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Teoria da Medida


Rodrigo Carlos Silva de Lima

rodrigo.uff.math@gmail.com

1
Sumário

1 Teoria da Medida 4
1.1 Notações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.2 Motivação Para Construção da Teoria da Medida . . . . . . . . . . . . . 5
1.3 σ-álgebra e álgebra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.3.1 A união de σ-álgebras podem não ser uma σ-álgebra . . . . . . . 7
1.3.2 Exemplo de álgebra que não é σ-álgebra . . . . . . . . . . . . . . . 7
1.3.3 Fechamento por interseções enumeráveis . . . . . . . . . . . . . . 10
1.3.4 Se A, B ∈ Σ então A \ B ∈ Σ. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
1.3.5 Interseção de σ-álgebras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
1.3.6 σ-álgebra gerada por subconjunto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
1.3.7 Σ = {A ∈ P(Ω) | A ou A é enumerável} é uma σ-álgebra . . . . .
c
17
1.3.8 ΣP(F) = {A ⊂ R | A ou A ⊂ F}. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
c
19
1.3.9 σ-álgebra de Borel e borelianos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
1.3.10 Espaço de Borel . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
1.3.11 σ-álgebra e funções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
1.3.12 σ-álgebra produto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
1.3.13 σ(AX × AY ) = σ(σ(AX ) × σ(AY )). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
1.4 A reta estendida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
1.5 Semi-anéis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
1.5.1 h- intervalos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
1.5.2 Anel . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
1.5.3 Todo anel é um semi-anel . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
1.5.4 O Produto Cartesiano e Semi-Anéis . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
1.5.5 Álgebra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41

2
SUMÁRIO 3

1.5.6 σ-anel . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
Capı́tulo 1

Teoria da Medida

Esse texto ainda não se encontra na sua versão final, sendo, por enquanto, cons-
tituı́do apenas de anotações informais, não tendo sido ainda revisado, então leia com
cuidado e atenção a possı́veis erros, Sugestões para melhoria do texto, correções da
parte matemática ou gramatical eu agradeceria que fossem enviadas para meu Email
rodrigo.uff.math@gmail.com.

1.1 Notações
• Dizemos que uma sequência de funções (fn ) é crescente se, fn (x) ≤ fn+1 (x) ∀ x ∈
A domı́nio da função. Dizemos que é estritamente crescente quando fn (x) <
fn+1 (x) ∀ x ∈ A, de modo similar para decrescente e estritamente decrescente,
denotando por fn ↓ f se fn → f e fn é decrescente, podemos denotar também
como fn & f. Em geral se é crescente ou decrescente a convergência é dita
monótona e podemos denotar como fn →m f.

• Usamos a notação fn ↑ f para dizer que a sequência de funções (fn ) é crescente


e fn → f, neste caso podemos denotar também por fn % f.

• Dizemos que uma sequência (ou famı́lia de conjuntos) (Ak ) é disjunta se Ek ∩


Ej = ∅, ∀ k 6= j.

4
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 5

1.2 Motivação Para Construção da Teoria da Medida


Usando a teoria da medida, podemos entre outras coisas, construir uma outra
teoria de integração e com ela o que chamamos de integral de Lebesgue, vejamos
algumas relações da integral de Lebesgue e da integral de Riemann.

1. Temos que a seguinte função é limitada, porém não é integrável à Riemann


, χQ : [0, 1] → R, chamada de função caracterı́stica dos racionais em [0, 1],
definida com


1 se x ∈ Q
χQ (x) =
0 caso contrário

Tal função não é Riemann integrável, porém é Lebesgue integrável. A classe


de funções Lebesgue integrável é mais abrangente do que a classe de funções
Riemann integráveis, toda função integrável a Riemann é integrável a Lebesgue
e algumas funções Lebesgue integráveis, não são Riemann integráveis.

2. O limite pontual de funções Riemann integráveis não é necessariamente Ri-


emann integrável. Como por exemplo. Definimos a sequência de funções
fn : [0, 1] → R com

1 se x ∈ {q1 , · · · , qn }
fn (x) =
0 caso contrário
onde Q ∩ [0, 1] = {q1 , · · · , qn , · · · }. Tais funções são Riemann integráveis com
Z1
fn (x)dx = 0 ∀ n ∈ N e convergem pontualmente para a função caracterı́stica
0
dos racionais em [0, 1], pois se x é racional , então para n suficientemente
grande tem-se x ∈ {q1 , · · · , qn } e portanto fn é constante a partir de algum n
e converge para 1, caso x seja irracional fn (x) = 0 ∀ n. Tais elementos da
sequência de funções são integráveis, pois são funções descontı́nuas apenas em
Z1
um conjunto de medida nula, valendo fn (x)dx = 0∀ n ∈ N, porém o limite da
0
sequência não é Riemann integrável, mas é Lebesgue integrável, no caso não
podemos trocar a ordem do limite com a integral na integral de Riemann, mas
neste caso podemos fazer tal procedimento válido com a integral de Lebesgue. A
troca de ordem de integral de Lebesgue e limite é válida sob hipóteses simples,
valendo
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 6

Z Z
lim fn = lim fn .

3.

Z Exemplo 1. Para funções f n ≥ 0 integráveis à Lebesgue, vale que


Zb X
∞ ∞ Zb
X
fk (x)dx = fk (x)dx.
a k=1 k=1 a

A integral de Riemann à esquerda pode não estar definida. Considere (xn )


enumeração dos racionais em [0, 1], fn : [0, 1] → R, fn (xn ) = 1 e fn (x) = 0 se
X

x 6= xn . Então, fk (x) vale 1 nos racionais de [0, 1] e 0 nos irracionais. Tal
k=1
função não é integrável à Riemann mas cada fn possui integral nula.

Algumas aplicações da teoria da medida são:

1. Definição da integral de Lebesgue, que para integrais próprias generaliza a


integral de Rienmann e possui boas condições para se trocar ordem de limite e
integral, por exemplo, permutar uma série com uma integral.

2. Axiomatização da teoria de probabilidades por meio de medida, o que foi feito


em 1933 por Kolmogorov

3. Definição de integral em espaços diferentes de Rn .

4. Comprimento, área e volume e outros conceitos de Fı́sica são medidas. Massa


é uma medida positiva, carga elétrica é uma medida com sinal.

1.3 σ-álgebra e álgebra

m Definição 1 (σ-álgebra). Uma famı́lia Σ de subconjuntos de um conjunto X


é dita uma σ-álgebra (lê-se sigma álgebra) se satisfaz as propriedades

1. X ∈ Σ.
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 7

2. Se A ∈ Σ então X \ A = Ac ∈ Σ. A famı́lia é fechada em relação ao comple-


mentar.

[
3. Se (Ak ) é uma sequência de conjuntos de Σ então Ak ∈ Σ. A famı́lia é
k=1
fechada em relação a união contável de seus elementos.

Em uma álgebra se troca a terceira condição, por: se A1 , A2 ∈ Σ então A1 ∪A2 ∈


Σ.

$ Corolário 1. ∅ ∈ Σ pois X ∈ Σ e pela segunda propriedade

X \ X = ∅ ∈ Σ.

De maneira equivalente a primeira propriedade poderia ser ∅ ∈ Σ pois implicaria


pela segunda propriedade ∅c = X ∈ Σ. Logo uma famı́lia para que seja uma
σ-álgebra deve conter ∅ e X.

1.3.1 A união de σ-álgebras podem não ser uma σ-álgebra

Z Exemplo 2. Sejam A , A 1 2 σ-álgebras de X, então A1 ∪ A2 pode não ser uma


σ-álgebra de X.
Por exemplo tome X = {1, 2, 3}. E as σ-álgebras A1 = {∅, X, {1}, {2, 3}} , A2 =
{∅, X, {2}, {1, 3}}, temos que

A1 ∪ A2 = {∅, X, {1}, {2, 3}, {2}, {1, 3}}

que não é uma σ-álgebra de X, pois não é fechado pela união {1} ∪ {2} = {1, 2} não
pertence a A1 ∪ A2 .

