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Introdução

Então você acabou de começar a criar músicas e se


sente muito perdido, demorando semanas para criar
os primeiros dez segundos da sua obra? Ou então já
é um compositor experiente que faz tudo “de ouvido”,
mas sente que um pouco de teoria musical te ajudaria
a criar melhor?

A ideia deste primeiro e-book gratuito da Academia de


Composição é trazer alguns conceitos básicos de teoria
musical, de forma breve, leve e fácil, para te ajudar a
compor com mais domínio. Vamos começar?

Bons estudos!

Thiago Schiefer
1) Tom e semitom
Antes de mais nada, você precisa saber que a distância
entre duas notas é medida em tons (t) e semitons (½t):

½t

1t

Acesse soundcloud.com/AcademiaDeComposicao
para ouvir exemplos de áudio deste e dos demais
tópicos do e-book!
2) Sustenidos e bemóis
No universo da música ocidental, temos 12 notas num
sistema chamado “temperado”.

As 7 notas naturais são Dó, Ré, Mi, Fá, Sol, Lá e Si


(também designadas pelas letras C, D, E, F, G, A e B).

Os sustenidos (#) servem para aumentar uma nota em


um semitom. Ex.:

C + ½t = C# (Dó + meio tom = Dó sustenido)


Os bemóis (b) servem para diminuir uma nota em um
semitom. Ex.:

D - ½t = Db (Ré - meio tom = Ré bemol)


No piano, as notas pretas estão a um semitom de
distância das brancas.

C# D# F# G# A#
ou ou ou ou ou

Db Eb Gb Ab Bb

C D E F G A B C
dó ré mi fá sol lá si dó
3) Intervalos
Intervalo é o termo que usamos para qualificar a distância
entre duas notas. Contaremos o intervalo a partir de uma
das duas notas, que será chamada de tônica.

Podemos contar de forma ascendente (quando a segunda


nota é mais aguda que a primeira) ou descendente
(quando a segunda nota é mais grave que a primeira).
Por uma questão de espaço, os exemplos a seguir serão
todos ascendentes.

As possibilidades mais comuns são as seguintes:

Segunda Menor (2m): fica a ½t de distância da tônica.


Ex.: Ré bemol é a segunda menor de Dó.
Maior (2M): fica a 1t de distância da tônica.
Ex.: Ré é a segunda maior de Dó.

Terça Menor (3m): fica a 1½t de distância da tônica.


Ex.: Mi bemol é a terça menor de Dó.
Maior (3M): fica a 2t de distância da tônica.
Ex.: Mi é a terça maior de Dó.

* Alguns intervalos ficam à mesma distância da tônica! O lance é


contar quantas notas estão entre eles e a tônica ;)
Quarta Diminuta (4b): fica a 2t de distância da tônica.
Ex.: Lá bemol é a quarta diminuta de Mi.
Justa (4J): fica a 2½t de distância da tônica.
Ex.: Lá é a quarta justa de Mi.
Aumentada (4#): fica a 3t* de distância da tônica.
Ex.: Lá sustenido é a quarta aumentada de Mi.

Quinta Diminuta (5b): fica a 3t* de distância da tônica.


Ex.: Ré bemol é a quinta diminuta de Sol.
Justa (5J): fica a 3½t de distância da tônica.
Ex.: Ré é a quinta justa de Sol.
Aumentada (5#): fica a 4t* de distância da tônica.
Ex.: Ré sustenido é a quinta aumentada de Sol.

Sexta Menor (6m): fica a 4t* de distância da tônica.


Ex.: Lá bemol é a sexta menor de Dó.
Maior (6M): fica a 4½t de distância da tônica.
Ex.: Lá é a sexta maior de Dó.

Sétima Menor (7m): fica a 5t de distância da tônica.


Ex.: Fá é a sétima menor de Sol.
Maior (7M): fica a 5½t de distância da tônica.
Ex.: Fá sustenido é a sétima maior de Sol.

Oitava Justa (8J): repete a tônica a 6t de distância.


