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CDD : 305.8
CDU : 82-1
Editora Panaro
editorapanaro.com.br
Às comunidades tradicionais.
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO .................................................................................... 9
Nicolas Floriani, Dimas Floriani
ORGANIZADORES.....................................................................181
AUTORES CONVIDADOS.......................................................... 183
Apresentação - Da invisibilização à valorização dos
saberes locais de natureza: na construção social
de uma cosmopolítica com sujeitos (seres e coisas)
de direitos
Referências
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16 ETNOCONHECIMENTOS, SABERES E PRÁTICAS
Introdução
2 Terminologia usa pelos povos indígenas para diferenciar-se dos não indígenas.
20 ETNOCONHECIMENTOS, SABERES E PRÁTICAS
Indígenas/ Indígenas/
Ano Total % Pop. Total
Litoral Interior
1500 2.000.000 1.000.000 3.000.000 100,00
1570 200.000 1.000.000 1.200.000 95,00
1650 100.000 600.000 700.000 73,00
1825 60.000 300.000 360.000 9,00
1940 20.000 180.000 200.000 0,40
1950 10.000 140.000 150.000 0,37
1957 5.000 65.000 70.000 0,10
1980 10.000 200.000 210.000 0,19
1995 30.000 300.000 330.000 0,20
2000 60.000 340.000 400.000 0,20
2010 272.654 545.308 817.962 0,26
Quadro 1 – População indígena no Brasil (1500-2010)
Fonte: Azevedo e Marta Maria, 2013 apud Brasil, 2018.
de ser humano. Nessa visão, Hannah Arendt vem nos servir de base para
dizer que o olhar dos indígenas e povos tradicionais sobre o trabalho é
muito mais humano na perspectiva situada na terceira categoria, em
que as pessoas vêm no outro um meio para chegar à felicidade – mesmo
que para a sociedade não coletiva pense ao contrário e considere os
desapegados de bens materiais como arcaicos ou fora do tempo.
Neste sentido, compete aos seres humanos a tomada de consciência
que deverão mudar a visão sobre o outro não como objeto e sim como
pessoa; assim seremos capazes de contribuir para um mundo melhor,
onde no trabalho exista respeito e valorização, pois é algo sagrado e
necessário ao desenvolvimento humano. Todo trabalho humano tem
vínculo direito com a natureza, conforme afirma Dardel.
Este autor (2011 [1952]) em sua obra “O Homem e a Terra: natureza
da realidade geográfica” esclarece-nos muito bem a relação que os seres
humanos têm com a Terra, e leva-nos a compreender que a partir da
geografia humanista a composição de vários ambientes terrestres com
seus elementos são indispensáveis à nossa própria sobrevivência e como
tal é inegociável.
Desse modo, entendermos a importância de olhar de cada um com
inteligência, significa aprender a valorizar o que está ligada à nossa vida.
Se descuidarmos de qualquer elemento que compõem a natureza nos
inviabilizamos a nós mesmos, nossas próprias vidas e nesse contexto as
vivências dos indígenas e populações tradicionais é um dos caminhos
possíveis para prosseguirmos como espécie na Terra.
Em tal sentido, é oportuna a afirmação de ISA (2018, p. 1):
A relação entre os índios e a natureza é pautada por dois
elementos básicos: respeito e equilíbrio. O relacionamento que
também envolve o afeto faz com que os índios vivam uma relação
mais próxima e sagrada, como se a terra fosse a grande mãe.
Considerações últimas
Referências
ALMEIDA, Flávio Gomes de; PEREIRA, Luiz Firmino Martins. O papel
da distribuição e da gestão dos recursos hídricos no ordenamento
territorial brasileiro. In: ALMEIDA, Flávio Gomes de; SOARES, Luiz
Antônio Alves (org.). Ordenamento territorial: coletânea de textos
TERRITORIALIDADES, IDENTIDADES ORIGINÁRIAS 37
busca do que como um fato (AGIER, 2001; HALL, 1999). Sendo ela fonte
de significado e experiências de uma pessoa ou de um povo, não se
sustenta no discurso simplista de caráter absoluto, autêntico e atemporal
(CASTELLS, 1999).
