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Análise Sit. Norte 1
Análise Sit. Norte 1
Plano de Desenvolvimento
Sustentável do Norte
do Estado do Rio de Janeiro
Setembro 2010
Capa 1 espiral_Layout 1 30/08/10 11:29 Page 3
Projeto:
Plano de Desenvolvimento
Sustentável do Norte e Noroeste do
Estado do Rio de Janeiro
Os vultosos investimentos que estão sendo e serão realizados na Região Norte Fluminense
associados à Bacia de Campos constituem um forte elemento indutor do seu desenvolvi-
mento, se adequadamente geridos segundo os preceitos da sustentabilidade econômica
social e ambiental. Neste sentido, a elaboração de um plano de desenvolvimento sustentá-
vel, de longo prazo, certamente trará, depois de concluído, um diferencial estratégico com-
petitivo para os gestores públicos, empreendedores privados e do terceiro setor e, igualmen-
te, para toda a sociedade que vive nessa Região e na Noroeste, sua vizinha integrada.
onde estamos em relação ao restante da sociedade? e, onde queremos chegar numa visão
de futuro, dos próximos 25 anos?
Como produto, ao final de sua realização, estará disponível uma carteira de projetos estrutu-
rantes e articulados de curto, médio e longo prazos, capazes de induzir e promover o pro-
cesso de desenvolvimento regional. Essa carteira será incorporada ao Sistema de informa-
ção de Gestão Estratégica do Estado do Rio de Janeiro, SIGE- RIO, onde tornar-se-á aces-
sível, via Internet, para os interessados em sua implementação,
Edição Final
A Etapa 1, denominada Análise Situacional, foi realizada em quatro meses e teve como pro-
dutos, os seguintes relatórios:
Primeiro Momento
Segundo Momento
• os resultados escritos pelos grupos, nessas oficinas, foram considerados como contri-
buições passando a constar do conteúdo dos relatórios;
Finalmente, mas da maior importância, cumpre lembrar que os relatórios deste Plano rece-
beram, desde sua divulgação inicial, inúmeras sugestões, comentários e ajustes, que foram
devidamente considerados em uma revisão completa de todo o material produzido, que foi ,
por conseguinte, integralmente reeditado, nesta sua versão final.
Coordenação Geral
Setembro de 2010
1ª Parte
1. História .............................................................................................................. 13
2. Etnografia .......................................................................................................... 65
2ª Parte
in Emergência, 2001.
Steven Johnson
História
Capítulo 1
Autores:
Ailton Mota de Carvalho
Elisiana Alves
1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 13
2. O CENÁRIO........................................................................................................... 13
3. COMO TUDO COMEÇOU ..................................................................................... 15
4. A CANA-DE-AÇUCAR NO NORTE FLUMINENSE ................................................ 18
5. AS PRIMEIRAS VILAS........................................................................................... 21
6. O MAIS NOVO CAPÍTULO: A EXPLORAÇÃO DE PETRÓLEO............................. 23
7. REFERÊNCIAS...................................................................................................... 24
ANEXO .................................................................................................................. 26
ANEXO I – BREVE HISTÓRICO DOS MUNICÍPIOS ............................................. 26
FOTOS
TABELAS
1
Jean-Victor Frond (Montfaucon, França 1821 - Varredes, França 1881), fotógrafo e pintor francês, possuiu um
estúdio no Rio de Janeiro entre os anos de 1858 e 1862. Foi o primeiro fotógrafo a desenvolver projeto de mape-
ar e documentar o Brasil através da fotografia, com este objetivo manteve aberto um estúdio na cidade do Rio de
Janeiro entre os anos de 1858 e 1862. De seu projeto resultou o primeiro livro de fotografia (sob temas brasilei-
ros) do Brasil: Brésil Pittoresque (Brazil pittoresco)
Fonte: Disponível em <http://pt.wikipedia.org/wiki/Victor_Frond > Acesso em 24/08/2010
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
“A história é um filme; a geografia é um quadro deste filme. A sucessão dos quadros
geográficos gera a evolução histórica”.
2. O CENÁRIO
De uma das regiões mais desenvolvidas e inovadoras do Rio de Janeiro, a Região Norte
Fluminense foi sofrendo um processo histórico de esvaziamento econômico e de perda de
influência política que a coloca hoje no outro extremo da escala estadual.
Sua posição geográfica é periférica em relação à Região Metropolitana e limítrofe com regi-
ões vizinhas pouco desenvolvidas ou que sofreram processo de recessão econômica, como
o sul do Espírito Santo e a Zona da Mata Mineira.
A base econômica regional foi fundada durante séculos no cultivo e na industrialização da
cana-de-açúcar, complementada por algumas outras atividades agrícolas como a economia
cafeeira e a pecuária extensiva.
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 13
A grande lucratividade do setor canavieiro acabou por desestimular a produção agrícola de
subsistência e reduziu a tal ponto a criação de gado, que a Região passou a importar cere-
ais e gado a partir da segunda metade do século XIX.
Além da indústria açucareira, a Região se afirmava por outras atividades e eventos que a
colocaram como a mais inovadora e dinâmica do Estado. Em 1866, por exemplo, era funda-
da a fábrica de tecidos em Campos dos Goytacazes; a cerâmica já aparecia como uma das
vocações regionais; em São João da Barra se fabricavam embarcações; em 1883, Campos
passa a ter energia elétrica - o primeiro serviço de iluminação pública do Brasil e da América
Latina e em 1863 começou a ser construído um canal fluvial ligando Campos a Macaé.
Todavia, a partir dos fins do século XIX, fatores de ordem econômica e política desestrutu-
ram este sistema, e a Região começa a perder competitividade frente a outros estados, no-
tadamente São Paulo. Quatro fatores explicativos podem ser citados para o longo período
de estagnação que permeou a Região por quase todo o século XX:
i) a abolição da escravidão;
ii) os desmembramentos territoriais do município de Campos;
iii) o fim do ciclo do café e a crise da economia do Rio de Janeiro; e
iv) a perda de competitividade da agroindústria açucareira do Norte Fluminense.
Além disto, alguns outros fatores de ordem econômica contribuíram para obstaculizar o de-
senvolvimento regional, como a deficiência de energia elétrica; a elevada concentração de
renda (restrição do consumo); baixos índices de poupança agregada; baixa qualificação da
mão-de-obra e capacidade empresarial limitada.
A tradicional elite ruralista, que sempre comandou a economia e a política local, não se a-
daptou aos novos tempos e, vivendo de glórias passadas, sempre resistiu às inovações dos
métodos produtivos e das relações de trabalho.
De maneira antecipada, pode-se afirmar que estes fatores estão vigentes até hoje e que
constituem uma das principais causas para a decadência econômica regional.
Nem mesmo programas governamentais, como o Proálcool na segunda metade da década
de 1970, tiveram efeito duradouro. A década de 1980 foi crítica para a economia brasileira
como um todo e para a açucareira no Norte Fluminense especialmente, com o fechamento
de inúmeras usinas, desemprego em massa e precarização das relações trabalhistas.
A falta de diversificação das atividades econômicas e a elevada dependência da Região
com relação ao setor sucroalcooleiro ao longo do século XX levou o Norte Fluminense a
uma crise econômica sem precedentes, com graves conseqüências sociais.
A partir de 1970, em decorrência dos investimentos realizados pela Petrobrás na prospec-
ção e na exploração, a Bacia de Campos se transformou na maior produtora de petróleo do
Brasil, com cerca de 85% da produção total do país.
É óbvio que um advento de tal magnitude tem um poder enorme de gerar externalidades
positivas e negativas na Região. Sabe-se que, de uma perspectiva teórica, a chamada in-
dústria do petróleo contém um forte poder de promover a formação de uma cadeia produti-
va, com vínculos para frente e para trás. Em outros casos, ela pode se transformar num me-
ro “enclave regional”, sem os esperados efeitos de difusão.
No caso do Norte Fluminense, a percepção geral, aliada a alguns estudos empíricos, apon-
tam na direção de que os efeitos positivos ainda são muito pequenos, considerando-se o
vulto dos empreendimentos realizados e dos impostos pagos sob a forma de “royalties”. Só
para exemplificar, Campos dos Goytacazes e Macaé são os maiores beneficiários com a
receita de “royalties” no Brasil.
O índio Goitacaz é o senhor absoluto das terras no tempo da Capitania de São Tho-
mé, depois do Paraíba do Sul. Segundo relato de Osório Peixoto em seu livro "500
anos dos Campos dos Goytacazes", goitacaz quer dizer corredor, nadador ou caran-
guejo, grande comedor de gentes. Possuía pele mais clara, era mais alto e robusto
que os demais índios do litoral. Reunia ainda uma "força extraordinária e sabia mane-
jar o arco com destreza".
Gostava de dançar e cantar em ocasiões festivas, usando o jenipapo para a pintura
do corpo e penas de aves com as quais adornava seus objetos. Viviam nus, raspando
o cabelo no alto da cabeça, deixando-o comprido, formando uma longa cabeleira.
Sua alimentação constava de frutos, raízes, mel e, principalmente, de caça e pesca.
Eram supersticiosos quanto à água para beber, não bebendo-a de rios e lagoas, mas
sim das cacimbas.
Mantinham comércio com os colonizadores europeus, mas com uma peculiaridade:
não se comunicavam com seus colonizadores! Deixavam seus produtos em lugar
mais elevado e limpo ficando à distância, observando as trocas. Davam mel, cera,
pescado, caça e frutos em troca de enxadas, foices, aguardente e miçangas.
Assim como os demais povos indígenas, os Goitacazes guerreavam entre si e seus
vizinhos. "Quando não se julgam fortes fogem com ligeireza comparável a dos vea-
dos”.
Além do arco e da flecha faziam com perfeição trabalhos com penas de aves, multi-
coloridas, usando-as no corpo e nas armas e também em ocasiões festivas. Traba-
lhavam o barro, enterrando seus mortos em igaçabas. Faziam machados de pedra,
jangadas, trabalhavam com bambu e trançavam redes de fibra e cordas.
Os Goitacazes sofreram um massacre histórico. Após esse episódio praticamente
desapareceram. Calcula-se que eram cerca de 12 mil.
Os Goitacazes (ou Goitacás) foram homenageados por José de Alencar em seu ro-
mance 'O Guarani'. Nesta obra, o protagonista, Peri, é um índio goitacá que realiza
grandes proezas, lutando contra os aimorés, o homem branco e até contra os ele-
mentos naturais, tudo para agradar e salvar sua predileta, Cecília, filha de um nobre
português.
Fonte: Wikipedia
Alguns anos mais tarde, em 1627, sete militares solicitaram ao governador do Rio de
Janeiro, Martim Correia de Sá, que estas terras devolutas lhes fossem dadas como
recompensa pelos serviços prestados nas lutas contra os invasores holandeses e contra os
piratas ingleses e franceses que infestavam o litoral Norte Fluminense. Em 19 de agosto de
1627, Martim Correia de Sá concedeu-lhes, em sesmaria, as terras reclamadas que iam
desde o rio Macaé, correndo a costa, até o rio Iguaçu, ao Norte do Cabo de São Tomé, e
para o sertão até o cume das serras". Assim, pelo litoral, as terras iam de Macaé até quase
a foz do rio Paraíba do Sul e para o interior até as serras que formavam o vale do rio
Paraíba do Sul, na divisa com Minas Gerais. A intenção do governador Martim Correia de
Sá era povoar a Região, abandonada, pois o comércio do pau-brasil havia se esgotado.
Os famosos “Sete Capitães”, como ficaram conhecidos eram: Miguel Aires Maldonado,
Miguel da Silva Riscado, Antônio Pinto Pereira, João de Castilho Pinto, Gonçalo Correia de
Sá, Manuel Correia e Duarte Correia.
No final do ano de 1632, os Sete Capitães reuniram-se em Cabo Frio e no dia 2 de
dezembro de 1632 partiram até a aldeia de índios pacificados, localizada na foz do rio
Macaé.
Nome completo: Benta Pereira de Souza. Heroína local. Uma senhora que viveu no
início do século XVIII. Nasceu em 1675 e morreu aos 75 anos, em 10 de dezembro de
1760. Filha do Padre Domingos Pereira Cerveira com Isabel de Souza. Casou-se com
Pedro Manhães e com ele teve seis filhos que criou, depois de enviuvar. Era uma mu-
lher de muitos bens e sozinha não só gerenciou a fortuna deixada pelo marido, como
educou os filhos.
Aos 72 anos de idade, Benta Pereira montou num cavalo e armada, liderou uma revol-
ta contra o 3º Visconde de Asseca, Diogo Correa de Sá, donatário da capitania da
Paraíba do Sul. Ela lutava não só pela liberdade de suas terras, cujas delimitações
haviam sido infringidas pelos viscondes, como contra os pesados impostos requeri-
dos pelo donatário. Criadora de gado bovino, numa terra que se transformava em um
grande canavial com a exploração do açúcar, Benta Pereira, ladeada por sua filha
Mariana de Souza Barreto, lutou sem descanso até conseguir a expulsão dos Asse-
cas da capitania. Lutou pelas terras que havia herdado de seus antepassados que,
por sua vez, as receberam, em 1627, das mãos do governador Martim Correa de Sá,
em reconhecimento pelo corajoso desempenho destes homens nas lutas contra os
guerreiros Goitacás.
Fonte: Wikipedia
Fonte: Wikipedia
Foto 2 – Região Norte Fluminense, Vista do Antigo Porto de São João da Barra, à Margem do
Rio Paraíba – abril de 2002
O município de Macaé, com o seu porto, foi durante décadas, rota natural para o escoamen-
to da produção do Norte Fluminense, em especial a produção de carne bovina.
A necessidade de desenvolvimento de transportes mais eficientes ligando Campos a Macaé
era premente.
Em 1863, começou o serviço de escavação de um canal cujo objetivo era a ligação, pela via
fluvial, de Campos a Macaé. Em 19 de fevereiro de 1872, começou a navegação do canal,
partindo para Macaé, no vapor chamado Visconde. O objetivo era facilitar o escoamento da
produção, inclusive do café produzido na Região, já considerado o principal produto de ex-
portação do país.
Fonte: Wikipedia
O século XIX marca o período de maior prosperidade da indústria canavieira campista, com
a paulatina substituição dos engenhos pelas usinas, cujos donos formavam uma oligarquia
com grande poder econômico e político: os “barões e baronesas do açúcar, senhores das
terras e dos escravos”. Consta que a primeira usina açucareira instalada no Brasil foi a Usi-
na do Limão, em Campos, no ano de 1879.
No final do século XVIII, a Região Norte Fluminense chegou a ter mais engenhos que a Re-
gião Nordeste do Brasil. Em 1785, eram 236 engenhos de açúcar, como mostram os dados
da Tabela seguinte.
Tabela 1 - Região Norte Fluminense, Número de Engenhos e Produção Sucroalcooleira em
Campos dos Goytacazes – 1785
Descrição Total
Engenhos 236
Engenhocas 9
Arrobas de açúcar 128.580
Medidas de aguardente 55.905
Fonte: Couto Reys, 1997
Na metade do século XX, a partir da década de 1950, começa o declínio da produção su-
croalcooleira campista, com uma significativa perda de expressividade da Região no âmbito
macrorregional e nacional, vis-à-vis ao crescimento da produção paulista, caracterizada pelo
aumento da produtividade e modernização de instalações.
Na década de 1970, a produção de açúcar e álcool tem um novo alento devido aos estímu-
los à indústria sucroalcooleira oferecidos pelo Governo Federal por intermédio do programa
Proalcool. No entanto esta recuperação durou pouco tempo e a partir de 1980 o setor entra
em definitivo colapso. Para exemplificar, o número de usinas de açúcar e álcool diminuiu de
32 para 12, entre 1930 e 2000.
5. AS PRIMEIRAS VILAS
Para tornar efetivo o processo de ocupação e controle territorial, os agraciados com as ter-
ras da coroa tinham a obrigação de criar as vilas e cidades, de preferência junto ao litoral ou
dos rios, para servirem de pontos de escoamento dos produtos agrícolas.
As localidades, surgidas espontaneamente, eram minoria, ou seja, regras gerais eram cria-
das por decisão dos donatários ou dos senhores de terras. Eram, portanto e ao mesmo
tempo, centros comerciais e centros administrativos. Algumas localidades eram criadas para
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 21
servirem de postos de vigilância, outras, surgiam em torno de alguma capela em associação
com a igreja católica. Neste sentido a principal área de interesse da Região foi o local da
antiga vila de São Salvador dos Campos, atual cidade de Campos dos Goytacazes, a pri-
meira vila a ser criada em toda a Região (1673).
Posteriormente foram fundadas as vilas de São João da Barra, em 1676, e mais tarde a de
Macaé, em 1814. São João da Barra foi instalada para ser o principal porto da região e seus
estaleiros chegaram a fabricar e exportar navios para outras regiões. Já Macaé, antiga al-
deia indígena, cresceu com a atividade portuária, servindo de conexão entre a Região Cam-
pista e a cidade do Rio de Janeiro.
De acordo com Reis, 1997, (apud Faria 2006), os primórdios da colonização do Norte Flumi-
nense estão ligados, historicamente, ao processo de urbanização de Campos dos Goytaca-
zes, “a metrópole mais rica e populosa das submetidas ao Rio de Janeiro”.
Ela exerce o papel de ponto estratégico para a ocupação e organização do espaço regional,
tanto para o Norte da Província do Rio como para as aglomerações de Minas Gerais que
utilizavam o seu porto, na foz do rio Paraíba do Sul, ou a estrada de Campos a Niterói, para
transportar as mercadorias até a cidade do Rio de Janeiro.
Os quatro municípios mais antigos - Campos dos Goytacazes, São João da Barra, Macaé e
São Fidelis foram sendo desmembrados, dando origem aos outros municípios que formam o
Norte e Noroeste Fluminense, conforme Tabela seguinte.
Tabela 2 - Criação dos Municípios por Desmembramento
Município Ano de Implantação Região
Campos dos Goytacazes 1673 Norte
São João da Barra 1676 Norte
Macaé 1814 Norte
São Fidelis 1850 Norte
Itaperuna 1885 Noroeste
Santo Antonio de Pádua 1889 Noroeste
Itaocara 1890 Noroeste
Cambuci 1891 Noroeste
Miracema 1935 Noroeste
Bom Jesus de Itabapoana 1938 Noroeste
Natividade de Carangola 1947 Noroeste
Porciúncula 1947 Noroeste
Conceição de Macabu 1953 Norte
Laje do Muriaé 1963 Noroeste
Italva 1986 Noroeste
Cardoso Moreira 1989 Norte
Quissamã 1989 Norte
Aperibé 1993 Noroeste
Varre Sai 1993 Noroeste
São José de Ubá 1995 Noroeste
Carapebus 1997 Norte
São Francisco do Itabapoana 1997 Norte
Fonte: Faria (2006)
Neste resumo histórico desta tradicional Região Norte do Rio de Janeiro, cujo capítulo mais
significativo é, sem dúvida alguma, a era do açúcar, uma vez que desde o início de sua ocu-
pação, por volta de 1538, até os dias atuais, vem moldando a economia e a cultura local,
determinando a sua estrutura social e a sua vida política.
BARBOSA, Pedro Paulo Biazzo de Castro. A Constituição de uma periferia em face da mo-
dernização: a produção de açúcar e álcool no Brasil e as transformações na região Norte
Fluminense. In: MARAFON, Gláucio José; RIBEIRO, Miguel Ângelo (Org.). Revisitando
o território fluminense. Rio de Janeiro: NEGEF, 2003, p. 111-148.
CRUZ, José Luis Vianna. Projetos nacionais, elites locais e regionalismo: desenvolvimento e
dinâmica territorial no Norte Fluminense. 331 f. Tese (Doutorado em Planejamento Urbano e
Regional)-Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional, Universidade Federal do
Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2003.
LAMEGO, Alberto Ribeiro. O Homem e o brejo. 2.ed. Rio de Janeiro: Lidador, 1974.
PARANHOS, Paulo - O Açucar no norte fluminense - retirado de
www.historica.arquivoestado.sp.gov.br, em 07/12/2009.
REYS, Manoel Martins do Couto. Manuscritos de Manoel Martins do Couto Reys, 1785. Rio
de Janeiro: Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro, 1997.
Sites Consultados:
www.pt.wikipedia.org
www.sjb.rj.gov.br
www.governo.rj.gov.br
www.historica.arquivoestado.sp.gov.br
Aperibé
O topônimo Aperibé vem de Ape Ribe, que em tupi-guarani significa Cachimbo Aceso.
Para ser contada, a história de Aperibé deve ser iniciada ainda ao século XIX, quando era
apenas uma região de propriedades rurais, longe das cidades e denominada Santo Antônio
do Retiro. Os primeiros habitantes, índios Puris, foram substituídos por agricultores, que se
estabeleceram na localidade de "Pito Aceso". Sentindo que a produção das lavouras crescia
paralelamente com a densidade de sua população e não podendo mais suportar o pesado
ônus que lhes acarretava os arcaicos processos de transportes, o carro de bois e a tropa de
burros, únicos que se lhes colocavam à disposição, os fazendeiros desta região, para levar
o produto ao maior e mais próximo empório comercial, que era, naquela época, a cidade de
São Fidélis, associaram-se e deram início à realização do grande sonho, que era aproximá-
los por meio de um ramal férreo.
Mapa 1 – Região Noroeste Fluminense, Aperibé, Localização
Com o decorrer dos anos, forte corrente imigratória para lá se dirigiu, constituída quase to-
da de conterrâneos dos primitivos povoadores. É ainda a tradição que nos dá notícia da e-
Cambuci
O município de Cambuci teve as suas terras desbravadas no princípio do século XIX,
aproximadamente no ano de 1810.
Seu território municipal originou-se à partir da concessão de uma sesmaria doada à família
Almeida Pereira, que abrangia toda a zona conhecida ainda hoje por seu nome primitivo de
São Lourenço, situada no atual distrito de São João do Paraíso, antes conhecido como
"Paraisinho".
Outras duas localidades foram devassadas logo após a concessão da citada sesmaria, as
quais receberam as denominações de São José de Ubá e Bom Jesus do Monte Verde.
A comuna foi habitada pelos índios "Puris", originários da tribo dos Coroados, procedentes
dos estados do Espírito Santo e Minas Gerais.
A presença do elemento negro escravizado, contribuiu sobremaneira para o
desenvolvimento econômico do local, principalmente no setor agrícola.
Em 1873, foi criado o distrito de de Santo Antônio das Cachoeiras de Muriaé, em alusão às
cachoeiras, pela lei provincial nº 1937, de 6 de novembro de 1873 e deliberação estaduais
de 25 de outubro de 1890 e de 10 de agosto de 1891, bem como pelos decretos estaduais
nºs 1 de 8 de maio de 1892 e 1-A, de 3 de junho de 1892, subordinado ao município de
Campos dos Goytacazes. O nome do distrito, em 1911, passa a Cachoeiras.
Posteriormente, assume a denominação de Monção, seguida de Purus e, até 9 de outubro
de 1944, quando passa a chamar-se Italva. O distrito foi elevado a categoria de município
com a denominação de Italva, pela lei estadual nº 681, de 11 de novembro de 1983,
desmembrado de Campos.
Fontes:
http://www.panoramio.com/photo/4955813, acesso em 02/01/2010
http://www.estacoesferroviarias.com.br/efl_ramais_2/itaiva.htm, acesso em 02/01/2010
Itaocara
O topônimo deriva do tupi: "ita" (pedra) e "ocara" (pedra), onde oca é a casa, ara - lugar,
ou casa de pedra.
Devido à luta entre os índios coroados e puris, os religiosos capuchinhos que colonizavam
São Fidélis, sentiram necessidade de criar no local das divergências uma nova aldeia, que
acolhendo uma das tribos, separasse os litigantes.
Em 1809, Frei Tomás, da cidade de Castelo, chegou às terras escolhidas para a fundação
da nova Aldeia, que denominou São José de Dão Marcos, em homenagem ao referido Vi-
ce-Rei. O nome escolhido não criou raízes no pensamento dos habitantes, que preferiram
designar o local de aldeia da pedra, em referência ao penhasco que lhe ficava fronteiro, na
margem oposta do Rio Paraíba do Sul.
Fontes:
http://www.itaocararj.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=85:historia-de-
itaocara&catid=41:nossa-cidade&Itemid=56; acesso em 27/12/2009
Itaperuana
A origem do nome "Itaperuna" vem das tribos indígenas tupi-guarani, que habitavam a
região e significa "caminho da pedra preta" (ita = pedra + per = caminho + una = preta).
A região de Itaperuna foi desbravada por José de Lannes Dantas Brandão, a partir de 1829,
após a sua deserção da milícia do Exército. Ao chegar nessa região, em 1834, se
estabeleceu num lugar que foi denominado Porto Alegre. Pelos serviços de colonização
prestados à Coroa, com o advento da economia cafeeira foi perdoado, tendo sido morto por
seus escravos, em 1852.
Em 24 de novembro de 1885, por decreto de nº 2.810, eleva a freguesia de Nossa Senhora
da Natividade de Carangola (um dos primeiros nomes da cidade) à categoria de Vila de
Itaperuna, levando esse nome por ser passagem para se chegar a Pedra do Elefante,
localizada em Carangola, Estado de Minas Gerais. Em 1887, foi criada a freguesia de São
José do Avaí, nome em homenagem às Armas Brasileiras na Guerra do Paraguai. Foram
doados 15 alqueires de terra para patrimônio dessa Vila pelo sr. Jayme Porto e Senhora.
Em 10 de maio de 1889, foi feita a primeira eleição para a Câmara dos Vereadores, sendo a
vitória dos Republicanos, que tomaram posse no dia 4 de julho do mesmo ano, sendo
32 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
portanto a primeira Câmara republicana do país, em pleno regime monárquico, regime esse
que viria a ser desbancado pelo Marechal Deodoro.
Em 6 de dezembro de 1889 foi a vila de São José do Avaí transformada em município de
Itaperuna, sendo criada a sua respectiva Comarca.
Mapa 6 – Região Noroeste Fluminense, Itaperuna, Localização
A cultura cafeeira foi um grande destaque na economia da cidade por mais de quatro
décadas, tornando-a em 1927 a maior produtora nacional.
Do território original do município de Itaperuna foram desmembrados: Bom Jesus do
Itabapoana, em 1938, Natividade e Porciúncula, em 1947, e Laje do Muriaé, em 1962,
ficando Itaperuna com seu atual contorno.
Fontes:
http://blogdamegasena.wordpress.com/2008/03/22/cidade-da-sorte-itaperuna-rj/; acesso em:
02/01/2010
http://www.brasilchannel.com.br/municipios/mostrar_municipio.asp?nome=Itaperuna&uf=RJ
&tipo=informacoes; acesso em: 02/01/2010
Laje do Muriaé
Sobre a origem do nome, Laje do Muriaé, existem duas versões:
• "Era no tempo ainda dos bandeirantes. A povoação vinha recebendo aos poucos os
seus novos habitantes, no rio Muriaé, na altura onde se acha hoje o casario da vila, exis-
te uma laje de pedra no rio, da qual se avizinhavam os primeiros povoadores do lugar,
servindo de ponto de referência aos encontros. Daí era frequente eles disseram: "Vamos
encontrar na laje"; "vamos até a laje"; "fulano está na laje". O lugar ia crescendo e as re-
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 33
ferências a "laje" iam sendo repetidas. Por isso, o nome da atual vila de Laje do Muriaé
teve origem na laje de pedra do rio.
• Afirma-se que índios puris (primitivos habitantes) pertenciam à raça Lagide (Laje), e
que eram oriundos dos GÊS, cujo grupo pertencia aos Goitacases e aos Coroados. As-
sim sendo, o nome de Laje veio da classificação dos puris (Lágides) e não, de uma pe-
dra (laje), existente no rio.
Fundada em 1832 pelos três Josés: José Ferreira Cezar, José Bastos Pinto e José Garcia
Pereira – parentes de Constantino Pinto, protetor dos índios Puris, de São Paulo do Muria-
é. Partiram de Muriaé, rio abaixo, em busca de ouro e pesca, e encontraram uma laje que
quase estrangulava o rio.
Pararam nessa laje, a fim de prepararem a primeira refeição do dia. Seguiram, depois a-
baixo, para o local em que José Ferreira Cezar pretendia fundar a primeira fazenda, “O
Angola”. Em chegando ao sítio indicado e ao disporem os trens da cozinha, em condição
de efetuarem a refeição segunda do dia, deram falta de um determinado utensílio, procura-
ram que procuraram, até que alguém se lembrou que determinada peça tinha ficado na laje
(...) e esse acidente topográfico passou a dar o nome a toda região.
Algum tempo depois, José Ferreira Cezar abriu mão das terras do Angola, partindo para as
nascentes do Ribeirão do Campo, quando achou as barras de cinco córregos, local esse
ideal para a fundação da sua fazenda, que passou a se chamar “Fazenda das 5 Barras”.
Por seu turno, José Garcia Pereira, fundava a “Fazenda do Tanque”, a qual recebia tal no-
me por ter ele feito barrar o Ribeirão da Serra, dando origem ao açude que recebeu aquele
nome: “Tanque”.
Em 1840, teve origem o estabelecimento do ciclo do café. Isto é, o café invadiu o Norte-
Fluminense, descendo de Minas e entrando pelo Poço Fundo.
São estas as palavras do Visconde de Taunay: “Por 1840, já o café se havia até mesmo
em municípios da Zona da Mata, que ficam mais para o interior”. A Laje permanecia, então,
nesta Zona, isto é, a Zona da Mata descia o Rio Muriaé até a Serra de São Domingos, a
qual servia de limite “entre as terras altas de Minas e as terras baixas da Baixada Campis-
ta”.
Pertencendo a Baixada Campista, Laje foi politicamente anexada a São Fidelis de Sigma-
ringa, à qual pertenceu até 1872, quando passou a Santo Antonio de Pádua. Desligou-se
de Pádua em 1887, para filiar-se a São José de Avaí, que passou a ser, então, Itaperuna.
Fontes:
http://www.pmlajedomuriae.com.br/index.php?exibir=secoes&ID=52 , acesso em:
28/12/2009
http://www.brasilchannel.com.br/municipios/mostrar_municipio.asp?nome=LajedoMuriaé&u
f=RJ&tipo =turismo; acesso em 28/12/2009
Miracema
Segundo a tradição, por volta de 1846, a referida senhora mandou erigir, no local onde
atualmente existe a praça que tem o seu nome, uma capela dedicada ao culto de Santo
Antônio.
Era intenção de D. Ermelinda transformar suas propriedades em bens de uma paróquia, que
pretendia entregar, mais tarde, a um de seus filhos, de nome Manoel, que concluíra seus
estudos no seminário de Mariana, Minas Gerais. Prosseguindo com seu intento, a referida
senhora doou 25 alqueires de terra, dos 2.000 que possuía, para a formação da futura
freguesia de Santo Antônio, posteriormente, Santo Antônio dos Brotos.
Deve-se a mudança de nome ao fato de um dos sólidos esteios da capela construída por D.
Ermelinda ter brotado, fato que a crendice popular atribuiu a um milagre, acrescentando ao
nome do padroeiro Santo Antônio, a designação de “dos Brotos”.
Natividade
Sua história acha-se vinculada à de Itaperuna, com origem na penetração do desbravador
José Lanes Brandão na área, por volta de 1831, que desencadeou o fluxo migratório para a
região. Em decorrência, em 1853, foi criada a freguesia de Nossa Senhora de Natividade do
Carangola e, a partir do final do século XIX, com o advento da ferrovia, sua colonização se
processou de forma rápida e contínua. A freguesia chegou a tornar-se vila e sede do muni-
cípio de Itaperuna, em 1885. Logo depois, contudo, perde sua hegemonia, passando por
período de modificações administrativas. Em 1947, foi promulgado o desmembramento de
Itaperuna, dos distritos de Natividade do Carangola, Varre-Sai e Ourânia, a fim de constituí-
rem o novo município de Natividade do Carangola. Enquanto essas modificações se proces-
savam, as lavouras existentes na região floresciam, permitindo aos seus proprietários usu-
36 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
fruírem lucros fabulosos em grande parte devidos ao trabalho escravo. Com o advento da lei
abolicionista, em 1888, esta situação de prosperidade sofreu um sério abalo de que, durante
longo tempo, se ressentiu a economia da localidade.
Mais recentemente, registra-se a alteração do nome para Natividade e o desmembramento
do distrito de Varre-Sai.
Porciúncula
O topônimo deriva de homenagem feita ao então presidente da província fluminense - Dr.
José Thomas de Porciúncula.
O Vale do Carangola foi habitado inicialmente pelos índios puris. Depois de grandes enfren-
tamentos durante os séculos XVI e XVII com os tamoios e portugueses, membros da tribo
começaram a migrar em levas que penetraram o Noroeste Fluminense a procura de novas
áreas de habitação nas suas densas florestas. Bandeirantes, entretanto, já percorriam os
rios Carangola e Muriaé no início do século XIX, rios cujas nascentes são localizadas em
Minas Gerais e que atravessam a Região Noroeste do estado do Rio de Janeiro, banhando
suas principais cidades. Tem-se como certo que o seu desbravamento verificou-se entre os
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 37
anos de 1821 e 1831, cabendo o mérito de tal realização a José Lannes (ou de Lana) Dan-
tas Brandão, que alguns historiadores dizem ter sido um sargento da Milícia de D. João I e
outros consideram como um desertor das fileiras de uma tropa policial de Ponte Nova, Mi-
nas Gerais. Segundo a primeira das versões, procedente de Minas Gerais, seu torrão natal,
José Lannes, por volta de 1820, teria chegado à cidade do Rio de Janeiro acompanhado de
uma tropa carregada de mercadorias originárias da fazenda que seu progenitor possuía na-
quela Província.
Rezam as crônicas que, desde menino, José Lannes manifestava vivo interesse pela carrei-
ra das armas e que chegando à Metrópole, pode concretizar seus ideais alistando-se na
Milícia de D. João VI, por atos de bravura, ascendeu, rapidamente, ao posto de sargento.
Apesar de tão rápido êxito, as ambições militares do jovem sargento estavam fadadas ao
insucesso. Proveniente de Portugal chegara, logo após a promoção na Milícia, um alferes
que atendia pelo nome de Manoel de Souza, designado, também, para servir na tropa a que
José Lannes pertencia. Certo dia, estando essa tropa aquartelada em Niterói, verificou-se
entre o alferes português e o sargento brasileiro um incidente cujas consequências vieram
ligar o nome de Lannes Brandão à história de três dos atuais municípios fluminenses. In-
cumbido pelo oficial lusitano de levar cartas e presentes para sua namorada, José Lannes
recusou, revoltado, essa incumbência; o que provocou no oficial um arrebatamento colérico.
Erguendo o rebenque que trazia nas mãos tentou o oficial fustigar com ele a face do sargen-
to só não conseguindo realizar seu intento, devido à destreza com que o inferior se esqui-
vou. Perdendo o controle, ferido profundamente em seu brio, José Lannes arrebatou o chi-
cote do superior e vibrou-o em plena face do oficial, que acovardado, se refugiou, no quartel
da corporação. Voltando a si, compreendeu José Lannes a gravidade da situação melindro-
sa em que se vira envolvido e temeroso das consequências, sem dúvida alguma funestas
que forçosamente adviriam de seu gesto, resolveu desertar imediatamente.
A cidade foi fundada pelo frade Florido di Città di Castello no dia 26 de janeiro de 1833.
Quem consolidou sua fundação foi frei Bento Giovanni Benedetta Libilla, conhecido como
"Bento de Gênova". Frei Florido desejava aldear e catequizar os índios puris, habitantes
dessa região. Os fazendeiros João Francisco Pinheiro, sua mulher, Maria Luísa, e João Luís
Marinho doaram terras para o frei realizar seu intento. Eles deram liberdade a frei Florido de
escolher o local que desejasse, e ele escolheu as terras ao lado da Cachoeira, à margem
esquerda do rio da Pomba, como era então chamado o rio Pomba, e que essas terras
mediam cerca de cento e sessenta braças, ou 352 metros lineares.
Frei Florido construiu a capela, com mão de obra indígena, sobre uma pequena elevação
que havia onde hoje é a praça Visconde Figueira. A pedido do doador, o frade consagrou a
capela a São Félix e o arraial que ali se formou, denominou-se Arraial da Cachoeira,
passando depois a Arraial de São Félix.
O documento mais antigo de que se tem notícia na história de Santo Antônio de Pádua é a
escritura, passada em cartório, da doação das terras a frei Florido citada no começo desta
seção, para fazer a divisa "de valão a valão", entre o valão que corre da rua Nilo Peçanha,
antiga rua da Chácara e outro, o valão do Botelho, que havia na saída para Miracema.
Quando estava prestes a ser lavrada a escritura, outro fazendeiro, João Luis Marinho, que
tinha suas terras limítrofes a essas, deu, a pedido de frei Florido, outra igual porção de terra,
isto é, mais 160 braças, portanto, totalizando 704 metros lineares de terra margeando o rio.
As terras eram para frei Florido fazer, ali, sua moradia e assim a divisa ficar "de valão a
valão", no local onde, em 1850, 17 anos depois, foi construído o sobrado no qual moravam
os párocos, os padres da paróquia de Santo Antônio de Pádua, denominado, mais tarde,
"Sobrado do Padre Domingos", por ter esse sacerdote morado nele durante 26 anos,
denominação essa que perdurou durante longo tempo. O prédio ainda existe, situado à rua
Dr. Ferreira da Luz, antiga rua de Cima, ex-residência da família de José Ferreira.
Diante do progresso, principalmente no setor agrícola, não foi possível conter a sua
emancipação do então município de São Fidélis, que finalmente aconteceu a 2 de janeiro de
1882, pelo decreto número 2.597. As exigências finais para a instalação da vila foram
cumpridas em 6 de setembro do mesmo ano, quando o Visconde de Silva Figueira
depositou, na tesouraria provincial, a quantia necessária para a construção da Casa da
Câmara e da Cadeia Pública.
Então, finalmente foi instalada a vila a 26 de fevereiro de 1883. Sua história é marcada pela
mistura de raças: portugueses, italianos, sírio-libaneses, espanhóis e africanos.
Fontes:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Santo_Ant%C3%B4nio_de_P%C3%A1dua_(Rio_de_Janeiro);
acesso em: 28/12/2009
http://www.brasilchannel.com.br/municipios/mostrar_municipio.asp?nome=Santo Antônio de
Pádua&uf= RJ &tipo=dados+gerais; acesso em: 28/12/2009
http://www.santoantoniodepadua.rj.gov.br/index.php; acesso em: 28/12/2009
A história conta que o local era visitado por muitos tropeiros, que costumavam pernoitar em
um velho rancho. Na porta, escrito a carvão, um aviso: Varre e Sai.
Todos que por ali passavam deveriam varrer o local antes de seguir seu caminho.
Eles não pagavam nada pela estadia, em troca conservavam o lugar limpo. Assim começou
a história de Varre-Sai.
Fontes:
http://www.varresai.rj.cnm.org.br/portal1/municipio/historia.asp?iIdMun=100133090;acesso
em 28/12/2009
http://estadodoriodejaneiro.com.br/artigo.php?ciitId=4074; acesso em 28/12/2009
http://pt.wikipedia.org/wiki/Varre-Sai; acesso em 28/12/2009
Alguns importantes fatos históricos se deram em Campos dos Goitacazes, entre eles figura
a partida dos primeiros voluntários para a Guerra do Paraguai, em 28 de janeiro do 1865,
pelo vapor "Ceres".
Outro momento importante foi o movimento do abolicionismo, que teve seu ponto alto em 17
de julho de 1881, com a fundação da Sociedade Campista Emancipadora, que propagava a
luta pela emancipação dos negros. O jornalista Luís Carlos de Lacerda e José Carlos do
Patrocínio, cognominado de o "Tigre da Abolição" foram os maiores expoentes da causa.
Porém, foi a última cidade brasileira a aderir a abolição da escravidão.
As visitas do imperador Dom Pedro II constiuem outro marco da história de Campos.
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 43
Fontes:
http://www.cide.rj.gov.br/cidinho; acesso em 20/12/2009
Inepac e Prefeitura Municipal de Campos dos Goytacazes
Carapebus
Seu nome se originou pela existência do peixe carapeba em grande quantidade na lagoa do
Município. O final “us” é o quantitativo da língua dos indígenas Goytacazes, que quer dizer
“boas” ou “bom”.
Os primeiros habitantes deste Município foram os índios Goytacazes. Sua colonização ini-
ciou-se, em 1627, quando a coroa concedeu suas terras a militares portugueses que lutaram
na expulsão dos franceses da Baía de Guanabara, os denominados Sete Capitães.
No século XVIII, a maior partes de suas terras pertenciam ao Capitão Francisco José que
se dedicava a agropecuária. No final deste século, o capitão vende parte das terras a Cae-
tano Peres que funda a Fazenda São Domingos e ergue uma Igreja consagrada a Nossa
Senhora da Conceição, formando-se então um povoado, subordinado a Macaé, que se
destacou pela agricultura canavieira com a produção açucareira movimentando a economia
local. Em 1831 foi elevado a Distrito e em 1995, a Município, desmembrando-se de Macaé.
Fonte:
http://www.carapebus.rj.gov.br/site/index.php?option=com_frontpage&Itemid=1; acesso em
2/01/2010
Em Cardoso Moreira as fazendas mais importantes eram: Outeiro, da família Peixoto, San-
tana, dos Saturnino Braga, Santa Rosa, de Paulo Viana, Pau Brasil, dos Ribeiro da Rocha,
São José, do Barão da Lagoa Dourada, Santa Helena, do Comendador Cardoso Moreira e
Cachoeiras do Muriaé, pertencente ao Comendador Antônio José Ferreira Martins. Essas
fazendas tiveram seu apogeu por volta de 1870 algumas enormes e com solares ricamente
construídos. Todos esses fazendeiros necessitavam escoar sua produção e se organizaram
para construir um ramal da estrada de ferro até Carangola, em Minas Gerais. Mais tarde a
idéia passou a ser conectar esta linha com as estações construídas pela Leopoldina Rail-
ways de onde iriam até o Porto do Rio de Janeiro.
Fontes:
http://www.ferias.tur.br/fotos/6886/cardoso-moreira-rj.html; acesso em 29/12/2009
http://www.cardosomoreira.com/index.php?option=com_content&view=frontpage&Itemid=1;
acesso em 29/12/2009
Conceição de Macabu
Há duas versões para o seu nome:
• Conceição deriva de Nossa Senhora da Conceição, cuja nomenclatura original era Nossa
Senhora da Conceição do Rio Macabu. Essa nomenclatura surgiu oficialmente em 6 de
outubro de 1855, quando Conceição de Macabu foi elevado a categoria de freguesia, com o
nome de freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Macabu.
46 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
• Macabu tem origem controversa, podendo ser a corruptela da palavra indígena
mak'a'bium, que designava uma palmeira de frutos doces, hoje conhecida como
macaubeira; ou, como é mais provável, devido a suas fontes documentais, ter sido um
apelido que os Sete Capitães deram ao rio Macabu, quando o encontraram em 7 de janeiro
de 1634.
Originalmente habitado por tribos indígenas nômades como sacurus, coroados e goitacás, o
município foi parte da Capitania de São Tomé até ser doado em sesmaria para os Sete
Capitães. Com o fracasso da sesmaria, a região foi dividida, cabendo as terras do município
aos padres jesuítas, que a partir da Freguesia de Nossa Senhora das Neves e Santa Rita.,
exploraram o interior catequizando e aldeando os índios sacurus, habitantes do vale do rio
Macabu, no vizinho vale do rio Macaé.
Mapa 17 – Região Norte Fluminense, Conceição de Macabu, Localização
Fontes:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Concei%C3%A7%C3%A3o_de_Macabu; acesso em 01 /12/2009
http://www.brasilchannel.com.br/municipios/mostrar_municipio.asp?nome=Conceição+de+M
acabu&uf=RJacesso em 01 /12/2009
Macaé
Embora as descobertas de sambaquis na Praia de Imbetiba comprovem que esta região foi
povoada por tribos selvagens milhares de anos atrás, quando os primeiros colonos chega-
ram ao local encontraram duas tribos rivais: os tamoios e os goitacás.
As terras do atual Município faziam parte da Capitania de São Tomé, indo do Rio Itabapoa-
na ao Rio Macaé e foi batizada de Baía de Salvador.
Os primeiros registros dos Jesuítas em Macaé datam de 1634. No princípio foi fundada à
margem do rio Macaé e próxima ao Morro de Sant'Anna uma fazenda agrícola, que no cor-
rer dos anos ficou sendo conhecida como Fazenda de Macaé ou Fazenda do Sant'Anna. Na
base do morro, entre este e o rio, levantaram um engenho de açúcar com todas as depen-
dências e lavouras necessárias. Além do açúcar, produziam farinha de mandioca em quan-
tidade e extraíam madeira para construções navais e edificações. No alto do morro foi cons-
truído um colégio, ao lado uma capela e um pequeno cemitério, que guarda até hoje os res-
tos mortais de alguns Jesuítas. Em 1759 a fazenda foi incorporada aos bens da coroa pelo
desembargador João Cardoso de Menezes. Nesta ocasião os Jesuítas foram expulsos do
Brasil, imposição feita pelo Marquês de Pombal. Assim nasceu Macaé, mas com a expulsão
dos padres Jesuítas os piratas tornaram a invadi-la.
Em 1813, foi elevada a Município, e em 1846 a Vila de Macaé passou a condição de Cida-
de.
Quissamã
O topônimo Quissamã foi dado à região pelos Sete Capitães, durante uma viagem de explo-
ração em 1632, quando encontraram um grupo de índios e entre eles um negro. Os capitães
estranharam a presença do negro “em lugares incautos e sem moradores”. Ao indagarem
quem era ele e como viera parar ali, respondeu-lhes que era forro e da Nação de Quissamã,
na África. O fato inusitado, pois à época era muito difícil encontrar negros em terras ainda
não exploradas pelos portugueses, acabou por denominar o município de Quissamã. Se-
gundo o Cônsul de Angola, que visitou a cidade, Quissamã é uma palavra de origem ango-
lana que significa “fruto da terra que está entre o rio e o mar” e dá nome uma cidade que fica
a 80 km de Luanda, na foz do Rio Kwanza.
Quissamã tem uma longa história que se mistura com a própria colonização do Brasil. Esta
riqueza cultural está presente até hoje no rico patrimônio preservado e na memória da popu-
lação que tem um grande orgulho do passado de luta e trabalho.
Trinta anos após foi erguida, em Quissamã, a casa de Mato de Pipa. Conservada até hoje,
tem valor histórico por ser o único exemplo das moradas dos primeiros senhores de enge-
nhos nos Campos dos Goitacazes.
Seu proprietário, Manoel Carneiro da Silva, a construiu em terras herdadas do seu pai, que
se encontravam encravadas no Morgado de Capivari, pertencente ao Brigadeiro.
Com a instalação definitiva do Capitão Manoel Carneiro da Silva em Mato de Pipa, iniciou-
se, a seu redor, a expansão da Vila de Quissamã. Desde o início da instalação dos primei-
ros colonizadores, o controle administrativo de Quissamã era exercido pelas autoridades da
Vila de São Salvador dos Campos dos Goytacazes, até que, em 1802, a Freguesia de Quis-
samã se tornou Cabeça de comarca, ficando subordinada a esta, a Freguesia de N.S. das
Neves. Esta situação perdurou até 1812, quando a Cabeça de comarca foi transferida para
a Freguesia de Macaé. Data daí a transferência da subordinação administrativa de Quissa-
mã, de Campos para Macaé.
No século XIX, havia sete engenhos de açúcar em Quissamã e com eles surgem os solares
dos viscondes e barões do açúcar. Este século foi o auge da economia local, com a cons-
trução do Canal Campos-Macaé – uma das obras de engenharia mais importantes do Impé-
rio e segundo maior canal do mundo – e de solares luxuosos como a Machadinha e a Man-
São Fidelis
As primeiras notícias sobre o início da colonização do atual município de São Fidélis datam
da segunda metade do século XVIII. Habitadas por tribos de índios Coroados e Puris, suas
terras começaram a ser desbravadas em 1780. Com a instalação da primeira aldeia, foi
construída uma capela dedicada a São Fidélis de Sigmaringa, posteriormente substituída
pela construção de uma igreja, inaugurada em 1809, a atual matriz de São Fidélis.
A economia da região baseava-se na exploração de madeira e na agricultura. Em 1812, foi
estabelecido o curado do núcleo urbano, que passou a freguesia em abril de 1850. A efetiva
instalação da vila, ocorrida em março de 1855, deu novo impulso ao desenvolvimento da
localidade que recebeu foro de cidade em 3 de dezembro de 1870.
Mapa 20 – Região Norte Fluminense, São Fidelis, Localização
Durante muitos anos o pequeno povoado pouco se modificou, sendo que já em 1644 era a
capela de São João confirmada pelo prelado D. Antônio de Maris Loureiro, época em que se
delineavam os contornos do pequeno arraial contando com algumas casas, todas de palha,
situação que vai perdurar até a elevação do povoado a categoria de Vila em 1676, segundo
o historiador Fernando José Martins. Ainda segundo Martins, a população da recém criada
Vila era de aproximadamente 30 pessoas.
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 53
Dedicando-se à pesca, a algum transporte de mercadorias, criação de gado vacum e cava-
lar e ao início da cultura de cana, foi que viveu durante o século XVII a gente dessa terra.
Por essa época, foram abertas a Rua da Boa Vista, a única que existiu durante muitos anos
e a Rua Direita, inicialmente chamada, de Rua do Caminho Grande e que servia para os
moradores da barra para virem às missas e negócios na vila.
Com o alvorecer do século XVIII, tomou importância o transporte fluvial entre a vila de Cam-
pos e vizinhança com o porto da Bahia, para onde seguia toda a produção açucareira, via
São João da Barra. Isto fez crescer a entrada e saída de embarcações no porto, dando iní-
cio a um pequeno desenvolvimento urbanístico na Vila, que passa a contar com um maior
contingente populacional.
Neste período, é intensa a vinda de portugueses, o que resulta em um maior número de
casas. Ocorre a abertura de novas ruas, como a Rua do Rosário aberta em 1774, a dos
Passos, em 1778, com o nome de Rua São Benedito, a do Sacramento em 1792 e a da
Banca, que formava a parte de frente da Vila em relação à barra. São dessa época as me-
lhorias na Igreja Matriz e na Casa da Câmara e Cadeia Pública que foram reformadas, sen-
do construídas de pedra e cal com suas respectivas cobertura de telhas confeccionadas na
única olaria existente.
Com o crescimento da vila, surgem novas devoções religiosas e dessa forma o século XVIII
vê nascerem às irmandades do Santíssimo Sacramento e Senhor dos Passos, anterior a
1730, época em que se inicia a construção de sua capela anexa à igreja matriz, e a de Nos-
sa Senhora do Rosário em 12 de outubro de 1727, também logo erguendo junto à matriz
uma capela para a mãe de Deus. Tem início da devoção de São Benedito, que teve sua
irmandade criada e posteriormente, em 1816, iniciadas as obras de sua igreja.
Era, por essa época, muito pobre a vila de São João Batista da Barra, fato que se pode veri-
ficar em documentos transcritos por Fernando J. Martins, e em 1750, o Senado da Câmara
determina, através de Decreto, que sejam providenciadas alfaias decentes para a acomoda-
ção das autoridades que visitassem a vila por ocasião das correições. Também em
08/12/1751 outro decreto determina que não mais se construam, no perímetro urbano, ca-
sas cobertas de palha.
Contudo, era ainda uma Vila muito pobre, conclusão tirada pela descrição do Capitão Ma-
noel Martins do Couto Reys que, em 1785, assim a descreve: “É muito pobre e pouco popu-
losa: está situada tão bem em uma planície sobre áreas na margem do Paraíba. Distante de
sua barra, pouco mais de “meia légua”, contém dentro de si, 111 fogos unicamente tem dos
que se manifestam nos seus lugares exteriores.” É ainda Couto Reys quem nos informa
que, neste mesmo período, havia trinta e uma casas cobertas de palha e 80 de telha, das
quais cinco são ocupadas com pequenas lojas e duas com tabernas. Dessa forma, prosse-
gue o viver da Vila que conhecerá progresso e notoriedade com início do século XIX.
O alvorecer do século XIX trouxe para o Brasil a Família Real e com ela todo um “entoura-
ge” palaciano que, uma vez acomodada no Rio de Janeiro, necessitava de gêneros diver-
sos. São João da Barra, que já vinha se dedicando a esse comércio na região com aquela
cidade, passou a suprir as necessidades da recém instalada Côrte.
Se o comércio se intensificou, melhoraram as condições financeiras dos habitantes que, por
conseguinte, também melhoraram seus costumes e hábitos.
Aos poucos a vila foi conquistando melhorias; novas irmandades foram criadas, como a de
São Benedito, São Miguel e Almas e a Ordem Terceira de Nossa Senhora da Conceição e
Boa Morte e São Pedro, além das devoções de Nossa Senhora das Dores e Nossa Senhora
da Penha. Na Barra, foram abertas escolas públicas e particulares, prédios vistosos e ele-
gantes construídos, os Jovens das principais famílias mandados para Universidades, socie-
dades musicais e dramáticas inauguradas.
Fontes:
http://www.sjb.rj.gov.br/cidade.asp; acesso em 02/01/2010
http://www.governo.rj.gov.br/municipal.asp?M=21; acesso em 02/01/2010
Etnografia
Capítulo 2
Autora:
Elisiana Alves
Colaboradora:
Simara Celestino
1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 65
2 DA FORMAÇÃO DA ETNIA ................................................................................... 67
2.1 Raízes.................................................................................................................... 67
2.2 Tipificações da Etnia Norte Fluminense ................................................................. 68
2.2.1 Muxuangos ............................................................................................................ 68
2.2.2 Mocorongos ........................................................................................................... 69
3. DOS EXTRATOS SOBRE A LINGUAGEM ............................................................ 70
3.1 Aspectos Lingüísticos da Baixada Campista .......................................................... 70
4. MANIFESTAÇÕES CULTURAIS ........................................................................... 71
4.1 Aspectos Existenciais da Cultura Negra no Norte Fluminense ............................... 72
4.2 O Fado................................................................................................................... 73
4.2.1 Origens .................................................................................................................. 74
4.2.2 Formato das Danças.............................................................................................. 74
4.2.3 Preservação e Sobrevivência................................................................................. 75
4.4 O Jongo ................................................................................................................. 76
4.4.1 A Territorialidade e o Jongo ................................................................................... 78
4.4.2 O Jongo nas Regiões Norte e Noroeste Fluminense.............................................. 81
4.4.3 O Jongo na Atualidade........................................................................................... 81
4.4.4 Nuances da nomenclatura ..................................................................................... 84
4.5 O Boi Malhadinho................................................................................................... 87
4.6 A Folia de Reis....................................................................................................... 88
4.7 A Cavalhada .......................................................................................................... 94
4.8 Boi Pintadinho / Boi Samba.................................................................................... 95
4.9 Mineiro – pau ......................................................................................................... 96
5. SABERES E FAZERES ......................................................................................... 97
5.1 Ferreiros e Seleiros................................................................................................ 97
5.2 Medicina Popular ................................................................................................... 99
5.3 Da Gastronomia ................................................................................................... 100
6. DAS MANIFESTAÇÕES RELIGIOSAS................................................................ 104
6.1 A participação da Igreja Católica no Processo de Ocupação Territorial ............... 104
6.2 As Aparições em Natividade ................................................................................ 107
6.3 As Rezadeiras...................................................................................................... 108
7. CULTURA ............................................................................................................ 111
7.1 Políticas Federais de Cultura ............................................................................... 112
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
7.2 Política Estadual de Cultura ................................................................................. 113
7.3 Políticas Municipais de Cultura ............................................................................ 114
7.3.1 Apreciação de Aspectos Estruturantes da Cultura nas Regiões.......................... 114
7.4 Corredor Memória de Campos ............................................................................. 118
8. ARTESANATO..................................................................................................... 119
8.1 Etimologia ........................................................................................................... 119
8.2 Conceito............................................................................................................... 119
8.3 Histórico do Artesanato ........................................................................................ 119
8.4 Os Números do Artesanato no Brasil ................................................................... 120
8.5 Políticas Públicas para o Artesanato .................................................................... 121
8.6 Caminhos do Açúcar............................................................................................ 124
8.6.1 O Circuito do Açúcar na “Fashion Rio” ................................................................. 132
8.7 O Artesanato no Norte e Noroeste Fluminense.................................................... 136
8.7.1 Matérias - primas ................................................................................................. 138
8.8 A Cerâmica .......................................................................................................... 141
8.9 O Artesanato na Expo MercoNoroeste................................................................ 147
9. PATRIMÔNIO CULTURAL................................................................................... 148
9.1 Conselho Estadual de Tombamento .................................................................... 149
9.2 Patrimônio Arquitetônico ...................................................................................... 149
9.3 Patrimônio Arquitetônico Religioso....................................................................... 152
10. ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO DA CULTURA, IDC ....................................... 153
11. DA CULTURA DO CRESCIMENTO..................................................................... 156
12. LAZER - CONSIDERAÇÕES ............................................................................... 159
13. REFERÊNCIAS.................................................................................................... 171
FIGURAS
Figura 1 – Partituras de Composições do Jongo.................................................................. 85
FOTOS
GRÁFICOS
Gráfico 1 - Percentual de Municípios com Atividade Artesanal por Tipo, Brasil, 2006........ 121
MAPAS
Mapa 1 - Região Sudeste, Distribuição do Caxambu, Jongo e Tambor identificados pelo
IPHAN entre 2002 e 2006.................................................................................................... 79
Mapa 2 – Rio de Janeiro, Distribuição Espacial dos Municípios com Ocorrência do............ 80
Mapa 3 – Região Norte Fluminense, Mapa Índice Caminhos do Açúcar Inventário 2004 . 125
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
Mapa 4 – Região Norte Fluminense, Mapa Índice Caminhos do Açúcar II - Inventário 2004
.......................................................................................................................................... 126
Mapa 5 – Região Norte Fluminense, Carta Imagem com as Localidades e Área Fonte de
Argilas ............................................................................................................................... 142
Mapa 6 – Região Norte Fluminense, Localização das Oficinas Caminhos de Barro .......... 144
QUADROS
Quadro 1 - Quadro Sinóptico dos Bens Inventariados Caminhos do Açúcar – Março/ 2004
.......................................................................................................................................... 127
TABELAS
Tabela 1 - Região Noroeste Fluminense, Relação de Padroeiros dos Municípios ............. 106
Tabela 2 - Região Norte Fluminense, Relação de Padroeiros dos Municípios ................... 107
Tabela 3 - Região Noroeste Fluminense, Relação de Pontos de Cultura, 2009 ................. 112
Tabela 4 - Região Noroeste Fluminense, Relação de Pontos de Cultura, 2009 ................. 113
Tabela 5 – Região Noroeste Fluminense, Extrato do Índice de Desenvolvimento Cultural –
IDC .................................................................................................................................... 116
Tabela 6 – Região Norte Fluminense, Extrato do Índice de Desenvolvimento Cultural – IDC
.......................................................................................................................................... 117
Tabela 7 - Rio de Janeiro, O Artesanato nos Caminhos do Açúcar.................................... 132
Tabela 8 - Síntese da Participação do Caminhos do Açúcar no “Fashion Rio”, 2004......... 135
Tabela 9 – Região Noroeste Fluminense, Índice de Desenvolvimento Cultural (IDC) ........ 155
Tabela 10 – Região Norte Fluminense, Índice de Desenvolvimento Cultural (IDC)............ 156
Tabela 11 – Regiões Norte e Noroeste Fluminense, Eventos Culturais, Janeiro................ 162
Tabela 12 – Regiões Norte e Noroeste Fluminense, Eventos Culturais / Fevereiro ........... 162
Tabela 13 – Regiões Norte e Noroeste Fluminense, Eventos Culturais / Março ................ 163
Tabela 14 – Regiões Norte e Noroeste Fluminense, Eventos Culturais / Abril ................... 163
Tabela 15 – Regiões Norte e Noroeste Fluminense, Eventos Culturais / Maio.................. 164
Tabela 16 – Regiões Norte e Noroeste Fluminense, Eventos Culturais / Junho................. 164
Tabela 17 – Regiões Norte e Noroeste Fluminense, Eventos Culturais / Julho.................. 165
Tabela 18 – Regiões Norte e Noroeste Fluminense, Eventos Culturais / Agosto ............... 166
Tabela 19 – Regiões Norte e Noroeste Fluminense, Eventos Culturais / Setembro........... 167
Tabela 20 – Regiões Norte e Noroeste Fluminense, Eventos Culturais / Outubro ............ 168
Tabela 21 – Regiões Norte e Noroeste Fluminense, Eventos Culturais / Novembro ......... 169
Tabela 22 – Regiões Norte e Noroeste Fluminense, Eventos Culturais / Dezembro.......... 170
in Campos,Metáforas da Alma
Paulo Roberto de Aquino Ney
ACL
As regiões Norte e Noroeste Fluminense que até 1975 eram conhecidas como Norte sim-
plesmente, ao longo de sua existência sempre se defrontaram, independente da sua situa-
ção socioeconômica própria, com a inter-relação com a cidade do Rio de Janeiro que con-
centrou durante séculos a posição de capital do país, em simultaneidade à sua condição de
capital do Estado. Nestas circunstâncias, estas regiões sempre enfrentaram as conseqüên-
cias do processo de concentração espacial, abrangendo tanto a concentração associada a
linhas funcionais, quanto a relacionada aos aspectos territoriais. Entendendo-se que con-
centração não decorre da questão econômica, mas, sim, do modo pelo qual o poder e os
processos de decisão que dele emanam se distribuem, o desenvolvimento regional ainda se
deparou com o conflito de uma cultura de uma aristocracia, emergente de uma economia
rural agrária, e uma cultura de elites urbanas burocráticas que, a partir do século XIX, assu-
mem a orientação industrial predominante. Para estas estruturas de poder, a centralização
se justifica pelas economias de escala que exigem decisões dos mais altos escalões de go-
vernança e que na base, se mostram capazes de internalizar para o sistema, as manifesta-
ções de externalidades individualizadas, pelos altos níveis de realimentação que tal proces-
so proporciona de modo que o resultado de cada decisão produz a existência de outra, e,
finalmente, porque historicamente o desenvolvimento periférico mostra uma tendência cultu-
ral de desenvolver regionalmente, sistemas administrativos que, em vários casos se organi-
zam e se comportam como altamente centralizados.
Nos dilemas e conflitos desta contextualização cultural, muitas das decisões que poderiam
ter sido alocadas nos níveis de lógica operacional ou descentralizadas de Governo, foram e
se mantem nos centros superiores, em decorrência da falta de estruturas institucionais e de
financiamento que as possam conduzir nos níveis local-regional. Esta condição, que se dis-
seminou universalmente, foi reforçada pelo aumento em vários casos, e no Norte Fluminen-
se com certeza, da complexidade dos sistemas pela evolução da economia como resultado
de ciclos naturais que levaram a rápidos processos de urbanizações, aumento acelerado
das demandas de logística e de recursos de capital e sistemas financeiros, mudança e subs-
tituição acentuada de atitudes e hábitos, de valores e de confiança, elevação do grau e in-
tensidades das relações sociais, multiplicação dos negócios e dos agentes produtivos e, por
conseguinte, ao aumento das funções de governança requerendo qualificações especializa-
das, entre outras, o conjunto provocou a sua assimilação pelas unidades de governo central.
Assim, no Brasil Colônia e na República presidencialista, assumiu-se que quanto maior uma
afluência regional, maior a tendência e indicação para ser gerenciada centralmente.
A sucessão de ciclos econômicos por que passou o Norte Fluminense elevou o nível de
complexidade de seus sistemas, muito provavelmente menos do que poderiam ter alcança-
do, e promoveram a sua abertura gradual em que, agora o Norte, com o petróleo, exclusive
o Noroeste, se expandiu para condições que aumentam a possibilidade de sua inserção na
economia global, assim como aumenta a sua vulnerabilidade. Os problemas estruturais do
passado persistem na atualidade com maior intensidade e as desigualdades se acentuam,
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 65
os sistemas de decisão endógenos não incorporaram os conhecimentos que sustentam uma
cultura de desenvolvimento, regra geral, o que faz com que o sistema possua quase ne-
nhuma recursividade e baixa autonomia. Mais importante, o sistema subsiste com circulari-
dade intrínseca (“looping”), principalmente cultural, as iniciativas em que comparecem os
elementos regionais realimentam condições anteriores o que permite realizar mudanças
incrementais, de primeira ordem, alinhadas ao paradigma anterior secular, mas inibe ou ate-
nua a eficácia de mudanças estruturais, de fundamentos, de segunda ordem, em consonân-
cia com um novo paradigma de governança regional articulada. Concomitantemente, a vari-
edade das descapitalizações endógenas nas Regiões (incluindo os ativos humanos e os
intangíveis), acumula um grande passivo, sendo portadora de fortes consolidações, o que a
impede de se sustentar de per si um processo de desenvolvimento. É quase uma impossibi-
lidade para essas sociedades, transformações e desenvolvimento, em curto prazo.
No entanto, há pelo menos três condições que podem ser usadas para alavancar uma mu-
dança planejada, no ambiente do Norte e Noroeste Fluminenses: a presença de agentes
empresariais privados de porte, inclusive em atividades de serviços públicos e com a mobili-
zação de expressivas associações de classes; grandes projetos de crescimento de médio
prazo com empreendimentos que não podem ser interrompidos em função de sua contribui-
ção para o país, um conjunto dissipativo de forças centrípetas, incomparavelmente maiores
do que todos os que antecederam, pela sua visibilidade e natureza; e alguns nichos de no-
vos modos de pensar e agir e relacionar diferenciados com alguns resultados, de interesse
público, já obtidos de processos em implementação, os quais representam manifestações
consensuais regionais capazes de convergir para via de desenvolvimento, na redoma da
cultura regionalista. Assim como há possibilidades favoráveis a uma cultura de evolução, há
também probabilidades muito significativas do processo atual replicar a história – o que vem
fazendo – um risco efetivo a ser prevenido.
Na análise situacional foi tratado o que há de políticas públicas para a etnografia das Regi-
ões, a começar por um rápido retrospecto da etnia. Em seguida, serão apresentados os te-
mas da cultura da Região, em que se destaca uma leitura sobre a contribuição de alguns
dos intangíveis regionais que permeiam o país, bem como os programas de desenvolvimen-
to associados à economia da cultura – artesanato, cerâmica, gastronomia, entre outros-, o
papel do ciclo de açúcar que marcaram época no processo de desenvolvimento nacional, e
a religiosidade que desde a colonização está presente nas sociedades dessas regiões, que
passam a constituir opção para a modalidade respectiva de o turismo. Para uma avaliação
científica, foi desenvolvida e aplicada a metodologia do Índice de Desenvolvimento da Cultu-
ra aos municípios e Regiões, com as análises correspondentes que permitem mostrar, com
propriedade, quais as situações existentes em cada uma e na s duas Regiões. Finalmente,
as informações do trabalho realizado ensejam uma digressão sobra a cultura do desenvol-
vimento que se presta a explicar os processos que regeram e regem os ciclos de desenvol-
vimento regional do ponto de vista da visão e comportamento da etnografia do Norte e No-
roeste Fluminense, considerados como uma unidade.
Naturalmente que este estudo não tem a pretensão de esgotar os assuntos e as dimensões
que compõem a etnografia da Região Norte Fluminense, muito mais extensa e de grande
complexidade nos seus quase cinco séculos de existência após a descoberta, mas o seu
objeto contempla, por amostragem, algumas de suas parcelas mais importantes que contri-
buem e explicam o processo de sua situação atual, visando o desenvolvimento a ser proje-
tado.
2.1 Raízes
De um território riquíssimo em matéria orgânica, carreada pelo Rio Paraíba do Sul, o mas-
sapé de suas férteis planícies aluvionares, dos tabuleiros com suas cangas e as elevações
da cordilheira originalmente cobertas por densas florestas tropicais, a Mata Atlântica, com
um sistema hídrico e com aqüíferos medicinais invejáveis, formadores das lagoas (de tabu-
leiro, aluvião e restinga) e dos brejos, o Norte Fluminense constituía o habitat natural dos
temidos “corredores dos campos”, os goitacás ou goytacazes, um dos grupos étnicos de
nativos reconhecidos por sua capacidade guerreira, por sua tez mais branca, altura desta-
cada com longos cabelos, indígenas que construíam povoações nos ambientes lacustres,
com suas habitações de um só esteio e caçavam tubarões para armar as suas longas lan-
ças mortais. Ocupando um território de mais de cem léguas ao longo da costa brasileira, os
goitacás constituem o maior contingente aldeado (a partir de 1700) pelos portugueses, que
deu origem e contribuiu para a formação do tipo étnico Fluminense. Outras etnias indígenas,
em menor quantidade, comparecem também na Região, entre eles, os dissimulados e trai-
çoeiros Puris, que habitaram as florestas do Muriaé, assim como os Coropós, assimilados
pelos Goytacazes (com o que surgiram os Coroados), entre outros.
Fonte: Projeto Inventário de Bens Culturais Imóveis. Desenvolvimento Territorial dos Caminhos
Singulares do Estado do Rio de Janeiro. INEPAC - Rio de Janeiro, 2006
Nas montanhas, registra-se a vinda dos italianos (alguns espanhóis), inicialmente religiosos,
depois os grupos imigrantes do grande movimento, que constroem parcela expressiva da
identidade regional e, nos dias de hoje, mesmo após o declínio da agricultura, ainda perma-
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 67
nece disseminada, em minoria, com uma concentração dominante em Varre-Sai, que pre-
serva o café como elemento propulsor de sua economia.
Conquanto a etnia resultante tenha se produzido destes três grupos predominantes, outras
vieram nos tempos mais recentes, incluindo estrangeiros, por exemplo, sírio-libaneses, ou
brasileiros, os mineiros, neste caso, migrantes pela proximidade física e pelas oportunidades
associadas ao conhecimento da cultura do café.
É importante mencionar que, nos períodos de afluência máxima da Região, os senhores que
compunham a aristocracia/nobreza rural, a maioria deles portugueses ou seus descenden-
tes, procuraram manter a continuidade de sua linhagem.
É no aspecto físico que se consegue descobrir as suas características, com a pele branca,
cabelos louros, de olhos azuis ou esverdeados, rosto largo, lábios finos, nariz reto, corpo
magro e estatura variável. É na palidez de seu rosto, que se vê as marcas das doenças que
o afligem, como a verminose, o paludismo e a anquilostomíase. Tudo isso por causa da apa-
tia e da escassez de vitaminas na alimentação, feita de paçoca, carne-seca e peixe-salgado.
