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MAL
BIBLIOGRAFIA
01 A Gênese cap. III 02 A mansão Renoir pág. 29, 172
03 A sombra do olmeiro pág. 120 04 Ação e reação pág. 90, 255
05 Alerta pág. 50 06 Boa nova pág. 35, 50
07 Caminho, verdade e vida pág. 75 08 Cartas e crônicas pág. 35
09 Cartilha da natureza pág. 17 10 Chão de flores pág. 128
11 Ciência e Espiritismo pág. 113 12 Coragem pág. 12
13 Cristianismo e Espiritismo pág. 227 14 Depois da morte pág. 124
15 Enigmas da psicometria pág. 79 16 Escrínio de luz pág. 81
17 Espírito e vida pág. 41 18 Estude e Viva pág. 74, 128, 134
19 Florações Evangélicas pág. 185 20 Fonte viva pág. 85, 119
21 Jesus no lar pág. 147 22 Justiça divina pág. 83, 155
23 Libertação pág. 21 24 Missionário da luz pág. 137
25 No mundo maior pág. 41 26 O Espírito da verdade pág. 159
27 O Evangelho S.o Espiritismo cap. v, 19xii,1 28 O grande enigma pág. 178
29 O Livro dos Espíritos q.97, 196,222 30 O porquê da vida pág. 71
31 Pão nosso pág. 139 32 Vozes do grande além
33 Mãos unidas pág. 88 34 Mediunidade e sintonia pág. 61
35 Semeador em Tempos Novos pág. 44 36 As leis morais pág. 34
LEMBRETE: O NÚMERO DA PÁGINA PODE VARIAR DE ACORDO COM A EDIÇÃO DA OBRA CITADA.
MAL – COMPILAÇÃO
01 A Gênese Allan Kardec cap. III
CAPÍTULO III O BEM E O MAL
1. — Sendo Deus o princípio de todas as coisas, e sendo este princípio todo sabedoria, todo
bondade, todo justiça, tudo o que dele procede deve participar de seus atributos, por que é
infinitamente sábio, justo e bom, nada pode produzir de insensato, de mau e de injusto. O mal
que observamos não deve, pois, ter a sua fonte nele.
2. Se o mal, estando nos atributos de um ser especial que se chama Arimane ou Satã, de duas
coisas uma: ou esse ser seria igual a Deus e, conseqüentemente, tão poderoso quanto ele, e de
toda a eternidade igual a ele, ou lhe seria inferior.
No primeiro caso, haveria duas potências rivais, lutando sem cessar, cada uma procurando
desfazer o que a outra faz, e se opondo mutuamente. Esta hipótese é inconciliável com a
unidade de vistas que se revela na disposição do Universo.
No segundo caso, esse ser, sendo inferior a Deus, serlheia subordinado; não podendo ter sido
igual a ele, de toda a eternidade, sem ser seu igual, teria um começo; se foi criado, não pode tê
lo sido senão por Deus; Deus teria, assim, criado o Espírito do mal, o que seria negação da
infinita bondade. (Ver O Céu e o Inferno Segundo o Espiritismo, cap. X, Os Demônios).
O BEM E O MAL
3. Entretanto, o mal existe e tem uma causa.
Os males de todas as espécies, físicos afligem a Humanidade, apresentam duas categorias que
importa distinguir: são os males que o homem podem evitar e aqueles que independem da sua
vontade. Entre esses últimos é preciso colocar os flagelos naturais.
O homem, cujas faculdades são limitadas, não pode penetrar, nem abarcar, o conjunto dos
objetivos do Criador; julga as coisas sob o ponto de vista da sua personalidade, dos interesses
factícios e da convenção que não estão na ordem da Natureza; por isso é que ele o acha
frequentemente, mau e injusto, o que acharia justo e admirável se lhe visse a causa, o fim e o
resultado definitivo. Procurando a razão de ser e a utilidade de cada coisa, reconhecerá tudo
leva a marca da sabedoria infinita, e se inclinará diante dessa sabedoria, mesmo para as coisas
que não compreende.
4. O homem recebeu, em herança, uma inteligência com a ajuda da qual pode conjurar, ou
grandemente atenuar os efeitos de todos os flagelos naturais; quanto mais ele adquire saber e
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avance em civilização, menos esses flagelos são desastrosos; com uma organização social
sabiamente previdente, poderá mesmo neutralizar as consequências, quando não puderem ser
evitadas. Assim, para esses mesmos flagelos, que têm sua utilidade na ordem da Natureza e
para o futuro presente, Deus deu ao homem, pelas faculdades dotou o seu Espírito, os meios de
paralisarlhes os efeitos.
Assim é que ele saneia os continentes insalubres, neutraliza os miasmas pestilentos, fertiliza as
terras incultas e se esforça por preserválas das inundações que construiu habitações mais
sadias, mais sólidas para resistirem aos ventos, tão necessários para a depuração da
atmosfera, que se coloca ao abrigo das intempéries; foi assim, que, pouco a pouco, a
necessidade fêlo criar as ciências, com ajuda das quais melhora a habitabilidade do globo, e
aumenta a soma do seu bemestar.
5. Devendo o homem progredir, os males está exposto, são um estimulante para o exercício
da inteligência, de todas as suas faculdades, físicas e morais, iniciandoo na pesquisa dos meios
para deles subtrairse. Se não tivesse nada a temer, nenhuma necessidade o levaria à procura
dos meios, seu espírito se entorpeceria na inatividade; não inventaria nada e não descobriria
nada. Ador é o aguilhão que impele o homem para a frente, no caminho do progresso.
6.Mas os mais numerosos males são aqueles que o homem cria para si mesmo, pelos seus
próprios vícios, aqueles que provêm de seu orgulho, de seu egoísmo, de sua ambição, de sua
cupidez, de seus excessos em todas as coisas; aí está a causa das guerras e das calamidades
que elas arrastam, dissenções, injustiças, opressão do fraco pelo forte, enfim, a maioria das
doenças.
Deus estabeleceu leis, plenas de sabedoria, que não têm por objetivo senão o bem; o homem
encontra, em si mesmo, tudo o que é necessário para seguilas; sua rota está traçada pela sua
consciência; a lei divina está gravada no seu coração; e, além disso, Deus o chama, sem cessar,
através dos seus messias e profetas, por todos os Espíritos encarnados que receberam a
missão de esclarecêlo, moralizálo, melhorálo, e, nestes últimos tempos, pela multidão de
Espíritos desencarnados que se manifestam por toda parte.
Se o homem se conformasse, rigorosamente, com as leis divinas, não há dúvida de que evitaria
os mais pungentes males, e que viveria feliz sobre a Terra. Se não o faz, e em virtude do seu
livre arbítrio, e, disso sofre as consequências. (O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. V, n°s
4, 5, 6 e seguintes).
7. Mas Deus, cheio de bondade, colocou o remédio ao lado do mal, quer dizer, do próprio mal
faz sair o bem. Chega um momento em que o excesso do mal moral se torna intolerável, e faz o
homem sentir o desejo de mudar de caminho; instruído pela experiência, é compelido a procurar
um remédio no bem, sempre por efeito do seu livre arbítrio; quando entra num caminho melhor,
é pelo fato da sua vontade e porque reconheceu os inconvenientes do outro caminho. A
necessidade o constrange, pois, a se melhorar moralmente, para ser mais feliz, como esta
mesma necessidade o constrange a melhorar as condições materiais da sua existência.
8. Podese dizer que o mal é a ausência do bem, como o frio é a ausência do calor. O mal não é
mais um atributo distinto do que o frio não é um fluido especial; um é o negativo do outro. Aí,
onde o bem não existe, existe forçosamente o mal; não fazer o mal, já é o começo do bem.
Deus não quer senão o bem; só do homem vem o mal. Se houvesse, na criação, um ser
predisposto ao mal, nada poderia evitálo; mas o homem, tendo a causa do mal em SI MESMO, e
tendo, ao mesmo tempo, seu livre arbítrio e, por guia, as leis divinas, evitáloia quando
quisesse.
Tomemos um fato vulgar por comparação. Um proprietário sabe que, na extremidade do seu
campo, há um lugar perigoso, onde poderia perecer ou se ferir aquele que ali se aventurasse. O
que faz, para prevenir os acidentes? Coloca, perto do local, um aviso tornando proibido ir mais
longe, por causa do perigo. Eis a lei; ela é sábia e previdente. Se, malgrado isso, um imprudente
não o tem em conta, e passa alem, se lhe ocorre algo mal, a quem pode imputar senão a si
mesmo?
