sua associ-
po (Grossi-Sad et al. 1983, Endo 1997) ou ação ao vulcanismo máfico e ultramáfico submari-
Greenstone Belt (Pires 1977, Toledo 2002) no, são utilizados para sugerir uma origem vulca-
Barbacena, agrupadas nas Unidades Ultramáfica, nogênica exalativa para a concentração original
Máfica e Metassedimentar Clástica por Seixas do manganês (e.g., Pires 1977). Por outro lado,
(1988). Ebert (1963) introduziu o nome Formação em face das características geológicas e petrográ-
Lafaiete a uma sequência de rochas com minério ficas das rochas da Mina Pequeri, no mesmo dis-
de manganês situada entre o Grupo Barbacena e trito, Lages (2006) indica que a rocha cálcio-silicá-
o Supergrupo Minas-SGM. tica, rica em rodonita e olivina tefroíta, correspon-
Rochas metamórficas manganesíferas, em ca- da a um escarnito gerado pelo metamorfismo de
madas de espessura extremamente variável (mé- contato entre os carbonatos de manganês e a in-

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Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: setor meridional do Cráton São Francisco

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Lydia Maria Lobato et al.

trusão do Tonalito Pequeri, tendo atingido a fáci- idade deposicional máxima do Paleoproterozoico
es hornblenda-hornfels. Metamorfismo de conta- (Corrêa-Neto et al. 2011). Esses dados sugerem a
to já fora discutido por Park et al. (1951) e Lourei- possibilidade das rochas hospedeiras das mine-
ro (1979). Conforme apontado por Park et al. ralizações manganesíferas da região de Conse-
(1951), alabandita, além de rodonita e rodocrosi- lheiro Lafaiete serem de idade paleoproterozoica.
ta, é comumente um mineral hidrotermal, e sua
presença sugere que as rochas cálcio-silicáticas RECURSOS MINERAIS EM ROCHAS DO PALEO-
(protominérios) teriam sido geradas por hidroter- PROTEROZOICO
malismo e não apenas por metamorfismo de con-
tato; a presença de sulfetos em veios é também Jazidas de Ferro do Quadrilátero Ferrífero
indicativa da ação hidrotermal. A deposição de
manganês pode ter se iniciada no estágio meta- Na região do QF são lavrados corpos de miné-
mórfico (espessartita) e continuado até o hidro- rios de ferro de alto teor, compacto a semi-friável
termal (Park et al. 1951), semelhantemente à for- e friável, com teores históricos 64 % Fe, além de
mação de jazidas escarníticas. Assim, parte do itabirito enriquecido com teores entre 30 e 60 %
manganês seria epigenético, introduzido a partir Fe. Após um período de intensa explotação nos
de fluidos magmáticos, e não apenas singenético, últimos 30 anos, a empresa Vale calculou para suas
derivado da rocha sedimentar carbonática original. áreas reserva de 6 a 8 Bt de itabirito (30 a 60 %
Apesar da inexistência de datações geocrono- Fe), 4 Bt de minério com teor em Fe >52 %, inclu-
lógicas precisas, as rochas metavulcanossedimen- indo no mínimo 600 Mt remanescentes de minéri-
tares da região de Conselheiro Lafaiete, incluídas os com teor em Fe >62 % (comunicação pessoal
como parte do Greenstone Belt Barbacena, têm sido da Vale 2007).
historicamente correlacionadas ao GBRV, do Neo- No domínio ocidental (definição de Rosière et
arqueano, da porção interior do QF (e.g. Pires 1977, al. 2001) do QF, a estruturação é controlada por
Supriya 2000). Por essa razão, as jazidas de man- dobras flexurais e falhas, e os corpos de minério
ganês do presente capítulo acham-se descritas no apresentam trama granoblástica e granulação re-
item Recursos Minerais em Rochas do Arqueano. lativamente fina com relictos de magnetita/marti-
A leste da região de Conselheiro Lafaiete, há ta e texturas de substituição/oxidação que indi-
ainda diversas ocorrências de ouro orogênico ao cam baixa deformação interna. Já no domínio ori-
longo do cinturão metavulcanossedimentar Con- ental (Rosière et al. 2001), as rochas têm maior
gonhas-Itaverava (Corrêa Neto et al. 2011). O deformação interna e zonas de cisalhamento, es-
mesmo é também considerado por Pires (1977) e pessura de até centenas de metros, desenvolvem
Barbosa (1985) como parte do Greenstone Belt corpos de itabirito e minério xistoso, com quase
Barbacena, que foi separado em dois cinturões por total obliteração da estruturação sedimentar/dia-
Ávila et al. (2006), sendo que um deles, o de Rio genética da FFB e progressiva eliminação das evi-
das Mortes (ao norte da cidade de São João del dências dos estágios precoces de alteração hidro-
Rei), une-se ao de Congonhas-Itaverava. Recen- termal e mineralização.
temente, Ávila et al. (2006) obtiveram idades pa- Depósitos do domínio ocidental compõem um
leoproterozoicas para rochas do Greenstone Belt grupo relativamente uniforme com características
Rio das Mortes. Idade paleoproterozoica de mineralógicas e texturais semelhantes. O minério
2349±14Ma (U-Pb SHRIMP) é também indicada por é geralmente maciço a bandado, como corpos
análise em zircão detrítico de metagrauvaca do aproximadamente colunares em zonas de charnei-
topo da faixa Congonhas-Itaverava, apontando ra de dobras, ou na zona de interferência entre

Figura 4. Mapa geológico do extremo sudeste da porção meridional do Cráton São Francisco, ressaltando as
principais ocorrências e minas de ferro, manganês e alumínio indicadas no texto. A maioria acha-se localizada
na região do Quadrilátero Ferrífero, além da região de Serro e Conceição do Mato Dentro. Base geológica e
legenda segundo a Figura 1.
AC: Águas Claras; AG: Alegria; AN: Andrade; BO: Bocaina; BR: Brucutu; CA: Cauê; CF: Córrego do Feijão;
CM: Capitão do Mato; CN: Conceicão; CP: Casa de Pedra; CX: Capão Xavier; ES: Esperança; FZ: Fazendão;
JG: Jangada; MC: Morro do Cruzeiro; MM: Morro da Mina; MT: Mutuca; PI: Pico; TA: Tamanduá; TB: Timbopeba;
SS: Serra da Serpentina.

129
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: setor meridional do Cráton São Francisco

elas (Rosière & Rios 2004, Dalstra & Rosière 2008). regional. Em zonas de cisalhamento, a deforma-
Diversos corpos de minério, como os da Mutuca, ção resulta em trama com cristais euédricos/su-
Capão Xavier, Tamanduá e Capitão do Mato, são bédricos de especularita e hematita tabular, am-
controlados por dobras de eixo NW-SE e são loca- bos classificados como hematita III.
lizados no flanco oriental do sinclinal Moeda (Fig. Hematita placóide ou especularita, variando de
4), mas também associados à falha da Mutuca. Os algumas dezenas de μm até vários mm, ocorre em
depósitos Águas Claras, Córrego do Feijão, Jan- corpos deformados, resultando em trama orienta-
gada e Bocaina são controlados por dobras NE- da tanto quanto à forma como à estrutura crista-
SW e falhas que acompanham a Serra do Curral lina. Isso define uma xistosidade relacionada ao
(SW de Belo Horizonte) no limite noroeste do QF. plano axial de dobras ou zonas de cisalhamento
O gigantesco depósito de Casa de Pedra (Guild (Rosière et al. 2001), onde especularita elongada
1953, 1957), da Companhia Siderúrgica Nacional gera uma conspícua lineação mineral.
– CSN, localiza-se no SW do QF, próximo à junção
dos sinclinais Moeda (eixo N-S) e Dom Bosco (eixo ORIGEM DOS MINÉRIOS DE ALTO TEOR
E-W). Falhas de cavalgamento exerceram impor-
tante controle na distribuição dos corpos de mi- Minérios de alto teor resultam da interação de
nério hematíticos-martíticos, em charneiras de do- processos hipogênicos (do Proterozoico), pela
bras reclinadas, envolvidos por minério friável de substituição hidrotermal de itabirito, e posterior
alto e baixo teores. supergênese (do Recente; Guild 1953, Dorr 1964,
Os corpos de alto teor do domínio oriental são 1965, Eichler 1968, Ribeiro et al. 2002, Spier et al.
xistosos, presentes em zonas de cisalhamento dúc- 2007, Rosière et al. 2008). O hidrotermalismo de-
teis. Os depósitos Fazendão, Timbopeba, Alegria, senvolveu-se preferencialmente em sítios de bai-
Brucutu, Cauê e Conceição (Fig. 4) são exemplos, xa deformação, tais como charneira de dobras,
e representam as maiores reservas ainda dispo- sendo os fluidos conduzidos principalmente nes-
níveis no QF, embora sejam constituídos principal- sas estruturas e ao longo de falhas regionais, sí-
mente de minérios hematíticos de baixo teor. tios apropriados para a ação prolongada dos flui-
dos mineralizadores.
CARACTERÍSTICAS MINERALÓGICAS DOS MINÉRIOS Três estágios de enriquecimento hipogênico
DE FERRO ocorreram durante a orogênese transamazônica
(aprox. 2,1-2,0 Ga), sendo que os dois primeiros
Kenomagnetita, i.e., magnetita deficiente em Fe+2 estão bem preservados no domínio ocidental. Es-
(Kullerud et al. 1969, Morris 1980, Rosière 1981), é tudos geocronológicos em monazita de veios hi-
onipresente em corpos de minério no domínio de drotermais com hematita-martita, a oeste da Ser-
baixa deformação. Pode ocorrer como relictos, inclu- ra do Curral, indicam idade U-Pb SHRIMP de 2034
sos em agregados de maghemita (χ-Fe2O3), martita ± 11 Ma para a mineralização de ferro (Rosière et
e hematita, mas também inalterada em alguns al. 2012).
corpos individuais. No depósito Feijão (Fig. 4), ex- Durante o primeiro estágio, fluidos hidrotermais
tremidade ocidental do QF, magnetita/kenomag- de baixa temperatura (Th = 115-140oC, em inclu-
netita pode dominar. Relações texturais sugerem sões fluidas na hematita; Rosière & Rios 2004) li-
que magnetita era o mineral dominante no miné- xiviaram sílica e carbonatos e, em menor propor-
rio, mas também de extensa ocorrência nas FFBs ção, mobilizaram ferro, resultando na formação de
antes de sua oxidação progressiva (Rosière 1981), corpos maciços ou bandados de magnetita (p. ex.
com martitização, evoluindo para hematita ané- depósitos Feijão e Jangada), de veios de magne-
drica, hematita I, de contornos irregulares a loba- tita/hematita e corpos de itabirito rico. A magneti-
dos (dimensões 0,01-0,2 mm). ta cresceu associada ao dobramento durante o
Cristais granulares (granoblásticos) isométricos Transamazônio (Rosière et al. 2008). As FFBs ex-
(comumente <200 μm) constituem a hematita II, perimentaram dobramento desarmônico, por des-
intercrescida com I. No domínio oriental, hematita lizamento flexural junto com falhas reversas, como
II é comumente subédrica definindo trama grano- visto em diversos depósitos nos flancos do sincli-
blástica poligonal; o tamanho dos grãos aumenta nal Moeda. Corpos de alto teor ocorrem tanto as-
progressivamente com o grau de metamorfismo sociados às dobras de eixo NE-SW como NW-SE,

130
Lydia Maria Lobato et al.

sugerindo formação como parte de processo de III tabular associada a veios de quartzo. Essa
longa duração durante toda a fase compressiva geração é especialmente abundante em depósi-
da orogênese. Rosière & Rios (2004) sugiram flui- tos como Conceição, Fazendão e Andrade (Fig. 4).
dos hidrotermais metamórficos como responsáveis Especularita e hematita III contêm inclusões flui-
pelo primeiro estágio de mineralização. Óxidos de das altamente salinas, de mais alta temperatura
ferro em veios indicam mobilização de Fe em fra- (Th de 140- >205oC; Rosière & Rios 2004) em rela-
turas, comumente em zonas de charneira de do- ção ao domínio ocidental. Enquanto hematita III
bras. Veios ocorrem nos níveis superiores de al- foi precipitada em espaços vazios e veios, espe-
guns depósitos, como Bocaina e Esperança, ramo cularita forma cristais orientados na xistosidade.
oeste da Serra do Curral. É possível que esse tipo de minério se desenvol-
A concentração de grandes depósitos ao longo veu em níveis crustais mais profundos, sob tem-
do flanco NE do sinclinal Moeda, próximo à falha peraturas mais elevadas, como evidenciado por
da Mutuca, como Mutuca, Capão Xavier, Taman- dados termobarométricos e associação de mine-
duá e Capitão do Mato, sugere que descontinui- rais metamórficos nas rochas encaixantes do do-
dades tectônicas regionais, tais como falhas trans- mínio oriental. Neste domínio de falhas de caval-
correntes e cavalgamentos, serviram como con- gamento, observa-se imbricamento das unidades
dutos de fluidos, controlando parcialmente corpos do SGM com rochas metassedimentares mesopro-
de magnetita (Dalstra & Rosière 2008). Corpos terozoicas do Supergrupo Espinhaço provavelmen-
magnetíticos estão geralmente associados a en- te pela superposição de estruturas brasilianas.
riquecimento de carbonato (metassomatismo de Rochas de diferentes graus metamórficos foram
CO 2), particularmente evidente na extremidade assim justapostas e minérios desenvolvidos em
oeste do QF. Uma dolomita rica em Fe forma porfi- níveis crustais mais profundos trazidos para ní-
roblastos semelhantes à magnetita em itabiritos veis mais rasos, resultando no atual cenário geo-
carbonáticos, como no depósito Águas Claras (Ro- lógico observado na metade oriental do QF.
sière & Santos 2004), atualmente exaurido. Durante o Neógeno, o enriquecimento super-
O segundo estágio de enriquecimento hipogê- gênico originou corpos friáveis em torno dos cor-
nico é caracterizado pela substituição e oxidação pos compactos, de menor dimensão, tipicamente
de magnetita por hematita (martita) e formação associados a itabiritos dolomíticos. Ambos, friáveis
de hematita I, em todos os depósitos do domínio e compactos, compõem os corpos gigantescos de
ocidental (p. ex. Mutuca, Feijão e Pico; Fig. 4). minérios de alto teor do QF, resultantes da super-
Martitização é atribuída ao aumento da fO e/ou posição de processos hipogênicos e supergênicos.
2
queda da temperatura do fluido hidrotermal. A
hematita II se formou de fluidos hidrotermais de Jazidas de Ferro da Serra da Serpentina, Con-
salinidade moderada a baixa. Esse estágio é par- ceição do Mato Dentro
ticularmente importante no enriquecimento do ita-
birito dolomítico. A dolomita rica em Fe oxida for- As FFBs da região de Conceição do Mato Den-
mando hematita, com lixiviação de Mg, Ca e CO2 e tro (Fig. 4), 150 km NE de Belo Horizonte, são co-
geração de corpos hematíticos de alto teor. Da- nhecidas desde o século XVIII, e já no início do
dos de inclusões fluidas na hematita II sugerem século XIX foram usadas para alimentar o primei-
que águas meteóricas modificadas teriam perco- ro alto forno da América do Sul, instalado em 1808
lado fraturas e falhas normais durante o soergui- em Morro do Pilar. No início da década de 1980,
mento e distensão da crosta ao longo da orogê- estes depósitos voltaram a ser pesquisados (Vi-
nese transamazônica (Rosière & Rios 2004). Re- lela & Santos 1983). Porém, foi somente a partir
sulta minério poroso a maciço, de trama grano- de 2005, com a elevação dos preços internacio-
blástica desenvolvida de forma heterogênea por nais do minério de ferro, que essas FFBs de baixo
recristalização sin- a pós-metamórfica (Rosière teor em ferro passaram a ser exploradas de for-
1981, Rosière et al. 2001). ma intensiva, permitindo a definição de uma es-
Um terceiro estágio hipogênico está associado tratigrafia e a caracterização tecnológica das FFBs.
a cavalgamentos que dominam a estrutura tectô- Os três principais depósitos de ferro são Serra
nica do domínio oriental. Formaram-se cristais sin- do Sapo, Serra da Serpentina e Morro do Pilar. O
deformacionais de especularita, além de hematita primeiro tem 15 km de extensão, direção NNW e

131
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: setor meridional do Cráton São Francisco

camadas de itabirito com até 300 m de espessura Vial et al. (2007b e referências citadas) represen-
(100 m em média), mergulhando 20° para ENE. ta a revisão mais atualizada do assunto, de onde
Serra da Serpentina tem 32 km de comprimento, parte das informações são retiradas.
direção NW a WNW e mergulho suave para NE. Há O depósito de ouro Passagem de Mariana pro-
duas camadas de FFB nos primeiros 20 km a sul duziu mais de 60 t de ouro, desde o século XVIII
de Conceição do Mato Dentro, devido à repetição até 1954 e a mina foi desativada em 1985. Cor-
por falhas de empurrão. Já Morro do Pilar tem ex- pos de minério estão hospedados na base de ita-
tensão de 22 km, direção N-S e inflete bruscamente biritos da Formação Cauê, Grupo Itabira, SGM, em
para leste no seu extremo sul. O itabirito tem es- contato com quartzo-carbonato-biotita-sericita xis-
pessura variável, até 250 m a sul, e entre 10 e 50 to e unidades descontínuas (fatias tectônicas im-
m no trecho a norte. bricadas do Grupo Nova Lima), e correspondem a
Os três depósitos têm características minera- veios de quartzo, ankerita, turmalina, sericita e
lógicas e químicas semelhantes, contendo quart- sulfetos, estruturalmente controlados.
zo, hematitas do tipo especular, tabular e globu- Alteração hidrotermal associada aos veios in-
lar, além de magnetita. Os minérios são compac- clui enriquecimento em quartzo (silicificação), tur-
to, friável e hematitas, o primeiro perfazendo cer- malina e sulfetos. Turmalina preta, localmente cha-
ca de 55 % do total, com teores médios de 33 % mada “carvoeira”, está presente em todos os ti-
de Fe total. O itabirito friável inclui minério pulve- pos de rocha do depósito, sendo a alteração mais
rulento, e atinge 60 % do total na Serra da Ser- intensa em filitos sericíticos, grafita-sericita filitos
pentina, com teores médios de 43 % de Fe total. e rochas carbonáticas. Os sulfetos estão concen-
Raros corpos de hematita têm teores médios de trados ao longo das bordas dos veios, ou disper-
67 % de Fe total. sos nesses, sendo o mais abundante arsenopiri-
O teor de ferro dos itabiritos compactos é pró- ta, comumente associada a pirita e pirrotita. Abun-
ximo dos valores em FFB, sugerindo a pouca im- dância de ouro é diretamente proporcional à con-
portância do enriquecimento hipogênico na região. centração de sulfeto.
Já os maiores teores dos itabiritos friáveis e pul- A geologia da mina Passagem de Mariana tem
verulentos indicam enriquecimento supergênico, o sido abordada por inúmeros autores desde o fim
que é comprovado pela relação inversa entre pro- do século XIX, conforme citações em Vial et al.
fundidade e teor. Os corpos de hematita parecem (2007b). Estratigrafia, estruturas e gênese do de-
ter formado devido à presença de falhas de em- pósito têm sido tema de debate, e a gênese do
purrão com fluidos hidrotermais associados, pois minério permanece controversa. Alguns autores,
os mesmos são xistificados, milonitizados e, co- como Fleischer & Routhier (1973), propõem uma
mumente próximo a zonas de falha, há veios de origem singenética para os veios mineralizados,
quartzo (Rolim 2010). O potencial de recursos enquanto outros autores sugerem uma origem epi-
geológicos atual é estimado em 8 Bt de minério na genética (vide referências em Vial et al. 2007a, b).
Serra do Sapo, 10 Bt na Serra da Serpentina e 4 Vial et al. (2007b) sugerem que a mineralização
Bt em Morro do Pilar (Rolim 2010). Ainda são co- orogênica ocorreu entre 2,12 e 2,04 Ga, como re-
nhecidos os depósitos Itapanhoacanga e Serro, sultado de circulação de fluidos hidrotermais ricos
com características semelhantes. em CO2 e de baixa salinidade ao longo de falhas
de empurrão paralelas ao acamamento.
Ouro da Região de Mariana e Arredores
Ouro Paladiado do Tipo “Jacutinga”
Uma extensa faixa mineralizada em ouro no SE
do QF ocorre por mais de 23 km, desde Ouro Pre- As FFBs paleoproterozoicas da Formação Cauê,
to até Antônio Pereira (Fig. 3), incluindo as minas Grupo Itabira-SGM, hospedam uma classe especi-
abandonadas Veloso, Palácio Velho ou Chico Rey, al de depósitos de ouro paladiado denominada ja-
Bom Jesus das Flores, Taquaral, Passagem de cutinga. As jacutingas correspondem a corpos de
Mariana, Santo Antônio, Mata Cavalo, Morro Re- minério de origem hidrotermal, estruturalmente
dondo, Morro Santana, Rocinha e Antônio Pereira controlados (Olivo et al. 1995) e são restritas à
(Vial et al. 2007b), formando o Distrito de Mariana região do QF (Galbiatti et al. 2007). Diversos tra-
(Dardenne & Schobbenhaus 2003). O trabalho de balhos abordam esses depósitos desde o fim do

132
Lydia Maria Lobato et al.

século XIX, conforme citações em Galbiatti et al. Ouro e Urânio em Metaconglomerados Piritosos
(2007), destacando-se os trabalhos de Olivo et al.
(1995) e Cabral (1996), que tratam dos aspectos As rochas metassedimentares clásticas da For-
estruturais e gênese do minério. As principais áre- mação Moeda, base do SGM na região do QF, re-
as mineradas no século XIX foram Gongo Soco, pousam discordantemente sobre o SGRV, sendo
Bananal, Cata Preta, Maquiné e Itabira (Fig. 3), compostas por quartzito, metaconglomerado e fi-
além de diversas ocorrências menores do leste do lito. Os metaconglomerados, que ocorrem em len-
QF. A empresa Vale minerou 705 kg de Au-Pd en- tes de espessura métrica, e quartzitos, ambos de
tre 1987 e 1990 nas minas de Conceição em Itabi- origem aluvionar, representam paleocanais por
ra (Leão de Sá & Andrade 1990 apud Olivo et al. sobre uma superfície de aplainamento sobre os
2001). Já na mina Cauê, a Vale produziu 8 t de xistos arqueanos do Grupo Nova Lima, SGRV. Os
ouro a partir de minério com teor aproximado de metaconglomerados basais hospedam mineraliza-
30 g/t Au (Galbiatti et al. 2007), com teores médi- ção de urânio e ouro associados, especialmente
os de elementos do grupo da platina em 4,0 % nos sinclinais Moeda, Gandarela e Ouro Fino (Fig.
Pd, 0,1 % Pt, 0,6 % Ag, além de 0,5 % Cu. 3), com depósitos que cobrem 17.000 km2 (Minter
Os principais depósitos de jacutinga estão hos- 2006). A matriz é quartzosa, sericítica, piritosa (5-
pedados em itabiritos, em estruturas orientadas 20 %), e carbonosa em certos níveis mineraliza-
NE, nos sinclinais Itabira e Gandarela (vide Fig. 1 dos, também contêm pirofilita e alguma clorita.
de Rosière et al. 2008). Os corpos de minério con- Entre os minerais pesados da matriz, pirita é o
têm ouro livre, comumente como pepitas e agre- mais abundante (entre 50 e 95 %), além de zir-
gados intercrescidos com especularita, Elementos cão, rutilo, turmalina, monazita, diferentes sulfe-
do Grupo da Platina (EGP); sulfetos são ausen- tos de Cu-(Fe) (calcopirita, covelita, idaita) e al-
tes. Minerais secundários são goethita, especula- gum ouro (Minter et al. 1990). Os seixos, a maioria
rita, talco, flogopita, caolinita, óxido de manganês, bem arredondados, são de quartzito e de quartzo
quartzo, hematita e magnetita; acessórios são tur- leitoso ou fumê, raramente de chert ou formação
malina, monazita, zircão, apatita, ilmenita, epido- ferrífera, e variam até cerca de 20 cm. São em geral
to e rutilo. ortoconglomerados clasto-suportados.
Em Gongo Soco, a jacutinga ocorre como veios Pesquisas para urânio da década de 1970, pela
e vênulas em minérios de ferro hematítico friável empresa Nuclebrás, e mais tarde para ouro, mos-
e em itabiritos adjacentes (Cabral et al. 2001). Os traram que os principais minerais uraníferos são
veios de jacutinga são friáveis e compostos por brannerita, uraninita e coffinita. Os metaconglo-
especularita, com talco, caolinita, quartzo, goethi- merados uraníferos são essencialmente oligomíti-
ta e óxido de manganês subordinados (Hussak cos, constituídos principalmente por seixos de
1904 in Cabral et al. 2001). O ouro ocorre como quartzo bem arredondados. O teor médio de U3O8
pepitas intercrescido com hematita especular, ti- pode atingir 800 a 1000 ppm (Villaça & Moura
picamente formando liga com Pd (Hussak 1904 in 1985); os recursos geológicos foram estimados
Cabral et al. 2001), além de inclusões de arsenia- pela Nuclebrás em 15.000 t de U3O8 contido (Java-
tos e antimoniatos de Pd. roni & Maciel 1985).
A idade da mineralização tipo jacutinga não é Os metaconglomerados contêm três tipos de
bem estabelecida. Olivo et al. (1996) definem ida- pirita (Renger et al. 1988), semelhantes aos iden-
de de 1,83±0,10 Ga, com base em isócora Pb-Pb tificados por Hallbauer (1981) nos depósitos aurí-
em amostra de jacutinga com ouro, especularita e feros do Witwatersrand, África do Sul: i) grãos
quartzo. Outros autores, como Galbiatti et al. maciços, detríticos alogênicos, em média de 3 a 5
(2007) e Varajão et al. (2000), sugerem idade bra- mm, com arredondamento variável e sobrecresci-
siliana para veios do tipo jacutinga ccm Au-Pd. mento comum de pirita de geração posterior; ii)
Outros depósitos de Au-Pd (±Pt) descritos no tipo mais abundante que corresponde a agrega-
mundo têm sido comparados aos de jacutinga do dos microcristalinos porosos (5 a 10 mm, poden-
QF. Estes incluem exemplos na Austrália (e.g., Se- do atingir 30 mm ou mais) e bandados, principal-
ner et al. 2002), Marrocos (Ghorfi et al. 2006), além mente esferoidais com estrutura concêntrica, la-
do depósito Serra Pelada no Pará (Cabral et al. melar ou fibrosa, comumente com inclusão de ma-
2007). terial carbonoso-argiloso; iii) grãos maciços eué-

133
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: setor meridional do Cráton São Francisco

dricos (<1 a 5 mm), também em cubos. Ocorre parte hidrotermal para a mineralização aurífera nos
ainda pirita com estrutura celular (bactérias mi- metaconglomerados. O ouro teria sido precipitado
neralizadas?) ou remobilizada em fraturas. O tipo em zonas de cisalhamento devido à matéria carbo-
ii é considerado singenético, formado em condi- nosa e minerais ferro-magnesianos. O autor mos-
ções sedimentares anóxicas nos próprios paleo- tra que ouro também ocorre em fraturas, na pirita
canais e redepositado nos conglomerados, o tipo arredondada, e associado a minerais metamóficos
iii como diagenético a hidrotermal, comumente como pirofilita e clorita, além de pirita esqueletal.
como sobrecrescimento de grãos rolados. Por outro lado, elementos-traço (Ni, Co, Mo, Cu) nos
O ouro ocorre principalmente na pirita porosa diversos tipos de pirita do depósito de paleopla-
ii), em grãos de 10 a 20 mm, e também nas bor- cers do sinclinal de Ouro Fino, apontam proveniên-
das e fraturas internas da pirita recristalizada i). cia a partir de rochas máficas/ultramáficas, do GBRV,
Neste caso, pode associar-se a pequenas quan- para a pirita detrítica maciça (Koglin et al. 2010,
tidades de arsenopirita, pirrotita, pentladita, cal- 2011). Esses autores também sugerem evento hi-
copirita, covelita, calcocita, e gersdorffita. O ouro drotermal mais jovem, possivelmente Neoprotero-
detrítico tem teores de 12 % de Ag e 2 % de Hg zoico, baseado em enriquecimento em boro nos
(Renger & Minter 1986). O teor de ouro dos con- quartzitos conglomeráticos
glomerados, de 5 a 10 g/t, pode loalmente atin-
gir algumas dezenas de g/t. Em geral, os maio- OUTROS RECURSOS MINERAIS
res teores ocorrem na parte basal do conglome-
rado, entre 10 e 30 cm do contato. Bauxita
As características sedimentológicas e de mi-
neralização se assemelham muito às dos con- Existem poucas publicações sobre as jazidas de
glomerados do tipo modified paleoplacers de Wi- bauxita da região do QF. Apesar de pequenas e hoje
twatersrand, em especial do Ventersdorp Con- quase exauridas, as jazidas nos arredores de Belo
tact Reef (VCR) na África do Sul, porém as idades Horizonte, Nova Lima, Caeté, Barão de Cocais, San-
são diferentes: ca. de 2580 Ma para a base da ta Bárbara e Ouro Preto/Mariana (Fig. 4), têm um
Formação Moeda (Renger et al. 1994, Hartmann papel importante na história da indústria de alumí-
et al. 2006), e 2714 + 8 Ma para o VCR (Frimmel nio no Brasil. Os depósitos acham-se sobre dolomi-
2005), bem como é a dimensão das bacias e a tos e itabiritos do Grupo Itabira e, mais raramente,
quantidade de ouro acumulado. quartzitos e mica xistos (com até 90 % de mica) da
Há duas jazidas, Palmital e Ouro Fino, de pe- base do Grupo Piracicaba. São minérios de boa qua-
queno porte. Uma está situada ao sul do sincli- lidade, ricos em ferro (até 30 % Fe2O3) e baixa sílica
nal Gandarela, com recursos geológicos da or- (<4 %; Kotschoubey 1988).
dem de 5 t de Au contido e teor médio ~6 g/t. A A bauxita dos arredores de Ouro Preto foi lavra-
outra ocorre no flanco oeste do sinclinal Ouro Fino da, em pequena escala, durante os anos 1920, para
com recursos de aproximados de 2 a 3 t de Au e abastecimento de indústrias químicas em São Pau-
teor da ordem de 5,5 g/t). Ambas tiveram as suas lo. A primeira corrida de alumínio de Ouro Preto acon-
operações paralisadas recentemente (www.ja- teceu nos anos 1940, mas, com o fim da Segunda
guarmining.com). Há ainda um bom potencial em Guerra Mundial, houve excesso de metais no mer-
outras jazidas associadas aos megassinclinais cado mundial. A empresa canadense Alcan, hoje sob
Moeda, Gandarela e Ouro Fino, porém em gran- o nome Novelis (do mesmo grupo), assumiu a ope-
de profundidade. Há muito potencial no fecha- ração em 1950. A fábrica usa o minério direto no
mento do Sinclinal do Gandarela, na área das In- processo Bayer para a fabricação de alumina.
dústrias Nucleares do Brasil (antiga Nuclebrás- A maior jazida de bauxita do QF era a do Morro
Empresas Nucleares Brasileiras S/A), onde foram do Cruzeiro (Saramenha) que forneceu aprox. 5 Mt
estimados recursos ainda não comprovados de de minério (teor ca. de 38 % de Al2O3) para a planta
cerca de 30 toneladas. em Saramenha entre 1965 e 1992, hoje exaurida.
Desde os anos 1990, a fábrica está sendo abaste-
ORIGEM DAS MINERALIZAÇÕES cida com bauxita de diversos depósitos menores e
cada vez mais distantes situados nos municípios de
Pires (2005) levanta a hipótese de origem em Santa Bárbara (Faz. Gandarela e Mato Grosso, Faz.

134
Lydia Maria Lobato et al.

Vargem), Caeté (Faz. Lopes), Mariana (Monjolo), G.G., Cruz S.C.P., Whittington A. 2006. Kinematic
evolution of the Araçuaí-West Congo orogen in Bra-
Nova Lima (Mutuca) e Itabirito (Lagoa Seca). As zil and Africa: Nutcracker tectonics during the Neo-
jazidas da Serra de Gandarela (Santa Bárbara e proterozoic assembly of Gondwana. Prec. Res.,
149:43-64.
Caeté) são as maiores com uma produção anual
Almeida F.F.M. de 1977. O Cráton do São Francisco.
de aprox. 390.000 t/a (Minérios & Minerales 2008). RBG, 7:439-463.
A gênese da bauxita do QF está associada ao Almeida F.F.M. de 1981. O Cráton do Paramirim e suas
relações com o do São Francisco. Anais I Simpósio
desenvolvimento das superfícies pós-Gondwana do Cráton do São Francisco e suas Faixas Marginais
e Sulamericana junto com a formação de canga de 1979. SBG/Coordenação Produção Mineral, Salva-
dor, 1-9.
ferro. O intemperismo de filitos do Grupo Itabira e
Almeida F.F.M. de 1993. Limites do Cráton do São Fran-
base do Grupo Piracicaba possibilitou a formação cisco em Minas Gerais: Síntese de Conhecimentos.
das camadas de bauxita ferruginosa (<40 % Al2O3 Anais II Simpósio do Cráton do São Francisco. SBG/
Superintendência de Geologia e Recursos Minerais
livre) de ca. de 3 m de espessura, intercaladas em da Bahia, Salvador, 256-259.
laterita estéril e localizadas nos altos dos morros Almeida F.F.M. de & Hasui Y. 1984. O Pré-Cambriano do
Brasil. Editora Edgard Blücher, São Paulo.
ou cristas de serras, junto com a canga. A forma- Alves J.V., Fuzikawa K., Lobato L.M., Dantas M.S.S.,
ção da canga foi datada em 45-50 Ma (Eoceno) Cornelissen M.G. 1997. Determinação quantitativa,
(Spier et al. 2007). A morfologia acidentada e o por espectroscopia microraman, dos componentes
da fase carbônica das inclusões fluidas da mina de
dobramento das rochas do substrato não permiti- ouro de São Bento, Santa Bárbara, MG. Rev. Escola
ram a formação de jazidas de porte maior. de Minas de Ouro Preto, 50/2:51-54
Assumpção M., James D., Snoke A. 2002. Crustal thi-
ckness in the SE Brazilian Shield by receiver functi-
Agradecimentos À Companhia de Pesquisa de on analysis: Implications for isostatic compensati-
Recursos Minerais-Serviço Geológico do Brasil pelo on. J. Geoph. Res., 107:1001-1029.
Assumpção M., Meijan A., Bianchi M., França G.S.L.,
convite para participar desse volume especial. Rocha M., Barbosa J.B., Berrocal J. 2004. Seismic
Nossos sinceros e especiais agradecimentos ao studies of the Brasília fold belt at the western bor-
der of the São Francisco Craton, Central Brazil, using
Prof. Hardy Jost, editor do volume, pelas correções receiver function, surface-wave dispersion and te-
e paciência. Expressamos ainda nosso reconheci- leseismic tomography. Tectonophysics, 388:173-
185.
mento a diversos outros colegas que forneceram
Ávila C.A., Teixeira W., Cordani U.G., Barrueto H.R.,
informações e sugestões pertinentes, incluindo Pereira R.M., Martins V.T.S., Dunyi L. 2006. The Gló-
Atlas Corrêa-Neto, Jaime Duchini, Marco Aurélio da ria quartz-monzodiorite: isotopic and chemical evi-
dence of arc-related magmatism in the central part
Costa e Rodrigo Martins. Agradecemos à géologa of the Paleoproterozoic Mineiro belt, Minas Gerais Sta-
Moara Melo Tupinambás que, sob orientação de te, Brazil. Anais Acad. Bras. Ciênc., 78(3):543-556.
Baars F.J. 1995. The São Francisco Craton. In: M.J. De
F.J. Baars, foi responsável pela edição e confecção
Wit & L.D. Ashwal (eds.). Greenstone Belts. Oxford
do mapa geológico e de recursos minerais da pri- Monogr. Geol. Geophy., 35:529-557.
meira versão das Figuras 1 e 2. Nossos mais sin- Baars F.J. & De Wit 1993. Critério para a subdivisão
tectono-estratigráfica de terrenos e escudo conti-
ceros agradecimentos ao geólogo Breno Souza nental: O exemplo da porção sul do Cráton do São
Martins que foi responsável pela compilação mi- Francisco. In: SBG, Simp. Cráton São Francisco, II,
Anais, Salvador, 268-289.
nuciosa de dados e que gerou todas as figuras
Baars F.J., Matos G.M.M. de, Abram M.B., Ramos M.A.B.,
atualizadas do trabalho. O colega Sidney W. Mar- Neto R.L., Quadros M.L.E.S., Gonçalves J.H., Dall’Igna
ques forneceu apoio técnico na geração das figu- L.G., Wanderley A.A., Vasconcelos A.M., Macambira
E.M.B., Cruz E.L.C. da, Ramgrab G.E., Rizzotto G.J.,
ras 2 e 3. LML & CAR são detentores de bolsa de Neves J.P. das, Jesus J.D.A. de, Nesi J.R., Sachs
pesquisa do CNPq. L.L.B., Chieregati L.A., Zucchetti M., Oliveira M.A.,
Faraco M.T.L., Kosin M., Baltazar O.F., Menezes R.G.
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140
Hardy Jost, Marcelo Juliano de Carvalho, Vinícius Gomes Rodrigues & Rodrigo Martins

METALOGÊNESE DOS GREENSTONE BELTS DE GOIÁS

HARDY JOST1, MARCELO JULIANO DE CARVALHO2, VINÍCIUS GOMES RODRIGUES2


& RODRIGO MARTINS3
1 – Condomínio Mansões Colorado, Módulo P, Casa 01, Sobradinho. DF, 73105-905.
E-mail: hmc_jost@opendf.com.br
2 - Orinoco do Brasil Mineração Ltda., Alameda Ricardo Paranhos, 799, Edifício Prospére Office Harmony,
Sala 101/102, Setor Marista, Goiânia, 74175-020
E-mail: marcelo@orinocoresources.com; vinicius@orinocogold.com
3 - AngloGold Ashanti Brasil, Rua Enfermeiro José Caldeira, 200, Boa Vista, Nova Lima, MG. 34000-000,
E-mail: RMartins@AngloGoldAshanti.com.br

INTRODUÇÃO suavemente curva, côncava para leste (Fig. 1), com


o ramo de norte orientado segundo NNE e o de
A porção centro-oeste de Goiás contém um frag- sul segundo NNW. Na porção central, encontro de
mento exótico e alóctone de crosta arqueana-pa- ambos os ramos, a faixa é transversalmente trans-
leoproterozoica com aproximados 18.000 km2 que posta por zonas de cisalhamento dúcteis dextrais
é parte da Província Tocantins e que foi amalga- de direção geral E–W que originaram a Sintaxe
mado na margem oeste da Faixa Brasília durante dos Pirineus (Araújo Filho 2000). A Faixa Brasília é
o Ciclo Brasiliano. A região se caracteriza pela as- dividida por Fuck et al. (1993) e Fuck (1994) nas
sociação de greenstone belts e complexos TTG e zonas Externa e Interna. A Externa consiste de
pode ser dividida em um segmento setentrional e embasamento Paleoproterozoico e sequências de
outro meridional, cada qual com evolução geoló- margem continental passiva adjacentes ao Crá-
gica e metalogenética próprias. Dados geocrono- ton do São Francisco. A Interna compreende o
lógicos indicam que a evolução da região foi policí- Maciço de Goiás e o Arco Magmático de Goiás. O
clica e abrange eventos do Arqueano e do Paleo- Maciço de Goiás é composto pelo Terreno Arquea-
proterozoico, com parcial reciclagem no Neopro- no-Paleoproterozoico, rochas metassedimentares
terozoico. O seu potencial mineral reside em im- do Grupo Serra da Mesa, complexos máfico-ultra-
portantes e variados depósitos de Ouro, aos quais máficos acamadados de Barro Alto, Niquelândia e
se somam reservas não avaliadas de Ferro dos Cana Brava e sequências metavulcano-sedimen-
tipos Algoma e Lago Superior e ocorrências de Ni- tares associadas. O Arco Magmático de Goiás é
Cu sulfetado e um paleoplacer aurífero. Os pará- uma faixa de acresção crustal Neoproterozoica (Pi-
grafos que seguem abordam, de forma sintética, mentel et al. 1991, Pimentel & Fuck 1992).
a evolução da região e as principais característi- O Terreno Arqueano-Paleoproterozoico situa-
cas dos seus depósitos minerais. se na porção central da Província Tocantins, adja-
cente à Sintaxe dos Pirineus a oeste, e está tec-
CONTEXTO REGIONAL tonicamente envolto por rochas de origem e ida-
de variadas (Fig. 2). No norte limita-se com o Arco
Fuck et al. (1993) e Fuck (1994) dividem a Pro- Magmático de Mara Rosa, de idade entre 850 e
víncia Tocantins, de leste para oeste, na Zona Cra- 560 Ma (Pimentel et al.1997). No noroeste está
tônica, Faixa Brasília, Maciço de Goiás, Arco Mag- truncado pelo Lineamento Transbrasiliano, uma es-
mático de Goiás e Faixa Paraguai-Araguaia. A Zona trutura colisional N30 oE limítrofe entre as faixas
Cratônica consiste do Cráton do São Francisco, de Brasília e Araguaia, que, na região do Terreno está
idade Arqueana com segmentos Paleoproterozoi- parcialmente coberta por sedimentos da planície
cos. A Faixa Brasília tem cerca de 1.000 km de com- aluvial do Rio Araguaia. No sudoeste está em con-
primento e entre 200 km de largura no norte e no tato com uma cunha de ortognaisses do bloco Fa-
sul, e 450 km na região central. Sua geometria é zenda Nova, de idade Sm-Nd 2,61 a 2,25 Ga (Mota-

141
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Greenstone belts de Goiás

Figura 1 - Principais unidades da Província Tocantins (adaptado de Pimentel et al. 2004).

Araújo & Pimentel 2002), mediante um dos ramos dos em quatro complexos que, de oeste para les-
do lineamento sinistral Moirporá-Novo Brasil. No te, compreendem os da Anta, Caiamar, Moquém e
sul está sotoposto, por falha de empurrão, a ro- Hidrolina e, no sul, de norte para sul, nos comple-
chas metassedimentares da Sequência Serra Dou- xos Caiçara e Uvá (Fig. 2). Os complexos diferem
rada, cavalgada pelo sul por rochas metavulcano- no arranjo estrutural, assoiações litológicas e ida-
sedimentares do Arco Magmático de Arenópolis, de. Dados geocronológicos U-Pb de zircão permi-
de idade entre 940 e 812 Ma (Pimentel et al. 2000).
No sudeste está sotoposto a rochas metassedi-
mentares do Grupo Araxá, de idade mínima de 638
± 11 Ma (Mucida 2002). No leste e nordeste ocor-
rem rochas metassedimentares do Grupo Serra da
Mesa de idade-modelo Sm-Nd TDM de 1,9 a 2,3 Ga
(Pimentel et al. 2001).

CONTEÚDO DO TERRENO ARQUEANO-PALEO-


PROTEROZOICO DE GOIÁS

Os principais componentes do Terreno Arquea-


no-Paleoproterozoico de Goiás compreendem or-
tognaisses, greenstone belts (Fig. 2) e intrusões
menores, algumas mais jovens.

Ortognaisses
Figura 2 - Limites e subdivisão do Terreno Arqueano-
Os ortognaisses da porção norte estão reuni- Paleoproterozoico de Goiás.

142
Hardy Jost, Marcelo Juliano de Carvalho, Vinícius Gomes Rodrigues & Rodrigo Martins

te reuni-los em dois estágios de granitogênese. a idade de 2851 ± 180 Ma e εNd + 0,3. Os autores
Nos complexos de norte o grupo dominante con- também dataram o stock de diorito pelo método U-
siste de protólitos batolíticos de tonalito, granodi- Pb SHRIMP em zircão e que forneceu a idade de
orito e granito e ocorrem nos complexos Hidroli- 2934 ± 5 Ma. As relações de contato intrusivo do
na, Caiamar e na parte leste do Anta. Queiroz et. corpo tabular de monzogranito com o diorito moti-
al. (2008) descrevem que estes possuem assina- varam Jost et al. (2005) a datar zircão do monzo-
tura de Nd juvenil e zircão magmático de idade U- granito pelo método U-Pb LA-ICP-MS para conhe-
Pb SHRIMP de ca. 2845 a 2785 Ma. Valores isotópi- cer o lapso de tempo entre ambos. Os cristais da-
cos de Nd e xenocristais de zircão nestes gnaisses tados geraram intercepto superior em 2764 ± 31
indicam que os magmas juvenis foram contamina- Ma, interpretado como a idade de cristalização do
dos por crosta siálica de até 3.3 Ga, da qual, até o protólito ígneo, o que revelou que o monzogranito
presente, não há evidências em exposições. O se- é cerca de 150 m.a. mais novo do que o diorito.
gundo estágio está representado no Complexo Mo- Novos dados isotópicos LA-ICP-MS em zircão obti-
quém e compreende corpos tabulares foliados de dos por Jost et al. (2013) de amostras do batólito
granodiorito e granito de idade entre ca. 2711 a tonatílito e dos corpos tabulares de monzonito e
2707 Ma. A partir das assinaturas de isótopos de tonalito geraram idades concordantes entre 3040
Nd e cristais herdados de zircão do ciclo anterior, e 3930 MA e entre 2876 e 2846 Ma, respectiva-
os autores interpretam que os protólitos deste es- mente. Estes resultados levaram os autores a in-
tágio são de derivação crustal. Os dados de U-Pb terpretar os ortognaises do Complexo Uvá como
SHRIMP de zircão não detectaram reciclagem iso- os mais antigos da porção arqueana do Terreno
tópica durante o Paleoproterozoico, o que os au- e, em média, cerca de 150 m.a. mais velhos do
tores atribuem a processos sob temperatura infe- que os gnaisses de norte. Isto evidencia que o
rior à da estabilidade isotópica do sistema U/Pb/Th substrato Arqueano da região é policíclico.
no mineral.
Os gnaisses da porção oeste do Complexo Anta Greenstone belts
foram subdivididos durante mapeamento na es-
cala 1:50.000 realizado em 2008 como Trabalho Os greenstone belts ocorrem em cinco faixas
de Conclusão de Curso de alunos de Geologia da estreitas e alongadas (Fig. 2), três das quais situ-
Universiade de Brasília, mas até o momento não am-se no extremo norte e duas no sul. As de nor-
há dados isotópicos. O Complexo Caiçara, situa- te estão orientadas segundo NS, possuem em mé-
do logo a sul, está sob mapeamento de detalhe. dia cerca de 40 km de comprimento e 6 km de lar-
Pimentel et al. (2003) reportam que neste comple- gura e são designadas, de oeste para leste, de
xo as idades-modelo Sm/NdTDM oscilam entre 3042 Crixás, Guarinos e Pilar de Goiás. As duas de sul
e 2868 Ma, com εNd entre -33,6 e -33,6, interpre- estão justapostas por falha direcional N30oE, têm
tadas como fruto de contribuição mantélica a uma orientação N60oW , totalizam cerca de 150 km de
crosta siálica em torno de 3.0 Ga. comprimento, com 6 km de largura média e são
No complexo Uvá, extremo meridional do Ter- designadas, de noroeste para sudeste, de Faina
reno, Jost et al. (2005) descreve que este contém e Serra de Santa Rita.
dois grupos de gnaisses. O dominante compreen- O contato dos greenstone belts com os comple-
de protólitos batolíticos de gnaisses polideforma- xos de ortognaisses adjacentes é tectônico e a
dos tonalíticos e granodiríticos e de um stock de ocorrência, apesar de rara, de klippen nos gnais-
diorito. Estes estão marginados por corpos me- ses indica que estas rochas supracrustais estão
nores, tabulares e foliados a isótropos de tonalito alóctones.
e monzogranito. Dados isotópicos Sm/NdTDM de al-
gumas amostras de ambos os grupos obtidos por ESTRATIGRAFIA
Potrel et al. (1998) e Pimentel et al. (2003) forne-
ceram idades modelo entre 3,0 e 3,2 Ga, com εNd As rochas diagnósticas dos cinco greenstone
de -29 a -18. Por outro lado, de uma amostra do belts compreendem unidades vulcânicas e sedi-
Granito Uvá, ou monzogranito tabular foliado de mentares, as quais ocorrem em variável estado
Jost et al. (2005) Pimentel et al. (1996) obtiveram de preservação (Fig. 3), fruto da história deforma-
uma isócrona Sm-Nd em rocha total que forneceu cional de cada faixa e evolução fisiográfica regio-

143
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Greenstone belts de Goiás

nal desde o Paleoproterozoico. A reconstituição es- das nas fácies xisto verde a anfibolito inferior. Con-
tratigráfica dos mesmos é complexa devido ao tudo, para efeitos descritivos, nos próximos pará-
estado fragmentário, pela polideformação tectôni- grafos os litotipos serão referidos segundo seus
ca, adelgaçamento, espessamento ou supressão protólitos.
de unidades por deformação, soerguimento dos O modelo estratigráfico inicial dos três de nor-
complexos de ortognaisses e a raridade de hori- te deve-se a Danni & Ribeiro (1978), quando aque-
zontes guias, o que dificulta a correlação através las rochas foram reunidas sob o Grupo Pilar de
das descontinuidades estruturais e ígneas. Goiás, tendo por área-tipo o greenstone belt ho-
Os registros estratigráficos dos cinco greensto- mônimo. O grupo foi subdividido por Sabóia (1979),
ne belts compreendem seções inferiores de me- da base para o topo, nas formações Córrego Ala-
takomatiitos seguidos de metabasaltos toleiíticos, gadinho, Rio Vermelho e Ribeirão das Antas, para
e superiores de rochas metassedimentares. As designar, respectivamente, os komatiitos, basal-
rochas de ambas as seções estão metamorfiza- tos e rochas sedimentares, com adoção da sequ-

Figura 3 – Mapas geológicos dos greenstone belts de Goiás que mostram a distribuição das principais unidades
litológicas e seus respectivos estados de preservação. Os mapas também antecipam a localização dos depósitos
minerais conhecidos e dos trends auríferos, como abordado adiante no texto.

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Hardy Jost, Marcelo Juliano de Carvalho, Vinícius Gomes Rodrigues & Rodrigo Martins

ência de Crixás como seção-tipo. Em vista das di- cas e uma superior sedimentar, que inclui as ro-
ferenças nas características petrográficas, ritmos chas rudáceas da Sequência Serra do Cantagalo
de vulcanismo preservado e dos contrastes litoló- de Danni et al. (1981). O autor também sugeriu que
gicos e de ambiente deposicional das seções se- as rochas supracrustais de ambas as faixas diferi-
dimentares entre as três faixas, Jost & Oliveira am em alguns aspectos o que permitiria desmem-
(1991) propuseram considerar os três greenstone brá-las nos blocos Goiás e Faina, separados por
belts como entidades independentes e criaram os falha direcional. Tendo em vista que ambas as fai-
grupos Crixás, Guarinos e Pilar de Goiás para reunir xas possuem semelhantes sequências vulcânicas
os respectivos conteúdos estratigráficos, com sub- inferiores, mas distintas sucessões sedimentares
divisões em unidades formais (Fig. 4). superiores, Resende et al. (1998) propuseram novo
Nos greentone belts de Faina e Serra de Santa modelo estratigráfico (Fig. 4) aqui adotado.
Rita, a proposta estratigráfica inicial deve-se a Komatiitos - Os komatiitos são basais e com-
Danni et al. (1981), subdividida em uma sequência preendem derrames com intrusões subordinadas.
inferior (Serra de Santa Rita) composta de rochas Sua composição varia de peridotítica a piroxeníti-
vulcânicas e sedimentares interpretadas como ar- ca e estão transformados em xistos com propor-
queanas, e outra superior (Serra do Cantagalo) de ções variadas de talco, clorita, serpentina, carbo-
rochas metassedimentares rudáceas mais jovens, nato e actinolita, com magnetita e cromita subor-
em discordância sobre a inferior. No mesmo ano, dinadas. Feições vulcânicas originais são relativa-
Teixeira (1981) formalmente propôs reunir aque- mente raras, tais como textura spinifex e cumulá-
las rochas sob o Grupo Goiás Velho, informalmente tica e estruturas de resfriamento rápido, brechas
subdividido em uma unidade basal de komatiitos, de fluxo e apenas um afloramento com pillow lavas
outra intermediária de basaltos e vulcânicas félsi- é conhecido e ocorre no greenstone belt Serra de

Figura 4 – Colunas estratigráficas dos greenstone belts de Goiás. Nomenclatura estratigráfica de Crixás,
Guarinos e Pilar de Goiás segundo Jost & Oliveira (1991), com modificações em Guarinos por Jost et al.
(2011), e de Faina e Serra de Santa Rita segundo Resende et al. (1998). Números ao lado das colunas
significam altura estratigráfica estimada.

145
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Greenstone belts de Goiás

Santa Rita. Intercalações de formações ferríferas por zonas de alteração hidrotermal com condutos
da fácies óxido com ou sem grunerita, e metachert exalativos engastados nas unidades inferiores,
variam de freqüência entre as faixas. lentes de paraconglomerado com clastos de quart-
Basaltos - Os basaltos compreendem derrames zo, sotoposto a argilito seguido de espessa for-
de toleiíticos, por vezes almofadados e varolíticos, mação ferrífera nas fácies magnetita e hematita,
e locais diques e sills de dolerito e gabro. Os der- ambas com matriz de mica branca (Resende &
rames estão, em geral, transformados em xistos Jost1994, 1995). A unidade passa gradualmente
com proporções variadas de ferro-actinolita e al- para a Formação Cabaçal, composta de espesso
bita ou oligoclásio, com titanita, clorita, clinozoisi- pacote de pelitos carbonosos, subdividido em três
ta, quartzo, pirita ou magnetita subordinados. For- membros (Jost et al. 2011). O inferior compreende
mações ferríferas, gonditos e metachert podem pelitos carbonosos com intercalações de basalto
ocorrer como intercalações sedimentares nos ba- e lentes de gondito. O intermediário é um hori-
saltos em proporções variadas entre os greensto- zonte contínuo longitudinal no greenstone belt e
ne belts. A variação nas proporções das intercala- que, no extremo sul, é composto por gondito que
ções sedimentares químicas nos komatiitos e ba- passa, a norte, para uma associação de gondito e
saltos entre as faixas sugere que cada uma re- barita maciça, com passagem gradual para BIF e
tém ritmos distintos de vulcanismo ou estado de barita e, no extremo norte, para BIF. Chert ocorre
preservasção. ao longo do topo do horizonte. O membro superi-
Dentre os greenstone belts, apenas o de Serra or compreende apenas pelito carbonoso com ra-
de Santa Rita contém uma lente de vulcanoclásti- ras lentes de chert. A exemplo de Crixás, os peli-
cas que Resende et al. (1998) colocam na interfa- tos carbonosos desta formação intercalam alguns
ce entre os basaltos e o pacote sedimentar. Con- intervalos de grauvaca, os quais predominam no topo
tudo, Pimentel et al. (2000) obtiveram uma idade da sequência. Jost et al. (1995)designaram as grau-
U-Pb SHRIMP magmática de cristais de zircão de vacas como Membro Superior da Formação Cabaçal
1580 ± 12 Ma. Em vista disto, os autores as inter- e Jost et al. (2012) como Formação Mata Preta.
pretam como do Mesoproterozoico e que foram Estudos de proveniência realizados por Jost et
imbricadas no greenstone belt, excluindo-as da evo- al. (1996) nas rochas detríticas de Crixás e Guari-
lução da faixa. Seu significado é ainda incerto e nos com o emprego de dados analíticos de óxidos
está sob estudo. de elementos maiores e menores e elementos tra-
Seções Sedimentares - A par da semelhança das ços e ETR´s revelaram que os pelitos carbonosos
seções vulcânicas inferiores, os cinco greenstone e as grauvacas são geoquimicamente semelhan-
belts contrastam significativamente nas sucessões tes e derivaram da erosão de área-fonte com ro-
sedimentares superiores, como descrito por Jost chas máficas e félsicas. Isto sugere que não houve
& Oliveira (1991) e Resende et al. (1998) e a se- modificação substancial das características da área-
guir delineado nos seus traços principais e esque- fonte durante a alternância de ambiente que con-
matizado na figura 4. trolou a sedimentação de ambos litotipos. Devido
Em Crixás estas rochas compreendem a For- à abundância de quartzo e plagioclásio em matriz
mação Ribeirão das Antas, a qual se caracteriza de biotita e clorita, interpretamos os arenitos im-
por uma seção de pelitos carbonosos de ambien- puros como derivados da erosão de um possível
te euxênico, com eventuais intercalações de dolo- arco magmático.
mito, alguns oolíticos, e basaltos. A deposição des- Em Pilar de Goiás, as unidades sedimentares
tes pelitos foi progressiva e gradualmente sincrô- ocorrem em duas escamas tectônicas (Resende &
nica com grauvacas rítmicas, as quais passam a Jost 1995). A inferior, Formação Boqueirão, repou-
predominar no topo da seção sedimentar. sa tectonicamente sobre metakomatiitos e meta-
Em Guarinos, o pacote sedimentar inicia com a basaltos e é uma sucessão de rochas calcissilicá-
Formação São Patricinho, composta de ritmitos fi- ticas com metarenitos finos calcíferos e lentes de
nos ricos em clorita. A presença de clastos de ba- dolomito, interpretada como um resíduo de mar-
salto nesta unidade sugere que a unidade prova- gem continental passiva alóctone. A superior, For-
velmente derivou da erosão das rochas vulcâni- mação Serra do Moinho, repousa tectonicamente
cas sotopostas. Em repouso sobre estes ritmitos sobre a Formação Boqueirão e é composta de
e os basaltos ocorre a Formação Aimbé, composta grauvacas semelhantes às de Crixás e Guarinos.

146
Hardy Jost, Marcelo Juliano de Carvalho, Vinícius Gomes Rodrigues & Rodrigo Martins

Diferem, no entanto, pela menor espessura das composição das área-fonte das cargas detríticas
camadas e pela textura fina a muito fina. Compa- de Faina e Serra de Santa Rita realizados por Re-
rativamente, o tamanho de grão médio destas ro- sende et al. (1999) com o emprego de dados ana-
chas cresce de Pilar a Guarinos e Crixás, sugesti- líticos de óxidos de elementos maiores e menores,
vo de que Crixás seria mais proximal da área-fonte. elementos traços e ETR indicam que os protólitos
As sucessões sedimentares de Faina e Serra do primeiro ciclo sedimentar de Faina e os pelitos
de Santa Rita, ambas depositadas em dois ciclos carbonosos de Santa Rita foram alimentados por
(Fig. 4) e que contrastam de modo flagrante com área-fonte dominada por rochas ultramáficas e
as de norte. Em Faina, Resende et al. (1998) des- máficas, subordinadamente félsicas. Em contras-
crevem que ambos os ciclos sedimentares são com- te, as cargas clásticas do segundo ciclo de Faina e
pletos (Fig. 3), o primeiro reunido na Formação Fa- os ritmitos de topo de Serra de Santa Rita provie-
zenda Tanque e o segundo nas formações Serra ram de área-fonte dominada por material granítico,
de São José e Córrego do Tatú. o que implica em significativa mudança nas carate-
A sucessão litológica de ambos os ciclos é com- rísticas da fonte de um ciclo ao outro.
posta por conglomerado basal, na maioria diamic-
tito, seguido de arenitos, espessos pelitos e cul- GEOCRONOLOGIA
minam com dolomitos encimados por formações fer-
ríferas do tipo Lago Superior. O conglomerado ba- Rochas vulcânicas
sal do primeiro ciclo ocorre em raras lentes de di-
amictito com matriz rica em clorita, e com clastos Apenas os komatiitos e basaltos de Crixás fo-
de basalto, ultramáficas e quartzo leitoso. O do ram datados e geraram idades isocrônicas Sm-Nd
segundo ciclo, denominado informalmente de For- de 2.825 ± 98 Ma e Pb/Pb em rocha total de 2.728
mação Arraial Dantas por Carvalho et al. (2013), é ± 140 Ma (Arndt et al. 1989) e Sm-Nd em rocha
uma camada-guia longitudinalmente disposta no total de 3,00 ± 0.07 Ga (Fortes et al. 2003). Isto
greenstone belt e que se estende por cerca de 40 sugere que as rochas vulcânicas de Crixás seriam
km, com 90 m de espessura média. Este compre- arqueanas.
ende uma associação caótica de arenitos impuros, Por outro lado, uma amostra de turbiditos com
pelitos e conglomerados em canais, ora suporta- clastos de basalto pertencentes à Formação São
dos por matriz (diamictitos) e ora por clastos. Os Patricinho de Guarinos datada por Jost et al. (2012)
clastos são irregulares, pouco arredondados, sem revelou que os cristais detríticos mais jovens de
esfericidade, e compostos de metarenito, piritoso zircão, texturalmente homogêneos como típico de
ou não, quartzito, veio de quartzo, BIF, gnaisses, rochas máficas, geraram a idade LA-ICP-MS con-
granitos, xistos e raro turmalinito. A natureza dos cordante de 2180 + 36/-30 Ma. Os demais gãos
clastos indica que o conglomerado do primeiro ci- tinham crescimento oscilatório típico de rochas fél-
clo foi alimentado com detritos de área-fonte má- sicas e geraram idades de 2420 ± 22 Ma a 2511 ±
fico-ultramáfica, possivelmente as rochas vulcâni- 45 Ma e de 2714 ± 21 Ma a 2849 ± 27 Ma. As
cas sotopostas, ao passo que os do segundo pro- relações de contato lateral entre a Formação São
vieram tanto por erosão de rochas do primeiro ci- Patrcinho e os basaltos da Formação Serra Azul e
clo quanto de área-fonte cratônica com rochas de a proveniência parcial da carga clástica a partir de
variado grau metamórfico. rochas máficas, levantam a suspeita de que os ba-
Em Serra de Santa Rita a sedimentação inicia saltos sejam do Paleoproterozoico, em contraste
com pelitos carbonosos os quais, para o topo, dão com os de Crixás. A proveniência dos demais grãos
lugar a chert, BIF e dolomito (Formação Fazenda detríticos de zircão pode ser justificada pelo es-
Limeira). Esta seção está sotoposta por discor- pectro geocronológico dos gnaisses e dos diques
dância a turbiditos da Formação Fazenda Cruzei- máficos nestes.
ro, a qual Resende et al. (1998) atribuem ao ex- Em Pilar de Goiás, uma amostra de basalto atri-
travasamento do segundo ciclo sedimentar de Fa- buído à Formação Cedrolina e coletada imediata-
ina, através da quebra continental em direção ao mente abaixo da escama de empurrão com rochas
ambiente marinho mais profundo do greenstone belt calcissilicáticas da Formação Boqueirão continha
de Serra de Santa Rita. uma única população de cristais de zircção inter-
Estudos de proveniência e modelamento da namente homogêneos e que geraram a idade LA-

147
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Greenstone belts de Goiás

ICP-MS concordante de 2165 ± 15 Ma. (H. Jost, (2012) relatam que zircão detrítico de duas amos-
dado inédito). Isto sugere que, talvez, parte da tras de grauvaca da Formação Mata Preta conti-
seção vulcânica de Pilar de Goiás também seja do nham uma população dominante de 2176 ± 11 Ma.
Paleoproterozoico. Em Pilar de Goiás, Jost et al. (2008) também
No greenstone belt de Faina, Resende et al. obtiveram uma isócrona Sm-Nd de amostras de
(1999) obtiveram uma idade-modelo Sm-Nd TDM de rochas calcissilicáticas da Formação Boqueirão, a
3,0 Ga em amostra da matriz do conglomerado ba- qual forneceu a idade de 2,2 Ga. Uma amostra de
sal do primeiro ciclo sedimentar, rico em clastos de grauvaca da Formação Serra do Moinho revelou
rochas máficas e ultramáficas. Esta idade coincide que os cristais de zircão detrítico mais jovens têm
com a do pelito carbonoso da base do pacote se- idade LA-ICP-MS de 2178 ± 19 Ma (H.Jost, inédito).
dimentar de Serra de Santa Rita, de proveniência Em Faina e Serra de Santa Rita, a idade-mode-
clástica idêntica. Os autores sugerem que esta lo Sm-NdTDM da área-fonte da carga detrítica a par-
idade modelo poderia refletir a dos komatiitos e tir da metade do primeiro até o final do segundo
basaltos sotopostos. ciclos sedimentares varia de 2,8 e 2,7 Ga (Resen-
Assim, as únicas seções vulcânicas que, até o de et al. (1999). NO entanto, até o momento, não
momento, geraram evidências isotópicas que si- há dados isotópicos sobre cristais detríticos de zir-
nalizam serem do Arqueano, são as dos greensto- cão para estimar o espectro geocronológico da
ne belts de Crixás, Faina e Serra de Santa Rita. OS área-fonte, investigação que está em curso.
demais são, provavlmente, do Paleoproterozoico. Do exposto se conclui que os protólitos sedimen-
Contudo, investimentos em geocronologia são tares dos greenstone belts de norte foram alimenta-
imperativos, pois estes dados têm profundas impli- dos a partir do Riaciano, mas com a contribuição de
cações sobre o quadro geotectônico evolutivo do fonte de amplo espectro do Arqueano. Isto impacta
Terreno, correspondente às etapas de vulcanismo sobre a principal época metalogenética do Terreno,
inicial das bacias de rochas supracrustais da região. pois a maioria dos depósitos minerais estão hospe-
dados por rochas metassedimentares.
Rochas sedimentares
ISÓTOPOS DE CARBONO EM DOLOMITOS
Dados geocronológicos Sm-Nd da seção sedi-
mentar do topo de Crixás obtidos por Fortes et al. Os cinco greenstone belts contêm intervalos
(2003) sinalizaram que a área-fonte da carga de- estratigráficos com lentes de dolomito, cujas assi-
trítica tem idade de 2,5 a 2,3 Ga, provável reflexo naturas de δ13C foram investigadas por Fortes
da disponibilidade de rochas do Paleoproterozoi- (1996) e Santos et al. (2008) nos de norte, e por
ca e do Arqueano na área fonte durante a libera- Resende (1998) e Jost et al. (2008) nos de sul. Os
ção dos detritos. Por outro lado, a datação U-Pb dolomitos dos de norte e do topo do primeiro ciclo
SHRIMP em zircão detrítico realizada por Tassinari sedimentar dos de sul possuem valores de δ13C mui-
et al. (2006) em uma amostra de grauvaca de Cri- to positivos, valriáveis de +10 a +14%0 V-PDB. Estas
xás registrou que os cristais mais jovens têm a assinaturas, combinadas com os dados isotópicos
idade de 2212 ± 36 Ma. Com o intuito de melhor U-Pb e Sm-Nd acima descritos, indicam que a depo-
elucidar estes dados, Jost et al. (2008) coletaram sição desses dolomitos ocorreu durante o evento
três amostras de grauvaca, duas de sondagem e Lomagundi (=Jatulian C-isotope anomaly). Este evento
uma de afloramento, cujos resultados de datação corresponde à primeira pronunciada anomalia de δ13C
U-Pb LA-ICP-MS de zircão detrítico mostraram pro- em dolomitos terrestres, distribui-se mundialmente
veniência do amplo espectro que se estende de entre 2,22 e 2,06 Ga (Melezhik et al. 2007) e decor-
3354 ± 40 Ma a 2209 ± 28 Ma, o que confirma reu do declínio da glaciação Huroniana (Snowball
proveniência da carga clástica a partir de área- Earth), com duração de 300 Ma (Kopp et al. 2005),
fonte com rochas do Arqueano ao Riaciano, no entre o final do Sideriano e o início do Riaciano.
Paleoproterozoico. Os dados de δ13C dos dolomitos são, pois, com-
Em Guarinos, Jost et al. (2008) relatam que uma patíveis com a idade dos cristais detríticos de zir-
amostra de BIF da Formação Aimbé continha uma cão mais jovens das rochas siliciclásticas dos três
população de zircão com idade LA-ICP-MS de 2627 greenstone belts de norte e das rochas calcissili-
± 19 Ma e outra de 2232 ± 39 Ma e Jost et al. cáticas de Pilar de Goiás, depositadas em equilí-

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Hardy Jost, Marcelo Juliano de Carvalho, Vinícius Gomes Rodrigues & Rodrigo Martins

brio com a água do mar. Já nos dolomitos de topo norte do greenstone belt de Guarinos, com idade
do segundo ciclo sedimentar de Faina os valores U-Pb LA-icp-MS em zircão hidrotermal de 729 ± 15
situaram-se entre -0.66 a +0.66%0, sugestivo de Ma (Rodrigues 2011);
que a sua deposição ocorreu ao final da Anomalia (II) - anatexia parcial de gnaisses do Comple-
Lomagundi, mas ainda durante o Riaciano, com xo Moquém, sob a forma de finas bandas félsicas
provável extensão ao início do Orosiriano. de idade U-Pb SHRIMP em zircão de 590 ± 10 Ma
(Queiroz et al. 2008);
Intrusões Paleoproterozoicas (III) - parcial reciclagem isotópica de cristais de
zircão magmáticos da maioria das amostras dos
Dados geocronológicos revelam que, após a cra- ortognaisses arqueanos, evidenciada por intercep-
tonização do substrato do Arqueano, em torno de tos inferiores de idade U-Pb entre 750 e 590 Ma
2,7 Ga, a região foi também palco de atividade mag- (Queiroz et al. 2008) e reciclagem de cristais de-
mática do Paleoproterozoico representada por: tríticos de rochas siliciclásticas de Crixás, Guari-
(i) enxame de diques máficos nos complexos nos e Pilar de Goiás em 500-450 Ma (Tassinari et
Caiçara e Anta com idade Sm-Nd de 2,3 a 2,5 Ga al. 2006, Jost et al. 2008;
(Corrêa da Costa 2003), correspondentes a uma (IV) metamorfismo de paragêneses de zonas de
fase de distensão crustal; alteração hidrotermal de depósito aurífero de Cri-
(ii) intrusão de enxame de diques máficos e de xás, com idades K-Ar, Rb-Sr, Ar-Ar e Sm-Nd de 600
um diorito em lineamento transcorrente da por- Ma a 550 Ma (Fortes 1996, Fortes et al. 2003).
ção sul do Complexo Hidrolina (Danni et al. 1986), Estes dados indicam que a influência do Ciclo
de idade U-Pb SHRIMP em zircão de 2146 ± 1.6 Ma Brasiliano sobre as rochas da região foi restrita e
(Jost et al. 1993) ; coincide com a época da amalgamação do Terreno
(iii) sills e stocks de albita-granito em falhas de na Faixa Brasília.
empurrão de vergência norte (Jost et al. 1992) em
rochas metassedimentares dos greenstone belts METALOGENIA
de norte, com idade U-Pb SHRIMP em zircão de
2145 ± 12 Ma (Queiroz 2000), ; Os depósitos minerais do Terreno Arqueano-
(iv) diques máficos que cortam a mineralização Paleoproterozoico de Goiás ocorrem apenas nos
aurífera de Crixás, com zircão magmático de idade greenstone belts. Para efeitos descritivos, os de-
U-Pb LA-ICP-MS de 2170 ± 17 Ma (Jost et al. 2010). pósitos serão abordados segundo a ordem decres-
Estes dados sugerem que, após a cratonização cente de sua importância econômica atual e divi-
Arqueana, o Terreno foi palco de um ciclo aparente- didos em epigenéticos e singenéticos, inversa da
mente completo de abertura durante o Sideriano, sua época de formação. Os epigenéticos estão re-
seguido de fechamento de orógeno no Riaciano. presentados pelos importantes depósitos de Ouro
Contudo, a esparsa distribuição regional destes de Goiás e os singenéticos compreendem recur-
eventos sugere que estes ocorreram em posição sos ainda pouco estudados de Ferro dos tipos Al-
marginal a uma faixa móvel. goma e Lago Superior, de Ferro e Manganês do
tipo SEDEX, Ouro do tipo VMS, Ouro associado a
Reflexos do Ciclo Brasiliano albitito, um paleoplacer aurífero e uma ocorrência
de Níquel e Cobre sulfetada em komatiito.
Entre o final do Riaciano e o Neoproterozoico,
oTerreno aparentemente permaneceu estável. A DEPÓSITOS EPIGENÉTICOS DE OURO
sua amalgamação à Faixa Brasília no Neoprotero-
zoico resultou nos seguintes efeitos: A produção de ouro na região foi iniciada pelos
(I) - duas intrusões, sendo uma de muscovita Bandeirantes em 1725, a partir de quando Goiás
granito que aflora no limite nordeste do Comple- passou a ter importância para a coroa portugue-
xo Uvá, passa sob o greenstone belt Serra de San- sa pela descoberta do metal por Bartolomeu Bue-
ta Rita e emerge a norte, no Complexo Caiçara no da Silva (Anhanguera) no greenstone belt Serra
(Jost et al. 2005), de idade U-Pb SHRIMP em zircão de Santa Rita. Instalou-se, então, o Arraial de
de 625 ± 6 Ma (Pimentel et al. 2003). Outra com- Saana, hoje cidade de Goiás (Fig. 1), de onde par-
posta de dique de albitito aurífero do extremo tiram incursões em busca de Ouro no rumo norte

149
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Greenstone belts de Goiás

da região. A atividade extrativa intensificou-se de pos de minério disseminado. Depósitos de Ouro


1740 a 1780 nos demais greenstone belts, com de- em veios de quartzo estão sob avaliação pale Ori-
clínio poucos anos após. Até meados de 1980, a noco do Brasil Mineração Ltda. em Faina e onde
extração de ouro ocorreu por atividade garimpei- se situa o explorado pela Sertão Mineração Ltda.
ra, mas ao final de 1970 Crixás, Guarinos e Pilar Minério disseminado também ocorre no extremo
de Goiás passaram a ser alvos de prospecção pela sul de Guarinos (Maria Lázara), parte de um trend
Mineração Montita Ltda. e pela joint venture da com cerca de 25 km de comprimento com diversas
INCO com a Kenecott, e os de Serra de Santa Rita anomalias intermediárias (Fig. 3B), e em Pilar de Goi-
e Faina pela Metais de Goiás S.A. - METAGO, Wes- ás, importante depósito (Jordino), qual é parte de
tern Mining Co., entre 2000 e 2007 pela Sertão Mi- um trend estrutural com cerca de 8 km e que inclui
neração Ltda e desde 2011 pela Yamana Gokd Inc. os garimpos da Cachoeira do Ogó e Três Buracos
e de 2012 pela Orinoco do Brasil Mineração Ltda e (Fig. 4C), todos de propriedade da Yamana Gold Inc.
um paleoplacer aurífero.Resoucrces.
Crixás contém hoje o segundo maior depósito SULFETO MACIÇO
do tipo gold-only da Faixa Brasília, com reserva to-
tal de 70 t de Au e teor médio de 5 g/t. A produção Sulfeto maciço aurífero ocorre em dois corpos
subterrânea iniciou nos primórdios de 1980 pela da Mina III de Crixás. Um, hoje exaurido, foi des-
Mineração Serra Grande S.A., joint venture da An- coberto no início de 1980 a partir de trincheira
glo-American e INCO, hoje propriedade da Anglo- aberta em gossam pelos Bandeirantes e recebeu
Gold Ashanti Brasil. Em Guarinos e Pilar de Goiás a a denominação de Zona Superior (Yamaoka & Ara-
exploração pela Mineração Montita S.A. perdurou újo 1988). Outro foi identificado durante campa-
por cerca de 30 anos, mas com sucesso reduzido. nha de sondagem realizada no início de 2000, de-
As áreas foram adquiridas pela Yamana Gold Inc., nominado Corpo Palmeiras, semelhante à Zona
seguido de extensiva campanha de sondagens e Superior, mas estruturalmente mais elevado (Fig.
avaliação de vários corpos, dois dos quais com 5B), com produção iniciada em 2009.
produção iniciada em 2013, em lavra subterrâne- A Zona Superior foi um conjunto de lentes situ-
as, um em Guarinos e outro em Pilar de Goiás. adas próximo ao contato de metabasalto com xis-
Em Faina e Serra de Santa Rita (Fig. 3D), a ex- to carbonoso e tinham 0,5 a 2,5 m de largura e de
ploração pela Western Mining Co. e sua sucesso- 50 a 200 m de comprimento que se estendiam até
ra, a Sertão Mineração Ltda, jont venture da Ama- 400 m segundo o plunge, da superfície até cerca
zônia Mineração Ltda. e a Troy Brasil Exploração de 450 de profundidade. O seu detalhamento foi
Mineral Ltda., resultou na detecção em Faina de realizado por Fortes (1996). Os primeiros dados
um depósito de pequeno porte em 2003, com pro- sobre o Corpo Palmeiras foram registrados por
dução a céu aberto suspensa em 2005/2006. A Almeida (2006), em testemunho de sondagem an-
aquisição de partes da área da Sertão pela Yama- tes da exposição do corpo em galeria. Ambos os
na Gold Inc. em Faina e Serra de Santa Rita e pela corpos contêm até 95% de pirrotita e/ou arseno-
Orinoco do Brasil Mineração Ltda. em Faina, em pirita (Fig. 5A) e quantidades subordinadas de mag-
2011 a 2012, resultou em re-avaliação de traba- netita, ilmenita, bornita e calcopirita, em rara gan-
lhos dos Bandeirantes e garimpos, ambos proje- ga de quartzo, plagioclásio, siderita, biotita, mica
tos em curso. As reservas totais conhecidas e teo- branca, epidoto, rutilo e eventuais veios pegma-
res médios de Au em g/t das principais minas cons- tóides com quartzo, feldspato, biotita, arsenopiri-
tam da Tabela 1.
Os mais importantes depósitos auríferos Tabela 1 – Número de corpos, reservas totais e teores
dos principais depósitos auríferos de greenstone belts
desta categoria compreendem: do Terreno Arqueano-Paleoproterozoico de Goiás.
a - sulfeto maciço
b - veio de quartzo
c - minério disseminado
Os três tipos ocorrem na Mina III de Crixás (Fig.
3A), na forma de 6 corpos superpostos (Figs. 5A e
5B) Veio de quartzo ainda é um importante corpo
de minério de Crixás, juntamente com vários cor-

150
Hardy Jost, Marcelo Juliano de Carvalho, Vinícius Gomes Rodrigues & Rodrigo Martins

ta e ouro (Fig. 5B). O Ouro ocorre na forma livre trilhas de Mg-clorita e/ou biotita (Fig. 5E), bem
(Fig. 5C), em grãos de 0,1 a 2,0 mm e seu conteú- como pods centimétricos de pegmatóides compos-
do em Ag é inferior a 10%. tos por albita, quartzo, paragonita e eventuais
A alteração hidrotermal associada ao sulfeto pintas de Ouro. O contato do halo externo com o
maciço ocorre em halos que, em conjunto, podem intermediário é em geral brusco a discretamente
alcançar dezenas de metros de possança. Estes transicional. Este consiste de estreita franja ex-
compreendem (Fig. 5D) um halo externo com do- terna de carbonato-clorita xisto, e a interna de
lomito, seguido de um intermediário rico em clori- clorita xisto. A sua característica marcante é a
ta xisto e um interno com sericita. As associações abundância de Fe-clorita, comumente acompanha-
minerais metamorfizadas de cada halo, petrogra- da de fenoblastos de milimétricos até 5 cm de diâ-
ficamente detalhadas por Jost (2004) e Oliver et metro de almandina sintectônica (Fig. 5F). Termos
al. (2005), estão sintetizadas na Figura 6. locais consistem da associação granada, magne-
O dolomito do halo externo é, em geral, maci- tita e biotita (Fig. 5G). O halo interno é composto
ço, injetado de veios centimétricos a decimétricos de sericita xisto, não raro com porfiroblastos mili-
de quartzo leitoso com algum sulfeto, e pode con- métricos a centimétricos de cloritóide pós-tectôni-
ter relíquias de foliação do protólito marcadas por co (Fig. 5H) e granada-sericita xisto, por vezes mar-

Figura 5 – Ilustração de feições dos corpos de sulfeto maciço aurífero da Zona Superior de Crixás. (A) - Bloco
composto de arsenopirita massiça com bolsão de quartzo e siderita junto a nível de magnetita. (B) - Parede
de galeria em sulfeto maciço com veio pegmatóide (Foto N. Oliver 2005). (C) - Fotomicrografia de seção
polida com grão de ouro em agregado de pirrotita e arsenopirita. LN. (Foto de Fortes 1996). (D) - Parede da
de remanescente da Zona Superior que mostra a sucessão dos halos de alteração hidrotermal do sulfeto
maciço. (E) - Amostra de mão de dolomito do halo externo com relíquias de foliação do protólito marcada por
trilhas de Mg-clorita e biotita e disseminação de arsenopirita (Aspy). (F) - Fotomicrografia de granada-clorita
xisto do halo intermediário. LN. (G) - Fotomicrografia de magnetita-granada-biotita-clorita xisto do halo
intermediário. LN. H - Fotomicrografia do halo interno rico em mica branca sobreposta por fenoblastos de
cloritóide e com restos de ilmenita (opacos). LN.

151
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Greenstone belts de Goiás

mentar, em particular filito carbonoso, a simetria é


de difícil reconhecimento, fruto da maior reativida-
de dos metabasaltos. Os halos estão bem desen-
volvidos, resultaram de complexo sistema físico-
químico em pelo menos dois estágios, um inicial,
de maior abrangência sobre as rochas encaixan-
tes e alta razão fluido/rocha e condições termodi-
nâmicas mais baixas, seguido de outro, mais aque-
cido e rico em Fe e K.
A origem dos corpos de sulfeto maciço da Zona
Superior permanece incerta, se resultante da ca-
nalização de fluidos ao longo de falha de empur-
rão, ou se do tipo VMS associado aos basaltos. A
interpretação de sua gênese na atualidade é difi-
cultada pela exaustão do depósito e consequen-
te indisponibilidade de evidências nos corpos de
minério. Restam apenas as expostas em testemu-
nos de sondagem, em complexo arranjo estrutu-
ral. A incerteza se extende ao Corpo Palmeiras
pela inexistência de estudos de detalhe.

Figura 6 – Associações minerais dos halos de altera- VEIOS DE QUARTZO


ção hidrotermal metamorfizados que envelopam cor-
pos de sulfeto maciço de Crixás. Dados compilados
de Fortes (1996), Jost (2004) e Oliver et al. (2005). Greenstone belt de Crixás

ginado por biotita-xisto e biotita-granada xisto ou Um dos principais corpos de minério aurífero
granadito junto ao corpo de minério. atual da Mina III de Crixás é um veio de quartzo
Portanto, a alteração hidrotermal que acompa- (Fig. 7A) descontínuo, com 0,5 a 5,0 m de largura,
nha os corpos de sulfeto maciço compreendem uma 500 m de comprimento, que se estende até cerca
zona externa de carbonatação que, com a proxi- de 1.500 m segundo o plunge, desde a superfície
midade dos corpos de minério, passa a predomi- até mais de 700 m de profundidade. Nos níveis
nar a alteração clorítica e fílica. A alteração por estruturalmente mais elevados, o veio se situa a
sulfetação, ainda que incipiente, se manifesta des- cerca de 120 m abaixo das lentes de sulfeto maci-
de o halo externo até o interno como dissemina- ço da Zona Superior, mas ambos convergem em
ções de arsenopirita e pirrotita. A potássica ocor- profundidade. O veio situa-se no interior de uma
re de modo discreto nos três halos, mas pode ser zona de alto strain que marca o contato entre xis-
pronunciada no interno, como indica a substitui- tos carbonosos sobrepostos a metagrauvacas. O
ção progressiva de mica branca por biotita e, por ouro ocorre disseminado ou como preenchimento
vezes, com a formação de biotititos próximo aos de fraturas (Fig. 7B) em grãos de menos de 0,1
corpos mineralizados, o que sugere a presença mm até 2 mm. A proporção de Ag é inferior a 9%.
de um fluido tardio mais rico em potássio e ferro. Componentes menores compreendem pirrotita, ar-
Estudos geoquímicos realizados por Fortes senopirita, mica branca, material carbonoso, pla-
(1996) e Oliver et al. (2005) mostram que a alte- gioclásio, carbonato e clorita. Se o xisto carbono-
ração hidrotermal associada aos corpos de sulfe- so encaixante contiver arsenopirita e/ou pirrotita
to maciço resultaram da interação dos fluidos com disseminadas próximo ao contato com o veio, este
basaltos. Em afloramentos, estas assembléias mi- também é minerado.
nerais são facilmente distinguidas de metabasal- O veio está hospedado em filitos carbonosos,
to, em geral anfibólio xistos. Se a mineralização os quais foram pouco reativos às soluções hidro-
ocorre no interior de metabasalto, a simetria de termais. Os produtos mesoscopicamente mais evi-
alteração é clara, mas se hospedada pelo contato dentes compreendem o alvejamento da rocha hos-
tectônico entre metabasalto e rocha metassedi- pedeira decorrente da lixiviação do material car-

152
Hardy Jost, Marcelo Juliano de Carvalho, Vinícius Gomes Rodrigues & Rodrigo Martins

Figura 7 – (A) - Exposição do veio de quartzo em galeria da Zona Inferior de Crixás. (B) - Exepcional amostra
do veio de quartzo da Zona Inferior de Crixás com fratura atapetada por Ouro. Fotos de R. Martins.

bonoso e a transformação da rara biotita em mica do primeiro ciclo sedimentar de Faina. Em vista da
branca, sugestivo de alteração fílica incipiente, lo- baixa reatividade dos quartzitos, os halos de al-
calmente acompanhada de sulfetação por arse- teração hidrotermal são fracos, de possança mé-
nopirita e pirrotita disseminadas trica, e, até o momento, os mais evidentes estão
representados por um halo externo de pigmenta-
Greenstone belt de Faina ção ocre, ferruginosa, ora na forma disseminada
ou em fraturas irregulares, paralelas ou transver-
O intenso programa de exploração realizado sais à foliação, seguido de um halo interno com
pela Orinoco do Brasil Mineração Ltda. no entorno bolsões e fitas milimétricas disseminadas com bi-
de galerias dos Bandeirantes, alvo denominado otita e palhetas isoladas de fuchsita. Nas galeri-
Curral de Pedra, situado na porção central do gre- as, a pigmentação ferruginosa se expressa pela
enstone belt (Fig. 3D) detectou que mineralização coloração avermelhada clara da rocha encaixante
aurífera foi um processo amplamente distribuída dos veios.
e ocorre nas rochas metavulcânicas ultramáficas Os corpos de minério dos corpos Mestre-Cas-
e mãficas basais e metassedimentar siliciclásticas cavel ocorrem como ore-shoots a cada 2,5 a 3,5 m
e qumicas superiores. de idade tentativamente pa- e testes metalúrgicos de amostras de alto teor de
leoproterozóica. Os trends auriferos parecem ser ambos revelaram valolres de 39.3 g/t (amostra
relativamente contínuos segundo a direção, alo- com 500kg) e 24.14g/t (amostra com 2.8 t), res-
jados em zonas de cisalhamento regionais. O prin- pectivamente. Nestes alvos, o ouro ocorre na for-
cipal depósito, ainda sob avaliação de reservas, ma livre, em grãos de 2-3 mm até 3 cm e, portan-
consiste em mineralização em dois sistemas de to, grosso (Figs. 8B e C), em associação com rara
veios de quartzo superpostos, denominados de pirita.
Mestre-Cascavel e Cuca, na ordem de profundida-
de estrutural. Os veios tem em média 50 cm de MINÉRIO DISSEMINADO
possança (Fig. 8A), estão orientados segundo
N60o-40oW,25oSW e, como identificado por sonda- Minério disseminado ocorre em corredores de
gens, o sistema Mestre-Cascavel tem, segundo a alto strain localizados em filito carbonoso de Cri-
direção, 485m de comprimento e o Cuca 585m, xás (Zona Intermediária, Mina Nova, Forquilha, Cor-
sendo o primeiro mais continuo, e, até o presen- pos IV e V, Pequizão e Cajueiro) e de Pilar de Goi-
te, forram detectados até 700m de profundidade. ás (Jordino, Ogó, Três Buracos). Em Guarinos, a
Além destes corpos, a estrutura contém outros lo- mineralização ocorre em cinco garimpos (Natal, Jair,
cais com cavas dos Bandeirantes. Maria Lázara, Invasão e Bié) e está hospedada
As rochas encaixantes são quartzitos foliados em zona de alto strain em meio a metabasaltos
da fácies xisto verde inferior e portadores de dis- com intercalações de filito carbonoso e formação
seminações de fuchsita, albita e microclínio detrí- ferrífera. Como exemplo, na Mina Nova, em Cri-
ticos. A seção de quartzitos tem espessura esti- xás, a zona rica em ouro têm, em média, 1,5 m de
mada em torno de 250-300 m e correponde à base largura, cerca de 200 m de comprimento e se es-
153
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Greenstone belts de Goiás

rita, bornita e pentlandita, em Guarinos compos-


tos de Au-Te-Bi e em Pilar de Goiás galena e esfa-
lerita. O conteúdo de Ag no Au é, em geral, inferi-
or a 11%.
A exemplo do tipo em veio de quartzo, os inter-
valos de filito carbonoso mineralizado também fo-
ram pouco reativos às soluções hidrotermais, mas
a sua resposta varia entre os corpos de minério.
Por exemplo, em Crixás, os produtos mais eviden-
tes compreendem o alvejamento da rocha hospe-
deira por incipiente lixiviação do material carbo-
noso, em geral resultante de discreta silicificação
(Fig. 9C) e transformação de biotita metamórfica
em mica branca de alteração fílica. A alteração hi-
drotermal está, em geral, concentrada no entor-
no das venulações e compreende, de posições dis-
tais para as proximais, de cloritização + carbona-
tação, sericitização e biotitização (Fig. 9D). A sul-
fetação, na forma de arsenoprita, pirrotita e even-
tual pirita, abrange tanto as venulações quanto o
intervalo de alto strain, minerado como um todo.
A simetria da alteração hidrotermal é dificilmente
Figura 8 – (A) - Veio de quartzo em quartzito hospe-
deiro docorpo Mestre-Cascavel, Curral de Pedra, gre- reconhecível em testemunhos de sondagem e
enstone belt de Faina. (B) - veio de quartzo com gre- frentes de lavra, devido ao diminuto tamanho dos
ãos de oouro de até 4 mm. (C) - Veio de quartxzo minerais, mas visível sob microscópio. Em aflora-
com agregado de ouro com cerca de 2 cm de compri- mentos, é difícil distinguir o filito carbonoso mine-
mento. Fotos M.J. Carvalho.
ralizado do estéril.
No garimpo Maria Lázara, em Guarinos, situa-
tende por mais de 1000 m segundo o plunge. Já do em metabasaltos, a alteração hidrotermal des-
no depósito Jordino, em Pilar de Goiás, ocorrem crita por Pulz (1990, 1995) pode alcançar até 50
três niveis mineralizados (HG1, HG2 e HG3), den- m, de forma simétrica a partir do intervalo com veios
tre os quais o mais importante, pela sua continui- de quartzo auríferos. Se manifesta por um halo
dade, é o HG1, o qual se estende por 930 m se- externo de cloritização e carbonatação, um inter-
gundo a direção e 2600 m segundo o plunge. mediário de biotitização e o interno de alteração
Em Crixás, Fortes (1996), Portocarrero (1996), fílica. Cada halo é acompanhado de proporções
Petersen (2003) e Jost (2004), em Guarinos, Pulz menores e variáveis de epidoto, turmalina, albita,
(1990) e em Pilar de Goiás, Pulz (1995) descre- leucoxênio e almandina, esta em particular comum
vem que os intervalos ricos em Ouro se caracteri- no halo rico em biotita. O ouro ocorre na forma
zam por venulações centimétricas a decimétricas nativa e maldonita (Au2Bi) associados à arsenopi-
paralelas à foliação, dobradas e/ou boudinadas, rita e pirrotita e traços de esfalerita, monazita, pi-
por vezes transversais (Fig. 9A), compostas de rita, calcopirita, galena, molibdenita, prata nativa,
quartzo, quartzo-carbonato ou de quartzo-albita- joesita-B (Bi4Te2S), csiklovaita (Bi2TeS2), bismutini-
biotita-carbonato. As venulações mesoscópicas ta e bismuto nativo.
são, por exemplo no Corpo Forquilha, acompanha- Em Pilar de Goiás não há, até o presente, des-
das por enxame de microvenulações descontínu- crições petrográficas disponíveis dos estilos de al-
as com amplo espectro composicional, cujo arran- teração hidrotermal. Pulz (1995) descreve que, no
jo sugere micro-brechação hidráulica (Fig. 9B) du- garimpo da Cachoeira do Ogó, a mineralização está
rante a mineralização. O filito carbonoso hospe- hospedada em intervalo de alto strain de filito car-
deiro é, em geral, também aurífero e com dissemi- bonoso e o Ouro ocorre na forma livre e como elec-
nações de pirita, pirrotita e arsenopirita. Consti- trum, associados com arsenopirita, pirita, pirroti-
tuintes menores em Crixás compreendem calcopi- ta, esfalerita, galena e calcopirita.

154
Hardy Jost, Marcelo Juliano de Carvalho, Vinícius Gomes Rodrigues & Rodrigo Martins

Figura 9 – Feições do minério disseminado de Crixás. (A) - Exposição em galeria de venulação boudinada em
meio a filito carbonoso deformado por alto strain na Mina Nova. (B) - Conjunto de lâminas delgadas digitali-
zadas que mostram enxame de venulações mineralizadas resultantes de microbrechação hidráulica no Cor-
po Forquilha. (C) - Fotomicrografia de lâmina delgada de filito carbonoso com discreto alvejamento por silici-
ficação. Corpo Forquilha. LN. (D) - Fotomicrografia de lâmina delgada de venulação do Corpo Forquilha que
mostra microvênula composta por quartzo, albita, biotita e opacos representados por arsenopirita e pirrotita,
com borda de alteração potássica marcada por biotita crescida sobre a foliação metamórfica de filito carbono-
so. Corpo Forquilha. LN. Fotos de H. Jost.

CONTROLE DAS MINERALIZAÇÕES tação de segunda e terceira ordem empilhadas e


que alojam os corpos de minério. Eventos subse-
O principal controle destes depósitos é litológi- qüentes reorientaram as estruturas mineralizadas
co seguido do estrutural. Em Crixás, o controle li- segundo um plunge 15o/N60-70oW e foram respon-
tológico é exercido pelo pacote sedimentar (Fig. 10A), sáveis pelo metamorfismo de baixo grau das zo-
em particular pelos filitos carbonosos, por vezes in- nas de alteração hidrotermal e remobilização do
tercalados com niveis centimétricos a métricos de Ouro. Um controle litológico subordinado e misto
metagrauvaca e dolomito. Segundo dados estru- consiste do contato cisalhado entre filito carbono-
turais de Magalhães (1991), Queiroz (1995) e Mas- so e metabasalto, como no Sulfeto Maciço e no
sucato (2004), o controle dos corpos mineraliza- Corpo Palmeiras.
dos é por falhas de empurrão de baixo a modera- Em Guarinos, Pulz (1990) atribui o controle es-
do ângulo de mergulho empilhadas (Fig. 10B) e trutural do depósito Maria Lázara à Zona de Cisa-
de vergência para nordeste e que cortam trans- lhamento Carroça, de caráter dúctil e orientação
versalmente estruturas pretéritas do pacote se- N10oW,30oSW que corta metabasaltos do extremo
dimentar (Fig. 10C). As falhas são acompanhadas sudeste do greenstone belt. A autora interpreta o
por dobras recumbentes a semi-recumbentes de- depósito como resultante da canalização de flui-
senhadas pelo acamamento original (So) paralelo dos metamórficos e magmáticos mobilizados por
à foliação metamórfica mais proeminente (Sn). A intrusão trondjhemítica exposta no núcleo do Domo
correlação entre inúmeras seções de sondagens de Guarinos (Fig. 3B), situado no extremo nordeste
dispostas segundo nordeste-sudoeste na área da da faixa. A zona de cisalhamento é, no entanto, parte
Mina III mostra que uma zona de descolamento de uma estrutura N30oW,30oSW que se estende des-
de primeira ordem desenvolveu uma rampa íngre- de o limite norte até o extremo sul do greenstone
me a oeste, adjacente a um patamar com duplex a belt (Fig. 3B) e onde o plunge da mineralização é
leste, o qual corresponde a várias zonas de dila- 30°/S85°W.

155
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Greenstone belts de Goiás

Figura 10 – (A) - Mapa geológico esquemático do greenstone belt de Crixás, com indicação dos principais
corpos auríferos. (B) - Seção esquemática EW que ilustra a superposição dos corpos auríferos. (C) Exposição
em galeria do realce do Corpo Forquilha e que mostra dobras D1 redobradas por D2 e cortadas por zona de
descolamento mineralizada. Foto de R. Martins.

Em Pilar de Goiás, o controle estrutural do trend método Rb-Sr em rocha total de amostras de ha-
que contém o depósito Jordino e os garimpos da los de alteração hidrotermal, pelos métodos K-Ar
Cachoeira do Ogó e Três Buracos é uma falha de e Ar-Ar em concentrados de minerais por Firtes et
empurrão de direção geral NS e vergência apa- al. (1995, 1997) e Fortes (1996) e pelo método
rente para leste, encurvada para SE no extremo Sm-Nd em concentrado de minerais e rocha total
sul por influência do cavalgamento do Grupo Ara- (Fortes et al. 2003). Em conjunto, os resultados
xá sobre o greenstone belt. O plunge dos corpos forneceram o intervalo de 750 a 550 Ma, interpre-
mineralizados é da ordem de 5o/270o. tado por aqueles autores como o intervalo de tem-
po da mineralização. A datação de zircão magmá-
IDADE DAS ROCHAS ENCAIXANTES, HOSPEDEIRAS tico de um enxame de diques máficos que corta
E DA MINERALIZAÇÃO os corpos mineralizados de Crixás por Jost et al.
(2010) gerou a idade U-Pb LA-ICPMS de 2170±17
Os dados isotópicos anteriormente descritos Ma, o que sugeriu aos autores que o estágio de
indicam que as rochas metassedimentares encai- bacia, sua deformação, metamorfismo e minerali-
xantes e hospedeiras dos depósitos auríferos dos zação foram restritos ao Riaciano. Entretanto, a
greenstone belts de norte derivaram da erosão de datação Re-Os de arsenopirita do sulfeto maciço
área-fonte dominada por rochas do Riaciano. De- da Zona Superior por Marques et al. (2013) forne-
terminações isotópicas que visaram obter a idade ceu a idade de 2126 ± 16 Ma, considerada a mais
de mineralização aurífera, se restringem aos de- apropriada da mineralização maciça e a discrepân-
pósitos da Mina III, em Crixás. Os primeiros resul- cia de idade entre ambos os métodos é atribuída à
tados foram obtidos por Fortes et al. (1993) pelo distinta precisão. Por outro lado, estes dados in-

156
Hardy Jost, Marcelo Juliano de Carvalho, Vinícius Gomes Rodrigues & Rodrigo Martins

dicam que a idade neoproterozoica representa a 1,0 e 3,7 kb e do minério disseminado da Mina
da recristalização metamórfica dos halos de alte- Nova entre 400°C e 525°C e 1,4 e 3,7 kb. Em ou-
ração hidrotermal durante a inserção do Terreno tros corpos de minério disseminado de Crixás, Pe-
na Faixa Brasília. tersen (2003) conclui por condições de 428°C a
Em Pilar de Goiás, Pulz (1995) obteve uma ida- 580oC e de 5,7 a 8,3 kbar. Apesar da semelhança
de Pb-Pb de 2025 Ma em galena do depósito Ogó, das condições termais obtidas por ambos os au-
parte do depósito Jordino, hospedado em filitos tores sobre distintos corpos de minério, há uma
carbonosos da Formação Serra do Moinho. Esta diferença, da ordem de 2 a 3 vezes dos intervalos
idade é um pouco mais recente do que a idade U- de pressão dos fluidos.
Pb SHRIMP de 2145 ± 12 Ma obtida por Queiroz No depósito Maria Lázara, em Guarinos, as in-
(2000) em zircão de intrusões de albita-granito clusões fluidas estudadas por Pulz (1990) indicam
alojados em zonas de descolamento tardias que alo- temperatura de 116°C a 371oC, mas a autora não
jam o trend que contem os depósitos Jordino e Ogó. estima as condições de pressão deste depósito e
Do exposto se conclui que a idade máxima da nem as de P e T do depósito da Cachoeira do Ogó,
deposição das rochas metassedimentares hospe- em Pilar de Goiás. Regionalmente, aparenta ha-
deiras de mineralização aurífera dos três greensto- ver um declínio das condições de T e P de Crixás
ne belts de norte corresponde ao Riaciano. Os da- para Pilar de Goiás.
dos isotópicos sobre as mencionads mineralizações,
por seu turno, indicam que o Riaciano é, também, a ISÓTOPOS DE ENXOFRE
época metalogenética mais importante da região.
Contudo, não há dados isotópicos sobre a idade da Dados preliminares sobre isótopos de Enxofre
mineralização aurífera do greenstone belt de Faina. foram obtidos por Oliver et al. (2005) em Crixás a
partir de amostras do sulfeto maciço da Zona Su-
INCLUSÕES FLUIDAS perior, de minério disseminado da Mina Nova, dos
corpos Forquilha e Palmeiras e do veio de quartzo
Estudos de inclusões fluidas realizados por For- da Zona Inferior. Os valores de δ34S do sulfeto ma-
tes (1996) nos três tipos de depósitos de Crixás ciço variam de +2‰ e 0‰, o que sugere que o
mostram que há vários tipos de inclusões inter- enxôfre deriva de fonte magmática. Na Mina Nova
pretadas como contemporâneas aos corpos de mi- e no Corpo Forquilha os valores se situam em tor-
nério. No sulfeto maciço estas são multifásicas, no de -2‰, em intervalo de superposição de fon-
aquo-carbônicas saturadas com fases sólidas na te mista de enxofre magmático e sedimentar lo-
forma de halita, silvita e sólidos anisotrópicos, as cal. A fonte magmática do enxofre no sulfeto ma-
quais são raras nos veios de quartzo da Zona In- ciço da Zona Superior e no Corpo Forquilha é ques-
ferior e de minério disseminado da Mina Nova. Já tão em aberto, pois não há evidências, até o pre-
as monofásicas ou bifásicas carbônicas coexistem sente, de exposições de intrusões cronocorrela-
em proporções semelhantes no sulfeto maciço e tas. Os demais corpos possuem de -7‰ a -12‰,
no veio de quartzo. Com estas coexistem inclu- indicativo de enxofre proveniente das rochas me-
sões bifásicas ou trifásicas aquo-carbônicas com tassedimentares locais, em particular dos filitos car-
fases sólidas anisotrópicas e monofásicas ou bifá- bonosos hospedeiros.
sicas aquosas. O autor conclui que os fluidos que
geraram o sulfeto maciço da Zona Superior, o veio ALTERAÇÃO SUPERGÊNICA
de quartzo da Zona Inferior e o minério dissemi-
nado da Mina Nova representam sistemas aquo- Efeitos do intemperismo e enriquecimento su-
carbônicos saturados e não saturados, carbôni- pergênico somente são evidentes no sulfeto ma-
cos, aquosos instaurados e fluidos ricos em meta- ciço da Zona Superior de Crixás, e se expressam
no e nitrogênio, este, raro no sulfeto maciço e não como gossam que foi explorado pelos Bandeiran-
identificado nos veios de quartzo. O autor estima tes. A oxidação de arsenopirita, pirrotita e even-
que o aprisionamento dos fluidos precóces do sul- tuais pirita e siderita resultaram na abundância
feto maciço da Zona Superior ocorreu no intervalo de goethita/lepidocrosita com boxworks de sulfe-
de 375°C a 475°C e 1,5 e 3,3 kb, no do veio de tos. Nos corpos de minério disseminado em filito
quartzo da Zona Inferior entre 375°C e 525°C e carbonoso expostos em afloramentos de Crixás e

157
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Greenstone belts de Goiás

Pilar de Goiás, os efeitos do intemperismo se ma- hospedado em biotita gnaisse, sob controle de
nifestam pela disseminação de pontuações ocre zona de cisalhamento NS/45oW e estimou sua re-
de oxidação dos sulfetos e carbonato, mas rara- serva em 700 mil t, com teor médio de 7,44 g/t Au.
mente esta se distingue de filito carbonoso não Estudos detalhados por Rodrigues (2011), dos
mineralizado e com sulfetos singenéticos. Nos vei- quais os parágrafos que seguem são uma sínte-
os de quartzo esta se expressa por fraca dissemi- se, revelaram que a mineralização está hospeda-
nação de boxworks a partir de sulfetos. da em um dique de albitito encaixado entre uma
intrusão sigmóide de gabro e rochas metassedi-
ASSINATURAS GEOFÍSICAS mentares do greenstone belt. O albitito tem cerca
de 1 Km de comprimento, até 2 m de largura e é
As primeiras informações sobre assinaturas ge- conhecido por sondagem a profundidade superior
ofísicas da região foram divulgadas por Pires (1990, de 150 m.
1995) e Carvalho (1999). Os autores relatam que A mineralização ocorre como stockwork de
a melhor resposta geofísica dos depósitos e ga- quartzo e arsenopirita (Fig. 11A) e arsenopirita dis-
rimpos auríferos dos três greenstone belts de nor- seminada no albitito (Fig. 11B) e no halo de alte-
te comprende estreitas anomalias gamaespectro- ração hidrotermal imediato. O albitito é fino, cinza
métricas no canal do Potássio e, em mapas aero- claro, maciço e contém de 30 a 40% de fenocris-
magnetomítricos de Sinal Analítico do campo mag- tais milimétricos e euédricos de albita geminada
nético, compativeis com a geometria linear dos vá- (Fig. 11C) em matriz muito fina de albita, com even-
rios corpos de minério. tual biotita, opacos, mica branca, carbonato, clori-
ta e quartzo. O albitito também contém veios peg-
ASSINATURAS GEOQUÍMICAS matóides tardios com albita, quartzo e biotita (Fig.
11D), albita, quartzo, mica branca e arsenopirita,
Segundo Fortes (1996) a assinatura geoquími- bem como bolsões de quartzo e siderita.
ca dos depósitos de Crixás é dada pela associa- Do gabro ao albitito (Fig. 11E), a alteração hi-
ção Au-As. Em Guarinos, Pulz (1990) relata que drotermal ocorre em halos de possança métrica a
esta é dada por Au-Ag-Sb-Te-Bi. Já em Pilar de decamétrica, os quais Rodrigues (2011) denomi-
Goiás, Carvalho (1999) relata que a associação é na de externo, intermediário e interno, cujas com-
Au-Ag-Bi-Mo-Pb-Sb-W. Estes dados não apenas in- posições modais médias constam da Tabela 2. O
dicam distintos fluidos hidrotermais quanto suge- gabro está uralitizado e, em direção ao halo ex-
rem uma zonação regional dos depósitos. terno, contém incipiente alteração potássica por
formação de biotita às expensas de anfibólio. O
DEPÓSITOS SINGENÉTICOS halo externo é composto de gabro foliado e corta-
do por filonetes de carbonato, com anfibólio parci-
Depósito aurífero em albitito almente transformado em biotita e imerso em ma-
triz de albita, quartzo e ilmenita. O halo interme-
O primeiro registro sobre a ocorrência de um diário consiste de um albita-quartzo-biotita xisto
depósto aurífero em albitito nos greenstone belts com proeminente foliação. O halo interno resultou
de Goiás deve-se a Rodrigues (2011). O depósito da incorporação de arsenopirita disseminada e
ocorre no extremo norte das rochas supracrustais ankerita pelo halo intermediário e estreitos inter-
de Guarinos e é conhecido como depósito Caia- valos de alteração fílica junto ao albitito. O conta-
mar. Trata-se da única ocorrência desta categoria to do halo interno com o albitito é brusco.
conhecida no Terreno Arqueano-Paleoproterozoi- Os estilos de alteração hidrotermal são pois,
co de Goiás e, portanto, inédito no contexto me- em ordem decrescente de intensidade e amplitu-
talogenético do mesmo. Sua exploração inicial foi de, a albitização, potassificação, carbonatação, sul-
feita por Bandeirantes na zona de enriquecimen- fetação e a sericitização. As varições na composi-
to superficial e sua redescoberta ocorreu no final ção mineral do halo externo ao interno (Tabela 2)
de 1980 pela Mineração Serra Formosa S.A. O de- ocorrem por decréscimo das proporções de horn-
pósito está sob retomada da produção subterrâ- blenda e concomitante aumento das de albita até
nea pela Yamana Gold Inc. o halo interno, e de quartzo até o intermediário.
Lacerda (1991) interpretou o depósito como Do intermediário ao interno decrescem as propor-

158
Hardy Jost, Marcelo Juliano de Carvalho, Vinícius Gomes Rodrigues & Rodrigo Martins

Figura 11 – Depósito Caiamar. (A) - Exposição do teto de galeria que mostra o albitito com stockwork de
quartzo mineralizado e parte da encaixante imediata. (B) - Amostra de mão do albitito com disseminação de
arsenopirita (cristais brancos). (C) - Fotomicrografia que mostra a textura porfirítica do albitito com fenocris-
tais euérdricos de albita, o cristal central com geminação em tabuleiro de xadrez típica da espécie, imersos
em matriz muito fina de quartzo e albita. LP. (D) - Veio pegmatóide tardio composto de albita, quartzo e
biotita do interior do albitito. (E) - Sucessão da alteração hidrotermal da intrusão de gabro ao albitito. Cristais
pardos da zona interna são de ankerita. Ilustrações de Rodrigues (2011).

ções de quartzo, permanecem estáveis as de bio- que a sua composição química original está pre-
tita e ilmenita e crescem as de pirrotita, pirita e servada e é compatível com intrusões colisionais
arsenopoirita. Pirrotita marca, em geral, a porção de arco magmático. A preservação textural do ga-
externa da zona interna e pirita + arsenopirita pró- bro, a sua uralitização e a estrutura foliada dos
ximo do albitito. halos de alteração hidrotermal sugerem que a de-
Os dados litogeoquímicos do gabro mostram formação e a alteração hidrotermal foram conco-

Tabela 2 - Variação da composição mineral modal média do gabro ao albitito do depósito Caiamar (Rodrigues
2011).

159
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Greenstone belts de Goiás

mitantes. Entretanto, o estado indeformado do roradiométrica no canal do Potássio, atribuída ao


albitito e a mineralização em stockwork indicam que halo de alteração intermediário, rico em biotita.
ambos se alojaram sob regime distensivo. Contudo, o depósito, demarcado pela malha de
Não há dados de inclusões fluidas deste depó- sondagens, situa-se na borda leste de uma ano-
sito. Entretanto, os valores de δ34S da arsenopiri- malia aeromagnética circular, negativa e dipolar
ta disseminada no albitito situam-se no intervalo (Fig. 12A), que contrasta com a assinatura das ro-
de -2,67‰ a -3,25‰, e pirita, mostram que os chas supracrutais. Por outro lado, o mapa pseu-
valores de arsenopirita disseminada no albitito si- dogravimétrico (Fig. 12B) indica a presença de um
tuam-se entre -2,67‰ e -3,25‰, sugestivo de corpo de baixa densidade, um pouco desviado para
que o maior volume de enxofre é de proveniência sul do dipolo magnético. Rodrigues (2011) sugere
magmática, com subordinada participação de en- que a resposta geofísica sinaliza que a minerali-
xofre sedimentar local. Os valores de δ34S das de- zação possa resultar de uma intrusão profunda,
mais amostras, provenientes do stockwork e do sob as rochas supracrustais, o que o leva a inter-
halo interno, variam de -5,20‰ a - 8,82‰, indica- pretar o depósito como do tipo relacionado a in-
tivo de contribuição sedimentar local. trusões.
No tocante à idade deste depósito, Jost et al. A assinatura geoquímica do depósito foi obtida
(2008) descrevem que os cristais de zircão detríti- estatisticamente com o emprego de dados analí-
cos mais jovens de rochas siliciclásticas de Guari- ticos por ICP-MS de 52 elemento de 200 amostras
nos datam de ca. 2.2 Ga (Jost et al. 2008), inter- de canal do minério exposto em galerias. Os re-
pretada como a idade máxima da deposição das sultados sugerem que o depósito é representado
rochas metassedimentares encaixantes do gabro. pela associação Au-S-Se-Sb-Ag-Te-As, em ordem
Várias tentativas para obter zircão ou badeleiita decrescente de correlação. Um grupo subsidiário,
do gabro para datação resultaram infrutíferas, mas de menor correlção com o anterior. compreende a
uma amostra do albitito continha diveros grãos dis- asssociação Ba-Zn-Pb-Mo.
tribuídos em duas populações, sendo uma herda- Os produtos de enriquecimento supergênico
da das rochas metassedimentares encaixantes ad- são desconhecidos, pois a porção superficial do
jacentes e outra de cristais de zircão hidrotermal, a depósito foi exaurida pelos Bandeirantes nos anos
qual gerou uma discórdia com intercepto superior 1700 e garimpos posteriores.
em 729 ± 15 Ma, indicativo de que a formção do
albitito ocorreu durante o Neoproterozoico. Prospectos de Ouro do tipo VMS
A assinatura geofísica do depósito é sutil e ex-
pressa por estreita e linear faixa de anomalia ae- Depósitos desta tipologia occorrem, até o mo-

Figura 12 – Assinaturas geofísicas relacionadas ao depósito aurífero em albitito do Caiamar, greenstone belt de
Guarinos. (A) - Anomalia magnética, circular e dipolar adjacente à malha de sondagem. (B) - Anomalia pseudo-
gravimétrica elíptica parcialmente superposta à anomalia magnética. Ilustrações de Rodrigues (2011).

160
Hardy Jost, Marcelo Juliano de Carvalho, Vinícius Gomes Rodrigues & Rodrigo Martins

mento, apenas no greenstone belt de Serra de San- lho. Como mencionado no título sobre a geocro-
ta Rita, próximo e a norte da cidade de Goiás, como nologia dos greenstone belts, Pimentel et al. (2000)
parte de uma lente de rochas vulcanoclásticas com obtiveram nestas rochas a idade magmática U-Pb
cerca de 17 km de comprimento segundo NW e 4 SHRIMP em zircão de 1580 ± 12 Ma, idade esta de
km de largura média segundo NE. Desde a época significado ainda incerto e sob nova datação.
dos Bandeirantes, a área destas rochas foi explo- A unidade consiste de uma sucesão de rochas
rada para Ouro nos aluviões e terraços antigos vulcanoclásticas subaquosas com acamamento
que margeiam o Rio Vermelho, e em zona de enri- gradacional (Fig. 13A) e variam desde cineritos até
quecimento supergênico ao longo de uma estru- aglomerados. As finas são compostas por plagio-
tura com cerca de 6 km de comprimento. Na déca- clássio, biotita e quartzo, com clorita, mica branca
da de 1970-1980 a Metais de Goiás S.A. - METAGO e opacos intersticiais. Os termos grossos são com-
realizou um programa de exploração, com mapea- postos por matriz com minerais idênticos aos fi-
mento e sondagens, provavelmente descontinua- nos e contêm fragmentos centimétricos a métri-
do devido ao preço do metal na época. Desde en- cos achatados (Fig. 13B), porosos, muito finos e
tão, a área não mereceu investigação do potenci- friáveis, sugestivo de possível púmice. A sua com-
al e, em 2011, a Yamana Gold Inc. adquiriu o direi- posição varia de andesítica a riodacítica. Diques e
to de pesquisa. stocks de diorito e riolito ocorrem em meio às vul-
Para Resende et al. (1999) a lente de metavul- canoclásticas.
clásticas félsicas é o Membro Superior da Forma- O calibre das rochas vulcanoclásticas tende a
ção Digo-Digo, denominação de um córrego que aumentar em direção a horizontes exalativos mé-
flue sobre as mesmas e tributário do Rio Verme- tricos compostos de metachert bandado com filito

Figura 13 – (A) - Afloramento no Córrego Digo-Digo que mostra o caráter estratificado e granoclassificado
das rochas vulcanoclásticas, como indicam as quebras de relevo. As porções de relevo positivo são de
vulcanoclástica mais grossa e, as de relevo negativo, finas. B - Afloramento no Córrego Digo-Digo qu expõe
vulcanoclástica de grosso calibre dado por fragmento achatados de provável púmice, em matriz rica em
cristais de feldspato (vulcanoclásticas de cristal) em matriz muito fina (cinerítica). (C) - Confluência do
Córrego Digo-Digo com o Rio Vermelho onde aflora horizonte exalativo composto de bandas alternadas de
metachert e filito carbonoso ricos em pirita com traços de Ouro. (D) - Afloramento de gossan associado a
possível sulfeto maciço ainda não alcançado por sondagem.

161
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Greenstone belts de Goiás

carbonoso (Fig. 13C), ricos em pirita e auríferos, lacionados com a associação conglomerado-are-
ou intervalos de pirita maciça (Fig. 13D). nito-folhelho-dolomito, com ausência ou raridade
Os trabalhos de exploração estão em fase inicial de unidades vulcânicas, mas ainda incerto se de
e estima-se que as vulcanoclásticas possam gerar ambiente de rift ou resíduos de margem passiva.
diversidade de depósitos clássicos do tipo VMS. Em Faina, ocorrem como várias lentes das por-
ções superiores do primeiro e do segundo ciclos
Prospectos de Ferro do Tipo Algoma sedimentares (Resende et al. 1998) e estão sob
detalhamento pela Empresa de Desenvolvimentos
Depósitos do tipo Algoma da região compreen- Minerais - EDEM. Em ambos os casos as forma-
dem formações ferríferas intercaladas nas seções ções ferríferas estão sobrepostas a dolomitos e,
estratigráficas inferióres de rochas vulcâncas dos as do primeiro ciclo estão sotopostas ao conglo-
greenstone belts, como produtos de exalações sub- merado basal aurífero glacígeno do segundo ciclo
aquosas contemporâneas a períodos de quiescên- e, até o presente, são conhecidas apenas nas por-
cia do vulcanismo. Sua freqüência varia entre os ções centrais e de sudeste do greenstone belt. Sua
greenstone belts, quer como resultado do estado descontinuidade lateral pode refletir ambiente
de preservação fragmentário decorrente da esca- deposicional restrito ou mesmo fruto da sua par-
mação tectônica, quer talvez à resposta a distin- cial erosão durante o desenvolvimento do segun-
tos ritmos do recesso do vulcanismo. do ciclo, como sugere a presença de clastos no
A maior freqüência destes depósitos ocorre em conglomerado basal do último. Até o presente, a
Pilar de Goiás e são raras nos demais greenstone formação ferrífera do segundo ciclo ocorre como
belts. Em Pilar de Goiás variam desde camadas lentes de poucas centenas de metros de compri-
contínuas por vários quilômetros de comprimento mento ao longo de toda a faixa. Ambas as unida-
segundo a direção e com espessura média de 10 des possuem em torno de 70 m de espessura, são
m, até rosários de lentes com dezenas de metros bandadas (Fig. 14A) e compostas por níveis ricos
de comprimento e até 2-3 m de espessura. Ocor- em magnetita e/ou hematita, em geral especula-
rem na fácies magnetita e/ou hematita, com ou rita, alternados com níveis de metachert.
sem grunerita, granada e rara pirita ou pirrotita. As klippen da porção sul do complexo Caiamar
e do greenstone belt de Guarinos pertencem à Se-
Prospecto de Ferro do Tipo Lago Superior qüência Morro Escuro (Jost et al. 1989), de idade
ainda incerta. Na seção-tipo, tectonicamente as-
Depósitos deste tipo ocorrem em duas áreas, sentada sobre o greenstone belt e localizada no
uma no greenstone belt de Faina e outra como kli- acidente topográfico homônimo, a unidade tem cer-
ppen sobre a porção sul do complexo Caiamar e ca de 170 m de espessura e contém uma unidade
do greenstone belt de Guarinos, mas não há estu- basal de metaconglomerado polimítico, por vezes
dos sobre a sua economicidade. São depósitos re- diamictito, seguido de quartzito, metapelito e o

Figura 14 - (A) – Formação ferrífera do tipo Lago Superior da Formação Córrego do Tatu, topo do segundo ciclo
plataformal do greenstone belt de Faina. (B) – Formação ferrífera do tipo Lago Superior da Seqüência Morro
Escuro, alóctone sobre gnaisses da porção sul do complexo Caiamar: FF – formação ferrífera e G = gnaisses.

162
Hardy Jost, Marcelo Juliano de Carvalho, Vinícius Gomes Rodrigues & Rodrigo Martins

topo consiste de dolomito e formação ferrífera, a antiforme na porção sul do greenstone belt, se es-
qual está melhor preservada como klippe sobre os tende por cerca de 20 km com 80 m de espessura
gnaisses da porção sul do complexo Caiamar, logo média e repousa simultaneamente sobre os ba-
a oeste do greenstone belt (Fig. 14B) e parcialmen- saltos da Formação Serra Azul e os turbiditos da
te capeada por canga. A ocorrência tem cerca de Formação São Patricinho. A unidade é composta
8 km de comprimento segundo SW-NE, 1,5 km de de uma fácies basal com magnetita e outra de topo
largura média e espessura variável entre 50 m no com hematita, ambas caracterizadas por matriz de
extremo sul a poucos metros no norte. mica branca (Fig. 15A) e com a qual se associam
condutos exalativos (Fig. 15B) engastados nas ro-
Prospectos de Ferro e Manganês do tipo SEDEX chas das unidades inferiores (Resende & Jost
1994, 1995).
Depósitos destes tipos ocorrem, até o momen- Por outro lado, o Membro Intermediário da For-
to, apenas em dois níveis estratigráficos de Gua- mação Cabaçal é um horizonte exalativo que aflo-
rinos. Um depósito de Ferro é o litotipo caracterís- ra de forma tectonicamente interrompida desde o
tico da Formação Aimbé e outro corresponde à as- limite do sul até o do norte do greenstone belt. Ao
sociação de depósitos de Ferro, Manganês e Bari- longo de sua direção, a unidade é caracterizada
ta do Membro Intermediário da Formação Cabaçal pelo predomínio de gondito no extremo sul. por
(Jost et al. 2011). gondito-metachert-barita na intermediária, a qual,,
A da Formação Aimbé delineia o traçado de uma já poucos metro para norte dá lugar à associação

Figura 15 - Intervalos exalativos do tipo SEDEX do greenstone belt de Guarinos. (A) – Formação ferrífera da
fácies hematita com matriz de mica branca da Formação Aimbé. (B) - Conduto de descarga hidrotermal
marcado por parede de turmalinito muto fino e obstruído por núcleo de quartzo leitoso, envolto por zonas de
alteração hidrotermal (Resende & Jost 1994, 1995). (C) - Tipos de associações de gondito-metachert-BIF-
barita do Membro Intermediário da Formação Cabaçal. Da esquerda para a direita a sucessão progride de sul
para norte no greensone belt. (E) - Afloramento de barita com estratificação cruzada de águas rasas do
Membro Intermediário da Formação Cabaçal.

163
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Greenstone belts de Goiás

BIF-metachert-barita (Figs. 15C e D). A formaçõ PALEOPLACER AURÍFERO


ferrífera passa a predominar até o extremo norte
da faixa (Jost ett al. 2011). A primeira descoberta de um alvo de paleopla-
cer aurífero nos greenstone belts de Goiás ocorreu
Ocorrência de Ni-Cu Associados a komatiitos entre 1992 e 2000 durante programa de explora-
ção por sedimento de corrente e malha de solo
O único depósito de Ni-Cu associado a komatii- realizada pela WMC no extremo noroeste do de
tos ocorre no setor noroeste do grenstone belt de Faina. Em 2001 a WMC vendeu os direitos para a
de Crixás e é conhecido como depósito Boa Vista Amazônia Mineração Ltda. que, em joint venture com
(Fig. 2). Foi inicialmente explorado pela Billiton Me- a Troy Brasil Exploração Mineral Ltda, fundaram a
tais Ltda. (Grupo SHELL) entre 1979 e 1983, se- Sertão Mineração Ltda. A campanha de exploração
guido pela Mineração Anaconda Brasil Ltda. entre realizada entre 2002 e 2007 resultou no reconhe-
1984 e 1986 e, em 1993 requerido pela Minera- cimento da novos alvos no mesmo horizonte es-
ção Wesminas Ltda., do grupo WMC. O depósito tratigráfico a vários quilômetros a sudeste. Em 2007
foi detectado por geoquímica de sedimentos de a empresa encerrou a exploração e, em 2009, a
corrente, follow-up em malhas de solo e ocorrên- Yamana Gold Inc. adquire a área a sudeste e, em
cia de gossam. O programa de exploração mais 2011 a Orinoco do Brasil Mineração Ltda. a de no-
amplo desenvolvido pela Mineração Wesminas roeste.
Ltda. resultou na delimitação de um bloco com 7 A correlação entre a estreita e contínua faixa
km de comprimento, no qual as sondagens inves- anômala e o modelo estratigráfico proposto por
tigativas interceptaram mineralização, mas não há Resende et al. (1998) resultou no reconhecimento
dados sobre tonelagem. A única descrição do de- de que a mesma coincide com o conglomerado ba-
pósito deve-se a Costa Jr. et al. (1997), de onde sal do segundo ciclo sedimentar de Faina. Carva-
os parágrafos que seguem são um resumo. lho et al. (2013) descrevem que o intervalo é uma
O depósito ocorre em metakomatiitos com su- camada guia com cerca de 40 km e 90 m de espes-
bordinados metabasaltos e intercalações inferio- sura média, composta de uma associação caótica
res a 1 m de de BIF, metachert e filito carbonoso. de paraconglomerados, ortoconglomerados, meta-
A maioria dos testemunhos de sondagem são de renitos e metapelitos, conjunto este informalmen-
rochas ultramáficas e máficas cisalhadas. Feições te denominado como Formação Arraial Dantas (Car-
primárias, como textura spinifex, cumulados e to- valho et al. 2013).
pos de derrames brechados somente foram de- Os paraconglomerados são diamictitos com clas-
tectadas em poucos intervalos de baixa deforma- tos irregulares, do tamanho preferencial bloco, com
ção. Os silicatos primários foram integralmente grânulo seixo subordinados, discretamente arre-
transformados na associação serpentina ± talco dondados e comumente achatados e não estéri-
± clorita ± magnetita. cos, ou em forma de fuso, e com orientação alea-
O horizonte mineralizado ocorre na base de tória (Fig 16A). Alguns clastos estão estriados por
uma seqüência de derrames ultramáficos sobre- ação glacial (Fig. 16B). A matriz é dominante e com-
posta por metabasaltos, com espessura inferior a posta por metarenito e/ou metapelito da fácies xis-
poucos metros. Os autores descrevem quatro ti- to verde inferior.
pos de mineralização que, em ordem decrescente Ortoconglomerados são relativamente comuns
de abundância, compreendem stringer, dissemina- ao longo da unidade e consistem de 50% ou mais
do, maciço e matriz. Horizontes de sulfeto maciço de clastos do tamanho seixo a bloco dispostos em
têm menos de 1 m de espessura e contêm 40% canais. Há, no entanto, um afloramento no extre-
de sulfetos e fragmentos de rocha ultramáfica que mo sul da unidade onde o ortoconglomerado é
aumentam de abundância em direção ao topo onde composto por clastos irregulares do tamanho blo-
a mineralização passa a disseminada. Os mine- co a matacão de baixo arredondamento e sem es-
rais do depósito compreendem até 70% de pirro- fericidade em arranjo irregular (Figs. 16C e 16D).
tita, seguida de pentlandita e calcopirita, com mag- Pela sua organização e irregularidade dos clas-
netita. esfalerita e traços de galena. Violarita e tos, estes afloramento pode ser possível resto de
marcasita são produtos de alteração. A razão Ni/ moraina.
Cu situa-se em torno de 10:1. Em ambos os tipos de conglomerado, a compo-

164
Hardy Jost, Marcelo Juliano de Carvalho, Vinícius Gomes Rodrigues & Rodrigo Martins

Figura 16 - Feições do paleoplacer glacígeno do greenstone belt de Faina. (A) - Afloramento de diamictito
intemperizado com clastos iregulares de xisto e quartzo leitoso em matriz de metapelito arenoso; (B) -
Exemplar de clasto estriado por ação glacial encontrado na porção sudeste da unidade. (C) - Ortoconglome-
rado com clastos irregulares de xisto e gnaisse do tamanho bloco em afloramento interpretado como possí-
vel resto de moraina. (D) - Mesmo afloramento do anterior com exposição de blocos muito grossos e irregu-
lares de xisto e granito, parte basal de possível resto de moraina.

sição dos clastos é variada e inclue metarenito, Estes dados sugerem que a unidade basal do
veio de quartzo, ambos com ou sem pirita e, por segundo ciclo sedimentar de Faina pode ter se ori-
vezes, auríferos, BIF, chert bandado, granito, ginado pelo retrabalhamento de depósitos glaci-
gnaisse, quartzito, xistos e raro turmalinito. In- ais da Glaciação Huroniana, a qual perdurou por
dpendente de matriz ou clasto-suportados, os cerca de 300 m.a. entre o Sideriano e o Riaciano,
clastos tem organização caótica, por vezes com o que é compatível com as anomalias positivas de
discreta imbricação. Tanto a matriz dos metacon- d13C dos dolomitos de topo do primeiro ciclo sedi-
glomerados quanto os metarenitos e metapelitos mentar de Faina, coincidentes com a Anomalia Lo-
são compostos por mica branca e quartzo, com magundi do Riaciano.
proporções menores de grande variedade de mi- Devido ao estágio inicial da exploração e avali-
nerais pesados, inclusive ouro. ação, nao há dados de reserva aurífera, mas de-
A determinação do Índice de Alteração Química terminações de teores pela Orinoco do Brasil Mi-
(IAQ) de 77 amostras de testemunhos de sonda- neração Ltda.a partir de testemuhos de sonda-
gem analisadas por ICP-NS e calculado pela raz- gem revelaram cifras entre 3 g/t e 10 g/t de Au em
çaõ [Al2O3/(Al2O3 + CaO + Na2O + K2O)] revelam que correlação direta com fácies de conglomerados
os pelitos e a matriz dos conglomerados são mui- clastosu-suportados. Entretanto, concetrados de
to imaturos, resultante de intemperismo dominan- bateia de amostras de metarenito piritoso podem
temente físico da área-fonte e de IAQ semelhante conter conentrações de até 5 g/kg de ouro. Estes
a argilas glaciais e loess modernos. dados sinalizam que a unidade contém um poten-

165
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Greenstone belts de Goiás

cial significativo, sob avaliação pela Yamana Gol- nia dos greenstone belts de Goiás. À Yamana Gold
dOrinoco do Brasil Mineração Ltda. Inc. e à Orinoco do Brasil Mineração Ltda. pela li-
beração de informações sobre os depósitos de
CONCLUSÕES suas áreas. Ao Dr. Manoel Barretto da Rocha Neto,
Diretor-Presidente do Serviço Geológico do Brasil
Os dados geocronológicos mais recentes reve- - CPRM, pelo convite para participar desta obra.
lam que a evolução do Terreno Arqueano-Paleo- Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientí-
proterozoico de Goiás encerra uma prolongada e fico e Tecnológico - CNPq pelos recursos com os
mais complexa história geológica do que até en- quais o autor senior foi beneficiado por vários anos
tão interpretada. A diferença de idade da ordem para se dedicar ao estudo do Terreno Arqueno-
de 150 Ma entre os gnaisses do extremo sul e os Paleoproterozoico de Goiás. Ao CNPq e Fundação
de norte sugere que houve a amalgamação entre de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás - FA-
dois fragmentos crustais arqueanos de proveni- PEG pela Bolsa de Desenvolvimento Científico Re-
ência distinta, mas ainda incerta. Por outro lado, gional - DCR junto à Universidade Federal de Goi-
a idade-modelo de ca. 3.0 Ga dos estrato inferio- ás, em Goiânia, no perído de 2012-2013, durante o
res do primeiro ciclo sedimentar de Faina e de Serra qual este texto foi revisado e atualizado com novos
de Santa Rita, combinado com a proveniência das dados de campo, como parte do projeto da Bolsa. À
respectivas cargas clásticas de área-fonte domi- Srta. Marianne Goerdt pela revisão ortográfica do
nada por rochas ultramáficas e máficas, com apa- texto.
rente compatibilidade cronológica com os komatii-
tos e basaltos de Crixás, sugerem a possibilidade REFERÊNCIAS
de que as rochas vulcânicas daqueles greenstone
Almeida B.S. 2006. Mineralização aurífera, alteração
belts sejam contemporâneas e do Arqueano. A sua hidrotermal e indicadores prospectivos do Corpo
correlação com as vulcânicas de Guarinos e Pilar Palmeiras, greenstone belt de Crixás, Goiás. Tra-
de Goiás é, no entanto, ainda incerta e está sob balho de Conclusão do Curso de Geologia, IG, UFR-
GS, 88 p.
investigação, apesar do ecassos dados de meta- Araújo Filho J.O. 2000. The Pirineus Syhntaxis: an
basaltos daquelas faixas que sinalizam serem, pelo example of the intersection of two Brasiliano fold-
thrust belts in central Brazil and its implications for
menos em parte, do Riaciano. the tectonic evolution of western Gondwana. Rev.
Por outro lado, os significativos contrastes de Bras. Geociências, 30:144-148.
ambientes e histórias deposicionais entre as se- Arndt N.T., Teixeira N.A., White, W.M. 1989. Bizarre ge-
ochemistry of komatiites from the Crixás Greensto-
ções sedimentares dos cinco greenstone belts mos- ne Belt. Contr. Mineral. Petrol., 101:187-197.
tram que estes evoluíram sob distintos regimes Carvalho M.T.N. 1999. Integração de dados geológi-
cos, geofísicos e geoquímicos aplicados à prospec-
bacinais, mas da mesma época, como provável res- ção de Ouro nos greenstone belts de Pilar de Goiás
posta à etapa de deglaciação da época Huronia- e Guarinos. Dissertação de Mestrado, IG/UnB, 187
pg.
na, no Riaciano.
Carvalho M.J., Rodrigues V.G., Jost H. 2013. Formação
Conquanto os complexos gnaisses são, até o Arraial Dantas: depósito aurífero detrítico glacíge-
momento, metalogeneticamente estéreis, os gre- no do greenstone belt de Faina, Goiás. In: UFRGS,
Simpósio Brasileiro de Metalogenia, 3, Gramado, Re-
enstone belts detêm o principal potencial represen- sumo em DF, 2 pgs.
tado por uma variedade de depósitos e ocorrênci- Correa da Costa P.C. 2003. Petrologia, geoquímica e
geocronologia dos diques máficos da região de Cri-
as minerais . Os dados apresentados mostram que
xás-Goiás, porção centro-oeste do Estado de Goi-
o potencial das rochas supracrustais não se es- ás. Tese de Doutorado, IG, USP, 151 pp.
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Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Greenstone belts de Goiás

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168
faixas Paleoproterozoicas

ESBOÇO TECTONO-GEOLÓGICO DAS FAIXAS


PALEOPROTEROZOICAS DO BRASIL
Evandro Luiz Klein, Lúcia Travassos Rosa-Costa & Marcelo Lacerda Vasques

METALOGÊNESE DA BORDA ORIENTAL DO CRÁTON AMAZÔNICO

EVANDRO LUIZ KLEIN, LÚCIA TRAVASSOS ROSA-COSTA & MARCELO LACERDA VASQUES

CPRM/Serviço Geológico do Brasil. Av. Dr. Freitas, 3645, Belém-PA, Brasil. CEP: 66095-110.
eklein@be.cprm.gov.br, ltravassos@be.cprm.gov.br, vasquez@be.cprm.gov.br

INTRODUÇÃO nos terrenos birrimianos do oeste da África, for-


mados durante a orogênese Eburneana (Onstott
A borda oriental do Cráton Amazônico, no Bra- & Hargraves 1981, Onstott et al. 1984, Ledru et al.
sil, forma uma faixa alongada de orientação sub- 1994).
meridiana. Engloba a porção sudeste do Escudo Após Cordani et al. (1979), que propuseram a
Brasil Central (centro-leste do Pará) e a parte les- compartimentação do Cráton Amazônico em pro-
te e nordeste do Escudo das Guianas (Amapá e víncias tectônicas-geocronológicas baseando-se
noroeste do Pará), e inflete para oeste estenden- fundamentalmente em dados radiométricos, e que
do-se pela Guiana Francesa, Suriname, Guiana e introduziram o termo Província Maroni-Itacaiúnas,
leste da Venezuela (Fig. 1). Esta área coincide apro- alguns setores desta faixa orogênica têm sido al-
ximadamente com as províncias geológicas-geo- vos de estudos geológicos sistemáticos na última
cronológicas Transamazonas (Santos 2003) e Ma- década, em geral acompanhados por geocronolo-
roni-Itacaiunas (Tassinari & Macambira 2004) e gia utilizando métodos robustos, os quais condu-
representa uma expressiva faixa orogênica con- ziram à individualização de diferentes domínios
solidada no Paleoproterozóico, durante o Ciclo geológicos na citada Província Transamazonas.
Transamazônico de orogenias (2,26 a 1,95 Ga). Estes domínios guardam entre si diferenças, so-
Internamente, essa faixa é heterogênea em ter- bretudo, em termos de associações litológicas,
mos de constituição e evolução geológica, sendo padrões geocronológicos e história evolutiva. Re-
aqui discutida por domínios tectônicos. presentam terrenos juvenis paleoproterozóicos,
Os recursos minerais da borda oriental do Crá- com evolução envolvendo subducção de litosfera
ton Amazônico, no Brasil, incluem depósitos de Au, oceânica (arcos de ilha e arcos magmáticos conti-
Cr, Fe, Mn, U, Ni, Ti, Sn, Nb-Ta, e diamante a apre- nentais), ou constituem remanescentes de crosta
senta ainda potencial para Cu, Zn, EGP e toriani- continental mais antiga, dominantemente arque-
ta. A formação dos depósitos minerais concentrou- ana, intensamente retrabalhada durante o Ciclo
se no período orogênico de evolução regional, mas Transamazônico de orogenias.
estende-se no tempo geológico desde o Arquea- Adotando-se fundamentalmente designações
no até o Peleógeno. Este texto sintetiza e exem- ou redefinições de trabalhos anteriores (Ricci et
plifica as características das diferentes classes de al. 2001, Santos 2003, Rosa-Costa et al. 2006,
depósitos e os enquadra na evolução dos distin- Macambira et al., 2007a, Vasquez et al. 2008b), a
tos domínios tectônicos. borda oriental do Cráton Amazônico no Brasil é
subdividida em cinco domínios tectônicos: Bloco
GEOLOGIA E EVOLUÇÃO DA BORDA ORIENTAL Amapá e domínios Carecuru, Lourenço, Bacajá e
DO CRÁTON AMAZÔNICO Santana do Araguaia (Fig. 1).

A borda oriental do Cráton Amazônico se con- Bloco Amapá


funde com a Província Transamazonas (Santos
2003) corresponde aproximadamente à Província O Bloco Amapá (Rosa-Costa et al. 2006) repre-
Maroni-Itacaiúnas, de Tassinari & Macambira senta expressivo segmento de crosta continental
(2004), e em escala global, encontra correlatos arqueana retrabalhado durante o Ciclo Transama-

171
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Borda oriental do Cráton Amazônico

Figura 1 – Subdivisão do Cráton Amazônico em províncias tectônicas-geocronológicas. Localização da Província


Transamazonas (borda oriental do Cráton Amazônico) e de seus domínios tectônicos. Adaptado de Vasquez
et al. (2008) a partir de Almeida et al. (1977) e Santos (2003).

zônico, quando foi deformado, metamorfizado e além de plutons charnockíticos da Suíte Intrusiva
seccionado por diversos corpos magmáticos em Noucuru, com idades entre 2,66-2,63 Ga (Ricci et
distintos estágios orogênicos (Fig. 2). O embasa- al. 2002, Rosa-Costa et al. 2006). Idades modelo
mento do Bloco Amapá é constituído por uma as- Sm-Nd(TDM) obtidas nestas unidades arqueanas de
sociação granito-gnáissico-migmatítica de alto embasamento demonstram que o principal perío-
grau, com metamorfismo variando da fácies anfi- do de formação de crosta continental no Bloco
bolito alto a granulito, representada principalmente Amapá se deu entre 2,83 e 3,31 Ga (Rosa-Costa
pelos complexos metamórficos ortoderivados Jari- et al. 2006, 2008a).
Guaribas, Baixo-Mapari, Tumucumaque e Guianen- Evidências geocronológicas e petroestruturais
se. Seus precursores magmáticos possuem ida- demonstram que o embasamento do Bloco Ama-
des entre 2,85 e 2,60 Ga (Avelar et al. 2003, Rosa- pá foi afetado por um evento granulítico entre 2,10
Costa et al. 2003, 2006), com relíquias de crosta e 2,08 Ga, durante o estágio colisional do Ciclo
ainda mais antiga, de 3,32 Ga (Klein et al. 2003), Transamazônico, e por eventos tectonotermais

172
Evandro Luiz Klein, Lúcia Travassos Rosa-Costa & Marcelo Lacerda Vasques

Figura 2 – Associações tectono-estratigráficas e domínios tectônicos da borda oriental do Escudo das Guianas,
em território brasileiro. Adaptado de CPRM (2004) e Rosa-Costa et al. (2006).

mais jovens, em estágio tardi- a pós-colisional (Oli- indicando que a sua origem envolveu retrabalhamen-
veira et al. 2008, Rosa-Costa et al. 2008a, 2009). to de crosta arqueana (Rosa-Costa et al. 2006).
Intenso magmatismo afetou o embasamento Outros corpos plutônicos incluem o Complexo
arqueano deste terreno durante o Paleoprotero- Bacuri, de natureza máfico-ultramáfica acamada-
zóico, representado por plútons de granitóides da, intrusivo no embasamento gnáissico-migmatí-
(p.ex suítes intrusivas Igarapé Careta e Parintins, tico do Complexo Tumucumaque (no sentido de
Alaskito Urucupatá, Granito Charuto) com idades Ricci et al. 2001) de 2,85 Ga Ma (Avelar et al. 2003),
entre 2,22 a 1,99 Ga (Avelar 2002, Borges et al. embora relações de contato não sejam visíveis
2002, Faraco et al. 2004, Rosa-Costa et al. 2006). devido ao intenso intemperismo e recoberto pe-
O posicionamento tectônico desses plutons ocor- las rochas supracrustais do Grupo Vila Nova (Ma-
reu em estágios pré-colisional, sin- tardi- e pós- tos et al. 1992, Spier & Ferreira Filho 1999). Uma
colisionais (Fig. 2). Estes granitóides apresentam errócrona Sm-Nd indica uma idade de 2218 ± 120
idades modelo Sm-Nd(TDM) entre 3,07 e 2,30 Ga, Ma para este complexo (Pimentel et al. 2002).
com valores de åNd dominantemente negativos, Conjuntos de rochas metavulcanossedimenta-

173
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Borda oriental do Cráton Amazônico

res ocorrem como faixas descontínuas e alonga- Treze de Maio e Serra Cuiapocu) (Fig. 2). Esses
das segundo NW-SE, direção de estruturação pro- conjuntos definem uma associação do tipo grani-
eminente no Bloco Amapá, com metamorfismo em tóide-greenstone de 2,19-2,14 Ga (Pb-Pb em zir-
fácies xisto verde a anfibolito (Sequência Serra cão), com idades modelo Sm-Nd(TDM) entre 2,50 e
Samaúna) ou anfibolito a granulito (Complexo Ira- 2,28 Ga, e valores de ?Nd de + 3,1 a – 0,84 (Rosa-
tapuru), com idade ainda desconhecida. Há evi- Costa et al. 2003, 2006). Segundo Rosa-Costa et
dências de que o evento metamórfico de alto grau al. (2006), a associação litológica e as caracterís-
que afetou o Complexo Iratapuru ocorreu em tor- ticas isotópicas indicam evolução relacionada a
no de 2,1 Ga (Rosa-Costa et al. 2008b), sendo, arco magmático desenvolvido durante o estágio
portanto, contemporâneo ao evento granulítico convergente do Ciclo Transamazônico.
que afetou as rochas de embasamento. Adicionalmente, ocorrem vários plutons graní-
Os cinturões metavulcanossedimentares defi- ticos (p.ex., Granito Paru e Suíte Intrusiva Parin-
nidos pelos grupos Vila Nova e Ipitinga são con- tins), com idades entre 2,10 e 2,03 Ga, os quais
trolados por lineamentos NW-SW que definem têm evolução relacionada a estágios orogênicos
aproximadamente os limites norte e sul do Bloco sin- a pós-colisionais (Rosa-Costa 2006, Rosa-
Amapá, respectivamente. São compostos por se- Costa et al. 2006). A idade modelo Sm-Nd(TDM) de
quências metamáfico-ultramáficas, químico-exala- 2,83 Ga, com valor de ?Nd de -6,61, e a presença
tivas e metassedimentares, com metamorfismo em frequente de zircões herdados arqueanos nos gra-
fácies xisto verde a anfibolito, datado em torno nitóides são indicações claras da participação de
de 2,08 Ga em rochas do Grupo Vila Nova (Pimen- crosta continental arqueana na origem dos mag-
tel et al. 2002). Uma isócrona Sm-Nd atribui idade mas granitóides do Domínio Carecuru (Rosa-Cos-
de formação de 2267 ± 66 Ma para o Grupo Ipitin- ta et al. 2006).
ga (McReath & Faraco 2006), que coincide com a Remanescentes de crosta arqueana mapeáveis
idade mínima aceita para o Grupo Vila Nova, indi- no Domínio Carecuru compreendem gnaisses gra-
cada pela presença de granitóides intrusivos nes- nulíticos do Complexo Ananaí, com protólitos mag-
ta sequência datados em até 2,26 (Barreto et al. máticos de 2,60 Ga, os quais hospedam plútons
2009). Considera-se que a evolução destas sequ- charnockíticos de 2,07 Ga da Suíte Intrusiva Iga-
ências está relacionada a estágios iniciais do Ciclo rapé Urucu. Estas unidades configuram uma as-
Transamazônico, com formação de crosta oceânica sociação de alto grau-alta temperatura isolada no
possivelmente no eo-rioaciano (Delor et al. 2003). Domínio Carecuru, que recebeu a designação de
Corpos graníticos anorogênicos de afinidade al- Domínio Paru (Ricci et al. 2001, Rosa-Costa et al.
calina, englobados no Granito Uaiãpi, ocorrem no 2003). O significado tectônico de rochas arquenas
interior do Bloco Amapá. São intrusivos em unida- neste domínio ainda é controverso, tendo sido
des arqueanas da assembléia de embasamento, interpretadas como evidência do prolongamento da
ou no limite deste bloco com o Domínio Carecuru- crosta arqueana do Bloco Amapá, preservada nas
Paru, onde seccionam rochas do Grupo Ipitinga. raízes do arco magmático Carecuru, ou como terre-
Vasquez & Lafon (2001) obtiveram, por datação no alóctone que colidiu com este arco durante o Ci-
por evaporação de Pb em zircões de um pluton clo Transamazônico (Rosa-Costa et al. 2006).
granítico do alto curso do Rio Jari, idade de 1,75 Na porção sul do Domínio Carecuru o Comple-
Ga para este magmatismo, o qual, segundo estes xo Alcalino Maraconaí é alcalino-carbonatítico do
autores, marca um evento extensional intraplaca Neoproterozóica, de idade inferida por correlação
na porção oriental do Escudo das Guianas. com o Complexo Alcalino Maicuru, de 612 Ma (Le-
mos & Gaspar 2002). Neste corpo ocorrem rochas
Domínio Carecuru piroxenitos e dunitos na porção central, e peque-
nos corpos de sienitos, nordmarkitos e alaskíti-
O Domínio Carecuru representa um segmento cos) em bordas (Fonseca & Rigon 1984).
crustal paleoproterozóico (Ricci et al. 2001, Rosa-
Costa et al. 2003, 2006), composto principalmen- Domínio Lourenço
te por granitóides e gnaisses cálcio-alcalinos (Su-
íte Intrusiva Carecuru) e faixas de rochas meta- Designa-se aqui Domínio Lourenço, por alusão
vulcanossedimentares (sequências Fazendinha, à localidade homônima, ao segmento que ocorre

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Evandro Luiz Klein, Lúcia Travassos Rosa-Costa & Marcelo Lacerda Vasques

a norte do Bloco Amapá, estendendo-se por toda nio Lourenço, de idades entre 2,10 e 2,05 Ga (Ave-
a porção setentrional do Estado do Amapá. Pouco lar 2002, Vieira 2008, Faraco et al. 2009), e posici-
foi publicado na literatura recente sobre este se- onamento tectônico relacionado a estágios sin- a
tor, mas as informações disponíveis indicam que pós-colisionais do Ciclo Transamazônico (Fig. 2).
se trata de um domínio paleoproterozóico seme-
lhante ao Domínio Carecuru. Os dados disponíveis Domínio Bacajá
demonstram que domina uma associação tipo gra-
nito-greenstone, representada por um conjunto O Domínio Bacajá, ao sul da Bacia Amazonas
de gnaisses e granitóides de composição domi- (Figs. 1 e 4), é composto por associações de gra-
nantemente diorítica, tonalítica e granodiorítica, nulitos e charnockitos, sequências de rochas su-
datados entre 2,18 e 2,16 Ga (Nogueira et al. 2000, pracrustais (greenstone belts), gnaisses, migmati-
Avelar 2002), e por diversas faixas de rochas me- tos e granitos. Apresenta tectônica transcorrente
tavulcano-sedimentares, sendo as mais expressi- de orientação WNW-ESE, marcada por feições de
vas as das regiões do garimpo do Lourenço (Gru- relevo e anomalias magnéticas profundas. Essa
po Serra Lombarda) e do Tartarugalzinho. tectônica recorta as associações litológicas típicas
Estudos de maior detalhe realizados na região desse domínio e contrasta com a tectônica tan-
do Lourenço, por Nogueira et al. (2000), revela- gencial de orientação E-W do domínio arqueano
ram a assinatura geoquímica cálcico-alcalina me- adjacente, na região de Carajás (Ricci et al. 2003,
taluminosa a peraluminosa para um conjunto de Santos 2003). As associações tectônicas consti-
tonalitos e granodioritos, datados em 2155 ± 13 tuem fragmentos arqueanos e siderianos retra-
Ma, com idades modelo TDM de 2,24-2,34 Ga e va- balhados no Riaciano, granitóides de arcos mag-
lores de ?Nd em torno de +3. Estes granitóides máticos continentais riacianos, granitóides e char-
aparentemente são intrusivos no Grupo Serra Lom- nockitos relacionados a estágios sin- (2,11-2,09
barda e foram interpretados como gerados em Ga) e pós-colisionais (2,08-2,06 Ga) da orogenia
ambiente de arco magmático juvenil. riaciana. São relacionados à colisão desses arcos
Na região de Tartarugalzinho, Avelar (2002) contra um cráton arqueano, comum a outros do-
obteve idade de cristalização de 2181 ± 2 Ma em mínios da Província Transamazonas (Vasquez et
um diorito, com idade modelo TDM de 2,61 Ga e ?Nd al. 2008a, 2008b).
de -1,5, e também associa a origem desse diorito Rochas graníticas (2,21-2,07 Ga) e charnocki-
a ambiente de arco magmático. ticas (2,11-2,06 Ga) de fontes crustais arqueanas
Excetuando-se o Grupo Serra Lombarda, com- e localmente juvenis cortam granulitos, gnaisses,
posto por biotita xistos, ortoanfibolitos e meta- greenstone belts e granitóides arqueanos (3,0-
cherts (Ferran 1988), as sequências metavulca- 2,5 Ga) e do Sideriano (2,44-2,31 Ga). Isótopos
nossedimentares do Domínio Lourenço ainda não de Nd indicam que, além de crosta mesoarquea-
receberam designações litoestratigráficas formais, na, formou-se crosta neoaqueana entre 2,7 e 2,5
e na literatura vêm sendo coletivamente engloba- Ga, contrastando com a crosta dominantemente
das no Grupo Vila Nova (p. ex. CPRM 2004). No mesoarqueana da Província Carajás (Macambira
entanto, a associação destas rochas com os gra- et al. 2009 e suas referências, Santos 2003, Vas-
nitóides relacionados a arco-magmático com ida- quez et al. 2008a).
des entre 2,18 e 2,16 Ga, sugere que estas tam- As feições de migmatização e as paragêneses
bém tenham se formado aproximadamente neste indicam que o metamorfismo atingiu a fácies gra-
período, sendo, portanto, mais jovens que o Gru- nulito (Vasquez 2006). As idades U-Pb em zircão e
po Vila Nova, para o qual já é sugerida uma idade monazita registram migmatização em condições de
mínima em torno de 2,26 Ga (Barreto et al. 2009). fácies anfibolito entre 2,19 e 2,15 Ga e metamor-
Dentre estas sequências destaca-se a da região fismo granulítico há 2,10-2,09 Ga e 2,07-2,06 Ga
de Tartarugalzinho, que representa uma faixa alon- (Vasquez 2006, Macambira et al. 2007b). O primeiro
gada de direção NW-SE, composta por anfibolitos, metamorfismo granulítico provavelmente está re-
xistos máfico-ultramáficos e paraderivados e quart- lacionado a espessamento crustal, enquanto o se-
zitos (Jorge-João et al. 1979). gundo, que é de baixa pressão (~5 kbar), está rela-
Adicionalmente, diversos corpos de granitóides, cionado a um adelgaçamento crustal pós-colisional
inclusive charnockíticos, são conhecidos no Domí- (Vasquez et al. 2008b).

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Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Borda oriental do Cráton Amazônico

Domínio Santana do Araguaia concentram-se em sua parte sul, no Distrito Aurí-


fero do Lourenço (Fig. 3, Tabela 1). A descoberta
O Domínio Santana do Araguaia localiza-se no do ouro data do final do século XIX, quando cerca
sudeste do Cráton Amazônico, a sul da província de três toneladas de ouro aluvionar foram extraí-
arqueana de Carajás (Figs. 1 e 5). Este domínio das e a garimpagem intermitente permanece até
era considerado uma continuidade para sul do hoje. Os primeiros trabalhos exploratórios indus-
Domínio Rio Maria da Província Carajás. Contudo, triais foram iniciados por volta de 1970 e intensifi-
Macambira et al. (2007a) propuseram esse domí- cados a partir de 1983, com mapeamento geoló-
nio baseados nos contrastes estruturais e geo- gico em várias escalas, prospecção geoquímica
cronológicos apresentados pelas rochas desta re- aluvionar e de solos, escavações, sondagem e la-
gião e incorporaram o mesmo à Província Transa- vra experimental (Veiga et al. 1985, Ferran 1988,
mazonas. Enquanto a associação granitóide-gre- Yamamoto et al. 1988), propiciando a abertura das
enstone mesoarqueana (~3,0 Ga) do Domínio Rio minas de Yoshidome, Morro da Mina, Mutum e Sa-
Maria apresenta-se orientada segundo E-W, as lamangone, tendo esta operado de 1985 a 1995.
associações do Domínio Santana da Araguaia es- Araujo Neto (1998) reporta reservas de 53,5 t de
tão orientadas segundo NW-SE e apresentam ida- ouro para essa região e produção acumulada en-
des entre 2,83 e 2,66 Ga, além de denunciarem tre 1965 e 1999 de 31,7 t de ouro, das quais, 19,4 t
retrabalhamento durante o Ciclo Transamazônico. são procedentes de Salamangone. Na porção su-
Segundo Vasquez et al. (2008b), o Domínio San- deste do domínio situa-se o Distrito Aurífero de Tar-
tana do Araguaia é uma associação granitóide-gre- tarugalzinho em que se conhece um depósito com
enstone de gnaisses, migmatitos e granitóides das 6,8 t Au e poucas ocorrências (Carvalho et al. 1995).
unidades Ortognaisse Rio Campo Alegre e Com- No Distrito Aurífero do Lourenço uma forte es-
plexo Santana do Araguaia, com idades entre 2,70 truturação NW-SE domina na área e proporcionou
e 2,66 Ga, e seqüências metavulcanossedimenta- o principal controle locacional dos depósitos co-
res Mururé e Santa Fé, a primeira com zircão detrí- nhecidos. A rocha encaixante predominante nes-
tico de idade máxima de sedimentação em torno sas minas é um biotita tonalito foliado/gnaissifica-
de 2,83 Ga (Monteiro et al. 2004). do. Apenas ocorrências menores são relatadas
O retrabalhamento do Domínio Santana do Ara- como associadas a mica xistos.
guaia durante o Ciclo Transamazônico é indicado No depósito de Salamangone o conjunto hos-
por idades radiométricas Rb-Sr e K-Ar entre 2,17 e pedeiro é tabular, com 50 m de espessura média,
2,0 Ga, obtidas em rochas arqueanas. Isto é confir- mais de 350 m de extensão longitudinal e pelo
mado pelo magmatismo granitóide que define a uni- menos 150 m de profundidade. Consiste em veios
dade Tonalito Rio Dezoito, datado em 2,19 Ga, por- subparalelos de quartzo com dezenas a mais de
tanto, estabelecido em estágio orogênico pré-colisi- uma centena de metros de extensão. Os veios são
onal (Vasquez et al. 2007a, 2007b e referências). bandados e fortemente estirados (ribbon quartz)
O evento magmático mais jovem conhecido no e foram colocados em uma zona de cisalhamento
Domínio Santana do Araguaia ocorre em corpos N50°-60°W;55°-70°NE (Ferran 1988, Nogueira et
anorogênicos com afinidade alcalina, da Suíte In- al. 2000). Os hidrotermalismo que acompanhou a
trusiva Rio Dourado e do Sienito Rio Cristalino. A mineralização gerou silicificação, saussuritização,
idade do primeiro é de 1,89 Ga (Barros et al. 2005) cloritização e sulfetação do tonalito encaixante.
e tem características de granitos tipo-A e é corre- Nogueira et al. (2000) descreveram dois estágios
lacionado ao evento magmático intracontinental paragenéticos para a assembléia sulfetada: (1)
expressivamente representado em toda a porção arsenopirita, pirrotita, löllingita e calcopirita; (2)
sudeste do Cráton Amazônico, especialmente na arsenopirita, pirita e subordinada galena. O ouro
Província Carajás. nativo ocorre como partículas irregulares no quart-
zo, como inclusões na arsenopirita e pirita, e en-
METALOGÊNESE DO DOMÍNIO LOURENÇO tre cristais de arsenopirita e löllingita.
Segundo Bettencourt & Nogueira (2008) e No-
Depósitos de ouro de classificação incerta gueira et al. (2000) inclusões fluidas primárias re-
lacionadas ao estágio 1 não foram preservadas e
Os depósitos auríferos do Domínio Lourenço a temperatura de formação desse estágio, esti-

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Evandro Luiz Klein, Lúcia Travassos Rosa-Costa & Marcelo Lacerda Vasques

Figura 3 – Distribuição dos principais depósitos minerais nos domínios Lourenço, Amapá e Carecuru. Numeração
corresponde à da Tabela 1. Associações tectono-estratigráficas como na Figura 2.

mada pelo geotermômetro da arsenopirita varia ± 61 Ma por isócrona Pb-Pb em arsenopirita (No-
de 400° a 565°C. Os mesmos autores identifica- gueira et al. 2000). Bettencourt & Nogueira (2008)
ram inclusões aquosas secundárias com salinida- interpretam Salamangone como depósito orogê-
de entre 3,3 e 19,4% em peso de NaCl equivalen- nico de ouro, enquanto Biondi (2003) enquadra o
te e temperaturas de homogeneização no inter- depósito na classe magmática.
valo 80°-250°C que interpretam como originadas
da mistura de salmouras metamórficos profundas Depósitos sedimentares de ferro
com águas meteóricas e que teriam sido respon-
sáveis pela remobilização do ouro no estágio 2. O Um depósito e ocorrências de ferro de origem
quartzo de veios mostra valores de ä 18O entre sedimentar localizam-se no médio curso do rio Tra-
10,4‰ e 11,9‰, os valores de ä34S dos sulfetos cajatuba, na margem esquerda do rio Araguari (Fig.
variam de -5.5‰ to -3.4‰. 3, Tabela 1). O depósito de Tracajatuba (Mina da
A idade da mineralização foi estimada em 2002 Sólida) possui reservas entre 135-200 Mt com 69%

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Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Borda oriental do Cráton Amazônico

Tabela 1 - Modelos e exemplos de depósitos minerais dos domínios Lourenço, Amapá e Carecuru1.

de Fe (Limeira 2005, Ecometals 2009). O minério METALOGÊNESE DO BLOCO AMAPÁ


está associado a quartzitos e itabiritos com mag-
netita da sequência metavulcanossedimentar de Depósitos orogênicos de ouro
Tartarugalzinho. Não há estudos mais desenvol-
vidos sobre esse depósito e é suposta uma gêne- Os depósitos auríferos no Bloco Amapá se lo-
se similar à dos depósitos de ferro do Bloco Ama- calizam na porção sudeste do domínio e associ-
pá (ver abaixo). Assim, esses depósitos sedimen- am-se com o Grupo Vila Nova (Fig. 3, Tabela 1) de
tares teriam se formado por volta de 2,26 Ga. idade >2260 Ma. A descoberta de alguns depósi-

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Evandro Luiz Klein, Lúcia Travassos Rosa-Costa & Marcelo Lacerda Vasques

tos, por volta de 1983, se deu por trabalhos de Os corpos de minério sulfetado (e a porção su-
mapeamento geológico de semi-detalhe, geoquí- pergênica deles derivada) estão controlados por
mica de solo e sondagem sobre alvos detectados zona de cisalhamento de orientação submeridia-
uma década antes em levantamento regional. A na que truncam o bandamento de orientação
mina de Vicente produziu 2,6 t Au de 1994 a 1997 N10°W das formações ferríferas. Esse bandamen-
(Spier & Ferreira Filho 1999). As reservas reporta- to é também cortado por vênulas de sulfeto e afe-
das para outros três pequenos depósitos totali- tado pó microdobras isoclinais e agregados oce-
zam menos de 5 t de ouro contido (Tabela 1). lares que mascaram a estruturação primária (Melo
O depósito Amapari localiza-se 18 km a leste et al. 2003). Os mesmos autores, considerando
de Serra do Navio. A exploração na região do de- as condições metamórficas e deformacionais esti-
pósito iniciou-se em 1970 e o depósito foi desco- mam a profundidade de formação do minério en-
berto em 1994 por mapeamento geológico e uso tre 7 e 10 km.
de aerogeofísica, magnetometria terrestre e mé- As concentrações de sulfetos são maiores onde
todo eletromagnético (VLF-EM), geoquímica de solo as rochas estão mais deformadas e os mesmos
e sedimentos de corrente, além de quase 200.000 ocorrem disseminados em camadas paralelas à fo-
m de sondagens. A mina entrou em operação em liação, em fraturas, zonas brechadas e vênulas
2005 (Nunes et al. 2007, Kaye et al. 2008) e pos- descontínuas de quartzo. O minério é composto
sui as seguintes reservas de minério: medida de principalmente por pirrotita, com quantidades su-
8,7 Mt com 1,03 g/t (8,9 t Au contido), indicada de bordinadas de pirita, calcopirita, pentlandita, es-
14,2 Mt com 1,85 g/t e inferida de 13,7 Mt com falerita, galena e arsenopirita. A ganga associada
2,37 g/t, totalizando recursos indiscriminados de é composta por magnetita, quartzo, biotita, gru-
67,8 t de ouro, e produz cerca de 2,8 t de ouro nerita, titanita, granada e diopsídio (Melo et al.
por ano (Nunes et al. 2007, New Gold 2009). 2003, Nunes et al. 2007).
Dois corpos principais de minério formam o O estudo de inclusões fluidas conduzido por
depósito Amapari: Urucum, ao norte, e Taperebá, Melo et al. (2003) em veios de quartzo com e sem
ao sul, separados por cerca de 1 km. As rochas sulfetos indica que os fluidos mineralizadores são
encaixantes do minério pertencem ao Grupo Vila aquo-carbônicos de baixa salinidade (<10% em
Nova. As principais rochas encaixantes são xistos peso equivalente de NaCl), aprisionados entre
pelíticos, formações ferríferas (fácies óxido e sili- 270° a >420°C. Esses fluidos seriam derivados de
cato), rochas carbonatadas e escarnitos subordi- reações de desvolatilização metamórfica. Os au-
nados, cuja mineralogia indica metamorfismo em tores também identificaram fluidos aquosos de
fácies anfibolito (Melo et al. 2003, Nunes et al. salinidade >21% em peso equivalente de NaCl e
2007). Esse conjunto supracrustal foi intrudido de composição mais variada e temperatura inferi-
pelo Granito Amapari há 1993 ± 26 Ma (Borges et or a 260°C. Esses foram interpretados como pro-
al. 2002) que, por metamorfismo de contato sobre duto da mistura entre fluidos superficiais e produ-
as rochas carbonatadas, produziu os escarnitos. zidos pelo Granito Amapari e não relacionados com
Uma anomalia magnética delineia aproximada- a mineralização.
mente os corpos de formação ferrífera (Kaye et al. As idades Pb-Pb obtidas por lixiviação de sulfe-
2008). Dados geofísicos por polarização induzida tos nos corpos Taperebá e Urucum, respectivamen-
indicam que as zonas mineralizadas estão relaci- te, são 2115 ± 65 Ma e 2118 ± 32 Ma (Galarza et
onadas com os valores intermediários da cargabi- al. 2006 e referências). Essas idade são interpre-
lidade e a trends condutivos que representam as tadas por Galarza et al. (2006) como a época de
rochas metassedimentares químicas. Também in- formação do minério durante o metamorfismo e
dicam continuidade da mineralização entre os cor- deformação regionais do Grupo Vila Nova. Alter-
pos Urucum e Taperebá (Nunes et al. 2007). Ano- nativamente, aqueles autores não descartam a
malias de ouro em solo (>100 ppb) formam uma possibilidade de que as idades representem um
faixa que acompanha a direção da formação ferrí- rejuvenescimento parcial provocado pela intrusão
fera e os corpos mineralizados foram delimitados do Granito Amapari há 1993 ± 26 Ma. Melo et al.
a partir de teores de Au >200 ppb. Ao sul dessa (2003), entretanto, entendem que essa diferença
faixa há grupos de anomalias de Pb (>500 ppm) e de idade é significativa e que o granito não teria
Zn (>200 ppm) (Kaye et al. 2008). participado na formação do depósito.