1.3.2 Exemplo de álgebra que não é σ-álgebra


CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 8

Z Exemplo 3 (Exemplo de álgebra que não é σ-álgebra). Sejam X um conjunto


infinito,
A = {Y | Y ⊂ X , Y ou Y c são finitos }.

Então A é uma álgebra, porém não é uma σ-álgebra.

• ∅ ∈ A pois ∅ é finito .

• Seja B ∈ A, então B ou Bc são finitos, então Bc ∈ A pois vale que Bc ou


(Bc )c = B são finitos, pela primeira condição .
n
[
• Sejam (Ak )n1 ∈ A vamos mostrar que Ak é finito ou seu complementar.
k=1
n
[
Suponha inicialmente que todo Ak é finito, então Ak também é finito . Se
k=1
um At não é finito então Act deve ser finito e daı́
n
[ n
\
( A k )c = Ack ⊂ Act
k=1 k=1

n
[
como subconjunto de um conjunto finito é finito, segue que ( Ak )c é finito
k=1
.

• Seja X = N então, não é σ-álgebra pois



[
{2k}
k=1


[
não é finito e também não é finito seu complementar {2k − 1}.
k=1

Z Exemplo 4. Dado um conjunto qualquer X podemos tomar a σ-álgebra


trivial.
Σ = {∅, X}.
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 9

As três propriedades são satisfeitas pois

• X ∈ Σ é verificado.

• Xc = ∅ ∈ Σ e ∅c = X ∈ Σ se verifica.

• Se temos uma sequência que possui apenas ∅ então a união dessa sequência
é o conjunto vazio que pertence à Σ. Se a sequência possui um termo X
então a união é X que pertence à Σ.

Então Σ = {∅, X} é a menor σ−álgebra, pois qualquer uma outra deve conter essa.

Z Exemplo 5. O conjunto σ = {A ∈ P(N), A é infinito } ∪ ∅ Satisfaz algumas


propriedades de σ-álgebra, porém não é uma σ-álgebra.

• ∅ ∈ Σ.

• A união enumerável de conjuntos infinitos é um conjunto infinito.

• A propriedade só não funciona bem para a complementação, dado um con-


junto infinito em N, seu complementar não é necessariamente infinito. Por
exemplo, tome
A = {k ∈ N, k ≥ 2} = {2, 3, · · · , n, · · · },

temos que seu complementar é

Ac ⊂ {0, 1}.

Logo é um conjunto finito.

Z Exemplo 6. O conjunto Σ = {A ∈ P(R), A é um intervalo } não é uma


σ-álgebra de R, pois a união de intervalos, pode não ser um intervalo, como por
exemplo (2, 3) ∪ (4, 5).
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 10

b Propriedade 1. Se A, B ∈ Σ então A ∪ B ∈ Σ. Logo uma σ-álgebra é uma


álgebra.

ê Demonstração. Tomamos a sequência (A, B, ∅|∞


k=3 ) cuja união deve pertencer

a familia , porém a união é A ∪ B.

b Propriedade 2. Se A, B ∈ Σ então A ∩ B ∈ Σ.

ê Demonstração. Ac , Bc ∈ Σ daı́ pela propriedade anterior Ac ∪ Bc ∈ Σ, logo o


complementar dessa união também

(Ac ∪ Bc )c = A ∩ B.

Estamos usando aqui as propriedades de conjuntos chamadas de Leis de Morgan,


que dizem em particular
(A ∪ B)c = Ac ∩ Bc ,

(A ∩ B)c = Ac ∪ Bc .

1.3.3 Fechamento por interseções enumeráveis

b Propriedade 3 (Fechamento por interseções enumeráveis). Se (Ak ) ∈ Σ então



\
Ak ∈ Σ.
k=1

ê Demonstração. Pois temos (Ack ) ∈ Σ daı́



[
Ack ∈ Σ
k=1

portanto seu complementar também está em Σ


[ ∞
\
( Ack )c = Ak .
k=1 k=1

1.3.4 Se A, B ∈ Σ então A \ B ∈ Σ.
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 11

b Propriedade 4. Se A, B ∈ Σ então A \ B ∈ Σ.

ê Demonstração. Temos que A \ B = A ∩ Bc , porém B ∈ Σ implica Bc ∈ Σ e a


interseção de elementos pertence também à Σ.

Z Exemplo 7. P(X) = Σ é uma σ-álgebra de X.


• Temos que X ∈ P(X).

• Se A ∈ P(X) então A é subconjunto de X, daı́ X \ A ⊂ X logo pertence à


P(X).

• Seja (Ak ) uma sequência de elementos em P(X) então cada Ak é subconjunto



[
de X, por isso Ak é subconjunto de X e por isso pertence à P(X).
k=1

P(X) é a maior σ-álgebra de X, as vezes dita σ-álgebra mais refinada .

b Propriedade 5. Uma σ−álgebra é fechada por diferença simétrica de dois


de seus elementos,
C∆B = (C \ B) ∪ (B \ C).

ê Demonstração.

C∆B = (C \ B) ∪ (B \ C)
| {z } | {z }
∈Σ Σ

é união de elementos da sigma álgebra.

b Propriedade 6. Σ é uma σ-álgebra ⇔ é uma álgebra e fechada por uniões


enumeráveis disjuntas.

ê Demonstração. ⇒). Se Σ é uma σ-álgebra então é uma álgebra fechada por


uniões enumeráveis quaisquer, em especial uniões enumeráveis disjuntas.
⇐).
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 12

Suponha que Σ seja uma álgebra e fechada por uniões enumeráveis disjuntas,
vamos provar que Σ é uma σ−álgebra, isto é, é fechada por uniões enumeráveis
quaisquer .
Seja uma união enumerável de elementos de Σ,

[
Ak ,
k=1

[1
k−
denotamos Bk = Ak \ ( Aj ), temos que cada Aj ∈ Σ e como é álgebra tem-se
j=1
[1
k− [1
k−
Aj ∈ σ , além disso e daı́ Bk = Ak \ ( Aj ) ∈ σ, temos porém que cada Bk , Bj são
j=1 j=1
disjuntos e daı́ por uniões enumeráveis disjuntas fechada, tem-se


[ [1
k− ∞
[ ∞
[
Ak \ ( Aj ) = Bk = Ak ∈ Σ,
k=1 j=1 k=1 k=1
portanto segue a propriedade .

Z Exemplo 8. Sejam X = {1, 2, 3} então A = {∅, X, {1}, {2, 3}} é uma σ-álgebra,
no entanto {∅, X, {1}, {2}, {3}} não é σ-álgebra.
A primeira proposição vale pois X ∈ A, o complementar de cada elemento em
X está em A e as uniões também . Na segunda , temos que {3}c = {1, 2} que não
pertence a A, logo não é σ-álgebra.

b Propriedade 7. Sejam E ⊂ X e Σ uma σ-álgebra em X. Então ,

Σ|E = {E ∩ B | B ∈ Σ}

é uma σ-álgebra em E .

ê Demonstração.

1. ∅ ∈ Σ|E pois ∅ ∈ Σ e E ∩ ∅ = ∅.

2. Seja um elemento de Σ|E , ele é da forma E ∩ B para algum B em Σ , temos


que mostrar que seu complementar (em E) também está em A|E , aqui estamos
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 13

E\E=∅
z}|{
denotanto A = E \ A e A
c cX
= X \ A. O complementar de E ∩ B é Ec ∪Bc =
X\B
z}|{
Bc = E \ B = E ∩ BcX (conjunto de elementos que estão em E, mas não estão em
B) onde BcX é o complementar de B em X, que pertence a σ-álgebra Σ .