Assim ocorre com todo o mal; o homem o evitaria, se observasse as leis divinas. Deus, por
exemplo, colocou um limite à satisfação das necessidades; o homem é advertido pela
saciedade; se ultrapassa esse limite, o faz voluntariamente. As doenças, as enfermidades, a
morte, que lhe podem ser consequentes, são, pois, o fato da sua imprevidência, e não de Deus.
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9. O mal, sendo o resultado das imperfeições do homem, e o homem, sendo criado por Deus,
Deus, dirseá, se não criou o mal, pelo menos a causa do mal; se houvesse feito o homem
perfeito, o mal não existiria.
Se o homem tivesse sido criado perfeito, seria levado, fatalmente, ao bem: ora, em virtude o
seu livre arbítrio, ele não é levado, fatalmente, nem ao bem nem ao mal. Deus quis que fosse
submetido à lei do progresso, e que, esse progresso fosse o fruto do seu próprio trabalho, afim
de que, dele, tivesse o mérito, do mesmo modo que carrega a responsabilidade do mal que é o
fato da sua vontade. A questão, pois, é saber qual é, no homem, a fonte da propensão para o
mal.
10. Se se estudam todas as paixões, e mesmo todos os vícios, vêse que têm seu princípio no
instinto de conservação. Este instinto está, com toda a sua força, nos animais e nos seres
primitivos que mais se aproximam da animalidade; aí só ele domina, porque, neles, não há
ainda, por contrapeso, o senso moral; o ser ainda não nasceu para a vida intelectual. O instinto
se enfraquece, ao contrário, à medida que a inteligência se desenvolve, porque esta domina a
matéria.
O destino do homem é a vida espiritual; mas, nas primeiras fases da sua existência corpórea,
não há senão necessidades materiais a satisfazer, e, para esse fim, o exercício das paixões é
uma necessidade para a conservação da espécie e dos indivíduos, materialmente falando. Mas,
saído desse período, há outras necessidades, necessidades primeiro semimorais e semi
materiais, depois, exclusivamente morais. É, então, quando o Espírito domina a matéria; se lhe
sacode o jugo, avança no caminho providencial, e se aproxima da sua destinaçáo final. Se, ao
contrário, se deixa dominar por ela, se atrasa assimilandose ao animal.
Nessa situação, o que, outrora, era um bem, porque era uma necessidade da sua natureza,
tornase um mal, não somente por não ser mais uma necessidade, mas porque isso se torna
nocivo à espiritualização do ser. Tal o que é qualidade na criança e se torna defeito no adulto. O
mal, assim, é relativo, e a responsabilidade proporcionada ao grau de adiantamento. Todas as
paixões têm, pois, a sua utilidade, providencial; sem isso, Deus teria feito algo inútil e nocivo. É
o abuso que constitui o mal, e o homem abusa em virtude do seu livre arbítrio. Mais tarde,
esclarecido pelo seu próprio interesse, escolherá, livremente, entre o bem o mal.
04 Ação e reação André LUiz pág. 90, 255
(..) As religiões na Terra, por esse motivo, procederam acertadamente, localizando o Céu nas
esferas superiores e situando o Inferno nas zonas inferiores, porquanto, nas primeiras,
encontramos a crescente glorificação do Universo e, nas segundas, a purgação e a regeneração
indispensáveis à vida, para que a vida se acrisole e se eleve ao fulgor dos cimos. Ante o
intervalo espontâneo e reparando que o Ministro se propunha a manter contacto conosco,
através da conversação, aduzi, com interesse:
— Comove saber que sendo a Providência Divina a Magnanimidade Perfeita, sem limites gerando
tesouros de amor para distribuílos com abundância, em favor de todas as criaturas, é também
a Equidade Vigilante, na direção e na aplicação dos bens universais.
— Efetivamente, não poderia ser de outro modo — ajuntou Sânzio, bondoso. — Em assuntos da
lei de causa e efeito, é imperioso não olvidar que todos os valores da vida, desde as mais
remotas constelações à mais mínima partícula subatômica, pertencem a Deus, cujos
inabordáveis desígnios podem alterar e renovar, anular ou reconstruir tudo o que está feito.
Assim, pois, somos simples usufrutuários da Natureza que consubstancia os tesouros do
Senhor, com responsabilidade em todos os nossos atos, desde que já possuamos algum
discernimento. O Espírito, seja onde for, encarnado ou desencarnado, na Terra ou noutros
mundos, gasta, em verdade, o que lhe não pertence, recebendo por empréstimos do Eterno Pai
os recursos de que se vale para efetuar a própria sublimação no conhecimento e na virtude.
Patrimônios materiais e riquezas da inteligência, processos e veículos de manifestação, tempo
e forma, afeições e rótulos honoríficos de qualquer procedência são de propriedade do Todo
Misericordioso, que nolos concede a título precário, a fim de que venhamos a utilizálos no
aprimoramento de nós mesmos, marchando nas largas linhas da experiência, de modo a
entrarmos na posse definitiva dos valores eternos, sintetizados no Amor e na Sabedoria com
que, em futuro remoto, Lhe retrataremos a Glória Soberana.
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Desde o elétron aos gigantes astronômicos da Tela Cósmica, tudo constitui reservas das
energias de Deus, que usamos, em nosso proveito, por permissão dEle, de sorte a
promovermos, com fir meza, nossa própria elevação a Sua Majestade Sublime. Dessa maneira, é
fácil perceber que, após conquistarmos a coroa da razão, de tudo se nos pedirá contas no
momento oportuno, mesmo porque não há progresso sem justiça na aferição de valores.
Lembreime instintivamente da nossa errada conceituação de vida na Terra, quando nos
achamos sempre dispostos a senhorear indebitamente os recursos do estágio humano, em
terras e casas, títulos e favores, prerrogativas e afetos, arrastando, por toda a parte, as
algemas do mais gritante egoísmo... Sânzio registroume os pensamentos, porque acentuou
com paternal sorriso, apés ligeira pausa:
— Realmente, no mundo o homem inteligente deve estar farto de saber que todo conceito de
propriedade exclusiva não passa de simples suposição. Por empréstimo, sim, todos os valores
da existência lhe são adjudicados pela Providência Divina, por determinado tempo, de vez que a
morte funciona como juiz inexorável, transferindo os bens de certas mãos para outras e
marcando com inequívoca exatidão o proveito que cada Espírito extrai das vantagens e
concessões que lhe foram entregues pelos Agentes da Infinita Bondade. Aí, vemos os princípios
de causa e efeito, em toda a força de sua manifestação, porque, no uso ou no abuso das
reservas da vida que representam a eterna Propriedade de Deus, cada alma cria na própria
consciência os créditos e os débitos que lhe atrairão inelutavelmente as alegrias e as dores, as
facilidades e os obstáculos do caminho.
Quanto mais amplitude em nossos conhecimentos, mais responsabilidade em nossas ações.
Através de nossos pensamentos, palavras e atos, que nos fluem, invariáveis, do coração,
gastamos e transformamos constantemente as energias do Senhor, em nossa viagem evolutiva,
nos setores da experiência, e, do quilate de nossas intenções e aplicações, nos sentimentos e
práticas da marcha, a vida organiza, em nós mesmos, a nossa conta agradável ou desagradável
ante as Leis do Destino. . Nesse ponto do valioso esclarecimento, Hilário inquiriu com
humildade:
— Amado Instrutor, à face da gravidade de que a lição se reveste para nós, que devemos
entender como sendo «bem» e «mal» ?Sânzio fez um gesto de tolerância bondosa e replicou :
— Evitemos o mergulho nos labirintos da Filosofia, não obstante o respeito que a Filosofia nos
merece, porquanto não nos achamos num cenáculo simplesmente destinado à esgrima da
palavra. Busquemos, antes de tudo, simplificar.
É fácil conhecer o bem quando o nosso coração se nutre de boavontade à frente da Lei. O bem,
meu amigo, é o progresso e a felicidade, a segurança e a justiça para todos os nossos
semelhantes e para todas as criaturas de nossa estrada, aos quais devemos empenhar as
conveniências de nosso exclusivismo, mas sem qualquer constrangimento por parte de
ordenações puramente humanas, que nos colocariam em falsa posição no serviço, por atuarem
de fora para dentro, gerando, muitas vezes, em nosso cosmo interior, para nosso prejuízo, a
indisciplina e a revolta.
