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2016

5º DOMINGO DA PÁSCOA

MARCELO NOGUEIRA
17/4/2016
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LITURGIA – 24 de abril de 2016 – ANO C

5º DOMINGO DA PÁSCOA
O tema fundamental da liturgia deste domingo é o do amor: o que identifica os
seguidores de Jesus é a capacidade de amar até ao dom total da vida.
No Evangelho, Jesus despede-Se dos seus discípulos e deixa-lhes em
testamento o “mandamento novo”: “amai-vos uns aos outros, como Eu vos
amei”. É nessa entrega radical da vida que se cumpre a vocação cristã e que se
dá testemunho no mundo do amor materno e paterno de Deus.
Na primeira leitura apresenta-se a vida dessas comunidades cristãs chamadas a
viver no amor. No meio das vicissitudes e das crises, são comunidades
fraternas, onde os irmãos se ajudam, se fortalecem uns aos outros nas
dificuldades, se amam e dão testemunho do amor de Deus. É esse projeto que
motiva Paulo e Barnabé e é essa proposta que eles levam, com a generosidade
de quem ama, aos confins da Ásia Menor.
A segunda leitura apresenta-nos a meta final para onde caminhamos: o novo
céu e a nova terra, a realização da utopia, o rosto final dessa comunidade de
chamados a viver no amor.
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LITURGIA – 24 de abril de 2016 – ANO C

Homilia do 5º domingo da páscoa – C


Homilia do Bom Pastor, escrita por: Padre Wagner Augusto Portugal.

“Cantai ao Senhor um canto novo, porque ele fez maravilhas; e


revelou sua justiça diante das nações, aleluia! ” (Cf. Sl 97, 1s).
Estamos caminhando neste tempo espiritual de muita paz e presença
constante do Senhor Ressuscitado em nosso Meio: “Ele Está no Meio de Nós! ”.
Jesus está no meio de nós para “fazer novas todas as coisas” (cf. Ap 21, 5).
Novo é uma palavra mágica, que domina a publicidade e os jornais, mas
também traduz a esperança que se expressa em numerosas páginas das
Sagradas Escrituras. O entendimento do cristianismo é baseado na sucessão da
antiga e da nova Aliança, do antigo e do novo Povo de Deus. E, também, na
passagem da antiga para a nova vida e na observância de uma nova Lei em vez
da antiga observância. Páscoa é o tempo de renovação, de renovação que nos
santifica e nos coloca mais próximos de Deus. Assim a liturgia de hoje nos pede
e nos coloca diante de um novo céu e uma nova terra, uma nova Jerusalém e
uma nova criação. Tudo redimido e recriado pela paixão, morte e ressurreição
de Cristo!
A Primeira Leitura (cf. At 14,21-27) nos apresenta a obra de Deus em Paulo e
Barnabé. Essa leitura poderia ser considerada como uma conclusão e um
relatório da primeira viagem missionária de Paulo. Na viagem de volta, visitam
de novo as jovens comunidades e instituem os presbíteros. Estes sucessos
desenrolam-se entre os anos 46 e 49. A primeira leitura acentua a ideia de que
a missão não foi uma obra puramente humana, mas foi uma obra de Deus. No
início da aventura missionária já se havia sugerido que o envio de São Paulo e
de São Barnabé não era apenas iniciativa da Igreja de Antioquia, mas uma ação
do Espírito (cf. At 13,2-3). Esse mesmo Espírito que acompanhou e guiou os
missionários a cada passo da sua viagem. E aqui se repete que o autêntico ator
da conversão dos pagãos é Deus e não os homens (cf. vers. 27). A verdadeira
novidade no contexto da missão é a instituição de dirigentes ou responsáveis
(“anciãos” – em grego, “presbíteros”), que aparecem aqui pela primeira vez
fora da Igreja de Jerusalém. Correspondem, provavelmente, aos “conselhos de
anciãos” que estavam à frente das comunidades judaicas. Por isso os que têm
responsabilidades de direção ou de animação das comunidades devem ficar
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LITURGIA – 24 de abril de 2016 – ANO C

atentos porque a missão que lhes foi confiada não é um privilégio, mas um
serviço que está subordinado à construção da própria comunidade. A
comunidade não existe para servir quem preside; quem preside é que existe
em função da comunidade e do serviço comunitário.
O Evangelho de hoje fala do amor fraterno (cf. Jo 13,31-33a.34-35). Daquele
amor que Cristo nos legou junto com a instituição da Eucaristia na cerimônia do
Lava-pés.
O Evangelho fala da glorificação de Cristo. Se o Filho do homem age de modo a
manifestar a glória de Deus, muito logo também Deus dará sua glória ao Filho.
Qual é essa glória? A glória era a melhor coroa dos reis, seja pela riqueza que
possuíam, seja pelo poder que exerciam ou ainda pelo brilho do reinado.
Quando o Salmista canta o ser humano como rei da criação, coloca-o como um
ser um “pouco inferior a Deus, coroado de brilho e esplendor, com poder sobre
ovelhas e bois, animais selvagens, aves do céu e peixes do mar” (cf. Sl 8,6-9).
Mas já o Antigo Testamento observava que essa glória, baseada na posse, no
poder, no prestigio, é relativa e passageira: “Não te exasperes, quando alguém
se torna rico, quando cresce a glória de sua casa. Ao morrer, nada levará
consigo e sua glória não o acompanhará depois da morte (cf. Sl 49,17-18) ”.
Quando o demônio tentou Jesus no deserto pela terceira vez, ofereceu “todos
os reinos do mundo com sua glória (cf. Mt 4,8) ”. Isto é, o diabo ofereceu todas
as riquezas, poder e prestígio e fama. A resposta de Jesus manifesta claramente
que a verdadeira glória está na adoração e no serviço do Senhor (cf. Mt 4, 10).
Esse ensinamento volta muitas vezes nas pregações e nos exemplos de Jesus e,
sobretudo, em seu próprio exemplo. Por isso, os pobres e os marginalizados
podem dar glória a Deus e serem eles mesmos glorificados, ainda que nada
tenham a não ser o desprezo da sociedade.
Jesus viveu a sua paixão e morte da forma mais elevada de glorificar a Deus,
porque estava cumprindo à risca a vontade do Pai. João deixa claro que toda a
paixão é um caminho de glorificação do Pai, por parte de Jesus; e de Jesus, por
parte do Pai. Jesus, portanto, glorifica o Pai, salvando a humanidade com sua
morte na Cruz, porque era à vontade do Pai. E o Pai glorifica a fidelidade de
Jesus, salvando-o da morte, fazendo-o ressurgir e assentar-se à sua direita.
Como Jesus, os discípulos devem trilhar o mesmo caminho de Jesus. A
comunidade eclesial, depois da Páscoa, não tem outra glória a buscar senão a
de fazer a vontade do Pai, isto é, salvar a humanidade e fazer acontecer entre
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LITURGIA – 24 de abril de 2016 – ANO C

