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NOSSOS
CORDÉIS
de Uauá para o mundo

CM

MY

CY

CMY

Teones Almeida Suzano


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CM

MY

CY

CMY

K
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Apresentação

O Pró-Semiárido é um projeto da Secretaria de


Desenvolvimento Rural (SDR), executado pela Companhia
de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR), fruto de um
acordo de empréstimo entre o Governo da Bahia e o Fundo
Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (FIDA).

A necessidade de comunicação com a comunidade e com o


C mundo e o enfoque do projeto em gênero e juventude
levaram a Assessoria de Comunicação, o Componente de
Desenvolvimento de Capital Humano e Social do
M

Y
Pró-Semiárido e a Assessoria de Gênero, a se unirem num
CM projeto voltado para a capacitação desses beneficiários.
MY

A estratégia de intervenção para a juventude, da Assessoria


de Comunicação e da Assessoria de Gênero, Raça, Etnia e
CY

CMY
Geração, tem como objetivo valorizar e dar visibilidade ao
K saber local, por meio da produção de materiais educativos e
informativos.

Esta publicação é parte de uma série de ações que visam


oportunizar aos jovens, homens e mulheres, a continuidade
da permanência na sua região, em diversas atividades, não
só agrícolas. O jovem Agente Comunitário Rural (ACR),
Teones Almeida, é filho de agricultor e agricultora da região
atendida pelo projeto e, por meio dos seus cordéis, resgata
e valoriza a região semiárida.

Boa leitura!
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PRÓ-SEMIÁRIDO

A esperança se renova
E a CAR nos ajudou
Com um projeto lindo
Agregando valor
Trazendo vida digna
Para todo agricultor.

A esperança continua
Construída com nossa mão
Um projeto como este
Que valoriza o sertão
Mostrando o resultado
C
De nossa união.
M

Y O Pró-Semiárido
CM
Já é realidade
Trabalhando com foco
MY
Em todas as comunidades
CY
Trazendo a união
CMY E para o nosso sertão
K
Valor e dignidade.

Serão seis anos


De muita atenção
300 milhões investidos
No nosso sertão
70.000 famílias atendidas
E não tem quem diga
Que esta não é a solução.

A felicidade se mostra
Com o sorriso no rosto
Agora é só alegria
Acabando o desgosto.
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Começamos de baixo Agradeço a todos os companheiros


Buscando solução Por esta oportunidade me dar
Falamos de economia Espero que na frente
E sustentabilidade ambiental Eu possa contar
De proposta para o futuro Todos os frutos
Com o foco social Que o projeto trará.
O movimento continua
Com este projeto especial. Sou um jovem comprometido
Com o desenvolvimento do sertão
Para o desenvolvimento Com vocês estarei
Do nosso querido sertão Com muito amor e paixão
Jovens, homens e mulheres, Só deixarei a luta
C
Estão nesta grande missão Quando for pra debaixo do chão.
M
Reunidos estaremos
Y Lutaremos até o final
CM
Com a união do povo
Não vai ter nenhum mal
MY
Que atrapalhe os planos
CY
Deste projeto especial.
CMY

Este cordel vai para toda a equipe da CAR e do Pró-Semiárido, por toda
a revolução e por toda a dedicação que todos vocês vêm tendo com
nosso povo. Acredito no projeto, assim como todos os outros beneficiá-
rios. Meu muito obrigado por todo o espaço pelo qual vocês me deram,
estou muito feliz com todos os trabalhos. Agora, mais do que nunca,
estou feliz. Ciente de que estes cordéis serão tratados com muito carinho
por todos vocês.

(Teones Almeida Suzano)


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NOITE CONFUSA
Certo dia lá em casa
Foi aquela confusão
Filho, pai, até mãe
Na maior badalação.

Eu, pobre diabo,


Sem saber de nada
Ficava imaginando
O que na casa se passava.

A zoada era grande


C
E me faltava informação
M Até a coitada de mãe
Y Já vi com a vassoura na mão.
CM

O meu pai com um estilingue


MY
Eu fui a me assustar
CY Será que é bandido
CMY Que entrou neste lar?
K

E de repente foi
Aquela correria
Meu armado até os dentes
Que até medo fazia.