Ex.: Dó é oitava justa de Dó.
4) Escalas
Escalas são uma sequência de notas que obedece um
certo padrão. Por exemplo, a escala de Dó Maior é
formada por:

Dó Ré Mi Fá Sol Lá Si (Dó)
1t 1t ½t 1t 1t 1t ½t

Os intervalos gerados por essas distâncias, em relação


à tônica Dó, são: 2M, 3M, 4J, 5J, 6M e 7M.

Qualquer escala de 7 notas que tenha estes mesmos


intervalos em relação à tônica - ou que mantenha esta
mesma proporção de tons (1t, 1t, ½t, 1t, 1t, 1t, ½t) -
será considerada uma escala maior. Exemplos:

Fá Sol Lá Sib Dó Ré Mi (Fá)


1t 1t ½t 1t 1t 1t ½t

Aqui, tivemos que usar o bemol na nota Si para diminui-la


em 1 semitom. Em seu estado natural, Si fica a 1 tom de
distância de Lá e a ½ tom de Dó; logo, se o recuamos em
½ tom, conseguimos fazer com que a escala se encaixe nas
proporções da escala maior.
Sol Lá Si Dó Ré Mi Fá# (Sol)
1t 1t ½t 1t 1t 1t ½t

Aqui, seguindo a mesma lógica, tivemos que usar o


Fá sustenido para aumentar 1 semitom da nota Fá.
Normalmente, Fá fica a ½ tom de distância de Mi e a 1 tom de
Sol, e portanto seria uma sétima menor em relação à tônica;
logo, tivemos que avançá-lo em ½ tom para transformar a
nota em sétima maior.

Você consegue determinar sozinho as notas das outras escalas


maiores? Experimente montar as de Ré Maior, Lá Maior e Si
bemol maior (resposta na penúltima página do e-book).
5) Formação de acordes
Acordes são formados por três ou mais notas. Os acordes
mais simples, de três notas, são chamados de tríades.

Tríades são formadas por tônica, terça e quinta. Ex.:

Acorde de Dó Maior [C]: Dó + Mi + Sol


(C + E + G)

Acorde de Ré Menor [Dm]: Ré + Fá + Lá


(D + F + A)

Mas por que um é maior e o outro é menor? Vamos lá:

A tônica é a nota principal de um acorde, e lhe dá seu nome.

A terça dá a qualidade de maior ou menor para o acorde,


de acordo com a sua natureza. Como vimos no tópico
anterior, uma terça maior fica a uma distância de 4 semitons
da tônica, enquanto uma terça menor fica a 3 semitons.

Em acordes maiores e menores, a quinta é sempre justa,


ficando a 7 semitons da tônica. Quando a quinta de
um acorde for qualquer coisa que não justa, o acorde
recebe a qualidade da quinta. Ex.:

Tríade de Si Diminuto [B(b5)]: Si + Ré +


Fá (B + D + F)¹

Fá está a 6 semitons de Si, sendo então sua quinta diminuta.


Como a quinta não é justa, o nome do acorde recebe a
qualidade da quinta - logo, Si Diminuto.

Tríade de Dó Aumentado [C(#5)]: Dó +


Mi + Sol sustenido (C + E + G#)

Sol sustenido está a 8 semitons de Dó, sendo então sua


quinta aumentada. O nome do acorde recebe a qualidade
da quinta - logo, Dó Aumentado.
6) Campo Harmônico
Os acordes que você consegue formar a partir das notas
de uma escala formam o que é chamado de campo
harmônico. Por exemplo:

C D E F G A B  C E G = Dó maior
C para E = 4 semitons (terça maior); C para G = 7 semitons
(quinta justa)

C D E F G A B  D F A = Ré menor
D para F = 3 semitons (terça menor); D para A = 7 semitons
(quinta justa)

E assim por diante. Logo, o campo harmônico de Dó


Maior (que vem da escala de Dó Maior) compreende os
seguintes acordes:

C Dm Em F G Am B(b5)
(ou Dó maior, Ré menor, Mi menor, Fá maior, Sol maior, Lá
menor e Si diminuto - tente conferir esses acordes um a um
com as notas da escala!)
Podemos chamar os acordes do campo harmônico
também por graus:

C Dm Em F G Am B(b5)
I II III IV V VI VII

Qual a utilidade disso? Entre outras coisas, é você saber


que, em qualquer tom, o primeiro grau será sempre
maior, o segundo e o terceiro serão menores, o quarto
e o quinto serão maiores... Por exemplo, os campos
harmônicos das escalas que vimos acima são:

F Gm Am Bb C Dm E(b5)
I II III IV V VI VII

G Am Bm C D Em F#(b5)
I II III IV V VI VII
Sacou?

