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ARTIGOS

ANÁLISE DO COMPORTAMENTO
E O FENÔMENO EMOCIONAL*

ILMA A. GOULART DE SOUZA BRITTO**, ANA MARIA CESARINO***

Resumo: este estudo aborda o fenômeno emocional com base na ciência análise do compor-
tamento. O primeiro passo consistiu em analisar o fenômeno a partir da literatura da área.
Sugere-se que o progresso na compreensão científica da emoção é dificultado pelos desacordos
nos diferentes estudos que trataram do assunto. Destacou-se o condicionamento de medo e
a produção de dados cujos conceitos, princípios e achados são consistentes com o empreendi-
mento científico.

Palavras-chave: Emoções. Condicionamento de medo. Análise do comportamento.

O 
presente estudo aborda o fenômeno das emoções a partir das aplicações do método
e princípios da ciência análise do comportamento. Em qualquer área de estudo,
exige-se uma definição clara do fenômeno de interesse. Tendo em vista esse fato,
merece destaque uma discussão dos critérios conceituais do que tem sido nomeado de emoção.
De início, o problema que se coloca nesta área de estudo é o de que não existe uma definição
clara do que seja o fenômeno emocional. Por ser assim, assume-se que haja dificuldade em
esclarecer as funções das respostas emocionais na explicação das ações humanas.
O presente estudo tem como objetivo fornecer um enfoque ao que se tem estudado
como emoção, orientado para os dados, de modo que se tenham os meios necessários para
identificar os fenômenos emocionais, os quais estariam relacionados a operações que envol-

* Recebido em: 03.05.2016. Aprovado em: 05.06.2016.


** Professora do Programa de Pós-Graduação stricto senso em Psicologia da PUC Goiás. E-mail: psyilma@
terra.com.br.
*** Professora do departamento de Farmácia da UFG e doutoranda do Programa de Pós-Graduação em
Psicologia da PUC Goiás. E-mail: anacesarino@gmail.com.

