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A Discussão das Fronteiras - Língua/Fala/Discurso; Linguística e Análise

do Discurso; Texto e Discurso.

Michel Pêcheux - “ Semântica e Discurso: uma crítica à afirmação do óbvio”


Três Tendências na Linguística (p.19):
1. Tendência Formalista – logicista – teorias gerativas ideia de uso e competência
(Noam Chomsky);
2. Tendência Histórica – linguística histórica que desemboca nas teorias de
variação e mudança linguística;
3. Tendência da Linguística da Enunciação/da fala/do texto.

MAINGUENEAU, Dominique. Discurso e Análise do discurso. São Paulo: Parábola


Editorial, 2015. Capítulos 1 e 2.

Análise do Discurso – espaço fervilhante


 Linguística Textual – anos 1960
 Teoria de Atos de Fala (J. Austin)
 Análise da fala/ da conversação (Goffman)
 Teorias pós-estruturalistas (M. Foucault; Estudos Culturais)
Ao longo do século XX, a Linguística foi impregnada pelas correntes pragmáticas que abordavam
a fala como uma atividade e acentuavam o caráter radicalmente contextual da construção do
sentido (p. 17).

Dicotomia – Estudos do discurso (Campo/discursivista) – Análise do Discurso


(Disciplina/analista). Teoria do discurso (filosofia da linguagem) e análise do discurso.

O projeto inicial de AD iniciada por Michel Pêcheux (anos 1960) articula:


1. Linguística estrutural (Saussure)
2. Marxismo – (Althusser)
3. Psicanálise – (Lacan)
Trata-se de um projeto de psicanálise do discurso, animado por um projeto marxista com
enfoque político e epistemológico. A análise seria a decomposição do texto que buscava revelar
a ideologia que estão destinados a dissimular.

Analista = psicanalista; Análise= Psicanálise


M. Pêcheux se apoia na Linguística
M. Foucault – recusa a Linguística (Filosofia da Linguagem) – para M. Foucault - Discurso não é
um conceito linguístico!

AD francesa– começa nos anos 1980 mesclar conceitos das teorias da enunciação, linguística
textual para abordar corpora diversificado (gêneros discursivos).

A NOÇÃO DE DISCURSO (p. 23)


- Conceito instável na Linguística e na Filosofia da Linguagem
Não contável- “O discurso estrutura nossas crenças”. Algo que transcende o ato de
comunicação.
Substantivo contável – “Os discursos se inscrevem em contextos” (enunciados). Objetos
empíricos.

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DISCURSO NA LINGUÍSTICA
Na linguística – há a oposição entre sistema linguístico e sua atualização no contexto, por isso o
discurso seria o uso da língua (Gee, 2005)
Discurso vs frase
Discurso vs língua
Discurso vs texto

FORA DA LINGUÍSTICA – FILOSOFIA e ESTUDOS DA LINGUAGEM


A concepção de discurso interage com ideias provindas de correntes teóricas que atravessam as
ciências humanas
- Filosofia da linguagem (L. Wittgenstein)
- Teoria de atos de fala (J. L. Austin)
- Concepção inferencial de sentido (H. P. Grice)
- Interacionismo simbólico (G. H, Mead)
- Dialogismo (M. Bakhtin)
- Psicologia (L. Vigotsky)
- Arqueologia e teoria do poder (M. Foucault), associado ao pós-estruturalismo (J. Derrida; Gilles
Deleuze, J. Lacan, J. Butler).