Agora é sua vez de montar os campos harmônicos das


escalas que você descobriu acima (resposta na penúltima
página do e-book).
7) Unidades rítmicas
Unidades rítmicas são a forma de descrevermos a
duração de uma nota no tempo.

Num compasso 4/4 (o mais comum, com quatro tempos


por compasso), as unidades mais comuns são:

w Semibreve: dura quatro tempos (o compasso todo)


h Mínima: dura dois tempos (1/2 compasso)
q Semínima: dura um tempo (1/4 do compasso)
e Colcheia: dura meio tempo (1/8 do compasso)
x Semicolcheia: dura 1/4 de tempo (1/16 do compasso)
y Fusa: dura 1/8 de tempo (1/32 do compasso)

A quantidade de tempos que cada figura dura depende


da fórmula de compasso, mas a proporção entre elas é
sempre a mesma:
w

h h

q q q q

e e iq iq e e

x x jq jjjq jjjq jq x x

yy kq kkkq kkkkkkkq kkkkkkkq kkkq kq yy

Misturar essas e outras durações ao longo de um


compasso é uma forma de trazer variedade para os seus
acompanhamentos, e repetir as mesmas combinações
em compassos diferentes ajuda a dar unidade para a
sua música.
Bônus: Harmonia de pergunta e
resposta
Em muitas músicas, ouvimos as melodias como se elas
fizessem uma pergunta na primeira repetição e, na
segunda, a respondessem. Um bom exemplo é o tema
do Super Mario Bros.

Esse é um efeito muito comum e tem mais a ver com a


harmonia do que com a melodia. Como?

Suponha uma melodia que faz a pergunta em quatro


compassos e a resposta em outros quatro. No final da
pergunta, a harmonia sempre usará o V grau, e na resposta,
geralmente o I grau. Por exemplo, em Dó Maior:

C | Dm | F | G
I II IV V
C | Dm | G | C
I II V I
Experimente tocar essa sequência de acordes no
seu instrumento, ouça o exemplo de áudio lá em
soundcloud.com/AcademiaDeComposicao, e perceba
como soa familiar!

Sua tarefa aqui será aplicar essa ideia nos tons de Ré Maior,
Lá Maior e Si bemol Maior (os mesmos dos exercícios
anteriores - resposta na última página do e-book).

---

Existem muitos outros assuntos dentro da teoria musical


que o escopo deste e-book não permite abranger.
Porém, espero que com este conteúdo você já consiga
criar música de forma mais fácil e melhor :)

Agora vai lá colocar tudo isso em prática!


Quer aprofundar seus estudos? Além dos textos e vídeos
gratuitos, a Academia de Composição está montando um
curso online de teoria musical para compositores. Se quiser
ficar sabendo das inscrições deste e de outros cursos antes
de todo mundo, inscreva-se no mailing especial:

bit.ly/cursos-adc
Respostas

Escalas
Escala de Ré Maior: D E F# G A B C#

Escala de Lá Maior: A B C# D E F# G#

Escala de Si bemol maior: Bb C D Eb F G A

Campos Harmônicos
Ré Maior: D Em F#m G A Bm C#(5b)

Lá Maior: A Bm C#m D E F#m G#(5b)

Si bemol maior: Bb Cm Dm Eb F Gm A(5b)

¹É comum também ver o símbolo "°" para tríades diminutas (ex.:


B°), mas a rigor esse símbolo indica apenas acordes formados por
tônica, terça menor, quinta diminuta e sétima diminuta.
academiadecomposicao.com

Copyright © 2016 por Thiago Schiefer

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