Primeiramente a organização sócio-territorial está condicionada aos
agrupamentos familiares, tornando-o um “Faxinal Familiar” (LÖWEN
SAHR; IEGELSKI, 2003), há os núcleos familiares em torno da matriarca
ou patriarca, com casas dentro do criadouro comunitário e os núcleos
familiares fechados fora do criadouro comunitário, nestes últimos as
cercas e as porteiras são mais evidentes.
A presença de agrupamentos familiares bem definidos pela disposição
das moradias, cercas e porteiras projeta-se sobre as terras de plantar
e do próprio criadouro comum com a extensão do ambiente familiar,
ou das relações construídas através dos vínculos familiares. Os laços de
parentesco, ou seja, o pertencimento a um agrupamento familiar cria
mecanismos para a manutenção de uma gama maior de relações sociais
dependentes a estes e não necessariamente ao grupo coletivo.
A divisão “fora” e/ou “dentro” que observamos atualmente no
movimento político-identitário faxinalense, pode ter início no ano de
1995 com a separação do criadouro coletivo em duas partes. O processo
de retomada do potreiro comunitário com a reconstrução dos valos e
porteiras, que haviam sido abandonados anos antes, não abrangeu toda
a área inicial do criadouro. Na primeira parte manteve-se a propriedade
coletiva em uma área de 200 alqueires, com o criadouro de animais à
solta, e, a maioria das casas mesclando famílias de dois ramos familiares.
E na segunda parte, com uma área menor de 50 alqueires construiu-
se um grande mangueirão para a criação dos porcos fechados, com a
permanência de apenas algumas famílias de um único ramo familiar
(LÖWEN SAHR; IEGESLKI, 2003).
Entre os núcleos familiares despontam sujeitos periféricos, que
possuem menor quantidade de terras de plantar (uso individual) nas
cercanias do criadouro comunitário, apenas terras de criar (uso coletivo)
dentro do criadouro comunitário ou não possuem terras nem dentro
e tampouco fora do criadouro comunitário, apenas a área de moradia,
sendo locatários ou agregados. As moradias se localizam em pontos
desvalorizados, como terras de banhados ou pontas de terreno.
54 ETNOCONHECIMENTOS, SABERES E PRÁTICAS
Considerações Finais
Referências
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MOVIMENTO POLÍTICO-IDENTITÁRIO 61
Introdução
Metodologia
pedológica
Classe
etno-
Terra Branca Terra Preta Terra Seca
Terra de excelente Terra boa, leve, tem Terra fraca, seca, não
Características
qualidade, terra fir- gordura, não gruda tem gordura, terra solta
me, mas pode “ba- nas ferramentas de e onde tem “piçarra”
do solo
Mapa etnopedológico
Já a Terra Seca, com menor área nos dois faxinais, cerca de 9,02%,
(Tabela 1), tem a maior parte das representações nos criadouros
comunitários, e em porções do relevo de baixa vertente e nos fundos de
vale (Figura 3).
Área
Classes Hectares Porcentagem
Terra Branca 287,94 27,03%
Terra Preta 681,19 63,95%
Terra Seca 95,97 9,02%
Total 1065,10 100,00%
Considerações finais
Referências
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80 ETNOCONHECIMENTOS, SABERES E PRÁTICAS
1 Não pretendemos nos ater neste tema amplamente debatido na sociologia rural (Henri
Mendras, Huge Lamarche, Eric Sabourin, Ricardo Abramovay, Nazaré Wanderley,
Marcel Jollivet, Nicole Mathieu, Van der Ploege, e muitos) antropologia econômica
(Marcel Mauss, Maurice Godelier, Karl Polany) e economia ecológica (Martínes Alier)
que aborda a especificidade da lógica produtiva camponesa como prática econômica
distinta da lógica da acumulação capitalista.