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Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Borda oriental do Cráton Amazônico

Melo et al. (2003) interpretam Amapari como ção sul do Estado do Amapá e concentram-se nas
depósito orogênico de ouro. A formação do depó- áreas Bacuri e Igarapé do Breu (Fig. 3, Tabela 1).
sito seria ligada a um segmento continental acres- Na área Bacuri formam um conjunto onze depósi-
cionário em que espessamento crustal e colisão tos que totalizam reservas de 8,8 Mt de minério
continental teriam levado à fusão crustal e gera- com teor médio de 34% de Cr2O3 (Spier & Ferreira
ção de granitos peraluminosos e criado as condi- Filho 2001). Esses depósitos e outras ocorrências
ções estruturais para migração de fluidos e solu- esparsas estão geneticamente associados ao
tos. Esta interpretação está de acordo o modelo Complexo Máfico-Ultramáfico Bacuri, que possui
geodinâmico descrito para o final do ciclo Transa- extensão conhecida de pelo menos 30 km na dire-
mazônico de orogenias no Escudo das Guianas ção leste-oeste. Foram descobertos entre os anos
(Rosa-Costa 2006). 70 e 80 do século passado por meio de mapea-
mento geológico, que identificou raros blocos de
Depósitos sedimentares de ouro em paleoplacer cromitito na superfície, geoquímica de solo e cerca
de 70 km de sondagem. As minas entraram em
Um depósito de ouro em metaconglomerado é operação em 1989 (Spier & Ferreira Filho 1999). O
conhecido na região do rio Vila Nova, porção sul depósito de Igarapé do Breu possui reservas de
do Estado do Amapá (Fig. 3, Tabela 1). Segundo 90.840 t com teor médio de 46% (Queiroz 1986) e
Spier & Ferreira Filho (1999) o depósito de Santa está associado a rochas máficas-ultramáficas ain-
Maria tem reserva de 1,09 t de Au e teor médio de da sem designação formal.
0,84 g/t e associa-se aos depósitos clásticos do O Complexo Máfico-Ultramáfico Bacuri é acama-
Grupo Vila Nova. No depósito o Grupo Vila Nova é dado e consiste em uma intercalação, da base para
constituído, da base para o topo, por: (1) mica xis- o topo, de uma zona máfica inferior, zona ultramá-
to e quartzo xisto com turmalina e fuchsita; (2) fica e zona máfica superior (Spier & Ferreira Filho
quartzito xistoso microconglomerático com bandas 2001). A zona máfica inferior compreende leuco-
de turmalinito e veios de quartzo boudinados e anfibolito foliado com mais de 500 m de espessu-
concordantes com a estruturação; (3) metacon- ra e sem mineralogia e texturas primárias preser-
glomerado polimítico e oligomítico, com 8-13 m de vadas, que faz contato brusco com a zona ultra-
espessura, com seixos de quartzo, quartzito, mica máfica intermediária. Esta é formada por corpos
xisto, turmalina quartzito e rochas máfíco-ultramá- descontínuos de 100 a 1200 m de extensão por
fícas e com quartzo, feldspato, sericita, turmalina, 30 a 50 m de espessura que consistem em inter-
fuchsita e cromita na matriz; (4) quartzito conglo- calações de cromitito e serpentinito. O serpentini-
merático com intercalações centimétricas a métri- to é bandado e provavelmente derivado alternân-
cas de metaconglomerado que passa a um espesso cia de rochas cumuláticas (dunitos e peridotitos).
pacote de mica xisto, com formação ferrífera e ro- A zona máfica superior é composta por anfibolito
chas metavulcânicas. Esse pacote metassedimen- foliado, com espessura superior a 300 m, que faz
tar forma uma estrutura homoclinal orientada se- contato brusco com a unidade intermediária, tam-
gundo N35°-45°W com mergulho de 65°-85°SW. bém sugerindo transição ente rochas cumuláticas
O ouro possui maior concentração na base da (serpentinito para anfibolito). O complexo encon-
sequência de metaconglomerado, junto ao hori- tra-se fortemente deformado, com dobramentos
zonte (2) e no contato com xistos. No nível (2) o e redobramentos e uma foliação orientada segun-
ouro está associado a bandas de turmalinito e a do a direção NW-SE. O metamorfismo atingiu a
veios de quartzo, apresentando maiores teores fácies anfibolito (Spier & Ferreira Filho 2001).
de prata quando comparado com os teores verifi- Os corpos de cromitito apresentam geometria
cados no metaconglomerado. Segundo Spier & complexa, com formas planares, lenticulares, cô-
Ferreira Filho (1999) a ampla disseminação de ouro nicas e formas dobradas variadas resultantes da
no metaconglomerado e nos quartzitos conglome- transposição e boudinage das camadas originais
ráticos sugere origem sedimentar para Santa Maria. (Matos et al. 1992, Spier & Ferreira Filho 2001). O
cromitito principal consiste em uma camada com
Depósitos estratiformes de cromita espessura entre 3 e 30 m de cromitito maciço (2,5
a 25% do volume da zona ultramáfica), com mais
Os depósitos de cromita localizam-se na por- de 60% vol. de cromita imersa em matriz compos-

180
Evandro Luiz Klein, Lúcia Travassos Rosa-Costa & Marcelo Lacerda Vasques

ta por silicatos metamórficos (serpentina, clorita e buição e padrão estrutural dobrado do depósito
tremolita). Esse cromitito principal está situado na em área sem exposição das rochas mineralizadas
base da zona ultramáfica e em contato abrupto (Ecometals 2009).
com a zona máfica inferior. Para fins de lavra o Os depósitos de ferro hematítico da região do
minério foi classificado, do topo para a base, em rio Vila Nova exemplificam essa tipologia. Locali-
laterítico (cromita cimentada por hidróxidos de fer- zam-se na porção sudeste do Amapá, cerca de 180
ro), friável (cromita cimentada por argila), ambos km a oeste de Macapá (Fig. 3), e são conhecidos
na zona intempérica, e compacto (não intemperi- desde 1947, quando foram descobertos a partir
zado) (Spier & Ferreira Filho 2001). de ocorrências superficiais de hematita e, posteri-
Baseados em dados geológicos, texturais e na ormente, avaliados por sondagem. Uma retoma-
variação composicional de cromitas e olivinas Ba- da da exploração desses depósitos se deu na úl-
curi é interpretado como um complexo ígneo aca- tima década de 90, com mapeamento geológico
madado que cristalizou em área continental tec- de detalhe, levantamento aerogeofísico (magne-
tonicamente estável (Prichard et al. 2001, Spier & tometria), escavações e sondagem, culminando
Ferreira Filho 2001). Segundo Spier & Ferreira Fi- com a delimitação de vários depósitos (Bacabal,
lho (2001) as variações composicionais crípticas Leão, Santa Maria e Baixio Grande ou Lagos), além
na cromita e em olivina ígnea reliquiar seriam con- de ocorrências não econômicas no momento. As
sistentes com extenso fracionamento dentro da reservas totalizam 12 Mt de minério com teores
zona ultramáfica acompanhado de sucessivas re- entre 61,0 e 63,5% de Fe, sendo que Bacabal con-
cargas do magma primitivo durante o período de tribui com metade dessas reservas (Spier & Fer-
cristalização da zona ultramáfica. Os dados de isó- reira Filho 1999, Juras 2007).
topos de Nd indicam idade de 2218 ± 120 Ma para Os depósitos são constituídos por camadas
o complexo e, por extensão, para a mineralização descontínuas de formação ferrífera com compri-
(Pimentel et al. 2002). Indicam, ainda, que o mag- mentos de 250 a 1800 m e 5 a 40 m de espessura
ma original foi fortemente contaminado com cros- de formação ferrífera metamorfizada, dobrada,
ta continental mais antiga. O depósito de Igarapé falhada e intercalada em uma sequência de xistos
do Breu, embora tenha sido classificado como do pelíticos, itabiritos e quartzitos do Grupo Vila Nova
tipo Alpino (Queiroz 1986), provavelmente repre- (Spier & Ferreira Filho 1999, Juras 2007).
senta um depósito estratiforme como Bacuri (C.A. Bacabal, segundo descrição de Juras (2007), é
Spier, comunicação escrita). formado por duas estruturas orientadas segundo
N60°W e N10°E que correspondem a flancos de
Depósitos sedimentares de ferro uma dobra sinclinal invertida cujo eixo mergulha
em alto ângulo para oeste. A formação ferrífera
Depósitos de ferro de origem sedimentar (for- consiste em unidades de hematita (minério princi-
mações ferríferas, itabiritos, quartzitos ferrugino- pal) e itabirito (considerado minério quando o teor
sos) e seus equivalentes supergênicos estão dis- de Fe é >58%), que em superfície encontram-se
tribuídos nas porções centro-sul e centro-leste do intemperizadas formando uma canga composta por
Amapá (Fig. 3., Tabela 1), nas regiões de Santa fragmentos de hematita cimentados por limonita.
Maria (médio curso do rio Vila Nova), Serra do Na- No minério principal a hematita especular é de
vio, Matapi e Serra das Coambas (rio Cupixi). Es- granulação fina e forma alternância entre porções
ses depósitos estão hospedados na seqüência equidimensionais e não orientadas de minério
metavulcanossedimentar do Grupo Vila Nova, cuja maciço e porções bandadas compostas por cris-
idade mínima é estimada em torno de 2,26 Ga (Bar- tais lamelares e fortemente orientados. O banda-
reto et al. 2009). Em conjunto, as reservas de mi- mento é paralelo aos flancos da dobra. Caolinita,
nério de ferro do Bloco Amapá se aproximam de quartzo e magnetita são as fases subordinadas
420 Mt, com teores variando entre 45 e 65% (Ta- mais comuns e pirita, ilmenita, rutilo, turmalina e
bela 1) (Spier & Ferreira Filho 1999, Juras 2007, muscovita ocorrem como inclusões na hematita.
Pinto et al. 2008, Ecometals 2009). Óxido de Mn e goethita e/ou limonita ocorrem nas
O método aeromagnético mostra eficiência na porções superficiais oxidadas.
localização desse tipo de depósito, como em Ma- Os itabiritos são laminados a bandados e con-
tapi, onde a anomalia magnética definiu a distri- tem proporções significativas de caolinita e subor-

181
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Borda oriental do Cráton Amazônico

dinadas de gibbsita, podendo conter ou não quart- mentar, metamórfico e supergênico (Scarpelli 1973,
zo. Rutilo, fluorita, apatita, magnetita e turmalina Rodrigues et al. 1986). Calcários manganesíferos
foram reconhecidas como fases acessórias. puros ou não se depositaram em ambiente redu-
Spier & Ferreira Filho (1999) interpretam a mi- tor em associação com pelitos ricos em matéria
neralização em Fe como de origem sedimentar, o carbonosa (agora xistos grafitosos). A deforma-
que seria sugerido pela grande continuidade la- ção e o metamorfismo em fácies anfibolito provo-
teral da formação ferrífera. Assim, o ferro teria sido caram modificações nas formações manganesífe-
originalmente depositado por volta de 2,26 Ga e ras resultando nas lentes de protominério carbo-
sofrido enriquecimento supergênico no Eoceno- nático (a partir de níveis ricos em carbonato de
Oligoceno. manganês) e gondítico (a partir de níveis silicáti-
cos granatíferos). A exumação da sequência e o
Depósitos supergênicos de manganês intenso intemperismo tropical levaram ao enrique-
cimento supergênico do minério. Considerando os
Os depósitos do Distrito Manganesífero de Ser- dados geocronológicos existentes, esses três es-
ra do Navio, descobertos na década de 40 do sé- tágios teriam ocorrido há 2,26 Ga, 2,08 Ga e 50-
culo passado, estão localizados na porção central 23 Ma, respectivamente
do Estado do Amapá, na margem esquerda do rio
Amapari (Fig. 3, Tabela 1). A produção acumulada Depósitos de cassiterita, columbita e tantalita
de minério de manganês totalizou entre 34-38 Mt, em pegmatito e greisen
com teor médio em torno de 39% de Mn, durante
a atividade das 18 minas a céu aberto, entre 1957 A existência de garimpos de cassiterita, colum-
e 1997 (Rodrigues et al. 1986, Damasceno 2006, bita e tantalita no Amapá é relatada desde a dé-
Ecometals 2009). São ainda reportados recursos cada de 40 do século passado (Ackermann 1948,
remanescentes in situ de 1,2 Mt de minério oxida- Lima et al. 1974 e referências). Em geral, esses
do com teor médio de 38,43% de Mn e 4,4 Mt de minerais eram lavrados nas aluviões das bacias
protominério com teor médio de 30,61% de Mn dos rios Vila Nova, Amapari, Araguari, Cupixi e Tar-
(Ecometals 2009). tarugalzinho, mas também em veios, pegmatitos
Os depósitos formaram-se por enriquecimento e greisens.
supergênico, em condições tropicais, do protomi- Não há reservas oficiais de Sn, Nb e Ta citadas
nério manganesífero associado ao Grupo Vila Nova. na literatura, nem estudos detalhe sobre essas
Na Serra do Navio, o Grupo Vila Nova forma uma mineralizações. Seicom (2010) cita uma produção
estrutura alongada segundo NW-SE. É composto de 10 t de tantalita em 2006 em todo o Estado do
por um pacote espesso de anfibolitos (Formação Amapá. Tantalita da região do rio Vila Nova pos-
Jornal) depositados sobre o embasamento gnáis- suem 60,3-67,5% de Ta2O5, 13,3-18,4% de Nb2O5,
sico arqueano e sobrepostos por xistos com al- 0,5-2,7% de SnO2 e 0,9-2,7 de TiO2. Já a tantalita
mandina, andalusita e sillimanita) quartzosos ou da região do rio Amapari tem maior variação com-
grafitosos, quartzitos e lentes de protominério posicional, com 42,7-67,4% de Ta2O5, 9,6-38,1%
manganesífero da Formação Serra do Navio. A de Nb2O5, traços-3,8% de SnO2 e 0,6-8,6 de TiO2
Formação Serra do Navio foi metamorfizada na (Lima et al. 1974 e referências).
fácies anfibolito, zona da almandina, e está do- Pelo menos dez filões individuais foram explo-
brada isoclinalmente e com eixos apertados ori- tados em torno do igarapé Jornal, na margem es-
entados segundo N30°-40°W (Nagell 1962, Ro- querda do rio Amapari (Tantalita, Maruim, Passa
drigues et al. 1986). Tudo, Evaldo I, Evaldo II, Igarapé da Tantalita,
Quatro tipos de minério foram identificados (Na- Maraguji I, Maraguji II, Lourenço e Yagu; Kloos-
gell 1962, Rodrigues et al. 1986): (1) eluvial (ma- terman 1969). Os filões estão encaixados em
terial rolado em encostas), (2) maciço, (3) xistoso andalusita xisto, quartzito, filito e mica xisto
(formado pela substituição parcial ou total de Fe, (Ackermann 1948, Kloosterman 1969, Lima et al.
SiO2 e Al2O3 dos minerais dos xistos encaixantes 1974) do Grupo Vila Nova. Os veios e pegmatitos
por óxidos de manganês), (4) protominério carbo- variam em espessura de 10 cm a 8 m, possuem
nático e granatífero (gondito). atitudes variadas e muitos gradam lateralmente
A gênese do minério envolveu estágios sedi- para greisen. São normalmente constituídos por

182
Evandro Luiz Klein, Lúcia Travassos Rosa-Costa & Marcelo Lacerda Vasques

quartzo, feldspato, mica, tantalita-columbita, cas- reportada com freqüência na imprensa em função
siterita, ouro, raros cristais de turmalina e alguns de apreensões desse mineral em lotes extraídos
portam nigerita. Nos greisens encontra-se também irregularmente e contrabandeados. Rosa-Costa &
sillimanita e berilo (Ackermann 1948, Kloosterman Silva (no prelo) reportam ocorrências desse mine-
1969). De acordo com Ackermann (1948) há peg- ral em concentrados de minerais pesados amos-
matitos com cassiterita, outros com tantalita-co- trados em afluentes das cabeceiras do Rio Ara-
lumbita, outros com columbita e cassiterita. guari, onde afloram charnockitos destacáveis em
Não há estudos genéticos sobre os pegmati- imagens gamaespectométricas por seus elevados
tos tântalo-estaníferos. Supõe-se que os mesmos valores de tório. Supõe-se que o mineral seja
estejam associados ao magmatismo anorogênico oriundo de pegmatitos.
Uaiãpi, de 1.75 Ga. Gallon (2004) cita indícios de mineralização de
titânio (ilmenita) em Penha, nas proximidades dos
Depósitos de diamante em paleoplacer depósitos de Fe do rio Vila Nova, sem descrever
detalhes geológicos. Também cita presença de
A existência de garimpos de diamante em alu- gossans (Cabana da Índia, Flor do Povo e Rio
viões do rio Vila Nova e alguns de seus afluentes Amapari) com teores anômalos de Zn e Cu na re-
no sudeste do Amapá foi relatada por Ackermann gião da vila Cupixi e aventa a possibilidade de
(1948). Segundo Gonzaga & Tompkins (1991) os mineralização tipo VMS. Esses indícios estão as-
garimpos estão geograficamente localizados em sociados a rochas do Grupo Vila Nova.
áreas de afloramento de metaconglomerado do Horikawa & Ferreira Filho (2003) apontam indí-
Grupo Vila Nova, que seria a fonte potencial dos cios de mineralização de Ni-Cu-EGP em complexos
diamantes aluvionares. máficos-ultramáficos acamadados associados ao
O Grupo Vila Nova naquela região é composto, Grupo Vila Nova nos alvos Serra da Canga e Bici-
da base para o topo, por três unidades, metamor- cleta, localizados a nordeste da Serra do Navio.
fizadas em fácies xisto verde a anfibolito (Lima et
al. 1974): (1) metaconglomerado quartzito com METALOGÊNESE DO DOMÍNIO CARECURU
intercalação de metaconglomerado; (2) xistos clo-
ríticos ou hematíticos, quartzito ferruginoso e ita- Depósitos orogênicos de ouro
birito; (3) anfibolito, e clorita xisto com intercala-
ção de quartzito sericítico. O metaconglomerado Os depósitos de ouro do Domínio Carecuru
é considerado monomítico, com seixos de quartzo estão concentrados no Distrito Aurífero de Ipitin-
estirados (Gonzaga & Tompkins 1991), embora ga, na divisa entre os estados do Pará e do Ama-
Spier & Ferreira Filho (1999) descrevam seixos de pá, próximo ao limite desse domínio com o Bloco
rochas ultrabásicas e de cromitito em outros lo- Amapá (Fig. 3, Tabela 1). São reportadas reser-
cais de ocorrência do conglomerado. A espessura vas de 18 t de ouro para o distrito, sendo 9,9 t
do conglomerado é superior a 25 m e seu ambien- referentes à Mina Carará, e produção histórica
te deposicional é interpretado como litorâneo do garimpeira de 4 t de ouro entre 1965 e 1999 (Car-
tipo strom-beach (Gonzaga & Tompkins 1991). valho et al. 1991, Araujo Neto 1998).
De acordo com Gonzaga & Tompkins (1991) os A estruturação do distrito é NW-SE, paralela ao
diamantes do rio Vila Nova são pequenos (média lineamento Cupixi, que limita os domínios Carecu-
de 0,7 ct), fraturados, octaédricos e com superfíci- ru e Amapá. É caracterizada pela xistosidade sub-
es corroídas, o que os caracteriza como sendo de vertical das sequências metavulcanossedimenta-
péssima qualidade. Os autores também indicam res e, localmente, dos granitóides, por estruturas
ausência de minerais satélites nas aluviões dia- subsidiárias de segunda e terceira ordens e por
mantíferas. Já Ackermann (1948) cita a presença lineações que indicam movimentos reversos e di-
de diamante em picrito, o que poderia indicar uma recionais. O quadro estrutural é interpretado como
fonte ultramáfica nas proximidades. produto de encurtamento crustal (D1) seguido de
regime transcorrente (D2), provavelmente relaci-
Potencial para outros depósitos onados com a colisão entre os domínios Carecuru
e Amapá (Klein & Rosa-Costa 2003).
A presença de torianita em aluviões tem sido Os depósitos associam-se à assembléia supra-

183
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Borda oriental do Cráton Amazônico

crustal-granitóide, interpretada por Rosa-Costa et pectivamente. Os mesmos autores apresentam


al. (2006) como componente de arco magmático idades modelo Pb-Pb em galena entre 2106 Ma e
continental. As rochas hospedeiras são dominan- 2113 Ma para a ocorrência de Divisão, similares
temente metassedimentares (quartzitos, pelitos, àquelas reportadas por Galarza et al. (2006) para
formações ferríferas), pertencentes ao Grupo Ipi- o depósito Amapari no Bloco Amapá. Contudo, Klein
tinga (2,26 Ga) e às sequências Fazendinha e Tre- et al. (2009) argumentam que o limite superior de
ze de Maio, e subordinadamente monzogranitos idade para os depósitos do Distrito Aurífero de
e tonalitos da Suíte Intrusiva Carecuru (2,18-2,14 Ipitinga seria balizado pela intrusão de granitos
Ga). Sericita é abundante na alteração hidroter- aluminosos sintectônicos e pelo metamorfismo re-
mal, enquanto que turmalina e clorita ocorrem lo- gional entre 2030 Ma e 2038 Ma (Rosa-Costa et
calmente. Os veios são pobres em sulfetos, sen- al. 2008ª, 2008b e referências).
do pirita o principal mineral e calcopirita e galena
observadas em um local. Os minerais hidrotermais Depósitos de cobre vulcanogênico
superpõem-se às paragêneses metamórficas re-
gionais, indicando o caráter pós-pico metamórfico Uma ocorrência de cobre (prospecto Flexal-Pa-
das mineralizações (Klein & Rosa-Costa 2003). tos, Tabela 1) é conhecida no Domínio Carecuru.
O principal estilo de depósito corresponde a Localiza-se na porção noroeste da Serra do Ipi-
veios de quartzo, tabulares ou irregulares, pre- tinga e foi identificada em 1978 por meio de ma-
enchendo estruturas concordantes ou não com a peamento geológico, prospecção geoquímica de
foliação regional (fault-fill/shear veins, veios exten- sedimentos de corrente, solos e concentrados de
sionais-oblíquos). Essas estruturas hospedeiras bateia, geofísica (magnetometria e polarização
são a foliação metamórfica regional, zonas de ci- induzida) e sondagem. O minério foi detectado
salhamento e falhas reversas-oblíquas. Arranjos numa profundidade de 87 m por sondagens efe-
de vênulas descontínuas, regulares ou não, tam- tuadas na borda nordeste da Serra do Ipitinga. A
bém são encontrados). Estruturas maciça, saca- ocorrência está associada a um corpo eletrocon-
roidal e laminada são ubíquas e indicam profundi- dutor detectado por Polarização Induzida. Possui
dades pelo menos moderadas para o posiciona- extensão longitudinal superior a 10 km, largura
mento dos veios, em geral em estrutura ativa, ates- projetada na superfície de 50-700 m, profundida-
tando um caráter sin a tarditectônico (Klein & Rosa- de do topo entre 35-70 m e mergulho de 60° para
Costa 2003). nordeste, concordando com a estruturação das
Estudos isotópicos e de inclusões fluidas rochas hospedeiras. Numa intersecção de 0,5 m
(Klein et al. 2009, Klein & Fuzikawa 2010) indicam foram detectados até 1% de cobre, 8-11 ppm de
fluidos aquo-carbônicos compostos por CO2 e pe- ouro e 49-79 ppm de prata (Carvalho et al. 1991).
quena contribuição de outros voláteis na fase ga- A ocorrência Flexal-Patos está hospedada em
sosa (traços a quantidades moderadas de CH4 e, rochas do Grupo Ipitinga de 2267 ± 66 Ma (isócro-
localmente, traços de C2H6). Esses fluidos têm bai- na Sm-Nd, McReath & Faraco 2006). Essas rochas
xa salinidade (5% em peso equivalente de NaCl) são xistos ricos em quartzo-clorita ou antofilita-
e homogeneizam entre 290° e 355°C. Isótopos cordierita, interpretados como basaltos oceânicos
de oxigênio e hidrogênio indicam superposição de hidrotermalizados com assinaturas químicas tolei-
fontes magmática e metamórfica. O depósito de ítica e komatiítica, cuja gênese estaria relaciona-
Carará difere desse padrão, contendo apenas in- da a um centro de extensão e expansão de fundo
clusões de CO2 (±N2- C2H6), sem H2O, cuja origem, oceânico, em um sistema de bacia retroarco (Fa-
embora incerta, indica fonte profunda (mantélica, raco et al. 2006).
magmática ou metamórfica). Klein & Fuzikawa O minério possui aspecto semimaciço e é com-
(2010) sugerem fluidos derivados de magmatis- posto por pirita, pirrotita, calcopirita, esfalerita,
mo charnockítico de 2,07 Ga e/ou do metamorfis- ouro e prata. As condições de temperatura e pres-
mo granulítico contemporâneo como fontes possí- são da mineralização foram estimadas entre 250º
veis para o CO2 de Carará. e 450ºC e 0,7 a 2,3 kbar, respectivamente, a par-
Klein et al. (2009) reportaram idades 40Ar/39Ar tir de inclusões fluidas ricas em metano, contendo
de 1930 ± 20 Ma e 1940 ± 20 Ma em muscovita proporções variáveis de N2, H2S e CO2.
hidrotermal dos depósitos Carará e Catarino, res- Faraco et al. (2006) interpretaram a minerali-

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Evandro Luiz Klein, Lúcia Travassos Rosa-Costa & Marcelo Lacerda Vasques

zação como sendo do tipo vulcanogênica exalati- circular localizado no limite noroeste do Domínio
va sindeposicional (VMS), tendo os metais sido li- Carecuru e atribuído à unidade Granito Uaiãpi,
xiviados provavelmente das rochas encaixantes. anorogênico, de 1,75 Ga, que corta rochas do Gru-
Nesse caso, a mineralização teria ocorrido em tor- po Ipitinga.
no de 2,26 Ga.
METALOGÊNESE DO DOMÍNIO BACAJÁ
Depósitos de titânio
Depósitos de ouro de classificação incerta
Uma ocorrência primária e supergênica de mi-
nério de titânio está associada ao Complexo Alca- Os jazimentos auríferos do Domínio Bacajá (Fig.
lino Maraconaí, localizado no sul do Domínio Care- 4, Tabela 2) estão concentrados na sua porção
curu, noroeste do Pará (Fig. 3, Tabela 1). O com- norte, na Serra Três Palmeiras, de orientação ge-
plexo possui forma elíptica com eixos de 12 e 6 km ral WNW-ESSE. Distribuem-se em três áreas dis-
de extensão. É do tipo ultramáfico-alcalino, com- tintas: na volta grande do rio Xingu, no extremo
posto por peridotito e piroxenito e subordinada- noroeste da serra; no rio Bacajá, na região cen-
mente sienito e granito alcalino (Fonseca & Rigon tral da serra; e na faixa Prima, no extremo sudes-
1984). Possui idade possivelmente neoproterozói- te da serra. Há, ainda, uma ocorrência isolada na
ca, por correlação com o Complexo Alcalino Maicu- porção sudeste do domínio, associada a um con-
ru (612 Ma), e está encaixado em granitóides atri- junto metavulcanossedimentar ainda não carac-
buídos por Vasquez et al. (2008b) a unidades indi- terizado (Fig. 4).
ferenciadas e à Suíte Intrusiva Carecuru. O com- A presença de ouro na região da Volta Grande
plexo representa uma manifestação magmática do Rio Xingu foi identificada em no final dos anos
fanerozóica intracontinental, relacionada à tectô- 20 do século passado e a garimpagem iniciou por
nica distensiva responsável pelo rifteamento a volta de 1942. A partir de 1972 a área passou a
partir do qual evoluiu a Bacia do Amazonas (Vas- receber estudos prospectivos e exploratórios, com
quez et al. 2008b e referências). mapeamento geológico, amostragem geoquímica,
O minério primário está contido em ilmenita e sondagem e escavações, que levaram à delimita-
anatásio. O perfil laterítico desenvolvido sobre o ção de reservas aluvionares de 24 t de Au, sendo
complexo alcalino possui espessura entre 50 e 90 3,2 t a reserva medida (Rodrigues & Vergueiro
m, sendo mais espesso sobre piroxenitos do que 1984). Mais recentemente, cerca de 30 km de son-
sobre peridotitos. Esse perfil compreende, da base dagens foram efetuados na região, além de ma-
para o topo, um horizonte saprolítico, horizonte peamento geológico e geoquímica de solo, delimi-
areno-argiloso e crosta ferruginosa, esta última tando vários pequenos depósitos (Agnerian 2005).
com variações laterais denominadas canga limo- Verena (2008) reporta reservas de 12,4 t (indica-
nítica, canga magnética e canga com anatásio. Os da) e 50,5 t de Au (inferida), com teor médio de
teores de Fe2O3 + TiO2 ultrapassam 90% em peso 0,92 g/t somente para o conjunto das áreas Ouro
na porção intemperizada, sendo inferior a 20% em Verde e Grota Seca, sendo a maioria contida na
peso na rocha fresca (Oliveira et al. 1988). última. Assim, recursos mínimos de 77 t Au são
estimados para o Domínio Bacajá (Tabela 2).
Potencial para outros depósitos Os depósitos da Volta Grande do Rio Xingu
apresentam características geológicas similares.
Indício de mineralização de Elementos do Gru- Segundo Agnerian (2005), a mineralização aurífe-
po da Platina foi evidenciado pela presença de pla- ra desenvolveu-se preferencialmente em zonas de
tina, com teores de até 0,54 ppm, em formações cisalhamento que cortam o Granodiorito Oca (2160
ferríferas e, subordinadamente, em anfibolitos e ± 3 Ma, Vasquez 2006), próximo ao contato dessa
xistos com cordierita-antofilita do Grupo Ipitinga unidade com as rochas metavulcanossedimenta-
na serra homônima (Faraco 1997). res da Seqüência Três Palmeiras (2359 ± 3 Ma).
Uma reserva aluvionar de cassiterita foi cuba- As zonas de alteração hidrotermal associadas com
da no final dos anos 1960 e posteriormente ex- a mineralização possuem 300-3000 m de compri-
plotada por garimpeiros (Neves et al. 1972). Esse mento e formam arranjos subparalelos individu-
depósito localiza-se sobre o stock granítico semi- ais tabulares de 10-100 m de largura por 50->1000

185
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Borda oriental do Cráton Amazônico

m de comprimento. Zonas miloníticas e/ou brecha- zo-sericita-albita) além de turmalina e pirita, e


das atingem 2-10 m de espessura com mergulhos propilítica (clorita-zoisita-clinozoisita-quartzo-albi-
maiores do que 85° para o sul. Veios de quartzo ta) além de pirita, calcopirita, pirrotita e ilmenita.
às vezes são laminados, formam arranjo em éche- Não há estudos genéticos sobre os depósitos
lon e às vezes estão dobrados de forma comple- auríferos do Domínio Bacajá. Características como
xa. O ouro encontra-se em microfraturas ou associ- forte controle estrutural, associação com terrenos
ado a concentrações de sulfetos, especialmente ar- metamórficos, mineralogia e alteração hidrotermal
senopirita. Galena, calcopirita, pirrotita e pentlandi- são consistentes com a classe de depósitos oro-
ta são subordinadas. A alteração hidrotermal apre- gênicos de ouro.
senta pequenas variações, sendo descritas associ-
ações quartzo-carbonato-albita-sulfetos-magnetita, Depósitos supergênicos de manganês
quartzo-carbonato-feldspato alcalino-turmalina-sul-
feto, quartzo-clorita-epidoto (Cominas Empresa de Os depósitos de manganês (Fig. 4, Tabela
Mineração Ltda. 1993, Agnerian 2005). 2) localizam-se na serra da Buritirama, sudeste do
Os depósitos e ocorrências do Rio Bacajá e da domínio Bacajá, e foram descobertos em 1967, com
Faixa Prima também são controlados estrutural- utilização de mapeamento geológico, aerogeofísi-
mente por zonas de cisalhamento dúcteis e rúp- ca, sondagens e escavações (Andrade et al.
teis, mas as rochas encaixantes principais são 1986a). A mina da Serra de Buritirama possui re-
supracrustais relacionadas à Seqüência Três Pal- servas medida de 17,1 Mt com teor de 36,07% Mn
meiras. São metabasaltos, metadacitos, filitos e e indicada de 1,1 Mt de minério com 31,85% de
formações ferríferas. Subordinadamente há mine- Mn (Carvalho et al. 2004). Não são conhecidas as
ralização encaixada em granodioritos. Os corpos reservas do depósito de Buriti.
mineralizados consistem em lentes métricas de A assinatura geofísica indica anomalia magné-
metachert, veios de quartzo, zonas de falha e dis- tica alongada segundo NW-SE em que o baixo
seminações e venulações em rochas muito altera- magnético acompanha o alinhamento geral das
das (albita xisto). Os tipos de alteração hidroter- cristas da serra de Buritirama. Essa anomalia re-
mal identificados incluem epidotização, albitização, flete a associação entre os quartzitos ferrugino-
silicificação, sericitização, turmalinização e sulfe- sos (magnéticos) e os horizontes manganesíferos
tação (arsenopirita) (Mineração Rio Jatobá Ltda. (Andrade et al. 1986a).
1986, Essex S.A. 1988). As rochas hospedeiras dos depósitos perten-
O garimpo Manelão é uma ocorrência aurífera cem à Formação Buritirama, unidade de topo do
isolada na porção central do Domínio Bacajá. A Grupo Vila União, de suposta idade arqueana. O
mineralização primária desenvolveu-se sobre an- conjunto é formado, da base para o topo, por (1)
fibolitos e xistos básicos do conjunto informalmente quartzito micáceo, (2) rochas calcissilicáticas, mica
denominado Seqüência de Rochas Supracrustais xistos e xistos manganesíferos com lentes e ca-
1, de idade indefinida, posicionada no amplo in- madas de minério de Mn, (3) muscovita-quartzo-
tervalo Arqueano-Paleoproterozóico (Vasquez et clorita xistos intercalados com quartzito ferrugi-
al. 2008b). Segundo Souza & Kotschoubey (2005), noso bandado (Andrade et al. 1986a, Penha et al.
o minério aurífero está associado a veios de quart- 2006).
zo posicionados na Zona de Cisalhamento Bacajá Três tipos de minério são genericamente des-
que secciona a sequência supracrustal na direção critos em Buritirama e Buriti (Andrade et al. 1986a,
N70°W, próximo ao contato com o Granito Felício Penha et al. 2006). (1) Minério maciço, composto
Turvo de idade 2069 ± 6 (Souza et al. 2003). Os por criptomelana, braunita e pirolusita que resul-
veios de quartzo formam um sistema principal pa- taram de enriquecimento supergênico do proto-
ralelo à zona de cisalhamento e com mergulho de minério calcissilicático. Este tipo apresenta os
80°NW, interpretado como preenchimento de fra- melhores teores de Mn e alta razão Mn/Fe. (2) Em
turas tipo D, outro secundário, orientado segun- subsuperfície ocorre minério pulverulento a gra-
do N23°E/80°NW, interpretado como associado a nular, xistoso a friável, com coloração preta, que
fraturas tipo R’ (Souza & Kotschoubey 2005). No grada para xistos manganesíferos. As camadas
contato entre os veios e as rochas encaixantes estão orientadas segundo N45°W/35°SW e pos-
desenvolveram-se zonas de alteração fílica (quart- suem espessura de que variam de menos de 1m a

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Evandro Luiz Klein, Lúcia Travassos Rosa-Costa & Marcelo Lacerda Vasques

Figura 4 – Distribuição dos principais depósitos minerais do Domínio Bacajá. Numeração corresponde à da
Tabela 2. Modificado de Vasquez et al. (2008).

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Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Borda oriental do Cráton Amazônico

Tabela 2 - Modelos e exemplos de depósitos minerais dos domínios Bacajá e Santana do Araguaia1.

mais de 35m. Esse minério é composto por cripto- et al. 1999).


melana, pirolusita, braunita, bixbyíta, birmessita
e litioforita. Apresenta teores menores e mais va- Depósitos de níquel laterítico
riáveis de Mn, menor razão Mn/Fe e concentrações
mais elevadas de álcalis. (3) Em superfície, blo- A ocorrência de níquel de Madeira foi reporta-
cos, pisólitos e laterita manganesifera e terrosa da por Hirata et al. (1982) ao sul da serra de Buri-
são compostos por criptomelana, litioforita, nsuti- tirama (Fig. 4, Tabela 2). Consiste em uma con-
ta, todorokita, pirolusita, goethita, quartzo e cau- centração residual laterítica desenvolvida na base
linita. Esse minério resultou da desagregação, por de um conjunto de rochas máficas-ultramáficas da
intemperismo físico-químico e erosão, dos outros Formação Tapirapé, unidade inferior do Grupo Vila
dois tipos. União, de idade arqueana. A Formação Tapirapé
Os depósitos formaram-se por enriquecimento forma uma estrutura alongada segundo WNW-ESE
supergênico de protominério sedimentar silicocar- composta por metabasaltos foliados e talco-xis-
bonático que inclui mármores e xistos calcissilicá- tos, com metamorfismo de fácies xisto verde a
ticos com plagioclásio, biotita, quartzo, hornblen- anfibolito baixo (Oliveira et al. 1994).
da, muscovita, feldspato potássico, clorita, cum- Segundo Oliveira et al. (1994), a esta ocorrên-
mingtonita, espessartita e calcita (Andrade et al. cia associa-se uma anomalia aeromagnética e uma
1986a, Penha et al. 2006). Estudos paragenéti- associação geoquímica anômala de Ni-Co-Cr em
cos e de inclusões fluidas indicam que o metamor- sedimentos de corrente.
fismo da sequência sedimentar ocorreu em fácies
anfibolito, em torno de 550°C e 1,5 kbar (Valarelli METALOGÊNESE DO DOMÍNIO SANTANA DO
et al. 1978). Os sedimentos químicos manganesí- ARAGUAIA
feros se formaram em condições marinhas rasas
na borda de ilhas e bacias anóxicas, com precipi- Depósitos de ouro de classificação incerta
tação do Mn na interface entre a água do mar anó-
xica e águas subsuperficiais oxigenadas. O miné- O garimpo do Mandi é, até o momento, a mais
rio manganesífero carbonático preserva-se tanto conhecida ocorrência de ouro do Domínio Santana
em substratos oxidantes como reduzidos (Force do Araguaia (Fig. 5, Tabela 2), minerado desde o

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Evandro Luiz Klein, Lúcia Travassos Rosa-Costa & Marcelo Lacerda Vasques

princípio da década de 80. Segundo Macambira et urânio seria derivado de rochas do embasamento
al. (2006), a mineralização está associada a um da bacia sedimentar que hospeda a mineraliza-
sistema filoneano de quartzo leitoso encaixados ção, que teriam fornecido detritos e urânio sob a
em leucogranitos com duas micas do Complexo forma iônica ou de complexo uranil. O pacote mi-
Santana do Araguaia de suposta idade neoarque- neralizado inferior teria sido exposto na superfí-
ana (Vasquez et al. 2008b). Os filões estão orien- cie e erodido e o pacote superior depositado so-
tados segundo N30°-50°E, concordando com o bre esta discordância. Rochas ígneas, como o Sie-
sistema regional de falhas e fraturas, são subver- nito Rio Cristalino, de suposta idade orosiriana
ticais e mergulham para NW ou SE. Os veios prin- (1,88-1,86 Ga, Vasquez et al., 2008b), que intru-
cipais têm espessura inferior a 1m e são envolvi- dem a bacia, poderiam ter fornecido fluidos hidro-
dos por halo hidrotermal de 5-20 cm de espessu- termais uraníferos e também remobilizado o urâ-
ra. Associados a esses veios ocorrem enxames de nio depositado no pacote inferior, sendo o urânio
vênulas de quartzo paralelos ou oblíquos. Silicifi- precipitado principalmente em fraturas do arenito
cação, sericitização e sulfetação são os tipos de lítico. Outro evento mineralizador estaria associa-
alteração hidrotermal. A sericitização ocorre nas do ao enriquecimento supergênico do urânio con-
porções distais como microvênulas e tambem so- tido nas rochas sedimentares, que seria redepo-
bre plagioclásio e biotita. O ouro forma partículas sitado em galhas de argila no pacote superior, o
diminutas disseminadas no veio de quartzo e em que é sugerido pela presença de kasolita, meta-
fraturas. Os sulfetos associados ao ouro são piri- autunita e gumita.
ta, arsenopirita e calcopirita. Não há estudos adi- Andrade et al. (1986b) e Raposo & Matos (1994)
cionais que permitam classificar o depósito do interpretaram a mineralização primária como de-
Mandi, mas Macambira et al. (2006) sugerem que pósito de urânio tipo discordância, similar aos típi-
as características geológicas seriam compatíveis cos depósitos canadenses da bacia de Athabas-
tanto com depósitos relacionados a intrusões com ca, com solubilização e transporte do urânio por
as de depósitos orogênicos. águas meteóricas a partir das rochas fonte, e de-
posição numa interface oxidante-redutora. Favo-
Depósitos de urânio sedimentar tipo discordância recem essa interpretação a idade predominante-
mente proterozóica, o caráter sinsedimentar, a cla-
Os depósitos de urânio estão localizados na ra associação com discordância entre a seqüência
porção centro-leste do Domínio Santana do Ara- hospedeira e o embasamento.
guaia, na região do rio Cristalino (Fig. 5, Tabela
2). Esses depósitos, de origem primária e secun- Potencial para outros depósitos
dária, foram descobertos em 1978 por programa
de aerogamaespectrometria seguido de mapea- Indícios mineralógicos e geoquímicos de mine-
mento geológico e sondagem exploratória. Os re- ralização de Sn, V, Cr, Ni e Ti foram relatados por
cursos são estimados em 130.000 t (Oliveira 2008) Pastana & Silva Neto (1980) na porção noroeste
com teores de até 6,1% de U3O8 (Andrade et al. do Domínio Santana do Araguaia. É provável que
1986b). os indícios aluvionares de Sn estejam associados
Segundo Andrade et al. (1986b) a mineraliza- aos granitóides estaníferos do Domínio Iriri-Xin-
ção primária ocorreu em dois pacotes sedimenta- gu, na província Amazônia Central, que mostra,
res que, para Vasquez et al. (2008b), correlacio- nas imediações, vários indícios aluvionares desse
nam-se à Formação Gorotire de idade máxima de mesmo recurso mineral.
2035 Ma. O pacote inferior é composto por arcósi-
os e arenitos e o superior, por conglomerado ba- EVOLUÇÃO METALOGENÉTICA
sal e arenitos líticos. No pacote inferior o minério
primário é composto por uraninita localizada na A evolução orogênica da borda oriental do Crá-
foliação cataclástica que corta o arcósio hospe- ton Amazônico se deu entre 2,26 a 1,95 Ga. A
deiro e está também associada à matéria orgâni- maioria dos depósitos minerais hospedados nes-
ca que envolve grãos detríticos de quartzo e fel- ta faixa formou-se em diferentes momentos nes-
dspato. Magnetita, titanita, pirita, pirrotita, calco- se intervalo de tempo, sobretudo no início e final
pirita e arsenopirita são fases subordinadas. O do ciclo orogênico Transamazônico. Contudo, a

189
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Borda oriental do Cráton Amazônico

Figura 5 – Distribuição dos principais depósitos minerais do Domínio Santana do Araguaia. Numeração
corresponde à da Tabela 2. Modificado de Vasquez et al. (2008).

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Evandro Luiz Klein, Lúcia Travassos Rosa-Costa & Marcelo Lacerda Vasques

área guarda também depósitos formados em épo- estagiária de geologia Ana Cláudia Sodré Araújo
cas anteriores e gerados e/ou modificados em perí- pela ajuda com as figuras. B. Bley de Brito Neves
odos posteriores ao ciclo. Pelo menos seis épocas conta com nosso agradecimento pela revisão do
metalogenéticas podem ser identificadas (Fig. 6). manuscrito e sugestões.
(1) >2,5 Ga: formação dos depósitos de Mn se-
dimentar e de Ni magmático do Domínio Bacajá, REFERÊNCIAS
posteriormente modificados e enriquecidos por pro-
cessos supergênicos. Ackermann F.L. 1948. Recursos Minerais do Território
Federal do Amapá. Rio de Janeiro, Imprensa Nacio-
(2) ~2,26-2,21 Ga: acumulações singenéticas nal, 30 p.
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(6) 0,05-0,02 Ga: enriquecimento supergênico
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mático de Ni. matismo eoriaciano (2,26 Ga) na porção norte do
Bloco Amapá, região central do Amapá: nova evi-
dência e implicações geodinâmicas. In: SBG, Simp.
Agradecimentos Os autores agradecem aos edi- Geol. Amazônia, 11, Resumos, CD-ROM.
Barros M.A.S., Padilha R.A., Hubert R.R., Pimentel M.M.,
tores pelo convite à elaboração dessa síntese e à

Figura 6 – Diagrama que mostra os principais estágios da evolução geológica e temporal da borda oriental do
Cráton Amazônico e os recursos minerais formados em cada estágio. di: diamante.

191
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Borda oriental do Cráton Amazônico

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194
Evandro L. Klein

METALOGÊNESE DO CRÁTON SÃO LUÍS E DO CINTURÃO GURUPI

EVANDRO L. KLEIN

CPRM/Serviço Geológico do Brasil. Av. Dr. Freitas, 3645. Belém-PA, Brasil. CEP: 66095-110.
eklein@be.cprm.gov.br

INTRODUÇÃO des geotectônicas definidas por Almeida et al.


(1976), afloram na divisa entre o Pará e o Mara-
A região do rio Gurupi, na divisa norte o Pará e nhão como janelas tectônicas da cobertura sedi-
o Maranhão, onde afloram as rochas do Cráton mentar fanerozóica e são limitados pela Zona de
São Luís e do Cinturão Gurupi (Fig. 1A), é uma das Cisalhamento Tentugal (Hasui et al. 1984) (Fig. 1A).
mais antigas províncias produtoras de ouro no Bra- O Cráton São Luís é composto por rochas me-
sil, por garimpagem. O início da garimpagem re- tavulcano-sedimentares, granitóides e rochas vul-
monta ao século XVII. Os jesuítas lá se estabele- cânicas, todos de idade paleoproterozóica (Fig.
ceram por volta de 1612 e há relatos de extração 1B). A sucessão metavulcano-sedimentar compre-
de ouro pelo menos a partir de 1678 (Porto 2000). ende o Grupo Aurizona, constituído por xistos de
Apesar da antiguidade do conhecimento da pre- natureza diversa, rochas metavulcânicas ácidas a
sença de ouro na região, dos garimpos que des- básicas, algumas ultrabásicas, e subordinados
vendaram a existência de mais de uma centena quartzitos e metachert formados em 2240 ± 5 Ma
de jazimentos e da exploração por companhias de sob condições da fácies xisto verde, e subordina-
mineração, somente nem 2010 a primeira mina em- dos anfibolitos (Pastana 1995, Klein et al. 2005d,
presarial (Piaba, no Distrito Aurífero de Aurizona) 2008a).
tornou-se operacional. Os recursos estimados A unidade predominante é a Suíte Intrusiva Tro-
para o Cráton São Luís e o Cinturão Gurupi totali- maí, composta por tonalitos, granodioritos e gra-
zam cerca de 183 t de ouro, sendo que 76%, ou nitos de idade entre 2168 e 2148 Ma e interpreta-
139 t de ouro, são oriundos de apenas três depó- dos como cálcico-alcalinos juvenis de ambiente de
sitos e a maioria desses recursos constituem re- arco de ilhas intraoceânicos (Klein & Moura 2001,
servas indicadas e inferidas (Tabela 1). Isso de- Klein et al. 2005d, 2008b). Outros granitóides pos-
monstra que a exploração e o conhecimento geo- suem distribuição restrita. A Suíte Tracuateua aflo-
lógico-metalogenético são ainda insuficientes para ra na porção oeste da área cratônica (Fig. 1B) e
uma estimativa do real potencial aurífero dessas compreende granitos peraluminosos com duas mi-
duas unidades geotectônicas. cas (Lowell 1985, Costa 2000) de idade entre 2086
Fosfato é o segundo bem mineral em impor- e 2091 Ma (Palheta 2001). O Granito Negra Velha
tância na região, com a maioria dos depósitos con- é composto por stocks tardios, evoluídos e que
centrados em rochas do Cráton São Luís. Os re- intrudiram a Suíte Tromaí entre 2056 e 2076 Ma
cursos conhecidos totalizam menos de 50 Mt (Ta- (Klein et al. 2008b).
bela 2), mas a exploração também é incipiente. Rochas vulcânicas não metamorfizadas, predo-
Uma síntese do conhecimento geológico e me- minantemente ácidas, incluindo tufos, se deposi-
talogenético sobre o Cráton São Luís e o Cinturão taram sobre as rochas da Suíte Tromaí entre 2164
Gurupi é apresentada nesse capítulo, baseada em e 2160 Ma e em 2068 Ma (Klein et al. 2009a). As
estudos desenvolvidos nos últimos dez anos. mais antigas, reunidas na Unidade Vulcânica Ser-
ra do Jacaré e na Formação Rio Diamante, têm ca-
GEOLOGIA E EVOLUÇÃO DO CRÁTON SÃO LUÍS racterísticas de arco transicional a margem conti-
E DO CINTURÃO GURUPI nental ativa, respectivamente. As mais jovens, re-
presentadas pela Unidade Vulcânica Rosilha, es-
O Cráton São Luís e o Cinturão Gurupi, unida- tão associadas a evento tardio que gerou o Gra-

195
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras - Cráton São Luiz e Cinturão Gurupi

Tabela 1 – Dados econômicos dos depósitos auríferos do Cráton São Luís e do Cinturão Gurupi.

Tabela 2 – Reservas não oficiais de fosfatos sos à fase colisional e os granitóides evoluídos e
aluminosos em depósitos do Cráton São Luís e as rochas vulcânicas mais jovens, a fases tardi- a
Cinturão Gurupi.
pós-orogênicas (Klein et al. 2008b, 2009a).
Há, ainda, fortes evidências geológicas e geo-
cronológicas de que o Cráton São Luís faça parte
de uma unidade geotectônica muito maior, o Crá-
ton Oeste Africano. O desmembramento ocorreu
por ocasião da quebra continental do Mesozóico
que gerou América do Sul e África (Hurley et al.
1967, Klein & Moura 2008 e suas referências).
O Cinturão Gurupi é um orógeno neoprotero-
zóico de orientação NNW-SSE desenvolvido na bor-
da sul-sudoeste do Cráton São Luís (Figs. 1A e 3).
A maioria dos conjuntos litológicos do cinturão for-
ma corpos alongados paralelos à sua maior dimen-
são, orientação também da maioria das grandes
estruturas que afetam as unidades rochosas. Li-
tologicamente, o Cinturão Gurupi é composto por
complexos metamórficos, seqüências metassedi-
mentares e metavulcanossedimentares, e diver-
nito Negra Velha (Klein et al. 2008a, 2009a). sas gerações de rochas plutônicas de composição
O Cráton São Luís é interpretado como sendo e idades variadas (Klein et al. 2005c, Klein & Lo-
parte de um orógeno maior com evolução no Ria- pes 2010).
ciano, entre 2240 e 2050 Ma (Fig. 2). As sequênci- Participam da assembléia de embasamento
as supracrustais e os granitóides cálcico-alcalinos pequenos corpos de metatonalito e anfibolito ar-
são relacionados a uma fase acrescionária a tran- queanos (Metatonalito Igarapé Grande, de 2594
sicional da orogenia, os granitóides peralumino- ± 3 Ma, anfibolito de 2695 Ma) e gnaisses foliados

196
Evandro L. Klein

Figura 1 – (A) Localização do Cráton São Luís e do Cinturão Gurupi. (B) Mapa geológico simplificado do Cráton
São Luís com localização dos principais depósitos e ocorrências minerais (Modificado de Klein et al. 2008a).

197
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras - Cráton São Luiz e Cinturão Gurupi

Figura 2 – Esquema evolutivo mostrando as principais características das fases evolutivas da orogenia
paleoproterozóica, com respectivas idades e unidades litoestratigráficas representativas. Refere-se às unidades
do Cráton São Luís, da borda cratônica retrabalhada no Neoproterozóico e de unidades do embasamento do
Cinturão Gurupi. M: metamorfismo, m: mineralização.

e bandados (Complexo Itapeva, de 2167 ± 3 Ma), margem ativa. O Grupo Gurupi, de natureza sedi-
provavelmente alóctones. Granitóides cálcio-alca- mentar clástica, representaria a unidade marginal
linos (Suíte Intrusiva Tromaí e Granito Cantão) e (Costa 2000, Klein & Lopes 2010). A idade do Gru-
as rochas supracrustais da Formação Chega Tudo, po Gurupi é incerta, mas dados de isótopos de Nd
todos com idade entre 2168 e 2148 Ma, represen- em xistos indicam que a unidade seja mais jovem
tam fragmentos retrabalhados da borda do Crá- do que 1140 Ma (Soares 2009, Klein & Lopes
ton São Luís e tem sua evolução ligada à fase oro- 2010).
gênica acrescionária descrita acima para a área A litogênese neoproterozóica conhecida até o
cratônica. A Formação Chega Tudo possui nature- presente está limitada a três corpos plutônicos res-
za metavulcanossedimentar, apresenta metamor- tritos (Figs. 3 e 4). O Nefelina Sienito Boca Nova
fismo que atingiu no máximo a transição entre as provavelmente representa uma intrusão pré-oro-
fácies xisto verde e anfibolito, e suas rochas vul- gênica de 732 ± 7 Ma ligada a evento extensional
cânicas ácidas e básicas possuem características do início do Neoproterozóico (Klein et al. 2005c). O
geoquímicas que indicam ambiente de arcos de Metamicrotonalito Caramujim intrudiu em 624 ± 16
ilhas (Klein & Lopes 2010). Ma (Klein & Lopes 2010) e o granito peraluminoso
Vários corpos de granitos peraluminosos e de Ney Peixoto cristalizou em de 549 ± 4 Ma (Palheta
granitos alcalinos intrudiram entre 2100-2060 Ma 2001).
e representam a fase colisional a tardi/pós-oro- A idade do metamorfismo e deformação das ro-
gênica, respectivamente, da orogenia paleopro- chas do Cinturão Gurupi também não é clara. Da-
terozóica do Cráton São Luís. (Pastana 1995, Costa dos isotópicos Rb-Sr em rocha total e K-Ar em mi-
2000, Palheta 2001, Yamaguti & Villas 2003, Klein nerais mostram idades variáveis entre 466 Ma e
et al. 2005c, Klein & Lopes 2010). Esse período 618 Ma (referências primárias em Klein et al.
serve também como inferência para a idade do me- 2005c). Como o Microtonalito Caramujim está me-
tamorfismo paleoproterozóico (Klein et al. 2005c). tamorfizado (Klein & Lopes 2010) e o Granito Ney
A Formação Igarapé de Areia, clástica, de idade Peixoto é considerado um corpo sintectônico, mas
inferior a 2100 Ma tem contexto tectônico ainda não metamorfizado (Villas & Sousa 2007), estima-
duvidoso, tendo sido interpretada como bacia de se a idade do metamorfismo entre 624 e 549 Ma.
margem passiva (Teixeira et al. 2007), o que não
parece consistente com sua associação íntima com METALOGENIA DO CRÁTON SÃO LUÍS
a Formação Chega Tudo, de ambiente orogênico
(Klein & Lopes 2010). Depósitos orogênicos de ouro
Esse fragmento continental paleoproterozóico
serviu de plataforma estável para uma bacia mar- Os depósitos auríferos do Cráton São Luís con-
ginal, possivel margem passiva que evoluiu para centram-se no noroeste do Maranhão, no Distrito

198
Evandro L. Klein

Figura 3 – Mapa geológico simplificado do Cinturão Gurupi com localização dos principais depósitos e ocorrências
minerais.

Aurífero de Aurizona, próximo à costa atlântica (Fig. las, fotointerpretação, geoquímica de solo, geofí-
1B). O reconhecimento da presença de ouro no sica aérea e terrestre e sondagem, também utili-
cráton remonta a pelo menos 1612 e Jesuítas es- zadas no desenvolvimento e detalhamento dos de-
tabeleceram garimpos na região em 1678. Garim- mais depósitos (Porto 2006). A exploração que cul-
pagem intermitente perdurou desde então e a ati- minou na descoberta do depósito Piaba iniciou em
vidade empresarial esporádica ocorreu a partir do 1978 (Mach & Clarke 2008).
início do século XIX. Desde essa época são conhe- Os recursos de minério primário e oxidado do
cidos jazimentos aluvionares, coluvionares, filone- Distrito Aurífero de Aurizona totalizam 62,3 t de
anos e, possivelmente, placeres praiais (Porto ouro (Tabela 1), das quais 52,63 t são do depósi-
2006). to Piaba, com reserva medida de 15,52 t, e 3,77 t
A maioria dos depósitos conhecidos na região do depósito Tatajuba (Mineração Aurizona S/A
(Tabelas 1 e 3, Fig. 1B) surgiu do detalhamento 2000, Porto 2006, Mach & Clarke 2008). Reservas
geológico e de trabalhos exploratórios nas áreas aluvionares recuperáveis de pelo menos 3 t foram
descobertas por garimpagem. Exceção é o depó- dimensionadas (Mineração Aurizona S/A 2000) e
sito Tatajuba, descoberto na última década de não há informações sobre a produção histórica do
1990 por mapeamento geológico em várias esca- distrito.

199
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras - Cráton São Luiz e Cinturão Gurupi

Tabela 3 – Aspectos geológicos e propriedades físico-químicas dos principais depósitos auríferos primários
do Cráton São Luís.

Figura 4 – Esquema evolutivo mostrando as principais características das fases evolutivas da orogenia
neoproterozóica que ergueu o Cinturão Gurupi. M: metamorfismo, m: mineralização.

Dados aerogeofísicos da porção norte-nordes- as. Feições circulares de baixo gradiente magné-
te do Distrito de Aurizona (Fig. 5) mostram domí- tico foram interpretadas como centros de altera-
nios magnéticos orientados segundo ENE-WSW. ção hidrotermal e/ou locais de colocação de cor-
Segundo Mineração Aurizona S/A (2000) a varia- pos intrusivos ácidos a intermediários. Os auto-
ção da intensidade magnética ao longo desses do- res relatam que a atividade garimpeira se concen-
mínios alongados e quebras nesse padrão linear, tra em locais de alta razão K/Th.
como na área do depósito de Piaba, provavelmen- No distrito predominam rochas metavulcanos-
te resultam de alteração hidrotermal, com destrui- sedimentares do Grupo Aurizona, que formam um
ção dos minerais magnéticos, e por falhas tardi- conjunto alinhado segundo NE-SW que foi intrudi-

200
Evandro L. Klein

Figura 5 – Localização dos depósitos e ocorrências de ouro e fosfato do Cráton São Luís sobre mapas
aerogeofísicos: (A) magnetométrico com relevo sombreado, (B) mapa de composição ternária RGB. Numeração
dos depósitos conforme Figura 1B.

do por granitóides e coberto por extensa sedimen- 2214 ± 3 Ma, o que é compatível com seu suposto
tação costeira fanerozóica. Um grupo menor de caráter intrusivo no Grupo Aurizona. Também se-
ocorrências, em geral pouco conhecidas geologi- gundo Mineração Aurizona S/A (2000) os granófi-
camente, ocorre de forma esparsa em torno do ros foram subdivididos em função do tipo e inten-
distrito e onde predominam rochas da Suíte Intru- sidade da alteração hidrotermal: verde (clorita);
siva Tromaí (Fig. 1B). Esses conjuntos hospedei- cinza (grafita > 5%); cinzento (0,5 a 2% de grafi-
ros foram metamorfizados na fácies xisto verde e ta) e leucogranófiro. Contudo, Mach & Clarke
interpretados como de ambiente de arco de ilha (2008) não fazem referência a esses granófiros.
oceânico e suas bacias marginais, formados entre Para esses autores as rochas hospedeiras do mi-
2240 Ma e 2150 Ma (Klein et al. 2008b, 2009a). nério primário são andesito-basaltos e dioritos gra-
O depósito de Piaba (Figs. 1B e 6) tornou-se a
primeira mina empresarial no Cráton São Luís e
entrou em operação no primeiro semestre de 2010.
Embora represente o mais importante jazimento
até o momento, alguns de seus atributos geológi-
cos e sua gênese ainda não estão caracterizados.
O depósito está hospedado pela Falha Piaba, si-
nistral e orientada segundo N70°E, com mergulho
subvertical. Incluindo suas extensões para leste
e oeste, o depósito estende-se por cerca de 2,9
km, com espessura média de 60 m (Mineração Au-
rizona S/A 2000, Mach & Clarke 2008).
As rochas encaixantes do minério (Figs. 6 e 7)
pertencem à sequência metavulcano-sedimentar
do Grupo Aurizona, de 2240 ± 5 Ma (Klein & Moura
2001). Na área do depósito a sequência inclui xis-
tos e metachert grafitosos, tufos, quartzo-serici-
ta-clorita xistos e rochas máficas e ultramáficas.
De acordo com Mineração Aurizona S/A (2000) essa
sequência teria sido intrudida e “parcialmente as-
similada” (sic) por corpos de granófiro com com-
posição tonalítica a granodiorítica, que são os prin-
cipais hospedeiros do minério aurífero. Essa ro- Figura 6 – Seção geológica do depósito de Piaba
cha, datada por Klein et al. (2008a) tem idade de (modificado de Luna Gold Corp. 2009).

201
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras - Cráton São Luiz e Cinturão Gurupi

Figura 7 – Fotografias de testemunhos de sondagens do depósito de Piaba. (A) Granitóide fino cortado por
veio de quartzo e com sulfetos disseminados e distribuídos em fraturas. (B) Granitóide rico em grafita
disseminada, cortado por brecha quartzosa. (C) Granitóide silicificado com alteração clorítica(?) entre cristais
de quartzo. (D) Tufo félsico da porção basal do depósito, cortado por vênulas de quartzo-sulfeto.

fitizados. Ainda, segundo os mesmos autores, o xico raso, (2) rápida deposição de pacotes tufáce-
conjunto hospedeiro é limitado ao sul pelo bloco os mal selecionados proximais a um conduto vul-
que corresponde ao piso da falha Piaba, sendo cânico, (3) dobramento isoclinal e metamorfismo
esse bloco composto por tufos e sedimentos gra- em fácies xisto verde, sendo a deformação aco-
fitosos piritizados. modada pelo deslizamento das superfícies de aca-
A zona mineralizada (Fig. 6) se associa com ro- mamento em pacotes andesíticos, com camadas
chas fortemente alteradas, fraturadas e cortadas sedimentares mais espessas atuando como blo-
por veios de quartzo e se localiza de 10 a 30 m do cos mais rígidos, (4) intrusão de diorito e diques
contato inferior, ou piso da falha. No solo, os teo- aplíticos, (5) tectonismo associado a célula hidro-
res de ouro correlacionam com elevados teores termal que remobilizaria grafita dos sedimentos
de Cu e Zn. A alteração hidrotermal inclui cloritiza- do piso da falha e introduziria essa grafita em an-
ção, carbonatação, silicificação, sulfetação e su- desitos ao longo de zona de falha, (6) dissemina-
posta grafitização (Mach & Clarke 2008). Minera- ção de sulfetos, (7) colocação de veios de quartzo
ção Aurizona S/A (2000) descreve também serici- auríferos verticais e horizontais e redução dos flui-
tização e presença localizada de turmalina e ilme- dos mineralizadores por reação com a grafita, (8)
nita. Além de ocorrer nas rochas alteradas hidro- colocação de veios auríferos sulfetados e cloríti-
termalmente, o ouro possui estreita associação cos sulfetados e (9) remobilização do ouro em
com dois tipos de veios: (1) veios de quartzo lei- zonas de ruptura e ao longo dos contatos dos
toso horizontais ou suborizontais, fracamente fer- veios.
ruginizados ou sulfetados (pirita), altamente fra- O perfil laterítico da área do depósito Piaba foi
turados, sem halo hidrotermal significativo e co- definido como do tipo imaturo (Souza 2001), com-
mumente com ouro visível; (2) veios com halo de posto por quartzo, caulinita, hematita, goethita,
silicificação bem definido e que podem ou não con- muscovita e paragonita. O caráter imaturo seria
ter um veio de quartzo central. O segundo tipo evidenciado pela presença de paragonita e cauli-
está geralmente boudinado e com distribuição en nita e ausência de gibbsita. O ouro no perfil su-
echelon (Mach & Clarke 2008). pergênico é residual e se dispersou mecanicamen-
Segundo Mach & Clarke (2008) a formação do te nos horizontes mais superficiais do perfil, a partir
depósito Piaba envolveria: (1) deposição de sedi- dos veios de quartzo auríferos primários. Essa dis-
mentos tufáceos ricos em grafita, em ambiente anó- persão mecânica teria sido facilitada pela granu-

202
Evandro L. Klein

lometria grossa das partículas (>50 μm) que teria ção ocorreu pouco tempo após a cristalização do
inibido a sua dissolução por soluções intempéri- microtonalito. No caso de Areal e Micote, cujas
cas. A porção lixiviada dos grãos foi reprecipitada unidades hospedeiras são muito mais antigas
como ouro livre (pepitas) próximo à superfície, na (2160 e 2240 Ma, respectivamente), os dados de
zona colúvio-eluvionar, e como grãos submicros- Ar podem indicar a idade da mineralização, a ida-
cópicos em frações muito finas (<270#) do perfil, de de remobilização provocada por evento tectô-
ou ainda, adsorvido a óxidos de ferro. nico e/ou magmático posterior, ou idade de resfri-
Não há estudos sobre a gênese do depósito amento. Além da intrusão do Microtonalito Garim-
primário de Piaba. Estudos isotópicos de reconhe- po Caxias, os outros episódios magmáticos tidos
cimento e de inclusões fluidas foram efetuados como pós-orogênicos na região incluem a intru-
apenas em ocorrências menores ao sul do Distrito são do Granito Negra Velha e os derrames de la-
Aurífero de Aurizona, como Caxias, Areal e Pedra vas e rochas piroclásticas da Unidade Vulcânica
de Fogo (Klein & Koppe 2000, Klein & Fuzikawa Rosilha, ocorridos entre 2056 e 2076 Ma (Klein et
2005, Klein et al. 2000, 2002, 2005b). Esses estu- al. 2008b, 2009a).
dos revelaram que a mineralização ocorreu após
o pico metamórfico e em caráter sin- a tardi-tectô- Depósitos supergênicos de fosfato
nico, com os corpos de minério controlados por
falhas e zonas de cisalhamento dúctil discretas. A existência de jazimentos de fósforo no Crá-
Os fluidos mineralizadores (Tabela 3) são aquo- ton São Luís é conhecida pelo menos desde 1914,
carbônicos com proporções variáveis de CO2, CH4 quando o primeiro depósito de bauxita fosforosa
e N2, moderadamente densos e de salinidade bai- foi delimitado na Serra de Pirocaua (Porto 2006).
xa a moderada (5-15 % em peso equivalente de São conhecidos pelo menos 12 jazimentos que se
NaCl). Esses fluidos depositaram o minério sob distribuem na região costeira do noroeste do Ma-
condições de temperatura e pressão entre 260° e ranhão e do nordeste do Pará, cujas reservas não
400°C e em torno de 2 kb, respectivamente. Isó- oficiais são estimadas em torno de 36 e 45 Mt,
topos de oxigênio e hidrogênio sugerem fontes com teores variados de P2O5 entre 0,8 e 29% (Fig.
metamórficas para os fluidos, enquanto que isó- 1B, Tabela 2).
topos de carbono indicam fontes profundas (man- Os depósitos supergênicos de fosfato estão as-
télica, magmática, metamórfica, ou combinação sociados a perfis lateríticos maturos e autóctones
destas) e local envolvimento de componente or- formados no Eoceno-Oligoceno. Esses perfis ocor-
gânico. Em conjunto, os dados indicam que sepa- rem em pequenos platôs isolados com 20-90 m de
ração de fases e interações fluido-rocha foram os altura e representam testemunhos de perfis late-
mecanismos mais importantes na desestabilização ríticos maturos (Costa 1991). As concentrações de
de complexos auríferos. Oxidação e resfriamento fosfatos formaram-se pelo intemperismo de rochas
foram processos subordinados e localizados. metabásico-ultrabásicas, xistos e filitos diversos,
Considerando o condicionamento geológico si- originalmente enriquecidos em fósforo (Oliveira &
milar, supõe-se que condições genéticas semelhan- Costa 1984, Costa 1991). Essas rochas são atri-
tes podem ser inferidas em maior ou menor grau buídas ao Grupo Aurizona, de idade paleoprote-
para Piaba. A idade absoluta da mineralização, en- rozóica (Klein et al. 2008a). O perfil típico dos de-
tretanto, é ainda incerta. Os dados de isótopos pósitos envolve um delgado horizonte transicio-
de Ar em muscovita obtidos por Klein et al. (2008a) nal (pálido) entre a rocha-mãe e o horizonte argi-
para três alvos mineralizados não são conclusi- loso, o qual pode atingir até 30-50 m de espessu-
vos. As idades 40Ar/39Ar obtidas são 1879 ± 18 Ma ra. Sobreposto ao horizonte argiloso encontra-se
e 1920 ± 20 Ma para Areal e 1980 ± 20 Ma para o horizonte de fosfatos de alumínio, com espes-
Caxias e Micote. A idade obtida em Caxias é idên- suras de 2 a 8 m (Costa 1991). Esse horizonte, no
tica, dentro dos limites de erro analítico, à do mi- depósito da Serra do Pirocaua, é esbranquiçado
crotonalito encaixante (1985 ± 4 Ma; Klein et al. ou amarelado, maciço a cavernoso e contém oóli-
2002), Assim, a idade de colocação do Microtona- tos e pisólitos. O topo dos platôs é coberto por
lito Garimpo Caxias impõe um limite máximo para blocos de crosta ferruginosa marrom escura que
a idade da mineralização, pelo menos para essa também pode conter fosfato. Os minerais de fos-
ocorrência, em 1985 Ma, sendo que a mineraliza- fato compreendem crandalita-goyazita, variscita,

203
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras - Cráton São Luiz e Cinturão Gurupi

wardita, augelita e senegalita. Gurupi concentram-se ao longo da Zona de Cisa-


No depósito de Itacupim o perfil desenvolveu- lhamento Tentugal, noroeste do Maranhão e nor-
se sobre rocha básica caracterizada como apati- deste do Pará (Fig. 3). Assim como no Cráton São
ta-hornblendito, que seria o produto do metamor- Luís, a existência de ouro neste domínio é conhe-
fismo de um apatita-piroxenito. Da base para o cida desde o século XVII e a garimpagem opera
topo, o perfil é composto por um horizonte de tran- de modo intermitente desde então, em aluviões,
sição, com 3 m de espessura, que mantém as prin- saprólitos, veios de quartzo em saprólitos e co-
cipais características da rocha mãe; horizonte cau- berturas lateríticas. Várias dezenas de ocorrênci-
línico, com 15 m de espessura; horizonte fosfático as e alguns depósitos são conhecidos. A desco-
com espessura de 7 m e crosta ferruginosa com 2 berta empresarial dos depósitos iniciou, pelo me-
m de espessura (Oliveira & Schwab 1980). nos na década de 40 do século passado, com Ca-
Os fosfatos naturais são passíveis de utiliza- choeira. Chega Tudo e Cipoeiro foram descober-
ção como fertilizante de solos, mas somente após tos em 1995 e 1996, respectivamente, com uso
tratamento que aumente a sua eficiência agronô- de mapeamento geológico, interpretação de sen-
mica com o aumento da solubilidade do fósforo (Sil- sores remotos, aerogeofísica e mais de 78.000 m
verol et al. 2006). Estudos já foram realizados nos de sondagem (Torresini 2000, Clark & Stone 2009).
fosfatos aluminosos dos depósitos de Pirocaua e Serrinha, Montes Áureos e Cedral também são
Trauíra, indicando que os mesmos possuem efici- historicamente conhecidos e outros alvos, como
ência agronômica moderada, justamente pela pre- Ubinzal, passaram a ser explorados na presente
sença do alumínio insolúvel (Oliveira & Costa 1984 década.
e suas referências; Kliemann & Lima 2001). As reservas dos depósitos do Cinturão Gurupi
foram dimensionadas apenas parcialmente. Clark
METALOGENIA DO CINTURÃO GURUPI & Stone (2009) reportam recursos de 65,3 t de
ouro em Cipoeiro e 32,5 t de ouro em Chega Tudo,
Depósitos orogênicos de ouro ambos com teores próximos a 1,0 g/t (Tabela 1).
Cachoeira tem recursos de cerca de 22 t de ouro
Os depósitos de ouro orogênico do Cinturão (referências primárias em Klein et al. 2006a) (Ta-

Tabela 4 – Aspectos geológicos e propriedades físico-químicas dos principais depósitos de ouro orogênico do
Cinturão Gurupi.

204
Evandro L. Klein

bela 1). essa formação e as unidades ortoderivadas adja-


Os depósitos de ouro orogênico do Cinturão centes (Suíte Intrusiva Tromaí e Complexo Itape-
Gurupi (Tabela 4, Fig. 3) possuem controles estru- va) parece ter condicionado a concentração da
tural e litoestratigráfico bastante evidentes. Es- deformação nas rochas mais competentes da For-
tão distribuídos, com raras exceções, ao longo da mação Chega Tudo (Ribeiro 2002), o que facilitou
Zona de Cisalhamento Tentugal, vasto corredor de uma maior percolação de fluidos pelas mesmas.
orientação NW-SE que ocorre na zona limítrofe en- Essa é, possivelmente, a causa do predomínio de
tre o cinturão e o Cráton São Luís, o que é relati- depósitos encaixados em rochas desta formação.
vamente bem observado nos mapas aerogeofísi- Os depósitos associados com a Formação Che-
cos (Fig. 8), e estão encaixados principalmente em ga Tudo (Cachoeira, Chega Tudo, Serrinha, Mon-
estruturas que seccionam a sequência metavul- tes Áureos) tem como principais rochas encaixan-
canossedimentar da Formação Chega Tudo, de tes dacitos, basaltos e xistos grafitosos. Riolitos,
2160 Ma. Secundariamente, há ocorrências e de- andesitos, rochas vulcanoclásticas e xistos pelíti-
pósitos encaixados em estruturas que cortam gra- cos ocorrem em menor quantidade. Essas rochas
nitóides da Suíte Intrusiva Tromaí (2160-2147 Ma), foram metamorfisadas em fácies xisto verde, po-
gabros da Suíte Intrusiva Ubinzal (provavelmente dendo atingir a transição xisto verde-anfibolito (p.
paleoproterozóica) e arenitos da Formação Iga- ex., Yamaguti & Villas 2003). Metarenitos da For-
rapé de Areia (<2100 Ma). mação Igarapé de Areia, intimamente associados
A área de ocorrência da Formação Chega Tudo com a Formação Chega Tudo, também estão mi-
praticamente se confunde com a da Zona de Cisa- neralizados em Cachoeira, nas imediações de Che-
lhamento Tentugal. O contraste reológico entre ga Tudo e em Sequeiro.

Figura 8 – Localização dos depósitos e ocorrências de ouro da porção sudeste do Cinturão Gurupi sobre
mapas aerogeofísicos: (A) magnetométrico com relevo sombreado, (B) mapa de composição ternária RGB.

205
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras - Cráton São Luiz e Cinturão Gurupi

Figura 9 – (A) Mapa geológico e (B) seção geológica do depósito aurífero Chega Tudo (modificado de Torresini
2000 e Ribeiro 2002).

Os corpos de minério tendem a ser paralelos à falerita e galena ocorrem como inclusões na pirita
estruturação das rochas encaixantes supracrus- (Klein et al. 2008c).
tais (Fig. 9). São descontínuos, subverticais, esti- De acordo com Klein et al. (2008c) o ouro asso-
rados e com formas cilíndricas ou lenticulares. Dois ciado a sulfetos foi depositado a 340°-370°C, a
estilos de mineralização são comuns a todos os partir de fluido do sistema CO2-CH4-H2O-NaCl com
depósitos: (1) veios ou conjuntos de veios de salinidade média de 5,8 % em peso equivalente
quartzo de espessura e comprimento variáveis e de NaCl, contendo 12-22 mol% de CO2 e menos
(2) conjuntos de vênulas de quartzo-carbonato- de 6 moles% de CH4. Os valores de δ18O e δD do
sulfeto e disseminações nas rochas hospedeiras fluido, respectivamente +7,9 a +9,4 per mil e -29
circundantes alteradas hidrotermalmente. Esses a -37 per mil, indicam fonte metamórfica para o
estilos ocorrem tanto paralelos à foliação como de mesmo. Isótopos de carbono mostram valores con-
forma discordante (Bettencourt et al. 1991, Torre- trastantes de δ13C no fluido aquo-carbônico (-24,1
sini 2000, Ribeiro 2002, Yamaguti & Villas 2003, per mil) e na calcita (-3,8 per mil). O primeiro foi
Klein et al. 2005a, 2006a, 2007, 2008c). interpretado como sendo de origem orgânica e ad-
Os veios de quartzo apresentam ouro livre e quirido no local de deposição por reação com car-
são geralmente pobres em sulfetos. A mineraliza- bono orgânico de xistos grafitosos, comuns na es-
ção em vênulas e disseminada, além do ouro li- tratigrafia da Formação Chega Tudo, e o segundo
vre, apresenta ouro depositado em microfraturas como de origem crustal.
nos sulfetos e no quartzo, nos contatos intergra- Segundo Klein et al. (2008c), o segundo fluido,
nulares e como elemento traço em sulfetos, prin- responsável pela deposição do ouro livre em vei-
cipalmente pirita e arsenopirita (Fig. 10). os e parte do minério mais profundo do depósito,
Em Chega Tudo, a alteração hidrotermal super- próximo ao contato entre as rochas encaixantes
põe-se às paragêneses metamórficas, o que é in- vulcânicas e a rochas sedimentares fracamente
dicado pela venulação, cristalização sintectônica mineralizadas, depositou o ouro em condições de
de minerais em planos de foliação, texturas de temperatura ligeiramente inferiores, entre 330° e
substituição e destruição, aumento na proporção 340°C. Esse fluido pertence ao sistema CO2-H2O-
dos minerais de alteração e desenvolvimento de NaCl e possui salinidade entre 1,6 e 2,5 % em peso
bleached zones (Fig. 10). A assembléia hidrotermal de NaCl equivalente e contém 11-13 moles % de
é composta por proporções variáveis de quartzo, CO2. Os valores de δ18O e δD do fluido, respectiva-
clorita, mica branca, calcita, minerais de sulfeto e mente +5,3 a +7,2 per mil e -12 a -30 per mil, tam-
ouro. Pirita, com traços de Au, Bi, As, Sb e Te, é o bém indicam origem metamórfica, enquanto que o
sulfeto predominante. Calcopirita é fase subordi- valor de δ13C do fluido aquo-carbônico de -6,9 per
nada, mas importante, pois ocorre em associação mil sugere fonte mantélica para o carbono.
com ouro em fraturas da pirita, enquanto que es- A combinação de dados geológicos, petrográfi-

206
Evandro L. Klein

Figura 10 – Aspectos da mineralização aurífera no depósito de Chega Tudo. (A) Veio de quartzo maciço, com
partículas de ouro livre (setas). (B) Vênulas de quartzo e quartzo carbonato cortando riodacito e dacito. Os
sulfetos se distribuem em fraturas, na foliação e como disseminação. (C) Fotomicrografia de dacito deformado,
mostrando porfiroclastos de plagioclásio e quartzo em matriz milonítica sulfetada. (D) Fotomicrografia de
cristal de pirita com quartzo e clorita intercrescidos em sombras de pressão. (E) Vênula de quartzo deformado
com cordões de pirita aurífera e alinhamentos de muscovita que definem a foliação. (F) Seção polida mostrando
zoneamento da alteração hidrotermal. (G) Fotomicrografia de cristal de quartzo de veio com partículas de
ouro e pirita em fratura. (H) Fotomicrografia de cristal de pirita com ouro e calcopirita em fratura. Abreviaturas:
Au: ouro, cc: calcita, cpy: calcopirita, clo: clorita, m: muscovita, py: pirita, qz: quartzo.

cos, de inclusões fluidas e de isótopos estáveis dor associados com circulação de fluidos dentro e
levou Klein et al. (2008c) a interpretar a gênese em torno de zona de cisalhamento ativa e sob con-
dos dois estilos de mineralização em Chega Tudo dições de pressão variáveis (Fig. 11). Não se pode
como produto da combinação de imiscibilidade de descartar, contudo, que dois eventos separados
fluidos, reações fluido-rocha (sulfetação e carbo- no tempo tenham ocorrido.
natação) e, provavelmente, mistura de fluidos. Os depósitos associados com granitóides da
Esses processos teriam ocorrido em dois estágios Suíte Intrusiva Tromaí tem em Cipoeiro seu repre-
distintos dentro de um mesmo evento mineraliza- sentante mais conhecido. A rocha hospedeira do

207
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras - Cráton São Luiz e Cinturão Gurupi

Figura 11 – Perfil esquemático e sem escala mostrando possíveis mecanismos de migração dos fluidos
responsáveis pela mineralização em depósitos orogênicos do Cinturão Gurupi associados à Formação Chega
Tudo. (A) Migração ascendente e escape de fluido de fonte profunda ao longo de estrutura (antes de
movimentação), alteração da rocha encaixante e deposição de ouro livre; (B) Migração ascendente do mesmo
fluido imediatamente após a movimentação da falha e retorno do fluido que reagiu com a rocha encaixante
para dentro da estrutura, com venulação e deposição de ouro em sulfetos (segundo Klein et al. 2008c).

Figura 12 – (A) Mapa geológico e (B) seção geológica do depósito aurífero Cipoeiro (modificado de Torresini
2000 e Ribeiro 2002).

minério em Cipoeiro é um tonalito com intensida- de metapelitos e lentes de conglomerado. O mi-


des variadas de deformação e alteração hidroter- nério está restrito ao tonalito no teto da falha (Tor-
mal. O minério está distribuído em várias zonas resini 2000, Ribeiro 2002). A sequência sedimen-
cisalhadas no tonalito, onde o mesmo faz contato tar é atribuída à Formação Igarapé de Areia (Klein
por falha com sequência metassedimentar (Fig. 12) & Lopes 2009, 2010). A estrutura hospedeira pos-
composta por arenitos ricos em magnetita, além sui orientação NW-SE e foi associada por Ribeiro

208
Evandro L. Klein

(2002) à Zona de Cisalhamento Tentugal. ralização. A possibilidade mais consistente é, apa-


Segundo Klein et al. (2007), Cipoeiro contém rentemente, a primeira.
dois estilos de mineralização, em veios e dissemi-
nada, à semelhança com os depósitos associados Depósitos de ouro em paleoplacer
com a Formação Chega Tudo. Os veios de quartzo
estão fortemente recristalizados, tendo sido de- A presença de ocorrências de ouro em paleo-
positados cedo na história evolutiva do depósito. placer na região do Gurupi é conhecida por mine-
Na mineralização disseminada, a alteração hidro- radoras pelo menos desde o final da década de
termal apresenta composição homogêna ao lon- 1990, inclusive com pequenos depósitos dimensi-
go de pelo menos 100 m de profundidade, sendo onados por trabalhos de sondagem (E.P. Viglio, co-
constituída por quartzo, clorita, calcita, fengita, municação verbal), embora não haja literatura a
albita e pirita. O ouro é raramente visível. Seus respeito.
maiores teores estão associados a maiores con- Sabe-se da existência desse tipo de minerali-
centrações de pirita e vênulas de quartzo-carbo- zação (Fig. 3) no garimpo Firmino, onde o ouro está
nato e foi depositado em microfraturas e estrutu- contido em arenito grosso e mal selecionado (Aze-
ras rúpteis-dúcteis de pequena escala, indicando vedo 2003), e nas áreas Pico 20 e Boa Esperança,
caráter tardi-tectônico de sua precipitação (Ribei- com ouro detrítico contido em conglomerado mo-
ro 2002, Klein et al. 2007). nomítico (Klein & Lopes 2009). Essas rochas hos-
Os valores de δ18O e δD do fluido mineralizador, pedeiras são atribuídas à Formação Igarapé de
respectivamente +2,4 a +5,7 0/00 e -20 a -43 0/00 , Areia (Klein & Lopes 2009).
indicam fonte metamórfica. Os valores de δ13C do De acordo com Klein & Lopes (2009, 2010) a
CO2 do fluido variam de -3,9 a -10,7 0/00 e o de δ34S Formação Igarapé de Areia ocorre em faixas es-
do sulfeto situa-se em torno de 0 0/00. Esses valo- treitas e alongadas segundo as orientações NW-
res não são diagnósticos de fonte única e são com- SE (predominante) a N-S, ao longo da Zona de
patíveis com origem mantélica, magmática ou de Cisalhamento Tentugal e em íntima associação com
reservatório crustal. A temperatura de deposição a Formação Chega Tudo (2160 Ma) e talvez com o
do minério, estimada a partir da composição quí- Grupo Gurupi (imbricação tectônica?). As estrutu-
mica da clorita hidrotermal, situa-se em torno de ras sedimentares primárias encontram-se sempre
305 ± 15°C (Klein et al. 2007). preservadas e o metamorfismo, quando existen-
A idade absoluta dos depósitos de ouro orogê- te, é de grau muito baixo. Essas estruturas pos-
nico do Cinturão Gurupi ainda é desconhecida. Os suem mergulhos variados, de suaves a verticais,
dados geológicos tendem a indicar mineralização dependendo da sua posição em relação a estru-
no Paleoproterozóico, incluindo o fato de que to- turas tectônicas maiores. A unidade é relativamen-
dos os depósitos conhecidos estão hospedados te bem caracterizada em mapas aerogeofísicos.
em rochas do Paleoproterozóico. Contudo, essas Nos mapas gamaespectrométricos mostra valores
rochas sofreram maior ou menor influência de moderados a relativamente elevados (sobretudo
eventos termo-tectônicos no Neoproterozóico. nas cristas) na contagem total dos elementos, nos
Dados geocronológicos em minério são escassos canais de K e Th e no mapa ternário (Fig. 8B).
e restritos ao depósito de Cachoeira. A composi- A unidade é composta por pelo menos três as-
ção isotópica do Pb em sulfetos deste depósito sociações de litofácies: (A) intercalações de con-
indica idades modelo entre 2035 e 1816 Ma para glomerados predominantemente monomíticos com
a pirita e entre 840 a 588 Ma para a arsenopirita arenito grosso e quartzo arenito sericítico; (B) are-
(Klein et al. 2006b, 2009b). Diante disso, as possi- nito grosso com estratificações cruzada e plano-
bilidades que devem ser consideradas são: (1) a paralela marcadas por magnetita e ilmenita com
mineralização é paleoproterozóica e foi afetada (in- intercalações de pelitos e (C) conglomerados e
cluindo remobilização) no Neoproterozóico; (2) há arenito conglomerático com estratificações cruza-
duas épocas metalogenéticas, uma ocorrida no Pa- da e acanalada em contato brusco concordante
leoproterozóico, outra no Neoproterozóico; (3) a com xistos siltico-argilosos que podem ou não fa-
mineralização ocorreu no Neoproterozóico e os da- zer parte desta associação. A associação de lito-
dos em pirita refletiriam Pb de fonte paleoprote- fácies indica sistema fluvial de alta mobilidade e
rozóica incorporado nos minerais durante a mine- energia (Klein & Lopes 2009) e dados geoquími-

209
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras - Cráton São Luiz e Cinturão Gurupi

cos preliminares (Teixeira et al. 2007) sugerem tém concentrações de fosfatos de alumínio (até
ambiente de margem continental passiva e pro- 7% em peso de P2O5). No topo desse nível são
veniência sedimentar quartzosa para arenitos da encontrados nódulos vermelhos e roxos. O nível B
área tipo. é o principal hospedeiro da mineralização fosfáti-
A idade da Formação Igarapé de Areia é esti- ca (média 16% em peso de P2O5) e contém tam-
mada a partir de dados geocronológicos em zir- bém oxidos-hidróxidos de ferro. Esse nível, com
cão detrítico de amostras de arenitos dos depósi- espessura entre 3 e 10 m, tem aspecto brechóide
tos de Cachoeira e Cipoeiro (E.L. Klein, inédito) e e apresenta nódulos maciços ou vesiculares, de
da área tipo da unidade (Teixeira et al. 2007). Es- várias cores, cimentado por material amarelado.
sas informações indicam que a deposição ocorreu O nível A, superior, não é tão bem definido como
no máximo há 2110 Ma. os demais e é formado por crosta amarelada ma-
Além da mineralização detrítica, observações ciça ou vesicular, com fragmentos irregulares ver-
preliminares indicam a presença de alteração hi- melhos cimentados por material fosfático amare-
drotermal superposta às rochas sedimentares em lo. A variscita é o mineral de minério em Cansa
Pico 20 e Boa Esperança (Klein & Lopes 2009) e Perna e é branca-amarelada maciça e dura, ou
de mineralização epigenética no depósito de Ca- terrosa e mole, isotrópica, podendo ser cortada
choeira (Klein et al. 2005a). Há ainda, indícios de por vênulas de crandalita e wavelita (Costa 1978).
mineralização hidrotermal em Cipoeiro e Sequeiro Segundo Costa (1978) os fosfatos aluminosos
(Klein & Lopes 2009). Esse conjunto de dados le- de Cansa Perna são também enriquecidos em Sr
vou Klein & Lopes (2009) a sugerir a semelhança e Rb, além de ETR, Ba, Zr, Nb, Y, V, Ga, Sc e U, o que
entre a mineralização aurífera na Formação Iga- torna esses elementos importantes na prospec-
rapé de Areia com o tipo Tarkwa do Cráton Oeste- ção de jazimentos similares.
Africano (p. ex., Pigois et al. 2003).
Depósitos de fosfato de origem sedimentar/hi-
Depósitos supergênicos de fosfatos drotermal

Dois depósitos de fosfatos aluminosos lateríti- Pequenos jazimentos de fosfato hidrotermal


cos com características, gênese e idade similares ocorrem nas imediações de Santa Luzia do Pará,
aos descritos para o Fragmento Cratônico São Luís na porção noroeste do Cinturão Gurupi (Fig. 3).
são também conhecidos no Cinturão Gurupi (Fig. Em conjunto, possuem recursos estimados inferi-
3, Tabela 2). O depósito de Cansa Perna ocorre ores a 100.000 t de minério com 16% em peso de
junto ao depósito aurífero de Cachoeira. Esse de- P2O5 (Oliveira & Costa 1984).
pósito conta com menos de 100.000 t de minério O fosfato hidrotermal ocorre em veios e vênu-
com teor de 25% em peso de P2O5 (Oliveira & Cos- las que preenchem fraturas ou formam pequenas
ta 1984). O depósito de Sapucaia, com reserva de disseminações em quartzitos, filitos, xistos e bre-
1,5 Mt, ocorre em meio à cobertura cenozóica, en- chas do Grupo Gurupi, embora seja melhor expos-
tretanto é considerado como desenvolvido sobre to na porção supergênica do terreno. Os veios,
rochas originalmente associadas ao Cinturão Gu- alguns com direção N70°W, possuem espessura
rupi, representando a ocorrência uma janela des- entre 30 cm e 2 m e formam zonas mineralizada
se cinturão (Carvalho et al. 2004). de até 80 m de largura, sem que se conheçam as
O depósito de Cansa Perna localiza-se imedia- outras dimensões. A composição mineralógica é
tamente a norte da cidade de Cachoeira do Piriá e variada em diferentes jazimentos: veios e brechas
ocupa o topo de uma elevação de orientação nor- de quartzo e crandalita fibro-radiada; vênulas de
te-sul. Nesse depósito, Costa (1978) identificou wavelita; variscita (Oliveira 1977, Costa 1985, Klein
quatro níveis, da base para o topo, fundamentan- & Lopes, inédito).
do-se em características mineralógicas e texturais. A origem hidrotermal do fosfato é atribuída à
O nível D, basal, corresponde a metassiltitos e fili- remobilização pós-diagenética de fosfato sedimen-
tos (Grupo Gurupi ou Formação Chega Tudo?). O tar. Oliveira (1977), mediante o controle estrati-
nível C é composto por solos de coloração varie- gráfico da crandalita, considerou a origem dos fos-
gada oriundos da alteração do nível subjacente, fatos por alteração de apatita sedimentar supos-
com o qual mostra contato gradacional, e já con- tamente presente nos metamorfitos do Grupo Gu-

210
Evandro L. Klein

rupi. Os veios e brechas seriam produtos de re- des geotectônicas com evolução principal no Pa-
mobilização por tectonismo. Costa (1985) sugere leoproterozóico e Neoproterozóico, respectivamen-
adsorção do fósforo em argilo-minerais e matéria te. Ambas apresentam o ouro como principal re-
orgânica durante sedimentação e cristalização curso mineral conhecido, seguido de fosfato. Os
como wavelita e variscita na diagênese, os quais, depósitos de ouro, em sua maioria, apresentam
por metamorfismo seriam solubilizados e cristali- características geológicas e genéticas consisten-
zariam em veios hidrotermais de quartzo como tes com as da classe de depósitos orogênicos. Su-
crandalita, wavelita e variscita. bordinadamente ocorre ouro em paleoplacer, além
de depósitos supergênicos e aluvionares. Os de-
SUMÁRIO CONCLUSIVO pósitos de fosfato aluminoso são predominante-
mente supergênicos, gerados a partir de rochas
Cráton São Luís e Cinturão Gurupi são unida- metavulcanossedimentares originalmente ricas em

Figura 13 – Seção esquemática sem escala da evolução geodinâmica do Cráton São Luís e da porção
paleoproterozóica do Cinturão Gurupi durante a orogenia paleoproterozóica (vide também a Fig. 2), localização
e modelo de geração dos depósitos de ouro orogênicos. (A) fase acrescionária: formação de arcos de ilhas
intraoceânicos, subducção, magmatismo cálcico-alcalino e retrabalhamento constante do arco; (B) fase
colisional: acresção de terrenos juvenis a um suposto bloco arqueano, espessamento crustal, metamorfismo
e magmatismo peraluminoso; (C) tectônica transcorrente e mineralização aurífera; (D) detalhe da porção
mineralizada do Cinturão Gurupi mostrando a posição dos depósitos Chega Tudo e Cipoeiro e possíveis
fontes e trajetórias de fluidos e solutos (modificado de Klein et al. 2008c).

211
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras - Cráton São Luiz e Cinturão Gurupi

fósforo. Depósitos de fosfato hidrotermal (sedimen- sília.


Azevedo L. 2003. Mapeamento geológico nos arredo-
tar remobilizado) são subordinados. res da vila de Baixinhos, região do Gurupi, nordes-
São caracterizadas pelo menos três épocas me- te do Pará. Trabalho de Graduação. Instituto de Ge-
ociências, Universidade Federal de Minas Gerais, 100
talogenéticas. A primeira é de idade paleoprote-
p.
rozóica e foi responsável pela geração dos depó- Bettencourt J.S., Borges W.R., Koritiake M. 1991. The
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trabalhada da borda do cráton (Fig. 13). Não há Gold’91. pp. 203-208, Balkema.
Clark J.L. & Stone B.G. 2009. Technical Review of Mi-
dado conclusivo sobre a idade absoluta desta épo-
neral Resources of the Gurupi Gold Project, Mara-
ca, havendo pelo menos um depósito (Caxias) for- nhão State, Brazil. Prepared for Jaguar Mining, Inc.
mado após 1985 Ma. Considerando o caráter pós- December 4, 2009. 100511. Disponível em http://
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Carvalho J.M.A., Macambira E.M.B., Viglio E.P., Klein E.L.,
tenso magmatismo peraluminoso, ocorreu entre Costa E.J.S., Barbosa. J.P.O., Rosa-Costa L.T., Vas-
2100-2080 Ma, esse período baliza a idade máxima quez M.L., Rezende N.G.A.M., Araujo O.J.B., Ricci
para o evento. Provavelmente nessa mesma época P.S.F., Rodrigues J.L.B., Jorge-João X.S. 2004. Pro-
grama Nacional de Distritos Mineiros. Distritos Mi-
metalogenética se deu a formação dos depósitos neiros do Estado do Pará. Belém, DNPM/CPRM (Iné-
em paleoplacer da Formação Igarapé de Areia. dito).
Costa J.L. 2000, Programa Levantamentos Geológicos
A segunda época é de idade Neoproterozóica. Básicos do Brasil. Programa Grande Carajás. Cas-
Não há certeza quanto à intensidade dos eventos tanhal, Folha SA.23-V-C. Estado do Pará. Belém,
nessa época, nem quanto à idade absoluta da mes- CPRM (CD-ROM).
Costa M.L. 1978. Geologia, mineralogia, geoquímica e
ma, que está registrada, pelo menos, no depósito gênese dos fosfatos de Jandiá, Cansa Perna e Ita-
de Cachoeira. Também o metamorfismo e defor- cupim no Pará e Trauira e Pirocaua no Maranhão.
Tese de Mestrado, IG/UFPA.
mação, ocorridos entre 624 e 549 Ma, parecem Costa M.L. 1985. Petrologia e geoquímica dos xistos
balizar a época da mineralização (remobilização?) carbonosos de Santa Luzia (Ourém-PA). In: SBG,
Simpósio de Geologia da Amazônia, 2, Belém, Anais,
aurífera, incluindo também a formação dos depó-
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nam os depósitos de fosfatos aluminosos. try and physicochemical conditions of gold minera-
lization in the Paleoproterozoic Caxias deposit, São
Luís Craton, northern Brazil. Geochim. Brasiliensis,
Agradecimentos Aos editores pelo convite à re-
14:219-232.
dação desta síntese. Diversos pesquisadores têm Klein E.L., Fuzikawa K., Koppe J.C. 2000. Fluid inclusion
colaborado ao longo de uma década para o avan- studies on Caxias and Areal gold mineralizations,
São Luís Craton, northern Brazil. Jour. Geochem.
ço do conhecimento geológico e metalogenético Explor., 71:51-72.
do Cráton São Luís e do Cinturão Gurupi e sua Klein E.L. & Lopes E.C.S. 2009. Formação Igarapé de
Areia: Tarkwa no Cinturão Gurupi? In: SBG, Sim-
contribuição, materializada em várias publicações,
pósio Brasileiro de Metalogenia, 2, Resumos (CD-
é reconhecida. Ao CNPq pela Bolsa de Produtivi- ROM).
dade em Pesquisa ao autor (processo 306723/ Klein E.L. & Lopes E.C.S. 2010. Geologia e recursos
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Régis Munhoz Krás Borges et al.

METALOGÊNESE DA PROVÍNCIA TAPAJÓS-PARIMA:


DOMÍNIOS PARIMA, UAIMIRI E K´MUDKU

RÉGIS MUNHOZ KRÁS BORGES1, ANA MARIA DREHER2, MARCELO ESTEVES ALMEIDA3,
HILTON TULIO COSTI4, NELSON JOAQUIM REIS3 & JOÃO BATISTA FREITAS DE ANDRADE2

1 - Instituto de Geociências, Universidade Federal do Pará, Rua Augusto Corrêa, 01, Guamá, CEP 66075-110,
Belém, PA. E-mail: munhoz@ufpa.br.
2 - CPRM – Serviço Geológico do Brasil, Av. Pasteur, 404, Urca, CEP 22290-240, Rio de Janeiro, RJ. E-mail:
amdreher@rj.cprm.gov.br, jfreitas@rj.cprm.gov.br
3 - CPRM - Serviço Geológico do Brasil, Av. André Araújo, 2160, Aleixo, CEP 69060-000, Manaus, AM. E-mail:
marcelo_almeida@ma.cprm.gov.br, reis@ma.cprm.gov.br
4 - Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), Av. Perimetral, 1901, Terra Firme, CEP 66077-830, Belém, PA.
E-mail: tulio@museu-goeldi.br.

INTRODUÇÃO DOMÍNIOS PARIMA E SURUMU (OU PARIMA)

A Província Tapajós-Parima (Santos et al. 2000, O Domínio Parima, na concepção de Reis et al.
2006a), originalmente definida como Ventuari-Ta- (2003), está localizado no noroeste de Roraima
pajós (e.g. Tassinari & Macambira 1999, 2004), foi (Fig.1) e possui uma forte estruturação NW-SE a
compartimentada no Escudo das Guianas pelos E-W, relacionada a um megassistema transpressi-
domínios Parima, Uaimiri e K´Mudku, os quais cor- vo sinistral. A região é constituída por um terreno
respondem a grosso modo aos domínios litoes- de embasamento paleoproterozóico formado pelo
truturais propostos por Reis et al. (2003), denomi- Complexo Urariquera (2,04 Ga; anfibolitos e or-
nados de Parima e Urariquera, Anauá-Jatapu e tognaisses TTG) e pelo Grupo Parima (1,97-1,94
Guiana Central, respectivamente. Posteriormente Ga; rochas paraderivadas e metabasaltos subor-
os domínios Urariquera e Anauá-Jatapu foram re- dinados), representando, respectivamente, um
nomeados para Surumu e Uatumã-Anauá (CPRM sistema de arco magmático e bacias relacionadas.
2006), respectivamente. O Grupo Parima está metamorfizado na fácies xis-
A Província Tapajós-Parima tem sua evolução to verde, localmente atingindo a fácies anfibolito,
geodinâmica baseada em pelo menos um sistema e é o provável hospedeiro dos mais importantes
de arcos magmáticos. O primeiro estágio diz res- depósitos de ouro do Escudo das Guianas. A rele-
peito à formação de um orógeno acrescionário re- vância destes depósitos proporcionou a denomi-
lacionado ao sistema de arcos Anauá-Trairão e nação de “Província Mineral Parima” à região, que
Cuiú-Cuiú (2,03-2,04 Ga), associados a bacias do atraiu mais de uma centena de frentes de garim-
tipo back-arc (e.g. Cauarane, Parima e Jacareacan- po no início dos anos 90. O terreno Parima é intru-
ga). Num segundo e subseqüente estágio, a fase dido por uma série de corpos graníticos (Almeida
acrescionária dá lugar a um orógeno tardi a pós- et al. 2003), dentre eles os granitos da Suíte Su-
colisional, (1,99-1,94 Ga; e.g. Vasquez et al. 2002; rucucus, portadores de ocorrências significativas
Fraga et al. 2009) ou a um novo sistema de arcos de cassiterita (Pinheiro et al. 1981).
magmáticos (Santos et al. 2004). Para o magma- O Domínio Surumu está localizado na região
tismo compreendido entre 1,90-1,87 Ga é admiti- nor-nordeste de Roraima (Fig. 1) e apresenta um
da uma evolução por underplating (slab break off?; importante arranjo de lineamentos E-W a WNW-
Almeida 2006; Lamarão et al. 2002) ou ainda a um ESE e NW-SE, onde predominam granitos (1,98 Ga;
último sistema de arcos magmáticos (Santos et al. Suíte Pedra Pintada) e vulcanitos cálcio-alcalinos
2004). (1,98-1,96 Ga; Grupo Surumu) estruturalmente

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Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Província Tapajós-Parima: domínios Parima, Uaimiri e
K´Mudku

Figura 1 - Províncias Geocronológicas do Cráton Amazonas segundo a concepção de Santos et al. (2006). A
Província Tapajós-Parima apresenta-se compartimentada em seis domínios estruturais: 1. Parima; 2. Surumu;
3. Guiana Central; 4; Uatumã-Anauá (Uaimiri); 5. Tapajós e 6. Peixoto de Azevedo.

controlados, bem como extensa cobertura sedi- et al. 2002, 2007), ambos intrudindo inliers do
mentar do Supergrupo Roraima (1,96-1,87 Ga) jun- embasamento mais antigo, representados pelo
to à fronteira com a Guiana e Venezuela. No domí- Complexo Anauá (2,04 Ga; associação tipo TTG) e
nio Surumu também ocorrem rochas metassedi- pelo Grupo Uai-Uai (bacias relacionadas a arco).
mentares na fácies granulito (Grupo Cauarane), Dos tipos foliados destacam-se os metagranitói-
já no limite com o domínio Parima. Corpos plutôni- des Martins Pereira (1,97 Ga; tipo-I, cálcio-alcali-
cos máfico-ultramáficos (Uraricaá-Igarapé Tomás), no de alto-K) e Serra Dourada (1,96 Ga; tipo-S).
diques máficos (Avanavero), lamprófiros (Serra do Na parte sul dominam granitóides isótropos a pou-
Cupim), vulcânicas ácidas (Cachoeira da Ilha) e co deformados das Suítes Água Branca e Igarapé
granitos do tipo A (Suíte Aricamã) compõem o res- Azul (1,89-1,90 Ga; cálcio-alcalinos de alto-K), além
tante das unidades dessa região (CPRM 2010). No de vulcanismo cogenético e contemporâneo atri-
Domínio Surumu merecem ser abordadas as ocor- buido ao Grupo Iricoumé (CPRM 2000, 2003, Reis
rências de ouro da região do rio Uraricaá e furo de et al. 2000, Macambira et al. 2002, Almeida 2006).
Santa Rosa (e.g. garimpo Santa Rosa), e as ocor- Além desse magmatismo cálcio-alcalino, o Domí-
rências de diamante e ouro associadas ao Super- nio Uatumã-Anauá (em especial o setor sul) apre-
grupo Roraima e Formação Trincheira (e.g. serra senta abundantes intrusões de granitóides do tipo
Tepequém e garimpos dos rios Maú, Cotingo, Qui- A (Granito Moderna) correlacionados ao magma-
nô e Suapi; Reis & Pinheiro 2004). tismo Madeira-Água Boa (~1,81 Ga) e Abonari-
Mapuera (~1,87 Ga) (CPRM 2003).
DOMÍNIO UATUMÃ-ANAUÁ (OU UAIMIRI) Com relação ao potencial mineral, o Domínio
Uatumã-Anauá em Roraima contêm ocorrências de
Este domínio está localizado no sudeste de ouro associadas aos metagranitos da Suíte Mar-
Roraima (Fig. 1) e é caracterizado por um amplo tins Pereira (Garimpo) e de columbita-tantalita em
predomínio de granitóides que variam de tipos aluviões sobre o Granito Igarapé Azul. Também é
foliados a norte até tipos isótropos a sul (Almeida digna de nota a ametista em veios e pegmatitos

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Régis Munhoz Krás Borges et al.

do Granito Moderna (Almeida & Macambira 2007). da, a região da serra Parima, no extremo noroes-
No Estado do Amazonas merece destaque a Pro- te de Roraima (Fig. 1), é conhecida pelas inúme-
víncia Polimetálica do Pitinga, considerada o mai- ras ocorrências de ouro e cassiterita aluvionares
or depósito de estanho do mundo (associado com (Pinheiro et al. 1981), tendo sido palco de intensa
ETR, Nb-Ta, Y), sendo objeto de exploração desde atividade garimpeira entre 1987 e 1991. Em 1992
a década de 80 (e.g. Costi et al. 2000). a região foi declarada parte da reserva indígena
Ianomâmi e os trabalhos de exploração tiveram
DOMÍNIO GUIANA CENTRAL (OU K´MUDKU) que ser desativados. Praticamente todos os tra-
balhos geológicos desenvolvidos na área (Pinhei-
O Domínio Guiana Central ocupa a porção cen- ro et al. 1981, Reis et al. 1994, Nunes et al. 1994,
tro-norte de Roraima (Fig. 1) e mantém correspon- Pinheiro & Reis 1994) consideram o Grupo Parima
dência com o Cinturão Guiana Central previamen- como a principal fonte do ouro aluvionar encon-
te estabelecido por Kroonenberg (1976) e Costa trado naquela região. A cassiterita seria, por sua
et al. (1991). O domínio que se prolonga para nor- vez, proveniente dos granitos da Suíte Surucucus
deste (através da Guiana e Suriname), mantendo (ver item seguinte).
limites para sudoeste com o Domínio Imeri (CPRM O Grupo Parima constitui um cinturão paleopro-
2006) no âmbito do estado do Amazonas. A ex- terozóico, de direção NW a WNW, formado princi-
tensão do domínio para norte e sul está em gran- palmente por rochas de grau metamórfico baixo,
de parte encoberta por sedimentos cenozóicos ou como xistos, filitos e quartzitos. Rochas como an-
obliterada por intrusões graníticas (Reis et al. fibolitos e metapiroxenitos foram também incluí-
2003). Seus lineamentos estruturais, dominante- das na unidade, que, de acordo com Pinheiro et al.
mente NE-SW a ENE-WNW, articulam a Faixa (1981), representaria um conjunto vulcanossedi-
K´Mudku de Santos et al. (2000, 2006b). No inte- mentar, do tipo greenstone belt, de fácies xisto-
rior da Província Tapajós-Parima ocorrem ortog- verde a anfibolito. Entretanto, Reis et al. (1994) e
naisses, granitos e granulitos de idades variadas Nunes et al. (1994), em estudos feitos na parte
pertencentes às suítes Rio Urubu e Serra da Pra- sul da serra Parima, nas regiões dos rios Uatatás
ta (1,96-1,93 Ga; 1,89 Ga; 1,72 Ga; Gaudette et e cabeceiras do rio Mucajaí, observaram um am-
al. 1996, Fraga 2002, Almeida et al. 2008), e nas plo domínio de protólitos pelíticos de baixo grau,
rochas supracrustais de alto grau do Grupo Caua- possivelmente de natureza turbidítica, sobre as
rane (2,04-1,97 Ga). O domínio registra ainda uma litologias vulcânicas, indicando que, ao menos
associação AMG mesoproterozóica (1,55-1,52 Ga; nestas áreas, o Grupo Parima seria constituído por
Fraga et al. 1997, Fraga 2002) composta por gra- uma seqüência dominantemente sedimentar, de
nitos rapakivi, e mangeritos da Suíte Mucajaí e fácies xisto-verde. As datações disponíveis para o
anortositos e gabros do Anortosito Repartimento. Grupo Parima são de um metandesito, com 1949
Eventos magmáticos mesozóicos comprendem in- ± 6 Ma, e de zircões detríticos de um metarenito,
trusões e derrames máficos (Taiano e Apoteri, Reis com 1971 ± 9 Ma (Santos et al. 2003). Uma corre-
et al. 2008) e stocks alcalinos (Suíte Alcalina Api- lação entre os grupos Parima e Cauarane, que aflo-
aú, Brandão & Freitas 1994). Os corpos alcalinos ra na região mais central de Roraima, foi proposta
das regiões do rio Apiaú e serra Repartimento são por diversos autores (e.g. Pinheiro & Reis 1994,
responsáveis pelas principais ocorrências de fos- Gaudette et al. 1996, CPRM 1999). Mas, embora
fato magmatogênico deste setor brasileiro do Es- também constituído por metassupracrustais prin-
cudo das Guianas. cipalmente sedimentares, o Grupo Cauarane pos-
sui idade mais antiga (1995 ± 4 Ma, CPRM 2010) e
PRINCIPAIS METALOTECTOS DA PROVÍNCIA grau metamórfico elevado, com migmatitos e gra-
TAPAJÓS-PARIMA nitos do tipo S associados, e não registra ocor-
rências significativas de ouro em seus domínios.
Domínios Parima e Surumu (ou Parima) No Grupo Parima, concentrações de 7,5 a 150
ppm de ouro, obtidas por Reis et al. (1994) em
OURO ALUVIONAR DA REGIÃO DA SERRA PARIMA aluviões do rio Uatatás que corta a seqüência
metapelítica, e teores de até 1000 ppm, verifica-
Embora geologicamente muito pouco investiga- dos por Nunes et al. (1994) a partir de amostras

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Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Província Tapajós-Parima: domínios Parima, Uaimiri e
K´Mudku

de rocha e saprólito de rochas metassedimenta- gião, a presença de abundante fluorita nos grani-
res do alto rio Mucajaí, podem dar uma idéia do tos aliada aos teores relativamente elevados de
potencial aurífero da unidade. Sn, F, Be, Mo, La, Pb, Nb, Rb, Y e Zr detectados em
Não se conhecem ocorrências de ouro primário análises litogeoquímicas (Pinheiro et al. 1981), tam-
no Grupo Parima, mas é bastante provável que o bém indicam que os granitos Surucucus são esta-
ouro seja proveniente de depósitos mesotermais níferos. A mineralização deve estar relacionada a
ou orogênicos, que de modo geral se associam a corpos de greisen ou veios, que tipicamente se
cinturões de supracrustais regionalmente defor- concentram nas porções apicais destes granitos
madas e metamorfisadas (Goldfarb et al. 2005). O (Czerný et al. 2005).
quadro geológico, por sua vez, sugere, mais es- Outros granitos rapakivi com potencial para
pecificamente, a modalidade de depósito meso- conter mineralizações de estanho são os granitos
termal conhecida como turbidite-hosted gold (Boy- da Suíte Aricamã (1986 ± 4 Ma, CPRM 2010) situa-
le 1986), que ocorre na forma de stockworks, dis- do a leste da serra Tepequém, no Domínio Suru-
seminações e veios de quartzo, em rochas metas- mu, e o granito Mucajaí (1544 ± 42 Ma, Gaudette
sedimentares de baixo grau metamórfico. et al. 1996) associado a anortositos e mangeritos
(Fraga 2000) e situado na região central de Rora-
CASSITERITA ALUVIONAR PROVENIENTE DOS ima, no Domínio Guiana Central (ou Faixa K’Mudku).
GRANITOS DA SUÍTE SURUCUCUS
OURO PRIMÁRIO E ALUVIONAR DA REGIÃO DOS RIOS
A cassiterita da serra das Surucucus, situada URARICAÁ E FURO DE SANTA ROSA
na parte noroeste de Roraima, junto à fronteira
Brasil-Venezuela (Fig. 1), foi explorada por garim- Diversas frentes de garimpo de ouro foram im-
peiros entre 1975 e 1976 e pesquisada posterior- plantadas nos anos 1979-1982 na região centro-
mente, entre 1978 e 1979, pela Docegeo. A área norte de Roraima, ao longo da bacia de drenagem
pertence, desde 1992, à reserva indígena Iano- do rio Uraricaá (baixo curso) e no leito do furo de
mâmi, com acesso vetado a mineradores e técni- Santa Rosa, Rio Urariquera (D’Antona & Borges
cos. Os únicos dados de produção existentes in- 1982, 1983) (Fig. 1).
dicam que cerca de 563 t de cassiterita foram re- A área explorada do rio Uraricaá estendia-se
cuperadas em garimpos da serra de 1975 a 1976 por cerca de 50 km, desde a foz do rio até próxi-
(Pinheiro et al. 1981). mo do igarapé Xanapoquiame, dentro da atual
A cassiterita é oriunda dos granitos da Suíte reserva indígena Ianomâmi. As drenagens nesta
Surucucus (Pinheiro et al. 1981), que afloram sob região cortam terrenos de rochas variadas, como
a forma de batólitos e stocks, alguns circulares, granitos das suítes Aricamã e Pedra Pintada, ro-
intrusivos no Complexo Urariquera. As rochas da chas máfico-ultramáficas da Suíte Uraricaá, e prin-
suíte compreendem principalmente feldspato al- cipalmente vulcânicas ácidas e intermediárias do
calino granitos e sienogranitos, parte dos quais Grupo Surumu. No trecho mencionado, o rio Urari-
porfiríticos, exibindo texturas rapakivi. Quartzo si- caá encaixa-se dentro de uma importante zona
enitos, monzogranitos e greisens também foram de transcorrência sinistral, de direção N60W, a qual
registrados, sendo a fluorita um acessório fre- provavelmente controlou a colocação dos grani-
quente em todas as variedades. Os granitos da tos da Suíte Aricamã e das rochas máfico-ultramá-
Suíte Surucucus classificam-se quimicamente como ficas da Suíte Uraricaá, que constituem corpos alon-
rochas do tipo A, de contexto intra-placas, e per- gados e alinhados segundo esta faixa. As vulcâni-
tencem ao grupo dos granitos rapakivi do Cráton cas ao longo desta zona estão foliadas e forte-
Amazônico (Dall’Agnol et al. 1999). Idades meso- mente alteradas (silicificadas, sericitizadas, epido-
proterozóicas, em torno de 1500 Ma, foram deter- tizadas e carbonatizadas, CPRM 1999) e os grani-
minadas para a suíte (Basei 1975, Santos & Reis tos estão parcialmente milonitizados, atravessa-
Neto 1982), prevalecendo a idade de 1551 ± 5 Ma dos por veios e vênulas de quartzo, e entrecorta-
(SHRIMP, Santos et al 1999), obtida em zircões dos por microfraturas preenchidas por biotita es-
detríticos de conglomerados derivados dos grani- verdeada fina, sericita e raros sulfetos limonitiza-
tos da serra. dos. Estas feições sugerem uma deformação e hi-
Além da cassiterita detrítica encontrada na re- drotermalismo superimpostos, sob condições rúp-

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Régis Munhoz Krás Borges et al.

teis a dúcteis, talvez refletindo uma reativação das norte de Roraima (Fig. 1), o diamante foi encon-
antigas falhas. Em algumas frentes de trabalho, trado em 1937, em aluviões do Igarapé Cabo So-
havia ouro primário contido nos veios de quartzo bral e, mais subordinadamente, do Igarapé Pai-
e granitóides, que eram moídos e bateados pelos va. Nesta região, o ouro passou a ser um subpro-
garimpeiros. As aluviões da área, em sua maior duto do diamante somente a partir de 1980, quan-
parte, recobrem ou aparentemente derivam de do a exploração tornou-se semi-mecanizada (Bor-
rochas vulcânicas, sugerindo que o ouro possa ter ges & D’Antona 1988). Atualmente, os depósitos
tido uma fonte primordial relacionada a estas ro- do Tepequém encontram-se praticamente exauri-
chas. Os processos mais tardios, que produziram dos. Uma terceira área de garimpo de diamante
a foliação e alterações nas vulcânicas e a milonti- em Roraima corresponde à região do rio Surubai,
zação, as venulações e as alterações nos grani- localizada a oeste da serra Tepequém, próximo à
tos, podem ter, por sua vez, remobilizado e recon- fronteira com a Venezuela, no alto rio Uraricaá
centrado o ouro ao longo da zona de cisalhamen- (Souza 2006).
to onde se encaixa o rio Uraricaá. Dados de D’Antona & Borges (1983) indicam que
No furo de Santa Rosa, no chamado Garimpo Roraima produziu, entre 1943 e 1965, um total de
Santa Rosa, o ouro explorado era essencialmente 140.000 quilates de diamante, sendo o garimpo
aluvionar, recuperado do leito ativo do rio, e pro- do Tepequém responsável pela maior parte desta
vavelmente oriundo da região do rio Uraricaá, que produção. Durante o ano de 1982, por exemplo, a
desagua no furo de Santa Rosa. Dados disponí- produção na serra Tepequém foi de 27.650 quila-
veis sobre este garimpo mostram que os teores tes de diamante e de 38 kg de Au. Já no nordeste
nos cascalhos explorados no início dos anos 80 de Roraima, foram recuperados cerca de 12.600
oscilavam entre 2 e 15 g/m3 de Au, geralmente de quilates de diamante e cerca de 102 kg de Au du-
3 a 10 g/m3. A produção estimada, de janeiro a rante os primeiros 7 meses do ano de 1982.
julho de 1981, foi de cerca de 114 kg de ouro Tanto o diamante como o ouro são tidos como
(D’Antona & Borges 1982), e durante todo o ano derivados sobretudo da desagregação dos con-
de 1982, de cerca de 162 kg do metal (D’Antona & glomerados oligomíticos, ricos em seixos de quart-
Borges 1983). zo e depositados em ambiente fluvial da unidade
basal do Supergrupo Roraima (CPRM 1999), de-
DIAMANTE E OURO ALUVIONARES ASSOCIADOS AO signada de Formação Tepequém na serra homôni-
SUPERGRUPO RORAIMA ma, e de Formação Arai no restante do Estado.
Nestas rochas o diamante, o ouro e outros com-
O diamante foi descoberto por volta de 1912 nas ponentes detríticos pesados, como zircão, rutilo e
aluviões do igarapé Urucá, região da vila Uiramu- ilmenita, constituiriam concentrações comparáveis
tã, alguns quilômetros a oeste da fronteira com a às dos paleoplaceres auríferos do depósito neo-
República Cooperativista da Guiana (ex-Inglesa), arqueano de Witwatersrand, na África do Sul, e
na região nordeste de Roraima (Fig. 1). Estes rios de outros depósitos proterozóicos igualmente as-
drenam rochas sedimentares do Supergrupo Ro- sociados a conglomerados, como os da Serra de
raima e formaram depósitos aluvionares que fo- Jacobina, na Bahia, e os depósitos de Tarkwa, em
ram intensamente explorados para diamante e Ghana (Frimmel et al. 2005).
ouro (este último a partir dos anos 70), manual- No Supergrupo Roraima foram datados cristais
mente e por meio de lavra semi-mecanizada, até detríticos de zircão (Santos et al. 2003) que indi-
os anos 90. Os depósitos trabalhados desta re- cam rochas-fonte de 1,96 Ga ou mais antigas, per-
gião pertencem tanto ao leito ativo dos rios, como tencentes ao embasamento da bacia. Uma data-
a elúvios, a depósitos sub-recentes (quaternári- ção de 1901 ± 1 Ma, obtida em zircão de um tufo
os) ou ainda a terraços aluvionares mais antigos, sobreposto a um conglomerado, é provavelmente
atribuídos à Formação Trincheira, do Eoceno (Reis a idade disponível mais próxima daquela dos con-
et al. 1985). Nos dias atuais, somente alguns ga- glomerados auridiamantíferos do Supergrupo Ro-
rimpos no rio Maú, na fronteira com a Guiana, per- raima (Frimmel et al. 2005). De acordo com Dar-
manecem ainda em atividade. denne & Schobbenhaus (2001), os diamantes en-
Na serra Tepequém, que representa um teste- contrados no Supergrupo Roraima não são acom-
munho isolado do Supergrupo Roraima na parte panhados por minerais indicadores de kimberlitos,

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Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Província Tapajós-Parima: domínios Parima, Uaimiri e
K´Mudku

o que sugere que os sedimentos passaram por vionar também tem sua presença comprovada em
sucessivos ciclos de retrabalhamento. alguns aluviões assentados sobre os metagrani-
tóides da Suíte Martins Pereira na área de interfe-
Domínio Uatumã-Anauá (ou Uaimiri) rência do Garimpo Anauá, tendo sido objeto de
exploração até o início deste século.
OCORRÊNCIAS ALUVIONARES DE COLUMBITA-TAN-
TALITA DA BACIA DOS RIOS IGARAPÉ AZUL E SARA- DEPÓSITOS DE ESTANHO E CRIOLITA DA
MANDAIA E DE AMETISTA NA REGIÃO DA VILA MO- PROVÍNCIA PITINGA
DERNA (SUDESTE DE RORAIMA)
Dados históricos, reservas, teores e localização
Na parte sul do Domínio Uatumã-Anauá, vários
indícios e ocorrências de columbita-tantalita (CPRM A Província Pitinga, situada no nordeste do es-
2000) são descritas na área de influência do Gra- tado do Amazonas (Fig. 2a), é a maior produtora
nito Igarapé Azul, mais precisamente na sua fáci- de estanho do Brasil. Coube a Veiga Jr. et al. (1979)
es de núcleo, caracterizada pela maior incidência a descoberta dos primeiros indícios de cassiterita
de pegmatitos e mais raramente de greisens (Al- na região do rio Pitinga, mais tarde denominada
meida & Macambira, 2008). As principais ocorrên- de Província Estanífera Mapuera por Souza (1982).
cias estão hospedadas nos níveis conglomeráti- Seus ricos depósitos aluvionares, hoje exauri-
cos das aluviões distribuídas na bacia do Igarapé dos, foram intensamente explotados durante as
Azul, principalmente nas zonas de cabeceira das décadas de 1980 e 1990. Em 1983, geólogos da
drenagens. Estes níveis conglomeráticos apresen- Paranapanema S.A. descobriram o depósito Ma-
tam em média espessura de 50 cm e largura de deira, associado com o albita granito do pluton
até 3 m, e os fragmentos de columbira-tantalita Madeira. Ele é um depósito classe mundial, com
identificados apresentam tamanho variando de 0,2 164 milhões de toneladas de minério disseminado
cm a 8 cm e formas angulosas a subarredonda- com um teor de 0,17% de Sn (cassiterita). Nióbio
das, indicando proximidade com a mineralização e tântalo são explotados como subprodutos. Além
primária (Almeida & Macambira 2008). disso, F (criolita), Y e ETR (xenotima e gagarinita-
Cerca de 25 km a nordeste dessa área, mais (Y)), Zr e U (zircão), Th (torita) e Li (polilitionita)
precisamente na região da vila Moderna, são des- são também considerados como subprodutos em
critos cristais de ametista na forma de veios regu- potencial do minério disseminado (Bastos Neto et
lares, pegmatitos ou como estruturas do tipo sto- al. 2009). Na porção central do albita granito, há
ckwork hospedados no Granito Moderna (Almeida um depósito de criolita maciça com uma reserva
& Macambira 2008). Segundo a CPRM (2000) a de 10 milhões de toneladas a um teor de 31,9%
ametista é de possível origem epitermal, tendo sido de Na3AlF6. A espessa cobertura saprolítica do al-
garimpada durante 5 anos, atualmente abando- bita granito (minério intemperizado) começou a ser
nada. lavrada em 1989. A produção acumulada da mina,
entre 1982 e 2008, foi de 283.150 toneladas de
OURO ALUVIONAR DA REGIÃO DO GARIMPO ANAUÁ Sn. Neste período, também foram produzidos con-
(SUDESTE DE RORAIMA) centrados de Nb e Ta e ligas de Nb-Ta.

Na parte norte do Domínio Uatumã-Anauá, a Rochas encaixantes imediatas e hospedeiras


mineralização primária de ouro descrita no Garim-
po Anauá está relacionada a veios de quartzo as- Os depósitos minerais polimetálicos da mina
sociados a zonas de cisalhamento de alto strain Pitinga estão hospedados em dois plutons graní-
(Faria et al. 1996), cuja hospedeira é um biotita ticos altamente fracionados, tipo-A, denominados
metagranito cálcio-alcalino com idade de 1972 Ma Madeira (Costi 2000, Minuzzi 2005) e Água Boa
(CPRM 2003), vinculado à Suíte Martins Pereira (Lenharo 1998). Os corpos mineralizados a cassi-
(Almeida & Macambira, 2008). A rocha hospedeira terita magmática, criolita, pirocloro, columbita e
nestas zonas de cisalhamento s está profunda- zircão estão associados à fácies albita-granito do
mente hidrotermalizada, representada por proces- pluton Madeira (Costi et al. 2005, 2009; Bastos
sos de muscovitização e turmalinização. Ouro alu- Neto et al. 2005, 2009), enquanto depósitos esta-

220
Régis Munhoz Krás Borges et al.

Figura 2. (A) - Mapa de localização e acesso da Província Pitinga. (B) - Mapa geológico esquemático da mina
Pitinga, com o destaque para as áreas de ocorrência das mineralizações hidrotermais de Sn (modificado de
Costi 2000).

níferos hidrotermais estão hospedados em grei- ordem de colocação, por biotita granito porfirítico,
sens (Borges 2002, Borges et al. 2003, 2009; Feio biotita granito equigranular a seriado, ambos me-
et al. 2007) e epissienitos sódicos (Costi et al. 2002) taluminosos a peraluminosos, e topázio granito
associados ao pluton Água Boa. porfirítico peraluminoso (Fig. 2b).
No pluton Madeira, as fácies precoces são anfi-
bólio-biotita granito porfirítico metaluminoso, lo- Idade das rochas encaixantes, hospedeiras
calmente com textura rapakivi, e biotita-feldspato e da mineralização
alcalino granito equigranular, peraluminoso (Fig.
2b). Ambas as fácies são intrudidas por um stock Costi et al. (2000) obtiveram idades 207Pb/206Pb
aproximadamente circular, com diâmetro de 2 km, por evaporação em zircão de 1824 ± 2 Ma e 1822
composto pelo feldspato alcalino granito hipersol- ± 2 Ma, respectivamente, para as fácies anfibólio-
vus porfirítico, metaluminoso, e albita granito sub- biotita sienogranito e biotita-álcali feldspato gra-
solvus. O albita granito, hospedeiro das minerali- nito do pluton Madeira. Por outro lado, em função
zações em Sn, apresenta duas subfácies (Fig. 2a). de evidências de interação apresentadas pelas
A predominante, denominada albita granito de suas fácies mais tardias, os autores concluiram que
núcleo, é de cor acinzentada e peralcalina, com- elas são contemporâneas e a idade 207Pb/206Pb por
posta essencialmente por albita, quartzo, felds- evaporação em zircão de 1818 ± 2 Ma, obtida para
pato potássico e, subordinadamente, por criolita, o álcali feldspato-granito hipersolvus porfirítico,
zircão, polilitionita, riebeckita, pirocloro, annita li- também é assumida como a idade de cristalização
tinífera, cassiterita e magnetita. O albita granito do albita granito. A idade de 1818 ± 2 Ma pode
de núcleo transiciona para rocha avermelhada, ser considerada, então, como a idade do depósi-
geoquimicamente peraluminosa, definida como al- to de cassiterita disseminada do albita granito. O
bita granito de borda, formado essencialmente por mesmo é válido para o depósito de criolita maciça
quartzo, feldspato potássico e albita, contendo, alojado nas porções mais centrais do stock.
ainda, fluorita, zircão, clorita, cassiterita, hemati- No plúton Água Boa, Lenharo (1998) obteve
ta e columbita. uma idade U-Pb em zircão (207Pb/206Pb SHRIMP II)
No Granito Água Boa a fácies precoce é anfibó- de 1798 ± 10 Ma na fácies anfibólio-biotita-álcali
lio-biotita-feldspato alcalino granito metalumino- feldspato granito e de 1815 ± 10 Ma (U-Pb SHRIMP
so, localmente com textura rapakivi, seguido, na II) em zircão da fácies topázio granito. Em micas

221
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Província Tapajós-Parima: domínios Parima, Uaimiri e
K´Mudku

de um greisen, a autora obteve uma idade Ar-Ar


de 1783 ± 5,2 Ma, a única disponível na literatura
para a mineralização estanífera hidrotermal asso-
ciada ao pluton Água Boa.

Ambiente geodinâmico

A evolução tectono-magmática da Província


Pitinga foi relacionada a um processo contínuo de
geração de granitóides cálcio-alcalinos, alcalinos
e peralcalinos, relacionados a ambientes de arcos
magmáticos e de caldeiras vulcânicas, associados
a regimes pós-colisional até anorogênico Dois epi-
sódios de geração de magmatismo alcalino foram
identificados na Província Pitinga. O primeiro (1,89–
1,88 Ga) gerou um magmatismo bimodal relacio-
nado à associação vulcano-plutônica Iricoumé-
Mapuera (Ferron et al. 2010), enquanto que o se-
gundo pulso magmático (1,82–1,81 Ga), de cará-
ter anorogênico, gerou os granitos alcalinos e
peralcalinos da Suíte Madeira (Costi et al. 2000),
responsáveis pela mineralização polimetálica da
mina Pitinga.

Descrição dos depósitos-modelo

DEPÓSITOS MAGMÁTICOS ASSOCIADOS AO PLUTON


MADEIRA

O principal depósito magmático associado ao


pluton Madeira é do tipo disseminado e corres-
ponde ao albita granito (Fig. 3a). O depósito con-
têm 164 milhões de toneladas a um teor de 0,17%
Figura 3 - (A) - Mapa geológico da fácies albita-grani-
de Sn, 0,20% de Nb2O5 e 0,024% de Ta2O5 (Bastos to do pluton Madeira (modificado de Minuzzi 2005).
Neto et al. 2009). (B) - Perfis esquemáticos ao longo da porção central
A mineralização de Sn apresenta característi- do albita-granito, mostrando os contatos com as fá-
cas muito semelhantes em ambas as fácies do al- cies precoces e a posição das zonas de criolita maci-
ça. A escala vertical é igual à horizontal (modificado
bita granito. O mineral de minério de Sn é a cassi- de Costi et al. 2000).
terita, que ocorre geralmente como cristais isola-
dos, subédricos e zonados (0,01–1,0 mm) (Fig. 4a). F ocorre como criolita (Na3AlF6) disseminada, com
Pirocloro magmático é o principal mineral de um volume de 150 milhões de toneladas a um teor
minério de Nb e Ta do albita granito de núcleo. Ele de 4,6%, enquanto que na fácies de borda a mi-
ocorre em cristais (0,07–0,4 mm) intersticiais à al- neralização ocorre como fluorita, secundária, e em
bita ou fases acessórias, ou incluso em quartzo e teores subeconômicos. A criolita tipo I, interpreta-
feldspato alcalino (Fig. 4b). Na fácies de borda, o da como magmática, ocorre em cristais subédri-
principal mineral de Nb é a columbita, originada a cos a arredondados (0,02–1,05 mm) em equilíbrio
partir da substituição do pirocloro magmático, cuja com zircão, albita e feldspato potássico, ou como
formação é atribuída aos processos autometas- inclusões ovais (0,04–0,30 mm) em fenocristais de
somáticos responsáveis pela geração do albita quartzo, formando a textura snowball (Fig. 4c). A
granito de borda (Costi et al. 2000). criolita tipo II, considerada hidrotermal, engloba
No albita granito de núcleo, a mineralização de total ou parcialmente zircão magmático (Fig. 4d) e

222
Régis Munhoz Krás Borges et al.

Figura 4 - Fotomicrografias de aspectos texturais dos minerais de minério dos depósitos magmáticos e
hidrotermais da Província Pitinga. Depósito de criolita maciça: (A) - cassiterita zonada; (B) - pirocloro em
contato retilíneo com o quartzo e reativo com a criolita II; (C) - fenocristal de quartzo contendo inclusões
concêntricas de criolita I; (D) - zircão com feições de corrosão pela criolita II; (E) - cristal de gagarinita-(Y)
inclusa em criolita. Greisens: (F) - cristais disseminados de cassiterita em greisen de alta temperatura; (G)
- cristal de cassiterita corroído por fengita em greisen de baixa temperatura. Epissienito sódico: (H) - agrega-
dos drusiformes de cassiterita preenchendo cavidade. Qz: quartzo; Crio: criolita; Cas: cassiterita; Zr: zircão;
Piro: pirocloro; Gaga: gagarinita-(Y); Top: topázio; Sid: siderofilita; Feng: fengita; MicB: mica branca; Clor:
clorita; F-K: feldspato potássico; Ab: albita. Fotomicrografias extraídas de: Minuzzi (2005) (a até e); Borges
(2002) (f, g); Costi et al. (2005) (h).

223
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Província Tapajós-Parima: domínios Parima, Uaimiri e
K´Mudku

pirocloro (Fig. 4b), gerando bordas de reação (Bas- ra máxima de 5 m (Borges 2002, Borges et al. 2003,
tos Neto et al. 2009). Feio et al. 2007).
O principal mineral de minério de Y e ETR em Os greisens de alta temperatura são pretos a
ambas as fácies é o xenotímio magmático, encon- cinza claros, de textura granular média e compos-
trado em cristais subédricos a euédricos (até 0,25 tos por quartzo, topázio, siderofilita e esfalerita,
mm). Em rochas pegmatíticas associadas à fácies acompanhados por quantidades variáveis de cas-
de núcleo, forma cristais de até 4,0 cm. siterita, pirita, calcopirita, zircão, fluorita, siderita
Na porção central do albita granito de núcleo e Nb-anatásio (Borges et al. 2003). A cassiterita
ocorre o depósito de criolita maciça (DCM), forma- ocorre disseminada, em cristais anédricos a subé-
do por veios e bolsões constituídos principalmen- dricos (> 1 mm), marrom avermelhados a incolo-
te por cristais de criolita (87% em volume) de até res (Fig. 4f). A cassiterita avermelhada apresenta
15 mm de diâmetro, e por cristais de quartzo, zir- baixos teores de Ti e Nb, enquanto a incolor é
cão e feldspatos com dimensão < 0,15 mm (13% quimicamente mais pura (Borges 2002).
em volume) homogeneamente distribuídos pelo Os greisens de baixa temperatura apresentam
corpo. Os corpos de minério ocorrem intercalados coloração verde acinzentada escura a verde cla-
com o albita-granito de núcleo e o álcali feldspato ra, textura granular média, e são constituídos es-
granito porfirítico hipersolvus (Fig. 3b), concentra- sencialmente por quartzo, fengita e clorita, com
dos nos níveis denominados Zona Criolítica A e teores subordinados de cassiterita, pirita, gale-
Zona Criolítica B (Bastos Neto et al. 2009; Costi et na, esfalerita, zircão, rutilo, berilo e fluorita. A cas-
al. 2009). siterita ocorre como agregados de cristais anédri-
Os mais altos teores de Y (0,7% Y2O3) no depó- cos ou subédricos (0,3–0,7 mm), vermelho-escu-
sito Madeira ocorrem nos corpos de criolita maciça ros a incolores, irregularmente zonados e segui-
próximos à base da Zona B. O mineral de minério damente corroídos (Fig. 4g).
é a gagarinita-(Y), que ocorre em cristais anédri- Os estudos de inclusões fluidas (IF) realizados
cos (0,5–6,8 mm) intersticiais à ou inclusas na cri- em cristais de quartzo, topázio e fluorita dos grei-
olita (Fig. 4e) (Bastos Neto et al. 2009). sens indicaram que dois fluidos principais foram
As inclusões fluidas em criolita do DCM apre- responsáveis pela sua formação: (1) um aquo-car-
sentam temperaturas de homogeneização entre bônico reduzido (CH4–H2O–NaCl– FeCl2 ± KCl), áci-
100º e 300ºC, correspondendo a resfriamento de do, rico em F, de baixa salinidade (4–12% em peso
400º a 100ºC. As variações refletem alterações de NaCl eq.) e relativamente quente (400°–350oC),
nas condições físico-químicas do fluido e não pro- aparentemente de origem ortomagmática e (2) um
cessos posteriores. Dois fluidos aquosos com sa- fluido aquoso (H2O–NaCl) de mais baixas salinida-
linidades distintas foram aprisionados durante a de (2–4% em peso de NaCl eq.) e temperatura
formação do DCM: um em torno de 5% e outro (200–150oC), de provável origem superficial (me-
acima de 10% em peso eq. NaCl. A inexistência de teórica?) (Borges et al. 2009). Foram aprisionados
IF supostamente magmáticas, com Th e salinida- sob condições de pressão inferior a 1 kbar, com-
de mais altas, em outros minerais como quartzo e patíveis com níveis crustais rasos, como admitido
fluorita, indica que este depósito é hidrotermal (Mi- historicamente para os granitos estaníferos de
nuzzi 2005). Pitinga.
Processos de separação de fases e mistura de
DEPÓSITOS HIDROTERMAIS ASSOCIADOS AO PLU- fluidos, além de gradientes de atividade de F e
TON ÁGUA BOA fugacidade de oxigênio, foram importantes na for-
mação dos diferentes greisens. Eles não somente
Greisens controlaram as mudanças composicionais dos flui-
dos, mas também causaram a precipitação de cas-
Os greisens foram detectados em subsuperfí- siterita e de sulfetos.
cie e estão associados a praticamente todas as
fácies do pluton Água Boa (Fig. 2b). Ocorrem in- Epissienitos Sódicos
terdigitados com granitos greisenizados e/ou ro-
chas hidrotermalizadas em zonas rúpteis, forman- Os epissienitos sódicos também foram detec-
do níveis contínuos e homogêneos com espessu- tados em programa de sondagem rotativa, sob

224
Régis Munhoz Krás Borges et al.

cobertura saprolítica de 30 a 40 metros de espes- oxigênio com fluidos hidrotermais de baixa tem-
sura (Costi et al. 2002). São rochas de textura peratura, com forte influência de águas meteóri-
equigranular média, compostas essencialmente cas (Borges 2002).
por albita e baixo teor modal de quartzo, forma-
das por alteração metassomática de biotita-gra- DOMÍNIO GUIANA CENTRAL (OU K’MUDKU)
nito encaixante (Fig. 2b), em zona lenticular con-
trolada por falhas. Fosfato de rochas alcalinas da serra Repartimento
São formados, em linhas gerais, através dos
seguintes estágios: (a) albitização de feldspato Pequenos corpos de rochas alcalinas de idade
potássico; (b) formação de cavidades através da mesozóica ocorrem na região central de Roraima
dissolução de quartzo magmático; (c) preenchi- (Domínio K’Mudku), encaixados em litologias do
mento das cavidades por albita, clorita, fengita, Proterozóico (Fig. 1). Estas rochas alcalinas con-
cassiterita; (d) deposição de quartzo tardio e cas- centram-se em uma área situada entre os rios Api-
siterita em espaços restantes. A cassiterita ocor- aú e Ajarani, na zona de prolongamento sudoes-
re como agregados irregulares ou drusiformes te do hemigráben Tacutu. Inicialmente registradas
(Fig. 4h) de cristais corroídos, subédricos a ané- como Suíte Serra Repartimento (Borges 1990,
dricos (0,5–1,0 mm), marrom avermelhados a in- 1994) e Suíte Alcalina Apiaú (Brandão & Freitas
colores, em cavidades, associada a (1) albita, fen- 1994), estas rochas foram posteriormente reuni-
gita e clorita, ou (2) quartzo secundário tardio, das como Complexo Alcalino Apiaú (CPRM 1999). A
feldspato potássico turvo (adulária?) ± albita. idade de 108 Ma (isócrona Rb/Sr) obtida para as
Determinações de isótopos estáveis mostram alcalinas Apiaú (Gaudette et al. 1996) é conside-
que os valores de δO18 normalizados ao SMOW ob- rada compatível com um magmatismo alcalino me-
tidos em quartzo de todas as fácies do plúton Ma- sozóico, de caráter continental, associado ao re-
deira concentram-se no intervalo entre 7,7 e gime distensivo responsável pela formação do he-
8,8‰, próximos dos obtidos em pares de concen- migraben Tacutu.
trados de quartzo e feldspatos do pluton Água As rochas em questão constituem diques e pe-
Boa, evidenciando preservação da assinatura iso- quenos plútons de no máximo 20 km2 e compre-
tópica magmática de oxigênio nessas rochas. endem variedades como sienitos, traquitos, fonó-
Concentrados de albita dos epissienitos sódi- litos e nefelinito, compostos por feldspato alcali-
cos forneceram valores de δO18 similares aos obti- no, feldspatóides, aegirina, augita, hornblenda, bi-
dos em quartzo e feldspatos das fácies graníticas otita, minerais opacos, zircão, fluorita, quartzo,
e contrastantes com aqueles dos concentrados de apatita, zeólitas e carbonatos. Teores expressi-
clorita e fengita das rochas hidrotermalizadas, vos em Nb (até 1353 ppm), Zr (500-1000 ppm), Th
sugerindo que a albita deve ter se formado a alta (53 ppm), U (25 ppm) e Rb (586 ppm) foram verifi-
temperatura, a partir de fluidos residuais da cris- cados em análises químicas de rochas do comple-
talização magmática. xo (CPRM 1999), compatíveis com os teores des-
O quartzo dos greisens apresenta valores de tes elementos em rochas alcalinas. Análises fei-
δO18 similares aos obtidos no quartzo dos grani- tas por Borges (1990) em lateritos da Serra Re-
tos. Topázio exibe valores ora um pouco inferio- partimento mostraram valores elevados em W (50
res aos do quartzo da mesma amostra, ora clara- ppm), Mo (300 ppm), Sr (1000 ppm), F (1000 ppm),
mente inferiores e próximos dos fornecidos pela Ba (5000 ppm), Y (100 ppm) e V (2000 ppm). Nes-
siderofilita. Neste último caso tem-se indicação da ta mesma área, a amostragem de solo e sapróli-
possível influência, nos greisens de alta tempera- to, em malha de poços de 10 m de profundidade,
tura, de fluidos hidrotermais modificando a assi- revelou altos teores de La2O5+CeO2 (0,5% a 5%),
natura isotópica magmática original. Modificações P2O5 (2% a 9%), TiO2 (0,3% a 3%) e Nb2O5 (0,1% a
no sistema isotópico ficam, entretanto, mais evi- 0,5%). Cálculos preliminares permitiram estimar
dentes no caso de concentrados de clorita+fengita, uma reserva de fosfato da ordem de 3,5 milhões
fases dominantes nos greisens de baixa tempe- de toneladas, com teor de 3% a 5% P2O5 (Borges
ratura e nas cavidades dos epissienitos. Tais mi- 1990, 1994). Ocorrências de barita também foram
nerais fornecem valores de δO18 na ordem de 5,0 a assinaladas na região.
6,3‰ e devem refletir o reequilíbrio isotópico do Imagens aerogeofísicas da área da serra Re-

225
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Província Tapajós-Parima: domínios Parima, Uaimiri e
K´Mudku

Figura 5. (A) - Imagem da primeira deri-


vada vertical do campo magnético total
da área da serra Repartimento; (B) - Ima-
gem do canal do Th (em ppm) da mesma
área; (C) - Interpretação qualitativa com
sugestão de posicionamento e possível
composição dos corpos intrusivos que
ocorrem na área da serra Repartimento
(imagens e interpretação cedidas pelo
Projeto Fosfato Brasil, da CPRM).

partimento, mostram anomalias gamaespectromé- Geological and single-zircon Pb evaporation data


from the Central Guyana Domain in southeastern
tricas, em especial do canal do Th, e discretas ano- Roraima State, Brazil: tectonic implications for the
malias magnéticas (Figs. 5a,b). Estas feições per- central portion of the Guyana Shield. Journal of Sou-
th-American Earth Sciences 26 (3), 318-328.
mitiram esboçar o contorno dos corpos alcalinos Basei M.A.S. 1975. Geocronologia do Território Federal
existentes, com forma alongada, sugestivo de di- de Roraima e parte norte do Estado do Amazonas.
ques, e também de outros corpos alcalinos prová- In: Brasil, MME/DNPM/RADAM. Relatório Interno.
Belém, 19p.
veis. Anomalias magnéticas mais pronunciadas em Bastos Neto A.C., Pereira V.P., Lima E.F., Ferron J.M.,
outros pontos sugerem ainda a ocorrência de di- Minuzzi O., Ronchi L.H., Flores J.A.A., Frantz J.C.,
Pires A.C., Pierosan R., Hoff R., Botelho N.F., Rolim
ques máficos na mesma área (Fig. 5c). S.B.A., Rocha F.N.F., Ulmann L. 2005. A jazida de
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228
Caetano Juliani et al.

METALOGÊNESE DA PROVÍNCIA TAPAJÓS

CAETANO JULIANI1, MARCELO LACERDA VASQUEZ2, EVANDRO LUIZ KLEIN2,


RAIMUNDO NETUNO NOBRE VILLAS3, CARLOS MARIO ECHEVERRI MISAS1,
ÉRIKA SUELLEN BARBOSA SANTIAGO3, LENA VIRGÍNIA SOARES MONTEIRO1,
CLEYTON DE CARVALHO CARNEIRO1, CARLOS MARCELLO DIAS FERNANDES3 &
GUSTAVO USERO1

1 – Instituto de Geociências, Universidade de São Paulo, Rua do Lago, 562, São Paulo, SP. CEP 05508-080. E-
mail: cjuliani@usp.br, carlosma99@yahoo.com, lena.monteiro@usp.br, cleytoncarneiro@gmail.com
2 – CPRM – Serviço Geológico do Brasil, vasquez@be.cprm.gov.br, evandro.klein@cprm.gov.br
3 – Instituto de Geociências, Universidade Federal do Pará, Campus Universitário do Guamá, Rua Augusto
Corrêa, no 1, CEP: 66075-110, netuno@ufpa.br, esbsantiago@gmail.com, cmdf@ufpa.br

INTRODUÇÃO Almeida et al. 2000, Bahia & Quadros 2000, Fer-


reira et al. 2000, Klein & Vasquez 2000, Vasquez &
O ouro foi descoberto na região do Tapajós em Klein 2000, Santos et al. 2001, Klein et al. 2002).
1958 nas imediações do Rio das Tropas. Com o Adicionalmente, têm sido descritas mineraliza-
desenvolvimento do garimpo nas décadas de 80 ções auríferas e de metais de base magmático-
e 90, quando mais de 200.000 pessoas trabalha- hidrotermais epitermais high- e low-sulfidation hos-
vam na lavra do ouro, a região passou a ser co- pedadas nas vulcânicas ácidas do Grupo Iriri, do
nhecida como Província Aurífera do Tapajós (Silva tipo pórfiro em granitos sub–vulcânicos e em gra-
1984, Faraco et al. 1997) ou Província Mineral do nitos mesozonais da Suite Parauari (Jacobi 1999,
Tapajós (Delgado et al. 1995, em Vasquez et al. Nunes 2001, Juliani et al. 2000, 2002, 2004a,
1996). Essa província foi responsável por uma 2004b, 2005, Juliani 2002, Corrêa-Silva 2002,
parcela expressiva do ouro lavrado no Brasil nas Echeverri-Misas 2010, Usero et al. 2011).
décadas de 70 e 80, tendo sido registrada oficial- Devido ao vínculo genético entre as minerali-
mente uma produção acumulada de ~ 225 t em zações epitermais high- e low-sulfidation e os de-
garimpos até 1995 (Faraco et al. 1996), enquanto pósitos tipo pórfiro reconhecido em importantes
que estimativas não oficiais sugerem que podem províncias minerais (Sillitoe 1973, 2010, Arribas Jr.
ter sido lavradas mais de 750 t até a presente 1995, Hedenquist et al. 1998), o potencial na pro-
data. Somente mais recentemente trabalhos de víncia não deve se restringir às mineralizações de
pesquisa mineral de diversas empresas de mine- ouro, sendo também possível a ocorrência de mi-
ração tem comprovado a existência de depósitos neralizações de metais de base do tipo pórfiro,
primários importantes, destacando-se, em recur- incluindo depósitos de cobre em unidades cálcio-
sos totais de ouro, os de Tocantinzinho (83 t), alcalinas menos evoluídas e de cobre e molibdê-
Coringa (74 t), Cuiú-Cuiú (40 t), Palito (18 t eq.) e nio em rochas mais evoluídas, além de ouro e co-
São Jorge (18 t). bre e ouro nos granitóides tardios de alto potás-
Apesar dos estudos sobre a gênese das mine- sio e nas intrusivas do tipo A.
ralizações auríferas primárias serem ainda relati- Atualmente a exploração mineral na província
vamente escassos, diversos tipos de depósitos tem sido focada em mineralizações auríferas filo-
têm sido descritos na província, incluindo os filoni- neanas de alto teor, apesar do potencial para ocor-
anos orogênicos mesotermais e epizonais em zo- rência de mineralizações magmático-hidrotermais
nas de cisalhamento que cortam granitóides e ro- do tipo pórfiro, inclusive de metais de base. Esse
chas metassedimentares, os de sequências vul- processo de desenvolvimento das descobertas tem
canossedimentares com rochas básicas, relacio- sido também observado em outras províncias mun-
nadas a intrusões graníticas (intrusion-related) e diais, quando depósitos de baixo teor e grande
epitermais associadas a rochas básicas intrusivas volume são encontrados somente após significa-
(Coutinho et al. 1998, 2000, Dreher et al. 1998, tivo acúmulo do conhecimento geológico e meta-

229
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Província Tapajós

logenético, o que sugere que a potencialidade da com >2,3 Ga na porção oriental do cráton e de
Província Aurífera do Tapajós para a ocorrência de faixas sucessivamente mais jovens a sudoeste
depósitos minerais importantes não foi ainda su- (Cordani et al. 1979) foi proposto que o cráton
ficientemente explorada. evoluiu por acresção crustal de cinturões móveis
e arcos magmáticos a norte e sudoeste em even-
CONTEXTO TECTÔNICO E GEOLÓGICO DA PRO- tos sucessivos até o Neoproterozóico (Cordani et
VÍNCIA MINERAL DO TAPAJÓS al. 1979, Cordani & Brito Neves 1982, Teixeira et
al. 1989, Tassinari 1996, Tassinari et al. 1996, Tas-
O conhecimento sobre a evolução geológica da sinari & Macambira 1999, Santos et al. 2000). Se-
parte central do Cráton Amazônico tem avançado gundo Tassinari & Macambira (1999), o Cráton
significativamente nas últimas décadas, assim Amazônico divide-se em seis províncias geocrono-
como as propostas de compartimentação tectôni- lógicas (Fig. 1A): Amazônia Central (> 2,3 Ga),
ca baseadas em dados isotópicos e geocronológi- Maroni-Itacaiúnas (2,2 - 1,9 Ga), Ventuari-Tapajós
cos. Inicialmente esta região do cráton, denomi- (1,95 - 1,80 Ga), Rio Negro-Juruena (1,80 - 1,55
nada Província Amazônia Central, foi considerada Ga), Rondoniana-San Ignácio (1,5 - 1,3 Ga) e Sun-
como formada apenas por rochas com > 2,1 Ga. sás (1,25 – 1,00 Ga). Vasquez et al. (2008b), ba-
Esse modelo, formulado com base em dados es- seados em Santos et al. (2000), entretanto, sub-
truturais e geofísicos, considerava o Cráton Ama- dividem o Cráton Amazônico em oito províncias
zônico como uma grande plataforma arqueana geocronológicas (Fig. 1B), denominadas: Carajás
retrabalhada e reativada há cerca de 2,0 Ga (Ama- (3,0 - 2,5 Ga), Transamazonas (2,26 - 2,06 Ga),
ral 1974, Costa & Hasui 1997, Montalvão & Bezer- Tapajós–Parima (2,03 - 1,86 Ga), Guiana Central
ra 1980, Hasui et al. 1984, Hasui et al. 1993). (1,95 - 1,81 Ga), Amazônia Central (1,90 - 1,86
Entretanto, com a identificação de um núcleo Ga), Rondônia–Juruena (1,85 – 1,54 Ga), Rio Ne-

Figura 1 - Províncias geocronológicas do Cráton Amazônico segundo (A) Tassinari & Macambira (1999) e (B)
Santos (2003), incluindo os domínios tectônicos das províncias Tapajós–Parima e Amazônia Central (modi-
ficado de Vasquez et al. 2008b).

230
Caetano Juliani et al.

gro (1,82 – 1,52 Ga) e Sunsás (1,45 – 1,00 Ga). eventos magmáticos pós-colisionais transcorren-
Recentemente, a integração dos dados geoló- tes e extensionais com underplating associado.
gicos, geocronológicos e metalogenéticos obtidos Dentre os domínios apresentados na Fig. 1B, o
até então na porção sul do Cráton Amazônico para Domínio Tapajós é o que mais conta com informa-
várias ocorrências de vulcanismo do tipo Uatumã ções sobre a evolução geológica e metalogenéti-
levaram a Juliani et al. (2008, 2009) a admitirem a ca dos depósitos de ouro e, portanto, será o foco
existência de um possível zonamento metaloge- do presente capítulo.
nético formado entre ~ 2,0 – 1,88 Ga nesta uni-
dade tectônica, na região compreendida entre o DOMÍNIO TAPAJÓS
gráben da Serra do Cachimbo e São Félix do Xin-
gu. Neste modelo evolutivo alternativo, isto pode O Domínio Tapajós é o maior segmento da Pro-
ter sido formado por orogêneses oceano–conti- víncia Tapajós–Parima (Fig. 1B) e sua orientação
nente geradas por subducção contínua orientada na direção NW–SE reflete as principais falhas e
aproximadamente leste–oeste. Nesse contexto a zonas de cisalhamento transcorrentes que con-
ocorrência das associações cálcio-alcalinas mais trolaram o posicionamento da maioria das intru-
jovens (1,88 Ga) na região de São Félix do Xingu sões ígneas e depósitos vulcânicos mais evoluí-
pode ser explicada pela diminuição no ângulo da dos, tardi- a pós-orogênicos (Fig. 2). Na porção
placa subductada, evento esse conhecida como norte, as estruturas de direção E–W tiveram um
flat subduction (Sacks 1983), como descrito no Cin- papel mais destacado. Essas estruturas têm ca-
turão Vulcânico Trans-Mexicano (Ferrari et al. 1999) racterísticas aerogeofísicas magnetométricas in-
e no Cinturão Andino (Kay et al. 2005). dicativas de maior penetratividade na crosta (Car-
A Província Aurífera do Tapajós ocupa parte das neiro et al. 2011, Juliani 2012). A expressão em
províncias Tapajós–Parima (ou Ventuari–Tapajós) profundidade dessas estruturas com direção pre-
e Amazônia Central. A sua parte mais ocidental é ferencial E-W, observadas a partir do campo mag-
formada por uma faixa paleoproterozóica (1,96 - nético residual, sugerem que essa orientação pode
1,8 Ga), com evolução relacionada à acresção de definir a estruturação da faixa móvel e da implan-
pelo menos um arco magmático continental na tação dos arcos magmáticos mais antigos na por-
borda do cráton arqueano recoberto por rochas ção sul do Cráton Amazônico.
vulcânicas, além de abundantes intrusivas paleo- As associações de litotipos que constituem o
proterozóicas (Tassinari 1996, Tassinari & Macam- embasamento das rochas vulcânicas e sedimen-
bira 1999, Santos et al. 2000). Os dados de isotó- tares na parte sudoeste do domínio, em especial
pos de Nd das rochas deste segmento evidenci- os granitóides, foram metamorfisadas na fácies
am fontes dominantemente mantélicas acrescidas xisto verde a anfibolito e deformadas por zonas
há cerca de 2,2 Ga na margem de uma crosta ar- de cisalhamento dúctil NW–SE em intensidades
queana de 2,5 a 3,1 Ga (Tassinari 1996, Sato & variáveis (Fig. 2). No restante do domínio as ro-
Tassinari 1997). Com base nas idades de 2,1 a chas sofreram principalmente deformação rúptil,
1,87 Ga (U–Pb em zircão) e nos dados Sm–Nd, sugerindo a preservação de níveis crustais mais
Santos et al. (2001, 2004) e Vasquez et al. (2008b) rasos no sentido nordeste. Este quadro mostra
individualizaram diversos domínios na Província um zonamento, com associações litotípicas e con-
Tapajós–Parima (Fig. 1B). Essa redefinição inclui trole estrutural das mineralizações de ouro filoni-
mudanças de limites e da denominação em rela- anas de crosta mais profunda a sudoeste passan-
ção às províncias geocronológicas prévias, e a pro- do para mais rasas a nordeste do domínio (Delga-
posição de uma evolução envolvendo a acresção do 1999, Almeida et al. 2001, Klein et al. 2001,
de sucessivos arcos magmáticos (Cuiú-Cuiú, Ja- Santos & Coutinho 2008). As estruturas de dire-
manxim, Creporizão, Tropas e Parauari), seguido ção N–S são subordinadas e podem apresentar
pelo magmatismo alcalino anorogênico Maloquinha inflexões para NW–SE. Sua distribuição é mais fre-
(Santos et al. 2000, 2001, 2004, Santos 2003). Al- quente na porção sudoeste do domínio, em ro-
ternativamente, Vasquez et al. (2002) e Almeida chas do embasamento, onde constituem principal-
(2006) propuseram que a evolução da província mente falhas inversas e, localmente, de empur-
se deu com a colisão de apenas um arco mais pre- rão (Almeida et al. 2001, Klein et al. 2001, Santos
coce (Arco Cuiú-Cuiú/Anauá) e uma sucessão de & Coutinho 2008). As estruturas de direção N–S,

231
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Província Tapajós

Figura 2 - Mapa geológico do Domínio Tapajós (modificado de Vasquez et al. 2008a).

juntamente com as de orientação NNE–SSE e NE– desenvolvimento mais tardio. As estruturas NW–
SW, ocorrem também como componentes do sis- SE são possantes zonas de cisalhamento trans-
tema transcorrente dextrógiro (Santos & Coutinho correntes sinistrógiras que, em parte, controlaram
2008) que afetou principalmente as associações a colocação de intrusões félsicas, especialmente
litotípicas da parte central do domínio. Poucos cor- as mais tardias. As estruturas E–W controlam par-
pos ígneos félsicos têm orientação N–S, mas são te das bacias sedimentares paleoproterozóicas e
frequentes diques de diabásio, de andesito e de alguns corpos intrusivos máficos paleo- e meso-
lamprófiro orientados segundo as direções NNE– proterozóicos. Essas estruturas foram também re-
SSW e NE–SW, que comumente também deslocam lacionadas a um sistema extensional por Klein et
as estruturas anteriores, sugerindo um estágio de al. (2001) e Santos & Coutinho (2008).

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Caetano Juliani et al.

Figura 2 - Simbologia do mapa geológico do Domínio Tapajós.

Associações do Embasamento vulcânicas máficas de afinidade tholeiítica oceâni-


ca e metaultramáficas (Melo et al. 1980). Os me-
No Domínio Tapajós as associações litotípicas tassedimentos clásticos compõem uma sequência
do embasamento são representadas pelas rochas turbidítica depositada entre 2,1 e 2,05 Ga (Tabela
supracrustais do Grupo Jacareacanga e pelos gra- 1) e apresentam intercalações de basaltos gera-
nitóides e ortognaisses do Complexo Cuiú-Cuiú. dos em bacias oceânicas de retro-arco ou de fos-
No Grupo Jacareacanga predominam xistos sa oceânica (Santos et al. 2001, 2004). Esse con-
pelíticos com lentes de quartzitos e, subordinada- junto de rochas foi metamorfisado na fácies xis-
mente, ocorrem xistos máficos, metacherts, meta- tos verdes a epidoto anfibolito (Melo et al. 1980).

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Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Província Tapajós

O Complexo Cuiú-Cuiú é composto predominan- com quartzo monzonito e quartzo monzodioritos


temente por ortognaisses tonalíticos e granodio- sem deformação dúctil subordinados, denomina-
ríticos bandados e porfiroclásticos e, subordina- do como Granito São Jorge Velho. Estes granitos
damente, dioríticos, quartzo dioríticos, quartzo são cálcio-alcalinos de alto potássio e têm cerca
monzodioríticos e monzograníticos, localmente com de 1,98 Ga. A composição isotópica de Nd das ro-
encraves de rochas metaultramáficas e de gnais- chas de 2,0 a 1,98 Ga dessa região (Tabela 1)
ses pelíticos com sillimanita e cordierita que po- sugerem que as mesmas podem ter se formado a
dem ser xenólitos de metassedimentos do Grupo partir de mistura de magma juvenil paleoprotero-
Jacareacanga (Ferreira et al. 2000). Também ocor- zóico variavelmente contaminado pela assimilação
rem lentes de leucogranitos com muscovita, por de rochas arqueanas, ou pela interação com um
vezes com granada, concordantes com falhas de magma derivado de fonte arqueana (Lamarão et
cavalgamento. Os gnaisses frequentemente pos- al. 2005). Alternativamente, estes autores suge-
suem estruturas de fluxo magmático e de mistura rem que estas rochas podem representar a refu-
de magmas e, subordinadamente, migmatitos, são de uma crosta siálica com cerca de 2,2 Ga, a
principalmente do tipo estromático. As microtex- partir de underplating de magmas máficos.
turas nos feldspatos e na hornblenda e evidênci- Na parte central e sudeste do domínio foram
as de fusão parcial indicam que durante a defor- mapeados batólitos de granitos intrusivos nas
mação dúctil os granitóides do complexo alcança- rochas do Complexo Cuiú-Cuiú, por sua vez com
ram condições metamórficas na fácies anfibolito intrusões de rochas ígneas de ca. 1,88 Ga (Fig. 2).
superior (Ferreira et al. 2000, Vasquez et al. 2002). Esses batólitos foram reunidos na Suíte Intrusiva
Essas rochas apresentam afinidade cálcio-alcali- Creporizão e estão orientados concordantemen-
na e a sua gênese relaciona-se a arcos magmáti- te com as zonas de cisalhamento transcorrentes
cos pouco evoluídos associados à subdução de li- NW–SE (Ricci et al. 1999). A suite é composta prin-
tosfera oceânica (Vasquez et al. 2002, Santos et cipalmente por sieno- a monzogranitos com bioti-
al. 2004, Coutinho et al. 2008), possivelmente em ta, por vezes, com anfibólio, além de granodiori-
ambiente de arco de ilhas (Santos et al. 2004). Os tos, tonalitos e quartzo monzodioritos subordina-
leucogranitos peraluminosos se assemelham aos dos. Geralmente essas rochas estão milonitizadas
granitos de fusão crustal relacionados à colisão e tem textura porfiroclástica, mas a deformação
de litosfera continental (Vasquez et al. 2002). As dúctil é heterogênea, variável desde uma tênue
idades U–Pb em zircão indicam que os granitóides foliação protomilonítica a faixas de milonitos com
do Arco Cuiú-Cuiú se formaram entre 2033 ±7 e alguns centímetros a metros de espessura. Nas
2005 ±7 Ma e as composições isotópicas de Nd porções mais preservadas da deformação, as ro-
dos tonalitos do Complexo Cuiú-Cuiú indicam fon- chas têm textura heterogranular ou porfirítica e
tes juvenis paleoproterozóicas para formação des- possuem estruturas de fluxo magmático subpara-
sas rochas (Tabela 1). lelo a foliação regional. Também têm encraves mi-
crogranulares máficos, interpretados como devi-
Vulcano-Plutonismo Paleoproterozóico dos à mistura de magmas, diques sin-plutônicos e
xenólitos de ortognaisses (Vasquez & Klein 2000).
Os eventos magmáticos do Orosiriano que su- A foliação milonítica tem direção N10-20°W, com
cederam o magmatismo do Arco Cuiú-Cuiú se con- fortes mergulhos (70 a 80°) para ENE e WSW, com
centraram nas porções central, sudeste e leste do lineação de estiramento mineral suborizontal, de-
Domínio Tapajós (Fig. 2). A leste, próximo à Vila finindo o caráter transcorrente das zonas de cisa-
Riozinho, Lamarão et al. (2002) individualizaram lhamento (Klein & Vasquez 2000). As microtextu-
andesitos basálticos, traquiandesitos basálticos, ras dos porfiroclastos de microclínio em sigmóides,
traquitos e riolitos cálcio-alcalinos de alto potás- dos agregados de biotita e hornblenda em arran-
sio a shoshoníticos de composições semelhantes jos lepidoblásticos e nematoblásticos e de agre-
àqueles gerados em arcos magmáticos maduros. gados quartzo–feldspáticos da matriz em tramas
Essas rochas de idades de cristalização de ~ 2000 granoblásticas poligonais indicam que a deforma-
Ma (Tabela 1) foram agrupadas na Formação Vila ção dúctil alcançou condições da fácies anfibolito
Riozinho. Na região também aflora um plúton de (Ricci et al. 1999, Vasquez et al. 2002). Os grani-
monzogranito introduzido nas rochas vulcânicas, tóides da Suíte Intrusiva Creporizão são também

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Caetano Juliani et al.

Tabela 1 - Síntese dos dados geocronológicos do Domínio Tapajós.

cálcio-alcalinos, mas são mais evoluídos que aque- idades entre 1907 ±9 e 1892 ±6 Ma (Tabela 1)
les do Complexo Cuiú-Cuiú. das rochas desta suíte indicam a existência de
Vasquez et al. (2002) consideraram que, ape- eventos magmáticos anteriores ao de ca. 1,88 Ga
sar dos granitóides da Suíte Intrusiva Creporizão (Parauari, Ingarana e Maloquinha) e posterior ao
registrarem padrões geoquímicos de granitos de de ca. 1,98 Ga (Creporizão) (Santos et al. 2001,
arcos magmáticos, eles provavelmente seriam gra- 2004). Estes granitóides apresentam bandamen-
nitos tardios a pós-colisonais, enquanto que San- to composicional orientado na direção N–S afeta-
tos et al. (2004) interpretam sua formação como do por zonas de cisalhamento concordantes com
relacionada a um arco magmático continental pos- mergulho sub-vertical para leste.
terior ao Arco Cuiú-Cuiú. Os granitoides da Suíte Intrusiva Tropas têm
Os granitos desta suíte forneceram idades de assinatura cálcio-alcalina de arco de ilha e as ro-
cristalização entre 1997 e 1957 Ma (Tabela 1) e, chas metassedimentares das formações Abacaxis
neste contexto, o Granito São Jorge Velho pode e Sequeiro, que tem idade de sedimentação em
corresponder a um plúton granítico da Suíte Intru- torno de 1,9 Ga (Tabela 1), representam remanes-
siva Creporizão. Santos et al. (2004) obtiveram uma centes das bacias relacionadas a este arco (San-
idade de 1997 Ma em rochas com textura rapakivi tos et al. 2004). O Granito São Jorge Novo, com
do Monzogranito Jamanxim, localizado na porção idade de 1891 ±3 Ma, constitui pequenos corpos
nordeste do domínio, e o interpretaram com parte intrusivos no Granito São Jorge Velho e é repre-
de um arco magmático continental formado entre sentado por monzongranitos cálcio-alcalinos de
2000 e 1986 Ma (Arco Cumaru), intermediário en- alto potássio com biotita e anfibólio (Lamarão et
tre o Arco Cuiú-Cuiú (2040 – 1998 Ma) e o Arco al. 2002). Essa idade indica que esse granito pode
Creporizão (1980 – 1957 Ma). ser correlato aos da Suíte Intrusiva Tropas.
Na porção oeste do Domínio Tapajós afloram O vulcanismo paleoproterozóico no Domínio
tonalitos, quartzo dioritos, granodioritos, andesi- Tapajós é representado pelo Grupo Iriri e sua ocor-
tos e basaltos, reunidos na Suíte Intrusiva Tropas rência é mais expressiva na sua porção oriental
(Santos et al. 2001, 2004, Ferreira et al. 2004). As (Fig. 2). Neste grupo foram individualizadas a For-

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Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Província Tapajós

mação Salustiano, que consiste predominante- cio-alcalino de alto potássio ou shoshonítico que
mente de riolitos e dacitos, e a Formação Aruri, precedeu, e em parte foi contemporâneo, ao mag-
composta por rochas piroclásticas ácidas e epiclás- matismo alcalino de ca. 1,88 Ga (Vasquez & Dreher
ticas (Pessoa et al. 1977). Os andesitos, basaltos, 2011). Essas rochas alcalinas do tipo A são seme-
latitos, traquitos e dacitos cálcio-alcalinos de alto lhantes às da Formação Santa Rosa na região de
potássio a shoshonítico (tipo I) do oeste do domí- São Félix do Xingu, que foram definidas como par-
nio (Fig. 2) foram reunidos na Formação Bom Jar- te de um vulcanismo fissural por Juliani & Fernan-
dim por Almeida et al. (2000). A Formação Bom Jar- des (2010) e Fernandes et al. (2011).
dim não foi ainda datada, mas um andesito de A Suíte Intrusiva Parauari representa o evento
1898 ±5 Ma associado aos tonalitos da Suíte In- magmático mais expressivo do Domínio Tapajós
trusiva Tropas é considerado como correlato a essa (Fig. 2). É constituída por um conjunto de corpos
formação (Santos et al. 2001). Adicionalmente, Ju- cálcio-alcalinos de granodiorito, quartzo monzoni-
liani et al. (2005), baseados no empilhamento das to, tonalito e quartzo monzodiorito subordinados,
fácies dos centros vulcânicos do nordeste do do- além de intrusões tardias de monzogranito e sie-
mínio, posicionaram os derrames da Formação Bom nogranito epizonais relacionados a mineralizações
Jardim na base do Grupo Iriri, representando o auríferas, como as dos granitos Palito, Batalha e
vulcanismo pré-caldeira. Sobre esse derrames for- Rosa de Maio. Estas rochas são consideradas por
maram-se os depósitos de caldeira das formações Vasquez et al. (2002) como representantes de um
Salustiano e Aruri. Na sequência essas unidades magmatismo cálcio-alcalino de alto potássio for-
foram parcialmente recobertas por depósitos vul- mado em ambiente extensional pós-colisional por
canoclásticos hidrotermalizados e epiclásticos in- underplating, com fontes mantélicas sub-litosféri-
tracaldeira, vulcões anelares compostos com in- cas e de crosta continental de arcos magmáticos
tercalação de fluxos de riolito e vulcanoclásticas e mais antigos. Alternativamente, Santos et al.
ácidas (depósitos pós-caldeira), seguido por bre- (2004), Coutinho et al. (2008), Juliani (2012) e Ju-
chas hidrotermais e capas silicosas com minerali- liani et al. (2012) as consideraram geradas em ar-
zação aurífera epitermal high-sulfidation associa- cos magmáticos continentais maduros. Os grani-
da, cobertos por sedimentos predominantente ar- tos desta suíte forneceram idades entre 1883 e
coseanos. No conjunto ocorrem intrusões graníti- 1879 Ma (Tabela 1), próximas às idades das ro-
cas e granofíricas epizonais da Suíte intrusiva Pa- chas gabróicas da Suíte Intrusiva Ingarana e dos
rauri e diques de riolito e riodacito que não afeta- granitos alcalinos da Suíte Intrusiva Maloquinha.
ram os sedimentos arcoseanos. Esta estratigrafia Principalmente nas partes oeste e central do
corrobora precedência do vulcanismo andesítico domínio ocorrem diversos corpos máficos e inter-
cálcio-alcalino de alto potássio/shoshonítico e a médiários da Suíte Intrusiva Ingarana (Fig. 2). São
contemporaneidade tardia com o vulcanismo áci- augita gabros, gabronoritos, leuconoritos, diabá-
do, em parte alcalino (Vasquez & Dreher 2011). sios e microgabros e, subordinadamente, olivina
Dados preliminares indicam que essas rochas fo- gabros, quartzo monzogabros, monzodioritos e di-
ram afetadas por metamorfismo de grau muito oritos com idades entre 1887 e 1880 Ma (Tabela
baixo, típico de campos geotermais, na fácies preh- 1). Esta contemporaneidade e a afinidade geoquí-
nita-pumpellyita, tanto no Tapajós (Escheverri-Mi- mica com os granitóides da Suíte Intrusiva Parau-
sas 2010) como na região de São Félix do Xingu ari apontam para magmatismo bimodal. Adicional-
(Lagler 2009, Juliani & Fernandes 2010, Juliani et mente, foram também identificados associados a
al. 2011, Lagler et al. 2011, Fernandes et al. 2011). esses litotipos corpos de quartzo monzonitos e
Os ignimbritos e riolitos alcalinos do tipo A da quartzo sienitos cálcio-alcalinos de alto potássio
porção leste do domínio foram renomeados como (Almeida et al. 2000, Bahia & Quadros 2000). Os
Formação Moraes Almeida por Lamarão et al. diques de lamprófiros (Lamprófiro Jamanxim), de
(2002), com idades de cristalização variando de andesitos cálcio-alcalinos de alto potássio (Ande-
1890 a 1870 Ma (Tabela 1). Na mesma região foi sito Joel ou Carapuça) e shoshoníticos que cor-
datado um dacito com hornblenda em 1893 ±1 Ma tam os granitos das suítes intrusivas Maloquinha
(Vasquez et al. 1999) e um traquito com augita em e Parauari e unidades mais antigas podem, as-
1891 ±3 Ma (Lamarão et al. 2002) que podem es- sim, corresponder aos equivalentes sub-vulcâni-
tar relacionados ao evento de magmatismo cál- cos das rochas da Suíte Intrusiva Ingarana (Vas-

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Caetano Juliani et al.

quez & Ricci 2002, Vasquez & Dreher 2011). bacia pós-colisional de um orógeno transamazô-
Os granitos da Suíte Intrusiva Maloquinha têm nico e, portanto, esses depósitos sedimentares
ampla distribuição no Domínio Tapajós, variando poderiam não ter relação com a evolução do Arco
de stocks a batólitos, geralmente com eixos maio- Cuiú-Cuiú. Por outro lado, as coberturas das for-
res orientados segundo as direções NW-SE a N-S mações Novo Progresso e Buiuçu tem suas fontes
(Fig. 2). São compostos por sienogranitos e álcali- detríticas relacionadas às rochas dos eventos vul-
feldspato granitos, com monzogranitos e quartzo cânicos subjacentes, indicando uma continuidade
sienitos subordinados, e raros quartzo monzoni- na evolução geológica.
tos. Alguns desses litotipos possuem hastingsita No sudeste do domínio ocorre um corpo apro-
e edenita e, localmente, ocorrem mesopertita gra- ximadamente N-S de conglomerados com clastos
nitos com arfvedsonita e riebeckita, como o Grani- de rochas vulcânicas e vulcanoclásticas félsicas,
to Pepita. Tratam-se de rochas alcalinas do tipo A, arenitos líticos e arcoseanos intercalados com ar-
metaluminosas a peralcalinas, típicas de ambien- gilitos e siltitos tufáceos reunidos na Formação
te extensional intracontinental (Vasquez et al. Novo Progresso (Ferrreira et al. 2004). Sua proxi-
2002, Lamarão et al. 2002). As idades entre 1882 midade com as ocorrências da Formação Vila Rio-
e 1864 Ma (Tabela 1) indicam uma pequena defa- zinho (Fig. 2) sugerem uma possível relação, mas
sagem em relação às rochas cálcio-alcalinas de alto se faz necessário um estudo de proveniência para
potássio das suítes intrusivas Parauari e Ingara- comprovar a correlação.
na (Vasquez et al. 2002). A Formação Buiuçu ocorre na borda da Bacia
No nordeste do domínio aflora um plúton for- Alto Tapajós, próximo de Jacareacanga, e em seg-
mado por granito com biotita e hastingsita e por mentos de bacias de orientação aproximada E-W
álcali-feldspato granito, localmente com riebecki- (Fig. 2) no centro-oeste e nordeste do Domínio
ta, que hospeda mineralização de Sn, Nb e Ta, Tapajós. O segmento de bacia do rio Crepori é con-
denominado Granito Porquinho (Prazeres et al. trolado por falhas extensionais e transcorrentes
1979). Uma amostra deste corpo forneceu idade orientadas WNW-ESE e NW-SE. Predominam ar-
de cristalização de 1786 Ma (Tabela 1), caracteri- cóseos líticos e arenitos ortoquartzíticos, com con-
zando um magmatismo do tipo A cerca de 100 Ma glomerados polimíticos, siltitos e argilitos subordi-
mais jovem que o da Suíte Intrusiva Maloquinha. nados, com o acamamento mergulhando entre 5
Esse evento possivelmente relaciona-se ao mag- e 35° para N e NE e paleocorrentes para N15°E a
matismo Teles Pires que ocorre mais a sul (Santos N20°E. Soleiras e diques do Diabásio Crepori de
et al. 2004). 1780 Ma (Tabela 1) ocorrem nessa unidade. O seg-
mento do rio Aruri tem acamamento NW-SE e mer-
Coberturas Sedimentares Paleoproterozóicas gulho de 5 a 25° NE. Grande parte deste conjunto
está sobreposto às rochas do Grupo Iriri e o Gra-
No Domínio Tapajós ocorrem coberturas sedi- nito Porquinho, de 1786 Ma, foi nele introduzido.
mentares relacionadas a diferentes eventos geo- Além das sucessões siliciclásticas, Bahia & Qua-
lógicos. A mais antiga é a Formação Castelo dos dros (2000) identificaram na região leitos de tufos
Sonhos, localizada na parte sudeste, no limite com félsicos em arenitos e conglomerados vulcânicos
o Domínio Iriri-Xingu (Fig. 2). Essa unidade é for- que podem estar relacionados ao final do vulca-
mada por quartzo arenitos, conglomerados quart- nismo de 1,88 Ga.
zosos e arcóseos silicificados, com evidências de
um fraco metamorfismo termal e, localmente, inci- Magmatismo Máfico Proterozóico e Fanerozóico
pientemente milonitizados. Mineralizações aurífe-
ras, possivelmente do tipo paleoplacer, foram des- Além dos gabros e diques lamprofíricos associ-
critas por Yokoi et al. (2001) nessa unidade. San- ados ao magmatismo cálcio-alcalino de alto potás-
tos (2003) obteve idades U-Pb de 3,10 a 2,08 Ga sio de 1,88 Ga, ocorrem corpos máficos do Estate-
em zircão detrítico de arenito dessa unidade, o riano ao Jurássico. O Diabásio Crepori (Pessoa et
que indica uma sedimentação Riaciana com con- al. 1977) ocorre como soleiras e diques orienta-
tribuição de fontes arqueanas. Vasquez et al. dos segundo N10°E que cortam as coberturas da
(2008b) sugeriram que essa sedimentação conti- Formação Buiuçu no segmento do Rio Crepori (Fig.
nental pode estar relacionada à evolução de uma 2). São diabásios, olivina diabásios e microgabros

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Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Província Tapajós

de filiação tholeiítica continental (Pessoa et al. mais, incluindo os epitermais high- e low-sulfidati-
1977) de 1780 Ma (Tabela 1). O corpo máfico mais on, os do tipo pórfiro e os relacionados a intru-
expressivo no domínio é o da Suíte Intrusiva Ca- sões (intrusion-related) e a modelos metamórfico-
choeira Seca (Fig. 2). Trata-se de platô de olivina hidrotermais, correspondentes aos depósitos de
gabros, olivina gabronoritos, olivina diabásios e ouro orogênico ao longo de zonas de cisalhamen-
troctolitos alcalinos (Pessoa et al. 1977), em parte to. Os primeiros tipicamente se associam ao de-
com afinidade tholeiítica continental (Quadros et senvolvimento de arcos magmáticos continentais
al. 1998), cristalizados há cerca de 1190 Ma. e insulares e os orogênicos aos terrenos meta-
No sudoeste ocorrem enxames de diques de mórficos, vinculando-se geneticamente com o tec-
diabásio de orientação NNE que cortam as rochas tonismo nas margens convergentes.
devonianas da Bacia do Alto Tapajós e protero- Uma síntese dos atributos de depósitos-modelo
zóicas do Domínio Tapajós (Fig. 2). O Diabásio Cu- das diferentes tipologias de depósitos auríferos
ruru (Santos et al. 1975) de 180 Ma está relacio- no Domínio Tapajós é apresentado a seguir.
nado com magmatismo tholeiítico continental ju-
rássico Penatecaua da Bacia do Amazonas. Con- DEPÓSITOS MAGMÁTICO-HIDROTERMAIS
tudo, Santos et al. (2002) dataram um diabásio
na borda da Bacia do Alto Tapajós com 507 Ma, Os levantamentos aerogeofísicos no domínio
denominado Diabásio Piranhas (Tabela 1), relaci- Tapajós, juntamente com a localização das mine-
onada ao magmatismo máfico tholeiítico do Cam- ralizações descritas, evidenciam uma abundância
briano, associado à fase rift inicial da formação da de estruturas circulares com assinaturas diversas,
bacia paleozóica do Amazonas. indicativas da intrusão de rochas ígneas variadas,
com feições semelhantes às observadas em arcos
METALOGENIA magmáticos modernos com extenso vulcanismo fél-
sicos e caldeiras vulcânicas (Fig. 3). Observam-se
O Domínio Tapajós se destaca por representar ainda zonas de incremento dos teores de potás-
uma das principais regiões auríferas do Brasil, sen- sio e zonas com patamares magnéticos variados
do notável nos depósitos primários a associação com estruturas circulares internas definidas por
do ouro com a prata e com metais base, principal- baixos magnéticos, o que parece ser indicativo,
mente o cobre. São conhecidos ainda no domínio, respectivamente, de zonas de metassomatismo
garimpos ativos de cassiterita aluvionar (Santos potássico associadas a intrusões de granitóides
et al. 1975, Ferreira et al. 2000), indícios de mine- e zonas de desmagnetização típicas de alteração
ralização de molibdênio (Pessoa et al. 1977, Klein hidrotermal intensa, características de mineraliza-
& Vasquez 2000) e ocorrências em aluviões de tur- ções do tipo pórfiro ou instrusion-related.
malina, topázio, ametista e diamante (Santos et
al. 1975, Collyer et al. 1994, Klein et al. 2001b). Depósitos Epitermais
Mais recentemente, com a atividade garimpei-
ra se concentrando em mineralizações filonianas DEPÓSITO DE AU-(AG) HIGH-SULFIDATION, V3 OU
primárias e com as pesquisas para ouro feitas por BOTICA
empresas de mineração, um grande número de
ocorrências de calcopirita, galena e esfalerita tem O depósito V3, ou Botica ou high-sulfidation, lo-
sido identificado, geralmente associadas a zonas caliza-se na porção central do Domínio Tapajós.
de alteração sericítica em rochas ígneas félsicas, Possui recursos estimados totais de ~ 30 t de Au
o que tem sugerido também, em especial pela pre- com teor máximo de 4,5 g/t, além de concentra-
sença da mineralização high-sulfidation (Juliani et ções econômicas de Ag e subeconômicas de Cu,
al. 2005), potencial para ocorrência de mineraliza- Zn e Mo (Jacobi 1999, Juliani et al. 2005).
ções de metais de base na Província Mineral do
Tapajós. Dentre essas ocorrências destacam-se os Contexto Geológico
veios e bolsões de sulfetos maciços de calcopirita
da Mina do Palito (Echeverri-Misas 2010). A mineralização aurífera high-sulfidation hospe-
Os depósitos auríferos do Domínio Tapajós têm da-se em rochas vulcânicas e vulcanoclásticas fél-
sido relacionados a modelos magmático-hidroter- sicas do Grupo Iriri lato sensu, formadas em com-

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Caetano Juliani et al.

Figura 3 - Imagens aerogeofísicas com a localização dos depósitos estudados onde: (A) Composição ternária R(K)-G(eTh)-B(eU) sobreposta ao modelo
digital de elevação SRTM, evidenciando que os depósitos estudados estão sobretudo concentrados em regiões com maior abundância de K e/ou eU, o que
é compatível com regiões de alteração hidrotermal; (B) Amplitude do Sinal Analítico do Campo Magnético Anômalo, evidenciando que os depósitos estão
posicionados sobre regiões com médio a baixo gradientes magnetométricos, o que sugere efeitos de desmagnetização causada por alteração hidrotermal.
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Província Tapajós

plexos de caldeiras agrupadas (nested calderas) lares, radiais ou internos, compostos por vulcano-
(Juliani et al. 2005, Fig. 4) geneticamente vincula- clásticas e/ou lavas, bem como domos ressurgen-
das aos estágios finais do magmatismo Parauari. tes de riolito do estágio pós-caldeira.
A evolução desse complexo de caldeiras foi ini- A existência de vulcanismo relacionado a cal-
ciada com a construção de estratovulcões que deiras vulcânicas indica que não deve haver con-
apresentam uma unidade vulcânica basal andesí- tinuidade litoestratigráfica, e até mesmo cronoes-
tica que grada para ignimbritos e tufos com derra- tratigráfica, entre as unidades vulcânicas do Gru-
mes de riolito intercalados, compondo o conjunto po Iriri lato sensu de diferentes regiões do Cráton
das unidades litoestratigráficas relacionadas ao Amazônico, ou até mesmo em uma única província
estágio pré-caldeira. Durante o estágio sin-caldeira geológica. Isso se deve ao processo de formação
houve a formação de grandes volumes de tufos e evolução de um complexo de caldeiras continen-
de cristais e cineríticos, distribuídos em extensas tais agrupadas (Lipman 1984, Aguirre Diaz & McDo-
áreas, além de ignimbritos, resultantes do abati- well 2000), como as definidas no Tapajós (Juliani
mento da delgada crosta sobre a câmara magmá- et al. 2005), e possivelmente presentes na região
tica e sob os estratovulcões. Por fim, formaram-se do Iriri e do Xingu (Juliani & Fernandes 2010), uma
depósitos epiclásticos intracaldeira e vulcões ane- vez que o desenvolvimento de caldeiras próximas

Figura 4 - Mapa geológico da área da mineralização aurífera high-sulfidation (Juliani et al. 2005).

