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Capítulo V

Necessidade da Ideia de Deus

Nos capítulos precedentes, demonstramos a necessida-


GHGDLGHLDGH'HXV(ODVHD¿UPDHVHLPS}HIRUDHDFLPDGH
WRGRVRVVLVWHPDVGHWRGDVDV¿ORVR¿DVGHWRGDVDVFUHQoDV
Por isso, é livre de todo vínculo com uma religião qualquer
que nos consagramos a esse estudo, na absoluta independên-
cia de nosso pensamento e de nossa consciência. Pois Deus é
maior que todas as teorias e todos os sistemas. Eis por que não
poderia ser atingido nem diminuído pelos erros e as faltas que
os homens cometeram em seu nome. Deus plana acima de tudo.
Deus está acima de todas as denominações, e se o cha-
mamos Deus, é por falta de um nome maior, como o disse
Victor Hugo.
A questão de Deus é o mais grave de todos os proble-
mas suspensos sobre nossas cabeças e cuja solução liga-se de
uma maneira estreita, imperiosa, ao problema do ser humano e
de seu destino, ao problema da vida individual e da vida social.
O conhecimento da verdade sobre Deus, sobre o mun-
do e sobre a vida é o que há de mais essencial, de mais ne-
cessário, pois é ele que nos sustenta, nos inspira e nos dirige,

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mesmo à nossa revelia. E essa verdade não é inacessível, como


nós o veremos; ela é simples e clara; ela está ao alcance de
todos. Basta procurá-la sem-preconceitos, sem tomar partido,
com o auxílio da consciência e da razão.
Não relembraremos aqui as teorias, os sistemas inume-
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dos séculos. Pouco nos importam hoje as disputas, as cóleras,
as vãs agitações do passado.
Para elucidar um tal assunto, temos agora recursos
mais elevados que os do pensamento humano; temos o ensino
daqueles que deixaram a Terra, a apreciação das almas que,
tendo transposto o túmulo, fazem-nos ouvir, do seio do mundo
invisível, seus avisos, seus apelos, suas exortações.
É verdade que nem todos os espíritos estão igualmente
aptos para tratar dessas questões. Há espíritos de além-túmulo
como há homens. Nem todos são igualmente desenvolvidos;
nem todos chegaram ao mesmo grau de evolução. Daí, as con-
tradições, as diferenças de visão. Porém, acima da multidão
das almas obscuras, ignorantes, atrasadas, há espíritos eminen-
tes, que desceram das altas esferas para esclarecer e guiar a
Humanidade.
Ora, o que dizem esses espíritos sobre a questão de
Deus?
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dos os espíritos elevados. Aqueles dentre nós que estudaram
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todos aqueles cujos ensinos reconfortaram nossas almas, sua-
vizaram nossas misérias, sustentaram nossas falhas, são unâ-
QLPHV HP D¿UPDU HP SURFODPDU HP UHFRQKHFHU D HOHYDGD
Inteligência que governa os seres e os mundos. Eles dizem

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Necessidade da Ideia de Deus

que essa Inteligência se revela mais brilhante e mais sublime à


medida que se sobe os degraus da vida espiritual.
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GHVGH$OODQ.DUGHFDWpRVQRVVRVGLDV7RGRVD¿UPDPDH[LV-
tência de uma causa eterna no Universo.
³1mRKiHIHLWRVHPFDXVD´, disse Allan Kardec, ³HWRGR
HIHLWRLQWHOLJHQWHWHPIRUoRVDPHQWHXPDFDXVDLQWHOLJHQWH´ Eis
o princípio sobre o qual repousa o Espiritismo inteiro. Este prin-
cípio, quando o aplicamos às manifestações de além-túmulo, de-
monstra a existência dos espíritos. Aplicado ao estudo do mun-
do e das leis universais, demonstra a existência de uma causa
inteligente no Universo. É por que a existência de Deus constitui
um dos pontos essenciais do ensino espírita. Acrescento que ele
é inseparável do restante desse ensino, porque, nesse último,
tudo se liga, se coordena, e se encadeia. Que não nos falem de
dogmas! O Espiritismo não os comporta. Ele nada impõe; ele
ensina. Todo ensino tem seus princípios. A ideia de Deus é um
dos princípios fundamentais do Espiritismo.
Às vezes, nos dizem: De que adianta ocupar-se com
essa questão de Deus? A existência de Deus não pode ser pro-
vada! Ou ainda: a existência de Deus ou sua não existência não
WHP LQÀXrQFLD QD YLGD GDV PDVVDV QD YLGD GD +XPDQLGDGH
Ocupemo-nos de algo mais prático; não percamos nosso tem-
po com vãs dissertações, com discussões metafísicas.
Pois bem! que agrade ou não àqueles que usam esta
linguagem, repetirei que a questão de Deus é a questão supre-
ma, a questão vital por excelência; responderei que o homem
não pode desinteressar-se dela, porque o homem é um ser. O
homem vive, e importa-lhe saber qual é a fonte, qual é a causa,
qual é a lei da vida. A opinião que se tem da causa, da lei do

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Universo, essa opinião, queira ele ou não, saiba ele ou não,


UHÀHWHVHQRVVHXVDWRVHPWRGDVXDYLGDS~EOLFDRXSULYDGD
Qualquer que seja a ignorância do homem a respeito
das leis superiores, na realidade, é conforme a ideia que ele faz
dessas leis, por mais vaga e confusa que possa ser, é de acordo
com ela que ele age. Essa opinião sobre Deus, sobre o mundo,
sobre a vida — notem que esses três temas são inseparáveis
— essa opinião, as sociedades humanas dela vivem e por ela
morrem! É ela que divide a Humanidade em dois campos. E
veem-se por toda a parte famílias em desacordo, em desunião
intelectual, porque há vários sistemas a respeito de Deus: o pa-
dre tendo inculcado um à mulher; o professor tendo ensinado
o outro ao homem, quando não lhe sugeriu a ideia do QDGD.
Aliás essas disputas, essas contradições se explicam.
Elas têm sua razão de ser. É preciso lembrar que nem todas as
inteligências chegaram ao mesmo ponto de evolução; que nem
todos podem ver e compreender da mesma maneira e em todos
os sentidos. Daí, tantas opiniões, crenças diversas. A possibi-
lidade que temos de compreender, de julgar, de discernir não
se desenvolve em nós senão lentamente, de séculos em sécu-
los, de existências em existências. Nosso conhecimento, nos-
sa compreensão das coisas, completa-se e se clareia à medida
que nos elevamos na escala imensa dos renascimentos. Todo
o mundo sabe: aquele que está colocado ao pé da montanha
não pode ver o que contempla aquele que chegou ao cume. Po-
rém, prosseguindo sua ascensão, um chegará a ver as mesmas
coisas que o outro. Acontece o mesmo com o espírito na sua
ascensão gradual. O Universo só se desvenda para ele pouco
a pouco, à medida que sua capacidade de compreender-lhe as
leis se desenvolve e aumenta.

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Necessidade da Ideia de Deus

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que respondem aos diferentes graus de adiantamento dos espíri-
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