O bem será, desse modo, nossa decidida cooperação com a Lei, a favor de todos, ainda mesmo
que isso nos custe a renunciação mais completa, visto não ignorarmos que, auxiliando a Lei do
Senhor e agindo de conformidade com ela, seremos por ela ajudados e sustentados no campo
dos valores imperecíveis. E o mal será sempre representado por aquela triste vocação do bem
unicamente para nós mesmos, a expressarse no egoísmo e na vaidade, na insensatez e no
orgulho que nos assinalam a permanência nas linhas inferiores do espírito. (...)
05 Alerta Joana de Ãngelis pág. 50
13. APRIMORAMENTO ÍNTIMO
Muito justo e mesmo recomendável que se recorra à cooperação fraternal do próximo, quando o
sofrimento e a dificuldade nos visitem as paisagens íntimas. O auxílio desinteressado que
recebemos é bênção inestimável de que se constitui a vida nas relações humanas.
No mundo, tudo são intercâmbios, permutas que se consubstanciam em força e resistência para
colimarem os objetivos a que se destinam.
Não obstante, há tarefas que compete a cada um realizar, integrados no processo evolutivo
como nos encontramos. Igualmente, não é lícito transferirse deveres e responsabilidades
pessoais, que fazem parte do esquema de iluminação que devemos conseguir, mesmo sob as
penosas cargas de aflição e renúncia.
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04/11/2016 MAL
Dentre os desafios que a vida nos oferece, o que diz respeito ao aprimoramento íntimo ganha
prioridade. Aprendizes da vida, somos defrontados pelas lições necessárias que nos propiciam o
conhecimento e a libertação das peias da ignorância geradora de mil males, e do egoísmo, que
é um câncer de alto poder destrutivo. Ninguém te acompanhará nesse afã de renovação e
aprimoramento íntimo.
Poucos perceberão a luta que travas no campo ignoto dessa batalha importante. Alguns criarão
dificuldades para o teu cometimento, talvez franqueandote recursos e meios para a fuga ou a
queda. Tentarás e repetirás o esforço, não poucas vezes, receando o fracasso ou crendo não
alcançar a meta. Prossegue, porém, trabalhando o caráter e o sentimento.
Não te deixes turbar pelas vanglorias, nem te anestesies pelos vapores da violência que
infelicita multidões. Dulcificate e não revides ao mal, não resistas ao mal com o mal, não te
negues à bondade, nem à beneficência, à esperança, nem à humildade.
Essas virtudes a cultivar serão as tuas resistências, e, quando os testemunhos parecerem
apresentarte a noite mais densa e temerosa, elas brilharão no teu céu em sombras,
apontandote o rumo. . . Por conhecer a destinação que nos aguarda, no futuro, Jesus nos veio
convocar pelo exemplo e pela palavra ao aprimoramento íntimo e à vitória sobre qualquer
expressão do mal através da ação correta do bem.
06 Boa nova Humberto de Campos pág. 35, 50
A FAMÍLIA ZEBEDEU
Na manhã que se seguiu à primeira manifestação da sua palavra defronte do Tiberíades, o
Mestre se aproximou de dois jovens que pescavam nas margens e os convocou para o seu
apostolado.— Filhos de Zebedeu — disse, bondoso —, desejais participar das alegrias da Boa
Nova?!Tiago e João, que já conheciam as pregações do Batista e que o tinham ouvido na
véspera, tomados de emoção se lançaram para ele, transbordantes de alegria:— Mestre!
Mestre! — exclamavam felizes.
Como se fossem irmãos bemamados que se encontrassem depois de longa ausência, tocados
pela força do amor que se irradiava do Cristo, fonte inspiradora das mais profundas dedicações,
falaram largamente da ventura de sua união perene, no futuro, das esperanças com que
deveriam avançar para o porvir, proclamando as belezas do esforço pelo Evangelho do Reino. Os
dois rapazes galileus eram de temperamento apaixonado. Profundamente generosos, tinham
carinhosas e simples, ardentes e sinceras as almas. João tomou das mãos do Senhor e beijou
as afetuosamente, enquanto Jesus lhe acariciava os anéis macios dos cabelos. Tiago, como se
quisesse hipotecar a sua solidariedade inteira, aproximouse do Messias e lhe colocou a destra
sobre os ombros, em amoroso transporte.
Os dois novos apóstolos, entretanto, eram ainda muito jovens e, em regressando a casa com o
espírito arrebatado por imensa alegria, relataram a sua mãe o que se passara. Salomé, a
esposa de Zebedeu, apesar de bondosa e sensível, recebeu a notícia com certo cuidado.
Também ela ouvira o profeta de Nazaré nas suas gloriosas afirmativas da véspera. Pôsse então
a ponderar consigo mesma: não estaria próximo aquele reino prometido por Jesus? Quem sabe
se o filho de Maria não falava na cidade em nome de algum príncipe? Ah! o Cristo deveria ser o
intérprete de algum desconhecido ilustre que recrutava adeptos entre os homens trabalhadores
e mais fortes.
A quem seriam confiados os postos mais altos, dentro da nova fundação? Seus filhos queridos
bem os mereciam. Precisava agir, enquanto era tempo. O povo, de há muito, falava em
revolução contra os romanos e os comentadores mais indiscretos anteviam a queda próxima
dos Ântipas. O novo reinado estava próximo e, alucinada pelos sonhos maternais, Salomé
procurou o Messias no círculo dos seus primeiros discípulos.— Senhor — disse, atenciosa —, logo
após a instituição do teu reino, eu desejaria que os meus filhos se sentassem um à tua direita e
outro à tua esquerda, como as duas figuras mais nobres do teu trono.Jesus sorriu e obtemperou
com gesto bondoso:
cessado o labor do dia, Zebedeu acompanhado pelos dois filhos procurou o Mestre em casa de
Simão. Jesus lhes recebeu a visita com extremo carinho, enquanto o velho galileu expunha as
suas razões, humilde e respeitoso.
— Zebedeu — respondeulhe Jesus —, tu, que conheces a lei e lhe guardas os preceitos no
coração, sabes de algum profeta de Deus que, no seu tempo, fosse amado pelos homens do
mundo?— Não, Senhor.— Que fizeram de Moisés, de Jeremias, de Jonas? Todos os emissários
da verdade divina foram maltratados e trucidados, ou banidos do berço em que nasceram. Na
Terra, o preço do amor e da verdade tem sido o martírio e a morte. O pai de Tiago e de João
ouviao humilde e repetia: — Sim, Senhor. E Jesus, como se aproveitasse o momento para
esclarecer todos os pontos em dúvida, continuou:
— O reino de Deus tem de ser fundado no coração das criaturas; o trabalho árduo é o meu gozo;
o sofrimento o meu cálice; mas, o meu Espírito se ilumina da sagrada certeza da vitória.—
Então, Senhor — exclamou Zebedeu, respeitoso —, o vosso reino é o da paz e da resignação que
os crentes de Elias esperavam! Jesus com um sorriso de benignidade acrescentou:— A paz da
consciência pura e a resignação suprema à vontade de meu Pai são do meu reino; mas os
homens costumam falar de uma paz que é ociosidade de espírito e de uma resignação que é
vício do sentimento.
Trago comigo as armas para que o homem combata os inimigos que lhe subjugam o coração e
não descansarei enquanto não tocarmos o porto da vitória. Eis por que o meu cálice, agora, tem
de transbordar de fel, que são os esforços ingentes que a obra reclama.E, como se quisesse
pormenorizar os esclarecimentos, prosseguiu:— Há homens poderosos no mundo que morrem
comodamente em seus palácios, sem nenhuma paz no coração, transpondo em desespero e
com a noite na consciência os umbrais da eternidade; há lutadores que morrem na batalha de
todos os momentos, muita vez vencidos e humilhados, guardando, porém, completa serenidade
de espírito, porque, em todo o bom combate, repousaram o pensamento no seio amoroso de
Deus.
Outros há que aplaudem o mal, numa falsa atitude de tolerância, para lhe sofrer amanhã os
efeitos destruidores. Os verdadeiros discípulos das verdades do céu, esses não aprovam o erro,
nem exterminam os que os sustentam. Trabalham pelo bem, porque sabem que Deus também
está trabalhando. O Pai não tolera o mal e o combate, por muito amar a seus filhos. Vê, pois,
Zebedeu, que o nosso reino é de trabalho perseverante pelo bem real da Humanidade inteira.
Enquanto os dois apóstolos fitavam em Jesus os olhos calmos e venturosos, Zebedeu o
contemplava como se tivesse à sua frente o maior profeta do seu povo.