240
Caetano Juliani et al.

e superpostas leva à interdigitação de lavas e de de pirofilita, alunita e restos de feldspatos muito


fluxos piroclásticos num espaço de tempo de al- subordinados (Fig. 5), com as cavidades cimenta-
guns milhões a poucas dezenas de milhões de das por sílica diagenética. Sob o silica cap ocorre
anos. Isso pode fazer com que datações pontu- um halo de alteração argílica avançada com variá-
ais, sem o reconhecimento da estratigrafia, facio- veis conteúdos de pirofilita, alunita e/ou natroalu-
logia e do quimismo das vulcânicas e vulcanoclás- nita, além de jarosita, quartzo, com andalusita,
ticas, não separem efetivamente as formações, e coríndon, rutilo, woodhousenita–svambergita, ca-
sim as aglutinem em unidades híbridas. olinita, dickita, hindaslita, tetraedrita-tennantita,
Neste contexto, as unidades do Grupo Iriri lato famatinita, tiemmanita (HgSe), barita, pirita, cal-
sensu, como atualmente definidas, podem ser, pela copirita, bornita, covellita, galena, esfalerita, enar-
sua distribuição no cráton, associações pertencen- gita–luzonita, aguilarita, clorargirita, analcima–wai-
tes a diversos eventos vulcanogênicos, especial- rakita, topázio e cobre, prata e ouro nativos su-
mente se consideradas as extensões superiores bordinados a ocasionais. No centro dessa zona
a 50 km dos complexos de caldeiras da Província de alteração argílica avançada, ocorre um núcleo
Aurífera do Tapajós. A formação de caldeiras vul- com sílica maciça, usualmente com alunita e pirita
cânicas intra- e retro-arco magmático, deve resul- associada. Envolve esse halo, uma zona de alte-
tar tanto em rochas vulcânicas cálcio–alcalinas ração argílica avançada sem alunita, com pirofili-
como alcalinas, em um hiato de idade relativamen- ta, quartzo, pirita, andalusita, diásporo, rutilo,
te restrito e distribuídas em faixas. Por outro lado, woodhousenita–svanbergita, turmalina, fluorita e
é geologicamente improvável que uma única ativi- hematita. Uma delgada e irregular zona de alte-
dade vulcânica e explosiva de ca. 1,88 Ga possa ração argílica intermediária segue a zona anteri-
ter afetado uma imensa região simultaneamente, or, formada por rochas ricas em caolinita, dickita,
quando se considera os processos de formação sericita, clorita e relíquias de feldspato, além de
das rochas vulcânicas félsicas, tanto continentais veios de caolinita. As brechas hidrotermais são ci-
quanto de arcos magmáticos continentais ou in- mentadas predominantemente por alunita em di-
sulares, o que aponta para a necessidade de in- reção à superfície e por sulfetos, principalmente
cremento no estudo dessas unidades. pirita, em profundidade. Nas partes mais profun-
das do sistema, nas proximidades de intrusões de
Sistema Hidrotermal pórfiros, forma-se uma zona de alteração sericíti-
ca (Fig. 5), com sericita, quartzo, zeólitas, argilo–
A mineralização epitermal high-sulfidation ocor- minerais e sulfetos. Nas partes mais externas, uma
re em pipes de brechas hidrotermais em um vulcão zona de alteração propilítica, com epidoto, clino-
anelar riolítico formado no estágio pós-caldeira zoisita, clorita, actinolita, albita, zeólita, carbona-
(Fig. 5). Diversos outros possíveis vulcões anela- tos e sulfetos está presente.
res foram interpretados ao redor das caldeiras vul- Nas zonas de alteração argílica avançada, vá-
cânicas anastomosadas no Tapajós, mas esses ain- rios tipos texturais de alunita foram reconhecidos
da não foram ainda amostrados. por Nunes (2001) e Juliani et al. (2005), relaciona-
As rochas hospedeiras são representadas por dos a pelo menos dois estágios de evolução do
rochas vulcânicas e vulcanoclásticas de composi- sistema epitermal. O primeiro foi responsável por
ções intermediárias a ácidas, entre as quais ocor- alteração pervasiva, formação de alunititos e vei-
rem dacitos e riolitos porfiríticos, andesitos subor- os de alunita com textura branching (Fig. 5), en-
dinados, além de depósitos de ignimbritos, inclu- quanto o segundo estágio resultou em alunititos
indo welded-tuffs, lápilli-tufos, tufos de cristais, estruturados por fluxo hidrotermal, brechação do
aglomerados e brechas vulcânicas. silica cap, fraturamento hidráulico e geração de múl-
Extensas zonas de alteração hidrotermal rela- tiplos sistemas de veios, inclusive com alunita fina
cionadas a stocks de pórfiros riodacíticos e riolíti- (“porcelânica”) de mais alta temperatura, que cor-
cos de idades entre 1,89 e 1,87 Ga afetaram as tam as gerações anteriores de alunita. O segun-
rochas vulcânicas e vulcanoclásticas. do evento, predominantemente associado a flui-
No topo de um dos pipes de brechas hidroter- dos canalizados em fratura e condutos menores
mais ocorre um silica cap com estrutura vuggy, for- de brechas hidrotemais tardias, foi relacionado ao
mado por quartzo microcristalino e hematita, além reaquecimento do sistema hidrotermal, possivel-

241
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Província Tapajós

242
Figura 5 - Perfil esquemático da área da mineralização aurífera high-sulfidation mostrando a distribuição das principais zonas de alteração hidrotermal e
imagens dos principais litotipos associados. A identificação dos litotipos é a mesma da Figura 4.
Caetano Juliani et al.

mente devido à colocação de diques ou à ascen- máfica jurássica reconhecida na província, não foi
são de stocks de pórfiros riolíticos e riodacíticos observada abertura do sistema até 51,3 ±1 Ma,
para níveis mais rasos. Esse evento seria o res- quando alunita supérgena cristalizou-se, marcan-
ponsável pela maior parte da mineralização aurí- do o início da exposição subaérea e erosão da mi-
fera epitermal, com formação de ouro nativo e mi- neralização epitermal. Em conjunto com as tem-
nerais de prata, tais como a aguilarita e a clorar- peraturas de 420 a 130 oC definidas pelos pares
girita, disseminados (Picolini 2004, Picolini & Julia- alunita-pirita, esses dados evidenciam um longo
ni 2004). As evidências de pulsos múltiplos de flui- período de estabilidade tectônica no Domínio Ta-
dos hidrotermais e reaquecimento do sistema se- pajós, sem aquecimento, soterramento, epirogê-
riam análogas às descritas para outros depósitos nese e erosão significativos.
epitermais high-sulfidation (White & Hendenquist
1990, Arribas Jr. 1995, Pollard & Taylor 2002). Pul- Características dos Fluidos Hidrotermais
sos hidrotermais subordinados indicam também
oscilação no estado de oxidação, chegando local- As temperaturas estimadas a partir da compo-
mente a compor paragêneses típicas de um siste- sição isotópica de enxofre de pares alunita-pirita
ma intermediate-sulfidation. e da composição isotópica de oxigênio dos sítios
SO4-OH da alunita variam entre 130 a 420 oC (Fig.
Geocronologia 7A e 7B), atestando a sua origem hidrotermal. A
composição isotópica de enxofre da alunita varia
Sete amostras de alunita de diferentes textu- de +14,0 a +36,9‰ (Fig. 7B), o que também ca-
ras, disseminada, de veios e de substituição fo- racteriza sua origem magmático-hidrotermal, evi-
ram datadas pelo método Ar–Ar (Juliani et al. 2005, denciando a impossibilidade da alunita ser intem-
Fig. 6). Esses dados indicam que o sistema high- périca, como afirmado por Coutinho (2008).
sulfidation formou-se entre 1869 ±2 Ma a 1876 ±2 O cálculo dos valores de δDH2O e δ18OH2O dos flui-
Ma, e a atividade vulcânica cessou e resfriou-se dos hidrotermais em equilíbrio com a alunita apon-
até 1846 ±2 Ma. Falhas foram responsáveis pela tam para predominância de fluidos magmáticos
recristalização da alunita em 1805 ±2 Ma, prova- (Fig. 7C). A composição isotópica de fluidos em
velmente em função do desenvolvimento do arco equilíbrio com a sericita das partes profundas do
magmático Juruena na Província Alta Floresta. Após sistema hidrotermal indicam também evolução a
o cisalhamento, apesar da atividade vulcânica partir de fontes magmáticas, incluindo fases de va-

Figura 6 - Idades 40Ar/39Ar de amostras de alunita da mineralização aurífera high-sulfidation (Juliani et al. 2005).

243
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Província Tapajós

Figura 7 - (A) Valores de δ34S, δ18OOH, δ18OSO4 da alunita da mineralização aurífera high-sulfidation do Tapajós,
mostrando temperaturas estimadas para a cristalização da alunita com base nos valores de δ18OOH”SO4. O
polígono representa o campo de valores de δ34S, δ18OOH, δ18OSO4 de alunita magmático-hidrotermal em equilíbrio
com um fluido tipicamente magmático com valor de δ18OH2O de 6‰ (Juliani et al. 2005), (B) Valores de δ34S da
alunita e da pirita coexistente e temperaturas estimadas a partir das composições isotópicas dos pares
alunita-pirita (Juliani et al. 2005), (C) Composições isotópicas (δ18OH2O e δDH2O) calculadas para o fluido hidro-
termal em equilíbrio com diferentes minerais (alunita, pirofilita, sericita e caolinita) da mineralização aurífera
high-sulfidation do Tapajós, evidenciando mistura de fluidos magmáticos e meteóricos de baixa latitude e
comparação com características de fluidos em equilíbrio com alunita e outros minerais de depósitos high-
sulfidation. Abaixo do gráfico δ18O vs. δD também são apresentadas as composições isotópicas de oxigênio
para o fluido em equilíbrio com outras fases minerais da mineralização aurífera high-sulfidation do Tapajós.
MWL = Linha da Água Meteórica, PMW = Campo da água magmática primária, VV = Vapor vulcânico, T =
Tapajós, S = Depósito de Summitville, HSD = Outros depósitos high-sulfidation. Fonte dos dados: El Indio
(Deyell et al. 2005), Summitville (Bethke et al. 2005).

por. A assinatura isotópica de oxigênio e hidrogê- temas não é incomum em arcos magmáticos insu-
nio de fluidos responsáveis pela formação da alu- lares (e.g. Vennemann et al. 1993). Em ambientes
nita de mais baixa temperatura, da pirofilita e da de arco magmático continental esse influxo oceâ-
caolinita revelam ainda, além da participação de nico no continente pode ser devido às caracterís-
fluidos magmáticos, contribuição de água marinha, ticas dos taludes paleoproterozóicos, como discu-
seguida por influxo de águas meteóricas com al- tido por Eriksson et al. (1998).
tas taxas de evaporação, características de bai- As características isotópicas dos fluidos hidro-
xas latitudes (Fig. 7C). Essas tendências evoluti- termais paleoproterozóicos do Tapajós são idên-
vas indicam condições áridas equatoriais desses ticas às observadas em mineralizações epitermais
terrenos durante o final do Paleoproterozóico, o high-sulfidation mesozóicas a recentes, o que per-
que está de acordo com algumas reconstituições mite deduzir que o seu potencial de transporte e
paleomagnéticas, como a de Mertanen & Pesonen deposição de metais foi o mesmo que os verifica-
(2012). A participação de água marinha nesses sis- dos em períodos relativamente mais recentes nos

244
Caetano Juliani et al.

Andes, oeste dos EUA e na Indonésia, onde são Mineralização de Cu-Mo-(Au) low-sulfidation, V6
comuns depósitos epitermais e do tipo pórfiro de ou Chapéu de Sol
metais preciosos e de base.
A análise dos gases nobres de inclusões flui- Segundo Jacobi (1999), o Alvo V6 representa
das e de diferentes sítios cristalográficos da alu- um depósito epitermal de Cu com Mo, Au e Ag como
nita evidenciam uma derivação mantélica, com ca- subprodutos. Complementarmente, Corrêa-Silva
racterísticas mais primitivas que as observadas (2002) e Juliani (2002) demonstraram que esse sis-
em mineralizações mesozóicas e cenozóicas, que tema epitermal sofreu o overprint de um sistema
em parte podem ter tido influência de plumas (Lan- hidrotermal do tipo pórfiro, provocado pela intru-
dis et al. 2005). Esses dados indicam também que são de um conjunto de diques de pórfiros riodací-
os fluidos hidrotermais foram semelhantes aos ticos a riolíticos.
modernos e que as únicas alterações observa- A ocorrência de de Cu-Mo-(Au) low-sulfidation lo-
das devem-se ao decaimento radioativo, o que caliza-se a 50 km ao norte da mineralização high-
reforça a dedução sobre a estabilidade tectônica sulfidation, na borda de outro complexo de caldei-
da região desde o final do Paleoproterozóico. ras vulcânicas abatidas (Fig. 8). A grande estrutu-

Figura 8 - Mapa geológico da área da mineralização low-sulfidation (Corrêa-Silva 2002).

245
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Província Tapajós

ra circular que ocorre na área apresenta caracte- tos, incluindo plagioclásio intensamente zonado,
rísticas de ash-flow caldeira, destacando-se pelas com até 1,5 cm de comprimento e, mais raramen-
suas dimensões (~ 22 km de diâmetro), pela ocor- te, de quartzo bipiramidado. Biotita e anfibólio,
rência de vents de pequenos vulcões e de condu- comumente substituídos por biotita e/ou clorita hi-
tos magmáticos nas bordas da estrutura abatida drotermal, são os máficos. Essas rochas afloram
e ao longo das fraturas circulares e de falhas trans- nas porções centrais e adjacências de estruturas
correntes de direção principal NW-SE, e pela res- circulares concêntricas, onde definem stocks ou
surgência do magmatismo, indicada pela ocorrên- diques nas rochas vulcânicas e vulcanoclásticas fél-
cia de domos riolíticos internos, associados a es- sicas.
truturas circulares com 1 a 5 km de diâmetro (Cor- O embasamento das vulcânicas é formado por
rêa-Silva 2002). Mais dois remanescentes de cal- granitos cinzas a róseos geralmente leucocráticos,
deiras foram identificados por L. Corracini (Com. maciços, localmente deformados por zonas de fa-
Verbal) e Kahwage (2010) na região. lhas. São rochas faneríticas de granulação média
a grossa, inequigranulares, localmente porfiríticas,
Rochas Hospedeiras com megacristais de feldspato potássico e plagio-
clásio dispersos em matriz fanerítica média a gros-
A mineralização de Cu-Mo-(Au) é hospedada por sa constituída por quartzo, plagioclásio, feldspato
rochas vulcânicas e vulcanoclásticas félsicas do Gru- potássico e biotita.
po Iriri lato sensu e por pórfiros. As vulcânicas fo-
ram agrupadas em duas sequências litotípicas, uma Alterações Hidrotermais e Mineralização de Cu-Mo-(Au)
inferior, com derrames de andesito, dacito, traqui-
dacito e, principalmente, riolito porfirítico e, uma As alterações hidrotermais associadas à mine-
superior, com riolitos, ignimbritos, tufos, tufos de ralização low-sulfidation ocorrem nas vulcânicas e
cristais, arenito vulcânico epiclástico, tufitos sedi- vulcanoclásticas e são definidas por zonas de: (a)
mentos lacustres e chert. Os últimos correspon- alteração sericítica com adulária, com sericita,
dem aos depósitos de preenchimento da depres- quartzo, adulária, pirita, calcopirita, molibdenita,
são da caldeira por tufos, tufito, arenito epiclásti- ouro, rutilo, titanita, seguida por uma zona de (b)
co e sedimentos, que evidenciam retrabalhamen- alteração propilítica com adulária, com clorita, cal-
to subaquático, silicificação diagenética e deposi- cita placóide, epídoto, fluorita, albita, adulária, cal-
ção de leitos de chert que sugerem atuação de copirita, pirita, quartzo, leucoxênio, rutilo e barita
processos exalativos intracaldeira subaquáticos, e, zonas de (c) alteração argílica com caolinita, cal-
em ambiente lacustre. cedônia, allofana, quartzo microcristalino e hema-
Os riolitos porfiríticos têm cor rosa a vermelho- tita esporádica. Sem se relacionar geneticamente
acastanhado escuro e fenocristais bipiramidados ao sistema epitermal, formaram-se zonas de alte-
de quartzo e fenocristais de feldspato potássico e ração sericítica nas zonas de falhas, com sericita,
plagioclásio em matriz fanerítica muito fina a afa- quartzo, sulfetos, mas sem adulária. Condições de
nítica. Geralmente são maciços, com local estrutu- pressão e temperatura entre 1,5 e 0,2 kbar e 410
ra de fluxo. Estudos geoquímicos indicam que as e 350 oC foram estimadas por geotermobarome-
vulcânicas são cálcio-alcalinas de ambiente de arco tria do estágio de alteração propilítica (Correa-Sil-
vulcânico associado a um contexto colisional, com va 2002).
riolitos mais evoluídos indicando formação em um Alteração hidrotermal induzida pela intrusão
ambiente transicional para regime distensivo in- dos diques de pórfiro, por sua vez usualmente in-
traplaca (Kahwage 2010). Nessa ocorrência, não tensamente hidrotermalizados, resultou em me-
foi reconhecido silica cap e tanto a erosão como a tassomatismo potássico inicial, com formação de
deformação relacionada a zonas de cisalhamento feldspato potássico e biotita, seguido por uma fase
foram mais intensas. Essas sequências foram in- de propilitização, geralmente forte, chegando até
terceptadas por vários diques de pórfiros riolíti- mesmo a substituir completamente os feldspatos
cos, que associam-se espacialmente aos halos de e a matriz, e alteração sericítica com sulfetos, co-
alteração hidrotermal. mumente acompanhada por silicificação.
O pórfiros são rochas cinzas a marrons de ma- A mineralização de ouro, cobre e molibdênio as-
triz fina a muito fina, com fenocristais de feldspa- socia-se a sulfetos disseminados e vênulas nas

246
Caetano Juliani et al.

rochas hidrotermalizadas e incluem pirita, calcopi- de 2007, a produção da mina foi de 888 kg de
rita, molibdenita, galena e esfalerita. Esses mine- ouro e 448 t de cobre (Mártires & Santana 2008).
rais estão presentes em todos os estágios de al- As atividades da mina foram encerradas em 2010,
teração hidrotermal, mas os maiores teores des- mas há planos para retomada das atividades em
tes elementos estão relacionados com as altera- 2012, após uma nova etapa de avaliação das re-
ções propilítica e sericítica, tanto nos pórfiros como servas e recursos que está se encerrando, na qual
nas vulcânicas. Diversos sistemas de vênulas ir- foram medidas reservas de ~ 9 t de Au.
regulares, as iniciais já soldadas, com quartzo, cal-
copirita, bornita e pirita em menor volume, são tam- Rochas Hospedeiras
bém comuns. Fases minerais inclusas na calcopiri-
ta compreendem prata nativa, argentita, hessita, Na área da mina afloram os granodioritos Pa-
bismutinita e telureto de bismuto (possivelmente rauari e Fofofoquinha, os granitos Rio Novo, Palito
tsumoita), anilita, covelita e calcosina. Em geoquí- e Maloquinha, pequenas intrusões de magnetita
mica de solo nota-se uma anomalia de cobre apro- granito, diques de pórfiros e rochas básicas, sen-
ximadamente circular com cerca de 1,5 km, com a do algumas dessas hidrotermalizadas, além de di-
sobreposição de uma anomalia de molibidênio. ques de brechas hidrotermais e rochas cataclásti-
O sistema epitermal low-sulfidation (adulária- cas em zonas de falhas (Fig. 9). Nas proximidades
sericita) desenvolveu-se nos estágios finais da da mina ocorrem ainda coberturas de riolitos e de
fase sin- a pós-abatimento da caldeira, quando ignimbritos, bem como stocks de granitos verme-
da colocação em superfície dos domos riolíticos e lhos semelhantes aos da Suite Intrusiva Maloqui-
ignimbritos, e em subprofundidade, quando da in- nha, mas ainda não estudados.
trusão sucessiva de corpos graníticos rasos e di- O Granodiorito Parauari é constituído por ro-
ques de pórfiros, responsáveis pela reativação das chas cinza-claras porfiríticas de granulação muito
células convectivas (Corrêa-Silva 2002). A mine- grossa a grossa levemente foliados, com mega-
ralização epitermal low-sufidation apresenta sobre- cristais de plagioclásio em teores muito variáveis,
posição de mineralização do tipo pórfiro associa- dispersos numa matriz cinza de granulação mé-
da aos diques de porfiros riolíticos. dia, com biotita e hornblenda. A geomorfologia su-
Essa ocorrência de mineralização low-sulfidati- gere que há corpos de granodiorito do mesmo
on (adulária-sericita) deve compartilhar uma gê- evento intrusivos nessa unidade, definidos por
nese comum aos depósitos auríferos high-sulfida- estruturas circulares complexas, semelhantes às
tion mas os fluidos hidrotermais desse sistema não descritas por Juliani et al. (2002) no Granito Bata-
foram ainda estudados. lha, ou às das intrusões dos pórfiros riodacíticos
Adulária já havia sido identificada na Província associados à mineralização high-sulfidation (Julia-
Aurífera do Tapajós por Dreher et al. (1998) em ni et al. 2005).
veios de quartzo das bordas de diques básicos O Granodiorito Fofoquinha consiste de rochas
da Suíte Intrusiva Ingarana. Os autores sugeri- cinzas, cinza-escuras e cinza-esverdeadas, de gra-
ram sua possível correlação com sistemas epiter- nulação geralmente média, por vezes levemente
mais de low-sulfidation. Contudo, o contexto geo- porfirítica, não foliadas. As rochas possuem até
lógico distinto da ocorrência em discussão não pa- 20% de anfibólio, têm cristais mais grossos de pla-
rece ser o usual das mineralizações low-sulfidati- gioclásio intensamente zonado e magnetita rela-
on, assim como a associação mineral descrita. tivamente abundante, bem como sulfetos disse-
minados. Variações composicionais para quartzo
Depósito de Au-(Cu) do tipo pórfiro: Mina do diorito, tonalito e monzodiorito foram também ob-
Palito servadas petrograficamente, mas não foi possível
a delimitação de corpos desses litotipos. Nessa
A Mina do Palito representou a primeira mina unidade também ocorrem diques irregulares, com
em operação no Domínio Tapajós, apresentando até alguns metros de espessura máxima, de pór-
recursos totais de 5.700.000 t de minério com te- firo riodacítico e veios de brechas hidrotermais com
ores de 3,88 g/t Au, 2,20 g/t Ag e 0,16% Cu, equi- alguns decímetros de largura. O contato com o Gra-
valendo a cerca de 22 t de ouro, 12,5 t de prata e nodiorito Parauari não foi observado em campo,
9.047 t de cobre contidos (Notto 2007). No ano mas análises de imagens de satélite e de radar

247
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Província Tapajós

Figura 9 - Mapa geológico simplificado da área da Mina do Palito e arredores.

sugerem que o Granodiorito Fofoquinha é intrusi- estrutura circular, não mineralizado. As fácies sub-
vo nele. Dessa forma, a sequência dos eventos vulcânicas do Granito Rio Novo possuem matriz mui-
magmáticos associados à formação da minerali- to fina a afanítica e fenocristais de feldspato po-
zação da Mina do Palito pode ter se iniciado com a tássico e restos de quartzo bipiramidado, além de
intrusão de uma fase menos evoluída, represen- estruturas elípticas com formas de cálice, sugesti-
tada pelo Granodiorito Fofoquinha, no Granodiori- vas de condutos magmáticos do tipo cone-em-
to Parauari, seguida pela intrusão do Granito Rio cone.
Novo e pelo Granito Palito. O Granito Palito constitui dois pequenos cor-
O Granito Rio Novo é intrusivo no Granodiorito pos associados a estruturas circulares, o principal
Fofoquinha, e é um corpo aproximadamente circu- deles intrusivo no contato do Granodiorito Fofo-
lar em planta, com ~ 7 x 8 km. Suas rochas têm quinha com o Granito Rio Novo, onde desenvol-
granulação média, matriz fina a muito fina com bi- veu-se o antigo garimpo de ouro. Esse granito é o
otita e anfibólio e fenocristais de feldspato potás- principal hospedeiro dos veios de quartzo sulfe-
sico e, menos comumente, de plagioclásio zona- tados e mineralizados em ouro da Mina do Palito.
do, resultando em textura porfirítica. São comuns O granito forma um corpo alongado na direção NE-
texturas granofíricas e cavidades miarolíticas pouco SW com aproximadamente 2 km de comprimento,
desenvolvidas, indicando nível de colocação crus- encaixado no contato entre o Granodiorito Fofo-
tal raso. Rochas de cristalização relativamente pro- quinha e o Granito Rio Novo. Suas rochas exibem
funda ocorrem na parte sudoeste e, mais rasas, estruturas de fluxo magmático, granulação fina a
na porção sul, onde ocorrem intrusões múltiplas média, textura inequigranular, localmente porfirí-
amalgamadas de pórfiros nas proximidades de ro- tica e granofírica, quartzo bipiramidado e cavida-
chas vulcânicas e vulcanoclásticas félsicas. Nessa des miarolíticas, indicativas de cristalização em am-
área aflora também um pórfiro granítico em uma biente subvulcânico. Xenólitos do Granito Rio Novo

248
Caetano Juliani et al.

não são raros nessa unidade. As atitudes dos flu- Litoquímica e Geoquímica Isotópica
xos magmáticos e os contatos com as encaixan-
tes, definidos por aproximadamente 60 sondagens Segundo Echeverri-Misas (2010), uma mesma
rotativas, permitem interpretar a intrusão como a filiação magmática pode ser indicada para o Gra-
raiz e a parte intermediária de um domo (Silva nodiorito Fofoquinha, Granodiorito Parauari, Gra-
2004). Pelo menos dois eventos de colocação de nito Rio Novo e para o Granito Palito, que repre-
diques de pórfiros riolíticos cortam essas rochas, senta o termo mais evoluído, como evidenciado
alguns hidrotermalizados, outros não. São tam- por elementos maiores, traços e ETR. O conjunto
bém comuns diques de rochas máficas, gabróicas compõe uma série magmática cálcio-alcalina, com
ou de granulação fina a média, geralmente hidro- termos finais fortemente evoluídos, com caracte-
termalizadas, pequenas intrusões circulares de rísticas álcali-cálcicas. Segundo o autor, as carac-
magnetita granito porfirítico e de granito marrom terísticas químicas dessas rochas, indica geração
dentro do Granodiorito Fofoquinha, intrusões me- em margens continentais ativas, com evolução
nores de granito avermelhado, veios de aplito, di- para intraplaca nas fases finais, compatível com
ques de pórfiros graníticos riodacíticos e de bre- ambiente de arco vulcano-plutônico de margem
chas hidrotermais. continental ativa, como a Andina, evoluindo para
A norte da mina afloram riolitos e tufos com pre- um ambiente intraplaca no final da orogênese.
servação de glass shards cristalizados. As rochas A profundidade de formação dos magmas, de-
têm estrutura finamente laminada, suavemente finida pelos teores de Rb e Sr (Condie 1973), se-
dobrada e truncada por estruturas mais espaça- ria superior a 30 km, o que seria compatível com
das e verticais. São comuns nódulos de sílica, es- um ambiente de arco magmático continental. A pre-
truturas de queda de fragmentos líticos e de cris- sença de anomalias de cério em rochas de todas
tal finos, microestratificação cruzada, granodecres- as unidades magmáticas, embora possam ser re-
cência e marcas onduladas, indicando deposição sultantes das alterações hidrotermais, podem tam-
relativamente distal de cinzas vulcânicas em am- bér serem devidas à presença de fluidos marinhos
biente subaéreo. Porções de poucos milímetros a na zona de subducção. Essas rochas, portanto,
centímetros de púmice mostram uma variada taxa poderiam ter se formado em arco magmático as-
de compactação na rocha, indicando que podem sociado à subducção de uma placa oceânica.
ocorrer welded tuffs nessa unidade, o que sugere Dados isotópicos de Sm-Nd de amostras repre-
que o conjunto das vulcanoclásticas pode repre- sentativas da região da Mina do Palito indicam ida-
sentar ignimbritos, com depósitos de queda reo- des modelo (TDM) correspondentes para o manto
logicamente deformados. As relações com as ro- empobrecido (DePaolo 1981) entre 2,15 e 2,36 Ga
chas intrusivas não puderam ser estabelecidas nos para os granitos Palito e Rio Novo e para o Grano-
trabalhos de campo, mas a sua associação com diorito Fofoquinha, de 2,08 Ga para os pórfiros gra-
riolitos marrons com fenocristais bipiramidados de níticos e entre 2,33 e 2,37 Ga para as rochas bá-
quartzo e a sua distribuição ao redor do stock Rio sicas. Os valores de εNd (t = 1880 Ma) dos granitói-
Novo sugere que essas rochas podem ser os com- des situam-se entre –3,2 a –1,0, dos pórfiros en-
ponente efusivos do evento magmático que ge- tre –0,2 a +0,3 e das rochas básicas entre –2,1 e
rou os granitos Rio Novo e Palito. Caso essa cor- –2,0. Tais resultados apontam para provável con-
relação se confirme, poderia ser inferido que o taminação/assimilação dos magmas cálcio-alcali-
Granito Rio Novo corresponde à raiz de uma cal- nos originalmente mantélicos, com crosta paleo-
deira vulcânica erodida, ou seja, de um cauldron, proterozóica relativamente mais antiga ou até
segundo os conceitos de Lipman (1984). mesmo arqueana, em um cenário de final de oro-
Uma zona de falhas rúpteis NW-SE corta essas gênese do tipo Andina, o que explicaria os valo-
unidades e afeta os veios de quartzo e de sulfe- res de εNd oscilantes entre positivo e negativo.
tos mineralizados em ouro e cobre. Nessas falhas
houve formação de veios de quartzo, alguns mui- Aspectos Estruturais
to ricos em pirita euhédrica, com carbonatos e flu-
orita, subordinados, mas sem a presença de cal- Estruturas rúpteis condicionam a mineralização
copirita e de ouro, o que permite inferir formação auro-cuprífera da Mina do Palito que, comumente,
posterior à da mineralização auro-cuprífera. associa-se também a stockworks. Nas galerias

249
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Província Tapajós

subterrâneas da Mina do Palito são comuns fratu- drotermais foram localmente canalizados. O felds-
ras e corpos e veios de brechas paralelos aos vei- pato potássico hidrotermal é principalmente o mi-
os mineralizados de direção NW-SE. Falhas trans- croclínio com geminação em grade mal desenvol-
correntes e inversas NW-SE afetam os minerais vida ou ausente, que forma coronas ao redor dos
produzidos pela alteração hidrotermal e os veios cristais ígneos. Apresenta tipicas texturas de infil-
mineralizados, estirando-os e segmentando-os. tração com terminações em cunha e, localmente,
Um sistema de falhas NE-SW trunca os corpos mi- algumas faces sub-euhédricas, indicando dissolu-
neralizados, assim como zonas de cisalhamento ção e abertura de espaços, ou preenchimento de
de direção NW-SE. Usualmente o Granito Palito en- cavidades miarolíticas. Geralmente esse feldspa-
contra-se variavelmente afetado por falhas rúp- to oblitera as texturas granofíricas e substitui qua-
teis, chegando a configurar zonas que se asse- se que totalmente o plagioclásio e o feldspato po-
melham com brechas com fragmentos tabulares tássico ígneos, que podem restar no seu núcleo,
angulosos. Comumente, ao longo dessas falhas por vezes com relíquias de pertita e mesopertita.
observa-se apenas cloritização não muito inten- O feldspato potássico hidrotermal é vermelho for-
sa, silicificação fraca, além de pirita, carbonatos e te e, sob microscópio, de aspecto turvo e verme-
fluorita abundantes. lho, o que tem levado alguns autores a interpre-
tar essa alteração como hematitização. Entretan-
Alteração Hidrotermal to, esse aspecto ocorre apenas devido à oxida-
ção do Fe2+ presente nos feldspatos ígneos que
O Granito Palito é o principal hospedeiro dos resulta na cristalização de cristais submicroscópi-
minérios de ouro e cobre, e tem como característi- cos de hematita, tal como observado por Boone
ca marcante uma cor vermelha intensa, produto (1969) nos feldspatos hidrotermais em depósitos
do forte metassomatismo potássico que o afetou do tipo pórfiro nos EUA, não constituindo, de fato
em estilo e intensidade variável. Em menor volu- uma hematitização. Relativamente aos pórfiros de
me observa-se alteração hidrotermal propilítica, se- cobre, esse feldspato tem cor vermelha mais in-
ricítica, silicificação e cloritização tardia, além de tensa, o que é devido ao #Fe comparativamente
metassomatismo sódico muito local. Esse último é mais alto nessas rochas ígneas evoluídas. O me-
caracterizado pela cristalização de orlas descontí- tassomatismo potássico resulta também na cris-
nuas e irregulares de albita, e pela corrosão e in- talização de biotita hidrotermal, que substitui a
filtração de albita em feldspatos ígneos ou em biotita e o anfibólio ígneos. Essa biotita tem com-
agregados granofíricos. Um aspecto relevante na posição química sempre distinta da biotita ígnea.
alteração hidrotermal ao redor da Mina do Palito é Segue-se ao metassomatismo potássico um
que a intensidade da alteração hidrotermal aumen- estágio de alteração propilítica relativamente in-
ta nas partes mais rasas do Granito Palito e junto tensa em fraturas e zonas de stockworks, carac-
ao contato com as encaixantes Rio Novo e Fofo- terizada pela associação de clorita, albita e epi-
quinha, mas diminui sensivelmente ao se afastar doto, com variáveis teores de sericita e algum car-
dos contatos. Adicionalmente, os veios minerali- bonato. Clorita tardia também preenche fraturas,
zados são também gradativamente mais delga- assim como feldspato potássico, observado ao lon-
dos e possuem menor teor de ouro e cobre quan- go de fraturas soldadas, com contatos difusos.
do mais distais em relação ao Granito Palito, indi- Esse estilo da alteração reflete uma evolução con-
cando que o hidrotermalismo centraliza-se nesse tínua do sistema hidrotermal de temperaturas mais
granito. Destaca-se ainda que nas encaixantes elevadas para mais baixas, mas com a repetição
predomina a alteração propilítica. de diversos pulsos de influxo de fluidos, alguns
O estágio inicial principal da alteração hidroter- deles mais quentes.
mal é caracterizado por metassomatismo potássi- Um terceiro estágio de alteração hidrotermal,
co forte a localmente fissural, com aspecto difuso de caráter fissural a pervasivo seletivo, afetou prin-
e gradacional. Em alguns locais, em especial em cipalmente os feldspatos do Granito Palito. Esta é
níveis mais profundos, o granito foi mais fracamen- uma típica alteração sericítica (sericita + quartzo
te metassomatizado, resultando em blocos de gra- + sulfetos, ou QSP), com a qual se associam sulfe-
nito mais claros e com textura ígnea e granofírica tação, silicificação e a mineralização auro-cuprífe-
melhor preservadas, indicando que os fluidos hi- ra. Localmente, especialmente nas proximidades

250
Caetano Juliani et al.

da cúpula e nas porções distais do Granito Palito, sulfetos disseminados ou sob a forma de vênulas
ocorre alteração argílica em fissuras, com pirofili- de quartzo e/ou sulfetos ou em stockworks. Em
ta, sericita e caolinita. quase toda extensão da zona hidrotermalizada do
granito ocorrem veios de alteração sericítica com
veios de quartzo ou não, sempre com sulfetos, as-
Minério de Ouro-(Cobre)
sim como fraturas com alteração clorítica irregu-
larmente distribuídas contendo sulfetos, ora es-
O minério associa-se a sistemas de veios de parsas, ora mais concentradas. Essas zonas são
quartzo sulfetados e veios de sulfeto maciço ori- estéreis em relação aos veios principais, mas amos-
entados segundo as direções NW-SE e W-E, além tras compostas desses granitos coletados alea-
de stockworks e ocorrências de sulfetos finamen- toriamente na pilhas de estéril evidenciaram teo-
te disseminados, principalmente no Granito Palito res de ouro ao redor de 0,25 g/t.
(Fig. 10) e no Granito Rio Novo junto ao contato O ouro se associa quase que exclusivamente
com o granito anterior. com a calcopirita, mas teluretos e selenetos de
O minério associa-se principalmente aos veios bismuto e prata, sulfossais e ligas de ouro e prata
envolvidos sequencialmente pelas zonas de alte- (com 25 a 30% de Ag) são típicos do minério (Ta-
ração sericítica, propilítica e potássica, mas tam- bela 2). Há excelente correlação do ouro com a
bém ocorre nas zonas de alteração sericítica com sulfetação e, em particular, com cobre e bismuto.

Figura 10 - (A) Vista aérea da Mina do Palito, (B) Zona de stockwork de veios e vênulas mineralizados com
quartzo e sulfetos no Granodiorito Fofoquinha, junto ao contato com o Granito Palito. Notar as zonas forte-
mente sulfetadas e as complexas relações de sobreposição dos veios, (C) Corpo de minério constituído
predominantemente por calcopirita e pirita, (D) Veio de minério com sulfetos bandados com: (1) calcopirita,
(2) pirita, (3) brechas, (4) veio de quartzo e (5) Granito Palito hidrotermalizado e brechado, (E) Veio de
fluorita, (6) e quartzo (7).

251
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Província Tapajós

Todos os tipos de veios de minérios foram afe- rizados na Mina do Palito na maioria dos depósi-
tados por uma zona de falha sub-vertical orienta- tos do tipo pórfiro. Os veios ricos associados às
da na direção NW-SE, com a qual associam-se vei- falhas, alguns com mais de 5 m de espessura, são
os de quartzo com pirita, carbonatos e fluorita, comuns em pórfiros, como os dos depósitos de
além de alguns veios de pirita maciça, comumente classe mundial de Chuquicamata, Chile (Ossandón
tardias aos veios, como indicado pelas formas eu- et al. 2001) e Butte, Nevada, EUA (Lund et al.
hédricas, que pós-datam a mineralização aurífera. 2002). Portanto, estruturas tectônicas e os veios,
A concentração da alteração hidrotermal no tal qual descrito na Mina do Palito por Echeverri-
Granito Palito, a forma dômica, o ambiente raso Misas (2010), não são fatores limitantes à sua
da intrusão e a menor penetratividade dos fluidos classificação como do tipo pórfiro.
hidrotermais e da mineralização nas encaixantes,
juntamente com o tipo e o estilo das alterações Características dos Fluidos Mineralizantes
indicam que, apesar do controle estrutural dos vei-
os, os fluidos são derivados da cristalização de O estudo de inclusões fluidas conduzido por
magmas e não de devolatização metamórfica (oro- Costa (2008) identificou três tipos de fluidos na
gênicos) ao longo de zonas de falhas. Discute-se mineralização do Palito: (1) H2O-NaCl (< 2,0% peso
em alguns trabalhos a impossibilidade da minera- eq. NaCl), interpretado como meteórico, (2) H2O-
lização da Mina do Palito ser relacionada a siste- NaCl-FeCl2 (45-50% peso eq. NaCl), interpretado
mas do tipo pórfiro por causa da morfologia filoni- como salmoura magmática, e (3) H 2O-CO 2-NaCl
ana do minério e pelo fato dos veios estarem en- (1,0-1,7% peso eq. NaCl), interpretado como de
caixados em estruturas que podem ser correlaci- origem magmática. Dados microtermométricos com-
onadas a esforços tectônicos, além das texturas binados com o geotermômetro da clorita indicam
cataclásticas das falhas tardias que afetam as ro- aprisionamento das salmouras, consideradas res-
chas hidrotermalizadas e os minérios que gera- ponsáveis pela mineralização, entre 335 e 405 °C
ram veios de quartzo com pirita, carbonatos e flu- e entre 2,0 e 4,7 kbar.
orita. Entretanto, Berger & Drew (1998, em Ber- De acordo com Usero et al. (2011), estudos de
ger et al. 2008) e Drew (2006, em Berger et al. inclusões fluidas em quartzo de veios mineraliza-
2008), dentre vários outros autores, demonstram dos permitiram a identificação de um estágio de
que depósitos economicamente viáveis do tipo pór- exsolução precoce de fluidos magmáticos, indica-
firo somente se formam onde a permeabilidade é do por baixas salinidades (0,6 a 1,5% peso eq.
fortemente controlada pelas estruturas regionais, NaCl) a elevadas temperaturas (429 a 462 °C),
o que resulta em veios semelhantes aos caracte- seguida por boiling e posterior mistura de fluidos

Tabela 2 - Fases minerais identificadas no minério aurífero da Mina do Palito (Echeverri-Misas 2010).

252
Caetano Juliani et al.

com salinidades entre 0,3 a > 28,8% peso eq. NaCl cio-alcalinas de alto potássio, possivelmente as-
e temperaturas de homogeneização de 100 a > sociadas a uma caldeira vulcânica.
400 °C. A importância de fluidos magmáticos na A Mina do Palito tem padrão típico de zonamen-
evolução do depósito também é evidenciada pe- to das alterações hidrotermais potássica, propilí-
las altas salinidades (65% peso eq. NaCl) em in- tica e sericítica e associação da mineralização de
clusões fluidas em quartzo hidrotermal dos halos Au–(Cu) com veios sulfetados e de sulfetos maci-
de alteração potássica e pela presença de melt ços, além de zonas de sulfetos diseminados hos-
inclusions. pedadas principalmente no Granito Palito. Fluidos
Segundo Echeverri-Misas (2010), a composição inicialmente magmáticos de alta temperatura (450
isotópica de oxigênio dos fluidos hidrotermais em °C) e baixa salinidade, condizentes com aqueles
equilíbrio com quartzo (δ 18 O H2O VSMOW = +3,2 a da alteração potássica, foram posteriormente mis-
+5,6‰), sericita (+1,1 a +6,3‰), clorita (–2,6‰) turados com fluidos meteóricos a menor tempera-
e calcita (+6,2‰ a +21,1‰), a 350 °C, e com fel- tura e salinidade variável durante as alterações
dspato potássico (+6,3 a +7,2‰), a 450 °C, indi- propilítica e sericítica, o que propiciou a precipita-
ca estágios iniciais de alteração potássica com pre- ção do minério. Com a evolução do sistema hidro-
dominância de fluidos magmáticos e progressivo termal e a consequente queda na temperatura e
influxo de fluidos meteóricos durante os estágios na pressão, além dos reaquecimentos causados
de alteração propilítica e sericítica. pela ascensão da fonte magmática, acontecem
Os valores de δ34S dos sulfetos (+1,2 a +3,6‰) eventos de telescopagem e de overprinting, com
da Mina do Palito são próximos dos valores típicos sobreposição de diferentes tipos de alteração.
do enxofre magmático, embora um pouco mais ele- Posteriormente, falhas foram responsáveis por
vados em relação à assinatura do enxofre manté- deslocamentos dos veios e remobilização do mi-
lico (δ34S = 0 ±1‰, Eldridge et al. 1991). Tais valo- nério, além de um novo estágio hidrotermal.
res, no entanto, são compatíveis com assinaturas A geometria dos corpos mineralizados indica
isotópicas esperadas para enxofre derivado de ro- que as alterações hidrotermais ocorreram em um
chas ou fluidos magmáticos, que teria, de acordo sistema tectonicamente ativo, resultando na for-
com Ohmoto & Goldhaber (1997), valores de δ34S mação das zonas hidrotermalizadas e dos veios
entre 0 e ±5‰ (Echeverri-Misas 2010). ricos em estruturas tectônicas durante o colapso
da pluma hidrotermal, o que fez com que a mine-
Modelo Genético ralização da cúpula do granito se infiltrasse para
dentro das zonas de mais alta temperatura previ-
De acordo com Costa (2008), o estilo filoneano amente formadas. Isso implica que o nível atual
hospedado em rochas graníticas, o tipo de altera- da erosão já removeu as zonas mais enriquecidas
ção hidrotermal, a associação metálica e as carac- da cúpula da intrusão e atualmente estão sendo
terísticas do fluido mineralizante seriam compatí- expostas as raízes do pórfiro.
veis com as de depósitos relacionados a intrusões.
Segundo Juliani et al. (2008) e Echeverri-Misas Depósito de Au do Tipo Pórfiro Profundo: Depó-
(2010), os tipos, relações e evolução das unida- sito do Batalha
des magmáticas, os tipos, estilos e a disposição
espacial das zonas de alteração hidrotermal, os A mineralização de ouro do Batalha é hospe-
eventos de overprinting, as associações minerais dada pelo Granito Batalha (1883 ±4 Ma, U-Pb
e de metais da mineralização, as características SHRIMP em zircão, Santos et al. 2000), que com-
físico-químicas do fluido mineralizante (tempera- põe um corpo elíptico intrusivo em granitóides da
tura, composição, fontes e inclusões fluidas) da Suite Intrusiva Parauari. O corpo tem ~ 25 km2,
Mina do Palito são típicos de sistemas magmático- alinha-se segundo a direção NW-SE, é constituído
hidrotermais do tipo pórfiro e semelhantes aos de por hornblenda-biotita sieno- a monzogranito, me-
sistemas do tipo pórfiro mesozóicos e cenozóicos taluminoso a peraluminoso, cálcio-alcalino a su-
que hospedam grandes depósitos de Ouro e de balcalino e é tardi- a pós-colisional ao arco Parau-
metais de base. Na Mina do Palito, o sistema do ari (Fig. 11, Juliani et al. 2002).
tipo pórfiro foi gerado nas fases finais evoluídas Segundo Juliani et al. (2002), Granito Batalha
de um arco magmático continental, em rochas cál- cristalizou-se entre 5,6 e 4,2 kbar a temperaturas

253
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Província Tapajós

de 955 a 800 oC, em condições de fO2 próximas ao sistemas do tipo pórfiro.


tampão NNO. Esse ambiente de colocação é muito O Granito Batalha foi afetado por intensa alte-
profundo para um sistema do tipo pórfiro e os mag- ração hidrotermal iniciada com estágio de metas-
mas foram relativamente reduzidos e evoluídos, somatismo sódico pervasivo (Fig. 12), caracteri-
fazendo com que as características do sistema hi- zado pela cristalização intersticial de albita e subs-
drotermal se aproximem mais daqueles relaciona- tituição de plagioclásio e feldspato potássico íg-
das a Intrusion-Related Gold Systems (Sillitoe & neos por albita hidrotermal.
Thompson 1998, Thompson & Newberry 2000, Lang Esse estágio foi seguido por alteração potássi-
& Baker 2001) ou a pórfiros alcalinos. Entretanto, ca que resultou na substituição dos cristais de fel-
o alto conteúdo de cobre e a intensidade da alte- dspato potássico ígneos por microclínio e biotita,
ração hidrotermal indica uma maior afinidade com conferindo cor vermelha intensa à rocha hidro-

Figura 11 - Composição do Granito Batalha nos diagramas (A) de Brown (1982), (B) ACNK (Maniar & Piccoli
1989), (C) Ga/Al vs. índice agpaítico (Whalen et al. 1987), (D) Rb vs. Y+Nb (Pearce et al. 1984), (E) Hf-Ta*3/
Nb*30. ACNK = Al2O3/(CaO+Na2O+K2O), ANK = Al2O3/(Na2O+K2O). Abreviações em (D) significam granitos de
dorsais meso-oceânicas (ocean ridge granites, ORG), granitos de arco vulcânico (VAG), granitos intraplaca
(WPG) e granitos sin-colisionais (syn-COLG).

254
Caetano Juliani et al.

Figura 12 - Aspecto macroscópico do Granito Batalha. (A-D) Sequência de alteração hidrotermal observada
em rochas com alteração sódica inicial e formação de albita: (A) Granito menos alterado com fraca alteração
sódica, (B) Intensa alteração sódica (cinza-claro) com zona de alteração potássica, (C) Granito albitizado e
fortemente propilitizado, (D) Granito albitizado e propilitizado com sobreposição de alteração sericítica fissu-
ral em zona de cisalhamento. (E-H) Sequência de alteração hidrotermal observada em rochas com alteração
potássica inicial: (E) Granito menos alterado, (F) Granito com intensa alteração potássica, (G) Granito forte-
mente potassificado com sobreposição de alteração propilítica e sericítica fissural, (H) Granito com alteração
potássica e propilítica com sobreposição de alteração sericítia rica em sulfetos. Diâmetro dos testemunhos
de sondagem = 44 mm. Na = alteração sódica, K = alteração potássica, P = alteração propilítica, S = alteração
sericítica (Juliani et al. 2002).

termalizada. Propilitização pervasiva e fissural, re- ração potássica (Juliani et al. 2002), indicando que
presentada pela associação de epidoto, clinozoi- a profundidade de consolidação do Granito Bata-
sita, clorita, albita, carbonato e sulfetos, se so- lha seria condizente com a evolução inicial de um
brepôs aos estágios prévios de alteração hidro- sistema magmático-hidrotermal que poderia ge-
termal. Sericitização, também fissural a pervasi- rar depósitos do tipo pórfiro a partir da evolução
va, com cristalização de quartzo e sulfetos associ- de magmas da mesma filiação que pudessem al-
ados à sericita, representou a fase final desse cançar níveis crustais rasos. Equilíbrio entre bioti-
evento hidrotermal, com o qual relaciona-se a mi- ta e clorita a 2,6 kbar resulta em temperaturas
neralização aurífera (Fig. 12). entre 495 e 340 °C, correspondentes à transição
Cálculos geotermobarométricos indicam condi- da alteração potássica para a propilítica, enquan-
ções de 2,6 kbar e 492 °C para o estágio de alte- to que o geotermômetro da clorita forneceu con-

255
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Província Tapajós

dições de 358 a 288 °C para a alteração propilíti- neralizado de 700 x 150 m e 300 m de profundi-
ca. Intervalos de temperatura estimados para as- dade com e teor médio de 1,25 g/t Au com reser-
sociações minerais da alteração sericítica refletem vas medidas de 49 Mt de minério ou pouco mais
condições de equilíbrio a 288 °C a 1,2 kbar e re- de 61 t de ouro (Juras et al. 2011), o que torna o
equilíbrio em zonas de cisalhamento a 150 °C. Tocantinzinho o maior depósito aurífero da Pro-
As razões log(fH2O)/(fHCl) e log(fHF)/(fHCl) da víncia Mineral do Tapajós.
biotita hidrotermal da alteração potássica do Gra-
nito Batalha, segundo Munoz (1984) e Zhu & Sver- Rochas Hospedeiras
jenski (1992), são semelhantes às de biotita as-
sociada a metassomatismo potássico em depósi- A área do depósito Tocantinzinho integra o
tos de cobre do tipo pórfiro (Selby & Nesbitt 2000), ambiente tectônico de um arco magmático paleo-
apesar dos valores de log(fH2O)/(fHF) menores de- proterozóico e nela ocorrem granitóides de com-
vidos ao maior teor de flúor, característico de um posição sieno- a monzogranítica, associados a
magma de cristalização profunda. Os interceptos aplitos e pegmatitos, provavelmente co-magmáti-
de flúor [IV(F)] e flúor/cloro [IV(F/Cl)] (Munoz 1984) cos. Granodioritos e álcali-feldspato granitos tam-
da biotita hidrotermal são semelhantes aos de bém ocorrem, mas de forma subordinada. As ro-
depósitos de cobre do tipo pórfiro e de Sn-W-Be. chas sieno- e monzograníticas ocupam a zona cen-
Essa maior atividade do flúor é característica dos tral do depósito, sendo envolvidas por quartzo
fluidos hidrotermais do Granito Batalha, indicando monzonitos, como se neles fossem intrusivas, e
ter sido o magma mais diferenciado ou ter ocorri- são cortadas sucessivamente por diques de an-
do saturação precoce na fase vapor, que teria re- desito e de riolito (Figs. 13 e 14). Não expostos
sultado na remoção de cobre do melt na forma de em superfície, quartzo latitos porfiríticos foram in-
cloro-complexos (Candela 1989). terceptados localmente em sondagens (Mello
As características do sistema hidrotermal Bata- 2007). Essas variadas rochas vulcânicas indicam
lha assemelham-se a de sistemas reduzidos e pro- que um sistema magmático esteve ativo em pro-
fundos, associados a granitóides do tipo I, sem fundidade, mesmo após os granitóides hospedei-
magnetita, que tem sido relacionados a minerali- ros terem sido resfriados.
zações de ouro do tipo pórfiro (Rowins 2000), sem Granito Tocantinzinho é formado por sieno- e
enriquecimentos significativos de cobre (Leveille monzogranítica essencialmente isótropos de ida-
et al. 1988) e Intrusion-Related Gold Systems (Lang des de 2000 ±6 e 1998 ±7 Ma que afloram como
& Baker 2001). um corpo alongado na direção NW-SE (Castilho et
al. 2010), que provavelmente se alojou durante o
Depósito de Au relacionado a intrusões: Depó- final da orogênese Cuiú-Cuiú. O Granito Tocantin-
sito Tocantinzinho zinho é composto de microclínio (40-50%), oligo-
clásio (20-35%), quartzo (20-30%), biotita anníti-
O depósito Tocantinzinho está situado a apro- ca (2-8%) e ferro-edenita (0-2%), tendo como prin-
ximadamente 200 km ao sul da cidade de Itaituba cipais minerais acessórios primários zircão, mag-
(PA), dentro de uma estrutura de direção NW-SE netita, apatita, allanita, monazita, U-thorita e ti-
definida pelo lineamento homônimo, na qual se ali- tanita (Santiago et al. 2012). Ainda não datados,
nham outros depósitos auríferos, tais como São os diques de andesito e riolito foram correlaciona-
Jorge, Palito, Batalha, Bom Jardim, Tocantinzinho dos à Formação Vila Riozinho (Mello 2007), cuja
e Cuiú-Cuiú. Os programas de exploração na área idade foi determinada em 2000 ±4 a 1998 ±2 Ma
Tocantinzinho têm sido conduzidos por várias em- (Lamarão et al. 2005). Por ora, ainda não foi pos-
presas desde o final da década de 1990, dentre sível estabelecer as relações de contato da intru-
elas a Minera Altoro, a Solitario Resources Corpora- são granítica com unidades litoestratigráficas mais
tion, Jaguar Resources do Brasil (subsidiária da Bra- antigas da Província Aurífera Tapajós.
zauro Resources Corporation) e Unamgen Minera-
ção e Metalurgia Ltda (subsidiária da Eldorado Gold Alteração Hidrotermal
Corporation), esta última a atual detentora dos di-
reitos minerários do depósito. Das atividades ex- O granito Tocantinzinho não apresenta evidên-
ploratórias resultou a delimitação de um corpo mi- cias de deformação dúctil, porém se encontra bas-

256
Caetano Juliani et al.

Figura 13 - Mapa geológico do depósito Tocantinzinho hospedado no granito homônimo (Juras et al. 2011).

Figura 14 - Seção geológica SW-NE (700) do depósito Tocantinzinho. TOC-08-85: sondagem (Juras et al.
2011).

257
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Província Tapajós

tante fraturado e localmente brechado. Esse que- sericitização provavelmente resultou da ação dos
bramento foi provavelmente resultado de fratura- mesmos fluidos que precipitaram os sulfetos e o
mento hidráulico que propiciou a formação de vê- ouro. A associação fengita, quartzo, pirita ± calco-
nulas de quartzo e clorita, estéreis, contudo. Se- pirita ± esfalerita ± galena ± ouro é comum em
gundo Mello (2007), o selamento das fraturas pre- vênulas ou ocorre disseminada, especialmente
parou o granito para a nova fase de faturamento onde o plagioclásio foi intensamente destruído.
que ele teria experimentado durante a atividade Abundante fengita também foi formada nas zonas
magmática subsequente e responsável pelas vê- densamente fraturadas. O ouro está intimamente
nulas mineralizadas. Essas vênulas são em geral associado à pirita nas zonas sericitizadas.
milimétricas e ocorrem em folhas (sheeted veinlets)
com mergulhos subverticais. Mineralização Aurífera
Fluidos hidrotermais alteraram e mineralizaram
o granito Tocantinzinho, produzindo, além do de- A mineralização do depósito Tocantinzinho é
pósito de ouro, rochas hematitizadas estéreis e representada por ouro e sulfetos, principalmente
duas outras variedades, ambas mineralizadas e pirita, calcopirita, esfalerita e galena. A pirita é o
informalmente designadas de salame (cristais sulfeto mais abundante, que ocorre em cristais eu-
grossos de microclínio e quartzo, de coloração ró- hédricos a subeuhédricos, finos a grossos (0,09 a
sea a avermelhada e esbranquiçada a quase lei- l,5 mm) presentes em vênulas poliminerálicas, dis-
tosa, respectivamente) e smoky (coloração esver- seminados pelas zonas brechadas ou inclusos na
deada com tons acinzentados a esbranquiçados) esfalerita. A calcopirita é subordinada e ocorre
(Fig. 15). A distribuição espacial é tal que, nas zo- como lamelas de exsolução na esfalerita, em vei-
nas mais internas do depósito, as rochas hemati- os poliminerálicos e em substituição à pirita. A es-
tizadas balizam, com contatos mal definidos, as falerita se apresenta como inclusões de coloração
variedades salame e smoky, enquanto que, mais amarronzada e hábito coloforme em cristais de
externas, têm contatos, alguns tectônicos, com o pirita e calcopirita na variedade salame e, mais
quartzo monzonito (Fig. 14). comumente, como cristais opacos disseminados
Considerando-se a evolução do paleossistema pela rocha. A galena e o ouro ocorrem em finos
hidrotermal Tocantinzinho, reconhece-se um está- cristais, inclusos ou em fraturas da pirita, e disse-
gio precoce (E1), com a formação de vênulas de minados na rocha.
quartzo e clorita. No seguinte (E2), não necessa- As vênulas mineralizadas ocorrem em várias di-
riamente ligado ao resfriamento/cristalização do reções, o que confere o estilo stockwork à minera-
granito Tocantinzinho, durante o qual ocorreu a lização, mas duas delas são as mais proeminen-
mineralização, ocorreram estágios sucessivos com tes: N20-30o e N70-80o (Mello 2007). Do ponto de
formação mais profusa de clorita (cloritização), fen- vista paragenético, são distinguidas vênulas mais
gita (sericitização), quartzo (silicificação) e local antigas caracterizadas pela associação quartzo +
calcita (carbonatação). clorita + pirita + ouro e vênulas mais tardias cons-
Por ter sido contemporânea à mineralização, a tituídas de quartzo + carbonato + pirita ± calcopi-

Figura 15 - Aspecto do granito mineralizado (A) Smoky e (B) Salame da Mina do Tocantinzinho (Juras et al.
2011).

258
Caetano Juliani et al.

rita ± galena ± esfalerita ± ouro. Nesta segunda máticos (gnaisses do Complexo Cuiú-Cuiú), tendo
geração, o ouro pode ser visível a olho nú, especi- Ouro Roxo, Patinhas e Conceição, entre outros,
almente quando associado à galena e calcopirita. como exemplos. Os demais depósitos seriam rela-
cionados a intrusões, formados em condições epi-
Evolução do Sistema Hidrotermal zonais e subdivididos em (c) veios de quartzo-pi-
rita e disseminados em rochas afetadas por es-
Estudos de inclusões fluidas, ainda em anda- truturas rúpteis rasas, frequentemente associa-
mento, mostram que fluidos aquosos, raramente dos a diques de rochas básicas, e (d) dissemina-
saturados, e aquo-carbônicos foram aprisionados ções e stockworks, com magnetita hidrotermal, hos-
em cristais de quartzo. Dados preliminares das pedados em rochas máficas e sedimentares, par-
temperaturas de homogeneização acusam valo- tilhando algumas características com depósitos do
res entre 250 e 350 °C. Cristais de calcita precipi- tipo pórfiro. Por meio de isótopos de Pb e As, San-
tados durante o estágio da carbonatação forne- tos et al. (2001) entendem que apenas uma fase
ceram dados isotópicos de δ13CPDB entre +2,29 e de mineralização teria ocorrido na província, por
+3,09‰ e de δ18OSMOW entre +7,13 e +13,19‰. volta de 1,86 Ga, sendo responsável pela forma-
Estes valores mostram-se relativamente homogê- ção das duas classes de depósitos. Diferenças es-
neos e semelhantes aos de carbonatos derivados truturais estariam ligadas à profundidade de co-
de fontes crustais profundas com pouca, se algu- locação dos veios mineralizados.
ma, contribuição de material ou fluido superficial Klein et al. (2002), em estudo realizado em duas
(Castilho et al. 2010). dezenas de depósitos concentrados na porção sul-
As diversas características do depósito Tocan- sudoeste do Domínio Tapajós, propuseram o agru-
tinzinho, incluindo o ambiente tectônico colisional, pamento das mineralizações em cinco estilos, com
os granitos hospedeiros isótropos e o estilo da base no tipo de estrutura hospedeira e na estru-
mineralização em stockwork e disseminada são tura e texturas internas dos veios: (1) veios em
mais consistentes, segundo Santiago (2012) e San- zonas de cisalhamento, (2) veios em falhas oblí-
tigo et al. (2012), com os tipos relacionados a in- quas reversas de baixo a moderado ângulo, (3)
trusões (intrusion-related deposits). A confirmação veios de preenchimento de falhas, (4) zonas de
ou não dessa tipologia dependerá de dados mais stockworks, e (5) em brechas, sendo os mais abun-
completos sobre os fluidos mineralizadores (micro- dantes os estilos 1 e 3. Baseados nesses estilos,
termométricos e isotópicos) e da avaliação da pos- na mineralogia hidrotermal e no tipo e grau meta-
sível influência na gênese dos fluidos hidrotermais mórfico das rochas hospedeiras, Klein et al. (2002)
que circularam na área sob o controle da megaes- argumentaram que os dois primeiros tipos repre-
trutura Tocantinzinho. sentariam depósitos mesozonais e os três últimos
depósitos epizonais. Os mesmos autores propu-
DEPÓSITOS METAMÓRFICO-HIDROTERMAIS seram que os depósitos formaram-se em dois
eventos distintos. Os tipos 1 e 2 seriam mais anti-
Depósitos orogênicos de ouro gos, provavelmente relacionados ao regime trans-
corrente que afetou a Suíte Intrusiva Creporizão
A existência de depósitos orogênicos de ouro por volta de 1,97 - 1,95 Ga, o que é corroborado
na Província Tapajós é ainda controversa. Santos pelos dados isotópicos (Vasquez et al. 2000, Cou-
et al. (2001) propuseram duas classes de depósi- tinho 2008, Lafon & Coutinho 2008) e se encaixa-
tos para a província, orogênicos e relacionados a riam no modelo de depósitos de ouro orogênico.
intrusões. Os depósitos orogênicos seriam meso- Os tipos 4 e 5 seriam mais jovens, possivelmente
zonais e subdivididos em: (a) veios de quartzo- do tipo relacionado a intrusões, no que concor-
sulfeto e disseminados em zonas de cisalhamen- dam com parte da proposta de Santos et al. (2001).
to dúctil, associados ao Grupo Jacareacanga (me- Já o tipo 3 poderia pertencer às duas classes, sen-
tavulcanossedimentar, com possíveis metaturbidi- do que Klein et al. (2002) sugeriram que aqueles
tos), tendo Buiuçu, Maués e Tapajós como repre- veios associados aos tipos 1 e 2, num mesmo cam-
sentantes, (b) veios de quartzo-sulfeto-carbona- po mineralizado, poderiam pertencer a essa mes-
to e disseminados em estruturas rúpteis-dúcteis, ma classe, enquanto que a maioria, pertenceria à
hospedados em rochas formadas em arcos mag- classe dos depósitos relacionados a intrusões.

259
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Província Tapajós

Klein et al. (2001) e Coutinho (2008) interpre- entação sub-meridiana e vertical (Santos 1997,
taram Guarim, um dos prospectos do campo mine- Santos et al. 2001).
ral do Cuiú-Cuiú, na porção central do Domínio Ta- Coutinho (2008) caracterizou o fluido minerali-
pajós, como um depósito orogênico epizonal a me- zante com valores de δ18O = +4,9‰ e δD = 56‰,
sozonal, com base em dados estruturais, na pre- compatíveis tanto com derivação metamórfica
sença de brechas e nas características físico-quí- quanto magmática.
micas dos fluidos mineralizantes obtidas a partir
de estudos de isótopos estáveis e inclusões flui- OURO ROXO
das. Contudo, Klein et al. (2001) salientaram que
as características são também semelhantes às de O depósito do Ouro Roxo localiza-se na porção
alguns tipos de depósitos relacionados a intru- oeste da Província Tapajós. Avaliação econômica
sões, como os do tipo Coreano (Korean type), em- preliminar do depósito mostra reserva inferida de
bora salinidades maiores fossem esperadas. En- 1,34 Mt de minério saprolítico e oxidado, com 5,8
tretanto, estudos preliminares recentes conduzi- g/t de ouro, totalizando 7,8 t de ouro contido (Ke-
dos em vários depósitos e prospectos do campo ller & Couture 2006).
mineral do Cuiú-Cuiú, estão propiciando a revisão Keller & Couture (2006) descrevem que as ro-
da metalogenia do ouro desse campo, o que tem chas hospedeiras dos corpos de minério consis-
indicado que a mineralização pode estar associa- tem de uma unidade inferior diorítica a granodiorí-
da a fluidos derivados de granitóides (Araújo et al. tica e protomilonítica, sobreposta por uma unida-
2012, Assunção et al. 2012, Queiroz & Klein 2012, de intermediária de brechas, protomilonitos, milo-
Silva Jr. et al. 2012). nitos e ultramilonitos e uma superior gnáissica. Os
Coutinho (2008), baseada no estudo geológi- contatos entre as unidades são milonitos. Os cor-
co, geoquímico, isotópico e de inclusões fluidas em pos de minério estão hospedados predominante-
vinte prospectos auríferos, atribuiu o modelo oro- mente na unidade intermediária. Veloso (2011) des-
gênico para todos os prospectos estudados e, por creve as rochas hospedeiras como granodioritos
conseguinte, para toda a Província Mineral do Ta- e dioritos milonitizados atribuídos por Santos et
pajós. Diferenças em aspectos geológicos, mine- al. (2001) à Suíte Intrusiva Tropas, de idade 1,89
ralógicos e na composição de fluidos estariam, se- a 1,91 Ga, e tida como unidade cálcio-alcalina de
gundo a autora, relacionadas à formação dos ja- arco magmático.
zimentos em distintas profundidades e momentos Esssa mineralização associa-se à zona de ci-
da evolução tectônica da província. Nesse contex- salhamento Ouro Roxo-Canta Galo, de caracterís-
to, os depósitos orogênicos mesozonais teriam se ticas rúptil-dúctil N-S, e está hospedada em bre-
formado em regime dúctil durante uma fase acres- chas, protomilonitos e milonitos com intercalações
cionária relacionada com a subducção e a forma- mais preservadas dos granitóides (Veloso 2011).
ção de arcos magmáticos. Já os depósitos epizo- Essa zona de cisalhamento ainda carece de me-
nais, caracterizados por veios de quartzo, sto- lhor caracterização, sendo ora descrita como trans-
ckworks e disseminações, teriam se formado pos- corrente oblíqua sinistrógira com mergulho de 75°
teriormente em uma fase de underplating, com sub- para sudeste (Ferreira et al. 2000), ora como de
sequente desenvolvimento de um mega-sistema empurrão, com mergulho de 35° para leste (Keller
de zonas de falhas transcorrentes rúpteis. & Couture 2006).
Os corpos de minério são veios de quartzo e
MAUÉS (ESPÍRITO SANTO) sulfeto cisalhados e/ou brechados e há uma rela-
ção direta entre os conteúdos de sulfetos e teo-
O prospecto Maués (ou Espírito Santo) locali- res de ouro. Os veios são concordante com a es-
za-se próximo ao limite oeste da Província Tapa- trutura da hospedeira e possuem envelope hidro-
jós. Compreende veios de quartzo e minério dis- termal bem desenvolvido, em geral proporcional à
seminado hospedados em uma estrutura trans- espessura dos veios (Veloso 2011). A autora des-
pressiva de orientação N20°W/subvertical que cor- creve três tipos de alteração hidrotermal: (1) pro-
ta sericita xistos do Grupo Jacareacanga. O corpo pilítica (clorita + fengita + carbonato), com três
de minério foi posteriormente retrabalhado por gerações de clorita, a última venular, (2) sericítica
deformação dúctil transcorrente sinistrógira de ori- (fengita + quartzo + carbonato + pirita), (3) car-

260
Caetano Juliani et al.

bonatação, com três gerações de carbonato, a úl- mente (MSWD > 5000) em torno de uma linha que
tima venular. Além desses tipos, silicificação e sul- representa uma idade de 1858 ±130 Ma. Apesar
fetação também ocorrem, mais restritas aos cor- do erro muito grande, a autora atribuiu uma rela-
pos de minério, com cinco gerações de quartzo. O ção temporal da mineralização e do cisalhamento
minério está relacionado com a quarta geração de com a colocação de granitóides da Suíte Intrusiva
quartzo. Keller & Couture (2006) descrevem tam- Maloquinha e advogou um modelo genético oro-
bém zonas com epidotização. gênico com participação de fluidos magmáticos.
O minério sulfetado é composto por pirita e cal-
copirita, com bismutinita, bismuto nativo e ouro PATINHAS
(Frantz et al. 2005, Veloso 2011). Partículas de
ouro mostram a presença de <10% Cu, 0,6% Pd e O prospecto Patinhas localiza-se na porção cen-
0,2% Bi (Frantz et al. 2005). Keller & Couture tro-sudeste do Domínio Tapajós. É caracterizado
(2006) descrevem a ocorrência também de borni- por um veio de quartzo aurífero com espessura
ta e de electrum no contato entre cristais de quart- média de 70 cm hospedado em zona de cisalha-
zo e calcopirita e de quartzo e pirita, incluso na mento rúptil-dúctil, transcorrente, subvertical, ori-
pirita, e intercrescido com bismuto nativo e sulfos- entada segundo NE-SW, que corta um gnaisse gra-
sais de bismuto. nodiorítico do Complexo Cuiú-Cuiú (~ 2,0 Ga). Em
Veloso (2011), em estudo de inclusões fluidas, sua porção central, o quartzo é leitoso, maciço e
identificou três tipos de fluidos: (1) H2O-NaCl-MgCl2- rico em pirita, enquanto que no contato com a ro-
FeCl2 (6-18% peso eq. NaCl, T = 180-280 °C), (2) cha encaixante é foliado. Esse contato é também
H2O-NaCl-CaCl2-(salmoura magmática com ~ 30% marcado por estreito halo de alteração hidroter-
peso eq. NaCl, T = 270-400 °C), diluído por mistu- mal com sulfetos disseminados e pela deformação
ra com água meteórica (T = 120-380 °C), (3) H2O- dúctil imposta à rocha encaixante pelo cisalhamen-
CO2-NaCl (20% peso eq. NaCl, T = 230-430 °C). O to. O caráter estrutural é sugestivo de posiciona-
fluido aquo-carbônico foi interpretado como mine- mento do veio em profundidade moderada, em
ralizador e relacionado ao cisalhamento, com tem- estrutura ativa, cujo desenvolvimento estendeu-
peratura crescente com a profundidade. As condi- se por algum tempo após a formação do veio (Klein
ções da mineralização, considerando os dados de et al. 2004).
inclusões fluidas e geotermometria da clorita, fo- Parâmetros físico-químicos estimados a partir
ram estimadas em 315 a 395 °C e 2,0 a 4,2 kb. de dados de inclusões fluidas (Klein et al. 2004)
Ainda, de acordo com a autora, a precipitação do indicaram que a mineralização deu-se entre 307 e
minério pode ter ocorrido em resposta a reações 389 oC, sob pressão média de 2,1 kb, correspon-
de hidrólise (alterações sericítica e propilítica) e dendo a 7 km de profundidade, e que o fluido mi-
sulfetação, que provocariam aumento de fO2 e re- neralizador foi aquo-carbônico, com salinidade
dução de fS2 e/ou mistura do fluido aquo-carbôni- média de 6,6% em peso eq. de NaCl. O contexto
co com salmoura magmática. Frantz et al. (2005) geológico e os dados estruturais e de inclusões
descreveram fluidos semelhantes, mas sugerem fluidas levaram Klein et al. (2004) a interpretar Pa-
a existência de duas fases de aprisionamento de tinhas como um depósito orogênico mesozonal.
fluidos relacionados com a mineralização de ouro.
A mais antiga, responsável pela primeira fase de CONSIDERAÇÕES FINAIS
deposição de ouro em ~ 300 °C seria representa-
da por fluidos aquo-carbônicos de origem meta- O Domínio Tapajós caracteriza-se historicamen-
mórfica. A fase posterior, representada por fluidos te por representar uma importante província aurí-
aquosos salinos (12-21% peso eq. NaCl) possi- fera, com produção majoritária por garimpeiros e
velmente derivados de fonte magmática, seria res- em depósitos secundários. Entretanto, a ativida-
ponsável por remobilização do ouro precipitado no de garimpeira desenvolveu-se também de forma
primeiro estágio em temperaturas de ~ 260 °C. mecanizada em depósitos filonianos de alto teor,
Isótopos de Pb e S em sulfetos indicam fontes notadamente em suas porções oxidadas, onde foi
crustais (Frantz et al. 2005). Veloso (2011) apre- rentável a lavra por moagem e concentração gra-
sentou dados de isótopos de Pb em pirita obtidos vítica e, em diversos locais, lixiviação em pilhas foi
por lixiviação sequencial que se agrupam pobre- também utilizada para recuperação do ouro conti-

261
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Província Tapajós

do em sulfetos do rejeito das etapa anteriores. et al. 2011). Isso sugere que algumas zonas nas
Industrialmente destaca-se apenas a produção da quais a erosão da cobertura foi maior, especial-
Mina do Palito da Serabi Mineração. Algumas esti- mente ao longo do vale das principais drenagens,
mativas indicam que foi produzido, desde a des- podem ainda expor depósitos orogênicos.
coberta do ouro na província em 1958 até os dias Duas épocas são, à luz do conhecimento atual,
de hoje, até cerca de 750 t de ouro. Essa produ- potenciais para depósitos orogênicos: a) zonas de
ção tem há muito atraído a atenção de empresas transcorrência de 1,97-1,95 Ga, mais favoráveis
de mineração, que tem também focado seus es- para ocorrência de depósitos mesotermais (Klein
forços na busca de minérios filoneanos de alto teor, et al. 2002) e, b) zonas de falhas predominante-
cuja origem já foi atribuída exclusivamente a pro- mente rúpteis de ~ 1,89-1,86 Ga, mais potenciais
cessos orogênicos meso- a epizonais. para depósitos epizonais (Santos et al. 2001, Cou-
Entretanto, com a descoberta das mineraliza- tinho 2008), nas quais os fluidos derivados de
ções epitermais em rochas vulcânicas félsicas do magmas graníticos poderiam também participar na
Grupo Iriri feitas pelas RTDM no final dos anos 90, mineralização.
unidade essa até então tida como relativamente As principais unidades geológicas para prospec-
menos favorável para as mineralizações de ouro, ção de depósitos orogênicos de Ouro no Domínio
definiu-se adicional potencialidade da ocorrência Tapajós são, portanto, o Complexo Cuiú-Cuiú, o
de mineralizações magmático-hidrotermais na pro- Grupo Jacareacanga, a Suíte Intrusiva Creporizão
víncia, não apenas epitermais, como também as e as estruturas NW-SE que as afetam.
do tipo pórfiro e IRGS, tipicamente com maior vo- Duas épocas metalogenéticas de formação de
lume de metal contido, mas baixos teores (Lang & depósitos magmáticos-hidrotermais parecem des-
Baker 2001, Sinclair 2007, Sillitoe 2010). pontar no domínio Tapajós: a) uma ao redor de
Esse novo panorama demonstra ser necessá- 2,0 Ga, em rochas correlacionáveis às da Suite In-
rio um avanço do conhecimento geológico da pro- trusiva Creporizão, hospedeiras da mineralização
víncia para melhor definição das épocas metalo- relacionada a intrusões do depósito do Tocantin-
genéticas de formação dos depósitos orogênicos, zinho (Mello 2007, Castilho et al. 2010, Santiago,
bem como de desenvolvimento dos arcos magmá- 2012, Santiago et al. 2012), com as quais podem
ticos, da ambiência tectônica de formação das ro- se associar as rochas vulcânicas da Formação Vila
chas ígneas sub-vulcânicas e, sobretudo, dos Riozinho (Lamarão et al. 2005), b) e outra de apro-
eventos magmáticos vinculados com a formação ximadamente 1,88 Ga, indicada pelas mineraliza-
das mineralizações auríferas que, comumente, res- çãoes do Granito Batalha (Juliani et al. 2002), do
tringem-se a curtos períodos dentro de uma fase V3 (high-sulfidation) (Juliani et al. 2005) e a do tipo
de magmatismo. pórfiro do Palito (Echeverri-Misas 2010), correlaci-
Os dados geológicos atuais demonstram um onável ao evento Uatumã lato sensu e às fases
maior potencial para depósitos orogênicos de ouro intrusivas finais do evento Parauari. É notável,
na parte sudoeste-oeste do Domínio Tapajós, re- nesse contexto, que as rochas mais evoluídas de
gião de ocorrência das rochas mais antigas, de alto potássio da Suite Parauari, assim como as ano-
maior grau metamórfico e mais fortemente afeta- rogênicas, seriam quimicamente as mais adequa-
das por deformação dúctil, ou com componente das para formação dos depósitos de ouro ou de
dúctil. Além do grau metamórfico e da deformação ouro e cobre, enquanto que as menos evoluídas,
caracterizados nessa região, deve ser ainda no- como o Granodiorito Fofoquinha, tipicamente cál-
tado que a menor favorabilidade para ocorrência cio-alcalinas, são mais favoráveis para formação
de depósitos orogênicos no restante do Domínio de depósitos de metais de base, com ou sem ouro
Tapajós deve-se, em grande parte, à cobertura associado. Arribas Jr. (1995) destacou que as mi-
de rochas vulcânicas e sedimentares. Entretanto, neralizações epitermais high-sulfidation somente
pode-se inferir movimentações intensas de blocos se formam a partir de magmas cálcio-alcalinos, ou
na província, provavelmente antes de um período seja, magmas com estado de oxidação relativa-
de peneplanização paleoproterozóico na região mente elevado, cujas propriedades físico-químicas
Amazônica, responsável pela colocação de depó- são propícias para formação de pórfiros de cobre
sitos epitermais e rochas plutônicas de mesma ida- (Hedenquist et al. 1998, Sillitoe 1973). A presença
de em níveis estratigráficos semelhantes (Juliani desse tipo de mineralização no Tapajós implica

262
Caetano Juliani et al.

também em um alto potencial para ocorrência de pode ser devida apenas à exposição de unidades
pórfiros de metais de base no Domínio Tapajós. inferiores pelo alçamento mais intenso e pela ero-
Esse evento de magmatismo cálcio-alcalino ini- são da cobertura vulcânica e sedimentar devido
ciou-se com a formação de rochas efusivas e in- ao desenvolvimento do arco Juruena.
trusivas com composições intermediárias a ácidas A distribuição dos diferentes magmas é função
em ambientes de intra- e de back-arc causado por do ambiente tectônico, ora mais proximal à zona
um regime de subducção oceano–continente. Com de subducção, ora intra- ou back-arc ou até mes-
a cratonização da região, houve a formação de mo peri-continental, o que faz com que a quanti-
vulcânicas, subvulcânicas e plutônicas félsicas de dade de fluido, o estado de oxidação dos magmas
alto potássio e as alcalinas do tipo A, introduzidas e as fontes dos metais variem. Assim, concentra-
principalmente ao longo de extensas fraturas com ções de metais de base, especialmente de Cu e
orientação NW–SE ou NE–SW, inclusive com vulca- Mo, são potenciais junto às antigas zonas de sub-
nismo félsico fissural. Por essa razão, as minerali- ducção, as mineralizações de Au e Ag podem ocor-
zações de ouro magmático-hidrotermais alinham- rer nas partes intermediárias e mineralizações de
se com o trend NW–SE no Tapajós e, sobretudo, ouro do tipo IRGS e de Sn–W nas regiões conti-
tendem também a se hospedarem em zonas de nentais e associadas ao magmatismo alcalino. Os
falhas, devido à migração dos fluidos hidrotermais dados esparsos disponíveis sugerem, consequen-
derivados dos granitos para esses sítios estrutu- temente, a existência de zonamentos magmáti-
rais próximos às intrusões. cos dos eventos cálcio–alcalinos até o alcalino e
A ocorrência de caldeiras vulcânicas parece não do estado de oxidação regionais, produtos do zo-
ter sido um evento exclusivo do magmatismo cál- namento tectônico. Nesse contexto, há uma mai-
cio-alcalino que hospeda as mineralizações epiter- or favorabilidade de ocorrência de depósitos epi-
mais e do tipo pórfiro de ~ 1,88 Ga, podendo tam- termais e do tipo pórfiro de metais de base nas
bém terem sido geradas durante o magmatismo proximidades do Gráben da Serra do Cachimbo,
alcalino do tipo A, apesar destas ainda não ter de IRGS, com Au ou Sn–W na região do Xingu, além
sido identificadas. Isto sugere um potencial adici- de pórfiros alcalinos de Au e Au-Cu nas rochas
onal para ocorrência de pórfiros de Au ou de Au- cálcio-alcalinas tardi-orogênicas muito evoluídas e
Cu (Richards 2009), bem como de depósitos epi- nas alcalinas anorogênicas. A presença de mine-
termais low-sulfidation de Au no Domínio Tapajós. ralizações epitermais no Domínio Tapajós é devi-
As interpretações tectônicas da parte sul do da apenas ao nível da erosão e os bens minerais
Cráton Amazônico tem sugerido a acresção se- a eles associados dependem também do tipo do
quenciada de arcos de ilhas, como indica a geo- magma subjacente e da posição tectônica.
química de granodioritos e tonalitos, por colisões
orientadas segundo NW-SE, com subdução para Agradecimentos Os autores agradecem ao CNPq
NE (Tassinari & Macambira 1999, Santos et al. (Proc. CT-Mineral 555066/2006 e 505851/2004-0),
2000). Entretanto, faltam litotipos típicos que per- PROCAD/CAPES (Proc. 0096/05-9), PRONEX/CNPq/
mitam comprovar a existência desse tipo de arco, UFPA (Proc. 662103/1998), à FAPESP (Proc. 98-
ao passo que as sequências vulcânicas e sedimen- 2567-6 e Proc. 10/10498-8) pelo apoio recebido
tares, bem como os dados geoquímicos (Echever- para realização dessas pesquisas e à CPRM pela
ri-Misas 2010, Kahwage 2010) indicam tratar-se cessão dos dados de aerogeofísica. Este trabalho
de um arco magmático continental do tipo andino. é uma contribuição ao INCT Geociências da Ama-
Adicionalmente, os dados aerogeofísicos (Carnei- zônia (CNPq/MCT/FAPESPA 573733/2008-2).
ro et al. 2011) e gravimétricos e aeromagnetomé-
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268
Marcelo Lacerda Vasquez

METALOGÊNESE DA PROVÍNCIA AMAZÔNIA CENTRAL

MARCELO LACERDA VASQUEZ


CPRM – Serviço Geológico do Brasil. Avenida Dr. Freitas, 3645 - Bairro do Marco, 66095-110, Belém, PA.
E-mail: vasquez@be.cprm.gov.br

INTRODUÇÃO Província Amazônia Central: o Domínio Erepecu-


ru-Trombetas a norte da Bacia do Amazonas e o
O conceito de Província Amazônia Central mu- Domínio Iriri-Xingu ao sul da bacia.
dou ao longo das últimas quatro décadas, na con-
cepção original essa província geocronológica se GEOLOGIA E EVOLUÇÃO DA PROVÍNCIA AMA-
restringia à porção central do Cráton Amazônico, ZÔNIA CENTRAL
onde predominavam rochas com > 2,1 Ga (Amaral
1974, Cordani et al. 1979). Com aumento do co- A Província Amazônia Central está orientada
nhecimento geológico e de dados geocronológi- segundo NNW-SSE, essa estruturação tectônica
cos foi delineado um núcleo mais antigo de 2,3 Ga contrasta com a das províncias mais antigas a les-
na porção oriental do cráton, se estendendo da te, onde dominam estruturas E-W e NW-SE e é
parte central para sudeste, que corresponde a concordante com parte estruturação tectônica da
Província Amazônia Central. Esse núcleo foi mar- Província Tapajós-Parima. Seus limites com provín-
geado por faixas movéis sucessivamente mais jo- cias mais antigas são também marcados por dife-
vens em direção ao sudoeste do cráton (Teixeira renças nas associações litológicas e localmente
et al. 1989, Tassinari 1996). Posteriormente, fo- por assinaturas geofísicas contrastantes (Fig. 2).
ram distinguidos segmentos nessa província: um Contudo, o limite com a Província Tapajós-Parima
na parte sudeste (regiões de Carajás e Rio Ma- é tênue devido às semelhanças litológicas e es-
ria), com predomínio de rochas arqueanas que não truturais. A assinatura isotópica de Nd das rochas
foram afetadas pelo Ciclo Transamazônico (2,26- tem sido usada como critério de distinção entre
2,06 Ga); e outro na parte central que é compos- essas duas províncias, com a identificação de com-
ta principalmente por rochas ígneas da metade fi- ponentes de fontes juvenis paleoproterozóicas (ca.
nal do Paleoproterozóico, e cujo embasamento é 2,1 Ga) nas rochas ígneas orosirianas da Provín-
pouco conhecido, contendo apenas vestígios (ex: cia Tapajós-Parima (ou Ventuari-Tapajós) e fontes
isótopos de Nd e zircão herdado) de idades ar- crustais arqueanas na Província Amazônia Central
queanas (Tassinari & Macambira 2004). Essa dis- (Tassinari 1996, Santos et al. 2000, Lamarão et al.
tinção se consolidou com a proposição da Provín- 2005). Assim, limites geocronológicos foram suge-
cia Carajás para o segmento dominantemente ar- ridos para os domínios meridionais dessas provín-
queano do cráton, e de uma evolução para a Pro- cias, sendo aqui adotado o limite submeridiano
víncia Amazônia Central relacionada com o expres- proposto Santos et al. (2000).
sivo vulcano-plutonismo paleoproterozóico (San-
tos et al. 2000). Neste trabalho a Província Ama- Associações de Embasamento
zônia Central a leste bordeja os domínios arque-
anos da Província Carajás e os domínios da Pro- A associação de gnaisse, migmatitos e grani-
víncia Transamazonas formados e retrabalhados tóides com deformação dúctil são expressivas na
durante Riaciano. A oeste, essa província se limita parte leste do Domínio Erepecuru-Trombetas (Fig.
com domínios orosirianos da Província Tapajós- 2A), mas pouco se conhece sobre essas rochas.
Parima e estateriano da Província Rondônia-Juru- Localmente ocorrem corpos de rochas metavulca-
ena (Fig. 1). São distinguidos dois domínios na no-sedimentares. A cartografia dessa região foi

269
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Província Amazônia Central

Figura 1 - Províncias geocronológicas do Cráton Amazônico (modificado de Vasquez et al. 2008b).

baseada em sensores remotos e escassos dados rem mais a leste (Vasquez et al. 2008b).
de campo de projetos de mapeamento do DNPM, No Domínio Iriri-Xingu as ocorrências de emba-
Idesp e CPRM nas décadas de 1970 e 1980 (Oli- samento gnáissico-migmatítico com granitóides
veira et al. 1975, Araújo et al. 1976, Chaves et al. deformados associados são menores que as ma-
1977, Rodrigues et al. 1978, Costi et al. 1983, Jor- peadas pelos projetos anteriores do DNPM e da
ge João et al. 1984). Teixeira et al. (1976) basea- CPRM como Complexo Xingu (Silva et al. 1974,
dos em dados Rb-Sr e K-Ar dos granitóides e gnais- Martins & Araújo 1979, Cunha et al. 1981). Na par-
ses do embasamento sugeriram que essas rochas te central são restritas a pequenas ocorrências
se formaram durante o Ciclo Transamazônico, so- pontuais, janelas do embasamento nas cobertu-
freram eventos térmicos metassomáticos há cer- ras rochas vulcânicas e granitos, como a ocorrên-
ca de 1,8 Ga, e que remanescentes arqueanos cia Morro Grande no rio Curuá descrita Forman et
podem ocorrer dessa região. Portanto, é possível al. (1972). Somente na cabeceira do rio Iriri e que
que essas associações de embasamento repre- eles descrevem ocorrências mais expressivas que
sentem continuidade dos domínios arqueanos e se estendem para o nordeste do Mato Grosso (Fig.
riacianos da Província Transamazonas que ocor- 2B). Lacerda Filho et al. (2004) individualizaram

270
Marcelo Lacerda Vasquez

Figura 2A - Geologia e recursos minerais do domínio Erepecuru-Trombetas da Província Amazônia Central


(modificado de Vasquez et al. 2008b).

nessa região corpos de granitóides com incipien- et al. 2007, Vasquez et al. 2008b). Este segmento
te deformação dúctil, denominando-os de Suíte tem continuidade espacial com o embasamento do
Intrusiva Vila Rica. Padilha & Barros (2008) identi- Domínio Iriri-Xingu (Fig. 4), portanto é possível que
ficaram uma assinatura calcio-alcalina de alto K faça parte desse domínio.
para os granitos dessa suíte, que tem uma idade
em zircão de 1,97 Ga e dados de isótopos de Nd Vulcano-plutonismo Paleoproterozóico
que indicam uma contribuição crustal arqueana.
As autoras interpretaram que esses granitóides, As associações de rochas vulcânicas, graníti-
que são contemporâneos ao magmatismo Crepo- cas e gabroícas que ocorrem em ambos os domí-
rizão do Domínio Tapajós, são produtos da fusão nios da Província Amazônia Central se estendem
de crosta arqueana em ambiente pós-colisional. A para os domínios adjacentes, principalmente para
ocorrência de granitóides de 1,97 Ga no embasa- os domínios da Província Tapajós-Parima. São ro-
mento do Domínio Iriri-Xingu sugere que se trate chas do Orosiriano e subordinadamente do Esta-
de um reflexo da orogênese do Domínio Tapajós teriano, e geralmente estão relacionados à tectô-
em uma região mais próxima do cráton arqueano, nica transcorrente rúptil e extensional. As provín-
ou até uma continuidade desse orógeno que se cias mais antigas a leste são francamente anoro-
estendeu a uma cratônica adjacente. Adicional- gênicas, mas há controvérsias com relação aos
mente, a sudeste o Domínio Iriri-Xingu se limita eventos magmáticos da Província Tapajós-Parima.
com Domínio Santana do Araguaia que contem Santos et al. (2004) admitem que as rochas ígne-
gnaisses arqueanos migmatizados e formação de as cálcio-alcalinas de 1,89 a 1,88 Ga do Domínio
granitóides no Riaciano (ca. 2,19 Ga) (Macambira Tapajós estariam relacionadas a um arco magmá-

271
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Província Amazônia Central

Figura 2B - Geologia e recursos minerais do domínio Iriri-Xingu da Província Amazônia Central (modificado de
Vasquez et al. 2008b).

272
Marcelo Lacerda Vasquez

273
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Província Amazônia Central

tico (Arco Parauari), e que as de afinidade alcalina cos em Fe e alcális, por vezes tipo rapakivi, bem
de 1,88-1,86 Ga corresponderiam a um magma- como de feldspato alcalino granitos, às vezes tipo
tismo pós-orogênico. Modelos envolvendo subdu- hipersolvus e que tem corpos de quartzo sienito
ção de litosfera oceânica e subsequente colisão (ex. Sienito Guabiraba) associados correspondem
tem sido defendido também para as rochas ígne- a granitos de afinidade alcalina. Para evitar uma
as cálcio-alcalinas de alto K de 1,89 a 1,88 Ga dos correlação direta com os granitos suítes intrusi-
domínios da Província Tapajós-Parima em Roraima vas Parauari e Maloquinha, Vasquez et al. (2008a)
e no Amazonas (Reis et al. 2003, Valério et al. os denominaram, respectivamente, de granitos tipo
2006). Alternativamente, foram propostos mode- A e tipo I indiferenciados (Fig. 2B). A maioria desses
los envolvendo underplating em ambiente intracon- corpos foi mapeada através sensores remotos, só
tinetal para formação de rochas cálcio-alcalinas de localmente contam com informações mais comple-
alto K de 1,90 a 1,88 Ga e as subseqüentes ro- tas. Macambira & Vale (1997) individualizaram na
chas alcalinas de 1,88-1,86 Ga da Província Tapa- região de São Felix um corpo de monzogranitos e
jós-Parima (Vasquez et al. 2002, Almeida 2006). granodioritos com hornblenda que forneceu a ida-
No Domínio Iriri-Xingu as rochas vulcânicas áci- de isocrônica Rb-Sr de 1,92 Ga. Nesta região tam-
das e intermediárias, bem como seus equivalen- bém ocorrem intrusões de granitos tipo A da Suíte
tes vulcanoclásticos, são representadas respecti- Intrusiva Velho Guilherme, com idades por evapo-
vamente pelo Grupo Iriri e a Formação Sobreiro ração de Pb entre 1,88 e 1,86 Ga, uma significati-
que marcam um vulcanismo bimodal. Fernandes va fonte crustal arqueana e especialização em
et al. (2006) identificaram nas rochas da Forma- mineralização de Sn (Teixeira 1999, Teixeira et al.
ção Sobreiro uma assinatura cálcio-alcalina de alto 2002). No interflúvio dos rios Irri e Xingu ocorrem
K a shoshonítica que transiciona para arcos mag- outros corpos de granitos tipo A mineralizados a
máticos maturos, e uma afinidade alcalina de am- Sn (ex. Granito São Pedro do Iriri) que podem ser
biente intraplaca para rochas da unidade Iriri. Eles correlatos à Suíte Intrusiva Velho Guilherme. Con-
interpretam que essas rochas contemporâneas de tudo, na parte leste do Domínio Tapajós ocorre
assinaturas geoquímicas contrastantes se forma- um corpo de granito tipo A com mineralização de
ram em um ambiente de transição entre o final de Sn, o Granito Porquinho com 1,78 Ga (Santos et al.
uma orogênese e o início de uma fase rifte intra- 2004). É possível que no Domínio Iriri-Xingu tam-
continental relacionada á tafrogênese de 1,88 Ga bém tenham corpos de granitos tipo A relaciona-
de amplo registro no Cráton Amazônico. Esta tran- dos a esse evento 100 Ma mais jovem.
sição teria se dado a partir da evolução dos arcos Padilha & Barros (2008) caracterizaram grani-
magmáticos de 2,0-1,88 Ga do Domínio Tapajós, tos de afinidade alcalina com cerca 1,88 Ga da Suíte
com a placa oceânica subductada sob o cráton Intrusiva Rio Dourado no nordeste do Mato Gros-
arqueano a leste. Progressivamente diminuindo o so. Contudo, nesta região o Domínio Iriri-Xingu se
mergulho da placa subductada (flat subduction) e limita com as rochas do Domínio Juruena, que é
deslocando a frente de geração de magmas mais marcado por vulcano-plutonismo de 1,77-1,76 Ga
jovens para uma porção mais interior, onde domi- (Neder et al. 2002, Lacerda Filho et al. 2004, Pinho
na uma tectônica extensional (Fernandes 2009, et al. 2003). Assim, é possível que manifestações
Juliani et al. 2009). ígneas desse evento se estendam ao Domínio Iri-
No Domínio Iriri-Xingu ocorrem bátólitos e plu- ri-Xingu.
tons de granitos com relações de contempora- O limite noroeste da Província Amazônia Cen-
neidade ou que cortam as rochas vulcânicas e vul- tral tem problema na sua definição (Fig. 2A). As
canocláticas e de maneira análoga aos granitos rochas orosirianas no Domínio Uatumã-Anauá con-
suítes intrusivas Parauari e Maloquinha do Domí- tam com geocronologia em zircão e dados de isó-
nio Tapajós devem, portanto, corresponder aos topos de Nd que indicam um predomínio de fontes
equivalentes intrusivos do vulcanismo félsico. São paleoproterozóicas (Almeida 2006, Marques et al.
monzogranitos, granodioritos e sienogranitos, com 2007). Contudo, as rochas no Domínio Erepecuru-
subordinados quartzo monzonitos e monzodiori- Trombetas não tem dados isotópicos que compro-
tos, que possivelmente representam granitóides vem as significativas fontes arqueanas que carac-
de afinidade cálcio-alcalina de alto K. As intrusões terizam a Província Amazônia Central.
de granito com hastingsita e outros anfibólios ri- No Domínio Uatumã-Anauá ocorre um vulcano-

274
Marcelo Lacerda Vasquez

plutonismo cálcio-alcalino de alto K de idade 1,90- clo Transamazônico e corresponder a uma bacia
1,89 Ga, representado pelos granitóides da Suíte de antepaís daquele ciclo.
Intruvisa Água Branca, rochas vulcânicas Jatapu As coberturas sedimentares posteriores ao
(Almeida 2006, Valério et al. 2009) e pelo vulcano- vulcano-plutonismo orosiriano estão representa-
plutonismo alcalino de 1,89-1,87 Ga, comumente das no Domínio Iiri-Xingu pelas Formações Triunfo
referido como magmatismo Uatumã, representa- e Cubencranquém. Essas consistem de quartzo
do pelas rochas vulcânicas do Grupo Iricoumé e arenitos, arenitos arcoseanos e líticos, com subor-
os granitos da Suíte Intrusiva Mapuera (Ferron et dinados conglomerados polimíticos, siltitos e peli-
al. 2006, 2010, Pierosan et al. 2009). Essas asso- tos. Nessas rochas predominam fontes detríticas
ciações se estendem para o Domínio Erepecuru- de material vulcânico e piroclastico, mas localmente
Trombetas (Fig. 2A), onde Jorge et al. (1984) iden- ocorrem intercaladas camadas pirocláticas ácida
tificaram granitóides calcio-alcalinos de 1,91 Ga da e níveis de cherts esferulíticos (Pastana & Silva
unidade Água Branca, e uma afinidade calcio-al- Neto 1980, Cunha et al. 1981).
calina de alto K a shoshonítica para os andesitos No Domínio Erepecuru-Trombetas, essas cober-
(Andesito Morro da Trava) associados às rochas turas são menores e menos frequentes (Fig. 2A)
vulcânicas ácidas do Grupo Iricoumé. Esse mag- e foram correlacionadas com as da Formação Uru-
matismo intermediário a básico de alto K também pi (Jorge João et al. 1984). Trata-se de coberturas
é marcado pelos diques de vogesito, espessartito que marcam uma sedimentação de rifte continen-
e kersantito (Lamprófiro Cuminapanemá – Rodri- tal que se estendeu aos domínios das províncias
gues et al. 1978) que cortam os granitos da Suíte adjacentes a Província Amazônia Central, eviden-
Intrusiva Mapuera na região. ciando uma ampla bacia sedimentar sobrejacente
O ambiente tectônico e fontes do magmatismo às rochas do magmatismo Uatumã e cortadas por
Água Branca pode ser relacionado a um arco mag- intrusões máficas subvulcânicas do Estateriano
mático envolvendo modelos de subducção, a exem- (diabásios de 1,78 Ga - Santos et al. 2002). Por
plo do proposto por Santos et al. (2004) para os outro lado, a ocorrência de material piroclástico
arcos magmáticos Tropas e Parauri no Domínio intercalado sugere que a deposição dessas cober-
Tapajós. Alternativamente, este evento pode es- turas em parte foi contemporânea aos estágios
tar relacionado a um ambiente pós-colisional, evol- finais do vulcanismo orosiriano (Ferron et al. 2006).
vendo underplating e fusão de crosta dominante- Brito Neves et al. (1995) associaram o vulcano-
mente paleoproterozóica com a formação as ro- plutonismo e sedimentação de rifte continental aos
chas da associação Jatapu-Água Branca e subse- processos de extensão e adelgaçamento crustal
qüentemente da associação Iricoumé-Mapuera (tafrogênese) ocorridos após as aglutinações das
(Almeida 2006). Outra possibilidade vinculada ao massas continentais durante o Riaciano e Orosiri-
ambiente pós-colisional envolve a fusão de man- ano, que deram origem aos supercontinentes no
to litosférico modificado por subducção prévia re- final do Paleoproterozóico.
lacionada a orogêneses anteriores (Pierosan et al.
2009, Ferron et al. 2010). Rochas Máficas Proterozóicas

Coberturas Sedimentares Paleoproterozóicas Diversos eventos magmáticos máficos foram


identificados no Cráton Amazônico, dentre os even-
No Domínio Iiri-Xingu ocorrem remanescentes tos do Proterozóico se destacam o magamtismo
de uma bacia de sedimentação continental ante- Ingarana de 1,88 Ga, Crepori de 1,78 Ga e Cacho-
rior ao vulcano-plutonismo de ca. 1,88 Ga. A bacia eira Seca de 1,2 Ga (Santos et al. 2002). No Domí-
é representada pelos metarenitos e metaconglo- nio Erepecuru-Trombetas tem vários corpos sub-
merados da Formação Castelo dos Sonhos (Fig. vulcânicos, mas a maioria dos foi mapeada atra-
2B). Santos (2003) obteve idades de 3,1 a 2,08 vés de sensores remotos e aerogeofísica, portan-
Ga para as fontes detríticas de um arenito dessa to podem estar relacionados a qualquer um dos
unidade, o que indica uma sedimentação riaciana eventos proterozóicos, ou até ser do Fanerozói-
com contribuição de fontes arqueanas. Assim, Vas- co. Nesse domínio somente o Diabásio Suretama
quez et al. (2008b) sugerem que essa bacia pode conta com petrografia, litoquímica e geocronolo-
estar relacionada à evolução pós-colisional do Ci- gia, os demais são referidos como rochas máficas

275
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Província Amazônia Central

indiferenciadas. No entanto, as rochas máficas alcalina supersaturada e estão associados ao


quartzo toleítica da Formação Quarenta Ilhas e magmatismo tipo A do Orosiriano. O Sienito Mu-
basálticas alcalina da Formação Seringa, respecti- tum consiste de nefelina sienitos com aegerina,
vamente relacionadas aos magmatismos Crepori lepidolita, cancrinita e carbonato magmático (Oli-
e Cachoeira Seca (Santos et al. 2002), que ocor- veira et al. 1975). Esse forneceu a idade K-Ar de
rem no domínio vizinho a oeste podem se esten- 1,0 Ga, embora seja uma idade mínima sugere uma
der ao Domínio Erepecuru-Trombetas (Fig. 2A). relação com o magmatismo Cachoeira Seca. Alter-
Pierosan et al. (2008) sugerem que as rochas nativamente, pode representar pulsos de magma
toleíticas intracontinentais de 1,78 Ga da Forma- alcalino que estariam relacionados à formação de
ção Quarenta Ilhas (magmatismo Crepori) deriva- riftes do Toniano (Santos et al. 2002).
ram de fonte litosférica subcontinental ou aste- O Complexo Alcalino Maicuru é uma instrusão
nosférica enriquecida em elementos traços (tipo alcalina com carbonatito e rochas máficas e ultra-
OIB), previamente submetidas a baixos graus de máficas. Lemos et al. (1988) descreveram piroxe-
fusão. Assim, para os magmas basálticos alcali- nitos e subordinados dunitos, sienitos e traqui-
nos de 1,2 Ga da Formação Seringa (magmatismo tos, além de carbonatitos e glimeritos com veios e
Cachoeira Seca) pode se esperar fontes mantéli- segregações de apatitito. São intrusões subvul-
cas mais enriquecidas. cânicas de clinopiroxenitos alcalinos controladas
O Diabásio Suretama forneceu uma idade K-Ar por falhas por onde ascederam rapidamente há
de 1,42 Ga, mas as idades K-Ar entre 1,69-1,36 612 Ma magma kamafugítico formado por fusão
Ga podem refletir rejuvenescimento das rochas parcial do manto superior (Lemos & Gaspar 2002).
máficas de 1,78 Ga por perda de argônio radiogê- Outros corpos de piroxenito alcalino (Cuminá) e
nico (Santos et al. 2002). As demais rochas máfi- rochas alcalino-ultramáficas postássicas ocorrem
cas da Amazônia Central com idades K-Ar entre nas bordas da Bacia do Amazonas. A tectônica dis-
1,2 e 1,0 Ga, compiladas em Tassinari (1996), na tensiva e o magmatismo kamafugítico do Ediaca-
maioria correspondem a diques de lamprófiros e rano devem estar relacionados à fase inicial da
basaltos intercalados nas rochas dos grupos Iriri formação dos riftes precursores da Bacia do Ama-
e Iricoumé que provavelmente foram submetidas zonas (Lemos & Gaspar 2002).
a intenso rejuvenescimento isotópico.
Jorge João et al. (1984) não reconheceram um Rochas Máficas e Kimberlitos Fanerozóicos
caráter toleítico para o Diabásio Suretama, mas
sim alcalino e cálcio-alcalino de alto K. A natureza Os enxames de diques de rochas máficas são
dos corpos máficos atribuídos a essa unidade ne- notáveis no Domínio Erepecuru-Trombetas e se
cessita ser revisada à luz de novos dados geoquí- manifestam por feixes de anomalias aeromagné-
micos de elementos traços e terras raras. ticas. São diques de diabásio de dimensões variá-
Em um contexto geotectônico, o magmatismo veis que se estendem por até centenas de quilô-
Crepori está realcionado à fragmentação do su- metros e estão orientados segundo NNE-SSW, mas
percontinente Atlântica há 1,8 Ga, enquanto o ocorrem segundo outras direçõe (Fig. 2A). Possu-
magmatismo Cachoeira Seca resultou da forma- em afinidade toleiítica, forneceram idades K-Ar en-
ção de riftes intracratônicos desencadeados pela tre 200 e 130 Ma e receberam diferentes denomi-
colisão há 1,2 Ga (eventos Greenvillian / Sunsás / nações (Cassiporé - Oliveira et al. 1975, Penate-
K’Mudku) na borda oeste do Cráton Amazônico caua - Araújo et al. 1976). Essas intrusões cortam
(Santos et al. 2002). a Bacia do Amazonas, mas nessa também ocor-
rem basaltos permo-triássicos (259 e 252 Ma - Tei-
Intrusões Alcalinas Proterozóicas xeira 1978). Este amplo intervalo de idades de
magmatismo têm sido correlacionado a diferentes
Duas intrusões alcalinas subsaturadas em síli- estágios de abertura do Oceano Atlântico, com os
ca se destacam no Domínio Erepecuru-Trombetas, pulsos mais antigos associados ao rifte de aber-
o Sienito Mutum localizado no limite do Brasil com tura do Oceano Atlântico Norte, e os cretáceos a
a Guiana e o Complexo Alcalino Maicuru situado abertura do Oceano Atlântico Sul (Mizusaki & Tho-
na parte sudeste do domínio (Fig. 2A). maz Filho 2004).
Os sienitos Cachorro e Guabiraba são da série Em afluentes do alto curso do rio Trombetas a

276
Marcelo Lacerda Vasquez

empresa De Beers pesquisou kimberlitos (Camu- ção plano-paralela, em geral orientada segundo
nani) atribuídos ao Jurássico Médio (Bizzi et al. NNW-SSE e NE e mergulhando 15º a 30º para SW
2003) que cortam rochas do embasamento do ou SE. Localmente essas rochas têm uma foliação
Domínio Erepecuru-Trombetas (Fig. 2A). Contudo, milonítica subvertical de direção N30ºE, marcada
a maioria dos kimberlitos no Brasil são do Cretá- por feições microscópicas de recristalização de
ceo e têm sido associados a plumas mantélicas quartzo, hematita e muscovita/sericita (Yokoi et al.
relacionadas à ativação da Plataforma Sul-Ameri- 2001).
cana e abertura do Oceano Atlântico Sul (Bizzi & Trata-se de uma sinforme aberta de baixo ân-
Vidotti 2003). gulo com eixo para SW, na qual as rochas sedi-
mentares sofreram metamorfismo termal causado
METALOGENIA por intrusões ígneas subaflorantes e alcançou
condições de fácies anfibolito inferior (Araneda et
A Província Amazônia Central tem poucos de- al. 1998). As intrusões são de rochas subvulcâni-
pósitos minerais, são depósitos de ouro, estanho, cas félsicas e máficas e podem ter contribuído como
titânio e fosfato não explotados ou de minas ina- fonte termal local para a reconcentração de ouro
tivas. Contudo, mostra potencial para jazimentos (Yokoi et al. 2001).
de metais de base, elementos terras raras e dia- O ouro ocorre na forma livre, intergranular, en-
mante conforme indicam as ocorrências e indícios tre cristais de quartzo, muscovita e hematita nos
(Fig. 2) e suas zonas de alteração hidrotermal. níveis de metaconglomerados, em partículas com
Os principais jazimentos de ouro no Domínio 5-200 μm de diâmetro, aparentemente sem rela-
Iriri-Xingu são os depósitos Madalena e Esperan- ção com as intrusões (Araneda et al. 1998, Yokoi
ça (Castelo dos Sonhos) que contam com dados et al. 2001). Assim, sugere tratar-se de um depó-
de reservas e teores e são de tipologias diferen- sito de paleoplacer. Os teores são maiores em
tes. Os controles e o sistema hidrotermal de ou- zonas fraturadas e ricas em hematita, o que é
tros jazimentos, como o garimpo Majestade, ape- considerado provável produto de remobilização
sar de não avaliados economicamente, foram es- supergênica por fluidos oxidantes (Yokoi et al.
tudados em detalhe. Os depósitos primários de 2001).
estanho e wolfrâmio são pequenos e somente os Três alvos foram identificados: o Alvo Esperan-
da região de São Felix do Xingu foram estudados. ça Sul que é marcado por uma anomalia geoquími-
No Domínio Erepecuru-Trombetas se destaca o ca de solo de 5 km de comprimento e 1 a 2 km de
depósito de fósforo e titânio do Maicuru que está largura; Alvo Esperança Centro com anomalia geo-
relacionado a um complexo alcalino-ultramáfico- química de solo de 2 km de comprimento e 500 m
carbonatítico neoproterozóico. Os demais jazimen- de largura e o Alvo Geofísico que se destaca pelas
tos são potenciais para mineralizações de ouro e anomalias magnéticas e radiométricas. Os resul-
metais base relacionados à intrusões de pórfiros tados preliminares no Alvo Esperança Sul indicam
e de mineralização de estanho e wolfrâmio asso- um teor de Au de 1,39 g/t acima de 77 m na amos-
ciados a granitos alcalinos do Paleoproterozóico, tragem das trincheiras e 2,80 g/t acima de 20 m
a semelhança daqueles nos domínios Tapajós e na sondagem (Osisko 2010).
Iriri-Xingu. Outro potencial são jazimentos de dia-
mante relacionados a kimberlitos mesozóicos. Depósitos de ouro relacionados à intrusão

Depósito de ouro em paleoplacer O depósito Madalena está localizado próximo


à margem esquerda do rio Curuá, a intrusão con-
O depósito Esperança se localiza na região do siste de um plúton zonado composto de sienogra-
Castelo dos Sonhos no sudoeste do Domínio Iriri- nito, monzogranito e quartzo monzonito que cor-
Xingu (Fig. 2B). As rochas hospedeiras das mine- ta as rochas vulcânicas do Grupo Iriri (Fig 2B). O
ralizações de ouro pertencem à Formação Castelo minério está em vênulas de quartzo sulfetado hos-
dos Sonhos, que é composta por quartzo arenitos pedadas no quartzo monzonito e em veios de
acinzentados, conglomerados com seixos e grâ- quartzo cisalhados, subverticais, orientados se-
nulos de quartzo e subordinados arcóseos aver- gundo WNW-ESSE e subordinadamente ENE-WSW,
melhados fortemente silicificados, com estratifica- com 100 a 200m de comprimento. Os processos

277
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Província Amazônia Central

hidrotermais são de silicificação, cloritização, car- sitos de ouro do Tapajós indicam mistura fontes
bonatação, epidotização e sulfetação. A paragê- de fluidos magmático profundos, tardimágmático
ne da mineralização é ouro e pirrotita, com arse- epizonais e uma pequena contribuição fluidos
nopirita, calcopirita, pirita, galena, blenda e mag- meteóricos (Coutinho & Fallick 2008).
netita na ganga (Brasinor 1985). O ouro ocorre
como inclusões microscópicas em quartzo de veio Depósitos de estanho em greisen e placers
dos planos de foliação cataclástica, mas principal-
mente em sulfetos, com cerca de 34 ppm de Au na As mineralizações de estanho dos granitos da
pirita e arsenopirita e de 17 ppm na pirrotita (Sil- Suíte Intrusiva Velho Guilherme na região de São
va & Lobato 1998). Felix compõem a Província Estanífera do Sul do Pará
A reserva de minério primário é de 626.600 t (Teixeira 1999). Outros jazimentos mais a oeste,
(medida de 176.422 t) com teor de 6,64 g/t de Au no interflúvio dos rios Xingu e Iriri (Fig. 2B), tam-
e a aluvionar é de 1,5 Mt com teor de 2,7 g/t (Bra- bém podem fazer parte dessa província ou estar
sinor 1985). Além disso, tem 30 t de rejeito com relacionados a um evento mais jovem marcado
teor médio de 2,5 ppm (Silva & Lobato 1998). pelo Granito Porquinho no Domínio Tapajós. São
O garimpo Majestade está localizado mais a mineralizações em stockworks e greisens, embora
sudoeste, próximo do limite com o Domínio Tapa- as concentrações econômicas sejam em aluviões.
jós (Fig. 2B). Trata-se de veios de quartzo no con- Os granitos Velho Guilherme, Antônio Vicente,
tato de rochas vulcânicas com granito. São traqui- Mocambo, Bom Jardim e Serra Queimada são os
andesitos e riolitos cálcio-alcalinos de arcos ma- principais corpos da Suíte Intrusiva Velho Guilher-
turos correlatos à Formação Bom Jardim, e um me, com fácies especializadas e jazimentos de Sn
monzogranito correlacionado à Suíte Intrusiva (±W), mas outros corpos menores (Rio Xingu, Ubim,
Maloquinha (Coutinho et al. 2008a). Benedita e Santa Rosa), mineralizados ou não,
As rochas vulcânicas estão intensamente fra- também compõem a suíte. São sieno e monzogra-
turadas aleatoriamente e preenchidas por vênu- nitos, subordinados feldspato alcalino granitos e
las silicosas com ouro e sulfetos disseminados, os granitos granofíricos, geralmente com biotita (ani-
riolitos cataclasados apresentam 170 ppb de Au. ta e siderolita), anfibólio (Al-hastingsita e Fe-ede-
A mineralização assume um aspecto de stockwork nita) e alguns com muscovita. Os greisens são
com veios de quartzo regulares de direção WNW- variedades compostas por quartzo, muscovita, clo-
ESE associados a falhas transcorrentes sinitrais R rita e siderofilita. Albita, microclínio, epidoto, clori-
relacionados a um megasistema de falhas trans- ta, sericita, muscovita, fengita, clorita, fluorita, to-
correntes de orientação NW-SE da região do Ta- pázio, calcopirita, pirita, cassiterita, esfalerita, es-
pajós. Esses veios de quartzo com sulfeto e ouro tanita, allanita, monazita, xenotímio, fergunsoni-
apresentam textura vuggy que sugerem um nível ta, fluorcerita, itrocerita, itrofluorita, Ce-pirocloro,
crustal raso (Santos & Coutinho 2008). Fe-columbita e W-ixiolita, ocorrem como produto
A alteração hidrotermal filítica confere uma cor de alteração hidrotermal pós-magmática (Teixeira
verde esbranquiçada nas rochas vulcânicas e rosa 1999, Teixeira et al. 2005). Apresentam assinatu-
avermelhada no granito, com sericita substituin- ra de granitos intraplaca do tipo A, idades entre
do feldspatos e pirita substituída por hematita, 1,88 e 1,86 Ga e fonte crustal arqueana, com pro-
além de pirita, magnetita, rutilo, ouro, limonita e tólitos de crosta continetal superior, alguns com
goethita nos veios de quartzo (Coutinho et al. mistura de material de crosta mais profunda e lo-
2008b). Nos veios mineralizados dominam inclu- calmente com fonte magmáticas profundas (Tei-
sões fluidas aquosas com temperatura de homo- xeira et al. 2002, 2005). Os elevados teores de Hf
genização total (Tht) de 164 ºC e salinidade (S) e a baixa razão Zr/Hf em zircão dos granitos es-
de 8% NaCl eq., e subordinadas inclusões aquo- pecializados em estanho dessa suíte são compa-
carbônicas com Tht de 170 ºC e S de 10% que ráveis com aos granitos da Província Estanífera de
indicam condições de formação < 1 Kbar, que cor- Rondônia (Lamarão et al. 2007). Contudo, nos gra-
responde profundidades crustais rasas (< 4 Km). nitos da Suíte Velho Guilherme, apesar de diferen-
Os isótopos estáveis forneceram δ18OH2O (3,6 ‰V- ciados e afetados por processo capazes de gerar
SMOW) e δD (-55 ‰V-SMOW) que analisados jun- concentrações econômicas de estanho, o estoque
tamente com os resultados obtidos para os depó- de estanho e/ou a carga de fluídos pós-magmáti-

278
Marcelo Lacerda Vasquez

cos não favoreceram a formação de depósitos de ximadamente N-S e localmente ocorrem faixas de
classe mundial como os das províncias estanífe- greisens de 4 a 5m de largura (Barbosa et al. 1988)
ras Pitinga e Rondônia (Teixeira et al. 2005).
Depósitos associados aos complexos alcalino-
Depósitos Antonio Vicente, Mocambo e Bom ultramáfico-carbonatíticos
Jardim
Os depósitos de fosfatos e titânio do Maicuru
A mineralização de cassiterita do maciço Anto- estão relacionados a uma intrusão alcalina sub-
nio Vicente ocorre em muscovita-quartzo greisen saturada do tipo carbonatítica, com rochas máfi-
e clorita-siderofilita-muscovita-quartzo greisen e cas e ultramáficas associadas conhecida como
em fácies graníticas mais evoluídas intensamente Complexo Alcalino Maicuru. É um corpo elíptico (9
alteradas por soluções tardi- a pós-magmáticas. x 6 km) que se destaca como um platô na paisa-
A cassiterita resultaria da lixiviação e oxidação do gem plana do embasamento gnaisse-migmatítico
estanho dos minerais primários, em especial a bi- no qual é intrusivo. Esse corpo também se desta-
otita por fluidos tardios. A lixiviação foi provocada ca pelas sua assinatura aerogefísica, se mostra
por fluidos aquosos de sistemas químicos distin- como um alto radiométrico, com pequenos dipólos
tos e de temperatura gradualmente mais eleva- isolados em áreas de calmaria magnética e que
da, alcançando maior intensidade com fluido rico se reflete como anomalias elispsoidais positivas
em FeCl2-NaCl-KCl-H2O, salinidade entre 23 e 15% no sinal analítico (Fig 3).
NaCl eq. e Tth de 180 a 396 °C (Teixeira 1999). O complexo é composto principalmente de cli-
No maciço Mocambo, a mineralização de cassi- nopiroxenitos, com dunitos no centro, sienitos e
terita ocorre em um clorita-siderofilita-muscovita- traquitos nas bordas, além de carbonatitos e gli-
quartzo greisen e no sienogranito com muscovita meritos com veios e segregações de apatitito (Le-
encaixante. Para o maciço Bom Jardim não há de- mos et al. 1988).
talhes sobre os controles da mineralização. A cobertura latéritica consiste de crostas ferru-
O depósito de Mocambo tem reserva medida ginosas, titaníferas (anatásio) e fosfáticas (Al-fos-
de 2,8 Mt de cassiterita e indicada de 2,0 Mt, en- fatos) que também concentram elementos terras
quanto no depósito de Bom Jardim a reserva me- raras (Costa et al. 1991, Angélica & Costa 1993).
dida é de 1,2 Mt de cassiterita (ou 3.845 t de Sn) A Docegeo estimou nesse depósito uma reser-
e de 0,8 Mt de wolfrâmita (DNPM 2004) va de 200 Mt de fosfato com teor médio de 15%
de P2O5 e de titânio de 5.000 Mt, com 20% de TiO2
Depósito São Pedro do Iriri (anatásio) (Castro et al. 1991), mas não há deta-
lhes sobre tipo minério de fosfato (primário ou su-
A cassiterita da área de São Pedro do Iriri está pergênico) avaliado.
contida em depósitos aluvionares nas drenagens
menores do igarapé Bala, um afluente do rio Iriri Potencial para jazimentos de ouro, metais base,
(Fig 2B). O minério está nas camadas de colúvio estanho, wolfrâmio e nióbio
com 0,5 a 2,0 m de espessura e se concentrou
mais nos níveis de cascalho e areia de terraços e Baseados na extensão do vulcano-plutonismo
aluviões recentes com 3 a 6 m de profundidade e de 1,89-1,88 Ga desde o Domínio Tapajós até áre-
até 200 m de largura. A reserva foi avaliada em as próximas do cráton arqueano Juliani et al. (2008
torno de 6.850.000 m3 com 6.400 t de cassiterita e 2009) propuseram uma zonação das minerali-
e teor médio de 700g Sn/m3, ou 4.800 t de Sn con- zações de ouro, metais base, molibidênio, esta-
tido (Barbosa et al. 1988). Atualmente as minas nho e wolfrâmio. Destacam uma maior favorabili-
dessa área estão inativas, mas chegaram a ope- dade de depósitos auríferos do tipo pórifro e epi-
rar com capacidade de 85 mil m3/mês. termal high- e low-sulfidation, com metais base e
A fonte da mineralização são os greisens e gra- molibidênio no Domínio Tapajós, e do tipo IRGS
nitos alterados hidrotermalmente do maciço São (Intrusion Related System Gold), com mineraliza-
Pedro do Iriri. São leucogranitos porfiríticos com ção de Sn e W no Domínio Iriri-Xingu. Neste últi-
sericitização e albitização com lentes de greisen mo, descrevem sistemas de caldeiras vulcânicas
controladas por falhas e fraturas orientação apro- com alteração propilítica nas rochas andesíticas e

279
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Província Amazônia Central

Figura 3 - Geologia e modelo digital de terreno da área do Complexo Alcalino Maicuru (A). Feições aerogeofí-
sicas do corpo Maicuru: aerogamaespectrometria e modelo digital de terreno – contagem total (B); aeromag-
netometria e modelo digital de terreno – campo total reduzido ao pólo (C) e sinal analítico (D). (dados
aerogeofísicos da CPRM 1978).

sericítica com subordinada silificação e alteração ppm) em sedimento de corrente e solo. Eles asso-
argílica nas rochas riolíticas. Ao redor dos pórfiros ciaram essas anomalias à alteração hidrotermal
graníticos que cortam as rochas vulcânicas a seri- nas rochas vulcânicas e granitóides, nos quais
citização é intensa e há vestígios de alunita. As- identificaram veios de quartzo com calcocita, bor-
sociadas às essas zonas de alteração ocorrem nita e malaquita, além de pirita e calcopirita disse-
brechas hidrotermais com hematita e sulfetos e minadas. Também descrevem calcita, fluorita e nó-
stockworks auríferos ricos em limonita (Juliani et dulos de manganês nas zonas de alteração hidro-
al. 2008, Juliani & Fernandes 2010). termal. Identificaram concentrações de cassiteri-
O potencial para mineralizações de metais base, ta e columbita, respectivamente marcadas por
estanho e nióbio na região do rio Iriri (Fig. 2B) e anomalias de Sn (1.050-1.890 ppm) e Nb (1.110-
seus afluentes Curuá e Baú foi observado por For- 1.650 ppm) em concentrado de bateia.
man et al. (1972) com base em anomalias de Cu No sudoeste do Domínio Iriri-Xingu (Fig. 2B),
(125-380 ppm), Pb (84-124 ppm) e Zn (50-100 Pastana e Silva Neto (1980) identificaram indícios

280
Marcelo Lacerda Vasquez

de mineralização de estanho aluvionar com fon- veira G. 1998. Características geológicas e nature-
za das mineralizações auríferas de alguns prospec-
tes primárias atribuídas aos granitos tipo A da re- tos da Província do Tapajós – PA. In: SBG, Cong.
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Cachorro e Trombetas (Fig. 2A), os concentrados cassiterita de São Pedro do Iriri, Pará. In: C. Scho-
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de cassiterita aluvionar com topázio, turmalina e
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283
Marcelo Esteves Almeida, Marco Antônio Oliveira & Sílvio Roberto Lopes Riker

METALOGÊNESE DA PROVÍNCIA RIO NEGRO


MARCELO ESTEVES ALMEIDA, SÍLVIO ROBERTO LOPES RIKER &
MARCO ANTÔNIO OLIVEIRA
CPRM – Serviço Geológico do Brasil – Superintendência Regional de Manaus
Av. André Araújo, 2160 – Aleixo – Manaus – Amazonas CEP 69060-000
E-mails: marcelo_almeida@ma.cprm.gov.br; silvio_riker@ma.cprm.gov.br; moliveira@ma.cprm.gov.br

INTRODUÇÃO por empresas privadas e por garimpeiros até a


década de 90.
Ao longo dos anos, escassos trabalhos de cu-
nho prospectivo e metalogenético foram desen- SÍNTESE DA GEOLOGIA REGIONAL
volvidos na região estudada. Os de maior desta-
que podem ser atribuídos aos realizados na re- A Província Rio Negro de Santos et al. (2000),
gião do morro dos Seis Lagos (Nb, Fe, Mn, Th, TR; originalmente proposta por Tassinari et al. (1996)
Viegas Filho & Bonow, 1976) e na região de Tapu- como Província Rio Negro-Juruena, mantém limite
ruquara (Cr, Ni, Co, Cu, PGE; Araújo Neto et al., a leste com a província Parima-Tapajós (ou Ventu-
1977; Araújo Neto & Costi, 1979). Destacam-se ari-Tapajós) e comporta dois domínios tectono-es-
também as pesquisas de reconhecimento geoló- tratigráficos designados de Alto rio Negro e Imeri
gico e prospecção aluvionar de Achão (1974) e o (CPRM, 2003, 2006). O Domínio Alto Rio Negro ocor-
estudo geoquímico de detalhe e semidetalhe de- re na porção ocidental da província e é recoberto
senvolvido por Borges (1987a,b), todos na região em grande parte por uma cobertura fanerozóica
da serra Aracá. Trabalhos da década de 90 tam- (Cenozóica?) representada por depósitos areno-
bém merecem destaque (Gomes & Lins 1993, San- sos. O embasamento regional é composto por or-
tos & Melo 1993, Melo & Villas Boas 1993), os quais tognaisses dioríticos a graníticos dos Complexos
apresentam dados importantes acerca do poten- Cumati (1,79 Ga; arco continental) e Querari (1,74
cial metalogenético da área, incluindo a produção Ga; arco juvenil), e por rochas paraderivadas po-
de mapas de anomalias geoquímicas (e mineralo- lideformadas e migmatizadas do Grupo Tunuí (Al-
métricas) e metalogenético-previsional (escala meida et al. 2005, 2006, 2007; CPRM 2006). Os
1:500.000). Apenas um depósito mineral foi iden- principais lineamentos possuem trends NE-SW e
tificado (Seis Lagos), descrito em maior detalhe localmente NNW-SSE e EW. Intrusivos no emba-
no final do texto, enquanto que os demais regis- samento ocorrem granitóides do tipo S (1,54-1,52
tros correspondem a indícios minerais baseados Ga; Suíte Içana), gerados a partir de fusão crustal
em sondagens, análises geoquímicas (sedimento em ambiente sin a tardi-colisional, associados com
de corrente) e mineralógicas (concentrados de granitóides do tipo A aluminosos ou tipo-I de alto-
bateia). A maioria dos registros corresponde a in- K (1,51 Ga; Suítes Uaupés e Inhamoin). O Neo-
dícios minerais baseados em sondagens, análises proterozóico é reconhecido pelo magmatismo bá-
geoquímicas (sedimento de corrente) e mineraló- sico alcalino (diques de olivina diabásio) denomi-
gicas (concentrados de bateia). Exceções ficam por nados de “Cujubim” (980-940 Ma).
conta de um depósito mineral de nióbio (Seis La- O Domínio Imeri apresenta lineamentos
gos) de classe mundial identificado na década de com direção preferencial NE-SW (ex. serras Uru-
70, descrito em maior detalhe na parte final do cuzeiro, Imeri e Tapirapecó), além de faixas inter-
texto, e de algumas ocorrências e pequenos de- nas com deformação heterogênea associadas a
pósitos de ouro encontrados na região das Serra expressivas zonas de cisalhamento. Direções NW-
Traíra e Tunuí-Caparro (CPRM, 1998), na divisa com SE estão restritas nos alinhamentos das serras
a Colômbia, os quais foram objeto de exploração Curupira e Aracá, encontrando-se com forte infle-

285
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras - Província Rio Negro

xão na proximidade do contato com o padrão prin- ri, Cumati e Querari mostram localmente valores
cipal NE-SW. O embasamento do Domínio Imeri é de até 12 ppm de Au, embora o intervalo mais fre-
representado pelo Complexo Cauaburi (1,80 Ga; qüente esteja restrito a 0,5 e 2,6 ppm. Na serra
Santos et al. 2000, CPRM 2003), constituído domi- Traíra há registro de atividade garimpeira para
nantemente por (meta)granitóides cálcio-alcalinos ouro em área de rochas metassedimentares do
e gnaisses da fácies anfibolito (CPRM 2000). Da- Grupo Tunuí, cujo ápice seu deu em 1988. Nessa
dos isotópicos Sm-Nd (Sato & Tassinari, 1997, San- época foram trabalhadas as aluviões dos igara-
tos et al., 2000; Almeida et al. 2006, 2007) suge- pés Merenda e Boqueirão na serra Esperança, pro-
rem fontes híbridas de idade Transamazônica para longamento da serra Traíra, mostrando teores
os protólitos. Este embasamento é intrudido por médios de Au em torno de 8g/m3. Similares condi-
granitos do tipo A (1,76–1,75 Ga; Suítes Marauiá, cionamentos geológicos das serras Caparro e Tu-
Tiquié e Marié-Mirim) Ga, cujos dados Sm-Nd apon- nuí têm importância na metalogenia do ouro da
tam fontes crustais orosirianas depletadas (CPRM região da “Cabeça do Cachorro” (CPRM 2006).
2006), cujo evento magmático pode representar A região da Serra Daraá também é dominada
um estágio extensional posterior ao fim do even- por uma sucessão metavulcanossedimentar (For-
to orogênico gerador do Arco Cauaburi. Os grani- mação Daraá) e ortognaisses do Complexo Caua-
tos tipo S (1,54-1,52 Ga; Suíte Igarapé Reilau) fo- buri, cujas aluviões são caracterizadas por apre-
ram gerados num evento colisional subseqüente. sentar associação geoquímica formada por Au, Cu,
Nesse período foi gerado o Granito Jauari (1,48 além de Cr, Ni, V, Sc e Ag (sedimento de corrente)
Ga, CPRM 2003), intrusivo na sucessão metasse- e indícios de ouro e pirita (concentrado de bateia).
dimentar da Formação Aracá, esta última metamor- Apesar da inexistência de dados sobre a minerali-
fisada na fácies xisto verde a anfibolito. Essas ro- zação primária, zonas anômalas em ouro, cobre e
chas metassedimentares, também materializadas pirita devem estar associadas à presença de ro-
pelas formações Serra da Neblina e Daraá, apre- chas metassedimentares de baixo grau, ortognais-
sentam tramas deformacionais ao longo de zonas ses cálcio-alcalinos e lineamentos dúcteis NE-SW.
de cisalhamento dúctil. O magmatismo máfico-ul- Na Serra Aracá, Achão (1974) identificou ouro
tramáfico Tapuruquara de idade 1,17 Ga (badeleí- (concentrados de bateia) e paragênese metálica
ta U-Pb SHRIMP) é correlacionado a eventos des- formada por Pb, Zn, Sb e, subordinadamente Be,
critos na orogênese Nova Brasilândia em Rondô- Bi, Sn e Nb (sedimentos de corrente). O autor su-
nia, Mato Grosso e Bolívia (Santos et al. 2006). Inú- geriu semelhanças com os depósitos de Pb-Zn,
meros também são os registros de rejuvesneci- com ouro associado, de Broken Hill (Austrália). Pos-
mento isotópico relacionados ao evento K´Mudku teriormente, a região foi objeto de prospecção
(1,0-1,3Ga) na região (e.g. Santos et al. 2006). Ao geoquímica (Borges 1987a,b), cujos resultados
longo do Mesozóico, a intrusão alcalina Seis La- apontaram a presença de ouro com baixos teores
gos (Cretáceo?) e os diques de diabásio correlaci- (0,03-0,74g/m3) em mais de 50% das amostras,
onados ao evento Uaraná (Eo-Jurássico ao Neo- interpretados como produto da exposição de gnais-
Triássico) podem registrar correspondência com o ses do embasamento (áreas-fonte do metal) e de
evento Taiano, localizado em Roraima (CPRM 2006). metaconglomerados da Formação Aracá. A análi-
se mineralométrica também ressaltou na presen-
PRINCIPAIS METALOTECTOS DA PROVÍNCIA ça de minerais metamórficos (e.g. sillimanita, es-
taurolita, granada) e turmalina. Além de ouro e
Indícios de Ouro e Cobre associados às rochas pirita, levantamento da CPRM (2000) resultou na
metavulcanossedimentares Daraá, Aracá e Tu- identificação de anomalias geoquímicas de Nb, Cu,
nuí (<1,74 Ga: sequências relacionadas a arco Cr e Mn, este último com valores superiores a 5.000
magmático) e os Complexos Granítico-Gnáissi- ppm nos sedimentos de corrente e minerais me-
cos do Embasamento (1,80-1,74 Ga: magma- tamórficos e de pegmatito nos concentrados de
tismo tipo I de arco continental) bateia (e.g. samarskita, anatásio, cloritóide, co-
ríndon e sillimanita).
No rio Negro, a montante de São Gabriel da Ca-
choeira, indícios litogeoquímicos obtidos em augen Indícios de Estanho, Nióbio-Tântalo, Metais Ra-
gnaisses e metagranitos dos Complexos Cauabu- ros e Minerais de Pegmatito associados aos gra-

286
Marcelo Esteves Almeida, Marco Antônio Oliveira & Sílvio Roberto Lopes Riker

nitóides Marié-Mirim, Marauiá e Tiquié (1,75- sociadas com Sn (cassiterita), TR e Y (monazita e


1,76 Ga: magmatismo tipo-A) xenotímio).

Nas aluviões no âmbito do maciço granítico da Indícios de Cobre, Cromo, Cobalto, Níquel e Pla-
Serra Marié-Mirim foram identificados indícios de tinóides associados às rochas Máficas-Ultramá-
cassiterita e subordinadamente de columbita-tan- ficas Tapuruquara (1,17 Ga)
talita em diversos concentrados de bateia, confir-
mados pelos resultados de Sn, Nb e Ta em sedi- A noroeste de Santa Isabel do Rio Negro ocor-
mento de corrente (CPRM 2000). A associação com rem cinco estruturas circulares compostas de ro-
metais raros (Zr, Nb, Y, Ta, Be e TR) é pouco ex- chas máficas-ultramáficas da Suíte Tapuruquara,
pressiva no Granito Marié-Mirim, embora supere o sendo que três delas foram objeto de estudos de
background regional nas análises de sedimento detalhe nos anos 70 (Araújo Neto et al. 1977, Ara-
de corrente (valores médios: La 150 ppm, Y 100 újo Neto & Costi 1979) através de prospecção por
ppm, Ba 1.500 ppm e Be 3 ppm). Com relação ao sondagem. As sondagens atingiram profundida-
berilo, Reis & Monteiro (1995) registraram uma des máximas de 400 m e identificaram a seguinte
lavra garimpeira desativada de água-marinha, lo- seqüência (do topo para a base): hornblenda ga-
calizada nos contrafortes da Serra Curicuriari e cuja bro, olivina gabro, websterito, lherzolito e perido-
rocha hospedeira é um biotita granito. Minerais de tito. Gabros e granófiros anortosíticos ocorrem em
pegmatito também são observados com freqüên- zonas setoriais. O perfil revelado se assemelha
cia nas aluviões dos Granitos Tiquié (Melo & Villas em parte a de alguns corpos estratiformes mine-
Boas 1993) e Marauiá (CPRM, 2000), sobretudo ralizados conhecidos (e.g. Bushveld, Sudbury, Ska-
topázio, acompanhados quase sempre por cassi- ergaard e Stillwater), contudo, os teores médios
terira, columbita-tantalita, samarskita, ilmenita e de Cr (5.000 ppm), Ni (475 ppm), Cu (270 ppm) e
rutilo, mas os resultados de Sn (5-7 ppm) e Nb Co (137,5 ppm) não se mostraram promissores à
(16-28 ppm) nos sedimentos de corrente indicam formação de mineralização. Entretanto, a camada
valores relativamente baixos. Por outro lado, os dunítica, normalmente mineralizada em Cr, não foi
valores de TR (> 500 ppm) e Zr (d” 400 ppm) con- alcançada nos furos, não permitindo avaliar o cor-
firmam ao menos localmente a potencialidade des- po em maior profundidade.
ses elementos.
DEPÓSITO DE NIÓBIO DE SEIS LAGOS
Indícios de Estanho, Tungstênio, Nióbio e Ter-
ras Raras associados ao Granito Igarapé Reilau Distante 60 km a nordeste de São Gabriel da
(1,54 Ga: magmatismo tipo-S) Cachoeira, estado do Amazonas (Fig. 1), nas ca-
beceiras do rio Iá (bacia do rio Cauaburi), Pinheiro
Os (granada)-leucogranitos a duas micas da Su- et al. (1976) identificaram três estruturas circula-
íte Igarapé Reilau caracteriza-se por apresentar res (Folha NA.19-Pico da Neblina), denominadas
aluviões contendo em geral monazita, xenotímio, de Meio, Norte e Seis Lagos, esta última com cer-
além de cassiterira e wolframita, refletindo em ca de 5 km de diâmetro e com cotas de até 360 m.
anomalias discretas de Sn, Nb, W, Be e TR nos A presença de anomalias radiométricas de até
sedimentos de corrente (CPRM 2000). Vale ressal- 15.000 cps (limite máximo de leitura do cintilôme-
tar que nenhuma ocorrência primária foi cadastra- tro modelo SPP-2NF) levaram a implementação de
da, sendo possível que as zonas de cúpula do gra- trabalhos de pesquisa posteriores (Viegas Filho &
nito, hospedeira das mineralizações, tenham sido Bonow, 1976).
erodidas e depositadas nas aluviões. A análise As estruturas circulares representam o Carbo-
química de rocha apresenta até 15 ppm de Sn, natito Seis Lagos de Pinheiro et al. (1976) ou as
que apesar de superior à média regional e crus- Alcalinas Seis Lagos (CPRM 2006), formando um
tal, é, por exemplo, cerca de cinco vezes inferior à complexo ultramáfico/carbonatítico com canga fer-
encontrada nos granitos a duas micas (tipo-S) da rífera e niobífera associada. A instalação desses
mina de Xin Fang na China (Pollard, 1992). Ano- pipes carbonatíticos deve estar relacionada ao Ju-
malias de Th são mais raras, chegando até 75 ppm rássico/Cretáceo, época da abertura do Gráben
(porção nor-nordeste da serra Aracá), sempre as- do Tacutu (NE-SW). Os três pipes carbonatíticos

287
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras - Província Rio Negro

Figura 1 - Mapa de Localização das intrusões alcali-


nas de Seis Lagos.

(Fig. 2) são intrusivos em litótipos do Complexo


Cauaburi. As anomalias radiométricas de U, K e
principalmente Th, além dos padrões magnéticos Figura 2 - Imagem de Radar das estruturas circula-
da estrutura de Seis Lagos, são vistos na Figura res das intrusões Alcalinas Seis Lagos: 1: Morro dos
3. A seguir será apresentada uma breve descri- Seis Lagos; 2: Meio e 3: Norte.
ção dos seus principais litótipos:
pessura; 1-SG-04-AM) e possui dolomita, calcita,
Sedimentos carbonosos, ritmitos e brechas siderita, barita, talco, antigorita, clorita, antofilita
e abundante impregnação de óxido de ferro (Fig.
Ocorrem preenchendo depressões interiores 6). Sua mineralogia e a presença de elevados te-
formadas durante fenômenos de abatimento e co- ores em V, La, Sc e Ti sugerem como protólito um
lapso, notadamente no lago Esperança (depósi- diatrema máfico-ultramáfico alcalino.
tos de colmatação de lagos). As argilas são ver-
melhas, cremes e principalmente negras (carbo- Sienito e rocha carbonática
nosas/carbonatadas), localmente apresentandom-
se como ritmitos (Fig. 4). Sienito ocorre extremamente alterado
(115,25m–115,80m; 1-SG-02-AM) enquanto rocha
Crosta ferruginosa limonítica, goethítica e he- carbonática (beforsito) é constituída por 90% de
matítica carbonatos, com dolomita e calcita predominando
sobre a siderita, witherita e aragonita (222,60m–
Possui cor vermelho amarelada e é, em parte, 224,65m; 1-SG-02-AM).
manganesífera, apresentando espessura >200 m Processos de alteração hidrotermal são carac-
e idade atribuída ao Terciário Inferior (Fig. 5). A terizados principalmente pela presença de silicifi-
textura é cavernosa-brechoidal e localmente pi- cação, sericitização, carbonatação e cloritização.
solítica-oolítica. Veios de barita podem ter sido formados nesse
processo.
Hematita compacta e brecha carbonatada As estruturas de Seis Lagos são tidas como um
complexo carbonatítico do tipo siderita-sovito (Is-
A hematita é cinza avermelhada (27,9m de es- sler & Silva, 1975) mineralizado em Nb. Este se
pessura; 1-SG-02-AM), possuindo às vezes textu- encontra na estrutura do rutilo e da brookita (ru-
ra brechóide e fragmentos de barita associados. tilo columbifero e brookita columbífera), presen-
A brecha está bastante alterada (394 m de es- tes em toda canga ferrífera. Quase 70% das amos-

288
Marcelo Esteves Almeida, Marco Antônio Oliveira & Sílvio Roberto Lopes Riker

Figura 3 - Comportamento das anomalias aerogeofísicas da estrutura de Seis Lagos.

Figura 4 - A: Ritmito constituído de intercalação de


argilito carbonoso com argilito calcífero (108,00m–
111,65m; 1-SG-04-AM); B: Brecha formada de frag-
mentos de material orgânico e matriz argilo-carbo-
nosa (36,85m–41,50m; 1-SG-04-AM). Fonte: Vié-
gas Filho & Bonow (1976).

tras analisadas acusam valores de 2.000 ppm (li-


mite superior ao de detecção) e as reservas to-
Figura 5 - A. Visão geral da crosta ferruginosa do lago
tais perfazem 81.431.237 t de Nb2O5 (Tabela 1).
do Dragão; B. Crosta hematítica/limonítica, (93,70m–
A estrutura de Seis Lagos mostra uma grande 97,00m; 1-SG-01-AM); C: Crosta manganesífera
abundância de elementos químicos (Fig. 7), cuja (0,00m–2,10m; 1-SG-03-AM). Fonte: Viégas Filho &
distribuição é marcada por associações do tipo Nb- Bonow (1976).

289
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras - Província Rio Negro

Tabela 1 - Potencial de nióbio na estrutura de Seis


Lagos. Fonte: Justo (1983) e DNPM – 8º Distrito.

Almeida M.E., Luzardo R., Pinheiro S.S., Oliveira M.A.,


2005. Folha NA.19-Pico da Neblina. In: Schobbe-
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Brasil ao Milionésimo, Sistemas de Informações
Geográficas-SIG. Programa Geologia do Brasil,
CPRM, Brasília. Edição 2004. CD-ROM.
Almeida M.E., Macambira M.J.B., Reis N.J.R., Pinheiro
S. da S. 2007. Geologia, Geoquímica Multielemen-
tar e Isotópica (Sm-Nd) das rochas do embasamento
Figura 6 - A. Brecha carbonatada a siderita (235,90m– do extremo oeste da Província Rio Negro, NW do
338,90m; 1-SG-04-AM) e B. com fragmentos de Amazonas, Brasil. In: SBG, Simp. Geol. Amazônia,
argilito carbonoso (224,50m-227,55m; 1-SG-04-AM). 10, Porto Velho, Anais, p. 26-19.
Fonte: Viégas Filho & Bonow (1976).

Figura 7 - Distribuição dos elementos no Morro dos Seis Lagos. Fonte: Viégas Filho & Bonow (1976).

Ba-Be-TR-V-Sn-Mo-Sr-Zn (zona perimagmática), TR- Almeida M.E., Reis N.J.R., Macambira M.J.B. 2006. Evo-
lução geológica do oeste do Escudo das Guianas
Nb-Be-V-Zn (sedimentos carbonosos) e Ag-Zn-Pb, com base em novos dados Sm-Nd e evaporação de
Mn e Y (em zonas bem individualizadas dentro da Pb de zircão. In: SBG, Cong. Bras. Geol., 44, Ara-
caju, SE.
estrutura).
Araújo Neto H., Bonow C.W., Amaral J.A.F., Carvalho
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290
Marcelo Esteves Almeida, Marco Antônio Oliveira & Sílvio Roberto Lopes Riker

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Volume XI, 380 p. gos. Relatório Final. Manaus, Convênio DNPM/CPRM,
2 v.

291
faixas Mesoproterozoicas

ESBOÇO TECTONO-GEOLÓGICO DAS FAIXAS


MESOPROTEROZOICAS DO BRASIL
Amarildo Salina Ruiz et al.

METALOGÊNESE DA PROVÍNCIA SUNSÁS

AMARILDO SALINA RUIZ1, MARCOS LUIZ DO ESPÍRITO SANTO QUADROS2,


CARLOS JOSÉ FERNANDES3, LUIS CARLOS MELO PALMEIRA2 &
FRANCISCO EGÍDIO CAVALCANTE PINHO4

1 - Universidade Federal de Mato Grosso, Departamento de Geologia, Avenida Fernando Correa, s/n, Coxipó
Cuiabá, MT. E-mail: amarildo@ufmt.br
2 - CPRM-Serviço Geológico do Brasil, Av. Lauro Sodré, 2561, Bairro Tanques, 78904-300, Porto Velho - RO.
E-mail: quadros@pv.cprm.gov.br
3 - Geomin - Geologia e Mineração Ltda., Rua Bandeirantes, N. 88, Pico do Amor, 78055-116, Cuiabá.
4 - Universidade Federal de Mato Grosso, Departamento de Recursos Minerais, Avenida Fernando Correa, s/n,
Coxipó, Cuiabá, MT. E-mail: aguapei@ufmt.br

INTRODUÇÃO zóicas (Orogenia Santa Helena, Rio Alegre e San


Ignácio - Bettencourt et al. 2010).
O objetivo deste capítulo é apresentar uma vi- No estado de Rondônia está representada pelo
são sinóptica sobre os principais distritos metalo- Cinturão de Cisalhamento Guaporé/Faixa Alto Gua-
genéticos situados no contexto da Província Sun- poré e pelo Terreno Nova Brasilândia. O primeiro
sás, segundo a concepção sugerida por Santos et (1,35-1,31 Ga) engloba, na região de Colorado
al. 2000 e 2008. d´Oeste, a porção sul da Faixa Alto Guaporé, ex-
Após a caracterização sintética dos aspectos tendendo-se provavelmente para o noroeste de
geológicos regionais da Província Sunsás será Rondônia, onde promoveu o retrabalhamento da
apresentado uma síntese das principais provínci- crosta mais antiga, concomitante com a adição de
as e distritos mineiros situados na província em material juvenil. As do Terreno Nova Brasilândia
Mato Grosso e Rondônia. foram formadas durante a fase sin-acrescionária
da Orogenia Candeias, cronocorrelata ao desen-
CONTEXTO GEOLÓGICO REGIONAL volvimento da Orogenia San Ignácio na Bolívia. O
Terreno Nova Brasilândia/Faixa Nova Brasilândia
Segundo a compartimentação tectônica pro- (1,25-0,97 Ga) é composto predominantemente
posta por Santos et al. (2000, 2008), a Província por uma unidade metaturbidítica terrigeno-carbo-
Sunsás domina toda a porção sudoeste do Crá- nática dominante e subordinadamente por uma
ton Amazônico, envolvendo parte dos estados de unidade máfico-félsica bimodal, formadas durante
Mato Grosso e Rondônia e oriente da Bolívia. De a Orogenia Nova Brasilândia (1,25-1,1 Ga).
acordo os autores, a província se desenvolveu de
1.45 a 1.1 Ga, contrastando, portanto, com ou- PROVÍNCIAS E DISTRITOS METALOGENÉTICOS
tras propostas de subdivisão do SW do Cráton EM MATO GROSSO
Amazônico que, neste intervalo, definem duas dis-
tintas províncias, a Rondoniana-San Ignácio (1.55 A Provincia Metalogenética Sunsás no sudo-
a 1.3 Ga) e Sunsás (1.2 a 0.9 Ga) (Bettencourt et este do estado de Mato Grosso abrange a Provin-
al. 2010, Teixeira et al. 2010). cia Aurífera do Alto Guaporé, o Distrito Polimetáli-
E Mato Grosso, a Província Sunsás (sensu San- co do Alto Jauru e o Distrito Niquelífero de Como-
tos et al. 2008) é representada pela Faixa Móvel doro.
Aguapeí (1.2 a 0.95 Ga), e produtos ígneos asso-
ciados, e pelos terrenos Jauru, Rio Alegre e Para- Província Aurífera do Alto Guaporé
guá, os quais possuem substrato paleoprotero-
zóico, retrabalhados em orogenias mesoprotero- O ouro na Província Aurífera Alto Guaporé foi

295
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Província Sunsás

descoberto nos aluviões próximos da Serra de São temente deformado pela Orogenia Sunsás (Fig. 2).
Vicente em 1736 (I Ciclo do Ouro em MT) com des- No Grupo Aguapeí os depósitos mais importantes
taque para as lavras de São Francisco Xavier, São são a Mina de São Francisco, Mina de São Vicente
Vicente, Sant’ana e Nossa Senhora do Pilar (Mi- e depósitos da região da Lavrinha e Pau-a-Pique.
randa, 1997). Após grande período de inativida- No embasamento os mais importantes são os de-
de, nas décadas de 1970-80 a região voltou a ser pósitos do Incra, Grota da Onça, associados à
trabalhada por garimpeiros (II Ciclo do Ouro em Sequencia Vulcanossedimentar Pontes e Lacerda,
MT). Neste período a região começou a ser pes- o Ellus e Maraboa, associados a rochas graníticas
quisada por empresas, principalmente pela BP e os depósitos GP2 e Agropan relacionados a Se-
Mineração e Mineração Santa Elina Ltda culminan- quência Vulcanossedimentar Rio Alegre. As idades
do com abertura da Mina de São Vicente pela San- 40
Ar/39Ar em sericita hidrotermal apontam valores
ta Elina.
entre 908.1 ± 0.9 Ma e 946.1 ± 0.8 Ma, o que re-
Atualmente na Província Aurífera Alto Guaporé
laciona as ocorrências auríferas com a evolução
está em atividade as minas de São Vicente e São
Francisco de propriedade da Aura Minerals Ltd e da Faixa Aguapeí.
em implantação a Mina do Ernesto/Pau-a-Pique A mineralização está associada a sistemas de
pela Serra da Borda Mineração e Metalurgia S/A, veios de quartzo e disseminações nas rochas en-
subsidiária do Grupo Yamana Gold Inc (Fig. 1). caixantes. Três populações de inclusões fluidas
A mineralização na Província Aurífera do Alto ocorrem nos veios de quartzo desses depósitos,
Guaporé está associada à evolução tectono-ter- distribuídas em dois sistemas: inclusões trifásicas
mal mesoproterozóica da Faixa Móvel Aguapeí, aquo-carbonicas H2O+CO2+NaCl (Tipo I), bifási-
gerada durante a colagem final do supercontinen- cas aquosas e monofásicas aquosas H2O+NaCl
te Rodínia (1,2 a 0,9 Ga). A Faixa Móvel Aguapeí é (Tipo II e III). Os três tipos apresentam baixa sa-
constituída principalmente pelas rochas metasse- linidade (<8% em peso de NaCl eq.). Os fluidos
dimentares do Grupo Aguapeí, que se sobrepõem estão relacionados a sistema hidrotermal profun-
às rochas básicas, ultrabásicas e sedimentares do, sendo a principal fonte do ouro a devolatiliza-
químicas do Terreno Rio Alegre e as rochas graní- ção de pilhas de rochas ultramáficas, máficas e bifs
ticas do Terreno Jauru. das sequências vulcanossedimentares Rio Alegre
Ao longo da Faixa Móvel Aguapeí são registra- e Pontes e Lacerda.
dos mais de 20 depósitos e ocorrências de ouro, A paragênese do minério é constituída por sul-
em sua maioria associados ao Grupo Aguapeí for- fetos e óxidos, representados em ordem decres-

Figura 1 – Áreas de extração de ouro na Província Aurífera Alto Guaporé. A) Mina São Vicente; B) Mina São
Francisco; em C) depósito do Jair, região da mina do Ernesto e; D) Pau-a-Pique.

296
Amarildo Salina Ruiz et al.

Figura 2 - Localização dos principais projetos de pesquisa na Província Aurífera Alto Guaporé.

cente de abundância, por pirita, maganetita, he- permitem classificá-lo conforme a proposta de Boy-
matita, ilmenita e martita e subordinadamente por le (1979) em ouro nativo. O grau de pureza de
calcopirita, pirrotita, arsenopirita, prata nativa e Fisher (1945) é de 905,8 para o depósito Pau-a-
galena (Fernandes et al. 1999; Barboza et al. Pique, 946,5 para os depósitos da Lavrinha e
2001). Na mina de São Vicente a ordem de abun- 906,3 para a Mina de São Vicente.
dância é alterada pela ocorrência mais expressiva
de arsenopirita em relação aos demais depósitos. Distrito Polimetálico do Alto Jauru
A pirita é similar em todos os depósitos, diferindo
somente nos teores de Se (3.600 ppm) na região Ocorrências de cobre na região sudoeste de
da Lavrinha (Geraldes et al. 1997) e As (8.700 Mato Grosso foram relatadas pela primeira vez por
ppm) na mina de São Vicente. No depósito Grota Francis de Castelnau (1746) o qual descreveu as
da Onça, relacionado à sequência vulcanossedi- ocorrências do Morro do Cobre, médio curso do
mentar Pontes e Lacerda, a paragênese do miné- Rio Jauru, município de Porto Esperidião. Na déca-
rio é composta por pirita, calcopirita, galena e es- da de 80, quando desenvolveu intenso programa
falerita (Geraldes et al. 1997), já no depósito Ellus de exploração mineral na região entre os rios Jau-
que consiste de rochas graníticas cortadas por ru e Cabaçal, a Mineração Santa Marta – BP Inter-
veios de quartzo, é observada também a presen- nacional localizou anomalias geoquímicas e geofí-
ça de molibdenita. sicas na Faixa Cabaçal. Duas destas zonas anô-
O ouro nos depósitos associados ao Grupo malas viriam a se tornar minas, denominadas de
Aguapeí apresenta alta pureza. A proporção mé- Cabaçal (Au-Cu) e Mina Santa Helena (Zn-Au).
dia do Au e da Ag no depósito Pau-a-Pique é de A Mina do Cabaçal entrou em operação em
90,14% e 9,37% em peso. Na região da Lavrinha março de 1987 e encerrou em 1991 com o esgota-
o valor médio é de 93,87% para ouro e de 5,30% mento das reservas e a elevação dos custos
para a prata e, na Mina de São Vicente 91,20% e operacionais. Um total de 869.279 toneladas de mi-
9,42%. Silva et al. (1997) apresenta valores simi- nério foi processado. O teor final de ouro ficou esti-
lares para a mina de São Vicente de 96,17% e mado em 5 gramas/tonelada e o de cobre em 0,82%.
4,96%. As proporções apresentadas para o Au O depósito do Cabaçal está hospedado na For-

297
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Província Sunsás

mação Manuel Leme denominada por Monteiro et mente mineralizadas e menos alteradas hidroter-
al. (1989). Devido ao alto grau de deformação das malmente na direção noroeste (Mason & Kerr
rochas e a uma foliação penetrativa, uma clara 1990). A distribuição do ouro é errática nas três
definição da seqüência estratigráfica local, somen- zonas. No entanto, os teores mais elevados es-
te foi definida durante o programa de sondagem tão na SCZ.
e de operação da mina. Esta seqüência consiste O minério da Mina do Cabaçal está dividido em
de uma unidade vulcano-química, uma zona clori- disseminado, bandado, venular, brechado e maci-
tizada e uma unidade vulcânica-vulcanoclástica. ço. O ouro ocorre associado a sulfetos, veios de
Estas unidades foram bem descritas nos relatóri- quartzo e minerais de Bi-Te. O minério dissemina-
os internos da Mineração Santa Marta. A Unidade do consiste de grãos ou agregados de sulfetos
vulcano-química consiste de metatufos e cherts que ocorrem coincidentes com a foliação principal.
bandados, intercalados com metassedimentos São principalmente calcopirita, pirita e pirrotita em
detríticos e químicos, e metavulcânicas ácidas e concentrações de 0,5 a 1%. O tipo bandado forma
intermediárias a básicas. A maioria destas rochas lâminas continuas de sulfetos, milimétricas a cen-
é representada por xistos compostos por sericita, timétricas, coincidentes com S1. Geralmente está
clorita, biotita e quartzo, em proporções diferen- associado a cherts bandados ou no topo da zona
tes em cada tipo de rocha. São quartzo-sericita- cloritizada, sugerindo uma gênese vulcânica. Os
clortia±biotita xisto, sericita-quartzo xisto, serici- sulfetos incluem calcopirita, pirita e pirrotita que
ta-quartzo-clorita±biotita xisto e clorita-sericita- perfazem 5 a 10% da rocha. Valores acima de 30%
quartzo xisto. Os metacherts bandados estão in- não são raros. O minério venular ocorre em toda
tercalados na unidade vulcano-química, consistem a área, composto principalmente por quartzo lei-
de até 98% de sílica. Um bandamento proeminen- toso, muito embora veios de carbonato ocorram
te pode ser observado nestes cherts, marcado como fase secundária. Os minérios brechados e
pela variação de coloração das camadas silicosas, maciços estão restritos à zona central do depósi-
e por finas bandas de sericita, clorita ou biotita. A to. Mason & Kerr (1990) sugerem que o minério
Zona Cloritizada ocorre entre os metacherts e o brechado está associado a uma serie de explo-
pacote de tufos e metavulcânicas porfiríticas, é re- sões freáticas que ocorreram durante a erupção.
presentada por um xisto verde escuro, rico em clo- Este episódio foi posterior ao processo de altera-
rita com alguma biotita e sericita, calcita é um mi- ção hidrotermal que formaram as zonas ricas em
neral comum nesta rocha. Granada, estilpnomela- clorita e quartzo.
no e grunerita-cummingtonita ocorrem em leitos Os processos genéticos envolvidos na geração
centimétricos, não contínuos. Grande parte das do depósito do Cabaçal são palco de intenso de-
ocorrências de cobre está relacionada à zona da bate. Toledo (1998) e Figueiredo (2000) conside-
clorita. A Unidade Tufácea, Metavulcânica Porfiríti- ram que a mineralização é posterior à formação
ca é representada por um xisto marrom composto das rochas hospedeiras, pertencendo ao modelo
por quartzo, plagioclásio, biotita, sericita e clorita. de depósito mesotermal de ouro e metais-base.
Como acessórios ocorrem calcita, epidoto, grana- Por outro lado, Mason & Kerr (1990), Pinho (1996)
da e sulfetos (pirita, pirrotita, calcopirita, galena e e Pinho et al. (2002) observando a alteração hi-
esfalerita). Por vezes são observadas as cama- drotermal no depósito do Cabaçal sugeriram um
das originais de deposição dos tufos. modelo genético vulcanogênico, no qual centros
Três zonas mineralizadas foram definidas pela hidrotermais geraram alterações dos tipos serici-
Mineração Santa Marta S.A. (1987) como coinci- tização, cloritização e silicificação em diferentes
dentes com a foliação principal, mergulhando para estágios. Após os processos de deposição singe-
SW com ângulos variáveis e para S-SE com apro- néticos ao vulcanismo a Faixa Cabaçal foi afetada
ximadamente 20º, coincidindo esta segunda com por uma zona de cisalhamento de direção NNW-
a zona axial dos dobramentos D2. Mason e Kerr SSE, a qual causou o controle estrutural de zonas
(1990) associaram as três zonas de minério com de enriquecimento em ouro.
três centros hidrotermais denominados de South
Copper Zone (SCZ), Central Copper Zone (CCZ) e Distrito Niquelífero de Comodoro
East Copper Zone (ECZ). As zonas de stringer dos
três centros hidrotermais se tornam mais fraca- O Distrito Niquelífero de Comodoro situa-se no

298
Amarildo Salina Ruiz et al.

limite do estado de Mato Grosso e Rondônia e pró- possuem reservas minerais bloqueadas de apro-
ximo a fronteira Brasil-Bolívia, vale do rio Guapo- ximadamente 47 milhões de toneladas de miné-
ré. O distrito é representado pelos depósitos Mor- rio, com teores médios de 1,76% de Ni, 14,5% Fe,
ro do Leme e Morro Sem Boné, distantes 35 km mostrando ainda uma relação Si02/Mg0 de 2,29 e
entre si. Nestas áreas, o metalocteto principal está um cut- off de 0,9% Ni (Lacerda Filho et al. 2004).
representado por um conjunto de rochas ultramá-
ficas serpentinizadas derivadas de peridotitos, PROVÍNCIAS E DISTRITOS METALOGENÉTICOS
ocorrendo como corpos alojados em metassedi- EM RONDÔNIA
mentos atribuídos à Seqüência Metavulcanosse-
dimentar Nova Brasilândia (Scandolara et al. 1992, Província Estanífera de Rondônia
Nunes 2000) e Rio Alegre (Lacerda Filho et al. 2004)
associados a evolução da Orogenia Sunsas. Es- A Província Estanífera de Rondônia foi desco-
tes depósitos foram pesquisados a partir de 1996 berta em 1952, sendo que desde esta época o
pela Mineração Tanagra (Grupo Anglo American estanho, sob a forma de cassiterita, é o principal
Brasil Ltda) que bloqueou reservas de minério de bem mineral explotado por empresas de minera-
níquel do tipo supergênico. ção, garimpeiros e cooperativas de garimpeiros,
Os trabalhos de geologia de detalhe caracteri- muito embora outros produtos ganharam impor-
zaram e individualizaram três unidades litológicas, tância em função de novas oportunidades de mer-
constituídas de dunitos, peridotitos e tremolititos. cado e passaram a ser explorados, tais como, ni-
As concentrações mais expressivas de níquel en- óbio, tântalo, tungstênio e topázio. Atualmente no
contram-se distribuídas nas zonas saprolíticas do Estado de Rondônia encontram-se cadastrados
dunito, que geram teores de Ni acima de 0,9%, nas bases de dados da CPRM (GEOBANK), trinta e
sendo o minério classificado de ácido quando ul- três minas e dezesseis garimpos de estanho como
trapassa 2,5 da relação SiO2/MgO e básico se essa substância principal. Neste contexto, destacam-se
relação for menor que 2,5. Estratigraficamente, as os depósitos de Bom Futuro, Santa Bárbara, Ori-
faixas de minério ácido sobrepõem às de minério ente Novo, São Lourenço-Macisa, Massangana,
básico. Os corpos mineralizados apresentam–se Montenegro, Campo Novo de Rondônia, Rio Bran-
com formas lenticulares ou tabulares, geralmente co e Dias Nobre, os quais se encontram em plena
com limites de mineralizações (superior e inferior) atividade de exploração mineral. Diversos outros
paralelos à linha de oxidação determinada pela depósitos, que tiveram sua importância como gran-
variação do nível dinâmico do lençol freático (La- des produtores de estanho em Rondônia, hoje se
cerda Filho et al. 2004). encontram com suas atividades totalmente para-
O minério se formou pela concentração grada- lisadas, com destaque para os depósitos de Po-
tiva de níquel a partir da evolução de processos tosi, Jacundá, Duduca, Serra da Onça, 14 de abril,
geomorfológicos que modelam o relevo e determi- Cachoeirinha, Pedra Branca (Igarapé Bom Futu-
nam o desenvolvimento de horizontes de altera- ro), Novo Mundo, Faveiro, Primavera, Moisés-Es-
ção laterítica, ligados a processos de intemperis- cola e Igarapé Manteiga (Fig. 3). Além destes de-
mo sobre dunitos. pósitos, existem o Depósito de Igarapé Preto no
De uma forma geral o perfil de alteração des- sul do Amazonas (paralisado) e o Depósito de São
ses depósitos tem as seguintes características: Francisco no extremo noroeste do Mato Grosso
Zona Laterítica e Zona Silicosa (estéril afloran- (em atividade) (Fig.3).
te) com Ni < 0,9%; · Zona Silicosa Saprolítica, de Segundo dados do DNPM (Departamento Naci-
material saprolítico com venulações de sílica, com onal de Produção Mineral), a produção oficial de
Ni > 0,9% (minério ácido); Zona Saprolítica Argilo- cassiterita (concentrado de Sn) em Rondônia no
sa Ferruginosa, com Ni > 0,9%, Fe > 18% (minério ano de 2007 foi de 2,6 milhões de kg, a de con-
ácido); Zona Saprolítica Argilosa, com Ni > 0,9%, centrado de nióbio (Nb2O5) ficou em torno de 1,3
Fe < 18% (minério básico); Zona Saprolítica Homo- mil kg e a de tungstênio (concentrado de WO3) foi
gênea, com estrutura da rocha original preservada, de 39 toneladas. As principais minas responsá-
com Ni > 0,9%, Fe < 15% (minério básico); Zona de veis pela produção oficial de estanho em Rondô-
Transição para Rocha Fresca, com Ni < 0,9%. nia são as de Bom Futuro, Santa Bárbara (Tabo-
Os depósitos dos morros Sem Boné e do Leme quinha Greisens), São Lourenço, Rio Branco e Iga-

299
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Província Sunsás

Figura 3 - Mapa esquemático com os principais depósitos de estanho da Província Estanífera de Rondônia
(Quadros & Rizzotto 2007).

rapé Manteiga, sendo esta última como importan- partir do intemperismo das zonas mineralizadas
te produtor de tungstênio. dos corpos graníticos e das encaixantes, através
Os Depósitos primários de cassiterita, wolfra- de processos de decomposição química e desa-
mita e columbita-tantalita em Rondônia estão as- gregação mecânica, erosão, transporte e deposi-
sociados, principalmente, aos granitos pós-orogê- ção. Durante a atuação dos processos de intem-
nicos a anorogênicos realacionados à Suíte Intru- perismo, a cassiterita se comporta como um mine-
siva Santa Clara (1,08 Ga) e a Suíte Intrusiva Ron- ral resistente, sendo comumente encontrada na
dônia/Yunger Granites of Rondônia (~0,98 Ga). A forma residual em depósitos eluvionares, na for-
principal origem destes depósitos está relaciona- ma pouco transportada em depósitos coluviona-
da a processos hidrotermais que resultaram em res, situados nas encostas das elevações e nos
albitização, greisenização, sericitização, epidotiza- vales, próximo aos depósitos primários, e na for-
ção, potassificação, cloritização e argilização (Bet- ma transportada em depósitos aluvionares, tam-
tencourt 1992). As mineralizações primárias estão bém conhecidos como depósitos de placers, en-
associadas a sistemas vulcano-plutono e, em ge- contrados em paleovales rasos e profundos (Por-
ral, ocorrem nas porções apicais das cúpulas das sani et al. 2004). Nestes tipos de depósitos, cassi-
intrusões graníticas e nas encaixantes, como en- terita, proveniente das áreas fonte primárias, acu-
dogreisens e exograisens e em veios e venulações/ mula-se devido as suas propriedades mineralógi-
stockworks de quartzo, associados ou não com cas e aos processos de intemperismo reinantes
zinwaldita, topázio, wolframita e columbita-tanta- na época de formação destes depósitos, associa-
lita. Estudos recentes sugerem que alguns dos do, ainda, às condições paleoclimáticas e paleo-
depósitos da Província Estanífera de Rondônia são topográficas.
do tipo polimetálicos com Sn, W, Nb, Ta, Zn, Cu e
Pb, associados (Leite Jr. 2002). Distrito de Bom Futuro
Os depósitos secundários de cassiterita na Pro-
víncia Estanífera de Rondônia são originados a O Depósito de Estanho de Bom Futuro, conhe-

300
Amarildo Salina Ruiz et al.

cido regionalmente como garimpo de Bom Futuro, presentados por monzogranitos e sienogranitos,
encontra-se localizado, aproximadamente, a 75 km granitóides relacionados à Suíte Intrusiva Alto
a noroeste de Ariquemes, Rondônia, mais preci- Candeias (~1.35 Ga), composta por monzograni-
samente na interseção do paralelo 09º 46’ 44" S tos porfiríticos, sienitos equigranulares e quart-
e o meridiano 63º 33’ 01" W. Bom Futuro corres- zo-monzonitos, e rochas graníticas petencentes
ponde a uma mina a céu aberto cuja cava atual a Suíte Intrusiva Rondônia/”Younger Granites”
possui dimensões em torno de 5 km de compri- (~1.0 Ga), composta por alkali-feldspato-granitos,
mento por 5 km de largura e aproximadamente 60 sienogranitos, riolitos pórfiros, albita-granitos, to-
metros de profundidade. É uma das maiores mi- pázio-riolitos e traquitos.
nas a céu aberto do Brasil ou até mesmo do mun- O Depósito de Bom Futuro é um dos mais estu-
do, sendo a jazida que mais produziu estanho em dados. Dos trabalhos disponíveis na literatura,
Rondônia. Bom Futuro foi descoberto, ocasional- destaca-se os de Villanova & Franke (1995), que
mente, na metade do ano de 1987 por madeirei- descrevem geologicamente o garimpo de Bom Fu-
ros que retiravam madeira nas redondezas do iga- turo como uma estrutura que compreende dois
rapé Santa Cruz, no Município de Ariquemes. Inici- centros vulcânicos brechados, hospedados em
almente a área foi requerida para pesquisa pela paragnaisses e anfibolitos com estruturação NNW-
empresa MS Mineração Ltda e, antes que a mes- SSE, com mergulhos verticais a subverticais para
ma recebesse o alvará de pesquisa, a notícia da ENE ou WSW, que definem dois sistemas de “pi-
descoberta de cassiterita se espalhou e a área foi pes”, ligados por um conduto de aproximadamen-
invadida por garimpeiros oriundos de várias regi- te 25 m de espessura. Os referidos autores des-
ões do Estado e de outras partes do país crevem ainda um pequeno corpo de riolito alcalino
(Dall’Igna, 1996). O Depósito de Bom Futuro tor- que ocorre na parte sul do “pipe” nordeste, pos-
nou-se, então, um grande atrativo para interes- sivelmente representando um dos condutos do vul-
ses sociais, econômicos e políticos, que geraram canismo que gerou as brechas e, também, regis-
uma série de conflitos com forte influência na co- tram a ocorrência de veios de quartzo contendo
mercialização da cassiterita, levando ao comércio topázio, adularia, zinvaldita, cassiterita, zircão,
ilegal e ao contrabando do minério em grandes wolframita, ilmenita e óxidos de manganês.
proporções, contribuindo para a queda das cota- Silva et al. (1995), definiram o Granito Palan-
ções de estanho no mercado mundial. Com a fina- queta localizado a 500 m a nordeste da Serra do
lidade de solucionar os problemas do garimpo de Bom Futuro, sendo caracterizado como um corpo
Bom Futuro, foi criada, em junho de 1990, a Em- com uma estrutura de cúpula com contorno semi-
presa Brasileira de Estanho S/A (EBESA), congre- circular, com área aflorante medindo em torno de
gando os maiores grupos produtores de cassite- 450 x 400 m, com diferenças de níveis em torno
rita do Estado de Rondônia. Esta empresa assi- de 37 m. Segundo os autores acima mencionados,
nou um protocolo de intenções com as cooperati- o “Sistema Palanqueta” é composto por duas fá-
vas de garimpeiros, com a finalidade de operacio- cies em contato aparentemente gradacional, com
nalizar em conjunto o garimpo de Bom Futuro. Atu- “greisens” associados, intrudidas em paragnais-
almente, o Depósito de Bom Futuro está sendo ses e anfibolitos do Complexo Jamari, apesar dos
explotado por cooperativas de garimpeiros e por contatos estarem encobertos por material de ori-
pequenos mineradores, os quais convivem junta- gem coluvionar. A primeira fácies do Granito Pa-
mente com garimpeiros independentes (Fig. 4). lanqueta está representada por um granito porfi-
O arcabouço geológico regional no qual se in- rítico, similar ao descrito na margem nordeste da
sere o Depósito de Bom Futuro destaca-se, pela Serra do Bom Futuro, enquanto que a segunda
predominância de rochas do Complexo Jamari que fácies é caracterizada por um albita-granito que
engloba ortognaisses e gnaisses bandados de corresponde a 70% da área exposta desta estru-
composição granodiorítica, tonalítica e diorítica, tura. Os “greisens”, como corpos significativos, são
com intercalações subordinadas de gnaisses pa- dominantemente do tipo quartzo-”greisens” e
raderivados, gnaisses enderbitos e máficas gra- ocorrem ao longo do contato norte e leste do albi-
nulitizadas, além de anfibolitos e metagabros. ta-granito com o granito porfirítico. Os que ocor-
Ocorre na região, granitóides pertencentes a Su- rem subordinadamente são do tipo mica-”grei-
íte Intrusiva Serra da Providência (~1.5 Ga), re- sens” e estão situados na porção interior do albi-

301
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Província Sunsás

Figura 4 - Vista parcial da Mina Bom Futuro, Ariquemes, Rondônia.

ta-granito, dispostos ao longo de um “trend” NNW. íte Granito Últimos de Rondônia) de idade entre
Souza (2003) propôs um modelo evolutivo para 998 e 974 Ma. Primeiramente a explotação deste
o Depósito de Bom Futuro, consistido de um siste- depósito ocorreu na jazida denominada de Grein-
ma vulcano-plutono como resultante da combina- sen Taboquinha, sendo que atualmente todo o
ção de três estágios, combinando intrusão graní- processo de explotação está concentrado em ma-
tica em níveis crustais rasos, brechação e greise- terial aluvionar em paleovales.
nização, e finalizando com colapso da estrutura A mineralização primária de cassiterita do de-
brechada com formação dos veios. O depósito de pósito de Santa Bárbara e do tipo disseminado
Bom Futuro é caracterizado por dois sistemas. em albita-microclíno granito, acamadado represen-
Segundo o referido autor, o Sistema Bom Futuro tado por corpos tabulares de greisens mineraliza-
encontra-se encaixado em rochas orto e parade- dos com cassiterita e wolframita e pelos granitos
rivadas do Complexo Jamari, sendo este formado albitizados, sistemas de stocwork (sistema de vei-
por um corpo de brecha, em formato de pipe, in- os e vênulas)/veios subparalelos (veios de topá-
trudido por diques de riolito e de albita granito. zio-siderofilita-quartzo greisens) e sistema de vei-
Neste sistema a cassiterita ocorre associada a os tardios de quartzo com cassiterita (Sparren-
veios de quartzo com topázio e zinnwaldita, dis- berger, 2003). A mineralização secundaria encon-
tribuídos de forma anelar em torno da estrutura tra-se associada a depósitos aluvionares, que
vulcânica. O sistema plutônico (Sistema Palanque- correspondem a sedimentos arenosos lateritiza-
ta) é representado por um stock de biotita granito dos que formam corpos lenticulares ao longo de
intrudido por um plug de albita granito contendo paleocanais e paleovales. A mina de Santa Bárba-
zonas de greisens com cassiterita e wolframita, ra atualmente esta em operação por empresas de
associada a quartzo, topázio, fluorita, micas, além mineração.
de pirita, calcopirita, esfalerita, galena, monazita
e hematita. Além destes sistemas geradores de Distrito de São Lourenço-Macisa
mineralizações primária de cassiterita, existe a
formação de depósitos secundários de cassiterita O Distrito de São Lourenço-Macisa esta locali-
oriundos da erosão e deposição de material aluvi- zado a 155 km a sudoeste da cidade de Porto Ve-
onar e coluvionar em paleovales. lho, distante aproximadamente a 11,5 km a noro-
este do porto Bom Futuro na margem esquerda
Distrito de Santa Bárbara do Rio Madeira. A geologia da região de São Lou-
renço encontra-se caracterizada por rochas do
O Depósito de Santa Bárbara está localizado Complexo Jamari (Paleoproterozóico), constituído
na região norte do Estado de Rondônia, município por ortognaisses, paragnaisses e anfibolitos, For-
de Itapuã d´Oeste, distante 116 km a sudeste de mação Mutum-Paraná (Paleoproterozóico), repre-
Porto Velho. Foi um dos primeiros a ser desenvol- sentada por uma seqüência metavulcano-sedi-
vido o método de lavra em depósitos primários em mentar composta por intercalações de quartzo-
rocha dura, associado à greinses. Consite em um metarenitos, metassiltitos e metatufos félsicos, por
sistema plutônico representado pelo Maciço Gra- rochas da Suíte Intrusiva São Lourenço-Caripunas
nítico Santa Bárbara que faz parte da Suíte Intru- (Mesoproterozóico), composta por alcali-feldspa-
siva Rondônia (Younger Granites de Rondônia/Su- to granitos, sienogranitos, sienitos e riodacitos

302
Amarildo Salina Ruiz et al.

pórfiros, com feições rapakivíticas, por rochas da (~1.0 Ga), representada por alkali-feldspato-gra-
Formação Palmeiral (Meso-Neoproterozóico), re- nitos, sienogranitos, riolitos pórfiros, albita-grani-
presentada por conglomerados oligomíticos e are- tos, topázio-riolitos, traquitos e rochas híbridas).
nitos arcosianos a feldspático, e por rochas da A rocha hospedeira da mineralização primária
Suíte Intrusiva Rondônia/Younger Granites de Ron- denomina-se de Maciço Massangana e encontra-
dônia (Neoproterozóico), constituídos por alcali- se relacionada à Suíte Intrusiva Rondônia (Youn-
feldspato granitos, sienogranitos, riolito pórfiros, ger Granites), sendo composto por quatro fases
traquitos e rochas híbridas; além de coberturas intrusivas as quais foram denominadas por Bet-
sedimentares aluvionares e lateritas, de idades tencourt et al. (1997) de Fase Massangana (bioti-
neogênicas e quaternárias. ta granito porfirítico), Fases Bom Jardim e São Do-
No Distrito de São Lourenço-Macisa, a mina São mingos (biotita granito equigranulares) e Fase
Lourenço foi explorada industrialmente para a pro- Taboca (hornblenda sienitos e quartzo sienitos).
dução de estanho entre a década de 70 e o final No depósito de Massangana, a mineralização
da década de 80, convivendo até hoje com ativi- primária ocorre na forma de veios de quartzo com
dades de garimpo ao seu redor. Nesta mina as cassiterita e wolframita, greisens com cassiterita
mineralizações estaníferas primárias estão relaci- e pegmatitos com berilo, topázio, cassiterita e
onadas à greisens resultantes de eventos hidro- subordinadamente columbita-tantalita, as quais
termais, associado à processos de microclinização encontram-se associadas as fases Bom Jardim e
e muscovitização das rochas encaixantes, forma- São Domingos. A mineralização secundária de cas-
dores de filões nos quais ocorreram enriquecimento siterita encontra-se hospedada em depósitos alu-
em cassiterita. Rochas ígneas ácidas contendo vionares (placers), nos quais ocorrem associados
cassiterita são adicionalmente reportadas, com cristais de topázio azul.
associação mineralógica incluindo sulfetos em
abundância (calcopirita, covelita, calcocita, esfale- Distrito de Oriente Novo
rita, molibdenita, galena), além de magnetita e il-
menita. Quartzo-muscovita–cassiterita greisens O Distrito de Oriente Novo esta localizado na
comumente cortam os contatos entre granitos região norte/nordeste do Estado de Rondônia, dis-
equigranulares e granitóides porfiríticos (viborgi- tante aproximadamente 180 km a sudeste de Porto
tos e piterlitos) na região de São Lourenço (Isotta Velho, Rondônia, sendo um dos depósitos de es-
et al. 1978). A mineralização secundária encontra- tanho mais antigos do estado de Rondônia. A ati-
se associada a depósito aluvionares em paleova- vidade de mineração neste distrito teve início em
les e, atualmente, a explotação da cassiterita está 1971, tendo seu apogeu em 1973, onde foi res-
sendo realizada por empresa de mineração e coo- ponsável pela maior produção individual da Pro-
perativas de garimpeiros. víncia Estanífera de Rondônia. No depósito de Ori-
ente Novo as mineralizações de estanho encon-
Distrito de Massangana tram-se associadas a um corpo granítico perten-
cente à Suíte Intrusiva Santa Clara (1,08 Ga), cons-
O Depósito de Estanho de Massangana locali- tituído por monzogranitos e sienogranitos, com
za-se na porção centro-norte de Rondonia. O con- tipos que variam de porfiríticos a equigranulares
texto geológico regional da região de Massanga- de granulação fina a grossa, intrusivos em rochas
na encontra-se representado pelo Complexo Ja- do Complexo Jamari e da Suíte Intrusiva Serra da
mari (1,75 Ga), constituído por ortognaisses de Providência.
composição granodiorítica, tonalítica e diorítica, A mineralização primária em Oriente Novo é do
com intercalações subordinadas de gnaisses pa- tipo Sn-W e encontra-se associada a sistema de
raderivados, suítes graníticas mesoproterozóicas, veios e vênulas/stockworks de quartzo-greisens
denominadas de Serra da Providência (~1.5 Ga) mineralizados a cassiteria e subordinadamente
constiuída por monzogranitos, sienogranitos, char- wolframita, tantalita e eventualmente columbita,
nockitos e rochas máficas, Alto Candeias (~1.35 alojados nas rochas que compõem o corpo graní-
Ga) contendo sienitos equigranulares, monzogra- tico. Os veios apresentam direção preferencial
nitos porfiríticos, biotita-monzogranitos e quart- N10E e N45W, com mergulhos subverticais.
zo-monzonitos) e Rondônia/”Younger Granites” A mineralização secundária esta relacionada

303
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Província Sunsás

aos depósitos colúvio/eluvionares e aluvionares Dall’Igna L.G. 1996. A Mineração e o Garimpo de Cas-
siterita em Rondônia. A Terra em Revista, 1:56-61.
situados a partir das cabeceiras dos igarapés Se-
Figueiredo B. R. 2000. Minérios e Ambiente. Editora
ringueira, Fino, Rico, Valdomiro, Capoeira e Bar- Unicamp, São Paulo, Brasil.
ranco, onde o minério apresenta granulometria Isotta C.A.L., Carneiro J.M., Kato H.T., Barros R.J.L. 1978.
grossa, baixo arredondamento ou pouca seleção, Projeto Província Estanífera de Rondônia. Convênio
indicando pouco transporte e área-fonte próxima. DNPM/CPRM, Relatório Final, Porto Velho, 16v.
Leite Jr. W.B. 2002. A Suíte Intrusiva Santa Clara (RO) e a
mineralização primária polimetálica (Sn, W, Nb, Ta,
Depósito Igarapé Manteiga Zn, Cu e Pb) associada. Tese Doutorado, IG/USP, 247p.
Mason R. & Kerr D. 1990. Cabaçal 1 Mine – Mato Gros-
O Depósito Igarapé Manteiga, recentemen- so state, Brazil: Definition of ore zones and potenti-
al for new ore reserves. RElatório Interno da Mine-
te descoberto, localiza-se a 37 km a nordeste da
ração Santa Marta, Rio de Janeiro.
cidade de Ariquemes, em Rondônia. Este se en- Mineração Santa Marta S.A. 1987. Cabaçal Mine I –
contra associado a um corpo granítico subafloran- Brazil. Internal Company Report.
te e sem expressão de relevo, intrusivo em gnais- Monteiro H., Macedo P.M. de, Moraes A.A., Marchetto C.M.L.,
ses e anfibolitos do Complexo Jamari, na sua mai- Fanton J.J., Magalhães C.C. 1989. Depósito de ouro
do Cabaçal I, Mato Grosso. Principais depósitos Mine-
oria coberto por um extenso perfil de intemperis-
rais do Brasil. DNPM, V. III, Cap. XXXVII.
mo e por paleosedimentos aluvionares. A ativida- Silva L.F.S. da, Costi H.T., Teixeira J.T. 1995. Faciologic
de de exploração na área do depósito Igarapé mapping and preliminary petrography of Palanqueta
Manteiga teve início através de garimpos em pa- Albite Granite-Bom Futuro, Rondônia State (Brazil).
In: Symp. Rapakivi & Related Rocks, Belém, Brazil.
leosedimentos aluvionares situados nas margens
Pinho F.E.C. 1996. The origin of the Cabaçal Cu-Au de-
da estrada Linha 70 e com o aprofundamento das posit, Alto Jauru Greenstone Belt, Brazil. PhD The-
escavações nas regiões das nascentes dos igara- sis, University of Western Ontario, Canada. 211p.
pés a mineralização primária foi exposta, surgin- Pinho F.E.C., Fernandes C.J., Santos C.A.R.R. 2000.
Cabaçal Belt, southern Amazonian Craton, a vast
do a Mina Igarapé Manteiga operada pela empre-
campo for exploration of gold-associated massive
sa METALMIG. Depois de um breve período de pro- sulfife deposits. Is: SBG, Núcleo Norte, Contribui-
dução de minério, a atividade entrou em declínio ções à Geologia da Amazônia, 3:191-198.
até a paralização total da mina em 2009, em fun- Porsani J.L., Mendonça C.A., Bettencourt J.S., Hiodo F.Y.,
Vian J.A.J., Siva J.E.S. 2004. Investigações GPR nos
ção de problemas técnicos. distritos mineiros de Santa Bárbara e Bom Futuro:
No depósito Igarapé Manteiga a mineralização Província Estanífera de Rondônia. Rev. Brasil Geo-
primária é do tipo W-Sn ocorrendo em sistema de física, 22(1):57-68.
Quadros M.L.E.S. & Rizzotto G.J. (Orgs.). 2007. Geolo-
greisens (de forma disseminada, associada com
gia e Recursos Minerais do Estado de Rondônia: Sis-
quartzo, Li-F micas, topázio, fluorita, siderita, piri- tema de Informações Geográficas-SIG. Programa
ta, calcopirita, sulfetos, wolframita e cassiterita), Geologia do Brasil (PGB), Integração, Atualização
em veios (em estruturas do tipo comb e stockshei- e Difusão de Dados da Geologia do Brasil, Subpro-
grama Mapas Geológicos Estaduais. CPRM-Serviço
der) e em brechas desenvolvidos na zona de ápi-
Geológico do Brasil, Porto Velho. CD-Rom.
ce do stock de topázio-albita. A evolução geológi- Souza V.S. 2003. Evolução e modelo metalogenético
ca deste depósito envolve um modelo clássico de do sistema vulcano-plutônico estanífero Bom Futu-
alojamento de granitóides, altamente fracionados ro (RO). Tese de Doutoramento, Instituto de Geoci-
e ricos em voláteis, em níveis crustais rasos (Sou- ências, Universidade de Brasília, 240p.
Souza V.S. & Nascimento T.M.F. 2009. Depósito de W-
za & Nascimento 2009).
Sn Igarapé Manteiga (RO): Aspectos Geológicos e
Metalogenéticos. In: SBG, Simp. Geol. Amazônia,
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Sparrenberg I. 2003. Evolução da mineralização pri-
Bettencourt J.S. 1992. Pesquisas Geológica, Metaloge- mária estanífera associada ao maciço granítico Santa
nética e Mineral do Cráton Amazônico (Sistematiza- Bárbara, Rondônia. Tese de Doutorado, IG/USP, 253p.
ção crítica de parte da obra no período compreen- Toledo F.H. 1998. O depósito de ouro do Cabaçal, Mato
dido entre 1980 e 1992). Tese de Livre Docência, Grosso: estudos isotópicos aplicados à mineraliza-
IG/USP, 163 pgs. ção. Disssertação de Mestado, IG/UNICAMP, 88p.
Bettencourt J.S., Leite JR. W.B., Payolla B.L., Scandola- Villanova M.T. & Franke N.D. 1995. Serra do Bom Futu-
ra J.E., Muzzolon R., Vian J.A.A.J. 1997. The rapaki- ro – Rondônia: a volcanic-breccia pipe-hosted tin
vi granites of the Rondônia Tin Province, northern mineralization. In: Symp. Rapakivi & Related Ro-
Brazil. In: Intern. Symp. Granites associated Mine- cks, Belém.
ralizations, 2, Salvador. Excursions Guide, p.3-31.