3. Dada uma coleção enumerável de elementos de Σ|E temos que mostrar que sua
união também pertence . A união enumerável pode-se escrever como

[
(E ∩ Bk ),
k=1

porém vale a seguinte identidade para esse tipo de interseção



[ ∞
[
(E ∩ Bk ) = E ∩ (Bk )
k=1 k=1

[ ∞
[
como (Bk ) é elemento de Σ por Σ ser σ-álgebra, segue que (E ∩ Bk ) é
k=1 k=1

[
elemento de Σ|E , pois é da forma E ∩ B com B ∈ Σ , no caso B = (Bk ).
k=1

Com isso provamos que Σ|E é σ-álgebra.

m Definição 2 (Traço de uma σ-álgebra ). Nas condições da definição anterior


A|E é uma σ−álgebra chamada de traço .

1.3.5 Interseção de σ-álgebras

b Propriedade 8. Seja S = (Σk )k∈F uma famı́lia não vazia de σ-álgebras de


subconjuntos de X, então

\
Σk
k∈F

é uma σ-álgebra de X.

ê Demonstração. Verificaremos as condições que definem uma Σ-álgebra.


\
1. Temos que X ∈ Σk ∀ k ∈ F logo X ∈ Σk .
k∈F
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 14

\
2. Seja A ∈ Σk então A ∈ Σk ∀ k, cada uma delas é σ-álgebra então Ac ∈ Σk ∀ k
k∈F
o que implica finalmente
\
Ac ∈ Σk .
k∈F
\
3. Seja (Aj ) ∈ Σk então Aj ∈ Σk ∀ k, j e por propriedade de σ-álgebra temos
k∈F

[
Aj ∈ Σk ∀ k
j=1

e portanto temos

[ \
Aj ∈ Σk .
j=1 k∈F

1.3.6 σ-álgebra gerada por subconjunto

m Definição 3 (σ-álgebra gerada por subconjunto). ΣA ⊂ P(X) é a Σ-álgebra de


subconjuntos de X gerada por A ⊂ P(X) se

• ΣA é uma Σ-álgebra de X.

• A ⊂ ΣA .

• Se Σ é uma σ-álgebra de X com A ⊂ Σ então ΣA ⊂ Σ, isto é, ΣA é a menor


σ-álgebra que contém A.

A σ-álgebra gerada por A também pode ser denotada por σ(A).

b Propriedade 9. σ(A) é a interseção de todas as σ-álgebras contendo A.


Logo realmente existe a σ-álgebra apresentada na definição anterior.

ê Demonstração. Vamos mostrar que a interseção de todas σ-álgebras de X


contendo A, satisfazem as três propriedades que pedimos para que uma coleção de
subconjuntos seja de fato σ-álgebra gerada por A.

• Seja S = (Σk )k∈F a famı́lia de σ-álgebras de subconjuntos de X contendo A , tal


famı́lia não é vazia pois P(A) é uma σ-álgebra, então
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 15

\
Σk
k∈F

é uma σ-álgebra de X, por resultado que já mostramos .


\
• A⊂ Σk pois cada σ-álgebra contém A .
k∈F
\
• Se Σ é uma σ-álgebra de X com A ⊂ Σ então Σk ⊂ Σ, pois Σ é um conjunto
\ k∈F
que aparece na interseção , portanto Σk é a menor σ-álgebra que contém A.
k∈F

z Observação 1. Vale que {B} ⊂ G ⇔ B ∈ G. A ⊂ G equivale a dizer que todo


elemento de A é elemento de G, caso A = {B} temos que isso equivale a B ∈ G. Tal
propriedade pode ser importante para entender a Σ-álgebra gerada por um conjunto,
neste caso lembrem também que B ∈ Σ implica Bc ∈ Σ e também a união enumerável
de todos elementos com essa propriedade.

Z Exemplo 9. A σ−álgebra gerada por A = { {x} | x ∈ Q} é P(Q).


Já sabemos que ΣA ⊂ P(Q), temos que provar a outra inclusão. Por definição
de ΣA temos que A ⊂ ΣA e isso acontece ⇔ ∀ yx ∈ A tem-se yx ∈ ΣA , yx = {x}.
Por ser σ−álgebra é fechada por união enumerável de elementos dela.
Seja B um subconjunto qualquer de Q, isto é, um elemento de P(Q), B é
enumerável, logo
[
B= {x} ∈ ΣA ,
x∈B

então segue que P(Q) ⊂ ΣA , logo temos a igualdade como querı́amos demons-
trar.

Z Exemplo 10. Considere X = {1, 2, 3, 4, 5, } determine a σ-álgebra gerada


por

1. A1 = { {1, 2} }.
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 16

2. A2 = { {1, 2} {1, 3} }.

Solução:

1. A1 = { {1, 2} }. Como A1 ⊂ ΣA1 segue que {1, 2} ∈ ΣA1 então seu complementar
também {3, 4, 5}. A Σ-álgebra é dada por

ΣA1 = { {1, 2} {3, 4, 5}, ∅, {1, 2, 3, 4, 5, }},

que é fechado por união e complementar.

2. A2 = { {1, 2} {1, 3} }. Vamos tomar um procedimento em passos.

• Passo 0-Conjuntos iniciais. {1, 2} e {1, 3} são elementos da Σ-álgebra.

• Passo 1-Complementar de P0. Tomamos o complementar dos elementos


do passo 0, obtemos
{3, 4, 5}, {2, 4, 5}

• Passo 2-Uniões. Tomamos a união dois-a-dois dos elementos até agora


listados, obtendo

{1, 2, 3}, {1, 2, 3, 4, 5}, {1, 2, 4, 5} das uniões com {1, 2}.

{ 1 , 3, 4 , 5 } da união com {1, 3},

{2, 3, 4, 5} da união com {3, 4, 5}.

• Passo 3-Complementar de P2.

{4, 5}, ∅, {3}

{2},

{1}.
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 17

• Passo 4-Uniões.
{1, 4, 5}, {2, 3}.

• Passo 5- O complementar dos conjuntos no passo anterior já foram con-


tados, então paramos. Listamos os 15 conjuntos, que podemos mostrar
que formam realmente uma σ−álgebra

{ ∅, {1}, {2}, {3}, {1, 2}, {1, 3}, {2, 3}, {4, 5}, {1, 4, 5}, {1, 2, 3}, {3, 4, 5}}∪

{ {2, 4, 5}, {1, 2, 4, 5}, {1, 3, 4, 5}, {2, 3, 4, 5}, {1, 2, 3, 4, 5} }

1.3.7 Σ = {A ∈ P(Ω) | A ou Ac é enumerável} é uma σ-álgebra

Z Exemplo 11. Seja Ω um conjunto não enumerável . Σ = {A ∈ P(Ω) | A ou A c


é enumerável}
é uma σ-álgebra de Ω.

1. Ω ∈ Σ pois Ωc = ∅ é enumerável.

2. Seja A ∈ Σ, então Ac ∈ Σ pois A ou Ac é enumerável .

3. Seja (Ak ) ∈ Σ então



[
Ak ∈ Σ
k=1

pois se cada Ak é enumerável, então a união é enumerável, se existe um


conjunto não enumerável At na união, então Act é enumerável e

[ ∞
\
c
( Ak ) = (Ack ) ⊂ Act
k=1 k=1

que é enumerável por ser subconjunto de enumerável.

µ : Σ → {0, 1} tal que µ(E) = 0 se E é enumerável e µ(E) = 1 caso contrário é


uma medida.

1. Temos que µ(∅) = 0 pois ∅ é enumeravel .


CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 18

2. Se (Ak ) é uma coleção disjunta de elementos da σ-álgebra então vale



[ X

µ( Ak ) = µ(Ak ),
k=1 k=1

se cada Ak é enumerável, a união enumerável de enumeráveis é enumerável,



[
então µ( Ak ) = 0 do outro lado também temos apenas termos com medida
k=1
nula, logo segue a igualdade. Se alguem At for não enumerável então
X \ At = Act é enumerável, por isso cada outro Ak é enumerável, pois são
disjuntos com At logo estão contidos no conjunto enumerável Act , por isso

[ X

µ( Ak ) = 1 = µ(Ak ) + µ(At ) = 1.
| {z } | {z }
k=1 k=1,k6=t 0 1

Z Exemplo 12. Uma σ-álgebra pode não ser fechada por uniões e interseções
não enumeráveis. Considere a σ-álgebra de R = Ω, Σ = {A ∈ P(Ω) | A ou Ac é enumerável}.