— Grande reino! — exclamou o velho pescador e, dando expansão ao entusiasmo que lhe enchia
o coração, disse, ditoso:— Senhor! Senhor! trabalharemos convosco, pregaremos o vosso
Evangelho, aumentaremos o número dos vossos seguidores!...Ouvindo estas últimas palavras, o
Mestre elucidou, pondo ênfase nas suas expressões:— Ouve, Zebedeu! nossa causa não é a do
número; é a da verdade e do bem. É certo que ela será um dia a causa do mundo inteiro, mas,
até lá, precisamos esmagar a serpente do mal sob os nossos pés. Por enquanto, o número
pertence aos movimentos da iniquidade. A mentira e a tirania exigem exércitos e monarcas,
espadas e riquezas imensas para dominarem as criaturas.
O amor, porém, essência de toda a glória e de toda a vida, pede um coração e sabe ser feliz. A
impostura reclama interminável fileira de defensores, para espalhar a destruição; basta, no
entanto, um homem bom para ensinar a verdade de Deus e exaltarlhe as glórias eternas,
confortando a infinita legião de seus filhos. Quem será maior perante Deus? A multidão que se
congrega para entronizar a tirania, esmagando os pequeninos, ou um homem sozinho e bem
intencionado que com um simples sinal salva uma barca cheia de pescadores? Empolgado pela
sabedoria daquelas considerações, Zebedeu perguntou:— Senhor, então o Evangelho não será
bom para todos?
— Em verdade — replicou o Mestre —, a mensagem da Boa Nova é excelente para todos;
contudo, nem todos os homens são ainda bons e justos para com ela. É por isso que o
Evangelho traz consigo o fermento da renovação e é ainda por isso que deixarei o júbilo e a
energia como as melhores armas aos meus discípulos. Exterminando o mal e cultivando o bem,
a Terra será para nós um glorioso campo de batalha. Se um companheiro cair na luta, foi o mal
que tombou, nunca o irmão que, para nós outros, estará sempre de pé.
Não repousaremos até ao dia da vitória final. Não nos deteremos numa falsa contemplação de
Deus, à margem do caminho, porque o Pai nos falará através de todas as criaturas trazidas à
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boa estrada; estaremos juntos na tempestade, porque aí a sua voz se manifesta com mais
retumbância. Alegrarnosemos nos instantes transitórios da dor e da derrota, porque aí o seu
coração amoroso nos dirá: "Vem, filho meu, estou nos teus sofrimentos com a luz dos meus
ensinos!" Combateremos os deuses dos triunfos fáceis, porque sabemos que a obra do mundo
pertence a Deus, compreendendo que a sua sabedoria nos convoca para completála,
edificando o seu reino de venturas semfim no íntimo dos corações.
Jesus guardou silêncio por instantes. João e Tiago se lhe aproximaram, magnetizados pelo seu
olhar enérgico e carinhoso. Zebedeu, como se não pudesse resistir à própria emotividade,
fechara os olhos, com o peito oprimido de júbilo. Diante de si, num vasto futuro espiritual, via o
reino de Jesus desdobrarse ao infinito. Parecia ouvir a voz de Abraão e o eco grandioso de sua
posteridade numerosa. Todos abençoavam o Mestre num hino glorificador. Até ali, seu velho
coração conhecera a lei rígida e temera Jeová com a sua voz de trovão sobre as sarças de fogo;
Jesus lhe revelara o Pai carinhoso e amigo de seus filhos, que acolhe os velhos, os humildes e os
derrotados da sorte, com uma expressão de bondade sempre nova.
O velho pescador de Cafarnaum soltou as lágrimas que lhe rebentavam do peito e ajoelhouse.
Adiantandoselhe, Jesus exclamou:
— Levantate, Zebedeu! os filhos de Deus vivem de pé para o bom combate! Avançando, então,
dentro da pequena sala, o pai dos apóstolos tomou a destra do Mestre e a umedeceu com as
suas lágrimas de felicidade e de reconhecimento, murmurando:— Senhor, meus filhos são
vossos. Jesus, atraindoo docemente ao coração, lhe afagou os cabelos brancos, dizendo:—
Chora, Zebedeu! porque as tuas lágrimas de hoje são formosas e benditas!... Temias a Deus;
agora o amas; estavas perdido nos raciocínios humanos sobre a lei; agora, tens no coração a
fonte da fé viva!
A LUTA CONTRA O MAL
De todas as ocorrências da tarefa apostólica, os encontros do Mestre com os endemoninhados
constituíam os fatos que mais impressionavam os discípulos. A palavra "diabo" era então
compreendida na sua justa acepção. Segundo o sentido exato da expressão, era ele o
adversário do bem, simbolizando o termo, dessa forma, todos os maus sentimentos que
dificultavam o acesso das almas à aceitação da Boa Nova e todos os homens de vida perversa,
que contrariavam os propósitos da existência pura, que deveriam caracterizar as atividades dos
adeptos do Evangelho.
Dentre os companheiros do Messias, Tadeu era o que mais se deixava impressionar por aquelas
cenas dolorosas. Aguçavamlhe, sobremaneira, a curiosidade de homem os gritos desesperados
dos espíritos malfazejos, que se afastavam de suas vítimas sob a amorosa determinação do
Mestre Divino. Quando os pobres obsidiados deixavam escapar um suspiro de alívio, Tadeu
volvia os olhos para Jesus, maravilhado de seus feitos.
Observando o fato, Tadeu caiu em sério e profundo cismar. Por que razão o Mestre não lhes
transmitia, automaticamente, o poder de expulsar os demónios malfazejos, para que pudessem
dominar os adversários da causa divina? Se era tão fácil a Jesus a cura integral dos
endemoninhados, por que motivo não provocava ele de vez a aproximação geral de todos os
inimigos da luz, a fim de que, pela sua autoridade, fossem definitivamente convertidos ao reino
de Deus? Com o cérebro torturado por graves cogitações e sonhando possibilidades
maravilhosas para que cessassem todos os combates entre os ensinamentos do Evangelho e os
seus inimigos, o discípulo inquieto procurou avistarse particularmente com o Senhor, de modo
a exporlhe com humildade suas ideias íntimas.
Numa noite tranquila, depois de lhe escutar as pon derações, perguntoulhe Jesus, em tom
austero:— Tadeu, qual o principal objetivo das atividades de tua vida? Como se recebesse uma
centelha de inspiração superior, respondeu o discípulo com sinceridade:— Mestre, estou
procurando realizar o reino de Deus no coração.— Se procuras semelhante realidade, por que a
reclamas no adversário em primeiro lugar? Seria justo esqueceres as tuas próprias
necessidades nesse sentido? Se buscamos atingir o infinito da sabedoria e do amor em Nosso
Pai, indispensável se faz reconheçamos que todos somos irmãos no mesmo caminho!...
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— Senhor, os espíritos do mal são também nossos irmãos? — inquiriu, admirado, o apóstolo.—
Toda a criação é de Deus. Os que vestem a túnica do mal envergarão um dia a da redenção pelo
bem. Acaso, poderias duvidar disso? O discípulo do Evangelho não combate propriamente o seu
irmão, como Deus nunca entra em luta com seus filhos; aquele apenas combate toda
manifestação de ignorância, como o Pai que trabalha incessantemente pela vitória do seu amor,
junto da humanidade inteira.
— Mas, não seria justo — ajuntou o discípulo, com certa convicção — convocarmos todos os
gênios malfazejos para que se convertessem à verdade dos céus? O Mestre, sem se
surpreender com essa observação, disse:— Por que motivo não procede Deus assim?...
Porventura, teríamos nós uma substância de amor mais sublime e mais forte que a do seu
coração paternal? Tadeu, jamais olvidemos o bom combate. Se alguém te convoca ao labor
ingrato da má semente, não desdenhes a boa luta pela vitória do bem, encarando qualquer
posição difícil como ensejo sagrado para revelares a tua fidelidade a Deus.
Abraça sempre o teu irmão. Se o adversário do reino te provoca ao esclarecimento de toda a
verdade, não desprezes a hora de trabalhar pela vitória da luz; mas segue o teu caminho no
mundo atento aos teus próprios deveres, pois não nos consta que Deus abandonasse as suas
atividades divinas para impor a renovação moral dos filhos ingratos, que se rebelaram na sua
casa. Se o mundo parece povoarse de sombras, é preciso reconhecer que as leis de Deus são
sempre as mesmas, em todas as latitudes da vida.