304
Rafael Rodrigues de Assis et al.

METALOGÊNESE DO SETOR LESTE DA PROVÍNCIA DE ALTA FLORESTA


(MT), CRÁTON AMAZÔNICO

RAFAEL RODRIGUES DE ASSIS1, ROBERTO PEREZ XAVIER1,


ANTÔNIO JOÃO PAES DE BARROS2, DANILO BARBUENA1, VERÔNICA GODINHO TREVISAN1,
GISELI SILVA RAMOS1, RAFAEL DE VASCONCELLOS TEIXEIRA1, EMÍLIO MIGUEL JÚNIOR1,
ROSANA MARA RODRIGUES1, AMARILDO STABILE JÚNIOR1,
TICIANO JOSÉ SARAIVA DOS SANTOS1, GUILHERME MATEUS TESTA MIRANDA2,
MÁRCIA APARECIDA DE SANT´ANA BARROS3 & FRANCISCO EGÍDIO CAVALCANTE PINHO3

1 - Universidade Estadual de Campinas, Departamento de Geologia e Recursos Minerais, Campinas (SP),


Brasil. E-mails: rafael.assis@ige.unicamp.br, xavier@ige.unicamp.br, danilobarbuena@gmail.com,
veronica.trevisan@ige.unicamp.br, giselinhasramos@gmail.com, rafaelvasconcellos@gmail.com,
emiliogel@yahoo.com.br, romara01@gmail.com, amarildo.terramae@gmail.com, ticiano@ige.unicamp.br
2 - Companhia Matogrossense de Mineração, Cuiabá (MT). E-mails: ajpbarros@uol.com.br,
ttestamaster@hotmail.com
3 - Departamento de Recursos Minerais – Universidade Federal de Mato Grosso. E-mails:
mapabarros@yahoo.com, aguapei@yahoo.com

INTRODUÇÃO ram progressivamente ao proto-cráton formado


pela Província Amazônia Central no decorrer do
A Província Aurífera de Alta Floresta (PAAF) é Paleoproterozóico e Mesoproterozóico (Tassinari
definida por uma faixa constituída por suítes plu- & Macambira 1999, Santos 2006, Silva & Abram
tono-vulcânicas, do Paleo- ao Mesoproterozóico, 2008). Neste cenário, a PAAF tem sido denomina-
que se estende por mais de 500 km na direção da de Província Aurífera Juruena-Teles Pires (Silva
NW-SE no setor meridional do Cráton Amazônico & Abram 2008), Domínio Alta Floresta (Santos et
e que abrange a porção centro-norte do Estado al. 2001) ou Província Mineral de Alta Floresta (Sou-
de Mato Grosso (Souza et al. 2005, Paes de Bar- za et al. 2005). Contudo, os autores deste traba-
ros 2007, Silva & Abram 2008). Essa província en- lho adotam a denominação de Souza et al. (2005),
contra-se limitada a norte pelo gráben do Cachim- apenas especificando o fato de corresponder a
bo, que a separa da Província Aurífera do Tapa- uma província eminentemente aurífera.
jós, e a sul pelo gráben dos Caiabis (Fig. 1), en- As primeiras ocorrências auríferas na região
globando, portanto, as folhas 1:250.000 de Rio foram reportadas nos municípios de Peixoto de
São João da Barra (SC.21-V-D), Alta Floresta Azevedo – Matupá, no ano de 1978, com a cons-
(SC.21-X-C), Ilha 24 de Maio (SC.21-Z-A) e Vila trução da rodovia BR-163, que liga a capital Cuia-
Guarita (SC.21-Z-B). bá a Santarém (Paes de Barros 1994, Moura 1998).
Em relação à compartimentação geotectônica Essas ocorrências atraíram um grande contingen-
do Cráton Amazônico, a PAAF está contida entre te de garimpeiros à região, o que resultou na des-
as Províncias Geocronológicas Ventuari-Tapajós coberta de inúmeros depósitos auríferos aluvio-
(1,95-1,8 Ga) e Rio Negro-Juruena (1,8 a 1,55 Ga), nares ao longo do Rio Peixoto de Azevedo e seus
na concepção de Tassinari & Macambira (1999), afluentes. Com a diminuição e exaustão das re-
ou entre as Províncias Tapajós-Parima (2,03 a 1,88 servas nesses depósitos, iniciou-se a etapa de
Ga) e Rondônia-Juruena (1,82 a 1,54 Ga), no mo- explotação de ocorrências de ouro primário em fi-
delo de Santos (2006). Independente do modelo lões (Moreton & Martins 2005, Paes de Barros
adotado, dados geológicos, geoquímicos e isotó- 2007), que se estende até o presente. Essa ativi-
picos têm indicado que essas províncias geocro- dade garimpeira tem envolvido a explotação de
nológicas foram geradas em ambiente de arcos mais de uma centena de depósitos de alto teor e
magmáticos que se desenvolveram e se agrega- pequeno porte (< 5 t Au), concentrados ao longo

305
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Setor Leste da Província de Alta Floresta

Figura 1 - Mapa de localização da Província Aurífera de Alta Floresta e dos depósitos de ouro primário e
secundário (Modificado de Paes de Barros 2007). A área delimitada à direita da figura refere-se ao setor leste
da província abordada neste trabalho.

do alinhamento Peru-Trairão, de direção W/NW-E/ mineral, na sua maioria juniors, têm investido nos
SE (Fig. 1). últimos anos na descoberta de novos depósitos
Neste contexto, o potencial metalogenético da ou na reavaliação do potencial daqueles já conhe-
província para mineralizações auríferas pode ser cidos.
demonstrado pela sua produção acumulada de No setor leste da PAAF, em especial nas regi-
ouro da ordem de 160 ton, gerada no período ões que incluem as cidades de Novo Mundo, Ma-
entre 1980 a 1999 (Tabela 1), quando deve ter tupá, Guarantã do Norte e Peixoto de Azevedo/
sido uma das principais regiões auríferas do país. União do Norte (Fig. 2), concentra-se um conjunto
Embora a explotação do ouro pela atividade ga- expressivo de depósitos auríferos que ocorrem na
rimpeira esteja em patamar bem inferior na atua- forma de veios ou disseminações associadas pre-
lidade, o seu histórico de produção e o grande nú- dominantemente a suítes graníticas e, mais su-
mero de ocorrências primárias indicam que a PAAF bordinadamente, a sequências vulcânicas, ambas
ainda sustenta um potencial exploratório signifi- de idade Paleoproterozóica (Fig. 1). Com base na
cativo. Além disso, com a ascensão do preço do associação mineralógica e assinatura geoquímica
ouro no mercado, várias empresas de exploração do minério essas mineralizações auríferas são

Tabela 1 - Produção de ouro no período de 1980 – 1999 em vários distritos auríferos do Estado do Mato
Grosso (METAMAT 2003, dados não publicados).

306
Rafael Rodrigues de Assis et al.

Figura 2 - Localização dos principais depósitos auríferos na região de Nova Santa Helena – Peixoto de Azeve-
do – Matupá – Guarantã do Norte (setor leste da PAAF).

subdivididas em dois grupos principais: (1) Au ± campo e dados geocronológicos na Tabela 2 (Paes
Cu (± Bi ± Te ± Ag) dominantemente representa- de Barros 2007, Miguel-Jr 2011).
do por pirita e concentrações variáveis de calcopi- O embasamento normalmente corresponde a
rita e hematita; (2) Au + Zn + Pb ± Cu, com pirita, áreas fortemente arrasadas e com litotipos pobre-
esfalerita e galena, além de calcopirita e digenita mente representados em função da escassez de
subordinadas (Xavier et al. 2011). afloramentos. Consiste essencialmente de gnais-
Este trabalho fornece uma revisão atualizada ses graníticos a tonalíticos e migmatitos intrudi-
do contexto geológico e principais controles dos dos por granitóides foliados cálcio-alcalinos de
depósitos que representam esses dois tipos de composição tonalítica a monzogranítica denomina-
mineralizações auríferas do setor leste da PAAF, dos de granitóides do embasamento (Paes de
permitindo, portanto, avaliar os modelos genéti- Barros 2007). Datações U-Pb SHRIMP em zircão
cos propostos com implicações na exploração de de gnaisse granítico a tonalítico revelam idades
ambas as tipologias de depósitos da província. entre 1.992 ±7 Ma (Alta Floresta; Souza et al. 2005)
Como estudos de caso serão abordados princi- e 1.984 ±7 Ma (Alto Alegre; Paes de Barros 2007),
palmente aqueles que têm sido investigados pelo similares às do Complexo Cuiú-Cuiú (ca. 2.0 Ga)
grupo de pesquisa em Evolução Crustal e Metalo- na Província do Tapajós, obtidas por Santos et al.
gênese do IG/UNICAMP (depósitos Pé Quente, Lu- (1997). Adicionalmente, Paes de Barros (2007)
isão, X1, Francisco e Bigode), utilizando-se de da- obteve para rochas do embasamento uma idade
dos provenientes de trabalhos de Iniciação Cien- de 2.816 ±4 Ma (gnaisse Gavião; Pb-Pb por eva-
tífica, Conclusão de Curso, Mestrado e Doutora- poração de monocristal de zircão) sugerindo em-
do, em combinação com dados documentados na basamento heterogêneo com presença de crosta
literatura. arqueana, correlacionável, portanto, ao Comple-
xo Xingu.
CONTEXTO GEOLÓGICO DO SETOR LESTE DA No setor leste da PAAF, no entanto, a Suíte Pé
PAAF Quente (Assis 2011), os granitos Novo Mundo
(Paes de Barros 2007), Aragão (Vitório 2010) e
As principais unidades geológicas do setor les- Flor da Mata (Ramos 2011), por exibirem idades
te da PAAF estão representadas na Figuta 3, em no intervalo de 1,98 a 1,93 Ga, correspondem aos
mapa geológico na escala de 1:25.000 e organi- plútons graníticos mais antigos da região. Exceto
zadas temporalmente em função de relações de em Flor da Mata, todos esses plútons hospedam

307
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Setor Leste da Província de Alta Floresta

308
Figura 3 - Mapa geológico do setor E da PAAF destaque na localização dos principais depósitos de ouro primário (Extraído de Miguel-Jr 2011). Referências:
(1) Miguel-Jr (2011); (2) Moura (1998); (3) Silva & Abram (2008); (4) Saes & Leite (2003); (5) Santos (2000); (6) Pinho et ak. (2003); (7-8) Paes de
Barros (2007).
Rafael Rodrigues de Assis et al.

Tabela 2 - Principais unidades geológicas do setor leste da Província Aurífera de Alta Floresta.

mineralização aurífera filoneana ou disseminada. isotrópicos, cinza esbranquiçados, não magnéti-


Neste contexto, a Suíte Pé Quente (Assis 2011) cos e portadores de biotita (~10%), apatita e zir-
representa uma série magmática expandida, com- cão como fases acessórias. Essa suíte exibe afini-
posta por leucomonzonito médio, quartzo monzo- dade geoquímica com as séries levemente reduzi-
diorito médio, monzodiorito, albitito fino, diques das a altamente oxidadas, cálcio-alcalinas de mé-
de granodiorito aplítico e biotita tonalito médio dio K, meta- a peraluminosas e magnesianas, se-
(Assis 2011, Stabile 2012). Contudo, devido ao melhante aos granitos orogênicos do tipo I (Figs.
intenso grau de intemperismo e consequente fal- 4 e 5) (Assis 2011, Ramos 2011). Dados geocro-
ta de afloramentos contínuos, as relações de con- nológicos U-Pb de zircão pelo método LA-ICPMS
tato entre as diversas litofácies ainda permane- de leucomonzonito indicam idade de cristalização
cem em aberto. Esses litotipos são leucocráticos, em 1.979 ±31 Ma (Miguel-Jr 2011). Estas unida-

309
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Setor Leste da Província de Alta Floresta

Figura 4 - Classificações tectôno-magmática com base em elementos maiores para os diversos plútons
graníticos do setor leste da PAAF: (A) Diagrama de Wright (1969); (B) Diagrama de sub-alcalinidade (Le
Maitre et ak. 1989); (C) Número de ferro (Frost et ak. 2001); (D) Índice de saturação em alumina (ASI;
aluminium saturation index; Maniar & Piccoli 1989); (E) Índice MALI (modified alkaline-lime index; Maniar &
Piccoli 1989).

des são ainda truncadas por diques de basalto e aproximadas de 12 x 5 km, alongada segundo W-
diabásio, além de diversos outros plútons do tipo NW, coincidente com a direção dos principais line-
I, oxidados, mais jovens e de composição tonalíti- amentos regionais. Essa intrusão é composta por
ca a monzogranítica, tentativamente correlacioná- sienogranito e monzogranito, além granodiorito,
veis a Suíte Intrusiva Matupá (1.872 ±12 Ma, Mou- quartzo monzonito e monzonito subordinados,
ra 1998, Assis 2011). todos truncados por múltiplos diques de gabro e
O Granito Novo Mundo foi definido por Paes de diorito. Biotita, titanita, zircão, apatita e monazita
Barros (2007) como uma intrusão com dimensões ocorrem como fases acessórias. Em certos seto-

310
Rafael Rodrigues de Assis et al.

Figura 5 - (A) Tipologia dos plútons graníticos com base nas razões (Ga/Al)*104 e concentrações de Zr (ppm)
propostos por Whalen et ak. (1987); (B) Estado redox segundo critério proposto por Blevin (2004), das
hospedeiras dos depósitos estudados neste capítulo. FeO* = Ferrp total expresso como FeO. ABREVIAÇÕES:
VSO: muito fortemente oxidado; SO: fortemente oxidado; MO: moderadamente oxidado; MR: moderada-
mente reduzido; SR: fortemente reduzido.

res, o granito Novo Mundo mostra recristalização De idade ainda desconhecida, o Granito Flor da
e estiramento de cristais de quartzo azulado Mata corresponde a um corpo intrusivo isolado a
(Lx=N15W/10º), sugestivas de alojamento medi- nordeste da cidade de Novo Mundo, anteriormen-
ante controle estrutural, sob regime de tensões, te definido como pertencente a Suíte Intrusiva
provavelmente tardias ao desenvolvimento das Teles Pires (TP1 de Paes de Barros 2007). Essa
zonas de cisalhamento que delimitam suas bor- intrusão consiste essencialmente de álcali-felds-
das NE e SW. A deformação impressa no Granito pato granito a monzogranito do tipo I, levemente
Novo Mundo, admitida como gerada durante o seu evoluídos e com cristais de quartzo leve a forte-
resfriamento, caracteriza-se por quartz-ribbon, mente orientados e natureza cálcio-alcalina a ál-
quartzo recristalizado e poligonizado em sub- cali-cálcica, metaluminosa a peraluminosa (Ramos
grãos, plagioclásio com lamelas de geminação fa- 2011) (Figs. 4 e 5). Ramos (2011), portanto, pro-
lhadas, arqueadas e/ou em kink-bands, clorita ver- põe que o Granito Flor da Mata seja contemporâ-
de com clivagem arqueada, relictos de plagioclá- neo ao Granito Novo Mundo (1.970 ±3 Ma a 1.964
sio assemelhando-se a porfiroclastos, além de pla- ±1 Ma), devido às semelhanças entre as suas ca-
gioclásio e feldspato potássico fraturados e com racterísticas petrográficas e geoquímicas.
bordas fragmentadas. Os dados litogeoquímicos O Granito Aragão corresponde a um corpo gra-
sugerem que o Granito Novo Mundo correspon- nítico alongado (19 x 5 km) na direção NE-SW, que
deu a um magmatismo oxidado do tipo I, altamen- aflora a sudoeste da cidade de Novo Mundo. Na
te fracionado, cálcio-alcalino de alto K, pera- a porção norte e nordeste deste corpo ocorrem uma
metaluminoso, magnesiano a ligeiramente ferro- dezena de depósitos auríferos parcialmente ex-
so. Dados geocronológicos demonstram que o plotados por atividade garimpeira. Estes depósi-
monzogranito e o sienogranito apresentam ida- tos são em sua maioria filoneanos e controlados
des Pb-Pb (evaporação de zircão) de 1.970 ±3 Ma por zonas de cisalhamento transcorrentes de ci-
e 1.964 ±1 Ma, respectivamente. O sienogranito nemática sinistral e de direção NW (porção norte)
exibe idade TDM = 2,76 Ga e εNd (1.964) = -7,62; e N-S (porção nordeste) (Miguel-Jr 2011). É cons-
enquanto o monzogranito apresenta idade TDM = tituído por sienogranito a monzogranito de gra-
2,55 Ga e εNd (1.964) = -4,48 (Paes de Barros nulação fina a média, isotrópico, equigranular, com
2007). Estes dados indicam tanto a participação fácies porfirítica, fanerítica média e microgranular.
de crosta continental na geração do magma quan- Sua composição geoquímica releva magmatismo
to a presença de uma fonte arqueana. granítico alcalino oxidado, de alto K, ferrosa e meta-

311
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Setor Leste da Província de Alta Floresta

a peraluminoso (Figs. 4 e 5) (Vitório 2010). Data- valores de eNd(t) entre -0,98 e +3,04.
ção pelo método U-Pb em zircão (LA-ICPMS) indi- O Granito Peixoto (Paes de Barros 2007), aflo-
ca idade de cristalização em 1.931 ±12 Ma (Mi- rante nas proximidades da cidade de Peixoto de
guel-Jr 2011). Azevedo, também tem sido denominado de Grani-
Magnetita-biotita monzogranito e sienogranito to Juruena (Paes de Barros 1994) ou considerado
de afinidade cálcio-alcalina, com enclaves de dio- pertencente à Suíte Intrusiva Matupá (Lacerda Fi-
rito a quartzo monzodiorito, além de granitos sub- lho et al. 2004). Segundo Paes de Barros (2007),
vulcânicos subordinados, quartzo sienito finos e essa unidade compreende biotita monzogranito,
granófiros, compõem o granito Nhandu (Moreton biotita granodiorito com hornblenda e biotita to-
& Martins 2005, Souza et al. 2005). Essa unidade nalito, leucrocráticos, isotrópicos, equigranulares
intrusiva forma vários plútons, ainda com pobre a porfiríticos, com cristais centimétricos de plagio-
documentação geológica, na região NW do setor clásio zonado. Enclaves alongados de diorito são
investigado da província, onde hospeda minerali- comuns. O Granito Peixoto é metaluminoso a le-
zações auríferas (e.g. Natal, Trairão). A idade do vemente peraluminoso, álcali-cálcico a cálcio-alca-
granito Nhandu foi inicialmente estabelecida em lino de médio K e magnesiano. Datação Pb-Pb em
1.848 ± 17 Ma (JICA/MMAJ 2000) e mais recente- zircão de biotita monzogranito revela sua idade
mente definida entre 1.889 ±17 Ma a 1.879 ±5,5 de cristalização em 1.792±2 Ma (Paes de Barros
Ma (U-Pb em zircão), com idades modelo entre 2,14 2007).
e 2,17 Ga, e eNd(t) de -0,91 (Silva & Abram 2008). Intrusivos em todas as unidades anteriores
A Suíte Intrusiva Matupá é constituída por qua- ocorrem batólitos e stocks da Suíte Intrusiva Te-
tro litofácies que incluem biotita granito e biotita les Pires, constituída essencialmente por biotita
monzogranito porfiríticos (fácies 1); hornblenda granito a álcali-feldspato granito isotrópicos, de
monzogranito, biotita-hornblenda monzonito e hor- coloração avermelhada, granulação média a gros-
nblenda monzodiorito (fácies 2); clinopiroxênio- sa, localmente com texturas porfirítica, granofíri-
hornblenda monzogranito e clinopiroxênio-horn- ca, rapakivi e anti-rapakivi (Souza et al. 1979; Sil-
blenda monzodiorito (fácies 3); e granito, biotita va et al. 1980, Souza et al. 2005). Os dados geo-
granito e monzogranito com microgranito e gra- químicos apontam para granitos do tipo A, de na-
nófiros subordinados (fácies 4) (Moura 1998, Mo- tureza cálcio-alcalina a alcalina, de médio a alto K,
reton & Martins 2005). As fácies 1 e 2 hospedam metaluminosa a peraluminosa, que correspondem
mineralizações auríferas, sendo o depósito Serri- a intrusões pós-colisionais, com idades U-Pb em
nha o exemplo melhor investigado (Moura et al. zircão de 1.757 ±16 Ma a 1.782 ±17 Ma, além de
2006). A fácies 1, descrita de modo mais sistemá- idades modelo TDM de 1,94 a 2,28 Ga e valores de
tico por Moura (1998) e Moura & Botelho (2002), εNd(t) de -3,4 a +3,0 (Santos 2000, Pinho et al. 2001,
compreende um magmatismo oxidado, cálcio-alca- Silva & Abram 2008).
lino de alto K, magnesiano e peraluminoso a ligei- Adicionalmente, na região de União do Norte
ramente metaluminoso (Figs. 4 e 5). Adicionalmen- (município de Peixoto de Azevedo) estão os pou-
te, Assis (2011) individualiza uma série de mani- cos depósitos de ouro associados a metais de base
festações graníticas de composição sieno-monzo- da região. Essa região, de acordo com mapeamen-
granítica (Fig. 7) que, embora a ausência de da- to realizado por Moreton & Martins (2005) e Sou-
dos geocronológicos, são tentativamente correla- za et al. (2005), é cartografada como pertencente
cionáveis a Suíte Intrusiva Matupá. De forma simi- a Suíte Intrusiva Matupá (1.872 ±12Ma, Moura
lar, essas rochas exibem comportamento de gra- 1998), e constituída por clinopiroxênio-hornblen-
nitos orogênicos do tipo I, cálcio-alcalinos de mé- da monzogranito e clinopiroxênio-hornblenda mon-
dio a alto K, pouco fracionados, metaluminosos a zodiorito (fácies 3), além de biotita granito e mon-
ligeiramente peraluminosos e essencialmente mag- zogranito com microgranitos e granófiros subordi-
nesianos. Uma idade Pb-Pb em zircão de 1.872 nados (fácies 4). Contudo, Assis et al. (2012) defi-
±12 Ma foi obtida em rochas da fácies 1, além de nem seu arcabouço geológico como constituído por
idades modelo (TDM) que variam no intervalo 2,34- uma unidade vulcanoclástica e três suítes plutôni-
2,47 Ga, e eNd(t) entre -2,7 e -4,3 (Moura 1998). cas sendo uma de composição granodiorítica, ou-
Idades modelo TDM similares (2,15 – 2,34 Ga) fo- tra granítica e uma terceira com sub-vulcânicas epi-
ram obtidas por Souza et al. (2005), contudo, com zonais. Todas essas unidades são truncadas por

312
Rafael Rodrigues de Assis et al.

diques de composição traquibasáltica a dacítica e riquecimento em Zr, Hf, U e Th, além de fortes ano-
ainda cobertas pelos arenitos da Formação Dar- malias negativas de V, Cr e Ni (Assis 2011). Essas
danelos (Grupo Caiabis), que de acordo com Saes características sugerem que os sedimentos foram
& Leite (2003) exibem idade máxima de deposi- oriundos da dissecação, em clima árido e relevo
ção entre 1.987 ±4 Ma e 1.377 ±13 Ma (Fig. 6). montanhoso, de arcos vulcânicos de composição
A unidade vulcanoclástica é composta por are- intermediária (dacito, riodacito, andesito) e depo-
nito arcoseano, grauvaca-feldspática e arenito ar- sitados em uma bacia de retroarco após serem
coseano lítico vulcanoclásticos, todos de granulo- submetidos a um curto transporte.
metria muito fina a média. Lentes de conglomera- Intrusivas na Unidade Vulcanoclástica, ocorrem
do arenoso polimítico e suportado por matriz são três suítes graníticas denominadas de: (1) suíte
litotipos mais subordinados. Essas rochas normal- granodiorítica, dominada por biotita-hornblenda
mente exibem coloração amarronada, granulação granodiorito, mas com biotita-hornblenda tonalito
muito fina a fina, estrutura maciça, ou com estrati- e quartzo monzodiorito subordinados; (2) suíte
ficação paralela por vezes truncada por estratifi- granítica, representada por sienogranito e mon-
cação cruzada de pequeno porte (Fig. 19A). O S0 zogranito; e (3) Pórfiro União do Norte, espacial-
desta unidade é frequentemente sub-vertical, com mente relacionado às zonas mineralizadas. A Suí-
mergulhos entre 35-45° para ESE-WSW e direção te Granodiorítica compreende rochas isotrópicas,
que varim de N49W a N63E, indicativas de que de coloração cinza-clara com porções levemente
teria sido afetada por uma fraca deformação rúp- róseas e textura inequigranular hipidiomórfica a
til-dúctil sem, no entanto, ter sido metamorfizada automórfica. O granodiorito é o principal litotipo e
(Assis 2011). Estudos petrográficos indicam abun- é constituído por plagioclásio (41-47%), quartzo
dância de cristais angulosos a sub-angulosos de (17-28%), feldspato alcalino (10-18%), hornblen-
quartzo e feldspato, fragmentos de vulcânicas in- da (3-16%) e biotita (~4%), além de titanita, mag-
termediárias na matriz sedimentar, dominância de netita por vezes com lamelas de ilmenita, apatita
feldspato alcalino em relação ao plagioclásio, além e zircão como acessórios (Assis et al. 2012). O
de quartzo menos abundante do que feldspato, Pórfiro União do Norte corresponde a uma unida-
enquanto os dados litogeoquímicos evidenciam en- de sub-vulcânica composta por álcali-feldspato

Figura 6 - Mapa geológico da região de União do Norte com a localização dos depósitos auríferos associados a
metais de base (Extraído de Barbuena 2012, e modificado de Assis et al. 2012 e Miguel-Jr 2011).

313
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Setor Leste da Província de Alta Floresta

granito a monzogranito, avermelhados, isotrópi- néticas e tentativamente correlacionadas à Suíte


cos e com texturas porfirítica, esferulítica, gráfica Intrusiva Matupá (1.872 ±12 Ma; Moura 1998),
e micrográfica características (Figs. 19B-C) (Assis enquanto o Pórfiro União do Norte por represen-
2011). Os fenocristais são sub-euédricos a eué- tar um magmatismo do tipo A, estaria relacionado
dricos, dispersos em matriz fanerítica fina de tex- às atividades epizonais da Suíte Intrusiva Teles
tura micrográfica bem desenvolvida e não ultra- Pires (1.782 ±17 Ma a 1.757 ±16 Ma; Santos 2000,
passam os 1,4 cm de comprimento. Biotita (< 2%), Pinho et al. 2003, Silva & Abram 2008).
magnetita, fluorita, titanita, zircão, monazita e ru- Neste contexto, os dados litogeoquímicos das
tilo constituem as fases acessórias da unidade. suítes plutônicas descritas, quando dispostos nos
Dados litogeoquímicos indicam que as suítes Gra- diagramas de ambiência tectônica propostos por
nodiorítica e Granítica correspondem a granitos do Pearce et al. (1984) (Fig. 7), indicam a evolução
tipo I, eminentemente cálcio-alcalinos de alto K, geodinâmica do ambiente, desde arcos vulcânicos
metaluminosos e magnesianos a ligeiramente fer- mais primitivos (e.g. granitos Pé Quente, Novo Mun-
rosos, enquanto o Pórfiro União do Norte repre- do, granoriorito-tonalito X1 e Suíte Granodiorítica
senta um magmatismo mais tardio e eminentemen- – granitos tipo I) até o encerramento do evento
te oxidado, alcalino de alto potássico, ferroso e orogenético em plataforma mais estável, com a
meta- a peraluminoso, típico das séries graníticas colocação de rochas mais evoluídas e pouco fraci-
do tipo A (Assis 2011, Assis et al. 2012). Estudos onadas (e.g. Pórfiro União do Norte – granito tipo
geocronológicos pelo método U-Pb em zircão, por A2). Os granitos Matupá e Aragão, no entanto,
LA-ICP-MS, realizados por Miguel-Jr (2011), reve- teriam se alojado em ambiente de arco vulcânico
lam que a Suíte Granodiorítica tem idade de cris- a pós-colisional, enquanto o granito Nhandu é in-
talização de 1.853 ±23 Ma, enquanto o Pórfiro terpretado como pós-colisional a intra-placa (As-
União do Norte de 1.774 ±7,5 Ma. Embora apre- sis 2011, Ramos 2011).
sente raros enclaves do biotita-hornblenda gra- Por fim, o Mesoproterozóico é representado
nodiorito, indicativos de idade mais jovem ou con- pelo Grupo Caiabis (Formação Dardanelos), com
temporânea à Suíte Granodiorítica, a idade de cris- idades máximas de 1.987±4 Ma a 1.377 ±13 Ma
talização da Suíte Granítica permanece, contudo, (Leite & Saes 2003), e constituído por arenito, sil-
desconhecida. Neste cenário, Assis (2011) conclui tito, argilito e conglomerado basal, enquanto o
que as suítes granodiorítica e granítica são coge- Cenozóico é representado pelas Coberturas Tér-

Figura 7- Diagramas de discriminação tectônica proposto por Pearce et al. (1984) para rochas graníticas da
porção leste da PAAF: (A) Y vs. Nb; (B) Yb vs. Ta. Foram adicionadas aos diagramas as idades de cristalização
das hospedeiras para facilitar a observação da evolução temporal do ambiente geodinâmico deste segmento
da província.

314
Rafael Rodrigues de Assis et al.

cio-Quaternárias e Depósitos Aluvionares, domi- panhada por brechas hidráulicas e veios de quart-
nados por sedimentos clásticos e pelitos inconso- zo com textura em pente (Fig. 11E); (7) cloritiza-
lidados (Souza et al. 2005). ção pervasiva com clorita magnesiana (Fig. 11F);
(8) alteração sódica fissural com albita + quartzo;
MINERALIZAÇÕES AURÍFERAS DO SETOR LES- (9) alteração propilítica tardia e regional, repre-
TE DA PAAF sentada pela associação clorita + epídoto + clino-
zoisita + apatita + tremolita + pirita + rutilo ± tita-
Depósitos de Au ± Cu nita ± quartzo ± calcita ± actinolita ± prehnita ±
calcopirita, com clorita magnesiana proximal às
Os principais representantes deste grupo in- zonas mineralizadas, enquanto clorita rica em fer-
cluem os depósitos Pé Quente (Assis 2011, Stabi- ro é frequente nas porções mais distais; e (10)
le 2012), X1 (Rodrigues 2012), Serrinha (Moura et veios tardios de epídoto + clorita + clinozoisita com
al. 2006) e Luizão (Abreu 2004, Paes de Barros estreitos halos de ortoclásio.
2007) (Figs. 2-3). Embora estejam hospedados A mineralização aurífera é dominada por pirita
essencialmente em granitos cálcio-alcalinos, de e está associada a três estágios distintos da alte-
médio a alto K, meta- a peraluminosos, magnesi- ração hidrotermal, o que lhe confere uma ampla
anos e de idade paleoproterozóica (1.931 a 1.872 dispersão temporal (Fig. 10). O primeiro estágio
Ma), esses depósitos mostram diferentes tipos e associa-se às zonas de forte alteração sódica no
estilos de alteração hidrotermal, associações pa- monzonito onde megacristais de pirita euédrica a
ragenéticas, assinaturas geoquímicas e regime de sub-euédrica de até 9,5 mm de diâmetro ocorrem
fluidos. disseminadas (Fig. 12A). Com concentrações em
Ag que variam de 14 a 46%, o ouro está como
DEPÓSITO PÉ QUENTE inclusões de 3,5 a 185 μm na pirita. O segundo
estágio é mais intenso e relaciona-se à alteração
Localizado nos arredores da Nona Agrovila, a com muscovita fibro-radial, com sulfetação tanto
cerca de 35 km na direção sudeste do município disseminada quanto ao longo de vênulas e veios
de Peixoto de Azevedo (Figs. 2-3), o depósito Pé (Fig. 12A). Este estágio é dominado por pirita eu-
Quente corresponde a um dos exemplos mais im- édrica a sub-euédrica de até 3 mm de diâmetro e
portantes de ouro disseminado em sistemas gra- que frequentemente exibe inclusões de muscovi-
níticos da PAAF. Nesse depósito, Nilva, Rubens, ta. Neste caso, o ouro ocorre: (1) como inclusões
Gabriel e João Oficial são os principais corpos de de até 70 μm na pirita e com concentrações de Ag
minério hospedados na Suíte Pé Quente (Fig. 8), entre 29% e 40%; e (2) ao longo de microfraturas
sendo os três primeiros atualmente em lavra a céu onde exibe concentrações de Ag entre 34% a 60%.
aberto por garimpeiros. Os principais litotipos hos- O estágio mais tardio de sulfetação e de menor
pedeiros incluem: (1) leucomonzonito, quarzto di- intensidade está associado à alteração sódica fis-
orito e quartzo monzodiorito no corpo Gabriel (Fig. sural, com a geração de pirita euédrica fina a gros-
9A); (2) albitito fino nos corpos Nilva e Rubens (Fig. sa. De forma subordinada, a pirita pode ainda es-
9B); (3) biotita tonalito nos corpos Rubens e João tar confinada a veios de quartzo concentrados nas
Oficial (Fig. 9C); (5) diques aplíticos de granodiori- porções de borda das intrusões aplíticas que trun-
to fino e levemente porfirítico, intrusivos no albiti- cam o albitito. O ouro neste caso contém concen-
to e biotita tonalito no corpo Rubens (Fig. 9D) (As- trações de Ag de até 23% e forma inclusões na
sis 2011, Stabile 2012). pirita ou preenche suas microfraturas.
As hospedeiras foram variavelmente afetadas As zonas mineralizadas possuem paragênese
por diversos tipos de alteração hidrotermal, inclu- representada por pirita ± barita ± hematita ± ruti-
indo (Fig. 10): (1) intensa alteração sódica com lo ± calcopirita ± galena (Figs. 12B-C), além de
albita (Fig. 11A); (2) ampla alteração potássica com concentrações de wulfenita (PbMoO 4 ), tivanita
megacristais de microclínio e ortoclásio (Fig. 11B); [V3+TiO3(OH)], monazita e fases ricas em Te-Bi. To-
(3) alteração sericítica proximal às zonas minerali- das essas fases normalmente formam inclusões
zadas; (4) carbonatação intersticial com calcita fina de variados tamanhos na pirita, exceto pela bari-
a grossa (Fig. 11C); (5) muscovita fibro-radial in- ta, que também preenche fraturas na mesma.
tersticial a fissural (Fig. 11D); (6) silicificação acom- Estudos preliminares de inclusões fluidas nas

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Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Setor Leste da Província de Alta Floresta

Figura 8 - Mapa geológico do entorno do Depósito Pé Quente e com a localização de seus principais corpos de
minério (Modificado de Assis 2011).

Figura 9 - (A) Leucomonzonito isotrópico, inequigranular fino a médio, hipidiomórfico, raramente porfirítico
(10% do volume da rocha), com boxworks de pirita e fenocristais de plagioclásio e subordinadamente de
ortoclásio com até 7,2 cm de comprimento; (B) Albitito fino a médio, leucocrático, inequigranular e hipidio-
mórfico; (C) Biotita tonalito inequigranular, isotrópico e hipidiomórfico; (D) Diques de granodiorito aplítico em
biotita tonalito com forte alteração potássica pervasiva.

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317
Rafael Rodrigues de Assis et al.

Figura 10 - Evolução paragenética do sistema hidrotermal do Depósito Pé Quente.


Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Setor Leste da Província de Alta Floresta

Figura 11 - (A) Monzonito com pirita disseminada e confinada a vênulas que truncam zona de intensa
alteração sódica pervasiva que lhe confere a forte tonalidade esbranquiçada; (B) Megacristais de ortoclásio
em hospedeira do depósito Pé Quente; (C) Forte carbonatação representada por calcita hidrotermal que
oblitera a trama da rocha. Vênulas tardias de muscovita (setas) também podem ser observadas; (D) Vênu-
las irregulares de muscovita fibro-radial em monzodiorito; (E) Vênulas de quartzo com textura em pente e
bordas com clorita; (F) Intensa cloritização que substitui a alteração potássica com feldspato (porções aver-
melhadas) e carbonatação com calcita (porções esbranquiçadas) em possível monzonito do depósito Pé
Quente. FOTOMICROGRAFIAS: C-D: polarizadores cruzados. LEGENDA: (Ab) albita; (Cal) calcita, (Ms) mus-
covita, (Pl) plagioclásio.

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Rafael Rodrigues de Assis et al.

Figura 12 – (A) Megacristais de pirita limonitizada, disseminada e ao longo de fraturas em monzonito com
forte alteração sódica pervasiva; (B) Inclusões de ouro em cristais de pirita; (C) Hematita e barita em zona
de forte alteração sódica. FOTOMICROGRAFIAS: B-C: luz refletida. LEGENDA: (Au) ouro, (Brt) barita, (Hem)
hematita, (Py) pirita.

zonas de forte alteração sódica pervasiva, com aloja mais de uma dezena de depósitos auríferos
pirita + barita + ouro disseminado, revelam a coe- que foram lavrados por garimpeiros entre os anos
xistência entre dois tipos de fluidos: (1) aquo-car- de 1990 e 1993 (Paes de Barros 2007). Dentre
bônicos e (2) aquosos bifásicos. As inclusões aquo- esses, o denominado de Luizão foi objeto de pes-
carbônicas são de baixa salinidade (7,7 a 8,1% quisa da empresa RJK, em 1997, que constatou a
eq. NaCl), temperaturas de fusão do CO2 concen- natureza disseminada da mineralização aurífera,
tradas entre -57,8 e -56,1°C, indicativas de CO2 distinta da maioria dos depósitos auríferos repor-
puro, além de relativa homogeneidade quanto ao tados na região de Peixoto de Azevedo – Novo
grau de preenchimento pela fase de CO2 líquida, Mundo, que são eminentemente filonianos. Essa
com variação de 20% a 45%, porém, com um gru- mineralização encontra-se disseminada em rocha
po com até 80-90%. Os fluidos aquosos bifásicos granítica fortemente hidrotermalizada, possivel-
exibem homogeneidade quanto ao grau de pre- mente de composição de sienogranito a monzoni-
enchimento pela fase de vapor (10-25%), porém, to (Fig. 13A). Os corpos de minério são descontí-
são constituídos tanto por inclusões eminentemen- nuos e se estendem por até 2000 metros segun-
te aquosas e de baixa salinidade (0,5 a 12,5 % do a direção N75-85W, geralmente balizados por
eq. NaCl), quanto por aquelas com concentrações diques hidrotermalizados de composição andesí-
subordinadas de CO2, verificadas devido à forma- tica a basáltica (Abreu 2004, Paes de Barros 2007).
ção de clatratos durante a microtermometria. Além disso, os corpos de minério são descontínu-
os e configuram blocos romboédricos delimitados
DEPÓSITO LUIZÃO e fragmentados por uma tectônica rúptil represen-
tada por sistemas de fraturas sub-horizontais, N-
O granito Novo Mundo (1.970 ±3 Ma – 1.964 S e NE subverticais (Fig. 13B).
±1 Ma) a oeste da cidade homônima (Figs. 2 e 3) A alteração hidrotermal é representada por uma

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Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Setor Leste da Província de Alta Floresta

albitização precoce e restrita que grada em dire- (2) aquosos de salinidade baixa a moderada (2,5
ção à mineralização para zonas mais amplas de a 15% eq. NaCl) e temperatura de homogeneiza-
forte alteração potássica com formação de micro- ção entre 95°C e 180°C. Ambos os tipos ocorrem
clínio que confere uma intensa coloração averme- dispersos aleatoriamente nos cristais de quartzo,
lhada à rocha granítica (Fig. 13C). O sistema evo- mas com predomínio das do segundo tipo. Com
lui na sequência para uma alteração constituída base nos dados de inclusões fluidas, valores de
por muscovita fibro-radial (40% – 50%), quartzo pressão entre 0,9 a 1,2 kbares foram estimados
(5% – 20%) e clorita (5% – 20%), que preenchem como mínimos para a formação do depósito Lui-
interstícios da rocha granítica ou substituem mi- zão (Assis 2006, Assis et al. 2008).
croclínio e plagioclásio (Figs. 13D-E). Em zonas
onde essa alteração é intensa, o granito hospe- DEPÓSITO X1
deiro passa para uma rocha de tonalidade esver-
deada constituída essencialmente de muscovita, O depósito X1 localiza-se entre as cidades de
quartzo e clorita, denominada de hidrotermalito. Matupá (~10 km a norte) e Guarantã do Norte (~13
Vênulas de calcita e epídoto representam o even- km a sul) (Figs. 2 e 3). O depósito tem sido alvo de
to mais tardio do sistema hidrotermal do depósito pesquisas exploratórias por meio de geoquímica
Luizão (Abreu 2004, Paes de Barros 2007). de solo, aerogeofísica, geofísica terrestre e cam-
O minério ocorre espacialmente associado às panhas de sondagem desde 2002, em um primei-
zonas de intensa alteração com muscovita, quart- ro estágio pela VALE, posteriormente pela Mine-
zo e clorita (Fig. 13F), sendo dominado por pirita ração Monte Alegre em 2007 e, mais recentemen-
euedral a subeuedral, com dimensões de até 6 te, pela empresa Rio Novo Mineração.
mm, e teores de As entre 0,7% e 1,1%. Pirita pode Em termos regionais, o depósito insere-se em
também ocorrer associada a quartzo ao longo de uma região cartografada como pertencente à fáci-
veios. Quantidades subordinadas de calcopirita, es 4 da Suíte Intrusiva Matupá (Fig. 3), composta
rutilo, hematita, esfalerita, galena e traços de mo- por hornblenda monzogranito, biotita-hornblenda
nazita, thorita e teluretos de Ag também fazem monzonito e hornblenda monzodiorito (Moreton &
parte da associação do minério (Abreu 2004, Paes Martins 2005, Souza et al. 2005). No entanto, in-
de Barros 2007). Rutilo e hematita ocorrem ape- vestigações de raros afloramentos e descrições
nas nas zonas mineralizadas: o primeiro de hábi- de testemunhos de sondagem revelam que a área
to acicular encontra-se disseminado na matriz, do depósito X1 consiste essencialmente de uma
como pequenas inclusões ou preenchendo fratu- suíte de composição granodiorítica a tonalítica, e
ras na pirita, enquanto o segundo concentra-se mais subordinadamente de diques máficos, com
somente em veios. O ouro, com dimensões de no espessuras raramente superiores a 5 metros, o
máximo 10 μm e concentrações de Ag entre 4% e que difere, portanto, da fácies 4 da Suíte Matupá
22%, ocorre principalmente como inclusões na pi- (Rodrigues 2012) (Fig. 15). O entorno do depósito
rita e mais subordinadamente na clorita (Fig. 13G). é constituído por dois litotipos principais: (1) bioti-
A sequência de formação da associação dos mine- ta granodiorito porfirítico de granulação média a
rais de alteração hidrotermal e do minério está grossa, com fenocristais de quartzo e plagioclásio
ilustrada na Figura 14. A geoquímica do minério de dimensões de até 1,5 cm e 3 cm, respectiva-
(Abreu 2004, Paes de Barros 2007) revela que no mente (Fig. 16A), além de raros enclaves de vul-
depósito Luizão o enriquecimento em Au é acom- cânicas máficas; (2) quartzo-feldspato pórfiro
panhado por aumentos significativos nos teores (QFP) de matriz fina e composição tonalítica (Fig.
de Ag, Cu, Zn, As, Sb e Te, e em menor intensida- 16B), com fenocristais de quartzo e plagioclásio
de, nos de Bi, Pb e Mo. que ocupam de 5 a 10% do volume da rocha, com
Estudos de inclusões fluidas em quartzo da apatita, zircão e rutilo como fases acessórias, po-
zona mineralizada com teores médios de Au de rém, com ausência de minerais máficos. Enclaves
1,27 ppm revelam a presença conjunta de dois ti- do QFP com dimensões que variam de 3 a 8 cm e
pos principais de fluidos: (1) aquoso de salinida- contornos angulosos são frequentemente reco-
de elevada (33,6-37% eq. NaCl) representado por nhecidos no granodiorito porfirítico. Entretanto,
inclusões com cristais de halita e temperaturas de enclaves de até 10 cm de comprimento e formatos
homogeneização total (Tht) entre 200 e 280°C; e arredondados a angulares do biotita granodiorito

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Rafael Rodrigues de Assis et al.

Figura 13 - (A) Sienogranito Novo Mundo com textura equigranular e com leve orientação dos cristais de
quartzo; (B) Minério constituído por pirita disseminada em zona de fraturas no contato com vulcânica máfi-
ca; (C) Forte alteração potássica pervasiva representada por microclínio em rocha granítica do depósito do
Luizão; (D) Rocha granítica com intensa alteração com muscovita grossa + quartzo + sulfetos dissemina-
dos; (E) Alteração com muscovita fibro-radial em sienogranito; (F) Pirita disseminada em zona com musco-
vita e quartzo; (G) Ouro incluso em pirita em zona de forte alteração com muscovita. FOTOMICROGRAFIAS:
E-F: polarizadores cruzados; G: luz refletida. LEGENDA: (Au) ouro, (Mus) muscovita, (Qtz) quartzo, (Py)
pirita, (Sulf) sulfetos.

porfirítico, embora menos comuns, também são Lineamentos estruturais com direções NW – SE
descritos no QFP. Embora as relações temporais e NE – SW são registrados na região que engloba
entre esses dois litotipos ainda não tenham sido o depósito X1 e coincidem com as principais dire-
definidas por geocronologia, as relações geológi- ções de estruturas regionais reconhecidas no se-
cas observadas acima sugerem preliminarmente tor leste da PAAF (Ianhez 2008).
um sistema de múltiplas intrusões, possivelmente Tanto o biotita granodiorito porfirítico como o
com colocações separadas por um curto intervalo QFP hospedam a mineralização aurífera do depó-
de tempo. sito X1. Nesses litotipos foram reconhecidos os

321
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Setor Leste da Província de Alta Floresta

Figura 14 - Evolução paragenética do sistema hidrotermal do depósito Luizão, segundo Abreu 2004 e Paes
de Barros (2007).

Figura 15 - Perfil geológico do depósito X1 elaborado a partir do conjunto de furos de sondagem ao longo da
seção 8886600N.

322
Rafael Rodrigues de Assis et al.

Figura 16 - Depósito X1: (A) Biotita granodiorito isotrópico e com textura porfirítica representada por cristais
de plagioclásio; (B) Quartzo-feldspato pórfiro com fenocristais de quartzo bi-terminado; (C) Biotita granodio-
rito com intensa alteração potássica representada pela substituição parcial do fenocristal de plagioclásio por
ortoclásio; (D) Alteração com muscovita fibro-radial, quartzo e pirita em granodiorito porfirítico; (E) Vênula e
bolsões de quartzo com muscovita e pirita maciça associada; (F) Veio de quartzo leitoso com pirita maciça em
quartzo-feldspato pórfiro. LEGENDA: (Mus) muscovita; (Pl) plagioclásio; (Py) pirita; (Qtz) quartzo.

seguintes tipos de alteração hidrotermal (Rodri- epídoto e/ou calcita são frequentes. Também de
gues 2012) (Fig. 17): (1) potássica com feldspato ocorrência mais subordinada, clorita substitui bio-
potássico; (2) muscovita – quartzo – pirita; (3) tita ígnea e muscovita, assim como carbonato subs-
propilítica; (4) clorítica; e (5) carbonática. A altera- titui o plagioclásio ígneo.
ção potássica tem distribuição espacial ampla e A mineralização aurífera do depósito X1 ocorre
ocorre na forma de manchas avermelhadas que principalmente disseminada em zonas com inten-
afetam a matriz e fenocristais das rochas (Fig. sa alteração com muscovita + quartzo + pirita (Figs.
16C). Essa alteração geralmente envolve as zo- 18A-B), assim como se associa de forma mais su-
nas mineralizadas, porém posiciona-se em seto- bordinada a veios tardios de quartzo (Figs. 18E-
res mais distais. A alteração potássica é substitu- F). O minério disseminado é representado pela as-
ída parcial a totalmente pela associação muscovi- sociação pirita ± calcopirita ± rutilo ± hematita (Fig.
ta + quartzo + pirita (Figs. 16D-E), gerando zonas 18C) que contém teores de ouro entre 0,5 e 10
com espessuras de 1 a 130 m. Vênulas e/ou bol- ppm. Veios de quartzo mostram a mesma associa-
sões de quartzo com sulfetos, geralmente com ção mineral, mas teores de Au bem mais reduzi-
muscovita concentrada nas bordas ou no seu in- dos (< 0,2 ppm; Rodrigues 2012). A pirita ocorre
terior são frequentes neste tipo de alteração hi- principalmente como cristais euédricos a sub-eu-
drotermal (Rodrigues 2012) (Figs. 16E e 16F). A édricos finos a grossos e como agregados de até
alteração propilítica caracterizada por clorita + epí- 5 cm de diâmetro, ou mesmo ao longo de fraturas
doto + calcita ± apatita ± rutilo ± hematita ± pirita ou zonas brechadas. A hematita exibe granulação
mostra distribuição restrita e distal às zonas mi- fina a média e hábito acicular, enquanto a calcopi-
neralizadas, enquanto que vênulas tardias de rita encontra-se disseminada na matriz com mus-

323
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Setor Leste da Província de Alta Floresta

Figura 17 - Evolução paragenética do sistema hidrotermal do Depósito X1.

covita e quartzo ou como inclusões na pirita e/ou vamente; e (2) aquo-carbônico de baixa salinida-
confinado a veios de quartzo. Galena, monazita e de (7-8,8% eq. NaCl), elevada temperatura de ho-
molibdenita normalmente formam pequenas inclu- mogeneização (251°C-334°C) e variável grau de
sões arredondadas na pirita ou dispersas na ma- preenchimento (40-95%), indicativas de possível
triz com muscovita e quartzo (Fig. 18D). Diferen- aprisionamento heterogêneo mediante processo
tes fases com Bi, Te, Mo e Ag são identificadas nas de imiscibilidade (Trevisan 2012).
zonas mineralizadas, e ocorrem tanto inclusas na
pirita quando disseminadas na ganga (Fig. 18E). Depósitos de Au - metais de base
O ouro forma inclusões muito finas (~20 μm) na
pirita (Fig. 18F) e exibe concentrações em Ag de Os depósitos denominados Francisco (Assis
20% a 30%. A geoquímica do minério do depósito 2011) e Bigode (Assis 2008) no extremo sudeste
X1 indica forte correlação positiva entre os teores da PAAF, na região da Agrovila União do Norte (MT),
de Au com os de Ag, Bi, e em menor escala, com correspondem aos exemplos mais conhecidos na
os de Pb e Cu (Rodrigues 2012). província de mineralizações de ouro associado a
Assembleias de inclusões fluidas provenientes metais de base (Figs. 2 e 3).
de veios de quartzo ± pirita ± calcopirita em zo-
nas de intensa alteração com muscovita + quart- DEPÓSITO DO FRANCISCO
zo indicam a coexistência entre os seguintes ti-
pos de fluidos: (1) aquoso bifásico de salinidade O depósito do Francisco corresponde a um ga-
baixa (até 9,3% eq. NaCl) a elevada (23,6-26% rimpo atualmente em lavra por meio de galeria,
eq. NaCl) e temperaturas de homogeneização to- onde ocorrências de galena maciça foram desco-
tal entre 177°C-268°C e 126°C-262°C, respecti- bertas durante a exploração de ouro primário.

324
Rafael Rodrigues de Assis et al.

Figura 18 - (A) Hospedeira granítica intensamente alterada a muscovita + quartzo + agregados de pirita
grossa com até 2cm; (B) Pirita maciça e calcopirita subordinada associadas à placas de muscovita fibro-
radial; (C) Pirita + calcopirita + hematita em paragênese; (D) Inclusões de galena, esfalerita e monazita em
pirita; (E) Cristal sub-euédrico de telureto de bismuto associado à pirita; (F) Inclusões de Au e fases ricas em
Bi, Mo e Ag na pirita. FOTOMICROGRAFIAS: C,F: luz refletida; D-E: imagem de elétrons retro-espalhados
(MEV). LEGENDA: (Au) ouro, (Cpy) calcopirita, (Mus) muscovita; (Gn) galena, (Hem) hematita, (Mnz) mona-
zita, (Py) pirita, (Sph) esfalerita.

Essa ocorrência interessou à Empresa AJAX que potássica, argílica, silicificação e propilítica são do-
explotou o minério de chumbo até o ano de 2010 minantes (Assis 2011, Assis et al. 2011a,b). Nos
como matéria prima para a produção de baterias setores mineralizados, a silicificação corresponde
automotivas. Atualmente, a empresa ainda é de- ao principal estágio hidrotermal, uma vez que é
tentora dos direitos minerários do depósito, no acompanhada pela precipitação de sulfetos. A al-
entanto, arrenda a área para que garimpeiros lo- teração sericítica com sericita, quartzo, sulfetos,
cais possam explotar o minério aurífero. clorita e muscovita subordinada forma extenso en-
O depósito está hospedado em grauvaca-fel- velope de aproximados 5-6 m de extensão em tor-
dspática e arenito arcoseano lítico da Unidade Vul- no das zonas silicificadas e mineralizadas (Fig.
canoclástica, próximo ao Pórfiro União do Norte 20A), contudo, também afeta parte do Pórfiro
(Figs. 6 e 19), em relação ao qual os padrões da União do Norte nas proximidades dos setores mi-
alteração hidrotermal exibem forte relação espa- neralizados. Nessas áreas, apófises da unidade
cial (Assis 2011). Nos setores mais proximais da sub-vulcânica, com no máximo 1,5 m de extensão,
mineralização, a unidade vulcanoclástica é afeta- estão intensamente sericitizadas.
da por intensa silicificação e alteração sericítica, A alteração potássica é frequentemente reco-
enquanto que nas porções distais, as alterações nhecida em setores de borda ou central do Pórfiro

325
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Setor Leste da Província de Alta Floresta

Figura 19 - (A) Grauvaca-feldspática vulcanoclástica de granulometria fina e com laminação plano-paralela


truncada por estratificação cruzada de pequeno porte; (B) Pórfiro União do Norte com fenocristais centimétri-
cos de plagioclásio e quartzo bi-terminado; (C) Textura micrográfica característica do Pórfiro União do Norte.
FOTOMICROGRAFIAS: C: polarizadores cruzados.

União do Norte (Fig. 20B), é de estilo pervasivo e hematita (Fig. 20F).


representada por ortoclásio ± quartzo ± biotita ± A alteração propilítica representa um estágio
hematita. Veios e/ou bolsões de epídoto + clorita hidrotermal tardio, de caráter regional e bem ex-
+ clinozoisita com halos de ortoclásio (Fig. 20C) presso na unidade vulcanoclástica (Fig. 20H), po-
estão espacialmente associados, na escala da pro- rém, subordinada no Pórfiro União do Norte. É re-
víncia, às regiões mais distais de zonas minerali- presentada pela associação de clorita + epídoto
zadas, a exemplo do depósito Pé Quente. A alte- + actinolita ± magnetita ± apatita ± pirita ± calcita
ração argílica na vulcanoclástica é caracterizada ± quartzo ± calcopirita ± esfalerita ± margarita ±
por uma assembléia com caolinita + sericita ± he- clinozoisita ± rutilo ± titanita ± ortoclásio, que ocor-
matita sendo geralmente proximal ao contato com re disseminada ou em vênulas. Vênulas e veios
o Pórfiro União do Norte (Fig. 20D). Essas zonas centimétricos a decimétricos de hematita especu-
de contato ainda contêm silicificação e injeção de lar (Fig. 20G) com concentrações muito restritas
sílica, ambas temporalmente amplas e fortemente de pirita são comuns e representam o estágio hi-
condicionadas às zonas de contato do pórfiro. drotermal mais tardio que teria afetado o depósi-
Essas zonas são caracterizadas por intensa inje- to, pois cortam todas as unidades e estágios hi-
ção de sílica, com desenvolvimento de densos sis- drotermais anteriores. A sequência de formação
temas em stockwork e veios de quartzo com tex- das minerais do minério e dos tipos da alteração
turas em pente, esferulítica e boxworks de pirita, hidrotermal está ilustrada na Figura 21.
além de brechas hidráulicas cimentadas por quart- O corpo de minério principal do depósito é ma-
zo, drusas e texturas coloformes (Fig. 20E), parti- ciço e forma veios de quartzo de direção N15-50W
cularmente nas zonas de contato com o granito que truncam a estratificação primária (S0) da uni-
sub-vulcânico. Essas relações geológicas, aliadas dade vulcanoclástica, de direção N30-63°E / 07-
às texturas ígneas do pórfiro, são sugestivas de 75°SE. Brechas, mini-geodos e veios de quartzo
que a unidade teria se saturado em uma fase flui- com textura em pente são texturas frequentemen-
da em nível crustal raso (Candela 1997). Local- te encontradas neste setor mineralizado e deno-
mente e em setores mais distais das zonas de tam texturas de percolação de fluidos em nível
minério ocorrem rochas constituídas por uma al- crustal raso (Fig. 22B). Essas zonas são envelo-
ternância de camadas de sílica muito fina, de até padas por uma intensa alteração sericítica que
1 cm de espessura, com camadas de até 5mm de afeta a vulcanoclástica e exibe incipiente sulfeta-
espessura com alunita, caolinita, illita, sericita e ção disseminada (Fig. 20A e Fig. 22A) (Assis et al.

326
Rafael Rodrigues de Assis et al.

Figura 20 - (A) O minério principal é maciço e ocorre em zona de silicificação com halo de alteração sericítica
com sulfetos disseminados; (B) Forte alteração potássica pervasiva com ortoclásio, típica das porções mais
centrais do Pórfiro União do Norte; (C) Veios de epídoto + clinozoisita + clorita com estreitos halos de
ortoclásio hidrotermal; (D) Alteração argílica cortada por veios de quartzo com textura em pente; (E) Veio de
quartzo com textura em pente, típica das proximidades dos depósitos auríferos associados a metais de base;
(F) Sílica estratificada alternada com camadas milimétricas de alunita + illita; (G) Vênulas tardias de hema-
tita em grauvaca-feldspática vulcanoclástica com alteração potássica pervasiva responsável por sua coloca-
ção avermelhada; (H) Grauvaca-feldspática vulcanoclástica com vênulas e bolsões de epídoto + clinozoisita +
clorita, típicos da alteração propilítica.

2011a). anédricos que englobam a pirita e galena, como


A associação mineral do minério principal con- ocupar os interstícios da pirita. Três variedades
siste essencialmente de pirita, esfalerita, galena, composicionais de esfalerita estão presentes nas
digenita, calcopirita, hematita (Figs. 22C-E), além zonas mineralizadas do depósito (Assis 2011): (i)
de concentrações menores de magnetita, bornita, uma precoce, rica em ferro e com inclusões de pi-
pirrotita, monazita, apatita e greenockita (CdS). A rita; (ii) uma segunda, mais tardia, rica em cobre e
pirita forma cristais sub-euédricos de granulação com grande quantidade de inclusões de calcopiri-
fina a grossa, com inclusões de calcopirita, mag- ta (chalcopyrite disease; Fig. 22D) e digenita; e (iii)
netita, esfalerita, digenita, quartzo e galena. Es- outra intermediária, rica em ferro e cobre, com pi-
falerita pode formar tanto zonas maciças, cristais rita e calcopirita inclusas. Esse sequenciamento

327
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Setor Leste da Província de Alta Floresta

328
Figigura 21 - Evolução do sistema hidrotermal dos depósitos auríferos associados a metais de base do Francisco e Bigode.
Rafael Rodrigues de Assis et al.

Figura 22 - (A) Minério disseminado dominantemente representado por pirita; (B) Texturas de percolação de
fluidos em nível crustal raso, exemplificadas por geodos sub-milimétricos, são comuns nas zonas minerali-
zadas; (C) Pirita, esfalerita e galena são os principais sulfetos de metais de base encontrados nas zonas
mineralizadas; (D) Textura da doença da calcopirita na esfalerita; (E) Digenita nos interstícios da esfalerita;
(F) Esfalerita substituída por galena e digenita; (G) Exsolução de Au-Ag em galena inclusa na pirita; (H) A
pirita no minério disseminado é normalmente substituída por hematita; (I) No minério principal, a hematita
pode ocorrer tanto em paragênese com os demais minerais de minério quanto substituir a galena. FOTOMI-
CROGRAFIAS: B: luz natural; C-E,H-I: luz refletida; F-G: elétrons retro-espalhados (MEV). LEGENDA: (Ag)
prata, (Au) ouro, (Cpy) calcopirita, (Dg) digenita, (Gn) galena, (Hem) hematita, (Py) pirita, (Qtz) quartzo,
(Sph) esfalerita.

329
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Setor Leste da Província de Alta Floresta

demonstra empobrecimento de Cu na esfalerita neização total compreendidas entre 85° e 373°C.


durante a cristalização do minério. Adicionalmen- Além disso, a fase vapor ocupa volume variável
te, esfalerita é comumente substituída por digeni- (10-70%) nas inclusões fluidas aquosas, sugerin-
ta e posteriormente por galena (Fig. 22F). A gale- do que esses fluidos estiveram em ebulição du-
na é fina a média e forma cristais intersticiais, in- rante a formação do minério.
clusões na pirita e esfalerita, ou preenche vênu-
las tardias, enquanto digenita (principal sulfeto de DEPÓSITO DO BIGODE
cobre nas zonas mineralizadas do depósito), está
inclusa na galena ou ocorre nos interstícios da es- Esse depósito é um garimpo atualmente aban-
falerita (Fig. 22E). Magnetita forma pequenas in- donado que também se localiza nas proximidades
clusões idiomórficas na esfalerita e menos frequen- da Agrovila de União do Norte (Fig. 3), aproxima-
temente na galena, enquanto hematita é do tipo damente a 7 km do depósito do Francisco.
especularita grossa, estando frequentemente as- O mapeamento geológico na escala de
sociada à substituição da galena e esfalerita. O 1:100.000 (Assis 2008) nessa região revela que o
Au, restrito às porções mais ricas em pirita, tem depósito do Bigode está inserido nos domínios da
íntima associação com a galena inclusa na pirita e Suíte Granodiorítica (Fig. 6), de idade 1.853 ±23
apresenta concentrações de Ag de 1,9 a 19,4% Ma (temporalmente correlacionado a Suíte Matu-
(Fig. 22G), enquanto a Ag também ocorre associ- pá). No entanto, relações de contato entre a mi-
ada à galena inclusa na pirita. neralização e a hospedeira não foram claramente
No minério disseminado no halo de alteração identificadas devido à falta de afloramentos ade-
sericítica a paragênese é representada por pirita, quados.
esfalerita, galena, calcopirita, hematita, traços de O padrão da alteração hidrotermal é bastante
monazita, magnetita, bornita e digenita, além de similar ao do depósito do Francisco (Fig. 21), sen-
eventuais vênulas tardias de galena + calcopirita do o minério representado pela paragênese pirita
± esfalerita ± pirita. À medida que se afasta do + esfalerita + hematita + galena ± calcopirita que
minério principal, observa-se redução nas concen- ocorre em zonas de intensa silicificação sobrepos-
trações de todos os sulfetos, assim como uma in- tas à alteração sericítica subordinada. O minério
tensa substituição de pirita por hematita especu- ocorre em veios maciços de quartzo, que diferen-
lar e de esfalerita por galena (Figs. 22H-I). Embo- temente do depósito do Francisco, não apresenta
ra o ouro não tenha sido observado na petrogra- texturas de percolação de fluidos em nível crustal
fia deste estágio de sulfetação, a geoquímica de raso. O ouro ocorre como inclusões arredondadas
rocha total revela concentrações do metal que a sub-arredondadas de 0,2 a 8 μm, no interior da
variam de 0,52 a 2,05 g/t e de prata entre 5,9 e pirita, ou como cristais de 1 a 10 μm em fraturas
13,7 ppm, indicando que o ouro deva ocorrer como que truncam a pirita e usualmente preenchidas por
inclusões submicroscópicas na pirita (Assis 2011). galena + calcopirita ± esfalerita. Contudo, em
Esta hipótese é reforçada pelos estudos de ele- ambos os casos o Au exibe concentrações em Ag
mentos-traço em pirita, obtidos por Barbuena que variam de 1,94 a 19,4% (Assis 2008).
(2009), os quais revelam concentrações de até 17
ppm de ouro na pirita. A geoquímica do minério DISCUSSÕES
(rocha total) indica concentrações relativamente
elevadas de Cu (267-7.906 ppm), As (44-328 ppm), Mineralizações de Au±Cu
Cd (67-220 ppm), baixas de Bi (0,5-4,8 ppm), Mo
(1-16 ppm), W (1,7-23 ppm), Sn (< 1-2 ppm) e Sb Os principais atributos geológicos dos depósi-
(0,4-3 ppm), e teores de Ag (5,9-13,7 ppm) mais tos estudados neste trabalho encontram-se su-
elevados do que os de Au (0,52-2,05 g/t) (Assis marizadas na Tabela 3. Em geral, esses depósitos
2011). ocorrem hospedados em sistemas intrusivos fél-
Estudos preliminares de inclusões fluidas reali- sicos cálcio-alcalinos, meta- a peraluminosos, mag-
zados em veios de quartzo com pirita, esfalerita e nesianos, hidratados e oxidados, com idades de
galena, indicam a existência de fluidos eminente- colocação que variam de 1.979 ±31 Ma (depósito
mente aquosos de baixa a moderada salinidade Pé Quente) a 1.872 ±12 Ma (possivelmente X1?).
(até 24% eq. NaCl) e temperaturas de homoge- Esses sistemas intrusivos têm afinidade geoquí-

330
Rafael Rodrigues de Assis et al.

mica com ambiente de arcos vulcânicos e consis- hornblenda como máficos principais, a exemplo
tem de rochas que variam de (quartzo-)monzodi- daquelas reportadas aos depósitos abordados
orito-monzonito a tonalito (e.g. depósito Pé Quen- neste trabalho. As zonas mineralizadas também
te) a rochas mais evoluídas e fracionadas, como estão associadas à alteração com muscovita +
sieno-monzogranitos (e.g. depósito Luizão). Gra- quartzo (e.g. Aragão e Pombo) ou então com seri-
nodiorito, tonalito e albitito também tipificam hos- cita e clorita (e.g. depósito Serrinha; Moura et al.
pedeiras, contudo, em menor proporção, e ocor- 2006), e menos frequentemente a veios de quart-
rem nos depósitos X1 e Pé Quente (Tabela 3). zo (e.g. depósitos Edu; Bizotto 2004, Paes de Bar-
A alteração hidrotermal é muito semelhante ros 2007). No depósito Edu o minério ocorre na
entre os depósitos desse grupo, com zoneamen- forma de veios sulfetados confinados a zonas de
to caracterizado pela alteração potássica (micro- cisalhamento rúptil-dúctil de direção N10-20E que
clínio e/ou ortoclásio), que geralmente forma um afetam as rochas graníticas hospedeiras, trans-
envelope no entorno das zonas mineralizadas, se- formando-as em quartzo-sericita milonito sulfeta-
guida de alteração com muscovita + quartzo ± se- do (Tabela 3). De modo geral, é observado que a
ricita, cloritização e finalmente por alteração pro- alteração potássica é distal ao minério enquanto
pilítica de abrangência mais regional. As zonas a propilítica é mais regional e tardia. Nestes de-
mineralizadas estão geralmente associadas à al- pósitos, novamente a paragênese do minério é
teração com muscovita + quartzo ± sericita (e.g. dominada por pirita, porém, com concentrações
depósitos Pé Quente, Luizão e X1). O depósito Pé subordinadas de calcopirita, galena, hematita, es-
Quente mostra sequência de alteração hidroter- falerita, pirrotita, cubanita, sulfossais, fases ricas
mal similar, mas difere dos outros depósitos de em Bi-Te (e.g. depósitos Edu, Serrinha e Pombo) e
Au±Cu investigados nesse trabalho por apresen- hematita (e.g. Aragão).
tar uma forte alteração sódica mais precoce, além Estudos de inclusões fluidas desenvolvidos até
da ocorrência de albitito fino. Em adicional, a mi- o momento sugerem que no depósito X1 fluidos
neralização aurífera nesse depósito está espaci- ricos em CO2, de baixa salinidade (até 8,8% eq.
almente associada tanto a essa alteração sódica NaCl) e de mais alta temperatura (251°C-334°C)
quanto às zonas com muscovita + quartzo e veios coexistem com fluidos aquosos de salinidade va-
de albita + quartzo. riada (9,3 a 26% eq. NaCl) e de menor tempera-
Em todos os depósitos a paragênese do miné- tura (177°-262°C). Dados petrográficos e micro-
rio é dominada por pirita, acompanhada por con- termométricos preliminares de inclusões fluidas no
centrações subordinadas de calcopirita ± hemati- depósito Pé Quente revelam fluidos similares ao
ta (e.g. depósitos Luizão, X1) ou barita ± calcopiri- X1. No depósito Luizão, entretanto, fluidos essen-
ta (e.g. depósito Pé Quente). Fases ricas em Bi-Te- cialmente aquosos e de altas salinidades (34 a
Ag são de ocorrência comum nas zonas minerali- 37% eq. NaCl) coexistem com fluidos também
zadas dos depósitos do Luizão e X1, porém, são aquosos, mas com temperatura (95°C < T < 185ºC)
mais subordinadas no depósito Pé Quente. Nos e salinidade (2,5 a 15% eq. NaCl) inferiores.
depósitos Luizão e X1, em particular, observa-se A íntima associação espacial dos depósitos X1,
uma forte correlação direta do Au com Bi, Te e Ag Pé Quente e Luizão com plútons graníticos suge-
(Paes de Barros 2007, Rodrigues 2012). re que suas mineralizações auríferas provavel-
De uma forma geral, essas características tam- mente se desenvolveram a partir da instalação
bém são observadas em outros depósitos da por- de sistemas magmático-hidrotermais, durante a
ção leste da PAAF, a exemplo do Edu (granitos colocação e cristalização desses plútons. Além dis-
Santa Helena Antigo e Jovem 1.986 ±6 e 1.967 ±3 so, o padrão da alteração hidrotermal e o regime
Ma; Bizotto 2004; Paes de Barros 2007), Aragão de fluidos sugerem que esses sistemas magmáti-
(granito Aragão 1.931 ±12 Ma; Vitório 2010, Mi- co-hidrotermais devem ter se desenvolvido em pro-
guel-Jr 2011), Serrinha (granito Matupá 1.872 ±12 fundidades distintas. A forte alteração sódica, a
Ma; Moura et al. 2006) e Pombo, hospedado em ocorrência marcante de muscovita e fluidos ricos
biotita-hornblenda sieno-monzogranito de idade em CO2 nos depósitos X1 e Pé Quente podem re-
desconhecida (Biondi 2005) (Tabela 3). A compo- fletir sistemas magmático-hidrotermais de maior
sição das hospedeiras nesses depósitos varia de temperatura e posicionados em nível crustal rela-
granodiorito a sieno-monzogranito, com biotita e tivamente mais profundo, quando comparado ao

331
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Setor Leste da Província de Alta Floresta

Tabela 3 -
Comparação entre os principais depósitos auríferos da Província de Alta Floresta.

332
Rafael Rodrigues de Assis et al.

depósito Luizão, com regime de fluidos eminente- respondem a plútons graníticos reduzidos (e.g. il-
mente aquoso (Fig. 23). menita acessória); (3) não exibem alteração hi-
Neste contexto, os depósitos auríferos do se- drotermal limitada a estreitos halos ao longo de
tor leste da PAAF investigados nesse trabalho mos- veios/vênulas; (4) ausência de pirrotita (alta tem-
tram atributos geológicos semelhantes àqueles peratura) e/ou arsenopirita (baixa temperatura),
relacionados à sistemas do tipo ouro pórfiro (gold- que sinalizam condições de fluido redutor; contu-
porphyry deposits; Seedorff et al. 2005, Sillitoe do, (5) ausência de óxidos de ferro nas paragê-
2010). Sendo assim, as seguintes características neses sulfetadas (e.g. hematita/magnetita), usu-
podem ser sumarizadas: (1) hospedeiras que ti- almente ausentes no modelo IRGS.
pificam um contexto de múltiplas intrusões graní- Em adição, sugere-se que as diversas minera-
ticas oxidadas (série magnetita) do tipo I, de com- lizações auríferas da província estiveram relacio-
posição intermediária a félsica e alojadas em am- nadas a fluidos magmáticos que evoluíram por
biente de margem continental ativa; (2) alteração meio de imiscibilidade e/ou possível interação com
hidrotermal extensa e zona, representada por re- fluidos externos (e.g. meteóricos?), promovendo
ações de mudanças de álcalis (e.g. sódica e po- resfriamento do sistema (e.g. muscovita estável),
tássica), hidrólise (e.g. sericítica e muscovita fibro- incremento na ƒO2 (e.g. hematita e/ou barita es-
radial), adição de sílica (silicificação) e adição de táveis) e precipitação do ouro. Se durante o pro-
voláteis (e.g. carbonatação e propilitização); (3) cesso de separação de fases fluidas (imiscibilida-
minério associado à alteração com muscovita + de) o enxofre sair do sistema como volátil (e.g. H2S),
quartzo + sulfetos bem desenvolvida; (4) fluidos a precipitação de sulfetos de Fe-Cu será inibida, o
ricos em CO2 que coexistem com fluidos aquosos; que favorecerá principalmente a formação de mag-
e (5) atuação de fluidos oxidados (barita estável) netita/hematita, visto que o ouro e ferro não ne-
e possível contribuição de fluidos externos (he- cessitam de enxofre para precipitar, enquanto o
matita especular estável). No conjunto, esses cri- cobre, por ser calcófilo, o requer. Portanto, uma
térios são semelhantes a sistemas de ouro pórfi- possível perda precoce de enxofre pode ser a cau-
ro, ricos em ouro e pobres em cobre (Sillitoe 1991, sa principal de certos depósitos do tipo pórfiro
Pirajno 1992, Corbett & Leach 1998, Seedorff et conterem teores elevados de ouro, porém, baixos
al. 2005, Robb 2006, Sinclair 2007, Sillitoe 2010, em cobre (Muntean 2001), a exemplo dos obser-
Richards 2011), a exemplo dos encontrados em vados na PAAF.
Maricunga (Chile; Muntean & Einaudi 2000) e La
Colosa (Colômbia; Gil-Rodríguez 2010). Contudo, Au associado a metais de base
no depósito de La Colosa, por exemplo, o minério
está condicionado à alteração potássica com bio- Os depósitos do Francisco e do Bigode são os
tita, e não àquela com muscovita + quartzo como principais representantes desse grupo de depó-
no caso dos depósitos do setor leste da PAAF. sitos no setor leste da PAAF, embora outros de
Entretanto, esses depósitos também mostram mesma natureza ocorram, mas que ainda carecem
algumas características que são observadas em de melhor documentação geológica. A discussão
mineralizações auríferas associadas a magmas fél- que se segue terá como estudo de caso principal
sicos reduzidos (e.g. intrusion-related gold syste- o depósito do Francisco por conter uma documen-
ms - IRGS; Thompson et al. 1999, Lang & Baker tação geológica mais robusta.
2001, Hart 2007), as quais incluem: (1) alterações Em síntese, observa-se que o depósito do Fran-
sódica (com albita) e potássica (com feldspato al- cisco, principal depósito dessa classe, está hos-
calino) que precedem silicificação e alteração com pedado em sedimentares epiclásticas e espacial-
muscovita; (2) presença comum de fases minerais mente relacionado a um granito sub-vulcânico oxi-
com Bi, Te e Ag; (3) forte correlação de Bi e Te com dado do tipo A (1.775 ±7,5 Ma), enquanto o de-
Au. Contudo, os depósitos estudados neste tra- pósito do Bigode hospeda-se em granodiorito
balho não exibem uma série de características (1.853 ±23 Ma) oxidado do tipo I, cuja relação de
importantes e diagnósticas dos depósitos enqua- contato não se encontra estabelecida.
drados na classe dos IRGS, as quais incluem: (1) As características geológicas desses depósitos,
não estão em terrenos que contenham minerali- em particular, (1) minério e alteração hidrotermal
zações de W-Sn; (2) rochas hospedeiras não cor- intimamente associadas a um granito sub-vulcâ-

333
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Setor Leste da Província de Alta Floresta

334
Figura 23 - Quadro metalogenético integrado para os depósitos do setor leste da PAAF. Esses depósitos incluem os do Pé Quente, Luizão, Edu, Aragão,
X1, Serrinha e Pombo, representantes dos depósitos de Au do tipo pórfiro e, portanto, de nível crustal profundo e variável, quando comparados aos
depósitos auríferos do Bigode e Francisco, associados a sistemas epitermais de intermediária sulfetação. Os dados barométricos foram estimados a
partir de assembleias de inclusões fluidas. REFERÊNCIAS: (1) Assis (2011); (2) Assis (2008); (3) Paes de Barros (2007); (4) Assis (2006) e Assis et
al., (2008); (5) Abreu (2004); (6) Bizotto (2004); (7) Vitório (2011); (8) Biondi (2005); (9) Moura (1998) e Moura et al., (2006), (10) Rodrigues (2012).
Rafael Rodrigues de Assis et al.

nico; (2) alunita reportada a elevadas concentra- tência de apófises sub-vulcânicas intensamente
ções de sílica; (3) minério hospedado em sedimen- sericitizadas e/ou silicificadas, por vezes com ele-
tares epiclásticas (e.g. depósito do Francisco); (4) vada concentração de pirita; (4) padrões e estilos
texturas de preenchimento de espaços abertos fre- da alteração hidrotermal intrinsecamente relacio-
quentemente observadas nas zonas de minério e nadas às suas zonas de ocorrência; e (5) intensa
em suas porções proximais; (5) ouro associado a silicificação e stockworks de quartzo em seus con-
altos teores de prata e sulfetos de metais de base; tatos com as unidades da região, representam
e (6) processo de ebulição; são sugestivas de que fortes indícios de que essa suíte tenha correspon-
os depósitos auríferos associados a metais de dido ao evento termal causativo da mineralização
base do setor leste da PAAF sejam equivalentes a aurífera associada a metais de base do depósito
sistemas epitermais polimetálicos (Au-Ag-Zn-Pb- do Francisco. Essas características, aliadas às tex-
Cu) de sulfetação intermediária (Corbett & Leach turas porfirítica, micrográfica e esferulítica do gra-
1998, Sinclair 2007, Taylor 2007) e, portanto, os nito sub-vulcânico, sinalizam que ele teria se po-
primeiros descritos na província até o momento. A sicionado, cristalizado e se saturado em fase flui-
preservação de um sistema epitermal Paleoprote- da próximo a superfície.
rozóico da erosão e metamorfismo/deformação Em todos os depósitos deste grupo, o minério
subsequentes pode ter sido favorecida devido ao forma zonas com intensa concentração de sulfe-
ambiente ser de plataforma pós-colisional e, por- tos (< 60% vol.) e com paragênese dominada por
tanto, mais estável, combinada ao soterramento pirita + esfalerita + galena ± calcopirita ± hemati-
do sistema epitermal pelos sedimentos fluviais e ta, além de digenita ± sulfetos de Fe-Cu apenas
marinhos da Formação Dardanelos, depositados no depósito do Francisco. Essa paragênese é in-
entre 1.987 ±4 Ma e 1.377 ±4 Ma (Leite & Saes dicativa de que o minério aurífero tenha se preci-
2003), presentes na região do depósito. pitado por fluidos com estado de sulfetação (e.g.
A alteração hidrotermal é bastante semelhan- potencial químico) intermediária e elevada. Em
te entre os depósitos de Au+metais de base es- adicional, a ocorrência comum de especularita (he-
tudados, com zoneamento dos tipos da alteração matita especular) tanto nos diversos tipos da al-
em relação às zonas mineralizadas, que no caso teração hidrotermal quanto nos setores minerali-
do depósito do Francisco, também estão espaci- zados, denota que uma importante componente
almente associadas ao Pórfiro União do Norte. Nos meteórica teria interagido com fluidos mais quen-
setores mais proximais do minério do Francisco e tes e ácidos derivados da cristalização do pórfiro.
Bigode predomina intensa silicificação, que no de- Os resultados preliminares de inclusões fluidas são
pósito do Francisco é circundada por halo de alte- indicativas de processo de ebulição de fluidos (boi-
ração sericítica. Nas porções proximais ao granito ling). Neste contexto, propõe-se que os depósitos
sub-vulcânico as alterações potássica, argílica e auríferos associados a metais de base da PAAF
silicificação são dominantes. Em ambos os depó- tenham se originado a partir de um sistema mag-
sitos tanto a alteração propilítica quanto os veios mático-hidrotermal raso, com precipitação do ouro
e vênulas de hematita correspondem a alterações e metais de base mediante o incremento da ƒ O
2
hidrotermais mais regionais e tardias. Embora não (e.g. precipitação de hematita), decorrente da en-
associada à mineralização, alunita ocorre como trada de fluidos externos e oxidantes (meteóri-
extensos depósitos residuais de quartzo-alunita cos). As elevadas concentrações de metais de base
estratificados nas imediações do depósito, possi- aliadas à ebulição ainda sugerem que variações
velmente produtos da alteração da Unidade Vul- na temperatura e pH também foram importantes
canoclástica mediante fluidos extremamente áci- na precipitação do minério.
dos e ricos em voláteis condensados a partir do
processo de ebulição, ou então, indicarem ativi- Modelo Metalogenético Regional
dades exalativas superficiais.
A presença constante de (1) texturas que tipi- Os depósitos auríferos do setor leste da PAAF
ficam a percolação de fluidos em nível crustal raso podem ser agrupados em dois sistemas hidroter-
nas regiões internas, proximais e de contato do mais Paleoproterozóicos distintos: (i) Au ± Cu e
Pórfiro União do Norte; (2) bolsões veios e vênu- (2) Au + metais de base.
las de quartzo nas suas porções centrais; (3) exis- A estreita relação espacial entre mineralizações

335
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Setor Leste da Província de Alta Floresta

auríferas disseminadas em sistemas graníticos ali- de Serrinha. Neste cenário, a colocação de grani-
ados aos dados geocronológicos sugerem que a tos de 1,98 Ga a 1,87 Ga deve ter sido promissora
metalogênese do ouro no setor leste da PAAF deve à instalação de sistemas magmático-hidrotermais
ter ocorrido em pelo menos três estágios: geradores de mineralizações semelhantes às do
1 - 1,98 Ga – 1,93 Ga: com a colocação dos tipo ouro pórfiro, enquanto que o evento mais tar-
plútons Pé Quente (e.g., Pé Quente), Novo Mundo dio (1,78-1,75 Ga) esteve relacionado à geração
(e.g. Luizão), Santa Helena (e.g. Edu) e Aragão de mineralizações do tipo epitermal.
(Paes de Barros 2007, Assis 2011, Miguel-Jr 2011); Adicionalmente, a Suíte Intrusiva Teles Pires é
2 - 1,89 – 1,87 Ga: Granito Nhandu e Suíte In- regionalmente conhecida por não hospedar mine-
trusiva Matupá (depósitos de Serrinha e X1(?)) ralizações auríferas (Moreton & Martins 2005, Sou-
(Moura 1998, Rodrigues 2012); e za et al. 2005, Silva & Abram 2008), sendo que
3 - 1,78 – 1,75 Ga: com o alojamento de corpos Paes de Barros (2007) a define como o marco final
epizonais anorogênicos associados à Suíte Intru- da metalogênese aurífera na PAAF. De modo con-
siva Teles Pires, a exemplo do Pórfiro União do trário a esse quadro regional, Assis (2011) suge-
Norte (Assis 2011). re que as injeções graníticas epizonais, paleopro-
Esses dados indicam que os depósitos deriva- terozóicas e pós-colisionais do tipo Teles Pires,
ram da instalação de sistemas hidrotermais pale- exemplificadas pelo Pórfiro União do Norte, podem
oproterozóicos, a partir da circulação de fluidos ter potencial para hospedar ou participar da for-
oriundos de intrusões de diferentes idades e alo- mação de mineralizações auríferas com metais de
jadas em níveis crustais distintos. Dados de cam- base associados. A proposição de que os depósi-
po, geoquímicos e geocronológicos indicam que a tos de Au+metais de base possam fazer parte de
Suíte Pé Quente (1.979 ±31 Ma) corresponde a sistemas epitermais polimetálicos de sulfetação in-
manifestação magmática mais antiga, seguida do termediária abre novas perspectivas para progra-
Granito Santa Helena Antigo (1.986 ± 6 Ma) e Jo- mas de prospecção mineral na região de União do
vem (1.967 ± 3 Ma), Granito Novo Mundo (1.970 Norte como, por exemplo, o potencial para a ocor-
±3 Ma a 1.964 ± 1 Ma), Granito Aragão (1.931 ±12 rência: (1) de depósitos de Au±Cu filonares, ain-
Ma), Suíte Intrusiva Matupá (1.872 ±12 Ma), bioti- da pouco conhecidos nessa região, próximos ou
ta-hornblenda granodiorito (1.853 ±23 Ma) e fi- hospedados em suítes plutônicas; e (2) de estru-
nalmente, pelo Pórfiro União do Norte (1.774 ±7,5 turas circulares na unidade vulcanoclástica que
Ma) (Tabela 3). Esses dados, quando aliados aos possam representar zonas de paleo-caldeira e,
litogeoquímicos, sinalizam a evolução geodinâmi- como consequência, conter depósitos epitermais
ca da região, desde a colocação de rochas mais filonares de Au-Ag com adulária-sericita, com pos-
primitivas em ambiente de arcos vulcânicos (Suíte sibilidades de formar bonanzas.
Pé Quente), até rochas mais fracionadas e evolu- A diferença de aproximados 230 Ma entre a for-
ídas, em plataforma pós-colisional (Pórfiro União mação dos depósitos do primeiro (1,98-1,93 Ga)
do Norte) (Fig. 4). Neste contexto, o magmatismo e terceiro estágios (1,78-1,75 Ga) pode ser um
oxidado, hidratado, cálcio-alcalino a localmente al- reflexo dos distintos arcos magmáticos responsá-
calino do setor leste da PAAF possivelmente pos- veis pela compartimentação do Cráton Amazôni-
sa ter se desenvolvido a partir de processos oro- co, o que resultou em estágios erosivos diferenci-
gênicos de limites de convergência de placas, am- ados dentro da província. O sistema magmático-
biente propício para o desenvolvimento de siste- hidrotermal do depósito Pé Quente teria se insta-
mas magmático-hidrotermais do tipo pórfiro e epi- lado na fase de implementação do Arco Cuiú-Cuiú
termal. Neste cenário, as unidades plutônicas po- (2,1-1,95 Ga), enquanto que o do depósito do
deriam estar relacionadas ao desenvolvimento dos Francisco deve ter ocorrido ao final da estabiliza-
arcos magmáticos Cuiú-Cuiú (1,9 a 1,85 Ga) e Ju- ção do Arco Magmático Juruena (1,85 Ga a 1,75
ruena (1,85 a 1,75 Ga), propostos por Souza et al. Ga). Neste sentido, a orogênese decorrida duran-
(2005). Esses resultados permitem estender o te a primeira fase promoveu uma elevada taxa
evento metalogenético aurífero da PAAF para o in- erosiva às rochas mais pretéritas (suítes intrusi-
tervalo entre 1,98 e 1,75 Ga, e não restringi-lo vas Pé Quente e Matupá), sobretudo, decorrente
apenas ao período de 1,87 Ga, como inicialmente do intenso soerguimento de edifícios plutono-vul-
proposto por Moura (1998) com base no depósito cânicos em plataforma continental instável (mar-

336
Rafael Rodrigues de Assis et al.

gem continental ativa). Essa situação teria sido a Intrusiva Teles Pires, em 1,75 Ga, exemplificado
responsável pela exposição de diferentes siste- pelos depósitos auríferos associados a metais de
mas do tipo ouro pórfiro, desde as suas raízes (de- base do Francisco (Assis 2008,2011, Miguel-Jr
pósito Pé Quente) até níveis crustais menos pro- 2011).
fundos (depósito Luizão). Contudo, o depósito do Coletivamente, a íntima associação espacial com
Francisco (epizonal) teria se originado em fase de plútons graníticos oxidados (série da magnetita),
tectônica mais estável (pós-orogênica), com con- do tipo I, alojados em ambiente de arcos vulcâni-
sequente favorecimento de sua preservação. cos que teria migrado para uma plataforma pós-
Finalmente, os depósitos auríferos da PAAF colisional mais estável, os tipos e padrões da al-
estariam enquadrados em um sistema contínuo do teração hidrotermal assim como a associação pa-
tipo epitermal – pórfiro de arco magmático, com ragenética do minério, sugerem que os depósitos
os termos do tipo pórfiros e ricos em Au (Au pórfi- Au ± Cu deste segmento da PAAF possam estar
ro) sendo mais profundos e representados por geneticamente relacionados a sistemas magmáti-
depósitos do tipo disseminado em rochas graníti- co-hidrotermais similares aos sistemas do tipo ouro
cas (e.g. Luizão, Serrinha e Pé Quente; Bizotto pórfiro (Sillitoe 1991, Corbett & Leach 1998, See-
2004, Paes de Barros 2007, Moura et al. 2006, dorff et al. 2005, Robb 2006, Sinclair 2007, Sillitoe
Assis 2011). Os depósitos de profundidade inter- 2010, Richards 2011), ricos em ouro, porém, po-
mediária seriam equivalentes àqueles de Au±Cu bres em cobre, equivalentes aos depósitos de Ma-
filonares (e.g. Edu e Pombo; Abreu 2004, Biondi ricunga (Chile; Muntean & Einaudi 2000) e La Co-
2005), enquanto os de Au+metais de base (e.g. losa (Colômbia, Gil-Rodríguez 2010). Embora na
Francisco e Bigode; Assis 2008, 2011) seriam si- PAAF esses depósitos também possam ser enqua-
milares àqueles de nível crustal mais raso, simila- drados no modelo IRGS (intrusion-related gold sys-
res às mineralizações epitermais polimetálicas de tems; Thompson et al. 1999, Hart 2007), por exibi-
intermediária sulfetação (Fig. 23). Esse modelo tem rem fortes correlações positivas entre as concen-
como análogos os sistemas epitermal – pórfiro do trações de Au com Bi e Te, a natureza oxidada das
sudoeste do Cinturão Pacífico (Indonésia-Kilian, hospedeiras graníticas (e.g. petrografia e litogeo-
Filipinas-Lihir, Papua Nova Guiné-Porgera-Bilimoia, química) e dos fluidos mineralizantes (e.g. para-
Austrália-Kidston-Mineral Hill; Corbett & Leach gênese do minério), a presença de hematita no
1998). minério, assim como o extenso e zonado padrão
da alteração hidrotermal, não se mostram coeren-
CONCLUSÕES tes a essa classe de depósitos auríferos.
Em adição, a proximidade com sub-vulcânicas
O principal evento aurífero associado ao aloja- félsicas, controle estrutural do minério hospeda-
mento de sistemas graníticos no setor leste da do em sedimentares epiclásticas (e.g. Unidade
PAAF tem sido temporalmente relacionado à colo- Vulcanoclástica, Assis 2011) e em biotita-hornblen-
cação do Granito Nhandu (~1,89 Ga; Paes de Bar- da granodiorito do tipo I (Suíte Granodiorítica, As-
ros 2007) e da Suíte Intrusiva Matupá (~1,87 Ga; sis 2008), paragênese do minério que denota fa-
Moura 1998), este último, hospedeiro do depósi- ses sulfetadas com enxofre de intermediário a ele-
to Serrinha (Moura et al. 2006). Neste trabalho, vado potencial geoquímico (e.g. digenita, bornita,
entretanto, propõe-se que a metalogênese aurí- covelita) e a constante presença de texturas de
fera da porção leste da PAAF tenha iniciado mais percolação de fluidos em nível crustal raso (e.g.
precocemente, com a colocação dos sistemas in- veios de quartzo com textura em pente, mini geo-
trusivos do Pé Quente, Santa Helena, Novo Mun- dos, texturas esferulíticas), são fortemente indi-
do e Aragão (1,98-1,93 Ga), respectivamente res- cativas de que as mineralizações auríferas asso-
ponsáveis pela formação dos sistemas hidroter- ciadas a metais de base possam representar um
mais dos depósitos Pé Quente, Edu, Luizão e Ara- sistema epitermal polimetálico de intermediária sul-
gão (Abreu 2004, Bizotto 2004, Paes de Barros fetação. Nestes níveis crustais rasos, a ocorrên-
2007, Vitório 2011, Assis 2011, Miguel-Jr 2011, Ro- cia de rochas com sílica±alunita±argilo minerais fi-
drigues 2012). Esse evento, contudo, teria se es- namente acamadados, como observados no de-
tendido para períodos mais recentes, com as ma- pósito do Francisco, podem representar depósi-
nifestações pós-colisionais anorogênicas da Suíte tos residuais de quartzo-alunita originados a par-

337
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Setor Leste da Província de Alta Floresta

tir de emanações vulcânicas superficiais. Sob essa gião de União do Norte, setor leste da Província
Aurífera de Alta Floresta (MT). RBG, 42:130-161.
perspectiva, o Pórfiro União do Norte (1.775 ±7,5 Assis R.R., Xavier R.P., Paes de Barros A.J., Miguel-Jr
Ma), interpretado como o agente magmático cau- E., Teixeira R.V., Barbuena D., Rodrigues R.M., San-
tos T.J.S. 2011b. Paragenetic evolution of the gold-
sativo da mineralização do Francisco, abre novas
rich porphyry and polymetalic epithermal deposits
perspectivas à exploração aurífera na província, of the eastern portion of the Alta Floresta Gold Pro-
especialmente se considerados depósitos paleo- vince (MT), Amazon Craton. In: Simp. Geologia da
Amazônia, 12, Boa Vista, Roraima. CD-ROM.
proterozóicos do tipo epitermal, a exemplo dos do- Assis R.R., Xavier, R.P., Paes de Barros A.J., Souza Fi-
cumentados na Província do Tapajós (Juliani et al. lho C.R. 2008. Trace element geochemistry and fluid
regimes in gold deposits of the Alta Floresta Provin-
2005). Adicionalmente, o Pórfiro União do Norte é
ce (MT). In: SBG, Cong. Bras. Geol., 44, Curitiba,
correlacionado às manifestações sub-vulcânicas da CD-ROM.
Suíte Intrusiva Teles Pires (Assis 2011), a qual tem Barbuena D. 2009. Elementos-traço em sulfetos de
depósitos auríferos hidrotermais da Província de Alta
sido considerada como estéril (Moreton & Martins Floresta (Mato Grosso). Relatório Final PIBIC/CNPq,
2005, Souza et al. 2005, Paes de Barros 2007, Sil- IG/UNICAMP, 20p.
Barbuena D. 2012. Processamento e modelagem de
va & Abram 2008). Contudo, as manifestações epi- dados geofísicos e imagens ASTER aplicados à in-
zonais da suíte podem apresentar potencial para terpretação geológica e prospecção mineral na Pro-
hospedar ou participar da formação de minerali- víncia Aurífera de Alta Floresta, MT. Instituto de
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340
faixas Neoproterozoicas

ESBOÇO TECTONO-GEOLÓGICO DAS FAIXAS


NEOPROTEROZOICAS DO BRASIL
Edilton José dos Santos et al.

METALOGÊNESE DAS PORÇÕES NORTE E CENTRAL DA PROVÍNCIA


BORBOREMA
EDILTON JOSÉ DOS SANTOS1, JOÃO ADAUTO DE SOUZA NETO1,2,
MARCELO REIS RODRIGUES DA SILVA1,2, HARTMUT BEURLEN1,
JOSÉ ADILSON DIAS CAVALCANTI3 , MARIA DA GLÓRIA DA SILVA1,4,
VILSON MARQUES DIAS5, ÁDILA FERREIRA COSTA4
LAURO CÉZAR MONTEFALCO DE LIRA SANTOS2, 6 & ROBERTO BATISTA SANTOS3

1 Serviço Geológico do Brasil/CPRM


2. Departamento de Geologia, Centro de Tecnologia e Geociências, UFPE
3. Programa de Pós-graduação em Geociências, UFPE
4. Departamento de Geologia, Universidade Federal da Bahia, UFBA
5. Mineração Global Mining Exploration
6. Programa de Pós-graduação em Geociências, UnB

INTRODUÇÃO mosaico crustal que forma essa província neopro-


terozoica brasileira.
As hipóteses iniciais sobre o relacionamento
entre diferentes classes de depósitos minerais e O ARCABOUÇO TECTÔNICO GERAL DA PROVÍN-
o ambiente tectônico foram estabelecidas nos anos CIA BORBOREMA
80 (e.g. Mitchell & Garson 1981), levando em con-
sideração jazimentos do Fanerozoico. Atualmen- A Província Borborema é uma das principais fai-
te, é aceito que o regime de tectônica de placas xas móveis neoproterozoicas brasileiras, situan-
atua desde 3,8 Ga, o qual se alterna com perío- do-se na porção extremo-nordeste do País e ocu-
dos de mais intensa atividade de plumas, cada um pando uma área de aproximadamente 450.000 Km2
desses regimes sendo reponsável por uma diver- (Brito Neves 1975). De acordo com investigações
sidade metalogenética compatível com a evolução recentes, a Província pode ser definida como par-
geodinâmica da Terra. Por outro lado, o avanço te da colagem neoproterozoica do Gondwana Oci-
dos métodos analíticos e experimentais tem per- dental, correspondendo à colisão de um complexo
mitido delinear melhor os processos de concen- sistema orogênico situado entre os crátons São
tração dos minérios ao longo do tempo e, com isto, Luís-Oeste África e São Francisco-Congo (Van Sch-
estabelecer o princípio da variação secular em mus et al. 1995; Santos 1996; Brito Neves et al.
geologia econômica (Kerrich et al 2005; De Wit & 2000). Neste trabalho é adotada a subdivisão de
Thiart 2005; Robb 2005). Santos et al. (2000) e Brito Neves et al. (2000)
O presente capítulo esboça a metalogenia da que reconhecem as seguintes subprovíncias: Mé-
Província Borborema num contexto tectonoestra- dio Coreaú, Ceará Central, Rio Grande do Norte,
tigráfico e temporal, dentro da moderna concep- Transversal e Meridional. Essas subprovíncias são
ção da variação secular da concentração dos de- separadas pelo lineamento Transbrasiliano, zona
pósitos minerais. A figura 1 mostra as subdivisões de cisalhamento Senador Pompeu, Lineamento Pa-
tectonoestratigráficas da Provínica Borborema e tos e Lineamento Pernambuco (Fig. 1).
a localização dos depósitos minerais estudados As subprovíncias ao norte do Lineamento Pa-
no presente capítulo. O texto considera a distri- tos (também chamada de Subprovíncia Setentrio-
buição temporal dos depósitos minerais, mas pro- nal) possuem em comum um amplo substrato ar-
cura mostrar, também, as diferenças de cenários queano-paleoproterozoico e uma cobertura me-
metalogenéticos existentes entre os diversos do- tassedimentar ou metavulcanossedimentar edia-
mínios, de modo a realçar a heterogeneidade da carana, todo o conjunto tendo sido deformado pela
colagem tectonoestaratigráfica que deu origem ao orogênese Brasiliana. A subprovíncia Médio Core-

343
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Porções norte e central da Província Borborema

344
Edilton José dos Santos et al.

Figura 1 - Subdivisão geotectônica da Província Borborema e as mineralizações das partes norte e central
descritas no presente capítulo. Siglas dos domínios geotectônicos: SMC: subprovíncia Médio Coreaú; SCC:
Subprovíncia Ceará Central; SRN: Subprovíncia Rio Grande do Norte; STR: Subprovíncia Transversal; SME:
Subprovíncia Meridional.

aú situa-se entre o terreno granulítico riaciano tra de metatonalito do Unidade Pedra Branca; e
Granja (formado por um evento acrescionário de pelos terrenos acrescionários paleoproterozoicos
2,35 Ga), a oeste, e o Lineamento Transbrasilia- que englobam o Complexo Madalena-Algodões-
no, a leste. Compreende um cinturão metamórfico Choró (Castro 2004), constituído por associações
de baixo grau, que inclui a faixa metavulcanosse- de ortognaisses, rochas metavulcano-sedimenta-
dimentar criogeniana Martinópole, o bloco paleo- res, metassedimentares e núcleos gnáissico-mig-
proterozoico Tucunduba e a faixa metassedimen- matíticos, com idades U-Pb em zircão no intervalo
tar ediacarana-cambriana Ubajara-Jaibaras. O entre 2236 Ma e 2056 Ma (Fetter 1999, Martins
evento orogênico Brasiliano que fechou o cintu- 2000, Castro 2004) e o Complexo Canindé do Ce-
rão está calibrado pela intrusão dos granitos de ará, composto por migmatitos evoluídos e ortog-
Mucambo e Meruoca e pela deposição da seqüên- naisses com idades Pb-Pb no intervalo entre 2130
cia vulcanossedimentar pós-orogênica Jaibaras, no Ma e 2098 Ma (Torres et al. 2008).
intervalo entre 650-535 Ma. A porção do orógeno neoproterozoico é repre-
A Subprovíncia Ceará Central compreende uma sentada principalmente por: i) uma seqüência
fold and thrust belt de alta pressão, com paragê- metassedimentar neoproterozoica do Complexo
neses que atingiram o fácies eclogito, situada en- Ceará (Cavalcante et al.2003, Castro 2004, Ar-
tre o Lineamento Transbrasiliano, a NW, e a zona thaud 2008) com idades U-Pb convencionais en-
de cisalhamento Senador Pompeu, a SE. Em ter- tre 740 Ma e 634 Ma, interpretadas como origina-
mos tectonoestratigráficos pode ser compartimen- das a partir de depósitos de margem passiva (Cas-
tado em dois domínios: um arqueano–paleopro- tro 2004); ii) o complexo granítico-gnáissico-mig-
terozóico e outro orogênico neoproterozóico. O matítico neoproterozoico Tamboril-Santa Quitéria
domínio arqueano-paleoproterozoico Troia-Pedra (Campos et al.1979), datado pelo método U-Pb,
Branca é representado pelo Complexo Cruzeta com idades no intervalo entre 657 Ma – 591 Ma
(Oliveira & Cavalcante 1993), cuja idade mais an- (Fetter et al.2003, Castro 2004); iii) granitoides
tiga encontrada foi de 3270 Ma (U-Pb em zircão, neoproterozoicos/cambrianos, incluindo stocks de
segundo Silva et al.2002), obtida em uma amos- granitoides anorogênicos (ex: Suíte Taperuaba),

345
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Porções norte e central da Província Borborema

datados pelo método U-Pb em 460Ma (Castro ranas. As faixas tonianas se desenvolveram du-
et al.2008); iv) molassas paleozoicas associa- rante o período de 995 a 920 Ma e caracterizam o
das às megatranscorrências brasilianas. evento tectônico Cariris Velhos. O evento seguin-
A Subprovíncia Rio Grande do Norte inclui dois te, Brasiliano, gerou as bacias ediacaranas e re-
grandes cinturões de cisalhamento transcorren- deformou as bacias tonianas e os terrenos pré-
tes, Orós-Jaguaribe e Seridó. O domínio ou fai- tonianos, no intervalo entre 650 e 520 Ma.
xa Orós-Jaguaribe representa um rifte estateri- A Subprovíncia Transversal representa um me-
ano e abrange várias faixas/bacias vulcanos- gacinturão transcorrente com terrenos paleopro-
sedimentares e granitoides anorogênicos, que terozoicos, tonianos e ediacaranos trasladados
se alternam entre horsts gnássico-migmatíticos para oeste através de uma rede de zonas de ci-
do embasamento orosiriano. O domínio foi de- salhamento E-W e NE-SW, a partir do Lineamento
formado por transpressão e metamorfismo du- Pernambuco. Por esse motivo, os terrenos formam
rante o evento Brasiliano. alóctones típicos de um ambiente de dispersão
O domínio Rio Piranhas separa a faixa Orós- tectônica, sem um arranjo orogênico organizado.
Jaguaribe da faixa Seridó, sendo formado pela Distingue-se: (i) o Terreno Alto Moxotó, formado
trama paleoproterozoica do Complexo Caicó, por por gnaisses de alto grau e pequenas intrusivas
ortognaisses intrusivos da Suíte Poço da Cruz máficas-ultramáficas paleoproterozoicas; (ii) o ter-
e por raras supracrustais metassedimentares. reno Rio Capibaribe, que inclui também terrenos
O Complexo Caicó é formado por ortognaisses paleoproterozoicos e um conjunto de metassupra-
félsicos e máficos, com padrões geoquímicos de crustais de organização complexa, envolvendo uma
arco magmático, representando um episódio estreita faixa toniana e metassupracrustais de
acrescionário orosiriano. A Suíte Poço da Cruz idades desconhecidas; intrusivas anorogênicas
é cosntituida por ortognaisses graníticos de restritas foram descritas no Estateriano (comple-
tipo-A e foram datados recentemente por U-Pb xo gabro-anortosítico Passira) e no Calimiano (me-
SHRIMP em zircão com idades em torno entre tagranitoide de tipo-A Serra de Taquaritinga); (iii)
2,0 e 1,7 Ga (Hollanda et al. 2008). A Faixa Se- um terreno composto toniano-ediacarano, forma-
ridó constitui o cinturão metassedimentar edia- do pelo Terreno Alto Pajeú (Cariris Velhos) e pela
carano do Grupo Seridó, no qual se reconhe- faixa Piancó-Alto Brígida (Brasiliana). O terreno Alto
cem: (i) uma unidade metavulcanossedimentar Pajeú representa a área-tipo do evento Cariris
(Formação Serra dos Quintos); uma unidade Velhos, sendo formado por uma seqüência meta-
metapelítica-carbonática plataformal (Formação vulcanossedimentar e granitoides, gerados em um
Jucurutu); (iii) uma unidade de quartzitos e ambiente de arco magmático ou de rifte, de acor-
metaconglomerados (Formação Equador); e (iv) do com a interpretação de distintos autores. A
um pacote de xistos de natureza turbidítica (For- Faixa Piancó-Alto Brígida é formada principalmen-
mação Seridó). Os terrenos Granjeiro e São José te por metassedimentos siliciclásticos, metaturbi-
do Campestre são compartimentos tectônicos díticos, e por uma restrita seção metaconglome-
de idade arqueana-paleoproterozoica, os quais rática (supostamente metadiamictitos). No extre-
limitam a faixa Seridó a leste e a sul. O terreno mo-oeste dessa subprovíncia, distingue-se ainda
São José do Campestre possui o mais antigo o terreno Araripina (chamado anteriormente de
núcleo arqueano da América do Sul, sendo em Ouricuri-Trindade, por Santos et al. 2000), forma-
grande parte formado essencialmente por as- do principalmente por rochas gnáissico-migmatíti-
sociações do tipo TTG. O Grupo Seridó foi defor- cas e que pode representar a continuidade do ter-
mado e metamorfizado na fácies anfibolito pelo reno Granjeiro no âmbito da Subprovíncia Trans-
evento transcorrente Brasiliano e penetrado por versal. Com exceção do terreno Alto Moxotó, os
numerosos granitos e pegmatitos. terrenos da Provínicia Transversal são penetrados
Diferentemente das subprovíncias anterio- por uma importante província granítica brasiliana,
res, a evolução das subprovíncias Transversal incluindo tipos calcialcalinos normais ou ricos em K
e Meridional associa-se à fragmentação de um (650-600 Ma), peralcalinos e ultrapotássicos (590-
continente paleoproterozoico no início do Neo- 570 Ma) e de tipo-A (540-520 Ma).
proterozoico, formando-se inicialmente bacias A Subprovíncia Meridional compreende um cin-
tonianas e, subsequentemente, bacias ediaca- turão contracional metavulcanossedimentar toni-

346
Edilton José dos Santos et al.

ano-ediacarano, desenvolvido entre um terreno é representado pelos domínios Paulistana, Riacho


arqueano-paleoproterozoico interno e o Cráton do Seco, Rio Coruripe e a parte norte do terreno Per-
São Francisco, que compreende as faixas Sergi- nambuco-Alagoas (domínio Água Branca de Silva
pana e Riacho do Pontal. A faixa Sergipana é for- Filho 1999). Granitos brasilianos cortam os domí-
mada por vários alóctones contracionais, empilha- nios internos da faixa e o Terreno Pernambuco-
dos de norte para sul sobre a margem norte do Alagoas, balizando a orogênese brasiliana entre
Cráton do São Francisco, distinguindo-se os do- 640 e 570 Ma.
mínios metassedimentares ediacaranos Estância, Na Subprovíncia Setentrional, os núcleos arque-
Vaza-Barris e Macururé e o arco magmático tonia- anos constituem embriões de crescimento conti-
no Poço Redondo-Marancó-Canindé. O domínio nental, ampliado consideravelmente durante o
Macururé e o domínio toniano-ediacarano são pe- Paleoproterozoico, os quais em conjunto forma-
netrados por vários plútons graníticos brasilianos. ram extensos maciços, definitivamente estabiliza-
O arco magmático interno formou-se entre 979 e dos no Orosiriano, durante a amalgamação do
952 Ma, sendo, portanto, do evento Cariris Velhos. supercontinente Atlantica. Uma tentativa de frag-
Os valores de εNd(t 950Ma) são consistentes com uma mentação, abortada, da placa arqueana-paleopro-
mistura de fundidos juvenis Cariris Velhos com uma terozoica ocorreu no Estateriano, dando origem
crosta continental paleoproterozoica. O Grupo ao rifte Orós-Jaguaribe e uma restrita “bacia”, pre-
Macururé contem zircões detríticos com idades no servada no domínio neoproterozoico-cambriano
intervalo de 1.100 a 980 Ma, sugerindo que o ter- Ubajara-Jaibaras.
reno toniano forneceu detritos para a sedimenta- Como ocorre em todo mundo, os éons arquea-
ção ediacarana. A parte sul do terreno Pernambu- no e paleoproterozoico são caracterizados, prin-
co-Alagoas, domínio Garanhuns (Silva Filho et al. cipalmente, por terrenos juvenis, sendo o limite
1999), é caracterizada por ortognaisses e metas- entre os dois marcado por abundante magmatis-
supracrustais pertences aos complexos Belém do mo máfico-ultramáfico de origem distensional. O
São Francisco e Cabrobó, de provável idade toni- núcleo arqueano de Granjeiro é rico em pequenos
ana. São cortados por granitos ediacaranos, com depósitos de Ni, Cu, talco, asbesto e vermiculita
idades modelos TDM Sm-Nd entre 1,1 e 0.9 Ga, o hospedados em rochas metamáficas-ultramáficas,
que confirma datações Rb-Sr e idades modelos mas é o núcleo de Troia-Pedra Branca que possui
obtidas nessas unidades em sua área tipo, na re- o mais significativo depósito dessa época: o de-
gião de Belém do São Franscisco. pósito de cromita e elementos do grupo da plati-
A faixa Riacho do Pontal possui uma organiza- na de Troia em complexo acamadado, que será
ção tectônica similar à faixa Sergipana, com alóc- descrito adiante.
tones contracionais empurrados para o sul, sobre Os terrenos riacianos-orosirianos de Granja,
o bloco arqueano de Gavião, do Cráton do São Madalena-Algodões-Choró, Granjeiro, Ouricuri-Trin-
Francisco. O domínio ediacarano externo corres- dade, Alto Moxotó e bloco de Carpina (subdivisão
ponde ao terreno Casa Nova, enquanto que o do terreno Rio Capibaribe) são moderadamente
domínio toniano-ediacarano inclui os terrenos Brejo afetados pelo magmatismo brasiliano e, por isso,
Seco e Monte Orebe, que são faixas vulcanosse- possuem alguns jazimentos paleopoterozoicos
dimentares e intrusivas máficas-ultramáficas, sen- melhor preservados, sobretudo depósitos de Fe
do a mais expressiva a intrusão máfica-ultramáfi- tipo Lago Superior e IOCG. Incluem também de-
ca de Brejo Seco. Os dados geocronológicos são pósitos metassedimentares e supergênicos de Mn
limitados, mas uma rocha metagranitoide na par- presentes em rochas granulíticas do cinturão Ma-
te interna da faixa foi datado por U-Pb TIMS em dalena-Algodões-Choró.
zircão, fornecendo uma idade de 960 Ma, sugerin- Depósitos de Fe-Ti com ou sem V, Cr, Cu ocor-
do que os terrenos internos da faixa sejam do rem em faixa de alta pressão toniana, cujo meta-
evento Cariris Velhos. O plutonismo granítico edi- morfismo afeta também terrenos orosirianos e
acarano afeta todos os compartimentos, sendo estaterianos, exibindo diferentes cenários tectô-
representado por granitoides peraluminosos, gra- nicos e metalogenéticos.
nitos alcalinos e uma intrusiva piroxenítica alcali- Os depósitos minerais neoproterozoicos estão
na, mineralizada em vermiculita. relacionados à evolução do supercontinente Gon-
O terreno arqueano-paleoproterozoico interno dwana, consolidado no Ediacarano através da oro-

347
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Porções norte e central da Província Borborema

gênese Panafricana-Brasiliana. Por essa época unidade máfica/ultramáfica Troia (TU); (2) unida-
ocorreu em todo o mundo o desenvolvimento de de cálci-sódica Pedra Branca (PBU); e (3) a unida-
grandes bacias interiores com constante e homo- de gnáissica sodi-potássica Mombaça (UM; CPRM
gênea cobertura marinha rasa fluvial e red bed de 2008). O Complexo Cruzeta é um embasamento
plataforma arenito-pelito-carbonato e rede de fai- policíclico (Arthaud et al. 2008), que inclui o maciço
xas móveis intra e periplataformal. São registra- arqueano Troia-Pedra Branca (idades Sm-Nd de
dos indubitáveis ofiolitos, vulcânicas-plutônicas de 2,7-3,0 Ga, Fetter 1999). A unidade TU, em parti-
arco magmático e uma superabundância de dia- cular, é caracterizada por uma importante sequ-
mictitos glaciais no final da era (Goodwin 2005). ência máfica-ultramáfica acamadada rica em EGP.
Na Província Borborema destacam-se os BIFs A unidade TU é composta por uma associação de
do tipo Rapitan, cujo relacionamento com depósi- rochas metamáficas-ultramáficas, que inclui meta-
tos glaciais nem sempre é evidente. Distingue-se gabros, metapiroxenitos, metabasaltos amolfada-
um único depósito de Cu metassedimentar na sub- dos, anfibolitos, quartzitos, metassedimentos (com
província Médio Coreaú. A maior parte dos jazi- sulfetos e manganês), mármores e grafita xistos.
mentos, porém, está ligada a um expressivo mag-
matismo félsico sin a pós-orogênico, com desta- ROCHAS HOSPEDEIRAS E PRINCIPAIS CORPOS DE
que para as províncias metalogenéticas pegmatí- MINÉRIO
tica e de skarns polimetálicos da faixa Seridó. Mi-
neralizações de ouro orogênico, U-P-ETR metas- O principal corpo mineralizado é o sill máfico-
somáticos e Cu-Fe (IOCG) completam o cenário ultramáfico de Esbarro, que possui características
metalogenético do Neoproterozoico. de depósito estratiforme, apesar da sua pequena
diferenciação e restrito e incompleto acamadamen-
MINERALIZAÇÕES NO ARQUEANO E PALEOPRO- to. O sill de Esbarro apresenta três unidades e
TEROZOICO tem sido interpretado como resultante de um pro-
cesso de diferenciação magmática progressiva,
Complexo Acamadado com Cromita e Elemen- começando com o membro dunito-peridotítico que
tos do Grupo da Platina de Tróia fraciona para piroxenito e hornblenda gabro.
Essas rochas foram metamorfizadas e transfor-
Esse depósito é encontrado no domínio Troia- madas em clorita xisto, talco-tremolita-actinolita
Pedra Branca, formado pelo Complexo Cruzeta, o xisto, talco-serpentina xisto, serpentinito e anto-
qual está estratigraficamente dividido (da base filita xisto. Grãos de olivina e ortopiroxênio reliqui-
para o topo) nas seguintes unidades (Fig. 2): (1) ares são ocasionalmente observados. Os cromiti-

Figura 2 - Mapa geológico da região de Troia-Pedra Branca, mostrando o corpo máfico-ultramáfico


acamadado de Troia, mineralizado em Cr-Ni-Pt-Pd (segundo Barrueto & Hunt 2010).

348
Edilton José dos Santos et al.

tos ocorrem como lentes no dunito-peridotito, sen- ção pós-magmática, cujos produtos são identifi-
do que os de maior potencial estendem-se por 30 cados ao microscópio e através do SEM. Os mine-
m, com espessura média de 1,4 m. No entanto, as rais do grupo da platina ocorrem como ligas, bis-
lentes podem ser seguidas por 1,2 km, ao longo mutidos e teluridos e como sulfeto rico em platina,
de suas direções. Esses níveis mineralizados são a esperrilita, contida nas cromitas, conforme já des-
horizontes cumuláticos com uma média de 55 a crito por Angeli (2005). Remobilização tardia de
65% de cromita. São esses níveis de minério onde EGP está associada com a nucleação de magneti-
se ncontram as concentrações de minerais do gru- ta e clorita
po da platina.
MINERAIS DO GRUPO DA PLATINA
CARACTERÍSTICAS DO MINERAL MINÉRIO
Segundo Angeli (2005), altos teores de mine-
De acordo com Barrueto & Hunt (2010) os hori- rais do grupo da platina, acima de 4 ppm, foram
zontes de cromitito variam de 30 cm a 3 m em encontrados nas cromitas e também dissemina-
espessura e ocorrem em um fácies transicional dos na matriz silicática do minério, onde ocorre
clássico de complexos acamadados. A cromita ocor- PtAs2 (esperrilita), formando pequenas inclusões
re como grãos euedrais octaedrais que variam de (15 a 40 μm) na cromita e na matriz rica em clorita
0,3 mm a 1 mm, em uma matriz secundária de clo- (Cr-clorita) (Fig. 3). Os cristais são quase esféri-
rita foliada ou tremolita de granulação fina. Essas cos e compostos.
rochas cumuláticas ricas em cromita são fortemen- A kammererita (Cr-clorita) foi encontrada nas
te associadas com os mais altos teores de EGP. bordas dos grãos alterados e na matriz silicática
Esse facies óxido também aparece como uma fase e possui uma orientação cristalográfica preferen-
intercumulática entre os principais minerais silicá- cial da matriz da ferricromita, orientada paralela
ticos e suas feições de cristalização demonstram aos planos {111}. Esperrilita é o mais importante
condições independentes da nucleação dos sili- mineral encontrado. Localmente os cristais contêm
catos (caminho de cristalização não cotética com acima de 1,5% de Ir, 2% de Fe e 3% de S, consis-
os maiores cristais de silicatos). tente com a substituição de (Ir,Fe)AsS for PtAs2.
Os EGP são hospedados por camadas de cro- Um único grão de hollingworthita (Rh,Pd,Pt,Ru)AsS
mitito, cromita dispersa em rochas ultramáficas e foi identificado na matriz, o qual contem mais de
por fases sulfetadas remobilizadas, que são liga- 9% Pd, 4% Pt e 2% Ru, exibindo um zoneamento
das a produtos de alteração do protominério ul- com uma borda rica em Pt, compatível com a subs-
tramáfico magnético rico em clorita. As relações tituição de PtAs2 por (Rh,Pd)AsS. Pequenos frag-
texturais da cromita com os silicáticos indicam que mentos de braggita de composição (Pt,Pd,Ni)S fo-
eles não cristalizaram exclusivamente sob condi- ram também identificados. A maioria dos EGP en-
ções cotéticas com os maiores cristais dos cumu- contram-se dispersos na matriz silicática, associ-
latos, atestando a presença de um líquido inter- ada à proeminente clivagem da clorita; alguns
cumulático associado. Pt, Pd, Cu, Ni, Ba e Sr tam- poucos cristais aparecem como inclusões nos grãos
bém mostram os efeitos de um fluido de altera- de cromita.

Figura 3 - Cristais de esperrilita em cromitito de Troia: (a) e (b). Compilado de Angeli (2005).

349
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Porções norte e central da Província Borborema

ALTERAÇÕES RELACIONADAS AO METAMORFISMO liação de plano axial S2, o que pode ser demons-
trado geoquimicamente tanto a nível microscópi-
Segundo Angeli (2005), os efeitos do metamor- co, quanto em escala regional.
fismo aumentam o Fe3+ às custas do Al e Fe2+, os EGP estão associados com sulfetos ricos em Ru,
quais são perdidos para as bordas dos cristais ou Te e Bi e ligas de Pt-Pd-Ru. Esses minerais estão
para minerais da matriz e tendem a reduzir o con- inclusos ou acoplados a uma cromita tectonizada.
teúdo de EGP. Isso mostra a importância dos pro- Horizontes de sulfetos ricos em pentlandita, con-
cessos de serpentinização produzido pelo decrés- tendo mais de 2,5% Ni, também ocorrem no inte-
cimo da temperatura, pressão e a ação da água e rior das ultramáficas acamadadas. Essas rochas
do dióxido de carbono. contêm pouca Pt e Pd. O teor de Cu nesses sulfe-
Durante um evento metamórfico, mudanças quí- tos maciços é variável devido a remobilizações lo-
micas e texturais/estruturais ocorrem nos grãos cais que ocorrem relacionados a uma tardia venu-
de cromita (zoneamento mineral). Os cristais des- lação de calcopirita.
se mineral usualmente têm um núcleo de cromita
aluminosa e uma ampla borda de cromita ferrífe- CONCLUSÕES
ra. A variação na composição, texturas, tamanho
e formas dos cristais estão associados com a ser- Sumarizando, a cromita “primária” está direta-
pentinação e a deformação das rochas ultramáfi- mente associada com um líquido intercumulático.
cas. Há cristais de Cr-espinélio no cromitito que A variação do conteúdo de cromita sugere a atua-
parecem ser remanescentes dos minerais do peri- ção de múltipos pulsos deste fundido residual e
dotito original. Os cristais de Cr-espinélio usual- possíveis processos físicos nos últimos estágios
mente têm três zonas: um núcleo cinza escuro, da cristalização magmática, tais como filter pres-
uma zona cinza intermediária e borda cinza clara. sing. Os EGP também ocorrem em associação com
Fraturas ocorrem frequentemente. O núcleo do sulfetos magmáticos (primários), asssim como em
cristal contem alto conteúdo de Cr2O3 e Al2O3; a minerais sulfetados remobilizados de ambientes
zona intermediária mostra um crescimento de Fet pós-magmáticos.
(com Fe2+ > Fe3+) e decréscimo de Al2O3 e MgO
(transição de Cr-espinélio para ferricromita); a zona Mineralizações de Ferro Assosciadas a Sulfetos
externa é rica em Fe (principalmente Fe3+) e pobre em Rochas Metamáfico-Ultramáficas (Tipo
em Cr (a zona da magnetita). IOCG)

GEOQUÍMICA Mineralizações de ferro, associadas frequente-


mente a sulfetos, estão presentes em rochas me-
Testemunhos de sondagem de camadas de cro- tamáficas-ultramáficas nos terrenos paleoprotero-
mitito na unidade TU contêm mais de 5% de Cr, 8 zoicos da Província. Essas mineralizações estão
ppm de Pt e 21 ppm de Pd. As razões Pt:Pd obser- relacionadas, portanto, a sua história pré-tonia-
vadas são variadas, alinhando de 0,29 a 1,9. na, contidas, principalmente, no embasamento ou
Quando normalizadas para o manto primitivo, em alóctones dispersos que foram amalgamados
muitos cromititos são mais ricos em Au, Cu, Zn e V a partir do Toniano. Ocorrências de pequeno por-
do que as rochas hospedeiras. As variações de Ti, te com sulfetos de Cu associado aparecem em
Al e Cr dentro da cromita sugerem ambientes di- skarns de protólito máfico-ultramáfico em Itatu-
versos de formação. ba, no terreno Alto Moxotó (TAM), mas o principal
Além dos cromititos primários, expressivos va- depósito é representado pela recém descoberta
lores de EGP ocorrem como resultado da distribui- mineralização de ferro e sulfetos associados na
ção e enriquecimento por processos estruturais/ região de Curral Novo, Estado do Piaui, no âmbito
metassomáticos, em resposta ao cisalhamento do terreno Ouricuri-Trindade, descrito a seguir.
transcorrente sinistral regional. Cu, Ni, Sr e P tam- No terreno Ouricuru-Trindade ou Araripina (San-
bém foram remobilizados estruturalmente, junto tos 2000, Oliveira 2009), extremo oeste do Domí-
com EGP. Muitas ocorrências de feixes de mine- nio Transversal da Província Borborema, encon-
ralização de direção NE-SW, concordantes com a tram-se importantes depósitos de ferro, com sul-
lineação de estiramento desenvolveram-se na fo- fetos associados, controlados pela zona de cisa-

350
Edilton José dos Santos et al.

lhamento dextral Itaizinho-Baixio e seus ramos ESTUDOS PETROGRÁFICOS E MINERALÓGICOS


sintéticos. O minério ocorre ao longo de aproxi-
madamente 30 km nessa estrutura, em uma área Estudos petrográficos e de química mineral
que engloba terrenos dos municípios de Curral mostram que as rochas encaixantes imediatas do
Novo do Piauí, Simões e Paulistana. São conheci- minério tectono-controlado são hidrotermalitos,
dos cerca de 19 exposições de minério de ferro, gerados a partir de protólitos máficos anfibolitiza-
sendo que a mais expressiva delas situa-se na dos (metagabro e metabasalto), ricos em anfibóli-
região de Monte Santo e está sendo alvo de pes- os cálcicos (magnésio-hornblenda, com transfor-
quisa detalhada atualmente (Fig. 4). mações de borda para ferro hornblenda e ferro-
tschermakitas e também actinolitas), biotita, albi-
ROCHAS ENCAIXANTES ta, carbonato, granada, calcita, turmalina, titani-
ta, apatita, zirconita e allanita.
As encaixantes imediatas são rochas metaba-
sálticas e metagabroicas, pertencentes ao Com- ALTERAÇÃO HIDROTERMAL
plexo Granjeiro, de provável idade arqueana, que
se encontra intrudida por vários granitoides ricos Os aspectos texturais e mineralógicos dos hi-
em potássio. drotermalitos revelam processos de metassoma-
tismo sódico, cálcico e ferro-potássico, pela ação
TIPOS DE MINÉRIO de fluidos hidrotermais, tardi- a pós-deformação.
No nível atual de exposição do terreno, a ferro-
Dois tipos de minério de ferro são observados potassificação é o processo predominante e ca-
na área: racteriza-se pelo desenvolvimento expressivo de
(1) Formações ferríferas bandadas, fácies óxi- biotita (alcançando às vezes percentuais acima de
do (tipo Algoma), constituídas por magnetita (por 50% da rocha) e magnetita. A química mineral
vezes martitizada), quartzo e ferro-anfibólios mostra que essa magnetita é pura, com teores de
(grunnerita/cummingtonita), evidenciando que Ti e V abaixo do limite detecção, típicos de magne-
essas rochas foram submetidas a metamorfismo titas hidrotermais.
de fácies anfibolito; Associados aos hidrotermalitos, nas zonas mais
(2) Minério de ferro tectono-controlado, tipo ricas em minério de ferro, observam-se sulfetos
IOCG, constituído predominantemente por mag- (calcopirita, pirita, pirrotita, com menores percen-
netita, finamente disseminada, porfiroblástica, in- tuais de esfalerita). Os sulfetos são hidrotermais
jetada nos planos de foliação da rocha, em ban- e claramente tardios em relação aos óxidos de
das, formando bolsões, em zonas de brechação, ferro. Em geral observa-se que, comparativamen-
dentre outras formas. Trata-se de um minério niti- te aos metagabros e metabasaltos, os hidroter-
damente associado a processos hidrotermais sin- malitos foram enriquecidos em Si, K, Fe, ETRL, Th,
e pós-deformacionais. Ta, U, Zr, Y, Cu, Zn, B, dentre outros.

Figura 4 - Aspectos do minério de ferro de Curral Novo (PI), em afloramento (a) e em furo de sondagem (b).
Fotos gentilmente cedidas pela empresa GME4.

351
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Porções norte e central da Província Borborema

TEORES E RESERVAS (Souza & Ribeiro Filho 1983). Os corpos lenticula-


res do protominério de manganês são gonditos
A GME4 (Global Mining Exploration), empresa que silicáticos, com espessura variando de 10 cm a 3,5
detém os direitos minerários da área, vem reali- m. São rochas formadas por quartzo (~20%), es-
zando trabalhos de exploração, prospecção e pes- pessartita (~75%), rodonita (<2%), manganocu-
quisa mineral em vários alvos nesse trend estru- mingtonita (<2%), pirita e pirrotita.
tural, com destaque para o Alvo Massapê-Manga
Velha, no qual os trabalhos de detalhe permitiram TIPOS TEXTURAIS DE MINÉRIO
estimar recursos potenciais acima de 800 Mt, com
teores variando entre 15 e 43% de Fe. De acordo Souza & Ribeiro Filho (1983) distinguiram as
com os relatórios internos da GME4, valores anô- seguintes texturas no minério deste distrito man-
malos de ouro têm sido encontrados associados ganesífero: (1) reliquiar formada por cristais de
ao minério de ferro hidrotermal. espessartita alterados ou substituídos por áMnO2
e hidrossilicatos de Fe; (2) zonada, na qual cris-
ASPECTOS GENÉTICOS tais alterados de espssartita são zonados com
goethita e criptomelana; (3) pós-deposicional “em
O contexto geológico no qual as mineralizações retalhos”, onde partículas de quartzo englobadas
se encontram, somado ao conjunto de feições tex- por cristais de pirolusita pseudomorfizada para
turais, mineralógicas e químicas descritas, permi- groutita e/ou manganita; (4) pós-deposicional,
te que se levante a hipótese de que os depósitos onde aparece litioforita associada à espessartita,
de ferro tectono-controlados com sulfetos associ- a qual ocorre alterada para pirolusita; (5) colofor-
ados da região de Cural Novo (Piauí) pertençam, me, presente em minerais supergenéticos de man-
geneticamente, à categoria dos depósitos do tipo ganês, sílica e óxido de ferro.
Fe-Cu-Au (IOCG). Embora ainda não existam da-
dos geocronológicos e de inclusões fluidas, as re- GÊNESE
lações de campo sugerem que os fluidos hidroter-
mais geradores dessas mineralizações sejam Os sedimentos originais, que foram intemperi-
oriundos dos granitoides alcalinos neoproterozoi- zados, foram depositados em uma bacia restrita,
cos, tardi- a pós-orogênicos, que ocorrem na área. com condições redutoras, e submetidas a duas
fases de metamorfismo. Processos de intemperis-
Depósitos Metassedimentares supergênicos de mo alteraram o protominério, dando origem ao
Manganês minério formado por uma mistura de óxidos de Mn,
representados por litioforita, pirolusita, litiofilita,
SITUAÇÃO GEOLÓGICA magano-nsutita e αMnO2. Texturas deposicionais
e pós-deposicionais demonstram que o minério se
As rochas encaixantes dessa faixa mineraliza- formou por substituição e preenchimento de cavi-
da fazem parte do Complexo Canindé do Ceará, dades. Os minerais de manganês foram formados
Unidade Canindé, de idade orosiriana, o qual é na seguinte sequência: espessartita, litioforita e/
caracterítico do cinturão Madalena-Algodões-Choró ou criptomelano, manganita, pirolusita e manga-
(Cavalcante 2003). Essas rochas foram metamor- no-nsutita.
fizadas no fácies granulito durante o Paleoprote-
rozoico e, em seguida, retrabalhadas e retrome- RESERVAS E TEORES
tamorfizadas junto com sua cobertura no fácies
anfibolito, durante o Neoproterozoico. O protominério do distrito manganesífero pode
ser classificado em 3 tipos: (1) protominério sem
DIMENSÕES alteração ou pouco alterado, com teores entre 1
e 13% de Mn; (2) protominério com alteração de
A faixa manganesífera Aracoiaba-Pacajus ocor- transição para o minério, com teores entre 13 e
re em uma extensão de 60 km por 15 km de largu- 18%; (3) protominério alterado ou minério, com
ra, intercalada em gnaisses, migmatitos, granuli- teores entre 18 e 39%. As reservas globais atin-
tos, granada-sillimanita quartzitos e metabasitos gem 3.500.000t. O tipo 3 representa 50% do to-

352
Edilton José dos Santos et al.

tal das reservas, enquanto o tipo 2 constitui cerca depósitos. As idéias mais antigas atribuem sua
de 22%, os quais considerados em conjunto re- ocorrência a um trend de retroeclogitos associado
presentam 77% dos depósitos, com média de 23% a uma anomalia gravimétrica regional existente na
de Mn. O minério de Mn deste distrito é de quali- subprovíncia Transversal. No entanto a diversida-
dade inferior para a indústria, tanto siderúrgica, de de tipos paragenéticos e a descoberta de de-
quanto química-eletrolítica. No entanto, face à alta pósitos fora dessa anomalia e a nova comparti-
demanda da indústria siderúrgica na atualidade, mentação tectônica da Província (Santos 1996)
alguns desses depósitos têm sido lavrados e ex- demonstram a impropriedade dessa hipótese
portados. Segundo Beurlen et al. (1992) e Almeida et
al (1997), as rochas encaixantes dos minérios de
DEPÓSITOS DE Fe-Ti ±V±Cr±Cu EM TERRENO Fe-Ti são retroeclogitos de tipo C (Coleman et al.
METAMÓRFICO DE ALTA PRESSÃO TONIANO 1965) e testemunhariam um mecanismo de sub-
ducção de uma crosta oceânica neoproterozóica.
Quatro tipos de jazimentos podem ser distin- De acordo com esses autores, essas rochas situ-
guidos: I - jazimentos de Fe-Ti-V encaixados em am-se em rochas paleoproterozóicas, próximas ao
rochas metamáficas-ultramáficas da seqüência me- contato com o cinturão meso a neoproterozóico
tavulcanossedimentar toniana (tipo Serrote das da faixa Piancó-Alto Brígida ou Cachoeirinha. As
Pedras Pretas); II-jazimentos de Fe-Ti-V±Cr±Cu ocorrências de Barro Vermelho (Melo et al. 2002;
em complexos metamáficos-ultramáficos suposta- Melo & Beurlen 2005) e Itatuba (Almeida et al.
mente toniano (tipo fazenda Esperança); III - ja- 1997; Carmona 2006; Santos et al. 2010) também
zimentos de Fe-Ti-V encaixados rochas metamáfi- estão encaixadas em rochas paleoproterozóicas
cas-anortosíticas riacianas-orosirianas (tipo Malha- do TAM, e são consideradas por Melo & Beurlen
da Vermelha); IV - jazimentos de Fe-Ti associado (2005) e Almeida et al. (1997) toleítos de arco
a complexo gabro-anortosítico estateriano (tipo magmático e testemunhos de uma sutura paleo-
Passira). Esses depósitos foram descritos por Ho- proterozóica.
rikawa et al. (1979), Beurlen et al. (1992), Santos Interpretação distinta tem que ser considera-
(1995), Melo & Beurlen (1997), Almeida et al. da para os depósitos encaixados em rochas me-
(1996) e Carmona (2006) e serão resumidos a tavulcanossedimentares do Complexo São Caeta-
seguir. no (Santos 1995) (tipo I), situados ao norte de
Floresta, já que Santos et al. (2009) encontraram
Situação Geológica idades U-Pb em zircão (TIMs e laser ablation) nas
metassupracrustais e ortognaisses de 995 e 975
Os depósitos aqui referidos apresentam situa- Ma para essas encaixantes. Isso é confirmado
ções geológicas distintas. Com exceção dos de- pelas idades modelo TDM Sm-Nd de 1,29 Ga des-
pósitos de tipo Malhada Vermelha, a maioria dos ses retroeclogitos, que sugerem uma colocação dos
depósitos localiza-se na interface entre os terre- magmas máficos-ultramáficos no Toniano.
nos. O depósito tipo Fazenda Esperança situa-se Assim, a hipótese mais provável é de que os
em um bloco orosiriano, no contato com a faixa complexos máficos-ultramáficos de diversas ori-
ediacarana Piancó-Alto Brígida. O tipo gabro-anor- gens e idades tenham sido submetidos a um me-
tosítico estateriano de Passira ocorre na interface tamorfismo de alta pressão no Toniano, durante a
entre um bloco orosiriano e o Complexo Vertentes subducção da crosta oceânica Cariris Velhos, im-
do terreno Rio Capibaribe. Já os depósitos do tipo primindo ao conjunto paragêneses do facies eclo-
Serrote das Pedras Pretas estão encaixados em gito. Os depósitos de Fe-Ti-V deste grupo marca-
uma seqüência metavulcanossedimentar toniana riam a sutura entre os terrenos Alto Pajeú e Alto
nas proximidades da interface dos terrenos Alto Moxotó, durante a colagem do evento Cariris Ve-
Moxotó e Alto Pajeú. lhos, caracterizando um importante evento acres-
cionário no âmbito da Subprovíncia Transversal
Ambiente geodinâmico (Santos 1995). O depósito estateriano de tipo
Passira estaria localizado em um contexto diferen-
Não há um consenso com relação à gênese e o te, mas a descoberta recente de picritos com tex-
ambiente geodinâmico desse tipo heterogêneo de tura espinha de peixe com abundante magnetita

353
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Porções norte e central da Província Borborema

pode indicar a influência desse evento também no cos do domo de Baraúnas, nas formas maciça ou
terreno Rio Capibaribe. disseminada, cujo minério atinge até 24% de TiO2.
Possui uma fase sulfetada associada, formada por
Encaixantes, hospedeiras e mineral-minério pirrotita-calcopirita-pentlandita, localmente com
pirita, covelita e millerita. Os cromititos ocorrem
Os depósitos melhor conhecidos são os do Ser- apenas no setor Baraúnas, no núcleo de um domo
rote das Pedras Pretas (tipo I) e da fazenda Es- estrutural, ocorrendo em cinco camadas distintas.
pernaça (tipo II). As mineralizações de Fe-Ti-Cr- Os jazimentos titano-vanadíferos de Floresta
Cu da fazenda Esperança ocorrem como corpos incluem quatro tipos de minérios, de acordo com
lenticulares concordantes com os terrenos encai- as litologias a que estão associados:
xantes, que se estendem por uma extensão des- -minério associado ao anfibolito - pouco disse-
contínua de aproximadamente 7 km, com uma lar- minado, com teores médios em TiO2 e V2O5 em tor-
gura máxima de 140m. Essa faixa de direção NE- no de 7,90% e 0,13%, respectivamente. Compre-
SW representa o flanco NW do fragmento de Icai- ende cerca de 60% de todo o corpo mineralizado,
çara, uma exposição do embasamento da faixa constituindo, em subsuperfície, a sua parte basal;
Piancó-Alto Brígida. Segundo Horikawa et al. -minério associado às rochas clinopiroxeníticas
(1979), aparentemente, formam dois níveis para- ou antofilíticas e até olivínicas - ocorre tanto em
lelos, que podem representar um mesmo nível re- superfície como em sub-superfície;
petido por dobramento. Esses autores descrevem -minério silicoso - proveniente da alteração do
uma estrutura dômica, aparentemente revirada, metaperidotito pela substituição de seus compo-
a qual controla a ocorrência dos níveis de cromita nentes originais por sílica secundária; a ilmenita e
e ilmenita-magnetita. As hospedeiras do minério a magnetita titanífera preenchem os interstícios
são de 3 tipos: 1) eclogitos, dioritos e piroxenitos, dos antigos grãos de olivina;
em grande parte transformados em anfibolitos, -minério maciço - constituindo pequenas len-
que constitui a litologia mais abundante do com- tes de ilmenita e magnetita maçicas, (Fig. 5a) no
plexo; 2) rochas com clorita e actinolita-tremolita, contato entre os minérios disseminado e silicoso.
com frequente textura em espinha de peixe, re- Os membros metapiroxeníticos incluem dois ti-
sultantes de retrometamorfismo de picritos; 3) pos de minério maciço: (1) bandas cumuláticas de
rochas com clorita e talco de granulação grossa, espinélio Cr-Ti e 2) rede de ilmenomagnetita. O
com serpentina e clorita como acessórios, resul- espinélio Cr-titanífero possui uma composição in-
tantes do retrometamorfismo de peridotitos, as- comum, variando de ulvoespinélio (0 a 30%), mag-
sociados à mineralização de cromita. netita (10 a 60%), cromita (25 a 65%) e hercinita
A mineralização mais importante é a de il- (0 a 65%), e possui uma zonação de Cr-Mg do
menita-magnetita vanadífera, que ocorre nos flan- núcleo para a borda, a qual pode ser explicada

Figura 5 – Feições do minério de Fe-Ti (-V) dos terrenos de alta pressão da Subprovíncia Transversal: (a)
minério maciço de ilmenitito do tipo Serrote das Pedras Pretas na localidade tipo; (b) textura simplectítica no
contato de granada piroxenito com metagabro do tipo Malhada Vermelha, em Itatuba (cpx-clinopiroxênio, gn-
granada, pl-plagioclásio).

354
Edilton José dos Santos et al.

pela perda periférica de Ti durante o metamorfis- metamórfica progressiva até a facies eclogito, ca-
mo de alta pressão. librada por um pico de 13kbar/525°C, seguido por
um caminho retrógrado de razão P/T média até o
Geoquímica de Rochas fácies xisto verde. O evento final transformou es-
sas rochas máficas em anfibólio gnaisses e mig-
Segundo Beurlen et al. (1992), os diagramas matitos.
de elementos maiores dos retroeclogitos de Bo- Apesar da alta razão Ti/Fe e de alguns diagra-
docó sugerem uma natureza picrítica-toleítica su- mas geoquímicos sugerirem um ambiente intrapla-
balcalina. Com relação aos elementos menores e ca, a química dos metagabros de Fazenda Espe-
traços, os anfibolitos caem dentro ou próximos do rança e Floresta indica uma natureza toleítica-pi-
campo dos basaltos intraplaca oceânicos, cadeia crítica, oceânica, sendo o padrão de terras raras
mesoceânica e toleítos de arco de ilha, mas sem- das rochas ultramáficas compatível com o de peri-
pre distantes dos basaltos de arcos de ilha. Os dotitos de assoalho oceânico modificados. As ra-
piroxenitos mostram um comportamento inconsis- zões positivas de Co/Ni e muito alto Cu/Pd nos
tente, sugerindo modificações metassomáticas. sulfetos também sugerem uma origem oceânica.
Dados de EGP e razões Cu/Pd e Ni/Co excluem a Os autores levantam a hipótese de que essas ro-
possibilidade de complexos acamadados e en- chas máficas-ultramáficas dos minérios de Fe-Ti e/
quanto que os diagramas de terras raras demons- ou Cr da fazenda Esperança (tipo 1) possam ser
tram a não afinidade com MORB ou com basaltos ofiolitos da faixa Piancó-Alto Brígida, de idade edi-
alcalinos. No entanto, o diagrama Cr vs Y as amos- acarana, obductados no interior da crosta paleo-
tras se distribuem no campo do MORB. proterozoica.
Tal interpretação, entretanto, não pode ser
Química mineral e termometria extrapolada para os casos de Serrote das Pedras
Pretas (tipo I) e, principalmente, Barro Vermelho e
Segundo Beurlen et al. (1992), as granadas de Itatuba (tipo III), de acordo com o contexto geo-
três retroeclogitos têm composição média de lógico dessas outras ocorrências. No tipo I, os re-
10,5% de piropo, 61,4% de almandina, 28% de troeclogitos estão encaixados em rochas do Com-
grossularita e 0,1% de espessartita. Os clinopiro- plexo São Caetano, de idade toniana, cuja evolu-
xênios têm uma composição normativa de 45,7% ção está ligada ao evento Cariris Velhos, muito
de jadeíta, 4,6% de acmita, 20,9% de enstatita, distante do contato do terreno Alto Pajeú com a
4,1% de ferrossilita, e 24,8% de wollastonita. A faixa Piancó-Alto Brígida. Neste caso, idade mo-
termometria da partição Fe2/Mg entre a granada delo TDM Nd, recentemente obtida por Santos et al.
e o piroxênio, combinada com a termometria ba- (2008) de 1,29 Ga é mais compatível com a idade
seada no conteúdo da jadeíta indicam que as con- toniana dos protólitos do retroeclogito. Nos casos
dições iniciais a que essas rochas foram submeti- do tipo III (Fig. 5B), há indicações de que sejam
das teria atingido 480°C/11kbar nos núcleos e de idade orosiriana (Almeida et al. 1997).
525°C/13kbar nas bordas.
Reservas
Gênese dos retroeclogitos da Fazenda Esperan-
ça e Floresta Os depósitos e ocorrências deste grupo pos-
suem dimensões modestas, razão pela qual só
Segundo Beurlen et al. (1992), as seguintes alguns foram lavrados, mesmo assim de forma in-
condições suportam uma hipótese de que as ro- termitente. Não são conhecidos dados de reserva
chas metamáficas-ultramáficas da Fazenda Espe- do depósito da fazenda Esperança, mas Horika-
rança se tratam de eclogitos de tipo-C, de Cole- wa et al. (1979) consideraram a área antieconô-
man et al (1965): (1) o conteúdo da jadeíta nos mica, em face da falta de continuidade dos níveis
clinopiroxênios; (2) a partição do Fe/Mg entre o mineralizados. Os depósitos da distrito de Flores-
clinopiroxênio e granada; (3) a atividade da sílica ta são mais promissores, sendo a reserva estima-
na fengita e (4) conteúdo de Na nos anfibólios em da para os depósitos da Suíte Serrote das Pedras
simplectitas retrógradas dos membros gabroicos. Pretas em torno de 29 milhões de toneladas (Ve-
Os dados são consistentes com uma evolução ronese et al., 1985). De acordo com o DNPM (Dan-

355
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Porções norte e central da Província Borborema

tas 2000), as reservas medidas dos depósitos de (Fe>65%), e o taconito, com teores variando de
Floresta somam cerca de 74.918.991 t de Ti e 35 a 52% de Fe. A produção é de uma mina de
10.900 t de vanádio. O titânio apresenta uma re- pequeno porte, (896 mil toneladas), operada pela
serva indicada adicional de 2.490.000 t. Mhag Mineração que faz exportação pelo porto de
Suape (PE) usando um sistema misto de rodovia/
FORMAÇÕES FERRÍFERAS BANDADAS EDIACA- ferrovia, da mina ao porto de embarque.
RANAS (TIPO RAPITAN)
Serra da Formiga/Saquinho
As formações ferríferas bandadas ocorrem prin-
cipalmente no domínio Médio Coreaú, nas faixas A mina de Saquinho é formada por formações
Seridó e Piancó-Alto Brígida, formando depósitos ferríferas bandadas da Formação Serra dos Quin-
de pequeno e médio porte, os quais têm se tor- tos, do Grupo Seridó, que inclui ainda paragnais-
nado economicamente viáveis com a conjuntura ses, rochas metamáficas-metaultramáficas (meta-
atual do mercado do ferro. Na Faixa Seridó, são basaltos, metandesitos, metadacitos, talco xistos,
importantes os depósitos do pico do Bonito, muni- serpentinitos, actinolita-clorita xistos, metatufos)
cípio de Jucurutu, e de Saquinho ou Serra da Formi- e mármores.
ga, município de Cruzeta. Na Faixa Piancó-Alto Brígi- As formações ferríferas bandadas são rochas
da, o depósito mais expressivo é o de São José do foliadas de granulação fina, formadas essencial-
Belmonte. mente por hematita, magtnetita e quartzo. Segun-
do dados da CPRM, os teores de sílica variam en-
Pico do Bonito tre 26,7 a 40,5%, Fe variam de 45 a 65%, de P
entre 0,04 e 0,23% e de S entre 0,0012 e 0,017.
O pico do Bonito situa-se na Formação Serra A reserva medida totaliza 1.794.389t, com um teor
dos Quintos ou Jucurutu, associado a mármores, médio de 60,16% de Fe. A reserva indicada alcan-
e constitui uma espessa lente de uma formação ça 5.075.123t e a inferida 3.879.851t.
ferrífera bandada formada por quartzo, hematita A reserva medida oficial do depósito de Saqui-
e magnetita (Santos 1967). A lente da formação nho alcança 208.000t. No entanto, pesquisas adi-
ferrífera situa-se na zona axial de uma anticlinal, cionais realizadas pela empresa Mhag Serviços e
envolvendo o núcleo de um ortognaisse da Suíte Mineração já cubou 1,5 milhões de toneladas de
Poço da Cruz, de idade paleoproterozoica. A lente magnetitito tipo lump e 400 milhões de toneladas
possui uma extensão de 6 km e encontra-se es- de metassomatito, tipo taconito, dos quais 200
pessada na zona de charneira (máximo de 200 m) milhões desta reserva correspondem à reserva
e adelgaçada nos flancos, até fechar completa- lavrável.
mente em ambas as direções. Os teores de Fe2O3
variam de 42 a 53 %, enquanto que S e P apre- Saco José do Belmonte
sentam valores insignificantes.
Santos (1967) estimou uma reserva de 20 mi- O mais importante depósito de Ferro da Re-
lhões de toneladas de minério até 20 m de pro- gião Nordeste Oriental, localiza-se no município de
fundidade, mas investigações posteriores revela- S.José do Belmonte (PE) cerca de 5 km ao norte
ram um montante de 38 milhões de toneladas de do distrito do Carmo, ocorrendo em uma faixa E-W
minério com 50 a 60% de Fe. Um outro pequeno com aproximadamente 20 Km de extensão, na qual
depósito situa-se na fazenda Macacos e ocorre nas são conhecidas as minas de São Jorge, e Serrotinho
proximidades deste depósito de Bonito, possuin- ou Oitis. O minério de Ferro compreende lentes de
do uma extensão de aproximadamente 6 km e uma minério puro (hematita) e minérios silicosos (itabiri-
espessura aproximada de 10 m. Trata-se de uma tos), cujos contactos não são perceptíveis.
formação ferrífera bandada associada a rochas me- As lentes variam de extensão entre 200 e 400
tamáficas-ultramáficas, supostamente da Formação m e ocorrem em rosário, constituindo cristas alon-
Serra dos Quintos. Uma amostra desse minério re- gadas, deslocadas por falhas transversais encai-
velou um teor de Fe da ordem de 65% de Fe. xadas nos filitos do Grupo Cachoeirinha. Outras
Dois tipos de minérios são reconhecidos, o ocorrências de minério de ferro podem ser encon-
magnetitito, formado por magnetita compacta tradas nos municípios de Serrita e Salgueiro.

356
Edilton José dos Santos et al.

SKARNS POLIMETÁLICOS DA FAIXA SERIDÓ categoria de skarn polimetálico (Souza Neto et al.
2008). Pelo exposto, os skarns conhecidos da FS
Os principais skarns mineralizados da Faixa constituem na sua maioria depósitos do tipo skarn
Seridó (FS) foram descobertos no início dos anos de tungstênio, com exceção do depósito de Itaju-
1940 (Johnston e Vasconcellos 1945), em pleno batiba (skarn Aurífero) e do de Bonfim (skarn poli-
período da Segunda Guerra Mundial (Maranhão metálico: W-Mo-Au-Bi-Te).
1970; Lima et al. 1980; Salim 1993; Souza Neto et Quanto às reservas de W, os maiores skarns
al. 2008). Nesta porção da Província Borborema possuem 11 Mt (Brejuí) e 9 Mt (Bodó) de minério,
são conhecidas quase 700 ocorrências (Santos e os demais têm reservas de minério inferiores a
1973; Lima et al. 1980) dentro de uma área de 5 Mt cada (Tabela 1). Nestes skarns os teores de
cerca de 20.000 km2, denominada de Província WO3 variam de 0,5 a 1,0 %, sendo que alguns
Scheelitífera do Seridó (PSS; Fig. 6). Desde sua podem atingir 6 e 9 % (skarns de Bodó e Bonfim,
descoberta, a maioria destes skarns tem sido ex- respectivamente; Tabela 1). Uma particularidade
plotada para W-Mo (e.g. minas Brejuí, Bodó, Bon- dentre os skarns da FS é o de Malhada Limpa (Fig.
fim, Bonito, Malhada Limpa e Quixaba; Fig. 6), e 6), que contem uma expressiva quantidade de Mo
apenas um skarn foi explotado para ouro (mina em relação aos demais (Tabela 1; mina Timbaúba;
de Itajubatiba; Fig. 6). No início dos anos 1990, Santos et al. 1972; Lima et al. 1980).
foi descoberto ouro nas pilhas de rejeito da anti- Com relação às reservas de ouro, o skarn de
ga mina Bonfim (W-Mo). Até o momento, Bonfim Itajubatiba tem menos que 1 Mt de minério, en-
constitui o único skarn conhecido na FS contendo quanto que em Bonfim estima-se a existência de
W-Mo e Au associados. É importante destacar que 1,5 t de Au (Tabela 1). Os teores de ouro variam
os teores de Bi e Te posteriormente encontrados entre 0,5 a 2 ppm, atingindo até 6,3 ppm (Rebou-
definiram o depósito de Bonfim como também mi- ças 1985) em Itajubatiba, ao passo que Bonfim
neralizado nestes dois metais, promovendo-o à registra teores de 2 a 6 ppm (chegando a 60 ppm)

Figura 6 - Contexto geológico simplificado da Província Borborema, Nordeste do Brasil (adaptado de Archanjo
1993). As localizações da Faixa Seridó (FS), da Província Scheelitífera do Seridó), dos principais depósitos de
skarns e de veios de quartzo auríferos são também mostrados.

357
Tabela 1. Características dos principais depósitos de skarns da Faixa Seridó. Para referências, ver Souza Neto et al.(2008).

