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PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO

SECRETARIA MUNICIPAL DE ABASTECIMENTO


DIVISÃO TÉCNICA DE FISCALIZAÇÃO DO SILÊNCIO URBANO

Relatório de avaliação de exposição ao ruído

Introdução:

Esta avaliação foi realizada devido à solicitação da Divisão de Fiscalização e Controle de


Veículos e Condutores - Pátio Vila Maria - do Departamento Estadual de Trânsito da Polícia
Militar do Estado de São Paulo.
A unidade está localizada à Marginal Tietê, km 17,5, no sentido Penha - Lapa, no
canteiro entre duas pistas: a expressa, com limite de velocidade de 90 km/h e a local com limite
de 70 km/h. O local é caracterizado por trânsito intenso, que no momento da avaliação
apresentava boa fluidez, com um trânsito aproximado de 700 caminhões por hora e de 2600
automóveis por hora na pista expressa, a de maior limite de velocidade. Pelo posicionamento da
unidade, a pista expressa exerce maior influência sobre o ruído recebido em seu interior.
Construída em alvenaria, a unidade apresenta medidas aproximadas de 4,5 x 3 m com
cerca de 3 m de pé direito. As duas janelas do escritório, onde dois policiais exercem suas
atividades, são dispostas trasnversalmente à pista expressa.
Administração do pátio de recolhimento de veículos; registro de ocorrência de acidentes
sem vítimas e a coordenação de leilões de veículos apreendidos são basicamente as atividades
dos policiais que ali trabalham. A jornada diária é de 10 h, totalizando 40 h semanais.

Objetivos:

Avaliar o nível de exposição ao ruído de policiais lotados no Pátio Vila Maria do


Departamento Estadual de Trânsito.

Metodologia:

Foi utilizado um medidor de nível de pressão sonora integrador da marca Quest, classe II,
devidamente calibrado (114 dB, 1000 Hz). Foram seguidos os princípios estabelecidos pela ISO-
1999 (1990).
As medições foram efetuadas no dia 14/01/2003, às 15h20min.

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A grandeza empregada para caracterizar a exposição foi o nível equivalente (Leq) na


ponderação "A". A medição foi efetuada a aproximadamente 10 cm da orelha mais exposta do
funcionário, aguardando-se a estabilização do valor para o seu registro. Houve o cuidado de se
estimar somente o valor do ruído do tráfego no ambiente, controlando outras fontes, como
aparelho de TV e conversação.

Desenho esquemático da unidade - Vista superior

Pista local - 70 km/h

Pista expressa - 90 km/h

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Resultados:

Nos postos de trabalho avaliados, os valores do Leq observados oscilaram entre 74 e 76


dB(A), com um nível máximo atingindo o valor de 83 dB(A). O valor mais elevado do Leq foi
encontrado no posto de trabalho próximo à janela localizada à montante do tráfego.
Como a jornada é de 10 h, a exposição diária, considerando o valor de 76 dB(A), será de
77 dB(A). No entanto, prevalece o nível de exposição semanal de 76 dB(A), uma vez que os
policiais trabalham 4 dias por semana.
Estima-se que o nível de exposição seja de 76 dB(A), presumindo-se que as variações do
ruído ao longo do tempo sejam desprezíveis.

Discussão:

O ruído gerado pelo tráfego da Marginal, sobretudo na pista expressa, se constitui como a
principal fonte de ruído no ambiente de trabalho investigado. A distância entre o escritório e a
pista é uma característica que favorece a propagação do ruído. Além disso, não há nenhuma
barreira interposta entre a fonte linear do tráfego e o ponto de recepção, levando em conta a
medição com a janela aberta.
Ruído de tráfego apresenta como principais fatores de formação o funcionamento do
motor e o atrito existente entre o veículo e o piso e o ar. Conforme Berglund et al. (1999),
quando a velocidade supera 60km/h, o segundo fator se torna o mais importante, como é o caso
na Marginal.
Os resultados iniciais indicam que, baseando-se na literatura, o risco de perda auditiva é
inexpressivo, uma vez que os valores se encontram abaixo até do nível de ação, que é de 80
dB(A), definido pela legislação nacional para ambientes de trabalho, sobretudo industriais.
Conforto acústico, nesta situação, é o tópico que serve de referência para possibilitar a consulta
a normas específicas, inclusive a do Ministério do Trabalho (BRASIL 1998).