nós às alegrias eternas. E essa salvação passa necessariamente pela Cruz. Cada
discípulo é convidado a dar ao Pai a mesma glória que Jesus lhe deu. Não em
palavras e culto apenas. Mas na doação inteira de si mesmo em benefício de
outros. O caminho do Calvário não aconteceu uma única vez com uma só
vítima. Repete-se em cada discípulo, que se despoja a si mesmo, assumir a
condição de servo de todos, viver solidário com todos, exatamente como fez
Jesus. Todas as outras glórias são vãs e passageiras.
A proposta cristã resume-se no amor. É o amor que nos distingue, que nos
identifica; quem não aceita o amor, não pode ter qualquer pretensão de
integrar a comunidade de Jesus. Nos dias de hoje falar de amor pode ser
equívoco… A palavra “amor” é, tantas vezes, usada para definir
comportamentos egoístas, interesseiros, que usam o outro, que fazem mal,
que limitam horizontes, que roubam a liberdade… Mas o amor de que Jesus
fala é o amor que acolhe, que se faz serviço, que respeita a dignidade e a
liberdade do outro, que não discrimina nem marginaliza, que se faz dom total
(até à morte) para que o outro tenha mais vida. O amor de Jesus é a face
misericordiosa do Pai.
A Segunda Leitura (cf. Ap 21,1-5a) nos apresenta a nova criação e a nova
Jerusalém. A última palavra sobre a História não é a destruição, mas a
restauração da pureza inicial. O mundo embriagado pelo poder e pela cobiça é
representado por “Babilônia” que foi destruída (cf. Ap. 18,21-14). Mas Deus
permanece conosco: Emanuel. É a nova criação, as núpcias de Deus com seu
povo. Esta cidade nova, onde encontra guarida o Povo vitorioso dos “santos”,
designa a Igreja, vista como comunidade escatológica, transformada e
renovada pela ação salvadora e libertadora de Deus na história. Dizer que ela
“desce do céu” significa dizer que se trata de uma realidade que vem de Deus e
tem origem divina; ela é uma absoluta criação da graça de Deus, dom definitivo
de Deus ao seu Povo. Esta nova realidade instaura, consequentemente, uma
nova ordem de coisas e exige que tudo o que é velho seja transformado. O
mar, símbolo e resíduo do caos primitivo e das potências hostis a Deus,
desaparecerá; a velha terra, cenário da conduta pecadora do homem, vai ser
transformada e recriada (vers. 1). A partir daí tudo será novo, definitivo,
acabado, perfeito.
O testemunho profético de São João nos garante que não estamos destinados
ao fracasso, mas sim à vida plena, ao encontro com Deus, à felicidade sem fim.
Esta esperança tem de iluminar a nossa caminhada e dar-nos a coragem de
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LITURGIA – 24 de abril de 2016 – ANO C

enfrentar os dramas e as crises que dia a dia se nos apresentam. A Mãe Igreja
de que fazemos parte tem de procurar ser um anúncio dessa comunidade
escatológica, uma “noiva” bela e que caminha com amor ao encontro de Deus,
o amado. Isto significa que o egoísmo, as divisões, os conflitos, as lutas pelo
poder, têm de ser banidos da nossa experiência eclesial: eles são chagas que
desfeiam o rosto da Igreja e a impedem de dar testemunho do mundo novo
que nos espera.
O seguimento de Jesus é o seguimento de gratuidade, de generosidade e de
amor. O amor tem que ser como Cristo glorificou o Pai, um amor gratuito, que
nada pede em troca a não ser a alegria de que o Pai receba essa expressão de
amor como glorificação. Não é qualquer gesto caritativo que distingue o cristão
nem um amor genérico, que é mais sinônimo de gosto que de entrega.
No amor ensinado por Jesus não há lugar para simpatias e antipatias, que tanto
condicionam nossos gestos. A gratuidade é uma virtude rara na sociedade de
hoje, tão sensível a pagamentos e recompensas. O amor é generoso e gratuito!
Onde reina o amor, as coisas não ficam como estão. Quem quebra o “status
quo” é Deus. É dele que podemos esperar a total novidade. É o que sonha o
autor do Apocalipse. No fim da história, ele vê um novo céu e uma nova terra.
Não tem mar, moradia do Leviatã. A nova realidade tem uma aparência de uma
noiva enfeitada para seu esposo: as núpcias messiânicas. É a moradia de Deus
com os homens. É a nova Aliança: eles serão seu povo e ele será seu Deus. É a
plenitude do Emanuel, Deus-conosco. É a consolação completa. É tudo o que se
pode esperar. É a nova criação.
Quem move a missão é Deus. Missão amorosa. Pelo mandamento novo tudo
renova, Cristo e os cristãos gerarão um novo céu e uma nova terra. O desfecho
deste movimento deveria acontecer em cada missa: “Ao chegarem, reuniram a
Igreja e puseram-se a referir tudo que Deus tinha feito por eles”. Assim
devemos também nós recolher as maravilhas de Deus realizadas nos cristãos
pela vivência do mandamento novo, apresentando-as como motivo de nossa
ação de graças.
Amemos sem amarras, porque Cristo quebrou todas as amarras e retratos
falados. Não só amemos com palavras! Coloquemos os mesmos rogos em
prática. Amém!
Fonte: http://liturgia.catequisar.com.br/homilia-do-5o-domingo-da-pascoa-c/
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LITURGIA – 24 de abril de 2016 – ANO C

Contaram à comunidade tudo o que Deus fizera por meio deles.