SELO DE PRODUTOS DA AGROFLORESTA 89
2 O projeto contou com a participação da Equipe Técnica, constituída por Dr. Nicolas
Floriani (coordenador), Drª. Marilisa do Rocio Oliveira (PROEX-UEPG), Msc. Ronir de
Fatima Rodrigues (Pedagoga do projeto), Tamires Benki (Administradora do Projeto) e
Miriane Serratto (Estagiária de Geografia). O projeto também contou com importantes
parceiros institucionais, tais como: Dr. Saint-Clair Honorato Santos (MP-PR), Drª.
Gladys de Souza Sanchez (CASLA), Drª. Margit Hauer (IAP), Dr. Dimas Floriani
(MADE-UFPR), Dr. João Dremiski (IFPR-Irati), Dr. Ancelmo Schorner (UNICENTRO-
Irati), Msc. Andrea Mayer Veiga (CASLA), Msc. Tiago Augusto Barbosa (Interconexões,
UEPG), Msc. Michel Kuller (IEPP).
SELO DE PRODUTOS DA AGROFLORESTA 99
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SELO DE PRODUTOS DA AGROFLORESTA 105
Características gerais
A comunidade
1 Os nomes estão escritos conforme citaram, pois sabemos que existem regionalidades
que alteram os nomes de plantas, animais, entre outros.
2 Ele é conhecido popularmente por vários nomes tais como baacuri-mirim, bacoparé,
bacopari-miúdo, bacuri-miúdo, escropari e limãozinho. Disponível em< https://www.
coisasdaroca.com/plantas-medicinais/bacupari.html>. Acessado em: 15 out. 2021.
3 Sinônimos: Amaioua brasiliana, Amaioua guianensis, Amaioua laureaster. Disponível
em: <http://flora.ipe.org.br/sp/19>. Acessado em: 15 out. 2021.
4 Nome indígena: CAMARI-NHÊMBA vem do Tupi Guarani e significa “folha ou erva de
ponta dura que dá frutos doces”. Também é chamada de Groselha do brejo, Camarinha
ou Lanterninha da praia. Encontrada em solos arenosos e úmidos. Disponível em: <
http://www.colecionandofrutas.org/gaylussaciabras.htm>. Acessado em: 15 out. 2021.
5 Grumixama (Eugenia brasiliensis) é uma árvore nativa da Mata Atlântica, prima da
nossa pitanga (Eugenia uniflora), ambas da família botânica das Myrtaceae, também
conhecida como grumixaba, grumixameira, cumbixaba, ibaporoiti. Disponível em: <
https://www.greenme.com.br/usos-beneficios/4781-grumixama>. Acessado em: 15
out. 2021.
112 ETNOCONHECIMENTOS, SABERES E PRÁTICAS
Metodologia
Desenvolvimento
Considerações finais
Referências
3 Valo (valeta bem grande) que separava o criadouro comunitário das terras de plantar.
Eles conservavam esses valos para não ter a passagem dos animais fora do criadouro.
138 ETNOCONHECIMENTOS, SABERES E PRÁTICAS
Considerações finais
Referências
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Sistema Nacional de Sementes e Mudas e dá outras providências. Diário
Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 06 de agosto.
2003.
144 ETNOCONHECIMENTOS, SABERES E PRÁTICAS
1 Os valos/vedos conforme Löwen Sahr, Iegelski e Silva (2003) foram escavados nas
encostas, dentro da mata mais densa quando da formação do Sistema, a mais de um
século. Eles costumam passar por manutenções periódicas organizadas pela própria
comunidade. A localização do valo costuma ser na borda externa da mata mais
densa. Deixa-se uma faixa de 10 a 15 metros de mata entre o valo e a roça. A esta
faixa denomina-se Restinga. Ela tem a função de evitar que a criação, sobretudo os
porcos, enxergue o milho na roça. As cercas são utilizadas praticamente apenas nas
áreas próximas às águas, onde o valo torna-se inviável.