• Considere Gt = {t}, logo Gt ∈ Σ, pois Gt é enumerável. A união não


enumerável
[
Gt = [0, 1],
t∈[0,1]

que não pertence a Σ, pois [0, 1] não é enumerável, nem seu complementar.

• Considere agora Gt = {t}c , cujo complementar é {t} logo é enumerável e


assim pertence a Σ, a seguinte interseção não-enumerável desses conjuntos
não pertence a Σ,
\ [
{t}c = [ {t}]c = [0, 1]c ,
t∈[0,1] t∈[0,1]

não é enumerável e também não possui o complementar enumerável.

b Propriedade 10. Seja A = { {x} | x ∈ R} e G = {A ⊂ R | A ou Ac é enumerável},


CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 19

então vale a igualdade


ΣA = G.
ê Demonstração.

• Primeira inclusão ΣA ⊂ G. Para cada x ∈ R temos que {x} ∈ G pois o conjunto é


enumerável, disso segue que A ⊂ G e daı́ ΣA ⊂ G, pois ΣA é a menor σ-álgebra
que contém A.

• Segunda inclusão G ⊂ ΣA .

Seja E ∈ G. Se E é enumerável logo ele se escreve como união enumerável de


[
seus elementos E = {x}, daı́ E ∈ ΣA . Se Ec é enumerável, pelo mesmo argu-
x∈E
mento, temos que Ec ∈ ΣA , mas como ΣA é σ-álgebra segue que o complementar
de Ec , que é E também é elemento de ΣA , daı́ segue a inclusão G ⊂ ΣA e temos
portanto a igualdade G = ΣA .

$ Corolário 2. A σ-álgebra gerada por A = { {x} | x ∈ R} não é P(R), pois nesse


último, temos o conjunto (0, 1) que é não enumerável e seu complementar também
é não enumerável.

b Propriedade 11. Se B ⊂ σ(A) então σ(B) ⊂ σ(A).

ê Demonstração. σ(B) é a menor σ-álgebra que contém B como σ(A) é uma


σ-álgebra que contém B então σ(B) ⊂ σ(A).

$ Corolário 3. Se A ⊂ B então σ(A) ⊂ σ(B). Pois vale que A ⊂ B ⊂ σ(B) ,


portanto A ⊂ σ(B) e pela propriedade anterior tem-se σ(A) ⊂ σ(B).

1.3.8 ΣP(F) = {A ⊂ R | A ou Ac ⊂ F}.

Z Exemplo 13. Seja F ⊂ R. Temos que Σ P(F) = {A ⊂ R | A ou Ac ⊂ F}.


Primeiro vamos mostrar que B = {A ⊂ R | A ou Ac ⊂ F} é σ-álgebra.
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 20

1. ∅ ∈ B pois ∅ ⊂ F.

2. Se A ∈ B então Ac ∈ B, pois A ∈ B ⇔ A ou Ac são subconjuntos de F,


porém Ac ∈ B ⇔ Ac ou (Ac )c = A são subconjuntos de F, são proposições
equivalentes.

3. Seja agora um sequência de conjuntos (Ak ) de B, vamos mostrar que a união


também está. Se cada Ak ⊂ F então

[
Ak ⊂ F.
k=1

Se pelo menos um deles não é subconjunto de F, digamos Aj , então Acj ⊂ F


e daı́ por propriedade de complementar da união

[ ∞
\
c
( Ak ) = Ack ⊂ Acj ⊂ F,
k=1 k=1

de onde tiramos que o complementar da união é subconjunto de F então a


união está na σ-álgebra.

Agora vamos demonstrar a igualdade ΣP(F) = B.

• Primeira inclusão ΣP(F) ⊂ B. Para cada A ∈ P(F) temos que A ∈ B, pois


A ⊂ F. Disso segue que P(F) ⊂ B, daı́ ΣP(F) ⊂ B pois ΣP(F) é a menor
σ-álgebra que contém P(F).

• Segunda inclusão B ⊂ ΣP(F) . Seja E ∈ B. Se E ⊂ F daı́ E ∈ P(F) ⊂ ΣP(F) ,


portanto E ∈ ΣP(F) . Se Ec ⊂ F, pelo mesmo argumento temos que Ec ∈ ΣP(F) ,
porém como ΣP(F) é σ-álgebra, segue que (Ec )c = E ∈ ΣP(F) daı́ segue a
inclusão B ⊂ ΣP(F) e com as duas inclusões temos a igualdade ΣP(F) = B.

$ Corolário 4. Segue que ΣP(N) = {A ⊂ R | A ou Ac ⊂ N}, ΣP(Q) = {A ⊂


R | A ou Ac ⊂ Q}.
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 21

1.3.9 σ-álgebra de Borel e borelianos

m Definição 4 (σ-álgebra de Borel e borelianos). A σ-álgebra gerada pela


famı́lias de conjuntos abertos de X um espaço topológico é chamada de σ-álgebra
de Borel. Seus elementos são os conjuntos de Borel ou borelianos de X.
Em especial temos os casos de X = R ou Rn , com os abertos dados pelas bolas
abertas na métrica usual.

b Propriedade 12. Considere a σ-álgebra de Borel de R . Temos que

1. B(R) contém todos os abertos e fechados de R .

2. B(R) contém o conjunto Gδ das interseções enumeráveis de abertos.

3. Possui o conjunto dos racionais.

4. Contém os conjuntos Fσ das uniões enumeráveis de fechados.

5. Qualquer conjunto enumerável é boreliano .

6. Q e R \ Q são borelianos.

ê Demonstração.

b Propriedade 13. A σ-álgebra de borel B(R) é gerada por cada uma das
seguintes classes de conjuntos :

1. Intervalos abertos, isto é, conjuntos da forma (a, b), onde a e b ∈ R. Esse
caso contém semi-retas abertas do tipo (−∞, a) e (a, ∞).

2. Intervalos fechados, isto é, conjuntos da forma [a, b], onde a e b são reais.

3. Intervalos semi-abertos, isto é conjuntos da forma [a, b) ou (a, b].


CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 22

4. Semi-retas abertas, isto é, conjunto da forma (−∞, a) e (a, ∞).

5. Semi-retas fechadas, isto é, conjuntos da forma [a, ∞) ou (−∞, a].


ê Demonstração.

1. Seja g a coleção de abertos temos σ(g) = B(R). Como todo intervalo aberto I
é um conjunto aberto então I ⊂ g e portanto σ(I) ⊂ σ(g) := B(R). Por outro
lado todo conjunto aberto pode ser escrito como união enumerável disjunta de
intervalos abertos logo B(R) ⊂ σ(I) e daı́ B(R) = σ(I).

Vamos usar tal identidade para resolver os outros casos.

2. Vamos mostrar que todo conjunto aberto pertence a σ-álgebra gerada por in-
tervalos fechados σ 0 . Temos que [a, b] e [b, c] ∈ σ 0 com c > b arbitrário logo
sua interseção também {b}, logo a união de unitários também {b, a}, como σ-
álgebras são fechadas por complementar então [a, b] \ {a, b} = (a, b) então todo
aberto está contido em σ 0 e por isso ela contém a σ-álgebra de Borel .

Vamos mostrar agora que a σ-álgebra de Borel, também contém todo intervalo
fechado. Tomamos dois conjuntos abertos (a, ∞) e (a, b) e tomamos a diferença
(a, ∞) \ (a, b) = [b, ∞), da mesma maneira dados c > b, tomamos a diferença
que resulta em
[b, ∞) \ (c, ∞) = [b, c],

logo todo intervalo fechado pertence a B(R) e portando B(R) = σ 0 .

3. Vamos mostrar que todo conjunto aberto pertence a σ-álgebra gerada por inter-
1
valos semi-abertos σ 0 . Tomamos a interseção de elementos da forma [a, a + )
n
que resulta em {a}, disso segue também que [a, b) \ {a} = (a, b), então todo
aberto está contido em σ 0 e por isso ela contém a σ-álgebra de Borel .

