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LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

DISCIPLINA: ECOSSISTEMAS TERRESTRES

CARACTERIZAÇÃO DO PARQUE NACIONAL DA CHAPADA DOS


VEADEIROS, GOIÁS, BRASIL.

FÁBIO DOS SANTOS MIRANDA


Matrícula 1922918

Polo de Taguatinga - Distrito Federal


2021
INTRODUÇÃO

O Parque Nacional da Chapada dos Veadores (PNCV) é uma unidade de


conservação localizada no estado de Goiás, há cerca de 250 km ao norte de
Brasília, e 470 km ao nordeste de Goiânia. De acordo com o Sistema Nacional de
Unidades de Conservação (SNUC), os parques nacionais são unidades de proteção
integral e tem como objetivo básico a “preservação de ecossistemas naturais de
grande relevância ecológica e beleza cênica, possibilitando a realização de
pesquisas científicas e o desenvolvimento de atividades de educação e
interpretação ambiental, de recreação em contato com a natureza e de turismo
ecológico” (BRASIL, 2000).
O PNCV foi criado em 1961 e junto com outros parques nacionais criados na
mesma época (Emas, Araguaia e Brasília) tinha a missão de proteger uma porção
de um bioma até então pouco lembrado nas políticas ambientais – o Cerrado. Em
ofício de 1960, a Fundação Coimbra Bueno pediu a criação do Parque em função de
“seus excepcionais valores naturais e em decorrência da transferência da Capital
Federal para Brasília que, já na época provocava a valorização das terras e a
especulação imobiliária” (ICMBIO, 2009).
A região que abriga o parque possui inúmeras paisagens de rara beleza
natural, sendo também rica em costumes, tradições e histórias do povo sertanejo
(Figura 1). O PNCV atualmente se constitui em um polo turístico, atraindo milhares
de pessoas todo os anos (ROCKTAESCHEL, 2003).

Figura 1. Saltos do Rio Preto, Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, Goiás, Brasil. Fonte:
https://www.socicam.com.br/news_nectar/visitante-pode-percorrer-quatro-trilhas-no-parque-nacional-
da-chapada-dos-veadeiros/
CARACTERIZAÇÃO DO PARQUE
a) Clima: Segundo a Classificação de Kõppen (1948), o clima predominante na
área do PNCV é o Megatérmico ou Tropical Úmido (A), com o subtipo “clima
de savana”, de inverno seco e chuvas máximas de verão (w), formando o
clima Aw (SANO; ALMEIDA; RIBEIRO, 2008).
b) Precipitação anual: Oscila entre 1500 e 1750 mm, com os meses de junho,
julho e agosto secos, e novembro, dezembro, janeiro e fevereiro chuvosos. Já
a temperatura média anual varia de 20 a 27ºC, com médias máximas de 32ºC
e mínimas de 16ºC. No entanto, em valores absolutos, a temperatura máxima
pode chegar a 40ºC e a mínima próximo a 0ºC (ICMBIO, 2009).
c) Solos: O PNCV apresente sete tipos de solos: Latossolo, Nitossolo,
Plintossolo, Neossolo, Gleissolo, Cambissolo e Luvissolo, sendo que boa
parte da região apresenta neossolos devido a morfologia movimentada e
efeitos tectónicos, seguido de cambissolos e latossolos (ICMBIO, 2009).
d) Relevo e Altitude: A Chapada dos Veadeiros encontra-se nos limites do
Planalto Central Goiano, formado por rochas do grupo Araí, Paranoá e
Bambuí, que se manifesta em grandes blocos planálticos limitados por
escarpas e serras. O local é um centro dispersor de drenagem. A altimetria
varia de 800 a 1670 metros (ICMBIO, 2009).
e) Ecossistemas: Todo o PNCV encontra-se no bioma Cerrado, caracterizado
por um conjunto de fitofisionomias savânicas, campestres e florestais, tendo
como característica mais marcante um estrato gramíneo entremeado por
árvores (ICMBIO, 2009).
f) Espécies presentes: Embora o Plano de Manejo do PNCV (ICMBIO, 2009)
não explicite o recorte da fauna e flora do Parque, estudos gerais sobre a
biodiversidade do Cerrado apontam que ele abriga 12.636 espécies de
plantas lenhosas (SANO et al. 2008), 199 de mamíferos, 837 de aves, 1200
de peixes, 180 de répteis e 150 de anfíbios (MMA, 2021).