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vem mudanças abruptas de estímulos. Estabelecido este parâmetro para se referir aos fenô-
menos emocionais, recorre-se a uma coletânea de obras dentro da análise do comportamento
cujos autores trataram deste fenômeno.
De acordo com Kleinginna e Kleinginna (1981), não é possível encontrar uma
definição consensual do termo emoção devido a uma variedade de definições que tem sido
propostas. Por meio de uma lista categorizada de definições de emoção e sugestões para uma
definição consensual do termo, Kleinginna e Kleinginna listaram 92 definições e nove decla-
rações céticas compiladas de uma variedade de fontes da literatura sobre as emoções.
Destas definições e declarações foram delineadas 11 categorias com base nas ques-
tões teóricas que estão envolvidas no fenômeno emocional. Dentre as 11 categorias foram
listadas categorias que envolveram afeto e cognição; categorias em relação a estímulos emo-
cionais externos, processos fisiológicos e o responder emocional; categorias que focaram efei-
tos perturbadores ou adaptativos das emoções; definições que enfatizaram a natureza múltipla
dos fenômenos emocionais, distinguindo emoção de outros processos psicológicos, e aqueles
que destacaram a sobreposição entre a emoção e motivação; ainda as declarações céticas ou
depreciativas sobre a utilidade do conceito de emoção (KLEINGINNA; KLEINGINNA,
1981). Nota-se, que tais achados sugerem problemas conceituais e confusões em relação ao
que seja apresentado sobre o termo emoção.
Barrett (2006) afirma que a questão do que seja nomeado de emoção tem sido de-
batida desde a época de Platão e Aristóteles. As emoções têm sido analisadas pelos filósofos,
psicólogos, neurocientistas, antropólogos como causas, mediações ou efeitos de outros fenô-
menos psicológicos, inclusive se fazem presentes nas desordens comportamentais (BARRE-
TT, 2006). Essa situação também foi enfocada por Millenson (1975), ao alertar que se tem
depositado vários fenômenos para o que é nomeado de emoção, como se fosse um “cesto de
lixo” e, desse modo, vários psicólogos ficaram desencorajados para formular um conceito do
que seja essa resposta.
Em adendo as imprecisões, Averill (1990) constatou que provavelmente nenhuma
área da psicologia é marcada por constructos e metáforas tão poéticas e vívidas quanto à área
da emoção. Constatou, também, que poucas questões na história da psicologia tem se prova-
do tão problemáticas como as emoções (AVERILL, 2012). Por sua vez, Skinner (1970) decla-
ra que as emoções são exemplos de causas fictícias, as quais se atribuem ao comportamento.
Estas podem ser descritas como sendo um padrão de interação ambiente e comportamento.
Zilio e Hunziker (2015) com base em levantamento na literatura asseguram que
não há uma definição inequívoca e consensual do termo emoção. E se não há definição ine-
quívoca e consensual nem mesmo do que seja emoção enquanto categoria geral, o mesmo
é verdade para os tipos específicos de emoções (ZILIO; HUNZIKER, 2015). Pelo exposto,
assumem-se os problemas de definições do fenômeno emocional e, também, a ausência de
distinções entre comportamento e emoção, apesar de muitas abordagens existentes para o
termo (LAYNG, 2006).
Embora não haja uma definição única de emoção, sugere-se que o progresso na
compreensão científica do fenômeno é dificultado pelos desacordos e fragmentações nas di-
ferentes abordagens que trataram das emoções. O avanço nas pesquisas seria limitado pela
aceitação de constructos e pressupostos que não são garantidos pela evidência empírica (BAR-
RETT, 2006). Pelo exposto, assume-se que o atraso nesse campo de pesquisa, pode ser justi-
ficado pela falta de uma definição clara de emoção para contribuir com o avanço da ciência.
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A partir dessas considerações, duas questões que envolvem emoções merecem ser
discutidas no presente estudo. A primeira em relação à disciplina psicologia e, em seguida,
a questão acerca da distinção entre constructos e eventos na psicologia. Quanto à primeira
questão, Staats (1996) argumenta que a psicologia, em relação ao seu objeto e produtos, é
uma Torre de Babel de diferentes linguagens e teorias; seus inumeráveis trabalhos de investi-
gação constituem em conceitos, princípios e achados inconsistentes e não relacionados.
Chiesa (1994) aponta que não existe acordo sobre uma definição do termo amplo
psicologia. Aponta também que a disciplina compreende uma série de subdisciplinas, cada
uma com suas próprias concepções de pessoa, seus próprios problemas e seus próprios mé-
todos para resolver seus problemas. Aponta, ainda, que falta à disciplina geral uma estrutura
unificada ou um conjunto de princípios que defina o campo e oriente a pesquisa.
A segunda questão a ser esclarecida é a que diz respeito ao termo constructo. De