 O Discurso é uma organização além da frase, mobiliza estruturas além da frase (“Proibido
fumar”; “É proibido proibir”);
 O Discurso é uma forma de ação sobre o outro (atos de fala);
 O Discurso é interativo – toda interação se dá numa interação constitutiva entre os
interlocutores (interactantes, colocutores, coenunciadores, destinatários). Qualquer
enunciação supõe a presença de outra instância de enunciação, em relação a qual alguém
constrói seu próprio discurso.
 O Discurso é contextualizado – contexto não é uma moldura, ou um cenário: fora de
contexto não se pode atribuir sentido a um enunciado. Ex. indicialidade - eu, tu, ontem, aí
– são semanticamente incompletos – os referentes dependem da enunciação. A indicialidade
representa a incompletude das palavras que precisam ser indexadas a uma situação de
interação para alcançar sentido.
 O Discurso é assumido por um sujeito – EU-AQUI-AGORA – modalização (“Chove”; “Talvez
possa chover”; “Segundo Paulo, vai chover”; “Sinceramente, acho que chove”). MAS O
SUJEITO NÃO É A ORIGEM DO SENTIDO! A fala é dominada pelo dispositivo de comunicação
do qual ela provém.
 O Discurso é regido por normas – a atividade verbal assim como qualquer comportamento
social é regida por normas; “máximas conversacionais” de Grice (Máxima da Quantidade;
Máxima da Qualidade; Máxima da Relevância; Máxima do Modo); “leis e postulados do
discurso”): Ser compreensível, dar informação apropriada à situação, não se repetir. Os
gêneros são parâmetros dos sujeitos engajados na atividade verbal.
 O Discurso é assumido no bojo do interdiscurso – para compreender um enunciado é preciso
se apoiar em enunciados anteriores sobre os quais ele se apoia. Ao organizar um texto em
gênero, nos apoiamos em outros textos do mesmo gênero – memória do gênero.
O primado do interdiscurso sobre o discurso. Algumas linhas de AD inscrevem o enunciado
num dialogismo generalizado; recusa o fechamento do texto – o enunciado como cadeia verbal
interminável.

Dialogismo bakhtiniano – interdiscurso – o discurso ligado ao que o antecede e ao que vem


depois. Dialogicidade/diálogo/dialogismo - encontro com a palavra do outro – já dito.
1. Todo discurso se constitui/se orienta nos discursos já ditos sobre o objeto; (encontro com a
palavra do outro no objeto);

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2. Todo discurso se constitui na resposta – discurso-resposta que é esperado; (encontro com o
horizonte subjetivo do ouvinte – “auditório social”);
3. Todo discurso é internamente dialogizado (heterogêneo) – é uma articulação de múltiplas
vozes sociais. (BaKhtin – O Discurso no Romance_1930)

Lacan/Althusser – toda enunciação é dominada por um interdiscurso que o atravessa.


M. Pêcheux - “Isso fala sempre alhures e antes”.

“A fala do sujeito nunca é individual cada interlocutor está tomado pelas significações inscritas
na língua (Bakhtin), o sujeito está descentrado (pelas estruturas, pelo poder), ele não é a origem
do sentido. (Pêcheux)

O Discurso constrói socialmente o sentido!

Sentido - não é estável, acessível, direto, imanente a um enunciado, não espera por
ser decifrado.
O sentido é continuamente construído e reconstruído no interior das práticas sociais
determinadas (p. 29)

MAINGUENEAU, Dominique. Discurso e Análise do discurso. São Paulo: Parábola


Editorial, 2015. Capítulos 3.

RELAÇÃO TEXTO – DISCURSO – CORPUS

SINÔNIMOS?
1. Texto - usado para designar o dado de análise;
2. É possível relacionar um discurso a um conjunto de textos.
Para Foucault, os discursos existem para além dos textos: o discurso conservador; o
discurso da psiquiatria; se organizam em esferas: o discurso jornalístico, o discurso do
professor.
3. É possível relacionar um discurso a cada texto. Um discurso subjaz a um texto – conjunto
de objetivos comunicacionais. O discurso sustenta o texto; é o motivo de sua produção.
Discurso = texto + contexto (Michel Adam)
Corpus – conjunto mais ou menos vastos de textos ou trecho de textos ou até 1 texto.
Os analistas constituem corpora – reúnem materiais para responder a um questionamento.

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O Tripé Fundador da AD: Língua, História e Sujeito. Formação Discursiva.

BRANDÃO, Helena H. N. Introdução à Análise do Discurso. Campinas, SP: Editora


da UNICAMP, 2012. Cap. 1

Panorama histórico e fundamentos epistemológicos do Discurso


 Início com os formalistas russos – lógica transfrástica, mas não há uma análise sobre a
exterioridade.
 Indício em Benveniste – Teoria da Enunciação – o locutor se apropria do aparelho formal
da língua e enuncia sua posição de locutor por indícios específicos. Papel relevante ao
sujeito falante no processo de enunciação e como acontece essa inscrição do sujeito nos
enunciados.
Duas maneiras de pensar AD (Orlandi, 1986)
1. AD como extensão da linguística (perspectiva americana);
2. AD como sintoma de crise interna na Linguística – (perspectiva europeia).