Vamos mostrar agora que a σ-álgebra de Borel, também contém todo intervalo
semi-aberto. Tomamos dois conjuntos abertos (−∞, b) e (−∞, a), com b > a e
tomamos a diferença (−∞, b) \ (−∞, a) = [a, b) logo todo intervalo semi-aberto
pertence a B(R) e portando B(R) = σ 0 .

4. Vamos mostrar que todo conjunto aberto pertence a σ-álgebra gerada por semi-
retas abertas σ 0 . Tomamos a diferença de (−∞, b) com (−∞, a), com b >
a, que resulta no conjunto [a, b). Tomando a interseção enumerável do tipo
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 23

1
[a, a + ), segue que conjuntos unitários são elementos, tomando [a, b) \ {a}
n
segue que todo aberto é elemento de σ 0 , então terminamos a primeira parte.

A σ-álgebra de Borel também contém toda semi-reta aberta portando B(R) = σ 0 .

O mesmo valeria se fossem tomados como geradores da σ-álgebra conjuntos


da forma [a, b), a, b ∈ Q. Dados a e b reais, podemos tomar sequências (ak )
crescente de racionais e (bk ) crescente de racionais, tais que ak → a e bk → b
e temos que

\
[ak , bj ) = [a, bj ),
k=1

pois não existe x tal que ak < x < a ∀ k pois ak → a e por (ak ) ser crescente, a
partir de algum de um ı́ndice k temos que x < ak ≤ a e

x < ak ≤ ak+1 ≤ a,

por isso o menor valor contido na interseção é a.

Todo elemento de [a, bj ) pertence a interseção, pois dado x ∈ [a, bj ), temos que
ak ≤ a ≤ x ≤ bj , ∀ k ∈ N. Agora tomamos as uniões

[
[a, bj ),
j=1

nenhum elemento x tal que x > b está na união, pois bj ≤ b < x, ∀ j. Além
disso todo elemento x com a < x < b está na união, pois bj → b então existe
algum ı́ndice j tal que x < bj < b. Então os elementos da forma [a, b) com a e b
reais arbitrários são gerados pela σ-álgebra com apenas extremidades racionais
para os intervalos.

5. Vamos mostrar que todo conjunto aberto pertence a σ-álgebra gerada por semi-
retas fechadas σ 0 . Temos que [a, ∞) e [b, ∞) ∈ σ 0 com b > a arbitrário
logo sua interseção também [a, b] , tomando a interseção deste último conjunto
com [b, ∞) segue que conjuntos com um elemento {b} pertencem a σ 0 , logo a
união também {b, a}, como σ-álgebras são fechadas por complementar então
[a, b] \ {a, b} = (a, b) então todo aberto está contido em σ 0 e por isso ela contém
a σ-álgebra de Borel .

Vamos mostrar agora que a σ-álgebra de Borel, também contém toda semi-
reta fechada . Tomamos dois conjuntos abertos (a, ∞) e (a, b) e tomamos a
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 24

diferença (a, ∞) \ (a, b) = [b, ∞) logo toda semi-reta fechada pertence a B(R) e
portando B(R) = σ 0 .

Da mesma forma que no item anterior temos que os elementos da forma


[a, ∞), a ∈ Q gera a mesma σ-álgebra que com a tomado nos reais. Com
mesma argumentação da interseção do item anterior, tomamos (ak ) sequência
crescente de racionais e daı́

\
[ak , ∞) = [a, ∞).
k=1

1.3.10 Espaço de Borel

m Definição 5 (Espaço de Borel). O espaço mensurável (X, B(X)) é chamado


de espaço de Borel .

Z Exemplo 14. Σ = {A ∈ P(R) | A é um intervalo} não é uma σ-álgebra.


A união de dois intervalos não é um intervalo, exemplo (0, 1) ∪ (3, 4).

1.3.11 σ-álgebra e funções

m Definição 6. Sejam X e Y conjuntos não vazios a função f : X → Y induz a


função imagem inversa f−1 : P(Y) → P(X) definida por

f−1 (B) = {z ∈ X | f(z) ∈ B}

(onde B ⊂ Y ) preserva uniões e complementares.


Dada uma coleção B de subconjuntos de Y , adotamos a notação

f−1 (A) = {f−1 (A) | A ∈ B}.

b Propriedade 14. Sejam X e Y conjuntos não vazios , f : X → Y uma função


dada. Então valem
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 25

1. Se B é uma σ-álgebra em Y , então

f−1 (B) = {f−1 (A) | A ∈ B}

é uma σ-álgebra em X .

2. Se A é uma σ-álgebra em X , então

{B ⊂ Y | f−1 (B) ∈ A}

é uma σ-álgebra em Y , chamada de σ-álgebra induzida por f .

ê Demonstração.
Os itens seguem das igualdades

∞ ∞
f−1 (Y) = X, f−1 ( f−1 (Bk ))
[ [
Bk ) = (
k=1 k=1

f−1 (Y \ B) = X \ f−1 (B),

para todos B, {Bk }k ⊂ Y.

b Propriedade 15. Sejam f : X → Y uma função e C uma coleção de subcon-


juntos de Y , então

f−1 (σ(C)) = σ(f−1 (C)).

ê Demonstração. Vamos mostrar as duas inclusões .

• Primeiro σ(f−1 (C)) ⊂ f−1 (σ(C)) . Temos que C ⊂ σ(C) ⇒ f−1 (C) ⊂ f−1 (σ(C)),
onde f−1 (σ(C)) é uma σ-álgebra em X, logo

σ(f−1 (C)) ⊂ f−1 (σ(C))

pois f−1 (σ(C)) é uma σ-álgebra que contém f−1 (C) e σ(f−1 (C)) é a menor de tais
σ-álgebras.
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 26

• Seja B 0 = {B ⊂ Y | f−1 (B) ∈ σ(f−1 (C))} . Temos que f−1 (C) ⊂ σ(f−1 (C)), logo
C ⊂ B 0 o que implica σ(C) ⊂ B 0 pois B 0 é σ-álgebra . Portanto

f−1 (σ(C)) ⊂ f−1 (B) ⊂ (f−1 (C)).

b Propriedade 16. Suponha que a função f : R → R satisfaz a propriedade:


Para todo a ∈ R, o conjunto {x ∈ Re | f(x) ≥ a} é um conjunto de Borel . Então
se S é um conjunto de Borel qualquer, sua imagem inversa f−1 (S) também é um
conjunto de Borel (neste caso f é chamada de Borel mensurável ) .

ê Demonstração. Dizer que {x ∈ Re | f(x) ≥ a} é um conjunto de Borel, significa


que f−1 [a, ∞) é um conjunto de Borel . Por isso

f−1 {[a, ∞), a ∈ R} ∈ B(R),

isso implica que

σ(f−1 {[a, ∞), a ∈ R}) = f−1 σ({[a, ∞), a ∈ R}) ⊂ B(R),

porém o conjunto das semi-retas fechadas {[a, ∞), a ∈ R} também gera o conjunto
de Borel por isso σ(σ({[a, ∞), a ∈ R})) = B(R), isto é, f−1 (B(R)) ⊂ B(R) , por isso
para qualquer conjunto de borel S temos que f−1 (S) também é um conjunto de borel .

1.3.12 σ-álgebra produto

m Definição 7 (σ-álgebra produto). Sejam {(Xk , Σk )k∈F } uma coleção de espaços


Y
mensuráveis, X = Xk e Πk : X → Xk a projeção . A σ-álgebra produto
k∈F
O
Σk
k∈F

em X é a σ-álgebra gerada pela famı́lia

1
{Π−
k (Bk ), Bk ∈ Σk , k ∈ F}.
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 27

m Definição 8. Sejam ΣA e ΣB duas Σ-álgebras, definimos

ΣA × ΣB = {M × N | M ∈ ΣA , N ∈ ΣB }.