acordo com Smith (2007), um constructo, como indicado pelo seu próprio nome, é algo
que é construído ou inventado, ao contrário de um evento natural observável. Essa situação
é crítica, pois a maioria das abordagens psicológicas ignora a distinção entre eventos naturais
e constructos hipotéticos, atribuindo a eventos imateriais o status de agente controlador do
comportamento (MOORE, 1981). Como no caso do constructo mais usado na psicologia, o
termo mente, não é passível de observação; atribuir causas do comportamento a uma mente
deriva à cultura espiritualista (SMITH, 2007). Tem-se, assim, que o constructo mente não
vem da observação e experimentação, mas de crenças culturais.
Smith (2007) argumenta que poucos psicólogos, aparentemente, entendem a dis-
tinção entre eventos e constructos e, como resultado, muito da psicologia é baseado em cons-
tructos e, estes, por sua vez, não são baseados em eventos naturais. Smith indica falhas duplas:
a confusão entre constructos e eventos e a falha resultante em não se desenvolver constructos
válidos cientificamente, com base em eventos naturais observáveis, o que de certa forma im-
pede o desenvolvimento de uma ciência psicológica (SMITH, 2007). Portanto, a distinção
entre eventos e constructos é fundamental para clarificar e avançar trabalhos em psicologia.
De acordo com Skinner (1970), os nomes do que se chamam emoções servem
para classificar o comportamento em relação a várias circunstâncias que afetam sua proba-
bilidade. E a um padrão de interação ambiente-comportamento que também é função de
circunstâncias na história do indivíduo. Nesta perspectiva, Skinner (1970) afirma que as
causas das emoções devem ser atribuídas aos eventos ou as circunstâncias ambiental pre-
sentes, as quais fazem com que o organismo se sinta emocional, ainda que haja lacunas na
análise do comportamento a serem preenchidas pela fisiologia (SKINNER, 1989). Impor-
tante colocar que na perspectiva skinneriana, a ênfase está nas relações funcionais entre os
eventos ambientais antecedentes e consequentes (e.g., internos ou públicos) e as respostas
(e.g., internas ou públicas).
O ambiente é definido por Skinner (1970) como qualquer evento do universo ca-
paz de afetar o organismo; ao ser afetado, a mudança fisiológica gerada se deve ao efeito do
evento ambiental. Assim, o organismo modificado, age sobre o ambiente que, finalmente, é
modificado por tais ações. Como proposto por Skinner (1989), nenhuma consideração sobre
o que está acontecendo dentro do corpo, por mais completa que seja, irá explicar as origens
do comportamento, até porque o que acontece dentro do corpo humano não é início.
Importante enfatizar, que o comportamento não é simples efeito do que acontece
dentro do organismo, ao contrário, é objeto de estudo por si mesmo. Observar uma pessoa
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se comportar é como observar qualquer sistema físico ou biológico (SKINNER, 1979). O
comportamento deve ser estudado de acordo com o método e princípios de uma ciência na-
tural do comportamento, uma vez que os conceitos desta ciência são derivados de operações
experimentais. De acordo com Skinner (1957), os estímulos eliciam respostas das glândulas,
dos músculos lisos e das vísceras pela mediação do sistema nervoso autônomo, especialmen-
te as respostas emocionais. Assim, o responder emocional é frequentemente acompanhado
por mudanças viscerais, glandulares e musculares intensas e amplas (MILLENSON, 1975;
SKINNER, 1970).
De modo semelhante, Millenson (1975) usa o termo emoção para referir-se a am-
plas mudanças no comportamento originado de certas operações ambientais. Neste sentido,
eventos internos aos quais se nomeiam de sentimentos, estão correlacionados a estados fi-
siológicos particulares e passíveis de observação, desde que se disponha de instrumentação
adequada (MILLENSON, 1975; SKINNER, 1974). Daí a necessidade de investigar os pro-
cessos fisiológicos correlacionados com o comportamento manifesto.
Por sua vez, Mazur (2013) argumenta que tais processos são difíceis de mensurar
em um organismo, se tornando um problema para analisá-los cientificamente. Têm-se, então,
algumas informações sobre a relação ambiente-comportamento e as mediações de processos
neurofisiológicos (e.g., mudanças viscerais, glandulares e musculares) presentes no responder
emocional naquilo que é descrito como medo, ansiedade, sentimento de prazer, felicidade
(SKINNER, 1957; MAZUR, 2013; MILLENSON, 1975). Por exemplo, pode ser observado
que o medo de um evento futuro pode ser originado por estímulos específicos que precede-
ram os eventos punitivos.
Para Skinner (1986), quando um determinado evento do ambiente age sobre o
organismo, algo acontece dentro dele; o organismo, em seguida, age sobre o meio ambiente,
e certas consequências se seguem. Esse algo que acontece dentro do organismo refere-se a al-