358
1
As composições de piroxênio estão em mole % de hedenbergita (Hd) e johannsenita (Jo), e o restante do percentual é diopsídio; as de plagioclásio em mole
% de anortita (An), e o restante é albita + ortoclásio; as de granada (Gar) estão em mole % de andradita (Ad), almandina (Al) + espessartina (Sp), e
grossulária (Gr); as composições de anfibólios estão de acordo com a nomenclatura proposta por Leake et al.(1997).
2
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Porções norte e central da Província Borborema

A extensão da alteração retrógrada está em percentual aproximado em relação ao volume total do skarn; todas as assembleias minerais retrógradas
possuem quartzo e calcita.
3
Tp = temperatura de formação do skarn progrado; T r = temperatura de formação do skarn retrogrado.
Tabela 1 - Continuação
Abreviaturas mine-
rais (segundo Kretz
(1983) e Spear (1993)):
ab albita, act actinolita,
aln allanita, amp anfibó-
lio, ap apatita, apy ar-
senopirita, ath antofilita,
bi bismuto, bmt bismu-
tinita, bn bornita, brt ba-
rita, bt biotita, cal calci-
ta, cbz chabazita, cch cli-
nocloro, chl clorita, chu
clinohumita, cp calcopi-
rita, cum cummingtoni-
ta, czo clinozoisita, czo-
zo clinozoisita/zoisita,
ed edenita, ep epidoto,
fac ferro-actinolita, fb
ferberita, fl fluorita, fhb
ferro-hornblenda, fld fel-
dspato, fprg ferro-par-
gasita, fts ferro-tscher-
makita, gn galena, grt
granada, gru grunerita,

359
hbl hornblenda, hs has-
tingsita, hu humita, jo
joseita, kfd feldspato al-
calino, mc microclina,
Edilton José dos Santos et al.

mei meionita, mgt mag-


netita, mhb magnesio-
hornblenda, mnz mona-
zita, mo molibdenita, ms
muscovita, ol olivina, phl
flogopita, pl plagioclásio,
po pirrotita, prg parga-
sita, prh prehnita, py pi-
rita, pw powellita, px pi-
roxênio, qtz quartzo, rdn
rodonita, rds rodocrosi-
ta, sch scheelita, scp es-
capolita, ser sericita, sp
esfalerita, srp serpenti-
na, stb estilbita, toz to-
pázio, tr tremolita, ts ts-
chermakita, ttn titanita,
ves vesuvianita, wf wol-
framita, wo wollastonita,
zeo zeólitas, zrn zircão.
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Porções norte e central da Província Borborema

deste metal. Os teores de Au em solo em Bonfim quela estabelecida para o alojamento dos corpos
atingem 100 ppm, e nos skarns auríferos os de Bi ígneos parentais, com base nos dados obtidos
se elevam acima de 26.000 ppm, enquanto os de combinando-se diferentes geotermobarômetros
Te alcançam 500 ppm (Souza Neto et al. 2008). com a geotermocronometria 40Ar/39Ar em minerais
Estima-se que, até 1992, tenham sido produzi- que ocorrem na auréola de metamorfismo de con-
das cerca de 60.000 t de concentrados de WO3 tato do Maciço Granítico de Acari, que é o batólito
dos skarns da FS (Beurlen 1995). Durante os anos ao qual está relacionado o depósito de skarn sche-
1980, o baixo custo da produção de wolframita elitífero de Brejuí (Fig. 6). Estes dados revelam um
atingiu na China provocou significante queda no pico termal de 630°C e 3,5 kbar (Cunha de Souza
preço do tungstênio no mercado internacional, le- 1996) em 579–555 Ma (U–Pb em zircão; Leterrier
vando ao progressivo colapso da produção de sche- et al. 1994 e Legrand et al. 1991, respectivamen-
elita na FS. Esta produção estagnou quase com- te), seguido por um resfriamento de 300–400°C
pletamente na metade da década de 1990, redu- atingido em cerca de 481 Ma (Ar–Ar em micas;
zindo-se a uma explotação rudimentar na Mina Cunha de Souza 1996).
Bodó em 2006, com uma pequena produção de 30 Quanto à mineralização de W-Mo, esta parecer
a 200 t/ano de concentrado deste mineral, e a uma ter sido formada precocemente sincrônica à pró-
garimpagem sazonal na Mina Brejuí. Essa produ- pria formação dos skarns, como indica o equilíbrio
ção serviu apenas para alimentar pequenas indús- textural observado entre os cristais de scheelita
trias metalúrgicas existentes na região. e os minerais da ganga cálcio-silicática dos skarns,
assim como a presença de agregados de cristais
Ambiente Geodinâmico de Formaçção euedrais de scheelita dispostos paralelamente ao
bandamento dos skarns. Por outro lado, a mine-
Do ponto de vista do ambiente de formação, ralização aurífera nos skarns parece ser tardia,
destaca-se que a maioria dos depósitos de skarns como indica a presença da mesma preenchendo
da FS parece estar relacionada espacialmente a fraturas extensionais que cortam a ganga cálcio-
corpos ígneos brasilianos (610–530 Ma), pois ocor- silicática dos skarns, assim como os próprios cris-
rem nas vizinhanças destas rochas. Estes corpos tais de scheelita. A paragênese mineral contendo
são amplamente distribuídos na Província Borbo- minerais-minério de Au-Bi-Te ocorre intercrescida
rema, sendo dominantemente constituídos por com minerais tardios e de baixa temperatura dos
granitos finos e porfiríticos, e subordinadamente, skarns, como epidoto, prenhita e clorita (Souza
por granitos equigranulares, aplitos finos a médi- Neto et al. 2008).
os e pegmatitos (ver Tabela 1 para classificação
das rochas intrusivas relacionadas aos principais Principais Controles da Mineralização
depósitos de skarns da FS). A maioria destas ro-
chas ígneas está, por sua vez, espacialmente li- Além da proximidade com os corpos ígneos bra-
gada a zonas de cisalhamento brasilianas (trans- silianos, a maioria dos skarns é também estrato-
correntes e de alto ângulo), ocorrendo na forma controlada, ocorrendo preferencialmente dentro de
de corpos com formas sigmoidais assimétricas, que camadas de mármores da Formação Jucurutu (Fig.
denunciam o caráter sin-tectônico deles. Estudos 7), ou no contato entre estes mármores e xistos
petroestrutural e de susceptibilidade magnética (Formação Seridó), ou entre mármores e parag-
também atestam este caráter (Jardim de Sá 1994; naisses (Formação Jucurutu). Localmente os
Archanjo 1993; Lima et al. 2000). skarns podem ocorrer dentro dos paragnaisses e
Alguns skarns são distais, como os das minas xistos, ou mesmo dentro do próprio corpo ígneo
Malhada Limpa e Quixaba, pois ocorrem afasta- geneticamente relacionado, caracterizando-se,
dos dos prováveis corpos ígneos parentais, pelo neste caso, como típicos endoskarns, a exemplo
menos em superfície. Neste caso, as zonas de ci- do que ocorre no depósito de Bodó (Zanini & San-
salhamento brasilianas parecem ter servido de tos 1980) e Itajubatiba (Souza Neto 1995).
conduto para os fluidos metassomáticos respon-
sáveis pela formação dos skarns. Descrição dos Principais Depósitos
A profundidade de formação dos skarns da FS
pode ser estimada entre 10 e 15 km a partir da- A seguir será apresentada uma descrição con-

360
Edilton José dos Santos et al.

Figura 7 - Litoestratigrafia do Grupo Seridó, segundo Jardim de Sá (1994), compilada de Brito Neves et al. 2000).

junta dos depósitos de Brejuí, Bonfim e Itajubati- do minério aurífero, ocorre ouro nativo associado
ba, que são alguns dos depósitos mais represen- à pirrotita, calcopirita, pirita (< arsenopirita) e
tativos da mineralização de W-Mo-Au-Te-Bi. As ro- magnetita em Itajubatiba, e associado à bismita,
chas encaixantes imediatas dos depósitos de skarn bismutinita, bismuto nativo, joseíta, calcopirita (<
enfocados aqui são aquelas pertencentes à se- esfalerita) em Bonfim. O ouro de Bonfim chega a
quência de rochas supracrustais denominada Gru- ter 14 % em peso de Ag, sendo caracteristicamente
po Seridó (Fig. 7), que consiste, da base para o mais pálido do que o usual (Souza Neto et al. 2008).
topo, de paragnaisses e mármores (Formação Ju- Deve-se registrar ainda a existência de alguns
curutu), quartzitos e metaconglomerados (Forma- skarns mineralizados em Cu (calcocita, covelita,
ção Equador), e xistos (Formação Seridó). malaquita), em Pb (galena), assim como minerali-
Os depósitos de skarns ocorrem em corpos de zação de W (scheelita) em rochas metamáficas
espessura centimétrica à métrica, com forma len- (Beurlen 1995). Também são conhecidas ocorrên-
ticular a tabular e que mostram contato irregular cias de scheelita em veios de quartzo, dissemina-
com suas rochas encaixantes, invadindo e trun- da em granito e uma ocorrência de wolframita (fer-
cando a foliação principal das mesmas. Em mapa, berita) em veio de quartzo (Santos 1973).
os corpos de skarns possuem direção geral con- Recentemente, Cavalcante Neto (2008) descre-
cordante com a direção principal da foliação regio- veu uma faixa mineralizada em Cu (+ W, Mo, Au,
nal. Os skarns possuem estrutura maciça (não fo- Ag e Bi) entre as formações Equador e Seridó, a
liada) ou bandada. Esse bandamento pode ser leste da antiforme da Serra das Umburanas, ocu-
atribuído ao zoneamento metassomático que se pando uma extensão não contínua de 54 Km. As
desenvolve sobre a foliação das rochas encaixan- relações de contato entre aquelas formações do
tes (Souza Neto et al. 2008). Grupo Seridó são típicas de ambiente sedimentar
Do ponto de vista da composição mineralógica, com contribuições básicas – ultrabásicas e carac-
os skarns são constituídos por minerais de duas terizam uma faixa metalogenética cuprífera. Essa
paragêneses diferentes: faixa, descrita anteriormente como faixa Malhada
- Alta temperatura: piroxênio, anfibólio, ± gra- Limpa-Timbaúba, já havia sido destacada pelo seu
nada, ± plagioclásio enriquecimento anômalo em molibdenita em rela-
- Baixa temperatura: epidoto, ± clinozoisita, ± ção aos demais skarns do Seridó (Santos et al.
vesuvianita, ± zeólitas, ± opala 1972). Segundo Cavalcante Neto (2008), desta-
A mineralogia do minério de W-Mo é constituí- cam-se, entre os minerais visíveis a olho nú, o di-
da dominantemente por scheelita e molibdenita, opsídio (40 - 60%), epidoto (5 - 20%), vesuvianita
com quantidades subordinadas de pirita e calco- (0-10%), plagioclásio (5 – 10%), quartzo (2-15%),
pirita (Salim 1993; Souza Neto et al. 2008). No caso hornblenda (5%), actinolita-tremolita (1-15%), bis-

361
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Porções norte e central da Província Borborema

muto (desde ausente até 25%), calcita (0-3%), - epidoto-prehnita: 380 – 270 oC e 2 kbar;
rodocrosita (3 – 5%) e traços de scheelita, molib- - zeólitas: 300 – 200 oC e 1 – 0,6 kbar.
denita, serpentina, talco (esteatita), rodonita, gra- Estudos de inclusões fluidas especificamente de
nada (grossulária e/ou andradita), sulfeto de fer- veios de quartzo relacionados às mineralizações
ro e minerais de cobre (calcocita e malaquita), auríferas dos skarns de Bonfim revelam a presen-
eventualmente alterados para crisocola, óxido de ça de três tipos de fluidos (Souza Neto 1999):
ferro e clorita. Restritos a alguns corpos apare- (1) Aquoso, com composição no sistema H2O-
cem pirita, calcopirita e bornita. É interessante NaCl-KCl-MgCl2, baixa salinidade (4,8 eq. peso %
registrar também a presença de Au, que chega a NaCl), temperatura mínima de formação de 108 a
atingir teores de 1,14 g/t. Alguns xistos máficos 344 °C e pressão de 0,6 a 5,3 kbar;
ocorrem com intercalações de anfibolitos, os quais (2) Metano, com nitrogênio associado;
possuem um alto teor de Cr e pequeno conteúdo (3) Aquo-carbônica, com composição no siste-
de scheelita (0 a 1%). ma H2O-CO2-NaCl-KCl-MgCl2, com CH4 associado à
Algumas feições de alteração metassomática fase carbônica, com condições de formação esti-
observadas nas rochas encaixantes são atribuí- madas acima de 265 oC e cerca de 2 kbar.
das ao processo de formação dos skarns, e são Por outro lado, nos veios de quartzo dos skarns
importantes por denunciar a proximidade dos cor- auríferos de Itajubatiba foram identificados qua-
pos destas rochas (Souza Neto 1995; Souza Neto tro tipos de inclusões fluidas (Souza Neto 1999):
et al. 1997; Souza Neto 1999). Estas feições são: (1) Carbônica, contendo até 4 mole % de N2;
(i) anfibolitização de xistos e paragnaisses (2) Nitrogênio, tanto pura como contendo até
(ii) epidotização de rochas granitoides 18 mole % de CH4;
(iii) presença de olivina ou wollastonita em (3) Aquosa com composição no sistema H2O-
mármores NaCl-KCl-MgCl2, salinidade moderada (7,8 eq. peso
(iv) calcita mais grossa (recristalizada) nos % NaCl), temperatura mínima de formação de 87
mármores, ou mármores constituídos por calcita a 396 °C e pressão de < 1 to 4,7 kbar;
passando de coloração branca para laranja e cin- (4) Aquo-carbônica com composição no siste-
za escura, em direção aos skarns. ma H2O-CO2-NaCl-KCl-MgCl2, contendo de 8 a 11
Os dados isotópicos de C e O da calcita dos mole % de N2 associado à fase carbônica, salini-
mármores alterados metassomaticamente, assim dade baixa (4.8 eq. peso % NaCl), temperatura
como da calcita de veios, mostram valores (δ13CV- mínima de formação de 240 e 400 °C e pressão
PDB
de -3,2 a -4,5 ‰; δ18OV-SMOW de 12,3 a 11,2 ‰) de 3,1 a 4,3 kbar.
relativamente empobrecidos em relação aos már-
mores encaixantes (δ13CV-PDB de -0,7 e -1,7 ‰; δ18OV- Idade das Rochas Encaixantes/Hospedeiras e da
SMOW
de 18,5 e 19,3 ‰; valores típicos de origem Mineralzização
sedimentar), e sugerem uma participação de flui-
dos ígneos no processo metassomático de forma- A idade de deposição dos metassedimentos
ção dos skarns (Souza Neto 1999). Grupo Seridó, que encaixam os depósitos de
Os dados de inclusões fluidas em minerais cons- skarns da FS, foi estabelecida entre 610–650 Ma,
tituintes da paragênese de baixa temperatura dos através de datações pelos métodos U–Pb (zircão)
skarns de Brejuí revelam a existência de dois flui- e Sm–Nd (rocha total), utilizando-se amostras de
dos (Salim 1993): rochas metassedimentares e metatufáceas (Van
(1) um precoce, carbônico e aquo-carbônico, Schmus et al. 2003).
com salinidade baixa (4 - 10 % eq. peso % NaCl); Quanto às idades dos skarns da FS e das suas
(2) outro tardio, aquoso e aquo-carbônico, com mineralizações de W-Mo e Au não existem até o
salinidade relativamente mais elevada (10 - 15 eq. momento dados de datação absoluta. Entretan-
peso % NaCl). to, a idade máxima destes skarns é estimada em
Os dados microtermométricos deste estudo su- 510–520 Ma, correspondente a um valor médio do
gerem as seguintes condições de T e P para a for- intervalo de idades determinadas para as rochas
mação das paragêneses minerais de baixa tem- granitoides da região, que se estende entre 555
peratura (Salim 1993): Ma (idade mais nova das rochas ígneas parentais)
- escapolita-vesuvianita: 450 – 380 oC e 2 kbar; e 480 Ma (valor mínimo de idade obtida para cor-

362
Edilton José dos Santos et al.

pos pegmatíticos da FS, que intrudem alguns skarns, (1944) para designar a principal área de ocor-
como em Brejuí (Barbosa et al. 1969; Salim 1993) e rência de pegmatitos mineralizados no Nordeste
Itajubatiba (Souza Neto 1999). do Brasil, situada entre os Estados da Paraíba e
Quanto às mineralizações, sabe-se que a de W- Rio Grande do Norte (Fig. 8). Trabalhos posterio-
Mo é precoce e deve possuir a mesma idade dos res, principalmente de ordem geotectônica, de-
skarns hospedeiros. A mineralização de Au, por monstraram que ela se distribui na faixa Seridó,
outro lado, é claramente tardia, e pode ser consi- razão pela qual ela passou a ser designada de
derada como pertencente a dois intervalos de ida- Província Pegmatítica do Seridó (PPS). Apesar des-
de: 510–520 Ma e 500–506 Ma. Estes valores cor- sa conceituação (Fig. 8), há ocorrências de peg-
respondem às idades obtidas pelo método 40Ar/39Ar matitos de menor importância, em termos de ex-
em muscovita e biotita hidrotermais provenientes plotação, fora da abrangência da FS. É o caso
dos depósitos de veios de quartzo auríferos que dos pegmatitos a leste e oeste da FS (áreas de
ocorrem nos mica xistos da Formação Seridó (Araú- Barra de Santa Rosa e Tenente Ananias), que cor-
jo et al. 2005), que são depósitos considerados com tam rochas do embasamento (terrenos São José
estilo estrutural semelhante ao dos skarns aurífe- do Campestre e Rio Piranhas, respectivamente),
ros, e que portanto devem ambos representar um bem como o prolongamento para sul-sudoeste
mesmo momento da evolução tectônica regional da FS, onde os pegmatitos estão encaixados em
(Souza Neto et al. 2008). rochas do terreno Alto Pajeú e da faixa Piancó-
Alto Brígida.
PROVÍNCIA PEGMATÍTICA DO SERIDÓ Os pegmatitos da PPS tornaram-se conheci-
dos por ocasião da Primeira Guerra Mundial, por
Essa Província foi originalmente denominada de conta da explotação de mica para o então esfor-
Província Pegmatítica da Borborema por Scorza ço de guerra. Ao final da Segunda Guerra Mundi-

Figura 8 - Localização geográfica das áreas pegmatíticas nos Estados da Paraíba e Rio Grande do Norte

363
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Porções norte e central da Província Borborema

al, tornou-se mundialmente conhecida como um entre dois domínios de embasamento: o terreno
dos mais importantes produtores de minérios de arqueano-paleoproterozoico São José do Campes-
Ta e Be e belas espécies de minerais exóticos. Mais tre-Granjeiro, a leste e a sul, e o terreno Rio Pira-
recentemente, a PPS vem se tornando um impor- nhas, a oeste. Um alto do embasamento paleo-
tante supridor de materiais cerâmicos (caulim e fel- proterozoico (alto de São Vicente) subdivide a FS
dspatos) para a indústria nacional. No momento, nos subdomínios Currais Novos e Jucurutu. No sub-
seu produto mais nobre e mais famoso é a “Tur- domínio Currais Novos o metamorfismo varia da
malina Paraíba”, de singular cor azul excêntrica com fácies xisto verde, a oeste, para a fácies anfiboli-
teores incomuns de Cu. Apesar dessa importância to, a leste. Os granitos e pegmatitos se concen-
como supridor de materiais estratégicos, pouca ou tram principalmente no domínio da fácies anfiboli-
quase nenhuma pesquisa mineral e alguns raros to. Extensas zonas de cisalhamento transcorren-
estudos geológicos paralelos, foram desenvolvi- tes N-S atravessam a Faixa Seridó, caracterizan-
dos nesses pegmatitos nos últimos cinquenta anos do dois regimes estruturais distintos: um trans-
e, portanto, várias questões importantes perma- pressivo, a oeste, e outro transtensivo, a leste,
necem não esclarecidas ou nunca foram aborda- sendo este, aparentemente, responsável pela
das. Dentre essas, destaca-se uma classificação colocação dos pegmatitos.
desses pegmatitos baseada em parâmetros pa-
ragenéticos e geoquímicos que permita uma com- Distribuição Regional dos Pegmatitos
paração mais efetiva com outras áreas pegmatíti-
cas do mundo; seu obscuro e ainda não bem defi- O único modelo de zoneamento regional dos
nido zoneamento regional e a identificação do pro- pegmatitos da PPS foi proposto por Cunha e Silva
vável granito fonte ou outra fonte qualquer da qual (1983), baseado na distribuição dos pegmatitos
os pegmatitos se originaram. A presente revisão segundo as paragêneses elementares dos princi-
tem como objetivo apresentar, de forma resumi- pais minerais de minério contidos, tomando como
da, os dados mais recentes sobre a PPS, tendo base informações registradas em vários cadastra-
como base informações da literatura, observações mentos geológicos. O suposto zoneamento, en-
de campo, dados geoquímicos e geocronológicos tretanto, não suportou uma análise estatística/
gerados nas últimas três décadas. espacial como a conduzida por Da Silva & Dantas
(1984). O proposto modelo, indicando zonas con-
Contexto Geológico cêntricas sucessivas de ETR (mais distais), Sn-Li,
Be-Nb e Ta-Li (centrais) mostrou-se em desacor-
Os pegmatitos da PPS estão concentrados em do com o princípio geral até agora aceito de que
uma área com cerca de 75 km x 150 Km, na parte os pegmatitos mais diferenciados (ricos em Ta e
este-sudeste da Faixa Seridó (FS), Subprovíncia Li) deveriam situar-se distantes de uma provável
Rio Grande do Norte da Província Borborema, com- fonte granítica, enquanto os menos diferenciados
preendendo partes dos Estados da Paraíba e Rio (ricos em Be e Terras Raras) deveriam estar mais
Grande do Norte, Nordeste do Brasil (Fig. 9). O próximos. Entretanto, a provável fonte granítica
empilhamento estratigráfico nesta área, da base desses pegmatitos ainda não foi seguramente
para o topo, consiste das Formações Jucurutu, identificada até o presente. Araújo et al. (2001)
Equador e Seridó, do Grupo Seridó de idade neo- mostrou a relação dos pegmatitos da PPS, na re-
proterozoica (Van Schmus et al. 2003). gião de Parelhas-Carnaúba dos Dantas-RN com o
Dos mais de 750 pegmatitos mineralizados ca- “splay” de zonas de cisalhamento na parte leste
dastrados até o presente, cerca de 80% estão in- da FS, no limite com o terreno São José do Cam-
trudidos em granada-cordierita-biotita-quartzo- ou pestre, sugerindo uma provável ramificação do sis-
silimanita-granada-biotita-quartzo-xistos da For- tema cisalhante do Lineamento Patos. Isso expli-
mação Seridó. Menos de 10% ocorrem em quart- caria a presença de alguns pegmatitos na parte
zitos, metarcóseos e metaconglomerados da For- norte da Subprovíncia Transversal e a existência
mação Equador e os restantes intrudem gnaisses de alguns pegmatitos no terreno Granjeiro, a oes-
e skarns da Formação Jucurutu e granitos tardi- a te. Considerando-se as correlações regionais e o
pós-orogênicos, mais raramente rochas do emba- caráter transcorrente dextral do Lineamento Pa-
samento (Da Silva et al. 1995). A FS distribui-se tos, segundo Santos (comunicação verbal), não se

364
Edilton José dos Santos et al.

Figura 9 - Delimitação da área principal da Província Pegmatítica do Seridó (PPS) sobre uma base geológica
simplificada.

afasta a possibilidade de que um substrato fértil dos da PPS durante o Neoproterozoico.


paleo-mesoproterozoico, rico em granitos minera-
lizados (como é o caso da Província Estanífera de A Fonte Granítica
Goiás), possa ter sido arrastado por cisalhamen-
to ao longo do terreno Granjeiro e contribuído para A maioria das contribuições técnicas para a li-
a geração dos fundidos pegmatíticos mineraliza- teratura sobre os pegmatitos da PPS assume, im-

365
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Porções norte e central da Província Borborema

plicitamente, a origem desses pegmatitos a partir sem uma estruturação interna) e heterogêneos
de uma fonte granítica, sem, no entanto, fornecer (normalmente mineralizados em Be-Ta-Sn-Li, apre-
uma clara indicação do tipo de granito-fonte ou sentam zoneamento interno). Seu modelo de zo-
de uma intrusão qualquer, em particular. Em vez neamento interno para os pegmatitos heterogê-
de uma única fonte granítica, como se tem obser- neos da PPS, mostra estreita correlação com clas-
vado em várias províncias pegmatíticas clássicas sificação similar proposta por Cameron et al.
no mundo (p.ex. Dakota do Sul-USA, Madagascar), (1949), baseada nos estudos realizados em vári-
tem-se na região quatro subtipos de granitos tar- os campos pegmatíticos americanos.
di tectônicos, de idades variando do Neoprotero- Embora esta classificação dos pegmatitos da
zoico ao Paleozoico Inferior (Ciclo Brasiliano), que PPS em homogêneos e heterogêneos venha sen-
ocorrem como intrusões independentes, com dis- do até hoje insistentemente citada na bibliografia
tribuição aparentemente casual. Não foi observa- especializada, na prática, ela não reflete toda a
da nenhuma correlação aparente entre a distri- complexidade dos tipos de pegmatitos encontra-
buição dos pegmatitos mineralizados e uma gran- dos (Da Silva et al. 2007, Beurlen et al. 2009). Ob-
de intrusão de um tipo particular de granito. A fal- servações de campo têm mostrado que pegmati-
ta de uma ligação genética entre os pegmatitos tos, cuja aparência assemelha-se com um tipo
mineralizados e a intrusão de um corpo granítico homogêneo, na verdade mostram um zoneamen-
qualquer, levou Ebert (1970) a postular uma pos- to interno quando explotados em profundidade.
sível origem “palingenética” (entendida como re- Outros pegmatitos mostram num único corpo fei-
sultado direto da fusão parcial do Quartzito Equa- ções típicas dos dois tipos. Noutro caso, pegmati-
dor). para os pegmatitos da PPS. Outra possível tos separados por uma distância de aproximada-
alternativa para explicar a ausência de uma zona- mente 70 metros (pegmatitos Capoeira, Parelhas-
ção regional, seria a ocorrência de muitos peque- RN, por exemplo), embora situados em níveis to-
nos campos pegmatíticos circundando pequenas pográficos distintos, mostram características com-
intrusões de granitos fontes, havendo uma super- pletamente diferentes, levando a entender que a
posição desses campos, formando um padrão co- diferenciação dos pegmatitos no nível horizontal
alescente difuso. Entretanto, dentre os diferen- e vertical é bastante intensa, podendo levar a
tes tipos de granitos que ocorrem na região, exis- conclusões controversas no que diz respeito a clas-
te na PPS a ocorrência de um tipo particular de sificação em um ou outro tipo. A aplicação da clas-
granito, pós- a tardi- orogênico, peraluminoso, sificação proposta por Èerný (1991 a,b), e mais
granulação variando de centimétrica a decimétri- recentemente aperfeiçoada por Èerný & Ercit
ca, ocorrendo entre os pegmatitos mineralizados (2005) para os pegmatitos da PPS, usando rela-
na forma de pequenos corpos, da ordem de 0,5km2, ções de campo, dados de paragênese mineral e
sendo comum a presença de intercrescimentos parâmetros petroquímicos, além de mais abran-
gráficos. Esses pequenos granitoides, tendo em gente, é a mais aceita mundialmente. Seguindo a
vista suas relações espaciais e texturais com os linha desses pesquisadores, os pegmatitos da PPS
corpos de pegmatitos mineralizados, podem indi- foram classificados por Da Silva et al. (1995) como
car uma consanguinidade. As idades desses cor- pertencentes a classe elementos raros, família LCT
pos obtidas através do método isotópico U-Pb em (Lítio-Césio-Tântalo) e sub-tipo berilo-columbita-
monazitas (Baumgartner et al. 2006), bem como fosfatos. Posteriormente, Soares (2004) usando
pelo método químico (U-Th-Pb) em uraninita, xe- o mesmo princípio classificatório, enquadrou al-
notima e monazita (Beurlen et al. 2009), foram de guns pegmatitos produtores da “Turmalina Paraí-
528±12 Ma e 520±10 Ma, respectivamente. ba” dentro dos sub-tipos espodumênio e lepidoli-
ta da mesma classe (elementos raros) e família
Classificação dos Pegmatitos (LCT). Dados de química mineral em minerais do
grupo da columbita, levou Beurlen et al. (2008) ain-
A primeira classificação dos pegmatitos da PPS, da a identificar na PPS pegmatitos dos sub-tipos
segundo a diferenciação interna observada nos berilo-columbita, berilo-columbita-fosfatos e espo-
corpos deve-se a Johnston (1945). Este autor clas- dumênio complexo, dados esses corroborados por
sificou os pegmatitos em homogêneos (normalmen- estudos de química mineral em granada e turmali-
te estéreis, concordantes com as encaixantes e na (Soares et al. 2008) .

366
Edilton José dos Santos et al.

Estudos de Inclusões Fluidas do em vista a quase inexistência de trabalhos mi-


neiros organizados, apenas garimpagem preda-
Os estudos de inclusões fluídas em alguns peg- tória, na sua grande maioria. Alguns raros peg-
matitos mineralizados levaram ao estabelecimen- matitos até agora trabalhados por empresas de
to de condições de cristalização entre 580º (tem- mineração, revelaram o fechamento dos corpos e
peratura do liquidus) e 420º (temperatura do so- consequente exaustão das reservas a profundi-
lidus) em condições de pressão de ± 3,5 kb (Beur- dades não superiores a 100 metros;
len et al. 2001), em um primeiro estágio, a partir - em termos de conhecimento geológico até o
de uma fusão saturada em H2O de baixa salinida- presente, pode-se concluir que a classificação des-
de e CO2 e posteriormente, saturada em H2O com ses pegmatitos segundo a estruturação interna
salinidade crescente. Estudos preliminares de in- não contempla a grande variedade de zonas ob-
clusões de fusão sugerem a coexistência de dois servadas, que possivelmente reflete variações no
líquidos imiscíveis durante os primeiros estágios zoneamento interno em função da profundidade/
de cristalização. Esses líquidos seriam frações de nível erosivo. A classificação em famílias, classes,
um fundente de natureza peraluminosa e peral- tipos e subtipos, parece ser mais apropriada, além
calina, repectivamente (Thomas et al. 2006). Es- de permitir comparações com outras províncias de
sas condições são consideradas típicas de peg- pegmatitos do mundo;
matitos graníticos da classe elementos raros deri- - a mais provável fonte granítica, embora ainda
vados de granitos. não tenha sido seguramente comprovada, seriam
os granitos pegmatíticos (ou pegmatoides, como
Considerações Finais também são conhecidos), os quais são atualmen-
te aproveitados como rochas ornamentais de re-
Do conhecimento que se tem hoje a respeito lativo valor agregado.
dos pegmatitos da PPS, as seguintes conclusões
podem ser delineadas: OUTROS DISTRITOS PEGMATÍTICOS
- esses pegmatitos são fontes potenciais para
mineralizações em Ta-Nb, Be, Sn, (Li), gemas (tur- Nas subprovíncias setentrionais (norte do Li-
malinas, água-marinhas), além dos minerais indus- neamento Patos), ocorrem distritos pegmatíticos
triais como feldspatos (especialmente K-feldspa- de menor expressão, seja associado à subpron-
tos), caulim, muscovita e quartzo. Os pegmatitos víncia Ceará Central, seja ligado ao retrabalha-
portadores de gemas são raros na PPS e aqueles mento do embasamento, através das zonas de
com mineralizações de Ta-Nb, considerados bens cisalhamentos ediacaranas de Senador Pompeu,
minerais de maior valor agregado, têm suas mi- Jaguaribe e suas ramificações. Ao longo dessas
neralizações erraticamente distribuídas dentro dos estruturas, granitos, aplitos e pegmatitos pene-
corpos, tornando a explotação pouco rentável. Daí traram durante episódios transtensionais, crian-
o fato desses pegmatitos, com as raras exceções, do espaços que funcionaram como condutos de
se prestarem, quase exclusivamente, para uma ex- remobilização dos elementos mineralizantes.
plotação via garimpagem;
- por outro lado, embora os corpos pegmatíti- Distritos Pegmatíticos da Subprovíncia Ceará
cos não sejam de grandes dimensões (no máximo Central e da Faixa Orós-Jaguaribe
duas a três centenas de metros de comprimento),
a quantidade é relativamente grande, gerando Segundo Vidal e Nogueira Neto (2000), distin-
uma densidade expressiva de corpos por km2, po- guem-se três distritos pegmatíticos principais: (i)
dendo assim, viabilizar uma explotação coletiva em Solonópole-Quixeramobim; (ii) Cristais-Russas e
determinadas áreas; (iii) Itapiúna. Além de minerais de emprego indus-
- em termos de pesquisa mineral os pegmati- trial, é comprovada a grande variedade de ocor-
tos da PPS em geral são pobremente conhecidos rência de minerais-gemas nesses distritos, inclu-
em termos de geologia e reservas minerais. A ex- indo quartzo, feldspato, rubelita, afrisita, turmali-
plotação mineira desses corpos, não ultrapassa nas verde e azul, fluorita, ametista, água-marinha,
30 metros de profundidade, permitindo um conhe- dentre outros. Ocorrências isoladas também exis-
cimento precário dos parâmetros geológicos, ten- tem, tais como os pegmatitos com gemas de Co-

367
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Porções norte e central da Província Borborema

coci e Tauá, com ametista em Santa Quitéria, com MINERALIZAÇÕES DE OURO OROGÊNICO
gemas e minerais industriais de Icó e Parambu.
Veios mesotermais portadores de ouro ocorrem
CARACTERIZAÇÃO DOS PEGMATITOS na Província Borborema e são controlados princi-
palmente por sistemas de cisalhamento transcor-
O distrito pegmatítico de Solonópole-Quixera- rentes ediacaranos. Vários depósitos ou conjunto
mobim é o de maior expressão econômica, abran- de depósitos de ouro filoniano são encontrados
gendo uma área de 2.375 km2, envolvendo cinco nas faixas tonianas e ediacaranas, além daque-
campos pegmatíticos diferentes. O primeiro cor- las associadas à retrabalhamento crustal do em-
responde ao campo de Nova Floresta-Feiticeiro, basamento paleoproterozoico.
depositário, principalmente, de cassiterita e tan- Com exceção dos depósitos de Bonfim, São
talita. O segundo campo a NE de Solonópole é re- Francisco e Itajubatiba, da Faixa Seridó e que cons-
presentado por pegmatitos lítio-berilo-tantalíferos, tituem pequenos depósitos em lavra ou de lavra sus-
com ocorrência de veios pegmatíticos com fluori- pensa, os demais são de pequeno porte, que fo-
ta. O terceiro campo pegmatítico, a oeste e noro- ram lavrados por garimpagem no passado. Do pon-
este de Solonópole, é o maior detentor de peg- to de vista tectono-metalogenético, distingue-se:
matitos lítio-berilo-tantalíferos do distrito. O quar- - um pequeno campo de filões auríferos associ-
to, denominado de campo de Berilândia-Carnau- ados às zonas de cisalhamento de Tauá e ao Li-
binha, detém principalmente pegmatitos portado- neamento Transbrasiliano, no extremo NW do do-
res de berilo industrial. O quinto campo, chamado mínio Ceará Central – área de Reriutaba-Ipueiras;
de Rinaré-Banabuiú, detém pegmatitos ricos em - uma zona de filões e metaconglomerados
turmalina e berilo. auríferos ao longo da Faixa do Oeste Potiguar, que
Os pegmatitos são de natureza granítica, sen- pertence ao domínio Orós-Jaguaribe;
do em grande parte heterogêneos, com formas - os distritos filonianos da Faixa Seridó, que
tipicamente tabulares e dimensões variáveis de compreendem: os campos filonianos de São Fer-
centenas até dezenas de metros. São discordan- nando e São Francisco;
tes em relação às encaixantes (biotita-gnaisses e - os campos de Serrita, Cachoeira de Minas e
moscovita xistos), orientados, predominantemen- Itapetim, associados a zonas de cisalhamento
te segundo as direções SW-NE e E-W com mergu- transcorrentes do limite da Faixa Piancó-Alto Brí-
lhos verticais e subverticais. São conhecidos cer- gida com o Terreno Alto Pajeú.
ca de 200 pegmatitos, destacando-se o pegmati- As mineralizações de ouro filoniano são as mais
to de Lapinha, considerado na recentemente como importantes e foram estudadas por Coutinho e
um dos mais produtivos da região. Adherton (1995) e Araújo et al. (2001), a partir
dos depósitos das faixas Seridó e Piancó-Alto Brí-
RESERVAS gida. O texto a seguir é uma síntese das investi-
gações desses autores.
As reservas do Distrito Pegmatítico Solonópo-
le-Quixeramobim, aprovadas pelo DNPM-CE são Ambiente Geodinâmico
mostradas na Tabela 2.
O ambiente geodinâmico predominante das
Tabela 2 - Reservas (em t) dos minerais do Distrito
Pegmatítico Solonópole-Quixeramobim (Fonte: DNPM/ mineralizações auríferas da faixa Seridó e da Sub-
CE; Dados atualizados até 31/03/2004, compilado província Transversal é orogênico brasiliano, ca-
de Vidal & Nogueira Neto 2005). racterizado por sua ocorrência em grandes zonas
de cisalhamento transcorrentes.

Rochas Encaixantes e Controles da Mineralozação

Na faixa Seridó, as mineralizações auríferas


estão encaixadas tanto nas metassupracrustais
neoproterozoicas do Grupo Seridó, quanto no
embasamento paleoproterozoico da faixa, no Com-

368
Edilton José dos Santos et al.

plexo Caicó. Neste trabalho, distinguimos as zo- ra penetrativa de alto ângulo S3-C3, que mergulha
nas mineralizadas da região de São Fernando, na para leste e forma um sistema anastomosado do
Faixa Seridó Oeste, e de Currais Novos, na Faixa qual faz parte a zona de cisalhamento São Fran-
Seridó leste (Fig. 9). cisco, onde a mineralização aurífera está lojada.
Na zona mineralizada de São Fernando, Araújo Esta zona de cisalhamento possui uma largura de
et al. (2001) individualizaram as áreas de Simpáti- cerca de 50m e aproximadamente 5 km de largura.
co e Serra dos Rodrigues (Fig. 10). Na primeira Os veios quartzo-auríferos são dominantemen-
área, a encaixante litológica dominante é um au- te associados com estreitas faixas miloníticas de
gen gnaisse granodiorítico, o qual é um protólito milonitos retrógados D3, os quais retrabalham de
comum de milonitos de baixo ângulo da fase D2 do forma variada as tramas de alta temperatura D2
evento orogênico Brasiliano. Na área da Serra dos e D3. O teor de Au na zona de alteração varia de
Rodrigues, a mineralização é hospedada por ro- 0,6 a 30 g/t, com uma média de 5 g/t. Análise das
chas metassedimentares da Formação Jucurutu. rochas encaixantes nos contatos dos veios reve-
Nesta área, essa formação é formada por parag- laram concentrações de Au de 1-5 g/t, enquanto
naisses e micaxistos aluminosos, com subordina- que tension gashes cortando outros veios na área
nadas lentes de quartzito, mármore e rochas cál- de Simpático apresentam pequenas concentrações
cio-silicáticas. Esses metassedimentos são afeta- de Au (138-226 ppb), segundo Araújo et al. (2001).
dos por uma sinforme F3 no extremo-norte da área A zona mineralizada da Serra dos Rodrigues é
e a mineralização situa-se no limbo oeste da sin- mais larga (aproximadamente 300m) e estende-
forme. se por 1 km ao longo da direção da zona miloníti-
Na Faixa Piancó-Alto Brígida/Alto Pajeú, as me- ca NNE. Os veios mineralizados são restritos às
tassupracrustais consistem de xistos, gnaisses, lentes de micaxistos e rochas cálcio-silicáticas da
quartzitos e mármores, subordinadamente, anfi- Formação Jucurutu. Ocorrem os mesmos halos de
bolitos, e são predominantemente miloníticas com alteração hidrotermal e as concentrações econô-
foliação penetrativa. Os xistos contêm uma com- micas variam de 2 a 120 g/t, com uma média de 6
ponente vulcânica félsica e máfica em menor pro- g/t. Pequenas concentrações com teores de 60 a
porção, como também grauvacas, enquanto que 120 ppb de Au estão presentes em veios pré-tec-
os gnaisses são dominantemente derivados de tônicos, assim como nos veios tarditectônicos.
granitos. A mina São Francisco possui uma zona minera-
O controle estrutural dos filões auríferos foi lizada com 150 m de largura e 5 km de extensão,
melhor definido na Faixa Seridó (figuras 10, 11 e segundo a faixa milonítica D3, ao longo da qual os
12). O arcabouço estrutural da área de São Fer- veios auríferos apresentam concentrações entre
nando está associado com um complexo sistema 2,5 e 11,5 g/t.
de zonas de cisalhamento de direção NE e NW.
Uma cinemática dextral domina no sistema de di- Características da Mineralização
reção NE, enquanto nas zonas de cisalhamento
NW desenvolve-se um movimento antitético. O con- As características da mineralização apresenta-
junto define um estilo dominó, no qual a Serra dos das a seguir são aplicáveis às mineralizações pre-
Rodrigues situa-se na zona de cisalhamento dex- sentes nas faixas Seridó e Piancó-Alto Brígida.
tral, enquanto que a área de Simpático coincide Segundo Coutinho & Adherton (1995), as condi-
com o segmento sinistral da estrutura. ções metamórficas de P- T para as supracrustais
Os filões auríferos da mina São Francisco estão são estimadas em 600° C e 5,5 kb, indicando pro-
encaixados em estaurolita-granada-cordierita-bi- fundidade crustal de aproximadamente 25 km,
otita xistos da Formação Seridó, que são corta- característica da fácies anfibolito. A assembleia mi-
dos também por diques pegmatíticos, os quais re- neral em equilíbrio nestas litologias confirmam que
presentam as únicas evidências do magmatismo as rochas foram submetidas subseqüentemente
Brasiliano na área. Estruturalmente, a mina São a retrometamorfismo sob condições de fácies xis-
Francisco está localizada ao longo de uma estru- to verde (350° C).
tura NNE, que faz parte do segmento norte da zona Nas três áreas mineralizadas, o Au é variavel-
de cisalhamento dextral de Santa Mônica (Fig. 11). mente associado com sulfetos e óxidos. A princi-
A zona de cisalhamento desenvolve uma estrutu- pal associaçãom paragenética é formada por

369
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Porções norte e central da Província Borborema

Figura 10 - Seções geológicas e padrões estruturais das mineralizações auríferas da região de São Fernando
(de acordo com Araújo et al. 2001).

Figura 11 - Seção geológica na área da mina São Francisco (SFM na caixa supeior direita), segundo Araújo et
al. (2001). Siglas das zonas de cisalhamento: RFSZ – Riacho dos Freires; SFSZ – São Francisco.

Figura 12 - Bloco diagrama ilustrativo das mineralizações da Faixa Seridó (adaptado de Araújo et al. 2001).
Siglas no bloco-diagrama: VPT – veios de quartzo pré-tectônicos; VST – veios de quartzo sin-tectônicos; VTT
– veios de quartz tarditectônicos.

pirita±calcopirita±pirrotita±magnetita±ilmenita. Na tes ou contracionais) ou adjacentes a elas. A rela-


mina São Francisco ocorrem adicionalmente gale- ção entre os veios mineralizados e a deformação
na, molibdenita e prata. sugere que a mineralização e o cisalhamento apre-
Um magmatismo calcialcalino associado à oro- sentam certa superposição temporal.
genese Brasiliana deu origem a granitos híbridos
tipo S-I, cujo quimísmo é consistente com a deri- Mineralogia do Minério
vação em ambiente tectônico do tipo colisional
continente-continente ou arco magmático. A am- O estudo da mineralogia do minério associado
pla dispersão de veios portadores de ouro encai- com as evidências do regime de deformação em
xados nestes granitoides reflete uma ligação ge- sulfeto permitiu caracterizar três estágios de de-
nética entre o magmatismo e as mineralizações posição na seqüência paragenética do ouro. No
de ouro. Veios mesotermais de quartzo minerali- primeiro estágio, sob condição rúptil, a assembleia
zados em ouro estão presentes nas zonas de ci- mineral é caracterizada por minerais de titânio,
salhamento (associadas a estruturas transcorren- óxido de ferro e os primeiros sulfetos (pirrotita e

370
Edilton José dos Santos et al.

pirita), os quais foram formados pela desestabili- tônico-tectônico final.


zação dos minerais máficos das litologias encai-
xantes. Fluidos enriquecidos em CO2 criaram con- Estudos Isotópicos e de Inclusões FLuidas
dições para a precipitação de metais, onde o ouro
ocorre como sub-partículas associadas à superfí- Os resultados dos isótopos de Pb em sulfetos
cie dos sulfetos (pirita e calcopirita). associados ao ouro em veios de quartzo sugerem
O segundo estágio é marcado por um alto apor- uma idade modelo de 0,8-0,6 Ga, indicando duas
te de elementos adicionais, particularmente aque- fases de deposição para o ouro. Os dados de isó-
les que sugerem influência granítica (e.g. Bi, Te, topos de Pb-Pb indicam que a mineralização de
Mo, F, e B). O ouro é liberado dos sulfetos durante ouro foi formada após o pico do metamorfismo re-
este estágio e ocorre como ouro visível, associa- gional. O fluido hidrotermal, do qual os veios de
do com sulfetos recristalizados e intercrescidos com quartzo mineralizados em ouro foram cristalizados
minerais de Bi e Se/Te. O último estágio desenvol- é rico em CO2 (3,0-23,0 mol %) e caracteriza-se
veu-se sob condições de regime tectônico exten- por possuir baixa salinidade (H”6,0 eq. % NaCl) e
sional e é caracterizado por um enriquecimento baixa quantidade de CH4 (3-10 mole %). O fluido
em Pb, Te e Au. A mineralização ocorre sob a for- era originalmente homogêneo e rico em CO2, mas
ma de cristais de ouro finos a médios associados processos subseqüentes de imiscibilidade de flui-
a sulfetos com textura annealed. A mineralogia da dos causaram a separação em duas fases: rica
ganga é dominada por quartzo e turmalina. em CO2 e pobre em CO2 ou H2O-CO2. A imiscibilida-
de de fluidos está relacionada a episódios de fra-
Ateração Hidroterrmal turamento hidráulico, responsáveis pelas flutua-
ções de pressão durante o crescimento dos veios
Nas áreas de Simpático e Prece dos Rodrigues, de quartzo por mecanismos tipo crack-seal. Con-
zonas de alteração hidrotermal são delineadas dições de P- T durante a deposição do ouro deter-
pela associação de quartzo, muscovita, clorita e minadas por vários métodos (geotermometria da
turmalina, cujos halos chegam a atingir até 150 m clorita, paragênese do minério, texturas em piri-
de largura e extensão inferior a 800 m, ao longo tas, temperatura de homogeneização dos fluidos,
da direção NNE. A geoquímica das zonas de alte- isocóras das inclusões fluidas) indicam que o ouro
ração indica urna expressiva adição de K e menor precipitou sob condições de 270° C e 1,0-3,4 kb.
proporção de Ti, Fe e Mn. As áreas mineralizadas
são enriquecidas em uma suíte distinta de elemen- Gênese da Mineralização Aurífera
tos químicos tais como: Ba, Pb, Th, V, Zn, Se, Ga, Y,
Rb, Nb e Nd. Empobrecimento em Ca e Na são típi- Análises de isótopos estáveis das inclusões flui-
cos. Os altos valores de K, Ba, Rb e Bi nas zonas das nos veios de quartzo portadores de ouro in-
potássicas e a presença de zonas ricas em turma- dicam que o carbono (ä13C) tem origem magmática
lina sugerem paragênese mineral de natureza mag- No entanto, há um amplo espectro nos valores de
mático-hidrotermal. O mesmo padrão de zonas de δ13C em quartzo (7,0 a 14,5 ‰), sugerindo uma
alteração presente em diferentes litologias encai- mistura de fluidos de diferentes fontes, incluindo
xantes reflete que as rochas foram submetidas aos aqueles relacionados à água meteórica.
mesmos processos metassomáticos, como tam- O modelo de mineralização invoca diferentes
bém é indicativo que a composição do fluido hi- fontes para o fluido e o minério. A fonte do ouro
drotermal não foi controlada pela química das ro- está provavelmente relacionada ao magmatismo
chas encaixantes. calcialcalino, derivado da fusão da crosta inferior
A relação entre deformação, mineralização de ou do manto superior. Algum ouro adicional ao
ouro e zonas de alteração indica que as zonas de ouro original poderá ter sido remobilizado das
alteração desenvolveram-se antes da mineraliza- litologias encaixantes (previamente enriquecidas
ção de ouro, possivelmente ao mesmo tempo, que em ouro) e ter sido incorporado ao sistema
a precipitação dos primeiros sulfetos. A minerali- hidrotermal pelos fluidos mineralizantes.
zação de ouro superpõe parcialmente o metamor- O ponto principal que emerge no presente es-
fismo regional, sendo contemporânea e/ou tardia tudo é a importância do magmatismo e dos flui-
em relação ao retrometamorfismo e ao evento plu- dos relacionados a correntes meteóricas, tais como

371
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Porções norte e central da Província Borborema

são descritos nos clássicos modelos dos tipos Fosfato Brasil (2010) utilizando como base o le-
porphyry Cu ou mineralizações de Sn-W relaciona- vantamento aerogeofísico magnetométrico e
das a granitos. Isso implica em uma relação das gamaespectrométrico de alta resolução, do pro-
mineralizações auríferas, scheelitíferas e jeto Norte do Ceará (Tabela 3). Os indícios, na mai-
pegmatíticas dos cinturões transpressivos oria das vezes, estão relacionados com anomali-
ediacaranos das faixas Seridó e Piancó-Alto as de urânio acima de 10ppm e encontram-se
Brígida/Alto Pajeú. posicionados segundo grandes alinhamentos mag-
néticos correlacionados aos Diques Rio Ceará-Mi-
DEPÓSITOS DE U-P E U-P-ETR METASSOMÁTICOS rim (Figs. 13 e 14).

Província Fósforo-Uranífera de Itataia TIPOLOGIA DOS DEPÓSITOS

O Depósito de Itataia foi descoberto em 1976, Em relação à tipologia da mineralização, foram


através do Projeto Canindé, convênio NUCLEBRÁS/ definidos os seguintes modos de ocorrência de
CPRM. A partir da descoberta, foram realizados rochas fósforo-uraníferas: a) colofanitos (maciço,
levantamentos geofísicos, mapeamento geológi- botrioidal, veios stockwork e disseminações); b) bre-
co, 37.000m de sondagens, aberturas de trinchei- chas; c) epissienitos; d) albititos. A apatita predomi-
ras e 1.270m de galerias. Diversos estudos foram nante em Itataia é a fluor-hidroxiapatita (Fyfe 1978).
realizados pela NUCLEBRÁS no final da década e Em termos litoestratigráficos, os colofanitos do
70 e na década de 80 (Fyfe 1978; Fuzikawa 1978; depósito de Itataia, estão encaixados em meta-
Favali & Leal 1982; Saad et al. 1984; Mendonça et calcários inseridos em uma sequência de rochas
al. 1985; Angeiras 1988; Netto et al. 1991). Du- paraderivadas constituídas de Bt-gnaisses, quart-
rante um longo período a jazida não foi explorada zitos, e cálcio-silicáticas, pertencentes ao Complexo
e só recentemente a Mineradora Galvani venceu a Ceará, descrito localmente como Grupo Itataia.
concorrência pública das Indústrias Nucleares do Entretanto, as outras ocorrências fósforo-uraní-
Brasil (INB) e adquiriu o direito de explorar a jazi- feras, descritas na região, ocorrem principalmen-
da. A expectativa é de começar a produzir a partir te em corpos de rochas feldspáticas alcalinas (al-
de 2014 cerca de 240 mil toneladas de fosfato e bititos) e também em vulcânicas ácidas hidroter-
1.500 toneladas de urânio por ano. malizadas associadas ao magmatismo toleítico Rio
Pesquisas recentes realizadas pela CPRM/Re- Ceará-Mirim, do Cretáceo. As rochas feldspáticas
sidência de Fortaleza revelaram novos aspectos alcalinas são intrusivas nos Ortognaisses São José
sobre o controle e a gênese da mineralização fós- de Macaoca e nos migmatitos do Complexo Canin-
foro-uranífera de Itataia, a seguir apresentadas dé do Ceará, do Paleoproterozoico; nas rochas
a seguir. A mineralização fósforo-uranífera está metassedimentares do Complexo Ceará e nos gra-
inserida na Subprovíncia Ceará Central, que é uma nitoides do Complexo Tamboril-Santa Quitéria, do
área com efetiva atuação de fenômenos tectono- Neoproterozoico (Fig. 15).
termais e magmáticos durante o Neoproterozoico Os elementos estruturais mais importantes que
e o Cambro-Ordoviciano (Santos & Brito Neves controlam a mineralização do depósito de Itataia
1984), mas que também persistiu durante o são falhas normais e fraturas, sendo a direção E-
Mesozoico com a abertura do Oceano Atlântico. W mais importante, ao longo da qual se deu o pre-
enchimento de colofanito e, a outra direção NE-
A PROVÍNCIA FÓSFORO-URANÍFERA SW que afetou o corpo de minério e as rochas
encaixantes (Mendonça et al. 1980). O corpo prin-
Outras ocorrências fósforo-uraníferas denomi- cipal de minério está alinhado E-W, com extensão
nadas de Serrotes Baixos, Mandacarú e de 900 a 1000m, largura de 200 a 300m e espes-
Taperuaba, também foram estudadas pela sura conhecida na ordem de 150 a 200m (Saad et
NUCLEBRAS na década de 80 (Haddad 1981; Favali al. 1984). Em termos regionais, a principal estru-
et al. 1984; Leal et al. 1984). Além dessas, outras tura que condiciona as diversas ocorrências de
sete (7) áreas com indícios de mineralização fós- fosfato são alinhamentos curvos, aproximadamen-
foro-uraníferas foram identificadas no Projeto te E-W correlacionados aos Diques Rio Ceará-Mirim.

372
Edilton José dos Santos et al.

Tabela 3 - Análise geoquímica de rocha total em amostras dos pontos estudados.

Figura 13 - Detalhe da porção central da área estudada mostrando as ocorrências fósforo-uraníferas (3,6,5,1
e 10) e (11,8 e 9) alinhadas com os diques Rio Ceará-Mirim. O ponto 1 refere-se ao Depósito de Itataia.
Imagem da 1ª derivada vertical do campo magnético, Projeto Norte do Ceará (2009).

Figura 14 - Detalhe mostrando anomalias de urânio em Itataia de 334ppm (ponto 1) e duas anomalias de 12
ppm nos pontos 5 e 6, que ocorrem segundo o alinhamento dos diques Rio Ceará-Mirim. Imagem do canal de
urânio, do projeto Norte do Ceará, 2009.

373
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Porções norte e central da Província Borborema

DADOS ISOTÓPICOS DE C E O escapolita, flogopita, clinocloro e tremolita) indica


a existência de reações de devolatização e/ou
Os dados a seguir foram compilados de inves- descarbonatação, o que não elimina, entretanto,
tigação realizada por Castro et al. (1998), para a hipótese da interação com fluidos externos como
complementar o acervo de dados aqui reunido responsável pela variação isotópica observada.
sobre a mineralização fósforo-uranífera de Itataia.
A investigação desses autores foi realizada ao longo GÊNESE DA MINERALIZAÇÃO FÓSFORO-URANÍFERA
de uma das seções que cortam as rochas meta-
carbonáticas, parcialmente mineralizadas, mos- Os modelos genéticos existentes apontam para
trando uma variação de +2,0 a +5,0‰ nos valo- duas vertentes principais, uma hidrotermal com
res de δ13CPDB e de +16,3 a +24,2‰ de δ18OSMOW. fonte magmatogênica e outra metamórfica-hidro-
Esses dados demonstram a presença de fonte termal com fonte sedimentogênica, ambas com
mista, magmática e sedimentare. Segundo esses enriquecimento supergênico através do fenôme-
autores, eventos pós-deposicionais associados a no de carstificação. Segundo esses autores, as
uma tectônica dúctil e dúctil-frágil acompanhada hipóteses que melhor explicam a origem dizem
de infiltração de fluidos hidrotermais e/ou super- respeito à sua associação com rochas sedimenta-
gênicos e carstificações são responsáveis pelas res depositadas em zonas de plataforma marinha
modificações nas razões isotópicas originais. rasa e/ou restrita e que o fosfato seria original-
Os mármores dolomíticos delgados e impuros, mente oriundo do reservatório oceânico. O fluxo
que apresentam as menores razões isotópicas, da solução dar-se-ia por meio da movimentação
poderiam ser os mais afetados por esses even- das águas frias dos fundos oceânicos, em corren-
tos. Faixas miloníticas de espessura métrica e bre- tes ascendentes que se misturariam às águas
chas de dissolução cárstica, encontradas a uma superficiais mais quentes das bordas de bacias,
profundidade de 144m intercaladas aos estratos aumentando a concentração do HPO42- e, posteri-
metacarbonáticos, poderiam materializar os canais ormente, precipitando o fosfato.
de percolação desses fluidos. As camadas meta- A fonte de urânio, por sua vez, seria dominan-
carbonáticas mais espessas e com razões δ13CPDB e temente terrígena, relacionada com a lixiviação do
δ18OSMOW mais altas (δ13CPDB 0±2‰ e e δä18OSMOW embasamento continental preexistente, que se
>20‰) poderiam retratar os leitos melhor preser- depositaria em ambiente marinho confinado com
vados ou menos modificados isotopicamente. Não fortes influências continentais. Alternativamente,
obstante, a associação mineralógica (diopsídio, o urânio poderia, ser originário da água do mar,

Figura 15 - Mapa geológico simplificado com a localização das ocorrências fósforo-uraníferas. (1) Itataia, (2)
Mandacarú, (3) Serrotes Baixos, (4) Suíte Taperuaba. Os outros pontos foram classificados como indícios de
mineralização de fosfato (5, 6, 7, 8, 9, 10 e 11). Compilado e modificado de Torres et al. (2008).

374
Edilton José dos Santos et al.

uma vez que a mesma apresenta uma concentra- e urânio (2.300ppm).


ção média neste elemento de 3,3 ppb e que sua Os colofanitos do depósito de Itataia se forma-
extração se daria por meio de processos de subs- ram mais tarde com a introdução de uma fonte
tituição iônica, adsorsão em matéria orgânica ou termal, os diques Rio Ceara-Mirim, relacionada com
adsorsão em fosfatos marinhos depositados em o rifteamento em escala global e a atividade de
depressões litorâneas, com baixo pH e condições hotspot durante a abertura do Atlântico Sul e Equa-
redutoras. Posteriormente, a ocorrência fósforo- torial. Com base nos estudos termo-geocronoló-
uranífera seria mobilizada durante a diagênese e gicos de traço de fissão em apatitas, Netto et al.
o metamorfismo e, localmente, por corpos pegma- (1991) chegaram a idade de 91+6 Ma para a for-
títicos, seguindo-se uma reconcentração por pro- mação dos colofanitos associados a este evento
cessos supergênicos mediante a circulação de termal Cretáceo. Durante este evento surgiram os
águas aciduladas que promoveriam a solubiliza- grandes falhamentos de gravidade e fraturas con-
ção do carbonato. jugadas que se tornaram os principais sítios de
Os dados obtidos na presente investigação não deposição do minério. Esta fonte termal, associa-
confirmam essas ideias. O modelo aqui proposto da à exumação do terreno, teria gerado um siste-
para a mineralização fósforo-uranífera aponta as ma convectivo hidrotermal envolvendo uma mis-
rochas alcalinas associadas ao magmatismo ano- tura de fluidos meteóricos e magmáticos, que re-
rogênico (Cambro-Ordovinciano) como a fonte pri- moveram o fosfato e o urânio das rochas alcalinas
mária do fosfato e do urânio. Na área estudada e depositaram apatita rica em urânio na forma de
focorrem rochas feldspáticas alcalinas ricas em colofana, a baixas temperaturas (50-140ºC), dando
apatita que apresentam teores de até 10% de origem aos corpos de colofanito e também mine-
P2O5 e 781 ppm de U e ocorrem não só no interior ralizando os epissienitos através do preenchimen-
do Complexo Tamboril Santa Quitéria, mas tam- to dos vacúolos deixados pela dequartzificação
bém nos Ortognaisses São José de Macaoca, como (Fig. 17).
também nas sequências de rochas paraderivadas Indícios de envolvimento dos diques Rio Cea-
que compreendem o Complexo Canindé do Ceará rá-Mirim com a mineralização foram descritos em
e o Complexo Ceará (Fig. 16). dois pontos onde rochas vulcânicas alteradas
Estas rochas alcalinas passaram por processos hidrotermalmente, que convivem lado a lado com
de albitização, desquartzificação (epissienitização) o dique básico, apresentaram teores P2O5 acima
a temperaturas entre 550ºC – 350ºC (Cuney de 25% e de U entre 721 e 1.500ppm (Fig. 18).
2010), tormando-se o protominério de fosfato rico Seguindo, houve fraturamento generalizado na
em urânio. Os processos de albitização e epissie- área gerando brechas dos colofanitos e dos
nitização correspondem às fases iniciais do pro- albititos. Posteriormente, fenômenos de
cesso mineralizante. Na área estudada foram des- carstificação retrabalharam este material,
critos albititos mineralizados brechados enrique- reconcentrando os colofanitos em depressões
cidos localmente com fosfato (com até 15% de P2O5) cársticas. Com o soterramento do cárste, houve

Figura 16 - Ponto 7. (a) Afloramento de albitito encaixado nos Granitoides Santa Quitéria; (b) Fotomicrografia
mostrando os cristais de apatita (Ap) circundando os feldspatos, e os óxidos (supergênicos; Op) preenchendo
as cavidades (LN–10X) (MD-20).

375
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Porções norte e central da Província Borborema

Figura 17 - Modos de ocorrência da colofana no depósito de Itataia. a) colofanito com aspecto maciço; b)
fotomicrografia do colofanito maciço, cortado por veio de carbonato com apatita; c) epissienito mineralizado
com colofana preenchendo os vacúolos deixados pela dequartzificação; d) fotomicrografia do epissienito; e)
brecha carbonosa com fragmentos de albitito; f) fotomicrografia da brecha carbonosa de albitito; g) mármore
com impregnação de colofana; h) fotomicrografia do mármore mineralizado.

Figura 18 - Ponto 9 (a) Afloramento de rocha vulcânica hidrotermalizada (MD-24a); (b) fotomicrografia
mostrando o detalhe da matriz rica em apatita (LN-50X) (MD-24a).

376
Edilton José dos Santos et al.

também a dissolução e precipitação de colofana pelo magmatismo Rio Ceará-Mirim relacionado com
botrioidal em fraturas abertas. a abertura do Atlântico Sul em 130 Ma.
Na jazida fósforo-uranífera de Itataia a Quanto à idade de formação do depósito de
mineralização possui caráter eminentemente Itataia, a maioria das ocorrências fósforo-
epigenético e pós-metamórfico. O colofanito não uraníferas está alinhada com os Diques Rio Cea-
está deformado pela tectônica brasiliana que ca- rá-Mirim. As análises de traços de fissão em apatita
racteristicamente atuou nas rochas encaixantes. realizadas por Netto et al. (1991) indicaram que
os colofanitos de Itataia formaram-se em cerca de
RESERVAS 91Ma, ou seja, provavelmente relacionada a uma
fonte termal cretácea, que correlacionamos aos
As reservas do depósito de itataia atingem 18 diques Rio Ceará-Mirim.
milhões de toneladas de minério com 11% de P2O5
e 998ppm de U3O8. Sendo que no minério exitem Depósito de U-P-ETR de São José de Espinha-
8,9 milhões de toneladas de P2O5 e 79,3 mil tone- ras; Paraíba
ladas de U3O8. Na área existem também, cerca de,
300 milhões de metros cúbicos de mármores isen- O depósito de urânio de São José de Espinha-
tos de urânio (INB, 2010). ras (PB) está localizado a 25 km a norte da cidade
de Patos, no Estado da Paraíba. Foi descoberto a
CONSIDERAÇÕES FINAIS partir de uma anomalia radiométrica resultado de
um levantamento radiogeológico executado pela
Na área estudada foram selecionadas 34 ano- CNEN / CPRM em 1972. Em 1976, com o impulso
malias de urânio com valores acima de 10ppm e da criação da hoje extinta NUCLAM S.A., esta ano-
destas resultaram na identificação de 11 ocorrên- malia foi detalhada através de vários trabalhos
cias de fosfato, incluindo Itataia. As anomalias onde sucessivos até 1981, do tipo levantamento aero-
não foram identificados indícios de fosfato são lo- radiométrico, verificação radiométrica de campo
cais onde ocorrem corpos de leucogranitos (albita (autoportada), abertura de trincheiras, amostra-
granitos) e quartzitos. gem sistemática de rochas, sondagens e geoquí-
Com relação à prospecção de fosfato na por- mica de sedimentos de corrente. Foi considerado
ção setentrional da província, a partir deste estu- inviável economicamente à época por conta dos
do, apontamos como guia os lineamentos E-W custos operacionais da lavra e preços do urânio
correlacionados com o magmatismo Rio Ceará-Mi- no mercado internacional, que caiu de US$42 para
rim em associação com anomalias de urânio. Com US$23 por libra (Santos e Anacleto 1985).
a instalação da mina e da usina de tratamento de Este depósito possui reserva indicada e inferi-
minério de fosfato e urânio em Itataia, o interes- da de 10.000 toneladas de U3O8, sendo conside-
se por novas áreas aumentará muito e as novas rado o quinto maior depósito brasileiro, apresen-
áreas apontadas passam ser de grande interes- tando teores de U 3 O 8 e de ThO 2 que atingem
se, bem como os novos guias de prospecção para 45.000 e 5.760 ppm, respectivamente (Javaroni &
a porção setentrional da Província Borborema. Maciel 1985; Santos & Anacleto 1985). As rochas
Com relação à origem da mineralização de mineralizadas revelaram teores relativamente ele-
fosfato, os indícios apontam para uma fonte vados de Na2O (10-11 %) e P2O5 (até 4,9 %), além
magmatogênica tardia associada a um de Elementos Terras Raras ( ETR de pelo menos
magmatismo anorogênico pós-brasiliano. Na re- 863 ppm, registrado em amostra do minério com
gião estudada, o intenso magmatismo que ocor- U = 808 ppm, Th = 710 ppm e Y = 1.040 ppm;
reu no período entre o Neoproterozoico e o Souza Neto e Santos 2004), e até 2.480 ppm de Y
Cambriano marcou a história evolutiva da Provín- (Santos & Anacleto 1985).
cia Borborema. Esta história inicia com a colisão
dos cratons Oeste Africa-São Luís, em torno de AMBIENTE GEODINÂMICO DE FORMAÇÃO
660 Ma; seguida pelo magmatismo Tamboril – San-
ta Quitéria entre 657 Ma e 591Ma, passando pelo O depósito de urânio de São José de Espinha-
metamorfismo de alto grau em 620 Ma, pelo ras é do tipo epigenético, de origem metassomá-
magmatismo anorogênico, em torno de 470 Ma e tica, onde granitos intrusivos neoproterozoicos

377
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Porções norte e central da Província Borborema

foram alterados por processos metassomáticos, da NUCLAM no final da década de 1970, não per-
tais como albitização e hematização, que promo- mitia a observação de uma clara relação com as
veram também lixiviação de sílica e enriquecimen- rochas encaixantes imediatas do depósito. Os
to em fosfato, urânio e Elementos Terras Raras mapas de anomalias geofísicas (gama-espectro-
(ETR) nas rochas mineralizadas (Santos & Anacle- metria para U-Th-K e magnetometria) também não
to, 1985; Porto da Silveira et al. 1990; Souza Neto revelam diretamente as rochas encaixantes do
& Santos 2004). Alguns autores sugerem a pre- depósito em foco.
sença de um enriquecimento supergênico do mi- O mapeamento geológico na escala 1:40.000
nério neste depósito mineral, além da existência de uma área de aproximadamente 150 km² (Cor-
de uma tipologia especial para os corpos graníti- tez de Souza 2004), estrategicamente escolhida,
cos relacionadas à mineralização (Grossi Sad 1979; em torno da mineralização de U-ETR-P de São José
Grossi Sad & Dutra 1989), fato corroborado pela de Espinharas (PB), revelou que as rochas encai-
comparação com o stock granítico albitizado de xantes imediatas deste depósito mineral são cons-
Ghurayyah, na Arábia Saudita (Taylor & Fryer 1983). tituídas por gnaisses bandados (Complexo Caicó)
e granitos intrusivos (Suíte Poço da Cruz), ambos
PRINCIPAIS CONTROLES DA MINERALIZAÇÃO de idade paleoproterozoica. Os gnaisses são for-
mados por alternâncias de ortognaisses mesocrá-
O minério do Deposito de Sao José de Espinha- ticos, leucocráticos e hornblenda metabasitos, in-
ras consiste de albititos formados por intenso tercalados com paragnaisses, rochas cálcio-silicá-
metassomatismo sódico que, pela presença de ticas e skarns. A suíte intrusiva inclui augen gnais-
hematita, confere à rocha mineralizada uma cor ses, ortognaisses leucocráticos e migmatitos. To-
avermelhada e textura porosa resutante da dis- dos estes litotipos apresentam tramas estruturais
solução do quartzo (Grossi Sad 1979, Santos & planares de direção predominantemente NNE-SSW,
Anacleto 1985, Souza Neto & Santos 2004). A al- reconhecendo-se dobras intrafoliais e antigas fo-
bita desenvolve-se a partir do feldspato alcalino liações, sugerindo pelo menos uma fase deforma-
dos granitoides, sendo esta reação ilustrada por cional anterior. Essa foliação dominante mergulha
texturas de substituição em vários graus de in- sistematicamente para WNW, havendo indícios de
tensidade (Cortez de Souza 2004). repetição por dobramento, desenvolvendo-se do-
As principais rochas encaixantes são gnaisses bras reviradas e isoclinais. Uma fase mais nova
bandados, porfiroblásticos ou não, anfibolitos, gra- redobra essa trama dominante, gerando novas
nito-gnaisses (denominação equivalente ao con- dobras, associadas à zonas de cisalhamentos
tato entre os gnaisses bandados do embasamen- transcorrentes dextrais de direção NE-SW, que são
to com os microgranitos intrusivos) e aplogranitos ramificações do sistema de cisalhamento Patos-
(epissienitos), sendo que todos estes litotipos Malta (direção E-W). As estruturas características
mostram-se afetados pelo processo de albitiza- dessas fases são foliações de transposição e li-
ção. Entretanto este processo metassomático afe- neações (interseção e estiramento mineral) de bai-
ta principalmente os aplogranitos e os anfibólio xo ângulo, mergulhando tanto para NNE, quanto
augen gnaisses. O processo de albitização e mi- para SSW. Essa fase controla o alojamento de gra-
neralizante em U-P-ETR parece ser controlado es- nitos brasilianos (cálcio-alcalinos rico em K), sen-
trutural e litologicamente, sendo de caráter pós- do o mais expressivo o complexo híbrido Rio Espi-
tectônico, pois impregna as intrusões granitoides nharas. A leste do complexo, predomina um fácies
tardi a pós-orogenéticas e os augen gnaisses mais diorítico precoce, que coexiste e/ou se mistura com
antigos, sendo que nestes na forma de halo irre- um fácies félsicos porfirítico e equigranular, desen-
gular preferencialmente desenvolvido nas proxi- volvendo-se estruturas tipo brecha, pillow e diques
midades das rochas graníticas (Santos & Anacleto sin-plutônicos (Cortez de Souza 2004, Souza Neto
1985, Souza Neto & Santos 2004). & Santos 2004).
Uma atividade intrusiva tardia é representada
DESCRIÇÃO DOS DEPÓSITOS por diques graníticos leucocráticos róseos, equi-
granulares e de granulação fina, tardi a pós-tec-
O mapeamento de detalhe (escala 1:200) da tônicos, controlados por um sistema de fraturas
zona mineralizada elaborado pelo corpo técnico extensionais de direção NE-SW. Estes diques va-

378
Edilton José dos Santos et al.

riam de granitos sensu stricto até aplogranitos dem apresentar-se preenchidos por quartzo e cal-
(epissienitos), cujas fases metassomáticas são as cita. Por outro lado, os augen gnaisses minerali-
responsáveis pela mineralização de U-P-ETR, e zados possuem a mesma textura e estrutura pre-
constituem a rocha hospedeira do depósito de São servadas dos augen gnaisses estéreis, mas apre-
José de Espinharas. sentam dissolução de quartzo, albitização, e he-
Nestes granitos desenvolvem-se foliações de matitização, além da transformação parcial ou to-
fluxo magmático de baixo ângulo à sub-horizon- tal da hornblenda para riebeckita e arfvedsonita,
tal, ao longo das quais ocorrem níveis (10-15 cm e a cloritização da biotita (Santos & Anacleto 1985).
de espessura) porfiríticos de feldspato alcalino, que Quanto às fases minerais hospedeiras do urâ-
localmente apresentam uma textura em pente nio, não se conhece estudo detalhado dos mine-
(pórfiros perpendiculares à foliação magmática). rais de minério, entretanto admite-se que o urâ-
O principal corpo mineralizado corresponde a nio deve ocorrer, pelo menos em parte, na apatita
um dique de sienogranito, de granulometria fina a (colofanita). Entretanto, a relativa baixa quanti-
média, equigranular, com cerca de 2 km de exten- dade observada de apatita (raramente acima de
são e 100 m de largura, disposto ao longo da di- 2 %) não poderia explicar os teores relativamen-
reção NE-SW. Como dito anteriormente, esta ro- te elevados de urânio encontrados. Provavelmen-
cha mineralizada se caracteriza por uma pervasi- te parte do urânio está adsorvida no material co-
va albitização dos feldspatos alcalinos, com óxi- loforme ou cripto-cristalino (Santos & Anacleto
dos de ferro (e.g. hematita) associados, que im- 1985). Em estudo geoquímico do solo nas áreas
primem uma coloração avermelhada intensa à mineralizadas de São José de Espinharas foi de-
mesma, facilitando seu reconhecimento. Outra tectada carnotita (Barbosa 2008).
constatação importante é que os augen gnaisses
encaixantes também possuem coloração verme- ASSINATURAS GEOFÍSICAS E/OU GEOQUÍMICAS
lha intensa, e estão mineralizados em U-ETR-P,
preferencialmente nas porções em torno dos albi- A assinatura geofísica do Depósito de U-P-ETR
titos mineralizados. de São José de Espinharas é revelada por gama-
Também de caráter extremamente importante espectrometria, pois responde com alguns milha-
do mapeamento de detalhe (Cortez de Souza res de contagem por segundo (cps) de radiação
2004) foi a descoberta de outros corpos de ro- total (Barbosa 2008). Por outro lado, as rochas
chas geneticamente relacionadas à rocha hospe- mineralizadas possuem teores relativamente ele-
deira (albitito) da mineralização de U-P-ETR. Res- vados de Na, P, U e ETR, o que revela o caráter da
salta-se, a delimitação de um corpo intrusivo, igual- associação geoquímica da mineralização dada por
mente de direção NE-SW, com extensão bem su- U-ETR-Th-Y-Na-P (Souza Neto & Santos 2004).
perior ao corpo mineralizado já conhecido, tendo
pelo menos 12 km de extensão (só na área mape- IDADE DAS ROCHAS ENCAIXANTES/HOSPEDEIRAS E
ada) e largura variável entre 80 e 200 metros. Este DA MINERALIZAÇÃO
corpo é constituído por um sienogranito leucocrá-
tico, com granulometria fina, equigranular, apre- A idade do metassomatismo formador da mi-
sentando foliação de fluxo magmático subhorizon- neralização de U-P-ETR de São José de Espinha-
talizada (mergulhando 25-30o para sudeste). Este ras é provavelmente tardi a pós Brasiliana (520 a
é considerado protólito do albitito, que foi gerado 540 Ma), pois este processo afeta rochas grani-
a partir da transformação por metassomatismo toides tardi a pós-orogenéticas (pouco ou não
sódico do mesmo (Souza Neto & Santos 2004). deformadas e alojadas em fraturas extensionais),
A mineralogia da rocha mineralizada (albiti- que no âmbito regional possuem cerca de 540 Ma.
to) é formada por albita, feldspato alcalino, biotita
(pode ocorrer cloritizada ou epidotizada), tendo POTENCIAL PARA A PRESENÇA DE NOVOS DEPÓSITOS
como minerais acessórios apatita, pirita, calcopiri-
ta, titanita, monazita, magnetita e hematita (pa- A importância dos novos corpos mapeados de
lhetas submicroscópicas dentro dos plagioclásios rochas granitoides, possíveis protólitos do albitito
neoformados) (Santos & Anacleto 1985, Cortez de mineralizado, reside no fato de que os mesmos
Souza 2004). Secundariamente os vacúolos po- podem também estar mineralizados em U-ETR-P,

379
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Porções norte e central da Província Borborema

uma vez que possuem ligação genética com a ro- critas anteriormente. Relata-se aqui a ocorrência
cha mineralizada típica da área. Isto muda de cer- de mineralizações cupriferas em rochas metamá-
ta forma a perspectiva da mineralização estuda- ficas anfibolíticas da Formação Seridó, que ocor-
da, pois amplia o potencial das reservas de U-ETR- rem principalmente na parte leste da Faixa Seri-
P da área. dó. A ocorrência mais conhecida foi descrita há
muitos anos em boletim do DNPM, mas, Cavalcan-
DEPÓSITOS ESTRATIFORMES E HIDROTERMAIS te Neto (2008), caracterizou recentemente uma
DE Cu E Cu-Fe zona de direção N-S no limite entre as formações
Equador e Seridó, em que tanto skarns, quanto
Na parte setentrional da Província Borborema, rochas metamáficas são enriquecidas em Cu. Se-
ocorrem vários pequenos depósitos de Cu, distin- gundo este autor, as rochas metamáficas são for-
guindo-se três tipos genéticos de mineralização: madas por hornblenda, plagioclásio, diopsídio,
estratiforme metassedimentar, estratiforme vulca- epidoto, clorita, biotita, malaquita (até 5%), quart-
nogênico-metassomático e hidrotermal. Os tipos zo, calcocita (até 3%), actinolita-tremolita, schee-
estratiformes são de idade ediacarana e ocorrem lita e traços de rodocrosita, molibdenita, bismuti-
nas faixas Martinópole e Seridó. Já as mineraliza- nita e óxido de ferro. Outra ocorrência de rocha
ções hidrotermais aparecem, principalmente, em metamáfica mineralizada em cobre é conhecida na
pequenas fossas ediacaranas a cambro-ordovici- localidade de Água Fria, Jucurutu, na parte ocie-
anas, que bordejam a Bacia do Parnaíba. dental da Faixa Seridó (Santos & Brito Neves 1984),
onde aparecem concentrações anômalas de calco-
Mineralização de Cobre Estratiforme Metasse- cita, calcopirita, covelita e pirrotita em rochas meta-
dimentar na Faixa Martinópole máficas associadas à skarns scheelitíferos.

O depósito de Pedra Verde é do tipo estratifor- Mineralizações hidrotermais Cupro-Ferrginosas


me com 3,5 m de espessura média, situado em em Sequências Vulcanossediimentares Pós-Oro-
metapelitos carbonosos com intercalações arení- gênicas
ticas da Formação Mambira, que preenchem um
graben nos gnaisses e quartzitos do embasamen- Algumas bacias pós-orogênicas ediacaranas ou
to, Brizzi & Roberto (1988) descrevem uma zona- cambro-orovicianas estão preservadas em gra-
ção bem definida: no topo, uma vermelha rica em bens instalados sobre os lineamentos e zonas de
óxido de ferro, na base do conglomerado, cobrin- cisalhamento da Província Borborema, principal-
do o primeiro nível mineralizado, formado por cal- mente, na margem da Bacia do Parnaíba. Um des-
cocita, no topo dos filitos carbonosos; segue-se a ses depósitos situa-se na Bacia de Jaibaras, im-
zona com bornita e a zona com calcopirita e pirita. plantada sobre o Lineamento Transbrasiliano, o
Um projeto de pesquisa recente dimensionou qual foi pesquisado pela CPRM e investigado do
as reservas em 50 milhões de toneladas com teor ponto de vista metalogenético por Parente et al.
de 1 % de cobre, com pesquisas em andamento (2005). Segundo esses autores, trata-se de um
pela empresa Extrativa de Fertilizantes S/A. Se- depósito magmático-hidrotermal distal em sequ-
gundo a concessionária, a intenção é produzir ências vulcano-sedimentares hidrotermalizadas de
entre 1,5 a 2 milhões de minério com 1 % de co- uma bacia molássica, recortada pelos granitos
bre e beneficiamento para obtenção de concen- Mucambo e Meruoca. Os processos de alteração
trado com 35 % de cobre. Um pequeno depósito dominantes são a propilitização, albitização e he-
similar ao de Pedra Verde é encontrado no limite matitização. A ocorrência de ferro (hematita) hi-
do terreno Granja com a Faixa Martinópole, cor- drotermal se dá em granitos brechados com pirita
respondendo ao rifte de Jaguarari, onde podem e calcopirita disseminadas, recortados por vênu-
ocorrer depósitos de Cu similares. las de óxido de ferro e brechas vulcânicas epido-
síticas, brechas hematítica-silicosas maciças e cor-
Mineralizações Metavulcânicas-Metassomáticas pos magnetítico-hematíticos tabulares, maciços,
da Faixa Seridó que gradam lateralmente entre si. Foi considera-
da como magmática-hidrotermal distal, com quan-
Mineralizações cupríferas em skarns foram des- tidades consideráveis de fluidos não magmáticos,

380
Edilton José dos Santos et al.

semelhantes ao modelo IOCG. dades estratigráficas ali existentes, devido à es-


Na Bacia de Aurora, um pequeno graben im- truturação tectônica das grandes zonas de cisa-
plantado sobre o Lineamento Patos, as minerali- lhamento da Província Borborema e pelas falhas
zações cupríferas ocorrem na forma de dois tipos normais relacionadas ao colapso do orógeno bra-
de mineralização, segundo Parente e Arthaud siliano. Todo o conjunto recebeu contribuições de
(1994). Um tipo é disseminado e, por vezes, re- sistemas hidrotermais que promoveram alterações
presentado por microveios de baixo teor. O outro significativas na mineralogia das rochas, as quais
tipo associa-se aos níveis de brechas sílico-ferru- foram hierarquizadas por este autor em cinco ti-
ginosas, sendo essas de maior espessura e maior pos de alterações: associação epidoto-clorita-car-
continuidade lateral, apesar de serem também de bonato, associação quartzo-albita-carbonato, as-
baixo teor. Os níveis de brecha mineralizados for- sociação sericita-quartzo-clorita, silicificação e he-
mam leitos de pequena espessura (1-5 cm), com- matitização.
postos por pirita e calcopirita associadas ao quart- Os estudos de geoquímica de rocha total, geo-
zo, hematita e/oumagnetita. A pirita se encontra química de isótopos estáveis e de isótopos radio-
em grãos subautomórficos a anedrais, fraturados gênicos realizados em tais brechas (Machado
e, às vezes, com textura “em cárie”. A calcopirita 2006) indicaram protólitos graníticos e vulcânicos
ocorre, sobretudo, em cristais irregulares, preen- ácidos, de caráter tardi- a pós-tectônico com ida-
chendo fraturas multidirecionais, que cortam ora de variando entre 546 e 578 Ma, afinidade quími-
a pirita, ora a ganga. ca peraluminosa, e composição isotópica indican-
A hematita é o óxido de ferro dominante e ocor- do provável interação de fontes magmáticas e
re em cristais tabulares com inclusões de sulfetos meteóricas nos fluidos hidrotermais. As ocorrênci-
ou da ganga. A magnetita é subordinada e apare- as são compatíveis com o modelo IOCG (Hitzman,
ce na forma de cristais automórficos e anedrais. 2000) do tipo colapso de orógeno (metassomatis-
Além desses minerais, encontra-se também calco- mo de ferro, magmatismo granítico peraluminoso,
cita e, por vezes, covelita, que aparecem como brechação hidrotermal e anomalias significativas
produtos de alteração da calcopirita. A sucessão de cobre), apesar de nunca ter sido encontrado
mineral desses veios é: pirita-calcopirita-magne- nenhum depósito com considerável volume de fa-
tita-hematita-calcocita e/ou covelita. Alguns frag- ses sulfetadas que justificassem sua exploração
mentos de rochas ultramáficas associadas a es- comercial.
sas brechas possuem pentlandita e pirrotita, sem Dados geoquímicos e isotópicos de C e O dos
interesse econômico. carbonatos disseminados na matriz, ou em veios
Parente & Arthaud (1994), levando em conta e fraturas das brechas mineralizadas apontam
os aspectos texturais e composição do minério, a sempre para uma influência magmática na forma-
presença da hematita dominantemente tabular, a ção dos depósitos. Os valores de δ13C(PDB) variaram
calcopirita anedral preenchendo fraturas da pirita entre -3,11 a -6,21 ‰, e de δ18O(SMOW) entre +4,69
e a associação dos níveis de brechas silicosas e e +22,66‰. Apenas as amostras provenientes do
sílico-ferruginosas com superfícies de empurrão, embasamento (Grupo Orós) cairam no campo dos
concluiram que o minério de cobre da sequência carbonatos marinhos. Todas as demais amostras
vulcanossedimentar de Aurora resultou de uma distribuíram-se no campo dos carbonatitos ou pró-
migração de fluidos hidrotermais nos estágios fi- ximos deles e apenas uma delas situou-se no cam-
nais da orogênese brasiliana. po do depósito de Cu de Igarapé Bahia, caracteri-
Mineralizações de cobre são também conheci- zado como de tipo IOCG (Fig. 19).
das nas bacias pós-orogênicas encontradas na As amostras de veios carbonáticos provenien-
divisa dos estados do Ceará e do Piauí, as quais tes do granito Mandacaru (Bacia de São Julião)
já foram descritas como de tipo cobre pórfiro, es- cairam no campo dos carbonatos ígneos (ou seja,
tratiformes vulcanossedimentares com remobiliza- dos carbonatitos), corroborando a ideia de que os
ção granítica e, mais recentemente, como do tipo fluidos responsáveis pela formação dos veios,
IOCG. Segundo Machado (2006), trata-se de zo- muito provavelmente, contribuíram para a forma-
nas de brechas cataclásticas a hidrolíticas, locali- ção do sistema hidrotermal na área tiveram forte
zadas no setor sudoeste do Sistema Orós-Jagua- influência de fontes magmáticas, muito provavel-
ribe. Tais brechas ocorrem em quase todas as uni- mente os granitos que situam-se próximos das

381
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Porções norte e central da Província Borborema

mineralizações, principalmente nas áreas de São nada, representando, provavelmente uma zona de
Julião e Cococi. Os autores concluem que o estu- conduto e/ou fumarolas vulcânicas. Em lâmina del-
do da composição isotópica das brechas estuda- gada pode-se observar a associação mineral de
das indica haver uma correlação com as encontra- quartzo + plagioclásio + caulinita + calcopirita ±
das em depósitos do tipo IOCG, onde ocorre uma epidoto.
interação entre temperaturas e, consequentemen- As brechas pertencentes ao tipo 2 possuem
te, fontes distintas, em função da maior variação fragmentos angulosos de 2 a 3 cm, cimentados
nos valores de δ18O(SMOW) do que de δ13C(PDB). por carbonato calcítico e/ou sílica com malaquita,
Na região sudoeste do município Pio IX, Piauí, cuprita e calcopirita oxidadas disseminada ao lon-
foram descobertas várias ocorrências de brechas go de fraturas. A presença dessas associações
hidrotermalizadas ricas em cobre e ferro, afetan- minerais indica uma zona parcialmente oxidada.
do tanto o embasamento estateriano da Faixa Mineralogicamente as brechas do tipo 2 possuem
Orós-Jaguaribe, quanto as bacias molássicas cam- a assembleia mineral composta por plagioclásio +
bro-ordovicianas, dentre as quais se destaca a quartzo ± caulinita ± calcopirita ± carbonato ±
Bacia de Carnaubinha (Parente & Arthauld 2004), malaquita ± opacos representando a porção mais
detalhada recentemente por Lisboa et al. (2009). distal da mineralização.
De acordo com esses autores, distinguem-se dois Segundo Lisboa et al. (2009), as bacias cam-
tipos de mineralização, de acordo com o tipo de bro-ordovicianas da Província Borborema são usu-
hospedeira: (1) as brechas hematíticas e (2) as almente interpretadas como testemunhos do es-
brechas silicosas. As brechas hematíticas estão tágio de alívio tectônico e ascenção pós-orogêni-
hospedadas dentro das associações metavulcâ- ca brasiliana. Essa tafrogênese é acompanhada
nicas do Grupo Orós, associadas à metariolitos e de vulcanismo e sedimentação clástica imatura,
metabasaltos, ambos cisalhados, e com foliações que constitui fontes de metais e fluidos minerali-
de alto ângulo, induzidas por uma tectônica trans- zantes. Em algumas bacias é comum a presença
corrente dextral. Estas rochas cisalhadas foram de duas sequências vulcanossedimentares, sepa-
reativadas no Eo-paleozoico em regime rúptil, de- radas entre si por discordâncias erosivas, fruto de
senvolvendo assim um conjunto de falhas escalo- diversas reativações, cuja recorrência vulcânica
nadas de alto ângulo. As rochas hospedeiras das melhora as condições para a formação de depósi-
brechas mineralizadas são marcadas por um ex- tos minerais. Nesse caso, as características físi-
pressivo processo de epidotização e cloritização, cas desses depósitos passam a ser controladas
que corresponde ao estágio inicial da alteração também pelo conjunto de falhas (condutos), for-
hidrotermal (alteração propílica). As brechas he- ma e permeabilidade das rochas condicionadas ao
matitizadas são marcadas por fragmentos angu- sistema hidrogeológico superficial e subsuperfici-
losos a subangulosos de metariolito cimentados al associado a cada intrusão.
por hematita, cuja assembleia mineral composta A abertura foi marcada por vários movimentos
por hematita + sericita ± epidoto ± clorita ± car- tectônicos que controlaram a deposição dos sedi-
bonato é interpretada como o estágio mais avan- mentos sob um regime de leques aluviais, bem
çado da alteração hidrotermal, desenvolvida per- como o desenvolvimento de fraturas profundas
to da zona de conduto. que permitiu ascensão de discretos episódios vul-
As brechas silicosas constituem as principais cânicos. Este processo teria favorecido num pri-
hospedeiras das ocorrências de cobre da região, meiro momento a ascensão de fluidos tardios ex-
que se encontram na forma de malaquita, cuprita solvidos de fontes magmáticas (granitos) e o in-
e calcopirita disseminadas e em fraturas. Estão fluxo descendente de fluidos meteóricos lixiviados
associadas aos diferentes tipos litológicos presen- do grande volume de sedimentos molássicos oxi-
tes, particularmente, junto aos riolitos e conglo- dados da bacia. Esses fluidos meteóricos teriam
merados da Bacia Carnaubinha (Tipo 1) e metari- contribuído com a formação das brechas hematíti-
olitos e metatufos do Grupo Orós (Tipo 2). As bre- cas, em uma zona crustal mais profunda, marcado
chas silicosas (Tipo 1) ocorrem em forma de blo- pelo metassomatismo e/ou alteração hidrotermal
cos centimétricos a métricos, apresentando comu- do tipo propilitização (epidto+clorita±carbonato)
mente textura de aspecto cavernoso, impregna- e hematitização (stockworks). Esse tipo de mine-
das de calcopirita e às vezes malaquita dissemi- ralização apresenta algumas feições de alterações

382
Edilton José dos Santos et al.

Figura 19 - (a) Dados isotópicos de C e O de carbonatos das bacias eopaleozoicas do Nordeste comparados
com os campos dos carbonatos sedimentares e carbonatitos. Estão lançados no gráfico também, para com-
paração, os campos dos carbonatos dos depósitos Igarapé Bahia e Olimpic Dam. (b) Modelo interpretativo
das mineralizações de Cu e Fe-Cu do oeste da Província Borborema (Machado 2006).

hidrotermais similares àquelas encontradas em cas e cognatas aos sedimentos) em zona crustal
depósitos do tipo IOCG, como definido por Hitz- rasa (epizona), misturados com gases e fluidos
man et al. (1992), mas apresenta distribuição re- emanados do próprio magma. A ascensão desses
lativamente limitada. Além disso, os granitos as- fluidos ocorreu ao longo de fraturas, causando a
sociados são pobres em sulfetos, fluorita e alani- lixiviação das rochas encaixantes e formação de
ta, o que indica tratar-se de granitos relativamen- microgeodos de quartzo precipitando o cobre em
te secos em termos de fluidos mineralizantes. forma de calcopirita junto à sílica nessas zonas de
Posteriormente, com as contínuas reativações condutos e causando brechação nas porções mais
dessa bacia e a injeção de novos pulsos vulcâni- distais do vulcanismo. Em contrapartida, as bre-
cos ao longo das maiores descontinuidades, veri- chas hidrotermalizadas cupríferas que se encon-
ficou-se aquecimento dos fluidos (águas meteóri- tram associadas às rochas vulcânicas ácidas de

383
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Porções norte e central da Província Borborema

ambiente continental localizadas na Bacia eopa- são de 238U, 232Th, 40K, 226Ra, 222Rn e Metais Pesados
no sistema rocha-solo na área do Depósito de U-
leozoica Carnaubinha, em forma de blocos silico- ETR de São José de Espinharas (PB). Tese de Dou-
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388
Elson P. Oliveira, Alexandre Uhlein, Fabrício A. Caxito & Marcos E. Silva

METALOGÊNESE DA PROVÍNCIA BORBOREMA MERIDIONAL:


FAIXAS SERGIPANA, RIACHO DO PONTAL E RIO PRETO

ELSON P. OLIVEIRA1, ALEXANDRE UHLEIN2, FABRÍCIO A. CAXITO2 & MARCOS E. SILVA3

1 - Departamento de Geologia e Recursos Naturais, Instituto de Geociências- UNICAMP, Campinas 13083-970,


SP (elson@ige.unicamp.br)
2 - Departamento de Geologia, Instituto de Geociências-UFMG, Belo Horizonte 31270-901, MG
(uhlein@netuno.lcc.ufmg.br; facaxito@yahoo.com.br)
3 - Departamento de Mineralogia e Geotectônica, Instituto de Geociências-USP, São Paulo 05508-080, SP
(megydios@usp.br)

INTRODUÇÃO com faixas orogênicas fanerozóicas, no contexto


da tectônica global (Oliveira et al. 2010).
As faixas Sergipana, Riacho do Pontal e Rio A Faixa Sergipana já foi interpretada como um
Preto situam-se na região meridional da Província geossinclinal típico (Humphrey & Allard 1968, Silva
Borborema, ao norte do Cráton do São Francisco Filho & Brito Neves 1979), uma colagem de
(Fig. 1) e têm sua origem relacionada à colisão domínios litoestratigráficos (Davison & Santos
entre este cráton, a sul, e blocos ou massas 1989, Silva Filho 1998), uma faixa de dobras e
continentais ao norte, na Província Borborema. A empurrões produzida pela inversão de uma
principal vocação metalogenética dessas faixas é margem passiva localizada na borda nordeste da
para mineralizações hospedadas em rochas antiga placa São Francisco (D’el-Rey Silva 1999) e
sedimentares e em corpos máfico-ultramáficos. mais recentemente como um ciclo completo de
Nas primeiras destacam-se depósitos de calcário tectônica de placas (Oliveira et al. 2010).
nas três faixas orogênicas e de manganês na Faixa Atualmente admite-se que a Faixa Sergipana
Rio Preto, enquanto nas últimas sobressaem-se foi formada pela colisão continental entre o Crá-
os depósitos de Cu-Au-Fe de Serrote da Laje, na ton São Francisco, a sul, e o domínio Pernambuco-
transição embasamento-Faixa Sergipana, e Alagoas (PEAL) da Província Borborema, a norte,
vermiculita em Paulistana-Afrânio e Ni laterítico em durante a orogênese do Brasiliano, no Neoprote-
Brejo Seco, ambos na Faixa Riacho do Pontal. rozóico (Brito Neves et al., 1977, Van Schmus et al.
Outros corpos com potencial para Ni-Cu e Cr são, 2008, Bueno et al., 2009, Oliveira et al. 2010). Du-
respectivamente, o Complexo Gabróico Canindé e rante esta convergência, o domínio PEAL atuou
peridotitos serpentinizados de Marancó, na Faixa como um bloco crustal, comprimindo unidades da
Sergipana. Descrições da evolução tectônica Faixa Sergipana entre ele e o Cráton São Fancisco
dessas três faixas e seus depósitos minerais são e empurrando muitas unidades da faixa para o sul,
apresentados a seguir. sobre o cráton.

FAIXA SERGIPANA Domínios litoestratigráficos

A Faixa Sergipana é uma das mais importantes Segundo Santos & Souza (1988), Davison &
faixas orogênicas pré-cambrianas do Nordeste do Santos (1989) e Silva Filho (1998), a Faixa Sergi-
Brasil porque quarenta anos atrás ela foi utilizada pana consiste em seis domínios litoestratigráficos.
como evidência para ajudar a consolidar a teoria De norte para sul são eles: Canindé, Poço Redon-
da deriva continental (Allard & Hurst 1969) e do, Marancó, Macururé, Vaza Barris e Estância,
porque ela contém vários domínios estruturais e cada um deles separado do outro por zonas de
litológicos que possibilitam que seja comparada cisalhamento regionais (Fig. 2). Os três últimos são

389
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Província Borborema Meridional: Faixas Sergipana,
Riacho do Pontal e Rio Preto

Figura 1 - Localização das Faixas Sergipana, Riacho do Pontal e Rio Preto na região norte do Cráton do São
Francisco (modificado de Alkmim 2004).

Figura 2 - A Faixa Sergipana, os domínios litoestratigráficos e as zonas de cisalhamento regionais (ZCM-


Macururé; ZCBMJ- Belo Monte-Jeremoabo; ZCSMA- São Miguel do Aleixo; ZCI- Itaporanga), com localização
dos principais depósitos minerais (elipse): 1- Cu-Au-Fe de Serrote da Laje; 2- Ni-Cu Complexo Canindé.

390
Elson P. Oliveira, Alexandre Uhlein, Fabrício A. Caxito & Marcos E. Silva

constituídos principalmente por rochas metasse- Francisco deveria ser a fonte de detritos. Todavia,
dimentares, com grau metamórfico aumentando de apoiado em populações de zircões detríticos com
pouco ou não-metamórfico no domínio Estância, idades entre 570 Ma e 657 Ma (Fig. 3), Oliveira et
para xistos verde no domínio Vaza Barris até fáci- al. (2005ab, 2006) propuseram que as unidades
es anfibolito no domínio Macururé. Equivalentes sedimentares clásticas mais superiores dos domí-
do domínio Macururé em mais alto grau (granulito nios Vaza Barris e Estância foram depositadas em
retrometamorfisado para anfibolito) ocorrem no bacias de antepaís, com fontes de detritos locali-
dominio PEAL (Silva Filho & Torres 2002, Silva Filho zadas na Faixa Sergipana e em outras regiões mais
et al. 2003). Granitos neoproterozóicos ocorrem ao norte na Província Borborema.
em todas as regiões ao norte da falha São Miguel As idades modelo Sm-Nd ao manto empobreci-
do Aleixo e são ausentes nos domínios mais meri- do (TDM) para rochas metassedimentares clásti-
dionais, isto é, Vaza Barris e Estância. Essas duas cas finas dos domínios Macururé, Vaza Barris e
últimas áreas têm como embasamento rochas pa- Estância também são consistentes com proveni-
leoproterozóicas e arqueanas correlacionáveis ou ência de fontes distintas do Cráton São Francisco
pertencentes ao Cráton São Francisco. (Fig. 4), embora uma contribuição subordinada do
Silva Filho & Torres (2002) e Silva Filho et al. cráton não possa ser descartada. As idades U-Pb
(2003) propuseram mais dois domínios para a Fai- SHRIMP em zircões detríticos de metagrauvaca do
xa Sergipana, isto é, domínios Rio Coruripe e Viço- Grupo Simão Dias concentram-se em 657 Ma, 1039
sa. Todavia, ainda não há consenso sobre a ne- Ma, 1934 Ma e subordinadamente em 2715 Ma (Fig.
cessidade desses domínios, pois o de Rio Coruri- 3) – a população mais nova de zircões detríticos
pe é continuidade do domínio Macururé, diferenci- tem 657 Ma e portanto estabelece a idade máxi-
ando-se deste pela maior quantidade de lentes ma para a deposição do protólito sedimentar.
de mármore e rochas cálcio-silicáticas e grau me- O domínio Macururé situa-se ao norte do domí-
tamórfico um pouco mais elevado. Já o domínio nio Vaza Barris e ocorre por toda a extensão da
Viçosa é mais polêmico pois tem sido correlacio- Faixa Sergipana. A zona de cisalhamento São Mi-
nado ao Complexo Cabrobó, a oeste do domínio guel do Aleixo (SMA) separa esses dois domínios
Pernambuco-Alagoas (Medeiros 2000). e é um limite crustal expressivo. Granitos neopro-
O domínio Estância consiste, da base para o topo, terozóicos não ocorrem a sul desta zona de cisa-
em conglomerados, arenitos e argilitos da Forma- lhamento e todos os plútons ao norte dela têm
ção Juetê, dolomitos e calcários da Formação idades modelo Sm-Nd mesoproterozóicas (Van
Acauã, arenitos e argilitos da Formação Lagarto e Schmus et al. 1995, Oliveira et al. 2006), sugerin-
arenitos e lentes subordinadas de conglomerado do que a crosta do Cráton São Francisco, se pre-
da Formação Palmares (Silva Filho et al. 1978, Sil- sente, deve estar abaixo da profundidade de ge-
va Filho & Brito Neves 1979). Ocorrências de es-
truturas sedimentares primárias são comuns nes-
te domínio.
O domínio Vaza Barris é constituído dominante-
mente por rochas sedimentares clásticas e quími-
cas metamorfisadas na fácies xistos verde. D’el-
Rey Silva & McClay (1995) subdividiram as rochas
desse domínio nos grupos Miaba (quartzito-con-
glomerado, na base, sucedido por filitos, metagrau-
vacas, clorita-xisto e metacalcário), Simão Dias
(arenitos, argilitos, metassiltitos, metagrauvacas,
filitos e metarritmitos) e Vaza-Barris (metadiamicti-
tos, filitos e metacalcários).
D’el-Rey Silva (1999) interpretou a deposição
de sedimentos nos domínios Estância e Vaza Bar-
ris como o registro de dois ciclos de sedimentação
Figura 3 - Histogramas de zircões detríticos das ro-
sobre a margem passiva da antiga placa São Fran- chas representativas dos domínios Vaza Barris e Es-
cisco. Neste modelo, infere-se que o Cráton São tância, segundo Oliveira et al. (2005a,b, 2006).

391
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Província Borborema Meridional: Faixas Sergipana,
Riacho do Pontal e Rio Preto

proterozóicas e neoproterozóicas precoce seme-


lhantes aos migmatitos do domínio Poço Redondo
(Carvalho et al. 2005, Oliveira et al. 2006). Inter-
calações de lentes de andesito e dacito, com ida-
de de 604-602 Ma (Carvalho et al. 2005), em fili-
tos da unidade Monte Azul sugerem que a deposi-
ção dos protólitos sedimentares provavelmente
ocorreu no final do Neoproterozóico. O mesmo não
pode ser afirmado para as duas unidades mais ao
norte (unidades Morro do Bugi e Minuim) porque
elas estão cortadas pelo monzogranito-sienito
Curituba, indeformado, para o qual Silva Filho et
al. (2005) obtiveram a idade U-Pb de 617 ± 7 Ma.
O domínio Poço Redondo está constituído por
migmatitos, biotita gnaisses e várias intrusões
graníticas, como o augen gnaisse Serra Negra (952
Figura 4 - Histogramas de idades modelo Sm-Nd ± 2 Ma; U-Pb SHRIMP, Carvalho et al. 2005), e fo-
(TDM) das rochas sedimentares e metassedimenta- lhas leucograníticas. Gnaisses cinza do paleosso-
res da Faixa Sergipana e de prováveis fontes de clas-
ma dos migmatitos forneceram idades U-Pb
tos, segundo Oliveira et al. (2005b, 2006).
SHRIMP de 960 a 980 Ma (Carvalho et al. 2005).
ração de magma (Van Schmus et al. 2008). O do- Este domínio é de particular importância porque
mínio Macururé é constituído de granada mica-xis- ele é a primeira evidência de rochas ígneas com
tos e filitos, com subordinados quartzito e már- cerca de 1,0 Ga ao sul do domínio PEAL.
more, intrudidos por plútons graníticos com ida- O domínio Canindé é constituído por várias uni-
des nos intervalos 628-625 Ma e 590-570 Ma (Bu- dades informalmente designadas por Silva Filho
eno et al. 2009, Long et al. 2005) e alguns corpos et al. (1981). A unidade aparentemente mais anti-
máficos a ultramáficos com idade indeterminada. ga é uma folha granítica alongada (unidade Gar-
Zircões detríticos deste domínio concentram-se rote) datada em 715 Ma por Van Schmus (dados
principalmente entre 980 e 1100 Ma e 1800-2100 inéditos e citado em Santos et al. 1998, Oliveira et
Ma em quartzito próximo à cidade de Macururé, a al. 2010). Associado à unidade Garrote ocorre uma
oeste na Bahia, e em 940 Ma e entre 1600-2200 sequência metavulcano-sedimentar (unidade Novo
Ma em mica-xisto próximo a Gararú, a leste em Gosto), representada por anfibolitos finos, már-
Sergipe. Não há nenhum zircão mais novo que 800 more, grafita-xisto, mica-xisto e metagrauvaca. A
Ma (Oliveira et al. 2006), o que indica um intervalo metagrauvaca contém três populações principais
muito longo e incerto, entre 800 Ma e 625 Ma, para de idades de zircões detríticos, i.e. 679, 718 e 977
a deposição dos sedimentos. Ma (U-Pb SHRIMP; Nascimento et al. 2005). A uni-
O domínio Marancó contém uma sequência me- dade Gentileza é um complexo subvulcânico ga-
tavulcano-sedimentar (quartzito, conglomerado, bróico-monzodiorítico com micrograbros, quartzo-
mica-xistos, filitos e lentes de andesito, dacito e monzodiorito porfirítico (688 ± 15 Ma, U-Pb SHRIMP,
quartzo-pórfiro) com lentes de peridotito, anfibo- Nascimento et al. 2005), granito rapakivi subordi-
lito e gabros estratiformes, e alguns corpos graní- nado (684 ± 7 Ma U-Pb TIMS, Nascimento et al.
ticos. Menezes Filho et al. (1988a,b) agruparam 2005) e quartzo-pórfiro. Um complexo gabróico-
essas rochas, de sul para norte, nas unidades leucograbróico parcialmente estratiforme (comple-
Monte Azul, Belém, Monte Alegre, Morro do Bugi e xo Canindé) é composto por gabro, gabronorito,
Minuim. Zircões detríticos de quatro amostras de leucogabro, peridotito e gabro pegmatítico, este
rochas metassedimentares das unidades Belém, gabro forneceu idade de 701 ± 8 Ma (U-Pb SHRIMP,
Morro do Bugi e Minuim revelaram idades U-Pb Oliveira et al. 2010).
SHRIMP concentradas principalmente entre 950 e Vários corpos graníticos ocorrem no domínio
1100 Ma, com um zircão mais novo de 914 Ma, o Canindé, a maior parte deles designados original-
que indica deposição após esta idade e detritos mente por Seixas & Moraes (2000). Assim, o tona-
provenientes de fontes dominantemente meso- lito Lajedinho contém enclaves máficos orientados

392
Elson P. Oliveira, Alexandre Uhlein, Fabrício A. Caxito & Marcos E. Silva

e foi datado em 621 ± 9 Ma (U-Pb SHRIMP, Oliveira Rey Silva 1995, Araújo et al. 2003, Oliveira et al.
et al. 2010), enquanto o granito rapakivi Boa Es- 2010) relacionados à colisão neoproterozóica du-
perança apresentou idade de 642 ± 5 Ma (Nasci- rante a orogênese do Brasiliano. Esses eventos
mento et al., em preparação). Outros corpos fo- deformacionais são bem reconhecidos nas sequ-
ram datados com zircões, como o monzogranito- ências supracrustais dos domínios Vaza Barris e
sienito Curituba (617 ± 7 Ma, Silva Filho et al. 2005), Macururé (Fig. 5).
e isócronas Rb-Sr como as folhas leucograníticas A colisão retrabalhou tramas mais antigas do
tipo Xingó (609 ± 11 Ma, Silva Filho et al. 1997). embasamento gnáissico-migmatitico (Dn) que po-
O ambiente tectônico para a formação das ro- dem ser remanescentes de eventos deformacio-
chas do domínio Canindé é polêmico, já tendo sido nais pré-Brasiliano ou estruturas relacionadas ao
interpretado como ofiolito (Silva Filho 1976), arco início da colisão. D1 é caracterizado por nappes e
insular (Bezerra et al. 1991) e rifte continental (Oli- zonas de empurrão vergentes para o sul. A fase
veira & Tarney 1990). Com base em geoquímica de deformação D 2 é marcada pela pronunciada
de elementos maiores e traço, e isótopos de Nd, reativação do episódio D 1 e está associada com
Nascimento et al. (2005) sugeriram que o domínio um regime transpressivo que afetou toda a faixa.
Canindé seja a raiz de uma sequência de rifte con- Alguns granitos no domínio Macururé, com cerca
tinental deformada. de 625 Ma, foram alojados entre D1 e D2, visto que
eles foram afetados pela fase D2 de deformação.
Estruturas regionais D3 provavelmente ocorreu após 600 Ma quando
toda a faixa foi soerguida principalmente ao longo
A Faixa Sergipana foi moldada por três episódi- das zonas de cisalhamento regional. O perfil na
os principais de deformação (D1 a D3, Jardim de Sá Figura 5 ilustra a vergência dominante para sul,
et al. 1986, Campos Neto & Brito Neves 1987, D’el- no sentido do Cráton do São Francisco.

Figura 5 - Principais estruturas na Faixa Sergipana, com indicação dos domínios litoestratigráficos (PEAL-
Pernambuco-Alagoas; DC- Canindé; DPRM- Poço Redondo e Marancá; DMR- Macururé; DVB- Vaza Barris; DE-
Estância), e principais zonas de cisalhamento (ZCM- Macururé; ZCBMJ- Belo Monte-Jeremoabo; ZCSMA- São
Miguel do Aleixo; ZCI- Itaporanga). Perfil indicado em mapa por linhas pontilhadas. Adaptado de Oliveira et al.
(2010).

393
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Província Borborema Meridional: Faixas Sergipana,
Riacho do Pontal e Rio Preto

Metalogênese COBRE, OURO E FERRO

A Faixa Sergipana não é uma região com muita O Complexo máfico-ultramáfico Serrote da Laje
diversidade metalogenética. Além da exploração é o mais relevante da Faixa Sergipana, pois des-
de calcário nos domínios Estância, Vaza Barris e perta uma expectativa de explotação de aproxi-
Macururé, a principal vocação metalogenética é madamente 170 milhões de toneladas de Cu, Au
para depósitos de Ni, Cr e Cu hospedados em cor- e Fe a 0,51% Cu, 0,09g/t Au e 14,8% Fe (Aura
pos máfico-ultramáficos. Ocorrências de Cr são Mineral Resources, 2010). O complexo dista 15 km
conhecidas no corpo peridotítico da serra de Ma- a noroeste de Arapiraca, Alagoas, e está encaixa-
rancó (Menezes Filho et al. 1988a), no domínio do em gnaisses com granada, sillimanita, cordieri-
Marancó, mas até hoje nenhuma jazida foi delimi- ta e biotita e em rochas calcissilicáticas secciona-
tada. Entretanto, são os complexos máfico-ultra- das por folhas graníticas pegmatitos (Horbach &
máficos de Canindé e Serrote da Laje que têm o Marimon 1988). Essas rochas poderiam ser os
maior potencial metalogenético. equivalentes de grau metamórfico mais elevado
daquelas do domínio Macururé, porém alguns au-
COBRE E NIQUEL tores preferem incluí-las no domínio Rio Coruripe,
com idade incerta (Silva Filho & Torres 2002) ou
No Complexo Canindé, datado em aproxima- policíclica do Arqueano ao Neoproterozóico (Brito
damente 700 Ma (Oliveira et al. 2010) e conside- et al. 2008). A mineralização de cobre-ouro está
rado como um complexo estratiforme alojado em distribuída nos depósitos de Serrote e Caboclo,
ambiente continental (Oliveira & Tarney 1990), onde ocorre como disseminações em um comple-
Tesch et al. (1980a,b) cubaram cerca de 17 milhões xo estratificado de hiperstenito, norito e gabro,
de toneladas de minério de Cu e Ni hospedados ou muito concentrada em magnetititos maciços a
em rochas gabróicas (gabro, leucogabro, norito, semi-maciços. Nos dois depósitos, os sulfetos ca-
olivina-gabro e troctolito). Os minerais de minério racterísticos são calcopirita, bornita, pirita e pirro-
ocorrem disseminados e são representados por tita (Fig. 6). A idade do complexo é ainda incerta.
calcopirita e pentlandita, com quantidades subor- Segundo Brito et al. (2003) zircões detríticos nos
dinadas de cubanita, calcocita, esfarelita, coveli- paragnaisses encaixantes revelaram populações
ta, ilmenita, pirrotita e pirita. Segundo esses au- com 1778 e 1417 Ma, devendo o complexo máfico-
tores, o minério foi classificado em tipo B e C, o ultramáfico ser mais novo que a última idade. Por
primeiro com 0,34% Cu e 0,35% Ni e o segundo outro lado, um gnaisse de alto grau forneceu ida-
com 0,13% Cu e 0,17% Ni. Ainda de acordo com de U-Pb de 1998+/- 13 Ma em monazita, enquan-
Tesch et al. (1980a), o complexo também tem po- to folha granítica intrusiva no mesmo gnaisse apre-
tencial para elementos do grupo da platina, em- sentou monazita com 573,5+/- 17 Ma (Brito et al.
bora as análises químicas realizadas por esses 2010). Ainda segundo esses autores, biotita e
autores tenham revelado teores totais de elemen- anfibólio das rochas máfico-ultramáficas apresen-
tos do grupo da platina inferiores a 100 ppb. taram idades Ar-Ar mais antigas que 1,8 Ga e nos

Figura 6 - Aspectos de campo do depósito de cobre de Serrote da Laje. A) calcopirita disseminada em


hiperstenito; B) aspectos das rochas máfico-ultramáficas no campo. Extraído de Aura Mineral Resources
(2010).

394
Elson P. Oliveira, Alexandre Uhlein, Fabrício A. Caxito & Marcos E. Silva

intervalos 605-580 Ma e 545-560 Ma. de cisalhamento transcorrente dextral. A leste li-


mita-se, de forma descontínua, com a Faixa Sergi-
FAIXA RIACHO DO PONTAL pana e o Maciço Pernambuco-Alagoas.
Souza et al. (1979) foram os que pela primeira
A Faixa Riacho do Pontal está localizada ao nor- vez designaram como Complexo Casa Nova o con-
te do Craton São Francisco (Fig. 1), no limite dos junto de supracrustais (mica-xistos e quartzitos)
Estados da Bahia, Piauí e Pernambuco, e esten- da Faixa Riacho do Pontal. Esta designação, em
de-se desde Juazeiro (BA) e Petrolina (PE) ao sul, substituição aos termos anteriores de Grupos Sal-
até São Raimundo Nonato (PI), a oeste, e Paulis- gueiro e Cachoeirinha, foi amplamente utilizada
tana (PI), a norte A ocorrência de uma faixa do- posteriormente, em trabalhos executados pela
brada brasiliana na margem norte do Cráton do CPRM/DNPM dentro do PLGB-Programa de Levan-
São Francisco foi caracterizada pela primeira vez tamentos Geológicos Básicos, na escala 1:100.000
por Brito Neves (1975) e confirmada por Almeida (Angelim 1988, Santos & Silva Filho 1990, Gomes
(1977). A faixa é parcialmente encoberta, a noro- & Vasconcelos 1991, Figueirôa 1998).
este, pela Bacia do Parnaíba e limitada ao norte O conceito original de uma faixa marginal bra-
pelo lineamento Pernambuco (Fig. 7), uma zona siliana na região, conforme proposição de Brito

Figura 7 - Mapa geológico simplificado da Faixa Riacho do Pontal, segundo Schobbenhaus et al. 1995, Gomes
1990, Angelim & Silva Filho 1993, Angelim 2001 e Uhlein et al. 2010.Pe – Petrolina, Ju – Juazeiro, CN – Casa
Nova, R – Rajada, A – Afrânio, MO – Monte Orebe, Pa – Paulistana, BS – Brejo Seco, SJP – São João do Piauí,
SRN – São Raimundo Nonato.

395
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Província Borborema Meridional: Faixas Sergipana,
Riacho do Pontal e Rio Preto

Neves (1975), com supracrustais neoproterozói- Ocorre na parte oriental da Represa de Sobradi-
cas, foi contestado por Mascarenhas (1979), Jar- nho, onde constitui a porção setentrional do Blo-
dim de Sá & Hackspacker (1980), Angelim (1988) co Gavião. Ocorre também ao norte da Faixa, nas
e Gomes (1990), os quais alegaram que os mica- proximidades do lineamento de Pernambuco, nos
xistos e gnaisses da faixa seriam relacionados a arredores de Paulistana-PI, onde confunde-se com
uma orogênese paleoproterozóica. Defenderam, gnaisses supracrustais do Grupo Casa Nova, in-
então, uma evolução policíclica, com sedimenta- tensamente deformado. Ainda mais ao norte, tran-
ção e deformação das supracrustais no Paleopro- siciona para o Maciço Pernambuco-Alagoas, cons-
terozóico e retrabalhamento no Neoproterozóico tituindo parte da Província Borborema.
(deformação transcorrente). No embasamento, de modo geral, predominam
Jardim de Sá et al. (1992) reavaliaram relações ortognaisses do tipo TTG, em parte migmatizados,
de campo e buscaram novos dados geocronológi- com bandas tonalíticas/granodioríticas e corpos
cos na Faixa Riacho do Pontal, concluindo por uma leucograníticos. Bandas ou camadas de quartzi-
deformação neoproterozóica para estruturas do tos, gnaisses calcissilicáticos, diques de anfiboli-
tipo nappe (tectônica tangencial) de mica-xistos do tos, assim como granitóides (dioritos, sienitos,
Complexo Casa Nova. Angelim (2001) caracterizou anortositos) podem ocorrer. As idades disponíveis
rochas metavulcano-sedimentares na porção nor- indicam evolução no Arqueano com importante
te da Faixa Riacho do Pontal, denominando-as por retrabalhamento no Paleoproterozóico. (Figueirôa
Complexos Paulistana, Monte Orebe e Santa Filo- & Silva Filho 1990, Barbosa & Dominguez 1996,
mena. Segundo Angelim (2001) estas rochas fo- Barbosa et al. 2003, Dantas et al. 2010). Zircões
ram intrudidas por granitóides do tipo Afeição, um paleoarqueanos, de até 3,5 Ga, foram datados
ortognaisse granodiorítico datado em 968 Ma. recentemente em xenólitos gabro-dioríticos em
Os trabalhos citados permitiram grande avan- gnaisses (Dantas et al. 2010), demonstrando que
ço no conhecimento da geologia da Faixa Riacho algumas das rochas mais antigas do continente
do Pontal, mas, apesar disto, esta ainda é uma sul-americano pode estar presentes nesse frag-
das faixas orogênicas do Nordeste com menos in- mento cratônico.
formações geológicas, geocronológicas e geoquí- Ao sul, o embasamento constitui o Cráton do
micas robustas que sustentem a proposição de São Francisco e não apresenta retrabalhamento
modelos evolutivos modernos. neoproterozóico significativo. Ao norte, na região
de Paulistana, no Piauí, o embasamento foi inten-
Estratigrafia samente retrabalhado pela orogênese Brasiliana,
durante o Neoproterozóico, tendo sido envolvido
A Faixa Riacho do Pontal compreende um em- na tectônica tangencial e transcorrente da Faixa
basamento arqueano/ paleoproterozóico, consti- Riacho do Pontal (Uhlein et al. 2010).
tuído por gnaisses migmatíticos, e uma unidade
de rochas supracrustais designada Complexo ou GRUPO CASA NOVA
Grupo Casa Nova, formado por mica-xistos, quart-
zitos, metagrauvaca, metacalcários ou mármores, O Grupo Casa Nova reúne as rochas supracrus-
gnaisses e rochas metavulcânicas. Granitóides in- tais da Faixa de Dobramentos Riacho do Pontal, e
trusivos, às vezes gnaissificados, são freqüentes, é formado principalmente por metapelitos (mica-
com geometria estratóide (sills) ou como plútons xistos, filitos), que compreendem biotita xistos,
subverticais. Ocorre ainda o Complexo plutono- muscovita-biotita xistos e muscovita xistos, com
vulcano sedimentar de Brejo Seco, com rochas variáveis proporções de plagioclásio, quartzo e
metaultramáficas, metamáficas e mica-xistos. porfiroblastos de granada, apresentando ainda
opacos, grafita e turmalina. Localmente, também
EMBASAMENTO podem ocorrer cianita e estaurolita, nódulos de
cordierita e cristais alongados de sillimanita, es-
O embasamento predomina ao sul, constituin- pecialmente na região norte, entre Afrânio, Pau-
do a infraestrutura do Cráton do São Francisco, listana e Santa Filomena (Angelim 1988, Gomes &
aflora próximo de Petrolina e Juazeiro e recebe o Vasconcelos 1991). Granitóides intrusivos, às ve-
nome de Bloco Gavião (Barbosa & Sabaté 2002). zes gnaissificados, são freqüentes, com geome-

396
Elson P. Oliveira, Alexandre Uhlein, Fabrício A. Caxito & Marcos E. Silva

tria estratóide (sills) ou como plútons subverticais norte, sendo formada por metavulcânicas (xistos
associados aos metassedimentos desse Grupo. verdes metabasálticos, anfibolitos, metatufos),
O Grupo Casa Nova pode ser subdividido em metapelitos (grafita xistos, mica-xistos com gra-
três formações, de sul para norte, interdigitadas nada, cordierita e silimanita, xistos carbonáticos),
lateral e verticalmente conforme Angelim (1988), metachert, quartzitos, e quartzo xistos. A unida-
Gomes (1990), Gomes & Vasconcelos (1991), An- de vulcano-sedimentar (Angelim 1988, Gomes
gelim (1997), Oliveira (1998)e Uhlein et al. (2010). 1990) representa uma fácies dos metapelitos pre-
dominantes do Grupo Casa Nova, com maior ex-
Formação Barra Bonita pressão de rochas metamáficas, metassedimen-
tos silicosos (metacherts), metaultrabasitos e me-
A Formação Barra Bonita, com biotita xistos, tapelitos. Ortoanfibolitos ocorrem, geralmente con-
mármores e quartzitos, representa uma sedimen- cordantes com os metapelitos, constituídos por
tação marinha plataformal, ocorrendo ao sul, pró- anfibólios e plagioclásio, apresentando cor verde
xima do Cráton do São Francisco. Predominam bi- e granulação fina, sugerindo basaltos metamorfi-
otita xistos de cor cinza, granulação fina a média, zados. Quartzo-mica xistos granatíferos e quart-
com quartzo, biotita, muscovita, feldspato e gra- zitos ou quartzo-xistos aparecem intercalados nos
nada. Os mármores são cinza claro, fino a médio, metavulcanitos (Angelim 1988). Rochas metaultra-
e ocorrem em camadas maciças e bandadas, com básicas (talco, clorita, serpentina, carbonatos,
carbonato (calcita), quartzo, muscovita, opacos e anfibólios e opacos), metatufos e brechas ocor-
clorita. Mostram intercalações de mármores puros rem localmente.
e níveis ou bandas de xistos calcíferos, com car- Um metatufo da Formação Paulistana-Monte
bonato, quartzo, grafita, micas, actinolita, diopsí- Orebe, que aflora nos arredores de Afrânio, foi
dio e plagioclásio. Os metacarbonatos predomi- datado por Brito Neves & Van Schmus, pelo méto-
nam a oeste, próximo de Vargem Grande e São do U-Pb SHRIMP resultando na idade de 740 Ma
Raimundo Nonato, mas aparecem também em toda (Brito Neves & Pedreira da Silva 2008). Este dado
a unidade sedimentar, formando lentes e cama- deve indicar a idade de sedimentação e vulcanis-
das, às vezes com grande extensão lateral. Quart- mo do Grupo Casa Nova. Por outro lado, para An-
zitos esbranquiçados, xistosos, com muscovita e gelim (2001), o vulcanismo dos Complexos Paulis-
feldspatos, também ocorrem, principalmente na tana, Santa Filomena e Monte Orebe é Mesopro-
base, em contato com os gnaisses migmatizados terozóico, pois estas rochas estão intrudidas pelo
do embasamento. granitóide Afeição, que foi datado em 966±10 Ma
por Van Schmus et al. (1995) pelo método U-Pb
Formação Mandacaru (TIMS) em zircão. Para essa mesma amostra, foi
obtida idade-modelo TDM de 1,46 Ga com ªNd (0,97) =
A Formação Mandacaru é constituída por mica- + 0,1 (ver também Santos et al. 2010).
xistos, às vezes carbonáticos, com intercalações As rochas metamáficas e metaultramáficas da
centimétricas a decimétricas de metagrauvacas, região de Monte Orebe são relevantes para a pro-
representando uma sedimentação turbidítica. Os posição de modelos geotectônicos e metalogené-
mica-xistos apresentam biotita, muscovita, grana- ticos. Moraes (1992) descreve as rochas metamá-
da e feldspatos. Localmente mostram intercala- ficas como fortemente deformadas, localmente
ções de metapsamitos (grauvacas) em camadas milonitizadas, esverdeadas, com granulação fina
pouco espessas que mostram, às vezes, estratifi- a média e textura nematoblástica. São compostas
cação gradacional, sugerindo camadas turbidíticas. por clinoanfibólio (actinolita), andesina (An32-47),
As metagrauvacas são cinza claro, granulação epidoto-zoisita e clorita. Os acessórios são quart-
média a grossa, com predomínio de quartzo e zo, carbonato, titanita, granada, apatita e zircão.
matriz a base de muscovita/sericita, feldspato, As metaultramáficas são cinza-esverdeadas, de
granada e clorita. textura nematolepidoblástica e granulação fina,
compostas por clinoanfibólio (tremolita), talco, clo-
Formação Paulistana-Monte Orebe rita e serpentina, com opacos, carbonato, epido-
to, titanita, apatita e zircão como acessórios. A
A Formação Paulistana–Monte Orebe é uma litoquímica de elementos maiores e traços suge-
unidade vulcano-sedimentar que predomina ao rem magmatismo toleiítico de baixo potássio do

397
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Província Borborema Meridional: Faixas Sergipana,
Riacho do Pontal e Rio Preto

tipo MORB (Moraes 1992) para os protólitos das


metamáficas e metaultramáficas, cujas semelhan-
ças nos teores de P, Zr, Nb, Mn, Fe e números de
Niggli sugerem derivação de magmas cogenéticos
por diferenciação magmática. Nossos dados preli-
minares e inéditos das rochas metamáficas de Mon-
te Orebe (Fig. 8) confirmam as assinaturas de ba-
saltos oceânicos sugeridas por Moraes (1992), e
abrem uma perspectiva de interpretação geotec-
tônica dessas rochas como indicativas de uma zona
de sutura. Entretanto, a idade da crosta oceânica
ainda é incerta, devendo ser mais antiga que a
idade do granitóide Afeição, que foi datado em
966±10 Ma, como comentado anteriormente.

GRUPO BREJO SÊCO

O Grupo Brejo Sêco ou Complexo Brejo Sêco


ocorre nas proximidades da cidade de São João
do Piauí, e trata-se de um complexo máfico-ultra-
máfico intrusivo, de porte médio, com aproxima-
damente 10 km de comprimento, metamorfisado
na fácies xisto-verde. As encaixantes são supra- Figura 8 - Características geoquímicas preliminares
de metamáficas de Monte Orebe (dados inéditos). A)
crustais, que compreendem sequências turbidíti-
diagrama de elementos do grupo Terras Raras nor-
cas, metavulcânicas e metassedimentos areno- malizados aos condritos carbonosos de McDonough
argilosos (Marimon 1990). O Complexo Máfico-Ul- et al. (1992).; B) diagrama La/Yb vs. Th/Ta (Condie
tramáfico do Brejo Seco é composto por rochas 2001, Oliveira et al. 2010a) mostrando afinidade
geoquímica das amostras (elipses) com basaltos oce-
ígneas metamorfizadas (principalmente actinolita-
ânicos do tipo N-MORB e distintos de basaltos de arco
clorita xistos), sendo reconhecíveis como protóli- e continentais.
tos: dunito, gabro, harzburgito, troctolito e mag-
netitito. As rochas metabásicas do Complexo Bre- conspícua (granitóides tipo Rajada, a duas micas
jo Seco possuem afinidade geoquímica toleítica de e mesocrático), composição tonalítica a granítica,
baixo potássio, característica de rochas de arco- com assinatura geoquímica sin-colisional cálcio-al-
de-ilhas (Marimon 1990) A associação supracrus- calina, de alta alumina. O magmatismo transcor-
tal encontra-se por vezes milonitizada em faixas rente é tardi a pós-colisional, mostrando compo-
discretas e injetada por abundantes veios de sição monzo a sienogranítica, e caráter meta a
quartzo concordantes à estruturação principal E- peraluminoso alcalino (Angelim 1988).
W, sugerindo relação com zonas de cisalhamento Estudos mais recentes (Angelim 2001) descre-
dúcteis transpressionais da Faixa Riacho do Pon- vem pelo menos três gerações ou suítes de intru-
tal (Angelim 2001). sões graníticas neoproterozóicas na Faixa Riacho
do Pontal, descritas a seguir.
ROCHAS GRANITÓIDES
Suíte Rajada
Rochas plutônicas de natureza granítica, pre-
sentes no Grupo Casa Nova, foram subdivididas Essa suíte é formada por um magmatismo sin-
em rochas relacionadas à tectônica tangencial e colisional, composta por ortognaisses de compo-
relacionadas à tectônica transcorrente (Angelim sição tonalítica, granodiorítica e sienogranítica, a
1988, Gomes 1990). As rochas plutônicas sinde- duas micas, cinza-claro, granulação fina a média,
formação tangencial predominam a sul, sendo cor- e localmente microporfirítica (Angelim 2001). A
pos concordantes com as encaixantes, geralmen- geometria dos corpos é estratóide, concordante
te estratóides, e mostrando estrutura gnáissica à foliação regional, de baixo ângulo. O quimismo é

398
Elson P. Oliveira, Alexandre Uhlein, Fabrício A. Caxito & Marcos E. Silva

cálcio-alcalino a alcalino, de provável origem crus- blenda e biotita como varietais. As intrusões dia-
tal sedimentar (Angelim 2001). Uma isócrona Rb- píricas, ovais a circulares, apresentam caráter iso-
Sr composta, envolvendo rochas da região de Ra- trópico, localmente com estruturas de orientação
jada e Dormentes (PE), de 668 ± 10 Ma, repre- de fluxo. Pode ocorrer foliação incipiente e zonas
senta uma estimativa de idade para essas intru- de cisalhamento transcorrentes localizadas.
sões (Jardim de Sá et al. 1992). O sienito Caboclo, situado a nordeste da cida-
de de Afrânio (PE), forneceu uma isócrona Rb-Sr
Suíte Serra da Boa Esperança de 634±8 Ma (DNPM/CPRM in Jardim de Sá et al.
1992), mas são necessários estudos geocronoló-
A Suite Serra da Boa Esperança é constituída gicos mais robustos para melhor caracterizar as
por um magmatismo sin a tardi-colisional situada fases magmáticas na Faixa Riacho do Pontal.
próxima da Represa de Sobradinho, sendo carac-
terizada por sienitos e quartzo sienitos cinza es- Geologia estrutural e tectônica
verdeados a rosados, de granulação fina a peg-
matóide (Angelim 2001). São associados a diques Pode-se descrever a evolução estrutural da
graníticos, pegmatíticos e sieno-graníticos. As prin- faixa dobrada Riacho do Pontal em uma fase D1
cipais fases minerais são K-feldspato pertítico, tangencial e outra D2 transcorrente (Gomes 1990,
quartzo, aegirina-augita, diopsídio, titanita, apa- Jardim de Sá et al. 1992, Uhlein et al. 2010).
tita, biotita magnesiana, winchita-richterita e mag- A fase D1 apresenta transporte para o sul, em
netita (Plá Cid et al. 2000). A geometria dos cor- direção ao Cráton do São Francisco, e gerou uma
pos é ovalada a circular, mostrando foliação de xistosidade proeminente (S1), e uma lineação de
baixo ângulo ou acamamento ígneo, com defor- estiramento orientada 320 a 350 Az em quartzo-
mação localizada em zonas de milonitização. xistos, mica xistos e anfibolitos do Grupo Casa
O quimismo é alcalino ultrapotássico, sílica-sa- Nova. A faixa dobrada mostra uma estrutura ho-
turado. Os padrões de elementos Terras Raras moclinal, com superposição de escamas tectôni-
(ETR) apresentam Terras Raras leves fracionados cas, que mostram foliação S 1 aproximadamente
e pesadas pouco fracionadas, desprovidas de ano- leste-oeste, com mergulho para norte-noroeste.
malias de Eu. Seus diagramas multielementares Minidobras assimétricas apertadas a isoclinais,
apresentam enriquecimento em elementos LIL e dobras em bainha, e estruturas S/C, indicam trans-
anomalias negativas de Nb e Zr. Plá Cid et al. porte tectônico para o sul-sudeste. Estruturas S/
(2000) sugerem que a fonte dos magmas primári- C são freqüentes, conferindo um aspecto miloníti-
os foi um manto previamente metassomatizado, co para os mica-xistos, especialmente ao sul, pró-
com enriquecimento anômalo em ETR leves e ele- ximo do contato com o embasamento. Meso e
mentos LIL. macrodobras em escala de mapa geológico foram
Uma isócrona Rb-Sr em rocha total obtida por reconhecidas por Angelim (1988) e Gomes (1990).
Jardim de Sá et al. (1996) forneceu uma idade de Destacam-se zonas de cisalhamento dúcteis com
555 ± 10 Ma (Sri = 0,7068), considerada como uma geometria de empurrão, de orientação E-W, com
estimativa mínima e muito próxima, tanto da in- transporte para o sul, frontais ou oblíquas, do-
trusão dos plúton em questão, quanto da defor- bras apertadas e rampas laterais. Localmente,
mação tangencial associada. pode-se reconhecer uma xistosidade S1 em micró-
litons e uma xistosidade S2, como superfície de cre-
Suíte Serra da Aldeia-Caboclo nulação apertada, relacionadas ao evento tangen-
cial. Esta fase é conspícua na porção sul de faixa
A Suíte Serra da Aldeia-Caboclo foi formada por dobrada (Angelim 1988, Gomes 1990, Santos &
um magmatismo tardi a pós-colisional de quimis- Silva Filho 1990, Jardim de Sá et al. 1992, Rocha &
mo alcalino, com termos peralcalinos/shoshoníti- Fuck 1996, Oliveira 1998). Destaca-se a klippe de
cos/ potássicos, do tipo A – anorogênico, confor- Barra Bonita, uma porção alóctone dos metasse-
me Angelim (2001). É composta por sienito e K- dimentos do Grupo Casa Nova (Formação Barra
feldspato granito cinza, creme ou avermelhado, de Bonita, com mica-xistos, quartzitos e calcários)
granulação fina a média ou microporfirítico, com mostrando foliação S1 subhorizontal, com aspecto
diopsídio, aegirina, arfevdsonita, riebeckita, horn- sigmoidal, e estruturas S/C, diretamente em con-

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Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Província Borborema Meridional: Faixas Sergipana,
Riacho do Pontal e Rio Preto

tato com gnaisses do embasamento (Jardim de Sá com anatexia sintectônica em metassedimentos.


et al. 1992). Esta deformação D1 está impressa em No Grupo Casa Nova observa-se um aumento
granitóides sintectônicos tipo Rajada, intrusivos do grau de metamorfismo de sul para norte, des-
nos metassedimentos, onde se observa a forte de a fácies xisto verde alto, com biotita xistos gra-
foliação S1 subhorizontal com lineações minerais, natíferos, que afloram ao norte da Represa de
na forma de agregados lenticulares e alongados Sobradinho, na região de Casa Nova, até fácies
de quartzo e fedspatos. anfibolito médio nas proximidades de Afrânio e
O aumento do grau metamórfico para o norte, principalmente Paulistana (PI). Porfiroblastos de
no sentido da cidade de Afrânio, e o mergulho da cianita, estaurolita, cordierita e sillimanita são des-
foliação para o norte, são compatíveis com um critos por Angelim (1988) na região de Santa Filo-
metamorfismo inverso em um contexto de nappes, mena, indicando condições metamórficas da fáci-
variando da fácies xisto verde (ao sul) até fácies es anfibolito. Este metamorfismo crescente para
anfibolito (ao norte). A idade mais provável desta o norte está associado a tectônica tangencial (fase
deformação é de aproximadamente 555±10 Ma, D1), e representa um metamorfismo inverso, onde
obtida em sienito da Suíte Serra da Esperança, escamas tectônicas superiores, situadas ao nor-
intrusão sin a tardi-colisional nos mica-xistos do te, mostram metamorfismo mais elevado do que
Grupo Casa Nova, próximo à cidade homônima (Jar- as escamas basais, situadas ao sul.
dim de Sá et al. 1992, Pla Cid et al. 2000). Em sín- Segundo Angelim (1988) o metamorfismo as-
tese, a deformação D1 da Faixa Riacho do Pontal sociado a deformação D2 é da fácies xisto verde,
mostra estruturas relacionadas a uma tectônica com formação de muscovita/sericita, clorita. Para
tangencial, consistente com o modelo de defor- Vauchez & Egydio-Silva (1992), a Zona ou Linea-
mação progressiva dúctil, em regime não coaxial, mento de Pernambuco configura uma zona de ci-
com transporte de norte para sul. salhamento de alta temperatura, com formação de
A fase D2, transcorrente, gerou o Lineamento sillimanita nos metassedimentos milonitizados e
Pernambuco, ou Zona de Cisalhamento Pernam- início de anatexia.
buco, que é uma zona de cisalhamento transcor- Uma seção geológica da Faixa Riacho do Pontal
rente dúctil dextral com centenas de quilômetros mostra seus principais elementos tectônicos (Fig.
de extensão, além de zonas de cisalhamento 9), conforme Gomes (1990), Uhlein et al. (2008) e
transcorrentes subordinadas, com geometria sig- Uhlein et al. (2010). Ao sul, destaca-se um fold-
moidal e anastomosada, foliação milonítica sub- and-thrust belt (domínio ou zona externa), com
vertical (E-W;90º) e lineação de estiramento subho- predomínio de rampas frontais de baixo ângulo,
rizontal (90;10º E) conforme Gomes (1990) e Uh- nappes e rampas laterais, envolvendo as Forma-
lein et al. (2010). Essa zona de cisalhamento afe- ções Barra Bonita e Mandacaru. Destaca-se a kli-
tou os gnaisses e granitóides do embasamento e ppe da Barra Bonita, uma porção alóctone do Gru-
os xistos, metavulcânicas, anfibolitos e gnaisses po Casa Nova. No domínio interno, destacam-se
do Grupo Casa Nova, com metamorfismo da fácies as rochas vulcano-sedimentares da Formação Pau-
anfibolito. Sigmóides de foliação em escala regio- listana-Monte Orebe e o Complexo de Brejo Seco
nal, assim como assimetria de cristais deforma- envolvidos na deformação tangencial profunda (thi-
dos, sombras de pressão e foliações S/C indicam ckskined), que afeta também o embasamento, as-
cinemática dextral (Angelim 1988, Gomes 1990, sim como zonas de cisalhamento subverticais trans-
Oliveira 1998). Vauchez et al. (1995) descrevem o correntes destrógiras da Zona de Cisalhamento
padrão sinuoso das zonas de cisalhamento dex- de Pernambuco (a oeste) e outras transcorrênci-
trais dos lineamentos de Pernambuco e Patos, na as subordinadas, possivelmente ramificadas, que
Província Borborema, dando enfase à foliação mi- afetam, igualmente, o embasamento e as supra-
lonítica, sua cinemática, as condições metamórfi- crustais do Grupo Casa Nova.
cas da deformação e história magmática associa- Um modelo tectônico para a Faixa Riacho do
da. Vauchez & Egydio-Silva (1992) descrevem a Pontal, proposto por Oliveira (1998) sugere, du-
estrutura da Zona de Cisalhamento de Pernam- rante o Neoproterozóico: (i) o desenvolvimento de
buco, na região de Floresta, cerca de 100 km a uma margem passiva, com sedimentação marinha
leste da faixa Riacho do Pontal, caracterizando rasa e profunda, sedimentação turbidítica, possi-
uma deformação milonítica de alta temperatura, velmente numa rampa ou talude oceânico, e pro-

400
Elson P. Oliveira, Alexandre Uhlein, Fabrício A. Caxito & Marcos E. Silva

Figura 9 - Seção geológica da Faixa Riacho do Pontal e porção norte do Cráton do São Francisco, com indicação
dos domínios externo e interno da faixa dobrada. Segundo Uhlein et al. (2010).

vável formação de crosta oceânica (rochas ultra- Brejo Seco, talco e Au no Complexo Monte Orebe,
máficas e máficas de Brejo Seco e Monte Orebe); e concentrações anômalas de Ba e Au em zonas
(ii) fechamento do oceano, com subducção e in- de cisalhamento da faixa dobrada.
versão tectônica da bacia; (iii) colisão entre o Crá-
ton do São Francisco e o Maciço Pernambuco-Ala- NÍQUEL
goas, gerando o cinturão de cavalgamentos e na-
ppes no domínio externo e as zonas de cisalha- O Complexo de Brejo Seco ocorre nas proximi-
mento dúctil com rejeito de empurrão, que envol- dades da cidade de São João do Piauí, no municí-
vem o embasamento, assim como transcorrências pio de Capitão Gervásio Oliveira - PI, e trata-se
dextrais, subverticais, na porção interna da faixa de um Complexo Máfico-Ultramáfico intrusivo, de
dobrada Riacho do Pontal. Entretanto, a região é porte médio, com aproximadamente 10 km de com-
ainda muito carente de pesquisas geocronológi- primento, metamorfizado na fácies xisto-verde. As
cas e, principalmente, estudos litogeoquímicos encaixantes são supracrustais que compreendem
sobre as rochas máficas e ultramáficas. sequências turbiditícas, vulcânicas e arenosas
(Marimon 1990). Juntamente ao complexo intrusi-
Metalogênese vo, essas rochas são englobadas na Unidade ou
Grupo Brejo Seco, aflorante por aproximadamen-
Na região da Faixa Riacho do Pontal foram en- te 40 km na direção E-W (Moraes & Figueirôa 1998).
contrados e catalogados indícios diretos de mine- As rochas metabásicas do Complexo Brejo Seco
ralizações de níquel, vermiculita, calcário, talco e possuem afinidade geoquímica toleítica de baixo
grafita, além de indícios geoquímicos de concen- potássio, característica de rochas de arco-de-ilhas
trações anômalas de ouro, cobre, zinco, chumbo, (Marimon 1990).
estanho e cromo. Destacam-se o depósito de ní- O Complexo Máfico-Ultramáfico do Brejo Seco é
quel laterítico de Brejo Seco, no município de Ca- composto por rochas ígneas metamorfizadas (prin-
pitão Gervásio de Oliveira - PI, e a jazida de ver- cipalmente actinolita-clorita xistos), sendo reco-
miculita de Massapê, municipío de Paulistana - PI. nhecíveis como protólitos: dunito, gabro, harzbur-
A Carta Metalogenética / Previsional da Folha Ara- gito, troctolito e magnetitito. A associação supra-
caju (Angelim 2001) aponta algumas áreas mine- crustal encontra-se, por vezes, milonitizada em
ralizadas ou com potencialidade de abrigar depó- faixas discretas e injetada por abundantes veios
sitos minerais na Faixa Riacho do Pontal, sugeri- de quartzo concordantes à estruturação principal
das por anomalias geoquímicas, geofísicas, crité- E-W, sugerindo relação com zonas de cisalhamen-
rios petrológicos, ambiência geológica e status do to dúcteis transpressionais da Faixa Riacho do
jazimento. A partir desses dados, pode ser identi- Pontal (Angelim 2001).
ficado potencial para Au, Cu, Cr e Ag no Complexo Ocorrências de mineralizações de níquel garni-

401
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Província Borborema Meridional: Faixas Sergipana,
Riacho do Pontal e Rio Preto

erítico no Complexo Brejo Seco foram investiga- Complexo Brejo Seco e de vermiculita em corpos
das pela CONDE-PI, em data ignorada, e segui- máfico-ultramáficos intrusivos no Grupo Casa Nova.
das por Ferran & Cunha (1972, in Marimon 1990), No primeiro, o minério é representado por fibras
que cubaram a jazida de São João do Piauí, na de crisotila em veios irregulares, com reserva
Serra do Bacamarte. Atualmente é reconhecida indicada de 296.000 t de minério (Figueirôa 1998,
uma jazida semelhante na Serra do Bacamarte, in Angelim 2001). No segundo, a atividade de
desenvolvida sobre dunito da Zona Ultramáfica do explotação das reservas pela Eucatex encerraram-
complexo (Santos 1984), cuja reserva medida é se em 2008 e estudos prévios indicam que a
da ordem de 20.007.510 t com teor de 1,56% Ni mineralização resultou de reações metassomáticas
(Anuário Mineral Brasileiro 1997, Santos 1984). O entre as rochas máfico-ultramáficas e veios
mineral-minério é do tipo silicatado, ocorrendo sob pegmatíticos e foi atribuída à alteração de biotita
a forma de garnierita nas lateritas que capeam e flogopita em vermiculita (Parente & Oliveira
um corpo serpentinítico (Angelim 2001). 1986), sendo estes os critérios para pesquisas
A cobertura laterítica consiste em blocos de si- futuras deste tipo de mineralização na faixa.
lexito imersos em uma matriz argilosa pulverulen-
ta, de cor amarelo-ocre a vermelho-escura, com FAIXA RIO PRETO
trama do tipo boxwork. O minério enriquecido con-
centra-se em meia-encostas e depressões entre A Faixa Rio Preto está situada na porção noro-
cristas. Do topo para o base, o perfil típico é de este da Bahia, na região limítrofe com o Piauí (Fig.
uma delgada cobertura laterítica que recobre um 1). A cidade de Formosa do Rio Preto, na porção
colúvio de até 3 metros, seguido pela zona mine- central da faixa dobrada, cerca de 150 km ao nor-
ralizada que constitui um saprólito com abundan- te da cidade de Barreiras, é o município baiano
tes blocos de rocha alterada e silicificada, cuja mais distante da capital do Estado, Salvador (cer-
espessura em geral excede 15 metros. Na base, ca de 1.030 km).
ocorre o serpentinito parcialmente silicificado, po- A Faixa Rio Preto figura ainda como a região
bre em níquel (Moraes & Figueirôa 1998). orogênica menos estudada no contexto do Crá-
A Vale iniciou estudos de pré-viabilidade na ton do São Francisco e suas faixas dobradas mar-
ocorrência de Brejo Seco em 2003, implantando a ginais. Alguns trabalhos pioneiros de âmbito regi-
fase de pesquisa do depósito de níquel laterítico onal e mapeamento geológico básico foram reali-
desde então. A descoberta e prospecção, por essa zados na segunda metade do século passado
mesma empresa, da jazida de calcário de Umbu- (Moutinho da Costa et al. 1971, Santos et al. 1977,
zeiro, no município de Dom Inocêncio – PI, próxi- Inda & Barbosa 1978). Nesses trabalhos, foram
mo à jazida de níquel, tornou-se importante e fun- identificados os principais elementos litoestratigrá-
damental para a viabilidade do projeto, uma vez ficos e geotectônicos do oeste baiano, ainda no
que este insumo é utilizado no processo de trata- contexto da escola geossinclinal. Dessa forma, os
mento do níquel. metassedimentos de baixo grau aflorantes no vale
do Rio Preto foram englobados sob a denomina-
COBRE, ZINCO E OURO ção Grupo Rio Preto, situados na zona miogessin-
clinal. Inda & Barbosa (1978) estenderam a es-
Na Fazenda Carnaíba, município de São João tratigrafia do Grupo Bambuí levantada na Serra
do Piauí, essa associação foi detectada em gos- do Ramalho para todo o oeste baiano.
san pouco espesso, associado a rochas do Com- Egydio-Silva (1987), em sua tese de doutora-
plexo Brejo Seco (Moraes & Figuerôa 1998). Mari- do, efetuou um importante trabalho na região da
mon (1990) apresenta resultados que revelam in- Faixa Rio Preto e na cobertura cratônica do Grupo
dícios de ouro na área de Brejo Seco, principal- Bambuí, delineando os principais aspectos litoes-
mente relacionado às zonas de cisalhamento. tratigráficos, estruturais e tectônicos do noroeste
da Bahia. Este autor realocou grande parte do
OUTROS DEPÓSITOS Grupo Rio Preto na base do Grupo Bambuí (For-
mação Canabravinha), considerando o restante do
Na Faixa Riacho do Pontal registra-se ainda Grupo Rio Preto como correlato ao Grupo Chapa-
mineralizações de amianto em serpentinitos do da Diamantina, do Mesoproterozóico. Uma com-

402
Elson P. Oliveira, Alexandre Uhlein, Fabrício A. Caxito & Marcos E. Silva

partimentação em cinco domínios estruturais foi Na região cratônica, a sul de Barreiras, o em-
proposta por Egydio-Silva (1987) para o noroeste basamento também aflora na janela estratigráfi-
baiano, separados por grandes falhas, em função ca/estrutural de Correntina - BA, onde ocorrem
do grau metamórfico e do tipo de deformação pre- gnaisses, migmatitos, anfibolitos e granitos, reco-
dominante. Assim, foram individualizados, de sul bertos, em parte, pelo Grupo Bambuí.
para norte: (i) o Domínio Cratônico, com rochas
carbonáticas subhorizontais (Formação São Desi- GRUPO RIO PRETO
dério, Grupo Bambuí); (ii) o Domínio Pericratônico,
com metassedimentos do Grupo Bambuí mostran- A Faixa Rio Preto (Fig. 10) é constituída pelo
do dobras assimétricas vergentes para o sul; (iii) Grupo Rio Preto (Santos et al. 1977, Egydio-Silva
o Domínio Distal de Vergência Centrífuga, consti- 1987), redefinido e subdividido nas formações
tuído pela Formação Canabravinha, com três fa- Canabravinha, ao sul, e Formosa, a norte (Uhlein
ses de deformação e estrutura em leque assimé- et al. 2008, Caxito 2010). Em comparação às uni-
trico; (iv) o Domínio Interno, constituído pelo Gru- dades correlatas das outras faixas dobradas mar-
po Rio Preto e, (v) o Domínio do Embasamento, ginais ao Cráton do São Francisco, pode ser atri-
com gnaisses do embasamento arqueano/paleo- buída uma idade neoproterozóica (~900-750 Ma)
proterozóico (Complexo Cristalândia do Piauí) re- para a deposição do Grupo Rio Preto. Baseado em
trabalhados no Ciclo Brasiliano. dados gravimétricos, Egydio-Silva (1987) estimou
Durante os anos 90, a litoestratigrafia propos- uma espessura de aproximadamente 7.500 m para
ta por Egydio-Silva (1987) foi utilizada no Progra- o Grupo Rio Preto.
ma de Levantamentos Geológicos Básico da CPRM, A nordeste, no mapa geológico da Figura 10,
especialmente no mapeamento das folhas Formo- afloram quartzitos, metassiltitos, filitos grafitosos
sa do Rio Preto, Santa Rita de Cássia, Curimatá, e sericita xistos do Grupo Santo Onofre (Porcher
Corrente e Xique-Xique (Andrade Filho et al. 1994, 1970), que sustentam a Serra do Boqueirão, de
Arcanjo & Braz Filho 1999). orientação NNW-SSE, considerada como a termi-
Mais recentemente, destacam-se os trabalhos nação noroeste da Cordilheira do Espinhaço Se-
de Uhlein et al. (2008) e a dissertação de mestra- tentrional (Inda & Barbosa 1978, Egydio-Silva
do de Caxito (2010), sobre a geologia regional e 1987, Schobbenhaus 1996). Ocorrem quartzitos
evolução tectônica da Faixa Rio Preto, assim como puros a feldspáticos e micáceos, com lentes e ca-
os trabalhos de graduação de Sanglard et al. madas de filitos, às vezes carbonosos ou grafito-
(2008) e Gonçalves-Dias & Mendes (2008). Nes- sos. Apresentam duas ou três fases de deforma-
tes trabalhos o Grupo Rio Preto é redefinido, en- ção e metamorfismo da fácies xisto verde. O Gru-
globando as formações Canabravinha e Formosa, po Santo Onofre foi correlacionado ao Supergru-
cuja sedimentação é interpretada como de idade po Espinhaço por Inda & Barbosa (1978) e Egydio-
neoproterozóica. Silva (1987). Entretanto, Schobbenhaus (1996)
considera o Grupo Santo Onofre como equivalen-
Estratigrafia te do Grupo Macaúbas, representando uma sedi-
mentação gravitacional turbidítica neoproterozói-
EMBASAMENTO ca (~900-750 Ma). Neste sentido, poderia ser um
equivalente do Grupo Rio Preto, conforme a des-
O embasamento tectono-estratigráfico da Fai- crição deste trabalho. Arcanjo & Braz Filho (1999)
xa Rio Preto é representado a norte pelo Comple- englobam os mica-xistos, filitos e quartzitos aflo-
xo Cristalândia do Piauí (Arcanjo & Braz Filho 1994), rantes entre as Serras do Estreito e do Boqueirão
composto por biotita-gnaisses e anfibolitos. Aflo- no Grupo Rio Preto. Da mesma forma, os xistos
ra também a nordeste, constituído por granitos, das proximidades de Campo Alegre de Lourdes -
gnaisses e migmatitos, na região de Mansidão (Fig. BA poderiam ser, tentativamente, correlacionados
10), entre as serras do Boqueirão e do Estreito ao Grupo Rio Preto.
(Complexo Gnáissico-Migmatítico, Arcanjo & Braz
Filho 1999). Essas rochas apresentam evolução Formação Canabravinha
arqueana a paleoproterozóica, com retrabalhamen-
to no Ciclo Brasiliano. A Formação Canabravinha foi definida por

403
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Província Borborema Meridional: Faixas Sergipana,
Riacho do Pontal e Rio Preto

Egydio-Silva (1987) como a unidade basal do Gru- Preto no sentido de Egydio-Silva (1987) e ocorre
po Bambuí e correlacionada à Formação Bebedou- na porção setentrional do cinturão brasiliano, ini-
ro, base do Grupo Una na Bahia. Uhlein et al. (2008) ciando a sul do rio homônimo e estendendo-se por
e Caxito (2010) retiraram a Formação Canabravi- aproximadamente 20 km a norte, em direção à di-
nha da base do Grupo Bambuí e a posicionaram visa entre os estados da Bahia e Piauí (Fig. 10). É
no Grupo Rio Preto redefinido. Esses autores des- composta por (granada) mica-xistos, metapelitos,
crevem que a Formação Canabravinha tem gran- quartzitos micáceos, e, localmente, intercalações
de espessura, metamorfismo e deformação signi- de metacherts ferro-manganesíferos e epidoto-
ficativos, ou seja, características de deposição e actinolita-clorita xistos (xisto verde). Esses litoti-
evolução estrutural em contexto de faixa dobra- pos registram um metamorfismo de fácies xisto
da, em contraste com a Formação Bebedouro, que verde a epidoto-anfibolito (~500 °C, 2-5 Kbar, 10-
ocorre em contexto cratônico. Mesmo que as duas 20 km de profundidade na crosta; Caxito 2010). É
unidades apresentem correlação crono-estratigrá- importante observar que não existe lacuna meta-
fica, o contexto tectônico e sedimentar é bastan- mórfica importante entre as formações Canabra-
te diferente. Portanto, é mais coerente que a For- vinha e Formosa, com o primeiro aparecimento de
mação Canabravinha seja correlacionada às for- granada já na porção norte da Formação Cana-
mações portadoras de diamictitos das outras fai- bravinha.
xas dobradas brasilianas (p. ex., formações ba- Na fazenda Angico, a oeste de Formosa do Rio
sais do Grupo Macaúbas na Faixa Araçuaí, Forma- Preto, ocorre uma faixa de epidoto (clinozoisita)-
ção Capitão-Palestina na Faixa Sergipana). anfibolitos que pode atingir até 200 m de espes-
A Formação Canabravinha ocorre na porção sul sura estimada, intercalados tectonicamente entre
da Faixa Rio Preto, iniciando-se a norte de Caripa- granada-mica xisto e metarritmito areno-pelítico
ré e seguindo para norte por aproximadamente da Formação Formosa. Essas rochas foram identi-
40 km (Fig. 10). Está confinada a duas grandes ficadas por Egydio-Silva (1987), e desde então são
estruturas disruptivas que marcam o seu caval- consideradas, por muitos autores, como peça-cha-
gamento sobre a Formação Formosa a norte, e ve para a compreensão da evolução geodinâmica
sobre a Formação Serra da Mamona (Grupo Bam- da Faixa Rio Preto (Egydio-Silva 1987, Fuck et al.
buí) a sul. A Formação Canabravinha é constituída 1993). Essas rochas foram objeto de estudos pe-
por quartzitos piritosos, feldspáticos e carbonáti- trográficos, litoquímicos e geocronológicos deta-
cos, com intercalações de filitos, metassiltitos mi- lhados (Caxito 2010).
cáceos e metadiamictitos, e caracteriza-se por um
metamorfismo de grau fraco a médio além de uma GRUPO BAMBUI
geologia estrutural complexa.
Nos metadiamictito predominam clastos de car- As formações pertencentes ao Grupo Bambuí
bonato, gnaisse, quartzo e quartzito, sendo co- no oeste baiano podem ser facilmente reconhecí-
muns também os de granitóides (sensu lato), ge- veis ao longo de um perfil regional entre São De-
ralmente angulosos a subarredondados, muitas sidério e Riachão das Neves (Egydio-Silva 1987,
vezes estirados tectonicamente. A matriz é forma- Egydio-Silva et al. 1989), incluindo, da base para o
da por quartzo (silte), carbonato e mica branca topo: (i) Formação São Desidério, correlacionada
orientados. Os metadiamictitos estão intercalados à Formação Lagoa do Jacaré; (ii) Formação Serra
em quartzitos e metapelitos com estratificação pla- da Mamona, correlacionada à Formação Serra da
na, cruzada e gradacional, variando de granulo- Saudade e, (iii) Formação Riachão das Neves, cor-
metria grossa a fina. Esse conjunto de litotipos e relacionada à Formação Três Marias. Próximo de
estruturas sedimentares é interpretado como o pro- Cariparé, os metassedimentos da cobertura cra-
duto de fluxos gravitacionais de lama e correntes tônica (Grupo Bambuí) são cavalgados pelos me-
de turbidez em uma bacia do tipo rift (Uhlein et al. tassedimentos da Faixa Rio Preto (Formação Ca-
2008, Caxito 2010). nabravinha).
Na região que se estende de Cariparé a São
Formação Formosa Desidério (Fig. 10), as rochas do Grupo Bambuí
apresentam um metamorfismo de grau incipiente
A Formação Formosa corresponde ao Grupo Rio a fraco e uma única fase de deformação (Domínio

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Elson P. Oliveira, Alexandre Uhlein, Fabrício A. Caxito & Marcos E. Silva

Figura 10 – Mapa geológico regional simplificado da Faixa Rio Preto e porção adjacente do Cráton do São
Francisco, noroeste do estado da Bahia. Modificado de Egydio-Silva (1987), Egydio-Silva et al. (1989) e
Caxito (2010). A-A’ seção geológica da Figura 11.

Pericratônico de Egydio-Silva 1987). A partir des- dos a margas e siltitos.


sa área, para o sul, prevalece a subhorizontalida-
de das camadas e um metamorfismo extremamen- Formação Serra da Mamona
te fraco (Domínio Cratônico).
A Formação Serra da Mamona é marcada pela
Formação São Desidério alternância entre camadas de metacarbonatos e
metapelitos, metassiltitos esverdeados, metacal-
A Formação São Desidério ocorre ao sul da ci- cários negros, metamargas e ardósias micáceas,
dade de Barreiras e constitui-se de calcários cin- além de níveis de metarenitos finos, na base. A
za-escuros com intercalações de margas e siltitos, espessura total estimada, calculada por Egydio-
atingindo até 450 m de espessura estimada na Silva (1987) através do perfil geológico, chega a
região pericratônica (Egydio-Silva 1987). Predomi- 3.000 m, mas o autor chama a atenção para o fato
nam calcários escuros oolíticos e intraclásticos, com de se tratar de região tectonicamente deformada
marcas onduladas, sobrepostos por calcários pre- e, portanto, esse valor deve ser considerado com
to com nódulos centimétricos de chert, intercala- cautela.

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Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Província Borborema Meridional: Faixas Sergipana,
Riacho do Pontal e Rio Preto

Formação Riachão das Neves mínio Cratônico, próximo a São Desidério, para
dobradas em estilo flexural e concêntrico no Do-
A partir da cidade de Barreiras em direção a mínio Pericratônico, entre Barreiras e Riachão das
Riachão das Neves, ocorre o aumento gradativo Neves, com xistosidade plano-axial mergulhante
da granulometria dos sedimentos e esses passam para NNW. Nas proximidades de Cariparé as do-
a apresentar grandes quantidades de feldspatos bras tornam-se progressivamente mais apertadas,
e fragmentos líticos em sua composição, caracte- até que, no Grupo Rio Preto, observam-se dobras
rizando assim os metarcóseos e metagrauvacas similares apertadas a isoclinais, e deformação com-
da Formação Riachão das Neves, com espessura plexa, envolvendo três fases distintas. Na porção
estimada de 4.000 m. Egydio-Silva (1987) avaliou mais interna da faixa dobrada aflora o embasa-
a granulometria dos metarenitos como areia mé- mento gnáissico do Complexo Cristalândia do Piauí,
dia (0,25 a 0,5 mm), constituídos por grãos de com o desenvolvimento de estruturas altamente
quartzo, feldspato (principalmente plagioclásio), dúcteis e até quatro fases de deformação impres-
carbonatos e sericita, e como principais acessóri- sas (Egydio-Silva 1987, Caxito 2010).
os, zircão, titanita, turmalina e clorita. Fragmen- O grau metamórfico cresce igualmente de sul
tos líticos de quartzito e sericita-xisto também para norte, partindo de metamorfismo nulo a in-
podem ocorrer. cipiente na região cratônica, para a fácies xisto-
verde na porção sul da faixa Rio Preto e atingindo
GRUPO URUCUIA E COBERTURAS CENOZÓICAS a transição para a fácies anfibolito na porção in-
terna da faixa dobrada, situada ao norte.
Sobre as unidades neoproterozóicas da re- A Faixa de Dobramentos Rio Preto apresenta-
gião, repousa em discordância erosiva e angular se como uma grande estrutura em leque assimé-
o Grupo Urucuia, constituído por arenitos e con- trico divergente (Fig. 11), com um domínio sul bem
glomerados fluviais e eólicos de idade cretácea. desenvolvido, com clara vergência para o Cráton
Recobrindo as demais unidades ocorrem depósi- do São Francisco, e um domínio norte mais curto,
tos de sedimentos inconsolidados alúvio-eluvio- mostrando vergência para o norte, onde o Grupo
nares de idade plio-pleistocena, predominante- Rio Preto cavalga, em baixo ângulo, os gnaisses
mente areno-argilosos, às vezes lateritizados. do Complexo Cristalândia do Piauí (Egydio-Silva
1987). Essa estruturação é resultado de uma com-
Geologia estrutural e tectônica plexa evolução estrutural, que gerou três foliações
secundárias distintas, associadas a dobramentos
Na região noroeste da Bahia, um perfil S-N de e sistemas de falhas de empurrão, oblíquas e trans-
São Desidério até Cristalândia do Piauí, pela BR- correntes. O acervo estrutural da Faixa Rio Preto
135, permite um exemplo didático da transição aponta para uma evolução polifásica exclusivamen-
cráton / faixa dobrada (Fig. 11). As camadas do te atribuída à tectogênese monocíclica Brasiliana
Grupo Bambuí passam de horizontalizadas no Do- (600-540 Ma), como demonstrado pelas datações

Figura 11 - Seção geológica da Faixa Rio Preto e o embasamento, com indicação dos domínios estruturais da
faixa. Adaptado de Egydio-Silva (1987). Ver Figura 10 para localização da seção geológica.
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Elson P. Oliveira, Alexandre Uhlein, Fabrício A. Caxito & Marcos E. Silva

K-Ar de Egydio-Silva (1987). Além disso, a princi- de movimento oblíquo destrógiro com topo para
pal xistosidade presente na Formação Canabravi- norte (Fig. 11).
nha (S2) pode ser identificada também no Grupo Podem ser distinguidas três fases deformacio-
Bambuí, cobertura cratônica de idade neoprote- nais distintas, possivelmente progressivas (sensu
rozóica. Passchier & Trouw 1996), na evolução estrutural
No domínio da cobertura cratônica, ao sul, si- e tectônica da Faixa Rio Preto (Egydio-Silva 1987,
tuado entre Cariparé e São Desidério, há registro Caxito 2010, Caxito et al. 2010).
de uma fase deformacional marcada pela geração A fase D1 gerou a foliação penetrativa S1, que
de dobras inclinadas, com vergência para SSE. em geral é paralela a S0. Pouco pode ser dito so-
Associada a estas dobras ocorre uma clivagem bre as estruturas e o significado tectônico dessa
ardosiana plano-axial, orientada N60 a 70E, com fase, devido à escassez de dados e a generaliza-
mergulho de aproximadamente 50º para NW, às da transposição posterior.
vezes subvertical. As dobras são assimétricas, com A fase D2 é responsável pelo desenvolvimento
flanco longo, com acamamento mostrando mergu- da foliação penetrativa S2, além da marcante es-
lho menor do que a xistosidade plano-axial, e flanco truturação em leque de dupla vergência da Faixa
curto, onde o acamamento ocorre subverticaliza- Rio Preto. Essa fase gerou dobras em um gradien-
do, com mergulho maior do que a xistosidade pla- te de estilo que variam de suaves e concêntricas
no-axial. Os eixos dos dobramentos ocorrem ori- no Grupo Bambuí cratônico, tornando-se progres-
entados segundo WSW-ENE, com caimento suave sivamente mais apertadas à medida que se apro-
para ENE e WSW (Egydio-Silva 1987). Falhas in- xima da Zona de Cisalhamento de Cariparé, fei-
versas, com transporte para o sul, podem inver- ção limítrofe cráton / faixa dobrada, até dobras
ter a estratigrafia dentro da cobertura cratônica. similares apertadas a isoclinais, parcialmente a
Mais para o sul, em direção a São Desidério, as totalmente transpostas, nas rochas do Grupo Rio
dobras assimétricas passam a simétricas com fra- Preto. Essa fase gerou, também, as grandes es-
ca vergência, até um predomínio de camadas truturas dúcteis / rúpteis da Faixa Rio Preto, por
subhorizontais a sul dessa cidade. exemplo as zonas de cisalhamento de Cariparé e
Egydio-Silva (1987) reconheceu a Zona de Ci- de Malhadinha / Rio Preto, contato tectônico en-
salhamento de Cariparé, próximo à cidade homô- tre as formações Canabravinha e Formosa, com
nima, como a feição limítrofe cráton / faixa dobra- movimentação oblíqua reversa de topo para nor-
da na região da Faixa Rio Preto, aproximadamen- te (Gonçalves-Dias & Mendes 2008, Caxito 2010).
te 60 km a sul do limite anteriormente proposto A foliação S2, estrutura principal da faixa Rio Pre-
por Almeida (1977). A Zona de Cisalhamento dúc- to, é uma foliação de crenulação apertada que
til-rúptil de Cariparé, com atitude N70E/45NW, ocorre de forma proeminente em toda a área.
apresenta movimentação frontal inversa com topo Quando a foliação S2 ocorre espaçada milimetrica-
para sudeste, que coloca as rochas da Formação mente, é possível visualizar uma foliação mais
Canabravinha, a noroeste, sobre as rochas do antiga (S1), quase sempre paralela a S0, nos mi-
Grupo Bambuí, a sudeste. crólitons.
Na porção central da faixa dobrada, entre For- A fase D3 é caracterizada pela clivagem de cre-
mosa do Rio Preto e Malhadinha, ocorre uma zona nulação espaçada ou clivagem de fratura S3, oca-
de cisalhamento sub-vertical de orientação ENE, sionando flexuras e dobras suaves sobre S2, e re-
denominada Zona de Cisalhamento Malhadinha – presenta possivelmente uma fase compressiva fi-
Rio Preto (Gonçalves-Dias & Mendes 2008, Caxito nal, dominada por estruturas vergentes para no-
2010, Caxito et al. 2010). Essa zona de cisalha- roeste, ou seja, do cráton para a faixa dobrada
mento é materializada por quartzitos miloníticos (Caxito 2010).
de baixa temperatura, e apresenta cinemática Um modelo de evolução geotectônica para a
destrógira revelada pela assimetria de estruturas Faixa Rio Preto envolve estiramento crustal durante
em planta, afloramento, lâmina delgada e também o neoproterozóico (~900-750 Ma), com deposição
pelo padrão de orientação cristalográfica de quart- do Grupo Rio Preto em uma bacia do tipo rift, ins-
zo (Caxito 2010, Caxito et al. 2010). Essa zona de talada sobre o embasamento arqueano-paleopro-
cisalhamento joga a Formação Canabravinha, a terozóico da região (Uhlein et al. 2008, Caxito
sul, sobre a Formação Formosa, a norte, através 2010). Posteriormente, essa bacia foi invertida

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Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Província Borborema Meridional: Faixas Sergipana,
Riacho do Pontal e Rio Preto

durante a Orogênese Brasiliana (~600-550 Ma), cidade de Formosa do Rio Preto, a idade K-Ar em
com o desenvolvimento de três fases de deforma- anfibólio situa-se em torno de 840 Ma. As data-
ção progressivas. A fase de deformação principal, ções de rochas do Grupo Bambuí pelo método Rb/
D2, gerou uma estrutura em leque assimétrico di- Sr fornecem idades também brasilianas, com va-
vergente bastante peculiar, que, possivelmente, lores situados entre 500 e 700 Ma.
originou-se durante a convergência oblíqua entre Trabalhos em andamento (Caxito 2010, Caxito
o Cráton do São Francisco, a sul, e o bloco de Cris- et al. 2011, em preparação) apresentarão novos
talândia do Piauí, a norte (Caxito 2010, Caxito et dados isotópicos dos sistemas Sm-Nd (TIMS) em
al. 2010). Essa convergência ocasionou uma mo- rocha total e agregados minerais e também U-Pb
vimentação no sentido horário entre os blocos de em zircão detrítico (LA-ICP-MS) de rochas do Gru-
embasamento envolvidos, com a geração de gran- po Rio Preto.
des falhas transcorrentes a oblíquas. Na cobertu-
ra, essa movimentação gerou a estruturação ex- Metalogênese
trusiva em leque divergente, de maneira seme-
lhante aos modelos análogos de McClay et al. MANGANÊS
(2004), com o desenvolvimento de dois domínios
de vergências opostas separados por uma zona Constitui-se num dos mais importantes recur-
com o desenvolvimento de falhas transcorrentes sos minerais da região, tanto pelo grande núme-
a oblíquas na porção central da faixa dobrada. ro de jazimentos cadastrados, como pela ampla
distribuição nas diversas unidades estratigráficas
Geocronologia e ambientes tectônicos. O Projeto Manganês do
Oeste da Bahia, da SME/CBPM (Galvão et al. 1982)
Os estudos geocronológicos realizados sobre visou cadastrar todas as ocorrências da região,
a Faixa Rio Preto são ainda escassos, com pou- para fornecer uma estimativa da quantidade e
quíssimas datações, compiladas nos trabalhos de qualidade do minério, assim como a relação dos
Egydio-Silva (1987) e Mascarenhas & Garcia depósitos com a geologia regional. Para os depó-
(1989). Os dados obtidos através dessas análi- sitos passíveis de realização do cálculo de reser-
ses convergem em torno da importância do Ciclo vas, foram estimadas cerca de 654.644 t no total,
Brasiliano sobre as seqüências aqui estudadas. das quais 53% são reservas medidas, 46% são
Para o Domínio do Embasamento, datações inferidas e 1% indicadas.
obtidas por isócronas Rb-Sr forneceram idade de Barbosa (1982) apresentou as principais carac-
2.146 ± 149Ma (Ri=0,704) em rocha total, em terísticas mineralógicas, químicas e econômicas
gnaisses aflorantes próximo a Cristalândia do das diversas ocorrências, além de tecer conside-
Piauí. Em biotita desses gnaisses, a idade obtida rações sobre a gênese dos depósitos de manga-
pelo método K/Ar corresponde a 540 Ma, e em nês. Segundo este autor, estes foram formados
anfibólio, 1.176 Ma (Egydio-Silva et al. 1989). Es- por processos supergênicos que atuaram sobre
ses valores sugerem a impressão de um evento protominérios durante os ciclos geomorfológicos
paleoproterozóico e retrabalhamento do Ciclo Bra- Velhas e Paraguaçu, do Plioceno e Pleistoceno,
siliano sobre as rochas do embasamento da Faixa respectivamente (King 1956). Barbosa (1982) su-
Rio Preto, inclusive indicando diferenças na perda geriu ainda que a presença sistemática de proto-
isotópica de minerais com temperaturas de fecha- minério e minério de manganês nos grupos Rio
mento distintas. Preto e Bambuí, com características litológicas e
Idades Rb-Sr e K-Ar no denominado complexo geoquímicas coerentes com distribuição em zonas
gnáissico-migmatítico da região de Mansidão indi- de faixa dobrada / pericratônica / cratônica, pode
cam valores paleoproterozóicos (~2,0 Ga) rejuve- indicar contemporaneidade de deposição entre
nescidos total ou parcialmente no Neoproterozói- esses dois grupos. Dessa forma o manganês teria
co, durante o Ciclo Brasiliano (~540 Ma; Mascare- sido primariamente depositado em uma bacia re-
nhas & Garcia 1989). dutora, com passagem de ambiente plataformal
Análises pelo método K/Ar em muscovita das (cratônico) para marinho profundo/abissal (faixa
rochas da Formação Formosa mostram idades em dobrada). A fonte do manganês teria sido as pró-
torno de 547 Ma. Já nos anfibolitos próximos da prias rochas do embasamento (Barbosa 1982).

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Elson P. Oliveira, Alexandre Uhlein, Fabrício A. Caxito & Marcos E. Silva

Mais de 50 depósitos de manganês foram assi- pessartita, ocasionada pela supergênese, gerou
nalados no oeste da Bahia (Galvão et al. 1982, óxidos de manganês secundários, tais como piro-
Barbosa 1982, Andrade Filho et al. 1994, Arcanjo lusita, criptomelana, e, subordinadamente, litiofo-
& Braz Filho 1999), alguns dos quais estão indica- rita, constituindo os principais minerais minério.
dos na Figura 10. Dois tipos de minério são en- A ocorrência de Mn mais representativa no
contrados na área: minério in situ e colúvio-eluvi- Grupo Rio Preto é a da Fazenda Sucuriú / Melan-
onar (crostas manganesíferas ou lateritas; Fig. 12). cia, 30 km a sudoeste de Formosa do Rio Preto.
Os protominérios são representados por gondi- Ocorrem quartzo-muscovita xistos com níveis cen-
tos (Grupo Rio Preto), metapelitos e pelitos man- timétricos de gondito e quartzito intercalados,
ganesíferos (Grupo Bambuí). Os teores médios encaixados em granada-mica xistos da Formação
nesses depósitos são: Mn = 40 %, Fe = 5 %, SiO2 Canabravinha. O manganês liberado pela super-
= 14 % e Al2O3 = 4,5 %, sendo o K a impureza mais gênese constitui crostas superficiais que atingem
prejudicial ao aproveitamento na indústria side- 400 m de comprimento, largura média de 30 m e
rúrgica (Barbosa 1982). profundidade de até 5 m (Barbosa 1982, Andrade
Podem ser citadas nove ocorrências importan- Filho et al. 1994). As análises químicas de 10 amos-
tes no Grupo Rio Preto, principalmente próximo ao tras de trincheira forneceram teores entre 0,5 e
contato entre as formações Canabravinha e For- 32,48 % de Mn, com Fe entre 1,27 e 5 %, SiO2
mosa (Fig. 10); o teor de Mn nessas ocorrências entre 35,86 e 78,84 % e Al2O3 entre 1,51 e 12,72
pode atingir até cerca de 45 %. Os protominérios %. Essas características indicam que dificilmente
são do tipo gondito, termo utilizado para xistos a ocorrência de Sucuriú / Melancia possa ser ex-
maganesíferos com espessartita e quartzo como plorada, devido ao teor de corte do minério de Mn,
minerais essenciais, geralmente produto de me- aproximadamente 30 % (Barbosa 1982).
tamorfismo sobre siltitos manganesíferos (Roy No Grupo Bambuí, os depósitos de Mn foram
1976, Barbosa 1982). As camadas de gondito atin- formados pela alteração supergênica sobre peli-
gem espessuras de 20 a 30 cm, intercalados a tos e metapelitos manganesíferos. Barbosa (1982)
quartzitos e mica xistos das formações Canabra- considera que seis dessas ocorrências exibem teor
vinha e Formosa. São formados por bandas claras e quantidade de minério de manganês suficiente
(quartzo + micas) intercaladas a bandas escuras para suportar uma estimativa de reservas. A ocor-
(pseudomorfos de espessartita e óxidos de man- rência da Fazenda Perdizes, a oeste de São Desi-
ganês), paralelas à xistosidade regional. Apresen- dério, é a única que pode ser considerada uma
tam coloração cinza escura, granulação fina a jazida de pequeno porte, com reserva total (me-
média, são friáveis, porosos e penetrados por dida + inferida) de 354.964 t (Galvão et al. 1982).
veios milimétricos de óxidos de manganês secun- Destas, para minérios de Mn > 40 %, a reserva
dários. A liberação de manganês da granada es- medida é igual a 84.194 t e a inferida é igual a

Figura 12 - Crosta manganesífera da ocorrência da Fazenda Barra do Buriti (número 4 no mapa da Figura
10). A espessura aflorante da ocorrência chega a 20 metros. Os paredões de laterita são controlados por
duas famílias de fraturas de orientação 350/85 e 255/80.

409
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Província Borborema Meridional: Faixas Sergipana,
Riacho do Pontal e Rio Preto

168.389 t. tacherts ferro-manganesíferos compreendem uma


A ocorrência da Fazenda Perdizes é composta camada-guia da Formação Formosa, com espes-
por crostas colúvio-eluvionares onde ocorrem blo- sura variável, porém normalmente formando mor-
cos e seixos de manganês. O corpo principal, co- rotes com até 20 m de altura. Bons afloramentos
nhecido como Algodoeiro, tem comprimento de 750 podem ser encontrados nas margens do Rio Pre-
m, largura de 80 m e espessura revelada por po- to, a leste de Formosa (Vereda Jatobá; Fazenda
ços de, no máximo, 4 m; a maioria dos poços po- Primavera), e também a sudeste de Formosa (Fa-
rém penetrou somente no topo da crosta manga- zenda Lagoa). Essas rochas foram interpretadas
nesífera, deixando em aberto a possibilidade de anteriormente como itabiritos (Egydio-Silva 1987,
ampliação das reservas supracitadas. Andrade Filho et al. 1994), porém os resultados
da litoquímica indicam que são melhor classifica-
METACHERTS E LATERITAS FERRO-MANGANESÍFERAS das como metacherts, com SiO2 entre 90,49 e 99%,
Mn entre 0,04 e 3,54%, e Fe entre 0,4 e 2,4%.
Gonçalves-Dias & Mendes (2008) e Mendes et Os metacherts apresentam um bandamento
al. (2010) apresentaram estudos de petrografia, claro-escuro devido à intercalação entre bandas
microscopia ótica e eletrônica de varredura, e lito- ricas em quartzo de granulação grossa, com indí-
química de metacherts e lateritas ferro-mangane- cios de forte recristalização dinâmica (contatos
síferas da Faixa Rio Preto (Figs. 13 e 14). Os me- serrilhados, extinção ondulante), com bandas ri-

Figura 13 - Metachert ferro-manganesífero da Formação Formosa, aflorante na Fazenda Primavera, nas


margens do Rio Preto, a leste de Formosa (Gonçalves-Dias & Mendes 2008). A – aspecto macroscópico; B
– Imagem obtida em MEV de banda escura do metachert, formada principalmente por óxidos de manganês
+ espessartita.

Figura 14 - Feições das lateritas ferro-manganesíferas da Faixa Rio Preto (Gonçalves-Dias & Mendes 2008).
A – Laterita brechoíde manganesífera, aflorante a sudeste de Formosa do Rio Preto (Mn = 19,2 %; Fe = 3,98
%). B – Imagem obtida no MEV para a mesma amostra, mostrando a matriz formada por óxidos de manga-
nês secundários que sustentam os fragmentos líticos e de quartzo. C – Laterita ferruginosa pisolítica da
Fazenda Estreito, a leste de Malhadinha (Fe = 48,2 %). D – Imagem obtida no MEV da mesma amostra,
mostrando a presença de pisólitos de goethita e cimento limonítico.

410
Elson P. Oliveira, Alexandre Uhlein, Fabrício A. Caxito & Marcos E. Silva

cas em quartzo fino com hematita, goethita, litio- glomerados do Grupo Urucuia serem considerados
forita e outros óxidos de Mn disseminados, além como fonte secundária provável, a exemplo dos
de pseudomorfos de granada espessartita (Fig. garimpos na região de Posse, Goiás, na outra borda
13). A maior proporção de ferro e manganês nas da bacia cretácica (Andrade Filho et al. 1994).
bandas escuras deve ter inibido a recristalização
do quartzo, conferindo à rocha o seu aspecto ban- REFERÊNCIAS
dado característico. Além da variedade bandada,
podem ainda se apresentar maciços ou brechóides. Alkmim F.F. 2004. O que faz de um cráton um cráton? O
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As lateritas ferro-manganesíferas ocorrem com nas ao delimita-lo. In: Mantesso-Neto V., Bartorelli
bastante freqüência capeando as diversas litolo- A., Carneiro C.D.R., Brito-Neves B.B. (orgs.) Geo-
gias da área, com espessuras que podem atingir logia do Continente Sul-Americano: evolução da obra
de Fernando Flávio Marques de Almeida, Beca, São
até 20 m aflorantes (Fig. 2). Gonçalves-Dias & Paulo, p.17-35.
Mendes (2008) obtiveram para essas lateritas te- Allard G.O., Hurst V.J. 1969. Brazil-Gabon geologic link
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da Faixa Rio Preto indicam a concentração desses Energ., CPRM, Brasília: 68 p.
elementos em três etapas (Gonçalves-Dias & Men- Angelim L.A.A. & Silva Filho M.A. 1993. Compartimen-
tação geotectônica do Cráton do São Francisco na
des 2008): 1) precipitação através de uma solu-
região de Sobradinho-Bahia. In: SBG, Núcleo Bahia-
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Y-B (Parcial) e Xique-Xique. Folha SC.23-Z-B (Par-
geno, com espessura de 0,5 a 1 m. Os teores de cial). Estados da Bahia e do Piauí. Escala 1:250.000.
cinza variam entre 3,1 e 65%, sendo a turfa ener- Brasília: CPRM, 84 p.
gética considerada entre 3,1 e 35 % e a turfa agrí- Arcanjo J.B.A. & Braz Filho P.A. 1994. O mapeamento
geológico das folhas Curimatá/Corrente – Uma abor-
cola, entre 35 e 65%. Uma reserva de 25 milhões dagem sobre os principais aspectos estruturais, es-
de toneladas é inferida para as duas turfeiras (Vei- tratigráficos e geomorfológicos. In: SBG, Congr.
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411
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414
Francisco Teixeira Vilela et al.