A terra onde vive e trabalha é improdutiva, cercada de brejos, areia e vegetação magra, e-
maranhada e cheia de espinhos. Ele então se deixa vencer, cansado, e seu espírito se de-
sinteressa de tudo, desaparece então a ambição, apaga-se os seus ideais, morre a iniciativa
e finda a combatividade inicial, anterior a sua chegada a planície.
Este homem que antes de aparecer era civilizado, começa então a retornar a sua condição
de selvagem, pois a terra o subjugou, e a impassibilidade da topografia já agora reproduz
nele a impassibilidade humana. A facilidade em apossar-se de sítios, morre quando desco-
bre que o solo não vale nada, a terra é pobre e barata, além disso, a dificuldade de transpor-
te não o permite criar uma cultura alimentícia que lhe dê retorno financeiro, desse modo, o
muxuango vive igual ao índio, caçando e pescando nas lagoas, cultivando apenas mandio-
cas e abóboras, e fabricando farinha, além de primitivas cestarias e cerâmicas.
O muxuango exibe-se semanalmente na feira de Gargaú, onde então aproveita para fazer
compras, vender e trocar os seus produtos, como a farinha, principal produto da feira. Ele
aparece nesta feira com seu terno de riscado e camisa de algodão, chegam no trote duro
das “pulitanas”, ou na mesa dos carros de boi arrastados horas a fio pelos areais.
Alguns possuem posses, e é nas chaminés das suas engenhocas que eles mostram a soli-
dão de suas fazendolas. A casa do muxuango é bem parecida com a dos gaúchos dos pam-
pas, a maioria é baixa e escondida, em largos descampados arenosos. É nos amplos hori-
zontes que vemos pontilhadas aqui e ali, uma ou outra casa. Este aspecto de suas residên-
cias constitui o melhor exemplo da característica muxuanga como Lamego descreve na pá-
gina XV de sua obra “A Planície do Solar e da Senzala”: “Quase sempre acaçapada, nos
largos descampados arenosos, pontilha aqui e além os horizontes amplos. É um símbolo do
68 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
homem que a plantou. Branca e humilde, desabrigada na penúria da gleba estéril, afronta as
soalheiras, os vendavais e os aguaceiros com a indiferença fatalista da gente que agasalha
e que se extingue num acabamento de raça”.
2.2.2 Mocorongos
O mocorongo é definido como moreno, de olhos castanhos escuros ou amendoados, cabe-
los negros e corredios, o osso da maçã do rosto em relevo, a barbicha de piaçava gasta, e a
boca sempre extensa num sorriso duvidoso. Apesar de tantas diferenças ambos tem uma
coisa em comum, o gosto pelas danças. Bem diferente do muxuango, em todos os aspec-
tos, o mocorongo soube vencer as adversidades do caminho escolhido até chegar à planí-
cie, enfrentou matas e montanhas, acompanhando a expansão dos canaviais e dos enge-
nhos de café. Surgiram em dois momentos da história, um no correr do século XVIII e o ou-
tro um século depois. As dificuldades pelo caminho só lhe deram cada vez mais ânimo para
continuar lutando e vencendo os desafios da floresta para cultivar a agricultura. Sente-se
como um embrião que germina. O mocorongo vive nos aluviões e nas proximidades das
vertentes das montanhas. É, pois encontrado na região de Murundu e mais ao norte do Es-
tado do Rio de Janeiro, entrando até o sul do Espírito Santo. Curiosamente os trens rústicos
e mistos que circulam nesta região por serem lentos e velhos são popularmente apelidados
de mocorongos.
Apesar de tantas diferenças, estes dois elementos possuem duas características bem pecu-
liares, o gosto pela dança e a timidez. E é nas festas que o vemos comumente dançando
“Marrecas”, “Mineiras”, “Quindins”, “Extravagâncias” e, sobretudo, a mais conhecida e irre-
sistível, revolucionante e regionalmente campista, a “Mana-Chica”.
(Bloomfield, 1933)
“Já pelejei muito, de pé no chão. De iguá, até trotei, de picuá pelo pescoço adentro, por muitas légua, feito burro,
com peitorá vestido puxando instrumento de aradinho nas limpeza da lavora!”.
O texto é do escritor (e médico) José dos Santos Silva, inserido no livro “Carreiras Di-Já-
hojinho”, Damadá, Itaperuna, 1989, no qual ele relata vários “causos” da Baixada Campista,
descrevendo com precisão o linguajar da população do interior. José dos Santos nasceu no
sub-distrito de Goytacazes, filho de uma família de dez irmãos e cresceu dentro dos costu-
mes e passou pelas mesmas necessidades de qualquer família obrigada a sobreviver do
trabalho nas lavouras da cana. O linguajar arrastado daqueles tempos não é mais o mesmo,
porque algumas expressões sumiram do cotidiano dos moradores, na medida em que a mí-
dia comunicacional começou a invadir as casas por meio da TV, rádio, revistas e diversos
outros meios, fazendo as pessoas se adequarem ao vocabulário falado nos centros urba-
nos. Restam apenas alguns indícios do sotaque e perdidas palavras.
O livro “Antropologia Cultural – A Ciência dos Costumes” (Felix M. Keesing, p.20), fala sobre
a relação do processo de distribuição da linguagem e sua dinâmica.
O homem que viveu a vida toda no campo, mesmo tendo freqüentado a escola tem um esti-
lo próprio de falar, ainda que a televisão tenha invadido sem barreiras há maioria dos lares,
algumas palavras ditas pelos ancestrais conseguiram sobreviver às novas tecnologias. O
escritor Felix faz essa diferenciação.
Com o título, “Crônicas & Causos”, Gil Wagner Quintanilha, p.113, descreve histórias sobre
a Baixada, focalizando a língua e os costumes da população. De acordo com ele o lugar
viveu anos criando o seu linguajar regional, algumas vezes enriquecendo o vocabulário com
palavras não “dicionarizadas”.
“São maneiras próprias do nosso falar, uma espécie de cacoete ou sestro a que nos agar-
ramos como exclusividade em nossa conversação. Conheço, por exemplo, o caso de certo
campista de Santo Amaro: andava ele numa calçada de Porto Alegre, quando ouviu dois
senhores que iam pouco adiante, tendo um, respondido ao outro assim: - Rapaz, aquilo é
70 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
um “lamparão” de teimoso. Aquele “tisgo” é muito “ico”. O santamarense não aguentou e
bateu no ombro do autor daquela saborosa frase: - Se mal lhe pergunto, o senhor é de
Campos”.
Algumas palavras com origem na Baixada correm também pelo centro de Campos, um e-
xemplo é a palavra cabrunco, pronunciada quando quer dizer que alguém é ruim. Lamego
(op. cit. p.98), conta a origem da palavra: a palavra é proveniente de uma doença que atinge
o gado bovino. O carbúnculo, essa doença contagiosa é transmitida ao homem através do
contato com o couro de algum animal infectado pela doença. Mas como o homem do cam-
po, ignorante no linguajar não compreende o nome da doença ele provavelmente ao trans-
mitir a informação para outro cidadão acabava pronunciando a palavra de forma incorreta, e
o carbúnculo, vira cabrúnculo, passando posteriormente à pronúncia que hoje conhecemos;
o cabrunco.
Na realidade, a questão da linguagem muxuanga, ainda existente na memória dos mais ve-
lhos, embora possa ser mais discutida pelo ponto de vista etimológico, está sendo destruída
pelo espírito do tempo, segundo definição que passa pela leitura de Heidegger e W. Benja-
mim. Isso quer dizer que os meios de comunicação e os avanços científicos e tecnológicos
vão mudando a característica vivencial do interior, fazendo com que a grandeza de sua cul-
tura seja substituída pela cultura de massa produzida pela televisão. O próprio Pierre Lévy
(“Tecnologia da Inteligência”, Ed. 34, São Paulo, 1999) assinala que “não existe mais o inte-
rior, porque é possível estabelecer, de qualquer lugar do planeta, as formas de comunicação
criadas pelas novas tecnologias”.
É através das novas gerações que a cultura vai declinando diante do novo. O contato com
outros povos, de outras origens, de outras culturas miscigena a lingüística, perde-se os valo-
res, agrega-se novos elementos. E a riqueza cultural de um povo, aos poucos some, a vida
cotidiana absorve o novo e o velho, mas no convívio diuturno a cultura antiga cede espaço.
Os novos valores, conceitos e padrões morais são bem diferentes. As linguagens escritas e
faladas se distanciam, e assim as palavras e expressões que, outrora eram a riqueza de um
povo, desaparecem por completo.
Hoje, apesar de tanto tempo, ainda descobrimos pequenos fragmentos nítidos de uma cultu-
ra existente, de um modo de vida, de um padrão, de maneiras e formas de linguagem falada
e através do livro “Antropologia Cultural – a ciência dos costumes”, passamos a compreen-
der um pouco sobre a história do linguajar da Baixada.
4. MANIFESTAÇÕES CULTURAIS
O Estado do Rio de Janeiro é muito rico em expressões da cultura popular tradicional, muito
embora esse universo ainda permaneça desconhecido para a maioria dos Fluminenses. As
danças e folguedos, vinculados aos ciclos de Natal e Reis, ao Carnaval e ao ciclo Junino,
manifestam-se também nas festas de padroeiros, em comemorações diversas (aniversários,
As Regiões Norte e Noroeste são grandes cartões postais desse patrimônio cultural do qual
o Estado do Rio de Janeiro é portador.
Nossa história política e cultural transformou diferenças em desigualdades que são percebidas nos
processos de aprendizagem que criam preconceitos e hierarquizam sujeitos e culturas, valorizando
os princípios fundadores de umas em detrimento de outras.
Sempre situado num panorama adverso, o negro brasileiro guardou um traço fundamental
das culturas africanas, o que lhe garantiu a possibilidade de reconstruir novos laços identitá-
rios e de solidariedade: a relação coletiva com a terra.
O resultado documental dessa prática tem adquirido a mesma importância que a cultura
material que elas produzem. Dentro desse contexto, o processo de análise e interpretação
das imagens comunitárias deve considerar a seleção de signos presentes na imagem que
ajudem a delimitar o padrão simbólico da cultura e da identidade em questão. Esse é um
procedimento que visa associar a imagem literal à imagem simbólica para a identificação do
pronunciamento visual na análise. A proliferação de vídeodocumentários, amadores e pro-
fissionais, tenta resgatar, por meio da facilidade dos recursos digitais hoje popularizados,
valores culturais que são recriações e releituras de antigos valores, mas que ganham força
pela representação do passado e projeção do futuro dessas identidades comunitárias.
Na Região do Norte Fluminense, as comunidades tentam manter seus valores identitários
com base na propagação estética de seus valores simbólicos. A documentação visual das
atividades das comunidades possibilita a publicização das imagens culturais e identitárias
1
In: CULTURA VISUAL E AFIRMAÇÕES IDENTITÁRIAS: Novos Processos de Reconhecimento Social. SILVA
Sérgio Luiz P. 2007 - (Professor Associado do Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política da Universi-
dade Estadual do Norte Fluminense – UENF).
A propagação das imagens dessas comunidades ganha força publicizadora com bases nos
elementos estéticos nelas representados, sobretudo em se tratando de comunidade afro-
descendentes que têm valorizado um resgate cultural pós-colonial, o que reforça o argumen-
to de que os valores simbólicos dão legitimidades às formas de representação e reconheci-
mento das identidades culturais (Hall, 2003; Woodward, 2003; Bhabha, 2000).
Além dessa forma de resistência da cultura negra, os terreiros tem um importante papel,
pois difundem e recriam, através de suas atividades, não uma cultura monolítica, mas co-
nhecimentos, concepções filosóficas e estéticas, formas alimentares, música, dança: um
patrimônio de mitos, lendas, refrões, em constante recriação, pois são respostas às deman-
das da realidade vivenciada por negros reunidos no cativeiro. Funcionam como pólo irradia-
dor do complexo sistema cultural no qual as manifestações orais, histórias sagradas, contos,
adivinhas, lendas, expressões do canto, constituem um de seus elementos, que deve ser
compreendido em função do momento em que ocorrem, dos partícipes e dos instrumentos.
4.2 O Fado
(...) nos séculos XVIII e XIX era dança a popular do Brasil, executada ao som da viola e do adufe (...)
cuja coreografia de roda era movimentada apresentando sapateados e meneios sensuais". Parada
(1995: 204).
Fonte:http://www.quissama.rj.gov.br/index.php/roteiro-manifestacoes-culturais/
"Toda pesquisa o indica e ninguém mais duvida que o fado tenha nascido brasileiro e emigrado para Portugal,
onde se nacionalizou”.
2
(An'Augusta Rodrigues, 1973)
4.2.1 Origens
De origem afro-brasileira, é considerado pertencente à área dos fandangos, apresentando
ritmo original e versos rústicos, cantados por repentistas. O Fado surge em um momento da
história Fluminense em que o então distrito de Quissamã e toda Região Norte do Estado
eram conhecidos como a "Nova Zona do Açúcar", quando no final do século XIX, plantações
de cana dominavam a paisagem natural do lugar. O primeiro relato sobre sua existência foi
feita por Lamego (1934: 86) descrevendo a dança que vinha dos "casinhotos e senzalas",
comprovando-a como de origem afro-brasileira.
Mário de Andrade fala sobre o Fado praticado no Brasil no final do século XIX, que nada
teria em comum com a canção lusitana de mesmo nome. O próprio Mário também observou,
através do romance de Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um Sargento de Milícias, a
existência de um baile no Rio de Janeiro com acompanhamento de viola e coreografia vari-
ada com estalidos de dedos, palmas e sapateados, curiosamente, semelhante ao estilo por-
tuguês. Ao que tudo indica, apesar do Fado manter-se ativo somente em Quissamã, já foi
bastante popular em outros municípios da Região Norte-Fluminense sendo um dos bailes
mais apreciados e freqüentados pela população de baixa renda. Também em outras cidades
do Estado tal manifestação pode ser encontrada, mas em franco processo de desapareci-
mento em detrimento da influência dos grandes centros urbanos.
São as chamadas "Sextas Culturais", um projeto composto por uma exposição literária, se-
guida de uma apresentação da dança. Ao longo do salão, ficam dispostos pequenos grupos
de dois pares de casais formando uma cruz, ou seja, fazendo uma referência à religiosidade
dos participantes.
Desde sua emancipação, no final da década de 80, a cidade de Quissamã não soube de
imediato, como fazer para manter e preservar o Fado. A Prefeitura percebeu que se não
houvesse intervenção, aos poucos o baile iria se extinguir. Não haveria um eixo de renova-
ção, uma vez que novas formas de entretenimento como as discotecas e shows no clube da
cidade e uma série de opções conseqüentes do avanço do mercado audiovisual (reflexos da
globalização) passaram a concorrer e seduzir os mais jovens, residentes das comunidades
rurais. Pensou-se então em criar uma oficina para assim poder manter e preservar a dança,
o que, por outro lado, sacrificaria a espontaneidade do baile. De fato, se não houvesse a-
contecido tal ação pública que interferisse para a sua sobrevivência, o Fado teria acabado.
Por isso, o grupo encarregado de sua preservação começou a fazer um trabalho de valori-
zação para que a auto-estima se renovasse, assim como o interesse das gerações mais
jovens por sua cultura de raiz.
Encontra-se em andamento um projeto que visa introduzir o Fado nas escolas do Município,
dando ênfase, primeiro, às instituições rurais através de oficinas, para que o Fado se sus-
tente. Até a primeira metade da década de oitenta, os bailes na sede da associação de mo-
radores de Machadinha (fazenda principal de onde surgiu o bailado) eram sempre cheios e
só acabavam com o sol raiando de manhã. Desde então, o Fado não sofreu grandes trans-
formações em sua estrutura e características.
4.4 O Jongo
“(...)O jongo é uma forma de expressão que integra percussão de tambores, dança coletiva e elemen-
tos mágico-poéticos. Tem suas raízes nos saberes, ritos e crenças dos povos africanos, sobretudo os
de língua bantu. É cantado e tocado de diversas formas, dependendo da comunidade que o pratica.
Consolidou-se entre os escravos que trabalhavam nas lavouras de café e cana-de-açúcar, localiza-
das no Sudeste brasileiro, principalmente no vale do Rio Paraíba do Sul. É um elemento de identida-
de e resistência cultural para várias comunidades e também espaço de manutenção, circulação e
renovação do seu universo simbólico. (...)”
Luiz Fernando de Almeida
Presidente do IPHAN
No Brasil, o jongo se consolidou entre os escravos que trabalhavam nas lavouras de café e
cana-de-açúcar, no Sudeste brasileiro, principalmente no vale do rio Paraíba do Sul. Forma
de expressão afro-brasileira, o jongo integra percussão de tambores, dança coletiva e práti-
cas de magia.
O jongo não possui calendário e é uma dança de terreiro, da qual participam pessoas de
todas as idades e de ambos os sexos. A coreografia é simples e livre: os participantes, dis-
postos em círculo, batem palmas e improvisam evoluções. Ao centro fica o jongueiro ou so-
lista, que também faz evoluções ao redor do grupo e dele se aproxima, convidando os dan-
çadores para o interior da roda. No entanto, acontece, em geral, nos quintais das periferias
urbanas e de algumas comunidades rurais do Sudeste brasileiro, assim como nas festas dos
santos católicos e divindades afro-brasileiras, nas festas juninas, na festa do Divino e no dia
13 de maio, dia da abolição dos escravos.
Nos tempos da escravidão, a poesia metafórica do jongo permitiu que os praticantes da dan-
ça se comunicassem por meio de “pontos” que os capatazes e senhores não conseguiam
compreender. Sempre esteve, assim, em uma dimensão marginal, em que os negros falam
de si, de sua comunidade, por meio da crônica e da linguagem cifrada. Tambu, batuque,
tambor, caxambu. O jongo tem diversos nomes, e é cantado e tocado de diversas formas,
dependendo da comunidade que o pratica. Se existem diferenças de lugar para lugar, há
também semelhanças, características comuns em todas as manifestações do jongo.
Fonte: IPHAN
3
Fonte: Mapa do Rio de Janeiro e Regiões de ocorrência de Jongo (adaptado).
3
- In: SILVA, 2006, p. 20. Base Cartográfica IBGE 2000. Projeto Geográfico e Cartográfico by
Geog. Rafael Sanzio A. dos Anjos - CREA 15604/D - Projeto Geografia Afro-Brasileira - Centro
de Cartografia Aplicada e Informação Geográfica. Apoio Técnico: Marcelo Silva e Adailton da
Silva - Deptº de Geografia - Universidade de Brasília. Brasília - DF. 2006. E-mail: ciga@unb.br.
80 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
4.4.2 O Jongo nas Regiões Norte e Noroeste Fluminense
O jongo sempre foi, tradicionalmente, cantado e dançado por negros oriundos da escravi-
dão, não se estabelecendo o tempo de seu início, mas pode-se imaginar que os primeiros
jongueiros vieram para o Brasil, oriundos de Angola, e aqui desenvolveram esta cultura e a
mantiveram mesmo depois da abolição da escravatura. De acordo com o escritor Osório
Peixoto Silva, para os campistas Jongo é dança praticada em terreiro de chão batido, com
um ou dois tambores - cavados em pau ôco - e acompanhado por palmas. Forma-se o círcu-
lo dos dançadores, um deles entra no círculo, conta sua história em monólogo ou palavras
estranhas, sempre procurando o ponto que soltará e que caberá no ritmo. Há, ainda, o Jon-
go, com ligações religiosas, geralmente com a umbanda, mas igualmente com os pontos
repetidos pelos dançadores, a partir do cântico do ogã. E quando o ponto é bom pode ser
cantado por muito tempo nos terreiros, como esta estrofe seguinte:
Incontestavelmente, esta foi/é a dança mais conhecida e praticada por toda Baixada Cam-
pista, como herança forte dos escravos. O Jongo era a diversão dos fins de semana, nos
rituais das festas lúdicas e considerado a paixão de qualquer família de afro-descendente da
Região. Em quase todas as usinas, ou no que restou delas e, hoje, na periferia da cidade de
Campos, encontram-se, ainda, mas não com facilidade, resquícios de jongueiros, na sua
maioria pessoas negras que trabalharam durante muitos anos em alguma atividade relacio-
nada à cana-de-açúcar e ao trato com o gado de corte e leite. “Antônio Pinto Miranda diz
que Jongo na Angola se chama Djongô e é dança e ritual de tribos angolanas dedicadas
exclusivamente ao pastoreio. “O jongo é um ritual macumbal, sub-tribo dos bantos, ocupan-
do a zona semidesértica de toda cordilheira Chela. A maneira de dançar eles usam nas fes-
tas e nos lazeres. “A este ritual damos o nome de Djongô, que seria nosso Jongo, com suas
variações e adaptações”. Ele acrescenta, ainda, que o Jongo em Angola é sempre dançado
cultuando o boi, que para algumas tribos é quase sagrado. O boi deixou de ser um animal
para o comércio e passou a ser a imagem principal dos seus cantos, contos, lendas e músi-
cas. Talvez conservando essa tradição angolana, também se encontra em Campos vários
pontos que se fala sobre o boi:
“Encontrei meu Santo Antônio
Na cancela do currá
Levanta meu Santo Antônio,
Deixa meu gado passá”.
Através da pesquisa feita pelos alunos do núcleo de iniciação a pesquisa científica em Cam-
pos dos Goytacazes O grupo conseguiu, até agora, catalogar mais de 100 pontos de jongo,
através de entrevistas com velhos aficionados dessas manifestações e a perspectiva é a de
que a médio e longo prazo, possa recolher, pelo menos, 200 a 300 composições que muito
podem contribuir, a partir da sociolingüística, com o pensamento e a inspiração dos negros
escravos ou livres nos últimos 120 anos.
Tambor, tambu, angona, caxambu e jongo são palavras que têm mais de um significado. No
nível genérico, designam a totalidade da forma de expressão e o próprio evento em que
ocorre. Em outro nível, têm acepções específicas. Assim, caxambu é o nome dado ao tam-
bor de maiores dimensões do conjunto instrumental que acompanha a dança, em vários
locais.
É exatamente neste cenário que surgem as manifestações das Folias de Reis, percorrendo
pelos caminhos do ouro das Minas Gerais e se estabelecendo na Região Norte e Noroeste
do Estado do Rio de Janeiro, sempre com o mesmo objetivo religioso – o da anunciação do
nascimento do Menino Jesus.
Para fazer parte de um grupo de Folia de Reis, o folião, além de cantar, aprender a tocar um
instrumento, tem obrigações e deveres propostos pelo Capitão ou Mestre. A submissão a
essas ordens é condição primeira para a sua admissão à jornada. Os grupos mais organiza-
dos preparam um verdadeiro código de ética, denominado Estatuto que é lido pelo Mestre
diante do candidato e na presença dos demais foliões, em cerimônia simples e íntima.
Encabeçada pelo mestre, folião-guia, reiseiro ou embaixador, cada folia tem como símbolo
máximo a bandeira, um estandarte colorido com a estampa de um protetor, Jesus, uma san-
ta, Nossa Senhora, os três reis ou a estrela que os guiou a Belém. Ao mestre e ao contra-
mestre juntam-se atrás, foliões com instrumentos e personagens que variam de região para
região, como os reis, pastorinhas, coroinhas e os saltitantes palhaços, com suas fardas mul-
ticoloridas e máscaras horripilantes.
A prática da folia deriva de devoção ou promessa quando a criação do grupo se deve a re-
tribuição do líder a uma cura ou outra graça divina. Muitas folias devocionais surgiram assim
e perduraram após a quitação das promessas, que devem ser pagas por sete anos, sob
88 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
Mestres ou Responsáveis que são donos de terreiros de Umbanda, Palhaços que trazem
guias de seus orixás, visita de bandeira, durante o giro, o gongá (altar nos cultos umbandis-
tas). Tudo ainda feito por devoção ou pagamento de promessa, e como tal devendo ser
cumprido por sete anos ou múltiplos de sete.
Em folias paulistas e mineiras, os palhaços vão adiante, enquanto nas fluminenses ficam na
retaguarda, proibidos de ultrapassar a bandeira. A ambiguidade da figura é apontada pelo
professor e pesquisador Daniel Bitter:4
“Num determinado momento, os palhaços devem pedir perdão ao Deus Menino e, para isso,
retiram as máscaras para se aproximar do altar onde estão as imagens dos santos. Ocorre
uma conversão simbólica e se diz que os palhaços se transformam nos Reis Magos. O pa-
lhaço ocupa lugar importante no sistema ritual, ao afirmar a superioridade moral do bem
sobre o mal”.
Muitas folias mineiras mantêm a tradição dos tambores forrados com couro, que produzem
som mais rouco. Entre as fluminenses, o náilon produz sonoridade mais estridente. Um dos
motivos da adesão ao produto sintético é a natureza itinerante das folias, que saem às ruas
em época pródiga em temporais e precisam ter zelo redobrado na proteção dos instrumen-
tos quando caem os aguaceiros. “O couro, quando molha, fica frouxo e não dá para tocar. O
grupo de meu pai já voltou para casa no meio de uma jornada, porque o couro estava tão
molhado que só se ouvia o toque da sanfona”, conta a fluminense Clenilza. “De couro, só o
pandeiro e um lado dos bumbos. No outro, o pessoal daqui põe náilon, para não ficar na
mão se chover forte.”
4 Autor de tese de doutorado sobre as funções rituais da bandeira e da máscara, premiada em primei-
ro lugar, em 2008, no Concurso Sílvio Romero de Monografias do Centro Nacional de Folclore e Cul-
tura Popular (CNFCP) do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN)
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 89
Foto 14 - Região Noroeste Fluminense, Encontro de Folias de Reis em Miracema - Janeiro/2008
Foto 15 - Região Noroeste Fluminense, I Encontro Regional de Folias de Reis em Italva
Fonte:Disponível
em::<http://2.bp.blogspot.com/_1HRN6G_TOU8/S0UPoTwJeFI/AAAAAAAAC6Q/hOy-wAu9w8/s1600-
h/folia7.jpg>Acesso em 20/12/2009
Fonte: Disponível
em:<http://2.bp.blogspot.com/_1HRN6G_TOU8/S0TVbSHKJ2I/AAAAAAAAC6A/gUYRjLuN8zE/s1600
-h/capa_folia_italva.jpg>Acesso em 12/12/2009
Outra arte valorizada é a das máscaras, principal atributo dos palhaços na função de atrair a
atenção na peregrinação das folias. No Rio de Janeiro, um dos criadores de máscaras mais
requisitados é Manoel Batista Cordeiro Neto, de 31 anos, de Miracema, na Região Noroeste.
Batista, conta que herdou o ofício do pai. Produz mais de 60 máscaras por ano. Sua fama
se estende à Zona da Mata mineira e ao sul capixaba. As máscaras são feitas com couro de
boi curtido, ornamentado com produtos como espuma colorida e ponta de rabo de boi, nas
sobrancelhas e bigodes. “Meu pai, antigamente, usava couro de preguiça, tamanduá ou
quati”, conta Batista, que amacia o rabo de boi com sabão em pó, xampu e óleo de ovo ou
de uva. Ele recebe pedidos o ano todo, sobretudo a partir de setembro, e só deixa de fazer
máscaras às vésperas do Carnaval, quando se dedica a alegorias para essa festa, e na qua-
resma: “A procura aumenta, mas não faço mais por falta de quem ajude. Corto o couro, pin-
to, espero secar, colo – é tudo por minha conta”, diz o artesão.
Nos grupos que fazem a caminhada e as visitas, cada folião tem seu lugar e ocupa uma
hierarquia em cujo topo aparece o capitão, em certos grupos aparece o palhaço, bem como
o alferes, os cantores, o porta-bandeira e demais componentes que, segundo o costume,
totalizam de 12 a 15 componentes em cada grupo. Autodenominando-se “foliões”, esses
grupos, organizados por devoção ou pagamento de promessas, fazem sua jornada ou giro
da noite do dia 24 de dezembro ao dia 20 de Janeiro, por influência de São Sebastião, pa-
droeiro da cidade do Rio de Janeiro. Caminham no ritmo das Marchas de Rua, cantam de-
fronte ao dono da casa, cantam Jornadas dos Reis Magos ou passagens da vida de Cristo,
finalizando com o agradecimento e as despedidas. Esses grupos, em sua maioria, são inte-
grados por homens adultos e crianças, cabendo às senhoras os cargos mais importantes na
organização.
Além desses mais comuns, costumam aparecer outros figurantes, cujo desempenho é dado
às crianças – os Três Reis do Oriente (meninos), Pastorinhas (meninas), Anjo (meninas),
Pastores (meninos).
Fonte:Disponível em:<http://2.bp.blogspot.com/_1HRN6G_TOU8/S0UPoTwJeFI/AAAAAAAAC6Q
/hOy-wAu9w-8/s1600-h/folia8.jpg>
Cantoria
As cantorias são a base dos rituais. Todos os foliões, exceto o alferes e o palhaço, desem-
penham funções musicais. Na música há regras que definem a atuação dos foliões. Em ge-
ral são sete as vozes que entoam os cânticos. O coro segue à risca a toada de preferência
do capitão, que começa tirando os versos a partir de um repertório que muitas vezes pode
ser improvisado. Como maestro, é ele quem comanda o terno e puxa a cantoria.
Depois que ele termina alguns versos, começam as respostas, repetição dos versos canta-
dos em entradas sucessivas. A segunda e a terceira voz realizam a primeira resposta inte-
gral da cantoria, geralmente fazendo a terceira nota no tom inicial do capitão. Essa primeira
resposta é conhecida como contralto.
As quarta e quinta vozes entram na metade dos versos, cantando uma oitava acima. No
final entra a sexta resposta, que é um grito muito fino, entoando um arrastado de lamento.
As melodias e as letras das músicas são tradicionais, imutáveis, mas os capitães inventam
outras, geralmente improvisadas na oportunidade de pedir uma esmola ou fazer um agrade-
cimento. Música, letra e toada, muda de grupo para grupo. Os ritmos também são diferen-
tes.
No município de São Fidélis, a instalação das Folias de Reis se deu no contexto da zona
rural nos séculos passados, cujas divisas do município com a região do Estado de Minas
Gerais, por exemplo, favoreceu para isso, inclusive o ritmo das folias, segundo o mestre
da Folia Estrela Guia de São Fidélis, Ademilton Filho, o ritmo das folias existentes, até
hoje, é o ritmo mineiro.
Em Porciúncula, as Folias de Reis Divino Pai Eterno, comandada pelo Mestre Joaquim Rai-
mundo Ramos, e São Sebastião, comandada pela dona Luzia da Conceição Maciel são a-
poiadas pelo premiado Projeto MOCART – Movimento Cultural Artístico Raízes da Terra e
fazem jornada pela zona urbana e rural de Porciúncula. Seu Joaquim Raimundo Ramos
explica que as folias saem em duas jornadas: de 24 de dezembro a 6 de Janeiro, em home-
nagem a Santos Reis (os Reis Magos), e de 6 a 20 de Janeiro, em homenagem a São Se-
bastião.
“O bonito da folia é estar revivendo o fato mais marcante da humanidade, que é o nasci-
mento de Jesus”, diz “seu” Joaquim. “Além de trazer de volta o nascimento de Jesus, ela
tem muita religiosidade e devoção, pois muitas pessoas são curadas através da fé na folia.
Um exemplo disso eu tenho em casa mesmo: há 35 anos, minha mãe estava cega já fazia
mais de cinco anos, e a medicina não tinha mais recursos para ela. Quando eu estava su-
bindo com a folia, ela pediu a meu irmão que a levasse até a rua para receber a folia. Ali, ela
ajoelhou, colocamos a bandeira na mão dela e meu irmão a guiou de volta para casa. En-
tramos com a folia e começamos a cantar e ninguém percebeu nada de diferente. Ao térmi-
no da cantoria, quando saímos, ela pediu para levar a bandeira até a rua e então nós perce-
bemos que ela saiu sozinha com a bandeira pelas ruas, sem precisar de ninguém para guiá-
la. Eu acredito que ela foi curada pela fé” – conclui seu Joaquim Raimundo Ramos que, com
58 anos, desde os nove anos canta folia, recita alguns versos em honra do Menino Jesus:
A festa da Folia de Reis vem sofrendo modificações em virtude da migração do homem para
a cidade e da invasão de elementos urbanos nas Regiões rurais. Contribuem para isso, sem
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 93
dúvida, os meios de comunicação. Os dançadores estão inseridos num mundo em constan-
te transformação de cujas mudanças eles não querem participar e, por outro lado, não têm
como evitar.
4.7 A Cavalhada
Folguedo que remonta a Idade Média é representado no Brasil desde o período colonial.
Representa as lutas históricas entre mouros e cristãos, onde os cristãos sempre vencem.
Cavalos e cavaleiros se dividem em dois grupos ricamente vestidos e adornados, um azul,
cristãos e o outro vermelho, mouros, que engendram uma batalha – as manobras, iniciadas
com voltas no campo e seguidas de “ataques”, aos pares, às argolinhas, pães, forquilhas e
potes de barro pendurados em fios sob uma trave, tentando quebrá-los com lanças. Por fim,
percorrem novamente o campo acenando lenços brancos para o público, seguindo para a
capela na intenção de oferecerem a vitória ao Santo.
No Estado do Rio de Janeiro, realiza-se em dias de santos padroeiros, e não chega a consti-
tuir-se em um auto, pois, não há dramatização. Significa, antes, a encenação de justas e
torneios medievais: “Os grupos se defrontam representando os mouros e cristãos, mostran-
do uma representação do que aconteceu na chamada Guerra Santa, conforme o que existiu
durante séculos na Europa, particularmente na Itália”.
Toda a população dessa Região, eminentemente católica, mostra a sua religiosidade, man-
tendo acesas as chamas da fé nas festas de Santo Amaro e São Martinho, onde o ponto
alto é a procissão e a apresentação da Cavalhada. De todas as atrações da festa do padro-
eiro, a Cavalhada é a mais cobiçada, tanto pelos participantes como por espectadores for-
mados por curiosos, professores, pesquisadores e gente do povo.
“Uma festa que os participantes consideram “herança recebida para transmitir” (sic), a práti-
ca, de acordo com costumes ibéricos antiqüíssimos, que vem desde o século XVIII.
Há alguns anos este folguedo migrou para o sul do Espírito Santo (e daí para o Norte
Fluminense).
Os brincantes deste boi se organizam em cordões, tomando a cor azul e encenando para
diferenciarem-se, saem cantando versos, tocando instrumentos rústicos como latas e
caixas. Em ocasiões se apresentam com um séqüito de personagens concernentes à morte
e ressurreição do boi, como Francisco e Catirina, o fazendeiro, o vigário entre outros, sem
necessariamente haver a dramatização.
Também podem contar com personagens místicos, como a burrinha, a ema e o urubu.
Nesses municípios, as figuras do boi, da mulinha, do jaraguá, do gavião, lideradas pelo tou-
reiro acompanham essa dança.
Foi no bojo da economia canavieira no século XVIII, que se sentiu a necessidade de atrair
artesãos especializados. A tarefa, a princípio, parece não ter sido fácil. Pero de Góis, em
1546, escreveu “sobre a sua dificuldade em atrair um capataz competente” (Marques e Ser-
rão, 1992: 257). Se considerarmos a reduzida população portuguesa e a vasta extensão
territorial da colônia e a demanda por mão-de-obra especializada podemos admitir esta difi-
culdade.
Para Campos dos Goytacazes, é factível que, em face da existência anterior de uma eco-
nomia pecuarista, estes artesãos, além dos seleiros, já estivessem em atividade na Região,
no entanto, a escassez de documentos para o período não permite avaliar sua importância.
Sua existência pode ser notada com mais freqüência a partir de meados do século XVIII e,
sobretudo, no século XIX, quando se intensificam as atividades urbanas.
Até esta data, as unidades produtivas, voltadas para a produção de açúcar, eram ainda as
áreas de residências preferidas dos moradores na Região. Na planície as residências eram
sem sua maioria rústicas e feitas de “sopapo”, de planta baixa coberta de telhas e escassa
variedade de bens móveis. De acordo com Faria, “a riqueza estava associada ao número de
cabeças de gado e de escravos” (1998: 356), não sendo a moradia um sinal de status soci-
al. Não se pode precisar através de pesquisa documental se nestas unidades produtivas
havia oficinas de ferreiros e seleiros. De um modo geral a documentação com a qual se tra-
balhou não especifica o que seriam “as benfeitorias” que compõem a casa de morada ou
vivenda. Esta observação, que também é feita por Faria (1998: 356), não permite avaliar a
presença dos artesãos nestas unidades produtivas.
É somente a partir de 1835, quando a vila é elevada à categoria de cidade que ela adquire
novos elementos urbanos. A cidade passa lentamente a atrair a elite local iniciando assim a
construção dos belos palacetes que ainda permanecem na paisagem urbana, a raiz do cres-
cimento da economia açucareira. O trabalho do ferreiro teve uma demanda extraordinária
neste período, para atender a procura por grampos, balcões, alpendres, etc.
As atividades mineradoras no interior das Minas Gerais, que tiveram início a finais do século
XVIII, contribuíram para o desenvolvimento da metalurgia. No século XIX, são inauguradas
inúmeras fundições no Rio de Janeiro. Não havendo a tradição européia das corporações de
ofício, os artesãos exercem seus ofícios livremente e sem rigorosa fiscalização, o ferreiro
torna-se, no meio urbano, um profissional especializado empobrecido, como observa Spix e
Martius (1981: 75).
5
In: TEIXEIRA, Simonne (2004): “Ferreiros e Seleiros: ofícios tradicionais. Inventário e Pesquisa”. In:
MENEGUELLO, Cristina et RUBINO, Silvana (orgs.) Patrimônio Industrial: perspectivas e abordagens. Campi-
nas/SP: Ed. UNICAMP e Comitê Brasileiro de Preservação do Patrimônio Industrial, CD Rom (ISBN 85-904944-
1-1).
Foto 25 – Região Norte Fluminense, Sr. Edílson Trabalhando na Forja - Ferraria em Campos
dos Goytacazes
Os mistérios do fogo e da forja foram passados de tios para sobrinhos, de pais para filhos.
Os senhores do fogo transmitem seu conhecimento na prática diária de suas atividades,
mantendo, deste modo, tradições seculares. Na cidade de Campos dos Goytacazes, encon-
tram-se atualmente, algumas oficinas de ferreiros e seleiros em atividade.
A prática de uma medicina caseira no Brasil sempre foi exercida pelos leigos que usavam
seus conhecimentos empíricos para curar. Baseados em informações obtidas por transmis-
são oral e em almanaques e compêndios que chegavam às suas mãos, praticavam livre-
mente suas curas.
Na medicina popular brasileira, há três influências óbvias: dos ameríndios, dos portugueses
e dos negros, estes formando um complexo evidenciado nos catimbós e umbandas. A medi-
cina vegetal é de origem ameríndia; a animal é, principalmente, legado africano. As tradi-
ções religiosas contribuíram para a formação de um complexo de crendices que acompa-
nham até hoje o povo, confundindo fetichismo e animismo de negro e do índio com os san-
tos cristãos (amuletos, talismãs religiosos, bentinhos, patuás, figas - estes símbolos de força
e vigor contra o mal e fálico primitivo). “É bom ter uma figa cruzada em casa para afastar o
mau-olhado”.
5.3 Da Gastronomia
“(...) A experiência gastronômica transcende à experiência estética, tendo em vista que a degustação
de uma iguaria típica pode constituir uma forma de consumo simbólico, de aproximação com a reali-
dade visitada, tornando esta realidade também passível de uma “degustação”. (MINTZ 2001, p.34)
Os distintos hábitos alimentares das Regiões brasileiras expõem o poder da diversidade
gastronômica que um país é capaz de oferecer aos seus moradores e aos seus visitantes.
Isso faz da gastronomia uma atividade que conecta/reúne as pessoas de uma sociedade,
desta com os seus elementos culturais em compartilhamento, o que fortalece as tradições
com a elaboração e as formas de preparos de alimentos e bebidas que, com o passar do
tempo, tornam-se “pratos e bebidas típicas”, configurando-se como um dos maiores atrati-
vos turístico-culturais.
Em Quissamã, o projeto Raízes do Sabor resgata as receitas dos afro-descendentes. Reali-
za degustações, promovidas em festas culturais dentro e fora do Município. Os visitantes
que participam de visitas guiadas à Machadinha, podem encontrar no cardápio:
• Mulato velho - (feijoada especial servida com peixe salgado e desfiado com pe-
daços de abóbora);
• Sopa de leite - (carne-seca assada coberta com pirão de leite);
• Capitão de feijão - (bolinho de feijão temperado);
• Tapioca com sassá - (tipo de peixe pequeno);
• Bolo falso - (farinha de mandioca, queijo, ovos, coco e leite);
• Sanema - (doce feito com mandioca, ovos, coco e manteiga batida). A massa é
enrolada e assada dentro da folha verde da bananeira.
Fonte: http://www.quissama.rj.gov.br/index.php/roteiro-manifestacoes-culturais/
Acesso em 22/12/2009
Nize Teixeira de Vasconcellos, conhecida como Mulata Teixeira, ganhou esta receita de
uma pessoa da capital, Rio de Janeiro, que estava em Campos dos Goytacazes. Esta mes-
tra da arte da doceira, a mais famosa de Campos, recebeu em sua casa o ex-presidente
Getúlio Vargas quando visitou Campos e também o ex-presidente Juscelino Kubitschek, que
encomendava os chuviscos produzidos por ela, para serem saboreados no Palácio do Alvo-
rada, em Brasília. Mulata Teixeira nasceu em Campos, em 1897, onde também faleceu, em
outubro de 1986, com 89 anos.
A partir dela, algumas doceiras ganharam fama, e por terem uma boa clientela, tiveram con-
dições de abrir e expandir seus próprios negócios, como é o caso de Maria Eugênia de Mo-
raes e Souza, proprietária da “M. Eu... Doce”. Outras doceiras, que não possuíam capital, se
uniram e fundaram, em 1989, a COOPERDOCE, a única cooperativa de doceiras do Brasil,
fundada apenas por mulheres. A sua sede constitui ponto turístico de gastronomia em diver-
sos guias, como o Guia Quatro Rodas, da Editora Abril Cultural. Cada receita, na Cooperati-
va, produz 800 chuviscos, independente da quantidade de ovos. Uma doceira chega a fazer
três receitas diariamente, o que dá um total de 2.400 chuviscos por dia. Em uma semana, a
quantidade média é de 12.000 chuviscos, e em um mês a média produtiva é de 48.000 chu-
viscos. O chuvisco, que era um doce eminentemente artesanal, hoje é produzido em larga
escala no Município por três empresas: a COOPERDOCE, a Doces Nolasco, a Doces Ca-
seiros Boas Novas e também pelas principais docerias do Município, como a “M. Eu... Doce,
e a Marry & Quel”.
Além dos doces, Campos dos Goytacazes tem no robalo outro ponto forte de sua gastrono-
mia. Muito apreciado na Região, o robalo é servido de diversas maneiras, mas o forte é a
moqueca, considerada sem igual.
A culinária árabe, de tão apreciada, já faz parte do cotidiano das tradições gastronômicas da
Região.
A Região Noroeste, por causa da sua proximidade com o Estado de Minas Gerais, carrega
em seu aporte culinário, traços fortes dessa influência. Em praticamente todos os municípios
há um leque de receitas de doces caseiros, como doce de leite, licores, doces cristalizados,
compotas de frutas etc., aproveitando a produção de frutas da Região.
Em Santo Antônio de Pádua, há uma série de receitas a base de peixes, tanto de água sal-
gada quanto doce. Reflexo da piscicultura da Região, Lage do Muriaé aparece como um dos
maiores produtores de alevinos do Brasil.
Fonte: www.planeta.terra.com.br
Coube à Igreja contribuir para a formação da nacionalidade, aspecto mais nobre da coloni-
zação. Quase tudo o que se fazia em matéria de educação, cultura, catequese e assistência
social, corria por conta de sua hierarquia, de seu clero secular, das ordens religiosas e das
corporações de leigos – irmandades e ordens terceiras. 7Na escola do engenho, era um pa-
dre-mestre que ensinava aos meninos.
A capela completava o quadrilátero das edificações, que eram o coração do engenho, além
da casa-grande, da senzala e da fábrica. Podia estar isolada, contígua ou integrando o cor-
po da casa grande, próxima ao engenho e na vizinhança da senzala.
O Brasil é hoje o país com a maior população católica e é também o país com maior diversi-
dade de credos.
Além dos santos padroeiros, o catolicismo está presente nas manifestações culturais nos
municípios sob a forma do reizado e da cavalhada; heranças da colonização portuguesa da
herança católica.
As Tabelas 1 e 2 registram as festas típicas nos municípios das Regiões Noroeste e Norte
realizadas em homenagem aos santos padroeiros. Várias cidades tem o mesmo santo como
padroeiro.
• Santo Amaro - 15/1 – Cavalhada - realizada há quase 330 anos- Campos dos Goyta-
cazes
• São Cristóvão - julho - Quissamã
• Corpus Christi – (data móvel) – Todos os municípios
• Nossa Senhora da Aparecida – 12/12 – Cavalgada – Quissamã
• Nossa Senhora da Penha – abril/maio – Penha - Quissamã
Há uma grande influência católica, devido à colonização portuguesa e italiana e cultos afro-
descendentes pelo grande número de africanos trazidos para o trabalho escravo. Mesmo
saindo de suas casas, de suas comunidades, o homem traz consigo aquilo que acredita. E
essa crença permanece principalmente em casos de opressão, como foi o caso dos negros.
O umbandismo, na atualidade, segundo o presidente da Federação Espírita de Umbanda de
Campos, Geraldo Alves Filho, é representado, neste Município, por cerca de 400 centros e
cerca de quatro mil aficionados.
Na Região Noroeste, a cidade de Natividade possui, na religiosidade, uma das suas maiores
expressões. O templo, inspirado na última residência de Maria, mãe de Jesus Cristo, em
Éfeso, na Turquia, foi erguido pelo médico e advogado, Dr. Fausto de Faria. Com os pés
dentro de um regato Nossa Senhora apareceu 5 (cinco) vezes para ele, em 9/05/1967,
17/05/1967, 12/07/1967, 12/07/1968 e dez anos depois, em 12/07/1978. Na terceira apari-
ção ditou-lhe uma mensagem e deixou-lhe uma cefas (pedra), mistério este testemunhado
por mais cinco pessoas. Na quarta mensagem, ditou-lhe uma frase sigilosa. Na quinta apari-
ção, em sua última mensagem, deu o seu segundo e último adeus desde Éfeso. A partir
destas aparições, o vidente foi até a casa de Maria, na Turquia, registrou todos os detalhes
e construiu no local da aparição, no interior de sua fazenda, uma réplica da casa original,
Fotos seguintes.
6.3 As Rezadeiras
A força das rezadeiras ainda marca forte presença no interior e muitas ainda conseguem
sobreviver, na periferia das cidades do Norte Fluminense. O poder de invocar Deus pedindo
forças ecoa por todo ambiente, refletindo na pessoa que carece da prece e das graças. São
rezas simples, no fundo do quintal, mas que, para muitos, são os caminhos da cura.
A publicação do “Abecedário da Religiosidade Popular”, de Frei Chico e Lélia Coelho Frota,
relaciona com clareza a religião dentro das camadas mais humildes e mostra a fragilidade
da vida material da maior parte da população.
Nos relatos das rezadeiras que, ainda, se perpetuam no tempo, apesar dos avanços nas
novas tecnologias, a fé na religião engloba pessoas de todas as classes sociais: “Vem gente
de tudo quanto é lugar e, algumas vezes, vem tanta gente que nem tem lugar para todo
108 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
mundo. Eu rezo quebranto, membros torcidos, espinhela caída e tudo quanto é enfermida-
de”, afirma a conhecidíssima dona Maria Preta, famosa na localidade de Mineiros. Sem me-
dir esforços trata todos com a mesma atenção e tenta transmitir a mesma força no sentido
de curar todas as doenças. É dela o seguinte fragmento:
Na localidade de Saturnino Braga, em Campos dos Goytacazes, Dona Irene Gama, 71 anos
- mas os anos não escondem a sua disposição, de dar inveja a muito jovem. Na casa sim-
ples, sinais de quem vive na e pela a religiosidade. Na sala apertada, três quadros dividem a
pequena parede: Santa Ceia, Nossa Senhora Aparecida e outro com a imagem do Sagrado
Coração de Jesus e de Maria. A reza aprendeu com seu avô, Antônio Simão, famoso reza-
dor daquelas paragens até o final do século passado. Diariamente, dezenas de pessoas
freqüentam sua casa a procura de alivio para as doenças do corpo e da alma. A maneira de
rezar de dona Irene é através de uma tesoura. “O aço da tesoura faz com que o mau olhado
não volte para mim. Eu curo qualquer doença, mau olhado, alergia e tudo que faz mal para o
coração”. Na hora da reza apenas algumas palavras são nítidas. Na maioria das vezes é um
confuso balbucio. Segue uma oração a Santa Bárbara:
“Santa Bárbara se vestiu, Santa Bárbara descansou. Nosso senhor perguntou: aonde vai Bárbara?
Vou para o monte, Senhor. Levaste a maldade, o mal de inveja, mal de feitiçaria para os montes sa-
grados. Para ver o galo cantar. Salve Rainha cravo divino, rosa de amor Nosso Senhor. Se tiver dor-
mindo acordai, acordada ela está vendo esta cruz. Eu rezo essa oração para que no final aprende
quem souber, não ensinai. No dia do juízo um grande castigo terá. Obrigado meu pai por mais um
dia”.
Enquanto ela reza mais uma pessoa com “mau olhado”, com muita fé e devoção, foi possí-
vel anotar mais uma oração:
“Filho, sua cama tem quatro cantos, cada canto um santo, cada canto da sua cama tem o Espírito
Santo. Sua cama tem quatro cantos, cada canto tem um santo, no meio da cama tem um letreiro com
Divino Espírito Santo. Sua cama tem quatro cantos, quatro anjos te acompanham: meu São Roque,
São Matheus, Virgem Maria e meu Senhor Jesus”.
Impossível não se encantar com a situação. Numa casa simples, uma senhora de 71 anos
dedica seus dias para ajudar os mais necessitados através de suas orações. Tida para to-
dos como uma líder da comunidade, dá conselhos para qualquer tipo de problema. Até hoje
sempre que acontece alguma coisa no lugarejo, as pessoas tratam logo de comunicar à
dona Irene, para saber dela o que fazer. Há décadas, quando os trabalhadores da antiga
usina de Baixa Grande ficaram sem receber, ela fez um repente para cantar para os donos.
A letra dizia assim:
“A usina de Baixa Grande só tem tamanho e beleza faz pagamento ao rico e sacrifica a pobreza.
Doutorzinho não demora vai mudar para o céu. Doutorzinho vai fazer companhia a Noel. Doutorzinho
este ano fez um papel engraçado, guardou o dinheiro que tinha para não pagar os empregados.
Como o salário aumentou ele se arrependeu adizou, o empregado e o dinheiro apareceu. Doutorzi-
nho que quero ver a coisa como é que, quanta infelicidade essa fábrica de papel. Doutorzinho escute
bem vê a coisa como é que os pobres passam com café (sic)”.
“Na estrada do Axéu se deu um causo maneiro. Um caminhão de Coca-Cola em uma Rural bateu. Eu
vou falar com Zé Barbosa para ele ter compaixão para fazer uma estrada reta de Donana a Santo
Antônio”.
“No dia três de outubro teve uma revolução mataram o chefe político por causa da eleição. Chora
toda família, não há dinheiro que pague. Leôncio perdeu a vida por causa de Getúlio Vargas”.
“Na estrada do Espinho se deu um causo maneiro. Na rompida do caminho apertaram Batista no
dedo. Ai meu Deus que coisa triste, meu Deus que coisa feia. Até hoje não descobriu a máscara ver-
melha”.
“Getúlio Dornelles Vargas foi grande herói varonil, para pobreza foi pai, enfrentou guerra a fuzil, mor-
reu e deixou seu nome no coração do Brasil. A classe proletária deu apoio e proteção, libertou o em-
pregado da cadeia e do patrão. Por isso todos operários traz (sic) ele em seu coração”.
O país inteiro sentiu se cala e não diz, mas no coração dos pobres seu nome deixou raiz. Pelas faltas
que Getúlio tem feito em nosso país. Para o burguês foi amigo e a pobreza foi pai. O país inteiro sen-
te desta lembrança não saí.
“Enquanto existir Brasil o nome dele não caí”.
As rezadeiras continuam trabalhando por todos os lados, nos bairros mais escondidos e
ruas mais remotas. Na localidade de Xexé, pertencente ao distrito de Farol, Tereza Silva
Santos, de 67 anos, atende todos os dias, a mais de 20 pessoas nos fundos de sua casa,
onde construiu um pequeno centro espírita de umbanda para abrigar seus inúmeros santos
e atender aqueles que procuram pela paz espiritual. No altar, uma mistura de devoção ao
catolicismo e a prática da umbanda. A continuidade do sincretismo religioso dos tempos da
escravidão. As imagens de São Jerônimo, Santa Bárbara, São Pedro, São Cosme e Dami-
ão, São João Batista, Santo Antônio, São Sebastião, São Lázaro e São Jorge, ficam juntos
aos caboclos e a adorada Iemanjá. Todos dividem um pequeno altar e recebem adorações
em suas datas especiais. Junto com sua irmã, Olga Benedita Silva, 66 anos, Terezinha, co-
mo gosta de ser chamada, atende aos enfermos, sem ter dia e nem horário marcado.
“Fazem fila aqui em casa para conversar comigo. Se Deus me deu de graça tenho que ajudar aque-
les que precisam. Comecei a me dedicar a isso quando minha filha tinha seis anos, ela sumia de den-
tro de casa, ficava perturbada. Levei em tudo quanto foi médico e nada deu jeito, até que uma entida-
de conversou comigo e me pediu ajuda, em troca curou minha filha. Hoje, ela é feliz e tem uma vida
normal como todo mundo”.
Contabilizar todos os casos que Terezinha resolveu fica difícil, entre eles, ela se lembra do
caso de um menino, de seis anos, que estava com anemia profunda e, totalmente desenga-
nada pelos médicos, quando procurou a rezadeira. Depois de muita oração e de beber al-
gumas ervas o menino ficou bom, precisando apenas de uma transfusão de sangue para
melhorar por completo. De acordo com Terezinha, a correria do dia-a-dia é gratificante
quando consegue resolver o problema das pessoas que chegam até sua casa. “Faço tudo
em nome da caridade, se eu puder ajudar é só vir até minha casa simples que será com
muita satisfação que atenderei”.
O Brasil tem evidente vocação para tornar a economia da cultura um vetor de desenvolvi-
mento qualificado, em razão de nossa diversidade e alta capacidade criativa. Temos impor-
tantes diferenciais competitivos, como a excelência dos produtos, a disponibilidade de pro-
fissionais de alto nível e a facilidade de absorção de tecnologias. O setor depende pouco de
recursos esgotáveis e tem baixo impacto ambiental. Gera produtos com alto valor agregado
e é altamente empregador. Seu desenvolvimento econômico vincula-se ao social pelo seu
potencial inclusivo e pelo aprimoramento humano inerente à produção e à fruição de cultu-
ra.12
A atividade cultural mais presente nos municípios é o artesanato (64,3%), seguida pela dan-
ça (56%), bandas (53%) e a capoeira (49%), esta última além da expressiva presença no
país é, ao lado da música, um dos segmentos que maior interesse desperta no exterior. Os
festivais apresentam-se como a mais dinâmica forma de difusão cultural no país: 49% das
cidades contam com festival de cultura popular, 39% com festival de música, 36% com festi-
val de dança, 26% com festival de teatro e 10% com festival de cinema.
Para Sind Reig, no âmbito pessoal, incentivar a cultura é investir na liberdade, é dotar cada
cidadã e cada cidadão de mais ferramentas para que se desenvolvam individualmente. Mas,
se a cultura nos cultiva, é não somente porque aumenta as nossas capacidades, mas tam-
bém porque nos nutre de valores imprescindíveis, como a responsabilidade e o compromis-
so, o esforço e a tolerância. Ela altera o modo como nos vemos e, ao fazê-lo, melhora nossa
autoestima e, ademais, transforma nossa maneira de ver os outros. Por essa mesma razão,
no âmbito cívico, incentivar a cultura significa fortalecer a convivência, reforçar o respeito e
lutar contra todas as formas de discriminação.
10
ÁNGELES GONZÁLEZ-SINDE REIG , roteirista e diretora de filmes, e ministra da cultura da Espanha.
11 Global Entertainment and Media Outlook 2004-2008″. Price Waterhouse Coopers, 2004
12
Economia da Cultura - Artigo publicado no jornal Folha de São Paulo, 3/2/2008
Dentro do Programa Cultura Viva do Governo Federal, as Regiões Norte e Noroeste Flumi-
nense foram contempladas com 13 Pontos de Cultura no Norte e 9 Pontos na Noroeste.
Cada projeto recebe a quantia de R$ 180.000,00 para desenvolver suas atividades num
período de 4 anos. Ao todo, o Estado do Rio de Janeiro recebeu 187 Pontos de Cultura no
último Edital, os quais se somaram aos 75 que já se encontravam em andamento. Neste
Edital foi considerada a distribuição dos recursos de acordo também com o número de habi-
tantes por região. As Tabelas (3 e 4 ) listam as instituições e projetos contemplados no edital
de 2009.
13
http://www.sebraerj.com.br
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 113
que se dedicam à cafeicultura. No entanto, Anexo figura o extrato com as fazendas que fa-
zem parte do Projeto “Inventário de Bens Culturais Imóveis Desenvolvimento Territorial dos
Caminhos Singulares do Estado do Rio de Janeiro”, INEPAC, 2004, do Ciclo do Café, situa-
das na Região Noroeste Fluminense.
Do ponto de vista das demandas específicas do setor cultural, estas implicam, dependendo
da complexidade do universo cultural do município, na implementação e promoção de insti-
tuições de formação e aperfeiçoamento, na promoção de sistemas específicos de produção
cultural, na criação de espaços de realização e de difusão cultural, na implementação de
programas, projetos e bases institucionais de ação cultural, na criação instrumentos de fi-
nanciamento para os produtores culturais e, ainda, na criação de legislação e regulação que
viabilize a operação, proteção e o incentivo às atividades culturais.
Tem-se então um leque que, sem exaurir o tema, passa por questões que abrangem a infra-
estrutura, a formação tanto de artistas e criadores, quanto de gestores, de empreendedo-
rismo, estímulo à criação, produção, a difusão e circulação, preservação dos patrimônios
cultural, histórico e ambiental em todas suas dimensões. O grau de complexidade do setor
cultural deixa entrever a necessidade de desenhos e soluções institucionais que lhe corres-
pondam.
14
Perfil dos Municípios Brasileiros 2006 /Cultura, IBGE.
114 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
Organização
No que diz respeito à estrutura que as Municipalidades usam para gerir a Cultura, 8 em 13
do municípios do Noroeste e 4 em 9, do Norte possuem um organismo dedicado. Ainda há
uma parcela importante que tem a Cultura junto com a Educação, enquanto um município,
Bom Jesus do Itabapoana informou não ter uma área para gerir a Cultura.
Fundo Municipal
Apenas 4 municípios da Região Norte possuem um Fundo Municipal de Cultura, o que lhes
permite alocar recursos e desenvolver atividades regulares, contínuas, que consubstanciem
os seus planos e programas de desenvolvimento da Cultura.
Participação da Sociedade
Instalações Específicas
Calendário Cultural
Com exceção de Laje do Muriaé, Macaé e São Jose de Ubá que informaram não possuir,
todos os demais respondentes trabalham com Calendário de Eventos anuais, o que sinaliza
para uma orientação que ainda valoriza a Cultura pela promoção de eventos. No entanto,
deve-se considerar que os eventos preenchem grande parte da agenda de lazer da maioria
dos municípios de ambas as Regiões.
Carapebus, Macaé e São Fidelis, na Região Norte mostraram melhor infra-estrutura turística
entre os respondentes. Há vários municípios com instalações muito limitadas e com quali-
dade ainda essencial.
Campos dos Goytacazes s/i s/i s/i s/i s/i s/i s/i s/i
Carapebus 3,0 0 2,5 0,45 2,0 0 0 3,0
Cardoso Moreira 3,0 2,5 2,5 0,39 2,0 2,0 0,5 1,8
Conceição de Macabu 1,5 0 1,0 0,41 2,0 2,0 0 1,8
Macaé 3,0 0 0 0,59 0 0 0 3,0
Quissamâ 3,0 2,5 2,5 0,42 2,0 2,0 1,0 1,5
São Fidelis 3,0 2,5 2,5 0,31 2,0 2,0 0 3,0
São Francisco de Itabapoana s/i s/i s/i s/i s/i s/i s/i s/i
São João da Barra 3,0 2,5 0 0,32 2,0 2,0 0,5 2,7
s/i* – sem informação
“Um grupo de turistas foi reunido, logo no início da manhã, em um hotel da cidade. Estava
pronto para fazer o circuito do Corredor Memória de Campos. O passeio está incluído no
pacote comprado em uma operadora que, sem muito entusiasmo, recentemente acrescen-
tou a cidade em seus roteiros turísticos, mas vinha se surpreendendo com a procura.
A propósito, gostoso de ouvir é também o nome da localidade onde fizeram a primeira para-
da. Donana. Foi para uma rápida visita à capela Nossa Senhora do Rosário, construída em
meados do século XVII por nobres portugueses ainda no período de domínio Asseca.
Depois, uma parada em uma usina de açúcar, em Goitacazes. Os turistas ficaram encanta-
dos com as máquinas gigantes, com o cheiro de melaço, com a rotina dos operários, com o
processo de feitura do álcool, com as explicações dos técnicos, com as peças do museu do
açúcar e com a mostra permanente de doces típicos.
A maioria dos integrantes do grupo nunca tinha visto um chuvisco, o doce de origem portu-
guesa fabricado há mais de dois séculos em Campos. Compotas e mais compotas da ver-
são em calda, e caixas e caixas da versão cristalizada, foram compradas ali mesmo depois
da sessão de degustação.
Ainda em Goitacazes, eles conheceram a igreja de São Gonçalo e a de São Benedito. Visi-
taram também a Casa de Cultura José Cândido de Carvalho, que antecipa explicações so-
bre a obra do autor que os turistas ainda iriam rever adiante no parque do Coronel e do Lo-
bisomem, construído em terras imaginárias do coronel Ponciano de Azeredo Furtado, nas
cercanias de Santo Amaro.
Passaram pelo Solar do Colégio e ouviram as histórias do lugar e da heroína Benta Pereira,
ali sepultada. Retomaram a Rodovia do Açúcar e pararam em Campo Limpo, para conhecer
outra capela dedicada a Nossa Senhora do Rosário, construída por escravos no século
XVIII. Em seguida, passearam pelos corredores do Mosteiro de São Bento, erguido pelos
beneditinos no final do século XVII.
No final da manhã, um restaurante com vista para a vasta planície recebeu a todos para o
almoço e para um breve descanso em redes espalhadas pelo varandão do antigo solar de
fazenda restaurado recentemente. Renovavam as energias para a longa tarde que os espe-
rava.
Ainda era preciso conhecer a estação de Baixa Grande, a loja do pólo ceramista, um alam-
bique, o museu do petróleo e o da pesca, o farol de São Thomé, além do já citado parque do
Coronel.
“Artista que não seja bom artesão, não é que não possa ser artista;
simplesmente, ele não é artista bom. E desde que vá se tornando
verdadeiramente artista, é porque concomitantemente está se
tornando artesão.”
Mário de Andrade
8.1 Etimologia
No sentido etimológico, Chiti (2003) considera que artesanato deriva de artesão, de artífice,
de trabalho feito a mão, transmitido por um mestre de arte e ofício para aprendizes. A pala-
vra artesão foi empregada na Antigüidade, Idade Média, Renascimento, Idade Moderna e
Industrial. Com significados similares, na atualidade contemporânea a produção artesanal
ressurge como uma importante função laboral e ocupacional, permitindo que excluídos do
mercado de trabalho formal criem novas ocupações para a geração renda.
8.2 Conceito
A partir do conceito proposto pelo Conselho Mundial de Artesanato, na cidade de Bogotá,
Colômbia, em 1996 pode-se conceituar artesanato através da seguinte definição: artesanato
é toda atividade produtiva que resulte em objetos e artefatos acabados confeccionados ma-
nualmente ou com a utilização de meios tradicionais ou rudimentares, com habilidade, des-
treza, qualidade e criatividade (SEBRAE, 2004, p.21).
O artesanato não é nacional, é local. Indiferente às fronteiras e aos sistemas de governo, ele sobre
viveu a repúblicas e impérios. Os artesãos não têm pátria: suas verdadeiras raízes estão nas vilas
nativas, ou mesmo em um único quarteirão, ou em suas famílias. O artesão não se define em termos
de nacionalidade ou de religião. Ele não é fiel a uma idéia, nem mesmo a uma imagem, mas a uma
disciplina prática: seu trabalho.
15
Escritor e diplomata mexicano, Prêmio Nobel em 1991.
120 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
faturam todos os supermercados do país, e encosta-se em uma das mais tradicionais indús-
trias brasileiras, a automobilística, que detém pouco mais de 3% do PIB nacional. Para che-
gar a esses números, o Governo Federal levou em conta o fato de existirem cerca de 8,5
milhões de artesãos no país, e que cada um deles recebe em média, de dois a três salários
mínimos por mês, com a venda de seus produtos.
Gráfico 1 - Percentual de Municípios com Atividade Artesanal por Tipo, Brasil, 2006
Além das ações a serem realizadas até 2011, o documento estabelece metas de aumentar
a faixa de renda dos artesãos, com a venda dos produtos, em 5%, até dezembro de 2009,
10%, até dezembro de 2010, e 15%, até dezembro de 2011. E também prevê aumento do
número de pessoas diretamente envolvidas nos grupos de produção artesanal em 5%, até
2009, 10%, até dezembro de 2010, e 15%, até dezembro de 2011.
Ainda dentro das ações do Estado na Região para promover o artesanato local, o SEBRAE
mantém, na cidade de Itaperuna e Natividade, o Programa Empreendedorismo Social do
SEBRAE/RJ, que promove a geração de trabalho e renda através da valorização da Cultura
local e contribui para a inclusão social. Dois grupos de artesãos, Bordando o Futuro (Itape-
Dentre seus objetivos, está a busca de informações para integrar ações de turismo, artesa-
nato e cultura através da identificação dos vestígios de matérias sobreviventes ao processo
de ocupação do território fluminense. Isto pressupõe o reconhecimento e registro daqueles
elementos – arquiteturas e paisagens - que constituem o “Patrimônio Cultural” construído
pelo homem, ao longo dos séculos. A visão que se pode ter do Rio de Janeiro a partir do
entrelaçamento de atividades econômicas superpostas no tempo e no espaço, como a ex-
ploração do sal, a implantação da cultura do açúcar, os caminhos de circulação e escoa-
mento do ouro, e finalmente a economia do café, é realmente singular. Todas estas ativida-
des estimularam modelos de produção, histórias cotidianas e estilos de vida particulares,
tendo, no seu conjunto, a contribuição de diversas etnias – do homem branco, negro e índio.
A miscigenação das raças e as transformações socioculturais decorrentes contribuíram e
ainda podem servir de insumos, para o desenvolvimento de técnicas artesanais e a produ-
ção de artefatos com identidade territorial.
A cultura, tecida ao longo dos tempos nos Caminhos Singulares do Rio de Janeiro, apresen-
ta vestígios tanto de bem material quanto imaterial que podem ser observados à luz da ico-
nografia, da paisagem natural e construída. Esses elementos são importantes para o desen-
volvimento de um artesanato original, que possa refletir a essência de determinado lugar ou
território, como uma paisagem cultural. Assim sendo, os Caminhos Singulares do Rio de
Janeiro, com a agregação dos Caminhos Urbanos, cumprem a importante função de resga-
tar a trama da história e os fragmentos culturais que alimentam o desenvolvimento das ca-
deias de habilidades produtivas do artesanato fluminense.
O Governo Federal, através Ministério da Cultura, lança editais para a distribuição de recur-
sos para a promoção dos valores culturais dentro do programa Cultura Viva. No Edital de
2009, as Regiões Norte e Noroeste do Estado do Rio de Janeiro somaram 25 novos Pontos
Para Augustin Berque (1998:84-89), “A paisagem é uma marca, porque exprime uma civili-
zação, mas também é uma matriz, porque participa de esquemas de percepção, de concep-
ção e de ação — isto é, da cultura — que canalizam, em certo sentido, a relação de uma
sociedade com o espaço e com a natureza.”
16SILVA, Heliana Marinho. In: Por uma teorização das organizações de produção artesanal - habili-
dades produtivas nos caminhos singulares do Rio de Janeiro, Fevereiro de 2006, Rio de Janeiro, RJ
Fonte: Projeto Inventário de Bens Culturais Imóveis. Desenvolvimento Territorial dos Caminhos Singulares do Estado do Rio de Janeiro.
INEPAC, Rio de Janeiro, 2006
Fonte: Projeto Inventário de Bens Culturais Imóveis. Desenvolvimento Territorial dos Caminhos Singulares do Estado do Rio de Janeiro.
INEPAC, Rio de Janeiro, 2006
Fonte: Projeto Inventário de Bens Culturais Imóveis. Desenvolvimento Territorial dos Caminhos Singulares do Estado do Rio de Janeiro.
INEPAC, Rio de Janeiro, 2006
O Estado do Rio de Janeiro é uma síntese da história econômica, política, social e cultural
do país. Muitos dos eventos significativos ocorridos no Brasil, desde sua colonização, até os
dias atuais, foram emanados ou impactaram fortemente o solo Fluminense.
17
SILVA, Heliana Marinho. In: Por uma teorização das organizações de produção artesanal - habilidades produ-
tivas nos caminhos singulares do Rio de Janeiro, Fevereiro de 2006, Rio de Janeiro, RJ
Dos que responderam à pergunta sobre suas atividades antes do artesanato, 29% sinaliza-
ram que eram autônomos; 27% eram empregados de média ou pequena empresa; 18% não
exerciam atividades produtivas; 9% eram trabalhadores informais e 6% funcionários públi-
cos, na maioria, municipais.
18
Pesquisa relizada por Heliana Marinho da Silva, e apresentada na defesa de tese de doutoramento na Funda-
ção Getúlio Vargas em 2006.