ECOSSISTEMA – CARACTERÍSTICAS:
De acordo como ICMBIO (2009), o Cerrado no PNCV é representado por 9
fitofisionomias (tipos de vegetação): a) savânicas: Cerrado e Veredas; b)
campestres: Campo Limpo, Campo Sujo e Campo Rupestre; c) florestais: Mata de
Galeria, Mata Ciliar, Mata Seca e Cerradão (Figura 1).
Figura 1. Fitofisionomias do Bioma Cerrado (Fonte: Sano et al. 2008)

As formações florestais se encontram nas margens dos cursos d´água (Mata


de Galeria e Mata Ciliar) ou em interflúvios bem drenados, mas com condições
edáficas que permitem o estabelecimento de árvores de maior porte, como o
Cerradão e a Mata Seca (RIBEIRO; WALTER, 2008).
As formações savânicas são as que caracterizam o Cerrado pela presença do
estrato gramíneo com árvores aleatoriamente distribuídas, sem que se forme um
dossel continuo, geralmente em solos profundos e bem drenados. Em áreas de
maior altitude e com presença de rochas expostas, forma-se o Cerrado Rupestre,
comum na região. Já as Veredas encontram-se em solos mal drenados, com estrato
gramíneo mais abundante e a presença de árvores tolerantes a estes terrenos,
como o Buriti (Mauritia flexuosa) (RIBEIRO; VALTER, 2008).
Já as formações campestres encontram-se geralmente em terrenos com
solos mais superficiais ou de baixa fertilidade, caracterizando-se pela presença de
poucas árvores (Campo Sujo) ou ausência total destas (Campo Limpo). No Campo
Rupestre, a presença de afloramentos rochosos é marcante (RIBEIRO; VALTER,
2008).

COMPOSIÇÃO FLORÍSTICA E FAUNÍSTICA


Dentre as espécies vegetais presentes, Mauritia flexuosa (buriti),
Handroanthus impetiginosus (ipê roxo) e Caryocar brasiliense (pequi) são de grande
destaque (Figura 3). O buriti é comum em áreas de brejo (Veredas), sendo
indicadoras de locais com água. Seu fruto é muito apreciado na culinária local e pela
fauna. Já o ipê roxo é comum em áreas florestais, sobretudo em Matas Secas,
colorindo o Cerrado com suas flores roxas em formato de buquê. Por fim, o pequi é
uma árvore bastante conhecida em toda a região do Cerrado, com flores brancas e
frutos amarelados bastante utilizados nos pratos da região e também procurado por
roedores como a Cutia. É muito comum nas fitofisionomias savânicas, podendo
aparecer ocasionalmente em florestas e campos (ICMBIO, 2009).

Figura 3. (a) Mauritia flexuosa (buriti), (b) Handroanthus impetiginosus (ipê roxo) e (c) Caryocar
brasiliense (pequi). Fontes: a) https://ala-bie.sibbr.gov.br/ala-bie/species/284459; b)
https://www.arvores.brasil.nom.br/new/iperoxo/index.htm; c)
https://www.arvoresdobiomacerrado.com.br/site/2017/06/06/caryocar-brasiliense-cambess/

Entre tantas espécies da fauna, destacam-se três mamíferos: o lobo-guará


(Chrysocyon brachyurus), a onça parda (Puma concolor) e o veado campeiro
(Ozotoceros bezoarticus) (Figura 4). O lobo-guará é um canídeo que ocupa campos
e formações savânicas. Um de seus alimentos favoritos é a lobeira (Solanum
lycocarpum). A onça vermelha é da família Felidae e infelizmente tem sido morta em
fazendas por caçar animais domésticos. Já o veado campeiro pertence a família
Cervidae e se alimenta de gramíneas e brotos (ICMBIO, 2009).