METALOGÊNESE DA FAIXA ARAÇUAÍ: O DISTRITO FERRÍFERO NOVA


AURORA (GRUPO MACAÚBAS, NORTE DE MINAS GERAIS) NO CONTEXTO
DOS RECURSOS MINERAIS DO ORÓGENO ARAÇUAÍ

FRANCISCO TEIXEIRA VILELA1*,2*, ANTÔNIO CARLOS PEDROSA–SOARES2,4,


MARCO TÚLIO NAVES DE CARVALHO1*, RANUFO ARIMATÉIA3, EDUARDO SANTOS3
& ELIANE VOLL2*

1. CPRM-Serviço Geológico do Brasil, SUREG-BH, Avenida Brasil 1731, Belo Horizonte 30140-002, MG;
francisco.vilela@cprm.gov.br. *Ex-funcionário da SAM.
2. UFMG-CPMTC, IGC-Campus Pampulha, Belo Horizonte 31270-901, MG. *Mestre em Geologia pela UFMG.
3. SAM – Sul-Americana de Metais S/A
4. Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq (pedrosa@pq.cnpq.br)

INTRODUÇÃO nismo máfico contido na Formação Chapada Acauã


Inferior (Fig. 1 e 2). A sedimentação da fase rifte
A Faixa Araçuaí se caracteriza como um cintu- continental inclui os depósitos pré-glaciais e glaci-
rão de dobramentos e empurrões que marca o li- ogênicos do Grupo Macaúbas Proximal, cuja idade
mite oriental do Cráton do São Francisco (Almeida máxima de deposição é 900 ± 21 Ma (Babinski et
1977). Esta faixa constitui, juntamente com a re- al. 2012). A sedimentação glácio–marinha é mais
gião rica em rochas graníticas e de alto grau me- espessa e extensa nas formações Nova Aurora e
tamórfico que se estende rumo à margem atlânti- Chapada Acauã Inferior (Fig. 2). A Formação Nova
ca, o Orógeno Araçuaí (Fig. 1; cf. Pedrosa-Soares Aurora consiste, essencialmente, de metadiamic-
et al. 2001a, 2007). titos e metaturbiditos arenosos, com intercalações
O presente capítulo aborda o Distrito Ferrífero de formações ferríferas diamictíticas. A unidade
Nova Aurora (Grupo Macaúbas), além de apresen- inferior da Formação Chapada Acauã é uma su-
tar um sumário dos principais recursos minerais cessão cíclica de metadiamictitos, metaturbiditos
relacionados a rochas neoproterozóicas e cambri- arenosos e metapelitos, que encerra depósitos de
anas do Orógeno Araçuaí (Fig. 1). manganês e raras ocorrências de formações ferrí-
feras diamictíticas. Os xistos verdes interestratifi-
CONTEXTO GEOLÓGICO cados com metadiamictitos da Formação Chapada
Acauã Inferior representam vulcanismo máfico
Definições e sínteses sobre a estratigrafia re- transicional, originado na fase de rifte continental
gional, magmatismo, tectônica, metamorfismo, tardio da Bacia Macaúbas (Gradim et al. 2005). As
geocronologia e evolução do Orógeno Araçuaí en- formações Nova Aurora e Chapada Acauã Inferior
contram-se em Pedrosa-Soares et al. (2001a, 2007, são consideradas como equivalentes laterais (Noce
2008, 2011a,b), Alkmim et al. (2006, 2007) e Pe- et al. 1997), mas suas associações de litofácies
drosa-Soares & Alkmim (2011), incluindo suas ex- são significativamente diferentes (Fig. 3).
tensas listas de referências bibliográficas. Portanto, A evolução da abertura da bacia precursora le-
aqui se apresenta apenas um breve resumo da vou à deposição da pilha sedimentar da margem
geologia regional, visando contextualizar o foco continental passiva e à formação de litosfera oce-
deste capítulo. ânica. Este estágio é representado pelas unida-
O estágio de rifte continental da bacia precur- des pós-glaciais do Grupo Macaúbas, pelo Grupo
sora do Orógeno Araçuaí é registrado pelas uni- Dom Silvério e Complexo Jequitinhonha, e por cor-
dades proximais do Grupo Macaúbas, pelas suítes pos máfico-ultramáficos ofiolíticos (Fig. 1 e 2). A
magmáticas Salto da Divisa e Pedro Lessa (Ma- Formação Ribeirão da Folha, unidade distal do Gru-
chado et al. 1989, Silva et al. 2008), e pelo vulca- po Macaúbas, e o Grupo Dom Silvério englobam

415
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Faixa Araçuai

Figura 1 - Mapa geológico do Orógeno Araçuaí, com indicação das principais concentrações de depósitos
minerais (modificado de Pedrosa-Soares et al. 2007, 2011a).

416
Francisco Teixeira Vilela et al.

Figura 2 - Mapa da distribuição das formações do Grupo Macaúbas (modificado de Pedrosa-Soares et al.
2007, 2011b). Os blocos indicados são áreas de exposição predominante do embasamento arqueano-
paleoproterozóico.

sucessões metavulcano–sedimentares de assoa- membrados (Pedrosa-Soares et al. 1998, Suita et


lho oceânico, ricas em xistos peraluminosos com al. 2004). O magmatismo oceânico, que também
intercalações de metacherts e diopsiditos sulfeta- inclui corpos metamáficos e metaultramáficos dos
dos, formações ferríferas bandadas dos tipos óxi- arredores de São José da Safira e Santo Antônio
do, silicato e sulfeto, e rochas metamáficas com do Grama, marca um período de espalhamento
assinatura MORB. Esta formação encaixa lascas oceânico entre ca. 650 e 600 Ma (Queiroga et al.
tectônicas de rochas metamáficas com veios de 2007, Queiroga 2010).
plagiogranito e de rochas metaultramáficas, carac- O Complexo Jequitinhonha, constituído de pa-
terizando partes de ofiolitos tectonicamente des- ragnaisses aluminosos a peraluminosos (kinzigíti-

417
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Faixa Araçuai

cos) com intercalações de grafita gnaisse, quart-


zito e rochas calcissilicáticas, inclui as maiores ja-
zidas de grafita lamelar do Brasil. Este complexo
se correlaciona com as unidades pós-glaciais do
Grupo Macaúbas, representando sedimentação de
margem passiva (Gonçalves-Dias et al. 2011).
No Orógeno Araçuaí são reconhecidos quatro
estágios orogênicos denominados pré–colisional
(ca. 630 – 580 Ma), sin–colisional (ca. 580 – 560
Ma), tardi–colisional (ca. 560 – 530 Ma) e pós–co-
lisional (ca. 530 – 490 Ma) (Pedrosa-Soares et al.
2011a). No estágio pré–colisional (acrescionário)
foi edificado o arco magmático representado pela
Supersuíte G1 e pelo Grupo Rio Doce (Fig. 1). Baci-
as relacionadas ao arco magmático são represen-
tadas pelo Complexo Nova Venécia, na zona de
retro–arco, e pela Formação Salinas que se carac-
teriza como depósitos orogênicos da região de
ante-arco. O conjunto litológico denominado as-
sociação arco–antearco–embasamento compreen-
de unidades de naturezas e idades diversas (Fig.
1). O estágio sincolisional caracteriza-se pela de-
formação e metamorfismo regionais e extensiva
granitogênese do tipo S, que ocorreram entre ca.
582 e 560 Ma. A Supersuíte G2 engloba a granito-
gênese sincolisional do tipo S e, minoritariamen-
te, termos do tipo I. A Supersuíte G3 consiste de
leucogranitos do tipo-S originados no período tar-
di– a pós–colisional do Orógeno Araçuaí. No está-
gio pós–colisional ocorreram deformação e pluto-
nismo relacionados ao colapso gravitacional do
Orógeno Araçuaí. Neste estágio formaram–se as
suítes G4 e G5, compostas de plútons intrusivos,
livres da foliação regional. Os mais importantes
distritos pegmatitícos relacionam-se às intrusões
pós-colisionais, em particular às da Suíte G4.

SUMÁRIO DOS RECURSOS MINERAIS DO ORÓ-


GENO ARAÇUAÍ

São os bens minerais não-metálicos que ainda


se destacam no cenário econômico do Orógeno
Araçuaí, tais como gemas, grafita, minerais indus-
triais de pegmatitos e um enorme volume de ro-
chas ornamentais (Lobato & Pedrosa-Soares 1993,
Pedrosa-Soares et al. 2011a).
A exploração mineral dos terrenos englobados
no Orógeno Araçuaí teve início nas últimas déca-
Figura 3 - Colunas estratigráficas regionais para as
das do século 17, época da expedição de Fernão
formações Nova Aurora e Chapada Acauã Inferior,
Grupo Macaúbas (modificado de Pedrosa-Soares et Dias Paes Leme, o “Caçador de Esmeraldas”. A
al. 2011b). seguir, foram encontrados grandes depósitos au-

418
Francisco Teixeira Vilela et al.

ríferos e diamantíferos nas regiões do Quadriláte- tos e, há tempos, transformou a província de ro-
ro Ferrífero, Serro e Diamantina, cujas concentra- chas ornamentais (PROMGES, Fig. 1) que se es-
ções primárias situam-se em unidades do emba- tende pelos estados do Espírito Santo e Minas
samento do Orógeno Araçuaí (incluindo-se aí o Gerais, em terrenos do Orógeno Araçuaí, no mai-
Supergrupo Espinhaço). or produtor de rochas ornamentais do Brasil (Cos-
Foi, entretanto, a expedição de Sebastião Leme ta et al. 2001, Costa & Pedrosa-Soares 2006, Pe-
do Prado, na terceira década do século 18, que drosa-Soares et al. 2011a).
deu início à extração de ouro no Vale do Rio Ara- Outro recurso mineral muito importante no Oró-
çuaí, dos arredores de Minas Novas a Virgem da geno Araçuaí é, também, um bem mineral não-
Lapa, passando por Chapada do Norte e Berilo. A metálico, a grafita lamelar (flake graphite), explo-
despeito de sua significativa importância na épo- rada há décadas na região de Pedra Azul – Salto
ca, estes depósitos auríferos, situados ao longo da Divisa (Fig. 1), onde ocorre em camadas me-
do Corredor Transpressivo das Minas Novas, pra- tassedimentares do Complexo Jequitinhonha e
ticamente se esgotaram e, hoje, restam apenas Grupo Macaúbas (Faria 1997, Reis 1999, Daconti
ocorrências que são garimpadas na dependência 2004, Belém 2006).
das necessidades econômicas locais (Pedrosa- Além dos recursos minerais acima mencionados
Soares 1995, Pedrosa-Soares & Leonardos 1996). e dos depósitos de ferro que serão detalhados
No século 19, conforme relatos de pesquisado- adiante, são dignos de nota os depósitos de man-
res pioneiros daquela época (in Pedrosa-Soares ganês associados aos grupos Dom Silvério (Jordt-
1995), retomou-se a busca por pedras coradas Evangelista et al. 1990, Cavalcante & Jordt-Evan-
(e.g., esmeralda, turmalina, água-marinha, varie- gelista 2004) e Macaúbas (Dossin & Dardenne
dades de quartzo), as quais são encontradas em 1984, Pinho 2009), de níquel laterítico associado
pegmatitos e sistemas hidrotermais, além de de- a rochas metaultramáficas (Angeli & Choudhouri
pósitos secundários, situados nos vales dos rios 1985), e o ainda pouco explorado potencial mine-
Doce, Jequitinhonha e Mucuri. Foi, entretanto, por ral dos complexos ofiolíticos (Suita et al. 2004,
volta da Segunda Guerra Mundial e da Guerra Fria, Queiroga et al. 2006).
nas décadas de 1940 a 1980, que a exploração
de pegmatitos teve seu grande auge, em decor- O DISTRITO FERRÍFERO NOVA AURORA, NOR-
rência da demanda por insumos para a indústria TE DE MINAS GERAIS
bélica (e.g., mica, berilo e quartzo), a qual sempre
foi acompanhada pela extração de gemas, mine- Depósitos de ferro são conhecidos na região
rais raros, peças ornamentais, e minerais para a norte de Minas Gerais desde o início do século 20,
indústria cerâmica e vidreira. A produção de cassi- mas os primeiros trabalhos prospectivos de porte
terita e columbita-tantalita teve importância no datam da década de 1970 (Schobbenhaus 1972,
passado, a exemplo das atividades da antiga Com- Viveiros et al. 1978, Vilela 1986). Na área de ocor-
panhia Arqueana de Minérios e Metais, nas déca- rência dos depósitos de ferro, o Grupo Macaúbas
das de 1960 a 1980, mas hoje se encontra prati- foi subdividido em formações Rio Peixe Bravo, ba-
camente paralisada. No caminho oposto, desen- sal, composta de quartzitos e metapelitos, e Nova
volveu-se marcantemente a produção de feldspa- Aurora, no topo, constituída de metadiamictitos,
to pegmatítico para a indústria cerâmica e vidrei- metadiamictitos ferruginosos, quartzito e raro
ra, e de espodumênio para a indústria do lítio, metapelito (Viveiros et al. 1978). O Membro Ria-
especialmente nos distritos pegmatíticos de Ara- cho Poções, rico em metadiamictitos ferruginosos,
çuaí, Conselheiro Pena e São José da Safira, as- foi individualizado como portador do minério de
sim como os pegmatitos de maiores dimensões se ferro da Formação Nova Aurora (Viveiros et al.
tornaram importantes alvos para exploração de 1978).
rochas ornamentais (Correia-Neves et al. 1986; O mapeamento geológico sistemático da região
Pedrosa-Soares et al. 1990, 2001b, 2009, 2011a; foi realizado, em escala 1:100.000, no âmbito do
Romeiro 1998; Romeiro & Pedrosa-Soares 2005; Projeto Espinhaço (Grossi-Sad et al. 1997), desta-
Pinho-Tavares et al. 2006). cando-se as folhas Padre Carvalho (Mourão & Gros-
Entretanto, a exploração de rochas graníticas si-Sad 1997) e Rio Pardo de Minas (Roque et al.
para fins comerciais vai muito além dos pegmati- 1997) onde se situa a área-tipo do Membro Ria-

419
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Faixa Araçuai

cho Poções (Fig. 4). Apesar do esforço despendi- e granatíferos), incluindo o conjunto dominado por
do para se mapear estas folhas na escala referi- metadiamictito ferruginoso e metadiamictito sul-
da, elas revelam pouco mais do que já se conhe- fetado, com intercalações de formação ferrífera
cia sobre a distribuição das formações ferríferas, diamictítica, quartzito e filito hematíticos do Mem-
em decorrência da presença de extensos chapa- bro Riacho Poções. Este membro situa-se na por-
dões cobertos por solos elúvio-coluvionares, e da ção basal da Formação Nova Aurora, seguido por
enorme dificuldade de acessos ao interior e bor- espesso pacote de metadiamictito não ferrugino-
das desses platôs na época de realização do pro- so (Vilela 2010). A espessura do Membro Riacho
jeto. Em tal situação geomorfológica, imagens dos Poções foi estimada em aproximadamente 600m
mais diversos sensores remotos também pouco (Viveiros et al. 1978; Grossi-Sad et al. 1997, Uh-
auxiliam para mapear a real extensão do Membro lein et al. 1999), mas é difícil uma avaliação preci-
Riacho Poções (Voll 2014). sa devido a intensa e complexa deformação regi-
De fato, foram os levantamentos aerogeofísi- onal. Os metadiamictitos da Formação Nova Auro-
cos realizados pela Companhia de Desenvolvimen- ra, incluindo o Membro Riacho Poções, são inter-
to Econômico de Minas Gerais (CODEMIG, Área 8, pretados como depósitos glácio-marinhos do Cri-
2006) que revelaram marcantes anomalias mag- ogeniano (Pedrosa-Soares et al. 2011b).
néticas, boa parte das quais corresponde aos Na área do distrito são reconhecidos três acer-
metadiamictitos ferruginosos e formações ferrífe- vos de estruturas tectônicas, os quais estão rela-
ras do Membro Riacho Poções, mesmo onde estas cionados a três fases de deformação (Uhlein 1991,
rochas estão encobertas sob os chapadões da Pedrosa-Soares et al. 1992, Mourão & Grossi-Sad
região (comparar mapas geológico e geofísico, Fig. 1997, Roque et al. 1997, Marshak et al. 2006, Vile-
4). Isso levou a uma verdadeira “corrida do ferro” la 2010). A primeira fase (D1), correspondente à
na região de tal forma que, hoje, são conhecidas principal deformação dúctil regional, se caracteri-
em sub-superfície extensões muito maiores das za pela foliação principal (S 1) de direção NNE e
camadas de metadiamictitos ferruginosos e forma- mergulho entre 15º e 50º para ESE. A foliação S1
ções ferríferas associadas em relação aos traba- é uma xistosidade paralela ao plano axial de do-
lhos prospectivos pioneiros de Viveiros et al. bras apertadas a isoclinais, geralmente transpos-
(1978). Empresas, como a Sul Americana de Me- tas e rompidas, vergentes para oeste. Uma mar-
tais (SAM), Mineração Minas Bahia (MIBA) e VALE, cante lineação de estiramento de seixos é parale-
têm trabalhos exploratórios avançados, susten- la à lineação mineral contida em S1 (Fig. 5). Os in-
tados por milhares de furos de sonda que reve- dicadores cinemáticos relacionados às estruturas
lam reservas superiores a vinte bilhões de tone- D1 indicam transporte tectônico para oeste, rumo
ladas de minério de ferro de baixo a médio teor ao Cráton do São Francisco. A segunda fase de
(Porto 2013), em uma região de baixíssima densi- deformação (D2) se caracteriza pela foliação S2 que
dade demográfica. mergulha em torno de 45º para oeste. S2 se ca-
racteriza como xistosidade ou clivagem de crenu-
Geologia do Distrito Ferrífero Nova Aurora lação paralela ao plano axial de dobras assimétri-
cas, em cascata, vergentes para leste (Fig. 5).
As grandes unidades estratigráficas da região Paralelas a S2, ocorrem falhas normais tardias com
do Distrito Ferrífero Nova Aurora são as formações blocos de capa deslocados para leste. As estrutu-
Rio Peixe Bravo, Nova Aurora e Chapada Acauã, ras e transporte tectônico relacionados à fase de
do Grupo Macaúbas, e as coberturas cenozóicas deformação D2 caracterizam uma larga zona de ci-
que ocorrem em chapadas (Fig. 2 e 4). Entretan- salhamento dúctil-rúptil com movimentação normal,
to, os grandes depósitos de ferro parecem estar a Zona de Cisalhamento Chapada Acauã, que aco-
restritos ao Membro Riacho Poções da Formação modou deslocamentos associados ao colapso gra-
Nova Aurora, embora existam ocorrências de for- vitacional do Orógeno Araçuaí (Alkmim et al. 2006,
mação ferrífera diamictítica na Formação Chapada Marshak et al. 2006). A terceira fase deformacio-
Acauã Inferior (Grossi-Sad et al. 1997). nal (D3) representa a deformação rúptil regional,
A Formação Nova Aurora (Fig. 2, 3 e 4) é com- caracterizada por dois sistemas de fraturas bem
posta por metadiamictitos, com intercalações de espaçadas, direcionados a NW e NE, que se asso-
quartzitos e metapelitos (filitos a xistos micáceos ciam às grandes flexuras regionais (Vilela 2010).

420
Francisco Teixeira Vilela et al.

Figura 4 - Mapas geológico e magnetométrico (amplitude do sinal analítico) da área coberta pelas folhas
Padre Carvalho e Rio Pardo de Minas. As cartas geológicas são de Mourão & Grossi-Sad (1997) e Roque et al.
(1997). Os dados magnetométricos são da Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais
(CODEMIG, Área 8, 2006).

421
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Faixa Araçuai

Petrografia e Mineragrafia de Depósitos de Fer-


ro da Formação Nova Aurora.

Apresenta-se uma síntese dos estudos reali-


zados por Vilela (2010), atualizada com dados
coletados posteriormente. As rochas adiante des-
critas foram amostradas em afloramentos e tes-
temunhos de sondagem, situados em áreas pros-
pectadas pela SAM (Sul Americana de Metais S/A).
Estas áreas encontram-se no domínio de grandes
chapadas dissecadas por vales íngremes, escul-
pidos por drenagens que, atualmente, são inter-
mitentes em sua maioria. As áreas têm como subs-
trato a Formação Nova Aurora, incluindo seu Mem-
bro Riacho Poções. Nas áreas amostradas, o Mem-
bro Riacho Poções é representado por variedades
de metadiamictito ferruginoso (a hematita e/ou
magnetita) que podem atingir teores de ferro aci-
ma de 15% (em peso), classificando-se como for-
mação ferrífera diamictítica. A rocha regional, en-
caixante das camadas ferruginosas, é um metadi-
amictito com pequena concentração de ferro total
(< 5% em peso). Os termos intermediários entre
a formação ferrífera diamictítica s.s. (> 15% Fe) e
o metadiamictito encaixante (< 5% Fe) são tam-
bém incluídos no Membro Riacho Poções.

Metadiamictito Encaixante (ou Regional)

Trata-se de um metarrudito suportado pela


matriz que ocorre na base e no topo da sucessão
litológica portadora de minério de ferro, parecen-
do ser bem mais espesso no topo (Fig. 3). A abun-
dante matriz do metadiamictito encaixante é cin-
za-azulada a bege, localmente esverdeada, e en-
volve clastos mal selecionados em composição e
tamanho. Esta matriz, cuja granulação média va-
ria desde menor que 0,01mm até 0,5mm, é com-
posta por quartzo, muscovita, biotita e/ou clorita,
com carbonato e feldspato subordinados. O quart-
zo está geralmente recristalizado, com formas
Figura 5 - Estruturas de rochas da Formação Nova
Aurora (indica-se a direção E-W na foto inferior): A, poligonais a estiradas segundo a lineação conti-
metadiamictito hematítico, mostrando estiramento da em S1. Os grãos de quartzo menores foram mais
de seixos de carbonato (creme a ocre), quartzito e afetados pela deformação e recristalização, mas
quartzo leitoso; B, metadiamictito hematítico com
os maiores podem apresentar características se-
intercalações de quartzito que marcam a estratifica-
ção reliquiar, à qual se paraleliza a xistosidade regio- dimentares preservadas, como formas arredonda-
nal S1 que, de forma mais nítida na porção cinza (rica das. Os filossilicatos (muscovita, biotita e clorita)
em hematita), é cortada pela foliação de crenulação mostram hábitos fibroso a ripiforme, definem as
S2 (observar, logo acima da escala, que lâminas quart-
foliações S1 e S2, e envolvem os demais grãos da
zíticas e seixos estão transpostos na direção de S2);
C, fotomicrografia de um metapelito, mostrando a matriz e os clastos. O carbonato da matriz apre-
relação entre as foliações S1 e S2 (nicóis cruzados). senta formas poligonais ou está orientado segun-

422
Francisco Teixeira Vilela et al.

do a foliação, parecendo ser predominantemente caracterizada pela grande abundância de metadi-


metamórfico. Poucos grãos de carbonato da ma- amictito ferruginoso, ocorrendo amplo espectro de
triz têm características que podem ser detríticas, variações composicionais entre os termos hema-
embora clastos de carbonato do tamanho de grâ- títicos e magnetíticos (Vilela 2010). O contato ba-
nulo a seixo são frequentemente encontrados no sal do Membro Riacho Poções se caracteriza por
metadiamictito. Dentre os feldspatos, o plagioclá- zona de cisalhamento dúctil onde ocorrem recris-
sio predomina sobre feldspato potássico, sendo talização e reconcentração de especularita e/ou
ambos detríticos, com formas arredondadas de magnetita. Nesta zona de contato basal, a quan-
bordas sinuosas preservadas, embora ligeiramen- tidade de especularita pode alcançar até 60% (em
te estiradas. A maioria dos grãos de feldspato está volume) da matriz do metadiamictito hematítico e
significativamente fraturada e alterada por saus- aparecem porfiroblastos de magnetita de granu-
suritização e sericitização. lação grossa (> 1mm), geralmente deformados e
Os principais minerais acessórios da matriz do rotacionados. Da base ao topo, a partir do conta-
metadiamictito regional são epidoto, apatita e tur- to rico em especularita e/ou magnetita, o Membro
malina, mas também ocorre zircão, rutilo e mine- Riacho Poções caracteriza-se pela predominância
rais opacos (óxidos de ferro, sulfetos). O epidoto, de metadiamictito hematítico com teor de ferro
metamórfico, está estirado e envolto por musco- variável, mas decrescente rumo ao topo (Fig. 6).
vita fibrosa. A apatita é predominantemente de- A quantidade de hematita da matriz do meta-
trítica, pois se apresenta em grãos arredondados diamictito hematítico varia entre 5% e 60%. He-
e fraturados. Apatita metamórfica é rara, tem há- matita e micas ocorrem em concentrações inver-
bito prismático com seção basal euédrica e está samente proporcionais, observando-se em cam-
orientada segundo a foliação. A turmalina detríti- po a clara diminuição na concentração de hemati-
ca caracteriza-se por formas arredondadas, mas ta rumo ao topo mais enriquecido em mica. O me-
sua geração metamórfica, que ocorre na porção tadiamictito hematítico possui trama similar à do
mais fina da matriz, apresenta seção basal trigo- metadiamictito encaixante, mas contém quantida-
nal e hábito prismático. des significativas de hematita em detrimento das
Quando prevalece clorita e biotita, em relação micas e outros minerais. A hematita ocorre disse-
à muscovita, o metadiamictito torna-se esverdea- minada na matriz do metadiamictito, e se concen-
do e contém sulfetos (pirita, pirrotita e rara calco- tra em lâminas, bandas e lentes correspondentes
pirita) disseminados na matriz e estirados segun- às foliações S1 e S2, mostrando características di-
do a foliação. Ocorrem porfiroblastos de granada ferentes em cada caso (Fig. 5 e 7). A hematita é
que ultrapassam 1 mm de diâmetro. O metadia- relativamente fina na matriz de lentes e camadas
mictito esverdeado apresenta menor quantidade que corresponderiam à estratificação original, mas
de clastos. apresenta granulação maior nas lâminas e ban-
O metadiamictito regional contém quantidades das resultantes das fases de deformação e meta-
muito variadas de clastos de carbonato, quartzo, morfismo que originaram as foliações S1 e S2. A
quartzito, metapelito (filito e xisto), gnaisse e gra- concentração de hematita em S2 pode formar um
nitóide, os quais variam de tamanho entre grânu- marcante bandeamento metamórfico, discordan-
lo e matacão, predominando os seixos. Os clastos te de S1, que é destacado pela alternância de lâ-
de carbonato, quartzo, quartzito e metapelito es- minas ricas em especularita com lâminas compos-
tão geralmente estirados paralelamente à direção tas de quartzo, muscovita e hematita. A hematita
do mergulho da foliação S1, materializando a mar- especular fina raramente excede 0,1mm de com-
cante lineação de estiramento regional que tam- primento e ocorre na matriz do metadiamictito.
bém se manifesta nos metadiamictitos ferrugino- Esta hematita especular fina materializa, juntamen-
sos (Fig. 5). Nas raras zonas de menor deforma- te com as micas, a foliação S1 da matriz, na qual
ção, os clastos estão preservados e apresentam forma arranjos anastomosados, envolvendo grãos
formas angulares a arredondadas, sem orientação. de quartzo, feldspato e carbonato (Fig. 7A,B). A
hematita especular grossa alcança 1mm de com-
Litotipos do Membro Riacho Poções primento e se concentra em lâminas correspon-
dentes às foliações S1 e S2 (Fig. 7C,D). Quartzo,
Esta subunidade da Formação Nova Aurora é carbonato e micas ocorrem estirados paralelamen-

423
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Faixa Araçuai

Figura 6 - Perfis de três furos de sonda e sua correlação, mostrando a variação dos conteúdos de hematita
(em volume) para parte do Membro Riacho Poções (Vilela 2010). Diamictito refere-se ao metadiamictito
regional, ou encaixante (estéril). O metadiamictito hematítico apresenta quantidades variadas de magnetita.

424
Francisco Teixeira Vilela et al.

te às lâminas ricas em especularita. Hematita gra- tita podem se mostrar estirados, rotacionados e
nular também ocorre na matriz do metadiamictito, subgranulados, apresentando caudas de recris-
mas em quantidades muito inferiores às demais talização ricas em hematita especular grossa e
variedades. sombras de pressão com quartzo e/ou carbonato
Magnetita, parcial a totalmente martitizada, (Fig. 7E). Porfiroblastos euédricos a subédricos de
geralmente não passa de 2% em relação ao volu- magnetita também ocorrem disseminados na ma-
me de matriz do metadiamictito hematítico (à ex- triz (Fig. 7F). Quando martitizada, a magnetita
ceção de zonas de cisalhamento onde ocorre en- mostra muitas inclusões de quartzo e outros mi-
riquecimento em magnetita). A magnetita pode nerais.
atingir 2cm de diâmetro e ocorre disseminada na O metadiamictito magnetítico apresenta tona-
matriz ou associada à lâminas e bandas ricas em lidade cinza mais escura que o metadiamictito he-
hematita especular grossa. Os cristais de magne- matítico e se caracteriza pelo aumento progressi-

Figura 7 - Fotomicrografias do metadiamictito hematítico em luz refletida: A, hematita especular fina ao


longo da foliação S1, anastomosada, envolvendo outros componentes da matriz (predominantemente quartzo
recristalizado e rara hematita granular); B, concentração de hematita especular fina em lâminas S 1 (neste
caso, a menor quantidade e menor tamanho dos minerais da ganga permitem uma orientação mais unifor-
me da especularita); C, concentração e recristalização de especularita grossa em lâminas S2, intercaladas
com lâminas pobres em hematita; D, transposição de S1 por S2, mostrando recristalização de hematita
especular grossa em S2; E, porfiroblasto de magnetita martitizada, estirado e subgranulado, com cauda de
recritalização de especularita; F, porfiroblasto idiomórfico de magnetita martitizada, isolado na matriz do
metadiamictito hematítico.

425
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Faixa Araçuai

vo na quantidade de magnetita em relação à de euédricos a subédricos de magnetita com até 1mm


hematita (que pode estar ausente deste tipo de de diâmetro, assim como magnetita fina, ocorrem
minério). A magnetita é geralmente porfiroblásti- disseminados na matriz (Fig. 8C a 8F). O metadia-
ca e pode atingir 2mm de diâmetro, predominan- mictito magnetítico pode ser bandado, com ban-
do granulação maior que 0,7mm. Apesar da defor- das de cor cinza, ricas em magnetita, intercaladas
mação da matriz, a magnetita geralmente se apre- com bandas mais ricas em quartzo e muscovita. A
senta pouco ou nada deformada. Quando defor- quantidade de hematita especular aumenta nas
mada, a magnetita orienta-se paralelamente à bandas ricas em magnetita. Quando em tons es-
foliação S1 que é materializada por quartzo estira- verdeados, o metadiamictito magnetítico apresen-
do, mica e hematita fina (Fig. 8A,B). Porfiroblastos ta aumento na concentração de clorita e biotita

Figura 8 - Fotomicrografias do metadiamictito magnetítico: A (luz transmitida, nicóis paralelos), B (luz refle-
tida); tomadas do mesmo local, mostrando porfiroblastos deformados de magnetita grossa (> 1mm), parci-
almente martitizados, envoltos por quartzo e muscovita que marcam a xistosidade S 1; C (luz transmitida,
nicóis paralelos), D (luz refletida); tomadas do mesmo local, mostrando porfiroblastos euédricos a subédri-
cos de magnetita em matriz rica em clorita (esverdeada); E (luz transmitida, nicóis paralelos), F (luz refleti-
da); tomadas do mesmo local, magnetita euédrica a subédrica, de granulação fina a média (< 0,3 mm),
disseminada em matriz rica em quarto.

426
Francisco Teixeira Vilela et al.

(Fig. 8C,D). Poiquiloblastos de granada ocorrem ferro, magnésio e cromo sugerem contribuição
nas bandas clorítico-biotíticas mais espessas e com vulcânica-vulcanoclástica para as bandas cloríticas.
menos magnetita. A quantidade de sulfetos (pre- Os metadiamictitos ferruginosos do Membro
dominantemente pirita) parece aumentar na pas- Riacho Poções apresentam teores de SiO2 variá-
sagem do metadiamictito magnetítico para o me- veis entre 13,24% e 78,01%, e de Fe2O3(total) de
tadiamictito regional que, também, se apresenta 10,88% a 78,02%. Os maiores teores ocorrem no
sulfetado. Semelhantemente à magnetita, os sul- metadiamictito hematítico rico em lâminas com alta
fetos podem estar presentes na forma de porfiro- concentração de especularita e magnetita. Nas
blastos subédricos a euédricos (geralmente cúbi- análises realizadas, o Fe 2O 3 varia de 17,02% a
cos), com granulação inferior a 1 mm, ou estira- 37,75% no metadiamictito hematítico, e entre
dos e concentrados ao longo da xistosidade S1. 10,88% e 21,66% para o metadiamictito magnetí-
tico. Os demais componentes químicos dos meta-
Geoquímica dos litotipos ferruginosos e rochas diamictitos ferruginosos (TiO2 + Al2O3 + MnO + MgO
associadas + CaO + Na2O + K2O + P2O5 + Cr2O3) somam entre
2,94% e 21,91%. Destaca-se que Al2O3, MgO e CaO
Foram selecionadas 26 amostras de testemu- alcançam até 12,04%, 4,23% e 7,22%, respecti-
nhos de sondagem para análises litoquímicas, re- vamente. Para comparação, de uma mesma amos-
presentativas das variações composicionais dos tra de metadiamictito hematítico analisou-se a
metadiamictitos ferruginosos e regional (encaixan- matriz com hematita disseminada (Fe2O3 ~ 38%),
te). Na seleção das amostras dos metadiamictitos e uma banda metamórfica rica em especularita e
evitaram-se alterações intempéricas e, após a magnetita (Fe2O3 ~ 66%), cujos resultados eviden-
completa remoção dos clastos, foi analisada so- ciam o marcante papel do metamorfismo na re-
mente a matriz. Os dados analíticos completos concentração do ferro. O principal contaminante
estão em Vilela (2010). Os conteúdos de ferro são identificado nos metadiamictitos ferruginosos é o
sempre referidos como Fe2O3 (ferro total oxidado). fósforo, com teores de até 0,4%, sendo que a
Os metadiamictitos analisados são compostos, apatita é o único mineral de fósforo nas amostras
principalmente, por sílica e óxido de ferro (48,08% analisadas.
< SiO2+Fe2O3 < 95,37%), com SiO2 variando entre Os dados litoquímicos dos metadiamictitos fer-
13,24% e 88,50%, e Fe2O3 de 2,12% a 78,02% ruginosos do Membro Riacho Poções mostram sig-
(Fig. 9A). A variação no conteúdo de Al2O3 reflete, nificativa correlação com as médias composicionais
essencialmente, diferenças na quantidade total de de outros depósitos de ferro contidos em diamic-
mica e granada, ou seja, na contribuição argilosa titos glaciogênicos do Neoproterozóico (Fig. 9).
dos protolitos sedimentares. Neste aspecto, os Independentemente de serem mais ou menos
estudos petrográficos e mineragráficos demons- metamorfisados, os exemplos comparados são
tram que o aumento em hematita e/ou magnetita compostos predominantemente de sílica e óxido
se correlaciona com a diminuição na quantidade de ferro. Aparentemente, o Membro Riacho Poções
de mica dos metadiamictitos. se mostra, em média, como o mais pobre em ferro
O metadiamictito encaixante (regional) apre- ao ser comparado com as formações ferríferas dos
senta SiO 2 entre 34,57% e 88,50%, e Fe2O3 de grupos Rapitan, Umberatana e Urucum (Fig. 9A).
2,12% a 20,81%. Os demais componentes totali- Talvez isso se deva ao fato de se ter considerado
zam entre 6,25% e 21,98%, com destaque para os dados de metadiamictitos ferruginosos com
Al2O3, MgO, CaO e K2O que alcançam até 12,03%, menos de 15% de ferro, ao passo que as análises
2,37%, 3,61% e 3,79%, respectivamente. O mai- dos demais depósitos referem-se somente a for-
or valor de Fe2O3 (20,81%) no metadiamictito regi- mações ferríferas. Para os demais elementos mai-
onal é de uma amostra muito rica em clorita, bioti- ores (CaO a P2O5), a correlação entre estes depó-
ta e granada. As bandas cloríticas do metadiamic- sitos de ferro é estreita (Fig. 9A).
tito encaixante têm composição média mais com- Normalizadas ao North American Shale Compo-
plexa, dada por 36,08% SiO 2 ; 13,84% Fe 2 O 3 ; site (NASC), os conteúdos de Elementos Terras
2,49% TiO2; 22,83% Al2O3; 0,12% MnO; 10,71% Raras (ETR) das amostras de metadiamictitos do
MgO; 1,49% CaO; 0,65% Na2O; 3,99% K2O; 0,37% Membro Riacho Poções mostram grande variação,
P2O5; e 0,05% Cr2O3. Os altos teores relativos de desde um padrão de distribuição próximo ao NASC

427
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Faixa Araçuai

COMENTÁRIOS FINAIS

Associados aos conjuntos litológicos neopro-


terozóicos e cambrianos do Orógeno Araçuaí, são
os bens minerais não–metálicos, tais como gemas,
minerais industriais (grafita, e minerais para in-
dústria cerâmica e vidreira) e rochas ornamentais,
que mais têm se destacado no cenário econômico
da região (Fig. 1). Dentre os bens minerais metá-
licos com minas em atividade, destacam-se os peg-
matitos litiníferos da Companhia Brasileira de Lí-
tio, na região de Araçuaí, e os depósitos de man-
ganês do Grupo Macaúbas na Serra do Espinhaço
Meridional. Embora estejam fora do escopo deste
capítulo, o item “Sumário dos Recursos Minerais
do Orógeno Araçuaí” oferece ao leitor referências
bibliográficas sobre todos estes depósitos mine-
rais, dentre outros.
Figura 9 - Representação litoquímica da matriz dos Na Faixa Araçuaí, que compõe parte do oróge-
metadiamictitos ferruginosos do Membro Riacho Po- no homônimo, ocorrem os grandes depósitos de
ções e do metadiamictito regional da Formação Nova
Aurora (dados em Vilela 2010), em comparação com ferro relacionados a metadiamictitos do Grupo
formações ferríferas dos grupos Rapitan (Klein & Beu- Macaúbas, constituindo o Distrito Ferrífero Nova
kes 1993), Umberatana (Lottermoser & Ashley 2000) Aurora, principal foco do presente capítulo (Fig. 4).
e Urucum (Klein & Ladeira 2004). A, diagrama de Os metadiamictitos ferruginosos constituem o
variação para elementos maiores; B, padrões de dis-
tribuição de ETR normalizados ao NASC (com valores Membro Riacho Poções da Formação Nova Aurora,
de Gromet et al. 1984). uma das unidades glácio-marinhas do Grupo Ma-
caúbas. As rochas com teores significativos de ferro
até termos extremamente empobrecidos em ETR são metadiamictitos enriquecidos em hematita e/
e com significativo fracionamento dos ETR leves ou magnetita ao longo de zonas mais deforma-
em relação aos pesados (Fig. 9B). O forte empo- das, com destaque para a zona de cisalhamento
brecimento em ETR, assim como o fracionamento basal do Membro Riacho dos Poções, originadas
entre ETR leves e pesados, indica a influência da durante as fases de deformação D1 e D2 (Fig. 6, 7
grande quantidade de quartzo e óxidos de ferro e 8). Portanto, as formações ferríferas do Membro
relativamente à escassez em micas, além de vari- Riacho Poções são, de fato, rochas metassedimen-
ações nos conteúdos de apatita. Desta forma, a tares detríticas (metadiamictitos) enriquecidas em
ampla variação nos padrões de distribuição de ETR ferro por processos tectono-metamórficos relaci-
dos metadiamictitos ferruginosos do Membro Ria- onados à Orogenia Brasiliana. A concentração pri-
cho Poções sugere a concorrência de fatores rela- mária de ferro nas camadas diamictíticas parece
cionados à composição dos protolitos sedimenta- estar relacionada a processos glaciogênicos, em-
res e às modificações metamórficas associadas às bora não se descarte uma possível contribuição
fases deformacionais D1 e D2, uma vez que estas relacionada a vulcanismo. A despeito dos diver-
causaram significativas variações nas quantidades sos projetos privados que há tempos vêm sendo
relativas de óxidos de ferro, micas e quartzo. anunciados pela mídia, o Distrito Ferrífero Nova
Em termos de correlação com outros depósitos Aurora ainda não tem mina em atividade. Este
de ferro associados a diamictitos glaciogênicos (Fig. grande conjunto de depósitos de ferro que conte-
9B), o padrão médio de distribuição de ETR do ria mais de vinte bilhões de toneladas de minério
Membro Riacho Poções mais se assemelha às de baixo a médio teor, se coloca, portanto, como
formações ferríferas do Grupo Umberatana (ambos uma nova fronteira para o setor mineral brasileiro.
mais próximos do NASC) do que às formações ferrí-
feras dos grupos Rapitan e Urucum, ambos bem mais Agradecimentos A.C. Pedrosa-Soares, Francisco
empobrecidos e fracionados em relação ao NASC. Vilela e Eliane Voll agradecem a Manoel Barretto

428
Francisco Teixeira Vilela et al.

da Rocha Neto e Hardy Jost pelo convite e incenti- Gradim R.J., Alkmim F.F., Pedrosa-Soares A.C., Babinski
vo para participar desta obra, e a Sul-Americana M., Noce C.M. 2005. Xistos Verdes do Alto Araçuaí,
de Metais (SAM) pelo inestimável apoio à sua ativi- Minas Gerais: Vulcanismo Básico do Rifte Neoprote-
rozóico Macaúbas. RBG, 35 (4-suplemento):59-69.
dade científica. Dedicamos este capítulo aos sau-
Gromet L.P., Dymek R.F., Haskin L.A., Korotev R.L. 1984.
dosos professores, colegas e amigos Maria da Gló- The ‘North American Shale Composite’: its compila-
ria da Silva, Carlos Maurício Noce, Augusto Pedrei- tion, major and trace element characteristics. Geo-
ra e Marcel Dardenne. ch. Cosmoch. Acta, 48:2469–2482.
Grossi-Sad J.H., Lobato L.M., Pedrosa-Soares A.C.,
Soares-Filho B.S. (eds) 1997. Projeto Espinhaço.
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430
Marcel Auguste Dardenne & Nilson Francisquini Botelho

METALOGÊNESE DA ZONA EXTERNA DA FAIXA BRASÍLIA

MARCEL AUGUSTE DARDENNE† & NILSON FRANCISQUINI BOTELHO

Instituto de Geociências, Universidade de Brasília, Campus Universitário Darcy Ribeiro, 70910-900, Brasília
E-mails: nilsonfb@unb.br

INTRODUÇÃO desde 2003/2004. As pesquisas recentemente


desenvolvidas ampliaram as reservas conhecidas,
A Faixa de Dobramentos Brasília - FDB (Fig. 1) atingindo, em março de 2010, cerca de 40M t com
estende-se sobre mais de 1000 km, numa direção teor médio da ordem de 4,5-5% P2O5 (Bizzi 2010,
vizinha de norte-sul, ao longo da margem ociden- informação oral). Os depósitos de fosfato estão
tal do Cráton São Francisco - CSF (Almeida 1981, associados à base da seqüência sedimentar trans-
Fuck et al. 1994, Dardenne 2000, Valeriano et al. gressiva da Formação Sete Lagoas, a qual se so-
2004). De modo geral, as diversas unidades lito- brepõe à fácies de diamictito da Formação Jequi-
estratigráficas da FDB mostram, de leste para oes- taí (Dardenne et al.1984, Dardenne et al.1986, Al-
te, uma deformação progressivamente mais inten- varenga et al. 2006). Os siltitos dolomíticos e calcí-
sa acompanhada por um metamorfismo crescen- ticos, que sucedem aos cap-dolomitos e aos dia-
te, o que reflete a polaridade da faixa e a vergên- mictitos, mostram importantes incursões negati-
cia para leste em direção ao CSF. Essas caracte- vas de δ13C com valores entre –1,09‰ e -1,62‰,
rísticas permitem a individualização de três zonas refletindo o ambiente glacial que dominou a base
tectônicas distintas: Zona Cratônica, Zona Exter- da seqüência sedimentar Bambuí. A mineralização
na e Zona Interna (Fuck et al. 1994). A megainfle- de fosfato (Monteiro 2009) é constituída por car-
xão dos Pirineus orientada aproximadamente se- bonato-fluorapatita e ocorre como fosforitos lami-
gundo EW, permite dividir a FDB em dois segmen- nados, brechas sedimentares de deslizamento,
tos distintos, setentrional e meridional, os quais siltitos calcíticos e dolomíticos fosfatados e bre-
apresentam uma evolução tectônica diferenciada chas lateríticas em superfície. Os corpos de miné-
durante o Ciclo Brasiliano. Na Zona Externa da FDB rio são descontínuos e controlados por depres-
ocorrem depósitos de fosfato, chumbo, zinco, sões ou paleovales do embasamento (Fig. 2b),
ouro, estanho, tântalo e urânio (Dardenne 2000, constituído principalmente por granitos da Suíte
Dardenne & Schobbenhaus 2003. Aurumina e quartzitos do Grupo Araí, orientados
aproximadamente leste-oeste. Os altos paleoge-
DEPÓSITOS SEDIMENTARES DE FOSFATO ográficos são marcados pela presença de dolomi-
tos cinza maciços que representam a porção su-
A esta categoria pertencem as jazidas de Cam- perior da Formação Sete Lagoas, a qual se en-
pos Belos/Arraias hospedadas no Grupo Bambuí, contra localmente coberta pelos folhelhos da For-
do Neoproterozóico, e Rocinha/Lagamar no Grupo mação Serra de Santa Helena do Grupo Bambuí. O
Vazante, do Meso-Neoproterozóico. potencial metalogenético da zona externa da FDB
para fosfato se situa ao longo do contato do em-
Depósitos de Fosfato do tipo Campos Belos/Arraias basamento com a base transgressiva da Forma-
ção Sete Lagoas, desde o norte de Alto Paraíso
Os depósitos de Campos Belos/Arraias (Fig. 2a) até Dianópolis.
foram descobertos pela METAGO na década de 70
(Dardenne et al 1986) nas ocorrências denomina- Depósitos de Fosfato do Grupo Vazante
das São Bento, Coité 1 e 2, São Mateus, Vargem
Grande, Barra do Dia, Mangueira, Gaucho e Co- O Grupo Vazante (Dardenne 2000, 2001), loca-
vanca. São atualmente explorados pela ITAFÓS lizado na porção noroeste de Minas Gerais, ocupa

431
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Zona Externa da Faixa Brasília

uma faixa alongada N-S (Fig. 3), com cerca de 250 nito, Rocinha, Lagamar, Serra do Garrote, Serra
km de comprimento entre as cidades de Unaí e do Poço Verde, Morro do Calcário e Lapa (Dar-
Coromandel, e consiste em uma espessa seqüên- denne et al. 1997, Dardenne 2000, 2001).
cia argilo-dolomítica, dividida da base para o topo A idade do Grupo Vazante é controversa, com
em sete formações (Fig. 4): Santo Antônio do Bo- diversas interpretações apresentadas pelos di-

Figura 1 – Mapa geológico da Faixa de Dobramento Brasília, segundo Dardenne (2000).

432
Marcel Auguste Dardenne & Nilson Francisquini Botelho

ferentes pesquisadores em função das correlações buí baseada nos valores de isótopos do estrôncio
propostas com o Grupo Bambuí ou com a porção (razões 87Sr/86Sr entre 0,7074 e 0,7079) e a pre-
superior do Grupo Paranoá. Misi et al (2005) pro- sença de diamictitos (Formação Santo Antônio do
puseram uma correlação global com o Grupo Bam- Bonito) da base do Grupo Vazante. Essa correla-

Figura 2 – a – Mapa geológico regional da região de Campos Belos-Arraias. b – Seção geológica do depósito de
São Bento, segundo Monteiro 2009.

433
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Zona Externa da Faixa Brasília

ção não considera as enormes diferenças obser- avançadas há tempo por Dardenne (1978, 1979)
vadas nas sucessões litológicas e nos ambientes e Campos Neto (1984a e b). Por outro lado, Azmy
de sedimentação dos dois grupos, além de igno- et al. (2008) sustentam uma idade Mesoprotero-
rar os dados levantados a partir das datações U- zóica para o Grupo Vazante a partir de datações
Pb de zircões detríticos das respectivas seqüênci- Re-Os de folhelhos carbonosos e U-Pb de zircões
as sedimentares: enquanto os zircões detríticos detríticos da região de Lagamar com idades res-
do Grupo Bambuí fornecem idades da ordem de pectivas de 993 e 988 Ma, que contradizem as suas
600 Ma, os dos sedimentos do Grupo Vazante for- próprias conclusões. Em conseqüência, a sedimen-
necem idades máximas da sedimentação em cer- tação do Grupo Vazante deve ter ocorrido no iní-
ca de 950 Ma (Rodrigues 2008). Esses dados per- cio do Neoproterozóico enquanto a do Grupo Bam-
mitem separar com segurança o Grupo Vazante buí deve corresponder ao final do Neoproterozói-
do Grupo Bambuí, em concordância com as idéias co, como proposto por Rodrigues (2008).

Figura 3 – (A) – Posição do Grupo Vazante na Faixa


Brasília (Dardenne & Schobbenhaus 2001): 1 – Bacias
do Paraná e Alto do São Francisco, Formação Araguai;
2 – Formação Três Marias; 3 – Sub-Grupo Paraopeba;
4 – formação Ibiá; 5 – Grupo Araxá; 6 – Granulitos
ácidos e máficos e ortognaisses; 7 – Grupo Vazante;
8 – Grupo Paranoá; 9 – Grupo Canastra. (B) – Mapa
geológico do Grupo Vazante (Cia. Mineira de Metais):
1 – Formação Serra da Lapa; (2) - Membro Serra do
Velozinho; 3 – Formação Morro do Calcário/Serra do
Poço Verde; 4 – Formação Serra do Garrote; 5 –
Formação Serra do Landim; 6 – Formação Paracatu;
7 – Anomalias de Chumbo.

434
Marcel Auguste Dardenne & Nilson Francisquini Botelho

Figura 4 – Coluna litoestratigráfica do Grupo Vazante, segundo Dardenne (1998).

435
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Zona Externa da Faixa Brasília

Os depósitos de fosfato de Rocinha e Lagamar atingem 415M t com 10 a 15% P2O5.


foram descobertos pela CPRM (Chaves et al. 1976) O potencial metalogenético para fosfato do Gru-
e descritos sucessivamente por diversos pesqui- po Vazante se concentra nas espessas seqüênci-
sadores (Dardenne et al. 1986, 1997, Da Rocha as pelíticas carbonosas representadas pelas for-
Araújo et al. 1992, Nogueira 1993), enquanto a mações Serra do Garrote e Rocinha, com desta-
geoquímica istópica foi abordada por Misi et al. que para a Formação Rocinha que constitui o en-
(2001, 2005, 2007, 2010). Esses depósitos, situ- voltório dos depósitos conhecidos. É importante
ados no noroeste do estado de Minas Gerais, es- ressaltar o papel da laterização na concentração
tão inseridos na Formação Rocinha, a qual per- do fosfato nos fosfolutitos.
tence à porção basal do Grupo Vazante (Fig. 4),
integrante da zona externa da FDB. Os fosforitos DEPÓSITOS DE CHUMBO E ZINCO
estão associados a ardósias carbonosas e carbo-
náticas de cor cinza-escuro intensamente micro- Os depósitos Pb-Zn da zona externa da Faixa
dobradas, e ocorrem na forma de fosforuditos, fos- de Dobramentos Brasília são divididos em dois
farenitos, e principalmente fosfolutitos. Os fosfa- grupos em função de sua associação com as se-
renitos constituem o essencial do minério, são com- qüências sedimentares relacionadas aos grupos
postos de intraclastos e pellets fosfatados, imer- Vazante e Bambuí.
sos em matriz de fosfomicrita criptocristalina. Às
vezes, esses intraclastos estão envolvidos por ci- Depósitos Pb-Zn associados ao Grupo Vazante
mento fibroso de apatita microcristalina límpida
prismática. O mineral preponderante é uma fluo- A seqüência sedimentar do Grupo Vazante
rapatita, que resulta da lixiviação do CO2 da car- (Figs. 3 e 4) contém depósitos de chumbo e zinco
bonato-fluorapatita original por fluidos relaciona- sulfetados (Morro Agudo, Fagundes, Ambrósia) e
dos ao metamorfismo e ao intemperismo. Segun- de zinco silicatados (Vazante), além de inúmeras
do Misi et al. (2010, 2005) amostras da carbona- ocorrências registradas durante os trabalhos de
to-fluorapatita de Rocinha e Lagamar mostraram pesquisa desenvolvidos na Faixa Vazante pela
alto conteúdo em Sr (>1.700ppm), fornecerem ra- Votorantim. Esses depósitos podem ser descritos
zões 87Sr/86Sr entre 0,70660 e 0,70910 e valores sob a forma de dois modelos: os depósitos Zn-Pb
de δ13C entre -1,03‰ e -9,1‰. Os calcários micrí- sulfetados do tipo Morro Agudo e os de Zn silica-
ticos ricos em matéria orgânica associados mos- tados do tipo Vazante (Monteiro et al. 2007, Mon-
traram razões 87Sr/86Sr variando entre 0,70760 e teiro 2002, Bettencourt et al. 2001).
0,70886 e valores de δ 13 C entre -2,90‰ e
+2,90‰. Esses valores podem sugerir que a se- DEPÓSITOS ZN-PB SULFETADOS DE TIPO MORRO
qüência sedimentar de Vazante pode ser mais AGUDO
antiga que a do Grupo Bambuí (Misi et al. 2010,
2005). A alteração supergênica desenvolveu apa- Descoberto pelo prospector chileno Angelo So-
tita rica em alumínio e estrôncio, do tipo wavelita. lis em 1951, que explorou durante um tempo na
A origem dos fosfatos é relacionada à evolução forma de garimpo a galena maciça do pequeno fi-
da matéria orgânica em condições físico-químicas lão da falha principal, o depósito de Morro Agudo
transicionais entre ambiente redutor e oxidante, foi pesquisado sucessivamente pela Penarroya e
em condições de águas frias relativamente pro- pela METAMIG, que iniciou a exploração subterrâ-
fundas, representando provavelmente um siste- nea em1988. A mesma ficou paralisada 5 anos entre
ma deposicional gláciomarinho evidenciado pela 1990 e 1995, e retomada pela Votorantim a partir
presença de diamictitos da Formação Santo Antô- daquele ano até hoje. As reservas totais de Mor-
nio do Bonito. ro Agudo, calculadas pela Votorantim desde o iní-
As reservas do corpo A de Lagamar, hoje exau- cio da exploração, são de 18,3M t de minério com
rido, foram da ordem de 5Mt, com 30 a 35% P2O5. 5,08 % Zn e 1,75 % Pb. Entretanto, o prolonga-
As dos corpos B e C ocorrem em fosfolutitos com mento da mineralização em profundidade na dire-
teor médio de 11,5% P2O5 e sustentam uma pro- ção noroeste e sudeste encontra-se ainda em
dução de 200.000 t/ano de concentrado com aberto.
27,5% P2O5. No depósito de Rocinha as reservas Os depósitos Zn-Pb do tipo Morro Agudo, hos-

436
Marcel Auguste Dardenne & Nilson Francisquini Botelho

pedados nos dolomitos do Grupo Vazante (Figs. 3 gração dos fluidos (Fagundes) ou a interação di-
e 4), situam-se no flanco oeste dos biohermas reta com o fluido metalífero (Ambrósia). Todos os
estromatolíticos da Formação Morro do Calcário. A minérios de zinco sulfetados apresentam a mes-
mineralização é disseminada e associada à fácies ma assinatura geoquímica que a dos depósitos
de brechas, brechas dolareníticas e dolarenitos, silicatados, com enriquecimento em SiO2, Fe2O3, Rb,
controladas por uma falha normal sin-sedimentar Sb, V, U, e La, o que sugere uma mesma fonte dos
orientada N10W (Fig. 5), a qual é preenchida na fluidos mineralizados (Bettencourt et al. 2001,
sua porção superior por um pequeno filão de ga- Monteiro 2002, Monteiro et al. 2007).
lena, esfalerita e barita (Dardenne 1978, 1979, A deposição dos sulfetos resulta de processos
Dardenne e Freitas-Silva 1999). A mineralização de interação fluido-rocha e mistura entre fluidos
disseminada é constituída de esfalerita e galena, oxidantes metalíferos e salmouras tectônicas ri-
com pirita e barita subordinadas. A galena é mui- cas em sulfeto a partir das unidades de folhelhos
to pobre em prata, enquanto a esfalerita, amare- redutores.
lo-esverdeada e transparente, é rica em cádmio Do ponto de vista geoquímico, as análises de
(300 ppm Cd). Essas fácies hospedam os níveis I, inclusões fluidas (Fig. 6) da esfalerita amarelo-
J, K, L, M (Romagna & Costa 1988, Oliveira 1998), transparente indicam um fluido hidrotermal aquo-
onde a mineralização disseminada possui um ca- so com salinidade variável (2-3% a 15% eq. peso
ráter strata-bound bem definido, com a esfalerita NaCl), e temperatura de homogeneização compre-
e a galena formando cimento que substitui parcial endida entre 100 e 260°C (Dardenne e Freitas-
ou totalmente tanto o cimento como os intraclas- Silva 1999, Freitas-Silva & Dardenne 1998, Misi et
tos, oólitos e oncólitos das brechas dolareníticas al. 1998, 1999, 2005, Bettencourt et al. 2001, Mon-
e dos dolarenitos. No nível N, a mineralização, que teiro 2002, Monteiro et al. 2007). Em Morro Agudo
apresenta um caráter estratiforme acentuado, é as temperaturas determinadas por estudo de in-
associada a um nível de chert cinza, branco e ro- clusões fluidas variam de 122°C a 283°C no bloco
sado com laminações alternadas de sílica, galena, A, a 148°C-160°C no bloco B, e 80°C-168°C no
esfalerita e pirita, sendo esta última muito abun- bloco C. No corpo N as temperaturas variam entre
dante neste horizonte, a ponto de formar um ní- 120°C e 144°C (Misi et al. 2005, Cunha 1999, Cu-
vel maciço na base. nha et al. 2003). Em Fagundes as inclusões fluidas
Nos depósitos ricos em sulfetos, a alteração hi- em quartzo indicam temperatura entre 143°C e
drotermal envolve silicificação e dolomitização re- 210°C, e as da esfalerita podem atingir 265°C
lacionadas à abertura de zonas favoráveis a mi- (Monteiro 2002, Monteiro et al. 2007).

Figura 5 – Perfil E-W na mina de Morro Agudo com localização dos níveis mineralizados (segundo Romagna &
Costa 1988).

437
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Zona Externa da Faixa Brasília

Os isótopos de enxofre mostram ampla varia- chumbo, até idades em torno de 600 Ma
ção em Morro Agudo: δ34S da barita situa-se entre correspondentes à remobilização tectônica no final
+14,5‰ e +44‰, e de esfalerita, galena e pirita do Evento Brasiliano para as galenas epigenéticas
entre -8,7‰ e +40‰. A composição média pare- da última geração (Freitas-Silva & Dardenne 1997,
ce corresponder ao sulfato da água do mar (Misi Dardenne & Freitas-Silva 1999, Misi et al. 2005).
et al. 2005). A menor composição isotópica corres- O conjunto de dados conduz a considerar o de-
ponde ao nível N de Morro Agudo, com valores de pósito de Morro Agudo e seus similares na re-
δ34S de -0,5‰ a -8,7‰, o que sugere redução dos gião (Fagundes) como originados da expulsão pro-
sulfatos por atividade bacteriana, a qual provo- gressiva dos fluidos conatos a partir da seqüên-
cou a precipitação da pirita sin-diagenética, bem cia sedimentar bacinal em direção aos altos fun-
como a sua substituição por esfalerita e galena dos representados pelos biohermas estromatolí-
(Freitas-Silva & Dardenne 1997, Misi et al. 2005). ticos sob o efeito de compressão provocada pelo
O fracionamento isotópico observado entre esfa- soerguimento da Faixa Brasília.
lerita e galena em Morro Agudo indica temperatu- Em Morro Agudo, os indícios de mineralização
ra vizinha de 200°C. diagenética favorecem a existência de uma tectô-
Em Fagundes, o valor de δ34S da esfalerita co- nica extensional durante a fase mineralizante prin-
loforme varia entre +22,4‰ e +36‰. Em Ambró- cipal e apontam para a proximidade de uma área
sio, os valores de δ34S dos sulfetos tardios variam de descarga dos fluídos metalíferos, provavelmen-
entre -3,8‰ e +22‰, mas da esfalerita de +7,1‰ te relacionada com a falha normal orientada N10W
a +22‰, da galena de +14,0‰ a +34‰ e da da borda do edifício estromatolítico, ao longo do
pirita +9,5‰, indicativo de que a fonte destes seu flanco ocidental. Nesse sentido, o depósito de
sulfetos foi sulfato marinho (Bettencourt et al. Morro Agudo apresenta características semelhan-
2001, Monteiro 2002, Monteiro et al. 2007). tes às dos depósitos de tipo irlandês, sendo por
Os isótopos do chumbo (Fig. 7) mostram valores isso classificado como do tipo SEDEX por Darden-
constantes para as razões Pb206/Pb204 (17,7) e Pb207/ ne & Freitas-Silva (1999), Bettencourt et al. (2001),
Pb204 (15,5), indicando idades que variam de 1,0- Misi et al. (2005) e Monteiro et al. (2007).
1,1Ga para galenas muito finas da primeira
geração, que podem representar a idade da Depósitos Zn silicatados de tipo Vazante
precipitação da galena ou da separação do
Perto da cidade de Vazante (Fig. 3), as primei-
ras ocorrências de calamina foram descobertas no
começo dos anos 50 por um prospector chileno,
Angelo Solis, na Serra do Poço Verde e as pesqui-
sa iniciadas em 1954 pela Companhia Mineira de
Metais, filial da Votorantim. A lavra a céu aberto
entrou em atividade em 1969 e a mina subterrâ-
nea em 1980. Segundo Oliveira (2010, informação
oral), até hoje foram extraídas cerca de 30 M t de
minério com teor médio de 20% Zn, enquanto as
reservas são estimadas em uma quantidade equi-
valente, o que permite classificar com segurança
o depósito de Vazante como de tamanho interna-
cional.
O maior depósito de zinco do Brasil (Fig. 8) é
associado a uma zona de falha N45E com ± 12 km
Figura 6 – Distribuição dos valores médios de
salinidade e temperatura dos fluidos hidrotermais de comprimento, com mergulho 50-70NW próximo
registrados em Morro Agudo, Fagundes, Vazante e da superfície, o qual se suaviza em profundidade.
Itacarambi (Fabião) em relação aos capôs definidos A falha está praticamente confinada ao intervalo
por Sangster (1990) para depósitos recentes/atuais
de fácies ardosiana (Membro Pamplona Inferior),
vulcanogênicos do tipo VMS, sedimentares exalativos
dos tipos SEDEX/Irish e MVT, segundo Bettencourt a qual separa os dolomitos inferiores cinza escuro
et al. (2001). com esteiras estromatolíticas (Membro Morro do

438
Marcel Auguste Dardenne & Nilson Francisquini Botelho

Figura 7 – Padrão das galenas de Morro do Ouro, Morro Agudo, Vazante e Grupo Bambui em relação ao
modelo de reservatórios plumbo-tectônicos e aos intervalos da curva de crescimento de Pb em dois estágios
no modelo de 400 Ma e 250 Ma, segundo Freitas-Silva & Dardenne (1997) e Dardenne & Freitas-Silva
(1998).

Figura 8 – Seção geológica esquemática da Mina de Vazante, segundo Dardenne (1978, 1979) e Dardenne &
Freitas-Silva (1998, 1999).

Pinheiro Superior) dos dolomitos superiores rosa- thsonita, esfalerita e galena subordinadas (Mon-
dos (Membro Pamplona Médio), pertencentes ao teiro 2002, Monteiro et al. 2007, Monteiro et al.
Grupo Vazante (Fig. 4) (Dardenne 1979, Rigobello 1999). O minério, extremamente rico, tem teores
et al. 1988, Oliveira 1998). A história da zona de da ordem de 40-45% Zn. A mineralização é acom-
falha do depósito de Vazante (Pinho et al. 1990) panhada por intensa silicificação e sideritização dos
pode ser resumida em três etapas que se suce- dolomitos encaixantes que possuem fraturas pre-
dem no tempo e no espaço: fase de falha normal enchidas por veios e vênulas de siderita/ankerita
com preenchimento pela mineralização original, e jaspe vermelho. A zona de falha mineralizada,
acompanhada por fraturamento dos dolomitos en- que atinge largura superior a 15 m, é caracteriza-
caixantes e formação dos veios de siderita/anke- da por intenso cisalhamento da mineralização ori-
rita; fase de falha inversa transcorrente (sinistral) ginal, refletido pelas formas lenticulares e imbri-
associada à compressão do Evento Brasiliano res- cadas dos pods de dolomitos, de minério willemíti-
ponsável pela lenticularização do minério e dos do- co e, às vezes, de minério sulfetado (Pinho et al.
lomitos, a silicificação das rochas encaixantes e o 1990, Rigobello et al. 1988, Dardenne e Freitas-
deslocamento dos veios verticalizados em função Silva 1998, 1999, Bettencourt et al. 2001, Montei-
do deslizamento interestratal ocorrido; fase de ro 2002, Monteiro et al. 2007). Paralelamente à
falha normal por relaxamento da compressão, e estrutura filoniana principal, encontra-se, a leste,
preenchimento de fraturas por jaspe vermelho e uma mineralização cárstica denominada minério de
por veios de sulfetos (esfalerita e galena). calamina, a qual preenche cavidades de dissolu-
A mineralização principal, contida na zona de ção que podem atingir até 100 m de profundida-
falha (Fig. 8) e conhecida por sondagem até a pro- de. O minério de calamina, também muito rico, é
fundidade de 500 m, é constituída de willemita as- composto por hemimorfita associada a óxidos e
sociada à hematita e zincita, com franklinita, smi- hidróxidos de zinco, além de hidrozincita. Essa

439
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Zona Externa da Faixa Brasília

mineralização cárstica é controlada por fraturas tam a associação willemita + esfalerita + franklini-
NE e NW. ta + zincita (sem quartzo).
Na mina de Vazante, a alteração hidrotermal Os geotermômetros calculados a partir dos isó-
se manifesta por ampla silicificação e dolomitiza- topos de oxigênio do minério willemita-quartzo e
ção além de formação de siderita, jaspe, hematita hematita-quartzo (Monteiro et al. 2007) mostram
e clorita. Esses processos foram acompanhados temperaturas relativemente elevadas: 254º a
por forte enriquecimento em SiO2, Fe2O3, Rb, Sb, V, 294°C. Inclusões fluidas da willemita mostram tem-
U, e La, elementos tipicamente associados a mi- peraturas superiores a 180°C, compatíveis com
neralizações não sulfetadas. Observa-se uma per- uma origem epigenética hidrotermal dos fluidos mi-
da relativa de K2O, Na2O, Al2O3, CaO, MgO, Sc, Br neralizantes com temperatura superior a 250°C.
(Monteiro et al. 2007, Bettencourt et al. 2001) A salinidade determinada a partir dos estudos de
As composições isotópicas de oxigênio e car- inclusões fluidas é moderada (média de 15% equi-
bono das rochas alteradas hidrotermalmente re- valente NaCl).
velam um enorme halo de alteração hidrotermal Em Vazante as inclusões fluidas da willemita
em volta do depósito de Vazante, o que não é um variam entre 63°C e 180°C enquanto as da esfa-
traço notável nos depósitos sulfetados. Os dolo- lerita atingem 232°C. A clorita da falha de Vazan-
mitos hidrotermalmente alterados de Vazante te forneceu temperatura entre 275°C e 300°C.
mostram um forte trend (Monteiro et al. 2007, Bet- O estudo das inclusões fluidas da willemita
tencourt et al. 2001) caracterizado pelo decrésci- mostrou a presença de inclusões aquosas mono-
mo dos valores de δ18O‰ a +25‰) e δ13C‰ a - fásicas e bifásicas com salinidade entre 3 e 15%
6‰) a partir de dolomitos inalterados (Fig. 9). eq. peso NaCl e temperatura de homogeneização
Esse padrão pode ser atribuído à mistura de entre 65 e 180°C (Fig. 6) (Dardenne e Freitas-Sil-
fluidos metalíferos e água meteórica canalizada, va 1999, Freitas-Silva & Dardenne 1998). Tempe-
que pode controlar a precipitação do minério não raturas mais elevadas foram registradas por Mon-
sulfetado. O minério é constituído por willemita es- teiro et al. (1996) a partir de inclusões fluidas, do
truturalmente controlada que ocorre imbricada com geotermômetro da clorita e da composição isotó-
pequenas concentrações de minério rico em sul- pica dos sulfetos, com valores de 100 a 260-290°C.
fetos, encaixada em dolomitos, folhelhos e meta- A composição dos fluidos pode variar entre NaCl-
básicas hidrotermalmente alteradas. Esse tipo de MgCl2-H2O/NaCl-CaCl2-H2O/NaCl-CaCl2-MgCl2-H2O.
minério ocorre na forma de bolsões (pods) tectoni- Em Vazante os valores de δ34S são mais cons-
camente imbricados nos dolomitos. O minério é tantes entre +11,8‰ e +14,4‰ com média de
formado por willemita, dolomita, quartzo, hemati- +15,2‰. A origem do enxofre é atribuída à redu-
ta, apatita, barita, franklinita e magnetita. Os cor- ção termoquímica dos sulfatos da água do mar
pos de wilemita maciços não contêm sulfetos de (Monteiro et al. 2007). Os valores δ 34S da esfaleri-
zinco. Os pequenos corpos com sulfetos apresen- ta e da galena são positivos e variam de +12,0‰
a +14,4‰. O fracionamento istópico observado
entre esfalerita e galena indica temperatura su-
perior a 250°C.
Os dados isotópicos do chumbo da galena (Fig.
7) mostram uma razão Pb206/Pb204 vizinha de 17,7,
muito semelhante à encontrada do depósito de
Morro Agudo (Freitas-Silva & Dardenne 1997). A
depleção dos valores de δ18O e δ13C observada na
zona mineralizada e nos dolomitos encaixantes
hidrotermalmente alterados, em comparação com
os valores obtidos nos dolomitos estéreis, indicam
uma mistura de fluidos hidrotermais com águas
meteóricas ao longo da zona de falha.
Figura 9 – Razões δ18O e δ13C dos metadolomitos e
Os isótopos do chumbo indicam derivação de
carbonatos do depósito de Vazante. Litótipos alterados
correspondem a hidrotermalitos. Bettencourt et al. fontes da crosta superior (Misi et al. 2005), ou mais
(2001). provavelmente dos sedimentos da própria bacia

440
Marcel Auguste Dardenne & Nilson Francisquini Botelho

(Freitas-Silva & Dardenne 1998, Dardenne & Frei- Depósitos Pb-Zn-CaF2 Associados ao Grupo Bam-
tas-Silva 1999, Dardenne 2000). A fonte de Ge buí na Zona Cratônica
sugere a presença de salmouras que migraram
através de sedimentos ricos em matéria orgânica Com o soerguimento da FDB desenvolveu-se
(Bettencourt et al. 2001, Dardenne e Freitas-Silva uma depressão na frente da cadeia montanhosa,
1998). A origem seria semelhante aos depósitos na qual se iniciou a deposição, em bacia de tipo
de tipo MVT. foreland, dos sedimentos pelíticos e carbonáticos
O conjunto de dados geológicos, geoquímicos do Grupo Bambuí. Essa sedimentação estende-se
e isotópicos evidencia um modelo de depósito tipo muito além da depressão original, recobrindo, a
Vazante (Monteiro et al. 2007), onde a mineraliza- leste, a maior parte do Cráton do São Francisco
ção hidrotermal original resultou do preenchimen- (CSF), nos estados de Minas Gerais, Goiás e Bahia.
to de uma falha normal por fluidos conatos expul- Os principais pequenos depósitos e ocorrênci-
sos da pilha sedimentar bacinal, sob o efeito do as de Pb-Zn-Ag-CaF2 de tipo stratabound, atual-
início da compressão brasiliana, em direção aos mente desativados, são associados ao Grupo Bam-
altos fundos paleogeográficos e foi submetida a buí e agrupam-se ao longo do vale do Rio São Fran-
cisalhamento transcorrente durante o ápice da cisco, perto das localidades de Januária (MG),
tectônica de inversão, a qual sucedeu à fase de Itacarambi (MG), Montalvânia (MG) e Serra do Ra-
alívio das tensões com o jogo normal da zona de malho (BA). Todos ocupam a mesma posição lito-
falha. O regime compressional avoreceu a migra- estratigráfica e estão associados a um horizonte
ção de água meteórica levada por gravidade a de dolomito rosado sacaroidal, regionalmente anô-
partir da porção superior do Thrust Belt. A partici- malo em chumbo e zinco. O horizonte dolomítico
pação da água meteórica foi fundamental na gê- situa-se na parte superior do primeiro ciclo carbo-
nese do minério willemítico de Vazante. nático regressivo do Grupo Bambuí (Fig. 10), na
zona cratônica (Dardenne 1978, 1979). Em diver-
CONCLUSÕES sos locais, indícios de emersão foram observados
no topo desse horizonte, o qual corresponde a
Segundo Monteiro et al.(2007), apesar da di- um ambiente litorâneo agitado por correntes e
versidade de estilos de mineralizações, a gênese marcado pela presença de intraclastos, oólitos e
dos depósitos do Grupo Vazante tem sido associ- estratificações cruzadas. É sobreposto por dolo-
ada à migração regional de fluídos metalíferos com mitos rosados litográficos com esteiras estroma-
salinidade moderada e temperatura superior a tolíticas e estruturas de teepees, as quais indicam
250º C. As associações e enriquecimentos simila- um ambiente supralitorâneo.
res em elementos indicam uma fonte comum a dos As principais mineralizações (Dardenne e Frei-
fluídos metalíferos envolvidos na gênese dos de- tas-Silva 1999, Lopes 2002, Misi et al.2005), ocor-
pósitos da Faixa Vazante. As assinaturas isotópi- rem geralmente ao longo dessa descontinuidade
cas similares de Pb da galena de Vazante e Morro entre ambos os níveis dolomíticos, na forma de
Agudo e da titanita de Vazante sugerem também bolsões alongados e muitas vezes interligados. A
uma mesma fonte de chumbo para os depósitos mineralização é representada por galena argentí-
de zinco sulfetados e não sulfetados, resultando fera e esfalerita, com proporções variáveis de flu-
da expulsão tectônica de salmouras relativamen- orita e eventual barita. Numerosos minerais se-
te pobres em sulfetos. As principais diferenças cundários de prata formaram-se quando os bol-
entre os depósitos resultam do regime tectônico sões mineralizados foram submetidos ao intem-
dominante (extensional ou compressivo) em fun- perismo. Uma silicificação importante ocorreu ge-
ção do desenvolvimento da Faixa de Dobramen- ralmente no teto dos bolsões e afetou os dolomi-
tos Brasília, no qual ocorreu o preenchimento das tos litográficos, enquanto a dolomitização secun-
estruturas tectônicas pelas salmouras metalíferas. dária predomina na base, e conduziu à formação
Em conseqüência, o controle metalogenético fun- do dolomito rosado sacaroidal. As evidências de
damental para a prospecção de depósitos de Zn e dissolução, substituição e cimentação provocadas
Pb no Grupo Vazante reside nas principais falhas pela circulação de fluidos mineralizantes ao longo
longitudinais regionais que afetam as diversas da discordância são claras, notadamente nos ca-
unidades do Grupo Vazante. sos em que a fluorita, a dolomita e a calcita ma-

441
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Zona Externa da Faixa Brasília

Figura 10 – Coluna litoestratigráfica do Grupo Bambui (Dardenne 1978).

crocristalinas ocorrem como cimento de fragmen- po Bambuí, e sobretudo a partir da lixiviação dos
tos dolomíticos parcial ou totalmente silicificados. granito-gnaisses do embasamento (Dardenne &
Estudos de inclusões fluidas realizados em flu- Freitas-Silva1999, Misi et al. 2005).
orita da Mina de Fabião, que se situa perto da Mina O conjunto dos dados geológicos, geoquímicos
Grande (Itacarambi), mostram três tipos de inclu- e isotópicos permite considerar essas mineraliza-
sões: monofásicas de CO 2, aquosas bifásicas e ções de Pb-Zn-Ag-CaF 2 da zona cratônica, como
aquosas trifásicas com cristais de halita. A salini- depósitos epigenéticos do tipo MVT.
dade varia de 15 a 30% eq. NaCl e temperatura
de homogeneização entre 100 e 200°C (Fig. 6). DEPÓSITOS DE OURO NA ZONA EXTERNA
Os isótopos do chumbo (Freitas-Silva & Darden-
ne 1997) evidenciam a incorporação de chumbo Os diversos depósitos de ouro conhecidos na
radiogênico durante a migração dos fluidos mine- zona externa d FDB podem ser divididos em duas
ralizantes (Fig. 7), provavelmente originados a par- categorias em função da idade da mineralização
tir dos pacotes sedimentares subjacentes ao Gru- principal, das associações mineralógicas e geoquí-

442
Marcel Auguste Dardenne & Nilson Francisquini Botelho

micas observadas: de Au-EGP Paleoproterozóicos Grupo Araí (Alvarenga et al. 2006). Assim, a movi-
e de Au Neoproterozóicos. mentação principal das zonas de cisalhamento
hospedeiras das mineralizaçôes deve ser relacio-
Depósitos Au-EGP Paleoproterozóicos nada ao Evento Transamazônico com remobiliza-
ção durante o Brasiliano (0,6 Ga).
Esses depósitos se concentram na porção nor-
te da FDB, mais especificamente na região nor- Depósitos do Tipo Buraco do Ouro
deste de Goiás (Alvarenga et al. 2006), vizinhan-
ças das cidades de Cavalcante (Buraco do Ouro), Historicamente, a mina do Buraco do Ouro (Fig.
Teresina de Goiás (Ildecy, Grotão), Aurumina (Mina 11), descoberta em 1740, foi explorada desde essa
de Aurumina) e Monte Alegre de Goiás (Novo Hori- época de maneira intermitente por garimpeiros e
zonte, Morro dos Borges, Tucano). Ocorrem em companhias de pequeno porte. Atualmente está
veios de quartzo (Fig. 11) associados a zonas de paralisada apesar de ainda conter corpos minera-
cisalhamento verticais dúcteis-rúpteis dextrais lizados expressivos identificados por sondagem.
N70E e sinistrais N50W, próximo ao contato entre É representante de um tipo de depósito original,
granitos peraluminosos e xistos e paragnaisses pois o ouro está associado a elementos do Grupo
da Formação Ticunzal (Botelho et al. 2006). Foram da Platina, selenetos de Ag-Bi-S-Se, classificados
considerados como hidrotermalitos silicosos por como paraguanajuatita argentífera, claustahlita
D´El Rey Silva & Senna Filho (1999), e como mega (PbSe) e kalungaíta (PdAsSe), arsenetos como a
extension gashes por Hippert & Massuccatto (1998). sperrylita (PtAs2) e antimonetos como stibiopalla-
Os trabalhos desenvolvidos nessas áreas (Bo- dinita (Pd3Sb), identificados por Marchetto et al.
telho & Silva 2004, 2005, Massucatto 2003, Cu- (1993) e Botelho et al. (2006), e associados a cal-
nha 2006, Cunha et al. 2010, Machado 2008) rela- copirita e pirita. No Buraco do Ouro, o veio tem
cionam a mineralização aurífera a granitogênese 500 m de comprimento, 20 a 25 m de largura e
sin-tectônica da Suíte Aurumina, pelas idades Ar- mais de 200 m de profundidade e é hospedado
Ar de muscovita de 1,8 a 2,1 Ga (Massucatto 2003), em ortognaisse milonítico hidrotermalmente clori-
e de relações de discordância dos veios de quart- tizado, silicificado e sericitizado. O veio é de quart-
zo subverticais com os conglomerados basais do zo maciço finamente cristalino e com pequenas

Figura 11 – Distribuição dos depósitos de Ouro associados a veios de quartzo da região de Cavalgante-GO
(Del´Rey Silva & Sena Filho 1999).

443
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Zona Externa da Faixa Brasília

quantidades de muscovita (<3%), turmalina, mag- sitos não convencionais de EGP. Botelho et al.
netita, pirita, galena e carbonatos. No veio, os (2006) sugerem uma provável associação entre
corpos de minério são controlados pela interse- granitos e os xistos grafitosos da Formação Ticun-
ção da foliação C N60-70E subvertical com a folia- zal para explicar essas mineralizações.
ção N10-30E/75-80SE, a qual é marcada pela se-
ricita. A mineralização principal é representada Depósitos de Au Neoproterozóicos
por ouro nativo em grãos grossos frequentemen-
te lamelares, com teores médios de 12 a 15 g/t. O Na zona externa da Faixa Brasília, diversos de-
ouro contém 10 a 12% Ag. Trata-se de um tipo de pósitos de ouro estão associados a zonas de ci-
depósito de grande potencial na região de Caval- salhamento de alto ângulo e compreendem Bura-
cante onde dezenas de veios de quartzo orienta- cão, Santa Rita, Rio do Carmo, e de baixo ângulo:
dos N40E e N50W apresentam aparentemente as Araxá, Luziânia, Morro do Ouro.
mesmas características. A produção histórica do
Buraco do Ouro foi avaliada entre 10 e 20 t Au. DEPÓSITOS DE OURO EM ZONAS DE CISALHAMEN-
TO DE ALTO ÂNGULO
Depósitos do Tipo Aurumina
Regionalmente, os depósitos de ouro (Fig. 12)
O depósito denominado Mina de Aurumina é ocorrem em veios de quartzo encaixados em ro-
caracterizado pela associação do ouro com impor- chas metassedimentares (fácies xisto-verde) per-
tante concentração de esfalerita, galena, arseno- tencentes aos grupos Araí (Paleo-Mesoproterozói-
pirita, pirita, calcopirita, pirotita, marcassita e au- co) e Paranoá (Mesoproterozóico), os quais inte-
rostibita. O minério é filoniano e está encaixado gram a zona externa da FDB (Alvarenga et al. 2006,
em uma zona de cisalhamento N20E/60NW segun- Faria 1995, Fuck et al. 1988). Os depósitos são
do a foliação metamórfica regional, no contato de conhecidos desde o início do século XVIII, e até
biotita-muscovita granito da Suíte Aurumina com
os xistos grafitosos da Formação Ticunzal. A zona
de interação dos veios de quartzo com a rocha
encaixante é marcada por intensa brechação do
xisto e carbonatação. O veio de quartzo minerali-
zado possui 200m de comprimento, 50cm de es-
pessura e 200m de profundidade, tendo sido ex-
plorado até 120m. O ouro encontra-se dissemina-
do no quartzo em associação com os sulfetos de
metais base, além de rutilo, ilmenita, grafita e si-
derita na forma de agulhas. As proporções de
ferro na esfalerita e de arsênio na arsenopirita
indicam temperaturas de cristalização de 315 ºC
e entre 345º e 373 ºC, respectivamente. O teor
médio do ouro é de 14 g/t, podendo atingir 22 g/
t. O ouro contém em média 8% de Ag. Apesar des-
te tipo de mineralização de ouro não conter mine-
rais de EGP, as análises dos granitos milonitiza-
dos e hidrotermalizados revelam teores anôma-
los de Au, Pt, Pd e Rh (Botelho & Silva 2005). Exis-
te ainda uma forte correlação geoquímica entre
as anomalias regionais de cobre e ouro, o que
sugere a utilização de Cu na prospecção de ouro
na região.
Em conclusão, associações entre ouro e plati- Figura 12 – Localização dos distritos auríferos nos
nóides, como as descritas na região nordeste de grupos Arai e Paranoá (Olivo & Marini 1988). I –
Goiás, são raras, sendo enquadradas como depó- Minaçu/Rio do Carmo; II – Niquelândia.

444
Marcel Auguste Dardenne & Nilson Francisquini Botelho

hoje explorados esporadicamente por garimpei- sedimentar, e outro aquoso, menos salino, mais
ros, concentram-se em dois distritos: Minaçu (Rio frio e de origem superficial. As características dos
do Carmo) e Niquelândia (Olivo & Marini 1988). fluidos dos depósitos de ouro encaixados em ro-
Olivo & Marini (1988) reconhecem dois tipos de chas do Grupo Paranoá são semelhantes, o que
depósitos em função da natureza das rochas en- sugere uma mesma origem metamórfica para to-
caixantes: os hospedados em psamitos e ritmitos dos (Magalhães et al. 1998).
do Grupo Araí como, por exemplo, Vermelho, Far-
tura, Santo Antônio e Buracão, e, do Grupo Para- Depósitos Au do Tipo Santa Rita hospedados em ro-
noá, como Fofoca, Muquém, Biquinha, Garimpo chas carbonáticas
Novo, Garimpinho e Chapadinha; e depósitos hos-
pedados em dolomitos e calcários do Grupo Para- Os depósitos de tipo Santa Rita estão encaixa-
noá, como Rio do Carmo, Passa Três e Santa Rita. dos numa seqüência rítmica de quartzitos carbo-
nosos, filitos muscovíticos e filitos carbonáticos
Depósitos Au do Tipo Buracão hospedados em rochas intercalados com horizontes de dolomitos e calcá-
siliciclásticas rios da porção superior do Grupo Paranoá.
O minério ocorre em veios e vênulas de quart-
Os depósitos do tipo Buracão estão encaixa- zo-carbonato com sulfetos, controlados por falhas
dos em quartzitos e ritmitos (intercalações de fili- e fraturas de alto ângulo com direção preferencial
tos, filitos carbonosos e quartzitos) dos grupos WNW-ESE, relacionadas à reativação de estrutu-
Araí e Paranoá. A mineralização ocorre em veios ras NE-SW (Olivo & Marini 1988, Olivo 1989). Os
de quartzo orientados em duas direções princi- veios, com 1cm a 1m de espessura e várias deze-
pais de fraturas subverticais N10E e N50E (Maga- nas de metros de comprimento, são preenchidos
lhães & Nilson 1996). Veios de quartzo N10E são por quartzo, Fe-dolomita, siderita, ankerita, calci-
paralelos ao eixo b das dobras regionais e alon- ta, pirita e rara calcopirita e pirrotita. A zona de
gados segundo o plano axial das dobras por cen- alteração hidrotermal nas rochas encaixantes in-
tenas de metros de comprimento e espessura de clui albitização, carbonatação, silicificação, serici-
3 a 4 m. São associados a zonas de cisalhamento tização e piritização, e caracteriza-se pelo desen-
e com intensa alteração hidrotermal clorítica e se- volvimento de macrocristais de siderita e enrique-
ricítica nas bordas. O quartzo é maciço, varia de cimento em Co, Ni e As (Olivo 1989, Giuliani et al.
límpido a leitoso e contém várias proporções de 1993). A pirita é aurífera, mas o ouro é invisível e
pirita, calcopirita e arsenopirita. Os veios de quart- existe provavelmente sob a forma química na ar-
zo N50E são menos extensos (dezenas de me- senopirita (Giuliani et al. 1993). O ouro nativo não
tros) e menos espessos (1 m), com alteração hi- foi encontrado nos veios que apresentam teores
drotermal restrita e até mesmo inexistente nas médios entre 0,1 e 10 g/t, atingindo, localmente,
bordas. Esses correspondem ao preenchimento de 60 g/t.
tension gashes dos flancos das dobras regionais e O estudo das inclusões fluidas no quartzo (Giu-
formam uma série de veios paralelos entre si. O liani et al. 1993) levou à identificação de dois flui-
ouro é livre no quartzo e relacionado aos sulfe- dos, um aquo-carbônico H2O-CO2-N2 muito salino
tos. Os teores variam entre 2 e 43,0g/t Au. A pro- com minerais de saturação, como halita e silvita, e
dução total da jazida do Buracão é estimada em outro aquo-carbônico H2O-CO 2-N 2 menos salino.
cerca de 5 t de ouro (Magalhães & Nilson 1996). Proporções elevadas de N2 foram identificadas por
Estudo de inclusões fluidas (Magalhães et al. espectometria Raman na fase gasosa, assim como
1998) mostram fluidos relativamente salinos (15% pequena porcentagem de CH4. Durante o aqueci-
eq. peso NaCl), com alguma percentagem de N2 mento, todas as inclusões decrepitam entre 200
na fase carbônica. A fonte de N2 é relacionada à e 300ºC. O modelo proposto por Giuliani et al.
presença de matéria carbonosa nos filitos. A tem- (1993) para o depósito Santa Rita envolve a mis-
peratura de homogeneização situa-se entre 280º tura dos dois fluidos. O fluido de salinidade eleva-
e 350 ºC, sob pressão de 1,5 a 3 kb. Os dados da (H2O-NaCl-KCl) é relacionado à lixiviação de
favorecem um processo de mistura de um fluido evaporitos de tipo sabkha, conhecidos na base do
aquo-carbônico heterogêneo e efervescente ge- Grupo Paranoá, e o fluido carbônico (H2O-CO2-N2) é
rado por metamorfismo e devolatilização da pilha considerado de origem metamórfica.

445
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Zona Externa da Faixa Brasília

DEPÓSITOS DE OURO ASSOCIADOS A ZONAS DE CI- sociada a uma estrutura monoclinal (Fig. 13) de-
SALHAMENTO DE BAIXO ÂNGULO senvolvida internamente no Membro Morro do Ouro
e relacionada a uma falha de empurrão regional
No segmento sul da FDB, a compressão W-E orientada N10W/15SW (Dardenne 2000, 1978,
do Evento Brasiliano provocou a formação de em- Campos Neto 1984b). O cavalgamento desenvol-
purrões e cavalgamentos das seqüências metas- veu zonas de cisalhamento caracterizadas por fo-
sedimentares Araxá e Canastra para leste, em di- liação milonítica, foliações S/C, boudinage de veios
reção ao Cráton do São Francisco, sobrepondo-se de quartzo, lineações de estiramento e lineações
aos sedimentos do Grupo Vazante. Nas áreas de minerais. No Morro do Ouro, a lineação de estira-
Luziânia e Paracatu, o Grupo Canastra consiste mento principal é constante e orientada S70W/15
em uma monótona seqüência de sericita-clorita (Freitas-Silva et al.1991, Freitas-Silva 1996).
xistos, filitos carbonosos e carbonato xistos inter- O ouro é disseminado nas segregações de
calados com finos níveis de chert e quartzito. As quartzo metamórfico na forma de boudins milimé-
falhas de empurrão, com geometria em rampas tricos a centimétricos, que contêm, também, arse-
subhorizontais e fortemente inclinadas, controlam nopirita, pirita, esfalerita, galena, siderita e serici-
as zonas de cisalhamento dúctil-rúpteis com mo- ta. A segregação do quartzo em boudins é preco-
vimentação reversa dextral que hospedam a mi- ce, tendo em vista a sua recristalização. A altera-
neralização de ouro em Luziânia (Hagemann et al. ção hidrotermal é restrita à proximidade dos bou-
1992) e em Paracatu (Freitas-Silva 1996, Freitas- dins e ocorre como piritização, sideritização e se-
Silva et al. 1991). ricitização. O ouro ocorre em geral na forma livre
A deformação acomodada pelas falhas de ca- no quartzo, com uma pequena proporção associ-
valgamento regionais e, em menor escala, pelas ada aos sulfetos. As partículas de ouro encontram-
dobras intrafolis isoclinais e recumbentes, tem se preferencialmente concentradas nas bordas
caráter dúctil-rúptil a rúptil. A mineralização é as- dos boudins e nas proximidades de esfalerita, ga-

Figura 13 – (A) – Representação esquemática da estrutura da Mina de ouro Morro do Ouro, Paracatu. FP =
Formação Paracatu; S = Fácies Serra da Anta; FV = Formação Vazante; D = dolomito; P = psamopelito; GC
= Grupo Canastra; preto = depósito de ouro Morro do Ouro (segundo Freitas-Silva et al. 1991). (B) –
Representação esquemática da formação do depósito Morro do Ouro: (a) – MO = Fácies Morro do Ouro; MOM
= depósito Morro do Ouro; TPZ = zona transpressiva; TTZ = zona transtensiva; setas = direção de migração
dos fluidos. (b) – Estágios de evolução da concentração de Ouro (segundo Freitas-Silva et al. 1991).

446
Marcel Auguste Dardenne & Nilson Francisquini Botelho

lena e siderita. O teor médio dos boudins, que con- aquo-carbônicas, monofásicas e aquosas, foram
sistem em cerca de 20 a 25% do minério em volu- trapeadas em condições de pressão distintas, in-
me, é da ordem de 2,5 ppm Au. No minério, como dicando a ocorrência de um processo de imiscibili-
um todo, o teor de ouro é muito baixo, e em torno dade caracterizado como mecanismo de eferves-
de 0,45g/t Au. cência para temperaturas da ordem de 370°C
No Morro do Ouro (Zini et al. 1988, Freitas-Silva (Freitas-Silva 1996).
1996, Möller et al. 2001, Almeida 2010), três hori- Os isótopos do chumbo da galena (Freitas-Sil-
zontes ricos em boudins têm sido distinguidos na va 1996, Freitas-Silva & Dardenne 1997, Freitas-
mina e que, do topo para base, consistem de: Silva et al.1991) indicam idade aproximada de 1,0
a) MO-C, com espessura variável de 35 a 40 m, Ga para a separação do chumbo, e de 600Ma,
representa um nível cinza-claro a amarelado de para individualização da galena durante a tectô-
filitos sericíticos mineralizados que foram afetados nica relacionada ao Evento Brasiliano (Fig. 7). O
pelo intemperismo, o que provocou o desapareci- modelo proposto envolve a expulsão de fluidos em
mento completo dos sulfetos e da matéria carbo- profundidade, por causa do metamorfismo pro-
nosa. Localmente, uma crosta laterítica, que foi gressivo e da migração dos mesmos ao longo dos
intensamente lavrada pelos bandeirantes, encon- planos de cisalhamento que atuaram como zonas
tra-se localmente ainda preservada com teores da altamente permeáveis.
ordem de 2 ppm Au. Este horizonte foi totalmente Os filitos carbonosos exerceram importante
lavrado; controle sobre os processos mineralizantes, cons-
b) MO-B1, constitui um horizonte intermediário tituindo a fonte dos fluidos e controlando as con-
(E ≅ 40m), onde a matéria carbonosa dos filitos foi dições físico-químicas. O intemperismo laterítico
preservada da alteração, enquanto os sulfetos provocou a lixiviação dos carbonatos e a altera-
foram totalmente lixiviados; ção dos sulfetos para limonita e goethita, condu-
c) MO-B2, forma um horizonte preto (E ≅ 30 m), zindo, assim, à formação de gossans sobre as zo-
onde tanto os sulfetos como a matéria carbonosa nas mineralizadas.
foram preservados da alteração laterítica (Almei- A produção anual de ouro é vizinha de 15 t/
da 2009). É este horizonte que está sendo atual- ano e as reservas superiores a 250 t Au.
mente lavrado;
d) O horizonte A basal (E ≅ 30 m) é composto A PROVÍNCIA ESTANÍFERA DE GOIÁS
de filitos pretos praticamente isentos de boudins
de quartzo e de sulfetos, e é considerado estéril. A Província Estanífera de Goiás (PEG), definida
O principal controle da mineralização é estru- por Marini e Botelho (1986), abrange uma vasta
tural e associado a uma zona de transtensão (Fig. região do norte do estado, que se caracteriza pela
13) para a qual os fluidos mineralizantes foram presença de granitos estaníferos de idade paleo-
canalizados durante o cisalhamento (Freitas-Silva /mesoproterozóica distribuídos em duas sub-pro-
1996, Freitas-Silva et al. 1991). víncias: a do Rio Paranã (SRP) e a do Rio Tocantins
Os minerais do metamorfismo e do minério in- (SRT). Nessa definição, os autores englobaram os
dicam condições de temperatura e pressão variá- depósitos importantes de estanho em uma única
veis, de 2 a 3 Kb e 350º a 370°C. Os estudos de época metalogenética, relacionada aos granitos
inclusões fluidas (Freitas-Silva 1996) mostram bai- do tipo A, cuja idade está entre 1,6 e 1,77 Ga.
xa salinidade (2% a 14% eq. peso NaCl) dos flui- Entretanto, trabalhos mais recentes (Botelho e
dos mineralizantes que pertencem ao sistema H2O- Moura 1998; Sparrenberger e Tassinari, 1999;
CO2-CH4-N2-NaCl, além de traços de HS- e de hi- Botelho et al., 2006a) mostram que depósitos de
drocarbonetos em cadeia. A composição das in- estanho, com tântalo associado, estão relaciona-
clusões fluidas é variável: H2O + NaCl; H2O + CO2; dos a granitogênese mais antiga, do tipo S, a Su-
CO2 monofásicas. Na fase CO2, a presença de CH4 íte Aurumina, cuja idade idade situa-se entre 2,05
e de N2, junto com os hidrocarbonetos, evidencia e 2,15 Ga. Assim, os principais depósitos de esta-
a participação da matéria carbonosa dos filitos na nho da PEG podem ser subdivididos em dois ti-
fonte dos fluidos. A ocorrência de HS demonstra o pos: a) depósitos de estanho e tântalo associa-
papel dos tio-complexos no transporte do ouro. dos a granitos e pegmatitos paleoproterozóicos
Os padrões de isócoras mostram que as inclusões tipo S; b) depósitos de estanho associados a gra-

447
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Zona Externa da Faixa Brasília

nitos paleo-mesoproterozóicos tipo A. Macaúbas – Atoleiro/Zé da Areia. Os minérios ocor-


rem como veios e sills pegmatíticos, manchas ou
Depósitos de estanho e tântalo associados a gra- lentes de greisens associadas a pequenos corpos
nitos e pegmatitos tipo S de turmalina-muscovita-albita granito, represen-
tantes das fácies mais evoluídas da Suíte Aurumi-
Os depósitos de estanho e tântalo associados na. Além de cassiterita e de tantalita, os minérios
a granitos tipo S da Suíte Aurumina estão situa- contêm berilo, espodumênio, turmalina e apatita.
dos nos municípios de Monte Alegre de Goiás e Na região de Porto Real, os depósitos de esta-
Teresina de Goiás, nas localidades conhecidas nho conhecidos não têm controle estrutural bem
como Riacho dos Cavalos, Ingazeira e Porto Real definido, ocorrendo como bolsões associados a
(Fig. 14). Os pegmatitos e greisens da região de pegmatitos e albititos. Nesse contexto, merecem
Monte Alegre já foram alvo de explorações de Sn- destaque os antigos garimpos Arapuá, Pelotas e
Ta por empresas (Brumadinho, Goiás Estanho) e Boa Vista.
garimpeiros. Na área do Xupé, foram realizados O Depósito de estanho da Ingazeira está situ-
trabalhos de prospecção, com sondagens e aber- ado nas proximidades do Granito Mocambo, per-
tura de galerias, tendo sido avaliada uma reserva tencente à suíte de granitos tipo A. O depósito
com cerca de 2.500 toneladas de estanho. Os de- está hospedado no contato entre rochas graníti-
pósitos de Sn-Ta da Suíte Aurumina têm ampla re- cas milonitizadas da Suíte Aurumina e paragnais-
lação espacial e temporal com depósitos paleo- ses da Formação Ticunzal, que constituem a prin-
proterozóicos de ouro discutidos nesse trabalho, cipal encaixante dos granitos tipo S. Essas duas
principalmente nas regiões de Monte Alegre de unidades, por sua vez, constituem as rochas en-
Goiás e Cavalcante (Fig. 14). caixantes dos granitos tipo A. Em função da loca-
As principais concentrações de Sn-Ta da região lização, o depósito Ingazeira sempre foi conside-
do Riacho dos Cavalos estão associadas a peg- rado como um exogreisen relacionado ao Granito
matitos e greisens, dispostos segundo dois linea- Mocambo (Padilha e Laguna, 1981), até que Spar-
mentos principais de direção N10-N20E: a) Gro- renberger e Tassinari (1999) obtiveram idade U-
tão – Xupé – Manchão das Velhas e b) Mutuca – Pb entre 2,1 e 2,2 Ga para a mineralização, permi-

Figura 14 - Mapa geológico simplificado da região nordeste de Goiás com localização de recursos minerais
associados à Suíte Aurumina e Formação Ticunzal e aos granitos estaníferos do tipo A (Sn: estanho; Ta:
tântalo; Be: berílio; TR: terras raras; Au: ouro; PGE: elementos do grupo da platina; U: urânio; 1: Monte
Alegre de Goiás; 2: Porto Real; 3: Ingazeira; 4: Pedra Branca; 5: Mangabeira).

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Marcel Auguste Dardenne & Nilson Francisquini Botelho

tindo correlacionar esse depósito à granitogêne- ço granítico da Pedra Branca são encontradas nas
se do tipo S. áreas denominadas Zona da Bacia, Faixa Placha e
As mineralizações de Sn-Ta da Suíte Aurumina, Manchão dos Baianos, enquanto depósitos secun-
quando comparadas com as mineralizações esta- dários em aluviões são conhecidos como Grota
níferas mais conhecidas da Província Estanífera de Seca, Grota Rica, Grota do Jair e Garimpinho (Bo-
Goiás, relacionadas a granitos do tipo A, têm assi- telho & Rossi 1988). As mineralizações primárias
natura distinta, com maior enriquecimento em Ta, são constituídas por:
Cs, B e com micas mais ricas em lítio, do tipo lepi- a) Endogreisens: quartzo-muscovita greisens
dolita. Assim os depósitos de Sn-Ta da Suíte Auru- com fluorita, cassiterita, topázio, magnetita e he-
mina estão relacionados a sistema rico em boro, matita; Li-siderofilita - quartzo greisens com cas-
comparável ao sistema granito-pegmatito do tipo siterita, fluorita, topázio, magnetita, hematita e
LCT (Li-Cs-Ta) de Cerny & Ercit (2005). sulfetos associados; granitos greisenizados com
cassiterita e albita, além de quartzo, muscovita,
Depósitos de Sn associados a granitos tipo A fluorita e magnetita; veios de quartzo e cassiteri-
ta em fraturas do biotita granito.
Os depósitos de estanho mais importantes da b) Exogreisens: encontrados em rochas graní-
Província Estanífera de Goiás estão associados a ticas miloníticas encaixantes, são representados
granitos do tipo A, geneticamente relacionados à por veios de quartzo com cassiterita e pela asso-
evolução continental do Rifte Araí e ao vulcanismo ciação cassiterita, sulfetos e fluorita em zonas de
bimodal contemporâneo. Merecem destaque os cisalhamento.
depósitos hospedados nos maciços Pedra Bran- Os depósitos importantes estão associados a
ca, na Sub-província Paranã, e Serra Dourada, na leucogranito pb2d. Os greisens desenvolvem-se
Sub-província Tocantins, que foram alvo de inten- a partir da fácies mais evoluída desses granitos,
sa atividade garimpeira, nas décadas de 1970 e que apresenta textura grossa equigranular e tem
1980, e de empreendimentos mineiros com insta- Li-siderofilita ou zinnwaldita como mineral aces-
lação de duas minas. No contexto da Zona Exter- sório. O granito mineralizador tem idade de 1,74
na da FDB, depósitos e ocorrências de estanho Ga (U-Th-Pb em monazita) enquanto biotita grani-
dessa época metalogenética são encontrados nos to vermelho porfirítico (pb1) é correlacionado aos
maciços Pedra Branca, Mangabeira e Sucuri, com granitos de 1,77Ga. Dos depósitos hospedados
destaque para os dois primeiros (Fig. 14). no Maciço Pedra Branca, a Faixa Placha é o mais
importante (Fig. 15).
DEPÓSITOS DE Sn ASSOCIADOS AO MACIÇO PEDRA A Faixa Placha, orientada N45E, com mergulho
BRANCA de 50 a 60 NW, é conhecida sobre 5 km de exten-
são e 100m de largura. A zona central da faixa
As principais mineralizações primárias do maci- (Fig. 15), com cerca de 20m de espessura, possui

Figura 15 – Perfil esquemático da parte central da Faixa Placha, Maciço Pedra Branca. (Adaptado de Botelho
& Rossi 1988).

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Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Zona Externa da Faixa Brasília

a concentração mais importante de cassiterita, mineralizador.


hospedada em topázio–Li-siderofilita–quartzo As principais zonas mineralizadas, denomina-
greisen escuro que contrasta com faixas claras das de Zona Greisenizada Principal (ZGP) e Morro
amareladas, fracamente mineralizadas. Trabalhos da Laranjinha (Moura 1993, Moura & Botelho 2000,
de prospecção realizados nas décadas de 1970 e Freitas 2000), são compostas de diferentes fácies
1980 por DOCEGEO e Goiás Estanho, com sonda- de granitos: leucogranito róseo, topázio-albita
gens e galerias, bloquearam uma reserva de granito e leucogranito. O leucogranito róseo, equi-
15.000 t de estanho apenas numa faixa de 1,5 km granular médio, possui fengita aluminosa e repre-
de comprimento, sendo que o potencial de toda a senta fácies granítica evoluída, mas um nível abai-
faixa poderia ser triplicado. Devem ainda ser res- xo do topázio-albita granito. Seu padrão de ter-
saltados os teores de índio na cassiterita da Faixa ras raras é plano, com acentuada anomalia nega-
Placha, em torno de 1500 ppm em média, que po- tiva de Eu.
deria ser recuperado como subproduto na meta- O topázio-albita granito contém fengita litinífe-
lurgia. Merece ainda destaque a presença de es- ra e/ou zinnwaldita e topázio magmático, que ocor-
falerita e estanita ricas em índio (Botelho 1992). re como grãos subcentimétricos ou sob a forma
Ao contrário de outras zonas mineralizadas do de diminutas inclusões em albita. Seus teores de
Maciço Pedra Branca, os greisens da Faixa Placha F, Li, FeO, Al2O3, Rb, Zn, Sn e Ta são mais elevados
estão desenvolvidos sobre biotita granito pb1, mas que os do granito róseo.
considera-se que sua origem está relacionada a O topázio-albita granito e o leucogranito róseo
fluidos derivados do leucogranito pb2d, mais evo- foram submetidos a forte metassomatismo de per-
luído e aflorante nas proximidades da zona mine- colação, que os transformou em granitos greise-
ralizada (Fig. 15). nizados e albitizados e em greisens. O greisen
O Maciço Pedra Branca possui também impor- originado a partir do granito pbg2d é verde e con-
tantes concentrações de fluorita, associadas aos tém fengita aluminosa, enquanto os greisens do
greisens ou formando pequenos filões. Na Zona topázio-albita granito são, em geral, mais escu-
da Bacia, foi explorado um filão de fluorita de cer- ros por causa da concentração de zinnwaldita.
ca de 100 m de comprimento e largura métrica. Vários tipos de greisen desenvolvem-se sobre
Trata-se de filão tardio, já que é mais jovem do o topázio-albita granito, merecendo destaque o
que as demais estruturas que condicionam ou greisen composto essencialmente de quartzo e
deformam os greisens com cassiterita do maciço. topázio, que ocorre na ZGP. Essa rocha contém
As mineralizações estaníferas do Maciço Pedra uma variada assembléia mineralógica com mine-
Branca e dos demais maciços tipo A são ricas em rais precoces, de temperatura mais elevada, e
flúor, terras raras e nióbio, além do índio, em con- minerais secundários (Botelho et al. 1994, Moura
traste com aquelas da Suíte Aurumina, que são et al. 2007). Os minerais de alta temperatura são
ricas em boro e tântalo, sendo classificadas como zinnwaldita, arsenopirita, wolframita, loellingita e
do tipo NYF (Nb-Y-F) de Cerny & Ercit (2005), asso- cassiterita. Os minerais secundários são cassite-
ciadas a sistema rico em flúor. rita, escorodita, esfalerita, calcopirita, bismutini-
ta, galena, estanita, tennantita e diversos arseni-
DEPÓSITOS DE ESTANHO E ÍNDIO ASSOCIADOS AO atos raros, yanomamita, farmacosiderita, goudeyi-
MACIÇO MANGABEIRA ta, chenevixita. O quartzo-topázio greisen possui
elevados teores de SiO2, Al2O3, F e Cu e baixos
O Maciço Mangabeira é predominantemente teores de Na2O, K2O, Rb, Ba, Sr e Li.
constituído de biotita granito rosa, de idade pale- O quartzo-topázio greisen apresenta teores
oproterozóica, do tipo A, além de granitos evoluí- anômalos de In, que podem chegar até a 1%. O
dos e greisens. As rochas encaixantes são xistos elemento concentra-se na escorodita, esfalerita,
e paragnaisses da Formação Ticunzal e rochas cassiterita e estanita, bem como nos três mine-
graníticas milonitizadas da Suíte Aurumina. O de- rais de In identificados, yanomamita, roquesita
pósito de Sn do maciço está localizado em sua (CuInS 2) e dzhalindita In(OH) 3. A yanomamita
porção sudoeste, denominada de apófise, carac- (InAsO4.2H2O), novo mineral descrito no Maciço
terizada por duas pequenas intrusões de topá- Mangabeira (Botelho et al. 1994), ocorre sempre
zio-albita granito, que constitui o principal granito associada à escorodita, o que sugere a existência

450
Marcel Auguste Dardenne & Nilson Francisquini Botelho

de solução sólida entre aqueles minerais, ao pas- referências, e talvez nem mesmo investigação, so-
so que a roquesita está intercrescida com a esfa- bre a associação urânio-ouro nos vários garimpos
lerita, com quem possivelmente forma uma solu- de ouro relacionados ao contexto da Suíte Auru-
ção sólida. mina e da Formação Ticunzal.
As propostas mais aceitas sobre a gênese das
DEPÓSITOS E OCORRÊNCIAS DE URÂNIO mineralizações uraníferas estudadas sugerem
modelos do tipo veio-discordância (vein-unconfor-
Uma série de anomalias de urânio foram des- mity) para o depósito de Campos Belos e orogêni-
cobertas e investigadas pela NUCLEBRÁS e pela co-hidrotermal para o depósito do Rio Preto (Fi-
CNEM, na região nordeste de Goiás e sudeste do gueiredo & Oesterlen 1981, Andrade et al. 1984).
Tocantins, nas décadas de 1970 e 1980 (Figueire- Entretanto, os autores admitem a possibilidade de
do & Oesterlen 1981, Andrade et al. 1984, Gomes contribuição de mineralizações da associção gra-
et al. 2003). nítica, pois há evidências de concentrações de urâ-
As anomalias de urânio mais importantes es- nio em rochas albitizadas, como nas anomalias do
tão situadas na região do Rio Preto, nas proximi- Paiol e Alecrim, no município de Arraias, Tocantins.
dades de sua confluência com o Rio Claro, nos A hipótese de contribuição de magmatismo gra-
municípios de Colinas do Sul e Cavalcante (Andra- nítico na geração dos depósitos de urânio da re-
de et al. 1984). Em virtude do abandono dos pros- gião adquire mais força quando consideradas as
pectos em 1983, a maioria dessas anomalias foi modificações na interpretação do arcabouço geo-
investigada apenas superficialmente, embora em lógico, em relação ao conhecimento de 1970/1980,
uma delas tenha sido detectado, por meio de son- época de realização das pesquisas sobre urânio.
dagens, um pequeno depósito de urânio (500 t Sem dúvida, a modificação mais importante está
de U3O8), associado a xistos grafitosos da Forma- relacionada às relações entre as rochas metasse-
ção Ticunzal. dimentares paleoproterozóicas da Formação Ticun-
Pesquisas de urânio também foram desenvol- zal e as rochas graníticas associadas, antigamen-
vidas na região de Campos Belos, Goiás, e Arrai- te denominadas de Complexo Basal Goiano ou
as, Tocantins, onde mais de 100 anomalias de urâ- Complexo Granito-gnáissico e consideradas como
nio foram registradas (Figueiredo & Oesterlen embasamento da seqüência metassedimentar. Os
1981). As mineralizações uraníferas mais impor- trabalhos realizados por grupo de pesquisadores
tantes estão situadas a sul da cidade de Campos da Universidade de Brasília, por meio de mapea-
Belos, onde também uma reserva de cerca de 500 mento geológico, geoquímica e geocronologia,
t de U3O8 foi medida, hospedada em xistos da For- mostram uma inversão desta estratigrafia, colo-
mação Ticunzal (Andrade et al. 1984). cando a Formação Ticunzal como mais antiga e as
As ocorrências de urânio da região nordeste rochas graníticas, denominadas agora de Suíte Au-
de Goiás estão espacialmente associadas a ocor- rumina, como intrusivas na seqüência (Botelho et
rências e depósitos de Sn, Ta, Au e elementos do al. 2006a, Alvarenga et al. 2007). A reinterpreta-
grupo da platina (EGP) . Na Mina Buraco do Ouro, ção de seções geológicas de alvos mineralizados
em Cavalcante, foi descrita recentemente impor- em urânio mostra importantes anomalias gama-
tante concentração de uraninita associada a ouro espectrométricas, localizadas nas proximidades do
e minerais de EGP (Machado 2008). Não existem contato entre essas duas unidades (Fig. 16). Nes-

Figura 16 – Seções geológicas de alvos mineralizados em urânio na região do Rio Preto, com medidas de
gamaespectrometria em testemunhos de sondagem, colocando em evidência anomalias nas proximidades
de contatos entre granito e xisto grafitoso (adaptado de Liberal et al. 1982).

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Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Zona Externa da Faixa Brasília

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454
Claudinei G. de Oliveira, Raul M. Kuyumjian, Frederico B. Oliveira, Gustavo C. Marques, Nely Palermo &
Elton L. Dantas

METALOGÊNESE DO ARCO MAGMÁTICO GOIÁS


CLAUDINEI GOUVEIA DE OLIVEIRA1, RAUL MINAS KUYUMJIAN1,
FREDERICO BEDRAN OLIVEIRA2, GUSTAVO CAMPOS MARQUES3, NELY PALERMO4 &
ELTON LUIZ DANTAS1

1 - Universidade de Brasília. E-mail: gouveia@unb.br, raulmk@unb.br, elton@unb.br


2 - Ministério de Minas e Energia, Brasília, DF. E-mail: frederico.oliveira@mme.gov.br
3 - Mineração Maracá, Alto Horizonte, GO. E-mail: gustavo.marques@Yamana.com
4 - Universidade Estadual do Rio de Janeiro. E-mail: nelpalermo@gmail.com

INTRODUÇÃO posição de rochas neoproterozóicas que integram


a Faixa Brasília (Fig. 1).
No início da década de 70, os trabalhos de ex- Na Faixa Brasília, o grupo de estruturas mais
ploração mineral no Arco Magmático Goiás eram proeminente compreende um sistema de falhas re-
direcionados para a descoberta de depósitos de versas e de empurrão, com vergência para leste
sulfetos maciços vulcanogênicos, uma vez que a em direção ao cráton São Francisco. Estas estru-
associação de rochas vulcano-plutônicas que do- turas constituem as mais conspícuas feições da
mina o contexto geológico regional era até então deformação durante o Ciclo Brasiliano (Strieder &
correlacionada aos greenstone belts arqueanos da Suita 1999, Araújo Filho 2000). Na porção norte
região de Crixás-Hidrolina. Porém, a partir da dé- do Arco Magmático Goiás, estas feições estão re-
cada de 80 inúmeros estudos têm comprovado presentadas por: (i) um sistema regional de zo-
que o quadro geológico regional além de fazer nas de cisalhamento reversas oblíquas ou de em-
parte de um arco magmático neoproterozóico teve purrão (falha Rio dos Bois), com disposição geral
evolução geológica complexa, o que teria favore- NE, responsáveis pela justaposição do arco neo-
cido a formação de uma ampla diversidade de gru- proterozóico aos terrenos granito-greenstone ar-
pos de depósitos minerais, dentre os quais se queanos da região de Crixás-Hidrolina, a sul, e às
destacam: Cu-Au porfiríticos, vulcanogênicos, au- seqüências vulcanossedimentar paleoproterozói-
ríferos orogênicos e Ni-Cu associados a comple- ca (Seqüência Campinorte) e metassedimentar
xos máfico-ultramáficos sin-orogênicos. Em conse- neoproterozóica (Grupo Serra da Mesa), a leste;
quência desse potencial metalogenético, a região e (ii) um sistema espaçado de zonas de cisalha-
tem atraído cada vez mais empresas de explora- mento transcorrentes dextrais, de direção geral
ção mineral especializadas, dentre as quais se NNE, correspondente ao lineamento Transbrasili-
destacam: Yamana Gold Inc., Prometálica Minera- ano. Ambos os sistemas estão cortados por fa-
ção Ltda, Amarillo Gold Corp., Castillian Resources lhas discretas de cisalhamento direcional orienta-
Corp., Vale, Mineração Santa Elina S.A. e Codelco. das segundo NW, que hospedam intrusões graní-
ticas pós-tectônicas, pouco ou não deformadas.
CONTEXTO GEOLÓGICO REGIONAL
O ARCO MAGMÁTICO GOIÁS
O Arco Magmático Goiás localiza-se na porção
central da Província Tocantins, um amplo orógeno O Arco Magmático Goiás é um orógeno acresci-
neoproterozóico desenvolvido entre o Cráton Ama- onário que se formou por colagem dos crátons
zônico, a oeste, e o Cráton São Francisco, a leste, Amazonas e São Francisco durante o Neoprotero-
em conseqüência da convergência e da colisão de zóico, mais especificamente entre 900 e 600 Ma.
massas continentais na aglutinação do Gondwa- Esta unidade geotectônica ocorre na margem oes-
na Ocidental, durante a Orogenia Brasiliana (Pi- te do Cráton São Francisco e aflora por aproxima-
mentel & Fuck 1992, Pimentel et al. 1997). A parte damente 1000 km nas regiões oeste e norte de
leste da Província é ocupada por espessa sequ- Goiás e sul de Tocantins, e está encoberto a nor-
ência de rochas metassedimentares e extensa ex- deste e sudoeste pelas bacias paleozóicas Par-

455
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Arco Magmático de Goiás

Figura 1 - Mapa geológico simplificado da porção centro-leste da Província Tocantins (Pimentel et al. 2004).

naíba e Paraná, respectivamente. Nesse contexto zircão indicam que o magmatismo tonalítico e
ocorrem dois domínios de crosta juvenil neopro- máfico associado, ocorreu em dois intervalos de
terozóica compostos por corpos alongados de or- tempo e sob contextos geotectônicos distintos: O
tognaisses tonalíticos a dioríticos, expostos entre primeiro, entre 900 e 800 Ma, se desenvolveu em
faixas estreitas de rochas vulcanossedimentares ambiente de arcos de ilhas intra-oceânicos, ao qual
com orientação geral NNE: O Arco Magmático Mara se associa a Seqüência metavulcanossedimentar
Rosa, no norte, onde predominam metassedimen- Mara Rosa. O segundo, entre 700 e 600 Ma, se
tares detríticas, com subordinadas metavulcânicas desenvolveu provavelmente em ambiente de ar-
máficas a félsicas e metasedimentares químicas cos magmáticos continentais, ao qual se correla-
(Fig. 2); e o Arco Magmático Arenópolis, no sul, ciona a Seqüência metavulcanossedimentar San-
onde predominam metavulcânicas intermediárias ta Terezinha. As supracrustais daquela região for-
a ácidas e metassedimentares químicas, com su- mam três faixas estreitas de direção NNE, deno-
bordinadas detríticas (Fig. 3) (Pimentel et al. 1997, minadas de leste, central e oeste, separadas en-
Junges et al. 2002, Laux et al. 2005). tre si por metatonalitos e metadioritos. As três
No Arco Magmático Mara Rosa, na região de faixas são constituídas de anfibolitos, metatufos
Chapada (Alto Horizonte)-Mara Rosa, as metaplu- félsicos a intermediários, metagrauvacas, grana-
tônicas de composição tonalítica a diorítica são da-mica xistos, metachert, formação ferrífera,
consideradas semelhantes às rochas graníticas quartzitos e metaultramáficas, metamorfizadas
tipo-M de arcos de ilha imaturos e apresentam nas fácies xisto verde a anfibolito. Anfibolitos apre-
características químicas semelhantes às de adaki- sentam assinatura química semelhante à de ba-
tos (Pimentel et al. 2000, 2004). Idades U-Pb em saltos de ambiente de back-arc ou de magmas to-

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Claudinei G. de Oliveira, Raul M. Kuyumjian, Frederico B. Oliveira, Gustavo C. Marques, Nely Palermo &
Elton L. Dantas

Figura 2 - Mapa geológico do Arco Magmático Mara Rosa e localização dos principais depósitos minerais
(Compilado de Dantas et al. 2006, Fuck et al. 2006, Oliveira et al. 2006).

leíticos que compõem crosta oceânica (Kuyumjian néticas dos mais importantes depósitos e ocor-
1989, Palermo 1996) rências minerais do Arco Magmático Goiás, ado-
O Arco Magmático esta recortado por várias tou-se a seguinte classificação (Tabela 1): Depósi-
intrusões graníticas (biotita granito e leucograni- tos de Cu-Au porfiríticos; Depósitos de Cu-Au e Au
to a duas micas) e gabro-dioríticas pouco ou não vulcanogênicos; Depósitos de Au orogênicos; e De-
deformadas, que constituem uma associação bi- pósitos de Ni-Cu associados a complexos máfico-ul-
modal pós-orogênica. tramáficos. A discussão que segue não contempla
os depósitos de esmeralda (ex. Campos Verdes)
CARACTERÍSTICAS DESCRITIVAS DOS DEPÓSI- e cianita (ex. Serra das Araras), tradicionalmente
TOS DE Au, Cu-Au E Ni-Cu DO ARCO MAGMÁTICO abordados em publicações sobre gemas e mine-
rais e rochas industriais.
O Arco Magmático Goiás contém grande diver-
sidade de depósitos minerais gerados por proces- Depósitos de Cu-Au porfiríticos
sos metalogenéticos específicos que refletem a
compartimentação geológica complexa dos cintu- Os depósitos minerais enquadrados nessa ca-
rões colisionais (Oliveira et al. 2000, 2004). Nesse tegoria são particularmente identificados no Arco
contexto, em um quadro simplificado e comparati- Magmático Mara Rosa onde o Depósito de Cu-Au
vo das principais características descritivas e ge- Chapada é o principal representante, além das

457
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Arco Magmático de Goiás

Figura 3 - Mapa geológico do Arco Magmático Arenópolis e localização dos principais depósitos minerais
(Modificado de Moreira 2008).

Tabela 1 - Resumo de algumas características dos principais depósitos metálicos dos (arcos Mara Rosa e
Arenópolis.

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Claudinei G. de Oliveira, Raul M. Kuyumjian, Frederico B. Oliveira, Gustavo C. Marques, Nely Palermo &
Elton L. Dantas

ocorrências Serra das Araras, Serra do Caranã, do por uma associação de sulfetos (calcopirita,
Serra dos Picos e Serra de Bom Jesus. pirita, bornita, molibdenita, esfarelita, galena) e
óxidos (magnetita, hematita, ilmenita, rutilo), onde
DEPÓSITO DE Cu-Au CHAPADA calcopirita aparece como o único mineral minério
importante. Os minerais da ganga compõem-se
O depósito de Cu-Au está estruturado por an- dominantemente de biotita, muscovita, quartzo,
tiforme aberto em que o núcleo é representado feldspatos, anfibólio e, subordinadamente, epido-
pela associação de magnetita-biotita gnaisses e to, clorita, carbonato, cianita, estaurolita, grana-
muscovita-biotita xistos, enquanto a cobertura da, titanita e rutilo. O ouro, com granulação muito
compõe-se de ampla variação de rochas metavul- fina, ocorre incluso na calcopirita, porém variações
cânicas e metavulcanoclásticas básicas a ácidas, mais grossas ocorrem em fraturas e espaços in-
além de metassedimentares químicas, como me- tergranulares em sulfetos.
tacherts (Fig. 4). Todo o conjunto está recortado Por outro lado, Richardson et al. (1986) combi-
por diques pegmatíticos estreitos orientados se- nam feições geológicas e geoquímicas para suge-
gundo N40°-60°W e por uma intrusão diorítica se- rir que o Depósito de Cu-Au Chapada exibe carac-
micircular pouco deformada (Bedran 2008, Kuyu- terísticas que se assemelham aos depósitos de
mjian et al. 2010). As rochas hospedeiras do de- Cu-Au porfiríticos formados em ambientes de ar-
pósito compreendem uma ampla variação de xis- cos de ilhas intra-oceânicos. De acordo com os
tos associados à magnetita-biotita gnaisses finos autores, dentre as semelhanças destacam-se: a
e anfibolitos, dentre os quais se destacam mus- abundância de minério sulfetado disseminado, pre-
covita-biotita xistos, anfibólio xistos, associação dominando calcopirita e pirita, e ausência de len-
biotita-muscovita xistos/cianita-epidoto- muscovi- tes de sulfetos maciços; teor e volume de Au e
ta-biotita xisto feldspático/metacherts e associa- sulfetos de Cu compatíveis com depósitos de co-
ção cianititos/quartzo cianititos/cianita quartzitos/ bre porfirítico; a associação de sulfetos e óxidos
cianita-muscovita-quartzo xistos (Fig. 6A). do Depósito de Cu-Au Chapada, assim como seu
O depósito, com reserva de 421 Mt e teores zoneamento, que inclui envelope periférico rico em
médios de 0.31% Cu e 0.225 g/t Au, consiste de pirita e núcleo com abundante em magnetita; a
disseminações de sulfetos ao longo da foliação (ou química da alteração no entorno do depósito dada
superfícies axiais de dobras) e, em menor propor- por enriquecimento em K2O e depleção em Na2O e
ção, de pequenas concentrações maciças em char- CaO; e valores da composição isotópica de enxo-
neiras de dobras ou em falhas e fraturas orienta- fre (δ34S) compatíveis com fluidos de derivação
das segundo E-W e NW-SE. O minério é constituí- magmática (ca. 0‰). Já Kuyumjian (1989) defen-

Figura 4 - Seção geológica NW-SE do Depósito de Cu-Au Chapada confeccionada a partir de testemunhos por
sondagem (Bedran 2008).

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Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Arco Magmático de Goiás

de o modelo de depósitos vulcanogênicos disse- pilítica. A mineralização ocorre disseminada e con-


minados, a partir do zoneamento da alteração hi- finada ao sistema de venulações nos tufos, sem
drotermal associada à mineralização. O autor su- qualquer relação com monzogranitos e sienogra-
gere que epidositos e rochas ricas em epidoto te- nitos tardios (denominados em trabalhos anterio-
riam se formado pela ação exalativa de soluções res de granitos Serra Negra e Macacos, respecti-
aquosas marinhas aquecidas por basaltos do as- vamente) que afloram na região do depósito. O
soalho oceânico. Os epidositos estariam associa- minério compreende principalmente pirita e calco-
dos aos condutos de fluxo de salmouras ricas em pirita e é representado pela associação pirita +
metais, incluindo Cu e Au, enquanto magnetita- calcopirita ± electrum ± pirrotita ± magnetita ±
pirita-quartzo-sericita xistos, encaixantes da mi- esfalerita ± ilmenita ± hematita, além de biotita,
neralização, poderiam representar halo de alte- quartzo, clorita, calcita, titanita, actinolita, epido-
ração fílica metamorfizado. O autor também enfa- to e plagioclásio (Bijos et al. 2010).
tiza que existe estreita associação entre as ro- As características do depósito de Cu Bom Jar-
chas com estaurolita e gedrita e os domínios mi- dim de Goiás, que se manifestam principalmente
neralizados, o que pode ser indicativo de halo clo- por um sistema de veios e vênulas discordantes
rítico metamorfizado, enquanto os xistos com mi- encaixados em uma seqüência de rochas vulcâno-
croclínio e altos teores de K2O sugerem alteração clásticas hidrotermalizadas (propilitização), permi-
potássica, a qual estaria associada com a precipi- tem inferir que a sua gênese se aproxima a dos
tação de calcopirita e ouro. depósitos vulcanogênicos do tipo stringer, com
deposição de calcopirita e quartzo ao longo do
Depósitos de Cu-Au e Au vulcanogênicos conduto de exalação de soluções hidrotermais.

Os depósitos e ocorrências gerados por pro- DEPÓSITO DE Au-Ag-Ba ZACARIAS


cessos vulcano-exalativos são representados pe-
los de Cobre Bom Jardim de Goiás e Au-Ag-Ba Za- O depósito de Au-Ag-Ba Zacarias é um conjun-
carias situados, respectivamente, nos arcos Are- to de lentes concordantes constituídas de quart-
nópolis e Mara Rosa. zo, barita, muscovita rica em Ba (oellacherita), pi-
rita e, subordinadamente, esfalerita, galena, cal-
DEPÓSITO DE Cu BOM JARDIM DE GOIÁS copirita, espinélio zincífero, magnetita, electrum,
freibergite, boulangerite, tetraedrita/bournonite e
O Depósito de Cu Bom Jardim de Goiás situa- traços de molibdenita e covelita (Poll 1994) (Fig.
se no extremo oeste do Estado de Goiás, na bor- 6B). Na sua avaliação inicial, o depósito apresen-
da oeste do Arco Magmático Arenópolis, e apre- tava reserva lavrável a céu aberto em torno de
senta reserva de 4,58 Mt, com teor médio de 0,92% 700.000 t, com teores médios de 4,3g/t Au, 48,0g/
de cobre. As rochas hospedeiras da mineraliza- t Ag e 10,7% barita. De maneira geral, o depósito
ção são vulcanoclásticas classificadas como tufos apresenta teor de ouro proporcional à concentra-
cristalinos e tufos cineríticos pertencentes à For- ção de barita. O ouro é encontrado entre grãos
mação Córrego da Aldeia do Grupo Bom Jardim de de quartzo e barita e/ou em associação com esfa-
Goiás (Bijos et al. 2010). Os tufos possuem com- lerita, tetraedrita e galena.
posição riodacítica a dacítica com características As lentes ricas em barita estão encaixadas em
geoquímicas cálcio-alcalinas e idade interpretada produtos metamórficos derivados de arenitos fel-
como próxima de 900 Ma. Rochas básicas afaníti- dspáticos, folhelhos carbonosos, cherts e tufos fél-
cas intercaladas nas rochas vulcanoclásticas do sicos e andesíticos, na capa, e tufos basálticos a
depósito possuem composição de basaltos de ar- andesíticos e tufos félsicos, na lapa. Pegmatitos a
cos vulcânicos (Bijos et al. 2010). quartzo-albita cortam o horizonte mineralizado e
A alteração hidrotermal observada no Depósi- remobilizam metais para a interface de contato. A
to Bom Jardim de Goiás é restrita e não apresenta base das lentes é realçada pela associação de xis-
um zoneamento nítido, sendo identificada local- tos aluminosos ricos em cianita e flogopita e xis-
mente por intensa silicificação associada aos vei- tos magnesianos ricos em talco e clorita (Poll 1994)
os e vênulas sulfetados e por cloritização/epidoti- (Fig. 5). Estes xistos são interpretados como pro-
zação que marcam halos distais de alteração pro- dutos metamórficos de halos de alteração gera-

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Claudinei G. de Oliveira, Raul M. Kuyumjian, Frederico B. Oliveira, Gustavo C. Marques, Nely Palermo &
Elton L. Dantas

Figura 5 - Seção geológica transversal do Depósito de Au-Ag-Ba Zacarias (modificado de Poll 1994).

Figura 6 - (A) - Biotita xisto feldspático com disseminações de calcopirita e pirita que representa o principal
minério do Depósito de Cu-Au Chapada. (B) - Oellacherita-barita quartzito com disseminações de pirita que
representa o principal minério do Depósito Au-Ag-Ba Zacarias. (C) - Microclínio gnaisse com disseminações
de sulfeto em biotita xisto, representativo do principal minério do Depósito de Au Posse. (D) - Granito
milonítico em estágio intermediário de substituição por biotita, muscovita, quartzo e magnetita, representativo
do Depósito de Au Mundinho.

461
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Arco Magmático de Goiás

dos em um ambiente vulcanogênico (ou vulcano- importante remobilização/mineralização de Cu e


exalativo), enquanto as ricas em barita represen- Au no Depósito Chapada. A mineralização é mar-
tariam exalações depositadas em ambiente vul- cada por carbonatação, sericitizacão e piritização
canogênico distal, em um contexto de bacia de re- das encaixantes metassedimentares e metavul-
tro-arco, similar às fumarolas ricas em sulfato (whi- cânicas básicas da Seqüência Mara Rosa. O ouro
te smokers). ocorre associado a disseminações de pirita.

Depósitos de Au orogênicos DEPÓSITO AURÍFERO FAZENDA NOVA

Estudos recentes têm mostrado que o Arco O depósito aurífero Fazenda Nova encontra-se
Magmático Goiás, além de apresentar potencial hospedado em um enxame de diques e stocks de
para depósitos auríferos orogênicos, hospeda al- microdioritos e dioritos porfiríticos, pouco ou não
guns depósitos e ocorrênciasconhecidos, como os deformados, que cortam metavulcânicas ácidas da
depósitos auríferos Posse, Fazenda Nova (Bacilân- Seqüência Jaupaci. O depósito está em fase de
dia) e Suruca, cujas características permitem in- reavaliação, mas estima-se que cerca de 5,7 Mt
terpretá-los como pertencentes a esta categoria. de minério oxidado, com teor médio de 0,9 g/t,
O DEPÓSITO AURÍFERO POSSE foram lavradas a céu aberto. A mineralização é
controlada por um sistema de veios e vênulas en-
O Depósito de Au Posse encontra-se hospeda- trelaçados (stockwork) aos quais se associa inten-
do em microclina gnaisses com intensa silicifica- sa carbonatação, cloritização, seritização/ biotiti-
ção e piritização (Fig. 6C). A reserva total lavrável zação e sulfetação (arsenopirita, pirrotita, pirita e
a céu aberto, até 60 m de profundidade, foi esti- calcopirita), onde o teor de ouro é proporcional à
mada em torno de 1,7Mt, com teor médio de 2,24g/ concentração de arsenopirita. As intrusões que se
t Au (Arantes et al. 1991). Enquanto Arantes et al. associam à mineralização aurífera estão regional-
(1991) admitem que os microclina gnaisses repre- mente controladas por um sistema de falhas trans-
sentam metavulcânicas ácidas, Palermo et al. correntes norte-sul, que se ramificam para noro-
(2000) interpretam essas rochas como granitos este nas proximindades do depósito.
alcalinos metamorfizados, previamente submeti-
dos à alteração hidrotermal (sericitização e albiti- Depósitos de Au tipo Intrusion Related
zação) semelhante à greisenização. Porém, o prin-
cipal evento de mineralização aurífera não estaria DEPÓSITO AURÍFERO MUNDINHO
ligado a esse episódio de alteração magmático-
hidrotermal, mas a um evento metamorfo-defor- Representa um contexto da metalogenia aurí-
macional superimposto ao qual se associa a for- fera da região pouco conhecido na literatura. Tra-
mação de um sistema de veios de extensão (en- ta-se de veios de quartzo controlados por um sis-
echelon vein arrays) com disposição geral N50°- tema transcorrente-NS subvertical e hospedados
70°E/35°-45°NW, delimitados por zona de cisalha- em metaplutônicas alongadas, intrusivas em ro-
mento regional com orientação geral N20°-40°E. chas metapsamo-pelíticas da seqüência vulcanos-
A mineralização aurífera está associado a halos sedimentar Campinorte. As encaixantes compre-
de alteração hidrotermal (propilitização, albitiza- endem quartzito a quartzo xisto, magnetita quart-
ção, sericitização, silicificação e carbonatação) e zito a pirita-magnetita-muscovita-quartzo xisto e,
deposição de óxidos (magnetite/ilmenite), sulfe- subordinadamente, epidoto quartzito a epidosi-
tos (pirita, calcopirita e pirrotita) e teluretos de to. As rochas ricas em epidoto, magnetita e pirita
Au, Ag, Bi, Pb e Fe (ex. frohbergita e calaverita). são interpretadas como produtos de alteração hi-
drotermal associada a um episódio regional de
DEPÓSITO AURÍFERO SURUCA mineralização. Esta ocorrência de ouro resultou de
um evento deformacional que marca acentuada
O depósito Suruca é controlado por zona de mudança na cinemática e no regime de deforma-
cisalhamento regional de baixo ângulo temporal e ção. Os domínios graníticos anteriormente defor-
espacialmente associado ao sistema de empurrões mados sob regime dúctil e cinemática dextral, evi-
Rio dos Bois. Esta estrutura foi responsável por denciado pelo estiramento de porfiroclastos de

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Claudinei G. de Oliveira, Raul M. Kuyumjian, Frederico B. Oliveira, Gustavo C. Marques, Nely Palermo &
Elton L. Dantas

quartzo e feldspato potássico, foram superimpos- torno de 5Mt e teores médios de 0,62% Ni e 0,65%
tos por deformação rúptil a dúctil-rúptil. Bandas Cu, que se encontram alojados em três níveis dis-
de cisalhamento ligadas a essa deformação indi- tintos da pilha cumulática: (i) O corpo S2 é de sul-
cam cinemática sinistral. Esse estágio é marcado feto semi-maciço a maciço formado durante rein-
por faixas estreitas e irregulares não penetrati- jeção magmática na porção basal dunítica/perido-
vas, com disseminações de pirita associadas a títica da Sequência Norte; (ii) O corpo S1 é de sul-
zonas de biotitização e muscovitização progressi- feto disseminado formado por assimilação parcial
va dos domínios graníticos (Fig. 6D). Associadas a do gnaisse encaixante, no topo da Sequência Sul;
essas alterações ocorreram ainda sulfetação (pi- e (iii) O corpo G2 é de sulfetos com textura em
rita, calcopirita, bismutinita), carbonatação, forma- rede (net-textured) de dimensão relativamente
ção de magnetita e precipitação de ouro e bismu- pequena e hospedado na base peridotítica/piro-
to. As principais concentrações de ouro ocorrem xenítica da Sequência Sul. Os corpos de minério
em veios de quartzo onde a sulfetação é mais pro- S2 e G2 possuem porções enriquecidas em Cu-Pt-
nunciada. O ouro ocorre como inclusões na calco- Pd que foram interpretadas como produto da cris-
pirita e/ou como grãos livres e alongados dispos- talização fracionada do líquido sulfetado. A com-
tos segundo a foliação milonítica. O Depósito de posição isotópica de enxofre (δ34S) dos corpos de
ouro Mundinho, além de apresentar nítido contro- minério e das gotículas (droplets) do complexo si-
le pelo sistema transcorrente NS, está temporal e tua-se entre -2,6 e +3,5 (0/00 CDT), indicativo de
espacialmente conectado ao plutonismo pós-tec- que o enxôfre é de origem mantélica (Silva et al.
tônico do último evento deformacional que afetou 2010).
a seqüência vulcanossedimentar Mara Rosa.
ALTERAÇÃO HIDROTERMAL E MINERALIZAÇÃO
DEPÓSITOS DE Ni-Cu ASSOCIADOS A COMPLE- DE Cu-Au E Au
XOS MÁFICO-ULTRAMÁFICOS
Rochas ricas em cianita (cianititos e cianita
Os depósitos e ocorrências de Ni-Cu do Arco quartzitos) são comuns no Depósito de Cu-Au
Magmático Mara Rosa estão associados a um con- Chapada bem como em outros depósitos e ocor-
junto de pequenas intrusões máfico-ultramáficas rências de Cu-Au do Arco Magmático Mara Rosa
sin-orogênicas que se concentram na porção les- (Serra das Araras, Serra dos Picos, Serra do Cara-
te do Arco Magmático Arenópolis, onde se desta- nã, Serra de Bom Jesus) e Au (Posse, Zacarias)
cam os complexos Americano do Brasil e Manga- (Fig. 7). Essas rochas se distribuem mais freqüen-
bal I e II. Outras importantes intrusões que ocor- temente sob a forma de blocos e matacões ao lon-
rem temporal e geograficamente associadas ao go das encostas de serras estreitas e lineares que,
contexto acima relacionado, mas estão hospeda- na maioria dos casos estudados, se adaptam a
das na sequência metavulcanossedimentar Ani- zonas de cisalhamento de extensão regional (ex.
cuns-Itaberaí (840-800 Ma) ou no complexo me- Falha Rio dos Bois). Outras rochas com cianita,
tamórfico Anápolis-Itaucu, são genericamente in- representadas por cianita quartzito, muscovita-
tegradas ao conjunto das intrusões máfico-ultra- cianita quartzito, muscovita-cianita-quartzo xisto,
máficas com idades entre 630 e 600 Ma. Dentre cianita-granada-muscovita xisto, cianita-biotita-
estas se destacam as intrusões anortosítica Cór- quartzo-muscovita xisto e plagioclásio-paragoni-
rego Seco (Anicuns) e gabro-diorítica Santa Bába- ta-cianita xisto, ocorrem em lentes ou corpos irre-
ra, sendo que esta última hospeda importantes gulares com dimensões diversas. De maneira ge-
ocorrências de Ti-magnetita. ral, estas rochas contêm rutilo como acessório fre-
O Complexo Americano do Brasil é uma intru- quente, além de anidrita, lazulita, roscoelita, tur-
são acamadada EW com 12 km de comprimento malina, córindon e ouro com aparição esporádica.
por 2 km de largura, formada por duas sequênci- Pirita é o sulfeto dominante, por vezes em con-
as distintas (Norte e Sul), interpretadas como câ- centrações elevadas (até 20% vol.), enquanto
maras magmáticas independentes tectonicamen- calcopirita é subordinada ou, mais comumente,
te justapostas por uma zona de falha (Silva et al. ausente (Nascimento 2008). Cianita ocorre fre-
2010). O complexo possui três corpos distintos de quentemente como porfiroblastos prismáticos sin-
minério de Ni-Cu sulfetado, com reserva total em cinemáticos e, em menor proporção, como porfiro-

463
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Arco Magmático de Goiás

Figura 7 - Imagem geofísica ternária RGB (K, eTh, eU) do Arco Magmático Mara Rosa. Destaque para as
ocorrências de cianititos e rochas ricas em cianita ao longo de serras estreitas e lineares. AMG: Arco Magmático
Mara Rosa; AMST: Arco Magmático Santa Terezinha; SSTG: Sequência Vulcanossedimentar Santa Terezinha;
SMR: Sequência Vulcanossedimentar Mara Rosa.

blastos placóides com textura diablástica, concen- anita são equivalentes aos produtos gerados du-
trados em charneiras de dobras. Este mineral foi rante alteração argílica avançada em ambiente
submetido à blastese durante a fase Dn, sob con- subvulcânico. No caso específico da Província Pie-
dições de fácies anfibolito, sendo, no entanto, co- dmont, as rochas ricas em cianita são tidas ainda
mum a sua transformação para muscovita pela su- como evidências da superposição de metamorfis-
perimposição de deformação na fácies xisto verde mo da fácies anfibolito sobre produtos gerados em
durante a fase Dn+1. um sistema epitermal aurífero de alta sulfetação
Rochas com cianita são em geral formadas por (high-sulfidation epithermal gold system) (Owens &
três processos: i) metamorfismo de zonas de al- Passek 2007).
teração hidrotermal avançada (halo argílico) em Rochas ricas em cianita do Arco Magmático Mara
rochas vulcânicas e plutônicas de arcos magmáti- Rosa ocorrem em diversos contextos, sendo mais
co e bacias de retro-arco; ii) metamorfismo de se- comuns em associação com biotita gnaisses tona-
dimentos aluminosos; e iii) metassomatismo sin- lítitos, onde exibem um nítido zoneamento com ro-
metamórfico controlado estruturalmente por zo- chas com concentrações elevadas de epidoto e
nas de cisalhamento permeáveis. Estudos geoquí- biotita, incluindo epidositos e biotita xistos. Suge-
micos e petrográficos em cianita quartzitos da re-se que estas rochas se originaram pelo meta-
Noruega (Müller et al. 2007) e da Província Pied- morfismo de produtos de transformações magmá-
mont na Virginia Central, Estados Unidos (Owens tico-hidrotermais, similares aos sistemas envolvi-
& Passek 2007), têm discutido a origem dessas dos no depósitos de Cu-Au porfiríticos. As rochas
rochas formadas em um contexto geológico simi- ricas em cianita representariam halos de altera-
lar ao do Arco Magmático Mara Rosa. Os autores ção hidrotermal argílica intermediária avançada
sugerem que os protolitos das rochas ricas em ci- ricos em quartzo e caolinita.

464
Claudinei G. de Oliveira, Raul M. Kuyumjian, Frederico B. Oliveira, Gustavo C. Marques, Nely Palermo &
Elton L. Dantas

DISCUSSÃO E CONCLUSÃO cado pela estruturação de zonas de cisalhamento


de empurrão a reversas de alto ângulo, de propa-
Os depósitos de Au e Cu-Au e Ni-Cu do Arco gação regional (ex. Falha Rio dos Bois), ao longo
Magmático Goiás podem ser temporal e espacial- das quais se distribuem várias ocorrências e al-
mente relacionados ao modelo de evolução mag- guns depósitos auríferos que apresentam carac-
mática de um cinturão colisional, semelhante ao terísticas análogas aos depósitos auríferos oro-
proposto por vários autores (e.g. Sawkins 1984, gênicos (orogenic gold deposits). Entre estes se
Nelson 1996, Kerrich et al. 2005, Groves & Bierlein destacam os depósitos auríferos Posse e Suruca.
2007). De acordo com a evolução contínua de um Zonas de cisalhamento tardias recortam esse sis-
orógeno acrescionário, os depósitos podem ser tema regional e hospedam ocorrências auríferas
formados e agrupados em três estágios distintos: que permitem ser classificadas como relacionadas
(i) depósitos associados ao estágio de estrutura- a intrusões (intrusion related gold deposits) com ida-
ção do arco ( arc constructional stage) ou de mag- des em torno de 500 Ma (ex. depósito aurífero
matismo colisional sintectônico; (ii) depósitos as- Mundinho).
sociados ao estágio orogênico (orogenic stage); (iii)
REFERENCIAS
depósitos associados ao estágio tarde a pós oro-
gênico (late orogenic to post-orogenic stage) ou de Arantes D., Buck P.S., Osborne G.A., Porto C.G. 1991.A
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No Arco Magmático Goiás, estágios de subduc-
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continental (arcos continentais) se desenvolveram ple of intersection of two Brasiliano fold thrust belts
in Central Brazil, and its implications for the tecto-
aproximadamente entre os intervalos de 900-800 nic evolution of Western Gondwana. Rev. Bras.
Ma e 700-600 Ma, respectivamente, e se mostram Geoc., 30:144-148.
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tween lithospheric processes and metal endowment.
bacias de retro-arco associadas ao primeiro inter- Ore Geol. Rev., 36:282–292.
valo. Ao estágio de subdução intraoceânica (900- Dantas E.L. et al. Programa Geologia do Brasil (PGB/
LGB) - Carta Geológica. Relatório Final da Folha
800 Ma) se associam provavelmente os depósitos SD.22-X-D-I Porangatu, Estado de Goiás. Escala
Cu-Au Chapada, Au-Ag-Ba Zacarias e Cu-Au Bom 1:100.000. Brasília: UnB/CPRM, 2006.
Jardim de Goiás. Enquanto o primeiro depósito é Fuck R.A. et al. Programa Geologia do Brasil (PGB/
LGB) - Carta Geológica. Relatório Final da Folha
interpretado como similar aos depósitos de Cu-Au SD.22-ZA-III Santa Terezinha, Estado de Goiás.
porfiríticos gerados em arcos de ilhas modernos, Escala 1:100.000. Brasília: UnB/CPRM, 2006.
Junges S.L, Pimentel M.M., Moraes R. 2002. Nd isotopic
os outros dois têm gênese análoga aos depósitos study of the Neoproterozoic Mara Rosa Arc, central
vulcanogênicos disseminados gerados em bacias Brazil: implications for the evolution of the Brasília
de retro-arco. Ao estágio de subducção continen- Belt. Prec. Res., 117:101-108.
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465
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Arco Magmático de Goiás

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466
Marco Antônio Pires Paixão & Paulo Sérgio de Sousa Gorayeb

METALOGÊNESE DA FAIXA ARAGUAIA

MARCO ANTÔNIO PIRES PAIXÃO1 & PAULO SÉRGIO DE SOUSA GORAYEB2


1 - Instituto Federal de Goiás, Curso Técnico em Mineração, Campus Goiânia, Rua 75, n° 46, Setor Central,
CEP 74055-110, Goiânia, Goiás. E-mail: mappaixao@ifg.edu.br
2 - Universidade Federal do Pará, Instituto de Geociências, C. P. 8608, CEP 65075-110, Belém, Pará.
E-mail: gorayebp@ufpa.br

INTRODUÇÃO AMBIENTE GEOTECTÔNICO

A diversidade petrotectônica das faixas orogê- Localizada na porção centro-norte do Brasil, a


nicas torna seus ambientes alvos promissores Faixa Araguaia é uma unidade orogênica do Neo-
para pesquisa e prospecção mineral de depósitos proterozóico, constituindo a porção setentrional
ligados a variados processos endógenos tais como da Província Tocantins (Almeida et al. 1981), ou
magmatismo, hidrotermalismo e metamorfismo/ Sistema Orogênico Tocantins (Brito Neves et al.
deformação. A exumação das rochas permite que 1999). Esta faixa se estende submeridianamente
processos exógenos atuem de forma dicotômica por mais de 1200 km, com larguras da ordem de
em relação aos depósitos minerais, quer pelo des- 100 km (Fig. 1), sendo constituída principalmente
mantelamento e destruição de depósitos primári- por uma sucessão de rochas metamórficas psamí-
os, ou pela gênese de novos depósitos por enri- ticas e pelíticas, com menor contribuição de rochas
quecimento supergênico ou residual. carbonáticas, reunidas no Supergrupo Baixo Ara-
Dentre as suítes petrotectônicas frequentes de guaia (Abreu 1978). Além disso, vários corpos
faixas orogênicas estão os complexos ofiolíticos. máfico-ultramáficos de natureza ofiolítica, rochas
Esses estão normalmente desmembrados e po- intrusivas gabróicas a granitíticas, e rochas vulcâ-
dem abrigar diversos depósitos minerais (Cons- nicas, se associam à sequência supracrustal (Go-
tatinou 1980, Nicolas 1989), tanto de origem pri- rayeb 1989, Lamarão & Kotschoubey 1996, Os-
mária (e. g. cromita, ouro, cobre, asbesto e EGP), borne 2001, Frasca et al. 2010).
quanto de origem secundária (e. g. níquel lateríti- A Faixa Araguaia tem seu limite leste recoberto
co). Diversos complexos ofiolíticos do mundo abri- por rochas sedimentares da Bacia do Parnaíba
gam mais de um tipo de depósito e respondem (Paleozóico-Mesozóico), enquanto que a oeste as
como principal fonte de minerais metálicos de al- rochas de baixo grau metamórfico estão assenta-
guns países, tais como Omã, Cuba, Indonésia, Ca- das em discordância angular ou por cavalgamen-
saquistão, Nova Caledônia, República Dominicana to sobre as rochas do Arqueano-Paleoproterozói-
e Chipre. cas do Cráton Amazônico. No domínio sul-sudeste
A Faixa Araguaia contém uma mélange de cor- confronta-se com terrenos gnáissicos e granulíti-
pos ofiolíticos que marcam estágios distintos de cos do Paleoproterozóico pertencentes ao Com-
formação de litosfera oceânica. Os processos de plexo Rio dos Mangues (2 Ga) e Porto Nacional
edificação desta litosfera foram responsáveis pela (2,14 Ga) (Gorayeb 1996, Arcanjo & Moura 2000,
formação de depósitos e/ou mineralizações de Frasca et al. 2010). No sudoeste estão cobertas
sulfeto polimetálico e cromita. Processos metamór- por sedimentos neógenos da Bacia do Bananal.
fico-deformacionais no orógeno resultaram na for- O embasamento na porção setentrional da Fai-
mação de mineralizações auríferas e, após a sua xa Araguaia encontra-se exposto em núcleos ero-
estabilização, eventos exógenos geraram perfis didos de braquianticlinais e é caracterizado por
lateríticos ricos em níquel. Este trabalho descreve suítes de ortognaisses tipo TTG de idade arquea-
as características dos depósitos e mineralizações na (2,85 Ga) representado pelo Complexo Colméia,
da Faixa Araguaia, os principais metaloctetos e dis- que está intrudido pelos granitóides Serrote e
cute o potencial geológico para novas descobertas. Cantão, do Paleoproterozóico (1,85 Ga) (Moura &

467
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Faixa Araguaia

Figura 1 – Mapa geológico simplificado da Faixa Araguaia e unidades do embasamento, com indicação das
principais idades. Modificado de Gorayeb et al. (2008).

468
Marco Antônio Pires Paixão & Paulo Sérgio de Sousa Gorayeb

Gaudette 1994, Alvarenga et al. 2000). 2010).


Complexos alcalinos são representados pelos O arcabouço estrutural regional revela trends
corpos de Monte Santo e Serra da Estrela, aloja- estruturais principais de direção N-S e NNW-SSE,
dos nos gnaisses do Complexo Rio dos Mangues cujas estruturas estão impressas tanto na se-
e constituídos por sienitos e nefelina sienitos me- qüência supracrustal como nas rochas gnáissicas,
tamorfisados (Costa et al. 1983, Hasui et al. 1984). granitóides e alcalinas do embasamento da Faixa
Estas rochas representam um evento de magma- Araguaia. Variações nesses trends são registra-
tismo alcalino subsaturado de idade 1006 ± 86 das nas proximidades das estruturas braquianti-
Ma (Arcanjo & Moura 2000), interpretado como clinais ou nos domínios das zonas de cisalhamen-
marcador da fase rift de implantação da bacia Ara- to de direção NW-SE e NNE-SSW (Abreu et al. 1994,
guaia, reflexo da fragmentação do Supercontinente Alvarenga et al. 2000, Gorayeb et al. 2008).
Rodínia (Alvarenga et al. 2000, Arcanjo et al. 2001). Intrusões graníticas presentes dominantemen-
O conjunto metassedimentar da Faixa Araguaia te no Grupo Estrondo apresentam dois pulsos prin-
reunido por Abreu (1978) no Supergrupo Baixo cipais, o primeiro entre 650-600 Ma (Moura & Gau-
Araguaia, é subdividido nos grupos Estrondo e dette 1993, Frasca et al. 2010) e o último no inter-
Tocantins. O Grupo Estrondo distribui-se por todo valo de 550-500 Ma (Moura & Gaudette 1993,
o domínio leste e é composto na base por quartzi- Moura et al. 2000, Alves 2006).
tos puos e quartzitos muscovíticos, cianita quart- A presença de fósseis da fauna Ediacara (~ 540
zitos, magnetita quartzitos e metaconglomerados Ma) em metacalcários do Grupo Tocantins (Nogueira
oligomíticos associados (Formação Morro do Cam- et al. 2003), aliado as últimas manifestações gra-
po), sucedidos por muscovita-biotita xistos, cálcio níticas demonstra que o fechamento do orógeno
xistos, restritamente mármores, metagrauvacas, ocorreu entre 540-500 Ma. Tal intervalo de idade
xistos com granada, estaurolita e/ou cianita (For- marca o processo de amalgamação do Gondwana
mação Xambioá). Xistos feldspáticos com interca- Ocidental e tem sido igualmente registrado na
lações de quartzitos, biotita xistos e cálcio xistos Faixa Paraguai (Thover et al. 2006), provável ex-
(Formação Canto da Vazante) foram posicionados tensão da Faixa Araguaia.
no topo do Grupo Estrondo por Costa (1980; apud
Hasui et al. 1984). HISTÓRICO DE EXPLORAÇÃO E POTENCIAL
O Grupo Tocantins ocupa o domínio oeste do MINERAL DA FAIXA ARAGUAIA
Cinturão Araguaia e é subdividido nas Formações
Pequizeiro (muscovita-clorita-quartzo xistos, filitos As primeiras descrições da potencialidade mi-
e quartzitos) e Couto Magalhães (filitos e ardósi- neral da Faixa Araguaia foram feitas por Barbosa
as, quartzitos, metarenitos, metarcosios e meta- et al. (1966), e posteriormente pelo Projeto RA-
calcários (Abreu 1978, Gorayeb 1981). Além dis- DAMBRASIL em 1974. Atividades de pesquisa e
so, contém vários corpos máficos e/ou ultramáfi- prospecção mineral por empresas públicas e pri-
cos embutidos na sucessão metassedimentar, tais vadas ocorreram entre 1972 e 1976, quando a
como os corpos ofiolíticos de Quatipuru e Serra do empresa Rio Doce Geologia e Mineração S/A ca-
Tapa, que são os mais expressivos. Na porção dastrou 15 ocorrências de cromita no Complexo
setentrional da Faixa Araguaia Trouw et al. (1976) Quatipuru, e direcionou suas pesquisas para ocor-
descreveram a Formação Tucuruí, dominada por rências de níquel laterítico, cubando um depósito
metagrauvacas e derrames basálticos, sendo se- de 13 Mt @ 1,3% de Ni que não foi explorado (Cor-
parada das demais formações por falhas de em- deiro & McCandless 1976). A Companhia de Pes-
purrão. quisa de Recursos Minerais detectou anomalias de
O Grupo Tocantins se caracteriza por condições Cu e Zn associadas com extensas ocorrências de
de anquimetamorfismo até fácies xisto verde, en- jaspilitos (CPRM 1976), porém não realizou deta-
quanto que no Grupo Estrondo e regiões de em- lhamento em nenhuma destas ocorrências.
basamento são registradas condições metamórfi- Atividades garimpeiras de ouro na Faixa Ara-
cas da fácies anfibolito médio, com estimativas de guaia tiveram seu auge entre os anos de 1980 e
temperaturas de 550-580 °C, e pressões de 6-7 1987 (Olivatti & Araújo 2001), localizadas princi-
kbar para o pico metamórfico (Abreu et al. 1994, palmente na folha Araguaína, onde se estima que
Gorayeb & Pamplona 2010, Pamplona & Gorayeb foram produzidas cerca de 50.000 onças de ouro.

469
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Faixa Araguaia

Entre os anos de 1980 e 1984, a Beta Minera- maior importância na Faixa Araguaia (Tabela 1).
ção Ltda. (Grupo Magnesita S/A) iniciou a pesqui-
sa para cromita no Complexo Quatipuru, selecio- NATUREZA E ORIGEM DOS OFIOLITOS DA FAIXA
nando duas áreas principais, denominadas de ARAGUAIA
Bananal e Atoleiro. Outras ocorrências de cromita
estão localizadas no Morro do Avião, Jenipapo e As primeiras descrições das rochas máfico-ul-
Morro Grande, onde neste último foi investigada tramáficas embutidas na Faixa Araguaia como cor-
em maior detalhe. pos ofiolíticos devem-se a Trouw et al. (1976) e
Nos anos de 1999 e 2000 a Mineração Jenipa- Hasui et al. (1977). Outros trabalhos tais como
po, empresa subsidiária do grupo australiano Wes- Abreu (1978), Gorayeb (1981), Cunha et al. (1981),
tern Mining Corporation (WMC), executou trabalhos Figueiredo et al. (1994), Osborne (2001), Paixão &
de campo na região de Conceição do Araguaia, Nilson (2002) e Kotschoubey et al. (2005), identifi-
tendo como base dados geofísicos e geoquímicos caram e descreveram novas ocorrências de cor-
do Programa Geofísico Brasil-Canadá (PGBC), que pos ofiolíticos, demonstrando que os mesmos dis-
foram complementados por aerogeofísica de deta- põem-se por mais de 500 km na direção N-S, num
lhe, geofísica terrestre, geoquímica e mapeamen- arranjo do tipo mélange, em meio as rochas me-
to geológico. Tais trabalhos resultaram na defini- tassedimentares do Grupo Tocantins, próximos à
ção do alvo de São Martim, onde sondagens pos- borda leste do Cráton Amazônico (Fig. 1). Os cor-
teriores identificaram mineralização de metais bá- pos ofiolíticos estão em sua maioria em conformi-
sicos (Cu, Zn e Pb) em meio a rochas do Grupo dade estrutural com as rochas encaixantes e seus
Tocantins (Osborne 2001, Villas et al. 2007). eixos maiores estão alinhados segundo norte-sul
Entre os anos de 2003 e 2007 os altos preços e com mergulhos aproximadamente para leste.
do níquel no mercado internacional desencadea- Nas folhas Araguaína (SB.22-Z-D) e Xambioá
ram a retomada das pesquisas em corpos ultra- (SB-22-Z-B) os principais corpos são referidos
máficos similares ao complexo Quatipuru na Faixa como das serras do Tapa, Água Fria, do Pati, Cus-
Araguaia, propiciando a reavaliação de antigos ta-me-vê e os morros do Avião e do Jenipapo, en-
depósitos, tais como o próprio Quatipuru, Morro quanto que nas folhas Conceição do Araguaia
do Avião e Morro do Jenipapo, além de novas des- (SB.22-X-B) e Araguacema (SB.22-X-A) os princi-
cobertas como as ocorrências da Serra do Tapa, pais corpos são Couto Magalhães Velho, Pau Fer-
Vila Oito e Vale dos Sonhos, estas últimas com rado, Olho D’Água, morros do Jacu, Salto, Serri-
maior potencial para serem explorados. nha, Grande e do Agostinho, estes no estado do
A maioria dos depósitos e/ou mineralizações Tocantins, e a serra do Quatipuru, localizada no
descritas acima estão geneticamente relacionadas sudeste do Pará.
a complexos ofiolíticos e suas rochas encaixantes, As melhores exposições destes corpos ofiolíti-
conferindo a esta associação petrotectônica a cos são representadas pela Serra do Tapa, Com-

Tabela 1 – Tipologia dos depósitos minerais presentes na Faixa Araguaia.

470
Marco Antônio Pires Paixão & Paulo Sérgio de Sousa Gorayeb

plexo Quatipuru e Morro do Agostinho (Fig. 2), que nito (Ash 2001a), que tem sido interpretada como
foram alvos de estudos detalhados por Gorayeb produto de reação entre rochas encaixantes e ro-
(1989), Paixão & Nilson (2002), Kotschoubey et al. chas ultramáficas, desenvolvida durante a obduc-
(2005), Paixão et al. (2008) e Paixão (2009). De ção dos corpos ofiolíticos (Paixão 2009).
forma geral os corpos ultramáficos são represen- Paixão & Nilson (2002) e Paixão et al. (2008)
tados por serpentinitos, e subordinadamente por apresentam de forma mais pormenorizada as re-
talco-clorita xistos, esteatitos, clorita xistos e clo- lações e evolução geológica dos corpos ofiolíticos,
rita tremolititos. Estes últimos também ocorrem em especial do Complexo Quatipuru e do Morro
como envelopes dos corpos maiores de serpenti- do Agostinho (Fig. 2). Os serpentinitos destes cor-
nito, por vezes associados com rochas sílico-he- pos ofiolíticos correspondem a peridotitos de manto
matíticas ou sílico-carbonatadas (e. g., morro do residual, cujos protólitos são representados pre-
Jenipapo, Serra do Tapa, Quatipuru), e formam es- dominantemente por harzburgito, e subordinada-
pessos envelopes ao redor do núcleo de rochas mente, por dunito, num arranjo interacamadado.
ultramáficas (Araújo & Olivatti 1994, Gorayeb Estes peridotitos são encaixantes de uma suíte
1989, Paixão & Nilson 2002). Esta configuração de de sills e diques máfico-ultramáficos, de composi-
rochas sílico-hematíticas e/ou sílico-carbonatadas, ção piroxenítica e gabróica, além de conterem pods
associadas aos xistos ultramáficos, caracteriza de cromitito e feições de impregnação de magmas
uma associação de rochas denominada de listwa- (Fig. 3A), cujas características são comparáveis

Figura 2 – Mapa de localização do Complexo Quatipuru e outros fragmentos ofiolíticos menores da porção
centro sul da Faixa Araguaia. Adaptado de Gorayeb (1989).

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Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Faixa Araguaia

àquelas da zona de transição de Moho (Boudier & possui duas interpretações em termos de sua
Nicolas 1995). Na localidade do Morro do Agosti- magnitude. A primeira consistiria numa bacia res-
nho os peridotitos mantélicos estão posicionados trita, do tipo Mar Vermelho (Kotschoubey et al.
ao lado de pillow-lavas basálticas, arranjo este pos- 2005), e a outra numa bacia oceânica evoluída
sivelmente herdado ainda em ambiente oceânico, (Moura et al. 2008, Macambira et al. 2010).
associado a zonas de falhas transformantes (Pai-
xão & Nilson 2002, Paixão 2009). Esta mesma as- MINERALIZAÇÃO SULFETADA DE Cu-Pb-Zn
sociação foi encontrada na Serra do Tapa (Kots-
choubey et al. 2005), onde ocorrem exposições de Entre os anos de 1999 e 2000 a Mineração Je-
basalto almofadado (Fig. 3B), atualmente explo- nipapo S/A, pertencente ao grupo australiano
radas como rochas ornamentais. Western Mining Corporation (WMC), tendo como
Dados de geoquímica isotópica mostram valo- base a integração de dados geofísicos e geoquí-
res positivos de εNd para as pillow-lavas basálticas micos do Programa Geofísico Brasil-Canadá
e para os diques gabróicos, evidenciando sua na- (PGBC), executou trabalhos de pesquisa e pros-
tureza juvenil, o que aliada ao caráter toleítico dos pecção mineral na região de Conceição do Ara-
mesmos, demonstra um ambiente de zona de ex- guaia (PA), representados por aerogeofísica, ge-
pansão oceânica para sua gênese (Paixão 2009). ofísica terrestre, geoquímica e mapeamento geo-
Datação por meio de isócrona Sm-Nd realizada em lógico. Estes trabalhos resultaram na definição do
amostras de diabásio e olivina gabro, pertencen- alvo São Martim (Fig. 2), localizado no domínio da
tes a suíte de sills e diques encaixados nos peri- Formação Couto Magalhães (Grupo Tocantins),
dotitos mantélicos do complexo Quatipuru, apon- onde três ocorrências de gossans denominadas de
tou a idade de 757±49 Ma, que Paixão et al. (2008) Veraldo, Santa Rita e Oeste, destacaram anomali-
interpretam como a da oceanização da Faixa Ara- as para Cu e Zn (Osborne 2001, Villas et al. 2007).
guaia. Anomalias geoquímicas destes mesmos elementos
Soleiras de basalto/diabásio em meio às rochas foram identificadas na região de Arapoema (TO),
metassedimentares do Grupo Tocantins foram des- associadas a camadas de jaspilitos, porém não fo-
critas na porção setentrional da Faixa Araguaia ram investigadas em detalhe (CPRM 1976).
(Trouw et al. 1976, Ricci & Macambira 2010) e tam-
bém em furos no alvo São Martim (Moura et al. Descrição da mineralização
2008, Villas et al. 2007), correspondendo a com-
plexos sill-sedimento, que podem representar Os gossans do alvo São Martim localizam-se na
manifestações magmáticas preliminares em baci- borda de fortes anomalias magnéticas e foram in-
as oceânicas embrionárias (e.g. Guayma Basin, vestigados por sondagem diamantada (Fig. 4),
Califórnia). resultando na identificação da mineralização sul-
O estágio de oceanização da Faixa Araguaia fetada estratiforme de São Martim (Osborne 2001,

Figura 3 – Estruturas magmáticas em rochas ofiolíticas da Faixa Araguaia. A) - Lente de dunito em meio a
harzburgito (extremidade superior) que mostra feição de impregnação de magma basáltico dada por banda-
mento fino e descontínuo constituído de plagioclásio e clinopiroxênio (complexo Quatipuru). B) - Afloramento
de basalto almofadado da Serra do Tapa.

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Marco Antônio Pires Paixão & Paulo Sérgio de Sousa Gorayeb

Figura 4 – Seções geológicas esquemáticas do alvo São Martim. Modificado de Villas et al. (2007).

Villas et al. 2007). As sondagens também contri- encaixada nos membros intermediário e superior,
buíram para o conhecimento geológico desta por- principalmente em ruditos e diamictitos negros, e
ção da Faixa Araguaia, carente de afloramentos subordinadamente em siltitos e calcários, ambos
devido ao intenso intemperismo na planície do Rio conjuntos comumente entrecortados por soleiras
Araguaia. de diabásio com 0,8 a 6 m de espessura. A mine-
Descrições geológicas de maior detalhe nos ralização consiste de leitos de espessura centi-
testemunhos de sondagem revelaram que as ro- métrica, constituídos por pirita, calcopirita, esfale-
chas sedimentares da área de São Martim corres- rita e galena, segundo a ordem de abundância,
pondem a uma sequência siliciclástica e carboná- onde tais minerais ocorrem de forma dissemina-
tica, depositada em ambiente de talude e assoa- da, e localmente, formam concentrações maciças.
lho oceânico (Nogueira et al. 2003, Villas et al. Os minerais de ganga são representados por
2007, Moura et al. 2008). Tal sequência foi dividida quartzo, barita, calcita, F-apatita, gipsita, clorita,
por Nogueira et al. (2003) em três membros lito- estilpnomelano, alanita, xenotímio, albita e titani-
estratigráficos: (i) membro inferior, constituído pre- ta. Detalhes da petrografia das zonas mineraliza-
dominantemente por calcários, (ii) membro inter- das podem ser verificados em Villas et al. (2007).
mediário, constituído exclusivamente por rochas
siliciclásticas finas e (iii) membro superior, composto Interpretação da mineralização
por rochas rudáceas carbonáticas e siliciclásticas
(finas a grossas). A mineralização de São Martim foi caracteriza-
Segundo Villas et al. (2007) a mineralização está da por Villas et al. (2007) como do tipo Kupferschi-

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Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Faixa Araguaia

efer, embora os autores apontem alguns desvios hidrotermais associados que seriam a fonte para
deste modelo, principalmente no que se refere à formação de hidróxidos e sulfetos metálicos (Lons-
ocorrência mais restrita, maior espessura dos lei- dale & Lawver 1980, Einsele 1985).
tos mineralizados, escassez de sulfetos de cobre O depósito de Rio Tinto na Espanha tem sido
e de outros metais-base, bem como baixos teores interpretado como um antigo complexo sill-sedi-
de metais preciosos (Au e EGP). Na definição de mento (Boulter 1993), e caracteristicamente, apre-
mineralização do tipo Kupferschiefer são descritas senta a coexistência de magma máfico e ácido, fato
finas camadas alternadas de calcário, argila e este similar ao observado na área de São Martim,
matéria orgânica, associadas ao ambiente de tran- onde rochas piroclásticas riolíticas foram descri-
sição continental-marinho, marcado por depósitos tas por Osborne (2001) em leitos sobrejacentes à
de caráter transgressivo e regressivo (Evans mineralização sulfetada.
1993), além de conterem estruturas sedimenta-
res indicativas de deposição em águas rasas (Le- Guias de exploração e potencial para novos de-
febure & Alldrick 1996). A mineralização desse tipo pósitos
consiste principalmente de finos grãos de bornita,
calcocita, calcopirita, galena e esfalerita, e ocorre A presença de soleiras de basalto/diabásio em
de forma disseminada por toda a matriz da rocha. meio a rochas metassedimentares, ou complexo
O ambiente de talude e assoalho oceânico da sill-sedimento, é o metalocteto litológico de inte-
mineralização de São Martim (Nogueira et al. 2003), resse para zonas mineralizadas. Recentes descri-
entrecortado por soleiras de diabásio, contrasta ções de complexo sill-sedimento foram feitas por
com o modelo tipo Kupferschiefer sugerido por Vi- Ricci & Macambira (2010) na porção norte da Faixa
llas et al. (2007). Entretanto, com esses dados a Araguaia (região de Tucuruí), e devido a grande
hipótese de um típico complexo sill basáltico-sedi- extensão desta unidade geotectônica, inclusive sua
mento pode ser aventada (Fig. 5), com sistemas possivel continuidade com a Faixa Paraguai, abre

Figura 5 – Perfil de transição talude-fundo oceânico mostrando os vários tipos de sedimentos, vulcanismo e
ambientes de geração de depósitos de sulfeto maciço (modificado de Evans 1993). O detalhe mostra modelo
simplificado da evolução de um complexo sill-sedimento por injeções múltiplas e expansão de fundo oceânico
num estágio tipo golfo. Os números representam sucessão de eventos. Modificado de Einsele (1985).

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Marco Antônio Pires Paixão & Paulo Sérgio de Sousa Gorayeb

perspectivas para novas descobertas de comple- mes (cumulados) na sequência de câmara mag-
xos deste tipo. mática e zona de transição (Stowe 1994). Geral-
A assinatura geoquímica da mineralização do mente, os depósitos de cromita em ofiolitos cor-
alvo São Martim seria a presença de anomalias de respondem a uma aglomeração de pequenos cor-
Cu, Zn e Pb, tendo ainda como elementos “fareja- pos de cromitito num grande maciço (e. g. Maciço
dores” Ba, Co e Ag. A presença de pequenas con- de Tiebaghi, Nova Caledônia), ou pequenos cor-
centrações de U e Th em alguns intervalos mine- pos em fragmentos ofiolíticos num arranjo tipo
ralizados (Villas et al. 2007) sugere o uso destes mélange (e. g. Mongólia).
elementos como “farejadores” geoquímicos, bem Depósitos com mais de 10 Mt de cromita em
como geofísicos por meio de mapas de gamaes- complexos ofiolíticos são raros, embora no distri-
pectrometria (e.g., urânio, tório, U/Th e mapa ter- to de Kempirsai (Casaquistão) depósitos de dimen-
nário). sões de até 1.500 m de comprimento e 100 a 150
Levantamentos aeromagnetométricos regionais m de espessura, perfazem um total de mais de
com boa resolução seriam de interesse para a de- 100 Mt (Melcher et al. 1997). Tais depósitos cor-
tecção das soleiras de diabásio em meio às ro- respondem à maior reserva mundial e respondem
chas metassedimentares (complexo sill-sedimen- pelo segundo lugar na produção mundial de cro-
to) da Faixa Araguaia. No entanto, deve-se res- mo (Gonçalves 2007).
saltar que as referidas soleiras podem ter assina- As principais lavras de cromita nos corpos ofio-
tura magnética semelhante àquela dos diques de líticos da Faixa Araguaia estão dispersas em vári-
diabásio relacionados ao magmatismo basáltico da os fragmentos de peridotitos mantélicos, localiza-
Bacia do Parnaíba, de idade mais jovem (Jurássi- das principalmente no Morro Grande e no Comple-
co), o que pode gerar conflitos de interpretação. xo Quatipuru (Fig. 2), exploradas pela empresa
Olivatti & Figueiredo (2001), na folha Concei- Beta Mineração Ltda. (Grupo Magnesita). Entre-
ção do Araguaia, apontam áreas com anomalias tanto, outras ocorrências foram também cadastra-
de Cu, Pb e Zn em sedimento de corrente e asso- das no Morro do Avião e Morro do Jenipapo, po-
ciam tais anomalias à presença de diques de dia- rém sem atividades de explotação.
básio (Jurássico), porém chamam atenção para o
forte grau de laterização na área e consequente Descrição da mineralização
baixa informação geológica direta. Portanto, essa
informação potencializa a pesquisa em outras re- No Complexo Quatipuru foram identificadas
giões da Faixa Araguaia e deve-se considerar a duas áreas com potencial para cromita, uma de
possibilidade destas anomalias estarem relacio- caráter primário e outra secundário. As ocorrênci-
nadas a complexo sill-sedimento. as primárias localizam-se na região das cabecei-
Após a delimitação de alvos, métodos eletro- ras do rio Bananal, numa área de aproximadamen-
magnéticos e polarização induzida seriam impor- te 2.000 m2 (Fig. 6). Tais ocorrências foram inves-
tantes para a detecção de condutores, no caso tigadas por meio de trincheiras e furos de sonda-
sulfetos maciço e disseminado, respectivamente. gem, revelando que os corpos de cromitito cor-
A descoberta da mineralização de São Martim respondem a pods concordantes a subconcordan-
foi significativa e abre perspectivas para novas áre- tes com a estruturação da encaixante (harzburgi-
as de pesquisa e prospecção na porção ocidental to), com dimensões que variam de 1 a 10 m em
da Faixa Araguaia. Baseando-se em depósitos se- comprimento, 0,30 a 4,5 m de espessura e exten-
melhantes, tais como os do tipo Beshi (Hõy 1995), são ao longo do mergulho de 5 a 7,5 m (Relatório
o teor e tonelagem do minério podem ser variáveis interno – Beta Mineração Ltda.). Alguns pods re-
(<1 Mt até >100 Mt). velam a presença de bandamento cumulativo pri-
mário, feição descrita em outros ofiolitos (e. g. Se-
DEPÓSITOS DE CROMITA mail; Leblanc & Ceuleneer 1992), bem como enve-
lopes de dunito (Fig. 7A), interpretados como pro-
Os depósitos de cromita ocorrem em dois lo- duto da interação de magmas ascendentes com o
cais distintos da pseudoestratigrafia de comple- harzburgito encaixante, durante a formação do pod
xos ofiolíticos, na forma de pods na seção mantéli- de cromitito (Lago et al. 1982, Zhou et al. 1994).
ca (textura nodular) ou como camadas estratifor- As ocorrências secundárias de cromita encon-

475
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Faixa Araguaia

Figura 6 – Mapa geológico do Complexo Quatipuru apresentando as principais áreas de ocorrência de cromi-
titos, além de seção tipo esquemática do complexo, que mostra o envelope de listwanito que proporciona
sustentação da serra. Modificado de Paixão (2009).