150 ETNOCONHECIMENTOS, SABERES E PRÁTICAS
2 Segundo tese de Nerone (2015) a gênese deste sistema remete à península ibérica,
zona fronteiriça entre Portugal e Espanha, mas que está presente em um número
expressivo de comunidades rurais no Paraná pelo processo de colonização da Espanha
e Portugal, com destaque para o modelo implantado nas Reduções Jesuíticas no início
do século XVII com a experiência comunitária já existente entre os Índios Guaranis.
Refuta assim, a implantação do sistema pelo processo de imigração, estes, teriam
apenas assimilado o sistema em terras paranaenses e não trazido consigo.
152 ETNOCONHECIMENTOS, SABERES E PRÁTICAS
uma área para outra é feita por limitadores físicos – cercas, valos, mata-
burros3 e porteiras.
A assimilação do uso coletivo pelos sujeitos quilombolas de Palmital
dos Pretos ultrapassa o possível domínio jurídico coletivo resguardado
pelo processo de regularização fundiária dos territórios quilombolas ao
deparar-se com o usufruto econômico, a apropriação simbólico-cultural
e a propriedade particular/individual na gestão participativa.
As “terras de uso comum” para ambas as comunidades se configuram
na construção de criadouros comunitários para a criação de animais. E
em ambas as situações o controle dos recursos básicos não se exerce livre
e individualmente, mas está atrelado às normas específicas, combinando
o uso comum de recursos e apropriação privada de bens. As normas
gestadas consensualmente nos meandros das relações sociais entre
vários núcleos familiares, que compõem uma unidade social, possibilitam
que o uso comum seja um acesso estável à terra nas práticas agrícolas,
extrativistas, pastoril, sob a forma de cooperação simples e com base no
trabalho familiar.
O acesso coletivo aos recursos naturais destes sujeitos quilombolas
e faxinalenses projetou uma organização que logrou das tradicionais
estruturas intermediárias dos grupos étnicos como os agrupamentos de
parentes centralizados em torno do patriarca ou matriarca. Os laços de
compadrio entrecruzam e reforçam os laços consanguíneos por afinidade
e inserem-se nesta organização.
Estas coletividades, de acordo com Little (2004), funcionam em
um nível inferior no plano do Estado-nação, e ainda que incorporem
elementos comumente considerados privados, estes existem fora do
âmbito do mercado. Como os territórios/territorialidades desses grupos
fundamentam-se no arcabouço da lei consuetudinária, raras vezes
reconhecida e respeitada pelo Estado, as articulações entre esses grupos
são marginais aos principais centros de poder político.
A escala regional-local emerge no ordenamento territorial, tendo
o uso coletivo da terra, a efetivação de criadouros comunitários, como
uma prática e um modo de organização territorial que está atrelada
tanto a identidade faxinalense quanto a identidade quilombola em uma
horizontalidade de táticas e estratégias para permanecer. A perspectiva
regional-local projeta-se em termos de modos de organização,
3 Os mata-burros conforme Löwen Sahr, Iegelski e Silva (2003) são valos com travas
espaçadas, que permite o trânsito de veículos, mas vedam a passagem de animais.
ENTRE VALOS E VEDOS 153
Considerações finais
Referências
ALMEIDA, A. W. B. de. Terra de quilombo, terras indígenas,
“babaçuais livre”, “castanhais do povo”, faxinais e fundos de pasto:
terras tradicionalmente ocupadas. Manaus: Editora UFAM, 2008.
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ANJOS, R. S. A. dos. Quilombos: geografia africana, cartografia étnica,
territórios tradicionais. Brasília: Mapas Editora e Consultoria, 2009.
ENTRE VALOS E VEDOS 165
Introdução
3 Relatos e/ou depoimentos do banco de dados do autor, coletados entre os anos 2017
e 2020.