A AD investiga “uma relação necessária entre o dizer e as condições de produção desse


dizer”. A exterioridade é uma marca fundamental! “Você aponta a Lua, o analista do discurso
olha o dedo”.

A Perspectiva Francesa (p. 16)


Sob a égide do estruturalismo, propõe uma articulação entre o linguístico, marxismo
(materialismo histórico) e a psicanálise.
Caráter interdisciplinar – linguistas, historiadores e psicólogos.
DISCURSO – POLISSEMIA
INICIALMENTE:
 Focaliza um corpora mais marcado – discurso político.
 AD –estudo linguístico das condições de produção de um enunciado.
 Se apoia nos métodos e conceitos da linguística, mas é preciso ir além para não ficar
em uma linguagem imanente.
Mangueneau propõe olhar:
 O quadro das instituições em que discurso é produzido – que delimitam a enunciação;
 Os embates históricos-sociais que se cristalizam no discurso;
 O espaço próprio que cada discurso configura para si mesmo no interior de um
interdiscurso.
A linguagem passa a ser estudada não só em relação ao sistema interno (formação linguística),
mas também como formação ideológica, que se manifesta através de uma competência
socioideológica.

PRÁTICA DISCURSIVA – comporta a dupla competência


1. Competência específica – sistema de regras que assegura a produção e a compreensão
de frases (performance);
2. Competência ideológica – que tonar possível a totalidade das ações e significações
novas. (p.18)

Língua vs Discurso (BRANDÃO, 2002, p. 41-42)


“A língua é a condição de possiblidade do discurso”.
Os processos discursivos constituem a fonte da produção dos efeitos de sentido no discurso e a
língua é o lugar material em que se realizam os efeitos de sentido (p.42)
Discurso – espaço em que emergem as significações!

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Discurso vs língua (ORLANDI, 2013)
A língua para M. Pêcheux não é uma superestrutura e sim uma base sobre a qual se
desenvolvem os processos discursivos e ideológicos.

Teoria do Discurso e Análise do Discurso

Para M. Foucault – “Discurso são práticas que formam sistematicamente os objetos que falam”.
É uma dispersão.

O discurso não tem relação direta com o uso da língua – discurso não é um conceito linguístico,
o que interessam são as práticas e regras que produzem enunciados e sentidos em diferentes
períodos da história.
Como a psiquiatria produziu o louco? Como, na história, se produziram os discursos sobre o
dispositivo da sexualidade?

Esforço - não reduzir o discurso ao texto ou ao linguístico e vice versa não ser absorvido pelas
realidades sociais ou psicológicas.
Teoria do Discurso – projetos advindos do pós-estruturalismo, dos estudos culturais e do
construtitivismo. Orientação filosófica.
“Olhar o enunciado na estreiteza de seu acontecimento e determinar as condições de sua
existência” (FOUCAULT)

Análise do Discurso
Para Michel Pêcheux (1969), discurso é “efeito de sentido entre os interlocutores”.

LINGUÍSTICO + SÓCIO-HISTÓRICO – HISTÓRIA E SUJEITO

CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO DO DISCURSO (p.42)

Origens: análise de conteúdo na psicologia social; sociolinguística (Variáveis); situação (Harris,


1952) – insuficientes!

Pêcheux – representação de lugares determinados na estrutura de uma formação social, lugares


cujo feixe de traços objetivos característicos pode ser descrito pela sociologia. Na instituição
escolar há o lugar do professor, aluno, diretor cada um marcado por propriedades diferenciais.
(p.44)

Crítica de Courtine - Teoria dos papeis; formação de imagem –uma visão ainda muito
psicossociológica e ancorada na sociologia funcionalista (Goffman). Assim o plano
psicossociológico domina o plano histórico!

Courtine propõe uma visão de CP que não se prende a uma operação psicologizante das
determinações históricas, fazendo-as transformar-se simples circunstâncias.
CP – alinhada à análise histórica das contradições ideológicas presentes na materialidade dos
discursos e articulada teoricamente com o conceito de FD. (p.45)

DICIONÁRIO (p.114-115)

CP – Substitui a noção vaga de circunstâncias na qual o discurso é produzido.