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Marco Antônio Pires Paixão & Paulo Sérgio de Sousa Gorayeb

Figura 7 - Aspectos estruturais e texturais dos cromititos do Complexo Quatipuru. A) - Envelope dunítico
(coloração clara) em cromitito nodular. B) - Cromitito maciço. C) - Cromitito nodular com variações na forma
e dimensões dos nódulos. D) - Cromitito disseminado. E) - Cromitito nodular com feição de carga caracte-
rizada pelo limite superior curvo do grão (indicada pela seta). F) - Cromitito com textura tipo schlieren.

tram-se em elúvio e colúvio na região do Atoleiro, Alguns grãos isolados, de menor dimensão (<1
na maioria das vezes sem associação com ocor- mm) possuem limites bem definidos com forma
rências primárias, onde os blocos são angulosos subédrica ou euédrica. Os agregados e grãos iso-
e alcançam até 1 m em dimensão (Relatório inter- lados mostram uma orientação preferencial defi-
no – Beta Mineração Ltda.). nindo um plano de foliação.
Os minerais de ganga alcançam 1% da compo-
Petrografia e química mineral dos cromititos sição modal e ocorrem como filmes na foliação ou
preenchem fraturas. Grãos de magnetita e pirita
Os tipos texturais foram classificados em cro- por vezes ocorrem em fraturas.
mitito maciço (Fig. 7B), cromitito nodular (Fig. 7C) O cromitito nodular é caracterizado por diferen-
e cromitito disseminado (Fig. 7D). Algumas amos- ças nas dimensões dos eixos principais dos nódu-
tras de cromitito maciço em seções polidas são los, os quais variam de um máximo de 6 x 4,5 x 2
constituídas por agregados de grãos bastante fra- cm a um mínimo de 1 x 0,5 x 0,5 cm e possuem
turados, onde a reconstituição dos limites destes forma discoidal e arredondada. Estruturalmente,
agregados mostra a forma de nódulos elipsoidais. alguns nódulos maiores apresentam orientação

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Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Faixa Araguaia

preferencial de seu eixo maior, enquanto que ou- produtos de reação entre fusões magmáticas pre-
tros exibem limites curvos originados pela pres- coces e os peridotitos residuais (Zhou et al. 1994).
são de carga entre nódulos, indicando que duran- Além disso, a numerosa presença de lentes de
te o seu assentamento gravitacional estes ainda dunito em meio ao harzburgito no Complexo Qua-
se encontravam em estado plástico (Fig. 7E). tipuru sugerem que os corpos de cromitito se lo-
O cromitito disseminado apresenta tipos em que calizam na base da Zona de Transição de Moho,
textura nodular perfaz mais de 50% de matriz, conforme proposto por Paixão & Nilson (2001).
amostras onde os cristais de cromita possuem vér-
tices e hábito quadrático, que o difere do aspecto Guias de exploração
arredondado da textura nodular. Outra variação
textural é o tipo schlieren, caracterizado pelo esti- Os fragmentos ofiolíticos de natureza peridotí-
ramento dos nódulos (Fig. 7F), por vezes gerando tica na Faixa Araguaia são predominantemente
um bandamento definido pela intercalação de cro- rochas mantélicas, o que torna a associação har-
mita e serpentina. Ao microscópio o tipo dissemi- zburgito-dunito mais promissora, devido sua lo-
nado consiste de grãos com fraturas preenchidas calização corresponder à Zona de Transição de
com serpentina e pirita. Moho, onde estão localizadas as principais ocor-
Algumas bordas dos grãos e/ou nódulos nas rências de cromita. As ocorrências de cromita são
texturas nodular e disseminada apresentam lame- mais facilmente identificadas pelo mapeamento ge-
las de alteração, o que não ocorre nas amostras ológico, devido ao fácil reconhecimento deste mi-
com textura maciça, indicando que a porcentagem neral dado por sua coloração preta e alta densi-
de minerais de ganga é fator determinante para a
formação de bordas de alteração, tais como ferri-
cromita e magnetita (Paixão 2009).
Estudos de química mineral nos cromititos do
Complexo Quatipuru e Morro Grande (Kotschou-
bey et al. 2005, Paixão et al. 2008) confirmam a
natureza podiforme destas ocorrências (Fig. 8). Os
valores de Cr2O3, Al2O3 e FeO apontam que tais cro-
mitas são predominantemente do tipo refratário
no Complexo Quatipuru (mínimo de 25% de Al2O3,
mínimo de 60% de Cr2O3+Al2O3 e máximo de 15%
de FeO), enquanto que no Morro Grande são do
tipo metalúrgico (45-60% Cr2O3 e razão Cr/Fe en-
tre 2,8 e 4,3). O conteúdo de elementos do grupo
da platina da platina (EGP) é baixo, sendo os mai-
ores valores encontrados em amostras de minério
maciço, cujo somatório dos mesmos não ultrapas-
sa 180 ppb (Paixão 2009).

Aspectos genéticos dos cromititos

Os cromititos apresentam características típi- Figura 8 – Gráfico Cr#(Cr/Cr+Al) versus Mg#(Mg/


cas daqueles de complexos ofiolíticos tais como Mg+Fe) para cromitito ofiolítico (campo de linha sóli-
geometria de pods, textura nodular, envelope du- da) e de intrusões estratiformes (campo de linha tra-
cejada), que apresenta as tendências de diferencia-
nítico e quimismo da cromita. Os diversos tipos tex-
ção de cromita dos complexos estratiformes de
turais, variadas proporções de matriz silicática e Bushveld (B) e Stillwater (S); dados compilados de
estruturas de sobrecarga observados nas amos- Wall (1975) e Jackson (1969). Cromititos ofiolíticos
tras estudadas, indicam que processos de fracio- da Faixa Araguaia: losango sólido= Morro Grande; qua-
drado sólido= nodular do Complexo Quatipuru (CQ);
namento magmático foram operantes. As relações
triângulo aberto = maciço do CQ e círculo sólido = dis-
estruturais e texturais dos cromititos e dunitos seminado do CQ. Campo de cromitito ofiolítico de
sugerem que estes correspondem aos primeiros Thayer (1970).

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Marco Antônio Pires Paixão & Paulo Sérgio de Sousa Gorayeb

dade (4,1 a 5,1). Esta última característica pode sentam viabilidade econômica no contexto atual,
ser utilizada na prospecção geofísica pelo método e nessa perspectiva o potencial para novas des-
gravimétrico. Métodos magnéticos não geram bons cobertas deste tipo de depósito é pequeno, tan-
contrastes entre cromititos e rochas encaixantes, to para depósitos primários quanto secundários.
devido frequente serpentinização das rochas ul-
tramáficas e/ou presença de zonas de falhas, onde DEPÓSITOS DE NÍQUEL LATERÍTICO
a magnetita é um produto comum, obliterando o
potencial deste método. Na prospecção geoquí- Os depósitos de níquel laterítico em terrenos
mica, indubitavelmente, o elemento cromo é o guia acrescionários respondem por cerca de 85% dos
principal para prospecção, tendo que ser realça- recursos do metal no mundo, provenientes prin-
do para valores acima do background das rochas cipalmente dos depósitos de Nova Caledônia,
ultramáficas. Cuba, Filipinas, Austrália e Indonésia, entre ou-
No Complexo Quatipuru, na região do Atoleiro, tros (Brand et al. 1998). A localização de tais de-
o método de eletrorresistividade com arranjo di- pósitos concentra-se entre os paralelos 22o a nor-
polo-dipolo foi utilizado sobre as ocorrências de te e sul do Equador (Fig. 9), intimamente ligados
cromita secundárias (elúvio-colúvio), demonstran- a zonas de clima equatorial a subequatorial (Eli-
do a associação de baixa resistividade com as ocor- as 2002).
rências de cromita (Beta Mineração Ltda. – relató- No Brasil, os principais depósitos foram classi-
rio inédito). Isto se deve provavelmente ao realce ficados por Barros de Oliveira et al. (1992), e pos-
entre os fragmentos de cromita e o solo, oriundo teriormente por Ferreira Filho (2010), como dis-
da alteração das rochas ultramáficas. criminado na Tabela 2. A localização dos princi-
pais depósitos brasileiros consta da Figura 9.
Aspectos econômicos dos depósitos e potencial Os depósitos de níquel laterítico da região
para novas descobertas ocorrem em maciços serpentinizados do tipo al-
pino, isto é, ofiolitos. Informações sobre tais de-
No Complexo Quatipuru, na área de ocorrência pósitos provêm do trabalho pioneiro de Cordeiro
primária de cromita (região do Bananal), foi cuba- & McCandless (1976) e de relatórios de empre-
da uma reserva de 2.193 t, sendo apenas 11% sas privadas, elaborados entre 2005 e 2010, como
aproveitável (aprox. 240 t), enquanto que na re- releases para bolsas de investidores, ou para
gião do Atoleiro (ocorrência secundária) foi cuba- atendimento de exigências do DNPM (relatórios
da uma reserva total de 404 t, com aproveitamen- parciais de pesquisa). Nos relatórios é possível
to de 253 t (aprox. 60%). O reduzido volume des- identificar quatro áreas com depósitos de níquel
tes depósitos, a distância entre as ocorrências e que são, de sul para norte: Serra do Quatipuru,
a necessidade de uma lavra mecanizada e apoio Vila Oito, Vale dos Sonhos e Serra do Tapa (Lara
de engenharia foram apontados como fatores crí- 2010).
ticos para a sua viabilidade econômica(relatório As mineralizações descritas em alguns desses
interno da Beta Mineração Ltda). depósitos não traduzem o real potencial destes
Visto que o Complexo Quatipuru corresponde corpos ofiolíticos, devido ao desconhecimento da
a um dos maiores complexos ofiolíticos da Faixa área total da jazida (alguns limites indefinidos),
Araguaia, e seus depósitos de cromita não apre- nem tampouco contemplam análises mineralógi-

Tabela 2 – Tipos de classificação dos depósitos de níquel laterítico do Brasil.

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Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Faixa Araguaia

Figura 9 – Mapa de localização dos principais depósitos de níquel laterítico no Brasil e no mundo. Modificado
de Elias (2001).

cas e/ou petrográficas que auxiliem no entendi- cobertura laterítica em regiões de baixada (Fig.
mento da gênese e natureza dos horizontes mi- 10B), geralmente em cotas inferiores a 120 m, a
neralizados e estéreis do perfil laterítico. exemplo dos depósitos Vale dos Sonhos e Vila Oito.

Geologia e geomorfologia Descrição dos perfis lateríticos

Os corpos ofiolíticos da Faixa Araguaia mostram As descrições dos perfis lateríticos elaboradas
arranjo do tipo mélange em meio às rochas me- para os depósitos Serra do Tapa, Vale dos Sonhos,
tassedimentares encaixantes, onde os corpos se Quatipuru e Vila Oito, embora diferindo em algu-
alongam segundo norte-sul, de 3 a 40 km de ex- mas classificações técnicas, demonstram uma iden-
tensão e centenas de metros a 1,5 km de largura, tidade para o perfil laterítico de tais depósitos como
e possuem mergulhos em torno de 45° para les- do tipo silicático (Fig. 12).
te. Alguns corpos possuem espessos envelopes Dentre os corpos ofiolíticos constituídos por
de listwanito em torno do núcleo de rochas ultra- serpentinito e com mineralização de níquel laterí-
máficas (Fig. 10A e Fig. 6), onde a ausência ou tico, o Complexo Quatipuru é o mais bem estuda-
presença deste envelope tem papel no condicio- do em termos dos protólitos ultramáficos (Gorayeb
namento dos depósitos de níquel laterítico em dois 1989, Paixão & Nilson 2002), onde são reconheci-
níveis topográficos. A presença destes envelopes dos protólitos harzburgítico e dunítico, sendo o
nos complexos Quatipuru e Serra do Tapa permi- primeiro predominante (Fig. 10C). Os dados de li-
tiu que perfis de intemperismo ricos em níquel se togeoquímica de algumas dessas amostras (Pai-
desenvolvessem em topos de serra e vales inter- xão 2009) apresentam valores de níquel maiores
montanos, com cotas superiores a 400 m (Fig. 11). que o background de rochas ultramáficas não alte-
Por outro lado, a ausência ou pequena expressão radas (2.000 a 4.000 ppm; Golightly 1981), evi-
desses envelopes faz com que os corpos ofiolíti- denciando enriquecimento supergênico de níquel
cos sustentem morrotes, ou mesmo soterrados sob na transição rocha sã/saprólito (Tabela 3). Rocha

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Marco Antônio Pires Paixão & Paulo Sérgio de Sousa Gorayeb

Figura 10 - A) - Visão de sul para norte do Complexo Quatipuru, mostrando porção ultramáfica caracterizada
por vegetação mais rala (porção ocidental), e o envelope de listwanito, com vegetação mais desenvolvida
(lado oriental). B) - Visão de platô laterítico na região de Vila Oito. C) - Feição de afloramento de harzburgito
cortado por fino dique de gabro. D) - Bloco de birbirito no Compleox Quatipuru. E) - Estrutura do tipo foliação
de colapso, desenvolvida em nível laterítico do perfil de intemperismo, mostrando grãos de calcedônia em
meio a massa limonítica. F) - Detalhe de caixa de testemunhos mostrando a presença de boulders de
serpentinito em meio a porções saprolíticas. G) - Minério do tipo limonítico (esquerda) e tipo saprolítico
(direita) da Serra do Tapa. H) - Minério saprolítico da região de Vila Oito. Fotos F e G gentilmente cedidas por
Xstrata Nickel. Fotos B e H obtidas em http://www.laraexploration.com/araguaia-nickel.

481
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Faixa Araguaia

Figura 11 – Modelo digital de terreno combinado com imagem de satélite Landsat RGB 453, com destaque
para a localização do depósito Serra do Tapa em cotas maiores do que 400 m, em situação similar às
mineralizações presentes no complexo Quatipuru. A localização do depósito Vale dos Sonhos situa-se em
cotas topográficas mais baixas comparáveis ao depósito Vila Oito. Compilado e modificado de http://
www.ccnmatthews.com/docs/2006-PDAC_Araguaia-Ni-Laterite-Brazil.pdf.

Figura 12 – Na esquerda, perfil esquemático de níquel laterítico do tipo silicático de acordo com Elias (2002)
e na direita perfil do Complexo Quatipuru, segundo Cordeiro & McCandless (1976).

do tipo birbirito, que compreende um produto re- ram o perfil laterítico (Fig. 12), cuja espessura
sistente à erosão, proveniente do intemperismo média da frente de alteração intempérica nos po-
de peridotito e composto principalmente por sílica ços mineralizados é de 5,5 m, porém pode ser
e óxido-hidróxido de ferro (cf. Duparc et al. 1927, bastante variável (Cordeiro & McCandless 1976).
apud Eggleton 2001), tem aspecto venulado em Estruturas do tipo foliação de colapso (Fig. 10E)
afloramentos (Fig. 10D). foram identificadas em blocos soltos no solo, e são
No depósito Quatipuru foram realizados 150 registros da ação da pressão de soterramento que
poços de pesquisa que, de maneira geral, defini- o material limonítico superior exerceu sobre o ma-

482
Marco Antônio Pires Paixão & Paulo Sérgio de Sousa Gorayeb

Tabela 3 – Composição química de rochas ultramáfi- zada é comum (Fig. 10F).


cas mostrando valores enriquecidos em níquel, pró-
No depósito Vale dos Sonhos (Fig. 13) foi deli-
ximos daqueles de minério saprolítico. Fonte: Paixão
(2009) e Gorayeb (1989). mitada uma zona mineralizada em níquel lateríti-
co de 4 km, orientada na direção N-NW, com lar-
gura de 600 a 1200 m e profundidade de cobertu-
ra entre 0 e 19 m, com média em torno de 5 m
(Falconbridge 2006).
A mineralização na Serra do Tapa e Vale dos
Sonhos é caracterizada como do tipo saprolítica e
transicional (valores de Fe e razão Si/Mg localiza-
dos na interface entre o minério limonítico e sa-
prolítico), contendo pequena parte de material li-
monítico, aproximadamente 12% (Fig. 10G). Na
Serra do Tapa, a espessura dos intervalos mine-
ralizados com cut-off de 1% de Ni varia de 2 a 84
m, com média de 18 m. Na zona saprolítica, inter-
valo de 13,5 m apresenta teor de 2,39% de Ni,
SiO2 de 47,35%, MgO 9,77% e Co de 0,06%; uma
amostra de 85 cm apresentou teor de cerca de
8% de Ni. No Vale dos Sonhos a espessura do in-
tervalo mineralizado com cut-off de 1% varia de 2
a 21,5 m, com média de 8,1 m (Falconbridge 2005),
terial subjacente (Golightly 2010a). mas teores de até 4,5% de Ni foram obtidos. A
Na Serra do Tapa o depósito laterítico esten- densidade média para as várias fácies de minério
de-se por 5 km preferencialmente na direção nor- é de 1,2 g/cm3 (Falconbridge 2005, 2006).
te-sul, com largura de 800 a 1500 m, sendo tais O depósito Vila Oito é orientado na direção N-S
dimensões ainda não totalmente estabelecidas por cerca de 1500 m, com largura de 500 a 800 m
(Falconbridge 2005). Na parte norte do depósito, na direção E-W. Com cut-off de 0,9 % de Ni, a zona
o perfil laterítico localmente excede mais de 100 principal de minério (Fig. 10H) varia de 1 a 23 m
m de espessura, com cobertura que varia de 0 a em espessura (Lara 2010).
49 m, com média em torno de 9 m. A presença de Os recursos para os depósitos da Serra do Tapa
boulders de serpentinito em meio à zona minerali- e Vale dos Sonhos totalizam 104,7 Mt @ 1,33% de

Figura 13 – Seção geológica do depósito Vale dos Sonhos, modificado de Xstrata Nickel com permissão.

483
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Faixa Araguaia

Ni, podendo ter um adicional 18 Mt @ 1,3% de Ni hierarquia ao potencial metalogenético dos diver-
(Xstrata 2009, 2010), ou seja totalizando 122,7 sos corpos ofiolíticos da Faixa. Neste sentido, os
Mt @ 1,3% de Ni. Recentes relatórios indicam re- corpos de clorita xistos apresentariam baixo po-
cursos inferidos de 76,6 Mt @ 1,35% de Ni (cf. Ca- tencial, a exemplo dos de Pau Ferrado, Serrinha,
nadian National Instrument NI 43101) para a re- Olho D’Água e Couto Magalhães, enquanto os for-
gião de Pequizeiro (Horizonte Minerals 2011), en- mados principalmente por serpentinitos apresen-
quanto outros recursos ainda não estabelecidos tariam maior potencial para desenvolver enrique-
por normas internacionais (JORC ou NI 43101), cimento supergênico em Ni, como Quatipuru, Mor-
para os depósitos de Vila Oito e Quatipuru, po- ro Grande e Serra do Tapa.
dem aumentar no mínimo 10% os recursos pré- Os métodos de exploração para corpos ultra-
estabelecidos. máficos potenciais para Ni laterítico em termos de
Do exposto se conclui que os depósitos de Ni reconhecimento regional são levantamentos ae-
laterítico da Faixa Araguaia são do tipo silicático rogeofísicos e geoquímicos. Na aerogeofísica, a
(Brand et al. 1998), porém com algumas caracte- combinação de métodos magnetométricos e ga-
rísticas do tipo transicional. Essas características maespectrométricos para reconhecer áreas com
são comparáveis aos depósitos de Nova Caledô- anomalias magnéticas positivas, coincidentes com
nia (Golightly 1981) e República Dominicana (Lewis baixos na contagem total de gama, é de interes-
et al. 2006), onde o processamento de minério é se para identificar áreas potenciais. Em termos
pirometalúrgico para obter liga de Fe-Ni ou mate geoquímicos a amostragens de sedimento de cor-
de sulfeto, posteriormente tratado em rota con- rente, solo e térmitas, usando elementos quími-
vencional para sulfeto (Elias 2002). cos “farejadores” clássicos para rochas ultramáfi-
cad, tais como Ni, Cu, Co, Cr, além de EGP são in-
Idade das rochas encaixantes, hospedeiras e da dicativos para a descoberta de ocorrências e (ou)
mineralização depósitos sob coberturas superficiais.
Detectados os alvos regionais, amostragem em
Os depósitos de níquel laterítico até o presen- linhas de solo e posterior sondagem a trado são
te não foram datados, mas a compilação e inter- reveladores de anomalias de Ni e de espessuras
pretação de dados de diversos autores feita por de perfis de intemperismo, bem como de sua na-
Golightly (2010) aponta que a sua formação na tureza (limonítico ou saprolítico). No entanto, o
Faixa Araguaia ocorreu entre o Cretáceo tardio e teste final para determinação da extensão das
o Terciário médio (70–40 Ma), intervalo coinciden- zonas mineralizadas deve ser feito com sondagem
te com o desenvolvimento das superfícies Sul Ame- diamantada, visando principalmente atender às
ricana e Velhas. Tais depósitos resultariam de mu- normas internacionais de auditoria (JORC code).
danças das condições de clima árido para úmido,
durante o período supracitado, o que foi determi- DEPÓSITOS DE OURO
nante também para a formação dos depósitos lo-
calizados no Cráton Amazônico, a exemplo dos Depósitos de ouro podem ser encontrados em
depósitos de Vermelho, Jacaré e Onça-Puma (Bar- sequências ofiolíticas, como por exemplo, na Co-
ros de Oliveira et al. 1992, Golightly 2010b). lumbia Britânica (Canadá), onde tais depósitos
respondem pela principal produção de ouro da-
Guias de exploração quela região (Ash 2001b). O ouro ocorre em veios
de quartzo e hospeda-se geralmente em rochas
Os corpos ofiolíticos da Faixa Araguaia comu- máficas, tais como sheeted dykes e basaltos, além
mente possuem zonação litológica dada por um de ocorrências em intercalações de rochas máfi-
núcleo de serpentinito e/ou peridotito serpentini- cas e sedimentos (Ash 2001b). Na maioria dos
zado, envolto por esteatito, talco xisto, tremolita- casos rochas ultramáficas carbonatizadas (listwa-
actinolita xisto, clorita xisto e listwanito (Gorayeb nitos) estão associadas aos principais depósitos,
1989, Paixão 2009). Os silicatos do grupo da ser- porém não se entende se tais rochas exercem um
pentina são os que abrigam maior quantidade de trap químico e/ou estrutural.
Ni em sua estrutura, seguidos pelo talco, clorita e Na Faixa Araguaia, as descrições de minerali-
sepiolita (Brand et al. 1998), o que confere uma zações de ouro resumem-se ao trabalho de Oli-

484
Marco Antônio Pires Paixão & Paulo Sérgio de Sousa Gorayeb

vatti & Araújo (2001). Tais autores descrevem as


mineralizações primárias como disseminações nos Posteriormente, o processo de obducção da litos-
quartzo-clorita xistos da Formação Pequizeiro, fera oceânica gerou envelopes de listwanito ao
concentrando-se em bolsões nestas rochas quan- redor de grandes núcleos de serpentinitos, tais
do alteradas, e em veios de quartzo cortando as como Serra do Tapa e Quatipuru, propiciando a
preservação de perfis lateríticos enriquecidos em
mesmas, tendo sido exploradas por meio de ga-
níquel, desenvolvidos durante duas principais su-
rimpos desde a década de 80. Os principais ga-
perfícies de aplainamento regional, respectivamen-
rimpos são localizados a norte da rodovia TO-382,
te, Sul Americana e Velhas.
na região do rio Cabiruru, representados pelos
A pesquisa e prospecção para novas descober-
garimpos Minuano ou Dona Maria, Da Vinte e Mata
tas de mineralizações e (ou) depósitos na Faixa
Verde, além do garimpo do Grim, situado na fa-
Araguaia deve levar em conta analogias com pro-
zenda Araguaia, aproximadamente 8 km a sul de
cessos e mineralizações que ocorrem em fundo
Arapoema. Nesses garimpos, o clorita xisto alte-
oceânico moderno, bem como as possibilidades de
rado e veios de quartzo mineralizados são esca-
depósitos formados durante o processo de oro-
vados em catas e depois moídos em pequenos
gênese, como os depósitos de sulfeto de Cu-Co-
moinhos, onde o produto desta moagem é desla-
Zn-Ag e Au do tipo Outokumpu (Peltonen et al. 2008)
mado e o concentrado apurado na bateia, para
e ouro epigenético (Groves et al. 1998).
em seguida ser amalgamado.
O teor de ouro nas rochas intemperizadas e
Agradecimentos Aos geólogos Elson Paiva de
veios de quartzo alcança 6 g/t, enquanto nas ro-
Oliveira pelas críticas, sugestões e revisão do tex-
chas frescas é baixo (<1g/t), não apresentando
to, e a Ricardo de Freitas Lopes e Paul Goligthly
interesse para os garimpeiros. Na região desses
pelos esclarecimentos e contribuições sobre níquel
garimpos o ouro é também extraído nos colúvios
laterítico. Ao geólogo Felisberto Castro da Xstrata
e nas aluviões (Olivatti & Araújo 2001).
Nickel Brazil pela disponibilização de imagens e fi-
Devido à ausência de estudos detalhados nas
guras dos depósitos Serra do Tapa e Vale dos So-
mineralizações de ouro na Faixa Araguaia, que
nhos. M. Paixão agradece ao grande mestre e en-
descrevam sua gênese e relações com rochas es-
tusiasta da pesquisa sobre a metalogenia de cor-
pacialmente associadas, discussões acerca de
pos máfico-ultramáficos, Prof. Dr. Ariplínio Antônio
seus guias prospectivos e potencial tornam-se di-
Nilson (in memorian). Paulo Gorayeb agradece ao
fíceis de serem feitos.
projeto “Instituto de Geociências da Amazônia” -
Programa INCT-CNPq/MCT/FAPESPA No. 573733/
CONCLUSÃO
2008-2, pelo financiamento de parte das pesqui-
sas desenvolvidas no Cinturão Araguaia.
A diversidade e potencial metalogenético da
Faixa Araguaia é herança da evolução inicial des-
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488
Jorge Silva Bettencourt, Francisco Egídio Cavalcante Pinho, Élzio da Silva Barboza & Paulo César Boggiani

METALOGÊNESE DA FAIXA PARAGUAI


JORGE SILVA BETTENCOURT1, FRANCISCO EGÍDIO CAVALCANTE PINHO2,
ÉLZIO DA SILVA BARBOZA2, PAULO CÉSAR BOGGIANI1 & MAURO CÉSAR GERALDES3

1 - Instituto de Geociências, Universidade de São Paulo, SP. E-Mails: jsbetten@usp.br, boggiani@usp.br


2 – Instituto de Geociências, Universidade Federal do Mato Grosso, Cuiabá, MT. E-mails: aguapeí@yahoo.com,
elziosb@yahoo.com.br
3 - Faculdade de Geologia, Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ.
E-mail: geraldes@uerj.br

INTRODUÇÃO compartimentação tectônica e tipos genéticos dos


depósitos de ferro, manganês e ouro, bem como
A Faixa Paraguai consiste em faixa de dobra- informações sobre áreas de potencial explorató-
mentos de estruturação tardia do Ciclo Brasiliano. rio e perspectivas de descobertas futuras.
O preenchimento sedimentar é Criogeniano a Edi- A Faixa Araguaia, considerada anteriormente
acarano e as características sedimentológicas como sendo uma continuidade da Faixa Paraguai,
e geoquímicas dos sedimentos são similares àque- anteriormente conhecida como Faixa Paraguai-Ara-
las observadas globalmente nas demais sucessões guaia, passou a ser tratada como unidade geo-
do final do Neoproterozóico, que são atribuídas a tectônica distinta devido à falta de continuidade
intensas mudanças climáticas e globais. entre elas (Almeida 1985) e será apresentada,
No âmbito metalogenético, a Faixa Paraguai é separadamente, neste volume.
conhecida pelas jazidas de ferro e manganês do
Maciço de Urucum (Grupo Jacadigo), em Mato Gros- ESTRUTURAÇÃO DA FAIXA PARAGUAI
so do Sul, bem como pelas mineralizações de ouro
que ocorrem na região de Cuiabá e Nova Xavanti- Geologia Regional
na (Mato Grosso). Ressalva-se a importância his-
tórica do ouro como motivador da extensão, por A Faixa Paraguai bordeja o sudeste do Craton
centenas de quilômetros a mais, do limite territo- Amazônico. Exibe curvatura com convexidade para
rial brasileiro a oeste, do que havia sido original- o craton e, ao sul, situa-se a leste do Bloco Rio
mente estipulado pelo Tratado de Tordesilhas, no Apa, cuja continuidade com o Craton Amazônico é
início da ocupação do continente sulamericano, ainda motivo de debate (Fig. 1). A subdivisão es-
pelos portugueses e espanhóis. tratigráfica da Faixa Paraguai acarreta diferenças
Os depósitos de ferro, manganês e ouro conti- entre as porções norte e sul, tratadas individual-
nuam sendo os de maior importância econômica mente. Segundo Boggiani & Alvarenga (2004), Al-
contudo, devido à necessidade crescente de ferti- varenga et al.(2009) e Campanha et al.(2011) a
lizantes, a porção sul da Faixa Paraguai passou a evolução estratigráfica não se deu com preenchi-
ser mais estudada no sentido de se avaliar a po- mento sedimentar único, com diferenças entre suas
tencialidade econômica de depósitos de rochas unidades, principalmente entre as de natureza
fosfáticas associadas à Formação Bocaina (Grupo carbonática (grupos Corumbá e Araras), implican-
Corumbá), ali conhecidos desde a década de 1980 do em evoluções metalogenéticas também distin-
assim como, na parte norte da faixa de dobramen- tas, o que levou à subdivisão em Faixa Paraguai
to, recentes descobertas de ocorrências de fosta- Meridional e Setentrional, com a individualização
to e ferro na Formação Serra do Caeté, amplia ain- ainda de uma porção leste, a Faixa Paraguai Ori-
da mais a potencialidade destes bens minerais. ental, na região de Nova Xavantina.
Neste capítulo procurou-se inventariar, avaliar Na porção interna da Faixa Paraguai, assinala-
e sintetizar os dados disponíveis, relativos às ca- se a presença de granitos tardi a pós-tectônicos
racterísticas geológicas, estilos de mineralização, não cogenéticos e agrupados em duas suítes dis-

489
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Faixa Paraguai

Figura 1 – Estruturação da Faixa Paraguai, subdivida em Faixa Paraguai Meridional, Setentrional e Oriental.

tintas, de idades diferentes. As idades (U-Pb em Bodoquena, porém a definição das relações de
zircão) de cristalização dos granitos da parte sul contato com os metassedimentos é prejudicada
e da parte norte são, respectivamente, de 540 Ma pela ausência de boas exposições.
e 504 Ma (Manzano et al. 2008, Godoy et al. 2010). As sucessões metassedimentares da Faixa Pa-
Del’Arco et al.(1982) englobaram esses corpos gra- raguai como coberturas cratônicas estão pouco
níticos na unidade mapeada como Intrusivas Áci- deformadas. Já na faixa dobrada, o metamorfismo
das Cambro-ordovicianas, e os dacitos, riodacitos predominante é regional na fácies xisto verde,
e riólitos associados foram definidos como Vulcâ- zona da biotita, caracterizada por típico fold-and-
nicas de Mimoso. Os corpos graníticos que ocor- trhust belt com linearidades de dobramento e em-
rem nas porções mais deformadas da faixa apre- purrões de direções N-S com vergência para oes-
sentam metamorfismo de contato nas fácies albi- te no sentido das áreas cratônicas, com desen-
ta e hornblenda hornfels (Manzano et al. 2008). volvimento de até três fases de dobramento so-
Nogueira et al.(1978) descreveram metabasi- brepostas e coaxiais associadas a sistemas de
tos na baixada do Rio Miranda, leste da Serra da falhas de empurrão (Campanha et al. 2011).

490
Jorge Silva Bettencourt, Francisco Egídio Cavalcante Pinho, Élzio da Silva Barboza & Paulo César Boggiani

Faixa Paraguai Meridional trita ao Maciço de Urucum (Corumbá, MS), com


extensões na Bolívia, no Maciço de Mutum, onde é
Ao Sul, na denominada Faixa Paraguai Meridio- denominado Grupo Boqui (Litherland & Bloomfield
nal (Alvarenga et al. 2009), a sucessão estratigrá- 1981), e conhecidos pelas suas jazidas de man-
fica é distinta e com metalogenia também diferen- ganês e ferro, em franca atividade de lavra.
ciada da sucessão da faixa de dobramento ao A subdivisão estratigráfica do Grupo Jacadigo-
Norte. O que poderia ser considerado em comum mais utilizada é a de Dorr II (1945). A base é ca-
seria a presença dos diamictitos da Formação racterizada por arcóseos e conglomerados (For-
Puga, mas ao contrário do que se observa nos mação Urucum), com unidade transicional de ar-
diamictitos ao Norte, não foram encontrados sei- cóseos ferruginosos (Formação Córrego das Pe-
xos estriados e facetados nas exposições da For- dras), os quais passam para pacotes com predo-
mação Puga nessa parte da faixa. No Morro do mínio de sedimentos químicos e bioquímicos, com
Puga, às margens do Rio Corumbá, existe uma camadas de manganês e, para o topo, de forma-
possível capa carbonática (Boggiani & Coimbra ções ferríferas, com até 220 m de espessura, da
1996, Boggiani et al. 2003) porém essa não é tão Formação Banda Alta, também conhecida como
desenvolvida quanto a que ocorre ao norte (No- Formação Santa Cruz (Almeida 1946).
gueira et al. 2003). Esses diamictitos seriam os O Grupo Corumbá vem sendo definido segun-
sedimentos mais antigos do preenchimento sedi- do a proposta original de Almeida (1965), modifi-
mentar da Faixa Paraguai, levando-se em consi- cada com a inclusão da Formação Cadieus. O Gru-
deração que os metassedimentos do Grupo Cuia- po contem, na base, conglomerados, arenitos e
bá seriam distais aos diamictitos, e estariam as- pelitos (formações Cadieus e Cerradinho) passan-
sociados a demais rochas conglomeráticas basais do a dolomitos, silexitos e rochas fosfáticas (For-
como a Formação Urucum (Grupo Jacadigo) e For- mação Bocaina), bem como calcários e pelitos car-
mação Cadieus (Grupo Corumbá) (Freitas et al. bonosos com fósseis (Formação Tamengo), cober-
2011). Esses sedimentos conglomeráticos repre- tos por espessos pelitos da Formação Guaicurus
sentariam o início de evolução de bacias tafrogê- (Boggiani 1998, Gaucher et al. 2003) (Fig. 2).
nicas distintas, evoluídas em fase distensiva, pro- Em Corumbá, foram encontrados camadas cen-
vavelmente relacionada à fragmentação do super- timétricas de tufos vulcânicos, intercalados aos
continente Rodinia, algumas com evolução para calcários com Cloudina da Formação Tamengo. Zir-
abertura oceânica, como teria sido o caso do Gru- cões extraídos desses tufos forneceram uma ida-
po Corumbá (Boggiani 1998, Gaucher et al. 2003), de média de cristalização (238 U/206 Pb – SHRIMP) da
o que teria proporcionado a formação de ressur- ordem de 543 ± 3 Ma (Babinski et al. 2008), inter-
gências marinhas e origem de rochas fosfáticas pretada como da deposição dos calcários. Essa
(Boggiani et al. 1993). idade, juntamente com a ocorrência de Cloudina,
As únicas idades geocronológicas disponíveis fóssil índice do final do Ediacarano, permitem po-
para a Formação Puga são as obtidas a partir de sicionar o fim da sedimentação do Grupo Corumbá
datação, pelo método SHRIMP, de zircões detríti- próximo ao limite do Pré-Cambriano com o Cam-
cos, obtidos em exposições dessa unidade na por- briano.
ção sul da Faixa Paraguai. A idade mais jovem
obtida foi de 706 Ma ± 9 Ma (Babinski et al. 2012). Faixa Paraguai Setentrional
Em exposições tectonizadas dos diamictitos da
Formação Puga, a leste da Serra da Bodoquena e Na porção norte da Faixa Paraguai, a base da
ao sul da cidade de Bodoquena, ocorrem forma- sucessão sedimentar é caracterizada por exten-
ções ferríferas bandadas de dimensões decimé- sas exposições de diamictitos, com seixos faceta-
tricas, bem como corpos de diamictito com matriz dos e estriados, definidos, inicialmente, como Gru-
rica em magnetita, ocorrência essa já menciona- po Jangada (Almeida 1964) e, posteriormente, re-
da por Correa et al. (1976, 1979), cujos estudos definidos como Formação Puga (Almeida 1984).
recentes de Piacentini et al. (2007) e Piacentini Segundo Alvarenga & Trompette (1993), essas
(2008) demonstram potencialidade econômica. rochas metassedimentares seriam porções distais
O Grupo Jacadigo (Dorr II 1945, Almeida 1946) (turbiditos) de leques subaquosos da sedimenta-
constitui unidade estratigráfica de distribuição res- ção glaciomarinha da Formação Puga. Sobre es-

491
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Faixa Paraguai

Figura 2 - Relações estratigráficas entre as unidades da porção norte e sul da Faixa Paraguai com represen-
tação não considerando os dobramentos e falhamentos inversos que ocorrem a leste (Boggiani 2010).

ses diamicitos, ocorrem capas carbonáticas (No- cânica-sedimentar, com formações ferríferas asso-
gueira et al. 2003) que apresentam as caracterís- ciadas, interpretada como pertencente ao Grupo
ticas marcantes dessa sedimentação carbonática Cuiabá (Pinho 1990a,b), ou mais antigo (Dantas
pós-glacial, com registro em diversas sucessões & Martinelli 2003), denominada Grupo Nova Xa-
neoproterozóicas em praticamente todos os con- vantina.
tinentes (Hoffman & Schrag 2002). Sobre os dia-
mictitos, a sucessão da porção setentrional da OURO DA FAIXA PARAGUAI
Faixa Paraguai é caracterizada por centenas de
metros de rochas carbonáticas do Grupo Araras, Resenha histórica
com calcários calcíticos na base e dolomitos com
estromatólitos, no topo. Os calcários e dolomitos O ouro na Faixa Paraguai é conhecido desde o
são recobertos por sedimentos silcliclásticos do século XVIII, quando foi descoberto por bandei-
Grupo Alto Paraguai, interpretados como sendo rantes paulistas, na região de Cuiabá-MT. Na mes-
uma sucessão molássica (Almeida 1968) e depo- ma época o Coronel Amaro Leite descobriu a mina
sitados concomitantemente aos dobramentos da de ouro dos Martírios na porção leste da Faixa
Faixa Paraguai. Em posição estratigráfica interme- Paraguai, próximo à Nova Xavantina.
diária aos grupos Araras e Alto Paraguai, foram Em 16 de janeiro de 1817 foi criada, por Carta
encontrados corpos isolados de diamictitos glaci- Régia, a companhia de Mineração de Cuiabá des-
ais (Formação Serra Azul), relacionados à glacia- tinada à lavra de aluviões auríferos da região. Em
ção ediacarana/gaskeriana (Alvarenga et al. 2007). 1835 Emilie Philomene Brisorguel requereu um
manifesto de mina de ouro no Município de Nossa
Faixa Paraguai Oriental Senhora do Livramento, que representa o mais
antigo direito minerário a vigorar em Mato Grosso
No extremo leste da Faixa Paraguai, a nordes- (Fernandes & Miranda 2006).
te de Cuiabá, onde a estruturação da faixa possui A partir de década de 1980, devido à valoriza-
orientação Leste-Oeste, aflora sucessão metavul- ção do ouro, a mineração foi intensificada em am-

492
Jorge Silva Bettencourt, Francisco Egídio Cavalcante Pinho, Élzio da Silva Barboza & Paulo César Boggiani

bas as regiões de Cuiabá e Nova Xavantina. Na m de espessura e comprimentos de centenas de


região de Cuiabá, incluindo os municípios de Vár- metros. A sua mineralogia é representada, basi-
zea Grande, Nossa Senhora do Livramento e Po- camente, por quartzo, siderita, clorita, mica bran-
coné foram registradas mais de 50 ocorrências e ca, albita, pirita, calcopirita e hematita. Os veios
depósitos, já na região de Nova Xavantina a mina V2 têm ângulos de mergulho mais elevados e cor-
dos Martírios passou a ser conhecida como Garim- tam os primeiros; estão hospedados em fraturas
po do Araés e cerca de 500 garimpeiros trabalha- extensionais, exibem espessuras variando de 1 a
ram na extração do ouro (Fig. 3). 150 cm e comprimento de até 4 m. A mineralogia é
A produção de ouro na Província Aurífera da constituída por quartzo, pirita, siderita e biotita.
Baixada Cuiabana foi estimada em 70 t, no perío- Os veios do tipo (V3) estão hospedados em fratu-
do entre 1980 e 1999 (IPEM/SICM 2000), e vem ras extensionais de direção NW-SE; possuem es-
se mantendo em torno de 2 t/ano a teores de 0,5- pessuras entre 3 e 5 cm e comprimentos de até
1,0 g/t. Já no Distrito de Nova Xavantina a produ- 10 m e exibem os melhores teores de ouro.
ção no mesmo período foi de 6 t. Adicionalmente,
no ano de 2000, a empresa Mineração Jaguar ALTERAÇÃO HIDROTERMAL
Ltda. definiu as seguintes categorias de reservas
de minério: reserva medida 288.547 t com teor O intemperismo das rochas da região de ocor-
médio de 10,55 g/Au/t, reserva indicada de 90.185 rência dos depósitos dificulta o estudo da altera-
t com teor de 24,72 g/Au/t e reserva inferida de ção hidrotermal. Alvarenga & Gaspar (1992), após
2.685.123 t com teor médio de 5,44 g/Au/t (Qua- acesso a testemunhos de sondagem dos depósi-
dros et al. 2002). No ano de 2007 a empresa Mi- tos Casa de Pedra e Tetron, reportaram três tipos
neração Caraíba S/A iniciou trabalhos de pesqui- de alterações hidrotermais. A potássica (presen-
sa mineral na jazida de ouro da Mina do Araés, na ça de ortoclásio) predominou no estágio inicial,
cidade de Nova Xavantina, com uma mina em fase seguido de carbonatação (série siderita-magne-
inicial. sita), albitização (albita) e silicificação.

Depósitos e ocorrências da Baixada Cuiabana INCLUSÕES FLUIDAS

Na Baixada Cuiabana os depósitos e ocorrên- São registrados três estudos de inclusões flui-
cias de ouro são do tipo filoniano e co-genéticos das dos veios de quartzo do Grupo Cuiabá. O pri-
com as estruturas deformacionais impressas nas meiro, feito por Campos et al.(1987), buscou com-
rochas do Grupo Cuiabá. As rochas hospedeiras provar uma possível relação entre as mineraliza-
predominantes são filito grafitoso e filito sericíti- ções auríferas do Grupo Cuiabá e a intrusão do
co, ocorrendo também ritmito com alternâncias de Granito São Vicente. Esses autores estudaram
metassiltito e metarenito. A idade das mineraliza- depósitos situados a diferentes distâncias do Gra-
ções ainda é desconhecida. Entretanto, a deposi- nito São Vicente buscando identificar zoneamen-
ção do ouro está intimamente relacionada às de- to da temperatura de formação dos veios, o que
formações, em regime tectônico compressivo de não foi possível com os dados adquiridos. Os flui-
caráter progressivo, associadas ao metamorfismo dos identificados são ricos em H2O, CO2, CH 4 e
regional fácies xistos verdes (quartzo-biotita-clo- N2. Segundo Campos et al.(1987) as inclusões flui-
rita), que afetaram as rochas do Grupo Cuiabá. das aquosas apresentaram temperaturas de ho-
O ouro está associado a veios de quartzo con- mogeneização entre 120 e 320 ºC e as aquo-car-
trolados estruturalmente. Segundo Barboza ( 2008) bônicas entre 250 e 380 ºC. No segundo estudo,
esses veios são classificados segundo três tipos realizado por Alvarenga et al.(1990), é menciona-
utilizando como critério as relações de campo, ori- da também a presença de inclusões aquosas e
entação espacial e geometria. Os dois primeiros aquo-carbônicas, cujas temperaturas de homoge-
tipos, V1 e V2 são coaxiais à estruturação regio- neização variaram entre 120- 260 ºC e 250 a 350
nal (NE-SW) e o último, V3, é ortogonal, isto é, ºC. Segundo Alvarenga et al.(1990), existe uma
tem direção NW-SE. V1 ocorre paralelo ao acama- similaridade entre os fluidos que formaram os di-
mento nos flancos e cortam as charneiras de do- ferentes tipos de veios de quartzo devido ao fato
bras de grande amplitude, podendo atingir até 2 dos veios tardios (ricos em ouro) terem influencia-

493
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Faixa Paraguai

494
Figura 3 – Geologia da região de Cuiabá-Poconé (à esquerda, modificado de Luz et al. 1980 e Barboza et al. 2010) destacando a localização das
ocorrências e depósitos de ouro na região de Cangas e Poconé, bem como, geologia da região de Nova Xavantina (porção leste, à direita).
Jorge Silva Bettencourt, Francisco Egídio Cavalcante Pinho, Élzio da Silva Barboza & Paulo César Boggiani

do na composição dos demais veios. O terceiro es- Depósitos e ocorrências da região de Nova Xa-
tudo (Barboza 2008) incluiu todos os tipos de vei- vantina
os de quartzo de diversos depósitos auríferos da
Baixada Cuiabana, bem como veios de quartzo Similar aos depósitos que ocorrem na Baixada
hospedados no Granito São Vicente. Verificou-se Cuiabana, o depósito do Araés, situado na região
que nos veios dos depósitos auríferos as inclu- de Nova Xavantina, é do tipo filoniano. Porém,
sões fluidas têm baixa salinidade (<8 % peso eq. enquanto na Baixada Cuiabana os veios auríferos
NaCl) enquanto que em veios do granito a salini- não ultrapassam 30 cm de espessura (Barboza
dade é moderada a alta (12-30 % peso eq. NaCl) 2008), sendo mais comuns espessuras de 5 cm,
podendo ter inclusive cristais cúbicos de NaCl como em Nova Xavantina os veios são mais possantes,
mineral de saturação, sugerindo serem oriundos com até 5 metros de espessura, e aproximada-
de fontes distintas. Em termos composicionais nos mente concordantes com a estruturação regional
veios dos depósitos auríferos as inclusões são WNW.
predominantemente aquosas a aquo-carbônicas Segundo Pinho (1990a, b), as rochas encaixan-
como identificado no depósito Casa de Pedra. As tes do minério do depósito do Araés são repre-
temperaturas de homogeneização medidas apre- sentadas por metavulcânicas de composição tole-
sentaram valores crescentes nas inclusões secun- ítica variando a andesítica e, subordinadamente,
dárias, pseudo-secundárias e nas inclusões em rochas sedimentares de ambientes marinhos; fili-
todos os tipos de veios de quartzo sugerindo que tos grafitosos e carbonáticos e formações ferrífe-
os mesmos se formaram de forma sequenciada e ras bandadas. O mesmo autor considera, que este
por fluidos similares, embora os veios com mais pacote rochoso pode representar a porção basal
altos teores de ouro tenham salinidades relativa- do Grupo Cuiabá quando comparado às rochas
mente mais elevada. que ocorrem nas proximidades da capital mato-
grossense, e denomina o conjunto de Sequência
ASPECTOS GENÉTICOS Vulcano Sedimentar Nova Xavantina Os proces-
sos de alteração hidrotermal presentes nas rochas
O ouro ocorre livre e incluso na pirita. A forma do depósito do Araés são: carbonatação, sericiti-
euedral da pirita, que contém ouro, indica que a zação e cloritização. Posteriormente, Martinelli &
mineralização ocorreu num estágio tardio. A gê- Batista (2006) caracterizaram na área unidades
nese dos depósitos estudados pode ser atribuída metavulcânicas e metavulcanoclásticas de compo-
à percolação de fluidos metamórficos aquosos de sição básica e intermediária, representadas por
caráter tardios, que circularam em condições com- metabasaltos, xistos básicos, metatufo básico,
patíveis com a fácies xisto verde, como constata- metandesito e lapilli-tufo, além de rochas sedimen-
do nos dados microtermométricos das inclusões tares de origem química. Ainda, segundo os mes-
fluidas. A tectônica compressiva propiciou um au- mos autores, o conjunto litológico que constitui
mento da permeabilidade das rochas, por onde as encaixantes do minério do Araés difere daque-
circularam estes fluidos, promovendo a desesta- le do Grupo Cuiabá e, por essa razão, foi individu-
bilização das mesmas e precipitação do ouro de- alizado e renomeado como Sequência Metavulca-
vido à interação dos fluidos com as rochas encai- no sedimentar Nova Xavantina.
xantes (filitos carbonosos alternados com níveis Martinelli & Batista (2006) descreveram que o
ricos em magnetita, filitos sericíticos e arenitos), depósito do Araés é controlado estruturalmente
bem como diminuição da pressão adiabática rei- por uma tectônica rúptil-dúctil, marcada pela pre-
nante nos planos de fraturas. Os valores de sali- sença de foliação e lineação mineral, e outra fran-
nidade e temperatura de homogeneização das camente rúptil marcada pela presença de falhas e
inclusões dos veios dos depósitos auríferos da fraturas. A instalação da Zona de Cisalhamento
Baixada Cuiabana são equivalentes àqueles en- dos Araés foi responsável pelo desenvolvimento
contrados nos depósitos de ouro do tipo meso- de um modelo de transtensão associado com
termal (Lattanzi 1994, Groves & Foster 1991, Lar- transpressão por falhamentos direcionais, que ao
geet al.1988, Mikucki 1998) ou turbiditos, similar- atuarem sobre rochas com competências diferen-
mente aos exemplos reportados por Phillips & Po- tes, permitiram a abertura de fraturas por onde
wel (1993) e Alm et al.(2003). percolaram fluidos hidrotermais enriquecidos em

495
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Faixa Paraguai

ouro, responsáveis pela formação do depósito do A importância econômica inicial do Maciço de Uru-
Araés cum deveu-se unicamente às jazidas de manga-
Estudo de inclusões fluidas e microespectros- nês. Somente ao final do século passado as for-
copia de Raman, efetuado em quartzo e esfalerita mações ferríferas passaram a receber mais aten-
dos veios auríferos, revelou a presença de fluidos ção, principalmente com intensificação dos estu-
aquosos e aquo-carbônicos, contendo N2, CH 4 , dos na década de 1980, culminando com a sínte-
H2S e NH4, de baixa salinidade (<4 % peso eq. se dos trabalhos publicados e discussão dos mo-
NaCl). As temperaturas de homogeneização nos delos genéticos por Walde & Hagemann (2007).
veios mineralizados variam entre 274 e 287 ºC e Estima-se recursos da ordem de 3,1 Bt de Fe e
nos veios não mineralizados entre 215 e 258 ºC 11 Mt de Mn (DNPM 2010), porém os recursos de
(Martinelli & Batista 2006). ferro incluem o protominério (jaspelito) com as in-
Dados de isótopos de S (δ34S >>00/00) interpre- tercalações de sílica, com teor de Fe de 50 %, sen-
tados por Martinelli & Batista ( 2006) sugerem que do que atualmente são lavrados apenas as por-
a origem do depósito do Araés está ligada a pro- ções eluvionares, lixiviadas, com 67 % de Fe (Wal-
cessos vulcânicos de origem mantélica e diferem de & Hagemann 2007) e, secundariamente, os de-
dos valores de δ334S observados em depósitos do pósitos coluvionares, volumetricamente menores
tipo lode. e de qualidade inferior aos eluvionares. O minério
de ferro de Urucum, predominantemente hematí-
FORMAÇÕES FERRÍFERAS E MANGANESÍFERAS tico (Fig. 5), é econômico em função: 1- da possi-
bilidade de transporte fluvial, via Rio Paraguai e
Maciço de Urucum 2- da natureza do minério que possibilita redução
direta no processo siderúrgico, devido à composi-
As jazidas de Fe e Mn do Maciço de Urucum (Gru- ção essencialmente hematítica e, por isso, de gran-
po Jacadigo) ocorrem na região de Corumbá, nas de aceitação comercial.
porções superiores de morrarias tabulares eleva-
das, a cerca de 1000 m de altitude, em contraste FORMAÇÕES MANGANESÍFERAS
com a planície pantaneira (Fig. 4). Ao lado das for-
mações ferríferas neoproterozóicas pertencentes As jazidas de manganês ocorrem na forma de
ao Grupo Rapitan (Canadá) e do Super Grupo Da- camadas e lentes na base da sucessão essencial-
mara, essas mineralizações são consideradas mente ferrífera (Formação Banda Alta ou Forma-
como sendo atípicas, já que as grandes concen- ção Santa Cruz, conforme proposta estratigráfica
trações ferríferas ocorrem no intervalo 2,5 e 1,8 aceita) ao longo da Morraria de Santa Cruz, onde
Ga (Klein 2005). vem sendo lavradas subterraneamente na Mina

Figura 4 - Vista de parte do Maciço de Urucum (Morraria de Santa Cruz), com a porção superior do Grupo
Jacadigo (Formação Banda Alta), com as formações ferríferas em processo de lavra.

496
Jorge Silva Bettencourt, Francisco Egídio Cavalcante Pinho, Élzio da Silva Barboza & Paulo César Boggiani

nuszczak (2004), os quais associam essas forma-


ções ferríferas e diamictitos à intensificação de rif-
teamentos, mesmo que concomitantes a eventos
glaciais, onde a fonte do Fe seria hidrotermal e
não necessariamente vinculada a eventos anóxi-
cos globais, o que vai de encontro ao modelo de
origem hidrotermal de Trompette et al. (1998) e
Dardenne (1998); para fundamentar este modelo
esses autores se basearam, na presença de mi-
nerais de manganês de cristalização sob tempe-
raturas elevadas (braunita, e veios de tirodita,
anfibólio manganesífero, enambulita, silicato se-
melhante à rodonita), em dados de isótopos de
oxigênio que indicam cristalização entre 250 e 280
Figura 5 - Detalhe do minério de ferro lixiviado, com
concentração supergênica da hematita, em frente de ºC (Hoefs et al. 1987) e presença de veios de tur-
lavra da Mina de Urucum. malina-quartzo e de magnetita hidrotermal em
zonas de falhas.
de Urucum. Na Mina Corumbaense, anteriormente A observação de anomalias negativas de Eu,
lavrada em mina a céu aberto e mina subterrâ- levou à interpretação de origem marinha enrique-
nea, a lavra de manganês está temporariamente cidas em Fe e Mn, a partir de fontes hidrotermais
parada. Segundo Urban et al. (1992), a camada distais de águas profundas (Klein & Ladeira 2004).
basal de manganês, constituída de criptomelana Para explicar a presença de teores relativamen-
com intercalações de braunita (5 a 50 cm), tem te altos do minério de ferro (>65% Fe) e de man-
área com cerca de 103 km2, de 1 a 7 m de espes- ganês (>45% Mn), hipótese de enriquecimento por
sura e reserva de 442 Mt, com teores médios de hidrotermalismo hipogênico, concomitante ou pos-
27% de Mn e 13% de Fe. terior à sedimentação, foi aventada por (Walde &
As camadas superiores de manganês são rela- Hagemann 2007).
tivamente menos espessas, as dimensões são Ao Sul e a Leste da cidade de Bodoquena, ocor-
menores, sendo caracaterizadas pela presença de rem depósitos de formações ferríferas em diamic-
braunita, pirolusita, hematita e sílica. Contudo, os tito, com matriz rica em magnetita e camada mé-
teores médios de Mn (39,5%) Fe (6,5%) e Si trica de formação ferrífera bandada (BIF) da For-
(10,6%), são relativamente mais elevados. mação Puga (Piacentini et al. 2007) onde foi avali-
A presença de matacões e calhaus de granito, ada, a partir de métodos convencionais e proces-
isolados, no topo da camada inferior de manga- samento de dados aeromagnéticos, um potencial
nês e nos pacotes de formações ferríferas, onde de 1Bt de minério de ferro com teores entre 15%
são freqüentes intercalações até métricas de ar- e 71,9% e médio de 30% de Fe. O minério ocorre
cóseo e conglomerado de matriz arcoseana, le- como óxidos de ferro de granulação fina, dissemi-
vou à interpretação de sedimentação associada a nados em matriz argilosa. Sua origem é interpre-
eventos glaciais; com procedência de Fe e Mn re- tada como de ambiente distal sob a influência de
lacionada ao intemperismo das rochas do emba- fluídos hidrotermais ricos em Fe (Piacentini 2008).
samento e posterior concentração em águas anó-
xicas, com precipitação posterior de minerais man- ÁREAS POTENCIAIS PARA EXPLORAÇÃO MINE-
ganesíferos e de hematita (Leeuween & Graf 1987, RAL E PERSPECTIVAS FUTURAS
Urban et al. 1992, Graf et al.1994).
A hipótese de origem glacial seria coerente com Trabalhos de pesquisa mineral para ouro na
o modelo Snowball Earth (KirschVink 1992) e ex- Faixa Paraguai devem focar áreas que já foram
plicaria a ocorrência das formações ferríferas neo- lavradas por atividade garimpeira (ex: Depósito
proterozóicas, cuja ocorrência anômala, fora do Casa de Pedra), mas que precisam ser reavalia-
intervalo de 2,5 – 1,8 Ga, estaria associada a in- das diante do surgimento de novas técnicas e dis-
tensas glaciações globais. Esta interpretação é ponibilidade de novos dados, bem como em áreas
questionada por Young (2002) e Eyles & Ja- com pouco ou nenhum trabalho de pesquisa mi-

497
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Faixa Paraguai

neral (ex: núcleo da Anticlinal de Bento Gomes). A amarelo, fino a médio, maciço, micáceo, com clastos
Baixada Cuiabana e a região leste que compreen- pingados de quartzo leitoso, granito, gnaisse (de
de o distrito mineiro de Nova Xavantina são as até 20 cm); e iii) ritmito de arenito e argilito, ferrífero
áreas com maior potencial para investimento em e fosfatado, com clastos pingados, e raras lentes
pesquisa mineral para ouro na Faixa Paraguai. (<30 cm) de diamictito ferruginoso, e arenito médio
Na Baixada Cuiabana as rochas de níveis crus- a grosso (<15 cm) com gradação normal (i.e.,
tais mais profundos são encontradas no núcleo turbiditos) ferrificado (Silva et al. 2009). Esta
da Anticlinal de Bento Gomes (ABG) situada a Su- unidade aflora principalmente na Serra do Caeté
deste de Cuiabá. Predominam filitos com variações e no morro das fazendas Baía Grande e Baía da
carbonosas que apresentam zonas sulfetadas de Capivara, nos municípios de Mirassol D’ Oeste,
origem hidrotermal como no local denominado Sete Gloria D’ Oeste, Cáceres e Porto Esperidião, Estado
Porcos. O controle litológico e estrutural do ouro de Mato Grosso. Rosa (2008) considera esta
na região de Cangas-Poconé é evidenciado pelas unidade como parte da Faixa Paraguai.
alternâncias de corpos de filitos carbonosos hos-
pedeiros de veios de quartzo de direção NW-SE, Agradecimentos Os autores agradecem à FAPESP
que apresentam os maiores teores de ouro. No - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de
caso de Sete Porcos a sulfetação é pervasiva e São Paulo, ao CNPq - Conselho Nacional de De-
não restrita aos veios, o que sugere que o local, senvolvimento Científico e Tecnológico e à FAPE-
ou a porção central da ABG, tem alto potencial MAT - Fundacão de Apoio à Pesquisa do Estado de
aurífero a revelar, através de investimento maciço Mato Grosso pelos auxílios financeiros e bolsas de
em pesquisa mineral, um modelo diferenciado de pesquisa, bem como às empresas de mineração
ocorrência de ouro no contexto da Faixa Paraguai pela disponibilidade de acesso e apoio nos traba-
ou mesmo algo similar a Nova Xavantina. lhos de campo, entre elas Vale, Mineração Corum-
O Depósito Casa de Pedra, localizado no flanco baense e Mineração Horii.
inverso da ABG, foi alvo de extração de ouro du-
rante as décadas de 1980 e 1990. As reservas de REFERÊNCIAS
ouro desta área, em particular, exigem reavalia-
Alm E., Broman C., Billström K., Sundblat K., Torssan-
ção, bem como o seu potencial para elementos der P. 2003. Fluid Characteristics and Genesis of Early
terras raras, em especial La, Ce e Nd, tendo em Neoproterozoic Orogenic Gold-Quartz Veins in the
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à alteração hidrotermal presente nos veios de Almeida F.F.M. 1946. Origem dos minérios de Ferro e
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Geologia e Mineralogia,-DNPM 117:1-11.
sui em atividade uma mina de ouro da empresa Almeida F.F.M. 1965. Geologia da Serra da Bodoquena
Caraíba. As reservas cubadas atingem doze tone- (Mato Grosso), Brasil. DNPM, Bol. Divisão de Geo-
logia e Mineralogia 219:1-96.
ladas de Au que serão extraídas em nove anos de
Almeida F.F.M. 1968. Evolução tectônica do Centro-Oes-
vida útil da mina podendo ainda se expandir. A te Brasileiro no Proterozóico superior. Anais Acad.
expansão irá acontecer tendo em vista que ma- Brás. Ciências, (Suplemento Simpósio de Manto
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peamentos geológicos realizados pela empresa em Almeida F.F.M. 1984. Província Tocantins, setor Sudo-
conjunto com a Universidade Federal de Mato Gros- este. In: .F.F.M. de Almeida & Y. Hasui (Coords.) O
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so têm demonstrado que as rochas metavulcano-
p. 265- 281.
sedimentares, encaixantes dos veios mineraliza- Almeida F.F.M. 1985. Alguns problemas das relações
dos, possuem ocorrências bem mais abrangentes. geológicas entre o Cráton Amazônico e as faixas de
dobramentos marginais a leste. In: SBG, Simp. Geol.
Recentemente a Faixa Paraguai Setentrional Centro-Oeste 2, Goiânia. Atas, p. 3-14.
passou também a mostrar potencial para fosfato Alvarenga C.J.S. & Gaspar J.C. 1992. Veios albíticos e
potássicos no Grupo Cuiabá, MT: Petrologia e pos-
e ferro, relacionado à Formação Serra do Caeté sível relacionamento com as mineralizações aurífe-
que se constitui de três fácies: i) conglomerado ras. In: SBG, Cong. Bras. de Geol., 37, São Paulo.
suportado por matriz, polimítica, petrotrama Resumos Expandidos 2:52-53
Alvarenga C.J.S. & Trompette R. 1993. Evolução Tec-
caótica, cinza a esverdeado, e vermelho quando tônica Brasiliana da Faixa Paraguai: A Estruturação
alterado; ii) arenito com clastos pingados, bege a da Região de Cuiabá. RBG, 18:323-3 27.

498
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500
Ronaldo Mello Pereira, Monica Heilbron & Cláudio Valeriano

METALOGÊNESE DA FAIXA RIBEIRA

RONALDO MELLO PEREIRA, MONICA HEILBRON & CLÁUDIO VALERIANO


Departamento de Geologia Aplicada, Faculdade de Geologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Rua São Francisco Xavier 524, 4 andar, Maracanã, Rio de Janeiro, RJ.
E-Mails: rmellouerj@hotmail.com, heilbron@uerj.br, cmval@uerj.br

INTRODUÇÃO - ocorrências singenéticas estratiformes / stra-


ta-bound scheelitíferas
Esse trabalho tem como principal objetivo o de
delinear e caracterizar os principais domínios mi- CONTEXTO TECTÔNICO REGIONAL
nerais presentes na Faixa Ribeira (FR). Para tal,
foi efetuada uma análise metalogênica utilizando- A Faixa Ribeira resultante da Amalgamação do
se das informações existentes sobre a região di- Gondwana
vulgadas na literatura geológica brasileira. Com
isso, procurou-se apontar as relações entre as A Faixa Ribeira integra a Província ou Sistema
mineralizações conhecidas e os diferentes compar- Orogênico Mantiqueira, tal como definida por Al-
timentos crustais que compõem a referida faixa, meida et al. (1977, 1981). O Sistema Orogênico
além de tentar agrupá-los de acordo com a tipolo- Mantiqueira se estende do sul da Bahia ao Uru-
gia de jazimento e afinidades dos diversos depó- guai, totalizando uma área de cerca de 700.000
sitos envolvidos verificando, ainda, as suas distri- km2, compreendendo os orógenos Araçuaí, Ribei-
buições espaciais e suas temporalidades. ra, Dom Feliciano e São Gabriel, e a zona de inter-
Dentre os principais recursos minerais, minera- ferência entre os orógenos Ribeira e Brasília (Fig.
dos ou não, consignados no âmbito da faixa en- 1). Desta zona de interferência para sul, até a
contram-se o: ouro, zinco / chumbo, cobre, flúor, borda norte do maciço cratônico de Luis Alves,
manganês, níquel, alumínio, estanho (± Nb/Ta) e estende-se um conjunto de unidades cujas rela-
tungstênio. De modo geral, as principais tipologias ções geotectônicas com os dois orógenos ainda
encontradas no domínio da FR correspondem a: não claras. São elas: Terreno Apiaí e Terreno Curi-
- depósitos de ouro filoneanos, em veios de tiba (Basei et al. 2000). A construção destes siste-
quartzo piritosos ou polimetálicos, associados, ou mas orogêncos está relacionada a amalgamação
não, a zonas de cisalhamento; diacrônica de blocos entre Ca. 900 Ma e 510 ma,
- depósito de ouro associado à seqüência vul- que resultaram na construção d e parte do Gon-
cano-sedimentar paleoproterozóica; dwana Ocidental (Brito Neves et al. 2005; Heilbron
- depósitos de metais base (Pb / Zn) do tipo et al. 2004, 2008).
strata-bound associados a rochas carbonáticas, de
idades meso e neoproterozóicas; Faixa Brasília Sul e a Zona de Interferência
- depósitos de metais base (Pb / Zn) do tipo
filoneano mesoproterozóicos e neoproterozóico; A extremidade sul da Faixa Brasília compreen-
- depósito de metais base (Cu) escarnítico; de um complexo sistema de nappes transladado
- depósitos de fluorita strata-bound associados para oeste (Fig. 2)., em direção ao Cráton do São
às rochas carbonáticas proterozóicas; Francisco (Trouw et al. 2000, Campos Neto et al.
- depósitos de fluorita filoneanos proterozóico 2000, 200-, Campos Neto & Caby 2000, Janasi
e mesozóico; 2002, Valeriano et al. 2004, 2009) ao redor de 630-
- depósitos lateríticos de Al, Mn, Ni; 620 Ma. Esse sistema compreende nappes basais
- depósitos e ocorrências de metais raros e es- constituídas por rochas metamórficas derivadas de
tanho associado a granitogênese brasiliana; ambientes de margem passiva, bem como de seu

501
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Faixa Ribeira

Figura 1- Compartimentação tectônica da Região Sudeste do Brasil.

embasamento cristalino Paleoproterozóico/Arque- continental subaéreo a marinho raso dominado por


ano relacionado ao Craton do São Francisco (Heil- planícies e correntes de maré, e por ondas de tem-
bron et al. 2008). O sistemas de nappes inferiores pestade. O registro fossilífero é do Neoprotero-
é cavalgado pelas Nappes Superiores, denomina- zóico-Cambriano (570-540 Ma) e a idade de sei-
das de Guaxupé-Socorro (Fig. 2). As nappes supe- xos de rochas riolíticas é de 600 Ma (Teixeira 2000).
riores apresentam metamorfismo de pressão mais
baixa e inúmeros corpos granitóides cálcio-alcali- Faixa Ribeira Central
nos, em parte interpretados como remanescen-
tes de um arco magmático cordilherano (Trouw et A FR Ribeira Central, que apresenta trend es-
al. 2000; Heilbron et al. 2004; Campos Neto et al. trutural NE-SW, resulta da interação entre o Crá-
2000, 2000). ton do São Francisco e outra(s) placa(s) e/ou mi-
Na Nappe Socorro-Guaxupé, Janasi (2002) sub- croplaca (s) e/ou arco de ilhas situado(s) à sudes-
dividiu este magmatismo em suíte mangerítica (ca. te deste cráton, bem como com a porção sudoes-
630-625 Ma), suíte cálcio-alcalina de alto K (ca. te do Cráton do Congo Estas novas etapas de
625-620 Ma), granitos anatéticos (ca. 625 Ma). Os colisão continental resultaram no empilhamento de
granitos cálcio-alcalinos potássicos (com espectro terrenos de leste para oeste-noroeste. Como a
composicional amplo, de monzodiorito até sieno- colisão entre estes terrenos foi oblíqua, a defor-
granito), que constituem o principal volume dos mação principal exibe clara partição entre zonas
extensos batólitos Socorro e Pinhal-Ipuiúna, têm com predomínio de encurtamento frontal e zonas
idade de ca. 625 Ma (Topfner 1996), A contribui- com componente transpressivo destral. Assim,
ção mantélica é evidente pela presença de diver- contrastando com a extremidade sul do Orógeno
sos pequenos corpos de composição máfica a in- Brasília, os limites entre os compartimentos tectô-
termediária (Wernick 1984, Janasi & Ulbrich 1991, nicos são representados por empurrões com mer-
Janasi 2002). gulhos mais íngremes (> 30°), ou por zonas de
A bacia sucessora Pico do Itapeva (correlata cisalhamento oblíquas. A compartimentação da FR,
às bacias Pouso Alegre e Eleutério no Domínio em seu segmento central, compreende os terre-
Andrelândia) exibe ambientes de sedimentação nos Ocidental, Paraíba do Sul- Embu, Oriental e

502
Ronaldo Mello Pereira, Monica Heilbron & Cláudio Valeriano

Figura 2 - Compartimentação tectônica e principais unidades da Faixa Brasília Sul e Ribeira Central.

Cabo Frio (Fig. 2, Heilbron et al. 2000, 2004). Sua nou diversas suítes granitóides, a exemplo da
história colisional é posterior ao registrado na ex- suíte porfirítica cálcio-alcalina de alto-K precoce (ca.
tremidade sul da Faixa Brasília, envolvendo um 590-580 Ma), leucogranitos e/ou granada charno-
episódio ao redor de ca. 580 Ma (605 a 565 Ma), ckitos (ca. 580 Ma), suíte cálcio-alcalina de alto-K
que envolve a amalgamação dos três primeiros tardia (ca. 575-560 Ma, tipo gnaisse facoidal do
terrenos, e outro episódio mais jovem, no Cam- Rio de Janeiro), e biotita granitos (ca. 560 Ma, tipo
briano entre ca. 530-510 Ma, relacionado à coli- Serra dos Órgãos). Os granitóides relacionados à
são do terreno Cabo Frio (Heilbron & Machado Colisão II são mais abundantes no topo do Terre-
2003, Schmitt et al. 2004, Heilbron et al. 2004, no Ocidental e no Terreno Oriental (Janasi et al.
2008). 2003, Heilbron et al. 2004, 2008)
Todos os terrenos da FR central, com exceção Ao final da evolução da FR central, ocorrem plu-
ao Terreno Oriental, englobam unidades do em- tons pós-colisionais com idades entre ca.510 e 480
basamento Paleoproterozóico-Arquenao, unida- Ma. Em geral são granitos cálcioalcalinos que ocor-
des metassedimentares relacionadas a margens rem como stocks circulares ou diques e soleiras.
passivas e/ou bacias retro arco, e granitóides ne- Este magmatismo foi interpretado como associa-
oproterozóicos, gerados durante as etapas colisi- do ao colapso orogênico, já em regime transten-
onais brasilianas. Já o Terreno Oriental (Fig. 2), sional.
compreende dioritos, tonalitos, granodioritos e
granitos deformados e relacionados a processos Faixa Ribeira Sul
de subducção (Tupinambá et al. 2000, Heilbron &
Machado 2003). Estes granitóides de arco mag- Já o segmento sul da FR ocupa a porção sul do
mático invadem um conjunto de rochas metasse- Estado de São Paulo, além de parte dos estados
dimentares de alto grau (Tupinambá et al. 2007). do Paraná e Santa Catarina. Sua compartimenta-
O espessamento resultante da Colisão II origi- ção e evolução tectônica foram abordadas em de-

503
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Faixa Ribeira

talhe por Basei et al. (2000, 2009). Este segmen- des e Cunhaporanga, que afloram no Terreno Api-
to é extremamente relevante, já que concentra aí (Fig. 3), são interpretados como gerados em
grande parte das ocorrências minerais descritas ambiente de arco magmático. As idades U-Pb indi-
neste capítulo. A compartimentação tectônica mais cam que os batólitos Três Córregos e Agudos Gran-
aceita subdivide este setor da FR, nos seguintes des encontram-se entre 615 e 605 Ma (hornblen-
elementos: Terreno São Roque, Terreno Apiaí, Ter- da-biotita granitos de alto índice de cor) e 600 Ma
reno Curitba e Arco de Piên (Fig. 3). As relações (intrusões isoladas tardias). As intrusões tardias
tectônicas entre estes terrenos e o segmento cen- correspondem a termos fortemente contaminados
tral da FR, ainda são pouco conhecidas. e diferenciados da mesma associação: os grani-
As exposições de embasamento paleoprotero- tos tardi-orogênicos da região de Piedade (Janasi
zóico nos Terrenos Apiaí e São Roque-Socorro são et al. 2001). Embora carreguem alguma incerteza,
raras e se restringem a núcleos de ortognaisses em vista da presença de cristais herdados de zir-
peralcalinos estaterianos, localmente intrusivos cão, idades de cristalização mais antigas (630-620
em gnaisses tardi-riacianos ca. 2,1 Ga, (Kaulfuss Ma) têm sido reportadas para alguns plútons do
2001, Cury et al. 2002, Basei et al. 1997, Praze- Terreno São Roque (Topfner 1996) e do Batólito
res-Filho 2000). No Terreno Curitiba, está repre- Três Córregos (Prazeres-Filho et al. 2003).
sentado por rochas gnáissicas e migmatíticas de O período pós-orogênico é marcado pela intru-
idade paleoproterozóica do Complexo Atuba (Siga são de plútons graníticos rasos datados em 590-
Jr et al. 1995, Basei et al. 2000). 580 Ma, e por granitos de tipo-A, mas com idades
Os metassedimentos que afloram no Terreno de ca. 565 Ma (Janasi et al. 2001, Prazeres-Filho
Apiaí vêm sendo classicamente denominados Gru- 2001) são ainda descritos.
po Açungui (Almeida 1956, Marini et al. 1967, Cam- Fechando a evolução do segmento sul da FR
panha et al. 1987, Fiori 1992, Campanha & Sado- encontra-se o regsitro das bacias tardi a pós-coli-
wsky 1999). Estudos mais recentes sugerem que sionais (Basei et al. 1998) correspondem aos de-
o Grupo Açungui parece, na verdade, ser consti- pósitos estruturados, rudáceo-psamíticos, da For-
tuído por três megasseqüências estratigráficas dis- mação Camarinha e do Grupo Castro com intenso
cordantes. vulcanismo ácido-intermediário, associado a rochas
As seqüências mesoproterozóicas compreen- psamíticas imaturas com fácies pelíticas distais. A
dem faixas alternadas e orientadas na direção NE/ idade do vulcanismo Castro é do Cambriano Infe-
SW, controladas por zonas de cisalhamento late- rior (Cordani et al. 1999).
rais (Juliani et al. 2000, Basei et al. 2003, Weber et
al. 2003, Oliveira et al. 2003). Variam de suces- PRINCIPAIS TIPOS DE DEPÓSITOS MINERAIS
sões carbonáticas, a siliciclásticas com contribui-
ção vulcânica. Já as seqüências neoproterozóicas Ouro
compreendem sedimentos plataformais (Theodo-
rovicz et al. 1986, Campanha et al. 1999). São inúmeras as ocorrências auríferas, tanto
A extensão nordeste destas faixas neoprote- primárias quanto secundárias, registradas na FR
rozóicas (Fig. 3) corresponde ao Grupo São Ro- sendo o conhecimento, destas, bastante antigo,
que, discordante sobre o Grupo Serra do Itabera- pois, para algumas delas reportam-se atividades
ba de idade mesoproterozóica. Meta-riolitos intru- extrativas ainda no início do período colonial bra-
sivos nestas unidades foram datados em ca. 610 sileiro, mormente as encontradas na região do
Ma, considerada a idade mínima para a deposição Vale do Ribeira, abrangendo os atuais municípios
do Grupo São Roque (Hackspacher et al. 2000). de Iporanga, Eldorado, Cananéia e Apiaí. Os de-
A sul da zona de cisalhamento Lancinha (Fig. mais registros conhecidos distribuem-se pelos
3) e com contato basal marcado por espessa zona estados de Santa Catarina (região de Botuverá),
milonítica de cavalgamento para E-SE sobre gnais- São Paulo (Embu-Guaçu, Araçariguama, Jaraguá e
ses do Terreno Curitiba, ocorre o Grupo Capiru, Nazaré Paulista, além das citadas na região do
onde Fiori (1992) reconhece três conjuntos litoló- Vale do Ribeira), Minas Gerais (Palmas) e Rio de
gicos. Estas unidades vêm sendo interpretadas Janeiro (Laje do Muriaé, rios Paraíba do Sul, Pre-
com integrantes de margem passiva. to, Itabapoana, dentre outros).
Os batólitos de Três Córregos, Agudos Gran- No geral, a grande maioria dos depósitos e

504
Ronaldo Mello Pereira, Monica Heilbron & Cláudio Valeriano

Figura 3 - Compartimentação tectônica e principais unidades da Faixa Ribeira Sul.

ocorrências conhecidas é filoneana encontrando- rem associadas a zonas de cisalhamento. Dentre


se associada a veios de quartzo encaixados em os depósitos e ocorrências que podem ser relaci-
rochas metavulcanossedimentares, neoproterozói- onados a essa tipologia encontram-se os da ser-
cas, dos grupos Açungui, São Roque e Brusque. A ra do Cavalo Magro, região de Sete Barras / Eldo-
exceção corresponde ao depósito do Morro do rado, do rio Ivaporunduva, em Eldorado, do Piriri-
Ouro / da Mina, em Apiaí (Faixa Apiaí), que apre- ca em Iporanga e as de Araçariguama, todos em
senta veios de quartzo com pirita aurífera e ouro São Paulo, além dos de Campo Largo, Paraná e
lamelar encaixados em rocha carbonosa, supos- os da mina do Cavalo Branco em Botuverá, Santa
tamente de idade pré-Açungui. Apenas um depó- Catarina.
sito situado na região de Guarulhos, SP, em ro- As reservas e teores dos veios variam desde
chas do Grupo Serra do Itaberaba, do Mesoprote- 8.000 t e teor de 20g de Au / t, como os da serra
rozóico, apresenta mineralização singenética, stra- do Cavalo Magro, a 1,0 milhão de toneladas e ~2,5
ta-bound. Os depósitos e ocorrências do tipo alu- g de Au / t, como os da área do rio Ivaporunduva
vionar encontrados e explotados desde priscas e no depósito do Piririca.
épocas são, no geral, uma conseqüência direta da Em Araçariguama, SP, as mineralizações de Au(-
erosão desses tipos de mineralizações. Ag) estão associadas a veios e bolsões de quart-
zo encaixados em rochas do Grupo São Roque en-
OURO EM VEIOS DE QUARTZO (FILONEANO) contrados às margens da rodovia Castelo Branco.
O teor do minério corresponde a 20 g de Au / t. O
As mineralizações filoneanas são representa- contexto geológico é análogo ao de zonas de ci-
das por veios de quartzo com pirita ou veios de salhamento ligadas a transcorrências sendo que
quartzo polimetálicos (pirita, calcopirita, galena e a zona mineralizada está situada no exocontato
outros sulfetos, e prata), podendo, ou não, esta- E do granitóide São Roque, balizado pela zona de

505
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Faixa Ribeira

cisalhamento de Araçariguama. Os veios de quart- rados. Toda a seqüência encontra-se capeada por
zo são polimetálicos com arsenopirita, calcopirita, metassedimentos alóctones do Grupo São Roque.
pirita, esfalerita e galena e encontram-se encai- Rochas graníticas e granodioríticas de variadas
xados em granito quartzo-feldspático leucocráti- dimensões cortam o conjunto metamórfico, além
co, em metassedimentos a poucos metros do con- de corpos menores de granodioritos e tonalitos
tato destes com o corpo granítico e, possivelmen- muito deformados e cataclasados, que podem re-
te, em rochas metabásicas. presentar restos do embasamento do Grupo Ser-
Outro depósito interessante ocorre em Botu- ra do ltaberaba. As rochas desse grupo foram com-
verá, SC, onde se encontra a mina do Cavalo Bran- plexamente deformadas e polimetamorfizadas,
co que corresponde a um filão de quartzo aurífero predominantemente na fácies anfibolito médio e
periplutônico encaixado em metapelitos do Grupo dos xistos verdes.
Brusque (Biondi et al. 2007). Para esses autores, O principal tipo de mineralização corresponde
geneticamente, a mineralização está relacionada ao singenético, strata-bound, encontrando-se os
a um pequeno corpo diorítico seccionado por uma corpos mineralizados encaixados concordantemen-
fratura conjugada a uma zona de cisalhamento. O te na interface de rochas metavu1cânicas-
fluído mineralizador que gerou o depósito formou metavulcanoc1ásticas básicas (e meta-intermedi-
zonas de alteração hidrotermal potássica, fílica e ária) com metapelitos, ou entre metabasitos da
propilítica. Reativação posterior da zona de cisa- Formação Morro da Pedra Preta. Nestes níveis
lhamento deformou parte do filão e remobilizou estratigráficos também ocorrem lentes de rochas
parcialmente a mineralização aurífera. O ouro cálciossilicáticas, turmalinitos, metacherts, meta-
(19,95 % Ag), que cristalizou durante a formação pelitos grafitosos e/ou ferruginosos, às vezes com
da zona fílica, associa-se à pirita, calcopirita e ga- grande quantidade de sulfetos, e formações ferrí-
lena. As reservas estimadas são de 1 a 2 tonela- feras do tipo Algoma. A mineralização é caracteri-
das de metal contido e o teor, muito variável, vai zada pela assembléia pirrotita, pirita com calcopi-
de 2 a 40 g Au / t. rita subordinada e ouro livre, de granulação muito
fina (~68% do ouro a -200 mesh), disseminado
OURO SINGENÉTICO (STRATA-BOUND) nas rochas metavulcanoclásticas básicas e inter-
mediárias e nos metaexalitos (metacherts com
Na região de Guarulhos, SP, a seqüência meta- sulfetos e turmalinitos). Os maiores teores, que
vulcano-sedimentar do Grupo Serra do ltaberaba podem chegar a mais de 13 ppm Au, são encon-
encerra várias ocorrências de ouro, das quais a trados nas rochas de composição intermediária e
de Tapera Grande é a melhor conhecida (Belja- nos metaexalitos.
vskis et al. 1993). Esse grupo, de idade protero- Mineralizações epigenéticas também fazem
zóica média a inferior, é constituído pelas forma- parte do depósito e correspondem a veios de
ções (da base para o topo): Morro da Pedra Pre- quartzo sulfetados, com espessuras entre 0,5m a
ta, Jardim Fortaleza, Nhanguçu e Pirucaia. 1,5 m, em formações ferríferas cisalhadas encai-
A Formação Morro da Pedra Preta é represen- xadas em rochas metavulcanoclásticas básicas e
tada por rochas básicas de composição toleiítica, metapelitos. O ouro, quase sempre sob a forma
do tipo N-MORB, rochas vulcanoc1ásticas e, subor- livre, encontra-se associado à calcopirita, covelita
dinadamente, rochas de composição intermediá- e, de modo subordinado, a calcosita. Os teores
ria, metassedimentos pelíticos com gradações la- variam de 0,1 ppm a 11,2 ppm Au.
terais para metapsamitos puros ou impuros e ro-
chas cá1ciossilicáticas subordinadas. A Formação Metais Base (Pb, Zn, Cu)
Jardim Fortaleza é formada por micaxistos e ro-
chas calciossilicáticas. A Formação Nhanguçu é Os principais depósitos e ocorrências de zinco,
composta por espessos pacotes de metapelitos chumbo (± Ag) e cobre registrados na FR são en-
manganesífero - ferruginosos com lentes de ro- contrados particularmente na região do Vale do
chas cálcio-silicáticas e de xistos finos, ricos em Ribeira, na região limítrofe aos estados do Paraná
porfiroblastos de andaluzita. A Formação Pirucaia e São Paulo (Fig. 4). Também são dignos de regis-
é constituída por quartzitos, quartzo micaxistos, tro os prospectos das áreas de Lídice-Rio Claro,
metarritimitos e pequenos leitos de metaconglome- RJ (Zn - Pb singenético sedimentar), Cananéia, SP

506
Ronaldo Mello Pereira, Monica Heilbron & Cláudio Valeriano

Figura 4 - Distribuição das principais mineralizações em metais base do Vale do Ribeira. Legenda: A =
Formação Itaiacoca; B = Formação Água Clara; C = Formação Perau e correlatos; D = Seqüência Turvo-
Cajati; E = Formação Votuverava; F = Formação Iporanga; G = Formação Capiru; H = embasamento; g =
granitóides. 1 - Santa Blandina; 2 - Cobrazil; 3 - João Néri; 4 - Espírito Santo; 5 - Furnas; 6 - Lajeado; 7 -
Piririca; 8 - Panelas; 9 - Barrinha; 10 - Paqueiro; 11 - Rocha; 12 - Perau; 13 - Canoas; 14 - Pretinhos; 15 -
Água Clara; 16 – Araçazeiro.

(Zn-Pb-Cu em bolsões e filoneano) e do Ribeirão associam-se ao Grupo Setuva (formações Perau e


da Prata, SC (Pb-Zn-Ag em zona de cisalhamen- Águas Claras).
to), pois representam marcos bastantes interes- Distribuídos por essa região encontram-se 16
santes do ponto de vista metalogênico. depósitos de Pb/Zn divididos em um grupo filone-
Geologicamente, o Vale do Ribeira é constituí- ano, cujo principal representante corresponde à
do por uma série de faixas de rochas metamórfi- mina de Panelas e um grupo vulcanogênico distal,
cas de direção NE-SW que variam de baixo a mé- representado pela mina do Perau. Os depósitos
dio grau que se dispõem junto a complexos graní- filoneanos responderam por cerca de 90% do to-
ticos intrusivos e granitóides gnássico-migmatíti- tal da produção de chumbo oriunda da região do
cos. As rochas metamórficas aí encontradas fazem Vale do Ribeira estimada em cerca de 200 mil to-
parte do Grupo Açungui (formações Itaiacoca, Ca- neladas.
piru, Iporanga e Votuverava) e as de médio grau Nesta região também ocorre o depósito escar-

507
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Faixa Ribeira

nítico de cobre de Santa Blandina. trica. Os corpos em bolsões variam de 0,5 m x 0,3
m até 7 m x 60 m, em superfície. O teor médio de
Pb-Zn-Cu filoneano Zn + Pb + Cu é de 2,5%, com valores registrados
de até 5%. Os teores de estanho vão de 0,01%
Pb-Zn FILONEANOS: A MINA DE PANELAS até 0,06% (Boin et al. 1982, Silva 1989).

Os depósitos de minério sulfetado de chumbo- Pb-Zn (Ag) DO RIBEIRÃO DA PRATA (SC)


prata (zinco) do tipo filoneano são representados
na região do Vale do Ribeira pelas minas de Pane- No depósito de chumbo, zinco, cobre e prata
las, Rocha, Barrinha e Lageado, dentre outras. do Ribeirão da Prata (Macedo et al. 1984, Schiker
Na mina de Panelas, localizada na cidade de 1996), situado no Município de Blumenau, Santa
Adrianópolis, Paraná, ocorre uma seqüência peli- Catarina, o processo mineralizador associa-se ao
to-carbonática correlacionada ao Grupo Açungui evento tectonometamórfico regional que afetou as
que constitui uma sinclinal de direção NE que é rochas do Grupo Itajaí, datado em 550 Ma. Flui-
truncada pelo batólito de Itaoca. Duas fácies me- dos hidrotermais, de origem metamórfica, com tem-
tamórficas estão aí superpostas: a de metamor- peratura ~ 350o C, percolaram a zona de cisalha-
fismo regional, subfácies albita-epídoto e a de mento do Perimbó e propiciaram a substituição das
metamorfismo de contato, hornblenda-hornfels, rochas granito-gnáissicas da Faixa Ribeirão da Pra-
gerada pela intrusão do plúton. ta e arcósios do Grupo Itajaí pelos elementos de
A mineralização associada a calcários encon- minério (Pb, Zn, Cu e Ag) e sílica. Posteriormente,
tra-se sob a forma de filões de pequena espessu- a reativação da zona de cisalhamento deformou o
ra (centimétricos, decimétricos, raramente métri- corpo mineralizado.
co), constituídos por pirrotita e galena (com pirita Galena, esfalerita, calcopirita e pirita são os
e esfalerita subordinada) e pirita e galena, (com minerais de minério primários, enquanto covelita,
pirrotita e calcopirita subordinada). Arsenopirita, goethita, malaquita, azurita e, mais raramente,
estibnita, tetraedrita, bournodita, boulangerita e cerussita e piromorfita compõem a paragênese se-
alabandita também estão associadas às minerali- cundária do minério. Os teores médios do minério
zações. Os corpos mais possantes são, no geral, são de 4% Pb, 1,5% Zn, 0,6% Cu, 3,5% Ba e 115
concordantes com a rocha encaixante que é re- ppm Ag, esta última concentrada na zona oxidada.
presentada por calcários negros (em virtude da A alteração hidrotermal e a mineralização as-
presença de grafita fina) e claros. O filão A, já es- sociada tem idade de 522 Ma (K-Ar, em sericita).
gotado, um dos mais possantes tinha dimensões
de 900 m x 270 x 2,5 m, reservas de 1,3 Mt e com Pb-Zn STRATA-BOUND: A MINA DO PERAU
teores de ~7 % de Pb, 0,5% de Cu, 120 ppm de
Ag e 1,8 ppm de Au. A idade estabelecida para a As jazidas do Perau (Pb-Zn-Ag-Ba), Canoas (Pb,
galena fica em torno de 1,1 Ma. Zn-Ag-Ba), Água Clara (Ba, Cu, Pb) e Pretinhos (Ba,
Cu) situadas no Vale do Ribeira, constituem depó-
Zn-Pb-Cu-(±Sn) DA REGIÃO DE CANANÉIA, SP sitos tipo-Perau que, segundo Fleischer (1976),
apresentam como principais características: posi-
Associado ao Granitóide Mandira ocorrem mi- cionamento litoestratigráfico na seqüência carbo-
neralizações de caráter polimetálico de Zn, Pb, Cu, nática / pelítico-carbonática do Complexo Perau,
Mo e Sn concentradas preferencialmente na parte de idade meso-proterozóica; disposição estrati-
central e, subordinadamente no flanco leste do forme ou strata-bound das mineralizações sulfeta-
maciço que é constituído por granitos alcalinos (ri- das plumbo-zincíferas e/ou baritíferas; associação
ebeckita álcali-granito e granito rapakivi) equigra- entre as mineralizações sulfetadas (Pb-Zn-Ag-Fe)
nulares, de granulação média, e de coloração cin- e corpos baritíferos; formações ferríferas à mag-
za-esbranquiçada. Os corpos mineralizados em netita na capa dos depósitos; rochas ricas em tur-
galena, esfalerita e calcopirita estão sob a forma malina na capa e lapa dos níveis mineralizados;
de diques, veios e bolsões encontrados encaixa- galena, esfalerita, pirita, pirrotita e, ocasionalmen-
dos em zonas tectônicas hidrotermalizadas (pro- te, calcopirita; ganga de quartzo, carbonatos, mi-
pilitizadas) de dimensões centimétrica a quilomé- nerais cálcio-silicatos, barita, e, com menor frequ-

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Ronaldo Mello Pereira, Monica Heilbron & Cláudio Valeriano

ência, feldspato baritífero, turmalina e gahnita; en- nério, de caráter singenético estratiforme, apre-
caixantes carbonáticas/cálciossilicáticas e biotita- senta-se sob a forma de lentes de sulfeto maciço
sericita-xistos, com alto teor em potássio; zonea- constituídas por calcopirita, esfalerita, pirrotita,
mento metálico e mineralógico lateral e vertical, marcassita e tetraedrita com dimensões de 850 m
marcado por variações nos teores de chumbo, zin- x 200 m x 8 m e lentes de barita carbonato-sulfe-
co e bário e / ou no conteúdo de galena, esfalerita, to contendo galena, esfalerita, pirita e calcopirita,
barita, pirita, pirrotita e sílica (chert); os corpos de com dimensões de 900 m x 500m x 8,5 m. A reser-
minério sofreram os mesmos eventos tectono-me- va total do depósito é de cerca de 900.000 t e os
tamórficos que as suas encaixantes, apresentando teores de chumbo assinalados variam entre 6,5%
estruturas bandadas, brechadas do tipo stringer. e 4,6%, com 75ppm a 56 ppm de Ag contida (Silva
Para Barbour et al. (1988) as mineralizações et al. 1988). A idade Pb / Pb considerada para o
exibem algumas similaridades com depósitos exa- depósito é de 1800 a 1600Ma.
lativos vulcanogênicos e sedimentares. Daitx
(1996) considerou os depósitos tipo-Perau como Cu ESCARNÍTICO: A MINA DE SANTA BLANDINA
jazidas SEDEX, formadas por processos hidroter-
mais-exalativos, em fundo oceânico, apresentan- Na FR a ocorrência de cobre mais conhecida é a
do, aparentemente, um posicionamento interme- de Santa Blandina situada nas proximidades de
diário aos tipos Broken Hill e Mount Isa. A influên- Campina do Veado, em Itapeva, SP. Corresponde
cia do magmatismo na formação dessas jazidas é a um depósito escarnítico representado por um
uma questão ainda não definida. corpo alongado, com cerca de 400 metros de com-
A mina do Perau, situada na margem esquerda primento e 150 metros de largura, encaixado em
do ribeirão Perau, nas proximidades da sua con- xistos anfibolíticos. Representa o produto da inte-
fluência com o ribeirão Grande, fica a 33 km a sul ração (metamorfismo termal) entre uma lente cal-
de Adrianópolis, PR. O depósito associa-se a ro- cária e uma intrusão granítica que proporcionou a
chas carbonáticas e pelito-carbonáticas metamor- formação, a partir da rocha carbonática, de uma
fizadas, dispostas na parte inferior da Formação paragênese calciossilicatada constituída por gra-
Perau do Grupo Setuva que é constituída por três nada (andradita-grossulária), piroxênio (diopsídio)
seqüências litológicas representadas, da base e quartzo (Creach et al. 1992). Bolsões e filões de
para o topo, por: quartzitos intercalados com bio- calcopirita e bornita associam-se à rocha escarní-
tita / anfibólio xisto ou anfibólio xistos; mármores tica. Ouro e tungstênio também estão presentes
dolomíticos e calcíticos entremeados por rochas e relacionados a mineralização cuprífera.
calciossilicáticas e mica-carbonato xistos; rochas A alteração intempérica do escarnito minerali-
pelito-aluminosas e anfibolíticas, associadas à gra- zado produziu quatro fácies associadas e repre-
fita-quartzo xisto e ortoanfibolito. sentadas por:
Na seqüência intermediária, encontra-se situ- - escarnito com alteração incipiente, onde os
ado o denominado ‘horizonte Perau’ que é consti- piroxênio e sulfetos foram desestabilizados e com-
tuído por rochas vulcânicas tufáceas ou riolíticas postos cupríferos secundários (crisocola e mala-
de caráter félsico. Ele é que contém os níveis sul- quita) substituíram parcialmente o quartzo;
fetados (Pb, Zn, Fe, Cu) e barita, além de forma- - escarnito alterado, agora com a desestabili-
ções ferríferas bandadas quartzo-magnetíticas. zação da granada, com produtos sílico-cupríferos
São três os tipos de minérios encontrados na ja- preenchendo fissuras e poros;
zida do Perau: maciço, brechado e disseminado. - alterito poroso, nessa fase a caolinita e/ou
O primeiro tipo apresenta-se com espessuras cen- smectita preenchem os poros, sendo a crisocola a
timétricas a decimétricas concordantemente inter- fase portadora de cobre;
calado com a rocha hospedeira; o tipo dissemina- - alterito lixiviado, onde os macroporos foram
do está sempre relacionado aos horizontes mine- preenchidos por acumulações botrioidais de argi-
ralizados; o tipo brechado é representado por frag- lominerais que in situ evoluem para crisocola.
mentos angulosos ou arredondados da rocha en-
caixante englobados por sulfetos e corresponde Manganês, Níquel e Alumínio
ao resultado de esforços deformacionais que atu-
aram sobre a sequência (Silva et al. 1988). O mi- Diversos depósitos de manganês, níquel e alu-

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Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Faixa Ribeira

mínio do tipo laterítico, resultantes de processos Vista, em Pirapetinga, MG. No geral, a porcenta-
intempéricos do Cenozóico que atuaram sobre gem de grafita varia entre 5 % e 15% do total da
rochas portadoras de minerais contendo esses rocha.
elementos, podem ser encontrados ao longo de No prolongamento para norte da FR, na região
toda a extensão da Faixa Ribeira. de Guaçui, ES, também são encontrados corpos
manganesíferos sendo a reservas de minério aí
DEPÓSITOS DE MANGANÊS encontradas estimadas em cerca de 1,0 x 106 t.
Na localidade de Santa Marta, registra-se a pre-
As diversas ocorrências manganesíferas deri- sença de um corpo lenticular verticalizado, orien-
vadas do intemperismo e laterização de peque- tado segundo N25 0E, derivado de protominério
nos corpos lenticulares e camadas de gonditos aparentemente de natureza charnockítica. O teor
geralmente podem ser agrupadas e assim virem a do minério fica em torno de 35% MnO.
formar faixas descontínuas. Elas estão distribuí-
das pelos estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio DEPÓSITOS DE NÍQUEL
de Janeiro e Espírito Santo.
As ocorrências das áreas de Ouro Fino - Jacu- No âmbito da FR são conhecidas algumas con-
tinga (MG) e Socorro (SP), estão relacionadas ao centrações de minério de níquel silicatado deriva-
Complexo Amparo ou Itapira composto por gnais- das do intemperismo e laterização de pequenos
ses, migmatizados ou não, que apresenta inter- corpos básico-ultrabásicos. De modo geral, o mi-
calações de quartzitos, xistos, anfibolitos, metaul- nério corresponde a veios milimétricos a centimé-
trabasitos e gondito. Associados aos corpos de tricos de garnierita contidos em serpentinitos e
gondito encontram-se concentrações de minério peridotitos, sendo as principais ocorrências regis-
manganesífero geralmente de baixo teor e reser- tradas as de Cajati, SP e Areal, RJ.
vas modestas. A exceção corresponde ao depósi- Em Cajati, SP, associado ao complexo carbona-
to da região de Socorro com cerca de 700.000 t títico de Jacupiranga encontram-se rochas ultra-
de minério e teor de 18% MnO. Em Minas Gerais, básicas representadas, dentre outros litotipos,
na região de Jacutinga, é onde se registra a maior por um corpo de dunito de granulação fina a mé-
possança para os corpos manganesíferos encon- dia que se apresenta parcial ou totalmente ser-
trados nesse estado. Os teores do minério maci- pentinizado. A mineralização em Ni ocorre na for-
ço ficam em torno de 28% a 32% MnO. ma de garnierita e distribui-se pela área do ribei-
Nas porções leste de Minas Gerais (região de rão do Joelho, rio Turvo e bairro Areia Preta. A re-
Estrela D’Alva - Pirapetinga) e norte do Rio de Ja- serva corresponde a 2,2 Mt e teor de 1,47% Ni.
neiro (Santo Antônio de Pádua - Itaperuna), são A quatro quilômetros da cidade de Areal, há um
encontrados pequenos corpos lenticulares de gon- pequeno depósito de garnierita localizado às mar-
ditos grafitosos contidos dentro da unidade su- gens da BR-116 (rodovia Rio-Bahia) em área da
pracrustal correlacionada ao Grupo Andrelândia fazenda Laranjeiras. Ele é representado por dois
(Heilbron et al. 2009, Tupinambá et al. 2007). No corpos ultramáficos encaixados em biotita gnais-
conjunto, essa série isolada de pequenos depósi- se do Grupo Andrelândia que foram posteriormente
tos e ocorrências chegam a formar, grosso modo, laterizados. O teor de níquel metálico é de até
uma extensa faixa mineralizada com 100 km, ou 2,0% e a reserva medida é de 150 mil toneladas
mais, de comprimento, orientada segundo a folia- (Fonseca 1998).
ção regional NE-SW e que se estende de Estrela
D’Alva (MG) até Itaperuna (RJ). DEPÓSITOS DE ALUMÍNIO (BAUXITA)
Os corpos manganesíferos têm caimento sub-
vertical para SE ou NW, extensões de poucas de- São diversas as áreas contendo depósitos
zenas metros e cerca de dois a três metros de de bauxita resultantes de processos lateríticos
espessura. Todos os depósitos e ocorrências são que atuaram em diferentes tipos litológicos pre-
bastante similares entre si sendo formados basi- sentes na FR, particularmente as rochas alcalinas.
camente por psilomelana, pirolusita e grafita. Os Nesse caso, em particular, eles estão associados
teores do minério são variáveis, registrando-se aos maciços alcalinos mesozóicos de Passa-Qua-
até 56% de MnO para o depósito da fazenda Bela tro, Morro Redondo, Serra dos Tomazes, Rio Boni-

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Ronaldo Mello Pereira, Monica Heilbron & Cláudio Valeriano

to-Tanguá. cessou, verifica-se a existência de inúmeros de-


Geralmente, foram formados in situ sendo en- pósitos e ocorrências de estanho e metais raros
contrados nas partes mais elevadas dos maciços, relacionados à greisens, filões greisenizados e
onde podem atingir até 20 m de espessura. Como escarnitos. Esses depósitos e ocorrências formam
no caso dos depósitos da área de Passa-Quatro e diversos domínios metálicos para Sn, W, Nb-Ta, e
Itatiaia. Também podem representar material ro- estão associados a diversos complexos batolíti-
lado, constituindo um tálus bauxítico, caracteriza- cos brasilianos, dentre os quais se destacam os
do pela grande concentração de blocos e mata- da Província Rapakivi Itu, Serra do Mar, Complexo
cões, que se dispõe nos sopés das encostas dos Três Córregos e Suíte Catinga (Fig. 5, Tabela 1).
maciços alcalinos como, por exemplo, os de Morro
Redondo, Serra dos Tomazes e Rio Bonito-Tanguá. GRANITOS DA PROVÍNCIA RAPAKIVI ITU

Mineralizações de metais raros relacionados a Em São Paulo ocorrem alguns corpos de com-
granitogênese Brasiliana posição alcalina tais como os granitos Correas,
Serra de São Francisco e albita granito Inhandja-
Ao longo de toda extensão da Faixa Ribeira, ra, pertencentes à Suíte Rapakivítica Itu (Vlach et
associados à intensa granitogênese que aí se pro- al.1990), Província Rapakivi Itu (Wernick et al.

Figura 5 - Principais depósitos e ocorrências de estanho e metais raros da Faixa Ribeira. 1 - Morro da
Catinga (Granito Catinga); 2 - Capivari-Pardo (Granito Graciosa): Sn / W (wolframita); 3 - Cananéia
(Granitóide Mandira): Sn / Hf; 4 - Cajati (Granito Desemborque): Sn / Nb; 5 - Granito Itaoca: W (scheeli-
ta); 6 - Granito Morro Grande : Sn; 7 - Granito Piedade :W (scheelita); 8 - Granito Varginha: W (schee-
lita); 9 - Bairro dos Correas (Granito Correas): Sn / W (wolframita); 10 - Sorocaba / Votorantim (Granito
Serra de São Francisco): Sn / W (wolframita); 11 - Itupeva: Sn / W (wolframita); 12 - Moji das Cruzes: Sn;
13 - Santa Branca: W (scheelita); 14 - Piquete (Bairro dos Marins): Sn, W (scheelita); 15 - Arapeí : W
(scheelita); 16 - Parati-Angra dos Reis: W (scheelita); 17 - Areias/ Itatiaia (Granito Funil): Sn; 18 -
Itamonte /Itanhandu (Turmalina granitos Capivara e Itanhandu): Sn / Nb-Ta.

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Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Faixa Ribeira

Tabela 1 - Granitóides mineralizados da Faixa Ribeira.

1997) aos quais se associam mineralizações de são estimadas em 5.000 t de Sn e 500 t de W.


estanho e metais raros. Também merece ser registrado o depósito (hoje
A principal ocorrência corresponde a do Bairro esgotado) da Fazenda Inhandjara localizado no
dos Correas, na localidade de Taboa, Ribeirão Bran- Bairro da Mina em Itupeva e a ocorrência do Sítio
co, onde associado ao Granito Correas, intrusivo do Arado em Votorantim, conhecidas desde as
em rochas granito-gnáissicas / migmatíticas (Com- décadas de 40 e 50 do século passado, e que re-
plexo Apiaí) e quartzitos e anfibolitos (Grupo Ri- presentam clássicas mineralizações de wolframi-
beira) encontram-se mineralizações de estanho ta (± cassiterita) relacionada a filões / veios de
(cassiterita) e tungstênio (wolframita) em veios, quartzo greisenizados. Essas mineralizações es-
bolsões, stockworks de quartzo e greisens (mica- tão, respectivamente, associadas ao Albita Grani-
topázio-quartzo greisen e brecha greisen). to de Inhandjara (Leite & Zanardo 1994) e ao Gra-
Para Goraieb (2001) o depósito seria semelhan- nito Serra de São Francisco.
te ao do tipo ‘sistemas de veios Sn-W’ onde os
veios e sockworks teriam sido formados por eta- GRANITOS DA SUÍTE INTRUSIVA SERRA DO MAR
pas sucessivas de hidrofraturamento, circulação
de fluidos, alteração / precipitação e fechamento Na porção sul da Faixa Ribeira ocorre uma série
de fraturas, associados com processos do tipo de granitos de características anorogênicas que
boiling. A evolução do depósito envolve a cristali- podem, de forma geral, ser enquadrados como do
zação de cassiterita e wolframita de granulação tipo-A e estão relacionados à Suíte Intrusiva Ser-
grossa, seguida de cassiterita e wolframita mais ra do Mar. São 13 granitos de composição predo-
finas acompanhadas, respectivamente, pela inje- minantemente alcalina e 3 de composição peral-
ção de mica-topázio greisen e de uma fase sulfe- calina sendo que alguns deles apresentam uma
tada de mica greisen. A ganga é composta por forte vocação metalogenética para elementos gra-
quartzo, topázio, fluorita e micas (fengita, sidero- nitófilos. A idade do magmatismo Serra do Mar
filita, protolitionita e zinwaldita). O fluido respon- relacionada ao Neoproterozóico III foi estabeleci-
sável pela mineralização é tipicamente magmáti- da em 580 ± 20 Ma (Kaul 1997).
co (CO2 ± CH4, H2O, NaCl, KCl, FeCl2), mas, ao se Dentre os corpos mais potenciais destacam-se
misturar parcialmente com água meteórica permi- o Granito Graciosa localizado na região de Capi-
tiu a introdução de uma nova fase aquosa com vari-Pardo, PR, onde há o registro de duas áreas
características mais redutoras que teria favoreci- mineralizadas em Sn-W denominadas respectiva-
do a deposição dos sulfetos (pirita, esfalerita, cal- mente de Alvo Cantagalo e Alvo Paraíso (Litch et
copirita). Temperaturas de deposição calculadas al. 1989). No primeiro, a cassiterita e a wolframita
através dos pares quartzo-cassiterita e quartzo- estão relacionadas a greisens e granitos albitiza-
wolframita indicam valores entre 460o C e 330o C dos e no segundo, onde só há registro da cassi-
(média de 395o C ± 65o C). Cerca de 5% dos grãos terita, ela está associada a filões sulfetados (Li-
de cassiterita apresentam magnetismo que varia de tch et al. 1989).
forte a moderado (Pereira et al. 2001). As reservas Ainda pode ser mencionado o Granito Desem-

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Ronaldo Mello Pereira, Monica Heilbron & Cláudio Valeriano

borque, em Cajati, SP ao qual se associam peque- estanho (cassiterita) e metais raros (columbita-
nos corpos de greisens com sulfetos, topázio e tantalita) foram registradas nas imediações de
cassiterita (Oliveira et al. 1987). Diversos minerais corpos graníticos brasilianos localizados na região
de metais raros tomam parte na mineralogia aces- limítrofe aos estados de São Paulo, Minas Gerais
sória do granito dentre os quais se destaca a co- e Rio de Janeiro (Pereira et al. 2003, 2005, 2007).
lumbita, seguida da cassiterita, molibdenita, fluo- São representados, principalmente, por granitos
rita, zircão hafnífero e pirita (Pereira et al. 2007). com idades (207Pb/ 206Pb) variando de 649 ± 6 Ma a
584 ± 5 Ma (Pereira, 2001). Os principais corpos
GRANITOS DO COMPLEXO TRÊS CÓRREGOS correspondem aos granitos Capivara e Itanhandu
(situados em Itamonte e Itanhandu, MG), Menda-
Em São Paulo e no Paraná há registros de di- nha (situado entre Piquete, SP e Passa Quatro,
versos corpos graníticos neoproterozóicos perten- MG) e Funil (situado entre Resende-Itaiaia, RJ e
centes ao Complexo Três Córregos que se mos- Areias, SP).
tram especializados em metais raros. Dentre eles
encontram-se os granitos Itaoca (Mello & Betten- Domínios scheelitíferos associados a faixas de
court 1998), Morro Grande, Piedade e Varginha rochas calcissilicáticas
(Chiodi Filho et al. 1987).
O Granito Itaoca, SP/PR, com cerca de 180 km2 Distribuídas pela FR registram-se várias faixas
é intrusivo nas rochas metassedimentares da Se- constituídas por rochas calciossilicáticas de idades
quência Lajeado. Ele é composto por monzograni- proterozóicas contendo mineralizações scheelití-
tos porfiríticos de alto potássio (shoshonitos) e feras de caráter singenético (Figura 2). Dentre elas,
múltiplas unidades granitóides consideradas como despontam as das regiões do Bairro dos Marins,
injeções co-genéticas, derivadas da crosta inferi- em Piquete e de Arapeí (Pereira & Ávila 2008),
or. Este maciço contém depósitos de scheelita / sendo interessante mencionar as da faixa que se
powellita e wollastonita associada a skarns locali- desenvolve paralelamente a Serra do Mar e que
zados em sua porção central, formados durante se dispõe de Parati a Angra dos Reis, RJ (Pereira
os estágios de metassomatismo e hidrotermalis- & Santos 1983).
mo. A scheelita de cor acinzentada, em grãos ou
agregados sumilimétricos a subcentimétricos, ocor- SCHEELITA DO BAIRRO DOS MARINS
re em escarnitos proximais de cores escuras em
virtude do grande percentual de piroxênio do tipo No Bairro dos Marins, em Piquete, SP, as rochas
salita e nos distais, de cores claras, formados por calciossilicáticas são encontradas em níveis de in-
diopsídio-wollastonita. Em ambos os casos a sche- terestratificadas em gnaisses do Complexo Pira-
elita concentra-se nas partes mais granatíferas caia ou como xenólitos inclusos no Granitóide Ma-
(grossulária-andradita). Os teores são de até 1,6% rins (Pereira & Ávila, 2009). O nível mineralizado
WO3 nos escarnitos escuros e teor médio de 0,15 em scheelita é composto predominantemente por
de WO3 nos escarnitos claros (Mello et al. 1985). diopsídio e encontra-se justo no contato entre
gnaisses a biotita e a hornblenda. Já os níveis não
GRANITOS DIVERSOS mineralizados constituídos por tremolita-actinoli-
ta, epídoto, carbonato, diopsídio, escapolita, bio-
Em Santa Catarina, intrusivos na seqüência tita e microclina, estão intercalados no biotita
vulcanossedimentar do Grupo Brusque, ocorrem gnaisse. No geral, os corpos encontrados são con-
diversos corpos de biotita granito pertencentes à siderados como de caráter strata-bound tendo a
Suíte Intrusiva Catinga de idades entre 647 e 500 scheelita origem singenética. Os teores baixos, por
Ma. Em Nova Trento, filões de quartzo-wolframita, volta de 0,6 % de WO3, apontam para uma ocor-
contendo cassiterita e molibdenita, ocorrem asso- rência de caráter subeconômico.
ciados ao corpo granítico da área de Cerro da
Catinga. O depósito, intensamente explotado, ti- SCHEELITA DE ARAPEÍ
nha reservas da ordem de 6.200 t com 135 t de
WO3 contido (Silva et al. 1986). Em Arapeí, SP, região inserida no domínio tec-
Além desse depósito, diversas ocorrências de tônico da Klippe Paraíba do Sul, segmento central

513
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Faixa Ribeira

da FR, as rochas regionais correspondem a pa- Almeida F.F.M.de, Hasui Y., Brito Neves B.B.de, Fuck R.
A. 1981. Brazilian structural provinces: An introduc-
ragnaisses com intercalações de xistos pelíticos, tion. Earth-Science Reviews, 17:1-21.
rochas calciossilicáticas, mármores e subordinada- Barbour A.P., Macedo A.B., Hypólito R. 1988. Correla-
ção dos elementos prata, chumbo, zinco e ferro com
mente por gonditos, quartzitos e anfibolitos do
bário em algumas jazidas sulfetadas do Vale do Ri-
Grupo Paraíba do Sul. Intrusivo na região ocorre o beira, Estados de São Paulo e Paraná. São Paulo,
Granitóide Rio Turvo (579 Ma), um tipo S, de cará- Boletim IG-USP: Série Científica, v. 19.
Basei M.A.S., Siga Jr. O., Reis Neto J.M., Harara O.M.,
ter sin-colisional. Passarelli C.R., Machiavelli A. 1997. Geochronolo-
Em geral, as rochas calciossilicáticas são maci- gical map of the Precambrian terrains of Paraná and
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ças ou bandadas e formadas principalmente por
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tro de paragnaisses ou em contato gradacional Basei M.A.S., Siga Jr. O., Masquelin H., Harara O.M.,
com lentes de mármores. A disposição acamada- Reis Neto J.M., Preciozzi F. 2000. The Dom Feliciano
da em finos estratos e suas relações com rochas Belt of Brazil and Uruguay and its foreland domain,
the Rio de La Plata Craton. Framework, tectonic
quartzíticas, níveis carbonáticos e gnaisses pelíti- evolution and correlation with similar provinces of
cos levam a se considerar uma origem metassedi- Southwestern Africa. In: U.G. Cordani, E.J. Milani,
A. Thomaz Filho, D.A. Campos (eds). Tectonic Evo-
mentar para esses litotipos. A scheelita encontra- lution of South America. Int. Geol. Congr., 31st Rio
se principalmente associada à Unidade Beleza e, de Janeiro, 311-334.
no geral, tem cor de fluorecência branca-azulada, Basei M.A.S., Siga Jr. O., Kaulfuss G.A., Cordeiro H.,
Nutman A., Sato K., Cury L. F., Prazeres Filho H.J.,
porém ocorre scheelita com fluorescência amare- Passarelli C.R., Harara O.M., Reis Neto J.M. 2003.
lada fato que denota a presença de Mo na estru- Geochronology and Isotope Geology of Voturerava
and Perau Mesoproterozoic Basins, Southern Ribei-
tura do mineral. ra Belt, Brazil. In: South American Symposium on
Isotope Geology - SSAGI, 4 º, Extended Abstracts,
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CONSIDERAÇÕES
Basei M.A.S., Frimmel H.E., Nutman A.P., Preciozzi F.
2008. West Gondwana amalgamation based on de-
De modo geral, a quase totalidade da produ- trital zircon ages from Neoproterozoic Ribeira and
Dom Feliciano belts of South America and compari-
ção mineral da FR é representada pela explota- son with coeval sequences from SW Africa. Geolo-
ção de insumos utilizados na construção civil, tais gical Society, London, Special Publications 294:239-
256.
como areia, brita, rochas ornamentais e cimento.
Beljavskis P., Garda G.M., Juliani C. 1993. Característi-
Comparativamente, são poucos os registros de cas das mineralizações auríferas no Grupo Serra
ocorrências e / ou de depósitos de minerais metá- do Itaberaba, Guarulhos-SP. São Paulo, Revista do
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licos e não metálicos de uso industrial nesse do- Biondi J.C., Franke N.D., Carvalho P.R, Villanova S.N.
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minerais conhecidos até a presente data na FR Boin M.N., Silva J.R.B., Silva R.B., Mello I.S.C. 1982.
pode levar a uma visão conformista, onde se as- Mineralizações Polimetálicas, hidrotermais, associ-
adas aos Granitóides Alcalinos de Mandira. In: SBG,
sume que a mesma é desprovida desses recursos Cong. Bras. Geol., 32 , Anais, v. 3: 945-956.
ou não muito promissora em relação a eles. Mas, Campanha G.A.C., Sadowsky G.R. 1999. Tectonics of
the southern portion of the Ribeira Belt (Apiaí Do-
outro tipo de postura, não dogmática e não con-
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formista, considera que não foram realizados os Campos Neto, M. C. & Caby, R. 2000. Lower crust ex-
estudos e os levantamentos (aerogeofísicos, geo- trusion and terrane accretion in the Neoproterozoic
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químicos regionais, etc.) necessários para que o Chiodi Filho C., Moretzshon J.S., Santos J.F., Soares P.C.
real potencial mineral da FR pudesse ser estabe- 1987. Aspectos geológicos e metalogenéticos dos
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516
Eduardo Camozzato, João Angelo Toniolo & Jorge Henrique Laux

METALOGÊNESE DO CINTURÃO DOM FELICIANO E FRAGMENTOS


PALEOCONTINENTAIS ASSOCIADOS (RS/SC)
EDUARDO CAMOZZATO, JOÃO ANGELO TONIOLO & JORGE HENRIQUE LAUX

Serviço Geológico do Brasil, CPRM/Porto Alegre, RS.


E-mails: eduardo.camozzato@cprm.gov.br, joao.toniolo@cprm.gov.br, jorge.laux@cprm.gov.br

INTRODUÇÃO Ainda que mínima, a faiscagem de ouro em


1715 (Período Colonial), nas proximidades da atual
A colagem neoproterozoica/cambriana do oes- localidade de Porto Belo (SC), foi relatada pelo
te do Gondwana, denominada de orogenia ou Ci- sargento-mor Manuel Gonçalves de Aguiar, comis-
clo Brasiliano – Pan-Africano, resultou da conver- sionado pelo governo e autor das “Notícias Práti-
gência dos crátons Rio de la Plata/Luis Alves, Ka- cas da Costa e Povoação do Mar do Sul”, datada
lahari e Congo, com o desenvolvimento diacrônico de 1721.
dos três cinturões orogênicos identificados no su- Referindo a região do rio “Tajahy” (rio Itajaí,
doeste da África (Kaoko, Gariep e Damara) e da- nordeste de SC), Paulo José Miguel de Brito en-
quele instalado no sul do Brasil (Dom Feliciano), cerra um texto de sua “Memória Política de Santa
com diferentes interpretações acerca da conexão Catarina”, escrita em 1816, salientando a ocorrên-
deste com os seus correspondentes africanos, cia “do mais precioso dos metais, o ouro...”. A des-
desmembrados pela fragmentação do Pangeia, no coberta de “terras argentíferas” na mesma região,
início do Mesozoico (Porada 1979, 1989; Trompet- no alto ribeirão Garcia (ou Alto Garcia, município
te & Carozzi 1994; Basei et al. 2000, 2005; Che- de Blumenau, SC) remonta ao ano de 1872, área
male Jr. 2000, 2007; Oyhantçabal et al. 2010; Che- na qual a exploração comercial foi iniciada em 1884
male Jr. et al. 2012; entre outros) (Fig. 1a). com base em concessão de lavra oficializada em
As unidades neoproterozoicas do Cinturão Dom 1883.
Feliciano (Fragoso-César 1980), segmento meri- Em torno de 1944/1945, no “Morro da Gorita”,
dional da Província Mantiqueira (Almeida et al. no denominado “Arraial do Ouro” (a norte de Gas-
1981), e os fragmentos paleocontinentais associ- par, SC) foi encontrada a maior pepita de ouro da
ados neoarqueanos e paleoproterozoicos com di- região (1.450 g).
ferentes graus de retrabalhamento no Brasiliano, No RS, o ouro foi provavelmente descoberto no
que são o foco metalogenético do presente texto, fim do séc. XVIII por bandeirantes que percorriam
constituem os escudos Sul-Rio-Grandense e Ca- o território, o que resultou no envio à região em
tarinense, entidades que são geograficamente 1802, pelo governo da Colônia, de um fiscal de
descontinuadas pela cobertura de rochas sedi- governo (“guarda-mor”) responsável pela cobran-
mentares e vulcânicas da Bacia Paraná e sedimen- ça do dízimo sobre o ouro extraído.
tos da Planície Costeira (Fig. 1b), no limite entre No governo de D. João VI, o Barão de Eschwe-
os estados do Rio Grande do Sul (RS) e Santa Ca- ge, encarregado do Real Gabinete de Mineralogia
tarina (SC). no período 1810-1821, faz referência aos ricos
depósitos auríferos “nas proximidades de Santo
DADOS HISTÓRICOS Antônio das Lavras”, atual Lavras do Sul (RS), à
época pertencente ao município de Rio Pardo.
Mineralizações metálicas são referidas desde Aquarelas do alemão Hermann Wendroth do fi-
o séc. XVIII no âmbito do Cinturão, algumas delas nal dos anos 1850 retratam a atividade garimpei-
resultando em distritos mineiros com importância ra em Lavras do Sul (Licht 2009), com detalhes
nacional, outras em áreas com caráter garimpei- acerca dos filões auríferos e dos granitos encai-
ro, produção intermitente e importância local. xantes das mineralizações. Gorceix (1874), regis-

517
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Cinturão Dom Feliciano (RS/SC)

tra um teor médio de 1,25 onças (~39 g) de Au 2012; Camozzato et al. 2013a,b).
por tonelada na parte superficial destes filões. O Escudo Sul-Rio-Grandense contém cinco uni-
A descoberta de minério de Cu nas minas do dades geotectônicas (Fig. 1b):
Camaquã (RS) deu-se em 1865 por mineiros in- 1) Terreno Taquarembó, caracterizado pelo
gleses que extraiam ouro em Lavras do Sul, resul- Complexo Granulítico Santa Maria Chico (Nardi &
tando na abertura de uma galeria, conhecida como Hartmann 1979), com unidades paleoproterozoi-
Galeria dos Ingleses, explorada pela Rio Grande cas paraderivadas (com alguma proveniência neo-
Gold Mining Ltd. entre 1870 e 1887. arqueana) e ortoderivadas com características iso-
Conforme Leinz & Pinagel (1945), entre os anos tópicas juvenis. São provisoriamente incluídas
de 1890 e 1914 houve uma grande atividade mi- neste terreno as metavulcanossedimentares es-
neira no RS, incluindo a exploração das minas de taterianas de baixo e médio grau do Complexo
wolframita do Cerro d’Árvore e Sanga Negra e de Coxilha do Batovi de Schmitt (1995; sensu Laux et
estanho de Campinas, no oeste e sudoeste do al. 2010a); 2) Terreno São Gabriel, de idade neo-
município de Encruzilhada do Sul (RS). proterozoica e assinatura isotópica juvenil, con-
Desde os meados do século XX houve perío- sistindo de uma associação de rochas metavulca-
dos de intensa atividade de pesquisa mineral no nossedimentares e plutônicas de arco e fragmen-
Cinturão Dom Feliciano, na busca de metais-base, tos de ofiolitos; 3) a parcela meridional do Terre-
preciosos e não ferrosos. Contudo, após o fecha- no Tijucas, caracterizada pelas rochas metavulca-
mento das minas do Camaquã, em 1996, nenhum nossedimentares neoproterozoicas do Complexo
depósito dimensionado resultou em atividade ex- Porongos e pelos basement inliers de ortognais-
trativa. ses e metagranitos paleoproterozoicos e, de ma-
Na atualidade, a mineração no âmbito do Cin- neira muito limitada, básicas-ultrabásicas meso-
turão Dom Feliciano inclui os mármores para as proterozoicas; 4) Batólito Pelotas, com suítes e
indústrias de corretivos agrícolas e do cimento, complexos de granitóides neoproterozoicos e por
argilas cerâmicas e refratárias, minerais industri- frações retrabalhadas da crosta paleoproterozoi-
ais, rochas ornamentais e agregados para uso na ca; e 5) coberturas sedimentares e vulcânicas do
construção. A extração de Au está restrita a pe- Neoproterozoico e Cambriano, agrupadas na Ba-
quenos garimpos intermitentes nos depósitos co- cia Camaquã, e ígneas plutônicas predominante-
luviais e aluviais das regiões de Lavras do Sul e mente graníticas cronocorrelatas; todas encontra-
Vila Nova do Sul (RS) e de Gaspar (SC). das, em dimensões variadas, intrudindo ou depo-
sitadas sobre as demais unidades geotectônicas,
ESTRUTURAÇÃO TECTONO-GEOLÓGICA com caráter tardi a pós-orogênico em relação ao
evento Brasiliano.
Os grandes lineamentos regionais de direções O Escudo Catarinense contém também cinco
NE-SW e NW-SE serviram de base para as primei- unidades (Fig. 1b):
ras descrições da organização interna do mosaico 1) Terreno Luis Alves, caracterizado pelo Com-
de blocos que constitui os escudos do RS e SC, plexo Granulítico de Santa Catarina (Hartmann et
bem como das interpretações acerca da evolução al. 1979), com orto e paragnaisses neoarqueanos
tectônica e correlação entre estas áreas, cuja co- e ortognaisses e metagranitóides paleoprotero-
lagem orogênica foi concluída ao final do Ciclo Bra- zoicos; 2) a parcela setentrional do Terreno Tiju-
siliano, na passagem do Neoproterozoico para o cas, composta por unidades metavulcanossedi-
Eopaleozoico. mentares neoproterozoicas do Complexo Brusque
Muitas e importantes contribuições a estas in- e porções muito limitadas com ortognaisses pa-
terpretações são devidas aos resultados de pes- leoproterozoicos migmatizados no Brasiliano; 3)
quisas suportadas por geofísica (e.g., Hallinan et e 4) batólitos Paranaguá e Florianópolis, conten-
al. 1993; Orlandi Fº et al. 1995; Costa et al. do suítes e complexos de granitóides neoprotero-
1995a,b; Fernandes et al. 1995; Costa 1997) e zoicos e fragmentos do embasamento paleopro-
geocronológicas e isotópicas (e.g., Basei 1985; terozoico com graus variados de retrabalhamen-
Soliani Jr. 1986; Babinski et al. 1996; Hartmann et to; e 5) coberturas sedimentares com vulcano-plu-
al. 2000, 2003, 2007, 2011; Philipp et al. 1998, tonismo associado das bacias Itajaí, Campo Ale-
2003; Laux et al. 2010a,b; Chemale Jr. et al. 2011, gre, Corupá, Alto Palmeira e Joinville, neoprotero-

518
Eduardo Camozzato, João Angelo Toniolo & Jorge Henrique Laux

Figura 1 – (a) Cinturões brasilianos - pan-africanos e áreas cratônicas relacionadas. (b) Domínios tectono-
geológicos dos escudos Sul-Rio-Grandense e Catarinense sobre fundos geológico (Wildner et al. 2013a,b) e
aeromagnetométrico (CPRM, aerogeofísica dos escudos do RS e SC).

zoicas a cambrianas, instaladas sobre as rochas reno Tijucas setentrional e a Bacia Itajaí; (2) o
do Terreno Luis Alves. Complexo Metamórfico Migmático Indiferenciado de
Os dois segmentos paleocontinentais mais im- Trainini et al. (1978; ortognaisses de Presidente
portantes, com significativa preservação de inte- Nereu de Basei 1985), tidos como equivalentes
gridade relativamente aos processos do Brasilia- mais para o SW do Complexo Ribeirão da Prata;
no, são os complexos granulíticos Santa Maria (3) o Complexo São Francisco do Sul (Cury 2009)
Chico e de Santa Catarina, respectivamente inter- e fragmentos muito limitados no Complexo Águas
pretados como frações remanescentes do Cráton Mornas (Zanini et al. 1997), englobados respecti-
Rio de la Plata e de sua extensão catarinense, vamente por rochas dos batólitos Paranaguá e Flo-
onde é referido como (micro) Cráton Luis Alves. rianópolis; (4) os complexos Arroio dos Ratos (sen-
Exposições paleoproterozoicas retrabalhadas su Gregory et al. 2011) e Várzea do Capivarita (sen-
em graus variados durante a fase colisional brasi- su Martil et al. 2011), na região de Encruzilhada
liana constituem: do Sul/Quitéria (RS), no limite entre o Terreno Ti-
(1) a Faixa Ribeirão da Prata de Borba e Lopes jucas meridional e o Batólito Pelotas; (5) os Gnais-
(1983; ou Faixa Granito-Gnáissica Perimbó de Cal- ses Porto Alegre (RS; Philipp &Campos 2004), no
dasso et al. 1995a; ou Complexo São Miguel de âmbito do Batólito Pelotas; e (6) as unidades in-
Basei et al. 2011a), aqui denominada Complexo fraestruturais (basement inliers) expostas em meio
Ribeirão da Prata e que constitui uma porção do aos complexos Porongos e Brusque.
Complexo Granulítico de Santa Catarina com re- Estas últimas são representados no RS por or-
trabalhamento no Brasiliano, no limite entre o Ter- tognaisses e metagranitóides dos domos de San-

519
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Cinturão Dom Feliciano (RS/SC)

tana da Boa Vista (Complexo Encantadas, sensu multielementar, associadas ou não com metais pre-
Philipp et al. 2008) e da Vigia (Complexo Vigia e ciosos (Au e Ag), constituem os principais recur-
Metagranito Seival de Camozzato et al. 2013a), sos minerais metálicos no Cinturão Dom Feliciano.
bem como pelos gnaisses da região de Jaíba-Tor- Os trabalhos de Ribeiro (1978), Schobbenhaus
rinhas (Camozzato et al. 2013b). Em SC, pelos & Coelho (1986, 1988), Santos et al. (1998), Ram-
gnaisses migmatizados do Complexo Camboriú grab et al. (2000), Dardenne & Schobbenhaus
(Chemale Jr. et al. 1995; Basei et al. 2010, 2013). (2003) e Biondi (2003) constituem as principais
Ainda que expostas em áreas restritas, duas sínteses de informações disponíveis sobre mine-
unidades mesoproterozoicas são reconhecidas no ralizações nos estados do RS e SC. Muitas outras
RS: Anortosito Capivarita (sensu Chemale Jr. et al. fontes, com referências gerais ou detalhamento
2011) e Anfibolito (metagabro) Tupi Silveira (Ca- de depósitos específicos, estão disponíveis na bi-
mozzato et al. 2013a). bliografia, e são citadas ao longo do texto.
Projetos nacionais ou regionais de pesquisa do
Limites dos Terrenos Serviço Geológico do Brasil (CPRM), como o Pro-
grama Nacional de Prospecção de Ouro (PNPO),
Em Santa Catarina, o Terreno Luis Alves se li- com diversos informes publicados para o RS e SC,
mita pelo sul com a porção catarinense do Terre- os mapas geoquímico regionais do RS e SC e os
no Tijucas através da Zona de Cisalhamento Ita- textos e mapas do Programa Geologia do Brasil
jaí-Perimbó (Lineamento Perimbó de Silva e Dias (1:100.000 e 1:250.000), constituem subsídios
1981), de direção N55º-65ºE, a qual coloca em importantes pelos dados geológicos e geoquími-
contato tectonicamente imbricado os complexos cos prospectivos disponibilizados.
Brusque e Ribeirão da Prata e constitui, ainda, o Com base nestas fontes são apresentados os
limite sul da Bacia Itajaí. Pelo sul-sudeste, a por- dados descritivos e, quando possível, genéticos
ção setentrional do Terreno Tijucas está limitada das principais áreas mineralizadas no Cinturão
do Batólito Florianópolis pela Zona de Cisalhamen- Dom Feliciano e nas porções paleocontinentais que
to Major Gercino (Bitencourt et al. 1989; Falha com ele se relacionam, de tal forma que subsidi-
Major Gercino de Schulz Jr. & Albuquerque 1969), em as atividades metalogenéticas preditivas e os
paralela à Zona de Cisalhamento Itajaí-Perimbó. modelos exploratórios na região.
Pelo leste, o Terreno Luis Alves se limita com o
Batólito Pararanaguá pela Zona de Cisalhamento Au no Terreno Taquarembó (RS)
(Lineamento) Palmital (Cury 2009), de direção
N30ºW (Fig. 1b). No extremo norte do Terreno Taquarembó aflo-
No Rio Grande do Sul, o Lineamento (Magnéti- ram gnaisses granulíticos paleoproterozoicos do
co) de Caçapava do Sul (Costa et al. 1995a), com Complexo Santa Maria Chico e unidades magmáti-
direção N-S a NNE, limita os terrenos São Gabriel cas pós-colisionais neoproterozoicas (Nardi & Bi-
e Taquarembó, ao oeste, do Tijucas meridional, ao tencourt 2007, Laux 2012). Os principais termos
leste; enquanto o Lineamento Ibaré, de direção intrusivos deste magmatismo constituem os gra-
N40º-60oW, limita os dois primeiros terrenos. Já a nitóides de afinidade shoshonítica da Suíte Santo
Zona de Cisalhamento Dorsal de Canguçu de Fer- Afonso, caracterizados pela cogeneticidade com
nandes et al. (1990; Sistema de Falhas Dorsal de rochas do vulcanismo Hilário da Bacia Camaquã; e
Canguçu de Picada 1974), equivalente à Zona de os granitos alcalinos da Suíte Saibro, do tipo A,
Cisalhamento Major Gercino em SC, separa o Ter- correlacionáveis ao vulcanismo Acampamento Ve-
reno Tijucas meridional, pelo leste, do Batólito lho daquela bacia. Tanto nesses granitóides como
Pelotas (Fig. 1b). nas seqüências vulcânicas ocorrem rochas bási-
cas cogenéticas que comprovam a participação de
RECURSOS MINERAIS METÁLICOS líquidos mantélicos na geração do magmatismo
granítico. Uma extensa área com exposição de
Generalidades rochas vulcânicas da Fm. Acampamento Velho, o
Platô do Taquarembó, ocorre logo a oeste da área
As mineralizações de Au, Sn, W e sulfetos de que contém as mineralizações.
metais base (Cu, Pb, Zn) de natureza mono ou As áreas de interesse para Au na região são

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Eduardo Camozzato, João Angelo Toniolo & Jorge Henrique Laux

referidas como Vauthier, Tunas, Caneleiras, Passo sença de hematita e goethita e pontualmente al-
das Trindades, Três Estradas, Taquarembó, Cerro tos teores de Au, contrastantes com os resulta-
Vermelho e Saibro (Santos & Maciel 2007a,b; Ca- dos muito baixos obtidos em subsuperfície (am-
mozzato et al. 2012). A principal delas é a Vauthi- bos os valores não caracterizados).
er, onde a extração de Au foi realizada na Mina Na região do Passo das Trindades (também
Barcelos, ativa até a década de 1930 (Fig. 2). referido como Saibro Norte) estão expostos anfi-
As ocorrências mineralizadas mostram altera- bolitos com intercalações de rochas de composi-
ções hidrotermais não pervasivas (venulares) e ção granítica e traquítica. Ocorrem veios de quart-
pervasivas. Os filões, abundantes nas diversas li- zo leitoso de orientação N-S, alterações hidroter-
tologias, são dominantemente rúpteis, com estru- mais da zona da sílica e illita e veios bandados
tura brechada e orientados conforme as direções com magnetita, quartzo e pirita. Os filões minera-
N-S, NNE e NW, sendo comum a percolação de cal- lizados têm teores de Au muito baixos, entre 0,014
cedônia e substituições de barita e sílica. ppm e 13,9 ppm de Au (Santos & Maciel 2007a).
Iglesias (2000) refere que na prospecção regi- Na localidade denominada Três Estradas as
onal executada pela Companhia Brasileira do Co- mineralizações auríferas ocorrem em brechas tec-
bre (CBC) no SW do Escudo Sul-Rio-Grandense tônicas, filões de quartzo leitoso e hidrotermali-
foram medidas as atitudes de 430 estruturas filo- tos quartzo-sericíticos (Iglesias 2000) hospeda-
nianas (veios de quartzo, brechas silicosas e hi- dos em granitóides da Suíte Santo Afonso. Con-
drotermalitos quartzo-sericíticos), das quais 210 forme Santos & Maciel (2007a) e Santa Elina
apresentaram teores de Au e 80 a presença de (2008), afloram na área principalmente rochas
molibdenita e outros metais básicos, como gale- básicas do complexo granulítico e granitóides da
na, esfalerita e minerais de Cu. Suíte Santo Afonso. Duas frentes de lavra artesa-
No Vauthier, conforme Santos et al. (1998), o nal abandonadas ocorrem na área, a noroeste da
Au ocorre livre ou incluso na pirita, em veios de Estância Três Estradas, com exposição de rochas
quartzo hospedados em rochas hipabissais. Laux calcissilicáticas com vênulas e manchas de carbo-
et al. (2009) identificam nesta área veios, stock- nato e limonita, pirita disseminada e veios centi-
works e brechas hidrotermais de quartzo (local- métricos de quartzo com escassa limonita e goe-
mente com textura do tipo vuggy silica) e altera- thita. Uma importante estrutura tectônica regio-
ção do tipo potássica (neoformação de biotita) e nal de caráter transcorrente sinistral, a Falha Cer-
sericítica em granitóides porfiríticos, de natureza ro dos Cabritos, corta os litótipos conforme a dire-
subvulcânica, da Suíte Vauthier. Com base nos da- ção N35º-45ºE mostrando rejeito direcional de
dos levantados, caracterizam a suíte como potenci- aproximadamente 7 Km.
al para depósitos do tipo pórfiro e epitermal, ou
mesmo de um continuum entre esses dois tipos. Au (Cu, Pb, Zn) no Terreno São Gabriel (RS)
Vargas et al. (2007) descrevem no Cerro da
Tuna brechas hidrotermais, centimétricas a métri- A porção ocidental do Cinturão Dom Feliciano
cas, de direção geral NE-SW, e veios de quartzo no RS é caracterizada pelo Terreno São Gabriel,
com textura vuggy contendo barita, carbonatos, uma área de acresção crustal juvenil neoprotero-
clorita, pirita e hematita. Como encaixantes, gnais- zoica na qual são reconhecidos cinco grandes agru-
ses e granitos cortados por diques NW-SE e NE- pamentos petrotectônicas, todos com significati-
SW de rochas traquíticas e traquiandesíticas cál- va imbricação estrutural e dispostos como faixas
cio-alcalinas. As alterações hidrotermais descritas de direção preferencial NE-SW: 1) granito-gnais-
refletem um sistema hidrotermal epitermal. ses do Complexo Cambaí (890 a 690 Ma); 2) (meta)
Silva et al. (2007) identificam no Cerro Canelei- vulcanossedimentares do Cinturão Vacacaí (760 a
ras filões de quartzo de direção N30º-50ºE, com 700 Ma) (complexos Palma p.p., Pontas do Salso,
até 5 m de espessura, brechados e contendo como Bossoroca, Arroio Marmeleiro e Passo Feio); 3)
minerais de alteração clorita, iilita, calcita, hemati- complexos ofiolíticos (Cerro Mantiqueira, Palma p.p.,
ta e sulfetos. Kersting (2007) refere na área a pre- Arroio Lajeadinho, Passo do Ivo e Cambaizinho)
sença principalmente de anfibolitos contendo bre- com idades de ca. 740 Ma; 4) magmatismo sin a
chas quartzo-carbonáticas com boxworks de piri- tardi-colisional (720 a 680 Ma); e 5) magmatismo
ta, com processos de oxidação marcados pela pre- pós-colisional (600 a 540 Ma).

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Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Cinturão Dom Feliciano (RS/SC)

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Figura 2 - Mapa geológico da parcela do Escudo Sul-Riograndense (simplificado de Wildner et al. 2013B) com indicação das principais áreas mineralizadas; Cores
conforme os domínios tectono-geoloógicos. Mantidos todos os traços internos da divisão dos domínios para correlação direta com o mapa geológico estadual.
Eduardo Camozzato, João Angelo Toniolo & Jorge Henrique Laux

Três áreas constituem os principais alvos ex- O complexo é composto por um núcleo monzo-
ploratórios para Au e sulfetos de metais base (Bos- granítico e por uma fácies sienogranítica periféri-
soroca, Palma e Passo Feio), tanto pela quantida- ca, respectivamente referidos como Monzogranito
de de ocorrências e atividades históricas de ex- Rincão dos Coqueiros e Granito São Sepé por Wild-
tração, que remontam ao início dos anos 1900, ner et al. (1990) e Porcher et al. (1995). O granito
como pelos resultados significativos para o metal periférico é texturalmente heterogêneo e contêm
em concentrados de minerais pesados e sedimen- cavidades miarolíticas, segregações micropegma-
tos ativos de corrente. tóides e veios de quartzo leitoso desde 1 m até
centimétricos e que podem ocasionalmente cons-
REGIÃO DA BOSSOROCA tituir stockworks. As biotitas magmáticas da por-
ção periférica mostram alteração para clorita; a
Entre as localidades de Caçapava do Sul e Vila posterior alteração da biotita cloritizada para mica
Nova do Sul estão expostas as litologias do Com- branca caracteriza a alteração hidrotermal (Mat-
plexo Bossoroca (Koppe et al. 1995), composto tos et al. 2004b).
pelas sequências Arroio Lajeadinho (W) e Cam- Tanto a porção SW do Complexo São Sepé como
pestre (E) que se relacionam através de uma zona as encaixantes do Complexo Bossoroca mostram
de cavalgamento com direção NNE-SSW e vergên- alteração do tipo fílica, que se distribui por cerca
cia para E, com componente transcorrente dextral de 1 km e gerou intensa silicificação manifestada
que coloca a primeira sobre a segunda. por zonas filonianas composta por veios de quart-
As litologias dominantes na Sequência Arroio zo + mica branca (fengítica) ± pirita, localmente
Lajeadinho são serpentinitos, xistos magnesianos, aurífera, sobreposta por alteração propilítica. Ocor-
metabasaltos, metagabros, metacherts e forma- rem também vênulas milimétricas compostas ba-
ções ferríferas bandadas. Na Sequência Campes- sicamente por mica branca (Mattos et al. 2004b).
tre ocorrem metatufos de composição andesítica Na Mina Bossoroca o minério foi lavrado em
e dacítica, com intercalações subordinadas de la- depósitos elúvio-coluvionares e em filões de quart-
vas andesíticas, além de metaconglomerados e zo com teores de até 14 g/t Au. Conforme Porcher
metapelitos arenosos e carbonosos. As paragê- et al. (1995), o filão de quartzo mineralizado, com
neses são compatíveis com a fácies xisto-verde, cerca de 350 m de extensão e possança em torno
zona da clorita, do metamorfismo regional. de 0,35 m, tem atitude N45ºE, 30ºSE e está en-
Cornubianitos, que podem alcançar até 4 km caixado de maneira subconcordante em metavul-
de largura na superfície, ocorrem nos limites com canoclásticas. No contato filão-encaixante ocorre
os granitos São Sepé e Cerro da Cria. Mattos et al. uma zona epitodizada com 2 a 3 cm de espessu-
(1994a) e Porcher et al. (1995) referem o meta- ra. O ouro preenche microfraturas e ocorre no es-
morfismo de contato do Complexo Granítico São tado nativo ou, em pequena proporção, incluso na
Sepé na transição entre as fácies albita-epidoto pirita, sendo acompanhado ainda por esfalerita,
cornubianito e hornblenda cornubianito. galena e arsenopirita. Os principais minerais da
As mineralizações de Au na região estão hos- ganga são carbonato, clorita, sericita e turmalina.
pedadas principalmente em veios de quartzo que Koppe (1990) caracteriza a mineralização na
cortam as rochas metavulcânicas da Sequência Mina da Bossoroca como hidrotermal epigenética,
Campestre. associada a veios extensionais ligados a zonas
Existem duas concessões de lavra paralisadas de cisalhamento em metatufos finos e a cristal.
na região, as minas Bossoroca (ativa entre 1981- Os valores isotópicos de d13C e d18O sugeriram so-
1987) e Cerrito do Ouro (ativa entre 1986-1989). luções hidrotermais de origem metamórfica atu-
Além destas, o Au foi motivo de alguma explora- antes no processo de mineralização.
ção nos seguintes depósitos: Passo da Juliana, Análises isotópicas de Pb de galenas
Viúva Guerra Duval, Guardinha, Lavrinha e Estu- provenientes do minério aurífero e de feldspatos
que. Neste último, o Au ocorre em filões de quart- e rocha total da sequência vulcânica associada
zo com comprimentos <100 m e direções predomi- (Remus 1999) indicam uma origem epizonal
nantes entre N45º-65ºE, cortando rochas sieno- orogênica para os fluidos mineralizantes. Além
graníticas de granulação média a fina do Comple- disto, os resultados de composição inicial do Pb
xo Granítico São Sepé de Sartori (1978). do Complexo São Sepé são marcadamente

523
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Cinturão Dom Feliciano (RS/SC)

diferentes daqueles do minério da Bossoroca, que a mineralização de Au, incluso nos grãos de
mostrando que os metais neste depósito não são pirita, está disseminada em zonas de venulação
provenientes do granito. (sheeted veins, stockworks) hospedadas em rocha
Na região da Bossoroca, lentes descontínuas intrusiva. A mineralização aurífera ocorre em zonas
de metachert manganesífero/grafitoso, com forte alteração hidrotermal marcada por
associadas com folhelhos negros e níveis com silicificação e presença de clorita/biotita, epidoto
hematita maciça, também ocorrem na sequência e sericita, além da sulfetação mais intensa. As
Campestre (Rocha et al. 2013c). Sobre estas zonas mineralizadas estão em trends ENE-WSW
litologias ocorre anomalia contínua de Au no solo com plunge para W. A melhor intersecção obtida
com 1,2 km de extensão que pode alcançar valores no alvo possui 93,5m@0,463 g/t Au, incluindo
anômalos >30 ppb. Metacherts similares, também 16,5m@1,04 g/t Au. Foram também interceptadas
anômalos para Au, ocorrem na tectonicamente zonas com teores de prata, sendo a melhor delas
sobreposta Sequência Arroio Lajeadinho. A de 16,7m@9,3 g/t Ag.
associação litofaciológica e os resultados
multielementares obtidos em solo levou Rocha et FAIXA (OU ÁREA) DA PALMA
al. (2013c) a sugerir a possibilidades de
mineralizações do tipo VMS na região. O Complexo Palma, exposto como uma faixa NE-
A Mina Cerrito do Ouro é composta por um SW na porção NW do escudo, constitui uma
conjunto complexo de filões de quartzo leitoso com seqüência metavulcanossedimentar contendo
teor médio de 5,65 g/t de Au, lavrados a céu rochas metavulcânicas máficas e ultramáficas
aberto, encaixados em clorita e sericita-xistos e intercaladas com xistos pelíticos, quartzitos
em pequenos corpos de metabasitos. Com o ouro, (metacherts), mármores e, localmente, formações
raramente visível, se associam pirita e calcopirita ferríferas (Hartmann et al. 2007, Laux 2012).
(Porcher et al. 1995). Os três filões principais têm As mineralizações auríferas ocorrem em veios
fraturas com tonalidades avermelhadas devidas a de quartzo com Au livre ou como inclusões nos
óxidos de Fe, estão relacionados a uma zona de sulfetos disseminados em rochas metavulcânicas
falha N30º-60ºE, com cerca de 400 m de largura, de composição dominantemente básica. Associam-
e apresentam as seguintes características se, também, com intrusivas dioríticas ao longo de
individuais: 1) N17ºW, 65ºSW, aflorante por 100 zonas de cisalhamento, como depósitos do tipo
m e 5-7 m de possança; 2) N-S, 80ºW, com 130 m skarn.
de extensão e em torno de 0,8 m de possança; e Conforme Camozzato et al. (2012), as áreas
3) E–W, 80ºS, com 125 m de extensão e possança mineralizadas para Au na Faixa (ou área) da Palma
de 0,6 m. Aos corpos tabulares se associa uma são, de NE para SW: Cerro do Ouro, Cerro da Cruz,
rede irregular de vênulas centimétricas de quartzo Santa Lúcia, Cerro Alegre, Cerro Branco, Silveirinha
com teores entre zero e 26 ppm de Au, estando (ou Cerro Verde), Bom Retiro e Palma Sul (ou King).
nas vênulas mais delgadas os maiores teores do Nos diversos corpos de sílica friável da área,
metal. ora interpretados como depósitos químicos (chert),
Atividades exploratórias descritas por Rocha et ora como unidades quartzíticas, são identificadas
al. (2013c) na região do Cerrito do Ouro e Viúva (e.g., Szubert et al., 1977, 1978) texturas
Guerra Duval detectaram zonas subparalelas de brechadas, venulações de calcedônia e anomalias
direção NE, representadas por um sistema de de Ba em estreita relação espacial com ocorrências
veios de quartzo associados a rochas milonitizadas de Au. Com estes metalotectos também se
e alteradas (referidas como shear hosted lode gold). vinculam anomalias de Au, Cu, Pb e Zn em
Através de sondagem foi verificado que a amostras de sedimentos ativos de corrente e de
mineralização aurífera ocorre tanto nos veios de solo; bem como alguns registros de anomalias
quartzo (Au livre), quanto nas bordas de alteração geofísicas magnetométricas, slimgram e VLF,
da rocha metamórfica encaixante, com intervalos superpostas às anomalias da geoquímica
mineralizados que podem chegar a até 10 m de prospectiva (Bentes et al. 1977).
espessura. Segundo Santos & Maciel (2007a,b), existe
No alvo Juliana, sondagem efetuada pela Mining relação entre as ocorrências de ouro próximas aos
Ventures Brasil (Rocha et al. 2013c) caracterizou corpos de sílica friável e o desenvolvimento de

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Eduardo Camozzato, João Angelo Toniolo & Jorge Henrique Laux

skarns em metabasaltos e mármores. Para estes e calcosita, no contato entre rochas


autores, os skarns resultaram, provavelmente, de metaultramáficas e metabasaltos com níveis
fluidos que ascenderam pelas fraturas de natureza métricos de calcissilicáticas. Nestas encaixantes
dúctil-rúptil, de direção NE e mergulhos para NW, ocorre pirrotita, calcopirita e pirita.
que atingem as litologias mais reativas em zonas No Cerro Alegre a mineralização ocorre em veios
próximas a fontes de calor, como as resultantes de quartzo branco com pirita, traços de galena e
dos granitóides intrusivos na faixa. localmente grafita nas bordas, encaixados em
No Cerro do Ouro (Fig. 3), onde o registro de litologias metabásicas com alteração sericítica.
atividade garimpeira remonta ao final do século As áreas mineralizadas dos cerros Verde
XIX, afloram corpos de sílica friável em uma (ocorrência Silveirinha de Szubert et al. 1977, 1978)
estrutura mineralizada que consiste de stockwork e Branco são contíguas no centro-sul da Faixa
de quartzo com traços de pirita e calcopirita. Além Palma. As mineralizações de Cu, Mo e Au estão
destes, afloram litologias máficas e ultramáficas confinadas a filões de quartzo ao longo de zona
serpentinizadas, xistos magnesianos e xistos cataclasada NE-SW ou como disseminações em
grafitosos. metabasitos milonitizados e rochas paraderivadas
No Cerro da Cruz, onde o conjunto de corpos (muscovita-biotita xistos e metapelitos).
de sílica granular friável apresenta a maior Duas sondagens executadas pela Companhia
quantidade de vênulas de calcedônia da região, Brasileira do Cobre (CBC) no Cerro Branco
os níveis de sílica têm direção média N45ºE e resultaram até 15,57 ppm Au em rocha granítica
espessuras de até 200 m. Em subsuperfície esses milonitizada com venulações de quartzo. Os
corpos são constituídos por sílica maciça, levantamentos geológicos de detalhe da área
raramente com vênulas de quartzo, brechados e permitiram a caracterização de um corpo
contêm localmente ilita em fraturas. As sondagens metadiorítico subcircular, com cerca de 1,5 km de
realizadas na área não interceptaram zonas diâmetro e bordas milonitizadas limitadas por
mineralizadas nem áreas contendo alterações falhas, com evidências de alterações hidrotermais
hidrotermais que confirmassem algum sistema representadas por epidotização, carbonatação e
mineralizado para Au relacionado aos corpos de sulfetação. A mineralização aurífera está
sílica. hospedada em veios de quartzo encaixados em
A área Santa Lúcia, extensão para SW do Cerro zonas de cisalhamento N20º-30ºE, com
da Cruz, é constituída por corpos de sílica friável disseminações e venulações contendo pirita,
de direção N65ºE, brechados, com sericita nas calcopirita e molibdenita.
bordas. No extremo sul da Santa Lúcia ocorrem O depósito Bom Retiro (Fig. 4), cerca de 2 km
corpos de sílica friável com pirita, galena, esfalerita para NNE da Vila da Palma, constitui uma área
mineralizada a Cu-Au-Mo com cavas que remontam
as primeiras décadas dos anos 1900. Como
sulfetos ocorrem pirita, pirrotita, calcopirita,
calcosita e bornita; malaquita, azurita e crisocola
são os minerais secundários de Cu. O Au ocorre
livre, nas porções com maior concentração de
sulfetos de Cu e também nas zonas de
enriquecimento supergênico desenvolvidas nas
bordas dos corpos sulfetados.
Carvalho & Pereira (2004, Amazônia Mineração)
referem resultados em superfície de até 48,74 ppm
Au, 8,25% Cu e 32 ppm Ag, na borda de um dique
de hornblenda diorito porfirítico; estes resultados
não foram confirmados na continuidade do corpo
em amostras obtidas em sondagem. A Mineração
Figura 3 – Corpo de sílica granular do Cerro do Ouro,
Santa Elina (Santa Elina 2008) também realizou
porção norte da Faixa da Palma, RS. Na área vegetada
do sopé, antigos garimpos onde foram explorados pesquisas na área, discriminando um horizonte
veios de quartzo com ouro visível. quartzoso, com até 10 m de espessura, com

525
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Cinturão Dom Feliciano (RS/SC)

hematita são comuns no este do batólito.


A íntima relação espacial entre o complexo gra-
nítico e as rochas do Complexo Passo Feio, hos-
pedeiras das mineralizações, levaram Remus
(1999) e Remus et al. (2000) a estudar a gênese
destes depósitos. Conforme estes autores, a ida-
de de intrusão do granito de ca. 562 Ma é consis-
tente com os dados isotópicos de Pb para os de-
pósitos de sulfetos de metais-base hospedados
pelas litologias metamórficas. As composições
menos radiogênicas estão posicionadas entre os
campos da composição isotópica do complexo
granítico e das rochas do Complexo Passo Feio,
sugerindo que o Pb nos depósitos possa ter deri-
Figura 4 – Zona oxidada do minério (calcosita,
vado de ambas as fontes. Algumas evidências iso-
calcopirita, bornita e malaquita) na cava Bom Retiro
(Faixa da Palma, RS). tópicas sugerem, todavia, uma assimilação de ro-
chas portadoras de S do complexo durante a in-
disseminação de magnetita, pirita e calcopirita. trusão do granito, o que permite sugerir alternati-
vamente uma deposição integralmente a partir dos
REGIÃO DO PASSO FEIO fluidos magmáticos.
Conforme Ribeiro (1978), na Primavera o miné-
O Complexo Passo Feio, que contorna o rio é formada por calcosita, crisocola e malaquita
Complexo Granítico Caçapava do Sul (562±8 Ma; disseminadas em metavulcânicas brechadas e em
Remus et al. 2000), compreende metapelitos, fraturas, localmente formando bolsões com teo-
anfibolitos, metavulcanoclásticas, metavulcânicas, res de até 4% de Cu. A ocorrência está localizada
mármores, rochas calcissilicáticas, quartzitos, na intersecção de falha N-S, 70ºW com outra de
xistos magnesianos e rochas quartzo-feldspáticas atitude N55ºW, 40ºSW.
metamorfizadas (Bitencourt 1983). A foliação Na Mina Andrade o minério é caracterizada por
regional tem caráter milonítico e se orienta entre calcosita, calcopirita, cuprita, bornita, Cu nativo,
NNE e NNW, na dependência da posição em relação malaquita e carbonatos, disseminados ao longo
ao corpo granítico, cuja colocação foi sintectônica. de falha N-S, 45º-55ºW que corta clorita xistos
As litologias metamórficas hospedam diversas (Ribeiro 1978). Em sondagens na porção sul do
ocorrências cupríferas, entre as quais: 1) Passo depósito, vênulas contendo sulfetos, com ou sem
dos Burros, Picada dos Tocos, Bom Fim, Coronel quartzo e carbonato, cortam a xistosidade princi-
Linhares, Cioccari e Elinor Spode, na porção leste pal e são posteriores às assembleias minerais do
do complexo, a base de minerais oxidados e raros metamorfismo regional (Remus et al. 2000).
sulfetos primários; 2) Faxinal, Arroio da Divisa, Rocha et al. (2013a) descreve o depósito An-
Santa Bárbara e outras menores, no norte e no- drade como contendo mineralizações cupríferas
roeste do complexo, onde além dos oxidados de estruturalmente controladas e limitadas aos cru-
Cu ocorre galena; e 3) Primavera e Andrade (ou zamentos de estruturas, hidrotermalizadas e com
Andradas), no oeste do complexo. deformação dúctil-rúptil, com albitização, carbona-
O Complexo Granítico Caçapava do Sul (Nardi tação, cloritização e silicificação pervasiva e venu-
& Bitencourt 1989) constitui uma estrutura dômi- lar. Em intervalos brechados ocorre cimentação por
ca assimétrica, alongada na direção N-S, de cará- calcita, clorita e quartzo com enriquecimento de
ter sintectônico e cerca de 250 km2 de área. Com- sulfetos de Cu e Fe (± hematita) (Fig. 5). Zonas
posto por sienogranitos a granodioritos, com mon- com alteração potássica e sericitização ocorrem de
zogranitos predominantes, e raros tonalitos e maneira subordinada e também foram observa-
quartzo dioritos, apresenta forte foliação, estira- das em áreas adjacentes, associadas à carbona-
mento mineral e evidências da atividade de flui- tação e silicificação pervasiva com stockworks de
dos durante os estágios magmáticos finais. Peg- carbonato + barita + quartzo e carbonato ± clori-
matitos, aplitos e veios de quartzo com pirita e/ou ta ± hematita, ambos com sulfetos de Cu e Fe,

526
Eduardo Camozzato, João Angelo Toniolo & Jorge Henrique Laux

além de stockworks de clorita ± magnetita e clori-


ta + hematita (especular).
Os sulfetos de cobre predominantes são borni-
ta e calcosita, ocorrendo como agregados inter-
crescidos na matriz de brechas e stockworks de
quartzo+carbonato+clorita, ou disseminados e
orientados segundo a foliação principal. Agrega-
dos de bornita+calcopirita intercrescidos em vê-
nulas quartzo-carbonáticas também constituem
intervalos mineralizados. A zona de oxidação é
formada por malaquita, crisocola, azurita e cupri-
Figura 5 – Disseminações de calcopirita em zona bre-
ta. Os estilos de mineralização do depósito An- chada com alteração clorítica em amostra de sonda-
drade, segundo Rocha et al. (2013), também ocor- gem da antiga Mina Andrade (Complexo Passo Feio,
rem em outros setores do Complexo Passo Feio, Caçapava do Sul, RS).
onde agregados de calcopirita + pirita intercresci-
dos em vênulas e stockworks de carbonato + barita vulcanogênicas da Fm. Hilário.
± quartzo predominam nas zonas mineralizadas. Nas porções oeste e central do complexo intru-
Sulfetos de Cu estão também contidos nos sivo estão instaladas as zonas mineralizadas do
mármores do Complexo Passo Feio, associados à Bloco do Butiá, Galvão, Caneleira, Zeca Souza,
alteração clorítica, no contato com as apófises do Olaria, São José, Taruman, Virgínia, Paredão, Pi-
granito Caçapava (Remus et al. 2000). Gazzoni tangueira, Santo Expedito e Cerrito (dos Pires e
(2010), estudando a pedreira de mármore dolo- Resende). Na porção leste do complexo, próximo
mítico Coronel Linhares, no leste do complexo, ou no contato com as rochas da Fm. Hilário, as
refere que a ocorrência de mineralizações de Cu- minas Aurora, Waldo Teixeira, Dourada e Mato Feio.
Fe-Mo-Au nos escarnitos ocorre na forma de filões Nas litologias de derivação vulcânica devem ser
e corpos alongados, ou na forma de corpos irre- referidas as minas do Seival, Cerro Rico, Merita,
gulares ocupando o lugar dos carbonatos. A cal- Saraiva e Volta Grande.
copirita se associa com as paragêneses de baixa As mineralizações instaladas nas rochas vulcâ-
temperatura, o que indica que o Cu se concentrou nicas da Fm. Hilário são tratadas em tópico espe-
nos fluidos tardios. cífico (ver Minas do Seival e arredores).
Cerca de 4 km para sul, a ocorrência Cioccari Informações relevantes acerca da geologia e
consiste de uma zona mineralizada em mármores sistemas mineralizados na região de Lavras do Sul
do Complexo Passo Feio, com cerca de 150 m de são apresentados, entre outros, por Kaul e Rei-
extensão e até 1,5 m de espessura, composta por nheimer (1974), Nardi (1984), Nardi & Lima (1985,
venulações de calcopirita maciça com alguma piri- 1988), Gastal et al. (1996), Gastal & Lafon (1998),
ta, Au invisível, óxidos de Cu, calcita, talco, ser- Mexias (2000), De Liz (2004), Bongiolo et al. (2003,
pentina, tremolita e quartzo. Os minerais de mi- 2007), Mexias et al. (1990a,b, 1994, 2005, 2007,
nério que subsituem os carbonatos são controla- 2009) e Bongiolo (2006), bem como em mapas
dos por uma zona de fratura NW, subvertical, onde específicos para a área produzidos pelo Serviço
o Au tem distribuição irregular e pode alcançar 23 Geológico do Brasil (Programa Nacional de Pros-
ppm (Remus et al. 2000). pecção de Ouro). Estas e outras referências são
citadas ao longo do texto. Os resultados dos le-
Au-Cu±(Pb, Zn, Ag) em Lavras do Sul vantamentos efetuados pela CPRM (Kaul & Rei-
nheimer 1974) devem ser destacados por incluir
O Distrito Mineiro de Lavras do Sul (Santos et mapas detalhados de superfície e subsuperfície
al. 1998; Distrito Aurífero de Lavras do Sul de Kaul das diversas áreas mineralizadas.
& Reinheimer 1974) compreende mais de duas As rochas da região de Lavras do Sul são ca-
dezenas de áreas mineiras, com inúmeras cavas, racterizadas pelas porções plutônica e vulcânica
trincheiras, poços e galerias inativas de dimensões da Associação Plutono-Vulcano-Sedimentar Seival
diversas, distribuidas em rochas plutônicas do (Chemale Jr. et al. 1995, Chemale Jr. 2000), que
Complexo Intrusivo Lavras do Sul e nas litologias agrupa as rochas vulcânicas e sedimentares do

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Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Cinturão Dom Feliciano (RS/SC)

Gr. Bom Jardim e as plutônicas cronocorrelatas, poucos decímetros. Como metálicos ocorrem piri-
todas elas encaixantes de alteração hidrotermal ta (francamente predominante), goethita, magne-
e hospedeiras de mineralizações. tita, hematita, Au nativo, calcopirita, galena, blen-
Em Lavras do Sul, os granitóides da associa- da e pirrotita.
ção constituem o Complexo Granítico Lavras de Nardi (1984) apresenta uma descrição da zo-
Nardi (1984), caracterizado por uma zonalidade nalidade das alterações hidrotermais nas zonas
reversa de fácies: um núcleo com granodioritos e central, transicional e periférica do complexo. Este
monzogranitos, de afinidade shoshonítica, conti- autor considera dois tipos de mineralizações aurí-
do em uma fácies periférica com pertita granitos, feras: 1) nas zonas central e transicional o Au es-
de caráter alcalino. Para leste destas plutônicas taria associado a sulfetos de Cu, Pb e Zn; e 2) no
afloram as rochas vulcânicas da Fm. Hilário. pertita granito (fácies periférica) o Au estaria as-
O conjunto de rochas de afinidade shoshoníti- sociado principalmente à pirita, com presença li-
ca constitui a Associação Shoshonítica de Lavras mitada de sulfetos de Pb e Zn. Com base nos da-
do Sul de Lima & Nardi (1985), que agrupa derra- dos coletados apresenta uma zonalidade hipoté-
mes de traquibasaltos potássicos e shoshoníticos tica para as mineralizações no Distrito de Lavras
(traquiandesitos potássicos) além de depósitos do Sul: 1) Au-Fe nos pertita granitos; 2) Au-Fe-Cu
piroclásticos de queda e fluxo. Toda esta sequên- na zona central e de transição, com Mo ocasional;
cia é cortada por diques latíticos a riolíticos, além 3) Cu-Au nas rochas vulcanogênicas adjacentes
de intrusões monzoníticas a granodioríticas rasas às plutônicas; e 4) Pb-Ag-(Au?) nas vulcanossedi-
e lamprófiros espessartíticos. mentares mais afastadas do complexo intrusivo,
Gastal & Lafon (1998) caracterizam o sistema como na mina Merita, onde Lima (1985) descreve
plutônico como Complexo Intrusivo Lavras do Sul, galenas argentíferas.
o qual é subdividido em dois setores: o Monzonito Uma conclusão relevante efetuada por Nardi
Tapera, no norte, e o plúton granítico principal (1984) foi a de atribuir a geração das soluções
(Complexo Granítico Lavras de Nardi 1984), no sul. hidrotermais à intrusão dos pertita granitos e ou-
Este último é circundado ao norte-nordeste pelo tras intrusões alcalinas, as quais seriam respon-
Monzodiorito Arroio do Jacques. A assimilação par- sáveis pelas mineralizações em todas as litologi-
cial do núcleo do setor sul pelos granitos da fácies as do distrito.
periférica teria gerado rochas híbridas (fácies tran- Na área do Cerrito, cerca de 2 km para NE de
sicional) entre estes dois tipos. Estes autores ad- Lavras do Sul, existem dezenas de trincheiras e
mitem, com base nos dados de campo e petrológi- poços entulhados, além de galerias. A mineraliza-
cos, a contemporaneidade entre os eventos ção, com teores de 1,8 ppm de Au, está relaciona-
shoshonítico e alcalino. Ressaltam que os resulta- da com veios de quartzo com até 150 m de com-
dos geocronológicos U-Pb indicam alguma super- primento e possança média de 2 m, orientados
posição entre os tipos, que teriam se desenvolvi- conforme N60ºW a E-W e N70ºE.
do num intervalo de ca. 12 Ma com a fácies alcali- Diferente dos demais depósitos do Distrito Au-
na sendo a mais tardia. rífero de Lavras do Sul, onde o Au está relaciona-
Kaul & Reinheimer (1974), Kaul & Zir Fº (1974) do com veios de quartzo, a mineralização no Blo-
e Kaul (1975) descrevem detalhadamente a tipo- co do Butiá caracteriza-se pela natureza dissemi-
logia, controle tectônico e aspectos genéticos das nada (Au incluso na pirita, arsenífera ou não). As
mineralizações do Distrito Aurífero de Lavras do faixas hidrotermalmente alteradas ocorrem prefe-
Sul. Num estudo tectônico e estrutural acurado, rencialmente nos pertita granitos e, secundaria-
caracterizam que o esforço compressivo principal mente, também nos sieno e monzogranitos, onde
sobre as litologias plutônicas e vulcânicas variou a mineralização é discreta.
entre N65ºW e E-W, sendo responsável pela ge- Localizada cerca de 4 km para WSW de Lavras
ração de um sistema de falhas de tensão e cisa- do Sul, além da cava Bloco do Butiá (Fig. 6), ocor-
lhamento que condiciona os principais filões mine- rem outras escavações (cavas, galerias e trinchei-
ralizados em torno da direção E-W. ras) abandonadas, tais como Boa Vista (Fig. 7),
Conforme Kaul & Zir Fº (1974), os filões têm Guarda Mor, São Clemente e Guampa de Ferro.
extensão superficial em geral da ordem de várias Mexias et al. (2005a,b) observam que as fratu-
dezenas de metros e possança comumente de ras de direção N70º-80ºW, onde se encaixam as

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Eduardo Camozzato, João Angelo Toniolo & Jorge Henrique Laux

alterações hidrotermais e a mineralização no Blo-


co do Butiá, apresentam uma componente direci-
onal levógira marcada pelo deslocamento do con-
tato entre fácies do complexo granítico, mas sem
características de níveis crustais rasos (cataclase
e brechação, por exemplo). Esta observação é
apoiada pela caracterização de fengita na porção
oeste do complexo (Bongiolo 2006), o que indica
aquela zona como a mais profunda do corpo gra-
nítico.
Liz et al. (2004) caracterizam uma grande vari-
edade litológica e textural investigando os corpos
hipabissais do leste do Complexo Intrusivo Lavras
do Sul, sugerindo um sistema multi-intrusivo pro-
vavelmente em ambiente do tipo caldeira, no qual Figura 6 – Cava abandonada Bloco do Butiá, com di-
predominam corpos monzoníticos como produtos reção WNW (vista para oeste), em pertita granitos
diferenciados relacionados aos vulcanitos shosho- da fácies periférica do Complexo Intrusivo Lavras do
Sul, RS.
níticos da região. Descrevem também diques com-
postos de latito, com elevada atividade de fluidos,
evidenciada por vesiculação e sulfetação tardi-
magmática, sucedidos por dacito que atingiu con-
dições limites de supersaturação em voláteis. Piri-
ta e, de maneira subordinada, calcopirita, arseno-
pirita, Au livre e Ag nativa, além de esfalerita e
barita foram identificadas pelos autores. Sugerem,
também, que sistemas subvulcânicos monzoníti-
cos metaluminosos de afinidade shoshonítica, em
zonas de recargas magmáticas e sob condições
ricas em voláteis, podem representar sítios prefe-
renciais para mineralizações Cu-pórfiro rico em Au.
Conforme Bongiolo et al. (2003) e Bongiolo
(2006), as mineralizações de Au–Cu(±Pb,Zn,Ag)
ocorrem em veios, brechas e stockworks de quart- Figura 7 – Cava abandonada Boa Vista, com direção
zo com direção preferencial N40°W a E-W, local- WNW (vista para oeste), em pertita granitos da fáci-
mente NE, e também como disseminações nos es periférica do Complexo Intrusivo Lavras do Sul,
RS.
halos hidrotermais nas encaixantes. Os principais
minerais de alteração associados com as minera-
lizações filonianas são a sericita, nos granitóides, aos observados nos depósitos do tipo Cu-pórfiro.
e a clorita, nas rochas vulcanogênicas. Conforme Uma ampla revisão das informações disponíveis
estes autores, os depósitos filonianos da área para o distrito foi realizada por Mexias et al. (2007),
foram originados por um processo de alteração que salienta o fato da área se caracterizar pela
hidrotermal complexo, em várias etapas, que evo- sequência de pequenos corpos mineralizados que
luiu desde condições associadas ao magmatismo ocorrem de forma aproximadamente paralela. Es-
até àquelas próximas as observadas nos campos tes autores descrevem que os processos hidro-
geotérmicos atuais. termais atuantes na região deixaram fossilizadas
Anteriormente, Mexias (1990) e Mexias et al. mineralogias, texturas e assembléias minerais
(1990a,b) propuseram que a intrusão granítica muitas vezes superpostas e em desequilíbrio, tan-
teria atuado como fonte de calor na geração e to nas rochas graníticas como nas vulcânicas. Re-
manutenção de um sistema hidrotermal cujas ca- ferem como os principais processos na área: 1)
racterísticas, bem como os padrões de zonação Propilitização, que circunda as rochas alteradas e
dos produtos de alteração, muito se assemelham mais fortemente mineralizadas; 2) Epissienitiza-

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Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Cinturão Dom Feliciano (RS/SC)

ção, em especial no pertita granito, pela dissolu- mento no gradiente geotermal e manutenção tem-
ção seletiva do quartzo primário e geração de uma poral do sistema hidrotermal rico nestes elemen-
elevada porosidade e permeabilidade, da qual tos. Estas rochas representam, portanto, sítios
decorreu, nos processos posteriores de circulação preferenciais para depósitos sulfetados do tipo Cu-
de fluidos, uma intensa alteração fílica, com pirita pórfiro auríferos.
e Au; e 3) Cloritização e Alteração Fílica, respecti- Bongiolo et al. (2003) obtiveram a idade Rb-Sr
vamente pela deposição da clorita ferrosa nas de 582±6 Ma em micas brancas e anfibólio, asso-
cavidades deixadas pela dissolução do quartzo na ciados à alteração fílica. Mexias (2000) apresenta
epissienitização e pelo principal processo de alte- a idade de 580±5 Ma (U-Pb SHRIMP) para “zircões
ração e mineralização (aurífera) com cristalização hidrotermalizados”; e de 583±10 Ma (Ri=0,705) e
de fengitas, ilitas e I/S (sericitas). 573±5 Ma a 588±5 Ma (Ri=0,705-0,715) para mi-
Com base em resultados de pesquisas efetua- cas brancas fengíticas. Do trabalho de Chaves
das pela Companhia Brasileira do Cobre (CBC), (2012) resultou a idade de 591±29 Ma (207Pb/205Pb,
Mexias et al. (2009) referem que os teores de Au LA-MC-ICPMS) para monazita hidrotermal do per-
apresentam distribuição relativamente homogênea tita granito da borda do complexo, desenvolvidas
no Bloco do Butiá, variando entre 0,5 e 1,2 ppm, durante o estágio de propilitização que circunda
com concentração supergênica do metal até os 6 rochas fortemente alteradas e mineralizadas em
m de profundidade. Estas porções, onde a rocha Au e Cu. Estes dados geocronológicos vinculam o
é friável e os teores situam-se entre 1,5 e 3 ppm, evento hidrotermal com o magmatismo alcalino
foram em grande parte mineradas no passado. sódico, o que potencializa a ocorrência de minera-
Ocorrem também traços de galena, esfalerita, lizações na área.
molibdenita e calcopirita. Os teores de Cu, Pb e
Zn na zona mineralizada são <30 ppm, o Mo é <5 Cu, Pb, Zn (Au, Ag) na Bacia Camaquã
ppm e a Ag <0,3 ppm.
Os resultados exploratórios da Amarillo no pros- No Rio Grande do Sul, as principais mineraliza-
pecto do Bloco do Butiá (Amarillo 2012) caracteri- ções conhecidas de sulfetos de metais-base de
zaram recursos indicados de 215.000 onças de Au natureza mono ou multielementar de Cu, Pb e Zn,
com 6,4 MT@1,05 g/t Au e inferidos de 308.000 contendo ou não metais preciosos (Au e Ag), es-
onças de Au com 12,9 MT@0,74 g/t Au, usando tão hospedadas em rochas sedimentares (Cama-
cut-off de 0,3 g/t. Das sondagens, que podem al- quã, Santa Maria e Cerro dos Martins são as prin-
cançar até ~400 m de profundidade, podem ser cipais) e vulcânicas (Seival, entre outras) da Bacia
destacadas as seguintes intersecções na região Camaquã, e também em rochas ígneas plutônicas
das cavas Boa Vista e São Clemente do Bloco do cronocorrelatas (como as do Complexo Lavras do
Butiá: 55 m@2,06 g/t Au (a partir do 137,5 m de Sul). Estas últimas são tratadas em item específi-
profundidade), 36 m@1,05 g/t Au (a partir de 87,5 co; ver Au-Cu±(Pb, Zn, Ag) em Lavras do Sul.
m), 4,7 m@15,46 g/t Au (a partir dos 4,3 m), 54 O registro plutono-vulcano-sedimentar da ba-
m@1,28 g/t Au (a partir dos 33 m) e 100 m@1,85 cia é motivo de inúmeras interpretações evoluti-
g/t Au (a partir dos 85 m), respectivamente para vas divergentes (entre muitos, Jost 1984, Chema-
os furos LDH-220, 217, 224, 222 e 223. le Jr. et al. 1995, Paim et al. 2000, Borba 2006,
Três tipos de diques com afinidade shoshoníti- Toniolo et al. 2007, Almeida et al. 2012 e Janikian
ca (compostos autoclásticos, latíticos e latíticos com et al. 2012) que utilizam, para tanto e com dife-
anfibólio) foram identificados por Müller et al. rentes ênfases, as análises paleoambientais, a
(2012) cortando monzonitos hipabissais, andesi- caracterização estrutural da deformação nas dife-
tos e lamprófiros, cujas características sugerem rentes unidades, o quimismo das litologias plutô-
vinculação genética com a mistura heterogênea nicas e vulcânicas correlatas com as diferentes
de magmas latíticos e lamprofíricos shoshoníticos. sucessões sedimentares e os resultados isotópi-
Nos diques compostos e nos latíticos com anfibó- cos e geocronológicos.
lio foram identificados grãos de Au metálico asso- Com base nos dados disponibilizados, entre
ciado com pirita e calcopirita. Este autor admite outros, por Paim et al. (2000), Sommer et al.
que os magmas lamprofíricos possam ser a fonte (2005), Borba (2006), Janikian et al. (2012), Oli-
principal de Au e S e, também, de calor para incre- veira (2012) e Almeida et al. (2012), a Bacia Ca-

530
Eduardo Camozzato, João Angelo Toniolo & Jorge Henrique Laux

maquã pode ser dividida em quatro ciclos bacinais, parâmetros de pesquisa mineral.
desenvolvidos em diferentes ambientes tectôni- Ribeiro (1979) efetua uma síntese das informa-
cos e separados entre si por discordâncias regio- ções disponíveis acerca das centenas de ocorrên-
nais de caráter angular ou de não conformidade cias de sulfetos de metais base no Escudo Sul-
(intervalos de idade conforme Oliveira 2012): a) Rio-Grandense, as quais foram agrupadas em 45
bacia foreland de retroarco (Gr. Maricá; 601±13 a áreas, redistribuídas em sete grupos, que subsi-
593 Ma); b) bacia dominada por tectônica trans- diaram a elaboração de um mapa previsional para
corrente, com componentes trantensionais e trans- o Cu no embasamento Pré-Cambriano do RS.
pressionais, que inclui o vucanismo de afinidade Toniolo et al. (2007) elaboram um modelo me-
cálcico-alcalina a shoshonítica do Mb. Hilário e as talogenético e indicam novos alvos para pesquisa
rochas sedimentares da Fm. Arroio dos Nobres (Gr. mineral na Bacia Camaquã com base em levanta-
Bom Jardim; 593±6 a 580±3,6 Ma); c) vulcanismo mentos geológicos nas escalas 1:100.000 e
bimodal com assinatura alcalina da Fm. Acampa- 1:50.000, reinterpretação de dados aerogeofísi-
mento Velho e rochas sedimentares do Gr. Santa cos e gravimétricos terrestres, geofísica orientati-
Bárbara (574±7 a 544,2±5,5 Ma); e d) vulcanismo va pelo método de polarização induzida, análises
básico alcalino do Mb. Rodeio Velho e rochas sedi- mineralógicas de concentrados de bateia, análi-
mentares do Gr. Guaritas (547±6,3 a 473,7±9,4 ses químicas de rocha e de sedimentos ativos de
Ma). As duas últimas constituem bacias individu- corrente e análises geocronológicas. Os dados,
ais, do tipo rifte, desenvolvidas em ambiente tec- disponibilizados em ambiente SIG, caracterizam
tônico transtracional. uma interpretação diferenciada das demais acer-
A expressão Bacia Camaquã engloba, portan- ca da tectônica e estratigrafia da Bacia Camaquã
to, diferentes sucessões (bacias e/ou sub-bacias) e da relação destas com as mineralizações.
que, na bibliografia, são referidas com diferentes Laux & Lindenmayer (2000), por sua vez, efe-
denominações geográficas, somatórios litológicos, tuam uma ampla revisão das hipóteses genéticas
entendimentos evolutivos e/ou conotações tem- para as mineralizações de Cu (Au) na região das
porais: Taquarembó, Ramada e Santa Bárbara (ou minas do Camaquã, com referências a outras áre-
Camaquã Ocidental); Guaritas (ou Camaquã Cen- as com minérios sulfetados no âmbito das cober-
tral); e Boici-Piquiri (ou Piquiri, ou Camaquã Orien- turas do Proterozoico-Cambriano.
tal). As primeiras concepções acerca da origem das
Estas assembleias petrotectônicas foram agru- mineralizações nas minas do Camaquã relaciona-
padas por Chemale Jr. et al. (1995) e Chemale Jr. vam sua gênese a fluidos hidrotermais magmáti-
(2000) na Associação Plutono-Vulcano-Sedimen- cos (e.g., Teixeira 1937, 1941; Leinz & Almeida
tar Seival, a qual é composta pelas unidades ge- 1941).
radas nos estágios tardi a pós-orogênicos do Even- No final dos anos 1970 houve uma importante
to Dom Feliciano (Brasiliano) da Bacia Camaquã modificação na interpretação da origem das mine-
s.s., e compreende o somatório das rochas vulcâ- ralizações, com a introdução do modelo sedimen-
nicas e sedimentares do Gr. Bom Jardim com as tar singenético, depois diagenético com remobili-
rochas plutônicas cronocorrelatas. zações (Chaban et al. 1978, Teixeira et al. 1978,
As mineralizações foram alvos de pesquisa em Ribeiro 1978, Ribeiro et al. 1980, Badi 1983, Tei-
maior ou menor intensidade, principalmente na xeira & Gonzales 1988, Veigel 1989; entre outros),
década de 1970, quando a Companhia Brasileira em detrimento do modelo magmático hidrotermal.
do Cobre (CBC) e a Rio Doce Geologia e Minera- Baseado na descoberta de mineralizações com
ção (DOCEGEO) realizaram uma profunda reavali- disposição concordante dos sulfetos de Pb, Zn e
ação das principais mineralizações. Os resultados Cu com as estruturas sedimentares, o modelo
foram publicados em numerosos documentos, en- perdurou até o início dos anos 1990, tendo sido
tre os quais Ribeiro (1979, 1991), Laux&e Linden- estendido para diversas ocorrências sulfetadas na
mayer (2000) e Toniolo et al. (2007, 2010). Bacia Camaquã (Ribeiro 1991, 1992; Altamirano-
Os trabalhos de Ribeiro (1979) e Toniolo et al. Flores 1992; entre outros), quando a hipótese hi-
(2007) devem ser enfatizadas por constituir con- drotermal magmática foi retomada por Beckel
tribuições em âmbito regional acerca das minera- (1990) e revisada por outros autores (e.g., Lima &
lizações de sulfetos de metais base e estabelecer Almeida 1996, Remus et al. 1997, 1999, 2000,

531
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Cinturão Dom Feliciano (RS/SC)

2011; Laux et al. 1998, Laux 2000, Toniolo 2004, rio ocorre em duas formas: a) como filões cortan-
Toniolo et al. 2010). do arenitos e conglomerados, com sulfetos em for-
Beckel (1990, 1992), ao retomar a hipótese hi- ma maciça ou como massas irregulares no interior
drotermal magmática, propõe para as minas do da ganga; e b) disseminado em arenitos e con-
Camaquã um modelo genético do tipo cobre pórfi- glomerados.
ro, caracterizando um halo de alteração hidroter- Na Mina São Luiz, os filões apresentam direção
mal onde parte da circulação dos fluidos ocorreu predominante N20ºW com mergulhos entre 60º-
predominantemente na horizontal, ao longo da 80ºNE e, subordinadamente, N70ºW, 50ºNE, cor-
estratificação. Cabe ressaltar que o sistema hi- tando o acamamento médio N43ºE, 30ºNW. Na
drotermal de Beckel (1990), que ultrapassa 6 km Mina Uruguai, os filões mostram direção N50º-
de diâmetro, corresponde aos altos gravimétricos 70ºW, com mergulhos altos tantos para NE quan-
definidos por Costa et al. (1995b) e a anomalia de to para SW, também cortando o acamamento que
K caracterizada por Ribeiro & Araújo (1982), am- se assemelha àquele da Mina São Luiz.
bas sobre a área das minas do Camaquã. Bettencourt & Damasceno (1974) apresentam
uma análise tectônica das estruturas mineraliza-
JANELA BOM JARDIM das com base em levantamentos em subsuperfí-
cie iniciados em 1969. Santos et al. (2012), apre-
As litologias aflorantes na denominada Janela sentam um modelo estrutural para as estruturas
Bom Jardim, que inclui as minas do Camaquã e o rúpteis mineralizadas nas minas do Camaquã, as
Depósito Santa Maria, têm tido entendimentos quais estariam relacionadas com evento compres-
estratigráficos controversos. sivo WNW, com progressiva rotação de estruturas
Interpretados originalmente por Robertson para um binário transcorrente sinistral N-S, cau-
(1966) como pertencentes à Fm. Santa Bárbara, sando a formação e/ou reativação das grandes
os arenitos e conglomerados mineralizados aflo- estruturas E-W e sinistrais NNE. O sistema de
rantes nas minas foram incorporados, a partir do abertura e preenchimento de fraturas paralelas
trabalho de Ribeiro et al. (1966), aos depósitos da ao esforço horizontal máximo é interpretado como
Fm. Arroio dos Nobres, Gr. Bom Jardim. Esta inter- semelhante a fraturas tipo-T, durante um evento
pretação é encontrada, entre muitos autores, em transcorrente que teria afetado a Bacia Camaquã
Teixeira & Gonzáles (1988), Paim et al. (2000) e em ~530 Ma (Santos et al. 2012, Almeida et al.
Toniolo et al. (2007, 2010). 2012). Estruturas como a flor negativa caracteri-
Fambrini et al. (1996), com base em estudos zada no pit Piritas (Fig. 8) sugerem o modelo trans-
estratigráficos, retomam a definição original de Fm. trativo já proposto por Bettencourt & Damasceno
Santa Bárbara de Robertson (1966) para as ro- (1974).
chas sedimentares aflorantes na área das minas, A mineralogia do minério é composta por calco-
redefinindo posteriormente a unidade como Gr. pirita, bornita e calcosita, contendo ainda ouro e
Santa Bárbara (Fambrini, 2003). prata (Figs. 9 e 10). Como minerais supergênicos
Bicca et al. (2010), Oliveira (2012) e Bicca ocorre calcosita, malaquita e crisocola e, em pro-
(2013), obtiveram idades entre 558±13 Ma e porções menores, também ocorre azurita, cuprita
553±10 Ma em zircões detríticos de amostras de e cobre nativo, em uma ganga de hematita, bari-
conglomerados e arenitos coletadas na área das ta, quartzo e calcita (Fig. 11). Enquanto nos filões
minas do Camaquã e na seção-tipo da Fm. Santa predomina a calcopirita, nas disseminações há um
Bárbara (a oeste do alto de Caçapava do sul, no predomínio de calcosita, conforme referências acer-
vale de Santa Bárbara), caracterizando que estas ca do minério e ganga nas minas do Camaquã dis-
áreas tiveram evolução sedimentar sincrônica. Esta poníveis, por exemplo, em Teixeira & Gonzáles
interpretação estratigráfica é atualmente adota- (1988), Beckel (1990), Laux et al. (2000) e Toniolo
da pela Votorantim Metais, detentora dos direitos et al. (2010).
de pesquisa na área. Cloritização e sericitização são os principais
As minas do Camaquã compreendem duas áre- halos de alteração hidrotermal na Mina Uruguai,
as mineralizadas onde foram desenvolvidas ativi- enquanto a silicificação e sericitização predominam
dades mineiras: mina Uruguai (a céu aberto e sub- na São Luiz. As rochas encaixantes dos filões são
terrânea) e mina São Luiz (subterrânea). O miné- hidrotermalmente alteradas; quando a distância

532
Eduardo Camozzato, João Angelo Toniolo & Jorge Henrique Laux

Figura 8 – Zona Piritas da Mina a céu aberto Uruguai Figura 11 – Detalhe da Figura 8; oxidação superficial
(minas do Camaquã, RS). No centro da foto, oxida- do minério sulfetado de cobre na Mina a céu aberto
ção superficial do minério sulfetado de cobre (ver Fi- Uruguai (minas do Camaquã, RS).
gura 11).

entre os veios é reduzida, as faixas de alteração


podem constituir zonas com mais de uma centena
de metros de largura.
Outros indícios minerais no entorno das Minas
do Camaquã são representados por dissemina-
ções de malaquita e filões de quartzo em arenitos
conforme fraturas N60º-80ºW, situados no prolon-
gamento dos filões das minas (ocorrências Encru-
zilhada, Oscarino, Capão das Taleiras, Maroca,
Feliciano e Cerro das Tunas).
Ainda que as quantidades de Au e Ag sejam
pequenas no minério das Minas do Camaquã, atin-
giram valores significativos nos concentrados de
Cu produzidos à época da mineração. Conforme
Figura 9 – Frente de lavra do nível 180 mostrando Teixeira (1978) existe proporcionalidade entre os
brecha cimentada por calcosita (Mina Uruguai sub-
terrânea, minas do Camaquã, RS). teores de Ag e Cu no minério da mina Uruguai,
ainda que com uma significativa variação no teor
de Ag de acordo com o mineral-minério de Cu. A
distribuição de Au relativamente ao Cu, por sua
vez, é constante na Mina Uruguai, independendo
do tipo de minério de Cu.
Análises de 51 amostras de sulfetos maciços
realizadas por Teixeira (1978) resultaram desde a
não detecção até 308 ppm para Au, enquanto os
valores para Ag chegaram a 4.079 ppm, ficando
ainda caracterizada a não correlação entre os te-
ores de Ag e Au. Este autor estimou para as mi-
nas do Camaquã uma reserva contida em metais
nobres de 4.950 kg de Au e 196.000 kg de Ag.
Localizada cerca de 5 km para SW das Minas
do Camaquã, o Depósito de Pb-Zn-(Cu-Ag)-(Au)
Figura 10 – Frente de lavra do nível 220 mostrando de Santa Maria foi descoberto por prospecção geo-
brecha cimentada por calcopirita e pirita (Mina Uru- química em 1978 (Licht 1980), com base na mu-
guai subterrânea, minas do Camaquã, RS). dança do paradigma para as mineralização cuprí-

533
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Cinturão Dom Feliciano (RS/SC)

feras na Bacia Camaquã. te controle estrutural, estando associadas com


Santos et al. (2013) estimam reservas do de- zonas distensivas com orientações principais N-S
pósito da ordem de 43 Mt @ 2,5% Zn+Pb (incluin- a NNW-SSE até, subordinadamente, ESE-WNW.
do 14 Mt @ 5% Zn+Pb). Os maiores volumes e Estas estruturas controlam os feeders da minera-
menores teores se relacionam com as mineraliza- lização (zonas stringers de alto teor) e geram a
ções disseminadas, enquanto as do tipo stringer, porosidade secundária, enquanto os halos de al-
ainda que com menores volumes, têm os maiores teração hidrotermal controlam a distribuição dos
teores no depósito. O minério ocorre de duas for- metais. O zoneamento da alteração hidrotermal é
mas: 1) disseminado (0,5% Zn + Pb < 3%), com bem definido no depósito, com a ilita no topo do
galena e esfalerita (± pirita) disseminadas confor- sistema, com minério de Pb e Zn, e a clorita nas
me a estratificação de arenitos (Fig. 12); e 2) ve- porções inferiores, com enriquecimento em Cu.
nular, em brechas verticais (> 3% de Zn + Pb), na Detalhes acerca das mineralizações são des-
forma de filonetes e, mais raramente, filões (Fig. 13). critos por Santos et al. (2013) e Rios et al. (2013)
Conforme Rios et al. (2013) e Santos et al. como segue: 1) Cu-Ag; com calcosita disseminada
(2013), as mineralizações estão hospedadas prin- e em vênulas milimétricas com Ag associada, no
cipalmente em arenitos arcoseanos finos, em fun- topo da zona com illita (alteração potássica); 2)
ção da permoporosidade primária favorável, e su- Zn-Pb; com esfalerita amarelo palha a castanho
bordinadamente em conglomerados e ritmitos. Os claro, exclusivamente em zonas de stringers; ou
principais minerais de minério são esfalerita e ga- esfalerita negra, disseminada no bandamento de
lena, associados a quantidades variáveis de cal- rochas sedimentares arenosas e em stringers (am-
copirita, pirita, bornita, calcosita, prata nativa e bas na zona da illita); e também como galena dis-
molibdenita. As áreas mineralizadas mostram for- seminada e em stringers (na zona da illita e, su-
bordinadamente, na da clorita); e 3) Cu-Au, com
calcosita e bornita, com calcopirita associada, em
stringers no envelope de alteração clorítica (per-
vasiva) e hematítica (restrita).
O Depósito Santa Maria e as minas do Cama-
quã parecem representar um sistema mineraliza-
do comum. O primeiro constitui a porção distal do
sistema, de baixa energia (com illitização e desen-
volvimento localizado de brechas hidrotermais),
enquanto as minas do Camaquã representam a
área proximal (e.g., Toniolo et al. 2010, Remus et
al. 2011, Santos et al. 2013).
Figura 12 – Disseminações de galena e esfalerita no
Ainda que nenhuma fonte intrusiva significati-
acamamento de arenito. Testemunho de sondagem
do Depósito Santa Maria, RS. va tenha sido encontrada até o momento nas áreas
das minas do Camaquã e do Depósito Santa Ma-
ria, os dados sugerem um modelo metalogenético
magmático-hidrotermal comum, com assembléias
hidrotermais semelhantes e que se diferem ape-
nas pela intensidade da alteração.