Figura 4. (a) Chrysocyon brachyurus (lobo-guará), Puma concolor (onça parda) e Ozotoceros
bezoarticus (veado campeiro). Fontes: a) https://ala-bie.sibbr.gov.br/ala-bie/species/126597 b)
https://conexaoplaneta.com.br/blog/esforco-recompensado-onca-parda-e-vista-em-reserva-do-
cerrado/ c) https://www.icmbio.gov.br/portal/images/stories/biodiversidade/fauna-brasileira/avaliacao-
do-risco/ungulados/Ozotocerus_bezoarticus_veado_campeiro.pdf

CONCLUSÃO
O PNCV é uma unidade de conservação muito importante para a preservação
do Cerrado, bioma que vem sofrendo com avançado processo de destruição e
fragmentação de habitats, a ponto de ser considerado um hot spot mundial, pela
elevada biodiversidade (sobretudo endêmica) e pela ameaça latente que sofre
(MITTERMEIER, 2004). Se nada mudar, em 2030 a vegetação natural
remanescente de Cerrado somente será vista em áreas protegidas (MACHADO et
al. 2004). Para que isso não aconteça, além de fortalecer as unidades de
conservação já existentes, Aquino e Miranda (2008), sugerem a criação de novas
áreas de conservação, formação de corredores ecológicos e a recuperação de áreas
degradadas.

REFERÊNCIAS

AQUINO, F. G.; MIRANDA, G. H. B. In: SANO, S. M.; ALMEIDA, S. P.; RIBEIRO, J.


F. (eds.). Cerrado: Ecologia e Flora. Brasília: Embrapa Cerrados, 2008. p.383-398.
(v.1).

BRASIL. Lei n.º 9.985, de 18 de julho de 2000. Regulamenta o art. 225, § 1º, incisos
I, II, III e VII da Constituição Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de
Conservação da Natureza e dá outras providências. Brasília, Diário Oficial da
União, 19 jul. 2000.

ICMBIO – INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVESIDADE.


Plano de Manejo do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. Brasília:
ICMBIO, 2009.

KOPPEN, W. Climatologia: con un estudio de los climas de la tierra.


Cidade do México: Fondo de Cultura Economica, 1948.

ROCKTAESCHEL, B. M. M. M. O Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros


como destino ecoturístico. 72p. Monografia (Especialização) – Universidade de
Brasília, 2003.

RIBEIRO, J. F.; WALTER, B. M. T. As principais fitofisionomias do Bioma Cerrado.


In: SANO, S. M.; ALMEIDA, S. P.; RIBEIRO, J. F. (eds.). Cerrado: Ecologia e Flora.
Brasília: Embrapa Cerrados, 2008. p.151-212. (v.1).

MACHADO, R. B.; RAMOS NETO, M. B.; PEREIRA, P. G. P.; CALDAS, E. F.;


GONÇALVES, D. A.; SANTOS, N. S.; TABOR, K.; STEININGER, M. Estimativas de
perda da área do Cerrado brasileiro. Brasília: Conservação Internacional, 2004.
(Relatório técnico).

MMA – MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. O Bioma Cerrado. Disponível em:


<https://antigo.mma.gov.br/biomas/cerrado.html>. Acesso em: 16 abr. 2021.

MITTERMEIER, R. GIL, P. HOFFMANN, M.; PILGRIM, J.; BROOKS, T.;


MITTERMEIER, C.; LAMOREUX, J.; FONSECA, G. Hotspots Revisited. Earth's
Biologically Richest and Most Endangered Terrestrial Ecoregions. Cidade do México:
Conservation International, 2004.

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