Primeira Leitura dos Atos dos Apóstolos 14,21b-27
Naqueles dias, Paulo e Barnabé
21b
voltaram para as cidades de Listra, Icônio e Antioquia.
22
Encorajando os discípulos, eles os exortavam a permanecerem firmes na fé,
dizendo-lhes: 'É preciso que passemos por muitos sofrimentos para entrar no
Reino de Deus'.
23
Os apóstolos designaram presbíteros para cada comunidade. Com orações e
jejuns, eles os confiavam ao Senhor, em quem haviam acreditado.
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Em seguida, atravessando a Pisídia, chegaram à Panfília.
25
Anunciaram a palavra em Perge, e depois desceram para Atália.
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Dali embarcaram para Antioquia, de onde tinham saído, entregues à graça de
Deus, para o trabalho que haviam realizado.
27
Chegando ali, reuniram a comunidade. Contaram-lhe tudo o que Deus fizera
por meio deles e como havia aberto a porta da fé para os pagãos.

Palavra do Senhor.
Graças a Deus.
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LITURGIA – 24 de abril de 2016 – ANO C

AMBIENTE (DEHONIANOS)
Vimos, no passado domingo, como o entusiasmo missionário da comunidade
cristã de Antioquia da Síria lançou Paulo e Barnabé para a missão e como a Boa
Nova de Jesus alcançou, assim, a ilha de Chipre e as costas da Ásia Menor…
A leitura de hoje apresenta-nos a conclusão dessa primeira viagem missionária
de Paulo e de Barnabé: depois de chegarem a Derbe, voltaram para trás,
visitaram as comunidades entretanto fundadas (Listra, Icónio, Antioquia da
Pisídia e Perge) e embarcaram de regresso à cidade de onde tinham partido
para a missão. Estes sucessos desenrolam-se entre os anos 46 e 49.
MENSAGEM (DEHONIANOS)
No texto que nos é proposto, transparecem os traços fundamentais que
marcaram a vida e a experiência dos primeiros grupos cristãos: o entusiasmo
dos primeiros missionários, que permite afrontar e vencer os perigos e as
incomodidades para levar a todos os homens a boa notícia dessa libertação que
Cristo veio propor; as palavras de consolação que fortalecem a fé e ajudam a
enfrentar as perseguições (vers. 22a); o apoio mútuo (vers. 23b); a oração
(vers. 23b.c).
Sobretudo, este texto acentua a ideia de que a missão não foi uma obra
puramente humana, mas foi uma obra de Deus. No início da aventura
missionária já se havia sugerido que o envio de Paulo e Barnabé não era apenas
iniciativa da Igreja de Antioquia, mas uma ação do Espírito (cf. Act 13,2-3); foi
esse mesmo Espírito que acompanhou e guiou os missionários a cada passo da
sua viagem. E aqui repete-se que o autêntico ator da conversão dos pagãos é
Deus e não os homens (cf. vers. 27). Verdadeira novidade no contexto da
missão é a instituição de dirigentes ou responsáveis (“anciãos” – em grego,
“presbíteros”), que aparecem aqui pela primeira vez fora da Igreja de
Jerusalém. Correspondem, provavelmente, aos “conselhos de anciãos” que
estavam à frente das comunidades judaicas. Os “Atos” não explicitam as
funções exatas destes dirigentes e animadores das Igrejas; mas o discurso de
despedida que Paulo faz aos anciãos de Éfeso parece confiar-lhes o cuidado de
administrarem, de vigiarem e de defenderem a comunidade face aos perigos
internos e externos (cf. Act 20,28-31). Em todo o caso, convém recordar que os
ministérios eram algo subordinado dentro da organização e da vida da
primitiva comunidade; não eram valores absolutos em si mesmo, mas só
existiam e só tinham sentido em função da comunidade.
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ATUALIZAÇÃO (DEHONIANOS)
Para refletir, partilhar e atualizar este texto, considerar as seguintes linhas:
• Como é que vivem as nossas comunidades cristãs? Notamos nelas o
mesmo empenho missionário dos inícios? Há partilha fraterna e
preocupação em ir ao encontro dos mais débeis, em apoiá-los e ajudá-los
a superar as crises e as angústias? São comunidades que se fortalecem
com uma vida de oração e de diálogo com Deus?
• Temos consciência de que por detrás do nosso trabalho e do nosso
testemunho está Deus? Temos consciência de que o anúncio do
Evangelho não é uma obra nossa, na qual expomos as nossas ideias e a
nossa ideologia, mas é obra de Deus? Temos consciência de que não nos
pregamos a nós próprios, mas a Cristo libertador?
• Para aqueles que têm responsabilidades de direção ou de animação das
comunidades: a missão que lhes foi confiada não é um privilégio, mas um
serviço que está subordinado à construção da própria comunidade. A
comunidade não existe para servir quem preside; quem preside é que
existe em função da comunidade e do serviço comunitário.
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LITURGIA – 24 de abril de 2016 – ANO C

Salmo - Sl 144, 8-9.10-11.12-13ab (R.cf.1)


R. Bendirei eternamente vosso santo nome, ó Senhor. (BIS)
8
Misericórdia e piedade é o Senhor,

ele é amor, é paciência, é compaixão.


9
O Senhor é muito bom para com todos,

sua ternura abraça toda criatura.


R. Bendirei eternamente vosso santo nome, ó Senhor.
10
Que vossas obras, ó Senhor, vos glorifiquem,

e os vossos santos com louvores vos bendigam!


11
Narrem a glória e o esplendor do vosso reino

e saibam proclamar vosso poder!


R. Bendirei eternamente vosso santo nome, ó Senhor.
12
Para espalhar vossos prodígios entre os homens

e o fulgor de vosso reino esplendoroso.