Observe que essa não é a definição usual de produto cartesiano de conjuntos


mas iremos usar a mesma notação.

b Propriedade 17. ΣA × ΣB em geral não é σ-álgebra.

ê Demonstração. Considere ΣA = ΣB = B(R). Temos que {0, 1}, {2, 3} ∈ B(R)


logo {0, 1} × {0, 1} e {2, 3} × {2, 3} são elementos de B(R) × B(R), se fosse Σ−álgebra a
união de tais elementos também estaria em B(R) × B(R),

[{0, 1} × {0, 1}] ∪ [{2, 3} × {2, 3}] = M × N,

daı́ 0, 1, 2, 3 deveriam ser elementos de M e N e daı́ terı́amos por exemplo (1, 3) como
elemento do produto cartesiano, o que não acontece.
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 28

b Propriedade 18. A σ-álgebra produto de A × B é a σ−álgebra gerada por


ΣA × ΣB , onde tal conjunto é formado por elementos A × B onde A ∈ ΣA e B ∈ ΣB .

ê Demonstração.
1 −1
Seja C = {Π−
A (BA ), BA ∈ ΣA } ∪ {ΠB (BB ), BB ∈ ΣB }. Queremos mostrar que σ(ΣA ×

ΣB ) = Σ(C), para isso vamos usar que se W ⊂ σ(V) então σ(W) ⊂ σ(V), vamos
mostrar a igualdade das σ-álgebras mostrando duas inclusões.

1. Vamos mostrar que ΣA × ΣB ⊂ σ(C). Para isso, seja F ∈ ΣA × ΣB , então F =


CA × CB , onde CA ∈ ΣA e CB ∈ ΣB . Temos que

1
Σ−
A (CA ) = CA × B,

pois é o conjunto dos elementos (x, y) de A × B tais que ΠA (x, y) = x ∈ CA , da


mesma maneira temos que A × CB é gerado, logo tomando a interseção, segue
que
(CA × B) ∩ (A × CB ) = (CA ∩ A) × (B ∩ CB ) = CA × CB = F,

é elemento gerado por σ(C) pois é σ−álgebra, logo é fechada por interseções.

2. Agora veremos a segunda inclusão C ⊂ Σ(ΣA × ΣB ). Seja F ∈ C. Sem perda


de generalidade, suponha que F = Π−1 (A) com BA ∈ ΣA , temos que Π−1 (BA ) =
BA × B, mas BA ∈ ΣA e B ∈ ΣB e

BA × B = F ∈ ΣA × ΣB ,

pois BA ∈ ΣA e B ∈ ΣB , pois ΣB é σ-álgebra de B. Então temos as duas inclusões


e portanto a igualdade que querı́amos demonstrar.
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 29

1.3.13 σ(AX × AY ) = σ(σ(AX ) × σ(AY )).

b Propriedade 19. Seja AX um gerador de ΣA e AY um gerador de ΣY , então


a Σ-álgebra produto σ(ΣX × ΣY ) é igual a σ(AX × AY ), isto é,

σ(AX × AY ) = σ(σ(AX ) × σ(AY ))

ê Demonstração.
Vamos mostrar duas inclusões de conjuntos. Vamos usar que se B ⊂ A então
σ(B) ⊂ σ(A).

1. Temos que AX × AY ⊂ σ(AX ) × σ(AY ), logo


| {z } | {z }
ΣX ΣY

σ(AX × AY ) ⊂ σ(ΣX × ΣY ).

2. Agora iremos mostrar a segunda inclusão.

b Propriedade 20. Seja Σ uma σ-álgebra em Y então

Σ× = {A × Y, A ∈ Σ}

é uma σ-álgebra em Y × Y = Y 2 .

ê Demonstração.

• ∅ ∈ Σ× pois ∅ ∈ Σ e daı́ ∅ × Y = ∅ é elemento de Σ× .

• Σ× é fechado por complementar. Seja B ∈ Σ× então Bc ∈ Σ× . Temos que


B = A × Y para algum A ∈ Σ, disso segue que

Bc = Y 2 \ B = Y 2 \ (A × Y) = (Y \ A) ×Y.
| {z }
Ac ∈Σ

• Σ× é fechado por união enumerável.

Suponha que Bk ∈ Σ× , ∀ k ∈ N. Vale que Bk = Ak × Y para algum Ak ∈ Σ,


temos que

[ ∞
[
(Ak × Y) = ( Ak ) ×Y,
k=1 1
|k={z }
∈Σ
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 30


[
logo segue que Bk ∈ Σ× .
k=1

b Propriedade 21. Fixe b ∈ Y qualquer. Defina i : A → A × Y por i(x) = (x, b).


Dada a σ-álgebra ΣA em A, então

Σi,A×Y = ΣA × P(Y).

Onde
:B
z }| {
Σi,A×Y = {F ∈ P(A × Y) | i−1 (F) ∈ ΣA } .

ê Demonstração.
Vamos mostrar as duas inclusões de conjuntos.

1. B ⊂ ΣA × P(Y). Tome F ∈ B, logo F ∈ P(A × Y) tal que i−1 (F) ∈ ΣA , portanto


F ⊂ A × Y e daı́ F = MA × MY onde My ⊂ Y e MA ⊂ A. Além disso i−1 (MA ×
MY ) é o conjunto dos x ∈ A tais que i(x) = (x, b) ∈ MA × Y logo x ∈ MA ,
i−1 (MA × MY ) = MA ∈ ΣA logo provamos a primeira inclusão.

2. (Tem algo estranho nessa parte). ΣA × P(Y) ⊂ B. Tome F ∈ ΣA × P(Y), portanto


F = (FA , FY ) onde FA ∈ ΣA , FB ∈ P(Y), logo FB ⊂ Y, FA ⊂ A, portanto F ⊂ A × Y
e i−1 (FA , FY ) = FA ∈ ΣA o que prova a segunda parte.

1.4 A reta estendida

m Definição 9 (Reta estendida). Definimos a reta estendida R, como o conjunto

R := R ∪ {−∞} ∪ {∞},

isto é, fazemos a adjunção de dois pontos ∞ e −∞, chamados pontos ideais, tal
que para elementos de R vale a ordem já definida. Os pontos de R chamamos de
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 31

finitos e ∞ e −∞ de pontos infinitos. Dado x ∈ R arbitrário, definimos

−∞ < x < ∞.

Dado x ∈ R definimos as operações

x+∞=∞+x=∞

x − ∞ = −∞ + x = −∞.

Se x > 0, definimos

x.∞ = ∞.x = ∞, x(−∞) = (−∞).x = −∞.

Se x < 0, definimos

x.∞ = ∞.x = −∞, x(−∞) = (−∞).x = ∞.

Podemos denotar também R = [−∞.∞] e ∞ = +∞.


∀ x ∈ R, definimos
x x
= = 0.
∞ −∞
∞ −∞
a 6= 0, := ∞.a−1 e := −∞.a−1 .
a a
Definiremos também 0 .∞ = ∞ .0 = 0 e 0 .(−∞) = (−∞). 0 = 0, porém
essa definição não é usual, tal sı́mbolo sendo deixado por muitos autores como
indefinido, porém, tal sı́mbolo é usado na teoria de integração. Dado p ∈ (0, ∞),
definimos também que ∞p = ∞.

m Definição 10. Se um conjunto A não é limitado inferiormente, definimos


inf (A) = −∞.

m Definição 11. Se um conjunto A não é limitado superiormente, definimos


CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 32

sup(A) = ∞.
Com essas definições, todo conjunto não vazio em R possui supremo e ı́nfimo em
R. Em geral consideramos também [0, ∞] = R ∪ {∞}.

b Propriedade 22. Valem as identidades na reta estendida

1. inf (∅) = ∞.

2. sup(∅) = −∞.

ê Demonstração.

1. Dado qualquer elemento da reta estendida, x, temos que x é cota inferior do


vazio, caso contrário haveria algum y ∈ ∅ tal que y < x, o que não acontece,
pois o conjunto não possui elementos. Logo o conjunto das cotas inferiores é
R. O ı́nfimo é a maior cota inferior, porém o maior elemento da reta estendida
é ∞.