A INVENÇÃO DA AMAZÔNIA 171
Ora, o rio Acre, com suas águas barrentas, o som de sua correnteza,
com seus barrancos floridos pelo verde da mata a levara às águas do
Muru, a fez viajar quilômetros, concebendo a ela se sentir no aconchego
do lugar apenas ouvindo e olhando para ali.
Além disso, manifesta-se seu modo de vida no seringal, da criação
de animais, do andar pela mata, no mover-se de barco, o gosto da comida
de caça, ou seja, emerge o modo de vida do ser, de sua subsistência, a
qual tinha ali, um bem viver, que fora acessado pela natureza da cidade.
O ser ordinário emerge dessa relação afetiva que a transfere para
seu lugar, momento de fuga. Assim, podemos notar essas resistências
na Figura 2.
O animal da floresta
Demadeira lilás (ninguém me crê) se fez meu coração.
Espécie escassa de cedro, pela cor e porque abriga em seu âmago
a morte que o ameaça. Madeira dói?,
No crepúsculo estou da ribanceira
entre as estrelas e o chão que me abençoa as nervuras.
Já não faz mal que doa meu bravo coração de água e madeira3.
Vale lembrar que o bem viver, segundo Acosta, “não pode excluir
possíveis contribuições da vida comunitária não indígena dentro dos
próprios sistemas de dominação dominantes de uma colonização que já
dura mais de quinhentos anos” (ACOSTA, 2016, p. 77).
Considerações finais
Referências
ACOSTA, A. O bem viver: uma oportunidade para imaginar outros
mundos. Tradução de Tadeu Breda. São Paulo: Autonomia Literária:
Elefante, 2016.
BACHELARD, G. A poética do espaço. São Paulo: Martins Fontes, 1993.
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Acessado em: 10 abr. 2020.
4 Han (2017) faz alusão ao inferno do igual ao eu narcisista fruto de uma sociedade
consumista para fazer referência aos outros – de fora. Logo, apropriando-se do
autor, vemos esse eu narcisista de outro lugar que inventa e reinventa a Amazônia
a todo instante recorrendo ao seu lugar, as suas ideologias, ao que é vinculado
erroneamente pelas mídias, pelos memes, por um espaço imaginado sem vivenciá-lo,
sem experimentá-lo.
180 ETNOCONHECIMENTOS, SABERES E PRÁTICAS
Renato Pereira
Natural de Wenceslau Braz-PR, norte pioneiro do Estado do
Paraná, constituída historicamente de emigrantes do sul do Estado
de Minas Gerais. Mudou ainda criança, junto de sua família, para
o município de Ponta Grossa-PR, onde atua como professor,
genealogista e gestor cultural. É licenciado em Geografia e
em Pedagogia. É Especialista em Educação, pela Universidade
Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), em Docência para a
Educação Profissional e Tecnológica, pelo Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo (IFES) e em
Mídias na Educação, pela Universidade do Estado do Rio Grande
do Norte (UERN). Obteve o título de Mestre em Geografia (Gestão
do Território) e atualmente, está em fase de doutoramento pelo
Programa de Pós-Graduação em Geografia, pela Universidade
Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Atualmente, encontra-se em
processo de conclusão do MBA em Gestão Pública, pela Unicentro.
Pesquisador do Grupo de Pesquisa Interconexões UEPG-CNPq,
participa de estudo cujas problemáticas envolvem as comunidades
rurais e tradicionais paranaenses, sobretudo, nos temas agricultura
familiar, territorialidades e ancestralidade. E-mail: rinatopereira@
gmail.com
Tanize Tomasi
Doutora em Geografia pela Universidade Federal do Paraná. Bacharel
e Mestre em Geografia pela Universidade Estadual de Ponta Grossa.
Licenciada em Geografia e Pedagogia. Especialista em História das
Revoluções e Movimentos Sociais pela Universidade Estadual de
Maringá e Especialista em Educação: Métodos e Técnicas de Ensino
pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Pesquisadora
e extensionista com Doutorado em Geografia, cujas pesquisas
contemplam problemáticas das comunidades tradicionais do estado
do Paraná, sobretudo, faxinalenses, quilombolas e menonitas.