13a
O vosso reino é um reino para sempre,
13b
vosso poder, de geração em geração.

R. Bendirei eternamente vosso santo nome, ó Senhor. (BIS)


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Deus enxugará toda lágrima dos seus olhos.


Segunda Leitura do Livro do Apocalipse de São João 21,1-5a
1
Eu, João, vi um novo céu e uma nova terra. Pois o primeiro céu e a primeira
terra passaram, e o mar já não existe.
2
Vi a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu, de junto de Deus,
vestida qual esposa enfeitada para o seu marido.
3
Então, ouvi uma voz forte que saía do trono e dizia: 'Esta é a morada de Deus
entre os homens. Deus vai morar no meio deles. Eles serão o seu povo, e o
próprio Deus estará com eles.
4
Deus enxugará toda lágrima dos seus olhos. A morte não existirá mais, e não
haverá mais luto, nem choro, nem dor, porque passou o que havia antes.'
5a
Aquele que está sentado no trono disse: 'Eis que faço novas todas as coisas.'
Depois, ele me disse: 'Escreve, porque estas palavras são dignas de fé e
verdadeiras.'

Palavra do Senhor.
Graças a Deus.
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LITURGIA – 24 de abril de 2016 – ANO C

AMBIENTE (DEHONIANOS)
Depois de descrever o confronto entre Deus e as forças do mal e a vitória final
de Deus, o autor do “Apocalipse” apresenta o ponto de chegada da história
humana: a “nova terra e o novo céu”; aí, os que se mantiveram fiéis ao
“cordeiro” (Jesus) encontrarão a vida em plenitude. É o culminar da caminhada
da humanidade, a meta última da nossa história.
Esse mundo novo é, simbolicamente, apresentado em dois quadros (cf. Ap
21,1-8 e 21,9-22,5). A leitura que hoje nos é proposta apresenta-nos o primeiro
desses quadros (o outro ficará para o próximo domingo). É o quadro do novo
céu e da nova terra – um quadro que apresenta a última fase da obra
regeneradora de Deus e que aparece já em Is 65,17 e em 66,22. Também se
encontra esta imagem abundantemente representada na literatura
apocalíptica (cf. Henoch, 45,4-5; 91,16; 4 Esd 7,75), bem como em certos textos
do Novo Testamento (cf. Mt 19,28; 2 Pe 3,13).
MENSAGEM (DEHONIANOS)
Neste primeiro quadro, o profeta João chama a essa nova realidade nascida da
vitória de Deus a “Jerusalém que desce do céu”. Jerusalém é, no universo
religioso e cultural do povo bíblico, a cidade santa por excelência, o lugar onde
Deus reside, o espaço onde vai irromper e onde se manifestará em definitivo a
salvação de Deus. A “nova Jerusalém” é, portanto, o lugar da salvação
definitiva, o lugar do encontro definitivo entre Deus e o seu Povo.
No contexto da teologia do Livro do Apocalipse, esta cidade nova, onde
encontra guarida o Povo vitorioso dos “santos”, designa a Igreja, vista como
comunidade escatológica, transformada e renovada pela ação salvadora e
libertadora de Deus na história. Dizer que ela “desce do céu” significa dizer que
se trata de uma realidade que vem de Deus e tem origem divina; ela é uma
absoluta criação da graça de Deus, dom definitivo de Deus ao seu Povo.
Esta nova realidade instaura, consequentemente, uma nova ordem de coisas e
exige que tudo o que é velho seja transformado. O mar, símbolo e resíduo do
caos primitivo e das potências hostis a Deus, desaparecerá; a velha terra,
cenário da conduta pecadora do homem, vai ser transformada e recriada (vers.
1). A partir daí tudo será novo, definitivo, acabado, perfeito.
Quando esta realidade irromper, celebrar-se-á o casamento definitivo entre
Deus e a humanidade transformada (a “noiva adornada para o esposo”). Na
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LITURGIA – 24 de abril de 2016 – ANO C

linguagem profética, o casamento é um símbolo privilegiado da aliança.


Realiza-se, assim, o ideal da aliança (cf. Jer 31,33-38; Ez 37,27): Deus e o seu
Povo consumam a sua história de intimidade e de comunhão; Deus passará a
residir de forma permanente e estável no meio do seu Povo, como o noivo que
se junta à sua amada e com ela partilha a vida e o amor. A longa história de
amor entre Deus e o seu Povo será uma história de amor com um final feliz.
Serão definitivamente banidos do horizonte do homem a dor, as lágrimas, o
sofrimento e a morte e restarão a alegria, a harmonia e a felicidade sem fim.
ACTUALIZAÇÃO (DEHONIANOS)
Para a reflexão desta Palavra, considerar os seguintes dados:
• O testemunho profético de João garante-nos que não estamos
destinados ao fracasso, mas sim à vida plena, ao encontro com Deus, à
felicidade sem fim. Esta esperança tem de iluminar a nossa caminhada e
dar-nos a coragem de enfrentar os dramas e as crises que dia a dia se
nos apresentam.
• A Igreja de que fazemos parte tem de procurar ser um anúncio dessa
comunidade escatológica, uma “noiva” bela e que caminha com amor ao
encontro de Deus, o amado. Isto significa que o egoísmo, as divisões, os
conflitos, as lutas pelo poder, têm de ser banidos da nossa experiência
eclesial: eles são chagas que desfeiam o rosto da Igreja e a impedem de
dar testemunho do mundo novo que nos espera.
• É verdade que a instauração plena do “novo céu e da nova terra” só
acontecerá quando o mal for vencido em definitivo; mas essa nova
realidade pode e deve começar desde já: a ressurreição de Cristo
convoca-nos para a renovação das nossas vidas, da nossa comunidade
cristã ou religiosa, da sociedade e das suas estruturas, do mundo em que
vivemos (e que geme num violento esforço de libertação).
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Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros.


Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo João 13,31-33a.34-35
31
Depois que Judas saiu, do cenáculo disse Jesus: 'Agora foi glorificado o Filho
do Homem, e Deus foi glorificado nele.
32
Se Deus foi glorificado nele, também Deus o glorificará em si mesmo, e o
glorificará logo.
33a
Filhinhos, por pouco tempo estou ainda convosco.
34
Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Como eu vos
amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros.
35
Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos
outros.'