É indispensável meditar na lição de Nosso Pai e não estacionar a meio do caminho que
percorremos. Os inimigos do reino se empenham em batalhas sangrentas? Não olvides o teu
próprio trabalho. Padecem no inferno das ambições desmedidas? Caminha para Deus. Lançam a
perseguição contra a verdade? Tens contigo a verdade divina que o mundo não te poderá
roubar, nunca. Os grandes patrimônios da vida não pertencem às forças da Terra, mas às do
Céu. O homem, que dominasse o mundo inteiro com a sua força, teria de quebrar a sua espada
sangrenta, ante os direitos inflexíveis da morte.
E, além desta vida, ninguém te perguntará pelas obrigações que tocam a Deus, mas,
unicamente, pelo mundo interior que te pertence a ti mesmo, sob as vistas amoráveis de Nosso
Pai. Que diríamos de um rei justo e sábio que perguntasse a um só de seus súditos pela justiça
e pela sabedoria do reino inteiro? Entretanto, é natural que o súdito seja inquirido acerca dos
trabalhos que lhe foram confiados, no plano geral, sendo também justo se lhe pergunte pelo que
foi feito de seus pais, de sua companheira, de seus filhos e irmãos. Andas assim tão esquecido
desses problemas fáceis e singelos? Aceita a luta, sempre que fores julgado digno dela e não te
esqueças, em todas as circunstâncias, de que construir é sempre melhor.
Tadeu contemplou o Mestre, tomado de profunda admi ração. Seus esclarecimentos lhe caíam
no espírito como gotas imensas de uma nova luz.— Senhor — disse ele —, vossos raciocínios me
iluminam o coração; mas, terei errado externando meus sentimentos de piedade pêlos espíritos
malfazejos? Não devemos, então, convocálos ao bom caminho?— Toda intenção excelente —
redarguiu Jesus — será levada em justa conta no céu, mas precisamos compreender que não se
deve tentar a Deus. Tenho aceitado a luta como o Pai ma envia e tenho esclarecido que a cada
dia basta o seu trabalho.
Nunca reuni o colégio dos meus companheiros para provocar as manifestações dos que se
comprazem na treva; reunios, em todas as circunstâncias e oportunidades, suplicando para o
nosso esforço a inspiração sagrada do TodoPoderoso. O adversário é sempre um necessitado
que comparece ao banquete das nossas alegrias e, por isso, embora não o tenha convocado,
convidando somente os aflitos, os simples e os de boavontade, nunca lhe fechei as portas do
coração, encarando a sua vinda como uma oportunidade de trabalho, de que Deus nos julga
dignos. O apóstolo humilde sorriu, saciado em sua fome de conhecimento, porém acrescentou,
preocupado com a impossibilidade em que se via de atender eficazmente à vítima que o
procurara:
— Senhor, vossas palavras são sempre sábias; entretanto, de que necessitarei para afastar as
entidades da sombra, quando o seu império se estabeleça nas almas?!...— Voltamos, assim, ao
início das nossas explicações — retrucou Jesus —, pois, para isso, necessitas da edificação do
reino no âmago do teu espírito, sendo este o objetivo de tua vida. Só a luz do amor divino é
bastante forte para converter uma alma à verdade. Já viste algum contendor da Terra
convencerse sinceramente tãosó pela força das palavras do mundo? As dissertações
filosóficas não constituem toda a realização. Elas podem ser um recurso fácil da indiferença ou
uma túnica brilhante, acobertando penosas necessidades.
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O reino de Deus, porém, é a edificação divina da luz. E a luz ilumina, dispensando os longos
discursos. Capacitate de que ninguém pode dar a outrem aquilo que ainda não possua no
coração. Vai! Trabalha sem cessar pela tua grande vitória. Zela por ti e ama a teu próximo, sem
olvidares que Deus cuida de todos. Tadeu guardou os esclarecimentos de Jesus, para retirar de
sua substância o mais elevado proveito no futuro.
No dia seguinte, desejando destacar, perante a comunidade dos seus seguidores, a
necessidade de cada qual se atirar ao esforço silencioso pela sua própria edificação evangélica,
o Mestre esclareceu aos seus apólogos singelos, como se encontra dentro da narrativa de
Lucas: — "Quando o espírito imundo sai do homem, anda por lugares áridos, procurando, e não
o achando diz: — Voltarei para a casa donde saí; e, ao chegar, achaa varrida e adornada.
Depois, vai e leva mais sete Espíritos piores do que ele, que ali entram e habitam; e o último
estado daquele homem fica sendo pior do que o primeiro."
Então, todos os ouvintes das pregações do lago compreenderam que não bastava ensinar o
caminho da verdade e do bem aos Espíritos perturbados e malfazejos; que indispensável era
edificasse cada um a fortaleza luminosa e sagrada do reino de Deus, dentro de si mesmo.
07 Caminho, verdade e vida Emmanuel pág. 75
30. O MUNDO E O MAL
"Não peço que os tire do mundo, mas que os livre do mal." Jesus (João, 17:15)
Nos centros religiosos, há sempre grande número de pessoas preocupadas com a idéia da
morte. Muitos companheiros não crêem na paz, nem no amor, senão em planos diferentes da
Terra. A maioria aguarda situações imaginárias e injustificáveis para quem nunca levou em linha
de conta o esforço próprio.
O ansio de morrer para ser feliz é enfermidade do espírito. Orando ao Pai pelos discípulos, Jesus
rogoupara que não fossem retirados do mundo, e, sim, libertos do mal. O mal, portanto, não é
essencialmente do mundo, mas das criaturas que o habitam. A Terra em si, sempre foi boa. De
sua lama brotam lírios de delicado aroma, sua natureza maternal é repositório de
maravilhososo milagres que se repetem todos os dias.
De nada vale partimos do planeta, quando nossos males não foram exterminados
convenientemente. Em tais circunstâncias, assemelhamonos aos portadores humanos das
chamadas moléstias incuráveis. Podemos trocar de residência; todavia, a mudança é quase
nada se as feridas nos acompanham. Fazse preciso, pois, embelezar o mundo e aprimorálo,
combatendo o mal que está em nós.
12 Coragem Espíritos Diversos pág. 12
2. MALES PEQUENINOS
Guardemos cuidado para com a importância dos males aparentemente pequeninos. Não é o
aguaceiro que arrasa a árvore benemérita. É a praga quase imperceptível que se lhe oculta no
cerne. Não é a selvageria da mata que dificulta mais intensamente o avanço do pioneiro. É a
pedra no calçado ou o calo no pé.
Não é a cerração que desorienta o viajor, ante as veredas que se bifurcam. É a falta da bússola.
Não é a mordedura do réptil que extermina a existência de um homem. É a diminuta dose de
veneno que ele segrega.
Assim, na vida comum. Na maioria das circunstâncias não são as grandes provações que
aniquilam a criatura e sim os males supostamente pequeninos, dos quais, muitas vezes, ela
própria escarnece, a se expressarem por ódio, angústia, medo e cólera, que se lhe instalam,
sorrateiramente, por dentro do coração.
Albino Teixeira
13 Cristianismo e Espiritismo Léon Denis pág. 227
(..) As vezes, Espíritos de mineiros, conhecidos dos assistentes e que com eles partilharam a
mesma laboriosa existência, se lhes manifestavam. Eram facilmente reconhecidos por sua
http://www.acasadoespiritismo.com.br/temas/mal.htm 9/16
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linguagem, por suas expressões familiares, por mil particularidades psicológicas que são outras
tantas provas de identidade. Descreviam a vida no espaço, as sensações experimentadas na
ocasião da morte, os sofrimentos morais resultantes de um passado culposo, de perniciosos
hábitos contraídos, de pendores para a maledicência ou para o alcoolismo, e essas
comovedoras descrições, cheias de animação e de originalidade, exerciam no auditório um
grande efeito moral, uma impressão profunda e salutar. Dai uma sensível transformação nas
idéias e nos costumes.
Considerando esses fatos, bem numerosos já e que se multiplicam dia a dia, podese desde logo
calcular o número considerável de pobres almas que o Espiritismo fortaleceu e consolou. Ele
preservou do suicídio grande número de desesperados. Demonstrandolhes a realidade da
sobrevivência, restituiulhes a coragem e o apreço à vida. Não cometeremos exagero dizendo
que milhares de seres humanos, pertencentes a diversas confissões religiosas, protestantes e
católicas e mesmo representantes oficiais dessas religiões a quem a morte de parentes e as
provações haviam acabrunhado encontraram na comunhão dos mortos, em lugar de uma
indecisa fé, uma convicção positiva, uma inabalável confiança na imortalidade.