O universo da pesquisa foi constituído por 99 sujeitos, pertencentes a 14 grupos de artesãos do Estado do
Rio de Janeiro (ver apêndice).
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 133
Na proposta de estimular um artesanato mais cultural, abre-se a perspectiva de desenvolver
os segmentos religiosos, lúdicos e educativos, até então sem expressão no artesanato flu-
minense, mas com grande potencial de mercado, na atualidade. Considerando que o arte-
sanato fluminense está em processo de recriação, a abordagem de desenvolvimento territo-
rial tem mais sentido, ainda, quando se constata que 53% dos artesãos sempre viveram no
município onde se encontram e que 41% nasceram em outra localidade, mas estão radica-
dos há muitos anos no território, o que favorece o sentimento de pertencimento ao local, na
medida em que 86% dos entrevistados consideram que o trabalho do artesão contribui para
o fortalecimento dos elos socioculturais da comunidade.
Nos municípios fluminenses estudados, 37% dos artesãos são autônomos; 36% atuam em
grupos informais e 27% participam formalmente de associações e cooperativas. De maneira
geral, 32% informaram que as relações interpessoais mantidas entre o artesão e o grupo
são estruturadas com valores de reciprocidade e troca. Para 26%, há maior aproximação
entre as pessoas, com aumento dos vínculos afetivos; 23% vinculam a aproximação das
pessoas com a ampliação do bem-estar; e para 21% há elevação do nível de confiança en-
tre os elementos do grupo. Esta situação reflete-se no posicionamento frente ao território em
que vivem e trabalham: para 51%, as atividades artesanais incentivam a troca de bens, ser-
viços e informações entre as pessoas, enquanto 49% acham que o trabalho com artesanato
pode contribuir para o desenvolvimento econômico do território.
As características mais marcantes do artesão do Estado do Rio de Janeiro são que 39%
fazem artesanato para complementar a renda familiar; 16% transformaram trabalhos manu-
ais em novos negócios, substituindo a alegoria do hobby pelo micro negócio; 13% dizem-se
desempregados; e 12% confirmam que sempre trabalharam com artesanato. Vale registrar
que 8% dos entrevistados fizeram opção pelo artesanato como estilo de vida. Dos artesãos
ouvidos, 32% acham que o atual interesse pelo artesanato decorre da sua consolidação
como atividade econômica. Para 28%, o artesanato é uma alternativa de geração de traba-
lho e renda para qualquer pessoa; 18%, no entanto, consideram que esta alternativa, de
trabalho e renda, é valida apenas para os grupos menos favorecidos. Interessante observar
que apenas 3% percebem o artesanato como modismo e algo passageiro. Declaram subme-
ter-se parcialmente às exigências do mercado e, como isonomias e fenonomias, verificam
que a atividade artesanal pode ser lucrativa, em 58% dos casos. Todavia, 28% consideram
que não podem viver apenas do artesanato, embora reconheçam que o desenvolvimento do
ofício gere renda.
Na opinião dos artífices, o artesanato deve ser comercializado em feiras, 31%; mercado al-
ternativo, informal ou organizado para o comércio justo e solidário, 29%; distribuído em lojas
e supermercados, 18%; vendido na vizinhança, para parentes e amigos,16% . Estas formas
parecem, realmente, as mais adequadas e com maior afinidade ao produto artesanal. Con-
tudo, cada uma delas exige uma organização diferenciada e deverá ser utilizada de acordo
com o perfil do artesão, com a categoria do artesanato, com a temática mercadológica e
com o segmento de mercado da produção.
É vital dar atenção aos quesitos de qualidade e originalidade. No último caso, as peças mais
genuínas são as que contêm informações do território de origem, com o aproveitamento da
matéria prima disponível, das técnicas e saberes locais, bem como das referências histórico-
culturais que dão singularidade ao local.
Das pessoas que responderam à pesquisa, percebe-se que a idade predominante do arte-
são situa-se na faixa de 40 a 50 anos, intervalo declarado por 28% dos respondentes; em
seguida encontra-se a faixa entre 30 e 40 anos, que enquadra 24% dos artífices; 17% estão
situados antes dos 20 a até 30 anos e 16% estão no extremo, de 50 anos a acima dos 60
anos.
134 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
O desenvolvimento de métodos de ensino para o artesanato, portanto, deve considerar o
nível de maturidade e as razões que levaram as pessoas a optar pela atividade de artífice.
Isto faz toda a diferença, especialmente porque 94% deste contingente são constituídos por
mulheres, das quais, 52% acreditam que podem contribuir para um mundo melhor; 25% a-
postam que a sociedade pode ser solidária e 18% têm uma visão de mundo humana e fra-
terna.
A solução desses problemas passa pelo tratamento do artesanato como uma cadeia de ha-
bilidades produtivas, que estimule a convergência das instituições que atuam com o artesa-
nato nos municípios e Regiões, evitando a disputa pelo beneficiário e a dispersão de recur-
sos e energias. É importante agregar profissionais de outras formações, como designers e
consultores especializados em mercado, formação de preços e gestão de pequenos negó-
cios, e finalmente estimular o trabalho artesanal em redes de produção, organizando as ati-
vidades e dando escala ao produto. O artesanato é percebido por 90% dos artesãos com
potencialidade para integrar uma cadeia produtiva, principalmente se eles se organizarem
para o desenvolvimento de produtos. Neste modelo, consideram que é fundamental a parti-
cipação de instituições e de profissionais de outras áreas de produção e de conhecimento.
Esta compreensão é fruto do intenso trabalho que tem sido realizado pelas instituições de
fomento ao artesanato no Rio de Janeiro, a exemplo do SEBRAE, e da receptividade do
artesão para receber novas informações para a melhoria do seu produto.
O saldo do evento foi positivo para os grupos de artesanato que, na totalidade, envolveram
139 artesãos.
Em dois dias de evento, fizeram negócios e receberam uma série de novos pedidos, inclusi-
ve para exportação, Tabela seguinte.
Areia
Tradicional em todo o Estado do Rio de Janeiro,é a preparação de tapetes-de-rua por cima
dos quais passa a procissão de "Corpus- Christi". O material empregado depende dos re-
cursos materiais da Região: areia e sal grosso nas cidades do litoral salineiro; borra de café,
vidro picado, serragem, folhas, pétalas de flores, tampinhas de garrafas, casca de ovo tritu-
rada e terra colorida nas cidades do interior. A comunidade local se encarrega da criação
dos motivos desenhados. Em alguns locais o tapete é dividido em muitas seções, pelas
quais se responsabilizam colégios, lojas comerciais, clubes, associações religiosas, famílias,
etc. Os temas são quase sempre de fundo religioso: Cristo, Nossa Senhora, santos, anjos,
pombas, cálices e hóstias.
Costumam fazer também, flores, gregas, pássaros, etc. Ultimamente muitos aproveitam pa-
ra também transmitir mensagens sociais, ecológicas, educacionais.
Argila
A argila é matéria-prima para a confecção de objetos de cerâmica decorativa, utilitária e ritu-
alística. Ela vem sendo carreada pelo rio Paraíba do Sul a muitos séculos provavelmente
milênios. Algumas vezes é modelada com o auxílio de tornos rudimentares montados nos
quintais. Neles o ceramista modela objetos de forma circular como potes, jarros, panelas. Ou-
tras vezes, o artesão utiliza apenas as mãos, modelando determinada porção de argila até
conseguir a forma desejada: objetos decorativos ou ritualísticos, como bonecos, santos, bi-
chos. O cozimento da peça acabada é feito em fornos de lenha, cuja temperatura chega a
1.000ºC. A pintura, se usada, faz-se com tinta industrializada ou com tintas extraídas de
vegetais, como o urucum (coloração vermelha) ou o jenipapo (coloração preta); Usa-se ain-
da, de origem mineral, o amarelo, do óxido de ferro.
Bambu
Vegetal nativo - Bambusa arundinacéa Willd - com muitas variedades, desde o bambu-
japonês e a taquara (muito flexível), até o bambu-gigante, com 25cm de diâmetro. Recém-
colhido, é cortado em tiras finas que são trançadas para fazer cestos, objetos de adorno,
peças de mobiliário, gaiolas, alçapões, peneiras, esteiras de carro-de-boi, instrumentos mu-
sicais (flautas, recorecos). O bambu presta-se também à construção de forros, paredes, por-
tões, cercas e luminárias.
Bananeira
A palha da bananeira (embira) - Musa sapientum L. (musaceae) – é material muito utilizado
para diversos tipos de artesanato. As fibras do talo central das folhas, de textura fina, são
aproveitadas para a confecção de bolsas, esteiras, sacolas, chapéus, tiras para sandálias e
outros objetos de uso. Das fibras do caule misturadas a outras mais resistentes são feitos
cestos, capachos e sacolas. As folhas, depois de secas, são utilizadas na criação de flores,
Brejaúva
Palmeira - Astrocaryum ayri Mart. (palmae) - da qual se aproveita a palha e o coco. A palma,
seca ao sol, transforma-se em palha clara que serve para confeccionar cestinhas ovais ou
redondas. Costuradas com agulhas de saco, as cestas são enfeitadas com os fios da palha,
coloridos com anilina em pó, em vermelho, azul e verde.
Bucha
Planta trepadeira geralmente desenvolvida em cercas vivas. O fruto, depois de seco, retira-
das as sementes, transforma-se em material leve, esponjoso, cor de palha, aproveitado na
confecção de diversas peças ornamentais e utilitárias: flores, leques, chinelos, bolsas, cha-
péus, etc..
Capim
O capim barba-de-bode - Andropogum sp. (Graminaea) - já seco, é trançado, usado para
fazer bolsas, cestas e chinelos. Trabalha-se com agulhas e linhas grossas de bordar, colori-
das, para prender as fibras, enfeitar e armar as peças.
Cera
A cera de abelha-cachorro ou abelha-europa presta-se à modelagem de figuras humanas,
personagens de presépios, igrejinhas, casas, bois, galinhas, quase sempre miniaturas. De-
pois de colhida e limpa a cera, maleável e de fácil manuseio, é trabalhada pura, sem acrés-
cimo de nenhum outro material.
Chifre
Material usado na confecção de objetos diversos: cofres, cabos de talheres, figas, anéis e
figuras de animais (peixes, pássaros). Amolecido em água fervente durante cerca de uma
hora, é trabalhado à mão, com o auxílio de serras, facas, grosas, martelos, canivetes e até
mesmo de cacos de vidro. Na complementação das peças, usa-se, às vezes, metal e osso.
Cipó
O cipó, como o bambu e a taquara, é usado para a produção de cestos de dimensões e for-
matos variados e de abanos para fogão de lenha. É trançado ainda verde, sem tratamento
prévio, especialmente o cipó caboclo - Davilla rugosa Poir ( Dilleniaceae), o cipó-imbé – Phi-
lodendron bipinnatifidum Schoott (Aracaea) e o cipó-una – Arrabidaea sp.(Bignoniaceae) -
que depois de maduros perdem a maleabilidade e tornam-se quebradiços.
Couros
Com o couro de alguns animais (boi, cabra,) fabricam-se peças de diferentes utilidades: se-
las, arreios, cangalhas, cabrestos, rédeas, chicotes, tamoeiros, rebenques e outras, próprias
para o transporte a cavalo ou em carro-de-boi. Bolsas, carteiras, chapéus, sandálias, cintos,
jalecos, luminárias, pulseiras, anéis, têm também como matéria-prima o couro. Deste mate-
rial são feitas ainda as máscaras de palhaços de folias de reis. Os instrumentos utilizados
são: máquina de costura, sovela, faca, torquês, ferro de rebaixo e outros ferros encontrados
em pequenas oficinas.
Diversos
Diversos materiais são utilizados no artesanato de instrumentos musicais. Os de corda são
feitos de madeira (camará, para as costas e ilhargas; caviúna para o braço). Para a cerda
dos arcos usa-se crina de cavalo. Os instrumentos de sopro, geralmente são feitos de bam-
bu. As flautas são mais comuns, além dos clarinetes, cujo corpo é formado de seções de
bambu, de diversas dimensões, articuladas. Para instrumentos de percussão - tambores,
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 139
bumbos, caxambus - usa-se, couro de cabrito ou bezerro, combinado com madeira. A suca-
ta de metal, junto ao plástico ou couro, dá origem a instrumentos de percussão: chocalhos,
ganzás, pandeiros, caixa, bumbo, tarol e outros.
Flecha de Ubá
Com a flecha de ubá - Chuequea sp. (Gramineae) - cortada em época própria para não dar
bicho (abril), constroem-se gaiolas de tamanhos e formas diversas: igrejas, castelos com
um, dois ou três andares - "catedrais", retangulares, quadradas e cilíndricas.
Juta
A juta - Corchorus capsularis L. ( Tiliaceae) - é usada no artesanato de tapetes, estandartes
e figuras de presépio. Serve, também, de pano de fundo para a aplicação de motivos em
pano colorido. Desfiada, presta-se à confecção de cabeleiras em bonecos.
Lã
Com fios de lã industrializada são tecidas, em tricô ou crochê, peças de vestuário: suéteres,
casacos, saias, vestidos, roupas de bebê, cachecóis, gorros. Também há registro de tecela-
gem de mantas, passando por todas as fases do processo - desde a limpeza de lã, carda-
ção, preparação do fio na roca, tintura, até o trabalho de tear.
Linha
Com linhas industrializadas, de carretel ou novelo, confeccionam-se em crochê, bordado, tri-
cô, peças utilitárias ou ornamentais: redes, colchas, toalhas, cortinas, blusas, vestidos.
Madeira
Com ferramentas diversas (machado, enxó, plaina, formão, facas e outras) são esculpidos
ou entalhados pelos artesãos fluminenses imagens de santos, figas, orixás, carrancas, más-
caras, objetos de decoração, gamelas, pilões, instrumentos musicais, canoas, etc. Gaiolas
de diferentes feitios são feitas, algumas vezes, apenas com encaixes de varetas, sem utili-
zação de pregos ou arames. Também a xilogravura se faz presente. Aproveitando a forma
natural de raízes, confeccionam-se diversas espécies de animais.
Mandioqueiro
Do tronco do mandioqueiro - Didy mopanax anomalum Tamb. (Araliaceae) obtem-se fibras
brancas, finas e flexíveis, extraídas com uma plaina. Depois de secas, as fibras são trança-
das à mão e costuradas à máquina para a confecção de chapéus e bolsas. Costumam ser
tingidas com anilina em cores diversas.
Metal
No artesanato em metal (funilaria) é freqüente a confecção de peças das mais variadas:
brinquedos (carros, caminhões, aviões,lustres, luminárias, em latão e cobre.
Milho
A palha seca do milho - Zea mays L. – é utilizada na confecção de flores, leques, chapéus,
bolsas e figuras humanas. Algumas vezes aparece combinada com a bucha, a palha de ba-
naneira e o bambu.
Pita
Dos fios obtidos da folha da piteira confeccionam-se tranças com que se armam diversas
peças artesanais. Do caule da flor (pendão central que se ergue dentre as folhas) são feitas
miniaturas de canoas. Para isso o caule é cortado em diversos segmentos que são escava-
dos a faca, até tomarem o formato de uma canoa inteiriça.
Sementes
Sementes de plantas nativas são utilizadas de diversas maneiras. Uma vez colhidas, são
postas a secar e, "in natura" ou envernizadas, entram na composição de diferentes peças. A
lágrima-de-nossa-senhora., por exemplo, de cor acinzentada e muito resistente, enfiada em
fios de arame mais ou menos maleáveis, presta-se à confecção de cestos para guardar o-
vos, cortinas e adereços. São bastante utilizadas para a confecção de bijuterias.
Taboa ou tabua
Planta nativa que cresce nos banhados - Typha dominguensis Pers (typhaceae). Sua fibra
flexível e resistente, trabalhada depois de seca, serve para a confecção de esteiras, bolsas,
chinelos, tapetes, redes, cestas, sacolas, cachepôs, estandartes, descansos para pratos e
travessas, etc. Para se fazer a esteira, usa-se técnica semelhante à do tear, varas de madei-
ra forte (o tendá) e barbantes em rolo, tendo nas pontas pedaços de madeira ou tijolos (os
cambitos), com o auxílio dos quais a palha é trançada.
Tecidos
Retalhos lisos ou estampados, de todos os formatos, costurados uns aos outros ou aplica-
dos sobre estopa, compõem colchas, almofadas, tapetes, toalhas, cortinas e outras peças.
De caráter artesanal são também os trajes de alguns figurantes de folguedos: os trajes dos
componentes do Mineiro-Pau e dos palhaços de Folia de Reis, os saiotes para o Boi, para o
Veado e a Mulinha, a roupa do Jaraguá e dos Bonecos. Bandeiras ou estandartes dos gru-
pos de Folia de Reis são feitos de tecido colorido, acrescido de estampas, bordados, fitas,
flores de plástico e véus. No artesanato com tecidos incluem-se, ainda, as bruxinhas e os
bonecos de pano.
Vime
A vara tenra e flexível do vimeiro trançada presta-se à fabricação de diversas peças utilitá-
rias e ornamentais, como cestos, abajures, figuras de animais domésticos, que servem co-
mo suportes para flores, frutas, alimentos. Na confecção de móveis (cadeiras, mesas, estan-
tes, colunas, camas, etc.), o vime é trançado com reforço básico de madeira. Esses móveis,
de formas muito variadas, são em geral decorados com desenhos trançados no próprio vi-
me.
8.8 A Cerâmica19
O Parque Industrial de Campos dos Goytacazes é formado por mais de cem cerâmicas, ab-
sorvendo, segundo informações do próprio segmento, mais de 5.000 pessoas. Este tipo de
19
In: I. S. Ramos, J. Alexandre, M. G. Alves, V. Vogel, M. Gantos A indústria cerâmica vermelha de Campos
dos Goitacazes e a inclusão social das artesãs da baixada campista através do projeto Caminhos de
Barro, Laboratório de Engenharia Civil - LECIV, Centro de Ciências e Tecnologia – CCT Universidade Estadual
do Norte Fluminense – UENF. RJ
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 141
trabalho, de um modo geral, emprega pessoas capazes de suportar serviços pesados, ex-
cluindo desta forma mulheres, idosos e portadores de necessidades especiais.
Uma análise técnica semelhante, utilizada para caracterização e adequação dos produtos
industrializados pelas indústrias cerâmicas mostrou-se também adequada para o artesana-
to.
O município de Campos dos Goytacazes apresenta uma grande reserva de argilas, originá-
rias de processo de decantação de materiais silto-argilosos da carga de suspensão em am-
bientes de planície de inundação após eventos de enchentes do Rio Paraíba do Sul; a área
de concentração destes depósitos encontra-se à margem direita do Rio Paraíba do Sul, ao
longo da estrada RJ-216 que liga o distrito sede de Campos ao Farol de São Tomé.
Mapa 5 – Região Norte Fluminense, Carta Imagem com as Localidades e Área Fonte de Argilas
(carta imagem com a identificação da área fonte de material – Saquarema - e as localidades nas
quais se encontram as oficinas das artesãs: Poço Gordo e São Sebastião).
O Projeto Arte, Educação e Cidadania: Oficina de Arte Cerâmica "Caminhos de Barro”, ini-
ciou-se no ano de 2000, no âmbito do Centro de Ciências do Homem, da UENF, com a ex-
pectativa de criar um espaço alternativo e privilegiado para a educação e a formação artísti-
ca, cultural e técnica da comunidade do município de Campos, contribuindo para o processo
de desenvolvimento econômico do Pólo Cerâmico da Região, fomentado pelo Governo do
Estado do Rio de Janeiro.
20
Disponível em
<http://www.uenf.br/Uenf/Pages/CCH/UESI/Ceramica/?&modelo=1&cod_pag=1247&tabela=&np=O+
Projeto&nc=Caminhos+de+Barro&buscaEdicao=&grupo=CERAMICA&p=> Acesso em 05.01.2010
Fonte: In: I. S. Ramos, J. Alexandre, M. G. Alves, V. Vogel, M. Gantos A indústria cerâmica vermelha de Cam-
pos dos Goitacazes e a inclusão social das artesãs da baixada campista através do projeto Caminhos de
Barro, Laboratório de Engenharia Civil - LECIV, Centro de Ciências e Tecnologia – CCT Universidade Estadual
do Norte Fluminense – UENF. RJ
A Oficina trabalha em parceria com o Colégio Estadual Leôncio Pereira Gomes, e consti-
tui um dos projetos de extensão universitária, concebido como uma estratégia para fomentar
o desenvolvimento humano local, na atualidade.
Para uma melhor compreensão e execução da proposta, inicialmente o Projeto foi dividido
em três componentes específicos e interligados que atendiam aos objetivos gerais do Proje-
to: histórico, sócio-cultural e técnico–informacional.
Na segunda fase, criou-se um Sistema de Informação Visual, concebido como uma proposta
de uso da tecnologia da imagem aplicada à pesquisa, referência documental e preservação
da memória social comunitária da região de São Sebastião. Nele buscou-se identificar, refe-
Fonte:
<http://www.uenf.br/Uenf/Pages/CCH/UESI/Ceramica/?&modelo=1&cod_pag=1247&tabela=&np=O+
Projeto&nc=Caminhos+de+Barro&buscaEdicao=&grupo=CERAMICA&p> Acesso em 05.01.2010
O projeto Arte-Cerâmica “Caminhos do Barro”, desde suas origens visa contribuir para um
processo de autovaloração. Direcionando-se principalmente, para mães dos alunos, visando
a geração de renda feminina, que pudesse levar as mulheres -nitidamente excluídas do
mercado de trabalho da cerâmica e limitadas ao âmbito doméstico do trabalho invisível- a
contribuir na economia familiar da população. Outro alvo da oficina são as crianças das es-
colas, muitas delas –principalmente os meninos- destinadas historicamente ao trabalho in-
fantil e outras condições degradantes nas olarias.
Aproveitando condição diferencial da Região -o trabalho com o barro- a arte cerâmica foi
escolhida como estratégia alternativa de geração de renda através da arte e/ou artesanato,
que, tendo um maior valor agregado que o tijolo ou a telha, acaba favorecendo uma susten-
tabilidade possível frente ao fenômeno da deterioração do meio ambiente, decorrente de
formas irracionais de exploração dos recursos naturais.
A criação do núcleo em Poço Gordo, distrito vizinho a São Sebastião, tem caráter estratégi-
co, uma vez que a criação de um Pólo de Arte Cerâmica auto-sustentável, como alternativa
para geração de renda para a Região, não pode prescindir da formação de massa crítica,
particularmente jovens, capaz de incorporar, reproduzir e aperfeiçoar o saber adquirido pe-
las primeiras gerações de artesãos.
Na atualidade, a Oficina já conta com um Núcleo em Poço Gordo, onde são ministradas au-
las para crianças, jovens e senhoras da localidade através de alunas já formadas pelo pró-
prio Projeto. A sua equipe conta com instrutores, ceramista, pedagoga, coordenadores e
diagramadores todos empenhados em ensinar para diferentes níveis de formação e espe-
cialização.
Avalia-se o impacto da Oficina, tanto na vida dos adultos da comunidade como em relação
ao rendimento escolar dos alunos.
Disponível em:
<http://www.uenf.br/Uenf/Pages/CCH/UESI/Ceramica/?&modelo=1&cod_pag=1247&tabela=&np=O+
Projeto&nc=Caminhos+de+Barro&buscaEdicao=&grupo=CERAMICA&p= >Acesso em 05.01.2010
Segundo os seus organizadores, em 2009 o Setor de Artesanato vendeu 30% a mais do que
o ano passado, durante a XI MercoNoroeste. De acordo com o gestor do Projeto, metodolo-
gia GEOR do SEBRAE/RJ, o fato se deve talvez ao aumento do número de grupos de arte-
são que estiveram presente: “ano passado participaram 11 grupos e, em 2009, foram 18
grupos de artesãos, podendo ser este um dos motivos.”
Os artesãos trouxeram inclusive, produtos da indústria rural caseira, como mariolas, geléias,
compotas, doces cristalizados, café e cachaça que são produzidos artesanalmente, pelos
mesmos grupos de artesãos que fazem acessórios e objetos decorativos.
A noção de “bem cultural” tem como fundamento o conjunto de bens materiais e imateriais
(tangíveis e intangíveis) possuidores de significados que os tornam representativos da Cul-
tura e da existência do homem, onde os limites entre os produtos do homem e da natureza
se confundem. Os ambientes da natureza possuem um equilíbrio dinâmico gerando suces-
sões de paisagens, no tempo e no espaço, que são apropriados à cultura do homem, muitas
vezes tornando-se símbolo de sua identidade.
O IPHAN trabalha com um universo bastante diversificado de bens culturais, e possui ins-
trumentos específicos de acordo com a natureza do bem. Os bens culturais materiais (que
ainda são divididos em duas categorias: imóvel5 e móvel6) são classificados de acordo com
suas características em quatro livros do Tombo:
1) Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico;
2) Livro do Tombo Histórico;
3) Livro do Tombo das Belas Artes;
4) Livro das Artes Aplicadas.
Para que seja realizado o registro de um bem cultural de natureza imaterial, alguns requisi-
tos precisam ser preenchidos, dentre eles a apresentação na solicitação de abertura do pro-
cesso de uma manifestação formal de anuência com o processo de registro por parte da
comunidade envolvida, além do cumprimento das etapas de realização de inventário e de
análise realizadas pelo corpo técnico do IPHAN. Os bens que recebem parecer favorável
para o registro são agrupados por categoria e registrados em livros, classificados em:
• Livro de Registro dos Saberes (para conhecimentos e modos de fazer enraizados
no cotidiano das comunidades);
• Livro de Registro de Celebrações (para os rituais e festas que marcam vivência
coletiva, religiosidade, entretenimento e outras práticas da vida social);
• Livro de Registro dos Lugares (para mercados, feiras, santuários, praças onde
são concentradas ou reproduzidas práticas culturais coletivas).
Deve-se mencionar também que o Programa Nacional do Patrimônio Imaterial também pre-
vê a realização de Ações de Salvaguarda, que visam apoiar a continuidade de um bem cul-
tural de natureza imaterial de modo sustentável, atuando no sentido da melhoria das condi-
ções sociais e materiais de transmissão e reprodução que possibilitam sua existência.
As Regiões Norte e Noroeste possuem um rico acervo Imaterial. Essa Região participou de
um importante capítulo da historia do país. Os personagens, que se entrelaçaram nesse
enredo de conquistas e resistências, contribuíram cada um com suas culturas. Negros, por-
tugueses, italianos, nativos (entre outros) fizeram destas duas Regiões brasileiras, ímpares
existenciais.
O CET é constituído de doze membros, dos quais oito são de livre nomeação do Governa-
dor do Estado, e escolhidos entre pessoas de notório saber. Com mandato de seis anos,
fazem parte também desta composição o Diretor Geral do INEPAC, um representante do
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, IHGB, do Instituto de Arquitetos do Brasil, IAB, e
do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, IPHAN.
Campos dos Goytacazes está entre as cidades brasileiras com maior conjunto arquitetônico
eclético preservado. Este estilo arquitetônico, caracteristicamente urbano, teve intenso uso
ao longo do século XIX, quando a população, à raiz do “boom” econômico da cana-de-
açúcar, abandona as rústicas casas da baixada, de taipa, e vem habitar a aglomeração
urbana, na sua área mais central. Sem dúvida, os solares construídos no chamado Ciclo
Áureo do Açúcar são os que mais determinam a magnitude da arquitetura da cidade.
A casa grande era o centro de irradiação de toda a vida econômica e social da propriedade.
Tais construções podiam ser verdadeiros palacetes, mas nem sempre eram suntuosas, da-
da a grande diversidade do status financeiro dos donos de engenho. Eram funcionais, mas
A forma como essas duas Regiões foram colonizadas refletem no patrimônio adquirido, a-
cumulado e preservado. O padrão de construção carrega a influência de uma época que
transitou entre riquezas e privações.
O auge da economia fez com que fosse possível investir em requinte e beleza. E então, pa-
drões europeus passaram a ser incorporados aos padrões da época nestas Regiões brasi-
leiras.
21
FREYRE, Gilberto. Casa Grande e Senzala. Formação da família brasileira sob o regime daeconomia patriar-
cal. Editora José Olympio, 1975.
150 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
Fotos 74 e 75 – Região Noroeste Fluminense, Museu Casa Quissamã
A Mato da Pipa constitui a mais antiga casa de engenho do Norte Fluminense ainda conser-
vada e foi a primeira casa de telhas de toda a Região. Construída em 1777, é um exemplo
da arquitetura rural inspirada pelo estilo bandeirista de São Paulo. A casa possui um acervo
de documentos, móveis e utensílios que por si só contam sobre os primeiros colonizadores
da Região. Atualmente, o imóvel pertence à Associação dos Amigos de Mato de Pipa, fun-
dada em 1983, que é responsável por sua preservação e manutenção.
Seu estilo arquitetônico é o eclético europeu com características das construções religiosas
do início do século XX, do Sul da Alemanha. Possui planta de nave única e torre sineira cen-
tral na fachada frontal. No seu interior encontram-se alguns altares, além de imagens sacras
originais da antiga matriz, que foram recentemente restauradas. O altar-mor foi trazido da
Alemanha e, antes de vir para Quissamã, figurou na exposição comemorativa do Centenário
da Independência, em 1922, no Rio de Janeiro. Atualmente, a Matriz guarda também peças
importantes como a pia batismal e o púlpito de origem germânica. O conjunto arquitetônico é
composto pela igreja, o convento dos padres redentoristas (1928) e gruta artificial.
Para tal, foi realizada uma análise sistemática a partir de questionário, respondido pela área
especializada e responsável pela Cultura nas Municipalidades, cujos conteúdos foram pro-
cessados uma vez avaliados à luz das informações disponíveis. Quatro respondentes falta-
ram: Itaperuna e Cambuci, na Noroeste, e Campos do Goytacazes e São Francisco de Ita-
bapoana, na Norte.
Na medida em que as respostas foram produzidas pelos gestores municipais, elas foram
aceitas como representantes das realidades reportadas, excetuando os casos das trans-
gressões lógicas, as quais foram devidamente ajustadas.
Neles se observa claramente que o tratamento da Cultura difere entre municípios, com al-
guns deles já assumindo uma postura avançada de tê-la como uma atividade sustentável,
decisiva e contribuindo para a formação da economia e do modo de pensar e ser municipal,
com participação ativa na inclusão social e no processo distributivo de renda. Pelas informa-
ções das Municipalidades das Regiões, tais políticas e ações/pro-gramas culturais são re-
centes, estando em implantação ou progressão, ou seja, percorrem uma fase inicial de sua
vida útil. Uma vez que a existência de grandes empresas ou de empresas mais estruturadas
ou de base de conhecimento é limitada quantitativamente nas duas Regiões, as atividades
de Cultura ligadas ao empreendedorismo são incipientes. De maneira análoga, as ações
integradas no ambiente regional, muito poucas (apesar das respostas em contrário), levam a
maioria das Municipalidades a atuar de modo individualizado, em vários casos com grande
entusiasmo e competência. Os Circuitos, conquanto existentes, mostram-se pouco eficazes,
quando em operação. Com isto, as sinergias não ocorrem e os sistemas das Regiões (e
interRegiões) não capitalizam e dissipam ou deixam de usar o que poderiam ter, em termos
de energia.
Comentários Gerais
Gilberto Freyre
Ao longo de sua história, desde Pero de Góis em 1530, com a sua Capitania de São Tomé,
passando pelas glórias dos Sete Capitães, pelo período terrível da dinastia dos Assecas
com a manifestação de resistência e bravura de Benta Pereira de Souza e Mariana Barreto,
a que sucedeu a dominação pela Coroa, até o início do Império, o Norte Fluminense desen-
volveu a maior província econômica brasileira, calcada na agropecuária de grandes latifún-
dios que usavam habitual e intensamente dos aforamentos para multiplicar as áreas de cul-
tivo e produção dos seus territórios. Enquanto isto ocorria nas planícies, nas montanhas,
condição semelhante se desenvolveu um pouco mais tarde, com outros cultivares, numa
estrutura diferente, na medida em que foram as próprias famílias e com a participação de
trabalhadores mineiros. Todo o escoamento desta produção era feito por vias férreas até a
A drástica mudança da estrutura fundiária da planície, que ocorre no século XIX, de grandes
latifúndios, multiplicando-se em centenas de minifúndios (hoje mais de cinco mil), descreve
uma trajetória de distribuição e desconcentração. Esta condição multiplica as engenhocas,
depois os engenhos a vapor até chegar aos grandes engenhos e à usina, ou seja, o avanço
da tecnologia de processamento e produção determina uma trajetória inversa, de concentra-
ção e escala, hoje automatização e produtividade. As mudanças tecnológicas estendem a
duração dos negócios dos senhores de engenho e da sua vida de fausto e riqueza, habitan-
tes de solares, em que a educação floresceu neste estrato mais rico, em substituição a sé-
culos de baixa educação, falta de apreciação do conhecimento e desvalorização da cultura,
salvo o cultivar a terra. Instalara-se um sistema neofeudal, “com uma multidão de pequenos
donos de fazendolas” que se apegam à terra, que pela primeira vez lhes pertence. Cente-
nas de núcleos produtores se espalham no território, fazendo-os reféns da cadeia de comer-
cialização a jusante. Os filhos dos integrantes dessa oligarquia, educados nas capitais, não
tem o mesmo apreço e compromisso com a terra e o negócio e deles não participam. A ri-
queza dos empreendimentos privados não gera poupança e nem se transforma em investi-
mento de capital. O domínio exógeno que sucedia com os proprietários morando fora, a
maioria na capital, durante a Colônia, passa a ser exercido pelo capital e pela cadeia de
comercialização com as interdependências ou dependências que eles exercitam.
Com o advento dos grandes engenhos e das usinas, o senhor de engenho passa a constitu-
ir-se em fornecedor de matéria bruta, a cana de açúcar. O limite que contribui para a sua
queda ocorre com as usinas, ou a industrialização, que rompem com o sistema escravocrata
e contribuem para a extinção do Império.
O poder de decisão que, em relação ao Norte Fluminense, persistiu durante séculos na ci-
dade do Rio de Janeiro e parecia ter se voltado para a aristocracia dominante local (ou regi-
onal), uma visibilidade aparente, à cidade retorna.
Analisando esta resenha essencial, ressalta-se que o ocorrido com o Norte-Noroeste Flumi-
nense define-se muito mais como um crescimento endógeno, com uma convergência entre
a economia regional e a nacional/internacional, do que de um desenvolvimento endógeno.
Para que este tivesse ocorrido teria que ter havido a identificação dos fatores e mecanismos
que constituíam os processos de seu crescimento e de mudança estrutural associados à
flexibilidade e organização da produção, à capacidade de integrar os recursos das empresas
e do território no sentido de lhe assegurar competitividade e sustentabilidade. Tal situação
representa necessariamente um processo empreendedor e inovador em que o território não
se mostra um receptor passivo de estratégias de agentes e organizações externas, ao con-
trário, possui uma estratégia própria que lhe permite conduzir a dinâmica de sua economia.
Observa-se que a Região integrada não buscou e/ou conseguiu uma competência regional
capaz de tomar decisões relevantes e autônomas em relação às suas opções de seu de-
senvolvimento, aos diferentes modos para orientá-lo, e em relação à disponibilidade dos
instrumentos essenciais ao exercício de sua gestão, à qualificação para formular e executar
políticas de desenvolvimento e mais importante, à qualificação de negociar e se adaptar a
Observa-se de maneira clara, que na medida em que a complexidade das operações e mo-
vimentos e escalas da economia Norte Fluminense cresceu, durante séculos, mais o seu
sistema produtivo se abriu, isto é, mais ele passou a interagir com o meio externo estadu-
al/nacional e internacional, em interdependência, lembrando-se, a título de exemplo, que o
açúcar, como “commodity”, é e já foi um dos produtos mais valiosos das bolsas de merca-
doria mais importantes, onde são fixados os seus preços de mercado. O mesmo acontece
com o café, cereais, petróleo, indústria naval, principalmente.
Assim, nesta sua interação com o meio, o sistema econômico regional Norte importou e im-
porta matéria, energia e conhecimento, transformando estes insumos e exportando produtos
que os convertem e os incorporam a outros insumos produzidos localmente. Neste inter-
câmbio, em geral, ocorre uma situação de equilíbrio que é mantida, desde que sistema e
meio admitem as mudanças e transformações especificadas reciprocamene (a título de ilus-
tração, com a abolição, enquanto declinou acentuadamente a produção de café Fluminense,
cresceram, com igual intensidade, as paulista e mineira).
No caso do Norte Fluminense, os fluxos com seu entorno foram e são muito grandes e in-
tensos, na medida em que seus produtos, ao longo de sua história, formam a primeira linha
de consumo global. Nestas circunstâncias, um número crescente de operações vinculadas
ao seu crescente grau de complexidade, que inicia ou finaliza dentro do seu território regio-
nal, tem a sua finalização ou início fora dele. Tal relação era entendida, num paradigma an-
tigo, como todo-parte, quando na verdade se comporta como sistema-entorno (na qual a
Região subsiste em cada uma e todas as suas partes, assim como as suas partes subsis-
tem na Região).
Como um território pequeno típico, o Norte Fluminense tende a trabalhar com uma abertura
sistêmica ampla, o que tende a transformar em exógeno ao território, o processo de seu
crescimento econômico, do ponto de vista da decisão (investidores, empreendedores, capi-
tais e tecnologias/conhecimentos externos). Naturalmente se esta constitui a condição para
o seu crescimento, a autonomia e sustentabilidade de seu desenvolvimento dependerão de
uma governança endógena muito mais desafiadora, que deve confrontar direta e continua-
mente com decisões exógenas. Assim como aconteceu com os encadeamentos da cana de
açúcar, acontece com o petróleo e acontecerá com o pré-sal e com a indústria naval.
Quanto mais aberto é um sistema, menores os seus graus de liberdade, disponíveis endo-
genamente para sua autocoordenação e para a auto-regulação de seu processo de emer-
gência. Em contrapartida, quanto mais fechado um sistema, mais energia ele acumula inter-
namente, aumentando sua entropia. Entenda-se que o fechamento tanto pode ocorrer por
medidas que restringem explicitamente a abertura do sistema, quanto acontece pelo fato
dos agentes locais não perceberem ou não compreenderem ou ignorarem o que está a se
passar, operando como se o entorno fosse um elemento passivo e/ou que as condições
internas vigentes possuíssem perpetuidade. Se isto acontecer, o aumento da entropia do
sistema pode levá-lo, no limite, à morte. Certamente, este (a cultura isolacionista e individu-
alista e o grau de fechamento correspondente) foi o determinante dos ciclos anteriores do
Norte Fluminense, no que diz respeito ao café e à cana de açúcar e deve constituir a preo-
cupação central do atual ciclo do petróleo.
Nas Regiões Norte e Noroeste do Estado, montanhas, vales e praias se intercalam e abre-
se um leque de oportunidades para viver, produzir, construir e principalmente divertir.
A Região Noroeste dotada de montanhas com grandes rios e vales, oferece oportunidades
de lazer em atividades como vôos livres com asa delta e parapente, ciclismo, caminhadas,
balonismo, canoagem, rapel e escalada, “trekking” e trilhas e “cross”, cavalgadas, pesca,
dentre outras.
A Região Norte oferece outras opções com as suas enormes planícies alagadas, praias de
mar profundo e muita história para ser apreciada principalmente nas aglomerações. As prai-
as, portadoras de beleza natural especial, não concorrem em condições favoráveis para sua
utilização com outras praias do território fluminense ou capixaba, dentre outras.
Em ambas, o que existe de patrimônio valioso é pouco aproveitado para o lazer e para o
turismo, este predominantemente de temporada, para público interno ao país (classes C e
seguintes).
Do ponto de vista da oferta de lazer, a ênfase são os eventos que ocorrem nos ambientes
dos municípios, ao longo de todo o ano, com calendários individualizados, que não obser-
vam uma integração nem na Região, nem interregionalmente, o que pode ser visto na Tabe-
la seguinte, que compila o que existe programado mais importante em cada município das
Regiões Norte e Noroeste Fluminense.
ARAÚJO, Alceu Maynard. Ritos, Sabença, Linguagem, Artes e Técnicas. São Paulo, Melho-
ramentos, 1967.
FREIRE, José Ribamar Bessa & MALHEIROS, Márcia Fernanda. Aldeamentos indígenas no
Rio de Janeiro. Programa de Estudos dos Povos Indígenas. SR3/UERJ, 1997.
FROTA, Lélia Coelho. Arte do Viver e Arte do Fazer na Coleção Jacques Van de Beuque.
Rio de Janeiro, Catálogo de Exposição do Museu de Arte Moderna, julho 1976.
MARAFON, Gláucio & RIBEIRO, José Miguel Ângelo. (org) Revistando o Território Flumi-
nense NEGEF/DGEO/UERJ. Rio de Janeiro, 2003.
RODRIGUES, Hervé Salgado, Campos na Taba dos Goytacazes, Imprensa Oficial, Niterói,
1988.
www.nipecfaficchuvisco.blogspot.com
www.br.geocities.com/jiujitsutotal/cidade.htm
www.pauloaourivesnipecreminiscencias.blogspot.com
www.cide.rj.gov.br
Coreto da Praça João XXIII, incluindo o pequeno Largo que o cerca, no distrito-
sede do município de Cantagalo.
09
Prefeitura e Câmara Municipal de Santo Antonio de Pádua, na Praça Visconde 24.07.1989 E-18/30.097/88
Santo Antônio de
Figueira nº 57. Pádua
13
Igreja Matriz de São Fidélis de Sigmaringa, na praça Guilherme Tito;
E-18/
30.12.2002 São Fidélis
Solar do Barão de Vila Flor, na praça Guilherme Tito; 001.706/2002
15
Sítio Histórico formado pelo conjunto arquitetônico e paisagístico da Fazenda E- 18/
Mandiqüera, Rodovia QSM-006. 24.04.2007 Quissamã
000.052/2007
Fazenda Ponte Alta. Av. Silas Pereira da Mota, km. 19 da RJ 145, Parque
Barra do Piraí
Santana, Barra do Piraí;
Itaperuna
Fazenda Ribeirão Frio. Estrada Ruy Pio David Gomes, s/nº, Dorândia, Barra do
Piraí;
Paraíba do Sul
E-
30.12.2008
Fazenda Santa Rita, Estrada da Figueira, Distrito sede, Valença; 18/1868/2008
Rio das Flores
Fazenda Santo André, Estrada Fortaleza, 3.125, Paraíba do Sul;
Valença
Fazenda Santo Antônio do Paiol, Rodovia RJ-135, Distrito Sede, Bairro de
Esteves, Valença;
Fazenda São Luiz da Boa Sorte. Rodovia Lucio Meira BR-343, km85, Barra do
Piraí;
Rua Marechal Floriano (Rua Direita), Praça Dona Ermelinda, Praça Ary
Parreiras, Rua João Pessoa, Praça Josephina de Barros Tostes, Rua Paulino
Padilha, Rua Dr. Monteiro, Rua Francisco Dias Tostes, Rua Temístocles, Praça
Bruno de Martino, Rua Santo Antônio, Praça Getúlio Vargas, Rua Coronel José
Carlos Moreira (Rua das Flores), Rua João Rosa Damasceno, Rua Francisco E-
Procópio, Rua Coronel Josino, Rua Barroso de Carvalho e Rua Matoso Maia. 27.03.2009 Miracema
18/002.407/2008
- Conjunto Arquitetônico, urbanístico e paisagístico do centro histórico de
Miracema constituído pelo calçamento remanescente em paralelepípedo:
Rua Marechal Floriano (Rua Direita), Praça Dona Ermelinda, Praça Ary
Parreiras, Rua João Pessoa, Praça Josephina de Barros Tostes, Rua Paulino
Padilha, Rua Coronel José Carlos Moreira (Rua das Flores), Rua João Rosa
Damasceno, Rua Francisco Procópio (até a Praça José Giudice), Rua Coronel
Josino e Rua Barroso de Carvalho.
Praça Ary Parreiras: Praça Ary Parreiras, s/nº (Escola), nº 06, nº 78, nº 124 e nº
124 sobrado, nº 171, nº 212, nº 230, nº 272, s/nº (Igreja Matriz), s/nº (Casa
Paroquial).
Rua Dr. Monteiro: nº 09, nº 25, nº 36, nº 46, nº 64, nº98, nº 114, nº153, nº161
(19), nº 195.
Praça Getúlio Vargas: Praça Getúlio Vargas, s/nº (Rodoviária Chicralla Salim),
s/nº (Pórtico da Fiação e Tecelagem São Martino).
Rua Barroso de Carvalho: nº 24, nº 28, nº 32, n º 44, nº 79, nº 93 (nº 87), nº 98,
nº 117, nº 120, nº 121, nº 125, nº 145, nº 219.
Rua Matoso Maia: nº 225, nº 247, nº 250, nº 283, nº 316, nº 319.
denominação códice
Fazenda Boa Vista AVII – F04 – Mir
localização
Estrada que liga Miracema a Palma (MG)
município
Miracema
época de construção
1914
estado de conservação
detalhamento no corpo da ficha
proprietário
particular
O acesso à Fazenda Boa Vista é feito através de uma estrada vicinal de terra batida, que parte de um entroncamento na
rodovia que liga Miracema (RJ) ao município de Palma (MG). Através desta estrada tem se acesso, ainda, às fazendas
Cachoeira Bonita, Araponga, Ventania de Baixo, Ventania de Cima, Inhamal e Buracada, podendo alcançar, também, as
fazendas Santa Cruz, Humaitá e Boa Esperança.
A Fazenda Boa Vista foi repartida entre os herdeiros de Altivo Mendes Linhares, gerando novas e pequenas propriedades, que
foram se formando ao longo da estrada (f01).
Cerca de 500 metros após a Escola Municipal Antônio Queiroz Linhares, chega-se à entrada da Fazenda Boa Vista, que é toda
pavimentada com paralelepípedos, ajardinada e arborizada com mangueiras, muitas das quais foram retiradas devido a uma
doença que as atacou, fazendo com que secassem até a morte (f02).
A casa-sede (f03) está localizada num platô onde também estão instaladas uma garagem e piscina (f04), serraria (f05), tulha,
casa de colono (f06), terreiro atualmente cimentado para secagem de café (f07), curral, galinheiro e estábulo (f08).
Do lado direito da casa-sede, contornando toda a frente até atingir a baixada, na parte da várzea, localiza-se o pomar com
muitos jambeiros, mangueiras, coqueiros, além de outras espécies frutíferas (f09).
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situação e ambiência
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Toda a área em frente à casa-sede é orlada por uma cerca viva podada, que acompanha parte de uma antiga mureta de
contenção do terreno, ainda existente (f10).
A capela (f11) está situada às margens da estrada que leva às fazendas Ventania de Baixo e Ventania de Cima (f12), além do
grande açude e represa que forma uma pequena cachoeira de onde vem a água que abastece a casa-sede, o curral e a casa
de colono (f13).
Essa parte da fazenda, onde estão situados o açude e a pequena cachoeira, juntamente com a Estrada da Serra da Ventania e
a Cachoeira da Cara, localizada na referida estrada, são atrativos naturais com forte apelo turístico (f14). “A Cachoeira da Cara
é formada por 20m de queda d’água. A água, ao cair, forma uma piscina de 40 m de comprimento e 5 m de largura, cercada
por vegetação de mata fechada. A água da cachoeira é de temperatura morna e de cor clara”. (Guia Municipal de Informação
Turística. Miracema - CCMC).
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A estrada que liga a serra da Ventania de Baixo à da Ventania de Cima, por si só, é um atrativo, já que de lá se pode avistar
todo o vale de Miracema, incluindo parte da cidade (f15). Seguindo o aclive da estrada, já aparece, ao longe, uma queda
d’água de aproximadamente 170 m de altura, cuja água escorre por um paredão rochoso (f16).
Essas terras também foram desmembradas da sesmaria herdada por Deodato e Reginaldo Mendes Linhares, que juntas
formavam as fazendas Cachoeira Bonita, Pinheiro e Córrego Raso.
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A casa-sede, junto a uma das tulhas e ao depósito, dão à construção o formato de um “L” invertido. A parte principal da morada
possui porão baixo. Seu acesso principal é feito por uma escadaria central em leque, que chega a uma varanda guarnecida,
assim como a escada, por guarda-corpo com balaústres em massa, decorados por motivos florais, muito utilizados em
construções em estilo eclético existentes no centro histórico da cidade de Miracema. Essa varanda apresenta telhado
sustentado por quatro colunas de fuste liso e capitel dórico e tem, antecedendo-a, jardins com canteiros cercados (f17 e f 18).
A porta de entrada principal da casa, em madeira com duas folhas enrelhadas, é ladeada por três janelas de cada lado,
também enrelhadas, mas com guilhotinas de caixilhos de vidro externas (f19 e f20). O piso da varanda foi substituído por
cerâmica, do tipo lajota, e grades de ferro foram instaladas nas janelas.
A fachada lateral esquerda possui janelas de duas folhas e venezianas externas (f21).
Do lado direito do corpo principal da construção estão localizadas a ferramentaria, usada atualmente como escritório (que
possui entrada independente) (f22), a cozinha e um banheiro, revestidos no piso com ladrilho hidráulico (f23).
Do lado esquerdo da casa-sede, estão localizados: uma tulha, com serraria instalada no porão, casa de colono, piscina, terreiro
de café, estábulo, curral e galinheiro.
Essas construções – tulha e casa de colono – parecem ter sido edificadas ainda no século XIX, e, apesar de muito alteradas
(cobertura de telhas de amianto, algumas paredes de alvenaria de tijolos de cimento, etc.), mantêm características das
construções daquele período (f24).
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O bloco principal da casa-sede é composto de saleta, sala de visitas, sala de jantar – onde se destaca um lavabo com
cerâmica verde emoldurada por chapa de metal –, cinco quartos, alcova, escritório, cozinha, despensa e quatro banheiros (f25
e f26).
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O assoalho é em tábuas corridas com junta cega, envernizado, executado com madeiras nobres retiradas das matas da própria
fazenda, bem como todo o restante do madeirame utilizado na construção da casa-sede (f27).
As portas internas possuem bandeiras de vidro (f28) e a cobertura é de telhas de barro, do tipo capa e canal (f29).
A capela, dedicada a Santo Antônio, é uma construção muito simples. Edificada em 1934, teve sua pedra fundamental lançada
em 13 de junho, por ocasião do aniversário do padroeiro da cidade e santo de grande devoção do proprietário. A benção foi
lançada pelo cônego José Thomaz de Aquino Menezes, seguida do discurso do anfitrião, que relatou a história religiosa do
local em que se levantou a capela. Serviu-se, no terreiro da fazenda, farto churrasco com a presença de muitas famílias
miracemenses. À noite, houve animado baile, que abrilhantado pelos “Turunas”, foi até altas horas da manhã, conforme
noticiou o Libertas nº 251, de 17/6/1934.
Possuía a capela, a pedido da primeira esposa do proprietário, D. Zina Queiroz Linhares, uma imagem de Santa Terezinha. D.
Zina, além de custear o altar dessa santa e o de Santo Expedito, na Igreja Matriz, fundou a Associação de Santa Terezinha,
em atividade até os dias de hoje.
A construção, que tem aspecto de inacabada, apresentando fachadas laterais com alvenaria de tijolos maciços aparentes,
possui uma única porta de entrada, encimada por um óculo e uma cruz modelada na argamassa do emboço (f30).
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O estado de conservação da casa é bom. Foram realizadas algumas obras mais recentes, como os dois banheiros que formam
as duas suítes da casa, além da substituição de todo o forro das salas e quartos (f31 e f32).
Percebe-se também,que as tábuas de beira que circundam o telhado foram substituídas (f33).
Todas as luminárias internas e externas, em diferentes estilos, que vão do colonial ao art-déco, são réplicas e foram colocadas
recentemente (f34).
Um dos banheiros, localizado na biblioteca (antiga alcova do quarto principal), mantém uma banheira e o forro de treliça como
o da cozinha (f35 e f36). Mais um banheiro foi construído e anexado ao quarto principal, inclusive com a instalação de uma
banheira de hidromassagem. O mesmo foi feito em outro quarto que dá para a sala de jantar.
O mobiliário da casa-sede é uma testemunha silenciosa da época de opulência e de grande movimentação política exercida
por seu proprietário, o temido e respeitado capitão Altivo Mendes Linhares, homem público, de grande projeção e prestígio no
cenário político fluminense do século passado.
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Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 193
detalhamento do estado de conservação
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A Fazenda Boa Vista foi fundada pelo Capitão Altivo Mendes Linhares (f37), por volta de 1914, em um lote de terras
desmembrado por herança da parte que lhe cabia, na Fazenda Cachoeira Bonita, que pertenceu a Deodato e Reginaldo
Mendes Linhares, respectivamente, seus pai e tio. Estes herdaram uma sesmaria de terras denominada Cachoeira Bonita, no
Ribeirão de Santo Antônio dos Brotos, freguesia de Santo Antônio de Pádua, a qual foi de Manoel Pereira Rodrigues (marido
de D. Ermelinda Rodrigues Pereira), fundadora do arraial de Santo Antônio dos Brotos, atual Miracema, com as seguintes
confrontações: “pelo lado de baixo com Lucas Mendes Linhares, seguindo pelo lado esquerdo com o mesmo Lucas, até em
certa altura; e depois com Antônio Araújo Barbosa até o alto da serra, dividindo as águas desse ribeirão com o alto da serra de
Muriaé, por baixo divisando com o mesmo Lucas, procurando as vertentes do Córrego Raso até dividir com o patrimônio de
Santo Antônio dos Brotos e da divisa do patrimônio de Santo Antônio, pelo lado direito divisando com Antônio Valentim da
Costa até certa altura e daí com o capitão Marcelino Dias Tostes, até o alto da mesma serra do Muriaé. Em 30 de março de
1856”1.
As terras que formavam a Fazenda Cachoeira Bonita foram doadas a Deodato Mendes Linhares e ao seu irmão Reginaldo,
pelo tio e padre, Francisco Mendes Linhares, antigo vigário de Palma (MG), por testamento feito na Fazenda Fortaleza, datado
de 1851, onde também foram alforriados alguns escravos e somadas as da Fazenda Pinheiro, de Lucas Mendes Linhares, que
pertenceu a Manoel Pereira Rodrigues, registrada da mesma forma na Paróquia de Santo Antônio de Pádua, em 1856. Não foi
possível, entretanto, saber se estas foram anexadas à sesmaria por compra ou herança.
Com a morte de Reginaldo, que era solteiro, Deodato ficou sendo o único herdeiro das terras que integravam as fazendas
Cachoeira Bonita, Córrego Raso e Pinheiro.
Segundo relato do Sr. Erotildes Linhares, neto de Deodato Mendes Linhares, as terras da sesmaria herdada por Deodato e
Reginaldo do tio e padre, se estendiam até o Estado de Minas Gerais. Como o padre Francisco
Mendes Linhares havia deixado por ocasião de seu falecimento uma dívida de 12 mil contos de réis, esta parte das terras foi
vendida pelos herdeiros para que a mesma fosse quitada.
Segundo Altivo Mendes Linhares, em seu livro de memórias, “A Fazenda Cachoeira Bonita tinha dois córregos: sendo um
maior que nascia no alto do pontão de Santo Antônio e que descia encachoeirado pela fazenda da Ventania. E outro que nasce
na Fazenda do Inhamal e que se encontra com o primeiro no alto da Fazenda Boa Vista, formando aí o Córrego Cachoeira
Bonita... (f38 e f39) ...A sede da Fazenda era um casarão construído com madeiras roliças, com dois ou três quartos internos
com basculantes para renovação de ar onde dormiam as escravas solteiras; ao lado do casarão da sede, havia as senzalas,
formando um “ele” com a fazenda, com uns seis salões cujas portas davam para uma varanda ampla; varanda esta com gradil
de madeira com oito cm quadrados; cada escravo casado ocupava uma das salas, além de outras pequenas casas, ocupadas
por aqueles que tinham famílias maiores...”2 (f40).
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198 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
histórico
Altivo casou-se em 1914 e, não conseguindo construir uma sede para sua fazenda, passou a residir num tapume, debaixo do
assoalho de uma construção que havia iniciado. Em 1918, já estabelecido, começou a escolher o local da sede da sua
fazenda. Encontrou dentro de um capoeirão de mais de 30 anos, um platô e ali iniciou a construção... (f41)
“...Aí então, derrubei matas para quinze mil arrobas de café; plantei cana; construí um moinho de fubá de milho, montei
engenhos, passei a fabricar rapaduras, casas de colonos, máquinas de café, tulhas e paióis; finalmente subi numa árvore para
ter uma impressão melhor do local para a sede. Eu era o próprio construtor, mecânico e planejador. Este trabalho foi de 1918 a
1922. ...Tive que represar águas e fazer canalizações através de canos grossos para gerar hidráulica, tanto para movimentar
máquinas como para fazer iluminação elétrica para toda a fazenda...” (f42)
E prossegue: “...cheguei até o ano de 1924 com todas as minhas lavouras formadas e uma produção de café chegando a
quase quatro mil sacas piladas; era a época portanto, de fazer pecúlio.”
A sesmaria de terras formada pelas fazendas Cachoeira Bonita, Córrego Raso e Pinheiro, deu origem a várias outras
fazendas. Além da Boa Vista, a Inhamal de Antônio Mendes Linhares, a Ventania de Homero Linhares, mais tarde dividida
entre Ventania de Cima e Ventania de Baixo, a Córrego Raso, que na partilha coube a Orlanda de Martino Amim, mais tarde
adquirida por Homero Linhares, além das partes herdadas pelos outros filhos: Olava, Francisco Bruno, Maria Itália, Orlando e
Maria Hermília.
A Fazenda Boa Vista foi testemunha de importantes momentos públicos da cidade e até mesmo do país.
Foi lá que Altivo teve os primeiros contatos com os revolucionários de 1922. Em 1925 recebeu a visita de Tasso Tinoco, 1º
Tenente, Mário Ferreira e Alcides Araújo. Tasso passou alguns dias na fazenda, antes de partir para Campos.
Em 1926, recebeu o ex-Deputado Federal Dr. Maurício de Lacerda e família, que o apresentou a pessoas da mais alta esfera
política, como Oswaldo Aranha, Ary Parreiras, Juarez Távora, Raul Pilla, Plínio Casado, Macedo Soares, dentre outros (f43).
Altivo abraçou a política, integrando-se à corrente liderada por Nilo Peçanha. Participou das Revoluções Tenentistas de 1922,
1924 e 1930 (f44).
Com a vitória da revolução de 1930, foi nomeado Prefeito de Santo Antônio de Pádua, onde permaneceu até 1934. Em 1936,
conseguiu eleger-se deputado estadual classista, como representante da lavoura, perdendo o mandato com o Estado Novo,
em 1935. Foi prefeito de Miracema, de 1937 a 1945, na Interventoria de Ernani do Amaral Peixoto. Voltou ao cargo por eleição
por duas vezes – 1947 e 1958. Suplente do Senador José Carlos Pereira Pinto em 1947, assumiu o mandato em 1952,
renunciando para assumir a Prefeitura de Niterói, o que se deu em 1953, por nomeação do Governador Amaral Peixoto. Em
crise com a Câmara, solicitou demissão em 1954. Em 1958 disputou as Prefeituras de Niterói e Miracema, concomitantemente.
Eleito em Miracema, governou até 1962.
Casou-se por duas vezes. A primeira, com Zina Queiroz Linhares, com quem teve cinco filhos. E a segunda com Maria do
Carmo Monteiro Linhares, nascendo desse matrimônio Luiz Fernando Monteiro Linhares, deputado estadual entre 1971 e
1981, representante da Região Noroeste do Estado do Rio de Janeiro.
Atualmente, a Fazenda Boa Vista encontra-se dividida entre os herdeiros, filhos e netos de Altivo Mendes Linhares, sendo que
a casa-sede e grande parte das terras pertencem ao espólio de seu filho – Expedito Mendes Linhares.
Da primitiva sede da Fazenda Cachoeira Bonita, restam apenas algumas paredes. Mesmo assim, é possível perceber
intervenções executadas, provavelmente na década de 20 do século XX, época em que o estilo eclético se propagou no
município.
Contudo, do lado direito da casa-sede, permanece com todo o seu esplendor a cachoeira que deu nome à propriedade e que
também possui áreas com remanescentes de matas secundárias, onde antes deveriam existir cafezais (f45)
1 Livro de Registro de Terras nº 53, da Freguesia de Santo Antônio dos Brotos. Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro;
2 Monteiro, Maurício – Altivo Linhares – Memórias de um líder da velha província.
3 ídem.
localização
Km 8 da RJ116, que liga Itaboraí a Itaperuna, passando por Miracema.
município
Miracema
época de construção
século XIX
estado de conservação
detalhamento no corpo da ficha
proprietário
particular
situação
ambiência
202 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
situação e ambiência
A Fazenda Cachoeira está situada às margens da RJ116, que liga Itaboraí a Itaperuna, passando por Miracema (f01). Saindo
da estrada estadual, passando por uma pequena ponte de madeira sobre o Ribeirão Santo Antônio (f02) - que nasce na serra
de Venda das Flores e corta toda a cidade de Miracema, desaguando no Rio Pomba, no município de Santo Antônio de Pádua
- e seguindo por uma estrada pavimentada com pedras, ladeada por coqueiros, chega-se a imponente casa-sede da Fazenda
Cachoeira (f03 e f04).
Do lado direito da estrada, cercado por uma mureta de pedra revestida com massa estão localizados o antigo terreiro para
secagem de café, além das edificações correspondentes as tulhas, baias, casa de força e pista para treinamento de cavalos
(f05).
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Do lado esquerdo da mesma estrada, localiza-se um açude belíssimo (f06), um barracão que serve para a guarda de carroças,
uma parte do pomar com muitas mangueiras e bananeiras e a capela da Sagrada Família (f07).
Nos fundos da casa-sede, do lado esquerdo, estão localizados: o curral (f08), a ceva para porcos, galinheiro, garagem e uma
casa de colono. Do lado direito, encontram-se a piscina (f09), a sauna e a churrasqueira.
Seguindo por um caminho cercado por muitas árvores frutíferas, chega-se ao ribeirão Santo Antônio, exatamente num local
onde o mesmo forma uma cachoeira, fato que, provavelmente, determinou o nome da fazenda (f10).
É digno de registro também, o extenso paredão de pedra que faz um arrimo na margem esquerda deste ribeirão, construído
por escravos para proteção do terreno (f11).
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A casa-sede, atualmente, é uma edificação com planta baixa em “L”, assentada sobre platô, sendo que o corpo principal, mais
antigo, foi edificado sobre porão alto (f12), apresentando uma cobertura independente em quatro águas (f13 e f14), possuindo
aos fundos um único pavimento (f15). Na parte posterior do conjunto concentra-se o maior número de intervenções
modernizadoras.
Na área correspondente ao porão, que é habitável, os proprietários instalaram, após algumas obras de reforma, uma área para
lazer e diversão (f16) onde mantiveram trechos da pavimentação em pedra (f17) e todo o madeirame que sustenta o assoalho
da edificação.
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Essa parte do porão é voltada para um grande jardim (f18) que mantém, além de flores tradicionais como gérberas e copos-de-
leite, um “balanço” que testemunhou juras de amor de várias gerações da família, de visitantes e de convidados (f19). Delimita
os jardins, um grande muro de arrimo de pedra coberto com massa (f20).
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A cobertura é de telhas de barro, do tipo capa e canal, arrematada por larga e pronunciada cimalha (f21) na sua fachada
frontal. Nas demais fachadas, os beirais se apresentam em balanço, revestidos com forro em madeira
e encachorrados (22).
A fachada principal é composta por uma porta de entrada e onze janelas de guilhotina, em caixilhos de vidro com vergas retas,
pintadas de verde, distribuídos de forma ritmada, predominando os vazios sobre a alvenaria branca (f23).
O antigo acesso era feito pela fachada lateral esquerda. Atualmente, a entrada principal para a residência dá-se por uma
escada de alvenaria através de uma pequena varanda construída posteriormente.
O casarão principal possui seis quartos e uma suíte, salas de visitas, sala de jantar, sendo que alguns cômodos conservam a
distribuição original e o mobiliário antigo, além de três banheiros. Estendendo-se para parte nova da edificação, seguem: copa,
outros banheiros, cozinha mineira com fogão à lenha, quarto para empregados, área de trabalho, despensa, escritório, salão
de jogos, piscina, sauna e churrasqueira (f24 a f27).
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Esta área construída mais recentemente, onde se acham instaladas a copa, parte da cozinha, a sauna e a varanda, é de
alvenaria com paredes de tijolos e piso revestido em cerâmica (f28). A parte primitiva do casarão mantém assoalho (f29) e,
forro de madeira (f30) e paredes de pau-a-pique.
A casa é toda mobiliada com móveis de época. O destaque, porém, fica para a mobília da sala de visitas, do terceiro quartel do
séc. XIX, em estilo neo-rococó, formada por um sofá, dois consolos, mesa de centro e cinco cadeiras com espaldar em
medalhão oval, com a moldura dupla, separadas por bolas. O assento é arredondado com ondulação na frente e forrado de
palinha; tem pernas curvas com pé de cachimbo (f31).
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A capela existente foi construída em 1957 para substituir a primitiva capela da fazenda, que ficava em um dos cômodos da
casa-sede. Ali, segundo a proprietária, estava enterrada uma grande pedra cortada ao meio, que alguns acreditavam ser uma
urna funerária, outros, uma espécie de pedra fundamental, em cujo centro eram depositados objetos, documentos, moedas
corrente, etc.. Dedicada à Sagrada Família, possui uma arquitetura despojada, com torre sineira (f32) e sendo recoberta com
telha de barro capa e canal. Mantém, na fachada principal, uma porta, duas janelas e um óculo para iluminação e ventilação
(f33). O altar, em alvenaria, apresenta um nicho ladeado por duas colunas (f34 e f35).
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O estado de conservação da casa é muito bom. Como a fazenda está na família Bastos há mais de um século e meio, os
proprietários procuraram manter a originalidade da construção, apesar das intervenções modernizadoras havidas.
As reformas realizadas visaram sua adaptação as atuais necessidades da fazenda, como casa de veraneio que recebe muitos
hóspedes durante os períodos de férias escolares e feriados prolongados. Desta maneira, foram construídos mais dois
banheiros, piscina, sauna, churrasqueira e uma extensa varanda.
O forro, bem como todo o madeiramento do telhado encontra-se em perfeito estado, e são objeto de atenção especial dos
proprietários que substituem peças sempre que necessário (f36).
O assoalho encerado também se encontra em ótimo estado de conservação, recebendo, constantemente manutenção.
No antigo porão, transformado em área de lazer da família, todo o madeiramento foi tratado com betume.
Alguns trechos do primitivo piso de pedra foram mantidos formando uma espécie de tapete, possibilitando aos visitantes e
interessados uma pequena amostra de como o espaço era antes da reforma (f37 e f38).
A parte externa e as outras benfeitorias da Fazenda também têm merecido atenção dos proprietários que procuram sempre
investir na propriedade.
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Cachoeira da Laje foi o nome primitivo dado por seu fundador, o Capitão Manoel Felisberto Pereira da Silva, à sua
propriedade, registrada em 22 de julho de 1855, na Paróquia de Santo Antônio de Pádua, em observância ao artigo 91, do
Decreto n° 1318, de 30 de janeiro de 1854, no qual o governo provincial determinava que todos os proprietários ou posseiros
de terras, registrassem até 1856, nos livros da Vigararia da Freguesia de Santo Antônio de Pádua, suas propriedades a fim de
que fosse garantido que as mesmas continuassem sobre o domínio fluminense e não mineiro, como era o desejo de alguns
políticos influentes daquele estado.
A fazenda fazia divisa com as propriedades de Marcelino Dias Tostes, Joaquim Cândido Guimarães, Plácido Antonio de
Barros, Custódio Bernardino de Barros e João Luís de Oliveira 1 e 2.
“Manoel Felisberto Pereira da Silva veio com sua esposa D. Ana Umbelina Gomes Alvim e filhos, da freguesia de Catas Altas
da Noruega – Província de Minas Gerais, para Santo Antonio dos Brotos (Miracema) em 1842. Tinha muitos filhos, dos quais
podemos dar notícias de: Francisco Procópio de Alvim e Silva (casado com Maria Reveziana de Alvim – filha de Anacleto
Reveziano de Siqueira Alvim, em 18 de fevereiro de 1857, na Igreja de Pádua); José Cesário de Alvim e Silva, casado com
Bárbara Guilhermina de Alvim, filha de Francisco Gomes Pereira Alvim, em 8 de fevereiro de 1852, na Igreja de Pádua; Pedro
Nolasco de Alvim e Silva casado com Maria Umbelina da Silva Bastos em 26 de julho de 1858, na Igreja de Pádua (o termo
muito lacônico não dá filiação); Teresa Emília de Alvim e Silva, casada com Ambrósio José da Costa em 4 de dezembro de
1849, na Igreja de Pádua; Maria José de Alvim e Silva casada com Joaquim Pio Gomes Alvim, em 5 de novembro de 1854, na
Igreja de Pádua; Ana Theodora de Alvim e Silva, casada com João Alves Moreira , em 29 de janeiro de 1855, na Igreja de
Pádua; Francisca Umbelina de Alvim e Silva casada com José Dias Tostes filho do Capitão Marcelino Dias Tostes, em 18 de
fevereiro de 1857, na Igreja de Pádua; Maria Constança de Alvim e Silva casada com José Aureliano Coimbra em 6 de julho de
1858, na Igreja de Pádua, ela natural desta freguesia e ele de Rio Preto, na província de Minas Gerais; Ana Minervina de Alvim
e Silva casada com o Tenente Cel. Joaquim de Araújo Padilha e ainda sogro de Joaquim José Bastos, sendo que desses dois
últimos não temos melhores informações.
O Capitão Manoel Felisberto foi o homem, até agora conhecido que maior prole deixou no município, dele descendendo as
famílias Bastos, alguns Gabriéis, Tostes, Padilhas, Albino, Coimbrãs e até Picanços. Foi proprietário de diversas fazendas em
Miracema; exerceu cargos de eleição popular, sendo o primeiro representante da freguesia de Pádua à Câmara Municipal de
São Fidélis quando foi instalado aquele município em 5 de março de 1855. Nesse ano ainda, foi eleito provedor da Irmandade
do S. Sacramento organizada pelo padre José Joaquim Pereira de Carvalho, na Igreja de Pádua, em 21 de outubro...