Palavra da Salvação.
Glória a vós, Senhor.
_____________________
* 31-38: O mandamento novo supera todos os outros mandamentos. Deus e o homem são inseparáveis. E é
somente amando ao homem que amamos a Deus. Em Jesus, Deus se fez presente no homem, tornando-o
intocável. Tal mandamento novo gera uma comunidade, que oferece uma alternativa de vida digna e liberdade
perante a morte e a opressão. http://www.franciscanos.org.br/?p=35268#sthash.5MhMhhG3.dpuf

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LITURGIA – 24 de abril de 2016 – ANO C

FOI GLORIFICADO...
Quando os primeiros cristãos diziam à comunidade judaica que o Messias fora
condenado à morte de cruz, criava-se uma situação de escândalo. Afinal, para o
povo hebreu a cruz era sinônimo de maldição: “Maldito todo aquele que é
suspenso no madeiro”. (Dt 21,23, citado por Paulo em Gl 3,13.) Aí vem Jesus e
anuncia a hora de sua “glorificação” (Jo 17,4-5) como a experiência da cruz,
seguida da ressurreição. Não admira que tenha poucos seguidores!
Nossa noção humana de “glória” é bem outra… Consideramos como gloriosa a
entrada triunfal do general vencedor na cidade vencida. Glorioso é o escritor
eleito para a Academia de Letras ou o pesquisador agraciado com o Prêmio
Nobel. Glória recebem os artistas que conquistam o cobiçado Oscar. Até
mesmo a canonização de um santo é considerada como indicação de “glória”.
Mas não compreendemos que a glória de Deus possa brotar de uma vida como
a de Jesus: pobreza, vida oculta, convivência com os miseráveis e
marginalizados, perseguição e calúnias, prisão e condenação injustas, torturas,
humilhações e execução na cruz do Calvário. Ao fim de tudo, o Senhor exclama:
“Consummatum est! ” Tudo está consumado. Levei minha missão até o fim.
Não ficou nada incompleto…
Sim, a vida de Jesus teve momentos que nós diríamos gloriosos: anjos a cantar
glória quando Ele nasceu em Belém. Sua transfiguração no Tabor, inundado de
luz divina, ao som da voz do Pai. Enfim, após sua morte, a ressurreição (sem
testemunhas do evento!) E a ascensão ao Pai, perante os discípulos
aparvalhados. Parece, porém, muito pouco em contraste com 33 anos de
pobreza, ignorado do mundo oficial e misturado à multidão dos esquecidos do
planeta! A glorificação de Cristo só será completa quando vier como Senhor e
Juiz dos vivos e dos mortos, em sua Segunda Vinda (Mt 25,31ss).
Por outro lado, a suprema obediência de Jesus contribui para glorificar o Pai, ao
revelar o mundo a excelência desse Amor que investe seu maior dom: o Filho!
– para nossa salvação. “Por isso” diz o Apóstolo Paulo (Fl 2,9), o Pai o exaltou
acima de todo nome.
E com isso o cristão aprende que a verdadeira glória passa pela cruz… Outras
glórias se esfumam como nuvem passageira: aplausos, prêmios, comendas,
medalhas e o Guiness Book, entre outras lantejoulas deste mundo provisório.
Orai sem cessar: “Senhor, amo o lugar onde habita a tua glória! ” (Sl 26,8)
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LITURGIA – 24 de abril de 2016 – ANO C

Orai sem cessar: “Jesus, eu quero ouvir a tua voz! ”


Fonte: Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
(https://amigoespiritual.wordpress.com/2013/04/28/foi-glorificado-jo-1331-33a-34-35-texto-de-antonio-
carlos-santini-da-comunidade-catolica-nova-alianca/

AMBIENTE (DEHONIANOS)
Estamos na fase final da caminhada histórica do “Messias”. Aproxima-se a
“Hora”, o momento em que vai nascer – a partir do testemunho do amor total
cumprido na cruz – o Homem Novo e a nova comunidade.
O contexto em que este trecho nos coloca é o de uma ceia, na qual Jesus Se
despede dos discípulos e lhes deixa as últimas recomendações. Jesus acabou de
lavar os pés aos discípulos (cf. Jo 13,1-20) e de anunciar à comunidade
desconcertada a traição de um do grupo (cf. Jo 13,21-30); nesses quadros, está
presente o seu amor (que se faz serviço simples e humilde no episódio da
lavagem dos pés e que se faz amor que não julga, que não condena, que não
limita a liberdade e que se dirige até ao inimigo mortal, na referência a Judas, o
traidor). Em seguida, Jesus vai dirigir aos discípulos palavras de despedida;
essas suas palavras – resumo coerente de uma vida feita de amor e partilha –
soam a testamento final. Trata-se de um momento muito solene; é a altura em
que não há tempo nem disposição para “conversa fiada”: aproxima-se o fim e é
preciso recordar aos discípulos aquilo que é mesmo fundamental na proposta
cristã.
MENSAGEM (DEHONIANOS)
O texto divide-se em duas partes. Na primeira parte (vers. 31-32), Jesus
interpreta a saída de Judas, que acabou de deixar a sala onde o grupo está
reunido, para ir entregar o “mestre” aos seus inimigos. A morte é, portanto,
uma realidade bem próxima… Jesus explica, na sequência, que a sua morte na
cruz será a manifestação da sua glória e da glória do Pai. O termo "doxa" aqui
utilizado traduz o hebraico “kabod” que pode entender-se como “riqueza”,
“esplendor”. A “riqueza”, o “esplendor” do Pai e de Jesus manifesta-se,
portanto, no amor que se dá até ao extremo, até ao dom total. É que a “glória”
do Pai e de Jesus não se manifesta no triunfo espetacular ou na violência que
aniquila os maus, mas manifesta-se na vida dada, no amor oferecido até ao
extremo. A entrega de Jesus na cruz vai manifestar a todos os homens a lógica
de Deus e mostrar a todos como Deus é: amor radical, que se faz dom até às
últimas consequências.
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LITURGIA – 24 de abril de 2016 – ANO C