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De qualquer modo, vale salientar que a norma ISO-1999 (1990) estabelece como nível
seguro um nível equivalente de 70 dB(A), para uma base temporal de 24 h (L Aeq,24). Neste caso,
observando o Leq registrado, o LAeq,24 é de 72 dB(A), um pouco acima do limite referido.
A epidemiologia sobre o tema, para os níveis encontrados, também tem se detido sobre
efeitos extra-auditivos provenientes da exposição ao ruído. Embora as associações encontradas
sejam frágeis, verifica-se que a exposição a longo - termo ao ruído a um L Aeq,24 na faixa de 65 a
70 dB(A) pode induzir a ocorrência de efeitos cardiovasculares, especialmente doença isquêmica
do coração (Berglund et al. 1999).
Em referência ao cenário de conforto acústico, o valor encontra-se bem acima dos limites
estabelecidos pela NB-95 - NBR 10.152 (ABNT, 1987), referência para o Ministério do
Trabalho, que devem ser os seguintes para ambientes de trabalho em escritórios:

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Tabela 1: Níveis de ruído admitidos em escritórios de acordo com a NBR-10.152


Locais dB(A)
Escritórios
 Salas de reunião 30 – 40
 Salas de gerência, de projetos e de administração 35 – 45
 Salas de computadores 45 – 65
 Salas de mecanografia 50 – 60

Considerando a atividade avaliada como sendo de trabalho de escritórios, dois efeitos


devem ser destacados: respostas subjetivas (incômodo, distúrbio) e efeitos comportamentais,
sobretudo os relacionados à performance. Estes dois efeitos, definidos como os de maior relevo,
serão abordados sucintamente a seguir.
O nível da fala se localiza entre 55 a 65 dB(A). Para que haja uma boa comunicação é
interessante que o nível de ruído esteja 6 dB abaixo desta faixa. No caso em questão o nível de
ruído está 11 dB acima. Já acima de 60 dB(A) é necessário levantar a voz para possibilitar a
comunicação. Quando o ruído intruso mascara sons importantes para o desenvolvimento de uma
atividade, como a própria fala para a comunicação, há a geração de incômodo de acordo com
vários estudos. Convém acrescentar ainda, segundo pesquisas, que o ruído pode prejudicar
atividades de cálculo e a memória (Kjellberg e Landström 1994).
Problemas de leitura, atenção, solução de problemas e memória são os efeitos cognitivos
de maior importância associados com a exposição ao ruído. Percebe-se que são efeitos que
apresentam um grande potencial para prejudicar a performance dos policiais na unidade, posto
que executam tarefas de natureza cognitiva (Berglund et al. 1999).

Conclusão:

Os policiais que desempenham suas atividades na unidade estão expostos a um nível


equivalente de 76 dB(A). A jornada de trabalho dos policiais implica em uma exposição semanal
de igual valor.
Convertendo o valor da exposição de 8 h para um período de 24 h, para se obter o valor
do LAeq,24, é atingido um valor de 72 dB(A). Este valor representaria um risco inexpressivo, já
que o valor seguro de exposição recomendado seria de 70 dB(A) para período equivalente. De
qualquer modo, como medida preventiva, seria interessante a adoção de um Programa de