Em 1863 era o 2° Juiz de Paz e em 1865, subdelegado de Polícia da Freguesia. Teve sempre forte atuação em todos os
negócios relacionados com a vida da mesma em conseqüência do alto prestígio político que lhe emprestava a sua reconhecida
projeção social.”
Após o Capitão Manoel Felisberto Pereira da Silva, a Fazenda Cachoeira passou a seu filho, o Comendador Francisco
Procópio de Alvim e Silva, que foi casado com D. Maria Rosalina Reveziana Alvim, filha de Anacleto Reveziano de Siqueira
Alvim e de D. Maria Umbelina de Alvim e Silva, na Igreja de Pádua, no dia 18 de fevereiro de 1857.
“O comendador Francisco Procópio de Alvim e Silva, Capitão Perico, como era geralmente conhecido, exerceu diversos cargos
públicos, por nomeação do Governo Imperial, e outros eletivos, como o de vereador, de 1883 a 1889, onde a proclamação da
República foi encontrá-lo na presidência da Câmara Municipal. Posteriormente, no governo do Dr. Francisco Portela, foi
delegado de polícia.
Trabalhador, honesto, de energia chegada à violência, quando esta se fazia necessária, era, entretanto, afável no trato, o que
lhe valia o respeito e a amizade de todos.
Foi político de relativo prestígio. Faleceu no dia 5 de julho de 1892, deixando numerosa prole e alguns haveres” 4.
Ainda em vida, porém, o Capitão Perico, tomou conhecimento que Joaquim José da Silva Bastos havia iniciado um processo
de desmatamento em sua propriedade com o objetivo de ali estabelecer sua fazenda.
Tomando conhecimento do fato,... “para lá partiu com alguns homens com a intenção de expulsá-lo.
Chegando à fazenda, ficou deslumbrado com a fartura e organização local, deixando-o ficar mediante a entrega de sua
produção”.
Quando Joaquim José da Silva Bastos vinha trazer a colheita para o Capitão Perico na Fazenda da Cachoeira, via à distância,
à janela da casa grande, Bárbara de Alvim e Silva, irmã do Capitão Perico.
Com o passar do tempo, o Capitão Perico contratou o casamento de Bárbara com Joaquim José, que se casaram sem nunca
se terem falado. O casal foi morar na Fazenda de Venda das Flores que levou este nome por ser rodeada de flores. Desse
casamento nasceram os filhos, Francisco da Silva Bastos, Coronel José da Silva Bastos, Augusto da Silva Bastos, Olympio da
Silva Bastos, Pedro da Silva Bastos, Benigna
da Silva Bastos, Maria da Silva Bastos, Amélia da Silva Bastos, Jovina da Silva Bastos, Ana da Silva Bastos, Joaquim da Silva
Bastos e Antonio da Silva Bastos, que constituíram família, casando-se conforme demonstração a seguir, recebendo cada um,
como herança do pai uma fazenda: 1) Fazenda da Promissão a Francisco da Silva Bastos; 2) Fazenda do Tirol a José da Silva
Bastos; 3) Fazenda Vista Alegre a Augusto da Silva Bastos; 4) Fazenda da Boa Vista a Olympio da Silva Bastos; 5) Fazenda
da Divisa a Pedro da Silva Bastos; 6) Fazenda Vista Linda a Benigna da Silva Bastos; 7) Fazenda Ipiranga a Maria da Silva
Bastos; 8) Fazenda do Quero Ver a Amélia da Silva Bastos; 9) Fazendinha a Jovina da Silva Bastos; 10) Fazenda Bem Quisto
a Ana da Silva Bastos; 11) Fazenda Grão Mongol a Joaquim da Silva Bastos; e 12) Fazenda do Sítio a Antonio da Silva
Bastos.5
O Coronel Pedro da Silva Bastos recebeu de seu pai, a título de herança, a fazenda da Divisa, que atualmente pertence ao Sr.
Belarmino Soldati.
Mais tarde, adquiriu a Fazenda Humaitá, onde passou a residir com toda a sua família.
“Comprou ainda as Fazendas da Cachoeira, Boa Esperança, Bananal e Quero Ver. Consta-se que vovô arrematou por 30 mil
réis, num leilão, a Fazenda da Cachoeira a pedido de seu proprietário, Arthur Procópio, dividindo a fazenda ao meio e dando a
metade para Arthur”, conta-nos Gislene Bastos de Oliveira.
Político de grande influência chegou a ser prefeito de Pádua por duas vezes e vereador em Miracema.
Presidiu partidos políticos e chegou à patente de Coronel, da extinta Guarda Nacional.
Na partilha, a Fazenda Cachoeira coube a Nilo Garcia Bastos, que posteriormente a vendeu para seu irmão Cícero Garcia
Bastos, que após uma reforma, ali passou a residir.
Contou-nos Chicrallina Salim de Martino, que na década de 1930, aconteciam na Fazenda Cachoeira famosos e concorridos
“saraus”, onde os jovens da época dançavam ao som do piano e nos intervalos saboreavam doces, refrescos e ponche.
Inicialmente, iam de bicicleta. Mais tarde, quando foi estabelecida a linha de ônibus para Itaperuna passaram a se utilizar deste
serviço, uma vez que a antiga estrada passava bem nos fundos da casa-sede (f39).
Também como o pai, Cícero foi político, chegando a prefeito nomeado de Santo Antônio de Pádua.
As fazendas Humaitá e Cachoeira recebiam personalidades de projeção do cenário político nacional, como é o caso de
Juscelino Kubitschek que se hospedou na Fazenda Cachoeira, em 1967. Retornando do exílio, aceitou o convite do jovem
estudante Maurício Monteiro para vir dançar com a Miss Estado do Rio num baile realizado no Aero Clube de Miracema, fato
que causou enorme sensação e reboliço entre as autoridades, uma vez que estávamos no auge da ditadura militar (f40).
Na casa-sede há lembranças como o livro de visitas, onde ele fez o seguinte registro: “Saio daqui fascinado pela bondade de
Julieta e do Cícero e dominado pelo encanto do velho solar fluminense – Juscelino Kubitschek – 26/11/67”. Ou ainda na
fotografia enviada em 25/08/1968, com a seguinte dedicatória: “Para Julieta e Cícero Bastos, o abraço afetuoso de Juscelino
Kubitschek” (f41).
A Fazenda, atualmente, é propriedade de Gislene Bastos de Oliveira, que tem a preocupação de mantê-la conservada e de
passar para as gerações futuras a memória da família Bastos, que tantos e relevantes serviços vem prestando a Miracema há
mais de um século e meio.
Baile no Aero Clube de Miracema, com a participação do 40 Bilhete de agradecimento do ex-Presidente Juscelino 41
ex-Presidente Juscelino Kubitscheck, em 1967 Kubitscheck, pela estada na Fazenda Cachoeira, em 1967
(s/a, acervo Fazenda Cachoeira) (s/a, acervo Fazenda Cachoeira)
localização
Km 236 da RJ116, que liga Itaboraí a Itaperuna
município
Miracema
época de construção
século XIX
estado de conservação
detalhamento no corpo da ficha
proprietário
particular
O acesso à Fazenda Liberdade é feito através de uma estrada vicinal, que tem início no km 236 da RJ-116 (Rodovia
Presidente João Goulart), que liga Itaboraí a Itaperuna (f01 e f02). Na beira da estrada está localizado o curral, o barracão para
a guarda de carros-de-boi e a casa de colono. Mais adiante se encontram: a casa de força, cevas, máquina de beneficiar café
e arroz e o terreiro de café (f03 a f07, f08 e f09).
A casa-sede fica localizada numa elevação, de onde se pode avistar a estrada. Do lado esquerdo da sede está localizado parte
do pomar da fazenda, onde se destacam as sempre viçosas jabuticabeiras (f10). Pouco mais adiante, encontramos o açude
cercado de bambus gigantes que embelezam aquele bucólico recanto (f11). De lá, parte a água que abastece a fazenda,
transportada por uma banqueta de tijolos maciços revestidos com massa (f12), passando pela ceva e terminando onde outrora
esteve instalada uma roda d’água (f13).
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Utilizando a linguagem do neoclássico, a casa-sede encontra-se projetada com a planta em formato de “L” invertido, estando
assentada sobre platô em aclive, o que determina que a fachada principal apresente porão alto e a parte dos fundos seja térrea
(f14 e f15).
O corpo principal da construção, com uma volumetria compacta, além do aspecto de sua implantação, é valorizado pelo
desenho da cobertura e pela composição ritmada dos vãos de sua fachada frontal no segundo piso (f16). São oito vãos de
janelas, distribuídos quatro a quatro, centralizados por um alpendrado, através do qual se tem acesso à duas portas que levam
a parte íntima da casa. As janelas possuem cercaduras em madeira, vergas e sobrevergas retas – estas últimas em cimalha de
estuque –, pintadas de azul, mantendo folhas externas em venezianas e guilhotinas internas em caixilhos de vidro (f17 e f18).
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*(Texto parcialmente transcrito do “Projeto de Conservação e Preservação – Histórico e Análises de Situação e Contexto da
Fazenda Liberdade”, elaborado pela Oikos Arquitetura em Julho / 2008 para a Prefeitura Municipal de Miracema)
É possível perceber a influência neoclássica, através da existência de bandeiras sobre as portas internas (f19) e das
sobrevergas que compõem as janelas das fachadas principais, bem como os frisos de cimalhas acima destes vãos, ambos em
estuque, técnica muito utilizada na região (f20).
A cobertura é de telha cerâmica do tipo capa e canal. Chamamos a atenção para os originais e raros recortes de acabamento
feitos nas telhas que compõem todas as extensões dos beirais, requintes da arquitetura colonial.
Porém, o beiral é arrematado por uma cimalha de madeira, muito simples (f21).
Os forros da ala principal são de madeira, do tipo saia e camisa (f22). Já na ala de serviço, onde estão localizadas uma copa e
pequenos quartos, provavelmente ocupados por empregados, foram executados em taquara, com padrões geométricos e
coloridos, por antigos empregados da fazenda (f23).
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A sala principal possuía, segundo testemunho dos proprietários da terceira geração, teto com fino e requintado trabalho em
estuque, em cujo medalhão central reproduzia Ceres, a deusa da mitologia grega que representa a proteção da lavoura,
guarnecida por jarrões com flores, buquês e as iniciais dos proprietários – JAB (Josino Antônio de Barros) e APB (Amélia
Padilha de Barros). Há ainda o registro, neste ambiente, da cimalha de estuque que circunda toda a sala (f24). Ainda segundo
o testemunho das netas dos proprietários, as paredes eram forradas com papel na cor azul trabalhado com motivos florais.
A casa possui 12 quartos, quatro salas, um escritório com entrada independente, cozinha, despensa e um banheiro.
As construções do século XIX passaram, ao final deste, por um processo de “modernização”, sobretudo as localizadas nos
pequenos núcleos urbanos e na zona rural. Miracema, nessa época, por contar com abundante mão-de-obra especializada na
construção civil, assiste à “requalificação” de seus casarões. A sede da Fazenda Liberdade também foi modificada nesse
momento. Assim, foram detectadas algumas intervenções modernizadoras, como nas janelas das fachadas principal e laterais,
acréscimos etc. A maior parte dessas intervenções, no geral, é incorporada em uma nova linguagem formal chamada
ecletismo.
A alteração descaracterizadora mais evidente está registrada no alpendre, onde parte do telhado se sobrepõe às duas portas
de acesso, levando aos seus fechamentos abaixo da altura original (f25).
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Com o envelhecimento dos proprietários e com a mudança para a cidade, a casa-sede da Fazenda Liberdade entrou em
acelerado processo de degradação. A cobertura, no geral, apresenta-se em condições razoáveis, não sendo detectadas
patologias que comprometam sua estabilidade. As linhas de cumeeiras e espigões mantêm-se niveladas. As telhas de barro,
em capa e canal, apresentam bom estado de conservação (f26).
Mesmo com a existência de várias telhas corridas e quebradas, atualmente, são poucas as infiltrações por descendência que
ocorrem no período das chuvas. A cimalha de madeira sobre o beiral, bastante comprometida, não parece ser original. A régua
no centro (em vermelho), por mais que pareça ser um detalhe decorativo, tem como função principal sobrepor-se às emendas
das tábuas na horizontal (f27).
Foram detectadas trincas verticais em alguns encontros de paredes, que podem representar deslocamentos de esteios ou, até
mesmo, perda de material no encontro de frechais (f28). A ocorrência de trincas sobre as janelas, onde houve a substituição da
vedação de pau-a-pique por tijolo maciço, pode ser decorrência da retirada das partes inferiores dos portais dessas janelas,
fato esse que altera a relação de distribuição de cargas até então concentradas no arcabouço de madeira que sustenta e dá
estabilidade à construção (f29).
A existência de xilófagos da espécie cupim de solo provocou a deterioração de alguns portais, barrotes do porão, esteios,
frechais, assoalhos e madres. A infestação é mais percebida no porão. Assim mesmo não se apresenta de forma generalizada
(f30).
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* Texto baseado e parcialmente transcrito do Projeto de Conservação e Preservação – Histórico e Análises de Situação e Contexto da Fazenda
Liberdade, elaborado pela Oikos Arquitetura, em julho / 2008, para a Prefeitura Municipal de Miracema.
O alpendre tem seus barrotes e assoalhos totalmente irrecuperáveis. A escada de acesso em alvenaria de tijolo maciço, bem
como os telhados, gera uma volumetria desproporcional à original, devendo ser objeto de proposta de requalificação (f31). Os
forros de madeira, todos em saia e camisa, foram afetados por umidade descendente e, consequentemente, por fungos e
xilófagos, com muita perda de material (f32). Os assoalhos também o foram, porém em quantidade menor de perdas, com
exceção dos correspondentes ao alpendre, que estão totalmente danificados, inclusive seus barrotes. As portas, com exceção
das localizadas na atual cozinha e depósito, totalmente degradadas, estão em boas condições. As venezianas externas da
fachada principal e das laterais exigem cuidados por estarem desarticuladas, ressecadas e com algumas falhas.
Pequenas obras de conservação deveriam levar em consideração a manutenção da originalidade dos aspectos estéticos e
também dos materiais utilizados. No caso da substituição do forro em estuque, provavelmente deteriorado, pelo de madeira
existente, perdeu-se muito no que diz respeito à harmonia desses elementos, transformando o paliativo em definitivo.
Foram encontrados registros de pinturas decorativas nas paredes da antiga sala-de-jantar. Aparentemente são pinturas
simples imitando texturas de madeiras, mas que revelam as técnicas e os padrões utilizados, no século XIX, para essa
finalidade (f33). O antigo acesso principal à casa foi executado com soleiras de pedras e seus arrimos na técnica em pedra
seca, todas cortadas e esquadrejadas à mão (f34 e f35).
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224 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
detalhamento do estado de conservação
Os assoalhos, ainda utilizando em grande parte as tábuas originais, foram alterados em intervenções de manutenção e, em
alguns pontos, o uso de procedimentos e materiais diferentes dos originais, geram influências e conseqüências questionáveis,
sob o ponto de vista da conservação preventiva (f36). O piso hidráulico é utilizado como pavimentação de partes de áreas frias,
elemento em uso nas construções de interesse histórico desde meados do século XX, em pleno ecletismo. Seu uso por
décadas causou desgastes acentuados nas áreas de maior circulação, e, consequentemente, várias reposições de peças (f37).
Reflexos da adoção de novos hábitos são percebidos nas construções de interesse histórico em geral, nesse caso, nas janelas
externas das fachadas, principal e lateral. A introdução de venezianas protegendo as guilhotinas contraria a versão
neoclássica, onde as folhas são cegas e internas, promovendo descontinuidade na leitura das fachadas (f38).
No final do século XIX, o uso de ferramentas mais adequadas provocou o avanço nas tecnologias da construção.
Assim, foi possível obter elementos como pequenas cimalhas de madeira, encaixes mais precisos e artefatos de ferro fundido
mais delicados, o que viabilizou a “passagem” entre os estilos em vigor na época.
Em 2008, a Prefeitura Municipal de Miracema, atendendo a solicitação do proprietário, encomendou a uma firma especializada
em restauração um projeto de conservação e de preservação da casa-sede, dada a importância e o significado do ponto de
vista histórico e arquitetônico que a mesma representa para a região.
A sede da fazenda, no momento da elaboração deste fichamento, estava passando por um processo de recuperação da
cobertura, com a substituição de telhas quebradas, tábuas de beira, pintura interna (caiação) e preenchimentos de pequenas
trincas com massa de cimento.
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FAZENDA LIBERDADE
FAZENDA LIBERDADE
FAZENDA LIBERDADE
A Fazenda Liberdade era propriedade do tenente-coronel Josino Antônio de Barros, que nasceu na Fazenda das Três Ilhas,
em São José do Rio Preto, atual São José das Três Ilhas, Minas Gerais, de propriedade de Antônio Bernardino de Barros e
Silvana do Vale Barros (segundo matrimônio), seus pais. Antônio Bernardino de Barros era filho de José Bernardino Monteiro
de Barros, proprietário de uma fazenda de criação que se destinava a abastecer a população da zona de mineração aurífera.
Já no século XIX, com o surgimento da lavoura cafeeira, Antônio Bernardino de Barros transferiu-se para São José do Rio
Preto, onde estava situada a Fazenda Três Ilhas, dedicando-se à cultura de cana e café.
Antônio Bernardino de Barros, como diversos mineiros que para lá se transferiram atraídos pela fertilidade da terra, adquiriu
uma sesmaria de terras no município de Santo Antônio de Pádua, região que futuramente seria denominada de Miracema, na
época habitada por índios.
Antônio faleceu pouco depois de 1840. Josino, seu filho, com muito pouca idade, foi educado pelo tio, Gabriel Antônio de
Barros, Barão de São José Del Rey, no então afamado Colégio do Caraça, em Mariana – (MG).
Na divisão da herança deixada pelo pai, a sesmaria localizada em Miracema foi repartida pelos três filhos do primeiro
matrimônio que aqui se estabeleceram, surgindo assim as fazendas de São Luís, de Custódio Bernardino de Barros, Paraíso,
de Plácido Antônio de Barros e Santa Inês, de Francisco Bernardino de Barros.
Após os irmãos terem se estabelecido como fazendeiros, Josino resolveu visitá-los. Na época, conheceu a filha do Coronel
Joaquim de Araújo Padilha e de D. Ana Minervina de Alvim Padilha, Amélia, com quem se casou.
Adquiriu então uma fazenda e deu-lhe o nome de Liberdade que, segundo informações de seus familiares, chegou a colher,
em sua primeira safra, 150 mil quilos de café. Vivendo no tempo em que a escravidão era instituída como regime de trabalho
humano, não foi possível evitá-la. Dentro de suas possibilidades libertou vários escravos e, compreendendo o sentido da
mudança do tempo, preferia o regime assalariado ao escravagista.
Assim, fez vir e instalou nas terras da fazenda imigrantes de origem italiana.
Suas netas, Maria Augusta e Maria Amélia e Silvia contam que o castigo comum atribuído aos escravos de sua propriedade
era tomar banho com sabão. Ainda segundo depoimento delas, outra peculiaridade das “estórias” da fazenda é que Josino
Antônio de Barros costumava deixar o paletó pendurado perto dos trabalhadores e ia dormir. Então, os escravos comentavam
– “Sô Tenente taí!”.
O Coronel Antônio Josino de Barros participou intensamente do movimento republicano, sendo um dos primeiros
propagandistas da república, fundando em 1886, ao lado de muitos outros, o Clube Propagandista da República
de Pádua.
Em 1890, foi nomeado intendente e, de 1897 a 1900, foi presidente da Câmara de Pádua, época em que introduziu, entre
outros melhoramentos, o serviço de água potável, com a construção de caixas distribuidoras e chafarizes públicos. Em
Miracema, onde já existia abastecimento de água, o sistema foi ampliado e melhorado.
Josino foi agraciado com a patente de tenente-coronel, da Extinta Guarda Nacional e foi escolhido Deputado Estadual por três
vezes.
Como fazendeiro, não se dedicava tão somente à cultura cafeeira. Experimentou a criação de ovinos, importando o famoso
carneiro “merino”. Construiu açude, plantava arroz e, ao longo dos caminhos da fazenda, viam-se cedros, bandarras, pinheiros
e até casuarinas da Austrália.
Nessa fazenda nasceram e cresceram seus filhos: Arquimedes, Ana, Joaquim (Quinca), Mariana, Leopoldina, Henedina,
Antonio Rattes (Titotonho), Israel e Lucília, do primeiro matrimônio com Amélia Padilha de Barros, e Aristeu, Constança,
Mercedes, Lígia, Gideão, Adiles e Maria do Carmo, do segundo casamento, com Bernardina
Teixeira de Barros.
O Coronel Antônio Josino de Barros faleceu em 19091. A Fazenda, atualmente, está dividida entre os herdeiros de Antonio
Rattes de Barros (filho do coronel Josino) e de Diva Lima Barros.
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Exposição Casas de Fazenda – outubro de 1993 – dos escritos de Rômulo Alves de Barros, adaptados por Marcelo Salim de Martino
localização
Situada entre o povoado de Areias e a comunidade de Barreiro, distrito-sede
município
Miracema
época de construção
século XIX
estado de conservação
detalhamento no corpo da ficha
proprietário
particular
A Fazenda Santa Justa está encravada num vale, situado entre o Povoado de Areias e a Comunidade do Barreiro, localizados
no distrito sede. Há várias alternativas de acesso, entre as quais pelo km1 da RJ-116; pela RJ-186, entrando pela Fazenda
Santa Inês (f01); ou ainda pelo povoado de Areias, que fica distante cerca de 3 km da RJ- 200, estrada que liga Miracema ao
distrito de Paraíso do Tobias (f02). Entretanto, o acesso é dificultado pelo mau estado de conservação das mesmas, devido às
chuvas que são intensas e frequentes na região.
Logo na chegada, do lado direito da estrada de quem vem de Paraíso do Tobias, distante da casa-sede cerca de 1 km, há um
córrego que passa por um trecho com muitas pedras, o que contribui ainda mais para a valorização do sítio histórico e das
belezas naturais que compõem as terras da Fazenda Santa Justa (f03). Deste mesmo ponto, pode-se avistar a Pedra Olho da
Baleia, localizada na Fazenda Pirineus, em Paraíso do Tobias, que é um importante atrativo natural da região (f04). Da sede da
Fazenda Pirineus ao topo da pedra, são quatro horas de caminhada. Corre uma lenda na cidade que, no lugar denominado de
“Olho da Baleia”, se localizava a entrada de uma grande caverna, onde os antigos moradores da fazenda acreditavam
acontecer fenômenos sobrenaturais, como o aparecimento de santos, a audição de vozes diferentes, o surgimento de dragões
cuspindo fogo, enfim, uma série de histórias que acabaram criando tal lenda. De fato, conforme o proprietário da fazenda, Sr.
João Ramos, informou à redação da revista Miracema, nº 2, de 1977, naquele local, aconteciam fenômenos “desde que me
entendia por gente”. Não coisas “do outro mundo”, como acreditavam alguns habitantes da região, mas de vez em quando, era
vista por lá uma tocha de fogo que clareava tudo.
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O conjunto de construções formado pela casa-sede e a tulha (f05), antiga (f06) e nova ceva (f07), curral (f08), barracão usado
como garagem (f09) e casa de colono (f10), ficam concentrados em volta do antigo terreiro de café (f11). Apenas outro curral
que, pelas características da construção parece ser o mais antigo, fica isolado do conjunto (f12).
Do lado direito da construção, por trás da ceva nova, localiza-se o caminho (f13), pelo qual tem-se acesso a um grande açude,
que possui uma parede de pedras que faz sua contenção (f14).
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De uma abertura desce a água represada, formando um riacho (f15) que, através de uma banqueta (f16 e f17), movimentava a
roda d’água que abastecia uma “casa de moinho” (f18), atualmente desativada e soterrada por árvores derrubadas pelas fortes
chuvas que este ano, em especial, assolaram a propriedade.
Esse açude é alimentado por diversas nascentes, sendo que a principal vem da Fazenda Serra Nova. Na parte dos fundos da
casa-sede, está localizado o antigo pomar da fazenda, que ainda conserva diversas espécies de árvores frutíferas (f19).
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236 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
descrição arquitetônica
A casa-sede da Fazenda Santa Justa possui planta retangular com as fachadas principal e lateral direita térreas – e as dos
fundos e lateral esquerda edificadas sobre porão alto, aproveitando a declividade do
terreno (f20).
A fachada frontal, que é voltada para o antigo terreiro de café, é formada por quatro janelas e uma porta de duas folhas cegas,
localizada no alpendre que possui guarda-corpo de madeira recortada, com todas as peças de madeira pintadas de azul (f21 e
f22).
O telhado em quatro águas, de ponto elevado, é coberto por telhas do tipo capa e canal e arrematado por beiral forrado,
sustentado por mãos francesas simples (f23).
A casa-sede possui três salas (f24 e f25), quatro quartos (f26), copa / cozinha (f27), banheiro e área de serviços localizada no
canto das fachadas de fundos e lateral direita da construção (f28).
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Os quartos e as salas possuem assoalho de madeira de junta cega, em alguns cômodos substituído por padrão mais
contemporâneo (f29), além de forros, também em madeira, do tipo saia e camisa (f30).
Foi verificado que, em um dos cômodos, o proprietário optou pelo uso de forro em PVC que, embora apresente aspecto
semelhante ao original de madeira, não deixa de ser um elemento estranho a uma construção do século XIX.
A copa e a cozinha apresentam pisos com ladrilhos hidráulicos, conservando a cozinha o velho e bom fogão a lenha (f31).
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Na casa, existem alguns móveis e alfaias de época, como uma escrivaninha do século XIX (f32); o sino pendurado no alpendre
(f33), utilizado para chamar os escravos; uma balança de ferro e uma corrente que foram adaptadas e utilizadas como
elementos decorativos e/ou funcionais (f34 e ver f30).
O destaque, porém, fica para uma janela entre a sala de jantar e a cozinha, vedada por uma grade formada por barras verticais
de madeira, à moda das moradas paulistas (f35).
A casa-sede é protegida por uma muralha de pedra seca, localizada na fachada lateral direita, que faz a contenção da encosta
(f36).
Ao lado da casa-sede, separada apenas por uma estreita passagem, estão localizadas a tulha, o galinheiro (f37) E uma antiga,
desativada e interessante ceva, que utilizava o porão como refúgio para os animais (f38). Esse bloco possui a fachada principal
de pau-a-pique (f39) e as laterais e parte da fachada dos fundos em esbeltos troncos de madeira dispostos na vertical (f40),
que vão do assoalho em junta cega ao frechal.
Segundo um empregado da fazenda, a madeira utilizada é a original, não tendo sido atacada por insetos do tipo cupins de
solo, e que se acredita ser de brejaúba, uma espécie de palmeira da região. O telhado é de duas águas, coberto com telhas
cerâmicas do tipo capa e canal. Acredita-se que parte dessa construção também tenha servido de senzala da fazenda.
Merece destaque ainda, o antigo terreiro de secagem de café que fica instalado em frente à casa-sede e à tulha (ver f11).
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A casa-sede encontra-se conservada, sobretudo no que se refere ao madeirame estrutural da construção, ou seja: nas peças
encontradas no telhado e porão (f41).
Parte da forração do beiral da fachada lateral esquerda foi substituída recentemente, conforme pode ser facilmente observado
(f42).
Parte do emboço do porão, do lado onde está localizado o alpendre, foi substituído, encontrando-se ainda sem pintura (f43).
Grande parte da pavimentação de pedra do tipo pé-de-moleque (f44), localizada do lado direito da edificação, está se
desfazendo, devido à erosão causada pelo carreamento das chuvas que, de forma generalizada, tem provocado uma série de
danos em estradas, nas banquetas e no curral, dentre outros. Isto ocorre porque a propriedade está localizada numa área de
declive do terreno, caminho natural das enxurradas. Outro motivo que contribui para a erosão e o desmoronamento de parte do
curral são as árvores conhecidas como “mata pau” ou figueira. Notou-se também, por ocasião do levantamento, a exploração
de rochas na propriedade, bem próximo à área que é mais atingida pelas enxurradas (f45).
Na tulha, galinheiro e antiga ceva, a construção encontra-se, em geral, mais danificada que a casa-sede, principalmente no
que diz respeito aos portais e às esquadrias (f46), que já não são originais, além de parte do assoalho (f47).
Contudo, a cobertura está em bom estado, percebendo-se que muitas peças, como a cumeeira, algumas terças e parte do
ripamento, foram substituídas (f48).
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242 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
representação gráfica
Segundo Alberto Lamego, em sua obra o Homem e a serra, a proximidade com o estado de Minas Gerais foi essencial para o
crescimento demográfico e econômico do Município de Pádua, com uma forte corrente imigratória
ao longo do rio Pomba.
“...os cafezistas se embrenhavam lateralmente pelos afluentes, onde havia encostas elevadas mais promissoras para as
plantações. O primeiro desses cursos d’água encontrados na margem esquerda, ao vir-se de Minas, é o Ribeirão Santo
Antônio, logo invadido pelos pioneiros. E, além de mais próximo das terras mineiras, os próprios fatores geográficos da bacia
desse afluente viriam incentivar a imigração por um caminho novo”.
Assim, a partir da década de 1940, grandes e numerosas fazendas foram formadas em Miracema, fato esse que possibilitou,
em pouco tempo, o surgimento do arraial de Santo Antônio dos Brotos.
E prossegue Alberto Lamego: “As tropas de café de Miracema eram das que mais concorriam para a animação do porto de
São Fidélis, e um dos mais sólidos argumentos para a construção da Estrada de Ferro Santo Antônio de Pádua, da qual viria
um ramal a destacar-se, partindo de Paraoquena até a povoação que já se formara em torno da Capela dos Brotos. Com a
nova estação no ponto terminal da via férrea, torna-se Miracema um centro de transportes distrital, com uma notável expansão
do comércio, ativado pelas transações com as propriedades rurais. Essa artéria ferroviária liberta-a cada vez mais de Pádua.
E, com os robustos recursos independentes da sua economia agrícola, envolve o núcleo urbano, transformando-o numa
pequena e próspera cidade, coisa dos destinos próprios onde, naturalmente cresceram os sentimentos separatistas. O contato
com Minas continua a fornecer-lhe um contingente humano que, sem cessar, se espraia pela topografia acidentada, que se
eleva da cota de 137 m, na estação ferroviária, a cerca de 400 m nas Serras do Pirineus, da Boa Vista e do Tirol. Dos milhares
de colonos mineiros a acorrerem para Miracema, a fim de plantar café num solo altamente produtivo, emergem centenas de
pequenos fazendeiros, cujas famílias enraizadas ao novo meio, proliferam”.
Assim surgiram várias propriedades rurais, dentre as quais podemos citar a Fazenda Santa Justa, que pertenceu ao Sr.
Bernardino Homem da Costa, que foi Juiz de Paz em Paraíso do Tobias, cuja família possuía outras propriedades situadas
nesta região de Paraíso do Tobias – 2º distrito de Miracema.
A sede da Fazenda Santa Justa deve ter sido edificada por volta de 1870. Numa das reformas do telhado, foi encontrada uma
telha datada de 22 de fevereiro de 1873 (f49), provavelmente marcada pelo fabricante de telhas que foi o mesmo fornecedor da
Fazenda Santa Inês, uma vez que lá também foram encontradas as mesmas telhas com datas bem próximas.
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Anos depois, a fazenda foi passada para Bernardino Alves da Costa, filho de Bernardino Homem da Costa, casado com
Guiomar Tostes, popularmente conhecido por Seudy. José Erasmo Tostes, sobrinho de Guiomar, relata em seu livro de
memórias, intitulado Tipos e fatos inesquecíveis, que “...na época das colheitas, o tio Seudy fazia com que todos trabalhassem
no corte de arroz, na colheita do milho e na apanha do algodão. O algodão era depositado num dos quartos da casa. Na sala
ao lado, muito espaçosa, tinha uma eletrola movida a corda, um guarda-louça, um retrato grande pendurado na parede, uma
mesa comprida onde se faziam as refeições preparadas no fogão de lenha, e dois bancos para compor a mesa.
A Fazenda Santa Justa ficava num platô, o curral na parte de cima e no terreiro, um galinheiro, duas tulhas, onde se
guardavam os produtos colhidos, um barracão onde ficava o carro de boi e um carroção, juntamente com as ferramentas
agrícolas. Na parte de trás da fazenda, a mais baixa, onde a água era corrente, havia uma ceva com vários porcos. Do outro
lado da estrada, uma roda d’água tocada pelo valão ali existente e o alambique onde se fabricava a aguardente Santa Justa,
que era vendida no mercado.
Após 50 anos lá voltei e, ao passar novamente pelos mesmos lugares, o açude, a banqueta onde se represava a água para
tocar o moinho de fubá, os pés de goiaba, as mangueiras, as jabuticabeiras, nada tinha mudado. Eu é que havia envelhecido, e
as lágrimas a correr pela face ao lembrar os tempos de menino.
E assim, naquelas recordações, eu via o entardecer, e a hora de dormir, onde a tia Guiomar fazia com que todos lavassem os
pés para não sujarmos os lençóis alvejados.
E naquele silêncio que produz a noite, só ouvíamos de longe o ladrar dos cães, o pio da coruja, o coaxar dos sapos, o zumbido
dos insetos, o farfalhar das folhas secas batidas pelo vento, o marulhar das águas sobre as pedras e o barulho cadenciado da
roda d’água”...
Na década de 1960, Santa Justa foi vendida ao Sr. Paulo Lima Barros, que, por sua vez, a transferiu ao Sr. Décio Pereira Lima.
Com seu falecimento, a fazenda coube a seu filho, que é o atual proprietário.
Fontes
TOSTES, José Erasmo - Tipos e fatos inesquecíveis, Gráfica Hoffman – Miracema, 2008.
LAMEGO, Alberto Ribeiro - O homem e a serra, IBGE – Rio de Janeiro, 2007.
localização
Estrada do Barreiro, s/nº
município
Natividade
época de construção
1830
estado de conservação
detalhamento no corpo da ficha
proprietário
particular
A Fazenda Ponte Alta está localizada no município de Natividade, próximo à divisa com o município de Itaperuna.
Toma-se a BR-356, em direção à Muriaé (MG), e entra-se no trevo para Natividade, cerca de 15 km do centro da cidade de
Itaperuna. Segue-se à direita, pela estrada do Avahy, por 6 km de terra batida ensaibrada, chegando-se ao entroncamento com
a estrada do Barreiro (f01). Prosseguindo por mais 7 km, margeando o Rio Carangola e depois pelo seu afluente, o Rio da
Conceição, alcança-se a fazenda. A estrada do Barreiro está muito mal conservada, possuindo uma ponte rústica sobre o rio
que permite o acesso à propriedade.
A mata remanescente é nativa, mas é comum a presença de pastos intercalados à mesma. A paisagem próxima ao sítio
apresenta-se com relevo pouco acidentado, com pequenas e suaves elevações.
A casa-sede está implantada no centro de um grande platô, com um pequeno declive para a esquerda, onde está o acesso
lateral que se liga à estrada do Barreiro (f02). No seu entorno, encontram-se grandes árvores frutíferas e, mais ao fundo,
destacam-se os morros tipo “meia-laranja” característicos da região (f03 à f05).
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A fachada principal está voltada para a estrada do Barreiro (f06), possuindo à frente uma grande área plana, que remete a um
jardim sem canteiros, delimitado pelo acesso lateral e pela cerca junto à estrada – aproximadamente no mesmo nível desta –
para o qual se volta à casa do caseiro, de construção recente. Há ainda uma casa de colono um pouco afastada, mais antiga,
mas não da época da fazenda.
A capela de Nossa Senhora Aparecida fica um pouco distante da casa-sede, escondida pela vegetação circundante a ponto de
não poder ser avistada (f07). Estando sem uso, o seu entorno foi invadido pelo mato.
A fachada lateral esquerda da casa-sede é margeada pelo leito do córrego, que faz uma curva neste trecho, ficando quase
paralelo à estrada do Barreiro. Nesse local, existem três chiqueiros interligados, que usam de sua água através de uma
comporta original, que, quando aberta, serve como um canal para limpeza dos mesmos (f08). Depois, esse desvio segue sob a
estrada, funcionando como um braço do rio, provavelmente já existente, e que foi direcionado para essa função.
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Mais à esquerda, à margem do rio, vemos a antiga casa que abrigava o moinho de fubá. Hoje, ela está sendo usada como um
galinheiro, mas mantém todos os equipamentos do antigo moinho, assim como duas de suas mós em cantaria (f09 e f10). Na
queda d’água existente, próximo ao moinho, pode-se ver a base em pedra da antiga roda d’água (f11), que fornecia energia
para a fazenda e também para o moinho. Existem duas comportas, uma para o rio (f12) e outra (f13) que direcionava a água
canalizada para uma tubulação sob a casa do moinho, para fazê-lo funcionar. O acesso à antiga roda d’água e à comporta é
feito através de uma escada e uma passarela (f14) que levam até a beira do rio, calçada em pedras da região. O
abastecimento da casa-sede, atualmente, é feito por uma caixa d’água própria.
O curral (f15) fica próximo da casa-sede, na frente e um pouco à direita, do outro lado da estrada do Barreiro.
Mas a visão da casa a partir deste é inviável, devido a um grande conjunto de mangueiras que se interpõem aos mesmos.
Observa-se também um curral menor, para caprinos, à direita da casa-sede, em construção recente, localizada numa pequena
elevação.
A composição do “quadrilátero funcional”, ou seja, a forma de implantação das suas antigas instalações é aberta, dominado
pela presença da casa-sede.
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Edificação desenvolvida em partido arquitetônico que toma a forma de um “L”, situada num platô com um ligeiro declive para o
lado direito. O corpo principal é retangular, estando disposto paralelo à estrada do Barreiro, assim como a fachada lateral
direita está paralela ao rio que banha a propriedade, compondo o “L” (f16).
Na fachada frontal, podemos observar, no 1º pavimento, três portas e quatro janelas em verga reta em madeira, como as
demais da casa, e, no 2º pavimento, dez janelas. O ritmo dos vãos confere à fachada, despojada de um tratamento
arquitetônico mais apurado, a característica mais marcante de sua composição.
A visão da estrutura em madeira aparente, no caso dos pilares, remete à constatação – conforme a foto mais antiga existente
no histórico – que, com o passar dos anos e prováveis danos sofridos, fossem eles por umidade ascendente ou outro fator
qualquer, a base em cantaria foi sendo reforçada e ampliada. Isto fez com que os pilares de madeira passassem a ter a face
externa acima do embasamento com tamanhos diferentes (f17), de forma que apenas os cunhais alcançam o nível do terreno
(f18).
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As bases em cantaria são caiadas de branco, assim como toda a alvenaria da edificação, o que contribui para uma visão pouco
usual da sua composição. Modulam a fachada seis pilares em madeira, todos finalizando no frechal – viga horizontal que divide
os pavimentos. Esta viga, em madeira aparente, recebe o barroteamento do tabuado do 2º piso, apresentando detalhes de
encaixe originais, ainda conservados após mais de 150 anos (f19).
Na primeira porta – que permite o acesso à parte de moradia no segundo piso –, observamos uma rampa que antecede o
patamar, em laje de pedra com junta seca (f20). Porta alta, como as demais, de abrir, ela apresenta folha única em madeira
enrelhada. Logo em sequência, há alternância de vãos de janelas e portas, entremeados por pilares aparentes em madeira,
que marcam o embasamento da construção. No lado oposto, há outra escada, com sete degraus para vencer o desnível do
terreno nesse trecho (f21).
A fachada lateral esquerda (f22) apresenta composição onde se observa o não alinhamento dos vãos do segundo piso em
relação ao primeiro, evidenciando as alterações descaracterizadoras ocorridas. Prosseguindo na leitura das fachadas
posteriores – que delimitam o pátio aberto que formata o “L” invertido da planta – observa-se uma mesma tipologia, que
resguarda, em melhores condições, a modenatura do pavimento superior (f23 e f24).
A fachada de fundos foge um pouco a essa conformação, apresentando outros elementos que evidenciam as transformações
ocorridas (f25).
Na fachada lateral direita, nota-se, como na frontal, seis pilares de madeira aparente de dimensões variadas e bases de
cantaria (f26). No primeiro pavimento, podemos observar que os cunhais e a peça de madeira estrutural que se aproxima de
seu eixo de simetria, se estendem até a cobertura enquanto os demais esteios estão restritos ao primeiro piso.
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Chama atenção um vão de porta, com patamar na altura da base de cantaria da casa, originalmente usado para carregar as
cangalhas dos tropeiros (f27).
A edificação apresenta cobertura em seis águas, beiral com cimalha torneada em madeira e telhas capa-canal originais, com
metade da primeira fiada de telhas em balanço (f28). Os cunhais recebem como coroamento, um trecho de beiral ressaltado,
fazendo às vezes de um capitel (f29).
O embasamento é feito por pedras de mão do local, com junta seca, pintado à base de caiação. Em alguns pontos a cantaria é
aparente e em outros, apresenta-se emassada. A estrutura interna da edificação é aparente, como a externa.
A fachada frontal possui três entradas. A principal constitui-se por uma rampa de lajes de pedra com patamar central em frente
à porta, que leva a uma saleta – que serve de escritório para o proprietário – com um pequeno mezanino, pé direito baixo, forro
com barrotes e tabuado do piso superior, aparentes e caiados. Mantém uma janela para a fachada lateral esquerda e, para a
proteção do mezanino, observa-se guarda-corpo em madeira, além de escada original – toda feita em ensambladuras (f30) –
que leva à porta da área de moradia (f31).
Essa entrada é exclusiva da parte residencial, localizada no andar superior, não tendo ligação nenhuma com o restante do
primeiro pavimento, que mantém porão habitável ocupado por vários cômodos, cujo uso original destinava-se ao estoque do
café, depósito e senzala (f32).
A senzala ficava no porão, subsistindo ainda o tronco dos escravos (f33) em uma parte bem mais rústica deste.
O piso arruinado permite perceber o calçamento original em adobe, que se evidencia num trecho de degrau que recebeu,
posteriormente, um cimentado por cima.
Os outros acessos estão voltados para ambientes bem mais rústicos: um salão e depósito, ligados a cômodos semelhantes e a
outro lateral com piso em tabuado de madeira elevado (f34).
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Há um cômodo lateral que possui outro mezanino (f35), alcançado por escada com cinco degraus, mantendo guarda-corpo e
tabuado de madeira. Este mezanino leva, ao fundo à esquerda, a uma escada de madeira que dá acesso à área de serviço e a
um pequeno banheiro, construído em época posterior.
No segundo pavimento, na entrada da residência, encontramos uma circulação generosa (f36) com duas portas. Uma delas
leva à sala principal, que apresenta forro saia-e-camisa em madeira aparente, com sanca em madeira boleada em ótimo
estado de conservação, assim como o piso, mantendo quatro janelas para a fachada frontal e acesso para dois quartos (f37),
também com forros saia-e-camisa em madeira aparente, porém não tão elaborados. Originalmente havia mais um quarto
voltado para esta sala, pois se observam vestígios de sua porta (f38).
A outra porta direciona a uma ala semelhante, que leva a uma sala íntima com um quarto ao fundo (f39) e à sala de almoço,
que conserva a mesa original da fazenda – com mais de 100 anos (f40). Da sala de almoço observa-se um cômodo até hoje
usado como oratório, com uma grande imagem religiosa. Vê-se ainda o acesso à parte íntima da residência, sua porta com a
fechadura e chave originais, notando-se nessa ala um closet, também com ferragens originais, além de 3 quartos, em que as
janelas voltam-se para a fachada lateral esquerda, mantendo piso de madeira em bom estado.
Na sala de almoço, há uma parede baixa, original, dividindo o espaço da copa (f41), contígua a uma pequena ala que leva à
ala de serviços, onde se encontra a lavanderia e dois banheiros, construídos posteriormente.
A cozinha volta-se para a copa, notando-se dois fogões à lenha, o principal, para a cocção da comida em geral, e o outro,
próprio para cozimento de doces em tachos (f42 e f43), havendo um armário, também centenário, que faz conjunto com a
mesa da sala de almoço (f44). A cozinha possui três janelas que dão para a fachada lateral direita (f45).
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As portas e janelas da edificação apresentam vergas retas e robustos portais emoldurando-as. Na fachada frontal, no 1º
pavimento, as portas são em madeira com apenas uma folha cega de abrir, assim como as janelas (f46). As janelas do 2º
pavimento apresentam bandeira com apenas três quadros em madeira e vidro na parte superior e guilhotina com tela na parte
de baixo (f47), além de duas folhas cegas de abrir para dentro.
No pavimento térreo das fachadas laterais e posteriores, as janelas e portas são do mesmo padrão da fachada frontal. Na
fachada lateral direita, observam-se, no depósito, dois vãos de janelas onde foram instaladas grades (f48). As janelas do 2º
pavimento apresentam adaptações descaracterizadoras das esquadrias, com madeira e vidro formando três retângulos
encimados por sobrevergas em madeira (f49). Vê-se também, na ala de serviço, janelas com somente uma folha de abrir em
madeira (f50). No 2º pavimento, a porta de entrada tem apenas uma folha de madeira, sendo que em outras, como a que dá
acesso à ala íntima, observamos duas folhas.
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A fachada lateral esquerda sofreu uma intervenção, inadequada e recente, entre os dois pilares de madeira do extremo
esquerdo e a base em cantaria, recebendo revestimento com emboço em cimento sem o traço apropriado aplicado sobre o
adobe (f51), provavelmente sem análise do material original, o que proporcionará, futuramente, a expulsão desse novo
revestimento. Comportou ainda a colocação de uma nova janela, com apenas uma folha de abrir, que deturpou as
características e dimensões das demais (f52).
No porão, o salão tem piso em base de adobe (f53) muito mal conservado; cômodos com piso cimentado de má execução por
sobre o adobe; paredes, também em adobe e com lacunas e perda de revestimento (f54); um grande tronco central com base
em cantaria (f55); pé direito alto, sem forro e com o barroteamento e o tabuado em madeira aparentes (f56).
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Há poucos vestígios de infiltração, como na parede e forro de um dos quartos (f57) em que o sistema construtivo está à vista,
notando-se manchas de umidade descendentes, podendo ser também um dos motivos da deterioração e lacunas existentes.
Da copa, vê-se uma parede parcialmente em ruínas, mostrando seu sistema construtivo original (taipa de mão) com trama em
madeira preenchida por barro cru, notando-se lacunas no preenchimento, ficando à vista a trama de madeira (f58). Esta parede
é geminada com um dos banheiros (f59), provável motivo da deterioração que deve ter ocorrido ou por alguma infiltração ou
apenas pela incompatibilidade de materiais usados, como a argamassa de cimento para colocação dos azulejos, que,
possivelmente, impediu a parede original de “respirar”.
O telhado está em bom estado de conservação. Observa-se, acima do forro, um engradamento perfeito apesar de todos esses
anos. Não há as tradicionais tesouras de telhado, mas um esquema construtivo diferente (f60 à f61) sem a linha usual.
Nos cantos dos beirais são visíveis alguns danos, também por umidade descendente passíveis de recuperação (f62), assim
como na fachada lateral direita, onde se notam dois pontos com crostas negras, devido à degradação biológica.
A capela – que possui a porta principal em madeira com arco abatido; duas janelas superiores estreitas, também em madeira
com arco pleno; um frontão triangular parcialmente escalonado com um sino em um vão aberto – apresenta a pintura
queimada pelo tempo, além de sujidades e manchas de degradação biológica (vide f07).
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A Fazenda Ponte Alta surgiu à margem do Rio Carangola, ainda na década de 1830. Pouco antes do início do
“desbravamento” dos municípios da região, em 1831.
A primeira casa-sede da Fazenda Ponte Alta tinha apenas quatro janelas na fachada frontal, entremeadas por pilares de
madeira, que iam do solo à cobertura e o primeiro pavimento, sob “pilotis”, de peças de braúna da região, existentes até hoje.
Não era, portanto, todo vedado e era usado para o estoque de café, além da senzala, que, nessa ocasião, era menor (f63).
Posteriormente, esta edificação passou a ser a Casa das Máquinas, que hoje não existe mais.
A segunda casa-sede – originalmente uma fazenda de raiz, na qual seu dono e descendentes moravam enquanto a
propriedade se manteve com a família que a fundou – foi construída no mesmo local, em aproximadamente três quartos da
década de 1830, tendo sido aproveitada parte da estrutura existente da primeira casa-sede e eliminada a casa das máquinas
desse local. Mantém-se preservada até os dias de hoje, com o mesmo acesso pela fachada lateral esquerda (foto s/d). Nessa
ocasião, o primeiro andar foi todo vedado por alvenaria de adobe e já apresentava as características preservadas que vemos
hoje.
A casa-grande tinha uma visão geral da propriedade e a permanência do dono era constante.
Seu primeiro proprietário foi Antônio Porphirio Tinoco, irmão de Francisco Antônio de Sá Tinoco, cunhado de José de Lannes
Dantas Brandão, desbravador do município de Itaperuna.
A fazenda possuía 583 alqueires de terra onde eram cultivados o café, o arroz, o milho, a cana e o feijão. O trabalho nas
lavouras era feito pelos escravos do proprietário.
A fazenda possuía senzala no porão da casa-sede, onde viviam os escravos, e também o tronco, que ainda pode ser visto
hoje, onde eles eram castigados (f55).
Até cerca de três anos atrás, existia na Fazenda Ponte Alta uma palmatória, que foi muito usada naquela época, o quepe do
major Antônio Porfhirio Tinoco, o mapa da planta geral da Fazenda Ponte Alta, datado de 1887, e um livro de registros de
compra e venda de escravos e café. O proprietário atual não tem conhecimento do destino desses bens.
A vida na fazenda era dificultada pela precariedade dos acessos e pela falta de condução. O café era vendido no Rio de
Janeiro e em Campos, sendo transportado por tropas.
Primeira casa da Fazenda Ponte Alta, depois Casa das Máquinas, s/a, s/d, fonte Fazendas Históricas de Itaperuna 63
Uma das razões da ausência de escadas em uma das portas do primeiro pavimento da fachada lateral esquerda (f31) era o
embarque da produção de café. Em outra porta alta, nota-se a existência de uma escada construída posteriormente, conforme
podemos notar pelos tijolos maciços usados e o piso dos degraus em cimento (f34 e f35). O piso dista 1,30 m do nível do solo
do acesso à lateral da casa. Esta característica singular está preservada em uma das portas da fazenda até os dias de hoje e
prende-se ao fato dos tropeiros encostarem seus animais junto a essas portas elevadas para serem mais facilmente
carregados.
Há alguns armazéns, originalmente para estoque de café, dentro de núcleos urbanos, com essas mesmas características,
portas grandes e elevadas com relação ao nível do terreno externo e no mesmo nível do piso interno.
Antônio Porphirio foi casado por três vezes e deixou diversos filhos. Com sua morte, os bens foram repartidos entre os
herdeiros, tendo ficado como proprietário da Fazenda Ponte Alta o Sr. José Egídio Tinoco, o Sr “Juca”.
A fazenda passou a ter 100 alqueires. José Egídio Tinoco foi casado com Maria de Oliveira Tinoco, que tinha o apelido de
“sinhazinha”. Nessa época, José Egídio se dedicava também à pecuária, com o gado leiteiro e de corte.
Com o falecimento de José Egídio Tinoco, no dia 18 de outubro de 1958, a fazenda foi dividida entre os herdeiros.
Em 2005, a fazenda tinha 60 alqueires e o seu proprietário era o Sr. Arício Tinoco de Oliveira. A Fazenda Ponte Alta possui a
maioria de suas terras no município de Itaperuna, porém parte está no município de Natividade.
Há três anos, foi vendida, pela primeira vez, a pessoas estranhas à família. O Sr. Edson Vargas, que atualmente é proprietário
da indústria de charque Avahy, usando para tal fim gado comprado fora, posto que o gado existente na fazenda, atualmente, é
leiteiro. Há também a criação de suínos, caprinos e aves. Também é praticada a fruticultura, com muita fartura de mangas e
jabuticabas.
A Fazenda Ponte Alta é um exemplo raro da arquitetura do século XIX, que se mantém íntegra até hoje, apesar de mal
conservada. Os materiais usados na sua construção, essencialmente da região, representam o sucesso da arquitetura voltada
às necessidades do homem do campo, que preservava o conforto térmico através de suas grossas paredes em adobe, no
primeiro pavimento, e do sistema construtivo conhecido por “gaiolas”, no segundo pavimento, através do seu alto pé-direito e
cobertura em telhas cerâmicas, feitas artesanalmente pelos escravos. Além disso, produzia sua própria energia para
subsistência, conseguindo harmonizar suas necessidades com a natureza, totalmente integrada à casa-sede.
Segunda casa da Fazenda Ponte Alta, s/a, s/d, fonte Fazendas históricas de Itaperuna
Fontes:
GUIMARÃES, Porphirio. Terra da Promissão
JORGE, Chequer. Fazendas históricas de Itaperuna. Itaperuna: Damadá Artes Gráficas e Editora Ltda.
localização
Paraíso do Tobias – 2º distrito
município
Miracema
época de construção
25/03/1875
estado de conservação
detalhamento no corpo da ficha
proprietário
particular
A Fazenda Prosperidade está situada em Paraíso do Tobias, 2º distrito de Miracema, cujo acesso é feito a partir da RJ-200,
que tem início num trevo localizado na RJ-116, próximo à Usina Santa Rosa. Atravessando a ponte situada logo na entrada do
distrito, tem-se acesso a poucos metros, pelo lado esquerdo, à RJ-186 (estrada sem pavimentação), que liga Paraíso do
Tobias ao município de São José de Ubá. A 6 km da sede distrital, está localizada a Fazenda Prosperidade. Na RJ-186,
existem diversas propriedades rurais, destacando-se as fazendas Santa Inês, Mantinéa, Maravilha, Pirineus e União.
A certa altura da estrada, já próxima à Fazenda Prosperidade, avista-se a pedra “Olho da Baleia” (f01), localizada na Fazenda
Pirineus. Do lado esquerdo da mesma estrada, pode ser vista também uma cachoeira (f02), que pertence ao Sítio Santa
Verônica, de propriedade do Sr. Renato Gripa. Ambas são importantes atrativos naturais, que muito valorizam aquela região,
que possui forte apelo turístico.
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Segundo informações prestadas por seu atual proprietário, Plínio Bastos de Barros Neto, a casa-sede (f03) foi edificada
conforme os modelos tradicionais implantados na região de São José das Três Ilhas, atualmente distrito de Belmiro Braga
(MG), próxima ao Vale do Paraíba, berço de sua família.
Na década de 60 do século XX, foi realizada uma reforma que descaracterizou a construção, substituindo-lhe ou retirando
elementos decorativos, como as sobrevergas de estuque das janelas (f04), os cunhais que colocaram à mostra os esteios de
madeira (f05), o telhado de quatro águas (f06), o acabamento da alvenaria, das portas e janelas, originalmente nas cores
branco e verde colonial, respectivamente, e os basculantes de estrutura de ferro, instalados nos banheiros, solução muito
difundida na região a partir da década de 1950.
Nas fachadas, todos os vãos de janelas e portas são em verga reta, vedada por esquadrias de folhas cegas enrelhadas com
ombreiras aparentes (f07).
O telhado em quatro águas é coberto com telhas do tipo capa e canal, com requintado beiral forrado em madeira do tipo saia e
camisa (f08). Arrematando a cobertura, duas peanhas de cerâmica vitrificada (f09).
Interiormente, a casa-sede está passando por uma grande reforma. Foi possível verificar, por ocasião do
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levantamento de campo, que algumas das paredes internas são de pau-a-pique (f10) e as externas de alvenaria de tijolos
maciços. Todo o forro foi retirado e o piso em madeira recuperado à feição original (f11). Só um cômodo mantém forração
original em taquara (f12), prática tradicional da arquitetura rural nos ambientes mais simples, também encontrada na Fazenda
Liberdade, cuja propriedade pertenceu à mesma família Barros.
A casa-sede, que possui planta retangular, tem fachada principal térrea (ver f03) e fachada de fundos edificada sobre porão
alto e habitável (f13), aproveitando a declividade do terreno.
Foi removido, também, um alpendre, construído posteriormente, existente na porta da antiga cozinha, onde
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outrora, a proprietária preparava compotas de doces num amplo fogão a lenha. O local servia também de escola. Hoje, em seu
lugar há um extenso gramado, arrematado por uma mureta de alvenaria de cimento, que coroa o muro de pedra seca que se
volta para a fachada lateral esquerda da casa-sede (f14).
Na fachada lateral direita, encontra-se gravado em relevo a data da construção (ou do seu término) da casa sede: 25/03/1875
(f15).
A fachada dos fundos possui duas portas que dão acesso ao porão, o que também pode ser feito através das fachadas laterais
(f16). Em seu interior, foi constatada a existência de um antigo forno a lenha (f17). Um novo acesso para o interior da casa-
sede está sendo construído. Todo o madeirame desta parte da construção está sendo tratado e as peças irrecuperáveis estão
sendo substituídas (f18).
Esta parte da casa-sede (fachada dos fundos) é protegida por um extenso muro de arrimo em pedra (ver
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f13), por onde, através de um túnel subterrâneo, corre a água que vem do outro lado da propriedade e que desemboca na
cachoeira situada um pouco mais à frente (f19) e que forma um lindo lago, em parte submerso pela vegetação nativa (f20).
Próximo à fachada lateral direita, se tem acesso a uma escada de pedra-seca (f21), que leva, acima, ao terreiro de café (f22) e,
para baixo, a uma cachoeira e aos antigos tanques utilizados para a lavagem do café (f23), que dão mais beleza ao local, que
possui clima agradabilíssimo e vegetação remanescente de mata atlântica (f24).
Grande parte do material – peças de madeira, tijolos e telhas – que está sendo utilizado na obra, foi adquirido
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de um lindo jogo de toalete composto de jarro, bacia, porta-escovas, saboneteira e urinol com tampa em louça inglesa do início
do século XX (f38).
A tulha é uma construção que fica localizada na área mais baixa da fazenda, na parte dos fundos da casa-sede.
Possui telhado em quatro águas, coberto com telhas do tipo capa e canal, e beiral forrado com trançado de taquara. Esta
edificação constitui um único cômodo que atualmente é utilizado para guarda de material (f39).
Na chegada da estrada que dá acesso ao platô onde estão localizadas a casa-sede, o terreiro de café, o paiol, o moinho e uma
extensa área gramada, encontram-se as ruínas de uma antiga construção, provavelmente o alicerce da nova casa-sede,
inacabada e abandonada, como na vizinha Fazenda Santa Inês, em decorrência da abolição da escravatura (f40). Trata-se de
uma edificação em pedra com arcos plenos e óculos de tijolos
maciços, que, atualmente, é o mais importante atrativo arquitetônico do conjunto formado pela Fazenda Prosperidade (f41).
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A casa-sede está passando por uma grande obra de reforma, com adaptações compatíveis às necessidades atuais dos
proprietários, buscando a reconstituição parcial de como teria sido na época de sua construção (f42 e f43). Novas escadarias
de acesso estão sendo construídas nas fachadas principal, lateral direita, lateral esquerda e de fundos (f44). A divisão interna
ainda não está muito definida, pois muitas paredes estão sendo remanejadas e outras construídas.
Externamente, ombreiras, peitoris e portais de janelas e portas foram recuperados e/ou substituídos. Novas portas e janelas
estão sendo confeccionadas para substituírem aquelas que se encontram deterioradas ou atingidas por xilófagos do tipo cupins
de solo.
Peças do assoalho do tipo “paralelo” também estão sendo repostas (f45), e está sendo realizada uma reforma geral das
instalações elétricas e hidráulicas.
O antigo terreiro de café, que se tornou um grande depósito de material de construção a céu aberto, necessita de recuperação
em algumas partes (f46).
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O moinho também está em boas condições de conservação, necessitando, porém, de pequenos reparos (f47).
O paiol, que aparenta estar em perfeito estado, merece atenção especial por ser uma edificação de madeira, fato este que
pode atrair insetos do tipo xilófago e comprometer toda sua estrutura rapidamente (f48).
O armazém / casa do colono foi recuperado recentemente, para funcionar provisoriamente como residência, até que as obras
da casa-sede estejam totalmente concluídas (f49). Toda sua forração e assoalho foram recuperados nos padrões originais,
bem como refeitas as instalações elétricas e hidráulicas (f50 e f51).
A tulha, da mesma forma que o armazém e a casa do colono, foi reformada. A alvenaria foi pintada de branco, o madeirame da
estrutura e as ombreiras, peitoris e portais das janelas e portas em azul colonial e as portas e janelas em ocre. O interior não
apresenta revestimento no piso, permanecendo o chão em terra batida (f52 e
f53).
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As ruínas necessitam de algumas intervenções, a fim de que sejam consolidadas para que sobrevivam por tempo maior (f54).
Partes das paredes de pedra foram desfeitas e, algumas árvores (paineiras) que nasceram em seu interior podem estar
comprometendo sua integridade e estabilidade (f55). Segundo o proprietário, esta será a próxima etapa das obras de
recuperação a serem realizadas, tão logo terminem as obras da casa-sede. Alguns preenchimentos foram feitos no passado
com tijolos maciços (f56). A área interna é forrada por um gramado que valoriza o espaço (f57).
É importante destacar que toda a reconstituição está sendo executada pelo mestre miracemense, Sr. José Geraldo de Souza
Ribeiro, morador de Paraíso do Tobias, segundo distrito de Miracema, onde é conhecido por todos como “Zé do Rádio”.
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FAZENDA PROSPERIDADE
FAZENDA PROSPERIDADE
FAZENDA PROSPERIDADE
Segundo Roberto Simonsen, em sua obra Aspectos da história econômica do café, a grande expansão cafeeira se firmou
definitivamente no Brasil, quando atingiu, no território fluminense, as zonas “dos desertos das montanhas, vastos tratos de
terra cobertos de matas e habitados pelos índios Puris, Sucurus e Coroados, daí repelidos ou exterminados pelos cafeicultores.
Com o entusiasmo decorrente do rápido enriquecimento de muitos dos agricultores de café, novas e grandes plantações se
fizeram, espraiando-se celeremente pela província. Abandonavam-se as fazendas de antigas culturas e as terras já lavradas,
dando-se preferências às zonas florestais, que a prática ia indicando como as mais produtivas.”
Ainda segundo o autor, o Vale do Paraíba foi a região do estado em que se verificaram os melhores resultados e “daí a
extensão da cultura pelas suas margens, galgando as numerosas serras que o circundam e os seus vários afluentes. Pela
margem esquerda do grande rio, as plantações invadiram a zona da Mata, em Minas Gerais, atingindo para logo as antigas
regiões já transitadas pelos primitivos mineradores, onde se localizavam núcleos de populações, vilas e aldeias fundados ou
mantidos pelos seus descendentes.”
Foi por esse motivo, pela proximidade com o estado de Minas Gerais e pela quantidade de terras férteis e devolutas, habitadas
pelos Puris, que fizeram com que Miracema, primitiva Santo Antônio dos Brotos, fosse fundada entre 1840 e 1842, formando
grandes fazendas produtoras de café.
A Fazenda Prosperidade foi fundada, em 1875, pelo coronel Apolinário de Barros, recebida por doação de seu pai, Francisco
Bernardino de Barros, que a desmembrou da Fazenda Santa Inês, como escreveu Heitor de Bustamante em sua obra Sertões
dos Puris, página 60:
“Há cerca de um século, o mineiro José Ferreira Brandão comprou pela importante quantia de sete contos de réis uma sorte de
terras que, começando na Fazenda das ”Três Quedas do Bonito”, naquela época de Sebastião Gomes Teixeira Jales, ia
terminar na divisa de outra freguesia, no lugar que depois se chamou São Felipe, compreendendo todo o vale superior ao
Ribeirão Bonito.
“Mais tarde cedeu aos três sobrinhos as glebas em que eles formaram as fazendas: São Luis, de Custódio Bernardino de
Barros, hoje correspondente às fazendas de propriedade de Joel Azevedo, de Maria Niméa Salvador Bravo e filho e de Norton
e Ângela Amim Lopes; Paraíso, de Plácido Antônio de Barros, onde atualmente acha-se implantada a sede do distrito de
Paraíso do Tobias e de muitos sítios; e Santa Inês, de Francisco Bernardino de Barros, que a desmembrou em diversas áreas,
por doações que fez aos filhos que formaram outras fazendas, a saber: Antônio Apolinário de Magalhães Barros, a da
Prosperidade e José Joaquim de Magalhães Barros, a de Santa Verônica; os genros Afonso Ernesto de Barros a de Boa Vista
ou Califórnia, que mais tarde recebeu o nome de Pirineus, Ildefonso Monteiro de Barros a da Mantinéia; Dr. Anastácio
Rodrigues Coimbra, a da Mata; José Anastácio Coimbra a de São Thiago; José de Assis Alves, a da União; Antônio Miguel
Coimbra, a de Santa Ana e Francisco de Assis Alves, a de São Felipe. E, por último, a Santa Inês, de Francisco Bernardino de
Barros, que depois foi passada para o seu sobrinho Antônio Bernardino Monteiro de Barros. Em seguida, pertenceu ao capitão
José de Assis Alves, que, em 1892, teve uma execução por dívida hipotecária, promovida pelo Banco do Brasil, da qual
resultou a penhora da Fazenda Santa Inês, com todas as suas benfeitorias, o que a levou à primeira praça, em 19 de
novembro do mesmo ano, pela avaliação de 124:336$000. Foi adquirido por Joaquim Rodrigues Leite, que parece tê-la
arrematado em praça pública e transferido a José Ventura Lopes, pai do capitão Antônio Ventura Coimbra Lopes.”
Ainda no final do século XIX, a Fazenda Prosperidade foi adquirida pelo coronel Joaquim Bernardino de Barros, mais
conhecido por “Quinca Josino” (f58), filho do coronel Josino Antonio de Barros, proprietário da Fazenda Liberdade.
Conforme depoimento do proprietário, Sr. Plínio Bastos de Barros Neto, “... os Barros de Miracema (RJ) descendem de José de
Barros Monteiro, que com apenas 13 anos de idade chegou ao Brasil, vindo de Portugal em meados do século XVIII.
Desembarcou no cais dos Mineiros, trabalhou inicialmente para um negociante da Praça do Peixe, mas logo seguiu para o
interior de Minas Gerais, acompanhando o capataz de uma tropa de fazenda da tradicional família Leite, fazenda na qual se
fixou e mais tarde se casou com Mariana Leite de Barros, filha de seu proprietário. O casal se estabeleceu então com uma
fazenda de criação denominada “Fazenda Safira”, no rio Turvo, não longe da atual cidade de Andrelândia (MG), e se destinava
a abastecer os centros populacionais da zona de mineração aurífera.”
O filho do casal, Antônio Bernardino de Barros, no final do século XVIII e início do século XIX, com o declínio da exploração do
ouro e o surgimento das lavouras cafeeiras, comprou as duas “sesmarias das Três Ilhas” do guarda-mor João Francisco de
Souza, colocou seu irmão Gabriel José de Barros na dos fundos, à qual deu o nome de São Miguel, estabelecendo-se na
“Fazenda das Três Ilhas”, dedicando-se às lavouras de cana-deaçúcar e café.
Antônio Bernardino de Barros teve os seguintes filhos varões: Francisco Bernardino de Barros, José Bernardino de Barros,
Gabriel Antônio de Barros, Plácido Antônio de Barros, Custódio Bernardino de Barros e Josino Antônio de Barros. Gabriel José
de Barros teve os seguintes filhos varões: José de Barros Monteiro, José Chrysóstomo de Barros, Idelfonso Monteiro de
Barros, Antônio Gabriel Monteiro de Barros e Francisco Justino de Barros.
Os filhos e netos das famílias formadas pelos irmãos Antônio e Gabriel, tendiam a não se casar com forasteiros, casando-se
preferencialmente os primos com suas primas, segundo os costumes das tribos de Israel, dos quais seguiam certos preceitos.
Com isso, quase todos em São José do Rio Preto, em meados do século XIX, tratavam-se por primos. Como na velha Sião,
assim afirmava sempre, à época, Francisco Bernardino de Barros.
Foi Antônio Bernardino de Barros, o fundador, em suas terras, da antiga freguesia de São José do Rio Preto (MG), hoje São
José das Três Ilhas, distrito do município de Belmiro Braga (MG). Seus filhos também se estabeleceram na região com grandes
fazendas de café, entretanto, em meados do século XIX, três deles, do primeiro casamento com Fausta Ribeiro Moura de
Barros, seguiram para uma sesmaria herdada do pai no noroeste fluminense, localizada mais precisamente na região na qual
hoje se localiza “Paraíso do Tobias”, distrito do município de Miracema (RJ), onde Francisco Bernardino de Barros, casado com
Ana Josefa de Magalhães Barros, fundou a Fazenda Santa Inês, Custódio Bernardino de Barros, casado com Rita Alvim de
Barros, fundou a Fazenda São Luiz e Plácido Antônio de Barros, casado com Maria Cândida de Barros, fundou a Fazenda
Paraíso, cujo nome, associado ao de seu genro Tobias Joaquim Rodrigues, casado com sua única filha, Maria Joana de Barros
Rodrigues, dá o nome ao distrito acima mencionado, Paraíso do Tobias. Permaneceram, entretanto, na região das Três Ilhas,
com suas grandes fazendas de café, seus filhos José Bernardino de Barros, “barão das Três Ilhas” e Gabriel Antônio de Barros
“barão de São José Del Rey”, que cuidaram, principalmente o segundo, da educação do irmão mais novo, Josino Antônio de
Barros, filho do casamento do pai em segundas núpcias com Silvana do Vale Barros.
Tendo Josino Antônio de Barros (f59), por orientação e com o acompanhamento de seus dois irmãos mais velhos, completado
seus estudos no Colégio do Caraça (MG), veio este visitar seus outros três irmãos estabelecidos em Miracema, onde acabou
por se casar com Amélia Padilha de Barros e fundou a famosa Fazenda Liberdade.
A Fazenda Prosperidade, como as demais da região, produzia café. Nessa época, chegou a contar com 90 famílias de
meeiros.
Foi uma das poucas a produzir o café e despolpá-lo na própria fazenda, que se constituía numa inovação para a época. Para
isso, contava com o acompanhamento e assistência do Instituto Brasileiro de Café – IBC, que disponibilizou uma equipe de
engenheiros agrônomos que chegaram a residir na fazenda.