CERRO DOS MARTINS E ARREDORES

Na faixa de rochas sedimentares e vulcânicas


dos grupos Bom Jardim e Santa Bárbara que aflo-
ram entre as falhas dos Lopes e Rincão dos Mou-
ras, logo ao leste e sudeste da área de exposição
Figura 13 – Brecha de falha mineralizada a galena e
dos metamorfitos do Complexo Passo Feio (muni-
esfalerita (centro) em arenitos hidrotermalizados com
alguma mineralização disseminada (direita). Teste- cípio de Caçapava do Sul, RS), ocorrem inúmeras
munho de sondagem do Depósito Santa Maria, RS. ocorrências de Cu na forma de oxidados, massas

534
Eduardo Camozzato, João Angelo Toniolo & Jorge Henrique Laux

e filonetes com pirita e calcopirita e filões quartzo- autor caracteriza que a origem epigenética para
sos mineralizados. Dentre estas, devem ser res- as mineralizações estratiformes do cerro dos Mar-
saltadas as dos cerros das Ovelhas e dos Mar- tins é revelada pela sucessão de substituição de
tins, este último constituindo a mais promissora sulfetos de Cu a partir de frambóides de pirita.
oportunidade mineral da região. Toniolo (2004) e Toniolo et al. (2004), com base
No cerro das Ovelhas ocorrem seis filões mine- na composição isotópica do S dos sulfetos do mi-
ralizados cortando tanto as rochas da Bacia Ca- nério, indicam uma origem hidrotermal-magmática
maquã, quanto os metamorfitos do Complexo Pas- para as mineralizações no depósito do Cerro dos
so Feio (Ribeiro 1978). As atitudes comuns dos fi- Martins. Conforme estes autores, os fluidos de
lões são N55ºW/80ºNE e N55ºE/60ºSE, conforme origem magmática lixiviaram metais-base e C (e
os sistemas de falhamentos da área. Na superfí- Sr) do embasamento e da pilha vulcanossedimen-
cie a mineralização contém barita e malaquita e, tar e depositaram o minério nas estruturas de alí-
mais raramente, calcosita, azurita e crisocola. Em vio/fraturas e vazios do depósito. As texturas dos
sondagens com até 30 m foram observadas calco- minerais de minério mostram que os sulfetos de
sita e bornita e, de maneira subordinada, calcopi- Cu ocorrem tanto na fase principal quanto na tar-
rita e pirita, em ganga de calcita, quartzo e barita. dia, indicando um enriquecimento em Cu nos es-
O depósito do Cerro dos Martins (Fig. 14) é um tágios finais de deposição do fluido mineralizador.
conjunto de filões sulfetados controlados por es- Os dados geoquímicos de rochas vulcânicas da
truturas brechadas de direção N40º-60ºW cor- área indicam uma semelhança com as da Fm.
tando andesitos e rochas sedimentares clásticas Acampamento Velho. Resultado geocronológico
da Fm. Hilário. São também reconhecidas no de- equivalente àquela unidade foi obtido por Toniolo
pósito disseminações estrato controladas de (2004) somente em um quartzo diorito intrusivo
sulfetos, em especial nos siltitos e arenitos, o que nas rochas vulcânicas e sedimentares encaixan-
induziu interpretações de uma origem sedimentar tes das mineralizações (550 ± 5 Ma). A razão 87Sr/
para o depósito (e.g., Chaban et al. 1978, Ribeiro 86
Sr média de calcitas do depósito também é se-
1978, Beckel et al. 1978, Santos et al. 1978). melhante ao das rochas vulcânicas e plutônicas
Conforme Altamirano (1992), no cerro dos Mar- alcalinas bimodais da Fm. Acampamento Velho.
tins os sulfetos de Cu são representados por cal- A composição isotópica do C das calcitas do
cosita e bornita, predominantes, com pirita, calco- depósito parece resultar da mistura de duas fon-
pirita, galena, esfalerita e covellita subordinadas, tes: uma magmática, relacionada com fluidos de
em ganga de quartzo, carbonatos, barita, mine- intrusões epizonais de afinidade alcalina; e outra
rais argilosos e rara hematita. Produtos oxidados de composição marinha, possivelmente derivada
compreendem malaquita, azurita e cuprita. Este de mármores do embasamento.
Fontoura et al. (2012) caracterizam com base
em geofísica terrestre, anomalias em K, U e Th vin-
culados com as zonas de alteração hidrotermal
reconhecidas no depósito.

MINAS DO SEIVAL E ARREDORES

O entendimento das mineralizações a Cu±Au


(Pb-Zn-Ag) relacionadas com os expressivos de-
pósitos vulcanogênicos da Fm. Hilário, nas imedi-
ações da localidade de Lavras do Sul (RS), está
diretamente vinculado à compreensão dos siste-
mas plutono-vulcânicos da região, os quais são
descritos, entre muitos, pelos trabalhos de Nardi
(1984, Complexo Granítico Lavras); Nardi & Lima
Figura 14 – Galerias de pesquisa abertas conforme o (1985) e Lima (1995, Associação Shoshonítica de
filão principal, em arenitos, conglomerados e andesi- Lavras do Sul); e Gastal & Lafon (1998) e Gastal
tos (Cerro dos Martins, RS). et al. (2006a,b; Complexo Intrusivo Lavras do Sul).

535
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Cinturão Dom Feliciano (RS/SC)

Para informações adicionais acerca da geolo- texto geológico.


gia da região de Lavras do Sul, e específicas so- As minas do Seival (Fig. 15), cerca de 20 km
bre as mineralizações auro-cupríferas nas rochas para NE de Lavras do Sul (RS), constituem um con-
plutônicas, ver item específico (Au±Cu±Pb,Zn,Ag em junto de pequenos depósitos (Barita, João Dah-
Lavras do Sul). ne, Morcego, do Meio, Cruzeta e Alcides) e ocor-
Conforme Lima et al. (2007), o vulcanismo Hilá- rências cupríferas (Vila do Torrão, Lagoa do Jaca-
rio é caracterizado por rochas vulcânicas e plutô- ré, Quero-Quero, etc.) descobertas em 1901 e la-
nicas associadas, intercaladas e gradualmente vradas no período 1935-1962.
sucedidas por conglomerados ricos em clastos Reischl (1978), resumindo dados sistemáticos
vulcânicos e por depósitos arenosos a pelíticos coletados na área pela Companhia Brasileira do
que, no conjunto, representam a Fm. Hilário. A dis- Cobre - CBC (geologia, geofísica, geoquímica de
tribuição é ampla na região de Lavras do Sul e solos e sondagens) e Lopes et al. (2013), referem
mais restrita em Caçapava do Sul, São Sepé, Vila que as mineralizações são controladas por falhas
Nova do Sul e Dom Pedrito. e fraturas e estão confinadas às rochas efusivas
As rochas efusivas, em especial traquibasaltos porfiríticas brechadas e pirolásticas de afinidade
e traquiandesitos (shoshonitos), e pequenos vo- shoshonítica e composição andesítica e traqui-
lumes de depósitos piroclásticos (de queda e flu- andesítica, intensamente hidrotermalizadas, da
xo) se associam com rochas plutônicas epizonais Fm. Hilário cortados por diques andesíticos métri-
graníticas e leucodioritos cumuláticos e termos hi- cos a decamétricos, de orientação NE. Dissemina-
pabissais monzoníticos, quartzomonzoníticos e ções irregulares nas proximidades das fraturas e
lamprofíricos (Lima & Nardi 1998; Lima et al. 2007), falhas são a forma mineralizada predominante, que
litologias agrupadas na Associação Shoshonítica ocorre também como bolsões (pockets) com sulfe-
de Lavras do Sul (Lima & Nardi 1985). A fração tos disseminados, sistemas complexos de vênu-
plutônica desta associação é representada pelo las, preenchimento de vesículas e mais raramen-
núcleo do Complexo Granítico Lavras de Nardi te nas fraturas. Os teores de sulfetos de Cu dimi-
(1984). nuem consideravelmente em profundidade, con-
O padrão da região é semelhante ao encontra- forme os resultados das sondagens da CBC.
do em terrenos vulcânicos associados ao colapso As direções NE a N-S, com mergulhos entre
de caldeiras, como sugerido por Lima (1995), po- 70ºSE-90º (50ºNW na Mina Barita) são as predo-
dendo envolver mecanismos do tipo downsagging minantes; na ocorrência Quero-Quero a minerali-
e subsidência de blocos, como indicado por Liz et zação é controlada por fraturas N50ºW, 70º-80ºE.
al. (2004). Embora os depósitos estejam relativamente ali-
Toniolo et al. (2007) apresentam uma série de nhados por cerca de 5 km conforme a direção NNE-
estruturas circulares compatíveis com o colapso de
caldeiras, as quais vêm sendo utilizadas como
modelo exploratório no âmbito da Bacia Camaquã.
Conforme Lima (1985), ocorre uma zonação
metalogenética nas rochas vulcânicas da Forma-
ção Hilário, desde a borda do Complexo Lavras do
Sul até a região de Volta Grande, com sulfetos de
Cu dominando nas proximidades do limite com o
complexo e de Pb e Zn concentrando-se nas ro-
chas vulcânicas mais distais.
São diversas as áreas mineralizadas em rochas
vulcânicas da Fm. Hilário na região de Lavras do
Sul, com Cu e/ou Au como minério principal, entre
as quais podem ser referidas as antigas minas do
Seival, Merita, Volta Grande, Cerro Rico, Vista Ale-
gre, Saraiva, Waldo Teixeira, Porteiras e Dourada.
Figura 15 – Afloramento de brechas vulcânicas da
Algumas delas são aqui descritas como uma refe- Fm. Hilário na Mina do Meio (minas do Seival), muni-
rência para os sistemas mineralizados neste con- cípio de Lavras do Sul, RS.

536
Eduardo Camozzato, João Angelo Toniolo & Jorge Henrique Laux

SSW, não foi determinada relação estrutural en- botrioidais e laminadas (bladed) em calcedônia e
tre os mesmos (Reischl 1978). jasper, e de quartzo drusiforme em pequenas ca-
As mineralizações são principalmente a base vidades, ocorrem com as brechas hidrotermais que
de calcosita e covelita, com rara bornita e calcopi- contêm, ainda, barita. Estes autores, que inter-
rita, em ganga de barita e, subordinadamente, pretam as porções altamente silicificadas com jas-
calcita e calcedônia coloforme. A prata nativa ocor- per como silica caps, propõem para o depósito um
re associada com a calcosita. A alteração super- modelo epitermal de baixa sulfetação, do tipo hot-
gênica é composta por malaquita, azurita e criso- spring, e sugerem a existência de um conduto vul-
cola e representa 70% do minério na zona de oxi- cânico ainda preservado na área.
dação. Na Mina Barita ocorre enargita associada Para Lopes (2013) e Lopes et al. (2013), os te-
com a calcosita. ores verificados de Cu, Zn e Ni em relação ao pro-
Conforme Lopes (2011), processos tardi a pós tólito menos afetado pelo processo hidrotermal,
magmáticos originaram produtos de alteração per- nos diques e brechas da região, indicam que as
vasiva, principalmente filossilicatos de Fe e Mg do mineralização cupríferas têm origem magmática.
grupo das cloritas; e venular, com veios preenchi- A origem dos sistemas mineralizados e também
dos por barita e minério de Cu, tendo sido reconhe- a influência de diques lamprofíricos nas minerali-
cidas as fases argílica intermediária e propilítica. zações são discutidas, entre outros, por Liz et al.
Na antiga Mina Merita, em rochas vulcanoclás- (2007) e Müller et al. (2012). Conforme estes au-
ticas da Fm. Hilário, ocorrem veios de quartzo con- tores, a mistura dos magmas latíticos ou traquíti-
tendo galena argentífera, esfalerita, pirita, calco- cos com os lamprofíricos pode ser responsável pela
pirita, especularita e raramente ouro livre (Lima precipitação dos sulfetos magmáticos portadores
1985). Os veios se estendem por dezenas de de Au, além da própria formação das soluções hi-
metros, com uma possança de poucos centíme- drotermais.
tros, sendo as estruturas mineralizadas de maior A elevada atividade de fluidos nas rochas com-
possança constituídas por zonas com predominân- postas (diques compostos autoclásticos) é a ge-
cia de microbrechas. As litologias estão hidroter- radora da sulfetação tardi-magmática. Dados de
malmente alteradas e, nas porções com minerali- MEV em calcopiritas indicaram concentrações con-
zação sulfetada, a ganga é geralmente constituí- sideráveis de ouro e prata nativa, além de tetrae-
da por carbonato, clorita e epidoto; em alguns drita e esfalerita, envolvidos por silicatos ricos em
casos, apenas por estes dois últimos. cloro, indicativos de complexos com cloretos. Esti-
Na Volta Grande a mineralização está vincula- mativas de temperatura aproximada de formação
da com filões paralelizados de direção NW, com a dos sulfetos, a partir da química mineral da arse-
paragênese constituída dominantemente por piri- nopirita, indicaram temperaturas entre 330° e
ta aurífera, sulfetos de Cu, galena argentífera e 450°C (Liz et al. 2004, 2007; Müller et al. 2012).
Au livre, caracterizando um depósito polimetálico Segundo Liz et al. (2009), os monzonitos hipa-
de difícil beneficiamento (Santos et al. 1998). En- bissais aflorantes na porção nordeste da área são
tre os anos de 1985 e 1987 a CRM (Companhia interpretados como unidades intrusivas ressurgen-
Riograndense de Mineração) extraiu ~100 Kg de tes, portanto tardias na história evolutiva da área.
Au da porção aluvionar do depósito. Estes corpos podem ter sido temporalmente acom-
Nesta região, das antigas minas da Volta Gran- panhados por efusivas intermediárias de mesma
de e Cerro Rico, Rocha et al. (2013b; Projeto Cer- afinidade geoquímica e pelo magmatismo alcalino
ro Dourado do Grupo Mining Ventures Brasil) des- sódico, conforme sugerido, por exemplo, por Gas-
crevem corpos alongados de brecha hidrotermal tal et al. (2006a, b). As manifestações finais, com
orientados conforme NW-SE (às vezes E-W) for- magmatismo concomitante shoshonítico e alcalino
mados por fragmentos do protólito vulcânico ou sódico, devem ter causado um incremento signifi-
vulcanoclástico em uma matriz de quartzo, calce- cativo no gradiente geotermal da área, contribu-
dônia, jasper (sílica com ferro), hematita e man- indo na remobilização de metais-base por ação do
ganês, depositados em vênulas com padrão mul- hidrotermalismo e na geração das mineralizações
tidirecional. A mineralização é composta por Ag, de Au-Cu do tipo pórfiro encontradas na região
com Au, Pb e Zn associados. Texturas coloformes, de Lavras do Sul (Liz et al. 2004).

537
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Cinturão Dom Feliciano (RS/SC)

Sn±W no RS (Distrito Encruzilhada do Sul) des, respectivamente, das suítes Cordilheira (Pi-
cada 1965) e Campinas (Tessari & Picada 1966).
No Rio Grande do Sul, os recursos em Sn e W Conforme Philipp et al. (2013), as estruturas
estão concentrados no Distrito de Encruzilhada do miloníticas e a foliação magmática dos leucograni-
Sul, onde constituem duas áreas mineralizadas: tos peraluminosos da Suíte Cordilheira são acom-
1) uma no norte do Distrito, nas proximidades da panhadas por lineação de estiramento de baixo
vila Pinheiros (município de Encruzilhada do Sul); ângulo, indicando que estes corpos foram intrudi-
e 2) outra no sul, no entorno do rio Camaquã, no dos sob condições sin-cinemáticas, durante even-
âmbito dos municípios de Encruzilhada do Sul e to transcorrente.
Piratini. A cassiterita está geralmente concentrada em
Na porção norte do Distrito (Província Cerro da zonas de granitos greisenizados que também con-
Árvore - Sanga Negra e arredores, de Leinz & Pi- têm fluorita e turmalina e raro topázio. Os veios
nagel 1945), nas minas Sanga Negra e Cerro da de quartzo mineralizados, com até 5 km de com-
Árvore (ou Mina Velha), a wolframita constitui o primento e 1,2 m de largura, associados com as
principal mineral de minério, em ganga de quartzo zonas greisenizadas, mostram orientações entre
leitoso, acompanhado de pirita e calcopirita (em N10º-40ºE, com mergulhos variáveis entre 30ºSE
profundidade), com berilo, topázio, turmalina e flu- e 70ºNW e, subordinadamente, N30ºW. Confor-
orita subordinados. A cassiterita pode ocorrer na me Frantz (1983), os veios de quartzo com cassi-
salbanda do granito greisenizado, encaixante dos teria, greisens e turmalinitos possuem uma distri-
veios com wolframita, entre 10 e 30 cm destes. buição unicamente por fraturas NE e NW, resul-
Os veios mineralizados a wolframita, que po- tantes do evento gerador das faixas miloníticas
dem alcançar até 1,5 km de extensão (na Mina que controlou, também, o posicionamento dos sto-
Velha) e 35 cm de largura, têm direção principal cks graníticos. A turmalinização que acompanha
N10º-30ºE e, subordinadamente, N30º-40ºW (a esses filões quartzosos constitui um excelente guia
direção principal na mina Sanga Negra), tenden- prospectivo.
do a verticalidade. Nos veios com direção N70º- Frantz et al. (2005, 2007) referem que as mi-
N80ºE o granito apresenta-se greisenizado, mas neralizações têm uma gênese complexa, que en-
quase sem cassiterita. volve a participação de dois sistemas graníticos e
Vasquez et al. (1989) reconhecem nesta por- hidrotermais com características diferentes, os
ção do Distrito o Granito Pinheiros (fácies granito quais exerceram forte controle sobre a gênese e
médio do Complexo Granítico Encruzilhada de Pi- distribuição das zonas mineralizadas: 1) a injeção
cada & Tessari 1970), ao qual vinculam as minera- dos corpos graníticos peraluminosos a duas mi-
lizações. Os autores descrevem no granito bolsões cas da Suíte Cordilheira, com posicionamento sin
pegmatíticos, greisens, cavidades miarolíticas e a tardi-transcorrência e valores anômalos de Sn,
diques aplíticos orientados entre N30°E e N80°E, para todos os estágios de intrusão, parece ter
que representam as manifestações de estágios iniciado o processo de enriquecimento, com a for-
tardi a pós-magmáticos, ricos em voláteis. mação de zonas pervasivas de alteração hidro-
Na porção sul do Distrito (Província Cerro Bran- termal; e 2) a injeção dos corpos cálcico-alcalinos
co – Campinas e arredores do rio Camaquã, de da Suíte Campinas e Tabuleiro, durante os estági-
Leinz & Pinagel 1945) a cassiterita constitui o re- os tardi a pós-transcorrência, deu continuidade ao
curso metálico nas minas Campinas, Tabuleiro e processo, através da incorporação de uma gran-
Cerro Branco, ainda no município de Encruzilhada de quantidade de microxenólitos de várias proce-
do Sul; e nos depósitos Estreito, Paulista, Santa dências, com o desenvolvimento de zonas de al-
Bárbara e Pedro Freitas (ou Rincão do Inferno), teração hidrotermal restritas às zonas de cúpula
logo a sul do rio Camaquã, já no município de Pi- e de contato com as encaixantes.]
ratini (cf. mapa insertado em Leinz & Pinagel 1945). Frantz et al. (2007), numa ampla reavaliação
Nesta região, a cassiteria foi também minerada em da porção sul do Distrito, relatam que os depósi-
depósitos aluvionares, em especial no arroio Cam- tos de mais alto teor, como os da Mina Campinas,
pinas e no rio Camaquã. foram gerados a partir de reciclagem ou rejuve-
As mineralizações de cassiterita se associam nescimento de material crustal, resultando, algu-
com leucogranitos a duas micas e biotita granitói- mas vezes, na formação de depósitos com carac-

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Eduardo Camozzato, João Angelo Toniolo & Jorge Henrique Laux

terísticas híbridas. estruturalmente controlado conforme a direção


A hibridização entre os dois estágios envolvi- N15º-30ºE (subsidiariamente, entre N-S e N30ºW)
dos na geração da mineralização estanífera está relacionado com zonas miloníticas subverticais.
mais bem caracterizada, conforme Frantz et al. Manso et al. (2005), referem anomalias positi-
(2005), na Mina Tabuleiro. vas de IP de média intensidade e baixa resistivi-
Conforme Teixeira et al. (2007), as zonas de dade coincidentes com a direção N15ºE, enquan-
alteração hidrotermal que acompanham as suítes to zonas com alta resistividade são comuns em
Cordilheira e Campinas apresentam diferentes dis- zonas silicificadas contendo disseminações de sul-
tribuições e composições. As da Suíte Cordilheira fetos (dominantemente pirita e calcopirita, com
tendem a apresentar uma distribuição pervasiva subordinada calcosita e esfalerita). Níveis com bre-
por centenas de metros, predominando alterações chas hidrotermais são acompanhados por forte
contendo mica branca, turmalina e turmalinitos dissolução de sílica e formação de vuggs.
bandados, como na Mina Cerro Branco. Os veios A mineralização mostra correlação direta com
de quartzo se orientam conforme as zonas de mi- intrusões de quartzo-monzonitos acinzentados a
lonitos que controlam e afetam a suíte. As zonas esbranquiçados, equigranulares finos a médios,
de alteração hidrotermal associadas à Suíte Cam- localmente porfiríticos, contendo biotita como má-
pinas constituem um reticulado de veios de quart- fico; e quartzo-pórfiros finos, róseos a esbranqui-
zo do tipo stockwork intracúpula, com projeções çados, com rara biotita. Estas litologias e o con-
para o interior da encaixante por ao menos uma trole estrutural caracterizam um critério prospec-
centena de metros, como ocorre na Mina Campi- tivo no âmbito do Batólito Pelotas.
nas. Conforme Henrichs (2010), nas zonas minerali-
Toniolo et al. (2007) apresenta uma idade de zadas ocorre intensa alteração hidrotermal fílica,
667±13 Ma para a mineralização de Sn na ocor- caracterizada pela paragênese sericita + musco-
rência do Paredão, obtida pelo método Pb-Pb por vita + quartzo ± pirita ± carbonato; e propilítica,
evaporação em grãos de zircão de um veio peg- de ocorrência moderada, contendo clorita ± car-
matóide que corta o granito mesocrático protomi- bonato ± epidoto. As concentrações de sulfetos,
lonítico, com foliação magmática dada pela orien- principalmente galena, ocorrem nas porções com
tação da biotita e dos feldspatos, interpretado alteração fílica mais intensa, no interior de veios e
como pertencente a Suíte Campinas. de zonas com brechas, ou nas suas proximidades.
Calcopirita e esfalerita também ocorrem asso-
Pb, Mo (Cu, Sn) no Batólito Pelotas ciadas à galena ou como mineral disseminado na
rocha. Os intervalos de maior intensidade de alte-
Philipp & Machado (2001) reportam, no âmbito ração propilítica contêm calcopirita, pirita e molib-
da Suíte Dom Feliciano, unidade mais jovem do denita. Malaquita, azurita e anglesita ocorrem em
Batólito Pelotas (ca. 550 Ma), ocorrências de cas- zonas com forte oxidação. Análises químicas de
siterita em greisens na localidade de Morrinhos amostras de testemunhos de sondagem resulta-
(São Jerônimo), molibdenita (Porto Alegre) e gale- ram intervalos com valores anômalos de Cu, Zn e
na (Amaral Ferrador). Mo e nulos ou muito baixos para Au.
Ramgrab et al. (1997) identificam nos granitói- Conforme Ramgrab et al. (1997), no Distrito de
des da Suíte Dom Feliciano sete diferentes unida- Morrinhos (município de São Jerônimo), onde um
des de fácies, com os tipos tardios sienograníti- depósito aluvionar de cassiterita foi delimitado no
cos e microsienograníticos (Serra do Erval e Morri- arroio dos Cachorros, a mineralização primária
nhos) constituindo stocks epizonais com transição parece estar relacionada com sienogranitos da
para fácies subvulcânicas, contendo alguma bioti- Fácies Morrinhos da Suíte Dom Feliciano.
ta (< 1%) e anfibólio sódico, com allanita, apatita As ocorrências de molibdenita em Porto Alegre
e fluorita como acessórios. também se relacionam com sienogranitos (Grani-
Na Mina Galena, a 6 km para NW de Amaral to Ponta Grossa de Schneider et al. 1974), seja
Ferrador, onde o minério de Pb foi parcialmente como cristais muito finos ou na forma de rosetas
explotado, Tubino (2003), Manso et al. (2005) e com até 1 cm de diâmetro.
Henrichs (2010) caracterizaram um sistema epi- Em Cerro Grande, a molibdenita ocorre disse-
termal de baixa sulfetação (tipo adulária-sericita) minada e em venulações em rochas miloníticas

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Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Cinturão Dom Feliciano (RS/SC)

associada a uma faixa com intensa greisenização. et al. (2005) sugerem uma idade de ca. 534 Ma
Estas rochas mostram elevados valores radiomé- para a mineralização, com base na idade do an-
tricos e contêm teores, detectados quimicamen- quimetamorfismo obtida por Basei (1985), relaci-
te, entre 0,02% e 0,04% de U3O8. onada com a deformação da Bacia Itajaí.
Informações regionais acerca da geologia, tec-
Au±Pb(Ag)±Zn±Cu (complexos granulíticos e tônica e recursos minerais da Bacia Itajaí e do seu
Bacia Itajaí) embasamento estão disponíveis, entre outros, em
Krebs et al. (1988, 1990a,b), Appi & Cruz (1990),
Duas importantes regiões com metais nobres Appi (1991), Caldasso et al. (1995a), Rostirolla et
e sulfetos de metais base ocorrem em sistemas al. (1992, 1999), Fonseca (2004), Schroeder
estruturais resultantes da reativação de zonas de (2006), Guadagnin (2009), Basei et al. (1987,
cisalhamento, com graus variados de relação en- 2011b) e Iglesias (2012).
tre o embasamento paleoproterozoico (Terreno Toniolo & Souza (2013) apresentam uma am-
Luis Alves) e intrusivas ácidas da Bacia Itajaí. pla revisão dos dados disponíveis para as bacias
Estas áreas estão localizadas nos extremos neoproterozoicas de SC e do seu embasamento.
norte e sul da Bacia Itajaí, respectivamente nos Com base em levantamentos geológicos e geo-
limites desta com rochas do Complexo Granulítico químicos prospectivos estes autores efetuam uma
de Santa Catarina (em afluentes do ribeirão do avaliação metalogenética de parcela da porção
Arraial, região de Gaspar) e do Complexo Ribeirão norte do Escudo Catarinense. Dos 101 filões ca-
da Prata (nas cabeceiras do ribeirão da Prata, re- dastrados, nas proximidades do limite ou cortan-
gião de Nova Rússia) (Fig. 16). do as rochas da bacia, 44 contêm sulfetos.
Uma ocorrência isolada de Pb é descrita por A Bacia Itajaí constitui uma sucessão sedimen-
Caldasso et al. (1995) na região do Encano Alto tar (Gr. Itajaí) depositada no Ediacarano superior
(no baixo curso do rio Encano), com dissemina- sobre rochas metamórficas de alto grau, sendo
ções de galena e pirita em filonetes de quartzo interpretada por Basei et al. (2008) como uma
leitoso e de microgranito cataclasado, orientados bacia de foreland do Cinturão Dom Feliciano. Com-
conforme falhamento N60ºE que cortam arenitos preende uma porção basal continental (conglome-
da bacia. Cabe a estes autores também uma ocor- rados e arenitos) e outra superior marinha (turbi-
rência isolada de Au-W no ribeirão Quati, na por- ditos predominantes), com presença muito limita-
ção SW da bacia; neste caso, descrevem filão de da de tufos e cortada por diques e sills de rochas
quartzo leitoso cortando siltitos, em falha E-W, e riolíticas da Fm. Apiúna, as quais também ocorrem
contendo 15 a 22 ppm de Au e 1% de WO3 contido. como lavas no topo do ciclo sedimentar. Os grani-
Conforme Rocha et al. (2005), a similaridade na tóides cambrianos, do tipo A, Subida (520±5,5 Ma)
composição isotópica do Pb e, por consequência, e Português (512,9±1,9 Ma) constituem os even-
nas idades modelo nas regiões dos ribeirões do tos finais do Brasiliano na região.
Arraial e da Prata, parecem indicar que estes de- As feições tectônicas mais expressivas ocorrem
pósitos compartilharam uma fonte similar de Pb, na porção sul da bacia, com uma significativa in-
sendo as diferenças entre os minérios resultan- versão estratigráfica relacionada com a movimen-
tes de diferentes rochas-fonte. Nas minas do Ri- tação transpressiva de caráter oblíquo do siste-
beirão da Prata não ocorrem os gnaisses máficos ma transcorrente Itajaí-Perimbó. Desta tectônica
nem as lentes de formações ferríferas bandadas resulta uma imbricação entre as litologias sedi-
expostas na mina Schramm, na região de Gaspar. mentares do Gr. Itajaí e metamórficas dos com-
Conforme Toniolo et al. (2008), os depósitos do plexos Ribeirão da Prata e Brusque.
Ribeirão da Prata e Schramm possuem assinatu-
ras isotópicas do Pb primitivas, indicando a parti- REGIÃO DO RIBEIRÃO DO ARRAIAL (GASPAR)
cipação das rochas encaixantes como fonte dos
metais. Oliveira et al. (1986) apresentam os resulta-
A idade de 520 Ma obtida por Schiker & Biondi dos de pesquisas para Au da MINEPAR (Minérios
(1996) em muscovita da zona de alteração hidro- Gaspar Ltda.) na região da serra da Gurita e dos
termal da mina Ribeirão da Prata pode indicar a córregos Santa Rosa e das Calhas (ou da Game-
idade da mineralização naquele depósito. Rocha la), afluentes pela margem esquerda do ribeirão

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Eduardo Camozzato, João Angelo Toniolo & Jorge Henrique Laux

al. 2013a) com indicação das principais áreas mineralizadas. Cores


Figura 16 – Mapa geológico de parcela do Escudo Catarinense (simplificado de Wildner et
todos os traços internos de divisão dos domínios para correlação direta com o mapa geológico estadual.
conforme os domínios tectono-geológicos. Mantidos
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Cinturão Dom Feliciano (RS/SC)

do Arraial, cerca de 10 km para norte da localida-


de de Gaspar (SC).
Dos 44 veios de quartzo descobertos na re-
gião, dois (Schramm e Subida) estão em rochas
do Complexo Granulítico de Santa Catarina e os
demais em rochas do Gr. Itajaí (Fig. 17). Nos prin-
cipais depósitos, Schramm e Limão, houve explo-
ração mecanizada a céu aberto. Na mina Schramm,
duas galerias de meia encosta foram também uti-
lizadas para a extração do minério aurífero. Ou-
tros veios mineralizados são referidos como Pau-
lo (ou Bembem), Atoleiro, Garrafão, Boa Vista, Ban-
co e Lagoa.
Os corpos mineralizados podem constituir vei-
Figura 17 – Detalhe de sistema de veios de quartzo
os isolados, com até 60 cm de largura, ou conjun-
leitoso, com pirita e rara calcopirita, que corta os are-
tos contendo abundantes filonetes, vênulas e vei- nitos da Bacia Itajaí na região de Gaspar (SC).
os paralelizados, caracterizando faixas intensa-
mente hidrotermalizadas com menos de 20 m de ganga; e pirita, calcopirita, esfalerita, galena, sul-
largura. Ambos os tipos variam desde poucas de- fossais da série gustavita-lillianita (Pb-Bi-Ag-Cu)
zenas até cerca de 600 m de extensão, acompa- e Au nativo como minerais metálicos (Rocha et al.
nhados ou não por diques riolíticos e riodacíticos. 2002, 2003).
Predominam as orientações ENE, E-W e WNW. Os Biondi et al. (2001, 2002, 2004) e Biondi & Xa-
teores nos veios da região são muito irregulares, vier (2002) sugerem que a fonte dos fluidos mine-
chegando pontualmente a 43 ppm Au, 129 ppm ralizadores possa ter sido as ultramáficas granulí-
Ag, 2.700 ppm Cu e 410 ppm Bi. ticas, com a precipitação do Au e sulfetos prefe-
Conforme Biondi et al. (1992), os teores médi- rencialmente em locais onde o filão atravessa gra-
os de Au nos veios de quartzo cortando rochas nulitos ultramáficos e formações ferríferas a mag-
sedimentares raramente são maiores que 1 g/ton netita. O elevado conteúdo de Ni e As detectado
(pontualmente até 4,5 g/ton), enquanto os de Ag no minério (Biondi et al. 2001) é compatível com
não ultrapassam 5 g/ton. Nas encaixantes hidro- fontes envolvendo rochas máfico-ultramáficas.
termalizadas os teores de Au e Ag estão abaixo Rocha et al. (2005) também sugerem que os gnais-
de 0,05 g/ton. No veio Schramm o Au ocorre asso- ses máficos do Complexo Granulítico de Santa
ciado à pirita e à calcopirita ou livre quando no Catarina são a fonte do Au, com base em isóto-
quartzo oxidado, com teores variando entre 4 e pos de Pb na galena e sulfossais componentes da
35 g/ton (média de 10,2 g/ton); o teor de Ag varia
de 2 a 36 g/ton (média de 9,2 g/ton).
Os veios mineralizados subverticais da mina
Schramm, orientados N75º-85ºW, estão em falhas
extensionais relacionadas com um regime trans-
pressional levógiro de reativação de zona de ci-
salhamento regional de alto ângulo N5º-10ºE (Bi-
ondi et al. 1992, 2001) que, na região da mina,
controla o curso do córrego Santa Rosa.
O filão mineralizado apresenta espessura mé-
dia de 50 cm e uma zona de alteração hidrotermal
(carbonatação, cloritização e sulfetação) de até
60 cm (Fig. 18). A encaixante faz contato brusco
com a mineralização e é, frequentemente, corta-
da por vênulas de siderita, siderita-clorita e quart- Figura 18 – Detalhe da oxidação superficial do filão de
quartzo da Mina Schramm (região de Gaspar, SC) com
zo-clorita. A paragênese do filão é composta por boxworks preenchidos por óxidos de ferro e manga-
siderita, quartzo e clorita (rica em Fe) formando a nês pulverulentos.

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Eduardo Camozzato, João Angelo Toniolo & Jorge Henrique Laux

paragênese do minério e do conteúdo de ETR do termal-pórfiro, associado a rochas magmáticas


minério e das encaixantes. saturadas da série alcalina, ressalvando que os
As maiores concentrações de Au (26 a 57 ppm) processos tectônicos neoproterozoicos propicia-
ocorrem nos três locais onde o veio corta as len- ram condições para a geração de soluções hidro-
tes de formação ferrífera. Nestes locais o veio termais portadoras de metais.
Schramm alarga e forma colunas com aproxima-
damente 0,5 x 5 x 20/30 m. Fora desses bolsões REGIÃO DO RIBEIRÃO DA PRATA (NOVA RÚSSIA)
praticamente não há Au nos veios carbonatados
ou de quartzo. As mineralizações na região do ribeirão da Pra-
O preenchimento do filão de quartzo-siderita- ta são também referidas na bibliografia como Alto
sulfetos-Au ocorreu em duas fases sucessivas (Ro- Garcia ou mina de Blumenau. O ribeirão da Prata
cha et al. 2002, 2003), gerando uma estrutura si- (ou ribeirão Minas da Prata) é afluente pela mar-
métrica de preenchimento. Os minérios da fase 1 gem esquerda do rio Garcia, logo a oeste da loca-
ocorrem na borda (siderita com textura maciça e lidade de Nova Rússia, e tem o curso ENE-WSW
coloração bege, com clorita subordinada) e da fase controlado pela Zona de Cisalhamento Itajaí-Pe-
2 no centro da caixa filoniana (banda centimétrica rimbó.
contínua de siderita e clorita seguida pela deposi- Conforme Caldasso et al. (1995) aflora na re-
ção de quartzo maciço leitoso). O quartzo, que gião uma faixa ENE-WSW de geologia complexa,
constitui 95% do preenchimento e contém agre- com até 3 km de largura, constituída por gnaisses
gados centimétricos de cristais de clorita, varia de de composição granítica e gnaisses granulíticos
microcristalino na borda da fase 2 a grosso na máficos com retrometamorfismo à fácies anfiboli-
porção central, onde apresenta cristais centimé- to, milonitizados (aqui referidos como Complexo
tricos com estrutura em pente (Fig. 19). Ribeirão da Prata), com imbricações tectônicas de
O Au ocorre, predominantemente, como trilhas rochas sedimentares da Bacia Itajaí e, de manei-
na interface das fases 1 e 2 ou nas bandas mais ra muito limitada, de metamorfitos do Complexo
precoces da fase 2. Quando o filão é constituído Brusque. O conjunto é seccionado por granitóides
apenas pela fase 2 é marcante a presença de es- e por diques de rochas ácidas e básicas. A mine-
truturas cocarde (cockade) formadas por fragmen- ralização se distribui tanto em brechas derivadas
tos da rocha com auréolas de siderita-clorita. Tan- das rochas sedimentares da bacia, quanto naque-
to os sulfossais como o Au nativo são minerais las derivadas das rochas granulíticas.
característicos da fase tardia de preenchimento, Os limites da faixa gnáissica com a Bacia Itajaí,
apresentando texturas indicativas de substituição ao norte, e com o Complexo Brusque, ao sul, são
dos sulfetos de metais básicos da fase inicial de tectônicos, por movimentação transcorrente com
preenchimento (Rocha et al. 2002). componente transpressiva da qual resulta caval-
O estudo de inclusões fluidas no quartzo e si- gamentos direcionados para o norte. No ribeirão
derita da ganga do filão efetuado por Rocha et al.
(2003) indicou que a deposição da mineralização
ocorreu entre 240º-310ºC, com fluidos originados
pelo retrometamorfismo que afetou o Complexo
Granulítico, sendo a mineralização classificada
como do tipo orogênico. Conforme estes autores,
os fluidos mineralizantes, soluções aquacarbôni-
cas de baixa salinidade, são incompatíveis com
ambientess epitermais.
Biondi et al. (2002) já havia deduzido para o
depósito Schramm temperaturas entre 227º-316ºC
e pressões entre 1,2 e 0,1 kb, concluindo por um
modelo genético variante daquele dos depósitos
de ouro em zonas de cisalhamento (ou “orogêni- Figura 19 – Detalhe de veio com pirita e galena com
cos”), em condições de baixas T e P. cavidade atapetada por quartzo piramidado com es-
Toniolo & Souza (2013) adotam um modelo epi- trutura em pente (região de Gaspar, SC).

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Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Cinturão Dom Feliciano (RS/SC)

da Prata, localizado no limite entre o Complexo cações da ação de fluidos hidrotermais magmáti-
Ribeirão da Prata e a Bacia Itajaí, afloram gnais- cos. Os processos de substituição (silicificação e
ses máficos e conglomerados brechados e silicifi- sericitização) atuaram tanto nos gnaisses e grani-
cados. tóides do embasamento quanto nos arenitos ar-
A primeira referência técnica às mineralizações coseanos da Bacia Itajaí (Schicker 2001). A origem
nas cabeceiras do ribeirão da Prata é devida a dos fluidos hidrotermais, com temperatura vizinha
Ferraz (1921), que descreve duas importantes ja- de 350ºC, é considerada como metamórfica, com
zidas de minérios argentíferos em filões com es- a percolação dos fluidos acontecendo durante o
trutura brechada. período de relaxamento, após a fase de máxima
Cassedane & Mello (1967a,b) relatam que a transpressão.
mineralização no ribeirão da Prata corresponde a Riolitos com 499±6 Ma que afloram próximo ao
uma brecha de falha silicificada de direção geral depósito não foram afetados pela mineralização e
N70ºE, com espessuras entre 15 e 30 m e cerca uma datação da ganga do minério indica a fase de
de 300 m de extensão. O corpo mineralizado mos- sericitização em 522±10 Ma.
tra lenticularizações e contém galena, esfalerita, Nos afloramentos em superfície e nas galerias
pirita e minerais de Cu em ganga de quartzo e, da mina, os principais indicadores cinemáticos,
esporadicamente, barita. Estes autores descre- associadas à geometria e às características das
vem os trabalhos subterrâneos na área, os quais falhas conjugadas, indicam um movimento rever-
compreendem sete galerias de encosta, em três so dextral, com deslocamento mergulho acima. As
níveis, com até uma centena de metros e conten- rochas milonitizadas são deslocadas por falhas
do ramificações orientadas conforme a zona bre- transcorrentes dextrais E-W e por transcorrências
chada (Fig. 20). menores, sinistrais, com orientações N5º-30ºE.
Conforme Biondi et al. (1992), a zona minerali- Esta segmentação do corpo mineralizado é ante-
zada é constituída por hidrotermalitos quartzo- rior as intrusivas ácidas e mostra que o minério é
feldspáticos, estruturalmente isótropos, com 20- mais antigo que a reativação da zona de cisalha-
30 m de largura e 250-300 m de comprimento, mento (Biondi et al. 1992).
encaixados em milonitos e cataclasitos da Zona
de Cisalhamento Itajaí-Perimbó. Esta estrutura Au no Complexo Brusque (SC)
regional de evolução complexa, com característi-
cas dúcteis e reativações em condições rúpteis, Duas tipologias de mineralizações auríferas pri-
tem na área orientação N60º-75ºE, 60º-70ºSE. márias são reconhecidas no âmbito do Complexo
Conforme Schicker (2001), esfalerita, galena Brusque: 1) em filões de quartzo com raros sulfe-
(argentífera), calcopirita e pirita são os minerais tos no interior dos granitóides que intrudem o
de minério primários, enquanto covelita, goethi- Complexo ou nas faixas de cornubianitos que cir-
ta, malaquita, azurita e, mais raramente, cerussi-
ta e piromorfita compõem a paragênese secun-
dária. A matriz é composta por quartzo (80-90%),
sericita (5-8%), feldspato reliquiar e clorita subor-
dinada. Biondi et al. (1992) descrevem a minerali-
zação como sulfetada e disseminada no hidroter-
malito, concentrando-se nas vênulas de quartzo.
Os teores médios do minério são de 4% Pb,
1,5% Zn, 0,6% Cu e 3,5% Ba. A prata ocorre na
zona oxidada, onde atinge teor médio de 115 ppm.
O teor de Au na pirita varia entre 115 e 440 ppm.
Quatro amostras do tipo chip coletadas por Kaul
(1976) em galerias dos três níveis minerados mos-
tram valores de Ag entre 37 e 90 ppm.
Schicker & Biondi (1996) referem que houve
Figura 20 – Galeria abandonada na Mina Ribeirão da
substituição hidatogênica de arcóseos, gnaisses Prata (região de Nova Rússia, SC); veio mineralizado
e granitóides brechados e milonitizados sem indi- em diagonal no teto da galeria.

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Eduardo Camozzato, João Angelo Toniolo & Jorge Henrique Laux

cundam as intrusões; e 2) minérios singenéticos Todas estas intrusivas geram auréolas de me-
que se relacionam com níveis sulfetados em litologi- tamorfismo de contato sobre as litologias do Com-
as especiais, como quartzo turmalinitos bandados. plexo Brusque que podem alcançar a fácies piro-
Resultados prospectivos e dados previsionais xênio-hornfels.
e metalogenéticos para Au e outros metais no Não são incluídos nesta caracterização meta-
âmbito do Complexo Brusque estão disponíveis, logenética os leucogranitos descritos por Philipp
entre outros, em Silva & Dias (1981), Silva et al. & Campos (2010) na região de Itapema, onde aflo-
(1982, 1986), Caldasso et al. (1995a,b), Iglesias ram como corpos tabulares posicionados nas su-
(2012) e no conjunto de mapas produzidos para o perfícies axiais das dobras F2 e se relacionam ao
Programa Nacional de Prospecção de Ouro da pico do metamorfismo colisional que afetou o Com-
CPRM (Toniolo & Kirchner 1997). plexo Brusque.
O Complexo Brusque (936±40 Ma-552±3,4 Ma) Castro (1997) apresenta uma síntese acerca
constitui uma faixa de metamorfitos de baixo a dos granitóides intrusivos no Complexo Brusque
médio grau que se estende por ca. 75 km de com- e os organiza em quatro grupos, definindo um
primento e 40 km de largura, segundo NE-SW, zoneamento metalogenético baseado no grau de
desde a região de Itajaí, no litoral catarinense, oxidação sugerido pelos dados disponíveis, de S
até as imediações de Vidal Ramos, no extremo SW (mais redutor) para N (oxidante): W±Mo (Sn,Be);
do cinturão, onde é encoberto pelas rochas da W±Au; e Au.
Bacia Paraná. São reconhecidos (Caldasso et al. 1995a,b; Bi-
Os granitóides intrusivos no Complexo Brusque ondi et al. 2007) os seguintes depósitos filonia-
mostram dimensões desde batolíticas até corpos nos no âmbito do cinturão: Carneiro Branco, Ca-
muito reduzidos (diques e bossas irregulares). valo Branco, Três Barras (ou Fanuelsson), Tigra-
O Granito Valsungana compreende dois corpos no, Planície Baixa, Braço Cristalino, Gaspar Alto e
batolíticos orientados conforme o cinturão meta- Rio do Oliveira (ou Canelinha). É importante refe-
mórfico e referidos (Caldasso et al. 1995a,b) como rir que a ocorrência Carneiro Branco de Caldasso
maciço norte (ou serra da Bateia) e sul (ou serra et al. (1995a) é citada por Biondi et al. (2007) como
do Moura); para sudoeste do maciço norte são Cavalo Branco, que usa a expressão Carneiro Bran-
reconhecidos duas outras áreas de exposição do co para uma outra ocorrência nas proximidades
Granito Valsungana (Lajeado do Guabiruba e La- (~2 km para W), não reconhecida por aqueles
jeado do Botuverá). autores. As denominações de Biondi et al. (2007)
As suítes Guabiruba e Indaiá, relacionadas à para estas duas ocorrências são mais adequadas
evolução do Granito Valsungana, estão expostas por se vincularem com topônimos das cartas to-
na maioria das vezes no interior ou às margens pográficas da região.
dos corpos batolíticos, com os quais mostram, No entorno do campo filoniano do Ribeirão do
muitas vezes, relações de contato transicionais. Russo (ver item específico) os veios de quartzo
Os corpos da Suíte Guabiruba recebem uma série com W contêm algum Au. Nesta região também
de nomes locais (Basei 1985; Caldasso et al. afloram os veios de quartzo com Au±Ag denomi-
1995a,b; Castro et al. 1999), às vezes conflitan- nados Russo e Braço da Cristalina por Caldasso
tes. et al. (1995a). Este último, garimpado de maneira
Estas plutônicas são interpretadas por Caldas- intermitente, constitui um filão tabular de quartzo
so et al. (1988; 1995a,b) como sin a tardicinemáti- com cerca de 1 m de largura e 200 m de extensão
cas em relação a fase transtensiva (D3) que con- que corta filitos e granitóide milonitizado confor-
trolou a colocação destas rochas. me N85ºE, 75ºSE. Os teores são de 8 a 10 g/t de
Caldasso et al. (1988) caracterizam, sob a de- Au e 3,5 g/t de Ag.
nominação Granitóide Faxinal, um corpo de bioti- O veio Cavalo Branco (Carneiro Branco de Cal-
ta-hornblenda sienito, metaluminoso alcalino e do dasso et al. 1995a), garimpado de maneira inter-
tipo A, que ocorre na porção NW do Complexo Brus- mitente desde o início dos anos 1950, constitui a
que (região do rincão do Bepe). Corpos quartzo principal ocorrência filoniana de Au no Complexo
dioríticos, sieníticos e traquiandesíticos que cor- Brusque (Biondi et al. 2007). O veio quartzoso, com
tam os metamorfitos têm sido também correlacio- largura média de 2 m, aflora de maneira descontí-
nados com esta unidade. nua por cerca de 300 m, segundo N80ºE a E-W,

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Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Cinturão Dom Feliciano (RS/SC)

cortando xistos cornubianitizados expostos no li- de bateia no seu entorno, sugerindo que os pro-
mite entre os corpos Lageado Baixo do Botuverá cessos de mineralização naquele corpo devem ser
(Granito Valsungana) e Santo Antônio (Suíte Gua- distintos dos demais.
biruba). O veio de quartzo leitoso bastante fraturado
Biondi et al. (2007) reconhece na área um cor- de Planície Baixa (município de Guabiruba) tem 2,5
po diorítico alojado entre os cornubianitos e pro- m de possança e contém, além de Au, pirita e óxi-
vavelmente preenchendo uma fratura conjugada dos de Fe e Mn. Encaixado em falha N60ºE, o veio
da Zona de Cisalhamento Rio das Águas Cristali- corta rochas do Complexo Brusque na proximida-
nas. A porção do depósito contido no diorito cisa- de de granitóide Valsungana e mostra poucos ves-
lhado (denominada localmente de Cava do Davi), tígios de atividades exploratórias.
mostra teores em Au entre 4 a 40 g/t, enquanto As demais ocorrências auríferas em filões de
na parte externa do diorito os teores diminuem quartzo cortando filitos podem ser resumidas como
para menos de 10 g/t. segue: a) Três Barras, com recursos geológicos de
A mineralização ocorreu em duas fases, com a 3 x 106 t e teores de 10 g/t de Au e 3,5 g/t de Ag;
formação do veio de quartzo contendo Au, pirita, b) Tigrano, com 3 a 10 g/t de Au; e c) Gaspar Alto,
calcopirita e galena na primeira fase (durante a sem detalhes sobre os teores.
alteração fílica); e a deformação (boudinagem e No sudeste do cinturão, na bacia do rio do Oli-
geração de sigmóides) do veio com geração de veira (municípios de Canelinha e Tijucas), Silva et
Au, pirita, calcopirita, calcosita e covellita na se- al. (1983, 1985) reconhecem a Sequência Meta-
gunda. O Au cristalizou livre dentro do quartzo na vulcanossedimentar Rio do Oliveira, composta por
primeira fase e foi mobilizado mecanicamente pela termos metassedimentares predominantes (calcis-
reativação da zona de cisalhamento na segunda silicáticas, quartzitos, filitos, e grafita e granada-
fase, quando ocupou microfraturas da pirita e da mica xistos), turmalinitos, formações ferríferas ban-
calcopirita contidas nos sigmóides de quartzo. dadas (hematíticas e gruneríticas) e metavulcânicas
A ocorrência Carneiro Branco de Biondi et al. sinsedimentares de composição complexa (máficas
(2007) é um veio de quartzo maciço, com muita e ultramáficas e, mais raramente, félsicas).
pirita, com cerca de 0,5 metro de espessura mé- Basei et al. (2011a) dividem o Complexo Brus-
dia e comprimento em superfície <50 m. Contido que, do topo para a base, nas formações Rio da
em uma fratura extensional N20º-30ºW, vertical, Areia, Botuverá e Rio do Oliveira; a segunda me-
conjugada a um cisalhamento N5º-20ºE, vertical, tassedimentar e as demais de derivação metavul-
em meio a granitos da Suíte Guabiruba, o veio foi canossedimentar. Garda et al. (2013) reconhecem
lavrado em superfície e mostra teores maiores que dois tipos de turmalinitos na região do rios do Oli-
àqueles do Cavalo Branco. veira e do Moura, formados por fluidos de fontes
Conforme Biondi et al. (2007), os veios de quart- distintas.
zo com Au dos depósitos Carneiro Branco e Cava- Caldasso et al. (1995b) reconhecem nas meta-
lo Branco, embora associados a uma zona de ci- vulcanossedimentares da região dos rios do Oli-
salhamento, estão envolvidos por zonas de alte- veira e do Moura, para norte das localidades de
ração hidrotermal potássica, fílica e propilítica, tí- Canelinha e São João Batista, mineralizações sul-
picas de filões granitogênicos periplutônicos. fetadas de caráter singenético, disseminadas ou
Fornazzari et al. (2001) caracterizam teores de maciças. Referidas por aqueles autores como So-
potássio e urânio acima da média, enriquecimen- rocaba, as mineralizações são representadas por
to do parâmetro F e relativamente baixas razões pirita que se associa particularmente aos níveis
Th/K para o depósito do Carneiro Branco, deriva- de quartzo turmalinitos bandados (exalitos), e por
dos da intensa sericitização de milonitos na zona bandas decimétricas de pirrotita ± pirita ± (calco-
de cisalhamento no depósito, junto aos veios e pirita ± ilmenita), concordantes com as rochas cal-
no granitóide encaixante. Com base na integra- cissilicáticas e metabásicas. Ocorrem também na
ção de dados gamaespectrométricos e explorató- área lentes de quartzo com abundantes sulfetos
rios, Fornazzari et al. (2003) referem que a área (pirita ± arsenopirita) estruturalmente concordan-
do granitóide Faxinal não apresenta resposta in- tes com os metapelitos arenosos que recobrem
dicativa de alteração hidrotermal, apesar das al- as litologias de derivação vulcanossedimentar.
tas contagens de pintas de Au em concentrados Ainda que muito enriquecidos em pirita e arse-

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Eduardo Camozzato, João Angelo Toniolo & Jorge Henrique Laux

nopirita, sulfetos que estão dispostos conforme a Catinga e anômalas para Sn (1.000 ppm). São re-
S0//S1+2 das encaixantes, os teores para Au resul- gistradas na área (Silva et al. 1986) ocorrências
taram muito baixos, conforme resultados de de- de cassiterita e molibdenita, também identificadas
talhamento exploratório efetuado por Morgental em concentrados de minerais pesados coletados
(1988) e por Toniolo & Camozzato (1991). Estes regionalmente no entorno da Mina da Catinga.
autores referem teores da ordem de 0,02 a 0,18
ppm de Au, 0,04 a 1,6 ppm de Ag e 41 a 192 ppm RIBEIRÃO DO RUSSO
de Bi.
No campo filoniano do ribeirão do Russo os fi-
W±(Sn, Au, Mo) em SC lões quartzosos com wolframita têm direção pre-
ferencial N30º-40ºE (secundariamente N65º-
Em Santa Catarina, veios de quartzo com wol- 70ºE), 60º-70ºSE, na maioria preenchendo fratu-
framita são encontrados em duas áreas: 1) no ras de plano axial de dobras D4 dos metassedi-
cerro (Mina) da Catinga, na margem esquerda do mentos do Complexo Brusque (Silva et al. 1982).
rio Alto Braço, cerca de 28 km para oeste de Nova Conforme Caldasso et al. (1995), contudo, a
Trento pela rodovia SC-411; e 2) no ribeirão do distribuição espacial revela um segundo controle
Russo, cerca de 3 km para NNW de Botuverá. estrutural para os veios mineralizados, manifes-
tado por sua concentração preferencial ao longo
MINA DA CATINGA da charneira de uma antiforme de D3 que dobra os
quartzo filitos do Complexo Brusque, hospedeiros
Na Mina da Catinga, onde o minério foi explo- da mineralização.
tado de maneira rudimentar através de galerias Os filões mineralizados, que podem conter piri-
(Fig. 21), o campo mineralizado possui forma irre- ta, calcopirita e ouro, são retilíneos, têm exten-
gular e alongada segundo nordeste, com cerca de sões decamétricas e espessuras <15 cm, com
700 x 100 m, e está restrito aos xistos encaixan- wolframita de distribuição descontínua, como cris-
tes da Suíte Catinga de Silva et al. 1986 (Suíte tais bem formados (<5 cm) ou disseminações, e
Guabiruba de Schulz & Albuquerque 1969), carac- composição semelhante àquela da Mina da Catin-
terizada por (biotita)-muscovita sieno e monzogra- ga (rica em Fe). Concentrados de minerais pesa-
nitos cinza-esbranquiçados a cinzas, equigranu- dos coletados na área apresentam, além da wol-
lares médios a finos, que podem conter granada framita, Au e scheelita.
e fluorita. Ainda que na área mineralizada não estejam
A wolframita ocorre em filões quartzosos (me- expostos granitóides, Silva et al. (1982) comen-
nos comumente quartzo-feldspáticos) com até 40 tam a existência de uma anomalia morfo-estrutu-
cm de largura e extensão máxima de 20 m, con- ral elíptica, quilométrica, ressaltada pela rede de
tendo ainda muscovita, óxidos de Fe e Mn e su-
bordinadamente feldspato caulinizado, turmalina
e pirita (Trainini et al. 1978, Silva et al. 1986, Cas-
tro et al. 1999). Os filões, com direções N60ºE até
E-W e mergulhos entre 70º-80°SE (raramente
NW), se dispõem segundo a foliação principal (su-
perfície S2 de transposição) dos xistos encaixan-
tes do Complexo Brusque, onde geram halos de
turmalinização com até 20 cm.
A wolframita contém em torno de 73% de WO3,
é rica em Fe (~17%) e se desenvolve de maneira
bastante irregular horizontal e verticalmente nos
filões, tanto como cristais com até 10 cm, como
em disseminações muito finas (<1 mm), detecta-
da somente em análises químicas.
Ocorrem na região zonas greisenizadas orien- Figura 21 – Filão de quartzo mineralizado a wolframi-
tadas N65-70ºE associadas com o lineamento ta em galeria abandonada na Mina da Catinga (SC).

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Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Cinturão Dom Feliciano (RS/SC)

drenagem e por lineamentos fotogeológicos (an- chas máfico-ultramáficas ofiolíticas, ainda que in-
tiforme de D3 de Caldasso et al. 1995), o que per- cluídas neste contexto, parecem ter baixo poten-
mite supor, para estes autores, a ocorrência de cial pela impossibilidade de evolução de perfis la-
um corpo intrusivo não aflorante ao qual as mine- terítico supergênicos, como ocorre no centro-oes-
ralizações estariam relacionadas. te brasileiro. No Terreno Tijucas meridional (RS),
cabe considerar os depósitos reais e potenciais
CONSIDERAÇÕES FINAIS para Sn e W relacionados com os granitóides do
tipo S, hospedados nas zonas de cisalhamento que
Nos estados do Rio Grande do Sul e Santa Ca- limitam este terreno com o Batólito Pelotas.
tarina, a seleção de áreas para atividades de pes- Em ambos estados deve ser ressaltada a po-
quisa de metais preciosos e sulfetos de metais tencialidade para depósitos do tipo skarn, tendo
base deve considerar a inexistência de informa- em vista a abundância de rochas calcissilicáticas e
ções sistematizadas, que permitam prover, na eventos plutônicos em todos os terrenos, muitas
maioria dos casos, a exploração mineral com mo- vezes em estreita relação espacial, como já verifi-
delos de depósitos descritivos (empíricos) ou teó- cado nas regiões do Domo da Vigia e dos municí-
ricos (genéticos) completos. pios de Caçapava do Sul e Vila Nova do Sul (RS).
A aplicação dos modelos genéticos tradicionais No Batólito Pelotas (RS), pintas de Au em quan-
disponíveis na bibliografia, que direcionem a pes- tidades significativas em concentrados de mine-
quisa, pressupõe a disponibilidade ou aquisição rais pesados, coletados para o Mapa Geoquímico
de dados consistentes, e que devem incluir as do RS (CPRM, em elaboração), permitem sugerir
características peculiares eventuais das áreas em pesquisas para o metal, em especial, na porção
avaliação. A insuficiência de informações que per- sul do batólito.
mita a aplicação de modelos genéticos determina As litologias da Bacia Camaquã (RS) têm po-
o uso, nos estados do RS e SC, de modelos empí- tencial reconhecido para Cu, Pb, Zn, Au e Ag em
ricos (descritivos) muitas vezes incompletos. modelos similares àqueles dos depósitos minerais
Em Santa Catarina, os maiores potenciais ex- do tipo intrusion related. Os modelos exploratóri-
ploratórios estão nas regiões de Gaspar, Botuve- os no âmbito da Bacia Camaquã devem admitir
rá e Canelinha, onde as principais áreas com mi- uma mudança no paradigma estratigráfico dos
neralizações de Au (Ag, Pb, Zn, Cu) constituem, depósitos. Para tanto, devem ser considerados os
respectivamente: a) minério primário em veios de resultados de proveniência obtidos na Janela Bom
quartzo e brechas com Au e alguma Ag (com piri- Jardim, que indicam as rochas sedimentares en-
ta, hematita e calcopirita) ou Pb (Zn, Ag, Cu, Au) caixantes dos filões mineralizados nas minas do
em gnaisses granulíticos do Terreno Luis Alves e Camaquã como pertencentes à Fm. Santa Bárba-
rochas sedimentares da Bacia Itajaí, estrutural- ra. Disto deriva uma revisão das rochas intrusivas
mente controladas por sistemas de reativação de potencialmente responsáveis pelas mineralizações
zonas de cisalhamento e/ou hipabissaias ácidas neste andar estratigráfico.
da Fm. Apiúna; b) filões de quartzo com Devem ser estimulados os estudos para o es-
Au±Ag±sulfetos ou W±Au em íntima relação com tabelecimento de curvas-padrão e assinaturas
granitóides intrusivos e zonas cornubianitizadas espectrais de áreas hidrotermalmente alteradas,
nos metamorfitos do Complexo Brusque; e c) Au em associação com outros sensores, como os ae-
singenético com sulfetos disseminados ou maci- rogeofísicos recentemente disponibilizados pela
ços concordantes com turmalinitos bandados, ro- CPRM para a totalidade dos escudos Sul-Rio-Gran-
chas calcissilicáticas e metabasitos do Complexo dense e Catarinense, para aplicação nas ativida-
Brusque. des exploratórias nestes estados. Neste sentido
No Rio Grande do Sul, os segmentos crustais deve ser referida a pesquisa de Senhorinho
com assinatura isotópica juvenil são propícios (2012), que utilizando a antiga mina Bloco do Bu-
para: a) mineralizações vulcanogênicas (VMS, por tiá como área-piloto, apresenta padrões e assi-
exemplo); b) depósitos vinculados com o ambien- naturas espectrais de áreas hidrotermalizadas da
te metamórfico (Au orogênico); e c) remobilizados região de Lavras do Sul que podem auxiliar na
epigenéticos pelo magmatismo neoproterozoico. geração de modelos prospectivos baseados no
Mineralizações de Cr, Ni e metais associados a ro- sensoriamento remoto.

548
Eduardo Camozzato, João Angelo Toniolo & Jorge Henrique Laux

Conforme referido por Toniolo et al. (2008), a land Basin: a tectono-sedimentary record of the
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556
faixas Fanerozoicas
PROVÍNCIAS ALCALINO-CARBONATÍTICAS

ESBOÇO TECTONO-GEOLÓGICO DAS FAIXAS


FANEROZOICAS E DAS PROVÍNCIAS
ALCALINO-CARBONATÍTICAS DO BRASIL
Carlos Cordeiro Ribeiro et al.

POTENCIAL E CONTROLES METALOGENÉTICOS DE ETR, Ti E Nb EM


PROVÍNCIAS ALCALINO-CARBONATÍTICAS BRASILEIRAS

CARLOS CORDEIRO RIBEIRO1, JOSÉ AFFONSO BROD2,


TEREZA CRISTINA JUNQUEIRA-BROD2, JOSÉ CARLOS GASPAR2,3, MATHEUS PALMIERI4,
PEDRO FILIPE DE OLIVEIRA CORDEIRO3, MURILO GOMES TORRES5,
CARLA BERTUCCELLI GRASSO6, ELISA SOARES ROCHA BARBOSA2,
PAULO AFONSO RIBEIRO BARBOSA7, ALDO JOSÉ DUARTE FERRARI8 &
CAROLINE SIQUEIRA GOMIDE3

1 - Departamento de Engenharia de Minas, Universidade Federal de Goiás, Av. Dr. Lamartine Pinto de Avelar,
1120 - 75704-220, Catalão, GO. E-Mail: carlos.cribeiro@hotmail.com
2 - Instituto de Estudos Sócio-Ambientais, Universidade Federal de Goiás, Campus Samambaia, Caixa Postal
131 - 74001-970, Goiânia, GO. E-mails: j.a.brod@gmail.com, tcjbrod@gmail.com, elisa.barbosa@uol.com.br
3 - Instituto de Geociências, Universidade de Brasília, Campus Universitário Darcy Ribeiro, 70919-900,
Brasília, DF - E-mails: gasp@unb.br, cordeiropfo@gmail.com, caroline.gomide@gmail.com
4 - Mineração Catalão Ltda, Rodovia GO-503, km 11,5, s/no - Fazenda Chapadão, Zona Rural, Ouvidor, GO
(Caixa Postal 96, 75701-970 - Catalão, GO). E-mail: matheus.palmieri@angloamerican.com
5 - Universidade Católica de Brasília, QS 07 lote 01 EPCT, Águas Claras - 72000-000, Brasilia, DF. E-mail:
murilo@ucb.br
6 - Vale Fertilizantes, Fazenda Chapadão, s/nº - Zona Rural, 75701-970, Catalão, GO - E-Mail:
carla.grasso@valefert.com
7 - Mineração Santa Elina Indústria e Comércio S.A., R. Funchal, 411, An 4, Vl Olimpia - 04551-060 - São
Paulo - SP. E-mail: parbarbosa@santaelina.com.br
8 - Copebrás Ltda, Fazenda Chapadão s/no -75.715-000, Ouvidor, GO. E-mail: aldo.ferrari@copebras.com.br

INTRODUÇÃO sultantes por processos superficiais. Entretanto,


poucos estudos têm sido realizados sobre essas
Neste capítulo os autores discutem o potencial rochas do ponto de vista metalogenético.
e os principais controles metalogenéticos de jazi- Compilações e revisões periódicas sobre ocor-
das de Terras Raras, Titânio e Nióbio em comple- rências mundiais de carbonatitos e rochas associ-
xos alcalino-carbonatíticos no Brasil, com base na adas, em alguns casos contendo informações so-
literatura e na experiência adquirida no estudo bre recursos minerais, estão disponíveis em Bell
dos complexos da APIP - Província Ígnea do Alto (1989), Woolley (1987, 2001), Kogarko et al.
Paranaíba (Catalão I, Catalão II, Salitre, Serra (1995), Mitchell (1996), Wall & Zaitsev (2004) e
Negra, Tapira e Araxá), em particular Catalão I, Woolley & Kjarsgaard (2008). Especificamente so-
por conter os depósitos mais bem conhecidos. bre ocorrências brasileiras e sul-americanas des-
Estes tipos de minério são commodities estratégi- tacam-se Ulbrich & Gomes (1981), Beurlen & Cas-
cas, com aplicação em produtos de alta tecnolo- sedane (1981), Almeida (1983, 1986), Berbert
gia. Entretanto, com exceção do nióbio, ainda não (1984), Gomes et al. (1990), Comin-Chiaramonti &
são explotados no país a partir de complexos car- Gomes (1996, 2005), Comin-Chiaramonti et al.
bonatíticos, por falta de tecnologia de beneficia- (2007) e Biondi (2005).
mento, apesar dos imensos recursos já definidos. Carbonatitos são rochas ígneas compostas por
Os muitos trabalhos publicados nos últimos mais de 50% de carbonatos. Podem ser intrusivos
anos sobre rochas alcalinas no Brasil, principal- ou extrusivos, e ocorrer isoladamente ou em as-
mente as associadas com carbonatitos, tiveram sociação com rochas silicáticas, formando comple-
uma ampla abordagem de cunho acadêmico, fun- xos alcalino-carbonatíticos. São raros, com pou-
damental para a compreensão dos processos en- cas centenas de ocorrências conhecidas mundial-
volvidos na geração desses magmas no manto, mente, e volumetricamente insignificantes na cros-
sua instalação na crosta, diferenciação por pro- ta. Não obstante, abrigam grande variedade de
cessos variados, e transformação das rochas re- depósitos minerais, principalmente quando asso-

559
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Províncias alcalino-carbonatíticas

ciados com rochas silicáticas e/ou foscoritos em títicos e afiliação dos magmas parentais
complexos alcalinos. Pell (1996), Orris & Grauch b) Tipo de carbonatito predominante
(2002), Chernoff & Orris (2002) e Woolley & Kjars- c) Associação com outras séries petroge-
gaard (2008) contabilizam reservas, recursos e um néticas (e.g. foscoritos)
grande número de mineralizações não avaliadas d) Mecanismos e modo de instalação (em-
ou não econômicas de 31 substâncias associadas placement)
a carbonatitos e rochas alcalinas. ETR, P, Nb, Fe, e) Mecanismos de diferenciação (cristali-
Ti, Ba, F, Zr, vermiculita, U, carbonato, Th, Sr, Cu e zação fracionada, imiscibilidade de líquidos, mis-
Ta, nessa ordem, respondem por cerca de 95% tura de magmas, desgaseificação e metassoma-
das ocorrências (Fig. 1). tismo)
No universo das rochas alcalinas, as associa- 3) Controles locais secundários
ções de rochas silicáticas e/ou foscoritos com a) Mecanismos de concentração residual
carbonatitos são de longe as que detêm maior ou supergênica (geomorfologia, tipo de intempe-
potencial para mineralização em substâncias es- rismo, espessura do manto intempérico)
tratégicas como nióbio, titânio e terras raras. Os O primeiro grupo de fatores reflete a tendência
fatores que controlam o potencial e a ocorrência de rochas alcalinas e carbonatitos de ocorrer as-
dessas mineralizações podem ser divididos em: sociados no espaço e no tempo, formando provín-
1) Controles Regionais e Geotectônicos cias. Estas, por sua vez, são frequentemente con-
a) Provincialidade (controles geográficos, dicionadas por antigos lineamentos estruturais do
geocronológicos, tectono-estruturais e de afinida- embasamento e associadas a anomalias térmicas
de geoquímica) ou químicas no manto litosférico e/ou astenosféri-
b) Origem e tipo de magmatismo co, em ambiente intraplaca. Além de semelhanças
2) Controles locais primários químicas e petrogenéticas, é comum que comple-
a) Composição dos complexos carbona- xos de uma mesma província tenham potencial

Figura 1 – Principais substâncias associadas a carbonatitos e complexos alcalino-carbonatíticos mundiais,


por número total de ocorrências, incluindo depósitos, prospectos e ocorrências não estudadas ou não-econô-
micas Fonte: Pell (1996), Orris & Grauch (2002), Chernoff & Orris (2002), Woolley & Kjarsgaard (2008).

560
Carlos Cordeiro Ribeiro et al.

metalogenético semelhante. Assim, uma determi- nas brasileiras. Em geral, essas ocorrências es-
nada província alcalina pode ter ou não ocorrên- tão geográfica e temporalmente agrupadas em pro-
cia expressiva de carbonatitos, caracterizar-se por víncias alcalinas (Fig. 2). Ocorrências mais antigas
depósitos minerais de grande ou pequeno porte, incluem complexos alcalino-carbonatíticos precam-
ou pela ocorrência e/ou abundância de tipos de brianos aparentemente isolados, como os de Mai-
mineralização específicos. Tais propriedades po- curu e Mutum, no Pará, e Angico dos Dias, na Bahia.
dem ser controladas pelo grau de fusão parcial e Os complexos de Seis Lagos (AM) e Planalto da
composição dos magmas gerados na fonte man- Serra (MT), ainda não têm idade absoluta defini-
télica, espessura da litosfera, influência térmica ou da. Seis Lagos contém importantes recursos de
térmica/química de plumas, entre outros. Nb e foi interpretado incialmente como cretáceo
Mesmo em províncias com potencial metaloge- (Pinheiro et al. 1976) e mais recentemente como
nético adequado, a ocorrência de jazidas em car- neoproterozóico (Dardenne & Schobbenhaus Fi-
bonatitos ainda depende fundamentalmente de fa- lho 2003).
tores geológicos locais. Num primeiro estágio, é A reativação de estruturas relacionadas a gran-
necessário que uma série de processos magmáti- des lineamentos precambrianos têm sido conside-
cos (e.g. cristalização fracionada, imiscibilidade de rada essencial para o estabelecimento das pro-
líquidos) ou carbo-hidrotermais convirja para a víncias alcalinas brasileiras, especialmente nas
geração de concentrações primárias dos minerais bordas da Bacia do Paraná (Almeida 1983, 1986,
de interesse. Num segundo estágio, a ação do in- Comin-Chiaramonti & Gomes 1996, 2005, Comin-
temperismo sobre as mineralizações primárias Chiaramonti et al., 2007, Biondi, 2005). As princi-
pode gerar concentrações residuais e/ou super- pais estruturas envolvidas são lineamentos com
gênicas, elevando o teor e homogeneizando os direção NW e NE, subordinadamente N-S e E-W
depósitos. Em alguns casos, a atividade mineira As estruturas NW, de subsidência tectônica, são
se desenvolve diretamente sobre a mineralização também conhecidas como “Azimute 125o” e tive-
primária, como é o caso da mina de fosfato de Ja- ram papel preponderante relativamente às de-
cupiranga. Em outros, como Catalão, Araxá e Ta- mais, na instalação dos magmas alcalinos. Almei-
pira, o material lavrado até o momento é aquele da (1983, 1986) denominou este evento extensi-
formado por concentração residual e/ou supergê- onal de Reativação Wealdiana, desenvolvida em
nica, mas a futura exaustão deste tipo de minério dois estágios.
deverá levar as empresas atuantes nessas áreas O primeiro, no Cretáceo Inferior, foi responsá-
a adaptar seus processos de beneficiamento para vel pela instalação de rochas alcalinas contempo-
o aproveitamento também da mineralização pri- râneas com os basaltos da Formação Serra Geral,
mária. como as da Província Arco de Ponta Grossa. O se-
Nas seções abaixo são discutidos os principais gundo, no Cretáceo Superior, deu origem a novas
controles na formação de jazidas minerais associ- províncias alcalinas, como as de Poxoréu, Goiás e
adas a carbonatitos, com ênfase nos complexos Alto Paranaíba. A definição de ocorrências do Per-
carbonatíticos da Província Ígnea do Alto Parana- mo-Triássico (Província Alto Paraguai, Gomes et al.,
íba (APIP), tendo em vista o grande volume de in- 1996, Velazques et al., 1996, Riccomini et al., 2005)
formações geradas na exploração e lavra de seis e do Paleógeno (denominadas Província Serra do
grandes jazidas minerais naquela região, a partir Mar por Thompson et al. 1998, e Lineamento Mag-
da década de 1980. mático Cabo Frio por Riccomini et al. 2005) permi-
tiu estender o período de intenso magmatismo
CONTROLES METALOGENÉTICOS REGIONAIS E alcalino na Plataforma Brasileira.
GEOTECTÔNICOS Além do controle tectono-estrutural, é possível
notar tendências na distribuição geográfica das
Provincialidade idades e da afiliação magmática das províncias
alcalinas que circundam a Bacia do Paraná. As lo-
Gomes & Comin-Chiaramonti (2005) e Riccomi- calizadas nas bordas norte e nordeste da bacia
ni et al. (2005) destacam a importância do período (Poxoréu, Goiás, e Alto Paranaíba) estão fortemen-
entre o Permo-Triássico e o fim do Oligoceno como te alinhadas segundo a direção NW e seu mag-
o intervalo que abriga a maioria das rochas alcali- matismo alcalino está restrito ao Cretáceo Supe-

561
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Províncias alcalino-carbonatíticas

Figura 2 - Localização das principais ocorrências de rochas alcalinas no Brasil (Berbert 1984, Gomes et al.
1990, Biondi 2005), com indicação das Províncias e complexos alcalino-carbonatíticos.

rior, entre 80 e 90 Ma (Gibson et al. 1995b, 1997). to de Riccomini et al. (2005), exceto para a Provín-
Por outro lado, as províncias a sul desse alinha- cia Ígnea do Alto Paranaíba (Almeida 1983, Gib-
mento (Riccomini et al. 2005) contêm rochas do son et al. 1995b) e Província Alcalina de Goiás (Jun-
Permo-Triássico (Província Alto Paraguai), do Cre- queira-Brod et al. 2002, Brod et al. 2005a). Ricco-
táceo Inferior (Província Paraguai Oriental), ou mini et al (2005) agrupam estas regiões sob a
misturas de rochas do Cretáceo Superior e Cretá- designação de Província Minas-Goiás, seguindo
ceo Inferior (Província Ponta Grossa, Província sugestão de Sgarbi & Gaspar (2002). A despeito
Santa Catarina), indicando recorrência do magma- da semelhança de idades e da presença impor-
tismo alcalino em determinadas regiões ao longo tante de kamafugitos nas duas províncias, elas
do tempo. mostram importantes diferenças do ponto de vis-
Riccomini et al. (2005) revisaram essas ocor- ta metalogenético e de associações petrogenéti-
rências e propuseram modificações no conceito de cas, particularmente nos complexos plutônicos.
Almeida (1983, 1986), reagrupando as rochas al- Portanto, optamos por manter as denominações
calinas em 15 províncias com base na localização originais de Província Ígnea do Alto Paranaíba
geográfica e associação de rochas e idades. A ta- (APIP) e Província Alcalina de Goiás (GAP) neste
bela 1 lista os carbonatitos brasileiros, por pro- trabalho.
víncia. As províncias apresentam diferenças importan-
No geral, adota-se os critérios de agrupamen- tes na afiliação geoquímica e, consequentemen-

562
Carlos Cordeiro Ribeiro et al.

Tabela 1 - Quadro-resumo das províncias alcalino-carbonatíticas brasileiras, com as associações petrogené-


ticas, complexos carbonatíticos e mineralizações associadas. Apenas complexos com carbonatito são citados
(Rodrigues & Lima 1984, Mariano 1989, Mariano & Marchetto 1991, Pell 1996, Chernoff & Orris 2002, Orris
& Chernoff 2002, Orris & Grauch 2002, Biondi 2005, Ribeiro et al. 2005c, Woolley & Kjarsgaard 2008,
Cordeiro et al. 2011, Ribeiro 2008, Palmieri 2011).

563
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Províncias alcalino-carbonatíticas

Tabela 1 - (continuação)

564
Carlos Cordeiro Ribeiro et al.

te, nas associações litológicas típicas. Assim, a ra continental. Neste caso, as províncias do Cre-
APIP e a GAP são tipicamente potássicas, domina- tácio Inferior estariam relacionadas ao impacto da
das por kamafugitos, enquanto as províncias de pluma de Tristão da Cunha, enquanto a pluma de
Ponta Grossa, Serra do Mar e Lineamento Mag- Trindade seria responsável pelo magmatismo do
mático de Cabo Frio são de afinidade sódica, ca- Cretácio Superior nas bordas norte e nordeste da
racterizadas pela presença de rochas com nefeli- Bacia do Paraná, como as Províncias do Alto Para-
na, como basanitos, ijolitos e nefelinitos. naíba (Gibson et al. 1995b), Goiás (Brod et al.
Também são notáveis variações importantes 2005a) e Poxoréu (Gibson et al. 1997), e pelo
nas jazidas associadas com distintas províncias. magmatismo do Cretáceo Superior ao Eoceno na
Por exemplo, a APIP caracteriza-se por depósitos Província Serra do Mar (Thompson et al. 1998).
minerais variados e de grandes dimensões. Os de- Há concordância de que não existe um compo-
pósitos nos complexos carbonatíticos desta pro- nente químico ou isotópico correlacionável à plu-
víncia são pelo menos uma ordem de magnitude ma mantélica de Trindade na Província do Alto Pa-
maiores do que os demais, e tipicamente multi- ranaíba (Gibson et al. 1995b, Bizzi & Araújo 2005),
commodities (4 a 5 diferentes tipos de depósito sugerindo que, neste caso, a pluma atuou somente
por complexo). Na GAP os depósitos conhecidos como fonte de calor para a fusão do manto litos-
restringem-se a jazidas residuais de Ni associa- férico metassomatizado sobrejacente. Por outro
das à porção ultramáfica dos complexos alcalinos. lado, Gibson et al. (1997) e Thompson et al. (1998)
Na Província Arco de Ponta Grossa as jazidas es- reconheceram um componente da pluma de Trin-
tão praticamente restritas aos complexos do Cre- dade nas províncias de Poxoréu e Serra do Mar,
tácio Inferior (estágio precoce) e consistem princi- respectivamente, argumentando que o maior adel-
palmente de jazidas de médio a pequeno porte gaçamento da litosfera naquelas regiões permitiu
de fosfato, com alguns depósitos de pequeno por- a fusão parcial da astenosfera, incorporando a
te de ferro (magnetita) e níquel. Na Província Ser- assinatura da pluma aos magmas alcalinos. Para
ra do Mar registram-se depósitos de fluorita e ETR Bizzi & Araújo (2005), tanto a Pluma de Tristão da
no complexo de Mato Preto e um pequeno depósi- Cunha quanto a de Trindade contribuíram para
to de alumínio em Lages. No Lineamento Magmá- geração dos magmas alcalinos na região da pro-
tico de Cabo Frio destaca-se apenas o Complexo víncia do Alto Paranaíba: a primeira com um com-
de Poços de Caldas, com um diversificado conjun- ponente químico introduzido no manto litosférico
to de mineralizações associadas a sienitos hipe- e a segunda fornecendo o calor necessário para
ragpaíticos. fundir este manto.
Em contraposição, argumentos contra a parti-
Origem do magmatismo alcalino cipação de plumas mantélicas no magmatismo al-
calino da região foram apresentados por Riccomi-
A origem dos magmas alcalinos é frequente- ni et al. (2005) e Ernesto (2005). Os primeiros ar-
mente atribuída a pequenas frações de fusão par- gumentam que as províncias alcalinas são contro-
cial em níveis relativamente profundos de um man- ladas por descontinuidades crustais ao longo das
to modificado por metassomatismo. Suas caracte- atuais bacias sedimentares, não mostram uma cla-
rísticas dependem do grau de fusão parcial, pres- ra distribuição de idades, e os dados isotópicos
são e conteúdo de voláteis como H2O e CO2. O ca- indicam uma fonte litosférica para o magmatismo
ráter alcalino aumenta com a profundidade da fon- alcalino. Segundo Ernesto (2005) evidências de
te mantélica, com a espessura da litosfera, e com paleomagnetismo mostram incoerências entre a
menor quantidade de fusão parcial. posição da placa Sul-Americana, a posição das
A origem do magmatismo alcalino da porção cen- ocorrências alcalinas e o traço dos possíveis hot
tro-sul da Plataforma Brasileira ainda é tema de spots. Ambos propõem um processo de longa du-
controvérsia. Duas linhas principais de pensamento ração associado ao deslocamento de grandes
desenvolveram-se nos últimos anos. massas do manto profundo para níveis mais ra-
A primeira (Gibson et al. 1995a, 1995b, 1997, sos para explicar a fonte térmica do magmatismo
Thompson et al. 1998, Van Decar et al. 1995, Bizzi alcalino nas bordas da Bacia do Paraná.
& Araújo 2005) relaciona o magmatismo alcalino Independente do mecanismo que propiciou a
com o impacto de plumas mantélicas sob a litosfe- fusão parcial do manto, parece claro que o grau

565
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Províncias alcalino-carbonatíticas

de adelgaçamento da litosfera tem influência de- Composição de complexos carbonatíticos


cisiva no tipo de magma alcalino gerado em uma
província e, consequentemente, no seu potencial Magmas carbonatíticos ou seus precursores na
metalogenético. evolução magmática são, com raras exceções, for-
Este controle é ilustrado pela sequência de pro- mados no manto litosférico sub-continental. Após
víncias alinhadas de noroeste para sudeste, na sua geração, estes magmas tendem a ascender
borda NE da Bacia do Paraná (Fig. 2): Poxoréu, rapidamente, devido ao grande conteúdo de vo-
Goiás, Alto Paranaíba e Serra do Mar (segundo láteis dissolvidos e à baixa densidade, até alojar-
Thompson et al. 1998) ou Lineamento Magmático se no interior da crosta em câmaras magmáticas,
Cabo Frio (segundo Riccomini et al. 2005). Neste onde o magma se diferencia e de onde, eventual-
conjunto, a APIP destaca-se das demais por (a) mente, pode atingir a superfície e formar peque-
ausência de um componente químico ou isotópico nos centros vulcânicos.
atribuível ao manto astenosférico; (b) proximida- Magmas carbonatíticos formados diretamente
de com o limite SE do Cráton do São Franciso; (c) no manto são chamados de carbonatitos primári-
caráter exclusivamente ultrapotássico e (d) asso- os e costumam ocorrer isolados. Entretanto, esta
ciações litológicas tipicamente bimodais, com pas- não é a situação mais comum. Segundo Woolley &
sagem direta de ultramáficas a sienitos, sem ter- Kjarsgaad (2008), cerca de 75% dos carbonatitos
mos máficos ou intermediários feldspáticos, tais conhecidos estão associados com algum tipo de
como gabros alcalinos. Todas essas propriedades rocha silicática alcalina. Em muitos casos, esses
são consistentes com a presença de uma litosfera carbonatitos são produtos da diferenciação de um
mais espessa sob a região do Alto Paranaíba. magma silicático primitivo, alcalino, rico em CO2.
Em contraposição, as associações litológicas A associação de carbonatitos e rochas silicáti-
observadas nas províncias de Poxoréu e Serra do cas em complexos plutônicos é um parâmetro fun-
Mar/Lineamento Cabo Frio, nos extremos NW e SE damental no estudo da petrogênese e metaloge-
do conjunto, respectivamente, indicam adelgaça- nia destes complexos, e diversas sugestões de
mento litosférico considerável, com desenvolvimen- classificação das associações petrológicas surgi-
to de rifts e formação de basaltos alcalinos por ram ao longo do tempo. A partir do trabalho de Le
fusão direta da astenosfera (e.g. Gibson et al. Bas (1987) difundiu-se amplamente a noção de
1997). Carbonatitos estão virtualmente ausentes que complexos carbonatíticos são associados a
nestas províncias. Note-se que a Província Alcali- magmas alcalinos sódicos (nefeliníticos), e que as
na de Goiás apresenta características intermediá- rochas silicáticas em complexos alcalino-carbona-
rias entre as províncias adjacentes do Alto Para- títicos tipicamente pertencem à série ijolítica (ja-
naíba, a SE e de Poxoréu, a NW, reunindo ao mes- cupirangito-melteigito-ijolito-urtito), caracterizada
mo tempo rochas fortemente insaturadas como por variações na proporção de clinopiroxênio e ne-
kamafugitos e raros carbonatitos, e rochas felds- felina, como minerais essenciais. Entretanto, mais
páticas máficas a intermediárias, como gabros e tarde foram reconhecidos carbonatitos associados
dioritos alcalinos e basanitos (Junqueira-Brod et com (a) magmatismo ultrapotássico, como a asso-
al. 2002, Brod et al. 2005a). ciação carbonatito-kamafugito na Itália (Stoppa &
Cundari 1995, Stoppa et al. 1997) e na Província
CONTROLES METALOGENÉTICOS LOCAIS PRI- do Alto Paranaíba (Brod et al. 2000); (b) melilititos
MÁRIOS ultrapotássicos na China (Yang & Woolley 2006);
kimberlitos (Agashev et al. 2008) e diversos tipos
A formação, a geometria, a composição e o teor de lamprófiro. Além disso, em alguns complexos
de mineralizações primárias em complexos carbo- carbonatíticos observa-se uma ampla predominân-
natíticos são controlados por fatores como com- cia de rochas silicáticas ultramáficas, como duni-
posição dos carbonatitos e rochas associadas, tos e piroxenitos alcalinos, enquanto em outros
estágio de evolução magmática, modo de instala- predominam rochas félsicas, como sienitos.
ção (emplacement) e processos de diferenciação Woolley & Kjarsgaard (2008) compilaram as
(cristalização fracionada, imiscibilidade de líquidos, ocorrências conhecidas de carbonatitos. Os dados
desgaseificação). fornecidos podem ser agrupados de acordo com o

566
Carlos Cordeiro Ribeiro et al.

tipo de rocha associada, em: consequentemente, aos diferentes tipos e estilos


a) carbonatito puro ou amplamente dominan- de mineralização presentes em complexos carbo-
te, 26,53 % natíticos.
b) carbonatito associado a rochas ultramáficas, Desse ponto de vista uma primeira distinção
com ou sem sienitos, 11,16 % pode ser feita entre magmas alcalinos sódicos e
c) carbonatito associado a rochas sódicas das potássicos. Dentre as classes propostas por Wo-
séries nefelinítica e ijolítica, 26,32 %) olley & Kjarsgaard (2008), os carbonatitos associ-
d) carbonatito associado a rochas alcalinas com ados a nefelinitos/ijolitos, que representam a
melilita, 6,32 % maioria dos complexos carbonatíticos conhecidos,
e) carbonatito associado a sienitos, sem rochas correspondem a magmas silicáticos primitivos de
máficas ou ultramáficas, 22,95 % composição sódica. Por outro lado, avaliar a afini-
f) carbonatito associado unicamente a lampró- dade geoquímica das demais associações, espe-
firos, 4,63 % cialmente em complexos plutônicos, não é tarefa
g) carbonatito associado a kimberlitos, 1,05 % fácil, visto que cumulados ultramáficos, diferenci-
h) carbonatito associado a gabros alcalinos e ados sieníticos e rochas portadoras de melilita,
basanitos, 1,05 %. podem ser produzidos por magmas de afinidade
A mesma base de dados lista 102 carbonati- tanto sódica quanto potássica.
tos/complexos carbonatíticos mundiais mineraliza- Em sucessões vulcânicas, onde ocorrem rochas
dos, incluindo recursos e minas ativas e inativas. representativas da composição de líquidos mag-
76 % das mineralizações descritas estão contidos máticos, a afiliação do magma parental pode ser
em apenas 3 categorias: carbonatitos associados estabelecida com relativa facilidade com base em
a rochas ultramáficas (24%); a nefelinitos e série dados de geoquímica de rocha total. Este é o caso
ijolítica (35 %) e carbonatitos isolados (17%). dos carbonatitos associados com nefelinitos no
Chama a atenção que, dentre carbonatitos as- leste da África (Le Bas 1987), de afiliação sódica,
sociados a rochas ultramáficas com ou sem sieni- e a associação de carbonatitos e kamafugitos de
tos, 45% dos corpos listados por Woolley & Kjars- Santo Antônio da Barra, em Goiás (Junqueira-Brod
gaard (2008) contêm algum tipo de mineralização, et al. 2002, 2005, Sgarbi & Gaspar 2002), de afili-
ante 28% na classe dos carbonatitos associados ação ultrapotássica.
a nefelinitos/ijolitos, 23% nos carbonatitos asso- Em complexos plutônicos, dados de geoquími-
ciados a melilititos-melilitolitos, 17 % nos carbo- ca de rocha total podem ser utilizados se houver
natitos isolados e 12 % nos carbonatitos associa- diques de granulação fina, idealmente com com-
dos a rochas félsicas (traquito-sienito + fonolito- posição primitiva. Alternativamente, as séries de
foid sienito). A base de dados não registra mine- diferenciação das rochas silicáticas podem forne-
ralizações em carbonatitos das classes “g” (asso- cer informações úteis para a discriminação geo-
ciados unicamente a lamprófiros), “h” (associados química do magma parental.
a kimberlitos) e “i” (associados a basanitos e ga- Complexos de afiliação sódica são caracteriza-
bros alcalinos). Estes dados sugerem que: dos pela série ijolítica, cuja sequência de diferen-
a) associações entre rochas silicáticas e carbo- ciação é clinopiroxenito alcalino (jacupiranguito) –
natitos têm maior potencial para gerar minerali- melteigito – ijolito – urtito, termos petrográficos
zações do que carbonatitos isolados; sucessivamente mais pobres em clinopiroxênio e
b) sistemas magmáticos mais primitivos (ultra- mais ricos em nefelina. Dessa maneira, a série ijo-
máficos) têm potencial metalogenético maior do lítica representa um contínuo de diferenciação
que sistemas evoluídos (félsicos). desde termos ultramáficos até termos félsicos,
sempre com alto nível de insaturação em sílica.
Afiliação geoquímica dos magmas parentais Em complexos de afiliação potássica as rochas
silicáticas são frequentemente bimodais, represen-
Nenhuma das classificações existentes de car- tadas por cumulados ultramáficos e por sienitos,
bonatitos e complexos carbonatíticos contempla com termos intermediários muito raros ou ausen-
adequadamente o problema da afiliação geoquí- tes. Nos complexos carbonatíticos da APIP, de afi-
mica do magma silicático primitivo, rico em CO2, que liação ultrapotássica (Brod et al. 2000) as rochas
dá origem às diferentes associações de rochas e, silicáticas pertencem à série dos bebedouritos,

567
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Províncias alcalino-carbonatíticas

caracterizada por amplas variações modais de oli- gigante de ETR de Bayan Obo, na China (Orris &
vina, diopsídio, flogopita, apatita, perovskita, mag- Grauch 2002) e o depósito de ETR de Catalão I,
netita e, eventualmente, melanita e titanita, nos na Província Ígnea do Alto Paranaíba (Ribeiro
termos mais diferenciados. Feições de acamamen- 2008) são exemplos deste tipo de mineralização.
to magmático, onde intercalam-se leitos de bebe- A mineralogia de carbonatitos carbo-hidrotermais
dourito típico com apatitito, perovskitito ou mag- é muito variada, incluindo dolomita (frequentemen-
netitito são particularmente bem preservadas nos te rica em Fe), magnesita, calcita, ankerita, norse-
complexos de Tapira (Brod, 1999), Salitre (Morbi- thita, bastnaesita, monazita, barita, fluorita e sul-
delli et al. 1997, Barbosa 2009) e Serra Negra fetos, dentre outros.
(Grasso 2010). Por outro lado, nos complexos de Os carbonatitos magmáticos representam 84%
Catalão I (Ribeiro 2008) e Araxá (Torres 2008) os do total de carbonatitos conhecidos (Woolley &
bebedouritos estão em grande parte convertidos Kjarsgaard, 2008), são essencialmente compos-
em flogopititos metassomáticos. tos por dolomita, calcita, calcita+dolomita, ou
Ao contrário do que ocorre na série ijolítica, fel- dolomita+Fe-dolomita/ankerita, com grande vari-
dspatóides estão virtualmente ausentes nos be- edade de acessórios, e contêm ou estão associa-
bedouritos. Feldspato intersticial pode ocorrer, mas dos aos principais depósitos magmáticos de fos-
é restrito aos extremos mais diferenciados. Sieni- fato e nióbio.
tos estão presentes em Tapira, Salitre, Serra Ne- Segundo Le Maitre (2002), a classificação de
gra e Catalão II (Brod 1999, Brod et al. 2004, Bar- carbonatitos deve ser idealmente, baseada nas
bosa 2009, Grasso 2010, Palmieri 2011), em volu- proporções dos tipos de carbonato presentes e
mes subordinados. independe do caráter plutônico ou vulcânico da
Embora complexos de afinidade potássica se- rocha (Tabela 2). Na impossibilidade de identificar
jam relativamente raros, eles podem conter im- o carbonato predominante, pode ser utilizada uma
portantes depósitos de múltiplas commodities, classificação com base na composição química de
como nos casos da Província Ígnea do Alto Para- rocha total (Woolley & Kempe1989), conforme Fig.
naíba (Brod et al. 2004) e do complexo de Palabo- 3. Note que calcio ou magnesiocarbonatitos pou-
ra, na África do Sul (e.g. Eriksson 1989). co evoluídos e ricos em magnetita, como os ilus-
trados pela seta azul na Fig. 3 plotam no campo
Tipo de carbonatito predominante dos ferrocarbonatitos, embora não contenham
carbonatos de ferro. Estas rochas não devem ser
Neste quesito é necessário estabelecer uma dis- confundidas com ferrocarbonatitos verdadeiros,
tinção entre carbonatitos verdadeiramente, mag- pois existem importantes diferenças petrológicas
máticos, isto é, aqueles cristalizados em alta tem- e metalogenéticas entre os dois grupos.
peratura, e carbonatitos precipitados a tempera- Carbonatitos magmáticos e carbo-hidrotermais
turas subsolidus (carbotermais, Mitchell 2005, ou podem ocorrer associados no mesmo complexo,
carbo-hidrotermais, Woolley & Kjarsgaard 2008) contribuindo para a diversidade de tipos e estilos
a partir de fluidos ricos em CO2, H2O, ou ambos. de mineralização, como demonstrado por Ribeiro
Os carbonatitos do tipo carbo-hidrotermal cos- (2008) para o complexo de Catalão I.
tumam ser muito enriquecidos em Fe, ETR, F, Ba e, Calciocarbonatitos e magnesiocarbonatitos são
em alguns casos, P e Nb, e frequentemente ge- os tipos composicionais mais abundantes, e fre-
ram mineralizações destes elementos. O depósito quentemente ocorrem juntos no mesmo comple-

Tabela 2 - Classificação petrográfica de carbonatitos (Le Maitre et al. 2002). (*) Raro

568
Carlos Cordeiro Ribeiro et al.

xo. A dominância de um ou outro tipo pode afetar vam-se diferenças marcantes entre os dominados
o tipo e o estilo da mineralização. Em geral, mag- por magnesiocarbonatito (Araxá e Catalão I) e
nesiocarbonatitos (e ferrocarbonatitos verdadei- aqueles onde predominam calciocarbonatitos ou
ros, i.e. formados por carbonatos ricos em Fe) onde as proporções dos dois tipos são equilibra-
possuem maior capacidade de metassomatizar as das (Tapira, Salitre, Serra Negra e Catalão II). Os
encaixantes regionais bem como as rochas alcali- primeiros são caracterizados por: (a) intenso me-
nas e carbonatitos mais antigos, provocando re- tassomatismo, que converte as rochas ultramáfi-
mobilização e, eventualmente, enriquecimento me- cas originais (dunito e bebedourito) em flogopiti-
tassomático de mineralizações preexistentes (e.g. to; (b) forte associação com rochas da série fos-
jazida de ETR de Catalão I, Ribeiro 2008). corítica e (c) mineralizações expressivas de ETR e
Nos complexos carbonatíticos da APIP obser- Nb. Por outro lado, nos complexos dominados por
calciocarbonatito o metassomatismo é mais res-
trito e as mineralizações de Nb e ETR são subordi-
nadas, mas ocorrem volumosos depósitos de Ti.
Depósitos de fosfato ocorrem nos dois tipos de
complexo, mas apresentam fortes contrastes: Em
Tapira, Salitre, Serra Negra e Catalão 2 a minera-
lização primária de fosfato é controlada por cama-
das de cumulados ricos em apatita, enquanto em
Catalão 1 e Araxá a mineralização está condicio-
nada à presença de enxames de diques verticais
de foscorito (Brod et al. 2004, Ribeiro 2008, Bar-
bosa 2009, Cordeiro 2009, Grasso 2010, Palmieri
2011).
Figura 3 - Classificação química de carbonatitos (Wo-
olley & Kempe 1989)para rochas com SiO2 < 20%. O Associação com Foscoritos
campo composicional dos carbonatitos da APIP (Ara-
újo 1996, Morbidelli et al. 1997, Brod 1999, Traver- A série foscorítica compreende rochas cristali-
sa et al. 2001, Gomes & Comin-Chiaramonti 2005, zadas a partir de magmas ricos em fosfato e óxi-
Ribeiro 2008, Barbosa 2009, Cordeiro 2009, Grasso
do. Seus termos são definidos por variações mo-
2010, Palmieri 2011) é plotado para ilustração. As
dais de apatita, magnetita e olivina (Fig. 4). O fos-
setas indicam o sentido do fracionamento de olivina
corito sensu stricto (Yegorov 1993) é constituído
e magnetita em calciocarbonatitos precoces (azul) e
de calcita e dolomita em magnesiocarbonatitos tar- por proporções equilibradas destas três fases, mas
dios (vermelho). dunitos, magnetititos, apatititos e nelsonitos (apa-

Figura 4 - Classificação de rochas da série foscorítica da APIP segundo (a) Yegorov (1993) e (b) Krasnova et
al. (2004). Os campos hachurados mostram, em azul, a variação composicional de foscoritos dos depósitos
de fosfato de Catalão 1, Catalão 2, Salitre e Serra Negra e, em verde, dos depósitos de nióbio de Catalão 1 e
Catalão2 (Fonte dos dados: Ribeiro 2008, Cordeiro 2009, Barbosa 2009, Grasso 2010, Palmieri 2011).

569
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Províncias alcalino-carbonatíticas

tita + magnetita) são variações modais comuns. ais). A mesma situação ocorre em Catalão 2 (Pal-
Krasnova et al. (2004) sugerem que a definição mieri 2011).
deveria ser estendida para incluir outros silicatos Foscoritos são produto da cristalização de um
magnesianos (flogopita e diopsídio) além da olivi- magma fosfático rico em ferro. Entretanto, nem
na no diagrama da Fig. 4. A figura mostra a com- todas as rochas constituídas essencialmente de
posição das rochas da série foscorítica em depó- apatita+magnetita+olivina (ou diopsídio, flogopi-
sitos de fosfato e nióbio da APIP. Note-se que na ta) que ocorrem em complexos carbonatitos são
classificação de Yegorov (1993) as rochas associ- formadas por este processo. Maneiras alternati-
adas aos dois tipos de depósito estão claramente vas de obter rochas com composição “foscorítica”
separadas, com foscoritos stricto senso associa- incluem:
dos aos depósitos de fosfato e nelsonitos associ- a) acumulação de olivina, apatita e magnetita
ados aos de nióbio. Na proposta de Krasnova et a partir de magma carbonatítico, como em algu-
al. (2004) há uma considerável superposição en- mas porções de Salitre (Barbosa 2009) e Serra
tre os dois tipos. Negra (Grasso 2010). Excelentes exposições de
Foscoritos são ainda mais raros do que carbo- cumulados lenticulares de composição foscorítica
natitos. Krasnova et al. (2004) listam apenas 21 podem ser observadas também na cava da mina
ocorrências mundiais conhecidas até então, 12 na de fosfato no carbonatito de Jacupiranga (SP);
Russia, 1 na Finlândia, 1 no Kazaquistão, 2 na África b) camadas ricas em magnetita + apatita no
do Sul, 1 no Zimbabwe, 1 na Tanzania, 1 em Ugan- interior das pilhas de cumulados ultramáficos, ge-
da, 1 no Brasil (Araxá) e 1 no Canadá. Os traba- rados a partir de magmas silicáticos, como em al-
lhos de Furtado et al. (1986), Costanzo et al. gumas porções de Salitre (Barbosa 2009), Tapira
(2006), Araujo (1996), Ribeiro (2008), Barbosa (Brod et al. 2005b) e Catalão 2 (Palmieri 2011);
(2009), Cordeiro (2009), Grasso (2010) e Palmieri c) incrustações de apatita + magnetita + flogo-
(2011) mostraram que foscoritos ocorrem também pita precipitadas na superfície de fraturas por per-
em proporções significativas no complexo de Ca- colação contínua de magma carbonatítico (Palmi-
talão 1 e 2, e subordinadas em Salitre, Serra Ne- eri 2011).
gra, Anitápolis e Jacupiranga, aumentando este Em outros casos, como em Catalão 1 e Araxá,
numero para 27. e em diversas das ocorrências mundiais listadas
Apesar de sua raridade, foscoritos tem grande por Krasnova et al. (2004), a ocorrência de fosco-
importância econômica por apresentar altas con- ritos como enxames de diques verticais não deixa
centrações de apatita e, em alguns casos, piro- dúvida sobre a existências de um magma foscorí-
cloro. Acessórios comuns compreendem baddeleyi- tico. Sugere-se que o nome foscorito seja reser-
ta, zirconolita, calzirtita, perovskita, pirrotita, cal- vado a rochas efetivamente cristalizadas a partir
copirita e minerais de EGP. Complexos com fosco- desses magmas fosfáticos, designando-se os de-
rito tipicamente desenvolvem mineralizações múl- mais tipos, derivados magmas carbonatíticos ou
tiplas. As compilações disponíveis (Woolley & Kjar- silicáticos por cristalização fracionada, como pseu-
sgaard 2008, Chernoff & Orris 2002, Orris & Grau- do-foscoritos.
ch 2002, Pell 1996) relatam mais de 4 commoditi-
es por complexo, em média, chegando a mais de Mecanismos de instalação (emplacement) e
uma dezena de commodities em Palabora (África geometria dos corpos de minério
do Sul) e Bukusu (Uganda). Em particular, a asso-
ciação P-Nb-ETR-Fe é muito freqüente, com uma O número de carbonatitos plutônicos conheci-
ampla gama de possíveis mineralizações adicio- dos é muito maior do que o de seus equivalentes
nais variando de um complexo a outro. vulcânicos (cerca de 10 % do total, Woolley & Kjar-
Em Catalão I, tanto o depósito de fosfato (Pal- sgaard 2008). É possível que esta dominância seja,
mieri et al. 2006, Grasso et al. 2006, Ribeiro 2008) em parte, resultado da alta solubilidade dos cons-
quanto o de nióbio (Cordeiro et al. 2010) estão tituintes minerais do carbonatito, quando expos-
intimamente associados à série foscorítica, o pri- tos aos agentes do intemperismo, e consequente
meiro relacionado ao estágio precoce (olivina-fos- dificuldade de sua preservação no registro geoló-
coritos) e o segundo ao estágio tardio (nelsoni- gico ou de reconhecimento de depósitos vulcâni-
tos, magnetititos e magnesiocarbonatitos residu- cos como carbonatíticos.

570
Carlos Cordeiro Ribeiro et al.

Adicionalmente, os processos petrológicos en- et al. 2004), carbonatitos e foscoritos frequente-


volvidos na evolução do magma carbonatítico em mente formam enxames de diques e pequenos
ambiente plutônico, aqui incluídos fenômenos hi- corpos intrusivos verticais, o que sugere injeção
drotermais associados às intrusões, são mais efi- como líquidos de baixa viscosidade. Onde massas
cientes para promover a concentração de elemen- mais possantes ocorrem, geralmente há evidênci-
tos e minerais de interesse econômico. Processos as petrográficas de intrusão como crystal mush.
vulcânicos e piroclásticos, por outro lado, tendem No complexo de Catalão 1, enxames de diques
a dispersá-los. Resulta que virtualmente todos os foscoríticos e nelsoníticos são os responsáveis
depósitos minerais associados a carbonatito ocor- pelas concentrações primárias de fosfato e nió-
rem em (ou diretamente associados a) complexos bio, respectivamente (Ribeiro 2008, Cordeiro et al.
plutônicos. 2010). Portanto, a presença e abundância dessas
Entender como as rochas estão organizadas rochas em um dado local do complexo determina
em um complexo plutônico é fundamental para com- o teor da mineralização primária. Embora esses
preender a geometria dos depósitos minerais ali diques e veios tenham distribuição muito comple-
contidos. Corpos intrusivos podem ter formas e xa em escala de detalhe, é possível delimitar zo-
dimensões variadas que dependem, entre outros nas de abundância relativa, cujas envoltórias re-
fatores, das propriedades físicas do magma e das produzem a geometria esperada para corpos in-
encaixantes e dos esforços tectônicos vigentes trusivos. A Fig. 5 ilustra a aplicação deste princípio
durante a intrusão. Magmas muito viscosos, como ao mapeamento de uma das frentes de lavra de
os de composição granítica, por exemplo, possu- fosfato no complexo Catalão 1 na mina da Vale
em maior capacidade de intrudir-se de maneira Fertilizantes (Grasso et al. 2006).
forçada, abrindo gradativamente o espaço neces-
sário para seu alojamento e formando intrusões Processos de diferenciação em magmas alcali-
maciças. Líquidos de baixa viscosidade, como os nos e carbonatíticos
magmas silicáticos ultramáficos, em especial os
alcalinos, não possuem esta capacidade, tenden- Os mecanismos evolutivos que levam à grande
do a formar diques de pequena espessura e der- variedade de rochas presentes em complexos al-
rames extensos e delgados. calino-carbonatíticos são diversificados e, não raro,
Carbonatitos e foscoritos situam-se no extre- multifásicos e recorrentes. Na maioria dos casos
mo de baixa viscosidade (e.g. Treiman 1989) do envolvem complexas interações entre cristalização
espectro magmático, uma vez que seus grupos ani- fracionada, assimilação crustal, mistura de mag-
ônicos fundamentais (unidades triangulares mas, imiscibilidade de líquidos, desgaseificação,
[CO3]2- e tetraedros de [PO4]3-, respectivamente) etc. Alguns destes processos podem desempenhar
são incapazes de formar polímeros. Com efeito, papéis fundamentais na geração de depósitos
estes magmas podem efetivamente ser conside- minerais.
rados como líquidos iônicos. Por essa razão eles
tendem a escoar com facilidade ao longo de fratu- CRISTALIZAÇÃO FRACIONADA
ras preexistentes, formando redes de veios e di-
ques finos, muitas vezes entrelaçados, preferen- O processo de cristalização fracionada apresen-
cialmente verticais ou com mergulho alto. Entre- ta certas peculiaridades em magmas silicáticos for-
tanto, a composição não é o único condicionante temente alcalinos associados a carbonatitos:
da viscosidade, que depende também da tempe- a) estabilização precoce de minerais hidrata-
ratura, da quantidade de voláteis dissolvidos, etc. dos devido à grande quantidade de voláteis dis-
É importante ressaltar que essas considera- solvidos no magma.
ções dizem respeito a líquidos em alta temperatu- b) crescimento de minerais sódicos ou potássi-
ra, mas não se aplicam a sistemas com alto grau cos devido à alta concentração de álcalis.
de cristalização, como crystal mushes. Neste caso, c) cristalização de fases não silicáticas e mine-
mesmo um carbonatito terá viscosidade elevada, rais fortemente insaturados, como perovskita,
pois esta será controlada pelos cristais, e não pelo devido à baixa concentração de sílica.
líquido. Nos complexos alcalino-carbonatíticos da Outros minerais, como olivina e cromita, segui-
APIP e em outros exemplos mundiais (e.g. Bulakh dos de clinopiroxênio, mantêm a ordem de crista-

571
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Províncias alcalino-carbonatíticas

Figura 5 – Mapeamento geológico da Frente 4 na mina de fosfato da Vale Fertilizantes no complexo de


Catalão I. Note que a distribuição das zonas com diferentes abundâncias de foscorito reproduz a geometria
esperada para um sistema de diques anelares com centro a oeste da região mapeada (Grasso et al. 2006).

lização comum em outros sistemas magmáticos. cia inicial de cristalização:


O fracionamento dos magmas alcalinos é facili- Olivina - cromita - clinopiroxênio - perovskita -
tado por sua baixa viscosidade. Neste ambiente, flogopita - diversos acessórios.
a acumulação de grandes volumes de perovskita Como nenhum destes minerais contém carbo-
em sequências de cumulados bebedouríticos pode no, sua remoção levará o liquido residual a tor-
constituir importante passo intermediário na for- nar-se cada vez mais rico em carbono dissolvido.
mação de depósitos de titânio, seguida da trans- Ao atingir a saturação em carbono ocorre a sepa-
formação de perovskita em anatásio por intempe- ração de um líquido carbonatítico imiscível, inicial-
rismo ou processos carbo-hidrotermais, e da con- mente na forma de glóbulos de carbonato (Brod,
centração do anatásio como resistato no manto 1999), como os documentados por Ribeiro (2008)
de intemperismo. Exemplos notáveis incluem os em flogopita picritos do complexo carbonatítico
depósitos de titânio de Tapira, Salitre, Serra Ne- Catalão 1 (Fig. 6).
gra e Catalão I. De forma similar, cumulados ricos
em apatita podem ser precursores de importan-
tes depósitos de fosfato no manto de intemperis-
mo, como ocorre em Tapira e em algumas porções
de Catalão I.

IMISCIBILIDADE DE LÍQUIDOS

Brod (1999) mostrou que magmas silicáticos ul-


tramáficos e ultrapotássicos (flogopita picritos),
contendo quantidades significativas de carbono
dissolvido como CO, CO2 ou CO32- foram os líqui-
dos primitivos que geraram, por diferenciação, os
complexos alcalino-carbonatíticos da APIP. Em Ta- Figura 6 - Glóbulos de calcita (carbonatito) em ma-
pira, este magma apresenta a seguinte sequên- triz de flogopita picrito (Ribeiro 2008).

572
Carlos Cordeiro Ribeiro et al.

Imiscibilidade pode ocorrer também em outros Os efeitos da imiscibilidade silicato-carbonatito


sistemas, envolvendo líquidos silicático e sulfeta- são visíveis na formação de jazidas associadas a
do, carbonatítico e fosfático, etc. Brod (1999) des- complexos carbonatíticos. Por exemplo, os gran-
taca a importância do processo de imiscibilidade des depósitos de titânio em complexos carbonatí-
de líquidos ao promover a diferenciação química ticos da APIP estão intimamente ligados a concen-
extrema entre os líquidos neoformados, com im- trações primárias de perovskita em rochas silicáti-
plicações para a geração de depósitos minerais. cas (bebedouritos), posteriormente convertidas em
Líquidos silicático e carbonatítico imiscíveis di- anatásio por intemperismo ou metassomatismo
ferem dramaticamente tanto em composição quan- (Pereira et al. 2005, Ribeiro 2008).
to em estrutura. A capacidade de polimerização Embora a imiscibilidade de líquidos seja um dos
dos tetraedros de SiO44- confere ao magma silicá- fatores determinantes para a formação de jazi-
tico um caráter molecular cujo grau de polimeriza- das em complexos carbonatíticos, ainda é neces-
ção e, consequentemente, viscosidade dependem sário que algum processo adicional promova a con-
de seu conteúdo em sílica, enquanto o magma car- centração dos elementos de interesse até atingir
bonatítico é um líquido iônico de baixa viscosida- teores economicamente importantes. Exemplos
de. Os dois magmas apresentarão, portanto, com- típicos são as jazidas de nióbio da APIP. Brod
portamento físico e afinidades químicas distintas. (1999) mostrou que, nos complexos carbonatíti-
As diferenças estruturais dos líquidos silicático cos de Tapira e Salitre, o Nb apresenta marcada
e carbonatítico têm papel fundamental na especi- preferência pelo líquido silicático imiscível, em con-
ação química destes magmas. No momento em que cordância com determinações experimentais (Ha-
se produz a separação, muitos elementos quími- milton et al. 1989). Assim um evento de imiscibili-
cos tendem a ingressar preferencialmente em um dade de líquidos produz um líquido silicático rico
ou outro líquido. Elementos de raio iônico peque- em Nb e um líquido carbonático empobrecido em
no e carga alta demonstram preferência pela es- Nb. Curiosamente, as jazidas de pirocloro da pro-
trutura molecular do magma silicático, enquanto víncia, assim como muitas outras no mundo, es-
elementos de raio iônico grande e carga baixa ten- tão associadas ao sistema carbonatito/foscorito,
dem a ingressar no líquido carbonatítico. A parti- e não ao sistema silicato (Brod et al. 2004). A ra-
ção dos elementos terras raras (ETR) é fortemen- zão mais provável para isso é que o magma silicá-
te controlada pela temperatura e pela pressão do tico contém grandes quantidades de titânio, e
sistema, mas observa-se nítida preferência das muitos minerais de titânio, como perovskita, po-
terras raras leves pelo magma carbonatítico, en- dem incorporar quantidades modestas de Nb em
quanto as pesadas preferem o líquido silicático solução sólida durante a cristalização (Brod 1999).
(Hamilton et al. 1989), o que irá produzir os pa- Desta maneira, o Nb fica diluído nos depósitos de
drões com fracionamento extremo de ETRL/ETRP, perovskita e não atinge teores econômicos. Por
típicos de carbonatitos. O fósforo também apre- outro lado, o líquido carbonatítico é pobre em titâ-
senta marcada preferência pelo líquido carbonatí- nio e o Nb disponível forma um mineral próprio, o
tico (em média quatro vezes mais enriquecido em pirocloro, cuja concentração por cristalização fra-
P do que o silicático). A afinidade dos elementos cionada produzirá as jazidas observadas, ainda
químicos no processo de imiscibilidade silicato-car- que a maior parte do Nb do sistema original tenha
bonatito (Brod 1999) pode ser resumida no mo- sido perdida na cristalização do magma silicático.
delo da Fig. 7. Após o evento de imiscibilidade silicato-carbo-
nato, os dois magmas gerados podem evoluir in-
dependentemente, por cristalização fracionada.
Durante esta evolução, novos episódios de imisci-
bilidade podem ocorrer, tanto no interior do mag-
ma silicático quanto no carbonatítico, mas estes
processos são fundamentalmente diferentes em
cada caso.
Enquanto o magma silicático continua a crista-
Figura 7. Distribuição da afinidade dos elementos
químicos durante o processo de imiscibilidade entre lizar minerais sem CO2 a concentração deste cons-
líquidos carbonatítico e silicático. tituinte no líquido residual volta a aumentar e pode

573
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Províncias alcalino-carbonatíticas

resultar na separação de um novo carbonatito ricos em voláteis dissolvidos, como H2O, CO2, F, Cl,
imiscível (Brod 1999, Ribeiro 2008). Ou, se não etc. Durante a ascensão destes magmas na cros-
houver quantidade suficiente de CO2 para atingir ta, ou durante a sua cristalização em uma câmara
a saturação, carbonatitos podem cristalizar dire- magmática os voláteis podem ser exsolvidos do
tamente a partir do líquido residual da cristaliza- magma e tenderão a escapar do sistema, transfe-
ção fracionada, sem imiscibilidade. Alguns dos car- rindo-se para as rochas encaixantes, provocando
bonatitos nos complexos de Tapira, Salitre e Ser- fenitização. Segundo Brod et al. (2004), nos com-
ra Negra foram gerados por este processo (Brod plexos da APIP a sequência de evolução magmáti-
1999, Barbosa 2009, Grasso 2010) e podem cons- ca inicia com a formação de rochas ultramáficas
tituir protominérios de fosfato, mas não têm po- alcalinas por cristalização fracionada (cumulados
tencial significativo para nióbio ou terras raras. duníticos, piroxeníticos ou bebedouríticos). Os car-
O líquido carbonatítico, por sua vez, evolui com bonatitos geralmente surgem em uma fase pos-
a cristalização inicial de silicatos e óxidos. Com a terior, e intrudem a sequência ultramáfica já total
concentração de fósforo já aumentada por efeito ou parcialmente cristalizada. Ao alojar-se nessa
da imiscibilidade silicato-carbonato precedente, é sequência, o magma carbonatítico perde grande
possível agora a separação do magma carbonatí- parte de seus constituintes voláteis, que reagem
tico em dois novos líquidos imiscíveis, um carbo- com as rochas ultramáficas adjacentes, transfor-
nático e outro fosfático. De maneira análoga ao mando-as em flogopititos metassomáticos. Este
que ocorreu na imiscibilidade silicato-carbonatito, processo é de intensidade moderada em Tapira,
aqui também se produzirá uma dramática diferen- Salitre e Serra Negra (Brod 1999, Barbosa 2009,
ciação química (Fig. 8), com Ca, Ba, Sr, ETR e Y de- Grasso 2010), mas muito intenso em Catalão (Ara-
monstrando preferência pelo líquido carbonatíti- újo 1996), e Araxá (Issa Filho et al. 1984), onde
co, enquanto K, Na, Al, Si, Ti, Fe, Mg, Mn , P, Sc, V, os piroxenitos, bebedouritos e dunitos originais
Zn, Ga, Zr, Nb, Ta e Th ficam concentrados no líqui- ocorrem apenas como restos preservados no in-
do fosfático (Lee et al. 2004). Assim como ocorre terior de flogopititos metassomáticos ou como
com o par silicato-carbonato, os magmas carbo- fragmentos em brechas.
nático e fosfático imiscíveis podem separar-se fisi- O metassomatismo pode ser responsável pela
camente e seguir distintos caminhos evolutivos, formação de depósitos minerais em complexos car-
produzindo suas próprias sequências de cumula- bonatíticos, particularmente de ETR (constituídos
dos e líquidos residuais. pelo menos em parte por monazita metassomáti-
O resultado é que o magma carbonatítico tor- ca), vermiculita (formada por alteração intempéri-
na-se ainda mais empobrecido em sílica e fósforo, ca de flogopita metassomática), fluorita e barita
e enriquecido em ETR e Ba, constituindo um dos (Ribeiro 2008).
estágios finais da evolução de carbonatitos e fre-
quentemente gerando concentrações econômicas CONTROLES METALOGENÉTICOS LOCAIS SE-
destes elementos. O líquido fosfático imiscível dará CUNDÁRIOS
origem aos foscoritos sensu stricto e pode gerar
jazidas de P e Nb. Após a cristalização de um complexo carbona-
títico plutônico, soerguimento crustal e erosão das
DESGASEIFICAÇÃO E METASSOMATISMO encaixantes sobrejacentes podem expor a intru-
são à superfície. Neste momento, os processos in-
Magmas alcalinos e carbonatíticos são muito tempéricos se superpõem aos controles primários
da mineralização, podendo tanto intensificar quan-
to destruir as concentrações produzidas na fase
magmática. O intemperismo químico é potencializa-
do por condições climáticas de alta pluviosidade e
temperatura elevada, como as vigentes em regi-
ões tropicais, que levam à formação de espessos
horizontes de solo, com zonas bem definidas.
Figura 8 - Afinidade dos elementos químicos duran-
te o processo de imiscibilidade entre líquidos carbo- Os controles geomorfológicos têm importância
natítico e fosfático. fundamental no desenvolvimento de solos sobre

574
Carlos Cordeiro Ribeiro et al.

complexos carbonatíticos. Na APIP, as encaixan- ria de 2 a 3 m e depende das feições topográfi-


tes, deformadas em estruturas dômicas, são mais cas.
resistentes ao intemperismo do que as rochas al-
calinas e tendem a ficar preservadas formando um Saprolito Aloterítico
anel topograficamente elevado ao redor da intru-
são (Carvalho 1974a). Este fato, somado à abun- Posicionado imediatamente abaixo da cobertu-
dância de minerais solúveis, como carbonatos, e ra laterítica superficial, resulta de um intemperis-
o possível colapso da porção central dos comple- mo suficientemente evoluído para destruir todas
xos por redução de volume durante a alteração as estruturas da rocha original. Fisicamente, é de-
de carbonatitos, resulta no estabelecimento de um finido por:
padrão de drenagem centrípeta, que impede a a) diminuição do volume da rocha original;
remoção dos solos por erosão, gerando perfis de b) destruição progressiva das feições de sus-
solo que podem atingir mais de 200 m de espes- tentação das estruturas da rocha;
sura. c) importância das remobilizações;
Ribeiro (2008) descreveu uma zona de abati- d) abundância de argila.
mento associada à dissolução química de carbo- As características químicas marcantes são teo-
natos na porção central do complexo Catalão I. res de CaO e MgO menores que 1 e 1.5%, respec-
Neste tipo de intrusão, a contínua lixiviação dos tivamente, e CaO/P2O5 < 1.
carbonatos produz uma subsidência do terreno, Este intervalo caracteriza-se por perda expres-
favorecendo a acumulação de centenas de metros siva de porosidade e domínio absoluto de mine-
de sedimentos argilosos derivados do próprio rais argilosos, levando a diminuição de volume e
domo ou, às vezes, de contribuições externas. Os aumento de densidade. A apatita é transformada
complexos de Salitre, Serra Negra e Tapira apre- em fosfatos secundários, mais estáveis e de me-
sentam lagos ou paleolagos semelhantes, sem- nor valor econômico, como crandalita e gorceixita.
pre associadas a carbonatitos na parte central do A destruição do pirocloro gera nióbio complexado
complexo. Estas feições podem, portanto, servir com hidróxidos de ferro, material que também não
como critério de localização de zonas carbonatíti- aproveitamento econômico atualmente. O anatá-
cas ou foscoríticas favoráveis à mineralização de sio, por sua extrema resistência ao intemperismo,
nióbio, fosfato ou terras raras, mas frequentemen- é o único mineral com valor econômico concentra-
te mascaradas pelo espesso manto de intempe- do em grandes volumes no saprolito aloterítico.
rismo em complexos carbonatíticos.
Entretanto, a principal importância do intempe- Saprolito Isalterítico
rismo é a concentração residual de minerais resis-
tentes como apatita, vermiculita, e minerais de ETR, Posicionado imediatamente abaixo do saproli-
Ti e Nb. Para determinar os controles das minera-
lizações associadas ao intemperismo, Oliveira &
Imbernon (1998) propuseram uma divisão do per-
fil de intemperismo com base na caracterização
química e geológica de furos de sonda e de expo-
sições na cava de fosfato do complexo de Catalão
1 (Fig. 9).

Cobertura Laterítica Superficial

Representa o produto final e atual do intemperis-


mo. É constituída por material argiloso vermelho
escuro, com ou sem pisolitos lateríticos, e contém
argilas do tipo caolinita e esmectita. Outros cons-
tituintes minerais encontrados (Imbernon 1993)
Figura 9 - Representação esquemática das divisões
foram goethita, quartzo, anatásio e fosfatos alu- do manto de intemperismo (Oliveira & Imbernon,
minosos do grupo da crandalita. A espessura va- 1998) em Catalão I.

575
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Províncias alcalino-carbonatíticas

to aloterítico, é caracterizado pela preservação das carbonatitos as fases portadoras de ETR estão dis-
estruturas da rocha ígnea ou metassomática ori- tribuídas pelo menos três estágios: o primeiro com
ginal. Quimicamente pode ser definido por CaO apatita, pirocloro ou perovskita; o segundo com
>1% e MgO< 5% conforme critérios estabelecidos fluorita e bastnaesita; e o terceiro, já no domínio
por Imbernon (1993) e Oliveira & Imbernon (1998), carbo-hidrotermal, em veios com fluorita, bastna-
e também por CaO/P2O5 >1% e <1.6%. esita e quartzo. Em condições adequadas, depó-
Fisicamente, caracteriza-se por perda parcial de sitos econômicos de ETR podem ser formados nes-
matéria, devido à lixiviação de minerais de alta tes três estágios.
solubilidade, com geração de vazios ou porosida- No complexo de Catalão 1, assim como em di-
de e consequente diminuição da densidade, mas versos outros (eg. Barra do Itapirapuã, Andrade
com pouca ou nenhuma redução de volume. Cons- & Luders 1999) o carbo-hidrotermalismo tem pa-
titui a zona de maior concentração de minerais pel preponderante na geração da mineralização
residuais como apatita, nióbio e monazita. de ETR. Condicionantes magmáticos e, principal-
mente, intempéricos também contribuem de for-
Rocha alterada ma relevante.
Os ETR em Catalão 1 têm sido objeto de estu-
Posicionada abaixo do saprolito isalterítico, é dos desde a década de 1970 (Carvalho 1974b,
caracterizada por CaO/P2O5 > 1.6 e MgO > 5%. Carvalho & Araújo 1974, Carvalho & Bressan 1981,
Neste intervalo todas as estruturas da rocha ori- Lapido Loureiro 1994, Imbernon et al. 1994, Pe-
ginal estão preservadas. As características físicas reira 1995, Neumann 1999, Toledo 1999, Tassina-
variam conforme a composição da rocha fonte: se ri 2001, Ribeiro et al. 2001, 2005b, Pereira et al.
esta for um flogopitito, varia do cinza ao verde 2005, Ribeiro 2008)
claro, dependendo do grau de alteração, mas se Embora não tenha ainda sido explotada, a jazi-
for foscorito sua aparência é praticamente a mes- da de ETR de Catalão é a terceira maior do mundo
ma da rocha fresca. Carbonatitos estão frequen- associada a carbonatitos, com 78.9 Mt a 8.67 % de
temente preservados. Como consequência, o grau ETR2O3, equivalentes a 6.8 Mt de ETR2O3 contido
de concentração residual é mínimo e os teores de (valores tabulados para teor de corte de 5,5 % -
apatita, terras raras e nióbio são bem menores Ribeiro et al., 2005c), atrás apenas dos depósitos
do que no saprolito isalterítico. Neste caso, a eco- de Bayan Obo, na China, e de Mountain Pass, nos
nomicidade da mineralização depende intrinseca- EUA (Orris & Grauch, 2002). Outros depósitos de
mente do teor da rocha original. ETR associados a carbonatitos brasileiros incluem
Araxá e Tapira, na APIP, além de Barra do Itapira-
OS DEPÓSITOS DE TERRAS RARAS, NIÓBIO E puã, Mato Preto, Poços de Caldas, Morro dos Seis
TITÂNIO DE CATALÃO 1 Lagos, e ocorrências não detalhadas em Mutum e
Maicuru (Tabela 1).
Carbonatitos e rochas associadas contêm im- A figura 11 mostra a localização dos depósitos
portantes depósitos de nióbio, fosfato, elemen- de terras raras da Lagoa Seca Norte e do Córrego
tos terras raras, titânio, vermiculita, fluorita, bari- do Garimpo, na porção centro-leste do complexo
ta, vanádio, estrôncio, tório, urânio e cobre, entre de Catalão 1.
outros. Abaixo são discutidos aspectos das jazi-
das de terras raras, titânio e nióbio em carbonati- O PAPEL DO MAGMATISMO
tos, com ênfase nos depósitos do Complexo de
Catalão 1, por serem os exemplos brasileiros me- Segundo Wyllie et al. (1996) os ETR encontram-
lhor estudados. A figura 10 mostra os domínios se nas rochas do manto apenas como traços, abri-
metalogenéticos no complexo. gados em grande parte em minerais de titânio dis-
cretos e disseminados, que seriam facilmente dis-
Depósito de Terras Raras solvidos em um magma carbonatítico primário, pro-
vocando enriquecimento dos ETR na fase líquida.
Minerais de ETR ocorrem em complexos carbo- Processos de diferenciação como imiscibilidade de
natíticos como constituintes magmáticos, hidroter- líquidos poderiam promover o enriquecimento adi-
mais e intempéricos. Segundo Le Bas (1977), nos cional do magma carbonatítico em ETR, dependen-

576
Carlos Cordeiro Ribeiro et al.

Figura 10 - Domínios metalogenéticos no Complexo Alcalino-Carbonatítico de Catalão I. Adaptado de RIbeiro


(2008).

do das condições de pressão e temperatura (e.g. e monazita) e carbonatos (synchysita, bastnaesi-


Hamilton et al. 1989). Entretanto, Wyllie et al. ta, parisita e roentgenita). Com base em dados
(1996) argumentam que mesmo o efeito combina- experimentais, sugerem que, se o magma carbo-
do destes processos não seria suficiente para natítico for pobre em fósforo, a precipitação da apa-
explicar as altas concentrações de ETR observa- tita e monazita pode não ocorrer, o que levaria a
das nos carbonatitos mineralizados. uma concentração efetiva dos ETR no líquido resi-
Wyllie et al. (1996) dividem os minerais hospe- dual, culminando com formação de carbonatito tar-
deiros de ETR em carbonatitos em três grupos: dio rico em ETR. Assim, grandes complexos carbo-
óxidos (pirocloro e perovskita), fosfatos (apatita natíticos ricos em ETR, tais como Mt. Pass, onde

577
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Províncias alcalino-carbonatíticas

Figura 11 - Localização dos depósitos de ETR Lagoa Seca Norte (verde) e Córrego do Garimpo (vermelho), no
Complexo Catalão I. Ribeiro (2008).

os minerais-minério são os fluorcarbonatos bast- consistente com as grandes quantidades de pe-


naesita [(ETR)(CO3)F] e parisita [(ETR2)Ca(CO3)3F2] rovskita acumulada em bebedouritos e com a pró-
poderiam ter derivado da cristalização fracionada pria abundância de foscoritos que constituem o
de magmas carbonatíticos previamente enriqueci- depósito de fosfato nesse complexo. Segundo Ri-
dos em ETR e pobres em P2O5. beiro (2008), embora não tenham sido produzi-
No caso de Catalão 1 Ribeiro (2008) ressalta dos depósitos de ETR neste estágio, as rochas
que o teor de ETR em flogopititos, carbonatitos e ultramáficas de Catalão I, como cumulados de pe-
foscoritos externos ao domínio da Lagoa Seca rovskita em bebedouritos, serviram de fonte para
Norte e Córrego do Garimpo (Fig. 11) não ultra- extração e remobilização de ETR durante o me-
passa 1%, o que reforça a idéia de que por um tassomatismo carbonatítico que transformou be-
longo intervalo da evolução do complexo os ETR bedouritos primários em flogopititos metassomá-
foram diluídos em várias espécies minerais. Isto é ticos.

578
Carlos Cordeiro Ribeiro et al.

O PAPEL DO METASSOMATISMO OU CARBO-HIDRO- tismo carbonatítico que converteu a perovskita de


TERMALISMO cumulados bebedouríticos em anatásio (Pereira et
al. 2005) em Catalão I foi responsável pela libera-
Muitos depósitos de ETR em complexos alcali- ção dos ETR e sua incorporação no fluido carbo-
nos estão associados às fases finais de cristaliza- hidrotermal. Esta transformação teria envolvido
ção do magmatismo carbonatítico e aos sistemas enormes quantidades de ETR, visto que o volume
carbo-hidrotermais que as acompanham ou suce- de flogopititos metassomáticos com anatásio é
dem. Os carbonatitos de Barra do Itapirapuã (An- dezenas de vezes superior ao volume de foscori-
drade & Luders 1999), na Província Alcalina Arco tos e carbonatitos no complexo.
de Ponta Grossa, e Catalão 1 (Toledo et al. 2003, A percolação do fluido carbo-hidrotermal rico em
Ribeiro et al. 2005c, Ribeiro 2008), na APIP, são ETR através de rochas ricas em apatita (flogopiti-
exemplos brasileiros típicos. Em alguns casos, tos, carbonatitos e foscoritos) teria causado o
como em Bayan Obo, o depósito de ETR é distal, enriquecimento do fluido também em P. A reação
sem associação geográfica óbvia com as rochas deste fluido com carbonatitos encaixantes causou
alcalinas parentais. uma elevação do pH e precipitação de grandes
A diminuição da solubilidade, e consequente volumes de monazita e apatita no depósito Cór-
precipitação de ETR em sistemas hidrotermais é rego do Garimpo. Ribeiro (2008) mostrou ainda que
controlada por uma variedade de mecanismos, den- a interação com o fluido carbo-hidrotermal trans-
tre os quais destacam-se: formou dolomita carbonatitos em magnesita car-
a) decréscimo de temperatura e pressão (Gie- bonatitos, entremeados de bolsões com abundan-
ré 1996); te monazita e pequenas quantidades de pirita-pir-
b) aumento do pH (Ayres & Watson 1991); rotita.
c) cristalização de minerais de ganga (Gieré Os efeitos da redução da pressão são ilustra-
1996), como apatita, reduzindo a atividade de dos pelas feições do depósito de ETR da Lagoa
PO43+ no fluido hidrotermal e desestabilizando os Seca, em Catalão I (Fig. 12). Nesse local ocorrem
complexos de ETR em solução, ou como sulfetos, abundantes veios e diques preenchidos por bre-
ocasionando mudanças significativas no pH do flu- chas resultantes de fraturamento hidráulico da en-
ído. caixante foscorítica, bem como pipes de explosão
Estes controles podem ser reconhecidos nos (Ribeiro et al. 2001, 2005b), possivelmente forma-
depósitos de ETR do Córrego do Garimpo e da dos por soluções em ebulição. Este processo, pos-
Lagoa Seca, em Catalão I (Ribeiro, 2008). No de- sivelmente auxiliado pelo aumento do pH do flui-
pósito do Córrego do Garimpo, a monazita pre- do carbo-hidrotermal durante reações com a ro-
sente em silcretes e carbonatitos magnesíticos está cha encaixante, culminou com a deposição de gran-
sempre associada com sulfetos de ferro, sugerin- des quantidades de monazita. As rochas encai-
do que sua precipitação pode ter sido em parte xantes do depósito Lagoa Seca são foscoritos ori-
controlada por variações no pH causadas pela pre- ginalmente ricos em apatita (Fig. 12, nível C1). O
cipitação dos sulfetos. Neumann (1994), Toledo fluido carbo-hidrotermal provocou a precipitação
(1999) e Ribeiro (2008) defendem uma origem hi- de apatita em camadas horizontais (Fig. 12, nível
drotermal para a monazita em silexitos do Córre- C2a), em grandes espaços vazios gerados pela
go do Garimpo baseado nas estreitas relações dissolução das encaixantes. Sobre as camadas de
entre pirrotita e monazita, presentes nestas ro- apatita depositaram-se camadas de monazita
chas. Segundo esses autores, a monazita de ori- pura com até 2 m de espessura (FIg. 12, nível C2b).
gem carbo-hidrotermal frequentemente substitui Estas feições indicam que o fluido carbo-hidroter-
a apatita em carbonatitos magnesianos frescos. mal, inicialmente saturado em P, ETR, CaO e CO2
Outras fases secundárias portadoras de ETR no somente precipitou monazita após consumir a
Depósito Córrego do Garimpo compreendem apa- maior parte do Ca na formação das camadas ricas
tita (ca. 1,4 %ETR), pirocloro (até 6 % ETR), zirco- em apatita.
nolita (5% de ETR), baddeleyita (até 1,5%), calzir-
tita (0,08% ETR), e gorceixita (ocasionalmente até O PAPEL DO INTEMPERISMO
1.6% ETR).
Ribeiro (2008) argumenta que o metassoma- Ribeiro (2008) mostrou que nos dois depósitos de

579
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Províncias alcalino-carbonatíticas

Figura 12 - Seção típica do depósito de monazita Lagoa Seca Norte, no Complexo Catalão I.

Catalão I o intemperismo teve o papel de concen- Depósito de titânio


tração residual e supérgena dos ETR.
No Córrego do Garimpo, a mineralização car- Ribeiro (2008) mostrou que os bebedouritos
bo-hidrotermal de ETR compreende diques e vei- das partes leste e sul de Catalão I são enriqueci-
os ricos em monazita alojados em flogopititos e dos em anatásio, derivado da alteração carbo-hi-
carbonatitos. A ação do intemperismo no domínio drotermal da perovskita. A porção intemperizada
dos flogopititos produziu saprolito aloterítico e isal- dessas rochas, no intervalo entre 0 e 60 m, cons-
terítico enriquecido em monazita e fosfatos secun- titui o depósito de anatásio do complexo Catalão
dários da família da crandalita (gorceixita). Ribeiro I. Neste complexo o anatásio persiste como o prin-
(2008) ressalta que a monazita formada no even- cipal mineral de titânio mesmo em rocha fresca,
to carbohidrotermal, permanece inalterada do pon- até ca. 350 m de profundidade (Ribeiro, 2008), com
to de vista químico durante o intemperismo, mas raros restos preservados de perovskita. Entretan-
pode apresentar grande concentração residual, to, nos complexos carbonatíticos de Tapira, Sali-
elevando os teores de ETR para acima de 10%. tre e Serra Negra, Minas Gerais, a perovskita é o
Os magnesita carbonatitos carbo-hidrotermais mineral dominante na rocha sã (Brod 1999, Bar-
mineralizados em ETR foram transformados em si- bosa 2009, Grasso 2010) e sua transformação para
lexitos (silcretes) por intemperismo mas, neste anatásio ocorre apenas no manto de intemperis-
caso, a concentração residual da monazita foi mo, onde a concentração residual do anatásio
menor ou quase ausente. supérgeno forma depósitos com potencial econô-
O depósito da Lagoa Seca Norte, com teores mico.
de até 30-35 % de ETR, está localizado no interior
do horizonte de rocha alterada e tem geometria O PAPEL DO MAGMATISMO
horizontal, com finos diques alimentadores
verticais. A mineralização primária originou-se por As rochas ígneas mais ricas em titânio em com-
alteração carbo-hidrotermal de foscoritos, e já plexos carbonatíticos são geralmente cumulados
possuía alto teor de ETR e baixa concentração de produzidos por cristalização fracionada de mag-
carbontos. Nesse caso, a contribuição do mas silicáticos alcalinos. Em complexos sódicos
intemperismo para o aumento de teor do depósito estas rochas pertencem à série ijolítica e, em com-
foi pequena. plexos potássicos como os da APIP, à serie bebe-

580
Carlos Cordeiro Ribeiro et al.

dourítica (Brod et al. 2004). Em geral as rochas tipos de magma, eles são susceptíveis a altera-
ígneas constituem apenas protominério de titânio, ção e substituição durante os últimos estágios da
sendo necessária concentração adicional para o cristalização por processos subsolidus. A altera-
aumento do teor e formação de depósitos econô- ção da perovskita pode ocorrer por reequilíbrio
micos. Em Tapira, Salitre e Serra Negra, esta con- subsolidus, por alteração metassomática e por
centração ocorre por conversão da perovskita dos intemperismo, produzindo outros minerais de ti-
bebedouritos em anatásio supergênico, e concen- tânio, como titanita, polimorfos de TiO2 (rutilo, ana-
tração residual do anatásio no perfil de alteração. tásio, brookita), ilmenita e (Nb,Ti,Fe,Ta)2O5
As jazidas no manto de intemperismo tendem A alteração da perovskita para polimorfos me-
a ser controladas geograficamente pela presença taestáveis de TiO2 (anatásio e brookita), ao invés
dos cumulados ricos em perovskita no substrato de rutilo, ainda é pouco estudada. O anatásio
e, como tal, ocorrem preferencialmente nas por- parece ser o polimorfo mais estável em rochas al-
ções mais externas dos complexos. Em Catalão I calinas, e a sua formação poderia ocorrer por dis-
a mineralização de Ti no perfil de intemperismo solução incongruente da perovskita. Mitchell
está geograficamente associada a piroxenitos e (2002) mostrou que a substibuição pseudomórfi-
flogopititos metassomáticos (Ribeiro 2008), com ca da perovskita pode ocorrer: (a) nos últimos
mostra a Fig. 13. estágios da cristalização do magma (alteração
deutérica); (b) por reações subsolidus com fluidos
O PAPEL DO METASSOMATISMO OU CARBO-HIDRO- carbo-hidrotermais a altas ou baixas temperatu-
TERMALISMO ras; e (c) por substituição química a baixa tempe-
ratura, durante o intemperismo.
Segundo Mitchell (2002), apesar dos minerais Segundo Pereira et al. (2005) e Ribeiro (2008),
do grupo da perovskita serem estáveis em muitos em Catalão I, fluidos carbo-hidrotermais deriva-

Figura 13 - Geometria da mineralização primária e residual de titânio no Complexo alcalino-carbonatítico de


Catalão I (Ribeiro 2008)

581
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Províncias alcalino-carbonatíticas

dos de magmas carbonatíticos e responsáveis pela produção desta commodity, com 94,5%, seguido
transformação de bebedouritos em flogopititos pelo Canadá com participação de 5,1%. Em ter-
metassomáticos, causaram a conversão de pero- mos de reservas brasileiras Minas Gerais detém
vskita em anatásio. Esta transformação resultou cerca de 96 % (Araxá), Amazonas 3% (Seis La-
na lixiviação de Ca, Nb, ETR e Na e promoveu uma gos) e Goiás 1,0% (Catalão I e II), sendo que em
concentração relativa de Ti, Si, Mg, Zr, Nb e Fe (Pe- termos de produção interna, Minas Gerais respon-
reira et al. 2005), mas não foi suficiente para ge- de por 78,3% e Goiás por 21,6% restantes (DNPM-
rar concentrações econômicas de Titânio. Em Ta- GO).
pira, Salitre e Serra Negra, embora também ocor- As rochas alcalinas e alcalino-carbonatíticas
ram flogopititos metassomáticos a intensidade constituem os maiores reservatórios de Nb do
deste processo é menor, e a substituição de pero- mundo. Tanto em Araxá quanto em Catalão o pi-
vskita por anatásio durante o estágio hidrotermal rocloro ocorre como mineral primário em nelsoni-
é uma feição muito rara (e.g. Barbosa 2009). tos, foscoritos e carbonatitos, mas até o momen-
to foram lavrados apenas os depósitos supergê-
O PAPEL DO INTEMPERISMO nicos e residuais do manto de intemperismo. Em
Catalão I (Cordeiro 2009) a mineralização primá-
Alteração de baixa temperatura da perovskita ria é tipicamente um stockwork de veios de espes-
para anatásio em solos lateríticos foi descrita por sura centimétrica a decimétrica de pirocloro-nel-
Mariano (1989). Durante o processo de lixiviação sonito intrudidos em flogopititos, foscoritos e car-
a maioria do Ca é removida em solução. ETR pre- bonatitos. Os veios individuais têm orientação
sentes em pequenas quantidades na perovskita muito variável, mas o conjunto mineralizado for-
também são lixiviados, mas depositam-se imedia- ma um corpo vertical de geometria aproximada-
tamente como cerianita, monazita e minerais do mente cilíndrica. Em Catalão II (Palmieri 2011) o
grupo da crandalita. Estes processos resultam na stockwork de veios de pirocloro-nelsonito está alo-
formação de volumosos depósitos residuais de Ti jado nas encaixantes precambrianas fenitizadas,
na APIP (eg. Tapira, Salitre, Serra Negra, Catalão I). indicando que este tipo de depósito pode ocorrer
Em Catalão I, o papel do intemperismo foi con- tanto interna quanto externamente ao complexo
centrar residualmente o anatásio presente desde intrusivo.
a rocha sã, enquanto em Tapira, Salitre e Serra
Negra foi inicialmente transformar a perovskita em O PAPEL DO MAGMATISMO
anatásio e posteriormente concentrar o anatásio
nos níveis mais altos do perfil de intemperismo Os principais controles magmáticos dos depó-
(saprolito aloterítico). A lixiviação de Ca e Mg do sitos de Nb em complexos carbonatíticos são cris-
clinopiroxênio e dos carbonatos, e a eliminação do talização fracionada e imiscibilidade de líquidos.
Mg e K da flogopita e vermiculita resultam em sig- Estudos experimentais mostram que, durante a
nificativa redução de volume, com consequente separação de líquidos silicático e carbonatítico imis-
concentração do Ti como anatásio, e do Fe, Al, Si e cíveis, o Nb tem preferência pela componente sili-
P como argilas e fosfatos secundários em lateri- cática (e.g. Hamilton et al. 1989, Ivanikov et al.
tas e silcretes que compõem o saprolito aloterítico. 1998). Entretanto é justamente a componente
A intensidade da alteração da perovskita de- carbonatítica que detém os mais importantes re-
pende fortemente do pH, da fugacidade do dióxi- cursos de Nb conhecidos mundialmente. A razão
do de carbono e da temperatura (Banfield & Ve- para isso é que nas rochas silicáticas o Nb é incor-
blen 1992, Nesbitt et al. 1981), mas o efeito des- porado em pequenas quantidades (até pouco mais
tes fatores ainda não foi quantificado em estudos de 1% Nb2O5) em minerais de titânio, como pero-
experimentais detalhados. vskita, e fica diluído nas pilhas de cumulados ul-
tramáficos. No conjugado carbonatítico, por outro
Depósitos de Nióbio lado, o principal mineral de nióbio a cristalizar é o
pirocloro, cujos teores são da ordem de 57% de
O Brasil possui as maiores reservas de nióbio Nb2O5. Havendo as condições necessárias para a
do mundo com uma participação de 88,0%, segui- concentração deste mineral, por exemplo por cris-
do do Canadá com 9,0%, e é o líder mundial na talização fracionada, poderão formar-se depósi-

582
Carlos Cordeiro Ribeiro et al.

tos magmáticos econômicos de nióbio nestas ro- em Catalão I e II. Naqueles complexos, pirocloro
chas. Outros minerais contendo Nb podem ocor- ocorre de maneira disseminada em carbonatitos
rer em proporções pouco significativas em carbo- (Brod 1999, Barbosa 2009, Grasso 2010), e pro-
natitos, como ferrocolumbita, fersmita, niocalita e vavelmente está muito diluído para caracterizar
wohlerita (Heinrich 1966, Sorensen 1974, Kapus- mineralização primária. Entretanto, ainda assim é
tin 1980). Por outro lado, um segundo evento de possível a ocorrência de jazidas de pirocloro resi-
imiscibilidade de líquidos, envolvendo um compo- dual no manto de intemperismo.
nente carbonático e um líquido rico em óxido e fos- O pirocloro primário de Catalão I apresenta zo-
fato (foscorito) pode levar a grandes concentra- nação complexa, onde o teor de Sr, Ba e Na+Ca
ções de nióbio no segundo, e gerar depósitos im- pode ser muito variável, embora predomine o pi-
portantes em foscoritos e nelsonitos associados rocloro rico em Na+Ca (Cordeiro et al. 2011).
a complexos carbonatíticos.
A gênese do pirocloro em nelsonitos e carbo- O PAPEL DO INTEMPERISMO
natitos frescos dos complexos de Catalão 1 e 2
está intimamente relacionada com processos mag- Nos complexos da APIP, o Ca-Na-pirocloro da
máticos. Ribeiro (2008) apresentou um modelo de mineralização primária é convertido em Ba-pirocloro
evolução magmática para Catalão 1 onde rochas durante o intemperismo, com mudanças pouco sig-
da serie foscorítica ricas em magnetita (nelsoni- nificativas no teor de Nb2O5. O Ba-pirocloro neo-
tos) são as responsáveis pela mineralização pri- formado é um resistato e fica concentrado residu-
mária de Nb. Cordeiro et al. (2010) determinaram, almente no solo, à medida em que minerais solú-
com base em estudos isotópicos, estruturas in- veis como carbonatos e sulfetos contidos em fos-
trusivas, química mineral e variações modais, que coritos, nelsonitos e, principalmente, em carbona-
um magma parental com composição de olivina- titos são eliminados do sistema.
foscorito (P1), diferenciou-se em três estágios Fava (2001) descreve quatro horizontes no
segundo o esquema da Fig. 14. perfil de intemperismo na mina de Nb da Anglo Ame-
Palmieri (2011) mostrou que nelsonitos ricos em rican, no Complexo Carbonatítico Catalão I: (a) co-
pirocloro podem tanto cristalizar diretamente a bertura laterítica; (b) horizonte saprolítico; (c) ho-
partir de um magma fosfático, quanto formar-se rizonte de rocha alterada; (d) horizonte de rocha
como incrustações em fraturas, depositadas a fresca, equivalentes àqueles de Oliveira & Imber-
partir de um fluxo contínuo de magma carbonatíti- non (1998). Na cobertura laterítica (saprolito alo-
co, propondo denominar estes últimos de pseu- terítico) ocorrem teores elevados de Nb2O5, mas
do-nelsonitos. grande parte produto da destruição do pirocloro,
Assim, o controle metalogenético primário da onde o nióbio é complexado com diversos hidróxi-
mineralização de nióbio tanto em Catalão I quan- dos de ferro, o que não permite seu aproveita-
to em Catalão II e, possivelmente, em Araxá está mento econômico no estágio atual. No saprolito
diretamente relacionado a magmas foscoríticos e isalterítico subjacente, que constitui efetivamen-
carbonatíticos. Em outros complexos da APIP, como te o depósito supergênico residual, o principal mi-
Tapira, Salitre e Serra Negra, são raras as ocor- neral de nióbio é Ba-pirocloro.
rências de nelsonitos semelhantes aos descritos Segundo Cordeiro et al. (2011), Na-Ca piroclo-
ro e Ba-pirocloro são predominantes, respectiva-
mente, na mineralização primária e na mineraliza-
ção residual, mas não exclusivos desses domíni-
os. A presença de Ba-pirocloro na mineralização
primária é interpretada como resultado de trans-
formações carbo-hidrotermais, enquanto o Na-Ca
pirocloro do manto de intemperismo provavelmente
representa grãos parcialmente preservados da
alteração intempérica.
O complexo de Araxá contém a maior reserva
Figura 14 - Esquema de evolução de rochas da série conhecida de nióbio do mundo incluindo 462 Mt @
foscorítica em Catalão I (Cordeiro 2009). 2,48% Nb2O5 como minério residual e 940 Mt @

583
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Províncias alcalino-carbonatíticas

1,6 % Nb2O5 em rocha fresca (Issa Filho et al. 1984, processo convergiram para a formação de depósi-
Hirano et al. 1990, Silva 1986). Em Araxá, o intem- tos minerais de grande porte. As relações entre
perismo que transformou o pirocloro magmático estes controles são ilustradas abaixo, tomando
em Ba-pirocloro foi muito eficiente na concentra- como base o complexo de Catalão I (Fig. 15).
ção residual deste mineral, produzindo um miné- Em Catalão I, um magma parental ultramáfico
rio com teor substancialmente mais alto do que o e ultrapotássico rico em CO2 (flogopita picrito),
de outras minas em operação atual ou no passa- após uma fase inicial de cristalização fracionada,
do (Cordeiro 2009), como Catalão 2 (1.67% tornou-se saturado em CO2 e separou-se em um
Nb 2 O 5 ), St Honoré (0.56% Nb 2 O 5 ), Catalão 1 dois líquidos imiscíveis, um silicático e um carbo-
(1.08% Nb2O5), Oka (0.53% Nb2O5), Lueshe (1.34% natítico (Ribeiro et al. 2005a).
Nb2O5) e Sukulu (0.25% Nb2O5). Além do Ba-piro- A cristalização fracionada do conjugado silicá-
cloro, a paragênese no manto de intemperismo tico (Fig. 15) produziu cumulados duníticos e be-
em Araxá inclui limonita, goethita, barita, magne- bedouríticos ricos em perovskita e, posteriormen-
tita, gorceixita, monazita, ilmenita e quartzo, en- te, em apatita, resultando em mineralização pri-
tre outros (Issa Filho et al. 1984). mária e/ou proto-minérios de titânio e fosfato. No
Reservas consideráveis de pirocloro residual caso de Catalão I, a perovskita foi transformada
são descritas nos complexos de Tapira (113 Mt @ em anatásio ainda durante os últimos estágios de
0,9% Nb2O5 + 53 Mt @ 0,36% Nb2O5, Melo, 1997) e evolução magmática do complexo, por um evento
Salitre (196 Mt @ 0.48 % Nb2O5, Biondi 2005). Es- carbo-hidrotermal que também provocou a conver-
tudos petrológicos detalhados em rocha fresca nos são generalizada de bebedouritos e dunitos em
complexos de Tapira (Brod 1999) e Serra Negra flogopititos metassomáticos. Em outros complexos
(Grasso 2010) não detectaram nelsonitos seme- da APIP embora existam evidências de formação
lhantes aos que hospedam as mineralizações pri- de anatásio durante eventos metassomáticos
márias de nióbio de Catalão 1 e 2. Em Salitre (Bar- (e.g. Salitre, Barbosa, 2009), este fenômeno pa-
bosa 2009) este tipo petrográfico foi identificado rece ter sido localizado. Mesmo a intensa trans-
em raros casos. Nesses três complexos o piroclo- formação de perovskita em anatásio por metas-
ro ocorre disseminado em carbonatitos, o que não somatismo em Catalão I não resulta em aumento
conduz à formação de depósitos econômicos no significativo dos teores de Ti na rocha fresca. Pos-
estágio magmático. Entretanto, essa situação fa- teriormente, processos intempéricos promoveram
vorece em muito o processo de concentração re- a concentração residual do anatásio, produzindo
sidual do pirocloro durante o intemperismo, uma o depósito de Ti de Catalão I. Depósitos de Ti em
vez que há uma grande redução de massa e volu- outros complexos da APIP, como Tapira e Salitre
me no carbonatito hospedeiro, por alteração dos também são produto de concentração residual
carbonatos e lixiviação de seus constituintes so- durante o intemperismo, mas nesses casos o ana-
lúveis. tásio é dominantemente de origem supergênica,
e não metassomática. Os diferenciados finais da
DISCUSSÃO E CONCLUSÕES série bebedourítica em Catalão I são cumulados
mais ricos em apatita e calciocarbonatitos. Ambos
No universo das rochas alcalinas parece claro litotipos podem gerar concentrações residuais de
que aquelas em complexo carbonatíticos oferecem apatita durante o intemperismo, e contribuir de
melhores condições de geração de jazidas multi- maneira marginal para a formação dos depósitos
commodities de fosfato, terras raras, nióbio, titâ- de fosfato do complexo.
nio, barita e vermiculita. No caso de ETR, Titânio e O conjugado carbonatítico gerado no primeiro
Nióbio os complexos alcalino-carbonatíticos deri- evento de imiscibilidade de líquidos foi submetido
vados de magmas ultramáficos ultrapotássicos são a um segundo evento de imiscibilidade, produzin-
os que oferecem maior potencial para formação do um líquido foscorítico e um líquido carbonatítico
de jazidas de grande porte. rico em magnésio. O líquido foscorítico cristalizou
A formação de depósitos de ETR, Ti e Nb é fre- os foscoritos ricos em olivina que constituem o
quentemente controlada por processos magmáti- principal responsável pela mineralização primária
cos, metassomáticos (carbo-hidrotermais) e intem- de fosfato em Catalão I (Grasso et al., 2006, Pal-
péricos. Nos complexos da APIP, os três tipos de mieri et al., 2006, Ribeiro, 2008). O líquido carbo-

584
Carlos Cordeiro Ribeiro et al.

Figura 15 - Esquema de evolução do Complexo de Catalão I, suas séries petrogenéticas e mineralizações. Os


símbolos coloridos representam as séries bebedourítica (verde), foscorítica (laranja) e carbonatítica. Linhas
tracejadas ressaltam as rochas mais intensamente afetadas por alteração carbo-hidrotermal. Modificado de
Ribeiro (2008).

natítico evoluiu por meio de um novo evento de parte da mineralização primária de ETR.
imiscibilidade, produzindo um líquido fosfático res- Elementos de alto potencial iônico (HFSE), como
ponsável pela formação dos nelsonitos ricos em Ti, Zr, Hf, Nb e Ta, são bastante sensíveis aos pro-
pirocloro, que constituem a mineralização primá- cessos de imisicibilidade de líquidos. Em sistemas
ria de nióbio, e um magma carbonatítico rico em de imiscibilidade silicato-carbonatito, estes ele-
magnésio, ferro e terras raras, que resultou em mentos mostram preferência pelo magma silicáti-

585
Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras: Províncias alcalino-carbonatíticas

co, o que explica a extensa cristalização de pero- momento oportuno, por queda de pressão e/ou
vskita nos bebedouritos. Entretanto, os demais mudanças de pH, ocorreu a deposição de apatita
HFSE não formam minerais próprios em quantida- e depois monazita carbo-hidrotermais, formando
des apreciáveis em magmas ultramáficos, tenden- depósitos de ETR ou contribuindo para a aumento
do a ocorrer em minerais acessórios e/ou ser in- do teor de mineralizações pre-existentes.
corporados em pequenas quantidades como so- Finalmente, o intemperismo resultou na concen-
lução sólida em perovskita e outros minerais de tração residual da monazita, elevando os teores
Ti. O conjugado carbonatítico, entretanto, é muito de ETR para valores econômicos e formando um
pobre em Ti e não cristaliza minerais precoces que dos principais depósitos mundiais de ETR em car-
possam sequestrar outros HFSE, como o Nb, em bonatitos.
solução sólida. Neste caso o Nb permanece no Em resumo, os controles metalogenéticos ex-
magma e é progressivamente enriquecido com a traídos do estudo dos depósitos de Terras Raras,
diferenciação do carbonatito. Se ocorrer imiscibili- Titânio e Nióbio estão fortemente relacionados a
dade entre líquidos carbonatítico e fosfático sub- processos magmáticos, carbo-hidrotermais e in-
sequente (Fig. 15), o Nb será concentrado no lí- tempéricos, cada um com um papel relevante para
quido fosfático. Este processo foi responsável pela a concentração dos respectivos minerais de miné-
geração dos nelsonitos ricos em pirocloro que rio (monazita, anatásio e pirocloro). Os processos
constituem a mineralização primária de Nb de Ca- de diferenciação magmática, como cristalização
talão I. O intemperismo dessas rochas transfor- fracionada e imiscibilidade de líquidos, às vezes
mou o Ca-pirocloro original em Ba-pirocloro e con- atuando de maneira recorrente, foram fundamen-
centrou este mineral de maneira residual, contri- tais para a formação das mineralizações primári-
buindo para o aumento do teor do depósito. as de Nb em nelsonitos e de Ti em perovskita-be-
No caso do depósito de ETR de Catalão I, pro- bedouritos. A associação entre processos magmá-
cessos magmáticos e carbo-hidrotermais concor- ticos e carbo-hidrotermais foi responsável pelas
reram para a formação da mineralização primária. concentrações primárias de ETR em monazita, na
No estágio magmático, os sucessivos eventos de jazida de Catalão I. Em todos os casos, o intem-
imiscibilidade de líquidos atuaram no sentido de perismo atuou como um importante fator de con-
concentrar as terras raras nos conjugados carbo- centração residual dos minerais relevantes, como
natíticos. A evolução destes por cristalização fra- pirocloro, anatásio e monazita.
cionada encarregou-se de enriquecer substanci-
almente as fases residuais nestes elementos, o REFERÊNCIAS
que, por si só, pode acarretar na formação de ja-
zidas primárias de ETR. Agashev A.M., Pokhilenko N.P., Takazawa E., McDonald
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