Depois da confusão
Que eu fui entender
Era por causa de um rato
Que no telhado tava a correr.

Depois do susto veio


Veio a conclusão
O rato foi embora
Sem nenhuma preocupação.
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E o meu pai
Ali a dizer
Sem ele voltar
Já sei o que fazer.

E eu imaginando
O que ele podia fazer
Se seria na ratoeira
Que o trepeça ia morrer.

A ratoeira foi armada


E nós na empolgação
C
Será que no outro dia
M
Teríamos a conclusão?
Y

CM
Como imaginado
Nada aconteceu
MY
O desgraçado
CY
Nem perto da ratoeira mordeu.
CMY

K
Assim vou me despedindo
Sem mais enrolação
E dizer que lá em casa
Rato nós num mata mais não.

Mas se ele der moleza


Eu vou lhe confessar
Que o cacete lá em casa
Outra vez vai quebrar.

“Este cordel, sem dúvidas, é um dos mais importantes para mim,


foi o meu primeiro cordel. Esse fato realmente aconteceu no
outro dia, na sala de aula, o professor nos ensinou um pouco
sobre o cordel. Depois, ele pediu que a gente tentasse fazer um,
de imediato me veio esta ocasião, então escrevi.”
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Salvem nosso sertão


Há alguns anos atrás E no céu do meu sertão
Em nossa caatinga tinha Só voa o urubu.
Espécies de animais e plantas
Que até gosto fazia. Pegaram o papagaio
Maltrataram o periquito
Mas a nossa ganância Que hoje só canta
Foi tanta Para não perder o bico.
Que até na humanidade
Já perdi a esperança. Caçaram o coelho
Mataram a sabiá
Queimaram a lenha E seu canto hoje
Transformaram em carvão É só lembrança deste lugar.
Pra suprir a necessidade
De uma pouca população. Acabou-se o tatu
Extinguiram o bola
C Derrubaram o angico E hoje só vejo
Sacudiram o calumbi Nos livros de história.
M
Tiraram até a vida
Y Do inocente jabuti. Mas de todas as espécies
CM
Um guerreiro sobrevive
Cadê a siriema? E sua história é contada
MY
Onde anda o beija-flor? Em todo lugar que existe.
CY A nossa ganância
Até isso matou. Matou a sede
CMY
De muita população
K Não se ouve mais No caso mais falado
O grito da acauã O bando de lampião.
E cada dia que passa
É pior que amanhã. O seu nome é umbuzeiro
E para nós é sagrado
Caçaram a pobre ema E se acabarem com ele
Mataram a cotia Todos nós seremos culpados.
De tanta inocência
E nem um mal fazia. Precisamos com urgência
Debater esta questão
Derrubaram a aroeira Porque se não
Acabaram com o facheiro Para, oh, Deus, toda nação.
Que tanto nos servia
Na hora do desespero. Assim vou terminando
Pedindo a atenção
Afugentaram o mocó Para que todos vocês
Espantaram o jacu Salvem o nosso sertão.

“Este foi o meu segundo cordel. Escrevi para um projeto escolar do Governo do Estado, chamado TAL
(Tempos de Arte Literária). Fui selecionado na minha escola e depois para Juazeiro. Lá fui premiado com o
segundo lugar e posteriormente chamado como convidado para Salvador, para apreciar as apresentações.”
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UMBUZEIRO

Peço agora permissão Árvore que dá de beber


Aos deuses da natureza Sagrada do sertão
Para falar de uma árvore O seu fruto agora é
Que tem graça e beleza Reconhecido na nação
E para o sertão E o privilégio é nosso
É símbolo de grandeza. Por ter ele em nosso chão.