Com o fim do ciclo do café, a fazenda dedicou-se à produção de arroz, milho e feijão, assim como leite e gado de corte, e isto
já na época de Plínio Bastos de Barros, que, além de fazendeiro, foi também político, chegando a ser eleito prefeito de
Miracema no período de 31/01/1951 a 30/01/1955, onde construiu, dentre outras obras importantes, o Estádio Municipal, que
posteriormente recebeu o seu nome.
Segundo o testemunho do Sr. Mário Baiano, nascido há setenta e nove anos na fazenda, onde ainda reside, o Sr. Plínio, na
época em que foi prefeito, saía da fazenda para Miracema às seis horas da manhã e só retornava por volta das 23 horas.
Contou-nos que houve, em 1951, uma grande festa em honra de São José, numa parte da fazenda conhecida por Ventania,
para comemorar a posse do patrão eleito prefeito do município. Disse que, até a década de 1960 a fazenda possuía 82 casas,
campo de futebol, venda que abastecia toda a região, escola que funcionava numa barraca coberta de telhas, junto a uma das
portas de acesso à casa-sede e Folia de Reis, do Antônio Augusto.
Atualmente, as principais atividades econômicas da fazenda são: a criação de gado Gir Leiteiro, PO, Girolando, produção de
leite e cana-de-açúcar, destinada à ração para o gado.
Das fazendas fundadas pela tradicional Família Barros em Miracema, restam apenas duas: a Liberdade, de propriedade de
Paulo Lima Barros, e a Prosperidade, de Plínio Bastos de Barros Neto, que pertence à quinta geração da família.
Fontes:
BUSTAMANTE, Heitor. Sertões dos Puris, Casa do Homem de Amanhã, 1971.
SIMONSEN, Roberto. Aspectos da história econômica do café, Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, publicação do Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro,
1942.
localização
Estrada do Barreiro, s/nº
município
Miracema
época de construção
século XIX
estado de conservação
detalhamento no corpo da ficha
proprietário
particular
Esclarecimento: em razão da localização da fazenda apresentar-se encoberta, foi gerada somente a imagem geral da região
(situação).
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 287
situação e ambiência
A Fazenda Santa Cruz está localizada na Serra da Ventania (f01). O acesso pode ser feito através de três entradas que partem
da RJ-116. O primeiro está situado próximo ao Mulambo’s Bar, o segundo no km 8, próximo à Fazenda Cachoeira e o terceiro
próximo à divisa com o município de Laje do Muriaé (entrada para a Fazenda Tirol). Há, ainda, um quarto acesso que parte de
um entroncamento com a RJ-200, que liga Miracema (RJ) a Palma (MG) – entrada para a Fazenda Boa Vista.
O conjunto, constituído de casa-sede (f02), antiga venda e casa de colono (f03), senzala e tulha (f04), terreiro de café (f05) e
curral (f06), está localizado num platô encravado no meio de um vale.
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Às margens da estrada que leva à casa-sede, está localizado um grande açude (f07), que abastece a fazenda e que, outrora,
movimentava a roda d’água, ainda existente, através de uma banqueta de alvenaria (f08 e f09).
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A casa-sede da Fazenda Santa Cruz, construída na segunda metade do século XIX, de planta retangular, mantém em sua
fachada principal um alpendre, através do qual chega-se à porta de entrada (f10).
O alpendre, um dos elementos que caracteriza o estilo romântico da edificação, é formado por três arcos plenos vedados
acima das vergas por treliças em madeira. O beiral encachorrado é forrado com madeira e embeleza muito a edificação (f11),
que possui ainda, jardim protegido por muro de alvenaria, cujo acesso é feito através de um pequeno portão de ferro forjado
(f12).
O telhado, com quatro águas e de interessante resolução arquitetônica em estilo chalé, foi refeito recentemente. As telhas
originais que deveriam ser do modelo capa e canal foram substituídas por telhas de cerâmica do tipo paulista (f13).
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As janelas da fachada principal e das laterais possuem vergas e sobrevergas retas, sendo vedadas por esquadrias de duas
folhas de venezianas de madeira (f14). Internamente, deveriam manter esquadrias de duas folhas lisas ou em caixilhos de
vidro, provavelmente, retiradas em alguma das reformas executadas pelos proprietários. As portas internas, em duas folhas,
são almofadadas com bandeiras de vidro (f15).
As três salas e os três quartos possuem um rodapé alto, que funciona também como elemento decorativo e funcional,
protegendo as paredes dos esfregões do passado (f16).
O forro da saleta de entrada é especial dentro da construção. É de madeira, formando raios que se estreitam na parte central e
alargam-se nas extremidades, concentrando-se no ponto focal de luz, que é terminado por uma manga simples em vidro.
Arremata este forro uma cimalha de madeira que circunda toda a sala (f17). Os demais cômodos também são forrados em
madeira, porém, no tradicional forro saia e camisa (f18). O assoalho, também de madeira, é do tipo trespassado (f19).
A cozinha apresenta piso cimentado queimado e o banheiro, piso cerâmico recente (f20 e f21). Na cozinha, há uma pequena
escada em caracol (f22), por onde se acessa o sótão que é habitável e possui assoalho de madeira em quase toda extensão
(f23).
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Destacam-se as seis pequenas janelas de venezianas em formato de ogivas (f24) para sua ventilação, a escada de madeira
que complementa a escada em caracol (f25) e o grande trinco de madeira da porta dobrável que fecha o sótão (f26). O porão,
que também é habitável, possui acesso pela fachada lateral esquerda (f27).
O bloco da senzala / tulha é uma construção de planta retangular (f28), separada da casa-sede por uma área de terra sem
pavimentação (f29). O acesso à porta principal é feito por uma pequena escada de pedra. Nessa parte da propriedade,
também há um muro de pedra que faz a contenção do terreno (f30).
Possui telhado de quatro águas, coberto com telhas de cerâmica do tipo capa e canal até o beiral (f31) e suas portas e janelas
são de duas folhas maciças enrelhadas (f32 e f33).
Seu interior possui um cômodo central, circundado por um largo corredor, originalmente protegido com meia parede,
posteriormente complementada com telhas de amianto em toda sua extensão (f34). No porão, deveriam funcionar os moinhos
da fazenda, uma vez que lá estão localizadas partes das engrenagens que movimentavam a roda d’água (f35).
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Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 293
descrição arquitetônica
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A fachada lateral esquerda da tulha possui uma porta, que dá para o antigo terreiro de café. Segundo informações da família
dos proprietários, no cômodo para o qual a porta se abre, funcionava a primitiva venda da fazenda (ver f31).
O terreiro é todo contornado por mureta abaulada, coberta de massa (f36). A entrada é ladeada por dois blocos de pedra
esculpidos, que dão idéia de terem sido as bases de antigas colunas (f37) e aparentam ser, juntamente com um terceiro bloco
isolado de pedra trabalhada (f38), próximo ao curral, elementos decorativos desta área de secagem de grãos.
Ao lado da casa-sede está localizada uma construção, também de planta retangular, na qual, nas três primeiras portas,
funcionou a segunda venda da fazenda (f39), que preserva seus equipamentos, como o balcão, o baú para depósito de cereais
e a balança de ferro fundido com pratos de cobre, que merece destaque (f40 e f41). Logo em seguida está a casa do colono,
ambas do século XIX.
A balança de pesar gado fica próxima à casa-sede e foi construída sobre um resistente muro de pedra que faz a contenção do
terreno – e que confere mais beleza ao conjunto (f42).
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Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 295
detalhamento do estado de conservação
Aparentemente, o estado de conservação da casa-sede é razoável, mas requer cuidados. Com a substituição da cobertura por
telhas novas, não há sinais de goteiras. Em apenas um dos cômodos foi verificado sinal de infiltração, provocado,
provavelmente, por telhas quebradas (f43). Foi observado, também, o deslocamento do emboço (interna e externamente), em
virtude da umidade em conjunto à aplicação de argamassa de cimento em paredes de pau-a-pique (f44 e f45).
No porão, a situação é um pouco mais grave, uma vez que dois dos esteios que sustentam os baldrames foram removidos, em
virtude de terem apodrecido e, em seu lugar, foram instaladas escoras provisórias de eucalipto.
Além disso, há forte presença de umidade nas paredes, proveniente do terreno (f46 e f47). Foi verificada também a existência
de ataque por xilófagos da espécie cupim de solo, que provocaram a deterioração de parte de alguns barrotes. A infestação é
mais percebida no porão, no sótão e no assoalho. Entretanto, assim mesmo, não se apresenta de forma generalizada.
Na área externa, parte do emboço das fachadas laterais está se desprendendo, proporcionando a exposição das paredes de
pau-a-pique (f48).
No prédio onde funcionaram as antigas senzala e tulha, além da primitiva venda, a situação é um pouco mais grave, pois parte
do madeirame do telhado, porão e assoalho está bastante deteriorada, como resultado da ação de cupins (f49). Contudo, as
cumeeiras, tesouras e terças aparentam estar em bom estado (f50). Foram notadas, também, algumas goteiras provocadas
por telhas quebradas. Portas e janelas encontram-se conservadas.
A venda e a casa de colono estão em bom estado de conservação, tendo sido observada a execução de obra recente de
manutenção do telhado (f51).
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Não foi possível identificar quem foram os pioneiros da Fazenda Santa Cruz (f52). Entretanto, sabe-se que, no segundo quartel
do século XIX, foi adquirida pelos irmãos Léon, Louis e Vicente Perissé, acompanhados da irmã caçula Adelaide. A família –
franceses de Lucq-de-Béarn, nos Baixos Pirineus –, segundo Ausônia Perlingeiro Garnero em seu livro A volta do emigrante
italiano muitos anos depois, ainda mantém lá, até hoje, a casa ancestral para hospedar os descendentes dos que imigraram
para o Brasil, quando visitam a Europa.
Adelaide trabalhava para os irmãos e administrava a casa-sede da fazenda. Quando se casou com o português José Alves
Rodrigues, os irmãos deram como dote a Fazenda da Lagoa.
Ainda segundo Ausônia, a casa dos irmãos Perissé ficava numa colina de onde se apreciava as lavouras de café e a estrada
pela qual vinham os visitantes. “Da varanda podia-se ver o pátio, o terreiro, o armazém, a padaria, o moinho e a comprida
senzala. Os músicos da banda que animava a festa, os padeiros e o moleiro tinham o privilégio de morar em pequenas casas
com suas famílias e não na humilhante senzala. Santa Cruz parecia uma pequena aldeia movimentada pelos fregueses, que
vinham comprar na venda ou na farmácia, ou trocar milho por fubá no romântico moinho à margem do riacho.”
Adelaide era avó de Ausônia. Sua mãe, Adelina, lhe contava sobre a Fazenda Santa Cruz, sobretudo, das festas de São João
que lá eram realizadas anualmente. Os dias que antecediam a festa eram de grande movimentação, sobretudo de negros que
limpavam o terreiro para as danças do caxambu – também conhecida por jongo. Essa é uma dança de roda, de origem
africana, em cujo centro há uma pessoa que puxa o canto e comanda a dança e a batida dos atabaques que possuem nomes
específicos como o “tambu” e o “caxambu”, além da “cuíca” que, com seu “roncado”, caracteriza a diferença entre as batidas
utilizadas em cerimônias religiosas, popularmente conhecidas por macumba –, e outros que preparavam a fogueira, montavam
barracas etc. As festas duravam dois ou três dias, porque os convidados vinham de longe e, como a fazenda ficava localizada
numa área de difícil acesso, muito alta, não podiam voltar no mesmo dia para suas casas.
Ausônia, através de sua obra, nos dá uma idéia muito nítida, rica em detalhes, de como eram essas festas: “Nessa ocasião, os
negros recebiam um tratamento melhor: a ração era mais farta. De manhã recebiam o alimento, depois iam para o eito
trabalhar sem parar até a hora do almoço e depois voltavam para o trabalho. Ninguém se interessava em saber se estavam
bem. Os patrões, com a consciência entorpecida pelo egoísmo, acreditavam que preto não adoece nunca, nem tem dor de
dente ou de cabeça. Se não queria trabalhar era preguiça, precisava ser castigado. Essa era a mentalidade normal, mas
existiam patrões cruéis que puniam
que ninguém sabia com certeza se eram verdadeiras. Começavam a chegar os convidados, a cavalo, em carro de bois ou
carroças, não tão cômodas como as dos fazendeiros do sul do Estado do Rio, importadas da Europa e utilizadas para
frequentar a corte imperial. Os homens trajavam casaca ou smoking e as senhoras usavam vestidos longos, sobre anquinhas e
diversas saias brancas engomadas; trajes a rigor, adquiridos nas melhores lojas do Rio de Janeiro, trazidas por negociantes.
Mas aquela elegância européia não condizia com o clima tropical nem com os meios de transporte locais, cavalos e carros de
boi. Porque era chique e também para amenizar o calor, as senhoras traziam lindos leques, para usar no intervalo das danças.
Os fazendeiros iam até ao pé da escada receber os convidados e os acompanhavam até dentro da casa, onde as mucamas
atendiam às senhoras que desejavam trocar de roupas e tomar banho. Outros domésticos, todos negros, serviam bebidas e
ajudavam a organizar o banquete. A orquestra tocava valsa, mazurca, polca, marcha, quadrilha marcada num francês com
forte sotaque português: “Allan van tour, changer des dames...” Um pouco à parte, um grupo de homens discutia negócios,
comércio, política... Grupos se formavam junto as barraquinhas, comendo os doces típicos, pé-de-moleque, cocada, feitos
pelas escravas. Depois dos fogos de artifício que as senhoras e os senhores admiravam das varandas, restavam as brasas
das fogueiras, onde assavam batatas doces para serem distribuídas a todos”.
Terminada a festa na manhã do dia seguinte, os que moravam na região iam para suas casas e os mais distantes iam
descansar, para se prepararem para a volta.
Ausônia ainda relata em suas memórias que, quando eclodiu a abolição da escravatura, na Fazenda Santa Cruz os Perissé “...
reuniram os escravos, a banda de música tocou o Hino da Independência e em seguida deram a notícia: “A Princesa Isabel
assinou a lei, declarando livres todos os escravos. Foi abolida a escravidão”. O anúncio foi recebido com euforia, todos
cantavam e dançavam. Ninguém quis dormir na senzala, que era o símbolo do sofrimento e da humilhação: eram livres agora.
Na manhã seguinte, o terreiro estava vazio e nos terrenos próximos e nas colinas havia um movimento desusado, homens e
mulheres com ferramentas nas costas. Eram os negros livres carregando madeira, água para misturar barro, tudo que
encontravam, para construir suas cabanas, suas casas, onde reuniram a família”. Eram comuns também na Santa Cruz, os
encontros de Folias de Reis, onde segundo Amilcar Rodrigues Perlingeiro em Lavradores do Brasil – história do João, todos os
anos havia um desafio entre as folias de Domingos Meira Leão e a do Foguinho, que era bem concorrido, atraindo gente de
todo lado. Mais adiante, antes de falar sobre o evento, fez uma descrição da fazenda: “Quando chegaram a Santa Cruz, já
havia muita gente na fazenda, mas as folias ainda não haviam chegado. Santa Cruz era uma propriedade que tinha muitos
donos, mas todos de uma só família, os Perissés, todos moravam reunidos em casas próximas umas das outras. Além das
casas de morada, havia a casa da venda do seu Manoel Duarte, casado com uma da família, uma casa da máquina de
beneficiamento de café, que era movimentada por uma grande roda hidráulica e casas de empregados. Era um pequeno
arraial.”
Outro registro importante que merece destaque é o fato de terem saído da Fazenda Santa Cruz para colecionadores franceses
e de institutos de pesquisa da Europa exemplares de nossa flora e fauna, que segundo Melchíades Cardoso, em sua lenda
intitulada “De bicudos que não são bicudos se faz a história”, “... exemplares de borboletas e orquídeas que abundavam nestas
paragens, incomparáveis por suas belezas caprichosas, as peles, os bichos embalsamados, os cipós raros, plantas exóticas
etc., tudo foi daqui retirado e enviado para a França, por intermédio de cidadãos franceses aqui residentes todos para aqui
atraídos pela família Perissé, notável gente gaulesa que deixou, além da lembrança e numerosa e querida descendência, os
princípios altos da civilização requintada do inigualável povo francês.”
Dessas coleções de lepidópteros (borboletas) (f53 e f54), três ficaram na Fazenda Santa Cruz, que posteriormente foi vendida
ao Sr. Lourenço Pinto Alves. Na partilha dos bens, os três quadros restantes com as coleções de borboletas da Santa Cruz
foram entregues às suas filhas que os conservam até hoje e que já devem ultrapassar cento e cinqüenta anos.
Depois da família Perissé, a Fazenda Santa Cruz, que possuía 210 alqueires de terras, foi vendida para os senhores Lourenço
Pinto Alves, que ficou com a casa-sede e grande parte das benfeitorias, com uma área de 105 alqueires de terras e ao Sr. Luiz
Mury, também com 105 alqueires de terras.
A Sra. Maria de Lourdes Alves Anníbal, filha do Sr. Lourenço e casada com o professor Darcy Anníbal, informou que ela e
todos os irmãos nasceram na Santa Cruz e que só eram registrados dois ou três meses depois, quando o pai vinha a
Miracema, já que a distância era grande e os únicos meios de transporte eram o cavalo e as carroças, e a estrada, que era de
difícil acesso, fazia com que a viagem levasse cerca de três horas para a ida e mais três horas para a volta. Quando os
negócios tinham que ser resolvidos em São Fidélis – município ao qual Santo Antônio de Pádua esteve ligado até 1883 –, ou
precisavam de documentos arquivados nos cartórios de lá, a viagem era ainda pior e durava dois dias.
Todo o café era transportado em lombo de burros. A tropa era do Sr. Nino Machado, irmão de D. Noêmia, esposa do Sr.
Lourenço. Amílcar R. Perlingeiro fez o seguinte relato em sua obra aqui já mencionada: “... Nino Machado, o tropeiro, dava
pancadas na cangalha, gritando... Depois do café, Nino carregava a tropa com o auxílio do ajudante e
de João, colocando dois sacos em cada burro. Terminado o carregamento, seguia a tropa morro abaixo aos gritos do tropeiro.
O café era deixado na máquina de beneficiamento e, depois de preparado, a mesma tropa o levava para o embarque na
estação da estrada de ferro. A viagem da tropa repetia-se durante o ano até terminar o transporte de toda a safra”.
f53: Coleções de lepidópteros (borboletas) da Fazenda f54: Coleções de lepidópteros (borboletas) da Fazenda
Santa Cruz, s.a., s.d., acervo do proprietário. Santa Cruz, s.a., s.d., acervo do proprietário.
José Erasmo Tostes, em seu livro Tipos e fatos inesquecíveis, também registra e descreve o trabalho do tropeiro Nino
Machado: “Chovia torrencialmente na Serra da Ventania, os burros e mulas desciam pela estrada escorregadia. Nino Machado
vinha montado num burro chamado Rosado, comandando os dois lotes de animais carregados de café, que era colocado em
bolsas de couro penduradas nas cangalhas. A madrinha da tropa, a mula Esperança, vinha guiando-a com a batida de doze
cincerros pendurados no pescoço, que no silêncio da serra ouvia-se à grande distância. O café, aqui chegando, era entregue
ao comprador que pagasse melhor preço, ou ia direto para o DNC – Departamento Nacional do Café, onde era ensacado,
pesado e transportado por meio de escadas formando pilhas enormes. No DNC viam-se vários homens trabalhando na
lavagem do café, que corria em calhas feitas no terreiro e a água escoava através de um ralo feito de chapa de ferro. Na
secagem, o café era esparramado no terreirão com grandes rodos de madeira. Após essa preparação, o café ia para a estação
da Leopoldina por meio de carroças e carroções e aí embarcado nos vagões do trem. O café trouxe riqueza para Miracema,
para os fazendeiros e para os comerciantes e fez com que se construísse muitos prédios em nossa cidade. Depois veio a
derrocada, levando vários deles à falência. O presidente Getúlio Vargas mandou que em todos os DNC’s se fizesse a queima
do café e guardas armados tomavam conta para que se cumprisse a ordem dada. Na volta para a Fazenda Santa Cruz, na
Serra da Ventania, a tropa do Nino Machado ia carregada com mercadorias para abastecer a venda: sal grosso,
fumo de rolo, querosene etc.”
Ainda contou-nos o professor Darcy Anníbal e sua esposa, Maria de Lourdes, que seu pai dizia que o porão da casa-sede era
utilizado pelos franceses como adega e que, quando o Sr. Lourenço adquiriu a fazenda, ainda encontrou muitas garrafas de
vinho, móveis, os quadros com as coleções de borboletas, uma tela retratando um senhor, que atribuem ser o pai dos
franceses, antigos proprietários da fazenda, muitos livros, fotografias, papéis antigos e objetos diversos.
Disseram ainda que, no entrocamento das estradas, havia uma pedra com formato estranho, que para alguns parecia uma
cabeça humana e para outros uma cabeça de lagartixa. O fato é que esta pedra, posteriormente removida para o local onde
hoje se encontra, instalada a balança de pesagem de gado bovino, era o tronco da fazenda onde os escravos eram amarrados
e castigados. Que na fazenda havia uma capela dedicada a São Sebastião, posteriormente demolida, e uma grandiosa festa
era realizada, anualmente em sua devoção, com missa, leilão, baile, etc. Uma vez por ano também havia primeira comunhão
dos alunos da escola.
A fazenda possuía uma escola e a professora era D. Maria do Carmo, a irmã mais velha dos “Pinto Alves” que, mais tarde, por
influência da mãe, D. Noêmia Machado Alves, estudou e deu aulas de piano. Anos depois, fundou o Conservatório de Música
que, mesmo após o seu falecimento, continua em atividade em Miracema.
Consta que, no ribeirão (f55) que banha a propriedade, era retirado ouro com aluvião e jóias chegaram a ser confeccionadas,
algumas das quais ainda permanecem em poder da família. Contou-nos ainda que a estrada que liga a Santa Cruz a Fazenda
Ventania foi feita na enxada, na época em que Altivo Linhares era prefeito de Miracema. Grande parte das terras que
formavam a Santa Cruz ainda permanece em poder da família. O Sr. Carlos Pinto Alves e sua esposa, D. Clarita Mendonça
Alves, adquiriram algumas partes dos demais herdeiros. Atualmente, a fazenda, que produz gado leiteiro, é administrada por
sua filha Alice Maria Mendonça Alves Daher e seu esposo, Dr. Chaquip Daher Júnior
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Fontes
GARNERO, Ausônia Perlingeiro. A volta do imigrante Italiano muitos anos depois. Niterói - RJ: Imprensa Oficial do Estado do
Rio de Janeiro, 2000.
TOSTES, José Erasmo. Tipos e fatos inesquecíveis. Miracema – RJ: Gráfica Hoffman, 2008.
PERLINGEIRO, Amilcar Rodrigues. Lavradores do Brasil – história do João . Rio de Janeiro: Artenova, 1975.
localização
Km2 da RJ - 186, que liga o distrito de Paraíso do Tobias, em Miracema, ao município de São José de Ubá - RJ
município
Miracema
época de construção
casa-sede (1937/1939) – engenho (1870)
estado de conservação
detalhamento no corpo da ficha
proprietário
particular
Na RJ-116, que liga Itaboraí a Itaperuna, passando por Miracema, está localizado o trevo pelo qual se acessa a RJ-200, que
liga a sede do município de Miracema a Paraíso do Tobias, seu 2º distrito. Atravessando a ponte situada logo na entrada do
distrito, chega-se, poucos metros depois, pelo lado esquerdo, a uma estrada sem pavimentação, a RJ-186 (f01), que liga
Paraíso do Tobias ao município de São José de Ubá-RJ. Por essa estrada, a cerca de 2km da sede distrital, está localizada a
Fazenda Santa Inês.
As margens da RJ-186, encontra-se o Ribeirão do Bonito, que nasce na Fazenda Maravilha, passa por Paraíso do Tobias e
desemboca no Rio Pomba, no município de Santo Antônio de Pádua. O núcleo principal da fazenda,composto pela sede (f02),
engenho (f03), serraria (f04), curral (f05), tulha (f06), casas de colonos (f07) e capela/ santuário (f08), localiza-se no local
banhado por um riacho tributário do Ribeirão Bonito, que tem, próxima, uma queda d’água (f09).
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Numa elevação do lado direito está situada a sede da fazenda, implantada sobre um platô que é alcançado por uma escadaria
frontal dividida em dois lances, que tem início, à margem da estrada, num caminho recoberto por grama, que termina na
garagem (f10). Na parte da frente do platô e na lateral direita, pode-se ver uma grande murada de pedra recoberta de cimento,
que faz a contenção do terreno. Nos fundos da casa está localizado o santuário dedicado a Nossa Senhora Mãe do Imediato
Consolo (f11), que possui capela, gruta, secretaria e banheiros. Nessa parte também se encontra o pomar (f12) e, por trás do
conjunto, avistam-se os remanescentes da mata primitiva (f13).
De frente para a estrada, localiza-se a casa do administrador (antiga casa do colono), construída sobre uma murada de pedra
(f14), remanescente do que seria o embasamento da sede original da fazenda, que teve as obras interrompidas devido a
abolição da escravatura, o que fez com que seu proprietário retornasse à sua antiga Fazenda Três Ilhas, em Minas Gerais.
Do lado esquerdo da RJ-186, localizam-se a parte central e mais antiga do que restou do engenho da propriedade (f15), além
de currais, tulhas e casas de colonos, que, após a partilha entre os herdeiros, passaram a servir como moradias e edificações
de apoio das propriedades médias, resultantes do desmembramento das terras da tradicional e centenária Fazenda Santa
Inês. Ainda deste lado da estrada, tem-se acesso ao Balneário Ventura Lopes, formado por uma parte de terras da fazenda
que faz divisa com o povoado de Areias (f16). Esta área da fazenda, segundo esclarecimento do proprietário, faz parte de um
novo empreendimento já iniciado que incluiu a construção de 17 piscinas de água natural, sendo que a maior possui 5.000 m2,
utilizando-se da mesma técnica dos antigos tabuleiros de arroz, ou seja, com desníveis de 20 cm de altura. O projeto inclui
ainda bar e restaurante com a intenção de que, futuramente, sejam utilizados para festas, eventos e cerimônias, uma vez que
grande parte das terras e os recursos hídricos da Santa Inês favorecem o desenvolvimento do turismo rural (f17 e f18).
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A atual sede da Fazenda Santa Inês foi edificada entre 1937 e 1939, seguindo o padrão arquitetônico utilizado nesta época
para construções urbanas, porém, livre das sobreposições de elementos e ornatos decorativos típicos de um já tardio ecletismo
(f19 e f20). Sua planta apresenta um pavimento em “L” invertido e estrutura em alvenaria de tijolos maciços. Possui um único
pavimento sobre porão baixo, onde se distribuem pequenos vãos quadrados para sua ventilação. Uma calçada cimentada
contorna todo o perímetro da construção.
A fachada principal é formada por quatro janelas com requadro de massa, o que faz realçar e valorizar ainda mais as
esquadrias em veneziana com bandeiras de vidro (f21).
A fachada lateral direita é mais extensa. É por ela que é feito o acesso à casa, através de uma pequena escada revestida com
ladrilhos hidráulicos - fabricados no município -, que desemboca numa varanda, cujos únicos elementos decorativos, de forma
peculiar, são as quatro esbeltas colunas que sustentam o telhado que reproduz, em escala menor, a forma de “chalé” do
telhado principal (f22).
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Para esta varanda abrem-se 3 vãos: uma janela voltada para a sala de estar e 2 portas com folhas almofadadas. Através da
primeira, chega-se ao escritório que possui também comunicação interna com o corpo da casa.
A outra porta dá acesso para a sala de estar da residência (f23). Em toda sua extensão a casa foi revestida em argamassa
desempenada com pintura na cor terracota com relevos e requadros das janelas em marfim,formando bonito contraste com o
verde das árvores frutíferas e frondosas que circundam a casa.
No corpo da residência estão localizadas a sala de visitas, o escritório (f24), a sala de jantar (f25), seis quartos,sendo uma
suíte (f26) e dois banheiros.
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No apêndice que constitui a outra parte do L, cuja ligação com o corpo da casa se dá através de um grande vão em arco
abatido (f27), estão situadas a copa (f28), a cozinha (f29) e a despensa, revestidas com ladrilhos hidráulicos que compõem
gregas e “cataventos” cor de vinho à motivos florais (f30 a f32). Os vazios e remendos observados no piso hidráulico, indicam
que foram executadas intervenções que suprimiram paredes e/ou muretas desses ambientes. Possui, ainda, a casa uma
varanda aberta, churrasqueira, e um banheiro instalado na parte dos fundos, totalizando 12 cômodos. Essas duas últimas
áreas são recentes e foram construídas para o lazer dos proprietários e de seus convivas (f33 e f34).
Na cobertura foram utilizadas telhas do tipo capa e canal para a área primitiva e francesas para as construções recentes. Todo
o beiral que circunda a construção é forrado com madeira (f35).
Os forros dos principais cômodos possuem aeríferos – sancas – (f36), recurso muito comum adotado em prédios ecléticos para
auxiliar na ventilação dos compartimentos de pé direito muito alto. Além disto, o corpo da casa foi edificado com orientação e
arquitetura adequadas às condições climáticas da região, de modo que, no verão, nas primeiras horas da tarde, o sol não
penetra por nenhuma das janelas e portas da casa.
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A família possui um variado acervo de móveis e alfaias que é utilizado pelos proprietários na decoração da residência,
mesclando um mobiliário que vai do século XIX ao art déco (f37).
O engenho (f38) destaca-se do conjunto das demais edificações como a principal e único prédio remanescente da época em
que a Fazenda Santa Inês foi implantada. Atualmente apresenta planta em forma de “T”, pois o restante da construção – um
prolongamento à esquerda, onde se achava instalada a indústria de açúcar, cachaça, álcool e rapadura – foi demolido há
muitos anos, restando dele, apenas, uma chaminé. No tramo central da construção, um pouco mais avançado, localiza-se a
entrada para o compartimento térreo, que possui vedação por interessante grade vertical e porta de madeira, à moda das
casas bandeiristas (f39).
Chama especial atenção a galeria avançada de arcos ogivais - em número de seis - de seu embasamento (f40), que
juntamente com o tijolo aparente e os lambrequins rendilhados em madeira do beiral (f41), valorizam e diferenciam a edificação
das demais construções rurais do mesmo período localizadas na região.
As fachadas mantém a franca exposição de sua estrutura em madeira, além de tijolos maciços aparentes com juntas pintadas
em tinta branca. No tímpano do frontão destaca-se os vãos de ventilação em arcos de 3 centros com esquadrias de madeira
veneziana. Há 24 vãos de janelas em verga reta com cercaduras em madeira, que são vedados por esquadrias enrelhadas,
pintadas de azul colonial (f42).
Até meados da década de 1970 podia ainda ser visto em seu interior o monumental monjolo. No segundo pavimento ficavam
localizados os batedores e no térreo, os cochos de madeira, fechados. Através de pequenas portinholas retirava-se o café
pilado (f43).
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Atualmente, o segundo pavimento, tem seu acesso através de uma primitiva escada de madeira e pedra (f44),foi transformado
em residência. Possui seis quartos, dois banheiros, cozinha e amplas salas (f45 a f47). O térreo é utilizado como tulha para a
guarda de material e ferramentas de trabalho.
Nos fundos da edificação há uma pequena passarela, que liga o segundo pavimento ao pasto. No passado havia uma estrada
através da qual chegavam, para depósito, grande parte dos frutos das lavouras da fazenda (f48).
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A casa-sede encontra-se muito bem conservada. É visível a preocupação do proprietário em realizar constantes e freqüentes
obras de manutenção, como a substituição de peças de madeira e recomposição de elementos arquitetônicos – ainda que fora
dos padrões originais -, como a instalação de peitoris de ardósia nas janelas (f49). O assoalho das salas e do quarto maior da
residência, são do tipo encabeirado. Já o corredor que liga a sala de visitas à sala de jantar e aos demais cômodos da casa é
do tipo trespassado, encontrando-se, ambos, em perfeito estado de conservação.
As esquadrias externas são pintadas na cor branca e as internas na cor cinza. As bandeiras das portas internas possuem
vidros verdes e brancos e as externas, apenas brancos (f50).Para oferecer maior conforto aos proprietários e seus hóspedes,
foi construído mais um banheiro, formando a suíte do casal e reformado o já existente.
No engenho, o estado geral de conservação da construção é bom. Foram realizadas algumas obras recentes de recuperação
de janelas e esquadrias (f51). No interior, pode-se avistar todo o madeirame do telhado com suas tesouras, terças, cumeeira,
caibros e telhas aparentes (f52 e f53).
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O assoalho é do tipo pranchão de madeira com junta seca (f54) e na área onde estão localizadas a copa, a cozinha e os
banheiros, o piso é revestido com cerâmica existente no mercado comercial atual(f55).
No entorno da construção há tulhas, currais e outras edificações, com visíveis sinais de abandono, algumas inacabadas (f56).
Ainda nas suas proximidades localiza-se um terreiro de pedra com uma grande cruz no centro, antigamente utilizado para a
secagem de café (f57). Nas tulhas há moinhos para milho e capineiras que abastecem os currais (f58).
Em alguns pontos das fachadas do engenho foram realizados reparos com massa imitando tijolo maciço, empregado na
construção da imponente edificação (f59).
Em todo seu entorno prevalecem os gramados, que vão das margens do Ribeirão do Bonito aos morros, que servem de pasto
para o rebanho.
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A Fazenda Santa Inês foi fundada, no terceiro quartel do século XIX, por Francisco Bernardino de Barros, filho de Antônio
Bernardino de Barros, fazendeiro e fundador da antiga Freguesia de São José do Rio Preto, Vila de São José das Três Ilhas,
antigo distrito de Juiz de Fora - MG, atualmente, distrito do município de
Belmiro Braga - MG.
Segundo Heitor de Bustamante, em sua obra Sertões dos Puris, p.60, “Há cerca de um século, o mineiro José Ferreira
Brandão comprou pela importante quantia de sete contos de réis, uma sorte de terras que começando na Fazenda das ‘Três
Quedas do Bonito’, naquela época de Sebastião Gomes Teixeira Jales, ia terminar na divisa de outra freguesia no lugar que
depois se chamou São Felipe, compreendendo todo o vale superior ao Ribeirão Bonito.
Mais tarde cedeu aos três sobrinhos as glebas em que eles formaram as fazendas São Luis, de Custódio Bernardino de
Barros, hoje correspondente às fazendas de propriedade de Joel Azevedo, de Maria Nimé a Salvador Bravo e filho e de Norton
e Ângela Amim Lopes; Paraíso, de Plácido Antônio de Barros, onde atualmente acha-se implantada a sede do distrito de
Paraíso do Tobias e de muitos sítios; e Santa Inês, de Francisco Bernardino de Barros, que a desmembrou em diversas áreas,
fazendo doações aos filhos, que formaram outras fazendas, a saber: Antônio Apolinário de Magalhães Barros, a da
Prosperidade e José Joaquim de Magalhães Barros, a de Santa Verônica, os genros Afonso Ernesto de Barros, a de Boa Vista
ou Califórnia, que mais tarde recebeu o nome de Pirineus; Ildefonso Monteiro de Barros, a da Mantinéia; Dr. Anastácio
Rodrigues Coimbra, a da Mata; José Anastácio Coimbra, a de São Thiago; José de Assis Alves, a da União; Antônio Miguel
Coimbra,a de Santa Ana e Francisco de Assis Alves, a de São Felipe. Por último, a Santa Inês, de Francisco Bernardino de
Barros, que depois foi passada para o seu sobrinho, Antônio Bernardino Monteiro de Barros.
Em seguida, Santa Inês pertenceu ao Capitão José de Assis Alves que, em 1892, teve uma execução por dívida hipotecária
promovida pelo Banco do Brasil, da qual resultou a penhora da fazenda, com todas as suas benfeitorias, que levou-a a primeira
praça em 19 de novembro do mesmo ano, pela avaliação de 124:336$000. Santa Inês, então, foi adquirida por Joaquim
Rodrigues Leite que, parece tê-la arrematado em praça pública e transferido-a a José Ventura Lopes, pai do Capitão Antônio
Ventura Coimbra Lopes.”
A Fazenda Santa Inês foi considerada na época uma das mais importantes da região pela qualidade das terras, localização,
serventia das águas, produção e, sobretudo, pela natureza das obras implantadas e a variedade de equipamentos de que era
dotada, sem falar na escola ali existente, uma das primeiras das cercanias, dirigida pelo professor Carlos Silva, que lhe deu o
nome de Escola Barão de Macaúbas, “na qual trabalhou ainda por algum tempo, tendo no seu mister prestado relevantes
serviços à mocidade daquela zona, numa época penosa em que tudo era difícil”. (Sertões dos Puris p.210).
Conforme informações prestadas pelo Dr. Roberto Monteiro Ribeiro Coimbra Lopes, filho do Capitão Ventura Lopes, um dos
atuais proprietários da Santa Inês, na fazenda primitiva só se comprava sal, querosene e o ferro para ser trabalhado na oficina.
Até as roupas para o trabalho eram produzidas em teares na propriedade.
Segundo o mesmo, manuscritos deixados por seu pai, conterrâneo, primo e sucessor dos descendentes do mesmo na
titularidade da Santa Inês, descobre-se que: ...“Francisco Bernardino de Barros, homem culto e progressista plantou grandes
lavouras de café, milho e cana-de-açúcar, produzindo a lavoura de café cerca de 5.000 sacos de 60Kg. Fundou uma usina de
açúcar e álcool, de acordo com os meios existentes na época, que produzia 4.000 sacos de açúcar e milhares de litros de
álcool. Apesar de não ser escravocrata, Francisco Bernardino não aceitou a libertação dos escravos do modo desastroso pelo
qual foi feito, e por isso abandonou a Fazenda Santa Inês e voltou a sua antiga Fazenda Três Ilhas, no distrito de São José do
Rio Preto.”...
José Ventura Lopes e Maria Leopoldina Coimbra Lopes, pais do Capitão Antônio Ventura Coimbra Lopes, adquiriram a
fazenda pela importância de cinqüenta e três contos e oitocentos e oitenta e sete mil réis, através de Carta de Adjudicação,
extraída a 2 de setembro de 1902 dos Autos de Inventário dos bens que ficaram por falecimento de Emília Bernardino de
Aquino Leite. Possuía a fazenda, nessa época, 120 alqueires geométricos.
Por sua vez, Antônio Ventura Coimbra Lopes tornou-se proprietário da Santa Inês, em parte, por doação de seus pais e por
aquisição feita aos irmãos Francisco Ventura Coimbra Lopes e Ana Ventura Coimbra Lopes.
Mais tarde, Ventura Lopes, além de outras propriedades adjacentes, adquiriu também a Fazenda São Luiz, originária e
primitivamente de propriedade de Custódio Bernardino de Barros, reunindo na Fazenda Santa Inês, uma área anexada de mais
ou menos mil hectares de terras.
A extensão do imóvel, a localização, a fertilidade das terras, a fartura de água, a qualidade e a quantidade das benfeitorias,
fatores estes que, aliados ao espírito de justiça e honestidade, de liderança e de administração de Antonio Ventura Coimbra
Lopes, agricultor vocacionado, fizeram da Santa Inês um notável centro populacional, reunindo cerca de cem famílias,
numerosas na sua grande maioria.
Nessa época, produzia a Fazenda Santa Inês, em grande quantidade, café, cana-de-açúcar, milho, feijão, arroz e, em etapas
sucessivas, passou a produzir também algodão em grande escala, cultura esta, introduzida no norte fluminense por iniciativa
de seu proprietário Antonio Ventura Coimbra Lopes.
O Dr. Roberto Monteiro Ribeiro Coimbra Lopes contou-nos que, na parte de baixo do engenho, mais precisamente nas duas
portas localizadas do lado direito, funcionava a venda existente na fazenda. “Aos sábados o entorno do engenho parecia uma
colcha de retalhos desde as primeiras horas da manhã. Eram as famílias dos empregados
que vinham fazer suas compras. Do alto da casa-sede avistávamos o colorido das roupas o que fazia parecer mesmo uma
colcha de retalhos – artesanato muito comum em nossa região – herança cultural vinda das Minas Gerais e ainda presente em
nossa cidade”.
Com o declínio das atividades agrícolas na região, Santa Inês foi uma das poucas fazendas a resistir, pois que, pelo espírito
socialista de Antonio Ventura, foi ela uma das últimas propriedades do município a introduzir em suas terras a pecuária bovina.
Tantas foram as riquezas produzidas pelas terras da Santa Inês nessas primeiras seis décadas do século XX que elas, além
de fazerem a independência econômica do seu proprietário, permitiram que Antonio Ventura Coimbra Lopes pusesse em
prática a vocação natural do seu espírito de solidariedade no campo social e político.
No campo social, destacamos como contribuição o desenvolvimento de atividades econômicas, reservando boa parte de suas
economias a serviço daqueles que precisavam trabalhar e não dispunham de capital para desenvolver suas atividades.
No político, as riquezas produzidas nas terras da Santa Inês, permitiram que Ventura Lopes fizesse vida pública ativa durante
mais de meio século como vereador, Prefeito de Pádua, Presidente do Partido Separatista e primeiro Presidente da Câmara de
Miracema, na qual exerceu mandatos em várias legislaturas. Foi um dos fundadores da UDN (União Democrática Nacional) e
seu presidente até a extinção dos partidos, levado a efeito pelos militares em 1966.
As riquezas geradas pela Santa Inês, permitiram ainda que Ventura Lopes como Prefeito de Santo Antonio de Pádua, no ano
de 1927, renunciasse à percepção dos subsídios e da verba de representação a que fazia jus por força do exercício do cargo.
Dispensou o uso da viatura do Município, utilizando nos serviços da administração pública municipal o seu carro particular,
abastecido com seus próprios recursos.
Da primitiva Fazenda Santa Inês resta hoje apenas a parte central do engenho e a chaminé, construídos por volta de 1870 e
que abrigavam: “Um monjolo, máquina de beneficiamento de café, de arroz e de milho; a indústria de açúcar, cachaça, álcool e
rapadura; a serraria; o torno mecânico; o tear e um dínamo, destinado a gerar energia para o consumo do engenho e da casa-
sede da fazenda, que, na maior parte de tempo, eram movidos por uma grande roda d’água, a qual, acoplada à muitas
engrenagens, fazia funcionar as máquinas com a força das águas que ali chegavam por gravidade, vindas de um açude e
transportadas por meio de uma banqueta. Excepcionalmente, o maquinário era impulsionado a vapor, produzido por uma
imensa caldeira.”
Lá funcionavam também a escola, a venda e o salão de danças que servia aos moradores e seus convidados.
Além destes, os moradores da fazenda dispunham de campo de futebol e raia de malha, realizando ainda festas juninas, boi
pintadinho e mineiro pau, expressões culturais da região.
A Fazenda Santa Inês foi a primeira do município a produzir algodão, dedicando-se também a criação de gado leiteiro. A
fazenda chegou a contar, nessa época, com 120 casas para colonos, que abrigavam uma média de mil pessoas, conforme
notificou o jornal Diário da Manhã, editado em Niterói, em 23/12/1942.
A título de enriquecimento, vale registrar que no final do século XIX, chegou a Miracema o Sr. Adriano do Valle, acusado de ter
atentado contra o Imperador D. Pedro II, na porta do Teatro São Pedro, no Rio de Janeiro, no dia 15 de julho de 1889. Como
agrimensor, foi executar serviços na Fazenda Santa Inês, onde, segundo relatos, afirmou nunca ter tido a intenção de
assassinar o Imperador.
Outro importante acontecimento foi narrado por Luiz Clóvis Moreira Tostes - descendente de Custódio Bernardino de Barros -
ao Dr. Roberto Ventura Lopes, que teve conhecimento através de parentes já idosos, de uma rebelião de escravos na fazenda,
mantendo os proprietários e os membros da família recolhidos no interior da casa-sede, localizada não muito distante da
senzala. Contou ainda, que dois ou três escravos haviam se insurgido contra a rebelião, sendo por isso trucidados pelos
companheiros e que, um dos parentes do fazendeiro, tomando conhecimento do fato, parlamentou com os revoltosos na Santa
Inês, conseguindo por fim a rebelião.
Na administração da fazenda, o filho do casal – Antonio Ventura Coimbra Lopes e Nair Monteiro Ribeiro Lopes – Dr. Roberto
Monteiro Ribeiro Coimbra Lopes, além da reforma da casa-sede, do engenho e da construção de casas para moradia de
colonos e empregados, renovou e construiu cercas internas e de divisa, com lascas de braúna e arame farpado, montou uma
nova serraria, edificou um barracão de onze metros de largura por trinta e cinco metros de comprimento, para depósito, uma
ceva para porcos, construiu um estábulo ocupando novecentos metros quadrados de área, substituiu o antigo transformador de
energia por outro de cem cavalos de força, manteve a máquina de café, montou máquina de arroz, moinho de granjeiro e fubá,
picadeiras e desintegrador de milho, adquiriu um telefone e uma balança para pesagem de gado bovino e construiu estradas,
açudes e várias benfeitorias.
De 31 de março de 1996 aos dias atuais, a Santa Inês tem tido o privilégio de ser palco de aparições ininterruptas, em suas
terras, de Nossa Senhora e do seu filho Jesus, que vem deixando inúmeras mensagens e concedendo graças, muitas delas
reveladas, no local, em depoimentos dos agradecidos.
Segundo o proprietário, o local das aparições, onde foi edificado o santuário, totalmente aberto ao acesso da população, está
situado a pouco mais de cinqüenta metros dos fundos da atual casa-sede e precisamente ao final da antiga casa-sede de pau-
a-pique.
Além do Santuário, foram ainda edificados capela, secretaria administrativa e banheiros. A gruta foi escavada
Fontes:
BUSTAMANTE, Heitor de. Sertões dos Puris, 1971, Santo Antônio de Pádua - RJ.
LOPES, Roberto Monteiro Ribeiro Coimbra, relato sobre a Fazenda Santa Inês.
localização
RJ-116 em direção a Itaperuna, a 11km do centro de Miracema
município
Miracema
época de construção
1907
estado de conservação
detalhamento no corpo da ficha
proprietário
particular
situação
A estrada que leva à Fazenda Serra Nova tem início no km 1 da RJ-116, que liga Itaboraí a Itaperuna, distante cerca de 11 km
do centro urbano de Miracema. Através desta rodovia chega-se também às fazendas Fumaça, Itatiaia, Santo André e São
Pedro, além da comunidade do Barreiro e do povoado de Areias. A estrada é por si só um atrativo natural, possuindo uma
queda d’água e trechos com remanescentes de mata secundária (f01, f02 e f03).
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Já no alto da serra, atravessando uma pequena ponte (f04), chega-se ao conjunto de construções da Fazenda Serra Nova,
composto pela casa-sede, antigo terreiro de café, a tulha e o galpão que serve de garagem (f05 a f07). Seguindo a estrada à
direita da casa-sede, que leva à Fazenda Santa Inês, no distrito de Paraíso do Tobias, está localizada a serraria (f08), uma
outra tulha (f09), o curral (f10) e uma casa edificada nos anos 1950/60 (f11), utilizada, atualmente, como casa de colono.
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Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 329
situação e ambiência
Na frente da casa-sede, há uma antena para telefonia rural, instalada pela extinta Telerj, mas que, segundo informações dos
proprietários, nunca funcionou. Afixada a uma torre, há uma placa com as seguintes coordenadas: Latitude: 21º 21’ 57”;
Longitude: 42º 05’ 38”; altura: 240m (f12).
Entre a casa-sede e a estrada, passa o Ribeirão Serra Nova (f13), que nasce no alto da serra próxima da fazenda e
desemboca no Ribeirão Santo Antônio, que corta toda a cidade de Miracema. Exatamente na altura da casa-sede há uma
pequena queda d’água, (f14) que contribui ainda mais para o aspecto romântico que o sítio possui. Do lado esquerdo da casa-
sede está o pomar formado por jambeiros, jabuticabeiras, goiabeiras e muitas outras árvores frutíferas misturadas a antigos
eucaliptos, que já foram uma das fontes de renda da propriedade (f15).
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Construção de gosto romântico, assentada sobre porão baixo (f16), com planta em “T” invertido. Encontra-se implantada sobre
um amplo gramado, onde se acham instalados o jardim com flores, como roseiras e camélias, dispostas de ambos os lados do
passeio cimentado que interliga o portão de entrada ao alpendre de acesso a casa (f17). Do lado esquerdo desse passeio há
uma piscina (f18) e o jardim é protegido por um muro de alvenaria encimado por gradil com pontas de lança em ferro, seguindo
o mesmo modelo do gradil localizado no acesso principal da casa-sede. Das duas pinhas vitrificadas sobre os marcos do
portão de entrada só resta uma inteira (f19). Em um dos pilares de alvenaria que delimita o gradil frontal destaca-se uma
estátua de cerâmica, também vitrificada, representando as Artes (f20).
A fachada principal é simétrica formada por uma porta central e oito janelas com cercaduras em madeira e vergas e
sobrevergas retas, guarnecidas com esquadrias enrelhadas externas e de guilhotina com caixilhos de vidro internamente (f21).
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Protegendo a porta de acesso – que possui duas folhas em madeira enrelhada –, há um alpendre sustentado por delgadas
colunetas caneluradas, com guarda-corpo e portão de ferro fundido a meia altura. Este alpendre é encimado por uma pequena
cobertura em duas águas com telhas capa e canal, que determina um frontão triangular em cujo tímpano, de madeira
“rendilhada” acompanhando o trabalho dos lambrequins, há um medalhão com a data da construção – 1907. Adornam as
colunas de ferro que sustentam o alpendre – que possui forro em madeira com junta cega – mãos francesas em ferro forjado
(f22 a f23).
A pavimentação foi feita com ladrilhos hidráulicos. Destacam-se, dos dois lados da escada construída com blocos de pedra
aparelhada, os raspadores de lama, constituídos por lâminas de ferro, instaladas ao lado do último degrau da escada (f24). Na
porta principal, uma aldrava de metal dourado em forma de mão feminina chama atenção (f25).
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A cobertura da casa-sede é em telhas de barro, do tipo capa e canal, sendo o beiral forrado arrematado por lambrequins de
madeira (f26).
A fachada lateral direita ressalta a tipologia arquitetônica dos chalés românticos, característicos do final do século XIX e início
do XX. Mantém três janelas, sendo que, curiosamente, apenas duas são do tipo guilhotina. A terceira é de folha dupla cega. No
centro do frontão, encontra-se instalado um óculo de madeira rendilhada com as iniciais “OAM” – Oscar Augusto Machado –
proprietário original da fazenda, que construiu a casa-sede (f27 e f28).
A fachada do lado esquerdo sofreu alteração nos vãos, possuindo hoje um basculante de vidro e uma única janela de
guilhotina com folhas de venezianas externas. No centro do frontão há uma pequena porta de venezianas pela qual se acessa
o sótão (f29). Internamente, as janelas apresentam duas folhas cegas (f30), assim como as portas, que possuem maçanetas
de porcelana pintada e bandeiras com vidros marchetados (f31).
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A casa-sede é formada por uma saleta (f32), sala de visitas (f33), sala de jantar (f34), escritório (f35), quatro quartos (f36),
banheiro (f37) e cozinha (f38).
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334 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
descrição arquitetônica
A sala de visitas e os quartos mantêm o piso de assoalho do tipo encabeirado (f39). A saleta, o escritório, a sala de jantar e a
cozinha foram pavimentados com ladrilhos hidráulicos, que formam lindos tapetes pela residência (f40 a f42).
O forro é do tipo saia e camisa. Na sala principal, possui aerífero rebaixado em formato de grega, além de delicadíssimo
trabalho de pintura com motivos florais, ricamente executado em dois frisos, fazendo uma espécie de cercadura interna e
externa à sanca. Do ponto central do forro pende um lustre de bronze e cristal em formato de pera (f43). Diferentemente do
restante dos cômodos de uso comum, esta sala não possui mais as pinturas parietais. A saleta de entrada possui pintura
marmorizada no centro dos medalhões e na barra de roda-meio que circunda toda a parede (f44), além de pinturas do tipo
estêncil formando faixas, que se repetem na parte superior (roda-teto) próxima ao forro (f45).
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Acima das portas, há pinturas de vasos com flores do campo (f46). Os demais espaços das paredes foram preenchidos com
quadros emoldurados que reproduzem marinas, castelos, vulcões em erupção, camponesa na estrada, velhas árvores e cenas
de caçadas (f47 a f49).
A sala de jantar foi ricamente decorada com pinturas que representam marinas, animais como o jacu, a anta, o coelho e o joão-
de-barro, o leão, a águia e o veado, a Igreja de N. S. da Penha, no Rio de Janeiro, além de vasos com frutas importadas e
tropicais, tais como o caju, a manga, o cajá-manga, o abacaxi, o mamão, a banana, a pinha, a melancia, o melão, a uva, as
laranjas e as peras. No centro do forro, destaca-se um lustre de bronze com doze braços e pingentes de cristal (f50 e f51).
Entre as pinturas, destaca-se um pé de café com frutos, talvez em alusão à própria fazenda que era uma das que mais
produzia esta espécie de rubiácea no município (f52).
Em todo o interior são vistos mobiliários de época. Alguns adquiridos juntamente com a fazenda, outros, posteriormente, pela
família dos atuais proprietários.
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A casa-sede, de uma maneira geral, está conservada, necessitando, entretanto, de obras de manutenção e de restauração.
Não foram detectadas goteiras, vazamentos, estufamentos, nem a presença de insetos xilófagos, como os cupins de solo.
Existem pequenas rachaduras internas, onde estão as pinturas parietais, provenientes de deslocamentos de parte do reboco,
preenchidos com massa em reformas realizadas ao longo dos anos (f53). As pinturas, em ambas as salas, necessitam passar
por um minucioso trabalho de limpeza, remoção de resíduos, como gordura, fuligens, etc., além de uma restauração pictórica
realizada por especialista (f54).
Pequenos reparos também se fazem necessários nos lambrequins que circundam o telhado, além de pintura geral, sobretudo
nas esquadrias, a fim de continuarem protegidas do sol e das chuvas, que são constantes na região (f55).
Duas antenas, uma para telefonia rural e outra parabólica, interferem negativamente na construção, que já conta 102 anos de
idade.
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Segundo informações do Sr. Luiz Clóvis Lima Tostes, a Fazenda Serra Nova foi fundada pelo Sr. Oscar Augusto Machado nas
terras de propriedade de seu sogro, o capitão Francisco Dias Tostes, pai de Maria de Barros Tostes, conhecida como
Mariquinha.
Francisco Dias Tostes era filho do capitão Marcelino Dias Tostes e de Luciana Rodrigues Pereira Tostes, proprietários de uma
grande parte das terras que hoje formam a cidade de Miracema. Em 1º de outubro de 1855, Marcelino declarou na igreja da
freguesia de Santo Antônio de Pádua, em conformidade com o artigo 91 do Decreto 1318, de 30/01/1854, que possuía na
Freguesia de Santo Antônio de Pádua, local denominado Santo Antônio dos Brotos, uma fazenda denominada Água Limpa –
“...a qual divide pelo lado de baixo com terras dos herdeiros da falecida Dona Ermelinda Rodrigues da Conceição...”, a quem,
segundo a tradição oral, é atribuída a fundação da cidade, “...pelo lado de cima com Manoel Felisberto Pereira da Silva até a
serra, por outro lado com terras do falecido padre Francisco Mendes Linhares e Lucas Mendes Linhares, por outro com terras
de João Cândido Guimarães, por compra que fez ao capitão Bento Pereira Rodrigues.” 1
Marcelino Dias Tostes era filho de Antônio Dias Tostes e Ana Maria do Sacramento, nascido no Quilombo, atual Bias Fortes
(MG). Foi o principal articulador para a emancipação de Juiz de Fora do município de Barbacena2. Não se sabe com precisão
o ano em que a fazenda foi formada. Sabe-se apenas que a casa-sede foi construída em 1907, como atesta a data instalada
em seu frontão.
Segundo Melchíades Cardoso, em artigo publicado no jornal O Momento de Miracema, nº 16, abril de 1972, “Serra Nova é a
grande fazenda de pretérita propriedade do falecido cel. Oscar Augusto Machado, que durante a fenomenal era do café foi a
que mais produzia a apregoada rubiácea, colhidas das verdejantes linhas paralelas dos frondosos cafeeiros que riscavam os
alargados chapadões, grotões e encostas de suas terras, serras que consagravam o nome sugestivo, embora criando
excelente gado. Nesse meio faustoso do passado, outrossim, criara o cel. Oscar Machado a sua distinta família, benquista sob
qualquer apreciação, destacando-se entre seus filhos, pela estreita convivência no meio urbano local, o dr. Tobias Machado e
o dr. Júlio Tostes Machado; o primeiro tendo sido secretário da Educação (do Estado) e o segundo por ter-se dedicado à
lavoura do município em cujo mister, organizou seu grande e bem cuidado núcleo agropastoril, em franca prosperidade, agora
sob a jovem e segura direção de seu filho. A maior contribuição do dr. Júlio, contudo, foi a criação e instalação da Cooperativa
Agropecuária de Miracema – CAPM, fundada em 1966, por 131 sócios.”
Em reconhecimento ao seu trabalho de fundação, instalação e direção da cooperativa, os sócios deram-lhe o nome da sede –
Edifício Dr. Júlio Tostes Machado.
Anos depois, a fazenda foi comprada por um português residente no Rio de Janeiro, que a vendeu para o deputado Geraldo
Tavares André.
Após o cultivo de café, a Fazenda Serra Nova dedicou-se ao plantio e extração de madeira (eucalipto) e à pecuária leiteira,
chegando a produzir, na década de 1960, até 2.600 litros de leite por dia.
Fontes:
1 Livro de Registro de Terras nº 53, da Freguesia de Santo Antônio dos Brotos – Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro.
2 Fazolatto, Douglas. Juiz de Fora: Imagens do Passado – 2003.
1. CLIMA.................................................................................................................. 353
2.2. Formações Vegetais Nativas das Regiões Norte e Noroeste do Estado do Rio de
Janeiro ................................................................................................................. 357
8. REFERÊNCIAS.................................................................................................... 423
FIGURAS
FOTOS
Foto 1 – Região Noroeste Fluminense, Italva, Área de Pastagem Margem Direita do Rio
Muriaé, em Janeiro de 2010 .............................................................................................. 363
Foto 7 – Região Norte Fluminense, São Francisco de Itabapoana, Vista Aérea da Estação
de Guaxindiba.................................................................................................................... 374
Foto 8 – Região Norte Fluminense, São Fidélis e Campos dos Goytacazes, Pico do
Desengano ........................................................................................................................ 375
Foto 10 – Região Norte Fluminense, Campos dos Goytacazes, Restingas Associadas aos
Sistemas Lagunares, nas Proximidades da Praia de São Tomé........................................ 382
Foto 11 – Região Norte Fluminense, Campos dos Goytacazes, Restingas Localizadas nas
Proximidades da Praia de São Tomé................................................................................. 382
Foto 12 – Região Norte Fluminense, Quissamã, Parque Nacional de Jurubatiba .............. 386
Foto 19 – Região Noroeste Fluminense, Bom Jesus de Itabapoana, Rio Itabapoana ........ 397
Foto 22 – Região Noroeste Fluminense, Italva, Ocupação da Faixa Marginal do Rio Muriaé
.......................................................................................................................................... 413
Foto 23 – Região Noroeste Fluminense, Itaperuna, Rio Muriaé, Faixa Marginal Ocupada na
Área Urbana e Desprovida de Mata Ciliar na Área Rural ................................................... 413
GRÁFICOS
MAPAS
Mapa 2 – Regiões Norte e Noroeste Fluminense, Cobertura Vegetal Remanescente ....... 360
Mapa 3 – Regiões Norte e Noroeste Fluminense, Cobertura do Solo, 2007 ...................... 368
in La Terre
Auguste Robin,
Paris.
De acordo com a Classificação de Koppen, o clima dessas regiões é do tipo Aw, caracteri-
zado como tropical quente e úmido, com uma estação seca entre o outono e o inverno. Para
contextualização do clima dessas Regiões foram selecionados os dois principais parâmetros
climatológicos que o caracterizam: temperatura e precipitação. Os dados se referem basi-
camente a valores médios, correspondentes ao período de 1939 a 2007, de acordo com o
Instituto Nacional de Meteorologia, INMET, observados nas estações climatológicas Porci-
úncula e Macabuzinho, obtidas através dos estudos de Coelho Netto et. alii (2008) que sub-
sidiam o Zoneamento Ecológico Econômico do Estado do Rio de Janeiro.
A classificação climática disponível no Estado atualmente é a publicada pelo CIDE – Centro
de Informações e Dados do Estado (1998). Nota-se que as Regiões Norte e Noroeste do
Estado apresentam-se divididas em duas sub-regiões, uma com clima subúmido (3) e outra
com clima seco (4), mais ao norte.
Entretanto, segundo André et. al. (2005), essa classificação foi feita com dados médios de
longo prazo, e considerando-se a tendência dos últimos 40 anos, o regime pluviométrico
vem diminuindo consideravelmente, justificando assim a necessidade de um estudo para
verificar uma possível mudança na linha divisória da classificação climática publicada pelo
CIDE.
De acordo com André et al. (2005), a Região Norte pode ser subdividida em dois tipos de
clima: um clima subúmido e um clima seco mais ao norte. Dados do RADAMBRASIL (1983)
apud Plano Diretor de São João da Barra (s.d) caracterizam o clima quente e úmido por re-
presentar temperaturas médias anuais, que variam entre 15 a 31º C, sendo a precipitação
média anual em torno de 1.000 mm, apresentando os meses de verão mais chuvosos e os
de inverno mais secos, sendo a direção predominante dos ventos sentido Nordeste.
A diversidade morfológica variando entre regiões de baixadas, vales e serras, bem como a
cobertura vegetal e a distância das fontes de umidade influenciam diretamente na distribui-
ção das precipitações no território do Rio de Janeiro (CIDE, 2003).
Com relação à evapotranspiração, ETp, para a área de estudo, os menores valores são en-
contrados nas áreas montanhosas apresentando evapotranspiração anual inferior a 1.000
mm. Em alguns trechos das serras dos sistemas hidrográficos do rio Imbé, Macabu e Maca-
é, a evapotranspiração anual é inferior a 800 mm. Já nas regiões onde há o predomínio de
baixadas e fundos de vale, são observados os maiores valores de ETp anual, com valores
superiores a 1.200 mm.
As Regiões Norte e Noroeste Fluminense estão totalmente inseridas no bioma Mata Atlânti-
ca. Esse bioma se estende pelo litoral brasileiro (do Rio Grande do Sul até o Rio Grande do
Norte), e detém uma elevada biodiversidade de espécies da fauna e flora. É um bioma ex-
tremamente degradado, reduzido a fragmentos remanescentes, que juntos representam
apenas 7% da sua cobertura original (Woehl Jr. et al., s.d.). A ocupação urbana e explora-
ção desordenada de seus recursos foram fatores determinantes para levar o bioma ao ele-
vado grau de degradação presente atualmente (Instituto BioAtlântica, 2009). Em 1808, ape-
nas um milhão de pessoas viviam na Mata Atlântica, e no século XXI esse valor já ultrapas-
sa 100 milhões. Havia também a extração de madeira durante o período de colonização e,
posteriormente, o desmatamento para ocupar as áreas com os cultivos da cana-de-açúcar,
garimpo de ouro, café e pecuária (Coelho Netto et al., 2008).
Nas Regiões Norte e Noroeste Fluminense, a Mata Atlântica atualmente se distribui em pe-
quenos fragmentos remanescentes e nas Unidades de Conservação, sendo elas o Parque
Nacional da Restinga de Jurubatiba, Parque Estadual do Desengano, Estação Ecológica de
Guaxindiba e Reserva Biológica da União, as quais serão tratadas no próximo capítulo.
Devido à sua imensa extensão, cortando o litoral brasileiro de norte a sul, vários fatores atu-
am na formação da Mata Atlântica, tais como a temperatura, frequência de chuvas, altitude,
proximidade com o oceano, composição do solo e outros. Esses fatores são determinantes
para a variedade de ecossistemas associados à Mata Atlântica, sendo eles: Floresta Atlânti-
ca (ocorrência na Serra do Mar), Mata de Araucárias, Campos de Altitude (em regiões de
planalto acima de 900 m de altitude), Restingas e Manguezais (região litorânea) (Woehl Jr.
et. al., s.d.).
Floresta Atlântica
Mata de Araucárias
Este ecossistema, segundo Woehl Jr. et al. (s.d.), é típico da região Sul do Brasil, onde o
clima é subtropical com chuvas regulares durante todo o ano e temperaturas baixas. Desta-
ca-se entre as demais espécies da flora, o Pinheiro-do-Paraná (Araucaria angustifolia), tam-
bém conhecido como Araucária, que pode chegar até 50 m. de altura.
Essa formação é geralmente localizada no alto das serras, com mais de 900 m. de altitude.
Segundo Woehl Jr. et al. (s.d.), o solo é caracterizado por ser raso e pedregoso, permitindo
assim, apenas o desenvolvimento de plantas de pequeno porte. Já na região entre monta-
nhas, o solo é mais espesso e úmido, devido ao acúmulo de água que escoa das áreas
mais altas, formando nascentes.
Restingas
Woehl Jr. et al. (s.d.) caracteriza as restingas como um ecossistema de relevo plano, locali-
zado próximo às dunas, fora do alcance do mar, sendo constituído por rios lentos e tortuo-
sos. A grande quantidade de matéria orgânica em decomposição presente na água, torna-a
avermelhada e de pH ácido. A flora apresenta uma gradativa evolução em direção ao interi-
or, sendo que na região mais próxima ao mar, a vegetação apresenta um porte menor se
comparada às espécies da porção mais distante do litoral. A composição da flora é bem di-
versificada, apresentando árvores, arbustos, trepadeiras, epífitas, samambaias e bromélias
(estas se desenvolvem no chão, ocupando extensas áreas). Essa vegetação é caracterizada
por possuir folhas ásperas e resistentes, caules duros e retorcidos e raízes com grande ca-
pacidade de absorção.
Mangues
2.2. Formações Vegetais Nativas das Regiões Norte e Noroeste do Estado do Rio
de Janeiro
As Regiões Norte e Noroeste Fluminense, originalmente, eram totalmente cobertas por for-
mações vegetais associadas à Mata Atlântica.
A Floresta Ombrófila Densa, por sua vez, recobre grande parte dos municípios de São Fidé-
lis e de Macaé. Ressalta-se que, em áreas altas dessa formação vegetal, como a Pedra do
Desengano e o Pico do Frade, ocorrem Campos de Altitude.
A região da planície costeira, segundo Soffiati (2005) teve seus campos nativos explorados
e substituídos por espécies vegetais exóticas cultivadas para a agricultura (cana de açúcar,
principalmente) e para a pecuária (forrageiras), e praticamente nenhum remanescente des-
sa formação pode ser identificado atualmente.
Hoje, nem sequer se sabe que espécies vegetais herbáceas medravam nesses campos. O
ecossistema formado pela vegetação herbácea nativa foi tão sumariamente erradicado que,
nem mesmo a cessação das atividades agropecuárias praticadas na planície aluvial, permiti-
ria a sua auto-regeneração. Trata-se, enfim, de um ecossistema extinto, irrecuperável sem a
ação humana de pesquisa refinada e de restauração (Soffiati, 2005).
Atualmente, a restinga sul é um dos biomas mais estudados do país e, em 1998, foi criado
em seus domínios o Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba, que envolve uma área com
vegetação nativa de restingas e lagoas costeiras das mais íntegras do Brasil. O sistema da
restinga norte conta com alguns estudos, mas numa escala bem menor. Atualmente não há
nenhuma unidade de conservação implantada nessa área. Entretanto, há a intenção de se
criar o Parque Estadual de Gruçaí, em São João da Barra e uma APA municipal em São
Francisco do Itabapoana.
Região Noroeste
A Região Noroeste teve sua cobertura vegetal intensamente alterada, principalmente pela
exploração desenfreada das terras para fins agropecuários. Nessa Região, os fragmentos
são pequenos e dispersos, e não garantem a conservação ambiental já que sofrem intensos
efeitos de borda.
A região do Médio Muriaé e Médio Itabapoana constitui-se basicamente por colinas e planí-
cies fluviais, de forma que os pastos de baixa produtividade compõem praticamente a única
formação existente, com pequenas áreas de floresta nas proximidades de alguns divisores
de água, encontrando-se altamente degradadas.
As partes baixas das bacias dos rios Pomba e Muriaé apresentam conectividade ecológica
reduzida, com poucos fragmentos florestais e predomínio de pastagens e agricultura, geral-
mente sobre forte pressão de incêndios e derrubadas.
Outro trecho que apresenta fragmentos florestais importantes está situado entre os municí-
pios de Lages do Muriaé, Miracema e Cambuci. Nos trechos montanhosos dessa região, os
fragmentos se encontram em melhor estado de conservação e apresentam boa propensão
para conectividade.
Região Norte
A Região Norte apresenta fragmentos de Floresta de Ombrófila Densa com grande impor-
tância de conservação situados nos municípios de Macaé e Conceição de Macabu e na por-
ção oeste de Campos dos Goytacazes, entorno do Parque do Desengano.
No que diz respeito às formações de restinga, segundo Coelho Netto et al. (2008), aproxi-
madamente 24.000 ha são cobertos por esses ecossistemas, que coloniza os cordões are-
nosos. Tais ecossistemas são de extrema importância para a conservação, pois são trechos
únicos de restinga na região e encontram-se entre os mais bem preservados de todo o Es-
tado do Rio de Janeiro.
Pastagem
Os dados levantados por Coelho Netto et al. (2008), demonstram que a Mata Atlântica antes
existente, deu espaço principalmente para áreas de pastagens, que ocupam a maior parte
da Região Norte-Noroeste (63%, sendo 3% localizados em área de várzea) e estão distribu-
ídas em todos os tipos de relevo.
As áreas de pastagem chegam a ser quatro vezes maior que a extensão de florestas, ocu-
pando uma área de aproximadamente 985.000 ha. No entanto, ainda que as pastagens o-
cupem grandes extensões de terra, não garantem uma grande produção pecuária, uma vez
que essas apresentam baixa produtividade (Coelho Netto et al. 2008). De acordo com CIDE
(2003), os municípios de Italva (Foto seguinte) e São José de Ubá possuem mais de 90% do
seu território transformado em pastagem. Outros 11 municípios (sendo nove da Região No-
roeste), como por exemplo, Porciúncula (Foto posterior), apresentam pastagem em mais de
70% do seu território.