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Conservação Auditiva (PCA) no grupo de policiais que ali trabalham (Brasil 1997). Em anexo,
há a transcrição da Portaria que aborda as principais etapas do programa.
Sobre a questão do conforto acústico, pôde ser observado que o valor encontrado está
sensivelmente acima do indicado pela NB-95 - NBR - 10.152 (ABNT 1987). Esta constatação
implica na necessidade de medidas de saneamento no local, que estão incluídas no escopo do
PCA. Como sugestão, o escritório poderia ser enclausurado acusticamente, com a instalação de
janelas e portas acústicas e de um sistema de ar condicionado. Barreiras acústicas que contornem
a unidade é outra alternativa para reduzir a emissão de ruído no local. Importante destacar que
tais medidas de saneamento devem ser resultado de um procedimento de avaliação mais
detalhado, por se tratar de um problema de engenharia.
Necessário destacar que para se estimar a exposição ao ruído com maior acurácia seria
necessário o uso de métodos que utilizassem dosimetria, que contemplariam a extensão de toda a
jornada do policial e até por vários dias. Os dados aqui apresentados configuram-se como uma
estimativa inicial.
Assinala-se também que seria interessante o uso de medidores por banda de oitava para
avaliações mais específicas, no âmbito do conforto acústico, como mensurar o nível de
interferência da fala provocado pelo ruído.

Luiz Felipe Silva


Engenheiro PSIU - PMSP
RF: 630.568-7.00

Janeiro de 2003

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Referências bibliográficas:

1. ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. Níveis de ruído para conforto


acústico. Rio de Janeiro (RJ); 1987. ABNT - NB-95.
2. Berglund B, Lindvall T, Schwela DH. Guidelines for community noise. World
Health Organizatiom, Geneva, 1999.
3. Brasil. Portaria do INSS com Respeito à Perda Auditiva por Ruído Ocupacional.
Diário Oficial da República Federativa do Brasil , Brasília, 11 jul 1997. Seção
3, p.14244- 14249.
4. Brasil. Segurança e medicina do trabalho: Lei n. 6.514, de 22/12/77, normas
regulamentadoras (nr) aprovadas pela portaria n. 3.214, de 8/6/78, normas
regulamentadoras rurais (nrr) aprovadas pela portaria n. 3.067, de 12/4/88, e
índices remissivos. 39.ª ed. São Paulo: Atlas; 1998 .
5. International Standard ISO 1996/1: Acoustics - Description and measurement of
environmental noise - Part 1: Basic quantities and procedures, Genéve, 1982.
6. Kjellberg A e Landström. Noise in the office: Part II - The scientific basis
(knowledge base) for the guide. Int J Ind Ergonomics 1994; 14:93-118.