2. Dado qualquer elemento da reta estendida, x, temos que x é cota superior do


vazio, caso contrário haveria algum y ∈ ∅ tal que y > x, o que não acontece,
pois o conjunto não possui elementos. Logo o conjunto das cotas superiores
é R. O supremo é a menor cota inferior, porém o menor elemento da reta
estendida é −∞.

m Definição 12. • Se (xn ) é uma sequência em [0, ∞] e algum elemento


xk = ∞, definimos
X

xk = ∞.
k=0

1.5 Semi-anéis

m Definição 13 (Comprimento de um intervalo). Os intervalos do tipo

[a, b], (a, b], (a, b), [a, b)


CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 33

onde b ≥ a são números reais, tem comprimento definido como b − a. Se b = a


os intervalos são ditos ter comprimento zero.

m Definição 14 (Semi-anéis). Dado um conjunto Ω, uma coleção S de sub-


conjuntos de Ω é dita ser um semi-anel, quando satisfaz

1. ∅ ∈ S.

2. Se S1 e S2 são elementos de S então S1 ∩ S2 ∈ S. O conjunto é fechado em


relação a interseção.

3. Se S0 , S1 ⊂ S então existem (Sk )m


2 ∈ S conjuntos disjuntos, tais que

m
[
S1 \ S0 = Sk .
k=2

A diferença de dois conjuntos no semi-anel pode ser escrita como união


finita de conjuntos disjuntos no semi-anel, porém isso não implica necessa-
riamente que essa união (logo a diferença) pertence ao semi-anel. Veremos
depois usando exemplo de um semi-anel de intervalos, a diferença de dois
intervalos, por exemplo (−2, 2) \ (−1, 1) = (−2, −1] ∪ [1, 2) que não é um
intervalo, do mesmo modo a união de intervalos não é um intervalo .

Vejamos alguns exemplos de semi-anéis

Z Exemplo 15. Ω = R, S = {(a, b] | a, b ∈ R}.

1.5.1 h- intervalos

Z Exemplo 16. Seja F = {(a, b], a, b ∈ R} ∪ {(a, +∞), a ∈ R} ∪ {(a, ∞), a ∈


R} ∪ {(−∞, a], a ∈ R} coleção de todos os intervalos em R abertos a esquerda e
fechados à direita . Os elementos os elementos de F são chamados de h- intervalos
.
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 34

• ∅ ∈ F basta tomar b < a em {(a, b], a, b ∈ R} .

• Dados A e B em F, se um deles é vazio então a união é vazia . Se ambos


não são vazios e são disjuntos, então sua interseção é vazia, se eles possuem
elemento em comum. Se ambos são da forma (a, ∞), então a interseção é
da forma (b, ∞) . Se nenhum deles é dessa forma · · ·

Z Exemplo 17 (Classe dos subconjuntos finitos é um semi-anel). Ω qualquer


e S = {A ⊂ Ω | A finito}, S é a classe que possui todos subconjuntos finitos de Ω.

• ∅ ∈ S pois o vazio é finito.

• A interseção de dois conjuntos finitos é um conjunto finito.

• Dados A, B ∈ S, sua diferença A \ B é um conjunto finito.

Então S é um semi-anel .

m Definição 15 (Semi-anéis triviais). Dado Ω um conjunto então S = {∅} e


S = P(Ω) são semi-anéis chamados semi-anéis triviais.

ê Demonstração. No primeiro caso S = {∅}. Temos

• ∅ ∈ S.

• Se S1 , S2 ∈ S então ambos são o conjunto vazio cuja interseção resulta no


conjunto vazio, que está em S.

• Vazio menos vazio é vazio .

No segundo caso S = P(Ω). Temos

• ∅ ∈ S pois o vazio pertence ao conjunto das partes.


CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 35

• Se S1 , S2 ∈ S então ambos são subconjuntos de Ω, sua interseção é subconjunto


de Ω logo pertence à S.

• Se S1 , S2 ∈ S então S1 \ S2 é subconjunto de Ω, que pode ser escrito como união


contendo um elemento.

b Propriedade 23. A coleção de intervalos limitados em R é uma semi-anel


em P(R).

ê Demonstração.

b Propriedade 24. A coleção de blocos retangulares limitados em Rn é uma


semi-anel em P(Rn ).

ê Demonstração.

b Propriedade 25. Uma interseção arbitrária de semi-anéis de Ω é um semi-


anel de Ω.

ê Demonstração.

• O vazio pertence a todos semi-anéis, então pertence a interseção.


\
• Sejam A1 e A2 na interseção Sk , então A1 , A2 ∈ Sk ∀ k como cada Sk é
k∈A \
semi-anel então A1 ∩ A2 ∈ Sk e por isso A1 ∩ A2 ∈ Sk .
k∈A

\ n
[
• Suponha A1 , A2 ∈ Sk , então A1 \ A2 = ct união disjunta, onde cada ct ∈ Sk
k∈A t=1
n
[
para algum k. como A1 \ A2 ∈ Sk ∀ k então ct ∈ Sk ∀ k então cada ct deve
t=1
estar contido em Sk .

m Definição 16 (Semi-álgebra). S é uma semi-álgebra se é um semi-anel e


CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 36

Ω ∈ S.

1.5.2 Anel

m Definição 17 (Anel). Seja S uma classe de conjuntos não vazia tal que
S ⊂ P(Ω), S é um anel se é fechado por
n
[
1. União finita, isto é, se (Ak )n1 em S então Ak ∈ S.
k=1

2. Diferença, isto é, Se A1 , A2 ∈ S então A1 \ A2 ∈ S.

$ Corolário 5. Como S não é vazia então existem um conjunto em S, digamos


A, como o conjunto é fechado por diferença, tem-se A \ A = ∅ ∈ S logo o vazio
pertence ao anel .

1.5.3 Todo anel é um semi-anel

b Propriedade 26. Todo anel é um semi-anel .

ê Demonstração.

• Já vimos que ∅ pertence ao semi-anel .

• Sejam B1 e B2 no anel, vamos provar que B1 ∩ B2 também pertence ao anel. Já


sabemos que B1 ∪ B2 pertence ao anel e que também B1 \ B2 e B2 \ B1 portanto

B1 ∩ B2 = (B1 ∪ B2 ) \ [(B1 \ B2 ) ∪ (B2 \ B1 )]

é diferença e união de elemento no anel, então também pertence ao anel .

• Se A e B pertencem ao anel então A \ B = C pertence ao anel , por definição ,


que é união de um elemento do anel .

Todas três condições da definição de semi-anel foram verificadas então um anel é


um semi-anel .
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 37

Z Exemplo 18. Ω qualquer e S = {A ⊂ Ω | A finito}, S é a classe que possui


todos subconjuntos finitos de Ω.

• A união finita de conjuntos finitos é um conjunto finito.

• Dados A, B ∈ S, sua diferença A \ B é um conjunto finito.

Então Ω é um anel .

b Propriedade 27. A interseção arbitrária de anéis é um anel.

ê Demonstração.

m Definição 18 (Anel gerado por um conjunto). Dada uma classe não vazia
V de subconjunto de Ω, definimos o anel gerado por V como o menor anel que
contém V .

b Propriedade 28. O anel gerado por V e a interseção de todos anéis que


contém V .

ê Demonstração.

b Propriedade 29. São equivalentes, A é fechado com relação à

1. União finita e diferença.

2. União finita disjunta, diferença própria e interseção finita.

Temos então essas condições como equivalentes para definição de anel .

ê Demonstração.

• (1) ⇒ (2) União finita fechada ⇒ União finita disjunta fechada. Diferença
fechada ⇒ Diferença própria fechada. Falta mostrar a propriedade de interseção
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 38

finita. Porém podemos escrever

B1 ∩ B2 = (B1 ∪ B2 ) \ [(B1 \ B2 ) ∪ (B2 \ B1 )]

sendo escrito apenas como união e diferença de elementos, então a interseção


é fechada. (Fazer um desenho usando diagrama de Venn ajuda a se convencer
dessa identidade).