Na segunda parte (vers. 33a.34-35) temos, então, a apresentação do


“mandamento novo”. Começa com a expressão “meus filhos” (vers. 33a) – o
que nos coloca num quadro de solene emoção e nos leva ao “testamento” de
um pai que, à beira da morte, transmite aos seus filhos a sua sabedoria de vida
e aquilo que é verdadeiramente fundamental.
Qual é, portanto, a última palavra de Jesus aos seus, o seu ensinamento
fundamental?
“Amai-vos uns aos outros. Como Eu vos amei, vós deveis também amar-vos uns
aos outros”. O verbo “agapaô” (“amar”) aqui utilizado define, em João, o amor
que faz dom de si, o amor até ao extremo, o amor que não guarda nada para si,
mas é entrega total e absoluta. O ponto de referência no amor é o próprio
Jesus (“como Eu vos amei”); as duas cenas precedentes (lavagem dos pés aos
discípulos e despedida de Judas) definem a qualidade desse amor que Jesus
pede aos seus: “amar” consiste em acolher, em pôr-se ao serviço dos outros,
em dar-lhes dignidade e liberdade pelo amor (lavagem dos pés), e isso sem
limites nem discriminação alguma, respeitando absolutamente a liberdade do
outro (episódio de Judas). Jesus é a norma, não com palavras, mas com atos;
mas agora traduz em palavras os seus atos precedentes, para que os discípulos
tenham uma referência.
O amor (igual ao de Jesus) que os discípulos manifestam entre si será visível
para todos os homens (vers. 35). Esse será o distintivo da comunidade de Jesus.
Os discípulos de Jesus não são os depositários de uma doutrina ou de uma
ideologia, ou os observantes de leis, ou os fiéis cumpridores de ritos; mas são
aqueles que, pelo amor que partilham, vão ser um sinal vivo do Deus que ama.
Pelo amor, eles serão no mundo sinal do Pai.
ACTUALIZAÇÃO (DEHONIANOS)
Considerar, na reflexão da Palavra, as seguintes linhas:
 A proposta cristã resume-se no amor. É o amor que nos distingue, que
nos identifica; quem não aceita o amor, não pode ter qualquer pretensão
de integrar a comunidade de Jesus. O que é que está no centro da nossa
experiência cristã? A nossa religião é a religião do amor, ou é a religião
das leis, das exigências, dos ritos externos? Com que força nos impomos
no mundo – a força do amor, ou a força da autoridade prepotente e dos
privilégios?
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LITURGIA – 24 de abril de 2016 – ANO C

 Falar de amor hoje pode ser equívoco… A palavra “amor” é, tantas vezes,
usada para definir comportamentos egoístas, interesseiros, que usam o
outro, que fazem mal, que limitam horizontes, que roubam a liberdade…
Mas o amor de que Jesus fala é o amor que acolhe, que se faz serviço,
que respeita a dignidade e a liberdade do outro, que não discrimina nem
marginaliza, que se faz dom total (até à morte) para que o outro tenha
mais vida. É este o amor que vivemos e que partilhamos?
 Por um lado, a comunidade de Jesus tem de testemunhar, com gestos
concretos, o amor de Deus; por outro, ela tem de demonstrar que a
utopia é possível e que os homens podem ser irmãos. É esse o nosso
testemunho de comunidade cristã ou religiosa? Nos nossos
comportamentos e atitudes uns para com os outros, os homens
descobrem a presença do amor de Deus no mundo? Amamos mais do
que os outros e interessamo-nos mais do que eles pelos pobres e pelos
que sofrem?
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COMENTÁRIOS (FRANCISCANOS)
O NOVO MANDAMENTO E A NOVA CRIAÇÃO
“Novo” é uma palavra mágica, que domina a publicidade e os jornais, mas
também traduz a esperança que se expressa em numerosas páginas da Bíblia.
O entendimento do cristianismo é baseado na sucessão da antiga e da nova
Aliança, do antigo e do novo Povo de Deus. E, também, na passagem da antiga
para a nova vida (páscoa, batismo!) e na observância de uma nova Lei em vez
da antiga. Vivemos da perspectiva de uma total renovação. Esta perspectiva se
expressa, na liturgia de hoje, sob as imagens de um novo céu e uma nova terra,
uma nova Jerusalém e uma nova criação. Entretanto, parece que tudo fica no
velho …
Por isso, importa refletir sobre o próprio da novidade que Jesus Cristo nos
propõe, nas simples palavras de Jo 13,34: “Dou-vos um novo mandamento:
amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, amai-vos também uns aos
outros”. A própria construção da frase, o paralelismo dos 1° e 3°, 2° e 4°
segmentos da frase, sugere que o “novo” deste mandamento (1º segmento)
consiste, exatamente, no “como eu vos amei” (3º segmento). Nem a palavra
“amar”, nem o mandamento do amor são novos (cf. Lv 19,18 etc.). Novo é
amar como Jesus, amar em Jesus, por causa de sua palavra (evangelho).
Tudo tem um contexto histórico. Também esta frase. Seu contexto é complexo.
Por um lado, existia no judaísmo o amor ao próximo, no sentido de membro da
comunidade, combinado com o respeito pelo estrangeiro que morava na
vizinhança, e com certa filantropia para com os outros seres humanos. Existia
também o amor humano do mundo grego, espécie de filantropia universal,
baseada na igualdade essencial do ser humano (pelo menos, em teoria); era
um amor antes ao longínquo do que ao próximo, porque o longínquo não
incomoda … Existia também o amor erótico. Existia a amizade. Mas, como diz
Paulo em Rm 5,7-11, mesmo a amizade não produz o efeito de alguém dar sua
vida pelo amigo; quanto menos pelo inimigo! Ora, o amor de Cristo é um amor
dando vida, dando sua vida em prol dos “irmãos”, subentendendo-se que
irmão pode ser qualquer um que, pelo Pai, é levado a Cristo ou à sua
comunidade. É possível existir tal amor em outros ambientes culturais e
religiosos. E nem todos os cristãos vivem, ou pretendem viver, o mandamento
do amor que Cristo ilustrou com sua morte. Porém, não se conhece outra
comunidade que se caracterize especificamente por este mandamento. “Nisso
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LITURGIA – 24 de abril de 2016 – ANO C