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Anexo 1: Etapas de um PCA


"Para que seja eficaz, um PCA deve conter, basicamente, as seguintes etapas:
1) Monitoramento da exposição a nível de pressão sonora elevado:
É de fundamental importância que se tenha uma avaliação detalhada dos níveis de pressão sonora
elevados da empresa por setor a fim de:
a) avaliar a exposição de trabalhadores ao risco:
b) determinar se os níveis de pressão sonora elevados presentes podem interferir com a comunicação e a
percepção audível de sinais de alerta;
c) priorizar os esforços de controle do nível de pressão sonora elevado e definir e estabelecer práticas de
proteção auditiva.
d) para identificar trabalhadores que vão participar do PCA;
e) avaliar o trabalho de controle do nível de pressão sonora elevado.
2) Controles de engenharia e administrativos:
Os controles de engenharia e administrativos são os elementos mais importantes de um PCA, pois
somente por meio da redução do nível de pressão sonora elevado ou da exposição é que se consegue
prevenir os danos ocasionados pelo nível de pressão sonora elevado.
As medidas de engenharia são definidas como toda modificação ou substituição de equipamentos que
cause alteração física na origem ou na transmissão do nível de pressão sonora elevado (com exceção
dos EPIs), reduzindo os níveis sonoros que chegam no ouvido ao trabalhador.
São exemplos de medidas de engenharia a instalação de silenciadores, enclausuramento de
máquinas, redução de vibração das estruturas, revestimento de paredes com materiais de absorção
sonora, etc.
As medidas administrativas são aquelas que têm por objetivo alterar o esquema de trabalho ou das
operações, produzindo redução da exposição, como por exemplo, rodízio de empregados nas áreas de
nível de pressão sonora elevado, funcionamento determinadas máquinas em turnos ou horários com
menor número de pessoas presentes, etc.
3) Monitoramento audiométrico:
A etapa do monitoramento audiométrico, além de sua principal função de conservação auditiva dos
trabalhadores, acaba funcionando como uma das medidas de controle e avaliação da efetividade do
PCA.
São propósitos do monitoramento audiométrico:
a) estabelecer a audiometria inicial de todos os trabalhadores;
b) identificar a situação auditiva (audiogramas normais e alterados), fazendo o acompanhamento
periódico;
c) identificar os indivíduos que necessitam de encaminhamento ao médico otorrinolaringologista com
objetivo de verificar possíveis alterações de orelha média;
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d) alertar os trabalhadores sobre os efeitos do nível de pressão sonora, bem como fornecer-lhes os
resultados de cada exame;
e) contribuir significativamente para a implantação e efetividade do PCA.
Os audiogramas iniciais devem ser utilizados como referência e comparados, em caráter coletivo ou
individual, com os exames realizados posteriormente, de modo a verificar se as medidas de controle do
nível de pressão sonora elevado estão sendo eficazes.
O diagnóstico de perda de audição não desclassifica o trabalhador do exercício de suas funções
laborativas, O monitoramento deve ser utilizado como prevenção da progressão de perdas auditivas
induzidas por ruído e não como meio de exclusão de trabalhadores de suas atividades.
Os trabalhadores devem receber cópia dos resultados de seus audiogramas.
4) Indicação de Equipamentos de Proteção Individual - EPI:
O protetor auricular tem por objetivo atenuar a potência da energia sonora transmitida ao aparelho
auditivo.
A seleção do EPI mais adequado a cada situação é de responsabilidade da equipe executora do PCA.
Para tanto, alguns aspectos devem ser considerados quando da seleção dos mesmos:
• nível de atenuação que represente efetiva redução da energia sonora que atinge as estruturas da
cóclea;
• modelo que se adeqüe à função exercida pelo trabalhador;
• conforto;
• aceitação do protetor pelo trabalhador.
5) Educação e motivação:
O conhecimento e o envolvimento dos trabalhadores na implantação das medidas são essenciais para
o sucesso da prevenção da exposição e seus efeitos.
O processo de aquisição de informação pelos trabalhadores prevê a execução de programas de
treinamento, cursos, debates, organização de comissões, participação em eventos e outras formas
apropriadas para essa aquisição.
As atividades integrantes do processo de informação devem garantir aos trabalhadores, no mínimo, a
compreensão das seguintes questões:
a) os efeitos à saúde ocasionados pela exposição a nível de pressão sonora elevado;
b) a interpretação dos resultados dos exames audiométricos;
c) concepção, metodologia, estratégia e interpretação dos resultados das avaliações ambientais;
d) Medidas de proteção coletivas e individuais possíveis.
6) Conservação de registros:
A empresa deve arquivar todos os dados referentes a resultados de audiometrias, bem como
avaliações ambientais e medidas adotadas de proteção coletiva por período de 30 anos. Esses dados
devem estar disponíveis para os trabalhadores, órgãos de fiscalização e vigilância.
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7) Avaliação da eficácia e eficiência do programa:


Para que o PCA alcance seus objetivos é necessário que sua eficácia seja avaliada sistemática e
periodicamente.
O uso de check-list para acompanhar a aplicação do PCA pode ser muito útil na avaliação.
A avaliação deve consistir de três aspectos básicos:
1) avaliação da perfeição e qualidade dos componentes do Programa;
2) avaliação dos dados do exame audiológico;
3) opinião dos trabalhadores."

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