Eis aqui o que um pastor protestante escrevia a Russell Wallace, académico inglês, depois de
haver comprovado a realidade dos fenômenos espíritas: "A morte é agora para mim uma coisa
muito diferente do que foi outrora; depois de ter experimentado enorme acabrunhamento
consequente à morte de meus filhos, sintome atualmente cheio de esperança e de alegria; sou
outro homem".A esses testemunhos, tão eloquentes de simplicidade, poderseiam opor, é
certo, as fraudes, os hábitos de embuste, o charlatanismo e a mediunidade venal, em uma
palavra: todos os abusos originados, em certos casos, de uma péssima prática experimental do
Espiritismo, e aos quais já nos referimos.
Mas os que se entregam a semelhantes exercícios provam, por isso mesmo, a sua ignorância do
Espiritismo. Se lhe compreendessem as leis e os preceitos, saberiam o que lhes reservam atos
que são outras tantas profanações. Saberiam ao que se expõem os que fazem de uma coisa
respeitável e sagrada, em que se não deve tocar senão com recolhimento e piedade, meio
vulgar de exploração, um comércio vergonhoso.
A ação salutar do Espiritismo não se exerce, com efeito, unicamente sobre os homens; estende
se também aos habitantes do espaço. Mediante relações estabelecidas entre os dois mundos,
os adeptos esclarecidos podem agir sobre os Espíritos inferiores e, com palavras de piedade e
consolação, sábios conselhos, arrancálos ao mal, ao ódio, ao desespero. E nisso há um dever
imperioso, o dever de todo ser superior para com os seus irmãos retardatários, de um ou de
outro mundo. Ê o dever do homem de bem, que o Espiritismo eleva à dignidade de educador e
guia dos Espíritos ignorantes ou perversos, a ele enviados para serem instruídos, esclarecidos,
melhorados.
É, ao mesmo tempo, o mais seguro meio de sanear fluidicamente a atmosfera da Terra, o
ambiente em que se agita e vive a Humanidade. É nesse intuito que todo círculo espírita de
alguma importância consagra parte das suas sessões à instrução e moralização das almas
culpadas. Graças à solicitude que lhes é testemunhada, às caritativas advertências e,
sobretudo, às preces fervorosas que recaem sobre eles em magnéticos eflúvios, não é raro ver
os mais endurecidos Espíritos reconciliados com melhores sentimentos, porem por si mesmos
um termo às dolorosas obsessões com que perseguiam suas vítimas.
Com suas errôneas concepções da vida de alémtúmulo, com sua doutrina da condenação
eterna, obstou por muito tempo a Igreja o cumprimento desse dever. Ela havia interdito toda
relação entre os Espíritos e os homens, cavando entre eles fundo abismo. Todos os que, ao
deixarem a Terra, eram considerados condenados por seus crimes, viam interceptarse, do lado
dos homens, toda comunicação, dissiparse toda possibilidade de aproximação e,
conseqüentemente, toda esperança de socorro moral e de consolação.
O mesmo acontecia do lado do céu, porque os Espíritos elevados, em virtude da natureza sutil
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do seu invólucro, dos seus fluidos etéreos pouco em harmonia com os dos Espíritos inferiores,
encontram muito mais dificuldade do que os homens em comunicar com eles, em razão da
diferença de afinidade. Todas as pobres almas errantes, torturadas pela angústia, assaltadas
pelas recordações pungentes do passado, achavamse abandonadas a si próprias, sem que um
pensamento amigo, como um raio de sol, pudesse iluminar as suas trevas.
Imbuídas, na maior parte, de inveterados prejuízos; convencidas muitas vezes, por falsa
educação, da realidade das penas eternas que supunham estar sofrendo, a situação se lhe
tornava horrível e suscitava, muitas vezei, pensamentos de raiva e de furor, uma necessidade
de vingança que procuravam saciar nos homens fracos ou propensos ao mal. A ação maléfica
desses Espíritos aumentava por esM mesmo fato ao abandono em que jaziam.
Retidos por seus fluidos grosseiros, na atmosfera terrestre em permanente contacto com os
homens acessíveis à sua influência e podendo fazerlhes sentir a sua própria, eles não visavam
senão um fim: fazer os homens compartilharem das torturas que acreditavam sofrer. Foi por
isso que, durante toda a Idade Média, época em que foram interditas as relações com o mundo
invisível, consideradas criminosas e passíveis da pena do fogo, viramse multiplicar, durante
longos séculos, os casos de obsessão, de possessão, e dilatarse a perniciosa influência dos
Espíritos do mal.
Em lugar de procurar congraçálos por meio de preces e benévolas exortações, a Igreja não
teve para eles senão anátemas e maldições; ela não procede senão por exorcismos, recurso
além do mais impotente, cujo único resultado é irritar os maus Espíritos, provocarIhes réplicas
ímpias ou cínicas, e os atos indecentes ou odiosos, que sugerem às suas vítimas.
Perdendo de vista as puras tradições cristãs, sufocando as vozes do mundo invisível com a
ameaça da fogueira e das torturas, a Igreja repudiou a grande lei de solidariedade que une
todas as criaturas de Deus em sua ascensão comum, impondo às mais adiantadas a obrigação
de trabalhar por instruir e regenerar suas irmãs inferiores. Durante séculos, privou ela o homem
dos socorros, dos esclarecimentos, dos inestimáveis recursos que proporciona a comunhão dos
Espíritos elevados.
Privou as gerações dessas permutas de ternura com os amados entes que nos antecederam na
outra vida, permutas que são a alegria, a consolação suprema dos aflitos, dos isolados na Terra,
de todos os que padecem as angústias da separação. Privou a Humanidade desse fluxo de vida
espiritual que desce dos espaços, retempera as almas e reanima os tristes corações
desfalecidos.
Assim se fez, pouco a pouco, a obscuridade nas doutrinas e nos cérebros, velaramse as mais
cintilantes verdades, surgiram pueris ou odiosas concepções, à míngua de toda crítica e exame.
E a dúvida se espalhou, o espírito de cepticismo e negação invadiu o mundo. (...)
33 MÃOS UNIDAS EMMANUEL PÁG. 88
ABOLIÇÃO DO MAL: Quem se refere à perseguição e calúnia, rixas e desgostos, na maior parte
das circunstâncias, está destacando a influência do mal. Quantos milhares de caminhos,
entretanto, para equilíbrio e restauração, alegria e esperança se todos nos empenhássemos a
extinguir impressões negativas no nascedouro!...
Determinado amigo terá incorrido no erro de que o acusam, todavia se nos afastamos da
censura que o envolve, anotandolhe as qualidades nobres de filho de Deus, com possibilidades
de recuperação iguais às nossas, mais depressa se verá liberto da inquietação na sombra para
readquirir a tranquilidade de consciência.
Certo acontecimento menos feliz haverá sido indiscutivelmente um desastre social, no entanto,
se nos abstemos de comentálo nos aspectos destrutivos, teremos cooperado para que se lhe
pulverizem os destroços morais, sem piores consequências.
Aquela injúria assacada contra nós efetivamente nos haverá queimado as entranhas do ser,
entretanto, desaparecerá nas correntes profundas do tempo, se nos consagramos a olvidála,
sem comunicarlhe o fogo devorador aos entes queridos, através de alegações menos
edificantes.
Essa confidência amarga ternosá atingido o coração, por farpa invisível, mas não ferirá outros,
se nos dispusermos a esquecêla. Reflitamos na contribuição da paz a que todos somos
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chamados e para a qual todos somos capazes com segurança e eficiência.
Para começar, porém, de maneira substanciosa e definitiva, é preciso que o mal cesse de agir,
tão logo nos alcance, encontrando em cada um de nós uma estação terminal das trevas.
34 MEDIUNIDADE E SINTONIA EMMANUEL PÁG. 61
ESTUDANDO O BEM E O MAL: Para que sejamos intérpretes genuínos do bem, não basta
desculpar o mal. É imprescindível nos despreocupemos dele, em sentido absoluto, relegandoo
à condição de efêmero acessório do triunfo real das Leis que nos regem. Evitando comentários
complexos em nosso culto à simplicidade, recorramos à natureza.
Vejamos, por exemplo, o apelo vivo da fonte. Quantas vezes terá sido injuriada a água que hoje
nos serve à mesa? Do manancial ao vaso limpo, difícil trajetória cumuloua de vicissitudes e
provações. O leito duro de pedra e areia... A baba venenosa dos répteis.. O insulto dos animais
de grande porte.. O enxurro dos temporais... Os detritos que lhe foram arrojados ao seio..
A fonte, entretanto, caminhou desprentensiosa, sem demorarse em qualquer consideração aos
sarcasmos da senda, até surpreendernos, diligente e pura, aceitando o filtro que lhe apura as
condições, a fim de que nos assegure saciedade e conforto.