Atua há onze anos em projetos acadêmicos e extensionistas, como
bolsista e pesquisadora, com ênfase no trabalho de imersão a
campo. Recentemente realizou o estágio Pós-doutoral vinculado
ao Programa de Pós-Graduação em Geografia tendo como recorte
espacial as comunidades tradicionais Faxinal Sete Saltos de Baixo
(Ponta Grossa) e Comunidade Quilombola Palmital dos Pretos
(Campo Largo). No ano de 2010 participou da realização do
Relatório Antropológico da Comunidade Quilombola de São João
com vistas à regularização fundiária (INCRA-PR). Realiza estudos
comparativos entre comunidades tradicionais do Vale do Ribeira e
Campos Gerais Paranaenses na investigação de problemáticas que
envolvem os sujeitos sociais, interações, espacialidades, relações,
redes sociais, genealogia, regionalizações cotidianas, práticas
agroecológicas, (trans)territorialidades e (trans)identidades.
Pesquisadora do Grupo de Pesquisa Interconexões UEPG-CNPq.
E-mail: tanizetomasi@gmail.com
Nicolas Floriani
Doutor em Meio Ambiente e Desenvolvimento (UFPR). Realizou
pós-doutorado financiado pela CAPES (U Los Lagos/U Alberto
Hurtado/U Paris 10) enfocando a relação das comunidades
rurais tradicionais e as florestas do sul do Chile e sul do Brasil.
Fez doutorado sanduíche no Laboratoire Dynamiques Sociales
et Recomposition des Espaces (Paris 10). Mestre em Ciências do
Solo e Engenheiro Agrônomo ambos pela UFPR. Prêmio Nacional
‘Melhor Tese’ em Ambiente e Sociedade (ANPPAS, 2008). Professor
Adjunto da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG).
Atua como professor no Programa de Pós-graduação (Mestrado
e Doutorado) em Geografia da UEPG. Atua como pesquisador
colaborador internacional do projeto FONDECYT 1171827 Coastal
Behaviors Settings: Por una Antropología de la Recomposición
Territorial en el Archipiélago de Chiloé? ligado ao Programa ATLAS -
Analisis Territorial Local Aplicado y Sustentabilidad (Universidade
de Los Lagos, Chile). Sua pesquisa está direcionada atualmente
à investigação dos saberes e das práticas locais de territórios
rurais alternativos (agroecológicos) e tradicionais (faxinalenses e
quilombolas). Para tanto, apóia-se em uma abordagem complexa
que lhe permita pôr em diálogo a geografia, a antropossociologia e
a agroecologia com os saberes locais de natureza. Líder do Grupo
de Pesquisa Interconexões UEPG-CNPq. E-mail: florianico@uepg.
br
Dimas Floriani
Doutor em Sociologia (U.C.L. Louvain, Bélgica, 1991) e pós-doutor
(El Colégio de México e PNUMA, 2002). Professor Titular e
aposentado Sênior nos programas de Ciências Sociais (UFPR) e no
Doutorado Interdisciplinar em Meio Ambiente e Desenvolvimento
(UFPR), do qual foi coordenador. Coordenador da linha e do
grupo de pesquisa em Epistemologia e Sociologia Ambiental. Co-
editor da Revista Desenvolvimento e Meio Ambiente. Participa do
GT em Teoria e Ambiente da ANPPAS e é professor visitante do
CEDER-ULagos do Chile. Coordenador acadêmico da Casa Latino-
americana (CASLA) de Curitiba. Co-autor premiado nacionalmente
na categoria livro didático, pelo Prêmio Jabuti – 2001 e na categoria
acadêmica em 2012. Editor da coleção bilingue (Semeando Novos
Rumos – Sembrando Nuevos Senderos com 6 títulos publicados
pela Editora da UFPR (Rede Internacional Casla-Cepial). E-mail:
floriani@ufpr.br
AUTORES CONVIDADOS