• (2) ⇒ (1). Sejam A1 , A2 não necessariamente disjuntos vamos mostrar que


A1 ∪ A2 ∈ A. Podemos escrever

A1 ∪ A2 = (A1 \ (A1 ∪ A2 )) ∪ (A1 ∩ A2 ) ∪ (A2 \ (A1 ∪ A2 ))

sendo união disjunta de diferença própria e interseção .

Agora uma diferença qualquer também é fechada pois

A1 \ A2 = A1 \ (A2 ∩ A1 )

se escreve como diferença própria .

b Propriedade 30. Se S é um semi-anel, então a famı́lia a(S) das uniões


finitas disjuntas de elementos de S é um anel, que coincide com o anel gerado por
S.

ê Demonstração. Vamos usar a classificação de anel como o conjunto fechado


por união finita disjunta, diferença própria e interseção finita.

1. a(S) é fechado por união finita disjunta por definição da famı́lia.


n
[ m
[
2. Sejam Ck e Bj elementos de a(S), queremos mostrar que sua interseção
k=1 j=1
também é elemento de a(S).

a(S) é fechado por por interseção finita pois


m
[ m
[
Ck ∩ Bj = (Bj ∩ Ck )
j=1 j=1
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 39

n
[
tomando a união . segue que
k=1

n
[ m
[ n [
[ m
[Ck ∩ Bj ] = (Bj ∩ Ck )
k=1 j=1 k=1 j=1
|S {z }
n Sm
k=1 [Ck ]∩ j=1 Bj

m [
[ n
como Bj ∩ Ck ∈ S segue que Bj ∩ Ck ∈ a(S) pois é união finita disjunta de
j=1 k=1
elementos do semi-anel.

A união é disjunta, pois, se tomamos dois elementos da união e sua interseção


(Bj ∩ Ck ) ∩ (Bs ∩ Cl ). Se x pertence a essa interseção, temos que x ∈ Bj , Bs ,
x ∈ Ck , Cl , daı́ Bj = Bs , Ck = Cl pois os conjuntos (Ck ) e (Bj ) são dois-a-dois
disjuntos.
n
[ m
[
3. a(S) é fechado por diferença própria. Sejam Ck , Bj com Ck , Bj ∈ S tais
k=1 j=1
que
m
[ n
[
Bj ⊂ Ck
j=1 k=1
vale que
n
[ m
[ n
[ m
[
Ck \ Bj = (Ck \ Bj ) =
k=1 j=1 k=1 j=1

tal identidade vale pois um elemento do conjunto da esquerda é x | x ∈ Cj para


m
[
algum j e x ∈/ Bk ∀ k daı́ x ∈ Cj \ Bj de maneira similar a outra inclusão
j=1

n
[ m
[ n \
[ m
= (Ck \ (Bj ∩ Ck )) = Ck \ (Bj ∩ Ck )
k=1 j=1 k=1 j=1

m
\ m
[
onde usamos que Ck \ (Bj ∩ Ck ) = (Ck \ (Bj ∩ Ck )) (mostrar!) , porém
j=1 j=1
n \
[ m
Ck \ (Bj ∩ Ck ) ∈ a(S).
k=1 j=1

Por isso temos que a(S) está contido no anel gerador por S, Ag (S) pois tal contém
todas uniões finitas de S, disso a(S) ⊂ Ag (S), tal é o menor anel que contém S logo
Ag (S) ⊂ a(S) daı́ pelas duas inclusões Ag (S) = a(S) como querı́amos mostrar.
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 40

Usaremos o seguinte resultado na próxima propriedade

b Propriedade 31. Vale que (S1 × T1 ) ∩ (S2 × T2 ) = (S1 ∩ S2 ) × (T1 ∩ T2 ).

ê Demonstração. Vamos provar as duas inclusões de conjunto. Seja z ∈


(S1 × T1 ) ∩ (S2 × T2 ) então z = (x, y) onde (x, y) ∈ (S1 × T1 ) e (x, y) ∈ (S2 × T2 ) logo
x ∈ S1 e S2 e y ∈ T1 e T2 logo (x, y) ∈ (S1 ∩ S2 ) × (T1 ∩ T2 ).
Seja agora z ∈ (S1 ∩ S2 ) × (T1 ∩ T2 ) logo z = (x, y) com x ∈ S1 e S2 , y ∈ T1 e T2 ,
(x, y) ∈ S1 × T1 e S2 × T2 então segue a outra inclusão .

1.5.4 O Produto Cartesiano e Semi-Anéis

b Propriedade 32 (Produto cartesiano e semi-anéis). Sejam Ω1 , Ω2 conjuntos


quaisquer e S1 , S2 semi-anéis em Ω1 , Ω2 então

Sp = {S × T | S ∈ S1 , T ∈ S2 }

é um semi-anel em Ω1 × Ω2 .

ê Demonstração.

1. ∅ ∈ S1 e em S2 , por serem semi-anéis, temos também que ∅ × ∅ = ∅, portanto


∅ ∈ Sp .

2. Sejam dois elementos de Sp , S10 × T1 e S20 × T2 , isto é S10 , S20 ∈ S1 e T1 , T2 ∈ S2


então
(S10 × T1 ) ∩ (S20 × T2 ) = (S10 ∩ S20 ) × (T1 ∩ T2 ).

Como S10 ∩S20 ∈ S1 e T1 ∩T2 ∈ S2 por S1 e S2 serem semi-anéis então (S10 × T1 ) ∩ (S20 × T2 )
| {z }
=(S10 ∩S20 )×(T1 ∩T2 )
pertence a Sp o que mostra que Sp é fechado pela interseção .
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 41

m p
[ [
3. Sejam S0 × T0 ⊂ S × T com S \ S0 = Sk , T \ T0 = Tj temos
k=1 j=1
p
m [
[ [
S×T = Sk × Tj = Sk × Tj
k=0 j=0 (k,j)

daı́
[
S × T \ S0 × T0 = Sk × Tj
(k,j)6=(0,0)

Logo a diferença é união disjunta de número finito de elemento em Sp , portanto


Sp é semi-anel em Ω1 × Ω2 .

$ Corolário 6. Por indução segue que se (Sk )n1 são semi-anéis em (Ωk )n1 ,orde-
nadamente, então
Sp = {S10 × · · · × Sn0 | Sj0 ∈ Sj }

é semi-anel em Ω1 × · · · × Ωn .

$ Corolário 7. A coleção de retângulos limitados em Rn é um semi-anel, basta


aplicar o resultado anterior sabendo-se que a coleção de intervalos limitados é
semi-anel em R.

1.5.5 Álgebra

m Definição 19 (Álgebra). S é uma álgebra se é um anel e Ω ∈ S.

n
b
[
Propriedade 33. Se A1 , A2 , · · · An ∈ Σ então Ak ∈ Σ. Sendo Σ uma
k=1
álgebra.

ê Demonstração. Por definição de uma álgebra temos que se A1 , A2 ∈ Σ então


[n
A1 ∪ A2 ∈ Σ, vamos provar o caso geral por indução. Suponha que Ak ∈ Σ, vamos
k=1
[1
n+
provar que Ak ∈ Σ. Temos que
k=1
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 42

[1
n+ n
[
Ak = An+1 Ak = A ∪ B ∈ Σ,
| {z }
k=1 1
A |k={z }
B

pois por hipótese da indução, temos que B ∈ Σ e como A também, segue da proprie-
[1
n+
dade básica para fechamento para unição de dois conjuntos que A ∪ B = Ak ∈ Σ
k=1
como querı́amos provar.

1.5.6 σ-anel

m Definição 20 (σ-anel). Seja S uma classe de conjuntos tal que ∅ =


6 S ⊂ P(Ω),
S é sigma anel se é fechado por

[
1. União enumerável , isto é, se (Ak ) em S então Ak ∈ S.
k=1

2. Diferença, isto é, Se A1 , A2 ∈ S então A1 \ A2 ∈ S.

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