Fonte: Rionor
Fonte: Rionor
De acordo com Coelho Netto et al. (2008), a grande extensão de área de pastagem nas re-
giões Norte e Noroeste do Rio de Janeiro relaciona-se com as amplas planícies e colinas
presentes na região, que por serem de fácil acesso ao homem, facilitaram a devastação da
vegetação original para a implantação das áreas de pastagens e de usos agrícolas.
Pelos dados levantados pela CIDE (2003), os municípios de São Francisco do Itabapoana
(57%), Campos dos Goytacazes (39,8%), Carapebus (34%) e Quissamâ (33,1%) apresen-
tam mais de ⅓ do seu território destinado às áreas de cultura. Ao analisar as áreas de pas-
tagem e agricultura em conjunto, praticamente todos os municípios da Região Norte e Noro-
este têm mais de ⅔ do seu território destinado a essas práticas, exceto Macaé (59,3%),
Quissamã (49%) e São João da Barra (9,9%).
Coelho Netto et al. (2008) relata que em mapeamentos anteriores, realizados, em 1995, pela
CIDE/GEROE e, em 2006, pela PROBIO, não era possível identificar áreas agrícolas tão
extensas, o que pode significar um avanço da cultura de cana-de-açúcar em detrimento das
pastagens.
Fonte: Rionor
Segundo INPE/SOS Mata Atlântica (2009), o índice de remanescentes florestais nas regiões
Norte e Noroeste é de 8,95%.
Foto 4 – Região Norte Fluminense, Quissamã, Restinga de Porte Arbóreo do Parque Nacional
da Restinga de Jurubatiba, em Janeiro de 2010
Fonte: Rionor
Foto 5 – Região Norte Fluminense, Quissamã, Restinga de Porte Arbustivo e Arbóreo e Lagoa
Costeira do Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba, em Janeiro de 2010
Fonte: Rionor
366 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
Ao contrário da vegetação primária, que se encontra mais reservada na Região Norte Flu-
minense, a vegetação secundária está em maior proporção na Região Noroeste. Os municí-
pios de Varre-Sai, Porciúncula, Cambuci, Laje do Muriaé e Natividade apresentam forma-
ções florestais bem conservadas, principalmente em topos de morro.
Fonte: Rionor
Tabela 2 – Regiões Norte e Noroeste Fluminense, Área Sugerida para Reflorestamento (com
Viabilidade Ambiental e Econômica)
Segundo a SEA/RJ (2010), as consultas públicas serão realizadas à medida que as indica-
ções do zoneamento por região hidrográfica do Estado forem concluídas.
Em execução, desde 2006 até o ano de 2010, o RIO RURAL GEF tem como objetivo contri-
buir para a diminuição das ameaças à biodiversidade, o aumento dos estoques de carbono
na paisagem agrícola e a inversão do processo de degradação das terras em ecossistemas
críticos e únicos de importância global da Mata Atlântica do Norte-Noroeste Fluminense.
Para atingir tal objetivo, o Projeto traz como princípios e inovações: i) a metodologia da mi-
crobacia reconhecida enquanto projeto ambiental, ii) o engajamento das comunidades das
microbacias na conservação da biodiversidade, iii) a integração de políticas públicas, iv) o
conceito de auto-gestão sustentável dos recursos naturais, grupos de autogestão, planos de
negócios sustentáveis, v) Estatutos Comunitários de Conduta (ECC), vi) co-financiamentos e
sustentabilidade econômica, vii) integração dos Planos Executivos de Microbacias (PEMs)
aos Planos de Bacia (SEAPPA, 2009).
As principais metas desse projeto até sua conclusão, ao final de 2010 são:
• 32.000 ha de terras manejadas adequadamente;
• 1.440 ha de matas ciliares reabilitadas;
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 371
• 1.280 ha reflorestados em forma de mosaicos de corredores ecológicos;
• 2 microbacias por município e 3 microbacias com monitoramento completo;
• 4.000 agricultores beneficiados diretamente;
• 2.400 agricultores com incentivos;
• 100 grupos autogestionados de agricultores familiares;
• 25 Estatutos Comunitários de Conduta (ECC) para uso dos recursos naturais
elaborados;
• 25.000 beneficiários em eventos de difusão e 12.900 beneficiários capacitados
em manejo sustentável;
• 100 professores capacitados (educação ambiental);
• 4.000 alunos de escolas municipais envolvidos em 25 projetos de educação
ambiental.
3. UNIDADES DE CONSERVAÇÃO
Uma das formas mais reconhecidas e utilizadas para garantir a conservação da diversidade
biológica são as chamadas Unidades de Conservação – UCs.
No Brasil, as Unidades de Conservação foram consolidadas pela Lei Federal n.o 9.985, de
18 de julho de 2000 (BRASIL, 2000), que instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Con-
servação, SNUC. De acordo com essa lei, as UCs dividem-se em dois grupos, sendo estes
as Unidades de Proteção Integral e as Unidades de Uso Sustentável.
As Regiões Norte e Noroeste do Estado do Rio de Janeiro não apresentam um número sig-
nificativo de Unidades de Conservação. Estão implantadas apenas quatro UCs federais ou
estaduais na área de abrangência do estudo, sendo todas de Proteção Integral. Ressalta-se
que as RPPNs não estão incluídas nesse cômputo, pois estas serão abordadas num tópico
adiante.
Esta Região não possui qualquer UC de Proteção Integral, quer federal ou estadual, total-
mente inscrita em seus limites. Apenas uma pequena porção do Parque Estadual do De-
sengano alcança o município de São Fidélis. A única UC de Uso Sustentável nessa Região
é a RPPN Reserva Florestal Eng° João Furtado de Men donça.
Na Região Norte, estão localizadas quatro UCs de Proteção Integral, sendo estas a Estação
Ecológica Estadual de Guaxindiba, o Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba, o Parque
Estadual do Desengano e a Reserva Biológica da União.
Vale ressaltar que o Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba, o Parque Estadual do De-
sengano e a Reserva Biológica da União possuem conselho gestor e plano de manejo.
A Estação não é aberta para a população em geral, uma vez que seu objetivo é a preserva-
ção da natureza bem como à realização de pesquisas científicas. Possui vegetação de flo-
resta estacional semidecidual (tipologia de Mata Atlântica), e apresenta o último remanes-
cente de Mata de Tabuleiro da Região Norte e Noroeste Fluminense (INEA 2010 b). O frag-
mento de Mata de Tabuleiro representa 1200 ha da área total da Estação (Silva & Nasci-
mento, 2001).
Foto 7 – Região Norte Fluminense, São Francisco de Itabapoana, Vista Aérea da Estação de
Guaxindiba
Este Parque apresenta notável beleza cênica, com inúmeros picos rochosos e cobertura
vegetal contínua, representando de forma fidedigna o bioma Mata Atlântica.
Destaca-se o fato de haver inúmeras cachoeiras em seu interior, dentre elas, a Vernec, Bo-
nita e Tombo d’água. Os principais cursos d’água que transpassam o Parque são o rio
Grande e seus afluentes, ribeirões Macapá e Santíssimo, rio do Colégio e os rios Segundo
do Norte, Morumbeca, Aleluia e Mocotó, afluentes do Imbé que deságua na Lagoa de Cima
e flui para a Lagoa Feia, através do rio Ururaí.
Foto 8 – Região Norte Fluminense, São Fidélis e Campos dos Goytacazes, Pico do Desengano
O Conselho Gestor do Parque foi criado em 2002, pela Portaria 97/02-N e no ano de 2008,
foi aprovado seu Plano de Manejo.
A área do Parque abrange planícies fluviais e planícies marinhas. No que diz respeito à ve-
getação, predominam as restingas e a vegetação herbácea, sendo esta esparsa, secundá-
ria, inundada ou nativa.
Os ecossistemas lagunares costeiros destacam-se nessa UC e têm uma íntima relação com
os ecossistemas de restinga ali presentes. Ao todo, são 24 lagoas, das quais destacam-se a
Lagoa de Jurubatiba, de Carapebus e do Campelo, esta última situada na zona de amorte-
cimento do Parque.
No ano de 1996, com a privatização da Rede Ferroviária Federal AS. (RFFSA), que era pro-
prietária das terras, a qual utilizava para o plantio de madeira objetivando o suprimento de
carvão para as máquinas, e posteriormente o plantio de eucalipto para a produção de dor-
mentes, o IBAMA juntamente com Instituições Científicas, ONGs e conservacionistas de
várias nacionalidades solicitaram junto ao Governo Federal a transformação da área em
unidade de conservação (BRASIL, 2004).
Criada por meio de Decreto Federal s/nº em 22 de abril de 1998, a Reserva Biológica União
tem como objetivo preservar os fragmentos de Mata Atlântica existentes na região, bem co-
mo as espécies que dela dependem. A Reserva possui 3.126 ha e está localizada nos muni-
cípios de Rio das Ostras (52,4%), Casimiro de Abreu (47,3%) e Macaé (0,3%)
Os principais usos conflitantes que afetam a unidade e seu entorno são as linhas de trans-
missão de energia elétrica de Furnas, o gasoduto da Petrobrás, a rodovia BR-101 e uma
ferrovia.
Essa Reserva possui visitação pública apenas em caráter educacional ou científica, uma vez
autorizada pelo órgão responsável por sua administração.
Na área sob estudo, de acordo com o ICMBio (2010), existem três RPPNs de domínio fede-
ral, sendo uma na Região Noroeste, no município de Natividade, e duas na Região Norte, no
município de Macaé.
O Estado do Rio de Janeiro possui um decreto específico para a criação de Reserva Parti-
cular do Patrimônio Natural - RPPN. O Decreto n° 40 .909, de 17 de agosto de 2007, estabe-
lece critérios e procedimentos administrativos para a criação dessas unidades de conserva-
ção, que foram definidas como sendo de proteção integral.
Após a sanção desse decreto, o extinto IEF-RJ, criou um Núcleo de RPPN, auxiliando àque-
les que quisessem voluntariamente transformar sua propriedade em uma RPPN.
Em junho de 2008, foi instituído o Programa Estadual de RPPN. Até o final de 2009, segun-
do dados da Diretoria de Biodiversidade e Áreas Protegidas – DIBAP/INEA foram abertos 58
procedimentos administrativos para criação de RPPN, totalizando 2.207 ha de áreas prote-
gidas.
Nas Regiões Norte e Noroeste do Estado, apenas uma RPPN estadual foi criada até o mo-
mento, a RPPN Boa Vista e Pharol, localizada em Santo Antônio de Pádua, com 8 ha de
extensão. Entretanto, há outras em análise, sendo 4 em Varre-Sai, 1em São Fidélis e 1 em
Conceição de Macabu.
Um ponto importante para o sucesso do Programa Estadual de RPPNs foi o Termo d e Co-
operação Técnica, TCT, firmado em 2008, entre o IEF/RJ e a Associação do Patrimônio Na-
tural, APN, sociedade civil que congrega os proprietários de RPPNs do Estado, visando a-
poiar a implantação desse Programa (Guagliardi, 2009).
De acordo com Guagliardi (2009), está sendo elaborado um TCT, entre o INEA e a Associa-
ção Mico-Leão- Dourado, o Instituto Terra de Preservação Ambiental e o Instituto BioAtlânti-
ca. O referido TCT objetiva apoiar a criação de RPPNs estaduais mediante a adoção de
ações específicas para este fim. Para tanto, a cláusula primeira do TCT estabeleceu a meta
de atingir 10 (dez) mil hectares de RPPNs estaduais efetivamente criadas, no período de 2
(dois) anos.
Com o intuito de atender sugestões e demandas encaminhadas pela sociedade civil organi-
zada e assegurar a conservação da diversidade biológica e dos recursos naturais, o INEA
contratou a execução de estudos para implantação ou ampliação de UCs no Estado do Rio
de Janeiro. Tais estudos foram publicados em fevereiro de 2009.
O Parque Estadual de Gruçaí será o maior parque de restinga do mundo, com cerca de
19.000 hectares de extensão. Essa unidade de conservação vem a ser implantada com o
intuito de preservar e conservar áreas úmidas e de restinga que poderiam vir a ser degrada-
das com a implantação do Parque Industrial em São João da Barra. A unidade de conserva-
ção será formada por dois setores, situados no entorno do parque industrial, sendo estes, o
Setor Sul, com 9.760,73 hectares e o Setor Norte, abrangendo 9137 hectares.
4. ÁREA LITORÂNEA
A Região Norte do Estado do Rio de Janeiro é composta pelos municípios de Campos dos
Goytacazes, Carapebus, Cardoso Moreira, Conceição de Macabu, Macaé, Quissamã, São
Fidélis, São Francisco de Itabapoana e São João da Barra. Segundo Esteves et al. (2002),
essa Região apresenta área total de 12.340 km2 e população de aproximadamente 654.000
habitantes. Os municípios pertencentes à área litorânea são: Macaé, Carapebus, Campos
dos Goytacazes, Quissamã, São João da Barra e Francisco de Itabapoana.
O Norte Fluminense apresenta uma extensa área de restinga com cerca de 300 km2. As
peculiaridades físicas e biológicas dessa Região foram reconhecidas, em 1992, pela U-
NESCO como reserva da biosfera, através da criação do Parque Nacional de Jurubatiba em
29 de abril de 1998. Abrangendo cerca de 14.860 há a primeira Unidade de Conservação
Federal em restingas, abrange parte dos municípios de Macaé, Quissamã e Carapebus.
Além das restingas e lagoas dominantes na costa da Região Norte do Estado do Rio de Há-
neiro encontra-se também o manguezal, considerado um ecossistema de grande importân-
cia ecológica. De acordo com Bernini (2003), os mangues localizam-se intercalados entre as
faixas arenosas e terrenos superficialmente argilosos, podendo ser observados nos municí-
pios de São João da Barra e São Francisco do Itabapoana.
Bernini (2003), classifica o manguezal do estuário do rio Paraíba do Sul como o maior da
Região Norte Fluminense, com aproximadamente 800 há, cuja floresta é constituída predo-
minantemente por Avicennia germinans, Laguncularia racemosa e Rhyzophora mangle. Este
manguezal tem sido alvo de reqüentes ações de degradação, como atividade extrativista,
invasão pela pecuária, urbanização, obras de drenagem efetuadas no canal principal e aber-
tura de novos canais. Há ainda a caça predatória do caranguejo Ucides cordatus mediante a
disposição de pequenas redes nas bocas das galerias, prática que não distingue macho de
fêmea, ou mesmo o adulto do jovem, desequilibrando as populações da espécie.
De acordo com FIDERJ (1977) apud Seeliger et al. (2002) o clima da área litorânea é carac-
terizado como quente e úmido nas áreas de baixada. A temperatura média mínima é de
18,7ºC com mínima absoluta de 6,4ºC para o período entre os anos de 1931 a 1970. A tem-
peratura máxima média para esse mesmo período é de 27,7ºC sendo a máxima absoluta de
39ºC.
Assim, os cordões litorâneos são classificados do ponto de vista geomorfológico como res-
tingas (Fotos seguintes).
Foto 11 – Região Norte Fluminense, Campos dos Goytacazes, Restingas Localizadas nas Pro-
ximidades da Praia de São Tomé
Nas planícies litorâneas, é comum a presença dos manguezais que, de acordo com Guerra
(2008) são caracterizados como terrenos baixos, junto à costa, sujeitos a inundações das
marés. Esses terrenos são, quase que totalmente, constituídos de vasas (lamas) de depósi-
tos recentes.
As formações nativas de manguezais são encontradas nas embocaduras dos rios Itabapoa-
na, Guaxindiba, Paraíba do Sul e Macaé e nas lagunas de Guriri, de Buena, de Manguinhos,
de Grussaí, de Iquipari e do Açu, na ilha da Carapeba, em Campos dos Goytacazes, e na
Fazenda São Miguel, em Quissamã (Soffiati, 2003).
No que diz respeito às formações fisionômicas e tipos de vegetação ocorrentes na área lito-
rânea, Araújo et al. (1998) apud Esteves et al. (2002) descreveram e as classificaram da
seguinte forma:
Halófitas e psamófitas reptantes localizam-se na faixa de vegetação que tem início junto à
praia. Nesta formação as espécies mais abundantes são: Blutaparon portulacoides, Pani-
cum racemosum e Sporobolus virginius.
A mata que representa a faixa de areia situada entre os cordões arenosos, sujeita a inunda-
ção durante a época das chuvas, em função do afloramento do lençol freático, apresenta
espécies vegetais de vegetação arbórea, arbustiva, palmitos e palmeiras.
A formação arbustiva aberta de Palmae situa-se na região pós-praia ou onde o extrato arbó-
reo foi removido. Nesta formação, é possível identificar espécies como a palmeira Allagopte-
ra arenaria, dentre um total de aproximadamente 69 espécies.
A formação típica das áreas marginais e braços das lagoas é constituída por herbácea bre-
josa. As espécies mais encontradas são Cladium jamaicense, Sagttaria lanciofolia, Typha
domingensis e algumas gramíneas.
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 383
No que diz respeito à bacia da Lagoa Feia, a vegetação nativa é formada por ilhas de matas
e grandes extensões de campos periodicamente inundados. As matas, campos e florestas
formavam um mosaico com os lagos e terrenos alagados. As florestas eram constituídas
por uma vegetação herbácea de gramíneas, ciperáceas e outras ervas.
Como dito anteriormente, a área litorânea da região Norte do Rio de Janeiro apresenta di-
versas lagoas e lagunas situadas em praticamente toda a extensão costeira, da foz do rio
Macaé até a foz do rio Itabapoana.
Segundo Bidegain et al. (2002), esses sistemas lagunares são resultantes de um movimento
oceânico de avanço e retrocesso datado de 5.100 anos atrás. A elevação do nível do mar
constituiu ilhas-barreiras, isolando antigos terraços marinhos do contato direto com o mar
aberto. Surgiram então lagunas, atrás do cordão de ilhas-barreiras. O rebaixamento do nível
relativo do mar ensejou a construção de novos terraços marinhos a partir das ilhas-barreiras,
verificando-se a transformação das lagunas em lagos de água doce.
O terceiro conjunto consiste nas lagoas da planície de restinga, com destaque para as de
Imboacica, de Jurubatiba, de Carapebus, de Iquipari, de Grussaí, e do Campelo (esta no
encontro da restinga com o tabuleiro).
Durante anos, estas lagoas vem sofrendo diversas intervenções humanas que tem diminuí-
do seus espelhos d’água, modificado a hidrodinâmica do sistema lagunar e alterado a quali-
dade das águas.
Diversas lagoas foram totalmente dessecadas a partir das obras de drenagem realizadas na
região. Não fosse a drenagem sistemática empreendida pelas iniciativas pública e privada a
partir do século XIX, a verdadeira Região dos Lagos do Estado do Rio de Janeiro seria a
Norte Fluminense (Serla, 1995 apud Soffiati, 1998).
Soffiati (1998) relata que todas as outras que sobraram também sofreram drásticas redu-
ções em seus espelhos e lâminas d’água por drenagem e por invasão de seus leitos por
proprietários, com a complacência do DNOS.
Os proprietários marginais constroem diques na zona litorânea para aumentar sua área de
cultivo, destruindo nichos situados em águas rasas, sob intensa insolação, onde ocorre a
Além disso, a retificação e dragagem dos canais afluentes das lagoas causam assoreamen-
to em todo o sistema, diminuindo as suas profundidades.
O lançamento de esgoto in natura afeta diretamente a qualidade das águas nas lagoas ur-
banas. Segundo Bidegain et al. (2002), as mais afetadas são as lagoas do Lagamar, de Fo-
ra, da Vassoura, do Russo, Ostra de Fora, Ostra do Farol, Terceira Grande, do Vigário, do
Taquaruçu, do Comércio, da Taboa e do Meio. A Lagoa Feia recebe efluentes domésticos e
industriais, sem tratamento, de Campos dos Goytacazes pelo canal de Tocos.
No município de São Francisco do Itabapoana, a atividade agrícola foi responsável pela re-
moção de grande parte do revestimento vegetal nativo de restinga e manguezais. Segundo
Soffiati (s.d.), a partir da década de 1930, o Governo Federal começou a lavrar terras raras e
até hoje, essa é a atividade mais impactante, do ponto de vista ambiental, no Município.
Alguns grandes empreendimentos, como o Porto de Açu estão sendo construídos no litoral
Norte. As obras de implantação do Porto geram cerca de dez mil empregos e, quando em
operação, serão criados em torno de três mil empregos diretos e indiretos. Por se tratar de
uma obra de grande porte, vários impactos ambientais estão previstos em decorrência de
sua implantação e uma pressão muito alta deve ser exercida sobre a região. Segundo Ber-
gallo et al. (2009), os ecossistemas de praia e de restinga deverão ser bastante impactados.
As obras de dragagem também são preocupantes devido à remoção de sedimentos e bio-
turbação associada.
Em toda a extensão das terras baixas da Região Norte Fluminense observa-se a ocorrência
de diversas atividades antrópicas, tais como extrativismo vegetal, pecuária extensiva, agri-
cultura canavieira, culturas de mandioca, algodão, feijão, fábricas de açúcar e aguardente.
De acordo com Esteves et al. (2002) o número de habitações irregulares próximas ao limite
geográfico do Parque Nacional Restingas de Jurubatiba cresceu significativamente nos últi-
mos anos, sem o necessário processo de urbanização. Assim, devido à ausência de rede
coletora de esgotos, um dos impactos que o Parque está sujeito é a contaminação do lençol
freático e deterioração da qualidade das águas devido ao lançamento in natura dos efluen-
tes no solo e nos cursos d’água.
Esteves et al., (2002) propõe, como uma das formas de solucionar ou mitigar os impactos
descritos sobre as restingas, a implantação de estações de tratamento de esgotos e execu-
ção de programas educacionais desenvolvidos junto às comunidades.
Fonte: RIONOR
O Estado do Rio de Janeiro, por intermédio do INEA, tem participado do Programa Nacional
de Gerenciamento Costeiro, PNGC, instituído pela Lei Federal n° 7.661, de 16/05/88.
De acordo com a subdivisão adotada pelo INEA, o Litoral Norte é identificado como Setor
Costeiro 4.
Os resultados obtidos foram a identificação de áreas úmida de acordo com os critérios esta-
belecidos pela Convenção RAMSAR; a documentação técnica de lagoas, lagunas, brejos,
mangues, meandros de rios e manguezais; e um relatório final com proposta de inclusão da
área na Convenção.
5. O PATRIMÔNIO NATURAL
Inserido no bioma de Mata Atlântica, com montanhas e baixadas, entre o Oceano Atlântico e
a Serra da Mantiqueira, o Estado do Rio de Janeiro possui uma das mais diversificadas pai-
sagens, com escarpas elevadas à beira-mar, florestas tropicais, restingas, lagunas e baías
(Whately, 2003).
Graças a essa diversidade natural, o Estado possui uma condição turística privilegiada, ofe-
recendo à população e aos turistas diversas opções de turismo ecológico, destacando os
esportes de aventura, tais como “surfe, windsurfe, rapel”, escalada, parapente, “rafting”, ba-
lonismo, “trekking, passeios a cavalo ou a barco, pesca e banhos de cachoeira. Além de
todas estas atividades, é possível também a realização de observações astronômica ou de
fauna e flora e a prática dos turismos rural, fotográfico e esotérico.
As praias da Região Norte Fluminense (aproximadamente 180 km) são fortes atrativos turís-
ticos, devido às suas belezas e programação cultural diversificada durante o período de fé-
rias que atrai diversos turistas para a região. Além de propícias aos banhos, em algumas
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 387
praias são desenvolvidas competições esportivas, como por exemplo, o surfe, windsurfe e
barco a vela na praia de Grussaí, em São João da Barra.
A praia dos Cavaleiros, em Macaé, é a mais procurada pelos moradores do Município e tu-
ristas, devido a sua grande beleza natural. Sua orla é repleta de bares e restaurantes, o mar
é bravo, de águas frias e infinitamente azuis, onde é possível praticar surfe. Realiza-se pes-
ca de mergulho em seus costões, contando com a presença de aves e animais marinhos.
Devido a tamanha beleza, essa praia é conhecida como a “Copacabana macaense”.
Já em São Francisco de Itabapoana, a praia de Atafona é banhada por um mar com alta
concentração de iodo e seu clima é considerado medicinal, além disso, é um local ideal para
a realização de turismo ecológico e de aventura.
A Lagoa Feia (Foto seguinte), nome que não corresponde a sua imensa beleza, está locali-
zada entre os municípios de Quissamã e Campos dos Goytacazes. Considerada o Pantanal
da Costa Doce, é a maior lagoa do Estado do Rio de Janeiro e segunda maior lagoa do Bra-
sil, medindo aproximadamente 170 km².
Sua água é doce, morna e escura, formando ao seu redor praias que são utilizadas para
camping e banhos, sendo que para tal atividade, a porção sul da Lagoa, denominada como
Enseada do Tatu, apresenta as melhores condições.
Destaca-se, ainda na região, o Parque Nacional de Jurubatiba, criado em 1998, que protege
uma área de 14.000 ha de restinga, abrangendo os municípios de Macaé, Carapebus e
Quissamã.
O Parque Estadual do Desengano é uma dos principais patrimônios naturais da região nor-
te-noroeste do Rio de Janeiro. O relevo do Parque se caracteriza por cristas de topos agu-
çados, pães de açúcar, morros, pontões, escarpas com até 75 graus de inclinação e pata-
mares escalonados. Na paisagem sobressaem o Pico do Desengano, com altitude de 1.761
metros, o Pico São Mateus, com 1.576 metros, e a Pedra Agulha, com 1.080 metros.
A Cordilheira Aymorés compõe uma região de enorme beleza cênica, com grande biodiver-
sidade e recursos hídricos abundantes. Essa cadeia montanhosa está localizada parcial-
mente nos municípios de Macaé, Conceição de Macabu e Trajano de Moraes, numa área
extensa de extrema importância no que diz respeito a corredores ecológicos, a conservação
e a preservação de espécies da fauna e da flora criticamente ameaçadas de extinção, pre-
servação e recuperação de mananciais hídricos. A região possui um enorme potencial para
o desenvolvimento rural sustentável do ponto de vista econômico, social e ambiental, com
perspectivas para criação de Unidades de Conservação de Uso Sustentável e de Proteção
Integral.
As Ilhas Fluviais estão situadas no último trecho do curso médio inferior do Rio Paraíba do
Sul, com cerca de 90 km ao longo dos municípios de Cantagalo, Aperibé, Cambuci e São
Fidélis, além de parte do rio Pomba, em Santo Antônio de Pádua, abrangendo cerca de 60
ha, envolvendo o arquipélago e as margens (APP) dos Rios Paraíba do Sul e Pomba (Cam-
phora, 2009 b). Segundo Camphora (2009 b), a importância ecológica conferida ao domínio
das Ilhas Fluviais deve-se ao fenômeno de regulação da vazão hídrica do rio, através das
sinuosidades proporcionadas pela formação das ilhas, e pela cobertura vegetal singular que
decorre da interação entre os solos, o clima e a disponibilidade hídrica subterrânea, a mata
ciliar, que abriga espécies da fauna e flora ameaçadas.
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 391
Foto 17 – Regiões Norte e Noroeste Fluminense, Municípios de Aperibé, Cambuci, São Fidélis
e Santo Antônio de Pádua, Ilhas Fluviais
Na divisa de Minas Gerias com o Rio de Janeiro, no município de Porciúncula, está a ca-
choeira de Três Tombos, sendo esta a mais imponente da região, com queda d’água de 75
m. de altura. Suas águas são limpas e frias e descem a cachoeira em grande volume, fato
este, que permite banhos somente 100 m. após a queda d’água. Á área da cachoeira é re-
pleta de árvores de médio a grande porte. Nas proximidades ainda é possível identificar o
prédio da usina hidrelétrica de Tombos, construído em 1922, em estilo neoclássico, além de
uma casa em ruínas, que ajudam a compor a paisagem.
Em Varre-Sai, no rio Prata, está a cachoeira Pedro Dutra, com 100 m. de extensão e pisci-
nas de águas cristalinas esculpidas nas pedras pela força de suas águas. Em sua margem
direita, predomina a presença de vegetação rasteira e gramíneas, já na margem esquerda, a
vegetação é de médio a grande porte, com bambus, embaúbas, palmitos e angicos. Segun-
do a Municipalidade de Varre-Sai (s.d.), a cachoeira Pedro Dutra é um grande atrativo na
região, recebendo turistas durante todas as épocas do ano.
A cachoeira Pedra Rasa, localizada no município de São Fidélis, é uma das cachoeiras mais
belas e maiores (queda de aproximadamente 80 m.) da região, segundo a Prefeitura Muni-
cipal de São Fidélis (2009). Essa cachoeira é ideal para a pratica de “rapel” e alpinismo, a-
lém de banhos, proporcionados pelas diversas piscinas naturais formadas ao longo do leito
do rio.
O rio Valão do Fura Olho, que nasce em Campos, banha o poço Trinta Palmos, em Cardoso
Moreira, que passa por um curioso fenômeno: no período de cheias da nascente do seu rio.
As águas acumuladas na nascente demoram aproximadamente 12 horas para atingir o poço
Trinta Palmos, sendo assim, os efeitos das chuvas em Campos são percebidos somente
horas depois. A água chega com força ao poço, enchendo-o, aumentando o seu volume até
rodopiar e posteriormente seguir rio abaixo. Esse fenômeno dura aproximadamente 40 mi-
nutos, tornando o poço Trinta Palmos um grande atrativo na região.
Em Natividade, destaca-se o Pico Cabo Frio, 810 m. acima do nível do mar. O pico é ade-
quado para escaladas e caminhadas, sendo que no seu topo tem-se uma bela visão do Cris-
to Redentor de Itaperuna e do Pico do Caparaó (MG). Devido à amplitude do Pico Cabo
Frio, o seu topo torna-se propício para a prática de asa-delta.
As Serras da Ventania de Baixo e de Cima, em Miracema, são interligadas por uma estrada
de terra.
Ao longo desse trajeto, o visitante depara-se com belíssimas paisagens, composta por mata
fechada e alguns atrativos, como por exemplo, uma queda d’água de aproximadamente 170
m. de altura, onde a água corre pelo paredão rochoso, ou então, um imenso açude localiza-
do dentro da fazenda Brejo Grande. Seguindo em direção à Serra da Ventania de Cima, é
possível avistar na paisagem fazendas de plantação de café e arroz, além do gado que po-
de estar na estrada.
Em Cardoso Moreira encontra-se a serra do Sapateiro, sendo esta um remanescente de
Mata Atlântica e refúgio de alguns animais. No alto da serra há um lago de aproximadamen-
te 2 m. de profundidade, que pode ser alcançado através de escalada.
A região de Bela Joana, em Campos dos Goytacazes, possui diversos atrativos naturais,
tais como, alguns trechos de remanescentes de Mata Atlântica, belas cachoeiras, monta-
nhas e riachos. O rio Bela Joana possui aproximadamente 18 km de extensão e suas águas
são cristalinas e próprias para o consumo, além ser propício para atividades recreativas.
Dentre as montanhas, destaca-se o pico Peito de Moça, com 700 m. de altitude, que se as-
semelha ao Pão de Açúcar da cidade do Rio de Janeiro. A cachoeira Pedra Rasa, com que-
da d’água de aproximadamente 80 m. de altura é uma das mais belas e maiores da região,
propiciando a pratica de rapel e alpinismo, além de formar várias piscinas naturais ideais
para banhos.
6. RECURSOS HÍDRICOS
O território do Rio de Janeiro, para fins de gestão dos recursos hídricos, encontra-se subdi-
vidido em 10 (dez) Regiões Hidrográficas (RH’s).
As principais bacias hidrográficas localizadas na área de estudo são: a Bacia do rio Paraíba
do Sul, a Bacia do rio Itabapoana, a Bacia do rio Macaé e a Bacia da Lagoa Feia.
A bacia do rio Paraíba do Sul ocupa área de aproximadamente 55.500 km², estendendo-se
pelos estados de São Paulo (13.900 km²), Rio de Janeiro (20.900 km²) e Minas Gerais
(20.700 km²), abrangendo 180 municípios, sendo 88 em Minas Gerais, 53 no Estado do Rio
e 39 no estado de São Paulo. No Rio de Janeiro, a bacia abrange aproximadamente 63% da
área total do Estado.
O rio Paraíba do Sul resulta da confluência, próximo ao município de Paraibuna, dos rios
Paraibuna, cuja nascente é no município de Cunha, e Paraitinga, que nasce no município de
Areias, ambos no estado de São Paulo, a 1.800 m. de altitude, percorrendo 1.150 km até
desaguar no Oceano Atlântico, no norte fluminense, na praia de Atafona no município de
São João da Barra.
• rio Pomba - rio com 300 km de curso; sua foz está próxima a Itaocara, limite entre os
trechos médio e baixo Paraíba;
• rio Muriaé - rio com 250 km de extensão; o curso inferior, em território fluminense, apre-
senta características de rio de planície.
• rio Dois Rios - formado pela confluência dos rios Negro e Grande.
A bacia hidrográfica do rio Itabapoana possui uma área de drenagem de 3.800 km², e inclui
parcelas dos Estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo. A área da bacia no
Estado do Rio de Janeiro é de 1.520 km², correspondendo a 40% do total, e abrange parte
dos municípios de Porciúncula, Varre-e-Sai, Campos e São João da Barra e integralmente
Bom Jesus de Itabapoana (SEMAD, 2001).
O Rio Itabapoana é resultado da confluência dos rios Preto e Verde, tem um curso de 264
km e deságua no Atlântico entre o lago Marabá e a Ponta das Arraias.
Este rio serve de limite entre os Estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo, desde a conflu-
ência do Rio das Onças. Deste ponto até a foz, tem cerca de 180 km de canal sinuoso, e
forma em seu trajeto as cachoeiras de Santo Antônio, Inferno, Limeira e Fumaça, sendo
esta de 100 m de altura. Os principais afluentes do Rio Itabapoana em território fluminense
são: córrego do Pilão, vala Água Preta, córrego do Juvêncio, córrego do Baú, córrego Santo
Eduardo, córrego Liberdade, córrego Pirapetinga, córrego Lambari, córrego Água Limpa,
córrego Santana, ribeirão Varre- Sai, ribeirão da Onça e ribeirão do Ouro (SEMADS, 2001).
Fonte: Rionor
A Bacia Hidrográfica do Rio Macaé abrange uma área de drenagem de 1.765 km², sendo
que 82% do seu território está no Município de Macaé. Esta bacia localiza-se na porção les-
O Rio Macaé desenvolve um percurso de 136 km, tendo suas nascentes na Serra de Macaé
de Cima, a 1.560 m de altitude, no Município de Nova Friburgo e flui no sentido leste-
sudeste até desembocar no Oceano Atlântico, junto à Cidade de Macaé. Apresenta muitas
sinuosidades, com leito pedregoso nas regiões rochosas e acidentadas. Nas zonas baixas e
espraiadas, onde o leito se torna arenoso, encontra-se em grande parte retificado. Os seus
principais tributários são os rios Boa Esperança, Bonito, Sana, Ouriço, D’Anta, Purgatório e
São Pedro e os córregos Santiago e Jurumirim (FGV , 2004).
A bacia hidrográfica da Lagoa Feia compreende uma superfície com cerca de 2.900 km²,
abrangendo parcialmente os municípios de Carapebus, Quissamã, Conceição de Macabu,
Campos dos Goytacazes, Trajano de Morais, Santa Maria Madalena e São João da Barra.
A bacia hidrográfica é formada pelos rios Ururaí e Macabu e por uma intricada rede de ca-
nais de drenagem e córregos. As águas fluem para a Lagoa Feia e daí para o mar através
do Canal das Flechas, via artificial de escoamento construída pelo DNOS, em 1949, que
possui 12 km de extensão e largura original de 120 m, hoje reduzida devido ao assoreamen-
to (SEMADS, 2001).
Criado pelo Decreto Federal nº. 1.842, de 22 de março de 1996, o CEIVAP, ou Comitê para
Integração da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul, é o parlamento onde ocorrem os
debates e decisões descentralizadas sobre as questões relacionadas aos usos múltiplos das
águas da bacia hidrográfica do rio Paraíba do Sul, inclusive a decisão pela cobrança pelo
uso da água na bacia. O Comitê é constituído por representantes dos poderes públicos, dos
usuários e de organizações sociais com importante atuação para a conservação, preserva-
ção e recuperação da qualidade das águas da Bacia (CEIVAP, 2010).
A AGEVAP, Associação Pró Gestão das Águas da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do
Sul, é a Agência da Bacia e exerce funções de secretaria executiva do Comitê, sendo res-
ponsável pela elaboração dos Planos de Recursos Hídricos e pela execução das ações de-
liberadas pelo Comitê para a gestão dos recursos hídricos da Bacia.
O CEIVAP possui sede em Resende/RJ e todos os municípios das regiões Norte e Noroeste
do Estado do Rio de Janeiro, com exceção de Itaocara, Bom Jesus do Itabapoana e Macaé,
fazem parte da área de abrangência desse Comitê.
As diversas entidades ou órgãos criados para atuar nas sub-bacias ou regiões hidrográficas
do Paraíba do Sul são denominados “organismos da bacia”
Nas regiões Norte e Noroeste foram identificados os seguintes organismos da bacia do Rio
Paraíba do Sul:
• Comitê de Bacia da Região Hidrográfica do Rio Dois Rios – CBH - Rio Dois Ri-
os – RJ. Instalado no dia 2/12/2008, com sede em Nova Friburgo, abrange os
municípios de Itaocara e São Fidélis na área de alcance deste Plano.
• Comitê da Bacia da Região Hidrográfica do Baixo Paraíba do Sul CBH Baixo
Paraíba – RJ. Instalado em 19/06/2009, com sede em Campos dos Goytaca-
zes/RJ. Abrange todos os municípios das regiões Norte e Noroeste fluminense,
com exceção de Macaé, Bom Jesus do Itabapoana e Itaocara.
• Consórcio Intermunicipal para Recuperação Ambiental da Bacia do Rio Muriaé
– MG/RJ. Instalado em 2/09/1997, com sede em Muriaé/MG.
• Consórcio Intermunicipal para Proteção e Recuperação Ambiental da Bacia do
Rio Pomba. Instalado em 29/5/1998, com sede em Cataguases/MG.
• Consórcio Intermunicipal para Recuperação Ambiental da Bacia do Baixo Muri-
aé, Pomba e Carangola - CIRAB - MG/RJ, com sede em Muriaé/MG.
• Consórcio de Municípios e de Usuários da Bacia do Rio Paraíba do Sul para a
Gestão Ambiental da Unidade Foz. Instalado em 12/12/2003, com sede em
Campos dos Goytacazes/RJ, compreende 11 municípios situados próximos à
foz do Paraíba do Sul.
Comitê das Bacias Hidrográficas dos Rios Macaé e das Ostras
O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Macaé foi instituído a partir do Decreto Estadual n°
34.243/03, de 4 de Novembro de 2003, com a área de atuação compreendendo totalidade
das bacias hidrográficas dos rios Macaé, Jurubatiba, Imboassica e da lagoa de Imbaossica.
400 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
A bacia hidrográfica do rio das Ostras foi incorporada a partir da Resolução n° 18 do CERHI-
RJ, de 8 de novembro de 2006.
O CBH Macaé e das Ostras possui sede em Rio das Ostras e compreende o município de
Macaé na área de alcance do Plano de Desenvolvimento Sustentável.
O Consórcio foi instituído em julho de 1997 e sua sede está localizada em Bom Jesus do
Itabapoana. Dentre os municípios das Regiões Norte e Noroeste fluminense, Porciúncula,
Varre-Sai, Bom Jesus do Itabapoana, Campos dos Goytacazes e São Francisco do Itabapo-
ana são membros desse consórcio.
A disponibilidade hídrica nos pontos de interesse foi calculada a partir das equações defini-
das nos estudos de regionalização hidrológica de vazões médias de longo período (QMLT) e
de vazões com 95% de permanência no tempo (Q95%), desenvolvidos pela CPRM.
Na área de estudo foram analisados 5 (cinco) pontos, sendo estes: Rio Paraíba do Sul a
Montante da Confluência do Rio Pomba, Foz do Rio Pomba, Foz do Rio Dois Rios, Foz do
Rio Muriaé e Foz Paraíba do Sul.
Reis et alii (2008) buscou apresentar indicadores regionais para avaliar o regime de vazões
da Bacia Hidrográfica do Rio Itabapoana.
Nesse estudo, foram apresentados os valores de vazão média, mínima e máxima para 6
(seis) estações fluviométricas dessa bacia. Duas destas estações estão localizadas na área
de estudo.
Área de Extensão da
Postos Altitude
Rio Drenagem Latitude Longitude Série Histórica
Fluviométricos (m)
(km²) (anos)
Ponte do
Itabapoana 2.854 -21°12' 22" -41°27' 46" 40 72
Itabapoana
Santa Cruz Itabapoana 3.781 -21°13' 21" -41°18' 31" 15 31
Fonte: Reis et. al. (2008)
As duas estações estão localizadas no município de Mimoso do Sul/ES, na divisa com o
município de Bom Jesus Itabapoana. A estação Ponte do Itabapoana está situada no trecho
entre os rios Calçado e Muqui do Sul e a estação Santa Cruz entre o rio Muqui do Sul e a
foz do rio Itabapoana.
A Tabela seguinte apresenta os valores de vazão obtidos através da análise da série históri-
ca de cada uma das estações fluviométricas. Estão expressos os valores de vazão média de
longo termo, vazão mínima média com 7 dias de duração e um período de retorno de 10
anos (Q7,10), vazão mínima com 95% de permanência (Q95), vazão média de enchente, com
período de retorno de 2 anos (Qcm) e vazão máxima para um período de retorno de 100 anos
(Q100)
Tabela 8 – Disponibilidade Hídrica no Rio Itabapoana
A presença de intenso falhamento nas rochas da Região Noroeste do Estado, causado pe-
los eventos tectônicos que condicionaram o curso do Rio Paraíba do Sul e seus afluentes,
favorecem o aquífero fissural tornando as rochas propícias ao armazenamento de águas
subterrâneas (DRM - RJ, 2001).
Nessa região as informações existentes sobre as captações dos poços, indicam que as
mesmas são exclusivamente no aquífero fraturado. Isto não exclui a importância de alguns
aqüíferos superficiais, principalmente pelo fato de que em algumas regiões, apesar do alto
potencial, as águas contidas no aqüífero fraturado podem apresentar teores altos de ferro.
Outro fato importante é a ocorrência de águas minerais carbogasosas, captadas a pequenas
profundidades, provavelmente associadas a aqüíferos rasos (CAPUCCI et al., 2001).
Os principais usos da água identificados na porção da bacia inserida na área de estudo são
referentes ao abastecimento de água doméstico e industrial, à diluição de despejos domés-
ticos e industriais, à dessedentação animal e à irrigação.
Nos estudos realizados pelo LABHID (2006) foram calculadas as demandas hídricas na ba-
cia do rio Paraíba do Sul para fins de saneamento, uso industrial e agropecuária, referentes
ao ano de 2005.
- Saneamento
A maior parte dos municípios e distritos das regiões Norte e Noroeste do Rio de Janeiro
possuem sistemas de abastecimento de água, atendendo índices entre 85 e 90% da popu-
lação.
Entretanto, o Paraíba do Sul e seus afluentes são os corpos receptores dos efluentes urba-
nos da bacia e, dessa forma, utilizados como meio de diluição. A ausência de tratamento
dos esgotos domésticos na maioria das cidades constitui um dos principais fatores de de-
gradação da qualidade dos recursos hídricos e, ainda, de riscos à saúde da população
(LABHID, 2001).
0 a 10.000 165
10.000 a 50.000 196
50.000 a 100.000 211
100.000 a 200.000 221
200.000 a 1.000.000 251
Fonte: LABHID, 2006
A vazão captada foi calculada pelo produto da população urbana atendida pelo consumo per
capita, pelo coeficiente do dia de maior consumo (K1=1,2) e pelo índice de perdas (20%),
considerando um índice de atendimento do sistema de abastecimento público de 95%.
População
Q captada Q consumida
Trechos/Sub-bacias Beneficiada
(m³/s) (m³/s)
(95% de 2005)
Bacia do Rio Pomba 469.292 1,49 0,3
Bacia do Rio Muriaé 309.314 0,99 0,2
Bacia do Rio Dois Rios 211.128 0,71 0,14
Bacia do Paraíba do Sul das fozes dos Rios Parai-
86.963 0,26 0,05
buna Mineiro e Piabanha até a foz do Rio Pomba
Bacia do Paraíba do Sul a jusante da foz do Rio
Pomba até a foz do Paraíba do Sul, excluindo as 356.194 1,43 0,29
bacias dos Rios Dois Rios e Muriaé
Fonte: LABHID, 2006
- Uso Industrial
Na área de alcance do Plano de Desenvolvimento Sustentável, as indústrias sucro-
alcooleiras da Baixada Campista destacam-se na utilização de água para fins industriais.
Para a estimativa da demanda hídrica para fins industriais, segundo LABHID (2006), foi soli-
citada à FIRJAN a relação das indústrias instaladas no território da bacia. A partir das rela-
ções das indústrias foi definido o universo das principais indústrias relativamente ao uso dos
recursos hídricos, utilizando-se, como critério de escolha, as maiores geradoras de DBO e
as de maior porte (LABHID, 2006).
A quantificação das indústrias alocadas nas sub-bacias que atingem a área de alcance des-
se Plano está indicada na Tabela a seguir.
Tabela 12 – Quantidade de Indústrias por Sub-bacia
O cálculo da demanda hídrica para o setor agropecuário envolveu a estimativa das vazões
de captação e consumo para a irrigação e a criação animal.
As principais áreas irrigadas na área de estudo estão localizadas na Baixada Campista e
nas margens dos rios Paraíba do Sul, Pomba e Muriaé.
Para se obter as demandas hídricas as áreas irrigadas foram multiplicadas pelas vazões
específicas de captação e consumo do Estado do Rio de Janeiro, que correspondem, res-
pectivamente, a 0,46287 l/s/ha irrigado e 0,26424 l/s/ha irrigado. Os valores obtidos para os
trechos e sub-bacias inseridos nas regiões Norte e Noroeste estão expressos na Tabela a
seguir .
adotando que para cada BEDA são captados 100l/dia e destes, 50 l são consumidos.
Para o cálculo do efetivo dos rebanhos em BEDAS foi utilizada a Pesquisa Pecuária Munici-
pal do IBGE de 2000, que fornece o número de cabeças por tipo de rebanho e por municí-
pio.
Os valores obtidos para fins de criação animal na porção em estudo da bacia do rio Paraíba
do Sul estão expressos na Tabela seguinte.
A Tabela a seguir foi elaborada de modo a consolidar a demanda de água em 2005 para
cada setor e por sub-bacia ou trecho de rio, relativas à captação e ao consumo. As deman-
das dos diferentes setores são comparadas com a disponibilidade hídrica da bacia (Q95).
Destaca-se que os valores indicados nos trechos do rio Paraíba do Sul são cumulativos dos
trechos à montante.
Tabela 16 – Demanda Hídrica Total e Disponibilidade Hídrica nos Trechos em Estudo da Bacia
do Rio Paraíba do Sul
Saneamento Indústria Agropecuária Total
Q Q Q Q Q Q Q Q Disponibilidade
Trechos/Sub-bacias
captada consumida captada consumida captada consumida captada consumida Hídrica (Q95)
(m³/s) (m³/s) (m³/s) (m³/s) (m³/s) (m³/s) (m³/s) (m³/s)
Rio Paraíba do Sul a
montante da confluên- 13,37 2,67 13,03 5,97 23,26 14,86 49,66 23,5 198,77
cia com o rio Pomba
Foz do Rio Pomba 1,49 0,30 0,2 0,06 6,84 4 8,53 4,36 50,22
Foz do Rio Dois Rios 0,71 0,14 0,1 0,03 3,5 1,98 4,31 2,16 16,75
Foz do Rio Muriaé 0,99 0,20 0,02 0,01 7 4,01 8,02 4,22 28,79
Foz do Rio Paraíba do
17,99 3,60 15,33 7,27 53,15 31,98 86,47 42,85 311,85
Sul
Fonte: LABHID, 2006
- Pesca e aqüicultura
A atividade pesqueira desenvolve-se principalmente no baixo curso dos rios Paraíba do Sul,
Muriaé e Dois Rios, onde se estende vasta planície com vários ambientes lacustres, restin-
gas e manguezais. A pesca é exercida de forma artesanal, com parte da produção destina-
da ao consumo e a comercialização do excedente.
No trecho que abrange o final do curso médio inferior do rio Paraíba do Sul, no município de
Itaocara, até a sua foz, HABTEC (2007) identificou 1.643 pescadores.
Dentre os estudos feitos em relação à ictiofauna do rio Paraíba do Sul, destaca-se o de Bi-
zerril (1998). De acordo com esse estudo, no trecho que compreende a foz do rio Paraíba
do Sul até a desembocadura do rio Muriaé, foram identificadas 68 espécies de peixes, 66
entre a desembocadura do rio Muriaé e a desembocadura do rio Dois Rios e 64 entre a de-
sembocadura do rio Dois Rios até a cidade de São Sebastião do Paraíba, logo a montante
do município de Itaocara (HABTEC, 2007). Segundo RIO DE JANEIRO (s.d.), 42 dessas
espécies são economicamente relevantes.
Segundo HABTEC, (2007), os pescadores locais afirmam que a quantidade de pescado tem
diminuído, sendo as principais causas da queda na produção aquelas relacionadas à degra-
dação ambiental (ocasionada pela destruição das matas ciliares, poluição industrial proveni-
Além disso, segundo o Projeto Piabanha (2007), a pesca vem sendo realizada de forma
desorganizada e impactante, exercendo um esforço de captura em estoques de espécies
ameaçadas de extinção, tais como a piabanha (Brycon insignis), o caximbau-boi (Pogono-
poma parahybae), o surubim-do-Paraíba (Steindacneridion paraybae) e a lagosta-de-são
fidélis (Machrobachium carcinus).
- Navegação
Com relação à navegação, a bacia do rio Paraíba do Sul não apresenta boas condições de
navegabilidade nem registra tradição no transporte fluvial.
Apenas o trecho do rio Paraíba do Sul entre São Fidélis e a foz, numa extensão de 90 km, é
considerado navegável. A areia é a principal carga transportada nesse trecho.
Ainda no Paraíba do Sul, próximo ao local previsto para implantação da AHE Barra do Pom-
ba, estão previstos outros dois empreendimentos hidroenergéticos: a Usina Hidrelétrica Ita-
ocara, situada à montante, com potência instalada de 195 MW, pertencente a LIGHT Servi-
ços de Eletricidade Ltda, e o AHE Cambuci, situado à jusante, com potência instalada de 50
MW, empreendimento de interesse da E.P. Santa Gisele Ltda (HABTEC, 2007).
Os principais usos da água nessa bacia são abastecimento público, irrigação e geração de
energia elétrica. Entretanto outros usos como pesca artesanal e recreação também foram
identificados.
- Abastecimento Público
- Pesca Artesanal
Foram identificadas apenas atividades de pesca artesanal no âmbito da bacia do rio Itaba-
poana. As principais colônias de pescadores identificadas estão situadas em Bom Jesus do
Itabapoana e São Francisco do Itabapoana.
- Uso urbano/doméstico
Aproximadamente 89 % dos municípios dessa bacia são atendidos pelo sistema de abaste-
cimento de água público, sendo o consumo per capita em torno 275 l/hab/dia.
- Uso Industrial
- Uso agrícola
A Região Noroeste do Estado do Rio de Janeiro vem sofrendo sérias restrições de abaste-
cimento de água para consumo humano e animal, em função da escassez hídrica dos últi-
mos anos. O desmatamento excessivo das florestas, o uso e o manejo inadequado dos so-
los conduziram a processos erosivos, tornando o solo menos permeável (MORAES, 2007).
Outro fator que contribui para esse cenário é a baixa e mal distribuída precipitação pluvio-
métrica, que é concentrada nos meses de verão, fazendo com que rios, córregos e poços
rasos da região sequem durante a maior parte do ano.
Dessa forma há um prejuízo em relação à plena recarga dos sistemas hídricos, levando ao
desaparecimento de rios temporários, ao assoreamento dos rios e desaparecimento de nas-
centes, o que compromete a manutenção dos ecossistemas e a produção agropecuária da
região.
Uma das regiões que se caracteriza pela escassez hídrica é o município de São José do
Ubá que, em 1999, decretou estado de calamidade pública em razão da estiagem. A estia-
gem causou grandes transtornos, influenciando diretamente a queda na produtividade agrí-
cola.
Os principais conflitos por uso da água nas regiões Norte e Noroeste do Estado do Rio de
Janeiro ocorrem na Baixada Campista.
Essas características fazem com que qualquer assoreamento ou entupimento no leito dos
canais comprometa o deslocamento do fluxo hídrico em direção a áreas interiores gerando
Nos períodos de seca, o baixo nível d’água do rio Paraíba do Sul impossibilita a adução de
água para os canais, comprometendo o abastecimento das propriedades rurais e provocan-
do quedas na produção de alimentos e pecuária. A forte redução da oferta de água para os
canais tem também como conseqüência imediata o aumento do nível da poluição hídrica, já
que os canais são receptores do lixo e do esgoto lançados na área urbana de Campos
(Carneiro, 2004).
O manejo das comportas também é responsável pelo conflito entre pescadores, agricultores
e usineiros.
As obras realizadas pelo DNOS modificaram a dinâmica das lagunas costeiras da Baixada
Campista e as ligações dessas lagoas e lagunas com o mar foram fechadas. Os canais arti-
ficiais passaram a recolher as águas que convergiam para o mar e conduzi-las para o Canal
da Flecha na Barra do Furado. Devido ao risco de salinização das terras, que segundo os
proprietários rurais, prejudica a qualidade do solo, esta classe reivindica que as comportas
que ligam o Canal da Flecha e as lagunas permaneçam fechadas. Em contrapartida, para os
pescadores a comunicação das lagoas costeiras com o mar é fundamental para a renova-
ção do estoque pesqueiro. Dessa forma, o manejo das comportas com o intuito de impedir a
entrada da cunha salina é objeto de disputa entre pescadores e proprietários rurais, que
buscam operá-las diretamente, ou pressionam os órgãos públicos a fazê-lo de acordo com
seus interesses.
Fonte: Rionor
Entretanto, de acordo com Carneiro (2004), um estudo realizado pela prefeitura de Campos
constatou que a salinização das terras não se deve à penetração da cunha salina pela barra
do Furado. Ao contrário, o aumento da salinidade provém de pólo oposto, em decorrência
A entrada de água doce no Domínio dos Corpos Lagunares também é fonte de um conflito
entre pescadores e usineiros. Segundo HABTEC (2007), durante o período das cheias,
quando o rio Paraíba do Sul promove o fenômeno da piracema, parte dos ovos, larvas, e
pós-larvas está sendo barrada pelas comportas implantadas pelos usineiros para drenagem
do terreno marginal aos cursos d’água ou lagoas, visando ampliar as áreas de cultivo. Des-
sa forma, as comportas impedem a renovação do estoque pesqueiro e seu manejo gera
conflitos entre a classe usineira e a pescadora.
6.10 Enchentes
As cheias dos rios Pomba, Carangola, Muriaé e Paraíba do Sul, são um problema constante
para grande parte dos municípios das regiões Norte e Noroeste do Estado do Rio de Janei-
ro.
O rio Muriaé é um dos principais afluentes do rio Paraíba do Sul com extensão de aproxi-
madamente 300 km e área de drenagem de 8.230 km². O rio nasce no Estado de Minas
Gerais e, quando atinge o território fluminense passa pelo núcleo urbano de Lajes do Muriaé
e, mais a diante, recebe a contribuição do rio Carangola, um dos seus principais afluentes.
Essa região se caracteriza por um relevo acidentado, com a presença de várzeas onde são
praticadas atividades de agropecuária.
O principal núcleo urbano situado às margens do rio Muriaé, no Estado do Rio de Janeiro, é
Itaperuna. A jusante desse Município, estão situadas as cidades de Italva e Cardoso Morei-
ra, também localizadas às margens do rio Muriaé. De Italva até sua foz, o Muriaé percorre
uma região plana, com áreas de planície de inundação do rio nas épocas de cheia.
Em todos esses municípios pode ser constatada a ocupação irregular nas faixas marginais
dos rios Carangola e Muriaé, sendo este um dos principais fatores agravantes das cheias.
Fonte: Rionor
Foto 23 – Região Noroeste Fluminense, Itaperuna, Rio Muriaé, Faixa Marginal Ocupada na Área
Urbana e Desprovida de Mata Ciliar na Área Rural
Outro fator que contribui para o agravamento das enchentes nessa região é a descaracteri-
zação da mata ciliar dos rios Muriaé (Foto anterior) e Carangola. A ausência de mata ciliar
acaba por aumentar o assoreamento dos rios, diminuindo sua profundidade, além de dimi-
nuir a capacidade de infiltração da água no solo, aumentando o escoamento superficial.
Em 1997, ocorreu uma cheia com período de retorno estimado em 50 anos, quando os ní-
veis d’água ultrapassaram todos os registros anteriores. Nessa ocasião, as cidades mais
atingidas foram Cardoso Moreira, Italva, Itaperuna, Porciúncula, Natividade e Laje do Muria-
é. Os municípios de Cardoso Moreira e Italva ficaram com 95% do seu território embaixo
d’água, e em Itaperuna, as inundações superaram a altura de 1,0 m nas áreas centrais.
Nos últimos anos, as cheias do rio Muriaé e Carangola continuam castigando a região. No
ano de 2007, a barragem da Mineradora Rio Pomba Cataguases rompeu, devido às fortes
chuvas que atingiram a região, resultando no derramamento de rejeitos de bauxita para a
calha fluvial do rio Muriaé.
Nos anos de 2008 e 2009, também foram registradas fortes inundações, atingindo princi-
palmente os municípios de Lajes do Muriaé, Itaperuna, Cardoso Moreira , Italva, Porciúncula
e Natividade. No início de 2009, o município de Porciúncula ficou ilhado, com as vias de
acesso intransitáveis e sem abastecimento de água tratada. Em Cardoso Moreira foi decre-
tado estado de calamidade pública e Itaperuna, Laje do Muriaé, Italva, Porciúncula e Nativi-
dade se encontravam em situação de emergência.
Fonte: Rionor
Rio Pomba
O rio Pomba também nasce no Estado de Minas Gerais, na Serra da Mantiqueira, e percorre
265 km até desaguar no rio Paraíba do Sul.
A bacia do rio Pomba abrange três municípios do Noroeste Fluminense, sendo estes: Mira-
cema, Santo Antônio de Pádua e Aperibé.
As cheias do rio Pomba atingem, em geral, a população ribeirinha, invasora da calha do rio.
Somente nas cheias excepcionais, parcelas das áreas urbanas consolidadas em níveis mais
altos são invadidas pelas águas (LABHID, 2006). Na área de estudo, os municípios de Ape-
ribé e Santo Antônio de Pádua estão localizados nas margens do rio Pomba e, portanto, são
os mais afetados pelas cheias.
414 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
Segundo LABHID (2006), as cheias que hoje ocorrem na bacia do rio Pomba são significati-
vamente mais brandas do que às da bacia do Muriaé, possivelmente, devido à contribuição
dos reservatórios existentes ao longo da bacia do rio Pomba.
Entretanto, segundo a ANA (2009), em dezembro de 2008, o nível do Rio Pomba em Santo
Antônio de Pádua subiu 3,50 m. acima do nível normal em dois dias. Cerca de 80% do mu-
nicípio ficaram alagados. O centro da cidade ficou totalmente debaixo d’água. O Município
teve cerca de 400 desabrigados, e quase 20 mil desalojados.
Rio Paraíba do Sul
De acordo com LABHID (2006), deve ser ressaltada a importância do guarda-corpo em con-
creto, com crista na cota 11,5 m (IBGE), bem como o dique de terra que se estende até São
João da Barra para a defesa da cidade de Campos durante as cheias do rio Paraíba do Sul.
Figura 3 – Diques e Tomadas D’água Construídos no Baixo Paraíba do Sul
Nas épocas de chuvas intensas, a elevação do nível das águas determina a necessidade de
um eficiente manejo das comportas de adução e controle, a fim de regular o nível dos canais
e evitar represamentos e inundações. Entretanto, tais estruturas hidráulicas estão abando-
nadas e, em muitos casos são controladas por proprietários rurais ou usineiros, de acordo
com seus interesses. A construção de diques irregulares, por parte dos proprietários rurais,
também contribui para o agravamento das enchentes, pois estas estruturas dificultam o es-
coamento da água nos canais.
Outro grande problema da rede de canais se refere a sua manutenção. O controle das cotas
de fundo, da vegetação aquática e dos taludes exige equipamentos de grande porte (esca-
vadeiras hidráulicas e mecânicas), além de mão-de-obra treinada e experiente. Associado a
esses problemas, os canais também sofrem o agravante de terem seus fluxos comprometi-
dos pela deposição de lixo e esgotos urbanos e industriais, o que compromete ainda mais
seu correto funcionamento (Mendonça et al., 2007)
A gestão inadequada desse sistema hídrico causa sérios transtornos à população rural e
urbana da região. Segundo Oliveira et al. (2007), segmentos sociais ligados ao setor agroin-
dustrial emitiram uma nota à imprensa apresentando os danos causados pelas enchentes
no setor agrícola de Campos nos últimos anos. No ano agrícola 2000/2001, estimou-se per-
das de 40% e 45% na produção dos setores agroindústria canavieira e pecuária leiteira,
respectivamente. Em 2005, foram esmagadas 5.478.440 toneladas de cana-de-açúcar. Com
a enchente de janeiro de 2007, a região, com cerca de 100 mil ha de cana-de-açúcar plan-
tada, teve pelo menos 50% desta área atingida, com probabilidade de serem perdidos.
Outro fator contribuinte para o agravamento das cheias na Baixada Campista é o processo
de assoreamento contínuo da Lagoa Feia, associado à eutrofização de suas águas pelo
despejo de matéria orgânica e fertilizantes químicos usados na lavoura. Esses fatores são
responsáveis pela redução da profundidade da lagoa, que cumpre o papel de um grande
estabilizador de águas para a planície fluviomarinha.
O início da cobrança pelo uso da água, a nível regional, e a mobilização para criação de
comitês de bacia visando a aplicação dos recursos arrecadados em sua área de atuação
demonstraram a necessidade de ações de fortalecimento e capacitação do órgão gestor dos
recursos hídricos estaduais, função desempenhada pela então Fundação Superintendência
Estadual de Rios e Lagoas, SERLA.
Este Convênio foi firmado em 13 de dezembro de 2004 e teve seu prazo de vigência com
término, em 31 de dezembro de 2008.
Tal adesão foi vista como um primeiro passo na implementação do Sistema Estadual de
Informações sobre Recursos Hídricos, SEIRH. Este sistema de informações tem como meta
a integração da disponibilidade hídrica e os instrumentos de outorga e cobrança com o
CNARH, englobando todas as etapas de monitoramento, regularização, uso e gestão inte-
grada dos recursos hídricos.
Os repasses do Convênio, previstos para a fase final de implantação do SEIRH, não foram
efetuados devido ao seu término. Para garantir a continuidade do trabalho executado, foram
obtidos recursos junto ao Fundo Estadual para Conservação Ambiental e Desenvolvimento
Urbano, FECAM.
Na tratativa referente aos canais da Baixada Campista, foi contratado um estudo junto à
Fundação COPPETEC, de forma a diagnosticar a sua situação atual e propor um arranjo
institucional para a gestão sustentável dos sistemas de drenagem, irrigação e outros usos,
visando sua adequada operação e manutenção, de forma a atender os usuários da região.
O estudo indica que o Comitê de Bacia é a instância mais adequada para a construção do
pacto em torno das diretrizes de utilização de recursos hídricos dos canais. O Comitê de
Bacia da Região Hidrográfica do Baixo Paraíba do Sul, instituído recentemente, terá o papel
de administrar esse sistema hídrico.
Dessa forma, segundo o INEA (2009 a), o Comitê de Bacia de Região Hidrográfica do Baixo
Paraíba do Sul, RH IX, iniciará as suas atividades contando com um diagnóstico claro e pre-
ciso sobre um dos principais conflitos envolvendo diversos usos e usuários localizados em
sua área de abrangência, incluindo ainda sugestões de arranjos institucionais para a gestão
da infraestrutura deixada pelo DNOS.
Concorrência n° 005/ANA/2009
Segundo a ANA (2009), os principais objetivos a serem alcançados nesses estudos são:
A COPPE/UFRJ foi contratada pelo INEA e elaborou um projeto apresentando soluções es-
truturais definitivas para a recuperação do sistema de canais da Baixada Campista e das
margens direita e esquerda do Rio Paraíba do Sul.
A primeira etapa das obras contemplará apenas o subsistema São Bento e serão investidos
R$ 97 milhões, com recursos do PAC Drenagem, advindos do Ministério da Integração Na-
cional.
O início das obras está previsto para 2010, após a concessão da licença ambiental.
Os principais serviços a serem executados são: a manutenção dos canais através de limpe-
za e remoção de vegetação aquática, dragagens para regularização do fundo e alargamento
de margens em determinados trechos, construção de um vertedouro estabelecendo um ca-
nal de comunicação entre os canais São Bento e Quitinguta, e a recuperação das compor-
tas.
Além das obras estruturais, o INEA está contratando a COPPE/UFRJ para a elaboração de
um projeto de gestão dos recursos hídricos da Baixada Campista incorporando medidas a
serem executadas nas épocas de seca.
7. LEGISLAÇÃO AMBIENTAL
Unidades de Conservação
• Lei Estadual n° 1.681 de 19 de julho de 1990, que dispõe sobre a elaboração do
Plano Diretor das áreas de proteção ambiental criadas no Estado, e dá outras pro-
vidências;
• Lei Estadual n° 2.393, de 20 de abril de 1995, que dispõe sobre a permanência de
populações nativas residentes em Unidades de Conservação do Estado do Rio de
Janeiro;
• Lei Estadual n° 3.443, de 14 de julho de 2000, que regulamenta o art. 27 das dispo-
sições transitórias e os art. 261 e 271 da Constituição do Estado do Rio de Janeiro,
estabelece a criação dos Conselhos Gestores para as Unidades de Conservação
estaduais, e dá outras providências.
Área Litorânea
• Lei Estadual n° 1.807, de 3 de abril de 1991, que dispõe sobre a criação dos “Par-
ques das Dunas” em todo o Estado;
• Lei Estadual n° 1.864, de 5 de outubro de 1991, qu e dispõe sobre a colocação de
placas informativas, nas praias do Estado do Rio de Janeiro;
• Lei Estadual n° 3.832, de 13 de maio de 2002, que institui o Dia Estadual de Limpe-
za das Praias no Estado do Rio de Janeiro.
Turismo
• Lei Estadual n° 921, de 11 de novembro de 1985, qu e dispõe sobre a instituição
dos atrativos e das áreas estaduais de interesse turístico e dá outras providências;
• Lei Estadual n° 3.392, de 3 de maio de 2000, que a utoriza a Turis-Rio a realizar
projeto de ecoturismo na Serra da Bela Joana, em São Fidélis;
• Lei Estadual n° 4.616, de 11 de outubro de 2005, q ue cria a certificação do ecotu-
rismo e do turismo ecológico.
Pesca
• Lei Estadual n° 2.423, de 17 de agosto de 1995, qu e disciplina a pesca nos cursos
d’água do Estado do Rio de Janeiro e dá outras providências;
Recursos Hídricos
• Lei Estadual n° 650, de 11 de janeiro de 1983, que dispõe sobre a política estadual
de defesa e proteção das bacias fluviais e lacustres do Estado do Rio de Janeiro;
• Lei Estadual n° 940, de 17 de dezembro de 1985, qu e dispõe sobre a preservação
da coleção hídrica e o tratamento de águas residuárias e resíduos provenientes de
indústrias sucro-alcooleiras das regiões canavieiras do Estado do Rio de Janeiro;
• Lei Estadual n° 1.803, de 25 de março de 1991, que cria a taxa de utilização de
recursos hídricos de domínio estadual, TRH;
• Lei Estadual n°2.661, de 27 de dezembro de 1996, q ue regulamenta o dispositivo
no art. 274 (atual 277) da Constituição do Estado do Rio de Janeiro no que se refe-
re à exigência de níveis mínimos de tratamento de esgotos sanitários, antes de seu
lançamento em corpos d’água e da outras providências;
• Lei Estadual n°2.717, de 24 de abril de 1997, que proíbe a construção, a qualquer
título, de dispositivos que venham a obstruir canais de irrigação pelo mar, ou alterar
os entornos das lagoas, em suas configurações naturais;
• Lei Estadual n°3.239, de 2 de agosto de 1999, que institui a Política Estadual de
Recursos Hídricos; Cria o Sistema Estadual de Gerenciamento de Recursos Hídri-
cos; Regulamenta a Constituição Estadual em seu art. 261, parágrafo 1º, inciso VII
e dá outras providências;
• Lei Estadual n°4.051, de 30 de dezembro de 2002, q ue dispõe sobre a criação do
Programa S.O.S Rio Paraíba do Sul, objetivando a sua revitalização, no Estado do
Rio de Janeiro;
• Lei Estadual n°4.247, de 16 de dezembro de 2003, q ue dispõe sobre a cobrança
pela utilização dos recursos hídricos de domínio do Estado do Rio de Janeiro e dá
outras providências;
• Resolução CERHI n°2, de 15 de outubro de 2001, que cria as câmaras técnicas
que menciona no âmbito do Conselho Estadual de Recursos Hídricos e dá outras
providências;
• Resolução CERHI n°5, de 25 de setembro de 2002, qu e estabelece as diretrizes
para a formação, organização e funcionamento de Comitê de Bacia Hidrográfica, de
forma a implementar o Sistema Estadual de Gerenciamento de Recursos Hídricos;
• Resolução CERHI n°6, de 29 de maio de 2003, que di spõe sobre a cobrança pelo
uso de recursos hídricos nos corpos hídricos de domínio do Estado do Rio de Ja-
neiro integrantes da bacia hidrográfica do rio Paraíba do Sul;
• Resolução CERHI n°7, publicada como Deliberação/CE RHI-RJ n° 1 de 1º de julho
de 2003, que dispõe sobre os procedimentos e estabelece critérios gerais para ins-
talação e instituição dos comitês de bacias hidrográficas;
• Resolução CERHI n°18, de 08 de novembro de 2006, q ue aprova a definição das
regiões hidrográficas do Estado do Rio de Janeiro.
