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Jaíne de Proença
Laís Vila Verde Teixeira
Profª. Drª. Nayara Hakime Dutra Oliveira
RESUMO
O presente artigo traz algumas reflexões acerca do trabalho socioeducativo do Serviço Social
com famílias. Abordaremos numa perspectiva crítica as influências e impactos que a família
burguesa trouxe à família proletária, que, com o passar do tempo, resultou em diversas
configurações familiares, bem como os rebatimentos que o sistema de produção capitalista e a
ideologia dominante provocaram no âmbito econômico, político e social das famílias.
Mostraremos os impactos da atuação do Estado mínimo nas políticas sociais e como o Serviço
Social vai realizar seu trabalho numa perspectiva socioeducativa com as famílias. E por fim
trazemos uma breve apresentação da pesquisa intitulada “A questão da atuação profissional
do Serviço Social junto às famílias: uma análise na perspectiva socioeducativa” que está
sendo realizada com o objetivo de analisar o trabalho socioeducativo desenvolvido pelo
Serviço Social voltado para as famílias, em instituições públicas e privadas.
A discussão acerca dos direitos sociais ainda continua, porém com foco nas políticas
sociais restritas, já que o Estado move suas ações para outros setores da sociedade e do
mercado.
Para a família se adaptar às novas formas de sociabilidade e também devido à
atualização das formas de se pensar à família, ela foi optando por maneiras de se organizar em
conformidade com suas condições de sobrevivência, não se prendendo exclusivamente há um
único modo de se organizar. Com relação aos modelos de família, segundo o IBGE, temos:
unipessoal, extensa, monoparental, homoafetiva e nuclear. Ainda hoje não podemos dizer que
aquelas que fogem ao modelo nuclear são totalmente “aceitas” em decorrência de estar
arraigado na sociedade uma ideologia que não foi por demais superada. Segundo Oliveira
(2009) não podemos deixar de considerar as questões históricas porque a família passa
mediante a sua forma de se organizar.
A Síntese dos Indicadores Sociais revela que, entre 1995 e 2005, na região
Sudeste, o percentual de famílias formadas por casais com filhos caiu de
56,6% para 48,5%. Fatores como o crescimento da participação das
mulheres no mercado de trabalho podem ter ocasionado mudanças na
estrutura das famílias brasileiras: o número das que eram chefiadas por
mulheres cresceu 35%, no período. Esse aumento vem ocorrendo mesmo nas
famílias onde há a presença do cônjuge. A Síntese também revelou que, no
Brasil, em 2005, havia quase seis milhões de pessoas morando sozinhas e
que, de 2004 para 2005, a proporção de mães adolescentes passou de 6,8%
para 7,1%. Em 2005, a região metropolitana de São Paulo concentrava
10,5% da população. Mais de 65 % da população idosa chefiava os
domicílios em que viviam, e havia 5,6 milhões de idosos trabalhando, em
todo o país. (ONLINE, 2012)
A atual política neoliberal, que legitima a atuação mínima do Estado em relação aos
questionamentos e anseios sociais, traz para a realidade um olhar peculiar sobre a mesma. Ao
passo em que o Estado atua de forma incipiente com as famílias, não se mantendo ausente,
portanto, transfere para a família a função de cuidar e proteger os seus membros requisito
básico para o “bom funcionamento” da sociedade. Como destaca Mioto,
Na maioria das vezes, não são os direitos dos indivíduos que estão em jogo,
e sim as possibilidades familiares que são julgadas. Isto explica a
importância do parâmetro da renda familiar no contexto dos programas
assistenciais. [...] A vulnerabilidade à pobreza está relacionada, além dos
fatores da conjuntura econômica e das qualificações específicas dos
indivíduos, às tipologias ou arranjos familiares e ao ciclo de vida das
famílias. (MIOTO, 2004, p.56)
Desde seu surgimento, até sua atual estrutura as famílias vêm sofrendo processos de
transformação em sua organização e composição, sendo que isso se deve às grandes
mudanças ocorridas na sociedade no âmbito da sua estrutura econômica, dos processos de
trabalho e das relações sociais em geral.
Esse processo de modificação trouxe consigo a imposição de novas tarefas às famílias,
seu empobrecimento, fragilização dos vínculos familiares e inclusive a falta de políticas
sociais que atendessem as mesmas, e por isso sua constante presença nos serviços sociais.
Tais impactos exigiram respostas do Estado, respostas estas que visassem pleno
desenvolvimento da família e dos indivíduos. E neste trabalho, muitos profissionais se fazem
presentes, inclusive o profissional de Serviço Social.
O Serviço Social, tendo por base uma atuação interventiva e educativa, possui
referencial teórico para trabalhar com famílias que se encontram em vulnerabilidade social.