Árvore valente Todos agora sabem


Guerreira do sertão Estou falando do umbuzeiro
Traz riqueza pro povo Que vive no sertão
E orgulho pra nação Como um guerreiro
Falo com respeito Que é valente e forte
E muita gratidão. Como o povo brasileiro.
C

M
Histórias são contadas Agradeço a todos
Y Desta árvore milenar Por esta história escutar
CM
Meus olhos brilham Do umbuzeiro falei
Quando paro para pensar Mas agora vou desfrutar
MY
Que a sede de muitos Dos produtos do umbuzeiro
CY
Ele ajudou a matar. Vindos da agricultura familiar.
CMY

K
Com seus galhos vivos
E seu fruto uma beleza
Transforma-se para a gente
Uma fonte de riqueza
Agradeço a Deus
E a toda natureza.

“Este cordel foi só uma homenagem ao nosso saudoso umbuzeiro.”


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SOU
Sou nordestino Sou da Bahia
Sou valente guerreiro Sou do Maranhão
Sou o sertão bravo Sou pernambucano
Com sorriso trigueiro Por todo este sertão
Que chega manso Vivo em harmonia
Com ar sorrateiro. Em cada pedaço deste chão.

Sou forró e xaxado Sou o Elevador Lacerda


Sou frevo e baião Sou baiano até morrer
A sanfona e o triângulo Sou a cultura rica
Que soa no sertão Pode vir ver
Sou o preto e o branco O que digo é verdade
De toda a nação. Pode vocês crer.

C Sou o chapéu de couro Sou da enxada


M
Sou a perneira e o gibão Do machado e facão
O vaqueiro valente Da foice que abre
Y
Desbravando o sertão Caminhos no sertão
CM
Desviando dos espinhos Trago a resistência
MY Da favela e cansanção. Na palma da mão.
CY

Sou a seca e o verde Sou a terra de Caetano


CMY
Vivo a persistir E Gilberto Gil
K
Sou tudo e nada E tantos outros
E vivo por aqui Como nunca se viu
No cabo da enxada Sou a resistência negra
Nunca desistir. Que aqui surgiu.

Sou um povo alegre Sou as ladeiras do pelô


Festa nunca para E da Lavagem do Bonfim
Todos os dias do ano A alegria contagiante
Não se compara Que não tem fim
Com o povo que vive Vivendo e respeitando
Lá do lado de fora. Todos, enfim.

Sou o velho Chico Sou o Xique – Xique


A carranca estampada E o mandacaru
O sertão é rico Na sombra do umbuzeiro
Não falta quase nada Onde chupo o umbu
A riqueza bela Felicidade não se mede
Em todo canto encontrada. E eu falo para tu.
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Sou o canto dos pássaros Sou do berço


O sossego que acalma De nossa nação
Que tira a tristeza Sou baiano
E alivia a alma E moro no sertão
Não preciso me proteger Com amor e respeito
Aqui com uma arma. E imensa gratidão.

Sou o sol quente Sou da mata branca


O calor do sertão Do semiárido nordestino
Sou um povo alegre Tenho orgulho e digo
Que não mede a dimensão Este é o meu destino
Da felicidade Deixar o sertão jamais
Que levamos na mão. Este lugar divino.

C Sou Dominguinhos Sou a literatura de cordel


M Sou Luís, rei do baião Esta beleza milenar
Y
O som que ressoa No sertão pode crer
Por toda esta nação Você vai encontrar
CM
A sanfona que alegra Alguém que em versos
MY E agita o coração. Esta homenagem contará.
CY

CMY
Sou da terra Tupi
Sou de Uauá
K
Lugar como este
Só vai encontrar
Se vier no sertão
E aqui morar.

“Este cordel eu quis fazer para demonstrar a diversidade que é a nossa


terra. E acabei me surpreendendo com ele, que é um dos que mais gosto.
Com alguns toques dá uma excelente canção.”
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VELHO CHICO

Velho Chico tá cansado


Ouça isso, meu senhor
Velho Chico tá morrendo
Eu te peço um favor
Proteja este velho
Que muitas vidas salvou.

C
Velho Chico guerreiro
M Aos poucos tá morrendo
Y
Suas águas se indo
Aos poucos estou vendo
CM
Velho Chico se ir
MY
Seguido de veneno.
CY

CMY
Veneno que destrói
O rio e o povo
K
Trazendo tristeza
E imenso desgosto
Quem já foi feliz
Hoje é tristeza no rosto.