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1.2 Potencialidade Mineral das Regiões Norte e Noroeste Fluminense ..................... 445
4.1.3 Linha de Transmissão 345 kV, UTE Porto do Açu – Campos dos Goytacazes .... 490
6.3 Legislação Ambiental dos Municípios da Região Norte e Noroeste Fluminense .. 509
7. REFERÊNCIAS.................................................................................................... 562
ANEXOS.............................................................................................................. 567
FIGURAS
GRÁFICOS
Gráfico 1 – Regiões Norte e Noroeste - Proporção das Classes de Vegetação e Uso do Solo
.......................................................................................................................................... 461
Gráfico 6 – Emissões de CO2eq pelos Resíduos Sólidos Urbanos (Gg CO2eq e %).......... 486
Gráfico 7 - Emissões de CO2eq pelo Setor de Tratamento de Resíduos por Região (Gg
CO2eq e %)........................................................................................................................ 487
MAPAS
QUADROS
TABELAS
Tabela 1 - Total de Emissões de Gases Estufes pela Agricultura, Floresta e Outras Uso do
Solo por (Gg) ..................................................................................................................... 485
Tabela 2 - Emissões de Gases Estufa pelos Resíduos Sólidos Urbanos por Tipo de
Disposição e por Região (Gg)............................................................................................ 486
Tabela 3 - Emissões de CO2eq pelos Esgotos Sanitários por Região (Gg CO2eq e %) ..... 487
O mapa geológico integrado do Estado do Rio de Janeiro (Anexo I) apresenta uma notável
compartimentação litológica e tectônica, caracterizando faixas distintas, tais como: Faixa
Costeira, Faixa Norte-Noroeste, Faixa Paraíba, Faixa Serra dos Órgãos, Faixa Ocidental,
Faixa Bacia de Campos. As Faixas como regiões se definem por:
Faixa Norte-Noroeste: ocorre ao norte do Rio Paraíba do Sul. Nesta faixa há predominân-
cia de gnaisses charnockíticos que possuem estrutura maciça, às vezes bandada, e com
cristais de granada.
Os traços gerais da geologia do Estado do Rio de Janeiro foram esboçados por G. F. Rosier
(1965). Mais recentemente, numa compilação e complementação com novos dados, M. J.
Gesteira Fonseca e D.A. Campos (1978) organizaram um mapa geológico na escala de
1:1.000.000 das Folhas Rio de Janeiro - Vitória- Iguape (Carta do Brasil ao Milionésimo)
que, em linhas gerais mostra as mesmas subdivisões já estabelecidas por Rosier, naquilo
que interessa ao Estado do Rio de Janeiro.
Ocorrem duas unidades de relevo no Estado. A Baixada com terras situadas abaixo dos
200m de altitude, e o Planalto com altitudes acima de 200 m.
Baixada
Conhecida como Baixada Fluminense segue todo o litoral ocupando aproximadamente me-
tade da superfície do território. Sua largura varia em determinados pontos, como por exem-
plo, entre a baía de Ilha Grande e Sepetiba, vindo a alargar-se posteriormente de leste até o
rio Macacu.
Hidrografia Regional
O principal rio do Estado do Rio de Janeiro é o Paraíba do Sul; suas nascentes estão situa-
das na porção nordeste do Estado de São Paulo e seu leito é fortemente condicionado pelas
estruturas, orientadas predominantemente no sentido WSW – ENE, seguindo em direção ao
oceano Atlântico, onde desemboca.
A partir do seu curso médio, o rio Paraíba do Sul ocupa um vale instalado na bacia tafrogê-
nica sobre o Gráben homônimo, percorrendo um trecho praticamente retilíneo entre Resen-
de e São Fidélis. Ao longo desse percurso, recebe contribuintes de grande expressão sub-
regional em ambas as margens. Os principais afluentes do Rio Paraíba do Sul são os rios
Piabinha, Piraí e Paraibuna, na margem direita e os rios Pomba e Muriaé, na margem es-
querda.
Além do Rio Paraíba do Sul, há outros rios de importância regional. De norte para sul, des-
tacam-se o Rio Itabapoana, no limite entre os Estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo, o
Rio Macabu, que deságua na Lagoa Feia, o Rio Macaé, o Rio São João, o Rio Guandu e o
Rio Magé.
Muitas lagoas pontuam o litoral, formadas pelo fechamento de baías por cordões de areia.
Lagoa Feia (maior do Estado), Araruama, Maricá e Saquarema estão entre as mais impor-
tantes, além das lagoas de Jacarepaguá, Marapendi e Rodrigo de Freitas situadas na capital
fluminense.
Caracterização Geoambiental
A Região Noroeste do Rio de Janeiro tem apresentado problemas como escassez hídrica e
erosão dos solos, resultantes dos ciclos econômicos e da ausência de práticas de manejo e
conservação de solo. O quadro de degradação ambiental apresenta-se grave, tendo sido
iniciado pela substituição da floresta nativa pelo café, posteriormente, pela pecuária leiteira
extensiva e pela olericultura com destaque para o tomate, alterando a relação solo-água-
planta.
Faixa Litorânea
A expansão acelerada de cidades, como Saquarema, Araruama, Arraial do Cabo, Cabo Frio,
Búzios, Rio das Ostras e Macaé, além de loteamentos indiscriminados, todos assentados
sobre as planícies costeiras, acarreta consideráveis danos ambientais, pois além da destrui-
ção da vegetação de restinga, promovem a contaminação das lagunas costeiras e do lençol
freático, em locais de solos bastante permeáveis (Espodossolos Hidromórficos).
Destacam-se também, em trechos da Baixada Fluminense, os vales dos rios São João, Ma-
caé, Macabu e Imbé, que consistem em extensas áreas inundáveis ladeadas por colinas
isoladas pela sedimentação fluvial. Os baixos vales desses rios consistem de planícies flú-
vio-lagunares ou brejos, bastante inundáveis e aproveitáveis apenas para pecuária extensi-
va.
Os médios cursos, formados por uma sedimentação fluvial e um pouco melhor drenados,
são mais bem aproveitados para agricultura de várzea, desde que seja preservada a mata
ciliar. A exploração de areia para construção civil, com controle ambiental, também é reco-
mendada. Destacam-se também, contrafortes isolados evidenciados pelos maciços de Ma-
caé e de Conceição de Macabu e pelo maciço de Itaocara, que devem ser destinados à pre-
servação ambiental e recomposição florestal.
No Norte Fluminense, destaca-se a Baixada Campista, que constitui uma extensa planície
deltaica, caracterizada por diversos ambientes deposicionais: destacam-se vastos depósitos
flúvio-lagunares ou brejos, no entorno da lagoa Feia. Esses terrenos inundáveis estão sepa-
rados da costa por um cordão arenoso, que se estende em direção à localidade de Farol de
São Tomé. Apresentam solos com altos teores de sais e enxofre (Gleissolos Salinos e/ou
Tiomórficos), sendo, portanto, altamente limitantes às atividades agropecuárias e devem
manter-se preservados, principalmente junto às lagunas e aos banhados.
Junto à foz do rio Paraíba do Sul, desenvolve-se um sistema de cristas de cordões arenosos
em linha de costa progradante, com características similares das planícies costeiras situa-
das na região dos Lagos.
A baixada flúvio-deltaica, construída pelo rio Paraíba do Sul, por sua vez, possui solos me-
lhor drenados e bastante férteis (Neossolos e Cambissolos Flúvicos), adequados para a
expansão das atividades agrícolas.
As restritas e descontínuas planícies fluviais embutidas nos fundos de vales dos rios Pomba,
Muriaé, Itabapoana e tributários principais, apresentam solos de boa fertilidade natural
(Gleissolos e Planossolos Eutróficos), adequados para a agricultura irrigada.
Certas várzeas dos baixos cursos dos rios Paraíba do Sul e Pomba (próximo às localidades
de São Fidélis e Santo Antônio de Pádua) e do rio Muriaé (próximo à localidade de Italva)
apresentam Neossolos Flúvicos salinos inadequados para agricultura. A origem destes solos
salinos não pode ser marinha, pois o nível de base dessas planícies está acima dos máxi-
mos transgressivos registrados no Quaternário Superior.
A extensa região dominada por colinas, morrotes e morros baixos apresenta, em geral, Ar-
gissolos Vermelho-Amarelos e Vermelhos eutróficos, com moderada fertilidade natural, ape-
sar da deficiência hídrica prolongada e o relevo movimentado constituírem importantes fato-
res limitantes às atividades agrícolas. Assim, essas áreas podem ter uma utilização compar-
tilhada entre sistemas silvipastoris e agroflorestais, sendo que as atividades agrícolas com
irrigação devem se restringir a vertentes menos íngremes das colinas, adjacentes às planí-
cies. As pastagens podem ocupar as vertentes mais declivosas das elevações (colinas e
morros).
Outra área de características singulares situa-se num polígono no entorno da cidade de Ital-
va. Neste trecho de colinas e morros, a mata original era composta por floresta caducifólia, o
que denota um elevado “stress” hídrico, no período de estiagem. Este fato decorre da baixa
pluviosidade registrada (em torno de 1.000 mm anuais) aliada à ocorrência de mármores,
cujo intemperismo não favorece a formação de um espesso manto de alteração. Sendo as-
sim, os solos são poucos espessos (Argissolos Vermelhos eutróficos), diminuindo, deste
modo, a capacidade de armazenamento de água no solo.
O relevo colinoso dominante é largamente utilizado por pastagens e pela cafeicultura. Essa
cultura, que devastou o Vale do Paraíba, ainda tem importância econômica no planalto Sul
Capixaba e algumas porções da Zona da Mata mineira. Devido a semelhanças físicas com o
Sul do Espírito Santo, a região de Varre-Sai constitui, atualmente, numa das mais importan-
tes zonas produtoras de café no Estado do Rio de Janeiro. As áreas de morros elevados
apresentam um relevo bem mais movimentado que os terrenos colinosos, sendo, portanto,
indicada sua ocupação para atividades agropastoris.
Por fim, a escarpa degradada do Alto Itabapoana, apresentando vertentes íngremes e des-
nivelamentos de até 600 m, destinada exclusivamente à recomposição da Mata Atlântica,
podendo se excetuar alguns trechos das baixas vertentes, mais suaves e acessíveis, próxi-
mas das localidades de Bom Jesus da Itabapoana, Ourânia e Itaperuna.
“O Estado apresenta graves problemas de ordem sócio-ambiental que precisam ser sana-
dos, tendo em vista a melhoria da qualidade de vida de sua população e, por outro lado,
apresenta uma grande potencialidade de desenvolvimento sócio-econômico, baseado num
planejamento ordenado, visando otimizar a implementação das atividades econômicas, con-
forme as potencialidades e limitações de cada unidade geoambiental em análise por este
estudo (Diagnóstico Geoambiental do Estado do Rio de Janeiro, CPRM)”.
Todavia, grande parte dos terrenos de colinas e morros do Vale do Paraíba do Sul e do No-
roeste Fluminense podem compartilhar sistemas silvipastoris e agroflorestais, respeitando
as limitações naturais de cada tipo de terreno.
Destacam-se neste contexto, os granitos de Campos dos Goytacazes, com 55 direitos mine-
rários (Alvará de Pesquisa), predominando os do tipo intrusivo, representados pelo Granito
Cinza Prata de granulação média, com aspecto de um plúton de feição circular na região de
Ibitioca e o Granito Juparaná Salmão de granulação fina, com aspecto de corpo tabular, de
preenchimento de fratura e ou falha, apresentando feição de possível aplito, ocorrendo na
região de Itereré – Morangaba. Em menor escala, encontra-se nesta região o denominado
Granito Amarelo de granulação fina, sob a forma de aplitos, que cortam a rocha regional
representada pelo Charnockito. Presença de corpos gnáissicos estirados milonitizados, que
são explorados comercialmente com o nome de Granito Santa Cecília Light, nesta mesma
região de Morangaba.
No município de Santo Antônio de Pádua, tradicional produtor de rochas para lajinhas e as-
semelhados, provenientes da milonitização de rochas ortognaissicas e da "Suíte Charnockí-
tica", ocorrem cerca de 36 direitos minerários de Alvarás de Pesquisa e uma Concessão de
Lavra para granitos que recebem a denominação comercial de Granito Floral Pádua Prata e
o Granito Floral Pádua Rosa. Presença de rochas gnaissicas miloníticas, do mesmo tipo das
que ocorrem em Santo Antônio de Pádua, são encontradas em menor incidência nos muni-
cípios de Miracema, Itaperuna e Porciuncula.
No que diz respeito às rochas carbonáticas, utilizadas para fins ornamentais, destacam-se
os mármores do município de Italva, comercialmente denominados Mármore Branco Italva e
Mármore Cintilante, elas são objeto de 9 direitos minerários referentes a Alvarás de Pesqui-
sa e Concessão de Lavra.
As bases da política petrolífera nacional se estabeleceram, então com a Lei n.o 2004, que
criou a Petróleo Brasileiro S.A., PETROBRAS, a qual iniciou suas atividades em outubro de
1953.
A exploração da Bacia de Campos começou no final de 1976, com o poço 1-RJS-9-A, que
deu origem ao campo de Garoupa, situado em lâmina d’água de 100 metros. Já a produção
comercial, começou em agosto de 1977, através do poço 3-EM-1-RJS, com vazão de 10 mil
barris/dia, no campo de Enchova.
Em 1997, o Brasil, através da Petrobrás, ingressou no seleto grupo de 16 países que produz
mais de 1 milhão de barris de óleo por dia. Nesse mesmo ano, em 6 de agosto de 1997, foi
sancionada a Lei n º 9.478, que abriu as atividades da indústria petrolífera no Brasil à inicia-
tiva privada.
Em 2003, coincidindo com a comemoração dos seus 50 anos, a Petrobrás dobrou a sua
produção diária de óleo e gás natural ultrapassando a marca de 2 milhões de barris, consi-
derando a sua produção no Brasil e no exterior.
No dia 21 de abril de 2006, tem início a produção da plataforma P-50, no Campo de Albaco-
ra Leste, na Bacia de Campos, o que permitiu ao Brasil atingir auto-suficiência em petróleo.
Os primeiros anos da década são também marcados pela forte atuação da Petrobras no
sentido de aprimorar suas relações com a sociedade. É o desenvolvimento da empresa-
cidadã, interessada em cumprir profundamente o compromisso da responsabilidade social.
Além de exercer as atividades-fim de produzir, refinar, transportar, distribuir e comercializar
o petróleo e o gás em condições máximas de eficiência e segurança, a Petrobrás passou a
se destacar como a empresa que mais investe no Brasil em projetos sociais, culturais, artís-
ticos e de educação ambiental.
Segundo o seu departamento de Segurança, Meio Ambiente e Saúde, esses centros funcio-
nam como uma espécie de corpo de bombeiros contra vazamentos de óleo, com profissio-
nais de prontidão 24 horas, barcos, balsas, recolhedores e milhares de metros de barreiras
de absorção e contenção de óleo. Além disso, a Petrobrás mantém uma embarcação na
Baía de Guanabara, no litoral de Sergipe e no canal de São Sebastião, em São Paulo, es-
pecializada no controle de vazamentos. Todas as unidades da companhia no Brasil possu-
em Certificado ISO 14001, o que exige a manutenção de sistemas de monitoramento do
impacto de suas atividades.
Atualmente ela opera 112 plataformas de produção, aproximadamente 13.174 poços produ-
tores, com uma produção estimada de 1.978.000 barris por dia e 67 milhões de m³/dia de
gás natural, 16 refinarias com capacidade de processamento primário de aproximadamente
1.937.000 barris por dia e 25.197 quilômetros de dutos (www.petrobras.com.br).
Fonte: www.petrobras..br
Mapa 2 – Bacia de Campos
Fonte: www.petrobras.br
O Pré-Sal
Em 2004, foram perfurados alguns poços em busca de óleo, na Bacia de Santos. É que ali
haviam sido identificadas, acima da camada de sal, rochas arenosas depositadas em águas
profundas, que já eram conhecidas. Em 2006, quando a perfuração já havia alcançado
7.600 m. de profundidade a partir do nível do mar, foi encontrada uma acumulação gigante
de gás e reservatórios de condensado de petróleo, um componente leve do petróleo. No
mesmo ano, em outra perfuração feita na Bacia de Santos, a Empresa e seus parceiros fize-
ram nova descoberta, que mudaria definitivamente os rumos dessa atividade e negócio no
Brasil.
A pouco mais de 5.000 m. de profundidade, a partir da superfície do mar, veio a grande no-
tícia: o poço, hoje batizado de Tupi, apresentava indícios de óleo, abaixo da camada de sal.
O sucesso levou à perfuração de mais sete poços e em todos eles se encontrou petróleo.
Com a experiência adquirida no desenvolvimento de campos em águas profundas da Bacia
de Campos, os técnicos da Petrobrás se mobilizam, neste momento, para implementar os
empreendimentos associados à exploração do pré-sal. Para isso, um intenso programa de
desenvolvimentos complementares e adaptações de tecnologias, soluções de logística,
marco institucional-legal, estrutura negocial e empresarial, entre outros aspectos, tudo isto
está em execução, avançando com o conhecimento acumulado pela Petrobrás, ao longo de
sua existência de conquistas de posições de mercado.
O termo pré-sal, portanto, refere-se a um conjunto de rochas localizadas nas porções mari-
nhas de grande parte do litoral brasileiro, com potencial para a geração e acúmulo de petró-
leo. Convencionou-se chamar de pré-sal porque forma um intervalo de rochas que se esten-
de por baixo de uma extensa camada de sal, que em certas áreas da costa atinge espessu-
ras de até 2.000m. O termo pré é utilizado porque, ao longo do tempo, essas rochas foram
sendo depositadas antes da camada de sal. A profundidade total dessas rochas, que é a
distância entre a superfície do mar e os reservatórios de petróleo abaixo da camada de sal,
pode chegar a mais de 7 km.
Fonte: Ricardo Defeo de Castro e Webster U. Mohriak (PETROBRAS); Felipe Medeiros e Kátia Man-
sur (DRM-RJ)
Entre as questões a serem equacionadas, a pesca constitui uma das atividades mais impac-
tadas pela produção offshore de petróleo e gás. É preciso recuperar a cobertura vegetal
litorânea, e.g., os manguezais, no continente, e formar pesqueiros induzidos fora da rota
offshore. É preciso organizar os pescadores, seus processos ou a cadeia produtiva, incluin-
do a comercialização. É preciso repensar o descarte de resíduos orgânicos e não orgânicos
das plataformas e embarcações em alto mar, permitido por norma internacional, mas que
tem provocado impactos e por isso deve ser mudado. Há também a questão da mão-de-
obra e da atração de pessoal desqualificado, o que tem provocado o surgimento de favelas
em áreas de risco e de preservação ambiental, nas cidades escolhidas estrategicamente
para as operações de exploração em águas continentais.
São novas as regras para exploração e produção de petróleo e gás natural na área de ocor-
rência da camada Pré-Sal e em áreas que venham a ser consideradas estratégicas, envia-
das pelo Executivo do Governo para apreciação do Poder Legislativo, no dia 31 de agosto
de 2009, sob a forma de quatro projetos de lei.
Esses projetos de lei definem o sistema de partilha de produção para a exploração e a pro-
dução nas áreas ainda não licitadas do Pré-Sal; a criação de uma nova estatal (Petro-Sal); a
formação de um Fundo Social; e a cessão onerosa à Petrobras do direito de exercer ativida-
des de exploração e produção (E&P) de petróleo e gás natural em determinadas áreas do
Pré-Sal, até o limite de 5 bilhões de barris, além do modo de capitalização da Empresa. Se a
proposta do Governo for aprovada, o país passará a ter três sistemas para as atividades de
E&P de petróleo e gás natural: concessão, a partilha de produção e a cessão onerosa.
A Petrobrás não irá perfurar os poços sozinha. Das 48 áreas (entre pós-sal e pré-sal) explo-
radas na Bacia de Santos, por exemplo, só em dez essa Empresa detém exclusividade.
Para balizar a discussão sobre a inserção dos grandes empreendimentos, é necessário te-
cer comentários em torno do que sejam suas áreas de influência, inclusive do ponto de vista
conceitual, pois o contexto no qual estão inseridos difere drasticamente de experiências an-
teriores.
Para isso, a essas áreas, somou-se o conceito de Área Diretamente Afetada – ADA, local
efetivamente afetado pelo empreendimento, como será visto a seguir.
Com fins a avaliar os impactos ambientais que causassem algum efeito sobre as condições
de vida humana e a atividades econômicas, especificamente a pesca, a agricultura e a pe-
cuária, o IBGE realizou entre 2000 e 2001, a Pesquisa de Informações Básicas Municipais -
Perfil dos Municípios Brasileiros: Meio Ambiente 2002. Uma extensa pesquisa com os res-
ponsáveis pela gestão municipal na área ambiental dos 5.560 municípios do Brasil, realiza-
da no período de 24 meses.
452 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
As questões ambientais pesquisadas versam sobre três grandes temas: A) impactos ambi-
entais com conseqüências sobre as condições de vida da população; B) alterações no esta-
do do meio ambiente (impactos causados nos recursos ar, água e solo, alteração que tenha
prejudicado a paisagem no município e a degradação de áreas legalmente protegidas); e C)
impactos ambientais que tenham prejudicado as atividades agropecuárias e pesqueiras.
No que se refere às alterações ambientais que causaram algum impacto à atividade pes-
queira, 1.026 municípios brasileiros apontaram a existência de problemas ambientais que
tiveram algum reflexo na atividade. Destes municípios, 75,2% apontaram como principais
causas dos problemas à pesca predatória, 45,5% informaram a degradação das matas cilia-
res e dos manguezais, e 43,4% apontaram assoreamento dos rios. De modo que é impor-
tante ressaltar que os estados do Rio de Janeiro (57,4%) e Espírito Santo (43,9%) lideram,
com os maiores percentuais do país, o número de municípios que apontou problemas ambi-
entais com a pesca.
Por definição e abrangência, a Área Diretamente Afetada (ADA) se localiza inserida na Área
de Influência Direta (AID).
Área sujeita aos impactos diretos da implantação e operação dos empreendimentos, ou se-
ja, aquela na qual ocorrem impactos ambientais de primeira ordem; eventualmente este
marco espacial pode ser definido como área de entorno.
Para cada aspecto ambiental considerado (meio físico, biótico e sócio-econômico), haverá
uma Área de Influência Direta própria. A soma de todas estas áreas indica a AID total do
empreendimento.
Portanto, sua delimitação deverá ser feita em função das características sociais, econômi-
cas, físicas e biológicas das interferências próprias de cada empreendimento, bem como de
suas particularidades.
A Área de Influência Indireta é área sujeita aos impactos indiretos da implantação, operação
do empreendimento, ou seja, aquela na qual ocorrem impactos ambientais, de segunda ou
mais ordens. Para cada parâmetro considerado nos meios físico, biótico e socioeconômico,
haverá uma Área de Influência Indireta. A soma de todas estas áreas indica a Área de Influ-
ência Indireta total dos empreendimentos.
Portanto, sua delimitação deverá ser feita em função das características demográficas, soci-
ais, econômicas, históricas, físicas e biológicas dos sistemas a serem estudados e das par-
ticularidades dos empreendimentos.
Assim, para a demarcação das áreas de influência dos grandes empreendimentos do Norte
e Noroeste Fluminense, foram utilizados os critérios e parâmetros multidimensionais, onde
cada qual se voltou para as especificidades do meio ambiental focalizado. Como conse-
quência, foram demarcadas áreas de influência distintas para os meios físico, biótico e an-
trópico.
Enfatiza-se, porém, que o Norte e Noroeste Fluminense constituem uma área bastante an-
tropizada, com um histórico secular de ocupações produtivas e com relações sociais e tra-
balhistas já consolidadas, bem como uma ampla cadeia produtiva organizada e funcional.
A Área Diretamente Afetada, para o meio físico, é definida pelo perímetro onde se situam as
instalações e demais áreas ocupadas pelo empreendimento e que sofrem interferência física
direta com a implantação das estruturas do projeto.
Compõe-se de toda a área útil do projeto, suas vias de trânsito, rotatórias, elevatórias, pon-
tos de apoio e equipamentos associados aos empreendimentos, áreas de construção e edi-
ficação, especialmente na fase de implantação.
Conforme definição conceitual, esta área encontra-se inclusa à Área de Influência Direta.
Aquela que ocorre nas imediações dos empreendimentos, que poderão sofrer impactos dire-
tos em função da implantação e operação do projeto.
Para tanto, considera-se como importante fator a antropização do entorno urbano e agrário
dos municípios locais, caracterizado por uma ocupação urbana densa no caso de algumas
cidades como Campos e Macaé, já consolidadas, bem como outras que há muito transfor-
maram o espaço rural outrora ali existente, em prol da implantação de cultivos importantes
regionalmente, como o tomate, cana-de-açúcar, eucalipto, fruticultura, mineração, pecuária
bovina e bubalina.
Exceção deve ser feita em relação às possibilidades de acidentes ambientais pontuais, co-
mo derramamentos de petróleo no mar, rompimento de gasodutos e oleodutos e minerodu-
tos, descarrilamento de trens, emissões concentrais em termelétricas, etc.
A Área de Influência Indireta poderá ser delimitada pela soma das Áreas de Influência Direta
às bacias de drenagens onde se inserem os empreendimentos.
Novamente, exceção deverá ser feita no caso dos empreendimentos da Petrobrás, do Porto
do Açu, da Barra do Furado, visto que suas áreas de influência direta constituem o próprio
Oceano Atlântico.
2.5 Área de Influência do Meio Biótico
Por outro lado, constata-se que, exceto naqueles casos em que se conseguiu preservar a
natureza encerrada em unidades de conservação, já não há ambientes naturais no Norte e
Noroeste Fluminense.
Nesse perímetro, os impactos diretos da obra serão sentidos por todos os residentes, bem
como interferirão no funcionamento da infraestrutura, de serviços públicos coletivos, tais
como escolas, unidades de saúde, redes de energia elétrica, água potável, telefonia fixa,
internet via cabo, redes coletoras de esgotos, redes pluviais, rotas e transporte coletivo, etc.
Abrange também aquelas vias que serão utilizadas por ocasião da instalação dos empreen-
dimentos, para o desenvolvimento de atividades típicas da obra, como deslocamento de
veículos para descarte de materiais inservíveis de terraplanagem e entulhos em geral (bota-
fora), transporte de materiais de boa qualidade (empréstimos de solo, rochas etc.), transpor-
te de grandes estruturas, como vigas para pontes, viadutos, dutos em geral (mineroduto,
gasoduto, oleoduto) etc. São, ainda, incluídas nesta tipologia aquelas áreas adjacentes a
essas vias e comunidades adjacentes às jazidas, áreas de descarte, etc.
No meio antrópico, a Área de Influência Direta ou Área de Entorno é aquela que ocorre nas
imediações próximas ao empreendimento, cujas populações e atividades produtivas ou mo-
numentos poderão sofrer impactos diretos e imediatos em função da implantação e opera-
ção dos grandes projetos.
Neste contexto, entende-se que a Área de Influência Direta ou Área de Entorno dos empre-
endimentos do Norte e Noroeste Fluminense pode ser delimitada por um perímetro abran-
gendo todos os municípios atravessados pelos empreendimentos lineares, independente da
Esse critério não contempla o parâmetro distância, tendo em vista que, no contexto regional
do Norte e Noroeste Fluminense, a acessibilidade e a disponibilidade de serviços e recursos
são fatores mais relevantes do que o tempo e o deslocamento.
O caminho para essa atualização prioritária, passa pela elaboração de um plano diretor re-
gional para sistematização de políticas regionais, urbanas e sociais no Norte e Noroeste
Fluminense, notadamente abrangendo e integrando os municípios contíguos, que abrigam
os grandes empreendimentos.
A fragmentação do bioma Mata Atlântica é uma resultante direta da história da ação humana
e tem um marco na conquista do continente sul-americano pelos europeus com a extração
de madeira para exportação e desmatamento para a construção de vilas.
Num momento seguinte, a regionalização e velocidade do desmatamento passam a estar
relacionadas com as necessidades dos ciclos econômicos (da cana-de-açúcar; do ouro; café
e da pecuária). A atração populacional gerada pelo desenvolvimento das atividades econô-
micas acelerou a devastação do bioma Mata Atlântica.
Na Região Sudeste, em 1808, havia cerca de 1 milhão de pessoas; em 1816, 6,4 milhões.
Na segunda metade do século XX, a população brasileira que ocupa as áreas do bioma Ma-
ta Atlântica triplica. Hoje, são 100 milhões de brasileiros que vivem no bioma Mata Atlântica.
O Estado do Rio de Janeiro ainda apresenta grandes manchas de florestas sobre as verten-
tes da Serra do Mar. Sendo que os processos produtivos no entorno desses grandes frag-
mentos provocam impactos ambientais que levam a degradação e perda de remanescentes.
Deve ser ressaltado, que os fragmentos de Mata Atlântica, existentes no Estado do Rio de
Janeiro, são de tamanhos variáveis e com estados de conservação também diversos e ain-
Nessa área fluminense, há amplo domínio das pastagens, classe mais representativa, que
ocupam mais de 60% da superfície total, tendo mais de três vezes a extensão das áreas de
floresta, a segunda classe mais representativa.
As pastagens são ainda mais expressivas espacialmente quando se considera nessa classe
os 3% de pastagens em áreas de várzea, totalizando 63% da área em estudo com cobertura
de pastagens.
Gráfico 1 – Regiões Norte e Noroeste - Proporção das Classes de Vegetação e Uso do Solo
Esse domínio tão amplo das áreas de gramínea, maior até do que o encontrado no Médio
Vale do Rio Paraíba do Sul, relaciona-se, significativamente, com a grande extensão das
áreas de planície e de colinas cujo fácil acesso possibilitou, historicamente, a remoção dos
ecossistemas originais e a introdução de áreas agrícolas e de pastagens.
Um dado relevante neste recorte espacial é a proporção de mais de 11% de cobertura por
agricultura. Trata-se de uma área de cerca de 176.400 ha., dos quais quase 174.800 ha. são
de plantação de cana, concentrada na área do Grupo Barreiras, existente na vasta planície
flúvio-marinha, que engloba o complexo deltaico do Paraíba do Sul, as partes baixas da ba-
cia do Itabapoana e o sistema hidrográfico dos Rios Guaxindiba, Cacimbas e Campelo, tam-
bém uma área de planície.
1
“Análise e Qualificação Sócio-Ambiental do Estado do Rio de Janeiro” – Subsídio ao ZEE – Zoneamento Ecoló-
gico Econômico – Fundação COOPETEC – Volume 1 – Outubro / 2008.
462 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
Gráfico 2 – Proporção de Classes de Conecção Ecológica (Calculado por Domínio Geomorfo-
lógico e Sistema Hidrográfico) na Região em Estudo
Portanto, a interpretação destes resultados permite inferir que as áreas com maior potencial
de ocorrência de processos erosivos estão localizadas nas ocorrências de maior fragmenta-
ção florestal, coincidentemente aquelas que apresentam relevo mais acidentado e maior
declividade, exceto o Delta do Paraíba do Sul em razão do cultivo da cana.
1. O primeiro seria o dos sistemas hidrográficos que drenam para o rio Paraíba do Sul,
que apresentam maior proporção e áreas sujeitas a voçorocamento;
2. O segundo seria o dos sistemas hidrográficos da escarpa da serra do Mar que dre-
nam em direção ao Oceano Atlântico, que apresentam uma maior incidência de fluxo de
detritos e movimentos de massa;
3. O terceiro, o dos sistemas das baixadas, onde praticamente não ocorrem os proces-
sos erosivos principais.
O primeiro grupo engloba os sistemas que drenam o rio Muriaé, Itabapoana, Carangola,
Pomba, e o sistema dos rios Guaxindiba, Cacimbas e Campelo. Esta área tem uma maior
proporção de áreas sujeitas a voçorocamento que as outras, os processos de rastejo tem
certa representatividade e os de fluxo de detritos e movimentos de massa não tem represen-
tatividade em muitos sistemas. Isto é conseqüência da relação entre o relevo da área, pre-
dominantemente colinoso e de planícies fluviais, e a cobertura de vegetação, onde a matriz
principal é de pastagem, que aumenta a susceptibilidade erosiva, com alguns fragmentos
florestais espaçados, e os condicionantes geotécnicos, onde existe um predomínio de mate-
riais argilosos e argilo-arenosos de baixa permeabilidade, que faz com que a maior parte
das áreas sujeitas a voçorocamentos seja de baixa susceptibilidade.
O segundo grupo é composto pelos sistemas hidrográficos do rio Preto, Macaé, Imbé, Ma-
cabu e São Pedro. Nestas áreas predominam os processos de fluxo de detritos e desliza-
mentos e os de voçorocamento também são relevantes. Este padrão é consequência do
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 463
relevo que tem grande proporção de áreas montanhosas de alta energia. Esta área tem uma
grande cobertura de florestas de boa qualidade, o que diminui a susceptibilidade, e os con-
dicionantes geotécnicos dominantes são os materiais espessos e muito espessos de baixa
coesão, que em parte potencializam os processos de voçorocamento e fluxo de detritos.
O terceiro grupo é o dos sistemas de baixada, onde não ocorrem registros de áreas com
susceptibilidade a rastejos e fluxo de detritos, apenas algumas poucas áreas com risco bai-
xo de voçorocamento. Estes são domínios tipicamente deposicionais, sendo assim ambien-
tes de baixa energia. Os ambientes deposicionais e áreas urbanas são mais presentes, o
que diminui o potencial erosivo. Dos condicionantes geotécnicos destacam-se os materiais
de elevada coesão que diminuem a susceptibilidade a erosão. Assim, estes ambientes se
mostram menos susceptíveis à erosão como um todo.
Eventualmente, um solo contaminado por aditivos químicos de uso agrícola poderá, neste
processo, contribuir para a degradação da qualidade de solo e água.
De acordo com Andrade e Silva “a partir da análise dos resultados parciais, é possível iden-
tificar quase um caráter monocultor em Campos dos Goytacazes, modelo este de produção
que exige grande uso de insumos químicos tais como fertilizantes e praguicidas, que podem
vir a aumentar a dispersão e concentração de metais pesados nos solos e águas do Municí-
pio. Analisando os parâmetros físico-químicos das águas fluviais, é possível afirmar que
essas encontravam-se ligeiramente ácidas, com uma tendência à neutralidade. Esta faixa de
variação encontra-se dentro daquela prevista para águas de rios”2. Levando-se em conta tal
avaliação, pode-se inferir que o uso de fertilizantes e defensivos não gera impacto significa-
tivo sobre as águas na região de Campos, considerada aquela com maior concentração de
atividade agrícola na região em estudo. Segundo informações fornecidas pela Superinten-
dência Regional do INEA, pela mesma razão, deve-se ressaltar também o potencial para
contaminação do solo e das águas por culturas nas regiões dos municípios de São José do
Ubá, relacionada ao cultivo de tomates e nos municípios Varre Sai, Natividade, Porciúncula
e Bom Jesus do Itabapoana, provenientes da recente expansão da cultura de café.
Os municípios com maior potencial para concentração de contaminação do solo e das á-
guas por produtos químicos de indústrias são respectivamente Campos e Macaé, uma vez
que neles se localizam os parques industriais mais significativos da Região.
2
ANDRADE, G.T.; SILVA, M.M. Avaliação da dispersão de metais pesados em solos da bacia do rio Muriaé em
zona rural do município de Campos dos Goytacazes – RJ.
464 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
Quanto à poluição por processos relacionados ao binômio assoreamento e processos ero-
sivos, segundo o INEA, a área mais significativamente afetada está situada nos municípios
de Porciúncula, Natividade, Varre Sai e Bom Jesus do Itabapoana, principalmente em fun-
ção da supressão da cobertura vegetal original, em favor da crescente cultura de café.
Fonte: Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (SEAMA) / Instituto Estadual de
Meio Ambiente e Recursos Hídricos (IEMA) - www.meioambiente.es.gov.br
É importante ressaltar a contaminação gerada por esgotos sanitários advindos dos centros
urbanos, uma vez que poucos deles possuem sistemas de tratamento de efluentes sanitá-
rios.
Em levantamento realizado junto às Municipalidades das Regiões Norte e Noroeste, pode-
se observar que, apesar de todas as sedes municipais serem abastecidas com água tratada,
poucas delas possuem sistema de tratamento de esgotos.
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 465
O abastecimento de água é, via de regra, realizado pela concessionária CEDAE, e o trata-
mento de esgotos, quando existente, fica a cargo das Municipalidades, exceto em Campos
dos Goytacazes, onde os serviços são prestados pela concessionária Águas do Paraíba.
As Regiões Norte e Noroeste do Rio de Janeiro são drenadas por duas bacias hidrográficas
principais, Rio Itabapoana e o trecho final da bacia do Rio Paraíba do Sul, a maior bacia do
Estado, com características nacionais, uma vez que drena também os Estados de São Pau-
lo e Minas Gerais.
A bacia do Rio Paraíba do Sul destaca-se como principal curso d`água da área. Formado
pela confluência dos rios Paraitinga e Paraibuna, o rio Paraíba do Sul nasce na Serra da
Bocaina, no Estado de São Paulo, fazendo um percurso total de 1.120 km, até a foz em Ata-
fona, no Norte Fluminense. A bacia do rio Paraíba do Sul estende-se pelo território de três
estados - São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro - e é considerada, em superfície, uma
das três maiores bacias hidrográficas secundárias do Brasil, abrangendo uma área aproxi-
mada de 57.000 km².
466 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
No Estado do Rio de Janeiro, o rio Paraíba percorre 37 municípios, numa extensão de 500
km, praticamente quase a metade do território do Estado. Sua importância estratégica para
a população fluminense pode ser avaliada pelo fato de que o rio Paraíba do Sul é a única
fonte de abastecimento de água para mais de 12 milhões de pessoas, incluindo 85% dos
habitantes da Região Metropolitana, localizada fora da bacia, seja por meio de captação
direta para as localidades ribeirinhas, seja por meio do rio Guandu, que recebe o desvio das
águas do Rio Paraíba, para aproveitamento hidrelétrico.
Na bacia do Rio Paraíba do Sul deve ser dada atenção aos tributários da margem esquerda,
rios Pomba e Muriaé, bem como seus formadores que nascem na vertente oriental da Serra
da Mantiqueira.
Boa parte dos poluentes chega à região norte através do Rio Paraíba do Sul, bem como de
seus tributários. Por outro lado, a Região Noroeste recebe aporte de contaminantes apenas
dos tributários Pomba e Muriaé, estando fora da área de contaminação de outras fontes
situadas a montante da Baixada Campista.
No que tange a Região Norte Fluminense, a poluição fluvial está relacionada ao lançamento
de esgoto sanitário bruto nos cursos d’água proveniente dos centros urbanos tal como
Campos dos Goytacazes e Macaé, agrotóxico proveniente de atividade agrícola (plantio de
cana-de-açúcar e pecuária bovina).
A evolução e diversificação das atividades produtivas na bacia do Rio Paraíba do Sul provo-
caram uma situação de conflito entre os usuários da água. Os reservatórios representam o
elemento fundamental do sistema hídrico, enquanto regularizador da vazão do rio para a
produção de hidroeletricidade e fonte de água. Quando os recursos hídricos eram abundan-
tes em relação às demandas, mesmo com prioridade de uso para produção de energia elé-
trica, não se registraram conflitos pelo uso da água na bacia do Rio Paraíba do Sul, situação
que mudou com o desenvolvimento e a necessidade de atender aos múltiplos usuários da
água, tornando a gestão mais complexa diante dos diferentes atores sociais envolvidos.
Ao mesmo tempo, a bacia do Rio Paraíba do Sul é especialmente sujeita a acidentes, não
só pela expressiva concentração de indústrias de grande potencial poluidor, como pela den-
sa malha rodo-ferroviária, com intenso movimento de cargas perigosas que trafegam pelas
rodovias Presidente Dutra (Rio-São Paulo) e BR-040 (Rio-Juiz de Fora), e acidentes ocorri-
dos em outros estados que chegam até o Paraíba através de seus rios afluentes.
Atualmente, a mais notória e prejudicial fonte de poluição da bacia do rio Paraíba do Sul são
os efluentes domésticos e os resíduos sólidos oriundos das cidades de médio e grande por-
tes localizadas às margens do rio, tais como Campos dos Goytacazes e Itaperuna, na região
em estudo. A única ação capaz de reverter esta situação é a implantação de estações de
tratamento de esgotos e construção de aterros sanitários e usinas de beneficiamento de lixo
domiciliar.
Destas estações, pelo menos quatro, Itaocara, Portela, São Fidelis e Campos geram dados
sobre contaminação das águas superficiais nas Regiões Norte e Noroeste.
A bacia hidrográfica do rio Itabapoana possui uma área de drenagem de 4.875 km² e inclui
18 municípios dos Estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo. No Estado do
Rio de Janeiro, abrange uma área de 1.520 km² , correspondendo a 40 % do total, englo-
bando integralmente Bom Jesus de Itabapoana e parte dos municípios de Porciúncula, Var-
re-Sai, Campos dos Goytacazes e São João da Barra.
O rio em apreço, de 264 km de extensão, nasce na serra de Caparaó (MG), em Alto Capa-
raó, onde começa com o nome de rio Preto, denominação que muda para Itabapoana de-
pois da confluência com o rio Verde. A partir da foz do ribeirão das Onças, um de seus aflu-
entes, o Itabapoana separa os Estados do Rio de Janeiro e do Espírito Santo, desaguando
no Atlântico entre o lago Marabá e a ponta das Arraias. Do Ribeirão das Onças até a sua foz
são cerca de 180 km de canal sinuoso, pontuado por várias cachoeiras: Santo Antônio, In-
ferno, Limeira e Fumaça, sendo esta última de 100 metros de altura.
Na zona do baixo curso do rio Itabapoana, em especial na faixa costeira sobre os tabuleiros
terciários, encontra-se uma concentração de lagoas, muitas das quais já drenadas por pro-
prietários rurais. Há pouca documentação técnica sobre elas. Destaca-se, pelo seu tama-
nho, uma em especial, localizada na foz do córrego do Cadeirão.
A bacia hidrográfica do Itabapoana está inserida em uma região cuja base econômica ‚ re-
presentada pelos serviços urbanos e por atividades do setor primário, especialmente, aque-
las ligadas ao café, pecuária leiteira, produção de cana-de-açúcar e fruticultura tropical. O
468 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
baixo dinamismo econômico da região também está relacionado ao caráter tradicional des-
sas atividades que não acompanharam as mudanças em curso no mercado brasileiro, prin-
cipalmente no que diz respeito a inovações tecnológicas.
Nas épocas de estiagem alguns córregos, antes perenes, estão secando. E, os perenes
sendo pivô de conflitos, quando são, indevidamente, barrados, impedindo o fluxo d’água
para jusante. Estes conflitos embora temporários, pois entre dezembro e maio as chuvas
são intensas, tendem a se agravar caso os m‚todos de irrigação sejam disseminados na
região, sem um real conhecimento da oferta e da demanda de água.
“O rio Macaé nasce no pico do Tinguá (1.616m), na “serra” de Macaé de Cima, no município
de Nova Friburgo. Chega ao município de Macaé ainda encachoeirado, na localidade de
Barra do Sana; a partir daí, serve de divisa com Casimiro de Abreu até o córrego do Retiro.
Daí para frente, seu curso é todo em território macaense, através da baixada, até desembo-
car no Oceano Atlântico, depois de percorrer 200 km.
Tanto o rio Macaé, por uma extensão de aproximadamente 60 km, como o rio São Pedro,
até certa distância, podem ser navegáveis por canoas ou pranchas. Hoje, o rio encontra-se
dragado e retificado em toda a planície, tendo perdido suas curvas e meandros originais.
A inserção no Município de uma Região Serrana favorece a existência de alguns rios cauda-
losos, mesmo quando suas nascentes ocorrem fora dos limites municipais (mas ainda assim
na região das “Serras”), como é o caso do Macaé e do São Pedro, alimentados pelas chu-
vas orográficas frequentes no local.
O município de Macaé está praticamente todo contido na bacia do rio Macaé. Essa bacia
possui uma densa rede de drenagem situada numa região tropical úmida, limitada ao Norte,
pela bacia do rio Macabu; ao Sul, pela do rio São João; a Oeste, pela do rio Macacu e, a
Leste, pelo Oceano Atlântico. O rio Macaé nasce na serra Macaé de Cima e o seu curso se
desenvolve numa extensão aproximadamente de 110 km, com uma área de drenagem de
1.765km2, da qual 1.325km2 estão nos limites do Município de Macaé, ou seja, mais de
75% do total da Bacia. Dentre os afluentes de primeira ordem destacam-se os rios Boa Es-
perança, Bonito, Sana, Ouriço, D’ Anta, Purgatório e São Pedro e os córregos Santiago e
Jurumirim.
Toda região, situada à montante do rio Macaé e seus respectivos afluentes do curso superi-
or, diz respeito a uma área topograficamente elevada, a Oeste do Município, pertencente à
Serra do Mar.
Já na área do médio Macaé, os terrenos possuem menores elevações. Contudo, seus aflu-
entes da margem esquerda ainda cortam elevações da Serra do Mar, o que muito contribui
na formação das terras aluvionais, situadas à margem do médio Macaé. Esses afluentes,
por percorrerem áreas mais íngremes, apresentam um maior poder de desgaste. Assim, os
sedimentos carregados, ao longo dos seus cursos, são depositados nas áreas mais planas,
o que viabiliza a utilização agrícola dessas terras, tornando-as férteis por natureza.
O rio Macaé, tanto no alto quanto no médio de seu curso, apresenta-se sinuoso, com leito
pedregoso, atravessando terrenos rochosos e acidentados. Já no ponto onde é captada a
água pela CEDAE, na localidade de Severina, o leito apresenta-se arenoso, correndo no
sentido Sudoeste-Leste, com as margens baixas e espraiadas. O rio, ao atingir a localidade
próxima à fazenda Pau-Ferro e, logo após receber o rio São Pedro, conserva o seu leito
com as mesmas características apresentadas em Severina, sendo que seu curso segue no
sentido Noroeste-Sudeste, até desembocar no Oceano Atlântico, junto à cidade de Macaé.
Nas proximidades de sua foz, junto ao Oceano, o rio Macaé apresenta uma vazão média
estimada em 30m3/s, correspondendo a uma contribuição específica média aproximada de
17 l / s /km2. Isto torna a bacia susceptível a aproveitamentos para usos múltiplos dos re-
cursos hídricos disponíveis. O Departamento Nacional de Obras de Saneamento – DNOS
elaborou alguns estudos no sentido de viabilizar a construção de um barramento nas proxi-
midades da localidade de Ponte do Barão, no curso médio do rio Macaé, para fins não só de
regularização de deflúvios naturais como também proporcionar água para a irrigação e ou-
tros usos afins.
Neste estudo, a chamada região “C” correspondia ao trecho da bacia do Rio Paraíba do Sul
dentro das Regiões Noroeste e Norte Fluminense, desde o município de São Fidélis até a
sua foz, incluindo seus principais afluentes na região, os rios Pomba e Muriaé.
Estes dados são relativos a 8 estações no rio Paraíba do Sul e principais afluentes. O perío-
do de monitoramento, de fevereiro de 1991 a dezembro de 1996, é aproximadamente o
mesmo coberto pelas amostragens do Programa de Cooperação França-Brasil.
Com relação aos coliformes fecais, foram encontradas diferenças nos dois monitoramentos,
provavelmente devido a diferenças de metodologia, na coleta ou no processamento das
amostras.
Avaliação Geral
A Bacia do Paraíba do Sul, no trecho compreendido no estudo da Região, podia ser satisfa-
toriamente caracterizada em seus aspectos de qualidade da água, considerando os dados
históricos obtidos pela Cooperação França-Brasil e pela FEEMA, no período de 1992 a
1996.
Pela descrição de resultados dos parâmetros mais significativos nos processos de compro-
metimento de um sistema aquático, realizada anteriormente, associada às demais determi-
nações, foi possível estabelecer um quadro geral do trecho considerado.
As águas do rio Paraíba do Sul e seus afluentes neste trecho apresentaram alta disponibili-
dade de oxigênio durante todo o período de estudo, função de suas características físicas
favoráveis aos processos de oxigenação. Este aspecto é relevante na manutenção dos me-
canismos de oxidação da matéria orgânica residual, de grande importância em algumas es-
tações.
No presente estudo, várias estações apresentaram níveis médios superiores a 0,08 mg/l de
P-Total, considerados excessivos em relação à classificação do CONAMA na época.
Estes resultados eram característicos de um sistema com produtividade aquática alta a mui-
to alta, sujeito a eutrofização.
Quanto aos demais parâmetros monitorados na época, esse rio não apresenta valores que
pudessem ser considerados limitantes ao desenvolvimento da fauna e flora aquática, assim
como prejudiciais para o consumo das populações humanas que utilizam suas águas.
Este quadro geral é semelhante ao encontrado durante os estudos das sub-regiões à mon-
tante, mas com a poluição industrial muito atenuada.
A poluição por esgoto domiciliar revelou ser, mais uma vez, a maior responsável pela de-
gradação ambiental das águas da bacia no trecho em estudo.
Os Comitês de Bacia hidrográfica foram criados para gerenciar o uso dos recursos hídricos
de forma integrada e descentralizada, com a participação da sociedade.
Instituídos pela lei que estabeleceu a Política Estadual de Recursos Hídricos (3.239/98), os
colegiados são compostos por representantes do Poder Público, da sociedade civil e de
usuários de água. Essa formação tem como objetivo garantir a deliberação de decisões que
influenciem na melhoria da qualidade de vida da região e no desenvolvimento sustentado da
bacia. Por seu poder consultivo, normativo e deliberativo, os comitês são considerados o
"Parlamento das Águas".
Antes de sua criação, o gerenciamento da água era feito de forma isolada por municípios e
pelo Estado, o que dificultava o planejamento da captação, distribuição e do tratamento da
água.
A partir dos comitês, o Estado do Rio de Janeiro foi dividido em 10 Regiões Hidrográficas,
de acordo com afinidades geopolíticas e as bacias que abrangem.
Os Comitês tem, como braço executivo as Agências de Bacia, responsáveis pela atualiza-
ção do balanço hídrico, da disponibilidade de água e do cadastro de usuários, além da ope-
racionalização da cobrança pelo uso dos recursos hídricos, mediante delegação.
Principais Usos
Indústria têxtil, metalurgia, moda íntima, mineração, agricultura familiar e turismo ecológico e
rural.
Principais Problemas
• Falta de saneamento básico – quase na totalidade dos municípios o esgoto doméstico é
lançado diretamente nos corpos d'água sem tratamento adequado;
• Lançamento de efluentes industriais;
• Efluentes de atividades econômicas diversas como, por exemplo: pequenas indústrias e
postos de gasolina;
• Ocupação desordenada das margens dos rios;
• Agricultura com utilização intensiva de agrotóxico.
Em termos gerais, os usos da água abarcam as atividades humanas em seu conjunto. Neste
sentido, a água pode servir para consumo ou como insumo em algum processo produtivo.
A disponibilidade do recurso é cada vez menor, por um lado, porque deve ser compartilhado
por atividades distintas e por outro, porque não é utilizado racionalmente.
A captação de água para abastecimento corresponde a 64 mil l/s (17 mil para abastecimento
domiciliar da população residente na bacia, mais 47 mil para o abastecimento da Região
Metropolitana do Rio de Janeiro). Para uso industrial a captação é estimada em 14 mil l/s, e
para uso agrícola 30 mil l/s.
A atividade pesqueira na bacia desenvolve-se principalmente no baixo curso dos rios Paraí-
ba do Sul, Muriaé e Dois Rios. A pesca esportiva é praticada em toda a bacia, enquanto a
aquicultura vem-se expandindo nos últimos anos.
O uso da água para recreação ocorre principalmente nas regiões serranas, nas nascentes
de diversos cursos d'água, onde há cachoeiras e a canoagem é bastante difundida. Na ba-
cia do Paraibuna (MG-RJ), principalmente nos municípios situados na sub-bacia do rio Pre-
to, as cachoeiras constituem o principal atrativo turístico.
Fomentar uma política cada vez mais eficaz na gestão dos recursos hídricos do Estado do
Rio de Janeiro. Para atingir esse objetivo, foi criado o Conselho Estadual de Recursos Hídri-
cos (CERHI), instituído pelas Leis nº 3239 e nº 9.433/97, que estabelecem, respectivamente,
as Políticas Estadual e Federal de Recursos Hídricos.
Com diretrizes são baseadas no Conselho Nacional de Recursos Hídricos e na Agencia Na-
cional de Águas, o Conselho é um órgão colegiado, integrante do Sistema Estadual de Ge-
renciamento de Recursos Hídricos (SEGRHI), com atribuições normativas, consultivas e
deliberativas.
As finalidades e objetivos do CERHI são voltados à valorização dos corpos d’água de domí-
nio estadual. Dentre eles, estabelecer parâmetros para a outorga e cobrança de direito de
uso da água, além de promover a articulação, integração e coordenação do planejamento
estadual de recursos hídricos entre as autoridades nacional e regional e os usuários.
A Secretaria Executiva do Conselho fica sob o exercício do INEA e desempenha, entre ou-
tras atividades, a coordenação e elaboração do Plano Estadual de Recursos Hídricos e o
suporte administrativo às atividades do Plenário e das Câmaras Técnicas.
O Instituto Estadual do Ambiente, INEA, é o órgão responsável pela gestão dos recursos
hídricos do Estado do Rio de Janeiro e está trabalhando em estreita colaboração com a A-
gência Nacional de Águas, ANA, no sentido de ampliar a regularização dos usos e usuários
de recursos hídricos no Estado
A região costeira está representada exclusivamente por municípios da Região Norte Flumi-
nense, qual sejam: Macaé, Quissamã, Campos dos Goytacazes, Carapebus, São João da
Barra e São Francisco de Itabapoana.
3
Informação oral. René Justen, Superintendente Regional do INEA em Campos dos Goytacazes.
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 475
A poluição marinha está relacionada a eventuais derrames de óleo provenientes da extração
de petróleo em plataformas “offshore”, acidentes e lavagem de tanques de embarcações,
lançamentos de efluentes e resíduos bem como esgoto sanitário de centros urbanos e in-
dustriais, que chegam ao oceano levados pelos principais cursos d’água da região.
Cabe ressaltar a situação do delta do Rio Paraíba do Sul, para onde são transportados os
eventuais contaminantes gerados no rio, principalmente aqueles gerados pela área metropo-
litana de Campos dos Goytacazes, e lançados no Oceano. Situação similar é observada no
município de Macaé.
Quanto aos aspectos envolvidos na poluição marinha na faixa costeira da região em estudo,
em julho de 2007, a Universidade Estadual do Norte do Rio de Janeiro realizou um estudo
sobre a potencial contaminação dos peixes marinhos por metais na costa Sudeste brasileira.
Os parâmetros avaliados foram teores de contaminação por Al, Fé, Mn, Ba, Cu, Zn, Ni, Pb,
Cr, Cd, e V.
Com exceção do cromo, o estudo desenvolvido demonstrou que apesar do aporte de mate-
rial particulado em suspensão, como o recebido pela região da praia de Atafona (município
de São João da Barra), próxima à foz do rio Paraíba do Sul, e do rio Macaé para a região de
Macaé, as quatro espécies de peixes estudadas apresentaram valores que podem ser con-
siderados como livres de contaminação, ressaltando-se aqui que estes padrões são dinâmi-
cos, e dependente do montante de aporte de metais e sua biodisponibilidade4.
Quanto à poluição gerada por petróleo no ambiente marinho, de acordo com Ziolli (2002, p.
34), a mesma é gerada principalmente por águas de lavagem dos tanques petroleiros, á-
guas de lastro, despejos de refinarias costeiras, operação de navios petroleiros em terminais
e acidentes envolvendo navios petroleiros e outros tipos de navios.
Nos últimos dez anos, o Estado do Rio de Janeiro, por intermédio da FEEMA, tem participa-
do do Programa Nacional de Gerenciamento Costeiro, PNGC, instituído pela Lei Federal n°
7.661, de 16/5/88. Este Programa, coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente, vem sen-
do executado nos 17 estados costeiros da Federação, no âmbito do Programa Nacional de
Meio Ambiente, PNMA.
4
COSTA, J.R. Distribuição de Metais em Peixes Marinhos ao Longo do Litoral Sudeste do Brasil. Monografia,
Universidade Estadual do Norte Fluminense, Campos dos Goytacazes. 2007.
476 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
Além dos instrumentos de gerenciamento ambiental, previstos no Art. 9º da Lei 6938/81, que
trata da Política Nacional do Meio Ambiente, serão considerados, para o PNGC, os seguin-
tes instrumentos de gestão:
REALIZAÇÕES DO GERCO/RJ
Inicialmente, com o apoio financeiro do Ministério da Marinha (CIRM), e posteriormente, do
Ministério do Meio Ambiente (MMA), foram obtidos, até aqui, os seguintes avanços:
• Fortalecimento da infra-estrutura operacional para gerenciamento costeiro;
• Treinamento e capacitação de pessoal na área de gestão costeira;
• Elaboração do Macro-zoneamento da Região dos Lagos;
• Elaboração de uma proposta de Plano de Monitoramento da Zona Costeira;
• Elaboração de uma proposta de Plano de Gestão para a Zona Costeira;
• Elaboração do Macro-zoneamento do Litoral Norte (parcial);
• Implantação do Sistema de Informações para o Gerenciamento Costeiro – Sigerco;
• Fortalecimento dos arcabouços institucional e legal;
• Elaboração de planos diretores de unidades de conservação, em áreas costeiras, com
destaque para as APAs de Maricá (Município de Maricá), de Massambaba (municípios
de Saquarema, Araruama e Arraial do Cabo), e de Sapiatiba (Município de São Pedro
da Aldeia);
O Plano de Gestão da Zona Costeira visa a implementação de ações integradas que orien-
tem a proteção dos recursos ambientais e viabilizem o desenvolvimento sustentável da regi-
ão, contemplando soluções para os problemas encontrados, definindo atores envolvidos,
responsabilidades e prazos.
Com o término do Programa Nacional de Meio Ambiente (PNMA), executado com recursos
do Banco Mundial, as atividades que necessitam de investimentos (contratação de consulto-
rias, aquisição de equipamentos, etc.), tiveram o seu ritmo reduzido. Entretanto, a FEEMA,
por meio das suas atividades de rotina (fiscalização, licenciamento e monitoramento), conti-
nua atuando na zona costeira, como sempre fez.
PROJETO ORLA/RJ
O Projeto de Gestão Integrada da Orla Marítima - Projeto Orla - é uma ação do Ministério do
Meio Ambiente (MMA), conduzida pela Secretaria de Qualidade Ambiental nos Assentamen-
tos Humanos, e da Secretaria do Patrimônio da União do Ministério do Planejamento, Or-
çamento e Gestão (SPU/MPO), em parceria com os Governos Estaduais.
O Projeto tem por objetivo contribuir, em escala nacional, para a aplicação de diretrizes ge-
rais de disciplinamento de uso e ocupação da orla marítima, fortalecer a articulação dos dife-
rentes atores do setor público para a gestão integrada da orla, desenvolver mecanismos de
mobilização social para a gestão integrada da orla e estimular o desenvolvimento sustentá-
vel na orla.
ATIVIDADES DESENVOLVIDAS
A primeira etapa da implementação do Projeto Orla5 abrangeu dezesseis municípios sele-
cionados no Estado do Rio de Janeiro. Para o desenvolvimento dos trabalhos, os municípios
capacitados foram reunidos em 4 grupos:
• Grupo 1: Araruama, Iguaba Grande, São Pedro da Aldeia e Saquarema
• Grupo 2: Armação dos Búzios, Arraial do Cabo, Cabo Frio, Casemiro de Abreu e
Rio das Ostras
• Grupo 3: Campos dos Goytacases , Carapebus, Macaé e Quissamã
• Grupo 4: Angra dos Reis, Mangaratiba e Paraty
Nesta etapa, o Instituto Brasileiro de Administração Municipal, IBAM, participou como a insti-
tuição responsável pelo repasse da metodologia do Projeto para os municípios, orientando a
elaboração de seus respectivos Planos de Intervenção na Orla Marítima.
PRODUTO FINAL
5
Projeto Orla: Fundamentos para Gestão Integrada. Brasília: MMA/SQA; Brasília: MP/SPU, 2002.
480 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
ção entre agentes públicos e comunitários para a conjugação de esforços para gestão da
orla.
Os documentos refletem as características de cada local quanto aos seus aspectos ambien-
tais, sociais, institucionais e às peculiaridades do processo de ocupação urbana. Em aten-
ção a estes aspectos foi garantido o atendimento aos objetivos centrais do Projeto Orla, sem
ultrapassar os limites demarcados pela realidade e interesse de cada município. Desta for-
ma, o conjunto de planos revela as diferenças de perfil das equipes gestoras locais, o grau
de organização da sociedade civil, assim como as prioridades conferidas para a intervenção.
Os planos de intervenção foram submetidos a uma avaliação crítica por parte da Comissão
Estadual de Acompanhamento do Projeto Orla, criada através do Decreto Estadual nº.
32.421, de 16 de dezembro de 2002, composta por representantes da atual SEMADUR,
FEEMA, SERLA, IEF, SPU, INEPAC, IPHAN, ITERJ, FIPERJ E SEPDET. Desta avaliação,
foram selecionados 4 municípios considerados aptos a assinarem o Convênio com a SPU a
saber: Quissamã, Macaé, Armação dos Búzios e Rio das Ostras. A celebração do Convênio
foi realizada em Brasília, no final de 2004.
Este item trata da poluição na região compreendida pelo Norte e Noroeste Fluminense, a-
bordando objetivamente a poluição atmosférica e a emissão de gases do efeito estufa.
A poluição do ar pode ser definida como a "alteração das propriedades físicas, químicas ou
biológicas normais da atmosfera que possa causar danos reais ou potenciais à saúde hu-
mana, à flora, à fauna, aos ecossistemas em geral, aos materiais e à propriedade, ou preju-
dicar o pleno uso e gozo da propriedade ou afetar as atividades normais da população ou o
seu bem estar" (Assunção e Hasegawa, 2001).
Até meados de 1980, a poluição atmosférica urbana era atribuída basicamente às emissões
industriais, e as ações dos órgãos ambientais visavam ao controle das emissões dessas
fontes. E a maior parte das grandes instalações responsáveis pelas emissões de poluentes
para a atmosfera, está concentrada em áreas urbanas.
"Entende-se como poluente atmosférico qualquer forma de matéria ou energia com intensi-
dade e quantidade, concentração, tempo ou características em desacordo com os níveis
estabelecidos, e que tornem ou possam tornar o ar: impróprio, nocivo ou ofensivo à saúde;
inconveniente ao bem-estar público; danoso aos materiais, à fauna e flora; prejudicial à se-
gurança, ao uso e gozo da propriedade e as atividades normais da comunidade". (Resolu-
ção CONAMA nº 03/90).
A concentração real dos poluentes no ar depende tanto dos mecanismos de dispersão como
de sua produção e remoção. Normalmente, a própria atmosfera dispersa o poluente, mistu-
rando-o eficientemente num grande volume de ar, o que contribui para que a poluição fique
em níveis aceitáveis. As velocidades de dispersão variam com a topografia local e as condi-
ções atmosféricas locais.
Situada entre o litoral e os estados de Minas Gerais e Espírito Santo, a região em estudo
possui 15.143 km² e uma população estimada de 1.135.000 habitantes (IBGE, 2009 - esti-
mativa). A produção de petróleo e gás natural e as atividades industriais afins, geração de
energia e a monocultura canavieira são as principais atividades econômicas e empregam a
quase totalidade da mão-de-obra local.
A Região Norte apresenta a terceira maior emissão de CO2eq pelo uso de energia na com-
paração com as demais regiões do Estado do Rio de Janeiro. Nesta Região foram produzi-
das 4.012,9 Gg de CO2eq (10,5% de toda a emissão do Estado), enquanto a Região Noro-
este apresenta emissões muito menores que estas, o equivalente a 311,0 Gg de CO2eq
(0,8%), a menor emissão de todas as regiões do Estado do Rio de Janeiro (Gráfico seguin-
te).
Tabela 1 - Total de Emissões de Gases Estufes pela Agricultura, Floresta e Outras Uso do Solo
por (Gg)
I II III IV V VI VII VII Total
Região %
CO2 CH4 CH4 N2O CH4 CH4 N2O N2O CO2 CO2 CO2 eq
Norte 930,02 31,62 0,66 0,91 0,25 1,90 0,05 0,05 111,17 2,05 2.024,5 20,0
Noroeste 506,14 26,03 0,57 0,80 0,52 0,08 0,00 0,01 29,92 0,55 1.357,0 13,4
Metropolitana 904,09 13,55 0,49 0,53 0,00 0,01 0,00 0,01 13,95 0,26 1.378,1 13,6
Baixadas
661,91 10,37 0,23 0,31 0,04 0,00 0,01 14,75 0,27 997,0 9,8
Litorâneas
Baía Ilha
691,29 1,46 0,03 0,05 0,01 0,00 0,00 9,77 0,18 749,4 7,4
Grande
Serrana 751,27 13,58 0,43 0,46 0,01 - - 0,01 19,03 0,35 1.211,4 12,0
Médio
828,82 13,16 0,30 0,43 0,00 0,02 0,00 0,00 4,71 0,09 1.249,0 12,3
Paraíba
Centro Sul 945,17 6,69 0,19 0,22 0,00 0,00 0,00 3,43 0,06 1.161,6 11,5
Total 6.218,71 116,46 2,91 3,70 0,78 2,06 0,05 0,09 206,73 3,81 10.127,8 100
Fonte: SEA (2007)
Obs.: Modificada do Inventário de Emissões de Gases do Efeito Estufa do Estado do Rio de Janeiro.
Em vermelho as regiões de interesse.
I: Uso do Solo; II: Fermentação Entérica; III: Manejo de Dejetos; IV: Cultivo de Arroz; V: Queima de
Resíduos da Cana; VI: Uso de Fertilizantes nitrogenados; VII: Uso de Calcáreo e Dolomita; VIII: Uso
de Uréia.
Observa-se a Região Norte é a que apresenta as maiores emissões de CO2eq a partir dos
diferentes usos do solo dentre todas as Regiões do Estado. As emissões desta Região tota-
lizam 2.024,5 Gg de CO2eq, o que equivale a 20,0% das emissões do Estado. As emissões
por mudanças do uso do solo respondem por quase a metade de todos os gases emitidos
na Região Norte (45,9%), com valor de 930,02 Gg de CO2eq, que é semelhante aos valores
da Região Metropolitana e Centro-Sul.
As emissões pelo uso do calcáreo e dolomita também são bastante expressivas na Região,
totalizando 111,17 Gg de CO2. Já a Região Noroeste apresenta a terceira maior emissão de
gases de efeito estufa a partir dos diferentes usos do solo de todo o Estado (13,4%), atrás
somente das Regiões Norte e Metropolitana. Nessa Região, as emissões, a partir de mu-
danças do uso do solo são as menores de todo o Estado (506,14 Gg de CO2eq), mas ela
apresenta grande quantidade de emissões de gases de efeito estufa a partir da fermentação
entérica e manejo de dejetos dos rebanhos ali existentes.
Com relação às emissões a partir de resíduos sólidos urbanos, observa-se que quase todas
as regiões do Estado apresentam pequena participação nas emissões dos gases de efeito
estufa quando comparadas à região Metropolitana, em virtude desta região concentrar a
maior parte da população do Estado do Rio de Janeiro. A Região Norte emite 113,4 Gg de
CO2eq, o equivalente a 3,1% das emissões do Estado, enquanto a Região Noroeste apre-
senta emissões ainda menores (33,0 Gg de CO2eq ou 0,9%), somente comparável à Região
Centro-Sul Fluminense.
O relatório SEA (2007) ressalta que, apesar dos aterros sanitários serem uma das melhores
alternativas para saneamento, eles possuem maior fator de emissão.
Isto se dá uma vez que a decomposição dos resíduos se dá em um ambiente com maior
anaerobiose que nas outras duas opções (aterros controlados e lixões), o que aumenta a
metanogenese (produção de metano).
Já na Região Noroeste, não existem emissões a partir de aterros sanitários, enquanto são
registradas pequenas emissões de gases estufa a partir de aterros controlados (0,5 Gg de
CH4) e maiores emissões dos lixões (1,1 Gg de CH4), lembrando-se que os lixões proporcio-
nam maiores problemas ambientais em virtude, por exemplo, da contaminação dos aquífe-
ros.
Tabela 2 - Emissões de Gases Estufa pelos Resíduos Sólidos Urbanos por Tipo de Disposição
e por Região (Gg)
Aterro Sanitário Aterro Controlado Lixão TOTAL
Região
CH4 CH4 CH4 CO2 eq
Norte 2,6 0,0 2,8 113,4
Noroeste 0,0 0,5 1,1 33,-
Metropolitana 22,7 115,7 8,7 3.088,5
Baixadas Litorâneas 0,8 1,5 2,6 102,5
Baía Ilha Grande 0,0 1,4 0,6 43,3
Serrana 7,0 1,5 0,4 186,5
Médio Paraíba 0,2 2,7 2,8 120,1
Centro Sul 0,0 0,2 1,0 25,6
Total 33,3 123,5 20,0 3.712,9
Fonte: Modificado de SEA (2007)
Gráfico 7 - Emissões de CO2eq pelo Setor de Tratamento de Resíduos por Região (Gg
CO2eq e %)
A Região Norte apresenta pequena participação no âmbito geral (3,4%), com emissões da
ordem de 166,0 Gg de CO2eq, enquanto as emissões da Região Noroeste são ainda meno-
res (51,6 Gg de CO2eq ou 1,0%), o que demonstra a pequena participação dessas Regiões
nas emissões de gases de efeito estufa, a partir do tratamento de resíduos do Estado do Rio
de Janeiro.
Contudo, o principal resultado deste relatório temático indica a existência de diversas lacu-
nas e carências conceituais e procedimentais, no campo do estudo e monitoramento das
emissões de poluentes e contaminantes no ambiente.
Inicialmente, constata-se um entrave de natureza institucional. Não houve uma política res-
ponsável de monitoramento rigoroso e sistemático das emissões. Esse fato leva à inexistên-
cia de séries de dados que possam subsidiar análises e interpretações de longo termo. Exis-
tiram campanhas de monitoramento, tal como o exemplo do convênio Brasil-França de ocor-
rência isolada.