Na AD ancora-se na noção marxista de condições econômicas de produção. Pêcheux reelabora o esquema
de Jakobson (teoria da comunicação). Pêcheux substitui os dois polos do destinador e do destinatário por

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um dispositivo em que representações imaginarias dos lugares que um atribui ao outro. A relação entre
os lugares não é um comportamento individual, mas dependem da estrutura das formações sociais e
decorrem das relações de classe.
As CPs são importantes no recorte do corpora, que comportaria textos reunidos em função da hipóteses
do analista sobre as condições de produção consideradas estáveis.
A relação mecanicista entre o discursivo e a classe social foi criticada por não considerar uma margem de
manobra dos sujeitos
Condições de produção e situação de comunicação
Também se usa ‘contexto’ – de modo ambíguo. Remete ao conjunto dos dados não linguísticos que
organizam um ato de comunicação.
O que é problema porque há um conjunto de dados que decorrem apenas da situação de comunicação
e outros de um saber pré-construído – interdiscurso.

O sujeito falante é sempre sobredeterminado pelos saberes, crenças e valores que circulam no seu grupo
social ao qual pertence ao qual se refere. Mas ele é igualmente sobredeterminado pelos dispositivos de
comunicação nos quais se insere para falara que lhe impõe certos lugares, certos papeis e
comportamentos.

MAINGUENEAU, Dominique. Discurso e Análise do discurso. São Paulo: Parábola


Editorial, 2015. Capítulos 7.

Formação Discursiva

Unidades tópicas – unidades já dadas, pré-recortadas pelas práticas sociais (a consulta


médica, o jornal televisivo etc.)
Unidades não tópicas – construídas pelo pesquisador. (p.66)

A formação discursiva é uma unidade não tópica.


Origem: Arqueologia do Saber (M. Foucault).
“Sistema de restrições invisíveis, transversal às unidades tópicas.” (p.81)
“Tentei descrever relações entre enunciados (Foucault, 1969, p.38)
“Construir uma unidade que seria invisível, mas que permitiria explicar certo número de
fenômenos”. ( o discurso referente à loucura) (M. Foucault)

M. Pêcheux – associa à noção de formação social e formação ideológica de Louis


Althusser.
Ler citação de Pêcheux (p. 82-83) FD
Formação ideológica comporta uma ou várias formações discursivas – que determinam
o que pode deve ser dito a partir de uma posição dada em uma conjuntura dada.
(Pêcheux et al. 1971)

 A noção de FD permite constituir corpora heterogêneos, reunir livremente


enunciados originários de diversos tipos de unidades tópicas.

FD de identidade – discurso pós-colonial; o discurso liberal; discurso das enfermeiras;


o discurso racista etc.

FD temáticas – construir não a partir de uma instância, mas de um tema (do que se
fala?). ( o discurso sobre a pena de morte; sobre a decadência do Congresso Nacional,
sobre o aborto etc.).

Temas - divididos em entidades, cenários, propriedades, acontecimentos e nós.

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O problema do conceito de FD

Escolher entre um ou outra FD remete ao homogêneo.

O modo de constituição do corpus e seu processamento conduziriam, segundo eles, “a


apagar as asperezas discursivas, a suturar as falhas que saltam aos olhos em todo o
discurso” (Courtine; Marandin); um percurso que apaga a evidência. (p.85)

Uma concepção diferente de FD - LER p. 86

Definir a FD em função do interdiscurso!

BRANDÃO, Helena H. N. Introdução à Análise do Discurso. Campinas, SP: Editora


da UNICAMP, 2012. Cap. 1

Formação Ideológica e Formação Discursiva (p. 46)

O discurso é uma instância em que a materialidade ideológica se concretiza. – um dos


aspectos materiais da “existência material” das ideologias.

 A instância ideológica funciona por meio da “interpelação do sujeito ou


assujeitamento do sujeito como sujeito ideológico. “O sujeito é interpelado pela
ideologia”!

 Essa interpelação faz com que cada indivíduo (sem que ele tome consciência
disso, mas ao contrário, tenha a impressão de que é senhor de sua própria
vontade) seja levado a ocupar seu lugar em um dos grupos ou classe de uma
determinada formação social. (p.46-47)

“Cada formação ideológica constitui assim um conjunto complexo de atitudes e


de representações que não são nem “individuais” nem “universais” mas se
relacionam mais ou menos diretamente às posição de classe em conflito em
relação às outras.” (p. 47)

Discurso é um dos aspectos materiais da ideologia, pode-se afirmar que o discursivo


pertence ao ideológico.
A FI tem como componentes uma ou várias formações discursivas interligadas. (p. 47)

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