Segundo observamos, na lição aparentemente infantil, o ribeiro não somente olvidou as ofensas
que lhe foram precipitadas à face. Movimentouse, avançou, humilhouse para auxiliar e
perdoou infinitamente, sem imobilizarse um minuto, porque a imobilidade para ele constituiria
adesão ao charco, no qual, ao invés de servir, converterseia tão só em veículo de corrução
É por isso que o ensinamento cristão da caridade envolve o completo esquecimento de todo
mal. "Que a vossa mão esquerda ignore o bem praticado pela direita". Semelhantes palavras do
Senhor induzemnos a jornadear na Terra, exaltando o bem, por todos os meios ao nosso
alcance, com integral despreocupação de tudo o que represente vaidade nossa ou
incompreensão dos outros, de vez que em qualquer boa dádiva somente a Deus se atribui a
procedência.
Procurando a nossa posição de servidores fiéis da regeneração do mundo, a começar de nós
mesmos, pela renovação dos nossos hábitos e impulsos, olvidemos a sombra e busquemos a
luz, cada dia, conscientes de que qualquer pausa mais longa na apreciação dos quadros menos
dignos que ainda nos cercam será nossa provável indução ao estacionamento indeterminado no
cárcere do desequilíbrio e do sofrimento.
35 SEMEADOR EM TEMPOS NOVOS EMMANUEL PÁG. 44
MAL E BEM:
Acautelate em pedir o favor do bem, porque muitas vezes a concessão que se nos afigura bem
nosso pode ser efetivamente o mal que arruína os outros. Muitos solicitam excessiva fartura em
casa, esquecendo que o bem aparente da mesa lauta é o mal da penúria entre os próprios
vizinhos.
Criaturas numerosas reclamam a bolsa farta, com absoluta despreocupação das necessidades
alheias, olvidando que os bens acumulados em seu nome produzem males sem conta na
economia daqueles que lhes respiram a experiência. Lembrate de que há bens fugazes que
geram males de longo curso, tanto quanto existem males passageiros que asseguram bens
sagrados e duradouros.
A alegria ruidosa e insensata é um bem que, não raro, determina desastres de consequências
imprevisíveis, enquanto a dor paciente e humilde gera bênçãos de sublimada expressão.
Muitos ferem os outros, com a desculpa de preservar o bem próprio, criando largo cortejo de
males em derredor de si mesmos, quando apenas os que sabem receber no âmago do peito os
golpes do mal é que penetram, tranquilos, na seara dos bens que a vida entesoura a benefício
dos que sabem vencer, vencendo, antes de tudo, a si próprios.
Não te enganes, desta forma, no câmbio ilusório da fortuna e da carência, do prazer e da
lágrima, da consideração e do menosprezo, ao jogo das aparências terrestres. Recorda que a
http://www.acasadoespiritismo.com.br/temas/mal.htm 12/16
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abastança de hoje pode ser a penúria de amanhã e que o domínio de agora pode ser derrocada
depois.
Sobretudo, não troques o mal da provação transitória pelo bem da fuga desassizada, com plena
deserção do campo de luta, em que a Lei te situa os passos, porque somente ao preço de
tolerância e abnegação, nos males da sombra presente, é que conseguirás, com justiça, entrar
na posse dos bens que te esperam ao sol do grande futuro.
36 AS LEIS MORAIS RODOLFO CALLIGARIS PÁG. 34
O PROBLEMA DO MAL
Desde as mais priscas eras o homem tem observado que, a par das boas coisas que tornam a
vida deleitável, outras existem ou acontecem que são o reverso da medalha, isto é, só causam
aflições, dores e prejuízos. Foi, por isso, induzido a crer seja o governo do mundo partilhado por
duas potestades rivais: — Deus, fonte do Bem, e Satanás, agente do Mal.
Essa crença nos dois princípios antagônicos em luta pela hegemonia foi e continua sendo a base
das doutrinas religiosas de todos os povos, inclusive católicos e reformistas.
Entre estes, a idéia de que uns se salvam e outros se perdem para todo o sempre é geral,
havendo até quem afirme que o número dos perdidos é muito maior do que a cifra dos bem
aventurados.
Quer isso dizer que o Mal seria mais forte que o Bem, e que Satanás estaria conseguindo
derrotar a Deus, frustrandoLhe os desígnios de salvação universal.
Em que pese à ancianidade de tais conceitos, são falsos e insustentáveis, diríamos mesmo,
heréticos. Com efeito, admitir o triunfo do Maligno, a dano da Humanidade, é o mesmo que
negar ao Pai Celestial os atributos da onisciência e da onipotência, sem os quais não poderia ser
verdadeiramente Deus.
O Espiritismo, que é o Paracleto anunciado pelo Cristo, contrariando os ensinos da Teologia
tradicional, esclarecenos que o Bem é a única realidade eterna e absoluta em todo o Universo,
sendo o Mal apenas um estado transitório, tanto no plano físico, no campo social, como na
esfera espiritual.
Para que se compreenda isto, é preciso, entretanto, considerar, não as consequências
imediatas de tudo quanto observamos, mas sim os seus efeitos mediatos, futuros, porque só
estes, ao longo dos anos, dos séculos ou dos milênios, é que farão ressaltar, nitidamente, a
infalibilidade da Providência Divina frente aos destinos da Criação.
Certos fenômenos geológicos, por exemplo, podem ter sido considerados catastróficos à época
em que ocorreram; foram eles, porém, que compuseram os continentes e formaram os
oceanos, emprestandolhes os aspectos maravilhosos que hoje nos extasiam, provocandonos
arroubos de admiração.
Muitas guerras internacionais e outras tantas revoluções intestinas, embora se constituam,
como de fato se constituem, dolorosos flagelos para as gerações que nelas são envolvidas, dão
ensejo, por seu turno, à queda de tiranos e opresssores, à extinção de preconceitos e privilégios
iníquos, à mudança de costumes arcaicos, ao progresso tecnológico e quejandos, resultando
daí, em favor dos pósteros (que seremos nós mesmos, em novas reencarnações), a melhoria
das instituições, maior liberdade de pensamento e de expressão, uma justiça mais perfeita,
maior conforto nos sistemas de transportes, de comunicações, nos lares, etc.
Quando não, é por meio delas que os maus se castigam reciprocamente, consoante o
ensinamento: "quem com ferro fere, com ferro será ferido". Um dia, ainda que longínquo,
cansadas de sofrer o choque de retorno de suas crueldades, ditadas pelo egoísmo, pelo orgulho
e outros sentimentos tais, as nações aprenderão a valorizar a paz, buscandoa, então, sincera e
veementemente, através da fraternidade e do solidarismo cristão.
Assim também acontece com as nossas almas. Criadas simples e ignorantes, mas dotadas de
aptidões para o desenvolvimento de todas as virtudes e a aquisição de toda a sabedoria, hão
mister de, vida pós vida, neste orbe e em outros, passar por um processo de burilamento que
muito as farão sofrer.
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É a luta pela subsistência. São as enfermidades. As insatisfações. Os conflitos emocionais. Os
desenganos. As imperfeições próprias e daqueles com os quais convivemos. Enfim, as mil e uma
vicissitudes da existência.
Nesse autêntico entrevero, usando e abusando do livre arbítrio, cada qual vai colhendo vitórias
ou amargando derrotas, segundo o grau de experiência conquistada. Uns riem hoje, para
chorarem amanhã, e outros, que agora se exaltam, serão humilhados depois.
Tudo, porém, concorre para enriquecer nossa sensibilidade, aprimorar nosso caráter, fazer que
se nos desabrochem novas faculdades, o que vale dizer, se dilatem nossos gozos e aumente
nossa felicidade.
Bendito seja, pois, o Espiritismo, pela revelação dessa verdade, à luz da qual se nos patenteia,
esplendorosamente, a Bondade infinita de Deus! (Cap. I, q. 634)
Rodolfo Caligaris
A RESPONSABILIDADE DO MAL
Ao justificar o dogma das penas eternas a que seriam condenados os pecadores impenitentes, a
Teologia argumenta que, não obstante o homem seja finito, isto é, limitado em sabedoria,
virtudes e poderio, sua culpa se torna infinita pela natureza infinita do ofendido — Deus, e,
consequentemente, infinito deve ser, também, o respectivo castigo.
Sustenta, portanto, a tese de que o elemento moral do delito esteja intimamente ligado à
qualidade do ofendido e não à resolução e malícia do ofensor, tese essa capciosa e iníqua.