guma modificação fisiológica. Os processos fisiológicos medeiam a probabilidade de respostas
privadas e públicas de uma mesma forma, assim como, indubitavelmente, medeiam todas as
relações descobertas em uma análise funcional do comportamento (SKINNER, 1957).
Nas palavras de Skinner (1957) os estímulos emocionais não eliciam apenas as res-
postas, mas estabelecem disposições para o comportamento; essas disposições compreendem
uma parte prática do campo da emoção. O resultado é uma mudança na probabilidade de
que o organismo venha a se comportar de uma determinada forma e, essa mudança pode
não ser acompanhada pelas respostas fisiológicas musculares ou glandulares, classicamente
encaradas como emoções.
Em relação à importância da mediação fisiológica na explicação do comportamen-
to, em comum acordo com a abordagem skinneriana, Zílio (2011) argumenta que ao longo
da interação organismo-ambiente, em um dado intervalo de tempo, o organismo foi modifi-
cado fisiologicamente. É esse organismo modificado que se comporta durante outro interva-
lo. Supondo que seja possível analisar por completo os processos fisiológicos desse organismo
durante esse último intervalo, a explicação centrada no organismo atribuiria a esses processos
as causas do comportamento que ocorrem durante o intervalo, mas tais processos não são as
causas, pois eles mesmos são consequências das interações ambientais e, como tais, necessitam
também de explicações (ZILIO, 2011).
Na interação ambiente-comportamento, dado um intervalo de tempo, um evento
antecedente (e.g., evento público) afeta o organismo e a sua fisiologia (e.g., evento interno) e,
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em seguida, o comportamento promovendo o evento ambiental consequente e as mudanças
fisiológicas (e.g., evento interno). Assim, e do mesmo modo, ambos os eventos ambientais
antecedentes e consequentes produzem mudanças na fisiologia. Contudo, os eventos fisioló-
gicos não são objetos da análise do comportamento que lida com as relações entre eventos
ambientais antecedentes e consequentes e as ações do organismo (SKINNER, 1970; ZILIO,
2011).
Nesse momento, seria pertinente ressaltar a importância dos eventos que afetam os
receptores sensoriais de um organismo. I. Pavlov, no início do século XX, colocou um cachor-
ro em uma gaiola experimental à prova de som e uma pequena fístula foi aberta na bochecha
do animal onde foi colocada uma cânula para quantificar as gotas de saliva. Um tom foi soado
por 5 segundos e, 2-3 segundos mais tarde, foi oferecida a comida. O emparelhamento do
tom com a comida foi repetido 50 vezes e o tom, sozinho, foi apresentado 6 vezes. A latência
ao responder diminuiu e a quantidade de saliva aumentou em resposta ao tom. Assim, foi
demonstrada a relação funcional entre o número de pareamento tom-comida e a aquisição de
resposta condicionada (STURMEY, 2008; MILLENSON, 1975).
A partir deste experimento, o condicionamento respondente tem sido demonstrado
largamente em animais e humanos. O condicionamento respondente tem sido implicado
na aquisição de um amplo alcance de formas de desordens comportamentais como ansieda-
de, medo, fobias, traumas, problemas de ordem sexual, pesadelos, asma etc. (STURMEY,
2008). Os sentimentos associados a outros tipos de emoções também são influenciados pelo
condicionamento respondente, ainda que as emoções envolvam mais do que as respostas
fisiológicas que sentimos (MARTIN; PEAR, 2009). Hinelaine (1984) sugere que o que deve
ser incluído em uma categorização científica dos fenômenos emocionais são os conjuntos de
eventos públicos que participam da ocorrência desses fenômenos.
De acordo com Rescorla (2014), o condicionamento pavloviano é um exemplo de
aprendizagem associativa na qual um organismo aprende a relação entre dois eventos no meio
ambiente. Um dos eventos é de importância para a sobrevivência, o estímulo incondicionado,
enquanto o outro é normalmente de menor importância, antes da experiência de aprendiza-
do, o estímulo condicionado. Como resultado do emparelhamento, o organismo foi mudado.
O resultado é que a aprendizagem desta relação modifica vários aspectos do comportamento
do organismo, dotando o estímulo neutro com a habilidade de evocar salivação em antecipa-
ção à comida.
Como notado por Catania (1999), os processos respondentes e operantes inte-
ragem, produzem emoções. Por exemplo, um estímulo que precede um choque, elicia não
apenas as flexões das patas do rato, mas também interfere no comportamento que está sendo
mantido por suas consequências (e.g., o pressionar a barra por reforço alimentar). Esse fe-
nômeno esclarece Catania, tem recebido nomes diversos, ansiedade, supressão condiciona-
da, resposta emocional condicionada ou CER (do inglês, Condicional Emotional Response).
Também é comum descrever o resultado de aprendizagem animal vindo destas relações como
condicionamento de medo (MAZUR, 2013; RESCORLA, 2014).

O PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL PARA O ESTUDO DO MEDO

Um aspecto importante a ser destacado em relação ao condicionamento de medo


é a produção de dados de inúmeros trabalhos de investigação com conceitos, princípios e
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achados consistentes acerca dos fatores comportamentais e fisiológicos relacionados a com-
portamento e neurofisiologia (BARRETT, 2006; ZILIO; HUNZIKER, 2015). A partir das
definições de relações comportamentais, um evento ambiental é definido como estímulo, em
função de sua relação com as respostas do organismo, e estas, na medida em que se relacionam
funcionalmente com eventos ambientais.
Zílio e Hunziker (2015) esclarecem que em pesquisas sobre condicionamento de
medo uma contingência comportamental específica é associada ao conceito de medo e serve
de modelo experimental para o estudo dos mecanismos neurofisiológicos referentes a esse
tipo de emoção. Os autores esclarecem que tais pesquisas não utilizam metáforas, vocabulário
subjetivo e construtos hipotéticos em suas descrições, o que talvez, seja um dos principais mo-
tivos que explicam o avanço dessa área de pesquisa, em comparação às pesquisas sobre outros
tipos de emoções (BARRETT, 2006; ZILIO; HUNZIKER, 2015).
Procedimentos de condicionamento pavloviano podem ser usados no estudo de
condicionamento de medo. O procedimento consiste no pareamento de estímulo aversivo
(e.g., choque elétrico) com estímulo neutro (e.g., som). Após os pareamentos, a resposta de
medo eliciada pelo estímulo aversivo passa a ser eliciada pelo estímulo neutro, sendo então
caracterizada como resposta condicionada. O estudo pioneiro conhecido como CER, de Es-
tes e Skinner (1941), foi proposto como uma técnica para estudar emoção. Estes e Skinner
ofereceram uma medida de medo condicionado em função de sua perturbação no comporta-
mento operante, mantido pelas suas consequências.
Estes e Skinner (1941) partiram do pressuposto de que o medo não deveria ser ana-
lisado apenas como respostas eliciadas autônomas, mas também a partir de como elas interfe-
rem na emissão de um operante, suprimindo-o indiretamente. Em seu procedimento, Estes e
Skinner modelaram as respostas de pressão à barra por um rato, mantidas por um esquema de
intervalo variável (VI 2min), cujo reforço era comida. Um estímulo sonoro, som, que durava
3min foi, então, emparelhado com um breve choque elétrico que era aplicado na pata trazeira
do rato, pela grade do piso da câmara experimental, sobre a linha de base de pressão à barra.
A resposta de pressão à barra teve sua frequência reduzida durante a apresentação do
estímulo sonoro, o qual cessava com um estímulo aversivo inevitável: choque elétrico. Assim,
um estímulo sonoro, o som, sinalizava outro estímulo aversivo, o choque: as frequências do
responder eram suprimidas pelo som. Depois do som e do breve choque, ocorreu um interva-
lo de duração imprevisível, antes que o som aparecesse de novo. Uma vez que voltava, o som
permanecia por 1min e terminava com a liberação do choque inevitável (CATANIA, 1999;
ESTES; SKINNER, 1941).
A diminuição nas frequências das respostas ao som foi, então, denominada de CER.
Entretanto, quando o som deixou de ser seguido pelo choque, os registros mostraram a re-
cuperação das respostas de pressão à barra. Em outras palavras: depois do choque, o animal
voltava a pressionar a barra até que o som aparecesse de novo. Os efeitos do choque inevitável
foram óbvios: o som como sinal de aviso colocou o animal em ‘pânico’ com sua resposta de
pressão à barra suprimida (CATANIA, 1999; ESTES; SKINNER, 1941; SIDMAN, 1995;
SKINNER, 1989).
Tanto o comportamento do rato, como as condições fisiológicas sentidas devem
ser explicadas: afinal, por que o rato não pressionava a barra e por que sentia todas aquelas
alterações corporais? Falar que o animal ficou ansioso ou com medo explica o fenômeno da
supressão do pressionar à barra e da ocorrência de respostas fisiológicas? Ainda que o rato pu-