conhecerão que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns pelos outros”
(13,35). E bem aquele amor que é ilustrado pelo contexto literário de Jo 13,31-
35 (contexto anterior: o lava-pés, sinal de amor até o fim; contexto posterior: o
amor até o fim em realização: a morte na cruz).
Onde reina este amor, as coisas não ficam como estão. O status quo é
garantido pelo instinto de conservação do homem: ninguém quer sacrificar
algo a favor dos outros “primeiro eu, depois meu vizinho”. Quem quebra o
status quo é Deus. É dele que podemos esperar a total novidade (pois deixar
tudo como está não parece ser a melhor das soluções). É o que sonha o autor
do Ap (2ª leitura). No fim da História, ele vê um novo céu e uma nova terra
(realização de Is 65,17). Não tem mar, moradia do Leviatã. A nova realidade
tem a aparência de uma noiva enfeitada para seu esposo: as núpcias
messiânicas. É a moradia de Deus com os homens (cf. Ez 37,27). É a nova
Aliança: eles serão seu povo e ele será seu Deus (ibid.). É a plenitude do
Emanuel, Deus-conosco (Is 7, 14ss). É a consolação completa (Is 25,8; 35,10). É
tudo o que se pode esperar. É a nova criação (cf. Is 65,17).
O sonho da nova criação … Os que dizem que a utopia é a mola propulsora da
História geralmente não concebem tal utopia como sendo a de Deus. Preferem
ter sua própria utopia. Ora, quem reflete um pouco, deve entender que a
utopia é coisa importante demais para depender do ser humano … Ou
deveremos pensar como o filósofo: “Eu posso conceber que, em vez do homem
individual, a própria lógica da História estabeleça a utopia”? Mas quem
perscruta a lógica da História? Portanto, é bom sermos dirigidos por uma
utopia que venha de Deus. E como é que a conhecemos? Pela fé em Jesus
Cristo, que inspirou o autor do Apocalipse. Na medida em que o sonho do
visionário de Patmos traduz a plenitude do “novo” que Jesus nos deixou – o
amor segundo o seu exemplo – nós também podemos sonhar nesta linha. Um
sonho não é científico, mas nos transmite uma mensagem: a mensagem da
ausência de todo o mal, agressividade, exploração, opressão, divisão …
Convida-nos a nos empenhar nesta direção. Nisto está sua força propulsora.
Aquilo que “Deus obrou com Paulo e Barnabé”, na 1ª viagem de missão, início
da grande expansão do cristianismo no mundo não judeu (1ª leitura; cf. dom.
pass.), se inscreve nesta utopia. Quem move esta obra é Deus. “Que todas as
tuas obras te louvem, Senhor” (salmo responsorial).
Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes
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MENSAGEM (FRANCISCANOS)
UM MANDAMENTO NOVO PARA UM MUNDO NOVO
Muitas pessoas hoje demonstram desânimo. As notícias são deprimentes.
Guerras intermináveis, que sempre de novo inflamam por baixo das brasas.
Populações africanas que se apagam pela fome, pelas epidemias. Cruéis
guerras religiosas na Ásia, na Indonésia. Extermínio das crianças meninas na
China. Violência em nossos bairros, corrupção em nossas instituições. E mesmo
na Igreja …
Existe alguém que possa dar um rumo a este mundo? A resposta é: você
mesmo, mas não sozinho. Alguém faz aliança com você. Ou melhor: com vocês,
como comunidade. E em sinal dessa aliança, deixou-lhes um exemplo e modo
de proceder: um novo mandamento. “Amai-vos uns aos outros, como eu vos
amei” – isto é, até o fim, até o dom da própria vida, seja vivendo, seja
morrendo. É o que nos recorda o evangelho de hoje.
Não há governo ou poder que nos possa eximir deste mandamento. Só se o
assumirmos como regra de nossa vida, o mundo vai mudar. Não existe um
mundo tão bom e tão bem governado, que possamos deixar de nos amar
mutuamente com ações e de verdade. Mas, por mais desgovernado que o
mundo seja, se nos amarmos mutuamente como Jesus nos tem amado, o
mundo vai mudar. Por que, então, depois de dois mil anos de cristianismo, o
mundo está tão ruim assim? A este respeito podem-se fazer diversas
perguntas, por exemplo: Será que os homens se têm amado suficientemente
com o amor que Jesus nos mostrou? E como seria o mundo se não tivesse
existido um pouco de amor cristão? Não seria bem pior ainda?
O Apocalipse, lido nas liturgias deste tempo pascal, muitas vezes é considerado
um livro de terror e de medo. Mas, na realidade, ele termina numa visão
radiante da nova criação, da nova Jerusalém, simbolizando a indizível
felicidade, a “paz” que Deus prepara para os que são fiéis ao novo
mandamento de seu Filho (2ª leitura). A nova Jerusalém é o povo de Deus
envolvido pelo esplendor, ainda escondido, do amor de Cristo, que o torna
radiante, como o amor do noivo torna radiante a sua amada. Quem é amado e
se entrega ao amor, torna-se amor!
É isso que deve acontecer entre nós. Jesus nos amou até o fim. Nossa
comunidade ec1esial deve transformar-se em amor, irradiando um mundo
infeliz e desviado por interesses egoístas e mortíferos. Ao invés de ver somente
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LITURGIA – 24 de abril de 2016 – ANO C