Em segundo lugar, o estado carece de uma rede de monitoramento padronizada, que permi-
ta a comparação entre dos dados coletados em vários pontos e que permita, por exemplo,
uma interpolação da qualidade do ar ou da água nos diversos municípios ou no entorno de
distritos industriais.
Um terceiro aspecto relevante é a pequena malha coberta pela rede de monitoramento, que
gera dados de pontos distantes que, em princípio, não poderão ser correlacionados.
Finalmente, fato recorrente no Brasil, os programas governamentais, via de regra, não pos-
suem continuidade além dos mandatos eletivos, além de serem adequados a propostas de
governo, o que torna ocasional a seleção dos parâmetros e a operação das estações.
Compensações são, via de regra, propostas de minimização de impactos negativos não mi-
tigáveis em estudos de impacto ambiental de empreendimentos de potencial poluidor e de-
gradador (Casério, 2010).
A compensação ambiental deve ser aplicada de acordo com prioridades bem definidas, en-
tre as quais a regularização fundiária (aquisição de terras privadas em unidades que devam
ser de domínio público), e a demarcação física das unidades de conservação são as princi-
pais. A elaboração de planos de manejo, a construção de sedes, guaritas e centros de visi-
tantes, a aquisição de veículos e a própria operação diária destas unidades são outras ativi-
dades a serem apoiadas por projetos financiados com a compensação ambiental.
O destino dos recursos das medidas compensatórias decorrentes dos licenciamentos efetu-
ados pelo Instituto Estadual do Ambiente, INEA, é decidido por um colegiado denominado
Câmara de Compensação Ambiental, CCA. Esta é presidida pela Secretaria de Estado do
Ambiente, SEA, e conta com representantes tanto do Poder Público estadual e municipal
quanto de organizações da sociedade civil, como rede de ongs da Mata Atlântica, FIRJAN e
UFRJ, que aplicam grande rigor na seleção dos projetos que lhes são submetidos para es-
truturação e fortalecimento das áreas protegidas do Estado.
4.1.3 Linha de Transmissão 345 kV, UTE Porto do Açu – Campos dos Goytacazes
A Linha de Transmissão 345 kV, UTE de Porto do Açu – Campos dos Goytacazes, atraves-
sa uma área de influência direta de 1.340 ha dos ecossistemas de restinga. Em 127 ha en-
contram-se ainda fragmentos da vegetação natural, segundo o Estudo de Impacto Ambiental
realizado e submetido à apreciação do INEA.
A Petrobrás iniciou uma campanha sísmica na Bacia de Campos, com duração mínima pre-
vista para dois anos. As pesquisas vêm sendo realizadas em águas com profundidade supe-
rior a 50 m e distância mínima de 50 km da costa.
As atividades petroquímicas na região costeira ocasionam impactos que devem ser cuida-
dosamente estudados devido à característica interdisciplinar dos processos envolvidos que
contribuem para a poluição marinha por petróleo.
Esses impactos dependem de vários fatores bióticos e abióticos, das fontes de contamina-
ção, da forma de contaminação e do destino do petróleo no mar, sendo de primordial impor-
tância destacar a fração de petróleo solúvel em água e suas alterações químicas, bem como
a fração de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos e seus aspectos toxicológicos.
Ênfase especial deve ser dada aos parâmetros de biodegradação e fotodegradação, tanto
em estudos de monitoramento ambiental quanto nos de impacto ambiental, já que muitas
vezes quantificar os constituintes originais do petróleo derramado no ambiente pode forne-
cer dados incompletos e pouco representativos.
Nas áreas mais importantes da zona costeira, do ponto de vista ecológico – os manguezais
– a experiência indica que a melhor ação é evitar-se ao máximo a contaminação por petró-
leo. Porém, uma vez que a área foi contaminada, o melhor é deixar o petróleo se degradar
naturalmente, sem tentar nem mesmo recolhê-lo, porque o recolhimento do petróleo é mui-
tas vezes mais danoso do que a sua ação.
O grau do impacto do petróleo no ambiente marinho vai depender de diversos fatores, entre
eles, da área atingida. É necessário distinguir duas situações:
• Derrames em mar aberto ou em áreas confinadas, que ameacem atingir a costa:
mar aberto (ecossistema oceânico) é a região que vai além das plataformas con-
tinentais, onde a profundidade aumenta drasticamente. Embora o ecossistema
oceânico seja rico em nutrientes e a vida na área oceânica seja diversa, possui
um alto grau de dispersão e, por isso, as áreas mais sensíveis, do ponto de vista
ecológico, fazem parte do ecossistema costeiro (são os manguezais e as praias
planas em baías). Nesses ecossistemas, a quantidade e variedade de vida são
grandes e é pequena a capacidade de diluição.
• Derrames em áreas preservadas ou áreas contaminadas.
Técnicas para conter o óleo derramado: o uso de barreiras de contenção para impedir o
espalhamento do óleo, a remoção mecânica do óleo derramado, a queima da massa de
óleo, a utilização de culturas mistas para a biodegradação de hidrocarbonetos, a utilização
de adsorventes e dispersantes químicos. Outras técnicas têm sido usadas nos últimos anos
como alternativas ou medidas complementares, entre elas, a queima in situ. O uso de dis-
persantes é visto com restrições e seu uso é proibido ou sujeito a severas limitações em
diversos países.
Licenças ambientais são concedidas pelo IBAMA à Petrobras para cada plataforma em fun-
cionamento. Como condicionante, o Empreendedor deve implantar imediatamente os proje-
tos ambientais aprovados e apresentar relatórios semestrais das instalações realizadas e de
cada um dos seguintes projetos: Relatório de Instalação; Projeto de Monitoramento Ambien-
tal; de Comunicação Social; de Controle da Poluição e de Educação Ambiental dos Traba-
lhadores.
O órgão ambiental fixará as condicionantes das licenças supracitadas. Tais licenças abran-
gem dois grupos de condicionantes: (i) as condicionantes gerais, que compreendem o con-
junto de exigências legais relacionadas ao licenciamento ambiental, e (ii) as condicionantes
específicas, que compreendem um conjunto de restrições e exigências técnicas associadas,
particularmente, à atividade que está sendo licenciada.
No dia 27 de março de 2004, foi inaugurado o Centro de Visitantes com sala de exposições,
auditório com sistema audiovisual, biblioteca, sala de reuniões, terminais de consultas, cafe-
teria, anfiteatro e áreas de lazer com tratamento paisagístico e sinalização direcional.
A área é bastante procurada nos finais de semana, a Lagoa fica dentro da área do Parque e
vai receber obras de infra-estrutura para melhor receber os visitantes. Essa infra-estrutura
resulta de negociação da compensação ambiental e foi imposta à TRANSPETRO, por der-
ramamentos de óleo ocorridos na área do Parque da Lagoa de Jurubatiba, em Macaé.
O Projeto foi elaborado pelo Núcleo de Pesquisa Ecológica Macaé – UFRJ em parceria com
as Municipalidades e suas secretarias de Educação e Meio Ambiente na área de abrangên-
cia dos empreendimentos, isto é, Araruama, Armação dos Búzios, Arraial do Cabo, Cabo
Frio, Campos dos Goytacazes, Carapebus, Casimiro de Abreu, Macaé, Quissamã, Rio das
Ostras, São Francisco de Itabapoana, São João da Barra e Saquarema, e é supervisionado
pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis, IBAMA.
5. CRÉDITOS DE CARRBONO
De acordo com Man Yu (2002, apud Oliveira et al., 2006), o Brasil é um dos primeiros
países em desenvolvimento a criar regras específicas para obtenção de créditos de carbono
dentro do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), espinha dorsal do Protocolo de
Kyoto para reduzir as emissões mundiais de gases do efeito estufa.
Os mesmos autores afirmam que entre as atividades elegíveis para projetos de MDL estão o
aumento da eficiência energética, o uso de fontes renováveis de energia e os projetos de
florestamento e reflorestamento.
Moraes (2008, p. 14) afirma que a capacidade de atração de investimentos externos por
parte dos países em desenvolvimento, além dos bons e bem estudados projetos de MDL (de
redução das emissões e/ou seqüestro do CO2, depende também das variáveis nacionais de
estrutura tributária, disponibilidade e custos de mão-de-obra e estabilidade política e macro-
econômica.
Como benefícios dessa participação espontânea dos países em desenvolvimento com seus
projetos de MDL são esperadas:
• a autopromoção do desenvolvimento sustentável;
• a promoção da eqüidade intra e inter países em desenvolvimento (com políticas
de distribuição de benefícios);
• a promoção da transferência Norte-Sul (dos países desenvolvidos para os paí-
ses em desenvolvimento) de tecnologia descarbonizante;
• a promoção de projetos domésticos mais eficientes e menos intensivos no uso
da energia e nas emissões de CO2;
• a inserção dos países em desenvolvimento no mercado de créditos de carbono;
• adequação às especificidades de cada país em desenvolvimento, garantindo a
manutenção das suas condições de crescimento econômico.
O modelo energético mundial atual (Tabela seguinte) está embasado nos recursos não-
renováveis, representados principalmente pelos recursos fósseis (80% do consumo global
de energia) que foram, ao longo da história, determinantes nas transformações econômicas,
sociais, tecnológicas e infelizmente nas ambientais Moraes (2008, p. 20).
Acordos internacionais como o Protocolo de Quioto determinam uma cota máxima de gases
de efeito estufa que os países desenvolvidos podem emitir. Os países, por sua vez, criam
leis que restringem as emissões de GEE. Assim, aqueles países ou indústrias que não
conseguem atingir as metas de reduções de emissões, tornam-se compradores de créditos
de carbono daqueles que os possuem em excesso. Por outro lado, aquelas indústrias que
conseguiram diminuir suas emissões abaixo das cotas determinadas, podem vender, a
preços de mercado, o excedente de "redução de emissão" ou "permissão de emissão" no
mercado nacional ou internacional.
Iniciativas similares, seguindo este mesmo princípio, estão sendo adotadas, atualmente, em
vários países e o Protocolo de Kyoto estabeleceu os critérios que permitem esta negocia-
ção, com objetivo de incentivar a redução das emissões de carbono na atmosfera.
Estes certificados podem ser comercializados através das Bolsas de Valores e de Mercado-
rias, como o exemplo do Clean Air e os contratos na bolsa estadunidense (“Emission Tra-
ding - Joint Implementation”). Há várias empresas especializadas no desenvolvimento de
projetos que reduzem o nível de gás carbônico na atmosfera e na negociação de certifica-
dos de emissão do gás espalhadas pelo mundo se preparando para vender cotas dos paí-
ses subdesenvolvidos e países em desenvolvimento, que em geral emitem menos poluen-
tes, para os que poluem mais.
Os volumes do Mercado de Carbono têm estimativas das mais variadas, e na maior parte
das matérias publicadas pela imprensa os índices não batem. Cada fonte indica um dado
diferente, vai desde U$ 500 milhões até US$ 80 bilhões por ano – os analistas de investi-
mentos consideram o volume estimado pelos especialistas insignificante, comparado com
alguns setores que giram volumes equivalentes num mês.
No caso Brasil, como também no da África, é exigida uma série de certificações e avais em
função dos riscos de crédito, por todas as questões de credibilidade decorrentes do chama-
do “Risco Brasil”, ainda persistente, o que implica na inclusão de “spreads”, onerando signi-
ficativamente o custo do capital.
As empresas, por exemplo, ao invés de utilizar combustíveis fósseis, que são altamente po-
luentes, passariam a utilizar energia produzida em condições sustentáveis, como é o caso
da biomassa.
Nem todo projeto de CDM gera necessariamente uma “commodity tradicional” e muito me-
nos uma “commodity ambiental”. A troca de créditos de cotas entre países desenvolvidos,
que estabelecem limites de “direitos de poluir” (“joint implementation e emission trading”,
pode ser transformada em títulos comercializáveis em mercados de balcão ou secundários
(mediante contratos de gaveta, “side letters”), ou em mercados organizados (bolsas, inter-
bancários, intergovernamentais, etc.).
O CDM pode ser aplicado ao conceito “commodities ambientais”, observadas duas condi-
ções: se o projeto de controle de emissão de poluentes estiver gerando uma “commodity”
como energia (biomassa), madeira, biodiversidade, água, minério, reciclagem, e se o mode-
lo vier a promover a geração de emprego e renda e financiar educação, saúde, pesquisa e
preservação de área protegidas.
Não importa para as “commodities ambientais” o que capta mais carbono. Importa, porém, o
que gera mais emprego e mantém mais áreas de preservação. O modelo de “commodities
ambientais” deve debater a produção de uma trava que impeça que um ecossistema seja
prejudicado para favorecer a exploração comercial do outro.
Há risco dos certificados de carbono serem transformados apenas numa operação financei-
ra e não gerar nenhuma vantagem para o meio ambiente, caso os instrumentos econômicos
sejam apenas promessas de capturar carbono no futuro.
Por isso foi criada a proposta “BECE” (“Brazilian Environment Commodities Exchange”),
genuinamente brasileira. A proposta se baseia no mapeamento das reais necessidades pa-
ra, então, adotar uma postura mais séria e fazer propostas mais concretas nas relações com
a ALCA, Mercosul, Protocolo de Kyoto, etc.
Apesar dos riscos implícitos, ao implantar os Fóruns Regionais BECE tenta-se descobrir os
meios de resolver o problema. Os Créditos de Carbono, se mal desenhados e lançados no
mercado no afã da euforia, apenas para suprir uma expectativa de captar investimentos in-
ternacionais, podem mascarar a ação de muitos “oportunistas de negociatas”.
Em função disso, foi criado um certificado que é emitido pelas agências de proteção
ambiental reguladoras, atestando que houve redução de emissão de gases do efeito estufa.
A quantidade de créditos de carbono recebida varia de acordo com a quantidade de
emissão de carbono reduzida.
Foi convencionado que uma tonelada de dióxido de carbono (CO2) equivale a um crédito de
carbono. Outros gases que contribuem para o efeito estufa também podem ser convertidos
em créditos de carbono, utilizando o conceito de carbono equivalente.
Alguns criticam esses certificados por entenderem que eles autorizam países e indústrias a
poluir. E isso pode ser verdade, pois a intenção da criação desse certificado era organizar
critérios de neutralização da emissão desses gases poluidores.
Porém, também havia embutido dentro do programa a intenção de que os países poluidores
diminuissem suas emissões, e que esse mercado de carbono servisse de estímulo para
incentivar os países em desenvolvimento, atraídos pelo ganho financeiro, para que
cuidassem melhor de suas florestas e evitassem queimadas.
A criação dos créditos de carbono tem um papel importante de conscientização dos países e
suas indústrias.
Pode-se dizer que créditos de carbono são gerados a partir de projetos que reduzam as
emissões já realizadas ou que inibam futuras emissões de carbono para a atmosfera. Os
projetos de MDL são analisados de acordo com avaliações técnicas que incluem estudo de
viabilidade técnica e econômica do projeto, estimativa da quantidade de créditos de carbono
que podem ser gerados e o investimento necessário para a implementação do projeto.
Quando o projeto MDL é implantado e a redução dos gases do efeito estufa é certificada,
obtem-se os Certificados de Redução de Emissão de Carbono (CRE), negociáveis no Mer-
cado de Carbono. Segundo SNSA (2006), os requisitos para obtenção dos CRE são:
Os Consórcios Públicos são instrumentos legais geridos a partir de contratos entre entes
federados e estes contratos devem versar sobre a titularidade dos CREs produzidos. No que
diz respeito aos aterros privados, mesmo que estes recebam resíduos sólidos oriundos da
limpeza pública municipal, eventuais introduções para captação do biogás ou mesmo a im-
plantação de uma nova infra-estrutura traria à entidade privada, a certificação da redução de
emissões e os respectivos créditos de carbono.
Obviamente, a introdução desta nova variável acarretou modificações nos sistemas de ges-
tão dos resíduos sólidos urbanos, pois passou a incluir a capacidade de comercialização
dos créditos de carbono para a administração pública através da disposição adequada de
seus resíduos em aterros sanitários. Da mesma forma, o aproveitamento do lixo urbano, nas
usinas que geram energia elétrica, também incluem a possibilidade de negociação dos cré-
ditos de carbono, se a redução das emissões forem certificadas.
Um exemplo dessa situação é observado em Campos dos Goytacazes, cuja Lei nº 7.951, de
3 de outubro de 2007, autoriza a outorgar concessão da Gestão Integrada do Sistema de
Limpeza Pública do Município e institui, no §1º do artigo 3º, que o edital de licitação da con-
cessão poderá exigir que a concessionária ficará obrigada a recolher ao Município uma par-
cela, a título de outorga, do valor monetário por ela a ser recebido, mensalmente, junto a
seus outros clientes usuários da CTR, bem como dos valores oriundos da eventual comerci-
alização no mercado mundial dos créditos de carbono.
O MDL está inserido no artigo 12 do Protocolo de Kyoto. Fruto de uma proposta brasileira, o
mecanismo auxilia os países emergentes a alcançarem o desenvolvimento sustentável e se
beneficiarem de atividades de projetos que resultem em Reduções Certificadas de Emis-
sões, mediante oferta de capital para financiamento de projetos destinados à redução de
gases de efeito-estufa.
Projetode compos-
15 233/09 Aproveitamento de biogás Duque de Caxias
tagem "Lixo Zero"
Fonte: Comissão Interministerial no Âmbito do Desenvolvimento Limpo. Disponível na internet.
http://www.mtc.gov.br. Acesso em fevereiro/2010.
Responsável por 83% da produção de petróleo nacional, o Norte Fluminense se prepara, até
2010, para receber R$68,5 bilhões em investimentos da Petrobrás, do total de R$86 bilhões
previstos para o Estado do Rio de Janeiro. A cadeia produtiva do petróleo gera ao menos 25
mil empregos diretos e indiretos e a extração rende, anualmente, royalties e participações
especiais de quase R$2 bilhões aos nove municípios produtores da Bacia de Campos. Mas
os indicadores sociais dessas cidades nem de longe espelham sua pujança econômica.
A Região tem vocação histórica para se tornar grande fornecedor de energia - fica em Quis-
samã a usina de álcool mais antiga do país. Porém, enquanto a disparada no preço do pe-
tróleo multiplicou os investimentos em álcool no Brasil (há 89 usinas em construção), o setor
sucroalcooleiro do Norte Fluminense demora a decolar.
5.6 Considerações
Até a década de 70 não haviam políticas públicas voltadas para o meio ambiente no Brasil,
ou seja, as questões ambientais não eram prioridades nas políticas públicas, o que refletiu
no atraso do estabelecimento de normas ambientais no país. Em 1972 foi promovida na
cidade de Estocolmo a Conferencia das Nações Unidas para o Meio Ambiente, de acordo
com Ferreira (1998) a posição do Brasil em relação às questões ambientais colocadas pela
Conferencia foi que o crescimento econômico não deveria ser sacrificado em nome de um
ambiente mais puro. Os delegados brasileiros até reconheceram a ameaça da poluição am-
biental, mas sugeriram que os países desenvolvidos deveriam pagar pelos esforços dessa
purificação.
Porém, em 1973, um ano após a Conferencia de Estocolmo e como produto desta, foi criada
a Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA), ligada ao Ministério do Interior, apresen-
tando grande descentralização e um acentuado viés regulatório.
A Sema dedicava-se a legislar e aos assuntos que demandavam negociação em nível na-
cional, tais como a produção de detergentes biodegradáveis, a poluição por veículos e a
criação de unidades nacionais de conservação. Até então só existia no Brasil recursos es-
pecíficos que regulamentavam a exploração dos recursos naturais, tais como: Código das
Águas, Código Florestal, Defesa da Borracha entre outros.
No ano de 1981 foi criada a Lei nº 6.938, implementando a Política Nacional do Meio Ambi-
ente, estabelecendo ações, objetivos e instrumentos. Entre os quais foram estabelecidos
padrões de qualidade ambiental, o zoneamento ambiental, a avaliação de impactos ambien-
tais, o licenciamento e revisão de atividades efetivas ou potencialmente poluidoras, etc.
Na mesma época da criação da SEMA foram criados o Sistema Nacional do meio Ambiente
(SISNAMA) e o Conselho nacional do Meio Ambiente (CONAMA), dois importantes órgãos
que foram os precursores na sistematização da política ambiental brasileira. No final dos
anos 80 foi criado o Instituto Nacional do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renová-
veis (IBAMA) com o objetivo de regulamentar e fiscalizar as atividades que possam ser lesi-
vas ao meio ambiente.
Na década de 90, duas importantes leis para a defesa do meio ambiente foram aprovadas,
em 1996 foi criada a Política Nacional dos Recursos Hídricos, que versa sobre o uso e ges-
tão dos recursos hídricos, e em 1998, foi criada a Lei de Crimes Ambientais que prevê pena-
lidades para os responsáveis de atividades lesivas ao ambiente, sendo uma das mais avan-
çadas do mundo. Assim, condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente pas-
saram a ser punidas civil, administrativa e criminalmente. Além da punição esta lei incorpora
métodos e possibilidades de não aplicação das penas, desde que o infrator recupere o dano
ou, de outra forma, pague sua dívida à sociedade.
Atualmente a instituição ambiental é gerenciada nas três esferas – federal, estadual e muni-
cipal – estando na esfera federal é o Ministério do Meio Ambiente (MMA) que tem como ob-
jetivo planejar a política nacional do meio ambiente, o Conselho Nacional do Meio Ambiente
(CONAMA), órgão ministerial deliberativo, que tem por objetivo assessorar, estudar e propor
diretrizes para as políticas ambientais com ampla participação da sociedade civil, e por fim,
o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) que
objetiva fiscalizar as diversas atividades sobre o ambiente, inclusive das exigências dos es-
tudos e dos relatórios de impactos ambientais - EIAs /RIMAs.
A gestão ambiental pública no Estado do Rio de Janeiro está apoiada no sistema estadual
de meio ambiente, coordenado pela SEA e da qual fazem parte:
e) o Fundo Estadual de Controle Ambiental (FECAM), fundo de natureza contábil que tem
por objetivo financiar projetos de apoio à execução da Política Estadual de Meio Ambiente.
Os recursos são provenientes, principalmente, da arrecadação de multas e indenizações por
infração à legislação ambiental estadual e de royalties de petróleo.
Compete ao CONEMA:
I - Definir as áreas em que a ação do Estado do Rio de Janeiro relativa à qualidade ambien-
tal deva ser prioritária, considerando as macrorregiões ambientais estabelecidas no Decreto
n° 26.058, de 2000;
VII - Propor temas prioritários para a pesquisa aplicada à conservação e à utilização susten-
tada do meio ambiente;
O Instituto, formado pela fusão de três Instituições (Feema, Serla e IEF), nasce com a pre-
tensão de ser um órgão ambiental de referência. A meta é exercer papel estratégico na a-
Notadamente, a legislação ambiental advinda das Leis Orgânicas dos municípios do Norte e
Noroeste Fluminense seguem a lei federal e a estadual, com alguns detalhamentos locais
em alguns casos.
A seguir seguem os trechos referentes a legislação ambiental contidas na Lei Orgânica dos
seus respectivos municípios, para a Região Noroeste e Norte Fluminense.
6.3.1.1 Aperibé
Lei Orgânica Municipal publicada em 30 de junho de 1993.
TÍTULO VI - Disposições Orgânicas Gerais
Art. 157 - Quanto ao meio ambiente, o Município observará:
157.1 - Todos têm direito a um ambiente saudável e ecologicamente equilibrado, bem de
uso comum do povo e essencial à adequada qualidade de vida, impondo-se a todos e, es-
sencialmente aos poderes públicos municipais, o dever de recuperá-lo para o benefício das
gerações atuais e futuras.
157.2 - Para assegurar a efetividade desses direitos, compete ao Município:
157.2.1 - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais das espécies e dos e-
cossistemas;
157.2.2 - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou de atividade potencialmente
causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambien-
tal, a que dará publicidade;
157.2.3 - proteger:
6.3.1.3 Cambuci
Lei Orgânica Municipal publicada em 5 de abril de 1990.
CAPÍTULO XI - Das Políticas Municipais
Seção VI - Da Política do Meio Ambiente
510 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
Art. 206 – O Município deverá atuar no sentido de assegurar a todos os cidadãos o direito
ao meio ambiente ecologicamente saudável e equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial à qualidade de vida.
Parágrafo único - Para assegurar efetividade a esse direito, o Município deverá articular-se
com os órgãos estaduais, regionais e federais competentes e ainda, quando for o caso, com
outros Municípios, objetivando a solução de problemas comuns relativos a proteção ambien-
tal.
Art. 207 – O Município deverá atuar mediante planejamento, controle e fiscalização das ati-
vidades, públicas ou privadas, causadoras efetivas ou potenciais de alterações significativas
no meio ambiente.
Art. 208 – O Município, ao promover a ordenação de seu território, definirá zoneamento e
diretrizes gerais de ocupação que assegurem proteção dos recursos naturais, em conso-
nância com o disposto na legislação estadual pertinente.
Art. 209 – A política urbana do Município deverá contribuir para a proteção do meio
ambiente, através de adoção de diretrizes adequadas de uso e ocupação do solo urbano.
Art. 210 – Nas licenças de parcelamento, loteamento e localização, o Município exigirá o
cumprimento da legislação de proteção ambiental emanada da União e do Estado.
Art. 211 – As empresas concessionárias ou permissionárias de serviços públicos deverão
atender rigorosamente aos dispositivos de proteção ambiental em vigor, sob pena de não
ser renovada a concessão ou permissão pelo Município.
Art. 212 – O Município assegurará a participação das entidades representativas da
comunidade no planejamento e na fiscalização de proteção ambiental, garantindo o
amplo acesso dos interessados às informações sobre as fontes de poluição e degradação
ambiental ao seu dispor.
Art. 213 – É terminantemente proibido jogar lixo nos rios, valões e ribeirões em todo o terri-
tório municipal.
Art. 214 – O Poder Executivo poderá conveniar-se com órgãos federais e estaduais para a
execução dos serviços e obras essenciais de tratamento dos esgotos sanitários no Municí-
pio.
6.3.1.4 Italva
Lei Orgânica Municipal publicada em 04 de abril de 1990.
TÍTULO VII - Da Educação, da Cultura, do Desporto, do Meio Ambiente e da Saúde
CAPÍTULO II Do Meio Ambiente
Art. 79 - O Município, através de lei, disporá sobre a política ambientalista, observando os
princípios da Constituição da república e a orientação dos Órgãos Federais e Estaduais,
adaptáveis às condições locais.
6.3.1.5 Itaocara
Lei Orgânica Municipal publicada em 05 de abril de 1990.
CAPÍTULO XII - Das Políticas Municipais
Seção IX - Do Meio Ambiente
Art. 297 - Todos têm direito ao meio ambiente saudável e ecologicamente equilibrado, im-
pondo-se a todos e, em especial, ao Poder Público Municipal, o dever de defendê-lo, pre-
servá-lo e conservá-lo para o benefício das gerações atuais e futuras.
Parágrafo Único - O direito ao ambiente saudável estende-se ao ambiente, de trabalho, fi-
cando o Município obrigado a garantir e proteger o trabalhador contra toda e qualquer con-
dição nociva à sua saúde física e mental.
Art. 298 - É dever do Poder Público elaborar e implantar, através de lei, um Plano Municipal
de Meio Ambiente e Recursos Naturais que contemplará a necessidade do conhecimento
das características e recursos dos meios físico e biológico, de diagnóstico de sua utilização
6.3.1.6 Itaperuna
Lei Orgânica Municipal publicada em 05 de abril 1990.
TÍTULO V - Da Ordem Econômica e Social
CAPÍTULO III - Do Orçamento
SEÇÃO IV – Da Política Agrícola, Pesqueira e do Meio Ambiente
SUBSEÇÃO III – Do meio ambiente
Art. 213 – Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente saudável e equilibrado, bem
de uso comum do povo e essencial à qualidade de vida, impondo-se a todos, e em especial
ao Município, o dever de zelar por sua recuperação e preservação em benefício das gera-
ções atuais e futuras.
Parágrafo único – Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Municipal:
I – zelar pela utilização racional dos recursos naturais;
II – preservar e restaurar a diversidade e a integridade do patrimônio genético, bio-
lógico, ecológico e paisagístico;
III – proteger a flora e a fauna;
514 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
IV – estimular e promover reflorestamento ecológico, em áreas degradadas, objeti-
vando especialmente a proteção de encostas e dos recursos hídricos, a consecução de ín-
dices mínimos de cobertura vegetal, o reflorestamento econômico em áreas ecologicamente
adequadas, visando suprir a demanda de matéria-prima de origem florestal e a preservação
das florestas nativas;
V – proibição do despejo nas águas de calcas ou vinhotos, bem como de resíduos
de dejetos capazes de torná-las impróprias, ainda que temporariamente, para o consumo e
a utilização normais ou para sobrevivência da espécie;
VI – informar sistematicamente à população sobre os níveis de poluição, a qualida-
de do meio ambiente, as situações de risco de acidentes e a presença de substâncias po-
tencialmente danosas à saúde na água potável e nos alimentos;
VII – promover medidas judiciais e administrativas de responsabilização dos causa-
dores de poluição ou de degradação ambiental e os recursos oriundos de multas, serão a-
plicados no desenvolvimento de tecnologia e na implantação de projetos de recuperação do
meio ambiente;
VIII – buscar a integração com órgãos federais, estaduais e particulares, nos esfor-
ços para garantir e aprimorar o controle da poluição, inclusive no ambiente de trabalho;
IX – criar o Conselho Municipal do Meio Ambiente, de composição paritária, no qual
participarão os Poderes Executivos e Legislativo, comunidades científicas e associações
civis, na forma da lei, além do Serviço de Extensão Rural oficial.
Art. 214 – Compete ainda ao Município:
I – promover e educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientiza-
ção pública para preservação do meio ambiente;
II – a nível urbano a educação ambiental será de responsabilidade dos estabeleci-
mentos de ensino público e privado;
III – a nível Rural a educação ambiental será de responsabilidade de Secretaria de
Educação ou Secretaria do Meio Ambiente ou Agricultura, juntamente com o Serviço Oficial
de Assistência Técnica e Extensão Rural.
Art. 215 – A efetiva implantação de áreas ou pólos industriais, bem como as transformações
de uso, dependerá de estudo de impacto ambiental e do correspondente licenciamento, na
foram da lei:
I – o registro dos projetos de loteamentos dependerá do prévio financiamento na
forma da legislação de proteção ambiental;
II – as propriedades rurais ficam obrigadas a preservar, ou a recuperar com espé-
cies nativas, um mínimo de 05% (cinco por cento) de suas áreas.
Art. 216 – São áreas de preservação permanente:
I – as áreas de proteção das nascentes dos rios;
II – as áreas que abriguem exemplares raros da fauna e da flora, bem como aque-
las que servem como local de pouso ou reprodução de espécies migratórias;
III – as paisagens notáveis.
Art. 217 – As coberturas florestais, existentes no Município, são consideradas indispensá-
veis ao processo de desenvolvimento.
Art. 218 – O Município garantirá a compatibilização da política de meio ambiente com a polí-
tica agrária, através de:
I – seus órgãos de fiscalização e controle;
II – do serviço de assistência técnica e extensão rural e pescadores oficiais;
III – da pesquisa agropecuária oficial;
IV – dos programas de incentivo fiscal.
6.3.1.9 Natividade
Lei Orgânica Municipal publicada em 05 de abril de 1990.
TÍTULO IV - Da Ordem Econômica e Social
CAPÍTULO VIII - Do Meio Ambiente
Art. 192. Todos têm o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público Muni-
cipal e à coletividade o dever de defendê-lo e preserva-lo para as presentes e futuras gera-
ções.
§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
I - preservar e restaurar, os processos ecológicos essenciais e prover o manejo
ecológico das espécies e ecossistemas;
II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscali-
zar as entidades dedicadas à `pesquisa e manipulação de material genético;
III - definir espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegi-
dos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer
utilização que comprometa a, integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;
IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente
causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambien-
tal, a que se dará publicidade;
V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e
substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente;
VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientiza-
ção pública para a preservação do meio ambiente;
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da (ei, as práticas que coloquem
em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais
a crueldade.
§ 2º - Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio am-
biente degradado, de acordo com Solução técnica exigida pelo órgão público competente,
na forma da lei.
§ 3º - As condutas e atividades consideradas, lesivas ao meio ambiente sujeitarão
os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independen-
temente da obrigação de reparar os danos causados.
§ 4º - A capitação em cursos d'água pata fins industriais será feita a jusante do pon-
to de lançamento dos efluentes líquidos da própria indústria, na forma da lei;
§ 5º - Os servidores públicos encarregados da execução da política municipal do
meio ambiente, que tiverem conhecimento de infrações persistentes, intencionais ou por
omissão dos padrões e normas ambientais, deverão, imediatamente, comunicar o fato ao
Ministério Público, indicando os elementos de convicção, sob pena de responsabilidade ad-
ministrativa, na forma da lei.
Art. 193. Fica o poder Público Municipal autorizado a criar na forma da lei, o Fundo Munici-
pal de Conservação Ambiental, destinado à implementação de programas e projetos de re-
cuperação e preservação do meio ambiente; vedada sua utilização para pagamento de pes-
soal da administração pública direta e indireta ou de despesas de custeio diversas de sua
finalidade.
§ 1º Constituirão recursos para o fundo de que trata o caput deste artigo, entre ou-
tros:
I - 20% (vinte por cento) da compensação financeira a que se refere o parágrafo ú-
nico, artigo 101 desta Lei Orgânica;
II - no produto das multas administrativas e de condenações judiciais por atos lesi-
vos ao meio ambiente;
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 521
III - dotações de créditos adicionais que lhe forem atribuídos;
IV - empréstimos, repasses, doações, subvenções, auxílios, contribuições, legados
ou quaisquer transferências de recursos;
IV - rendimentos provenientes de suas operações ou aplicações financeiras.
§ 2º - A administração do fundo de que trata este artigo caberá a um Conselho em
que participarão necessariamente o Ministério Público e representantes da comunidade, na
forma a ser estabelecida em lei.
6.3.1.10 Porciúncula
Lei Orgânica Municipal publicada em 04 de abril de 1990.
CAPÍTULO V - Da Ordem Econômica e Social
Seção IV - Da Educação, da Cultura e do Desporto
Subseção V - Do Meio Ambiente
Art. 122 - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso co-
mum do. povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à co-
munidade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Município:
I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo eco-
lógico das espécies e ecossistemas;
II - definir, em lei complementar, os espaços territoriais do Município e seus compo-
nentes a serem especialmente protegidos e a forma da permissão para a alteração e su-
pressão vedado qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifi-
quem sua proteção;
III - exigir, na forma da lei, para instalação de obras, atividade ou parcelamento do
solo potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudos prá-
ticos de impacto ambientar, a que se dará publicidade;
IV - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e
substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente;
V - promover a educação ambiental na sua rede de ensino e a conscientização da
comunidade para a preservação do meio ambiente;
VI - proteger a fauna e a flora, vedadas na forma da Lei, as práticas que coloquem
a extinção de espécies ou submetam animais à crueldade.
§ 2º - A captação em cursos d'água para fins industriais será feita a jusante do pon-
to do lançamento dos afluentes líquidos da própria, na forma da Lei.
§ 3º - Aquele que explorar recursos minerais, inclusive extração de areia, cascalho
ou pedreiras, fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado de acordo com solução
técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da Lei.
§ 4º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão
os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, às sanções administrativas e penais, independen-
temente da obrigação de reparar os danos causados.
§ 5º - Os servidores públicos encarregados da execução da política Municipal do
meio ambiente, que tiverem conhecimento de infrações persistentes intencionais ou por o-
missão, dos padrões e normas ambientais, deverão, imediatamente comunicar o fato ao
Ministério Público, indicando os elementos de convicção, sob pena de responsabilidade ad-
ministrativa, na forma da lei.
Art. 123 - Fica o Poder Público Municipal autorizado a criação na forma da lei, do Fundo
Municipal de Conservação Ambiental, destinado a implementação de programas e projetos
de recuperação e preservação do meio ambiente, vedada sua utilização para pagamento de
pessoal da administração pública, direta e indireta ou de despesas de custeio, diversas de
sua finalidade.
§ 1º - Constituirão recursos para o fundo de que trata o caput deste artigo, entre ou-
tros: I - o produto das multas administrativas e de condenações judiciais por atos lesivos ao
meio ambiente;
522 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
II - dotações e créditos adicionais que lhe forem atribuídos;
III - empréstimos, repasses, doações, subvenções, auxílios, contribuições, legados
ou quaisquer transferências de recursos;
IV - rendimentos provenientes de suas operações ou aplicações financeiras;
§ 2º - A administração do Fundo de que trata este artigo caberá a um Conselho em
que participará necessariamente um representante do Executivo Municipal e representantes
da comunidade, na forma a ser estabelecida em Lei.
6.3.1.13 Varre-Sai
Lei Orgânica Municipal publicada em 30 de junho 1993.
TÍTULO V - Da Ordem Econômica e Social
CAPÍTULO IV - Do Meio Ambiente
Art. 209 - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente saudável e essencial à quali-
dade de vida, impondo-se à todos e em especial ao município o dever de zelar por sua re-
cuperação e preservação em benefício da geração atual e futura.
§ 1o - Para se assegurar a efetividade desse direito, compete ao Município:
I - zelar pela utilização racional dos recursos naturais;
II - preservar e restaurar a integridade do patrimônio genético, biológico e paisagís-
tico;
III - proteger a flora e a fauna;
IV - estimular e promover reflorestamento ecológico, em áreas degradadas, objeti-
vando a proteção de encostas e dos recursos hídricos e o reflorestamento econômico em
áreas ecologicamente adequadas, visando suprir a demanda de matéria-prima e a preser-
vação das florestas nativas;
6.3.2.3 Carapebus
Lei Orgânica Municipal publicada em 20 de maio de 1998
CAPÍTULO VI - Meio Ambiente
Seção I - Princípios Gerais
Princípios Fundamentais
Art. 236 - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, patrimônio co-
mum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se à coletividade e em espe-
cial ao Poder Público o dever de defendê-lo, garantida sua conservação, recuperação e pro-
teção em benefício das gerações atuais e futuras. Incumbência do Poder Público
Art. 237 - Visando à defesa dos princípios a que se refere o artigo anterior, incumbe ao Po-
der Público:
I - estabelecer legislação apropriada, na forma do disposto no artigo 30 da Constitu-
ição da República;
II - definir política específica, assegurando a coordenação adequada dos órgãos di-
reta ou indiretamente encarregados de sua implementação;
III - zelar pela utilização racional e sustentada dos recursos naturais e, em particu-
lar, pela integridade do patrimônio ecológico, genético, paisagístico, histórico, arquitetônico,
cultural e arqueológico;
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 529
IV - proteger a fauna e flora silvestres, em especial as espécies em risco de extin-
ção, as vulneráveis e raras, preservando e assegurando as condições para sua reprodução,
reprimindo a caça, a extração, a captura, a matança, a coleção, o transporte e a comerciali-
zação de animais capturados na natureza e consumo de seus espécimes e subprodutos e
vedadas as práticas que submetam os animais, nestes compreendidos também os exóticos
e domésticos, a tratamento desnaturado;
V - controlar, monitorar e fiscalizar as instalações, equipamentos e atividades que
comportem risco efetivo ou potencial para a qualidade de vida e o meio ambiente;
VI - estimular a utilização de fontes energéticas alternativas não poluidoras, em par-
ticular, do gás natural, do biogás para fins automotivos e de equipamentos e sistemas de
aproveitamento da energia solar e eólica;
VII - promover a proteção das águas contra ações que possam comprometer o seu
uso, atual ou futuro;
VIII - proteger os recursos hídricos, minimizando a erosão e a sedimentação;
IX - efetuar levantamento dos recursos hídricos, incluindo os do subsolo, para pos-
terior compatibilização entre os seus usos múltiplos efetivos e potenciais com ênfase no de-
senvolvimento e no emprego de métodos e critérios de avaliação da qualidade das águas;
X - estimular e promover o reflorestamento ecológico em áreas degradadas, sem-
pre que possível com a participação comunitária, através de planos e programas de longo
prazo;
XI - promover os meios necessários para evitar a pesca predatória;
XII - disciplinar as atividades turísticas, compatibilizando-as com a preservação de
suas paisagens e dos recursos naturais;
XIII - garantir a limpeza e a qualidade da areia e da água das praias, a integridade
da paisagem natural e o direito ao sol;
XIV - garantir a limpeza e a qualidade dos bens públicos.
Execução da Política de Meio Ambiente
Art. 238 - São instrumentos de execução da política de meio ambiente estabelecida nesta
Lei Orgânica:
I - a fixação de normas e padrões como condição para o licenciamento de ativida-
des potencialmente poluidoras ou causadoras de impacto ambiental;
II - a permanente fiscalização do cumprimento das normas e padrões ambientais
estabelecidos na legislação federal, estadual e municipal;
III - a criação de unidades de conservação, tais como áreas de preservação perma-
nente, de proteção ambiental, de relevante interesse ecológico ou cultural, parques munici-
pais, reservas biológicas e estações ecológicas;
IV - o tombamento de bens;
V - a sinalização ecológica.
Seção II - Controle e Preservação do Meio Ambiente
Disposições Gerais
Art. 239 - São instrumentos, meios e obrigações de responsabilidade do Poder Público para
preservar e controlar o meio ambiente:
I - celebração de convênios com universidades, centros de pesquisa, associações
civis e organizações sindicais nos esforços para garantir e aprimorar o gerenciamento ambi-
ental;
II - adoção das áreas das bacias e sub-bacias hidrográficas, como unidades de pla-
nejamento e execução de planos, programas e projetos;
III - estímulo à pesquisa, desenvolvimento e utilização de:
a) tecnologias poupadoras de energia;
b) fontes energéticas alternativas, em particular do gás natural e do biogás para fins
automotivos;
c) equipamentos e sistemas de aproveitamento da energia solar e eólica.
IV - concessão de incentivos fiscais e tributários, conforme estabelecido em lei, à-
queles que:
530 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
a) implantem tecnologias de produção ou de controle que possibilitem a redução
das emissões poluentes a níveis significativamente abaixo dos padrões em vigor;
b) adotem fontes energéticas alternativas menos poluentes.
V - execução de políticas setoriais, com a participação orientada da comunidade,
visando à coleta seletiva, transporte, tratamento e disposição final de resíduos urbanos, pa-
tológicos e industriais, com ênfase nos processos que envolvam sua reciclagem;
VI - registro, acompanhamento e fiscalização das concessões de direitos de pes-
quisa e exploração de recursos hídricos e minerais no território municipal, condicionadas à
autorização da Câmara Municipal;
VII - implantação descentralizada de usinas de processamento e reprocessamento
de resíduos urbanos, visando a neutralizar ou eliminar impactos ambientais;
VIII - manutenção e defesa das áreas de preservação permanente, assim entendi-
das aquelas que, pelas suas condições fisiográficas, geológicas, hidrológicas, biológicas ou
climatológicas, formam um ecossistema de importância no meio ambiente natural, desta-
cando-se:
a) os manguezais, as áreas estuarinas e as restingas;
b) as nascentes e as faixas marginais de proteção de águas superficiais;
c) a cobertura vegetal que contribua para a estabilidade das encostas sujeitas à e-
rosão e deslizamentos ou para fixação de dunas;
d) as áreas que abriguem exemplares raros, ameaçados de extinção ou insuficien-
temente conhecidos da flora e da fauna, bem como aquelas que sirvam como local de pou-
so, abrigo ou reprodução de espécies;
e) lagoas, lagos, lagunas, parque e outros bens naturais que a lei definir.
IX - criação de mecanismos de entrosamento com outras instâncias do Poder Pú-
blico que atuem na proteção do meio ambiente e áreas correlatas sem prejuízo das compe-
tências e da autonomia municipal;
X - instituição de limitações administrativas ao uso de áreas privadas, objetivando a
proteção de ecossistemas, de unidades de conservação e da qualidade de vida.
§ 1º - O Poder Público estimulará a criação e a manutenção de unidades de con-
servação privadas, principalmente quando for assegurado o acesso de pesquisadores e de
visitantes, de acordo com suas características e na forma do plano diretor.
§ 2º - As limitações administrativas a que se referem o inciso X serão averbadas no
Registro de Imóveis no prazo máximo de três meses, contados de sua instituição.
§ 3º - A pesquisa e a exploração a que se refere o inciso VI deste artigo serão precedidas de
licenciamento do órgão municipal competente.
§ 4º - Será criado o conselho Municipal do Meio Ambiente que será formado por re-
presentantes de distintas entidades da sociedade civil, sem ônus para o Município e com
atribuições que a lei estabelecer.
6.3.2.5. Macaé
Lei Orgânica Municipal publicada em 05 de Abril de 1990
TÍTULO IV - Da Ordem Econômica e do Meio Ambiente
CAPÍTULO II - Do Meio Ambiente
Art. 156 - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, a bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público Muni-
cipal e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gera-
ções.
§ 1° - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe o poder público estabe-
lecer legislação apropriada na forma do disposto no artigo 30, incisos I e II da Constituição
da República, definindo a política setorial específica, assegurando a coordenação adequada
dos órgãos direta ou indiretamente encarregados de sua implantação, visando a:
a) preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo das
espécies e ecossistemas;
b) preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do Município, de
fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético;
c) definir espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegi-
dos sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer
utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;
d) zelar pela utilização racional e sustentada dos recursos naturais e, em particular,
pela integridade do patrimônio biológico, em benefício, das gerações atuais e futuras;
e) exigir na forma da lei, para instalação de obras ou atividades potencialmente
causadoras de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambi-
ental, a que se dará publicidade:
1 - para efeito desse item, considera-se impacto ambiental o resultado de interferência tanto
no ambiente natural como no modo de vida consolidado pela população;
f) controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e
substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente;
1 - fica expressamente proibida a instalação de depósitos explosivos e qualquer de seus
similares, mesmo fogos de espetáculos pirotécnicos, no perímetro urbano e na periferia da
6.3.2.6 Quissamã
Lei Orgânica Municipal publicada em 17 de novembro de 990
SEÇÃO IX – da política do meio ambiente
Art. 275 - Todos têm o direito ao meio ambiente ecologicamente sadio e equilibrado, bem de
uso comum e essencial a qualidade de vida cabendo à sociedade e, em especial, ao Gover-
no o dever de recuperá-lo e protegê-lo em beneficio das presentes e futuras gerações que
devem recebê-lo enriquecido,
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 535
Art. 276 - Incumbe ao Governo Municipal, respeitando as orientações dos Governos Federal
e Estadual, ou colaborando com eles e com a participação da sociedade através de seus
organismos representativos:
I - proceder ao saneamento econômico-ecológico do território do Município;
II - restaurar e defender as unidades de proteção ambiental e as reservas ecológi-
cas, assim consideradas pela legislação vigente, situadas total ou parcialmente nos limites
do Município;
III - inventariar, mapear e gravar todos os ecossistemas nativos ou parcela delas,
localizados no território do Município, vedando a sua redução e adulteração e promovendo
direta ou indiretamente, a sua restauração de acordo com a solução técnica dos órgãos pú-
blicos competentes;
IV - estimular e promover o florestamento e o reflorestamento ecológico em áreas
degradadas, visando especialmente a proteção de margens de ecossistemas aquáticos:
V - criar unidades de preservação e de conservação ambiental com a finalidade de
proteger e permitir a restauração de amostra de todos os ecossistemas ou de seus rema-
nescentes, existentes no território do Município, providenciando com brevidade a sua efeti-
vação por meio de indenizações devidas e a manutenção de serviços públicos indispensá-
veis à sua integridade.
VI - tomar medidas que permitam a compatibilização de atividades econômicas e
proteção do meio ambiente estimulando, principalmente o desenvolvimento de técnicas e
tecnologias apropriadas à utilização auto-sustentada, múltipla, integrada e ótima dos ecos-
sistemas, especialmente com relação às coleções hídricas existentes nos limites do território
municipal;
VII - impor e exigir dos órgãos competentes a adoção de normas conservacionais para ex-
tração e utilização dos recursos não renováveis e renováveis.
VIII - estimular e promover a arboricultura com essências autóctones e diversifica-
das em áreas adequadas para o suprimento de energia e matéria prima;
IX - elaborar e executar programas de arborização urbana compatíveis com as ca-
racterísticas ambientais e culturais do município;
X - impedir a coleta conjunta de águas pluviais e de esgotos domésticos e industri-
ais;
XI - exigir que os lançamentos finais dos sistemas públicos e particulares de coletas
de esgotos sanitários sejam precedidos no mínimo, por tratamento primário completo, na
forma da lei;
XII - proibir o despejo nas águas de caldas ou vinhoto, bem como de resíduos de
objetos capazes de torná-las impróprias, ainda que temporariamente, para o consumo e a
utilização normal ou para sobrevivência das espécies;
XIII - adotar medidas para controlar ou impedir a poluição de qualquer tipo;
XIV - zelar pela boa qualidade dos alimentos;
XV - estimular a pesquisa, o desenvolvimento e a utilização de fontes energéticas
renováveis e não-poluentes e tecnologias poupadoras de energia, assegurando a todas as
pessoas, nos meios rural e urbano o direito de utilizá-los;
XVI - tomar medidas que assegurem a diversidade e a integridade genética do Mu-
nicípio e na região em que este se insere;
XVII - a tutela sobre animais domésticos, assegurando-lhes existência e coibindo
toda e qualquer prática que implique em crueldade inclusive exigindo a adoção de equipa-
mentos e procedimentos adequados para os animais de tração e de métodos de insensibili-
zação em animais de abate;
XVIII - proibir a realização de eventos que impliquem no consumo de animais captu-
rados em seus ambientes nativos;
XIX - proteger os monumentos e os sítios paleontológicos e paleocológicos;
XX - promover a educação ambiental, formal e informal em todos os níveis existen-
tes na rede de ensino ministrando-a através de disciplinas, dos meios de comunicação soci-
al e de outros recursos;
536 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
XXI - divulgar mensalmente, através dos meios de comunicação social, informações
obtidas pela monitoragem do meio ambiente e da qualidade da água distribuída à popula-
ção, a serem fornecidas pelos órgãos governamentais e pelas empresas concessionárias ou
permissionárias ou ainda produzidas pela própria municipalidade, ficando assegurado a to-
dos os interessados acesso a tais informações;
XXII - criar conselho Municipal do Meio Ambiente, de composição paritária, do qual
participarão os Poderes Executivo e legislativo, a comunidade científica e as organizações
não-governamentais, na forma da lei;
XXIII - o Município reservará obrigatoriamente espaço destinado exclusivamente a
despejo do lixo hospitalar não permitindo em hipótese nenhuma o despejo a menos de 500
(quinhentos) metros do lixo doméstico.
§ 1º - Fica excluído da proibição constante no inciso XII deste artigo, o lançamento
de resíduos em áreas especialmente reservadas para este fim, denominadas águas de la-
goas de estabilização.
§ 2º - Incumbe ao Governo Municipal direta ou indiretamente, providenciar a restau-
ração dos ecossistemas vegetais nativos destruídos, de forma a atingir pelo menos o míni-
mo da cobertura exigido
pela legislação vigente, de acordo com solução técnica apresentada pelos órgãos governa-
mentais competentes.
§ 3º - Ficam proibidas obras de drenagem e retificação ou aterros parciais ou totais,
de todos os ecossistemas aquático situados inteiramente nos limites do Município, ainda
que integralmente localizados no interior de propriedade particular, incumbindo ao Governo
Municipal alinhar suas margens e orlas, bem como definir suas respectivas faixas, marginais
de proteção, na forma da lei, até que o órgão governamental competente do Estado tome
tais providências.
§ 4º - Todo e qualquer padrão ambiental adotado pelo Governo Municipal deverá
ser igual ou mais restritivo que os padrões adotados pelo Governo do Estado.
§ 5º - As unidades de preservação ambientais serão criadas por lei ordinária ou de-
creto, este ratificado por lei, e somente alteradas e suprimidas através de lei, vedada qual-
quer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem a sua proteção.
Art. 277 - Na ausência de ação dos Governos Federal e Estadual cumpre ao Governo Muni-
cipal efetuar a transferência das populações e dos estabelecimentos indevidamente instala-
dos em caráter permanente, em áreas destinadas por lei à proteção ambiental inteiramente
situadas nos limites do Município, observados os seguintes princípios:
I - recurso à ação administrativa e judicial para retirada de invasores comprovada-
mente detentores de bens que tornem desnecessários o uso das áreas invadidas;
II - implantação de programas econômicos sociais que permitam a transferência
das populações de baixa renda, sem qualquer ônus para elas, para áreas seguradas e lega-
lizadas;
III - implantação de programas que reduzam ao mínimo os impactos ambientais
causados pela transferência que proporcionou às populações transferidas a possibilidade de
melhor qualidade de vida.
Art.178 - Todo e qualquer projeto, obra e atividade que possa causar direta ou indiretamen-
te, efetiva ou potencialmente, danos ao meio ambiente, só terá sua instalação e operação
aprovadas e autorizadas pela Prefeitura mediante apresentação de licença do órgão compe-
tente da União ou do Estado, exigindo-se caso necessário, relatório de impacto ambiental e
sua apresentação em audiência pública na forma da lei.
§ 1º - É dever inadiável da Prefeitura embargar todo e qualquer projeto, obras ou a-
tividades, que instalando-se operando clandestinamente, cause direta ou indiretamente,
potencial ou efetivamente, danos ao meio ambiente e contrarie a legislação em vigor ainda
que conte com a aprovação e a autorização dos órgãos governamentais competentes.
§ 2º - Para defender o meio ambiente no Município e a qualidade de vida de seus
habitantes, o Governo Municipal deverá sempre que necessário, recorrer a todos os meios
cabíveis, administrativos e judiciais.
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 537
Art. 279 - Os servidores públicos que tiverem conhecimento de infrações persistentes e in-
tencionais que comprovadamente agridam o meio ambiente deverão imediatamente comu-
nicar o fato ao Gabinete do Prefeito que tomará as providências cabíveis.
Art. 280 - Após o prazo de 90 (noventa) dias da criação do conselho Municipal de Meio Am-
biente as ações do Governo Municipal concernentes a esta matéria serão norteadas por
política específica na forma da lei.
Art. 281 - O Poder Executivo poderá, através de convênio com qualquer órgão, efetuar ou
fiscalizar a limpeza e conservação de rios e canais dentro do Município.
Art. 282 - Fica criado o Fundo Municipal de Conservação Ambiental, destinado à implemen-
tação de projetos de recuperação e proteção ambientar, vedada a sua utilização para o par-
lamento de pessoal da administração direta e indireta, bem como para o custeio de ativida-
des especificas de política administrativa.
§ 1º - Lei complementar regulamentará as fontes de recursos do fundo, bem como
a sua aplicação e designação de pessoal para executar os trabalhos.
Art. 283 - Fica o Poder Público obrigado a efetuar os despejos de lixos ou detritos em áreas
a serem determinadas pelos órgãos competentes conforme dispuser a lei no prazo de 120
(cento e vinte) dias.
Art. 284 - Toda e qualquer indústria instalada ou que vier a se instalar no Município deverá
obedecer aos padrões ambientais adotados pelo Município e pelo Governo Estadual e Fede-
ral.
Parágrafo único - O não cumprimento do disposto neste artigo implicará na não concessão
do respectivo alvará de funcionamento além do pagamento de muita a ser estabelecida em
lei, que terá obrigatoriamente caráter progressivo.
Art. 285 - Todo aquele que explorar recursos minerais ou de forma comprovada agredir o
meio ambiente, fica obrigado a recuperar o estrago causado, de acordo com a solução téc-
nica exigida pelo Poder Público na forma da lei.
§ 1º - As condutas e atividades comprovadamente lesivas ao meio ambiente sujei-
tarão os infratores a sanções administrativas, com a aplicação de multas diárias e progressi-
vas nos casos de continuidade da infração ou reincidência.
§ 2º - Aquele que utilizar recursos ambientais, fica obrigado, na forma da lei a reali-
zar programas de monitoragem a serem estabelecidos pelos órgãos competentes.
Art. 286 - Fica proibida a queima de canaviais nas propriedades localizadas ria periferia da
cidade bem como nas proximidades das sedes dos distritos.
Parágrafo único - O não cumprimento do disposto neste artigo implicara em multa a ser es-
tabelecida em lei.
Foi informado também que foi aberta uma chamada para os municípios se inscreverem e
estes receberam cursos de capacitação das equipes técnicas municipais visando formar os
quadros dedicados ao licenciamento ambiental e à fiscalização.
Os Estados que fazem divisa com a região em estudo, Minas Gerais e Espírito Santo, pos-
suem estruturas ambientais e legislações distintas, porém, com algumas similaridades em
relação ao Estado do Rio de Janeiro.
Cabe ressaltar que os estados não possuem convênios de caráter ambiental formalizados
em entre si, salvo a participação de Minas Gerais no Comitê Gestor da Bacia do Rio Paraíba
do Sul, uma vez que parte de sua área se encontra em território mineiro.
6.5.1.1 SISEMA
O Sistema Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Sisema) é formado pela Secre-
taria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), pelos conselhos
estaduais de Política Ambiental (Copam) e de Recursos Hídricos (CERH) e pelos órgãos
vinculados: Fundação Estadual do Meio Ambiente (FEAM), responsável pela qualidade am-
550 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
biental no Estado, no que corresponde à Agenda Marrom, Instituto Estadual de Florestas
(IEF) responsável pela Agenda Verde e Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM) que
responde pela Agenda Azul.
6.5.1.2 SEMAD
O Plenário reúne-se, ordinariamente, a cada trimestre, em data, local e hora fixados com
antecedência de pelo menos 5(cinco) dias pela Secretaria Executiva. E, extraordinariamen-
te, por iniciativa do Presidente, da maioria de seus membros ou por solicitação de qualquer
Câmara Especializada, quando convocado pela Secretaria Executiva com antecedência de
no mínimo 2 (dois) dias.
6.5.1.4 CERH
O Conselho Estadual de Recursos Hídricos, CERH – MG, foi criado pelo Decreto. nº
26.961 de 28/04/87 a partir da necessidade da integração dos órgãos públicos, do setor
produtivo da sociedade civil organizada, visando assegurar o controle da água e sua utiliza-
ção em quantidade e qualidade.
Objetivo:
6.5.1.5 FEAM
A Fundação Estadual do Meio Ambiente (FEAM) tem por finalidade executar, no âmbito do
Estado de Minas Gerais, a política de proteção, conservação e melhoria da qualidade ambi-
ental no que concerne à prevenção, à correção da poluição ou da degradação ambiental
provocada pelas atividades industriais, minerárias e de infra-estrutura, bem como promover
e realizar estudos e pesquisas sobre a poluição e qualidade do ar, da água e do solo. É res-
ponsável pela Agenda Marrom.
6.5.1.7 IGAM
O Instituto Mineiro de Gestão das Águas ( Igam ) é responsável pela concessão de direito
de uso dos recursos hídricos estaduais, pelo planejamento e administração de todas as a-
ções voltadas para a preservação da quantidade e da qualidade de águas em Minas Gerais.
Coordena, orienta e incentiva a criação dos comitês de bacias hidrográficas, entidades que,
de forma descentralizada, integrada e participativa, gerenciam o desenvolvimento sustentá-
vel da região onde atuam.
É o instrumento legal que assegura ao usuário o direito de utilizar os recursos hídricos. Atra-
vés da outorga, o IGAM executa a gestão quantitativa e qualitativa do uso da água, emitindo
autorização para captações e lançamentos, bem como para quaisquer intervenções nos
rios, ribeirões e córregos de Minas Gerais.
A outorga não dá ao usuário a propriedade de água ou sua alienação, mas o simples direito
de seu uso. Portanto, a outorga poderá ser suspensa, parcial ou totalmente, em casos ex-
tremos de escassez ou de não cumprimento pelo outorgado dos termos de outorga previstos
nas regulamentações, ou por necessidade premente de se atenderem os usos prioritários e
de interesse coletivo.
São de domínio estadual as águas subterrâneas e as águas superficiais dos cursos de água
que escoam desde sua nascente até a foz passando apenas por um Estado. São de domí-
nio da União as águas dos rios e lagos que banham mais de um estado, fazem limite entre
estados ou entre o território do Brasil e o de um país vizinho.
O procedimento inicial para o cadastro de uso insignificante são os mesmos para a solicita-
ção de outorga.
6.5.4.1 SEAMA
6.5.4.3 CERH
O Conselho Estadual de Recursos Hídricos - CERH, é um órgão colegiado central a nível de
deliberação superior do Sistema Integrado de Gerenciamento e Monitoramento dos Recur-
sos Hídricos, tendo funções deliberativas, normativas e recursais, sendo integrante da estru-
tura organizacional da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos - SEA-
MA e auxiliar nas ações administrativas comandadas pela pasta.
O CERH foi instituído através do Decreto 038 -R, de 6 de abril de 2000, estando atualmente
regulamentado pelo Decreto 1.737, de 3 de outubro de 2006. O Regimento Interno, vigente,
foi criado através da Portaria nº 003-N, de 13 de dezembro de 2000 e alterado pela Resolu-
ção CERH 011/2006.
6.5.4.4 IEMA
O Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos- IEMA, criado em 2002, é uma
entidade autárquica vinculada à SEAMA, com autonomia técnica, financeira e administrativa
e tem por finalidade planejar, coordenar, executar, fiscalizar e controlar as atividades de
meio ambiente, dos recursos hídricos estaduais e dos recursos naturais federais, cuja ges-
tão tenha sido delegada pela União.
Fazem parte do IEMA os seguintes setores:
• Gerência de Controle Ambiental - GCA
• Gerência de Fiscalização - GFI
• Gerência de Recursos Naturais - GRN
• Gerência de Educação Ambiental - GEA
• Gerência de Recursos Hídricos - GRH
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 555
Figura 2 - Macro Estrutura Ambiental no Estado do Espírito Santo
CONSEMA
Conselho
Estadual de
Meio Ambiente
Gerência de OUTORGA DE
Recursos Hidricos USO DA ÁGUA IDAF
Instituto de
CONREMAS Defesa
IEMA Gerência de Conselhos Agropecuária e
Instituto Estadual de Meio Controle Ambiental LICENCIAMENTO
Regionais de Florestal
Ambiente e Recursos Hídricos Meio Ambiente
Gerência de MONITORAMENTO
Fiscalização (AR, ÁGUA, SOLO)
CERH
Conselho
Gerência de UNIDADES DE SUPRESSÃO
Estadual de
Não Recursos Naturais CONSERVAÇÃO VEGETAL
Recursos
Potencial Poluidor Local? Hidricos
Gerência de EDUCAÇÃO
Educação Ambiental AMBIENTAL
Sim
Comitês de
Bacias
Hidrográficas
Sec. Mun. M.A.
MUNIZ FREIRE
GUARAPARI
SANTA TEREZA
ITAPEMIRIM
Sec. Mun. M.A.
SERRA
LICENCIAMENTO
Licença Ambiental
Ato administrativo pelo qual o órgão competente, estabelece as condições, restrições e me-
didas de controle ambiental que deverão ser obedecidas pelo empreendedor, de forma a
prevenir os impactos ambientais. A Licença Ambiental pode ser Simplificada (LS), Prévia
(LP), de Instalação (LI), de Operação (LO), de Operação para Pesquisa (LOP) e, ainda, de
Regularização (LAR).
Compete ao órgão ambiental estadual o licenciamento ambiental dos empreendimentos e
atividades:
• Localizadas ou desenvolvidas em mais de um município ou em Unidades de Conser-
vação Estadual;
• Localizadas ou desenvolvidas nas florestas;
• Cujos impactos ambientais diretos ultrapassem os limites territoriais de um ou mais
municípios;
• Delegados pela União aos Estados e ao Distrito Federal.
O licenciamento ambiental do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos -
IEMA está previsto em leis, decretos, resoluções e portarias federais e estaduais, e existe
556 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
para assegurar o desenvolvimento dessas atividades sem danos ao meio ambiente. Estão
sujeitas ao licenciamento ambiental os empreendimentos industriais, de pesquisa e extração
mineral, de tratamento e/ou disposição de resíduos, de armazenamento de substâncias pe-
rigosas, imobiliários, comerciais e de serviços, viários, agropecuários, agrícolas, de esgota-
mento sanitário e obras diversas. Tais atividades serão enquadradas de acordo com o porte
e potencial poluidor e/ou degradador.
As atividades florestais e a supressão vegetal têm seu licenciamento realizado pelo Instituto
de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo - IDAF. Já as atividades de pequeno
porte e baixo impacto ambiental podem ser licenciadas por municípios devidamente habilita-
dos.
Licença Ambiental Simplificada (LS): ato administrativo pelo qual o órgão ambiental emite
uma única licença estabelecendo as condições, restrições e medidas de controle ambiental
que deverão ser obedecidas pelo empreendedor para localizar, instalar, ampliar e operar
empreendimentos ou atividades utilizadoras de recursos ambientais consideradas de baixo
impacto ambiental que se enquadrem nas Classes “S” e “I” em instruções normativas do
órgão competente.
O prazo de validade da Licença Simplificada (LS) será, no mínimo, de 4 (quatro) anos , não
podendo ultrapassar 06 (seis) anos, neste último caso, quando comprovada a implementa-
ção do programa de gestão ambiental voluntário e cuja eficiência tenha sido atestada pelo
órgão ambiental.
Vantagens:
• Licença única;
Licença Prévia (LP): Deve ser solicitada na fase inicial do projeto e determina a viabilidade
ambiental e a localização do empreendimento. Especifica as condições básicas a serem
atendidas durante a instalação do empreendimento. A licença Prévia tem validade estabele-
cida pelo cronograma de elaboração dos planos, programas e projetos, mas não pode ser
superior a 5 (cinco) anos.
Licença de Operação (LO): após a instalação dos equipamentos e toda a infra-estrutura ne-
cessária à operação do empreendimento, bem como a implantação dos sistemas de contro-
le de poluição hídrica, atmosférica, de resíduos sólidos, ruídos e vibrações, a Licença de
Operação é emitida, permitindo o início das atividades operacionais. Esta licença tem vali-
dade que varia de 4 (quatro) a 6 (seis) anos.
Além das Licenças Ambientais existem outros Instrumentos de Licenciamento e Controle
Ambiental, destacados a seguir:
• Termo de Compromisso Ambiental (TCA);
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 557
• Consulta Prévia Ambiental (CPA)
Consulta submetida pelo interessado ao órgão ambiental, para obtenção de informações
sobre a necessidade de licenciamento de sua atividade ou sobre a viabilidade de localização
de seu empreendimento.
• Auditoria Ambiental;
Fonte: Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (SEAMA) / Instituto Estadual de
Meio Ambiente e Recursos Hídricos (IEMA) - www.meioambiente.es.gov.br
Avaliação Ambiental AvA: são todos os estudos relativos aos aspectos ambientais relacio-
nados à localização, instalação, operação e ampliação de uma atividade ou empreendimen-
to apresentado como subsídio para análise da licença requerida, tais como:
• AA - Auditoria Ambiental;
• RA - Relatório Ambiental;
• Relatório de Controle Ambiental.
Avaliação ambiental intermediária exigível com base em parecer técnico e/ou jurídico fun-
damentado, em todos os licenciamentos de empreendimentos ou atividades de qualquer
porte e potencial poluidor e/ou degradador, para os quais não seja adequada a exigência de
EIA/RIMA e nem suficiente à exigência de PCA.
• RAP - Relatório Ambiental Preliminar;
• PCA - Plano de Controle Ambiental;
• PRAD - Plano de Recuperação de Área Degradada;
• EVA - Estudo de Viabilidade Ambiental;
• APR - Análise Preliminar de Riscos;
• AAE - Avaliação Ambiental Estratégica;
• EIA/RIMA - Estudo de Impacto Ambiental e respectivo Relatório de Impacto Ambiental;
• Anuência Prévia Ambiental.
Fonte: Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (SEAMA) / Instituto Estadual de
Meio Ambiente e Recursos Hídricos (IEMA) - www.meioambiente.es.gov.br
Apresentação
A outorga de uso de recursos hídricos é um dos instrumentos das Políticas Nacional (Lei
Federal nº 9.433, de 08 de janeiro de 1997) e Estadual (Lei Estadual nº 5.818, de 29 de de-
zembro de 1998) de Recursos Hídricos.
Outorga Preventiva
A outorga preventiva não confere direito de uso de recursos hídricos e se destina a reservar
a vazão passível de outorga, possibilitando, aos investidores, o planejamento de empreen-
dimentos que necessitem desse recurso.
Importância da Outorga
O direito de uso da água não significa que o usuário seja o proprietário da mesma ou que
ocorra alienação desse recurso. Portanto, a outorga poderá ser suspensa, parcial ou total-
mente, em casos de escassez ou de não cumprimento pelo outorgado dos termos de outor-
ga previstos nas regulamentações, ou por necessidade premente de se atenderem os usos
prioritários e de interesse coletivo.
Compete à Agência Nacional de Águas – ANA, outorgar o direito de uso de recursos hídri-
cos em corpos de água de domínio da União. São de domínio da União às águas dos rios e
lagos que banham mais de um estado, fazem limite entre estados ou entre o território do
Brasil e o de um país vizinho.
Concessão: destinada à pessoa jurídica quando o uso do recurso hídrico se destinar à fina-
lidade de utilidade pública. Prazo máximo de vigência: 12 anos.
Permissão: destinada à pessoa jurídica ou física sem destinação de uso com finalidade de
utilidade pública e que produzam efeito insignificante no corpo de água. Prazo máximo de
vigência: 2 anos.
O IEMA ainda não emite outorga para uso de águas subterrâneas e para interferência que
não alteram o regime de vazões dos corpos de água, tendo em vista que os critérios técni-
cos para tais usos serão estabelecidos em Instrução Normativa específica, conforme art.10
e 13-A da Instrução Normativa IEMA nº 019, de 04 de outubro de 2005.
II. As acumulações superficiais, por usuário em um mesmo curso de água, com volume
máximo de 10.000 (dez mil) m3, desde que respeitados os valores estabelecidos no inciso I;
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 561
III. As derivações e captações em corpos de água superficiais, por usuário em um mesmo
corpo de água, para o atendimento a pequenos núcleos populacionais, cujas vazões capta-
das sejam iguais ou inferiores a 1,5 (um vírgula cinco) I/s.
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Fonte: DRM/DJ
Fonte: ZEE – RJ
570 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
ANEXO IV – MAPA DE SUSCEPTIBILIDADE A EROSÃO
Fonte: ZEE – RJ