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desse pressionar a barra para obter o alimento, ele parava assim que ouvia o som e apresentava
todos os ‘sinais e sintomas’ que, sob a ótica da Associação Americana de Psiquiatria (2014),
elucidada por meio do Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais, o DSM-5,
caracteriza como próprios de um ataque de pânico, além de atribuir ser esse fenômeno re-
sultado de um quadro de ansiedade avassaladoramente ameaçador, perturbador e paralisante
(BRITTO, 2013).
Os efeitos do estímulo pré-aversivo, na supressão da resposta de pressionar a barra,
podem ser descritos como respostas de medo ou de ansiedade. Falar-se-ia que o rato parou de
pressionar a barra porque estava com medo. Todavia, deve-se sinalizar que o medo e a ansie-
dade não são as causas, assim como não explicam o comportamento do animal (CATANIA,
1999). Mesmo porque os nomes ansiedade ou medo para os efeitos da estimulação aversiva
sobre o comportamento não devem constituir explicações desses efeitos. Todavia, invoca-se a
linguagem da emoção quando um evento afeta uma ampla faixa de classes de respostas dife-
rentes (SKINNER, 1970, 1974).
Respostas autonômicas ocorrem como reações incondicionadas aos estímulos
aversivos (MARTIN; PEAR, 2009). Esses estímulos, no linguajar comum, são chamados
de irritantes, desagradáveis, dolorosos ou nocivos (MILLENSON, 1975). Por exemplo, em
relação às respostas emocionais de medo, é a comunidade verbal que ensina seus membros a
responderem verbalmente utilizando o termo medo diante de estímulos aversivos que estabe-
lecem ocasião para eliciação de respostas públicas (e.g., palidez, suor, tremores, mudanças na
respiração) e respostas autonômicas (e.g., aceleração dos batimentos cardíacos, desconforto
abdominal e torácico).
Daí o interesse pela expansão da aplicabilidade do condicionamento pavloviano,
por basear-se no fato de que certos estímulos eliciam automaticamente certas respostas, inde-
pendente de qualquer experiência anterior de aprendizagem. Relativamente poucos estímulos
incondicionados têm significância para a maioria dos organismos e, em consequência, apenas
uma pequena porção do comportamento parece ser atribuída a relações diretas de outros
eventos com aqueles estímulos (RESCORLA, 2014). Embora, houvesse concordância que
o condicionamento pavloviano é modelo de aprendizagem associativa, na época, era menos
claro que ele fosse diretamente responsável por grande parte do repertório comportamental
do organismo (RESCORLA, 2014).
Uma descrição completa do medo precisa referir as mudanças amplas que são ob-
servadas e isso, obviamente, requer uma descrição do repertório comportamental total do
indivíduo (SKINNER, 1970). Dada a sua prevalência nas práticas clínicas, falar-se-ia que
existem tantas estimulações aversivas quanto às respostas de medo. Se assim, as respostas emo-
cionais de medo em relação às estimulações aversivas seriam onipresentes e se estenderiam a
quase todo sofrimento humano.
Neste sentido, Rescorla (2014) argumenta que o fenômeno do condicionamento de
segunda ordem aumentou o alcance do repertório comportamental pelo qual o condiciona-
mento pavloviano deve ser responsável. Ele aumenta o número de eventos significantes atra-
vés de experiências passadas. Este argumento pareceu especialmente persuasivo para aqueles
que deveriam atentar para a aplicação direta do condicionamento pavloviano para a extensão
do comportamento humano, uma vez que o condicionamento de segunda ordem representa
um caso de aprendizagem, na qual qualquer estímulo serve como evento no lugar do estímulo
incondicionado.
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Para exemplificar o condicionamento de primeira e segunda ordem Rizley e Rescor-
la (1972), usaram o condicionamento pavloviano com supressão condicionada tendo ratos
como sujeitos. No procedimento, um estímulo neutro, S1, (luz) foi pareado com um estí-
mulo aversivo incondicionado (choque elétrico na pata). Foram empregados procedimentos
padrões: os ratos foram treinados para engajar em uma atividade regular pressionando uma