Para tanto, o trabalho do Serviço Social com famílias veio também se modificando e criando
novas formas para uma melhor atuação com as mesmas. Mas infelizmente, se vê programas
de assistência às famílias que são ainda muito retrógrados,
O Serviço Social ao longo de sua história traz em sua atuação a família como objeto de
intervenção, entretanto, ainda não se pode admitir um consenso quanto às explicações e
formas de atuação junto às mesmas, onde ainda se encontram concepções naturalistas,
moralistas, a-históricas de famílias, devido ao não rompimento total com o pensamento
conservador que por muito tempo fundamentou a atuação profissional dos assistentes sociais.
Mesmo não atingindo em grande escala às exigências da profissão quanto ao trato com
famílias, sendo elas “relacionadas à necessidade de consolidação do atual projeto ético-
político da profissão, de qualificação das ações profissionais nessa área, além da afirmação do
espaço do Serviço Social num campo cada vez mais disputado por outras profissões”.
(MIOTO, 2002, p. 2 apud SILVA, 2005, p.55) não há como desconsiderar que os
profissionais de Serviço Social são os únicos que sempre colocam as famílias com
centralidade em suas intervenções.
É importante ainda lembrar-se da grande deficiência que marca as políticas e os
serviços sociais dirigidos às famílias, ou seja, as políticas sociais não são construídas com
finalidade de emancipação das famílias, mas sim para que as mesmas se tornem dependentes
destes programas.
Segundo Mioto (2002), ao abordar a atenção às famílias existem dois eixos
paradigmáticos que direcionam as ações dos profissionais, sendo eles o da
normatividade/estabilidade e o eixo de conflito/transformação. O primeiro está relacionado
aos modelos clássicos de intervenção profissional e o segundo orienta-se as medidas
socioeducativas que visam à defesa de direitos e construção de cidadania.
Portanto, ainda há na profissão um caráter de funcionalidade que permeia a história da
profissão, mas em contraponto há também o desafio colocado à categoria de enfrentamento
das mesmas, na busca de atuações norteadas por perspectivas críticas e por um trabalho
qualificado, principalmente no que tange a atuação junto às famílias. Assim pode-se verificar
que a intervenção do Serviço Social se direciona tanto para as condições materiais e sociais da
população, quanto para uma dimensão que vai além destes, “pois incidem no campo do
conhecimento, dos valores, dos comportamentos, da cultura produzindo efeitos reais na vida
dos sujeitos – uma ação educativa – orientada por diferentes tendências pedagógicas”
(SILVA, 2005, p. 59).
A dimensão socioeducativa não é terapêutica, mas pode ser visto como uma transição
do nível informacional/reflexivo para o nível participativo/organizativo. A atividade em grupo
deve ultrapassar valores pessoais e expressar interesses coletivos, num processo de construção
social, visando à formação do sujeito coletivo. Por isso é importante que os profissionais e os
usuários tenham sempre relações horizontais, tendo clara a questão de que os programas
sociais brasileiros não superarem as exclusões e privações, para que não aconteça de
culpabilizarem os profissionais.
Para tanto, as ações socioeducativas realizadas pelos assistentes sociais, para que
obtenham sucesso, deveriam ser desenvolvidas por:
[...] uma pedagogia libertadora tal como definida por Paulo Freire, na
qual a educação é entendida como a possibilidade de despertar a
consciência crítica dos sujeitos, procurando desenvolver a conquista
pela cidadania e desencadear o processo de transformação social
(GUIMARÃES, 1990, apud LIMA ,2006, p. 18).
O Serviço Social no trato com famílias vem modificando sua forma de atuação,
diferente daquela na qual exercia um papel de educador opressor/repressor, onde o Estado
regia suas ações sem haver o questionamento do mesmo. Com a perspectiva socioeducativa,
as ações do assistente social com famílias, busca a autonomia política através do
fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários, do pensamento crítico gestando assim
um sujeito coletivo.
Para tanto, é indispensável que o profissional tenha em mente a nova configuração do
trabalho socioeducativo, o qual tem uma proposta de rompimento com as perspectivas
conservadoras em consonância com o código de Ética Profissional, pois ainda se encontra
ações com caráter de repasse de informações, individualista, sem visão de totalidade, sendo
que esta postura não consegue suprir a proposta de democratização e de consciência crítica
proposta no trabalho socioeducativo.
Assim, como diz Iamamoto (1997 apud LIMA, 2006, p. 16):
5. Considerações finais
ELIAS, Wiataiana de Freitas; OLIVEIRA, Cirlene Aparecida Hilário Silva de. As diferentes
configurações da dimensão socioeducativa do Serviço Social brasileiro na sua trajetória
histórica profissional. Revista Serviço Social & Realidade, Franca, v.17, n.2, p.61-83, 2008.
GONÇALVES, Lucélia Cardoso; SOUSA, Maria Aparecida Leandro de.; FILHO, Prof° Dr°
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