Capciosa, porque transfere do agente para o paciente a gravidade do ato culposo.
Iníqua, porque não leva em conta os atributos da Divindade, supondoa menos perfeita que a
Humanidade. Sim, porque um homem sensato certamente nem sequer tomaria em
consideração as ofensas que lhe fossem dirigidas por uma criança ou por um idiota. Como,
então, admitirse possa Deus consentir sejamos castigados eternamente pelo haver ofendido
(infantes espirituais que somos) com nossa imensa ignorância ou inconsciência?
A Doutrina Espírita, ao contrário, defende o princípio de que a culpa por toda e qualquer ofensa é
sempre proporcional ao grau de conhecimento e à determinação volitiva de quem a pratica, e
nunca à importância de quem a recebe.
Isso ensinou o próprio Jesus, o Rei dos reis, quando suplicou em favor dos que o crucificaram:
"Perdoalhes, Pai, pois não sabem o que fazem."
Em verdade, quanto melhor saibamos discernir e mais livremente possamos decidir entre o Bem
e o Mal, tanto maior será a nossa responsabilidade.
"Assim — diz Kardec — mais culpado é, aos olhos de Deus, o homem instruído que pratica uma
simples injustiça, do que o selvagem ignorante que se entrega aos seus instintos." (Cap. I, q.
637) Colhamos ainda, em L. dos E. (q. 639, 640 e 641), mais alguns esclarecimentos em torno
dessa magna questão.
Pode o mal, não raro, ter sido cometido por alguém em circunstâncias que o envolveram,
independentemente de sua vontade, ou por injunções a que teve de submeterse. Nessas
condições, a culpa maior é dos que hajam determinado tais circunstâncias ou injunções, porque
perante a Justiça Divina cada um se faz responsável não só pelo mal que haja feito, direta e
pessoalmente, como também pelo mal que tenha ocasionado em decorrência de sua autoridade
ou de sua influência sobre outrem.
Ninguém, todavia, jamais poderá ser violentado em seu foro íntimo. Isto posto, quando
compelidos por uma ordem formal, seremos ou não culpáveis, dependendo dos sentimentos que
experimentemos e da forma como ajamos ao cumprila. Exemplificando: poderemos ser
enviados à guerra contra a nossa vontade, não nos cabendo, neste caso, nenhuma
responsabilidade pelas mortes e calamidades que dela se originem; se, porém, no cumprimento
desse dever cívico, sentirmos prazer em eliminar nossos adversários ou se agirmos com
crueldade, seremos tanto ou mais culpados do que os assassinos passionais.
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Tirarmos vantagem de uma ação má, praticada por outras pessoas, constitui igualmente, para
nós, falta grave, qual se fôssemos os próprios delinquentes, pois isso equivale a aprovar o mal,
solidarizandose com ele.
Nas vezes em que desejamos fazer o mal, mas recuamos a tempo, embora oportunidade
houvesse de leválo a cabo, demonstramos que o Bem já se está desenvolvendo em nossas
almas.
Se, entretanto, deixamos de satisfazer àquele desejo, apenas porque nos faltasse ocasião
propícia para tal, então somos tão repreensíveis como se o houvéramos praticado.
LEMBRETE:
O Bem e o Mal
Desde as mais remotas eras o homem tem consciência que a par das coisas boas e que tornam
a vida feliz, outras existem que causam dores e aflições. Nesse sentido, o homem sempre
buscou explicar e distinguir o bem do mal. A essa distinção entre o bem e o mal é que se refere
a moral, enquanto um conjunto de regras que visam disciplinar e dirigir uma boa conduta. No
entanto, importa não confundir essas regras com os costumes, pois a moral fundase na
observação da lei de Deus (LÊ, 629), ou seja, ela é de origem divina, natural e portanto
universal, ao passo que os costumes são relativos a determinada cultura. Sob esse aspecto, a
lei moral ou divina é natural, essencial e não convencional.
Conseqüentemente, o bem distinguese do mal enquanto sendo o bem tudo o que está de
acordo com a lei de Deus e o mal é tudo o que dela se afasta. Assim, fazer o bem é se conformar
com a lei de Deus, e fazer o mal é infringir essa lei (LÊ, 630). Podese desta forma deduzir que o
bem é a Lei Natural, a única realidade eterna e absoluta em todo o Universo, sendo o mal
apenas um estado transitório.
No entanto, todo homem está sujeito a errar, ou a hesitar na apreci ação do bem e do mal. Para
que a criatura não se engane, convém usar sempre a "regra áurea" ensinada pelo Mestre Jesus:
Fazer aos outros aquilo que gostaríamos que nos fizessem. Não há possibilidade de engano
nesse caso, pois o que não é bom para nós não é bom para nosso semelhante. Por outro lado,
no que se refere a nós mesmos, muitas vezes cometemos excessos por fraqueza ou descuido e,
nesse caso, estaremos transgredindo a lei, pois a lei natural traça para o homem o limite de
suas necessidades; quando ele o ultrapassa, é punido pelo sofrimento (LÊ, 633).
Importa vivenciar a condição humana, de seres inseridos na materialidade, porém com
moderação; todo excesso transgride as leis naturais e gera consequências inevitáveis. A partir
disso, poderseia questionar, por que o mal se encontra na natureza das coisas? Deus já não
poderia criar o homem em melhores condições?
Porém, Deus criou os Espíritos para chegarem à perfectibilidade por si mesmos, pela própria
experiência, pela própria conquista. Deus deixa ao homem a escolha do caminho: tanto pior
para ele seguir o mal; sua peregrinação será mais longa (LÊ, 634). Criados simples e ignorantes,
mas dotados de aptidões para o desenvolvimento de todas as virtudes, todos os Espíritos
passam por um processo de burilamento. Valendose do livrearbítrio, cada qual vai colhendo
vitórias ou amargando derrotas, segundo o grau de evolução conquistada. Se não existissem
montanhas, não poderia o homem compreender que se pode subir e descer (LÊ, 634).
Para que o Espírito adquira experiência, é necessário conhecer o bem e o mal, para tanto
necessita passar pela materialidade, que lhe é um obstáculo, mas que por isso mesmo lhe
permite resgatar a essência divina que o caracteriza; si s por que existe a união do Espírito e do
corpo (LÊ, 634). Se eles (Espíritos) tivessem sido criados perfeitos, não teriam merecimento
para gozar dos benefícios dessa perfeição LÊ, 119).
A lei de Deus é, portanto, universal, necessária e imanente a todos; já o mal varia de acordo
com o grau evolutivo de cada um. O bem é sempre bem e o mal é sempre mal, qualquer que
seja a posição do homem. Todos os homens possuem a mesma noção do que seja o bem e o
mal, independente da cultura; no entanto, o que varia é a sua aplicação nas várias sociedades.
O mal parece, algumas vezes, como consequência de circunstâncias, mas nem por isso deixa de
ser infração à lei de Deus; o homem se torna mais culpável quando o comete (o mal), porque
melhor o compreende (LÊ, 638). Um dos preconceitos da moral cristã é justamente que uma
ação para ser considerada má deve ser cometida com pleno conhecimento de causa; é assim
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que quanto maior a consciência da lei, maior a responsabilidade.
Por outro lado, não é suficiente apenas deixar de fazer o mal, mas é preciso fazer o bem, no
limite das próprias forças, pois cada um responderá por todo o mal que tiver ocorrido por causa
do bem que deixou de fazer (LÊ, 642). A verdadeira fé não é inoperante, o verdadeiro cristão o é
pelas obras, por tudo aquilo que exterioriza, expressa, manifesta de seu próprio Espírito; não
basta uma atitude passiva perante a vida, mas na ação é que se dá o testemunho do Pai, na
expressão de Jesus. E quanto maior a dificuldade na prática do bem, maior o mérito perante a
própria consciência e perante Deus.
Deus leva mais em conta o pobre que reparte o seu único pedaço de pão, que o rico que só dá
de seu supérfluo (LÊ, 646). Não há mérito em fazer o bem sem trabalho, quando nada custa,
conforme nos ensina a passagem evangélica do óbolo da viúva. Por outro lado, amar os que nos
querem bem é fácil. Existe mais mérito em amar os que nos magoam e os de difícil convivência.
A lição de amor, Jesus ensinoua através de palavras e atos. Ele amou os amigos, os familiares,
pescadores, os avarentos, ladrões, e homens do povo. Vivenciou realmente o "Amar a Deus e
ao próximo como a si mesmo".
Bibliografia: LÊ, 629 a 646 Curso de Espiritismo Ediçoes FEESP
Edivaldo
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