barra por comida em uma câmera operante.
Os ratos receberam primeiro 8 pareamentos de 10-seg luz com 1 mA, 5-seg choque
na pata, com a intenção de produzir condicionamento de primeira ordem de medo da luz.
Uma vez que a luz tinha sido capaz de produzir supressão de pressão na barra, estes animais
receberam 6 pareamentos de 30-seg 1800-Hz de tom com a luz, na ausência de mais choque
na pata. Aqui a intenção foi usar a luz para estabelecer condicionamento de segunda ordem
de medo ao tom. O dado de interesse são as supressões durante o tom, porque isso indica o
sucesso do condicionamento (RESCORLA, 2014). Como muitos animais, os ratos exibiram
seu medo de eventos dolorosos ao se tornarem menos ativos. Foi usado, então, o termo su-
pressão da pressão à barra como um índice de seu medo a vários estímulos.
Condicionamento respondente é também importante em mudar a função de
estímulos (e.g., aquisição de reforçadores e punidores secundários). Pessoas para quem
reforçamento e punições convencionais não funcionam são considerados incapazes. Por
exemplo, elas não aprendem por consequências como interações com o dinheiro, ou outra
consequência convencional. Então, eles não podem aprender no meio ambiente típico.
Aqui condicionamento respondente deve também ser importante para estabelecer reforça-
dor e punidor secundário, para que as pessoas possam aprender rapidamente, participar da
sociedade mais prontamente, e garantir que programas públicos sejam efetivos e eficientes
(STURMEY, 2008).
Em relação ao que tem sido nomeado de psicopatologia, o condicionamento res-
pondente e o medo condicionado, têm sido implicados na aquisição de um amplo alcance
de topografias comportamentais e mudanças nas respostas autonômicas, descritas como sin-
tomas de transtornos mentais (BRITTO, 2012). Dentre eles, os especificadores de ataque
pânico e transtorno de pânico; transtornos fóbicos como a agorafobia, fobia específica, fo-
bia social; transtornos relacionados ao transtorno obsessivo compulsivo, tricotilomania etc.;
transtornos relacionados a traumas e estressores como o transtorno de estresse pós-traumático
etc.; também a distúrbios psico-fisiológicos como: asma, disfunções sexuais, distúrbios do
sono etc.
Em síntese, parte do comportamento acarretado por uma emoção é aparentemente
incondicionado, uma vez que processos emocionais têm sido vistos principalmente como res-
pondentes, com ênfase nos estímulos que acompanham eventos aversivos, nocivos ou doloro-
sos que eliciam respostas autonômicas. Para Hineline (1984) quando se refere ao fenômeno
emocional, muitas vezes, não está se referindo apenas a efeitos de eliciação de estímulos na
produção de respostas autonômicas, nem o que se discrimina a partir daqueles efeitos, pois
efeitos emocionais não são peculiares apenas ao controle aversivo.
Ao se referir às emoções, Hineline (1984) sugere que se deve lidar também com
uma ampla gama de eventos ambientais envolvidos, por exemplo, depois de se passar horas
e horas trabalhando em um manuscrito, o processador de texto não aceita o comando de
salvá-lo e agora a impressora omite as vírgulas e os pontos. Considerando que, para falar de
raiva ou frustração olha-se não apenas para as respostas estomacais, respiratórias ou pressão
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arterial elevada, mas a um conjunto de eventos ambientais (e.g., mudanças amplas e abruptas,
rupturas).

ANALYSIS OF BEHAVIOUR AND EMOTIONAL PHENOMENON

Abstract: this study addresses the emotional phenomenon based on the analysis behavioral science.
The first step was to analyze the phenomenon from the field of literature. It is suggested that progress
in scientific understanding of emotion is hampered by disagreements in the different studies that
dealt with the subject. He stood out fear conditioning and the production of data whose concepts,
principles and findings are consistent with the scientific enterprise.

Keywords: Emotions. Fear conditioning. Behavior analysis.

Referências

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