Venenos jogados no rio


Pelos projetos de irrigação
Não sabem este povo
Que destroem o Chicão
Que estão acabando com o rio
E toda população.
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Seus leitos destruídos


Um crime brutal
Um ato desumano
Que só faz mal
Para o velho Chico
De modo geral.

C
Fico triste se vejo
M Uma notícia na TV
Y
O rio tá inavegável
Tá aí pra se ver
CM
O que digo é verdade
MY
Podem todos crer.
CY

CMY
Chega de veneno
E de destruição
K
Vamos acordar
E salvar o sertão
Protegendo o velho Chico
Da garra da maldição.

“É preciso mais do que nunca tomar muito cuidado


com nossos atos contra o meio ambiente, a nossa
ganância está matando o velho Chico.”
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ACREDITO

Acredito que o Brasil Acredito que as crianças


Um dia possa mudar Terão um futuro promissor
Preconceito, racismo, injúria Seja médico, advogado
Nunca mais existirá De preferência, professor
Paz, amor, respeito Para que passe adiante
Neste país prevalecerá. Os valores do amor.

Acredito que o brasileiro Acredito em um país


Sobre esta pátria amada Onde cresça o socialismo
Seguirá em rumo certo Quebrando as barreiras
Sem temer a nada Do maldito capitalismo
Viverá sobre o mundo Para vivermos bem
C
Com a coragem encarnada. Precisamos do realismo.
M

Y
Acredito em um país Acredito que no Brasil
Onde não haja corrupção Os políticos tomem jeito
CM
Sociedade organizada Tratando seu povo
MY
Será o grito do povão Com muito mais respeito
CY Roubalheira em nosso país Levando o país a sério
CMY
Não existirá não. Esse é o nosso direito.
K
Acredito que no Brasil Acredito no povo
Não existirá pobreza Que nunca fica calado
O povo viverá bem Vai pra rua protestar
Como se fosse nobreza Quando tem algo errado
A riqueza distribuída E mesmo levando cacetada
Com a mais fina franqueza. Não está desamparado.

Acredito que o brasileiro Acredito que neste país


Seja mais solidário Professor tenha mais direito
Estendendo a mão Os seus baixos salários
Num gesto humanitário É uma falta de respeito
Amor e compaixão Uma afronta à sociedade
Estarão no vocabulário Que não tem orgulho no peito.
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Acredito que no Brasil


Violência será acabada
Viveremos na paz
Sem o risco de uma bala
Atravessar nosso peito
Morre sem saber de nada.

Acredito que no Brasil


A segurança será melhor
Protegendo o cidadão
De tudo que há de pior
E a sociedade inteira “Eu nasci e me criei na comunidade do Retiro,
a 42km de Uauá. Foi nesta comunidade que
C
Viverá melhor. sempre morei e me criei, em um contexto
M
muito humilde, como é até hoje. Porém,
Y
Acredito que no Brasil guardo muito carinho e respeito pelas minhas
Fome não mais terá origens, das quais tenho muito orgulho.
CM Minha família sempre foi o meu maior
Viveremos em harmonia alicerce. Foi na coragem do meu pai e no
MY
Em todo canto lugar amor de minha mãe que encontrei inspiração
CY Cidadão morrer de fome para muitos dos meus versos. Um dom que
Neste país não terá. nasceu em mim e que descobri há pouco.
Comecei a escrever poemas em agosto de
CMY

K 2014, quando meu segundo cordel foi


Acredito que bateremos no peito premiado em Artes Literárias por um
E gritaremos a mil projeto do Governo do Estado.
Não existe lugar no mundo A partir daí não mais parei de escrever,
sempre homenageando a nossa terra ou
Melhor que o Brasil fazendo críticas quando achava que merecia.
E com a união do povo Hoje estou sendo agraciado com um sonho de
Venceremos o desafio. tempos: o meu primeiro livro!”

“Este cordel fiz mais com o olhar crítico


sobre o meu ponto de vista, como
quero que siga o nosso país.”
(Teones Almeida Suzano)
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