o lado ruim da Igreja – talvez porque nosso olho é ruim -, vamos tratar de ver a
Igreja como uma moça um tanto desajeitada e acanhada, mas que aos poucos
vai sentindo quanto ela está sendo amada e, por isso, se torna cada dia mais
amável e radiante. Ora, para isso, é preciso que deixemos penetrar em nós o
amor de Deus e o façamos passar aos nossos irmãos, não em palavras, mas
com ações e de verdade.
Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes
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SANTO DO DIA
São Fidélis (Fiel) de Sigmaringa, fiel a vontade
de Deus
Dedicou-se totalmente em iluminar as
consciências e rechaçar as doutrinas que
combatiam a Igreja de Cristo
O santo de hoje nasceu em Sigmaringa
(Alemanha) no ano de 1577. Seu nome de
batismo era Marcos Rei. Era dotado de grande
habilidade com os estudos. Marcos era um cristão católico, tornando-se mais
tarde um conhecido filósofo e advogado. Porém, havia um chamado que o
inquietava: a consagração total a Deus, a vida no ministério sacerdotal.
Renunciando a tudo, entrou para a família franciscana, para os Capuchinhos.
Enquanto noviço, viveu um grande questionamento: se fora do convento ele
não faria mais para Deus, do que dentro da vida religiosa. Buscou então seu
mestre de noviciado que, no discernimento, percebeu que era uma tentação.
Passado isso, ele se empenhou na busca pela santidade. Seu nome agora se
tornou “Fidélis” ou “Fiel’. E buscou ser fiel à vontade de Deus. Estudou
Teologia, foi ordenado e enviado à Suíça para uma missão especial com outros
irmãos: propagar a Sã Doutrina Católica.
São Fidélis dedicou-se totalmente em iluminar as consciências e rechaçar as
doutrinas que combatiam a Igreja de Cristo.
Depois de uma Santa Missa, com cerca de 45 anos, teve o discernimento de
que estava próxima sua partida. Fez uma oração de entrega a Deus e, logo em
seguida, foi preso e levado por homens que queriam que ele renunciasse à fé.
Fidélis deixou claro que não o faria, e que não temia a morte. Ajoelhou-se e
rezou: “Meu Jesus, tende piedade de mim. Santa Maria, Mãe de Deus, assisti-
me”. Recebeu várias punhaladas e morreu ali, derramando seu sangue pela
Verdade, por amor a Cristo e Sua Igreja.
São Fidélis, rogai por nós!
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MARTIROLÓGIO ROMANO
1. São Fiel de Sigmaringa, presbítero e mártir, que era advogado e
ingressou na Ordem dos Frades Menores Capuchinhos, onde se
entregou a uma vida austera de vigílias e orações. Conhecida a sua
atividade assídua na pregação da palavra de Deus, foi enviado à região
da Récia, no território da atual Suíça, com a missão de a consolidar na
verdadeira doutrina da fé. Em Seewis, na Suíça, foi massacrado pelos
hereges, morrendo pela fé católica. († 1622)
2. Em Jerusalém, a comemoração das santas mulheres Maria Cléofas e
Salomé, que, juntamente com Maria Madalena, ao amanhecer o dia da
Páscoa se dirigiram ao sepulcro do Senhor para ungir o seu corpo e
foram as primeiras a ouvir o anúncio da ressurreição.
3. Em Lião, cidade da Gália, na atual França, Santo Alexandre, mártir, que,
três dias depois da paixão de Santo Epipódio, foi arrastado para fora do
cárcere, espancado e, cravado numa cruz, exalou o seu espírito. († 178)
4. Em Nicomédia, na Bitínia, hoje Izmit, na Turquia, Santo Antimo, bispo, e
companheiros, mártires na perseguição do imperador Diocleciano:
Antimo, por ter confessado a fé, foi decapitado e assim recebeu a glória
do martírio, seguido por toda a multidão do seu rebanho, dos quais,
por ordem do juiz, uns foram decapitados, outros lançados às chamas,
outros finalmente metidos em pequenas barcas e afogados no mar. (†
303)
5. Em Elvira, na Hispânia Bética, São Gregório, bispo, cuja obra «Sobre a
fé» é louvada por São Jerónimo. († s. IV)
6. Em Blois, na Gália Lionense, na atual França, São Deusdado, diácono e
abade, que, depois de ter vivido como anacoreta, foi guia de vários
discípulos que com ele formaram uma comunidade. († s. VI)
7. Em Cantuária, na Inglaterra, São Melito, bispo, que foi enviado à
Inglaterra como abade pelo papa São Gregório Magno, posteriormente
ordenado bispo dos Saxões orientais por Santo Agostinho e, depois de
passar muitas tribulações, nomeado para a ilustre sede episcopal de
Cantuária. († 624)
8. Em York, no território de Nortúmbria, na Inglaterra, São Vilfredo, bispo,
que exerceu com grande empenho o seu ministério durante quarenta e
cinco anos e, constrangido impetuosamente a ceder a outrem a sua
sede, terminou em paz os seus dias entre os monges de Ripon, de
quem tinha sido abade. († 709)
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9. Em Iona, ilha da Escócia, Santo Egberto, presbítero e monge, que


trabalhou com grande diligência na evangelização de várias regiões da
Europa e, já em avançada idade, reconciliou os próprios monges de
Iona com o uso romano no cômputo da Páscoa e, ao terminar a
celebração da solenidade pascal, partiu para a Páscoa eterna. († 729)
10. Em Mortain, na Normandia, região da França, São Guilherme Firmato,
eremita, que, sendo cónego e médico em Tours, depois de uma
peregrinação a Jerusalém, passou o resto da sua vida na solidão. (†
1103)
11. Em Angers, na França, Santa Maria de Santa Eufrásia (Rosa Virgínia
Pelletier), virgem, que, para acolher misericordiosamente as mulheres
de má conduta, chamadas «Madalenas», fundou o Instituto das Irmãs
do Bom Pastor. († 1868)
12. Em Dinant, na França, São Bento (Ângelo) Ménni, presbítero da Ordem
de São João de Deus, que fundou a Congregação das Irmãs
Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus. († 1914)
13. Em Roma, a Beata Maria Isabel Hesselblad, virgem, natural da Suécia,
que, depois de longo tempo de serviço num hospital, reformou a
Ordem de Santa Brígida, dedicando-se especialmente à contemplação,
à caridade para com os necessitados e à união dos cristãos. († 1957)

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